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Página1 UniFIAMFAAM Centro Universitário das Faculdades Integradas Alcântara Machado REDAÇÃO E EXPRESSÃO ORAL I Profa. Ana Tereza Pinto de Oliveira JO 2º. SEMESTRE Fevereiro/2012

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UniFIAMFAAM

Centro Universitário das Faculdades

Integradas Alcântara Machado

REDAÇÃO E EXPRESSÃO ORAL I

Profa. Ana Tereza Pinto de Oliveira

JO 2º. SEMESTRE

Fevereiro/2012

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PLANO DE ENSINO: Redação e Expressão Oral I

Curso: Comunicação Social

Habilitação: Jornalismo

Disciplina: Redação e Expressão Oral I

Carga horária: 80 horas/aula

Período letivo: 1º. semestre de 2012

Ementa: Análise crítica de textos voltados ao jornalismo: reconhecimento das

informações explícitas e implícitas e o jogo da linguagem verbal (oral e escrita). Ênfase

na decodificação textual jornalística nas várias mídias e na produção textual

harmoniosa, coerente e gramaticalmente correta.

Objetivos:

Gerais: o aluno deverá ser capaz de:

• entender e valorizar a linguagem verbal, tanto na instância da produção

quanto na da recepção, como meio de organização do pensamento e

instrumento indispensável da comunicação humana;

• valorizar a leitura não apenas como atividade lúdica, mas sobretudo

como recurso de ampliação de vocabulário e de aquisição de

conhecimento.

Específicos: desenvolver no aluno as habilidades de:

• produzir textos orais e escritos de forma clara, concisa, precisa,

objetiva, criativa e correta, sabendo utilizar as possibilidades que a

língua oferece e adequando-as ao contexto sociocomunicativo;

• utilizar-se, com segurança, do instrumental normativo para comunicar-

se, de acordo com a situação, segundo o padrão culto.

Conteúdo:

1 – Apresentação do programa

2 – Revisão de conceitos gerais sobre texto e comunicação

3 – O texto jornalístico em mídia impressa

4 – Concordância verbal e nominal

5 – O texto jornalístico em rádio

6 – Regência verbal e nominal

7 – O texto jornalístico em televisão

8 – Crase

9 – O texto jornalístico em internet

10 – Vícios de linguagem

11 – Argumentação e persuasão

12 – Análise do livro: Linguagem e Persuasão (Adilson Citelli)

13 – Texto informativo

14 – Texto opinativo (editorial, artigo, crônica)

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15 – Aprimoramento textual: concisão

16 – Aprimoramento textual: ambiguidade

17 – Aprimoramento textual: objetividade e subjetividade

18 – Avaliação regimental

19 – Avaliação de segunda chamada

20 – Reavaliação Nota: A ordem dos itens poderá ser alterada devido a intercorrências inerentes à atividade pedagógica.

Metodologia: Aulas teóricas e práticas, envolvendo:

- leitura e discussão de textos selecionados;

- exercícios orais e escritos;

- oficina de criação de textos;

- exercícios gramaticais.

Avaliação:

Avaliação continuada: obtida pela aplicação de diversos instrumentos de

avaliação, visando identificar o estágio de desenvolvimento do aluno e

motivá-lo a avançar no processo de aprendizagem: exercícios orais e escritos,

participação em sala de aula, resenhas, apresentação de trabalhos (3 pontos).

Avaliação regimental (7 pontos).

Bibliografia básica

CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. São Paulo: Ática, 2004.

LAGE, Nilson. Linguagem jornalística. São Paulo: Ática, 2006.

OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto de; BARROS, Edgard de Oliveira. Quem? Quando?

Como? Onde? O quê? Por quê? São Paulo: Plêiade, 2010.

Bibliografia complementar:

ASSUMPÇÃO, Maria Elena; BOCCHINI, Maria Otilia. Para escrever bem. 2. ed. São

Paulo: Manole, 2006.

FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, F. Platão. Para entender o texto. São Paulo: Ática, 1990.

GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1985.

MARTINS, Eduardo. Manual de redação e Estilo OESP. São Paulo: Moderna, 1997.

SQUARISI, Dad; SALVADOR, Arlete. A arte de escrever bem. São Paulo: Contexto,

2005.

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O texto jornalístico Toda produção de texto, oral ou escrito, deve levar em conta os componentes

básicos das situações discursivas em geral: quem fala, para quem fala, com que intenção

e, mediante esses elementos, como fala. De acordo com a nossa intenção, toda a

estrutura do texto se modifica: seleção do vocabulário, extensão da sentença,

organização dos parágrafos etc., pois a cada intenção corresponde um certo gênero de

linguagem.

No jornalismo distinguem-se, dois grandes gêneros: o jornalismo informativo e o

jornalismo opinativo. O fundamento dessa separação está no efeito de produção de

sentido, assim os dois grandes efeitos ideológico-discursivos em relação ao destinatário

são fazer saber e fazer crer. Ao jornalismo opinativo, que trata da valoração explícita

quanto aos acontecimentos, pertencem os gêneros editorial, comentário, artigo, ensaio,

resenha, coluna, crônica e carta; ao informativo, os gêneros nota, notícia, reportagem,

entrevista, serviço, enquete. Em linhas gerais, ao gênero opinativo pertencem a

contestação, a crítica e o questionamento; ao informativo, os relatos de experiências e

fatos.

Texto informativo

ULSAN – Quando menos esperava, o meia Ricardinho, do Corinthians, realizou seu

sonho profissional. Tornou-se o 24º jogador convocado pelo técnico Luiz Felipe

Scolari para a Copa do Mundo da Coréia do Sul e do Japão. O corintiano substituiu o

volante, e até então capitão, Emerson, cortado por causa de uma luxação no ombro

direito. Deve chegar a Ulsan na madrugada de terça-feira, horário do Brasil. Embora

não tivesse a mesma promoção e repercussão de Romário, a ausência de Ricardinho da

lista dos atletas que estariam no Mundial foi bastante questionada. A boa fase no

Corinthians, coroada com duas importantes conquistas – o Torneio Rio-São Paulo e a

Copa do Brasil –, o colocavam como um dos nomes mais cogitados para estar na Ásia.

Pelo time do Parque São Jorge já jogou 252 vezes e marcou 63 gols. (O Estado de

S.Paulo, 3/6/2002)

Texto opinativo

A face da medicina brasileira que temos hoje é tão monstruosa que já provoca o

sentimento de que as doenças seriam menos perniciosas se ela não existisse. Esse

sentimento não tem base científica, mas o fato é que ele existe. Fala-se no mundo todo

em sistemas de saúde e política de saúde, que pressupõem, por definição,

complexidade organizacional, objetivos sociais, estratégias de execução e análise

evolutiva para eventuais correções do curso. Tudo isso sem esquecer o objetivo a ser

atingido. No Brasil, não temos sistema nem política de saúde. Não há objetivo

definido, por isso é fácil esquecê-los. Há uma complexidade desorganizacional que

atende a outros interesses. Centenas de estratégias de execução são realizadas em

microuniversos isolados, mas por não formar um todo coerente acabam antagonizando-

se e anulando-se.(...). No Brasil, opera-se menos da metade dos pacientes que se pode

operar, e opera-se mal. Enquanto isso, há gente que poderia ser salva, mas morre sem

conseguir sequer um diagnóstico. Não interessam ao doente que vai morrer por falta de

socorro médico as razões dessa falta. (Francisco J. de Moura Theóphilo. Veja, ed.

1346)

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A linguagem jornalística

O texto jornalístico visa narrar de maneira objetiva os acontecimentos que

devem ser compartilhados. São textos de caráter informativo, que buscam informar os

leitores sem deixar transparecer a opinião do autor. Apresentam somente os fatos de

maneira impessoal. Mas a famosa “isenção de opinião” para melhor informar o leitor/

espectador/ ouvinte muitas vezes é driblada pelo próprio autor do texto, que usa técnicas

que em jornalismo são chamadas de “notícia dirigida” ou “tendenciosa”.

O lead

O lead (na forma aportuguesada, lide) é, em jornalismo, a primeira parte de uma

notícia, geralmente posta em destaque relativo, que fornece ao leitor a informação

básica sobre o tema e pretende prender-lhe o interesse. Trata-se de uma expressão

inglesa que significa "guia" ou "o que vem à frente".

Na teoria do jornalismo, as seis perguntas básicas do lead devem ser respondidas

na elaboração de uma matéria: "o quê?", "quem?", "quando?", "onde?", "como?" e "por

quê?" (3Q+O+P+C). O lead, portanto, deve informar qual é o fato jornalístico noticiado

e as principais circunstâncias em que ele ocorre.

Já o lead do texto de reportagem, ou de revista, não tem a necessidade de

responder imediatamente às seis perguntas. Sua principal função é oferecer uma prévia,

como a descrição de uma imagem, do assunto a ser abordado.

O lead deve ser objetivo e pautar-se pela exatidão, linguagem clara e simples.

Isso não significa, porém, que o lead deva ser burocrático. O leitor ganha interesse pela

notícia quando o lead é bem elaborado e coerente. Em resumo: quando bem elaborado,

ele incita o leitor a ir até o final da notícia.

A técnica da pirâmide invertida

Ensinada nos cursos de jornalismo e usada como regra nas redações de jornais e

revistas informativas, a técnica da pirâmide invertida surgiu na imprensa norte-

americana no século 19, sendo difundida depois pelo mundo inteiro como uma técnica

para construir-se um bom texto jornalístico. Significa, muito simplesmente, que numa

notícia, depois do lead, todas as restantes informações são dadas por ordem decrescente

de importância, de forma que, à medida que se vai descendo no

corpo da notícia, os fatos relatados se vão tornando cada vez menos essenciais. Pirâmide

invertida, porque, em sua base, aquilo que é noticiosamente mais importante encontra-se

no topo – em ordem muito distinta à que seguem, por exemplo, os estilos literários

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como a novela, o drama ou o conto, que geralmente usam uma linguagem de

desenvolvimento do enredo com começo, meio e fim, em que o final é o ápice da

narrativa.

Como é escrita a notícia?

Não existem fórmulas “amarradas”, mas sim diretrizes, que devem ser seguidas

dependendo do tamanho e complexidade do tema (não do texto, pois um bom texto

jornalístico deve ser o mais claro e elucidativo possível).

Título

Subtítulo (se houver necessidade). O subtítulo é também chamado de linha fina.

LEAD

1º parágrafo

Intertítulo (se houver necessidade)

2º parágrafo

3º parágrafo

Etc....

Quanto ao formato, o texto jornalístico pode ser dividido da seguinte forma:

Artigo – Texto interpretativo e opinativo, mais ou menos extenso, que desenvolve uma

ideia ou comenta um assunto a partir de determinada fundamentação. Geralmente é

assinado por algum articulista, ou jornalista do veículo de comunicação.

Editorial – Texto jornalístico opinativo, publicado sem assinatura e referente a assuntos

ou acontecimentos locais, nacionais ou internacionais de maior relevância. É a

“opinião” do jornal ou da revista, representa seu ponto de vista, sua ideologia e o

próprio modo de fazer jornalismo.

Entrevista – A entrevista é um dos instrumentos de pesquisa do repórter. Com os dados

nela obtidos, ele pode montar uma reportagem de texto corrido em que as declarações

são citadas entre aspas ou pode montar um texto tipo perguntas e respostas, também

chamado "pingue-pongue". Existem dois tipos de entrevista: a de informação ou opinião

(quando se entrevista uma autoridade, um líder ou um especialista) e a de perfil (quando

se entrevista uma personalidade para mostrar como ela vive e não apenas para revelar

opiniões ou para dar informações). Existem também as entrevistas de rotina, ou de

amostragem, quando um grupo é entrevistado para a abordagem de determinado tema.

Matéria – Tudo o que é publicado, ou feito para ser publicado, por um veículo de

comunicação (jornal, revista, rádio, TV).

Notícia – Relato de fatos ou acontecimentos atuais, de interesse e importância para a

comunidade e de fácil compreensão pelo público.

Reportagem – Conjunto das providências necessárias à confecção de uma notícia

jornalística: cobertura, apuração, seleção dos dados, interpretação e tratamento, dentro

de determinadas técnicas e requisitos de articulação do texto jornalístico informativo. O

recurso das “grandes reportagens” (ou reportagens especiais) tem um caráter, além de

jornalístico, documental.

Esses formatos também podem variar de acordo com o público-alvo, como os

leitores dos grandes jornais e revistas e as publicações de empresa (house organs).

Adaptado de: <http://pt.scribd.com/doc/15086770/Texto-jornalistico>.

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A estrutura do texto jornalístico Alfredina Nery

(Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1693u19.jhtm>)

Se a narração é o gênero de redação em que uma história é contada (seja uma

fábula ou uma crônica), com o uso de recursos como flashbacks, suspense, narrador em

primeira ou terceira pessoa, etc., a notícia é o relato do fato, com texto, geralmente,

mais simples, seco. Você vai entender como

funciona.

Você acredita que a notícia que ouvimos

no rádio, assistimos na TV, lemos no jornal

impresso ou na Internet é um fato em si ou é

uma interpretação de um fato? Antes de

responder, observe por alguns segundos a figura

reproduzida ao lado. O que você vê? Uma vaca?

Se você respondeu que sim, a sua resposta

estava quase certa. Não se trata de uma vaca,

mas de uma representação de uma vaca, não é?

Com a linguagem escrita acontece a mesma coisa: ela representa algo, como objetos,

valores, ideias. Logo, a notícia não é o fato em si, mas sim uma interpretação desse fato,

certo?

Analise a pequena notícia a seguir.

Escorpiões assustam Vila São José

Os moradores da Vila São José, no Ipiranga, estão assustados com o grande número de escorpiões que têm sido encontrados na região. Eles também se indignaram com a sugestão de um técnico da Vigilância de Saúde da Subprefeitura do Ipiranga que aconselhou a população a espalhar galinhas pelas ruas para resolver o problema.

Os moradores acreditam que a proliferação tenha começado em um terreno onde havia uma casa abandonada. (Ipiranga News, 28/10 a 3/11/2004)

Assunto

Pelo assunto e pelo nome do veículo de imprensa, percebe-se que se trata de um

jornal de bairro, destinado a uma comunidade particular de leitores - os moradores do

Ipiranga, bairro da cidade de São Paulo.

A estrutura da notícia

Veja que a notícia se estruturou em apenas dois parágrafos. O primeiro –

chamado de "lide" – sintetiza os dados principais: quem, onde, o quê. Se o leitor ler

apenas esse parágrafo, já fica sabendo se quer ou se precisa continuar a ler a notícia. A

leitura de um jornal é seletiva, isto é, o leitor escolhe o que quer ler, por isso não precisa

ler tudo que está escrito no jornal para se informar. É bem diferente da leitura de outros

gêneros, como um conto, um romance, cuja leitura integral é obrigatória para sua

compreensão.

Na notícia do jornal Ipiranga News, os dados do lide são:

quem?: os moradores da Vila São José;

onde?: na Vila São José, bairro do Ipiranga, na cidade de São Paulo;

o quê?: moradores assustados com a quantidade de escorpiões na região.

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O segundo parágrafo "expande a notícia", isto é, dá mais detalhes a respeito do

fato:

os moradores estão indignados com a Vigilância Sanitária da Subprefeitura, que

sugere que eles criem galinhas, como forma de resolver o problema da proliferação dos

escorpiões;

os moradores têm uma explicação para o aumento dos escorpiões: uma casa

abandonada.

Linguagem coloquial

A linguagem do jornal é, preferencialmente, coloquial (próxima à maneira como

falamos). Isso acontece intencionalmente, como forma de se aproximar e se adequar ao

leitor, ao buscar uma comunicação mais eficiente.

Outra característica da linguagem jornalística é sua tentativa de mostrar

imparcialidade, neutralidade sobre aquilo que relata. Veja que o jornalista do Ipiranga

News pretende se mostrar imparcial, apresentando distanciamento do fato. Essa

aparência de imparcialidade é conseguida por:

ausência de enunciados de opinião. Há fatos, acontecidos com outros e que não têm

nada a ver com o jornal, como em "Os moradores também se indignaram...";

privilégio do uso de terceira pessoa ("os moradores", "eles");

não uso de adjetivos que possam dar impressão de subjetividade, de interferência da

opinião do jornalista. Não se admite, por exemplo, uma notícia que fale em um

homem velho, em prédio alto, bairro distante. Para dar impressão de que os fatos são

relatados com a maior precisão possível uma notícia informa, por exemplo: homem

branco, 85 anos; prédio de doze andares; bairro da periferia da cidade de São Paulo

etc.;

a busca de exatidão faz com que se privilegiem os verbos no modo indicativo: "estão

assustados", "têm sido encontrados", "se indignaram", "aconselham", "acreditam",

"tenha começado", "havia".

O que é notícia?

Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

(BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983)

Pode-se perceber que o poema dialoga com a notícia e que o fato – a morte de

uma pessoa – poderia mesmo ser uma notícia de jornal. Mas o que Manuel Bandeira

escreve não é uma notícia, mas um poema em que mostra uma contradição da vida

brasileira: ficar famoso, para alguns, acontece somente quando isso é tragédia...

Agora, voltemos à história do escorpião.

Perigo à vista

Na bonita manhã de sol da segunda-feira, seu Joaquim, morador mais antigo da rua Jurupá, foi comprar pão na padaria. Encontrou-se com Dona Maria que também estava saindo para o trabalho e foram conversando sobre os preços absurdos de tudo, nos dias atuais. No caminho encontraram dois escorpiões, perto

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da casa abandonada, cujo dono havia morrido há muito tempo e, porque o inventário nunca acabava, ninguém conseguia vender ou alugar o imóvel. Esse fato foi motivo para mais conversa sobre ‘o fim dos tempos’ da vida moderna.

Dona Nenê, vizinha de seu Joaquim, quando lavava roupa, num certo dia, também encontrou escorpiões em seu quintal. Foi um alvoroço só… Mas o problema maior foi quando um escorpião picou uma das filhas do seu Agenor. Ele, indignado, na volta do hospital, chamou a Vigilância Sanitária. Os técnicos sugeriram que uma boa forma de acabar com os escorpiões era criar galinhas. Que fazer?

Veja que, embora o assunto seja o mesmo da notícia extraída do Ipiranga News,

não se pode considerar o texto acima uma notícia. A organização textual, por exemplo,

é muito diferente de uma notícia. Vejamos algumas diferenças.

Sequência do texto Linguagem

Escorpiões assustam Vila São José

Do fato mais importante para os detalhes

Objetiva Procurando ser neutra

Perigo à vista

Sequência temporal da narrativa, cujo acontecimento principal está diluído no texto

Detalhada na construção das personagens e do cenário. Cada elemento ajuda a compor o enredo.

Em uma notícia, os eventos não são ordenados por sua sequência temporal como

em uma história, ou seja, o jornalista não tem a pretensão de relatar os fatos na ordem

em que, supõe-se, ocorreram. Os eventos são apresentados pelo interesse, na perspectiva

de quem conta e, principalmente, pelo que o leitor/ouvinte/telespectador/internauta pode

considerar mais importante. É evidente que quem informa faz uma seleção prévia dos

eventos a serem destacados, relatando-os em função do evento principal e da ideologia

do jornal.

Conceito de notícia

Leia o que diz um especialista no assunto:

Notícia: relato de uma série de fatos a partir do fato mais

importante. A estrutura da notícia é lógica; o critério de

importância e interesse envolvido em sua produção é

ideológico: atende a fatores psicológicos, comportamentos

de mercado, oportunidades, etc.

(LAGE, Nilson. A estrutura da notícia. São Paulo: Ática, 1993.)

Por mais que informe ser imparcial, ou que afirme traduzir com exatidão a

veracidade dos fatos, a imparcialidade absoluta numa notícia é impossível, pois o

redator tem que escolher o que vai contar – que acontecimentos, dentre outros, pode se

transformar em uma notícia que venda mais. Determinado "o quê", ainda há "o como",

isto é, como atingir o leitor de maneira mais direta, o que implica uma determinada

seleção de vocabulário, destaque para o tipo de letra, tamanho da notícia, lugar em que a

notícia vai aparecer no jornal, abordagem etc... :

É necessário compreender que o jornalismo não retrata nem cria fatos, e sim

constrói visões dos fatos. O jornal legitima uma opinião sobre os fatos, a depender de

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sua linha editorial, dos leitores que quer atingir. Nesse quadro, a notícia é uma

construção de visões e não os fatos em si.

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Do que depende o bom texto jornalístico? Carlos Maranhão mostra seis elementos necessários para escrever boas matérias.

Marina Piedade

"O jornalista é um ser humano mais ou menos parecido com os outros. Ele é

movido por uma vontade grande de mudar o mundo e atingir a maior quantidade de

pessoas possível." Esse é o perfil que Carlos Maranhão, diretor de redação de Veja São

Paulo, apresentou aos alunos do Curso Abril na noite do dia 11/2/2008.

Ele lembrou que o profissional deve ter sensibilidade para apurar os fatos e

capacidade de escrever bem. Comentou que "grandes jornalistas são repórteres por

formação" e apontou seis itens indispensáveis para o desenvolvimento da boa escrita

jornalística:

1. Talento

Para Carlos Maranhão, é fundamental ter aptidão para a profissão. "É como

desenhar, tocar um instrumento, jogar futebol... Tem que ter jeito". Ele acredita que a

prática pode aprimorar o talento, mas não desenvolvê-lo.

2. Leitura

"Só lendo se consegue escrever bem", mencionou Maranhão. Jornais, revistas da

mesma área em que se trabalha, livros de ficção e não ficção de bons autores de língua

portuguesa são opções válidas nessa tarefa.

Ele recomendou obras de Eça de Queirós, Machado de Assis e Graciliano

Ramos. "Ensinam a estrutura do texto e ajudam a desenvolver a criatividade".

O diretor de redação acrescentou que essa tem de ser uma tarefa básica para o

jornalista. "Tem que arranjar tempo. Do mesmo jeito que se tem tempo para dormir,

tomar banho, namorar..."

3. Pesquisa

"Não se pode tratar de um assunto sem ter familiaridade com ele", pontuou

Maranhão. Além disso, uma pesquisa prévia sobre a pauta evita que se publique algo já

tenha saído na imprensa, comentou o jornalista.

4. Apuração

Dados, estudos, depoimentos... Quanto mais informações houver, melhor ficará

a matéria, de acordo com o diretor de redação.

Ele observou que a intenção não é colocar tudo no texto (muitas vezes não há

espaço para tanto), mas selecionar os aspectos mais interessantes do assunto. "Você vê

onde está a notícia na apuração, não na escrita."

5. Disposição para trabalhar

"A vida inteira escrever será um trabalho penoso. Não se escreve um texto

simples fácilmente."

Para expressar a aridez dessa tarefa, Carlos Maranhão recorreu a pensamentos de

alguns autores:

"Quem escreve fácil é o orador, que recorre a chavões" (Fernando Sabino, cronista

brasileiro).

"Escrever é um trabalho duro. Poucas palavras certas saem na primeira, segunda,

terceira tentativas" (William Zinsser, escritor norte-americano).

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"Tem de escrever, reescrever, reescrever de novo... até o relógio apitar" (Graciliano

Ramos, romancista brasileiro, sobre o tempo de fechamento que orienta o jornalista).

6. Clareza

Segundo Carlos Maranhão, texto bom é texto claro – "não importa se é

reportagem, e-mail, trabalho escolar, placa de trânsito...".

As frases curtas, a ordem direta, o uso de palavras simples e a checagem de

informações ajudam a alcançar esse atributo.

Citando o jornalista norte-americano E. B. White (autor de The elements of

style), o diretor de redação de Veja São Paulo disse que a confusão de ideias não é

apenas um distúrbio da prosa – é um distúrbio da vida.

A NOTÍCIA = 3Q + O + P + C

Grevistas bloqueiam porta da USP e param Marginal

Cerca de 300 alunos e funcionários em greve bloquearam a portaria principal da

USP ontem. Os manifestantes fecharam a entrada às 6h30 e mantiveram o bloqueio por

quatro horas. Depois, se dirigiram em passeata até o prédio da reitoria, que está ocupado

desde 8 de junho.

Às 9h, a Marginal Pinheiros parou completamente, entre a ponte da Cidade

Universitária e a Avenida Afrânio Peixoto. Por volta das 10h30, a CET registrava 32

km de lentidão na zona oeste.

O motivo do protesto de alunos e funcionários é o corte no pagamento de mais

de mil funcionários de São Paulo e Ribeirão Preto por causa da greve que começou no

dia 5 de maio. Em assembleia realizada na tarde de ontem, os grevistas decidiram

aceitar um reajuste de 5%.

INGLESA IMITA DONA FLOR

Como Dona Flor, heroína do romance de Jorge Amado, a inglesa Sarah Pilch

morava com o marido e o amante.

Traçava um no quarto e outro na sala. A brincadeira acabou em morte.

O fogo de Sarah, 27, já era conhecido da cidadezinha de Elsing, na Inglaterra.

Segundo o jornal “The Sun”, ela adorava exibir os seios para os operários que

faziam a reforma de sua casa. Um deles, Kevin Hearle, 23, recebia atenção especial.

Terminada a obra, Sarah alugou um quarto para o rapaz. A baixaria terminou quando

Kevin, num ataque de ciúmes, matou o marido de Sarah.

Andrew Pilch, o marido, trabalhava numa firma de contabilidade. O emprego o

obrigava a viajar muito. Com a casa vazia, Sarah e Kevin faziam a festa. Com o tempo,

porém, as relações entre Sarah e Andrew melhoraram. O amante ficou fulo da vida.

Um dia, Kevin estava na cozinha e ouviu o “fuck-fuck” no quarto do casal. Ele

esperou Sarah descer e disparou: “Como você tem coragem de transar com ele e me

largar aqui, descascando batatas?” Ela respondeu que era hora de Kevin ir embora. “Eu

vou, mas volto pra apagar seu marido”, gritou o amante.

Não deu outra. Uma noite, Kevin esperou Sarah sair pra trabalhar, entrou na casa

e estrangulou Andrew. O caso está sendo julgado no tribunal de Norfolk, Inglaterra.

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(Notícias Populares, 07.07.91, p.5. Apud DIAS, Ana Rosa Ferreira. O discurso da

violência: as marcas da oralidade no jornalismo popular. São Paulo: Cortez, 1996.

p.56/57)

Esta notícia do jornal Notícias Populares, além de escrita em linguagem coloquial,

muito próxima da modalidade oral da linguagem, não utiliza a estrutura da pirâmide

invertida nem responde a todas as seis perguntas do lead (observe que faltou o onde?).

Transforme-a de modo a que possa ser publicada num jornal como a Folha de S.Paulo

ou O Estado de S.Paulo.

Informações para montar notícias (nota de 1500 caracteres). Não se esqueça do

título.

A

– Cinco cachorros que pertencem ao Canil Central da Polícia Militar de São Paulo são

especializados em rastrear explosivos no Brasil. Este é o único grupo no país.

– Após oito anos de trabalho, o cachorro é doado para qualquer pessoa que tenha

condições de cuidar do cachorro.

– “É um trabalho em equipe” – aspas do capitão Daniel Ignácio, comandante do canil da

PM

– Os nomes dos cachorros: Tarzan, Éden, Greta, Iceman e Iceberg.

– O trabalho é diferente daquele feito pelos cachorros que farejam drogas. Eles não

podem enfiar o focinho em qualquer buraco. Há o risco de fazer isso e acontecer uma

explosão.

– A técnica utilizada é a seguinte: o animal fica imóvel e aponta o focinho para o lugar

onde estaria a bomba. Daí os policiais vão até lá fazer a verificação e desmontam a

bomba.

– “Com explosivos, só se erra uma vez” – aspas do capitão Daniel Ignácio, comandante

do canil da PM.

B

– O Metrô vai dobrar sua rede de estacionamentos próximos às estações até o fim de

2010. Setecentos e vinte mil carros por ano poderão deixar de circular pela cidade a

partir de 2011.

– O sistema E-Fácil cobra a partir de R$ 7,10 por dois bilhetes do metrô, CPTM ou

ônibus e pelo estacionamento por até 12 horas, com manobrista. Cada hora adicional

custa R$ 1.

– A zona leste vai ganhar cinco das seis novas garagens.

– Hoje há vagas em quatro estações. Até o fim de 2010, haverá em mais seis locais.

Essas garagens oferecerão 1,5 mil vagas, que serão usadas por 60 mil carros por mês.

– A forma de circulação das pessoas vai mudar na cidade e os estacionamentos ajudam

quem precisa fazer uma parte do trajeto de carro – aspas de Cristina Bastos, chefe do

departamento de negócios do Metrô.

– O cartão é recarregável e funciona como o Bilhete Único, ou seja, o usuário pode

fazer integração entre os transportes em até quatro horas.

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SELEÇÃO DE TEXTOS PARA TIPOLOGIA JORNALÍSTICA

1) Candidaturas são impugnadas depois de teste de alfabetização

da Agência Folha, em Bauru

O juiz eleitoral de Itapetininga, Jairo Sampaio Incane Filho, 38, impugnou 20 dos 80

candidatos a prefeito e vereador das cidades de Itapetininga, Sarapuí e Alambari, na

região de Sorocaba (87 km a oeste de São Paulo).

A impugnação foi motivada pelo fato de os candidatos terem sido reprovados em um

teste de alfabetização realizado pelo juiz, no Fórum de Itapetininga.

Incane Filho disse que fez o texto com base na exigência contida na Lei

Complementar nº 64/90, de 1992, do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), que proíbe

analfabetos de serem candidatos a cargos eletivos.

O juiz afirmou que convocou os 80 candidatos que disseram ter 1º grau incompleto e

mostraram dificuldades no preenchimento dos documentos para o registro de suas

candidaturas.

Os testes com os candidatos foram feitos individualmente. Seus nomes são mantidos

em sigilo. ''Pedi a todos que lessem e interpretassem um texto de um jornal infantil. Em

seguida, pedi que cada um redigisse um texto, expondo sua lógica'', disse.

Segundo Incane Filho, erros gramaticais não foram levados em conta. ''Apenas

observei se o candidato tem condições de entender um texto, pois uma vez eleito, ele vai

ter de trabalhar com leis e documentos.''

A assessoria de imprensa do TRE informou que o tribunal transmitiu uma

recomendação aos juízes para que ''em caso de dúvida'', façam ''um teste de

alfabetização'' nos candidatos. (Folha de S.Paulo, 19/07/96)

2) Analfabetos

O juiz eleitoral de Itapetininga impugnou 20 de 80 candidatos a prefeito ou vereador

das cidades de Itapetininga, Sarapuí e Alambari (interior de São Paulo e relativamente

próximas à capital) pela simples razão de que não conseguiram ler e entender

corretamente um texto publicado em jornal infantil. E isso no Estado mais rico da

União, o que leva a imaginar o que deve ocorrer nas imensas regiões menos

desenvolvidas do país.

Isso significa que 25% dos candidatos testados foram considerados analfabetos.

Erros gramaticais não foram levados em conta, apenas a capacidade de compreensão de

um texto simples escrito.

Parece mais do que óbvio que, sem negar a conquista democrática que representou o

direito de voto para o analfabeto, para exercer funções executivas ou legislativas é

necessário pelo menos poder ler e compreender um texto. De outra forma, quem

exercerá o poder de fato será um assessor sem nenhum mandato eletivo, ou seja, ferindo

o princípio da delegação popular do poder.

Infelizmente, o Brasil está ainda muito longe de atingir os níveis minimamente

desejáveis de erradicação do analfabetismo. Em que pese o sucesso de alguns poucos

projetos isolados, o número de brasileiros que não sabem ler – e isso segundo os pouco

rígidos critérios do IBGE – é pouco inferior a 25%, ou seja, quase um quarto da

população do país.

Como indicam diversos estudos dos mais variados organismos multilaterais, o

investimento em educação é acima de tudo um investimento na melhoria das condições

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de vida do país, seja em termos de produtividade como em termos de desenvolvimento

humano.

O fato de até as pessoas que almejam cargos eletivos como prefeito ou vereador

serem incapazes de compreender o que está escrito num jornal infantil mostra o quanto

o Brasil ainda tem a fazer no campo da educação básica. Revela também o quão imatura

ainda é a jovem democracia brasileira. (Folha de S.Paulo, 22/07/96)

3) Pobre argumento – Clóvis Rossi O argumento mais repetido em defesa do tal CFJ (Conselho Federal de

Jornalismo) diz que existem conselhos similares para advogados, médicos e outros

profissionais e, portanto, deve haver também para jornalistas. Pena que nenhum dos que

usam o argumento parou para examinar se os conselhos similares ao CFJ produziram

bons efeitos.

Não é preciso muita esperteza para perceber que os resultados não são bons, para

dizer o menos. No caso dos advogados, basta lembrar que a grande maioria dos

formados não passa no Exame da Ordem, o que significa que as escolas estão

despejando no mercado profissionais com imenso déficit de formação.

Pior ainda: alguém aí é capaz de dizer que a administração de justiça no Brasil é

minimamente eficiente, elogiável, louvável? Ou, posto de outra forma, a existência de

um conselho semelhante ao proposto CFJ nem chegou perto de defender a sociedade no

seu direito à justiça.

No caso dos médicos, já está entrando em debate a criação de um exame similar

ao feito pela Ordem dos Advogados do Brasil, o que evidencia que há desconfianças

também em relação à qualidade da formação desses profissionais.

E, de novo, é escandalosamente óbvio que o direito à saúde não é exatamente

uma característica do Brasil. Ou, posto de outra forma, a sociedade não está sendo

defendida pelo fato de existir um conselho que supervisiona os médicos.

Seria preciso um grau de presunção fenomenal para supor que, no caso do

jornalismo, o CFJ faria o que os conselhos das outras profissões não fizeram ou, no

mínimo, não puderam evitar.

Tanto quanto o direito à saúde ou à justiça, o direito a uma informação veraz só

será alcançado se e quando a própria sociedade for vigorosamente atrás de cada um

deles.

Estruturas burocrático-corporativas podem até ter a melhor das intenções, mas os

fatos provam que não defendem nem os profissionais nem a sociedade.

(Folha de S. Paulo, 11/08/ 2004)

4) CRIANÇAS TAMBÉM LIDAM COM DROGAS

Menino de 5 anos disse que Polícia procurava ‘bagulho’ em sua residência

Belém Um menino de cinco anos de idade surpreendeu a professora no mês passado ao

dizer que tinha um segredo para contar. Ela imaginou que fosse uma brincadeira e pediu

que o menino falasse.

“Sabe tia, o meu pai foi preso. A polícia chegou lá em casa e quebrou tudo, até o

meu brinquedo. Fiquei com muita raiva e queria dar um soco na polícia. Eles

procuravam o ‘bagulho’, mas não acharam. O ‘bagulho’ estava embaixo da TV, mas

eles não viram”, disse a criança.

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A professora achou que pudesse ser imaginação do aluno e perguntou se ele

havia sonhado com aquela história. O garoto, então, respondeu que não e garantiu ser

tudo verdade.

Quem toma conhecimento dessa história, até duvida da veracidade da narração.

Mas a professora garante que tem fundamento, já que conhece o histórico de vida dos

pais e também devido à riqueza de detalhes relatada pela criança. Por exemplo, quando

o menino falou que a polícia estava atrás do ‘bagulho’, a professora perguntou do que se

tratava. Para explicar, ela lembra que o menino pegou uma folha do seu caderno,

desenhou um quadradinho e disse que o ‘bagulho era um pozinho branco colocado no

meio do quadrado e depois amarrado com um fio’. Logo, a professora deduziu que o pó

ao qual o menino se referia, provavelmente, fosse cocaína.

Surpresa A professora afirma ter ficado tão surpreendida com essa situação que não

respondeu nada ao aluno. Ela procurou a direção da escola para relatar o problema.

“Pensei em falar com a mãe dele, mas ela é muito difícil e poderia bater nele.

Então, decidi conversar com a supervisora da escola, porque temos trabalhos de

prevenção às drogas na escola, mas não para uma turma da educação infantil”, explica.

A professora lamenta que essa situação tenha ocorrido com uma criança: “Uma questão

é a família estar nesse meio (das drogas), a outra é uma criança com cinco anos

vivenciar isso. Eu fico triste, mas me acho impotente para agir e ajudá-lo”.

O caso relatado é um dos retratos da relação entre drogas e o ambiente escolar. No

entanto, o mais comum é o envolvimento direto de adolescentes com uso de

entorpecentes. Uma pesquisa feita em 2004 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre

Drogas Psicotrópicas (Cebrid) ouviu 1.558 estudantes do ensino fundamental e médio

das redes municipal e estadual de Belém. De acordo com os dados levantados, 19,5%

dos estudantes de 13 a 15 anos consumiram drogas naquele ano. Não foi considerado o

uso de álcool ou tabaco.

Segundo o professor Raul Navegantes, cientista político e especialista em

violência, a escola corresponde ao contexto no qual ela se encontra. “Normalmente,

imaginamos que a escola seja um mundo isolado, onde tudo é diferente dos muros que a

separam da rua. Não é assim. A escola reproduz lá dentro o que se passa fora, na

sociedade”, ressalta. Para ele, seria muito artificial se fosse o contrário. “Estudantes

levam para dentro da escola a mesma coisa que professores levam, a mesma coisa que

os demais servidores da escola levam, ou seja, tudo aquilo que trazem da sociedade”,

explica o professor.

Preparo Na opinião de Navegantes, as instituições de ensino devem preparar-se para

receber esse mundo de fora. Ele deixa claro que as escolas, e sobretudo o Estado,

precisam perceber que a sociedade mudou e que o ambiente escolar hoje não pode ser

igual ao de 25 anos atrás.

Ao longo desse tempo, segundo o cientista político, a mudança maior foi da

família, que era o ambiente de convívio, de acompanhamento do jovem e que fazia a

intermediação entre a infância, a adolescência e a maturidade. Com isso, ressalta

Navegantes, a família deixou de ser a maior aliada da escola e transferiu à instituição o

papel que lhe cabia. “Como os pais trabalham e não têm mais tanta dedicação à família,

a convivência familiar com o jovem desapareceu, repassando para a escola o seu papel

de orientá-lo”, destaca.

Prevenção Em geral, os especialistas apontam que as primeiras experiências com drogas

ocorrem no ambiente escolar, por causa da relação de amizade e companheirismo que

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crianças e adolescentes mantêm entre si. Por esse motivo, ressaltam que a prevenção é a

melhor alternativa para lutar contra o uso de entorpecentes nas unidades escolares.

(O Liberal, 20/10/2008)

5) MULHERES NUAS FORA DA CAPA

BILD, o jornal mais vendido da Alemanha (4 milhões de exemplares por dia)

decidiu retirar as imagens de mulheres seminuas da primeira página. A mudança

atendeu a pedidoa das leitoras. As fotos passarão a ser estampadas na página 3 do

jornal.

6) FILME EXIBE AS RAÍZES DE SÉRGIO BUARQUE Cassiano Elek Machado

Enviado especial da Folha ao Rio

Quase todas as acepções da palavra raiz ajudam a ilustrar o que é o filme Raízes

do Brasil, cinebiografia sobre Sergio Buarque de Holanda (1902-1982) realizada por

Nelson Pereira dos Santos.

Um dos intelectuais mais robustos da terra, o historiador e sociólogo paulistano

poderia render centenas de rolos de 35 milímetros de debates sobre os desdobramentos

de sua bibliografia. Mas não é para essas folhagens que o principal cineasta em

atividade no país apontou sua câmera.

O filme, que tem pré-estreia hoje em São Paulo, na Sala Cinemateca, toma outra

“árvore” como base, a “árvore genealógica”. É por meio de depoimentos da vasta

descendência de Buarque de Holanda que Raízes do Brasil busca retratar seu

personagem.

Pereira dos Santos, 75, conta que queria mostrar aspectos pouco conhecidos (e

não desimportantes) do intelectual, considerado unanimemente um dos principais

“intérpretes do Brasil”, ao lado de Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior e outro punhado

mais.

Os depoimentos dos sete filhos (Miúcha, Sérgio, Álvaro, Chico, Maria do

Carmo, Ana Maria, Maria Cristina) e da maior parte dos netos ajuda a mostrar “a parte

oculta de qualquer coisa enterrada, cravada, embutida ou fixada em outra”, como (o

dicionário) "Aurélio" (primo distante de Sérgio) define raiz.

Poucos sabem que o autor dos clássicos Visão do Paraíso (1958) e do hit Raízes

do Brasil (1936) gostava de ler o gibi Luluzinha, que ocasionalmente “puxava fumo”,

que não usava roupas marrons, que cantava tango em alemão e que “adorava fofocas”,

como afirma o filho Chico, é, Chico Buarque de Holanda (que conta história do pai

sobre uma remessa por correio do “pentelho de Duque de Caxias”).

Esses e outros tantos “temperos” do documentário não chegam a ser acessórios.

Ajudam a retratar um “germe, princípio, origem” (mais uma vez o velho “Aurélio”) do

intelectual.

Quem o explica, no filme, é o crítico Antonio Candido, que deve falar hoje na

pré-estreia. “Era um erudito inclinado à molecagem”, opina Candido, ressaltando a

consciência de Sérgio Buarque do “dever intelectual”, mas com a “qualidade da

molecagem de 22”. Mostrava que “seriedade está ligada à alegria”.

O outro lado da moeda, o aspecto “trombudo”, também sai do solo. Filhos e

netos contam como o patriarca ficava plantado ad infinitum no seu escritório, com a

cara enfiada nos fartos livros.

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Com a palavra Chico, mais uma vez. “Eu me lembro de vê-lo andando e me

surpreender que ele andasse”, recorda, com o olhar do garoto, que “passava e via aquela

pessoa com óculos na testa”.

O cantor e compositor, que diz só ter tido acesso ao escritório do pai depois dos

20 anos (acesso que era vetado a todos os outros filhos, com exceção da “queridinha”

Ana, apelidada de Baía), lembra dos livros “cobrindo tudo, fechando a janela para

sempre”.

Chico afirma que o pai “não gostava muito de criança”. O que não transparece

nos depoimentos emocionados dos netos do intelectual, cada um deles dono de um

exemplar de "Raízes do Brasil" autografado pelo “Papyotto”, como todos eles chamam

o avô.

Uma das netas, a atriz Silvia Buarque, filha de Chico, é quem dá voz ao livro

clássico do vovô.

Se a primeira parte toda do filme de Nelson Pereira dos Santos é centrada na

conversa com a família, a metade subsequente se nutre de uma cronologia alentada da

vida do biografado, toda ela entremeada por trechos de Raízes do Brasil declamados

pela atriz.

Esses 72 minutos finais (que levam o filme aos seus fartos 146 minutos) trazem

à tona outro dos sentidos cravados no fundo da terra do substantivo “raiz”.

“Essa parte do filme mostra como Sérgio foi radical, no sentido de ter sido um

intelectual que nunca fez concessões”, opina a crítica literária Beatriz Resende, que

assistiu à primeira exibição do filme, na sede da Petrobras (patrocinadora do

documentário), com o diretor do filme e familiares presentes.

Ausência mais sentida nessa “première” do filme foi sua estrela maior. Maria

Amélia, hoje com 94 anos, viúva de Sérgio, dá os depoimentos mais bonitos do

documentário. Nem a primogênita, a cantora Miúcha (corroteirista do filme), segura a

emoção. Enquanto a mãe fala na tela, na “plateia” ela chora e balbucia “Ah, mamãe”.

Como testemunha Candido, Maria Amélia esteve na raiz da força intelectual de Buarque

de Holanda, o “homem cordial”, que agora todos conhecem melhor.

O jornalista Cassiano Elek Machado viajou a convite da Petrobras (Folha de S.Paulo,

13/08/2004)

Para saber mais: http://sergiovilasboas.com.br/ensaios/arte_do_perfil.pdf

7) Como ser feliz

Matthew Shirts

Todo sábado, logo cedo, empresto o carro da minha mulher e levo o nosso filho,

Sammy, de 8 anos, para jogar futebol na escolinha, na Lapa. Descemos a Avenida

Sumaré, atravessamos a ponte e entramos na Marginal Tietê em direção ao Rio

Pinheiros. Passamos em frente ao Estadão, por baixo da Ponte Júlio de Mesquita Neto,

e, ao avistar a gráfica da Editora Abril, indico sempre o prédio onde é impressa a revista

que edito, a NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL. Por vezes, antes mesmo de eu

formular a frase, Sammy diz: “Já sei, papai”, meio entediado.

Sábado passado não foi diferente. Mas, ao deixar para trás a Ponte Júlio de

Mesquita, o moleque me avisou que a Avenida Pompeia estava fechada para obras

naquele dia. Saiu-se, ainda, com a seguinte recomendação:

— Você precisa se lembrar de não pegar a Pompeia na volta, papai.

— Sammy, você pode me ajudar a lembrar? — respondi.

— Não, papai.

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— Não!? Como assim!? Por que, não, filho?

— Porque estarei pensando nos melhores momentos do meu jogo de futebol.

Tive de dar risada. Era a única reação possível da minha parte. Achei curioso

alguém, ainda mais uma criança, planejar o que pretendia pensar dali a duas horas.

Como se não bastasse, o planejamento previa um devaneio a respeito de um jogo de

futebol. Contei a história para minha mulher, Luli, ao chegar em casa. Mas ninguém deu

mais do que outra risada. Ficou nisso a história.

Até uns dias depois, quando fui ler a primeira Harvard Business Review de

2012. Para quem não sabe, é uma revista de negócios, como a EXAME. Essa edição é

dedicada à “felicidade”. Pode parecer um tema estranho ao mundo empresarial, mas há

pesquisas fascinantes na área. A chamada da capa é: “O valor da felicidade:como o

bem-estar dos empregados gera lucro”.

A pesquisa mais original relatada na HBR, como é conhecida a revista, vem

sendo feita com 15.000 pessoas em 83 países através de smartphones. O pesquisador,

Matthew Killingsworth, meu xará, pergunta em intervalos aleatórios sobre o humor dos

participantes. Cada um responde na hora em uma escala que vai de “péssimo” a “ótimo”

e diz o que está fazendo (de uma lista de 22 atividades).

O melhor humor acontece durante o sexo. Não chega a espantar, mas me

perguntei se o povo para no meio para responder à pesquisa.

O achado mais inesperado talvez seja o impacto dos devaneios no humor das

pessoas. Descobriu-se que a mente humana desvia do foco durante quase 50% do

tempo. Esses desvios, segundo o xará, tem uma influência forte sobre a felicidade. A

sugestão do pesquisador é um planejamento mental mais elaborado. “Ao acordar sábado

de manhã”, escreve, “deveria se perguntar não só ‘o que vou fazer hoje’, mas ‘o que vou

fazer com minha mente’.” Controlar seus devaneios é uma das maneiras mais eficientes

de aumentar a felicidade, afirma. Outras sugestões incluem fazer exercício

regularmente, ganhar dinheiro (até certo ponto) e, ao que parece, casar. Mas há

controvérsias a respeito deste último (não adianta trocar de marido ou mulher toda hora,

por exemplo).

O artigo me fez pensar no Sammy. Aos 8 anos, ele já faz esse planejamento

mental. Onde será que aprendeu isso? Não foi comigo, garanto.

Talvez seja um exemplo da evolução darwiniana da espécie. Sabemos que o

homem é cada vez menos violento. Talvez tenha aprendido a ser cada vez mais feliz

também.

(Vejinha São Paulo, 01/02/2012)

8) PF liga vazamento atual da Chevron ao de 2011 e vê risco de novo

acidente

Delegado de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico dá como certo o vínculo

envolvendo perfurações da Chevron; não está descartada a hipótese de que causas

naturais estejam ligadas ao vazamento no dia 4, em fenda de 800 m de comprimento

Sabrina Valle e Clarissa Thomé

O último incidente no bloco operado pela Chevron no Campo do Frade pode estar

relacionado ao vazamento de 2,4 mil barris de óleo em novembro de 2011 e

representar riscos de um novo e grande vazamento, de acordo com especialistas e

técnicos envolvidos nas investigações.

O delegado de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da Polícia Federal, Fábio

Scliar, dá como certo o vínculo. A petroleira alega não ter encontrado relação entre os

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dois incidentes. Porém, a hipótese de que o reservatório apresente problemas de pressão

e haja risco é uma das mais fortes possibilidades na investigação.

"Essa perfuração deve ter causado uma hecatombe em volta do poço, com uma

série de microfissuras. E o óleo está pressionando para sair", disse Scliar. Técnicos da

Agência Nacional do Petróleo (ANP), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Petrobrás também investigam a origem do

óleo que escapou, mas os relatórios não foram concluídos.

Não está descartada a possibilidade de que as borbulhas de petróleo que

surgiram no dia 4 em uma fenda de 800 metros de comprimento, a três quilômetros de

onde ocorreu o vazamento de novembro, tenham causas naturais. A Chevron diz ter

coletado apenas cinco litros de óleo.

No entanto, ganha força a hipótese de que um erro da empresa americana tenha

provocado problemas de pressão no reservatório, com o petróleo procurando agora

novos caminhos sob a terra para aflorar. Avaliações preliminares do Ibama também

apontaram para um efeito de causa e consequência. Se comprovada essa tese, há

possibilidade de condenação criminal pela Justiça, e não apenas autuações e multas por

parte do Ibama e da ANP.

"Mas seria necessário provar que houve negligência, imperícia ou imprudência,

que são os elementos formadores da culpa ou dolo", disse o advogado especialista em

Direito Ambiental Carlos Maurício Ribeiro, sócio do escritório Vieira Rezende.

Segundo Scliar, a empresa pode ter falhado ao escolher o local da perfuração. "Não me

surpreende (o vazamento). Robustece a tese de que o poço não poderia ter sido

perfurado ali, numa formação rochosa mais recente e, portanto, mais frágil", diz Scliar.

Como considera que os vazamentos estejam interligados, a PF manterá o

inquérito aberto em novembro, que está no Ministério Público para avaliação. O MP

pode posteriormente oferecer uma denúncia, que seguiria para a Justiça. A Chevron

também poderá ser autuada por não ter comunicado imediatamente a ANP sobre o

incidente, registrado inicialmente no dia 4, mas notificado quase dez dias depois.

As falhas de divulgação podem chegar a detalhes geológicos, como um

afundamento do terreno próximo ao poço, que teria sido informado ao Ibama e à ANP

depois de ter sido divulgado pela imprensa internacional.

Nova medida. O procurador da República em Campos, Eduardo Santos, responsável

pelo inquérito que apura o acidente de novembro, disse que "estuda uma nova medida"

de eventual punição à empresa, que seria pedida à Justiça. "A fenda pode ter sido

causada ou precipitada pelo excesso de pressão. Não se sabe que quantidade de óleo há

nessa rocha." A Chevron não está autorizada a perfurar novos poços nem a injetar água

no campo de Frade desde o último acidente./COLABOROU FELIPE WERNECK

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(O Estado de S.Paulo, 17/03/2012)

17/03/2012 - 11h49 (UOL Notícias)

9) Detectada mancha de óleo de 1km do vazamento da Chevron

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Rio de Janeiro, 17 mar (EFE) – A Marinha detectou neste sábado uma tênue mancha de

óleo com cerca de um quilômetro de extensão no Oceano Atlântico, após o vazamento

anunciado na quinta-feira pela companhia petrolífera americana Chevron.

A mancha está a 130 quilômetros do litoral do estado do Rio de Janeiro, na região do

Campo de Frade, onde aconteceu o vazamento, causado por uma rachadura no fundo do

mar, atestou comunicado conjunto da Marinha, da Agência Nacional do Petróleo (ANP)

e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama).

O vazamento foi identificado a três quilômetros de distância do poço da Chevron que

teve de ser selado em novembro após o vazamento de 2,4 mil barris de petróleo.

As autoridades anunciaram que no começo da próxima semana haverá uma reunião para

avaliar os danos ambientais e coordenar as ações de resposta.

O Ministério Público Federal se pronunciou na sexta-feira que pretende apresentar

denúncia penal contra os responsáveis da companhia americana pelo derramamento

desta semana e pelo de novembro.

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A empresa já é alvo de diversas multas e enfrenta processos que pedem a cassação da

licença de operação no Brasil, além do pagamento de inúmeras indenizações.

Ao divulgar o recente derramamento, a Chevron comunicou que vai suspender

temporariamente a produção de petróleo no Campo de Frade, que fica na Bacia de

Campos, região de onde é extraído cerca de 90% do petróleo do Brasil.

Por dia, a Chevron retirava 61,5 mil barris de petróleo do Campo de Frade, que tem

reservas estimadas entre 200 e 300 milhões de barris de petróleo recuperáveis.

A companhia americana é a operadora do projeto, com 51,74% das ações. O restante é

dividido entre a Petrobras, com 30%, e o consórcio japonês Frade, com os 18,26%

restantes.

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DISCURSO DIRETO E INDIRETO

Discurso direto: reprodução literal das palavras do entrevistado. É o caso da entrevista

pingue-pongue e da inserção (entre aspas) de declaração de alguém.

Discurso indireto: em vez de reproduzir a fala do entrevistado, o jornalista conta o que

ele disse (sem aspas), usando para isso verbos dicendi, que se distribuem em oito áreas

de significação:

1) de dizer: afirmar, declarar;

2) de perguntar: indagar, interrogar;

3) de responder: retrucar, replicar;

4) de contestar: negar, objetar;

5) de exclamar: gritar, bradar;

6) de pedir: solicitar, rogar;

7) de exortar: animar, aconselhar;

8) de ordenar: mandar, determinar.

Variar os verbos dicendi impede que o texto se torne repetitivo. Cuidado, no entanto,

com modismos. Leia uma lista de verbos dicendi sugerida por Eduardo Martins no

Manual de redação e estilo OESP, verbete DIZER.

Substitua, oralmente, os verbos dicendi nesta notícia.

McCain admite derrota eleitoral e parabeniza Obama

O senador John McCain admitiu nesta madrugada sua derrota eleitoral e

parabenizou o rival Barack Obama pela vitória na corrida pela presidência dos EUA.

Durante o discurso em Fênix, no estado do Arizona, McCain disse que o povo

americano "falou claramente", sobre a vitória de Obama. O candidato derrotado à

presidência americana disse que ligou para Obama para parabenizá-lo pela vitória.

McCain disse que Obama inspirou as pessoas, que tiveram pouca esperança

sobre seu papel nas eleições para votar, "em especial para os afro-americanos".

"A américa é uma terra que oferece oportunidade para aqueles que procuram (...) Não

há razão para os cidadãos americanos deixarem de cumprir seu papel", disse.

McCain citou a avó de Obama, que morreu na última segunda-feira: "Ela deve

estar muito orgulhosa do que o homem que ajudou a criar alcançou".

"Esses são tempos difíceis para o país, espero que todos os americanos que me

apoiaram ofereçam apoio para unir as diferenças e restaurar o nosso país, para deixá-

lo melhor do que como o herdamos", disse McCain enquanto era vaiado pela

multidão.

Ele disse que o sentimento de desapontamento é "natural", e assumiu a culpa

pela derrota. "Lutamos o máximo que pudemos, a falha foi minha e não de vocês",

disse o senador.

McCain agradeceu a família, os filhos e os amigos pelo apoio. "As campanhas

são mais difíceis para a família, do que para o candidato", disse ao afirmar que

esperava dias de paz.

No fim do discurso, McCain agradeceu ainda a vice Sarah Palin pela

participação na campanha. "Uma voz expressiva dentro do partido, no Estado do

Alasca [onde Palin é governadora] e pela incansável dedicação à causa", disse.

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TEXTO I:

“O verbo dicendi é tão importante que, ao trocá-lo, você pode virar uma declaração pelo

avesso. Por exemplo:

“Sou inocente”, disse.

“Sou inocente”, esclareceu.

“Sou inocente”, insistiu.

“Sou inocente”, alegou.

“Sou inocente”, mentiu.

Neutro, simples e direto, o verbo dizer costuma ser o melhor na maioria dos casos. Seu

emprego constante, entretanto, deixa certos textos frios e monótonos. Para fugir da

mesmice, socorra-se na riqueza vocabular da língua portuguesa. Mas consulte o

dicionário quando tiver dúvidas sobre o sentido preciso do termo.

Escolhido o verbo, veja se ficou claro quem disse o quê. Esse cuidado elementar é

muitas vezes negligenciado.

Numa declaração mais longa, facilite a vida do leitor. Identifique o autor antes de abrir

aspas ou logo depois da primeira frase — não ao final da última.

Escreveu o jornalista Lago Burnett: “Bom jornalista é aquele que, além da informação,

possui condições de transmitir essa informação em linguagem acessível ao mercado

comprador. Para isso, ele deve ter tido no passado e precisa manter no presente um

contato íntimo com os bons autores”.

ou “Bom jornalista é aquele que, além da informação, possui condições de transmitir essa

informação em linguagem acessível ao mercado comprador”, escreveu o jornalista Lago

Burnett. “Para isso, ele deve ter tido no passado e precisa manter no presente um

contato íntimo com os chamados bons autores.”

Nas declarações com duas ou três frases, dispense o segundo verbo dicendi. O último é

quase sempre redundante.

(Manual de estilo Editora Abril, p. 32 e 33)

TEXTO II:

Ao reproduzir uma declaração textual, o jornalista não deve alterar a literalidade do que

foi dito, a não ser para eliminar repetições ou palavras próprias da linguagem oral, desde

que jornalisticamente irrelevantes, ou para ordenar ideias com o objetivo de facilitar a

leitura.

Em textos noticiosos, o objetivo de reproduzir declarações é garantir o acesso do leitor

ao discurso concreto de quem declarou. Devem ser reproduzidas apenas as frases mais

importantes, expressivas e espontâneas do personagem da notícia. Não devem ser

reproduzidas ideias que possam ser melhor expostas através do discurso indireto do

jornalista*.

As declarações textuais devem ser valorizadas pela sua raridade. Quanto menos forem

usadas, mais valor terão perante o leitor. Sua importância é medida pelo inusitado que

determinada opinião possa ter na boca de uma personalidade ou pelo impacto que possa

causar junto ao público. Recomenda-se não abrir textos com declarações textuais. Deve-

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se evitar reproduzir declarações textuais com mais de três linhas. (...) Quando houver

necessidade de chamar a atenção do leitor para algo errado ou estranho no texto

original, admite-se o uso da palavra latina sic1 entre parênteses.

(Manual Geral da Redação – Folha de S.Paulo)

Ex.: “O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornou pública ontem uma posição que

havia meses manifestava apenas nos bastidores em relação às eleições municipais de

São Paulo em 2012: seu apoio à candidatura do ministro da Educação, Fernando

Haddad, para a sucessão de Gilberto Kassab. Os sinais de que Lula já iniciou a

campanha de Haddad incomodam setores do PT, que temem pelo "tratoraço" na escolha

do candidato.

"Acho que o companheiro Haddad é adequado", afirmou após ser questionado sobre seu

apoio ao ministro, para em seguida minimizar e não ferir suscetibilidades. "Foi (sic)

ministro da Educação e acho que ele está na disputa. Agora, quem vai decidir são os

delegados do PT." (Jornal da Tarde, 16 de julho de 2011)

TEXTO III:

Em princípio, os verbos mais recomendáveis para textos que envolvam declarações são

os insubstituíveis dizer, afirmar, declarar, garantir, prometer e poucos mais.

No seu lugar, podem ser usados outros, desde que com muito critério, entre os quais

acreditar, achar, julgar, admitir, esclarecer, explicar, concluir, prosseguir, etc.*

(Manual de redação e estilo – OESP)

Obs.: Veja relação dos possíveis substitutos no verbete dizer desse manual.

Observe nesta matéria a alternância dos discursos e dos verbos dicendi, o que evita

a redundância e a monotonia:

PRESIDENTE DA FUNAI CHEGA APÓS FUNERAL

Júlio Gaiger prometeu acelerar processo

de demarcação das terras dos índios pataxós

Pau Brasil — O presidente da Fundação

Nacional do Índio (Funai), Júlio Gaiger,

chegou à aldeia dos pataxós hã-hã-hães por

volta das 19 horas, uma hora depois de o

corpo do índio Galdino Jesus dos Santos ter

sido enterrado.

“Vim com o objetivo de acompanhar o

enterro, mas houve problemas técnicos com

o voo”, disse Gaiger, que chegou a Ilhéus a

bordo de um bimotor da Funai.

Ele afirmou que uma das formas de

homenagear Galdino seria “enfrentar o

problema de demarcação das terras dos

índios pataxós”.

Gaiger adiantou que poderá começar

acelerando o processo de demarcação de

1 Sic: palavra latina que significa assim, desta maneira. Palavra que se pospõe a uma citação, ou que nesta

se intercala, entre parênteses ou entre colchetes, para indicar que o texto original é bem assim, por errado

ou estranho que pareça.

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788 hectares, determinado pela Justiça

desde dezembro do ano passado.

“Mas o processo não é automático nem há

certeza de que a decisão do juiz já tenha sido

publicada; só tomei ciência pelos próprios

índios.” Entretanto, Gaiger prometeu

analisar os aspectos jurídicos.

Críticas — O presidente da Funai criticou as

ações governamentais nas áreas de saúde e

agricultura realizadas nas terras dos pataxós e

admitiu que “é preciso rediscutir a parceria

intragovernamental”.

Ele contou que a Fundação Nacional de

Saúde furou poços na aldeia dos pataxós,

mas não trouxe tratamento de água, que hoje

é imprópria para consumo.

Júlio Gaiger disse que vai negociar com os

Ministérios da Saúde e da Agricultura “para

que haja participação mais intensa das outras

pastas”. O presidente da Funai retornou

ontem mesmo a Brasília, onde terá uma

reunião ministerial hoje.

(OESP, 23/04/97)

Observe o erro do jornalista do site da Aol:

Morre escritor Fernando Sabino aos 80 anos no Rio

RIO DE JANEIRO (Reuters) – O escritor Fernando Sabino, autor de O encontro

marcado e O grande mentecapto, morreu nesta segunda-feira em sua casa, no Rio de

Janeiro, um dia antes de completar 81 anos. O velório deve ser realizado no Cemitério

São João Batista, nesta segunda-feira, e o enterro está previsto para as 11h de terça.

Sabino esteve internado na Casa de Saúde Pinheiro Machado, no bairro de

Laranjeiras, zona sul da cidade, entre os dias 24 e 27 de setembro para realizar exames

de rotina, segundo a diretora da clínica, Cláudia Azevedo. Segundo a diretora, o escritor

vinha há cerca de dois anos lutando contra um câncer de esôfago.

"Ele esteve internado na clínica por 72 horas realizando exames de rotina, mas

vinha lutando há mais de dois anos contra um câncer de esôfago", disse ela à Reuters

por telefone. Cláudia recebeu a notícia da morte do escritor por meio de uma filha dele.

Mineiro de Belo Horizonte, Sabino nasceu no dia 12 de outubro de 1923. Em 1956,

publicou o romance Encontro marcado, grande sucesso de venda que também foi

adaptado para o teatro. O escritor também teve passagens pelo jornalismo, trabalhando

no Jornal do Brasil, na rede britânica BBC e nas revistas Manchete e Cláudia.

Outra obra de repercussão do escritor foi Zélia, uma paixão, biografia publicada

em 1992 de Zélia Cardoso de Mello, ministra da Fazenda no governo de Fernando

Collor de Mello.

EXERCÍCIOS

Transforme estas entrevistas em textos corridos. Não se esqueça do lead, que você

deverá extrair da própria entrevista.

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1)

Super: Eduardo Piacsek, qual sua profissão e quanto tempo você trabalhou na

Antártida?

Eduardo: Sou físico e trabalhei lá durante três meses.

Super: Como foi seu trabalho?

Eduardo: A chegada foi traumática. O clima seco e as baixas temperaturas dificultavam

a locomoção. Qualquer descuido podia causar acidentes. Mas ficar isolado em uma ilha,

à mercê dos caprichos da natureza, foi interessante.

Super: Que tipo de pesquisa você fez?

Eduardo: Trabalhei com geomagnetismo. Eu operava equipamentos que monitoravam a

variação do campo magnético da Terra.

Super: Foi difícil ficar tão longe?

Eu me lembrava muito da minha mulher e do meu filho de 4 anos. As notícias

chegavam por telefone e a ligação custava caro. Mas a Internet amenizou a minha

estada.

(Superinteressante, novembro 1998)

2) Meu advogado é Oxalá

A Justiça do Trabalho do Amapá condenou uma empresária do estado a pagar 5 000

reais ao pai de santo Antônio Romão Batista. Ela se recusava a pagar por “serviços

espirituais” que Pai Antônio lhe teria prestado. O médium falou ao repórter Leonardo

Coutinho.

Veja – Os espíritos não o avisaram de que o senhor levaria um calote?

Fui pego de surpresa. Costumo cobrar antecipado, mas abri exceção porque essa

empresária era cliente antiga. Quando apresentei a conta, ela se recusou a pagar.

Veja – Quanto o senhor cobrou?

15 000 reais.

Veja – Tudo isso?

Há trabalhos mais caros, depende do problema que a pessoa quer resolver. No caso dela,

era um descarrego completo: limpar a empresa de coisas ruins e abrir caminhos nos

negócios.

Veja – Como o senhor provou à Justiça que fez o descarrego?

Eu incorporo uma entidade chamada Constantino Baiano Grande Chapéu de Couro. Ele

me mandou tirar fotos da empresária no terreiro.Na hora, não entendi o motivo, mas,

quando ela disse à juíza que nunca havia solicitado meus serviços, mostrei as fotos.

Veja – E isso bastou?

As fotos ajudaram. Mas também tive o testemunho de um amigo que frequenta o

terreiro e atua como meu ajudante nos trabalhos espirituais.

Veja – O senhor fez alguma mandinga para ganhar o processo?

Não precisou. Meu advogado ninguém derruba, que é Oxalá. Ele vê tudo, e viu que eu

não queria nada que não fosse meu. Não consegui os 15 000 reais que pretendia, mas

levei 5 000 reais. Já estou satisfeito. (Veja, 2/07/2008)

3) É para ajudar quem tem disfunção erétil O prefeito do município chileno de Lo Prado, Gonzalo Navarrete, está distribuindo

Viagra aos idosos de sua cidade. Navarrete conversou com a repórter Heloisa Joly.

Veja – Por que o senhor decidiu distribuir Viagra?

Navarrete – Quero promover o conceito de idoso ativo – aquele que usa internet, pratica

esportes, tem lugares de encontro e uma vida sexual saudável.

Veja – O que é preciso fazer para ganhar Viagra?

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Navarrete – Não vamos dar a qualquer um, mas só àqueles que precisam mesmo. O

cidadão tem de ter mais de 60 anos de idade e disfunção erétil.

Veja – Como a população recebeu essa iniciativa?

Navarrete – No início, as mulheres casadas não gostaram. O Chile é muito conservador.

Mas, quando dissemos que o remédio é para ajudar quem tem disfunção erétil nas

relações dentro do casamento, elas aprovaram. Agora, são as mais contentes com a

ideia.

Veja – Nenhum setor da sociedade reclamou?

Navarrete – Não, inclusive outros prefeitos disseram que vão copiar a medida. Você tem

de ver que há casais que estão há mais de cinco anos sem relação sexual. Precisamos

fazer algo por eles.

Veja – Quantos anos o senhor tem?

Navarrete – 51. Ainda me restam alguns anos...

Veja – O senhor já usou esse remédio?

Navarrete – Não. Mas, se um dia precisar, vou tomar. Usado em condições seguras,

funciona.

(Veja, edição 2059, ano 41, n. 18, 7 de maio de 2008, p.48)

4) Só estou fazendo o meu trabalho

O consultor de dramaturgia da Rede Record, Tiago Santiago, ganhou um desafeto2 na

emissora. O autor Lauro César Muniz não gostou das considerações feitas por ele sobre

a sinopse de sua próxima novela e, em resposta, declarou que não segue o maniqueísmo3

defendido pelo consultor há tempos. Tiago conversou com a repórter Heloísa Joly.

Veja – Quais são suas considerações sobre a sinopse de Lauro César Muniz?

Santiago – Só estou fazendo o meu trabalho e não vou falar sobre essa polêmica, não

quero alimentá-la. Fiz considerações, como a necessidade de haver um protagonista

herói, mas isso é um assunto interno.

Veja – Suas novelas são maniqueístas?

Santiago: Não, nas minhas novelas há o herói e o vilão, mas tem gente de todo tipo no

meio deles. Minha obra não é retrógrada4 nem mexicana.

Veja – E isso atrai o público?

Santiago: Querida, isso está na psique5 humana. Tenho respeito pela obra do Lauro,

mas, com essa fórmula, conseguimos 20 pontos de audiência. É preciso atenção para

que esse sucesso continue. Ajudei a construir esse núcleo de dramaturgia..

Veja – O que você faz como consultor?

Santiago – Leio sinopses e faço considerações sobre elas. Ajudei também a intermediar

a vinda do Lauro e de outros autores para cá.

Veja – Obrigada pela atenção.

Santiago – Não quero ficar mal com o Lauro nem com os outros, sabe? Não me deixe

mal com o Lauro, por favor.

5) – Rita Lee 79 quem é? É Rita Lee de Miss Brasil 2000, ou uma outra?

– Esse disco, que não tem nome, é um material novo e tem uma diversificação muito

grande de temas. Tem uma continuidade do que eu vinha fazendo, aquela coisa

roqueira, tem muita coisa de discoteque, de que eu gosto muito e não tenho nenhum

preconceito. Tem coisa bem brasileira que introduzi: percussão brasileira dentro da

discoteque. Tem uma coisa que eu nunca fiz antes, que é uma coisa romântica, uma

2 Desafeto: Adversário, inimigo, rival.

3 Maniqueísmo: Doutrina que se funda em princípios opostos, bem e mal.

4 Retrógrado: Que é contrário ao progresso.

5 Psique: A alma, o espírito, a mente.

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balada. Tem coisa pra criança, uma música que se chama Maria Mole, muito engraçada.

Enfim, tem vários temas e, como é o último trabalho, é o que a gente curte mais. E este

ano não vou fazer show por causa do nenê, que nasce em agosto, coincidindo com a

época do lançamento do disco. Vou fazer só televisão. Então eu não sei qual é a Rita

Lee 79. Eu não sei, porque eu gosto de todas elas. Tem um pouquinho de mim em todas.

– Para o tipo de música que você faz, e que funciona muito em apresentações ao vivo,

você não acha que ficar sem fazer shows até o final do ano pode afastar um pouco o

seu público?

– Não porque eu vou compensar fazendo televisão. Geralmente faço um disco e logo

depois o show desse disco, com o mesmo nome, inclusive. Neste eu vou transar a

penetração através de programas de televisão. Televisão você tem de saber aproveitar

legal, quer dizer, fazer aqueles programas-chave bem feitos que daí não fica distante do

público. Tenho recebido muita carta pedindo presença no Globo de Ouro, no Fantástico.

Como não vou fazer show, vou fazer uma coisa bem feita em televisão, o que eu nunca

fiz. Em televisão, geralmente, tem aquele padrão em que eles dizem: “Você vai cantar

aquela música assim, assim, assim.” Desta vez vou procurar me juntar ao pessoal, bolar

o programa junto, fazer todo cheio de baratinhos visuais, porque a televisão é visual,

né?

– Mas seu público assiste a televisão?

– Assiste, assiste. A meninada que me escreve - eu recebo muita carta do Brasil inteiro

Eles me pedem. (imitando):“Puxa, você podia fazer um Globo de Ouro pra gente ver

sua cara. Dá as caras, você não vem aqui em Belém. Faz tempo que a gente não te vê”.

Então vai compensar por esse lado. Claro que show, em matéria de prazer, é melhor.

Você chega com todo o equipamento, monta na cidade e daí faz aquele bochincho todo,

o pessoal vai ver e faz uma festa. Mas isso aí eu vou deixar para 80.

– Quando o filho já estiver ...

– (rindo) Sem mamar.

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As máximas de Grice

Segundo o filósofo americano da linguagem Paul Grice, o princípio básico que

rege a comunicação humana é o Princípio da Cooperação, isto é, quando duas pessoas

se propõem a interagir verbalmente, normalmente irão cooperar para que a interlocução

transcorra de maneira adequada. Para isso ele postula quatro máximas:

1) máxima da quantidade: não diga nem mais nem menos do que o necessário;

2) máxima da qualidade: só diga coisas para as quais tem evidência adequada;

não diga o que sabe não ser verdadeiro;

3) máxima de relação ou relevância: diga somente o que é relevante, pertinente;

4) máxima do modo: seja claro e conciso, evitando a obscuridade e a

prolixidade.

É possível, porém, que intencionalmente quem produz a mensagem queira

infringir alguma dessas máximas, cabe então ao ouvinte/leitor tentar descobrir o motivo

da desobediência. Um exemplo dado por Grice é o seguinte: um professor universitário

escreve a um colega pedindo referência sobre a capacidade intelectual de um ex-aluno

do primeiro, pois o rapaz é candidato a uma vaga de assistente. A resposta foi: “Tem

boa letra e não costuma chegar atrasado.” O professor consultado infringiu a máxima da

relevância, pois omitiu o que era mais importante. Mas, de acordo com a máxima da

quantidade, disse o suficiente para que o colega entendesse que o candidato era fraco.

I - Escrever é a arte de cortar palavras

(Armando Nogueira)

Escrever é cortar palavras. Passei alguns anos certo de que o autor dessa

preciosa máxima era Carlos Drummond de Andrade. Até que um dia perguntei ao poeta.

Ele conhecia, mas negou que fosse dele. Confesso que fiquei desapontado. A sentença

tinha a cara do mestre Drummond cuja prosa é um exemplo de concisão.

Otto Lara Resende desconfiava que pudesse ser de um escritor mexicano a ideia

da dica preciosa. Eu, por mim, seria capaz de atribuí-la a John Ruskin, notável escritor e

crítico inglês do século passado. Se não o disse, com todas as letras, certamente foi

Ruskin quem melhor ilustrou o adágio, num conto antológico. É o caso de um feirante

de peixes num porto britânico.

O homem chega à feira e lá encontra seu compadre, arrumando os peixes num

imenso tabuleiro de madeira. Cumprimentam-se. O feirante está contente com o sucesso

do seu modesto comércio. Entrou no negócio há poucos meses e já pôde até comprar

um quadro-negro pra badalar seu produto.

Atrás do balcão, num quadro-negro, está a mensagem, escrita a giz, em letras

caprichadas: HOJE VENDO PEIXE FRESCO. Pergunta, então, ao amigo e compadre:

– Você acrescentaria mais alguma coisa?

O compadre releu o anúncio. Discreto, elogiou a caligrafia. Como o outro insistisse,

resolveu questionar. Perguntou ao feirante:

– Você já notou que todo dia é sempre hoje? – E acrescentou: – Acho

dispensável. Esta palavra está sobrando...

O feirante aceitou a ponderação: apagou o advérbio. O anúncio ficou mais

enxuto. VENDO PEIXE FRESCO.

– Se o amigo me permite – tornou o visitante –, gostaria de saber se aqui nesta

feira existe alguém dando peixe de graça. Que eu saiba, estamos numa feira. E feira é

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sinônimo de venda. Acho desnecessário o verbo. Se a banca fosse minha, sinceramente,

eu apagaria o verbo.

O anúncio encurtou mais ainda: PEIXE FRESCO.

– Me diga uma coisa: por que apregoar que o peixe é fresco? O que traz o

freguês a uma feira, no cais do porto, é a certeza de que todo peixe, aqui, é fresco. Não

há no mundo uma feira livre que venda peixe congelado...

E lá se foi também o adjetivo. Ficou o anúncio reduzido a uma singela palavra:

PEIXE.

Mas, por pouco tempo. O compadre pondera que não deixa de ser menosprezo à

inteligência da clientela anunciar, em letras garrafais, que o produto aí exposto é peixe.

Afinal, está na cara. Até mesmo um cego percebe, pelo cheiro, que o assunto, aqui, é

pescado...

O substantivo foi apagado. O anúncio sumiu. O quadro-negro também. O

feirante vendeu tudo. Não sobrou nem a sardinha do gato. E ainda aprendeu uma

preciosa lição: escrever é cortar palavras.

(Revista Imprensa, abril 1995)

“O estilo é a arte de dizer o máximo com o mínimo de palavras.” (Jean Cocteau6)

“Você deve escrever como se estivesse mandando um telegrama internacional pago do

seu próprio bolso.” (Ernest Hemingway7)

Nada mais penoso para mim que a busca da expressão adequada, da propriedade

vocabular. Há mil maneiras de dizer uma coisa e só uma é perfeita. Para descobri-la, a

gente pode levar a vida inteira. Levei exatamente trinta anos para encontrar o final certo

da novela O bom ladrão.

Acredito que escrever seja, basicamente, cortar. Cortar o supérfluo. Eliminar

repetições, ecos, rimas, cacófatos, redundância, lugares-comuns.

Escrever, bem ou mal, é para mim cada vez mais difícil. Tenho dificuldade para

escrever até um cartão de agradecimento ou um telegrama de pêsames. Certa vez Otto

Lara Resende8 estava na redação escrevendo um artigo, quando entrou um contínuo e

viu que ele batia à máquina sem copiar nada. Então se espantou:

— Uê, doutor Otto, o senhor tem redação própria?

— É que eu sei tudo de cor — ele respondeu.

Otto é um privilegiado: além do talento literário que Deus lhe deu, tem redação

própria.

Nem por isso deixa de ser um torturado para escrever.

(Fernando Sabino)

A observação é do poeta Carlos Drummond de Andrade: “Escrever é a arte de

cortar palavras”. Esta proposta de concisão tornou-se famosa, tanto entre literatos como

entre jornalistas. Muitas vezes, porém, ela serve de consolo aos ignorantes ou de

6 Jean Cocteau: foi um poeta, romancista, cineasta, designer, dramaturgo, ator e encenador de teatro

francês. Em conjunto com outros surrealistas da sua, conseguiu conjugar com maestria os novos e velhos

códigos verbais, linguagem de encenação e tecnologias do modernismo. 7 Ernest Hemingway: fazia parte da comunidade de escritores norte-americanos expatriados em Paris,

conhecida como "geração perdida", nome inventado e popularizado por Gertrude Stein. Levando uma

vida turbulenta, Hemingway casou-se quatro vezes, além de vários relacionamentos românticos. Em 1952

publica O velho e o mar, com o qual ganhou o prêmio Pulitzer (1953), considerada a sua obra-prima.

Hemingway recebeu o Nobel de Literatura de 1954. 8 Otto Lara Resende: jornalista e escritor brasileiro.

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estímulo à preguiça. Os conceitos de concisão e objetividade não devem ser

confundidos com os de insipidez e pobreza. A frase do poeta leva-nos à meditação sobre

um dos maiores problemas enfrentados por quem escreve, seja por dever do ofício, seja

por amor da literatura: conciliar concisão com elegância, fluência com clareza,

despojamento9 da frase com riqueza de conteúdo.

(MELLO E SOUZA, Cláudio. 15 anos de história. Rio de Janeiro: TV Globo, 1984.)

EXERCÍCIOS

1) Reduza estas frases ao mínimo possível:

1) Saí em companhia de uma garota que era bonita e que era simpática.

2) O cavalo que comprei e pelo qual paguei muito dinheiro, dali uns tempos, depois que

se passaram uns dias, começou a mancar da perna esquerda.

3) As pessoas que estavam presentes na sala houveram por bem dirigir-se para a

cozinha, com a intenção de tomar o seu café; e, depois que tomaram o café, voltaram

para a sala onde estavam antes.

2) Este anúncio foi publicado na Veja - São Paulo em 17/02/93

O insuperável e insuspeito jornal Folha de S.Paulo, através de sua edição de domingo,

Folhão, em mais um dos seus grandiosos gestos, dignos dos maiores encômios, lança

mais um benefício para você, ilustríssimo aficionado do fabuloso anúncio classificado.

Trata-se de uma ideia clara, objetiva, desprovida de retórica, onde, por apenas Cr$

25.000,00, esta quantia ínfima, irrisória, de somenos importância, sim, por tão-somente

25.000 cruzeiros por palavra, você anuncia confortavelmente pelo telefone de número

222-4000, aproveitando a eficiência deste órgão da nossa imprensa, que tanto orgulho

tem dado a nós, homens que tanto procuramos fazer deste país o lugar onde ...(...)

O próprio redator da W/Brasil encarregou-se de reduzir o anúncio a sete palavras

mais o número do telefone, tente fazer o mesmo, cortando tudo o que for supérfluo.

3) Em seguida, reescreva o seguinte texto, eliminando o supérfluo e acrescentando

os dados que forem necessários (lembre-se da fórmula do lead: 3Q+O+P+C):

Vinte pessoas morreram ontem às 20.30 hs., tragicamente, em um sensacional,

espetacular e belíssimo desastre, ocorrido nos limites dentro da cidade de São Paulo,

quando dois trens se chocaram fantasmagoricamente, na estação ferroviária local, em

virtude de lamentável falha do descuidado guarda-chaves. Um dos passageiros foi

completamente decapitado e sua cabeça, ao separar-se do corpo, provocou-lhe morte

instantânea. Várias das infelizes vítimas foram transportadas para nosocômios. A

primeira de todas a ser submetida a uma melindrosa intervenção cirúrgica foi a Exma.

Sra. D. Felisberta Silva, digníssima e virtuosa dama da nossa sociedade, a quem, nesta

hora das mais trágicas e horripilantes, rendemos os tributos de nosso maior respeito. O

distintíssimo e dedicado, além de eficiente diretor da Fepasa, o Exmo. Sr. Dr.

Engenheiro M. A. Pedroso, disse que nos planos da eficiente empresa está a adoção de

equipamento automático, para que desastres assim não se repitam outras vezes. (In

ERBOLATTO, Mário. Técnicas de Codificação em Jornalismo. Rio de Janeiro: Vozes,

1981. p. 98.)

9 Despojamento: qualidade de quem é despojado, que não apresenta ornamentos ou enfeites vistosos.

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4) Leia o texto e, em seguida, responda aos exercícios:

Você é legível? (Roberto Raposo)

“Sempre que podemos usar vinte e cinco

palavras em vez de cinquenta para dizer a

mesma coisa, reduzimos à metade o trabalho

do leitor e conferimos maior força ao que

dizemos.”

Como você redige os seus textos? Para descrever um incêndio, diz que “numa

voragem irresistível, as labaredas tudo destruíram” ou prefere dizer simplesmente que o

“o fogo destruiu tudo”? É claro que ambas as formas são corretas, mas a primeira é

muito menos legível que a segunda. E, para todo redator, é importante ser o mais legível

possível.

O que exatamente torna um texto mais legível que outro? Muitos são os

professores de redação que aconselham aos seus alunos: construam suas frases na ordem

direta (sujeito-verbo-objeto). Evitem a voz passiva. Usem palavras curtas e frases

curtas. Imprimam interesse humano àquilo que escrevem.

Excelentes recomendações, mas quantas sílabas deve ter uma palavra “curta”? A

palavra “irresistível” é curta ou longa? Quantas palavras deve ter uma frase “curta”? O

que constituiu “interesse humano”? Há algum meio de medir a legibilidade à base

desses critérios?

Em 1951, surgiu nos Estados Unidos um livro curioso que procurava responder

essas perguntas: The art of plain talk (A arte de falar claro).

O autor era Rudolf Flesch, austríaco que emigrou para a América um ano antes

do início da Segunda Guerra Mundial e doutorou-se pela Universidade de Columbia. Ao

longo de 20 anos de pesquisas na área de problemas de redação, Flesch contribui, entre

outras coisas, para tornar mais claros e legíveis os despachos noticiosos da Associated

Press.

Flesch partiu do princípio, já muito conhecido, de que há três fatores que tornam

um texto legível e interessante: períodos curtos, palavras simples (com um mínimo de

prefixos e sufixos) e um máximo de referências pessoais. Dita assim, a coisa parece

óbvia: períodos curtos tornam o texto ágil, ventilado, gostoso de ler. Palavras

complicadas e longas, como as que encontramos com frequência em textos técnicos,

dificultam a leitura. E todo mundo gosta de ler a respeito de pessoas, especialmente

quando a narrativa vem na primeira pessoa.

A novidade introduzida por Flesch é que ele sistematizou esses dados,

organizou-os e quantificou-os em tabelas destinadas a medir o grau de legibilidade de

um texto. Por adotar critérios universais, o trabalho de Flesch é válido para qualquer

língua ocidental. Os valores produzidos pelas tabelas, porém, podem variar entre uma

língua e outra e, para melhor adaptá-las ao português, língua menos sintética que o

inglês, tivemos de fazer certas modificações. O emprego das mesmas pode levar a uma

medida bastante aproximada da simplicidade ou prolixidade de qualquer texto.

O vício da prolixidade se deve, em grande parte, à desorganização mental. O

redator começa a escrever sem ter organizado de antemão as suas ideias. E, o que é pior,

não revisa adequadamente o que escreveu. O resultado é a anticomunicação: um texto

em desordem, ideias embaralhadas em um único período, complementos fora do lugar,

palavras supérfluas, frases inteiras que poderiam ser cortadas – tudo o que faz o mais

paciente dos leitores desistir da leitura.

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Tenho em mãos um manual de redação técnica que me diz, logo no prefácio: “É

papel do educador (...) analisar o sistema educacional e, consequentemente,

interpretando o produto daí obtido, não só detectar suas falhas, mas igualmente

estabelecer linhas gerais de ação que, através de planejamento sistemático, contínuo e

realimentável, possam minimizar as entropias sistêmicas”. Trata-se de um bom exemplo

de como não escrever. Há muitas maneiras de evitar a prolixidade, mas eu gostaria de

aconselhar o leitor a fugir dos seguintes vícios:

MUTILAÇÃO DO VERBO

O verbo é o elemento mais importante da oração. Retornando ao exemplo do

incêndio que citei na abertura deste artigo, vale a pena ver com um “repórter” chamado

Monteiro Lobato descreveu uma velha praga, a queimada do mato. Diz ele: “[A

labareda] oscila incerta; ondeia ao vento, mas logo encorpa, cresce, avulta, tumultua e,

senhora do campo, estruge10 com infernal violência...”

Imaginemos que Lobato tivesse escrito: “De início, observam-se oscilações na

labareda, ondulações provocadas pelo vento; mas logo ela ganha corpo, vai ficando

maior, sobe num tumulto”, etc., etc. Os verbos são substituídos por substantivos; a força

das frases diminui e o texto definha.

No entanto, há quem faça isso constantemente. Quem diz “o transporte desta

máquina é fácil”, em vez de “esta máquina é fácil, de transportar”, está incidindo no

vício da mutilação do verbo. Note-se que, sempre que substituo um verbo por um

substantivo, tenho de acrescentar outros elementos à frase e usar outro verbo (pois não

há oração sem verbo) para substituir o que mutilei. O resultado é a prolixidade que

vemos diariamente: “fazer uma recomendação” em vez de “recomendar”, “tomar uma

decisão” em vez de “decidir”, etc.

MUTILAÇÃO DE OUTROS ELEMENTOS DA FRASE

Outras vezes, é o adjetivo que sofre. Em vez de dizer que “o tempo foi muito

instável este mês”, o redator prolixo diz que “a instabilidade do tempo foi muito grande

este mês”. Nove palavras em vez de sete. Ou sacrifica o substantivo: em vez de “o total

recolhido para depósito”, fala do “total recolhido para ser depositado”. E suas frases vão

ficando cada mais compridas.

COMPLEMENTOS FORA DO LUGAR

Li recentemente no jornal: “Firmas particulares adquiriram helicópteros que

haviam sido desativados pela polícia por 50 mil dólares”. A pergunta que logo me veio

à cabeça foi: quem pagou 50 mil dólares à polícia para desativar esses helicópteros? É

claro que o redator queria dizer que as firmas tinham adquirido por 50 mil dólares certos

helicópteros desativados pela polícia. E poderia ter feito pior, escrevendo algo como

“firmas particulares adquiriram da polícia, por 50 mil dólares, helicópteros”. Quando

você escrever, procure pôr os elementos da frase no lugar certo.

PALAVRAS INÚTEIS

Evite o uso de expressões que podem ser substituídas por outras mais curtas ou

simplesmente eliminadas, como “no sentido de”, “com efeito”, “para fins de”, “por

sinal”, “não obstante”. Ou de palavras desnecessárias: não diga “ela é uma mulher

extremamente bonita”, e sim “ela é extremamente bonita”. Não inclua em seu texto

10

Estrugir: Fazer estremecer com estrondo; atroar; estrondear.

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informações desnecessárias ou que possam ser induzidas do que você já disse. Evite a

negativa prolixa: há quem diga “todos eles não sabem”, em vez de “nenhum deles

sabe”. Não diga “os mapas que acompanham este relatório”, e sim “os mapas anexos”.

Não diga “há a possibilidade de que”, e sim “pode ser que”. E assim por diante.

REFERÊNCIA ERRADA

Muito mais comum do que pode parecer é o período em que o autor começa com

um sujeito e termina com outro. Exemplo: “Achando que essa situação era intolerável,

ficou decidido que...” ou então: “Correndo pela praia de manhã, os meus pulmões

respiram melhor” (e o leitor fica imaginando o belo quadro que serão os pulmões do

autor, fazendo cooper na orla da praia em uma manhã de sol).

E há também o famigerado erro do tipo “um daqueles que é”, tão fácil de perceber, e, no

entanto, cometido tantas vezes. Quem diz “ele é um dos autores que merece meu

respeito”, em vez de “ele é um dos autores que merecem meu respeito”, não sabe

distinguir onde termina a proposição no singular e onde começa a proposição plural. Se

o pronome relativo “que” se referisse a “ele”, a frase poderia ser escrita: “ele, que

merece meu respeito, é um dos autores”, o que não tem sentido ou não é a mesma coisa.

Mas, se se refere a “autores”, como de fato se refere, o verbo tem de vir no plural.

A justificativa para tal erro – que, de repente, parece ter entrado em moda – é um

falso raciocínio. A construção “ele é um dos profetas que proclama” é supostamente

justificada pela outra: “dos profetas, ele é um que proclama”. Mas temos aqui duas

construções distintas: na primeira, o pronome relativo “que” se refere a “profetas”, na

segunda refere-se a “ele”. Ou você usa uma ou outra.

Confundir entre as duas leva o redator a confundir entre o singular e plural e

escrever coisas como “uma das mais lindas casa”, “um dos melhores aluno”, e absurdos

semelhantes.

VOZ PASSIVA

Sempre que possível, evite a voz passiva. Não só a voz passiva é mais prolixa

(“o leite foi bebido pelo gato”, em vez de “o gato bebeu o leite”), mas, na maioria dos

casos, é simplesmente injustificada, como em “será criado pelo Departamento”, em vez

de o “Departamento criará”. Além disso, frequentemente contribui para a indefinição do

texto (como em “várias hipóteses foram aventadas11”, oração que não revela quem

aventou as hipóteses).

Neste segundo caso, aliás, a voz passiva virou norma em círculos burocráticos e

técnicos, em cuja literatura, aparentemente, ninguém faz nada. As coisas simplesmente

acontecem – contatos são “feitos”, fenômenos são “observados”, conclusões são

“apresentadas”, sem que o leitor fique sabendo quem foi o responsável por essas ações.

A voz passiva pode tornar-se uma espécie de esconderijo, às vezes muito conveniente

para o autor, mas reduz o interesse humano do texto: torna-o chato e monótono e

contribui para a prolixidade.

Em abril de 1964, a revista Materials Research and Standards, da ASTM (órgão

oficial norte-americano para testes de materiais), advertiu em editorial: “A partir deste

número, a ASTM resolveu suspender a publicação de histórias de mistério. De agora em

diante, os estudos publicados nesta revista serão redigidos de tal modo que os nossos

leitores fiquem sabendo quem pesquisou, de quem são as opiniões ventiladas, e quem

apresenta as conclusões finais”. E recomenda aos autores dos estudos: “1) Escrevam na

11

Aventar: apresentar (ideia, hipótese, possibilidade, etc.), como algo que pode vir a ser cogitado.

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primeira pessoa. Se o autor for um só, use “eu”; se não, use “nós”. 2) Usem verbos na

voz ativa. Não digam “os espécimes foram examinados”, e sim “examinei (ou

examinamos) os espécimes”. Excelentes e sábios conselhos.

Curiosidade

“Teste a legibilidade do texto

Se lemos algo com dificuldade, o autor fracassou.

Jorge Luís Borges

Em grego, hedone. Em português, hedonismo. Numa e noutra língua, o

significado se mantém. É prazer. A sensação gostosa virou doutrina da filosofia.

Segundo ela, o prazer deve ser considerado o objetivo principal dos atos humanos.

Alguns concordam. Outros não. Mas uma coisa é certa. Ninguém gosta de

sofrer. A regra vale para a leitura. Texto difícil não tem vez. E não é de hoje.

Montaigne, no século XVI, disse com todas as letras: “Ao encontrar um trecho difícil,

deixo o livro de lado”. Por quê? “A leitura é forma de felicidade”, respondeu ele.

A observação não se restringe a livros. Engloba jornais, revistas, cartas

comerciais, redações escolares, receitas de comidas gostosas. Sem fisgar o leitor, adeus,

emprego! Adeus, nota boa! Adeus, sobremesa dos deuses! Por isso, roguemos ao

Senhor. Que Ele ilumine mentes, penas e teclados. E cada um faça a sua parte.

Como avaliar o índice de dificuldade do escrito? O assunto começou a preocupar

os americanos há uns sessenta anos. Pesquisas sobre a leitura do texto jornalístico

despertaram o interesse de professores e alunos de várias universidades. Um dos

resultados dos estudos foi o teste de legibilidade. Alberto Dines, então do Jornal do

Brasil, adaptou-o para o português.

Eis a receita:

1. Conte as palavras do parágrafo.

2. Conte as frases (cada frase termina por ponto).

3. Divida o número de palavras pelo número de frases. Assim, você terá a

média da palavra/frase do texto.

4. Some a média da palavra/frase do texto com o número de polissílabos.

5. Multiplique o resultado por 0,4 (média de letras da palavra na frase de

língua portuguesa)

6. O produto da multiplicação é o índice de legibilidade.

Possíveis resultados:

1 a 7: história em quadrinhos

8 a 10: excepcional

11 a 15: ótimo

16 a 19: pequena dificuldade

20 a 30: muito difícil

31 a 40: linguagem técnica

acima de 41: nebulosidade

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Testemos o parágrafo abaixo:

“Em boca fechada não entra mosca”, diz a vovó repressora. “Quem não

erra perde a chance de acertar”, responde o neto sabido. Ele aprendeu

que, nas organizações modernas, a competição é o primeiro mandamento.

E, cada vez mais, impõe-se a necessidade de falar em público. Muitos

servidores, porém, concordam com a vovó. Estremecem só de imaginar a

hipótese de abrir a boca diante de uma plateia. Dizem que não nasceram

para os refletores. Falta-lhes vocação. A ciência prova o contrário. Falar

bem não é dom divino. Falar bem – como nadar bem, escrever bem,

saltar bem – é habilidade. Exige treino.

Confira:

1. Palavras do parágrafo: 101

2. Número de frases: 12

3. Média da palavra/frase (101 dividido por 12): 8,41

4. 8, 41 + 12 (número de polissílabos) = 20,41

5. 20,41 x 0,4 = 8,16

Resultado: legibilidade excepcional

Agora, avalie um texto seu. Pode ser uma carta, um artigo, uma reportagem.

Antes de começar, lembre-se: aplique a receita de parágrafo em parágrafo. Se o

resultado ficou acima de 15, abra o olho. Facilite a vida do leitor. Você tem dois

caminhos. Um: diminua o tamanho das frases. O outro: mande algumas proparoxítonas

dar umas voltinhas por aí. O melhor: abuse de ambos.”

(SQUARISI, Dad; SALVADOR, Arlete. A arte de escrever bem. São

Paulo: Contexto, 2005.)

Quando recorrer à voz passiva

Voz passiva diplomática

Embora a voz ativa seja preferível, há circunstâncias em que não é interessante

apontar o agente da ação. É o que chamamos de “passiva diplomática”, recurso utilizado

como estratégia para reduzir o impacto negativo de algumas ações.

No dia-a-dia da empresa, dizer não, apontar erros, repreender um funcionário,

contornar situações de conflito são fatos corriqueiros – o ideal seria se não

acontecessem, mas na maioria das vezes são inevitáveis. O segredo é saber como

transmitir essas informações de maneira a preservar a cordialidade que deve permear as

relações entre os vários funcionários e segmentos que compõem a empresa. Nesse caso

em particular, a voz passiva diplomática revela-se um recurso extremamente

interessante.

Exemplos de voz passiva diplomática

Em vez de Use

A clínica não pode liberar seu exame, pois o

senhor não pagou a última mensalidade.

Seu exame não pode ser liberado, pois consta um

débito em aberto ou pois a última mensalidade

não foi paga..

Segue o orçamento para o reparo da vidraça que Aqui vai o orçamento para o reparo da vidraça

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seu filho quebrou na quarta-feira. quebrada na quarta-feira.

Marcelo vai dispensar três colaboradores a partir

de amanhã.

Três colaboradores serão dispensados a partir de

amanhã.

O auditor responsável pelo levantamento

constatou fraudes na contabilidade da empresa.

Constataram-se fraudes na contabilidade da

empresa.

(OLIVEIRA, Paulo Moreira de; MOTTA, Carlos Alberto Paula. Como escrever melhor.

São Paulo: Publifolha, 2000.)

EXERCÍCIOS

I- Estas frases apresentam problemas de complemento fora do lugar, encontre-os e

corrija-as:

1) Vi o sol surgir da janela do meu quarto no horizonte.

2) Durante o namoro, Carlos pediu que Maria se casasse com ele várias vezes.

3) Oferecemos um exemplar de Os Lusíadas ao professor encadernado em couro.

4) Alugam-se quartos a cavalheiros com banheiro anexo no terceiro andar.

5) Ele escreveu um ensaio sobre a literatura brasileira que não vale nada.

6) “Ele era um cãozinho insinuante”, disse um observador, “de cauda enrolada e

disposições amistosas”.

7) Na pressa, quebrou a janela para fugir com uma pedra.

II- Nestas outras frases o problema é de referência errada, corrija-o:

1) Saindo de casa, o fogão ficou aceso.

2) O telefone tocou ao entrar no quarto para apanhar a chave.

3) Passando em frente ao cinema, os cartazes me chamaram a atenção.

4) Composto de 75 crônicas, o autor mescla tropeços na língua portuguesa com

ensinamentos.

5) Dividido em 75 crônicas bem-humoradas, o autor relata as gafes dos veículos de

comunicação.

6) A osteoporose é uma doença que fragiliza os ossos, quebrando-se com facilidade.

7) Além de machucado, o contrato do jogador termina no próximo dia 8.

8) Para não ser mordido, o cão teve de ficar amarrado.

III- Estas frases apresentam circunlóquios (rodeio de palavras, que leva à

prolixidade), tente torná-las mais concisas:

1) Estas populações lançam mão, para sua sobrevivência, de arroz e feijão.

2) Mesmo quando a classe está empenhada em atividades de leitura e redação, ouve-se

um barulho incessante.

3) Foi constatado que todos os políticos não estão de acordo com as novas propostas do

governo.

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IV- A expressão um(a) dos(das) que sempre leva o verbo para o plural. Corrija as

frases:

1) Ele foi um dos líderes sindicais que mais incentivou a greve.

2) Este foi um dos textos que mais marcou minha vida.

3) A Paulista é uma das avenidas que mais fica congestionada na hora do rush.

4) Esta escola é uma das que participará da gincana.

V- Quais erros apresentam estas frases? Corrija-as:

1) Não sem frequência, as moças encontram-se na praça.

2) O jogo foi assistido por uma plateia agitada.

3) As placas de sinalização não costumam ser obedecidas pelos motoristas.

4) Cargos de diretoria às vezes são aspirados por pessoas pouco competentes.

Leia os textos seguintes e, depois de identificar-lhes o problema fundamental,

reescreva-os:

1- O fazendeiro e piloto de aviões Carlos de Almeida Valente, que mora na cidade de

Prateados, no extremo norte do País, apontado pela Polícia Federal como um dos reis do

contrabando e transportando em seus aviões bimotores e turbinados mais de 70% das

mercadorias contrabandeadas dos Estados Unidos e Paraguai para o Brasil, terá seus

negócios financeiros investigados pela Receita Federal, que fará completa devassa nas

suas empresas.

(Manual OESP)

2- O presidente Fernando Collor, em discurso para cerca de 300 colonos do Projeto

Cujubim, núcleo de colonização do Incra situado a 200 quilômetros de Porto Velho, que

ele visitou pela manhã, determinou aos ministros da Agricultura e Reforma Agrária,

Antônio Cabrera, da Justiça, Bernardo Cabral, da Saúde, Alceni Guerra, e da Infra-

Estrutura, Ozires Silva, que comecem a “trabalhar duro, a partir de hoje, para a

transformação desse projeto de assentamento de colonos num projeto-modelo para o

Brasil”.

(Manual OESP)

3- TAMPA DE VIDRO COM GARANTIA

A novidade da Panex é a garantia de dois anos para o vidro da tampa da Hot Line Glass

são panelas ultramodernas, revestidas interna e externamente com o antiaderente Teflon

II, cuja tampa de vidro temperado resiste a intensas variações de temperatura indo do

fogão à geladeira sem problemas e permitindo acompanhar o cozimento sem ser

necessário destampar a panela, podendo também ser usada em máquina de lavar louças.

Quanto à embalagem foi totalmente redesenhada o que a torna excelente presente, útil e

de bom gosto.

(Gazeta de Santo Amaro)

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APOIO

FUNCIONAL

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CONCORDÂNCIA

A ausência de concordância – grande marca da linguagem popular – é

considerada o pecado mortal linguístico. Mas, de acordo com a sociolinguística, esse

traço gramatical da fala popular e coloquial brasileira, expresso, por exemplo, nas

seguintes frases Minhas amiga já chegou // Aqui nós trabalha muito em lugar de Minhas

amigas já chegaram // Aqui nós trabalhamos muito, são formas diferentes de dizer a

mesma coisa (variações linguísticas), que se diferenciam mais pelo seu valor social do

que linguístico. Assim o primeiro grupo é avaliado de forma negativa nos setores mais

escolarizados, mas é perfeitamente adequado nos contextos de seu uso. Lembre-se,

porém, de que o discurso jornalístico deve pautar-se pelo nível culto da linguagem,

padronizado pela gramática.

Essa marca da linguagem coloquial apareceu, em 2008, em uma propaganda de

um carro francês e quase ninguém percebeu o desvio do padrão culto. Vai chover

elogios, dizia o texto, quando o correto seria Vão chover elogios...

CONCORDÂNCIA NOMINAL

Adjetivo depois do substantivo: duas concordâncias possíveis:

masculino plural: Casaco e bolsa vermelhos

com o mais próximo: Casaco e bolsa vermelha (neste caso, corre-se o

risco de entender que só a bolsa é vermelha).

Adjetivo antes dos substantivos: concorda com o mais próximo:

Má hora e lugar

Substantivo modificado por mais de um adjetivo:

substantivo no plural: Os setores público e privado atenderam à

solicitação do governo.

substantivo no singular, é necessária a repetição do artigo: O setor

público e o privado atenderam à solicitação do governo.

É necessário/ é permitido/ é proibido/ é bom:

sem artigo, não há flexão: Maça é bom para as gengivas.//

É proibido entrada de menores.

com artigo, há concordância com o substantivo:

A maça é boa para as gengivas.//

É proibida a entrada de menores.

Meio:

numeral (=1/2): variável (meio/meia/meios/meias). Comeu meia

melancia e bebeu meio litro de água.// É meio-dia e meia (e meia hora).

advérbio (=um pouco): invariável (só há a forma meio). Elaine

estava meio bêbada. / Estavam meio bravos.

Bastante:

pronome adjetivo (quantidade): variável (bastante/bastantes).

Temos bastantes agasalhos. (embora seja forma correta, evite)

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advérbio (intensidade): invariável (só há a forma bastante).

Estávamos bastante tristes.

Variáveis: anexo, incluso, mesmo, próprio, quite, leso, obrigado

As fotos anexas comprovam o delito. / Vão inclusos os recibos de compra de

material. / Elas mesmas (próprias) denunciaram o colega. / Estamos quites com o

serviço militar./ Estou quite contigo. / Foi um crime de lesa-pátria. / “Muito

obrigada”, disse a garota.

Invariáveis: menos, pseudo, alerta (só têm essa forma)

Use menos força. / A deputada é uma pseudodemocrata. / Eu estou alerta. / Nós

estamos alerta.

Adjetivos compostos fazem o plural com variação apenas do último

elemento: acordos sino-japoneses; cabelos castanho-escuros; políticos democrata-

cristãos.

nos compostos indicadores de cor, nenhum elemento vai para o plural se

houver substantivo como um de seus elementos: camisas vermelho-vinho;

vestidos cor-de-rosa; carros azul-bebê;

não há variação quando, na indicação de cor, aparece apenas o

substantivo: camisas vinho; vestidos rosa; sapatos gelo;

surdo-mudo tem o plural surdos-mudos;

azul-marinho e azul-celeste não variam;

infravermelho tem plural infravermelhos, mas ultravioleta não tem plural

(raios ultravioleta)

Exercícios:

I) Preencha os espaços com a palavra indicada:

1) Comi maçã. (meio)

2) Estava narcotizada. (meio)

3) Acolheu-o com palavras tortas. (meio)

4) Suas opiniões são discutíveis. (bastante)

5) Havia razões para confiarmos. (bastante)

6) Seguem as listas de preço. (anexo)

7) Vão os prontuários. (anexo)

8) As provas seguem no processo. (incluso)

9) Tratava-se de orgulho e vaidade .(excessivo)

10) Ventos e nuvens afugentaram a torcida. (ameaçador)

11) É venda de bebidas a menores. / É a

venda de bebidas a menores. (proibido)

12) A água é para a saúde. /Água é para a saúde (bom)

13) É coesão partidária para vencer a oposição. / É

a coesão dos partidos aliados para vencer a oposição. (necessário)

14) Chuva é nesta época do ano./ Aquela chuva da semana

passada foi para despoluir o ar. (bom)

15) Pera é para quê?/ A pera é para a pele.

(bom)

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16) Elas costuram suas roupas. (mesmo)

17) Ela procurou o professor. (mesmo)

18) Ele estava com o patrão. (quite)

19) – Muito , disse ela. (obrigado)

20) Há provas do que o previsto. (menos)

21) Era uma representação. (pseudo)

22) O aluno destacava-se pelo raciocínio e objetividade . (aguçado)

II) Corrija as frases cuja concordância esteja errada:

1) Temos motivos bastantes para não aceitar o trabalho.

2) A funcionária estava meia preocupada com a situação do escritório.

3) Não acredito que seja permitido sua permanência na seção.

4) É necessário dedicação para chegarmos ao cargo desejado.

5) Fiquem alertas e não deixem qualquer informação passar.

6) A moça mesmo me disse que andava meia aborrecida com a vida.

7)A declaração de bens foi mandada anexo ao processo.

8) Sabemos que é necessário a paciência para suportar a manha dessa criança.

9) Não temos razões bastantes para impugnar sua candidatura.

10) Todos os policiais estavam alertas: as torcidas estavam bastantes revoltadas com o

juiz.

11) A velhinha sorriu e disse: “Muito obrigada a todos”.

12) Os viajantes estavam meios cansados.

III) Assinale as alternativas corretas:

(Unimes)

a) Eles se moviam meios cautelosos.

b) O relógio da igreja bateu meio-dia e meio.

c) Seus apartes eram sempre o mais pertinentes possíveis.

d) Os resultados falam por si só.

e) Chegada a sua hora e a sua vez, intimidou-se.

(Inatel)

Fazia elogios, embora as saudações fossem agora enfáticas para

uns e talvez evasivas para outros.

a) bastante/ menos/ meio

b) bastantes/ menas/ meia

c) bastante/ menos/ meia

d) bastantes/ menas/ meio

e) bastantes/ menos/ meio

(Acafe)

Vocês estão com a tesouraria.

As janelas abertas deixavam entrar uma leve brisa.

Vai à presente a relação dos livros solicitados.

As matas foram danificadas pelo fogo.

É a entrada de animais.

a) quite/meia/ anexa/ bastantes/ proibida b)quites/ meia/ anexa/ bastantes/ proibida

c) quite/ meio/ anexo/ bastante/ proibido d) quites/ meio/ anexa/ bastante/ proibida

e) quites/ meio/ anexo/ bastante/ proibido

(Vunesp)

a) Nos treinos, os jogadores usam calções e camisetas coloridos.

b) Os juízes estão alertas durante toda a partida de futebol.

c) Os regulamentos da Fifa estão anexo no contrato dos jogadores.

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d) A cor do uniforme da seleção brasileira é verde e amarelos.

e) As chuteiras e o apito dos juízes são importadas.

IV) Assinale a alternativa errada

a) O escritor e o mestre alemães admiravam o belo quadro.

b) Estudaram o idioma francês e o espanhol.

c) O ministro e os deputados alagoanos votaram contra o projeto.

d) As opiniões e os argumentos expostos não agradaram à plateia.

e) Considero fácil as questões e testes propostos

V) (CBMERJ-NCE)

“Mulheres e homens bonitos”. A única forma errada entre as que estão abaixo,

mantendo-se o sentido original é:

a) bonitas mulheres e homens;

b) bonitos homens e mulheres;

c) homens e mulheres bonitas;

d) homens e mulheres bonitos;

e) bonitos mulheres e homens.

VI) Passe para o plural:

1) acordo ítalo-brasileiro =

2) nação hispano-americana =

3) sapato marrom-claro =

4) tinta verde-escura =

5) fita cereja=

6) bolsa verde-abacate=

7) radiação ultravioleta=

8) casaco amarelo-ouro=

9) time rubro-negro=

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CONCORDÂNCIA VERBAL

1) Regra geral: o verbo concorda com o sujeito (mesmo que este venha depois do

verbo.

Índices da inflação assustam consumidor.

Sobraram poucos lugares nas arquibancadas.

Aceitam-se sugestões.

Obs.: Se o sujeito é composto e vier resumido pelos pronomes indefinidos tudo, nada,

ninguém, cada um, o verbo fica no singular:

Fome, cansaço, doença, nada os deteria.

Pai, filho e avô, cada um saudou a seu modo o visitante.

2) Verbos impessoais HAVER e FAZER: sempre na 3ª pessoa do singular

Haver12

: no sentido de existir, é impessoal (a impessoalidade é transmitida ao

verbo auxiliar):

Haverá festas na Bahia neste mês.

Talvez haja reclamações sobre nosso trabalho.

Poderá|

Deverá| haver festas na Bahia neste mês.

Vai|

Fazer: na indicação de tempo transcorrido ou a transcorrer ou na indicação de

fenômenos da natureza (a impessoalidade também é transmitida ao verbo

auxiliar)

Já faz 20 anos que me formei.

Em agosto vai fazer três anos que ele se casou.

Em setembro faz dias claros e frios.

3) Pronome pessoal SE1314

partícula apassivadora: verbo concorda com o sujeito

(o verbo é sempre transitivo direto (sem preposição))

Vende-se casa. / Vendem-se casas. (Casa é vendida. / Casas são vendidas.)

Aceita-se encomenda. / Aceitam-se encomendas. (Encomenda é aceita./

Encomendas são aceitas.)

Expediu-se o documento requerido./ Expediram-se os documentos requeridos.

(O documento foi expedido./ Os documentos foram expedidos.)

12

É comum, na linguagem coloquial, usar-se o verbo ter com o sentido de haver. Dizia um outdoor: Onde

tem festa, tem Antarctica. 13

Esse ponto da concordância não é pacífico. Inúmeros linguistas contestam essa dupla classificação do

pronome se e consideram ambos como índice de indeterminação do sujeito e, portanto, não haveria

verbos no plural. 14

Esteja atento ao uso indiscriminado da partícula se:

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Obs.: para que não haja dúvida quanto ao uso do singular ou do plural, passe a frase

para a voz passiva analítica: Alugam-se apartamentos. = Apartamentos são alugados.

índice de indeterminação do sujeito: verbo fica sempre na 3ª pessoa do singular

Trata-se de problema urgente.

Trata-se de problemas urgentes.

Obs.: é impossível a transformação para a voz passiva porque os verbos são ou

intransitivos ou transitivos indiretos (estes sempre acompanhados de preposição):

Bebe-se bem aqui. / Pensa-se em reformas. / Cuida-se de idosos.

4) A maior parte, grande número de, a maioria

O verbo normal e preferentemente vai para o singular; há, no entanto, gramáticos

que aceitam o plural caso se queira destacar a ideia de conjunto.

A maior parte dos eleitores estava abismada com o resultado das urnas.

A maioria das mulheres mantém-se submissa aos maridos.

Grande número de foliões amanheceu dançando.

5) Porcentagem

O verbo concorda com o que for expresso pela porcentagem

Um por cento dos candidatos sofriam de cirrose.

Noventa por cento da população perdeu seus bens.

Se só números representarem a porcentagem, o verbo concordará com o numeral

Naquele ano, 30% da colheita perdeu-se e 70% foram exportados.

Se a porcentagem estiver particularizada, o verbo concorda com o numeral

Os últimos 30% do empréstimo chegarão em maio.

Esse 1% dos gastos fará diferença no final.

Se o verbo vier antes da porcentagem, concordará com o numeral

Está perdido 1% da colheita.

Estão perdidos 30% da colheita.

6) Sujeito formado por nomes próprios que só têm plural

se não houver artigo, o verbo fica no singular: Batatais fica no interior do estado.

com artigo, o verbo vai para o plural: Os Estados Unidos pretendem invadir o

Iraque.

Obs.: Com nomes de títulos de obras, usa-se, indiferentemente, o singular ou o plural:

Os Lusíadas é/ são a maior epopeia dos portugueses.

7) Sujeito formado por palavras no plural, mas com ideia de singular: verbo no

singular

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Pelos ainda tem acento.

Nós é um pronome pessoal.

8) Fração: verbo concorda com o numerador da fração

Um terço dos trabalhadores não recebeu o salário de janeiro.

Dois terços da herança couberam à viúva.

9) Pronomes relativos que e quem

Que: verbo concorda com o antecedente: Fui eu que descobri a fórmula.

São eles que fazem a coleta do lixo.

Seremos nós que o escolheremos.

Quem: verbo concorda na 3ª pessoa do singular (alguns gramáticos aceitam a

concordância com o antecedente):

Fui eu quem descobriu a fórmula. (Fui eu quem descobri a fórmula.)

Somos nós quem faz a nação. (Somos nós quem fazemos a nação.)

10) Pronome de tratamento: verbo sempre na 3ª pessoa do singular ou plural

(assim como o pronome possessivo)

Vossa Majestade tem o apoio do seu povo.

Vossas Majestades têm o apoio do seu povo.

Vossa Senhoria cometeu um grave erro.

Vossas Senhorias cometeram um grave erro.

11) Mais de ... / menos de ... / perto de ...: verbo concorda com o numeral

Perto de 25 famílias receberam auxílio do governo.

Mais de um homem morreu.

12) Um (uma) dos (das) que...: verbo sempre no plural

Ele é um dos que mais reclamam da inflação.

13) Núcleos do sujeito composto ligados por ou

se o ou indica exclusão, o verbo fica no singular:

Pedro ou Paulo se casará com Marta.

se a ideia expressa pelo verbo referir-se aos dois núcleos, o verbo vai para o

plural (na realidade o ou equivale a um e):

O ônibus ou o trem passam por lá.

14) Núcleos do sujeito composto ligados por nem

se o nem indica exclusão, o verbo fica no singular:

Nem Pedro nem Paulo se casará com Marta.

se a ideia expressa pelo verbo referir-se aos dois núcleos, o verbo vai para o

plural:

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Nem Pedro nem Paulo conformaram-se com os resultados.

15) Um ou outro, nem um nem outro

Um ou outro: verbo no singular:

Um ou outro transeunte notava a presença do cão sarnento.

Nem um nem outro: verbo no singular ou plural:

Nem um nem outro diz / dizem a verdade.

16) Haja vista: sempre invariável e sem a preposição a

Haja vista o decreto de 13 de outubro.// Haja vista os fatos.

17) Sujeito constituído de orações ou infinitivos: verbo no singular

Andar e nadar faz bem à saúde.

Que ela despreze e ridicularize essas virtudes já não me causa espanto.

Obs.: verbo no plural só se houver contraste entre os sujeitos ou se os sujeitos estiverem

substantivados:

Nascer e morrer fazem parte da vida. (antônimos)

O comer e o dormir em demasia alienam uma pessoa. (verbos substantivados o

comer/ o dormir)

CONCORDÂNCIA COM O VERBO SER

1) Sujeito ou predicativo são nomes de coisas: verbo concorda com o que está no

plural.

Tua vida são mentiras.

2) Sujeito ou predicativo são nomes de pessoa: verbo concorda com a pessoa.

O homem é cinzas.

Seu orgulho eram os filhos.

3) Sujeito ou predicativo é pronome pessoal: verbo concorda com pronome.

O professor sou eu.

Nós somos os culpados.

4) Indicações de hora, dia e distância: verbo concorda com predicativo.

É uma hora.

São duas horas.

É uma légua.

Até a estação de tratamento de água são 15 quilômetros.

Obs.: Hoje é 15 de novembro. ou Hoje são 15 de novembro.

5) Verbo SER fica invariável nas expressões indicativas de quantidade (é muito, é

bastante, é pouco, é suficiente, é demais):

Quinze quilos é pouco.

Três metros é suficiente.

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Dois reais é bastante.

Um é pouco, dois é bom, três é demais.

Exercícios I) Complete as frases com os verbos indicados:

1) muitas pessoas na rua quando saímos. (haver)

2) haver alguns lápis sobre a mesa. (dever)

3) haver problemas insolúveis. (poder)

4) dois anos que não nos vemos. (fazer)

5) fazer semanas que ele não aparece. (poder)

6) dois meses que não chove. (fazer)

7) Ontem 38º à sombra. (fazer)

8) Talvez ainda ingressos à venda. (haver)

9) haver candidatos honestos. (dever)

10) fazer três anos que não o vejo. (dever)

II) Complete as frases com os verbos indicados:

1) -se as decisões. (comentar)

2) Não se respostas para tantos problemas. (encontrar)

3) -se vozes no corredor. (ouvir)

4) -se caixas de cerveja. (beber)

5) -se notícias falsas. (publicar)

6) -se das propostas iniciais. (desconfiar)

7) Às vezes -se de coisas estranhas. (gostar)

8) -se de animais abandonados. (cuidar)

9) -se em revoluções. (falar)

10) -se de comércio espúrio. (tratar)

III) Complete as frases com os verbos entre parênteses, efetuando a necessária

concordância:

1) Fugir foi o que Jair e eu . (fazer)

2) Nem um nem outro se a concluir o projeto. (dispor)

3) Jogos, viagens, mulheres, nada o . (satisfazer)

4) A maioria dos brasileiros a pena de morte. (rejeitar)

5) Mais de 100 grevistas a fábrica. (invadir)

6) Oitenta por cento da plateia o espetáculo. (vaiar)

7) Oitenta por cento dos espectadores o espetáculo. (vaiar)

8) Jairo é um dos que mais carne neste restaurante. (consumir)

9) Vossa Senhoria agir com moderação. (dever)

10) Fui eu quem o a desenhar. (ensinar)

11) Foi você quem e sou eu que ter de rezar. (pecar - ir)

12) Montes Claros sua salvação. (representar)

13) Os Alpes turistas de todo o mundo. (atrair)

14) Os Estados Unidos a mídia. (dominar)

15) A criançada uma algazarra na porta da escola. (fazer)

16) À nossa casa, frequentemente, pessoas amigas. (chegar)

17) alguns minutos para estancar suas lágrimas. (bastar)

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18) Rui Reis ou Mário Pontes a cidade. (governar)

19) Este remédio ou aquele efeito. (fazer)

20) Setenta por cento da população pela democracia, 20% na

revolução armada e 1% a volta da ditadura. (lutar - insistir - querer)

21) Um quarto da produção de soja com a seca. (perder-se)

22) Amar e odiar o ser humano. (caracterizar)

23) Flores ainda acento circunflexo? (ter)

24) Você sabe onde os Bálcãs? (ficar)

25) Um terço do nosso planeta constituído por terra firme; dois

terços representados por água. (ser)

IV) Se existir erro de concordância, corrija:

1) A letra das composições musicais contemporâneas refletem, com nitidez, os

problemas sociais que o Brasil está enfrentando.

2) Dentro de alguns instantes será divulgado novos resultados.

3) Falta aos países subdesenvolvidos uma legislação mais rigorosa sobre os agrotóxicos.

4) Persiste por muito tempo no ambiente os efeitos nocivos dos inseticidas.

5) Conserta-se aparelhos de som.

6) Precisam-se de pedreiros.

7) Obedeceram-se aos severos regulamentos.

8) Promove-se festas beneficentes na minha igreja.

9) Da cidade à praia é dois quilômetros.

10) Dois metros de tecido são pouco.

11) Eram previsíveis os percalços que enfrentariam qualquer programa de estabilização.

12) Calor intenso ou frio excessivo me fazem mal.

13) Fernando Henrique ou Lula seria eleito presidente.

14) Renato ou Fernanda preencherão a vaga existente.

15) Um grito ou um tiro assustariam o animal.

16) Podiam haver bois no curral.

17) Deveriam haver muitas assombrações na vila.

18) Fazem meses que não ocorre no país fatos como aquele que até hoje nos perturbam.

19) Garotinho foi um dos governadores que queria uma reunião com o presidente.

20) O netinho eram suas maiores alegrias.

21) Os projetos apresentados pela assessoria da presidência são excelentes, hajam vista

os elogios recebidos.

22) Um quarto dos bens couberam ao menor.

23) O leite PAULISTA é processado pelo sistema UHT, que aquece o leite a uma

temperatura entre 130°C e 150°C, durante 2 a 4 segundos. Em seguida é imediatamente

resfriado a uma temperatura inferior a 32°C e depois envasado sob condições assépticas

em embalagens estéreis e hermeticamente fechadas, que o protege do ar e da luz,

garantindo uma perfeita e longa conservação de suas qualidades nutritivas e naturais.

(Texto constante da embalagem do leite Paulista semidesnatado)

24) Na região de Ribeirão Preto (319 km de São Paulo), onde atua quatro das nove

concessionárias de rodovias, o número de praças de cobrança municipais vai chegar a

15 no final do ano – são 18 os autorizados pelo Estado. (Folha de S.Paulo, 24/3/2000)

25) As denúncias não suficientemente esclarecidas quanto ao comportamento ético do

ministro da Fazenda nos deixou ainda mais constrangidos, não só a mim, mas a

companheiros do governo. (apud Vestibular FGV-SP)

V) Complete as frases com o verbo SER:

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1) A surpresa as flores.

2) Isso as trevas da noite.

3) Duzentos gramas suficiente.

4) Dois anos pouco para nos prepararmos.

5) Cinco milhões suficiente para a campanha.

6) Esaú as delícias da velhice de Isaac, seu pai.

7) Isso aberrações da natureza.

8) Sua cama umas folhas de jornal.

9) Minha vida farrapos de pano que vou remendando dia a dia.

10) Ainda meio-dia e meia.

11) Sua vida só espinhos.

12) Os interessados nós.

13) Isto intrigas da oposição.

14) Quando seis horas, partiremos.

VI) Assinale a alternativa correta:

1) (PUC) A crise no emprego da língua materna insere-se no contexto mais amplo das

circunstâncias culturais em que as civilizações modernas. Numa

época em que se todas as restrições e em que se a todas

as normas estabelecidas, não há, seguramente, maior zelo pela linguagem.

a) vivem - cancelaram – desobedece

b) vive - cancelaram – desobedece

c) vive - cancelou – desobedece

d) vive - cancelaram – desobedecem

e) vivem - cancelaram - desobedecem

2) (PUC) Convém que se levantem os problemas, que se reflita sobre os assuntos e não

se tomem medidas apressadas.

Substituindo-se os verbos sublinhados respectivamente por falar, avaliar e pensar,

obtém-se a construção correta

a) Convém que se fale dos problemas, que se avaliem os assuntos e não se pense em

medidas apressadas.

b) Convém que se falem dos problemas, que se avaliem os assuntos e não se pensem

em medidas apressadas.

c) Convém que se fale dos problemas, que se avalie os assuntos e não se pense em

medidas apressadas

d) Convém que se falem dos problemas, que se avalie os assuntos e não se pensem em

medidas apressadas.

e) Convém que se fale dos problemas, que se avalie os assuntos e não se pensem em

medidas apressadas.

3) (UFRGS) Não dúvidas de que de razão as

críticas que se ao projeto.

a) resta - carecem - fez

b) resta - carece – fizeram

c) resta - carece - fez

d) restam - carecem - fizeram

e) restam - carecem - fez

4) (PUC) Urge que se todas as recomendações, pois já meses

que se os mesmos erros.

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a) façam - fazem - cometem

b) façam - faz - comete

c) faça - fazem - comete

d) façam - faz – cometem

e) faça - faz – comete

5) (Univ. Fed. BA) Toda a verdade dos fatos , ainda que as

revelações.

a) será apurado - doa.

b) serão apurados - doa.

c) será apurada - doam.

d) será apurado - doa.

e) serão apurada - doam.

6) (Univ. Fed. BA) O meio passa a ter sentido graças às necessidades e aspirações do

homem. Que valor os bens materiais se não as necessidades do

homem e se não aspirações?

a) teria - fosse - existisse

b) teriam - fossem - existisse

c) teriam - fossem - existissem

d) teria - fossem - existissem

e) teriam - fosse - existissem

7) (UB-MG) Nas duas margens, relva abundante; contudo, lá onde

ervas perigosas, no matagal, é que os bois e os cavalos.

a) crescem - existem - pastavam

b) cresce - existem - pastavam

c) cresce - existe - pastava

d) cresce - existe - pastavam

e) crescem - existe – pastava

VI) Assinale a alternativa errada:

1) (Cesgranrio-RJ) Tendo em vista as regras de concordância, assinale a opção em que a

forma verbal está errada:

a) Existem na atualidade diferentes tipos de inseticidas prejudiciais à saúde do homem.

b) Podem provocar sérias lesões hepáticas, os defensivos agrícolas à base de DDT.

c) Faltam aos países subdesenvolvidos uma legislação mais rigorosa sobre os

agrotóxicos.

d) Persistem por muito tempo no meio ambiente os efeitos nocivos dos inseticidas

clorados.

e) Possuem elevado grau de toxidade os defensivos do tipo fosforado.

2) (UB-MG) - Assinale a alternativa em que a concordância do verbo está errada:

a) Acho que devem bastar duas colheres de açúcar.

b) Vão terminar acontecendo coisas desagradáveis.

c) Eles acham que pode ficar faltando uma dúzia de ingressos.

d) De fatos como esses decorre uma grande sensação de impunidade.

e) Deve ter sobrado uns cinco reais.

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REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL

Regência é o mecanismo que regula as ligações entre verbo ou nome (termos

regentes) e seus complementos (termos regidos). Como a linguagem oral é sempre mais

distendida, mais coloquial, existem (e muitas!) regências defendidas pela norma culta às

quais a oralidade (pelo menos no Brasil) não obedece. Esteja atento a elas e saiba em

que situação deverá optar por uma ou por outra.

Em questão de regência, as preposições desempenham papel importantíssimo,

por isso um dicionário de regência verbal e nominal resolve todas as dúvidas.

– Ele referiu-se ao artista plástico. regência verbal

– Ele fez referência ao artista plástico. regência nominal

– Fez comentários referentes ao artista plástico. regência nominal

– Falou referentemente ao artista plástico. regência nominal

Atenção à regência de alguns verbos15.

1 – Agradar

transitivo direto (sem preposição) = contentar, fazer carinhos.

Agradou o patrão com flores.// Agradou o cachorro.

transitivo indireto (rege preposição a) = satisfazer.

As medidas não agradaram ao povo (à população).

2 – Aspirar

transitivo direto (sem preposição) = sentir o cheiro, respirar.

Eu aspiro o ar poluído.

transitivo indireto (rege preposição a) = desejar, pretender.

Aspiramos aos mais altos postos (às mais altas honrarias).

3 – Assistir

transitivo direto (sem preposição) = socorrer, ajudar.

O médico assiste o doente (a doente).// Dois padres assistem o moço (a moça).

transitivo indireto (rege preposição a) = ver, presenciar.

Assisti ao debate (à novela).

4 – Atender

complemento pessoa = transitivo direto (sem preposição) ou transitivo

indireto (rege preposição a).

Atendeu o cliente (a cliente) ou Atendeu ao cliente (à cliente).

complemento coisa = transitivo indireto (rege preposição a).

Atendeu ao telefone e à porta ao mesmo tempo.

5 – Chegar/Ir

Regem a preposição a antes do adjunto adverbial.

Chegamos ao local. Irão à escola. Chegamos a Campinas. Foram ao jogo.

6 – Custar

No sentido de ser difícil, deve ser empregado na 3ª pessoa do singular e ter por sujeito uma oração

reduzida de infinitivo.

Custou-me conseguir passagem. // Custa a ele permanecer quieto.

15

Um bom dicionário de regência verbal e nominal resolve qualquer problema. Duas sugestões:

LUFT, Celso Pedro. Dicionário prático de regência verbal. São Paulo: Ática, 2003; embora não seja um

dicionário específico de regência, o Caldas Aulete (cujo download é gratuito) resolve a maioria dos

problemas.

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Assim, não se diz: Custei a achar um táxi.

Mas,

Custou-me achar um táxi.

7 – Esquecer/Lembrar

não pronominal = transitivo direto (sem preposição).

Esqueci a carteira. Lembro os fatos.

pronominal (lembrar-se, esquecer-se) = transitivo indireto (regem preposição de).

Esqueci-me da carteira. Lembro-me dos fatos.// Esqueceram-se de mim

8 – Implicar

transitivo direto (sem preposição) = acarretar.

O atraso implicará perda dos direitos.

(Como se vê, não se usa a preposição em)

transitivo indireto (rege a preposição com) = ter implicância.

O velho implica com os netos.

pronominal (implicar-se) = envolver-se em situações.

João implicou-se em negócios escusos.

9 – Obedecer/Desobedecer

Sempre transitivos indiretos, regendo a preposição a.

Ela obedece sempre aos seus instintos (às suas paixões).

João desobedece ao farol (à ordem).

10–Pagar/Perdoar

quando o objeto refere-se a coisa = transitivo direto.

Não pagamos a conta de luz. (= objeto – coisa)

Perdoaram o seu erro. (= objeto – coisa)

quando o objeto refere-se a pessoa = transitivo indireto (rege preposição a).

Já pagamos à empregada. (= objeto – pessoa)

Perdoamos sempre aos entes queridos. (= objeto – pessoa)

11–Preferir

Transitivo direto e indireto (rege preposição a).

Prefiro doces a salgados.

Todos preferiam o elogio à censura.

Atenção: não se usa do que, nem muito mais, mil vezes etc. Em preferir já existe o prefixo com tais

ideias. Assim, é errado dizer: Prefiro o cinema do que o teatro. / Prefiro muito mais o cravo que a

rosa.

Diga: Prefiro o cinema ao teatro. /Prefiro o cravo à rosa.

12–Proceder

intransitivo = ter procedência, ter fundamento.

Sua reclamação não procede.

intransitivo = provir (rege preposição de).

O avião procede de Roma.

transitivo indireto (rege preposição a) = dar início.

O professor procedeu à chamada.

13–Querer

transitivo direto = desejar.

Não quero este livro.

transitivo indireto (rege preposição a) = estimar, gostar.

Quero (bem) a meu sobrinho.

14–Responder

Transitivo indireto (rege preposição a) = dar resposta.

Responda ao questionário.

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Não respondi à carta de Paulo.

15–Simpatizar

Transitivo indireto (rege preposição com).

Simpatizo com suas ideias liberais.

Jamais se deve usá-lo pronominalmente. Assim, não se deve dizer:

Simpatizo-me com ela.

Mas

Simpatizo com ela.

16–Visar

transitivo direto = mirar, apontar a arma.

Ele visou o animal.

transitivo direto = passar visto, assinar.

O diretor visou os requerimentos.

transitivo indireto (rege preposição a) = objetivar, ter em vista.

Não visamos a lucros excessivos (a nenhuma condecoração).// Visavam ao bem-estar da

população (à felicidade da população).

Carlos só visava ao poder.

17–Pronome relativo: que, quem, o/a qual, os/as quais, onde, cujo/a, cujos/as

Quando o pronome relativo funciona como complemento de um verbo, deve-se respeitar-lhe a

regência.

Gostei do filme que vi. (quem vê, vê alguma coisa (sem preposição)

a que assisti. (quem assiste, assiste a alguma coisa)

de que o crítico falara. (quem fala, fala de alguma coisa)

a que ele se opôs. (quem se opõe, opõe-se a alguma coisa)

18–Verbos com regências diferentes: é erro comum colocar-se um só complemento para verbos

com regências diferentes. Ex.: Ele entra e sai da sala a todo momento.

Há dois verbos – entrar e sair – cada qual com sua regência: entrar em // sair de. Assim a frase

correta é: Ele entrava na sala e dela saía a todo momento.

Regência Nominal

Aqui está uma pequena relação de substantivos e adjetivos acompanhados de suas preposições mais

usuais:

acessível a

acostumado a, com

afável com, para com

agradável a

alheio a, de insensível a

análogo a liberal com

ansioso de, para, por medo a, de

apto a, para natural de

aversão a, por necessário a

ávido de nocivo a

benéfico a obediência a

capacidade de, para ojeriza a, por

capaz de, para paralelo a

compatível com parco em, de

contemporâneo a, de passível de

contíguo a possível de

contrário a preferível a

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curioso de, por prejudicial a

descontente com prestes a

desejoso de propício a

diferente de próximo a, de

entendido em relacionado com

equivalente a respeito a, com, para com

escasso de satisfeito com, de, em, por

essencial para semelhante a

fácil de sensível a

fanático por sito a

favorável a suspeito de

generoso com união a, com, de, entre

grato a útil a, para

hábil em vazio de

habituado a

horror a

versado em

idêntico a

impróprio para

indeciso em

Exercícios I - Corrija as frases que apresentem problemas quanto à regência (lembre-se de

que o que estamos pedindo é a norma culta):

1) Assistimos um belo espetáculo.

2) O médico assistiu ao doente.

3) Preferia viajar do que trabalhar.

4) Custei a entender o sentido da frase.

5) Obedeça a sinalização

6) O juiz procedeu o julgamento.

7) Esta alternativa obedece o padrão da gramática normativa.

8) Em Cubatão, aspira-se a um ar poluído.

9) Perdoei Antônio.

10) Informei-lhe de que os documentos haviam chegado.

11) Chegando em Cuiabá, procedeu o julgamento do jogador.

12) Não esqueci os compromissos.

13) Lembrei de alguns pormenores.

14) Esqueci de seu nome.

15) Esqueceu do guarda-chuva.

16) Prefiro ser sincero do que mentir aos meus amigos.

17) Preferimos mil vezes ficar em casa do que ir no teatro.

18) O desrespeito ao regulamento implica em multa pesada.

19) Os motoristas irresponsáveis não obedecem os sinais de trânsito.

20) Há um grande número de pessoas que não entende e não se interessa por política.

II- Complete as frases com as preposições exigidas pelos verbos:

1. São filmes que assisto com frequência. / São filmes

quais assisto com frequência.

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2. Não vamos tocar em fatos que já nos esquecemos. / Não vamos tocar

em fatos quais já nos esquecemos.

3. São filmes que as crianças gostam. / São filmes quais

as crianças gostam.

4. Este é o cobiçado prêmio que aspiro. / Este é o cobiçado prêmio

qual aspiro.

5. O escritor cuja obra falei morreu ontem.

6. É este o livro cujas personagens me referi.

7. Acataremos ordens do presidente cuja probidade não temos o direito

de duvidar.

8. As opiniões que me oponho são inconsistentes. / As opiniões

quais me oponho são inconsistentes.

9. Os fatos. que me lembro ocorreram no ano passado. / Os fatos

quais me lembro ocorreram no ano passado.

10. São pessoas quem dedico profunda estima. / São pessoas

quais dedico profunda estima.

11. O vizinho quem desconfio usa roupas escuras./ O vizinho

qual desconfio usa roupas escuras.

12. Ele é um professor cujas palavras confio.

13. Esta é a marca que os esportistas confiam.

III- Junte as duas orações num só período, fazendo uso de um pronome relativo. Se

necessário, use preposições antes dos pronomes:

1. Comi uma fruta. Não lembro o nome dessa fruta.

2. Todos estão pleiteando o cargo. Nós aspiramos a ele.

3. O Brasil tem muitos eleitores semi-alfabetizados. Alguns políticos tentam agradar a

esses eleitores.

IV- Substitua os verbos grifados pelos indicados:

1) Eles queriam a segurança de suas famílias. (visar)

Eles segurança de suas famílias.

2) Com essas medidas, ela tem por objetivo a manutenção da disciplina. (visar)

Com essas medidas, ela manutenção da disciplina.

3) As novas medidas não satisfizeram a população. (agradar)

As novas medidas não população.

4) Todos acataram as normas da casa. (obedecer)

Todos normas da casa.

5) Esses patrões nunca remuneraram decentemente aqueles funcionários. ( pagar)

Esses patrões nunca decentemente funcionários.

6) Esta atitude resultará em prejuízo à sociedade. (implicar)

Esta atitude prejuízo à sociedade.

7) Os que viram o debate, gostaram mais do Maluf que da Erundina. (assistir e preferir)

Os que debate, Maluf Erundina.

Os que debate, o Maluf Erundina.

8) A mulher tinha afeição pelo garoto. (querer)

A mulher garoto.

9) O jogador não se esqueceu de sua origem humilde. (esquecer)

O jogador não sua origem humilde.

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10) As empresas que conheci são parceiras do governo. (simpatizar)

11) Desperdício de água resultará em desertificação do planeta. (implicar)

Desperdício de água desertificação do planeta.

12) Gosto mil vezes mais de doce do que de salgado. (preferir)

13) A atitude do modelo não satisfez o empresário. (agradar)

A atitude da modelo não empresário.

14) A propaganda a seguir mostra uma inadequação sintática.

a) Qual a inadequação aí presente?

b) Reescreva a frase de forma a eliminar a inadequação.

VI- Utilize a preposição adequada:

1) Manteve-se alheio comentários ferinos dos adversários.

2) Ler é sempre preferível .assistir a certos programas humorísticos.

3) Ela era devota . Santa Rita.

4) Nutria um ódio figadal tudo que era estrangeiro.

5) Não se tem mais respeito . idosos.

6) Em seu romance, o escritor fez uma alusão elogiosa sertanista.

7) Eu já me havia acostumado calor de 40 graus.

8) O edifício, localizado Rua das Palmeiras, será implodido.

9) Fulano de Tal, residente Rua Tal, deve comparecer à delegacia do

bairro.

VII – Com verbos transitivos indiretos não é possível haver voz passiva. Corrija as

frases abaixo:

1) O jogo foi assistido por uma plateia agitada.

2) As placas de sinalização não costumam ser obedecidas pelos motoristas.

3) Cargos de diretoria às vezes são aspirados por pessoas pouco competentes.

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CRASE

A crase, fenômeno diretamente ligado à regência, é a fusão de duas vogais

idênticas, normalmente o artigo feminino a/as ou pronome demonstrativo a/ as com a

preposição a.

REGRAS PRÁTICAS:

Substituir o nome feminino pelo nome masculino:

Ex.: Sentou-se à mesa (ao piano).// Pagou a dívida à funcionária. (o salário, ao funcionário). //

Refiro-me a ela (a ele).

Possibilidades masculino feminino

AO (prep. + artigo) = À (prep.+ artigo) CRASE!

A (preposição) = A (preposição) SEM CRASE!!

O (artigo) = A (artigo) SEM CRASE!

Substituir “à” por “para a”, “na”, “com a”, “pela”, “da”:

Ex.: Trazia os sacos às costas (nas costas). / À entrada (na entrada) via-se uma tabuleta. /

Foi à Lapa. (para a)

Se vou à e venho da, crase há. (Vou à França, venho da França.)

Se vou a e venho de, crase pra quê? (Vou a Portugal , venho de Portugal.)

Experimente:

1) Nunca assisti a tanta miséria.

2) Deu a cada esposa uma parte da herança.

3) Falou a todas as emissoras do país.

4) Concedeu a todos os canais a mesma entrevista.

5) Fomos a uma exposição de quadros a óleo.

6) Sou sensível a tais ofensas.

7) Retornou a Brasília.

8) Retornou a seca Brasília.

9) Dois a dois foi a contagem.

10) Sentou-se a máquina e reescreveu uma a uma as páginas.

11) Foi a Escócia assim que chegou a Europa.

12) Chegamos a Fortaleza hoje cedo.

13) Chegamos a fortaleza hoje cedo.

14) Recorreu a irmã e a ela se apegou como a uma tábua de salvação.

15) Subiu a tribuna e falou as massas, incitando a população a greve, as desordens, a

desobediência a ordem federal.

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NUNCA há crase: antes de palavras masculinas: a pé, a cavalo, a álcool

(porque o artigo usado seria O/OS);

antes de verbo: a partir de hoje, contas a pagar

(porque o verbo não admite artigo);

antes de pronomes de tratamento: a você, a V.S. Exceções: dona, senhora, senhorita

(porque antes dos pronomes de tratamento não há artigo);

antes de pronomes em geral: a ela, a essa, a cada uma

(porque antes de pronomes, em geral, não há artigo);

nas expressões formadas por palavras repetidas: cara a cara, face a face, frente a frente

(porque inexiste o artigo);

com “a” + substantivo feminino plural: Dirigiu-se a pessoas estranhas. Vamos a regiões pobres

(porque esse a é uma preposição; se houvesse artigo, seria as, para acompanhar o substantivo

feminino plural = Dirigiu-se às pessoas estranhas. Vamos às regiões pobres);

antes de nomes de cidades sem determinação: Vou a Roma. / Voltou a São Paulo. / Chegamos a

Taubaté. (porque esses nomes não aceitam artigo).

Haverá crase se o nome da cidade vier determinado: Vou à Roma dos Césares. /

Voltou à poluída São Paulo. / Chegamos à Taubaté de Monteiro Lobato.

Exercício

Use o acento indicativo da crase onde julgar conveniente:

1) Prefiro cinema a teatro.

2) Certas estrelas não são visíveis a olho nu.

3) Fomos a Embu a pé e voltamos a cavalo.

4) Fui a Bolonha, depois a Veneza dos belos canais.

5) Estou mais inclinado a falar do que a ouvir.

6) Tornava-se a cada hora mais afeito a essas perigosas divagações que levam um

homem a viver num mundo imaginário.

7) Ficaram frente a frente, a se olharem pensando no que dizer uma a outra.

8) Requeiro a V. Exa. a extensão dos benefícios a meus descendentes.

9) Vivemos para servir a Deus.

10) Tomou o remédio gota a gota.

11) Os bandeirantes andaram rumo a (as) regiões desconhecidas. / Os bandeirantes

andaram rumo as regiões desconhecidas

12) Entrada proibida a (as) mulheres em traje de banho. / Entrada proibida as mulheres

em traje de banho.

13) Falavam a multidões enfurecidas. / Falavam as multidões enfurecidas.

14) Refiro-me a mulheres do século XIX. / Refiro-me as mulheres do século XIX.

15) Falei a pessoas interessadas. / Falei as pessoas interessadas.

16) Refiro-me a importações, não a exportações. / Refiro-me as importações, não as

exportações.

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17) Comprei a vista, não a prazo.

SEMPRE há crase:

na indicação do número de horas: Às duas horas, à zero hora, à uma hora, das treze às dezesseis

horas;

na expressão à moda de (mesmo que a expressão moda de esteja oculta): Salto à Luís XV. /

Bife à milanesa. / Gol à Pelé;

nas expressões adverbiais femininas (menos nas de instrumento): Saí à noite. Ficou à espreita.

Saiu às pressas. (mas Escreveu a caneta, carro a gasolina, barco a vela);

nas locuções prepositivas e conjuntivas: à força de, à roda de, à frente de // à medida que, à

proporção que.

Exercício:

1) Usava uma cabeleira a Alceu Valença. 2) Usava um bigode a Hitler. 3) A casa era

toda decorada a colonial. 4) Gosto de macarrão a bolonhesa. 5) Fez um gol a

Ronaldinho.

6) Retirou-se as escondidas. 7) Vivemos a custa de seu tio. 8) A hora do almoço, Luís

come a beça. 9) As sacudidelas partiu o velho carro que fora o primeiro a chegar a

cidade. 10) As vezes passamos alguns dias a beira-mar. 11) Estou a disposição de vocês.

12) Retirou-se as pressas do local a fim de não ser identificado. 13) Sentaram-se a

sombra das mangueiras.

14) Barco a vela / forno a lenha/ carro a gasolina / ferido a bala / escrever a tinta, a

gilete

15) A proporção que subimos, o ar se rarefaz. 16) Seu desespero aumenta a medida que

o tempo passa. 17) A força de muito observar, percebemos a avaria da máquina.

18) Cheguei a fazenda a zero hora e não a uma. 19) As nove horas as tropas estendiam-

se de ponta a ponta da avenida.

Casos facultativos

Antes de nomes próprios femininos16. Ex.: Dei o livro à Rita. ou Dei o livro a Rita.

Antes de pronomes possessivos femininos17. Ex.: O professor referiu-se a sua reportagem. ou O

professor referiu-se à sua reportagem.

Depois da preposição até. Ex.: Fui até a estação. ou Fui até à estação.

16

Na verdade, o uso da crase não é optativo, mas obedece à presença ou não de artigo diante do nome

feminino. Assim, no Nordeste, costuma-se dizer “Maria não veio” (sem o artigo). Nesse caso, não se pode

usar o acento indicativo da crase em “Dei o livro a Maria”. Mas, em São Paulo, diz-se: “A Maria não

veio” (com o artigo). Nesse caso, deve-se usar o acento indicativo da crase em “Dei o livro à Maria”. 17

O mesmo ocorre com o pronome possessivo, que pode ser empregado com ou sem artigo (mas neste

caso não existem diferenças regionais).

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Exercício Use o acento indicativo da crase:

1) As crianças contaram a cena a Elvira.

2) Retornou a nossa casa depois de algum tempo.

3) Fomos até a chácara supervisionar o plantio das mudas de manga.

4) Enderecei a Maria do Carmo toda a correspondência.

Casos especiais 1

casa ( no sentido de lar):

sem determinação, não há crase. Ex.: Voltou a casa./ Chegamos a casa cedo.

se houver determinação, haverá crase:Ex.: Chegamos à casa do reitor./ Fui à casa de Irene.

terra:

há crase se o sentido for de pátria, planeta.

Ex.: Voltaram à terra prometida./ A nave voltou à Terra.

Não há crase, quando terra se opuser a mar ou ar (isto é, quando se opuser a a bordo). Ex.:

Os tripulantes desceram a terra.

distância:

se a distância não estiver determinada, não haverá crase. Ex.: A distância, não se enxergava o

avião./ Ensino a distância

só há crase se a distância vier determinada. Ex.: No zoológico os animais são mantidos à

distância de cem metros.

Exercício 1) Os animais pastavam a distância.

2) Voltou a casa do amigo tarde da noite.

3) Os animais pastavam a distância de trinta metros.

4) Era doloroso voltar a terra dos meus avós.

5) Depois do cruzeiro, os turistas desceram a terra.

6) A noite estava clara por isso os namorados foram aquela praia distante ver a chegada

dos pescadores, que voltavam a terra.

Casos especiais 2

aquele (s), aquela (s), aquilo: Sempre que o termo regente exigir preposição, haverá crase. Ex.:

Refiro-me àqueles livros. Prefiro isto àquilo.

a que / à que – regra prática: se com o antecedente masculino ocorrer ao, haverá crase no

feminino; se com o antecedente masculino ocorrer a, não haverá crase no feminino. O mesmo

acontece com a qual e as quais. Ex.:

Não gostei da garota a que você se referiu.// Não gostei da garota à qual você se referiu.

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(do garoto) a que (do garoto) ao qual

Houve uma sugestão anterior à que você deu.

(um palpite) ao que

Exercício

Coloque o acento indicativo da crase onde julgar conveniente:

1) As crianças contaram a mãe a cena a que assistiram.

2) As crianças contaram a Elvira a cena a qual assistiram.

3) Os congressistas comemoraram a decisão a que a haviam chegado.

4) Os congressistas comemoraram a decisão a qual haviam chegado.

5) Esta entrevista é igual a que li ontem.

6) A cidade a que iremos possui praias a que só poderemos chegar a pé.

7) A cidade a qual iremos possui praias as quais só poderemos chegar a pé.

8) A faculdade a que aspirava era uma utopia.

9) A faculdade a qual aspirava era uma utopia.

10) Esta é a casa a que me referi.

11) Esta é a casa a qual me referi.

12) Esta roupa é semelhante a que comprei ontem.

13) A circunstância a que nos referimos é estranha.

14) A circunstância a qual nos referimos é estranha.

15) São normas a que todos devem obedecer.

16) São normas as quais todos devem obedecer.

17) A excursão a que iremos custará caro.

18) A excursão a qual iremos custará caro.

19) Esta é a pesquisa a que dedico mais tempo.

20) A caneta que comprei é idêntica a que você tem.

21) São penas semelhantes as que se aplicavam na Idade Média.

22) As prendas são semelhantes as que foram sorteadas ontem.

23) Estavam a poucos metros da clareira a que foram ter por um atalho aberto a foice.

24) Estavam a poucos metros da clareira a qual foram ter por um atalho aberto a foice.

25) Aqui estão duas opções. Escolha a que mais lhe agradar.

26) Eram duas moças, a que mais me agradava era a morena.

27) Hoje muitas pessoas sofrem de doenças graves; o médico referiu-se as que são

acometidas de câncer.

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DEFEITOS DO TEXTO (VÍCIOS DE LINGUAGEM)

Contra as qualidades do texto (clareza, concisão, correção, elegância) operam os

defeitos, também catalogados como vícios de linguagem. São eles:

Barbarismo: consiste em grafar ou pronunciar uma palavra em desacordo com

a norma culta. Eles ocorrem na:

√ grafia: analizar por analisar.

√ pronúncia: rúbrica por rubrica.

√ morfologia: deteu por deteve.

√ semântica: O iminente jurista presidiu a seção. (por eminente e sessão)

√ estrangeirismo: utilização desnecessária de termos em outras línguas: delivery,

sale/off, mise-en-scène em lugar de entrega em domicílio, liquidação, encenação.

Solecismo: é representado por qualquer erro de sintaxe:

√ de concordância: Fazem anos que não o vejo. (por faz)

√ de regência: Esqueceram de mim. (por esqueceram-se de mim ou esqueceram-

me)

√ de colocação: Não coloque-a aqui. (por não a coloque)

Arcaísmo: consiste no emprego de palavras ou construções antigas, que já

caíram em desuso.

√ antanho (por passado)

Preciosismo: é o exagero na linguagem, em prejuízo da naturalidade e clareza

da frase.

Isso é colóquio flácido para acalentar bovino. (por Isso é conversa mole para boi

dormir.)

Cacofonia: é representada por qualquer sequência silábica que provoque som

desagradável: A boca dela é enorme.

A cacofonia compreende:

√ cacófato: o encontro de sílabas forma palavra obscena ou escatológica . Foi

eleita miss Java.// Nunca gaste todo seu dinheiro.

√ eco: repetição de terminações iguais, sobretudo na língua oral. Frequentemente o

presidente sente dor de dente, quando viaja ao Oriente.// O hospital municipal de

Jaboticabal vai mal.

√ colisão: repetição de consoantes iguais ou semelhantes. O monstro medonho

mede mais ou menos um metro e meio.

√ hiato: sequência ininterrupta de vogais. Ou eu o ouço, ou eu o ignoro.

Ambiguidade: é o duplo sentido decorrente da construção defeituosa da frase.

O cachorro do meu vizinho morreu.

O guarda deteve o suspeito em sua casa.

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Redundância, pleonasmo vicioso ou tautologia: consiste na

repetição desnecessária de informação.

O cantor usava brinco nas duas orelhas.

Há muitos anos atrás...

Não quero que isto se repita outras vezes.

Obscuridade: falta de clareza devido, por exemplo, a períodos

excessivamente longos, linguagem rebuscada, má pontuação, desconhecimento da

crase.

Uma construção defeituosa muito corrente é a que usa verbos no gerúndio, particípio e

infinitivo. Como essas formas nominais frequentemente omitem o sujeito, o sujeito da

oração seguinte serve para as duas, o que pode provocar a obscuridade, como nesta

frase:

Passeando pela rua, o caminhão atropelou o menino.

Como o gerúndio passeando não tem sujeito, automaticamente, acredita-se que o sujeito

da oração seguinte (caminhão) funcione como seu também. Para “consertar” a frase,

bastaria mudar o sujeito da oração principal: Passeando pela rua, o menino foi

atropelado pelo caminhão. Ou desdobrar a oração reduzida de gerúndio: Quando o

menino passeava pela rua, o caminhão o atropelou.

Exercícios

I) Identifique os vícios de linguagem e corrija-os:

1) Amanhã irão fazer vinte anos que me formei.// Fazem duas horas que espero pelo

resultado.// Neste mês farão dois anos que ela morreu.

2) O carnet já estava quitado.// Conversavam à luz de um abat-jour lilás.// Meu week

end foi maravilhoso.

3) As empresas sofreram prejuízos vultuosos.// Os policiais só entrarão aqui com um

mandato de prisão.// Fomos taxados de vagabundos pelos assessores do prefeito.//

Produtos perecíveis. Tráfico permitido. (cartaz no vidro traseiro de uma kombi, que lhe

permitiria circular durante o rodízio)

4) Meu pai sofre de alopecia androgênica.

6) Meu irmão deu um tropeção, caiu no chão e machucou a mão.

7) Compre um refrigerante e ganhe grátis um copo.

9) Eu vi o desmoronamento do barracão.

10) Envie-me já o catálogo de vendas.

11) A oncocercose é uma doença típica de comunidades primitivas. Não foi

desenvolvido ainda nenhum medicamento ou tratamento que possibilite o

restabelecimento da visão. Após ser picado pelo mosquito, o parasita (agente da

doença) cai na circulação sanguínea e passa a provocar irritações oculares até a perda

total da visão. (Folha de S.Paulo, 02/11/90)

12) O presidente americano (...) produziu um espetáculo cinematográfico em novembro

passado na Arábia Saudita, onde comeu peru fantasiado de marine no mesmo

bandejão em que era servido aos soldados americanos. (Veja, 09/01/91)

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13) As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A

decisão atende a uma portaria de dezembro de 91, do Juizado de Menores, que proíbe

que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas pornográficas a menores de

18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios

sem a companhia ou autorização dos pais. (Folha Sudoeste, 06/06/92)

14) Os estudantes que pretendem ingressar na Unicamp, no próximo vestibular,

concordam com o decreto do governo. Estão reclamando, apenas, que a Universidade

de Campinas está exigindo a leitura de um livro que entrará no exame inexistente no

Brasil: A confissão de Lúcio, de Mário de Sá-Carneiro. (Istoé Senhor, 14/09/88)

15) “Meu filho mais moço é o João Manoel Joinville de Carvalho Machado, do meu

casamento com a Eliane, que é uma mulher doce e encantadora, que mora em Los

Angeles, tem 20 anos e que faz curso superior de cinema.”(trecho de entrevista com

Juarez Machado em A Notícia, Joinville, 27/02/98)

16) Mando-lhe um cão pelo meu motorista que tem as orelhas cortadas e marcas nas

patas.

17) Mulher atacada por cão vai processar seu dono.

18) O ministro da Fazenda qualificou os compradores de motos que pagavam ágio aos

revendedores de ignorantes.

19) A fábrica garante o produto contra todos os defeitos de fabricação, exceto os

decorrentes de uso indevido.

20) Estas populações lançam mão18, para sua sobrevivência, de arroz e feijão.

21) Mesmo quando a classe está empenhada em atividades de leitura e redação, ouve-se

um barulho incessante.

22) Foi constatado que todos os políticos não estão de acordo com as novas propostas

do governo.

23) Não sem frequência, as moças encontram-se na praça.

24) É preciso que se criem novas alternativas para o combate à violência que assola a

sociedade.

25) Crianças que recebem leite materno frequentemente são mais sadias.

II) Desfaça a ambiguidade ou duplo sentido:

1) Família quer proteger os filhos dos criminosos.

2) O mutirão contra a violência da polícia não produziu o feito esperado.

3) Antes de mudar-se para o Rio, o trabalho do meu pai obrigava-o a constantes viagens

pelo Brasil.

4) Saindo de casa, o fogão ficou aceso.

5) O telefone tocou ao entrar no quarto para apanhar a chave.

6) Comparadas com suas primas europeias, os enxames de abelhas africanas têm dez

vezes mais indivíduos.

7) Gabriela pegou o estojo vazio da aliança de diamantes que estava sobre a cama.

8) Olhando do alto do Corcovado, a Baía de Guanabara é um espetáculo deslumbrante.

9) Além de machucado, o contrato do jogador termina no próximo dia 8.

10) A osteoporose é uma doença que fragiliza os ossos, quebrando-se com facilidade.

11) Osama bin Laden foi encontrado enforcado por dois jornalistas da CNN na noite de

quarta-feira.

18

Lançar mão de: servir-se, utilizar-se, valer-se de. Seu contrário é abrir mão de: desistir de.

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BIBLIOGRAFIA

ASSUMPÇÃO, Maria Elena; BOCCHINI, Maria Otilia. Para escrever bem. 2. ed. São

Paulo: Manole, 2006.

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Vocabulário ortográfico da língua

portuguesa. São Paulo: ABL, 2009. Disponível em:

<http://www.academia.org/vocabularioortografico>.

CALDAS AULETE. Dicionário digital. Globo.com (download gratuito).

CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. São Paulo: Ática, 1995.

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 5.

ed. Rio de Janeiro: Lexicon, 2009.

FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, F. Platão. Para entender o texto. São Paulo: Ática, 1990.

GARCIA, Othon. Comunicação em prosa moderna. 26. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006.

BARBEIRO, Heródoto; LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual de radiojornalismo. 2. ed.

Rio de Janeiro: Campus, 2003.

MARTINS, Eduardo. Manual de redação e Estilo OESP. São Paulo: O Estado de S.

Paulo, 1997.

OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto de; BARROS, Edgard de Oliveira. Quem? Quando?

Como? Onde? O quê? Por quê? São Paulo: Plêiade, 2010.

SQUARISI, Dad; SALVADOR, Arlete. A arte de escrever bem. São Paulo: Contexto,

2005.

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APÊNDICE

O contexto do erro

Usar variedade linguística inadequada numa frase confusa pode ser um tropeço de

português mais impróprio do que problemas de grafia, regência ou concordância

José Luiz Fiorin

A revista Veja publicou o seguinte texto: "Depois de assinar laudos de

reconhecimento de voz dos escândalos provocados por grampos telefônicos, o

foneticista Ricardo Molina ganhou alguma notoriedade e uma série de novos clientes.

Da relação de suas tarefas recentes, incluem-se análises de fitas enviadas por

empresas que investigam a conduta de funcionários e de maridos desconfiados de

traição" (28/8/2001, p. 30).

Da forma como está redigido esse texto, o sentido é que as empresas investigam tanto

a conduta de funcionários quanto a de maridos desconfiados de traição. Na verdade,

porém, o que se quer dizer é que "empresas que investigam a conduta de

funcionários, bem como maridos desconfiados de traição, enviam fitas para serem

analisadas". Observe que o texto está escrito de maneira inadequada, provocando uma

ambiguidade.

O erro linguístico não se esgota, como pretendem alguns, na adequação ou

inadequação da variedade utilizada à situação de comunicação ou ao gênero que está

sendo empregado: por exemplo, o uso de uma variedade popular num gênero em que

se exige a norma culta, como o texto acadêmico, ou o uso de termos chulos numa

situação de comunicação em que sua utilização causa estranheza e constrangimento.

É preciso considerar que há realizações linguísticas que, por descuido ou por falsa

análise realizada pelo falante, contrariam as regras de organização do sistema

linguístico ou não cumprem adequadamente a função de comunicar. Esses fatos são

sentidos principalmente na escrita. Com base em sugestões de Francisco Platão

Savioli, vejamos quais são esses tipos de "erros".

1 – Frases ou períodos truncados

É a produção de frases em que faltam termos essenciais (como o predicado) ou

períodos compostos por subordinação em que não aparece a oração principal. Esses

erros prejudicam a comunicação, pois o leitor fica sem saber o que quis dizer quem

escreveu a frase.

a) Já houve o tempo da moreninha, da loirinha e agora chegou a vez da ruivinha. A

cor do cabelo, no entanto, faz pouca diferença, pois a fórmula para conquistar jovens

plateias com um interesse maior em sexo do que em música. O segredo do sucesso na

música pop é um rostinho – e corpinho – feminino bonito e bem sensual (Folha de

S.Paulo, 17/9/1989, apud Unicamp 89).

b) Embora as enchentes, todos os anos, continuem a destruir cidades inteiras em

regiões do Nordeste, provocando prejuízos que chegam a milhões de reais.

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No segundo parágrafo do primeiro exemplo, a oração iniciada por pois não tem

predicado. Por isso, não se sabe o que se quer dizer sobre a "fórmula para conquistar

jovens plateias". No segundo caso, não há oração principal: a primeira, iniciada por

embora, é subordinada adverbial concessiva; a segunda é subordinada adverbial

temporal reduzida de gerúndio; por essa razão, não se sabe exatamente o que o

falante queria dizer.

2 – Violações de relações discursivas

Ou seja, de relações entre partes ou segmentos do texto, como o uso de conectores

argumentativos inadequados, de enunciados ambíguos etc.

a) Proteja a entrada dos intrusos (Texto publicitário).

b) Diafragma

Como funciona: insere-se um anel de borracha na vagina para cobrir a entrada do

colo do útero, que deve ser retirado cerca de dez horas após o contacto sexual

(Folheto informativo).

c) Há milhões de pessoas que passam fome no país. Por isso, o governo restringirá as

verbas para programas sociais.

No primeiro caso, temos um enunciado ambíguo. Ele anuncia um dispositivo de

segurança para portões. Mas pode dar a entender que, com ele, tanto se pode impedir

a entrada de intrusos quanto proteger os intrusos, enquanto entram. No segundo, o

pronome relativo que tanto pode referir-se à expressão anel de borracha quanto a

útero, o que significa que não se sabe o que deve ser retirado dez horas após o

contacto sexual. No terceiro, o uso da conjunção conclusiva não cabe no contexto.

Deveria ser usada uma adversativa, como mas, ou uma concessiva, como embora.

3 – Erros de ortografia

A ortografia é o conjunto de convenções que rege a grafia das palavras. Essas

convenções, no caso brasileiro, resultam de normas oficiais, que são coercitivas para

todos os falantes.

Gosta de fama de "bad boy" (garoto mal) e faz tudo o que pode para mantê-la (Folha

de S.Paulo, 11/6/1995, 4-5).

O adjetivo é grafado com u (mau) e o advérbio com l (mal); na frase mau é adjetivo.

A questão da correção não se reduz, como se vê, ao problema da adequação ou

inadequação dos usos à situação de comunicação ou ao gênero que está sendo

empregado. Há outras impropriedades: frases ou períodos truncados, violações de

relações discursivas e erros de ortografia. Analisemos agora outros tipos de

incorreções que se cometem ao produzir um texto: a hipercorreção, a falsa análise do

enunciado, a falsa analogia, a impropriedade lexical.

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4 – Falsa análise do enunciado

É aquele erro cometido por uma análise inadequada da frase, quando se atribui a uma

palavra ou expressão uma função sintática que ela não exerce, quando se estabelecem

relações sintáticas inexistentes, quando se realizam analogias improcedentes dentro

do período. Vejamos alguns exemplos:

a) Vai chover multas na volta do feriado (Folha da Tarde, 31/12/1992, 1).

b) Pode-se argumentar, é certo, que eram previsíveis os percalços que enfrentariam

qualquer programa de estabilização (...) necessário no Brasil (Folha de S.Paulo,

7/10/1990, apud Unicamp 91).

No primeiro caso, atribui-se à palavra multas, que é o sujeito, a função de objeto

direto e, por conseguinte, não se realiza a concordância. A frase correta seria Vão

chover multas na volta do feriado. No segundo, considera-se que o pronome relativo

que, que retoma o substantivo percalços, tem a função de sujeito e não de objeto

direto e faz-se a concordância do verbo com o antecedente (percalços) e não com o

verdadeiro sujeito qualquer programa de estabilização.

Muitas vezes, também a hipercorreção resulta de uma falsa análise do enunciado. A

diferença, no entanto, é que aquela acaba resultando, para quem a pratica, numa regra

de uso: por exemplo, o verbo fazer indicando tempo passado nunca é usado

impessoalmente. Diz-se sempre fazem muitos dias.

5 – Falsas analogias

São as formas criadas por analogia com as regularidades da língua ou pelo

estabelecimento de correspondências não existentes entre certas formas da língua.

Diferentemente do caso anterior, não se trata aqui de relações indevidas estabelecidas

entre termos no interior de um período, mas da falsa pressuposição de simetrias na

língua.

a) [Os astecas] não só conheciam o banho de vapor, tão prezado na Europa, como

mantiam o hábito de banhar-se diariamente (Superinteressante, out. 92, apud

Unicamp 93).

b) O governo interviu muito na economia nestes últimos anos.

Usa-se mantiam no lugar de mantinham, porque se faz a seguinte analogia: se comer

faz a 3ª pessoa do pretérito imperfeito do indicativo comiam, prender faz prendiam,

então manter faz mantiam. Utiliza-se interviu por interveio, porque se realiza a

seguinte correlação: se partir tem, para a 3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do

indicativo, a forma partiu, dormir tem dormiu, então intervir tem interviu.

6 – Impropriedades lexicais

É o uso de palavra com significado que ela não tem, mas se atribui a ela

indevidamente, em geral por uma semelhança fônica muito acentuada com o termo

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que seria adequado.

"A luxúria de Moscou tem seu contraponto no silêncio do mosteiro Donskoi, criado

no fim do século 16. É um conjunto arquitetônico elegante e modesto" (O Estado de

S.Paulo, 30/5/1995, G 10)

Luxúria não significa "luxo", mas "sensualidade".

Os erros ou inadequações de linguagem não têm todos o mesmo efeito: uns

prejudicam a compreensão do texto, como em casos de ambiguidade; outros

comprometem a imagem do enunciador; outros, principalmente, os que denominamos

erros por imposição da tradição de ensino (violação de normas que a escola ensina),

nem sequer são percebidos, pois já fazem parte da norma culta real. É o caso, por

exemplo, de dizer Maria namora com Pedro em lugar de Maria namora Pedro.

No caso abaixo, veja-se como o erro linguístico compromete o enunciador, criando

dele uma imagem desfavorável:

"Legenda estampada na tela da TV Gazeta anteontem, na abertura do horário locado

pela Igreja Universal do Reino de Deus, às 20 horas: 'Ex-mãe de encosto desvenda

mistério no semitério'. Sim! Cemitério com "S" só pode ser um mistério. E se nem as

certezas do plano terreno, como a gramática, a Igreja Universal consegue acertar,

como desvendar tais mistérios espirituais?" (O Estado de S.Paulo, 11/03/2004, p. D6)

Disponível em: <http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11199>.