15
Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia da Informação através da Modelagem de Processos de Negócio em Organizações Andréa Magalhães 1 , Claudia Cappelli 1 , Fernanda Baião 1,2 , Flavia Santoro 1,2 , Hadeliane Iendrike 1 , Renata Araujo 1,2 , Vanessa Nunes 1 1 NP2Tec – Núcleo de Pesquisa e Prática em Tecnologia 2 Departamento de Informática Aplicada – UNIRIO Introdução As organizações têm enfrentado um mercado cada vez mais competitivo e turbulento. Um dos principais aspectos que influenciam o nível de competitividade de uma empresa é a velocidade com que ela consegue responder às novas demandas, oportunidades e ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas necessitam cada vez mais de agilidade nos seus processos, de informações e conhecimento disponíveis e facilmente acessíveis. Mais ainda, é preciso que tal conhecimento auxilie de forma inteligente a gestão da organização, para que esta consiga manter-se no mercado de forma competitiva (BARBIERI, 2001). Para tanto, é preciso que os processos de negócio estejam alinhados às estratégias e metas da organização, e que o planejamento de tecnologia esteja coerente e integrado aos processos da organização. Somente desta forma torna-se possível disponibilizar informações de qualidade, em tempo hábil, para o nível estratégico da organização. No entanto, problemas freqüentes das organizações acarretam em falta de controle e altos custos para adaptações às mudanças do negócio, e para implantação de inovações e novas soluções que são vitais para atender à volatilidade do mercado. Dentre estes problemas pode-se citar o conhecimento superficial dos seus processos de trabalho, a falta de agilidade na reformulação dos mesmos, a fraca aderência das aplicações de TI aos processos de negócio da organização, a redundância de informações, além da diversidade de tecnologias disponíveis para dar suporte às atividades da organização, desde o nível operacional até o nível estratégico. Em geral, as soluções existentes no mercado para os problemas apresentados têm sido propostas baseadas na modelagem de processos de negócios como ponto de partida para a melhoria dos processos e identificação de requisitos de sistemas. A partir destes requisitos podem ser implementadas soluções de tecnologia que têm como principal função a automação de atividades, visando à melhoria da qualidade dos processos. Este artigo revê os conceitos e benefícios trazidos pela Modelagem de Processos de Negócio, uma fase essencial desta estratégia, e apresenta diversas abordagens que podem ser aplicadas para a modelagem de processos de negócio em organizações. O artigo também aponta direções a serem seguidas a partir da modelagem de processos em uma organização, visando a gestão destes processos através da sua integração com a Tecnologia da Informação da empresa. Modelagem de Negócio

Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia …andrea/teaching/202001/mpn/RevistaFRB-2007.pdf · ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas

  • Upload
    others

  • View
    15

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia …andrea/teaching/202001/mpn/RevistaFRB-2007.pdf · ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas

Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia da Informação através da Modelagem de Processos de Negócio em

Organizações Andréa Magalhães1, Claudia Cappelli1, Fernanda Baião1,2, Flavia Santoro1,2, Hadeliane Iendrike1, Renata Araujo1,2, Vanessa Nunes1

1 NP2Tec – Núcleo de Pesquisa e Prática em Tecnologia 2 Departamento de Informática Aplicada – UNIRIO

Introdução As organizações têm enfrentado um mercado cada vez mais competitivo e turbulento. Um dos principais aspectos que influenciam o nível de competitividade de uma empresa é a velocidade com que ela consegue responder às novas demandas, oportunidades e ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas necessitam cada vez mais de agilidade nos seus processos, de informações e conhecimento disponíveis e facilmente acessíveis. Mais ainda, é preciso que tal conhecimento auxilie de forma inteligente a gestão da organização, para que esta consiga manter-se no mercado de forma competitiva (BARBIERI, 2001). Para tanto, é preciso que os processos de negócio estejam alinhados às estratégias e metas da organização, e que o planejamento de tecnologia esteja coerente e integrado aos processos da organização. Somente desta forma torna-se possível disponibilizar informações de qualidade, em tempo hábil, para o nível estratégico da organização. No entanto, problemas freqüentes das organizações acarretam em falta de controle e altos custos para adaptações às mudanças do negócio, e para implantação de inovações e novas soluções que são vitais para atender à volatilidade do mercado. Dentre estes problemas pode-se citar o conhecimento superficial dos seus processos de trabalho, a falta de agilidade na reformulação dos mesmos, a fraca aderência das aplicações de TI aos processos de negócio da organização, a redundância de informações, além da diversidade de tecnologias disponíveis para dar suporte às atividades da organização, desde o nível operacional até o nível estratégico. Em geral, as soluções existentes no mercado para os problemas apresentados têm sido propostas baseadas na modelagem de processos de negócios como ponto de partida para a melhoria dos processos e identificação de requisitos de sistemas. A partir destes requisitos podem ser implementadas soluções de tecnologia que têm como principal função a automação de atividades, visando à melhoria da qualidade dos processos. Este artigo revê os conceitos e benefícios trazidos pela Modelagem de Processos de Negócio, uma fase essencial desta estratégia, e apresenta diversas abordagens que podem ser aplicadas para a modelagem de processos de negócio em organizações. O artigo também aponta direções a serem seguidas a partir da modelagem de processos em uma organização, visando a gestão destes processos através da sua integração com a Tecnologia da Informação da empresa. Modelagem de Negócio

Page 2: Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia …andrea/teaching/202001/mpn/RevistaFRB-2007.pdf · ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas

As organizações estão cada vez mais interessadas em conhecer o negócio que executam com a finalidade de alcançar reduções de custo e tempo (HINRICHSEN, 2005). Para tanto, é importante representar o seu negócio e o conhecimento sobre ele. A modelagem de negócio é um conjunto de métodos e técnicas que auxiliam a organização na formalização do seu negócio oferecendo uma representação uniforme da empresa (ERIKSSON, PENKER 2000; PROFORMA, 2003). São vários os benefícios que podem ser alcançados nas organizações através da modelagem de processos de negócio. Segundo (CAMEIRA e CAULLIRAUX, 2000), a modelagem de negócio formaliza uma representação da empresa através de um conjunto de modelos visando: • Melhoria ou reengenharia do negócio - analisar e repensar o funcionamento do

negócio, investigando anomalias, inconsistências, ineficiências e oportunidades de melhoria;

• Facilitar o desenvolvimento de sistemas de informação alinhados às necessidades do

negócio; • Informatizar os processos de negócio reduzindo o número de intervenções humanas

necessárias em um processo. Já DAVENPORT (1994, apud SILVA 2001) apresenta quatro principais benefícios:

• Melhoria da comunicação entre os profissionais da empresa, além de contribuir para

a capacitação daqueles que participam das atividades de modelagem. O entendimento dos processos existentes habilita os profissionais para a participação na implementação das melhorias, uma vez que se tornam os maiores conhecedores das características dos processos que serão melhorados.

• Viabiliza o planejamento e execução das atividades de melhoria do processo, pois é

de suma importância conhecer a organização através dos seus processos de negócio. • Permite a identificação de problemas existentes na organização. Conhecer os

problemas do processo atual é importante para que se possa evitar a repetição desses problemas na elaboração dos novos processos.

• Permite que se faça uma comparação com os processos otimizados, de forma que se

possa avaliar a efetividade da melhoria implementada. Esta avaliação é imprescindível para facilitar o aprendizado com os problemas identificados.

Dessa forma, a modelagem de processos acabará oferecendo o melhor entendimento, uma representação uniforme da empresa e um modelo que pode ser usado para controlar e monitorar as operações da empresa.

Page 3: Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia …andrea/teaching/202001/mpn/RevistaFRB-2007.pdf · ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas

Em geral, é sugerido às organizações que pretendem se engajar em uma iniciativa de modelagem de processos, que estabeleçam uma ou mais pessoas responsáveis pelo trabalho de modelagem e manutenção dos processos de negócio (CMU-SEI, 2001; ARAUJO et al, 2004). Este grupo pode ser composto por funcionários da organização ou por consultores contratados. Em geral, este grupo é denominado como Grupo de Definição de Processos (GDP). O GDP atua na definição e melhoria contínua dos processos, ajudando a organização a avaliar a situação atual (as-is) e a planejar e implementar as melhorias (to-be). O principal instrumento de trabalho do GDP é o modelo de negócio da organização. Um modelo é uma visão simplificada de uma realidade complexa, ou seja, é uma abstração gráfica que representa a realidade considerando as suas características relevantes. A escolha das características que serão adotadas e as que serão descartadas depende dos objetivos pré-fixados. Assim, um modelo de negócio é uma abstração da realidade que representa de forma simplificada os elementos da organização (ERIKSSON, PENKER 2000; HINRICHSEN, 2005). O modelo de negócio é um conjunto de visões que representam perspectivas diferentes de um ou mais aspectos específicos do negócio. Combinadas, estas visões permitem um amplo entendimento sobre a organização e sobre seu negócio, as quais servem como base para comunicação, discussões de melhoria e inovação. O modelo de negócio é composto por um conjunto de modelos, agrupados de forma a responder às questões críticas a respeito do negócio da organização (figura 2.1).

Conceitos do modelo de negócio

SistemaProdutoO quê?

Objetivo

Por quê?

Evento

Quando?

Localização

Onde?Quem?

Processo Atividade

Como?

Meta

Dados externos

Papel

Departamento

Regra denegócio

Fatoresexternos

SistemaSistemaProdutoProdutoO quê?

ObjetivoObjetivo

Por quê?

EventoEvento

Quando?

LocalizaçãoLocalização

Onde?Quem?

ProcessoProcesso AtividadeAtividade

Como?

MetaMeta

Dados externosDados externos

PapelPapel

DepartamentoDepartamento

Regra denegócio

Regra denegócio

FatoresexternosFatoresexternos

Figura 2.1 – Meta-Modelo de Negócio

Modelo Organizacional (quem?) – documenta de uma forma hierárquica a organização incluindo áreas, grupos e papéis. Permite visualizar a estrutura da organização até o nível de papel. Este é um modelo único para a organização e todos os papeis nele representados devem ser utilizados para realizar alguma atividade mapeada no processo. A figura 2.2 ilustra o modelo organizacional em duas notações distintas adotadas por ferramentas de modelagem diferentes.

Page 4: Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia …andrea/teaching/202001/mpn/RevistaFRB-2007.pdf · ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas

Presidência

Vice-Presidênciade Tecnologia

Vice-PresidênciaComercial

Vice-Presidênciade Recursos

Humanos

Gerênciade

Produtos

AdministraçãoFinanceira

Vendas Serviços aClientes

Tecnologia earquitetura

Arquitetura deinformação

Arquitetura deaplicação

Arquiteturatecnológica

Gerente dearquitetura de

informação

Gerente dearquitetura de

aplicação

Gerente dearquiteturatecnológica

Analista deinformação

Analista deaplicação

Analista detecnologia

Figura 2.2 – Possíveis notações gráficas para um Modelo Organizacional

Modelo de Localização (onde?) – apresenta de forma hierárquica as várias localizações geográficas de interesse da organização (figura 2.3).

Áreas deVendas

América doNorte

América doSul

Europa Ásia

JapãoEUA Canadá Brasil Inglaterra

Brasil

BA RN

NatalSalvador Entre RiosAlto do

Rodrigues

Figura 2.3 – Possíveis notações gráficas para um Modelo de Localização

• Modelo de Processos (como?) – explicita a seqüência de atividades que compõem um processo (figura 2.4).

Analista deRequisitos

Início Elicitação dosMacro-Requisitos

Macro-RequisitosDefinidos

Especificação eModelagem dos

Requisitos

RequisitosEspecificados

Validação deRequisitos

Fim

Figura 2.4 – Modelo de Processos

Page 5: Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia …andrea/teaching/202001/mpn/RevistaFRB-2007.pdf · ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas

• Modelo de Atividades (como?) – explicita as informações necessárias sobre uma atividade que não possui mais detalhamento (atividades folha ou terminais de um processo). Ele contém informações sobre, por exemplo, o(s) responsável(is) pela execução da atividade, as ferramentas necessárias para sua execução e os documentos de entrada e saída da atividade (figura 2.5).

Especificar RequisitosNão-Funcionais

Analista deRequisitos

EspecificaçãoSuplementar

RationalRequisitePro

DocumentoVisão

Figura 2.5 – Modelo de Atividades

• Modelo de Objetivos (por quê?) – apresenta hierarquicamente os objetivos de negócio da organização. Cada objetivo pode ter um fator crítico de sucesso associado e estar relacionado com os processos que o apóiam. A figura 2.6 apresenta o modelo de objetivos em duas notações distintas adotadas por ferramentas de modelagem diferentes.

Objetivos daOrganização

ObjetivosPermanentes

Objetivos2006

Aumentar onúmero de

clientes

Apoiar aautomatizaçãoeficiente dos

serviços

Melhorar orelacionamentocom o cliente

Gerar umportfólio deserviços

Orientar a arquiteturacorporativa de

informação

Gerir políticas epadrões de

arquitetura d...

Monitorar e auditar ocumprimento das

políticas e padrões deinformação

Definir e disseminarpolíticas e padrões de

informação

Elaborar e manterarquitetura de

informação

Construir, manter edisseminar o modelo de

dados corporativos

Orientarespecificações desolução para o...

Validar as soluçõesdos modelos de

dados dos projetos

Avaliar o impacto dacarteira de projetos

na arquitetura deinformação

Pesquisar alternativaspara a arquitetura de

informação

Prospectar e analisarsoluções de

arquitetura d...

Monitorar tendênciasde Mercado

Elaborar parecer desoluções

Figura 2.6 – Possíveis notações gráficas para um Modelo de Objetivos • Modelo de Evento (quando?) - mostra o momento de disparo dos serviços e como

os eventos do negócio afetam o estado dos objetos de negócio. As atividades podem ser disparadas por eventos temporais, externos à empresa ou provocados pela execução de outras atividades.

• Modelo de Produtos (o quê?) - resume os artefatos que estão sendo gerados em um processo (figura 2.7).

Page 6: Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia …andrea/teaching/202001/mpn/RevistaFRB-2007.pdf · ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas

Análise de Requisitos

Glossário

Documento Visão

Especificação Suplementar

Diagrama de Casos de Uso

Caso de Uso

Protótipo da Interface Gráfica

Figura 2.7 – Modelo de Produtos

• Modelo de Sistemas (o quê?) - representa os sistemas necessários para a execução das atividades. Todo e qualquer sistema representado neste modelo deve ser utilizado em pelo menos uma atividade do processo (figura 2.8).

MicrosoftWord

MicrosoftPowerPoint

MicrosoftExcel

RationalRequisitePro

Rational RoseRational XDE

OracleJBuilderVisualStudio

.NET

Guia de Utilização do Rational Rose.doc

Gu ia de Utilização do Rational XDE.doc

Figura 2.8 – Modelo de Sistemas

Modelo de Processos Entre os diferentes modelos que compõem o modelo de negócio, destaca-se o modelo de processos, que estabelece a seqüência de atividades que compõem um processo. De maneira geral, um processo é um caminho para uma empresa organizar o trabalho e os recursos (pessoas, equipamento e informação) para atingir seus objetivos. Um processo tem por finalidade transformar, manipular ou processar insumos para produzir bens ou serviços que irão satisfazer a demanda gerada pelos consumidores ou clientes (ARAUJO, 2000; GONCALVES, 2000; CRUZ, 2000). Os processos existem nas organizações mesmo que não sejam claros, visíveis, documentados ou organizados.

Page 7: Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia …andrea/teaching/202001/mpn/RevistaFRB-2007.pdf · ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas

Essencialmente, um processo é composto por um conjunto de atividades. Estas atividades são partes bem caracterizadas do trabalho, realizadas em certo momento por papéis, de acordo com um conjunto de regras definidas que estabelecem a ordem e as condições em que as atividades devem ser executadas. Cada atividade manipula um conjunto de produtos de trabalho (dados, documentos ou formulários) durante sua execução (ARAUJO e BORGES, 2001; ZAIRI, 1997; ARAUJO, 2000). A relação entre estes elementos é ilustrada pela figura 3.1.

Figura 3.1 - Elementos de um Processo Fonte: (ARAUJO e BORGES, 2001)

� Sub-Processo Um sub-processo é a primeira divisão de um processo em um conjunto de atividades correlacionadas. Esta divisão é feita quando um processo é muito complexo, o que dificulta o seu controle, devido ao grande número de atividades, entradas e saídas (CRUZ, 2000). � Atividade Uma atividade consiste em uma unidade individual de trabalho. Uma atividade é uma tarefa a ser desempenhada em um processo, e para isso ela manipula documentos, dados e formulários. As atividades estão relacionadas através de regras de negócio que estabelecem a seqüência em que as atividades devem ser executadas, a sua obrigatoriedade ou não e a dependência de outras atividades. A cada atividade são associados os papéis responsáveis por sua realização. � Papel Um papel é responsável por executar uma ou mais atividades de um processo. O papel pode ser desempenhado por agentes informatizados, grupos ou indivíduos da organização. O mesmo indivíduo pode estar associado a mais de um papel e cada papel pode ser desempenhado por mais de um profissional. Produto de Trabalho

Page 8: Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia …andrea/teaching/202001/mpn/RevistaFRB-2007.pdf · ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas

Para cada atividade podem ser definidos os produtos de trabalho (documentos, dados e formulários) que serão manipulados ao longo da execução do processo como entradas e saídas das atividades.

Abordagens para Modelagem de Processos Existem diversas abordagens para modelagem de processos. Estas abordagens sugerem um conjunto de passos que auxiliam a organização na construção do seu modelo de processos. Cada abordagem possui um objetivo específico: algumas focam na melhoria de processos (ELZINGA et al, 1995; CRUZ, 2005, 2006; SANTOS et al, 2002); e outras se preocupam também com a derivação dos requisitos necessários ao desenvolvimento de software (SHARP e MCDERMOTT, 2000; RUP, 2002; IDS SCHEER, 2003). Algumas abordagens serão brevemente descritas a seguir. Abordagem SHARP e MCDERMOTT Sharp e Mcdermott (2000) sugerem uma abordagem para melhorar os processos e permitir o desenvolvimento de aplicações. Esta abordagem está organizada em quatro fases, conforme a figura 3.2.

Figura 3.2 – Abordagem SHARP e MCDERMOTT para Modelagem de Negócio

Fonte: Adaptado de (SHARP e MCDERMOTT, 2000)

• Emoldurar o Processo: Identificar um processo de negócio, estabelecendo claramente as suas fronteiras, realizando uma avaliação inicial e acordando as metas para a reengenharia do processo.

• Compreender o processo “como está” (as-is): Modelar o diagrama do fluxo de

trabalho do processo, com o máximo de detalhes até que o comportamento do processo seja compreendido, e realizar uma avaliação mais aprofundada do modelo obtido.

• Projetar o processo desejado (to-be): Projetar as potenciais melhorias,

selecionando as principais características do processo e projetar um novo processo.

• Desenvolver Cenários de Casos de Uso: Realizar a transição para os requisitos do sistema descrevendo como os atores do processo deverão interagir com o sistema para completar as tarefas.

Abordagem NP2TEC

Page 9: Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia …andrea/teaching/202001/mpn/RevistaFRB-2007.pdf · ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas

A abordagem NP2TEC é baseada em iterações sucessivas nas quais os diversos modelos que representam o negócio são construídos de forma incremental. A situação atual (as-is) dos processos é modelada e avaliada, e melhorias são propostas e refletidas no modelo desejado (to-be). Assim, o ciclo evolutivo dos modelos parte da estratégia do projeto e segue até a implementação da situação desejada. A partir daí, esta passa a ser a nova situação atual e um novo ciclo se inicia (figura 3.3)

Etapas Ciclo Evolutivo dos Modelos

Definir Foco do

Projeto

Elaborar Plano do

Projeto

Avaliar Processo /

Arquitetura AS-IS

Projetar o

Processo TO-BE

Projetar

Arquitetura TO-BE

Modelar o

Processo AS-IS

Modelar a

Arquitetura AS-IS

Elaborar o Plano

de Implantação da

Situação TO-BE

Executar a

Implantação da

Situação TO-BE

as-is to-beto-beto-beas-is as-is

...

modelagem de melhorias

modelagem de melhorias

modelagem de melhorias

implantaçãode melhorias

implantaçãode melhorias

Figura 3.3 – Abordagem NP2TEC

Esta abordagem se inicia com o levantamento dos macro-processos dentro da organização. A seguir, o projeto é planejado estabelecendo tarefas, prazos, responsabilidades e metas e a ferramenta de modelagem de processos que será utilizada. Na etapa de modelagem do processo as-is, o modelo de negócio atual é levantado em níveis sucessivos de detalhes e representado em uma ferramenta. Durante a etapa de projeto do processo to-be, são geradas idéias de melhorias. A etapa de planejamento da implantação do to-be gera um plano para cuidadosamente viabilizar as propostas de melhoria através de treinamento, mudanças na organização, aquisição de infra-estrutura e serviços. Por último, na etapa de implantação do to-be, o plano é executado com acompanhamento e avaliação, de forma que os resultados possam ser facilmente quantificáveis (figura 3.3). Abordagem Genérica

Page 10: Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia …andrea/teaching/202001/mpn/RevistaFRB-2007.pdf · ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas

Os autores Elzinga et al (1995) conduziram um survey durante quatro anos em empresas americanas e verificaram que a abordagem adotada para gestão de processos de negócio varia em cada uma delas. Entretanto, esta diversidade de métodos pode ser resumida em uma abordagem genérica (figura 3.4).

Figura 3.4 – Abordagem Genérica para Modelagem de Negócio Adaptado de (ELZINGA et al., 1995)

• Preparação: O passo inicial é a declaração dos objetivos, missão e visão da empresa. O estabelecimento dos fatores críticos de sucesso é um passo importante, pois ajuda a identificar aquelas ações que são absolutamente necessárias. O último passo é estabelecer um comitê executivo responsável por orientar e acompanhar as atividades de melhoria nos processos.

• Seleção do Processo: O comitê executivo é o responsável pela seleção do processo

que será estudado, analisado e melhorado. A decisão deve considerar os fatores críticos de sucesso e as informações sobre benchmarking. O processo selecionado deve possuir um gestor responsável que escolhe a equipe para executar o trabalho.

• Descrição do Processo: A situação atual (as-is) do processo é detalhadamente

documentada para que se tenha uma definição comum e compartilhada do processo. O primeiro passo é limitar as fronteiras do processo. Em seguida, é necessário utilizar uma linguagem gráfica para representar o fluxo do processo.

• Quantificação do Processo: Identificar gargalos de recursos ou oportunidades de

melhorias. As atividades que agregam valor são separadas das outras. As informações sobre recursos, custo e prazo são utilizadas nas simulações dos processos para que as oportunidades de redução do ciclo de execução sejam detectadas.

• Seleção das Melhorias no Processo: As oportunidades de melhorias identificadas

nas fases anteriores são selecionadas de acordo com os benefícios potenciais. Em alguns casos podem ser feitas melhorias incrementais ou mudanças mais amplas.

• Implementação: As melhorias recomendadas devem ser implementadas no

processo. Uma nova descrição do processo (to-be) é criada. Cada melhoria implementada deve ser monitorada durante o tempo e os seus resultados reais comparados com os projetados. Nesta etapa também é importante gerenciar a dificuldade das pessoas para aceitar as mudanças no seu trabalho.

Page 11: Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia …andrea/teaching/202001/mpn/RevistaFRB-2007.pdf · ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas

• Benchmarking: busca por novas idéias, métodos, práticas ou processos, em

comparação com as melhores práticas encontradas no mercado. Da Modelagem de Processos para a Definição da Tecnologia de Suporte à Organização As organizações têm criado seus modelos de negócio a partir da definição de processos ligados às suas metas e estratégias. Como apresentado na seção anterior, a definição dos processos dá à organização um retrato de sua situação atual e é uma forma de vislumbrar possíveis alternativas para sua melhoria. Muitas vezes a melhoria do processo vem através da implementação de sistemas que apóiam sua execução, pois em geral explicitam as atividades e permitem controle e integração dos processos. Porém, antes de se pensar em desenvolver sistemas, há a necessidade da definição de uma Arquitetura Tecnológica Corporativa (BOTTO, 2004) que possa apoiar toda a construção e implantação de software na organização de maneira facilitada e otimizada. O uso efetivo de tecnologia da informação visando o suporte aos processos de negócio tem sido largamente discutido. Muitas idéias têm surgido, dentre elas o alinhamento das estratégias de tecnologia com a arquitetura para desenho, execução, monitoramento e gerência dos processos de negócio, criação de parcerias entre os gestores dos processos de negócio e a área de tecnologia, descoberta de vários caminhos de sucessos com a integração de tecnologia aos processos de negócio entre outros. Com o objetivo de fornecer uma solução moldada para a organização, a estratégia proposta neste artigo para a definição da tecnologia necessária ao suporte computacional para a organização parte do Modelo de Processos da organização para a definição de uma Arquitetura Tecnológica Corporativa (BOTTO, 2004) sobre a qual deverão ser construídos todos os Sistemas necessários para suporte à operação e gestão organizacional (figura 4.1).

Page 12: Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia …andrea/teaching/202001/mpn/RevistaFRB-2007.pdf · ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas

Figura 4.1 – Estratégia para Gestão Integrada de Processos e

Tecnologia da Informação em Organizações

Os benefícios que podem ser alcançados pela organização com a adoção desta estratégia são:

• Aderência das aplicações de TI aos processos de negócio de forma integrada; • Aumento da disponibilidade dos sistemas; • Flexibilidade para adaptação às mudanças do negócio; • Estabelecimento de fontes de dados corporativas; • Alinhamento da TI com o negócio; • Direcionamento estratégico da TI; • Melhoria do planejamento de TI; • Redução de custos de TI; • Melhor previsão de riscos de projetos de software; • Apoio ao desenvolvimento de sistemas com a adoção de tecnologias

padronizadas; • Aumento de produtividade na entrega de produtos ao negócio; • Maior agilidade para identificação de tendências no direcionamento estratégico

da organização.

Conclusão

Page 13: Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia …andrea/teaching/202001/mpn/RevistaFRB-2007.pdf · ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas

A estratégia do NP2Tec para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia da Informação apresentada neste artigo demonstra que a construção de aplicações computacionais deve estar totalmente aderente ao processo de negócio através da definição de uma arquitetura tecnológica corporativa a partir da modelagem dos processos. Para isso, aplica métodos de modelagem de processos, se utiliza de ferramentas que suportam desde a modelagem até a gestão dos processos, define meta-modelos para construção dos mapas de processos, estabelece a arquitetura corporativa com vistas à Matriz de Zachman (ZACHMAN, 1987) e implementa sistemas integrados a esta arquitetura que apóia os processos de negócio. Esta abordagem é adequada para resolver parte do problema da organização com relação ao alinhamento de suas soluções de tecnologia aos seus processos. No entanto, se realizada sob uma arquitetura tecnológica não integrada, pode contribuir para uma grande diversidade de soluções adotadas pela organização. Desta forma estará provendo melhorias “pontuais” nos processos de negócio, porém não terá uma visão integrada e corporativa da arquitetura de tecnologia da organização. Desta forma, qualquer iniciativa de modelagem de processos de negócio em uma organização deve ser atrelada não só à identificação das aplicações necessárias para sua automação, mas ao desenho da Arquitetura Tecnológica Corporativa (dados, aplicação e tecnologia) para seu suporte de forma integral. Este artigo apresentou a estratégia de gestão de processos de negócio, que compreende desde o seu planejamento estratégico, a modelagem dos processos de negócio, o desenho da arquitetura tecnológica para só então definir, desenvolver e implantar soluções de TI para a organização, e focou no detalhamento da fase de Modelagem de Processos de Negócio, onde foram apresentados os conceitos envolvidos nesta fase e os benefícios alcançados.

Referências ARAUJO, R. M. Ampliando a Cultura de Processos de Software: Um enfoque baseado em Groupware e Workflow. 2000. 240 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Sistemas e Computação) — COPPE/UFRJ, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2000. ARAUJO, R.; BORGES.M. Sistemas de Workflow. In: Jornadas de Atualização em Informática (JAI) – Congresso da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), 21., 2001, Fortaleza. Anais: As tecnologias da informação e a questão social. Fortaleza: SBC, 2001. v. 2, ISBN: 85-88442-04-3. Disponível em: http://chord.nce.ufrj.br/cursos/teesi/textos/apostilaJai2001div.pdf. Acesso em: 27 fev. 2005. 38 p. ARAUJO, R. M. et al. A Definição de Processos de Software sob o ponto de vista da Gestão de Processos de Negócio. In: Simpósio Internacional de Melhoria de Processos de Software (SIMPROS), 6., 2004, São Paulo. Anais...São Paulo: SIMPROS, 2004. Disponível em: http://www.simpros.com.br/Apresentacoes_PDF/Artigos/Art_03_Simpros2004.pdf.

Page 14: Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia …andrea/teaching/202001/mpn/RevistaFRB-2007.pdf · ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas

Acesso em: 16 jan. 2005. 10 p. BARBIERI, C. BI – Business Intelligence – Modelagem e Tecnologia, Axcel Books, 2001 BOTTO, R. Arquitetura Corporativa de Tecnologia da Informação, Brasport, 2004. CAMEIRA, R. F.; CAULLIRAUX, H. M. Engenharia de Processos de Negócios: Considerações Metodológicas com Vistas à Análise e Integração de Processos. In: Simpósio de Administração da Produção Logística e Operações Internacionais (SIMPOI), 3., 2000, São Paulo. Disponível em: http://www.gpi.ufrj.br/index.html. CRUZ, T. Workflow: A Tecnologia que vai Revolucionar Processos. São Paulo: Atlas. 2000. 2 ed. ISBN: 85-224-2618-0. 226 p. CRUZ, T. Uso e Desuso de Sistemas de Workflow. 2005. 124 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) — COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. CRUZ, T. Uso e Desuso de Sistemas de Workflow: Porque as organizações não conseguem obter retorno, nem sucesso, com investimentos em projetos de workflow. Rio de Janeiro: e-papers. 2006. ISBN: 85-7650-059-0. 1916 p. CMU-SEI. Capability Maturity Model Integration . Pittsburgh: Carnegie Mellon University, Software Engineering Institute. v. 1.1. 2001. Disponível em: http://www.sei.cmu.edu/cmmi. Acesso em: 06 dez. 2005. ELZINGA, D. J. et al. Business Process Management: Survey and Methodology. IEEE Transactions on Engineering Management, v. 42, no. 2, Mai. 1995, p.119-128. Disponível em: http://ieeexplore.ieee.org Acesso em: 20 fev. 2005. ERIKSSON, H.; PENKER, M. Business Modeling with UML: Business Patterns at Work . John Wiley & Sons, 2000. GONÇALVES, J.E.L. As Empresas são Grandes Coleções de Processos. Revista de Administração de Empresas (RAE), v. 40, no. 1, São Paulo, 2000. 14 p. Disponível em: http://www.abeprojovem.ufjf.br/dnloads/empresas.pdf. Acesso em: 23 abril 2006. HINRICHSEN, A. C. P. de A. MNOO-CASE – Uma ferramenta CASE para a Modelagem de Negócio Orientada a Objeto. 2005. 139 f. Dissertação (Mestrado em Informática) — Núcleo de Computação Eletrônica/Instituto de Matemática, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. IDS SCHEER. ARIS Method. 2003. 2087 p. PROFORMA. Enterprise Application Modeling: Vision and strategy for the ongoing development of the Provision Modeling Suite. 2003. Disponível em:

Page 15: Uma Estratégia para Gestão Integrada de Processos e Tecnologia …andrea/teaching/202001/mpn/RevistaFRB-2007.pdf · ameaças do mercado. Em uma economia globalizada, as empresas

http://www.proformacorp.com/Downloads/files/wps/wp-eam.pdf. Acesso em: 05 out. 2005. 26 p. RUP, Rational Unified Process 2002, Rational Software Corporation. Disponível em: http://www-306.ibm.com/software/rational/. Acesso em: 05 ago. 2006. SANTOS, R. P. C. et al. Engenharia de Processos de Negócios: aplicações e metodologias. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção (ENEGEP), 22., 2002, Curitiba. Disponível em: http://www.gpi.ufrj.br/index.html. Acesso em: 02 ago.2006. 8 p. SHARP, A.; MCDERMOTT, P. Workflow Modeling: Tools for Process Improvement and Application Development. Norwood: Artech House, 2000. ISBN: 1-58053-021-4. 345 p. SILVA, A.V., Modelagem de Processos para Implementação de Workflow: Uma Avaliação Crítica. 2001. Tese de M.Sc., COPPE/UFRJ, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. ZACHMAN, J. A Framework for Information Systems Architecture. IBM Systems Journal, vol. 26, no. 3, 1987. ZAIRI, M. Business Process Management: a boundaryless approach to modern competitiveness. Business Process Management Journal, v. 3, no. 1, 1997. Disponível em: Disponível em: http://emeraldinsight.com. Acesso em: 28 março, 2006. 17 p.