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UM SINDICALISMO EM MUTAÇÃO Temas fortes para pensar a CUT Claudio Nascimento Após o salto de qualidade operado no II Concut (1986), a CUT mergulhou numa grande crise política durante o inicio do Governo Collor e, especialmente, após o IV CONCUT (1991). Mesmo com a retomada político-cívica do país, com o empeachemeant de 1992, o movimento sindical não retomou o patamar anterior. Com a derrota das esquerdas em 1994, o governo FHC, após momentos de paralisia, retomou a ofensiva através das reformas estruturais, entre elas, as que dizem respeito a legislação sindical e trabalhista do pais. Neste sentido, os primeiros meses de 1996 estão marcados por fatos novos nesta área: Negociação com as Centrais em torno da Previdência Acordos fora da legislação vigente: metalúrgicos de Sao Paulo; Acordos no campo da flexibilizacao de jornada (metalurgicos do ABCD); Justica do Trabalho anuncia uma reforma sindical (entrevista de Almir Pazianotto ao ESP), prevendo fim do imposto, liberdade sindical, sindicalismo de empresa; Ministro do Trabalho, Paulo Paiva, anuncia a flexibilizacao nas relacoes de trabalho. A 7a Plenária nacional da CUT assinala um momento de inflexão e de tentativa de retomar a iniciativa para promover uma verdadeira reestruturacao organizativa da Central. Reflete um grande potencial da Central para superar seus impasses internos e dar conta dos desafios do contexto nacional e mundial. Mostra também, que os problemas expressam um processo que não se dá de forma linear, mas através de avanços e retrocessos em alguns aspectos, contudo, mantendo o potencial global . Muitas das questões ora em debate, sob a expressão “sindicato orgânico”, refletem os componentes do próprio projeto sindical da CUT: historia, concepção, ação, estrutura, cultura, etc. “Nos encontramos numa encruzilhada”, como se lê no documento da Plenaria. Portanto, a maioria das questões já há muito tempo constam da agenda da CUT.E,talvez,este seja o principal problema: por que as Resolucoes da Central ficam,em grande parte,no papel como admite o proprio documento da 7a Plenaria,no que diz respeito a OLT ? Pode significar que o problema principal ,a concretizacao do seu projeto sindical,esteja na propria CUT,seja interno aos sindicatos.O que,entao? Culturas corporativas? Heranca de concepcoes sindicais anacronicas ( anarquista,vanguardista,populista) ? A partir de analise de Julio Godio,operamos a distincao entre OBSTACULO PRINCIPAL e RESPONSAVEL PRINCIPAL. O obstaculo é principal porque só pode ser resolvido no interior da central.Trata-se de uma confrontacao entre culturas politico-sindicais.

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UM SINDICALISMO EM MUTAÇÃO Temas fortes para pensar a CUT

Claudio Nascimento

Após o salto de qualidade operado no II Concut (1986), a CUT mergulhou numa

grande crise política durante o inicio do Governo Collor e, especialmente, após o IV

CONCUT (1991). Mesmo com a retomada político-cívica do país, com o

empeachemeant de 1992, o movimento sindical não retomou o patamar anterior. Com a

derrota das esquerdas em 1994, o governo FHC, após momentos de paralisia, retomou a

ofensiva através das reformas estruturais, entre elas, as que dizem respeito a legislação

sindical e trabalhista do pais. Neste sentido, os primeiros meses de 1996 estão marcados

por fatos novos nesta área:

Negociação com as Centrais em torno da Previdência

Acordos fora da legislação vigente: metalúrgicos de Sao Paulo;

Acordos no campo da flexibilizacao de jornada (metalurgicos do ABCD);

Justica do Trabalho anuncia uma reforma sindical (entrevista de Almir Pazianotto ao

ESP), prevendo fim do imposto, liberdade sindical, sindicalismo de empresa;

Ministro do Trabalho, Paulo Paiva, anuncia a flexibilizacao nas relacoes de trabalho.

A 7a Plenária nacional da CUT assinala um momento de inflexão e de tentativa de

retomar a iniciativa para promover uma verdadeira reestruturacao organizativa da

Central. Reflete um grande potencial da Central para superar seus impasses internos e

dar conta dos desafios do contexto nacional e mundial. Mostra também, que os

problemas expressam um processo que não se dá de forma linear, mas através de

avanços e retrocessos em alguns aspectos, contudo, mantendo o potencial global .

Muitas das questões ora em debate, sob a expressão “sindicato orgânico”, refletem os

componentes do próprio projeto sindical da CUT: historia, concepção, ação, estrutura,

cultura, etc. “Nos encontramos numa encruzilhada”, como se lê no documento da

Plenaria. Portanto, a maioria das questões já há muito tempo constam da agenda da

CUT.E,talvez,este seja o principal problema: por que as Resolucoes da Central ficam,em

grande parte,no papel como admite o proprio documento da 7a Plenaria,no que diz

respeito a OLT ?

Pode significar que o problema principal ,a concretizacao do seu projeto sindical,esteja

na propria CUT,seja interno aos sindicatos.O que,entao? Culturas corporativas? Heranca

de concepcoes sindicais anacronicas ( anarquista,vanguardista,populista) ?

A partir de analise de Julio Godio,operamos a distincao entre OBSTACULO

PRINCIPAL e RESPONSAVEL PRINCIPAL.

O obstaculo é principal porque só pode ser resolvido no interior da central.Trata-se de

uma confrontacao entre culturas politico-sindicais.

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Mas,o responsavel principal da persistencia da fase “corporativo sindical”,e das

dificuldades de um salto para uma dimensao de hegemonia, pode ser definido como

externo aos sindicatos: na area da legislacao constitucional,nas politicas varias de

Governo,na relacao distorcida com Partidos,na contraparte Empresarial,na relacao com

as Centrais Mundiais .Por isto,é importante definirmos os varios campos de disputa de

hegemonia.

A estes elementos,há - como pano de fundo- o contexto mundial,que nas ultimas duas

decadas apresenta mutacoes com rapidez impressionante.

A. CUT História e Concepção

Um pouco de história é fundamental para podermos nos situar neste quase 15 anos de

CUT. Para tal, usamos elementos de analise da obra de Jorge Mattoso, “A Desordem do

Trabalho”, que tem o grande mérito de combinar história e conjunturas, salientando

desafios e perspectivas .

Em termos de concepcao,é fundamental a analise de aspectos como:

-relacao capital x trabalho;

-relacao sindicato x partido;

-relacao direcao x base

-relacao sujeitos x transformacao social.

A década de 80 caracterizou o esgotamento do dinamismo da economia industrial do

Brasil; também, ocorreu a desarticulação do padrão de acumulação vigente desde

meados dos anos 50. O capitalismo entrava numa nova etapa. Este padrão foi rompido

pela emergência da terceira Revolução industrial e pelos novos interesses do capital

internacional globalizado.

No Brasil, apesar da “década perdida” , houve o maior crescimento do PIB latino-

americano. Não houve um processo de desindustrialização, ou uma reestruturação

industrial. Esta preservação da estrutura produtiva industrial é importante para se

entender a dinâmica da economia, do mercado de trabalho e dos sindicatos.

“Quanto a organização dos trabalhadores, a consolidação do movimento de ampliação

democrática iniciado na década anterior em meio a uma relativamente preservada

estrutura produtiva industrial permitiu que - apesar da crise e ao contrario da maioria dos

países, sejam eles da América do Sul ou do Norte, da Europa ou da Ásia - o movimento

sindical brasileiro assumisse nova dimensão, reconquistando direitos, organizando

centrais sindicais nacionais, lutando contra a estrutura e a legalidade repressiva oficial,

elevando os níveis de sindicalizado, fortalecendo suas organizações de base, ampliando o

espaço para negociações coletivas e conquistando amplo reconhecimento social”.

Mattoso nos apresenta três períodos:

1) até 1983 (fundação da CUT)

2) de 1984 até 1986 (III Concut)

3) de 1987 até 1990 (perto do IV Concut)

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No primeiro período (até 1983), ainda durante a ditadura militar, após a explosão das

primeiras greves vitoriosas (1978-79), segue-se a repressão as greves de 1980 e o inicio

da recessão em 1981. Desemprego e demissões em massa nos primeiros anos da década

favoreceram inicialmente a redução das mobilizações grevistas e, logo após, levaram o

movimento sindical a dispender maiores esforços na sua definição estratégica, na

organização intersindical nacional, nas negociações coletivas de trabalho e na

organização nas fabricas.

Em 1983, o agravamento da crise e da inflação, ampliam a ação sindical. Neste ano,

ocorreu a primeira “greve geral” desde o golpe militar de 1964. Em agosto, foi fundada a

CUT.

O segundo período (1984-86), coincide com o movimento de cidadania por Diretas já!

Há uma recuperação econômica: cresce o PIB, aumentam as exportações, diminui o

desemprego, recuperação do mercado de trabalho, recomposição da industria. Com o

Governo Sarney surge o Plano Cruzado.

Neste período, o movimento sindical ampliou seu raio de ação, expandiu-se para as

classes medias e para os trabalhadores agrícolas; surgiram novas centrais (CGT, USI).

As greves tomaram novo ímpeto a partir de 1985 e alcançaram seu auge em 1987

favorecendo conquistas salariais de varias categorias, em suas datas-base.

O terceiro período (1987-1989) foi caracterizado pela paralisia e estagnação econômica

e pelo retorno a políticas mais ortodoxas na economia; elevou-se a inflação e se agravou

a crise cambial. Em 1989, o governo viu-se frente a uma moratória branca, atrasando os

pagamentos dos juros da divida externa. A inflação eleva-se para 685%, em 1988 e,

1.320%, em 1989.

O movimento sindical, por um lado, continuou sua dinâmica de expansão, fortaleceu as

centrais sindicais, ampliou sua participação social, atuou organizadamente no processo

constituinte e garantiu uma avaliação generalizada de que, ao final da década, havia se

transformado em um agente social de inusitada relevância no sistema político nacional.

Por outro lado, setores mais avançados do movimento sindical fizeram esforços no

sentido de apropriar-se do conhecimento da dimensão e das conseqüências do processo

de formação do novo padrão tecnológico e produtivo que emerge com a Terceira

Revolução Industrial nos países avançados e que terá efeitos no Brasil apesar da

preservação da estrutura produtiva industrial.

No entanto,

. seja pela insipiência deste processo,

. seja porque esta discussão ainda se limitou a questão da organização do trabalho

. seja pela debilidade da organização nacional empresarial

. e/ou por sua recusa em discutir abertamente estes temas,

. seja devido a fraca organização nos locais de trabalho,

. seja devido a consolidação de centrais fortes mas sem espaço de negociação,

o certo é que este esforço nao se traduziu na superação da pratica reativa-reivindicativa

do movimento sindical e na formulação de um novo projeto de desenvolvimento capaz

de fazer face as novas condições internacionais e nacionais.

Para Mattoso,a economia e sociedade brasileiras apresentaram resistências significativas

ao projeto conservador ainda no Governo Sarney e depois novamente, quando da

tentativa explicita de inserção subordinada de Collor.

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No entanto a construção de uma real alternativa ao neoliberalismo, capaz de galvanizar

a nação em torno da articulação de um novo projeto nacional, não se constituiu como

corolário deste movimento de resistência.

Os problemas do enfrentamento simultâneo das dificuldades

. do presente (estagnação economia, instabilidade monetária, dificuldades de

financiamento e investimento publico e privado),

. do passado (de atraso, exclusão, miséria e desigualdade)

. e do futuro (colocado pelo novo paradigma tecnológico e em meio a desordem

econômica internacional)

são extraordinários e tem dificultado, sobremaneira, uma reação mais organizada:isto e’,

trata-se de consolidar,

. uma nova articulação social em um pais com uma estrutura industrial constituída em

meio a intensa desigualdade e exclusão social,

. e constituir um novo padrão de desenvolvimento nos marcos de uma nova

multilateralidade, em meio a uma crescente instabilidade mundial e a uma acentuada

desordem do trabalho.

Projeto Nacional

Este novo projeto nacional, de difícil mas não impossível constituição, seria distinto do

desenvolvimentismo e, alternativo ao neoliberalismo ,e permitiria articular - ainda que

lentamente - as forças sociais capazes de sacudir a poeira e, no futuro, dar a volta por

cima.

Para o Brasil, em um primeiro momento,

. tratar-se-ia de um compromisso que visaria favorecer o controle democrático do

mercado e do Estado e permitiria, no curto prazo,

. a preservação e ampliação do carater protoganico de uma organização sindical

renovada e ampliada.

No médio e longo prazo,

. tratarse-ia de assegurar a evolução na direção da formação de uma nova hegemonia,

que

incorporasse também novos atores sociais, ações-relações não-econômicas e uma

nova divisão do produto social. Sem essa nova divisão do produto social, ficaria

praticamente impossível garantir a efetiva incorporação dos inumeráveis miseráveis e

excluídos do passado e do futuro de nossa sociedade.

Nas atuais condições brasileiras, e novamente ao contrario de outros países, esta

negociação social ainda poderia ter por eixo os trabalhadores organizados. No entanto,

não poderia ter por aliados exclusivos os camponeses (na versão leninista) ou os

modernos empresários industriais-agrícolas (na versão social-democrata).

Ambas as versões tem pequenas bases reais na sociedade brasileira, preponderantemente

urbana e industrial e profundamente heterogênea e desigual.

Sindicatos comprometidos com trabalhadores íntegros e solidários em uma sociedade

mais justa e democrática teriam que tornar efetiva a incorporação a produção, ao

consumo e a cidadania dos miseráveis e excluídos de nossa sociedade e para isso,

eventualmente, também articular-se com determinados setores considerados atrasados

mas que tenham contradições imediatas com o neoliberalismo.

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Conclui Mattoso: “para manter ou ampliar sua participação social no limiar do século

XXI os trabalhadores teriam que:

. abrir-se ao ajuste de contas com o passado de miséria e atraso característico da

economia e da sociedade brasileiras

. ao mesmo tempo em que teriam que encarar os desafios do futuro - cujas soluções

condicionam as formas mais ou menos virtuosas de incorporação do progresso

tecnológico e da inserção internacional -

. levando em conta tanto as mudanças ocorridas no mundo(nos planos geo-político,

produtivo, financeiro e tecnológico), quanto a defesa de suas necessidades imediatas e de

. seus desejos históricos de construção de uma sociedade verdadeiramente democrática e

socialmente mais justa.

Portanto, para preservar e\ou ampliar sua participação social um duplo desafio se

colocaria.

1) por um lado, ter a capacidade de romper com dogmas e corporativismos, incoporando

a democracia não apenas como valor universal e elemento constitutivo da sociedade

futura, mas também como espaço de criação de novos direitos e de critica social.

2) Por outro lado, romper o defensivo e as praticas reativas, que foram resultado dos

anos de resistência e da ausência de efetivos canais de negociação, assumindo

propostas que fortaleçam a centralização nacional da negociação e da contratação

coletiva e sejam capazes de responder aos anseios dos trabalhadores ampliando a

solidariedade com os excluídos e articulando-os com outros setores sociais, na defesa

do futuro da própria nação.

Isto implicaria romper com uma tradição que:

= se apropriou exclusivamente da dimensão produtiva, do processo de produção e

das relações de trabalho padronizadas que lhe foram próprias,

= para ampliar-se a novos agentes, novas forcas e movimentos sociais que muitas

vezes se situam fora do processo de valorização.

A partir da análise de Mattoso, podemos classificar as etapas da história da CUT,

usando um aporte gramsciano:

Para além do “econômico corporativo”

O peso do elemento econômico-corporativo no sindicalismo brasileiro é de caráter

estratégico, enquanto desafio a ser superado. Numa linguagem gramsciana, é um

obstáculo a formação de uma direção moral-intelectual no campo sindical e, na

sociedade, de uma vontade democrático-popular.

O econômico-corporativo, indica a confluência restrita de interesses imediatos e, a nível

geral,e’ indicativo de uma situação em que a escassez dos elementos da superestrutura

(consciência, cultura, política, hegemonia) correspondem ao domínio de uma situação

estrutural restrita, incapaz de expandir-se, isto e’, de um consenso passivo, não

democrático.

Revela, enfim, o reflexo de um primitivismo economico que impede a expansão de uma

consciência geral. A fase econômico-corporativa é necessária em todo tipo de instituição,

contudo, não supera-la implica não se atingir a esfera diretamente política. O problema

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da superação da fase econômico-corporativa é o mesmo da passagem para dimensão

hegemônica.

Nesse sentido, a “hegemonia integral”, no campo do sindicalismo, define-se em 3 campos

estratégicos de disputa: seja no campo das relações com seus representantes; no campo

com a contraparte empresarial; no campo de interação com o sistema global, o sistema

sócio-político.

1. No campo interno a própria CUT, enquanto formas de representação de sua base,

seja a nível nacional (classe), seja a nível local, nas unidades de produção e serviço

(organização nos locais de trabalho);

2. No campo conflitual/contratual da relação com o setor empresarial e de disputa

capital x trabalho;

3. No campo do sistema político global; relação com Governo, Estado, Partidos,

outras centrais sindicais, movimentos sociais diversos, enfim, a sociedade civil.

A construção do projeto da CUT, e de sua de participação na construção de um

projeto nacional democrático-popular, dá-se de forma desigual, no que diz respeito

aos três campos, mas, de forma combinada.

Portanto, as debilidades no campo interno (hegemonia débil na questão da

representação, a nível nacional e/ou local), interfere com os outros 2 campos; e

vice-versa. Assim, as relacoes com a contraparte - que se expressam na estrutura

da contratação - são estreitamente conexas com a forma de representação. E,

também, com tudo que diz respeito as relacoes com o Estado.

Utilizando o aporte gramsciano, podemos ter o seguinte quadro:

1. Etapa de Resistência fundação até III. CONCUT 1986

2. Etapa Econômico-corporativa

abrindo as possibilidades de um período de transição para uma

3. Etapa de dimensão politico-hegemonica

Entretanto, o IV CONCUT (1991) revelou-nos uma crise profunda no projeto

sindical cutista. Estávamos em pleno auge do Governo Collor.

Nas palavras do dirigente Jorge Lorenzetti, que chega a usar a expressão

“refundação dos sindicatos no Brasil”, “O movimento sindical cutista acabou se

perdendo na justificativa de que estava num processo de transição do velho para o

novo modelo. Qualquer balanço que se faca dá para constatar a não superação

desse sindicalismo oficial”. (1995)

Continua Lorenzetti, “Por isso é necessário atualizar a critica e reconhecer que

somos herdeiros de uma cultura coporativista de um sindicalismo pulverizado. Os

sindicatos se mantiveram atolados nos parâmetros definidos pela CLT... Por um

lado, é preciso reconhecer que crescemos por dentro do “modelo oficial”. Mas, por

outro lado, é nítido que o modelo atual não é mais suficiente para dar contas das

tarefas daqui para frente. Como hoje os trabalhadores tem um patamar superior de

disputa hegemônica na sociedade brasileira, é preciso avançar na construção de

uma nova cultura sindical que efetivamente supere o velho modelo”.

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Finaliza Lorenzetti, “E passou a época de ficarmos simplesmente no diagnóstico. É

preciso avançar na elaboracao de um projeto e uma estratégia organizativa global

para ser implementada de forma sistemática e planejada.

Na pratica, a introdução da liberdade e autonomia sindical, vai significar ao

sindicato a perda do monopólio da base. Isso significa novos desafios para a ação

sindical”.

Estes desafios foram retomados nas Resoluções da 7a. Plenaria Nacional. De certa

forma, condensam-se na questão do “sindicato orgânico”.

B. OS NÓS CRÍTICOS DA CUT: a encruzilhada

Vejamos alguns dos problemas que estão na agenda sindical da CUT. O próprio

Documento da 7a Plenaria Nacional os condensa e contextualiza:

“Estamos neste momento diante de uma importante encruzilhada quanto ao novo modelo

sindical.

= Por um lado, vivemos com uma estrutura sindical arcaica, corporativista e baseada no

modelo fascista da unicidade, das taxas compulsórias, das datas bases, do poder

normativo da Justica do Trabalho...;

= E por outro lado, enfrentamos as transformações no mundo do trabalho, com novas

formas de gerenciamento, terceirização, globalização da economia, privatização do

Estado, inovações tecnológicas, etc.,

= A tudo isso soma-se um modelo economico que tem por base a exclusão do mercado

de trabalho de parcelas cada vez maiores da sociedade, seja pelo sub-emprego, pelo

ingresso na economia informal, ou pela marginalização pura e simples, como o trabalho

escravo e a exploração da mão de obra infantil.(...)

As conseqüências desse quadro, para o movimento sindical, são :

a pulverização dos sindicatos e

a baixa representatividade enquanto classe.

É claro que mudar essa realidade não é tarefa exclusiva do movimento sindical, mas sem

sombra de duvida, cabe-nos uma parcela importante nesse processo.

A própria construção da CUT já foi um importante passo para rompermos com o

corporativismo oficial, mas continuamos submetidos, no nosso dia-a-dia, ao sindicato

corporativo, que em discurso tanto combatemos.

(...) É necessário, portanto, darmos um salto de qualidade em nossa organização,

estimular a fusão de sindicatos, ampliando a força e a representatividade de nossas

entidades, criar estruturas solidarias, que sirvam ao conjunto da classe, e não somente

essa ou aquela categoria, enfim nos prepararmos para o verdadeiro enfrentamento, uma

disputa de projeto de classe.

Paralela a discussão do tipo de sindicato que devemos construir, orgânico a CUT ou não,

estamos também nos deparando com a discussão de liberdade e autonomia sindical,

Contrato Coletivo de Trabalho e o fim do Imposto Sindical.

(...) Pior ainda, com raríssimas exceções, nosso modelo sindical oficial está pouco ou

quase nada, enraizado nos locais de trabalho, ficando muitos de nossos sindicatos sem

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inserção entre os trabalhadores que representa, e com baixo número de trabalhadores

sindicalizados.”.

Assim, a Plenaria descreve com muito realismo o quadro atual da CUT. Sao problemas

que estão nos 3 campo de disputa de hegemonia que falamos acima. Tentemos uma

síntese que nos ajude a avançar o debate. Vamos traçar 4 campos de determinação destes

problemas. A ordem de exposição não significa, necessariamente, hierarquização ou

prioridade dentro do conjunto de campos.

Projeto CUT História e Concepção

Impasses internos mutações estruturais políticas de

a CUT globais Governo

de civilização

(nova cultura sindical)

Disputa de hegemonia

A crise atual do sindicalismo,na sua relacao com a “crise do trabalho”(ou a “desordem

do trabalho”,expressao de Mattoso) exige ser analisa numa perspectiva maior,isto é,que

incorpore temporalidades mais longas e contradicoes mais profundas.Nao podemos

limitar nossa analise a dois aspectos: o das mutacoes na producao e, nas relacoes sociais.

Podemos considerar os “determinantes estruturais longos”,como elementos de uma crise

estrutural mais ampla,ou seja,a crise de transicao da acumulacao fordista para

acumulacao flexivel.

J.Texier nos afirma que “estes dois niveis -relacoes de producao e relacoes sociais- nao

sao suficientes: o conceito util é o de Bloco Historico,utilizado por

Gramsci”.Aqui,vamos para questao da hegemonia politica e cultural,da revolucao moral-

intelectual.

A crise do trabalho tem a dimensao da crise ecologica: “as mutacoes tecnologicas que

transformam a producao (a revolucao informatica) tem consequencias decisivas sobre o

lugar e o papel do trabalho na producao de riqueza”.

Contudo enquanto “crise”,porta aspectos positivos.”A dificuldade é de entender que as

mutacoes em curso e que tem no desemprego de massa uma infelicidade social,abre

tambem imensas possibilidades para humanidade,mais ainda,estas mutacoes impoeem as

transformacoes sociais que só podem ser racionais se sao,tambem,radicalmente

emancipatorias.os ganhos de produtividade que asseguram as novas tecnologias

permitem ,com efeito,de pensar simultaneamente o desenvolvimento das formas da

riqueza e da reducao da quantidade de trabalho necessarias.É no quadro das relacoes

sociais atuais que,o que poderia ser uma conquista do homem torna-se sinonimo de

infelicidade.”(J.Texier).

É uma crise estrutural que porta em si fenomenos como:

=precarizacao do trabalho;

=marginalizacao social de massa;

=marginalizacao da organizacao espacial-temporal da vida cotidiana

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= novo tipo de individualismo;

=novas normas hegemonicas de cultura,lazer e tempo libre.

Este contexto,implica uma verdadeira “revolucao coperniciana”no dominio da acao

coletiva.

1. MUTAÇÕES CIVILIZATÓRIAS.

Mais que un sindicalismo em crise, vivenciamos um sindicalismo em mutações. Mais do

que uma “revolução sindical”, trata-se de mutações históricas profundas e radicais. Abre-

se uma fase de transições ou de “crises seculares”, pois, um período civilizatório se

esgota e outro, lentamente, surge. A crise é, portanto, fecunda, e assinala um começo!

Estes desafios tem um caráter universal desde que se poem para o sindicalismo em todo

o mundo. Contudo, para cada pais e situação, toma características próprias a formação

sócio-cultural e histórica correspondente. Neste sentido, particulariza-se e exige

respostas a partir de cada realidade concreta. Contudo, cada realidade concreta está

mediada com outras realidades concretas mais amplas. Isto faz com que não existam

mais respostas isoladas e locais as questões de ordem global.E,vice-versa:nao existam

saidas globais sem a dimensao local -nacional.

Aqui, cabe-nos definir algumas características do capitalismo em mutação. Estamos em

uma fase de profundas transformações do sistema capitalista, uma fase, talvez, de

transição em que o capital está abandonando a forma que tinha assumido a partir dos

anos 20 deste século. O ciclo de acumulação dito taylorista-fordista, com seus mercados

em escala nacional e a política keynesianna. Muitos analistas usam o termo “pós-

fordismo”, no sentido de designar uma reestruturacao do capitalismo do pós-guerra e,

iniciada a partir da segunda metade dos anos 70. Algumas características deste fenômeno

são claras:

1. a descentralização da produção, em termos de estrutura e de espaços;

2. a capacidade financeira e de pesquisa, entretanto, são concentradas nos países do

capitalismo avançado;

3. uma compressão “espaço-tempo” multilateral do capitalismo facilita a extensão e a

velocidade dos processos econômicos;

4. elimina-se a unidade espaço-tempo da política e da economia, característica da fase

precedente. O Estado perde sua capacidade de mediação entre mercado e sociedade;

5. a qualidade do trabalho sofre uma transformação no mais amplo processo de

reestruturacao da organização produtiva;

6. surge uma nova forma de capitalismo global, muito distinta do capitalismo

multinacional de tipo fordista;

7. as transformações sócio-econômicas são acompanhadas por uma pós-modernização

cultural de carater conservador;é o que F.Jameson chama de “logica cultural do

capitalismo tardio”;

8. há uma crescente formalização da democracia.

Estes aspectos determinam o caráter global da crise. Portanto, uma crise global demanda

uma resposta global. O movimento sindical só sairá de sua própria crise participando da

construção coletiva de um projeto global de economia, de sociedade, de Estado,

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inspirado numa nova cultura e numa nova Ética. A formulação do projeto global

alternativo exige que se conheçam as forcas sociais e política que podem torna-lo

possível e o programa de mudanças estruturais que possam oferecer soluções aos

problemas principais e que possa mobilizar a sociedade.

Na disputa de hegemonia, o sindicalismo classista, junto com os partidos de esquerda e

outras organizações sociais, mantendo sua autonomia, busca a formação de um bloco

democrático-popular. Orienta-se na perspectiva de um sindicalismo sócio-político ou de

um sindicalismo-cidadão, capaz de responder não apenas a seus problemas, mas a todos

os problemas da sociedade e do Estado.

Assim, o movimento sindical terá um papel de destaque na construção de um mundo

mais igualitário, mais socialmente justo e mais democrático.

Dentre as mutações estruturais, as novas tecnologias produzem impactos culturais de

caráter global sobre a sociedade e de caráter singular sobre os trabalhadores. Elas

constituem, objetivamente, um desejo antigo da humanidade identificado com o

socialismo: a libertação do homem do trabalho manual, a redução da jornada de trabalho,

o tempo livre, uma maior produtividade do trabalho. Contudo, a implementação das

novas tecnologias tem trazido desemprego, desarticulação dos trabalhadores,

desorganização familiar pelos turnos flexíveis, etc. Sao as duas caras de um mesmo

fenômeno, a revolução tecnologica-industrial, com desvantagem imensa para o aspecto

utópico. De um lado, a cara da libertação potencial dos trabalhadores em relação a

alienação, a organização capitalista do trabalho; por outro lado, a reorganização da

hegemonia capitalista nas fabricas, bancos, escolas, etc. Portanto, combina as

possibilidades de concentrar a utopia com a realidade dura das novas formas de alienação

na sociedade.

Quatro aspectos se sobressaem:

a fragmentação do mundo do trabalho

a fragmentação do mundo rural,

a fragmentação sócio-cultural urbana-rural;

o crescimento do desemprego, do sub-emprego e do trabalho precário.

Neste contexto, para combater a hegemonia cultural neo-conservadora, os sindicatos,

junto com outras organizações, para conquistar a maioria na sociedade devem levar

adiante uma grande batalha cultural. Esta frente de luta não pode se limitar as questões

advindas das novas tecnologias; ao contrario, deve abarcar as reivindicações sócio-

políticas dos trabalhadores urbanos e rurais, os setores formais e informais da economia.

A questão é como construir uma “dialética polifonica”, múltipla, que possa dar conta de

realidade tão complexa. Um estilo de fazer política sindical que permita achar pontos de

homogeneização politico-cultural entre interesses e expectativas tão diferentes. É um

desafio imenso e, é sobretudo no campo da cultura.

A cultura chamada de “pós-modernidade”, enquanto expressão da hegemonia

neoconservadora é uma alternativa ideologica a crise atual. Ela obriga o movimento

sindical a competir culturalmente na disputa de projetos sociais.

Para finalizar esta parte, passemos a palavra a Aluízio Mercadante. Em texto para

Revista “Tempo e Presença” (259, de 1991), anterior ao IV CONCUT, com o titulo

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geral de “Sindicalismo Hoje-Novos Desafios”, Mercadante finalizava com a seguinte

advertência:

“A discussão de um projeto alternativo e a participação afirmativa e propositiva do

movimento sindical na construção desse projeto e de uma nova proposta de

governabilidade para o Brasil são o grande desafio da CUT e do movimento sindical.

Sem esse avanço, que significa superar a política da negação e do protesto por uma

política de afirmação e construção, a partir da disputa de hegemonia, que faca dos

interesses dos trabalhadores os interesses de amplas parcelas da sociedade, será difícil o

movimento sindical voltar a ocupar o espaço que já teve na vida política do pais”.

2) IMPASSES INTERNOS

Para caracterizar os elementos que fazem parte deste campo de “impasses internos”,

vamos usar material coletivo resultado de algumas atividades no campo da formação

cutista,envolvendo dirigentes e formadores.Sao atividades ocorridas nas Escolas

organicas da CUT: a primeira na Escola 7de Outubro-MG e,a segunda,na Escola Sul-

Santa Catarina.

Primeiro, do “Seminário sobre as Bases de um Programa Nacional de Formação em

Planejamento e Administração Sindical Cutista”, realizado na Escola 7 de 10 (MG),

em outubro de 1989. Portanto, antes do IV CONCUT - 1991 -. Definiram-se “a

trajetória e os desafios atuais da CUT”. O relatório final ressalta alguns pontos:

a) “O surgimento da CUT é resultado da resistência dos trabalhadores a política

econômica dos últimos anos. O movimento de massa de resistência cria as

condições políticas para se fundar a central.

Referencias do sindicalismo cutista: combatividade, renovação sindical, luta, ampla

participação de combate a política econômica e ao arrocho salarial.

Até 1986: período de implantação da central. As referencias do sindicalismo cutista

se materializam nas oposições sindicais, utilizando a estrutura oficial.

Bandeiras que a CUT aponta para o movimento sindical neste período:

reposição das perdas salariais

defesa do salário

defesa do emprego

defesa da reforma agraria

defesa da liberdade e autonomia sindicais

b) Em oposição a estrutura vertical oficial, a CUT cria a estrutura horizontal.

1986 pode ser analisado como o primeiro salto de qualidade importante: pretende-

se que a CUT não pode ser concebida apenas como uma articulação de sindicatos,

como uma referencia de lutas. Era preciso viabilizar um novo projeto sindical.

Fenômenos importantes neste período: disputa interna na central e discussão do

projeto sindical da CUT.

Na discussão do projeto sindical colocam-se questões tais como nossos princípios

sindicais, a pratica sindical, a construção do socialismo.

12

Em 1988, tiram-se resoluções mais aprofundadas sobre a concepção e pratica

sindical, sobre a estrutura sindical e sobre medidas de transformação da CUT na

perspectiva do projeto.

Um novo salto de qualidade está colocado: a CUT se constituir numa

representação orgânica classista dos trabalhadores, em direção de lutas.

Começa a se desenhar o projeto da estrutura sindical que articula a estrutura

vertical com a horizontal, criando as condições para a combinação da luta imediata

com a luta histórica dos trabalhadores, rompendo, inclusive com a justiça do

trabalho.

. Estrutura horizontal: CUT nacional, CUTs Estaduais, CUTs Regionais,

Sindicatos de Base.

Estrutura vertical: Comissões Sindicais de Base, Sindicatos de Base,

Departamentos Estaduais e Nacionais, estes por ramo de produção.

O Sindicato de Base é o centro tanto da estrutura vertical como horizontal, porem,

um novo sindicato de base da estrutura organizativa da CUT. Muitos sindicatos

entendem que o sindicato de base não faz parte da estrutura da CUT.

As instancias horizontais devem representar e serem direção de luta do conjunto

dos trabalhadores dos sindicatos filiados a CUT.

O programa de planejamento e administração sindical deve ser trabalhado na

construção deste projeto, transformando nossa pratica em uma nova cultura

sindical. Para isto é preciso fortalecer as instancias verticais e horizontais.

O desafio fundamental , então, é a construção do novo projeto de estrutura sindical

(que se traduz em uma nova concepção sindical) e a contribuição que pode dar a

este projeto um programa de formação em planejamento e administração sindical”.

Varias “dificuldades, algumas causas, algumas necessidades”, são levantadas no

Seminário:

. novos dirigentes assimilam os métodos dos “velhos dirigentes”;

. distancia entre a constatação dos problemas e a capacidade de enfrenta-los;

. falta de clareza dos dirigentes quanto ao seu papel;

. questões do poder e o autoritarismo prejudicando o desenvolvimento do trabalho

sindical;

. estratégias, quando existem, são de curto prazo e não são coletivas; as forças políticas

passam a brigar de maneira fútil por espaços dentro da maquina, por questões

superficiais; deteriora-se a qualidade da discussão política.

. Concepção de que a administração é algo meramente burocrático (...);

. estrutura do sindicato versus estrutura da empresa: diferenças e semelhanças (...)

. relação funcionarios-dirigentes: a democracia e a questão da eficiência;

. funcionários: profissionalismo versus militância...

. falta de uma cultura sindical solida nas suas varias dimensões...

. o corporativismo está introjetado nos próprios dirigentes;

. pesada herança do corporativismo e do assistencialismo;

. inexistência de um acumulo sistemático de conhecimentos, de pesquisas, analises,

estudos e perspectivas das categorias e da classe. Inexistência de pessoas e grupos

voltados para estas questões;

13

. falta de clareza conceitual entre objetivos, estratégias e táticas...

. diferenças objetivas entre a concepção cutista e a forma como a maquina está

estruturada: o dirigente tem a cabeça na CUT e os pés na CLT;

. falta de preparação do dirigente: muita dificuldade para absorver os objetivos

estratégicos da CUT e aplica-los na pratica cotidiana;

. falta de estratégia para desmantelar a velha estrutura e construir a nova

(assistencialismo, sustentação financeira, democracia, transparência, etc.);

. falta de percepção dos objetivos e da estratégia da burguesia;

. trajetória objetiva dos militantes: pequena experiência histórica do movimento,

dificuldades para lidar com as questões do planejamento;

. falta de um projeto, de um modelo sindical que sirva de referencia;

. necessidade de que haja um plano de trabalho não só para as questões imediatas mas

também para o médio e o longo prazos;

. necessidade de disseminar a discussão sobre objetivos estratégicos do movimento

sindical com vistas a formação coletiva de projetos e estratégias;

. dificuldades levam a existência de duas estruturas paralelas: a velha, que cuida da

burocracia, assistencialismo, etc.,...e a nova, voltada para a luta;

. a conjuntura muito dinâmica impede a dedicação de recursos ao fortalecimento das

capacidade de organização e de formulação coletiva de estratégias;

. a realidade discutida refere-se fundamentalmente ao sindicalismo urbano. As questões

do sindicalismo rural devem ter discussão especifica.”

Apos o 4o Concut(1991),quando a crise poltica da CUT atingiu dimensoes maiores,A

Executiva nacional decidiu elaborar um “planejamento sistematico”de suas acoes para o

periodo de 92/94.

No texto introdutorio ao Documento do planejamento,afirma-se a necessidade de

consolidar a Central,apos o periodo de criacao e implantacao nacional.Na nova

conjuntura historica,deve-se aliar a combativade -carateristica dos anos 80-,um salto de

qualidade em termos organizativos é o novo desafio que se apresenta.

Logo apos o 3o Concut(1988-MG),a SNF e a Executiva Nacional decidiram pela

realizacao de um programa de formacao em planejamento e administracao sindical,em

convenio com a Escola Sindical 7de outubro.(Vimos os relatos acima).

Portanto,após o IV CONCUT (1991),realizado em SP, a direção nacional participou de

um Planejamento estratégico. Vejamos , 2 anos após o Seminário de BH, quais eram os

nos críticos da CUT.

Os problemas trabalhados foram:

dificuldades no enfrentamento do projeto neoliberal

insuficiencia de organizacao por local de trabalho

falta de integracao e participacao nas instancias e entre as instancias da Central

inexistencia de uma gestao participativa e planejada

desequilibrio na relacao receita x despesa

ausencia na CUT de estrategia que contemple os pequenos agricultores

14

Em relacao ao primeiro ponto,a operacao 1 previa:

Articular um forum do campo democratico e popular,viabilizando uma plataforma e

atuacao comum.

Em relacao ao segundo problema,uma outra operacao 1,previa:

Criar mecanismos de acompanhamento e avaliacao do processo de construcao de OLT.

Neste ponto, a “Arvore Explicativa” GRADE

=============================

=============================

Sobre a OLT, varias resoluções foram tomadas no IV CONCUT. Entretanto, o balanço

após estes anos todos, reflete-se no Documento da 7a. Plenaria nacional (1995):

“As decisões do 4 Concut, em 1991, sobre a necessidade de avançarmos na organização

dos trabalhadores a partir dos locais de trabalho, salvo as raras exceções, não saíram do

papel, o que demonstra ainda, a fraca penetração dos nossos sindicatos na maioria das

empresas que compõem suas bases sindicais”.

3) POLÍTICAS DE GOVERNO.

Em inícios de 1995, antes da posse de FHC, A Escola Sul da CUT promoveu um

seminário em que se diagnosticou os desafios da Central para conjuntura recém

iniciada. Vejamos como estavam os problemas da CUT, 5 anos após o Seminário

realizado em MG, 4 anos após o 4 Concut.Portanto,muitos temas novos foram

incorporados,outros temas,bem velhos,persistem.

Varias sínteses foram traçadas.

A Primeira Síntese, diz respeito aos temas:

1. “Reestruturacao produtiva e suas implicações na organização sindical”.

2. Cenário indicativo do governo FHC.

3. Sistema democrático de relacoes de trabalho.

Sobre o primeiro tema, temos os seguintes pontos:

1. Constatações gerais:

1. 1. O processo de reestruturacao produtiva é independente do governo. Mas seu

conteúdo, seu caráter, sua velocidade e suas conseqüências são determinados

politicamente.

1.2. O governo FHC vai propor reformas estruturais.

1.3. O processo forja uma nova composição da classe trabalhadora:

integrados/incluídos com importância estratégica no processo de

produção: maior autonomia, maior poder, maior responsabilidade.

Mudam os compromissos na relação capital e trabalho.

Tradicionais/terceirizados: relacoes de trabalho mais precárias e

tradicionais.

Excluídos: desemprego estrutural e informalização, constituindo a maioria

da classe

15

1.4. O trabalho perde a centralidade como espaço fundamental da

sociabilidade do cidadão

1.5. O movimento sindical não discute o trabalho, mas somente o emprego.

2. Desafios:

2.1. Construir um projeto político solidário da classe, que consiga

compatibilizar os interesses dos excluídos e incluídos.

2.2. Como dialogar com a nova composição da classe, dado o aumento do

conflito intra-classe (há uma perda da universalidade dos direitos) ?

2.3. A organização sindical atual e a proposta de organização sindical da CUT

conseguem responder a nova complexidade da classe?

2.4. O movimento sindical tem capacidade de organizar e representar os

excluídos?

1.5. A resposta sindical deve ter um caráter de resistência/enfrentamento ou de

negociação/proposição?

3. Respostas sindicais:

3.1. Presuposto: representatividade política e capacidade de articulação com

as demandas da base.

OLT adquire papel fundamental

3.2. Reconhecer a existência dos impactos do processo de reestruturacao ao

movimento sindical.

3.3. Disputar quem ganha e perde: conjunto da sociedade ou alguns poucos

trabalhadores e patrões.

3.4. Luta pela redução da jornada

3.5. Resposta política, através do sistema democrático de relacoes de trabalho.

3.6. Reconhecer que a reestruturacao traz novas possibilidades para a ação

sindical

Mais poder dos trabalhadores

Mais impactos na produção

Maior capacidade de elaboracao

Cenário indicativo do governo FHC

a. Introdução de reformas estruturais:

Abertura comercial

Privatização

Previdência

Saúde

Fiscal e tributaria

Desregulamentação da economia

b. Reformas no sistema de relacoes de trabalho:

Convenção 87 da OIT: fim do imposto e da unicidade

Rediscussão da CLT

Livre-negociação: fim da política salarial e do poder normativo

Contrato coletivo por empresa

Papel do Estado: estabelecer as regras do jogo

16

Drástica redução nos encargos sociais

Participação nos lucros e remuneração variável

Pergunta:

Como se dará o processo de implantação dessas reformas?

A. O governo conseguirá criar consensos na sociedade e com que mecanismos?

Discutindo ou impondo?

B. A posição da CUT será defensiva (resistência) ou ofensiva na afirmação de sua

proposta para a sociedade?

Sistema democrático de relações de trabalho

1. Liberdade de organização sindical, inclusive de OLT

2. Ampliação do poder de negociação(CCT)

3. Redefinição do papel do Estado: legislação de suporte e garantias individuais

básicas.

Desafios:

1. Como fica o sindicato sem imposto e sem unicidade compulsória?

2. Como avançar na proposição da CUT de uma organização sindical por ramo?

3. Sustentação financeira do sindicato?

4. Alcance dos acordos/convenções?

5. Qual o papel da Justica do Trabalho com o fim do poder normativo?

6. O que fazer com o juiz classista?

7. Qual o caráter da OLT?

8. Patrimônio dos atuais sindicatos?

9. Perspectivas das câmaras setoriais?

A segunda síntese do Seminário analisa a

Transição: Desafios e Perspectivas para o Movimento Sindical

1. Caracterização das reformas e do contexto político do governo FHC

1.1. FHC tem legitimidade para propor reformas, mas não para impor

através de decreto

1.2. Congresso tem maioria conservadora, mas isso por si só não

significa que o bloco do no Centrão terá atuação homogênea

1.3. Gover necessita base de apoio para reformas, que irá buscar na

base da sociedade e no movimento social organizado, em confronto direto

com a CUT

Conclusões:

1. Há espaço e há necessidade de disputar projetos com o governo no conjunto da

sociedade

2. Há espaço para formação de bloco com outros organismos da sociedade civil em

defesa das reformas que a CUT propõe.

3. Chegou o momento de a CUT tomar a iniciativa política de apresentar suas

propostas alternativas nesse debate.

17

Desafios e Perspectivas:

2.1 A CUT tem acumulo de posições, mas ainda deve aprofundar as

formulações em torno dos temas em debate

2.2 O movimento sindical deve conceber a reformulação da sua estrutura,

para um cenário de liberdade e autonomia sindical:

Organização referenciada na central sindical

Movimento de implantação sindical nos locais de trabalho

Organização por ramo de atividade

Formação sindical para qualificar os dirigentes para enfrentar este novo

cenário e também para disputa com outras concepções sindicais.

2.3 A globalização da economia impõe a necessidade de organização

internacional dos trabalhadores

A terceira Síntese, a final, reflete o resultado dos trabalhos de grupos. Sao pontos

indicativos aprovados pelo plenário.

Desafios:

1. Reestruturacao produtiva

realizar diagnostico sobre a reestruturacao produtiva

definir forma de enfrentar a exclusão social-desemprego tecnológico

definir alternativas as políticas compensatorias do governo FHC aos excluídos

organizar os sindicatos no Mercosul

estudar o processo de trabalho

definir o perfil de atuação sindical numa sociedade de excluídos, com numero cada vez

menor de trabalhadores assalariados

conhecer o contexto internacional e as políticas de cada empresa para

definição da OLT

2. Organização sindical

necessidade de reestruturacao organizativa do movimento sindical

CUT não tem estrutura para enfrentar a pluralidade sindical

como implantar a OLT?

Ampliar discussão sobre Contrato Coletivo de Trabalho

dificuldade de organização por ramos

relação de sindicato com a base e do sindicato com a CUT

definição de uma estrutura mais clara sobre estatuto do setor publico e

privado

3. ESTADO

discutir qual a proposta da CUT para o papel do Estado e privatização

atuar na Reforma Constitucional

intervir permanentemente na definição de políticas publicas

garantia de direitos sociais

4. Projeto da CUT

qual a definição conceitual de nosso projeto? É apenas construir a cidadania

e a distribuição da renda/ ou construir o socialismo?

Como conciliar interesses específicos e gerais da classe?

Como resgatar os princípios históricos da CUT?

18

Promoção da solidariedade

dar respostas ao desafio de construir um projeto voltado para a totalidade da

sociedade

relação do sindicato com a sociedade

articulação permanente com outros setores da sociedade, principalmente com

movimentos organizados

defesa da reforma agraria e de uma política agrícola

dirigentes não conhecem o conjunto de propostas da Central

CUT tem projetos mas não implementa

(vamos pular alguns aspectos da Síntese: formação, comunicação)

7. Pratica Sindical

superar as resistências dos dirigentes as mudanças

construir consensos e unidade política interna em torno das propostas da

CUT

dificuldade de convivência interna das correntes

8. Política de Alianças

atuar como polo aglutinador para enfrentar a polarização ideológica no

próximo período

(Seguem as Diretrizes sobre estas mesmas questões. Vejamos algumas)

4. projeto da CUT

A CUT reafirma princípio de sua autonomia em relação ao governo. Mas luta

pela democratização do Estado e participa de espaços institucionais onde

estejam em discussão questões referentes aos trabalhadores, tais como os

conselhos populares.

Ampliar nosso raio de ação e interlocução com outros setores e atores sociais

ampliar nossas políticas para o cenário internacional

fiscalizar e acompanhar as ações dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário

disputar nossos projetos no conjunto da sociedade

criar capacidade de unificação de nossas lutas

deliberações da CUT devem ser tomadas a partir da base

7. Pratica Sindical

por em pratica as resoluções da CUT

democratização dos espaços de debates e deliberação internos da CUT, no

sentido de superar as divergências

resgatar a luta e a greve como instrumento central

democratizar os sindicatos

rodízio dos dirigentes liberados

retomar trabalho de base

reforçar a CUT com maior contribuição financeira, como forma de enfrentar a

fragmentação

articular discurso com pratica

superar uma cultura autoritária, que privilegia a exclusão

ampliar a ação sindical para alem da porta da fabrica.

8. Política de alianças

19

discutir com a sociedade os projetos da Central

propor uma agenda de debates para o conjunto dos movimentos e sociedade

A CUT deve ser um polo aglutinador da sociedade civil organizada - do campo

democrático e popular- na democratização dos meios de comunicação e na

garantia dos direitos sociais

juntar forcas com o MST, Igrejas e movimentos, para enfrentar o projeto FHC

Na avaliação destaca-se “a constatação de que o atual modelo sindical é incapaz

de responder as demandas da classe... indica a necessidade de mudança da nossa

organização e ação sindical”.

Por fim, a fala de Lorenzetti condensa os desafios organizativos da CUT:

Três elementos são fundamentais nesta profunda reestruturacao organizativa e de gestão

sindical. Poder-se-ia mesmo falar de uma verdadeira refundação dos sindicatos no Brasil.

O primeiro elemento é referenciar o sindicalismo em projetos de central sindical. (...)Ela

não pode ser somente uma somatória de lutas como é hoje. Os sindicatos vão deixar de

ser filiados as Centrais, para fazerem parte da estrutura orgânica da Central... Manter

todo poder nos sindicatos é reforçar uma visão corporativista.

Um segundo elemento é a organização por ramo de atividade.

Outro elemento fundamental, o terceiro, é o enraizamento do sindicalismo dentro da

empresa, no local de trabalho...

Lorenzetti fala, então, do modelo de Central: “é de ser uma confederação de sindicatos,

tendo uma estratégia de estrutura vertical por ramos e fortalecendo as instancias

horizontais. Neste sentido, o Contrato Coletivo é uma expressão deste tipo de central,

pois pretende ser articulado nacionalmente: contratos nacionais, por setor e chegando ao

local de trabalho”.

4) DISPUTA DE HEGEMONIA

Passemos ao ultimo dos 4 campos de determinação.

Retomando os campo de disputa de hegemonia, vimos que são 3:

1. as relacoes com seus representantes

2. com a contraparte empresarial

3. com o sistema global, o sistema político

=primeiro campo, expressa relacoes de representação em sentido especifico,

incluindo a própria relação com sua base; inclui a forma mais propriamente

organizativa da CUT. Aqui, são dois os níveis: o local de trabalho e, o nacional.

=O segundo campo, são essencialmente as relacoes contratuais e/ou conflitivas.

= O terceiro campo, são as relacoes com o Estado, como sujeito da política

econômica, como expressão de interesses: da classe dominante na economia e na

política.

Como já vimos, as relacoes com a contraparte, que se expressam na estrutura da

contratação coletiva, são estreitamente articuladas com a forma de representação; e,

também, com tudo que diz respeito ao confronto com o Estado.

No que diz respeito as relacoes de representação do sindicalismo, elas podem assumir a

natureza associativa ou classista.

20

Quando são associativas-corporativas, os sindicatos agem como representantes dos seus

filiados. É o caso, por exemplo, do sindicalismo de empresa dos EUA. Organiza-se nos

locais de trabalho, porem, esta organização fica fechada em -si-mesma. Este tipo de

sindicalismo não considera sua a tarefa de coordenar os interesses do conjunto dos

trabalhadores: sua representação é especifica, não é geral; não se interessam pelos

interesses do conjunto da classe.

Quando são classistas, referem-se ao sistema sindical que é articulado com o sistema

político. Assim, em torno deste sistema, a ação sindical obtém vantagens para todos os

trabalhadores do pais, e não apenas para seus filiados. Há um sujeito central que

coordena as reivindicações em vistas dos interesses dos trabalhadores de toda a

economia, e não apenas dos trabalhadores de alguns setores. É uma representação de

tipo geral, em que o acento é posto na coordenação de interesses que, na base, são

heterogêneos. A preocupação é que as reivindicações em favor de certos setores ou

grupos, não vão contra reivindicações de outros grupos ou setores. A distinção entre

sindicalizados e não-sindicalizados perde relevância.

Portanto, a política contratual da organização de representação de fabrica (local de

trabalho, em geral) está subordinada aos sindicatos territoriais; os sindicatos territoriais

por ramo de atividade articulam-se a intersetorial ou confederal (Central).

A estas duas características do sindicalismo classista (ação em favor de toda a classe e

organização baseada nos locais de trabalho (verticalidade), mas articulada ao territorial

(horizontalidade), ajunta-se uma terceira: a presença de “redes” com outros movimento

sociais, sejam: partidos, movimentos populares, etc. Aqui, está o campo amplo da

disputa de projetos na sociedade.

A Crise do Trabalho

Vivemos uma profunda mutacao historica,que poe em causa a ordem da sociedade

moderna em um de seus nucleos essenciais: uma crise do trabalho.

Ao mesmo tempo,em correlacao com esta crise do trabalho,entram em crise todas as

formas de sociabiliade relacionadas,direta ou nao,a instituicao do trabalho:

empresa,escola,sindicatos,partidos,Estado-Nacao,etc.

Esta grande metamorfose,com seu impacto civilizatorio,por profundamente em questao a

cultura ligada ao Movimento Operario e ao Socialismo.

A visao de mundo,dita “pos-moderna”,faz alguns prognosticos:

-fim da centralidade do trabalho;

-desaparicao das classes sociais;

-declinio das ideologias transformadoras;

-agonia do socialismo;

-recuo da producao devido a crise ecologica.

Os campos de analise concernem a todas as formas imediatas de organizacao do

trabalho,do taylorismo,do fordismo,do toiotismo,as politicas economicas,os modelos de

Estado e de sociedade.

Contudo,o periodo atual nao é o primeiro no qual se fala de crise do trabalho.Em todas

as grandes crises estruturais ( o final do seculo XVII,o final do seculo XIX;o periodo dos

primeiros 15 anos deste seculo,o periodo entre as duas guerras) o trabalho esteve no

21

centro das reflexoes.O mesmo ocorreu no fim-do-seculo passado;durante a crise de

1930.A amplitude das mudancas atuais faz pensar ao periodo que Foucault analisou

,passagem da “Idade classica”para “Idade Moderna”: nao apenas o “nascimento do

trabalho”modificou a ordem social,mas engendrou ume nova episteme,afetando a

natureza,os metodos e as funcoes do saber.Dai,que podemos caracteriza-la como de

“ruptura epistemologica”,de “crise do processo civilizatorio”.

Neste sentido,na visao de Lojkine, a “revolucao industrial”toma um aspecto

amplo:”para nós a revolucao industrial nao é somente uma revolucao tecnologica,uma

revolucao dos meios de producao e da organizacao do trabalho;e’igualmente uma

revolucao na cultura,na civilizacao”.Lojkine distingue quatro grandes pilares da

civilizacao industrial que sao atualmen em crise profunda:

=O produtivismo industrialista;

=A divisao entre “trabalho”e “tempo livre”;

=A divisao funcional entre os que concebem,planejam,e os que trabalahm;

=A divisao entre espaco publico (esfera do politico e da opiniao) e espaco privado

(domestico e profissional).

Em relacao ao 3 ponto,salienta que,para falar de “pos-taylorismo”,o essencial nao foi

feito,isto é,o acesso dos trabalhadores,diretamente (atraves de instituicoes

autogestionarias) e indiretamente (atraves das instituicoes representativas horizontais e

verticais),as decisoes estrategicas.

Lojkine conclue sua analise:”Face a cultura “contestadora”do movimento operario,saida

da revolucao industrial,que adiava para as vesperas da revolucao politica a construcao de

uma alternativa ao capitalismo,surge hoje a exigencia de uma nova cultura revolucionaria

capaz de disputar na pratica aos dirigentes as normas e os criterios de gestao”.

Um aspecto é fundamental, quando falamos de disputa de hegemonia. Entendemos esta

ultima numa acepção ampla, isto é, “hegemonia integral”: a construção de uma

alternativa hegemônica política e cultural.

Os aspectos globais das mutações deste final de milênio, trazem desafios fundamentais

no campo da cultura e do conhecimento. A luta cultural não pode se limitar ao

desmascaramento dos mecanismos ideológicos da sociedade. Deve plasmar uma cultura

democrático-popular. Um trabalho de auto-criação cultural, uma verdadeira revolução

intelectual e moral.

A experiência da historia nos mostra que, nem as modificações sócio-políticas, nem as

transformações econômicas, são suficientes para definir um projeto de transformações

globais. Para este ser radical e amplo, deve questionar, criticar e transformar o núcleo

primário dos valores e significados que habita no mais fundo dos costumes, dos hábitos e

modos de viver e pensar da sociedade capitalista.

Este aspecto, nos leva a proposta de Boaventura Santos, no que diz respeito aos

espaços-tempos estruturais da sociedade capitalista. Essa proposta tenta dar conta de

uma serie de dificuldades relacionadas, seja, a relação Estado x Sociedade Civil, seja, a

questão da Sociedade Civil em - si - mesma.

“As sociedades capitalistas são formações ou configurações constituídas por quatro

modos básicos de produção de poder que se articulam de maneiras especificas. Estes

22

modos de produção geram quatro formas básicas de poder que, embora

interrelacionadas, são estruturalmente autônomas”

Mapa estrutural das sociedades capitalistas

Componente

s

elementares

\\\\\\\\\\\\\\\\\

Espacos

estruturais

Unidade de

pratica social

Forma

institucional

Mecanismo

de poder

Forma de

direito

Modo de

racionalidade

Espaco

domestico

Sexos e gera-

coes

Familia,casa

mento e

parentesco

Patriarcado Direito

domestico

Maximizacao

da afeti-

vidade

Espaco da

producao

Classe Empresa Exploracao Direito da

producao

Maximizacao

do lucro

Espaco da

cidadania

Individuo Estado Dominacao Direito

territorial

Maximiza-

cao da

lealdade

Espaco

mundial

Nacao Contratos,ac

ordos e Org.

internacionai

s

Troca

desigual

Direito

sistemico

Maximiza-

cao da

eficacia

Outros espaços, como da etnia, da ecologia, representam, no essencial, combinações

diversas entre os quatro conjuntos de relacoes paradigmáticas.

O quadro de Boaventura traz a vantagem de fugir aos reducionismos de todas as

matizes, de evitar ênfases excessivas em alguns aspectos em detrimentos de outros, e, de

permitir a discussão das mediações, das articulações.

Como articular as preocupações com classe, sexo, raça? Como respeitar a autonomia de

cada sujeito? Como articular o coletivo com o individual, o nacional e o internacional, o

local e o global? Como combinar objetivo e subjetivo, classista e não-classista?

A questão da não-centralidade do trabalho, dos novos movimentos sociais, como pensar

todo este complexo no quadro de construção de uma alternativa de hegemonia nacional-

cultural?

Aqui vale a advertência de Terry Eagleton, “No atual tríptico de preocupações da

esquerda com classe, raça e sexo, sente-se freqüentemente que uma ênfase excessiva na

primeira destas categorias tende a dominar e a distorcer a investigação nos dois outros

campos, cuja presença é menos seguramente esclarecida pelo instrumental teórico da

esquerda e assim vulnerável a apropriação pela política de classe de forma muito

estreita... é difícil não sentir que a queixa contra o discurso socialista como um solvente

universal dos projetos políticos alternativos é não só cada vez mais incerta, como, em

alguns contextos, ironicamente sombria. A verdade é que uma combinação de fatores

contribuiu para que, em muitas áreas de pensamento de esquerda contemporânea,

23

surgisse uma critica denegritória, aberta ou velada, a categorias como classe social,

modos de produção e formas de poder de Estado, em nome do compromisso com um

estilo de política mais “localizado” de luta política (..)

Afirmar que esta atenção aos estilos de política não-classista seja, em parte, uma

resposta, consciente ou não, as dificuldades atuais enfrentadas pelas formas mais

tradicionais de política não é, de forma alguma, diminuir o valor intrínseco dos

movimentos alternativos. Qualquer projeto de transformação socialista que pretenda ter

sucesso sem um aliança com estas correntes, e sem respeitar inteiramente sua autonomia,

não passaria de uma imitação oca de um processo emancipatório. O que pretendemos

lembrar é que tanto uma estratégia socialista que passasse ao largo da questão da

opressão de raça e sexo seria sonoramente vazia, como essas formas particulares de

opressão também só poderão ser superadas no contexto do fim das relacoes sociais

capitalistas. O primeiro ponto vem sendo freqüentemente enfatizado, mas o ultimo anda

sob risco de esquecimento”.

No campo da relacao entre genero e classe,as pesquisas mais recentes,como por

exemplo de Helena Hirata, buscam uma “reconceitualizacao da nocao de trabalho,a

partir da introducao,no centro da analise,da dimensao “genero”ou “sexo social”e da

dimensao “Norte-Sul”ou “divisao internacional do trabalho”.

Nota Hirata que “A ampliacao do conceito de trabalho pela inclusao do sexo social e do

trabalho domestico,nao-profissional,nao-assalariado e nao-remunerado teve

consequencias no palno teorico e epistemologico,de fazer explodir toda uma serie de

clivagens,como entre producao e reproducao,assalariado e familia”.

Ou que,”Nas analises sobre as relacoes sociais de sexo,entendidas como relacoes

desiguais,hierarquisadas,asimetricas ou antagonicas de exploracao e de opressao entre

duas categorias de sexos socialmente construidas,a predominancia de um dos

componentes destas relacoes,seja a componente opressao/dominacao de sexo,seja a

componente (super)exploracao economica,constituiu uma das diferencas maiores

separando o campo de pesquisas e do movimento feminista,tanto no Norte como no Sul.

Relacoes de classe ou relacoes de sexo,antagonismos de classes ou antagonismo de

sexos,tudo se passava como se a importancia dada a uma destas relacoes implicasse

deixar a outra em plano secundario.Foi daniele Kergoat que conceitualizou estas duas

relacoes sociais em termos de “coextensividade”(...)

Se partimos da ideia de “co-extensividade”,a exploracao no trabalho assalariado e a

opressao de sexo sao indisssociaveis,a esfera da exploracao economica - ou a das

relacoes de classe- sendo aquela onde se exerce o poder masculino sobre as mulheres”.

C) CAMPO INTERNO DE INTERACOES

Neste espaco ,vamos tratar das varias posicoes dentro da CUT,em relacao a questao da

“reestruturacao organizativa”,ou do “sindicato organico”.

Alguns documentos foram publicados: da Corrente Sindical Classista,da Articulacao

Sindical,da Alternativa Sindical Socialista,da Forca Socialista,os Documentos inclusos no

caderno de teses para 7a. Plenaria Nacional.

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Sao documentos assinados por coletivo de militantes ou,noutros casos,por uma pessoa

representativa da corrente em questao.De certa forma,temos que levar em conta que

ainda nao sao documentos oficiais das correntes.Contudo,expressam as questoes que

correm no debate atual.

No momento em que escrevemos este texto,o quadro de forcas se poe da seguinte

forma:

1.Pro-sindicato organico:

Articulacao Sindical,Alternativa Sindical Socialista,Democracia Socialista,Tendencia

Marxista,Forum Socialista / (todos no campo do PT)

2.Contra-sindicato organico:

Corrente Sindical Classista-PCdoB-,MTS-PSTU,etc- / (fora do campo doPT)

O Trabalho,Forca Socialista,Brasil Socialista / (todos no campo do PT)

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CORRENTE SINDICAL CLASSISTA

1.De inicio,as posicoes da CSC,atraves de artigo de Altamiro Borges,publicado em

Debate Sindical,no box “Polemica”.

A) sobre a 7a Plenaria Nacional.

“Elaborada nos gabinetes pelo staff da tendencia majoritaria da central,a Articulacao,a

proposta do modelo organico surpreendeu a maioria dos cutistas do pais.Em varias

assembleias sindicais de tirada de delegados,nem sequer os ativistas de base dessa

corrente conheciam o teor,e muito menos a essencia,de tal proposicao”.

“... apesar da precaria apresentacao,a proposta pode representar uma “revolucao”na

estrutura da central...Nem por isso a ideia foi debatida em maior profundidade e da

maneira mais democratica,como se recomenda a adocao de qualquer resolucao de peso...

A propria instancia que aprovou a proposta,uma plenaria que credenciou apenas 369

delegados,quando se sabe que a CUT tem mais de 2.200 entidades filiadas,nao foi das

mais representativas e nem a mais apropriada para uma decisao deste relevo.O natural

seria que o tema fosse discutido no forum maximo da CUT,no seu congresso nacional.

B) sobre o diagnostico atual.

“A Articulacao parte de uma dura critica a atual estrutura sindical

brasileira,”arcaica”,que incentiva o corporativismo.Diz tambem que o mundo do trabalho

passa por profundas mutacoes...que afetam duramente o movimento sindical e exigem

novas respostas da central.

Quanto ao disgnostico,nada contra.O problema é o remedio.Diante deste quadro,a

Artsind propoe medidas de carater eminentemente organizativo para superar as atuais e

futuras dificuldades do sindicalismo brasileiro.Pouco ou nada fala sobre os serios

problemas de direcao da central.É como se a tal estrutura organica...fosse a panaceia

para os males do movimento sindical”.

A experiencia brasileira recente,e mesmo a internacional,indicam que as debilidades

proprias do sindicalismo sao essencialmente politicas.

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C)sobre a proposta em -si.

Se o “buraco e’mais embaixo”,quais os motivos do acodamento da Articulacao em

aprovar tal proposta? Quais as provaveis consequencias da implantacao desta estrutura

no Brasil? A resposta a estas questoes,que sao essencialmente politicas e nao funcionais

ou de principios,é que deve balizar a postura das correntes cutistas mais a esquerda.Na

atual conjuntura,essa proposta favorece ou nao o processo em curso de social-

democratizacao da CUT -eis a questao!

D)sobre a centralizacao de poder

Com a estrutura organica,os sindicatos de base perdem poder e autonomia...Sua

contribuicao financeira(do trabalhador),por exemplo,seria depositada na conta da central

e nao das entidades de base.Do piso ao topo,da comissao de fabrica até a federacao

nacional do ramo de atividade,tudo ficaria sob controle direto da executiva da

CUT...Todo o aparato da estrutura organica tambem teria o mesmo

destino.Graficas,jornais,departamentos de formacao,juridico e saude,etc passariam a ser

dirigidos diretamente pela executiva cutista.Os atuais sindicatos,na pratica,seriam

transformados em meras subsedes.

E) sobre o lado Constitucional e a pulverizacao dos sindicatos

O modelo organico só tem condicoes de vingar se for alterada a atual Constituicao,com

o fim do capitulo sobre unicidade sindical.E aqui surge o segundo grande perigo desta

proposta.Ela foi feita sob medida para um pais que adote o plurisindicalismo.

A divisao do sindicalismo,que hoje só atinge o topo,chegaria de vez as bases.Surgiriam

os “sindicatos organicos”da CUT,da Forca Sindical,das duas CGTs e ate da recem-criada

CAT.

Teriamos a proliferacao de centenas ou milhares de pequenos e frageis sindicatos.Estes

perderiam o papel de frentes unicas de combate a exploracao patronal.

Com a filiacao individual a central,como ocorre na Espanha e Italia,a fragmentacao

atingiria inclusive os locais de trabalho.os delegados sindicais ou comissoes de fabrica

teriam que se enquadrar numa das estruturas organicas existentes.

O risco de pulverizacao é ainda maior quando se sabe que as empresas estao investindo

pesado nos chamados “novos metodos de gerenciamento”,via CCQ,ilhas de

producao,etc.Numa disputa aberta pela hegemonia no interior do proprio local de

trabalho...Com o pluralismo,elas teriam escancaradas as possibilidades de criar seus

proprios sindicatos -a exemplo do japao,onde sao comuns os “sindicatos

casas”,nitidamente patronais.

E) sobre a concepcao politica da Artsind

Já faz algum tempo que ela assimilou a badalada tese do “fim da historia”...A Artsind

abracou o ideario da velha social-democracia...De uma postura de confronto com o

capital,que se manifestou na origem desta tendencia,ela adota hoje uma pratica

“propositiva”,civilizada,de convivencia com o sistema capitalista.

F) sobre o poder de negociacao

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Alem disso,na estrutura organica o que passa a valer é o poder de negociacao da

central,que será a interlocutora privilegiada das contratacoes coletivas de trabalho e

tambem dos possiveis pactos sociais,via cameras setoriais nacionais.

G)sobre a alternativa no estagio atual

Diante de tais riscos,a conclusao é que as forcas cutistas de esquerda nao podem

subestimar a postura hegemonista da Articulacao,que serve,no essencial,ao seu projeto

politico de conciliacao de classes.

No atual estagio,o grande desafio no interior da CUT é forjar um contraponto

eficaz,habil politicamente,a concepcao e pratica da corrente majoritaria...O que

recoloca,em novo patamar,a propria discussao sobre a politica de aliancas no interior da

central.

H)sobre a Plenaria de agosto 1996

Até o final do proximo semestre,quando ocorrera a proxima plenaria,o tema necessita ser

debatido pelos verdadeiros responsaveis pela construcao da cUT,com a principal

referencia sindical da luta de classes no pais - os trabalhadores”.

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FORCA SOCIALISTA

2) Vejamos a sintese da posicao da Brasil Socialista,a partir do texto de Genildo

Batista,na Revista “Brasil Revolucionario”.

a) sobre a 7a Plenaria

A ultima plenaria Nacional deliberou sobre um temario com tais implicacoes para a luta

socialista em nosso pais,que julgo seriam decisoes proprias de um Congresso da

Central,precedido de ampla discussao nas bases,nos movimentos sociais e no conjunto

dos Partidos Socialistas.

B) sobre a estrategia socialista e o sindicalismo

uma concepcao para ultrapassar de forma revolucionaria o capitalismo e favorecer a

construcao do socialismo no Brasil,deve ser entendida como uma empreitada de um

processo de acumulo de forcas,isto é:

deve envolver a vivencia e a realizacao de tarefas

politicas,aministrativas,culturais,etc,pelos proprios trabalhadores e o povo no curso do

complexo processo de disputa de hegemonia com as classes dominantes.

C) sobre expericnias previas

Entre estas experiencias previas do caminho provavel na direcao da conquista do poder

pelos trabalhadores e o povo:

a construcao de um forte Partido Socialista e de Massas(tal qual a esquerda socialista

luta para construir no PT);

a existencia de um alto grau de unidade entre os trabalhadores do campo e da cidade;

a existencia de uma Central Sindical Unitaria,Democratica e Combativa que incorpore

organicamente o conjunto dos trabalhadores,ou o que exista de numerico, social e

politicamente significativo no interior da classe;

a conquista e o exercicio de um governo democratico e popular no pais,etc.

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D) sobre a unidade dos trabalhadores

Ora,numa tal concepcao a unidade dos trabalhadores é um valor irrenunciavel e a

construcao de organismos sindicais unitarios,desde a base,um objetivo estrategico central

a ser perseguido

A historia nao registra vitorias do proletariado sobre a burguesia em meio a classe

dispersa em multiplos organismos com objetivos desencontrados ou conflitantes.

E) sobre o diagnostico

As resolucoes em tela buscam,com a proposta do “Sindicato Organico”,responder a uma

realidade de extrema complexidade. -No mundo temos a crise do sindicalismo face,entre

outras,a emergencia da chamada “globalizacao”,da reestruturacao produtiva,da 3a

revolucao industrial e das novas formas de organizacao da producao...

No Brasil,este cenario se articula com a ofensiva neoliberal e sua disposicao(que é a

disposicao da direita) de “dar uma licao nos sindicatos e na CUT”,desarticulando suas

bases de sustentacao.

temos,portanto,um contexto já muito modificado em relacao aquele descrito por

Marx como base para o surgimento e afirmacao dos sindicatos...

F)sobre o governo FHC e os sindicatos

De acordo com a politica das classes dominantes,de “zerar “a organizacao sindical dos

trabalhadores para enfraquece-los e,assim,poder eliminar ou reduzir conquistas e

direitos...o governo e as elites investirao prioritariamente na fragmentacao organica dos

sindicatos;ainda que “sacrificando” a já anacronica estrutura sindical corporativista e

instaurando e induzindo o pluralismo sindical,articulado ao objetivo de construcao dos

sindicatos por empresa(ou,o mais desejavel da otica deles,o sindicato de empresa).

G) riscos da proposta de “sindicato organico”

.articulada ao “Sistema nacional de Negociacao Coletiva”: processo em que as cupulas

sindicais -patronais e de trabalhadores- com a mediacao estatal ou nao,ganham enorme

poder.

.Dadas as relacoes atuais no interior da Cut e no sindicalismo;quadro atual de baixa do

movimento sindical e perda de prestigio do sindicalismo classista,democratico e de

massas;tais propostas,independentemente das intencoes,trabalham no sentido do reforco

da autonomizacao dos dirigentes sindicais e do monolitismo dentro da central...

.associadas a um aumento das contribuicoes dos sindicatos para a central,exarcebam o

poder da cupula

.essas propostas trabalham no sentido do reforco a burocratizacao das entidades e do

proprio movimento sindical

.ao orientarem a formacao(de cima para baixo)de “sindicatos da CUT”,em todos os

lugares(num contxeto de liberalidade e incentivo estatal para proliferacao destas

entidades),as resolucoes implicarao em pratica e em estimulo ao pluralismo sindical -

entendido como a fragmentacao dos trabalhadores,a partir da base e a constituicao de

mais de um sindicato por local de trabalho

H)sobre o pluralismo sindical

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o pluralismo sindical é um sistema de organizacao basicamente anti-socialista e afim com

os pressupostos do neoliberalismo.Ao inves da unidade,ele toma como ponto de partida

e estimula a concorrencia entre os trabalhadores na relacao com o patronato...E’,em

sintese,a afirmacao dos objetivos da social-democracia e da CIOSL.

I) a via “por cima”

Desafortunadamente a velha estrutura sindical getulista nai vai ruir em funcao de um

ascenso do movimento de masas que pusesse por terra a interferencia estatal no

movimento sindical.As elites pretendem,tambem aqui,operar uma “modernizacao

conservadora”da vida sindical.

O fim da velha estrutura sindical tende a significar uma “reforma pelo

alto”,materializando mais uma acomodacao a “modernidade”do mercado do que um

impulso libertario.

J) sobre a guerra entre sindicatos

O fim do sindicalismo oficial tende a exarcerbar a “guerra civil”pela representacao dos

trabalhadores,entre e dentro das centrais.Sobreviverao os mais fortes.Se isto é

correto,sindicatos como o dos Bancarios de Sao Paulo e os de muitas capitais,o sindicato

dos metalurgicos do ABCe o de Sao Paulo,a Apeoesp-SP,etc,devem permanecer muito

fortes.Isto é,dentro da CUT,deve ampliar-se o peso da Artsind e,como consequencia,a

esquerda tende a se enfraquecer.

K) o futuro da CUT

Mais especificamente,avanca o processo de constituicao da CUT,como entidade que nao

mais prioriza a mobilizacao social..Ao contrario,aposta-se todas as fichas na

transformacao da central numa especie de para-Estado...Os contratos e acordos

coletivosdeixam de ser conquistas da luta,da acao coletiva para tornarem-se resultado da

capacidade de tecnicos e dirigentes(tornados “carreira”cada vez mais especializada,em

lugar de missao,de representacao de classe).

L) sobre a liberdade e autonomia sindical

O Pcdo B tem-se colocado contra a Convencao 87 da OIT,contrapondo-a,de certo

modo,a legislacao atualmente em vigor,como uma especie de antidoto a divisao dos

sindicatos.Nada mais equivocado.

A estrutura varguista fragmenta a classe em categorias profissionais,estabelecendo numa

mesma base um “pluralismo sindical cartorial”.

M)sobre uma alternativa

Para que servem os sindicatos? Há duas respostas:

a)agencias para operar a corretagem da mao-de-obra(portanto,instrumentos da

concorrencia capitalista)

b)espacos que assumem a dimensao da corretagem do valor da forca-de-trabalho como

meio para exercitar no dia-a-dia a luta pela negacao do capitalismo -noutras

palavras,como arenas fundamentais de luta pelo socialismo.

Na segunda perspectiva,temos que colocar em pauta como tarefa central a luta para fazer

voar pelos ares a estrutura sindical corporativista. Luta que teve seu ponto alto no

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moviemnto que levou a fundacao da CUT;luta que tem envolvido acao por dentro e por

fora dos sindicatos oficiais e,passa pela aplicacao da resolucao 87 da OIT.

N) sobre valores fundamentais:unidade e unicidade

A perspectiva revolucionaria nos impoe como valores fundamentais:

alem da independencia,da pluralidade e da democracia socialista(dos e

nos0sindicatos,tomarmos como valores a serem defendidos permanentemente e

assumidos como escolha dos trabalhadores9e nao por imposicao estatal): a unidade

e a unicidade sindical.

Tomar como norte politico a construcao de sindicatos unicos na base.

O trabalho cotidiano para fazer dos representados os sujeitos efetivos de todas as acoes

da entidade -da vitoria e dos reveses;nao resultado da “sagacidade”de

dirigentes.Derivam,entao,prioridades para:

.mobilizacao e educacao de base,bem como para a sustentacao financeira e material

independente do Estado e de certas formas de “solidariedade”externa.

O) sobre os trabalhadores no Brasil

considerar,tambem,

1.a experiencia e a cultura politica e organizativa;

2.a diversidade dessa experiencia;

3.o traco de inorganicidade que caracteriza nossa sociedade e os setores ppulares em

especial;

4.a complexificacao e a dispersao que tende a afetar o “ser-que-vive-do-trabalho”,em nosso pais;o ritmo

profundamente desigual do desenvolvimento capitalista no Brasil.M)sobre a superioridade hegemonica

O sindicalismo transformador deve se apoir na superioridade etica e politica de seus

posicionamentos frente as classes dominantes - e menos no peso da estrutura e de seus

estatutos.Isto é,deve ter como norte diretor a disputa de hegemonia e nao as solucoes

organicistas.

P)sobre superioridade politica e etica

O sindicalismo transformador dete ter por base a superioridade etica e politica ;norte

diretor da disputa de hegemonia e nao as solucoes organicistas.

Q) sobre o modelo de “sindicato filiado”

A relacao sindicato/central mais salutar e propria de uma relacao sindical(nao de direcao

de Partido/orgao de base) é a do “sindicato filiado”.Obviamente,nao a relacao de

hoje,que pouco ou nada muda na vida da entidade com filiacao a CUT.

Trata-se de garantir a organicidade necessaria ao funcionamento de uma central

sindical,inserida no mundo aqui e agora:

.com estatutos basicamente comuns;

.com regras democraticas de funcionamento,principios politicos,deveres para a

sustentacao da central minimos obrigatorios,etc.

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R) sobre uma “organicidade flexivel”.Passos intermediarios

No sentido de construir uma organicidade flexivel na cUT,a primeira medida seria a da

fixacao de principios e dispositivos basicos que os sindicatos filiados devem seguir

obrigatoriamente: proporcionalidade em todas as instancias,gestao colegiada,politica de

auto-sustentacao(excluindo o imposto sindical);aceitacao formal de um termo

automatico de repasse da contribuicao financeira da central,etc.

S) sobre a democracia interna

deveria comecar pelo fim dos centros paralelos de poder;com a gestao

colegiada,especialmente,da tesouraria e da Secretaria de Relacoes

Internacionais,controle colegiado das definicoes e das viagens internacionais;ampla e

regular prestacao de contas financeiras e politicas aos organismos de base,etc.

A adocao destes e outros pontos requer um acompanhamento por duas gestoes como

condicao de avanco no campo organico.

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ALTERNATIVA SINDICAL SOCIALISTA

3)Alternativa Sindical Socialista.Uma proposta para construir a CUT hoje(proposta de

roteiro.Versao corrigida).Este texto é mais amplo que o apresentado no caderno de

Teses para 7a Plenaria Nacional (assinado por Jorge luis Martins,Rafael Freire

Neto,Sebastiao L.de O.Neto,etc)

A) sobre a liberdade sindical

O problema é : Como defender a autentica liberdade de organizacao sindical sem cair na

manobra da direita ?

Certamente nao será defnedendo a unicidade sindical que perpetua os pelegos...

Para defender a liberdade de organizacao sindical devemos deflagrar uma luta que

aponte neste rumo,preservando direitos conquistados(nao aberracoes) e criando novos

direitos(como o de organizacao no local de trabalho).

B) liberdade sindical e construcao da CUT

Menos no setor do funcionalismo publico todo o restante da organizacao sindical foi

definido pelo Estado...

Bom,agora,retomando a iniciativa,a CUT propoe uma mudanca global no sentido do

Sistema Democratico de Relacoes de Trabalho -incluida ai a Liberdade de Organizacao

Sindical

Mas porque este debate e’tao dificil hoje?

C) a opcao da CUT,no periodo 1983-86

Na origem da CUT houve uma polemica com os pelegos e reformistas a epoca: se uma

diretoria nao quisessee convocar assembleia para tirar delegados ao Congresso que

fundaria a cUT (tal como definido no Conclat onde todos estavam em 1981) podiam os

proprios trabalhadores da base convoca-la?

Os que fundaram a CUT disseram: “sim”.Os outros: “nao”.Qual era a diferenca? Se

quem concede a representacao e’a base ou e’a estrutura oficial.

31

Fundada a CUT,no entanto,travou-se uma polemica sobre a estrategia a seguir frente a

estrutura sindical.

Um setor minoritario propos construir já(na epoca) a CUT desde a base,aceitando a

“filiacao individual”de trabalhadores independente da vontade do sindicato oficial.

A maioria adotou outro caminho: ganhar,atraves de eleicoes sindicais,as direcoes dos

sindicatos oficiais;depois,explodir a estrutura oficial “por dentro”.

D) sobre o resultado da estrategia das “duas etapas”

Desde a 5a Plenaria Nacional(1992) há um largo acordo entre todos os cutistas de que

aquela estrategia só cumpriu(e bem)a primeira parte(conquistar maquinas).

Em relacao a segunda parte nao somente nao a cumprimos,como iniciou-se um processo

de “adaptacao”do sindicalismo cutista ao sindicalismo oficial...

Os tracos de burocratizacao,de autoritarismo,de exclusao politica dos adversarios,de

banditismo e violencia,de corrupcao,cresceram em nosso meio

Havia uma base politico-ideologica: a “desilusao”provocada pela ofensiva neoliberal

combinada com a decadencia definitiva do modelo do socialismo real,etc

Mas havia tambem uma base organizativa: a sobrevivencia do sindicalismo oficial,de uma

estrutura que existe apesar e contra os trabalhadores...

E) sobre o significado da retomada atual

E’como se voltassemos aos anos iniciais da CUT para (re)discutir a “filiacao

individual”.Porque se “o Estado” nao diz como irao se organizar os trabalhadores,eles

mesmos tem que definir como o farao.

Por isso,a discussao que se (re)abriu no 5o Concut sobre “transformacao ou nao em

sindicatos organicos”dos atuais sindicatos filiados é pertinente e urgente...

F) sobre a relacao CUT e sindicatos

Só a 6a Plenaria nacional da CUT(1993) deliberou que as assembleias de base deviam

aplicar a proporcionalidade para tirar delegados aos Congresso da Central.

Até entao só os sindicatos aplicavam essa medida democratica se quisessem...

No 2o Congresso Nacional(1986) houve ate’resolucao sobre a estrutura sindical

cutista.Na 4a Plenaria Nacional(1992) reiteirou-se a ideia de que a CUT deveria aprovar

parametros basicos a ser seguidos pelos seus sindicatos filiados.Estes parametros

deveriam garantir:

uma organizacao com representacao de base(superando o cupulismo)

normas democraticas para a disputa de posicoes nas entidades9contra as exclusoes e o

monolitismo atual)

normas eticas que definam o marco de respeito a verdade e a dignidade entre

membros das entidades(contra o banditismo sindical)

A CUT nao pode “punir”as entidades que nao aplicam estes parametros.Ai está o

problema.Se nao cumprir faz-se o que? Alias,”a CUT “fará o que?

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G) sobre as tendencias presentes na CUT

.pulverizacao,segmentacao,dispersao politico-sindical,burocratizacao,falta de

democracia,violencia,matonismo.

Enfim,sao tendencias,nao uma avalanche.Mas tem todas as condicoes para se

desenvolverem se nao operarmos a tempo.Há uma resposta organizativa(avancando na

organicidade da CUT) e uma resposta politica(respondendo aos desafios da conjuntura).

H)sobre a organicidade

Quando discutimos a” organicidade” da CUT,estamos discutindo o “projeto CUT”.

Para nós,a proposta de “sindicato organico da CUT”nada mais é que a concretizacao da

democratizacao dos sindicatos de base,do estabelecimento e consolidacao de um padrao

de funcionamento que garanta a democracia e a transparencia nos sindicatos(e que

avance isso na CUT)

Nao se trata,hoje,de “uma proposta”acabada de estatutos e de vinculacao do CGC das

atuais entidades,mas de consolidar o projeto CUT a ser apresentado a classe

trabalhadora como opcao de organizacao sindical num cenario onde o Estado nao mais

poderá intervie...

I) sobre os riscos

Evidentemente.Quando afirmamos que a proposta visa consolidar o projeto

CUT,estamos falando de uma disputa politica ao interior do movimento sindical em geral

e da nossa Central em particular...aceitamos a hipotese que no processo de debate possa

acontecer um retrocesso.

J)sobre a experiencia recente

Mas a experiencia,incluido ai o debate da 7a Plenaria,nos mostra que hoje sao maiores as

potecialidades da CUT,assim como as maiores ameacas ao projeto cutista original vem

dos interesses dos sindicatos de base e nao da propria Central.

K)sobre os riscos maiores da inercia

Há riscos,só que há mais riscos em manter a atual forma de sindicatos filiados do que na

disputa por constituir uma CUT organica...

L) sobre a unidade dos trabalhadores

A atual estrutura sindical corporativista leva a um tipo de divisao,imposta pelo Estado...

Desde a fundacao da CUT,a unidade partia de alguns principios fundamentais,por

exemplo:

a democracia sindical

a soberania da base

A proposta de organizar a CUT desde o local de trabalho até o nivel nacional,baseada

nesses mesmos principios,contempla o objetivo de unificar o conjunto dos trabalhadores

na CUT.

M)sobre mecanismos unitarios

é de se esperar que outras correntes(sobretudo as pro-patronais)nao aceitem a unidade

na CUT.Por isso a proposta da CUT para o Sistema Democratico de Relacoes de

Trabalho incopora a formacao de organismos unitarios(fora da estrutura dos sindicatos e

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Centrais)desde a base,atraves dos quais estará garantido um mecanismo democratico de

representacao para o conjunto dos trabalhadores(sindicalizados ou nao)

N)sobre os mecanismos democraticos

A organicidade que propomos parte de resgate daquilo que é conquista da acao cutista

nos sindicatos de base: em particular,a soberania dos trabalhadores na/da base.

A organicidade deve permitir mecanismos de ampla consulta democratica a base da CUT

em relacao aos rumos que a Central deve tomar frente aos grandes temas

nacionais.Consagrariamos nos seus Estatutos formas extra-congressuais de consulta

direta:

plebiscitos entre os filiados.

O)sobre campanhas e negociacoes

Na CUT organica desde o local de trabalho estariam colocadas as condicoes para

garantir o principio da soberania da base:

.quem define as reivindicacoes,o processo de mobilizacao e de negociacao em relacao a

uma empresa ou local de trabalho,é a assembleia de trabalhadores desse nivel;

.O mesmo se dará em relacao a um ramo no nivel regional;

.em relacao a uma ramo a nivel nacional pode se adotar mecanismos como os dos

bancarios(plenarias de delegados ou abertas) ou outros (plebiscitos entre todos os

trabalhadores envolvidos,etc)

.a nivel nacional,deverao ser desenvolvidas formas de deliberacao hoje ainda por

definir(plesbicitos,plenarias de delegados eleitos na base,etc).

P)sobre o “medo”de alguns

Contrariamente ao “medo”de alguns companheiros que com a proposta da CUT

organica desde o local de trabalho ,a “Executiva Nacional”(ou sua maioria eventual)

“substitua”a assembleia de trabalhadores de base,nesse processo iremos “tirar poder”das

instancias superiores do movimento ao estabelecer regras claras de funcionamento nesses

niveis.

Q)sobre as financas e os Estatutos

No ato de filiacao do trabalhador ele se filia a um sindicato de base e a CUT

simultaneamente.A arrecadacao será local e dai repassada(de forma automatica via

bancos) as demais estruturas.

Principios gerais cutistas e mecanismos democraticos garantidos nos atuais Estatutos da

Central estejam obrigatoriamente consagrados nos Estatutos das entidades de base;

A vinculacao organica(quer dizer,a obrigatoriedade da entidade de base seguir aqueles

principios e mecanismos)entre as instancias

A possibilidade de aplicar outros mecanismos especificos a cada

setor,categoria,ramo,regiao,etc desde que nao firam os acima mencionados.

A soberania dos trabalhadores em cada nivel.

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O pressuposto da vinculacao entre os Estatutos das entidades de base e a do conjunto da

Central,é que existam regras aceitas por todos sobre qual será a forma de mudar esses

Estatutos.

R) sobre os passos

A construcao da CUT organica desde o local de trabalho é fundamentalmente uma

recuperacao do projeto cutista por inteiro.Trata-se de um esforco para todo um

“periodo”,nao é uma tarefa que possa ser resolvida no curto prazo.

O primeiro passo é lutar pela liberdade de organizacao sindical

Junto com isso devemos reabrir o debate na base,junto aos trabalhadores sobre a

proposta da cUT para a organizacao sindical geral e da propria central,que passam por

S) sobre principios politicos

reconhecimento ao direito de organizacao autonoma no local de trabalho(de

sindicalizados e nao-sindicalizados,fora das estruturas dos sindicatos e centrais);

reconhecimento ao direito de organizacao sindical no local de trabalho;

processo de fusao dos sindicatos na constituicao de sindicatos por ramo no nivel

regional/estadual

definicao coletiva dos parametros gerais que devem ser incoporados aos Estatutos

dos sindicatos filiados preparando sua transformacao em sindicatos organicos;

efetivacao de campanhas,mobilizacoes e negociacoes por ramo nos niveis

nacional,estadual e regional,testando na pratica as formas deliberativas nesses

diversos patamares;

definicao de uma campanha de filiacao aos sindicatos de base como sendo uma

filiacao(tambem) a CUT;

esforco por constituicao de associacao de Trabalhadores Cutistas em todas as

categorias onde a direcao do sindicato oficial é hostil a CUT e usa metodos anti-

democraticos para se manter no poder.

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ARTICULACAO SINDICAL

4) Articulacao Sindical.Documento assinado por varios dirigentes da CUT.Faz parte do

caderno de Teses para 7a Plenaria Nacional.

O documento da Artsind é basicamente o mesmo da Resolucao da Plenaria;dai,que

possamos estar repetindo.Contudo,para analise é importante coloca-lo nesta parte

deste texto.

A)sobre o quadro atual

Estamos neste momento diante de uma importante encruzilhada quanto ao novo modelo

sindical.

1.Por um lado: vivemos com uma estrutura sindical arcaica,corporativista e baseada no

modelo fascista...

2.Por outro: enfrentamos as transformacoes no mundo do trabalho,com novas formas de

gerenciamento,terceirizacao,globalizacao da economia,privatizacao do estado,inovacoes

tecnologicas,etc

3.A tudo isso soma-se: um modelo economico que tem por base a exclusao do mercado

de trabalho de parcelas cada vez maiores da sociedade

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B)sobre as consequencias deste quadro:

para o movimento sindical,sao a pulverizacao dos sindicatos e a baixa representatividade

enquanto classe.Mudar este quadro nao é tarefa exclusiva do movimento sindical,mas

cabe-nos uma parcela importante nesse processo.

C) sobre o que fazer

E’ necessario,portanto,darmos um salto de qualidade em nossa organizacao(...)nos

prepararmos para o verdadeiro,uma disputa de projetos de classe.

Paralela a discussao do tipo de sindicato que devemos construir,organico a CUT ou

nao,nos deparamos tambem com a discussao sobre liberdade e autonomia

sindical,contrato coletivo de trabalho e o fim do imposto sindical

D)os problemas da estrutura atual

O modelo corporativo nos remete para nossas “respectivas categorias”e suas lutas

imediatas

Ainda dependemos muito do Imposto Sindical:cerca de 30% dos orcamentos de nossos

sindicatos.

Nos remete a montar uma estrutura sindical corporativa propria: departamento

juridico,economico,graficas,saude do trabalho,etc

Nossas estruturas sao submetidas a verdadeiras “batalhas camoais”em eleicoes entre

chapas cutistas.É colacada como prioritaria,muitas vezes,a luta por cargos ou termos o

sindicato como aparelho.

Pior ainda: com rarissimas excecoes,nosso modelo sindical oficial está pouco,ou quase

nada,enraizado nos locais de trabalho.

E)sobre como construir um novo modelo sindical

Há duas opcoes: ou modelo organico,com principios basicos estatutarios de nossa

Central;ou um modelo que mantem os sindicatos filiados com determinados principios.

=Como é o modelo do sindicalismo organico?

Organico significa que as representacoes,desde o local de trabalho,passando pelos

sindicatos locais,regionais,estaduais e nacionais e a estrutura da propria Central (sede

nacional e estaduais) sao um mesmo corpo,

com diferentes atribuicoes nas varias instancias,porem

seguindo os mesmos principios e estatuto.

O sindicato organico rompe com o monopolio atual de representacao e se estende a todo

o territorio,

tendo como presuposto a liberdade e autonomia sindical.

E,busca,principalmente,a unidade dos trabalhadores.

=Como é o modelo de sindicatos filiados?

Os sindicatos se filiam voluntariamente a Central.Podem desfiliar-se a qualquer

momento,bastando que obedecam o procedimento fixado em seu estatuto -

normalmente,uma assembleia geral.Os trabalhadores,individualmente,filiam-se ao

sindicato,este,por sua vez,pode ou nao filiar-se a Central.

36

F)sobre o caminho a seguir

a)uma ampla campanha de mobilizacao pela liberdade e autonomia sindical com direito

de representacao nos locais de trabalho e um intenso trabalho de sindicalizacao.

b)superacao dos marcos legais do atual modelo(CLT).

c)ampliar as estruturas horizontais(nacionais e estaduais) como uma rede de sub-sedes

regionalizadas da CUT.Nessa rede,num espaco fisico comum,estarao sediados os atuais e

pequenos sindicatos de categoria.Porem,com estruturas comuns,com ampla participacao

democratica de todos.Nessa rede de sedes solidarias havera prestacao de servicos a

todos os trabalhadores representados pela Central,com assessorias tecnicas

comuns,orgaos de imprensa e graficas comuns,depto juridico comum,etc.

G)sobre os passos

uso coletivo de estruturas de sindicatos filiados

desencader processo de fusao de sindicatos que amplie sua base de representacao

com vistas a sua nova configuracao por ramos em ambito regional ou mesmo em

bases estruturais.

A Plenaria nacional da CUT deve encaminhar um grande seminario para o segundo

semestre de 95.

As conclusoes do seminario serao objetos de deliberacao em reuniao da Direcao

nacional,marco 96

tomar iniciativas do debate com a sociedade apresentando propostas imediatas de

mudancas no atual sistema de relacoes de trabalho.

=============================================================

MOVIMENTO TENDENCIA SOCIALISTA

5)Proposta assinada por Jose Maria de Almeida,Dirceu Travesso,Junia de Souza

Gouveia.Um Documento incluido nas Teses para 7a Plenaria.Outro Documento,de

novembro 95,assinado por Jose Maria de Almeida.

A) sobre o 5o Concut

O 5o Concut abriu a discussao sobre a transformacao dos sindicatos -hoje filiados a

central- em parte da sua estrutura organica.Para aqueles que a defendem,esta proposta

viria substituir a estrutura oficial por uma nova estrutura,cutista.Esse debate é muito

importante e é necessario aprofunda-lo nas instancias da central,nos sindicatos e na base.

B)sobre a proposta

...em nossa opiniao,a proposta de organicidade como está apresentada,vai-na verdade-

na contramao da concepcao cutista para os sindicatos.

C)sobre a fundacao da CUT

A fundacao da CUT em 83 foi produto e esteve alicercada num dos maiores ascensos de

luta da classe trabalhadora,nesse seculo.

A CUT foi fundada e construiu-se por dentro dessa estrutura oficial porque as outras

opcoes que tinhamos no momento eram piores.Mas isso foi feito acompanhado do

37

compromisso de revolucionar completamente aquela estrutura,transformando-a numa

organizacao sindical adequada para a luta,para a acao coletiva e autodeterminada dos

trabalhadores,portanto,profundamente democratica,organizada e controlada pela base.

Nestes 12 anos de construcao da central houveram avancos importantes...No entanto

estamos muito longe de alcancar a prometida revolucao na estrutura que herdamos da

pelegada.

D)os aspectos negativos da heranca

Os aspectos que mais saltam aos olhos:

por um lado,a continuacao da dependencia em relacao ao estado(imposto

sindical,dissidio na justica do trabalho,etc) e,por outro lado,a continuidade da

fragmentacao em milhares e milhares de sidnicatos de categorias...

Mas existe outro aspecto que persiste da estrutura anterior:

a logica autoritaria e burocratica dos mecanismos de decisao e direcao,que alijam a

base,concentram poder nas maos dos dirigentes e reforcam posturas monoliticas e

intolerantes como forma de gestao.

Os avancos que tivemos nessa area sao absolutamente insuficientes.Nos ultimos anos

comecamos a assistir claros sinais de retrocesso,com elementos de degeneracao etica e

politica...

E)nossa proposta

Que sindicatos queremos?

O sindicato, ao mesmo tempo que deve ser um espaco para a construcao da acao

coletiva,deve ser uma escola de liberdade,de democracia operaria,de auto-

determinacao,de tolerancia para com a pluralidade de ideias,um verdadeiro espelho da

sociedade socialista com que sonhamos.

Basta uma nalise superficial para ver que hoje estamos longe disto.

F)o contexto atual: um xeque mate

A situacao que vivemos hoje vem agravar mais ainda este quadro.A globalizacao da

economia,a reestruturacao produtiva e suas consequencias(...),e a propria disputa

ideologica que se estabeleceu dentro das empresas(..)vem somar ainda mais desafios a

serem superados.A politica neoliberal,de fragmentar ainda mais os sindicatos e jogar

todas as discussoes dos problemas dos trabalhadores para o ambito da empresa,vem

acabar de por em xeque mate essa estrutura que temos hoje.

G)sobre os velhos problemas

Em essencia,os problemas centrais da estrutura de organizacao dos nossos

sindicatos,seguem sendo basicamente os mesmos que já estavam colocados 15 ou 16

anos atras...E hoje temos a desvantagem de termos passado e ainda estarmos passando

por uma longa recessao e crescimento do desemprego...

H)sobre a organicidade

A organicidade, como está proposta,concentra poder na cupula e divide os sindicatos.

38

O problema nao se resume a organicidade ou nao,nem se resolve,incorporando os

sindicatos a estrutura organica da central...A questao é muito mais profunda e exige,para

ser superada,muito mais que uma medida organizativa desse tipo.

Porque a ideia atrapalha e nao ajuda:

primeiro,porque reforca uma ideia de controle da cupula sobre as instancias de base.

Concepcao de direcao imbutida na proposta: as estruturas organizativas devem ser

direcao,devem determinar a politica a ser aplicada.

Para nós,a concepcao correta e’que

as estruturas organizativas devem ser coordenacao,devem propor a politica para ser

decidida na base e só entao encaminhada.

Atrapalha tambem porque vai acabar por forcar a divisao de todos os sindicatos de

base,por uma razao muito simples: se esse sindicato passa a ser da CUT,parte de sua

estrutura organica,os trabalhadores da base que sao ligados as outras centrais,ou que

simplesmente nao concordam com a CUT,serao obrigados a criarem o seu

sindicato.Contraria a defesa que a CUT faz,da unidade dos trabalhadores nos

sindicatos de base e nas organizacoes nos locais de trabalho.

J) outro conceito de organicidade

Com a estrutura organica,haveria a vantagem de passar a ser obrigatorio o criterio da

proporcionalidade,conforme define os estatutos da central para todas as instancias.Isso é

verdade.Mas para isso nao é preciso o laco organizativo.

Em nossa opiniao a organicidade que todo sindicato deveria ter,se quisesse ser filiado a

CUT,deve ser de observancia de principios politicos e organizativos.

Podemos definir,como norma estatutaria,para que um sindicato possa ser filiado a

Cut(estabelecendo um prazo para aqueles que já sao filiados se adequarem),que ele tenha

que,nao só estar de acordo,mas praticas principios de organizacao que assegurem a

democracia,o controle pela base,etc.

H)sobre os principios

.o estabelecimento de mecanismos de controle da base sobre a direcao(conselhos de

delegados e/ou cipistas;assembleias,congressos,etc) associado ao esforco permanente

pelo desenvolvimento das OLTs;

.a proporcionalidade nas eleicoes para a direcao da entidade;

.a adocao de formas de gestao mais coletivas,como o colegiado;

.a adocao de criterios que assegurem a mais ampla transperencia nas questoes relativas a

financas,bem como criterios de austeridade para evitar beneficios financeiros indevidos a

dirigentes,etc.

I)passos futuros

Nossa proposta é que essa questao seja profundamente debatida,na base da central,para

que possamos deliberar sobre o assunto.

C) O DEBATE NO CAMPO INTERNO DE INTERACOES

39

Neste espaco ,vamos tratar das varias posicoes dentro da CUT,em relacao a questao da

“reestruturacao organizativa”,ou do “sindicato organico”.Vamos ordenar as posicoes das

correntes interna da CUT,em relacao aos 4 campos de determinacoes.Acrescentamos um

elemento a estes campos: o dos passos taticos-estrategicos futuros da

Central.Assim,teremos a seguinte grade:

Correntes

sindicais

Disputa de hegemonia

na CUT

Politicas

de governo e

capital

Mutações

globais

Disputa de

hegemonia na

sociedade

Estratégia

CSC proposta elaborada

pelo staff da artsind

maioria dos cutistas

foram surpreendidos

----------------

proposta pode

representar

“revolucao”na

estrutura da Central

-------------

devia ser num

Congresso Nacional e

nao numa Plenaria

com 369 delegados

--------------

De acordo com o

diagnostico da artsind:

critica dura a

estrutura oficial;

mundo trabalho em

mutacoes;

inovacoes

tecnologicas;

politica excludente das

elites

----------------

discorda da proposta

pois nao fala

problemas serios

direcao da CUT

estrutura organica é

como uma panaceia

---------------

proposta é social-

democratica

---------------

sindicatos perdem

poder e autonomia;

viram meras sub-sedes

---------------

proposta depende

da liberdade de

organizacao

sindical;

mudancas na

Constituicao.Fim

da unicidade

:artigo 8 da

Constituicao

----------------

disputa

hegemonia nos

locais trabalho:

CCQs, etc

-------------

patronal criará

“sindicatos

casas”, como no

Japao

-------------

foruns tripartites

(patroes,

governo,

sindicatos):

solucoes

negociadas

--------------

crise

sindicalismo

mundial.

CIOSL defende

pluralismo

sindical

--------------

artsind adotou

tese do “fim da

historia”;

pratica

“propositiva”

de conciliacao

com capital

sindicato perde

carater de

Frente Unica

contra

exploracao

patronal

proposta deve ser

levada as bases e

ser debatida pelos

trabalhadores

40

fim da unicidade leva

ao plurisindicalismo; é

a proposta do

“Sistema Democratico

Relacoes de

Trabalho”.

--------------

Estrutura organica

depende da

implantacao do

pluralismo sindical;

divisao das bases e

das cupulas;

sindicatos organicos

da CUT, CGTs, FS,

CAT

--------------

pulverizacao em

centenas ou milhares

pequenos sindicatos

---------------

sindicato perde papel

de Frente Unica contra

exploracao

---------------

filiacao individual leva

fragmentacao,atinge

locais de trabalho

---------------

posicao da ASS é de

“äposta no escuro”

-------------

esquerdas nao devem

subestimar posicao

hegemonista da

Artsind: é projeto

politico de conciliacao

classes

---------------

novo patamar na

politica de aliancas na

CUT

Forcal

Socialista

Plenaria deliberou

tema com implicacoes

na luta pelo

socialismo

-------------

proposta relacao com

Sistema Nacional

Negociacao Coletiva:

negociacao com

ofensiva

neoliberal:” dar

licao nos

sindicatos”.

-------------

Gov. FHC: zerar

organizacao

sindical; eliminar

ou reduzir

Realidade de

extrema

complexidade:

crise

sindicalismo,

globalizacao, 3a

revolucao

industrial,

mudancas

concepcao de

acumulo de

forcas;

condicoes:

construir forte

Partido

Socialista

democratico

massas (como

pluralismo é

sistema

organizativo anti-

socialista;afim

com

neoliberalismo;afi

m com objetivos

da social-

democracia e da

41

cupulas sindicais:

patronais e

trabalhadores

-------------

quadro de baixa e

perda prestigio do

sindicalismo

democratico de massa

--------------

junto ao aumento da

contribuicao, exarceba

poder da cupula,da

central e dos

sindicatos; reforca a

burocratizacao das

entidades e do

movimento sindical

-------------

estimulo ao pluralismo

e fragmentacao

sindical; mais de 1

sindicato por local de

trabalho.

---------------

estrutura vigente

fragmenta classe: é

um “pluralismo

sindical cartorial”

--------------

fim da CLT é pela

“via passiva”;

exarceba a “guerra

civil” entre sindicatos:

sobreviverao os mais

fortes (bancarios de

SP, Metalurgicos

ABC, Apeoesp),

aumenta poder da

artsind

---------------

teremos sindicalismo

americano, japones,

europeu

---------------

construcao da CUT

nao pela mobilizacao e

lutas; Central será um

para-Estado

--------------

PC do B é contra

resolucao 87 OIT;

defende legislacao

conquistas-

direitos

---------------

fragmentar

organizacao

sindical; mesmo

“sacrificando”

CLT; luralismo

sindical e

sindicalismo de

empresa.

---------------

estrutura

corporativa nao

cairá por ascenso

de mobilizacao

trabalhadores

---------------

elites vao fazer

“modernizacao

conservadora”da

vida sindical:

uma reforma pelo

alto

mundo

trabalho,crise

socialismo

----------------

contexto

diverso daquele

que Marx

analisou: queda

industria-subida

dos servicos

se dá no PT);

Central sindical

unitaria

democratica e

combativa;

Governo

democratico

popular no pais;

unidade dos

trabalhadores:

historia nao

registra vitoria

trabalhadores

quando há

divisao

-------------

papel do

sindicato:

instrumento da

concorrencia

capitalista,ou,ar

ena

fundamental de

luta pelo

socialismo

--------------

no

Brasil,considera

r:experiencia e

cultura politica

e organizativa

trabalhadores

braislieros

.a diversidade

dessa

experiencia

.traco de

inorganicidade

que caracteriza

nossa sociedade

e os setores

populares,em

especial

.a

complexificacao

e a dispersao

que tende a

afetar o “ser-

que-vive-do-

trabalho”,em

nosso pais

.o ritmo

CIOSL

CUT socialista

nao avanca com

pluralismo

sindical

---------------

sindicato na luta

socialista:

1. destruir

estrutura sindical

corporativa-

como na

fundacao da

CUT- por dentro

e por fora dos

sindicatos-vigor

da resolucao 87

da OIT

------------

2. na perspectiva

revolucionaria,

valores

fundamentaisinde

pendencia,

pluralidade e

democracia

socialista nos

sindicatos; e,

como escolha dos

trabalhadores e

nao por

imposicao estatal:

unidade e

unicidade sindical

------------

3. trabalho

cotidiano,

mobilizacao e

educacao de base

----------------

Por sindicatos

unicos na base;

ramos de

atividade

(municipal,

regional,

estadual);

relacao com

trabalhadores

terceirizados-

precarizados e

temporarios

42

atual; nada mais

equivo

profundamente

desigual do

desenvolviment

o capitalista no

Brasil

--------------

sindicalismo

transformador

deve ter por

base a

superioridade

etica e

politica;norte

diretor a

disputa de

hegemonia e

nao as solucoes

organicistas

---------------

sindicatos e

CUT: estrutura

de “organicidade

flexivel”, tipo

“sindicato

filiado” (nao

como é hoje)

------------

-estatutos

comuns

-regras

democraticas

-principios

politicos

-deveres com

sustentacao da

Central

--------------

principios-

dispositivos:

proporcionalidad

e em todas

instancias

-gestao colegiada

-auto-sustentacao

-repasse

financeiro

automatico

----------------

democracia

interna:

-fim centros

paralelos de

poder;

-gestao colegiada:

Tesouraria e SRI;

-ampla e regular

prestacao contas

financeiras-

politicas aos

organismos base

--------------

acompanhar por

duas gestoes o

processo

Artsind

momento:uma

importante

encruzilhada quanto

ao modelo sindical

---------------------

consequencias: -

momento:

estrutura sindical

arcaica,corporati

va,modelo

fascista

------------------

momento:transf

ormacoes

mundo do

trabalho

momento:salto

qualitativo;enfr

entamento

disputa de

projetos de

classe

novo

modelo:duas

opcoes

a)organico

b)filiado

----------------

43

.pulverizacao e baixa

representacao dos

sindicatos

.30% orcamentos

nossos sindicatos

depende do Imposto

Sindical

.lutas

imediatas;batalhas

campais nas eleicoes

cutistas

.pouca insercao locais

trabalho

debate sobre

liberdade e

organizacao

sindical;Contrato

Coletivo

Trabalho;fim

imposto sindical

--------------------

organico significa

que,as

representacoes

desde o local de

trabalho,passand

o pelos sindicatos

locais,estaduais,r

egionais e

nacionais e a

estrutura da

propria

Central(sede

nacional e

estaduais) sao um

mesmo

corpo;com

diferentes

atibuicoes nas

varias

instancias,porem

seguindo os

mesmos

principios e

estatuto.

----------------

tem como

presuposto a

liberdade e

autonomia

sindical.E busca

,principalmente,a

unidade dos

trabalhadores

---------------------

modelo sindicatos

filiados:é aquele

em que os

sindicatos se

filiam

voluntariamente a

Central.Podem

desfiliar-se a

qualquer

momento.

--------------

passos:

1.ampla

campanha de

mobilizacao pela

liberdade e

autonomia

sindical,com

44

direito

representacao

local

trabalho;intenso

trabalho de

sindicalziacao

2.superacao dos

marcos da cLT

3.ampliar

estruturas

horizontais com

uma rede de su-

sedes

regionalizadas da

CUT

-----------------

processo de fusao

de sindicatso;

grande seminario

em 95,para:

.discusssao

.previa nos ramos

.uma nova

divisao territorial

.criterios para

fusoes

.como,quantos e

quais serao os

novos ramos

.principios de um

estatuto de

modelo sindical

cutista

deliberar na

Direcao

nacional,marco

96

------------------

debate com a

sociedade.

MTS 5o Concut abriu

debate sobre estrutura

organizativa

-----------------------

debate importante

:aprofundar nas

instancias da

Central,nos sindicatos

e nas bases

--------------------------

proposta organica vem

na contra-mao da

politica

neoliberal:fragme

ntar ainda mais

sindicatos;jogar

debates dos

trabalhadores

para o ambito

empresa;xeque-

mate na atual

estrutura

situacao:

globalizacao da

economia,reestr

uturacao

produtiva,dese

mprego,terceiriz

acao,precarizac

ao,etc,agrava o

quadro.

Disputa

ideologica

dentro das

empresas:novas

formas

gerencia;somam

-se aos desafios

atuais

nossa proposta:

que sindicatos

queremos?

-Organizacao e

impulso a luta

dos

trabalhadores;

-defesa seus

interesses

imediatos e

historicos;

.sintonizado com

45

concepcao cutista para

os sindicatos

----------------------

fundacao da CUT,em

83,foi produto de um

dos maiores ascensos

de luta da classe

trabalhadora

-------------------------

CUT construiu-se por

dentro da estrutura

oficial porque as

outras opcoes eram

piores.Acompanhava

o compromisso de

revolucionar

completamente esta

estrutura

-------------------------

Nestes 12 anos houve

avancos

importantes;no

entanto,estamos longe

da prometida

revolucao na estrutura

que herdamos da

pelegada

----------------------

aspectos que saltam

aos olhos:

-dependencia em

relacao ao Estado

-fragmentacao em

milhares e milhares de

sindicatos de

categorias.

--------------------------

Mas,há outro

aspecto,talvez,o maior

desafio em termos de

organizacao:

.a logica autoritaria e

burocratica dos

mecanismos de

decisao e direcao

.alijam a base,

.concentram poder nas

amos dos dirigentes;

.reforcam posturas

monoliticas e

intolerantes como

forma gestao

interesses dos

trabalhadores;

.permanente

controle da base;

.espaco para

construcao da

acao

coletiva,escola de

liberdade,de

democracia

operaria,de

autodeterminacao

,tolerancia para

com pluralidade

de

ideias,verdadeiro

espelho da

sociedade

socialista

-------------------

nossa proposta:

.concepcao

direcao,

-estruturas

organizativas

devem ser

direcao,devem

determinar a

politica a ser

aplicada?

- ou

devem,propor a

politica para ser

decidida na base

e só entao

encaminhada?

-A concepcao

correta é a

segunda.

----------------

um outro

conceito de

organicidade:

-para passar o

criterio da

proporcionalidad

e a todas as

instancias,nao é

preciso o laco

organizativo.Que

stionamos este

conceito de

46

-----------------------

nessa area,os avancos

sao insuficientes:

.nos ultimos houve

retrocesso;

.com elementos de

degeneracao etica e

politica

------------------------

situacao atual: na

grande maioria

sindicatos nao há

controle da

base;aumenta

dessintonia direcao e

base;gestao

autoritaria,intolerancia

e monolitismo.

-----------------------

Em essencia:os

problemas centrais da

estrutura de

organizacao dos

sindicatos,seguem os

mesmo de 15 ou 16

anos atras;

hoje temos a

desvantagem de

termos passadado e

ainda estarmos numa

recessao e crescimento

desemprego.Alem da

burocratizacao e

acomodacao dos

dirigentes

-------------------

organicidade

concentra poder na

cupula e divide

sindicatos

------------------------

o problema nao se

resume a organicidade

ou nao,nem se

resolve,incorporando

sindicatos a estrutura

organica CUT

----------------------

a questao é muito

mais profunda e

exige,para ser

superada,muito mais

organicidade.

-O

compromisso,a

organicidade que

todo sindicato

deveria ter,deve

ser de

observancia de

principios

politicos e

organizativos.

-Definir em

estatuto que o

sindicato pratique

os principios de

organizacao que

assegurem o

controle da

base,a

democracia,etc

----------------

-Principios:

.mecanismos de

controle da base

sobre a

direcao(conselho

de delegados ou

cipistas,assemblei

as,congressos,etc

) associado ao

esforco

permanente pelo

desenvolvimento

das OLTs;

.proporcionalidad

e nas eleicoes

para direcao da

entidade;

.adocao formas

gestao mais

coletivas,como

ocolegiado;

.adocao criterios

que assegurem a

mais ampla

transparencia nas

financas;

.criterios de

austeridade para

evitar beneficios

indevidos a

dirigentes,etc.

47

que uma medida

organizativa desse tipo

-----------------------

a proposta atrapalha?

Sim

.1)reforca a ideia de

controle da cupula

sobre as instancias de

base.

2)Por forcar a divisao

de todos os sindicatos

de base:se um

sindicato é da

CUT,organico,os

trabalhadores da base

que sao de outras

centrais,ou nao

concordam com a

CUT,serao obrigados

a criarem o seu

sindicato.

3)Contraria a tese que

a CUT faz da unidade

dos trabalhadores nos

sindicatos de base e

nos locais de trabalho

--------------------------

------------------

nossa proposta é

que esta questao

seja

profundamente

debatida,na base

da Central,para

que possamos

deliberar.

ASS 5o Concut indicou a

Plenaria deliberar

sobre transicao para

organizacao com

liberdade e autonomia

sindical.

No entanto,o debate

proposto pelo Concut

nao avancou na base

da Central.

----------------------

nossa Central está

fazendo um reencontro

com o seu projeto de

fundacao:romper na

pratica e no discurso

com a estrutura

sindical corporativa.

---------------------------

já acumulamos no

inetrior da CUT um

balanco que indica

avancos significativos;

-------------------------

no Brasil:um

patamar diferente

devido maior

acumulo de

forcas do campo

popular;

temos o mesmo

desafio de outros

paises,a partir da

ofensiva

neoliberal dos

anos 90

-----------------

possibilidade

concreta do

pluralismo

sindical

crise do

sindicalismo

mundo

---------------

reestruturacao

produtiva

Nossa proposta

de estrutura

sindical cutista

está dentro de

uma estrategia de

construcao,isto

é,para todo um

periodo

-------------

a discussao deve

ter dois niveis:

.do projeto

organizativo

.dos passos

intermediarios

-------------------

a politica de

transicao da

situacao do atual

projeto para o

que almejamos,os

passos

intermediarios

tem importancia

estrategica

48

Contudo,uma

contradicao nos

ameaca:

crsecemos por dentro

da “velha

estrutura”,pagamos

um alto preco: nos

acomodamos frente ao

que queriamos

destruir.Ou

deciframos essa

esfinge,ou seremos

devorados por ela.

----------------------

experiencias de

construcao modelo

sindical cutista sao

timidas

-------------------

frente ao cenario:

cabe a CUT reafirmar

um projeto por

inteiro,resgatando as

aspiracoes da sua

fundacao,ser uma

central de

trabalhadores

----------------

Uma estrutura

organica da

CUT:

-liberdade e

autonomia

sindical

-opcao pela

unidade sindical

-novo marco

institucional

-------------------

mudancas na

CUT e

sindicatos:

sindicato por

ramo,com

sindicalizacao de

terceirizados

-democracia nos

sindicatos,

-organizar os

excluidos

-estrutura

organica;

propomos a

construcao da

CUT desde a

base,no local de

trabalho,passand

o pela regiao e

estado,e pelo

ramo,para se

chegar ao nivel

nacional.

-Mecanismos

democraticos de

consulta a base

em todos os

niveis(assembleia

s,plenarias,congr

essos,plebiscitos

etc)

--------------------

Passos

intermediarios:

.Estatutos

Até a 8a Plenaria

Nacional deve se

fazer um amplo

debate,para

deliberacao.

49

------------------

.Estrutura

sindical

fusao e

unificacao nao

deve ser

unificacao de

aparelhos;deve

ser politico e

discutido com

trabalhadores nas

bases

.preparacao para

auto-

sustentacao,com

fim do imposto

sindical.

.

=========================================================

D) RECURSOS PARA UM PROJETO NACIONAL-CULTURAL

A participacao na construcao de um projeto democratico-popular é um dos pontos

fundamentais na construcao do projeto sindical .Este campo implica uma serie de

aspectos:economico,social,politico,cultural,etc.Nesta parte,vamos desenvovler algums

elementos do aspecto cultural de um projeto nacional-cultural.Para tal,recorremos a uma

“heranca seletiva”no campo da cultura socialista brasileira.

A disputa de hegemonia na sociedade brasileira se acirrou em 1989; recolocou-se nas

eleicoes de 94.Talvez,em cada conjuntura especifica,mudem as formas em que a disputa

se poe.Contudo,o processo em busca de um conteudo que expresse um projeto nacional

alternativo,continua persistindo.O que implica a construcao de um campo unitario de

forcas muito mais amplo que as frentes de esquerda;desenha-se um bloco historico que

se expresse na confluencia destas frentes partidarias e dos movimentos civicos.Por

exemplo:o processo historico que parte das greves de 78-79-80,da campanha civica das

"diretas já",da participacao popular na constituinte,da mobilizacao civica em torno da

"etica na politica" que resultou no impeachement de Collor,e das lutas dos comites pela

cidadania (contra a fome...).

A articulacao qualitativa destas praticas , momentos e atores desse processo, pode se

ampliar a partir da confluencia das lutas pela cidadania ativa e da disputa de eleicoes

presidenciais para consolidar o campo da democracia

representativa:prefeituras,governos estaduais,camaras municipais,conselhos,etc.

As possibilidades concretas desta utopia estao germinando a cada dia.A sociedade está

gravida de utopias;contudo,tambem o está de entropias.Socialismo ou barbarie,pode

traduzir-se,hoje,em democracia radical ou barbarie.

Neste sentido,podemos colher o testemunho de varias pensadores no campo do

socialismo brasileiro.Por exemplo,Eder Sader,Betinho e,o proprio Mario Pedrosa.Na

50

decada dos 80,eles desenvolveram a perspectiva de um projeto nacional democratico-

popular.Essa perspectiva assinala uma linha de "nacionalizacao da esquerda",ou seja,com

palavras de Eduardo Galeano:

"De todas formas,a esquerda latino-americana,que tem uma linda historia,tem tambem

uma historia de desrraigo.Desde suas origens chegou a nossa terra como um produto de

importacao europeia,e na cabeca de muitos dos fundadores do socialismo latino-

americano estava a ideia de que havia que civilizar aqueles povos

barbaros,ignorantes.Ha'pois,uma certa tradicao de desencontro entre o que seria a

esquerda tradicional socialista e comunista e a realidade de nossos paises.

Afortunadamente,nestes ultimos anos,tem havido uma progressiva tomada de

consciencia da necessidade de fundir raizes no solo do qual se tem brotado e ao qual se

pretende mudar.E entao,aquele olhar,que era o olhar tipico liberal de final do seculo

passado,umolhar de fora e de cima.Porque,claro,visto de cima todos parecem anoes,e

visto de baixo todos parecem gigantes.E a unica maneira de que os seres humanos se

reconhecam como tais uns aos outros,é olhando-se de igual para

igual.E,paradoxalmente,a esquerda latino-americana,que atuou sempre em nome do

povo,tinha em relacao com o povo,uma serie de preconceitos que lhe impedia de ve-

lo,ve-lo tal como era e ama-lo tal como era.

Isto é,em grandes linhas,correto para todos nossos paises,e penso que agora há um

processo de mudanca muito importante que se está..operando ,e que poderiamos

chamar.a nacionalizacao da esquerda latino americana"(Entrevista em "Pagina

Abierta",n.36-fev.1994).

Esse processo de nacionalizacao já teve seus momentos de gloria na esquerda brasileira;

por exemplo,a tentativa de Mario de Andrade com Macunaima(1926).Nas palavras de

Gilda Mello Souza:

"Escritos em seis dias de trabalho ininterrupto,durante umas ferias de fim de ano,em

dezembro de 1926;publicado em 1928 - Macunaima logo se transformouno livro mais

importante do nacionalismo modernista brasileiro.A impressao fulminante de obra-

prima,que os companheiros de Mario de Andrade tiveram na epoca ao tomar contato

pela primeira vez com o manuscrito,permanece até hoje,cinquenta anos depois de sua

publicacao".

A QUESTAO NACIONAL e a cidadania dos trabalhadores

A questao nacional na perspectiva da esquerda socialista foi abordada em um seminario

organizado pelo Instituto CAJAMAR (outubro 92),tendo como centro a presenca de

Eric Hobsbawm.Intitulado "E’ possivel um projeto nacional?".

Vejamos a fala do marxista ingles e seu comentario por Marco Aurelio Garcia.Em

seguida,veremos como Eder Sader,Betinho e Mario Pedrosa abordaram aspectos desta

mesma questao.

Eric Hobsbawm analisou "o problema da esquerda e das identidades nacionais". Apos

ressaltar o carater dos nacionalismo atuais na Europa,no que diz respeito ao Brasil, o

historiador ingles afirmou:

"Ao final devo dizer que a situacao do Brasil me parece,por sorte,muito mais

positiva.pela situacao especifica do problema nacional deste continente e pela existencia

51

de um grande partido do povo(o PT),com uma base tradicional onde a convergencia

entre o elemento nacional e o social segue sendo valida.

Os problemas que sao levantados e que sao analisados sao universais ,existem neste

momento em todas as partes,porem com sorte,espero a possibilidade de uma solucao

positiva e que sao mais faceis neste pais que nos outros.O que falta neste pais é outro

tipo de projeto nacional,que é o descobrir,o redescobrir a vocacao do povo que vive

neste Estado,que depois das vocacoes de desenvolvimento de base populista e de outros

tipos,neste momento carece o Brasil de uma ideia de como formar o seu futuro como

pais.

Este me parece que é outro tipo de problema nacional que no passado havia sido

analisado pela esquerda e que segue sendo um grande problema neste pais."

Os comentarios de Marco aurelio Garcia retomam o veio historico desta questao no

Brasil.Em longa citacao,vejamos o pensamento do dirigente petista.

"Eu acho que esta discussao tem uma enorme importancia para todos nos,na medida em

que,como foi muito bem sublinhado,a questao nacional reaparece como uma questao

importante,e mais do que isto,o nacionalismo aparece como um tema de grande

relevancia,justamente,num momento em que o mundo parecia inveredar rapidamente

num grande processo de internacionalizacao,com a formacao dos grandes blocos

economicos,os grandes mega-mercados,sistemas produtivos,justamente neste

momento,nos vemos uma reaparicao do fenomeno nacional em dimensoes semelhantes a

que nos tinhamos no final do seculo passado e as vesperas da I Guerra

mundial.inclusive,em alguns casos,ate com uma extraordinaria coincidencia de ordem

geografica.

Evidentemente,os temas do nacionalismo e a dimensao da questao nacional na America

Latina sao distintos das outras regioes do mundo e do continente. europeu em particular

e,daquelas areas onde os problemas coloniais foram resolvidos mais recentemente.

Nos temos questoes nacionais importantes,em paises como a Bolivia,o Mexico,a

guatemala e o Peru,onde existem numerosas populacoes pre-colombianas;temos este

problema menor no Brasil,infeliamente,ou na Argentina,tendo em vista o tipo de

"solucao" que se deu a questao das nacoes indiginas nestes dois paises acima

mencionados.

Esta discussao tem uma importancia adicional,se nos levarmos em conta que,no

Brasil,nao tanto o tema do nacionalismo ganha importancia,mas a questao que esta

inclusive aqui nos convocando para este debate,a questao do projeto nacional,esta sim

ganha importancia.

DUAS VERTENTES

“ Há algumas semanas,no Instituto Cajamar,numa discussao com os formadores sobre o

tema do projeto nacional,foi-me perguntado qual a diferenca entre este projeto nacional e

o do nacionalismo dos anos 30,40 e ,sobretudo,o dos anos 50 e 60 ?

Vamos tematizar esta questao: para isto,precisamos abordar um pouco a trajetoria do

nacionalismo no Brasil e de como algumas destas questoes incidem ou nao na discussao

atual de um projeto nacional.

De uma forma sintetizada,lembro dois momentos importantes da discussao sobre a

questao nacional no Brasil e sobre a construcao de um projeto nacional,que coexistiram

e nao raro se interpenetraram,expressando duas vertentes sobre o tema:

52

1. a vertente vinculada ao pensamento autoritario brasileiro,que vinha dos anos 20 e que

ganhou evidentemente,nos anos 30 e 40,uma importancia muito grande;refiro-

me,fundamentalmente,ao pensamento autoritario de direita;

2. a vertente de esquerda,foi se formando,nao isenta da influencia autoritaria de direita,e

se abeberou muito das receitas que a internacional Comunista,particularmente no seu VI

Congresso,formulou no que se refere a politica para os paises coloniais e semi-coloniais.

Esta politica da internacional veio receber um certo complemento nos anos 30,quando

foram formuladas as teses sobre as Frentes populares,que no caso da America

Latina,implicavam concretamente,pela primeira vez,a frmulacao pelo menos do ponto de

vista teorico,de uma politica de aliancas com setores da chamada Burguesia

nacional;lembremos que este é um tema espinhoso,complicado,sobretudo porque no

nosso continente,as experiencias que se diziam inspirar na Frente Popular,tiveram

vertentes absolutamente opostas:uma vertente de natureza eleitoral,que foi a Frente

popular no chile em 1970,quando uma coligacao comunista,socialista e radical,elegeu o

governo que realizou um programa de transformacoes economicas e sociais e politicas

de grande importancia.

E,outra vertente,de natureza insurreicional,na qual esta dimensao de aliancas de classes

era muito mais retorica do que real e,que foi a vertente da Alianca nacionalk

libertadora,no Brasil dos anos 30.

de alguma maneira,as teses sobre o projeto nacional,iriam ganhar no caso da America

latina,uma importancia muito grande em funcao do exito da revolucao

chinesa.Tambem,nao quero entrar aqui numa discussao mais fina sobre a questao da

revolucao Chinesa,ate porque muitos sao os historiadores que exploram a defasagem que

existiria entre a politica realmente aplicada por Mao Tse Tung na china e aquelas que

aparecem nos textos do PCC,muitas vezes construidos de forma a nao ferir a

ortodoxia,primeiro da Internacional e em segundo do PCUS,que ocupou plenamente a

hegemonia do movimento comunista internacional depois da dissolucao da Internacional.

No caso brasileiro,esta influencia é muito grande e, ela se reflete sobretudo num

aspecto importante que é a ideia que as transformacoes ocorreriam na perspectiva que a

Comintern chamava de etapa nacional,dirigida por um bloco de classes composto

fundamentalmente por 4 setores:

o proletariado urbano-industrial,o campesinato,a pequena-burguesia-na sua diversidade-

e,a burguesia nacional.

Eric Hobsbawm dizia que era fundamental,para abordar os temas que ele se

propunha,tratar de onceitos como Nacao e Povo.Ora,nos anos 50,fins dos anos 50 e dos

anos 60,um dos grandes intelectuais do PCB,e historiador ao mesmo tempo,Nelson

Werneck Sodre,justamente no seu livro Ïntroducao a revolucao Brasileira",que

posteriormente num livro que seria acoplado numa edicao seguinte a este,chamado

"Quem é o povo no Brasil?",definia este conceito de povo justamente em termos do

bloco de 4 classes.o povo seria a classe operaria-urbana,o campesinato,a pequena

burguesia progressista e tambem,a burguesia nacional.

O nacionalismo

“Numa visao mais proxima do que vem a ser o "nacionalismo economico"e o "projeto

nacional" que se desenhou a partir dos anos 50 e 60,diria que este projeto foi

fundamentalmente um projeto de nacionalismo economico.E,que fazia do crescimento,o

valor fundamental,seguindo em grande medida ,de um lado,as projecoes do que havia

sido o desenvolvimento industrial da URSS durante os planos quinquenais,combinando

53

com novas teorias sobre o desenvolvimentismo,que passava a ser formulada a partir da

CEPAL.

Evidentemente,o nacionalismo nao se reduzia ,no caso brasileiro,ao nacionalismo

economico,ele tinha inclusive a sua dimensao social,que significava concretamente: com

o desenvolvimento economico que se iniciara a partir dos anos 30 e 40,emerge uma

classe operaria industrial e ao mesmo tempo,constroem-se a partir do Estado um projeto

de enquadramento desta nova classe atraves das formas corporativas de sua organizacao.

Por mais rigorosos que sejamos em relacao a critica a este modelo de organizacao

sindical,e'indiscutivel que ele foi percebido por uma parte dos trabalhadores como uma

especie de acesso a cidadania ou pelo menos a certos aspectos da cidadania.Nao sao

poucos os que se defrontaram a alguns anos,com trabalhadores que diziam :"ir em busca

dos meus direitos".

Esta é uma expressao que só pode ser cunhada,a partir do momento em que estes

direitos,ainda que de forma perversa,tenham sido reconhecidos pelo Estado de forma

paternalista e autoritaria.

Evidentemente,que tambem nos anos 50 e 60,nos nao poderiamos reduzir o

nacionalismo no Brasil,exclusivamente as suas dimensoes economicas,na medida em que

todos identificam uma pluralidade de movimentos culturais e tentativas de formulacao de

projetos ideologicos que se desenvolveram nesta epoca;eu os menciono sem aprofundar

o tema,por exemplo: a musica brasileira,sem duvida ganha uma nova dimensao,a ideia

mesmo do cinema novo,está vinculada a esta ideia de nacionalismo;da mesma forma,a

arquitetura brasileira,o teatro e finalmente,a propria tentativa de cosntituicao de um

projeto de uma ideologia nacional,consubstanciada fundamentalmente no ISEB,no qual

conviviam nacionalistas de origem do pensamento autoritario de direita,com membros do

PCB.

Ë importante observar,finalmente,em relacao a este projeto nacionalista anterior,que se

tratava fundamentalmente de um projeto que buscava a constituicao de uma economia

autonoma,que tratava a questao da integracao de forma vaga e na maioria das vezes de

processos indefinidos de conexao horizontal,privilegiava a acao do estado e reduzia o

tema da democracia quase que exclusivamente a democracia social,sem muito se ocupar

com a democracia politica.

Por esta razao,a esquerda no final dos anos 44 e 45,nao teve nenhuma dificuldade em

conviver com o regime autoritario cripto-fascista,em nome do fato que este regime

combatia o fascismo na Europa”,arremata Marco Aurelio.

Uma Pista,um roteiro

Antonio Candido,na terceira edicao de "Varios Escritos",nos traca um ideario para um

projeto nacional.Alem de nos assinalar a visao de mundo romantica anti-

capitalista,analisa os "radicalismos"no Brasil ( atraves de Manoel Bonfim,Joaquim

Nabuco e S.B.de Holanda),fala-nos do papel da Faculdade de Sao Paulo como leito de

radicalismo e,por fim,assinala-nos dois grandes precursores que pensaram as "nossas

condicoes": o proprio S.B.de Holanda e Paulo Emilio.

Candido parece-nos dizer algo mais nesta edicao ampliada,cuja segunda parte é

totalmente inedita em relacao a primeira edicao de "Varios Escritos".Este aspecto foi

assinalado por Augusto Massi,na apresentacao feita para o suplemento “Mais”:

“Mas a nova edicao altera a feicao original do livro...A mudanca realmente

decisiva,porem,está no fato de o livro passar a ter uma segunda parte dedicada a

54

discussao das ideias politicas...Na simetria quase perfeita da obra(...),reencontramos a

coerencia do critico literario e do intelectual militante,sempre fiel as propostas

sistematizadas,em 1944,na “Plataforma da Nova Geracao”: “O combate a todas as

formas de pensamento reacionario”.

Nesta segunda parte da nova edicao,A.Candido comeca pelo texto “O Direito a

Literatura”,em que analisa o “romance romantico”,tecendo consideracoes sobre o

“romantismo anticapitalista”;Em seguida vem “Radicalismos”,em que estuda a

contribuicao de Manoel Bonfim,Sergio B.de Holanda e Joaquim Nabuco;em “Uma

palavra instavel”,analisa o nacionalismo cultural,sobretudo destacando Mario de

Andrade;os tres ultimos ensaios falam da USP e da abolicao;de Sergio B.de Holanda

e,enfim,de Paulo Emilio.

Portanto,é como se o autor nos indicasse o ideario e o caminho para investigacao das

bases de uma alternativa a hegemonia cultural neo-liberal ou neo-conservadora.

Facamos um parenteses para colher as ideias de Antonio Candido sobre a questao do

nacionalismo,sobretudo,no campo cultural.

Nacionalismo e Cultura: UMA DIALETICA COMPLEXA

Candido aponta duas faces do nosso nacionalismo:

1.otimista , ufanista e patrioteira,tipo "Por que me ufano do meu Pais"(1900),

2.pessimista,amarga e real,tipo Euclides da Cunha ( "Os Sertoes",1902),Silvio

Romero,etc.

Candido mostra a relacao intrinsica deste nacionalismo ufanista com a cidadania:

Com o ex-anarquista Elisio de Carvalho,assinala Candido,"o nacionalismo ornamental

atinge aqui um dos seus limites implicitos,ao excluir-se tacitamente da nacionalidade o

pobre,o negro,o mestico,o chagasico,o maleitoso,o subnutrido,o escravizado,como se

fossem acidentes,manchas secundarias no brasao das oligarquias,idealizadas numa

especie de leitura da nossa historia".

Com Oliveira Viana ("Populacoes Meridionais do Brasil",1920) o nacionalismo

autoritario e conservador foi alimentado nas decadas de 20 e 30.A partir de 1937

alimentaria a ideologia do Estado Novo: "o nacionalismo mostrava a sua faceta mais

desagradavel e perigosa,que é a posicao politica reacionaria,caldo da cultura do

militarismo,do provincianismo e da obtusidade cultural".

Ao mesmo tempo,"os anos de 1920 viram atitudes mais fecundas e construtivas no

campo da literatura,das artes e do pensamento,a comecar pelas posicoes do

Modernismo...".

Antonio Candido assinala um paradoxo: "no terreno social e politico,o pais atrasado e

novo precisa ser nacionalista,no serntido de preservar e defender a sua autonomia e a sua

iniciativa;mas,no terreno cultural,precisa receber incessantemente as contribuicoes dos

paises ricos,que economicamente o dominam.Dai uma dialetica extremamente

complexa,que os modernistas brasileiros sentiram e procuraram resolver ao seu

modo."Candido explicita o "modo":

"É fundamental todo o seu movimento de valorizacao dos temas nacionais,a

consciencia da mesticagem,a reabilitacao dos grupos de valores marginalizados (

indio,negro,proletario).Mas curiosamente,fizeram isso recorrendo aos intrumentos

libertadores da vanguarda europeia...".

55

Para Candido,"essa dialetica é nitida na obra de Mario de Andrade".

OS ANOS 60: a cidadania dos trabalhadores

Continuemos com Marco Aurelio,"A situacao mudou radicalmente nos anos 60,de uma

maneira geral,nao só no Brasil mas na maioria dos paises da America latina,onde haviam

tantos projetos nacionais marcados pelo que chamamos de populismo;estes projetos

foram politicamente derrotados e desapareceram.

Houve uma excecao nesta dinamica,que foi dominante nos casos da Argentina e do

Chile:foi o caso do Brasil.Ate 1968-69,aqui se deu um ajuste liberal,e se defendeu no

plano internacional uma politica de alinhamento com os EUA -de alinhamento

incondicional- porque este alinhamento sempre houve,mas de um alinhamento

incondicional.Todos estao lembrados da frase do Ministro das Relacoes exteriores de

Getulio vargas,que dizia:"O que é bom para os EUA,é bom para o Brasil".

A partir dos anos 70 sobretudo,por uma serie de razoes,temos a retomada de um

projeto de desenvolvimento economico em termos nacionais,ainda que este projeto se

articule com a presenca do capital estrangeiro,repousando no famoso tripe: capital

nacional,capitral estrangeiro e o Estado.

De certa forma,havia mais implicita do que explicitamente,a ideia de retomar o velho

projeto da CEPAL e levar a industrializacao substitutiva de importacoes.Para fazelo,era

importante que o Brasil se adaptasse as condicoes de uma economia internacional,que já

se percebia em mutacao.Por isto,nao só se buscava o desenvolvimento dos setores de

industria de bens de capital,o aprofundamento da infra-estrutura,o que JK já comecara a

fazer,como tambem já se procurava dotar o pais de condicoes de competitividade com os

novos setores proprios da III revolucao industrial,já em marcha.

Nao é outra a razao pela qual os militares nos anos 70 e particularmente no Governo

geisel,procuraram desenvolver um projeto nuclear nas diemnsoes em que foi

proposto,e,criar uma industria de informatica a partir da reserva de mercadoímpulsionar

alguns outros setores ainda que em forma menos significativa como é o caso do setor da

quimica fina.

No entanto,este projeto tinha uma caracteristica que todos nos conhecemos: era um

projeto extremamente concentrador e um projeto que renunciava nao só a dimensao da

democracia politica,como tambem qualquer preocupacao de ordem social.

A grande consequencia de tudo isto,é que,contra a vontade dos militares,a partir de um

determinado momento estavam pensando simplesmente numa transicao em termos de

uma engenharia politica institucional;no entanto,o Brasil foi capaz de construir uma

poderosa classe operaria,quatro vezes superior a que existia em 64 e que viria a se

transformar num sujeito politico importante a partir da metade dos anos 70 e durante

quase toda a decada dos 80.colocando duas questoes essenciais:

1. o reconhecimento desta classe trabalhadora pelo sistema politico e,portanto,a questao

da "cidadania dos trabalhadores",tema que outros paises,como o Chile e a

Argentina,haviam resolvido a sua maneira a 50 anos pelo menos;

2. recolocando um velho problema já presente nos anos 30,ou seja,a chamada "questao

social"; ainda que,esta questao atingisse,na formulacao deste setor,fundamentalmente os

setores örganizados da sociedade.E isto é um grave problema com o qual estamos a nos

confrontar constantemente.

Nos anos 80,tivemos um fenomeno no Brasil ,de certa forma original em relacao ao

que ocorreu na epoca em outros paises do mundo e,que ocorrem normalmente em etapas

semelhantes do capitalismo.Primeiro,vivemos durante praticamente toda a decad de 80 e

56

nos dois anos da decada de 90,um processo de recessao,com pequenos movimentos

ascendentes,que nao desconfiguram a ideia de doze anos perdidos,do ponto de vista

economico.No entano,o movimento sindical-operario (operario no primeiro momento e

sindical a partir do final dos anos 70),contrariando os ciclos descendentes do

capital,desenvolveu uma atividade ascendente.Evidente que esta atividade ascendente

teve uma caracteristica de resistencia,e muitos ganhos foram restritos.No entanto,o que

tinhamos que perguntar é o que teria acontecido se este movimento sindical,ainda que

com estas caracteristicas,nao tivesse conseguido se organizar e se desenvolver.

Novos desafios,novas licoes

“A partir da metade dos anos 80,passamos a nos ver confrontados com novos

desafios,nos quais ainda estamos envolvidos sem termos conseguido grandes avancos

,mas,pelo menos,com aberturas significativas.estes desafios estao colocados para o

movimento operario em primeiro lugar,como novo sujeito emergente da vida politica

nacional.Mas,tambem,para outros setores,justamente com a necessidade de construir um

projeto nacional que nao só estabeleca uma linha definitiva das condicoes de trabalho e

de vida dos trabalhadores,mas sobretudo,que tenha condicoes de resolver os grandes

problemas sociais e acima de tudo,os problemas dos excluidos,que cada dia se

transformam ems etores majoritarios da sociedade brasileira.

Evidentemente,e para encerrar,podemos estabelecer as primeiras diferencas deste

projeto nacional que se discute hoje,e que nao está constituido,com o velho nacionalismo

dos anos 50 e 60.

1) Do ponto de vista de suas bases economicas,ele procura incorporar criticamente tudo

aquilo que foi dito e estabelecido sobre as condicoes do desenvolvimento do periodo 50

e 60,acrescentados pelas dramaticas licoes da falencia das economias planificadas da

URSS e do Leste europeu.

2) Do ponto de vista social,e,aqui está a diferenca fundamental,tem sua enfase na

questao social.Procura,justamente,um tipo de reorganizacao da economia que seja capaz

de compatibilizar a insercao da economia brasileira no mundo,com o atendimento ao

mesmo tempo,das graves demandas sociais no sentido de vencer a situacao de verdadeira

anomia em que nos encontramos.

3) Do ponto de vista politico,a propria constituicao deste projeto e as lutas que se

desenvolveram nestes ultimos anos,colocam uma relacao totalmente diferente do Estado

com a Sociedade civil.É sintomatico,inclusive,que a expressao Sociedade Civil no

Brasil,sobretudo na leitura gramsciana,tenha surgido exatamente no momento em que o

Estado havia conseguido praticamente liquidar ou desfigurar as formas de representacao

politica,fazendo justamente com que a ideia de representacao se recolocasse e o seu

tema,o da reconstrucao da representacao,partisse de baixo da sociedade.

Ao mesmo tempo,o papel da relacao do Estado com a sociedade civil tambem se

redefiniu no que diz respeito a funcao economica que o Estado passará a ocupar nesta

nova sociedade.Nao que a esquerda deva sucumbir a ilusao liberal do Estado

minimo,muito pelo contrario,a esquerda nao pode compactuar com a ideia de um Estado

burocratizado,apropriado pelos interesse corporativos,sobretudo aquels do proprio

Estado.

57

Razao pela qual,um projeto de desenvolvimento tem como pre-condicao a reforma do

Estado: a sua reforma nao só tecnica,mas a criacao a partir da Sociedade civil e das

instituicoes republicanas de uma multiplicidade de mecanismos de controle.

Finalmente,este Estado tem que ser parte de um Sistema Democratico,em

aprofundamento continuo,a democracia nao se reduzindo ao Estado de Direito,mas ,a

democracia sendo pensada como a criacao de novos espacos e de novos direitos,nos

quais os conflitos nao sao liquidados,como na velha versao do nacionalismo,mas os

conflitos criam as condicoes da sua resolucao transitoria,da sua reposicao e

aprofundamento.

O projeto nacional,basicamente,nao pode ser um projeto fechado ao mundo,ele deve

discutir a partir das suas caracteristicas,a forma pela qual ele vai se inserir nas economias

mundiais e,acima de tudo,para faze-lo,ele deve definir as bases de novos projetos de

integracao regional.Neste particular,as esquerdas nao podem adotar em relacao a estes

projetos de integracao regional,uma posicao puramente negativista,como em algum

momento adotaram na Europa em relacao ao projeto da CEE.O MercoSul e outros

projetos sao campos de disputas,nos quais inperam ainda,o projeto liberal,extremamente

questinado.

Os fenomenos do nacionalismo no mundo,demonstram tambem possibilidades de

articulacoes horizontais de paises que teem grandes dimensoes territoriais,enorme

potencial economico,vocacao politica hegemonica,e dificilmente serao incorporados

pelos Mega blocos existentes;podem perfeitamente estabelecer novas formas

renovadoras de colaboracao,desde que resolvam os seus problemas politicos

internos,que nao sao pequenos;bastaria lembrar paises como a Russia,a china,a india,o

Brasil,e sem nenhuma duvida,a Africa do Sul.

isto permitira,entao,repensar a questao de uma Nova ordem Internacional;mas,nao há

uma nova ordem internacional com nacoes que nao sao soberanas,que nao tenham

projetos nacionais de desenvolvimento.",finaliza M.A.Garcia.

nacionalismo,hoje!

Retomando a reflexao de Candido,para quem("nacionalismo é uma palavra arraigada na

propria pulsacao da nossa sociedade e da nossa vida cultural"),desta vez,ao recapitular

sua licao sobre nacionalismo,mostrando seu lado instavel, ao defini-lo hoje ,e ao tracar

alguns lembretes,no terreno cultural:

1.Recapitulando: na historia brasileira deste seculo,teem sido ou podem ser considerados

formas de nacionalismo o ufanismo patrioteiro,o pessimismo realista,o arianismo

aristocratico,a reivindicacao da mesticagem,a xenofobia,a assimilacao dos modelos

europeus,a rejeicao destes modelos,a valorizacao da cultura popular,o conservantismo

politico,as posicoes de esquerda,a defesa do patrimonio economico,a procura de

originalidade etc,etc.

Para Candido,"Tais matizes se sucedem ou se combinam,de modo que por vezes é

harmonioso,por vezes,incoerente.E esta flutuacao,esta variedade,mostra que se trata de

uma palavra arraigada na propria pulsacao da nossa vida sociedade e da nossa vida

cultural."

2. "Hoje -continua-nacionalismo é pelo menos uma estrategia indispensavel de

defesa,porque é na escala da nacao que temos de lutar contra absorcao economica do

imperialismo.Ser nacionalista é ser consciente disto,mas tambem dos perigos

complementares".

58

3.Ficando no terreno cultural.alguns lembretes.

-Se entendermos por nacionalismo a exclusao das fontes estrangeiras,caimos no

provincianismo;

mas,se o enterdermos como cautela contra a fascinacao provinciana por estas

fontes,estaremos certos;

-Se nacionalismo for aversao contra outros paises,mesmo imperialistas,será um erro

desumanizador;

mas,se for valorizacao dos nossos interesses e componentes,na sua pluralidade,alem da

defesa contra a dominacao por parte destes paises,sera'um bem.

-Se entendermos por nacionalismo o desconhecimento das raizes europeias,corremos o

risco de atrapalhar o nosso desenvolvimento harmonioso;

mas,se o entendermos como consciencia da nossa diferenca e criterio para definir a nossa

identidade,isto é,o que nos caracteriza a partir das matrizes,estamos garantindo o nosso

ser - que nao é apenas "crivado de racas"( como diz um poema de Mario de

Andrade),mas de culturas."

==============================================================

O Nacional-cultural

Continuando na pisada da questao do nacionalismo cultural,exploremos algumas ideias

de Mario Pedrosa.No texto de 1952,sobre a Semana de Arte Moderna,publicado em

“Dimensoes da Arte”(1964),refletindo uma exposicao por ocasiao dos 30 anos do grande

acontecimento politico-cultural ocorrido em 1922,Mario Pedrosa analisa a relacao entre

local e universal,nacionalismo e internacionalismo.

Pedrosa afirma que com a Semana chegou ao nosso pais um “estado de espirito novo

universal,revolucionario.”.Neste sentido,”surgiu com um certo “atraso”,pois que as suas

manifestacoes mais clamorosas,cubismo e futurismo,deram seus primeiros vagidos

europeus por volta de 1900”.

Porem, se “a genese do modernismo está aqui tracada.Foi um movimento que veio de

fora.Mais uma vez de Paris”,Pedrosa detem-se sobre a nocao de importacao,a partir de

uma fala de Mario de Andrade na famosa conferencia balanco de 1942:

“Mario exagera.Nao houve importacao,que significa receber

produtos,artigos,ideias,prontinhos em folha,bem acondicionados,para consumo

direto.Mas a revolucao da arte moderna nao estava industrializada nem cristalizada para

exportar-se como mercadoria.Era ainda -como é hoje- um movimento em marcha.O que

houve nao foi importacao nem mesmo de modas,quanto mais de espirito.O espirito nao

pode jamais ser transformado em algo materializado,acabado,comoum objeto de

exportacao.Mas uma das suas faculdades mais especificas é o terrivel poder de

contaminacao que possui.E foi o que aconteceu”.

Mario Pedrosa assinala tracos fundamentais do modernismo,por exemplo,a visao de

totalidade gracas a interacao com as artes plasticas.A penetracao e a busca de raizes do

pais atraves do nacionalismo;contudo,este nacionalismo assumiu uma forma estreita e

imbecil com aqueles que nao interagiram com as artes modernas.

Mario assinala um dos “tracos mais originais e caracteristicos’do novo movimento:

“parte de uma experiencia psiquica,de uma vivencia magica preliminar: o cantato com a

pintura moderna.O ponto de partida nao é literario”.Sem duvidas,uma quebra da

hegemonia da palavra escrita,tema tao caro a Mario Pedrosa.Uma expressao do que

Raimond Williams chama de “estrutura de sentimentos”e nao apenas uma expressao

“ideologica”.

O movimento modernista abrange desde o inicio todas as experiencias artisticas.Para

59

Mario Pedrosa,”Gracas a esse contato,desde os primeiros passos,com a plastica

moderna,puderam os literatos e poetas do modernismo brasileiro ter,de saida,uma visao

global do problema da arte e da criacao contemporanea.educaram-se atraves da pintura e

da escultura modernas”.

Este aspecto do movimento é fundamental,”Sem a contribuicao direta,primordial das

artes plasticas,o movimento modernista nao teria marcado a data que marcou na

evolucao intelectual e artistica do Brasil.A sua propria orientacao nacionalista na

descoberta e revelacao do Brasil,nao teria tido a sistematizacao,a profundidade,a busca

de raizes com que se assinalou.Desse clima é que surgiu provavelmente a ideia de

“Raizes do Brasil”,o penetrante livro de Sergio Buarque de Holanda.E a verdade é que

foram as figuras de menos contato com o campo das artes plasticas as que,na inevitavel

bifurcacao ulterior do movimento,tomaram do nacionalismo as formas mais superficiais e

estreitas e nos dias de hoje a mais imbecil - a forma politica”.

Mario de Andrade e Van Gogh

Pedrosa assinala que “Por paradoxal que possa parecer,foi pela consciencia do seu

“internacionalismo modernista’,na expressao de Mario,que o movimento chegou -outra

expressao de Mario- ao seu “nacionalismo embrabecido”.

Ainda sobre Mario de Andrade,nosso Mario acentua a relacao entre ”as culturas

arcaicas passadas ou primitivas de povos contemporaneos”,incorporadas pelo

modernismo europeu,e o noso modernismo.: “A conquista das culturas arcaicas pelo

modernismo europeu coincidia com o pensamento universalista e primitivo de Mario de

Andrade.O grande poeta modernista,desde o inicio,abarca na sua poderosa personalidade

os dois planos do movimento - o plano universal,onde tem sua origem,e o plano nacional

onde vai realizar-se.”

Aqui,Pedrosa antecipa a teoria das “duas formas de vanguarda”de Angel

Rama.Prosegue:”Em As Enfibraturas do Ipiranga,oratorio profano de 1922,o coro das

juvenilidades auri-verdes,numa enumeracao prodigiosamente rica de cores e formas e

temas e bichos nacionais- que prenunciam a admiravel descida de Macunaima,araguaia

abaixo,para o sul do pais,acompanhado de todos os bichos da floresta amazonica-

proclama: “as franjadas flamulas das bananeiras,as esmeraldas das araras, os rubis dos

colibris,o lirismo dos sabias e das jandaias,os abacaxis,as mangas,os cajus,almejam

localizar-se triunfantemente na fremente celebracao do universal”.

Pedrosa fala do que seria a traducao plastica do poema marioandradiano.”Os sabias,as

araras,as bananeiras sao evocadas pelas juvenilidades auriverdes para a integracao no

universal.Note-se o extraordinario vigor plastico e cromatico da evocacao da natureza

brasileira.Sua palheta lembraria os tons vivos do fauvismo e a violencia da cor pura de

VAN GOGH.A diferenca é que a visao do poeta e’otimista.O Brasil de Mario de

Andrade entra pelos sentidos”.

“...Fiel ao seu temperamento,fiel a educacao artistica direta que teve pelo contato com

os quadros de Malfati e a escultura de Brecheret,fiel a volta as fontes puras de

inspiracao,hostil entao ao intelectualismo conceitual e aos preceitos ideologicos

estratiificados,o seu Brasil é antes um motivo,ou a pequena sensacao que em CEZANNE

provocava o surto criador,do que uma abstracao ideologica,convencional e civica e

fria.”.

O movimento modernista realizou,na sua epoca,uma especie de caravana da cidadania

cultural:”O movimento modernista,depois de estrondar dentro e fora do teatro Municipal

de S.Paulo,com o olho em Paris,entrou de Brasil a dentro pelos fundos.O primitivismo

60

foi a porta pela qual os modernistas penetraram no Brasil e a sua carta de naturalizacao

brasileira.”

Pensando no itinerario de GAUGUIN,Pedrosa remarca que “E assim os modernistas

brasileiros nao precisavam ir,como seus emulos europeus supercivilisados,as latitudes

exoticas da Africa e da Oceania para revigorar as forcas em fontes mais puras e

vitalizadas de certas culturas primitivas.Entao virando-se para dentro do pais,de costas

ao mar,o lider intelectual do modernismo teve a nocao de um Brasil caboclo,diferente do

da capital,primario e irredutivel na sua realidade fisica,capaz de lhe dar motivo para

conjugar o cultural e o instintivo”.

A Antropofagia: Oswald de Andrade

Osvaldo de Andrade foi “o teorico e o criador consciente do primitivismo brasileiro.E

como era natural,esse primitivismo,esse brasileirismo de bodoque e beico furado.Osvaldo

dele teve a revelacao em paris.”Osvaldo de Andrade,numa viagem a Paris,do alto de um

atelier da Place Clichy -umbigo do mundo- descobriu deslumbrado a sua propria

terra”(Paulo Prado,Poesia Pau-brasil).Osvaldo descobre,como Cabral,o Brasil”.

O Brasil dos modernistas “e’um Brasil tambem fisico,feito de minerio,de vegetal,de

crendices e de cozinha...Por amor a poesia,as fontes reais e concretas da vida,ele

(Osvaldo) tambem delimita o Brasil as suas realidades mais teluricas e fisicas.Pau-

brasil.Ë’ pois o seu um nacionalismo primordial,irredutivel e anti-erudito como o de

Mario de Andrade.

A nalise que segue,feita por pedrosa nos mostra questoes fundamentais da relacao

entre estetica e politica,no caso,de um lado,a relacao interativa entre as duas,de

outro,(como é o caso do verde-amarelismo),da nao interacao entre as duas.

É espantoso ver como as afinidades que Marilena Chaui apontou entre a visao e a leitura

de Brasil,tanto da esquerda quanto da direita,se reflete em ambas as posicoes em uma

ausencia dos elementos da estetica ou seja ,principalmente,das artes plasticas.o que nos

leva a concluir que,a politica sem a questao da hegemonia cultural,porta uma dialetica

terrivelmente empobrecida.

“Só mais tarde,quando as separacoes de temperamento e individualidade se fazem

segundo as afinidades,é que o nacionalismo ingenuo e primitivo,nao literario no sentido

da expressao verbal,mas plastico,ramo regional do universalismo moderno,degenera em

nacionalismo politico,civico,patriotico sob as suas diversas costumeiras xifrinadas.”mario

pedrosa aborda,entao,a bifurcacao dos modernistas.”E realmente o movimento

modernista acaba bifurcando-se em duas correntes,

uma de pura vivencia psiquica e de alta vitalidade espiritual e artistica,

e a outra de mera expressividade anedotica e pitoresca que degenera em modismos

preconceituosos para terminar em estilo de tropos oratorios.

De arte nao resta mais senao a formula morta,e e’,com efeito,curioso notar que dessas

derivacoes literarias (nao propriamente artisticas) frustadas da segunda corrente do

modernismo brasileiro,,como o “verde-amarelismo”e depois o indianismo anacronico da

“Anta”,nada ficou de esteticamente ou mesmo de especulativamente valido a nao ser

algumas imagens soltas de Cassiano Ricardo”.

Segue Pedrosa “Entretanto,o nacionalismo verde-amarelista nao tardou a sair do plano

espiritual da criacao artistica propriamente dita para coagular-se,desta vez como produto

importado mesmo da Europa,num movimento exclusivamente politico

totalitario,decalcado nos gestos e na indumentaria e em residuos das ideias do fascismo

italiano e do nazismo alemao.

61

O traco mais revelador da esterilidade criadora dessa corrente está na ausencia,no seu

seio,de artistas plasticos e mesmo de musicos,isto é,as artes cujo meio de expressao se

conserva mais limpidamente puro do contacto perigoso do mundo das ideias e dos

conceitos,indissoluvelmente arraigados a palavra,materia prima da poesia,mas tambem

do manifesto,da predica,do discurso e do arrazoado.E o Brasil para eles se tornou

sobretudo uma abstracao seca,um faz-de-conta,uma convencao,uma academia de

conceitos e formulas estereotipadas,uma ideologia de importacao”.

“A outra corrente,no entanto,se manteve fiel aos postulados do pensamento intuitivo

dominante em toda atividade artistica e criadora”.

Para Pedrosa “Tarsila do Amaral é a primeira transcricao Pau Brasil para a

pintura”.Contudo,”O estado mental de Pau-Brasil,entretanto,pouco dura.A realidade da

vida e dos tempos espanta o lirismo infantil,fresco,otimista que o caracterizava.Osvaldo

de Andrade com outros se desgarram do tronco modernista inicial e,com Tarsila como

principal interprete,penetram mais a fundo no Brasil,para atualiza-lo mas conservando as

suas raizes,as rudezas nativas,a sua selvageria,em sumo.E’a antropofagia”.Neste

sentido,ÄBOPURU representa bem essa vontade de violar as proporcoes naturais dos

seres vivos e reais.A antropofagia nasceu dessa figura.E com ela acabou a linha de

desenvolvimento plastico que vem diretamente da semana de Arte Moderna”.

Para concluir seu estudo sobre a Semana de 22,Pedrosa enumera varios nomes ,como Di

Cavalcanti,Portinari,Lasar Segall,Cicero Dias,Guignard,Goeldi , Ismael Neri e

Pancetti.”Fiquemos por aqui e proclamemos a importancia da Semana de Arte Moderna

para o desenvolvimento nao só artistico e literario do Brasil,como cultural e

espiritual.Pela primeira vez nesse Brasil pachorrento,inerte que no entanto comecava a

esboroar-se sob a desintegracao da velha economia feudal e cafeeira,um punhado de

jovens se levanta contra a modorra e clama que nao somente nos dominios interessados

da politica os homens teem motivos de lutar,de brigar.A arte é cada vez mais,em nossos

dias,uma atividade digna de por ela os homens,os melhores dentre eles,lutarem e se

sacrificarem”.(Rio,junho de 1952).

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A PRACA E O COLEGIO

"A continuidade na historia é

a ma terceira posicao é utopica: a periferia afro-asiatica está mais adiantada que a

periferia latino-americana;porem,é possivel uma terceira posicao topica ou empirica,que

problematizaria o campo hegemonico.

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dos dominantes.A descontinuidade é a dos oprimidos"(W.Benjamin)

Este foi o nome dado ao texto em que Eder Sader analisou o significado da campanha

civica pelas "Diretas Já"(1984).O que movia Eder?

"Porque o meu interesse aqui é resgatar promessas daquela campanha,sufocadas pelo

realismo aliancista,e que constituem ainda indicadores da possibilidade de uma outra

historia".

"Algo se perdeu na continuidade estabelecida pelo projeto tancredista...E sao os fios

perdidos,mas presentes,que necessitamos retomar se quisermos constituir um projeto

efetivamente democratico e popular".

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"Falou-se muito que a campanha pelas diretas significou um processo de politizacao

popular.mas dizer isso ainda é pouco,porque assistimos a um progressivo processo de

politizacao que nao é de hoje.Vejamos caracteristicas da politizacao até a campanha

pelas diretas para podermos qualificar melhor as caracteristicas desta politizacao.

Situamos,mais precisamente,duas correntes de politizacao: uma primeira,pela via

eleitoral,e uma segunda,pelo desenvolvimento de novos movimentos sociais".

Eder dá os exemplos:"A votacao crescente no MDB a partir de 74 já foi caracterizada

como manifestacao de uma oposicao politica".O sufragio nesse partido seria uma opcao

ideologica,no sentido de que ele era "do lado dos pobres",estabelecendo com ele uma

"relacao de representacao".

Houve uma segunda corrente de politizacao que percorreu a sociedade brasileira na

ultima decada(70).Ela veio dos novos movimentos sociais - do novo sindicalismo e de

grupos de fabrica,de comunidades de base,clubes de maes,comissoes formadas em torno

de reivindicacoes como creche,onibus,luz,agua,postos de saude e uma multiplicidade de

questoes referidas as condicoes de vida urbana das classes trabalhadoras,além de

sindicatos rurais e associacoes camponesas".

Eder destaca o ethos dessa segunda corrente:"a valorizacao dos processos de auto-

organizacao e de uma solidariedade dos dominados face ao estado,de quem exigiam

direitos".

Para Eder,as eleicoes de 1982,ao mostrarem os limites do PT (partido que mais se

aproxima desta segunda corrente),mostraram tambem os limites dos movimentos

sociais,sua pequena incidencia na institucionalidade politica.

Em breve,voltaremos a esta questao de uma possivel derrota desta segunda corrente e,se

poderia voltar a tracar outras possibilidades noutra conjuntura.Agora,fiquemos na

caracterizacao das duas vias.

A Via da Cidadania Ativa: do planalto as pracas

Na analise de Eder,percebemos os dois modos presentes no processo politico

brasileiro:um que podemos chamar de "via passiva";e outro,a "via

ativa".Evidentemente,estamos falando de conceitos gramscianos.

A partir da experiencia do Risorgimento italiano,Gramsci formulou o conceito de

"revolucao passiva".esse conceito assume o carater de uma tendencia potencial inerente

aos processos de transicao.dai,sua importancia para analise da transicao brasileira,ou do

processo historico de politizacao no pais.

Em Gramsci,podemos distinguir duas formas de revolucao passiva.A primeira,procede

pela "via estatal" da transicao e tende a resolver os problemas de direcao da sociedade

pelo Estado;neste caso,a direcao politica torna-se um aspecto da dominacao,as massas

sao manobradas,a classe hegemonica adota posicoes corporativas,e mesmo uma visao

reducionista de classe (privilegiar seus proprios interesses,perdendo de vista a direcao

global do processo e suas proprias aliancas).

Uma segunda forma,a das classes dirigentes capitalistas diante da crise do

capital;apoiam-se em relacoes novas entre estado e economia para operar uma

reestruturacao capitalista das forcas produtivas,agindo sobre a propria classe operaria,ou

seja,sobre as formas de organizacao e divisao do trabalho.A ampliacao do consenso em

relacao ao estado nasce da fabrica.

A partir do conceito de revolucao passiva de Gramsci,podemos desenvolver seu

corolario: a "revolucao anti-passiva"ou "revolucao ativa de massa".

O ponto de partida gramsciano,situa-se em dois eixos:

63

1. O fracasso das revolucoes operarias no ocidente,segundo a estrategia da revolucao

sovietica;

2. A consolidacao do fascismo e as transformacoes do caitalismo atraves do New Deal

norte-americano.

Estes fatos historicos,levam Gramsci a aprofundar e criticar a concepcao economicista

e instrumental do estado,que o reduz a dominacao de classe.Em sentido oposto a tese

staliniana do "reforco do estado",gramsci teve a intuicao da contradicao que toda

transicao se depara: como,no momento em que se difunde e se amplia a dominacao-

hegemonia do estado,desenvolver uma transicao anti-estatal ?

Esta intuicao,com seus varios elementos(critica do economicismo,do Estado

instrumental0,só adquiriu plenitude,status teorico,ao se referir a teoria da revolucao

passiva,que determina uma articulacao nova das relacoes hegemonia-estado-

transicao,e,sobretudo,partindo de um novo conceito de hegemonia,em relacao a sua

origem leninista.

Portanto,a analise da revolucao passiva permitiu a Gramsci dois elementos

fundamentais:

1. reformular a questao da transicao;

2. desenvolver um corolario a revolucao passiva: a revolucao anti-passiva(revolucao

ativa de massa).

Assim,Gramsci reatualiza o marxismo a partir de uma critica radical da revolucao

passiva.

E,quais as caracteristicas dessa revolucao ativa ?

Aqui,nos encontramos com a analise de Eder sobre as duas vias de politizacao presentes

no processo brasileiro.

Os elementos que caracterizaram a segunda corrente,segundo Sader,estiveram

presentes varias outras vezes nas pracas do Brasil.Apos a campanha das "diretas

ja",teriamos o processo de participacao popular na Constituinte(1986-1988),que

retomou em outras formas,aquelas possibilidades de uma outra historia.

Sem duvidas,a campanha da Frente Brasil popular,em 1989,foi outro momento dessa

onda democratica-popular;tal qual Afrodite,emergiu das profundezas do oceano,para

marcar momentos decisivos da "constituicao politica do povo brasileiro",na linguagem de

Dom Mauro Morelli.

E,quando menos se esperava,ressurge esta onda na campanha pelo ïnpecheament"de

F.collor,em 1992.Em todos estes momentos decisivos de nossa historia,o elemento

marcante foi a participacao popular,de carater civico e de massa.Momentos de exercicio

decisivo de cidadania ativa.

Eder aprofunda sua analise.O Brasil foi varrido,em 84,pela mobilizacao politica mais

massiva da nossa historia.O impacto dos comicios pro-diretas deslocara o centro politico

do palacio do planalto para as Ruas,as Pracas.

Aqui Eder retoma a sensibilidade de Hanna Arendt em relacao ao espaco publico.Para

Laura Boella,"a importancia a referencia de Arendt a distincao propria da civilizacao

antiga entre privado e publico,resguardando uma passagem que era propriamente um

movimento do corpo,um caminhar e um exercicio,andando de um lugar,a

casa,percorrendo um espaco com limites ( assinalado materialmente por um elemento

arquitetonico ou urbanistico,uma soleira,um espaco vazio entre dois muros,uma distincai

na estrada) até um outro lugar,aberto e comum,a praca ,a agora,o forum,o teatro".

Tal qual o planalto,"O privado,na antiguidade,representava o sacro,a vergonha,o

segredo,a sombra,um lugar a parte,reservado,mas tambem a sede do despotismo

domestico do marido,do pai e dos homens sobre a mulher,os filhos e os escravos".

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Mas,afinal,no que constituiu essa campanha pelas diretas? "Tentar analisar suas

caracteristicas talvez ajude a compreender uma disposicao social,presente e difusa,sem

logar constituir-se numa forca social propria,mas promessa de uma outra possibilidade

historica".

Ate as diretas,para Sader,haviam duas correntes de politizacao;uma se manifestava como

oposicao politica atraves do voto;as eleicoes de 74 sao um exemplo,atraves da votacao

crescente no MDB.Houve uma segunda corrente de politizacao que percorreu a soiedade

brasileira na ultima decad(70).Ela veio dos novos movimentos sociais - do novo

sindicalismo e de grupos de fabrica,etc,etc.

O "apoliticismo"destes novos movimentos englobava o rechaco as elites dirigentes e nao

implicava uma recusa a pratica coletiva e autonoma...A valorizacao dos processos de

auto-organizacao e de uma solidariedade dos dominados face ao Estado,de quem

exigiam direitos".

Ö verao das diretas"galvanizou uma insatisfacao geral,uma vontade de mudancas e,mais

que isso,uma vontade de participar na mudanca.

Para alem do apelido

Quando a gente do povo comecava a falar sobre a exigencia de "diretas já",passava

logo em seguida aos protestos pelo desemprego,o baixo salario,o aluguel da casa,as

roubalheiras da Coroa-Brastel,o sufoco do cotidiano da vida operaria.Diretas

já,apareciam como um apelido para o fim do regime militar e da exploracao.

A campanha pelas diretas assumiu um carater "civico"e nao partidario...Os politicos no

palanque dirigiam o coimicio mas o personagem central estava no meio das

pracas,porque o objetivo era a conquista da cidadania de cada um dos manifestantes".

Para Eder,nao minguaram as lutas sociais,com a "derrota"da campanha.Faltou,sim,uma

referencia central que projetasse a contestacao social no plano da politica...O fato é que

ninguem chegou a elaborar um discurso alternativo.

O pais mudou de cenario e as luzes passaram a iluminar o palco do Colegio...assim,a

substituicao da luta pelas diretas pela campanha pro-Tancredo no Colegio implicou um

ofuscamento do protesto social que nao tem lugar nos espacos estreitos da nossa

institucionalidade.Mas ele certamente voltará.E a capacidade que foi demonstrada por

seus agentes de torna-lo um projeto social alternativo dirá das condicoes para que

facamos uma outra historia".Conclue Eder Sader,cuja morte em inicio de 1988,nao lhe

permitiria ver a volta da onda democratica-popular:(exceto no processo Constituinte,que

tambem terminou no Colegio,com mais uma solucao aliancista),mas nao pode

participar,da campanha de 1989,a da derrota de Collor em 1992 ,e,a derrota da Frente

Brasil popular pela Cidadania,noutra saida aliancista,em 1992.

Em todos estes momentos decisivos de nossa historia,a grande questao foi:"O Brasil se

encontra diante de um momento decisivo de sua historia: a oportunidade de promover a

maioria social a condicao de maioria politica"(Antonio candido,FSP,30.09.94).Como

dizia Mario Pedrosa,"tarefa fundamental de chamar o povo das profundezas onde jaz,ao

plano politico".

Prossegue A.Candido,"Sob esse ponto de vista,a nossa historia desde a Independencia

tem sido a da incapacidade de realizar esta tarefa.Inclusive porque,aqui,as reformas

preconizadas pelos progressistas ou sao abortadas,ou(como já se disse há muito tempo)

sao realizadas pelos conservadores,que se antecipam e,deste modo,dao um jeito de

mudar o minimo para continuar mandando o maximo".

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Enfim,eis a diferenca fundamental entre o projeto democratico-popular da Frente Brasil

Popular pela Cidadania e, a do projeto que venceu as eleicoes de 94,com F.H.Cardoso.

Alias,Raimundo Faoro, em um belo ensaio sobre "A Modernizacao Nacional"(1994) nos

esclarece que "A modernizacao,quer se chame

ocidentalizacao,europeizacao,industrializacao,revolucao passiva,via prussiana,revolucao

pelo alto,revolucao de dentro - ela é uma só,com um vulto historico,com muitas

mascaras,tantas quantas as das diferentes situacoes historicas".

E,assinala categoricamente que,"A recuperacao da modernidade,para desvendar-lhe o

leito por onde ela corre,nao se faz do alto,pela revolucao passiva,prussianamente ou pela

burocracia.O caminho que leva a ela é o mesmo caminho no qual trafega a cidadania:

essa via,que só os paises modernos,e nao modernizadores, realizaram,nao tem atalhos".

Enfim, esta via já nos foi assinalada há muitas decadas.A.Candido em sua introducao a

"Raizes do Brasil",afirma:

"Há meio seculo,neste livro,Sergio deixou claro que só o proprio povo,tomando a

iniciativa,poderia cuidar do seu destino.isto faz dele um coerente radical

democratico,autor de contribuicao que deve ser explorada e desenvolvida no sentido de

uma politica popular adequada as condicoes do Brasil."

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Mario Pedrosa: A Vocacao das Regioes

“O Poder Nacional nao pode

antecipar-se ao estado fluidico da propria sociedade,e só alcancara a plenitude de sua

forca e de sua coesao quando aquelas classes ( as “classes

oprimidas”)encontrarem,dentro do todo nacional,o seu lugar ao sol”.(Mario Pedrosa)

Outro grande socialista brasileiro,Mario Pedrosa,(a quem se referia Marco Aurelio

Garcia como “figura acima de qualquer suspeita,um monumento da esquerda brasileira

que foi descoberto nos anos 80”),em sua obra datada de 1966,Opcao

Imperialista,retomada de um texto de 1948( os socialistas e a guerra),analisando os

fenomenos do nazi-fascismo,do americanismo-fordismo,do stalinismo,empregava o

conceito de reformas contra-revolucionarias para chegar a definicao das revolucoes nos

paises do chamado terceiro mundo.

Este conceito tem afinidades com o gramsciano de Revolucao

Passiva,elaborado,sobretudo,no seu estudo sobre o americanismo,no QC numero

22(1934).Gramsci poe o americanismo como uma das formas de revolucao passiva,e

pensa o seu corolario: a revolucao ativa socialista.

Tal qual Gramsci nos anos 30,Pedrosa nos anos 40,tenta repensar a questao da

revolucao no neocapitalismo,incluindo a questao dos paises subdesenvolvidos.O velho

debate Oriente x Ocidente.

Pedrosa caracteriza o pensamento marxista e socialista no quadro da revolucao passiva

imperante em todo o periodo entre as duas guerras .”Nos partidos comunistas

imperavam o monolitismo safaro e,no fundo,retrogrado do estalinismo,a mais terrivel

estreiteza teorica e uma combinacao do oportunismo com um sectarismo organizativo do

mais completo feitio totalitario...Dai resultou a impotencia teorica generalizada no

mundo imenso do socialismo numa

pratica,consequentemente,inconsistente,contraditoria,do mais baixo empirismo”.Para

Pedrosa,a URSS agia na “base da mesma velha estrategia de antes da guerra e de velhas

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fornulacoes teoricas num mundo que assistia ao desmentido mais acabado as

perspectivas socialistas,comunistas,marxistas quanto ao futuro do capitalismo;este

era,com efeito,capaz de novo surto de desenvolvimento de suas forcas produtivas,por

uma notavel transformacao de suas estruturas.O mundo está pagando caro essa

impotencia teorica...Nao há,assim,por que se admirar se se dá com um mundo na mais

formidavel revolucao tecnologica e mesmo cientifica de que há memoria - mas engolfado

ainda num primarismo politico positivamente indecente”.

Dai,a necessidade de repensar a questao da transformacao social.

Assim,Pedrosa afirma que o problema fundamental -de paises subdesenvolvidos e massas

trabalhadoras com suas aspiracoes sociais- em face do neocapitalismo,é o problema da

reforma ou revolucao.

Citando Myrdal,Pedrosa avanca sua reflexao:”(..)Como sempre na Historia,as reformas

teem de ser conquistadas pela luta,vencendo a resistencia tenaz da maioria dos que teem

de aceitar sacrificios.(),a luta decisiva tem de ser travada no terreno domestico.As

reformas terao de vir como resultado de um processo politico de eficacia crescente”.Diz

Pedrosa,”Assim,em lugar de condenar as lutas pelas reformas como um mal,o

economista europeu socialmente consciente tende a considera-las como inevitaveis e

tambem fecundas.É que essas lutas,diz ele,acarretam em si mesmas uma preparacao,um

exercicio educacional insubstituivel na democracia.Myrdal que nao é narxista,aproxima-

se aqui do velho Marx na sua maneira propedeutica de educar democraticamente os

povos e os homens na acao e pela acao”.

“Só reformas dessas ‘e que nao sao “contra-revolucionarias”,mas reformas

“revolucionarias”.Para os subdesenvolvidos nao há outras”.Pedrosa afirma a

“necessidade,a fecundidade da intervencao ativa do povo na efetivacao das reformas

verdadeiras,estruturais;sem essa intervencao nao poderao elas vingar...A experiencia

historica tem mostrado que ao concorrer para a melhor organizacao dos elementos de

defesa e afirmacao social das camadas populares e proletarias da sociedade vai a luta de

classes perdendo em violencia,em virulencia,em explosoes subitas,como outrora,de

rebeldes famintos,de escravos oprimidos,de negros perseguidos(nos EUA e na Africa,e

outrora no Brasil,no Haiti) e a se desenrolar em processos de luta organizados,bem

delimitados,viris mas disciplinados”.

Adiante define que “As reformas de estrutura de que tanto se fala,precisam de dois

requesitos para assim serem definidas: participacao direta,cooperacao ativa na sua

execucao,do povo,das camadas de rendas baixas e medias,ao contribuirem para

“controlar o consumo dos ricos”,e termino da exploracao das massas proletarias pelo

imperialismo”.

Aqui,Pedrosa aproxima-se da definicao de Hegemonia.Citando o “velho marxista Karl

Kautsky”,do Caminho do poder,1909: a “revolucao proletaria”seria dirigida - nos paises

de alto desenvolvimento naturalmente- por uma classe operaria senhora de seus

destinos,tendo o que perder,rica em quadros experimentados em todos os setores da vida

social e cultural,forte de suas poderosas organizacoes sindicais,politicas,culturais,etc...A

luta de classes,assim -e o pensamento vem direto de Marx e de Engels- nao é

necessariamente um processo de agravamento de violencias e subversoes,nem de

caos,mas pode ser um processo de disciplinacao,educacao e criatividade das massas

proletarias”.

Neocapitalismo e mundo do trabalho

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Pedrosa dialoga com Gorz(estrategia operaria e neo-capitalismo,1964),para retomar suas

questoes sobre a revolucao e a reforma,o Ocidente e o Oriente.”Num livro sob muitos

aspectos novo e construtivo pela originalidade de conceitos e sobretudo pela maneira de

repor o problema capital da estrategia da revolucao socialista em nossa epoca,Andre

Gorz retoma de alguma forma a questao da natureza das reformas e contra-

reformas,revolucao e contra-revolucao de que é tao cheia nossa epoca...Gorz trata o

problema posto por nós nos idos de 40: a natureza de certas transformacoes havidas ou

por haver no funcionamento ou nas estruturas do capitalismo.Gorz dirige-se

especialmente ao movimento socialista nos paises desenvolvidos da Europa

ocidental.Dir-se-ia nao nos tocar.Engano.

O problema da revolucao nos paises subdesenvolvidos e’diferente,sem duvida,do da

revolucao nos paises de alta industrializacao.A diferenca maior,quanto a forma,está em

que a velha alternativa entre a luta pelas reformas e a insurreicao armada deixou

praticamente de existir,principalmente nos velhos paises altamente industrializados do

Ocidente.Quanto a forca motriz dos movimentos,contrariamente ao que se

pensa,continua nos paises de alto desenvolvimento,a poder ser representada pela classe

trabalhadora redefinida.Os “assalariados produtores”a que se referia Marx nao podem

mais ser confinados a nocao de “trabalhadores manuais,criadores de mais-valia,pagos por

peca ou hora.O desenvolvimento tecnologico e produtivo ampliou extraordinariamente

essa nocao”.

No “capitalismo global”,diz Pedrosa ,”a alienacao que outrora recaia sobre os

operarios,como produtores mutilados pela sua concentracao nas tarefas parceladas na

fabrica,agora se completa quando ele aparece como consumidor,ao qual a publicidade

arrebatou a possibilidade de escolher ou mesmo de reconhecer suas proprias

necessidades pessoais”.

Para Pedrosa,esse capitalismo global é resultante das reformas contra-revolucionarias

dos anos 20 e 30.”Sob o regime das reformas contra-revolucionarias

institucionalizadas,inclusive nos paises democraticos ocidentais,a eficiencia produtiva

aumentou,a racionalidade economica cresceu,a cultura chegou as “massas”,mas tudo em

detrimento do homem,do homem com os seus fins e aspiracoes

contraditorias,substituidos estes por jornadas de trabalho mais curtas mas infinitamente

mais intensas e um dia cada vez mais cheio de mata-tempos,distracoes e divertimentos

organizados,sistemas de informacao crescentes em quantidade e relativa diminuicao do

valor,propaganda das vantagens da melhor democracia,da melhor cerveja,do melhor

calista,do melhor negocio,da melhor igreja,do melhor cinema,circo ou jogo,do melhor

politico,do melhor campeao,do melhor governo,do melhor trabalhador ou patrao,do

melhor doutor,da melhor mae,etc,etc...Tudo isso vem do arsenal totalitario das reformas

contra-revolucionarias.As categorias sociais desaparecem,o homem é atomizado;é o

ideal da democracia,da boa,isto é,representativa.Esse ideal foi criado pelo fascismo.E’o

que impera nos estados Unidos”.

Claramente,ve-se que Pedrosa assimilou profundamente sua vivencia nos EUA.”Nos

Estados Unidos,o mecanismo da producao em massa do neocapitalismo criou uma

suprema categoria social,medida pelo maior numero de bens duraveis que possui um

cidadao.A classificacao do homem na sociedade tende a desligar-se de seu trabalho e de

sua funcao na producao para caracterizar-se pelo grau de seu consumo.(...) Ao fabricar

em massa as coisas mais espontaneas ou casuais,por definicao artesanais ou do fazer

manual,sao institucionalizadas,como a torta,a maionese,a ipoca,o sorvete,o brinquedo,a

gravata,o bonde,o berimbau,o saxofone,a esteira,o rosario,o santo,a imagem,a

lembranca,o amor,o casamento,etc.Assim,a populacao inteira,todos os dias,de norte a

68

sul,de leste a oeste do pais,come a mesma torta,a mesma salada,nas mesmas horas,de

alto a baixo da escala social”.

Para Mario,”a revolucao socialista opoe ao consumismo alienante do neocapitalismo

outra concepcao das necessidades.É uma gigantesca tarefa

social,economica,cultural,etica,desalienente.A equipe dos trabalhadores cientistas

representa papel primordial.Onde o trabalho é percelado,é subordinado a norma de

rendimento,onde produz fadiga nervosa e fisica,periodicamente,sistematicamente,onde se

faz um ambiente de massa ou coletivo,seriado,mas no qual nao tem o trabalhador uma

visao de conjunto do produto em elaboracao,onde o estatuto pessoal do trabalhador é

subsumido no grupo ou categoria na fabrica,no laboratorio,no escritorio,na empresa,no

empreendimento,onde as relacoes pessoais entre o trabalhador,o assalariado individual e

o diretor,o gerente,o patrao,nao existem mais -estamos em face do produtor

assalariado,seja um trabalhador manual,um operario qualificado,um tecnico,um

engenheiro,um pesquisador,um sabio.E na categoria de produtor assalariado sao todos

membros,potencialmente,essencialmente,da classe operaria.Nao é o capitalismo,nem

mesmo o neocapitalismo que dispoe ainda de fronteiras abertas.O mundo do trabalho é o

mundo de fronteiras abertas;ele nao pode,porem,como mostra Belleville( Une nouvelle

classe ouvriere,1963),”esperar passivamente que suas fileiras crescam.Tem ele,em

compensacao,a possibilidade de reivindicar as fronteiras novas”.Compete a acao sindical

moderna esse reivindicar de novas fronteiras para o trabalho”.

Uma civilizacao do trabalho,obra da praxis da classe operaria e’ a alternativa a

civilizacao neocapitalista.

Bases de um Projeto nacional cultural

Pedrosa retoma sua questao da reforma;”A reforma revolucionaria nos paises de

neocapitalismo é a transformacao deste,por dentro,em socialismo...As nossas reformas

sao a revolucao dos subdesenvolvidos -revolucao mais ampla e menos definivel,mais

contraditoria e complexa,mais impetuosa e mais plebeia,mais popular,isto é,menos

homogenea socialmente.Ela e’todo um processo de mudancas continuas nas estruturas

da sociedade,desde uma alteracao profunda no dinamismo social das populacoes

rurais,em que uma velha classe de proprietarios fundiarios desaparece para dar lugar a

uma nova classe de capitalistas agricolas em face de um novo proletariado rural direta e

organizadamente assalariado,a uma modificacao nao menos radical na ordem economica

geral,com crescimento consideravel do setor da propriedade publica ate colocar sob o

seu controle as principais alavancas de comando da economia nacional.O peso especifico

da classe trabalhadora tende a aumentar e o crescimento das forcas produtivas irá

depender de mais a mais das tecnicas de planejamento e de uma politica de investimentos

de carater acentuadamente social.Ela tambem visa a dar as populacoes que vivem no

interior de seu territorio um sentimento novo,o de umaPARTICIPACAO COLETIVA

NUM TODO NACIONAL CULTURAL enfim acabado ou completo,capaz de

falar,entender-se,comunicar-se com o mundo num acento que lhe é proprio”.

Segue Pedrosa,”Esse ‘e o modelo que a historia e a experiencia empirica teem

elaborado para o Terceiro Mundo.As revolucoes dos paises do Terceiro mundo tendem a

refletir-se umas sobre as outras e a revelar uma face internacional cada vez mais

pronunciada.As revolucoes nacionais dos subdesenvolvidos teem nao só problemas

comuns mas tambem inimigos comuns.Elas nao podem vencer sem uma reforma

profunda na estrutura do comercio internacional e,logo,da economia internacional...A

revolucao dos subdesenvolvidos é absolutamente antiimperialista.A luta

antiimperialista,para ser vitoriosa,tem de ser levada a efeito numa frente comum dos

69

paises subdesenvolvidos,como sua politica permanente,independentemente de

conjunturas nacionais criticas ou cronicas...Nessa politica externa esta’contida a

condicao fundamental para a realizacao do objetivo nacional permanente - a

emancipacao.As tarefas internas urgentes serao irrealizaveis -ou para realiza-las o

esforco e o sacrificio serao ainda mais penosos- sem uma acao coletiva das nacoes

incompletas em marcha para a integracao nacional no plano regional e no plano

internacional”.

A Revolucao Dupla

“A revolucao dos subdesenvolvidos é assim dupla: a emancipacao nacional em face dos

interesses imperialistas alheios e contrarios.A emancipacao social das classes oprimidas e

de baixos e medios rendimentos,internamente.Nao basta que desenvolvamos ou criemos

uma industria,equipando-a com todos os recursos de que precise,arrancando os capitais

onde estiverem para aquele fim,mas -nas proximas decadas-já nao se podera tolerar que

essa tarefa se faca exclusivamente as custas da miseria das nossas populacoes.E’preciso

que ao mesmo tempo se alimente o povo,se vista o povo,se abrigue o povo,se o

eduque,para uma nacao moderna e modernamente equipada.O controle das rendas tera

de ser severo,o controle dos investimentos implacavel,a reducao dos ganhos

improdutivos será uma necessidade,a estandardizacao dos bens de consumo e duraveis

uma imposicao social ,o monopolio do comercio exterior e do cambio sem

brechas,prioridade absoluta dos instrumentos publicos de ensino e educacao tecnologica

para o povo(inclusive guerra ao analfabetismo); destruicao do veljo aparelho estatal e

sua remodelacao completa para servir as transformacoes da economia e da

sociedade,abolicao das forcas armadas e sua substituicao por milicias

populares,aproveitamento de seus servicos tecnicos e industriais para aplicacoes civis no

desenvolvimento das infra-estruturas socieais e economicas”.

“Nao há,assim,reformas de meio termo para contentar alguns grandes Estados ricos e

protetores.Toda reforma que nos paises subdesenvolvidos se confinar a alteracoes

administrativas,yecnicas ou legais de ordem interna,será reforma tipicamente contra-

revolucionaria,pois visa a enquistar ou calcificar a subordinacao da economia primaria a

do Estado ou Estados imperialistas,controladores dos recursos financeiros

internacionais.Nao emancipa o pais.Ao contrario.E implica a permanencia no estagio da

estagnacao ou dos niveis do subconsumo ou da mediocridade.Quer dizer da

dependencia.

Nos paises altamente industrializados,o problema da revolucao ou reforma contra-

revolucionaria é diferente.Andre Gorz o coloca nos seguintes termos:

“E’possivel do interior do capitalismo -quer dizer,sem antes o ter abatido- impor

solucoes anticapitalistas que nao sejam incorporadas e subordinadas ao sistema?”E volta

ele a velha questao: reforma ou revolucao? Era questao primordial quando o movimento

parecia ter a escolha entre a luta pelas reformas ou a insurreicao armada.nao é mais o

caso da Europa ocidental.E por isso mesmo a questao já nao tem a forma de

alternativa.A questao agora diz respeito a reforma.Mas,sustenta Gorz,trata-se de saber

se sao possiveis o que chama de “reformas revolucionarias”,ou “reformas que vao no

sentido de uma transformacao radical da sociedade”.

Para Mario,a grande crise de 1929 e o advento dos regimes fascistas na Europa trouxe

um fenomeno novo,que causou perplexidades nas arraias dos socialistas e

comunistas.Nessa atmosfera surgiram as reformas-contra-revolucionarias,ineditas: eram

dirigidas contra o capitalismo liberal,eram reformas “anti-capitalistas”,de alguma forma.

70

Gorz,segundo Pedrosa,fala de “reformas revolucionarias”: as que vao no sentido de uma

transformacao radical da sociedade.”Ele tomou a questao pelo seu lado positivo,e

nós,pelo negativo,numa situacao anterior,bem diferente da em que escreveu seu livro,em

1964”. Na verdade,Pedrosa analisou o fenomeno das “revolucoes passivas”e,Gorz fala

de seu corolario,as “revolucoes ativas”.

As reformas estruturais,revolucionarias,nao tratam de delegar ao Estado a tarefa de

emendar o sistema.( diz Mario: Emendar o sistema nao é a tarefa dos subdesenvolvidos:

estes o que teem a fazer é CRIAR um sistema,o sistema deles,um sistema novo.A

reforma de estrutura é para o autor aqui comentado uma REFORMA APLICADA OU

CONTROLADA PELOS QUE A RECLAMAM.O que importa é que surjam de todos

os campos novos centros democraticos de poder - ao nivel das

empresas,escolas,municipalidades,regioes,orgaos de planejamento,etc”.

Aqui,Pedrosa nos fala da autogestao social,um dos elementos da revolucao ativa de

massa.

Socialismo ou Barbarie

No periodo do exilio europeu(1973-1977),Mario Pedrosa mantinha a mesma

pisada.Assim,em suas “Teses sobre o Terceiro Mundo”,parte do seu estudo-balanco do

quadro economico dos anos 70 ( Rosa Luxemburgo e a Crise do

Imperialismo),marcando sua despedida do europeismo,definia a revolucao dos

“condenados da terra”:

Citando Samir Amin e pondo-se ao seu lado: “na crise atual,há duas perspectivas.Eu me

sinto voluntariamente ao nivel mundial,e nao ao nivel do ocidente separado dos paises

atrasados da periferia”.

No paragrafo, Crise e Revolucao,afirma Pedrosa “A crise atual é literalmente

mundial.Para comprende-la é preciso,primeiramente,que cada um se erga a uma

consciencia do mundo.A obra do mundo sobre o planeta está em pane.Conserta-la,salva-

la,só será possivel desta vez pelos grandes meios: uma Revolucao de ordem

total,global,universal e radical.Radical,porque descerá até as raizes das

coisas;universal,porque nao poupará nenhum canto da terra;global,porque nao será

somente politica ou social,mas cientifica,ecologica,etica.Ela deveria ser a

ultima,porque,se nao ocorrer,significara a abertura da crise em toda a sua potencialidade

destrutora,cujas transformacoes sociais,politicas,fisicas,ecologicas,ems eu seio

terminarao por levar a humanidade ao fundo do abismo.os paises ricos e poderosos

podem resignar-se a prolongar a ilusao do seu status quo até a catastrofe final.os paises

pobres do terceiro (e do quarto)mundo,sendo mais ou menos desprovidos dessa ilusao

perniciosa,nao podem resignar-se;eis poque é preciso ver neles os portadores da

Revolucao”.

Nos anos 80,em artigo intitulado "O Futuro do Povo",afirmava:

"O Brasil,voltado para si mesmo,para empreender a sua revolucao moral,politica e

tecnologica,nao se confinará a imitar como até este momento,as tecnicas e ideias do

capitalismo internacional.A revolucao que deverá ser bandeira do PT nao se limita aos

velhos moldes do capitalismo das nossas classes dirigentes.Sua dinamica é outra.Ela irá

as diversas regioes do Brasil desprezadas e sufocadas pelo poder central de Brasilia,que

trata desigualmente em estados da Federacao,e as chamará para constituirem-se em

assembleias soberanas que levarao em seu tempo,a uma Constituinte verdadeiramente

nacional,seus cadernos de reivindicacoes...

Tudo está assim a mudar pela raiz...A renovacao do Brasil pede novos metodos e uma

acao politica nacional e democratica."

71

Neste texto,Mario pedrosa parecia profetizar sobre as campanhas civicas que iriam

surgir: a das diretas ja(1984) e,sobretudo,a da participacao popular na Constituinte,de 86

a 88.Inclusive,quando fala do "caderno de reivindicacoes",lembra-nos as" ëmendas

populares".

Em outro texto,"A Missao do PT",Pedrosa retoma e completa sua fala anterior:

"O que se passa na realidade é que nos encontramos em face de um impasse burocratico

total do Brasil.O quadro estrutural do estado brasileiro nao pode sobreviver;tem que ser

alterado de alto a baixo para que de novo a Federacao reviva.E é desse impasse que

temos que recomecar.E eis porque todas essas palavras de ordem de Assembleia

Constituinte,com Joao ou sem Joao,nao funcionam nem estao na ordem do dia.De que se

necessita é recomecar por baixo.a partir realmente da vocacao das regioes e dai sim

iniciar um trabalho imenso de reconstrucao da nacao atraves de assembleias constituintes

regionais que permitiriam ir ao encontro das necessidades fundamentais do povo que

habita essas regioes.ir porem a busca da vocacao das regioes nao significa projetos

grandiosos do Brasil potencia,mas significa dar precedencia aos povos que habitam

esssas regioes malfadadas para que eles entrem afinal na vida social e publica do brasil

contemporaneo...

Quando falamos em assembleias regionais,é para que os estados recobrem sua

autonomia e os povos seus direitos democraticos fundamentais desta nacao até hoje

incompleta que é a nacao brasileira.A grande tarefa e imediata do povo brasileiro é a

organizacao dessas assembleias constituintes reginais,convocadas por partidos,que

sobem de baixo,como o PT,é também uma tarefa essencial de outra instituicao

fundamental do brasil de hoje,que é a Igreja dirigida por bispos,pastores e cardeais como

Dom Paulo Evaristo Arns,Dom Helder Camara,Dom Tomas Balduino,Dom Valdir

Calheiros e outros.Estes nao se podem negar a essa tarefa instrinsicamente primordial

que é a de descobrir a vocacao das regioes,pois é nela que a vocacao do povo vem a

tona.

O PT é o povo organizado.As CEBs da Igreja contém no seu seio grande parte deste

povo.Nesta tarefa fundamental de chamar o povo das profundezas onde jaz,ao plano

politico,que Dom Paulo me perdoe,mas esta é a missao mais autentica de sua Igreja no

Brasil atual...

Na mesma linha de Eder,Pedrosa associa-se a sensibilidade arendtiana do espaco

publico da visibilidade.Segundo L.Boella , partindo de um certo "radicalismo populista

de inspiracao luxemburgiana "e do sentimento de justica de Marx,Hanna Arendt "sente o

impacto na historia moderna da exploracao e da opressao,da necessidade de vastas

massas,condenadas a invisibilidade da total sujeicao na "pena"do trabalho,de sair á luz,de

conquistar uma relevancia no plano politico e social".

Cabe já a esssas assembleias constituintes regionais abrir o processo politico decisivo

no Brasil.E poderia ser essa uma funcao conjunta do PT e das CEBs da Igreja,mesmo

que ems eu inicio essas iniciativas nao tenham propriamente carater oficial.Basta que

sejam populares e sejam legitimas,convocadas por essas respectivas instituicoes,que nao

ferem,assim agindo,nenhum preceito constitucional.

Se essas assembleias sao asssim regionais no seu inicio,nada impede que possam

terminar num formidavel coroamento,numa Assembleia Nacional Constituinte..."

O processo constituinte ,buscou dar vida a essa perspectiva.Os comites de participacao

popular constituinte,as assembleias municipais realizadas(como em Guarulhos e Vila

Velha,Sao Joao Meriti),a ideia de uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva,as

emendas populares;tudo isso,tinha sintonia com a ideia pedrosiana de "vocacao das

regioes",de luta pela construcao de uma esfera publica democratice,e da cidadania ativa.

72

=============================================================

Um primeiro passo

Será nas palavras de Hebert de Souza,Betinho,que iremos encontrar afinidades eletivas

com o que ja vimos acima.Vale ressaltar que Betinho foi um dos principais animadores

do processo de participacao popular na Constituinte.

"A perspectiva para este pais nao escapa de uma valiacao a curto ,medio e longo prazos.

Num tempo mais proximo: vejo a possibilidade concreta de se encerrar o ciclo

autoritario,que se aprofundou em 64 e se estendeu ate Sarney.Com a nova Constituicao

pode-se abrir o principio de um processo de liberalizacao.Nao de uma sociedade

democractica,mas de uma sociedade que vai se liberalizando.A grande contradicao do

momento ainda é entre uma sociedade profundamente autoritaria e um projeto

liberalisante...

Estou falando dos proximos cinco anos,durante os quais podemos construir a passagem

de uma sociedade autoritaria para o comeco de um processo liberal.

A medio prazo,na proxima decada(90),temos condicoes de evoluir para o debate e a

elaboracao de um projeto democratico,o que vai significar,pela primeira vez na historia

do pais,o inicio de uma era de transformacoes sociais profundas,estruturais.Betinho,nos

fala em 1987.

E,a longo prazo: se essas duas coisas se realizarem - o cumprimento integral da

Constituicao e a elaboracao de um projeto democratico - acho que podemos entrar no

seculo XXI como um pais em condicoes de equacionar as questoes fundamentais da

maioria da populacao,a ai de fato ser uma nacao.

Betinho adverte que,"Somos um territorio em guerra.eu nao posso precisar a questao

do tempo,mas acho que este movimento da historia,ou melhor,este pode ser o

movimento da historia.Se nao for,estaremos caminhando para uma especie de Admiravel

Mundo Novo,de Aldous Huxley.Ou seja,uma minoria vivendo no seculo

XXI,encastelada e protegida por rigidos esquemas de seguranca,e uma imensa maioria na

mais absoluta miseria e violencia".

Prossegue,"Nao sendo o projeto do capital internacional o modelo que nos interessa,o

que o Brasil precisaria fazer para criar o seu proprio modelo?

Precisaria comecar por um projeto nacional,que poderia e deveria ser articulado com o

mundo...Um pais que deseja ter um processo de desenvolvimento,precisa antes dizer

qual é esse processo,qual é o seu projeto de pais e de sociedade.A quem ele deve atender

e como se organizar para dar esse atendimento.Portanto,mais do que nunca,um projeto

politico nacional é o primeiro passo.

E,eu diria,sem exagero,que o ensaio geral de tudo isso,pos-golpe de 64,é a Constituinte

de 88.É o embriao que precisa ser transformado em projeto.Só nao ver quem nao

quer.Alguns já viram,querem impedir,porque é a primeira vez desde 1964 que um

projeto nacional tem chabce de emergir".

Um longo caminho para o Brasil.Ö que aconteceu foi que em 64 a Nacao recebeu um

tiro no peito.Um tiro que matou a alma nacional...Eu entendo que um projeto

democratico de sociedade passa pelo resgate e pela definicao dessa dimensao

naciona.Nao se trata de xenofobia,mas simplesmente de um projeto que tenha a cara das

pessoas,a cara do conjunto da maioria da sociedade.o nacional,no caso,é o reflexo do

interesse da maioria que vive nesse espaco".

Por fim,Lula tem concentrado essa busca as raizes do Brasil: a busca a vocacao das

regioes!As "caravanas da cidadania",portam esse significado simbolico,cultural.Junto

73

com Betinho com a campanha dos comites de cidadania,representam a via "sem

atalhos",a da "cidadania ativa".

Leonardo Boff,em seu depoimento como participante da setima caravana,captou

magistralmente esse sentido:

"Cada caravana significa uma viagem as entranhas do Brasil.Todos conhecem a cabeca

do pais,isto é,a capital federal e dos estados.Quase todos sabem do coracao do Brasil,o

pulsar de sua gente,seu processo produtivo.Mas poucos conhecem as entranhas do

Brasil...Pois é exatamente este o significado de todas as caravanas,da primeira a esta

ultima pela bacia do rio Sao Francisco.É o encontro com o Brasil profundo...Governar

nao é piramidalizar todas as questoes e seus encaminhamentos,é criar redes de

articulacao,de animacao e participacao democratica".

No balanco que faz da caravana,Boff analisa o papel de Lula:"Lula inagura uma nova

forma de fazer politica,longe dos burocratas,fora dos escritorios e do acumulo de

papeis.Vai diretamente aos portadores do poder social,que sao os cidadaos.(...)Se bem

repararmos,a populacao brasileira é feita de sobreviventes da grande tribulacao historica

a que as elites submeteram as grandes maiorias.Lula vai atras delas.É alguem que vem

desta anti-realidade.E desce aos infernos para traze-los á luz solar,como o mestre da

caverna de Platao...".Por que nao,como dizia Mario Pedrosa:"Nesta tarefa fundamental

de chamar o povo das profundezas onde jaz,ao plano politico...".

A insurreicao do Brasil real

Passemos a palavra a Luiz Dulci,que captou de forma brilhante o papel dessas

caravanas de cidadania.Em artigo para Teoria & Debate,intitulado "A Aldeia e o

mundo",Dulci trata da "questao nacional".

Adverte Dulci:"No afa de nos livrarmos de um esquema interpretativo e de acao que

nao corresponde mais,se é que algum dia correspondeu,subjetiva ou objetivamente,aos

desafios da nossa independencia,corremos o risco de considerar indevidamente superada

a propria questao nacional,como se ela fosse em si mesmo um anacronismo

politico.Corremos o risco de pensar e agir como se o Brasil nao tivesse mais tarefas

nacionais a cumprir,como se as transfromacoes de um carater eminentemente nacional

que os apises mais avancados do mundo realizaram ao longo dos seculos XIX e XX já

estivessem realizadas e superadas entre nós.

Na verdade,essa revisao critica nao se dá no vazio,alheia a disputa politico-ideologica

em curso no pais.Ela está longe de ser apenas uma dialetica intelectual interna a

esquerda.ocorre ao contrario em contexto extremamente adverso,em tensao permanente

com a ideologia neoliberal hegemonica no pais.Pois Collor foi destituido mas o

neoliberalismo continua exercendo fortissima hegemonia sobre a vida cultural e politica

brasileira,acossando inclusive a elaboracao doutrinaria da propria esquerda.

Nao é de estranhar,neste contexto,que se queira induzir-nos a tratar a questao nacional

brasileira como aracaica,ultrapassada,supostamente incompativel com o ideario de uma

esquerda de novo tipo,realista,criativa...

A questao de um projeto nacional...nao tem lugar na proposta neoliberal para os paises

subalternos...Tematizar o Brasil,o destino coletivo de seu povo...é signo de esquerdismo

nostalgico...Essa hegemonia instaurou-se,salvo engano,porque o neoliberalismo ocupou

um espaco duplamente aberto.De um lado,aquele aberto pela crise do socialismo e da

social-democracia,ou seja,dos paradigmas classicos da esquerda;de outro,aquele

disponivel pelo esgotamento do modelo de desenvolvimentista que o Brasil

adotou,grosso modo,desde 30...

74

Transcender-se o velho e inadequado nacionalismo é,portanto,uma necessidade

imperiosa,a esquerda nao tem porque faze-lo negando a questao nacional- e sim

renovando dialeticamente,atraves de um projeto de integracao soberana do brasil no

sistema economico e politico internacional."

Na parte final de seu texto,Dulci avanca para analise da questao cultural:

"O PT,que teve entre seus fundadores personalidades como Sergio Buarque de

Holanda,Mario Pedrosa e Antonio Candido,tem a sua disposicao um patrimonio teorico

alternativo para trabalhar na perspectiva da integracao soberana.Todos eles pensaram o

nacional com vocacao universalista.Candido escreveu sobre o tema um ensaio

notavel,"Literatura e Subdesenvolvimento",de 1972,que assenta as bases eticas e

culturais para um renovado nao-exclusivista projeto nacional.

Nesse sentido,o PT cumpre agora,atraves das caravanas da cidadania,lideradas por

Lula,um movimento politico-cultural e simbolico importantissimo,cujo alcance nao tem

sido bem compreendido sequer por nós mesmos.

As caravanas da cidadania,muito mais que legitimos instrumentos de proselitismo

eleitoral,sao instrumentos de insurgencia do Brasil real.Mais ate pelo que sao em si

mesmas do que pelo que se afirma discursivamente nelas.As caravanas teem um sentido

analogo a aventura intelectual de Euclides sertao adentro e a aventura politico-militar da

Coluna Prestes pais afora.As caravanas sao viagens ao interior da nacao,a "alma"do

Brasil.Elas recuperam a espessura geografica e politico-cultural do Brasil,demonstram

que o Brasil nao é aquele "vazio"material e simbolico que collor e os neoliberais erigiram

em conveniente inimigo,demonstram que as energias para um renovado projeto nacional

podem ser buscadas nas entranhas de nossa propria experiencia coletiva,nao precisam vir

de fora de nós mesmos,do outro,do nosso "ävesso".

As caravanas,além do mais,e esse nao é o menor de seus fascinios,recuperam uma

especie de epica da nacionalidade,redescobrem o Brasil em movimento,em luta com os

seus demonios,o seu destino.Elas contribuem para a insurgencia de uma outra pauta,de

fato brasileira,sem xenofobia mas ao mesmo tempo sem complexo de inferioridade,sem

ceder aquele mito negativo do Brasil inutil e retrogrado,que anda de carroca aem meio as

possantes maquinas do futuro,do Brasil que só pode salvar-se negando-se a si

mesmo,negando aquele poderoso "instinto de nacionalidade" de que falava o bruxo

mestico Machado de Assis,para citar outro personagem a um só tempo profundamente

brasileiro e universal".

Leonardo Boff,em seu depoimento como membro de uma das 7 caravanas da cidadania

,para a obra "Viagem ao coracao do Brasil",captou este espirito:

"Cada caravana significa uma viagem as entranhas do Brasil.Todos conhecem a cabeca

do pais,isto é,a capital federal e dos estados.Quase todos sabem do coracao do Brasil,o

pulsar de sua gente,seu processo produtivo.Mas poucos conhecem as entranhas do

Brasil...

Pois é exatamente este o significado de todas as caravanas,da primeira a ultima pela

bacia do rio Sao Francisco.É o encontro com o Brasil profundo".Lembra-nos as palavras

de Mario Pedrosa:"Nesta tarefa fundamental de chamar o povo das profundezas onde jaz

ao plano politico..."

Boff conclue:"Governat nao é piramidalizar todas as questoes e seus encaminhamento,é

criar redes de articulacao,de animacao e participacao democratica...Esse foi o proposito

basico de todas as caravanas.Portanto,expressa algo mais do que uma campanha

eleitoral:implica uma nova compreensao da politica,como busca do bem comum - nao só

com a cabeca,mas tambem com o coracao - e um novo exercicio do poder central,como

75

potencializacao da socieabilidade em todos os niveis,a artir de baixo e dos lados para só

depois a partir de cima".

Se nos permitem, podemos acrescer a "caravana solitaria"de Paulo Emilio,relatada por

Antonio Candido em seu "informe politico"ao livro dedicado ao critico de cinema:

"Em 1943 ele decidiu alistar-se na chamada Batalha da Borracha,coordenada por Joao

Alberto para incrementar a producao desta materia-prima com vistas ao esforco de

guerra.Largou tudo e se meteu na Amazonia,trabalhando no setor de encaminhamento

dos trabalhadores nordestinos recrutados.Foram meses duros nos quais participou de

lances dramaticos num meio hostil e inospito,enfrentando dificuldades e perigos de todo

o tipo.Por que? Porque sendo o antifascismo topico central no seu ideario,ele entendia

que era preciso lutar,nao apenas contra as Potencias do Eixo.

Terminada a tarefa veio por terra,numa viagem imensa e dificil,naquele tempo sem

estradas nem confortos,fazendo precursos em lombo de jerico,dormindo ao leu,comendo

o que Deus dava e conhecendo o que nenhum de nós conhecia: o sertao do Brasil.A

experiencia deve ter sido decisiva,pois,acrescentou a intimidade com a terra a precoce

formacao cosmopolita que devera ao exilio e retomaria a partir de 1946".

Claudio Nascimento,

Campinas,

Fevereiro de 1996

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=Mundos do Trabalho.CESIT-Unicamp.1994

=============================================================

Programa ‘SINDICALISMO E HEGEMONIA CULTURAL’

1a Etapa

mes de

==============================================

Eixo tematico geral: Trabalho,Desenvolvimento e Nacao

=============================================

2a feira: O Sindicalismo num Mundo em Mutacoes

responsavel:CESIT (Alonso ou Mattoso)

sistematizacao:Claudio ,Ecut

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3a feira: Sindicalismo e Mutacoes no Mundo do Trabalho

responsavel: CESIT (Mattoso)

debate com Ricardo Antunes

sistematizacao:Claudio,Ecut

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4a feira: Visoes de Desenvolvimento Socio-Cultural

responsavel:CESIT

sistematizacao:Claudio,Ecut

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5a feira: Politica de Desenvolvimento de Reformas Estruturais de Base

responsavel:CESIT

sistematizacao....

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6a feira: Obra de Celso Furtado

responsavel:CESIT

sistematizacao geral :Claudio,Ecut

77

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2a atapa

mes

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Eixo tematico geral: Sindicalismo e Cultura

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2a feira: Politica de Hegemonia Cultural

responsavel: M.Chaui

sistematizacao:Claudio,Ecut

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3a feira: Novos Antagonismos e Cidadania Ativa

responsavel:Eveline Dagnino

sistematizacao....

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4a feira: Recursos de Hegemonia Cultural(filao romantico-socialista)

responsavel:Claudio Nascimento

sistematizacao...

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5a feira: Um Projeto Nacional-Cultural,Hoje

responsavel:Marco Aurelio Garcia

sistematizacao....

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6a feira: Obra de Antonio Candido

responsavel: Jose Eduardo Arantes

sistematizacao geral...

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3a Etapa:Seminario de fechamento

duracao:3 dias

mes

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Eixo tematico geral: Sindicato,Sociedade e Estado

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1o dia: A CUT e a Esfera Publica Democratico-Popular

debate com:Fco de Oliveira(Ceprab)

grupos

sistematizacao

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2o dia: A CUT e a Construcao de um “projeto nacional alternativo”

debate com : M.Aurelio Garcia

Jorge Mattoso

grupos

sistematizacao

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3o dia: A CUT e a Cidadania Ativa

debate com : Eveline Dagnino

78

grupos

sistematizacao

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