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N O 153 ESPECIAL 1/MAIO/2016 UM PRIMEIRO DE MAIO DE LUTA POR DIREITOS E CONTRA O GOLPE

UM PRIMEIRO DE MAIO DE LUTA POR DIREITOS E CONTRA O GOLPE5c912a4babb9d3d7cce1-6e2107136992060ccfd52e87c213fd32.r10.cf5.rackcdn.com/... · terizou o período 1954-1964. Ainda que setores

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NO 153 ESPECIAL 1/MAIO/2016

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No dia 17 de abril de 2016, a Câmara dos Deputados aprovou (por 367 a favor, 137

contra e 7 abstenções) a admissibilidade do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.Caso os procedimentos e prazos legais sejam respeitados, por volta do dia 11 de maio o Se-nado decidirá, por maioria simples, instalar ou não o processo contra a presidenta Dilma.Em caso de instalação, a presidenta Dilma Rou-sseff será afastada do cargo, assumindo em seu lugar o vice-presidente. Terá início o julgamen-to, que será feito pelo Senado no prazo máximo de 180 dias.Em algum momento, o processo será condu-zido pelo presidente do Supremo Tribunal Fe-deral. A condenação prevalecerá caso receba o voto favorável de no mínimo 2/3 do Senado.A legislação brasileira prevê a possibilidade de impeachment apenas em caso de “crime de res-ponsabilidade”. Segundo a acusação aceita pela Câmara dos Deputados, o “crime de responsa-bilidade” que a presidenta Dilma Rousseff teria cometido consiste em... créditos suplementa-res e pedaladas fiscais.Tal acusação é uma fraude. O Advogado Geral da União já demonstrou, sem ter sido refutado,

que não houve crime de responsa-bilidade. Lembrou, também, que o vice-presidente, a maioria dos atuais governadores e o ex-presi-dente FHC cometeram os mesmos atos pelos quais a presidenta é acu-sada.Portanto, a maioria da atual Câ-mara dos Deputados inventou um pretexto fraudulento para tentar destituir uma presidenta eleita por 54 milhões de votos. A oposição de direita pretende fazer o mesmo no Senado. Caso tenha êxito, o atual vice-presidente ganhará a presidên-cia e o atual presidente da Câmara dos Deputados transformar-se-á em vice-presidente.Impeachment sem crime de respon-sabilidade é golpe. No regime po-lítico brasileiro, não existe terceiro turno da eleição presidencial. Se o

parlamento (usando o impeachment como pre-texto) transformar-se em câmara revisora, subs-tituindo quem foi eleito por quem é do gosto da maioria parlamentar, estaremos de volta à República Velha.A Câmara dos Deputados sabe que a presidenta Dilma Rousseff não cometeu nenhum crime. Tanto é assim, que a maioria dos que votaram a favor do impeachment não se deu ao trabalho de mencionar a existência do crime de respon-sabilidade.Quase todos os que votaram a favor do impea-chment gastaram seus segundos de “fama” acu-sando a presidenta Dilma Rousseff, o ex-pre-sidente Lula e o Partido dos Trabalhadores de todo tipo de barbaridade. Acusações que não são legítimas nem legais como justificativas ou argumentos de um impeachment.Há inúmeros indícios de que muitos parlamen-tares votaram a favor do impeachment na ex-pectativa de interromper as investigações em curso sobre eles no âmbito da Operação Lava Jato e/ou devido a gestões empresariais. Há elementos de sobra para o STF interromper o processo, seja por conta da inépcia da acusa-ção, da condução do processo, da motivação e conteúdo da maioria dos votos. Mas até agora a

maioria dos ministros togados preferiu não agir em defesa da Constituição.Na ausência de crime de responsabilidade, im-peachment é um golpe contra a soberania popu-lar. Um golpe parlamentar, em que a maioria do parlamento usurpa um direito que é da maioria da população: o de escolher quem preside o país.Por ser um golpe parlamentar, não é um gol-pe menos perigoso, como pode constatar quem acompanhou as declarações de voto de mais de três centenas de parlamentares.A votação ocorrida na Câmara dos Deputados foi uma autópsia ao vivo e em cores do sistema político brasileiro.Os que votaram contra o impeachment justifi-caram seu voto em defesa da democracia e a defesa da classe trabalhadora. Lançaram mão, portanto, de argumentos de natureza pública.Já os que votaram a favor do impeachment usaram e abusaram de referências a Deus, a suas famílias, bem como ao desejo de destruir a esquerda. Lançaram mão, portanto, de ar-gumentos fundamentalistas, patrimonialistas, machistas, homofóbicos, fascistas, apologistas da tortura e da ditadura. O comportamento da maioria dos parlamentares foi repulsivo, cons-trangendo todo aquele que tiver o mínimo sen-tido de dignidade humana.Ficou explícito o confronto entre duas visões de mundo, duas concepções de Brasil e duas formas diferentes de conceber a política e a re-presentação popular.Uma delas foi vitoriosa nas eleições presiden-ciais de 2002, 2006, 2010 e 2014. A outra foi vitoriosa no plenário da Câmara dos Deputa-dos, tendo como símbolo o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), alguém que vários parla-mentares corajosos, homens e mulheres, não tiveram dúvida em chamar de gangster. A decisão majoritária da Câmara dos Deputa-dos é extremamente nociva para as liberdades democráticas, para os direitos sociais da imensa maioria do povo brasileiro, especialmente para a classe trabalhadora. Por isto estamos convo-cados a fazer tudo o que estiver ao nosso alcan-ce para reverter o resultado na próxima etapa do processo: o Senado.

A oposição de direita possui maioria simples no Senado. Portanto, será pre-

ciso um enorme esforço para impedir que eles iniciem o processo contra a presidenta Dilma.

Instalado na presidência, o golpista Temer usará todos os meios para condenar a presi-denta Dilma, interditar o PT e Lula, inves-tigar e constranger todos aqueles que fazem parte do movimento contra o golpe, vencer as eleições 2016, impedir a esquerda de dis-putar e de vencer as eleições 2018.

Corre risco o conjunto das forças democrá-ticas e progressistas, os direitos sociais e trabalhistas expressos na CLT, as liberdades democráticas e civis garantidas pela Cons-tituição de 1988.

Mesmo que tenhamos êxito em derrotar o impeachment, a luta contra o golpismo terá continuidade, pois o “chip golpista” (ou seja, a ruptura com a institucionalidade de-mocrática) está no DNA das elites.

A partir de 2011, a confluência entre a cri-se internacional, a dinâmica da economia nacional e as contradições político-sociais acumuladas em duas gestões presidenciais conduziram a um acirramento da luta de classes no país.

Esse acirramento assumiu diferentes for-mas, algumas aparentemente confusas (como as oscilações da política econômica do primeiro mandato de Dilma ou as jorna-das de junho de 2013), outras cada vez mais nítidas (como o segundo turno de 2014 e as manifestações pró/contra impeachment).

O acirramento da luta de classes é ao mes-mo tempo causa e efeito do impasse estra-tégico em que está metida a sociedade bra-sileira: o que está em questão é o conjunto da obra, ou seja, a definição do padrão de desenvolvimento que o Brasil vai seguir nos próximos anos e décadas.

Para materializar seus propósitos estratégi-cos a classe dominante precisa golpear pro-fundamente as forças de esquerda, os seto-res populares, democráticos e progressistas em geral. O impeachment é parte deste movimento, que não se limita a ele. Inclui também ações judiciais contra as esquerdas políticas e sociais, condução coercitiva e prisão de lideranças, constrangimento mi-diático e financeiro, combinado a repressão

por parte das forças de segurança e pa-ramilitares.

Por isto, com ou sem impeachment, a tendência seguirá sendo de aprofun-damento dos con-flitos políticos e sociais.

A votação de 17 de abril e a batalha no Senado fazem parte de uma contraofen-siva conservadora iniciada em 2011, com ramificações internacionais e que já obteve im-portantes vitórias, especialmente na Argentina e Venezuela. Fica cada vez mais evidente a participação do imperialismo, inclusive no fornecimento de informações à Operação Lava Jato.

Esta contraofensiva possui três objetivos: 1) realinhamento com os Estados Unidos, afastando-nos dos Brics e da integração regional; 2) redução do salário e da renda dos setores populares, diminuindo as ver-bas das políticas sociais, alterando a legis-lação trabalhista, reduzindo direitos, não reajustando salários e pensões, provocando desemprego e arrocho; 3)diminuição das liberdades democráticas, criminalizando a política, os movimentos sociais e os parti-dos de esquerda, partidarizando a justiça, ampliando o terrorismo policial-militar es-pecialmente contra os pobres, moradores de periferia e negros, subordinando o Estado laico ao fundamentalismo religioso, agre-dindo os direitos das mulheres, dos setores populares, dos indígenas.

Sob comando do grande capital e tendo como tropa de choque os setores médios tradicionais, fazem parte desta operação a direita tradicional e a direita fascista, igrejas conservadoras e interesses internacionais, o oligopólio da mídia e setores do aparato de Estado, especialmente na Justiça Federal, Ministério Público e Polícia Federal.

Desde 2011, estes setores implementaram duas táticas que se combinavam e alimenta-

vam mutuamente. A primeira delas consis-tia em derrotar Lula, o PT e o governo Dil-ma, empurrando este último a abandonar o programa vitorioso nas eleições de 2014, provocando recessão e descontentamento popular, divisão e desgaste na esquerda, conduzindo-nos assim para uma derrota nas eleições de 2016 e 2018. A outra tática residia em destruir Lula, o PT e o governo Dilma, através da Operação Lava Jato, de uma brutal campanha midiática e de medi-das visando antecipar o fim do governo, via processo no Tribunal Superior Eleitoral ou através de impeachment no Parlamento.

Agora os diferentes setores da oposição de direita unificaram-se em torno desta segun-da tática, empurrando o país para uma crise política e institucional similar a que carac-terizou o período 1954-1964.

Ainda que setores da direita possam ter aderido ao impeachment exclusivamente por oportunismo tático, o fenômeno de con-junto abala os parâmetros dentro dos quais o país vem movendo-se desde a Constitui-ção de 1988.

Derrotados em quatro eleições presiden-ciais seguidas, segmentos crescentes da di-reita chegaram a conclusão de que a esquer-da não pode governar, não pode disputar eleições com chance de vitória, não pode sequer existir.

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Foto: Normand Matos

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As duas próximas etapas da luta contra o golpe parlamentar são:

1) até o dia 11 de maio, quando o Senado deve votar se instala ou não o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff;

2) o processo propriamente dito, que pode durar entre alguns dias até seis meses.

Na luta contra o golpe, devemos levar em devida conta as diferenças e problemas existentes entre os golpistas:

a) a batalha pela opinião pública e pelas ruas deixou de ser um passeio para a opo-sição;

b) a capacidade de mobilização da esquer-da é maior do que eles pensavam e dificul-tará a governabilidade dos golpistas;

c) um governo encabeçado por Temer e Cunha tem um DNA corrupto e corruptor, ajudando a desmascarar a hipocrisia do ar-gumento utilizado contra o PT;

d) não haverá como esconder que um go-verno resultante de um golpe parlamentar significa um retrocesso para um país que há muitos anos elege diretamente seu pre-sidente;

e) para agradar seus financiadores, um go-verno Temer-Cunha terá que, com maior ou menor celeridade, aprofundar a reces-são e avançar sobre os direitos sociais, o que vai gerar resistência popular e impac-tos eleitorais;

f) não há unidade, nas oposições de direi-ta, acerca da tática e da candidatura presi-dencial em 2018, ao tempo em que Lula persiste como forte referência do campo

democrático, popular e progressista.

Entretanto, não devemos minimizar nem superestimar os problemas e contradições existentes na oposição de direita. Como já foi dito, apesar do crescimento da mo-bilização popular, a maioria do povo e da classe trabalhadora ainda não está engaja-da em defesa da democracia, o que ajuda os golpistas.

Por outro lado, o crescimento do desem-prego poderá ser utilizado, pelo Capital e por um cada vez mais provável governo Temer, para chantagear a classe trabalha-dora, seja no sentido de derrubar os princí-pios da CLT (colocando o negociado acima do legislado e generalizando a terceiriza-ção), seja no sentido de fazer a reforma da previdência.

Além disso, o imperialismo e o grande ca-pital tem tanto interesse em liquidar a es-querda, que não devemos subestimar sua capacidade de manobra.

Portanto, embora os golpistas estejam comprometidos com um pacote de malda-des, isto não quer dizer que haverá imedia-tamente uma reação à altura por parte dos setores populares, até porque um governo golpista poderá tentar imputar suas malda-des à suposta herança maldita que teriam recebido dos governos encabeçados pelo PT, contando para reforçar esta “narrativa” com a ajuda da barragem publicitária do oligopólio da mídia.

A esquerda deve convidar a classe traba-lhadora a refletir sobre a declaração de voto de cada um dos deputados e deputa-das, bem como a observar quem ficou de cada lado no circo da sessão de 17 de abril, em que se misturou o cheiro de esgoto ca-

Escracho em frente à residência de Michel Temer

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A esquerda deve convidar a classe trabalhadora a refletir sobre a declaração de voto de cada um dos deputados e deputadas

vernícola com a falta de senso de ridículo por parte de grande parte dos “representan-tes do povo”.

Mais do que convencer os senadores, está em jogo convencer a maioria de nossos co-legas de trabalho, estudo e moradia e atra-vés deles criar um movimento de massas que pressione os senadores a votar contra o golpe.

Hoje, a maioria do povo e da classe traba-lhadora ainda não está mobilizada em fa-vor do governo; mas é visível que cresce a mobilização e a inquietação com o que pode ocorrer em caso de vitória dos gol-pistas, especialmente por conta da ameaça de perda de direitos. Na discussão sobre as formas de luta, inclusive a greve geral, nossa política deve levar em conta o estado de ânimo da classe trabalhadora organi-zada, sempre buscando criar as condições para formas de luta cada vez mais massivas e radicalizadas.

Outro bom argumento no corpo-a-corpo com os senadores será o tratamento que

concederemos aos deputados e deputadas. Não haverá paz nem respeito para com os parlamentares cúmplices ou patrocinado-

res do golpe. Cunha e Temer devem rece-ber atenção especial, pela sua condição de cabeças da vilania. Não haverá paz nem respeito frente a uma quadrilha de picare-tas, que de público fala contra a corrupção, mas conspira para arquivar todas as inves-

tigações contra seus crimes.

Um terceiro argumento é a defesa da lega-lidade. Reafirmamos que não haverá paz nem respeito frente a um governo ilegíti-mo, resultante de um golpe parlamentar conduzido por um corrupto, encabeçado por um conspirador que pretende sepultar os direitos sociais inscritos na Constituição de 1988.

No dia 17 de abril, a luta contra o impeach-ment sofreu uma grande derrota e a batalha no Senado será muito difícil.

Entretanto, não deve ser tratada por nós como se fosse uma batalha perdida. E mes-mo que assim fosse, ainda assim seria pre-ciso lutar “casa-a-casa” contra os golpis-tas, pois quanto maior for nossa resistência agora, mais fácil será a retomada posterior.

As eleições de 2016 devem ser vistas como parte desta luta, motivo pelo qual é funda-mental reafirmar que não faremos alianças com os partidos e lideranças golpistas.

“Não haverá paz nem respeito para com os parlamentares

cúmplices ou patrocinadores do

golpe

EXPEDIENTEPágina 13 é um jornal publicado sob responsabilidade da direção nacional da Articulação de Esquerda, tendência interna do Partido dos Trabalhadores.Circulação interna ao PT. Matérias assinadas não refletem, necessariamente, a posição da tendência.ISBN 2448-0150-153Direção Nacional da AE: Adriano Oliveira/RS, Adriele Manjabosco/RS, Adriana Miranda/DF, Ananda Carvalho/RS, André Vieira/PR, Bárbara Hora/ES, Bruno Elias/DF, Dam-arci Olivi/MS, Daniela Matos/DF, Eduardo Loureiro/GO, Eleandra Raquel Koch/RS, Eliane Bandeira/RN, Elisa Guaraná/DF, Emílio Font/ES, Fernando Feijão/PI, Giovane Zua-nazzi/RS, Gleice Barbosa/MS, Iole Ilíada/SP, Izabel Cristina da Costa/RJ, Ivonete Almeida/SE, Jandyra Uehara Alves/SP, Joel de Almeida/SE, José Gilderlei/RN, Karen Lose/RS, Leirson Silva/PA, Lício Lobo/SP, Múcio Magalhães/PE, Olavo Brandão/RJ, Patrick Araújo/PE, Rafael Tomyama/CE, Rodrigo Cesar/SP, Rosana Ramos/DF, Silvia Vasques/RS, Sônia Fardin/SP, Valteci de Castro/MS, Valter Pomar/SP. Comissão de ética nacional: Ana Affonso/RS, Iriny Lopes/ES, Jonatas Moreth/DF, Júlio Quadros/RSEdição: Valter Pomar e Emilio C. M. Font Secretaria Gráfica e Assinaturas: Edma Walker [email protected] Endereço para correspondência: R. Silveira Martins, 147 conj. 11 - Centro - São Paulo - SP - CEP 01019-000 Acesse: www.pagina13.org.br

O texto que ocupa as 8 páginas desta edição especial 1 de maio de 2016 do jornal Página 13 é um resumo da resolução Contra o golpe e pela democracia: a luta continua, aprovada no dia 22 de abril de 2016, pela direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda. Outras opiniões e informações podem ser lidas na resolução do Diretório Nacional do PT, reunido no último dia 19/04 e resolução da Frente Brasil Popular, reunida no último 20/04. Estas e outras podem ser encontradas nos endereços abaixo: www.pt.org.br/conheca-a-nova-resolucao-do-diretorio-nacional-do-pt/ www.frentebrasilpopular.org.br/noticias/a-luta-contra-o-golpe-continua-39e7/ www.pagina13.org.br/resolucoes-e-documentos-da-ae/contra-o-golpe-e-pela-democracia-a-luta-continua/#.Vxt5TDArLIU www.pagina13.org.br/wladimir-pomar/nem-choro-nem-vela-luta/#.Vxt2vjArLIU E no site www.socializandosaberes.net.br há uma página com muitos vídeos de vários lugares do Brasil e do mundo contra o golpe. Acesse e divulgue. Somos muitos e estamos em muitos lugares.

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Em todo o país e no mundo inteiro, cen-tenas de milhares de pessoas foram

às ruas para lutar contra o golpismo, com destaque para a juventude e para o mundo da cultura, numa mobilização ao mesmo tempo linda, potente e generosa, que está constituindo na prática uma ampla frente popular, democrática e progressista.

A unidade popular é necessária não ape-nas para lutar contra o retrocesso, mas para criar as condições para voltar a avançar. Portanto, devemos continuar investindo no trabalho unitário e na mobilização de mas-sas. Até porque é da sua existência que de-pende a viabilidade da nova estratégia que estamos chamados a construir. Neste senti-do, reafirmamos o acerto que foi construir a Frente Brasil Popular, o diálogo com a Frente Povo Sem Medo, o esforço para atrair o PSOL e demais setores da oposi-ção de esquerda. Destacamos, também, a atitude do PCdoB, do PDT e do PCO, entre outras organizações envolvidas com afinco na luta contra o golpismo.

Na esquerda brasileira continuarão exis-tindo diferentes análises, programas, es-tratégias e táticas. Mas isto não constitui um obstáculo intransponível, ou seja, não impede nosso êxito em defender e ampliar os direitos sociais, as liberdades democrá-ticas, a soberania nacional e a integração regional. Nem impede a luta pelo socialis-mo.

Nos marcos desta pluralidade, precisamos da máxima unidade que for possível em torno de uma política acertada. Nos mo-mentos em que o vento está a favor, erros de análise e de política são atropelados pe-las mobilizações. Mas nos momentos em que o vento sopra contra, uma análise cor-reta pode fazer muita diferença.

É também por isto que criticamos, discor-damos e pedimos a retirada de propostas que defendem a adoção imediata de pro-postas de eleições gerais, referendo revo-catório e antecipação das eleições presi-denciais.

Aliás, propostas deste tipo nunca deveriam ter sido adotadas unilateralmente por sena-dores, lideranças partidárias e integrantes do governo. Certos hábitos de “protago-nismo acima de tudo” precisam ser supe-rados.

Claro que eleições gerais, referendo revo-

catório e antecipa-ção das eleições presidenciais são em tese soluções democráticas, di-ferentes de um im-peachment que re-sulte num governo golpista.

Mas neste momen-to, qualquer destas propostas implica em questionar a legalidade e a le-gitimidade de uma presidenta elei-ta por 54 milhões de votos, introduzindo entre nós uma estranha variante de parla-mentarismo, em que um governo pode ser derrubado por uma coalizão espúria entre o poder econômico, o oligopólio da mídia, setores da burocracia estatal e uma maioria corrupta no parlamento.

Mesmo motivadas pelo desejo de viabi-lizar uma saída democrática, que proteja a soberania popular, o resultado prático destas propostas hoje seria jogar água no moinho de uma saída antidemocrática. O governo e as forças que o defendem não podem adotar argumentos que no fundo questionam sua legalidade e legitimidade; nem podemos considerar “democráticas” eleições que ocorram num ambiente de efetiva “exceção”.

Por tudo isto, não consideramos que este-jamos num momento adequado para ado-tar propostas deste tipo. A situação se al-tera caso o golpe tenha sucesso, momento em que caberá avaliar qual deve ser nossa tática durante o processo, que pode coinci-dir com as Olimpíadas e a campanha das eleições municipais.

Desde já podemos dizer que faremos de tudo para impedir que o governo golpis-ta cumpra o mandato para o qual ele não foi eleito. Neste contexto, será imperati-vo defender que se devolva ao povo uma decisão que só ele tem legitimidade para adotar. Há várias formas de fazê-lo, entre as quais a convocação de uma Assembleia Constituinte que faça uma reforma políti-ca, a eleição de um novo Congresso Na-cional e do presidente da República.

Tenhamos ou não êxito nas próximas ba-

talhas contra o golpismo, a esquerda como um todo, especialmente o Partido dos Tra-balhadores, precisa encarar de outra forma um conjunto de questões estratégicas, pro-gramáticas e organizativas. Nossa posição a respeito é clara e detalhada em inúme-ros documentos que tratam da estratégia adotada desde 1995 e aprofundada desde 2003.

É preciso tirar as devidas conclusões do es-forço feito pelo PT e por amplos setores da esquerda, forças democrático-populares e progressistas desde então. A esquerda deve pensar suas feridas, avaliar o resultado e decidir os próximos passos, que incluem alterações na estratégia e na tática.

Neste sentido, mantida a decisão do STF, as eleições municipais de 2016 serão tam-bém um momento importante para o PT realizar uma autocrítica na prática da pro-longada promiscuidade de amplos setores da esquerda brasileira com o financiamen-to empresarial privado. Mas precisamos saber que será necessário muto tempo, muita coragem e muita autocrítica para reconstruir nossa credibilidade junto a amplos setores da classe trabalhadora e da esquerda. Nosso Partido, que por decisão majoritária de sua direção nacional abriu suas portas para figuras como o senador Delcídio do Amaral, tem muitas contas a prestar.

Para derrotar a ofensiva da direita e reto-mar o caminho das mudanças, precisamos combinar os movimentos táticos já descri-tos, com uma reorientação estratégica que nos ajude a evitar – num futuro próximo, quando superarmos a defensiva– cair na mesma situação em que estamos hoje.

Um governo golpista não pode governarAs frentes e organizações engajadas na

luta contra o golpe já definiram um calendário de mobilização, que inclui des-de pequenas ações autônomas até grandes iniciativas unitárias, entre as quais destaca-mos o Primeiro de Maio, atividades contra a Rede Golpe de Televisão, o corpo a corpo com os senadores, lutas e paralisações em Universidades e empresas, especialmente por ocasião da votação no Senado por volta de 11 de maio.

Para derrotar o impeachment, a presiden-ta Dilma Rousseff precisa tomar medidas imediatas de geração de emprego e recom-posição da renda popular, integrar no mi-nistério lideranças combativas, pactuar um programa de curto e médio prazo com a esquerda política e social.

Mesmo que algumas não tenham impacto imediato, representam uma sinalização po-lítica fundamental que amplia a capacidade de diálogo e mobilização popular.

Um elenco das medidas emergenciais está na resolução do Diretório Nacional do PT de 26 de fevereiro de 2016, medidas que lembram propostas que fizemos há um ano, no 5º Congresso do PT.

Se a presidenta Dilma não compreender a necessidade de mudar de política, será praticamente impossível derrotar o golpe. Mas mesmo que ela altere o ministério e sinalize mudanças na política econômica, será preciso um imenso esforço de cons-cientização e mobilização popular, imenso não apenas devido ao número de pessoas a serem convencidas, mas também devido ao reduzido tempo que temos pela frente.

A medida que a oposição de direita usa a institucionalidade contra a democracia, a esquerda precisa defender as liberdades de-mocráticas desmascarando e agindo contra as instituições golpistas. O que torna neces-sário introduzir imediatamente alterações na estratégia adotada desde 1995 e apro-fundada a partir de 2003.

Isto não é algo para ser feito depois de der-rotarmos o golpismo. Se quisermos enfren-tar exitosamente o golpismo de direita e um

cada vez mais provável governo golpista, é preciso abandonar a estratégia baseada na ilusão na conciliação de classes e na supe-restimação da luta institucional.

Vitoriosos em quatro eleições presidenciais seguidas, segmentos crescentes da esquer-da reagiram à contraofensiva conservadora reafirmando seu compromisso com as li-berdades democráticas.

Ou seja: enquanto a direita radicaliza no discurso e na prática antidemocrática, a esquerda reafirma seu compromisso com a legalidade e a institucionalidade, com am-plos setores afirmando sua defesa do “Esta-do de direito” e da “democracia como valor universal”, sem falar naqueles que seguem acreditando nos “objetivos republicanos” da Operação Lava Jato.

Acontece que não basta que a esquerda tenha disposição democrática. O “jogo democrático” exige pelo menos dois par-ticipantes. Aliás, para que a democracia fosse realmente um “valor universal”, seria necessário que a classe dominante tivesse algo mais do que um compromisso formal, episódico e circunstancial com ela.

A mudança na estratégia da esquerda brasi-leira já está em curso.

Sinais disso são, desde o início de 2015, a ênfase na mobilização social, a retoma-

da da disputa cultural e a construção da unidade de ação, inclusive com setores da esquerda que não apoiam o governo Dil-ma Rousseff. Outro sinal de mudança na estratégia ocorreu quando, chantageados por Eduardo Cunha em dezembro de 2015, recusamos a chantagem.

Mas há sinais contrários, também. Por exemplo: após as grandes mobilizações de outubro de 2014, dezembro de 2015 e março de 2016, o governo Dilma adotou, insistiu e aprofundou medidas conservado-ras, como a Lei Anti-Terrorismo, o ajuste fiscal recessivo e o PLP 257.

Para enfrentar o golpismo opositor ou go-vernista, para recuperar a iniciativa e reto-mar o rumo das mudanças, é preciso que a mudança de estratégia seja feita por com-pleto, de forma organizada e consciente.

Não se trata, portanto, de duas tarefas es-tanques e sucessivas: uma tática adequada para combater o golpismo deve estar com-binada com uma estratégia que combine o institucional com a luta social e cultural, à serviço de um programa democrático-po-pular e socialista.

O momento mais adequado para fazer esta alteração na tática e na estratégia teria sido por volta de 2010, quando a correlação de forças era a mais favorável. Mas os êxitos aparentes ou reais obtidos então levaram a maior parte da esquerda a apostar na con-tinuidade de uma estratégia que, como dissemos já naquela época, entrara na fase de retornos decrescentes. Não apenas apos-tou-se na continuidade da estratégia, como se radicalizou na tática de conciliação, des-ta vez trazendo para a nossa chapa o vice golpista, implementando assim a mais de-sastrada das políticas de aliança: aquela que fortalece os inimigos.

Hoje somos obrigados a mudar de estraté-gia num momento em que a correlação de forças é amplamente desfavorável, com a direita empurrando o país para uma profun-da crise econômica, social, institucional e política. Por isto, precisaremos saber com-binar radicalidade estratégica com muito realismo tático.

Abandonar todas as ilusões

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A presidenta Dilma precisa tomar medidas imediatas. Nunca é tarde

para fazer a coisa certa

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Apesar de ter conciliado com o grande capital, com a direita e com o oligo-

pólio da mídia, o PT continuou sendo um estranho no ninho. As elites nunca apre-ciaram sua presença no governo, nem as importantes, porém estruturalmente tími-das, políticas que colocamos em prática desde 2003.

Hoje está claro o erro de duas “narrati-vas”: a da “ultraesquerda” e a dos “ultra-moderados”. Embora pareçam antagôni-cas, na verdade são simétricas, pois ambas acreditavam que o capital, o oligopólio da mídia e a direita seriam tolerantes com a presença do PT no governo federal.

Para a ultraesquerda, o PT seria um ins-trumento da classe dominante. Para os ultramoderados, o PT estaria demonstran-do como salvar o capitalismo brasileiro de si mesmo. A vida derrotou ambas as posições. Assim como a posição dos que desvinculavam a luta pela democracia da luta por mudanças na política econômica. Derrotando, igualmente, os que viam tra-ços “republicanos” na usina farsesca de Curitiba.

Os setores majoritários da esquerda bra-sileira estão convocados a realizar uma análise crítica e autocrítica da experiência iniciada em 2003, das concepções que a orientaram e das atitudes que as caracte-rizaram, como a conciliação de classes, a superestimação da institucionalidade em detrimento da luta social e cultural, a terceirização das instâncias coletivas em favor de lideranças individuais.

Concordando ou não com o que foi feito no segundo mandato de Lula, hoje é pre-ciso mais radicalismo. Ou seja, desvenci-lhar-se da conciliação com o grande ca-pital, com a direita e com o oligopólio da mídia.

A ruptura com o neoliberalismo poderia ter sido feita em 2003 e certamente deve-ria ter sido feita em 2010, quando a corre-lação de forças foi a mais favorável destes 14 anos de governo federal petista.

Hoje, numa situação muito mais difí-cil, somos convocados a dobrar a aposta

na opção que fizemos diante da crise de 2007-2008: mais investimento público, mais desenvolvimento industrial, mais mercado interno, mais integração regio-nal, mais políticas públicas, mais salário e emprego, mais Estado. Mas não basta re-petir o que fizemos naquela época, porque a situação mudou.

Só haverá retomada sustentável do cres-cimento, acompanhada de uma ampliação continuada dos direitos da classe trabalha-dora, se forem atendidos cinco pressupos-tos:

a) quebrar os oligopólios que controlam a economia brasileira, com destaque para o financeiro privado;

b) reconstruir a indústria nacional em to-das as suas dimensões, com destaque para a Petrobras (derrotando os que pretendem a retomada da privatização, o fim das po-líticas de conteúdo nacional e de partilha), retomar a Vale pelo poder público, um plano de obras públicas que gere um efei-to positivo em todo o setor industrial (des-taque-se o impacto que obras de habitação e saneamento terão sobre epidemias como as causadas pelo Aedes).

c) ampliar e baratear a oferta dos bens que compõem a cesta básica, sem o que tere-mos um desenvolvimentismo conserva-dor. O nosso caminho é elevar o emprego e a renda dos setores mais vulneráveis da classe trabalhadora.

d) os três pressupostos acima exigem am-pliação da intervenção estatal, inclusive realizando a reforma agrária, a reforma urbana e a ampliação das políticas univer-sais (como saúde e educação).

e) exigem, também, uma correlação de forças que sustente as medidas apontadas, o que remete para a democratização da

comunicação social, a reforma política e a democratização do Estado (inclusive da justiça e segurança pública).É possível, além de derrotar a contraofen-siva conservadora, criar as condições para uma ofensiva da esquerda? Não há como saber. Mas sabemos que, em caso de der-rota, um preço muito alto será pago pela classe trabalhadora, no Brasil e região. Motivo pelo qual temos o dever de con-tinuar lutando. Sendo importante, para o êxito desta luta, estudar a situação mun-dial como um todo, em particular a ofen-siva da direita em países da região.A direita nos ataca por conta de nossas qualidades. Mas tem êxito nesta operação devido, em boa medida, a nossos defeitos e insuficiências. Os obstáculos são muitos e o tempo é curto. Mesmo assim, ao menos para nós que ajudamos a construir, que va-lorizamos e que queremos dar continui-dade à experiência encabeçada pelo PT desde os anos 1980, não existe alternativa justa e boa a não ser lutar, deter a ofensiva da direita, ganhar um tempo para respirar, reorganizar as forças e voltar a avançar.Um momento fundamental desta reorga-nização de forças, revisão da estratégia e recomposição das direções será a rea-lização ainda em 2016 de um Congresso extraordinário do PT, composto por dele-gações eleitas após debate na base parti-dária. Outro momento decisivo será a rea-lização da segunda Conferência da Frente Brasil Popular.Como afirmamos desde o início de 2015, precisamos de um partido e de uma esquer-da para tempos de guerra, com profundas raízes na classe trabalhadora e comprome-tido com um Brasil democrático-popular e socialista. A isto continuaremos dedican-do o melhor das nossas energias.

Vencerá quem tiver o apoio da classe trabalhadora

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