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26 MONTEIRO, R. H. e ROCHA, C. (Orgs.). Anais do V Seminário Nacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual Goiânia-GO: UFG, FAV, 2012 ISSN 2316-6479 UMA RUA DA CIDADE Adriana Mara Vaz de Oliveira [email protected] Universidade Federal de Goiás Elane Ribeiro Peixoto [email protected] Universidade de Brasília Isabela Rezende Borba Bolsista PIVIC-UFG Marília Milhomem Pereira Bolsista PIBIC-UFG Resumo A cidade é um objeto polissêmico que suscita múltiplos olhares, capazes de esquadrinhá-la como forma, paisagem, imagem, representação, entre outros. Tais possibilidades entrelaçam-se com o tempo, desencadeando interpretações dos percursos urbanos na história. A compreensão dessa complexidade da cidade permitiu que se elegesse uma maneira de abordar Goiânia, investigando-a por meio dos bairros, um recorte espacial, e de uma abordagem que mesclaria aspectos arquitetônicos, históricos e antropológicos. Esse artigo apresenta o Setor Central a partir de uma rua, a Avenida Goiás. Palavras-chave: cidade, rua, arquitetura, cotidiano, apropriação Abstract A city is a polysemic object that raises multiple perspectives, all of which envision it as morphology, landscape, image, and representation, among other forms. Such possibilities are interwoven with time, thus triggering interpretations of the urban courses throughout history. Understanding the complexity of a city allowed the selection of one way of analysing Goiânia: that of investigating it through its neighbourhoods (a spatial delimitation) and through an approach that brings together architectural, historical and anthropological features. This paper focuses on Setor Central from the standpoint of Avenida Goiás, one of its streets. Keywords: city, street, architecture, everyday life, appropriation A rua Spiro Kostof (1999) afirma, em City assembled, que a história da rua está ainda para ser contada quer como forma quer como instituição. O autor esclarece que essas dimensões indissociáveis inspiram questões específicas. No correspondente à forma, lembra-nos de que a rua constitui-se, em geral, de um leito carroçável, de calçadas e de edifícios que a margeiam em ambos os lados; lembra-nos também de que uma rua se articula a outras, como é pavimentada, como são suas calçadas, arborização e regularidade, se é curva ou reta, aspectos esses todos relativos à sua morfologia. Ainda em termos de forma, ao se tomar os tipos de edifícios, as ruas podem ser classificadas e diferenciadas. Nesse sentido, Kostof aponta as ruas cobertas, as aleias, os

UMA RUA DA CIDADE 2316-6479 · 27 Monteiro, r. H. e r oc H a, c. (o rgs.). a nais do V Seminário n acional de Pesquisa em a rte e c ultura Visual Goiânia-G o: UFG, F a V, 2012 i

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    6479UMA RUA DA CIDADE

    adriana Mara Vaz de [email protected]

    Universidade Federal de Goiás

    elane ribeiro [email protected]

    Universidade de Brasília

    isabela rezende BorbaBolsista PIVIC-UFG

    Marília Milhomem Pereira Bolsista PIBIC-UFG

    Resumoa cidade é um objeto polissêmico que suscita múltiplos olhares, capazes de esquadrinhá-la como forma, paisagem, imagem, representação, entre outros. tais possibilidades entrelaçam-se com o tempo, desencadeando interpretações dos percursos urbanos na história. a compreensão dessa complexidade da cidade permitiu que se elegesse uma maneira de abordar Goiânia, investigando-a por meio dos bairros, um recorte espacial, e de uma abordagem que mesclaria aspectos arquitetônicos, históricos e antropológicos. esse artigo apresenta o Setor central a partir de uma rua, a avenida Goiás. Palavras-chave: cidade, rua, arquitetura, cotidiano, apropriação

    Abstracta city is a polysemic object that raises multiple perspectives, all of which envision it as morphology, landscape, image, and representation, among other forms. Such possibilities are interwoven with time, thus triggering interpretations of the urban courses throughout history. Understanding the complexity of a city allowed the selection of one way of analysing Goiânia: that of investigating it through its neighbourhoods (a spatial delimitation) and through an approach that brings together architectural, historical and anthropological features. this paper focuses on Setor central from the standpoint of avenida Goiás, one of its streets.Keywords: city, street, architecture, everyday life, appropriation

    A rua Spiro Kostof (1999) afirma, em City assembled, que a história da rua

    está ainda para ser contada quer como forma quer como instituição. o autor esclarece que essas dimensões indissociáveis inspiram questões específicas. no correspondente à forma, lembra-nos de que a rua constitui-se, em geral, de um leito carroçável, de calçadas e de edifícios que a margeiam em ambos os lados; lembra-nos também de que uma rua se articula a outras, como é pavimentada, como são suas calçadas, arborização e regularidade, se é curva ou reta, aspectos esses todos relativos à sua morfologia. ainda em termos de forma, ao se tomar os tipos de edifícios, as ruas podem ser classificadas e diferenciadas. nesse sentido, Kostof aponta as ruas cobertas, as aleias, os

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    6479boulevards, entre outras. Paralelamente ao aspecto formal da rua, nosso autor

    salienta sua natureza institucional, sua função econômica e seu significado. em suas palavras, a história da rua implica a compreensão do conteúdo e do continente:

    The purposes of the street tradiditionally have been traffic, the exchange of goods, and social exchange and communication. all three are inseparably related to the form of the street – the material ways in which these activities are housed and hosted by the street structure. the street, in Joseph rywert`s phrase , is human movement institutionalized – and human intercourse institutionalized. in this way, therefore, the history of the street is about both container and content. if the correspondence of the two cannot be perfectly synchronic, it is because the frame of the street is more permanent than the uses made of it. (KoStoF, 1999, p. 189).

    Detivemo-nos neste autor, citando-o tão longamente, porque nossa ambição, ao tratarmos da rua mais importante de Goiânia, é, na medida das nossas possibilidades, superar a ingênua cisão entre forma e conteúdo, objeto de sua crítica. como arquitetas e urbanistas, nossa formação tende a privilegiar a primeira parte desse duo, isso porque nossos olhos são treinados para perceber larguras, comprimentos, volume, texturas, cores, formas, luzes, sombras – o sentido da visão está sempre mais alerta e sensível às solicitações e estímulos captados na cidade. alguém pode contra-argumentar que essa supersensibilidade da visão não é atributo específico dos arquitetos, mas de todo homem pós-renascentista, considerando que a invenção da perspectiva definitivamente alterou nossa forma de perceber o mundo. Seremos obrigadas a concordar, todavia esclarecemos que aos arquitetos ensina-se a perceber os detalhes. ora, constatar esta peculiaridade de nossa formação não implica necessariamente um sinal de distinção galhardamente exibida. Muito pelo contrário, pode nos tornar míopes diante daquilo que João do Rio identificou como a “alma encantadora das ruas”. talvez sejam os poetas, os cronistas, enfim os homens das letras, aqueles mais aptos a perceber o “conteúdo das ruas”. os exemplos são vários. Por exemplo, Baudelaire e Poe são lembrados por João do Rio, o flâneur par excelence que melhor observou o rio de Janeiro:

    Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem. Flanar é ir por aí, de manhã, de dia, à noite, meter-se nas rodas da populaça, admirar o menino da gaitinha ali à esquina, seguir com os garotos o lutador do cassino vestido de turco, gozar nas praças os ajustamentos defronte das lanternas mágicas, conversar com os cantores de modinha das alfurjas da Saúde, depois de ter ouvido dilettanti de casaca aplaudirem o maior tenor Lírico [...]; é ver os bonecos pintados a giz nos muros das casa, após ter acompanhado um pintor afamado até sua grande

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    6479tela paga pelo estado; é estar sem fazer nada e achar absolutamente

    necessário ir até um sítio lôbrego, para deixar de lá ir, levado pela primeira impressão, por um dito que faz sorrir, um perfil que interessa, um par jovem cujo riso de amor causa inveja [...] (rio,1997, p. 50-51).

    a forma e o conteúdo como compreensão mais complexa da rua passaram a ser nosso objetivo e nos orientaram para realizar uma primeira aproximação “etnográfica” da Avenida Goiás. Antes, porém, de nos ocuparmos em descrever o que pudemos observar nesta importante rua de Goiânia, nos lembremos da significação do termo avenida, que anuncia suas inseparáveis dimensões.

    choay (2005) explica que avenida deriva do particípio passado do verbo francês “avenir”, originário do latino “advenire”. o termo serve para designar, no sentido próprio e no figurado, um caminho que nos leva a um destino, por extensão, depois a uma aleia de árvores conduzindo a um castelo e enfim a uma larga via urbana arborizada. nas palavras da historiadora das formas urbanas:

    nesta acepção, a avenida objeto da arte dos parques e jardins (cf. Laugier, Patte) é uma criação da idade clássica (Versalhes, por exemplo) que acolhe a circulação das carroças, os desfiles militares, as festas urbanas e encontra-se conotada por esse aparato. esta tradição de prestígio foi prosseguida pelo urbanismo do século XiX. É ilustrada na França por Paris de Haussmann, que criou “sistemas” de avenidas, em torno de ronds-points e tornou as avenidas da impératrice (hoje avenida Foch) e dos champs-Élysées modelos copiados no mundo inteiro. no continente americano, as avenidas, por oposição às ruas, são simplesmente as vias maiores de uma forma de loteamento regular e ortogonal. a cidade de nova York comporta avenidas paralelas, orientadas norte-sul e cortadas por um sistema de ruas perpendiculares numeradas de sul para norte. (MerLin, cHoaY, 2005, p. 103-104).1

    Diante das explicações de choay para avenida, observamos que a avenida Goiás foi concebida nos moldes do urbanismo francês ensinado pelo instituto Francês de Urbanismo, onde attílio corrêa Lima, o urbanista de Goiânia, concluiu sua pós-graduação. assim, compreende-se a importância formal da avenida Goiás e dos elementos que a compuseram – a extensão, a largura, os jardins, as árvores, os passeios, a fonte luminosa, o coreto e o relógio. De fato, a avenida Goiás conduz a um “palácio”, não o daqueles dos reis absolutistas, mas ao do estado laico, que se esforçava em pleno século XX para avançar a ocupação do interior do Brasil, no desafio de integração de um país continental.

    Setor Central, onde tudo começou o surgimento de uma cidade planejada em meio ao cerrado é um quadro

    intrigante para os que estudam as formações urbanas. a cidade projetada pelo

    1 tradução livre de elane ribeiro Peixoto.

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    6479arquiteto attílio corrêa Lima em princípios da década de 1930 foi posicionada

    como um retrato da modernidade brasileira daquele momento. Goiânia se materializou como fruto do Brasil empreendedor de Getúlio Vargas, da Marcha para o oeste e do interesse político de Pedro Ludovico teixeira.

    a proposta inicial de attílio abarcava o setor central, o setor norte e áreas residenciais ao sul e a oeste. em 1935, o arquiteto se afastou da construção da nova capital, e o engenheiro armando augusto de Godói realizou alterações no Setor Central, modificando completamente o desenho urbano do Setor Sul. contudo, é no Setor central que a história de Goiânia começou. aí está sua gênese.

    o traçado do Setor central, segundo attílio correa Lima, adota o “partido clássico de Versailles, carlsruhe e Washington, pelo aspecto monumental e nobre, como merece a capital do grande estado (evidentemente guardando as devidas proporções)” (LIMA apud MANSO, 2001, p. 99). A afirmação do arquiteto não exclui sua intenção em “suavizar” o sentido monumental com a utilização de generosa arborização nas vias que convergem para o centro administrativo. Desse modo, a monumentalidade mesclava-se ao pitoresco, advindo da cidade jardim, ainda que notadamente manifestada na largura das três avenidas principais, no desenho radiocêntrico – que sugeria perspectivas marcantes a partir do centro administrativo –, bem como na regularidade formal e construtiva desse conjunto. afora esse desenho em pate d’oie, o traçado compreendia uma malha ortogonal, com ruas internas às quadras comerciais, algumas praças. tudo isso somado ao zoneamento criterioso e às áreas verdes, sejam em forma de parkways ou parques.

    a imagem de modernidade vinculava-se a Goiânia e o Setor central devia traduzi-la, pois era dali que a cidade seria conhecida. a construção dos edifícios administrativos, do hotel e das casas para funcionários do estado, coordenada pelo poder público, confirmava essa imagem por meio da adoção de linguagens arquitetônicas inovadoras, como o ecletismo, o neocolonial e o art déco. no entanto, a iniciativa privada compartilhava desse ideário e reproduzia as atitudes adotadas pelo poder público, mesmo diante das limitações. ao lado da imagem “moderna”, das casas e das ruas distintas por números, elaboravam-se outras imagens, mesclando a primeira às vivências da terra, exemplo dado pelos nomes das avenidas da cidade em lembrança aos grandes rios de Goiás.

    e as pessoas? como elas viviam na cidade que acabava de nascer? as impressões que nos chegam são aquelas dos jornais, dos depoimentos dos pioneiros e da iconografia. Por meio dos jornais, verifica-se a ênfase dada:

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    6479“Goiânia, cidade moderna”, reforçada pelas imagens veiculadas em anúncios

    como o do Grande Hotel:

    Grande Hotel de Goiânia o melhor no gênero, em todo o Brasil central.construído sob o mais rigoroso plano de arquitetura moderna.confortável – higiênicoPanorama admirável Horizontes magníficos De suas sacadas o turista poderá contemplar, em toda sua plenitude, essa luta ciclópica entre um povo que vai construindo sua cidade e a natureza virgem, travada em uma das mais encantadoras paragens do “Hinterland” brasileiro. Duelo imponente em que a mão do homem apenas aumenta a beleza verdadeiramente edênica da paizagem. Mixto de cidade e de sertão. Visitai Goiânia, a caçula das capitais brasileiras e hospedai-vos no Grande Hotel Diária 15$000 e 20$000. (Correio Official, n. 3370, 19 fev. 1937).

    a paisagem do sertão e a construção assentada em meio aos riscos do chão se confrontavam com as descrições do periódico. era uma representação de um sonho que devia se concretizar. o turbilhão de novidades advindas da construção de Goiânia compreendia edifícios, cujo vocabulário era desconhecido. este novo repertório amalgamava-se com o comércio tradicional de campinas, logo renovado. no centro de Goiânia, o comércio estruturou-se a partir da década de 1940, como registra Bariani ortêncio:

    os primeiros estabelecimentos do centro, me lembro, foram a casa Ema [...]; a Casa Iracema do seu Roldão, em homenagem à filha escritora; o posto do Pilade Baiocchi (hoje edifício Baiocchi); o bar Pinguim, na avenida anhanguera, onde está a Livraria Polar, e era o ponto da jardineira Goiânia-campinas. a casa Zupelli, o restaurante Lizita, a casa alencastro Veiga, a chevrolet, do seu alcalino [...]; a casa Karajá, do Joaquim Veiga [...]; a Flor de Maio, do seu Fiadeiro; o famoso Tip Top, do Vicente, dos pratos rápidos; a Casa Confiança (amaral Muniz); a tropical, das lingeries famosas; a Fármacia Barra [...]; a Fonte expressa. a casa do carvalhinho [...]. (apud GaLLi, 2007, p. 26).

    Se nos anos 1930 e 40 o setor central de Goiânia era um canteiro de obras, na década de 1950 seus contornos são precisados e a expressão de sua feição é percebida através das fotografias de Hélio de Oliveira (2008). As árvores já tinham bom porte, as ruas estavam calçadas, vários edifícios construídos e as pessoas circulavam pela cidade. Bicicletas, carros, caminhões, carroças, jardineiras e pessoas dividiam os espaços urbanos num movimento contínuo característico de cidades relevantes, em termos de tamanho e de dinâmica (Fig.1).

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    Figura 1: avenida Goiás 1952. Fonte: oLiVeira, 2008

    no Jornal de Notícias (18 set. 1958), a população da rua 21, no Setor central, reclamou sobre ruídos, demonstrando que a capital de Goiás, nos anos de 1950, apresentava as mazelas das cidades “grandes” – “a par do volume altíssimo que incomoda os moradores das vizinhanças, impedindo o sono dos meninos e enervando as donas de casa, existe a transmissão de números musicais inconvenientes e pornográficos”.

    nesta época, Goiânia poderia ser considerada um polo na região centro-Oeste, especificamente no que concerne às atividades agropecuárias. Seu centro comercial acolhia diversas atividades e oferecia variados serviços, como os bancários e outros voltados ao lazer e à cultura. oliveira (2008) mostra por meio de sua fotografia a efervescência do mercado central, onde pessoas se aglomeram em busca de produtos agropecuários. Homens, mulheres e crianças movimentam-se entre as bancas improvisadas ou não (Fig.2).

    Figura 2: Mercado central de Goiânia, 1952. Fonte: oLiVeira, 2008

    na década de 1960, o centro da cidade se adensou, em virtude da verticalização de edifícios consentida pelo poder público, ”demandada” de habitação, assim como pela oportunidade de bons negócios imobiliários. todavia a concentração das atividades comerciais e dos serviços manteve-se atraindo cotidianamente a população residente em bairros que não o central.

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    6479cada vez mais, Goiânia aproximava-se do que Simmel (1987) denominava

    grande metrópole. essa nova condição implicava alterações nas relações sociais e pessoais, como atesta o Jornal 4º Poder (1964, p. 3): “Problemas da cidade que se agravam dia-a-dia: pontos e engarrafamentos”. esta notícia discorre sobre a dificuldade em estacionar os carros no centro da cidade, por causa da quantidade de pontos de carros de aluguel, bem como sobre o congestionamento em horas particulares do dia, equiparando Goiânia às grandes metrópoles brasileiras. nos anos 1970, investiu-se em transporte coletivo, aos moldes do que ocorria em curitiba, e foi implantado um sistema integrado que possibilitava, ao morador das cidades próximas, o deslocamento para o centro de Goiânia utilizando uma única passagem de ônibus. o centro popularizou-se. concomitantemente, a população de maior poder aquisitivo mudou-se para outros bairros, nos anos seguintes transfere seus hábitos de compras e serviços para os shoppings centers.

    Da década de 1980 até 2000, constata-se a progressiva popularização do centro, com alterações de usos e o desaparecimento de serviços significativos para a cidade, como o lazer oferecido pelos cinemas e restaurantes, pelos hotéis e lojas tradicionais, decadência de um importante clube social – o Jóquei clube de Goiás –, entre outros. essa situação, quando percebida e avaliada, motivou sucessivas tentativas de recuperação da imagem do centro da cidade vinculada ao início. Porém a maior parte dessas se resumiu a projetos inconclusos de requalificação urbana. O Setor Central foi ocupado pelo comércio popular dos camelôs, pelas lojas de produtos chineses de r$ 1,99, e, principalmente, por uma população oscilante, que nela transita somente durante o dia.

    nos anos 2000, algumas ações conseguem recuperar, em termos, a esperança de restituir mais importância ao centro histórico da cidade. Um concurso público, organizado para a recuperação da avenida Goiás, é um bom exemplo dessas ações. o projeto vencedor buscou, com acerto, recompor uma feição mais próxima à avenida de outrora, em que os novos canteiros centrais, a presença de bancos, o desenho de qualidade da pavimentação e as sombras de caramanchões propiciaram usos diversos por quem transita pela avenida.

    ações pontuais buscam estimular a ocupação do centro pela população de toda cidade. a inauguração do centro de referência e Memória no Grande Hotel, acompanhada dos shows de chorinho às sextas-feiras, o Goiânia cine ouro, com espetáculos teatrais e musicais, o tombamento pelo iPHan dos edifícios art déco da cidade e a iniciada construção da Vila cultural no quarteirão do teatro Goiânia são exemplos a ser lembrados, porém nem todos são bem-sucedidos.

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    6479Hoje, percebe-se que o Setor central é pleno de vida. São milhares de

    pessoas que diariamente por ele transitam, numa mistura confusa de gente, de carros, de vendedores de frutas, de homens-anúncios. o centro de uma cidade é seu core, é por onde as pessoas andam, correm, flanam, sentam, conversam, observam, trabalham ou simplesmente nada fazem. nossa curiosidade nos conduziu à avenida Goiás para observar um pouco dessa vida.

    Uma avenida, uma ruaJoão do rio (2008, p. 28-29), nas suas flaneries pelo rio de Janeiro do

    início do século XX, dizia: “eu amo a rua. [...] a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma!” a sua declaração de amor às ruas vinha da riqueza percebida em sua apropriação: a rua se torna honesta, ambígua, infame e muitos outros adjetivos, pois incorpora a ação humana. em conformidade com essa postura, aproximando-se da inclinação etnográfica (O’DONNELL, 2008) de João do Rio, optamos por verificar a Avenida Goiás, do Setor Central de Goiânia, no esforço de nela reconhecer a cidade.

    esta avenida, outrora chamada avenida Pedro Ludovico, foi a grande estrela do plano de correa Lima, pois era o eixo monumental que ligava o centro administrativo do estado à estação Ferroviária. Simbolicamente, constituía-se na ligação entre o dentro e o fora, entre o poder local e o mundo exterior. o arquiteto defendia ainda que, “pela sua largura excepcional e pelo seu aspecto luxuoso, prestar-se-á para as demonstrações e festas cívicas” (LiMa apud ManSo, 2001, p.113). Sua dimensão causava estranhamento aos moradores da cidade, acostumados às ruas acanhadas de pedras da cidade de Goiás. esse efeito foi amenizado por um detalhado projeto paisagístico, em que o arquiteto especificou a vegetação dos seus canteiros, configurando-a como uma alameda.

    a avenida caracterizava-se por meio de uma ocupação de usos diversos – residencial, comercial, prestação de serviços e industrial –, o que gerou variadas construções, a começar por uma das primeiras de Goiânia – o Grande Hotel. Seu cruzamento com a avenida anhanguera era considerado pelo autor do projeto como a área mais central da cidade, onde se implantaria o comércio. abaixo da avenida Paranaíba, no setor norte, mesclavam-se comércio, indústria e habitações destinadas aos trabalhadores. Esses usos moldaram sua face oficial, que influenciou a formação de sua paisagem. Todavia, o ritmo da dinâmica urbana paulatinamente alterou essa paisagem ao longo do tempo, com a modificação dos gabaritos dos edifícios, de tal forma a afetar sua escala.

    As primeiras imagens oficiais da cidade mostram a abertura da Avenida Goiás como um rasgo no chão em pleno sertão, sem pessoas, sem apropriação.

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    6479ao mesmo tempo, apresentam o Grande Hotel em construção como um esqueleto

    vazio, sem entranhas. Mais à frente, nos anos 1940, os canteiros da avenida são mostrados, mas ainda como paisagem congelada. Há ainda muitos lotes vazios e as pessoas insistem em não se mostrar.

    nas imagens de Hélio de oliveira (2008), da década de 1950, a cidade já não é só matéria inerte, pois que aparecem pessoas e estas estão em movimento. engraxates atendem seus clientes na rua, mulheres conversam na calçada, homens engravatados transitam apressados, há guardas de trânsito sob as sombrinhas, carroças circulando. os pioneiros apontam os footings domingueiros, em que as moças e rapazes buscavam sua alma gêmea num incessante subir e descer nas calçadas da grande alameda.

    em 1960, na foto de oliveira (2008), a avenida Goiás, abaixo da Paranaíba, é vista com uma ocupação horizontal de casas e prédios comerciais, arborização exuberante dos canteiros central e laterais, poucos carros circulando e pessoas andando pelo meio da rua. na parte mais próxima à avenida anhanguera em uma fotografia de 1967 do mesmo autor, aparecem árvores frondosas, edifícios em altura, muitos carros, um homem andando de bicicleta e outros na calçada.

    nas décadas sequentes, a avenida transforma-se. os canteiros centrais desaparecem, dando origem a um calçadão. aos moldes daquele da praia de copacabana, cria-se uma faixa exclusiva para ônibus, os edifícios em altura se multiplicam, e cada vez mais a rua é preenchida pelas pessoas que trabalham, moram nela, passeiam ou simplesmente passam por ela. nos anos 1990, os camelôs elegem a avenida Goiás como seu local de comércio. as sombras das árvores do calçadão central são perfeitas. Começam a perfilar suas bancas e logo estendem as lonas de plástico azul. Por anos a população transita no labirinto das barracas comprando relógios, óculos e pilhas do Paraguai (JacQUeS, 2003).

    Um projeto vencedor do concurso promovido pela Prefeitura Municipal devolveu os canteiros e bancos da avenida e retirou as bancas de camelôs dali. ares nostálgicos tomam conta do lugar, e as pessoas voltam a sentar na calçada e observar a vida passar.

    Etnografias urbanas, corpos na cidadeUma das opções adotadas por esta pesquisa é a aproximação com

    o cotidiano e, simultaneamente, com aqueles que experimentam a cidade, tornando-os praticantes ordinários, como definiu De Certeau (1994). Por meio de uma etnografia urbana em que as descrições são densas, como sugere Geertz (1989), procura-se reconhecer as apropriações sensíveis da cidade e, particularmente, de uma rua.

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    6479atualmente, a avenida Goiás tem sua ocupação dividida em dois grandes

    momentos: os dias da semana e os finais de semana. Os dias da semana vão de segunda a sábado pela manhã e o final de semana resume-se ao sábado à tarde e todo o domingo. A distinção prende-se à movimentação gerada pelo fluxo de pessoas decorrente dos usos dos edifícios lindeiros à rua, que funcionam, na sua maioria, em horário comercial, gerando grande movimentação durante a semana e a quase inexistência de apropriação nos finais de semana. Os poucos edifícios habitacionais são insuficientes para gerar movimentos significativos na rua aos domingos. as calçadas e bancos estão sempre vazios, as portas fechadas, um ou outro carro ou ônibus circulando, poucos transeuntes percorrem-na, enfim, uma rua lenta, sem a movimentação cotidiana. a exceção refere-se à parte mais ao norte da avenida, próxima à Praça do trabalhador, onde aos domingos acontece a Feira Hippie, grande feira de produtos variados, principalmente roupas, o que gera muita movimentação de pessoas e carros.

    no decorrer da semana, a ocupação da rua se divide em “faixas”, com características específicas de apropriação. A primeira faixa vai da Praça Cívica até a rua 2, onde são encontrados alguns edifícios de instituições públicas, comerciais, de escritórios, bancos, casas de empréstimo e residenciais. nessa faixa aparece em sua paisagem um elemento característico e recorrente em toda sua extensão. trata-se dos quiosques, localizados nas calçadas, que oferecem serviços variados, como vendas de lanches, caldo de cana, revistas, fotografias para documentos. Esse último serviço, fornecido pelo popularmente conhecido como lambe-lambe, transformou-se em um equipamento de improviso útil na região, visto que a necessidade de se ter fotos para documentos tem uma relação próxima com os usos da área, e conta com vantagens que atraem mais clientes, quais sejam, o preço acessível e a praticidade. apesar de todos os usos, o movimento de pessoas nessa parcela da avenida não é muito significativo. Nos canteiros centrais, é fácil achar pessoas sentadas nos bancos, envolvidas em conversas animadas ou simplesmente vendo o movimento da rua (Fig.3). a exceção é o canteiro fronteiriço à Praça cívica, onde está o relógio art déco, que se ergue solene em meio a um espelho d’água.

    Figura 3: Bancos do canteiro central da avenida Goiás. Foto: acervo Pesquisa, 2011.

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    6479a próxima faixa está localizada entre a rua 2 e a rua 3. nessa faixa o

    movimento de pedestres começa a se intensificar, trata-se de um trecho rodeado por edifícios mais altos dotados de aspecto moderno. ao contrário da faixa anterior, as casas de empréstimos aparecem com maior frequência e acompanhadas da presença de jovens, que gesticulam, convidam os passantes a entrar, assim como de outros homens trajados em amarelo, anunciando a compra e troca de ouro. em pé, os jovens utilizam-se das palavras para seduzir os transeuntes, acompanhando-os e distribuindo flyers. os senhores idosos, sentados em tamboretes, nada falam, apenas se expõem como tabuletas. tabuletas amarelas. (Fig.4)

    Figura 4: Homens “tabuleta”. Foto: acervo Pesquisa, 2011.

    Da rua 3 até a avenida anhanguera e desta até a rua 4, encontra-se o pulsar mais dinâmico da avenida. esse trecho importante tem como centralidade a Praça do Bandeirante, localizada no cruzamento da avenida Goiás com a Avenida Anhanguera, que abriga um aglomerado de instituições financeiras e o cruzamento dos dois grandes eixos de transporte na metrópole. Dessa praça, que não é uma praça, concentram-se e dispersam-se fluxos que acarretam usos e apropriações diversificados no setor Central de Goiânia.

    nesse trecho, de aglomeração de pessoas, encontra-se um maior número de bancas de lanches e jornais e também um maior número de vendedores ambulantes oferecendo variadas mercadorias e serviços – frutas, doces, livros, bijouterias hippies, picolés, chips para celulares, óculos, correntes, venda e troca de ouro, engraxates, entre outros. esses usos informais proliferam-se em meio a um comércio popular, definido por lojas de utilidades variadas, que vendem desde sapatos e tecidos até produtos de r$ 1,99. (Fig.5)

    a dinâmica nesse trecho é constituída pelo ir e vir apressado dos transeuntes, que se mistura à gritaria de vendedores de chips telefônicos, adicionados à presença constante daqueles uniformizados em amarelo. isso sem contar o

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    6479caos que é transitar em meio àquela multidão e a tentação dos doces e das

    frutas orvalhadas em exposição nos carrinhos ambulantes. É um trecho em que a multiplicidade de acontecimentos induz à reflexão sobre a vida urbana.

    Da Rua 4 até a Avenida Paranaíba, existem instituições financeiras pontuais, e o comércio popular prevalece, abastecido por usos diversificados, localizados nas calçadas, como camelôs, engraxates, bancas, chaveiros, serviços informais prestados – como aferição de pressão arterial –, artesanatos. nesse trecho chamou a atenção um sorridente cantor, que, empunhando seu violão, vendia seus cDs. (Fig.5) a rua é pública, as pessoas são livres para escutar sua música.

    Figura 5: cantor. Foto: acervo Pesquisa, 2011.

    a faixa compreendida da avenida Paranaíba até a Praça do trabalhador serve como um divisor de usos e apropriações da avenida Goiás. a presença de transeuntes nas calçadas torna-se pequena, se comparada às outras faixas, e o comércio surge com novas propostas: existem lojas para conserto de câmeras fotográficas, vendas de roupas ou livros usados, e, pontualmente, encontramos algumas farmácias, uma clínica e uma igreja evangélica, constituindo usos inusitados para a Avenida. Quando se aproxima do final da Avenida, começam a surgir comércios referentes à construção e conserto de automóveis. com a dispersão dos usos, a concentração de serviços informais nas calçadas reduz, quase desaparecendo. nas proximidades do restaurante Popular, abaixo da avenida Paranaíba, é grande o número de usuários nos bancos dos canteiros centrais. nos quarteirões abaixo, esse uso pulveriza-se.

    A cidade das pessoas Ao final, percebe-se que, se a praça é do povo, a rua também o é. A

    heterogeneidade de usos provoca ações correspondentes, e, consequentemente, os movimentos corporais são coniventes. o gesticular dos vendedores de

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    6479dinheiro é diverso do gesticular dos ambulantes que vendem chips ou frutas.

    Cada qual define sua coreografia, que harmoniza com o ritmo frenético dos carros. o menino chupa picolé, a mulher compra no camelô, o homem espera o ônibus. Corpos na cidade. Seus corpos exprimem coreografias nunca ensaiadas, mas vivenciadas. Desse modo, a memória urbana é incorporada ao corpo, numa corpografia (JACQUES, 2006), o registro de sua experiência na cidade.

    Referências

    correio oFFiciaL. Goiânia, n. 3370, p. 4, 19 fev. 1937. arquivo Histórico estadual (aHe).

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    GeertZ, c. A interpretação das culturas. rio de Janeiro: Livros técnicos e Científicos, 1989.

    JacQUeS, P. B. Estética da ginga: a arquitetura das favelas através da obra de Hélio oiticica. rio de Janeiro: casa da Palavra, 2003.

    _____. elogio aos errantes: a arte de se perder na cidade. in: JeUDY, H. P. ; JacQUeS, P. B. (org.). Corpos e cenários urbanos: territórios urbanos e políticas culturais. Salvador: eDUFBa; PPG-aU/FaUFBa, 2006.

    JornaL 4º PoDer. Goiânia, 27 jan. 1964, p. 3. Pasta n. 69. arquivo Histórico estadual (aHe).

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    adriana Mara Vaz de oliveira é graduada em arquitetura e Urbanismo pela PUc-Go, mestre em História pela UFG e doutora em História pela UnicaMP. atualmente é professora adjunta i do curso de arquitetura e Urbanismo da FaV-UFG e do Programa de Pós-Graduação em Performances culturais da eMac-UFG.

    elane ribeiro Peixoto é graduada em arquitetura e Urbanismo pela PUc-Go, mestre e doutora em arquitetura e Urbanismo pela USP. É professora adjunta i do curso de arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de arquitetura e Urbanismo da UnB.