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A história está se repetindo, e as coisas não correram bem da última vez.
Alexandria não tem certeza de que vai conseguir sobreviver até seu aniversário de dezoito anos – até o seu Despertar. Uma ordem fanática há muito esquecida está tentando matá-la, e se o Conselho alguma vez descobrir o que ela fez no Catskills, ela é um caso perdido... e Aiden também.
Se isso não é ruim o suficiente, sempre que Alex e Seth passam tempo "treinando" - o que realmente é apenas a palavra de código de Seth para algum tempo de contato próximo e pessoal - ela acaba com outra marca de Apollyon, o que a traz um passo mais perto de Despertar antes do previsto. Ótimo.
Mas à medida que o seu aniversário se aproxima, seu mundo inteiro quebra com uma revelação surpreendente e ela fica presa entre o amor e o destino. Um vai fazer de tudo para protegê-la. Um tem mentido para ela desde o início. Uma vez que os deuses se revelarem, libertando sua ira, vidas serão irrevogavelmente mudadas... e destruídas.
Os que sobreviverem vão descobrir se o amor é realmente maior do que o destino...
Guia de
pronunciação
para
Daimon: DEE-mun
Aether: EE-ther
Hematoi: HEM-a-toy
Apollyon: a-POL-ee-on
Agapi: ah-GAH-pee
Akasha: ah-KAH-sha
Zoi mou: ZOY moo
S
Um
eda vermelha se agarrava aos meus quadris, torcendo-se em um
corpete apertado que acentuava as minhas curvas. Meu cabelo estava solto,
sedoso em volta dos meus ombros como as pétalas de uma flor exótica. As luzes
no salão pegavam cada curva do tecido, de modo que, a cada passo, parecia que
eu estava florescendo do fogo.
Ele parou, lábios se abrindo como se a simples visão de mim tivesse o
tornado incapaz de fazer qualquer outra coisa. Um rubor quente tomou a minha
pele. Isso não terminaria bem - não quando nós estávamos cercados por pessoas
e ele estava olhando para mim desse jeito, mas eu não podia me forçar a ir
embora. Eu pertencia aqui, com ele. Essa havia sido a escolha certa.
A escolha que eu... não havia feito.
Os dançarinos se moviam lentamente a minha volta, seus rostos escondidos
atrás de impressionantes máscaras incrustadas de joias. A melodia assombrosa
que a orquestra tocava deslizava pela minha pele e se afundava nos meus ossos
enquanto os dançarinos se separavam.
Nada nos separava.
Eu tentei respirar, mas ele não havia roubado apenas o meu coração, mas o
ar que eu precisava.
Ele estava parado lá, vestido com um smoking preto de corte feito para se
ajustar às linhas duras do seu corpo. Um sorriso torto, cheio de malícia e
brincadeira, curvava seus lábios enquanto ele se curvava na cintura, estendendo
seu braço na minha direção.
Minhas pernas estavam fracas quando eu dei o primeiro passo. As luzes
cintilantes de cima iluminaram o caminho até ele, mas eu o teria encontrado no
escuro se necessário. A batida de seu coração parecia com a minha.
Seu sorriso aumentou.
Esse era todo o incentivo que eu precisava. Eu disparei na direção dele, o
vestido fluindo atrás de mim em um rio de seda escarlate. Ele se endireitou,
pegando-me pela cintura enquanto eu colocava meus braços ao redor de seu
pescoço. Eu enterrei meu rosto contra seu peito, absorvendo o cheiro do oceano e
de folhas queimadas.
Todo mundo estava assistindo, mas isso não importava. Nós estávamos em
nosso próprio mundo, onde apenas o que nós queríamos - o que nós desejamos
por tanto tempo - importava.
Ele riu profundamente, enquanto me girava. Meus pés nem mesmo tocavam
o piso do salão. — Tão imprudente. — Ele murmurou.
Eu sorri em resposta, sabendo que ele secretamente amava essa parte de
mim.
Colocando-me de pé, pegou minha mão e colocou a outra na parte debaixo
das minhas costas. Quando falou novamente, sua voz era um sussurro baixo,
abafado. — Você está tão linda, Alex.
Meu coração se encheu. — Eu te amo, Aiden.
Ele beijou o topo da minha cabeça, e então nós giramos em círculos
vertiginosos. Casais lentamente se juntaram a nós, e eu peguei vislumbres de
sorrisos largos e olhos estranhos por trás das máscaras - olhos completamente
brancos, sem íris. Uma inquietação tomou conta. Aqueles olhos... Eu sabia o que
eles significavam. Nós fomos levados para um canto onde eu ouvi choros suaves
vindo da escuridão.
Olhei para o canto escuro do salão. — Aiden...?
— Shh. — Sua mão deslizou pela minha espinha e segurou a minha nuca. —
Você me ama?
Nossos olhos se encontraram e pararam. — Sim. Sim. Eu te amo mais do
que qualquer coisa.
O sorriso de Aiden desapareceu. — Você me ama mais do que a ele?
Paralisei em seu repentino abraço frouxo.
— Mais do que quem?
— Ele, — Aiden repetiu. — Você me ama mais do que ele?
Meu olhar passou por ele e foi novamente para a escuridão. Um homem
estava de costas para nós. Ele estava pressionado contra uma mulher, seus
lábios no pescoço dela.
— Você me ama mais do que ele?
— Quem? — Tentei chegar mais perto, mas ele me segurou longe. Incerteza
floresceu na minha barriga quando eu vi a decepção em seus olhos prateados. —
Aiden, o que há de errado?
— Você não me ama. — Ele deixa suas mãos caírem, dando um passo para
trás. — Não quando você está com ele, quando você o escolhe.
O homem vira, ficando de frente para nós. Seth sorri, seu olhar oferecendo
um mundo de promessas obscuras. Promessas que eu havia concordado, que
havia escolhido.
— Você não me ama, — Aiden disse de novo, sumindo nas sombras. — Você
não pode. Nunca pôde.
Eu tento alcança-lo. — Mas...
Era tarde demais. Os dançarinos se juntaram e eu estava perdida em um
mar de vestidos e palavras sussurradas. Eu os empurrei, mas não consegui
passar por eles, não conseguia encontrar Aiden ou Seth. Alguém me empurrou e
eu caí de joelhos, a seda vermelha se rasgando. Gritei por Aiden e então por Seth,
mas nenhum deu atenção aos meus pedidos. Eu estava perdida, encarando os
rostos atrás das máscaras, encarando os olhos estranhos. Eu conhecia aqueles
olhos.
Eles eram os olhos dos deuses.
Eu me levantei repentinamente da cama, uma fina camada de suor cobrindo
o meu corpo enquanto o meu coração continuava tentando sair do meu peito.
Vários momentos se passaram antes que os meus olhos se ajustassem à
escuridão e eu reconhecesse as paredes vazias do meu dormitório.
— Que diabos? — Eu passei minha mão sobre a minha testa quente e
úmida. Fechei os meus olhos lacrimejantes.
— Humm? — Murmurou um meio acordado Seth.
Eu espirrei em resposta, uma vez, e então duas vezes.
— Isso é sexy. — Ele cegamente alcançou a caixa de lenços. — Não acredito
que você ainda está doente. Aqui.
Suspirando, peguei a caixa de lenços dele e embalei a caixa no meu peito
enquanto pegava alguns lenços. — É culpa sua... atchim! Foi sua ideia estúpida
de ir nadar num... atchim!... Clima de dez graus, seu idiota.
— Eu não estou doente.
Limpei meu nariz, esperando mais alguns segundos para me certificar que
eu tinha terminado de espirrar meu cérebro para fora, e então deixei a caixa de
lenços cair no chão. Resfriados são uma droga. Nos meus dezessete anos de vida,
eu nunca havia pegado um resfriado até agora. Eu nem mesmo sabia que podia
pegar um. — Você não é simplesmente tão malditamente especial?
— Pode apostar, — Foi sua resposta abafada.
Virando-me pela cintura, eu encarei a nuca do Seth. Ele quase parecia
normal com seu rosto plantado no travesseiro - meu travesseiro. Não como
alguém que se tornaria um Matador de Deuses em menos de quatro meses. Para
o nosso mundo, Seth era como qualquer outra criatura mística: lindo, mas
francamente mortal. — Eu tive um sonho estranho.
Seth virou de lado. — Vem aqui. Volte a dormir.
Desde que nós retornamos do Catskills uma semana atrás, ele estava
pegando no meu pé como nunca antes. Não era como se eu não entendesse o
porquê, com todo o problema com as fúrias e eu matando um puro. Ele
provavelmente nunca iria me deixar sair da vista dele novamente. — Você
realmente precisa começar a dormir na sua própria cama.
Ele virou um pouco sua cabeça. Um sorriso sonolento se espalhou em seu
rosto. — Eu prefiro a sua cama.
— Eu preferia que nós realmente celebrássemos o Natal aqui, e então eu
ganharia alguns presentes de Natal e cantaria músicas de Natal, mas não consigo
tudo o que quero.
Seth me puxou para baixo, seu braço fez um peso que me prendeu de
costas. — Alex, eu sempre consigo o que quero.
Arrepios se espalharam pela minha pele. — Seth?
— Sim?
— Você estava no meu sonho.
Um olho cor de âmbar se abriu. — Por favor, me diga que nós estávamos
pelados.
Eu revirei meus olhos. — Você é tão pervertido.
Ele suspirou pesarosamente enquanto se aproximava. — Vou tomar isso
como um não.
— Pode estar certo disso. — Incapaz de voltar a dormir, comecei a morder
meu lábio. Tantas preocupações surgiram de uma vez que o meu cérebro girou.
— Seth?
— Humm?
Eu o vi se aconchegar mais no travesseiro antes que eu continuasse. Havia
algo de encantador sobre o Seth quando ele estava assim, uma vulnerabilidade e
infantilidade que faltava quando estava totalmente acordado. — O que aconteceu
quando eu estava lutando com as fúrias?
Seus olhos se abriram em fendas finas. Esta era uma pergunta que eu havia
feito diversas vezes desde que nós retornamos da Carolina do Norte. O tipo de
força e poder que eu havia demonstrado enquanto enfrentava os deuses era algo
que apenas o Seth, um Apollyon completo, deveria ter sido capaz de realizar.
Eu, como uma mestiça não-Despertada? Sim, acho que não. Eu deveria ter
meu traseiro espancado quando lutei com as fúrias.
A boca do Seth ficou tensa. — Volte a dormir, Alex.
Ele se recusou a responder. De novo. Raiva e frustração chegaram à
superfície. Eu tirei o braço dele de mim. — O que você não está me contando?
— Você está sendo paranoica. — Seu braço pousou no meu estômago de
novo.
Tentei sair do seu alcance, mas seu aperto aumentou. Rangendo os dentes,
eu virei de lado e me acomodei ao lado dele. — Não estou sendo paranoica, seu
idiota. Algo aconteceu. Eu te falei isso. Tudo... tudo parecia ter a cor âmbar.
Como seus olhos.
Ele soltou um longo suspiro. — Eu já ouvi que pessoas em altos níveis de
estresse têm um aumento na força e nos sentidos.
— Não foi isso.
— E que as pessoas podem alucinar quando sob pressão.
Balancei meu braço para trás, por pouco não acertando a cabeça dele. — Eu
não alucinei.
— Não sei o que te dizer. — Seth ergueu seu braço e virou de costas. — De
qualquer forma, você vai voltar para as aulas de manhã? — Instantaneamente
uma nova preocupação surgiu.
Aulas significavam encarar todo mundo - Olívia - sem o meu melhor amigo.
A pressão cresceu no meu peito. Eu apertei meus olhos, mas o rosto pálido do
Caleb apareceu, olhos arregalados e cegos, uma adaga do Covenant enfiada
profundamente em seu peito. Parecia que eu apenas conseguia me lembrar como
era realmente a aparência dele nos meus sonhos.
Seth sentou-se, e eu senti os olhos dele fazendo buracos nas minhas costas.
— Alex...?
Eu odiava a nossa super ligação especial - absolutamente odiava que seja
qual fosse o meu sentimento, isso passava para ele. Não havia mais privacidade.
Suspirei. — Estou bem.
Ele não respondeu.
— Sim, eu vou para a aula de manhã. Marcus terá um ataque quando voltar
e perceber que eu não estou indo para a aula. — Coloquei-me de costas. — Seth?
Ele inclinou a cabeça na minha direção. Sombras camuflavam suas feições,
mas seus olhos cortaram a escuridão. — Sim?
— Quando você acha que eles vão voltar? — Por eles eu queria dizer Marcus
e Lucian... E Aiden. Minha respiração ficou presa. Isso acontecia sempre que eu
pensava no Aiden e no que ele havia feito por mim - o que ele havia arriscado.
Acomodando-se na cama, Seth me alcançou e pegou a minha mão direita.
Seus dedos se entrelaçaram nos meus, uma palma na outra. Minha pele formigou
em resposta. A marca do Apollyon - aquela que não deveria estar na minha mão -
esquentou. Eu encarei nossas mãos juntas, nem um pouco surpresa quando vi
os leves traços - também marcas do Apollyon - subindo pelo braço do Seth. Eu
virei minha cabeça, observando as marcas se espalharem pelo rosto do Seth.
Seus olhos pareciam ter ficado mais claros. Eles estavam fazendo isso com mais
frequência ultimamente, as runas e seus olhos.
— Lucian disse que eles voltariam logo, possivelmente mais tarde hoje. —
Muito lentamente, ele moveu o seu polegar pela linha da runa. Meus dedos do pé
se curvaram quando a minha mão livre se afundou nas cobertas. Seth sorriu. —
Ninguém mencionou o Guarda puro-sangue. E Dawn Samos já retornou. Parece
que a compulsão do Aiden funcionou.
Eu queria soltar minha mão. Era difícil se concentrar quando o Seth mexia
com a runa na minha mão. Claro, ele sabia disso. E sendo o idiota que era, ele
gostava.
— Ninguém sabe o que realmente aconteceu. — O polegar dele agora traçava
a linha horizontal. — E permanecerá dessa forma.
Meus olhos se fecharam. A verdade de como o Guarda puro-sangue havia
morrido teria que permanecer em segredo, ou tanto Aiden quanto eu estaríamos
em apuros. Não apenas nós tínhamos quase ficado durante o verão - e então eu
tive que ir e contar a ele que eu o amava, o que era totalmente proibido - eu havia
matado um puro-sangue em auto-defesa. E Aiden havia usado compulsão em
dois puros para encobrir tudo. Matar um puro significava morte para um
mestiço, não importa a situação, e um puro era proibido de usar compulsão em
outro puro. Se alguma coisa sobre isso escapasse, nós dois estaríamos totalmente
ferrados.
— Você acha? — Sussurrei.
— Sim. — A respiração de Seth estava quente na minha têmpora. — Vá
dormir, Alex.
Deixando a sensação calmante de seu polegar contra a runa me acalmar, eu
voltei a dormir, momentaneamente esquecendo todos os erros e decisões que
tomei nos últimos sete meses. O meu último pensamento consciente foi o meu
maior erro - não no garoto ao meu lado, mas naquele que eu nunca poderia ter.
Em um dia bom e normal, eu odiava a aula de trigonometria. Quem se
importava com Pitágoras quando eu estava frequentando o Covenant para
aprender como matar coisas? Mas hoje o meu ódio pela aula tinha atingido outro
nível.
Quase todo mundo estava com os olhos em mim, até a Sra. Kateris. Eu
afundei no meu assento, enfiando o meu nariz no livro que eu não iria ler nem
que o Apollo descesse e exigisse que o fizesse. Apenas um par de olhos realmente
me afetava. O resto podia ir se ferrar.
O olhar de Olivia era pesado, condenador.
Por que, ah por que, nós não podíamos trocar de lugares? Depois de tudo
que aconteceu, sentar ao lado dela era o pior tipo de tortura.
Minhas bochechas queimavam. Ela me odiava, me culpava pela morte do
Caleb. Mas eu não havia matado Caleb - um daimon mestiço havia feito isso. Eu
apenas tinha sido aquela que havia feito ele sair escondido do campus que estava
sob toque de recolher, que no final das contas, era mesmo preciso.
Então de uma forma, era minha culpa. Eu sabia disso, e deuses, eu faria
qualquer coisa para mudar aquela noite.
A explosão de Olivia no funeral de Caleb era provavelmente o motivo de todo
mundo estar me olhando. Se eu me lembrava corretamente, acho que ela gritou
algo como, — Você é o Apollyon. — Enquanto eu a encarava.
Lá no Covenant de Nova Iorque no Catskills, os garotos mestiços haviam
achado que eu era bem legal, mas aqui - nem tanto. Quando eu encontrava os
olhares deles, eles não desviavam o olhar rápido o bastante para esconder o seu
desconforto.
No final da aula, enfiei meu livro na mochila e me apressei para a porta, me
perguntando se o Deacon falaria comigo na próxima aula. Deacon e Aiden eram
polos opostos em quase tudo, mas tanto Aiden quanto seu irmão mais novo
pareciam ver os mestiços como seus iguais - uma coisa rara entre a raça puro-
sangue.
Sussurros me seguiram pelo corredor. Ignorá-los era mais difícil do que eu
imaginei. Cada célula no meu corpo exigia que eu os confrontasse. E fazer o quê?
Pular neles como uma aranha macaca louca e derrubar a todos? Sim, eu não
ganharia nenhum fã com isso.
— Alex! Espera!
O meu coração se afundou com o som da voz de Olivia. Eu acelerei minha
passada, praticamente derrubando alguns mestiços mais jovens que me
encaravam com olhos arregalados e assustados. Por que eles estavam com medo
de mim? Não era eu que viraria Matadora de Deuses logo. Mas ah não, eles viam
o Seth como se ele fosse um deus. Apenas mais algumas portas e eu poderia me
esconder na aula de Verdades Técnicas e Lendas.
— Alex!
Reconheci o tom de Olivia. Era o mesmo que ela usava sempre que ela e
Caleb estavam prestes a ter uma de suas desavenças - determinada e teimosa
como o inferno.
Merda.
Ela estava bem atrás de mim agora e eu estava apenas a um passo da minha
aula. Eu não iria conseguir. — Alex, — ela disse. — Nós precisamos conversar.
— Não vou fazer isso agora. — Porque realmente, me dizer que era minha
culpa que o Caleb estava morto não estava no topo da minha lista de coisas para
ouvir hoje.
Olivia pegou o meu braço. — Alex, eu preciso falar contigo. Sei que você está
chateada, mas você não é a única que tem permissão de sentir falta de Caleb. Eu
era a namorada dele...
Eu parei de pensar. Me virando, deixei minha bolsa cair no meio do corredor
e a peguei pelo pescoço. Em um segundo, eu a tinha contra a parede e na ponta
dos dedos. De olhos arregalados, ela pegou o meu braço e tentou me empurrar.
Eu apertei um pouquinho.
Do canto dos meus olhos eu vi a Lea, seu braço não mais com a braçadeira.
O daimon mestiço que havia quebrado o braço dela também havia matado o
Caleb. Lea deu um passo para frente como se ela quisesse interferir.
— Olha, eu entendo, — Sussurrei roucamente. — Você amava Caleb.
Adivinha? Eu também. E sinto a falta dele, também. Se pudesse voltar no tempo
e mudar aquela noite, eu faria isso. Mas eu não posso. Então, por favor, apenas
me deixe...
Um braço do tamanho da minha cintura apareceu do nada e me jogou para
trás uns bons três metros. Olivia desabou contra a parede, esfregando seu
pescoço.
Eu me virei e gemi.
Leon, o Rei do Tempo Impecável, me olhava de cara feia. — Você está
precisando de uma babá profissional.
Abri minha boca, mas então a fechei. Considerando algumas coisas que o
Leon interrompeu no passado, ele não tinha ideia de como a afirmação dele era
verdadeira. Mas então eu percebi algo mais importante. Se Leon estava de volta,
então meu tio e Aiden também haviam voltado.
— Você, — Leon gesticulou para Olivia, — Volte para a aula. — Ele virou sua
atenção de volta para mim. — Você vai vir comigo.
Mordendo minha língua, peguei minha mochila do chão e comecei a minha
caminhada da vergonha pelo corredor agora lotado. Eu peguei um lampejo de
Luke, mas desviei o olhar antes que pudesse avaliar sua expressão.
Leon pegou as escadas - deuses sabem como eu as amava - e nós não
conversamos até estarmos no lobby. As estátuas das fúrias tinham sumido, mas
o espaço vazio deixou um buraco no meu estômago. Elas voltariam. Eu tinha
certeza disso. Era só uma questão de quando.
Ele se elevou sobre mim quando ele parou, quase 2.10 metros de puro
músculo. — Por que é que toda vez que eu te vejo, você está prestes a fazer algo
que não deveria?
Dou de ombros. — É um talento.
Um divertimento relutante cintilou através de seu rosto enquanto ele tirava
algo do seu bolso traseiro. Parecia como um pedaço de um pergaminho. — Aiden
me pediu para dar isso a você.
Meu estômago afundou quando alcancei a carta, as mãos tremendo. — Ele...
Ele está bem?
Suas sobrancelhas se enrugaram. — Sim. O Aiden está bem.
Eu nem mesmo tentei esconder o meu suspiro de alívio quando virei a carta.
Estava selada com um carimbo vermelho de aparência oficial. Quando eu olhei
para cima, Leon havia sumido. Balançando minha cabeça, fui até um dos bancos
de mármore e sentei. Eu não tinha ideia de como o Leon conseguia mexer um
corpo tão maciço de forma tão furtiva. O chão deveria tremer quando ele
passasse.
Curiosa, deslizei meu dedo sob o vinco e quebrei o selo. Desdobrando a
carta, eu vi a assinatura elegante da Laadan na parte inferior. E rapidamente li o
pergaminho de uma vez, e então voltei para o início e li novamente.
E eu li uma terceira vez.
Senti um calor e um frio insuportável de uma vez. Minha boca secou, a
garganta se fechou. Leves tremores atormentavam meus dedos, fazendo com que
o papel se mexesse. Eu fiquei em pé e então me sentei. As quatro palavras sendo
repetidas diante dos meus olhos. Era tudo o que eu podia ver. Tudo que eu
queria saber.
Seu pai está vivo.
C
Dois
om o coração acelerado, eu subi dois degraus por vez. Espiando Leon
perto do escritório do meu tio, eu comecei a correr. Ele parecia levemente
alarmado quando me viu.
— O que foi Alexandra?
Eu parei repentinamente. — Aiden deu isso a você?
Leon franziu a testa. — Sim.
— Você leu?
— Não. Não era endereçado a mim.
Apertei a carta ao meu peito. — Você sabe onde Aiden está?
— Sim. — O franzido na testa dele se tornou severo. — Ele está de volta
desde ontem à noite.
— Onde ele está nesse momento, Leon? Eu preciso saber.
— Não vejo por que haveria alguma razão para você precisar do Aiden tanto
assim para interromper o treinamento dele. — Ele cruzou seus grossos braços no
peito. — E você não deveria estar indo para a aula?
Eu o olhei por um momento antes de me virar e dar o fora novamente. Leon
não era estúpido, então não havia me dito acidentalmente onde o Aiden estava,
mas eu não me importava o bastante para procurar o motivo por detrás disso.
Se Aiden estava treinando, então eu sabia onde encontra-lo. Uma brisa
úmida e fria pulverizou minhas bochechas quando eu passei pelas portas do
lobby e segui na direção da área de treinamento. O céu cinza leitoso era típico do
final de novembro, fazendo parecer como se o verão já tivesse sido há muito
tempo atrás.
As aulas para as turmas de nível inferior estavam sendo dadas nas salas
maiores de treinamento. O latido impaciente do treinador Romvi por detrás de
uma das portas fechadas seguiu meus passos rápidos por um corredor vazio. Em
direção ao final do último prédio, cruzando a sala médica onde o Aiden havia me
trazido depois que o Kain havia me dado uma surra no treinamento, era uma sala
menor equipada com necessidades básicas e uma câmara de privação sensorial.
Eu ainda não havia treinado naquela coisa.
Espiando pela fresta da porta, eu vi Aiden. Ele estava no meio do tapete,
brigando com um saco de pancadas. Um brilho fino de suor revestia seus
músculos enquanto ele balançava, derrubando o saco para trás por alguns
metros.
Qualquer outra hora eu teria admirado-o bem obsessivamente, mas meus
dedos tremiam, apertando a carta. Eu deslizei pela abertura e cruzei a sala.
— Aiden.
Ele virou, os olhos esquentando de um cinza frio para um tom estrondoso.
Ele deu um passo pra trás, limpando a testa com o braço. — Alex, o que... O que
você está fazendo aqui? Você não deveria estar na aula?
Eu ergui a carta. — Você leu o que estava na carta?
Ele tinha o mesmo olhar que Leon. — Não. Laadan me pediu para ter certeza
que você a recebesse.
Por que ela havia confiado no Aiden com essa notícia? Eu não podia sequer
começar a entender isso, a menos que... — Você sabia o que estava nessa carta?
— Não. Ela apenas me pediu para entrega-la a você. — Ele se inclinou,
pegando uma toalha do tapete. — O que tem nessa carta que fez você vir atrás de
mim?
Uma pergunta totalmente sem importância e estúpida veio à tona. — Por que
você a entregou para o Leon?
Ele desviou os olhos, ficando em silêncio. — Eu pensei que seria o melhor.
Meu olhar caiu de seu rosto até o seu pescoço. Lá estava aquela corrente
prateada fina novamente. Eu me cocei para saber o que ele usava, já que ele não
era o tipo de cara que usava joia. Arrastei meus olhos de volta para o seu rosto.
— O meu pai está vivo.
Aiden inclinou sua cabeça na minha direção. — O quê?
Uma sensação amarga se acomodou no meu estômago. — Ele está vivo,
Aiden. E ele está no Covenant de Nova Iorque há anos. Ele estava lá quando eu
estava lá. — O turbilhão de emoções que eu senti quando li a carta pela primeira
vez voltou. — Eu vi ele, Aiden! Eu sei que vi. O servo com os olhos castanhos. E
ele sabia... Ele sabia que eu era a filha dele. Deve ter sido por isso que sempre me
olhava de uma maneira estranha. Provavelmente era por isso que eu era tão
atraída a ele sempre que o via. Eu apenas não sabia.
Aiden parecia pálido embaixo de seu bronze natural. — Posso?
Entreguei a ele a carta e então passei minhas mãos trêmulas pelo meu
cabelo. — Sabe, havia algo diferente nele. Ele nunca parecia dopado como os
outros servos. E quando o Seth e eu estávamos indo embora, eu o vi lutando com
os daimons. — Pausei, respirando fundo. — Eu apenas não sabia, Aiden.
Suas sobrancelhas se franziram enquanto ele examinava a carta. — Deuses.
— Ele murmurou.
Afastando-me dele, abracei meus cotovelos. A sensação doentia que eu
estava protelando fluiu através do meu estômago. A raiva ferveu o sangue em
minhas veias. — Ele é um servo - um maldito servo.
— Você sabe o que isso significa, Alex?
Eu o encaro, chocada por vê-lo tão próximo. De uma vez, sinto o cheiro de
loção pós-barba e água salgada.
— Sim. Que tenho que fazer alguma coisa! Eu tenho que tira-lo de lá. Sei
que não o conheço, mas ele é meu pai. Eu tenho que fazer algo!
Os olhos do Aiden se arregalaram. — Não.
— Não o quê?
Ele dobrou a carta em uma mão e pegou o meu braço com a outra. Eu pisei
firme nos meus calcanhares. — O que você...
— Não aqui. — Ele ordenou baixinho.
Confusa e um pouco atordoada com o fato de que o Aiden estava realmente
me tocando, eu o deixei me levar para o consultório médico do outro lado do
corredor. Ele fechou a porta atrás dele, virando a fechadura. Um calor
desconfortável inundou meu sistema quando percebi que nós estávamos sozinhos
em uma sala sem janelas, e Aiden havia acabado de trancar a porta. Sério, eu
precisava me controlar porque essa realmente não era a hora para os meus
hormônios ridículos. Ok, realmente não havia hora nenhuma para isso.
Aiden me encarou. Sua mandíbula ficou tensa. — O que você está
pensando?
— Hum... — Dei um passo para trás. De jeito nenhum eu iria admitir isso.
Então percebi que ele estava bravo - furioso comigo. — O que eu fiz agora?
Ele colocou a carta na mesa que eu havia sentado. — Você não vai fazer algo
louco.
Meus olhos se estreitaram enquanto eu pegava a carta de volta, finalmente
entendendo por que ele estava tão bravo. — Você espera que eu não faça nada? E
apenas deixe o meu pai apodrecer na servidão?
— Você precisa se acalmar.
— Me acalmar? Aquele servo em Nova Iorque é o meu pai. O pai que haviam
me falado que tinha morrido! — De repente, eu me lembrei de Laadan na
biblioteca e como ela havia falado do meu pai, como se ele ainda estivesse vivo. A
raiva meu deu um soco no estômago. Por que ela não me contou? Eu poderia ter
falado com ele. — Como posso me acalmar?
— Eu... Eu não posso imaginar o que você está passando, ou o que está
pensando. — Ele franziu a testa. — Bem, sim, posso imaginar o que está
pensando. Você quer entrar com tudo em Catskills e libertá-lo. Sei que é isso que
está pensando.
Claro que estava.
Ele começou a se aproximar de mim, seus olhos um tom de prata brilhante.
— Não.
Recuei, apertando a carta de Laadan ao meu peito. — Tenho que fazer
alguma coisa.
— Eu sei que você acha que tem que fazer algo, mas Alex, você não pode
voltar ao Catskills.
— Eu não entraria com tudo. — Dei a volta na mesa quando ele se
aproximou. — Pensarei em algo. Talvez eu me meta em problemas. Telly disse que
tudo que eu precisava fazer era cometer mais um erro e eu seria mandada para
Catskills.
Aiden me encarou.
A mesa estava agora entre nós. — Se pudesse voltar lá, então poderia falar
com ele. Eu nunca falei com ele.
— Absolutamente não. — Aiden grunhiu.
Meus músculos ficaram tensos. — Você não pode me impedir.
— Quer apostar? — Ele começou a dar a volta na mesa.
Na verdade não. A ferocidade em sua expressão me disse que ele faria
qualquer coisa para me impedir, o que significava que eu precisava convencê-lo.
— Ele é o meu pai, Aiden. O que você faria se fosse o Deacon?
Golpe baixo, eu sei.
— Nem ouse trazer ele nisso, Alex. Não vou permitir que você se mate. Não
me importo por causa de quem. Eu não vou permitir.
Lágrimas queimaram no fundo da minha garganta. — Eu não posso deixá-lo
naquele tipo de vida. Não posso.
Dor cintilou em seu olhar de aço. — Eu sei, mas ele não vale a sua vida.
Meus braços caíram nas minhas laterais e eu parei de tentar conseguir uma
vantagem sobre ele. — Como você pode tomar essa decisão? — E então as
lágrimas que eu estava tentando segurar se libertaram. — Como eu posso não
fazer nada?
Aiden não diz nada enquanto ele coloca as mãos nos meus antebraços e me
guia até ele. Ao invés de me puxar para o seu abraço, ele vai para trás contra
uma parede e desliza para baixo, me trazendo junto com ele. Eu estava aninhada
em seus braços. Minhas pernas curvadas contra ele, uma das minhas mãos
agarrando sua camiseta.
O fôlego que eu puxei era raso, cheio com um tipo de dor que eu nunca
poderia esquecer. — Estou cansada das pessoas mentirem para mim. Todo
mundo mentiu sobre a minha mãe, e agora isso? Pensei que ele estava morto. E
deuses, eu queria que ele estivesse, porque a morte é muito melhor do que o que
ele tem vivido. — Minha voz se quebrou e mais lágrimas se derramaram pelas
minhas bochechas.
Os braços de Aiden se apertaram ao meu redor e sua mão fez círculos nas
minhas costas para me acalmar. Eu queria parar de chorar porque era fraco e
humilhante, mas eu não podia parar. Descobrir o verdadeiro destino do meu pai
era aterrorizante. Quando o pior das lágrimas passou, me afastei um pouco e
ergui meu olhar lacrimejante.
Ondas sedosas de cabelo escuro grudavam na sua testa e têmporas. A luz
fraca da sala ainda iluminava bochechas salientes e lábios que eu havia
memorizado há muito tempo. Aiden raramente sorria, mas quando ele o fazia, era
de tirar o fôlego. Foram poucas as vezes que eu havia me regozijado naquele raro
sorriso; a última vez havia sido no zoológico.
Vendo ele agora, verdadeiramente vendo-o, a primeira vez depois que ele
havia arriscado tudo para me proteger... Eu queria começar a chorar de novo. Na
última semana, eu havia repassado o que havia acontecido várias vezes. Poderia
ter feito algo diferente? Desarmado o Guarda ao invés de enfiar minha lâmina
profundamente em seu peito? E por que Aiden havia usado compulsão para
encobrir o que eu havia feito? Por que ele arriscaria tanto?
E nada disso parecia importante agora, não depois de descobrir sobre o meu
pai. Limpei os meus olhos com as mãos. — Desculpa por... chorar em você todo.
— Nunca se desculpe por isso, — Ele disse. Esperava que ele fosse me soltar
naquela hora, mas seus braços ainda estavam ao meu redor. Eu sabia que não
deveria, porque apenas me traria um monte de dor depois, mas me deixei relaxar
contra ele. — Você tem uma reação precipitada a tudo.
— O quê?
Ele baixou um braço e deu um tapinha no meu joelho. — É a sua reação
inicial. O pensamento imediato que você tem quando ouve algo. Você age ao invés
de analisar as coisas.
Enterro minha bochecha contra seu peito. — Isso não é um elogio.
Sua mão se moveu para a minha nuca, seus dedos se enroscando na
bagunça do cabelo na minha nuca. Perguntando-me se ele estava ciente do que
estava fazendo, segurei minha respiração. A mão dele se apertou, me segurando
de uma maneira que eu não pudesse me afastar muito. Não que eu fosse - não
importa o quão errado era, o quão perigoso e estúpido.
— Não é um insulto, — ele disse suavemente. — É apenas quem você é. Você
não para pra pensar no perigo, somente no que é certo. Mas algumas vezes não
é... certo.
Eu ponderei sobre isso. — Usar compulsão na Dawn e no outro puro foi uma
reação precipitada?
Ele pareceu demorar para sempre para responder. — Foi, e não foi a coisa
mais inteligente a se fazer, mas eu não poderia fazer outra coisa.
— Por quê?
Aiden não respondeu.
Eu não tentei forçar. Havia um conforto em seus braços, na maneira como
sua mão traçava círculos calmantes ao longo das minhas costas, que eu não
encontraria em outro lugar. Não queria estragar isso. Em seus braços, eu era
mais calma - estranhamente. Eu podia respirar. Sentia-me segura, confiante.
Ninguém oferecia isso. Ele era como a minha receita particular de calmante.
— Se tornar Sentinela foi uma reação precipitada, — Eu sussurrei.
O peito do Aiden subiu e desceu embaixo da minha bochecha. — Sim, foi.
— Você... Se arrepende?
— Nunca.
Eu queria ter esse tipo de confiança. — Não sei o que fazer, Aiden.
O queixo dele se abaixou, roçando na minha bochecha. Sua pele era macia,
quente, arrebatadora, e calmante, tudo de uma vez. — Nós vamos descobrir uma
maneira de entrar em contato com ele. Você disse que ele nunca parecia estar sob
o efeito do Elixir? Nós podíamos mandar uma carta para a Laadan; ela poderia
passar para ele. Esse seria o passo mais seguro.
Meu coração fez uma dança feliz e estúpida. Esperança estava se tornando
descontrolada dentro de mim. — Nós?
— Sim. Eu posso facilmente mandar uma carta para a Laadan - uma
mensagem. É a maneira mais segura nesse momento.
Eu queria apertá-lo, mas me segurei. — Não. Se você for pego... Não posso
deixar isso acontecer.
Aiden riu suavemente. — Alex, nós provavelmente já quebramos cada regra
que há. Não estou preocupado sobre ser pego por passar uma mensagem.
Não, nós não havíamos quebrado todas as regras.
Ele se afastou um pouco, e eu podia sentir o seu olhar intenso no meu rosto.
— Você pensou que eu não ajudaria com algo tão importante como isso?
Mantive meus olhos fechados, porque olhar para ele era uma fraqueza. Ele
era minha fraqueza. — As coisas estão... diferentes.
— Eu sei que as coisas estão diferentes, Alex, mas sempre vou estar do seu
lado. Sempre vou te ajudar. — Ele pausou. — Como você pode duvidar disso?
Como uma tola, eu abri meus olhos. Eu fui sugada totalmente. Era como se
tudo que havia sido dito, tudo que eu conhecia, não importasse mais. — Não
duvido disso. — Sussurrei.
Seus lábios se inclinaram de um lado. — Algumas vezes eu apenas não te
entendo.
— Eu não me entendo metade do tempo. — Abaixei meus olhos. — Você já
fez... tanto. O que você fez em Catskills? — Engoli o caroço na minha garganta. —
Deuses, nunca te agradeci por aquilo.
— Não...
— Não diga que não vale a pena te agradecer. — Meu olhar subiu, se
prendendo ao dele. — Você salvou minha vida, Aiden, ao risco da sua própria.
Então, obrigada.
Ele desviou o olhar, seus olhos se focando em um ponto acima da minha
cabeça. — Eu te falei que nunca deixaria nada acontecer contigo. — Seu olhar
voltou ao meu e divertimento cintilou naquelas piscinas prateadas. — Parece
mais como um trabalho integral, no entanto.
Meus lábios se curvaram. — Eu estive realmente tentando, sabia. Hoje foi o
primeiro dia que fiz algo remotamente estúpido. — Deixei de fora a parte onde eu
tinha ficado isolada em meu quarto com uma gripe horrível.
— O que você fez?
— Você realmente não quer saber.
Ele riu de novo. — Imaginei que Seth estaria te mantendo fora de problemas.
Percebendo que eu não havia pensado em Seth desde o momento em que
havia lido a carta, eu endureci. Nem havia pensado sobre a ligação. Droga.
Aiden respirou fundo e deixou seus braços caírem. — Você sabe o que isso
significa, Alex?
Eu me esforcei para me recompor. Havia coisas importantes a tratar. Meu
pai, o Conselho, Telly, as fúrias, uma dezena ou mais de deuses enfurecidos, e
Seth. Mas meu cérebro parecia mingau. — O quê?
Aiden olhou para a porta, como se ele tivesse medo de falar em voz alta. — O
seu pai não era mortal. Ele é um mestiço.
N
Três
ão voltei para as minhas aulas. Ao invés disso, voltei para o meu
dormitório e me sentei na cama, a carta descansando na minha frente como uma
cobra pronta para espalhar o seu veneno. Estava confusa em saber que o meu
pai ainda estava vivo e... eu me sentia tão estúpida por não ter descoberto isso
logo de cara. A carta da Laadan não disse explicitamente. Obviamente, eu
entendia o porquê ela contornou a bomba verdadeira que havia colocado nessa
carta breve. De que forma o Conselho tinha conseguido ter meu pai sob o
controle deles? E eu havia visto ele lutar. Ele era como um ninja com aqueles
castiçais.
O meu pai era um maldito mestiço - um mestiço treinado. Inferno, ele
provavelmente havia sido um Sentinela, o que totalmente explicava como a minha
mãe o conheceu antes de conhecer o Lucian.
Então o que, pelo sagrado Hades, isso me tornava?
A resposta parecia tão simples. Eu me joguei de costas, encarando
cegamente o teto. Deuses, eu queria o Caleb para falar sobre isso, porque isso
não poderia ser o que era.
Uma pura que tinha um filho com outros puros faziam pequenos e felizes
bebês puros. Um puro que ficava com um mortal criava os sempre úteis mestiços.
Mas um puro-sangue e um mestiço ficando juntos - o que era tão proibido, tão
tabu, que eu não podia pensar em uma situação onde uma criança havia
realmente sido produzida - fazia... O quê?
Eu me ergui subitamente, com o coração trovejando. A primeira vez que
Aiden havia estado no meu dormitório e eu havia olhado para ele - bem, eu estava
cobiçando-o, mas tanto faz - e me perguntei por que os relacionamentos entre os
mestiços e os puros haviam sido proibidos por eras. Não era por medo de um
Ciclope de um olho, mas meio que era.
Um puro-sangue e um mestiço faziam um Apollyon.
— Merda, — eu disse, encarando a carta.
Mas tinha que ser mais do que isso. Havia normalmente um Apollyon
nascido a cada geração, com a exceção de Solaris e o Primeiro, e Seth e eu. O que
deveria significar que um mestiço e um puro apenas produziram uma criança
umas cinco vezes desde o tempo que os deuses andavam nessa terra. Devem ter
havido mais vezes quando isso aconteceu. Ou esses bebês foram mortos? Eu não
descartaria que os puros e os deuses fariam tal coisa se eles soubessem o que
poderia sair ao juntar um puro e um mestiço. Mas por que Seth e eu havíamos
sido poupados? Obviamente eles sabiam o que o meu pai era já que eles o
mantiveram por perto seja por qual for a razão. Meu coração se apertou, assim
como os meus punhos. Empurrei a raiva para longe para voltar a ela depois. Eu
havia prometido a Aiden que não faria nada precipitado, e minha raiva sempre
me levava a algo idiota.
Um arrepio percorreu a minha espinha. Um som veio da porta, bem parecido
com uma fechadura sendo aberta. Eu olhei para a carta, mordendo meu lábio
inferior. Então olhei para o relógio ao lado da cama. Estava atrasada para o meu
treinamento com Seth.
A porta se abriu e fechou. Eu peguei a carta, rapidamente dobrando-a. Eu
sabia o momento que ele parou no batente da porta sem olhar para cima. Um
nível de consciência dançou pela minha pele e o ar se encheu de eletricidade.
— O que aconteceu hoje? — Ele perguntou simplesmente.
Havia pouco que eu podia esconder de Seth. Ele deve ter sentido minhas
emoções desde o momento que eu li a carta e tudo o que eu havia sentido
enquanto estava com Aiden. Ele não saberia exatamente o que estava causando
para deixar meus sentimentos ensandecidos - graças aos deuses - mas o Seth
não era burro. Eu estava um pouco surpresa que ele havia esperado tanto para
vir me encontrar.
Ergui meu olhar. Ele parecia como uma daquelas estátuas de mármore que
enfeitavam a frente de cada prédio daqui, exceto que sua pele era de um tom
único de dourado - uma perfeição de outro mundo. Algumas vezes ele parecia
frio, impassível. Especialmente quando o seu cabelo loiro que batia nos ombros
estava preso, mas ele estava meio solto agora, suavizando as linhas de seu rosto.
Seus lábios carnudos normalmente estavam curvados em um sorriso pretensioso,
mas agora eles estavam pressionados em uma linha dura e tensa.
Aiden havia sugerido que eu mantivesse a carta e seu conteúdo para mim
mesma. Laadan havia quebrado sabe se lá quantas regras ao me contar sobre o
meu pai, mas eu confiava no Seth. Nós éramos, afinal de contas, destinados a
ficar juntos. Há uns dois meses eu teria rido se alguém tivesse dito que nós
estaríamos fazendo isso que estamos fazendo hoje. Foi um caso de desgosto
mútuo quando nós nos conhecemos, e nós ainda tínhamos momentos épicos. Não
foi há muito tempo atrás que eu havia ameaçado esfaquear ele no olho. E eu
estava falando sério.
Silenciosamente, eu estendi a carta.
Seth a pegou, rapidamente desdobrando com dedos longos e ágeis. Enfiei
minhas pernas embaixo de mim, observando-o. Não havia nada na expressão dele
que entregava o que estava pensando. Depois do que pareceu ser uma
eternidade, ele olhou para cima. — Ah, deuses.
Não era exatamente a resposta que eu estava pensando.
— Você vai fazer algo incrivelmente estúpido em resposta a isso.
Joguei minhas mãos para cima. — Afe, todo mundo acha que eu vou invadir
Catskills?
As sobrancelhas do Seth se levantaram.
— Que seja, — Resmunguei. — Eu não vou atacar o Covenant. Tenho que
fazer algo, mas não será... Precipitado. Contente? De qualquer forma, você se
lembra do mestiço que nós passamos quando nós estávamos vendo o Conselho
no primeiro dia?
— Sim. Você ficou encarando-o.
— É ele. Eu sei disso. É por isso que ele parecia tão familiar para mim. Seus
olhos. — Mordi meu lábio, desviando o olhar. — Minha mãe sempre falava sobre
os olhos dele.
Ele sentou ao meu lado. — O que você vai fazer?
— Vou mandar uma carta de volta para a Laadan, uma carta para o meu
pai. Depois disso, não sei. — Olhei para ele. Grossas mechas de cabelo cobriam
seu rosto. — Você sabe o que isso significa, certo? Que ele é um mestiço. E isso...
— Eu gesticulei para nós. — Nós somos a razão por que as relações do tipo
divertidas são proibidas entre mestiços e puros. Os deuses sabem o que
acontecerá se um puro e um mestiço ficarem juntos.
— É provavelmente mais do que isso. Os deuses gostam da ideia de subjugar
os mestiços. O que você acha que eles fizeram com os mortais durante o auge
deles? Os deuses subjugaram os mortais até ter ido longe demais. Eles ainda
tratam os mestiços como sujeira apenas válida para ser pisada em cima.
Cara, Seth estava em um humor de odiar os deuses ou o quê? Eu encarei a
minha mão direita, o traço fraco da runa que apenas o Seth e eu podíamos ver. —
Era ele - meu pai - na escadaria. Eu não consigo explicar, mas sei que era.
Seth olhou para cima então, seus olhos um tom estranho de amarelo. —
Quem sabe sobre isso?
Balanço a cabeça. — O Conselho tem que saber. Laadan sabia porque ela
era amiga da minha... da minha mãe e pai. Não me surpreenderia se o Lucian e o
Marcus soubessem, também. — Franzi a testa. — Você se lembra quando nós
ouvimos o Marcus e o Telly conversando?
— Eu me lembro de ter te derrubado de bunda.
— Sim, você fez isso porque estava encarando a Peitos.
Seus olhos se arregalaram e ele soltou uma risada chocada. — Peitos? O
quê?
— Você sabe... Aquela garota que estava toda em cima de você em Catskills.
— Quando as sobrancelhas dele levantaram, eu revirei os olhos. Bem a cara do
Seth, ter problemas para se lembrar qual garota era. — Estou falando sobre
aquela que tinha, bem... Peitos enormes.
Ele encarou o nada por um momento e então riu de novo. — Ah. Sim, ela...
Espera um segundo. Você a chama de Peitos?
— Sim, e eu aposto que você nem lembra o nome dela.
— Ah...
— Fico contente que estamos na mesma página agora. De qualquer forma,
lembra como o Telly disse que eles já tinham um lá? Que eles podiam manter os
dois juntos? Você acha que eles estavam falando do meu pai e de mim? — Se
Marcus e Lucian soubessem, eu queria quebrar a cabeça dos dois, mas
confrontá-los iria colocar a Laadan em perigo.
Seth olhou para a carta. — Isso faria sentido. Especialmente considerando o
quanto o Telly queria que você fosse colocada em servidão.
O Ministro Telly era o Ministro Chefe de todos os Conselhos e ele me
persegue desde o começo. O meu testemunho sobre os eventos em Gatlinburg
fora uma artimanha completa para me colocar na frente do Conselho inteiro para
que eles pudessem votar e me colocar em servidão. E eu realmente acreditava que
o Telly estava por trás da compulsão que havia sido usada em mim na noite que
eu quase fui transformada em um picolé humano. Se o Leon não tivesse me
encontrado, teria congelado até a morte. E daí houve a noite que o equivalente a
um boa noite cinderela olimpiano havia sido dado a mim em uma tentativa
grosseira de me pegar em uma posição comprometedora com um puro. Teria
funcionado se não fosse pelo Seth e o Aiden terem me visto com a bebida.
Minhas bochechas queimaram quando me lembrei daquela noite. Eu
praticamente havia molestado o Seth - não que ele tenha reclamado. Seth sabia
que eu estava sob a influência da bebida e ele havia tentado se controlar, mas a
ligação entre nós havia derramado toda a minha luxúria amplificada sobre ele.
Eu teria perdido minha virgindade se não tivesse terminado a noite vomitando
meu estômago. Eu sabia que a situação toda incomodava o Seth. Ele se sentia
culpado por ter cedido. E o punho do Aiden havia feito um estrago no olho do
Seth depois de ter me descoberto no chão do banheiro... com as roupas do Seth.
Aiden não podia entender como eu havia perdoado Seth - e algumas vezes eu não
entendia também. Talvez fosse a ligação, porque o que nos conectava era tão
forte. Talvez fosse algo mais.
E então havia o Guarda puro-sangue que havia tentado me matar, dizendo
que ele precisava ‘proteger o seu povo’. Eu suspeitava que o Ministro Telly
estivesse por detrás disso, também.
— Quem mais sabe sobre isso? — Seth me tirou das minhas reflexões.
— A Laadan pediu a Aiden para me entregar a carta, mas foi o Leon que me
entregou. O Leon diz que ele não olhou a carta, e eu acredito nele. Estava selada.
Viu. — Apontei para o selo rasgado. — Aiden não sabia o que estava nela,
também.
A mandíbula do Seth se mexeu. — Você foi até o Aiden?
Eu sabia que precisava proceder com cuidado. Seth e eu não estávamos
juntos nem nada, mas também sabia que ele não estava ficando com mais
ninguém nesse momento. Os calorões que eu havia sentido desde que nós
retornamos de Catskills haviam sido apenas quando ele estava perto de mim, na
maioria das vezes durante nossas sessões de treinamento mano-a-mano. Seth
era, acima de tudo, um cara. Acontecia... bastante.
— Eu pensei que talvez ele soubesse, já que Laadan confiou nele com a
carta, mas ele não sabia. — Eu disse finalmente.
— Mas você contou a ele?
Não havia motivo para mentir. — Sim. Ele sabia que eu estava chateada.
Obviamente, é confiável. Não vai dizer nada.
Seth ficou em silêncio por um momento. — Por que você não veio até mim?
Ah, não. Eu estava concentrada no chão, então em minhas mãos, e
finalmente na parede. — Eu não sabia onde você estava. E Leon me disse onde o
Aiden estava.
— Você pelo menos tentou me encontrar? É uma ilha. Não teria sido algo
difícil de fazer. — Ele colocou a carta na cama, e do canto do meu olho, eu vi seus
pés apontados para mim.
Mordi meu lábio. Não devia nada a ele, não é? De qualquer forma, eu não
queria ferir seus sentimentos. Seth podia agir como se ele não tivesse nenhum,
mas eu sabia que não era assim. — Eu apenas não estava pensando. Não é
grande coisa.
— Ok. — Ele se aproximou e sua respiração esquentou minha bochecha. —
Eu senti suas emoções essa tarde.
Engoli. — Então por que você não veio me procurar?
— Estava ocupado.
— Então qual é o grande problema de eu não ter ido te procurar? Você
estava ocupado.
Seth tirou uma mexa grossa de cabelo do meu pescoço, jogando-a por cima
do meu ombro. Meus músculos ficaram tensos. — Por que você estava tão
chateada?
Eu virei minha cabeça. Nossos olhares se prenderam. — Eu havia acabado
de descobrir que o meu pai está vivo, e que ele é um servo. Esse tipo de coisa é
emocional.
Seus olhos ficaram com um tom quente de âmbar. — Esse é um bom motivo.
Não havia muito espaço entre nossas bocas. Um nervoso repentino tomou
conta. Seth e eu não havíamos nos beijado desde o dia no labirinto. Eu acho que
a minha gripe deixou ele com nojo, e não era como se eu estivesse forçando algo,
mas não havia espirrado e fungado desde hoje cedo. — Você sabe o quê?
Ele sorriu de leve. — O quê?
— Você não parece muito surpreso sobre o meu pai. Você não sabia, sabia?
— Segurei o meu fôlego, porque se ele soubesse, nem sei o que eu faria. Mas não
seria bonito.
— Por que você pensaria uma coisa dessas? — Seus olhos se estreitaram. —
Você não confia em mim?
— Não. Eu confio. — E eu realmente confiava... Na maior parte do tempo. —
Mas você não está nem um pouco surpreso.
Seth suspirou. — Nada me surpreende mais.
Pensei em outra coisa. — Você sabe qual dos seus pais era mestiço?
— Eu acho que teria que ser o meu pai. A minha mãe era uma pura em
todas as formas.
Eu não sabia disso. Mas então, havia bem pouca coisa que sabia sobre o
Seth. Claro, ele gostava de falar sobre si mesmo, mas era tudo em um nível
superficial. Então havia o grande mistério de todos. — Qual é o seu sobrenome?
— Alex, Alex, Alex, — Ele me repreendeu suavemente, ficando de joelhos.
Apertei minhas mãos juntas, reconhecendo a extremidade calculada em seu
olhar. Ele estava totalmente tramando algo. — O quê?
— Eu quero tentar algo.
Já que nós estávamos na minha cama e o Seth era um pervertido na maior
parte do tempo, o meu nível de suspeita estava bem alto. Isso saiu na minha voz.
— Como o quê?
Seth me pressionou para trás até eu estar deitada de costas. Ele pairou em
cima de mim, uma leve curva em seus lábios. — Me dê sua mão esquerda.
— Por quê?
— Por que você é tão desconfiada?
Eu arqueei uma sobrancelha. — Por que você sempre invade o meu espaço
pessoal?
— Porque eu gosto. — Ele deu um tapinha no meu estômago. — E lá no
fundo você gosta quando eu faço isso.
Meus lábios se pressionaram juntos. Estava bem certa que a ligação entre
nós gostava quando ele fazia isso. Eu podia senti-la nesse momento. Ela
praticamente ronronava. Se eu gostava era algo que ainda estava tentando
descobrir.
— Me dê sua mão esquerda, — Ele ordenou de novo. — Nós vamos trabalhar
na sua técnica de bloqueio.
— E nós temos que dar as mãos para fazer isso? — Na minha cama?, eu
queria acrescentar.
— Alex.
Suspirando alto, dei a ele minha mão. — Nós vamos cantar músicas agora?
— Bem que você queria. — Ele montou minhas coxas, colocando um joelho
de cada lado. — Tenho uma adorável voz para cantar.
— Nós temos que fazer isso justo agora? Eu realmente não estou no clima
depois de tudo. — Praticar técnicas de bloqueio do tipo mental requeria
concentração e determinação - duas coisas que eu não tinha no momento. Bem,
para ser honesta, concentração era algo que eu normalmente não tinha na
maioria dos dias.
— Agora é a melhor hora. As suas emoções estão em todo lugar. Você precisa
aprender como passar por isso. — Seth pegou minha outra mão, entrelaçando
seus dedos nos meus. Ele se abaixou tanto que as pontas de seus cabelos
roçaram nas minhas bochechas. — Feche seus olhos. Imagine os muros.
Fechar meus olhos era algo que eu não queria fazer com Seth sentando em
cima de mim. A ligação entre nós estava ficando mais forte a cada dia. Eu podia
senti-la se movendo na minha barriga, zumbindo até a superfície. Meus dedos do
pé se curvaram dentro das minhas meias peludas. A mesma sensação que eu tive
no dia que explodi aquela pedra me inundou. Eu queria tocá-lo. Ou a ligação
queria que eu tocasse nele.
Seth inclinou sua cabeça para o lado. — Sei o que você está sentindo agora.
Eu totalmente aprovo.
Minhas bochechas queimaram. — Deuses, eu te odeio.
Ele deu uma risada. — Imagine os muros. Eles são sólidos, não podem ser
invadidos.
Imaginei os muros. Na minha cabeça, eles eram de um rosa néon. Com
brilhos. Pus brilhos nos muros porque eles me davam algo no qual me
concentrar. Seth havia dito que a técnica podia funcionar contra as compulsões
se fosse feita corretamente, mas ao lidar com emoções, os muros não eram
construídos ao redor da mente, eles eram construídos pelo estômago e através do
coração. Os muros se formavam na minha mente primeiro e então iam para
baixo, dando a mim mesma uma armadura corporal.
— Eu ainda posso senti-la. — Seth disse, se mexendo incansavelmente em
cima de mim.
Isso realmente deve ser horrível para ele, eu percebi. Ele podia sentir que eu
ainda estava obcecada com o Aiden, chateada com o meu pai, e em conflito sobre
ele. E a única coisa que eu conseguia sentir dele era quando ele estava se
sentindo excitado.
A maldita corda dentro de mim - a minha conexão com o Seth - começou a
zumbir, exigindo que eu prestasse atenção. Era como um bichinho de estimação
querendo atenção - ou como o Seth. Eu me perguntei se podia usar a corda para
bloquear minhas emoções. Abrindo meus olhos, eu comecei a perguntar mas
então fechei minha boca.
Seth estava com seus olhos fechados e ele parecia como se estivesse
realmente se concentrando em algo. Suas pálpebras vibravam frequentemente,
lábios desenhados em uma linha apertada, tensa. Então as marcas correram
sobre sua pele, movendo-se tão rápido que os glifos não eram nada mais do que
um borrão enquanto eles corriam pelo pescoço dele, sob o colarinho de sua
camiseta.
Meu coração pulou. E também a corda dentro de mim. Eu tentei puxar
minha mão antes que aquelas marcas chegassem à minha pele. — Seth.
Seus olhos se abriram repentinamente, vidrados. As marcas deslizaram
sobre sua pele. Uma explosão de luz âmbar irradiava de seu antebraço. Lutando
para sair de debaixo dele e para longe daquela corda, eu apenas consegui ter as
minhas mãos presas.
Pânico se desenrolou, rasgando-me. — Seth!
— Está tudo bem. — Ele disse.
Mas não estava tudo bem. Eu não queria que aquela corda fizesse o que eu
sabia que ela iria fazer. E então ela estava fazendo. A corda âmbar se envolveu ao
redor das minhas mãos, estalando e faiscando, se espalhando pelo meu braço.
Eu me afastei, tentando ir para longe, mas Seth me segurou, seus olhos presos
nos meus.
— A corda - é o poder mais puro. Akasha, — ele disse. Akasha era o quinto e
último elemento, e apenas podia ser colhido pelos deuses e o Apollyon. As matizes
dos olhos de Seth se tornaram luminosas. Elas quase pareciam loucas. —
Segure-se.
Ele não estava me dando muita escolha. Meu olhar caiu para nossas mãos.
Pulsando, a corda ficou tensa e queimou um âmbar brilhante. Uma corda azul se
mexeu por debaixo da corda âmbar, derramando gotas de luz incandescente
sobre a colcha. Vagamente, eu esperava que a cama não pegasse fogo. Isso seria
difícil de explicar.
A corda azul cintilou, vibrando. Vagamente, eu percebi que era minha e mais
fraca do que a âmbar. Então a azul pulou e pulsou. Minha mão esquerda
começou a queimar enquanto a dele começava a picar. Reconhecendo a sensação,
eu me apavorei.
Contorci-me, tentando fugir. Eu não queria outra runa, e nós não havíamos
nos segurado por tanto tempo da última vez. Alguma coisa estava muito diferente
nisso. — Seth, isso não parece... — Meu corpo estremeceu, cortando minhas
próprias palavras.
O corpo do Seth ficou tenso. — Bons deuses...
E então eu senti - akasha - mexendo pelas cordas, deixando-me e entrando
no Seth. Era tipo como uma mordida de daimon, mas não dolorosa. Não... Isso
era legal, inebriante. Parei de lutar, deixando o puxão glorioso me puxar para
longe. Não pensei sobre nada. Não havia preocupações ou medos. A dor na minha
cabeça sumiu, deixando apenas uma dor maçante que estava se espalhando em
outro lugar. Havia apenas isso - e o Seth. Meus olhos se fecharam e um suspiro
vazou. Por que eu estive com tanto medo disso?
Houve um lampejo de luz que eu ainda podia ver mesmo com os meus olhos
fechados. Seth soltou a minha mão e ela caiu mole na minha lateral. A cama
afundou ao lado da minha cabeça, onde ele colocou suas mãos. Eu senti a
respiração dele na minha bochecha, e era como ar quente e salgado saindo do
oceano.
— Alex?
— Humm...?
— Você está bem? — Ele colocou seus lábios na minha bochecha.
Eu sorri.
Seth riu, e então sua boca fez seu caminho até a minha, e eu a abri para ele.
As pontas de seu cabelo faziam cócegas nas minhas bochechas enquanto o beijo
se aprofundou. Seus dedos se direcionaram para a frente da minha blusa e então
eles estavam deslizando sobre a pele nua do meu estômago. Eu coloquei minhas
pernas ao redor dele, e nós estavamos nos movendo juntos na cama. Seus lábios
estavam praticamente dançando sobre a minha pele quente enquanto suas mãos
deslizavam para baixo, seus dedos encontrando os botões do meu jeans.
Um segundo depois, houve uma batida na porta e uma voz estrondosa. —
Alexandria?
Seth congelou acima de mim, ofegante. — Você tem que estar brincando
comigo.
Leon bateu novamente. — Alexandria, eu sei que você está aí.
Atordoada, eu pisquei diversas vezes. O quarto lentamente voltou ao foco,
assim como a expressão descontente de Seth. Eu quase ri, exceto que me sentia...
Estranha.
— É melhor você responder a ele, anjo, antes que invada aqui dentro.
Eu tentei, mas falhei. Respirei fundo. — Sim. — Limpei minha garganta. —
Sim, estou aqui.
Houve uma pausa. — Lucian está requerendo sua presença imediatamente.
— Outro intervalo de silêncio se seguiu. — Ele também está requerendo a sua
presença, Seth.
Seth fez uma careta enquanto o brilho nos seus olhos desapareceu. — Como
ele sabe que estou aqui dentro?
— Leon... Apenas sabe. — Eu o empurrei sem força. — Sai1.
— Eu estava tentando fazer isso. — Seth virou para o lado, correndo suas
mãos pelo seu rosto.
Fiz uma careta para ele e me sentei. Uma onda de tontura me inundou. Meu
olhar se moveu do Seth para a minha mão curvada. Lentamente, eu a abri.
Brilhando em um azul iridescente estava um glifo com um formato de um
grampo. Minhas duas mãos estavam marcadas.
Ele se inclinou sobre o meu ombro. — Ei, você conseguiu outra.
1 Aqui é um trocadilho, porque o que ela diz no original é ‘get off’, que significa sai mas
também pode significar dar amassos.
Tentei acertá-lo e errei por um quilômetro. — Você fez isso de propósito.
Seth deu de ombros enquanto endireitava sua camiseta. — Você não se
importou, não é?
— Não é esse o ponto, seu idiota. Eu não deveria estar com elas.
Ele olhou para cima, sobrancelhas arqueadas. — Olha, eu não fiz de
propósito. Não tenho ideia de como ou por que isso aconteceu. Talvez esteja
acontecendo porque tem que ser assim.
— As pessoas estão esperando, — Leon chamou do corredor. — O tempo é
essencial.
Seth revirou os olhos. — Eles não podiam esperar outros trinta ou sessenta
minutos?
— Eu não sei o que você acha que vai conseguir nesse tempo extra.
Ainda me sentindo um pouco zonza, eu balancei quando fiquei em pé e olhei
para a minha camiseta desabotoada e meu sutiã. Agora, como isso aconteceu?
Seth sorriu para mim.
Eu me atrapalhei com os botões, ficando em milhares tons de vermelho.
Minha raiva com o Seth ardia dentro de mim, mas eu estava muito cansada para
entrar em uma luta verbal. E então havia o Lucian. Que infernos ele queria?
— Você falhou um. — Seth se levantou e fechou o botão acima do meu
umbigo. — E pare de corar. Todo mundo vai pensar que nós não estávamos
treinando.
— Nós estávamos?
Seu sorriso se espalhou, e eu queria bater na cabeça dele. Mas eu aproveitei
o tempo para ajeitar meu cabelo e alisar os amassados na minha camiseta.
Quando nós encontramos o Leon no corredor, a minha sensação é que eu estava
bem decente.
Leon me olhou como se ele soubesse exatamente o que havia acontecido no
dormitório. — Que bom que vocês dois finalmente decidiram se juntar a mim.
Seth enfiou as mãos em seus bolsos. — Nós levamos o treinamento bem a
sério. Algumas vezes nós ficamos tão imersos nisso, que demora alguns minutos
para nós voltarmos a si.
Eu fiquei boquiaberta. Agora eu realmente queria bater nele.
Os olhos de Leon se estreitaram no Seth e então ele se virou tensamente,
gesticulando para nós o seguirmos. Eu trilhei atrás dos dois, me perguntando por
que Leon iria se importar com o que eu estava fazendo no quarto. Todo mundo
queria que nós assumíssemos o nosso Apollyon interior. Então eu pensei no
Aiden e o meu coração parou.
Bem, provavelmente não todo mundo.
Uma sensação estranha e sinuosa tomou contra do meu estômago. O que
havia acontecido lá?
Nós fomos de conversar para nos pegar quando nada como isso havia
acontecido desde Catskills. Eu olhei para as minhas mãos.
A corda super especial havia acontecido.
Eu me senti um pouco doente quando olhei e vi o Seth pavonear-se pelo
corredor. Bochechas brilhando, ele parecia como se mal pudesse conter a energia
percorrendo dentro dele. Confusão me atingiu. Todo o negócio de transferir
energia tinha uma sensação realmente boa, e também o negócio depois, mas o
rosto do Aiden me assombrava.
Seth olhou por cima do ombro para mim enquanto o Leon abria a porta.
Escuridão já havia começado a cair, mas a sombra que havia subido no rosto do
Seth não era um produto da noite.
Eu tentei subir o muro ao meu redor.
E eu falhei.
E
Quatro
u estava exausta quando caí na cadeira mais distante possível da mesa
do Marcus. Aqueles degraus eram uma droga, mas eu estava grata por não ter
que caminhar até a ilha vizinha, onde Lucian morava. Não acreditava que eu teria
conseguido isso. Tudo o que queria fazer era me enrolar em uma bola e ir dormir
- ir para qualquer outro lugar ao invés dessa sala bem iluminada.
— Onde estão todos? — Seth perguntou, em pé atrás de mim. Suas mãos
repousavam sobre o encosto da cadeira, mas seus dedos, protegidos pelo meu
cabelo, estavam pressionados nas minhas costas. — Eu pensei que tempo era
essencial.
Leon parecia presunçoso. — Eu devo ter confundido a hora.
Um sorriso cansado puxou meus lábios enquanto eu colocava minhas
pernas para cima, dobrando-as embaixo de mim. Como eu disse, Leon era o Rei
do Timing Impecável. Talvez eu poderia tirar uma soneca antes que todos
aparecessem. Fechei meus olhos, mal prestando atenção a Leon e Seth sendo
sarcásticos um com o outro.
— A maioria dos treinamentos não ocorrem no dormitório, — Leon disse. —
Ou eles mudaram drasticamente os métodos?
Dois pontos de sarcasmo para Leon.
— O tipo de treinamento que nós temos que fazer não é convencional. —
Seth pausou e eu sabia que ele tinha aquele sorriso horrível no rosto. Aquele que
eu quis chutar tantas vezes. — Não que um Sentinela entenderia completamente
a quantidade de esforço necessária para preparar um Apollyon.
Três pontos de sarcasmo para Seth.
Eu bocejei enquanto deslizava para baixo na cadeira, descansando minha
bochecha nas costas da cadeira.
— Tem alguma coisa errada, Alexandria? — Leon perguntou. — Você parece
terrivelmente pálida.
— Ela está bem, — Seth respondeu. — Nosso treinamento foi bastante...
exaustivo. Você sabe, exige muito movimento. Suor, treme...
— Seth. — Eu disparei, relutantemente entregando os pontos quatro, cinco e
seis de sarcasmo para ele.
Felizmente as portas do escritório do Marcus se abriram e uma comitiva de
pessoas entrou. Primeiro estava meu tio puro-sangue, o Diretor do Covenant da
Carolina do Norte. Atrás dele estava meu padrastro puro-sangue Lucian, o
Ministro do Covenant da Carolina do Norte. Ele estava em seu robe branco
ridículo, seu cabelo absolutamente preto pendurado nas costas, preso em uma
tira de couro. Ele era um homem bonito, mas sempre havia um nível de frieza e
falsidade nele não importa quão calorosas suas palavras podiam ser. Estava
acompanhado por quatro de seus Guardas, como se esperasse que uma frota de
daimons pulass nele e chupasse todo o seu éter. Suponha, dado os eventos
recentes, que não se podia ser demasiado cuidadoso. E atrás deles estavam o
Guarda Linard e Aiden.
Desviei meus olhos e rezei que Seth realmente mantivesse sua boca fechada.
Marcus olhou para mim enquanto sentava atrás da sua mesa, sobrancelhas
levantadas curiosamente. — Nós estamos impedindo-a de um cochilo,
Alexandria?
Sem, como você está? Ou bom ver você viva. Sim, ele me amava muito.
Leon recuou para o canto, cruzando os braços. — Eles estavam treinando, —
ele pausou, — No quarto dela.
Eu queria morrer.
Marcus franziu a testa, mas Lucian - oh, querido Lucian - tinha uma
resposta típica. Sentando em uma das cadeiras do outro lado de Marcus, ele
espalmou o robe e riu. — É o esperado. Eles são jovens e destinados um para o
outro. Você não pode culpa-los por procurar privacidade.
Eu não podia me impedir. Meus olhos encontraram Aiden. Ele estava em pé
ao lado de Leon e Linard, seus olhos esvoaçando pela sala, parando e demorando
em mim antes de desviarem. Deixei escapar a respiração que estava segurando e
foquei no meu tio.
Os olhos de Marcus eram como joias de esmeralda, assim como os da minha
mãe, mas mais duros. — Destinados ou não, as regras do Covenant ainda se
aplicam a eles, Ministro. E do que eu tenho ouvido, Seth tem tido dificuldade em
permanecer em seu próprio quarto na sua casa durante a noite.
Agora isso seriamente não poderia ficar ainda mais embaraçoso.
Seth se inclinou nas costas da minha cadeira e abaixou a cabeça. Ele
sussurou no meu ouvido. — Eu acho que nós fomos descobertos.
Não havia maneira de que Aiden pudesse ter ouvido Seth, mas raiva rolou
para fora dele em ondas, tanto que Seth inclinou a cabeça para cima, encontrou o
olhar de Aiden, e sorriu.
Era o suficiente. Sentando reta, soquei o braço de Seth para fora da cadeira.
— É por isso que nós estamos tendo a reunião? Porque, seriamente, eu poderia
tirar um cochilo ao invés disso.
Marcus me olhou friamente. — Na verdade, nós estamos aqui para discutir
os eventos do Conselho.
Gelo encharcou meu estômago. Tentei manter meu rosto em branco, mas
meus olhos dispararam para Aiden. Ele não parecia muito preocupado. De fato,
ele ainda estava em uma batalha de olhar com o Seth.
— Há muitas coisas que nós descobrimos em relação a nossa viagem. —
Lucian disse.
Marcus assentiu, seus dedos formando uma torre sob seu queixo. — O
ataque daimon é um deles. Eu sei que alguns têm sido capazes de planejar
ataques.
Minha mãe tinha sido uma deles. Ela estava por trás do ataque no Lago Lure
durante o verão, era a primeira prova de que alguns daimons podiam formar
planos coesos.
— Mas esse tipo de ataque em larga escala é... É inédito, — Marcus
continuou, olhando para mim. — Eu sei... Eu sei que sua mãe tinha insinuado
que tal coisa estava vindo, mas ter algo assim daquele tipo de natureza parece
improvável.
Aiden inclinou a cabeça para o lado. — O que você está dizendo?
— Eu acho que eles tiveram ajuda.
Meu coração tropeçou. — De dentro - de um mestiço ou um puro?
Lucian bufou. — Isso é um absurdo.
— Eu não acho que isso está totalmente fora de questão. — Leon disse, os
olhos estreitando no Ministro.
— Nenhum mestiço ou puro estaria disposto a ajudar de bom grado um
daimon. — Lucian cruzou as mãos.
— Pode não ter sido de bom grado, Ministro. O puro ou o mestiço pode ter
sido coagido. — Marcus continuou, e onde eu deveria ter encontrado alívio,
alguma coisa feia ainda estava me martelando. E se alguém tivesse realmente os
deixado passar nos portões?
Não. De forma alguma isso poderia ter acontecido. Se as suspeitas de
Marcus estivessem certas, tinha que ser sob coação.
Marcus olhou para mim. — É algo que nós temos que ter em mente pela
segurança de Alexandria. Os daimons estavam lá por ela. Eles podem tentar isso
de novo. Capturar um Guarda ou Sentinela mestiço ou puro, levaria os daimons
direto para ela. É algo para se ter em conta.
Fiquei muito quieta e imaginei que Seth e Aiden também ficaram. Os
daimons não tinham estado atrás de mim. Isso tinha sido uma mentira que nós
contamos para eu poder partir do Catskills imediatamente depois... Depois que
eu tinha matado um Guarda puro-sangue.
— Eu concordo. — A voz de Aiden estava notavelmente calma. — Eles
poderiam fazer outra tentativa.
— Falando da segurança dela, — Lucian se virou em seu assento na minha
direção. — As intenções do Ministro Telly foram dolorosamente claras, e se eu
tivesse tido conhecimento sobre o que ele estava planejando, nunca teria
concordado com a sessão do Conselho. Minha prioridade máxima é ver que você
permanece segura, Alexandria.
Mexi-me desconfortavelmente. Enquanto eu crescia, Lucian não tinha sequer
fingido se importar comigo. Mas desde que eu tinha retornado ao Covenant no
fim de Maio, ele tinha atuado como se eu fosse sua filha perdida há muito tempo.
Ele não me enganava. Se eu não fosse a segunda Apollyon, ele não estaria
sentado aqui bem agora.
Quem eu estava tentando enganar? Eu teria provavelmente sido comida por
daimons em Atlanta.
Seus olhos encontraram os meus. Nunca tinha gostado daqueles olhos. Eles
eram de um preto não-natural - a cor de obsidiana2 e frios. Bem de perto, não
parecia ter nenhuma pupila. — Tenho medo de que o Ministro Telly possa ter
estado por trás da compulsão e do ato repugnante de te dar aquela bebida.
Eu também suspeitava disso, mas ouvi-lo dizer me deixou enjoada. Como o
Chefe de todos os Ministros, Telly exercia muito controle. Se não tivesse sido pelo
voto da Ministra mais velha, Diana, eu teria sido mandada para a escravidão.
— Você acha que ele vai tentar mais alguma coisa? — A voz profunda e
melódica de Aiden era difícil de não responder.
Lucian balançou a cabeça. — Gostaria de dizer não, mas temo que ele
tentará alguma coisa de novo. O melhor que podemos fazer nesse ponto é
assegurar que Alexandria fique fora de problema e não dê nenhuma desculpa ao
Ministro Chefe para colocá-la em servidão.
Vários pares de olhos pousaram em mim. Sufoquei outro bocejo e inclinei
meu queixo para cima. — Eu tentarei não fazer nenhuma loucura.
Marcus arqueou a sobrancelha. — Isso seria uma boa mudança.
Olhei para ele, esfregando minha palma esquerda sobre meu joelho dobrado.
Ainda sentia a pele estranha e formigando.
2 Obsidiana: É uma pedra de cor escura, produzida pelo esfriamento rápido de lavas de
vulcão. Considerada um vidro natural.
— Não há um método mais proativo? — Seth perguntou, inclinando-se na
minha cadeira. — Acho que todos nós podemos concordar de que Telly tentará
alguma coisa de novo. Ele não quer que Alex Desperte. Ele tem medo de nós.
— Medo de você. — Murmurei, então bocejei novamente.
Seth inclinou minha cadeira para trás em resposta, me fazendo agarrar os
braços dela. Ele sorriu para mim, o que estava tão em desacordo com suas
próximas palavras. — Ele quase conseguiu, Alex. Era apenas um único voto para
a servidão. Quem diz que ele não vai construir alguma acusação forjada contra
ela e balançar seus votos em seu favor?
— Diana nunca comprometeria sua posição para servir aos desejos de Telly.
— Marcus disse.
— Uau. Chamando-a pelo primeiro nome? — Eu disse.
Marcus ignorou meu comentário. — O que você sugere, Seth?
Seth empurrou as costas da minha cadeira e se moveu para ficar em pé ao
meu lado. — E quanto a removê-lo da sua posição? Então ele não tem nenhum
poder.
Lucian observou Seth com um olhar de aprovação em seus olhos e eu juraria
que Seth sorriu. Quase como se tivesse trazido seu boletim para casa com todos
os A’s nele e estava prestes e conseguir um afago na cabeça. Estranho. Estranho
e extremamente assustador.
— Você está sugerindo um golpe político? Que nós nos rebelemos ao
Ministro Chefe? — Marcus virou sua descrença para Lucian. — E você não tem
nenhuma resposta para isso?
— Eu nunca iria querer rebaixar-me para algo tão detestável, mas o Ministro
Chefe Telly está enraizado nos velhos tempos. Você sabe que ele não quer nada
mais do que nos ver regredir como uma sociedade, — Lucian respondeu
suavemente. — Ele irá a grandes extremos para proteger suas crenças.
— Quais são as crenças dele, exatamente? — Eu perguntei. O couro fez um
ruído pouco atraente espremendo enquanto em afundava no assento.
— Telly amaria nos ver não nos misturarmos mais com os mortais. Se ele
pudesse, não faria nada além de nos mandar adorar os deuses. — Lucian alisou
uma mão pálida sobre seu robe. — Ele sente que é o dever do Conselho proteger o
Olimpo ao invés de liderar a nossa espécie para o futuro e entrar em nosso lugar
de direito.
— E ele nos vê como uma ameaça aos Deuses, — Seth disse, cruzando seus
braços. — Ele sabe que não pode vir atrás de mim, mas Alex é vulnerável até que
Desperte. Alguma coisa tem que ser feita sobre ele.
Fiz uma careta. — Não sou vulnerável.
— Mas você é, — Os olhos de Aiden estavam de um cinza metálico quando
pousaram em mim. — Se o Ministro Chefe Telly verdadeiramente teme que Seth
será uma ameaça no caminho, então ele vai procurar tirá-la fora da equação. Ele
tem o poder para tanto.
— Entendo isso, mas Seth não vai ficar louco no Conselho. Ele não vai
tentar dominar o mundo depois que eu Despertar. — Olhei para ele. — Certo?
Seth sorriu. — Você estaria ao meu lado.
Ignorando-o, passei meus braços em volta das minhas pernas. — Telly não
pode querer me tirar do caminho baseado apenas em uma ideia de ameaça. —
Pensei no meu pai. Eu sabia sem dúvida de que ele estava por trás disso,
também. — Tem que ser mais do que isso.
— Telly vive para servir os Deuses, — Lucian disse. — Se ele sentir que eles
podem ser ameaçados, isso é toda a razão que ele precisa.
— Você não vive para servir aos Deuses? — Leon perguntou.
Lucian mal olhou na direção do Sentinela puro-sangue.
— Eu vivo, mas também vivo para servir aos melhores interesses do meu
povo.
Marcus esfregou a testa cansativamente. — Telly não é nossa única
preocupação. Também há os próprios Deuses.
— Sim. — Lucian assentiu. — Também há a questão das fúrias.
Corri minha mão sobre a testa, me forçando a concentrar nessa conversa.
Era um grande negócio que eles sequer estavam me incluindo nela. Então eu
achava que devia prestar atenção e manter o sarcasmo no mínimo.
— As fúrias atacam somente quando percebem uma ameaça para os puros-
sangue e para os Deuses, — Marcus explicou. — Suas aparições nos Covenants
antes do ataque daimon foi apenas um ato de precaução dos Deuses. Foi um
aviso de que se nós não pudermos manter a população daimon sob controle, ou
se nossa existência for exposta aos mortais através das ações dos daimons, eles
responderiam. E quando os daimons lançaram seu ataque ao Covenant, as fúrias
foram liberadas. Mas elas foram atrás de você, Alex. Muito embora houvesse
daimons que elas poderiam ter lutado, elas perceberam você como a maior
ameaça.
As fúrias tinham rasgado através de daimons e inocentes de forma igual
naqueles momentos sangrentos depois do cerco daimon e tinham vindo atrás de
mim. Não vou mentir - eu nunca tinha estado com tanto medo em toda a minha
vida.
— Elas voltarão, — Leon adicionou. — É a natureza delas. Talvez não
imediatamente, mas virão.
Minha cabeça estava girando. — Mas eu não fiz nada de errado.
— Você existe, minha querida. Isso é tudo o que elas precisam, — Lucian
disse. — E você é a mais fraca dos dois.
Eu também era a mais dorminhoca dos dois.
Seth balançou para trás em seus calcanhares. — Se elas voltarem, vou
destruí-las.
— Boa sorte com isso. — Fechei meus olhos, dando-lhes uma pausa da dura
luz. — Elas só vão queimar e voltar de novo.
— Não se eu as matar.
— Com o quê? — Aiden perguntou. — Elas são Deuses. Nenhuma arma feita
pelo homem ou semideus irá matá-las.
Quando eu abri meus olhos, Seth estava sorrindo. — Akasha, — ele disse. —
Isso as colocaria abaixo permanentemente.
— Você não tem esse tipo de poder agora. — Leon declarou, a mandíbula
tensa.
Seth apenas continuou a sorrir até que Lucian clareou a garganta e falou. —
Eu nunca consegui ver as fúrias. Isso seria... Algo para testemunhar.
— Elas eram lindas, — eu disse. Todos se viraram para mim. — A princípio,
elas eram. Então se transformaram. Nunca tinha visto algo como aquilo. De
qualquer forma, uma disse que Thanatos não ficaria satisfeito com seu retorno
depois... Que eu me livrasse delas. Ela disse alguma coisa sobre o caminho que
os Poderes tinham escolhido e que eu seria uma ferramenta. O oráculo tinha dito
alguma coisa assim também, antes de desaparecer.
— Quem são “os Poderes”? — Leon perguntou.
Aiden assentiu. — Essa é uma boa pergunta.
— Isso não é uma preocupação. As fúrias são. — Lucian respondeu,
descartando o conceito com um movimento de seu pulso delgado. — Como Telly,
elas estão operando em velhos medos. As fúrias são leais a Thanatos. Se as fúrias
vierem novamente, temo que Thanatos não estará tão longe.
Marcus derrubou a mão no topo da mesa de mogno brilhante. — Não posso
ter os deuses atacando a escola. Tenho centenas de alunos que devo manter em
segurança. As fúrias não mostram nenhuma discriminação em seus
assassinatos.
Nenhuma vez ele mencionou me manter em segurança. Isso meio que
machucou. Nós podiamos estar relacionados, mas isso não nos fazia uma família
de verdade. Marcus nunca sequer sorriu para mim - nem uma vez. Eu realmente
não tinha mais ninguém. Isso fazia com que chegar ao meu pai fosse mais
importante.
— Eu sugiro movermos a Alex para um local seguro, — Lucian ofereceu.
— O quê? — Minha voz chiou.
Lucian me olhou. — As fúrias sabem procurar por você aqui. Nós podíamos
muda-la para algum lugar seguro.
Seth sentou no braço da minha cadeira, cruzando suas pernas longas no
tornozelo. Ele não parecia surpreso por nada disso.
Eu dei um tapa nas costas dele, ganhando sua atenção. — Você sabia sobre
isso? — Sussurrei. Ele não respondeu.
O olhar que dei a ele prometia problemas mais tarde e não era do tipo
divertido. Seth poderia ter ao menos me dado uma ideia sobre isso.
Aiden franziu a testa. — Onde vocês a levariam?
Meus olhos foram para ele de novo. Os músculos no meu peito apertaram
quando nossos olhares se travaram momentaneamente. Nesse instante, se me
concentrasse o bastante, eu ainda podia sentir seus braços ao meu redor. Não é a
melhor tática quando todos estão discutindo meu futuro como se eu nem sequer
estivesse sentada aqui.
— Quanto menos pessoas souberem, melhor, — Lucian replicou. — Ela
estaria bem protegida pelos meus melhores Guardas e Seth.
Marcus pareceu considerar isso. — Nós não teríamos que nos preocupar
com as fúrias atacando aqui. — Ele olhou na minha direção, sua expressão
guardada. — Mas se ela deixar o Covenant agora, ela não irá se graduar e tornar
uma Sentinela.
Meu estômago revirou. — Então eu não posso sair. Tenho que graduar.
Lucian sorriu, e eu queria soca-lo. — Querida, você não tem que se
preocupar em se tornar uma Sentinela agora. Você se tornará uma Apollyon.
— Não me importo! Ser uma Apollyon não é toda a minha vida! Eu preciso
me tornar uma Sentinela. Isso é o que eu sempre quis. — Aquelas últimas
palavras assentaram estranhamente em meu peito. O que eu sempre quis foi ter
escolhas. Tornar-me uma Sentinela era o menor de dois males na verdade.
— Sua segurança é mais importante do que seu desejo. — A voz de Lucian
estava dura, me jogando de volta quando eu era uma garotinha que se aventurou
em uma sala que supostamente eu não deveria entrar ou quando me atrevi a
falar fora de hora. Esse era o Lucian real e isso esgueirou através de sua fachada.
Ninguém mais notou.
Apertei minhas coxas até doerem. — Não. Eu preciso me tornar uma
Sentinela. — Olhei para Seth por ajuda, mas ele estava de repente interessado
nas pontas de suas botas. — Nenhum de vocês entende. Daimons levaram a
minha mãe de mim e a transformaram em um monstro. Olhem para o que eles
fizeram para mim! Não. — Lutei para respirar, sabendo que estava a dois
segundos de perder o controle. — Além disso, não importa para onde vocês me
levem, as fúrias vão me encontrar. Elas são deuses! Não é como se eu pudesse
me esconder para sempre.
Lucian me olhou inteiramente. — Isso nos daria tempo.
Raiva correu através de mim. Quase saí da cadeira. — Tempo para eu
Despertar? E então o quê? Você não se importa com o que acontece comigo?
— Bobagem. — Lucian disse. — Não só você terá poder, Seth será capaz de
proteger a ambos.
— Não preciso que Seth me proteja!
Seth olhou sobre seu ombro para mim. — Você sabe como fazer um cara se
sentir útil.
— Cala a boca. — Eu assobiei. — Você sabe o que quero dizer. Posso lutar.
Matei daimons e lutei contra as fúrias e vivi. Não preciso que Seth seja a minha
babá.
Leon bufou. — Você precisa sim de uma babá, mas eu duvido que ele esteja
qualificado para o trabalho.
Aiden tossiu, mas parecia muito com um riso abafado.
— Você acha que pode fazer um trabalho melhor? — A voz de Seth estava
casual, mas eu o senti tenso. Eu também sabia que ele não estava falando com
Leon. — Porque você é mais do que bem vindo a tentar. — Ele adicionou.
Os olhos de Aiden foram de cinza para prata. Seus lábios cheios inclinaram
em um sorriso malicioso enquanto encontrava o olhar de Seth. — Eu acho que
ambos sabemos a resposta para isso.
Meu queixo bateu no chão.
Ficando reto, Seth endireitou os ombros. Antes que ele pudesse dizer alguma
coisa, o que eu tinha certeza que seria muito ruim, pulei do assento. — Não posso
partir... — Pontos brilhantes dançaram em frente aos meus olhos, tornando tudo
um borrão enquanto meu estômago inclinou perigosamente. — Uouu...
Seth estava ao meu lado em um instante, um braço ao redor da minha
cintura. — Você está bem? — Ele me abaixou de volta à cadeira. — Alex?
— Sim, — Respirei, lentamente levantando minha cabeça. Todos estavam me
encarando. Aiden tinha dado um passo para frente, os olhos arregalados. Minhas
bochechas queimaram com calor. — Estou bem. Seriamente. Estou apenas um
pouco cansada.
Seth ajoelhou ao meu lado, pegando minha mão. Ele apertou gentilmente
enquanto olhava sobre o ombro. — Ela teve gripe a semana toda.
— Ela teve gripe? — Lucian enrolou o lábio. — Que coisa... tão mortal.
Atirei a ele um olhar de ódio.
— Mas nós... mestiços não ficam doentes. — Marcus disse, estreitando os
olhos em mim.
— Bem, você pode contar isso para a caixa de Kleenex3 que tem vivido
comigo. — Arrastei meus dedos pelo cabelo. — Sério, estou bem agora.
Marcus de repente se levantou. — Eu acho que nós terminamos pela noite.
Nós todos podemos concordar que nada precisa ser decidido nesse momento.
Lucian, que tinha ficado quieto e dócil, assentiu.
A discussão terminou e eu tive um alívio momentâneo. Não estaria deixando
o Covenant agora, mas não conseguia afastar o pavor torturante em meu
estômago que, eventualmente, a decisão não seria minha.
3 Kleenex: Marca americana famosa de caixa de lenços.
E
Cinco
u dormi demais na manhã seguinte e perdi minhas duas primeiras
aulas. Meio que funcionou, já que não tive que enfrentar Olivia depois de tentar
sufoca-la no dia anterior, mas a exaustão da noite anterior continuou a me
arrastar. Passei o intervalo antes das aulas da tarde discutindo com Seth.
— Qual é seu negócio? — Ele empurrou a cadeira para trás.
— Já disse a você. — Olhei ao redor da sala comum pouco cheia. Era melhor
do que comer no refeitório onde todos nos encaravam. — Eu sei que você sabia
sobre os planos de Lucian de me colocar no Programa de Recolocação de
Apollyon.
Seth gemeu. — Ok. Ótimo. Ele deve ter mencionado isso. Então o quê? É
uma ideia inteligente.
— Não é uma ideia inteligente, Seth. Preciso me graduar, não sair me
escondendo. — Olhei para baixo para meu mal tocado sanduíche frio cortado.
Meu estômago revirou. — Não vou fugir.
Ele se inclinou para trás na cadeira, enlaçando as mãos atrás da cabeça. —
Lucian realmente tem seus melhores interesses em mente.
— Oh, deuses. Não comece com as merdas do Lucian. Você não o conhece
como eu.
— As pessoas mudam, Alex. Ele pode ter sido um enorme idiota antes, mas
ele mudou.
Nivelei um olhar para ele, e de repente, eu nem sequer sabia porque estava
discutindo. Meus ombros caíram. — Qual é o ponto, de qualquer forma?
Seth franziu a testa. — O que você quer dizer?
— Nada. — Brinquei com meu canudinho.
Ele se inclinou para frente, empurrando meu prato. — Você deveria comer
mais.
— Obrigada, Papai. — Eu atirei.
Ele ergueu as mãos, sentando para trás. — Calminha, coelhinha4.
— Tudo isso é culpa sua, de qualquer forma.
Seth bufou. — Como isso é minha culpa?
Fiz uma carranca. — Ninguém quer te matar, mas você será aquele que terá
o potencial para eliminar o Tribunal do Olimpo inteiro. Mas todos estão tipo,
‘Vamos matar aquela que não está fazendo nada!’ e você pode simplesmente fugir
no pôr-do-sol enquanto eu estou morta.
4 O termo usado no original é ‘cuddle-bunny’. Seth usa esse termo porque ele diz que dorme
melhor quando está abraçado a Alex, como se ela fosse seu ursinho de dormir. Anteriormente
estava sendo usado ‘coelhinha do afago’, deste livro em diante será traduzido como ‘coelhinha’.
Seus lábios se contraíram novamente. — Eu não cairia fora se você estivesse
morta. Eu ficaria triste.
— Você ficaria triste porque não seria o Assassino de Deuses. — Peguei meu
sanduíche, virando-o lentamente. — Olivia me odeia.
— Alex...
— O quê? — Olhei para cima. — Ela odeia, porque deixei Caleb morrer.
Seus olhos se estreitaram. — Você não deixou Caleb morrer, Alex.
Suspirei, de repente com vontade de chorar. Era oficial: eu estava
comprovadamente maluca hoje. — Eu sei. Sinto saudade dela.
— Você tentou falar com ela? — Os olhos dele se arregalaram com meu
olhar. Ele apontou para o sanduíche. — Coma.
A contragosto, dei uma mordida enorme e desleixada.
Seth arqueou uma sobrancelha enquanto me observava. — Com fome?
Engoli. A comida formando um caroço pesado no meu estômago. — Não.
Nós não conversamos por alguns minutos. Sem querer, virei minha mão
esquerda e olhei para onde a forma de runa estampada brilhava suavemente.
— Você... Você fez isso de propósito?
— O quê? A runa? — Ele pegou minha mão, segurando-a de forma que
minha palma estava para cima. — Não, eu não a fiz de propósito. Já te disse isso.
— Não sei. Você parecia como se estivesse se concentrando realmente
quando aconteceu.
— Estava concentrando na suas emoções. — Seth correu seu polegar ao
redor dos hieróglifos, chegando perto de tocá-los. — Você não gosta disso, pois
não?
— Não. — Sussurrei. Outra marca significava um passo a mais na direção de
me tornar alguém diferente - alguma coisa diferente.
— É natural, Alex.
— Não parece natural. — Meus olhos voaram para os dele. — O que essa
daqui significa?
— Força dos deuses, — Ele respondeu, me surpreendendo. — A outra
significa coragem da alma.
— Coragem da alma? — Eu ri. — Isso não faz sentido.
Sua mão deslizou para meu punho, apoiando o polegar sobre meu pulso. —
Elas são as primeiras marcas que o Apollyon recebe.
Meu punho parecia tão pequeno na mão dele, frágil até. — As suas vieram
cedo?
— Não.
Suspirei. — O que aconteceu... Entre nós na noite passada?
Um sorriso malicioso jogou sobre seus lábios. — Bem, a maioria das pessoas
chama isso de ‘ficar’.
— Isso não é o que quero dizer. — Puxei minha mão livre e esfreguei a palma
sobre a borda da mesa. — Eu senti isso, a energia ou o que quer que você queira
chamar isso, me deixando e indo para você.
— Te machucou?
Balancei a cabeça. — Meio que me senti bem.
Suas narinas se dilataram como se ele tivesse cheirado algo que gostou.
Então, sem nenhum aviso, ele se inclinou sobre a mesa entre nós, agarrou
minhas bochechas e trouxe sua boca à minha. O beijo era suave, provocante, e
parecia realmente estranho. Beijar na noite passada realmente não tinha contado
- ou pelo menos eu tinha me convencido disso. Então esse era o primeiro beijo
real desde Catskills, e era uma exibição totalmente pública. E eu ainda estava
segurando o sanduiche na minha mão direita. Então é, parecia bizarro.
Seth voltou a sua posição sorrindo. — Acho que nós deveríamos fazer isso
com mais frequência, então.
Minhas bochechas estavam queimando, porque eu sabia que as pessoas
estavam nos encarando. — Beijar?
Ele riu. — Sou todo a favor de beijar mais, mas quis dizer o que aconteceu
ontem à noite.
Do nada, raiva se apoderou de mim. — Por quê? Você sentiu alguma coisa?
Uma sobrancelha arqueou. — Oh, eu senti alguma coisa.
Tomei uma respiração profunda e a deixei sair lentamente. — Quero dizer
quando estava segurando minha mão e a marca apareceu. Você sentiu alguma
coisa?
— Nada sobre o que aparentemente você quer que eu fale.
— Deuses. — Apertei meu sanduíche. Pingos de maionese salpicaram para
fora no prato de plástico. — Eu nem sequer sei porquê estou falando com você.
Seth exalou lentamente. — Você está de TPM ou algo assim? Porque suas
mudanças de humor estão me matando.
Encarei-o por um momento, pensando uau, ele realmente falou isso? E então
inclinei para trás o meu braço e lancei o sanduíche através da mesa. Bateu no
peito dele com um tipo de plop satisfatório, mas foi o olhar no rosto dele
enquanto pulava para fora da cadeira que quase me fez sorrir. Um cruzamento
entre descrença e horror marcaram as suas feições enquanto ele batia pedaços de
alface e presunto para fora da sua camisa e calça.
Havia apenas um punhado de pessoas na sala comum, a maioria puros-
sangues mais novos. Todos eles encararam, com olhos arregalados.
Jogar um sanduíche no Apollyon provavelmente não era algo que podia ser
feito em público. Mas não pude me impedir; eu ri.
Seth ergueu a cabeça. Seus olhos eram de um ocre aquecido com raiva. —
Isso a fez se sentir melhor?
Meus olhos lacrimejavam de tanto rir. — Sim, meio que sim.
— Você sabe, vamos cancelar o treino depois da aula por hoje. — Seu queixo
flexionou, as bochechas coradas. — Descanse um pouco.
Rolei meus olhos. — O que seja.
Seth abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas parou. Sacudindo o
resto do presunto e queijo, ele girou e saiu. Eu não podia acreditar que tinha
acabado de jogar meu almoço no Seth. Isso parecia meio extremo, mesmo para
mim.
Mas foi engraçado.
Eu ri de mim mesma.
— Você vai limpar isso?
Pulando um pouco na minha cadeira, olhei para cima. Linard saiu detrás de
uma das colunas, olhando a bagunça no chão. — Você está, tipo, me
observando?
Ele sorriu apertadamente. — Estou aqui para garantir que você está segura.
— E isso é meio que assustador. — Me empurrei para fora da cadeira,
agarrando um guardanapo do meu prato. Peguei o que pude, mas a maionese
estava presa no tapete. — Essa é uma ideia de Lucian?
— Não. — Ele cruzou as mãos atrás das costas. — Foi um pedido do Diretor
Andros.
Acalmei-me. — Mesmo?
— Mesmo, — Ele respondeu. — Você devia ir. Sua próxima aula vai começar
em breve.
Assenti distraidamente, joguei meu lixo, e peguei minha bolsa. A ordem de
Marcus me surpreendeu. Esperava que Lucian mandasse seus Guardas atrás de
mim. Ele não iria querer que nada acontecesse para sua preciosa Apollyon. Talvez
Marcus não me achasse tão detestável quanto pensei que ele achava.
Linard me seguiu para fora da sala comum, mantendo uma distância
discreta. Lembrei-me do dia que comprei os barcos dos espíritos que Caleb e eu
tínhamos liberado no mar. A memória puxou meu coração e piorou meu mal
humor. Estava como um zumbi no resto das minhas aulas. Depois de uma
mudança rápida para as minhas roupas de treinamento, andei em direção à aula
de Gutter. O Instrutor Romvi parecia absurdamente satisfeito com a minha
aparição.
Derrubei minha bolsa e me inclinei contra a parede, fingindo que não estava
incomodada com o fato de que eu não tinha ninguém com quem conversar. Da
última vez que tinha estado na aula, Caleb ainda estava vivo.
Pressionando meus lábios fechados, deixei meu olhar vagar sobre a parede
onde as armas eram mantidas. Eu tinha crescido tão acostumada com essa sala
durante minhas práticas com Aiden que era como estar em casa para mim. Em
pé perto da parede de coisas destinadas a morte de daimons, Jackson sorriu para
alguma coisa que um outro mestiço disse. Então ele olhou diretamente para mim
e sorriu.
Agora parecia tão longe a época que eu o tinha achado gostoso, mas em
algum lugar entre minha mãe daimon assassinando os pais da sua namorada -
se ele na verdade ainda estivesse com Lea - e da última vez que treinei com ele,
eu tinha parado de pensar tão bem dele.
Segurei seu olhar até que ele olhou para longe. Então continuei minha
leitura atenta. Olivia estava em pé perto de Luke, prendendo seu cabelo cacheado
em um rabo de cavalo. Machucados marcavam a pele cor de caramelo de seu
pescoço. Olhei para baixo para minhas mãos. Eu tinha feito isso.
Deuses, no que eu estava pensando? Culpa e vergonha rasgaram através de
mim. Quando olhei para cima, Luke estava me observando. Seu olhar não era
hostil ou qualquer coisa, apenas... Triste.
Desviei o olhar, mordendo o lábio. Sentia falta dos meus amigos. E
realmente sentia saudades de Caleb.
A aula começou rapidamente, e muito embora eu estivesse cansada, me
joguei nisso. Fiz par com Elena para uma série de ‘esquivar e segurar’. Indo
através das várias técnicas, meu cérebro estava sendo finalmente capaz de
desligar. Aqui, no treinamento, eu não pensava em nada. Não havia nenhuma
tristeza ou perda, nenhum destino com o qual lidar ou pai para salvar. Imaginei
que isso era o que ser uma Sentinela pareceria. Quando eventualmente eu saísse
para caçar, não teria que pensar sobre nada além de localizar daimons e os
matar. Talvez essa fosse a razão real atrás de querer ser uma Sentinela, porque
então eu poderia passar pela vida... E fazer o quê? Matar. Matar. E matar um
pouco mais.
Isso não era o que eu realmente queria, bem lá no fundo. Eu estava apenas
percebendo isso agora? Mesmo com meu pé lento, era um pouco mais rápida que
Elena. Quando nos movemos para ‘quedas e rolamentos’, que consistia em ser
jogado para baixo e tentar sair disso, eu era capaz de mantê-la presa, mas estava
desacelerando, ficando cansada.
Ela quebrou meu aperto e inclinou seu quadril, me rolando de costas.
Olhando para baixo para mim, ela franziu a testa. — Você está... Está se sentindo
bem? Você parece realmente pálida.
Eu verdadeiramente precisava buscar no Google quanto tempo os efeitos
prolongados da gripe duravam, porque isso estava seriamente ficando chato.
Tudo o que eu queria era uma cama.
Antes que pudesse responder a pergunta de Elena, Instrutor Romvi apareceu
atrás de nós. Mordi de volta um gemido.
— Se vocês são capazes de conversar, talvez não estejam treinando duro o
suficiente. — Os olhos pálidos de Romvi eram como geleiras. Ele amava me
aterrorizar em aula; tenho certeza que ele sentiu a minha falta. — Elena, para
fora do tatame.
Ela ficou em pé e escapuliu, me deixando com o Instrutor. Ao redor de nós,
os alunos estavam lutando. Rolei para meus pés e mudei o peso sem descanso,
me preparando mentalmente para o que quer que ele estava indo jogar em mim.
Virei-me, colocando as mãos nos meus quadris.
Sua mão bateu no meu ombro. — Nunca se deve virar as costas em uma
guerra.
Encolhendo para fora de seu aperto, eu o encarei. — Não percebi que
estávamos em guerra.
Alguma coisa brilhou em seus olhos. — Nós sempre estamos em guerra,
especialmente na minha aula.
Ele olhou para baixo de seu nariz de falcão para mim, o que era uma prática
comum desde que ele era um puro-sangue que uma vez tinha sido um Sentinela.
— Falando nisso, foi legal da sua parte finalmente se juntar a nós, Alexandria. Eu
estava começando a acreditar que você pensava que treinar não era mais
necessário.
Muitas respostas rolaram da ponta da minha língua, mas eu sabia melhor
do que deixá-las sair.
Ele parecia desapontado. — Ouvi que você lutou durante o cerco dos
daimons.
Sabendo que menos palavras geralmente terminavam com menos de minha
bunda sendo chutada, eu assenti enquanto imaginava um pegasus5 pousando na
cabeça dele e mordendo-o no pescoço.
— Você também lutou contra as fúrias e sobreviveu. Apenas Guerreiros
poderiam reivindicar tal feito.
Meu olhar passou por ele para onde Olivia e Luke agora estavam me
observando da borda do tatame. Quantas vezes nós tínhamos estado nessa
posição? Mas dessa vez era diferente, porque Caleb costumava estar entre eles.
— Alexandria?
Concentrei-me nele, encolhendo mentalmente. Nunca deveria tirar meus
olhos do Romvi quando ele estava falando. — Eu lutei sim contra as fúrias.
Interesse despertou em seus olhos. — Mostre-me o que você fez.
Pega fora de guarda, dei um passo para trás. — O que você quer dizer?
Um sorriso pequeno puxou de um lado de seus lábios. — Mostre-me como
você lutou contra as fúrias.
Umedeci meus lábios nervosamente. Eu não tinha nenhuma ideia de como
tinha lutado com as fúrias e sobrevivido - apenas que tudo tinha se tornado
âmbar, como se alguém tivesse espirrado uma cor amarelada sobre meus olhos.
— Eu não sei. Tudo estava acontecendo tão rápido.
— Você não sabe. — Ele levantou uma mão e a manga da sua camisa estilo
túnica escorregou para cima de seu braço, revelando a tatuagem de tocha virada
para baixo. — Acho difícil de acreditar nisso.
5 Pegasus/Pégaso: É um cavalo símbolo da imortalidade, nascido do sangue de Medusa.
Vivia em função dos deuses na constelação pegasus.
Experimentei um lapso momentâneo de sanidade. — O que há com a
tatuagem?
Seu queixo se apertou, e eu esperei que ele atacasse. Mas ele não atacou. —
Jackson!
Galopando sobre o tatame, Jackson veio parar e descansou as mãos em seus
quadris estreitos. — Senhor?
Os olhos de Romvi seguraram os meus. — Eu quero que vocês lutem.
Olhei para o rosto sorridente de Jackson. O que Romvi queria que eu fizesse
era mostrar para ele como tinha lutado contra as fúrias e sobrevivido, usando
Jackson para isso. Não importava com quem eu estivesse lutando; não poderia
mostrar o que não sabia.
Enquanto Romvi caminhava para fora do tatame, ele parou e sussurrou para
Jackson. O que quer que ele estava dizendo trouxe um sorriso fácil para o rosto
de Jackson bem antes dele assentir.
Esfregando a mão sobre minha testa úmida, eu acalmei minha respiração e
tentei ignorar os tremores finos correndo pelas minhas pernas. Mesmo cansada,
eu poderia derrubar Jackson. Ele era um bom lutador, mas eu era melhor. Tinha
que ser melhor.
— Você vai estar machucada até o final da aula. — Jackson provocou,
estalando os dedos.
Levantei uma sobrancelha e com uma mão fiz sinal para ele vir para frente.
Talvez eu tivesse um desejo sério por um travesseiro, mas poderia derrubá-lo.
Esperei até que ele estivesse a apenas um pé de distância antes de me lançar
em uma ofensiva brutal. Eu era rápida e leve nos meus pés. Ele simularia em
uma direção para evitar um golpe afiado e acabar com um chute lateral em suas
costas. Em pouco tempo, ele acabou de costas, ofegante e xingando devido a um
chute feroz.
— Vou me machucar? — Eu disse, ficando em pé sobre ele. — Nah, eu não
acho.
Respirando com dificuldade, ele saltou para a ponta dos pés. — Espere e
veja, bebê.
— Bebê? — Eu repeti. — Não sou seu bebê.
Jackson não respondeu a isso. Ele voou em um chute de borboleta, o qual
eu esquivei. Aqueles chutes eram brutais. Golpe após golpe, nós fomos atrás um
do outro - cada acerto mais violento do que o último. Admitidamente eu estava
levando isso um pouco sério demais para mim mesma. Eu não ia facilitar para o
babaca. Um tipo estranho de escuridão cresceu em mim enquanto bloqueava
uma série de chutes e socos que teria trazido ate mesmo Aiden para baixo. Eu
sorri, apesar do suor escorrendo em mim e da forma como meus antebraços
doíam. Canalizei toda a minha raiva de mais cedo em lutar com Jackson.
Nossa luta eventualmente atraiu a atenção dos outros alunos. Eu só estava
um pouco surpresa quando o punho de Jackson ricocheteou minha mandíbula e
o Instrutor Romvi não parou a luta. Fora qualquer coisa, parecia como se ele
estivesse se divertindo ao assistir a luta brutal.
Então Jackson não queria jogar pelas regras e Romvi não se preocupava?
Que seja. Ele balançou seu punho ao redor de novo, mas dessa vez eu peguei sua
mão e a torci para trás.
Jackson quebrou o aperto com muita facilidade, o que mostrou que eu
estava alcançando meus próprios limites. Virei-me em meus calcanhares, vi que
as luzes do teto piscaram - ou isso foram meus olhos? - e com um chute circular
poderoso, tirei as pernas de Jackson de debaixo dele. Não houve um momento
para comemorar sua derrota óbvia. Eu vi Jackson se mover para minhas pernas.
Tentei pular como tínhamos sido treinados, mas desgastada, estava muito lenta.
Suas pernas pegaram as minhas, e eu aterrissei de lado, imediatamente rolando
fora de alcance.
— Tenho certeza de que não foi assim que você derrotou as fúrias. —
Instrutor Romvi soou presunçoso.
Não tive um segundo para pensar sobre o quanto eu desejava que pudesse
soltar um chute em Romvi. Jackson se virou. Eu me arrastei para o lado, mas
seu chute me pegou nas costelas. Dor explodiu, tão inesperada e tão intensa, que
eu congelei.
Sentindo que Jackson ainda não tinha terminado, trouxe minhas mãos para
cima, mas aquele pequenino e minúsculo segundo me custou. O calcanhar de
Jacskon deslizou pelas minhas mãos, me acertando no queixo e cortando meu
lábio bem aberto. Algo quente jorrou em minha boca, e eu vi flashes de luz.
Sangue - eu provei sangue. E além das luzes piscando, vi a bota de Jackson
chegando mais uma vez.
J
Seis
ackson ia chutar minha cabeça.
Isso não fazia parte do treinamento.
No último segundo possível, alguém pegou Jackson pela cintura e atirou-o
no tapete. Minhas mãos voaram para a minha boca. Algo pegajoso e quente a
cobriu imediatamente.
Tudo o que eu provei era sangue. Hesitante, corri minha língua ao longo do
interior da minha boca, verificando se tinha perdido algum dente. Quando
percebi que eu ainda tinha um conjunto completo, fiquei de pé, cuspindo sangue.
Então investi contra Jackson.
Isso durou pouco tempo. O choque quase me deixou de joelhos.
Jackson já estava preocupado em se soltar de alguém e esse alguém era
Aiden. A dor foi momentaneamente esquecida quando eu vagamente me
perguntei de onde ele tinha vindo. Aiden não assistia mais as minhas aulas. Ele
nem sequer me treinava, por isso não era como se ele tivesse um motivo para
estar pendurado em torno destas salas.
Mas ele estava aqui agora.
Extasiada pela mistura ímpar de graça e brutalidade, eu assisti Aiden puxar
Jackson para fora do tatame, pela nuca, puxando sua camisa. Seus rostos
estavam a centímetros de distância. A última vez que eu tinha visto Aiden tão
zangado daquele jeito, foi quando ele tinha ido atrás de Seth na noite que eu
estava doida pela bebida.
— Não é assim que você treina com o seu parceiro. — Aiden disse em uma
voz fria e baixa, — Tenho certeza que o instrutor Romvi lhe ensinou melhor do
que isso.
Os olhos de Jackson cresceram incrivelmente grandes. Ele estava nas
pontas dos pés, os braços balançando em seus lados. Foi então que eu percebi
que o nariz de Jackson estava sangrando - sangrando mais que a minha boca
estava. Alguém tinha batido nele, mais provável que tenha sido Aiden.
Porque só um puro seria capaz de fazer isso e não ter ninguém intervindo.
Ele soltou Jackson. O mestiço caiu de joelhos, segurando seu rosto.
Aiden virou, os olhos rapidamente avaliando os danos. Então ele se virou
para o instrutor Romvi, falando muito baixo e rápido para mim ou para o resto
dos alunos entendermos.
Antes que eu percebesse o que estava acontecendo, Aiden cruzou as esteiras
e agarrou meu braço. Nós não falamos enquanto ele me tirava da sala de
treinamento. — Minha bolsa. — Eu protestei.
— Vou mandar alguém recuperá-la para você.
No corredor, ele agarrou meus ombros e me virou. Seus olhos foram do cinza
escuro para prata, quando seu olhar caiu para o meu lábio. — O instrutor Romvi
nunca deveria ter permitido que ele fosse tão longe.
— Sim, eu acho que ele não se importava.
Ele xingou.
Eu queria dizer alguma coisa. Como “essas coisas acontecem...” ou, pelo
menos, sobre como isso já poderia ser esperado, uma vez que eu não tenho um
monte de amigos aqui. Ou talvez eu devesse agradecer Aiden, mas pelas emoções
em guerra em seu rosto marcante, eu sabia que ele não ia apreciar nada disso.
Aiden estava furioso - furioso por todas as razões erradas. Ele reagiu como se um
cara comum tivesse me batido e não um meio-sangue.
Como um puro sangue, não havia razão para ele intervir. Esse era o trabalho
do instrutor. Aiden tinha se esquecido disso em um momento de completa fúria
desenfreada.
— Eu não deveria ter feito isso, perdi o controle. — Ele disse em voz baixa,
soando e parecendo terrivelmente jovem e vulnerável para alguém que eu
acreditava ser tão poderoso. — Eu não deveria ter batido nele.
Meus olhos atravessaram seu rosto. Mesmo que meu rosto latejasse, eu
queria tocá-lo. Eu queria que ele me tocasse. E então ele fez, mas não da maneira
que eu queria. Colocou a mão na parte inferior das costas e me guiou em direção
ao escritório médico. Eu queria tocar minha boca para ver o quão ruim estava. Na
verdade, eu queria um espelho.
A médica puro-sangue deu uma olhada no meu rosto e balançou a cabeça.
— Em cima da mesa.
Levantei-me para cima. — Será que vai deixar cicatriz?
A médica pegou uma garrafa nublada com aparência branca e vários maços
de algodão. — Não tenho certeza ainda, mas tente não falar agora. Pelo menos até
ter certeza de que não há danos no interior do lábio, ok?
— Se deixar cicatriz, eu vou ficar muito puta.
— Pare de falar. — Disse Aiden, inclinando-se contra a parede.
A médica lançou-lhe um sorriso, aparentemente, não estava curiosa para
saber o porquê de eu ter sido escoltada por um puro. Ela se virou para mim. —
Isso pode doer um pouco. — Tocou de leve o algodão por cima do meu lábio. Um
pouco? Isso queimou para caramba. Eu quase pulei para fora da mesa.
— Anti-séptico. — disse ela, oferecendo um olhar solidário, — Nós queremos
ter certeza de que você não obterá qualquer infecção. Caso aconteça, então você
teria cicatriz.
Queimação? Eu podia lidar com isso. Levou o um par de minutos para
limpar meu lábio. Eu esperei, um tanto impaciente, pelo veredicto.
— Eu não acho que você vai precisar de pontos no lábio. Vai inchar e ficar
dolorido por um pouco de tempo. — Ela inclinou a cabeça para trás e gentilmente
cutucou a minha boca, — Mas eu acho que vamos precisar de um ponto... Bem
aqui, embaixo do seu lábio.
Estremeci quando ela começou a cutucar lá também e foquei em seu ombro.
Não mostre nenhuma dor. Não mostre nenhuma dor. Não mostre nenhuma dor. A
médica mergulhou os dedos no pote marrom e pressionou a pele rasgada. Eu
gritei quando uma dor irradiou queimaduras da pele sob o lábio e se espalhou
pelo meu rosto.
Aiden começou a avançar, parando quando ele pareceu perceber que não
havia nada que pudesse - ou devesse - fazer. Suas mãos caíram para os lados, e
seu olhar encontrou o meu, os olhos de um cinza infinito trovejante.
— Só um pouco mais. — Disse ela suavemente, — Então, tudo vai estar
acabado. Você tem sorte de não perder todos os dentes.
Então, ela apertou a pele mais uma vez. Desta vez eu não fiz nenhum som,
mas eu apertei meus olhos até que luzes dançaram por trás de meus olhos
fechados. Eu queria pular para fora da mesa e encontrar Jackson. Atingi-lo me
faria sentir melhor. Eu acreditava nisso.
A médica deu um passo atrás para os armários. Retornando com um pano
úmido, ela começou a limpar o sangue, levando em conta o ponto. — Da próxima
vez que treiná-la, seja um pouco mais cuidadoso. Ela só será jovem e bonita uma
vez. Não estrague isso por ela.
Meus olhos encontraram Aiden. — Mas...
— Sim, senhora. — Aiden interrompeu, dando-me um olhar severo.
Eu olhei para ele.
A médica suspirou, balançando a cabeça de novo. — Por que vocês,
mestiços, escolhem isto? Certamente, a alternativa é melhor. De qualquer forma,
você tem algum outro ferimento?
— Uh, não. — Murmurei. As palavras da médica me surpreenderam.
— Sim. — disse Aiden, — Verifique o lado esquerdo de suas costelas.
— Oh, qual é. — Eu disse, — Não está tão ruim assim... — Minhas palavras
foram cortadas quando a médica puxou a barra da minha camisa.
A médica pressionou em minhas costelas, passando as mãos ao longo da
lateral. Seus dedos estavam frios e rápidos. — Nenhuma está quebrada, mas
isso... — Ela franziu o cenho, inclinando-se mais perto. Inalando a grosso modo,
ela deixou cair a minha camisa e enfrentou Aiden. Pareceu levar-lhe um momento
para se recompor. — Suas costelas não estão quebradas, mas estão machucadas.
Ela deve pegar leve por alguns dias. Além disso, ela deve falar o mínimo possível
para o ponto não rasgar.
Aiden parecia que queria rir da última sugestão. Quando ele concordou com
a médica, ela saiu da sala rapidamente.
— Por que você deixou-a acreditar que você fez isso? — Perguntei. — Você
não está nem me treinando mais.
— Você não deveria estar limitando sua fala?
Revirei os olhos. — Agora ela pensa que você é um grande e terrível
espancador de mestiços ou algo assim.
Ele apontou para a porta. — Não seria algo tão distante da imaginação. Seu
instrutor permitiu que isso acontecesse. A médica vê mais casos como este do
que ela provavelmente se preocupa.
E ela provavelmente via muito poucos puros que ainda se importavam o
suficiente para garantir que um mestiço estivesse bem. Eu suspirei. — O que
você está fazendo aqui, afinal?
Houve o começo de um fantasma de um sorriso, — Eu não te disse que ter
certeza sobre sua segurança é um trabalho em tempo integral?
Comecei a sorrir, mas rapidamente me lembrei que não deveria. — Ai.
Ignorei seu olhar divertido. — Então, por que você estava aqui, de verdade?
— Eu apenas estava por perto e parei para olhar a sala. — Ele deu de
ombros, olhando por cima do meu ombro, — Eu vi você brigando e assisti. O
resto é história.
Eu realmente não acreditei nele, mas deixei para lá. — Eu teria dado conta
de Jackson, sabe? Mas este resfriado maldito está acabando comigo.
O olhar de Aiden caiu em mim novamente, — Você não deveria estar doente.
— Ele deu um passo para frente, estendendo a mão e com cuidado, colocando a
mão no meu queixo, então franziu a testa, — Como é que você ficou doente?
— Eu não posso ser a primeira mestiça a ficar doente.
Seu polegar se moveu sobre meu queixo, com cuidado para evitar o ponto
sensível. Esse era Aiden, sempre tão cuidadoso comigo, mesmo que ele soubesse
que eu era durona. Meu coração deu um pulo. — Eu não sei. — Disse ele,
abaixando a mão.
Sem saber como reagir, dei de ombros. — De qualquer forma, obrigado por,
hum... ter feito Jackson parar.
Um olhar duro e letal cintilou em seu rosto. — Eu vou ter certeza de que
Jackson será punido por aquilo que ele fez. O Covenant tem o suficiente em seus
ombros sem mestiços tentando matar uns aos outros.
Toquei levemente meu queixo e fiz uma careta. — Não sei se foi ideia dele.
Aiden agarrou a minha mão e puxou-a para longe do meu rosto. — O que
você quer dizer?
Antes que eu pudesse responder, um tremor fino desceu pela minha
espinha. Segundos depois, a porta do quarto voou. Seth apareceu, os olhos e os
lábios diluídos. Seu olhar passou do meu lábio para onde Aiden segurava minha
mão. — O que diabos aconteceu?
Confusão e então entendimento passaram pelo rosto de Aiden. Ele soltou
minha mão e deu um passo para trás. — Ela estava praticando.
Seth atirou um olhar mordaz a Aiden quando ele fez o seu caminho para
onde eu estava sentada na mesa. Ele apertou meu queixo com dois dedos finos,
assim como Aiden tinha feito. Meu coração não vibrou, mas o fio entre a gente
sim. — Com quem você estava praticando?
— Não é grande coisa. — Senti meu rosto começar a queimar.
— Não parece assim. — Os olhos de Seth estreitaram. — E você se
machucou em outro lugar. Eu posso sentir isso.
Deuses, eu realmente precisava trabalhar nesse escudo.
— Obrigado por manter um olho nela, Aiden. — Seth não tirou os olhos de
mim. — Eu cuidarei de tudo agora.
Aiden abriu a boca para dizer alguma coisa, mas depois fechou. Ele virou-se
e saiu da sala em silêncio. A vontade de saltar da mesa e correr atrás dele era
difícil de ignorar.
— Então o que aconteceu com seu rosto? — Ele solicitou novamente.
— Eu o quebrei. — Murmurei, esforçando para me distanciar.
Seth inclinou meu queixo para o lado, franzindo a testa. — Eu posso ver
isso. Isto realmente aconteceu enquanto treinava?
— Sim, bem, isso foi feito no meu rosto em sala de aula.
Sua carranca se aprofundou. — O que é que isso quer dizer?
Eu bati em sua mão para afastá-la e deslizei para fora da mesa, — Não é
nada. Apenas um lábio arrebentado.
— Lábio arrebentado? — Ele me pegou pela cintura, me puxando para trás,
— Tenho certeza que vi um ponto no seu queixo.
— Realmente está tão ruim assim? — Eu cautelosamente toquei meu queixo,
imaginando o que ele pensaria se visse a marca cinzenta nas minhas costelas.
— Tão vaidosa. — Seth agarrou minha mão. — Com quem você estava
lutando?
Suspirei e tentei me soltar, mas foi inútil. Seth - e a corda entre nós - me
queriam aqui com ele. Eu coloquei minha bochecha contra seu peito.
— Isso não importa. E não é você que ainda está com raiva de mim por jogar
comida em você, afinal?
— Oh, eu não estou muito feliz com isso. Acho que as manchas de maionese
ainda não sumiram. — Seu abraço afrouxou um pouco. — Dói?
Mentir era inútil, mas foi o que eu fiz. — Não. Nem um pouco.
— Sim. — Ele murmurou contra o topo da minha cabeça, — Então, com
quem você estava treinando?
Fechei os olhos. Estar tão perto dele, com a corda e tudo, era fácil parar de
pensar. Assim como tinha sido enquanto lutava. — Eu sempre faço par com
Jackson.
Após a aula no dia seguinte, andei ao redor do centro de treinamento.
Eu me vi caminhando para a sala menor em que Aiden tinha estado quando
descobri sobre o meu pai. É claro que ele não estava lá agora. Ninguém estava.
Soltando minha bolsa ao lado da porta, me aproximei do saco de pancadas
pendurado no meio dos tapetes. Era uma coisa velha maltrapilha que tinha visto
dias melhores. Partes do couro preto tinham saído. Alguém tinha colocado fita
adesiva e remendado. Corri meus dedos sobre as bordas da fita.
Inquietação avançou sobre a minha pele. A ideia de voltar para o meu
dormitório e passar um tempo sozinha não era atraente. Eu não tinha visto Seth
desde que ele me deixou ontem. Imaginei que ele ainda estava chateado com a
questão.
Eu empurrei o saco com as palmas das mãos. Então virei minhas mãos para
cima. Dois glifos suavemente brilhantes olharam de volta para mim.
Meu olhar voltou para o saco de pancadas. Esteve meu pai treinando neste
Covenant? Esteve na mesma sala? Isso explicaria como ele tinha conhecido
minha mãe tão bem. Mais uma vez, a melancolia se apoderou de mim.
A porta da sala se abriu. Eu me virei, esperando o Guarda Linard. Mas não
era ele. Meu coração deu uma breve dança estúpida feliz.
Aiden entrou na sala de treinamento, a porta de correr fechou atrás dele.
Ele usava o traje de um sentinela: uma camisa de manga comprida preta e
calça preta. Eu apenas olhei para ele como uma idiota.
A maneira como meu corpo respondia a ele - um puro-sangue - era
totalmente imperdoável. Eu sabia disso, mas não conseguia me impedir de ficar
sem fôlego ou de sentir calor que queimava a minha pele. Não era apenas a sua
aparência. Não me interpretem mal - Aiden tinha toda a coisa da beleza rara
masculina - mas era mais do que isso. Ele me entendia de uma forma que muito
poucas pessoas conseguiam. Ele não precisava de uma ligação para fazê-lo, como
Seth. Aiden me entendia através de sua inabalável paciência... e de não suportar
qualquer uma das minhas porcarias. Durante o verão, tínhamos passado horas
juntos treinando e conhecendo um ao outro. Eu gostava de pensar que algo
bonito tinha crescido ali. Depois do que ele fez para me proteger, em Nova York...
E depois com Jackson, eu já não podia estar realmente brava com ele sobre o dia
em que me disse que não poderia me amar.
Aiden me observava com curiosidade. — Eu vi Seth entrar na parte principal
da Ilha Divindade e você não estava com ele. Então achei que estaria aqui.
— Por quê?
Ele deu de ombros. — Eu sabia que você estaria em uma das salas de
treinamento, apesar de terem te dito para pegar leve.
Sempre que ele estava lidando com algo, ele batia as esteiras. Eu era do
mesmo jeito, o que me lembrava da noite em que o abordei depois de saber o
destino verdadeiro da minha mãe. Eu me virei, passando os dedos no centro do
saco.
— Como você está - suas costelas e o lábio?
Ambos estavam doloridos, mas eu já me tinha sentido pior. — Bem.
— Você já escreveu a carta para eu dar a Laadan? — Ele perguntou, depois
de alguns momentos.
Meus ombros caíram. — Não. Não sei o que dizer. — Não é como se eu não
tivesse pensado nisso, mas o que você diria a um homem que acreditava estar
morto - um pai que nunca conheceu?
— Basta dizer-lhe como você se sente, Alex.
Eu ri. — Não sei se ele quer saber tudo isso.
— Ele quer. — Aiden parou, e o silêncio se estendeu entre nós. — Você
parece meio... desligada ultimamente.
Eu ainda me sentia meio estranha. — É o resfriado.
— Você parecia que ia desmaiar no escritório de Marcus e, vamos encarar,
não havia nenhuma razão para que você não pudesse ter dado conta de derrubar
Jackson ontem... Ou pelo menos tirá-lo do caminho. Você tem parecido exausta,
Alex.
Suspirando, eu o encarei. Ele estava largado contra a parede, as mãos
enfiadas nos bolsos. — Então o que você está fazendo aqui? — Perguntei,
procurando tirar o foco de cima de mim.
A expressão de Aiden era conhecedora, — Observando você.
Calor vibrou em meu peito, — Sério? Isso não é assustador ou algo assim.
Um sorriso minúsculo apareceu, — Bem, eu estou de serviço.
Olhei ao redor da sala, — Você acha que há daimons aqui?
— Eu não estou caçando agora. — Uma mecha de cabelo ondulado castanho
escuro caiu em seus olhos cinzentos quando ele inclinou a cabeça para o lado, —
Eu tenho uma nova atribuição.
— Me conte.
— Além de caçar, estou te protegendo.
Eu pisquei e então ri tanto que minhas costelas doíam. — Deuses, isso deve
ser um saco para você.
Suas sobrancelhas franziram. — Por que você acha isso?
— Você não pode se livrar de mim, não é? — Me virei para o saco,
procurando por um ponto fraco, — Quero dizer, mesmo que não queira, você
continua selado a mim.
— Eu não considero um saco vigiar você. Por que você acha isso?
Fechei os olhos, me perguntando por que eu mesma disse isso. — Então,
Linard também tem uma nova missão?
— Sim. Você não respondeu minha pergunta.
E eu não ia. — Será que Marcus lhe pediu para fazer isso?
— Sim, ele fez. Quando você não está com Seth, ele quer Linard, ou Leon, ou
eu, te vigiando. Há uma boa chance de que quem quer que te queira mal...
— Ministro Telly. — Eu acrescentei, cerrando meu punho.
— Quem quer que seja que queria te prejudicar em Catskills, vai tentar algo
aqui. Depois, há as fúrias.
Eu dei um soco no saco, imediatamente estremecendo quando isso puxou os
músculos doloridos das minhas costelas. Deveria ter envolvido-as primeiro.
Estúpida. — Vocês não podem lutar contra as fúrias.
— Se elas aparecerem, vamos tentar.
Apertando a minha mão, eu dei um passo para trás. — Você vai morrer
tentando. Essas coisas, bem, você viu o que elas são capazes. Se eles vierem,
apenas saia do caminho.
— O quê? — Descrença coloriu seu tom.
— Eu não quero ver as pessoas morrerem sem nenhuma razão.
— Morrer sem razão?
— Você sabe que elas vão apenas continuar a voltar e eu não quero que
alguém morra quando tudo parece... inevitável.
A respiração que ele deu foi afiada e audível na sala pequena, — Você está
dizendo que acredita que sua morte é inevitável, Alex?
Empurrei o saco de pancadas de novo. — Eu não sei o que estou dizendo.
Apenas esqueça isso.
— Alguma coisa... Alguma coisa está diferente em você.
Um desejo de fugir da sala encheu-me, mas eu enfrentei ele em vez disso.
Olhei para minhas mãos. As marcas ainda estavam lá. Por que eu continuava a
verificá-las como se elas fossem embora ou algo assim? — Tanta coisa aconteceu,
Aiden. Eu não sou a mesma pessoa.
— Você ainda era a mesma pessoa no dia em que descobriu sobre seu pai. —
ele disse, seus olhos ficando da cor de uma nuvem de tempestade.
A raiva começou baixo no meu estômago, cantarolando pelas minhas veias.
— Isso não tem nada a ver com isto.
Aiden saiu da parede, tirando as mãos de seus bolsos. — O que é isto?
— Tudo! — Meus dedos cravaram em minhas mãos, — Qual é o ponto em
tudo isso? Vamos apenas pensar hipoteticamente aqui por um segundo, ok?
Digamos que Telly, ou quem quer que seja, não consiga me enviar à servidão, ou
matar-me, e as fúrias não acabem comigo, eu ainda vou fazer 18 anos. Eu ainda
vou Despertar. Então, qual é o ponto? Talvez eu deva ir embora. — Caminhei
para onde eu tinha deixado minha bolsa, — Talvez Lucian me deixe ir para a
Irlanda ou algo assim. Eu gostaria de ir lá antes de ser...
Aiden agarrou meu braço, me virando para que eu o encarasse. — Você disse
que tinha de ficar no Covenant para que pudesse se formar, porque você
precisava ser uma sentinela mais do que qualquer outra pessoa na sala. — Sua
voz caiu baixo quando seus olhos procuraram os meus atentamente, — Você
acreditava nisso. Isso mudou?
Eu puxei meu braço para longe, mas ele segurou. — Talvez.
As pontas das maçãs do rosto de Aiden ficaram vermelhas. — Então você
está desistindo?
— Não acho que isso seja desistir. Chame isso de... aceitar a realidade.
Eu sorri, mas me senti mal.
— Isso é bobeira, Alex.
Abri minha boca, mas nada saiu. Eu argumentei em ficar no Covenant para
que pudesse me tornar uma Sentinela. E eu sabia que, no fundo, ainda queria
tornar-me uma, pela minha mãe, por mim, mas eu não tinha certeza se era o que
eu ainda precisava. Ou o que eu poderia concordar, se eu fosse honesta comigo
mesma. Depois de ver aqueles servos abatidos no chão e ninguém se
importando... Ninguém veio para ajudá-los.
Não tinha certeza se poderia ser parte de tudo disso.
— Você nunca foi de se afundar na auto-piedade quando as probabilidades
estão contra você.
Meu queixo estalou. — Não vou me afundar na auto-piedade, Aiden.
— Sério? — disse ele baixinho. — Assim como você não se contentou com
Seth?
Ah, bons deuses, não era o que eu queria ouvir. — Eu não estou me
contentando. — Mentirosa, sussurrou uma voz na minha cabeça. — Eu não quero
falar sobre Seth.
Ele desviou os olhos por um segundo e então me encarou novamente. — Eu
não posso acreditar que você o perdoou pelo que... pelo que ele fez com você.
— Isso não foi culpa dele, Aiden. Seth não me deu a bebida. Ele não forçou...
— Ele ainda sabia melhor do que isso!
— Não vou falar sobre isso com você. — Comecei a recuar.
A mão ao lado dele se apertou. — Então você ainda... está com ele?
Parte de mim se perguntou o que tinha acontecido com o Aiden que me
segurou em seus braços quando eu disse a ele sobre meu pai. Essa versão tinha
sido mais fácil de lidar. Então, novamente, obviamente, eu não estava me
comportando como a pessoa que eu era antes de qualquer maneira. E uma parte
de mim gostava da maneira como Aiden disse ‘ele’ - como se até o nome dele o
fizesse querer socar alguma coisa. — Defina 'com', Aiden.
Ele me olhou fixamente.
Ergui minha cabeça. — Você está me perguntando se nós ainda saímos
juntos ou se somos apenas amigos? Ou você quis perguntar se estamos dormindo
juntos?
Seus olhos se estreitaram em fendas finas que brilhavam uma prata feroz.
— E por que você está perguntando, Aiden? — Eu me afastei, e ele soltou, —
Qualquer que seja a resposta não importa mesmo.
— Importa.
Pensei sobre as marcas e o que elas significavam. — Você não tem ideia. Isso
não importa. É o destino, lembra? — Peguei minha bolsa novamente, mas ele
pegou meu braço novamente. Olhei para cima, expirando lentamente, — O que
você quer de mim?
Então seus olhos pareceram compreender, tornando-se mais suaves, — Você
está com medo.
— O quê? — Eu ri, mas soou como um grasnido nervoso, — Eu não estou
com medo.
Os olhos de Aiden flutuaram sobre a minha cabeça e determinação apareceu
em seus olhos. — Sim. Você está. — Sem dizer nada, ele me virou e me puxou
para a câmara de privação sensorial.
Meus olhos se alargaram. — O que você está fazendo?
Ele continuou puxando até que parou em frente da porta. — Você sabe para
que eles usam isso?
— Hum, para treinar?
Aiden olhou para mim, sorrindo com força. — Você sabe como antigos
guerreiros treinavam? Eles costumavam lutar com Deimos e Phobos6, que
usavam os piores temores dos guerreiros contra eles durante a batalha.
— Obrigada pela lição de história estranha, mas...
— Mas desde que os deuses do Medo e do Terror estão fora do circuito por
algum tempo, eles criaram esta câmara. Eles acreditavam que a luta usando
apenas seus outros sentidos para guiá-los era a melhor maneira de aprimorar
suas habilidades e enfrentar seus medos.
— O medo de quê?
Ele abriu a porta e um buraco negro nos cumprimentou. — Qualquer temor
que esteja te prendendo.
Cavei nos meus calcanhares. — Eu não estou com medo.
— Você está com medo.
— Aiden, estou a dois segundos de... — Meu grito de surpresa me cortou
quando ele me arrastou para dentro da câmara, fechando a porta atrás de si, me
lançando no quarto, na escuridão total. Minha respiração congelou na minha
garganta. — Aiden... eu não consigo ver nada.
— Esse é o ponto.
— Bem, obrigado, Capitão Óbvio. — Procurei às cegas, mas só senti o ar, —
O que você espera que eu faça aqui? — Assim que a pergunta saiu da minha
boca, eu fui tomada por imagens totalmente inadequadas de todas as coisas que
poderíamos fazer aqui.
— Nós lutamos.
6 Deimos (pânico) é uma figura da mitologia grega. Ele é um dos três filhos de Ares e de
Afrodite, sendo irmão de Phobos, o Medo. O terrível Deimos é a personificação do Pânico e
acompanhava seu pai e seu irmão Phobos, fazendo as tropas abandonarem a formação e fugirem
desordenamente.
Bem, isso era uma droga. Eu inalei, pegando o cheiro de tempero e do
oceano. Lentamente, levantei a minha mão. Meus dedos roçaram algo duro e
quente - seu peito? Então não havia nada além do espaço vazio. Oh deuses, isto
não ia ser nada bom.
De repente, ele agarrou meu braço e me virou. — Posicione-se.
— Aiden, eu realmente não quero fazer isso agora. Estou cansada e fui
chutada no...
— Desculpas. — disse ele, sua respiração perigosamente perto de meus
lábios.
Eu congelei.
Sua mão se foi. — Entre em posição.
— Eu estou.
Aiden suspirou. — Não, você não está.
— Como você sabe?
— Eu posso dizer. Você não se mexeu, — disse ele, — Agora, entre em
posição.
— Caramba, você é como um gato que pode ver no escuro ou algo assim? —
Quando ele não respondeu, eu gemi e me movi para a posição: os braços a meia
altura, pernas e pés enraizados no lugar, — Tudo bem.
— Você precisa enfrentar seus medos, Alex.
Eu olhava, mas não via nada. — Pensei que você disse que eu era destemida.
— Você normalmente é. — De repente, ele estava na minha frente e seu
cheiro estava me deixando distraída, — É por isso que ter medo agora é tão difícil
para você. Ter medo não é uma fraqueza, Alex. É apenas um sinal de algo que
você deve superar.
— O medo é uma fraqueza. — Esperando que ele ainda estivesse na minha
frente, eu decidi ir junto com ele. Joguei um cotovelo, mas ele não estava lá.
E então ele estava atrás de mim, sua respiração dançando ao longo da parte
de trás do meu pescoço. Eu me virei, segurando o ar. — Do que você tem medo?
Uma lufada de ar e ele estava atrás de mim novamente. — Isso não é sobre
mim, Alex. Você tem medo de se perder.
— Claro que não. No que eu estava pensando? — Eu me virei, xingando
quando ele se foi. Isso estava me deixando tonta, — Então por que você não me
diz do que eu tenho medo, grande destemido?
— Está com medo de se tornar algo que você não tem controle. — Ele pegou
meu braço enquanto eu balançava na direção do som de sua voz, — Isso a
assusta até a morte. — Ele soltou, recuando.
Ele estava certo, e por isso, a raiva e a vergonha me inundaram. Fora da
escuridão em torno de mim, havia uma mancha mais espessa do que o resto. Eu
me joguei para ele. Antecipando o movimento, ele me pegou pelos ombros. Eu
balancei, pegando-o no estômago e no peito.
Aiden me empurrou para trás. — Você está com raiva porque eu estou certo.
Um som rouco subiu na minha garganta. Eu apertei a minha boca fechada e
balancei novamente. Meu cotovelo conectou com alguma coisa. — Uma Sentinela
nunca tem medo. Eles nunca recuam e fogem.
— Você está recuando e fugindo, Alex?
O ar agitou em torno a mim e eu pulei, por pouco não levei o que era,
provavelmente, uma rasteira perfeita. — Não!
— Isso não é o que parecia antes. — disse ele. — Você queria aceitar a oferta
de Lucian. Visitar a Irlanda?
— Eu... Eu estava... — Droga, eu odiava quando ele estava certo.
Aiden riu de algum lugar na escuridão.
Segui o som. Indo longe demais, muito presa na minha raiva, eu perdi meu
senso de equilíbrio quando ataquei. Aiden pegou meu braço, mas nenhum de nós
poderia ganhar a batalha nessa escuridão. Quando caí, ele veio comigo.
Caí de costas, com Aiden bem em cima de mim.
Aiden pegou meus pulsos antes que eu pudesse acertá-lo novamente,
fixando-os em cima da minha cabeça e para baixo sobre as esteiras. — Você
sempre deixa suas emoções ter o melhor de você, Alex.
Tentei empurrá-lo, não confiando em mim mesma para falar. Um soluço foi
crescendo em minha garganta enquanto eu mexia com ele, conseguindo uma
perna livre.
— Alex. — Avisou baixinho. Ele pressionou para baixo, e quando ele
respirava, seu peito se levantava contra o meu. Na completa escuridão da sala de
privação sensorial, sua respiração estava quente contra meus lábios. Eu não
ousei me movimentar. Nem mesmo uma fração de uma polegada.
Seu aperto em torno de meus pulsos se afrouxou e sua mão escorregou
sobre meu ombro, tocando meu rosto. Meu coração estava tentando sair do meu
peito naqueles segundos e todos os músculos travaram, ficaram tensos com
antecipação. Ele ia me beijar? Não. Meu lábio estava machucado, mas se ele
fizesse, eu não iria impedi-lo e eu sabia que era tão errado. Calafrios desceram na
minha espinha, e eu relaxei com ele.
— Não há problema em ter medo, Alex.
Eu joguei minha cabeça para trás, em seguida, querendo estar tão longe dele
quanto eu queria estar perto dele.
— Mas você não tem nada a temer. — Ele guiou meu queixo para baixo com
dedos suaves. — Quando você vai aprender? — Sua voz era pesada, áspera, —
Você é a única pessoa que tem controle sobre quem você se torna. Você é muito
forte para que se perca. Eu acredito nisso. Por que você não pode acreditar?
Minha respiração saiu trêmula. Sua fé em mim era quase minha ruína. O
inchaço no meu peito teria me levantado das esteiras. Vários momentos se
passaram antes que eu pudesse falar. — Do que você tem medo? — Perguntei de
novo.
— Pensei que você disse que não eu tinha medo de nada, uma vez. — Ele
jogou de volta.
— Eu disse.
Aiden se mexeu um pouco e seu polegar acariciou a curva do meu rosto, —
Eu tenho medo de uma coisa.
— Do que? — Sussurrei.
Ele deu um suspiro profundo e trêmulo. — Eu tenho medo de nunca ser
permitido sentir o que eu sinto.
O
Sete
ar ficou preso enquanto eu tentava respirar. Desejei poder ver seu
rosto, seus olhos. Quis saber o que ele estava pensando neste exato momento,
tocá-lo. Mas fiquei deitada lá, meu coração era a única parte de mim que estava
se movendo.
Seu polegar roçou minha bochecha mais uma vez. — Isso é o que me
assusta. — Então ele se ergueu de cima de mim. Recuou, as esteiras rolando sob
seu passo instável, — Eu vou estar na outra sala de treinamento quando você
estiver pronta... Para caminhar de volta para o seu dormitório.
Houve um breve flash de luz das salas de treinamento externas quando ele
deslizou para fora da porta e, em seguida, escuridão me cobriu de novo.
Não me movi, mas meu cérebro correu disparado. Ele estava com medo de
nunca ser autorizado a sentir o que sentia. Deuses, eu não era estúpida, mas
desejei que eu fosse. Eu sabia o que ele queria dizer e também sabia que isso não
queria dizer uma maldita coisa. Parte de mim estava com raiva, porque ele se
atreveu a dizer isso quando tudo o que fez foi tornar meu peito pesado com um
dolorido desejo - um desejo tão intenso que sentia como se pudesse me esmagar
sob o seu peso. E por que admitir isso agora, quando eu lhe implorara antes para
apenas me dizer que sentia o mesmo e ele negara? O que era tão diferente agora?
E ele estava certo sobre a outra coisa. Eu estava aterrorizada de me tornar
algo que eu não pudesse controlar, de perder-me para o vínculo, para Seth.
Parecia que, mesmo se eu conseguisse passar todos os outros obstáculos no meu
caminho, haveria esse - o que eu não poderia ultrapassar com a boa imprudência
de Alex.
A porta se abriu novamente e o suave murmúrio de duas vozes masculinas
flutuou pela sala. Houve uma risada profunda e rouca conforme as esteiras
mergulhavam sob os seus pés. Eu poderia ter dito algo, mas estava perdida
demais em meus próprios pensamentos para sequer pronunciar uma única
palavra.
Um segundo depois, pés se emaranharam com minhas pernas e um ganido
de surpresa soou. As esteiras cederam quando um corpo desabou, meio-
esparramado em cima de mim. Soltei um “oomph” e empurrei as mãos do meu
peito.
— Deuses, Alex! — Exclamou Luke, rolando de cima de mim e sentando-se,
— Santo Hades, o que você está fazendo aqui dentro?
— Como você soube que era eu apenas sentindo meus peitos? —
Resmunguei, jogando um braço sobre meu rosto.
— É um superpoder.
— Uau.
Luke bufou. Senti as esteiras rolarem quando ele ficou de frente para seu
parceiro misterioso, silencioso. — Hey, — Luke disse. — Você pode nos dar
alguns minutos?
— Claro. Tanto faz. — O cara respondeu, mergulhando de volta para fora da
porta. A voz era super familiar, mas por mais que eu tenha tentado, não pude
identificá-la.
— Pervertido. — Eu disse, — Para quê você tem usado essas salas, Luke?
Seu travesso.
Ele riu. — Eu uso para algo malditamente mais divertido e mais normal do
que o motivo que você tem usado. Você é a que está deitada em uma sala escura
sensorial como uma pequena aberração. O que você está fazendo aqui dentro?
Conspirando para destruir o Covenant? Meditando? Se auto-satisfazendo?
Fiz uma careta. — Você não tem algo melhor para fazer?
— Yeah, tenho.
— Então vá. Esta sala já está ocupada.
Luke suspirou. — Você está sendo ridícula.
Achei que isso era engraçado considerando que ele não tinha ideia de por
que eu estava sendo uma “pequena aberração” na sala sensorial. Luke não tinha
ideia do que acabara de acontecer aqui dentro. Ele provavelmente pensava que eu
estava me escondendo de todo mundo ou tendo algum tipo de colapso mental.
Essa última parte ainda estava indecisa e poderia ser uma forte possibilidade. Se
Caleb tivesse sido quem tinha tropeçado em cima de mim, ele teria sabido.
Suguei uma respiração afiada.
Perdê-lo não estava ficando nada mais fácil, percebi de repente.
— É uma droga não ter nenhum amigo, não é? — Luke perguntou depois de
alguns momentos.
Franzi o cenho. — Sabe, é uma coisa boa que você não pode se tornar um
terapeuta, porque você realmente é uma droga em toda a coisa de “fazer as
pessoas se sentirem melhores sobre si mesmas”.
— Mas você tem amigos. — Ele continuou como se eu não tivesse dito uma
maldita coisa. — Você apenas parece ter se esquecido de nós.
— Como quem?
— Como eu. — Luke estendeu-se ao meu lado, — E há Deacon. E Olivia.
Bufei. — Olivia odeia minhas tripas.
— Ela não odeia.
— Besteira. — Deixei cair meu braço, enfrentando-o na escuridão. — Ela me
culpa pela morte de Caleb. Você a ouviu no dia do funeral dele e no corredor
ontem.
— Ela está ferida, Alex.
— Eu estou ferida, também! — Sentei-me, cruzando as pernas.
As esteiras sacudiram quando Luke rolou para o lado. — Ela amava Caleb.
Tão impraticável como é qualquer um de nós amar alguém, ela o amava.
— E eu o amava. Ele era o meu melhor amigo, Luke. Ela me culpa pela
morte do meu melhor amigo.
— Ela não culpa você, não mais.
Alisei para trás os minúsculos cabelos que tinham escapado meu rabo de
cavalo. — Quando isso aconteceu? Nas últimas vinte e quatro horas?
Destemido, Luke sentou-se e de alguma forma encontrou a minha mão na
escuridão. — No dia em que ela se aproximou de você no corredor, ela queria te
pedir desculpas.
— Isso é engraçado, porque eu me lembro dela dizendo algo como que eu
precisava refrear meu sofrimento. — Eu não afastei minha mão da dele, porque
era meio que agradável alguém me tocar e nada bizarro acontecer, — Essa é uma
nova forma de pedido de desculpas que eu não conheço?
— Eu não sei no que ela estava pensando. Ela queria pedir desculpas, mas
você não iria parar para conversar com ela. — Luke explicou suavemente. — Ela
perdeu a calma. Ela foi uma vadia sobre isso. Olivia sabe disso. Depois você
chutando o traseiro dela na frente de todo mundo não ajudou, também.
A velha Alex teria dado uma risadinha debochada com isso, mas isso não me
fez sentir bem.
— Você precisa conversar com ela, Alex. Vocês duas precisam uma da outra
agora.
Puxei minha mão livre e fiquei de pé rapidamente. A sala de repente parecia
sufocante e insuportável. — Eu não preciso dela ou de qualquer um.
Luke estava de pé ao meu lado em um instante. — E essa foi provavelmente
a coisa mais infantil que você já disse.
Estreitei meus olhos em sua direção geral. — E eu tenho algo ainda mais
infantil para te dizer. Eu estou a tipo dois segundos de bater em você.
— Isso não é muito agradável, — Luke provocou, pisando em torno de mim.
— Você precisa de amigos, Alex. Tão sexy quanto Seth é, ele não pode ser seu
único amigo. Você precisa de um tempo para garotas. Precisa de alguém com
quem você possa chorar, alguém que não esteja tentando entrar em suas calças.
Você precisa de alguém que queira estar perto de você não pelo que você é, mas
quem você é.
Meu queixo atingiu a esteira. — Uau.
Luke deve ter sentido minha reação atordoada, porque riu. — Todo mundo
sabe o que você é, Alex. E a maioria das pessoas acha que é muito malditamente
legal. O que elas não acham que é legal - a razão pela qual todo mundo está te
evitando - é a sua atitude. Todo mundo percebe que você está ferida sobre Caleb
e o que aconteceu com sua mãe. Entendemos isso, mas não significa que
tenhamos que tolerar você constantemente sendo uma vadia.
Abri minha boca para dizer a Luke que eu não era aquela sendo a vadia, que
foram todos eles que vinham me tratando como um cão de três cabeças desde
que eu retornara - e até mesmo antes disso - mas nada saiu. Além de passar o
tempo com Seth, eu tinha me isolado de todo mundo.
E às vezes eu era uma pessoa terrível. Eu tinha razões - boas razões, mas
eram apenas desculpas. Peso se assentou sobre meu peito.
No silêncio e na escuridão nos rodeando, Luke me encontrou e envolveu
seus braços em meus ombros rígidos. — Bem, talvez nós tenhamos que tolerar
isso um pouquinho. Você é uma Apollyon afinal de contas. — Pude ouvir o sorriso
em sua voz, — E mesmo que você tenha sido uma vadia gigante, nós ainda te
amamos e estamos preocupados.
Um caroço se formou na minha garganta. Lutei contra isso, realmente lutei,
mas senti lágrimas picando meus olhos enquanto meus músculos começavam a
relaxar. Minha cabeça de alguma forma encontrou seu ombro e ele acariciou
minhas costas de forma tranquilizadora. Por um momento, eu pude acreditar que
Luke era Caleb e na minha cabeça, fingi contar a ele tudo o que tinha acontecido.
Meu Caleb de faz de conta sorriu para mim, me segurou mais perto, e ordenou-
me a tirar minha cabeça do meu traseiro. Que sem importar o que tinha
acontecido e tudo que eu aprendi, o mundo não tinha acabado e não ia acabar.
E por enquanto, isso pareceu ser o suficiente.
Aiden estava esperando por mim quando finalmente me arranquei da sala
sensorial. Ele não disse nada enquanto nos dirigíamos para fora. Ambos
havíamos dito e provavelmente pensado o suficiente. Não havia qualquer
estranheza entre nós, mas havia este sentido vasto de… incerteza. Embora,
pudesse só ter sido eu projetando meus próprios sentimentos nele.
Nos dirigimos para o caminho que ia em direção aos dormitórios. O vento
chutava areia para cima e havia uma sensação fria e úmida no ar enquanto nos
aproximávamos do jardim.
Dois garotos puros estavam encarando a estátua de mármore de Apollo
alcançando Daphne enquanto ela se transformava numa árvore. Um acotovelou o
outro, — Hey, olhe. Apollo está pegando lenha.
Seu amigo riu. Revirei os olhos.
— Alex. — Houve algo na voz de Aiden, uma aspereza que me disse que o
que quer que ele estivesse prestes a dizer ia ser poderoso. Seu olhar se moveu
para o meu rosto, em seguida, para trás de mim. — Que diabos?
Não era o que eu estava esperando.
Aiden passou roçando por mim, focado exclusivamente em algo diferente de
mim. Droga. Girei ao redor. — Você não… Oh.
Agora eu via o que tinha interrompido Aiden.
Dois caras mestiços carregavam um Jackson quase inconsciente entre eles -
um dificilmente reconhecível Jackson. Parecia que ele tinha acordado no lado
errado de uma porradaria. Cada centímetro visível de sua pele estava machucado
ou ensanguentado - olhos inchados fechados, lábios divididos bem abertos - e a
marca profunda, irritada espalhada através de sua bochecha esquerda
suspeitosamente se assemelhava a uma marca de bota.
— O que aconteceu com ele? — Aiden exigiu, tomando o lugar de um dos
mestiços e praticamente apoiando todo o peso do garoto.
O mestiço balançou a cabeça. — Eu não sei. Nós o encontramos assim no
pátio.
— Eu... Eu caí. — Jackson disse, sangue e saliva escorrendo de sua boca.
Acho que ele estava com alguns dentes faltando.
Uma expressão dúbia atravessou o rosto de Aiden. — Alex, por favor, vá
direto para o seu dormitório.
Assentindo mudamente, saí do caminho. Eu ainda estava puta com
Jackson. Ele tentou pisotear na minha cabeça, mas o que tinha sido feito com ele
foi horrível e calculista. Comparado com o punho que Aiden plantara em seu
rosto quando Jackson tinha…
Meus olhos arregalados encontraram os de Aiden por um segundo antes de
ele carregar Jackson em direção ao edifício de medicina. Minha conversa com
Seth voltou para mim.
— Então, com quem você treinou? — Ele perguntara.
— Eu sempre treino com Jackson.
Meus deuses, Seth tinha feito isto.
Parecia que Seth estava me evitando, provavelmente por causa de todo o
incidente do sanduíche de presunto. Nossas práticas eram ou cancelados ou
consistiam em trabalhar em meus escudos mentais. Por uma semana inteira,
sempre que o via, eu perguntava a ele sobre Jackson. Com um olhar de completa
inocência, ele me dissera que não tinha feito isso. Eu não acreditei nele e disse-
lhe exatamente isso.
Ele olhara para mim, expressão lindamente vazia e disse, — Agora, por que
eu alguma vez faria tal coisa?
Eu não queria acreditar que ele tinha, porque quem quer que tivesse feito
isso com Jackson o pusera fora de serviço por um longo tempo. Jackson não
estava falando, literalmente. Sua mandíbula estava lotada de pontos, e eu tinha
ouvido que ele precisaria de um monte de tratamento dentário. Mesmo que ele se
curasse muito mais rápido do que um mortal, eu sabia que ele ainda não estava
falando. O garoto deve ter levado um susto de morte.
E mesmo que não quisesse acreditar que foi Seth, eu não conseguia me
libertar das minhas suspeitas. Quem mais faria uma coisa dessas com Jackson?
Seth tinha motivo - um motivo que me fazia sentir doente. Se ele tivesse feito isso,
teria sido por causa do que Jackson fizera comigo na aula. Mas como ele poderia
fazer algo tão... violento, tão instável? Essa pergunta me assombrava.
A única coisa boa foi que o medo esquisito que se instalara em cima de mim,
como um cobertor que coça, desapareceu. Uma minúscula parte de mim sentia
falta da companhia de Seth durante as noites e do jeito que ele sempre conseguia
me transformar em um travesseiro humano durante a noite, mas havia outra
parte de mim que estava meio que aliviada. Como se não houvesse nada adicional
esperado de mim.
Mesmo que ninguém tivesse tentado me drogar ou me matar, Linard e Aiden
ainda me seguiam por aí. E quando eles estavam ocupados, era a massiva
sombra de Leon que espreitava atrás de mim. Eu tinha desenvolvido o hábito de
sair pelos corredoes das salas de treinamento, até mesmo nos dias em que Seth e
eu não iríamos praticar. Eu sabia que Aiden eventualmente me encontraria lá.
Nós não conversamos sobre estar com medo de novo, mas nós meio que só…
passávamos o tempo juntos… Na sala de treinamento.
Pode parecer algo pequeno, mas eu me sentia como nos velhos tempos,
antes de tudo ficar tão incrivelmente ferrado. Às vezes Leon aparecia para nós.
Ele nunca parecia surpreso ou suspeito. Nem mesmo da última vez, quando
estávamos sentados de costas contra a parede, discutindo sobre se fantasmas
existiam ou não.
Eu não acreditava neles.
Aiden acreditava.
Leon pensara que éramos ambos idiotas.
Mas droga, eu ficava ansiosa por isso. Apenas sentar ali e conversar. Sem
treinar. Sem tentar tocar e usar akasha. Esses momentos com Aiden, mesmo
quando Leon decidia se juntar a nós, eram a minha parte favorita do dia.
Eu não tinha estrangulado Olivia de novo, mas as coisas eram super
desajeitadas quando eu a via - nenhuma grande surpresa aí. Mas comecei a
comer o meu almoço no refeitório com Seth. Depois do segundo dia, Luke se
juntou a nós, em seguida Elena, e finalmente Olivia. Nós não conversávamos,
mas também não berrávamos nada uma para a outra.
Algumas coisas não mudaram, entretanto. Os feriados mortais de Natal e
Ano Novo chegaram e passaram, junto com a maior parte de janeiro. A maioria
dos puros ainda parecia esperar que cada mestiço se transformasse em uma
criatura sugadora-de-éter-do-mal e saltasse neles. Deacon, irmão de Aiden, era
um dos poucos que ousava sentar ao nosso lado na aula ou conversar conosco ao
redor do campus. Outra coisa que não mudara era a minha incapacidade de
escrever uma carta para o meu pai. O que eu deveria dizer? Não tinha ideia. Cada
noite que estive sozinha, eu tinha começado uma carta, e depois parado. Bolas de
papel cobriam meu chão.
— Apenas escreva o que você está sentindo, Alex. Você está pensando
demais nisso. — Aiden dissera depois que eu tinha reclamado, — Você sabe que
ele está vivo já há dois meses agora. Você precisa apenas escrever sem pensar.
Dois meses? Não tinha parecido tanto tempo assim. E isso significava que eu
tinha um pouco mais de um mês antes de eu Despertar. Talvez eu estivesse
tentando desacelerar o tempo. De qualquer forma, meus sentimentos estavam em
todo o lugar, e se o meu pai fosse tão competente quanto eu acreditava que ele
fosse, eu não queria que ele pensasse que eu tinha problemas.
Então, depois da prática com Seth, recolhi meu caderno e me dirigi a uma
das menos lotadas salas de recreação. Enrolando-me no canto de um sofá
vermelho brilhante, encarei uma página em branco e mastiguei a ponta da minha
caneta.
Linard assumiu a posição na porta, parecendo entediado. Quando ele me
apanhou observando-o, fiz uma careta e retornei a contemplar as linhas azuis no
papel. Luke interrompeu algumas vezes, tentando atrair-me para um jogo de
hóquei de mesa.
Quando sua sombra caiu sobre meu caderno de novo, eu gemi. — Eu não
quero…
Olivia estava de pé na minha frente, vestindo um suéter grosso de caxemira
que comecei imediatamente a cobiçar. Seus olhos castanhos estavam
arregalados.
— Uh… Desculpe, — eu disse. — Pensei que você fosse Luke.
Ela alisou uma mão sobre seu cabelo cacheado. — Ele está tentando fazer
você jogar skee ball7?
— Não. Ele passou para hóquei de mesa.
Sua risada foi nervosa quando olhou de relance para o grupo nos jogos de
arcade. Em seguida, endireitou os ombros enquanto fazia um gesto para o local
ao meu lado. — Posso me sentar?
Meu estômago revirou. — Yeah, se você quiser.
Olivia se sentou, correndo as mãos sobre suas pernas vestidas de jeans.
Vários momentos se passaram sem que nenhuma de nós falasse. Ela foi a
primeira a quebrar o silêncio. — Então, como... como tem passado?
Foi uma pergunta carregada, e minha risada saiu embargada e áspera. Eu
trouxe o bloco de notas para o meu peito enquanto olhava de relance para Luke.
Ele estava fingindo não ter nos notado juntas.
Ela soltou um pequeno fôlego e começou a se levantar. — Okay. Acho que…
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— Sinto muito. — Minha voz foi baixa, as palavras roucas. Senti minhas
bochechas queimarem, mas me forcei a continuar, — Sinto muito por tudo,
especialmente a coisa no corredor.
Olivia apertou suas coxas. — Alex...
— Eu sei que você amava Caleb e tudo em que eu estive pensando foi a
minha própria dor. — Fechei os olhos e engoli o caroço na minha garganta, — Eu
realmente queria poder voltar atrás e mudar tudo naquela noite. Já pensei um
milhão de vezes sobre todas as coisas que poderíamos ter feito de forma diferente.
— Você não deveria… Fazer isso consigo mesma. — Ela disse baixinho, — No
início, eu não queria saber o que realmente aconteceu, sabe? Como os detalhes.
Eu simplesmente não pude… lidar com eles por algum tempo, mas finalmente
consegui que Lea me contasse tudo há cerca de uma semana.
Mordi o lábio, incerta do que dizer. Ela não tinha aceitado o meu pedido de
desculpas, mas estávamos conversando.
Ela atraiu uma respiração superficial, seus olhos cintilando. — Ela me
contou que Caleb a salvou. Que você estava lutando com outro daimon, e se ele
não a tivesse agarrado, ela teria morrido.
Assenti, apertando o caderno. Lembranças da noite vieram à tona, de Caleb
passando rapidamente por mim.
— Ele era realmente corajoso, não era? — Sua voz travou.
— Sim, — Concordei com paixão. — Ele nem sequer hesitou, Olivia. Ele foi
tão rápido e tão bom, mas o daimon... Foi apenas mais rápido.
Ela piscou várias vezes, e seus cílios pareceram úmidos. — Sabe, ele me
contou o que aconteceu em Gatlinburg. Tudo pelo que vocês passaram e como
você o tirou da casa.
— Foi sorte. Eles, minha mãe e os outros, começaram a lutar. Eu não fiz
nada de especial.
Olivia olhou para mim então. — Ele pensava o mundo de você, Alex. — Ela
fez uma pausa, rindo baixinho, — Quando começamos a namorar, eu tinha
ciúmes de você. Era como se eu não pudesse fazer jus a tudo o que vocês tinham
vivido juntos. Caleb realmente te amava.
— Eu o amava. — Tomei uma respiração, — E ele te amava, Olivia.
Seu sorriso foi aguado. — Acho que eu precisava culpar alguém. Poderia ter
sido Lea, ou os Guardas que falharam em manter os daimons fora. Eu não sei. É
só que você é esta força imparável... Você é uma Apollyon. — Cachos elásticos
saltaram quando ela balançou a cabeça, — E…
— Não sou uma Apollyon, ainda. Mas entendo o que você está dizendo. Eu
sinto muito. — Apertei o arame no caderno, — Eu só desejo…
— E eu sinto muito.
Minha cabeça sacudiu em direção a ela.
— Não foi sua culpa. E eu fui uma vadia total por te culpar. Naquele dia no
corredor, eu queria pedir desculpas, mas só saiu tudo errado. E sei que Caleb me
odiaria por te culpar. Eu não deveria ter feito isso, em primeiro lugar. Eu só
estava tão ferida. Sinto tanta falta dele. — Sua voz falhou e ela se virou,
respirando fundo, — Sei que essas são só desculpas, mas eu não te culpo.
Lágrimas obstruíram minha garganta. — Não culpa?
Olivia balançou a cabeça.
Eu queria abraçá-la, mas não tinha certeza se isso seria legal. Talvez fosse
cedo demais, — Obrigada. — Havia mais que eu queria dizer, mas não consegui
encontrar as palavras certas.
Seus olhos se fecharam. — Quer ouvir algo engraçado?
Pisquei. — Yeah.
Voltando-se para mim, ela sorriu abertamente embora seus olhos brilhassem
com lágrimas. — Depois do dia em que você e Jackson tiveram aquela luta, todo
mundo estava falando sobre isso no refeitório. Cody estava passando e disse algo
ignorante. Eu não me lembro o quê, mas provavelmente algo sobre o quanto era
ótimo ser um puro-sangue. — Ela revirou os olhos, — De qualquer forma, Lea se
levantou toda casualmente e despejou seu prato inteiro de comida na cabeça
dele. — Uma risadinha se libertou, — Sei que não deveria rir, mas desejei que
você tivesse visto aquilo. Foi hilário.
Minha boca caiu aberta. — Sério? O que Cody fez? Lea ficou com problemas?
— Cody teve um ataque, chamando-nos de um bando de bárbaros ou algo
lamentável assim. Acho que Lea foi notificada e sua irmã não estava muito feliz
com ela.
— Uau. Isso não soa como Lea.
— Ela está meio que mudada. — Olivia ficou séria, — Você sabe, depois de
tudo? Ela não é a mesma. De qualquer forma, tem algumas coisas que preciso
fazer, mas eu estou... Estou contente que nós conversamos.
Encontrei o seu olhar e senti um pouco da tensão escoar. Não seria como
antes, não por algum tempo. — Eu também.
Ela pareceu aliviada quando sorriu. — Vejo você no refeitório para o almoço
amanhã?
— Claro. Eu estarei lá.
— Vou partir para férias de inverno na próxima semana com a minha mãe.
Algum tipo de negócio do Conselho que ela tem que comparecer e quer que eu vá
com ela, mas quando eu voltar, nós podemos fazer alguma coisa? Como talvez
assistir a um filme ou sair?
Enquanto mortais tinham férias de inverno durante o feriado de Natal, nós
tínhamos o nosso o mês inteiro de Fevereiro, na celebração de Anthesterion. Nos
dias antigos, o festival era apenas três dias e todo mundo praticamente ficava
bêbado em honra a Dionísio. Era como Noite de Finados e Carnaval rolados em
uma enorme e bêbada orgia. Em algum ponto, os puros tinham estendido o
festival a um mês inteiro, o acalmado, e o enchido com sessões do Conselho.
Escravos e servos costumavam ser capazes de participar, mas isso também tinha
mudado. — Yeah, isso seria ótimo. Eu amaria.
— Bom. Vou te manter nisso. — Olivia se levantou para sair, mas parou na
porta. Virando-se, ela deu-me um pequeno aceno e um sorriso hesitante antes de
mergulhar para fora.
Olhei de relance para o meu caderno. Um pouco da dor e da culpa que
ficaram após a morte de Caleb tinha se erguido. Respirei fundo e rabisquei um
rápido bilhete para Laadan, dizendo-lhe para não se preocupar com o incidente
da bebida e agradecendo-lhe por me dizer sobre o meu pai. Depois escrevi duas
frases sob o breve parágrafo.
Por favor, diga ao meu pai que eu o AMO.
Vou consertar isto.
Mais tarde naquela noite, selei a carta e entreguei-a para Leon, que estava
pairando fora do meu dormitório, com instruções explícitas para dá-la a Aiden.
— Posso perguntar por que você está passando bilhetes para Aiden? — Ele
fitou a carta como se fosse uma bomba.
— É um bilhete de amor. Estou pedindo a ele para marcar um “X” em "sim"
ou "não" se ele gosta de mim.
Leon me prendeu com um olhar brando, mas enfiou a carta no seu bolso
traseiro. Dei-lhe um sorriso atrevido antes de fechar a porta. Sentia como se um
semi-reboque tivesse sido levantado dos meus ombros agora que eu tinha escrito
a carta. Girando para longe da porta, disparei em direção à mesa do computador.
Meus pés descalços bateram contra algo grosso e pesado.
— Ai! — Pulando em uma perna, eu olhei para baixo, — Oh, meus deuses,
eu sou tão estúpida.
O livro Mitos e Lendas encarou acima para mim. Inclinei-me rapidamente e o
agarrei. De alguma forma, durante toda essa loucura, eu tinha esquecido sobre
ele. Sentando-me, abri a coisa empoeirada e comecei a procurar a seção que
Aiden mencionara em Nova York.
Não tive sorte na parte escrita em Inglês. Suspirando, inverti para a frente do
livro e comecei a roçar as páginas cobertas com o que parecia linguagem sem
nexo para mim. Meus dedos ficaram imóveis a cerca de cem páginas, não porque
reconheci qualquer coisa da escrita, mas porque reconheci o símbolo no topo da
página.
Era uma tocha virada para baixo.
Havia várias páginas escritas em Grego antigo, completamente inúteis para
mim. Deveriam estar ensinando isso em vez de trigonometria no Covenant, mas o
que eu sabia? Então, novamente, aos puros era ensinada a língua antiga.
Aiden conhecia a língua antiga - meio nerd, de uma forma totalmente
quente.
Se eu pudesse descobrir mais sobre a Ordem, então talvez pudéssemos
conseguir a evidência necessária para provar que algo louco estava começando
com Telly e Romvi. Eu não estava cem por cento certa de que isso tinha alguma
coisa a ver com o que acontecera, mas era muito melhor do que a sugestão de
Seth.
A última coisa de que precisávamos era de uma revolta… ou um de nós
matando outro puro-sangue.
M
Oito
ais tarde naquela noite, quando eu estava meio dormindo, ouvi o
clique familiar da minha porta. Ergui-me apoiando no cotovelo e afastando a
bagunça de cabelo do meu rosto. O tremor fino deslizando pela minha espinha
me disse que era Seth. Trancas não tinham a menor chance contra ele. Ele as
derretia ou usava o elemento de ar para soltá-las a partir do outro lado.
Ele parou apenas dentro da porta. Seus olhos eram de um dourado suave,
brilhando no escuro.
Surpresa por vê-lo, me levou alguns momentos para dizer algo. — Você
supostamente não deveria estar em meu quarto tão tarde Seth.
— Isso alguma vez me parou antes? — Ele se sentou na beira da minha
cama e eu podia sentir seu olhar em mim, — Você está em um humor muito
melhor esta noite.
— E eu que pensava que estava ficando melhor em te bloquear.
— Você está. Você se saiu muito bem no treino de hoje.
— É por isso que você está aqui? — Ouvi-o tirando seus sapatos. — Porque
eu estou menos propensa a jogar comida em você agora?
— Talvez. — Eu podia ouvir o sorriso em sua voz.
— Eu estava começando a pensar que achava sua própria cama mais
atraente agora.
— Você sentiu a minha falta.
Dei de ombros. — Seth, sobre Jackson...
— Já disse a você. Não tive nada a ver com isso. E por que eu faria uma
coisa tão má?
— Eu não sei porquê. Talvez porque você é psicopata?
Seth riu. — 'Psicopata' é um termo tão extremo. Isso sugeriria que eu não me
sinto culpado por minhas ações.
Eu arquei uma sobrancelha. — Meu ponto é exatamente esse.
Quando ele puxou as cobertas, eu fui para o lado e observei-o deslizar as
pernas sob elas. Ele virou para o lado, de frente para mim.
— Você percebe que eu tenho um guarda. Eles saberão que você está aqui.
— Passei por Linard no meu caminho até aqui. — Ele afastou uma mecha do
meu cabelo que tinha caído sobre o meu rosto, colocando-o atrás da minha
orelha. Sua mão permaneceu, — Ele me disse que eu estava quebrando as regras.
Eu disse-lhe para me morder.
— E o que ele disse sobre isso?
A mão de Seth caiu para meu ombro, cobrindo a alça fina da parte superior
da minha camisola. O vínculo dentro de mim começou a cantarolar baixinho. —
Ele não pareceu muito feliz. Disse que ia me denunciar para Marcus.
Meu coração caiu um pouco. Não havia nenhuma dúvida em minha mente
que isso significava que Aiden iria ouvir sobre isto; Aiden tinha que estar ciente
dos hábitos de dormir do Seth. Nós se formaram no meu estômago enquanto eu
olhava para Seth. Eu não estou com Aiden. Eu não estou com Aiden. Eu não estou
fazendo nada de errado. Ainda assim, tensão cavou meus músculos.
— Não que Marcus realmente possa fazer algo sobre isso. — Ele se inclinou,
gentilmente me guiando para baixo, de modo que eu estava deitado de costas.
Seus dedos deslizaram sob a alça, e eu tremi com os nós dos dedos ásperos
roçando minha clavícula, — Ele é só o Diretor.
— É o meu tio, — Eu apontei. — E duvido que ele goste da ideia de meninos
dormindo na minha cama.
— Hmm, mas eu não sou apenas um garoto qualquer. — Ele inclinou a
cabeça para baixo. Seu cabelo caindo para frente, protegendo o rosto. — Eu sou o
Apollyon.
Meu peito aumentou bastante. — As regras... ainda se aplicam a você e eu.
— Ah, eu me lembro dessa garota que não poderia seguir uma regra simples,
mesmo se sua vida dependesse disso. — Ele inclinou a cabeça, o que resultou no
seu nariz escovando o meu. — E eu acho que o que nós estamos fazendo agora é
a menos chocante das regras que você já quebrou.
Eu corei quando coloquei minhas mãos em seu peito, impedindo-o de
ultrapassar os últimos centímetros que nos separavam. — As pessoas mudam. —
Eu disse sem convicção.
— Algumas pessoas o fazem. — Ele colocou seu braço ao lado da minha
cabeça, apoiando-se.
O vínculo estava realmente começando a ficar louco, exigindo que eu
prestasse atenção a ele. Meus pés enrolaram. — Você veio aqui para falar sobre
as regras que eu quebrei ou o quê?
— Não, na verdade eu tinha uma razão para vir.
— E qual é? — Eu me mexi desconfortavelmente, tentando ignorar a forma
como a minha pele, principalmente nas palmas das mãos, começou a formigar.
Graças aos deuses que ele tinha uma camisa.
— Dê-me um segundo.
Eu fiz uma careta. — Por que...
Seth baixou a cabeça, roçando os lábios nos meus, e ser apanhada entre a
vontade de apertar a minha boca fechada e querer abrir para ele era uma
sensação frustrante. Eu ansiava por estar perto dele da mesma forma como
queria ficar longe dele.
— Isso é... é por isso que você veio aqui? — Perguntei quando ele levantou a
cabeça.
— Não foi a principal razão.
— Então por que você está... — Sua boca cortou minhas palavras, e o beijo
se aprofundou, roubando meus protestos. O vínculo se apertou quando sua mão
escorregou pelo meu braço, sobre o meu estômago e sob a barra da minha
camisa.
Ele sorriu contra meus lábios. — Tenho que viajar com Lucian durante as
férias de inverno. Não vou voltar até o final de fevereiro.
— O quê? — O zumbido do vínculo estava ficando excessivo, o que tornava
difícil de me concentrar. Eu estava meio surpresa que ele me deixaria tão perto
do meu aniversário de dezoito anos, havia imaginado que ele acamparia no meu
quarto nas semanas que antecederiam o meu Despertar. — Aonde você vai?
— Para o Covenant de Nova Iorque. — Respondeu ele, deslizando a outra
mão no meu cabelo. — Houve alguns problemas que exigem a atenção do
Conselho.
Um pouco do torpor recuou, — Eu quero ir com você. Meu pai está...
— Não, você não pode ir. Não é seguro para você lá.
— Eu não me importo. Eu quero ir. Tenho que ver o meu pai. — Pelo olhar
no rosto de Seth, eu poderia dizer que não estava ganhando qualquer terreno, —
Você vai estar lá. Nada vai acontecer. E eu estaria menos segura aqui sem você.
— Me feriu fisicamente dizer as últimas palavras, mas eu joguei meu orgulho pela
janela. Ver o meu pai era mais importante.
Seth sorriu um pouco, desfrutando do pequeno derrame de ego. — Marcus
assegurou Lucian que você estará bem protegida. Seu querido puro-sangue
cortaria os pulsos antes de deixar algo acontecer com você.
Eu fiquei boquiaberta.
— O quê? — Ele moveu a mão até que a descansou sob minhas costelas, —
É a verdade. E Leon e Linard estarão aqui, cuidando de você. Você vai ficar bem.
Eu não estava com medo de ser deixada para trás. Só queria ver meu pai. —
Seth, eu tenho que ir.
Ele beijou meu lábio inferior, que tinha ficado com uma pequena cicatriz. —
Não, você não tem. E você não vai. Nem mesmo eu poderia convencer Lucian a
levá-la de volta ao inferno.
Minha mente correu freneticamente, tentando encontrar uma maneira de
convencê-lo. — E nem sequer pense em fugir daqui, porque todo mundo está
esperando que você faça isso. Não sei se vou ser capaz de te sentir, estando tão
distantes, mas a partir do momento em que eu sair, alguém estará te observando.
Portanto, nem sequer pense nisso. Estou falando sério.
— Eu não preciso de uma maldita babá.
— Sim, você precisa. — Seus lábios encontraram meu queixo, — A menina
que não pode seguir regras para salvar sua própria vida ainda está dentro de
você.
— Você é um idiota.
— Fui chamado de pior por você, então eu vou tomar isso como um elogio. —
Ele sorriu, mesmo tendo sentido a fúria crescente em mim.
— Quando você vai? — Perguntei, tentando manter a voz firme.
— Estou saindo na noite de domingo, então você está completamente presa
comigo até então. — Ele beijou a minha garganta.
— Ótimo. — Murmurei. As aulas seriam suspensas na quarta-feira. Quase
todos os puros partiriam para férias super chiques, o que significava que a maior
parte dos guardas iria também para protegê-los. Alguns dos mestiços estariam
fora daqui, - qualquer um que ainda mantivesse contato com um dos pais
mortais, ou se fosse algum queridinho de um puro sangue. Ainda havia uma
chance que eu poderia fugir, mas como diabos eu iria chegar a Nova York? Eu
não tinha sequer uma carteira de motorista, mas isso era o menor dos meus
problemas.
Eu teria que chegar a Nova York sem ser morta no processo.
Seth me beijou novamente e eu me debati sobre puxar seu cabelo com o meu
punho, enquanto o vínculo entre nós tentou o seu melhor para me sufocar.
— Por que você tem que ir, de qualquer maneira? — Perguntei quando ele fez
uma pausa. Eu precisava de algo, qualquer coisa, para me concentrar em não
deixar a corda entre nós continuar me apertando e apertando.
Ele entrelaçou fios do meu cabelo em seus dedos. — Há um problema com
os… servos em Catskills.
— O quê? — Pavor floresceu no meu estômago, crescendo tão rapidamente
como uma erva daninha, — O que você quer dizer?
— Alguns deles desapareceram após o ataque. Seus corpos não foram
encontrados e nenhum daimon escapou. — Outro beijo rápido e profundo antes
de falar novamente, — E algo parece estar errado com o elixir.
— Você sabe alguma coisa sobre os que desapareceram? — Peguei seu pulso
antes que a mão se arrastasse mais alto debaixo da minha camisa.
— Eu não acredito que seu pai está entre os desaparecidos, mas assim que
eu confirmar isso, te avisarei. — Ele abaixou-se, e desde que eu tinha agarrado
seu pulso, não havia nada para detê-lo. — Não quero mais falar. Vou ficar fora
por semanas.
Seu peso fez o vínculo extremamente feliz, e eu me esforcei para prestar
atenção. — Seth, isso... isso é importante. O que aconteceu com o elixir?
Ele suspirou. — Eu não sei. Ele não parece estar trabalhando tão
fortemente.
— Tão fortemente?
— Sim, os mestiços... estão se tornando autoconscientes. Igual os
computadores em ‘O exterminador do futuro’.
Comparação estranha, mas eu entendi o que ele quis dizer. E uau, isso era
uma coisa séria por lá. O elixir era uma mistura de ervas e produtos químicos
que funcionava para manter um mestiço complacente e confuso. Sem ela, eu
duvidava que os mestiços em servidão ficassem encantados com o seu papel na
sociedade, — Parece estar funcionando aqui.
— Esse é o problema. Parece estar funcionando normal em todos os outros
lugares, menos lá. O Conselho quer que vamos até lá para ter certeza que nada
aconteça em Nova York, especialmente após o ataque.
— Mas por que você tem que ir?
— Eu não sei, Alex. Podemos falar sobre isso mais tarde? — Ele olhou para
mim, os olhos brilhando. — Há outras coisas que eu quero fazer.
A corda entre nós zumbiu sua aprovação. — Mas...
Seth me beijou novamente e sua mão pressionou contra o meu estômago. Eu
soltei seu pulso, com a intenção de empurrá-lo, mas então eu estava agarrando
sua camisa. O ar ao nosso redor parecia crepitar. Houve algo dentro de mim, um
aviso de que o vínculo maldito não estava aprontando coisa boa.
Eu senti a corda deslizar para a superfície antes de realmente abrir meus
olhos. Luzes âmbar e azuis criavam sombras estranhas em toda a parede do meu
quarto. Eu fiquei paralisada por elas por um momento. Era tão bizarro que
éramos responsáveis por elas. Que vinham de dentro de nós.
Isso me assustou um pouco.
Mas a mão livre de Seth estava em toda parte, deslizando pelo meu braço, na
minha perna, e as nossas cordas se uniram em espiral, ligando-nos. Meus dedos
apertaram sua camisa e eu estava puxando-o para baixo um segundo, em
seguida, empurrando-o para longe.
De repente, a pele que estava sob a palma da minha mão, queimou.
Pequenas pontadas de dor roubaram meu fôlego. Senti a descarga correndo no
meu estômago, akasha deslizando por nossas cordas. Um lampejo breve de
sanidade me lembrou do que tinha acontecido da última vez que isso tinha
acontecido. Nós, movendo-nos juntos na cama, e havia menos roupas para ser
removidas desta vez.
Pânico cavou suas garras profundas em mim. Eu não estava pronta para
isso - com Seth. Soltando sua camisa, eu o empurrei com força o suficiente para
que fosse capaz de escapar debaixo dele, quebrando a conexão. Subi em meus
joelhos, segurando meu estômago. — Isso... machuca.
Seth parecia atordoado. — Desculpe, meio que aconteceu.
Com mãos trêmulas, eu puxei minha camisa para cima o suficiente para ver
o que eu suspeitava que ia estar lá. Centrada acima do meu umbigo, bem debaixo
da minha costela, havia uma marca brilhante que pareciam duas marcas unidas
no topo.
— A marca do poder dos deuses. — Seth sussurrou, sentando-se. — Porra
Alex, essa é grande. Amanhã, devemos tentar explodir alguma coisa. Eu sei que
você foi completamente uma droga quando o fez pela primeira vez, mas aposto
que funcionaria agora.
Eu não podia acreditar o quão rapidamente ele foi de querer conseguir algo
comigo a querer explodir alguma coisa. Seth parecia mais animado com a runa
do que a outra coisa. Inferno, seus olhos tinham um olhar louco novamente.
Ele colocou as mãos em torno da marca reverentemente. — Há quatro
marcas que aparecem em primeiro lugar: coragem, força, poder e invencibilidade.
Mas a do poder, é o akasha. Você vê como foi colocada aqui? — Ele foi para tocá-
la mas eu me afastei. Ele franziu a testa. — De qualquer forma, é daí que você
puxa o poder.
Era também onde a corda dormia quando não estava tentando me
transformar em um gigantesco hormônio furioso. — O que acontece quando
aparecer a quarta marca?
Seth passou a mão pelos cabelos, afastando-os de seu rosto. O luar cortou
através das persianas, iluminando seu rosto. — Eu não sei. As minhas vieram
todas de uma vez, mas eles apareceram nessa ordem: em ambas as palmas das
mãos, meu estômago, e em seguida, na parte de trás do meu pescoço. Então, em
todo o lugar.
Minha boca de repente se sentiu seca. Eu soltei minha camisa e fui até a
borda da cama. — Você acha que eu vou Despertar mais cedo se a quarta
aparecer?
Ele ergueu os olhos. — Eu não sei, mas seria uma coisa tão ruim?
Tontura passou por mim. — Talvez devêssemos parar de nos tocar... ou o
que quer que seja, até eu completar dezoito anos.
— O quê?
— Seth, eu não posso Despertar antes do previsto.
Ele balançou a cabeça. — Eu não entendo, Alex. As coisas vão ser muito
melhores uma vez que você acordar. Não teria que se preocupar com Telly ou com
as fúrias. Inferno, os deuses não vão nem mesmo ser capazes de nos tocar. Como
isso não é uma coisa boa?
Não era uma coisa boa, porque uma vez que eu Despertasse, havia uma
grande chance de eu me perder no processo. Seth tinha me avisado há muito
tempo que seria como duas metades se unindo, que a vontade dele iria colorir as
minhas escolhas e decisões. Eu não teria controle sobre mim ou meu futuro. E
Aiden estava certo naquele dia na câmara de privação sensorial. Isso me
aterrorizava.
— Alex. — Seth pegou a minha mão com cuidado, delicadamente. — Você
Despertar agora, seria a melhor coisa para... nós. Podemos até tentar. Ver se
podemos conseguir que a quarta marca apareça. Talvez nada vai acontecer depois
disso. Talvez você Desperte.
Eu soltei minha mão dele. A ansiedade em sua voz me assustou. — Nós...
você está fazendo isso de propósito, Seth?
— Fazendo o quê?
— Tentar me fazer Despertar cedo tocando em mim ou algo assim?
— Estou tocando em você porque eu gosto. — Então ele chegou para mim de
novo, mas eu bati em sua mão. — Qual é o seu problema? — Perguntou ele.
— Eu juro para os deuses, Seth, se você está fazendo isso de propósito, vou
acabar com você.
As sobrancelhas de Seth franziram. — Você não acha que está sendo um
pouquinho melodramática aqui?
— Eu não sei. — E eu realmente não sabia. Minhas mãos formigavam, meu
estômago queimava, e a corda estava finalmente sossegando. — Você não fez
nada comigo, exceto o treinamento nas últimas semanas e então você apareceu
esta noite, todo delicado e sentimental. Então isso acontece?
— Eu estou todo delicado e sentimental, porque vou ficar fora por semanas.
— Seth deslizou para fora da cama, ficando de pé em um movimento fluido, — E
eu não estava realmente evitando você. Estava apenas dando-lhe algum espaço.
— Então por que você veio aqui hoje?
— Seja qual for o motivo foi claramente um erro. — Ele se inclinou,
agarrando seus sapatos. — Aparentemente, eu só estou aqui para te usar para
meus planos nefastos.
Me levantei da cama, abraçando meus cotovelos. Eu estava sendo
paranoica? — O que você está fazendo?
— O que lhe parece? Eu não quero estar onde não sou querido.
Uma sensação de desconforto começou a torcer minhas entranhas. — Então
por que você veio aqui se... não foi por causa disso?
Sua cabeça se levantou, os olhos de um tom furioso de ocre. Como um leão
que estava encurralado, preso entre a vontade de correr e atacar. — Eu senti sua
falta, Alex. É por isso. E eu vou sentir sua falta ainda mais. Será que isso já
passou pela sua mente?
Oh, oh deuses. Culpa trouxe calor ao meu rosto. Isso nem tinha passado
pela minha cabeça. Eu me senti como o pior tipo de vadia.
Um momento se passou e algo brilhou em seus olhos. — É Aiden, não é?
Meu coração disparou sobre si próprio. — O quê?
— É sempre Aiden. — Ele riu, mas não havia humor lá.
Isso não era sobre Aiden - não tinha nada a ver com ele. Tratava-se de Seth
e eu, mas antes que eu pudesse dizer uma palavra, Seth olhou para longe.
— Acho que nos vemos quando eu voltar. — Ele começou a ir para a porta.
— Só... apenas tenha cuidado.
— Merda. — Murmurei. Corri em volta da cama, bloqueando a porta. —
Seth...
— Saia do caminho, Alex.
Suas palavras me incomodaram, mas eu respirei fundo. — Olha, toda essa
coisa das marcas e meu Despertar, me deixam maluca. Você sabe disso, mas...
mas eu não deveria ter acusado você.
Não houve nenhuma mudança em sua expressão. — Não, você não devia.
— E isso não tem nada a ver com Aiden. — Não tinha. Ou pelo menos, era o
que eu dizia para mim mesma. Eu peguei sua mão livre, e ele se retraiu. — Eu...
sinto muito, Seth.
Ele olhou para trás, lábios finos.
— Eu realmente sinto muito. — Soltei sua mão e coloquei minha cabeça
contra seu peito. Cuidadosamente, passei meus braços em torno dele. — Eu só
não quero me tornar outra pessoa.
Seth respirou fundo. — Alex...
Eu apertei meus olhos fechados. Com o vínculo ou não, eu me importava
com ele. Ele era importante para mim e talvez, eu sentia por ele algo além do que
o vínculo me fazia sentir. Talvez apenas fosse algo parecido ao que eu sentia por
Caleb. De qualquer maneira, eu não queria ferir seus sentimentos.
Ele deixou cair seus sapatos e colocou seus braços em volta de mim. — Você
me deixa louco.
— Eu sei. — Sorri, — O sentimento é mútuo.
Ele riu e depois escovou os lábios sobre minha testa. — Vamos. — E
começou a me puxar de volta para a cama.
Eu fiquei parada um pouco. Não querendo ferir seus sentimentos e não
querendo terminar com uma marca na parte de trás do meu pescoço.
Seth caiu, puxando-me para a frente. — Para dormir, Alex. Nada mais... A
não ser que... — Seu olhar caiu para o meu top, — Sabe, você deveria usar isso
mais vezes. Ele deixa muito pouco para a imaginação, o que é algo que eu gosto.
Eu corei até as raízes do meu cabelo e rapidamente subi sobre ele e puxei as
cobertas até o queixo. Seth riu quando se deitou. Jogou um braço em volta da
minha cintura, se aconchegando perto. Sua respiração era constante. Nada como
a minha, que parecia estar fazendo uma corrida. E ele estava sorrindo facilmente,
como se não tivéssemos acabado de nos desentender.
— Você é um pervertido. — Eu disse pela centésima vez.
— Você já me chamou de coisas piores.
E eu tinha a sensação de que iria fazê-lo no futuro também.
U
Nove
au. Olha quem está sorrindo. O mundo vai acabar. — Dois
olhos prateados espiaram atrás de um tufo de cabelos loiros encaracolados, e
Deacon St. Delphi sorriu quando ele se deixou cair no assento ao meu lado, —
Como vai minha mestiça favorita?
— Bem. — Olhei para o meu livro, lábios franzidos. — Desculpe, eu não
tenho sido uma faladora.
Ele se inclinou, me cutucando na lateral. — Eu entendo.
Ele realmente entendia. Isso é provavelmente o porquê de não ter me
pressionado a falar com ele desde que eu voltei. Apenas se sentou ao meu lado na
sala de aula, sem dizer uma palavra. Eu não tinha percebido que ele estava
esperando que eu superasse.
Eu o olhei novamente. Essa é a coisa sobre Deacon. Todos, incluindo Aiden,
o viam como um preguiçoso garoto festeiro que não presta atenção em nada, mas
ele era muito mais observador do que lhe davam crédito. Ele teve um momento
muito duro crescendo sem seus pais, e eu acho que estava finalmente saindo da
fase ‘garoto festeiro que não se importa com nada’.
— Você vai fazer algo nas férias de inverno?
Ele revirou os olhos, — Isso exigiria que Aiden também tirasse uma folga, já
que ele não me deixa sair desta ilha sozinho. Ele tem sido super paranóico depois
da coisa toda em Catskills. Eu acho que ele está esperando daimons ou fúrias
chegando aqui a qualquer minuto.
Eu me encolhi. — Sinto muito.
— Tanto faz. — respondeu ele. — Não é culpa sua. Então, eu não vou fazer
nada de emocionante. Ouvi dizer que meu estimado irmão mais velho está
brincando de ser seu guarda-costas.
Revirei os olhos.
— Você sabe, eu o ouvi conversando com o Diretor, quando ele visitou a
casa.
— Que casa? A cabana de Aiden?
Deacon arqueou uma sobrancelha. — Não, a casa. — Ele viu o meu olhar
estupefato e teve pena de mim, — A casa dos nossos pais? Bem, é na verdade a
casa de Aiden agora. É do outro lado da ilha, perto da de Zarak.
Eu não tinha ideia de que havia uma outra casa. Apenas presumi que Aiden
ficava na cabana e que Deacon ficava em um dos dormitórios. Pensando sobre
isso, por que diabos Aiden preferia viver naquele barraco minúsculo se possuía
uma daquelas enormes e opulentas casas na ilha principal?
Como se soubesse o que eu estava pensando, Deacon suspirou. — Aiden não
gosta de ficar em casa. Lembra muito de nossos pais, e ele odeia a coisa toda do
estilo de vida luxuoso.
— Oh. — Sussurrei, olhando para frente da sala de aula. Nosso professor
estava sempre atrasado.
— Enfim, de volta a minha história. Ouvi-os falar. — A cadeira de Deacon fez
um barulho terrível se arrastando, quando ele chegou mais perto de mim, —
Quer saber?
Luke, que estava sentado na mesa de Elena, se virou para nós. Suas
sobrancelhas levantaram quando nos viu.
— Claro. Desembucha. — Disse eu.
— Há algo acontecendo com o Conselho, que tem a ver com os meios-
sangues.
— Como o quê? — Perguntei.
— Não sei exatamente. Mas eu sei que tem algo a ver com o Conselho em
Nova York. — Deacon desviou o olhar, com foco na frente da classe. — Eu achei
que você poderia saber, já que acabou de chegar de lá.
Eu balancei a cabeça. Há sempre alguma coisa acontecendo com o Conselho,
e que provavelmente tinha a ver com o elixir. Então eu percebi que Deacon ainda
olhava para frente da sala de sala. Eu segui seu olhar. Ele estava olhando para
Luke.
E Luke estava olhando para ele.
De um jeito muito intenso, como às vezes eu olhava para... Aiden.
Meus olhos dispararam de volta para Deacon. Eu não podia ver seus olhos,
mas as pontas de suas orelhas estavam rosa. Após alguns momentos, longo
demais para um cara estar olhando para outro cara casualmente, Deacon se
inclinou para trás. Eu pensei sobre a voz fantasma que ouvi com Luke na sala
sensorial. Tinha soado familiar... mas não, de jeito nenhum.
— De qualquer forma, — Deacon limpou a garganta. — Acho que eu poderia
dar uma festa para aqueles deixados para trás durante as férias de inverno. Você
acha que Aiden deixará?
— Uh, provavelmente não.
Deacon suspirou. — Vale a pena tentar.
Olhei para Luke novamente. — Sim, acho que sim.
— Não está funcionando.
Seth fez um som impaciente em sua garganta. — Tente se concentrar.
— Eu estou concentrada. — Rebati, empurrando o cabelo despenteado pelo
vento para fora do meu rosto.
— Tente mais, Alex. Você pode fazer isso.
Abracei-me, tremendo. Estava um gelo nos pântanos. O frio e o vento úmido
batiam contra mim, e o meu suéter pesado não ajudava em nada. Estivemos
nisto durante a maior parte do sábado. Quando Seth sugeriu eu tentar explodir
alguma coisa, eu tinha assumido que ele estava brincando.
Eu estava errada.
Fechando os olhos, imaginei a pedra grossa em minha mente. Eu já conhecia
a textura, a cor de areia, e sua forma irregular. Eu estava olhando para a maldita
coisa por horas.
Seth passou por trás de mim, segurando minha mão e colocou-a contra a
mais recente marca que tinha aparecido. — Sinta-o aqui. Está sentindo?
Sentindo a corda entre a gente? Confirmo. Eu também gostei do fato de que
ele agora estava bloqueando o pior do vento.
— Tudo bem. Se imagine explorando a corda, sinta-a viva.
Eu tinha a sensação de que Seth estava gostando disto um pouco demais,
considerando como ele estava pressionado contra mim.
— Alex?
— Sim, eu sinto a corda. — Eu realmente a senti abrindo, deslizando pelas
minhas veias.
— Ótimo. A corda não é apenas sobre nós, — Ele disse suavemente. — É
akasha, o quinto e último elemento. Você deve sentir o akasha agora. Toque nele.
Imagine o que você quer em sua mente.
Eu queria tacos8, mas duvidava que o akasha pudesse servir-me alguns
Tacos Bell. Deuses, eu faria algumas coisas terríveis por Tacos Bell agora mesmo.
— Alex, você está prestando atenção?
— É claro. — Sorri.
— Então faça isso. Faça a rocha explodir.
Seth fez parecer tão fácil. Como se uma criança pudesse fazer isso. Eu
queria dar uma cotovelada em seu estômago, mas imaginei a rocha e então
imaginei a corda indo até ela, saindo da minha mão. Eu fiz isso uma e outra vez.
Nada aconteceu.
Abri os olhos. — Desculpe, isso não está funcionando.
Seth se afastou, afastando as mechas mais curtas de seu cabelo que caíram
do rabo de cavalo para atrás da orelha. Ele colocou as mãos nos quadris e me
encarou.
— O quê? — Outra rajada de vento cortante me obrigou a mexer para ficar
quente. — Eu não sei o que você quer que eu faça. Estou com frio. Estou com
fome. E eu vi que Férias Frustradas de Natal está na TV por algum motivo
estranho e devo vê-lo, uma vez que você tomou todo o meu tempo enquanto
estava dando na TV durante o Natal.
8 Comida mexicana.
Suas sobrancelhas levantaram. — Assistir o quê?
— Oh, meus deuses! Você não sabe das dificuldades e tribulações da família
Griswold?
— Hein?
— Uau. Isso é um pouco triste, Seth.
Ele acenou com a mão. — Isso não importa. Algo deve acionar sua
capacidade de fazer o akasha. Se apenas... — Um olhar pensativo rastejou sobre
sua expressão e, em seguida, juntou as mãos. — A primeira vez que você fez isso,
você estava chateada. E então, quando você passou fez toda a coisa de ninja
louca com as fúrias, você estava zangada e com medo. Você tem que ser
encurralada
— Oh, não, não, não. — Comecei a entender, — Eu sei onde você está indo
com isso e eu não vou fazer isso com você. E falo sério, Seth. Você não...
Seth levantou a mão e o elemento ar bateu no meu peito, jogando-me de
costas. Combater o uso dos elementos era algo que eu tinha ficado um pouco
melhor. Eu reuni meu poder e senti a corda ficando tensa. Eu me dobrei,
rompendo o que parecia a força de ventos de furacão. Erguendo a cabeça, o meu
cabelo foi completamente soprado para trás.
Eu ia mutilar o Seth.
Então ele estava em cima de mim, usando seu peso para forçar-me de volta
contra a grama. Pequenas pedras escavando nas minhas costas enquanto eu
contorcia sob ele. — Saia, Seth!
— Me faça sair. — Disse ele, abaixando o rosto para o meu.
Eu subi meus quadris, envolvi minhas pernas em volta da sua cintura e
rolei. Por um segundo, eu tinha a vantagem e queria envolver meus dedos gelados
ao redor de seu pescoço e sufocar a porcaria da vida fora dele. Eu não gosto de
ser presa ou da sensação de desamparo que se seguia. E Seth sabia disso.
— Não assim. — Seth resmungou. Ele agarrou meus ombros, lançando-me
em minhas costas. — Use o akasha.
Nós lutamos, rolando por entre os arbustos de pequeno porte. Ele estava
ficando mais frustrado cada vez que me dominava contra o chão, e eu estava me
sentindo assassina.
Raiva, doce e inebriante, correu através de mim, torcendo ao redor da corda.
Eu a senti construir. Minha pele estava formigando. As marcas da Apollyon
queimavam e pulsavam.
Os lábios de Seth se curvaram. — É isso. Faça-o.
Eu gritei.
E então, Leon estava acima de nós, agarrando Seth pela nuca de seu
pescoço e jogando-o vários metros para trás. Ele torceu no ar como um gato,
caindo agachado. As marcas do Apollyon vieram de uma vez, obscurecendo
através de sua pele em velocidade vertiginosa. Ele se concentrou em Leon. Havia
algo mortal em seus olhos, o mesmo olhar que ele tinha dado ao Mestre depois
que ele me bateu. Pensei em Jackson.
Eu pulei para os meus pés, correndo para Seth. — Não! Não, Seth!
— Você realmente não deveria ter feito isso. — Seth avançou, suas intenções
claras.
Leon arqueou uma sobrancelha. — Você quer tentar isso, menino?
— Você quer morrer?
— Parem com isso. — Eu assobiei, contorcendo-me entre eles. Olhei por
cima do ombro, para Leon. O Sentinela puro-sangue nem sequer parecia
preocupado. Ele era louco. — Leon, nós estávamos treinando.
— Isso não é o que parecia para mim.
Sobre o ombro largo de Seth, eu vi vários guardas e Aiden vindo em nossa
direção. Eu esperava que eles apanhassem o seu ritmo e chegassem aqui antes
que um desses idiotas fizesse algo estúpido.
— Leon, ele não estava me machucando. — Tentei novamente.
— O que você acha que vai fazer? — Seth exigiu. — Comigo?
Ele olhou para Seth. — Você realmente acha que pode me vencer, não é?
— Eu não acho. — Akasha, brilhante e bonito, cercou sua mão direita. O ar
crepitava em torno da esfera. — Eu sei.
Isto era insano. Eu agarrei o braço de Seth e um ímpeto de raiva me bateu.
Eu queria atacar Leon, precisava mostrar a ele que ele estava brincando com a
pessoa errada, que eu era melhor que ele. Ele não ousaria me tocar novamente.
Eu ia mostrar-lhe.
— Vamos ver isso. — disse Leon, com a voz baixa.
— Hey! — Gritou Aiden, — Já chega!
Seth e Leon se moveram ao mesmo tempo, ambos batendo-me de lado. A
combinação de seus braços atacando e batendo-me, me mandou voando para
trás. Eu bati na pedra que estava tentando explodir, caindo por cima. Me virando
para que eu não atingisse o rosto no pântano primeiro, eu caí de mãos e joelhos.
Lama gelada encheu meus jeans e salpicou meu rosto.
Atordoada, mais pela pura raiva que qualquer outra coisa, eu levantei a
cabeça e olhei entre meus cabelos. O que diabos tinha acontecido? Todo a coisa
de me empurrar tinha sido um acidente, mas a violência que eu senti não tinha
sido minha.
Tinha sido Seth. Não era como aqueles momentos que eu tinha essas ondas
de calor. Esta tinha sido diferente. Eu senti o que ele sentiu, queria o que ele
queria.
Tinha acontecido antes? Acho que não. Minhas mãos tremeram.
Os guardas chegaram a Leon. Eu não tinha certeza se eles estavam tentando
proteger Leon ou Seth. Aiden, no entanto, foi logo atrás do Apollyon, como eu
deveria ter sabido que iria no momento em que o vi correndo através do terreno
com areia.
Eu tinha certeza que Aiden sabia que o que tinha acontecido tinha sido um
acidente, mas parecia que ele queria bater nos dois rapazes. Pelos sons de sua
discussão e eles empurrando um ao outro, Leon culpava Seth. Seth culpava todo
mundo, menos a si mesmo. A Guarda parecia cada vez mais preocupada.
Cambaleando para fora do pântano, eu fui em direção a eles, ao mesmo
tempo que Seth tentou contornar Aiden.
Com os olhos piscando, Aiden agarrou-o pelo colarinho da camisa e
empurrou-o para trás vários metros. Era como se ele nem sequer notasse o mais
forte e mortífero elemento conhecido dos deuses, a centímetros de seu corpo - ou
como se ele não se importasse.
— Isso é o suficiente. — disse Aiden, empurrando Seth enquanto o soltava.
— Cai fora.
— Você realmente quer se envolver nisso? — Seth perguntou. — Agora?
— Mais do que você poderia imaginar.
Akasha fracassou e Seth empurrou Aiden. — Ah, acho que imagino. E você
sabe o quê, é algo que eu penso... toda a vez. Você entende o que eu estou
dizendo?
— Isso é o melhor que você tem, Seth? — Aiden foi de igual para igual com o
Apollyon. E, de repente, eu sabia que isso não era apenas sobre o que tinha
acontecido. Era algo mais. — Porque eu acho que você e eu sabemos a verdade
sobre isso.
Oh, queridos deuses, isso estava se transformando em uma luta de meninos.
Seth se moveu tão rápido que era difícil vê-lo. Um braço inclinado para trás,
com o objetivo certo para a mandíbula de Aiden. Reagindo igualmente rápido,
Aiden agarrou o braço de Seth e jogou-o de volta.
— Tente outra vez, e eu não vou parar. — Avisou Aiden.
Um segundo depois eles estavam colidindo um contra o outro. Ambos
bateram no chão, rolando e dando socos – um borrão de roupa negra quando
cada um ganhava e perdia o controle. Comecei a andar para frente, mas parei.
Eles não estavam sequer lutando como Sentinelas. Não havia nada de gracioso
em seus golpes ou bloqueios. Eles brigavam como dois idiotas cheios de
testosterona, e eu tive a maior vontade de andar até lá e chutá-los duro na
cabeça.
Joguei minhas mãos para cima. — Você tem que estar brincando comigo.
Os guardas e Leon dispararam para frente, agarrando os dois rapazes. Levou
várias tentativas para tirar Aiden fora de Seth. Um corte marcava sua bochecha
direita. Com sangue. Havia um corte no lábio de Seth.
— Já acabou? — exigiu Leon, forçando Aiden a recuar alguns passos. —
Aiden, você precisa parar.
Aiden passou as costas da mão sobre o rosto quando afastava a mão de
Leon. — Sim, eu acabei.
Os guardas estavam dizendo a mesma coisa para Seth, mas quando eles o
soltaram, Seth cambaleou em torno deles. — Você acha que eu estou com medo
de que você vai me entregar por lutar? Qualquer um de vocês? Eles não podem
me tocar! Eu sou...
— Pare com isso! — Gritei. — Apenas pare! — Seth congelou, e vários
conjuntos de olhos centraram em mim. — Deuses! Nós estávamos treinando. Não
há nenhuma razão para matar uns aos outros sobre isso. — Olhei para Aiden, —
Não há razão para fazer nada disso. Apenas parem.
Tensão ainda amadurecia o ar, mas Seth se afastou e cuspiu a boca cheia de
sangue. Enquanto ajeitava a camisa, as marcas começaram a desaparecer. —
Como eu estava dizendo, mas, aparentemente, todos vocês são muito burros para
entender, nós estávamos...
— Cale-se, Seth. — Apertei minhas mãos.
Suas sobrancelhas se levantaram.
Aiden ainda parecia furioso. Seus olhos eram como piscinas de prata,
consumindo seu rosto inteiro.
— Está feito e acabado, certo? — Eu disse, principalmente para ele. — Eu
estou bem. Ninguém está morto. E se vocês três quiserem continuar tentando
matar o outro, eu vou tomar um banho, porque agora estou cheirando como uma
bunda que não é lavada há 10 dias.
Os lábios de Leon tremeram como se quisesse sorrir, mas com o olhar que
eu joguei em sua direção, sua expressão voltou à estoica com que eu estava
familiarizada.
Fui ao redor deles, tremendo. Sincelos9 estavam se formando no meu jeans.
Seth virou. — Alex...
— Não. — Parei. Não havia nenhuma maneira que ele ia voltar comigo. Eu
precisava ficar longe dele, colocar alguma distância entre sua raiva e eu antes de
começar a dar socos. Eu precisava descobrir o que aconteceu lá atrás, por que eu
senti o que Seth queria tão fortemente.
— Alex! — Seth chamou. — Qual é.
— Deixe-me em paz agora. — Comecei a andar novamente, — Já chega disso
por hoje. E falo sério. Chega.
9 Sincelos são gotas de água congeladas, tornando-se uma espécie de cristal. A temperatura
é cerca de -2 a -8°C.
S
Dez
eth sabia melhor do que procurar pela minha companhia na noite
de sábado. Eu estava grata por isso, porque não queria ver seu rosto. No entanto,
abri a porta na noite de domingo, quando ele realmente bateu. Foi assim que eu
soube que ele estava se sentindo arrependido. Seth nunca batia.
Suas mãos estavam enfiadas nos bolsos de sua calça cargo escura. O lado
direito de seu lábio estava inchado.
— Hey. — Ele disse, olhando por cima da minha cabeça.
— Hey.
Ele mudou de um pé para o outro. — Alex, eu... sinto muito sobre ontem. Eu
não...
— Pare. — Eu o interrompi, — Eu sei que você estava apenas tentando me
fazer usar o akasha e você não quis me derrubar, mas vocês estavam loucos. Não
de um jeito bom, Seth.
Um olhar tímido atravessou seu rosto. — Eu sei, mas Aiden me chateou...
— Seth.
— Tudo bem. Você está certa. Está feito. E eu não quero discutir com você.
Estou me preparando para partir. — Ele olhou para mim então, — Pensei que
seria legal se você andasse comigo até a ponte.
— Só me deixe pegar algo para vestir.
Eu precisava falar com ele, de qualquer maneira. Depois que peguei um
casaco com capuz, nós andamos para fora do dormitório em silêncio. O campus
estava escuro, apenas as sombras dos guardas patrulhando se moviam. Quando
eu soltei a minha respiração, formaram-se pequenas nuvens no ar.
— Eu senti a sua raiva ontem.
— Tenho certeza de que qualquer um, dentro de um raio de 10 quilômetros,
sentiu a minha raiva ontem.
— Isso não é o que eu quis dizer. — Nós seguimos o caminho de mármore
em torno dos dormitórios, indo em direção à ponte pelo prédio principal do
Covenant, — Eu realmente senti. Eu queria bater a merda fora de Leon. Era
como... como se fosse a minha raiva.
Seth não respondeu enquanto olhava para a frente, os olhos apertados.
— A raiva foi embora logo quando eu não estava tocando em você, mas foi
muito estranho. — Parei de andar quando a ponte ficou a vista.
Um Hummer preto estava sendo carregado com bagagem. O vapor do tubo
de escape enchia o ar e vários Guardas do Conselho estavam em posição.
— Você não tem nada a dizer sobre isso?
Ele olhou para mim. — Você estava tão perto de alcançar o akasha, Alex. Se
Leon não tivesse interferido, isso teria acontecido.
Como se isso fosse a coisa mais importante que me aconteceu.
— Seth, você ouviu uma palavra do que eu disse?
— Ouvi, e eu não sei por que você sentiu minha raiva tão claramente. — Ele
tirou as mãos dos bolsos e cruzou os braços. — Talvez tenha sido por que você
estava alcançando o akasha. O que a deixou mais em sincronia com o que eu
estava sentindo.
O que eu tinha sentido não parecia incomodar ou realmente surpreender
Seth. Mas, para mim, era um negócio muito grande.
— Quando eu despertar, eu irei sentir e querer o que você quiser. Você não
entende o que estou dizendo? Eu já quis o que você quis.
— Alex. — Ele deixou cair as mãos sobre os meus ombros e me puxou contra
seu peito. — Você não está Despertando. Pare de se preocupar.
Eu fiz uma careta e me afastei. Ele me deixou ir.
— Mas está realmente começando a acontecer, não é? Com as marcas e
agora isso? E eu estou a apenas um mês de distância.
— Não é algo tão...
— Alexandria, eu estou tão feliz que você veio se despedir de Seth. — Disse
Lucian.
Eu me virei e fui imediatamente envolvida em um fraco abraço. O cheiro de
incenso e cravo me sufocaram.
— Eu queria que fosse seguro traze-la. Aliviaria minhas preocupações ter
você ao lado de Seth.
Meus braços ficaram presos ao meu lado desajeitadamente. Ugh. Eu odiava
quando Lucian fazia isso.
Ele bateu nas minhas costas e se afastou, dirigindo-se a Seth. — Quantos
guardas você acha que devemos trazer?
Lucian estava pedindo a opinião de Seth? O quê. Diabos. Eu me virei para
Seth em descrença.
Seth ficou mais reto. — Pelo menos cinco, o que deixaria quatro atrás para
ajudar a manter a guarda em caso de algo surgir aqui.
— Ótimo. Você tem um olho para liderança, Seth. — Lucian bateu em seu
ombro, — Se tivéssemos mais Sentinelas como você, nós não teríamos um
problema tão sério com daimons. — Ele fez uma pausa, sorrindo. — Se
tivéssemos mais homens como você no Conselho, então o nosso mundo seria
muito melhor.
Eu queria vomitar. Não havia maneira de que Seth caísse nesse nível épico
de bajulação. A maneira como Lucian balbuciava e dava aquele sorrisinho afetado
era tão óbvia. Era evidente, mas pelos deuses, Seth parecia como se tivessem
acabado de oferecer a ele um milhão de dólares e tivessem dito que ele poderia
gastar tudo em meninas e em bebidas.
— Eu tenho que concordar. — O sorriso presunçoso de Seth se espalhou.
Eu queria sacudir Seth. E estava seriamente considerando isso.
Lucian me encarou. — Você, minha querida, é sortuda em mais formas do
que a maioria dos mestiços. Sendo abençoada como a Apollyon e tendo esse
excelente rapaz como sua outra metade.
Eu franzi o rosto.
Ao meu lado, Seth ficou imóvel.
— Vou deixar vocês se despedirem. Nós estaremos partindo em alguns
minutos, Seth.
Eu encarei a silhueta de Lucian enquanto ele se afastava. As vestes brancas
fluíram, nunca se arrastando pelo chão. Eu pensei sobre como ele encarou o
trono do ministro Telly enquanto eu dava o meu testemunho em Catskills.
Ninguém amava mais o poder do que Lucian.
— Você sabe... — Seth falou arrastando as palavras, — Você não precisa
parecer tão chocada com o que Lucian disse. Podia ser pior.
Eu ri. — Você está falando sério?
Seth fez uma carranca. — Acontece que eu acho que sou um partido muito
bom.
— Acontece que você acha que é a melhor coisa que alguma vez já respirou,
mas não é sobre isso que eu estou falando. Ele estava puxando o seu saco, Seth.
Ele está tramando algo.
— Ele não estava puxando saco. — Ele cruzou os braços novamente, —
Acontece que Lucian parece pensar que eu sei o que estou falando. Ele também
parece apreciar o que eu tenho a dizer.
— Você tem que estar brincando comigo. — Tentei não rolar meus olhos.
— O que é tão difícil de você acreditar? — Desgosto irradiava de sua voz e da
sua postura, — Deixe-me lhe fazer uma pergunta, Alex. Se fosse Lucian ou seu
tio dizendo coisas boas sobre Aiden, você acharia isso tão difícil de engolir?
— O que diabos isso supostamente quer dizer? E de onde veio isso? Aiden é
um Sentinela. Sua capacidade em tomar decisões ou liderar é...
— O que você pensa que eu sou? — Seth inclinou a cabeça para frente, as
sobrancelhas abaixadas, — Uma piada em vez de um Sentinela?
Caramba. Eu vi meu erro, — Isso não é o que eu quis dizer. Você é um
Sentinela. Um muito bom, mas por favor me diga que você não confia nele. —
Agarrei o seu antebraço e apertei, — Era só isso que eu queria dizer.
— Eu confio em Lucian, e você devia também. Diferente de todos ao seu
redor, ele é o único que está tentando deixar nosso mundo diferente.
— O quê?
— Seth? — Lucian chamou. — Está na hora.
— Espera. — Segurei seu braço, — O que você quer dizer?
Agitação passou por ele enquanto me encarava atentamente. — Eu tenho
que ir. Por favor, tenha cuidado, e lembre-se do que eu disse na outra noite. Nem
sequer pense sobre encontrar uma forma de ir para Nova York.
Encarei-o.
Um pouco de um sorriso apareceu. Ele começou a se afastar, mas parou. —
Alex?
— O quê?
Sua boca se abriu enquanto ele passava a mão sobre sua cabeça.
— Só tenha cuidado, ok? — Quando eu assenti, ele enfiou a mão no bolso e
tirou algo pequeno e fino. — Eu quase me esqueci. Peguei isto para que
pudéssemos conversar enquanto eu estiver fora.
Eu peguei o celular. Não era uma das versões baratas, e eu esperava que
tivesse um monte de jogos pré-carregados nele. — Obrigada.
Seth assentiu. — Meu número está programado. Eu tenho o seu.
Não havia mais nada a dizer. Quando Seth alcançou o Hummer, Lucian
bateu-lhe nas costas de novo.
Leon repentinamente apareceu do meu lado, minha escolta para a volta ao
dormitório, eu percebi.
Seth subiu no Hummer, saindo para embarcar em um jato particular no
aeroporto do continente. Ele olhou para mim quando o veículo começou a se
mover.
Forcei um sorriso antes de Leon me guiar para longe da ponte, mas sob as
lâmpadas, eu vi o breve olhar de decepção no rosto de Seth.
E o sorriso satisfeito que estava no de Lucian.
Era estranho sem Seth. A nossa ligação se acalmou, e eu tinha certeza de
que se um deus aparecesse na minha frente, Seth não teria sentido um lampejo
de surpresa.
Havia apenas um dia desde que ele partiu, mas eu já me sentia... normal.
Como se um peso tivesse sido tirado dos meus ombros.
E isso era estranho, porque minha mochila estava ridiculamente pesada com
o livro de Mitos e Lendas.
Estava carregando ele por aí, esperando encurralar Aiden quando ele
assumisse as funções de babá. Agora Leon estava se arrastando atrás de mim, a
uma distância não tão discreta.
Eu parei no meio do caminho pelo jardim e me virei. — Você não está com
frio?
Leon olhou para a camisa de manga curta que ele usava. — Não. Por quê?
— Porque está congelando. — E estava. Eu usava uma camisa básica, uma
térmica de manga comprida, e um suéter, e ainda estava com frio.
Leon parou ao meu lado. — Então, por que você está do lado de fora, se está
com tanto frio?
— Infelizmente, vir para o lado de fora é o único método de ir para outras
partes do Campus, ao menos que você saiba de algo que não sei.
— Você poderia apenas nos fazer um favor e ficar em seu dormitório. — Ele
sugeriu.
Tremendo, abracei meus cotovelos. — Você tem alguma ideia de como é bom
ser capaz de fazer algo diferente de treinar ou de ficar no meu quarto?
— Ou passar um tempo com Seth?
Eu olhei para ele de perto, tentando não sorrir. — Isso foi uma piada? Oh,
meus deuses. Foi.
Sua expressão permaneceu impassível. — Não há nada sobre esse garoto
que seja matéria de piada.
— Tudo bem. — Me virei e comecei a andar. Dessa vez Leon andou ao meu
lado. — Você realmente não gosta de Seth, não é?
— Isso é tão obvio?
Olhei para ele. — Não. Nem um pouco.
— E você? — Ele perguntou enquanto nós dobrávamos a esquina do centro
de treinamento. O vento do oceano estava estranhamente bruto. — Eu ouvi
rumores de que... dois Apollyons compartilham um vínculo poderoso. Deve ser
difícil saber como você realmente se sente sobre alguém, se esse é o caso.
Agora, isso foi estranho. De maneira alguma eu iria discutir meus problemas
de relacionamento com Leon, de todas as pessoas.
Ele suspirou profundamente enquanto encarava uma estátua de Apolo e
Daphne, um olhar distante no rosto. — Emoções que são forçadas sempre
terminam em tragédia.
Isso foi profundo. Outra rajada de vento gelado cortou através de mim. O
olhar no rosto de Daphne era trágico.
— Você acha que Daphne sabia que a única maneira para que pudesse
escapar de Apollo seria morrendo?
Ele não respondeu imediatamente, e quando ele fez, sua voz estava grossa.
— Daphne não morreu, Alex. Ela ainda permanece como ela estava no dia... em
que se perdeu. Uma árvore de louros.
— Cara, isso é uma droga. Apollo era uma aberração.
— Apollo foi atingido por uma seta de amor e Daphne foi atingida por uma
de chumbo. — Ele olhou para baixo enquanto gesticulava para a estátua, —
Como eu disse, o amor que não é de natureza orgânica é perigoso e trágico.
Colocando meu cabelo para trás, olhei para a estátua novamente. — Bem,
espero que eu não tenha que me transformar em uma árvore.
— Então preste atenção no que é necessidade e no que é desejado.
— O quê? — Olhei para ele bruscamente, apertando os olhos. O sol começou
a se pôr, lançando uma auréola dourada e estranha sobre ele. — O que você
acabou de dizer?
Ele deu de ombros. — Sua outra babá está aqui.
Distraída, eu me virei. Aiden estava andando até nós. Eu mataria para vê-lo
novamente em jeans. Estremeci. Ok, talvez não matar, mas perto. Eu me virei de
volta. Leon tinha ido.
— Droga, — Murmurei, fazendo uma varredura nas sombras crescentes em
toda a praia e jardim.
— O quê? — Aiden perguntou.
Meu peito vibrou como sempre quando eu olhava para ele. Havia uma leve
contusão ao longo de sua mandíbula de sua briga com Seth.
— Eu estava falando com Leon e ele subitamente desapareceu.
Aiden sorriu. — Ele tem o hábito de fazer isso.
— É apenas que ele falou algo… — Sacudi minha cabeça, — Isso não
importa. Você é minha babá agora?
— Até você decidir que vai ficar lá dentro durante a noite. — Respondeu-me,
— Onde você vai?
— Eu estava indo para o centro de recreação, mas tenho algo que quero te
mostrar. — Toquei no fundo da bolsa, — Você está pronto para isso?
Suas sobrancelhas se levantaram. — Eu deveria estar preocupado com o que
está na sua bolsa?
Eu sorri. — Talvez.
— Bem, o que é a vida sem correr riscos? Será que precisamos de
privacidade?
— Provavelmente.
— Eu sei exatamente o lugar. — Ele enfiou as mãos nos bolsos de suas
calças cargo. — Siga-me.
Segurando a alça da minha bolsa, eu me forcei a acalmar. Eu não estava
falando com ele só para poder cobiçar ou paquerá-lo. Ou fazer qualquer coisa que
eu não devia fazer. Eu tinha um propósito para isso, então não havia razão para o
meu coração estar correndo tão rápido como ele estava.
Nenhuma razão.
Aiden me cutucou com o cotovelo depois de alguns momentos de caminhar
em silêncio. — Você está diferente.
— Estou?
— Sim, você parece como… — Ele ficou quieto. Quando falou de novo, o
oceano estava num vermelho dourado enquanto o sol lentamente desaparecia no
horizonte. — Você apenas parece mais relaxada.
— Bom, eu tenho algum tempo para mim mesma. Isso é relaxante. — Me
perguntei se eu parecia diferente. Não parecia, quando me arrumei hoje de
manhã.
A única coisa que realmente percebi de diferente, era que as marcas não
tinham queimado nem formigado desde que Seth partiu.
— Ah, eu quase esqueci. Sua carta foi enviada para Nova York, à frente da
equipe que acabou de ir lá... Laadan deve ter recebido ontem ou hoje.
— Sério? Espero que meu pai... não seja um dos que estão faltando.
— Como você sabe sobre isso? — Seus olhos se estreitaram, — Não importa.
Seth?
— Ele me disse que alguns dos servos estavam sumidos e que o elixir não
estava funcionando.
Um olhar perturbado escureceu seus olhos. — O que mais ele disse?
— Não muito.
Aiden assentiu secamente. — Claro que não. Alguns dos mestiços não estão
respondendo ao elixir. Tem havido erupções de combates entre os servos; eles
estão recusando as ordens dos senhores e desaparecendo. O Conselho teme que
haja uma rebelião, e o Covenant de Nova York tem estado enfraquecido desde o
ataque. E ninguém sabe exatamente como ou por que o elixir parou de funcionar.
Eu pensei no meu pai. Ele era um dos que tinham desaparecido, ou ele
estava lutando de volta? Eu sabia que ele tinha de ser um dos que o elixir havia
parado de funcionar. — Eu deveria estar lá.
— Você deveria estar em qualquer lugar, menos lá.
— Agora você soa como Seth.
Seus olhos se estreitaram. — Pela primeira vez, eu tenho que concordar com
ele.
— Isso é chocante. — Meu olhar caiu sobre o prédio principal da academia, e
eu soube imediatamente para onde estávamos indo. — Você está me levando para
a biblioteca.
O sorriso voltou. — É privado. Ninguém está lá neste momento, e se alguém
vê a gente, você está estudando.
Eu ri. — E alguém vai acreditar nisso?
— Coisas mais estranhas do que isso já aconteceram antes. — Ele replicou
enquanto íamos a passos largos.
Passamos por dois guardas postados na entrada. Desde o ataque que tirou a
vida de Caleb, e logo depois o outro ataque em Catskills, a segurança tem
aumentado absurdamente. Voltando atrás no tempo, eu teria reclamado sobre
isso, porque me esgueirar por ai ficaria muito mais difícil. Mas agora, depois de
tudo, eu estava aliviada ao ver os números aumentarem.
O ar quentinho nos saudou enquanto entrávamos. Silenciosamente, eu segui
Aiden pelo corredor em direção à biblioteca. Vários instrutores ainda estavam em
seus escritórios, e passamos por alguns alunos que saiam.
Aiden adiantou-se e abriu a porta para a biblioteca, sempre cavalheiro.
Sorrindo em agradecimento, eu entrei e fiquei completamente paralisada.
Luke e Deacon estavam emergindo de uma das altas estantes, ombro a
ombro. Quando eles nos viram, eu poderia jurar que pularam pelo menos três
metros.
— Deacon? — Aiden soou chocado. — Você está na biblioteca?
— Sim. — Deacon afastou uma mecha de seus cachos da sua testa, — Nós
estávamos estudando trigonometria.
Nenhum deles tinha um único livro em suas mãos. Eu olhei para Luke em
expectativa. Ele olhou para longe, mas seus lábios se contraíram.
Os olhos de Aiden se arregalaram, — Uau. Eu estou meio que orgulhoso de
você. Estudando?
Eu apertei a minha boca fechada.
— Virando a página e tal10. — Deacon esbarrou em seu irmão mais velho. —
Levando a minha educação a sério.
Minha língua estava, literalmente, queimando para dizer alguma coisa.
Aiden assentiu para Luke. — Mantenha-o fora de problemas, Luke.
Oh, caramba. Pela forma que Deacon se balançava para frente e para trás
em seus pés e do tamanho do sorriso forçado de Luke, eu percebi que Aiden não
tinha a mínima ideia de que tipo de ‘problema’ esse dois estavam provavelmente
se metendo.
Relacionamento de pessoas do mesmo sexo no nosso mundo não tinha
sequer um lugar na lista de coisas tabu. Para além do fato de que Deacon era um
puro e Luke um meio-sangue.
E de todos os mestiços no mundo, eu sabia o quão estúpido e perigoso era o
que seja que estavam fazendo. Lancei um olhar para Aiden.
Ele pegou meus olhos e sorriu. Minha barriga se revirou. Estúpido e
perigoso, mas isso não mudava como eu me sentia.
10 No sentido de começar uma nova fase de sua vida.
E
Onze
u ainda estava lutando para manter minha boca fechada quando
Aiden encontrou uma sala de estudo vazia no fundo da biblioteca, em algum
lugar perto da seção de livros-que-eu-nunca-leria e a seção de livros-que-eu-
nunca-ouvi-falar. Ele deixou a porta semi-aberta, o que me aliviou e desapontou
no mesmo fôlego.
Sentando-me, deixei minha bolsa na mesa. — É muito legal que Deacon
esteja estudando e tudo.
Aiden tomou o assento ao meu lado, virando para que seu joelho
pressionasse contra o meu e ele estivesse de frente para mim. — Posso fazer uma
pergunta?
— Claro. — Retirei o livro enorme e coloquei-o entre nós.
— Eu pareço idiota?
Minha mão congelou sobre a borda do livro. — Uh, isso é uma pegadinha?
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Não. Você não parece idiota.
— Também acho. — Ele estendeu a mão, tirando o livro de mim. Sua mão
roçou a minha quando ele o fez, enviando calafrios pelos meus dedos. — Eles
estavam fazendo a mesma quantidade de estudo que estamos fazendo.
Eu não tinha certeza de como proceder com isso. Então, eu não disse nada.
Aiden olhou para o livro, suas sobrancelhas abaixando. — Eu sei o que meu
irmão está fazendo, Alex. E você sabe o quê? Isso me irrita.
— É mesmo?
— Sim. — Ele olhou para cima, encontrando meu olhar. — Eu não posso
acreditar que ele acha que eu me importaria se ele gostasse de caras ou algo
assim. Eu sempre soube que ele é assim.
— Eu não.
— Deacon é bom em esconder isso. O que estou olhando? — Perguntou.
Estendi a mão e abri o livro na seção sobre a Ordem de Thanatos. Compreensão
surgiu em seu rosto. Ele virou um par de páginas antes de voltar para o início da
seção, — Ele sempre fingia estar interessado em meninas, e talvez também esteja.
Mas nunca me enganou.
— Ele me enganou. — Eu assisti um cacho ondulado de cabelo cair sobre a
testa de Aiden. Um desejo insano de escová-lo de volta me bateu. — Então, ele
nunca disse nada sobre isso?
Aiden bufou. — Não. Eu acho que ele acredita que eu ficaria chateado ou
algo assim. E confie em mim, eu queria dizer a ele que não me importo, mas acho
que o deixaria desconfortável. Você sabe, falar sobre isso. Então, eu só finjo que
não vejo isso. Acho que ele vai falar comigo sobre isso, eventualmente.
— Ele vai. — Mordi o lábio, — Mas... é Luke.
Um músculo apareceu em sua mandíbula. — Eu não gosto do fato de que ele
pode estar... envolvido com um mestiço, mas eu acredito que ele não vai fazer
nada... — Ele parou, rindo. — Sim, bem, eu não sou a pessoa para dar uma
palestra sobre todo negócio de puro e mestiço.
Um rubor se apoderou de mim. Aiden olhou para cima, e nossos olhos se
encontraram. Ele abriu a boca, mas fechou-a rapidamente. Ele se voltou para o
livro, limpando a garganta. — Então, a Ordem de Thanatos? Não é um material
de leitura exatamente divertido.
Encontrando um terreno seguro, eu assenti. — Telly tinha este símbolo
tatuado em seu braço. — Apontei para a tocha, cuidando para não tocá-la. — E
também Romvi, que, por sinal, ainda me odeia, caso você esteja se perguntando.
E lembrei-me que na seção que falava sobre o Apollyon, mencionou que Thanatos
matou Solaris e o Primeiro. Talvez este negócio de Ordem ainda esteja em curso e
têm algo a ver com o que... o que aconteceu em Catskills.
A sua mão ao lado do livro enrolou em um punho, mas Aiden não olhou para
cima. — Até onde eu sei a Ordem não existe mais, mas nunca se sabe.
— Talvez isso possa nos dizer algo? Mas eu não posso lê-lo.
Ele sorriu brevemente. — Dê-me alguns minutos. Ler isso não é exatamente
fácil.
— Tudo bem. — Além da fresta na porta, a biblioteca estava escura e
silenciosa. Não havia nenhuma maneira que eu iria lá fora. Peguei um caderno e
caneta. — Eu vou... fingir que estudo ou algo assim.
Aiden riu. — Faça isso.
Eu sorri quando comecei a rabiscar em uma página de papel em branco do
caderno. Foi difícil, porque seu joelho ainda estava tocando o meu, e pode ter sido
minha imaginação, mas parecia estar ficando mais perto. Sua perna inteira
estava contra a minha.
Enquanto Aiden lia, esbocei uma versão muito ruim do Apollo e da estátua
de Daphne. Várias vezes, Aiden olhou e fez comentários sobre o desenho. Ele se
ofereceu para pagar por aulas de arte em um ponto. Eu dei um soco no seu braço
por isso.
Desistindo de minha obra-prima, eu verifiquei para ver em que página ele
estava. Enquanto eu olhava para o símbolo em cada página, senti um aperto na
garganta. Em vez de pensar em Telly ou Romvi, pensei no puro eu tinha matado
em Catskills. Inclinando-me para trás na cadeira, esfreguei as mãos sobre as
coxas. A sensação de empurrar uma lâmina em um puro era muito diferente de
empurrar em um daimon, mesmo daimon mestiço.
Havia sempre escolhas, e mais uma vez, eu tomei a decisão errada. Na
verdade, eu tinha feito uma série de más decisões ao longo de um curto período
de tempo, mas essa foi a pior de todas. Eu poderia ter desarmado o Guarda puro-
sangue. Eu poderia ter feito algo diferente do que eu tinha feito. Eu tinha matado
ele e ainda nem sequer sabia seu nome.
— Hey. — Aiden disse suavemente. — Você está bem?
— Sim. — Levantei a cabeça, forçando um sorriso, — Encontrou alguma
coisa?
Ele estava me observando atentamente. Eu podia sentir isso, mesmo depois
de voltar a olhar para as minhas mãos. — Somente o porque da ordem ter sido
criada. — disse ele. — Parece que eles foram criados por nós, os puros-sangues,
como uma organização para manter os costumes antigos vivos e para proteger os
deuses. E parece que até mesmo alguns mestiços escolhidos foram iniciados na
Ordem.
— Ótimo. — Alisei minhas mãos sobre a mesa, — Os deuses precisam de
proteção?
— Não parece ser como você pensa, mas mais como proteger sua própria
existência dos mortais e aqueles que poderiam ser uma ameaça para os deuses.
— Aiden virou-se para o livro, passando vários capítulos à frente, — Aqui diz que
os membros estão marcados, o que explicaria a tatuagem se eles pertencem à
Ordem. Mas há algo mais.
— O quê? — Olhei para ele, — O que é?
Ele respirou fundo e virou o livro para mim. — Nós todos lemos errado.
Compreensível, pela forma como está formulado. Olhe para isto.
Aiden estava apontando para a seção sobre o Apollyon. — 'A reação dos
deuses, nomeadamente da ordem de Thanatos, foi rápida e justa. Ambos Apollyons
foram executados sem julgamento’.
Sentei-me, compreensão me atingindo. — Não foi Thanatos que os matou,
mas sim a ordem de Thanatos.
Aiden assentiu enquanto ele se voltou para a seção da Ordem. — Isso é o
que parece.
— Mas como? Solaris e o Primeiro estavam totalmente Despertos. Pela
maneira como Seth fala, uma vez que isso acontecer nós nos tornaremos
indestrutíveis.
Ele balançou a cabeça. — A Ordem é muito mística ou pelo menos, é assim
que se lê nesta seção. — Ele bateu com o dedo em algo que parecia nada para
mim, — Diz aqui que a Ordem é como ‘os olhos e a mão de Thanatos’. Há algo
aqui sobre a Ordem ter sido presenteada com adagas com sangue de Titãs.
— Adagas mergulhadas no sangue dos Titãs? Tipo, literalmente? Os
Apollyons, de alguma forma, são alérgicos ao sangue Titã? — Balancei a cabeça,
— O que eu não entendo é, se os deuses e os Apollyons podem ambos usar o
akasha, então por que os deuses – Thanatos - precisam de mais alguém para
matar o Apollyon? Eles poderiam usar apenas o akasha.
— Eu não sei. — Disse ele, olhando para mim. Seus olhos estavam cinza
metal cor de arma, — E tenho dificuldade em acreditar que Seth não sabe,
também. Será que ele não lhe disse que, uma vez que você Acordar, o
conhecimento dos Apollyons anteriores vai passar para você?
— Sim, ele disse. Seth teria que saber. — Uma sensação desconfortável
arranhou a minha atenção quando eu descansei meu queixo na minha palma. Se
Seth sabia tudo o que os anteriores Apollyons sabiam, então não teria um deles,
em todos esses anos, descoberto que eles eram um produto de uma união entre
um puro e mestiço? E não teria um dos Apollyons que saber sobre a Ordem,
especialmente se a vida de Solaris e do Primeiro passaram para Seth durante seu
Despertar?
— O que é? — Aiden perguntou calmamente.
Raiva surgiu, cutucando a corda. — Eu não acho que Seth está sendo
completamente honesto comigo.
Aiden não respondeu.
Dei uma respiração profunda. — Não entendo por que ele iria mentir sobre
isso. Talvez... talvez ele simplesmente nunca tenha somado dois mais dois. —
Isso soou falso até mesmo para mim, mas meu cérebro tinha dificuldade em
aceitar que Seth poderia estar escondendo algo assim. Por que o faria?
Alguns momentos se passaram antes que Aiden falasse. — Alex, se a Ordem
existe hoje, então eles poderiam estar por trás dos ataques nos Catskills. E se
eles são os olhos e as mãos de Thanatos, eles consideram você como uma
ameaça.
Pensei sobre o que a fúria havia dito antes que ela tentasse arrancar a
minha cabeça, que eu era uma ameaça e que não era nada pessoal. Mas tentar
me matar era muito pessoal. — Você acha que as fúrias estavam lá por causa do
ataque daimon, ou por... mim?
— Elas não reagiram até o ataque daimon.
Esfregando minhas têmporas, eu fechei os olhos. Isso tudo estava me dando
uma dor de cabeça. — Há tantas coisas que não entendo... a Ordem, as fúrias,
Seth. Por que eles vêm atrás de mim, em vez dele?
Aiden fechou o livro. — Eu preciso dizer a Marcus sobre isso. Se a Ordem
ainda está viva e bem, então isso é grave. E se Telly é membro, então temos de ter
cuidado.
Assenti, abrindo os olhos. Eu podia sentir seu olhar em mim novamente. —
Ok.
— E eu não quero que você vá para a aula de Romvi mais. — Continuou ele.
— Vou falar com Marcus e tenho certeza que ele vai concordar com isso.
— Isso não deve ser difícil. Amanhã é o último dia de aulas antes das férias,
então eu vou apenas pular. — Tremi, — Você acha que a coisa de ‘os olhos de
Thanatos’ é algo literal? E há punhais realmente mergulhados em sangue de
Titã?
— Conhecendo os deuses, eu aposto em um sim. — Houve uma pausa, e
Aiden estendeu a mão, capturando meu queixo com as pontas de seus dedos. Ele
virou lentamente a minha cabeça na direção dele. — O que você não está me
dizendo, Alex?
Uma rajada de calor passou por mim. — Nada. — Sussurrei, e tentei virar a
cabeça, mas ele me manteve presa.
— Você sabe que pode me dizer qualquer coisa, certo? E eu sei que há algo
que você está escondendo de mim.
O aviso de Seth sobre manter as marcas de Apollyon em silêncio foi
dominado pelo desejo de dizer a alguém o que estava acontecendo. E quem
melhor para dizer do que Aiden? Ele era a única pessoa no mundo que eu
confiava, especialmente considerando o quanto ele arriscou para me manter
segura. Seth não ficaria feliz se ele soubesse, mas, novamente, eu não estava
particularmente feliz com Seth no momento.
— Está acontecendo. — Eu disse finalmente.
Os olhos de Aiden procuraram os meus. — O que está acontecendo?
— Isto, essa coisa estranha. — Levantei minhas mãos, as palmas para cima.
Seu olhar caiu sem soltar meu queixo e quando seus olhos encontraram os meus
novamente, eles estavam interrogativos. — Eu comecei a receber as marcas do
Apollyon. Você não pode vê-las, mas elas estão aqui, em ambas as palmas das
minhas mãos. E há uma no meu estômago.
Ele pareceu surpreso com isso, liberando o meu queixo, mas não se
afastando. — Quando isso começou a acontecer?
Olhei para longe. — A primeira aconteceu enquanto nós estávamos no
Catskills. Seth e eu estávamos treinando um dia e fiquei com raiva. De alguma
forma, eu explodi uma rocha e então a próxima coisa que eu soube é que havia
esta corda vindo de Seth e eu tinha uma runa.
— Por que você não me contou?
— Bem, nós realmente não estávamos nos dando bem naquela época, e você
estava ocupado. E Seth me pediu para não dizer nada até que soubesse o que
estava acontecendo. — Suspirando, eu disse a ele sobre o resto das vezes e como
eu tinha visto a minha própria corda. Descontentamento rolou por Aiden no
momento em que eu terminei dizendo. — Isso acontece quando estamos nos…
tocando às vezes. Seth acha que, se eu conseguir a quarta marca na parte de trás
do meu pescoço, então eu vou Despertar. Talvez antes do previsto, e ele está todo
entusiasmado com essa perspectiva.
— Alex. — Ele respirou instável.
— Sim, eu sei. Sou uma aberração enorme até para os padrões Apollyon. —
Eu ri, — Não quero a quarta marca. Você sabe, eu meio que gostaria de
aproveitar o resto dos meus dezessete anos sem ser o Apollyon. Mas Seth está
todo: ‘esta seria a melhor coisa do mundo’.
— A melhor coisa para quem? — Ele perguntou, — Você ou Seth?
Eu ri de novo, mas meu humor estranho secou quando lembrei de como eu
suspeitava que Seth fazia as coisas das runas de propósito.
— Alex?
— Seth diz que seria melhor para mim, porque eu seria mais forte, mas acho
que ele está... acho que ele está ansiando um aumento de poder. Lembra-me de
Super Mario Brothers ou algo assim, porque eu posso sentir o akasha saindo de
mim... — A minha boca abriu. — Filho da puta.
— O quê? — Aiden franziu a testa.
Meu estômago revirou. — A segunda vez que eu tive uma marca, eu estive
exausta por dias. — Endireitei-me, olhando para Aiden quando percebi
finalmente, — Lembra-se da noite que todos se reuniram no escritório de
Marcus? Outra runa tinha aparecido pouco antes, e dessa vez foi diferente de
qualquer outra. — Senti calor rastejar sobre meu rosto quando eu me lembrei o
quanto eu estava gostando da coisa toda, enquanto ela estava acontecendo, — De
qualquer forma, eu andei realmente cansada e meio desligada depois durante
dias.
Aiden assentiu. — Eu me lembro. Você estava de muito mau humor.
Minha irritação tinha levado para a sala de privação sensorial... e o sussurro
do medo de Aiden. — Bem, você teve mais sorte do que Seth. Eu joguei um
sanduiche nele.
Ele estava tentando lutar contra um sorriso, mas seus olhos se iluminaram.
— Ele provavelmente merecia.
— Ele fez, mas deuses, é isso que vai acontecer quando eu Despertar? —
Arrepios deslizaram como dedos gelados sobre minha pele. — Ele irá me drenar.
E acho que ele nem mesmo sabe disso.
Raiva brilhou em seus olhos, desfazendo a suavidade que se tinha reunido.
Suas mãos se fecharam em punhos. — Seja o que for que... vocês dois estão
fazendo que está causando o aparecimento das runas, você precisa parar.
Eu olhei para ele com suavidade. — Eu já tinha decidido isso, mas isso não
vai impedir que aconteça, eventualmente. E você sabe quão realmente confusa a
coisa é? Minha mãe me avisou que o Primeiro me esvaziaria. Eu apenas pensei
que ela estava sendo uma daimon louca.
Aiden recuperou a pouca distância que eu tinha sido capaz de colocar entre
nós. — Eu não vou deixar nada acontecer com você, Alex. Isso vale para Seth,
também.
Uau. Meu coração fez uma coisa louca. E ele realmente parecia acreditar que
podia. — Aiden, você não pode parar isso. Ninguém pode.
— Nós não podemos parar o Despertar, mas a transferência de poder só
acontecerá se você o tocar depois ter 18, certo? Então você não o tocará.
Eu não poderia imaginar Seth concordando com a parte de “não-tocar”, mas
ele entenderia, uma vez que ele soubesse o que poderia fazer. — Ele vai entender.
— Eu disse, — Vou falar com ele quando ele voltar. Isto é provavelmente algo
melhor para discutir face a face.
Aiden não parecia convencido. — Eu não gosto disso.
— Você não gosta dele. — Apontei gentilmente.
— Você está certa. Eu não gosto de Seth, mas há algo mais sobre isso.
— Não há sempre? — Me mexi um pouco e senti sua respiração sobre meus
lábios. Se eu movesse um centímetro, nossos lábios se tocariam. E Aiden estava
de repente olhando para a minha boca.
— Eu vou falar com Marcus. — Aiden disse, a voz rouca.
— Você já disse isso.
— Eu disse? — Sua cabeça inclinou ligeiramente, — Devemos voltar.
Eu engoli. Aiden não estava se movendo e cada músculo do meu corpo exigia
que eu cruzasse o pequeno espaço entre nós. Mas eu empurrei a cadeira para
trás, fazendo um barulho horrível. Me levantei. Não parecia ter bastante ar no
pequeno quarto com paredes cor de ervilhas desbotadas. Comecei a ir em direção
à porta, mas parei quando percebi que tinha deixado a minha bolsa na mesa. Eu
me virei.
Aiden estava em frente a mim. Eu não tinha o ouvido levantar ou se mover
em direção a mim. Ele tinha minha bolsa na mão, o livro já colocado para dentro.
E ele estava tão perto que as pontas de seus sapatos encostavam-se aos meus.
Meu coração estava acelerado e parecia que uma dúzia de borboletas tinha
explodido no meu estômago. Eu estava meio com medo de respirar, sentir o que
eu sabia que não era permitido.
Ele colocou a alça da minha bolsa no meu ombro e, em seguida, ele colocou
meu cabelo para trás da minha orelha. Eu pensei que ele ia me abraçar — ou me
sacudir, porque era sempre uma possibilidade. Mas, então, sua mão deslizou
sobre meu rosto e seu polegar alisou meu lábio inferior, cuidando para não
passar pela pequena cicatriz no centro, embora a dor há muito havia cessado.
Tomei uma respiração afiada. Seus olhos estavam cor de prata líquida. Meu
pulso batia em mim. Eu sabia que ele queria me beijar, talvez fazer outras coisas.
Minha pele estava formigando com excitação, antecipação e tanto desejo. E eu
acho que ele estava sentindo o que eu estava sentindo, também. Eu não
precisava de uma corda idiota para me dizer isso.
Mas Aiden não agiu. Ele tinha o tipo de auto-controle que rivalizava com o
das sacerdotisas virgens que tinham servido o templo de Artemis. E lá estavam
todos os outros motivos por que ele não deveria - por que eu não deveria.
Aiden fechou os olhos e exalou asperamente. Quando reabriu os olhos,
deixou cair sua mão e me deu um sorriso rápido. — Pronta? — Ele perguntou.
Sentindo falta do seu toque já, tudo o que eu podia fazer era acenar a
cabeça. Voltamos para meu dormitório em silêncio. Eu continuei roubando
olhares para ele, e ele não parecia com raiva, só perdido em seus próprios
pensamentos e talvez um pouco triste.
Aiden me levou direto para a minha porta, como se algum membro louco da
Ordem ou uma fúria fosse saltar de um almoxarifado. A sala estava quase vazia
desde que eu dividia o primeiro andar com um monte de puros. Seus pais os
haviam tirado de suas classes na segunda-feira, dando início a pausa de Inverno
mais cedo. Ele acenou com a cabeça bruscamente e esperou até que eu fechasse
e trancasse a porta.
Soltando a minha bolsa ao lado do sofá, eu sentei e tirei o telefone celular
que Seth tinha me dado. Havia apenas um contato salvo na agenda: Coelhinho.
Eu não pude deixar de rir. Parecia sempre haver dois lados de Seth - o lado
engraçado e charmoso, o que podia ser paciente e gentil. E então havia um lado
todo diferente de Seth - o que eu realmente não conhecia, o que parecia apenas
dizer meias-verdades e era a personificação física de tudo o que eu temia.
Respirando fundo, eu pressionei sobre o nome e ouvi o telefone tocar uma
vez, duas vezes, e depois cair em uma saudação de correio de voz padrão.
Seth não respondeu. Nem ligou de volta naquela noite inteira.
E
Doze
u não tinha ideia do que Seth poderia estar fazendo para que ele fosse
incapaz de retornar uma chamada. Não era como se eu estivesse preocupada com
sua segurança. Seth podia cuidar de si mesmo. Mas eu me perguntava se ele
ainda estava com raiva de mim. O engraçado era, se ele não estivesse, ele ia estar
depois que eu tivesse falado com ele. Empurrar Seth para fora da minha mente
foi surpreendentemente fácil quando entrei em Técnicas de Verdades e Lendas.
Deacon olhou para cima, sorrindo quando eu me sentei ao lado dele. Fiquei
surpresa ao vê-lo no último dia de aula. Eu achava que, de todos, ele teria
balançado seu caminho para fora da classe. — Como foi a sua visita à biblioteca?
Estudou alguma coisa?
Olhei na frente da sala de aula. Luke estava falando com Elena, mas ele
estava nos observando, ou melhor, observando Deacon, com o canto do olho. —
Minha visita à biblioteca? — Eu me concentrei em Deacon. — Como foi a sua?
— Ótimo. Estudamos um monte. — Deacon nem sequer perdeu uma batida.
— Uau. — Baixei minha voz, — Isso é incrível, considerando que nenhum de
vocês tinha livros para estudar.
Deacon abriu a boca, mas fechou.
Eu pisquei.
As pontas de suas orelhas ficaram vermelhas. Ele bateu os dedos em cima
da mesa. — Bem, então.
Parte de mim queria dizer a Deacon que Aiden sabia e que ele não tinha
nada para se preocupar, mas não era da minha conta. Mas talvez eu pudesse dar
um empurrãozinho na direção certa. — Não é um grande negócio. — Sussurrei,
— Honestamente, ninguém aqui, puro ou mestiço, se preocupa com isso.
— Não é assim. — Ele sussurrou de volta.
Eu levantei uma sobrancelha. — Não é?
— Não. — Deacon suspirou, — Eu gosto de meninas também, mas... — Seu
olhar encontrou Luke, — Ele é diferente.
Bem, pelo menos eu não tinha estado completamente fora da base quando
se tratava das preferências de Deacon. — Sim, Luke com certeza é diferente.
Deacon esboçou um sorriso. — Não é o que você pensa. Nós não fizemos
nada...
— Tanto faz. — Eu sorri.
Ele se inclinou sobre a distância entre nossas mesas. — Ele é um mestiço,
Alex. De todas as pessoas, eu acho que você sabe exatamente como isso é
perigoso.
Recuei e olhei para ele.
Deacon piscou quando um sorriso malicioso atravessou seu rosto. — Mas a
questão é: vale a pena quebrar a regra número um ou não?
Antes que eu pudesse abrir a boca para responder a isso e, honestamente,
eu não tinha ideia do que dizer, dois guardas do Conselho entraram na classe,
silenciando a sala inteira. Mudei de volta no meu lugar quando a minha
inquietação floresceu, quase desejando que eu pudesse deslizar sob a mesa.
O que tinha cabelo curto castanho esquadrinhou a sala, seus lábios
pressionados em uma linha dura. Seu olhar caiu sobre mim. O meu sangue gelou
nas veias. Lucian não estava aqui, e eu não reconheci os dois guardas.
— Senhorita Andros? — Sua voz era suave, mas cheia de autoridade. — Você
precisa vir com a gente.
Toda maldita pessoa na classe se virou e olhou. Pegando minha bolsa, eu
encontrei os olhos arregalados de Deacon. Fui em direção à frente da classe,
forçando um sorriso “tanto faz” no meu rosto. Mas meus joelhos tremiam.
Guardas do Conselho chamando alguém de classe nunca era uma coisa boa.
Houve um murmúrio baixo de onde Cody e Jackson sentavam. Eu ignorei e
segui os guardas. Ninguém falou enquanto andávamos pelos corredores e
subiamos o número ridículo de degraus. Pavor continuou a tecer o seu caminho
através de mim. Marcus não teria enviado Guardas do Conselho para recuperar-
me. Ele enviaria Linard, ou Leon, ou mesmo Aiden.
Os Guardas do Covenant abriram a porta do escritório de Marcus e me
conduziram para dentro. Meu olhar viajou sobre a sala, rapidamente procurando
os ocupantes.
Meu passo estava hesitante.
O Ministro Chefe Telly estava na frente da mesa de Marcus, mãos cruzadas
atrás dele. Aqueles olhos pálidos aguçaram no momento em que nossos olhares
se encontraram. O cinza parecia ter se espalhado em sua têmpora desde a última
vez que eu o vi, agora salpicando seu cabelo. Em vez dos trajes luxuosos que ele
vestiu durante o Conselho, ele usava uma simples túnica branca e calças de
linho.
A porta se fechou com um clique suave atrás de mim. Eu me virei. Não havia
guardas, não havia Marcus. Eu estava completamente sozinha com o ministro
babaca chefe. Ótimo.
— Você vai se sentar, Senhorita Andros?
Virei-me lentamente, obrigando-me a tomar uma respiração profunda. — Eu
prefiro ficar em pé.
— Mas eu prefiro que você sente. — Ele respondeu de forma uniforme. —
Sente-se.
Uma ordem direta do ministro chefe era algo que eu não podia recusar. Mas
isso não quer dizer que eu estava indo me rebaixar para ele. Eu fiz o meu
caminho para a cadeira o mais lentamente possível, sorrindo por dentro quando
vi o músculo em sua mandíbula começar a contrair.
— O que eu posso fazer por você, ministro chefe? — Perguntei depois de ter
feito um show lento de colocar minha bolsa nos meus pés, ajeitar a minha
camiseta, e ficar confortável.
Nojo encheu seu olhar. — Eu tenho algumas perguntas para você sobre a
noite que deixou o Conselho.
Ácido começou a comer o seu caminho através do meu estômago. — Não
deveria Marcus estar aqui? E você não tem que esperar até o meu tutor legal
estar presente? Lucian está em Nova York, onde você deveria estar.
— Eu não vejo nenhuma razão para incluí-los neste negócio... indecoroso. —
Ele voltou sua atenção para o aquário, observando os peixes por alguns
momentos, enquanto eu ficava mais desconfortável. — Depois de tudo, nós dois
sabemos a verdade.
Que ele era um gigante cretino? Todo mundo sabia disso, mas eu duvidava
que era onde ele queria chegar. — Qual verdade?
Telly riu quando ele se virou. — Eu quero conversar com você sobre a noite
que os daimons e as fúrias atacaram o Conselho, sobre o real motivo porque você
fugiu.
Meu coração gaguejou, mas eu mantive meu rosto em branco. — Eu pensei
que você soubesse. Os daimons estavam atrás de mim. Tal como as fúrias. Veja,
eu estava muito popular pelo final da noite.
— Isso é o que você diz. — Ele encostou-se à mesa e pegou uma pequena
estátua de Zeus. — No entanto, houve um Guarda puro-sangue encontrado
morto. Você tem alguma coisa a acrescentar a isso?
Um gosto amargo formou na parte de trás da minha boca. — Bem... havia
um monte de puros e mestiços mortos. E um monte de servos mortos que
ninguém deu a mínima. Eles teriam sido salvos se alguém tivesse ajudado.
Ele arqueou uma sobrancelha. — A perda de um meio-sangue não é um
problema meu.
A raiva deu um gosto diferente na minha boca. Tinha gosto de sangue. —
Dezenas e dezenas deles morreram.
— Como eu disse, como isso seria da minha preocupação?
Ele estava incitando-me. Eu sabia. E eu ainda queria dar um soco nele.
— Mas eu estou aqui pela morte de um de meus guardas. — Ele continuou.
— Eu quero saber como ele morreu.
Fingi tédio. — Eu diria que provavelmente tem a ver com os daimons que
pularam no edifício. Eles tendem a matar pessoas. E as fúrias estavam rasgando
as pessoas.
O sorriso em seu rosto desapareceu. — Ele foi morto com um punhal do
Covenant.
— Tudo bem. — Encostei-me para trás na cadeira, inclinando a cabeça para
o lado. — Você sabia que mestiços podem ser transformados agora?
Os olhos do ministro chefe se estreitaram.
Eu diminuí a velocidade do meu discurso. — Bem, alguns desses mestiços
foram treinados como Sentinelas e Guardas. Eles carregam punhais. E eu acho
que eles sabem como usar essas adagas, também. — Olhando-o bem nos olhos,
eu assenti, — Foi provavelmente um deles.
Surpreendentemente, Telly riu. Não era uma risada agradável, era mais
como uma risada de um doutor do mal. — Que boca você tem. Diga-me, é porque
você acha que está tão segura? Que sendo a Apollyon, faz de você intocável? Ou é
apenas estupidez cega?
Fingi pensar sobre isso. — Às vezes eu faço algumas coisas bem estúpidas.
Isto poderia ser uma delas.
Ele sorriu com força, — Você acha que eu sou idiota?
Estranho. Essa foi a segunda vez que me perguntaram isso nas últimas 24
horas. Eu dei a mesma resposta. — Isso é uma pegadinha?
— Por que você acha que eu esperei até agora para questioná-la, Alexandria?
Veja, eu sei sobre o seu pequeno vínculo com o Primeiro. E eu sei que esse tipo de
distância nega esse vínculo. — Seu sorriso tornou-se real quando as minhas
mãos apertaram os braços da cadeira. — Então, agora, você não é nada, além
uma meio-sangue. Você me entende?
— Você acha que eu preciso de Seth para me defender?
As cavidades de seu rosto começaram a ficar cor de rosa. — Diga-me o que
aconteceu naquela noite, Alexandria.
— Houve esse ataque daimon gigante que eu tentei avisar vocês, mas vocês
me ignoraram. Você disse que era uma ideia ridícula que daimons poderiam
conseguir sucesso. — Fiz uma pausa, deixando que o golpe afundasse. — Eu
lutei. Matei alguns daimons e derrubei uma fúria ou duas.
— Ah, sim. Você lutou magnificamente pelo que ouvi. — Ele fez uma pausa,
batendo no queixo, — E então um complô foi descoberto. Os daimons estavam
atrás da Apollyon.
— Exatamente.
— Eu acho isso estranho. — Respondeu ele, — Considerando que eles
estavam tentando matá-la na frente de Guardas e Sentinelas. Que, por sinal, são
leais ao Conselho.
Bocejei alto, fazendo de tudo para mostrar que eu não estava com medo,
enquanto eu estava tremendo por dentro. Se ele visse isso, em seguida, ele
saberia que eu estava escondendo algo. — Não tenho ideia do que se passa dentro
da mente de um daimon. Eu não posso explicar isso.
Telly empurrou para fora da mesa, ficando na minha frente. — Eu sei que
você matou o Guarda puro-sangue, Alexandria. E também sei que outro puro-
sangue cobriu você.
Meu cérebro esvaziou enquanto eu olhava para ele. Terror, tão potente e tão
forte, bateu o ar dos meus pulmões. Como ele sabia? Tinha a compulsão de Aiden
desgastado? Não. Porque eu estaria na frente do Conselho, algemada, e Aiden...
Oh deuses, Aiden estaria morto.
— Você não tem nada a dizer sobre isso? — Telly perguntou, claramente
desfrutando o momento.
Fale alguma coisa. Fale alguma coisa. — Eu sinto muito. Só estou um pouco
chocada.
— E por que você iria ficar chocada?
— Porque essa é provavelmente a coisa mais estúpida que eu já ouvi em
muito tempo. E você já viu as pessoas que eu conheço? Isso deve dizer algo.
Seus lábios diluíram. — Você está mentindo. E você não é uma boa
mentirosa.
Meu pulso batia forte. — Na verdade, eu sou uma grande mentirosa.
Ele estava perdendo a paciência rapidamente. — Diga-me a verdade,
Alexandria.
— Estou dizendo a verdade. — Forcei meus dedos a relaxarem ao redor dos
braços da cadeira. — Eu sei melhor do que atacar um puro, quanto menos matar
um.
— Você atacou um Mestre no Conselho.
Merda. — Eu realmente não ataquei-o, eu parei-o de atacar alguém. E, bem,
eu aprendi minha lição depois disso.
— Eu discordo. Quem te ajudou encobri-lo?
Inclinei-me na cadeira. — Não tenho ideia do que está falando.
— Você está testando minha paciência. — disse ele, — Você não quer ver o
que vai acontecer quando eu perdê-la.
— Parece que você já a perdeu. — Olhei ao redor do quarto, forçando o meu
coração a voltar ao normal, — Não tenho ideia do por que você está me fazendo
essas perguntas. E eu estou perdendo o último dia de aula antes das férias de
inverno. Você vai me dar um passe livre ou algo assim?
— Você acha que é inteligente?
Eu sorri.
A mão de Telly serpenteou para fora tão rápido que eu nem sequer tive uma
chance de desviar do golpe. A parte de trás de sua mão conectou com o meu rosto
com força suficiente para virar a minha cabeça para o lado. Descrença e raiva
misturaram, correndo através de mim. Meu cérebro se recusou a aceitar o fato de
que ele tinha acabado de me bater, ele realmente se atreveu a me bater. E meu
corpo já estava exigindo que eu batesse nele de volta, pô-lo de costas. Meu punho
praticamente coçava para se conectar com sua mandíbula.
Segurei as bordas da cadeira, de frente para ele. Isso é o que Telly queria.
Ele queria que eu ferisse-o de volta. Em seguida, ele teria a minha bunda em uma
bandeja de ouro.
Telly sorriu.
Eu devolvi o gesto, ignorando a ardência em minha bochecha. — Obrigada.
Raiva brilhou no fundo de seus olhos. — Você acha que é durona, não é?
Dei de ombros. — Eu acho que você poderia dizer isso.
— Há maneiras de quebrar você, minha querida. — Seu sorriso aumentou,
mas nunca chegou a seus olhos, — Eu sei que você matou um puro sangue. E eu
sei que alguém, outro puro ou o Primeiro, acobertou você.
Um arrepio percorreu minha espinha, como dedos gelados de pânico e
terror. Empurrei-o, certificando que ele voltasse mais tarde... se houvesse um
depois. Arqueei uma sobrancelha. — Eu não tenho ideia do que você está falando.
Eu já disse o que aconteceu.
— O que você me disse é uma mentira! — Ele disparou para frente,
agarrando os braços da cadeira. Seus dedos estavam a centímetros do meu, os
lábios puxados para trás, o rosto vermelho de raiva. — Agora me diga a verdade
ou me ajude...
Recusei-me a afastar, como eu queria. — Eu já disse a você.
A veia estalou em sua testa. — Você está pisando em terreno perigoso,
querida.
— Você não deve ter qualquer prova. — Eu disse suavemente, encontrando
seu olhar enfurecido, — Se você tivesse, eu já estaria morta. Então, novamente,
se eu fosse apenas uma meio-sangue você não precisaria de muita prova. Mas,
para levar-me, você precisa da permissão do Conselho. Você sabe, sendo eu a
Apollyon preciosa e tudo.
Telly foi para trás da cadeira, virando as costas para mim.
Eu sabia que precisava me calar. Provocá-lo era provavelmente a coisa mais
estúpida que eu poderia fazer, mas eu não podia parar. A raiva e o medo nunca
foram uma boa mistura para mim. — O que eu não entendo é como você tem
tanta certeza de que eu matei um puro sangue. Não houve, obviamente,
nenhuma testemunha de sua morte. Ninguém está apontando um dedo para
mim. — Fiz uma pausa, apreciando a forma como os músculos de suas costas
ficaram tensos sob a túnica fina. — Por que você...?
Ele virou-se, a face impressionantemente em branco. — Por que eu o que,
Alexandria?
Meu estômago se agitou com a compreensão. Minhas suspeitas estavam
corretas. Eu olhei para as suas mãos elegantes. — Como você pode estar tão
certo, a menos que você tenha mandado alguém - o Guarda - me atacar? Só
assim eu acho que você poderia estar tão certo, mas você não teria feito isso.
Porque eu tenho certeza que o Conselho ficaria muito chateado. Você poderia até
mesmo perder a sua posição.
Tão ocupada exultando-me, eu nem sequer vi-o se mover.
Sua mão pegou a mesma bochecha. A explosão de dor vermelha-quente me
surpreendeu. Não era um golpe de maricas. A cadeira ficou equilibrada apenas
sobre duas pernas antes de cair novamente no chão. Lágrimas brotaram dos
meus olhos.
— Você... você não pode fazer isso. — Eu disse, minha voz rouca.
Telly agarrou meu pulso. — Eu posso fazer o que eu quiser. — Telly me
arrastou para os meus pés, seus dedos fizeram contusões nos meus braços
enquanto ele arrastou-me através do escritório do meu tio. Ele me empurrou em
direção à janela com vista para o pátio. — Diga-me, o que você vê lá fora?
Eu pisquei lágrimas para longe, mordendo a fúria ameaçando transbordar.
Estátuas e areia, e, além disso, o oceano rolava e caía com ondas fortes. As
pessoas estavam espalhadas por todo o campus.
— O que você vê, Alexandria? — Seu aperto aumentou.
Eu estremeci, odiando o meu momento de fraqueza. — Não sei. Vejo as
pessoas e areia. E o oceano. Eu vejo muita água.
— Vê os servos? — Ele fez um gesto em direção ao átrio, onde um grupo
deles ficaram à espera de ordens de seu Mestre. — Eu sou dono deles. Eu possuo
todos eles.
Os músculos do meu corpo tencionaram. Eu não conseguia afastar o meu
olhar deles.
Telly se inclinou, seu hálito quente no meu ouvido. — Deixe-me contar um
pequeno segredo sobre a verdadeira natureza da viagem de sua outra metade
para o Catskills. Ele foi levado para lidar com qualquer servo que está fora do
elixir e se recusa a submeter-se. Você sabia?
— Lidar com eles?
— Pegue um pouco dessa esperteza de sua boca e aplique-a. Tenho certeza
que você pode descobrir isso.
Eu podia descobrir, mas não podia acreditar. Havia uma diferença entre
essas duas coisas. Porque eu entendi que Telly estava afirmando que Seth iria
derrubar qualquer meio-sangue que estivesse causando problemas, mas Seth não
iria realmente concordar com algo assim. E eu também sabia que Telly estava me
dizendo isso para me chocar.
E estava funcionando.
— Tem uma coisa que eu quero te dizer. — Telly disse, — Eu tenho um
favorito de todos os servos, sabe. Há um que, eu pessoalmente, pedi há muitos
anos atrás. Você sabia que eu conhecia sua mãe e seu pai?
Fechei os olhos.
— O que, Alexandria? Alguém já permitiu um passarinho fora da gaiola11? —
Ele soltou o meu pulso, rindo. — Sua linda mãe manchou-se dessa forma,
11 No sentido de alguém já ter contado o segredo para ela.
misturando-se com um meio-sangue. Será que eles realmente acharam que
fugiriam? E você realmente acha que Lucian esqueceu a desgraça que ela colocou
sobre sua cabeça?
Papai. Paizinho. Pai. Todos os títulos que não tinham tido qualquer
significado até que eu li a carta de Laadan. Mas agora eles significavam tudo.
— Eu sei que ele não deve significar nada para você. — Telly continuou, —
Você nunca o conheceu, mas eu sei que quem cobriu o que você fez deve
significar muito para você. E o que eles dizem? Tal pai, tal filha?
Desespero tomou qualquer alívio que senti. Telly não ia usar o meu pai
contra mim. Ele ia apenas usar Aiden.
Telly me deixou perto da janela, retornando para o centro da sala. — Esta é
sua última chance. Vou partir depois de amanhã, antes do amanhecer, e se você
não cooperar até lá, não haverá mais chances. Isso poderia acabar facilmente.
Eu nem sequer sentia o pulsar na minha cara mais.
Telly sorriu, deleitando-se com o meu silêncio. — Admita que matou o
guarda e eu não vou pressionar... — Seu lábio enrolou, — Quem cobriu tudo. E
confie em mim, eu vou descobrir. Há apenas alguns que eu tenho notado que
tomaram qualquer interesse em você, além do Primeiro. O quê? — ele riu. — Você
acha que eu não estava prestando atenção?
Ar saiu dos meus pulmões tão rapidamente que eu me senti tonta.
— Vamos ver. — Telly bateu no queixo, — Há o seu tio, que eu acho que se
importa com você muito mais do que deixa transparecer. Ele estava em Nova
York. Depois, há o Sentinela que encontrou você naquela noite no labirinto.
Leon? Depois, há o que gentilmente se ofereceu para treiná-la. Eu acredito que
seria o St. Delphi. E depois há Laadan. Todos eles são suspeitos e eu vou garantir
que todos eles sofram. Como o Ministro Chefe, eu posso revogar a posição de
Marcus. Posso até remover Lucian. Eu posso apresentar acusações contra o
resto. Com toda a agitação e incidentes recentes, seria muito fácil.
Um pedaço de horror e frustração se formou na minha garganta. Lágrimas
apareceram atrás de meus olhos no mesmo momento em que eu queria esmagar
a cabeça de Telly.
— Você vai entrar em servidão e vai tomar o elixir. Se recusar, bem, as
coisas vão acabar mal.
Minhas mãos se fecharam em punhos. — Você é... revoltante.
Telly começou a vir para mim, com a mão levantando para me bater de novo.
Eu peguei seu pulso, meus olhos se reuniram com os seus e segurei. — Eu
fui atingida o suficiente, obrigada.
Uma comoção no corredor chamou a atenção de Telly, e ele puxou seu pulso
livre. A voz de Marcus soou alta, exigindo a entrada para o seu escritório. Telly
levantou uma sobrancelha para mim. — Você tem até o amanhecer de sexta-feira.
As paredes se fecharam.
Telly sorriu quando as demandas de Marcus ficaram mais altas. Nenhum de
nós falou durante esses momentos.
— Por que você me odeia tanto? — Perguntei por fim.
— Eu não odeio você, Alexandria. Odeio o que você é.
E
Treze
sse era o resultado de tudo isso - porque eu era uma Apollyon, porque
eu ia transformar Seth no Assassino de Deuses. E eu sabia, sem mais dúvidas,
que Telly era um membro da Ordem. Em sua mente, ele estava apenas
protegendo os deuses de uma ameaça, e não via nada de errado no que fazia.
As portas se abriram quando virei de costas para a janela, lutando para me
controlar.
— O que está acontecendo aqui? — Marcus exigiu.
— Eu tinha algumas… preocupações não respondidas sobre a noite em que
Alexandria deixou o Conselho, — Telly respondeu. — No início, ela não foi muito
cooperativa quanto às perguntas, mas eu acredito que nós chegamos a um
entendimento. Depois disso, ela foi surpreendentemente útil.
Sim, ele chegou a esse acordo no meu rosto.
Eu me perguntava quão rápido poderia arrancar um desses punhais da
parede de Marcus e mergulhá-lo no olho de Telly antes de seus Guardas poderem
reagir. A tensão na sala escalou, ondas serpenteando em todas as direções.
— E por que não fui envolvido neste questionamento? Ou melhor ainda, por
que isso não pôde esperar até o retorno de Lucian? — Marcus disse
uniformemente, mas eu reconheci o tom em sua voz. Deuses sabiam que eu o
tinha recebido inúmeras vezes. — Ele é o tutor dela e deveria ter estado presente.
Telly fez um tom de desaprovação suave. — Isso não foi um questionamento
formal ou sancionado pelo Conselho. Eu tinha algumas preocupações que
precisava esclarecer. Portanto, não havia necessidade da presença de Lucian ou
sua. Isto é, associado ao fato de que eu sou o Ministro Chefe e não preciso de sua
permissão.
Ele tinha, efetivamente, colocado Marcus em seu lugar.
— Alexandria. — Telly chamou, — Por favor, não se esqueça do que
discutimos.
Eu não respondi, porque ainda estava pensando se poderia ou não atingi-lo
antes que os Guardas me pegassem.
O Ministro Chefe Telly desculpou-se em seguida, dando gentilezas de
maneira tão calma que eu quase achei difícil acreditar que ele tinha acabado de
destruir a minha vida.
— Alexandria? — A voz de Marcus quebrou o silêncio, — O que ele queria
discutir com você?
— Ele tinha dúvidas sobre o que aconteceu no Conselho. — Minha voz
estava anormalmente espessa, — Isso é tudo.
— Alex? — Aiden disse, e meu coração caiu até os meus dedos dos pés. É
claro que ele estava aqui. — O que aconteceu?
De frente para eles, usei meu cabelo para proteger meu rosto golpeado e
mantive meu olhar colado ao tapete, — Aparentemente, eu tenho uma má
atitude. Tivemos que trabalhar nisso.
Aiden estava de repente na minha frente, erguendo meu queixo. Meu cabelo
deslizou de minha bochecha. Raiva saiu dele, engolindo o ar, como um buraco
negro de fúria.
— Ele fez isso? — Sua voz era tão baixa que mal o ouvi.
Incapaz de responder, desviei o olhar.
— Isso é inaceitável. — Aiden girou para Marcus, — Ele não pode fazer isso.
Ela é uma garota.
Às vezes, Aiden esquecia que eu também era uma mestiça, o que
praticamente anulava toda a coisa de ‘não bater em garotas’. Como com Jackson.
Como com a maioria dos puros. Nossa sociedade - nossas regras e a forma como
éramos tratados - era uma droga. Não havia palavras para isso.
E ao mesmo tempo, milhares de perguntas surgiram, mas uma se destacou.
Como eu poderia continuar a ser uma parte deste mundo? Ser uma Sentinela, de
certa forma, era apoiar a estrutura social, basicamente dizer que eu estava bem
com isso, e eu não estava. Eu a odiava.
Balançando a cabeça, afastei esses pensamentos da minha mente por agora,
— Ele é o Canalha Chefe. Pode fazer o que quiser, certo?
Marcus parecia estupefato, enquanto continuava a olhar para mim. Ele
estava realmente surpreendido pela violência de Telly? Se fosse esse o caso, ele
tinha acabado de perder alguns pontos de inteligência. Ele se virou para Leon, —
Ela não deveria ir a nenhum lugar sozinha. Por que Telly foi capaz de alcançá-la?
— Ela estava na sala de aula, — Respondeu Leon. — Linard estava
esperando que ela saísse. E ninguém esperava que Telly estivesse aqui. Não com
tudo o que está acontecendo em Nova York.
Marcus cortou um olhar perigoso em Linard. — Se você tem que sentar na
sala de aula com ela, faça-o.
— Não é culpa dele. — Eu disse, — Ninguém pode me vigiar todos os
segundos do dia.
Aiden amaldiçoou. — Isso é tudo o que você vai fazer? Ela é sua sobrinha,
Marcus. Ele bateu em sua sobrinha e essa é a sua resposta?
Os olhos de Marcus se aprofundaram para um verde brilhante. — Estou bem
ciente do fato de que ela é minha sobrinha, Aiden. E não pense por um segundo
que eu acho nada disso... — Ele acenou com a mão para mim, — Aceitável. Vou
contatar o Conselho imediatamente. Eu não me importo que ela seja mestiça.
Telly não tem nenhum direito.
Mudei meu peso de um pé para o outro. — O Conselho vai se importar?
Sério? Vocês batem em servos o tempo todo. Por que eu seria diferente?
— Você não é uma serva. — Disse Marcus, avançando com fúria para sua
mesa.
— Isso torna tudo certo? — Gritei, minhas mãos enrolando em punhos, — É
certo bater em servos por causa de seu sangue? E não é certo porque eu tenho
um me… — Parei antes que revelasse demasiado. Todos os olhos estavam em
mim.
Atrás de sua mesa, Marcus respirou fundo e fechou os olhos brevemente. —
Você está bem, Alexandria?
— Estou bem.
Aiden segurou meu braço, — Vou levá-la para a clínica.
Soltei meu braço, — Eu vou ficar bem.
— Ele bateu em você. — Aiden ferveu, os olhos faiscando.
— E só vai ficar uma contusão, ok? Esse não é o problema. — Eu precisava
sair desta sala, ir para longe de todos eles. Precisava pensar, — Só quero voltar
para o meu quarto.
Marcus congelou com o telefone a meio caminho de seu ouvido. — Aiden,
certifique-se que ela regresse para o quarto. E quero que ela fique lá até
descobrirmos o que Telly quer ou até ele ir embora. Entrarei em contato com
Lucian e o resto do Conselho. — Disse Marcus, e seu olhar encontrou Aiden
novamente, — Estou falando sério. Ela não deve sair do quarto.
Eu estava ocupada demais revendo tudo o que aconteceu para me preocupar
com o fato de Marcus me ter sentenciado ao meu dormitório. E se Lucian ia
descobrir sobre o que aconteceu, então isso significava que Seth iria descobrir,
também. Pelo menos havia um revestimento brilhante na nuvem de sujeira. Se
Seth estivesse aqui, ele provavelmente mataria Telly.
Marcus me parou na porta. — Alexandria?
Eu me virei, esperando que ele acabasse com isso logo. Me desse um sermão
por antagonizar Telly, dizer-me para não o fazer de novo, e me avisar sobre o meu
mau comportamento.
Ele encontrou meu olhar. — Sinto muito por não estar aqui para detê-lo.
Isso não vai acontecer de novo.
Meu tio tinha um alienígena dentro dele. Pisquei lentamente. Antes que eu
pudesse dizer qualquer coisa, ele voltou para o seu telefonema. Meio atordoada,
deixei Aiden me guiar para fora do escritório e até o corredor.
Assim que a porta na escadaria fechou atrás de nós, Aiden bloqueou as
escadas. — Eu quero saber o que aconteceu.
— Só quero voltar para o meu quarto.
— Não estou pedindo, Alex.
Não respondi e, finalmente, Aiden virou rigidamente e desceu as escadas. Eu
segui atrás dele lentamente. Aulas ainda estavam em sessão, por isso a escada e
o lobby do primeiro andar estavam praticamente vazios, com a exceção de alguns
guardas e instrutores. Voltamos para meu dormitório em silêncio, mas eu sabia
que ele não ia deixar isso passar. Aiden estava apenas esperando, então eu não
fiquei completamente surpresa quando ele me seguiu até meu quarto, fechando a
porta atrás dele.
Larguei minha bolsa e corri minhas mãos pelo meu cabelo. — Aiden.
Ele segurou meu queixo como havia feito no escritório de Marcus, inclinando
minha cabeça para um lado. Sua mandíbula se apertou. — Como isso aconteceu?
Quão ruim parecia? — Acho que não respondi corretamente após a primeira
vez.
— Ele bateu em você duas vezes?
Envergonhada, eu me afastei e sentei no sofá. Fui treinada para lutar e me
defender. Eu saí de batalhas com daimon machucada. Essa situação toda me
fazia sentir fraca e indefesa.
— Você não deveria estar aqui, — Eu disse finalmente. — Eu sei que Marcus
disse para se certificar que eu fico no meu quarto, mas não devia ser você.
Aiden ficou na frente da pequena mesa de café, as mãos nos quadris. Sua
postura me lembrava tanto de nossas sessões de treinamento, a que ele assumia
quando sabia que eu ia ser difícil sobre alguma coisa. Ele estava com postura de
batalha. — Por quê?
Eu ri e depois fiz uma careta. — Você não deveria estar perto de mim. Acho
que Telly tem alguém me... Nos, vigiando.
Não havia um pingo de pânico nos olhos prateados. — Você precisa me dizer
o que aconteceu, Alex. Nem pense em mentir para mim. Eu vou saber.
Fechando os olhos, balancei a cabeça. — Não sei se posso.
Ouvi Aiden contornar a mesa e sentar-se em uma borda na minha frente.
Sua mão pressionou contra a minha outra face. — Você pode me dizer qualquer
coisa. Sabe disso. Sempre vou te ajudar. Como você pode duvidar disso?
— Não duvido disso. — Abri os olhos, envergonhada ao descobrir que
estavam úmidos.
Confusão cintilou em seu rosto. — Então por que você não pode me dizer?
— Porque... Porque não quero que você se preocupe.
Aiden franziu a testa. — Você está sempre pensando em outra pessoa
quando deveria estar mais preocupada com você mesma.
Bufei, — Isso não é nada verdade. Eu tenho sido muito auto-centrada
ultimamente.
Ele riu suavemente, mas quando o som rico desapareceu, também o fez o
seu breve sorriso. — Alex, fale comigo.
O terror e o pânico voltaram. Eu não tinha certeza de que eles alguma vez
iriam embora. As palavras só saíram. — Telly sabe.
O ligeiro estreitar de seus olhos foi sua única reação. — Quanto?
— Ele sabe que eu matei um puro-sangue. — Sussurrei, — E ele sabe que
Seth ou um puro ocultaram isso.
Aiden não disse nada.
Eu realmente comecei a pirar. — Ele é definitivamente parte da Ordem, e
acho que foi ele que enviou o Guarda para me matar. É a única maneira que ele
podia saber a menos que a compulsão…
— A compulsão não se desvaneceu. — Aiden passou a mão sobre sua
cabeça. Ondas escuras caíram por entre os dedos, — Nós saberíamos. Eu já
estaria preso.
— Então, a única maneira de que ele poderia saber é se ele enviou o Guarda
para me matar.
Aiden apertou a parte de trás do seu pescoço. — Tem certeza que ele sabe?
Eu ri duramente enquanto apontava para minha bochecha. — Ele fez isso
quando eu não admiti.
A prata em seus olhos queimou. — Eu quero matá-lo.
— Eu também, mas isso não vai realmente ajudar em nada.
Ele piscou-me um sorriso selvagem. — Mas nos faria sentir melhor.
— Porra, você se tornou sombrio. Engraçado, mas sombrio.
Aiden balançou a cabeça. — O que ele disse, exatamente?
Contei-lhe as perguntas que Telly tinha feito. — Você sabe, a única coisa boa
sobre isso é que ele não achava que usar o meu pai teria qualquer efeito sobre
mim. Mas ele disse que, se eu me entregasse, ele não iria tentar encontrar o puro
que me encobriu. Se eu não lhe dissesse, então ele iria atrás de cada puro que
parece tolerar-me: você, Laadan, Leon, até mesmo Marcus. Eu acho que ele pensa
que não pode pegar Seth ou tem medo dele.
— Alex…
— Não sei o que fazer. — Levantei do sofá, evitando-o. Rondei o comprimento
da pequena sala de estar, sentindo-me enjaulada. Eu parei, me virando para
Aiden, — Estou ferrada, você sabe disso, não é?
— Alex, vamos pensar em algo. — Senti-o vir atrás de mim. — Isto não é o
fim. Há sempre opções.
— Opções? — Cruzei os braços, — Havia opções quando o Guarda tentou me
matar, e eu escolhi a errada. Eu cometi um erro enorme, Aiden. Não posso
consertar isso. E você sabe o quê? Eu nem acho que ele se preocupa com o
Guarda.
— Eu sei, — Ele respondeu suavemente. — Acho que ele enviou o Guarda
sabendo que você seria capaz de se defender, que você provavelmente até ia
matá-lo. Faz sentido.
Eu me virei. — É mesmo?
Ele acenou com a cabeça, estreitando os olhos. — É a armadilha perfeita,
Alex. Telly envia o Guarda para te matar, sabendo que havia uma boa chance de
você lutar e matar o guarda em auto-defesa.
— E auto-defesa não significa nada neste mundo.
— Exatamente. Então Telly teria você. Ninguém poderia impedi-lo de te
matar ou pelo menos colocar você em servidão. Ele te coloca no elixir e você não
Desperta. Problema resolvido, exceto que Telly não esperava que um puro usasse
compulsão para encobrir você.
Assenti. — Mas ele agora sabe que alguém o fez.
— Isso não importa. — disse Aiden, — Ele pode saber, mas não tem provas
que não incriminem também a ele. Telly pode ser o Ministro Chefe, mas ele não
exerce o tipo de poder onde pode ir atrás de puros indiscriminadamente. Ele pode
nos acusar de tudo o que quiser, mas não pode fazer nada sem provas.
Uma pequena esperança se enraizou em meu peito, — Ele tem muito poder,
Aiden. Ele tem a Ordem, também, e deuses sabem quantas pessoas pertencem a
isso.
— Não importa, Alex. — Aiden colocou mãos suaves e fortes nos meus
ombros. — Tudo o que ele tem agora é o medo. Ele acha que pode assustar você
para admitir a verdade. Ele está usando esse medo contra você.
— Mas e se ele for atrás de todos? E você?
Aiden sorriu. — Ele pode, mas não vai chegar a lugar nenhum. E quando
você não admitir nada, então ele vai voltar para Nova York. E estaremos prontos
se ele tentar algo novo. Este não é o fim.
Assenti novamente.
Aiden me olhou diretamente nos olhos. — Eu quero que você me prometa
que não vai fazer nada estúpido, Alex. Prometa-me que você não vai se entregar.
— Por que todo mundo acha que eu sempre vou fazer algo estúpido?
Seu olhar disse que ele sabia melhor. — Reação instintiva, Alex. Acho que já
discutimos isso.
Suspirei. — Não vou fazer nada imprudente, Aiden.
Aiden olhou para mim por um momento, depois assentiu. Em vez de relaxar
como eu pensei que ele faria, pareceu ficar mais tenso. Ele exalou asperamente e
depois acenou com a cabeça mais uma vez. O que quer que ele estivesse
pensando, eu sabia que não era bom.
E quando o seu olhar de aço encontrou o meu, eu sabia que havia uma boa
chance de ele não acreditar em qualquer uma das promessas que eu havia feito.
M
Catorze
ais tarde naquela noite, segurei o celular a sessenta centímetros da
minha cabeça e ainda me senti como se Seth estivesse berrando no meu ouvido.
— Eu vou matá-lo!
— É, você não é o primeiro a dizer isso. — Saí de cima do sofá, fazendo uma
careta para a porta. Eu não precisava verificar para saber que Leon estava de pé
diretamente fora do meu quarto. Graças aos deuses a maioria das crianças
tinham ido, porque ter um Guarda Sentinela pessoal me faria uma aberração
ainda maior. — E é bastante triste quando eu sou a voz da razão.
— O que mais você sugere? — Ele perguntou. — Ele é o Ministro Chefe, Alex.
É óbvio que ele ordenou que aquele Guarda te atacasse.
— Yeah. — Fui para o meu banheiro, virando a cabeça para o lado. O lado
esquerdo da minha bochecha estava vermelho e ligeiramente inchado. Um pouco
de azul alinhava minha mandíbula. Jackson tinha feito pior. Telly batia como
uma garota. Comecei a sorrir, — Mas Aiden disse que ele não…
— Aiden é um idiota.
Revirei os olhos. — Enfim, por que você não atendeu ao telefone ontem à
noite?
— Você está com ciúmes?
— O quê? Não. Só foi esquisito.
Seth riu. — Eu estava ocupado e era tarde demais no momento em que tive a
chance de ligar para você. Você sentiu minha falta ou algo assim?
Não realmente. Eu me afastei do espelho e fui para o quarto. — Seth, o que
você está realmente fazendo aí?
— Eu já te disse. — Estática encheu a linha por alguns segundos. — De
qualquer forma, isso é realmente importante neste momento? Você deveria estar
preocupada com Telly.
Sentei-me na beirada da cama. — Telly disse que você estava aí para lidar
com os mestiços que estavam causando problemas e não estavam respondendo
ao elixir. Isso é verdade?
Silêncio.
Nós começaram a se formar no meu estômago. — Seth.
Ele suspirou ao telefone. — Alex, esse não é o problema neste momento.
Telly é.
— Eu sei disso, mas preciso saber o que você está fazendo aí em cima. —
Arranquei a um fio solto na colcha. — Meu pai... Eu sei que ele não estava
respondendo ao...
— Eu nem sequer vi seu pai, Alex. Certo, eu realmente não sei como ele se
parece e Laadan não vai dizer. Ele poderia estar aqui. Ele poderia ter ido.
Raiva e frustração apressaram-se à superfície. — O que você está fazendo
com os mestiços que não estão respondendo ao elixir?
Um som de exasperação viajou através do telefone. — O que eu fui ordenado
a fazer pelo Conselho, Alex. Cuidar deles.
Sangue congelou nas minhas veias. — O que você quer dizer com “cuidar
deles”?
— Alex, isso não é importante. Olha, eles são só meio-sangues...
— O que diabos você acha que somos? — Fiquei de pé e comecei a marchar.
De novo. — Nós somos meio-sangues, também, Seth.
— Não, — Ele respondeu uniformemente. — Nós somos os Apollyons.
— Deuses, eu desejo que você estivesse na minha frente.
— Eu sabia que você sentia minha falta. — Seth disse. Pude ouvir seu
sorriso.
— Não. Se você estivesse na minha frente, eu chutaria sua bunda, Seth.
Você não pode estar bem com... Cuidar desses mestiços! Errado nem sequer
resume o que isto é. É repugnante - revoltante.
— Eu não estou matando ninguém, Alex. Deuses, o que você realmente
pensa de mim?
— Oh. — Parei, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas.
Um par de momentos se passou em silêncio. Soou como se Seth estivesse
caminhando rapidamente em algum lugar. — Eu gostaria de estar em sua cabeça
por apenas uma hora. — Ele riu. — Não. Esqueça isso. Eu não gostaria. Você
mataria minha autoconfiança.
— Seth…
— Vamos nos focar na coisa importante aqui, que é Telly. Eu não acredito
que ele não tenha uma maldita coisa. Ele não iria sustentar essa ameaça de ir
atrás do puro responsável pela compulsão sem ter algo.
Medo cravou. — Você seriamente acha que ele tem algo?
— Telly é um monte de coisas, mas não é estúpido. Ele esperou até que
soubesse que nem Lucian nem eu estávamos em qualquer lugar perto de você
antes de fazer sua jogada. Eu não ficaria surpreso se Telly não tivesse estragado
com o elixir semanas atrás, como um plano de contingência. Ele precisava de
uma distração e ele conseguiu uma. E Aiden não é estúpido, também. — Ele
disse. — Ele está te dizendo o que você precisa ouvir para te impedir de fazer algo
estúpido.
Sentindo-me tonta, eu me sentei de novo. — Merda.
— Ouça-me, Alex. Nenhum deles, seu tio ou Aiden, é importante. Fique longe
de Telly. Deixe-o agir sobre sua ameaça, quer ele tenha prova ou não.
— O quê? — Encarei o telefone como se ele pudesse de alguma forma me
ver, o que foi meio que idiota, — Eles são importantes para mim, Seth.
— Não. Aiden é importante para você. Na realidade, você não poderia se
importar menos com o resto. — Ele corrigiu.
— Isso não é verdade!
Seth riu, mas não houve humor nisso. — Alex, você é uma péssima
mentirosa.
Que diabos? Será que todo mundo pensava que eu era propensa a atos de
estupidez e uma péssima mentirosa? Mas eu não estava mentindo. Laadan e
Marcus eram importantes para mim. Até mesmo Leon, embora ele fosse meio que
esquisito.
Respirei fundo. — Então, você acha que Telly tem algo?
— Eu não acho que Telly iria fazer ameaças vãs e esperar você cair por elas.
Olhe para tudo o que ele fez até agora.
Larguei minha cabeça na minha palma aberta. — Seth, eu não posso deixá-
lo ir atrás deles.
— Você pode e você vai. Eles. Não. São. Importantes. Você é. Nós somos.
— Odeio quando você diz coisas assim, — Eu fervi.
— Porque é verdade, Alex. Por quê? Porque uma vez que você Despertar, nós
poderemos mudar as coisas. — Seth fez uma pausa e então sua voz baixou, —
Você não tem ideia do que a maioria do Conselho quer que seja feito para os
meios-sangues aqui. Por sorte, minha presença parece estar mantendo a maior
parte deles na linha, mas eles os querem mortos, Alex. Eles veem os mestiços
como um problema com o qual não tem tempo ou mão de obra para lidar.
Especialmente agora que os daimons não têm escrúpulos em atacar os
Covenants.
— Pensei que você não se importasse com os mestiços. — Levantei minha
cabeça e encarei a parede branca em frente à cama.
— Não perder o sono por suas vidas de merda e estar bem com exterminá-
los são duas coisas diferentes, Alex.
— Deuses, Seth. — Balancei a cabeça. — Às vezes eu nem sequer te
conheço.
— Você nunca tentou. — Ele disse, sem um traço de raiva. — E isso
realmente não importa neste momento. Tudo o que importa é que você fique
segura. Olha, tenho que ir. Apenas fique no seu quarto, pelo menos até Telly
partir. Sei que ele tem que estar de volta aqui até sexta porque eles vão ter uma
sessão.
— Tudo certo, — eu disse. — Seth?
— O quê?
Mordi o lábio, sem ter ideia do que eu queria dizer a ele. Havia apenas tanto,
e nada disso era algo em que eu estivesse disposta a entrar neste momento.
— Nada. Eu vou... vou falar com você mais tarde.
Seth desligou, sem me fazer prometer ficar longe de problemas. Acho que ele
sabia que a minha palavra era tão boa como a sua.
As próximas vinte e quatro horas se arrastaram dolorosamente devagar. Eu
não estava autorizada a sair do meu quarto. Comida era trazida até mim por um
dos meus babás. Além deles, eu não tive visitantes. Morrendo de tédio, limpei
meu banheiro e comecei a reorganizar meu armário, o que terminou com roupas
espalhadas pelo chão.
Houve um momento quando pânico perfurou um buraco pelo meu peito. Eu
estava fazendo a decisão certa ao não me entregar?
Tentei ligar para Seth algumas vezes, mas isso foi um fracasso total. Ele
eventualmente ligou de volta justo depois de eu ter mudado para a cama. Nós não
falamos por muito tempo ou sobre qualquer coisa importante. Acho que ele
estava apenas surpreso que eu ainda estivesse no meu dormitório e não tivesse
feito nada idiota até agora.
Demorou horas de me virar e mexer na cama para cair no sono. Mas eu não
fiquei adormecida por muito tempo. Acordei enquanto ainda estava escuro, o
edredom torcido em torno das minhas pernas.
Observei lascas de luz atravessarem o teto, desaparecendo quando a lua
mergulhava atrás de uma nuvem fora da minha janela. Meu cérebro
imediatamente chutou para hipervelocidade, repetindo tudo o que acontecera
com Telly, depois com Aiden e Seth. E se Seth estivesse certo e Telly tivesse uma
maneira de descobrir que foi Aiden? Ou mesmo se não tivesse, e se ele fosse atrás
dele? E não era apenas com Aiden que eu me importava. O que diria sobre mim
se eu deixasse outros serem prejudicados para que eu passasse facilmente até a
próxima vez? Porque haveria uma próxima vez, eu sabia disso. E quem iria
arriscar seu futuro e sua vida, então?
Isso não era certo ou justo.
Sentando-me, balancei as minhas pernas para fora da cama e fiquei de pé.
Ar fresco espalhou arrepios sobre minhas pernas nuas. Agarrei um suéter longo e
corpulento do canto da minha cama e o deslizei sobre a minha regata. Rastejando
para a janela, abri as cortinas e espiei o lado de fora. Eu não conseguia ver nada
na escuridão e nem mesmo tinha certeza de pelo quê estava procurando.
— O que estou fazendo? — Perguntei a mim mesma.
— Absolutamente nada se eu tiver alguma coisa a ver com isso.
Guinchando, larguei as cortinas e girei ao redor. Coração martelando,
apertei os olhos para o contorno alto ocupando a entrada toda para o meu
quarto. Uma vez que reconheci quem era, isso não fez nada para acalmar meu
coração disparado. — Santos bebês daimon! Você me deu um ataque cardíaco.
Aiden se adiantou, cruzando os braços. — Sinto muito por isso.
Puxei o suéter mais perto, encarando-o. — O que você está fazendo no meu
dormitório?
— Você tem um problema com caras em seu dormitório agora?
— Ha. Ha. — Apressei-me até a minha mesa-de-cabeceira e acendi a
lâmpada. Um brilho suave encheu o quarto. — Na verdade, eu nunca convidei
Seth para entrar aqui. Ele só tipo, fez-se em casa.
Um fantasma de um sorriso apareceu em seu rosto. Como sempre, ele estava
em seu traje de Sentinela. Então isso me atingiu. Minha boca caiu aberta.
— Você está trabalhando, não está? — Exigi.
— Bem, havia uma boa chance de que você tentasse se esgueirar para fora e
se entregar antes de Telly poder partir pela manhã. Nós estávamos tomando
precauções apenas caso você tentasse.
— Nós? — Gaguejei. — Tem mais alguém aqui dentro?
— Não, mas Leon estava dentro logo depois que você caiu no sono. Linard
está patrulhando o exterior. — Fez uma pausa, — Acabei de trocar de turno com
Leon. Sinto muito se eu te acordei.
Eu o encarei, estupefata. — Vocês tem trocado fora e dentro daqui enquanto
eu dormia? Noite passada, também?
Ele assentiu. — Agradecidamente, Marcus sugeriu a ideia. Caso contrário,
tenho a sensação que Linard teria te perseguido por todo o campus e te parado
antes que você fugisse.
— Eu não sou estúpida. — Meus dedos se enrolaram em torno das bordas
do meu suéter, — Você realmente acha que eu ia apenas me levantar e ir me
entregar a Telly no meio da noite?
Ele ergueu a cabeça para o lado. — Isto está vindo da garota que uma vez se
esgueirou do Covenant para encontrar um daimon.
Touché. — Tanto faz. Eu não estava planejando fazer algo assim novamente.
— Não estava?
Balancei a cabeça. Havia uma parte de mim que vinha considerando isso, —
Eu não conseguia dormir. Tem muito acontecendo na minha cabeça.
— Isso é compreensível. — Seus olhos vagaram sobre mim, se fixando na
minha bochecha, — Como está isso?
Derrubei minha cabeça, protegendo meu rosto. — Está ótimo.
Ele desviou os olhos por um momento, então seu olhar balançou de volta
para mim. — Você já passou por pior, eu sei, mas ainda assim. Você nunca
deveria ter tido que lidar com o que lidou… ou com Jackson. Nada disto na
verdade.
— O que você quer dizer?
— Nada, eu só estou divagando. — Os ombros de Aiden relaxaram quando
ele deu uma olhada em torno do quarto, — Já faz um longo tempo desde que
estive aqui dentro.
Segui seu olhar, que tinha pousado na cama. Um rubor quente foi do meu
cabelo para as pontas dos meus dedos dos pés. Uma dúzia ou mais de imagens
vívidas dançou na frente dos meus olhos - todas elas completamente erradas
considerando tudo o que estava acontecendo.
— Era o seu primeiro dia de volta aqui, — Ele disse, e um pequeno sorriso
apareceu. — Havia roupas no chão naquela vez, também.
Surpresa, foquei nele - o real, completamente vestido Aiden. Claro, ele esteve
na minha área de estar, mas ele estava certo. Ele não tinha se aventurado mais
longe do que o sofá. — Você se lembra disso?
Ele assentiu. — Yeah, eu estava dando uma palestra para você.
— Depois que eu tirei Lea de sua cadeira, pelos cabelos.
Aiden riu e o som me aqueceu. — Você finalmente admite isso.
— Ela meio que mereceu isso. — Mordi o lábio quando ele olhou para cima,
seu olhar encontrando o meu. O que ele estava pensando neste momento?
Sentei-me na beirada da cama. — Eu não vou fazer nada, mesmo que eu deva.
Você não tem que ficar aqui dentro.
Aiden ficou em silêncio um par de momentos, depois fez o seu caminho até
onde eu estava sentada e se sentou ao meu lado. O ar no quarto de repente ficou
mais pesado, a cama menor. A última vez que estivemos em uma cama - e eu
estive tão perto assim de estar despida - tinha sido a noite em sua cabana.
Incrivelmente, fiquei mais quente com a memória, e nervosa - bem mais nervosa.
Eu deveria ter ficado adormecida.
— Por que você acha que precisa se entregar, Alex?
Fui para trás e enfiei minhas pernas debaixo de mim. A distância ajudou um
pouco. — Seth disse que há uma boa chance de que Telly possa provar que foi
você, ou que ele vá fazer uma jogada contra todos de quem ele suspeita.
Ele se torceu ao redor, ficando de frente para mim. — Não importa se ele
fizer, Alex. Ir para Telly significa o seu fim. Você não entende isso?
— Não ir para Telly poderia significar o seu fim, ou de qualquer um que ele
ache que possa ter me ajudado.
— Isso não importa.
— Você soa como Seth, como se a vida de ninguém mais fosse importante
exceto a minha. Isso é besteira. — Levantei-me aos meus joelhos, arrastando uma
respiração profunda, — E se Telly fizer algo com você? Ou com Laadan ou Leon
ou Marcus? Você espera que eu esteja bem com isso? Viva com isso?
Os olhos de Aiden escureceram. — Sim, eu espero que você viva com isso.
— Isso é insano. — Saí de cima da cama, sentindo o picante ímpeto de raiva.
— Você é insano!
Ele me observou calmamente. — É o jeito que é.
— Você não pode dizer que a minha vida é mais importante do que a sua.
Isso não é certo.
— Mas sua vida é mais importante para mim.
— Você ouve a si mesmo? — Parei na frente dele, mãos tremendo. — Como
você pode tomar essa decisão por outras pessoas, por Laadan e Marcus?
— Olhe, — Aiden disse, suas mãos subindo no ar. — Fique brava comigo. Me
bata. Isso não muda nada.
Eu me movi na direção dele, para empurrá-lo mas não realmente bater nele.
— Você não pode...
Aiden pegou meus dois pulsos e arrastou-me para o seu colo, trocando meus
pulsos para uma mão. Ele suspirou. — Eu não quis dizer para você realmente me
bater.
Atordoada demais para responder, eu apenas o encarei. Nossas cabeças
estavam a apenas centímetros de distância. Minhas pernas entrelaçadas com as
dele, e então ele alcançou com sua mão livre, alisando a bagunça de cabelo para
trás do meu rosto. Minha respiração ficou presa enquanto meu coração acelerou.
Nossos olhares se trancaram e seus olhos se tornaram mercúrio.
Ele segurou minha nuca. Ouvi sua ingestão aguda da respiração. Em
seguida, soltou meus pulsos e agarrou meus quadris. Antes que eu pudesse
piscar, estava de costas, e Aiden pairava sobre mim. Usando um braço para se
sustentar, ele abaixou a cabeça e roçou os lábios sobre minha bochecha inchada.
— Como nós sempre acabamos assim? — Ele perguntou, voz áspera
conforme seu olhar viajava para longe do meu rosto e pelo meu corpo.
— Eu não fiz isso. — Lentamente, levantei minhas mãos e as coloquei contra
seu peito. Seu coração pulava sob minha palma.
— Não. Isto foi tudo eu. — A metade inferior do seu corpo se deslocou para
baixo. Nossas pernas estavam niveladas. Seus olhos procuraram os meus, — Fica
cada vez mais difícil.
Minhas sobrancelhas subiram e eu reprimi uma risadinha. — O que fica?
Aiden sorriu abertamente e seus olhos se iluminaram. — Parar antes que
seja tarde demais.
Em um segundo, tudo - a fenda que viera entre nós no dia que eu lhe dera
aquela estúpida palheta de guitarra, o que eu tinha visto no Catskills, a bagunça
em que estávamos, e até mesmo Seth - tudo desapareceu. As palavras saíram de
mim em uma corrida.
— Não pare.
O
Quinze
s olhos de Aiden pareciam brilhar enquanto ele olhava para mim.
Como na biblioteca, eu sabia que ele queria me beijar. Sua determinação estava
rachando e a mão no meu rosto tremeu.
Eu deslizei minhas mãos para baixo de seu estômago tenso, parando acima
da faixa de suas calças. Mais do que qualquer coisa eu queria me perder nele,
para esquecer tudo. Eu queria que ele se perdesse em mim.
Ele sugou o ar, os lábios entreabertos. — Provavelmente seria uma boa ideia
se Leon ou outra pessoa estivesse te assistindo durante a noite.
— Provavelmente.
Seus lábios curvaram em um sorriso torto enquanto sua mão se afastou do
meu rosto, deslizando para meu pescoço e sob a gola da minha camisola. Eu
pulei um pouco quando a mão dele deslizou sobre meu ombro. — As pessoas
dizem que a retrospectiva é sempre mais óbvia12. — disse ele.
Eu não me importava com a visão13 das pessoas. Tudo o que importava era a
sua mão na minha pele, empurrando a camisola no meu braço. — Quando...
Quando é que a próxima babá chega?
— Não até de manhã.
Borboletas foram à loucura no meu estômago. A manhã estava a várias
horas de distância. Um monte de coisas poderia acontecer nessas horas. — Oh.
Aiden não respondeu. Em vez disso, seus dedos deslizaram sobre as marcas
de mordida no meu braço e então ele fechou os olhos. Um tremor rolou através de
todo o seu corpo, sacudindo-me até o meu núcleo. Em seguida, sua cabeça
inclinou e escuras ondas de cabelo caíram para frente, mas não rápido o
suficiente para proteger a fome em seu olhar.
Eu fiquei tensa, o meu peito apertou. Sua respiração era quente e tentadora
em meus lábios, e então eles roçaram sobre os meus muito suavemente. Esse
simples ato roubou minha respiração, meu coração. Mas mesmo enquanto ele se
afastava, eu percebi que ele não poderia roubar algo que já tinha.
Aiden rolou para o lado, puxando-me com ele. Ele colocou um braço debaixo
de mim, me segurando em seu peito com tanta força que eu podia sentir seu
coração trovejando. Havia algo em sua camisa que pressionou contra a minha
bochecha. Eu percebi que era o seu colar.
— Aiden?
Ele baixou o queixo até o topo da minha cabeça e deu um suspiro profundo.
— Vá dormir, Alex.
Meus olhos se abriram. Eu tentei levantar a minha cabeça, mas não podia
12 Frase original ‘hindsight is 20/20’ que traduz o fenómeno de um indivíduo ter uma
percepção sobre o evento que deveria ter sido óbvia desde o começo, mas que não foi, porque eles
estavam agindo no calor do momento. 13 Aqui ela não entende o que ele quis dizer, porque visão em inglês é ‘eyesight’ e o que ele
disse ‘hindsight’ é muito semelhante, daí ela não entende que ele estava falando sobre eles não
deverem estar sozinhos.
me mover um centímetro. — Eu não acho que posso dormir agora.
— Bem, é melhor você tentar.
Tentei me soltar, mas ele moveu a perna, apertando uma das minhas entre
as dele. Meus dedos se enroscaram em sua camiseta. — Aiden.
— Alex.
Frustrada, eu empurrei seu peito. A risada de Aiden retumbou através de
mim, e mesmo que eu quisesse bater nele, comecei a sorrir. — Por quê? Por que
você me beijou? Quero dizer, você acabou de me beijar, né?
— Sim. Não. Mais ou menos. — Aiden suspirou. — Eu queria.
Meu sorriso começou a tornar-se leviano. Era como se houvesse uma parte
de mim que não tinha percepção do mundo exterior ou todas as consequências -
a parte que era completamente controlada pelo meu coração.
— Tudo bem. Então, por que você parou?
— Podemos falar sobre outra coisa que não isso? Por favor?
— Por quê?
Sua mão moveu-se em minhas costas, mergulhando no meu cabelo e
enviando calafrios sobre minha pele. — Porque eu lhe pedi agradavelmente?
Estar tão perto dele não estava ajudando. Toda vez que eu respirava, o
cheiro de sua loção pós-barba e sal marinho me inundavam. Se eu me movesse,
só nos aproximaria mais. Não havia nenhuma maneira no inferno que eu
dormisse logo. — Isso é tão errado.
— Isso é a coisa mais verdadeira que você disse esta noite.
Revirei os olhos. — E isso é completamente sua culpa.
— Não vou discutir com isso. — Aiden mudou para suas costas, e acabei
presa ao seu lado. Tentei sentar, mas ele trancou os nossos braços juntos. Minha
cabeça acabou em seu ombro com o braço preso contra seu estômago. — Diga-me
uma coisa. — disse ele depois que eu parei de lutar.
— Eu não acho que você quer que eu lhe diga uma coisa agora.
— Verdade. — Ele riu. — Para onde você quer ser mandada quando se
formar?
— O quê? — Fiz uma careta. Aiden repetiu a pergunta, — Sim, eu ouvi você,
mas isso é uma pergunta tão aleatória.
— Então? Responda.
Desistindo de tentar me livrar e saltar nele, eu decidi fazer o melhor desta
estranha situação e me aconcheguei mais perto. Eu provavelmente me
arrependeria mais tarde, quando ele voltasse aos seus sentidos e me empurrasse.
Os braços de Aiden apertaram em resposta. — Eu não sei.
— Você não pensou nisso?
— Não realmente. Quando retornei ao Covenant, eu nem achei que seria
autorizada a voltar e depois eu aprendi sobre a coisa toda de Apollyon. — Parei,
porque eu não estava certa de porque não tinha realmente pensado sobre isso. —
Acho que eu só parei de pensar que seria sequer uma opção.
Aiden desbloqueou suas mãos e começou a traçar um círculo ocioso por
cima do meu braço. Foi ridiculamente calmante. — Ainda é uma opção, Alex.
Despertar não significa que sua vida acabou. Para onde você iria?
Desejando que tivéssemos apagado a luz antes de nossa improvisada festa-
do-abraço, eu fechei os olhos. — Eu não sei. Acho que ia escolher algum lugar
que eu nunca tinha estado, como Nova Orleans.
— Você nunca esteve lá? — Surpresa coloriu sua voz.
— Não. E você?
— Eu estive lá um par de vezes.
— Durante o Mardi Gras14?
Aiden pegou minha mão que estava em seu estômago, enfiando seus dedos
nos meus. Meu peito vibrou. — Uma ou duas vezes. — Respondeu ele.
Eu sorri, imaginando Aiden carregando miçangas15. — Sim, então talvez
algum lugar como esse.
— Ou a Irlanda?
— Você se lembra das coisas mais estranhas que eu digo.
Seus dedos se fecharam sobre a minha mão. — Lembro-me de tudo o que
diz.
Calor passou através de mim e eu o saboreei. Ele disse a mesma coisa no dia
do zoológico, mas de alguma forma, eu tinha esquecido no meio de toda a
confusão que tinha acontecido depois daquele dia, — Isso é meio constrangedor.
Eu digo um monte de coisas estúpidas.
Aiden riu. — Você já disse algumas coisas realmente estranhas.
Eu não podia discutir com isso. Nós ficamos lá juntos em um silêncio
sociável por algum tempo. Eu escutei os sons de sua respiração.
— Aiden?
Ele inclinou a cabeça para mim. — Sim?
Eu finalmente dei voz a algo que vinha me incomodando um pouco. — E se...
e se eu não quiser ser mais uma Sentinela?
Aiden não respondeu imediatamente. — O que você quer dizer?
— Não é que eu não veja o propósito por trás de ser uma Sentinela e eu
14 Festa carnavalesca, realizada em Nova Orleans, que acontece todos os anos. Conhecido
pelo uso de máscaras de gesso, colares e bandinhas. Hoje em dia já é um evento universitário,
que atrai muitos jovens. 15 Os colares, tradicionais do Mardi Gras, são de miçangas. Há uma tradição de que os
homens deem colares para cada garota que mostre os seios.
ainda tenho essa necessidade, mas às vezes sinto que se eu me tornar uma
Sentinela, estaria concordando com a maneira como as coisas são. — Respirei
fundo. Dizer isso em voz alta estava quase perto de heresia, — É como se ser uma
Sentinela significasse que eu estou bem com a forma como os mestiços são
tratados e eu não... não estou bem com isso.
— Nem eu. — Disse ele em voz baixa.
— Eu me sinto... terrível por pensar isso, mas eu apenas não sei. — Apertei
meus olhos fechados, um pouco envergonhada, — Mas depois que eu vi aqueles
servos mortos em Catskills, eu não posso ser uma parte disso.
Houve uma pausa. — Entendo o que você está dizendo.
— Há um ‘mas’, não há?
— Não. Não há. — Aiden apertou minha mão, — Eu sei que se tornar o
Apollyon não é algo que você quer, mas você vai estar na posição de mudar as
coisas, Alex. Há puros que irão te ouvir. E há alguns que querem que as coisas
mudem. Se isso é algo que você fortemente sente, então deve fazer o que puder.
— Isso não significa que eu estaria me esquivando dos meus deveres como
uma Sentinela? — Minha voz parecia minúscula, — Porque o mundo precisa de
Sentinelas e Guardas, e os daimons matam indiscriminadamente. Eu não posso
simplesmente...
— Você pode fazer o que quiser. — Sinceridade tocava em seu tom, e eu
queria acreditar nele, mas esse não era o caso. Mesmo como Apollyon, eu ainda
era uma meio-sangue e eu não podia fazer o que quisesse. — E isso não é se
esquivar do seu dever. — Disse ele, — Alterar as vidas de centenas de mestiços
vai ser mais importante do que caçar daimons.
— Você acha?
— Eu sei que sim.
Um pouco da pressão diminuiu e eu bocejei. — E se alguém nos vê?
— Não se preocupe com isso. — Ele tirou meu cabelo para trás por cima do
meu ombro. — Marcus sabe que eu estou aqui.
Eu duvidava que Marcus soubesse que Aiden estava na minha cama. Talvez
tudo isso era um sonho, eu decidi. Mas meus lábios ainda formigavam do beijo
breve. Queria perguntar a ele por que ele estava aqui, desse jeito. Não fazia
sentido, mas eu não queria matar o calor entre nós com questões enraizadas na
lógica. Às vezes a lógica era superestimada.
Lentamente, eu abri meus olhos e pisquei. Os raios escuros de sol da manhã
filtravam através das persianas. Pequenos pontos de poeira flutuavam no fluxo de
luz. Um braço pesado estava sobre o meu estômago e uma perna estava jogada
sobre a minha, como se ele quisesse ter a certeza de que eu não poderia escapar
enquanto ele dormia.
Não que um deus pudesse me fazer mover desta cama ou dos seus braços.
Eu adorava a sensação dele pressionado contra o meu lado, a forma como a
sua respiração agitava o cabelo em minha têmpora. Ontem à noite não tinha sido
um sonho estranho.
Ou se tivesse sido, eu não tinha certeza se queria acordar. Talvez ele não
estivesse com medo que eu fosse fugir enquanto ele dormia. Talvez apenas tivesse
fome de ficar perto de mim, assim como eu tinha de ficar perto dele.
Minha frequência cardíaca elevou, mesmo que eu não tivesse me movido.
Aqui deitada, olhando para as pequenas partículas de poeira, eu me perguntei
quantas vezes eu tinha sonhado em adormecer e acordar nos braços de Aiden.
Uma centena ou mais? Definitivamente mais. Minha garganta apertou. Não
parecia justo eu estar me burlando assim, tendo um gostinho do que um futuro
com Aiden poderia ser, algo que eu nunca poderia ter.
Uma dor encheu meu peito. Estar em seus braços assim doía, mas não havia
um pingo de arrependimento. No silêncio da madrugada, admiti que eu não tinha
superado Aiden. Não importa o que acontecesse a partir de agora, meu coração
ficaria com ele. Ele poderia ficar junto de uma pura e eu poderia ir embora desta
ilha para sempre, mas isso não teria importância. Contra todas as probabilidades
e bom senso, Aiden tinha deslizado sob a minha pele, se envolvido em torno de
meu coração e incorporado a si mesmo em meus ossos. Ele era uma parte de
mim e...
Tudo de mim - meu coração e minha alma - sempre pertenceriam a ele.
E eu era tola por acreditar no contrário, até mesmo para entreter um cenário
diferente. Pensei então no Seth e a dor no meu peito se espalhou, virou interna e
queimava como uma marca feita por algum daimon. Seja o for que estivesse
acontecendo entre eu e Seth, não era justo com ele. Se ele realmente gostava de
mim, ele esperava ter algum tipo de posse em meu coração e sentimentos.
Com cuidado para não perturbar Aiden, me abaixei para a mão que
descansava no meu quadril e estendi a minha mão sobre a dele. Eu lembraria
esta manhã para sempre, não importa quão curto ou longo ‘para sempre’ se
torne.
— Alex? — Aiden disse com a voz áspera do sono.
— Hey. — Meu sorriso foi aguado.
Aiden se agitou ao meu lado, levantando um braço. Ele não falou quando
virou a mão e apertou a minha. Seu olhar prateado passou pelo meu rosto e ele
sorriu para mim, mas nunca chegou a seus olhos. — Vai ficar tudo bem. — disse
ele, — Eu prometo.
Eu esperava que sim. Telly teria partido por agora, sem mim. Aposto que ele
não estava satisfeito. Não havia nenhuma maneira de saber o que ele ia fazer
agora. E se alguma coisa acontecesse com qualquer um deles, era minha culpa.
Eu rolei para o meu lado, mas a posição era um pouco desconfortável desde que
Aiden ainda segurava na minha mão.
— Você odeia isto... de não fazer nada quando você se sente responsável pelo
que aconteceu.
Suspirei. — Eu sou responsável por isso.
— Alex, você fez isso para salvar sua vida. Não é culpa sua. — disse ele, —
Você entende isso, certo?
— Você sabe se Telly partiu? — Perguntei ao invés de responder.
— Eu não sei, mas presumo que sim. Antes de eu vir aqui ontem à noite,
Linard havia dito que ele não tinha deixado a ilha principal desde que esteve no
Covenant.
— Vocês vigiaram-no, também?
— Precisamos ter certeza de que ele não estava aprontando nada. Os
guardas que servem Lucian que ficaram para trás foram um ativo. Telly foi
observado tão de perto que eu sei que ele cozinhou lagosta para o jantar na noite
passada.
Fiz uma careta. Ontem à noite eu comi um sanduiche frio. — Vocês todos
deviam iniciar os seus próprios negócios de espião.
Aiden riu. — Talvez em uma vida diferente, e se eu tiver dispositivos legais.
Eu abri um sorriso. — Dispositivos tipo 007?
— Ele tinha aquela moto BMW R1200 C em Tomorrow Never Dies. — Ele
disse, soando melancólico, — Caramba, aquela moto era doce.
— Nunca vi o filme.
— O quê? Isso é triste. Nós vamos ter que corrigir isso.
Eu rolei para longe. O sorriso que Aiden usava agora chegou a seus olhos,
tornando-os um cinza suave, — Eu não tenho vontade de assistir a um filme de
James Bond.
Seus olhos se estreitaram. — O quê?
— Nope. Aqueles filmes parecem chatos para mim. O mesmo acontece com
os do Clint Eastwood. Entediantes.
— Eu acho que não podemos ser mais amigos.
Eu ri e seu sorriso se espalhou. Aquelas covinhas apareceram, e oh
caramba, tinha passado tanto tempo desde que eu as tinha visto. Parecia como
uma eternidade, — Você não sorri o suficiente.
Aiden arqueou uma sobrancelha. — Você não ri o bastante.
Não havia muito para rir recentemente, mas eu não queria focar nessas
coisas. Aiden iria sair em breve e tudo isso era como uma fantasia.
Uma que eu não estava pronta para deixar ir ainda. Ficamos assim por um
tempo, conversando e de mãos dadas. Quando o tempo veio para enfrentar a
realidade, Aiden saiu da cama e foi ao banheiro. Eu estava lá com um sorriso
bobo no rosto.
Esta manhã estava cheia de opostos: tristeza e felicidade, desespero e
esperança. Todas essas emoções variadas deveriam ter me deixado exausta, mas
eu me senti pronta para ir... correr ou algo assim.
E eu nunca me senti pronta para correr.
Uma batida na porta tirou-me dos meus pensamentos.
— Isso é provavelmente Leon. — disse Aiden atrás da porta do banheiro. O
resto do que ele disse foi abafado por uma torrente de água na pia.
Gemendo, eu saí da cama e vesti a minha camisola. O relógio no quarto dizia
que eram apenas 7:30. Revirei meus olhos. Segundo dia de férias de inverno e eu
estava fora da cama antes das oito da manhã. Havia algo cosmicamente de errado
com isso.
— Estou indo! — Gritei quando bateu novamente. Eu abri a porta. — Bom
dia, luz do dia.
Era Linard que estava na porta, com as mãos cruzadas atrás das costas.
Seus olhos direcionavam sobre a minha cabeça, esquadrinhando o quarto. —
Onde está Aiden?
— No banheiro. — Me afastei, deixando-o entrar, — Será que Telly partiu?
— Sim. Ele partiu de madrugada. — Linard virou-se para mim, sorrindo. —
Ele esperou, como te disse que faria, mas você não veio.
— Aposto que ele estava puto.
— Não. Eu acho que ele estava mais... desapontado do que qualquer coisa.
— É muito ruim. Tão triste. — Eu esperava que Aiden se apressasse, porque
eu realmente precisava escovar os dentes.
— Sim. — disse Linard, — É muito ruim. As coisas poderiam ter terminado
facilmente.
— Sim... — Eu fiz uma careta. — Espere. O q...
Linard se moveu rápido, como qualquer Guarda treinado consegue. Houve
um breve segundo, quando percebi que eu tinha estado nesta posição antes,
exceto que na época tinha havido adrenalina nas minhas veias. Então, uma dor
em vermelho-quente explodiu logo abaixo das minhas costelas, próximo a runa
do poder, e todo o pensamento fugiu. Foi um tipo de dor repentina e dura, como
se tivesse roubado o último fôlego da sua vida, antes mesmo que você tenha
percebido.
Tropeçando para trás, olhei para baixo enquanto eu tentava puxar o ar em
meus pulmões e dar sentido a dor angustiante disparando através do meu corpo.
Um punhal preto estava enterrado até o fundo, embutido dentro do meu corpo.
Em um canto da minha mente, eu sabia que isso não era uma lâmina comum de
um punhal. Ela estava empapada com algo, - provavelmente com sangue de um
Titã.
Eu queria perguntar por que, mas quando a minha boca se abriu, sangue
borbulhou e escorreu para fora.
— Desculpe. — Linard puxou a lâmina livre. Eu caí por cima, incapaz de
fazer um som, — Ele deu-lhe uma chance de viver, pelo menos. — Ele sussurrou.
— Ei, eu estava esperando Leon... — Aiden congelou a poucos metros de
nós, e, em seguida, ele atacou Linard. Um som desumano, animalesco, saiu de
Aiden quando ele passou um braço ao redor da garganta do Linard.
Minhas costas bateram na parede ao lado do balcão e senti como se elas
tivessem rompido contato comigo. Eu deslizei para baixo enquanto apertava meu
estômago, tentando estancar o fluxo. Sangue quente e pegajoso jorrava entre
meus dedos. Houve um grito e depois uma trituração nauseante que assinalou o
fim de Linard.
Aiden gritou por socorro quando ele caiu ao meu lado, batendo minhas mãos
trêmulas para fora do caminho e pressionando minha ferida com força. O rosto
ferido de Aiden pairava sobre o meu, os olhos arregalados de horror, — Alex! Alex,
fale comigo. Fala comigo, porra!
Eu pisquei e seu rosto se formou novamente, mas foi vago. Eu tentei dizer
seu nome, mas uma tosse rouca e molhada atacou meu corpo.
— Não! Não. Não. — Ele olhou por cima do ombro para a porta. Os Guardas
estavam reunidos, parados em comoção. — Vão chamar ajuda! Agora! Vão!
Minhas mãos se contraíram em meus lados e depois, um entorpecimento se
firmou profundo em meus ossos. Nada machucava realmente, exceto o meu peito,
mas doía por um motivo diferente. A maneira como ele me olhou quando se virou
para mim e seus olhos deslizaram para o meu estômago. Ele pressionou com
mais força. Seu olhar era frenético, chocado e apavorado.
Eu queria dizer a ele que ainda o amava - que eu sempre tinha amado, - e
queria pedir que ele cuidasse para que Seth não se perdesse. Minha boca se
moveu, mas as palavras não saíram.
— Está tudo bem. Tudo vai ficar bem. — Aiden forçou um sorriso, os olhos
brilhando. Ele estava chorando? Aiden nunca chorava, — Apenas aguente.
Estamos chamando ajuda. Apenas se segure por mim. Por favor, agapi mou16.
Persista por mim. Eu prometo...
Houve um som de estalo, seguido por um flash de luz, brilhante e ofuscante.
E então não havia nada além da escuridão e eu estava caindo, girando e estava
tudo acabado.
16 Expressão grega que quer dizer ‘meu amor’.
O
Dezesseis
chão sob meu rosto estava úmido e frio, e um cheiro almiscarado,
molhado enchia o ar, que me fez lembrar estar no fundo de uma caverna cheia de
musgo. Pensando sobre isso, eu não deveria sentir frio? Este lugar era escuro e
úmido, a única luz era fornecida por tochas altas empurrando para fora da terra,
mas eu me senti bem. Sentando-me, escovei o cabelo do meu rosto, ao sentir as
pernas trêmulas.
— Oh... Oh, inferno para o não...
Eu estava na margem de um rio, e na minha frente estavam centenas, se
não milhares de pessoas - de pessoas nuas - tremendo, enquanto se amontoavam
juntas. O rio de cor ônix que nos separava ondulou e a massa de pessoas
avançou, estendendo a mão e uivando.
Estremeci, querendo tapar os ouvidos.
As pessoas do meu lado do rio circulavam, alguns vestidos com trajes de
Sentinela e outros em roupas casuais. Suas condições eram variadas. Os que
estavam esperando na beira do rio pareciam mais felizes. Outros pareciam
confusos, pálidos, com roupas manchadas de sangue e assustados17.
Homens vestidos com túnicas de couro montando cavalos pretos, reuniam os
de aparência mais infeliz em grupos. Eu imaginei que eles eram guardas de
algum tipo, e pela forma como alguns deles estavam me observando, tive a nítida
impressão de que eu não deveria estar aqui, onde quer aqui fosse.
Espere. Virei-me para o rio, tentando ignorar as pobres... almas... do outro
lado - oh, deuses, caramba. Este era o Rio Styx, onde Charon transportava as
almas para o Submundo.
Eu estava morta.
Não. Não. Não. Eu não poderia estar morta. Eu ainda não tinha escovado os
dentes, pelo amor de Deus. De jeito nenhum. E se eu estivesse morta, o que Seth
ia fazer?
Ele ia ficar louco quando descobrisse, se é que já não tivesse. Nossa ligação
diminuiu com a distância, mas ele poderia ter sentido a minha perda? Talvez eu
não estivesse morta.
Abrindo meu suéter, eu olhei para baixo e xinguei.
Toda a frente da minha parte superior do corpo estava ensopada de sangue,
meu sangue. Então me lembrei de tudo: a noite anterior e esta manhã com Aiden
que parecia tão perfeita. Aiden - oh deuses - ele me pediu para aguentar e eu
tinha partido.
Raiva correu através de mim. — Eu não posso estar morta.
Um riso suave e feminino veio atrás de mim. — Querida, se você está aqui,
você está morta. Como o resto de nós.
Eu me virei pronta para dar um soco no rosto de alguém.
Uma menina que eu nunca tinha visto antes gritou em voz alta. — Eu sabia!
17 Do termo original ‘gore’, que é usado para retratar cenas de filmes de terror, ou
sangramentos.
Você está morta.
Recusei-me a acreditar que eu estava morta. Isso tinha que ser um bizarro
pesadelo induzido pela dor. E sério, por que a garota estava tão feliz que eu
estava morta?
— Eu não estou morta.
A menina estava provavelmente na casa dos vinte, usando um par de jeans
que pareciam ter custado caro e sandálias de tiras. Ela segurava algo na mão. Eu
assumi que ela era uma puro sangue, mas o olhar aberto e simpático em seu
rosto me disse que eu tinha que estar errada. — Como você morreu? — ela
perguntou.
Abracei meu casaco em torno de mim. — Eu não morri.
Seu sorriso não vacilou. — Eu estava fazendo compras com meus Guardas
ontem de noite. Gosta destes sapatos? — Ela estendeu o pé, me dando uma boa
visão deles. — Não são divinos?
— Uh, sim. Os sapatos são ótimos.
Ela suspirou. — Eu sei. Eu morri por eles. Literalmente. Veja, decidi que
queria usá-los para sair, mesmo que estava ficando tarde e meus Guardas
estavam ficando nervosos. Mas falando sério, por que haveria um monte de
daimons em Melrose Avenue? — Revirou os olhos, — Eles me drenaram até eu
secar e aqui estou, esperando para o Paraíso. De qualquer forma, você está um
pouco confusa.
— Eu estou bem. — Sussurrei, olhando ao redor. Isso não podia ser real.
Não poderia estar presa no Submundo com Buffy. — Porque você não se parece
como eles?
Ela seguiu o meu olhar e se encolheu. — Eles não receberam isso ainda. —
Uma moeda de ouro brilhante estava em sua palma aberta, — Eles não podem
atravessar até que tenham passagem. Uma vez que é colocado em seu corpo, eles
vão estar todos frescos e novos. E eles vão ser capazes de pegar o próximo
passeio.
— E se não receberem uma moeda?
— Eles esperam até que recebam.
Ela estava falando das almas do outro lado do rio. Tremendo, eu virei de
costas para eles e percebi que eu... eu não tinha uma moeda. — O que acontece
se você não tem uma moeda?
— Está tudo bem. É alguns deles recém chegaram aqui. — Ela colocou um
braço em volta dos meus ombros. — É preciso um par de dias na maioria dos
casos. Pessoas gostam de esperar para fazer os funerais, e isso é totalmente uma
droga para nós, porque temos que esperar aqui pelo que se parece com a
eternidade. — Fez uma pausa e riu, — Eu nem te disse meu nome. Sou Kari.
— Alex.
Ela franziu o cenho.
Revirei os olhos. Mesmo as pessoas mortas precisavam de uma explicação.
— É a abreviação de Alexandria.
— Não. Eu sei o seu nome. — Antes que eu pudesse perguntar como ela
sabia meu nome, Kari me guiou para longe de um grupo de guardas com
aparência raivosa que estavam examinando minha roupa arruinada. — Aqui
embaixo tende a ficar um pouco chato.
— Por que você está sendo tão boa para mim? Você é uma puro-sangue.
Kari riu. — Nós somos todos iguais aqui, querida.
Minha mãe disse isso uma vez. Engraçado. Ela tinha razão. Deuses, eu não
queria acreditar.
— E, além disso, quando eu estava viva... eu não era uma odiadora. —
Continuou ela, sorrindo suavemente. — Talvez tenha sido porque eu era um
oráculo.
Choque forçou-me a fechar a boca. — Espera... você é o oráculo?
— É uma coisa da minha família.
Inclinei-me mais perto, avaliando o tom profundo de sua pele e os olhos
escuros que de repente pareciam muito familiares. — Você não está relacionada
com a avó Piperi, não é?
Kari riu roucamente. — Piperi é o meu sobrenome.
— Santo...
— Sim, estranho, né? — Ela encolheu os ombros, deixando cair o braço. —
Eu tinha um propósito enorme na vida, mas o meu amor por sapatos meio que
acabou com tudo. Isso leva o termo 'sapatos assassinos’18 para um nível
totalmente novo, certo?
— Sim. — disse eu, totalmente pirando. — Então, você é o oráculo que
iniciou... O que quer que tenha sido quando a avó Piperi faleceu?
Alguns momentos se passaram e então ela suspirou. — Sim, fui...
Infelizmente. Nunca fui muito boa nessa coisa de ter sorte ou de destino, sabe? E
visões... bem, elas são uma droga na maior parte do tempo. — Kari olhou para
mim, seus olhos estreitando-se. — Você deveria estar aqui.
— Eu deveria? — Rangi. Ah, cara...
Ela assentiu com a cabeça. — Sim. Eu já tinha visto isto acontecendo. Como
se eu soubesse que ia me encontrar com você, mas não tinha ideia de que seria
aqui. Veja, oráculos não sabem quando a passagem do seu próprio tempo vai ser,
o que é péssimo. — Riu de novo, — Deuses, eu sei o que vai acontecer.
Agora isso me chamou a atenção. — Você sabe?
Seu sorriso se tornou secreto. Meus dedos cravaram em meu suéter. — E
você vai me dizer?
18 Trocadilho de quando falamos que um sapato é assassino por nos machucar o pé.
Kari ficou em silêncio, e que importava agora que ela estava fazendo pouco
sentido? Ela era um oráculo e eu estava morta. Não era como se pudesse fazer
qualquer coisa, certo? Balançando a cabeça, olhei ao meu redor. Eu não
conseguia ver onde o rio levava, ele corria para onde era apenas um buraco, preto
profundo. À nossa direita havia uma pequena abertura, e um brilho estranho
azulado emanava do que fosse que existia além deste lugar.
— Onde é que isso vai? — Perguntei, apontando para a luz.
Kari suspirou. — O caminho de volta para lá, mas não é a mesma coisa.
Você é uma sombra se você for por esse caminho, e isso se puder passar pelos
guardas.
— Os caras nos cavalos?
— Sim. Descendo ou subindo, Hades não gosta de perder nenhuma alma.
Você deveria ter estado aqui quando alguém tentou fazer uma fuga dele. — Ela
estremeceu delicadamente, — Nojento.
A comoção pelo rio nos fez dar voltas. Kari bateu palmas. — Deuses doces,
finalmente! — Kari decolou em direção à multidão de pessoas enraivecidas perto
do rio.
— O quê? — Corri atrás dela. Os guardas a cavalos estavam forçando as
pessoas em linhas de ambos os lados do rio. — O que está acontecendo?
Ela olhou por cima do ombro para mim, sorrindo. — É Charon. Ele está
aqui. É hora de ir para o Paraíso, baby!
— Mas como você sabe onde está indo? — Eu lutava para manter-me perto
dela, mas quando cheguei à margem do grupo, eu congelei. Oh, merda.
— Sabe, — disse Kari, passando por aqueles que eu assumi que não tinham
dinheiro para a passagem. — Foi bom conhecer você, Alexandria. E eu tenho 99%
de certeza que nos encontraremos novamente. — Então, ela desapareceu no meio
da multidão.
Muito ocupada com a cena que se desenrolava adiante, eu não prestei
atenção no que ela disse. O barco era maior do que eles mostraram em pinturas.
Ele era enorme, como o tamanho de um iate, e muito mais agradável do que a
imagem de canoa velha e quebrada que eu estava familiarizada, pintada de um
branco brilhante e acabamento em ouro. Ao leme estava Charon. Agora, ele
parecia o que eu esperava.
A forma ligeira de Charon estava engolida por uma capa preta que cobria
todo seu corpo. Em uma mão ossuda, ele segurava uma lanterna. Sua cabeça
envolta se virou para mim e mesmo que eu não pudesse ver seus olhos, eu sabia
que ele me viu.
Em segundos, o barco virou e deslizou pelo rio, desaparecendo através do
túnel escuro. Eu não tinha ideia de quanto tempo fiquei ali, mas finalmente virei-
me e corri no meio da multidão. Onde quer que eu olhasse, havia rostos. Jovens e
velhos. Expressões entediadas ou atordoadas. Havia pessoas mortas vagando por
toda parte e eu estava sozinha, absolutamente sozinha. Eu tentei fazer-me tão
pequena quanto possível, mas cruzei um ombro aqui, um braço ali.
— Com licença, — Uma velha disse. A camisola rosa berrante deixando sua
forma frágil. — Sabe o que aconteceu? Fui dormir e... eu acordei aqui.
— Uh. — Comecei a recuar. — Desculpe. Eu estou tão perdida quanto você.
Ela parecia perplexa. — Você foi dormir também?
— Não. — Suspirei, virando-me para longe. — Eu fui esfaqueada até a morte.
Uma vez que essas palavras saíram da minha boca, eu queria tirá-las de
volta, porque elas fizeram tudo verdadeiro.
Eu parei do lado de fora da multidão de pessoas e olhei para os meus pés
descalços. Eu queria bater-me. Eu realmente estava morta.
Levantando minha cabeça, meus olhos encontraram a estranha luz azul. Se
o que Kari disse era verdade, então essa era a maneira de sair dessa... área de
espera. Então o quê? Eu seria uma sombra para a eternidade? Mas e se eu não
estivesse realmente morta?
— Você está morta. — Murmurei para mim mesma. Mas eu comecei a ir em
direção a luz azul. Quanto mais perto chegava do local, mais atraída por ela eu
ficava. Parecia oferecer tudo - luz, calor, vida.
— Não vá para a luz! — Uma voz gritou, seguida por um riso, uma risada
marota e amada, — Eles mentem sobre a luz, você sabe. Nunca vá para a luz.
Eu congelei e, se o meu coração ainda estivesse batendo, o que eu não
estava muito certa sobre isso, teria parado ali mesmo. Como se estivesse me
movendo através de cimento, eu me virei lentamente, eu não podia acreditar, não
queria acreditar no que estava vendo, porque se isso não fosse real...
Ele estava a poucos metros de distância, vestindo uma camisa branca de
linho e calças. Seu cabelo loiro no comprimento do ombro estava escondido atrás
de suas orelhas e ele estava sorrindo, realmente sorrindo. E aqueles olhos, a cor
do céu de verão, eram brilhantes e vivos. Não como a última vez que eu o vi.
— Alex? — Caleb disse. — Parece que você viu um fantasma.
Todos os meus músculos entraram em ação ao mesmo tempo. Corri em
direção a ele e saltei.
Rindo, Caleb me pegou pela cintura e me girou. Era como uma represa
estourando aberta. Eu me transformei em uma bebê chorona em menos de um
segundo. Meu corpo inteiro tremeu, eu não poderia impedir. Era Caleb - o meu
Caleb, o meu melhor amigo. Caleb.
— Alex, qual é. — Ele me colocou em meus pés, mas ainda me segurou
perto, — Não chore. Você sabe como eu fico quando você chora.
— Eu... sinto muito. — Nada neste mundo ia quebrar minha alegria de
segurá-lo. — Oh, meus deuses, eu não posso acredita ... você está aqui.
Ele alisou o meu cabelo para trás. — Tem sentido a minha falta, hein?
Eu levantei minha cabeça. — Não é o mesmo sem você. Nada é o mesmo sem
você. — Subi, colocando minhas mãos em seu rosto e, em seguida, em seu
cabelo. Ele era de carne e osso. Real. Não havia sombras sob seus olhos e seu
olhar não tinha aquele olhar cansado que eles tiveram após Gatlinburg. As
olheiras tinham desaparecido. — Oh deuses, você está realmente aqui.
— Sou eu, Alex.
Pressionando meu rosto contra seu peito, comecei a chorar de novo. Nunca
em um milhão de anos eu pensei que ia vê-lo novamente. Havia tanta coisa que
queria dizer. — Eu não entendo, — Murmurei contra seu peito. — Como você
pode estar aqui? Você não esteve esperando esse tempo todo, não é?
— Não. Perséfone me devia uma. Nós estávamos jogando Mario Kart Wii, e
eu a deixei ganhar. Descontei o meu favor.
Eu me afastei, enxugando as lágrimas do meu rosto com as costas da minha
mão. — Você tem Wii por aqui?
— O quê? — Ele sorriu, e oh deuses, eu pensei que nunca ia ver aquele
sorriso novamente. — Nós ficamos entediados. Especialmente Perséfone, quando
ela está por aqui durante estes meses. Normalmente Hades não joga, graças aos
deuses. Ele é um maldito trapaceiro.
— Espere. Você joga Mario Kart com Hades e Perséfone?
— Eu sou uma espécie de celebridade por aqui, por causa de você. Quando
eu... cheguei, fui levado direto para Hades. Ele queria saber tudo sobre você. Eu
acho que ele meio que começou a gostar de me ter por perto. — Caleb deu de
ombros e, em seguida, ele me puxou de volta para mais um de seus abraços de
mamute. — Deuses Alex, eu queria ver você de novo. Só não achei que seria
assim.
— Nem me fale. — eu disse secamente. — Como... Como é que é?
— Não é ruim, Alex. Não é totalmente ruim, — Ele disse suavemente. — Há
coisas que eu sinto falta, mas é como estar vivo, só que não.
Em seguida, fui atingida por algo. — Caleb, a... a minha mãe está aqui?
— Sim, ela está. E ela é muito legal. — Ele fez uma pausa, franzindo os
lábios. — Muito legal considerando que ela não tentou me matar, desta vez, sabe.
Eu me senti enjoada, o que era estranho, já que eu deveria estar morta. —
Você falou com ela?
— Sim. Ao vê-la pela primeira vez foi muito estranho, mas ela não é mais
quem nós encontramos da última vez. Ela é sua mãe, Alex. A mãe da qual você se
lembra.
— Você fala como se tivesse perdoado ela.
— Eu o fiz. — Ele limpou as lágrimas frescas reunidas em meu rosto. —
Você sabe, eu não a teria perdoado em vida, não realmente. Mas uma vez que
você finalmente aceita a coisa toda de morrer, isso meio que te ilumina um
pouco. E ela foi forçada a se tornar um daimon. Eles realmente não usam isso
contra você aqui.
— Eles não fazem? — Oh, deuses, eu ia começar a chorar de novo.
— Não, Alex.
Alguns dos guardas estavam se reunindo perto de nós. Eu me concentrei em
Caleb, esperando que eles não estivessem vindo para nos separar. — Eu tenho
que vê-la! Você pode...?
— Não, Alex. Você não pode vê-la. Ela ainda não sabe que você está aqui, e
isso é provavelmente o melhor agora.
Decepção me inundou. — Mas...
— Alex, como você acha que a sua mãe se sentiria se soubesse que está
aqui? Só há uma razão para você estar aqui. Isso iria aborrecê-la.
Droga, ele tinha um ponto. Mas eu estava aqui, o que significava que eu
estava morta. Eu já não veria ela em breve, de todo jeito? Assim, a lógica não
fazia sentido para mim.
— Eu sinto a sua falta. — Disse ele novamente, me puxando de volta para
ele.
Eu apertei a frente de sua camisa, e as palavras que eu queria dizer
derramaram. — Caleb, eu sinto muito, muito por tudo. O que aconteceu em
Gatlinburg e... e eu realmente não prestei atenção ao que você estava passando
depois daquilo. Eu estava tão presa em mim mesma.
— Alex...
— Não. Eu sinto muito. Então, o que aconteceu com você. Não foi justo.
Nada disso é. E eu sinto muito.
Caleb baixou a testa na minha e eu jurei que seus olhos brilhavam. — Não
foi culpa sua, Alex. Ok? Nunca pense isso.
— Sinto tanto sua falta. Não sabia o que fazer depois que... você partiu. Eu o
odiava por morrer. — Engasguei, — E eu só queria que você voltasse.
— Eu sei.
— Mas eu não odeio você. Eu te amo.
— Eu sei. — disse ele novamente. — Mas você precisa saber que nada disso
foi sua culpa, Alex. Isto era para acontecer. Eu entendo isso agora.
Eu ri grossa. — Deuses, você parece tão sábio. Que diabos, Caleb?
— A morte me fez inteligente, eu acho. — Seu olhar procurou meu rosto. —
Você não parece diferente. Só parece que passou tanto... tanto tempo desde que
eu a vi pela última vez.
— Você parece melhor. — Tracei meus dedos pelo seu rosto, pressionando
meus lábios. Caleb parecia maravilhoso para mim. Não havia uma pitada de nada
do que ele tinha sofrido. Ele parecia em paz de uma maneira que não tinha sido
quando era vivo. — Eu sinto tanto sua falta.
Caleb me apertou mais apertado e riu. — Eu sei, mas precisamos parar com
essa porcaria de amizade, Alex. Primeiro, somos torturados por daimons juntos e
agora nós dois fomos esfaqueados. Isso está levando a coisa de “nós fazemos tudo
juntos” para um outro patamar.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto, mas eu ri novamente. Ele parecia tão
quente e real. Vivo. — Deuses, eu realmente estou morta.
— Sim, você meio que está.
Eu funguei. — Como posso estar meio morta?
Caleb recuou e inclinou o queixo para baixo. Um sorriso travesso puxou
seus lábios. — Bem, tem esse deus grande e loiro que está fazendo Hades passar
pelo inferno agora. Aparentemente você ainda está no limbo ou alguma coisa
assim. Sua alma ainda está em aberto.
Minhas entranhas se reviraram e eu pisquei. — O quê?
Ele acenou com a cabeça. — Você não vai ficar morta por muito tempo.
Limpei sob meus olhos. — Eu estive aqui por horas. Eu estou morta.
— Horas aqui são apenas alguns segundos lá. — Explicou. — Quando eu
cheguei aqui, estava preocupado que era tarde demais, que Hades já tinha
lançado você.
— Eu não vou... ficar morta?
— Não. — Caleb sorriu, — Mas eu tinha que te ver. Há algo que eu preciso te
dizer.
— Tudo bem. — Uma pontada de dor no meu estômago me assustou. Eu
empurrei contra a sensação. — Caleb?
— Está tudo bem. — Seus braços esguios me seguravam quieta. — Nós não
temos muito tempo, Alex. Eu preciso que você me ouça. Às vezes ouvimos coisas
aqui em baixo... sobre o que está acontecendo lá em cima. É sobre Seth.
Uma chama acendeu dentro de mim. — O que... o que você quer dizer sobre
Seth?
— Ele realmente não sabe, Alex. Ele acha que está no controle, mas não
está. Não... não acredite em tudo que você ouve. Ainda há esperança.
Eu tentei rir, mas a chama estava se transformando em um incêndio de
grandes proporções. — Você ainda é… um fã de Seth.
Caleb fez uma careta. — Eu estou falando sério, Alex.
— Tudo bem. — Eu respirei, apertando o meu estômago. — Caleb, algo está
errado...
— Nada há de errado, Alex. Basta lembrar o que eu disse. Às vezes as
pessoas têm dificuldade de lembrar tudo depois desses tipos de coisas. Alex, você
pode me fazer um favor?
— Sim.
— Diga a Olivia que eu escolheria Los Angeles. — Caleb colocou seus lábios
contra a minha testa. — Ela vai entender, ok?
Eu assenti, embora não entendesse porquê enquanto segurava sua camisa
com todas as minhas forças. — Eu vou... vou dizer a ela. Prometo.
— Eu te amo, Alex. — disse Caleb, — Você é como a irmã que eu nunca quis,
sabe?
Minha risada foi cortada pelo fogo rasgando minhas entranhas. — Eu
também te amo.
— Nunca mude quem você é, Alex. É sua paixão, sua imprudente fé, que vai
te salvar, salvar a vocês dois. — Ele me segurou mais apertado. — Prometa-me
que você não vai esquecer isso.
Quando a dor aumentou e minha visão ficou nublada, eu segurei Caleb. —
Eu prometo. Eu prometo. Eu prometo. Eu prom...
Fui arrancada para longe dele, ou pelo menos, era assim que parecia. Eu
estava girando e girando, desmoronando e caí novamente. A dor era tudo. E
inundava meus sentidos, alimentando o terror. Meus pulmões queimavam.
— Respire, Alexandria. Respire.
Engoli em seco no ar enquanto minhas pálpebras se abriram. Dois olhos
totalmente brancos – sem irís nem pupilas - olharam de volta para mim. Os olhos
de um deus.
— Oh, deuses. — Eu sussurrei, e então perdi a consciência.
P
Dezessete
essoas deslocavam-se ao meu redor. Eu não podia vê-los, mas podia
ouvir seus pés batendo no piso e vozes abafadas. Alguém pairava perto da cama.
Sua respiração era uniforme e constante, embalando-me. Eu senti o cheiro de
folhas queimadas e sal marinho.
Uma porta se abriu, e a pessoa ao lado da minha cama se mexeu.
Eu desliguei depois disso, deslizando de volta para a névoa agradável.
Quando, finalmente, abri os olhos, eles pareciam como se tivessem sido
costurados, e levou algumas tentativas para conseguir que minha visão
funcionasse. Paredes brancas me cercavam - simples e chatas paredes brancas.
Eu reconheci a sala da enfermaria. Não havia janelas, então eu não tinha ideia se
era noite ou dia. Havia leves lembranças de Linard e dor, então um flash de luz e
uma sensação de queda. Depois disso, as coisas ficaram nebulosas. Lembrei-me
de um cheiro de mofo e havia mais, mas parecia existir fora do alcance de meus
pensamentos.
Minha boca parecia seca como um pedaço de madeira. Uma dor surda
pulsava em meu esterno. Eu respirei fundo e me encolhi.
— Alex? — Houve um movimento no outro lado da minha cama e Aiden
apareceu. Sombras escuras floresceram sob seus olhos. Seu cabelo estava uma
bagunça, caindo para todos os lados. Ele se sentou na cama, cuidadosamente
para não me mover. — Deuses Alex, eu... eu nunca pensei...
Fiz uma careta e estiquei o braço para pegar a mão dele, mas o movimento
puxou meu estômago. Minha pele se esticou, provocando uma dor aguda.
Ofeguei.
— Alex, não se movimente muito. — Aiden colocou a mão na minha. — Você
foi atendida, mas precisa ter calma.
Olhei para Aiden, e quando falei, minha garganta parecia uma lixa. — Linard
me esfaqueou, não foi? Com o maldito sangue de Titã?
Os olhos brilhantes de Aiden mudaram para um cinza trovão. Ele acenou
com a cabeça.
— Rato bastardo. — Resmunguei.
Seu lábio se contraiu com o que eu disse. — Alex, eu... sinto muito. Isso não
deveria ter acontecido. Eu estava lá para me certificar de que você permaneceria
segura e...
— Pare. Isso não foi culpa sua. E, obviamente, eu estou bem pela maior
parte. Eu só não esperava Linard - Romvi, sim. Mas Linard? — Comecei a mexer,
mas Aiden foi mais rápido, empurrando levemente meus ombros para baixo, — O
quê? Posso sentar-me.
— Alex, você precisa ficar quieta. — Exasperado, ele balançou a cabeça. —
Aqui, beba isso. — Ele segurou um copo na frente do meu rosto.
Tomei a poção, olhando para ele por cima da borda do copo. A água com
sabor de hortelã tinha um gosto absolutamente divino, aliviando a dor em minha
garganta.
Aiden olhou para mim, bebendo-me como se nunca tivesse esperado me ver
novamente. Uma imagem dele inclinando-se sobre mim, angustiado e suplicando,
brilhou através de mim. Uma série de emoções cintilava em seu rosto agora:
cansaço, diversão, mas acima de tudo, alívio.
Ele tirou o copo longe de mim. — Devagar.
Eu empurrei o cobertor para baixo, surpresa ao descobrir que eu usava uma
camisa limpa e o suéter cinza que o Covenant normalmente entregava. Ignorando
a pontada de dor, eu puxei a barra da minha camisa. — Oh merda.
— Não é tão ruim...
Minhas mãos tremiam. — Sério? Porque eu acho que isso faria James Bond
orgulhoso. — A linha vermelha irritada era de dois centímetros de comprimento e
pelo menos uma polegada de largura. A pele em torno da marca era rosa e
enrugada. — Linard tentou me matar.
Aiden pegou as minhas mãos e moveu-as para longe da minha camisa.
Então, ele puxou-a para baixo e puxou os cobertores em torno de mim com
cuidado. Nunca deixou de me surpreender como ele era… cuidadoso e gentil
comigo mesmo ele sabendo que eu era dura até o núcleo. Isso me fez sentir
pequena, feminina. Protegida. Cuidada.
Para alguém como eu, que nasceu e foi treinada para lutar, sua atenção
suave desfez a dureza em mim.
Um músculo flexionou em sua mandíbula. — Ele tentou.
Olhei para Aiden, meio assombrada. — Eu sou como um gato. Juro que eu
tenho nove vidas.
— Alex. — Ele olhou para cima, encontrando meus olhos. — Você usou
todas essas vidas, e mais algumas.
— Bem... — O cheiro de mofo voltou para mim.
Aiden segurou meu rosto, e o calor correu através de mim. Seu polegar
alisou minha mandíbula. — Alex, você... você morreu. Você morreu nos meus
braços.
Abri a boca, mas depois a fechei. A luz brilhante e a sensação de queda não
tinham sido um sonho estranho e havia mais... eu sabia.
Sua mão tremeu contra o meu rosto. — Você sangrou tão rapidamente. Não
houve tempo suficiente.
— Eu... eu não entendo. Se eu morri, então, como estou aqui?
Aiden olhou para a porta fechada e exalou lentamente. — Bem, é aqui onde
as coisas começam a ficar meio estranhas, Alex.
Eu engoli. — Estranhas como?
Um breve sorriso apareceu. — Houve um flash de luz...
— Eu me lembro disso.
— Você se lembra de algo depois disso?
— Queda. Lembro-me de cair e... — Franzi o rosto. — Eu não me lembro.
— Está tudo bem. Talvez você devesse descansar um pouco. Podemos falar
sobre isso mais tarde.
— Não. Eu quero saber agora. — Encontrei o seu olhar. — Vamos lá, isso
soa como se fosse ficar interessante.
Aiden riu, soltando a minha mão da dele. — Honestamente, eu não teria
acreditado se não tivesse visto.
Eu comecei a rolar para o meu lado, mas lembrei-me da coisa toda de não se
mover. Ficar parada ia ser um desafio. — A expectativa está me matando.
Ele avançou mais perto, seus quadris encostando na minha coxa. — Após o
flash de luz, Leon apareceu agachado sobre nós. No início, pensei que ele tivesse
apenas acabado de entrar no quarto, mas ele... ele não parecia normal. Ele
estendeu a mão para você, e eu pensei que ele ia verificar seu pulso, mas ele
colocou a mão em seu peito, em vez disso.
Levantei minhas sobrancelhas. — Você deixou Leon me apalpar?
Aiden parecia que queria rir outra vez, mas balançou a cabeça. — Não, Alex.
Ele disse que a sua alma ainda estava em seu corpo.
— Uh.
— Sim. — Ele respondeu. — Então, me disse que eu precisava chegar à
enfermaria e certificar-me de que os médicos começassem a cirurgia para parar o
sangramento, que não era tarde demais. Eu não entendi, porque você... você
estava morta, mas depois eu vi seus olhos.
— Olhos totalmente brancos. — Sussurrei, lembrando um breve vislumbre
deles.
— Leon é um deus.
Olhei para Aiden, incapaz de formar qualquer resposta para isso. Meu
cérebro praticamente desligou com esse pequeno pedaço de informação.
— Eu sei. — Ele se inclinou sobre mim, alisando meu cabelo para trás com
uma mão grande. — Todo mundo praticamente ficou com a mesma expressão
quando eu te trouxe aqui. Marcus chegou depois... e os médicos estavam
tentando me fazer ir embora. Alguns foram fechando a ferida. Outros apenas
ficaram lá. Foi um caos. Você já tinha... partido há um par de minutos - o tempo
que levou-me a tirar você de seu dormitório para a clínica - e então Leon só
apareceu na sala da enfermaria. Todo mundo congelou. Ele caminhou até você,
colocou a mão em você de novo, e disse-lhe para respirar.
Respire, Alexandria. Respire.
— E você respirou. — Aiden disse, sua voz rouca enquanto ele embalava
minha bochecha. — Você abriu os olhos e sussurrou algo antes de ficar
inconsciente.
Eu ainda estava presa na parte do deus. — Leon é um... Deus?
Ele acenou com a cabeça.
— Bem. — Eu disse lentamente, — Santa bunda daimon!
Aiden riu, realmente riu. Sua risada foi profunda e rica, cheia de alívio. —
Você... você não tem ideia... — Evitando os meus olhos, ele passou a mão pelo
cabelo, — Não importa.
— O quê?
Sua mandíbula se apertou, e ele sacudiu a cabeça.
Eu estendi a mão e no momento que ela tocou a dele, ele enfiou os dedos
pelos meus e olhou para mim. — Eu estou bem. — Sussurrei.
Aiden olhou para mim pelo que pareceu uma eternidade. — Pensei que você
tinha partido, você se foi, Alex. Você morreu, e eu estava... eu estava segurando
você e não havia nada que eu pudesse fazer. Nunca senti uma dor assim. — Ele
prendeu a respiração. — Não desde que eu perdi meus pais, Alex. Nunca mais
quero sentir isso de novo, não com você.
Lágrimas deslizaram dos meus olhos. Eu não sabia o que dizer. Minha
mente ainda estava se recuperando da total sobrecarga no meu cérebro. E ele
estava segurando a minha mão, o que não era o caso mais chocante do dia, de
qualquer jeito, mas me afetou da mesma forma. Eu tinha morrido. E um deus
que aparentemente era um Sentinela aqui, me trouxe de volta, e todo esse jazz19.
Mas era a maneira que Aiden estava olhando para mim, como se ele nunca fosse
falar comigo de novo, ver o meu sorriso ou ouvir a minha voz. Ele parecia um
homem que estava à beira do desespero e que tinha sido puxado para trás, no
último segundo, mas ainda estava sentindo todas as emoções terríveis, ainda sem
acreditar que ele não tinha me perdido, que eu ainda estava aqui.
Eu percebi uma coisa muito importante, muito poderosa, nesse momento.
Aiden podia me dizer que ele não sentia o mesmo que eu. Ele podia lutar
contra o que havia entre nós noite e dia. Ele podia falar somente mentiras daqui
em diante. Não importava.
19 Do original ‘all that jazz’ que é usado no fim de uma frase ou lista em vez do termo "Etc."
Eu sempre, sempre, ia saber a verdade.
Mesmo se o espaço nos separasse ou uma dúzia de regras fosse imposta
para nos manter separados, e nós nunca pudermos ficar juntos, eu sempre
saberei.
E deuses, eu o amava, amava muito. Isso nunca iria mudar. Havia tantas
coisas que eu não tinha certeza, especialmente agora, mas disso eu sabia. Antes
que eu pudesse pará-la, uma única lágrima escapou, correndo pelo meu rosto.
Eu apertei meus olhos fechados.
Ele soltou outra respiração, esta muito mais nítida, mais quebrada. A cama
se moveu enquanto ele se sentou, e sua mão deslizou para o meu cabelo, onde
seus dedos se enroscaram em torno dos fios. Seus lábios eram quentes e suaves
contra minha bochecha, beijando a lágrima.
Eu fiquei muito quieta, com medo de que qualquer movimento iria manda-lo
embora. Ele era como uma espécie de criatura selvagem prestes a quebrar.
Quando ele falou, sua respiração dançou sobre os meus lábios, provocando
arrepios em mim. — Eu não posso me sentir assim novamente. Apenas não
posso.
Ele estava tão perto, ainda segurando minha mão com força na sua,
enquanto a outra saiu do meu cabelo e traçou uma linha invisível sobre meu
rosto.
— Tudo bem? — Ele disse. — Porque eu não posso perder... — Ele cortou,
olhando para a porta. O som de passos se aproximava. Seus lábios pressionaram
em uma linha apertada quando ele se virou para mim. Soltou minha mão e se
endireitou. — Nós vamos falar mais, mais tarde.
Sentei-me ali em silêncio, meu coração vibrando em espasmos, e disse a
coisa mais eloquentemente que pude. — Ok.
A porta se abriu e Marcus entrou. Sua camisa estava apenas meio enfiada
na cintura e suas calças que geralmente eram bem passadas estavam enrugadas.
Como Aiden, ele parecia uma bagunça, mas aliviado. Ele parou ao lado da minha
cama, exalando alto.
Eu limpei minha garganta. — Você está enrugado.
— Você está viva.
Aiden assentiu. — Ela está. Eu só estava a deixando a par de tudo.
— Ótimo. Isso é bom. — Marcus olhou para mim. — Como você está se
sentindo, Alexandria?
— Ok, eu acho, depois de morrer e tudo. — Me mexi, desconfortável com a
atenção. — Então, sobre essa coisa de Leon ser um deus? Eu não sei de nenhum
deus chamado Leon. Ele é tipo um filho bastardo de algum deus que ninguém
quis assumir?
Aiden recuou para o canto da sala, uma distância muito mais apropriada
para um puro-sangue. Eu imediatamente senti falta de sua proximidade, mas ele
manteve seus olhos em mim. Era como se tivesse medo que eu desaparecesse. —
Isso porque Leon não é seu nome real. — disse ele.
— Não é?
Marcus sentou-se junto de Aiden. Ele estendeu a mão, mas parou e baixou a
mão em seu colo. — Você quer água?
— Hum, com certeza. — Estranhando um pouco, eu o vi encher o meu copo
e segurá-lo para eu beber. O alien em meu tio tinha obviamente tomado o
controle completo. Não ia demorar muito para ele sair rasgando por seu estômago
e começar a dançar na minha cama.
Aiden encostou-se à parede. — Leon é Apollo.
Engasguei com a água. Chiando, eu apertei meu estômago com uma mão e
sacudi a outra na frente do meu rosto.
— Alexandria, você está bem? — Marcus colocou o copo para baixo e olhou
por cima do ombro para Aiden, que já estava ao lado da cama. — Vá chamar um
dos médicos.
— Não! — Com olhos lacrimejando, eu puxei ar. — Eu estou bem. A água só
foi para o buraco errado.
— Tem certeza? — Aiden perguntou, parecendo dividido entre querer
arrastar um médico aqui e tomar minha palavra como verdade.
Assenti. — Sim, isso apenas me surpreendeu. Quer dizer, uau. Vocês tem
certeza? Apollo?
Marcus me observava atentamente. — Sim. Ele é definitivamente Apollo.
— Santo... — Não havia palavras suficientes no mundo para fazer justiça a
isso, — Será que ele deu alguma explicação?
— Não. — Marcus colocou o cobertor solto de volta em torno de mim. —
Depois que ele te trouxe de volta, disse que precisava sair e que ele estaria de
volta.
— Ele meio que desapareceu do nada. — Aiden esfregou os olhos. — Nós não
o vimos desde então.
— E isso foi ontem. — Acrescentou Marcus.
— Então, eu dormi por um dia inteiro? — Meu olhar se lançou entre os dois.
— Algum de vocês dormiu durante todo esse tempo?
Aiden olhou para longe, mas Marcus foi quem respondeu. — Muita coisa
aconteceu, Alex.
— Mas vocês...
— Não se preocupe conosco, — Marcus interrompeu, — Nós vamos ficar
bem.
Não me preocupar com eles era mais fácil dizer do que fazer. Ambos
pareciam terríveis. — Hum... Linard está morto.
— Sim. — disse Marcus. — Ele estava trabalhando com essa... essa Ordem.
Olhei para Aiden, agora me lembrando do estalo revoltante que eu ouvi. Se
eu estava esperando remorso em seu olhar firme, eu não encontrei. Na verdade, o
olhar na cara dele disse que faria isso de novo. — E sobre Telly?
— Ele nunca desembarcou em Nova York. Agora, não temos ideia de onde
está. Instrutor Romvi também desapareceu. — Marcus deixou cair às mãos em
seu colo novamente, — Eu fiz algumas ligações e tenho uns poucos Sentinelas
confiáveis procurando Telly agora.
— Confiáveis como Linard? — Tão logo essas palavras saíram da minha
boca, eu desejei não ter dito. Minhas bochechas começaram a queimar. — Eu...
sinto muito. Isso não foi justo. Você não sabia.
Os olhos verdes de Marcus brilharam. — Você está certa. Eu não sabia.
Havia um monte de coisas que eu não estava ciente. Como a verdadeira razão
pela qual você saiu de Nova York mais cedo e o fato de que você já recebeu
algumas marcas de Apollyon.
Oh, não. Eu não ousei olhar para Aiden.
— Não foi até algumas noites atrás que eu fiquei sequer ciente de que a
Ordem de Thanatos poderia estar envolvida. — Marcus continuou, seus ombros
enrijecendo. — Se eu soubesse a verdade, isso poderia ter sido evitado.
Eu me contorci tanto quanto poderia. — Eu sei, mas se tivéssemos envolvido
você no que aconteceu em Nova York, então você estaria em risco.
— Isso não importa. Eu preciso saber quando esses tipos de coisas
acontecem. Sou seu tio, Alexandria, e quando você mata um puro-sangue...
— Foi autodefesa... — disse Aiden.
— E você compeliu dois puros para protegê-la. — Marcus atirou um olhar
sobre o ombro para Aiden. — Eu entendo, mas isso não muda o fato de que eu
precisava saber. Tudo isso criou uma tempestade perfeita para algo como isso
acontecer.
— Você não está... zangado com Aiden? Você não vai entregá-lo...?
— Às vezes eu duvido de suas habilidades de pensamento crítico, mas
entendo porque ele fez isso. — Marcus suspirou, — A lei exige que eu faça,
Alexandria. Ela até exige que eu te entregue, e por não fazê-lo, vou enfrentar
acusações de traição. Assim como Aiden vai enfrentar acusações de traição se
alguém descobrir o que ele fez.
Traição era igual à morte para eles. Engoli. — Eu sinto muito. Me desculpe,
arrastei todos vocês para isso.
Aiden suavizou. — Alex, não se desculpe. Isso não é culpa sua.
— Não é. Você não pode se impedir... de ser o que é. E tudo isso é por causa
do que você é. — Os lábios de Marcus curvaram em um meio sorriso, — Eu não
concordo com muitas das decisões que você tomou, ou o fato de que ambos têm
mantido em segredo coisas muito importantes de mim, mas não posso culpar
Aiden por fazer o que eu teria feito na mesma situação. Eu sou seu tio,
Alexandria e sou duro com você, mas isso não significa que não me importo com
você.
Atordoada e em silêncio, eu olhei para ele. Eu poderia ter interpretado mal
tudo sobre este homem? Porque eu realmente teria apostado a minha vida em
como ele não me suportava. Mas isso tinha sido apenas a versão dele de... amor
durão? Piscando para conter as lágrimas, de repente, eu queria abraçá-lo.
O olhar no rosto de Marcus me disse que ele provavelmente não estaria
confortável com isso.
Okay. Nós definitivamente não estávamos abraçando-nos ainda, mas isso...
Isso era bom. Eu limpei minha garganta. — Então... Uau. Leon é Apollo.
Aiden sorriu.
Sorrindo para ele, de repente senti pânico e me levou um segundo para
perceber porquê. — Oh, meus deuses. — Comecei a sentar-me, mas Marcus me
parou. — Eu preciso ligar para o Seth. Se ele suspeitar de alguma coisa, ele vai
ficar louco. Vocês não fazem ideia.
O sorriso de Aiden desapareceu. — Se ele soubesse – se tivesse sentido
através de seu vínculo, então ele já teria enlouquecido. Ele não sabe.
Ele tinha um ponto, mas eu ainda precisava falar com ele.
— Nós achamos que o melhor é que ele não saiba, não até que esteja aqui
com você. — disse Marcus, — Neste momento, não podemos permitir que ele
perca o foco. E ele ligou para você ontem à noite. Aiden disse à ele que você
estava dormindo.
Aiden revirou os olhos. — Depois de reclamar sobre eu atender ao telefone
que ele lhe deu, ele desligou. Se sentiu alguma coisa, ele não sabe por quê.
Soou como Seth. Aliviada, me acomodei de volta para baixo. — Alguém pode
pegar meu telefone, então? Se ele não ouvir de mim, ele vai suspeitar de algo e
explodir alguém.
— Isso pode ser arranjado.
— Eu vou pegá-lo. — disse Aiden, suspirando.
— Ótimo. E depois que for buscá-lo, por que você não toma um banho e
descansa um pouco. Você não dormiu desde ontem de manhã. — disse Marcus.
— Os Guardas de Lucian estão fora da porta. Ninguém vai passar por eles.
A única razão para que eu confiasse nos Guardas de Lucian, era o fato de
que havia apenas uma pessoa que queria que eu Despertasse mais do que Seth, e
esse era Lucian. — Lucian sabe o que aconteceu?
Marcus disse. — Sim, mas ele concordou que seria prudente manter Seth no
escuro por um tempo.
— E você confia em Lucian?
— Eu acredito que ele entende que não podemos permitir qualquer ato de
retaliação de Seth. Fora isso, não particularmente, mas ele precisava saber sobre
Telly. Ele tem algumas de suas pessoas procurando o Ministro Chefe. — Fez uma
pausa, passando a mão para o lado de seu rosto, — Não se preocupe com essas
coisas agora. Descanse um pouco. Volto mais tarde.
Havia ainda uma série de perguntas, como quem eram os Sentinelas de
confiança de Marcus? E como diabos poderíamos guardar um segredo como este
de Seth? Mas eu estava cansada e poderia dizer que ambos estavam, também.
Aiden permaneceu após Marcus sair. Ele veio para o meu lado da cama, seu
olhar prateado flutuando sobre mim.
— Você não saiu deste quarto, pois não? — Perguntei.
Em vez de responder, ele se inclinou e colocou seus lábios contra minha
testa. — Eu vou estar de volta em breve. — Prometeu. — Basta tentar descansar
um pouco e não ficar fora da cama até alguém estar com você.
— Mas eu não estou cansada, não realmente.
Aiden riu suavemente quando ele se afastou. — Alex, você pode estar se
sentindo bem, mas você perdeu muito sangue e passou por uma cirurgia.
E eu tinha morrido, mas percebi que não havia nenhum ponto em adicionar
isso. Eu não queria Aiden se preocupando mais do que ele já estava,
especialmente quando parecia tão exausto. — Tudo bem.
Ele se afastou da cama e parou na porta. Olhando para trás, para mim, ele
sorriu. — Eu não vou demorar.
Mudei minha posição com cuidado. — Eu não vou a lugar nenhum.
— Eu sei. Nem eu.
D
Dezoito
ormi mais do que eu esperava. Quando acordei, o quarto estava vazio e
meu celular tinha sido colocado na mesa de cabeceira. Eu esperava que Aiden
estivesse descansando um pouco, e Marcus também. Empurrando-me em uma
posição sentada, eu estremeci quando o movimento puxou a pele ao redor dos
pontos.
Curiosa, eu inspecionei a cicatriz irregular novamente. Meio-sangues
definitivamente se curavam mais rápido e as lâminas do Covenant foram
projetadas para cortar de forma limpa, mas tinha que ter feito algum dano
interno. Apollo tinha, de alguma forma, me curado ainda mais? Porque eu
duvidava que os médicos pudessem ter revertido esse tipo de dano. Além de me
sentir um pouco lenta, eu me sentia... Ok.
Mas quando olhei ao redor da sala, algo cutucou os recessos de minhas
memórias. Eu estava me esquecendo de algo, algo extremamente importante.
Estava na ponta da minha língua tal como quando eu estava sob a compulsão
antes. Isso era diferente, porém. Era como acordar e não ser capaz de se lembrar
de um sonho.
Suspirando, estendi a mão e pegei o telefone celular. Havia apenas uma
chamada perdida do Coelhinho. Deslizando para baixo, eu liguei de volta.
Seth respondeu no segundo toque. — Então, você está viva?
Meu coração virou pesadamente. — Sim, por que não estaria?
— Bem, eu não falei com você tem cerca de dois dias. — Fez uma pausa. —
O que você anda fazendo?
— Eu tenho dormido, não faz muito que acordei.
— Dormiu por dois dias seguidos?
Eu coloquei a mão na minha cicatriz e estremeci. — Sim, isso é tudo.
— Interessante... — Houve um som abafado, como se algo tivesse sido
empurrado sobre o telefone. — Você foi dormir, mas Aiden ficou com o seu
telefone?
Droga. — Ele está cuidando de mim. Eu não sei por que ele atendeu ao
telefone quando você ligou. — Houve outro som abafado, e em seguida, Seth
resmungou.
— O que você está fazendo?
— Puxar minhas calças é difícil quando você está segurando um telefone.
— Hum, você quer que eu te ligue depois? Tipo quando você não estiver nu?
Seth riu. — Eu não estou nu agora. Enfim, talvez tenhamos algum mal-estar
estranho de Apollyon. Eu tenho estado esgotado por cerca de dois dias, mas me
sinto bem agora.
Então, ele tinha sentido alguma coisa. Eu mordi meu lábio. — Posso
perguntar uma coisa?
— Atire.
— Você disse que quando eu acordar, vou saber o que os últimos Apollyons
sabiam, né?
Houve uma pausa. — Sim, eu disse isso.
Desconforto torceu minhas entranhas. — Então como você não sabia sobre a
Ordem de Thanatos, e que eles tinham matado Solaris e o Primeiro? Você não viu
o que eles viram?
— Por que você está perguntando? — Seth perguntou.
Eu tomei uma respiração profunda. — Porque não faz sentido, Seth. Você
deveria ter me dito. E como você não sabia que um mestiço e puro faziam um
Apollyon? Nenhum dos Apollyons no passado já tinha percebido isso?
— Por que você está perguntando sobre isso... — Uma risada, distintamente
muito feminina cortou suas palavras. Quando Seth falou de novo, parecia longe e
parecia muito com ‘se comporte’.
Sentei-me, sugando o ar bruscamente quando meu estômago gritou em
protesto. — Quem está aí com você, Seth?
— Por quê? Você está com ciúmes?
— Seth.
— Espere um segundo. — Ele respondeu, e então houve um som de uma
porta fechando. — Droga, está frio aqui fora.
— É melhor ter cuidado. Não quer nada congelando e caindo.
Ele riu. — Ah, isso foi mal-intencionado. Eu acho que você pode estar com
ciúmes.
Eu estava com ciúmes de que ele estava tão obviamente com uma menina
enquanto estava nu? Eu não deveria estar? Mas não estava com ciúmes, era mais
como irritada. Irritada porque enquanto eu estava sendo esfaqueada e morta
Seth, estava transando. E como eu poderia estar zangada? Eu era aquela que
estava apaixonada por outro cara. Eu realmente não podia falar muita coisa. Mas
não tinha ficado nua com o cara, não em vários longos meses. Não desde que eu
decidi ver o que poderia acontecer com Seth.
Deuses, eu estava tão confusa e não tinha ideia do que estava acontecendo e
por que estava acontecendo agora.
— Eu não estou fazendo nada de errado. — Seth disse depois de um trecho
de silêncio.
— Eu não disse que você estava. Espera. Você está com Peitos20, não é?
— Você realmente quer saber, Alex?
Não quando ele colocava as coisas assim. Mordi meu lábio, sem saber o que
dizer. De repente, ouvi a voz de Caleb na minha cabeça. Ainda há esperança.
Estranho.
— Nós nunca dissemos que estávamos em um relacionamento, e, além disso,
tanto faz. Você está ai. Eu estou aqui. E em uma semana ou assim, eu vou estar
de volta. E isso não vai importar.
Eu pisquei. — Realmente, é... ‘tanto faz’?
Seth suspirou. — Eu sei que ele esteve ao seu lado desde a hora que eu saí,
fazendo a sua coisa irritante de mamãe galinha, tentando descobrir uma maneira
de estar com você. E ele atende ao telefone enquanto você está dormindo? Sim, é
‘tanto faz’.
Minha boca cai aberta. — Isso não é totalmente o que está acontecendo aqui.
— Olha, isso não importa. Eu tenho que ir. Vou falar com você mais tarde.
— Então ele desligou na minha cara.
Olhei para o telefone por vários minutos, chocada e um pouco perturbada.
Ele tinha acabado de me dar permissão para fazer ‘tanto faz’ com Aiden, porque
20 É uma pura apresentada no segundo livro da série, Pure, e a Alex apelidou-a assim por
ela ter peitos grandes.
ele está fazendo ‘tanto faz’ com Peitos? Meus deuses, eu tinha morrido e voltado
em um universo alternativo?
A porta se abriu, então, e Aiden entrou. Deixando o telefone de lado, fiquei
feliz em ver que ele parecia muito mais revigorado. Cabelo úmido se enrolava ao
redor de suas têmporas e as sombras sob seus olhos tinham diminuído.
— Ei, você está acordada. — Ele sentou ao meu lado na cama e se
aproximou. — Como você está se sentindo?
Inclinei-me para longe dele. — Nojenta.
Aiden franziu a testa. — Nojenta?
— Eu ainda não escovei os dentes ou lavei o rosto em dias. Não chegue perto
de mim.
Ele riu. — Alex, qual é.
— Sério, eu estou nojenta. — Coloquei minha mão sobre a boca.
Ignorando meus protestos, ele se inclinou e roçou o meu cabelo pegajoso
para trás. — Você está tão bonita como sempre, Alex.
Encarei-o. Ele não deve sair muito.
Aiden arqueou uma sobrancelha. — Você ligou para Seth?
Recusando-me a baixar a minha mão, eu assenti.
Seus olhos dançaram. — Ele parece suspeitar de algo?
— Não. — Eu disse atrás de minha mão. — Ele estava com Peitos, na
verdade.
Ele parecia confuso. — Peitos?
— É uma garota de Nova York. — Expliquei.
— Oh. — Aiden se inclinou para trás, — O que você quer dizer com ele
estava com essa garota?
— O que você acha? — Abaixei minha mão.
— Oh, Alex, eu sinto muito.
Fiz uma careta. — Por que você sente muito? É ‘tanto faz’. Seth e eu não
estamos em um relacionamento. — Mas ele tinha se comportado desde que ele
voltou para o Covenant comigo. Afastando isso da minha mente, me concentrei
em algo mais importante. — Preciso sair dessa cama.
Algo cintilou no rosto de Aiden e então ele balançou a cabeça. — Alex, você
realmente não deveria.
— Eu realmente preciso.
Ele segurou o meu olhar e, em seguida, ele pareceu entender, — Ok, aqui,
deixe-me ajudá-la.
A ideia de ele ficar perto de mim quando eu estava com bafo não me atraía,
mas não houve discussão com ele. Aiden me ajudou a sair da cama e depois
insistiu em guiar-me para o pequeno banheiro. Eu meio que esperava que ele me
seguisse para dentro.
Fechando a porta atrás de mim, eu fiz a minha coisa e olhei para o chuveiro
com saudade. Aiden teria um ataque se eu o ligasse. Olhei para a porta,
debatendo se ele iria ou não se atrever a entrar aqui. Aiden era muito santo.
Decidi testar essa teoria.
O segundo após eu ligar a água, ele gritou. — Alex, o que você está fazendo?
— Nada. — Tirei minhas roupas, desejando que eu tivesse alguma coisa
limpa para vestir.
— Alex. — Frustração coloriu seu tom.
Eu sorri. — Estou tomando um banho rápido. Estou suja. Eu preciso me
limpar.
— Você não deveria estar fazendo isso. — O puxador da porta tilintou. Ela
não estava trancada. — Alex!
— Eu estou nua. — Avisei.
Silêncio e então, — Isso deveria fazer-me não quer entrar ai?
Um rubor quente cobriu meu corpo enquanto eu olhava para a porta.
Houve um suspiro audível. — Faça isso rápido, Alex, porque eu vou entrar ai
se você demorar mais de cinco minutos.
Tomei a mais rápida chuveirada da minha vida. Sequei-me e vesti-me
rapidamente, me alegrando com a sensação de estar limpa de novo, mas o banho
tinha tomado qualquer energia que eu tinha restando em mim. Sentei-me na
frente da pia, porque o banheiro parecia muito longo, e comecei a escovar os
dentes. Minha boca não se parecia mais como a de um mamute, mas quando eu
olhei para a pia e percebi que tinha que voltar lá de novo, eu meio que queria ter
ficado na cama.
Eu sei que ele esteve ao seu lado desde a hora que eu saí, fazendo a sua
coisa irritante de mamãe galinha, tentando descobrir uma maneira de estar com
você.
Fechando os olhos, eu segurei a escova de dente de plástico entre as pernas.
Tanto faz. Você está ai. Eu estou aqui. E em uma semana ou assim, eu vou
estar de volta. E isso não vai importar.
Creme dental espumoso escorreu do meu queixo. Isso não importaria por
que Seth estaria por aqui? Ou não importaria, por que em cinco semanas, eu
Despertaria? Era isso que Seth estava tentando dizer, entre o que Peitos estava
fazendo?
— Alex? — Aiden bateu na porta do banheiro, — Você está bem?
Inclinei minha cabeça em direção à porta fechada. Mais creme dental vazou
da minha boca. — Eu estou cansada.
A porta se abriu. O olhar de Aiden caiu e suas sobrancelhas se ergueram.
Um sorriso lento rastejou sobre o seu rosto, suavizando o olhar duro que estava
em seus olhos desde que acordei. Aiden riu.
Algo vibrou em meu peito. — Rir de uma menina morta não é bom.
— Eu lhe disse que você deveria ter ficado na cama. — A luz não saiu de
seus olhos quando ele se ajoelhou. Ele estendeu a mão, limpando a pasta de
dentes do meu queixo com o polegar. — Mas você nunca ouve. Espere um pouco.
Não era como se eu estivesse indo a lugar nenhum, então eu o vi olhar para
a pia e, em seguida, se levantar. Aiden desapareceu de volta para a sala,
retornando com dois pequenos copos de plástico e algumas toalhas de papel
alguns segundos depois.
Erguendo a escova de dente das minhas mãos, jogou-a na pia e depois de
encheu o copo. — Aqui está.
Com o rosto em chamas, eu peguei o copo e balancei a água na minha boca.
Aiden entregou-me outro copo vazio. — Enxague e repita.
Encarei-o chateada, mas secretamente fiz uma dança feliz na minha cabeça
quando ele riu de novo. Uma vez que eu não tinha mais pasta de dente caindo da
minha boca e minhas mãos estavam vazias, Aiden cuidadosamente deslizou um
braço em volta de mim. — Eu posso fazer isso sem ajuda. — Resmunguei.
— Claro que você pode. — O cabelo de Aiden fez cócegas nas minhas
bochechas. — É por isso que você está sentada no chão do banheiro. Vamos lá,
de volta para a cama.
A porta principal do quarto abriu. — O que está acontecendo? — A voz de
Marcus soou. — Alexandria está bem?
Vermelho manchou meu rosto inteiro.
— Ela está bem. — Aiden facilmente me arrastou para os meus pés. A pele
macia puxou um pouco, mas eu mantive minha expressão vazia. Não queria que
ele tivesse um ataque cardíaco. — Ela só se sente cansada. — Continuou ele,
sorrindo enquanto me soltava. — Você está bem para andar de volta para a
cama?
Assenti. — Não é minha culpa. Leon-Apollo-quem-quer-que-seja não
corrigiu-me tão bem. Seus poderes de deus...
— Eu consertei você, mas você estava morta. Dê-me algum crédito. — Apollo
disse.
Eu pulei, batendo a mão no meu peito. Apollo se sentou na beira do vaso
sanitário, uma perna cruzada sobre a outra.
Ao meu lado, Aiden se curvou rigidamente. — Meu mestre.
— Oh, meus deuses. — eu disse. — Sério. Você está tentando me matar de
novo, dando-me um ataque do coração?
Apollo inclinou a cabeça para Aiden. — Eu já disse a você. Não precisa fazer
o negocio de 'mestre' e se curvar para mim. — Pequenas faíscas de eletricidade
saíram daqueles olhos completamente brancos. — Por que você está fora da
cama? Ser apunhalada não te deixa algum tempo na inatividade? — Ele sorriu
para Aiden, que agora estava de pé. — Ela realmente é difícil de cuidar, não é?
Aiden parecia um pouco pálido. — Sim...
— Eu... eu estava suja.
Apollo desapareceu da casa de banho e apareceu atrás de Aiden. Marcus
deu um passo para trás, os olhos arregalados. Ele curvou-se também, e eu
realmente pensei por um momento que Marcus ia cair de joelhos.
— Bons deuses. — Aiden disse sob sua respiração quando ele me levou para
fora do banheiro.
Eu olhei para o deus desmedido no canto do quarto, quando voltei para a
cama. — Alguém sabe sobre isso?
Apollo deslizou para a cama. Era estranho olhar para ele e ver alguns traços
de Leon. O rosto era basicamente o mesmo, mas mais refinado, mais nítido. Os
cabelos pareciam como se fios de ouro substituiram o corte curto que Leon tinha
usado, caindo logo abaixo de seus ombros largos. E ele parecia mais alto, se era
mesmo possível. Ele era belíssimo, sem as bordas mais ásperas, mas seus
olhos... eles me assustavam. Não havia pupilas ou íris, apenas uma cor branca
que parecia cheia de eletricidade.
O Deus do Sol.
Eu estava olhando para o maldito Deus do Sol... E, no entanto, era como
olhar para Leon. Era estranho que um deus estaria mesmo na terra, mas estar
tão confortável como Apollo parecia irreal.
Apollo arqueou uma sobrancelha quando ele lentamente virou a cabeça para
Marcus. — Eu sei que isso é um pouco... chocante, mas para o que eu estava
fazendo era necessário que eu disfarçasse quem sou.
Marcus piscou, como se estivesse saindo de um transe. — Há mais como
você por aqui?
Apollo sorriu. — Estamos sempre por perto.
— Por quê? — Aiden perguntou, arrastando os dedos pelo cabelo. Ele parecia
um pouco fora de si também.
— As coisas estão complicadas. — Apollo disse.
— Então, Leon era uma pessoa real? Você apenas assumiu o seu corpo ou
algo assim? — Dobrei minhas pernas sob o cobertor. — Ou você tem sido Leon
todo esse tempo?
Os cantos dos lábios de Apollo contraíram. — Nós somos apenas um.
Lentamente, eu o alcancei e cutuquei seu braço. Parecia que a carne era
real, quente e dura. Desapontada, eu cutuquei-o de novo. Eu estava esperando
algo incrivelmente celestial ao tocá-lo. Em vez disso, tudo o que recebi foram
olhares estranhos de todos na sala, incluindo Apollo.
— Por favor, pare de me tocar. — Apollo disse.
Cutuquei o seu braço novamente. — Desculpe. É que você é real. Quer dizer,
eu apenas pensei que vocês não estavam realmente por aqui.
— Alex. — Aiden se sentou na beira da cama. — Você provavelmente deve
parar de tocá-lo.
— Tanto faz. — Deixei a minha mão cair no meu colo. Eu ainda queria tocá-
lo, porém, o que era muito estranho. Eu meio que queria me esfregar sobre ele,
como um gato ou algo assim... E isso era mais do que estranho, e um pouco
desconfortável.
— Normalmente nós não estamos, — Apollo disse, franzindo a testa para
mim. — Quando estamos na terra nossos poderes são limitados. Tudo sobre esse
lugar nos drena. Nós tendemos a ficar longe, e se fizermos visita, é só por um
tempo curto.
— Tempo suficiente para se ligar com algumas garotas mortais?
— Alexandria. — Marcus retrucou.
Apollo me encarou. — Não. Nós não geramos quaisquer semideuses em
séculos.
Estremeci quando meu olhar encontrou o seu. — Seus olhos estão realmente
me deixando assustada.
Ele piscou, e em um milésimo de segundo, seus olhos eram de um cobalto
brilhante e intenso. — Melhor?
Não na verdade. Não quando ele estava olhando para mim assim. — Claro.
Marcus limpou a garganta. — Eu realmente não sei o que dizer.
Apollo acenou com a mão em desdém. — Nós trabalhamos juntos há meses.
Nada mudou.
— Não sabia que você era Apollo. — Aiden cruzou os braços. — Isso muda as
coisas.
— Por quê? — Apollo sorriu. — Eu não espero que você esteja tão disposto a
treinar comigo agora.
A pele ao redor dos olhos de Aiden se franziu quando ele sorriu. — Sim, você
pode ter certeza disso. Tudo isso é apenas... quero dizer, como é que não
sabíamos?
— Simples. Eu não queria que vocês soubessem de nada. Isso fazia as coisas
mais fáceis... para me misturar entre vocês.
— Desculpe, — Interrompi. Apollo arqueou uma sobrancelha, esperando.
Senti meu rosto corar. — Isso é realmente muito estranho.
— Faça o seu ponto. — Apollo murmurou.
— Quero dizer, eu tenho te insultado como o inferno em seu rosto. Várias
vezes. Como quando eu te acusei de perseguir meninos e meninas e como elas se
transformaram em árvores para fugir…
— Como eu disse antes, algumas dessas coisas não são verdadeiras.
— Então Daphne não se transformou em uma árvore para ficar longe de
você?
— Oh, meus deuses. — Aiden murmurou, esfregando uma mão ao longo de
sua mandíbula.
Um músculo apareceu na mandíbula de Apollo. — Isso não foi tudo culpa
minha. Eros atirou em mim com uma maldita seta do amor. Confie em mim,
quando você é atingido com uma dessas coisas, você não pode se conter.
— Mas você cortou parte de sua casca. — Estremeci novamente. — E a usou
como uma grinalda. Isso é como um serial killer coletando itens pessoais de suas
vítimas... ou dedos.
— Eu estava apaixonado. — Ele respondeu, como se estar apaixonado
explicasse o fato de que a garota virou uma árvore para ficar longe dele.
— Tudo bem. E sobre Hyacinth? O pobre rapaz não tinha ideia...
— Alexandria. — Marcus suspirou, parecendo quase apoplético.
— Desculpe. Eu só não entendo por que ele não me machucou ou algo
assim.
— O dia é ainda jovem. — Apollo disse, sorrindo quando meus olhos se
arregalaram.
Marcus olhou para mim. — Você está aqui por causa dela.
Apollo assentiu. — Alexandria é muito importante.
Isso foi estranho para mim. — Eu pensei que os deuses não eram fãs dos
Apollyons.
— Zeus criou o primeiro Apollyon há milhares de anos atrás, Alexandria,
como uma forma de garantir que nenhum puro-sangue se tornaria demasiado
poderoso e ameaçasse os mortais ou nós. — Explicou. — Eles foram criados como
um sistema de freios e contrapesos. Nós não somos nem fãs, nem inimigos do
Apollyon, mas os vemos apenas como uma necessidade que será precisa um dia.
E esse dia chegou.
P
Dezenove
or que agora? — Perguntei quando ninguém mais falou. Eu acho
que os puros estavam um pouco deslumbrados21 ainda. Apollo era um astro do
rock para eles, mas mesmo com sua beleza sobrenatural, ele ainda era apenas
Leon para mim.
— A ameaça nunca foi tão grande. — Respondeu Apollo. Vendo a minha
confusão, ele suspirou. — Talvez eu deva explicar algumas coisas.
— Talvez você deva. — Murmurei.
Apollo pairou sobre a mesa de cabeceira e pegou a jarra de água. Cheirando-
a, colocou-a de volta. — Meu pai sempre foi... paranoico. Todo aquele poder, mas
Zeus temia que todos seus filhos fizessem o que ele fez para seu pai. Matá-lo em
seu sono, derrubando-o e assim conquistando Olympia - você sabe todo esse
drama antigo da família.
Lancei a Aiden um olhar, mas ele estava fascinado por Apollo.
21 O termo usado no original é ‘star-struck’, seria como dizer que os puros ainda estavam
deslumbrados por estarem em contato com Apollo, como se fossem ‘fãs’ dele.
— De qualquer forma, Zeus decidiu que ele deveria manter seus inimigos
perto. É por isso que ele chamou todos os semideuses de volta ao Olimpo e
destruiu os que não atenderem a sua chamada, mas ele se esqueceu de seus
filhos. — Apollo sorriu, — Todo esse poder, e às vezes eu me pergunto se Zeus
caiu e bateu a cabeça quando era um bebê. Ele esqueceu-se dos Hematoi, os
filhos dos semideuses.
Eu ri, mas Marcus olhou para o teto, como se esperasse Zeus atacar Apollo
com um raio.
— Os Hematoi. — Apollo olhou para Marcus e Aiden incisivamente, — São
uma versão mais fraca dos semideuses, mas vocês são muito poderosos em seu
próprio mundo. Seus números francamente superam os deuses por milhares. Se
alguma vez houvesse uma tentativa coesa para derrubar-nos, poderia ter
sucesso. E os mortais, não teriam a menor chance contra os Hematoi.
— Eu pensei que vocês eram, tipo, oniscientes22. Não deveriam saber quando
estivessem prestes a ser derrubados?
Apollo riu. — Lendas, Alexandria, é difícil saber o que é realmente verdade.
Há coisas que nós sabemos, mas o futuro nunca está gravado em pedra. E
quando se trata de qualquer criatura viva no planeta, não podemos ver ou
interferir com eles. Nós temos... ferramentas que usamos para manter um olho
nas coisas.
— É por isso que o oráculo vivia aqui. — Disse Aiden.
Mais uma vez, houve uma coceira na parte de trás da minha cabeça. Algo
sobre um oráculo cutucou minhas memórias difusas. Continuou fora de alcance.
— Sim. O oráculo responde a mim e só a mim.
— Porque você é o deus da profecia... entre 500 outras coisas. — Adicionei,
entrando de volta na conversa.
22 Capacidade de saber tudo.
— Sim. — Ele voltou para a cama, inclinando a cabeça para o lado. — Uma
vez que Zeus percebeu que tinha esquecido os Hematoi, ele sabia que tinha de
criar algo que era poderoso o suficiente para controlá-los, mas não podia povoar
como os Hematoi faziam.
Marcus se sentou na única cadeira do quarto. — E assim o Apollyon foi
criado?
Apollo sentou ao lado de Aiden, o que realmente lotou a cama. — Um
Apollyon só pode nascer quando a mãe é Hematoi e o pai é um meio-sangue. É o
éter de uma pura com o de um mestiço que cria o Apollyon. É semelhante à
maneira como um minotauro23 nasce. Apollyons são nada mais do que monstros,
no esquema das coisas.
Fiz uma careta para as suas costas. — Oh, nossa! Obrigada.
— A mistura de duas raças foi proibida para garantir que não haveria muitos
e aos Hematoi foi ordenado matar qualquer descendência de um puro e um
mestiço.
Minha boca abriu. — Isso é terrível.
— Pode ser, mas não podíamos ter dúzias de Apollyons correndo por aí. —
Ele olhou por cima do ombro para mim. — Dois são considerados ruins o
bastante. Você pode imaginar se houvesse uma dúzia? Não. Você não pode. E,
além disso, um sobreviveu a cada geração como o planejado. Embora, nós
cometemos erros de vez em quando.
Eu estava realmente começando a não gostar de Apollo. — Então, eu sou um
monstro e um erro?
Ele piscou. — O tipo perfeito de erro.
Eu fugi para longe dele um pouco.
23 Segundo a mitologia grega, Minos pediu que os deuses lhe enviassem um sinal de
aprovação em forma de um touro branco, e lhe enviaram o Touro Cretense, e então ele teria que
sacrificá-lo. Porém, Minos resolveu mantê-lo, e então Afrodite o castigou, fazendo com que a
mulher de Minos, Pasífae, se apaixonasse pelo touro. Da união deles, nasceu Minotauro.
O sorriso alcançou seus olhos vibrantes. — Enquanto o Apollyon se
comportar, ele é deixado sozinho para fazer o seu dever. Mas quando há um
segundo na mistura, ele aumenta o poder do primeiro. Isso foi algo que não tinha
sido contabilizado. Zeus pensa que é um tipo de piada cósmica.
Marcus se inclinou para frente. — Mas por que você sequer permitiu que o
segundo vivesse, se um é uma ameaça tão grande?
Estremeci.
Apollo se levantou novamente, aparentemente sofrendo de um distúrbio de
hiperatividade. — Ah, você vê, não podemos tocar no Apollyon. As marcas são...
Como veneno para nós. Apenas a Ordem de Thanatos pode realizar um ataque
bem sucedido ao Apollyon e, é claro, um Apollyon pode matar outro Apollyon.
Minha cabeça estava começando a doer. — E Seth saberia disso, certo?
— Seth sabe de tudo isso.
Exalei alto. — Talvez deva mesmo matá-lo.
Apollo arqueou uma sobrancelha. — A humanidade e os Hematoi têm algo
maior a temer que a… questão dos daimons. E para que conste, todo o problema
dos daimons pode ser totalmente atribuído a Dionísio. Ele foi o primeiro a
descobrir que o éter poderia ser viciante e ele apenas tinha de mostrar a alguém.
Uma vez Dionísio ficou tão chapado com o material, que ele se mostrou a um rei
da Inglaterra. Você sabe quantos problemas isso causou?
Era oficial. Os deuses eram crianças crescidas. — É bom saber isso, mas
podemos voltar para a coisa toda do medo maior?
— O oráculo tinha uma profecia sobre o seu nascimento, que um poderia
trazer a verdadeira morte para todos nós e o outro seria o nosso salvador.
— Oh, nossa. — Murmurei. — Vovó Piperi ataca novamente.
Apollo ignorou isso. — Ela não podia dizer qual, no entanto. E eu fiquei
curioso. Quando Solaris apareceu, não houve tal profecia. O que faz desta vez
algo diferente? Então, eu chequei vocês durante toda a sua vida. Não há nada
particularmente notável sobre qualquer um de vocês.
— Você realmente está fazendo maravilhas para minha autoestima.
Ele deu de ombros. — É apenas a verdade, Alexandria.
— Você não disse ao resto dos deuses sobre Seth e Alexandria? — Marcus
perguntou.
— Não. Eu deveria ter dito, e minha decisão de não fazer, me fez perder
muitos fãs. — Ele cruzou os braços. — Mas, então, há três anos, o oráculo previu
sua morte, se você continuasse no Covenant, o que fez a sua mãe partir para
protegê-la, apesar de sua profecia se realizar.
Percebi então. — Porque eu voltei para o Covenant...
— E você morreu. — Aiden terminou, suas mãos enrolando em punhos. —
Deuses.
— O oráculo nunca está errado. — Apollo disse. — Eu fiquei de olho em você
até a noite antes do ataque do daimon em Miami. Pensei que você tinha me
notado uma vez. Você estava voltando da praia e parou fora de sua porta.
Meus olhos se arregalaram. — Lembro-me de sentir algo estranho, mas eu...
Não sabia.
— Se eu tivesse ficado por ali... — Ele balançou a cabeça. — Quando eu
soube que o Covenant estava ativamente procurando você, me disfarçei como
Leon para ver o que estava acontecendo. Eu não tinha ideia que Lucian estava
consciente de sua verdadeira identidade.
— Eu nunca disse a ele. — disse Marcus. — Eu só soube porque minha irmã
confiou em mim antes de partir. Lucian já sabia até então.
— Interessante. — Apollo murmurou. — Eu acredito que não sou o único
deus por aí.
— Você não sabe se há outros deuses por aqui? — Aiden perguntou.
— Não, se eles não quiserem que eu saiba. — Ele respondeu. — E nós
poderíamos estar nos movendo para dentro e para fora em momentos diferentes.
Embora, eu não sei o que qualquer deus teria a ganhar com a garantia de que os
dois Apollyons fossem reunidos.
— Algum de vocês quer vingança? — Perguntei.
Apollo riu. — Quando não queremos vingança contra o outro? Estamos
constantemente aborrecendo um ao outro para aliviar o tédio. Não seria
necessário um esforço de imaginação grande para alguém levar tudo demasiado a
sério.
— Mas qual é o medo, Apollo? — Marcus perguntou. — Por que a Ordem
tentou matar Alexandria quando ela não fez nada?
— Não é Alexandria que eles estão tentando estabilizar.
— É Seth. — Sussurrei.
Aiden enrijeceu. Seus olhos ficaram uma nuvem cinza de tempestade. — É
sempre sobre Seth.
— Mas ele não fez nada. — Eu protestei.
— Ainda. — Apollo respondeu.
— Você, sei lá... Previu ele fazendo alguma coisa?
— Não.
— Então isto é tudo baseado na louca da avó Piperi? — Coloquei meu cabelo
para trás. — E isso é tudo?
Os olhos de Marcus estreitaram. — Isso realmente parece extremo.
Apollo revirou os olhos. — Você não pode me dizer que Seth não está
preparado para o desastre. Ele já tem um ego de um deus, e confia em mim, eu
sei. O tipo de poder de um Assassino de Deuses é astronômico e instável. Ele já
está sentindo os efeitos disso.
— O que você quer dizer? — Aiden perguntou.
— Alex? — Apollo disse suavemente.
Eu balancei a cabeça. Houve momentos em que eu questionei a sanidade de
Seth e até mesmo suas intenções. Em seguida, houve Jackson. Eu não poderia
provar que tinha sido ele, mas... balancei a cabeça. — Não. Ele nunca faria algo
tão estúpido.
— Que gracinha. — Em um segundo, Apollo estava na minha frente e ao
nível dos meus olhos. — Eu sabia que você iria defendê-lo, embora eu saiba que
você não confia nele inteiramente. Talvez até certo ponto você confiava, mas não
mais.
Abri a boca, mas fechei-a. Baixando o olhar para minhas mãos, eu mordi
meu lábio. Mais uma vez, algo cutucou minha memória. Eu engoli.
— Eu tenho que sair agora. — Apollo disse calmamente.
Olhei para cima, encontrando seu olhar. Apollo me assustava e me fazia
realmente questionar o quão legal eu era, mas eu meio que gostava dele. — Você
vai estar de volta?
— Sim, mas eu não posso ser Leon mais. Meu disfarce foi... destruído, e devo
responder por não informar Zeus do que eu tenho feito. Eu provavelmente vou
ficar de castigo. — Ele riu de sua própria piada. Eu só olhei para ele. — Sou
Apollo, Alexandria. Zeus pode beijar isso.
Marcus, mais uma vez, parecia que ele queria esconder-se debaixo da cama.
— Vou checar você quando puder. — Ele virou-se para Marcus. — Vou ver
também se eu consigo achar Telly. Ah, e veja se você pode ter Solos Manolis
transferido para cá, de Nashville. Ele é um mestiço que você pode confiar.
— Eu já ouvi falar dele. — Aiden falou. — Ele é muito... franco.
Apollo sorriu e então, sem sequer uma palavra, desapareceu do quarto.
— Bem, ele com certeza sabe como fazer uma saída. — Aiden ficou de pé,
sacudindo a cabeça.
Marcus e Aiden fizeram planos para contatar este Solos, mas eu estava
apenas escutando metade. Me curvando de lado, eu pensei sobre o que Apollo
tinha dito sobre Seth. Parte de mim se recusava a acreditar que Seth poderia ser
perigoso, mas quando eu estava sendo honesta comigo mesma, não tinha tanta
certeza sobre isso.
Houve momentos em que ele tinha provado que eu realmente não sabia o
que estava acontecendo em sua cabeça ou o que esperar dele. Eu não poderia
mesmo descobrir por que ele estava tão confiante em Lucian, um homem que era
tão plástico24 como era possível.
Eu nem tinha percebido que Marcus havia deixado o quarto até Aiden
sentar-se e colocar a mão no meu rosto. Eu me perguntava se ele tinha percebido
o quanto estava me tocando ultimamente. Era quase como um movimento
inconsciente de sua parte. Talvez ele fizesse isso para se lembrar que eu estava
viva...
De repente, o nevoeiro sumiu de em torno de minhas memórias. Sentei-me
tão rapidamente que ofeguei.
— Alex? Você está bem? — Aiden estava com os olhos arregalados. — Alex?
Demorei alguns segundos para dizer isso. — Eu me lembro... eu me lembro
do que aconteceu quando morri.
O olhar em seu rosto disse que não esperava que eu dissesse isso. Sua mão
deslizou em torno da minha nuca. — O que você quer dizer?
Lágrimas obstruíram minha garganta. — Eu estava no Submundo, Aiden.
Havia todas aquelas pessoas lá, esperando sua passagem e os guardas a cavalo.
Eu até vi Charon e seu barco e seu barco é muito, muito maior e mais bonito.
24 Pessoa falsa.
Havia uma garota chamada Kari que tinha sido morta por daimons ao comprar
sapatos e...
— E o quê? — Perguntou ele, gentilmente enxugando uma lágrima.
— Ela disse que era um oráculo. Que ela sabia que ia me conhecer, mas não
daquele jeito. E eu vi Caleb. Eu falei com ele, Aiden. Deuses, ele parecia tão... tão
feliz. E ele joga Wii com Perséfone. — Ri e limpei meu rosto, — Eu sei que parece
loucura, mas eu o vi. E ele disse que minha mãe estava lá e que ela estava feliz.
Ele me disse que um deus grande e loiro estava discutindo com Hades sobre a
minha alma. Ele deve ter visto Apollo. Era real, Aiden. Eu juro.
— Eu acredito em você, Alex. — Ele me embalou contra seu peito. — Diga-
me o que aconteceu. Tudo.
Pressionei meu rosto contra seu ombro, apertando os olhos fechados. Eu
disse a ele tudo o que Caleb havia me dito, incluindo o que ele disse sobre Seth.
Quando pedi a Aiden para conseguir o número de Olivia para que pudesse passar
a sua mensagem, ele balançou a cabeça, com uma expressão de dor.
— Eu sei que você quer dizer a ela, — disse ele — E você vai, mas agora nós
não queremos que um monte de pessoas saibam o que aconteceu. Nós não
sabemos em quem podemos confiar.
Em outras palavras, não era com Olivia que precisávamos estar
preocupados, mas não podíamos correr o risco das coisas se repetirem. Eu odiava
a ideia de não lhe dizer agora, porque era importante, mas como eu poderia dizer
a ela sem dizer o que aconteceu? Eu não podia.
— Sinto muito, Alex. — Sua mão alisou minhas costas. — Mas tem que
esperar.
Eu assenti.
Parte de mim doía pior que antes depois que percebi que tinha estado com
Caleb, porque a sua perda era fresca novamente. Mas, quando Aiden me segurou
muito tempo depois de eu ter acalmado, as lágrimas que vieram, apesar de tudo,
foram alegres. A dor da perda de Caleb ainda estava lá, mas foi atenuada por
saber que ele estava verdadeiramente em paz e minha mãe também. E nesse
momento, isso era tudo que importava.
M
Vinte
eu coração estava disparado, bombeando sangue através do meu
corpo rápido demais para alguém que tinha morrido e tudo. Eu tentei e falhei não
olhar para Aiden enquanto o Guarda levava minhas malas para a casa dos seus
pais. Era o meio da noite, e estava frio, mas eu me senti ridiculamente quente.
Especialmente depois de Deacon nos encontrar no hall de entrada com um
sorriso engraçado no rosto.
— Este é provavelmente o lugar mais seguro para esconder você até
encontrarem Telly e serem capazes de determinar se alguém aqui está ligado à
Ordem. — Marcus deixou cair o braço sobre os meus ombros. — Quando eu
voltar de Nashville, você vai ficar comigo, ou com Lucian, uma vez que ele retorne
de Nova York.
— Ela deve ser mantida o mais distante da casa de Lucian quanto possível,
— Apollo disse, aparecendo do nada. Vários dos Guardas recuaram com olhos
arregalados e ficaram pálidos. Apollo sorriu para eles. — Em qualquer lugar que
Seth está, sugiro que Alexandria não fique.
Cada puro e mestiço se curvou na cintura. Eu também, esquecendo-me dos
pontos que estavam se curando e fiz uma careta.
— Precisamos colocar um sino nele. — Aiden murmurou.
Eu pressionei meus lábios para não rir.
— Na verdade, — Apollo disse lentamente. — Este lugar é provavelmente o
mais seguro para ela.
Deacon parecia que estava engasgando.
Marcus recuperou-se mais rápido do que fez da última vez. — Você já
encontrou alguma coisa?
— Não. — Apollo olhou para Deacon curiosamente antes de seu olhar pousar
sobre Marcus. — Eu queria falar com você em particular.
— É claro. — Marcus virou-se para mim, — Eu vou estar de volta em poucos
dias. Por favor, ouça o que Aiden diz a você e... tente ficar longe de problemas.
— Eu sei. Eu não estou autorizada a deixar a casa, a menos que Apollo me
diga para o fazer. — Essas foram as palavras exatas de Marcus. Ninguém mais
poderia me retirar dessa casa que não seja Apollo, Aiden, ou Marcus. Nem mesmo
Lucian e alguém da Guarda. Se alguém tentasse, eu tinha a permissão para
chutar alguns traseiros.
Marcus acenou para Aiden e se virou para sair. Passando, Apollo deu-nos
uma saudação com dois dedos, que apenas era estranho vindo dele. Nos últimos
dois dias, eu estava acostumada a suas aparições aleatórias. Parecia que ele
tinha grande prazer em assustar a merda para fora de todos quando fazia isso.
— Você está pronta? — Aiden perguntou.
Deacon arqueou uma sobrancelha.
— Cale-se. — Eu disse quando passei por Deacon.
— Eu não disse uma única palavra. — Ele virou-se e seguiu-me entrando. —
Nós vamos nos divertir muito. É como uma festa do pijama.
Uma festa do pijama na casa de Aiden? Oh deuses, as imagens que vieram
com essas palavras me fizeram corar.
Aiden fechou a porta atrás dos outros quando eles saíram e atirou a seu
irmão um olhar.
Deacon balançou para trás em seus calcanhares, sorrindo. — Só para você
saber, eu fico incrivelmente entediado muito facilmente, e você será forçada a ser
minha fonte de entretenimento. Você será o meu bobo da corte pessoal.
Mostrei-lhe o dedo.
— Bem, isso não é nada engraçado.
Aiden passou por mim. — Desculpe. Você provavelmente vai desejar ter
ficado na enfermaria.
— Oh, eu aposto que não é o caso. — Deacon encontrou meu olhar com um
sorriso travesso, — De qualquer forma, você comemorou o Dia dos Namorados
enquanto estava confraternizando com os pobres mortais?
Eu pisquei. — Não realmente. Por quê?
Aiden bufou e desapareceu em um dos quartos.
— Siga-me. — disse Deacon. — Você vai amar isto. Eu apenas tenho a
certeza.
Eu o segui pelo corredor mal iluminado e pouco decorado. Passamos por
várias portas fechadas e uma escada em espiral. Deacon passou por um arco e
parou, alcançado algo na parede. Luz inundou a sala. Era uma marquise típica,
com janelas do chão ao teto de vidro, móveis de vime e plantas coloridas.
Deacon parou perto de um pequeno vaso de plantas sobre uma mesa de café
cerâmica. Parecia um pinheiro em miniatura que estava faltando vários membros.
Metade das agulhas estavam espalhadas em torno do vaso. Havia uma lâmpada
vermelha de Natal pendurada no galho mais alto, fazendo com que a árvore se
inclinasse para a direita.
— O que você acha? — Deacon perguntou.
— Hum... Bem, isso é realmente uma árvore de Natal diferente, mas eu não
tenho certeza do que isso tem a ver com o Dia dos Namorados.
— Isso é triste. — disse Aiden, entrando na sala. — É realmente embaraçoso
de olhar. Que tipo de árvore é, Deacon?
Ele sorriu. — É chamado de Árvore de Natal Charlie Brown25.
Aiden revirou os olhos. — Deacon tira essa coisa todos os anos. O pinheiro
não é sequer verdadeiro. E ele o deixa do dia de Ação de Graças até o Dia dos
Namorados, o que, graças aos deuses, é o dia depois de amanhã. Isso significa
que ele vai guardá-lo.
Corri meus dedos sobre as agulhas de plástico. — Eu vi o desenho animado.
Deacon vaporizou algo de uma lata de aerosol. — É a minha árvore AFM.
— Árvore AFM? — Questionei.
— Árvore dos Feriados dos Mortais. — Explicou Deacon, e sorriu. — Ela
abrange os três principais feriados. Durante Ação de Graças fica uma lâmpada
marrom, uma verde para o Natal, e uma vermelha para o Dia dos Namorados.
— E sobre a véspera de Ano Novo?
Ele baixou o queixo. — Agora, isso é realmente um feriado?
25 Charlie Brown é o protagonista da história de quadradinhos Peanut, e há um episódio de
Natal em que o menino faz uma árvore de natal exatamente como a que Deacon copiou.
— Os mortais pensam assim. — Cruzei os braços.
— Mas eles estão errados. O Ano Novo é durante o solstício de verão. —
Disse o Deacon. — A matemática deles está completamente errada, como a
maioria de seus costumes. Por exemplo, você sabia que o Dia dos Namorados não
era realmente sobre o amor até que Geoffrey Chaucer fez toda aquela coisa de
amor cortês na Idade Média Alta?
— Vocês são tão estranhos. — Sorri para os irmãos.
— Isso somos. — Aiden respondeu. — Vamos, eu vou te mostrar o seu
quarto.
— Ei Alex. — Deacon chamou. — Nós vamos fazer biscoitos amanhã, já que
é véspera de São Valentim.
Fazer biscoitos na véspera do Dia dos Namorados? Eu nem sequer sabia se
havia tal coisa como a Véspera do Dia dos Namorados. Eu ri enquanto seguia
Aiden para fora da sala. — Vocês dois realmente são opostos.
— Eu sou mais legal! — Deacon gritou de seu quarto com a Árvore dos
Feriados dos Mortais.
Aiden liderou as escadas. — Às vezes eu acho que um de nós foi trocado no
momento do nascimento. Nós nem sequer somos parecidos.
— Isso não é verdade. — Peguei a guirlanda decorativa cobrindo o corrimão
de mármore. — Seus olhos são iguais.
Ele sorriu por cima do ombro. — Eu raramente fico aqui. Deacon vem de vez
em quando, e os membros do Conselho que estão visitando ficam aqui, às vezes.
A casa está geralmente vazia.
Eu lembrei o que Deacon tinha dito sobre esta casa. Querendo dizer alguma
coisa, mas sem saber o que dizer, eu fui atrás dele silenciosamente.
Nos últimos dois dias, Aiden tinha ficado ao meu lado constantemente.
Como antes de todo o incidente, nós conversamos sobre coisas estúpidas e
vazias. E ele não tinha sido capaz de conseguir o número de Olivia para mim.
Tudo o que ele tinha acesso era o número da mãe dela.
— Deacon fica em um dos quartos do andar de baixo. Eu vou ficar aqui. —
Fez um gesto para o primeiro quarto, chamando minha atenção.
O desejo de ver seu quarto era demais para resistir. Olhei para dentro. Como
o da cabana, havia apenas o essencial. Roupas estavam cuidadosamente
dobradas em uma cadeira ao lado da cama enorme. Não havia fotos ou objetos
pessoais. — Este quarto era seu quando era mais jovem?
— Não. — Aiden encostou-se à parede do corredor, me olhando com os olhos
encapuzados26. — Meu antigo quarto é o atual de Deacon. Lá tem todas as coisas
que Deacon queria. Este aqui é um dos quartos de hóspedes. — Ele se
desencostou da parede. — O seu é ao fundo do corredor. É um quarto mais
agradável.
Eu me afastei do seu quarto. Passamos por várias portas fechadas, mas uma
das portas duplas fechadas era decorada com incrustações de titânio. Eu
suspeitava que tivesse sido o quarto de seus pais.
Aiden abriu uma porta no fim do corredor carpetado e acendeu a luz.
Deslizando por ele, minha boca caiu aberta. O quarto era enorme e belo. Tapete
de pelúcia cobria os pisos, cortinas pesadas bloqueavam a janela, e minhas
malas e itens pessoais estavam empilhados ordenadamente em cima de uma
cômoda. Uma televisão de tela plana estava pendurada na parede e a cama era
grande o suficiente para quatro pessoas. Avistei um banheiro com uma enorme
banheira e meu coração ficou todo trêmulo.
Vendo minha expressão deslumbrada, Aiden riu. — Achei que você gostaria
deste quarto.
Olhei dentro do banheiro, suspirando. — Eu quero me casar com aquela
banheira. — Eu me virei, sorrindo para Aiden. — Isto é como ir a um desses
hotéis altamente caros, exceto que tudo é de graça.
26 No sentido de não mostrarem as suas emoções.
Ele deu de ombros. — Eu não sei nada sobre isso.
— Talvez não para você e toda a sua riqueza infinita. — Eu me inclinei para
a janela e abri as cortinas. Vista para o mar. Legal. A lua refletia nas águas
paradas de cor ônix.
— Esse dinheiro não é realmente meu. É dos meus pais.
Que o torna dele e do Deacon, mas eu não o pressionei. — A casa é
realmente muito bonita.
— Há dias em que é mais bonita do que outros.
Senti meu rosto corar. Pressionei minha testa contra a janela fria. — De
quem foi a ideia de eu ficar aqui?
— Foi um esforço conjunto. Depois... do que aconteceu, não havia nenhuma
maneira que você poderia ficar no dormitório.
— Não posso ficar aqui para sempre. — Eu disse calmamente. — Uma vez
que as aulas recomecem, eu preciso estar na outra ilha.
— Nós vamos descobrir alguma coisa quando chegar a hora. — Disse ele. —
Não se preocupe com isso agora. É meia-noite. Você tem que estar cansada.
Soltando as cortinas, eu o enfrentei. Ele estava ao lado da porta, mãos
enroladas em punhos. — Eu não estou cansada. Estive presa no quarto do
hospital e na cama pelo que me pareceu ser a eternidade.
Ele inclinou a cabeça para o lado. — Como você está se sentindo?
— Tudo bem. — Bati no meu estômago. — Eu não estou quebrada, você
sabe.
Aiden ficou quieto por alguns momentos, e então ele sorriu um pouco. —
Quer algo para beber?
— Você está tentando me embebedar, Aiden? Estou chocada.
Ele arqueou uma sobrancelha. — Eu estava pensando mais em algo do tipo
chocolate quente para você.
Eu sorri. — E para você?
Virando-se, ele saiu do quarto. — Algo que eu tenho idade suficiente para
beber.
Revirei os olhos, mas seguiu-o para fora do quarto. Aiden me fez chocolate
quente com marshmallows pequenos e ele não bebeu nada além de uma garrafa
de água. Ele, então, me levou para um rápido passeio na casa. Era semelhante à
de Lucian, ricamente grande, mais quartos do que qualquer um poderia precisar
na vida em sua propriedade pessoal, que provavelmente vale mais do que a
minha vida. O quarto de Deacon era perto da cozinha, com a entrada através de
uma porta de titânio, sob as escadas.
Bebendo a minha bebida, eu ri quando Aiden tentou endireitar a lâmpada na
AFM do Deacon. Eu andei ao redor da sala, procurando algum tipo de coisa
pessoal. Não havia uma única foto da família St. Delphi. Nada que provaria que
eles sequer existiram.
Aiden ficou na frente de uma sala com porta fechada, a que ele não tinha me
mostrado no mini-tour. — Como está o chocolate?
Eu sorri. — Está perfeito.
Ele colocou sua água sobre a mesa de café e cruzou os braços. — Eu tenho
estado pensando sobre o que Apollo disse.
— Em que parte da loucura você está pensando? — Observei-o por cima da
borda da minha caneca, amando o jeito que ele sorria em resposta às coisas
estúpidas que saíam da minha boca. Isso tinha que ser amor verdadeiro, eu
decidi.
— Você não deve ficar com Lucian quando ele retornar.
Baixei minha caneca. — Por quê?
— Apollo tem um ponto sobre Seth. Você está em perigo por causa dele.
Quanto mais longe dele você ficar, mais segura você estará.
— Aiden...
— Eu sei que você se preocupa com ele, mas você suspeita que Seth não foi
honesto com você. — Aiden avançou e caiu em uma cadeira. Seu olhar baixou e
os pesados cílios espalharam por suas bochechas. — Você não deveria estar perto
dele, não quando ele pode entrar e sair da casa de Lucian à vontade.
Aiden tinha um ponto. Eu dei-lhe isso, mas eu duvidava seriamente que era
toda a razão. — E você se sente assim só por causa do que Apollo disse?
— Não. É mais do que isso.
— Você não gosta de Seth? — Perguntei inocentemente, colocando minha
caneca para baixo.
Ele sorriu. — Além disso, Alex, ele não foi honesto sobre um monte de
coisas. Ele mentiu sobre saber como um Apollyon é criado, sobre a Ordem, e há
uma boa chance de que ele está... dando-lhe as marcas de propósito.
— Ok, além de todas estas razões?
Ele olhou para mim. — Bem, eu não gosto do fato de que você está se
contentando com ele.
Revirei os olhos. — Eu odeio quando você diz isso.
— É a verdade. — Ele disse simplesmente.
Irritação começou a queimar abaixo da minha pele. — Isso não é verdade.
Eu não estou me contentando com Seth.
— Deixe-me fazer uma pergunta, então. — Aiden se inclinou para frente. —
Se você pudesse ter... quem você queria, você estaria com Seth?
Eu olhei para ele, um pouco chocada que ele falou isso. E realmente não era
uma pergunta justa. O que eu poderia responder a isso?
— Exatamente. — Ele sentou-se, sorrindo presunçosamente.
Uma emoção forte soprou através de mim. — Por que você não pode
simplesmente admitir isso?
— Admitir o quê?
— Que você está com ciúmes de Seth. — Esse era um daqueles momentos
em que eu precisava calar a boca, mas não podia. Estava com raiva e emocionada
ao mesmo tempo. — Você está com ciúmes do fato de que eu posso estar com
Seth, se quiser estar.
Aiden sorriu. — Aí está. Você mesma disse. Estaria com Seth se você
quisesse estar. Obviamente você não quer, então por que você está com ele? Você
está se contentando.
— Ugh! — Minhas mãos se fecharam em punhos e eu queria bater meu pé.
— Você é absolutamente a pessoa mais frustrante que eu conheço. Certo. Tanto
faz. Você não está com ciúmes de Seth ou do fato de que ele está dormindo na
minha cama pelos dois últimos meses, porque é claro, você não queria que fosse
você lá.
Algo perigoso queimou em seus olhos prateados.
Com meu rosto em chamas, eu queria me bater. Por que eu disse isso? Para
irritá-lo e fazer-me de boba? Eu consegui um pouco de ambos.
— Alex. — Disse ele, a voz baixa e enganosamente suave.
— Esqueça. — Comecei a passar por ele, mas sua mão disparou tão rápido
como uma serpente impressionante. Um segundo eu estava andando e no
próximo eu estava em seu colo, montada nele. Com olhos e coração trovejando,
olhei para ele.
— Tudo bem. — disse ele, segurando meus braços. — Você está certa. Eu
tenho ciúmes do idiota. Feliz?
Em vez de comemorar a glória de tê-lo feito admitir que eu estava certa,
coloquei minhas mãos em seus ombros e me deleitei com algo totalmente
diferente. — Eu... eu sempre esqueço o quão rápido você pode se mover quando
quer.
Um sorriso pequeno e estranho jogou sobre seus lábios. — Você não viu
nada ainda, Alex.
Meu pulso entrou em parada cardíaca. Eu tinha terminado de discutir, - de
falar na verdade. Outras coisas estavam na minha mente. E eu sabia que ele
estava pensando a mesma coisa. Suas mãos deslizaram de meus braços para os
meus quadris. Ele me puxou para frente, a minha parte mais macia pressionada
contra sua dureza.
Nossas bocas não se tocaram, mas o resto de nossos corpos fez. Nenhum de
nós se moveu. Havia algo primitivo no olhar de Aiden, totalmente possessivo. Eu
tremi, - mas um bom tipo de arrepio. Tudo o que eu conseguia pensar era em
como era bom, como seu corpo ficava perfeitamente encaixado pressionando
contra o meu.
Coloquei as mãos no seu rosto e então deslizei os dedos pelo seu cabelo,
espantada que a intensidade do que eu estava sentindo era mais forte do que
qualquer vínculo com Seth. Deliciosas sensações rolaram através de mim quando
suas mãos apertaram meus quadris, e quando ele balançou contra mim, a
maneira que suas mãos tremeram e a maneira poderosa como seu corpo se
tencionou me desfizeram completamente.
— Há algo que eu preciso te dizer. — Ele sussurrou, seus olhos procurando
os meus. — Que eu devia ter dito…
— Não agora. — Palavras iriam estragar as coisas. Elas traziam a lógica e a
realidade para o jogo. Baixei a boca para a dele.
Uma luz do corredor ligou fora da sala.
Eu pulei longe de Aiden, como se tivesse pegado fogo. De vários metros de
distância, eu lutava para recuperar o fôlego enquanto meus olhos se encontraram
com os de Aiden. Ele saiu da cadeira, seu peito subindo e descendo rapidamente.
Houve um segundo quando eu pensei que ele ia mandar tudo para o inferno e me
puxar de volta em seus braços, mas o som de passos invadindo bateu algum
sentido nele. Fechando os olhos, ele inclinou a cabeça para trás e exalou alto.
Sem dizer uma palavra, eu girei e saí da sala. Passei por um sonolento
Deacon de aparência confusa no corredor.
— Estou com sede. — Disse ele, esfregando os olhos.
Murmurando algo que parecia boa noite, eu fugi para cima. Uma vez dentro
do quarto, caí na cama e olhei para o teto.
As coisas simplesmente não eram para acontecer entre nós. Quantas vezes
tínhamos sido interrompidos? Parecia não importar o quão forte era a nossa
ligação, a nossa atração. Algo sempre ficava no caminho.
Completamente vestida, rolei para o meu lado e me enrolei em uma bola. Eu
queria chutar todo mundo que achava que eu ficar na casa de Aiden era uma boa
ideia. Nós - eu - tinha problemas suficientes agora sem me jogar no Aiden.
Não que eu realmente tenha me jogado para ele desta vez... nem na última
vez. Oh inferno...
Alcancei sob minha camisa e senti a cicatriz abaixo do meu peito. O ato
serviu como um lembrete doloroso que minha vida amorosa, ou a falta dela, não
eram o meu maior problema.
A
Vinte e Um
primeira coisa que fiz quando acordei foi tomar um banho
agradável e luxuoso na banheira. Eu fiquei nela até que minha pele começou a
enrugar e mesmo assim foi difícil me puxar para fora.
Era o paraíso em um banheiro.
Depois disso, eu desci as escadas e encontrei Deacon esparramado em um
sofá na sala de recreação. Batendo as suas pernas de lado, eu me sentei. Ele
estava assistindo as reprises de Supernatural. — Boa escolha. — Comentei. —
Eles são dois irmãos que eu gostaria de encontrar na vida real.
— Verdade. — Deacon bateu os cachos selvagens fora de seus olhos. — É o
que eu vejo quando não estou em sala de aula ou fingindo estar na aula.
Eu sorri. — Aiden iria matá-lo se ele soubesse que você mata aula.
Ele chutou as pernas e deixou-as cair no meu colo. — Eu sei. Parei com a
coisa de matar aula.
Ele também cortou a coisa de beber. Eu olhei para ele. Talvez Luke era uma
boa influência sobre ele. — Você não vai fazer nada de especial para Dia dos
Namorados? — Perguntei.
Seus lábios franziram. — Agora, por que você perguntou isso, Alex? Não
celebramos o Dia dos Namorados.
— Mas você sim. Não teria essa… árvore se não celebrasse.
— E você? — Ele perguntou, seus olhos cinzas dançando. — Eu posso jurar
que vi Aiden na joalheri...
— Cale a boca! — Bati-lhe no estômago com uma almofada, — Pare de dizer
coisas assim. Nada está acontecendo.
Deacon sorriu, e nós vimos o resto dos episódios que ele gravou. Já era de
tarde quando eu consegui a coragem para perguntar onde estava Aiden. — Ele
estava do lado de fora com a Guarda na última vez que eu verifiquei.
— Oh.
Parte de mim estava feliz que Aiden estava fazendo a coisa de babá lá fora.
Minhas bochechas pegaram fogo só de pensar em nós na cadeira ontem à noite.
— Então, vocês dois ficaram acordados até muito tarde. — disse o Deacon.
Eu mantive minha expressão vazia. — Ele estava me mostrando a casa.
— Isso é tudo o que ele estava mostrando a você?
Chocada, eu ri quando virei para ele. — Sim! Deacon, credo.
— O quê? — Ele se sentou e balançou as pernas do meu colo. — Foi só uma
pergunta inocente.
— Tanto faz. — Eu o vi levantar-se. — Onde você vai?
— Para os dormitórios. Luke ainda está lá. Você é mais que bem-vinda para
vir, mas eu duvido que Aiden vai deixar você sair desta casa.
Puros e mestiços poderiam ser amigos casuais, especialmente quando eles
estavam na escola juntos, e muitos deles eram, embora não tanto desde os
ataques daimons no início do ano letivo. Zarak não tinha feito nenhuma de suas
grandes festas recentemente. Mas, um mestiço ficar passeando na casa de um
puro, iria levantar questões.
— O que vocês dois vão fazer? — Perguntei.
Deacon piscou quando ele saiu da sala. — Ah, eu tenho certeza que a
mesma coisa que você e meu irmão estavam fazendo ontem à noite. Você sabe,
ele vai me mostrar o dormitório.
Algumas horas depois, Deacon e Aiden finalmente retornaram. Evitando o
meu olhar, ele foi direto para cima. Deacon deu de ombros e convenceu-me a
fazer biscoitos com ele.
Quando Aiden finalmente desceu, ele permaneceu na cozinha enquanto
Deacon e eu fizemos biscoitos. Eu fiquei babando nele - vestido de jeans e uma
camisa de mangas longas, - por tanto tempo, que Deacon me deu uma cotovelada
na minha lateral. Uma vez que Aiden relaxou, ele brincou com seu irmão. De vez
em quando nossos olhos se encontravam e eletricidade dançava sobre a minha
pele.
Depois de comer o equivalente ao nosso peso em massa de biscoito cru,
todos nós terminamos na sala de estar, afundando em sofás maiores do que as
camas da maioria das pessoas. Deacon controlou a TV por quatro horas seguidas
antes de ir para a cama e Aiden saiu para o check-in com os Guardas - por que,
eu não tinha ideia. Eu percorri a casa. O que Aiden queria me dizer antes que eu
lhe dissesse para parar? Ele tinha estado pronto para falar, como tinha sugerido,
quando eu ainda estava na clínica de medicina? Inquieta, encontrei-me na sala
da árvore AFM.
Eu cutuquei uma das lâmpadas, sorrindo quando ela balançou para frente e
para trás. Deacon era tão bizarro. Quem tinha uma Árvore dos Feriados dos
Mortais? Tão estranho.
Já era tarde, e eu deveria ter ido para cama, mas a ideia de dormir era
desagradável. Cheia de energia e inquieta, eu fui andar pela sala até chegar a
uma parada em frente à porta. Curiosa, e com nada melhor para fazer, eu tentei a
maçaneta e a encontrei destrancada. Olhando por cima do meu ombro, eu abri a
porta e arrastei-me dentro do comodo suavemente iluminado. E então percebi
porque Aiden tinha mantido esta sala fora de sua turnê.
Todo tipo de coisas pessoais lotavam a sala circular. Fotos de Aiden cobriam
as paredes, narrando sua infância. Havia fotos de Deacon como um garotinho
precoce, cabeça cheia de cachos loiros e bochechas rechonchudas que sugeria
feições delicadas.
Parei em frente à uma de Aiden e senti meu peito apertar. Ele devia estar
com seis ou sete anos. Cachos escuros caíam em seu rosto, em vez das ondas
mais soltas que ele tinha agora. Ele era adorável, todo olhos cinzentos e lábios.
Havia uma foto dele com Deacon. Aiden tinha, provavelmente, em torno de 10
anos ou algo assim e ele tinha um braço magro caído sobre os ombros de seu
irmão mais novo. A câmera tinha capturado os dois rapazes rindo.
Movendo-me para um sofá estofado, eu lentamente peguei o porta-retratos
de titânio que estava na lareira. Minha respiração ficou presa.
Era de seus pais - sua mãe e seu pai.
Eles estavam atrás de Deacon e Aiden, com as mãos sobre os ombros dos
meninos. Atrás deles, o céu era de um azul brilhante. Era fácil dizer qual menino
era mais parecido com qual pai. Sua mãe tinha o cabelo da cor de seda de milho
que caía pelos ombros em cachos elásticos. Ela era linda, como todos os puros
eram, com traços delicados e risonhos olhos azuis. Foi chocante, porém, quanto
Aiden parecia com seu pai. Desde o cabelo quase-preto e os olhos penetrantes de
prata, ele era uma réplica exata.
Não parece justo que seus pais foram levados tão jovens, roubados de ver
seus meninos crescerem. E Aiden e Deacon tinham perdido tanto.
Eu corri meu polegar sobre a borda da fotografia. Por que Aiden fechou todas
essas memórias? Ele vinha aqui? Olhando ao redor da sala, vi um violão apoiado
ao lado de uma pilha de livros e quadrinhos. Este era o seu quarto, eu percebi.
Um lugar onde ele achava que estava tudo bem para lembrar seus pais e talvez
fugir.
Voltei minha atenção para a foto e tentei imaginar a minha mãe e pai. Se
puros e mestiços fossem autorizados a estar juntos, nós teríamos momentos
como estes? Fechando os olhos, tentei imaginar nós três. Minha mãe não era
difícil lembrar agora. Eu podia vê-la antes da transformação, mas o meu pai tinha
a marca da escravidão em sua testa e não importa o que eu fizesse, a lembrança
não iria embora.
— Você não deveria estar aqui.
Assustada, eu me virei, segurando a moldura para o meu peito. Aiden estava
na porta, braços esticados ao lado do corpo. Ele andou pelo quarto e parou na
minha frente. Sombras esconderam sua expressão. — O que você está fazendo?
— Ele exigiu.
— Eu estava apenas curiosa. A porta não estava trancada. — Engoli
nervosamente. — Não estou aqui há muito tempo de qualquer maneira.
Seu olhar caiu e seus ombros se enrijeceram. Ele arrancou a imagem dos
meus dedos e colocou de volta na prateleira. Sem falar, ele se inclinou e colocou
as mãos sobre os gravetos. Fogo deflagrou e cresceu imediatamente. Ele pegou
uma vara.
Envergonhada e machucada por sua frieza repentina, eu recuei. — Sinto
muito. — Sussurrei.
Ele cutucou o fogo, sua espinha rígida.
— Eu vou embora. — Voltei-me, e de repente ele estava na minha frente.
Meu coração tropeçou.
Ele apertou o meu braço. — Não, fique.
Eu procurei seus olhos atentamente, mas não consegui ganhar nada deles.
— Ok.
Aiden respirou fundo e soltou o meu braço. — Gostaria de algo para beber?
Abraçando meus cotovelos, eu assenti. Este quarto era seu santuário, um
memorial silencioso para a família que ele tinha perdido, e eu tinha invadido. Eu
duvidava que até Deacon se atrevesse a pisar aqui. Essas coisas de invasão tem
que ser só comigo.
Atrás do bar, Aiden puxou duas taças de vinho e abaixou-as. Preenchendo-
as, ele olhou para mim. — Vinho está bem?
— Sim. — Minha garganta estava seca e apertada. — Eu realmente sinto
muito, Aiden. Eu não devia ter vindo aqui.
— Pare de pedir desculpas. — Ele veio ao redor do bar e me entregou um
copo.
Peguei-o, esperando que ele não percebesse como os meus dedos tremiam. O
vinho era doce e suave, mas não se contentou em meu estômago direito.
— Não queria ter falado com você daquele jeito. — Disse ele, movendo-se em
direção ao fogo. — Fiquei apenas surpreso de ver você aqui.
— É... uh, um bom quarto. — Me senti uma idiota por dizer isso.
Seus lábios se inclinaram nos cantos.
— Aiden...
Ele olhou para mim por tanto tempo que pensei que ele nunca iria falar e
quando ele fez não era o que eu esperava. — Depois do que aconteceu com você
em Gatlinburg, lembrei-me do que tinha sido para mim... depois do que
aconteceu com os meus pais. Eu tinha pesadelos. Podia ouvir... ouvir seus gritos
uma e outra vez pelo que pareciam anos. Eu nunca disse isso. Talvez eu devesse
ter dito. Poderia ter ajudado você.
Sentei-me na ponta do sofá, apertando o copo frágil.
Aiden encarou o fogo, tomando um gole de vinho. — Você se lembra do dia
no ginásio, quando você me contou sobre seus pesadelos? Isso ficou comigo, seu
medo de Eric e seu retorno. — Continuou ele. — Tudo o que eu pensava era, e se
um dos daimons tivesse escapado do ataque dos meus pais? Como eu poderia ter
seguido em frente?
Eric era o daimon que escapou de Gatlinburg. Eu não tinha parado de
pensar nele, mas ouvir seu nome atou o meu estômago. Metade das marcas em
meu corpo foram graças a ele.
— Eu pensei que tirar você de lá, levando-a ao zoológico ajudaria a deixar
sua mente fora das coisas, mas eu tive... eu tive que fazer mais. Entrei em
contato com alguns dos Sentinelas por aqui. Eu sabia que Eric não teria ido
longe, não depois que ele sabia o que você era e tinha provado o seu éter. — Disse
ele, — Com base em Caleb e sua descrição, não foi difícil encontrá-lo. Ele estava
perto de Raleigh.
— O quê? — O nó cresceu, — Raleigh é tipo, a menos de cem quilômetros
daqui.
Ele acenou com a cabeça. — Assim que foi confirmado que era ele, eu saí.
Leon - Apollo - foi comigo.
No começo, eu não conseguia descobrir quando ele poderia ter feito isso,
mas então me lembrei daquelas semanas depois que eu disse a ele que o amava e
ele terminou nossas sessões de treinamento. Aiden tinha tido tempo para fazer
isso sem eu nunca saber. — O que aconteceu?
— Nós o encontramos. — Ele sorriu sem graça antes de voltar para o fogo. —
Eu não o matei imediatamente. Não sei o que isso diz sobre mim. No final, acho
que ele realmente se arrependeu apenas por saber da sua existência.
Eu não sabia o que dizer. Parte de mim estava impressionada com o fato de
que ele tinha ido tão longe por mim. A outra parte estava um pouco horrorizada
com isso.
Debaixo da pessoa calma e controlada que Aiden usava como uma segunda
pele havia algo escuro, um lado dele que eu só tinha vislumbrado. Olhei para o
seu perfil, de repente percebendo que eu não tinha sido justa com Aiden. Eu
coloquei-o sobre este pedestal muito alto, onde ele era absolutamente impecável
em minha mente. Aiden não era impecável.
Engoli um gole de meu vinho. — Por que você não me contou?
— Nós realmente não estávamos em condições de conversar, e como eu
poderia te dizer? — Ele riu asperamente, — Não era como uma caça normal aos
daimons. Não foi uma morte precisa e humana como nós somos ensinados.
O Covenant basicamente nos ensinou a não brincar com nossas mortes, por
assim dizer. Que mesmo que o daimon fosse além da salvação, ele tinha sido um
puro-sangue... Ou um meio-sangue. Ainda assim, por mais perturbador que seja
saber que Aiden tinha provavelmente torturado Eric, eu não estava aborrecida
com ele.
Os deuses sabem o que isso diz sobre mim.
— Obrigada. — Eu disse finalmente.
Sua cabeça virou na minha direção bruscamente. — Não me agradeça por
algo parecido. Eu não fiz apenas por...
— Você não fez isso só por mim. Você fez isso por causa do que aconteceu
com a sua família. — E eu sabia que estava certa. Não foi tanto que ele tinha feito
isso por mim. Era a sua maneira de se vingar. Não estava certo, mas eu entendi.
E no lugar dele eu teria provavelmente feito a mesma coisa e mais.
Aiden ficou imóvel. As chamas enviaram um brilho quente sobre seu perfil
quando ele olhou para seu copo. — Nós estávamos visitando amigos de meu pai
em Nashville. Eu não os conhecia muito bem, mas eles tinham uma filha que era
da minha idade. Pensei que nós estávamos de férias antes do início da escola,
mas logo que chegamos lá, minha mãe praticamente me empurrou na direção
dela. Ela era uma coisa minúscula, com o cabelo loiro pálido e esses olhos verdes.
Ele respirou fundo, os dedos apertados em torno da haste frágil do copo. —
O nome dela era Helen. Olhando para trás, eu sei por que meus pais quiseram
que eu passasse tanto tempo com ela, mas por alguma razão, na altura não
entendi.
Eu engoli. — Ela era sua companheira?
Um sorriso triste apareceu. — Eu realmente não queria ter nada a ver com
ela. Passei a maior parte do meu tempo como uma sombra dos Guardas mestiços,
enquanto eles treinavam. Minha mãe estava tão chateada comigo, mas eu me
lembro do meu pai rindo sobre isso. Dizendo-lhe para me dar algum tempo, e
deixar a natureza seguir seu curso. Que eu ainda era muito menino e que a luta
dos homens me interessaria mais do que as meninas bonitas.
Havia um nó se formando em meu peito. Sentei-me de volta, o copo de vinho
esquecido.
— Era noite quando eles vieram. — Seus cílios grossos espalharam por suas
bochechas quando seus olhos baixaram, — Eu ouvi a luta lá fora. Levantei-me e
olhei para fora da janela. Eu não conseguia ver nada, mas eu sabia. Houve um
barulho lá embaixo e eu acordei Deacon. Ele não entendia o que estava
acontecendo ou por que eu estava fazendo ele se esconder no armário e cobrir-se
com roupas. Tudo aconteceu tão rápido depois disso. — Ele tomou um gole do
vinho e depois colocou o copo sobre a borda. — Havia apenas dois daimons, mas
eles controlavam o fogo. Eles eliminaram três Guardas, queimando-os vivos.
Eu queria que ele parasse, porque sabia o que estava por vir, mas ele tinha
que tirar isso do peito. Eu duvidava que ele já tivesse colocado aquela noite em
palavras, e eu precisava lidar com isso.
— Meu pai estava tentando jogar o elemento contra eles. Os Guardas
estavam caindo à esquerda e direita. Helen foi despertada pela comoção, e eu
tentei mandá-la ficar no andar de cima, mas ela viu um dos daimons atacar seu
pai - rasgando a garganta dele bem na frente dela. Ela gritou e... eu nunca me
vou esquecer do som. — Um olhar distante rastejou em seu rosto quando ele
continuou, quase como se ele estivesse lá, — Meu pai se assegurou de que minha
mãe conseguiria subir as escadas, mas então eu não podia vê-lo mais. Eu o ouvi
gritar e eu apenas... — Ele balançou a cabeça, — fiquei lá. Aterrorizado.
— Aiden, você era apenas um menino.
Ele assentiu distraidamente. — Minha mãe gritou comigo para pegar Deacon
e levá-lo para fora de casa com Helen. Eu não queria deixá-la, então eu comecei a
descer as escadas. O daimon veio do nada, agarrando-a pelo pescoço. Ela estava
olhando para mim, quando ele quebrou seu pescoço. Seus olhos... apenas
nublaram. E Helen... Helen estava gritando e gritando. Ela não iria parar. Eu
sabia que ele ia matá-la também. Eu comecei a correr as escadas, e eu agarrei-
lhe a mão. Ela estava em pânico e lutando contra mim. Isso nos deixou mais
lentos. O daimon nos alcançou e ele agarrou Helen primeiro. Ela ficou em
chamas. Simples assim.
Engoli em seco. Lágrimas queimaram meus olhos. Isso... isso era mais
terrível do que eu imaginava, e me lembrou do menino que o daimon que tinha
queimado em Atlanta.
Aiden virou-se para o fogo. — O daimon foi atrás de mim depois. Eu não sei
por que ele me poupou do fogo e atirou-me para o chão, mas eu sabia que ele
estava indo para drenar meu éter. Então, havia esse Guarda que tinha sido
queimado lá embaixo. De alguma forma, e enfrentando o que deve ter sido o pior
tipo de dor, ele conseguiu subir as escadas e matou o daimon.
Ele me encarou e não havia qualquer dor em sua expressão. Talvez tristeza e
arrependimento, mas havia também um pouco de admiração. — Ele era um meio-
sangue. Um dos que eu ficava seguindo pela casa. Ele tinha, provavelmente, a
minha idade agora, e você sabe, em toda essa dor horrível, ele ainda fez o seu
dever. Ele salvou minha vida e a de Deacon. Descobri alguns dias depois que ele
havia sucumbido às queimaduras. Eu nunca tive a chance de agradecer a ele.
Sua tolerância aos mestiços fazia sentido. As ações de um Guarda haviam
mudado séculos de crenças em um menino, transformando prejuízo, em
reverência. Não era de admirar que Aiden nunca visse diferença entre mestiços e
puros.
Aiden fez o seu caminho até mim e se sentou. Ele encontrou meu olhar. — É
por isso que eu escolhi me tornar um Sentinela. Não tanto por causa do que
aconteceu com os meus pais, mas por causa do meio-sangue que morreu para
salvar a minha vida e do meu irmão.
Eu não sabia o que dizer ou se havia algo que podia falar. Então, coloquei
minha mão em seu braço enquanto pisquei as lágrimas.
Ele colocou sua mão sobre a minha quando desviou o olhar. Um músculo
trabalhou em sua mandíbula. — Deuses, eu não acho que alguma vez falei com
ninguém sobre aquela noite.
— Nem mesmo Deacon?
Aiden balançou a cabeça.
— Eu me sinto honrada... Que você partilhou isso comigo. Eu sei que é
muito. — Apertei seu braço, — Só queria que você nunca tivesse tido uma
experiência assim. Não foi justo para nenhum de vocês.
Vários momentos se passaram antes que ele respondesse. — Eu tive justiça
para esses daimons, pelo que fizeram para mim. Eu sei que é diferente do que
você passou, mas queria dar-lhe essa justiça. Eu gostaria de ter dito antes.
— Um monte de coisas estava acontecendo. — Eu disse. Nós não estávamos
nos falando, e depois aconteceu a morte de Caleb. Meu coração não apertou tão
dolorosamente como costumava com seu nome. — Eu entendo o que aconteceu
com Eric.
Ele sorriu um pouco. — Foi uma reação instintiva.
— Sim. — Procurei algo para distrair nossas mentes. Nós dois precisávamos.
Meu olhar encontrou o violão encostado na parede. — Toque algo para mim.
Ele se levantou e pegou o violão com reverência. Caminhando de volta para o
sofá, sentou-se no chão em frente de mim. Ele inclinou a cabeça para baixo e
mechas de cabelo caíram para frente enquanto ele brincava com os botões ao
longo do cabeçote. Seus dedos longos passavam pelas cordas tensas.
Ele olhou para cima, seus lábios derrubando em um meio sorriso. — Não
vale. — Ele murmurou, — Você sabia que eu não iria recusar.
Deitei-me de lado lentamente. Meu estômago raramente doía, mas eu tinha
me acostumado a ser cuidadosa. — Você sabe disso.
Aiden riu quando ele zumbia seus dedos nas cordas levemente. Depois de
mais alguns momentos ajustando o tom, ele começou a tocar. A canção era tão
assustadora quanto suave, lançando alto em algumas notas, e então seus dedos
deslizavam para baixo suavizando os acordes. Minhas suspeitas foram
confirmadas. Aiden sabia tocar. Não houve um erro, nem vacilo.
Ele me extasiou.
Descansando minha cabeça no travesseiro, eu me enrolei e fechei os olhos,
deixando a melodia encher a sala e flutuar sobre mim. O que fosse que ele estava
tocando no violão era calmante, como a canção de ninar perfeita. Um sorriso
puxou meus lábios. Eu poderia perfeitamente vê-lo sentado na frente de um bar
lotado, tocando músicas que encantariam a todos na sala.
Quando a música terminou, eu abri meus olhos. Ele estava olhando para
mim, o olhar tão suave, tão profundo, que eu nunca queria desviar o olhar. —
Isso foi lindo.
Aiden deu de ombros e gentilmente colocou o violão ao lado dele. Ele
estendeu a mão, cuidadosamente, pegando a taça de vinho mal tocada de meus
dedos.
Meus olhos o seguiram quando ele tomou um gole, e então colocou o copo de
lado, também. Minutos poderiam ter passado enquanto olhávamos um para o
outro, nenhum de nós falando.
Eu não sei o que deu em mim, mas estendi a mão e a coloquei em seu peito,
ao lado de seu coração. Sob a minha mão direita, havia algo duro e em forma de
lágrima debaixo de sua camisa. Eu senti o colar antes e nunca prestei muita
atenção, mas agora havia algo... familiar sobre ele.
Tomei um suspiro agudo quando a compreensão passou por mim. Aiden
olhou para mim intensamente em resposta, os olhos incrivelmente brilhantes.
Um arrepio percorreu minha espinha, se espalhando por toda a minha pele com
uma velocidade estonteante. Eu subi, deslizando os dedos sob a corrente fina.
— Alex... — Aiden ordenou, pediu realmente. Sua voz estava grossa, áspera.
— Alex, por favor...
Eu hesitei por um instante, mas eu tinha que vê-lo. Eu só tinha que fazer.
Com cuidado, puxei a corrente para cima. Minha respiração ficou presa na minha
garganta quando levantei a corrente até que ela estava completamente para fora
de sua camisa.
Pendendo da corrente de prata, estava a palheta preta que eu tinha dado a
ele no seu aniversário. No dia que eu tinha dado a ele, ele me disse que não me
amava. Mas isso... isso tinha que significar alguma coisa, e meu coração estava
inchado, em perigo de explodir.
Sem palavras, eu corri meu polegar sobre a pedra polida. Havia um pequeno
buraco na parte superior, onde a corrente estava enfiada.
Aiden colocou sua mão sobre a minha, fechando os dedos em torno da
palheta. — Alex...
Quando nossos olhos se encontraram, houve um nível brutal de
vulnerabilidade em seu olhar, um sentimento de desamparo que eu
compartilhava. Eu queria chorar. — Eu sei.
E eu realmente sabia. Eu sabia que, mesmo que ele nunca falasse essas
palavras, mesmo que ele se recusasse a fazê-lo, eu ainda sabia.
Seus lábios se separaram. — Não foi possível enganá-la por muito tempo, eu
acho.
Apertei os olhos fechados, mas uma lágrima se libertou, deslizando pela
minha bochecha.
— Não chore. — Ele pegou a lágrima com o dedo enquanto pressionava sua
testa contra a minha. — Por favor. Eu odeio quando você chora por minha causa.
— Eu sinto muito. Não quero ser toda chorosa. — Limpei meu rosto,
sentindo-me tola. — É só que... eu nunca soube.
Aiden apertou os lados do meu rosto, pressionando um beijo na minha testa.
— Eu queria um pedaço de você sempre comigo. Não importa o que aconteça.
Estremeci. — Mas eu não... eu não tenho nada de você.
— Sim, você tem. — Aiden roçou os lábios sobre meu rosto úmido. Um
sorriso suave enchendo sua voz. — Você vai ter um pedaço do meu coração - ele
todo na verdade. Para sempre. Mesmo que o seu coração pertenca à outra pessoa.
Meu coração caiu, mas eu fiquei parada. — O que você quer dizer?
Ele deixou cair as mãos, inclinando-se para trás. — Eu sei que você se
importa com ele.
Sim, eu me importava com Seth. Mas ele não era o meu coração. Quando
Aiden estava ali, na minha frente, a conexão entre nós era algo mais do que a
profecia. Meu verdadeiro destino e não uma ilusão. Profecias são apenas sonhos;
Aiden era a minha realidade.
— Não é o mesmo. — Sussurrei, — Nunca foi. Você tem meu coração... E eu
só quero compartilhar meu coração com você.
Os olhos de Aiden estavam de volta à prata líquida. Eu vi isso antes que ele
baixasse o olhar. Momentos se passaram antes que seus olhos se voltassem para
cima, encontrando os meus.
Parecia haver algum tipo de batalha interna que ele lutava com ele mesmo.
Quando falou, eu não tinha certeza se ele ganhou ou perdeu. — Devemos ir para
a cama.
Um choque correu através de mim, rubor coloriu minha pele. Mas espera...
Ele estava sugerindo que fossemos para cama juntos ou em camas separadas?
Eu realmente não tinha ideia, estava com muito medo de ter esperança, e
estranhamente, eu estava assustada com a ideia. Era como se tivessem me
oferecido algo que eu queria há tanto tempo e, de repente, não tinha ideia do que
fazer com ele.
Ou como fazê-lo.
Seus lábios se curvaram, e então ele se levantou. Apertando as minhas mãos
agora em gelatinha nas suas, ele me puxou para os meus pés. Minhas pernas se
sentiam fracas. — Vá para a cama. — disse ele.
— Você... você está vindo, também?
Aiden assentiu. — Eu vou subir em breve.
Eu não conseguia respirar.
— Vá. — Ele insistiu.
E eu fui.
E
Vinte e Dois
u tinha certeza que ia ter um ataque cardíaco. Raramente doenças
mortais nos afligiam, mas desde que eu tive um resfriado já, imaginei que nada
era impossível.
Ainda não conseguia realmente respirar.
Escovei meus dentes e tirei os emaranhados do meu cabelo. Encarei a cama
obscenamente grande no meio do quarto. Eu não conseguia decidir o que vestir.
Ou eu não deveria vestir nada? Oh deuses, o que eu estava pensando? Não era
como se ele tivesse dito que ia vir para fazer sexo. E se não estivesse e me visse
deitada na cama nua, isso seria muito constrangedor. Talvez ele só quisesse
passar mais tempo comigo. Com a questão de Seth de lado, ainda havia toda a
questão sobre nós não podermos ficar juntos.
Mas ele tinha a palheta. Ele teve a palheta pairando sobre seu coração todo
esse tempo.
Coloquei uma blusa e shorts de dormir, depois fui em direção à cama. Então
baixei os olhos para os meus braços. Na luz do luar fluindo através da janela, eu
ainda podia ver a pele desigual, irregular. Eu não queria que Aiden visse isso.
Então troquei rapidamente, colocando uma camisa fina, de mangas compridas.
Continuei com a parte de baixo. Então, pulei na cama, puxei as cobertas até o
queixo, e esperei.
Houve uma batida suave na porta alguns minutos depois. — Está tudo bem.
— Estremeci com a forma como a minha voz grasnou.
Aiden entrou, fechando e trancando a porta atrás dele. Ele tinha trocado,
também, vestindo um par de calças escuras de dormir e uma regata cinza que
exibia braços musculosos. Engoli nervosamente e quis que o meu coração
desacelerasse antes que eu tivesse espasmos.
Ele ficou de frente para mim e ficou rígido. O quarto estava sombreado
demais para eu ver a expressão dele, e desejei que eu pudesse, porque então
poderia ter tentado descobrir o que ele estava pensando. Sem dizer nada, ele foi
para as janelas primeiro e arrastou as cortinas. O quarto foi lançado em completa
escuridão, e meus dedos cavaram no rico edredom. Ouvi-o andando descalço ao
redor do quarto, e então um brilho suave apareceu. Aiden trouxe uma vela para a
cama, colocando-a sobre uma mesinha. Ele olhou para mim, expressão suavizada
pela luz da vela. Ele sorriu.
Comecei a relaxar, afastando o cobertor aos poucos dos meus dedos.
Cuidadosamente, ele retirou as cobertas do seu lado e subiu, nem uma vez
quebrando o contato visual comigo. — Alex?
— Yeah?
Ele ainda estava sorrindo. — Relaxe. Eu só quero estar aqui com você... Se
estiver tudo bem?
— Está tudo bem. — Sussurrei.
— Bom, porque eu realmente não quero estar em qualquer outro lugar.
Oh, o calor que inundou o meu peito poderia ter me feito flutuar para as
estrelas. Eu o observei se estender ao meu lado. Meu olhar disparou para a porta
fechada mesmo sabendo que Deacon não estava em nenhum lugar perto de nós.
E não era como se ele já não suspeitasse de algo. Ou como se ele se importasse.
Mordi o lábio, ousando dar um rápido olhar para Aiden. Seu queixo estava
inclinado para cima e seus olhos queimavam prateados, brilhantes e intensos. Eu
não conseguia desviar o olhar.
Aiden atraiu uma respiração superficial, levantando o braço mais próximo a
mim. — Vem?
Coração batendo forte, deslizei até que minha perna roçou a sua. Seu braço
subiu, envolvendo em torno da minha cintura. Ele me guiou para baixo de modo
que eu estivesse aninhada contra ele, minha bochecha em seu peito.
Pude sentir seu coração correndo tão rápido quanto o meu. Deitamos em
silêncio por pouco tempo, e naqueles minutos, foi como estar no paraíso. O
simples prazer de estar ao lado dele parecia tão certo que realmente não poderia
ser errado.
Aiden trouxe seu outro braço por cima dele, colocando minha bochecha em
sua mão. Seu polegar alisou minha mandíbula. — Sinto muito por aquele dia no
ginásio. Por como falei com você, por quanto te machuquei. Eu só pensei que
estava fazendo a coisa certa.
— Eu entendo, Aiden. Está tudo bem.
— Não está tudo bem. Eu te machuquei. Sei que machuquei. Eu quero que
você saiba por que fiz aquilo, — ele disse. — Depois que você me contou como se
sentia, no zoológico... Isso… Despedaçou meu autocontrole. — Não pareceu
assim, eu pensei enquanto ele continuava. — Eu sabia que não poderia mais
estar perto de você, porque sabia que eu tocaria em você e não pararia.
Levantei, encarando ele de baixo e abri a boca para dizer algo que
provavelmente teria arruinado o momento, mas nunca tive a chance. A mão de
Aiden encontrou minha nuca e me puxou para baixo. Seus lábios encontraram os
meus, e como todas as vezes antes, houve esta faísca indefinível que corria
através de nós. Ele fez um som contra meus lábios, beijando-me cada vez mais
duro.
Ele recuou apenas o suficiente para que seus lábios roçassem os meus
quando ele falou. — Eu não posso continuar fingindo que não quero isto, que não
quero você. Eu não posso. Não depois do que aconteceu com você. Eu pensei...
Eu pensei que tinha te perdido, Alex, para sempre. E eu teria perdido tudo. Você
é meu tudo.
Muitas emoções cresceram em mim todas de uma vez - temor, esperança, e
amor. Tanto amor que tudo fora de nós desapareceu naquele instante. — Isto…
Isto é o que você tem tentado me dizer.
— É o que eu sempre quis te dizer, Alex. — Ele se sentou, trazendo-me junto
com ele. — Eu sempre quis isto com você.
Deslizei minhas mãos às suas bochechas, encontrando seu olhar aquecido
com o meu próprio. — Eu sempre te amei.
Aiden fez um som estrangulado e seus lábios estavam nos meus novamente.
Sua mão se enterrou no meu cabelo, me segurando imóvel. — Esta não era a
minha intenção… vindo aqui.
— Eu sei. — Meus lábios roçaram os seus enquanto eu falava. — Eu sei.
Enquanto me beijava de novo, ele relaxou de costas. Meu coração estava
martelando contra minhas costelas quando seus dedos deixaram meu rosto e
viajaram para baixo. Ele ergueu-se apenas o suficiente para eu tirar sua camisa e
jogá-la de lado. Minhas mãos se espalharam sobre cada dura ondulação e eu
beijei o meu caminho para baixo até seu peito arfar sob meus lábios e ele
sussurrar meu nome de uma forma suplicante. Ele agarrou meus braços e me
puxou de volta para seus lábios.
Encolhi os ombros para fora de seu aperto e levantei meus braços sem falar.
Ele obedeceu à ordem silenciosa e jogou minha camisa de lado. Sem qualquer
aviso, eu estava de costas, encarando-o em cima de mim. Suas mãos deslizaram
sobre a minha pele nua enquanto seus lábios mergulhavam na minha garganta e
sobre a curva do meu ombro. Cada cicatriz foi beijada ternamente, e quando ele
chegou à que a lâmina de Linard tinha deixado, estremeceu.
Meus dedos peneiraram por seu cabelo enquanto eu o segurava para mim.
Seus beijos estavam fazendo coisas malucas, estranhas, e maravilhosas comigo.
Sussurrei seu nome uma e outra vez como algum tipo louco de oração. Então
estava me movendo contra ele, sendo guiada por algum instinto primitivo que me
disse o que fazer. O resto de nossas roupas acabou em uma pilha no chão. No
momento em que nossos corpos estavam nus um contra o outro, um sentido de
selvageria tomou conta de mim.
Nossos beijos se aprofundaram, sua língua varreu a minha, e eu balancei
contra ele. Tudo isto foi maravilhoso, requintadamente agradável. Aiden
derramou beijos por toda a minha pele corada. Eu estava perdida nas sensações
inebriantes, completamente despreparada para isso. Isto podia não ter sido o que
pretendíamos, mas isto... isto estava acontecendo.
Aiden levantou a cabeça. — Tem certeza?
— Sim, — Respirei. — Eu nunca tive mais certeza.
Sua mão tremeu contra o meu rosto corado. — Você já recebeu…?
Ele estava perguntando se eu tive minha dose de controle de natalidade
mandatado pelo Conselho para todas as fêmeas mestiças. Assenti.
Os olhos prateados queimaram. Sua mão tremeu contra minha bochecha de
novo e enquanto se levantava, seus olhos vagavam sobre mim. Minha recém-
descoberta coragem praticamente desapareceu sob seu olhar escaldante. De
alguma forma sentindo meu nervosismo, seu beijo foi gentil e doce. Ele foi
paciente e perfeito, persuadindo para longe a timidez até que eu me enrolei em
torno dele.
Havia uma borda quase em pânico nele, impulsionada pelo conhecimento de
que não havia nenhum recuo, nenhuma parada desta vez. Com um beijo que me
deixou tremendo, sua mão derivou com tal detalhe requintado. Seus beijos
seguiram o mesmo padrão e quando ele fez uma pausa, seus olhos imploraram
por permissão. Esse simples momento, esse minúsculo ato, trouxe lágrimas aos
meus olhos.
Eu não conseguia - não queria - negar qualquer coisa a ele.
Aiden estava por toda parte, em cada toque, cada suave gemido. Quando eu
pensava que não podia aguentar mais, que eu certamente quebraria, ele estava lá
para provar que eu podia. Quando seus lábios desceram sobre os meus
novamente, eles o fizeram febris.
— Eu te amo, — ele sussurrou. — Eu amo desde a noite em Atlanta. Eu
sempre vou amar.
Ofeguei contra a sua pele. — Eu te amo.
Ele quebrou. Qualquer que fosse o controle que ele tinha envolvido em torno
de si, finalmente escapou. Eu me deleitei com isso, a pura simplicidade de estar
em seus braços e saber que ele sentia a mesma loucura afiada que eu sentia.
Apoiando-se com seu antebraço conforme seus beijos assumiam o mesmo sentido
de urgência que eu sentia, ele levantou a boca para sussurrar algo em um lindo
idioma que eu não entendia. Eu estava quase à beira de um precipício, correndo
em direção a um final glorioso.
Fomos cercados por nosso amor um pelo outro. Tornou-se uma coisa
tangível, eletrificando o ar à nossa volta até eu ter certeza de que ambos iríamos
incendiar sob seu poder. Então, em um momento irracional de pura beleza, não
éramos uma meio-sangue e um puro-sangue, éramos simplesmente apenas duas
pessoas loucamente, profundamente apaixonadas.
Éramos um.
Acordei algum tempo depois, enfiada nos braços de Aiden. A vela ainda
tremulava ao lado da cama. O lençol tinha se emaranhado em torno de nossas
pernas, e o edredom fora empurrado para o chão. Percebi que estive mais ou
menos usando-o como um travesseiro. Levantei a cabeça e o absorvi. Eu nunca
poderia me cansar de olhar para ele.
Seu peito subia uniformemente sob minhas mãos. Ele parecia tão jovem e
relaxado enquanto dormia. Cachos de ondas escuras caíam em sua testa e seus
lábios estavam abertos. Inclinei-me e dei um beijo suave contra aqueles lábios.
Seus braços imediatamente se apertaram, traindo que ele não estava tão
profundamente adormecido como eu pensara inicialmente. Sorri abertamente ao
ser pega. — Olá.
Os olhos de Aiden tremularam abertos. — Há quanto tempo você tem me
encarado?
— Não muito tempo.
— Conhecendo você, — Ele arrastou as palavras preguiçosamente, — Você
tem me encarado desde que eu adormeci.
— Isso não é verdade. — Dei uma risadinha.
— Uh huh, vem aqui. — Ele me puxou para baixo. Meu nariz roçou contra o
seu. — Nem assim você está próxima o suficiente.
Eu me movi para mais para perto. Minha perna enrolou em torno da sua. —
Próxima o suficiente?
— Deixe-me ver. — Suas mãos deslizaram pelas minhas costas e
descansaram sobre a curva da minha cintura com a mais leve pressão. — Ah,
isso é melhor.
Eu corei. — Sim… Yeah, é.
Aiden deu um sorriso de lobo e um brilho perverso encheu seus olhos
prateados. Eu deveria ter sabido naquele momento que ele estava tramando algo,
mas este lado de Aiden - este lado brincalhão e sensual - era desconhecido para
mim. Sua mão deslizou mais baixo, provocando um arquejo satisfeito de
surpresa. Ele se sentou em um rápido movimento e eu me encontrei
inesperadamente em seu colo.
Não tive um momento para considerar muito. Aiden me beijou, dispersando
todos os pensamentos ou reações. O lençol escapou e eu derreti contra ele. Foi
bastante tempo depois, quando o sol estava prestes a se levantar e a vela há
muito se extinguira, que Aiden gentilmente me despertou.
— Alex. — Ele roçou os lábios na minha testa.
Abri meus olhos, sorrindo. — Você ainda está aqui.
Sua mão acariciou minha bochecha. — Onde mais eu estaria? — Então ele
me beijou, e os meus dedos dos pés se curvaram. — Você pensou que eu apenas
iria embora?
Eu me maravilhei com o fato de que podia correr a minha mão até seu braço,
sem tê-lo se afastando. — Não. Eu não sei, na verdade.
Ele franziu a testa enquanto traçava o formato da minha maçã do rosto. — O
que você quer dizer?
Eu me aconcheguei mais perto dele. — O que acontece agora?
Entendimento queimou em seu olhar. — Eu não sei, Alex. Temos que ser
cuidadosos. Não vai ser fácil, mas... vamos descobrir um jeito.
Meu coração pulou uma batida.
Um relacionamento ia ser malditamente perto de impossível em qualquer
lugar que fôssemos, mas eu não pude parar a esperança inchando dentro de mim
ou as lágrimas se construindo em meus olhos. Era errado esperar por um
milagre? Porque era isso que nós precisaríamos para fazer isto funcionar.
— Oh, Alex. — Ele recolheu-me em seus braços, segurando-me firmemente
contra ele. Enterrei meu rosto no espaço entre seu pescoço e ombro, inalando
profundamente. — O que fizemos, foi a melhor coisa que já fiz e não foi apenas
uma espécie de caso.
— Eu sei, — Murmurei.
— E eu não vou te deixar ir, não porque alguma lei estúpida diz que não
podemos ficar juntos.
Palavras perigosas, mas derreti junto com elas, as apreciei. Enrolei meus
braços ao redor dele, tentando manter velhos medos e preocupações à distância.
Aiden estava assumindo um risco enorme para ficar comigo - assim como eu - e
eu não podia negar nossos sentimentos por causa do que tinha acontecido com
Hector e Kelia. Esse medo não era justo para Aiden ou para mim.
Aiden rolou de costas, encaixando-me ao seu lado. — E eu não vou te perder
para Seth.
O ar prendeu em meus pulmões. De alguma forma, estando tão perdida em
Aiden, eu tinha completamente esquecido o inesquecível - o fato de que eu estaria
Despertando em duas semanas - e todas as ramificações disso. Medo tinha gosto
de sangue na parte de trás da minha garganta. E se isso mudasse a forma como
eu me sentia sobre Aiden?
Porra. E se o vínculo torcesse esses sentimentos de volta para Seth?
E como no inferno eu tinha esquecido sobre Seth em primeiro lugar? “Fora
da vista e fora da mente” era totalmente não justificável. A coisa era que eu me
importava com Seth - muito. Parte de mim até mesmo o amava, mesmo que eu
quisesse machucá-lo na maior parte do tempo. Mas meu amor por Seth não era
nada como o que era por Aiden. Não me consumia, não me fazia querer fazer
coisas malucas, ser imprudente, e no mesmo fôlego, ser mais segura e mais
cautelosa. Meu coração, meu corpo, não respondiam da mesma forma.
A mão de Aiden deslizou de leve sobre meu braço. — Eu sei o que você está
pensando, agapi mou, zoi mou.
Tomei uma respiração superficial. — O que isso quer dizer?
— Quer dizer, ‘meu amor, minha vida’.
Apertei meus olhos fechados contra a corrida de lágrimas enquanto me
lembrava da primeira vez que ele dissera “agapi mou” para mim. Meus deuses,
Aiden não tinha mentido. Ele me amara desde o início. Saber disso me encheu
com resolução de aço. Levantei-me e encarei abaixo para ele.
Ele sorriu, e meu coração pulou. Estendeu o braço, enfiando meu cabelo de
volta atrás da minha orelha. Sua mão demorou. — O que você está pensando
agora?
— Nós podemos fazer isto. — Inclinei-me e o beijei. — Nós vamos fazer isto,
droga.
Seu braço circulou minha cintura. — Eu sei.
— Deuses, sei que isto soa realmente fraco, então, por favor, não ria de mim.
— Sorri abertamente, — Mas eu estive... aterrorizada com este Despertar, com me
perder. Mas… mas eu não estou mais. Eu não vou me perder, porque… Bem,
como me sinto sobre você, isso nunca me deixaria esquecer quem eu sou.
— Eu nunca te deixaria esquecer quem você é.
Meu sorriso se espalhou. — Deuses, nós somos loucos. Você sabe disso,
certo?
Aiden riu. — Acho que somos muito bons em loucura, entretanto.
Permanecemos nos braços um do outro mais tempo do que deveríamos. Eu
estava relutante em deixá-lo ir embora e acho que ele estava também. Rolando
para o meu lado, eu o observei vestir suas roupas rapidamente. Ele sorriu
abertamente quando me pegou. Mexi as sobrancelhas. — O quê? É uma vista
agradável.
— Perversa. — ele disse, sentando-se ao meu lado. Sua mão deslizou de leve
sobre meu quadril. Havia algo feroz em seu olhar. — Nós vamos fazer isto.
Eu me aconcheguei mais perto dele, desejando que ele não tivesse que ir
embora. — Eu sei. Acredito nisso.
Aiden me beijou mais uma vez e sussurrou, — Agapi mou.
T
Vinte e Três
udo e nada mudou depois de fazer sexo. Eu não parecia nem um
pouco diferente. Bem, havia o sorriso bobo estampado no meu rosto que eu não
podia me livrar. Fora isso, eu parecia a mesma. Mas eu me sentia diferente. Eu
sentia dor em lugares que não fazia ideia que seria possível que alguém pudesse
sequer se machucar. Meu coração também fazia aquela coisa esvoaçante cada vez
que eu pensava no nome dele, o que era uma coisa tão menininha e eu amava
isso.
Deixar meu coração, ao invés dos meus hormônios, decidirem quando fazer
isso, tornou o que Aiden e eu fizemos algo especial. E quando nós nos
encontrávamos durante o dia, os olhares que roubávamos de repente
significavam mais. Tudo significava mais, porque ambos estávamos arriscando
tudo e nenhum dos dois se arrependia disso.
Eu passei a maior parte da tarde e da noite jogando Scrabble27 com Deacon.
Eu acho que ele se arrependeu de me chamar para jogar, porque eu era uma
27 Jogo em que você mistura as letras para formar palavras, geralmente, as peças são de
madeira.
daquelas jogadoras de Scrabble – o tipo que montava palavras de três letras a
cada chance que eu tinha.
Havia uma parte de mim que continuava esperando que os deuses dessem
um tiro em um de nós por finalmente quebrarmos todas as regras. Então quando
Apollo apareceu na nossa quarta rodada de Scrabble, eu quase tive um ataque do
coração.
— Deuses! — Apertei meu peito, — Você pode parar de fazer isso?
Apollo me olhou estranhamente. — Onde está Aiden?
Lentamente ficando em pé, Deacon clareou a garganta e se curvou. —
Senhor, eu acho que ele está lá fora. Vou buscá-lo.
Eu encarei para a forma de Deacon recuando. Deixada sozinha com Apollo,
eu não tinha certeza do que fazer. Deveria ficar em pé e me curvar, também? Era
considerado rude se sentar na presença de um deus? Mas então Apollo se sentou
ao meu lado, cruzou as pernas, e começou a bagunçar as letras no tabuleiro.
Acho que não.
— Eu sei o que aconteceu, — Apollo disse depois de alguns segundos.
Minhas sobrancelhas franziram. — Sobre o que você está falando?
Ele apontou para o tabuleiro.
Meu olhar caiu para o jogo e eu quase desmaiei. Ele tinha formado SEXO e
AIDEN com aquelas letrinhas estúpidas. Horrorizada, eu me atirei de joelhos e
varri as letras para fora do tabuleiro. — Eu... Eu não tenho ideia sobre o que você
está falando!
Apollo jogou a cabeça para trás e riu, tipo, gargalhando realmente alto.
Acho que o odiava, deus ou não.
— Eu sempre soube. — Ele se encostou no sofá, cruzando os braços. Seus
olhos azuis queimavam de maneira estranha, iluminados por dentro. — Estou
apenas surpreso que vocês dois aguentaram tanto tempo.
Meu queixo bateu no chão. — Espera. Aquela noite que Kain voltou? Você...
Você sabia que eu estava na cabana de Aiden, não sabia?
Ele assentiu.
— Mas... Como você sabe agora? — Meu estômago afundou. — Oh, meus
deuses, você tem feito algum tipo de espionagem divina assustadora ou algo
assim? Você nos viu?
Os olhos de Apollo se estreitaram quando ele inclinou a cabeça para mim. —
Não. Eu realmente tenho coisas melhores para fazer.
— Como o quê?
Suas pupilas começaram a queimar brancas. — Oh, eu não sei. Talvez
rastrear Telly, manter um olho no Seth e, se eu tiver sorte, trazer você de volta da
morte. Ah, e eu esqueci de fazer algumas aparições no Olimpo, para não ter cada
um dos meus irmãos curiosos sobre o que estou fazendo.
— Oh. Desculpe. — Sentei, me sentindo envergonhada. — Você é realmente
ocupado.
— De qualquer forma, eu posso cheirar Aiden em você.
Meu rosto pegou fogo. — O quê? O que quer dizer, você pode cheirá-lo? Cara,
eu tomei banho.
Apollo se inclinou, seu olhar encontrando o meu. — Cada pessoa tem um
aroma único. Se você mistura o seu o suficiente com alguém, leva um tempão
para tirar o cheiro dele de você. Na próxima vez você pode querer tentar o
sabonete Dial28 ao invés daqueles sabonetes líquidos femininos.
Eu cobri meu rosto em chamas. — Isso é tão errado.
28 Marca de um sabonete antibactericida.
— Mas me diverte muito.
— Você... Você não vai fazer nada sobre isso? — Sussurrei, levantando
minha cabeça.
Ele rolou os olhos, — Acredito que esse seja o último dos nossos problemas
no momento. Além do mais, Aiden é um cara bom. Ele sempre colocará você em
primeiro lugar, acima de tudo. Mas eu tenho muita certeza que ele ficará super-
protetor em algum momento. — Apollo deu de ombros enquanto eu encarava,
boquiaberta, para ele, — Você só vai ter que colocá-lo na linha.
Apollo estava me dando conselhos amorosos? Esse era oficialmente o
momento mais estranho da minha vida, e isso dizia alguma coisa. Felizmente,
Aiden e Deacon retornaram, e eu estava salva de morrer por humilhação.
Deacon enfiou as mãos nos bolsos. — Estou indo me ocupar com... algo.
Sim. — Girando, ele fechou a porta enquanto saía.
Havia algo muito estranho sobre a reação de Deacon com Apollo. Para o bem
dele, eu esperava seriamente que ele não tivesse feito nada com Apollo. Ele podia
acabar como uma flor ou um tronco de árvore.
Aiden entrou na sala e se curvou. — Há novidades? — Ele perguntou se
endireitando.
— Ele sabe sobre nós. — eu disse.
Um segundo depois, Aiden me puxou para ficar em pé e me empurrou para
trás dele. Em ambas as suas mãos estavam adagas do Covenant.
Apollo arqueou uma sobrancelha dourada. — E o que eu disse sobre toda a
coisa da super-proteção?
Bem, ele disse isso. Com o rosto queimando, agarrei o braço de Aiden. — Ele
não parece se importar, aparentemente.
Os músculos de Aiden se tencionaram embaixo da minha mão. — E porque
eu devo acreditar nisso? Ele é um deus.
Eu engoli. — Bem, provavelmente porque ele poderia já ter me matado se
fosse ter um problema com isso.
— Isso é verdade. — Apollo esticou as pernas, cruzando-as no calcanhar, —
Aiden, você não pode na verdade estar chocado que eu saiba. Eu preciso lembrá-
lo sobre a nossa caçada especial em Raleigh? Porque mais um homem caçaria
alguém como aquilo, a menos que fosse por amor? E, confie em mim, eu sei as
loucuras que as pessoas fazem por amor.
O topo das bochechas de Aiden corou e ele relaxou uma fração. — Me
desculpe por... Puxar isso para você, mas...
— Eu entendo. — Ele balançou a mão com desdém, — Sente-se, fique a
vontade, o que for. Nós precisamos conversar, e eu não tenho muito tempo.
Respirando fundo, eu sentei onde tinha estado antes. Aiden sentou no braço
do sofá atrás de mim, permacendo perto. — Então o que está rolando? —
Perguntei.
— Eu estava com Marcus. — Apollo respondeu. — Ele tem Solos a bordo.
— A bordo do quê? — Olhei para Aiden. Ele olhou para longe. Igualmente
curiosa e brava, porque eu sabia que isso significava que ele estava mantendo
alguma coisa longe de mim, eu dei uma cotovelada na sua perna. — A bordo de
quê, Aiden?
— Você não disse a ela, disse? — Apollo deslizou para longe. — Não me bata.
— O quê? Eu não bato nas pessoas. — Ambos me encararam com
conhecimento. Eu cruzei os braços para evitar bater neles. — Ótimo. Que seja. O
que está rolando?
Apollo suspirou. — Solos é um Sentinela meio-sangue.
— Jesus. Eu deduzi essa parte. — Aiden me empurrou para trás com o
joelho. Atirei a ele um olhar de morte. — O que ele tem a ver com isso?
— Bem, estou tentando dizer a você. — Apollo ficou em pé fluidamente. — O
pai de Solos é um Ministro em Nashville. Ele é, na verdade, o único filho do
Ministro; ele foi mimado e criado com muito conhecimento das políticas do
Conselho.
— Ok. — Eu disse lentamente. Puros se preocupando com seus filhos
mestiços não era algo inédito. Raro, sim, mas eu era um exemplo disso.
— Nem todos do Conselho são fãs de Telly, Alex. Alguns até gostariam de vê-
lo sendo removido da sua posição. — Aiden explicou.
— E se eu me lembro bem, ele foi minoria quando se tratou de colocá-la em
servidão. — Apollo deslizou para a janela, — Palavra no que ele está envolvido
não cairá bem com aqueles membros do Conselho, incluindo o pai de Solos, que,
a propósito, é um molenga quando se trata do tratamento dos mestiços. Tê-los ao
nosso lado só pode nos ajudar.
— O que você quer dizer, o pai dele é um molenga?
Apollo me encarou. — Ele é um daqueles que não acredita que os meio-
sangues devem ser forçados à servidão se eles não se encaixarem no molde de
Sentinela ou Guarda.
— Bem, você não tem ninguém para culpar por essa regra além de vocês
mesmos. — Raiva acendeu dentro de mim, — Vocês são responsáveis pela
maneira que temos sido tratados.
Apollo franziu a testa. — Nós não temos nada a ver com isso.
— O quê? — Surpresa coloriu a voz de Aiden.
— Nós não somos responsáveis pela submissão dos mestiços. — Apollo
disse. — Isso foi tudo dos puro-sangues. Eles decretaram a separação das duas
raças em castas séculos e séculos atrás. Tudo o que nós pedimos foi que puros e
mestiços não se misturassem.
Aquelas palavras puxaram o mundo para fora debaixo dos meus pés. Tudo o
que tinha sido ensinada a acreditar já não era verdade. Desde quando eu era
uma criança pequena, tinha sido dito que os deuses nos viam como inferiores e
nossa sociedade atuava naquela crença. — Então por que... Por que vocês nunca
fizeram nada?
— Não era nosso problema. — Apollo respondeu alegremente.
Raiva chicoteou por mim como um bala em brasa e eu pulei em pé. — Não
era seu problema? Os puros são seus filhos! Assim como nós. Vocês todos
poderiam ter feito algo anos atrás.
Aiden pegou meu braço. — Alex.
— O que você espera que nós fizéssemos, Alexandria? — Apollo disse. — As
vidas dos meio-sangues estão literamente um degrau, um pequeno degrau, acima
das vidas dos mortais. Nós não podemos interferir em coisas tão triviais.
A escravidão de milhares e milhares de mestiços era uma coisa trivial?
Me livrando de Aiden, eu avancei para Apollo. Pensando nisso agora, não foi
uma boa ideia, mas eu estava tão brava, tão chocada que os deuses tinham
estado lá desde o começo e permitido que os puros nos tratassen como animais
em rebanho. Uma parte pequena e racional do meu cérebro sabia que não devia
tomar isso pessoalmente, porque assim era como os deuses eram. Se não os
involvesse diretamente, eles não se importavam. Era tão simples assim. A parte
puta bateu a parte racional.
— Alex! — Aiden gritou, se esticando em minha direção.
Eu era muito mais rápida quando eu queria ser. Ele não poderia me parar.
Consegui chegar a meio metro de Apollo antes que ele levantasse a mão. Eu bati
em uma parede invisível. A força soprou meu cabelo para trás.
Apollo sorriu. — Eu realmente gosto do seu temperamento mal-humorado.
Eu chutei o escudo. Dor queimou pelo meu pé. Eu manquei para trás. — Ai!
Porra isso dói!
Aiden conseguiu um agarrar seguramente ao meu redor. — Alex, você
precisa se acalmar.
— Estou calma!
— Alex. — Aiden repreendeu, obviamente tentando não rir.
Apollo abaixou a mão, parecendo arrependido. — Eu... entendo sua raiva,
Alexandria. Os meio-sangues não foram tratados de forma justa.
Eu tomei muias respirações profundas e calmantes.
— A propósito, — Apollo disse, — Da próxima vez que você atacar um deus,
e não seja eu, você será destruída. Se não por aquele deus, então pelas fúrias.
Você tem sorte que as fúrias e eu não nos damos bem. Elas amariam ver minhas
entranhas amarradas em vigas...
— Tudo bem. Eu tenho a imagem. — Abaixei meu pé dolorido. — Mas eu não
acho que você realmente entende. Vocês criaram tudo isso e então apenas
deixaram para lá. Não tomando nenhuma responsabilidade pelo que aconteceu.
Vocês caras, levam ‘egocentrismo’ para um nível épico, todo novo. E todos os
nossos problemas, os daimons e mesmo a porcaria do Apollyon, são culpa dos
deuses. Você mesmo disse isso! Se você me perguntar, vocês caras são
aberrações inúteis 99% do tempo.
Aiden colocou a mão na parte inferior das minhas costas. Eu esperava que
ele me mandasse calar a boca, porque eu estava gritando com um deus, mas não
foi o que ele fez.
— Alex tem um ponto, Apollo. Eu nem sequer sabia a... a verdade. Até nós
somos ensinados que os deuses decretaram a separação das duas raças.
— Eu não sei o que dizer. — Apollo disse.
Alisei meu cabelo para baixo. — Por favor, não diga que você sente muito,
porque sei que não seria verdade.
Apollo asentiu.
— Tudo bem. Agora que nós tiramos isso dos nossos sistemas, vamos voltar
ao ponto dessa visita. — Aiden me puxou para o sofá, me forçando a sentar. — E
sério Alex, sem bater.
Eu rolei meus olhos. — Ou o quê? Você vai me colocar de castigo?
O sorriso de Aiden foi ousado, como se ele estivesse pronto para o desafio e
podia até se divertir com isso.
— Solos e o pai dele estarão ativos para ter certeza que Telly seja removido
da posição de Ministro chefe e que uma investigação extensiva seja feita para
determinar quantos membros da Ordem podem estar lá fora. E antes que vocês
me perguntem por quê, como um deus, eu não posso apenas ver isso, eu devo
lembrá-los que nós não somos oniscientes.
— Porque vocês estavam preocupados com como eu reagiria a isso? —
Perguntei, confusa, — Soa como uma coisa boa.
— Não é tudo. — Aiden respirou fundo, — O pai de Solos é dono de uma
extensa propriedade através dos Estados, lugares que nós podemos escondê-la
até que todos os membros da Ordem sejam descobertos.
— Não só isso, — Apollo adicionou. — Nós podemos mantê-la segura até que
saibamos como lidar com Seth e o seu Despertar.
Pisquei, positivamente eu não tinha os escutado direito. — O quê?
— A pior coisa que pode acontecer bem agora é Seth pegar o seu poder e se
tornar o Assassino de Deuses. — Apollo cruzou os braços. — Por isso, precisamos
ter certeza que você estará longe o suficiente quando você Despertar, que a
ligação seja cortada pela distância e que você não possa se conectar com ele. Ele
não pode ser confiável.
— Por quê? Por que ele não pode ser confiável? O que ele fez?
— Ele tem mentido para você sobre muitas coisas. — Aiden apontou.
Balancei a cabeça. — Além das mentiras sobre as coisas de Apollyon, o que
ele fez?
— Não é o que ele tem feito, Alexandria, mas o que ele fará. O oráculo viu
isso.
— Você está falando sobre toda aquela porcaria ‘um para salvar e um para
destruir’? Por quê? Porque isso seria o caso com eu e Seth, quando nós não
somos o primeiro par de Apollyons? — Joguei o meu cabelo para trás, frustrada e
cheia de necessidade de... proteger o nome do Seth. Não como se ele tivesse um
bom nome, mas qual é.
De repente, Apollo estava ajoelhando na minha frente ao nível dos olhos.
Aiden enrijeceu ao meu lado. — Eu não desperdicei meu tempo tentando mantê-
la segura, e discuti com Hades pela sua alma, apenas para ter você jogando tudo
isso para longe baseada em confiança tola e ingênua.
Eu apertei minhas mãos em bolas. — Por que você sequer se preocupa,
Apollo?
— É complicado. — Foi tudo o que ele disse.
— Se tudo o que você pode dizer é ‘é complicado’ então você pode esquecer
isso. E quanto a escola?
— Marcus nos assegurou que você se graduaria em tempo. — Aiden disse.
— Você sabia sobre isso?
Ele assentiu. — Alex, eu acho que é a coisa inteligente a se fazer.
— Correr é a coisa inteligente a se fazer? Desde quando você acredita nisso?
Porque eu me lembro de você me dizer que correr não resolvia nada.
Os lábios de Aiden afinaram. — Isso foi antes de você ser assassinada, Alex.
Antes que eu... — Ele se cortou, balançando a cabeça. — Isso foi antes.
Eu sabia o que ele queria dizer e eu me magooei por isso. Eu sofria, porque
ele tinha que se preocupar comigo, mas isso ainda não extinguia completamente
a minha raiva. — Você deveria ter me dito que isso era o que vocês estavam
planejando. É o mesmo que Seth e Lucian planejando me chicotear para longe em
algum país distante. Eu deveria ter sido inclusa nesses planos.
— Alexandria...
— Não. — Cortei Apollo e fiquei em pé antes que Aiden pudesse me parar. —
Eu não vou me esconder porque há uma chance de que Seth possa fazer alguma
coisa.
— Então esqueça a questão com Seth. — Aiden ficou em pé, cruzando os
braços. — Você precisa ser protegida da Ordem.
— Nós não podemos esquecer sobre Seth. — Comecei a andar, querendo
puxar meu cabelo, — Se eu desaparecer, o que vocês acham que Seth vai fazer?
Especialmente se nós não dissermos para ele, o que eu sei que é o que vocês
estão pensando.
Apollo levantou-se e inclinou a cabeça para trás. — Isso seria muito mais
fácil se você tivesse uma personalidade agradável.
— Desculpa, amigão. — Parei, encontrando os olhos de aço de Aiden. — Mas
eu não posso estar de acordo com isso. E se vocês realmente acham que a Ordem
vai tentar alguma coisa de novo, então nós precisamos da ajuda de Seth.
Aiden virou no meio do caminho, seus ombros largos tensos enquanto ele
resmungou baixinho. Normamente, eu estaria irritada com a exibição de
testosterona, mas sim, eu meio que achava isso sexy.
O Deus do Sol suspirou. — Por agora, você ganha, mas se eu sequer achar
que isso vai acabar mal...
— Como as coisas podem acabar mal? — Perguntei.
— Além do óbvio? — Apollo franziu a testa. — Se Seth faz o que é temido, os
deuses trarão suas iras para baixo por todos os puros e mestiços, apenas para
fazer um ponto. E como eu estava dizendo, se sequer chegar a esse ponto, você
não terá escolha nenhuma.
— Então por que você não deixa apenas a Ordem me matar? Isso resolveria
todos os seus problemas, não resolveria? — Não que eu quisesse morrer, mas
fazia sentido. Mesmo eu podia ver isso. — Seth não se tornaria o Assassino de
Deuses então.
— Como eu disse, é complicado. — Então Apollo simplesmente desapareceu.
— Eu odeio quando ele faz isso. — Olhei para Aiden. Ele me encarou de
volta, sobrancelhas franzidas e mandíbula apertada. Eu suspirei. — Não olhe
para mim como se eu tivesse chutado um bebê pegasus para a rua.
Aiden exalou lentamente. — Alex, eu não concordo com isso. Você tem que
saber que nós estamos apenas procurando o que é melhor para você.
Sexy ou não, lá se foi o aperto frágil em meu temperamento. — Eu não
preciso que você procure o que é melhor para mim, Aiden. Eu não sou uma
criança!
Os olhos dele estreitaram. — Eu, de todas as pessoas, sei que você não é
uma criança, Alex. E estou certo como o inferno que não te tratei como uma na
noite passada.
Minhas bochechas coraram com uma mistura quente de vergonha e algo
muito, muito diferente. — Então não tome decisões por mim.
— Nós estamos tentando ajudá-la. Por que você não pode ver isso? — Então
os olhos dele se aprofundaram em um cinza tumultuado. — Eu não vou perdê-la
novamente.
— Você não me perdeu, Aiden. Juro a você. — Um pouco da raiva escoou
para fora de mim. Medo estava por trás da sua fúria. Eu podia entender isso. Era
o que dirigia meus acessos de raiva em uma base regular. — Você não me perdeu
e não me perderá.
— Isso não é uma promessa que você pode fazer. Não quando há tantas
coisas que podem dar errado.
Eu não sabia o que dizer para isso.
Aiden atravessou a sala, varrendo-me em um abraço apertado. Não houve
uma palavra dita por vários minutos apenas o subir e descer de seu peito.
— Eu sei que você está bava, — Ele começou, — E que você odeia a ideia de
qualquer um tentar controlá-la ou forçá-la a fazer alguma coisa.
— Não estou brava.
Ele se afastou, arqueando uma sobrancelha.
— Ok. Estou brava, mas eu entendo porque você acha que eu deveria me
esconder.
Ele me levou para o sofá. — Mas você não está de acordo com isso.
— Não.
Aiden me puxou no seu colo, circulando os braços ao meu redor. Meu
coração se sacudiu e me tomou alguns segundos para acostumar com esse Aiden
abertamente afetuoso que não se afastava e mantinha distância.
— Você é a pessoa mais frustante que eu conheço. — Ele disse.
Eu descansei minha cabeça no ombro dele, sorrindo. — Nenhum de vocês
está dando uma chance a Seth. Ele não fez nada, e eu não tenho nenhuma razão
para temê-lo.
— Ele tem mentido para você, Alex.
— Quem não tem mentido para mim? — Eu apontei. — Olhe, eu sei que não
é uma grande desculpa, e você está certo, ele tem mentido para mim. Eu sei
disso, mas ele não tem feito nada que justifique que eu saia correndo para me
esconder. Nós temos que dá-lo uma chance.
— E se nós corrermos esse risco e você estiver errada, Alex? Então o quê?
Esperava que esse não fosse o caso. — Então eu terei que lidar com isso.
O ombro dele tensionou embaixo da minha bochecha. — Eu não estou de
acordo com isso. Eu já falhei com você uma vez e...
— Não diga isso. — Torcendo-me em seu abraço, eu encontrei seu olhar e
segurei seu rosto. — Você não tinha ideia de que Linard estava trabalhando para
a Ordem. Você não tem culpa disso.
Ele pressionou a testa na minha. — Eu deveria ter sido capaz de protegê-la.
— Eu não preciso que você me proteja, Aiden. Eu preciso de você para fazer
o que você está fazendo agora.
— Segurar você? — Os lábios dele se torceram. — Eu posso fazer isso.
Eu o beijei, e meu peito apertou. Nunca em um milhão de anos eu me
acostumaria a ser capaz de beijá-lo. — Sim, isso, mas eu só preciso... Seu amor e
sua confiança. Eu sei que você pode lutar por mim, mas eu não preciso que você
faça isso. Esses problemas, eles são meus, não seus, Aiden.
Seus braços apertaram ao meu redor, tão apertado, que eu achei difícil
respirar. — Porque eu amo você, nós dividimos os nossos problemas. Quando nós
lutamos, lutamos juntos. Eu estarei ao seu lado não importa o que aconteça, você
gostando disso ou não. Isso é o que é o amor, Alex. Você não tem que encarar
nada sozinha novamente. E eu entendo o que você está dizendo. Não concordo
com isso, mas vou apoiá-la de qualquer maneira que eu puder.
Fiquei chocada em silêncio. Realmente não havia nada que eu pudesse dizer
para isso. Eu não era assim tão boa com as palavras, não esses tipos de palavras.
Então eu me enrolei ao redor dele como um polvo super amigável. Quando ele se
inclinou para trás, me acomodei sobre ele, sem me importar que ele ainda
estivesse em suas vestes de Sentinela, adagas e tudo.
Algum tempo se passou antes que qualquer um de nós falasse.
— Seth não é um cara mal de verdade. — Eu disse, — Ele pode ser propenso
a grandes momentos de estupidez, mas ele não faria algo como eliminar o
Conselho.
Os dedos de Aiden escorregaram sobre meu rosto. — Eu não duvidaria de
nada vindo de Seth.
Eu decidi não responder a isso. Desde a ligação telefonica depois do ataque
de Linard, eu nem sequer ouvi sobre Seth. E agora que eu tinha me acalmado um
pouco, comecei a pensar logicamente sobre o que Apollo tinha dito. — Todos
temem Seth, os deuses, os puros, e a Ordem, porque ele se tornará o Assassino
de Deuses, certo?
— Certo. — Ele murmurou. Sua mão flutuando para o meu ombro,
escovando meu cabelo para trás.
— Bem, e se ele não se tornar o Assassino de Deuses?
Sua mão parou. — Você quer dizer, se nós pararmos a transferência de
poder? Isso é o que estamos tentando fazer mantendo-a longe de Seth.
— Eu duvido seriamente que esse é o único propósito de me manter longe de
Seth.
— Você me pegou. — Ele disse, e eu podia ouvir o sorriso em sua voz.
Jogando minha cabeça para cima, eu decidi que era passado da hora de
clarear o ar. Aiden primeiro... E depois Seth, porque a última coisa que eu queria
era que qualquer um se machucasse por isso.
— Eu me preocupo por Seth, de verdade. Ele é importante para mim, mas
não é o mesmo. Você sabe que não tem nada com o que se preocupar, certo? O
que Seth e eu tivemos... bem, eu nem sequer sei o que tivemos. Não era um
relacionamento, não de verdade. Ele pediu para tentar e ver o que acontecia. E
isso é o que aconteceu.
Aiden pegou uma mecha do meu cabelo entre seus dedos. — Eu sei. Confio
em você, Alex. Mas isso não quer dizer que eu confio nele.
Não havia como vencer isso com ele. — De qualquer forma, eu posso falar
com Seth e deixá-lo saber o que está acontecendo com a Ordem e o que as
pessoas temem.
— E você acha que ele vai concordar com isso?
— Acho. Seth não vai me forçar a nada usando a... conexão contra nós. —
Eu me mexi no colo de Aiden e o beijei no queixo. — Seth me disse uma vez que
se as coisas se tornassem... demais, ele iria embora. Portanto, há uma saída.
— Hum, ele disse mesmo isso? — Os olhos dele queimaram prateados. —
Talvez ele não seja tão mal.
— Ele não é.
— Eu não gosto disso, mas como disse, vou apoiá-la de qualquer forma que
eu possa.
— Obrigada. — O beijei na bochecha novamente.
Um suspiro estremeceu através dele. — Alex?
— O quê?
Ele se inclinou para trás, me observando através de pesados cílios. — Vocês
comeram toda a massa de bolinho na noite passada ou na verdade fizeram algum
bolinho?
Eu ri com a virada da conversa. — Nós fizemos alguns. Acho que deve tem
uns poucos sobrando.
— Bom. — Ele colocou as mãos no meu quadril e me puxou para frente,
pressionando nossos corpos juntos. — O que é o Dia dos Namorados sem
bolinhos?
— Eu acho que os mortais colocam muita ênfase em chocolate nessa época
do ano. — Descansei minhas mãos nos ombros dele, e a coisa com deuses
raivosos, membros da Ordem, Seth, e tudo o mais pegou o banco de trás. — Mas
bolinhos funcionam.
Uma mão deslizou pela curva da minha espinha, deslizando sobre a massa
de cabelo embaraçado e enviando um tremor fino sobre minha pele. — Então não
há uma árvore de Natal estranha envolvida?
— Não há tal coisa como uma Árvore dos Feriados dos Mortais. — Minha
respiração ficou presa enquanto ele guiava a minha boca em direção a dele,
parando bem quando nossos lábios roçaram. — Mas... mas tenho certeza que os
mortais apreciariam o pensamento daquele tipo de árvore.
— Você acha? — Ele pressionou a boca em um canto dos meus lábios e
então o outro canto. Olhos derivando fechados, meus dedos cavaram em sua
camisa. Quando ele me beijou lentamente, colocando toda a sua paixão não
mencionada em um ato, seu corpo poderoso tensionou embaixo do meu.
Eu não podia me lembrar sobre o que estávamos falando. Havia apenas a
inebriante corrida selvagem de sentimentos que invadiram através de mim. Esse
era Aiden – o homem que eu tinha amado pelo que parecia ser para sempre, em
meus braços, embaixo de mim, contra mim, e me tocando.
— Feliz Dia dos Namorados. — Ele murmurou.
Aiden me segurou perto e apertado, naqueles momentos, ele me mostrou ao
invés de me dizer apenas o quanto estávamos nisso juntos.
E
Vinte e Quatro
u fantasiei tantas vezes sobre como seria estar em um
relacionamento com Aiden. Houve dias, não há muito tempo atrás, que eu teria
esmagado esse sonho da minha cabeça porque parecia não haver esperanças.
Mas por uma semana, eu vivi essa fantasia ao máximo. Nós roubamos o máximo
de tempo que conseguiamos, sozinhos, enchendo-os com beijos profundos e
risadas silenciosas. E planos, nós realmente fizemos planos. Ou pelo menos
tentamos.
Minhas costas arquearam e uma risadinha escapou.
— Oh, então você tem cosquinhas? — Aiden murmurou contra a pele corada
do meu pescoço, — Isso é um fato muito interessante. — Parecia que quando
estávamos juntos nunca conseguiamos manter nossas mãos longe um do outro
por muito tempo. Aiden tinha que estar tocando uma parte de mim. Mesmo que
fosse apenas um ligeiro contato de pele, sua mão enrolada com a minha, ou os
nossos corpos e pernas preguiçosamente emaranhados, sempre nos tocando.
Talvez fosse porque ele tinha lutado contra isso por tanto tempo, ou talvez
nós dois estivéssemos loucos, intoxicados pelo simples ato de deitarmos juntos e
estivessemos viciados. Nossas pernas pressionadas juntas e nossas cabeças
repousando sobre o braço do sofá da sala com os porta-retratos de família. Era
seguro aqui, ninguém se atreveria a entrar. O que uma vez foi o santuário de
Aiden, agora era o nosso. Hoje não foi diferente.
Mas nem tudo era diversão. À medida que os dias iam passando, e eu sabia
que o retorno de Seth estava se aproximando, uma energia ansiosa crescia dentro
de mim. Havia também uma pontada de culpa que me afundava profundamente.
Às vezes, quando eu pensava nele, eu tinha aqueles vislumbres de
vulnerabilidade que ele havia mostrado depois do nosso encontro à meia-noite,
quando nadamos no Catskills e no dia seguinte depois de eu ter recebido a
bebida. Seth era muitas coisas, quase um enigma completo às vezes, mas acima
de tudo, ele era um cara que... que se preocupava, e ele se preocupava comigo.
Talvez mais até do que eu por ele. Talvez não, mas eu não queria machucá-lo.
Eu me mexi no sofá ao lado do Aiden, tentando sacudir a nuvem escura que
repentinamente caiu sobre mim. Falar com Seth não iria ser fácil.
Então novamente, eu não tinha a menor ideia de como ele iria reagir. Ele
tinha estado com Peitos... Talvez não fosse tão difícil.
— Então me diga, — Aiden continuou, ociosamente me puxando de volta
para o presente, para ele. — Onde era mesmo aquele lugar? Era aqui? — Ele
arrastou seus dedos sobre o meu estômago.
— Não. — Meus olhos fecharam, enquanto meu coração saltou e minúsculos
arrepios deslizaram sobre mim.
— Aqui? — Seus dedos dançaram sobre minhas costelas. Sem palavras, eu
balancei a cabeça negativamente
— Agora, onde era mesmo aquele lugar? — Seus agéis dedos pularam do
meu estômago para meu lado. Eu fechei minha boca, mas meu corpo tremeu
enquanto eu tentava conter minha reação natural, — Aha! É aqui? — Ele
vagamente aumentou a pressão. Eu me contorci, mas ele era implacável. Ele riu
quando tentei me libertar, e eu teria caído no chão se não fosse por seu rápido
movimento.
— Para. — Eu ofeguei entre acessos de risos, — Não aguento mais.
— Tudo bem, talvez eu devesse ser bonzinho. — Aiden me puxou de volta
para o seu lado e se inclinou sobre mim. Ele puxou uma mecha do meu cabelo e
torceu ao redor de seus dois dedos, — Enfim, de volta à questão em mãos. Que
outro lugar que não seja Nova Orleans?
Deslizei minha mão em seus braços, amando a forma como seus músculos
se contraíam sob a pele que eu tocava, — O que você acha de Nevada? Não
existem Covenants por lá. O mais perto é o da Universidade.
Ele se inclinou, roçando os lábios em minha bochecha. — Você está
sugerindo Las Vegas? — Fixei um olhar inocente em meu rosto, — Bem, terão
vários daimons, já que vocês, puros, adoram as festas por lá, mas não terá
nenhum estabelecimento Hematoi de qualquer espécie.
— Primeiro Nova Orleans e agora Las Vegas? — Ele roçou os lábios para trás
e para frente enquanto seus dedos acariciavam a parte de trás da minha cabeça,
— Estou começando a ver um padrão aqui.
— Eu não sei. — Minha respiração ficou presa quando ele pressionou mais
sobre mim, — Talvez você não consiga lidar com Las Vegas.
Aiden sorriu, — Eu amo um desafio.
Eu dei uma risadinha, mas todo o humor sumiu no momento em que seus
lábios tocaram os meus novamente. Eu poderia ficar beijando-o para sempre. No
começo eram beijos suaves, macios e questionadores. Meus dedos afundaram em
seus cabelos, puxando-o mais para perto e os beijos se aprofundaram. Eu me
movi e passei meus braços em torno dele, querendo ser capaz de apertar o botão
para parar no tempo. Eu poderia ficar aqui para sempre, sentindo seu corpo
moldado ao meu, nos fundindo.
Eu congelei contra ele.
O sentimento deslizando pela minha espinha era inconfundível. As três
runas que estiveram adormecidas desde que Seth se foi, agora acordaram com
uma vingança, queimando e formigando. A corda estalou viva, respondendo a sua
outra metade.
Seus lábios se moveram do meu pescoço para a minha clavícula, — O que
foi?
Não existia botão de pausa. Merda. — Seth está aqui, tipo, ele está lá fora.
Aiden levantou a cabeça, — Sério?
Eu assenti rigidamente.
Ele xingou sob sua respiração e levantou. Eu comecei a me levantar mas ele
estendeu a mão.
— Deixe-me checar isso primeiro Alex.
— Aiden... — Ele se inclinou, apertou meu ombro e me beijou, quase me
fazendo esquecer da corda que estava se desvendando na boca do meu estômago.
— Deixe me verificar isso, ok? — Ele sussurrou. Eu acenei com a cabeça e
observei-o perambular em direção à porta. Com um sorriso tranquilizardor ele
saiu da sala. Provavelmente era uma coisa boa ele sair para ir cumprimentar
Seth. Eu precisava de alguns segundos para me recompor depois desse último
beijo.
Energia ansiosa correu em mim e a corda se contorceu, feliz. Agitada eu
levantei em menos de um segundo e atravessei a sala. Seth estava por perto. Eu
sabia profundamente em meus ossos. Parei em frente da porta entre-aberta e
prendi a respiração.
Eles estavam no corredor, sozinhos e é claro já estavam discutindo. Eu
revirei os olhos.
— Você acha que eu não sei? — Ouvi Seth dizer em uma forma presunçosa e
sabichona. — Que eu não sabia esse tempo todo em que estive fora?
— O que você sabe? — Aiden parecia surpreendentemente calmo.
Seth riu suavemente. — Ela pode estar aqui com você agora, mas isso é
apenas um momento no grande esquema das coisas. E todos os momentos
acabam, Aiden. O seu também irá acabar.
Eu queria abrir a porta e mandar o Seth calar a boca.
— Soa como algo no verso de um cartão Hallmark só que de uma maneira
bem esquisita. — Aiden respondeu, — Mas talvez o seu tempo já tenha acabado.
Houve uma pausa, e eu podia imaginar os dois. Aiden estaria olhando
friamente para Seth, que estaria arrogantemente e secretamente apreciando todo
esse confronto. Às vezes eu queria bater nos dois.
— Isso realmente não importa. — disse Seth, — É isso que você não entende.
Ela pode te amar, e mesmo assim não importa. Nós pertencemos um ao outro. É
o destino. Aproveite os seus momentos Aiden, porque no final das contas, isso
não significará merda nenhuma.
É isso, já chega. Abri a porta e fui em direção ao corredor. Nenhum deles
nem mesmo se virou, e eu sabia que eles me ouviram voar para fora da sala.
Além deles, eu podia ver a sombra dos Guardas através das janelas minúsculas
em cada lado da porta.
— Você realmente acha isso? — Aiden inclinou a cabeça para o lado, — Se
sim, você realmente é um maldito idiota.
Seth sorriu, — Eu não sou o idiota aqui, puro-sangue. Ela não pertence a
você.
— Ela não pertence a ninguém. — Aiden resmungou enquanto suas mãos
flexionaram perto de seus quadris, onde seus punhais normalmente ficavam
presos.
— Discutível. — Seth disse tão baixo que nem eu tinha certeza se tinha
ouvido direito. Eu me enfiei entre os dois idiotas, antes que um deles fizesse
algum dano.
— Você não é meu dono Seth.
Seth finalmente olhou para mim, seus olhos estavam em um tom âmbar
bonito. — Nós precisamos conversar.
Totalmente. Eu olhei para o puro furioso ao meu lado. Isso não ia ser bonito.
— Em particular. — Seth acrescentou.
— O que você possivelmente tem a dizer que não possa ser dito na minha
frente? — Aiden perguntou.
— Aiden. — Eu falei, — Você prometeu lembra? — Eu não precisava falar
mais nada. Aiden sabia. — Preciso falar com ele.
— Nada irá acontecer com ela. Não quando ela estiver comigo.
Eu me virei, — Deixa-me pegar meu moletom. Tentem não se matar.
— Sem promessas. — Seth sorriu.
Pegando meu moletom do sofá, me vesti rapidamente e voltei para o
corredor. Deus sabia que um segundo com aqueles dois juntos era um segundo
muito longo. Eu passei a Aiden um olhar significativo, enquanto segui Seth até a
porta da frente. Ele parecia severamente infeliz, mas acenou com a cabeça.
A temperatura brutal sugou minha respiração quando eu saí da casa. Eu era
incapaz de lembrar da última vez que tinha estado tão frio na Carolina do Norte.
Seth estava usando apenas um Black Thermal29 e calças cargo. Mais nada. Eu
me perguntei se sentiria todo esse frio insuportável uma vez que Despertasse.
Os Guardas imediatamente se afastaram, revelando o forte sol de inverno
encarando as águas tranquilas. No começo, fiquei surpresa, mas então eu
lembrei de quem eram esses Guardas - do Lucian.
Aiden se moveu inquieto. Suas mãos abrindo e fechando em seus lados. Seth
fingiu um olhar de simpatia. — Não fique tão feliz com isso, Aiden.
29 Um tipo de moletom anti-térmico.
Eu chutei Seth na canela.
— AAAI. — Ele sussurrou, dando-me um olhar, — Chutar não é legal.
— Antagonizar as pessoas não é legal. — Eu respondi.
Aiden suspirou, — Você tem vinte minutos. E então nós vamos te procurar.
— Descendo os degraus, Seth se curvou30 para Aiden e depois se virou.
Vento jogou seu cabelo ao redor de seu rosto. Às vezes eu me esquecia de
quão... bonito Seth é. Ele quase batia Apollo no quesito da beleza. Ambos
possuiam este tipo de beleza fria que não parecia real, porque era impecável tanto
de longe quanto de perto.
Eu desci as escadas ao lado dele, e coloquei as mãos no bolso central do
meu moletom, — Eu não estava esperando você de volta tão cedo.
Seth arqueou a sobrancelha dourada, — Sério? Não estou surpreso com
isso.
Minhas bochechas coraram. Não havia maneira alguma de ele saber o que
havia acontecido entre Aiden e eu. A ligação não funcionava diante de tantos
kilômetros. Respirando fundo, eu criei coragem. — Seth, eu tenho que...
— Eu já sei Alex.
— O quê? — Parei, puxando meu cabelo para fora do rosto, — Você sabe o
quê?
Ele me encarou e se inclinou, trazendo seu rosto a meros centímetros do
meu. O vínculo ficou louco dentro de mim, mas era administrável, contanto que
ele não me tocasse. Oh deuses, isso não ia ser fácil. — Eu sei de tudo.
“Tudo” podia significar muitas coisas. Encolhi meus ombros, apertando-os
contra o olhar duro que eu estava recebendo. — O que exatamente você sabe?
30 Ironizando uma reverência.
Seus lábios formaram um pequeno sorriso. — Bem, vamos ver. Eu sei sobre
aquilo. — Ele apontou para a casa dos St. Delphi, — Eu sabia que ia acontecer.
Fiquei quente e fria ao mesmo tempo, — Seth, eu realmente sinto muito. Não
queria te machucar.
Ele me encarou por um momento e depois riu, — Me machucar? Alex, eu
sempre soube como você se sentia em relação a ele.
Ok. Eu deveria estar drogada quando pensei ter visto vulnerabilidade em
Seth antes. Como sou boba, ele é o cara sem sentimentos ou algo do tipo. Mas até
mesmo na versão arrogante e irritante do Seth, ele estava levando isso
surpreendentemente bem, bem demais. Minhas suspeitas dispararam.
— Por que você está lidando tão bem com isso?
— Eu deveria estar chateado? É isso que você quer? — Ele inclinou a cabeça
para o lado, sobrancelhas levantadas, — Você quer que eu tenha ciúmes? É isso
que é preciso?
— Não! — Senti meu rosto corar novamente, — Eu só não esperava que...
Você estivesse tão bem com isso.
— Bem, eu não diria que estou bem com isso. Mas já aconteceu.
Eu o encarei e um pensamento me atingiu, — Você não vai acusá-lo no
tribunal, pois não?
Seth lentamente balançou a cabeça, — Como isso me beneficiaria? Você
estaria em servidão e no elixir.
E não Despertaria, o que parecia ser sempre o ponto central. Eu era uma
pessoa grande o bastante para admitir que isso era um saco. Eu me perguntei o
que incomodava mais o Seth, minha vida virtualmente acabando ou o meu
Despertar não acontecendo. Eu olhei para longe, mordendo meu lábio, — Eu
descobri algumas coisas enquanto você esteve fora.
— Eu também. — Ele respondeu de forma uniforme. Isso foi enigmático.
— Você tinha que saber sobre a Ordem e como um Apollyon é feito. — Sua
expressão não mudou.
— Por que isso?
Frustração me queimou, — Você disse uma vez, que quando Despertasse, eu
saberia tudo sobre os Apollyons anteriores. Um deles tinha que saber sobre a
Ordem e sobre como nasceram. Por que você não me disse?
Seth suspirou, — Alex, eu não te disse porque não vi um motivo pra isso.
— Como você não viu um motivo pra me dizer depois de tudo que aconteceu
comigo em Nova York? Se tivesse me contado sobre a Ordem, eu teria estado
muito mais preparada.
Ele olhou para longe, seus lábios franzindo.
— E eu te perguntei, enquanto estavamos lá, se você sabia o que aquele
símbolo significava. — Falei, raiva e muita decepção me inundando. Eu nem
tentei esconder minhas emoções dele, — Você disse que não sabia. Quando te
perguntei sobre um puro e um meio-sangue se misturando, você disse que
achava que seu pai era um meio-sangue, que ele tinha de ser. Você sabia a
verdade. O que eu não entendo é por que não me contou?
— Me disseram para não te contar.
— O quê? — Seth começou a andar e eu corri para alcançá-lo, — Quem te
disse para não me contar?
Ele olhou para a praia, — Isso importa?
— Sim! — Eu praticamente gritei, — Isso importa. Como nós podemos ter
qualquer coisa, se eu não confio em você?
Suas sobrancelhas se ergueram, — O que nós temos exatamente Alex? Eu
me lembro de te dizer que você tinha uma escolha. Eu não pedi rótulos ou
expectativas.
Eu também me lembrava disso. A noite na piscina parecia ter sido há anos
atrás. Parte de mim sentia falta daquele Seth brincalhão.
— E você fez a sua escolha. — Seth continuou suavemente, — Você fez sua
escolha, mesmo quando disse que me escolheu.
Também me lembrava daquele satisfeito e passageiro olhar quando eu disse
que tinha o escolhido. Balançando a cabeça, procurei algo para dizer, — Seth,
eu...
— Não quero falar sobre isso. — Ele parou onde a areia desaparecia na
calçada e estendeu sua mão, passando seus dedos em minhas bochechas. Eu
recuei assustada pelo contato e o choque elétrico que se seguiu. Seth baixou a
mão, olhando para as pequenas lojas alinhadas na estrada principal, — Tem
mais alguma coisa que você quer falar?
Ele não respondeu nenhuma maldita pergunta, mas eu tinha mais uma, —
Você viu meu pai, Seth?
— Não. — Ele encontrou meus olhos.
— Você ao menos procurou por ele?
— Sim. Alex, eu não consegui encontrá-lo. Isso não significa que ele não
estivesse lá. — Ele puxou os curtos fios de cabelo que estavam soprando livre em
seu rosto. — De qualquer forma, eu te trouxe um presente.
Eu não tinha certeza se tinha ouvido direito, e então ele repetiu e meu
coração se afundou.
— Seth, você não deveria ter me trazido nada.
— Você vai mudar de ideia quando vir. — Um sorriso perverso atravessou
seus lábios, — Confie em mim, esse é o tipo de presente que só se recebe uma vez
na vida.
Otimo. Isso estava me fazendo sentir bem melhor. Se ele me entregasse um
Diamante Azul31 eu iria vomitar. Ele e eu nunca tivemos um relacionamento, mas
a culpa ainda me fazia contorcer. Quando olhava para ele, eu via Aiden. E
quando ele me tocava, eu sentia Aiden. O pior de tudo, é que Seth sabia.
— Alex, vamos logo.
— Ok. — Eu respirei fundo e em seguida pressionei meus lábios. O vento
que batia vindo do oceano estava escandalosamente frio e eu me encolhi em meu
moletom com capuz, — Por que está tão frio? Não costumava ser tão frio por aqui.
— Os deuses estão furiosos. — Seth disse e depois riu. Eu fiz uma careta e
Seth deu de ombros, — Eles estão colocando todo o foco neste pequeno pedaço de
mundo. É por causa de nós, sabe. Os deuses sabem que a mudança está
chegando.
— Você realmente me assusta algumas vezes. — Ele riu e eu fiz outra careta.
Nós caminhamos em silêncio depois disso. Fiquei esperando ele ir em
direção à ilha controlada pelo Covenant, e quando não fomos, pensei que talvez
estivessemos indo em direção à casa de Lucian, mas ele me guiou diretamente
para a cidade e em direção ao tribunal que era usado pelos membros do
Conselho.
— Meu presente está no tribunal?
— Sim.
Honestamente, eu nunca sabia o que esperar de Seth. Mesmo com a ligação,
eu não tinha a menor ideia da metade das coisas que se passavam na cabeça
dele.
O número normal de Guardas do conselho ficava dentro do tribunal,
escondido dos turistas mortais. Além deles, três dos Guardas de Lucian
bloqueavam a porta. Eles se afastaram, abrindo-a para nós.
31 Como em Titanic.
Eu parei, sabendo para onde a porta e as escadas levavam.
— Por que estamos indo para as celas, Seth?
— Por que eu vou te trancar em uma delas e fazer coisas malucas com você.
Revirei os olhos. Ele pegou meu cotovelo e me puxou para frente. Nós fomos
para baixo.
Meus olhos se ajustaram a escuridão das escadas, as tábuas velhas
rangendo sob os nossos pés. As celas não eram subterrâneas. Na verdade, elas
ficavam no primeiro andar. A entrada principal se abria para o segundo andar,
mas ainda assim, parecia que estávamos em um lugar úmido e escuro. Uma luz
fraca estava acesa no corredor. Sobre o ombro do Seth, eu podia ver várias celas
que revestiam o corredor estreito. Estremecei, imaginando-me presa em uma
dessas celas. Deuses, quantas vezes eu tinha chegado perto disso? À nossa
frente, dois Guardas estavam posicionados onde exatamente era a última cela.
Seth andou na direção deles e estalou os dedos.
— Deixem-nos. — Eu fiquei boquiaberta observando os Guardas saírem.
— Você tem algum super-poder Apollyon do tipo estalador de dedos?
Ele inclinou a cabeça para o lado, — Eu tenho vários super-poderes de
Apollyon no que se trata de dedos.
Eu o empurrei, — Onde está meu presente, seu pervertido? — Seth se
afastou sorrindo.
Ele parou em frente à porta trancada e abriu os braços, — Venha ver.
Ok, eu estava curiosa. Dei um passo para frente, parei em frente à porta e
espreitei através das barras.
Minha boca caiu e meu estômago ficou oco. Encolhido no meio da cela, com
suas mãos amarradas nos tornozelos, estava o Ministro Chefe Telly, nos
encarando com olhos brancos. Seu rosto espancado, quase irreconhecível e suas
roupas rasgadas e sujas estam penduradas em torno dele.
— Oh meus deuses, Seth.
A
Vinte e Cinco
tordoada, eu recuei da porta da cela. Tudo que Apollo havia me
alertado, correu sobre mim de uma só vez. Todos estavam com medo que algo
assim acontecesse, todo mundo menos eu, e eu ainda não conseguia acreditar
que isso realmente estivesse acontecendo.
— O que você fez? — Perguntei.
— O quê? Eu te trouxe um presente... Telly.
Eu me virei para ele, chocada em ter de explicar todas as coisas erradas
sobre isso. — Seth, a maioria dos caras presenteiam as garotas com rosas e
filhotinhos, não pessoas, Seth. Não o Ministro Chefe do Conselho.
— Eu sei o que ele fez, Alex. — Ele colocou a mão sobre a cicatriz que Linard
deixou, — Sei que ele ordenou isso.
Através da roupa pesada, eu podia sentir a mão de Seth, — Seth, eu...
— Senti algo quando isso aconteceu... Como se a nossa ligação tivesse
desaparecido completamente. — Ele disse calmamente e rapidamente, — Não
conseguia sentir suas emoções, mas sabia que você estava lá... E então você não
estava mais lá por alguns minutos. Eu sabia. Então Lucian me contou. Minha
primeira reação era de trazer apenas a cabeça dele para você, mas então fiz a
segunda coisa melhor.
Eu me senti fisicamente mal enquanto encarava Seth. E quando olhei para
Telly na cela, eu vi o rosto massacrado de Jackson. Eu deveria ter imaginado.
Meus deuses, eu deveria ter imaginado que ele saberia... e que faria algo assim.
— Não demorou muito para eu encontrá-lo. — Ele continuou casualmente,
— E eu sabia que as pessoas estavam procurando por ele. Leon. — Seth riu, —
Ou eu deveria chamá-lo de Apollo? Sim, eu consegui pegar Telly primeiro que ele
dessa vez. Aqueles dois dias que você não me ligou? Foi tudo que me levou para
achá-lo.
O ar saiu dos meus pulmões. Gelo encharcou minhas veias.
Ele franziu a testa, — Ele ordenou sua morte, Alex. Achei que você ficaria
feliz em saber que nós o capturamos, e ele não será mais um problema.
Eu me virei para a cela, — Deuses, como as fúrias não reagiram a isso?
— Não sou estúpido, Alex. — Ele se moveu para ficar ao meu lado, ombro
com ombro, — Lucian ordenou isso e fez seus Guardas realizarem. Eu estava
apenas... de carona. Eu sou inteligente, não sou?
— Inteligente? — Engoli em seco, me afastando da cela, de Seth. — Então
isso foi ideia de Lucian?
— Isso importa? — Ele cruzou os braços, — Telly tentou te matar - ele
realmente te matou. Por isso ele tem que ser punido.
— Isso não torna isso certo! — Apontei para a cela, me sentindo doente, — O
que há de errado com ele?
— Ele está sob uma forte compulsão para não falar. — Seth bateu em seu
queixo, pensativamente, — Eu nem mesmo tenho certeza se ele está pensando.
Na verdade, eu acho que ele está meio frito.
— Deuses, Seth. Ninguém nunca te disse que dois erros não fazem um
acerto?
Seth bufou, — Em meu livro, dois erros sempre fazem um acerto.
— Isso não é engraçado, Seth! — Tentei me acalmar, — Quem é que vai
matá-lo? O Conselho puro-sangue?
— Não. O novo Conselho irá.
— O novo Conselho? Que diabos é isso?
Frustração queimou em seus olhos cor de âmbar, — Você só precisa
entender o porquê disso estar acontecendo. Esse homem serve aos deuses que
querem você... Nós... Mortos. Ele precisa ser eliminado.
Corri minhas mãos sobre a cabeça, querendo puxar meu cabelo, — Seth,
isso foi ideia de Lucian ou não?
— Por que isso importa? E se foi? Ele quer nos manter a salvo. Ele quer
mudança e...
— E ele quer o trono de Telly, Seth. Como você não consegue ver isso? —
Frieza tomou conta das minhas entranhas enquanto eu encarava Seth. Lucian
queria poder e, eliminar Telly, era uma maneira de consegui-lo. Mas não
significava que ele poderia assumir total controle do Conselho... Ou será que
poderia? Balancei a cabeça, — De maneira alguma os deuses irão permitir isso.
Eles não querem o que Telly queria.
— Os deuses são os inimigos aqui, Alex! Eles não falam com o Conselho,
mas falam com a Ordem.
— Apollo salvou minha vida, Seth! Não o Lucian!
— Apenas porque eles têm planos para você. — Ele disse dando um passo a
frente, — Você não sabe o que eu sei.
Minhas mãos se fecharam em punhos, — Então me diz o que você sabe!
— Você não entenderia. — Ele se virou para a figura estática na cela, —
Ainda não. Eu nem mesmo te culpo por isso. Você tem muito puro-sangue em si,
agora mais do que nunca.
Eu vacilei, — Isso não... não foi justo.
Seus olhos se fecharam e ele passou o dorso da mão sobre sua testa, — Você
está certa, não foi justo.
Agarrei o momento de clareza, — Você não pode mantê-lo aqui, Seth. Você
está certo. Ele tem de ser punido pelo o que fez, mas ele precisa de um
julgamento. Mantê-lo assim, sob compulsão em uma cela é errado.
Deuses, era um dia louco quando eu era a voz da razão.
Seth se virou para mim. Ele abriu a boca, mas depois fechou, — Eu já
investi muito nisso.
Pavor correu pela minha espinha. Eu me dirigi a ele, mas parei. Cruzei os
braços sobre o peito, — O que você dizer?
Ele estendeu a mão para mim, mas eu me afastei. Confuso, ele abaixou a
mão, — Como você pode querer ele vivo?
— Porque não é nosso dever, decidir quem vive ou quem morre.
Ele franziu as sobrancelhas, — E se for?
Balancei a cabeça, — Então eu não quero fazer parte disso. E eu sei que você
também não quer.
Seth suspirou, — Alex, você está treinando para ser uma Sentinela. Você irá
tomar decisões de vida e morte o tempo todo.
— É diferente.
— É mesmo? — Ele inclinou a cabeça em minha direção, com um sorriso
presunçoso lavando qualquer hesitação.
— Sim! Como uma Sentinela eu irei matar daimons. Não é o mesmo que
brincar de juiza e executora.
— Como você não consegue ver que estou fazendo o que precisa ser feito,
mesmo se você é fraca demais para fazer sozinha?
Quem diabos era essa pessoa ao meu lado? Era como discutir com um
lunático... Agora eu sabia como as pessoas se sentiam quando tentavam
argumentar comigo. Ironia era um inimigo cruel, muito cruel. — Seth, onde estão
as chaves da cela?
Seus olhos se estreitaram, — Eu não vou deixá-lo sair.
— Seth. — Dei um passo hesitante em direção a ele, — Você não pode fazer
isso. Nem o Lucian.
— Eu posso fazer o que eu bem entender!
Passei por ele, estendendo a mão para a alça da porta e então, de repente, eu
estava contra a parede oposta, com Seth na minha cara. Medo floresceu em meu
estômago enquanto o vínculo cantarolava loucamente, — Seth. — Eu sussurrei.
— Ele vai ficar lá. — Seus olhos brilhavam em um tom ocre perigoso, — Há
planos para ele, Alex.
Engoli em seco o gosto repentino de bile, — Que planos?
Seu olhar caiu sobre meus lábios e um novo medo me tomou, — Você vai ver
em breve. Não precisa se preocupar, Alex. Eu vou cuidar de tudo.
Plantando minhas mãos em seu peito eu o empurrei alguns metros para
trás. Choque e depois raiva brilharam em suas feições, — Você está
completamente louco, Seth. Não vá por esse caminho.
Girando ao redor, ele se voltou para a cela e apontou para Telly, — Então
você prefere ver essa coisa livre? Livre para escravizar os mestiços, para ordenar
suas mortes? Livre para continuar suas tentativas de assasinato contra você? E
então esperamos por um julgamento, um julgamento arranjado para proteger os
puros-sangues? Eles vão apenas dar um tapinha na mão dele. Inferno, eles
podem até pedir que você se desculpe com ele, por estragar seus planos em te
matar!
Raiva me inundou. Dei um passo a frente, de igual para igual com Seth, —
Você não se importa com o que acontece com os mestiços! Não tem nada a ver
com o que você está planejando! E você sabe disso. O que está fazendo, o que
você está concordando, é errado. E eu não...
— Vá. — Ele me cortou, sua voz furiosa e baixa.
Eu mantive minha posição, — Não vou deixar você fazer isso, Seth. Não sei o
que Lucian te disse que o convenceu...
— Eu disse, vá embora. — Seth me empurrou duramente. Eu mal consegui
me equilibrar, — Talvez na próxima vez eu te traga rosas e filhotinhos.
Isso me arrepiou, assim como o sorriso que ele me deu. Levou cada grama
do meu auto-controle para eu conseguir virar as costas e ir embora. Corri até as
escadas. Como milhares de vezes em minha vida, eu não tinha planejado ouvir o
que me foi dito. Mas pela primeira vez, era provavelmente a coisa certa a se fazer.
Aiden e Marcus precisavam saber o que Seth e Lucian estavam planejando.
Talvez eles conseguissem parar isso antes que fosse tarde demais - antes que
Seth cumprisse seu papel no plano e matasse o Ministro Chefe e selasse os
nossos destinos.
Ainda tinha que haver esperanças para Seth. Claro que ele estava se
envolvendo em algo louco, mas não epicamente louco. Tecnicamente, Seth não
tinha feito nada ainda. Como Caleb disse, ainda havia esperanças. O que quer
que Lucian tenha sobre Seth, ele estava puxando suas cordas e elas tinham de
ser cortadas antes que a história se repetisse.
Eu abri as portas do tribunal e fiquei cara-a-cara com a raiz de todos os
meus problemas.
Lucian estava rodeado por vários Guardas do Conselho, todos vestidos com
aqueles rídiculos robes branco. O sorriso que se espalhou em seu rosto nunca
alcançou seus olhos, — Eu pensei que te acharia aqui, Alexandria.
Antes que eu percebesse o que estava acontecendo, seus Guardas me
cercaram. Estranho, todos os guardas eram puros-sangues. Jogada inteligente,
eu daria algum crédito a ele. — O que está acontecendo, Lucian?
— Quando você vai me chamar de 'pai'? — Ele subiu o último degrau
parando em minha frente, vento soprando suas vestes dando a impressão que ele
estava flutuando.
— Hum, que tal nunca?
Seu sorriso agradável permaneceu, — Um dia isso vai mudar. Nós seremos
uma grande família feliz, nós três.
Agora isso foi perturbador, — Você quer dizer Seth? Ele é tão parte de você
como um câncer no pulmão.
Lucian fez um som suave de desaprovação, — Você vai voltar para minha
casa, Alexandria. Não há necessidade de permanecer mais tempo na residência
dos St. Delphi.
Minha boca abriu para discutir, mas eu a fechei. Não havia maneira alguma
de saber se Lucian estava ciente dos meus sentimentos por Aiden, ou se Seth
tinha lhe dito qualquer coisa. Criar uma polêmica iria apenas levantar suas
suspeitas. Não havia nada que eu pudesse fazer para impedir isso. Lucian era o
meu guardião legal. Engolindo minha raiva e desgosto eu dei um passo à frente,
— Eu só preciso pegar minhas coisas.
Lucian se afastou, fazendo sinal para eu segui-lo, — Isso não será
necessário. Seus pertences serão enviados por Seth.
Maldito. Eu endureci quando Seth apareceu na porta. Ele nem me olhou
quando passou por mim.
Lucian deu uma batidinha no ombro de Seth, — Encontre-nos em nossa
casa. — Seth assentiu com a cabeça e desceu os degraus. Na calçada ele olhou
para cima e me deu um sorriso sardônico antes de ir em direção a um dos
Hummers32 parados no meio-fio.
— Agora, minha querida, você vem comigo. — Lucian disse. Fumegante, mas
incapaz de fazer alguma coisa, eu segui Lucian para dentro do outro Hummer.
Deuses, não permitam que Lucian realmente ande até sua casa.
Assim que ele subiu no banco de trás comigo, eu já estava rastejando para
fora da minha pele para sair do carro.
Lucian sorriu, — Por que você fica tão desconfortável perto de mim?
Eu me afastei da janela, — É apenas algo sobre você.
Ele arqueou uma sobrancelha, — E isso seria?
— Bem, você é como uma serpente, mas viscosa.
Ele se inclinou para trás contra o banco, enquanto o Hummer se moveu, —
Que fofo.
Eu sorri com força, — Vamos direto ao ponto Lucian. Eu sei sobre Telly. Por
que você faria algo que até eu acho estúpido e imprudente?
— O tempo para mudança está em nossas mãos. Nosso mundo precisa de
uma liderança melhor.
Meu riso escapou antes que eu pudesse detê-lo, — Você está drogado?
— Por muito tempo, nós tivemos que viver pelas leis antigas, existindo ao
lado de mortais como se não fôssemos melhores do que eles. — Nojo escorria de
32 Carro.
suas palavras, — Eles devem tomar o lugar dos mestiços, servindo a cada
necessidade ou capricho nosso. E quando eles o fizerem, nós, os novos deuses,
iremos governar esta terra.
— Meus deuses, você é louco. — Não havia mais nada que eu pudesse dizer.
E o pior de tudo, Vovó Piperi estava certa, mas como sempre, eu não tinha
entendido. História estava se repetindo, mas da pior forma possível. E o mal
estava escondido nas sombras, agindo como um mestre de marionetes puxando
as cordas.
Vovó Piperi tinha se referido a Seth e Lucian. Eu me senti mal. Se eu tivesse
percebido isso antes, poderia ter impedido de ir tão longe.
— Não espero que você entenda, mas Seth entende. Isso é tudo que eu
preciso.
— Como você conseguiu convencer Seth?
Ele estudou suas unhas, — O menino nunca teve pai. Sua mãe puro-sangue
mal queria saber dele. Eu suponho que ela tenha se arrependido de se envolver
com um mestiço, mas tinha sido incapaz de se livrar dele enquanto ainda estava
em seu ventre.
Eu vacilei.
— É seguro supor que ela não era uma mãe muito amável. — Lucian
continuou, — Mas esse menino ainda conseguiu impressionar o Conselho e
ganhou entrada para o Covenant. Ele teve uma infância díficil, sempre sozinho.
Eu suponho que tudo que Seth sempre quis era ser amado. — Ele olhou para
mim, — Você pode fazer isso? Dar a ele a única coisa que ele sempre quis?
De repente, além de dúvidas, eu sabia que Seth não havia contado a Lucian
sobre Aiden. Mas por quê? Remover Aiden da equação só beneficiaria Seth. Será
que ele não contou por que sabia que iria me machucar? Se esse fosse o caso,
então Seth ainda estava pensando. Ele não era uma causa perdida depois de
tudo.
— Eu espero que sim. Seth é um bom menino.
Meus olhos se arregalaram, — Você soa... sincero.
Lucian suspirou, — Eu nunca tive um filho meu, Alexandria.
Choque me percorreu. Lucian realmente se importava com Seth. E Seth o via
como um pai. Mas isso não mudava o que Lucian estava fazendo, — Você está
usando ele.
O Hummer parou atrás da casa de Lucian. — Eu estou oferecendo a ele o
mundo. A mesma coisa que estou te oferecendo.
— O que você está oferecendo é a morte certa para todo mundo que
concordar com isso.
— Não necessariamente, minha querida. Nós temos parceiros nos lugares
mais... incomuns - parceiros muito poderosos.
Minha porta abriu antes que eu pudesse responder. Um Guarda esperava eu
sair, cuidadosamente me observando como se estivesse esperando eu sair
correndo, o que eu havia considerado mas sabia que não conseguiria. Eu fui
guiada para dentro da casa rapidamente, então deixada no opulento hall de
entrada com meu padrasto.
— É uma vergonha que você tenha de dificultar isso, Alexandria.
— Desculpa ter que fazer chover em seu desfile louco, mas eu não vou
concordar com isso. Ninguem vai.
— É mesmo? Você dúvida das minhas palavras? — Seu olhar pousou nos
seus Guardas mestiços, — Eu quero ver uma vida melhor para os mestiços.
— Mentira. — Sussurrei e meu olhar se moveu para os Guardas. A
condenação que encheu suas expressões quando eles retornaram o olhar, dizia
que eles acreditavam em Lucian. E a verdadeira questão é, quantos meios-
sangues estavam por trás de Lucian? Os números poderiam ser astronômicos.
Lucian riu. Era um som áspero e frio, — Você realmente não tem controle
sobre isso.
— Veremos. — Eu estendi a mão para a maçaneta da porta, mas quando eu
girei ela estava trancada. Eu detestava o elemento ar com todo o meu coração.
Lentamente eu o encarei, — Você não pode me manter aqui. Deixa-me sair.
Lucian riu novamente, — Não será permitido qualquer visitante até seu
Despertar. E não espere que Apollo vá aparecer. Ele não será capaz de entrar em
minha casa.
Eu fiz uma careta, — Você não pode parar um deus. — Lucian parecia
satisfeito enquanto se afastava, meu olhar o seguiu. Olhei para trás dele, para a
parede onde uma vez Seth havia pressionado um Guarda. Havia uma marca ali,
um símbolo grosseiramente desenhado de um homem com corpo de serpente.
— Apollo não pode entrar em nenhuma casa que tenha a marca de Python of
Delphi. Foi criada há muito tempo como um castigo por violar as regras do
Olimpo. Engraçado, eu não sabia disso até recentemente.
Eu engoli. O desenho parecia ter sido feito em sangue, — Como... Como você
descobriu isso?
— Eu tenho muitos amigos... De grande poder e magnitude. — Lucian olhou
para o desenho, um leve sorriso em seu rosto angular, — Tenho muitos amigos
que te surpreenderiam, minha querida. — Senti as paredes se fechando,
apertando o fôlego dos meus pulmões. Eu estava presa aqui até o meu Despertar.
Minha respiração ficou presa. Eu deveria ter ouvido Aiden e nunca ter deixado
sua casa.
— Você não pode fazer isso.
— Por que eu não posso? — Ele caminhou em minha direção, — Sou seu
guardião legal. Posso fazer o que eu bem quiser com você.
Meu temperamento esticou e se alargou, — Sério? Quando foi que isso
funcionou para você no passado?
— No passado eu não tinha Seth, e nós não estávamos tão perto do
Despertar. — Ele pegou meu queixo, cravando seus dedos ossudos, — Você pode
lutar contra mim nisso o quanto quiser, mas dentro de alguns dias você irá
Despertar. Primeiro, você irá se conectar com Seth, e o que ele deseja, você
deseja. E então seu poder será transferido para ele. Você não pode parar isso.
Eu empalideci, — Sou mais forte que isso.
— Você acha? Pense nisso, minha querida. Pense sobre o que isso significa e
se existe ou não, um ponto em lutar contra o que está para acontecer.
Inquietação se apoderou de mim, mas mantive minha expressão vazia, — Se
você não me soltar, vou quebrar seu braço.
— Você quebraria, não é mesmo? — Sua respiração era quente contra minha
bochecha. Minha bile subiu em minha garganta, — Havia apenas uma coisa em
que Telly e eu sempre concordamos.
— O que é?
— Você precisa ser contida. — Ele me soltou, o mesmo maldito sorriso
estampado em seu rosto, — Exceto que ele foi pelo caminho errado. Eu não
cometerei o mesmo erro que cometi com sua mãe. Eu permiti muita liberdade a
ela. Por agora, você é minha, assim como Seth é. E te faria muito bem se lembrar
disso.
Eu recuei, — Você é um filho da puta.
— Isso pode ser verdade, mas em poucos dias, eu irei controlar ambos os
Apollyons. Então nós seremos imparáveis.
O
Vinte e Seis
jantar foi estranho por várias razões. Havia apenas três de nós
juntos no final da longa mesa retangular, comendo à luz de velas, como se
tivéssemos sido jogados em tempos medievais. Seth alternou entre brincar de
papai-faz-de-conta com Lucian e olhar irritado para mim. Eu recusei qualquer
tentativa de Lucian para me atrair à conversa. E não poderia nem mesmo me
fazer comer o bife de dar água na boca, o que realmente era uma droga.
Este ia ser o meu último jantar.
Eu sabia. O que eu planejava, enquanto assistia aos dois, certamente
acabaria comigo sendo morta, mas era ou ir por esse caminho ou ser parte de
algo tão hediondo como destruir aqueles que não concordam com Lucian e
escravizar a humanidade. Porque é isso que eles planejavam - ou pelo menos,
Lucian planejava. Lucian precisava dos Apollyons, pelo menos, o Assassino de
Deuses, - para o conseguir. Fazia sentido. Os Apollyons tinham sido
originalmente criados para manter os puros na linha, mas se ele controlava os
Apollyons, então ele não tinha nada a temer. Uma vez que eu acordasse, Seth
poderia derrubar qualquer deus que fosse atrás de Lucian, tornando Lucian
praticamente invencível. Era um plano brilhante. Um plano, que eu sabia, Lucian
provavelmente tinha trabalhado a partir do momento em que tomou
conhecimento de que havia dois Apollyons em uma geração.
Eles davam aos membros do Conselho uma opção. Ficar com eles ou cair.
Com Seth em pleno poder Apollyon, - o Assassino de Deuses - ele seria capaz de
apagar qualquer deus que viesse em sua caça. Não que Lucian acreditava em
quaisquer deuses. Uma vez que Seth se tornasse o Assassino de Deuses, nenhum
deus seria estúpido o suficiente para estar perto a uma milha dele. A única
ameaça seria os membros da Ordem, mas eles também teriam um inferno para
chegar até Seth. Lucian tinha Sentinelas em busca dos membros restantes.
Estremeci com o que eu sabia que eles iriam fazer com eles.
E, no entanto, tanto quanto eles conversavam, eu senti que havia algo que
eles não estavam compartilhando. Tinha algo a mais, assim como eu senti em
relação ao porquê de Apollo ter estado tão determinado em me manter segura.
— Como é que a Ordem matou o Primeiro e Solaris? — Perguntei, falando
pela primeira vez.
Lucian levantou as sobrancelhas para Seth enquanto ele girava o copo de
cristal.
— Pegaram eles inesperadamente. — Seth olhou para o prato. — No mesmo
momento, eles foram esfaqueados no coração. — Ele limpou a garganta, — Por
que você pergunta?
Dei de ombros. Principalmente porque eu estava curiosa, uma vez que não
era uma tarefa fácil matar dois Apollyons. Quando eu não respondi, eles
retomaram a conversa. E eu retomei minha conspiração.
Eu ia fazer algo que nunca pensei que faria de novo. Eu ia matar um puro-
sangue, Lucian. Meus dedos se enroscaram em torno da faca. Era a única
maneira de parar isto. Retire Lucian da equação e Seth seria libertado de sua
bizarra influência parental. E eu estaria morta, mas talvez... Talvez Aiden e
Marcus pudessem provar a insanidade de Lucian. Valia a pena arriscar. Eu não
podia deixar isso acontecer, e iria acontecer, se eles me mantivessem aqui, e
então não haveria como pará-los.
Esta era, possivelmente, a coisa mais louca, mais espontânea e irresponsável
que eu já tinha planejado, mas que outra escolha eu tinha? Lucian já controlava
Seth e ele podia me controlar através dele, se Seth quisesse. Esse era o medo de
todos - o meu maior medo.
Eu tinha que fazer alguma coisa.
— Posso ser dispensada? — Perguntei.
— Você não comeu nada. — Seth franziu o cenho, — Está se sentindo
doente?
Uau, talvez eu tenha perdido o apetite porque tipo, eu estava cercada por
lunáticos? — Eu estou cansada.
— Tudo bem. — Disse Lucian.
Tentando não pensar sobre o que eu estava fazendo, coloquei o guardanapo
sobre a faca e deslizei, cabo primeiro, na manga. Fiquei com os joelhos fracos.
Matar em batalha, ou quando eu precisava me proteger, era totalmente diferente
disso. Parte de mim gritava que isso era errado - tão errado como o que
pretendiam fazer para Telly, mas uma vida para proteger inúmeras mais? Parecia
valer a pena.
Okay. Duas vidas, porque eu duvidava seriamente que ia me safar dessa.
Guardas esperavam do lado de fora da sala de jantar. Se eles não me matassem,
o Conselho que Lucian queria trair o faria. Irônico.
Andei ao redor da mesa lentamente, acalmando minha respiração e
bloqueando minhas emoções. Eu tinha força suficiente para empurrar a faca
pelas suas costas, cortando sua medula espinhal. Seria mais fácil ir para a
garganta ou os olhos, mas deuses, eu estava enjoando só de pensar nisso.
Apenas faça. Cheguei ao lado de Lucian e inalei uma respiração profunda
enquanto deixava a faca deslizar para fora da minha manga. Em seguida, um
trem de carga me bateu no chão.
Eu bati forte no chão de azulejos com uma rachadura. Seth prendeu minhas
pernas enquanto torcia meu pulso até que eu gritei e fui obrigada a largar a faca.
Enquanto eu tentava sair de seu alcance, Guardas correram para a sala, mas
Lucian levantou a mão, parando-os.
— Qual é o seu problema? — Seth perguntou furiosamente, dando-me uma
pequena sacudida quando eu não respondi rápido o suficiente. — Você está
louca?
Meu coração batia forte contra as minhas costelas. — Eu não sou a louca
aqui!
— Sério, você não é a louca? — Seu olhar foi para a faca, — Eu preciso
explicar isso para você?
— Lide com ela. — Lucian levantou-se e jogou o guardanapo de pano, a voz
estranhamente calma, — Antes que eu faça algo do qual me arrependa.
Seth exalou duramente. — Sinto muito, Lucian. Eu vou corrigir isso.
O choque foi tanto que eu não podia falar. Ele estava se desculpando com
Lucian? Eu estava na terra de loucos e não havia como escapar.
— Ela precisa aceitar isso. — Disse Lucian. — Eu não vou viver com medo
de ser assassinado em minha própria casa. Ou ela está em conformidade, ou eu
vou tê-la trancada.
Os olhos de Seth encontraram os meus. — Isso não será necessário.
Eu olhei para ele.
— Bom. — Lucian soou mais enojado do que com medo. Era como se eu
tivesse cuspido nele em vez de tentar matá-lo, — Vou me retirar pela noite.
Guardas!
Em uma corrida de movimentos, eles seguiram Lucian para fora da sala.
Alguns deles eram puros. Será que ele prometeu alguma coisa que valesse a pena
ir contra o Conselho e arriscar a morte? Eu sabia o que ele ofereceu aos mestiços.
Seth ainda me prendia ao chão. — Isso foi provavelmente a coisa mais
estúpida que você já tentou fazer.
— Pena que não deu certo.
Parecendo incrédulo, ele me arrastou para os meus pés. O momento em que
ele me deixou ir, eu corri para a porta. Ele me pegou antes que eu pudesse ir
para fora da sala, apertando os braços em volta de mim. — Pare com isso!
Joguei minha cabeça para trás, por pouco não acertando a dele. — Deixe-me
ir!
— Não torne isso difícil, Alex.
Eu lutei em seu aperto. — Ele está usando você, Seth. Porque não pode ver
isso?
Seu peito subia e descia nas minhas costas. — É tão difícil para você aceitar
que Lucian se importa comigo... com você?
— Ele não se importa com a gente! Ele só quer nos usar. — Chutei minhas
pernas para usar a parede, mas Seth se antecipou e me virou, — Maldito seja!
Você é mais esperto que isso!
Seth suspirou e começou a arrastar-me pelo corredor. — Você é um pouco
tola às vezes. Não há nada que você não vai poder ter, Alex. Nada! Juntos,
seremos capazes de mudar o mundo. Não é isso que você quer? — Nós tínhamos
chegado à escada, e eu chutei a estátua de algum deus que eu não reconheci, —
Deuses! Pare com isso, Alex. Para alguém tão pequena, você é estranhamente
pesada. Eu não quero ter que carregá-la pelas escadas.
— Nossa. Obrigada. Agora você está me chamando de gorda.
— O quê? — Seus braços afrouxaram.
Eu bati meu cotovelo em seu estômago duro o suficiente para que o impacto
sacudisse todo o meu corpo. Seth dobrou, mas não me soltou. Xingando
descontroladamente, ele virou-me ao redor e se inclinou na cintura. Ele apertou
meu braço para baixo e puxou-me sobre seu ombro. Antes que eu pudesse chutá-
lo onde ele realmente sentiria a dor, ele pegou minhas pernas e imobilizou-as.
— Coloque-me no chão! — Eu bati em suas costas com os punhos.
Seth resmungou quando ele começou a subir as escadas. — Sério, não posso
acreditar que eu tenho que fazer isso.
Continuei meu ataque sem sucesso. — Seth!
— Talvez você mereça uma surra, Alex. — Rindo, ele se contorceu enquanto
eu lhe golpeava os rins. — Ai! Isso dói!
Nós estávamos fazendo barulho suficiente para acordar todo Guarda na
casa, mas ninguém interveio. Eu reconheci o corredor de cabeça para baixo e
Seth abriu porta. Era meu velho quarto na casa de Lucian.
Seth invadiu através do tapete branco de pelúcia que não estava em meu
quarto quando eu estive na casa. Naquela época, eu tinha assoalhos
desencapados que tinham sido frios no inverno. Ele me deixou sem a menor
cerimônia na cama e então plantou as mãos nos quadris. — Comporte-se.
Eu pulei para os meus pés. Seth me pegou pela cintura e me empurrou de
volta para baixo, com pouco esforço da sua parte. Uma incrível quantidade de
raiva me encheu de energia, varrendo-me como uma corrida de ondas agitadas. E
eu deixei que a crescente fúria se propagasse como a maré subindo.
— Você está sendo ridícula, Alex. E você precisa se acalmar. Você faz com
que eu tenha vontade de ter alguns Valiums33.
Minhas mãos fecharam em punhos. — Ele está usando você, Seth. Ele quer
nos controlar para que ele possa derrubar o Conselho. Ele quer ser maior do que
33 Calmantes tarja preta.
os deuses. Você sabe que nunca vou permitir isso! É por isso que os Apollyons
foram criados em primeiro lugar.
Seth arqueou uma sobrancelha. — Sim, Alex, eu sei porque os Apollyons
foram criados. Para garantir que nenhum puro-sangue alcançasse o poder dos
deuses e blá blá. Deixe-me fazer uma pergunta. Você acha que os deuses se
importam se você morrer lutando com um daimon?
— Obviamente que eles se importam, porque eles me trouxeram de volta.
Ele revirou os olhos. — E se você não fosse o Apollyon, Alex? E se você fosse
apenas uma mestiça? Será que eles se importariam se você morresse?
— Não, mas...
— Você acha que isso é certo? Ser forçado a ser, ou um escravo ou um
guerreiro?
— Não! Não é certo, mas os deuses não decretaram isso. Os puros fizeram,
Seth.
— Eu sei, mas você não acha que os deuses podiam ter mudado isso se eles
quisessem? — Ele se aproximou, baixando a voz. — A mudança precisa
acontecer, Alex.
— E você acha que Lucian realmente vai trazer esse tipo de mudança? —
Quis que Seth entendesse. — Que uma vez que ele assuma o controle completo
do Conselho, ele vai libertar os servos? Aliviar os mestiços de seu dever?
— Sim! — Seth caiu de joelhos na minha frente, — Lucian vai.
— Então, quem vai lutar contra os daimons?
— Haverá aqueles que se oferecerão voluntários, assim como os puros fazem
agora. Lucian vai fazer isso. Tudo o que temos que fazer é apoiá-lo.
Eu balancei a cabeça. — Lucian nunca se preocupou com os mestiços. Tudo
o que ele já se preocupou foi com ele mesmo. Ele quer o poder supremo, para
escravizar os mortais ao invés dos mestiços. Ele mesmo disse isso.
Com um humph enojado, ele se levantou. — Lucian não tem intenções de
fazer uma coisa dessas.
— Ele me disse no carro! — Segurei suas mãos, ignorando a forma como a
corda saltou. — Por favor, Seth. Você tem que acreditar em mim. Lucian não vai
fazer nenhuma das coisas que ele prometeu.
Ele olhou para mim um momento. — Por que você se importa se escravizar
mortais era o seu plano final? Eu não entendo. Você não aguentava viver entre
eles quando vivia. Por que você quer proteger os deuses quando a Ordem a matou
- a matou - para protegê-los? E você tem um problema com uns poucos puros
morrendo ao longo do caminho? Olha como eles trataram você. Eu não entendo.
Às vezes nem eu conseguia entender. Os puros nos tratavam, os mestiços,
como lixo. E os deuses, bem, eles eram tão culpados quanto os puros. Eles
permitiram que isso acontecesse. Mas isso era mais errado. — Pessoas inocentes
vão morrer, Seth. E o que você acha que os deuses vão fazer? Eles podem não ser
capazes de tocar em você e em mim, mas eles podem ser vingativos e grandes
sádicos. Eles vão começar o abate, os mestiços e puros vão morrer aos montes.
Apollo disse isso.
Ele apertou minhas mãos. — Perdas de Guerra... acontece.
Eu puxei minhas mãos livres. Meu estômago virou. — Como você pode ser
tão insensível?
— Não é que eu seja indiferente, Alex. É chamado de força.
— Não. — Eu sussurrei. — Isso não tem nada a ver com força.
Seth se afastou de mim, passando a mão pelos cabelos, puxando fios livres
do laço de couro. Ele sempre tinha sido assim? Sempre houve um grau de frieza
nele, mas nada como isto.
— Vai ficar tudo bem. — Disse ele finalmente. — Eu prometo. Eu vou cuidar
de você.
— Isso não vai ficar bem. Você tem que me deixar ir. Temos de ser afastados
um do outro.
— Eu não posso, Alex. Talvez com o tempo você vai esquecê-lo e...
— Isto não é sobre Aiden!
De frente para mim, seus lábios torceram em um sorriso amargo, cínico. —
É sempre sobre Aiden. Você não se importa com os mortais. Se você ainda
pudesse ter ele e nos deixar com os nossos planos, você não se importaria.
— Eu me importo. Você vai ter que matar pessoas inocentes para fazer isso,
Seth. Você pode viver com isso, de verdade? Porque eu não posso.
— Que puro é verdadeiramente inocente? — Perguntou ele, em vez de
responder a minha pergunta.
— Há puros que não querem ver os mestiços escravizados. E sim, os deuses
são um bando de idiotas, mas isso é o que eles são.
— Nós já passamos por isso, Alex. Nós não vamos concordar. Pelo menos,
por enquanto. Mas seu aniversário é apenas alguns dias de distância. Você vai
entender depois.
Eu fiquei boquiaberta. — Seth, por favor, ouça-me!
Uma máscara fria caiu sobre o seu rosto, trancando-o. — Você realmente
não entende, Alex. Eu não posso, não vou deixar você ir.
— Sim, você pode! É muito simples. Você apenas me deixa sair dessa casa.
Seth estava em frente de mim dentro de um segundo. Ele agarrou minhas
mãos, pressionando as palmas das mãos contra as minhas. — Você não sabe
como se sente agora, mas você vai saber. Quanto mais marcas você adquirir,
mais o akasha drena para mim. Nada, nada é como isto aqui. É puro poder, Alex.
E você ainda nem Despertou! Você pode imaginar como será então? — Seus olhos
assumiram um brilho enlouquecido excessivamente apaixonado que eu tinha
visto e ignorado antes. — Eu não posso abrir mão disso.
— Deuses, você está escutando a si mesmo? Você soa como um daimon
desejando éter.
Ele sorriu. — Não é assim. É melhor.
Foi quando eu percebi que entre a influência de Lucian e a atração de
akasha, Seth tinha se tornado algo perigoso.
Apollo tinha razão. Droga. Vovó Piperi tinha razão.
E eu tinha estado tão, tão errada. Eu estava em uma posição precária, ruim.
Tudo era possível, meu ritmo cardíaco dobrou. Eu queria me bater por não deixar
Apollo me esconder, quando ele fez essa sugestão, tudo que eu conseguia pensar
era que era o que Lucian queria fazer. Eu estava com nojo de mim mesma pelo
tempo em que queria jogar a toalha. Correr não era algo que eu já tivesse feito.
Mas agora eu precisava correr, porque essa era a única coisa inteligente a
fazer.
— Eu quero que você saia do meu quarto. — Forcei meus joelhos a parar de
tremer e levantei. — Agora.
— Eu não quero ir embora. — Ele respondeu de forma uniforme.
Meu coração foi parar na garganta. — Seth, eu não quero você aqui.
Ele inclinou a cabeça para o lado, os olhos aqueceram um pouco. — Não
muito tempo atrás, você não tinha problema comigo em seu quarto... Ou sua
cama.
— Você não tem o direito de estar aqui. Você não é meu namorado.
As sobrancelhas de Seth levantaram. — Você fala como se o que somos
pudesse ser simplificado com pequenas etiquetas. Nós não somos namorados.
Você está certa sobre isso.
Eu me afastei da cama, com os olhos desesperadamente à procura de um
escape do quarto. Havia apenas um banheiro, armário, e uma janela. E a minha
antiga casa de bonecas... O que diabos isso ainda estava fazendo aqui? Em cima
da casa tinha uma boneca de porcelana assustadora que eu odiava quando
criança e ainda o fazia agora.
Se esgueirando por trás de mim, ele sussurrou em meu ouvido. — Nós
somos a mesma pessoa. Queremos e precisamos das mesmas coisas. Você pode
amar quem você quiser e você pode dizer a si mesma o que quiser. Não temos de
amar um ao outro; nós não temos sequer que gostar um do outro. Não importa,
Alex. Nós estamos presos um ao outro, e a conexão entre nós é muito mais forte
do que o que você sente em seu coração.
Girando ao redor, eu coloquei espaço entre nós. — Não. Chega. Eu estou
cobrando a promessa que você me fez. Eu não quero fazer isso. Você precisa sair.
Eu não me importo aonde vai. Basta ir...
— Eu não vou sair.
Terror se transformou em algo pior e muito mais poderoso. Medo
serpenteava o seu caminho em mim, mordendo profundo e se espalhando por
minhas veias como veneno. — Você me prometeu, Seth. Você jurou que iria sair
se isso se tornasse demais. Você não pode voltar atrás!
Seus olhos encontraram os meus. — É muito tarde para isso. Sinto muito,
mas essa promessa é nula e sem efeito. As coisas mudaram.
— Então, eu vou embora. — Tomei uma respiração profunda, mas isso não
acalmou a batida no meu peito, — Você não pode me manter aqui! Eu não me
importo se Lucian é meu tutor legal.
Ele inclinou a cabeça para o lado, seu olhar se tornando quase curioso. —
Você acha que existe algum lugar no mundo no qual não poderia encontrá-la se
eu quisesse?
— Deuses, Seth, você sabe quão perseguidor parece agora... Quão
assustador?
— Estou apenas mostrando a verdade. — Respondeu ele
despreocupadamente, — Quando você fizer 18, que é em o quê? Cinco dias? Você
não terá nenhum controle sobre isso.
Minhas mãos fecharam em punhos. Deuses, eu odiava quando ele estava
certo. Especialmente quando ele estava assustadoramente certo e Seth estava
muito assustador agora. Eu não podia, eu me recusava, a mostrar isso. Então
confiei na raiva. — Você não tem nenhum controle sobre mim, Seth!
Seth arqueou uma sobrancelha. Um sorriso lento e perverso se espalhou
pelo seu rosto. Reconhecendo aquele olhar, eu recuei, mas ele era tão
incrivelmente rápido. Seu braço serpenteou fora, me pegando pela cintura.
Instinto assumiu. Meu cérebro desligou e eu lancei em modo de luta.
Deixando minhas pernas ficarem moles, me tornei um peso morto em seus
braços. Seth xingou e enquanto ele caia para me pegar, eu saltei, batendo com o
joelho em seu estômago. Uma lufada de ar deixou seus pulmões quando ele
cambaleou para trás.
Girando, eu lancei fora meu braço, pegando-o no peito. Não foi um golpe
dócil. Coloquei tudo nele e Seth caiu sobre um joelho.
Corri para a porta, pronta para lutar no caminho para fora da casa e da rua,
se necessário.
Eu nunca fiz isso, não realmente.
Meus dedos estavam em volta da maçaneta no mesmo segundo em que senti
uma onda de poder no quarto que levantou os minúsculos pêlos por todo o meu
corpo. Então, de repente, eu estava fora de meus pés, voando para trás. Cabelo
explodiu em volta do meu rosto, obscurecendo minha visão.
Os braços de Seth se enroscaram pela minha cintura e ele me puxou contra
seu peito. — Sabe, eu gosto mais de você quando está furiosa. Você quer saber
por quê?
Eu lutava em seu abraço, mas ele me segurou, e era como tentar mover um
caminhão. — Não. Eu realmente não me importo, Seth. Deixe-me ir.
Ele riu profundamente, e o som retumbou através de mim. — Porque quando
você está com raiva, você está sempre um passo de fazer algo irracional. E é
assim que eu gosto de você.
Seth me soltou sem qualquer aviso e eu virei. Eu vi isso em seus olhos,
então, na forma em que seus lábios se separaram. Pânico congelou o sangue em
minhas veias. — Não...
A mão de Seth disparou, envolvendo em torno de meu pescoço. As marcas do
Apollyon se espalharam através de sua pele com velocidade vertiginosa. O que
existia em mim, aquela parte que tinha sido criada para completá-lo, respondeu
em uma corrida emocionante. As marcas voaram abaixo do braço, atingindo mais
de seus dedos. Um segundo depois, uma luz âmbar crepitava no ar, e, em
seguida, um fraco brilho azul. Sua mão circulou, pressionando para baixo,
queimando a pele na parte de trás do meu pescoço, criando a quarta runa.
Houve um segundo, pouco antes do meu cérebro ser sobrecarregado com a
sensação, um instante em que me arrependi de permitir que Seth chegasse perto
de mim, para forjar o vínculo que existia entre nós em algo que parecia
inquebrável. Ele havia planejado tudo isso desde o começo.
E então eu não estava mais pensando.
O
Vinte e Sete
s olhos de Seth brilhavam quando a pressão dentro de mim se
deslocou através da corda, deixando-me e fluindo para ele. De repente, a luz
acendeu de quatro pontos: meu estômago, as palmas das mãos e, agora, a parte
de trás do meu pescoço. Dor picou ao longo da minha pele como uma vespa
irritada e então me entorpeceu. Minha cabeça ficou pesada, as pernas fracas
enquanto o puxão agradável continuou.
Seu braço livre me pegou quando minhas pernas fraquejaram. Eu devo ter
desmaiado, por quanto tempo, eu não sabia. Eu estava de costas quando o
quarto entrou novamente em foco. Uma névoa espessa caiu sobre mim, me
arrastando para baixo através da cama.
Havia um gosto estranho, quase metálico na parte de trás da minha
garganta. — O que... o que aconteceu?
Seth deslizou a mão no meu cabelo. — Você não Despertou, mas... — Ele
agarrou minha mão e pressionou minha palma.
A resposta foi imediata. Minhas costas arquearam. Parecia que algo tinha
chegado até minha essência, agarrando e puxando. Não era doloroso, mas não
era agradável também. — Seth...
Quando ele me soltou, os fios invisíveis foram cortados. Eu caí de volta na
cama, desossada e fraca e Seth... ele sentou-se sobre as pernas traseiras,
segurando sua mão na frente do rosto. Uma expressão reverente e infantil encheu
o seu rosto quando a luz azul brilhante cobriu sua mão, queimando mais
brilhante do que nunca.
— Akasha... isso é bom, Alex. Isso é mais... eu posso te sentir na minha pele.
Atordoada, eu assisti a bola de luz desaparecer e a emoção sair dos olhos de
Seth. De alguma forma, eu sabia que, mesmo que ele cruzasse e pressionasse
seus lábios na minha bochecha, Seth tinha possuído o tipo de poder necessário
para matar um deus, mesmo que apenas por alguns momentos.
Um raio atingiu a janela do lado de fora, mas mesmo isso não foi tão
brilhante como o vislumbre do fim. Eu sabia que precisava sair daqui, mas
quando tentei sentar, senti como se estivesse colada a minha cama.
Ele sorriu enquanto se acomodava ao meu lado, passando a mão no meu
rosto, virando a cabeça para ele. Seu polegar arrastou por cima do meu lábio
inferior. — Você viu isso?
Eu queria olhar para longe, mas eu não podia e senti minha alma ficando
enjoada. Trovão abafou as batidas do meu coração.
— Foi lindo, não foi? Tanto poder. Lucian vai ficar desapontado que você não
Despertou após a quarta marca, mas algo aconteceu.
O que isso significava? Eu não entendia e meus pensamentos eram muito
difusos. A corda saltou quando sua mão escorregou debaixo da minha cabeça e
se voltou para a runa em meu pescoço. — Esta é a runa de invencibilidade. —
Explicou, — Quando você Despertar, ela será ativada. Então, os deuses não
podem tocar em você.
Encontrei seus olhos e forcei minha língua pesada a trabalhar — Eu não...
Não quero que você me toque.
Seth sorriu e as marcas voltaram, deslizando sobre sua pele dourada. Eu
soube o momento em que nossas marcas se tocaram. Ele abaixou sua cabeça até
uma respiração separar nossos lábios. Meus sentidos enlouqueceram.
Eletricidade sacudiu toda a minha pele.
— Você é tão bonita assim. — Ele murmurou, e pressionou sua testa contra
a minha.
O que estava em mim, o que havia entre nós, era feio. Como eu não tinha
percebido isso antes? Havia sinais desde o início. Na noite em que eu descobri o
que Seth e eu éramos, ele tinha ficado para trás, com Lucian. A necessidade de
Seth por poder e como minha resposta a ele parecia fora de meu controle, mesmo
quando nós ficamos lado a lado meses atrás no pátio e de novo, várias vezes.
Pensei no olhar fugaz de satisfação que eu tinha visto quando eu estava à beira
da piscina e escolhi-o para ver o que aconteceria - eu escolhi-o. Todo o tempo que
ele tinha passado com Lucian...
Eu fui tão cega.
Os lábios de Seth apertaram contra o meu pulso batendo
descontroladamente e eu estremeci, revoltada, com raiva, medo e desamparada.
— Não. — Implorei, antes da conexão entre nós ficar tão forte que eu não
conseguiria dizer onde ele começava e eu terminava.
— Você não quer isso? Não pode negar que uma parte de você precisa de
mim.
— Essa parte não é real. — Meu corpo estava formigando, latejante, e
ansiava por ele, mas o meu coração e alma estavam encolhendo, ficando frios.
Lágrimas encheram os meus olhos. — Por favor, não me faça fazer isso, Seth. —
Minha voz falhou. — Por favor.
Seth congelou. Confusão nublou seus olhos, o brilho duro de fogo âmbar
quebrando com a dor. — Eu... eu nunca forçaria você, Alex. Eu não faria isso. —
Sua voz era curiosamente frágil, vulnerável e insegura.
Eu comecei a chorar. Não sabia se era o alívio do medo ou que, no fundo, eu
sabia que Seth ainda estava em algum lugar. Por enquanto.
Seth sentou-se, passando a mão pelo seu cabelo. — Alex, não... não chore.
Minhas mãos pareciam como blocos de cimento quando eu levantei-as e
enxuguei meus olhos. Eu sabia que não devia chorar na frente de daimons, para
não mostrar fraqueza, e Seth... Ele não era diferente.
Ele estendeu a mão, mas parou. Vários segundos se passaram antes que ele
falasse. — Vai ficar mais fácil. Eu prometo.
— Só vá embora. — Eu disse com a voz rouca.
— Eu não posso. — Ele se afastou do meu lado, mantendo uma discreta
distância entre nós. — O momento em que eu sair deste quarto você vai fazer algo
estúpido.
Verdade seja dita, eu estava cansada demais para ficar de pé, muito menos
realizar uma fuga ousada. Eu consegui rolar para o meu lado, longe dele. O sono
não veio fácil naquela noite. O único conforto que eu tomei foi que, quando eu
fechei os olhos, imaginei Aiden. E mesmo que a imagem não tenha lhe feito
nenhuma justiça, seu amor fez a única coisa que eu pedi. Não para me proteger,
mas para me dar força para descobrir uma maneira de sair dessa bagunça.
Seth raramente saiu do meu lado nos próximos dois dias, pedindo para a
comida ser trazida para o quarto, e levou esses dois dias para eu recuperar
alguma força real. A última runa tinha tomado mais de mim do que as outras, e
eu sabia, exatamente como Seth havia dito, que algo estava diferente.
Ele só tirou akasha de mim mais uma vez, quando ele tinha trazido Lucian
para testemunhar.
Seth tinha razão. Lucian tinha ficado decepcionado que eu não tinha
Despertado, mas estava satisfeito com o novo poder que Seth ganhou, apesar de
ter sido temporário.
E deuses, Seth sorriu como uma criança mostrando seu pai seu projeto de
ciência premiado. Pensei que eu ia me sentir enojada com Seth, mas, durante as
longas tardes que ele passou a falar comigo enquanto eu tentava convencê-lo a
me deixar ir, eu comecei a sentir pena dele.
Havia dois lados dele, e o lado que eu tinha colocado junto ao meu coração
estava perdendo para o que desejava poder como um daimon com sede de éter.
Eu queria consertá-lo de alguma forma, salvá-lo.
Eu também queria estrangulá-lo, mas isso não era novidade.
Durante o começo da segunda noite, uma baixa comoção despertou-me da
cama. Reconhecendo a voz profunda de Marcus crescendo, eu levantei com as
pernas fracas e caminhei em direção à porta.
Seth estava ao meu lado em um instante, colocando a mão na porta. — Você
não pode.
Eu afastei a tontura. — Ele é meu tio. Eu quero vê-lo.
— Desde quando? — Seth sorriu, e eu arfei, porque me lembrou de outro
Seth, um que não iria me manter refém. — Você o odeia.
— Eu... Eu não o odeio. — Naquele momento, percebi que tinha sido uma
idiota gigante para o meu tio. É verdade que ele não era a mais carinhosa das
pessoas, mas ele não iria fechar-me em um quarto com um sociopata em
potencial. Eu jurei que seria diferente... Se eu o visse novamente. — Seth, eu
quero...
— Por que você se recusa a deixar Marcus ver sua sobrinha? Tem alguma
coisa errada?
Minha respiração ficou presa na minha garganta enquanto eu pressionei
minhas mãos contra a porta, sob as de Seth. A voz de Aiden era como uma
explosão de luz solar e calor. Eu estava tão perto de chutar Seth onde doía só
para fazê-lo se mover, e ele deve ter previsto, porque a advertência em seus olhos
me disse para não pensar nisso.
— Ela está descansando, mas está bem. Não há necessidade de
preocupação. — Eu ouvi Lucian dizer e então sua voz desapareceu.
Dando uma respiração superficial, eu fechei os olhos. Aiden estava tão perto
e ainda assim eu não poderia estar com ele. Eu sabia que ele estava preocupado,
assumindo o pior. Se eu pudesse vê-lo, deixá-lo saber que eu estava bem... iria
aliviar um pouco a dor no meu coração.
— Você realmente o ama? — Seth perguntou em voz baixa.
— Sim. — Eu abri meus olhos. Seu olhar estava abatido. Cílios grossos
espalhavam em suas bochechas, — Eu amo.
Ele levantou os olhos lentamente. — Eu sinto muito.
Aproveitei o momento. — E eu me importo com você, Seth. Eu realmente me
importo. Vendo o que você está fazendo, o que está se tornando, está me
matando. Você é melhor que isso, mais forte do que Lucian.
— Eu sou mais forte do que Lucian. — Ele se encostou na porta, olhando-me
através de olhos pesados. — Eu vou ser mais forte do que um deus em breve.
E foi isso. Seth não se afastou da porta e, finalmente, fui à janela, esperando
que eu pudesse ter um vislumbre do meu tio e Aiden. O telhado de terracota
sobre a biblioteca bloqueou a vista.
Nós não falamos novamente.
O tempo estava acabando e eu tinha que fazer alguma coisa.
Seth estava impaciente na manhã seguinte, incapaz de ficar parado por mais
do que alguns minutos. Seu ritmo constante e movimentos espasmódicos
estavam tão em desacordo com a sua graça normal de outro mundo. Ele me
deixou nervosa e cada vez que ele olhava em minha direção, eu senti um caroço
de pavor e medo na minha garganta. Mas ele nunca se aproximou de mim e ele
não me tocou novamente. Seth apenas virou e olhou pela janela em silêncio,
esperando.
Na manhã após a visita de Marcus, eu tinha que ver a runa na parte de trás
do meu pescoço novamente. Com a minha energia em níveis normais, eu
encontrei um espelho de mão e estiquei o pescoço, torcendo, até que tive um
vislumbre no espelho do banheiro. Era azul fraco, em forma de S, que
aprofundava no final. A runa da invencibilidade. Alcancei o pescoço e toquei. A
pele dos meus dedos formigou com o contato.
Baixei o espelho para o balcão e me virei. Meus olhos pareciam muito
amplos, quase com medo. Havia sombras formando sob eles, entorpecendo a íris
marrom. Não que meus olhos castanhos fossem extraordinários, em primeiro
lugar, mas uau.
O olhar assustado em meus olhos não tinha ido embora, mesmo depois de
eu tomar banho. O peso em meus ombros, apertou meu peito. Seth estava
tentando Despertar-me este tempo todo, como eu temia. Ele mentiu. Eu empurrei
meu cabelo úmido. Felizmente ele não tinha conseguido, mas inegavelmente
havia algo diferente. Eu podia sentir isso logo abaixo da pele.
Houve uma batida na porta do banheiro. — Alex? — Seth chamou, e bateu
novamente. — O que você está fazendo aí?
Reunindo a minha força, me concentrei nas paredes rosa néon e reforcei os
escudos mentais, bloqueando-o.
Seu suspiro foi audível. — Você só está me bloqueando para me irritar, Alex.
Eu dei ao meu reflexo um sorriso fraco e então abri a porta. Passando por
ele, eu joguei minhas roupas sujas no canto.
— Então, você não vai falar comigo? — Perguntou.
Sentei-me na cadeira e peguei um pente.
Seth se ajoelhou na minha frente. — Sabe, você não pode ficar em silêncio
para sempre.
Penteando os emaranhados, eu decidi que poderia tentar.
— Você sabe quanto tempo vamos ficar juntos? Isso vai ficar chato e velho
muito rápido. — Quando eu não respondi, ele agarrou meu pulso.
— Alex, você está sendo...
— Não me toque. — Empurrei o meu braço livre, pronta para transformar o
pente em uma arma mortal se fosse necessário.
Ele sorriu enquanto se levantava. — Você está falando.
Eu joguei o pente para baixo e subi para os meus pés. — Você mentiu para
mim uma e outra vez, Seth. Você me usou.
— Como é que eu a usei, Alex?
— Você se aproximou de mim só para poder Despertar-me! Você usou essa
conexão estúpida contra mim. — Tomei uma respiração afiada. Traição caindo
como pedras no meu estômago, — Será que você planejou isso o tempo todo,
Seth? Era isso o que você estava pensando quando estávamos no Catskills?
Quando você me pediu para fazer uma escolha?
Ele virou-se para mim, os olhos de um ocre feroz de raiva. — Essa não foi a
única razão, Alex. Não que isso importe agora. Você fez a sua escolha. Você
escolheu Aiden, tão inútil quanto foi.
Eu nem sequer pensei. Cheia de raiva e tristeza, me joguei para ele.
Seth pegou meu punho antes que acertasse o seu rosto. — Nós não estamos
treinando, Alex. Nós não estamos brincando. Tente me acertar de novo e você não
vai gostar das consequências. — Ele me soltou.
Eu tropecei para trás, meio tentada a testar sua advertência com um chute
no rosto. Uma batida na porta do quarto interrompeu nosso confronto. Um dos
guardas saiu do outro lado, falando baixo demais para eu entender.
Seth assentiu e então me encarou. — Estamos partindo em cinco minutos.
Meu coração gaguejou. — Partindo? Para onde?
— Você vai ver. — Ele fez uma pausa, seu olhar caindo sobre mim. — Você
tem cinco minutos para colocar algo decente.
— Como é? — Eu estava usando jeans e uma camiseta preta. — O que há de
errado com o que estou vestindo?
— Você vai ser uma Apollyon... Minha companheira, por assim dizer. Você
deve usar algo mais agradável, elegante.
Eu não sabia qual parte do que ele disse me fez querer socá-lo novamente. —
Primeiro, não me diga o que vestir. Em segundo lugar, eu não sou a sua
'companheira'. Em terceiro lugar, não há nada de errado com o que estou
vestindo. E, finalmente, você está louco.
— Você tem agora quatro minutos. — Seth virou-se e saiu do quarto,
fechando a porta atrás de si.
Um minuto inteiro se passou enquanto eu olhava para a porta fechada.
Então eu entrei em ação. Corri para a janela do quarto e abri-a. Quando eu era
mais jovem, eu usei a minha janela do quarto para subir no telhado acima da
biblioteca e escapei. Eu sabia que poderia fazer o salto. Na verdade, era mais
curto do que o que eu tinha feito em Miami.
Sem perder tempo, eu fui para fora na borda. Os músculos em meus braços
gritavam enquanto eu lentamente ia para baixo. Deuses, minha força superior do
corpo poderia precisar de treino. Meus pés pendiam sobre metade de um pé a
partir do telhado. Eu me senti como um espião ninja naquele momento. Eu
comecei a sorrir, mas os formigamentos familiares se espalhando sobre a minha
pele rapidamente tiraram o sorriso do meu rosto.
Eu deixei ir.
Mãos apertaram em meus braços e arrastaram-me de volta através da
janela. Chutando e batendo, eu lutei como um animal selvagem até que Seth me
colocou de volta nos meus pés.
Eu me virei. — Eu ainda tinha três minutos.
Um sorriso relutante apareceu em seu rosto. — Sim, e cerca de um minuto
depois de ter saído do seu quarto, percebi que você provavelmente tentaria
escapar. Se jogar de uma janela é uma escolha melhor do que vestir algo decente?
— Eu não estava me jogando para fora da janela. Eu estava fugindo.
— Você estava no processo de quebrar seu pescoço.
Minhas mãos enrolaram. — Eu teria feito o salto, seu bundão.
Seth revirou os olhos. — Que seja. Não temos tempo. Somos necessários
agora.
— Eu não vou a lugar nenhum com você.
Frustração rolou fora dele. — Alex, eu não estou pedindo.
Cruzei os braços. — Eu não me importo.
Gemendo baixo em sua garganta, ele se atirou para frente e agarrou meu
braço. — Você sempre, sempre tem que fazer tudo tão malditamente difícil. — Ele
começou a me arrastar em direção à porta. — Eu não sei por que esperava nada
menos de você. Parte de mim, e isso é doente, eu sei, está um pouco animado
com a ideia de você lutar contra mim. É divertido. Melhor do que você sentada ali,
não conversando.
Eu cavei em seus dedos, mas não houve liberação deles. — Deixe-me ir.
— Não vai acontecer.
Nós já estávamos no fim do corredor, no topo da escada. Abaixo eu podia ver
um pequeno exército de Guardas à espera. — Que diabos? — Cavei meus pés e
agarrei o corrimão com a mão livre. — O que está acontecendo?
Exasperado, Seth me agarrou pela cintura. Usando a força bruta, ele me
puxou para fora da grade. — Agora você está apenas sendo fofa. — Ele começou a
descer as escadas, carregando-me com facilidade, mesmo que meu tênis o
acertasse cada passo.
Mal-estar surgiu apenas em algumas das faces da Guarda de Lucian quando
Seth me arrastou por eles. Luz solar fria e brilhante nos encontrou do lado de
fora, e Seth não me liberou, até que ele me empurrou para o fundo de um
Hummer em espera. E então, ele subiu depois de mim e pegou meus dois pulsos
em uma mão.
— Desculpe. Há uma boa chance de você tentar atirar-se para fora de um
carro em movimento.
Eu olhei para ele, nossos rostos separados por centímetros. — Eu te odeio.
Seth baixou a cabeça até que seu rosto pressionou contra o meu. — Você
continua dizendo isso, mas nós dois sabemos que não é verdade. Você não pode
me odiar.
— É mesmo? — Eu lhe dei uma cotovelada no estômago. Isso fez muito
pouco. O Hummer começou a se mover. — O que eu estou sentindo agora
definitivamente não é agradável e quente.
Ele riu, mexendo o cabelo em volta do meu rosto. — Você não pode me odiar.
Não foi construída assim. E em breve, seremos a mesma pessoa. Você foi criada
para ser minha pelos próprios deuses que vamos derrotar, a partir de hoje.
A
Vinte e Oito
s palavras de Seth me surpreenderam e fiquei em silêncio.
Velhos medos, não muito esquecidos, ressurgiram. Eu não tinha controle neste...
Destino. Nenhuma escolha. Meu coração estava disparado dolorosamente. Eu
não poderia ser construída por ele. Ele não era a minha existência.
Eu era a minha própria existência.
Eu mantive-me dizendo isso enquanto Seth levou-me a partir do Hummer
para a entrada dos fundos do Tribunal na parte principal da Ilha Divindade. Eu
tinha uma sensação de mal estar sobre isso, sabendo que Telly estava em uma
cela neste edifício e que algo horrível estava prestes a acontecer. Eu podia sentir
isso e não havia nada que eu pudesse fazer.
Segurando minha mão em um aperto apertado, ele me levou pelos
corredores estreitos da sala de espera fora da área de vidro da sessão de cúpula.
Através da porta aberta, eu podia ver que o lugar estava lotado. Cada puro que
permaneceu na ilha durante o intervalo parecia estar lá, assim como muitos dos
Guardas mestiços e Sentinelas. Mas, ainda mais estranho foi a presença dos
mestiços que tinham ficado para trás na escola. Luke estava para trás com Lea,
ambos pareciam tão curiosos quanto todo mundo, mesmo um pouco estranhos,
como se se sentissem fora de lugar. O que eles estavam fazendo aqui? Mestiços
nunca foram autorizados a assistir o Conselho, a menos que tivessem sido
convocados para fazê-lo.
— O que está acontecendo? — Perguntei.
Seth manteve sua mão sobre a minha, como se ele soubesse que eu iria fugir
se tivesse a chance. — Lucian convocou uma reunião do Conselho de emergência.
Vê? — Ele fez um gesto em direção à frente da sala quadrada. — Todo mundo
está aqui.
O Conselho enchia o estrado de titânio. Reconheci facilmente a cabeça
acobreada de Dawn Samos no mar de vestes brancas e senti uma torção meu
estômago.
Meus olhos analisaram suas expressões curiosas e depois me virei para o
público. Na parte de trás estava meu tio. Ele estava de pé, com os braços
cruzados sobre o peito. Havia um olhar duro e frio em seus olhos esmeralda. Ao
seu lado estava um homem que eu nunca tinha visto antes, um meio-sangue
alto, construído como um Sentinela. Músculos magros e flexionados sob o
uniforme preto. Seu cabelo castanho era comprido, puxado para trás em um rabo
de cavalo. Sua pele era uma mistura de etnias, profundamente bronzeada. Ele
teria sido bonito se não fosse pela cicatriz irregular em cima da sobrancelha
direita até a sua mandíbula.
As portas se abriram de repente, atrás de nós e mais entraram na sala.
Aiden estava entre eles. Meu coração trovejou em meu peito quando ele parou ao
lado do meu tio. Ele se inclinou, sua boca se movendo rapidamente. Marcus
olhava para frente, mas o estranho assentiu. Então Aiden endireitou e se virou,
olhando diretamente para onde eu estava.
Seth se afastou antes que Aiden pudesse nos ver. Fiz uma careta para Seth,
e ele sorriu para mim. — Nós somos convidados especiais. — Disse ele.
— Aqui está você, meu menino. — Lucian atravessou a sala de espera. Seu
olhar pousou em mim e ficou frio, — Alexandria tem sido amigável?
— O que você acha? — Rebati antes que Seth pudesse responder.
Lucian dirigiu-me um de seus sorrisos de plástico. — Você não é tão sábia,
nem forte quanto pensa que é, Alexandria, mas logo você vai ser.
Eu me atirei em direção a ele, mas Seth me puxou de volta e passou o braço
em volta da minha cintura. O que deixou meus braços completamente livres e,
cara, eu tentei me apossar do cabelo do Lucian, do rosto... Do que eu pudesse
pegar.
— Você tem sorte que ninguém pode ver o que você acabou de tentar fazer.
— Lucian assobiou. Ele parou ao lado da porta aberta, seus guardas bloqueando
a entrada. — Ou eu seria forçado a fazer algo sobre isso. Certifique-se de que ela
se comporte, Seth. E que ela entenda as consequências de agir precipitadamente.
Seth me segurou, minhas costas contra seu peito, esperando até Lucian e
seus guardas chegaram ao estrado. — Alex, não faça qualquer coisa que você vai
se arrepender.
Lutei contra ele, chegando a lugar nenhum. — Não sou eu que estou prestes
a fazer algo que vou me arrepender.
Seu peito subia acentuadamente. — Alex, por favor. Se você tentar correr
enquanto estivermos lá fora, ou se você fizer qualquer coisa louca, eu vou ser
obrigado a te parar.
Meus movimentos cessaram. A cautela se apoderou de mim e me senti como
se nunca pudesse ficar quente novamente. — Você faria isso... Comigo?
Pareceu uma eternidade antes de ele responder. — Eu não quero, mas eu o
faria. — Ele fez uma pausa e outra respiração estremeceu através dele, — Por
favor, não me force.
Um nó se formou na minha garganta. — Eu não estou fazendo você fazer
nada.
— Mas você faz. — Ele sussurrou em meu ouvido. Arrepios mistos
percorreram minha espinha. — Desde a primeira vez que te conheci. Você só não
sabia, então como eu posso culpá-la?
Lucian estava tomando o centro do palco, iniciando a sessão do Conselho.
Todos os olhos estavam sobre ele. Ninguém sabia do drama correndo por fora,
atrás das paredes.
— Eu não entendo. — Fechei meus olhos contra a onda de lágrimas. — Seth,
por favor...
— Chega. — Seth se moveu um pouco, apertando a mão no meu estômago,
acima de onde eu sentia a corda, perto da cicatriz irregular. — Você não sabe o
que tem sido. O que é sentir o seu poder e o meu juntos, sabendo que isso só vai
crescer e ficar mais forte. É o éter, sim, mas é também o akasha. Ele canta para
mim como uma sereia.
Minha respiração engatou e eu engoli em seco quando a corda respondeu a
ele.
Seth apoiou o queixo no topo da minha cabeça. — Eu posso até sentir isso
agora, eu sei como usá-lo. Juntos, vamos fazer isso juntos.
Abri os olhos. — Deuses, você parece... Insano, Seth.
Seus dedos se enroscaram na minha camiseta. — A insanidade de um
homem é a sanidade de outro.
— O quê? Isso não faz sentido nenhum.
Ele riu suavemente. — Vamos lá. Está começando.
Então de repente, Seth mudou. Ele puxou-me para a porta, onde
permaneceu escondido, mas podia ouvir o que estava acontecendo. Seu aperto na
minha mão afrouxou, mas eu sabia melhor do que tentar fazer uma corrida dele.
Eu realmente acreditava que ele me pararia, dolorosamente, se necessário.
Os membros do Conselho estavam falando entre si, e então eles se
aquietaram.
Lucian deslizou para frente do palanque, apertando as mãos na frente dele.
Um ministro idoso imponente falou primeiro, com a voz rouca, mas forte. —
Houve evidência adicional indicando mais ataques daimon?
— Ou é o elixir? — Outro perguntou, com as mãos segurando os braços de
um trono de titânio. — Nós estamos tendo problemas aqui?
Houve um zumbido imediato de perguntas da platéia e dos ministros. Alguns
dos rostos estavam em pânico. Ataques daimon chegaram muito perto de casa e a
ideia do elixir não funcionar, provavelmente, horrorizava aqueles que confiavam
nos mestiços para fazer tudo por eles.
Eu endureci e a pior - absolutamente pior - ideia me pegou.
— O que você está pensando? — A voz de Seth estava baixa e suave e em
desacordo completo com o que ele era capaz.
Marcus tinha suspeitado que os daimons que atacaram o Conselho tinham
tido ajuda, e Seth tinha sugerido que Telly tinha mexido com o elixir para causar
uma distração, mas enquanto eu olhava para Lucian, eu me perguntava o quanto
Seth realmente sabia.
Lucian, o perfeito puro-sangue em suas vestes brancas imaculadas, olhou
para a multidão perto do caos com um apertado sorriso bem praticado em seu
rosto. Lucian tinha estado por trás de tudo isso? Para criar o caos? Porque eu me
lembrei de uma das minhas aulas de mitos e lendas de como todas as sociedades
que estavam à beira da revolta eram as mais fáceis de controlar, moldar e
manipular... E derrubar.
— Alex?
Sugando ar, eu balancei a cabeça.
— Eu não chamei essa sessão para discutir essas coisas. — Lucian
começou, — Hoje é um dia de descobertas, meus companheiros conselheiros. O
nosso mundo está à beira de grandes mudanças. Uma mudança que é
necessária, mas temida por alguns. Hoje, aqueles que temem a mudança, aqueles
que trabalharam nas sombras para pará-la, vão ser desmascarados e
processados.
Minha respiração ficou presa. Telly. Mas eu não conseguia vê-lo em lugar
nenhum.
— O que você está falando, Lucian? — Perguntou um ministro. Sua voz
estava clara, mas tensa, — Que medo e mudança são tão grandes que fomos
chamados de volta mais cedo, longe de nossas famílias e das nossas férias?
Eu quase rolei meus olhos para a última parte.
Lucian permaneceu olhando para frente. Foi então que eu percebi, pelo
menos a metade dos doze estava sorrindo. Eles sabiam - eles apoiavam Lucian.
Isto não predizia nada de bom.
Mas os outros não tinham ideia.
— Fomos ensinados a temer a possibilidade de dois Apollyons. — Disse
Lucian, — Ensinados a vê-los como uma ameaça contra o nosso próprio sustento
e os deuses, mas eu estou aqui para dizer-lhes que, em vez de medo, devemos
sentir alegria. Sim! Alegria que teremos o Assassino dos Deuses para nos proteger
em apenas alguns dias.
— Protegê-los contra o quê? — Murmurei, — Ministros loucos?
— Shh. — Seth olhou para mim.
Meu queixo doía de tanto cerrar os dentes com tanta força.
— Mas, primeiro, temos de lidar com algo que é desagradável e, — Ele
colocou a mão sobre seu peito, — Perto do meu coração. Guardas!
A porta do outro lado se abriu, e por ironia do destino, Guardas levaram o
Ministro Chefe Telly para o centro do tablado. Eu não poderia deixar de lembrar
quando Kelia Lothos, a mestiça que tinha amado um puro-sangue Hector, foi
trazida diante dele, seminua e acorrentada.
Carma era uma cadela.
O que não fazia o que estava acontecendo ser certo, no entanto. Eu coçava
de vontade de correr lá fora e avisar todos eles do que estava prestes a acontecer,
o que eu podia sentir crescendo sob a minha pele.
Houve um suspiro coletivo do público e de metade do Conselho quando Telly
foi forçado a se ajoelhar. Ele levantou a cabeça, mas seus olhos vidrados não se
concentraram em qualquer coisa em particular.
— Este homem tem conspirado contra a decisão do próprio Conselho e
contra a minha enteada. — A voz de Lucian endureceu enquanto seus lábios
puxaram para trás, — E eu tenho provas.
— Que provas você tem? — Dawn falou, seus olhos correndo de Lucian ao
Ministro Chefe em silêncio.
A respiração de Seth dançou ao longo da parte de trás do meu pescoço. Eu
tentei me afastar, mas ele me puxou de volta. Meu temperamento, meus nervos
tudo estava esticando muito fino.
— Durante a sessão do Conselho de novembro, minha enteada foi
injustamente alvejada. Ela havia sido convidada a participar para dar o seu
testemunho com base nos acontecimentos infelizes em Gatlinburg. No entanto, o
Ministro Chefe, Telly, provou ter motivos nefastos.
Ninguém no Conselho parecia muito preocupado. Eu não tinha certeza se
era para eu sentir raiva ou tristeza com isso.
Lucian virou-se para Telly. Um sorriso, um verdadeiro e satisfeito, apareceu
no rosto de Lucian. — Minha enteada foi vítima de vários ataques. Alguns de
vocês, — Ele olhou por cima do ombro para o Conselho, — Podem não encontrar
nenhum interesse nisso. Mas ela não é só uma meio-sangue, ela será a próxima
Apollyon.
— Quais ataques? — Perguntou um ministro idoso do sexo masculino. A
bengala que ele segurava em sua mão esquerda era tão rígida quanto o seu rosto.
— Ela foi colocada sob uma compulsão ilegal e deixada no frio para morrer.
Quando isso falhou, ele tentou persuadir o Conselho dos Doze para tê-la
escravizada com o elixir. — Lucian anunciou, — Quando o Conselho não
encontrou nenhuma razão para fazer isso, um puro-sangue foi obrigado a dar-lhe
o Brew34.
— Oh deuses. — Eu murmurei, sentindo meu rosto queimar.
— Alexandria não tinha conhecimento disso. — Continuou Lucian, agora
apelando para as mulheres no Conselho. — Acredita-se que isso era para que ela
fosse encontrada em uma posição comprometedora... Com um puro.
— Filho da puta. — Eu sussurrei. O desgraçado estava usando o cartão de
família35.
— Isso não foi muito agradável. — Seth murmurou.
Eu o ignorei. Dawn parecia pálida enquanto ela observava Lucian. — Isso...
Isso é muito revoltante.
— E isso não é tudo. — Lucian virou-se para o público. — Quando todas
essas coisas falharam, o Ministro Chefe Telly ordenou um Guarda puro-sangue a
matá-la depois do ataque daimon. Se não fosse por Aiden St. Delphi, que usou
uma compulsão em dois puros-sangues, o Ministro Chefe teria conseguido.
Meu coração bateu contra minhas costelas quando a minha boca abriu. Eu
então percebi o que Lucian tinha acabado de fazer. Ele soltou o gato fora do saco,
fazendo soar como se Aiden fosse uma espécie de herói para ele, sabendo o que
significava para Aiden.
Um ministro olhou Aiden com desgosto aberto. — Isso é um ato de traição
contra a nossa espécie e deve ser tratada imediatamente. Guardas!
34 Uma poção, apresentada no segundo livro da série, Pure. 35 No sentido de usar argumentos que apelam a pessoas que se sentiriam solidárias pela
situação.
Não. Não. Não.
Várias pessoas se viraram para onde eu sabia que Aiden estava. Guardas
correram, como se Aiden agora fosse a maior ameaça. Cercaram Aiden dentro de
segundos, punhais prontos para serem utilizados.
Aiden ficou notavelmente parado. Não havia um lampejo de emoção em seu
rosto ou nos olhos, quando um guarda se aproximou dele.
Não havia nenhuma maneira de eu deixar isso acontecer. Comecei a ir para
frente, mas Seth me parou. — Não, Alex.
— Como você pôde? Eles vão executar Aiden por isso. — Pânico cru tinha
gosto de metal na minha garganta, — Ele transformou a sociedade inteira contra
ele com essas palavras, Seth.
Seth não disse nada.
— Espere. — A voz de Lucian viajou, parando todos. — O puro não é uma
preocupação neste momento. As tentativas do Ministro Chefe no Catskills
falharam diversas vezes, mas ele não cessou em suas ações. Ele a procurou,
deixando o Covenant de Nova York em um estado de desordem para continuar a
ameaçá-la com a servidão.
— O que aconteceu com o guarda que supostamente a atacou? — Perguntou
a ministra que tinha falado primeiro.
— Ele foi tratado. — Lucian respondeu, mudando de assunto antes que isso
pudesse ser reanalisado. — O Ministro Chefe Telly foi contra a vontade do
Conselho e ainda tentou forçá-la a servidão. Ela foi mesmo atacada aqui,
esfaqueada por um Guarda meio-sangue ordenado a fazê-lo por ele.
— E a prova? — O ministro idoso perguntou. — Onde está a prova?
Lucian voltou-se para Telly. — A prova está em suas próprias palavras. Não
é, Ministro Chefe?
Telly levantou a cabeça. — É verdade. Eu fui contra o voto da maioria e
ordenei o assassinato de Alexandria Andros.
Houve alguns suspiros atordoados. Eu sabia que não era para o meu bem,
mas muito mais que Telly iria admitir isso tão facilmente. Eles não sabiam o que
eu sabia, que o cérebro de Telly estava provavelmente frito por uma compulsão
poderosa.
Uma discussão surgiu entre os ministros durante vários minutos. Alguns
imediatamente quiseram que Telly fosse destituído do cargo. Aqueles eram os que
tinham sorrido antes. Outros, aqueles que eu duvidava que sabiam o que estava
acontecendo até Lucian falar, não viram o que ele fez para mim como um crime.
Havia muito poucas leis que protegiam mestiços.
— Não haverá destituição. — A voz de Lucian silenciou a discussão. — O
Ministro Chefe Telly será tratado hoje.
— O quê? — Vários dos ministros exigiram de uma só vez.
— Chegou ao meu conhecimento que o Ministro Chefe está envolvido na
Ordem de Thanatos e vários dos membros estão a caminho para libertá-lo.
Houve outra pausa. Lucian sabia que era de choque e pavor. — Não há
tempo para mais nada. A segurança de Alexandria é de extrema importância.
E agora eu entendi o nervosismo de todos, de Seth e da Guarda esta manhã.
Lucian não poderia deixar a Ordem arruinar seus planos. Ele atacaria primeiro. E
a minha segurança? Não era a minha segurança. Lucian estava preocupado que
eu iria portar-me mal antes de sair no estrado, porque Seth não tem total
controle de mim... Ainda.
— Isso não era para acontecer agora, era? — Sussurrei.
Seth não disse nada.
Minha boca estava seca. — Vocês todos queriam esperar até depois que eu
Despertasse, mas vocês estão fazendo isso por causa da Ordem.
Por que, não iria ser ruim para Lucian, se a Ordem chegasse antes que eu
Despertasse e acabasse matando um de nós? Todos os seus planos para nada,
Lucian apontou para onde estávamos escondidos. — Este é um tempo de
mudança. Que a mudança comece agora.
— Somos nós. — Seth disse, sua mão apertando a minha, — E queridos
deuses, por favor, se comporte.
Eu não tive muito tempo para responder a isso. Seth começou a andar, e eu
não tinha escolha a não ser segui-lo para a sala de sessão.
Silêncio foi tão espesso que me sufocou, quando aparecemos. Todos os olhos
estavam sobre nós, quando nós fizemos o nosso caminho até os degraus de
mármore. Paramos um pouco abaixo de Lucian e Telly.
Todos começaram a falar ao mesmo tempo.
O Conselho ficou rapidamente desconfortável, mexendo em seus assentos.
Um murmúrio percorreu a multidão, escalando enquanto os segundos passavam
adiante. Alguns estavam de pé, com os rostos mostrando choque e terror. ‘Não há
razão para temer dois Apollyons’. Minha bunda. Eles sabiam - alguns lá fora no
público reconheceram o perigo.
Meu coração estava tentando sair do meu peito, e mesmo que eu tentasse
me parar, eu olhei para Aiden. Ele tinha congelado. Eu não tinha certeza de que
ele estava sequer respirando. Nossos olhares se encontraram, e em um instante,
houve alívio e raiva em seus olhos de aço enquanto seu olhar caiu para onde Seth
segurava minha mão com força. Em seguida, mudou-se, dando um passo a
frente. Marcus jogou fora um braço, detendo-o. Eu não tinha certeza se Aiden ia
prestar-lhe qualquer atenção, mas ele fez.
Eu soltei uma respiração que não sabia que estava segurando.
— O que é isso? — Gritou um ministro. Eu parei de tentar perceber qual
deles.
Lucian apenas sorriu. Eu odiava aquele sorriso. — É a nossa hora de tomar
de volta o que é nosso por direito, um mundo onde nós fazemos nossa própria
regra e não respondemos a uma seita de deuses que não se importam se estamos
prosperando ou morrendo. Um mundo onde os meio-sangues não serão
escravizados, mas estarão ao nosso lado. — Vários suspiros assustados cortaram
lá, vai entender, — Mas onde os mortais ajoelhar-se-ão aos nossos pés, como
deveriam. Somos deuses em nosso próprio direito.
E assim, a metade da audiência ficou em pé. Palavras como “blasfêmia”,
“traição”, e “insanidade’ foram lançadas ao redor. Alguns dos mestiços assistiram
Lucian curiosamente, suas palavras fazendo um certo apelo para eles. Mas
seriam tolos de acreditar nele.
Os Guardas de Lucian e alguns que eu reconheci em torno do Covenant,
direcionaram-se para as portas traseiras, bloqueando qualquer um de escapar.
Eu quase ri. Pensávamos que a Ordem tinha se infiltrado profundamente dentro
do Covenant, mas Lucian realmente tinha se superado. Foi ele que havia se
infiltrado no Covenant e no Conselho.
— Este é um momento para uma nova era. — A voz de Lucian ressoou
através do tribunal de grande porte. — Até mesmo os mais baixos mestiços que
estão com a gente, vão florescer. Aqueles que não, vão cair.
Vários membros do Conselho se levantaram e deram um passo para trás.
Cinco deles, os cinco que apoiaram Lucian e pelo menos duas dezenas de
Guardas... E sentinelas.
Eu peguei um vislumbre de Aiden e o estranho se aproximando do palanque,
mas depois perdi de vista. Foquei no que estava acontecendo na minha frente,
quando eu senti raiva e alarme tomar posse.
— Seth. — Lucian disse calmamente, — Este homem tem tentado acabar
com a vida de Alexandria várias vezes. Ele é digno da vida?
O ministro idoso chegou a seus pés, apoiando-se na bengala. — Ele não tem
voz neste assunto! Apollyon ou não, ele não decide a vida ou a morte. Se o
Ministro Chefe Telly foi contra o desejo do Conselho dos Doze, então ele deve ser
julgado pelo Conselho!
Ele foi ignorado.
Olhei para Seth. — Não. — Sussurrei. — Não. Não responda a essa
pergunta.
E eu fui ignorada.
Seth levantou o queixo, quando as marcas do Apollyon estouraram em seu
rosto, girando e se movendo para baixo do pescoço, sob o colarinho de sua
camisa.
— Ele não é digno da vida.
Orgulho encheu os olhos de Lucian. — Então ele é seu para lidar.
Pânico fez um buraco em linha reta através do meu peito. Eu me afastei de
Seth, jogando todo meu peso para quebrar seu aperto. Ele só segurou mais
apertado. Eu sabia o que ele pretendia fazer.
— Não! — Gritei, ainda tentando me soltar e quebrar o contato. — Telly é um
idiota, mas não decidimos quem morre, Seth. Isso não é o que somos, não é o que
o Apollyon é.
— Bobinha. — Lucian murmurou alto o suficiente para apenas nós
ouvirmos. — Isso não é o que um Apollyon decide, mas o que o Assassino dos
Deuses decide.
— Não dê ouvidos a ele. — Implorei e recuei quando a sua marca queimou
contra a minha, — Você não é assim. Você é melhor que isso. Por favor.
Seth olhou para mim. Houve um breve momento - mas houve. Hesitação e
confusão cruzaram seu rosto. Seth não acreditava plenamente que ele estava
fazendo a coisa certa. Esperança se apoderou de mim.
Eu agarrei o braço dele. — Seth, você não quer fazer isso. Eu sei que você
não quer. E eu sei que não é você. É o akasha - eu entendo. E é ele. Ele está
usando você.
— Seth. — Lucian insistiu, — Você sabe o que tem que fazer. Não falhe
comigo, não falhe conosco.
— Por favor. — Implorei, segurando seu olhar enquanto querendo saltar
sobre a derrotada e corcunda forma de Telly e estalar o pescoço de Lucian, — Não
faça isso com a gente, comigo, a si mesmo. Não se torne um assassino.
Os lábios de Seth ergueram-se e, em seguida, ele se afastou de mim, de
frente para Ministro Chefe Telly. — Ele não pode viver. Esse é o meu presente
para você.
Horror roubou meu fôlego. E ocorreu-me então. Essa era a diferença entre
Aiden e Seth. Não importa o quanto Aiden gostaria de revidar, ou o quanto ele
queria alguma coisa, ele nunca me arriscaria. E caramba, Seth faria.
Ele o fez.
Sua mão apertou a minha. Meu corpo estalou por dentro quando ele rasgou
o akasha diretamente para fora de mim. Eu me dobrei, pegando apenas um flash
de luz âmbar, uma vez que envolveu Telly. A última vez que tinha visto Seth usar
o akasha, tinha sido azul, mas isso foi antes das quatro marcas, antes que ele
pudesse puxar o poder do quinto elemento de mim.
Gritos encheram o ar, não de Telly, mas do Conselho e do público. Telly não
teve a chance de fazer um som. Uma vez que o akasha acertou-o, vindo de
ambos, Seth e eu, ele simplesmente deixou de existir.
Vidro quebrou. Choveram cacos de vidro, cortando o ar e também os que não
foram rápidos o suficiente para sair do caminho. Três formas aladas vieram
através da abertura, uivando de raiva.
As fúrias tinham chegado.
A
Vinte e Nove
s fúrias estavam em pleno modo feio. Suas peles eram cinzas e
leitosas. Serpentes estalavam de suas cabeças. Dedos estendidos em pontas
afiadas. Essas garras podiam rasgar tecidos e ossos com facilidade.
Elas estavam vindo direto para nós.
Apenas um ou dois segundos se passaram desde o momento em que Seth
tinha carregado e eliminado Telly. Um fúria quebrou livre de suas irmãs, indo
sobre a audiência, emitindo gritos estridentes.
Seth levantou o braço. Akasha saiu de sua mão, voando através do ar em
uma velocidade incrível. Ele bateu na primeira no peito, antes da luz âmbar
cuspir para fora. Choque cintilou em seu rosto monstruoso e, em seguida, a
mandíbula diminuiu. A fúria caiu, girando como um pássaro abatido enquanto
suas asas cortavam através do ar. A fúria caiu em uma pilha sem vida de pele
branca, e carne imóvel alguns metros à frente de nós.
As duas fúrias restantes pairaram pela janela quebrada. Suas peles mortais
caíram sobre os monstros interiores e horror beliscou suas características
bonitas.
— Não é possível. — Gritou uma, puxando seu cabelo loiro até que fios
penduravam de seus dedos com garras. — Não pode ser!
— Mas é. — A outra agarrou o braço de sua irmã, — Ele matou uma de nós.
Com as pernas fracas, eu me endireitei e balancei instável. As ações de Seth
haviam me enfraquecido, me deixando páreo para uma marmota, e muito mais
para uma das fúrias, se elas atacassem. Percebendo que Seth tinha me liberado,
eu tropecei ao lado do estrado. Eu ia morrer. Eu tinha certeza disso. Meus gritos
iriam se juntar aos do público... Exceto se as fúrias não atacassem.
— Você declarou guerra contra os deuses. — Uma assobiou. Suas asas
cortaram o ar sem fazer barulho, — Não se enganem, eles farão guerra contra
vocês.
A outra estendeu seus musculosos braços. — Você arriscou todos para
devorar-se com o poder que nunca foi seu. Que caminho... Que caminho você
escolheu.
E então elas se foram.
Caos supremo reinou abaixo do estrado e sobre ele. Telly se foi. Não havia
nem mesmo uma pilha de cinzas. Bile subiu na minha garganta e me virei para
longe do local onde ele tinha estado ajoelhado.
Atrás, eu ouvi os sons de luta quando Guardas e Sentinelas estavam
bloqueando as portas. O Guarda perto de nós foi ultrapassado. Um de seus
punhais bateu no chão. Eu cambaleei para ele, passando os dedos dormentes ao
redor do punho. Eu tinha que parar com isso, parar Lucian. Ele estava puxando
as cordas de Seth.
Virei-me ao redor, encontrando Lucian falando ao Conselho, jorrando mais
coisas loucas que iam matar todos nós.
Seth estava em mim antes que eu pudesse dar um passo em direção a
Lucian. Nossos olhos se encontraram antes de ele arrancar o punhal da minha
mão. Ele jogou-o de lado quando avançou em mim. Frieza tinha se arrastado
sobre suas feições. Eu não reconheci o olhar em seus olhos. Eles brilhavam
violentamente, quase luminosos. Essa emoção estava lá novamente. Mas não era
admiração... Eu confundi esse olhar.
Era um desejo, uma ambição por mais. A mesma coisa que eu tinha visto
uma e outra vez nos olhos de um daimon.
Desarmada e fraca, eu sabia quando recuar. Minha coluna bateu na parede.
Desesperada, procurei alguma coisa e encontrei um candelabro de titânio. Eu
agarrei-o e joguei-o, usando os dois braços.
Com reflexo rápido, ele pegou o candelabro e jogou-o para o lado, também.
— Sempre jogando coisas. — Ele disse, com voz grossa e diferente. Foi-se a
qualidade musical, — Jogando sujo, Alex.
Eu inalei irregularmente. — Isso... Isso não é você.
— Sou eu. — Ele chegou para mim. — Isto somos nós.
A voz de Dawn me distraiu. — Isso é traição! — Disse. Terror enchia seus
olhos de ametista. Ela estava tremendo, abraçando os cotovelos. Os outros
ministros estavam atrás dela, rostos pálidos. — Isso é uma traição contra os
deuses, Lucian. O que você pede de nós, não pode ser dado.
— Você acha que a mudança não é necessária? — Lucian perguntou.
— Sim! — Ela descruzou os braços e levantou-os na frente dela, como se ela
estivesse protegendo a si mesma. — A mudança é necessária. Meio-sangues
precisam de mais liberdade e de escolha. Não há dúvida disso. Eu tenho uma
irmã mestiça. Eu a amo muito e quero uma vida melhor para ela, mas isso... Isso
não é o caminho.
Lucian inclinou a cabeça para o lado enquanto ele alisou suas mãos sobre
seus mantos brancos. — E o que dizer dos deuses, minha querida?
Sua respiração saiu esfarrapada quando sua espinha endireitou. — Eles são
nossos únicos mestres.
Todos os meus pesadelos estavam se tornando realidade, assim como os da
Ordem. A história se repetia. Seth deu um passo para o lado, de frente para os
membros do Conselho que não se curvavam à vontade de Lucian.
Lucian sorriu.
— Não! — Minha voz saiu áspera quando eu deslizei ao longo da parede,
longe de Seth. — Seth, não!
Mas Seth estava no piloto automático. Ele agarrou minha mão de novo.
Marca pressionando contra marca. Pressão encheu-me e depois a corda torceu de
novo, empurrando akasha através do vínculo. Não havia como chegar a ele
quando o poder assumiu, sem compaixão.
Seth era só a máquina de matar de Lucian.
A luz âmbar brilhante irrompeu de sua mão uma segunda vez.
Gritos subiram acima do pandemônio. Eu jurei que podia ouvir Lea acima de
todos eles. Eu sabia que não podia ser verdade, porque todo mundo estava
gritando. Eu estava gritando.
Seth soltou, e eu caí de joelhos, engasgando e sufocando sobre o cheiro de
tecido queimado e... carne queimada. Onde os sete tinham estado uma vez,
apenas três permaneceram amontoados enquanto olhavam com horror para Seth.
Um choramingou, agarrando um braço enegrecido.
A irmã de Lea, – Dawn - se fora.
Ele tinha feito isso, atacou o Conselho. Minhas bochechas estavam úmidas.
Quando eu tinha começado a chorar? Será que isso importava? Eu não sabia.
A irmã de Lea se foi.
Apertei a mão na boca, ordenando-me a recompor-me. Algo tinha de ser
feito. Isso era ruim, horrendo, mas seria ainda pior uma vez que eu Despertasse.
No meio do caos, eu poderia escapar. Eu não poderia quebrar agora. Lutando
para os meus pés, segurei minha respiração e me dirigi para as escadas enquanto
Seth estava de costas para mim. Eu alcancei os degraus e braços foram ao redor
da minha cintura, erguendo-me sobre a borda. Calor imediatamente me cercou,
meu corpo, meu coração me dizendo quem tinha me agarrado. Doce alívio me
inundou.
— Eu tenho você. — Aiden me colocou nos meus pés. Seus olhos
procuraram os meus atentamente. — Você pode correr?
Ouvi-o como se através de um túnel, e eu acho que acenei com a cabeça.
Em poucos segundos, estávamos cercados.
— Merda. — Ele soltou a minha mão, bloqueando o meu corpo com o seu.
Tensão enrolou por seu corpo.
Eu gostaria de ter tido a previsão para encontrar o punhal perdido, porque
então eu pelo menos teria algo para afastar os Guardas de Lucian. Não que eu
seria capaz de fazer muito com ele. Era preciso tudo de mim para ficar de pé,
para avançar com o esgotamento quase esmagador que veio quando Seth usou
meu poder.
Então Aiden atacou. Girando, sua bota conectando com a mandíbula do
guarda mais próximo, e então ele caiu sob o braço estendido de outro. Chegando-
se, seu punho atingiu o segundo em uma direta feroz. Sem perder o ritmo, ele
pegou outro com um chute no peito, recuando o guarda vários metros.
Fazia tanto tempo que eu tinha o visto lutar. Esquecendo quão gracioso e
rápido ele era, eu o olhava com admiração. Nenhum guarda passava por ele. Ele
afastava-os com apenas suas mãos e pontapés.
Um deles, porém, rastejou-se atrás de nós.
O Guarda me agarrou por trás e começou a me puxar de volta para o
tablado, em direção a Seth e Lucian. Com meus braços presos para o meu lado,
eu só fui capaz de bater o pé sobre o seu. Ele resmungou e soltou seu aperto,
mas foi só isso.
Aiden virou-se, vendo a minha situação. Nossos olhos se encontraram por
um breve segundo, e então seu olhar caiu. Eu deixei minhas pernas colapsar.
Aiden se moveu tão rápido que o ar agitou em torno de mim. Um segundo depois,
o Guarda bateu no chão, inconsciente.
— Legal. — Resmunguei quando Aiden puxou-me para os meus pés.
Seu sorriso era apertado quando ele agarrou minha mão de novo, e nós
estávamos correndo até o corredor central. Meu tio e o estranho estavam fazendo
o trabalho com os Guardas na porta. No chão, Luke estava segurando Lea,
balançando-a para frente e para trás enquanto ele mantinha um olho na batalha.
Quando ele nos viu, ele levantou-se e puxou Lea para seus pés. Ela estava
histérica. Eu não acho que ela nem sabia o que estava acontecendo ao seu redor,
nem mesmo quando o estranho com a cicatriz jogou um punhal e pegou direto no
Guarda ao lado dela.
— Quem... Quem é você? — Perguntei.
Ele se encurvou e sorriu. — A maioria me chama de Solos.
— Solos de Nashville?
Solos assentiu, virou-se e deu um soco em um Sentinela que tinha feito uma
corrida para nós. O soco bateu o cara fora de seus pés. Foi muito épico.
— Estamos saindo daqui? — Luke perguntou. Ele segurou Lea perto dele,
seus movimentos estavam frenéticos. — Temos de sair...
O ar estalou e rangeu. Luz piscando sobre a sala inteira. Quando ele recuou,
Apollo ficou no meio do corredor. — Vá. — ele disse. — Saia da ilha agora. Eu vou
segurá-lo, dar-lhe tempo suficiente.
— Alex! — Rugiu Seth.
Calafrios desceram pela minha espinha.
— O que quer que fizerem, não parem. Não fiquem para ajudar, — Apollo
ordenou antes de virar-se. — Vão.
— Vamos. — Aiden tinha-me novamente, — Temos um carro esperando na
rua, perto da praia.
— Você pode correr, Alex! — A voz de Seth sobressaiu durante o tumulto. —
Corra o quanto quiser! Eu vou te encontrar!
Aiden me arrastou para as portas dianteiras. Eu olhei para trás, vendo Seth
de pé no centro do palco, com o peito arfando. O corpo da fúria estava a seus pés
como um troféu doente.
— Pare eles! — Lucian ordenou, movendo-se por trás de Seth. — Não deixe
que ela saia daqui.
Os Guardas em frente ao tablado viraram e congelaram. Em seguida, eles se
dispersaram como baratas.
Apollo subiu ao altar. — Sim, isso é o que eu pensava.
— Eu vou encontrar você! Estamos conectados. Nós somos um. — Seth
ainda estava gritando. Seu olhar caiu para o deus. Ele zombou. — Você quer
lutar comigo agora, em sua forma verdadeira?
— Eu vou lutar com você de qualquer forma, seu molequezinho.
Seth riu. — Você não pode me matar.
— Mas eu posso bater o ranho da vida fora de você.
Isso foi tudo o que eu ouvi. Nós estávamos fora do tribunal, à luz do sol.
Puros e mestiços correndo atrás de nós. Nós continuamos correndo. Eu lutava
para manter-me com Aiden, respirando com dificuldade. Eu mal conseguia sentir
minhas pernas. Tropecei mais de uma vez, Aiden me pegou cada vez, ajudando-
me. Em seguida, Marcus apareceu ao meu lado, e sem uma palavra, mergulhou-
me em seus braços.
Indignação passou por mim. Eu detestava a ideia de ser carregada, mas eu
era mais um obstáculo em meus pés. Só então percebi que minhas runas ainda
estavam queimando, pulsando na minha pele. Meu estômago começou a rolar
violentamente.
— Eu vou vomitar. — Ofeguei.
Marcus parou imediatamente, colocando-me em meus pés. Eu bati meus
joelhos, e o conteúdo do meu estômago se esvaziou na calçada do lado de fora de
um café. Foi rápido e poderoso, terminando logo que começou, deixando minhas
entranhas doendo.
— Alex! — Aiden veio para perto de nós.
— Ela está bem. — Marcus ajudou-me a levantar. — Ela está bem. Aiden, vá
em frente. Verifique se o seu irmão está lá e leve as crianças para a segurança.
Aiden pairou. — Eu não vou deixar...
— Eu estou bem. Vá.
Obviamente relutante em fazê-lo, levou a Aiden mais alguns segundos antes
de ele se virar e ir embora.
— Você está bem? — Marcus perguntou. — Alexandria?
Eu assenti lentamente. Minhas mãos tremiam. — Desculpe. Eu sinto muito.
Os olhos de Marcus amoleceram, possivelmente pela primeira vez desde que
eu tinha conhecido ele. Ele deu um passo para frente, envolvendo os braços em
volta de mim. Foi um breve abraço, mas apertado e tudo o que deveria ter sido. E
curiosamente, descobri que era algo que eu tinha ansiado.
— Bons deuses, menina. — Ele engasgou, liberando-me. — Você acha que
você pode correr? Não é muito longe. Temos que voltar para os St. Delphi.
Lágrimas arranharam minha garganta enquanto eu assenti. Não era longe,
mas o pobre homem morreria me carregando toda a distância. Esperando que
meu estômago não decidisse saltar para fora de mim de novo, eu comecei a correr
o mais rápido que pude.
A corrida acabou quase me matando. Quando finalmente chegamos à areia,
e fomos correndo para o vento, meus músculos gritaram e protestaram. Eu
continuei, quase chorando quando eu vi os dois Hummers pretos... E Aiden.
Ele encontrou-nos a meio caminho, empurrando uma garrafa de água em
minhas mãos quando eu desacelerei. — Beba devagar.
Bebi a água enquanto Aiden apertava meus ombros. Eu queria dizer a ele
que eu estava bem, que não era comigo que ele deveria estar preocupado, mas
nós estávamos em movimento novamente.
Deacon estava andando na traseira do Hummer. — Alguém vai me dizer o
que diabos está acontecendo? — Ele nos acompanhou passado o primeiro carro,
— Lea está histérica. Luke não vai falar. O que diabos aconteceu?
— Você colocou as malas nos carros? — Aiden perguntou, pegando a garrafa
de mim antes que eu esquecesse a regra de beber. — Todas elas, como eu disse?
— Sim. — Deacon passou as mãos pelos seus cachos, os olhos arregalados e
intensos. — O que aconteceu?
Solos correu até nós. — Vai levar cerca de oito horas para chegar onde
estamos indo. Devemos fazer pelo menos metade do tempo, antes de parar para
abastecer.
— Concordo. — disse Aiden. Ele segurou meu braço flácido em um aperto
suave, assumindo mais do meu peso. Eu não tinha percebido que eu encostei no
Hummer. Seu olhar preocupado continuava a cair de volta para mim.
— Diga-me o que aconteceu! — Deacon gritou.
— Seth... Seth atacou o Conselho. — Estremeci com as palavras.
Deacon parecia incrédulo. — Oh, meus deuses.
Eu me soltei de Aiden e olhei para dentro do Hummer. Empilhadas na
traseira estavam as malas. Eles tinham tudo planejado. Me afastando da parte de
trás do carro, eu pensei em Seth. Quanto tempo poderia Apollo segurá-lo?
Eles estavam finalizando os planos e eu ainda estava olhando para as malas.
Obviamente que eles esperavam me agarrar no Conselho de alguma forma, não
sabendo o tipo de caos que ia entrar em erupção. O que eles arriscariam para me
tirar de lá? Vida e a integridade física, o mais provável.
O vento aumentou.
Aiden voltou para mim, todo determinação e propósito. — Nós temos que
sair agora.
Solos chamou Marcus. — Você está pronto para isso?
— Vamos sair daqui. — Marcus respondeu, lançando um longo olhar para
mim. — Você aguenta?
— Sim. — Eu resmunguei, e depois limpei minha garganta.
— Isso é loucura. — Deacon abriu a porta traseira e começou a subir dentro
— Tudo está indo de...
— Não! — Aiden empurrou Deacon para o Hummer a ser conduzido por
Solos. — Nós somos os únicos que eles terão como alvo. Vá com Marcus. Luke,
fique com ele.
Todo profissional, Luke concordou e reuniu uma Lea ainda soluçando perto
dele. Eu queria ir ter com ela. Ela tinha perdido tudo... E cada vez tinha alguma
coisa a ver comigo. Primeiro, a minha mãe tinha levado seus pais, e agora Seth
tinha levado sua irmã. Culpa afiada cavava dentro de mim.
Deacon parou. — Não. Eu quero...
Aiden agarrou seu irmão mais novo em um abraço feroz. As palavras foram
sussurradas entre eles, mas eu não conseguia ouvir nada sobre o vento.
Empurrando meu cabelo do meu rosto, me virei na direção da parte da ilha
controlada pelo Covenant.
Alguma coisa estava acontecendo. Eu podia sentir isso. Eletricidade enchia o
ar, elevando os cabelos minúsculos em meus braços.
Deacon recuou de seu irmão e se afastou. Lágrimas se reuniram em seus
olhos. Ele temia pela vida de seu irmão, e ele deveria. Quando Seth viesse para
nós, ele não iria pagar qualquer atenção. Seth viria para Aiden e eu, e mesmo tão
forte como ele era, era duvidoso que ele iria longe nesse confronto.
Meu coração se afundou. Eu não poderia fazer isso com eles. — Aiden, você
não pode ir comigo. Você não pode fazer isso.
— Não comece. — Aiden rosnou quando ele agarrou meu braço. — Entre
no...
Relâmpago surgiu do céu, estrias acima de nós e para baixo, batendo na
costa do Covenant. Apesar da nossa distância do ponto de impacto, o flash de luz
ainda me cegou.
Solos parou, a meio caminho atrás do banco do motorista. — Mas o que...?
O vento apenas parou. Não era natural... E assim foi o silêncio que se abateu
na Ilha Divindade. Em seguida, uma corrida de gaivotas levantou vôo,
desesperadas e gritando em pânico. Centenas e centenas delas voaram por cima,
longe da ilha.
— O que está acontecendo? — Lea sussurrou, — É ele? Ele está vindo?
— Não. — Eu disse, sentindo-o em meu âmago. — Isto não é Seth.
— Nós precisamos ir agora. — Aiden começou a me puxar para o lado do
passageiro do carro.
Em uma onda de atividade, todos pularam em seus respectivos carros. Atrás
de nós, as pessoas estavam se reunindo no convés de suas casas. Guardas
estavam se espalhando em toda a praia. Todos estavam olhando todo o trecho de
mar que separava as duas ilhas.
Eu tinha um mau pressentimento sobre isso.
Aiden bateu a porta fechada e ligou o Hummer. Ele agarrou minha mão. —
Tudo vai ficar bem.
Famosas últimas palavras.
Um boom de tremer os ossos explodiu em torno de nós, sacudindo o carro.
Uma corrente de água ejetou para a atmosfera, do outro lado da ilha, mais alta do
que o edifício mais alto do Covenant, mais espessa do que dois dos dormitórios. A
parede de água acalmou, me lembrando de como Seth tinha jogado com a água
da piscina.
Isso não ia ficar bem.
Outra corrente irrompeu no céu e depois outra... E outra até mais de uma
dúzia de paredes de água pontilharem a paisagem. Poder percorreu o ar,
deslizando sobre a minha pele, enrolando em torno da corda dentro de mim.
E no centro de cada uma das correntes, podia distinguir a forma de um
homem.
— Oh, merda. — Eu sussurrei.
Aiden pisou no acelerador e o Hummer caiu para frente. — Poseidon.
Eu me virei no banco, observando o oceano a partir da janela traseira. Além
dos edifícios formidáveis do Covenant, as paredes começaram a girar nas
chaminés. Uma sombra de um tridente gigante caiu sobre o Covenant e os pontos
afiados tocaram a ilha principal, soletrando desgraça e morte para todos que
permaneceram. Poseidon, o deus do mar, o grande agitador da terra, estava
muito zangado.
— Aiden...
— Vire-se, Alex.
Minhas mãos apertaram a parte de trás do assento. Os funis formavam
gigantes ciclones sobre a água. — Eles vão destruir tudo! Temos que fazer alguma
coisa.
— Não há nada que possamos fazer. — Com uma mão, Aiden agarrou meu
braço quando passamos a crista da ponte para a Ilha Bald Head, — Alex, por
favor.
Eu não podia virar. Da forma como os ciclones se moviam, parecia que
Poseidon pouparia a ilha mortal, mas quando o primeiro funil atingiu o Covenant,
meu peito apertou. — Eles não podem fazer isso! Essas pessoas são inocentes!
Aiden não respondeu.
Água caiu através das estruturas. Mármore e madeira cortaram o ar. Gritos
dos que estavam na ilha principal arrastaram profundamente em minha alma,
onde o som permaneceria por uma eternidade.
Voamos pelas ruas de Bald Head, evitando por pouco os pedestres atônitos
vendo a explosão bizarra da natureza. E quando chegamos à ponte que conduzia
ao continente, vi as grandes muralhas de água diminuirem. Nenhum edifício
permaneceu na ilha Divindade. Não havia nada. Tudo se foi. O Covenant, os
edifícios, as estátuas, puros e mestiços... Tudo tinha sido levado para o oceano.
H
Trinta
oras se passaram em um silêncio atordoado. Eu me sentia mal, fria.
Quantos estavam na ilha? Centenas de funcionários e instrutores permaneciam
no Covenant durante as férias de inverno, e as pessoas tinham estado em suas
casas. Com as mãos tremendo, alisei meu cabelo para trás enquanto Aiden
brincava com o rádio, até que ele pegou outra estação.
— ... Os meteorologistas estão dizendo que o terremoto a várias centenas de
quilômetros da costa da Carolina do Norte produziu pelo menos uma parede de
30 metros de água. No entanto, os residentes em ilhas vizinhas permaneceram
incólumes. Alguns relataram ter visto um grupo de até uma dúzia de ciclones,
mas esses relatórios não foram comprovados pela Administração Nacional
Oceânica e Atmosférica. O estado de emergência foi declarado...
Aiden desligou o rádio. Ele, então, estendeu a mão, correndo os dedos sobre
o meu braço, minha mão. Ele vem fazendo isso desde que entrei no carro, como
se estivesse a lembrar-se de que eu estava sentada ao lado dele, que eu ainda
estava viva depois de tantas vidas terem sido perdidas.
Eu pressionei minha testa contra a janela e fechei os olhos. Poseidon tinha
ido atrás de Seth e Lucian, ou Apollo tinha de, alguma forma, conseguido evitar a
destruição total? Tudo o que eu sabia era que Seth ainda estava respirando,
porque a conexão ainda estava lá.
Como eu tinha feito durante o último par de horas, imaginei minhas paredes
rosas brilhantes novamente e reforcei-as com toda a minha força.
— Como você está se sentindo? — Aiden perguntou calmamente.
Tirei minha cabeça para fora da janela e olhei para ele. Tudo nele estava
duro e tenso, desde o modo como ele segurava o volante até a linha de sua
mandíbula. — Como você pode sequer pensar em como eu estou me sentindo
agora?
— Eu vi como você reagiu quando... Ele puxou poder de você. — Ele olhou
para mim, os olhos prateados. — Eles... Ele te machucou quando estava com ele?
Eu estava exausta. Minha cabeça doía e eu tinha certeza de que meus dedos
dos pés estavam dormentes, mas estava viva. — Não. Ele não me machucou. E eu
estou bem. Você não deve se preocupar sobre como eu estou. Todas essas
pessoas... — Balancei a cabeça, engolindo contra o aperto súbito na minha
garganta. — O que Lucian fez ao dizer-lhes que você usou uma compulsão...
Sinto muito.
— Alex, você não tem razão para se desculpar. Não foi sua culpa.
— Mas como você pode voltar? Ser um Sentinela…
— Eu ainda sou um Sentinela. E com tudo o que aconteceu, tenho certeza
que o que eu fiz é a última coisa em que eles vão estar pensando. — Ele olhou
para mim. — Eu sabia os riscos quando fiz isso. Não me arrependo. Você
entendeu?
Aiden não o lamentava agora, mas o que acontecia depois — se houvesse um
depois — quando ele fosse julgado por traição? Mesmo se não fosse, ele seria
destituído de seus deveres como Sentinela e condenado ao ostracismo.
— Alex?
— Sim. Eu entendo. — Assenti para benefício extra. — Para onde vamos?
Seus dedos estavam brancos de tão apertados. — Vamos para Atenas, Ohio.
O pai de Solos tem um lugar à beira da Floresta Nacional Wayne. Deve ser
suficientemente longe... Dele, desde que Apollo nos dê tempo suficiente.
— Eu não o sinto. — Nós tínhamos parado de nos referir a Seth pelo nome
em voz alta, como se fazê-lo fosse fazer com que ele, alguma forma, reaparecesse
ou algo assim.
— Você acha que pode fazer um escudo mental, mantê-lo fora?
Olhei para o espelho lateral, o outro Hummer seguia de perto. Como eles
estavam se aguentando? Lea?
— A distância... Ele não deve ser capaz de se conectar através do vínculo, se
é com isso que você está preocupado. Quero dizer, ele não conseguia sentir nada
quando estava em Nova York, então...
— Isso não é tudo com que estou preocupado, — Aiden respondeu
calmamente. — É uma viagem de oito horas. — Ele escovou o cabelo dos seus
olhos quando olhou a luz do sol desaparecendo. — Vamos parar no caminho,
provavelmente em Charleston, para reabastecer de combustível e algo para
comer. Você acha que pode aguentar tanto tempo?
— Sim. Aiden... Todas essas pessoas. — Minha voz falhou quando minha
garganta ficou apertada. — Eles não tiveram chance.
Aiden agarrou minha mão. — Não é culpa sua, Alex.
— Não é? — Lágrimas queimaram meus olhos. — Se eu tivesse te ouvido e a
Apollo, quando vocês sugeriram que eu saísse antes que ele voltasse, isso não
teria acontecido.
— Você não sabe disso.
— Sim, eu sei. — Tentei soltar minha mão, mas Aiden segurou-a. Eu
esperava que ele fosse bom em conduzir só com uma mão. — Eu só não queria
acreditar que ele... Faria algo tão terrível.
Ele apertou minha mão. — Você tinha esperança, Alex. Ninguém pode ser
culpado de esperança.
— Você uma vez me disse que eu precisava saber quando tivesse que deixar
de ter esperança. Eu estava muito além do prazo de validade da esperança então.
— Tentei sorrir e não consegui, — Não vou fazer o mesmo erro duas vezes. Juro.
Trazendo a minha mão aos lábios, ele deu um beijo doce contra ela. — Agapi
mou, não carregue esse tipo de culpa muito perto. Um caminho diferente poderia
ter sido escolhido, mas no final você fez o que sentia que era certo. Você deu a ele
uma chance.
— Eu sei. — Me concentrei na estrada à frente, desejando que as lágrimas
fossem embora. — Se foi, não é? A Ilha do Covenant, até mesmo a Ilha
Divindade?
Ele deu um suspiro trêmulo. — Poderia ter sido pior. Isso é o que eu
continuo dizendo a mim mesmo. Se houvesse aulas a decorrer... Apenas mais
alguns dias...
A perda de vidas teria sido astronômica. — O que vamos fazer? Não posso
ficar escondida para sempre.
O que não foi dito permanecia entre nós. Em outras palavras, a menos que
Seth voltasse a si, o que parecia altamente improvável, ele acabaria por me
encontrar.
— Eu não sei, — disse Aiden, fundindo-se a outra pista. — Mas nós estamos
nisso juntos, Alex, até ao fim.
Calor voltou ao meu coração. Sua mão se sentia bem na minha, e mesmo
que tudo ao nosso redor estivesse tão incrivelmente estragado, nós - nós
estávamos nisso juntos. Até ao fim.
Era meio da noite quando chegamos a Charleston, West ‘abençoada’ Virginia
e estava nevando levemente. Os veículos rolaram até parar nas bombas na frente
de um desses centros de turismo que era do tamanho de um pequeno Wal-Mart.
Precisávamos de combustível e alimentos, e talvez uma dessas bebidas que dão
cinco horas de energia, também.
— Espere. — Aiden estendeu o braço no banco de trás e tirou uma das
lâminas de foice. — Apenas no caso.
Fechada, se encaixava no meu bolso com apenas metade de fora. —
Obrigado.
Seus olhos encontraram os meus enquanto ele me deu um par de notas de
dez dólares. — Não demore muito, ok? Parece que Solos vai com você.
Olhei para trás. Ele já estava esperando do lado do passageiro. Marcus
estava brincando com a bomba de gasolina que ele nunca tinha usado antes. —
O que você quer?
— Surpreenda-me. — Ele sorriu. — Basta ter cuidado.
Prometendo que eu iria, saí do Hummer e quase comi pavimento quando o
meu pé escorregou em um pedaço de gelo. — Deuses!
— Alex? — Aiden chamou.
— Eu estou bem. — Derrubei minha cabeça para trás e fechei os olhos,
deixando os pequenos flocos de neve caírem sobre o meu rosto. Fazia tanto, tanto
tempo desde que eu tinha visto neve.
— O que você está fazendo? — Solos perguntou, matando o momento.
Abri os olhos e forcei-os em seu peito. — Eu gosto de neve.
— Bem, você vai ver um monte de neve, onde nós estamos indo. —
Começamos a atravessar o estacionamento, consciente das manchas de gelo que
estavam determinadas a derrotar-me. — Provavelmente tem meio metro ou mais,
em Atenas.
Por um momento, eu fantasiei sobre lutas de bolas de neve e passeios de
trenó. Estúpido da minha parte fazê-lo, mas ajudou a manter-me afastada do
pânico.
— Você não é o que eu esperava, — disse Solos quando chegamos a calçada
coberta de neve.
Enfiei as mãos em meus bolsos. — O que você esperava?
— Eu não sei. — Ele sorriu, suavizando a cicatriz. — Alguém mais alto.
Um pequeno sorriso puxou meus lábios. — Não deixe o meu tamanho
enganá-lo.
— Eu sei. Já ouvi contos sobre suas muitas aventuras, especialmente como
você lutou durante o ataque sobre o Covenant de Nova Iorque. Alguns dizem que
é por causa do que você é, que faz com que você lute tão bem.
Dei de ombros.
— Mas eu digo que tem mais a ver com a sua formação do que qualquer
coisa. — Solos olhou para trás e, em seguida, seu olhar astuto assentou em mim.
— Você e St. Delphi parecem muito próximos.
Deixei minha expressão vazia enquanto encolhia os ombros novamente. —
Ele é muito legal para um puro.
— É mesmo?
— Ei! Esperem! — Deacon pisou um pedaço de gelo espesso e deslizou para
o nosso lado como um skatista profissional, seus olhos arregalados. — Lea quer
comer alguma coisa. Luke vai ficar com ela.
Salva por Deacon. — Como ela está?
Solos agarrou a porta, segurando-a aberta para nós. — Ela dormiu a maior
parte do caminho até aqui, — Respondeu Deacon. — Desde que acordou,
realmente não tem falado. Luke a convenceu de que ela deve comer alguma coisa,
então vamos compartilhar alguns Cheetos.
Eu sentia por Lea e entendia sua dor. Assim como Deacon. Minha presença,
provavelmente não seria a melhor, mas Deacon... Ele seria bom para ela.
Sacudi a neve uma vez dentro do centro de turismo quente e bem iluminado.
Com exceção do caixa com cabelo gorduroso e magro, que estava lendo o que
parecia ser uma revista de sacanagem, o lugar estava vazio. Com o estômago
roncando, fui para os coolers. Aiden gostaria de água, é claro, mas eu estava
precisando de um pouco de cafeína.
Solos ficou com Deacon, porque se um daimon aparecesse, Deacon
precisaria de ajuda. Pegando uma garrafa de água e uma Pepsi, fiz a varredura da
loja. O caixa bocejou e coçou o peito, nunca uma vez olhando para cima. A neve
estava começando a cair em flocos maiores. Suspirando, ignorei o desejo de ver a
neve e me arrastei em direção ao corredor dos snacks. A parte da loja que fazia
sanduíches não estava aberta, então nossas opções estavam severamente
limitadas.
Um cheiro almiscarado pesado e molhado inundou o ar. Funguei, achando o
cheiro estranhamente familiar. Passei por Deacon, com seus braços cheios.
— É melhor você se apressar. Solos está ficando nervoso com o mortal.
Voltei a olhar para a frente da loja. — O quê? Há apenas um cara aqui.
— Eu sei.
Balançando a cabeça, peguei um pacote de carne seca e um saco de batatas
fritas com sabor de endro. Olhei para as minhas guloseimas e decidi que
precisava de algo doce. Depois de uma parada rápida na área das barras de
chocolate, voltei para a frente.
— Legal de você se juntar a nós. — Murmurou Solos. Um saco de amendoins
e uma bebida energética estavam em suas mãos.
Eu o ignorei enquanto Deacon fazia o pagamento. O caixa olhou para cima
quando eu entreguei a minha festa de calorias, mas não disse nada. As pessoas
eram super amigáveis por estas bandas.
— Isso será $10,59 dólares. — O homem resmungou.
Bons deuses. O que eu comprei? Cavei no meu bolso procurando o dinheiro
que Aiden tinha me dado. De repente, o cheiro almiscarado voltou, mas muito
mais forte. E depois lembrei-me que cheiro era. Era o mesmo cheiro de musgo do
submundo. As luzes do teto fluorescentes piscaram uma vez, depois duas vezes.
— Oh cara. — Sussurrei, e meu coração parou.
Solos enrijeceu ao meu lado. — O que é isso?
— Não se preocupem, — O caixa disse, olhando para as luzes. — Isso
acontece o tempo todo com a neve. Os condutores batem em postes no gelo negro
lá fora. Vocês não devem ser daqui.
O ar adensou em torno de nós, se enchendo com a mesma eletricidade que
tinha envolvido a Ilha Divindade antes da chegada de Poseidon. O mortal não
podia senti-lo.
Houve um pop e faíscas voaram. A câmera de segurança na porta parou de
piscar vermelho enquanto fumaça flutuava dela.
— Que diabos? — O atendente se inclinou sobre o balcão. — Agora eu nunca
vi nada assim antes.
Eu nunca vi nada assim, também.
Solos agarrou o braço de Deacon. — Hora de ir.
De olhos arregalados, Deacon assentiu. — Tudo o que você disser, cara.
Deixando meus artigos sobre o balcão, fui para a porta. A comida que se
dane. Havia definitivamente algo acontecendo, alguma coisa... Divina.
— Ei! Onde vocês vão? Vocês não…
Um rugido profundo cortou suas palavras. Paramos a cerca de 3 metros da
porta. Meu coração pulou na minha garganta. O cheiro de cachorro molhado
cresceu forte e os pêlos finos no meu corpo se levantaram. Virei-me devagar, meu
olhar varrendo sobre a loja. Abaixei-me, envolvendo minha mão em torno do
punho da lâmina de foice.
Ao lado da prateleira de Twinkies e cupcakes, o ar brilhou. Formas distintas
de grandes pegadas de botas apareceram, escurecendo o vinil do pavimento,
enchendo o ar com tufos de fumaça e enxofre. A estrela de viagem branca pintada
no vinil borbulhou e ardeu.
Duas pernas revestidas de couro, quadris estreitos, e em seguida, um peito
largo apareceram do nada. Quando o meu olhar viajou para seu rosto, eu acho
que parei de respirar. “Sombriamente belo” não lhe fazia justiça.
“Pecaminosamente gostoso” não estava nem perto de tentar descrever esse deus
de cabelos negros. O cheiro de enxofre e fumaça nos deu sua identidade.
Hades era bem quente para um deus, e eu tinha certeza que ele estava lá
para me matar.
Uma espingarda explodiu, amortecendo meus ouvidos e me fazendo pular.
— Eu não quero nada dessa merda aqui. — O funcionário engatilhou a arma
novamente. — Da próxima vez eu não vou…
Hades levantou a mão, e os olhos do caixa reviraram em suas órbitas. Ele
caiu no chão sem sequer uma palavra. Hades sorriu, piscando um conjunto
perfeito de dentes ultra-brancos. O Submundo tinha um inferno de um plano
odontológico.
— Agora, nós podemos fazer isso da maneira fácil ou da maneira difícil. —
disse Hades, com charme suficiente. Estranhamente, ele parecia ter um sotaque
britânico. — Tudo o que eu quero é a garota.
Solos recuou Deacon de volta contra o balcão, bloqueando-o, e casualmente
colocou os amendoins e a bebida energética para baixo. — Isso vai ser um
problema.
Hades deu de ombros. — Então, será da maneira mais difícil.
A
Trinta e Um
maneira mais difícil não soou nem pareceu divertida quando
Solos tentou colocar Deacon para fora da loja de conveniência e descobriu que as
portas não abriam. Por outro lado, Aiden e Marcus tentaram desesperadamente
abrir as portas, indo tão longe a ponto de tentar jogar um banco no vidro
reforçado, mas sem sucesso.
As coisas foram de mal a realmente pior dentro de segundos. Hades não
estava sozinho, não que nós tivéssemos esquecido o cheiro e o rosnar animalesco
de mais cedo. Atrás de Hades, o ar brilhava diante de dois enormes cães com três
cabeças.
Um era negro e o outro era pardo, mas ambos eram tão feios como o inferno.
Pêlos emaranhados cobriam tudo, mas seus longos focinhos eram sem pêlos.
Cada cabeça tinha uma boca que poderia engolir um bebê e suas garras pareciam
cruéis e afiadas. Seis pares de olhos brilhavam vermelho rubi. No final de cada
cauda tinham o que parecia uma arma do tipo militar36 – em forma de estrela,
áspera e cheia de espinhos.
Eles ladearam Hades, rosnando e batendo no ar.
Estávamos tão ferrados.
— Conheçam Death37, — Hades fez um gesto para que o cão negro, — E
Despair38. O Cerberus é um pai orgulhoso de seus dois meninos.
— Nomes bonitos. — Resmunguei, e em seguida liberei as duas bordas
afiadas da lâmina de foice.
— Você quer brincar, amor? — Hades inclinou a cabeça para o lado.
— Não, na verdade. — Eu não tinha certeza de qual deles deveria manter um
olho.
— Realmente não é nada pessoal. — disse Hades, — Mas não podemos
permitir que o Primeiro se torne o que temíamos. Ele já fez a sua escolha, e agora
temos que fazer a nossa.
Tentar me matar era tão pessoal quanto podia ficar. Eu vi o queixo de Hades
subir cerca de um centímetro e pulei para o lado, enquanto Despair me cercava.
Correndo pelo corredor de doces, eu esperava que Solos fosse capaz de proteger
Deacon. Peguei uma prateleira e joguei-a no chão. Despair foi direito sobre as
numerosas barras de chocolate, suas garras rasgando invólucros e chocolates.
Rapidamente, olhei por cima do meu ombro.
Despair perdeu o equilíbrio e escorregou para o refrigerador vertical, através
do vidro. Garrafas de refrigerante voaram pelo ar, efervescendo após o impacto.
36 37 Significa ‘morte’. 38 Significa ‘desespero’.
Aproveitando-me da situação, girei e trouxe a foice para baixo, mais próxima da
cabeça.
A lâmina entrou através dos músculos e tecidos, e um grito mais tarde,
deixou Despair um cachorro de duas cabeças... Até que no coto começou a
crescer outra cabeça assustadora. Totalmente restaurado, Despair arreganhou os
dentes e deu patadas no chão.
Eu me afastei. — Bom cachorrinho. Bom cachorrinho.
Despair agachou, cada uma de suas bocas mordendo o ar.
— Cachorrinho mau! — Eu saí correndo, derrubando caixas de cerveja e
qualquer coisa que pudesse chegar em minhas mãos. Ao longo das prateleiras, eu
podia ver Deacon apoiado contra as portas da frente, as expressões horrorizadas
de Aiden e Marcus do outro lado. Solos estava esquartejando Death, despachando
as cabeças da esquerda e da direita.
E Hades, bem, ele estava apenas parado lá na sua glória de deus mau.
— Acerte o coração! — Solos gritou sobre o caos. — O coração no peito, Alex!
— Como se eu não soubesse onde fica o maldito coração! — Eu só não
queria chegar tão perto da coisa. Peguei velocidade quando vi a zona de jantar,
tendo uma ideia - não era uma boa, mas melhor do que correr em volta da loja
com um pitbull mutante correndo atrás de mim.
Saltei sobre o conjunto de cadeiras e pousei sobre a mesa. Girando, peguei a
cadeira de metal e segurei-a com as pernas para cima. Despair pulou, limpando a
bagunça de cadeiras e caiu em cima de mim. Ele gritou e debateu quando as
pernas de metal entraram profundamente em sua barriga. O impacto arrebentou
a mesa e nós dois fomos para baixo, suas garras não muito distantes do meu
rosto. Todas as três cabeças estalaram a centímetros do meu nariz, a respiração
quente e pútrida desencadeando meu reflexo de vômito.
Inclinando meus quadris, eu empurrei Despair e saltei para os meus pés.
Despair caiu de costas, com as pernas balançando no ar. Afastando a vontade de
vomitar, eu pulei no assento da cadeira. Meu peso enviou raios de metal para
baixo, perfurando a placa de proteção do osso.
Um segundo depois, o cão não passava de um monte de pó azul cintilante.
Levantando a cabeça, eu virei. — Um a menos...
Hades soltou um rugido de fúria que balançou as prateleiras e enviou itens
de todas as formas e tamanhos para o chão. E então ele desapareceu.
— Bem, isso foi fácil. — Virei a lâmina, Solos assistindo Solos se esquivar de
Death. — Você viu isso? Hades totalmente apenas bancou o fracote... Oh, merda.
Prateleiras voaram pelo ar, cadeiras e mesas deslizaram pelo chão, atirados
de lado por uma força invisível. O chão tremeu sob meus pés enquanto eu recuei.
Isso foi quando me lembrei de que Hades poderia tornar-se invisível. Terror
passou por mim como uma onda escura e oleosa de calor.
— Não é justo. — Eu disse, e em seguida, a lâmina de foice chicoteou através
do que eu esperava que não fosse um espaço vazio.
Uma mão invisível pegou meu braço e torceu. Gritando de dor e surpresa, eu
deixei cair a foice. Hades reapareceu. — Desculpa, amor, tudo é justo na guerra.
Uma luz ofuscante encheu a loja, seguindo-se um som de estalo. Então algo
passou raspando pela minha bochecha. Eu peguei um vislumbre de prata antes
de Hades soltar meu braço e pegar uma flecha no ar.
— Artemis, isso não foi muito agradável. — Hades partiu a flecha em dois e
jogou-a de lado. — Você poderia arrancar um olho com uma dessas coisas.
A suave risada feminina que se seguiu soou como sinos de vento. A poucos
metros atrás de nós, com as pernas abertas e um arco de prata em uma das
mãos, estava Artemis. Em vez do branco de chiffon pelo qual muitas deusas eram
conhecidas, ela usava botas de combate e calças de camuflagem rosa. Um top
branco completava seu conjunto fodão.
Ela alcançou suas costas, puxando outra flecha de sua aljava. — Recue,
Hades.
Os lábios de Hades murcharam.
Ela colocou a flecha no seu arco. — Você não vai pegar a próxima, Hades. E
você não vai levá-la.
Eu lentamente me afastei do deus mau, não tendo ideia do por que Artemis
viria em meu auxílio. Com o canto do meu olho, eu vi Death finalmente cair.
Peguei minha lâmina de foice.
Hades avançou, azulejos descascando e enfumaçando sob suas botas. — Por
que você está intervindo, Artemis? Você sabe o que vai acontecer. Todos nós
estamos em risco.
— Ela é da linhagem do meu gêmeo e ela pertence a nós. — Artemis puxou a
flecha para trás, jogando seu cabelo loiro sobre seu ombro, — O que significa que
ela é a minha carne e osso. Então, eu vou dizer mais uma vez só para o caso de
Perséfone ter arruinado seu cérebro, recue.
Minha boca abriu. Linhagem de Apollo? Ah, não... Oh, inferno não...
— Eu não me importo se ela é a herdeira do maldito trono, Artemis! Devemos
evitar que o Primeiro ganhe o poder completo!
Os dedos de Artemis tremeram. — Ela não deve ser prejudicada, Hades. Isso
é que é.
Um olhar incrédulo caiu sobre seu rosto sombriamente bonito. — Eu não
iria machucá-la... Não realmente. Eu poderia levá-la para o submundo. Ela não
teria sequer se ferido. Artemis, não podemos permitir que essa ameaça continue.
Seja razoável.
— E eu não posso permitir que você a machuque. Não está em discussão.
— Então, você correria o risco de mais destruição? Você viu o que Poseidon
fez hoje? Ou você estava muito ocupada caçando e jogando com seus consortes?
Artemis sorriu. — Você realmente não quer me irritar agora, Hades. Não
quando eu tenho uma flecha apontada entre os seus olhos.
Ele balançou a cabeça. — Você sabe o que Zeus vai fazer se o Primeiro se
tornar o Assassino dos Deuses. Você arriscaria tudo, as vidas de nossos filhos e
os mortais, para quê? Diluídos laços familiares?
— Vamos arriscar tudo por tudo. — Respondeu ela calmamente. — Sabe o
que é engraçado sobre as profecias, tio?
— Que elas estão sempre mudando? — Hades zombou, — Ou que elas não
são nada mais do que um monte de lixo?
Em qualquer outro momento eu teria aplaudido, mas vendo que Hades
queria me matar, eu não estava prestes a celebrar nossas opiniões
compartilhadas quando se tratava do oráculo.
Artemis inclinou seu braço para trás. — Assim seja.
Fúria saiu de Hades em ondas. Engolindo medo legítimo, dei um passo para
trás. Eu esperava um confronto sério entre os dois.
— Eu nunca deveria ter permitido que sua alma fosse libertada. — Hades
cuspiu, — Apollo me prometeu que nunca iria chegar a isso.
— Ainda há esperança. — disse Artemis.
Essas palavras despertaram algo em mim. Ainda há esperança. Será? Eu
tinha visto o olhar nos olhos de Seth, quão longe ele tinha ido quando puxou o
akasha de mim e atacou o Conselho. Poseidon tinha atacado o Covenant e a
destruição não pararia por aí. Mais pessoas inocentes morreriam. Pessoas que eu
amava certamente morreriam - tudo para me proteger.
Voltei a olhar para as portas, vendo o rosto pálido de Aiden ao lado de
Marcus. Eu tinha sido criada como um peão, para dar a Seth poder completo.
Não havia nada que pudesse ser feito sobre isso. Nenhum de nós poderia gastar
nossas vidas nos escondendo. Não iria funcionar. Eu iria Despertar em pouco
mais de um dia. Seth iria me encontrar. E tudo estaria terminado.
Dormência rastejou através de mim quando eu me virei para os dois deuses
e baixei a foice. — Espere. — Minha voz saiu apenas um sussurro, mas todo
mundo congelou.
— Não! — Deacon gritou, tentando passar por Solos, — Eu sei o que ela vai
fazer! Alex, não!
Lágrimas saltaram aos meus olhos quando eu vi sua expressão horrorizada.
— Eu não posso... Eu não posso deixar o que aconteceu lá, acontecer de novo.
Deacon lutou contra Solos, seus olhos queimando em uma prata feroz, como
seu irmão, tão igual a ele. — Eu não me importo. Isso vai matar... — Ele engoliu
em seco, balançando a cabeça. — Você não pode fazer isso, Alex.
Iria matar Aiden.
Hades bateu palmas. — Veja. Até ela entende.
Meu coração rachou.
Os olhos de Artemis se arregalaram. — Alexandria, por favor, eu entendo que
a parte mortal de você exige que você se torne um mártir, mas você realmente
precisa se calar.
— As pessoas vão continuar a morrer. E Seth vai me encontrar. — Apertei o
botão no punho e as lâminas foram recolhidas, — Eu o vi. Ele está... — Eu não
podia terminar. Dizer que Seth estava perdido era muito definitivo e, de certa
forma, isso quebrava o meu coração.
Hades virou os olhos para mim. Eles brilhavam com eletricidade. Por um
momento, eu senti falta de Apollo. Pelo menos ele baixava o tom de seus olhos em
torno de mim, fazendo-os parecer normais. Hades não faria tal coisa. — Você está
fazendo a coisa certa. — Ele murmurou baixinho, — E eu prometo a você, você
não vai sentir nada. — Ele estendeu a mão para mim, — Isso vai ser fácil, amor.
A rachadura se propagou no meu peito e eu pisquei as lágrimas. Isso não era
justo, mas ele estava certo. Iria ferir Aiden e Marcus e meus amigos, mas iria
também protegê-los. Um dia, eu esperava que eles entendessem. Durante as
batidas do meu sangue, eu ouvi Solos gritar por mim. Lentamente, eu levantei a
minha mão.
— Isso mesmo. — Hades sussurrou, — Pegue minha mão.
Nossos dedos estavam a apenas centímetros de distância. Eu podia sentir a
sua estranha mistura de calor e frio de gelar os ossos. Eu forcei minha mente a
ficar vazia. Eu não podia me dar ao luxo de pensar sobre o que estava fazendo,
porque eu iria recuar.
— Hades. — Artemis chamou.
Ele virou-se ligeiramente. — Fique...
Artemis lançou a flecha, que atingiu onde ela destinara, bem entre os olhos
de Hades. Então, ele apenas virou fumaça, como Vovó Piperi tinha virado no
jardim no dia que ela me deu sua última profecia. O cheiro esmagador de paredes
úmidas e cavernas desapareceu e a flecha retiniu sobre o linóleo.
Eu apertei a mão sobre minha boca para parar o meu grito. — Ele... Você o
matou?
— Não. — Artemis zombou. — Eu só o coloquei fora de serviço por um
tempo. — Ela baixou o arco e virou o pulso. As portas da frente se abriram.
Marcus e Aiden entraram, chegando a um impasse quando avistaram Artemis.
Nenhum dos puros parecia saber o que fazer.
Artemis colocou a flecha de volta em sua aljava e deu um sorriso sexy para
Aiden. — Eles estão ficando cada vez mais gostosos. — Ela ronronou.
Atordoada demais para ficar com ciúmes, eu a olhei. — Por quê? Ele estava
certo. Eu sou muito perigosa. Eu entendo isso.
Artemis focou em mim, — Meu irmão não arriscou a ira de Zeus para te
proteger, para você apenas jogar sua vida fora.
Tentei ignorar o ciclone de fúria se formando atrás de mim. Lidar com Aiden
não era algo para o qual eu estava animada. — Eu não entendo. Ninguém pode
esconder-me para sempre. Seth vai me encontrar, e depois? Ele vai se tornar o
Assassino dos Deuses e outro deus vai surtar e destruir uma cidade inteira.
Artemis deslizou para mim, seus movimentos elegantes completamente em
desacordo com seu traje de combate. — Ou você vai virar o jogo do Primeiro e
todos aqueles que pensam que podem derrubar os deuses.
— O que você quer dizer? — Marcus falou, corando um vermelho brilhante
quando Artemis se virou para ele. Ele curvou-se profundamente e então se
endireitou, — Como pode Alexandria virar a mesa? Se Seth colocar um dedo nela
quando ela acordar, ele vai se tornar o Assassino dos Deuses.
— Não necessariamente. — Respondeu ela uniformemente.
Eu pisquei rapidamente. — Se importa de me explicar isso?
Artemis sorriu. Impossivelmente, ela se tornou mais bonita... E assustadora.
— É verdade que o meu irmão... tem afeição por você, mas você é um ativo
valioso para nós. Alguns desejam vê-la morta, é verdade. Hades estará de volta...
Eventualmente, assim como as fúrias restantes. Mas você vai Despertar em breve
e você é forte, mais forte do que imagina.
Todas as minhas respostas espertinhas normais provavelmente me dariam
uma flecha na cabeça, então eu não tinha ideia do que dizer.
Ela parou na minha frente. Quando estendeu a mão e agarrou meu queixo
com suaves dedos frios, eu queria recuar. Ela inclinou a cabeça para trás. —
Você tem uma espécie de paixão imprudente sobre você. Ela orienta você. Alguns
vêem isso como uma fraqueza.
— Não é? — Sussurrei, incapaz de desviar o olhar.
— Não. — Ela me estudou como se pudesse ver dentro de mim, através de
mim, — Você tem os olhos de uma guerreira. — Sua mão caiu e ela deu um passo
para trás, — Profecias sempre mudam, Alexandria. Nada no mundo é imutável. E
nunca o poder flui apenas por um caminho. A chave é encontrar uma maneira de
reverter isso.
Então, ela simplesmente desapareceu.
Eu toquei meu queixo. A pele formigava. Lentamente, eu me virei para Aiden.
— Você deveria ter visto os cães.
Aiden agarrou meus dois braços, os olhos como prata líquida. Eu poderia
dizer que ele queria me sacudir. Ele tinha visto através do vidro o que eu tentei
fazer e Artemis tinha praticamente me jogado sob o ônibus. Enquanto ele olhava
para mim, era como se tivesse esquecido todos na loja, que meu tio estava lá, seu
irmão, e Solos. Ele estava assim puto.
— Você nunca mais pense em fazer algo tão estúpido assim novamente.
Olhei para fora. — Eu sinto muito...
— Eu entendo que você pensou que estava fazendo a coisa certa. — Disse ele
com os dentes cerrados, — Mas você não estava, Alex. Sacrificar-se não era a
coisa certa a fazer. Você me entende?
Marcus colocou a mão em seu ombro. — Aiden, este não é o lugar. Temos de
ir.
Minha respiração ficou presa quando meus olhos correram entre os dois. —
Eu só não sei como nós vamos vencer isso.
— Ninguém ganha se você se matar. — disse Marcus calmamente. — Temos
que ir.
Dando uma respiração profunda, Aiden deixou cair as mãos. Seu olhar me
alertou o que haveria mais tarde, provavelmente no momento em que pisasse de
volta no carro. Solos esperou na porta, seu olhar agudo estreitou sobre Aiden
quando ele tomou um gole de sua bebida energética.
— Você está bem? — Aiden perguntou para Deacon.
Ele acenou com a cabeça lentamente. — Sim, eu estou ótimo. Nada como
assistir a uma partida de morte entre os deuses, quando eu estou tentando obter
alguns Cheetos.
Meus lábios se contraíram. Pobre Deacon. Ele agarrou a bolsa contra o peito,
também.
Roncos suaves do caixa foram o único som. Lembrando o propósito de vir a
este lugar, corri de volta para o balcão.
— O que você está fazendo? — Aiden perguntou.
Deixei algum dinheiro em cima do balcão e peguei minha bolsa. — Eu estou
com fome.
Aiden me olhou um momento, então um sorriso lento rastejou em seu rosto.
Talvez ele não iria ficar tão puto, no final das contas. Na saída, ele pegou um
pacote de Hostess CupCakes39 do chão e pegou meu olhar. — Eu também. —
disse ele.
— Pelo menos eu pago as minhas coisas.
39
R
Trinta e Dois
ecebi muitos sermões. E eu merecia. Aiden me torturava sempre que
vinha falar comigo ultimamente. Ele entendeu os meus motivos, mas não
concordava comigo. Mas eu sabia o que estava pensando, e ainda fazia sentido.
Eu não quero morrer, mas não quero ver ninguém ferido e entregar-me iria parar
tudo.
No meio do caminho para a segunda parte da viagem, enquanto os pneus
comiam os quilômetros, ele pegou minha mão e segurou-a. Ele não tinha me
perdoado, mas não queria me abalar mais. O que era um progresso. Eu ainda
não tinha certeza se o tiro de Artemis na cabeça de Hades foi uma boa jogada ou
não no momento em que chegamos a Atenas.
Pinheiros altos e montes de neve nos receberam quando chegamos à
pousada situada na borda da floresta nacional. Sem Marcus e o elemento ar, não
teria havido nenhuma maneira de nós conseguirmos atravessar a estrada remota.
Mesmo assim, ele levou mais de uma hora para limpar a estrada.
O alojamento era magnífico, feito de troncos e rodeado por um terraço
envolvente. Se eu não estivesse tão exausta, eu teria apreciado a sua beleza
muito mais.
— Você sabia que Atenas é um dos locais mais assombrados em Ohio? —
Solos disse quando ele abriu a porta.
— Ela não acredita em fantasmas. — Aiden arrastou nossos sacos por cima
do ombro, as bochechas coradas do frio. Eu mal podia sentir isso. Tudo que eu
queria era uma cama para dormir o resto do dia.
— Sério? — Solos sorriu, — Nós vamos ter que levá-la até o antigo Asilo de
Lunáticos de Atenas e ver se isso muda a sua mente.
— Parece divertido. — Murmurei, observando Luke e Deacon levando Lea
para dentro, — Como é que vamos estar seguros aqui? O que está impedindo
qualquer deus de nos bombardear?
As sobrancelhas de Solos franziram. — Nós estamos seguros aqui.
— Como assim?
— Olhe lá em cima. — Aiden mudou os sacos e apontou acima da porta da
frente. Esculpida na madeira estava a mesma runa de S, como a runa que estava
no meu pescoço. — Apollo disse que nenhum deus com má vontade contra
qualquer pessoa desta casa pode passar.
— A runa da invencibilidade. — Esfreguei as costas do meu pescoço
distraidamente quando passei por cima do limite, — Não sabia que você poderia
apenas usar runas em uma casa. Isso é muito útil.
Dentro era tão bonito. Amplas janelas deixavam entrar o último pôr do sol e
os pisos de madeira haviam sido encerados até brilharem. Lembrou-me da
cabana em Gatlinburg. Estremeci.
— Você está bem? — Aiden murmurou, vindo atrás de mim.
Eu engoli. — Sim, eu estou realmente cansada.
Solos nos mostrou os quartos. Lea foi colocada embaixo, junto com Marcus e
Luke. Deacon pegou o loft acima da sala de recreação e o resto de nós pegamos
quartos no andar superior. Todos se reuniram em pequenos grupos ou, como
Marcus, olhavam para fora de uma das janelas, parecendo perdido em
pensamentos profundos.
Aiden levou minhas malas para um ambiente acolhedor de um quarto de
aparência rústica e as colocou ao lado da cama. Virando-se, nossos olhares se
encontraram. Desde o dia em que eu tinha partido com Seth, nós não tínhamos
estado a sós. O carro não contava. Nós estávamos correndo para salvar nossas
vidas, depois de testemunhar uma tragédia. Beijos e toques não tinham estado
em nossas mentes.
Isso meio que voltou como uma vingança agora.
Ele cruzou a distância, colocando meu rosto em suas mãos. Ele tinha dedos
elegantes, mas calejados dos anos de treinamento. Eu amava suas mãos.
Ele inclinou a cabeça para a minha, seus lábios pairando próximos. — Mais
tarde. — Prometeu ele, e então ele pressionou seus lábios nos meus.
O beijo foi suave, doce e demasiado rápido. Meus lábios formigaram por
algum tempo depois que ele saiu do quarto. Mais tarde? Como poderia haver um
“mais tarde” em uma casa cheia de pessoas? Tomei um banho quente e deixei a
água aliviar meus músculos doloridos uma vez que eu descobri como usar os três
chuveiros sem me afogar. Depois disso, eu vesti moletom e enviei à cama um
olhar de saudade, no caminho para fora do quarto. Eu tinha algo a fazer antes de
descansar.
Lea estava sentada na cama, com as pernas cruzadas, enquanto olhava para
seu telefone. Quando eu bati na porta aberta, ela olhou para cima. — Hey. — Eu
disse.
Ela ficou me olhando por vários segundos e depois limpou a garganta. — Eu
mandei uma mensagem para Olivia em Vail, disse a ela que estava tudo bem.
— Será que ela sabe o que vai fazer? — Sentei-me na cama ao lado dela,
passando minhas mãos através dos emaranhados em meu cabelo molhado. Eu
pensei sobre a mensagem de Caleb para ela. Esperava que eu pudesse dizer a ela
em breve.
— Não. A mãe dela... — Sua voz travou e ela engoliu. — A mãe dela está
pirando. Eu acho que eles estão indo para Nova York.
Pensando em meu pai, eu senti meu peito apertar. Eu iria vê-lo novamente?
Então eu me senti mal por sequer pensar nisso. Lea tinha perdido toda a sua
família. — Será que eles vão estar seguros lá?
Seu longo cabelo acobreado, que eu invejei por anos, cobriu seu rosto
quando ela inclinou a cabeça para baixo. — Ela acha que sim. Ela vai me deixar
saber, uma vez que sua mãe decidir.
Eu assenti, deixando cair as minhas mãos para o meu colo. — Lea, eu sinto
muito pelo que aconteceu.
Ela tomou uma respiração que parecia abalar todo seu corpo. — Nós
estivemos aqui antes.
— Eu sei.
Lea levantou a cabeça. Seus olhos cor de ametista brilhavam com lágrimas.
— Eu sei que não é culpa sua. O que sua mãe fez ou o que... O que Seth fez.
Cada morte que eu vi, ou que aconteceu em minha volta, teve a ver com você.
Elas não são sua culpa, mas elas ainda aconteceram.
Eu desviei o olhar, sentindo o peso dos últimos 10 meses se acumularem em
cima de mim. Dez meses após as mortes, começando com a minha mãe em
Miami, e eu sabia que não tinha acabado. Com os deuses envolvidos como
estavam, com o meu aniversário amanhã, e com Seth lá fora, procurando por
nós, não havia terminado. Mas, ainda assim, o que eu estava sentindo não era
nada comparado ao que Lea estava passando.
— E eu não posso... eu não posso olhar para você sem ver todos aqueles
rostos. — Lea sussurrou, — Eu sinto muito. Eu não culpo você, mas eu... não
consigo olhar para você agora.
Eu assenti rigidamente e levantei. — Sinto muito. — Disse de novo. Era a
única coisa que eu poderia dizer.
— Eu sei.
Deixar o quarto dela não diminuiu a culpa. Rastejar na cama não fez nada
do que aconteceu desaparecer. E culpa não era o que eu senti após a morte de
Caleb. Isso era como ter um filho que tivesse feito algo terrível e todo mundo
estava olhando para mim, sabendo de onde ele tinha saído errado. Culpa por
associação.
Eu rolei para o meu lado, de frente para a janela. Neve continuava a cair lá
fora. A natureza estava no seu melhor quando era bela e mortal.
Assistir a neve clareou minha mente de tudo o que estava acontecendo,
deixando para trás uma fina camada de estática até a exaustão reivindicar e me
puxar para baixo.
Um beijo suave me acordou algum tempo depois, me deixando de olhos
abertos. Aiden sorriu para mim enquanto seu polegar traçou a forma da minha
bochecha. — O que você está fazendo? — Perguntei sonolenta, — E se alguém
descobrir que você está aqui?
— Solos levou Deacon e Luke para a loja desde que a neve deixou de cair um
pouco. Lea está descansando e Marcus está mantendo um olho nas coisas. — Ele
enrolou em torno de mim, encontrando a minha mão e enfiando os dedos por ela.
— E eu acho que o gato já está praticamente fora do saco nesse assunto40.
Eu derrubei minha cabeça para trás, meus olhos procurando os seus com
atenção. — O que você quer dizer?
— Nós estamos em uma casa cheia de mestiços, com a exceção de Marcus e
meu irmão. Deacon certamente não se importa e Marcus...
— Meu tio é um defensor de regras. — Sussurrei.
Aiden roçou os lábios sobre a ponta do meu nariz. — Marcus sabe, Alex. Ele
não é cego.
— Ele está bem com isso?
— Eu não diria que está bem. — Aiden sorriu. — Ele, na verdade, me deu
um soco quando descobriu.
Eu o olhei. — O quê?
Ele riu baixinho. — Sim, ele me deu um soco na cara quando voltou de
Nashville... Duas vezes.
— Oh, meu... — Pressionei meus lábios para não rir. Não era engraçado,
mas era.
— O primeiro golpe foi porque você estava com Seth e Lucian. O segundo foi
depois que ele descobriu sobre nós.
— Como é que ele descobriu? Fomos cuidadosos. — E nós tínhamos sido.
— Eu acho que ele já suspeitava por algum tempo. — Ele meditou, — Mas
foi quando você foi embora que ele descobriu. Eu acho que foi porque fui muito
transparente durante esses dias.
40 Significa que todo mundo já percebeu.
Eu queria aliviar as linhas de preocupação que tinham aparecido em sua
testa. Nós conversamos sobre o meu tempo gasto na casa de Lucian no caminho
até aqui e eu garanti-lhe uma dúzia de vezes ou mais, que eu não tinha sido
prejudicada lá, mas isso ainda o incomodava. Assim como quando eu tinha
morrido, que era algo que iria demorar com Aiden.
— O que ele disse para você? — Eu finalmente perguntei a ele.
— Eu não acho que você quer saber. Foi uma das poucas vezes que eu ouvi
Marcus falando palavrões.
Eu sorri quando abaixei minha bochecha de volta para o travesseiro. Os
deuses sabem que eu era muito familiarizada com Marcus estar zangado. — Você
não parece muito preocupado por ele saber.
— Eu não estou. Agora, há mais... questões em mente para me concentrar.
Não era essa a verdade? — Parte de mim deseja que amanhã não chegue.
Ele beijou o topo da minha cabeça. — Tudo vai ficar bem, Alex.
— Eu sei. — Fechei meus olhos e me aconcheguei nele. — Eu só não sei o
que esperar, sabe? Será que eu automaticamente me transformarei em uma
super-fodona amanhã ou algo assim? Ou acertarei pessoas acidentalmente com
akasha? — Ou me conectarei com Seth? Isso eu não queria colocar em palavras.
— Aconteça o que acontecer, você ainda será Alex... Você ainda vai ser
minha agapi mou, minha vida. Apenas... nunca mais me assuste como você fez
hoje, ok? Nós ainda estamos juntos nessa.
— Até o fim?
— Até o fim. — Ele sussurrou.
Lágrimas condenáveis correram dos meus olhos. Eu era uma menina, mas
essas palavras foram perfeitas, o que eu precisava ouvir. — Vamos fazer planos
novamente. Eu gostei disso. — Minhas sobrancelhas subiram quando ele riu de
novo. — O quê?
— É que você é a última pessoa que planeja algo.
Eu sorri, porque ele tinha um ponto. — Mas eu gosto desses tipos de planos.
— Tudo bem. — Ele deslizou seu polegar ao longo do interior da minha
palma, — Eu estive pensando sobre o futuro, o nosso futuro.
Eu amei o som de “o nosso futuro”. Quando Aiden o pronunciava, ele parecia
possível. — O que você está pensando?
— É mais como algo que eu decidi. — Ele puxou a mão livre e alisou meu
cabelo, — Vamos dizer que tudo vai para o espaço com a coisa de compulsão, ok?
Não é provável, mas eu assenti.
— Eu não quero ficar em nosso mundo.
Peguei a mão dele, baixando-a para onde meu coração batia forte quando eu
virei em seu abraço. — O quê? O que você quer dizer?
Cílios grossos protegiam os seus olhos, — Se nós ficarmos nesse mundo, o
mundo Hematoi, não poderíamos ficar juntos. Haverá alguns que não se
importarão, mas... É um risco muito grande, mesmo se nós conseguirmos ser
atribuídos para a mesma área.
O ar deixou meus pulmões enquanto eu olhei para ele. — Mas se você partir
não poderá mais ser um Sentinela e você precisa disso.
Ele olhou para cima, encontrando meus olhos. — Eu preciso disso. Ser um
Sentinela é importante para mim, mas não é o meu mundo, a minha vida, ou o
meu coração. Você é. E eu quero você na minha vida, realmente na minha vida. É
o único caminho.
De repente eu queria chorar. Novamente. Eu não podia sequer formar uma
palavra coerente, e eu sabia que ele podia sentir meu coração batendo contra a
palma da sua mão, mas eu não me importava.
Aiden inclinou-se e escovou os lábios sobre os meus. — Eu amo você, Alex.
Eu daria tudo por você, e sei que você está pensando sobre isso também, mas
isso é com você.
Eu poderia desistir desta... necessidade quase inerente de me tornar uma
Sentinela? Eu poderia deixar de lado o desejo impulsionado por anos de ter o
dever enraizado em mim e a necessidade de alguma forma compensar o que
aconteceu com a minha mãe? Para deixar este mundo, seria necessário voltar ao
mundo mortal, algo que eu tinha totalmente rejeitado por três anos. Velhos
medos subiram naquele momento quando anos de nunca me encaixar - de ser
sempre a aberração - passaram diante de mim. Mortais, em sua maior parte,
ficavam naturalmente desconfortáveis perto de nós. Era difícil estar ao seu redor,
sempre fingindo.
Mas eu estava pensando em um futuro que não incluía o Covenant ou ser
uma Sentinela. Eu nunca pensei que isso poderia ser possível, mas quando olhei
nos olhos de Aiden e vi somente amor, amor por mim, eu soube que poderia fazê-
lo. Nós poderíamos fazê-lo. Aiden valia a pena. Nosso amor valia. Viver como uma
mortal tinha me sufocado antes, mas agora ele poderia fornecer o tipo de
liberdade que eu ansiava. E juntos, tudo parecia possível.
Inclinando a cabeça para cima, encontrei o seu olhar prateado. Eu poderia
sempre dizer o que Aiden estava sentindo pela cor de seus olhos e, agora, ele
estava despejando tudo e ainda me dando a escolha.
— Sim. Eu poderia fazer isso. — Eu sussurrei, — Eu faria isso.
Um tremor sacudiu o corpo de Aiden. — Eu estava quase com medo de você
dizer que não.
Com os olhos cheios de lágrimas, eu acariciei sua bochecha. Sua barba por
fazer roçou minha mão. — Eu nunca poderia dizer não, Aiden. Não que eu jamais
iria querer isso. Mas... Mas e sobre Deacon e Marcus? Como podemos fazer isso?
— Eu acho que eles poderiam saber. Podemos confiar neles.
Havia tantos “e se” neste plano. Como poderíamos escapar do Covenant e da
sociedade que, provavelmente, estaria muito indisposta a deixar qualquer um de
nós ir? Precisávamos de um plano, um bom, se nós ainda tivéssemos a chance de
fazê-lo funcionar, mas agora, a ideia em si me inundou com calor e tanta
esperança. E a esperança, era uma coisa frágil, mas me mantinha acreditando.
Aiden abaixou a cabeça, trazendo sua boca para a minha. Ele fez um som na
parte de trás de sua garganta enquanto o beijo se aprofundava. O toque suave
deu lugar a algo infinitamente mais. Quando ele rolou seu corpo, encaixando-o
contra o meu como um cobertor quente, meu coração trovejou. Eu o estava
sentindo tanto, e não o bastante, nunca o suficiente. Havia um anseio,
devastador e cru, que nunca iria embora. Perdi a noção das mãos de Aiden e
quantas vezes nós nos beijamos enquanto nossos corpos se moviam, e nesses
momentos, nós finalmente encontramos uma maneira de fazer o tempo parar.
N
Trinta e Três
ada... incrível aconteceu no meu aniversário.
Durante toda a manhã, todos me olhavam como se esperassem que fosse me
brotar uma segunda cabeça ou que eu começaria a flutuar até o teto. E eu não
me sentia nada diferente da noite passada. Nenhuma marca adicional do
Apollyon apareceu. As existentes não formigaram. Eu tentei levitar uma cadeira
na cozinha, - isso não aconteceu e eu me senti estúpida depois. À tarde, a coisa
toda de Despertar parecia muito anticlímax.
— Hey. — Aiden colocou a cabeça para dentro do quarto. — Você está
ocupada, aniversariante?
Olhei para cima da revista que Luke tinha trazido da loja. — Não. Eu estou
apenas numa espécie de esconderijo.
Aiden fechou a porta atrás dele e sorriu discretamente. — Por que você está
se escondendo?
Encolhendo os ombros, eu fechei a revista e joguei-a para o chão. — Eu meio
que me sinto como um fracasso Apollyon.
— Por quê? — Ele se sentou ao meu lado, os olhos de um suave cinza de
urze.
— Todo mundo fica me olhando, esperando algo acontecer. Mais cedo,
Marcus me olhou por tanto tempo que os olhos ficaram cruzados. E enquanto
Solos estava fazendo almoço, ele me perguntou se eu poderia esquentar a sopa
com o elemento fogo.
Aiden parecia que estava tentando não rir.
Eu bati no braço dele. — Não é engraçado.
— Eu sei. — Ele deu um suspiro profundo, mas seus olhos dançaram com
diversão. — Tudo bem. É engraçado.
Meus olhos se estreitaram sobre ele. — Eu posso pegar você, sabia?
Ele inclinou-se, os lábios se curvando em um sorriso de lobo. — Você não
pode pegar o que você já tem.
Uma sensação inebriante veio de saber disso, mas eu golpeei-o no ombro de
qualquer maneira. — Pare de tentar falar docemente para mim.
— Tenho uma coisa que eu queria te mostrar. — Ele enfiou a mão no bolso e
tirou uma pequena caixa. — E então você tem que descer e parar de se esconder.
Meus olhos estavam grudados na caixa. Era branca lisa, mas havia um laço
vermelho amarrado em torno dela. Pensamentos de lojas de jóias dançaram na
minha cabeça. — O que é isso?
Aiden colocou na minha mão. — É seu aniversário, Alex. O que você acha
que é?
Olhei para cima, encontrando seu olhar. — Você não tem que me dar nada.
— Eu sei. Eu queria.
Eu tirei a tampa, enganchando o material macio da fita de cetim no meu
dedo mindinho. Ao abrir a caixa, eu imediatamente engasguei. — Oh, wow. Isto...
Isto é tão bonito.
Aninhado contra mais cetim, um cristal vermelho-escuro tinha sido
primorosamente concebido em uma rosa em flor, esculpido como se as pétalas
estivessem alcançando para o sol. Ele pendia de uma corrente de prata delicada
que complementou a sua beleza. Eu arranquei-o da caixa. Luzes piscavam e
dançavam fora da pedra preciosa e imediatamente aqueceu a minha pele.
— Aiden, é... onde você encontrou algo assim?
— Eu o fiz. — As pontas de suas bochechas coraram. — Você gostou?
— Você fez isso? — Meus olhos se arregalaram. Eu respirei um pouco mais
difícil. Era notável que ele poderia criar algo tão surpreendente. — Eu amei!
Quando você fez algo assim?
— Um tempo atrás. — Disse ele, as bochechas corando ainda mais, —
Depois que você me deu a palheta, na verdade. Eu não tinha certeza se alguma
vez iria... dar a você. Quer dizer, eu só comecei a fazer isso um dia e quanto mais
ele tomou forma, mais eu pensei em você. Eu ia deixá-lo em seu dormitório, mas
depois tudo aconteceu... — Ele parou, — Eu vou parar de falar agora.
Eu olhei para ele sem dizer nada.
— Tem certeza que você gostou?
Ficando de joelhos, eu joguei meus braços ao redor de seu pescoço. Apertei a
rosa em minha mão quando eu beijei sua bochecha. — Eu adorei, Aiden. É
perfeito. Lindo.
Ele riu suavemente, delicadamente desembaraçando meu aperto forte. —
Aqui, deixe-me ajudá-la a colocá-lo.
Eu virei obedientemente e levantei meu cabelo. Aiden apertou a fivela por
trás do meu pescoço, deixando a rosa de cristal cair acima do meu peito. O peso
era maravilhoso. Eu subi, correndo os dedos sobre as bordas delicadas. Então me
virei e pulei em Aiden.
Rindo, ele me pegou antes que ambos caíssemos fora da cama. — Eu acho
que você gostou.
Eu o empurrei para baixo e beijei-o. — Eu amo ele. Eu te amo.
Aiden estendeu a mão, colocando meu cabelo para trás quando seu olhar
perfurou-me até o meu núcleo. — Eu sei o que você está pensando.
— Grandes mentes pensam da mesma forma.
— Mais tarde. — Ele rosnou.
Eu comecei a protestar, mas ele me rolou para os meus pés. — Chato.
Ele me deu um sorriso insolente. — Você tem que descer.
— Eu tenho?
— Sim. Portanto, não discuta comigo.
— Tudo bem. Só porque você é maravilhoso e este colar é lindo. — Fiz uma
pausa, cutucando-o com o meu quadril. — E porque você é sexy.
Aiden conduziu-me para fora do quarto depois disso. Antes de chegar às
escadas, eu guardei o colar debaixo da camisa. As pessoas podem saber ou
suspeitar de alguma coisa, mas eu não estava disposta a transmiti-lo, mesmo que
quisesse enfiar o colar no rosto de todos e fazê-los invejá-lo.
Segui Aiden para a cozinha. Meus passos congelaram quando eu vi todo
mundo reunido em volta da mesa. — O que está acontecendo...?
Deacon e Luke deram um passo para o lado. — Feliz Aniversário! —
Gritaram em uníssono.
Meu olhar caiu para a mesa. Lá estava um bolo de aniversário, decorado
com 18 velas acesas e... Homem-Aranha? Sim, era o Homem-Aranha. Collant
vermelho e azul e tudo.
— Era isso ou Meu Pequeno Pônei. — Luke disse, sorrindo. — Nós
imaginamos que você ia gostar mais do Homem-Aranha.
— Além disso, ele é muito legal com todo o lance de escalar edifícios. —
Deacon acrescentou, — Talvez um dia, quando você decidir Despertar, você seja
tão legal assim.
— Eu acendi as velas. — Solos disse, encolhendo os ombros. — Tudo por
mim mesmo.
— Eu dei-lhes o dinheiro. — Marcus cruzou os braços, — Portanto, eu fui a
peça chave de tudo isso.
— E nós temos refrigerante de uva. — Luke apontou para as garrafas de
refrigerante. — É o seu favorito.
— Isso... Isso é... Uau. — Meus olhos encontraram Lea, sentada atrás de
Solos. Seu cabelo estava puxado para trás de seu rosto, os olhos ainda inchados.
Ela pegou meus olhos e sorriu um pouco. — Isso é ótimo. Vocês são incríveis.
Sério.
Deacon sorriu. — Você tem que soprar as velas e fazer um pedido.
O que pedir? Eu sorri. Isso era fácil. Quando eu rastejei para a mesa, eu
apaguei as velas e desejei que todos nós conseguíssemos sair dessa vivos,
incluindo Seth.
— Eu quero a teia de aranha! — Deacon gritou pegando a faca.
— Caramba. — Eu recuei para Aiden.
— É o aniversário dela. — Luke tomou a faca dele. — Ela pode pegar o
pedaço que ela quer em primeiro lugar.
Eu ri. — Está tudo bem. Ele pode ter a teia de aranha. Eu fico com a cabeça.
Partimos o bolo e passamos em torno o refrigerante de uva. Eu estava
sobrecarregada por todos. Eu não esperava muita coisa no meu aniversário,
exceto olhares estranhos, mas isso foi incrível. Era fácil esquecer tudo o que hoje
simbolizava. Aqui, rodeada de amigos, as coisas eram mais ou menos... Normais.
Normal para um monte de mestiços e puros comemorando um aniversário.
Okay. Não era normal em tudo, mas era apenas o meu tipo de anormal.
Reunidos em torno da mesa, nós rimos enquanto nós compartilhávamos
bolo e refrigerante de uva. Lea animou-se um pouco, mordiscando o glacê. Os
meninos continuaram a me dar merda sobre não Despertar ainda, o que Aiden
tentou pôr um fim. Foi bonitinho vê-lo tentar não ser excessivamente defensivo
ou protetor com relação a mim. Não quando eu precisava que ele fosse, embora
eu ache que era apenas a natureza secundária dele. Ele era igual com Deacon...
Quando Deacon não estava empunhando uma faca.
Perto do final da festa de aniversário, houve um pop! distintivo da sala de
recreação. Nós todos viramos. Eu orei para que a runa funcionasse, porque havia
definitivamente um deus aqui.
Apollo entrou na cozinha. A primeira coisa que notei foi que seus olhos
estavam azuis e não branco assustador. — Como está a minha menina
aniversariante?
Por alguma razão, eu corei até a raiz dos meus cabelos. — Indo bem, vovô.
Ele sorriu quando ele deslizou para o assento ao meu lado, facilmente
erguendo a faca dos dedos de Deacon. — Eu não pareço ter idade suficiente para
isso.
Isso era verdade. Ele parecia que estava em seus vinte e poucos anos, o que
fazia tudo mais estranho. — Então, quando você ia me dizer que me gerou?
— Eu não gerei você. Eu gerei uns semideuses séculos atrás que
eventualmente geraram sua mãe.
— Vocês podem parar de dizer 'gerar’? — Perguntou Luke.
Apollo deu de ombros quando ele cortou uma borda do bolo. Ele entregou a
faca de volta a um Deacon estranhamente subjugado. — Eu não achei que fosse
necessário te dizer. Não é como se eu fosse embalar bebês Alex no meu joelho.
A soda parou na minha garganta, e eu quase a cuspi de volta. Alguém riu, e
soou como Luke. — Sim, isso não vai acontecer.
— Minha irmã deveria ter mantido isso para si mesma. — Ele deu mordida
no bolo, fez uma cara, e depois empurrou o prato, — Nosso laço familiar não é o
que é importante aqui.
Eu fiz uma careta.
— Você sabe o que, pessoal? — Solos bateu palmas em Deacon e nos ombros
de Luke. — Eu aposto que posso derrotá-los no hóquei de mesa e fazê-los
chamar-me de mamãe.
Luke bufou. — Não é provável.
Solos arrastou os meninos da sala, mas Lea sentou-se na cadeira e cruzou
os braços. Seus olhos desafiavam para alguém dizer-lhe para sair. Agora essa era
a Lea eu conhecia.
— Você se lembra quando você foi atrás de Marcus após a conversa com a
avó Piperi no passado? — Apollo pegou a garrafa de refrigerante.
— Sim. — Entreguei-lhe um copo, perguntando onde ele estava indo com
isso. — É difícil de esquecer aquele dia.
— Hum. — Ele cheirou a parte superior do frasco, encolheu os ombros e, em
seguida, serviu-se de uma pequena quantia. — Bem, então você também deve
saber que existe um outro oráculo.
Olhei para Marcus. Ele arqueou uma sobrancelha quando ele encostou-se ao
balcão. — O que esse oráculo tem a ver com isso? — Perguntou.
Pensei em Kari. — Mas ela não morreu, também? — Depois de alguns
olhares estranhos, eu expliquei. — Eu a conheci no submundo. Ela disse que
sabia o que ia acontecer.
Apollo assentiu. — Ela teve uma visão pouco antes de... Partir.
Provavelmente tinha algo a ver com a sua própria visita inoportuna ao
Submundo. Veja, a coisa sobre oráculos é que eles... possuem suas visões. O que
eles vêem não é visto pelos outros e eu só posso ver o que o oráculo me diz. — Ele
levantou o copo de plástico, tomou um gole hesitante, e imediatamente fez uma
careta. Acho que refrigerante de uva não era a sua coisa.
— É parte de como tudo funciona, por que precisamos de um oráculo em vez
de eu apenas saber o futuro. — Continuou ele, olhando para mim. — Ela disse
alguma coisa para você enquanto você estava lá?
Eu balancei a cabeça. — Só que ela sabia que iria me encontrar e... E que
ela sabia como terminava. E saber como termina realmente não me diz o que
fazer.
Apollo fez uma careta. — Claro que tinha que ser o oráculo morto que
saberia. E Hades não está prestes a deixar-me ir para baixo e falar com ela agora,
não depois da coisa com a minha irmã. Profecias estão sempre mudando. Nada
está definido em pedra.
— Ártemis disse isso. — Aiden sentou ao lado de Lea. — Será que a profecia
mudou?
— Não exatamente.
Minha paciência estava se esgotando. — Então, o que está acontecendo,
Apollo? Artemis disse que ainda há esperança e ela mencionou algo sobre a
profecia. Você pode apenas, eu não sei, chegar ao ponto?
— O oráculo novo não teve nenhuma visão, de modo que a última está ligada
ao morto. Então tudo o que temos para trabalhar é o que sabemos. — Seus lábios
se curvaram em um meio sorriso. — Alguns de nós acreditamos que você vai ser
capaz de parar Seth. A profecia...
— Eu sei o que a profecia diz; um para salvar e um para destruir. Eu
entendo isso, mas o que eu não entendo é por que qualquer um de vocês
arriscaria Seth se tornando o Assassino de Deuses. Eliminando-me iria eliminar o
problema. — Ignorei o olhar perigoso de Aiden, — Há algo mais sobre isso. Você
sabe algo mais.
— E você sabe que a profecia diz que só pode haver um de vocês. Não há
maneira de contornar isso. — Apollo inclinou-se para trás, deixando cair os
braços sobre o encosto da cadeira. — Você realmente acha que tudo isso foi ideia
do Lucian? Que ele sabia sobre você, sem que ninguém lhe dissesse? Que ele
ganhou tanto apoio baseado em seu charme apenas?
Comecei a andar. — Eu não daria tanto crédito a Lucian.
— Ótimo. Porque ele teve ajuda, estou certo disso. — Apollo disse, — O que
significa que parar Seth de se tornar o Assassino dos Deuses não resolverá o
problema global. O deus por trás disso só vai encontrar outra maneira de
empurrar o Olimpo à beira de uma guerra e, se isso acontecer, vai derramar no
reino mortal. O que você viu Poseidon fazer? Isso não vai ser nada em
comparação com o que pode acontecer.
— Isso é ótimo. — Eu ia criar um caminho no chão da cozinha à taxa que
estava andando. — Você tem uma ideia de quem é esse deus?
— Há muitos de nós que gostariam de causar discórdia e caos apenas para
ter diversão.
— Hermes. — disse Marcus. Todos os olhos se voltaram para ele. Ele ergueu
as sobrancelhas em expectativa. — Hermes é conhecido por criar confusões -
caos. — Ninguém disse nada. Marcus balançou a cabeça. — Nenhum de vocês
prestaram atenção em sua classe de lendas gregas?
— Conseguir com que Lucian se virasse contra o Conselho e os deuses não é
uma simples confusão. — disse Aiden. — E por que Hermes iria querer fazer isso?
Ele não estaria se arriscando com Seth?
— Não se Hermes controlar Lucian. — Eu parei. A sensação de mal estar se
arrastou na minha espinha. — Lucian controla Seth... Completamente. Ele
estaria seguro.
— Hermes sempre foi a piada pessoal de Zeus e saco de pancadas. — Apollo
levantou-se e mudou-se em torno da mesa. Na janela de baía, ele ficou pensativo.
— E ultimamente Hermes tem estado... ausente. Eu não sabia disso, porque eu
estava aqui. Você vê, todos nós vêm e vão, nunca ficamos longe do Olimpo por
muito tempo.
Marcus ficou tenso. — Você acha que é possível que Hermes tenha estado
em torno de nós?
Ele olhou por cima do ombro para nós. Fios de cabelo loiro caíram para
frente, protegendo metade de seu rosto. — Como eu disse antes, se o outro deus
queria que ninguém soubesse, é possível. Tenham em mente, pode não ser
Hermes. Poderia ser qualquer um de nós. Quem quer que seja, terá que ser
parado.
Olhei para ele, imaginando como Apollo esperava que qualquer um de nós
parasse um deus. Apenas Seth seria capaz disso e ele não estava jogando para a
nossa equipe agora.
— Como ela pode impedi-lo? — Lea perguntou, sua voz rouca. — Como ela
pode parar Seth? Não é esse o ponto de tudo isso?
Apollo deu-lhe um pequeno sorriso. — Esse é o ponto. Alexandria teria que
matá-lo uma vez que ela Desperte.
E
Trinta e Quatro
u não podia ter ouvido bem. De jeito nenhum. — O quê?
Apollo voltou-se para a janela. — Você teria que matá-lo, Alexandria. Como
Apollyon, você será capaz de fazê-lo.
A ideia de matar Seth me horrorizou e enojou. De jeito nenhum eu poderia
fazer isso. Passei a mão no meu rosto, sentindo náuseas. — Não posso fazer isso.
— Você não pode? — Lea olhou fixamente, com os olhos brilhando na luz. —
Ele matou minha irmã, Alex! Ele matou membros do Conselho.
— Eu sei, mas não... Não é culpa dele. Lucian distorceu a sua mente. — E
ele hesitou antes de matar o Conselho. Eu tinha visto isso. Por um momento, o
Seth que eu conhecia não queria fazer isso, mas depois... Ele parecia estar
adorando, — Não foi culpa dele.
E parecia que eu estava tentando me convencer.
Os lábios de Lea apertaram, — Isso não desculpa o que ele fez.
— Eu sei, mas... — Mas eu não podia matar Seth. Sentei na cadeira
pesadamente, olhando para os restos do Homem-Aranha, — Tem que haver outra
maneira.
— Eu sei que uma parte de você se importa com ele, — Apollo disse
calmamente. — Você foi... Construída para se sentir assim. Uma parte dele é você
e vice-versa, mas é o único jeito.
Encontrei os seus olhos por um longo segundo, e então Apollo olhou para
longe. Uma sombra passou pelo seu rosto. Um gosto estranho, quase ruim,
surgiu na minha boca. — Existe outra maneira, Apollo?
— Será que isso importa? — Lea bateu as mãos sobre a mesa, fazendo-me
saltar. — Ele precisa morrer, Alex.
Eu recuei.
— Lea. — disse Marcus suavemente.
— Não! Eu não vou calar a boca sobre isso! — Ela se levantou subitamente
cheia de vida, — Eu sei que não parece justo, Alex. Mas Seth matou aquelas
pessoas - minha irmã. E isso não foi justo.
Minha garganta fechou. Lea tinha um ponto. Não havia como discutir isso,
mas ela não tinha visto que eu tinha visto... E ela não conhecia Seth. Então,
novamente, talvez nem eu o conhecesse.
— E isso é uma merda, — Lea continuou. Suas mãos fechadas em punhos
que tremiam. — Eu até pensei que Seth era gostoso, mas isso foi até ele incinerar
minha irmã. Você gosta dele. Isso é ótimo. Você é uma parte dele.
Impressionante. Mas ele matou pessoas, Alex.
— Eu entendo isso, Lea. — Olhei ao redor da sala, o meu olhar pousando em
Aiden, — Todos dizem que há esperança. Talvez a gente possa salvá-lo. E Artemis
mencionou algo sobre o poder servir para os dois lados. Talvez haja alguma coisa
aí.
Dor cintilou em seus olhos de prata, e então me lembrei de suas palavras e
minha própria constatação. Às vezes, você tem que saber quando deixar de ter
esperança.
Ela puxou uma respiração afiada enquanto claramente se esforçava para
controlar sua raiva e tristeza. — Você amava sua mãe, certo? Você amava mesmo
depois que ela se tornou um daimon.
— Lea. — Aiden cortou bruscamente.
— Mas você sabia que ela precisava... Precisava ser parada. — Apressou-se
antes que Aiden pudesse calá-la, — Você a amava, mas que fez a coisa certa.
Como isso é diferente?
Recuei da mesa. Suas palavras foram como um soco no estômago, porque
elas eram verdadeiras. Como isso era diferente? Eu tinha feito a coisa certa com a
minha mãe, então por que era tão difícil para mim entender por que isso
precisava ser feito agora?
— Eu acho que é o suficiente por hoje. — Marcus interrompeu.
Lea manteve sua posição por alguns segundos mais, mas depois saiu da
sala. Parte de mim queria ir atrás dela e tentar me explicar, mas tive o suficiente
bom senso para saber que não seria sensato.
— Ela está em um lugar escuro agora. — disse Marcus. — Ela está com dor.
Talvez mais tarde entenda que isso é difícil para você, também.
— Não é tão difícil como é para ela. — Coloquei meu cabelo para trás. — Eu
simplesmente não posso... A ideia de matá-lo me deixa doente. Tem que haver
outra maneira.
Apollo deslizou para mim. — Tudo isso... Pode esperar. Hoje é o seu
aniversário, o seu Despertar.
— Sim, bem, eu não sei o que está acontecendo com isso. — Olhei para as
runas em minhas mãos. Elas brilharam fracamente. Nada havia mudado sobre
elas. — Eu me sinto igual. Nada aconteceu.
— Quando você nasceu? — Apollo perguntou.
— Uh, 4 de Março.
Ele arqueou uma sobrancelha. — As horas, Alexandria? Qual foi o momento
de seu nascimento?
Franzi os lábios. — Eu não sei.
Um olhar dúbio atravessou o rosto de Apollo. — Você não sabe a que horas
nasceu?
— Não. As pessoas sabem disso?
— Eu nasci às 6h15 da manhã. — disse Aiden, tentando esconder o sorriso,
— Deacon nasceu às 12:55 da tarde. Nossos pais nos disseram.
Meus olhos se estreitaram. — Bem, ninguém me disse... Ou eu esqueci.
— Marcus? — Apollo perguntou.
Ele balançou a cabeça. — Eu não… Lembro.
— Bem, você obviamente não atingiu a sua hora de nascimento ainda. —
Apollo afastou-se da janela. — Acho que nós tivemos bastante conversa séria
para um dia. É, afinal, o seu aniversário. Um momento de celebração, não para
fazer planos de batalha.
Estremeci.
— Você vai ficar bem. — Apollo colocou a mão no meu ombro e apertou. Isso
foi o mais próximo de uma oferta de conforto que eu provavelmente alguma vez
teria de Apollo, e isso estava bem para mim. — Você não sente o vínculo de onde
estamos, então ele não pode se conectar com você. Você vai ficar bem.
Eu continuei olhando para o relógio. Quando eu tinha nascido? Não tinha
ideia. Era quase 8:30 da noite, e nenhuma maldita coisa tinha acontecido. Talvez
eu estivesse fazendo algo de errado?
— Pare com isso. — Aiden agarrou minha mão, puxando-a para longe da
minha boca, — Desde quando você morde as unhas?
Dei de ombros. Estávamos sentados no sofá no solário pequeno. Fora da
janela, parecia um paraíso de inverno. A noite já tinha caído e o luar refletia na
neve virgem que cobria o chão e as árvores.
— Você acha que eu sou fraca? — Perguntei.
— O quê? — Ele me puxou para que ficasse em seu colo. — Bons Deuses,
você é uma das pessoas mais fortes que eu conheço.
Olhei para a porta fechada, mas depois pensei oh, que inferno. Permitindo-
me relaxar, eu descansei minha bochecha contra seu peito e puxei a rosa debaixo
de minha camisa. — Eu não me sinto muito forte.
Aiden colocou seus braços em volta de mim. — Por causa do que todo
mundo estava falando hoje?
Eu tracei meus dedos sobre as bordas da rosa. — Lea tinha um ponto, sabe?
Eu enfrentei a minha mãe, mas eu não posso... Fazer isso com Seth.
— Apollo estava certo. — Ele colocou o queixo no topo da minha cabeça, —
Ele é uma parte de você. De certa forma, é diferente do que o que aconteceu com
sua mãe.
— É diferente. Minha mãe era uma daimon e não havia mais volta. —
Suspirei, fechando meus olhos. Vi o rosto de Seth enquanto eu implorava, a
indecisão em seus olhos, — Ele ainda está lá, Aiden. Tem que haver outra
maneira. E eu acho que Apollo sabe, mas ele não está nos dizendo.
— Então vamos falar com Apollo. Ele mencionou o oráculo, e talvez algo
tenha mudado. — Ele se moveu um pouco, e então senti seus lábios contra
minha testa. — Mas se não houver outro jeito...
— Então eu tenho que enfrentar a situação. Eu sei. Só quero ter certeza
antes de decidirmos que ele precisa ser... Morto.
Aiden colocou uma das mãos sobre a minha. — Talvez precisemos ir ver este
novo oráculo. Quem sabe? Ela pode ser capaz de nos dizer algo, com visões ou
não.
— Isso é, se nós conseguirmos que Apollo nos fale sobre ela.
— Conseguiremos.
Eu sorri para Aiden. — Você é incrível.
Ele sorriu. — O que te faz dizer isso?
— Você é facilmente o mais sup… Ow! — Assobiei ao mesmo tempo que
soltei minha mão da sua, — Algo me picou.
Ele se endireitou um pouco e agarrou meu pulso. — Alex, você está
sangrando.
Gotas minúsculas de sangue cobriam a parte superior de minha mão
esquerda, mas isso não era o que eu estava olhando. Havia um glifo azul
tomando forma, formando algo que parecia uma nota de música.
Meu coração batia rápido quando me sentei rapidamente, escaneando a sala.
Um relógio em forma de coruja mostrava que eram 20:47. — Está acontecendo.
Aiden disse alguma coisa, mas outra explosão de dor quente e afiada surgiu
logo abaixo desta marca, e sangue cobriu minha pele. Soltei-me de Aiden, minhas
pernas tremendo enquanto me levantava. — Oh, meus deuses...
— Alex... — ele levantou com os olhos arregalados. — O que eu posso fazer?
— Eu não sei. Não… — Ofeguei quando dor disparou no meu braço. Bem na
frente dos meus olhos, mais sangue apareceu. Apenas pequenas gotas, como se
eu estivesse sob uma agulha de tatuagem... — Oh deuses, as marcas, as marcas
são como tatuagens. — Isto não tinha acontecido com as outras marcas, as que
Seth havia trazido precocemente.
— Deuses — Aiden chegou para mim, mas eu recuei. Ele engoliu em seco,
enquanto meus olhos encontravam os seus, — Alex, vai ficar tudo bem.
Meu coração estava disparado, duplamente rápido. Puro terror inundou o
meu estômago. As marcas estariam em todos os lugares quando concluídas, e
estavam chegando tão, tão rápido. Dor espalhou-se pelo meu pescoço, molhando
minha pele. Quando chegou no meu rosto, eu gritei e caí no chão. De joelhos, eu
me curvei, minhas mãos apertando o ar em torno de minhas bochechas.
— Oh... Oh cara, isso vai ser uma merda. — Lutei por ar.
Aiden estava ao meu lado imediatamente, com as mãos esticadas para mim
mas não entrando em contato. — Só... Respire fundo, Alex. Respire comigo.
Meu riso saiu estrangulado. — Eu não... Eu não vou ter um bebê, Aiden. Isto
é… — Pontadas agudas de dor varreram as minhas costas, e eu gritei de novo.
Coloquei minhas mãos no chão, tentando dar uma respiração profunda, — Tudo
bem... Tudo bem, estou respirando.
— Ótimo. Você está indo muito bem. — Aiden chegou mais perto, — Tenha
certeza disso, agapi mou. Você está indo muito bem.
Quando minhas costas se curvaram, eu não me senti tão bem. Preferia
enfrentar cem daimons sedentos de éter mais uma legião de Instrutores do que
isso. Lágrimas vazaram de meus olhos quando a marcação continuou a ir para
baixo. Minhas pernas cederam, e com a ajuda de Aiden, deitei-me no meu
estômago.
A porta se abriu, e eu ouvi Marcus. — O que… Oh, meus deuses, ela está
bem?
Meu rosto doía demasiado para ficar assim, mas a pele das minhas costas
parecia em carne viva. — Merda...
— Ela está Despertando. — Aiden disse, com voz firme.
— Mas o sangue... — Ouvi Marcus se aproximar. — Por que ela está
sangrando?
Virei-me para o meu lado. — Estou sendo tatuada por um gigante filho da
p… — Outro grito estrangulado cortou as minhas palavras quando um tipo
diferente de dor surgiu, movendo-se sob a minha pele. Era como raios de
eletricidade correndo nas minhas veias, fritando cada terminação nervosa.
— Isso é... Uau, — Deacon disse, e eu abri meus olhos. Havia toda uma
audiência na porta.
— Tire-os daqui! — Eu gritei, estremecendo no chão, — Deuses, isso é uma
merda!
— Whoa, — Ouvi Deacon murmurar. — Isto é como assistir a um pintinho
dar a luz ou algo assim.
— Oh, meus deuses, eu vou matá-lo. — Podia sentir as gotas de sangue
irrompendo sob meus jeans. — Eu vou dar um soco nele…
— Todo mundo sai, — Aiden disse entre dentes. — Isso não é um maldito
show.
— E eu acho que ele é o pai. — disse Luke.
Aiden se levantou. — Para. Fora.
Alguns segundos depois, a porta foi fechada. Eu pensei que nós estávamos
sozinhos, até que ouvi Marcus falar. — Ela é minha sobrinha. Eu vou ficar. —
Ouvi-o vir mais perto. — É... É suposto ser assim?
— Eu não sei. — A voz de Aiden soou tensa, perto do pânico. — Alex?
— Tudo bem, — Eu respirei. — Apenas... Apenas não falem. Ninguém… — A
dor se moveu para a minha frente, queimando minha pele. Eu me arqueei, com
as mãos tremendo.
Porra. Eu não conseguia respirar. A dor era tudo. Eu ia matar Seth. Nem
uma só vez ele tinha me dito que o Despertar seria assim - como se a pele
estivesse sendo arrancada de meus ossos.
Meu corpo se dobrou quando outra onda de dor me percorreu. Eu não
lembrava de bater no chão ou de Aiden me puxar para o seu colo, mas quando
abri os olhos, ele estava lá, acima de mim. Pele em algum lugar, onde eu não
tinha mais certeza, pegou fogo. Outra marca estava sendo tatuada. Eu não
consegui segurar o grito, mas quando vazou de meus lábios, não era nada mais
do que um gemido.
— Está tudo bem. Estou aqui. — Aiden alisou o cabelo da minha testa
úmida. — Está quase no fim.
— É mesmo? — Engoli em seco quando olhei para ele, apertando a sua mão
até que senti seus ossos, — Como você sabe, porra? Você já Despertou antes?
Existe algo… — meu próprio grito rouco e fraco interrompeu o meu discurso, —
Oh deuses, eu... Sinto muito. Eu não quis xingar você. Apenas...
— Eu sei. Dói. — O olhar de Aiden pairava sobre mim, — Não pode demorar
muito mais.
Fechei meus olhos com força quando me enrolei para Aiden. Seus gestos
suaves ajudaram a aliviar um pouco a dor. Eu endureci quando uma luz
ofuscante brilhou por trás de meus olhos. Um som encheu meus ouvidos, e
subitamente eu podia ver o cordão azul tão forte em minha mente.
Era como se um interruptor tivesse sido ligado.
Informações vieram para mim todas de uma vez. Milhares de anos de
memórias de Apollyons despejadas em mim tal como Seth tinha avisado que
aconteceria. Como um download digital, que eu não conseguia acompanhar. A
maioria não fazia qualquer sentido. As palavras estavam em uma língua diferente
- a que Aiden falava tão lindamente. O conhecimento de como o Apollyon nasceu
passou para mim, tal como a natureza dos elementos e do quinto e final
elemento. Imagens cintilaram - batalhas ganhas e há muito perdidas. Eu vi -
senti - akasha através das veias de alguém pela primeira vez, surgindo e
destruindo. Salvando - salvando todas essas vidas. E os deuses… Vi-os através
dos olhos dos Apollyons passados. Havia uma relação lá, tensa e cheia de
desconfiança mútua, mas havia... E então eu a vi. Eu sabia que era Solaris,
senti-o em meu âmago.
Eu a vi virar-se contra um belo rapaz, levantando as mãos enquanto
sussurrava palavras - palavras poderosas. Akasha queimou a partir dela, e eu
sabia em um instante que ela tinha se virado contra o primeiro. Não para matá-
lo, porque havia amor infinito em seus olhos, mas para dominá-lo, impedi-lo.
Agarrei a informação, mas ela avançou através dos anos, até o Primeiro... O
Primeiro.
O cordão estava estalando, correndo através do espaço e distância,
procurando, sempre procurando. Eu não conseguia parar, não sabia como. Um
brilho âmbar cobriu tudo. Em uma explosão de luzes, uma face nebulosa entrou
em foco. O arquear natural de suas sobrancelhas douradas, a inclinação marota
de seus lábios e a inclinação de suas maçãs do rosto eram dolorosamente
familiares. Eu não podia dizer onde ele estava. Ele não deveria ter estado lá. Nós
estávamos muito distantes.
Mas no final do cordão, vi Seth e eu chorei.
Eu soube em um instante que a distância entre nós não significava nada
quando se tratava do nosso vínculo. Pode ter diminuído a nossa capacidade de
sentir um ao outro, mas não poderia evitar isso. Não com as quatro marcas, e
não quando ele tinha puxado meu próprio poder. E eu também sabia que Seth
tinha planejado isso... Só no caso de eu fugir.
Um pulso de luz passou pela minha corda e eu senti isso - senti-o -
rompendo meus escudos, enchendo-me, tornando-se uma parte de mim. Levou
apenas um segundo - um segundo e eu estava cercada por ele. Eu era ele. Eu não
existia aqui, não havia espaço. Era tudo sobre ele, sempre tinha sido.
Eu não conseguia mais respirar. Ele estava lá, sob a minha pele, o coração
batendo ao lado do meu. Seus pensamentos misturados com os meus até que
tudo o que podia ouvir era ele.
Ele abriu os olhos. Uma luz que nunca tinha estado lá antes brilhava atrás
deles.
Seth sorriu.
Luz crepitou e brilhou, e o mundo desabou.
Eu estava tremendo - não. Eu estava sendo abanada. A dor diminuiu
lentamente, deixando para trás uma picada crua que cobriu cada centímetro do
meu corpo. Isso também desapareceu quando o meu corpo foi abanado para
frente e para trás. Havia vozes zumbindo no fundo, ofuscando as palavras
reconfortantes sendo sussurradas.
Eu respirei fundo, respirando porque parecia ser a primeira vez. Havia tanta
coisa no ar em torno de mim. O cheiro forte de pinho manchava as bordas. Eu
senti o sabor de picante e sal marinho na ponta da minha língua.
— Agapi mou, abra os olhos e fale comigo.
Meus olhos se abriram. Tudo... Tudo parecia diferente, mais nítido e
ampliado. As luzes eram deslumbrantes e as cores brilhavam em âmbar. Eu
foquei no homem me segurando. Olhos cor de prata aquecida olhavam para mim.
Eles se arregalaram, as pupilas dilatadas. Choque disparou por todas as suas
impressionantes características.
— Não. — Essa palavra soou como se tivesse sido arrancada das
profundezas da alma de Aiden.
Um som de estalo encheu a sala. Passos se aproximaram. Formas entraram
em foco, uma queimando mais brilhante do que a outra.
Apollo olhou por cima do ombro de Aiden e xingou. — Deixe-a ir, Aiden.
Seus braços se apertaram em torno de mim em vez disso, me segurando
perto de seu peito. Até ao fim, pensei... Estupidamente corajoso e leal até ao fim...
— Deixe-a ir agora. — Uma porta se fechou em algum lugar atrás do Deus
brilhante, — Ela está conectada com o Primeiro.
O Primeiro - todo o meu propósito para existir. Meu. Minha outra metade.
Ele estava aqui, esperando. Já dentro de mim, vendo o que eu estava vendo,
sussurrando para mim, prometendo-me que ele estava chegando. Seth. Meu.
E todos eles iriam morrer.
Eu sorri.
Continua...
Tradução
Revisão Inicial
Revisão Final e Formatação
Laura Serena Gaby Késcia Larissa Debora Lyla Cris Dani Giovanna Raquel
Nathy
Laura
A série Covenant continua em...
Aiden St. Delphi vai fazer de tudo para salvar Alex.
Mesmo que isso signifique fazer uma coisa pela qual ele nunca irá se perdoar.
Mesmo que isso signifique fazer guerra contra os deuses.
Elixir
Jennifer L. Armentrout
Jennifer L. Armentrout vive em West
Virginia. Nenhum dos boatos que você
ouviu sobre o seu estado é verdadeiro. Bem,
quase nenhum. Quando ela não está
empenhada em seu trabalho como escritora,
ela passa seu tempo lendo, fazendo
exercício físico, vendo filmes de zombies e
fingindo escrever. Ela partilha sua casa com
seu marido, o parceiro K-9 dele chamado
Diesel, e seu hiperativo Jack Russel Loki.
Seus sonhos de se tornar uma autora
começaram na aula de álgebra, onde ela
passava o tempo escrevendo contos...
explicando, portanto, as suas tristes notas a
matemática. Jennifer escreve Fantasia
Urbana e Romance para Adultos e Jovens.
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