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Uma análise do cinquentenário do Concílio

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Uma análise do cinquentenário do Concílio

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Uma análise do cinquentenário do Concílio

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O Concílio foi uma linda obra

do Espírito Santo. Mas, depois

de 50 anos, fizemos tudo o

que o Espírito Santo nos disse

no Concílio? Não oponhamos

resistência ao Espírito. É Ele

que nos liberta. Caminhemos

na estrada da docilidade ao

Espírito Santo, no caminho da

santidade da Igreja!

Papa Francisco

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ExpedienteProduçãoGrupo Marista | Setor de Pastoral

Superior Provincial Ir. Joaquim Sperandio

Diretor Institucional do Setor de PastoralIr. João Batista Pereira

Diretor Executivo do Setor de PastoralCesar Leandro Ribeiro

Elaboração do DossiêÂngelo Alberto Diniz RicordiBruno Manoel SocherCaroline Fagundes Garcia MirandaDenilson Aparecido RossiJosé André de Azevedo

TextoMagno José Vilela

EntrevistadosVer página nº 24

Projeto gráfico e diagramaçãoCapitular Design Editorial

Apoio técnicoDiretoria de Marketing e Comunicação do Grupo Marista

Foto da capaJoão Borges

Banco de Imagem Ingimage

Grupo MaristaRua Imaculada Conceição, 1155.

Bloco Administrativo – 9º andar.

Prado Velho, Curitiba – PR – 80215-901

Fone: (41) 3271-6400

E-mail: [email protected]

Para acessar os outros vídeos

do Dossiê, acesse:

www.youtube.com/virtheos

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Sumário

APRESENTAÇÃO ............................................................... 06

CONCÍLIO VATICANO II:

IMPACTOS NA IGREJA E NO MUNDO ................................. 08

O DOSSIê ........................................................................... 24

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CONCÍLIO VATICANO II

Apresentação

ALEGRIA E ESPERANÇA: dossiê VATICANO IIUma análise sobre o cinquentenário do Concílio

Certas experiências da vida merecem tempo para serem com-

preendidas; é como olhar a palma da mão: visualizamo-la melhor

com certa distância. E não se trata de fuga ou alienação, mas de

reconhecimento. Reconhecimento que nos convida a olhar com

alegria e esperança, gaudium et spes.

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Nesse ano comemoramos o cinquentenário de encerramento

do Concílio Vaticano II. A Igreja é chamada, pelo Espírito de Jesus,

não apenas a uma memória do passado, pois, como diz o poeta,

“o passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente” (Mario

Quintana). Celebrar cinquenta anos do maior acontecimento da

Igreja do século XX é voltar às fontes, àquela alegria e esperança

“tão antiga e sempre nova”.

Seguindo a esteira aberta pela Campanha da Fraternidade

2015 – cujo objetivo geral é aprofundar, à luz do Evangelho, o diálo-

go e a colaboração entre Igreja e sociedade, propostos pelo Concílio

Ecumênico Vaticano II –, o Grupo Marista recolheu testemunhos,

reflexões e ponderações de quem participou e/ou estuda o Concílio

e organizou o presente dossiê com a intenção de oferecer à Igreja

do Brasil um subsídio que nos oriente a perceber a grandeza des-

se salutar evento que, nas palavras de João XXIII – na abertura do

Concílio –, se trata de um Concílio prevalentemente pastoral.

Esperamos, pois, que possamos todos, à luz do Concílio, viver

as alegrias e esperanças de nosso tempo para tornar Jesus Cristo

conhecido e amado.

Joaquim SperandioIrmão Marista

Provincial da Província Marista Brasil Centro-Sul

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CONCÍLIO VATICANO II

CONCÍLIO VATICANO II: IMPACTOS NA IGREJA E NO MUNDO Magno Vilela1

Introdução

Desde a eleição do papa João XXIII, em 1958, a Igreja Católica,

no mundo inteiro, passou a respirar novos ares, e a plenos pulmões.

Muitos dos teólogos punidos no passado recente, por causa de suas

ideias renovadoras, podiam agora voltar às cátedras, aos púlpitos e

à indispensável liberdade de expressão. Nos seminários e conven-

tos, a nova geração de clérigos podia ter acesso a um tipo de ensino

mais adequado aos novos tempos. As celebrações litúrgicas e as

1 Professor de História do Cristianismo e de Patrística na Faculdade São Bento e na Escola Dominicana de Teologia, em São Paulo. Formou-se em Filosofia na Escola Dominicana de Teologia e em História na Universidade de São Paulo (USP). Perseguido pela ditadura de 1964, exilou-se na França, onde concluiu seus estudos em História na Universidade de Paris I (Sorbonne) e na École de Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS – Vième section). Formou-se em Teologia no Le Saulchoir e nessa faculdade dominicana apresentou sua dissertação de mestrado. Foi também diretor da revista teológica francesa Lumière et Vie. É uma dos autores da obra coletiva Memórias do Exílio. Dentre outros trabalhos, publicou: O Monopólio do Sagrado: uma análise da pre-sença da Igreja Católica no Brasil (1995); Uma questão de igualdade. Antonio Vieira e a escravidão na Bahia do século XVII (1997); A tradição da catequese no Brasil (1998); Um ano da graça. História e sentido do jubileu cristão (2000) e Teologia e Educação (coautoria) (2012).

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pregações paroquiais refletiam, ajeitada ou desajeitadamente, essa

busca – por tanto tempo represada – de novos caminhos de mani-

festação do sentimento religioso no seio do catolicismo. E  a pro-

messa maior logo viria pela boca do Papa João XXIII, com firmeza

e audácia: a Igreja Católica convocava, depois de quase um século,

um novo concílio. Um concílio ecumênico, isto é, uma assembleia

universal dos bispos com o direito e o poder de decidir os rumos

que a Igreja deve tomar no exercício de sua missão.

É o que fará o Concílio Vaticano II, que se reuniu entre os anos

de 1962 e 1965. Contrariamente às ideias e expectativas mais timo-

ratas de uns, Vaticano II não trataria apenas de questões internas

ou restritas à administração eclesiástica. A comissão preparatória

do Concílio iria, durante quatro anos, consultar e ouvir cardeais,

bispos, abades e superiores de ordens religiosas, teólogos, leigos,

etc., para estabelecer a pauta dos assuntos a serem tratados.

Esse importante trabalho preparatório trouxe à tona três grandes

temas, que se transformariam na própria ossatura de Vaticano II e

mudariam a face visível da Igreja Católica:

a) A reorganização doutrinária e disciplinar da vida católica;b) A unidade de todos os cristãos;c) A promoção da paz mundial num mundo, àquela época,

sob a ameaça constante da guerra nuclear.

A Igreja dispunha-se a operar em seu seio as mudanças neces-

sárias para poder, em seguida, estender fraternalmente as mãos a

todas as confissões cristãs não católicas e apresentar-se ao mundo

(e às suas religiões não cristãs) como parceira ativa na busca da paz

para todos os homens. Esse programa exaltante foi rigorosamente

cumprido pelo Concílio e consolidado ao longo de mais de três cen-

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CONCÍLIO VATICANO II

tenas de páginas dos 16 documentos oficiais, ou seja: duas cons-

tituições dogmáticas, uma constituição pastoral e uma litúrgica,

e nove decretos e três declarações.

Vaticano II teve uma grande vantagem, além de todas aquelas

ligadas à renovação que trouxe: mesmo sendo ou recusado ou re-

cebido cum grano salis aqui e ali, a letra de seus textos fazia lei para

toda a Igreja, e instaurava, por conseguinte, uma espécie de clarivi-

dência institucional, pois rompia – na sua dinâmica mais profunda

– com aquele caráter exclusivo e reservado (se não secreto) de uma

Igreja concebida como sociedade hierárquica de clérigos, conforme

a herança tridentina. A rigor, já não devia haver mais uma rela-

ção subalterna dos “leigos” com relação a bispos e padres; todos

eram igualmente membros do Povo de Deus, irmãos na mesma fé,

só se distinguindo pelo tipo de serviços ou “ministérios” que são

chamados a exercer no seio de suas comunidades. É bom lembrar

que essa nova dinâmica, facilmente verificável nos textos conci-

liares e amparada na mais antiga tradição cristã, resultou das de-

cisões tomadas pelo próprio colégio episcopal, isto é, os bispos do

mundo inteiro, em união com o bispo de Roma, sucessor de Pedro.

Como ensina a Lumen Gentium n. 25:

A infalibilidade prometida à Igreja reside também no

colégio episcopal, quando este exerce o supremo magis-

tério em união com o sucessor de Pedro. A estas defini-

ções nunca pode faltar o assentimento da Igreja, graças

à ação do Espírito Santo, que conserva e faz progredir

na unidade da fé todo o rebanho de Cristo.

Para aqueles que, antes de 1962, já vinham se empenhando na

renovação teológica e espiritual do catolicismo, o Concílio Vaticano

II foi um alento; para outros, no entanto, apegados ao tradicionalis-

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mo rancoroso, ele parecia uma ameaça. O teólogo dominicano Yves

Congar, um dos mais laboriosos artesãos do Concílio, num livro di-

tado do seu leito num hospital, dizia: “Eu creio que a novidade de

Vaticano II consistiu em grande parte em admitir a historicidade

da Igreja, da Escritura, etc.”. E talvez seja esse reconhecimento da

historicidade o que mais incomoda os adeptos do tradicionalismo.

O fato é que Vaticano II transformou-se, desde o seu começo, em

um divisor de águas no seio do catolicismo. Mas os dois mil anos de

história do cristianismo demonstram que a recepção dos concílios

nunca se faz em curto prazo ou ao ritmo mais simples da publica-

ção e leitura de seus textos fundadores; o tempo, no interior de uma

instituição religiosa tão complexa como a Igreja Católica, nem sem-

pre se deixa medir pelos dias corridos do calendário: como canta o

salmista, “aos olhos de Deus mil anos são como ontem, como um

dia que se vai, como uma hora da noite” (Sl 90, 4).

I. O “Tempo” da Igreja

O tempo da Igreja é o da longa duração, um processo de longa

duração, e talvez nada ilustre melhor isso do que, periodicamen-

te ao longo de 2000 anos, o acontecimento conciliar. É o Concílio

que, quando necessário, acontece para avaliar e ajustar os rumos

da instituição eclesial. Ao longo de dois milênios muitos foram os

concílios da Igreja cristã. Digamos, num resumo muito curto, que

os concílios cristãos podem ser classificados como locais (i.e., regio-

nais, por alusão às Igrejas particulares), e gerais (da Igreja univer-

sal). Trento, por exemplo, apresentou-se oficialmente como “concí-

lio geral, sagrado e ecumênico”. Mas uma tradição antiga, que data

pelo menos do século IV, já designava alguns concílios de “ecumê-

nicos” – por seu sentido e seu alcance universais – e universais não

apenas por extensão geográfica, mas sobretudo pela densidade de

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CONCÍLIO VATICANO II

suas decisões, na perspectiva da unidade de todos os cristãos, tra-

tando da fé, da vida ou prática cristã e da organização eclesial.

Embora não haja uma lista oficial de concílios reconhecidos

pela Igreja católica, considera-se que são 21 os concílios ecumêni-

cos. Do ponto de vista histórico, pode-se fazer a seguinte distinção:

a) Os sete concílios da Igreja Indivisa (antes do cisma de 1054 entre Oriente e Ocidente; o oitavo, Constantinopla IV em 869 é um caso à parte);

b) Os 10 concílios ditos medievais (ou “concílios gerais do Ocidente”, reconhecidos pela Igreja Romana);

c) Os 3 concílios modernos: Trento (1545-1563), Vaticano I (1870) e Vaticano II (1962-1965).

O Concílio Vaticano II apresenta-se repetidamente, em seus

textos oficiais, como um “sagrado Concílio” desdobrando-se “na se-

quência dos anteriores Concílios” (LG 1), situando-se, portanto, na

longa duração; longa duração do mistério da fé no âmago do misté-

rio da história humana e “como guarda fiel da Tradição”, como está

claramente dito, por exemplo, na Sacrosanctum Concilium 4, a primei-

ra Constituição conciliar a ser publicada.

O Concílio não é nem deve ser visto como um acessório de for-

mulação doutrinal entre outros e menos ainda como uma espécie

de marketing religioso, mas sim com os olhos da fé, ou seja, como

uma realização legítima e solene da Igreja, sob a moção e a presença

do Espírito Divino, e por isso obriga em consciência os fieis a “aderir

com fé” (LG 25) aos seus ensinamentos. Talvez seja também o caso

de dizer que não se trata de “ensinamentos” aleatórios, particula-

rizados, efêmeros, circunstanciais, mas, como diz a Dei Verbum 1,

o concílio “propõe a genuína doutrina sobre a Revelação divina e a

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sua transmissão”. E o faz solenemente, enquanto “supremo magis-

tério da Igreja” (LG 22).

Convém, no entanto, relembrar o que nos diz a respeito o pró-

prio Vaticano II: “O magistério não está acima da Palavra de Deus,

ele deve servi-la, ensinando apenas o que foi transmitido...” (DV 10;

cf. também LG 25).

Na vida de fé, e em teologia, a Tradição é o princípio vivo e ativo,

e esse princípio é propriamente vital e por isso tem para a fé cristã

uma significação central, pois refere-se à Revelação divina: Deus se

revela em Jesus Cristo que por sua vez « forma » seus discípulos e

os envia anunciar a Boa Nova transmitida assim « de uma vez por

todas » (Judas 1, 3); assim sendo, os cristãos «sabem tudo sobre a

Boa Nova de uma vez por todas » (1,5). Esta é a norma da fé apos-

tólica, bem expressa nesta passagem da Constituição dogmática

Dei Verbum, n. 10: “Tradição e Escritura constituem o único depósito

sagrado da Palavra de Deus, confiado à Igreja. Acolhendo-o, o povo

santo, unido a seus pastores, persevera na doutrina dos apóstolos,

na comunhão, na fração do pão e nas ininterruptas orações. Assim,

na conservação da fé, na sua prática e no seu desenvolvimento,

pastores e fiéis estão sempre sob a mesma inspiração”.

II. Impactos do Concílio Vaticano II

Em setembro de 1965, no discurso de inauguração da quarta

e última sessão conciliar, o papa Paulo VI, dando clara mostra da

percepção profunda que tinha do sentido e do destino histórico de

Vaticano II, afirmou que a convocação do Concílio “arrancou-nos

ao torpor da vida ordinária e despertou em nós a consciência ple-

na da nossa vocação e da nossa missão, pôs em movimento forças

latentes em nós e incendiou em nossas almas o espírito de profecia,

próprio da Igreja de Deus”; e com esse mesmo espírito de profecia

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CONCÍLIO VATICANO II

Paulo VI continuou dizendo que “a alma do Concílio é o amor, amor

para com todos os homens tais como são e lá onde estão, um ato

público e solene de amor à humanidade”.

Sob tal alento, Vaticano II iria efetivamente causar fortes im-

pactos tanto na vida interna da Igreja quanto na sua vida exter-

na. Internamente, os Padres conciliares procederam à “inves-

tigação mais profunda do mistério da Igreja” (GS 2). E ao fazê-lo,

voltaram-se, num mesmo movimento, para a vida externa da Igre-

ja, isto é, a todos os homens, envolvidos, como os cristãos, “no mis-

tério da história humana” (GS 40).

Falo de vida interna e vida externa da Igreja por simples co-

modidade de reflexão, pois todos sabemos que não se pode nem

se deve separar essas duas dimensões, como se fossem antagôni-

cas. Trata-se de distinguir para unir, pois como muito bem afirma,

por exemplo, a GS 10, o objetivo do Concílio é o de “dirigir-se a todos

os homens para, à luz de Cristo, iluminar o mistério do homem e

cooperar na solução das principais questões do nosso tempo”.

Quase todo mundo sabe que Vaticano II, por fidelidade à rea-

lidade espiritual e invisível da Igreja, mudou radicalmente a fei-

ção visível da Igreja Romana, reformando e renovando a sua “vida

interna”. Detalhar todas essas mudanças, mesmo 50 anos depois,

seria uma longa e laboriosa tarefa, e nem me passa pela cabeça

tentar isso agora. Penso que seria mais adequado ressaltar alguns

pontos do que eu chamaria de fabulosa transmissão de energia

espiritual e de conversão vinda do Concílio, mas do Concílio lido,

relido e estudado por nós, cada um de nós, mas não às pressas e

por alto, e sim atentamente, e com “o lúcido fervor de testemunhas

do mistério”! E lido e relido e estudado na letra e no espírito de seus

textos, e, na medida do possível, de todos os seus textos. Digo isso

porque, infelizmente, há quem interprete e julgue os ensinamentos

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conciliares, a favor ou contra, sem se dar ao necessário trabalho de

leitura e de esforço de compreensão do que ali está dito.

Ressalto, pois, os seguintes pontos:

a) As exigências de leitura e de interpretação dos textos e documentos de Vaticano II

b) O novo estilo do magistério eclesialc) As “pérolas conciliares”

Vamos ao 1º ponto.

Desde que foi encerrado em 1965, o concílio é objeto ou de ne-

gação pura e simples da parte de certos grupos (“tradicionalistas

e fundamentalistas”), ou, para os que o acolhem, de interpreta-

ções nem sempre convergentes de como se deve dar a sua recep-

ção, no sentido teológico da palavra. Sem entrar na vastidão dos

debates, e menos ainda na aspereza de certas polêmicas, prefiro

acentuar um ponto nevrálgico, comum às diversas correntes anti

ou pró-conciliares, e esse ponto é a qualidade da leitura que é feita,

que fazemos (quando é feita e quando a fazemos!) do conjunto dos

textos de Vaticano II, com os seus dezesseis documentos oficiais

distribuídos em 1644 parágrafos, para não falar das notas, jamais

insignificantes, e dos variados anexos. Os documentos de Vatica-

no II ultrapassam em volume, praticamente, os textos reunidos de

todos os outros concílios ecumênicos que o precederam. Votados

pelos Padres conciliares e aprovados pelo bispo de Roma Paulo VI,

tais documentos resultaram também do laboriosíssimo empenho

de grande números de periti, teólogos de alta estirpe, e artesãos da

renovação teológica consolidada no concílio. O aggiornamento dese-

jado por João XXIII não se limitou a modificações da superfície da

Igreja, como se se tratasse apenas de um desempoeiramento das

fachadas e dos corredores da instituição, mas foi ao âmago da fé,

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CONCÍLIO VATICANO II

revendo e renovando em profundidade a visão e a prática que gran-

de parte dos católicos tinha de sua pertença confessional. Uma re-

novação de tal monta não é de fácil e imediata assimilação. Vatica-

no II é um acontecimento de alta complexidade.

A dificuldade intrínseca à recepção do Concílio resulta, em par-

te, da sutileza da linguagem tanto doutrinal como teológica dos tex-

tos conciliares, como de resto de todo texto do Magistério eclesial.

E não só da linguagem, mas também do que eu chamaria de legí-

tima estratégia institucional: pode-se dizer tudo a todos de igual

modo a qualquer momento? Quando se conhece, ainda que parcial-

mente, a complexa fisionomia do catolicismo romano, tal estratégia

parece inevitável... Em outras palavras, os textos conciliares devem

ser sempre lidos em sua letra e em seu espírito (ou intenção), nas li-

nhas e nas entrelinhas, no lugar e no momento em que aparecem no

texto, na quantidade de vezes em que tal ou tal palavra aparece, ou

simplesmente não aparece, assim como em seus numerosos com-

promissos redacionais, de que não faltam exemplos! Para “receber”

é preciso compreender. A formulação (ou redação) da linguagem do

magistério eclesial é feita, e em geral bem feita, para ser compreen-

dida por todos. Mas nem sempre o é. Por isso, devemos redobrar

nossos esforços de leitura e de compreensão dos textos conciliares.

Num balanço sumário e provisório, tem-se hoje três linhas de

leitura e interpretação de Vaticano II. A primeira postula a recen-

tragem na questão de Deus, ou do modo como o Concílio preten-

deu falar de Deus ao mundo (e não só aos católicos!), apoiado no

papel específico da Tradição cristã que quer levar os homens ao

conhecimento de Deus, e também propor acesso à íntima ligação

com Deus. Noto a respeito que o papa Francisco, em sua encícli-

ca, diz que Vaticano II “nos convidou a repor, no centro de nossa

vida eclesial e pessoal, o primado de Deus em Cristo” (Lumen Fidei,

n. 6). A segunda linha propõe uma “hermenêutica da reforma” ou

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da renovação na continuidade, linha essa exposta por Bento XVI

no início de seu pontificado2 como sendo uma interpretação justa

e correta do Concílio. Essa linha é claramente contraposta ao que

seria uma “hermenêutica da descontinuidade e da ruptura”, como

se, para reformar-se e renovar-se, a Igreja cristã devesse romper

com o princípio vivo da Tradição, isto é, com a própria substância

da fé. Convém relembrar as palavras de João XXIII na abertura do

Concílio, e de Paulo VI no encerramento, ambos dizendo-nos que

uma coisa é o depósito da fé, isto é, as verdades contidas na nossa

veneranda doutrina, e outra coisa são as suas expressões na va-

riedade dos tempos e dos lugares; tais expressões, sim, podem e

devem ser aprofundadas, renovadas em sua expressão e apresen-

tadas de modo a corresponder às exigências do nosso tempo, pre-

servando sempre o sentido da fé. Ainda no seu discurso ao episco-

pado brasileiro, o papa Francisco salientou ser preciso “encorajar a

recepção do Concílio Vaticano II, com fidelidade mas também com

traços originais...”.

Enfim, a terceira linha focaliza o contexto histórico e teológi-

co do Concílio, pela análise dos debates, das modificações e dos

compromissos redacionais assim como de seus fundamentos teo-

lógicos, e o faz a fim de ressaltar o novo estilo de vida cristã e da

nova orientação da relação da Igreja com o mundo. De certo modo,

essa terceira linha integra as duas primeiras, enfatizando, contudo,

a necessidade de estudar “tecnicamente” Vaticano II...

Penso eu que se pode supor e dizer que tais interpretações não

são necessariamente incompatíveis entre si; cada uma a seu modo,

essas três linhas de leitura e de interpretação atestam a recepção

do Concílio, e a riqueza, em parte ainda inexplorada, do teor e do

2 Discurso à Cúria Romana, 22 de dezembro de 2005 : “se lemos e recebemos [o Concílio Vaticano II] guiados por uma justa hermenêutica, ele pode tornar-se uma grande força para a sempre necessária renovação da Igreja”

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CONCÍLIO VATICANO II

sentido de seu ensinamento. Permitam que eu insista: é preciso

ouvir o Concílio Vaticano II em sua própria linguagem, e ler e reler

os seus textos com religioso respeito. Vaticano II é certamente, en-

tre todos os concílios gerais ou ecumênicos da Igreja cristã, o que

mais se preocupou em apresentar uma visão global e orgânica da

fé e da vida cristã em seus aspectos essenciais, assim como tam-

bém se preocupou da necessária atualização ou renovação eclesial

no seio do “mistério da história humana”, expressão recorrente na

Gaudium et Spes.

Passemos ao segundo ponto, o novo estilo de magistério eclesial.

Vaticano II rompeu deliberadamente com o estilo dos concí-

lios anteriores evitando apresentar-se, e impor-se, com cânones

e anátemas de caráter formalmente “obrigatórios” que eram, se

se pode dizer, de mais fácil “entendimento”; diga-se de passagem

que o bispo brasileiro de Palmas no Paraná pronunciou-se, na Aula

conciliar, “pela anatematização dos hereges”, mas foi voz vencida3.

Tomemos um exemplo mais significativo: o precedente Concílio de

mesmo nome, Vaticano I, ao definir em 1870 a “infalibilidade do

magistério do pontífice romano”, decreta imediatamente: “Se, en-

tão, alguém – Deus não o queira! ousasse contradizer esta nossa

definição: seja anátema”4 ! Num artigo publicado em 1997, o então

bispo de Bérgamo, Dom Roberto Amadei, referindo-se ao longo pe-

ríodo do papado romano nas mãos de Gregório XVI (1831-1846) e de

Pio IX (1846-1878), caracterizou-o com a forte expressão de tempo

de uma “Igreja da condenação” : “a encíclica de Gregório XVI Mirari

vos de 1832, e o Syllabus [de Pio IX] são os dois documentos emble-

3 Trata-se de Dom Carlos Eduardo Saboia Bandeira de Mello: ver Y. Congar, Mon Journal du Concile, Paris, Ed. du Cerf, 2002,  vol. I, p. 435, e Acta Synodalia Sacrosancti Concilii Oecumenici Vaticani II, vol II-II, p. 114-116.

4 Constituição dogmática Pastor Aeternus, n. 16 e 17, tradução portuguesa em Documentos de Gregório XVI e Pio IX, Ed. Paulus, 1999, p. 318.

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máticos daquela Igreja da condenação que via somente males no

mundo moderno”!

Não foi essa, como sabemos, a postura do Concílio Vaticano II,

não foi essa a sua linguagem, e por isso os seus documentos re-

querem uma leitura exigente. Sob esse aspecto, os cinquenta anos

passados permitem, ou deveriam permitir, a qualidade de leitura

já mencionada, isto é, um estudo acurado não apenas de tal ou tal

documento que nos satisfaça ocasional e particularmente, mas do

conjunto dos textos, que de fato só se aclaram mutuamente. O que

não diminui a dificuldade, antes pelo contrário.

Vaticano II adotou, diria eu, uma clara posição pedagógica, ou

seja, de educação dos fieis para uma “fé viva e adulta”, concomitan-

temente à educação da “liberdade interior do homem” (veja-se GS

21 e 58). E Vaticano II afirma que isso é parte integrante da própria

missão da Igreja. Não é por nada que o substantivo “ensinamento”

(ou ensino), assim como o verbo “ensinar” tanto aparecem nos tex-

tos do Concílio (p. ex. 24 vezes na LG, 12 na GS etc) : Deus ensina,

o Cristo ensina, o Espírito ensina, a Igreja ensina, o Concílio ensina!

Somos, portanto, todos convidados a aprender. A aprender os

requisitos e o sentido de uma fé viva e adulta, a aprender o ver-

dadeiro alcance da liberdade interior, a nossa de cristãos, e a de

todos os homens. Destaco, para concluir, apenas alguns exemplos

do ensinamento de Vaticano II, que chamarei de “pérolas concilia-

res” como que escondidas nos textos e clamando para serem pro-

curadas e descobertas! Afinal, como escreve o papa Francisco na

encíclica Lumen Fidei (n. 48) : “Cada época pode encontrar pontos

da fé mais fáceis ou mais difíceis de aceitar; por isso, é importante

vigiar para que se transmita todo o depósito da fé (cf. 1 Tm 6, 20)”.

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CONCÍLIO VATICANO II

III. Pérolas conciliares

O “ditame da consciência” (cf. LG 14 e GS 19):

Teremos nós percebido que “consciência” aparece cerca de qua-

renta vezes na Gaudium et Spes, e de treze na Dignitatis Humanae,

sendo que só no n. 16 da Gaudium et Spes, um curto parágrafo, a evo-

cação, para não dizer a invocação solene da consciência, aparece

oito vezes, como nesta admirável passagem: “A consciência é o nú-

cleo secretíssimo e o sacrário do ser humano, onde ele se encon-

tra a sós com Deus, e ouve intimamente a Sua voz”? E será que já

nos ocorreu estabelecer a necessária relação de tal passagem com

esta outra, na DH n. 3 : “O homem ouve e reconhece os ditames da

lei divina por meio da consciência, que ele deve seguir fielmente

em toda a sua atividade, para chegar ao seu fim, que é Deus. Não

deve, portanto, ser forçado a agir contra a própria consciência (...).

O exercício da religião, pela natureza desta, consiste primeiro que

tudo em atos internos voluntários e livres, pelos quais o homem

se ordena diretamente para Deus; e tais atos não podem ser nem

impostos nem impedidos por qualquer autoridade meramente hu-

mana”? Será por isso que o Catecismo da Igreja Católica, na esteira de

Vaticano II e citando o cardeal Newman, afirma que “a consciência

é o primeiro de todos os vigários de Cristo” (n. 1778)?

Compare-se essa solene proclamação conciliar do direito fun-

damental à liberdade de consciência com o que escreveu Gregório

XVI em sua encíclica Mirari vos n. 10, em 1832, cento e trinta anos

antes de Vaticano II: “Dessa fonte lodosa do indiferentismo proma-

na aquela sentença absurda e errônea, digo melhor disparate, que

afirma e defende a liberdade de consciência. Este erro corrupto

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abre alas, escudado na imoderada liberdade de opiniões que, para

confusão das coisas sagradas e civis, se estende por toda parte,

chegando a imprudência de alguém se asseverar que dela resulta

grande proveito para a causa da religião”.

Sobre a Igreja:

Em geral, corremos o risco de imaginar e falar da “Igreja” ape-

nas em sua forma visível, ou em sua estruturação humana, hierár-

quica. Ora, teremos percebido que a LG 1 nos ensina que, antes de

mais nada, “a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal,

e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o

gênero humano” ?

Sobre o sentido sobrenatural da fé e sua infalibilidade:

Será que já nos perguntamos – leigos e hierarquia – sobre a sig-

nificação e as implicações doutrinais e pastorais concretas com re-

lação ao Magistério eclesial destas duas frases da LG 12 : “o conjun-

to dos fiéis, ungidos pelo Espírito Santo, não pode errar na fé. E esta

sua propriedade peculiar se manifesta pelo senso sobrenatural da

fé (sensus fidei), comum a todo o povo”...

Noto de passagem que o papa Francisco vem periodicamente

citando e comentando essa passagem de Vaticano II, e o faz para

acentuar o que ele chama de “santidade cotidiana dos fieis” e da

sua (do Povo de Deus) infallibilitas in credendo. Santo Agostinho, em

seus sermões, dirigia-se aos fieis que o ouviam chamando-os de

“Vossa Santidade”...

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CONCÍLIO VATICANO II

Sobre a salvação universal (dentro e fora da Igreja):

Por que a primeira frase do capítulo II da LG, que vai tratar do

Povo de Deus, começa por esta frase: “Todo aquele que pratica a

justiça é acolhido por Deus (cfr. At 10, 35)”? Que alcance doutrinal

e teológico tem isso? Pode-se articular esta frase com a seguinte

e importante passagem da GS n. 22 : “E o que fica dito, vale não só

dos cristãos, mas de todos os homens de boa vontade, em cujos

corações a graça opera ocultamente. Com efeito, já que por todos

morreu Cristo e a vocação última de todos os homens é realmente

uma só, a saber, a divina, devemos manter [tenere debemus] que o

Espírito Santo a todos dá a possibilidade de se associarem ao mis-

tério pascal por um modo só de Deus conhecido”?

Convém ressaltar que o “todos” aqui refere-se aos cristãos e

aos não-cristãos, e que esta frase utiliza a linguagem técnica das

formulações dogmáticas, que exigem a obediência de fé (tenere

debemus)! Se assim é, como então considerar aquele antigo axioma

que diz: “fora da Igreja não há salvação”? Não seria isso uma res-

posta nova, verdadeiramente evangélica, de clara oposição a esse

tristemente famoso axioma, geralmente interpretado fora de seu

contexto original ?

Sobre o ateismo:

Teremos atentado suficientemente para essa lição conciliar que

nos vem da GS 19?: “os crentes [i.e. fiéis cristãos] podem ter tido

parte não pequena na gênese do ateísmo, na medida em que, pela

negligência na educação da sua fé, ou por exposições falaciosas da

doutrina, ou ainda pelas deficiências da sua vida religiosa, moral

e social, se pode dizer que antes esconderam do que revelaram o

autêntico rosto de Deus e da religião.”

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Sobre a purificação do sentimento religioso:

Por que e a quem se dirige precisamente a Gaudium et Spes (n. 7)

quando, ao evocar as mudanças e transformações do mundo con-

temporâneo e o desafio que elas impõem à vida de fé, insiste na

necessidade de purificá-la “de uma concepção mágica do mundo

e de certas sobrevivências supersticiosas”, sem o que não se pode

chegar “a um mais vivo sentido de Deus”?

Sobre o culto marial e a verdadeira devoção:

Falando da pregação e do culto marial, alerta-nos a LG 67: “Evi-

tem com cuidado, nas palavras e atitudes, tudo o que possa induzir

em erro acerca da autêntica doutrina da Igreja os irmãos separados

ou quaisquer outros. E os fiéis lembrem-se de que a verdadeira de-

voção não consiste numa emoção estéril e passageira, mas nasce

da fé...”

Conclusão

Já que falamos de pérolas, lembremo-nos do que disse Jesus:

“O Reino dos céus é também semelhante a quem procura pérolas

para comprar” (Mt 3, 45-46).

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O DOSSIê

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Dossiê Vaticano II: Alegria e Esperança

O “Dossiê Vaticano II: Alegria e Esperança. Uma análise do cinquentenário do Concílio” está dividido em quatro blocos:

BLoCo 01 O Concílio na vida da Igreja

BLoCo 02Contexto, convocação, evento e documentos Conciliares

BLoCo 03Recepção, interpretações e aplicações

BLoCo 04O Concílio e os Papas

Além do material em mídia, será possível acessar, online, todas as entrevistas do Dossiê (ver entrevistados) na íntegra, bem como ma-terial inédito referente a este importante mo-mento da Igreja. Os vídeos estarão hospedados no canal Virtheos do youtube, acessado pelo seguinte link: youtube.com/virtheos.

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EntrEvistados

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CONCÍLIO VATICANO II

agenor Brighenti Sacerdote. Coordenador dos progra-

mas de Mestrado e Doutorado em Teologia da Pontifícia Universidade

Católica do Paraná (PUCPR). Diretor do Instituto Nacional de Pastoral da CNBB. Mestre em Teologia Pastoral

pela Université Catholique de Louvain. Doutor em Ciências Teológicas e

Religiosas pela Université Catholique de Louvain, Bélgica. Membro da

Equipe de Reflexão Teológico-pastoral do Conselho Episcopal Latino-

americano (CELAM). Foi perito do CELAM na Conferência de Santo

Domingo e da CNBB em Aparecida.

afonso Murad Irmão Marista. Professor de

Teologia na Faculdade Jesuíta (FAJE) e no Instituto Santo Tomás de

Aquino (ISTA), em Belo Horizonte. Graduado em Pedagogia pela

Universidade Estadual de Montes Claros, em Filosofia pela Pontifícia

Universidade Católica de Minas Gerais e Doutor em Teologia pela

Pontifícia Universidade Gregoriana.

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EntrEvistados

albano Bortoletto CavallinBispo Emérito de Londrina/PR. Incansável promotor da Catequese no Brasil.

angélico Sândalo Bernardino Bispo Emérito de Blumenau/SC. Graduado em Filosofia, Teologia e Jornalismo.

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CONCÍLIO VATICANO II

antonio Luiz Catelan

Monsenhor. Professor da PUCPR e professor associado da

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Mestre em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade

Gregoriana. Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade

Gregoriana. Assessor da Comissão Episcopal para a Doutrina

da Fé da CNBB. Membro da Comissão Teológica Internacional.

Carlos Josaphat

Sacerdote da Ordem dos Pregadores (Dominicanos).

Professor emérito da Universidade de Friburgo (Suíça). Doutor em

Teologia. Autor de diversos títulos.

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EntrEvistados

Cláudio Hummes Cardeal, Franciscano, Arcebispo emérito de São Paulo e ex-prefeito, na Cúria Roma, da Congregação para o Clero. Graduado em Filosofia e Teologia, é especialista em Ecumenismo pelo Instituto Ecumênico de Bossey, Genebra/Suíça. Doutor em Filosofia.

Clodovis Boff Sacerdote da Ordem dos Servos de Maria. Professor adjunto da PUCPR. Graduado em Licenciatura em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Mogi das Cruzes, graduação em Teologia pela Universidade Católica de Lovaiana e doutorado em Teologia pela Universidade Católica de Lovaiana.

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CONCÍLIO VATICANO II

Dario Bortolini Irmão Marista. Foi provincial e presidente do Grupo Marista. Formado em História Natural.

Dilermando Ramos Vieira

Sacerdote da Ordem dos Servos de Maria. Professor da PUCPR. Mestre em Mariologia

pela Pontifícia Faculdade Teológica Marianum. Doutor

em História Eclesiástica junto à Pontifícia Universidade

Gregoriana de Roma.

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EntrEvistados

Francisco Catão Bacharel em Ciências Sociais. Graduado em Teologia. Mestre em Teologia. Doutor em Teologia em Théologie Catholique – Université de Strasbourg – Faculté de Théologie Catholique, Estrasburgo (França). Autor de diversos títulos.

Jesús Hortal Sànchez Sacerdote da Companhia de Jesus (Jesuítas). Ex-Reitor da PUC-Rio. Graduado em Teologia e Filosofia pela Universidad Pontificia de Comillas e em Direito pela Universidad de Salamanca. Doutor em Direito Canônico pela Pontificia Università Gregoriana e em Filosofia pela Universidad de Santo Tomás (Santo Domingo – República Dominicana).

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CONCÍLIO VATICANO II

João Carlos Almeida

(Padre Joãozinho) Sacerdote da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos).

Graduado em Estudos Sociais pela Fundação Educacional de Brusque e em Teologia

no Instituto Teológico SCJ (Taubaté-SP). Mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Doutor em Teologia

pelo Centro Universitário Assunção, em São Paulo, em Teologia Espiritual pela Pontifícia

Universidade Gregoriana de Roma e em Educação pela Universidade de São Paulo.

Joaquim Giovani Mol Guimarães

Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte. Reitor da Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Graduado em Filosofia e em Teologia pela PUC

Minas. Mestre em Teologia pelo Centro de Estudos Superiores Jesuíta, Minas Gerais.

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EntrEvistados

José Adalberto Vanzella Sacerdote da Diocese de Taubaté. Licenciado em Filosofia e Pedagogia. Bacharel em Teologia, Mestre em Teologia Pastoral e Doutor em Teologia Sistemática Pastoral. Foi Secretário Executivo da Campanha da Fraternidade por vários anos.

José Bizon Cônego da Arquidiocese de São Paulo. Coordenador da Graduação em Teologia da PUC-SP, campus Ipiranga. Mestre em Teologia pela Pontificia Studiorum Universitas A S. Thoma AQ. In Urbe.

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CONCÍLIO VATICANO II

José Fernandes de Oliveira

(Padre Zezinho) Sacerdote da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos).

Estudou Filosofia, Teologia, e Comunicação Social. Autor de mais de 300 títulos, entre

livros, CD´s cantados e falados e vídeos; há mais de 45 anos envolvido com a

pregação, a arte e a catequese católica, professor, cantor, compositor, conferen-

cista, diretor e apresentador de rádio e de televisão. Padre Zezinho é ainda hoje um dos rostos e das vozes mais conhecidas

da Igreja Católica.

José Maria Pires Arcebispo Emérito da Paraíba. Formado

em Teologia e Filosofia pelo Seminário de Diamantina. Foi também membro da Comissão Central da CNBB e participou

das 4 sessões do Concílio Vaticano II.

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EntrEvistados

José Oscar Beozo Sacerdote da Diocese de Lins. Coordenador do Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular, CESEP. Doutor em História Social, pela Universidade de São Paulo, USP. Mestre em Sociologia da Religião, pela Université Catholique de Louvain. Especializado em Comunicação Social, pela Université Catholique de Louvain e em História do Brasil, pela Faculdade Auxilium de Filosofia, Ciências e Letras Graduado em Ciências Politicas e Sociais pela Université Catholique de Louvain (1968). Graduado em Teologia, pela Pontificia

Università Gregoriana e em Filosofia pelo Seminário Central do Ipiranga/Seminário Central de Aparecida. Membro da Comissão para o Estudo da História da Igreja da América Latina.

Julio Endi Akamine Membro da Sociedade do Apostolado Católico (Padres e Irmãos Palotinos), Bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo. Mestre e Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana.

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CONCÍLIO VATICANO II

Magno Vilela Professor de História do Cristianismo e de Patrística no Curso de Teologia da Faculdade de São Bento, em São

Paulo. Graduado em Filosofia na Escola Dominicana de Teologia e em História na Universidade de São Paulo (USP). Na França concluiu seus estudos em

História na Universidade de Paris I (Sorbonne) e na École de Hautes Études

en Sciences Sociales (EHESS – Vième section). Formou-se em Teologia no Le

Saulchoir. Foi também diretor da revista teológica francesa Lumière et Vie.

Manoel Godoy Sacerdote. Diretor executivo do Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA). Professor

do Instituto de Teologia Pastoral (ITEPAL). Professor do Centro Loyola, Belo Horizonte.

Bacharel em Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da Assunção, São Paulo. Mestre

em Práxis Cristã pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), Belo Horizonte.

Ex-assessor da CNBB por dez anos, ex-membro da Organização dos Seminários

Latino-Americanos, do CELAM/Bogotá.

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EntrEvistados

Marcial Maçaneiro Sacerdote da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos). Bacharel em Estudos Sociais pela Fundação Educacional de Brusque. Mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, Belo Horizonte. Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Membro da International Commission for Catholic-Pentecostal Dialogue (Santa Sé).

Maria Clara Bingemer Professora associada no Departamento de Teologia da PUC-Rio. Graduada em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Doutora em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Gregoriana.

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CONCÍLIO VATICANO II

Maria Freire da Silva

Religiosa da Congregação Irmãs do Imaculado Coração de Maria. Professora

da PUC-SP. Possui graduação em Teologia pela Pontifícia Faculdade de

Teologia Nossa Senhora da Assunção; mestrado em Teologia pela Pontifícia

Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção e doutorado em Teologia

Dogmática pela Pontificia Università Gregoriana de Roma.

odilo Pedro Scherer

Cardeal, Arcebispo de São Paulo. Grão-chanceler da PUC-SP. Mestre em

Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Doutor em Teologia pela

Pontifícia Universidade Gregoriana. Membro, na Cúria Romana,

da Congregação para o Clero e da Congregação para a Educação Católica.

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EntrEvistados

rubens Ricúpero Jurista e diplomata brasileiro com proeminente atividade de economista. Diplomata de carreira de 1961 a 2004. Exerceu, dentre outras, as funções de as-sessor internacional do presidente eleito Tancredo Neves (1984-1985), assessor especial do presidente José Sarney (1985-1987), representante permanente do Brasil junto aos órgãos da ONU sedia-dos em Genebra (1987-1991) e embaixa-dor nos Estados Unidos (1991-1993).

rafael Biernaski Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Curitiba. Grão-Chanceler da PUCPR. Mestre em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Doutor em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana.

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Esperamos, pois, que possamos

todos, à luz do Concílio, viver as

alegrias e esperanças de nosso

tempo para tornar Jesus Cristo

conhecido e amado

Joaquim SperandioIrmão Marista

“ “

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As AlegriAs e As esperAnçAs, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração. Porque a sua comunidade é formada por homens, que, reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito Santo na sua peregrinação em demanda do reino do Pai, e receberam a mensagem da salvação para a comunicar a todos. Por este motivo, a Igreja sente-se real e intimamente ligada ao género humano e à sua história. (Gaudium et Spes, nº1)