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Estudos Feministas, Florianópolis, 23(1): 312, janeiro-abril/2015 157 Copyright 2015 by Revista Estudos Feministas Cristina Scheibe Wolff Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Maurício Pereira Gomes Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Ponto de vista onto de vista onto de vista onto de vista onto de vista Uma trajetória nos estudos Uma trajetória nos estudos Uma trajetória nos estudos Uma trajetória nos estudos Uma trajetória nos estudos feministas: entrevista com feministas: entrevista com feministas: entrevista com feministas: entrevista com feministas: entrevista com Claire Moses Claire Moses Claire Moses Claire Moses Claire Moses Claire Moses recebeu-me em sua casa em Reston, Virgínia, nos arredores de Washington D.C., em junho de 2011, após termos conversado principalmente por e-mail. Ela acabava de obter sua aposentadoria do Departamento de Estudos de Mulheres (Women’s Studies) da Universidade de Maryland e, ao mesmo tempo, da coordenação editorial da prestigiosa revista Feminist Studies, na qual continua atuando como membro do coletivo editorial. Nesta entrevista, em ritmo de conversa, destaca-se o relato de sua trajetória como intelectual feminista, uma das primeiras a serem contratadas no Departamento de Estudos de Mulheres, seu envolvimento acadêmico, seu ativismo e seu protagonismo na revista Feminist Studies, além de seus estudos sobre a influência da chamada Escola Feminista Francesa, nos Estados Unidos. Claire Moses esteve recentemente no Brasil para participar do Seminário Internacional Fazendo Gênero 10, em agosto de 2013, e, ao mesmo tempo, para conversar com nossa equipe, na Universidade Federal de Santa Catarina sobre o Congresso Women’s Worlds/Mundos de Mulheres, que ocorrerá em Florianópolis, de 30 de julho a 4 de agosto de 2017. Sua trajetória confunde-se com a história dos estudos femi- nistas, a partir dos anos 1960, nos Estados Unidos. Uma trajetória muito diferente das vividas na América do Sul, naqueles tempos marcados pelas ditaduras e por um feminismo que ressurgia na resistência a essas ditaduras. No Hemisfério Norte, tratava-se de

Uma trajetória nos estudos feministas: entrevista com Claire Moses

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  • Estudos Feministas, Florianpolis, 23(1): 312, janeiro-abril/2015 157

    Copyright 2015 by Revista Estudos Feministas

    Cristina Scheibe WolffUniversidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

    Maurcio Pereira GomesUniversidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

    PPPPPonto de vistaonto de vistaonto de vistaonto de vistaonto de vista

    Uma trajetria nos estudosUma trajetria nos estudosUma trajetria nos estudosUma trajetria nos estudosUma trajetria nos estudosfeministas: entrevista comfeministas: entrevista comfeministas: entrevista comfeministas: entrevista comfeministas: entrevista com

    Claire MosesClaire MosesClaire MosesClaire MosesClaire Moses

    Claire Moses recebeu-me em sua casa em Reston, Virgnia,nos arredores de Washington D.C., em junho de 2011, apstermos conversado principalmente por e-mail. Ela acabava deobter sua aposentadoria do Departamento de Estudos deMulheres (Womens Studies) da Universidade de Maryland e, aomesmo tempo, da coordenao editorial da prestigiosa revistaFeminist Studies, na qual continua atuando como membro docoletivo editorial.

    Nesta entrevista, em ritmo de conversa, destaca-se o relatode sua trajetria como intelectual feminista, uma das primeiras aserem contratadas no Departamento de Estudos de Mulheres,seu envolvimento acadmico, seu ativismo e seu protagonismona revista Feminist Studies, alm de seus estudos sobre a influnciada chamada Escola Feminista Francesa, nos Estados Unidos.

    Claire Moses esteve recentemente no Brasil para participardo Seminrio Internacional Fazendo Gnero 10, em agosto de2013, e, ao mesmo tempo, para conversar com nossa equipe, naUniversidade Federal de Santa Catarina sobre o CongressoWomens Worlds/Mundos de Mulheres, que ocorrer emFlorianpolis, de 30 de julho a 4 de agosto de 2017.

    Sua trajetria confunde-se com a histria dos estudos femi-nistas, a partir dos anos 1960, nos Estados Unidos. Uma trajetriamuito diferente das vividas na Amrica do Sul, naqueles temposmarcados pelas ditaduras e por um feminismo que ressurgia naresistncia a essas ditaduras. No Hemisfrio Norte, tratava-se de

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    encontrar espaos de legitimidade para o feminismo, e umdesses espaos foi, sem dvida, a Universidade, como fica muitoexplcito nas palavras de Claire. A revista Feminist Studies nascedesse esforo de legitimao e da necessidade de marcar umlugar para as mulheres e para o feminismo na academia e napoltica estadunidenses.

    Na sua prosa fcil, Claire vai nos mostrando como suavida esteve prxima da histria do feminismo, exemplificandocom dois acontecimentos marcantes em sua jovem carreiraacadmica: ao fazer intercmbio na Frana, participa de umapalestra com Simone de Beauvoir, ou ao ler o livro de Betty Friedan,baseado em pesquisa realizada com ex-alunas da SmithCollege, onde ela estudou.

    Depois de trabalhar para institutos de pesquisa, contratada como a primeira professora para o recm formadoDepartamento de Estudos de Mulheres da Universidade deMaryland, em regime parcial, pois no resto do tempo iria sededicar edio da revista Feminist Studies. Em sua carreira dehistoriadora da Frana ( mestre e doutora em Histria pelaUniversidade George Washington), seus estudos concentraram-se nos movimentos de mulheres francesas nos sculos XVIII e XIX,e, mais recentemente, sobre a leitura estadunidense das autorasque so pensadas como a Escola Francesa do Feminismo.

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    UMA TRAJETRIA NOS ESTUDOS FEMINISTAS: ENTREVISTA COM CLAIRE MOSES

    Cristina Scheibe Wolff (CSW):Cristina Scheibe Wolff (CSW):Cristina Scheibe Wolff (CSW):Cristina Scheibe Wolff (CSW):Cristina Scheibe Wolff (CSW): Quando voc se reconheceucomo uma feminista?Claire Moses (CM):Claire Moses (CM):Claire Moses (CM):Claire Moses (CM):Claire Moses (CM): Boa questo. Eu passei a barreira dos 70anos h uma semana, ento sou de uma poca na qual umprimeiro grupo de pessoas passou a afirmar eu sou feminista.Era o incio da segunda onda, como ns dizemos. Nasci nadcada de 1940, em uma tpica famlia de classe mdia. Comoera comum na poca, meus pais no frequentaram umauniversidade. Apesar de terem nascido em famlias da classetrabalhadora e pobre, durante o perodo de minha infncia,eles foram beneficiados pela grande expanso econmicaocorrida nos Estados Unidos. Quando eu estava no ensino mdio,j era normal as pessoas dessa classe irem para a universidade,de modo que no foi um problema para eles custearem meuingresso na faculdade. Por ler Histria, eu sei que naquela pocano era comum as mulheres irem para a universidade. Eufrequentei a faculdade de 1959 a 1963 e as estatsticas indicamque somente aps os anos 1970 um nmero substancial demulheres passou a ingressar nos estudos universitrios. Eu notinha conscincia disso. No grupo sociocultural em que eu cresci,as mulheres iam para a faculdade e isso tinha uma relao comnossa condio de classe, porque a maioria de minhas colegasde segundo grau foram para a universidade. Isso tambm tinhaalgo a haver com a vida cultural judaica na qual mulheresnormalmente iam para a faculdade assim como seus irmos. Eutambm me lembro que meus pais estavam sempre orgulhososde minhas conquistas acadmicas. Eu nunca ouvi que eu nodeveria ser to esperta ou que eu deveria esconder isso. Eu attenho lembranas de um modo particular de como meu paisorria para mim quando eu falava sobre questes srias duranteo jantar, ele gostava de me ouvir falar daquela maneira. Supu-nha-se que eu me casaria um dia, assim como meu irmo, eningum realmente falava sobre a carreira que eu poderia ter,crescendo nos anos 50. Mas isso era diferente de me encorajar adesenvolver o meu intelecto tanto quanto possvel e de meuspais sentirem orgulho de mim por ser muito bem-sucedida nosegundo grau e por ir para uma faculdade de mulheres de elite.Assim, eu estava na posio exata para o tipo de mudanasque o movimento de liberao feminina tornou possvel, no spor campanhas polticas para ampliar as oportunidades paraas mulheres, mas tambm por pensarmos de maneira diferente. interessante, porque eu fui para uma faculdade que no nosencorajava, necessariamente, a seguir carreira. Mas que nosencorajou.

    CSW:CSW:CSW:CSW:CSW: Qual faculdade?CM: CM: CM: CM: CM: Smith College. Uma das sete irms, como eram chamadasas faculdades de elite exclusivamente femininas na poca. Masa faculdade levou-nos muito a srio como estudantes e

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    intelectuais. Talvez o pensamento da poca fosse que um homemmuito inteligente e bem-sucedido precisaria de uma esposainteligente. Eu no sei bem. Certamente havia um nmerosignificativo de mulheres professoras que eram modelos deconduta para ns, mas a maioria delas no era casada. Entoelas no eram modelos de conduta de maneira completa, jque sinalizavam duas possibilidades de escolha: ou voc seguiauma carreira ou voc se casava. Uma das consequncias defrequentar a universidade naquela poca era adquirir umaexperincia bem diferente dessa do ambiente supercentradona orientao vocacional que as universidades tm hoje. Euera, ns ramos de fato incentivadas a desenvolver a mente,sobretudo em filosofia, histria da arte ou em histria. Pensarprofundamente, mas no termos que nos preocupar se iramosconseguir um emprego de imediato depois de formadas. Umpouco disso tambm era verdadeiro para os homens, porqueera a dcada de 60 e a economia estava em expanso numritmo tal que ter uma graduao em artes liberais de formaalguma era visto como um inconveniente para seguir e desen-volver uma carreira, isso inclusive era ainda mais verdadeiropara mulheres. Ento eu era encorajada a pensar.

    Eu tambm fui trabalhar aps a faculdade e, na verdade,tive um trabalho muito bom em um mundo ainda altamente discri-minatrio. A discriminao contra as mulheres no mercado detrabalho em 1964, 1965 e 1966 era extrema. Eu ainda lembro deir para uma entrevista na revista Time, onde, na realidade, haviaelevadores separados para o andar onde as mulheres eramentrevistadas para empregos femininos na revista. Assim, a discri-minao era extrema, mas no caso dos institutos de pesquisa, adiscriminao contra as mulheres dava-se de forma um tantodiferente. No era to excepcional, eles nos ofereciam excelentesempregos fazendo trabalhos intelectuais muito interessantes esignificantes, mas com baixos salrios. E eles mantinham ossalrios baixos por contratar mulheres em empregos que, emoutros espaos, seriam somente para homens. Os jornais aindatinham anncios para mulheres e anncios para homens. Noera presumido que ns deveramos parar de trabalhar quandocasssemos, mas era presumido que ns deveramos parar detrabalhar quando tivssemos filhos. Eu tive minha primeira filhano exato momento em que todos da mdia estavam focadosneste emergente movimento de libertao das mulheres. Paramim, as duas coisas se sobrepuseram, o nascimento de minhafilha mais velha e a liberao das mulheres. Eu no estavatrabalhando quando tive minha primeira filha, mas frequentavaa faculdade no campo da histria. Na verdade foi uma boaescolha, porque tinha horrios flexveis. Creches eram raras, quaseinexistentes. Eu morava em uma comunidade muito progressistae tivemos, eu tive meu prprio CR Consciousness Raising Group Grupo de Conscincia aqui, e havia outros grupos de cons-

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    cincia na comunidade. Ns frequentemente tnhamos grandesencontros juntas, chamados Reston Womens Liberation(Liberao das Mulheres de Reston). Ns fazamos palestras nacomunidade, mantnhamos um nmero de telefone paramulheres que precisassem se conectar com o movimento ou queprecisassem de ajuda urgente, no caso de estupro ou abusodomstico, etc. E ns tambm estvamos ligadas ao movimentode Liberao das Mulheres de Washington, que ns todaschamvamos naquela poca de guarda-chuva mgico porquereunia Grupos de Conscincia de Mulheres e Grupos de Libera-o de Mulheres de toda rea metropolitana. Assim, podamosfazer protestos maiores em conjunto. Protestamos contra restauran-tes que no serviam s mulheres, marchamos no grande protestode agosto de 1970, promovido pela National Organization forWomen que acabou colocando o tema liberao das mulheresno mapa.

    Tudo isso estava acontecendo. Eu estava na faculdade,mas em algum nvel ainda me questionando. E isso foi durante operodo em que eu estava na universidade, no qual tive minhasduas filhas e voltei meu interesse intelectual para refletir a formacomo eu me realizaria e construiria uma carreira. Devo dizer que,alm dos protestos, etc, nosso grupo tambm criou uma crechecooperada, a primeira em nossa comunidade. E, em seguida,tivemos que enfrentar o preconceito que preponderava nasescolas pblicas, segundo o qual as crianas que frequentavamcreches e jardins de infncia eram abandonadas, agitadas oumal-amadas.

    Na realidade, quando eu estava acabando meu traba-lho de graduao em Histria, o mercado de trabalho em Histriatinha modificado drasticamente. Embora, durante as dcadasde 1940, 1950, 1960, e nos anos iniciais da dcada de 1970,qualquer pessoa com um PhD pudesse conseguir um empregoem uma universidade, de repente, as coisas mudaram e as univer-sidades pararam de contratar. E o mercado de trabalho acadmi-co tornou-se muito difcil.

    A partir dos anos 1970, houve um equilbrio entre a ofertade professores e professoras ps-graduados/as com os empregosdisponveis. Gostaria de frisar que as universidades e os rgosgovernamentais foram os espaos mais abertos s mulhereseducadas, com nveis de empregos no encontrados emqualquer outro campo de trabalho.

    Ento, ns tivemos um grande nmero de mulheres progres-sistas indo para as universidades, com valores feministas quehaviam adquirido nos cursos de ps-graduao. E o grupo doqual eu ainda fao parte era extremamente interessante, formadopor acadmicas feministas. Agora, no me deixe exagerar sobrea quantidade de mulheres que foram para as universidadesnaquela poca, mas posso dizer que a maioria delas, que estoao redor de minha idade e que cursaram universidades, so

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    feministas, eram feministas. Mas de todas as pessoas que forampara as universidades, homens e mulheres, claro que os ho-mens ainda dominavam. Mulheres, mais do que os homens,encontravam-se em situao de porta giratria, na qual se elasconseguissem trabalho como professoras assistentes, elas, maisfrequentemente do que os homens, no obtinham estabilidade.Ou, e isso ainda verdade hoje, se elas conquistassem estabili-dade e eram promovidas para o nvel de associadas, mulheres,mais do que homens, encontravam dificuldades para serempromovidas para professoras titulares. De modo que, ainda hoje,40 anos depois que um grupo de mulheres comeou a entrar emuniversidades, os homens dominam esmagadoramente as posi-es seniores.

    CSW:CSW:CSW:CSW:CSW: E quando voc chegou nos estudos de ps-graduao,voc estava trabalhando sobre as mulheres?CM:CM:CM:CM:CM: Comecei meus estudos de ps-graduao interessada naHistria Francesa, porque era isso que eu tinha feito na gradua-o e estudado na Frana por um ano. Eu estava interessada naHistria Francesa, e no comeo no estava certa sobre meu temade pesquisa. Mas, por causa de meu envolvimento no movimentode libertao feminista (ou liberao das mulheres), decidi estu-dar o movimento feminista francs.

    CSW:CSW:CSW:CSW:CSW: Em que universidade voc estava nessa poca?CM:CM:CM:CM:CM: Na ps-graduao? Eu fui para a Universidade GeorgeWashington, escolhendo-a entre as universidades locais. Eu esta-va casada e meu marido estava trabalhando nessa regio, eeu tinha filhas. Eu no pensava em mim como livre para mecandi-datar a qualquer universidade dos Estados Unidos eescolher a melhor que poderia me receber. De qualquer modofuncionou bem. Mais tarde eu descobri que a Universidade deMaryland provavelmente teria sido o melhor lugar para eu estudarhistria francesa. Mas, se eu tivesse concorrido para aUniversidade de Maryland, eu no teria conseguido o emprego:h uma prtica usual, mas no ilegal, das universidades deno contratarem seus prprios ps-graduados.

    CSWCSWCSWCSWCSW::::: Voc obteve seu PhD nos anos 70?CM:CM:CM:CM:CM: Sim. Quando eu lhe disse o quanto se tornou difcil obter umemprego nos anos 1970, eu j estava trabalhando em minhadissertao e estava extremamente ansiosa sobre o que eu pode-ria fazer no futuro. Eu tive muita sorte por estar em Maryland, queacabou sendo o lugar certo para mim. Elas tinham, recm come-ado um Womens Studies Program (Programa de Estudos deMulheres) em Maryland, em 1975 e 1976. E trouxeram umaprofessora de outra universidade para ser a primeira diretorado Programa, sendo que ela veio com planos ambiciosos deexpanso.

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    UMA TRAJETRIA NOS ESTUDOS FEMINISTAS: ENTREVISTA COM CLAIRE MOSES

    CSW:CSW:CSW:CSW:CSW: Quem era ela?CM:CM:CM:CM:CM: Seu nome era Carol Pearson. Dra. Carol Pearson, e ela veioda Universidade de Colorado. Naquela poca a revista FeministStudies, que j tinha em torno de trs anos, estava equilibrando-se, pois era difcil mant-la sem qualquer apoio institucional. Elaera sediada em Nova Iorque, ou seja, as editoras eram todasnova-iorquinas, pois assim podiam trabalhar juntas. Diante dorisco de fechamento da revista, essas editoras decidiram tentararticular uma rede de apoio, com o objetivo de obter suporteinstitucional.

    Assim, a necessidade de um espao para os estudosfeministas e o desejo de Carol Pearson a nova diretora do Centrode Estudos Feministas de Maryland vieram juntos. Ela foi capazde convencer o reitor da nossa universidade a dar espao paraa revista e tambm de contratar uma docente que teria comoresponsabilidade atuar metade de seu tempo nos cursos debase para um certificado em estudos de mulheres e administraros assuntos da revista na metade restante. Uma docente em tempointegral, no contratada para a revista, mas em tempo integral,no qual poderia supervisionar a Feminist Studies. Isso era julhode 1977, quando eu comecei a trabalhar e a ministrar os primeiroscursos em estudos de mulheres. Meu cargo era em estudos demulheres, em algo com um pequeno oramento chamadoWomens Studies, o que era muito novo, inclusive para nossodiretor que era titular em Estudos Americanos. Isto significava umgrande risco porque ningum tinha imaginado onde eu seriatitular ou o que significava eu ser a nica docente. Eu no era aprimeira escolha e sei que a primeira escolhida recusou porquelhe pareceu muito arriscado. Eu ainda no tinha terminado minhadissertao e eles me deram um ano para terminar. Contratarame disseram: Ou voc termina ou ser despedida. E nesse prazoeu terminei minha dissertao de doutorado, ministrei os primeiroscursos em estudos de mulheres e coloquei a Feminist Studiesfuncionando de novo. Fui responsvel pela primeira edio de1977, que circulou em fevereiro de 1978.

    CSW:CSW:CSW:CSW:CSW: E voc acha que o Ano Internacional da Mulher (1975)teve alguma relao com isso?CM:CM:CM:CM:CM: No, na realidade, eu acho que no. O governo dos EstadosUnidos raramente influenciado por eventos internacionais queno esto sob o seu controle. A esse respeito, eu no acho que foium impulso geral. O impulso foi o Movimento de Liberao dasMulheres, um grupo de mulheres intelectuais que j estavam nauniversidade e que tinham compreendido o importante papelque a pesquisa acadmica deve desempenhar na poltica femi-nista. A poltica feminista criou uma energia e conseguiu criar umconhecimento sobre o que fazer com essa energia. Ns podera-mos caminhar em crculos o resto de nossas vidas dizendo ai dens, ns no somos tratadas de forma justa, mas sem pesquisa

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    e conhecimento no h nenhuma maneira de saber o que jus-to. O que no justo? Quais so as estatsticas que vo demons-trar isso e fazer um case? Quais so as estratgias teis para selidar com isso? Com o que devemos nos preocupar e o que irrelevante? Ento, a pesquisa e o conhecimento, que foram almde um sentido emocional de justia, foram absolutamente cruci-ais para o avano das mulheres. Nesse sentido, os Estudos deMulheres tm sido frequentemente chamados de brao acadmi-co do movimento de mulheres, e eu concordo com isso. Mas seusdesafios e suas atividades so bastante diferentes; muitas vezesboas pesquisas e o crescente conhecimento levaram-nos a umentendimento de que o movimento de mulheres poderia estarindo em uma direo intil, ou ignorando os problemas que es-to abaixo da superfcie. Ento, h responsabilidades muito dife-rentes unindo-se em s um impulso compartilhado, no sentidode melhorar a situao das mulheres.

    CSW:CSW:CSW:CSW:CSW: Mudando um pouco de assunto. Quando voc estava nagraduao, chegou a ler livros como O segundo sexo de Simonede Beauvoir? Ou outras feministas?CM:CM:CM:CM:CM: uma pergunta maravilhosa. A Smith College, onde me formeiem 1963, era uma universidade para mulheres. Estudos feitos nosanos 1970 sobre o perfil das graduadas nas dcadas anterioresindicam que, de modo geral, ns no tivemos uma educaoconscientemente feminista, mesmo porque nunca lemos livrosfeministas.

    Como historiadora da Frana eu no somente lia Rousseau,eu tinha um conhecimento sobre Rousseau que era muito geral.Dez anos mais tarde, quando meus estudos tomaram um rumomais feminista, pela primeira vez eu me dei conta de que Rousseauera antimulheres e se referia exclusivamente aos homens quandoutilizava a expresso todo mundo. difcil explicar para mulheresmais jovens, que foram educadas em um tempo mais sensvel squestes de gnero, como que ns pudemos ser to incentivadasa ler e a pensar criticamente mesmo que tenhamos ido em umadireo que nunca nos encorajou a pensar sobre ns mesmas. Euconheci Simone de Beauvoir, quando passei um ano fazendointercmbio na graduao em Paris, em um programa da SmithCollege. Simone de Beauvoir foi convidada para falar conosco. Eisso foi incrivelmente excitante para mim. Ela, no entanto, no seproclamava feminista naquela poca, ela no falou sobre a impor-tncia do movimento de mudana. Eu tinha acabado de ler, por-que tinha recm aparecido, no O segundo sexo mas, sim,Memrias de uma moa bem comportada, que era a histria desua vida at certo ponto. Foi por essa leitura que eu me identifiqueicomo algum que estava se esforando para ser esperta e ganharprmios. Ela era um modelo de uma alta intelectual a alcanar,mas nada do que ela disse foi no sentido de que ns deveramosnos organizar e fazer mudanas. Esse no era o ponto onde elaestava na poca.

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    UMA TRAJETRIA NOS ESTUDOS FEMINISTAS: ENTREVISTA COM CLAIRE MOSES

    A prxima coisa que me aconteceu, ainda antes do movi-mento de liberao das mulheres, e me influenciou foi A msticafeminina (The Feminine Mystique) de Betty Friedman. Foi publicadono outono de 1963 e o li assim que ele saiu, na verdade foi umbestseller. Eu tinha me formado na Smith College em junho daqueleano. Betty Friedman foi aluna da Smith e A mstica feminina foibaseado em uma pesquisa que ela fez com diplomadas quinzeanos aps a graduao. Ento, eu estava lendo aquele livro sobremulheres quinze anos depois de formadas na Smith, e pensandocomo ser meu futuro?. E, claro, fui influenciada pelo fato de queeu no queria investir em uma espcie de mstica feminina devida. Todas essas coisas foram se acumulando e somente em 1967,1968, 1969 que explodiram na forma de um Movimento deLiberao das Mulheres. Ento, sim, as leituras tiveram um impacto.

    CSW:CSW:CSW:CSW:CSW: E algum a convidou para ir ao primeiro encontro?CM:CM:CM:CM:CM: Ns tnhamos um jornal comunitrio e algum ps um peque-no anncio no jornal: Se voc estiver interessada em grupo deconscincia, venha a esta cafeteria na quarta-feira noite. Euagarrei uma das vizinhas, que era minha amiga e tinha a mesmaidade que eu, e disse vamos nisso. Isso foi o comeo. Estavagrata por viver em um lugar como Reston, que era progressista,mas tambm uma comunidade. Havia um jornal comunitrio,havia pequenos anncios que poderiam aparecer no super-mercado em um quadro de anncios. Eu no estou muito certade como pessoas se comunicam em Washington D.C. que uma cidade muito progressista, mas uma metrpole. Voc sabecomo que a palavra se move? As pessoas tm estudado isto,por sinal, para analisar como este movimento chegou a tal ponto,pois metade do pas parecia estar afetado por ele atravs deencontros em diferentes tipos de grupos, por volta de 1970, 71,72. Como que isso se espalhou to rapidamente e to longe?

    CSW:CSW:CSW:CSW:CSW: E quando voc estava fazendo sua pesquisa para adissertao sobre a Frana, voc foi para l?CM:CM:CM:CM:CM: No, eu no fui. Consegui todas as fontes de que eu precisa-va para a dissertao investigando o que havia nas bibliotecase solicitando-as em microfilmes, pagando para que me fossemenviadas. Mas, quando eu revisei minha dissertao para o livro,passei vrios veres na Frana. Uma de minhas amigas maisprximas era historiadora da Rssia e ela decidiu estudar o movi-mento de mulheres russo. Como estudante de ps-graduao,eu parei de ensinar como professora assistente. Obtive uma mesana Biblioteca do Congresso, ali eu fiz uma amiga muito prximaque estava terminando sua dissertao em outra instituio,escrevendo sobre o movimento feminista italiano. Ningum donosso grupo tinha um orientador que soubesse algo sobre asmulheres e o feminismo; a gerao mais velha no estudou isso.Assim, ns ouvamos umas s outras, ns escrevamos umas s

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    outras, e ns criamos esse grande grupo atravs do pas, comcartas e dividindo informaes. Eu provavelmente conheci todamulher ou todo homem que pesquisavam sobre mulheresfrancesas no sculo XIX e no incio do sculo XX, no pas inteiro,que eram mais ou menos da minha faixa etria.

    CSW:CSW:CSW:CSW:CSW: Essa rede de pesquisadoras transformou-se em umaespcie de organizao?CM:CM:CM:CM:CM: Bem, havia vrias organizaes dentro da Histria queestavam se desenvolvendo em torno daquela poca. Posso citaro Conselho de Coordenao das Mulheres Historiadoras (CCWH)que, at ser institucionalizado, funcionou como um grupo depresso na American Historical Association (AHA). H, tambm, oComit de Historiadoras dentro da AHA.

    E uma terceira instituio, a Berkshire Conference of WomenHistorians (Conferncia Berkshire de Historiadoras), que tem umaprtica muito peculiar e interessante. Costumava ser um encontrode mulheres que eram historiadoras no Nordeste dos EstadosUnidos, onde a maioria das faculdades e universidades de eliteestavam. Elas se reuniam por um fim de semana, em algum hotelou local nas montanhas de Berkshire, em Massachusetts ociden-tal. mais como um grupo social e de amizade, que remonta dcada de 1920. Por volta de 1970, esse pequeno grupo decidiupatrocinar uma conferncia de trabalho no campo da Histriada Mulher. Essa conferncia realiza-se at os dias atuais, a cadatrs anos, e tornou-se muito, muito maior do que o grupo Berkshireoriginal. um grupo com uma base geogrfica que atualmentetem como funo principal o patrocnio desta confernciabastante grande e maravilhosa. Havia outros grupos regionaisque no existem mais, mas que eram realmente importantes nosanos 1970 e 1980, como, por exemplo, na regio de Chicago,na Califrnia e em Washington.

    Essas eram, ento, nossas organizaes de historiadoras.Os Centros de Estudos de Mulheres fundaram uma associaono final da dcada de 1970 (mesmo ano em que eu vim paraMaryland) para os programas interdisciplinares de estudos dasmulheres. Essa associao teve um nascimento, uma infncia euma adolescncia muito difceis, mais vinculados poltica domovimento de liberao das mulheres do que a grupos dehistoriadoras. Teve, ainda, fases muito difceis procurando identi-ficar que formato deveria ter. Eram Estudos de Mulheres, mas ondeestariam todos os lugares de estudos sobre as mulheres? Quantasiniciativas e quantos campos de atuao e estudo deveriamfazer parte da referida associao? Houve muita discusso sobreo que era ou no acadmico ou se era acadmico o suficiente.Esses entendimentos diferentes estavam em guerra uns com osoutros de vrias maneiras. Haveria grupos de identidade deixa-dos de fora? Se tivssemos uma conferncia barata, sediada emum campus de uma universidade fora de um grande centro,

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    UMA TRAJETRIA NOS ESTUDOS FEMINISTAS: ENTREVISTA COM CLAIRE MOSES

    seria muito mais confortvel para as lsbicas, mas muito menosconfortvel para os grupos minoritrios raciais que poderiam seencontrar em algum local do interior, em que os/as negros/as noso apreciados da forma como so nas cidades. Todas essascoisas colocavam as pesquisadoras em guerra umas contra asoutras. Eu diria que s nos ltimos cinco ou oito anos, a NationalWomens Studies Association (Associao Nacional de Estudosde Mulheres) tornou-se mais declaradamente acadmica,orientada pelas universidades, mais confortvel com ela mesmae funcionando muito melhor. Isso realmente importante agoraporque os Centros de Estudos de Mulheres vm crescendo e asmulheres jovens esto conquistando doutorados em Estudos deMulheres; elas no tm espao em associaes de profissionaisem Histria, Literatura, Sociologia e Antropologia, tm que sercontratadas em Centros de Estudos de Mulheres. No futuro, haveruma National Womens Studies Association (Associao Nacionalde Estudos de Mulheres) muito forte, creio eu, por causa delas. Porenquanto, voc est falando com uma historiadora e eu sempretive uma profunda ligao com a American Historical Association.Se voc estivesse conversando com uma das minhas colegas,de outras reas, voc poderia ouvi-la falar de todas as organiza-es que se desenvolvem dentro da American SociologicalAssociation ou da Modern Languages Association. Mas, no futuro,os Estudos de Mulheres tero sua prpria associao forte.

    CSWCSWCSWCSWCSW::::: Voc v conflito entre os movimentos feministas e as acad-micas e estudiosas feministas? Como voc v isso?CM:CM:CM:CM:CM: Essa uma pergunta muito interessante, especialmentequando voc a coloca no contexto cultural dos EUA. Em primeirolugar, os Estados Unidos tm estado nas garras de uma reaode direita desde 1980. At mesmo no curto perodo de tempo,quando ns tivemos um presidente democrtico e uma gestodemocrtica, preponderou um elemento mais conservador dopartido democrtico e foi um momento muito difcil para ativistasfeministas fazerem avanar uma agenda feminista. O espaomais forte para as feministas tm sido nas universidades e naacademia. No final da dcada de 1960 e ao longo dos anos1970, ns costumvamos falar sobre uma comunidade acadmi-ca dividida, agora estamos mais propensas a fazer perguntascomo: Comunidade? Qual a comunidade? No so realmentevrias comunidades? De qual comunidade voc est falando?Ento, ns no pensamos em termos de comunidade, h muitascomunidades. Estamos falando sobre centros de apoio a mulhe-res estupradas e abrigos para mulheres? Estamos falando dasirmandades das mulheres negras? O que exatamente voc estfalando quando usa a palavra comunidade? E isso est sendoultrapassado. Temos de considerar o que as feministas no univer-sitrias pensam porque isso se relaciona com o que os americanosem geral pensam sobre as pessoas nas universidades. E aqui

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    temos que lidar com uma postura anti-intelectual muito difundidana opinio pblica americana em geral, e isso particularmenteferoz nos ltimos 20 anos. H pessoas que seguem essa posturadesde o incio da Repblica dos EUA e dizem que ela persiste aolongo de nossa histria. Mas est realmente muito forte agora. Huma reao incrvel contra os acadmicos, h uma reao incr-vel contra os professores de todos os graus. Voc sabe, ns nocostumvamos culpar os professores pela fraqueza das escolasamericanas, mas hoje h algo acontecendo e as pessoas fazemconexes. Na verdade h uma reao contra os sindicatos.Assim, os golpes desferidos contra os professores esto realmenteatacando os sindicatos de professores, culpando os professores.Tudo isso est acontecendo na direita americana. Muitasfeministas fora da universidade compartilham essa atitude anti-intelectual. Ento voc v um monte de gracejos cutucandopessoas como Judith Butler, fazendo dela a personificao decomo o feminismo acadmico bobo, estpido e irrelevante.Agora, antes de tudo, Judith Butler uma filsofa, especializadaem filosofia europeia, e ela escreve como uma filsofa, assimcomo eu escrevo histria como uma historiadora. Eu no seiquantos americanos esto interessados em mulheres da Franaem 1830. Judith Butler mais famosa do que eu, ento eles nome atacam, eles atacam ela. E ela escreve em uma espcie deprosa densa como Heidegger, Hegel, e outros filsofos escrevem.Ela tambm um ser humano que uma ativista para alm deseu trabalho acadmico. Ela est tomando a liderana, porexemplo, em Berkeley, da luta contra o no investimento em corpo-raes que investem pesadamente em empresas na Cisjordniados territrios ocupados. Ningum fala sobre Judith Butler nessaperspectiva, somente citam seus escritos filosficos, a fim de ale-gar o que est errado com o feminismo. Isso o tpico anti-intelec-tualismo americano. Ento, feministas na academia muitas vezeslevantam a ira daqueles/as que so anti-intelectuais. O outrogrupo que sofre de anti-intelectualismo o dos/as estudiosos/asde humanidades em geral, e um monte de acadmicas femi-nistas esto nas humanidades. E dado o que aconteceu com ocusto da educao universitria no pas, dada a reao contraas universidades por causa disso, em alguns casos pela incerte-za de conseguir um emprego logo aps a faculdade, apenasreas como contabilidade, marketing e as escolas de negciosso prestigiadas. E qualquer um/a que estuda literatura inglesa desprestigiado/a e especialistas em literaturas feministas estoentre esse grupo. Ento voc tem que a fim de responder o quedeve ser uma pergunta simples sobre uma ciso entre asfeministas acadmicas e as ativistas feministas entender todasestas camadas mltiplas que no so apenas sobre o feminismo.

    CSW:CSW:CSW:CSW:CSW: Ento talvez agora voc possa falar sobre a revista FeministStudies. Voc foi a principal editora dela, no ?

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    CM:CM:CM:CM:CM: Sim, por 34 anos. Ns nos organizamos de forma diferenteda maioria das revistas cientficas e eu acho que isso pode teralgo a ver com o fato de que ns comeamos nossa existnciano como uma revista acadmica mas, sim, como um peridicoque pretendia ser intelectual sem ser acadmico. As primeirasedies, na realidade, continham artigos reflexivos, pelo quevou cham-los de intelectuais, mas no eram necessariamenteacadmicos, embora houvesse um ou dois que o eram. O proble-ma de se continuar dessa forma que as pessoas que no esta-vam na academia no tinham tempo para continuar a escreverpara ns, porque os seus empregos no contemplavam a tarefade escrever artigos. Outras escritoras, no acadmicas, que notinham outros empregos, ganhavam seu dinheiro escrevendo ens no podamos pag-las. Por essas razes, nossas potenciaisautoras tornaram-se cada vez mais limitadas s autoras acad-micas, mesmo porque elas, naquela poca, tiveram de comeara publicar com todos os requisitos de publicao acadmica,a fim de obterem reconhecimento em suas universidades e avan-arem em suas carreiras. Essas acadmicas realmente so asnicas pessoas cujo trabalho lhes permite publicar sem serempagas pela revista, j que isso faz parte do seu trabalho e estosendo pagas atravs de seus empregos. E ns, por nossa vez, te-mos que publicar mediante uma reviso por pares (peer review),sria, por tratar-se de uma revista acadmica, altamente conside-rada na academia por pessoas que no so, necessariamente,especialistas em estudos sobre as mulheres ou em estudos feministas.

    Outra caracterstica que permanece em nossa revista odesejo de ir alm da academia na medida do possvel, e tam-bm o ideal de ser administrada como um coletivo democrtico.O que no tpico de revistas acadmicas. Havia um coletivoquando fui contratada para dirigir e administrar os assuntos darevista note a diferena das palavras. No fui contratada paraser a editora-chefe. Ao longo do tempo, como eu me tornei apessoa mais duradoura, no tenho dvidas de que eu poderiater levado a revista numa perspectiva de eu sou a editora-chefee vocs minhas editoras associadas, mas eu sou totalmente,totalmente, comprometida com o trabalho coletivo. Eu acreditonele politicamente, eu acredito que ele funciona melhor, acreditoque isso faz minha vida melhor. Tem sido uma experincia maravi-lhosa no ser a editora-chefe mas, sim, parte de um coletivopara todos os fins editoriais. Eu tenho tido uma maior responsa-bilidade na funo de negcios da revista, e eu realmente gostodisso, sou uma boa administradora, mas mesmo assim eu me re-porto ao coletivo e levo em conta suas recomendaes. Artigoschegam e eu decido para qual editora eu vou envi-lo, mesmosem l-lo. Essa editora lida completamente com o processo dereviso, assumindo, por exemplo, que um artigo vai ser rejeitado.Artigo este que eu nunca li e nem sequer lerei. As cartas de rejeioso escritas pela editora que tratou da reviso, embora eu assine

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    a carta formal, em nome do conselho editorial. Se uma revisoou re-submisso, tratado da mesma forma. Quando h um pe-dido para o artigo ser revisado e ele retorna revisado, ele lidopela maioria das editoras, e, na suposio de sua publicao,haver uma reviso final. Assim, voc pode perceber que nosou eu quem est definindo quem tem poder ou mesmo influnciasobre o que entra na revista. Isso ocorre em um processo derenovao constante de editores, porque as pessoas vm parao conselho e o deixam quando elas desejam. Elas podem ficartanto quanto queiram, mas muito raro que algum tenha aenergia para permanecer por mais de doze anos e muitocomum que saiam depois de cerca de sete anos. Leva algumtempo para aculturar-se na forma como fazemos as coisas. Segui-damente, por causa dessa renovao, novas pessoas estochegando com ideias e redes novas e diferentes para ediesespeciais; as editoras esto fazendo todos os tipos de coisas queso inovadoras e diferentes.

    Uma das formas pelas quais a Feminist Studies diferentede todas as outras revistas acadmicas, incluindo todas as outrasrevistas acadmicas feministas, porque recebe obras de arte eescrita criativa, e isso tem sido feito desde o comeo e eu realmen-te no entendo por que outras revistas no copiam. No todifcil de fazer, executar obras de arte em cor no aumenta signi-ficativamente o custo. Acreditamos fortemente que o trabalhointelectual de uma revista, de um campo de estudos, inclui a es-crita criativa e a arte. Assim, temos uma linda revista porque nstemos arte e escritas criativas maravilhosas, integrando e expan-dindo o trabalho intelectual feminista tanto quanto a pesquisahistrica, ou a crtica literria.

    CSWCSWCSWCSWCSW::::: E como vocs lidam com a interdisciplinaridade? Vocstm quotas para disciplinas?CM:CM:CM:CM:CM: No, ns no temos. Aqui est uma diferena entre o trabalhoque fazemos nos Centros de Estudos de Mulheres, os quais real-mente fomentam o trabalho interdisciplinar, e o trabalho daFeminist Studies que realmente multidisciplinar, em vez de inter-disciplinar. Publicamos artigos com foco disciplinar na FeministStudies. Ns temos o suficiente de uma gama bastante amplade diferentes disciplinas para perceber que cada questo mista, sem nunca pensar em termos de quotas. Muitas vezes rejei-tamos trabalhos disciplinares demasiadamente restritos para ns.A distino que fazemos que tudo o que ns publicamos naFeminist Studies deve expressar o entendimento do seu lugardentro do campo dos estudos feministas multidisciplinares e deveestar conectado s questes que as estudiosas feministas, atravsdas disciplinas, esto questionando. Ao invs de ser de interesseapenas para as historiadoras e falar sobre como isso ou no ,encaixando-se no campo histrico erudito e como ele pode influ-enci-lo, ns queremos saber como isso influenciar as estudiosas

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    feministas, mesmo em outras disciplinas, para que possa ser deinteresse para ns.

    CSW:CSW:CSW:CSW:CSW: O que voc acha que mudou mais ao longo desses anosnos quais voc esteve na Feminist Studies, no campo dos estudosfeministas e mesmo na revista?CM:CM:CM:CM:CM: Bem, claro, o foco mudou regularmente. Poderamos falarnos anos 80 sobre a cultura das mulheres, agncia versus opres-so, argumentos em torno da diferena e do essencialismo etc,que parecem ter desaparecido com o tempo. Agora h muitomais foco na sexualidade e em sexualidades alternativas, nstemos a questo transgnero. Certamente ns temos expandidoo interesse editorial para alm dos EUA para cobrir questesglobais, nacionais ou transnacionais. Estas so as questes queaparecem de forma mais significativa em nossa revista. Nadapode ser publicado se no for sensvel s diferenas raciais esexuais entre as mulheres. Assim, a expectativa de intersecciona-lidade alcanada. O foco na sexualidade e em sexualidadeseu poderia muito bem imaginar mudando no futuro. Eu achoque o foco deste momento. E como o imprio dos EUA teve o seupapel na criao de desigualdades em outras partes do mundo,estamos cientes de que precisamos estar atentas para o queacontece em outros pases. Neste momento ns simplesmenteprecisamos saber sobre o que est acontecendo no resto domundo e da agncia de pessoas que vivem em outras partes domundo.

    CSW:CSW:CSW:CSW:CSW: E voc quer falar um pouco sobre sua prpria pesquisa?CM:CM:CM:CM:CM: Bem, na realidade eu estudo movimentos ativistas feministase eu no uso a teoria do movimento social para faz-lo. Meumaior interesse estudar o movimento ativista, olhar para ainterface entre ideias, intelectuais e organizao, como o queest acontecendo em um determinado lugar e momento vai in-fluenciar a organizao feminista no estabelecimento do que importante, seus argumentos e como eles sero manejados e ostipos de estratgias que sero desenvolvidos. E o inverso, comoas prticas do feminismo vo mudar e modificar o pensamentointelectual e a compreenso sobre as mulheres. Ou seja, a interfa-ce entre a teorizao intelectual e as reais prticas que Marxchamou de prxis. Essa teorizao intelectual, como eu digo,pode ser muito mais do que o pensamento feminista. Eu tambmtrabalho duro para historicizar o que est acontecendo nestemomento e lugar, as questes que esto influenciando as preocu-paes das pessoas. A maior parte do meu trabalho tem sevoltado para o movimento feminista do sculo XIX, que cresceudentro do socialismo, olhando, portanto, para alm das teoriasfeministas desse perodo de tempo e das formas como as feminis-tas estavam se organizando. Eu tambm olho para os outrosescritores socialistas daquela poca. Os escritores socialistas que

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    eram em sua maioria antimulheres, abertamente misginos, pro-curo compreender as formas pelas quais as feministas estavamno s desafiando-os em sua misoginia, mas tambm absor-vendo deles certas maneiras de ver o mundo, em seguida, trans-formando-as em argumentos feministas. No somente questio-nar quais so as organizaes e o que elas esto fazendo. oque elas esto considerando. Por que isso importante? Por queelas no esto priorizando outras coisas? Ainda que o que elasno estejam considerando possa ser importante, h uma razopara que elas no estejam olhando para isso e por que assim?Quais so os parmetros polticos que vo fazer algo possvel ouimpossvel? Todos esses tipos de perguntas. Eu gosto de olharpara estas questes no contexto francs, no sculo XIX, no sporque eu entendo francs e, portanto, posso fazer minha histrianos arquivos da Frana, mas tambm porque est fora da tem-tica da Revoluo Francesa. Gosto de estudar a Frana por estasrazes, isso importa nos Estados Unidos, importa no Canad,Mxico, na Amrica do Sul. H muito mais coisas, alm da Revolu-o Francesa, que definiram uma espcie de agenda para umsculo. Eu tambm tive a sorte de crescer em um lar socialista, emum ambiente socialista. Como tantas feministas do final dos anos60 eu tambm fui influenciada pelo pensamento socialista epela reao contra o domnio poltico sovitico que, afinaltinha falhado com as mulheres, por no libert-las e tambm porvoltar-se contra Marx que, na verdade, no tinha nada a dizersobre as mulheres. Assim, por um lado, eu estava crescendo nesseambiente e, por outro lado, estava reagindo contra ele, e tambmcontra seu anti ou no feminismo, voltando-me para um momentoanterior na poltica socialista, tornando-me muito envolvida naspolticas socialistas utpicas. Havia um mundo pr-anos 1800no qual as ideias socialistas foram ferramentas ricas e incomunspara imaginar futuros diferentes, onde haveria um lugar para asmulheres, para se tornarem muito mais autnomas e ativamenteindependentes. Muitos socialistas diziam coisas misginas ouantifeministas, mas eles no tinham o controle da fala dos outros.Na efervescncia de ideias das dcadas de 1830 e 1840, espe-cialmente na Frana, existiam mulheres ativistas, socialistas daclasse trabalhadora, cujas ideias foram muito mais longe doque jamais imaginou Engels. Engels pegou muitas das ideiasdelas e as utilizou, mas sem a mesma relevncia que elas tiveramem seu momento no tempo.

    Elas foram esquecidas ao longo do tempo e foi sobre elasque eu escrevi. Desconsideradas por duas razes distintas. Umadelas que no eram grandes escritoras. Elas eram da classetrabalhadora, semianalfabetas e quis honr-las e manter vivassuas ideias, mas no necessariamente seus livros. Essa uma ra-zo pela qual elas foram facilmente ignoradas. A segunda razo que o trabalho de Engels foi codificado e canonizado em ummovimento internacional organizado que essas mulheres prece-

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    deram. Ento, temos o grande santo homenageado para sempre,cujas ideias no so to radicais como as das mulheres em suasproposies anteriores. Foi fcil ignor-las porque elas no erammesmo relevantes em seu contexto.

    CSWCSWCSWCSWCSW::::: Talvez essas ideias fossem demasiado radicais para estemovimento da classe trabalhadora?CM:CM:CM:CM:CM: Eu no estou certa. No certo que elas fossem to radicaisna poca. Mas as polticas radicais foram reduzidas em meadosdo sculo XIX e o que ressurgiu foi um mundo mais conservadorcom a represso das revolues de 1848 em toda a Europa. Oque veio de fora, por sua vez, foram todos os tipos de movimentosutpicos experimentais com uma influncia tremenda de seuprprio tempo. No estou certa de que elas eram muito radicais,considerando todos os coletivos populares que brotaram em todaa Amrica do Norte, Amrica do Sul, na Europa, na Rssia e,eventualmente, na Palestina e Israel (no movimento kibutz).

    CSW:CSW:CSW:CSW:CSW: E as ideias delas eram tambm sobre a sexualidade?CM:CM:CM:CM:CM: Sim, todos os tipos de ideias radicais sexuais, contra o casa-mento monogmico, contra o casamento. Todas essas vrias co-munas floresceram e as vrias comunidades e coletivos erammuito radicais sexualmente. Isso chega ao fim ou tem continui-dade na forma de ideias.

    CSW:CSW:CSW:CSW:CSW: s vezes, as ideias re-emergem.CM:CM:CM:CM:CM: Sim, certo, s vezes elas re-emergem em novas situaes, svezes com uma espcie de recuo. Morei durante meio ano emum kibutz israelense muito radical, no final da dcada de 1950,e as crianas eram criadas separadamente. Cada indivduo,mesmo que fosse parte de um casal, tinha seu prprio espaoindividual de vida. Todo o trabalho era feito por todos no kibutz,ningum era contratado.

    Foi em Israel, na Galileia, terra que fazia parte de Israeldepois de 1948 e no atravs da Linha Verde. Hoje, em quasetodos os kibutz de esquerda, crianas vivem com seus pais. No s a agricultura, h fbricas, no membros so empregados,principalmente rabes, israelenses-rabes, h algum elementocoletivo, mas h uma espcie de afastamento do que era maisradical sobre o assunto. Ser que coisas como essas vo re-emergir no futuro? Aposto que elas vo. Mas, em outras palavras,agora mesmo sexualidades alternativas tornaram-se mais conser-vadoras com o movimento gay, colocando sua fora em um mo-vimento pr-casamento, que definitivamente um movimentoconservador. Eu tambm fiz alguns trabalhos sobre o movimentofeminista francs nos anos 1970 e 1980. Neles, meu interesse foimais os mal-entendidos entre franceses e americanos, sobre osconceitos usados por uns e por outros. Em um artigo que se tornoufamoso abordei a concepo que se tem em pases ingleses do

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    chamado Feminismo Francs. Eu gosto desse tipo de olhar paratrs e para a frente entre os pases, analisando esses tipos demal-entendidos que tm no s uma explicao, mas propsitospor trs deles.1

    CSW:CSW:CSW:CSW:CSW: Qual o seu argumento sobre esse debate?CM:CM:CM:CM:CM: Bem, antes de tudo, sempre h trs autoras que so agru-padas: Kristeva, Cixous e Irigaray.2 Para a maioria, elas so asnicas tericas francesas conhecidas nesse pas. Elas so vistascomo um grupo, como se fossem uma escola, quando na realida-de as trs so muito diferentes umas das outras e no h nenhumarazo para estud-las como um grupo, como se estivessem juntasem uma escola de feministas francesas. H algumas coisasque elas tm em comum: uma o uso da teoria psicanaltica e aoutra um certo tipo de essencialismo. Em termos do movimentofeminista na Frana, Kristeva tem sido uma voz muito barulhenta,antifeminista, na poltica francesa. Ela tem um status elevadocomo uma terica literria e tem usado esse status para protestarcontra muitos dos objetivos que feministas tm enfatizado. Quandoela vem para os Estados Unidos, por vezes, chama a si mesmacomo uma feminista porque neste pas feminista no uma palavraruim. J na Frana ela conhecida entre as feministas como algumque tem usado a sua estatura e seu status contra elas.

    Cixous est em uma posio diferente. uma crticaliterria muito importante para o MLF3 (Movimento de Liberaodas Mulheres) e, portanto, difcil cham-la de uma antifeministaporque ela foi fundamental para aquele movimento. No entanto,ela levantou a voz contra o feminismo e foi incompreendida, e euacho que intencionalmente mal-interpretada no passado. Ento,ela criou a imagem de uma mulher forte, rotulou-se como feministae, em seguida, falou contra o feminismo. Isso ainda diferentedo que fez Kristeva. Temos que considerar que na dcada de1970 Cixous estava envolvida em lutas internas do movimentofeminista francs, integrando uma corrente que estava usando apsicanlise de uma forma particularmente destrutiva.

    Ento h Irigaray, que no integrava o MLF, que nunca foiuma ativista totalmente feminista, mas nunca foi uma ativistaantifeminista. Ela uma intelectual, uma terapeuta psicanaltica.H pessoas que a conhecem pessoalmente e tm problemascom ela, mas ela nunca usou o seu status contra o feminismo. Narealidade, tem sido apoiadora em algumas ocasies do feminis-mo, apesar de suas opinies e ditos muitas vezes controversos,como quando props ao Partido Comunista Italiano que defen-desse que os homens ganhassem um salrio suficiente para queas mulheres pudessem ficar em casa.

    Voc pode ver, portanto, diferenas entre os ativismos femi-nistas. Escrevi sobre a resistncia americana aos escritos daque-las trs tericas, muitas vezes rotuladas de feministas francesasessencialistas.

    3 Mouvement de Libration des

    Femmes, a mais importanteorganizao feminista francesa,muito atuante nos anos 1970 e1980.

    1 Sobre isso ver Claire MOSES,1998.

    2 Trata-se de Julia Kristeva,Hlne Cisoux e Luce Irigaray.

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    Mas eu tambm me interessei em saber como essas trsautoras vieram a ser agrupadas em escritos americanos e pas-saram a ser vistas como as tericas feministas francesas. Muitodisso pass agora. Tericas feministas americanas no estomais to interessadas em suas colegas francesas. O artigo, quefoi extremamente importante, republicado em todo o mundo, emalgum momento no tempo eu acho que perdeu a sua importn-cia, pois outras questes so importantes nos EUA agora.

    RefernciaRefernciaRefernciaRefernciaRefernciaMOSES, Claire. Made in America: French Feminism in Academia.

    Feminist Studies, v. 24, n. 2, p. 241-274, Summer, 1998.

    Recebido em 10 de setembro de 2014.Aprovado em 9 de outubro de 2014.

    Transcrio de Jessica CabrejasTraduo e edio de Maurcio Pereira Gomes

    Reviso tcnica de Cristina Scheibe Wolff