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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A INTERVENÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DOS ALUNOS SURDOS, NA ESCOLA REGULAR ANA MARIA MACHADO DOS SANTOS ORIENTADORA SIMONE FERREIRA Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A INTERVENÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

SURDOS, NA ESCOLA REGULAR

ANA MARIA MACHADO DOS SANTOS

ORIENTADORA

SIMONE FERREIRA

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A INTERVENÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

SURDOS, NA ESCOLA REGULAR

Rio de Janeiro

2010

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia. Por: Ana Maria Machado dos Santos

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AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares e amigos pelo apoio; ao

meu primo Sérgio: companheiro no tema da surdez, por

compartilhar comigo seu material didático e suas idéias; a

todos, que participaram respondendo ao questionário,

gentilmente e com seriedade; ao apoio da professora e

orientadora Simone Ferreira, do IAVM; à natureza e às

energias positivas, que nos meus momentos difíceis

conspiram a meu favor.

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DEDICATÓRIA

Dedico essa pesquisa aos meus pais (in

memoriam): Indayá Machado dos Santos e Nazareno

José dos Santos, por nossas vidas, cumplicidades, afeto,

as boas recordações e o amor que me comove...

À minha pessoa, com carinho e proteção, por

acreditar que sou especial e capaz.

Ana Maria Machado dos Santos

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo evidenciar o processo de

aprendizagem dos alunos surdos na escola regular. Observou-se, após leituras

e pesquisas bibliográficas de autores renomados na área da educação de

surdos, a necessidade de transformações do modelo atual da escola regular

para um modelo mais apropriado de uma escola para surdos. Tomou-se como

exemplo, o modelo de escola para surdos, sob a descrição da Professora e

Pesquisadora Ronice Müller de Quadros. Para ratificar a necessidade de

mudança no perfil da escola regular, acrescentou-se, também, os depoimentos

obtidos, em forma de questionário, de diversos profissionais e alunos

graduandos do Curso de Pedagogia Bilíngue, do DESU/INES e do Curso de

Letras/Libras, à distância, da UFSC - Pólo INES, que contribuíram,

espontaneamente, transmitindo suas experiências vivenciadas em suas

práticas diárias com alunos surdos, pertencentes a diversas séries escolares. A

escola regular precisa mudar seu paradigma atual, conforme o princípio da

inclusão. O surdo é capaz de aprender, desde que lhe ofereçam apoio e

suporte específicos. O sistema educacional atual, baseado na oralidade da

língua portuguesa, está inapropriado para este tipo de público. A escola atribui-

lhe a responsabilidade sobre o seu fracasso em não apreender os conteúdos

pedagógicos de um currículo planejado, com base numa política educacional

que, até então, nunca o incluiu. A Psicopedagogia na sua função de avaliação

e intervenção das dificuldades de aprendizagem poderá contribuir

esclarecendo e orientando ao aluno, aos pais, responsáveis, familiares,

professores, gestores escolares, profissionais e demais pessoas interessadas

na educação de surdos, que a sua diferença sensorial não implica numa

deficiência intelectual, mas necessita de um trabalho de equipe interdisciplinar

com o uso sistemático de recursos e estratégias específicos a serem adotados

neste processo. É preciso recriar uma nova escola para se conviver com as

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diferenças, buscando dentro do possível e da condição cognitiva deste aluno

proporcionar-lhe uma aprendizagem mais significativa.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada fundamenta-se na leitura de autores

bibliográficos que se dedicam ao tema sobre a surdez e a educação de surdos.

Os principais autores utilizados na realização deste trabalho foram a professora

Ronice M.de Quadros, na abordagem sobre a aquisição de linguagem; a

professora Sueli Fernandes, sobre a prática de letramento na educação

bilíngue; Carlos Skliar, no tocante ao olhar o surdo sobre as diferenças; Márcia

Goldfeld, que enfoca a criança surda numa perspectiva sociointeracionista e a

leitura obrigatória de Vygotsky, em seu livro sobre Pensamento e Linguagem,

entre outros autores.

Para que se chegasse a uma visão mais atualizada da situação de

inclusão do aluno surdo na escola regular e o seu processo de ensino-

aprendizagem optou-se pela formulação de perguntas, pertinentes a estes

assuntos que foram respondidas, através de questionários, no período de maio

a agosto de 2010, cujo modelo encontra-se compondo o Anexo I, deste

trabalho.

Das vinte cópias de questionários distribuídas, dezoito foram

devolvidas, sendo: dez cópias entregues via Internet e oito cópias entregues

pessoalmente, devidamente respondidas, espontaneamente, por um público

constituído em sua maioria por alunos graduandos do Curso de Pedagogia

Bilíngue do DESU/INES- Departamento de Ensino Superior, do Instituto

Nacional de Educação de Surdos, em Laranjeiras, no Rio de Janeiro; de

graduandos do Curso de Letras/Libras, à distância, da UFSC - Pólo INES, Rio

de Janeiro e professores e profissionais fonoaudiólogos que lidam com alunos

surdos, em suas práticas diárias, localizados na cidade do Rio de Janeiro. Para

o aproveitamento destas respostas, na íntegra, foram criados os subitens

denominados “Narrativas Atuais – Pesquisa sobre a Escola Regular, Ano

2010”, em forma de depoimentos, apresentados no Capítulo 4.

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Efetuou-se, também, quando necessárias as consultas às

legislações pertinentes à Educação Especial, ao Decreto que regulamentou a

Lei da Língua de Sinais – Libras, à citação da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, à Constituição Federal do Brasil, de 1988, além de

consultas aos sites nacionais, referentes ao assunto que norteou este trabalho,

ou seja, a Intervenção da Psicopedagogia no Processo de Aprendizagem dos

alunos surdos, na Escola Regular.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I

EDUCAÇÃO INCLUSIVA 12

CAPÍTULO II

A SURDEZ NO BRASIL 30

CAPÍTULO III

EDUCAÇÃO DE SURDOS NO BRASIL 63

CAPÍTULO IV

O ALUNO SURDO NO CONTEXTO DA ESCOLA REGULAR 85

CONCLUSÃO 129

BIBLIOGRAFIA 132

ANEXOS 141

ÍNDICE 149

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de pesquisa aborda o tema sobre o processo de

aprendizagem do aluno surdo, na Escola Regular. Trata-se de um

questionamento inevitável para àquelas pessoas que não conseguem ter um

olhar indiferente para a educação de crianças surdas, no Brasil.

Pergunta-se, insistentemente e com certo ar de descrédito, se o

aluno surdo aprende/apreende, significativamente, os conteúdos da série

escolar na qual está inserido no Sistema de Ensino Regular. Para ter-se uma

resposta mais próxima da realidade, faz-se necessário conhecer a história do

INES-Instituto Nacional de Educação de Surdos, no Rio de Janeiro; ler as

obras bibliográficas de diversos autores estudiosos sobre os temas: Surdez,

Pensamento, Linguagem e Educação e não ter um olhar preconceituoso para o

“diferente”.

Os objetivos da proposta desta pesquisa são os seguintes:

No Capítulo 1 deste trabalho será feita uma abordagem geral sobre

a Educação Inclusiva, no Brasil; as legislações pertinentes e quais as pessoas

que estão consideradas dentro desta denominação e protegidas pela lei.

O Capítulo 2, já mais específico, aborda a Surdez no Brasil, oferece

um panorama sobre as Instituições que dão apoio aos Surdos, seja na

Educação Especializada e, também, na sua integração na Sociedade e no

Mercado de Trabalho. Ainda, este capítulo, mostra as dificuldades de

comunicação dos Surdos e comenta sobre o uso da Libras, a Língua Brasileira

de Sinais.

Pretende-se no Capítulo 3 deste trabalho, baseado na leitura de

Quadros (1997), apresentar a proposta do Bilinguismo na educação de surdos,

bem como apresentar a aquisição de linguagem em crianças surdas e a

aquisição de leitura e escrita em uma segunda língua-L2.

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Quanto ao aluno surdo, motivo deste trabalho, no Capítulo 4

apresenta-se o seu processo de aprendizagem, dentro da Escola Regular. Este

necessita de suportes específicos e apoios diferenciados nas práticas

pedagógicas, que ocorrem no cotidiano das salas de aulas, para que seja

minimizada a distância na comunicação que ocorre entre o aluno surdo, seus

professores e os outros alunos ouvintes, preservando o equilíbrio social,

emocional, psicológico e cultural deste aluno que é “diferente”, realmente.

Deseja-se que este trabalho contribua para mudar o quadro de

indiferença, despreparo, desconforto e dificuldades existentes na educação de

surdos, no contexto das Escolas Regulares.

Espera-se o comprometimento dos pais, responsáveis, escolas,

professores e educadores dos alunos surdos, para que juntos alcancem a

colaboração e empenho, facilitando o atendimento e suporte aos alunos surdos

que já estão ou àqueles que poderão chegar para uma inclusão, naquelas

instituições.

Deseja-se que as Escolas Regulares tenham ações e atitudes

educacionais e políticas, no sentido de promover uma inclusão de fato, com

mudança de mentalidade, visando alcançar, mesmo que num tempo

diferenciado, a qualidade do processo de ensino-aprendizagem do aluno surdo.

Espera-se, também, que haja o incentivo à divulgação de Libras,

como um instrumento facilitador da comunicação entre os alunos surdos, seus

professores e colegas ouvintes, dentro da sala de aula e na escola.

Por fim, anseia-se que este trabalho mostre às pessoas interessadas

na educação de surdos, a necessidade de um ensino diferenciado. Inclusão

exige mais que um olhar. Exige ação, interação, comprometimento,

persistência, vigilância, criatividade, empatia e afetividade.

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CAPÍTULO 1

EDUCAÇÃO INCLUSIVA

EDUCAÇÃO

No fragmento do texto, extraído do livro Paulo Freire-Vida e Obra

percebe-se o quanto importante, poderosa e transformadora é a Educação:

A Educação, parte integrante do universo social da cultura (...). Cabe a ela a tarefa de participar de todo o trabalho de criação de pessoas não apenas capacitadas para o trabalho produtivo segundo as leis do mercado, mas pessoas educadas para serem agentes críticos e criativos na criação de seus próprios mundos sociais. Sujeitos de suas vidas, atores de sua história (BRANDÃO, 2009, p.20)

No desejo de saber mais sobre a Educação, cabem as seguintes

perguntas: O que é? Onde ela está? Qual a sua responsabilidade? Ela é

democrática? Quais os benefícios que ela proporciona? Quem pode conhecê-

la? De que forma pode-se chegar até ela? Certamente, mais e mais perguntas

seriam elaboradas, por conta de querer compreendê-la no seu verdadeiro

significado e importância.

Na busca por respostas que contribuam para os esclarecimentos e

a compreensão sobre a Educação, encontra-se a seguinte definição:

A Educação engloba os processos de ensinar e aprender. É um fenômeno observado em qualquer sociedade e nos grupos constitutivos destas, responsável pela sua manutenção e perpetuação a partir da transposição, às gerações que se seguem, dos modos culturais de ser, estar e agir necessários à convivência e ao ajustamento de um membro no seu grupo ou sociedade. (SITE:http://pt.wikipedia.org/wiki/Educação).

Observa-se que o processo de ensinar e aprender existe antes da

escola e prosseguirá depois dela. A escola é a instituição que formaliza a

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educação, utilizando-se das teorias e práticas pedagógicas. Entram em cena o

professor e o aluno desempenhando seus papéis descritos num roteiro para a

execução do sistema de ensino-aprendizagem, que se espera ser desenvolvido

com bases pautadas na ética, no conhecimento, respeito, humildade,

afetividade, senso crítico e construtivo, para se obter um resultado final com

qualidade.

Freire expressou que:

Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender (FREIRE, 2009, p.23).

Sendo assim, deseja-se que o professor e o aluno estejam numa

relação de interação e troca de conhecimentos.

Por lei, a educação é direito de todos e dever do Estado e da

família. Será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade visando

ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da

cidadania e sua qualificação para o trabalho ”Título VIII, Da Ordem Social,

Capítulo III, Da Educação, da Cultura e do Desporto, Artigo 205, da Nova

Constituição Federal Brasileira, promulgada em 5 de outubro de 1988”

(MAZZOTTA, 2005, p.77)

No Brasil, a educação é regulamentada pela Lei de Diretrizes e

Bases da Educação, nº 9.394/96, pelo Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento da Educação Básica e pelo Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº

9.394/96, a educação no Brasil se divide em:

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§ Educação Infantil (antigo pré-escolar)

§ Ensino Fundamental (antigo primeiro grau)

§ Ensino Médio (antigo segundo grau)

§ Ensino Superior

§ Educação de Jovens e Adultos (antigo supletivo)

§ Ensino Técnico

O Governo Federal organizou o Plano de Desenvolvimento da

Educação – PDE cuja principal meta é a manutenção de uma educação básica

de qualidade. Para que isso ocorra deve-se investir na educação profissional e

na educação superior e contar com o envolvimento de todos: pais, alunos,

professores e gestores, em busca da permanência do aluno na escola. O PDE

foi editado no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do

Governo Federal e este por premissas à visão sistêmica da educação, a

sustentação da qualidade do ensino e a prioridade a educação básica.

O Ministério da Educação-MEC, através dos resultados do PDE,

pretende mostrar tudo o que se passa dentro e fora da escola e realizar uma

grande prestação de contas. As iniciativas do MEC devem chegar à sala de

aula para beneficiar a criança e para atingir a qualidade que se deseja para a

educação brasileira.

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INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO

Pode-se citar como um dos conceitos:

Educação Inclusiva é ser um processo em que se amplia a participação de todos os estudantes nos estabelecimentos de ensino regular. Trata-se de uma reestruturação da cultura, da prática e das políticas vivenciadas nas escolas de modo que estas respondam à diversidade de alunos. É uma abordagem humanística e democrática, que percebe o sujeito e suas singularidades, tendo como objetivos o crescimento, a satisfação pessoal e a inserção social de todos.(SITE: http://www.wikipedia.com.br)

O processo de inclusão nas escolas regulares, ainda hoje, é

uma inovação que causa polêmicas, divergências de opiniões e provoca

mudanças desafiadoras para àquelas pessoas que estão envolvidas neste

processo. Os professores e gestores não estão preparados para receber os

alunos incluídos, com necessidades educacionais especiais, as escolas,

também, não estão adaptadas. Considera-se que se vive e participa-se de

uma sociedade que não é inclusiva. Não se tem o olhar da alteridade.

Carece perguntar: “Por que antes da inclusão ser imposta por lei, a

escola não tomou nenhuma atitude? Por que precisou de uma lei para se

pensar em inclusão? Todos os incluídos poderão ser beneficiados no seu

desenvolvimento cognitivo e social?

1.1 Educação Inclusiva no Brasil

“Educação para Todos” - Um novo Paradigma

A frase “Educação para Todos” representa a política de inclusão

adotada pelo governo brasileiro, em cumprimento às determinações de

Organizações internacionais, com o objetivo de diminuir a taxa de

analfabetismo no país e acabar com as exclusões sociais e educacionais de

pessoas consideradas menos favorecidas, por necessitarem de atendimentos

educacionais especiais.

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“Todos” os brasileiros têm garantido por lei o direito à educação

básica, preferencialmente, na rede regular de ensino.

A Inclusão educacional no Brasil faz parte de um tema de expressiva

repercussão mundial, com caráter político e social, defendido por Organizações

internacionais, que monitoram as ações e as criações de políticas púbicas

brasileiras, avaliando o empenho e os resultados alcançados para a redução

da taxa de analfabetismo e a inclusão social, no país.

Faz-se necessário apresentar algumas leis e documentos de igual

valor, que defendem a educação inclusiva e a Educação Especial, conforme a

seguir:

1.1.1 A Nova Constituição Federal do Brasil

No final do século XX, no Brasil, parecia óbvio o direito de todos os

brasileiros à educação, pois está assegurado, por lei, conforme descrito em

(Mazzotta, 2005, p.77) no Título VIII - Da Ordem Social, No Capítulo III - Da

Educação, da Cultura e do Desporto, Artigo 205, da Nova Constituição Federal,

de 1988:

A educação é direito de todos e dever do Estado e da família. Será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Artigo 208: O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

“I- ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a este não tiveram acesso na idade própria;

“II- progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

“III- atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino (...);

“VII- atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde”.

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1.1.2 Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA

Descrito em (Oliveira, 2004 p.17) no Título II – Dos Direitos

Fundamentais, Capítulo IV- Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao

Lazer, Artigo 53, da Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, do Estatuto da Criança e

do Adolescente:

A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I- igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II- direito de ser respeitado por seus educadores;

III- direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;

IV- direito de organização e participação em entidades estudantis;

V- acesso a escola pública e gratuita próxima de sua residência.

1.1.3 Declaração Mundial de Educação para Todos- Jomtien

Ainda em 1990, enquanto no cenário mundial há mais de 40 anos as

nações do mundo afirmaram na Declaração Universal dos Direitos Humanos

que “toda pessoa tem direito à educação”, apesar dos esforços realizados por

países do mundo inteiro para assegurar o direito à educação para todos,

persistiam os grandes números de analfabetismo.

Em conseqüência, finalmente, nos dias 5 a 9 de março de 1990, em

Jomtien, na Tailândia, a UNESCO realizou a Conferência Mundial de Educação

para Todos, da qual resultaram a Declaração Mundial de Educação para Todos

e o Plano de Ação para a Satisfação das Necessidades Básicas de

Aprendizagem.

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As agências promotoras decidiram congregar os esforços nos 9

(nove) países mais populosos e com maior número de analfabetos do planeta,

o Brasil estava incluído, além da China, México, Índia, Paquistão, Bangladesh,

Egito, Nigéria e Indonésia, constituindo o EFA-9 “Education For All”.

A Conferência de Jomtien objetivava a redução das taxas de

analfabetismo e o envolvimento da sociedade.

1.1.4 Plano Decenal de Educação para Todos - Brasil

O Brasil como resposta ao compromisso firmado entre os países,

organismo intergovernamentais e não governamentais, na Conferência Mundial

de Educação para Todos criou o “Plano Decenal de Educação para Todos”

para a década de 90 (1994-2003), destinado a satisfazer às necessidades

básicas de aprendizagem de todas as crianças, jovens e adultos.

A educação no Brasil tomava outro rumo, existia um compromisso

do governo brasileiro, sendo um dos países signatários da Declaração, em

cumprir metas estabelecidas por organizações internacionais e uma cobrança

política pelos resultados. O Brasil precisava reformular sua política educacional

e criar novos planos e medidas mais eficazes para a redução do analfabetismo,

no país.

1.1.5 Declaração para a Estrutura de Ação em Educação

Especial- Declaração de Salamanca

Na Espanha, entre os dias 7 e 10 de junho de 1994, na cidade de

Salamanca, assinava-se a Declaração para a Estrutura de Ação em Educação

Especial, adotada pela Conferência Mundial em Educação Especial organizada

pelo governo da Espanha, em cooperação com a UNESCO. Seu objetivo é

informar sobre políticas e guias ações governamentais, de organizações

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internacionais ou agências nacionais de auxílio, organizações não

governamentais e outras instituições na implementação da Declaração de

Salamanca sobre princípios, política e prática em Educação Especial.

Alguns trechos da Declaração de Salamanca - UNESCO, 1994,

traduzidos. (SASSAKI, 1997):

1) Educação Inclusiva: Capacitar escolas comuns para atender os

alunos, especialmente aqueles que têm necessidades especiais;

2) Princípio da inclusão: Reconhecimento da necessidade de se

caminhar rumo à escola para todos, um lugar que inclua todos os alunos,

celebre a diferença, apóie a aprendizagem e responda às necessidades

individuais;

3) Toda pessoa tem o direito fundamental à educação e a ela deve

ser dada a oportunidade de atingir e manter um nível aceitável de

aprendizagem;

4) Todo aluno possui características, interesses, capacidades e

necessidades de aprendizagem que são singulares. Os sistemas educacionais

devem ser projetados e os programas educativos implementados de tal forma a

considerar a ampla diversidade dessas características e necessidades;

5) As escolas devem acomodar todos os alunos independentemente

de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou

outras. O desafio para uma escola inclusiva é o de desenvolver uma pedagogia

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centrada no aluno, uma pedagogia capaz de educar com sucesso todos os

alunos, incluindo aqueles com deficiências severas;

6) O princípio fundamental da escola inclusiva consiste em que

todas as pessoas devem aprender juntos, onde quer que isto seja possível, não

importam quais dificuldades ou diferenças elas possam ter. Escolas inclusivas

precisam reconhecer e responder às necessidades diversificadas de seus

alunos, acomodando os diferentes estilos e ritmos de aprendizagem e

assegurando educação de qualidade para todos mediante currículos

apropriados, mudanças organizacionais, estratégias de ensino, uso de recursos

e parcerias com suas comunidades;

7) Os currículos devem ser adaptados às necessidades dos alunos e

não o inverso. As escolas devem, portanto, oferecer oportunidades curriculares

que se adaptem a alunos com diferentes interesses e capacidades;

8) A fim de acompanhar o progresso de cada aluno, os

procedimentos de avaliação devem ser revistos;

9) Aos alunos com necessidades educacionais especiais devem ser

oferecidas diferentes formas de apoio, desde uma ajuda mínima em classes

comuns até programas adicionais de apoio à aprendizagem na escola, bem

como a assistência de professores especialistas e de equipe de apoio externo.

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1.1.6 A Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional - LDB

A Educação Especial teve também a sua inclusão, na lei que mudou

o rumo da educação brasileira, a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional- LDBN, Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996, em seu Capítulo V-

Da Educação Especial, Artigo 58, entende-se por educação especial, para os

efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida

preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de

necessidades especiais.

§ 1º. Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado,

na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação

especial.

§ 2º. O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou

serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos

alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino

regular.

§ 3º. A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado,

tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.

Art. 59º. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com

necessidades especiais:

I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização

específicos, para atender às suas necessidades;

II - terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o

nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas

deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar

para os superdotados;

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III - professores com especialização adequada em nível médio ou

superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino

regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns;

IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva

integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que

não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante

articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que

apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou

psicomotora;

V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais

suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.

A Nova LDB apresenta reformas institucionais, amplia o enfoque da

educação considerando-a em seus diferentes espaços: familiar, convivência

humana, trabalho, institutos de pesquisa e organizações da sociedade civil.

Ultrapassando os limites do espaço escolar, o valor da experiência adquirida na

prática social e no mundo do trabalho passa a ser reconhecido. As

mobilizações sociais por educação devem ocupar-se em desenvolver uma

ação articulada que vincule os vários espaços educativos em torno de objetivos

claramente definidos. (MEC/INEP, 2000).

O ato de incluir não é, simplesmente, colocar o aluno com

necessidades educacionais especiais, dentro da sala de aula. Deve-se estar

atento para que não haja uma idéia incorreta de que a escola que inclui, é

democrática. Dependendo de como a inclusão for considerada, poderá

representar uma segregação. A escola será tanto mais democrática à medida

que acolher, educar e ensinar a todos, ao mesmo tempo em que respeite as

diferenças individuais, estimulando em especial o desenvolvimento da

capacidade do aluno de aprender.

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Cada aluno, deficiente ou não deficiente, terá a oportunidade de

vivenciar a riqueza que a diferença oferece e representa, desenvolvendo com

isso o sentimento de solidariedade.

Cabe ao profissional envolvido neste processo o comprometimento

com a sua prática pedagógica e com a sua responsabilidade no processo de

aprendizagem.

A educação no Brasil passa por mudanças estruturais e a

preocupação se desloca das deficiências ou inadaptações do indivíduo para a

valorização das suas potencialidades, oferecendo-lhe meios de desenvolvê-las

ao máximo. É necessário que estes meios existam e que os profissionais da

escola recebam capacitação adequada e estejam dispostos a oferecê-los.

No Brasil, o sistema de educação inclusiva é incipiente e polêmico.

As escolas de ensino regular, em sua maioria, estão despreparadas. Faz-se

necessário reformular os métodos de ensino, investir em capacitação dos

professores, desenvolver o olhar para a inclusão de alunos, com necessidades

educacionais diferentes. A educação inclusiva exige e carece de

comprometimento integrado nas parcerias dos governos, das famílias, das

escolas e da sociedade civil, principalmente, com mudanças de pensamentos e

comportamentos inclusivos; a criação de políticas públicas e ações sociais

inclusivas e transformadoras; adaptações curriculares; a aplicação de práticas

pedagógicas inclusivas, dentro e fora de sala de aula, bem como, o cuidado

constante com a interação social no âmbito da escola e fora dela, com o devido

empenho para a obtenção de resultados satisfatórios e com qualidade.

Programas voltados para a capacitação de professores, gestores e

alunos, referentes à Educação Inclusiva, que recebem recursos financeiros do

Governo Federal, Ministério da Educação e Cultura - MEC, sob a

responsabilidade administrativa da Secretaria de Educação Especial – SEESP,

através do FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - Plano

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de Metas Compromisso Todos pela Educação, Guia de Programas, publicado

em Brasília, junho de 2007, para os seguintes programas:

1) ”Programa Educar na Diversidade” é um projeto que forma

professores de classes comuns no ensino regular para o uso de práticas

inclusivas. Tem o objetivo de apoiar a formulação de políticas, culturas e

práticas inclusivas nas escolas públicas como forma de estimular a inclusão de

pessoas com necessidades educacionais na vida escolar e social, garantindo,

desta forma, o seu desenvolvimento pleno. Destina-se a alunos, professores e

gestores;

2) ”Programa Educação Inclusiva” é um programa destinado a

disseminar a educação inclusiva em todos os municípios brasileiros. Objetivo é

disseminar a educação inclusiva, garantindo o acesso, a permanência na rede

regular de ensino, dos alunos com necessidades educacionais especiais.

Destina-se aos Gestores e educadores do sistema de ensino público. O

programa, além apoiar com recursos financeiros a formação de gestores e

educadores, também apóia com suporte pedagógico.

A educação Inclusiva, no Brasil conta, também, com atuação

fiscalizadora da Organização “Todos Pela Educação”: um movimento que tem

como objetivo contribuir para que o País consiga garantir Educação de

qualidade para todos os brasileiros.

O “Todos pela Educação” não é um projeto de uma organização

específica, mas sim um projeto de Nação. É uma união de esforços, em que

cada cidadão ou instituição é co-responsável e se mobiliza, em sua área de

atuação, para que todas as crianças e jovens tenham acesso a uma Educação

de qualidade.

A atuação do movimento inclui o monitoramento da Educação, por

meio do acompanhamento de suas 5 Metas e da divulgação de pesquisas,

dados e informações relacionadas ao tema, à maior e melhor inserção da

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Educação na mídia, a articulação, o fomento ao debate e a mobilização da

sociedade.

Para alcançar a Educação que o Brasil precisa, foram definidas 5

Metas específicas, simples, compreensíveis e focadas em resultados

mensuráveis, que devem ser alcançadas até 7 de setembro de 2022:

Meta1- Toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola;

Meta2- Toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos;

Meta3- Todo aluno com aprendizado adequado à sua série;

Meta4- Todo jovem com o Ensino Médio concluído até os 19 anos;

Meta5- Investimento em Educação ampliado e bem gerido.

As Metas, acompanhadas constantemente, servirão como

direcionamento para que todos os brasileiros participem e cobrem melhorias na

Educação.(SITE: http://www.todospelaeducacao.org.br).

Espera-se uma maior mobilização das escolas e da sociedade na

aplicação das leis de inclusão social e na educação para a construção de uma

sociedade mais justa, solidária e sem discriminação.

A educação numa democracia é o principal meio de

Instrumentalização do indivíduo para o exercício de suas funções, na

sociedade. Logo, é de vital importância que as diretrizes norteadoras da política

nacional de educação contemplem todos os alunos, sem exceção, desde que a

inclusão seja viável, resultando em benefícios para o aluno.

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EDUCAÇÃO – UM NOVO PERFIL

Para que a Educação exerça a tarefa de participar de “todo” o

trabalho de criação de pessoas melhores é necessário que ela mude o seu

perfil:

1) seja maior que o tamanho do Brasil, figurativamente comparando;

2) tenha os braços gigantes e estendidos para que envolvam todas as pessoas

que necessitam de educação; 3) um coração generoso e democrático que

predomine a afetividade na sua atuação; 4) tenha olhos abertos e atentos às

desigualdades sociais, às diversidades regionais e culturais, à opressão e às

diferenças; 5) tenha um ouvido capaz de escutar as pessoas que, direta ou

indiretamente, estão a ela vinculadas: sociedade civil, escolas, professores,

educadores, pais, alunos e outros; 6) tenha uma boca que articule a linguagem

dos diálogos; 7) tenha um cérebro pensante e inteligente, sustentado pela sua

plasticidade, estimulado para novas conexões, capaz de problematizar; criar;

inventar soluções, estratégias e práticas pedagógicas contribuindo para que a

educação torne-se, de verdade, um direito de todos os brasileiros; 8) preserve

a essência e o princípio do novo paradigma: ”Educação para Todos”.

1.2 – Legislações Pertinentes

Legislação que regulamenta a Educação Especial no Brasil

1) Constituição Federal, de 05/10/1988 - Educação Especial;

2) Lei nº 7.853/89 - CORDE(Coordenadoria para a Integração da

Pessoa Portadora de Deficiência) - Apoio às pessoas portadoras de deficiência;

3) Lei nº 8.069, de 13/07/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente -

Educação Especial (capítulo V);

4) Lei nº 8859/94 - Estágio – garante aos alunos de ensino especial

a participação em estágio;

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5) Lei nº 10.098/94 - Acessibilidade – esta Lei estabelece normas

gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas

portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão

de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano,

na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de

comunicação;

6) Lei n.º 8.899, de 29/06/94 - Passe Livre;

7) Lei nº 9.424 de 24 /12/96 - FUNDEF (distribuição);

8) Lei nº 9.394/96 –20/12/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional - LDBN - Educação Especial;

9) Lei nº 10.216 de 04/06/01 - Direitos e proteção às pessoas

acometidas de transtorno mental;

10) Lei nº 10.436, de 24/04/02 – LIBRAS- Língua Brasileira de

Sinais, regulamentada pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005;

11) Lei nº 10.845, de 05/03/04 - Programa de Complementação ao

Atendimento Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência;

12) Plano Nacional de Educação - Educação Especial (capítulo 8 –

diagnóstico, diretrizes, objetivos e metas). (SITES:

http://pt.wikipedia.org/wiki/educação e http://portal.mec.gov.br).

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1.3 Pessoas que deverão ser Incluídas

O modo como se entende inclusão hoje, no âmbito escolar, vem sendo legislado, gestado, proclamado, declarado há muito tempo. Para entender os movimentos e os significados atuais, não se pode prescindir daquilo que foi discutido e acordado na Declaração Mundial sobre Educação para Todos, que aconteceu em Jomtien, na Tailândia, em 1990. O que foi proclamado nesse encontro deu condições para desdobramentos no cenário educacional escolarizado, afetando o funcionamento das escolas e a vida de muitas pessoas que até então não eram chamadas a estar na escola. Nem a escola era tão fortemente chamada a tê-las consigo, no afã de “universalizar o acesso à educação e promover a equidade”. (ROOS, 2009, p.15)

Na atualidade, para Roos (2009), deve-se vincular ao tema inclusão

a importância dos movimentos organizados para a defesa dos direitos ao

acesso à educação para todos, que contribuíram com o surgimento dos

seguintes documentos:

A “Declaração Mundial sobre Educação para Todos – 1990”, que em

seu Artigo 3º cita a garantia de igualdade e acesso à educação aos portadores

de todo e qualquer tipo de deficiência; a “Declaração de Salamanca – 1994”,

esta acreditava e proclamava que as pessoas com necessidades educacionais

especiais deveriam ter acesso à escola regular e a “Lei de Diretrizes e Bases

para a Educação Nacional – LDBN, 1996”, que mantém o foco nos educandos

com necessidades educacionais especiais.

Entende-se que a denominação ”educação especial”, para fins de

efeitos legais, conforme o Artigo 58º, da LDBN, corresponde à modalidade de

educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para

educandos portadores de necessidades especiais.

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Pessoas que deverão ser incluídas: (ROOS, 2009, p.15)

• Todas as crianças, jovens e adultos;

• Meninas e mulheres;

• Grupos excluídos;

• Os pobres;

• Meninos e meninas de rua ou trabalhadores;

• População de periferias urbanas e zonas rurais;

• Nômades;

• Trabalhadores migrantes;

• Povos indígenas;

• Povos submetidos a um regime de ocupação;

• Pessoas portadoras de deficiência, que requerem atenção

especial;

• Abusos contínuos físicos, emocionais e sexuais.

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CAPÍTULO 2

Em 05 de outubro de 1988 é promulgada a Nova Constituição Brasileira. (...) Título VIII, Da Ordem Social. No Capítulo III, Da Educação, da Cultura e do Desporto, Artigo 205: “A Educação é direito de todos e dever do Estado e da família (...)” (MAZZOTTA, 2005, pp 76, 77)

A Surdez no Brasil

No conceito da denominação “todos”, mencionada no texto do Artigo

205, da Nova Constituição Federal Brasileira (1988), considera-se, também,

incluídos os grupos de pessoas com deficiências.

Convêm citar Monteiro (1998, p.73), em suas considerações sobre

os estudos de Vygotsky, referentes à educação especial:

Vygotsky focalizou o desenvolvimento do portador de deficiência a partir dos pressupostos gerais que orientavam a sua concepção do desenvolvimento de pessoas consideradas normais: desses pressupostos ele destacou os aspectos qualitativamente diversos desses indivíduos, em virtude, não apenas de suas diferenças orgânicas, mas, das peculiaridades de suas relações sociais – fatores que fazem com que o portador de deficiência seja não simplesmente menos desenvolvido em determinados aspectos que seus companheiros, mas um sujeito que se desenvolve de outra maneira.

Para fins deste estudo, é importante destacar daqueles grupos as

pessoas com deficiência auditiva.

No que diz respeito à educação escolar destas pessoas é

necessário haver a utilização de suporte e apoio adequados às suas diferenças

funcionais e especificidades lingüísticas, para que possam desenvolver-se

pedagogicamente, preferencialmente na rede regular de ensino, conforme

consta do Título VIII, Da Ordem Social, Capítulo III, Da Educação, da Cultura e

do Desporto, Artigo 208, Inciso III, da Nova Constituição Brasileira. (MAZZOTA,

2005, p.77).

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Destaca-se, a importância da escola, no desenvolvimento e

aprendizagem das pessoas com deficiências:

A escola, espaço interativo por excelência, tem um importante papel no desenvolvimento, oportunizando a integração social, impulsionando a aprendizagem, criando zonas de desenvolvimento proximal, propiciando as compensações às deficiências. (MONTEIRO, 1998, p.77)

DEFICIÊNCIA – Definição da OMS

Em 1997, a OMS – Organização Mundial de Saúde reapresentou

uma nova Classificação Internacional das Deficiências, Atividades e

Participação – CIDDM-2, trata-se de um manual da dimensão das

incapacidades e da saúde.

O documento fixa princípios que enfatizam o apoio, os contextos

ambientais e as potencialidades, ao invés da valorização das incapacidades e

das limitações.

O CIDDM-2 concebe a deficiência como: “uma perda ou

anormalidade de uma parte do corpo (estrutura) ou função corporal

(fisiológica), incluindo as funções mentais”. (Política Nacional de Saúde da

Pessoa Portadora de Deficiência. (SITE:

http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual2.pdf).

No Brasil, a cultura vigente e a definição legal, consideram pessoas

com deficiência àquelas pertencentes aos segmentos com déficit mental,

motor, sensorial e múltiplo.

O novo significado de “deficiência” apresentado, pela OMS, implica

em novos conceitos sob os aspectos: filosóficos, políticos, sociais, econômicos

e educacionais à medida que propõe uma nova forma de se encarar as

pessoas com deficiências e suas limitações para o exercício pleno das

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atividades, conforme as suas condições. Provoca o pensar e repensar das

práticas relacionadas com a reabilitação e a inclusão social dessas pessoas.

Para fins estatísticos, consideram-se os dados contidos no relatório

de ações de Política Nacional de Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência: é

difícil dimensionar a deficiência no Brasil tanto em termos qualitativos quanto

quantitativos, em razão da inexistência de dados e informações precisos e

confiáveis, de abrangência nacional, produzidos sistematicamente, que

retratem de forma atualizada a realidade do País.

A OMS estima que cerca de 10% da população de qualquer país,

em tempo de paz, é portadora de algum tipo de deficiência. Com base nesses

percentuais, estima-se que no Brasil existam 16 milhões de pessoas com

deficiência.

Os resultados do Censo de 1991, realizado pelo Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística – IBGE indicam um percentual de 1,14% de pessoas

com deficiência na população brasileira. (SITE:

http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual2.pdf).

DEFICIÊNCIA AUDITIVA

O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, um dos

órgãos oficiais que elaboram o censo demográfico, no ano de 2000, estimou

que o número total de surdos brasileiros fosse de 5,7 milhões, entre surdos

profundos e deficientes auditivos.

(w.w.w.ibge.gov.br/espanhol/presidencia/noticias)

As novas pesquisas para a apuração do XII Censo Demográfico

brasileiro encontram-se em andamento, desde o dia 01 de agosto de 2010,

com previsão de três meses de duração, conforme o Site:

(http://www.ibge.gov.br/censo2010/).

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DEFINIÇÃO:

Três diferentes definições de Deficiência Auditiva:

Perda total ou parcial da capacidade de ouvir manifesta-se como surdez leve, moderada, severa ou profunda. As pessoas com deficiência auditiva podem ser afetadas na sua aprendizagem e no seu desenvolvimento integral. (SITE: (http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual2.pdf).

Diferença existente entre a performance do indivíduo e a habilidade normal para a detecção sonora de acordo com padrões estabelecidos pela American National Standards Institute (ANSI – 1989). Informações Básicas sobre deficiência auditiva. (SITE: http://www.profala.com/artaudio10.htm)

Perda bilateral, parcial ou total, de 41 (quarenta e um) decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000 Hz. (SASSAKI, 2006, p2).

2.1 A Surdez

Perda Auditiva e Hipoacusia

Os conceitos gerais sobre surdez, classificações, técnicas e

métodos de avaliação da perda auditiva, características dos diversos tipos de

surdez, etc. são fundamentais para compreender as implicações da deficiência

auditiva.

O deficiente auditivo é classificado como surdo, quando sua audição

não é funcional na vida comum e hipoacústico aquele cuja audição, ainda que

deficiente, é funcional com ou sem prótese auditiva. A deficiência auditiva pode

ser de origem congênita, causada por viroses materna, doenças tóxicas

desenvolvidas durante a gravidez ou adquirida, causada por ingestão de

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remédios que lesam o nervo auditivo, exposição a sons impactantes, viroses,

predisposição genética, meningite, etc.

As hipoacústicas classificam-se em função do grau da perda

auditiva, sua ordem e localização. Quando a lesão se localiza no ouvido

externo ou no médio é denominada como deficiência de transmissão ou

deficiência mista dependendo da intensidade da lesão. Quando se origina no

ouvido e no nervo auditivo é dita deficiência interna ou sensorioneural (estágio

mais agudo da deficiência).

(SITE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Defici%C3%AAncia_auditiva)

SURDEZ – DEFINIÇÃO

A Surdez pode ser definida, sob o ponto de vista médico,

educacional ou cultural:

Ponto de vista médico

Em termos médicos, a surdez é categorizada em níveis do ligeiro ao

profundo. É também classificada de deficiência auditiva, ou hipoacúsia. Os

tipos de surdez quanto ao grau de perda auditiva:

• Perda auditiva leve: não tem efeito significativo no

desenvolvimento desde que não progrida, geralmente não é necessário uso de

aparelho auditivo.

• Perda auditiva moderada: pode interferir no desenvolvimento da

fala e linguagem, mas não chega a impedir que o individuo fale.

• Perda auditiva severa: interfere no desenvolvimento da fala e

linguagem, mas com o uso de aparelho auditivo poderá receber informações

utilizando a audição para o desenvolvimento da fala e linguagem.

• Perda auditiva profunda: sem intervenção a fala e a linguagem

dificilmente irão ocorrer.

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Ponto de vista educacional

Desse ponto de vista, surdez refere-se à incapacidade da criança

aprender a linguagem por via auditiva e ter um desempenho acadêmico. A

partir da Lei 10.436/2002, o Governo brasileiro reconhece a Libras, como

língua e os surdos têm o direito que nas instituições educacionais as aulas

sejam ministradas em Libras , pelo menos com a presença de um intérprete. A

surdez não interfere no desenvolvimento cognitivo.

Ponto de vista cultural

Em termos culturais, surdez é descrita como diferença linguística e

identidade cultural, a qual é partilhada entre indivíduos surdos.

Os dados contidos nestas informações foram extraídos do SITE:

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Defici%C3%AAncia_auditiva).

TIPOS DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA

A deficiência auditiva tem classificações diferentes, devido às suas

características:

DEFICIÊNCIA AUDITIVA CONDUTIVA: Qualquer interferência na

transmissão do som desde o conduto auditivo externo até a orelha interna

(cóclea). A orelha interna tem capacidade de funcionamento normal, mas não é

estimulada pela vibração sonora. Esta estimulação poderá ocorrer com o

aumento da intensidade do estímulo sonoro. A grande maioria das deficiências

auditivas condutivas pode ser corrigida através de tratamento clínico ou

cirúrgico.

DEFICIÊNCIA AUDITIVA SENSÓRIO-NEURAL: Ocorre quando há

uma impossibilidade de recepção do som por lesão das células ciliadas da

cóclea ou do nervo auditivo. Os limiares por condução óssea e por condução

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aérea, alterados, são aproximadamente iguais. A diferenciação entre as lesões

das células ciliadas da cóclea e do nervo auditivo só pode ser feita através de

métodos especiais de avaliação auditiva. Este tipo de deficiência auditiva é

irreversível.

DEFICIÊNCIA AUDITIVA MISTA: Ocorre quando há uma alteração

na condução do som até o órgão terminal sensorial associada à lesão do órgão

sensorial ou do nervo auditivo. O audiograma mostra, geralmente, limiares de

condução óssea abaixo dos níveis normais, embora com comprometimento

menos intenso do que nos limiares de condução aérea.

DEFICIÊNCIA AUDITIVA CENTRAL, DISFUNÇÃO AUDITIVA

CENTRAL OU SURDEZ CENTRAL: Este tipo de deficiência auditiva não é,

necessariamente, acompanhado de diminuição da sensitividade auditiva, mas

manifesta-se por diferentes graus de dificuldade na compreensão das

informações sonoras. Decorre de alterações nos mecanismos de

processamento da informação sonora no tronco cerebral (Sistema Nervoso

Central).

GRAUS DE SEVERIDADE DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Os níveis de limiares utilizados para caracterizar os graus de

severidade da deficiência auditiva podem ter algumas variações entre os

diferentes autores. Segundo critério de Davis e Silverman, 1966:

Audição Normal - Limiares entre 0 a 24 dB nível de audição.

Deficiência Auditiva Leve - Limiares entre 25 a 40 dB nível de

audição.

Deficiência Auditiva Moderada - Limiares entre 41 e 70 dB nível de

audição.

Deficiência Auditiva Severa - Limiares entre 71 e 90 dB nível de

audição.

Deficiência Auditiva Profunda - Limiares acima de 90 dB.

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Indivíduos com níveis de perda auditiva leve, moderada e severa

são mais freqüentemente chamados de deficientes auditivos, enquanto os

indivíduos com níveis de perda auditiva profunda são chamados surdos.

CAUSAS DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA CONDUTIVA

Cerume ou corpos estranhos do conduto auditivo externo.

Otite externa: infecção bacteriana da pele do conduto auditivo

externo.

Otite média: processo infeccioso e/ou inflamatório da orelha média,

que se divide em: otite média secretora; otite média aguda; otite média crônica

supurada e otite média crônica colesteatomatosa.

Estenose ou atresia do conduto auditivo externo (redução de calibre

ou ausência do conduto auditivo externo). Atresia é geralmente uma

malformação congênita e a estenose pode ser congênita ou ocorrer por trauma,

agressão cirúrgica ou infecções graves.

Miringite Bolhosa (termo miringite refere-se à inflamação da

membrana timpânica). Acúmulo de fluido entre as camadas da membrana

timpânica, em geral associado a infecções das vias respiratórias superiores.

Perfurações da membrana timpânica: podem ocorrer por traumas

externos, variações bruscas da pressão atmosférica ou otite média crônica

supurada. A perda auditiva decorre de alterações da vibração da membrana

timpânica. É variável de acordo com a extensão e localização da perfuração.

Obstrução da tuba auditiva

Fissuras Palatinas

Otosclerose

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CAUSAS DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA SENSÓRIO-NEURAL

Causas pré-natais

De origem hereditária (surdez herdada monogênica, que pode ser

uma surdez isolada da orelha interna por mecanismo recessivo ou dominante

ou uma síndrome com surdez); e uma surdez associada a aberrações

cromossômicas.

De origem não hereditária (causas exógenas), que podem ser:

Infecções maternas por rubéola, citomegalovírus, sífilis, herpes,

toxoplasmose;

Drogas ototóxicas e outras, alcoolismo materno;

Irradiações, por exemplo, Raios X;

Toxemia, diabetes e outras doenças maternais graves.

Causas perinatais

Prematuridade e/ou baixo peso ao nascimento;

Trauma de Parto - Fator traumático / Fator anóxico;

Doença hemolítica do recém-nascido (icterícia grave do recém-

nascido).

Causas pós-natais

Infecções - meningite, encefalite, parotidite epidêmica (caxumba),

sarampo;

Drogas ototóxicas;

Perda auditiva induzida por ruído (PAIR);

Traumas físicos que afetam o osso temporal.

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FATORES DE RISCO

Antecedentes familiares de deficiência auditiva, levantando-se se há

consanguinidade entre os pais e/ou hereditariedade;

Infecções congênitas suspeitadas ou confirmadas através de exame

sorológico e/ou clínico (toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes e

sífilis);

Peso no nascimento inferior a 1500g e/ou crianças pequenas para a

idade gestacional (PIG);

Asfixia severa no nascimento, com Apgar entre 0-4 no primeiro

minuto e 0-6 no quinto minuto;

Hiperbilirrubinemia com índices que indiquem exanguíneo

transfusão;

Ventilação mecânica por mais de dez dias;

Alterações crânio-faciais, incluindo as síndromes que tenham como

uma de suas características a deficiência auditiva;

Meningite, principalmente a bacteriana;

Uso de drogas ototóxicas por mais de cinco dias;

Permanência em incubadora por mais de sete dias;

Alcoolismo ou uso de drogas pelos pais, antes e durante a gestação.

IDENTIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO

O diagnóstico das deficiências de audição é realizado a partir da

avaliação médica e audiológica. Em geral a primeira suspeita quanto à

existência de uma alteração auditiva em crianças muito pequenas é feita pela

própria família a partir da observação da ausência de reações a sons,

comportamento diferente do usual (a criança que é muito quieta, dorme muito e

em qualquer ambiente, não se assusta com sons intensos) e, um pouco mais

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velha, não desenvolve linguagem. A busca pelo diagnóstico também poderá

ser originada a partir dos programas de prevenção das deficiências auditivas

na infância como o registro de fatores de risco e triagens auditivas.

O profissional de saúde procurado em primeiro lugar é, geralmente,

o pediatra, o qual encaminhará a criança ao otorrinolaringologista, quando se

iniciará o diagnóstico. Este profissional fará um histórico do caso, observará o

comportamento auditivo e procederá ao exame físico das estruturas do ouvido,

nariz e das diferentes partes da faringe. O passo seguinte é o encaminhamento

para a avaliação audiológica.

No caso de adultos, em geral a queixa de alteração auditiva é do

próprio indivíduo, e, no caso de trabalhadores expostos a situações de risco

para audição o encaminhamento poderá advir de programas de conservação

de audição.

Os dados contidos nestas informações foram extraídos do SITE:

(www.profala.com/artaudio 10.htm)

PREVENÇÃO: TESTE DA ORELHINHA

A triagem auditiva neonatal, obrigatória por lei municipal nº 3028, de

17/05/2000, é um programa de avaliação da audição em recém nascidos,

indicada por instituições do mundo todo para diagnóstico precoce de perda

auditiva, uma vez que sua incidência, na população geral, é de 1 a 2 por 1000

nascidos vivos.

A Técnica utilizada é a de Emissões Otoacústicas Evocadas (EOAs).

O Exame é indolor, com a colocação de um pequeno fone na parte externa do

ouvido, com a duração por um tempo médio de 3 a 5 minutos. (SITE:

http://www.testedaorelhinha.com.br).

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Deficiência Auditiva ou Surdez Nomenclatura na área da surdez

Sassaki (2006, p.2) aponta sobre a diversidade existente nas

nomenclaturas: surdez e deficiência auditiva. Esclarece que alguns surdos não

gostam de ser considerados deficientes auditivos e algumas pessoas com

deficiência auditiva não gostam de ser consideradas surdas. A origem dessa

diversidade de preferência, está no grau da audição afetada.

A decisão quanto a usar o termo ”pessoa com deficiência auditiva”

ou os termos “pessoa surda” e “surda”, fica por conta de cada pessoa. Informa

que, geralmente, as pessoas com perda parcial da audição, isto é, com baixa

audição, referem-se a si mesmas como tendo uma deficiência auditiva,

enquanto, as que têm perda total da audição preferem ser consideradas

surdas.

Embora, sabendo-se que a “deficiência auditiva” tem o mesmo

significado de “surdez”, convencionou-se mundialmente adotar o uso da

expressão “deficiência auditiva” para assuntos formais e estatísticos.

Sassaki (2006, p.3) conclui que se deve usar, criteriosamente, cada

um dos termos. Num contexto formal e estatístico o termo a ser utilizado será

pessoas com deficiência auditiva, referindo-se ao grupo como um todo,

especificando ou não os graus de perda auditiva e a quantidade de pessoas

existentes em cada nível de surdez. E, em situações pessoais, informais,

coloquiais fala-se e escreve-se surdos, pessoas surdas, comunicação entre os

surdos, comunicação com os surdos, comunicação dos surdos, os sinais que

os surdos utilizam, etc.

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SURDOCEGUEIRA

“A surdocegueira é a incapacidade total ou parcial de audição e

visão, simultaneamente. Assim como no caso da surdez, a surdocegueira pode

ser identificada com a cultura das pessoas que pertencem a este grupo”. (SITE:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Surdocegueira).

A surdocegueira é a deficiência, em diversos graus, dos sentidos de

audição e visão; isto é, o surdocego pode ver ou ouvir em pequenos níveis,

dependendo do caso.

Com base nos estudos de McInnes, afim de classificarmos alguém

de surdocego é preciso que esse indivíduo não tenha suficiente visão para

compensar a perda auditiva, ou vice-versa, que não possua audição suficiente

para compensar a falta de visão.

Vários autores, tais como Writer, Freeman, Wheeler & Griffin,

McInnes defendem a surdocegueira como única, não como a soma de dois

comprometimentos sensoriais.

Segundo o ponto de vista sensorial de Miles e Riggio, surdocegos

podem ser:

• indivíduos surdos profundos e cegos;

• indivíduos surdos e têm pouca visão;

• indivíduos com baixa audição e que são cegos;

• indivíduos com alguma visão e audição.

Causas de surdocegueira

Antigamente, pensava-se que a principal causa da surdocegueira

seria a Síndrome da Rubéola Congénita. Hoje em dia, com a tecnologia mais

avançada, sabe-se que as principais causas se relacionam com a

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prematuridade ou com várias anomalias congênitas, tais como: rubéola,

síndromes (Down, Usher, Trissomia 13, entre outras), anomalias congénitas

(associação de CHARGE, hidrocefalia, microcefalia, síndroma fetal alcoólico,

abuso de drogas pela mãe, entre outras), prematuridade e disfunções pré-

natais congénitas (SIDA, toxoplasmose, herpes, sífilis) e causas pós-natais

(asfixia, traumatismo craniano, encefalite, meningite).

Há, no entanto, estudiosos que acreditam que a principal causa é

ainda desconhecida.

Ser surdocego

Acredita-se que cerca de 80 a 90% da informação é recebida pelo

ser humano visual ou auditivamente; assim sendo, a privação destas duas

capacidades provoca alterações drásticas no acesso da pessoa à informação e

no seu desenvolvimento.

A dependência do surdocego aos outros é total, quer para ter acesso

a objetos e à pessoas, quer para obter ajuda quanto à organização e à

compreensão da informação acerca do meio que o rodeia, com o objetivo de se

relacionar com o mundo, quebrando assim o isolamento.

O tato desempenha um papel crucial na comunicação e

desenvolvimento com estes indivíduos.

Há quem defenda que diversos graus de surdez e deficiência visual

gerem quadros específicos de comportamento e de adaptação educacional.

Assim sendo, este conceito desencadeia a necessidade de de categorização

dos surdocegos em dois níveis: o sensorial, e o educacional. Os

comportamentos apresentados por surdocegos são decorrentes de como eles

estabelecem contacto com o ambiente, de qual o recuso que usam para se

comunicar e se conseguem fazer-se compreender e compreender os outros. A

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singularidade da surdocegueira prende-se ao prejuízo no processo de

desenvolvimento devido à falta de comunicação e de interação social.

No que toca ao comportamento infantil, ressaltam-se dois grupos:

um de crianças que apresentam comportamento hipoativo (distanciando-se do

ambiente social, isolando-se, evitando comunicar-se), e outro de crianças com

comportamento hiperativo (que nunca param, apresentam contato visual e

apresentam defesa táctil). Pesquisadores afirmam que a privação sensorial, no

caso das crianças, lhes limita as respostas aos indivíduos ou às atividades do

seu ambiente, isto é, interagem de forma artificial, ou estereotipada. Afirmam

ainda que essas crianças demonstram uma alteração significativa no

desenvolvimento das habilidades de comunicação, mobilidade e acesso à

comunicação. A criança surdocega pode apresentar os seguintes

comportamentos:

• comportamento autista (movimentos estereotipados e/ou rítmicos;

• comportamento social imaturo;

• inabilidade de comportamento afetivo.

Os dados contidos nestas informações foram extraídos do

(SITE:http://pt.wikipedia.org/wiki/Surdocegueira).

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CONSIDERAÇÕES SOBRE A SURDEZ

Trata-se de informações transmitidas, por profissionais da área

médica, na especialização de otorrinolaringologia, que atuam na Liga de

Prevenção à Surdez, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

De acordo com Fortes, et al. (2002):

1) Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a deficiência

auditiva afeta cerca de 10% da população mundial, variando segundo o grau de

desenvolvimento sócio-econômico e hábito local (estado nutricional, ocupação

profissional, raça, cultura e principalmente o grau de informação sobre a

prevenção);

2) O número de deficientes auditivos no Brasil é muito difícil de

estimar, devido à escassez de dados estatísticos apurados, mas de acordo

com estimativa da OMS, esse número deve estar ao redor de 15 milhões,

sendo que destes, 350.000 nada ouvem;

3) A maioria dos deficientes auditivos tem capacidade intelectual

preservada, portanto, está apta a adaptar-se à sociedade como indivíduos

normais; porém, pela dificuldade de comunicação acabam marginalizados,

isolando-se e não se adaptando ao mercado de trabalho;

4) A audição é uma das funções mais importantes para o

desenvolvimento da linguagem e, portanto, para a comunicação, no entanto,

vem recebendo pouca atenção por parte da sociedade, governo e profissionais

de saúde;

5) A perda auditiva é prejudicial em qualquer etapa da vida, mas

particularmente na infância, onde acaba levando a um atraso no

desenvolvimento da linguagem (que ocorre fundamentalmente nos dois

primeiros anos de vida) e biopsicossocial do indivíduo;

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6) Outro momento crucial é a faixa etária escolar e pré-escolar (entre

seis e sete anos de idade), onde a deficiência impede a criança de acompanhar

o desenvolvimento escolar, levando o indivíduo desde cedo a distúrbios de

aprendizagem, problemas de atenção e comportamento e suas conseqüências

sociais;

7) Quando bilateral e presente desde o nascimento, a deficiência

acaba levando a criança a tornar-se dependente, com conseqüente ônus social

e econômico para a família e a sociedade;

8) Existem muitas causas de disacusia profunda neurossensorial

precoce infantil e que variam segundo o grau de desenvolvimento do país,

sendo a infecção congênita, principalmente a rubéola, a mais prevalente no

Brasil, embora seja a mais passível de prevenção;

9) Na população da terceira idade (principalmente acima dos

sessenta e cinco anos), que está aumentando e cuja tendência demográfica

tende a manter-se nos próximos anos, a deficiência auditiva pode ser a

principal queixa e agrava a tendência ao isolamento do indivíduo;

10) Em todos os casos de perda auditiva há como melhorar a

qualidade de vida do indivíduo, seja através de tratamento medicamentoso,

cirúrgico ou através de orientação para o uso aparelhos de amplificação sonora

ou implante coclear;

11) Devido à alta prevalência e gravidade das consequências que a

disacusia pode causar, a prevenção assume importância fundamental,

principalmente para a educação e orientação da população, como também o

diagnóstico e tratamento precoce;

12) Com a finalidade de ajudar na prevenção da surdez, assim como

no ensino e treinamento acadêmico, foi criada em 1997 a Liga de Prevenção à

Surdez, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

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UM OUTRO OLHAR SOBRE AS DIFERENÇAS

Tem-se como significado da palavra surdo, saber que identifica o

indivíduo que tem perda total ou parcial, congênita ou adquirida, da capacidade

de compreender a fala, através do ouvido.

É necessário olhar os surdos pelas suas potencialidades, pelo que

ele é capaz de realizar.

A sua diferença funcional deve ser respeitada e não ser vista pelo

aspecto do doente e incapaz. Certamente, existem limitações que são

inerentes à sua especificidade. Para os surdos o mais importante não é frisar a

atenção sobre a falta/ deficiência da audição. Os surdos se definem de forma

cultural e linguísticamente, diferente do ouvinte, mesmo fazendo parte do

mesmo meio social. O surdo vive numa sociedade que não é inclusiva, como

se ser surdo, fosse ser menos. Quanto ao termo “surdo”, pode-se dizer que é o

termo com o qual as pessoas que não ouvem, referem-se a si mesmas e a

seus pares. Pode-se definir uma pessoa surda como: aquela que vivencia um

déficit de audição que a impede de adquirir, de maneira natural, a língua

oral/auditiva usada pela comunidade majoritária e que constrói sua identidade

calcada, principalmente nesta diferença, utilizando-se de estratégias cognitivas

e de manifestações comportamentais e culturais diferentes, da maioria das

pessoas que ouvem.

A inclusão social dos surdos tem a proposta de enfatizar e respeitar

a diferença, e não a deficiência porque “crer-se que é na diferença que se

baseia a essência psicossocial da surdez”. O surdo não é diferente,

unicamente, porque não ouve, mas porque desenvolve potencialidades

psicoculturais diferentes das dos ouvintes. Seu jeito de ser é diferente.

Informações contidas no (SITE: http://webcache.googleusercontent.com).

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2.2. O INES - Instituto Nacional de Educação de Surdos

Uma escola especializada para Surdos - Educação e Socialização

Os seres humanos são, eminentemente, seres sociais. Isto é, somos seres gregários, predispostos a viver na companhia de outras pessoas e por isso formamos sociedades. As pessoas precisam umas das outras para desenvolver suas personalidades e suas capacidades. (JUREMA, POGREBINSCHI, 2008, p12)

Como o ser humano constrói seu conhecimento?

Ao ler Davis (1994, p.36), observa-se que a concepção

interacionista de desenvolvimento baseia-se na idéia de interação entre o

organismo e meio e vê a aquisição de conhecimento como um processo

construído pelo indivíduo, durante toda a sua vida, não estando pronto ao

nascer nem sendo adquirido, passivamente, graças às pressões do meio.

Jean Piaget (1896-1980) formado em Biologia e Filosofia é o mais

conhecido dos teóricos que defendem a visão interacionista de

desenvolvimento, cuja curiosidade, transformada em investigação científica

teve como objeto de estudo a construção do conhecimento humano. Piaget

definiu o desenvolvimento cognitivo como um processo de equilibrações

sucessivas, que embora contínuo é formado por diversas etapas.

As etapas investigadas por Piaget e citadas no parágrafo acima,

também, são chamadas de estágios do pensamento e apresentam-se na

construção da inteligência do ser humano, em idades diferentes, a saber:

Primeiro estágio: Sensório motor - na faixa de idade de 0 a 2 anos –

inteligência prática;

Segundo estágio: Pré-operatório, - na faixa de idade de 2 a 7 anos –

emergência da linguagem;

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Terceiro estágio: Operatório Concreto – na faixa de idade de 7 a 12

anos;

Quarto estágio: Operatório Formal – na faixa de idade de 12 anos.

A partir do estágio operatório a criança com sete anos está

preparada para as trocas intelectuais, num grau maior de socialização e com

qualidade, devido à maturação de seu desenvolvimento mental considerando

as etapas anteriores experimentadas, vivenciadas e internalizadas por ela.

Nesta fase a criança deixa de ter uma visão egocêntrica e alcançará o que

Piaget denomina de personalidade, conforme escrito em La Taille (1992, p.16)

e citado a seguir:

A personalidade não é o “eu” enquanto diferente dos outros “eus” e refratário a socialização, mas é o indivíduo se submetendo voluntariamente às normas de reciprocidade e de universalidade. Como tal, longe de estar à margem da sociedade, a personalidade constitui o produto mais refinado da socialização. Com efeito, é na medida em que o “eu” renuncia a si mesmo para inserir seu ponto de vista próprio entre os outros e se curvar assim às regras da reciprocidade que o indivíduo torna-se personalidade (...). Em oposição ao egocentrismo inicial, o qual consiste em tomar o ponto de vistas próprio como absoluto, por falta de poder perceber seu caráter particular, a personalidade consiste em tomar consciência desta relatividade da perspectiva individual e colocá-la em relação com o conjunto das outras perspectivas possíveis: a personalidade é, pois, uma coordenação da individualidade com o universal.

Cabe esclarecer, para melhor entendimento desta pesquisa, que os

termos “surdo e/ou surda e surdos e/ou surdas” mencionados no texto, a partir

deste subitem representam a pessoa ou o grupo de pessoas, respectivamente,

com deficiência auditiva leve até a mais profunda.

As crianças surdas estão sujeitas ao mesmo processo de

desenvolvimento cognitivo definido por Piaget, conforme os estágios acima

descritos, exceto a sua comunicação verbal que sofre um desvio por causa da

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diferença linguística. Faz-se necessário, no início do processo de

desenvolvimento, a intervenção das famílias na procura de informações e na

mudança de atitudes, utilizando-se de suportes específicos e apoio

diferenciado, que são importantes para estimular à comunicação e favorecer a

integração social destas crianças, em conseqüência a adequada inclusão no

processo de ensino-aprendizagem na escola.

A aquisição de uma língua desde os primeiros anos de vida pode acarretar sérias consequências no desenvolvimento cognitivo. É importante observar que há, também, um período crítico, isto é, favorável para a aquisição da linguagem (no sentido da língua) que se estende até os 12 anos de idade. Depois desse período, torna-se mais difícil o processo de aquisição (SILVA, 2007)

No cenário da educação de pessoas surdas, destaca-se o INES -

Instituto Nacional de Educação de Surdos, órgão do Ministério da Educação –

MEC, localizado à Rua das Laranjeiras, número 232, na cidade do Rio de

Janeiro.

HISTÓRICO

Fundado em 26 de setembro de 1857, durante o Império de D.

Pedro II, pelo professor francês Hernest Huet, com o apoio do imperador

recebeu o nome de “Imperial Instituto de Surdos Mudos”. Huet era surdo. Na

época, o Instituto era um asilo, onde só eram aceitos surdos do sexo

masculino. Eles vinham de todos os pontos do país e muitos eram

abandonados pelas famílias

O INES tem como missão institucional a produção, o

desenvolvimento e a divulgação de conhecimentos científicos e tecnológicos na

área da surdez em todo território nacional, bem como subsidiar a Política

Nacional de Educação, na perspectiva de promover e assegurar o

desenvolvimento global da pessoa surda, sua plena socialização e o respeito

às suas diferenças. Atende em torno de 600 alunos, da Educação Infantil até o

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Ensino Médio. A arte e o esporte completam o atendimento diferenciado do

INES aos seus alunos. O ensino profissionalizante e os estágios remunerados

ajudam a inserir o surdo no mercado de trabalho. O Instituto também apóia o

ensino e a pesquisa de novas metodologias para serem aplicadas no ensino da

pessoa surda, promove curso de Língua Brasileira de Sinais – Libras e ainda

atende a comunidade e os alunos nas áreas de fonoaudiologia, psicologia e

assistência social.

O QUE FAZ O INES

Centro de Referência Nacional na área da surdez presta assessoria

técnica nas seguintes áreas: prevenção à surdez, audiologia, fonoaudiologia,

orientação familiar, orientação para trabalho e qualificação profissional, artes

plásticas, dança, biblioteca infantil, Língua de Sinais, informática educativa,

atendimento à múltipla deficiência, sempre aliada à surdez, prevenção às

drogas, experiência educacional bilíngue, ensinos fundamental e médio e

ações para a cidadania (palestras sobre temas atuais). Também promove

anualmente, Seminário Nacional e Congresso Internacional sobre temas

relevantes na área da surdez, além de publicações semestrais de revistas e

periódicos de cunho técnico e científico.

No Centro de Referência, encontra-se o colégio de aplicação onde

são atendidos alunos surdos, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.

Além de educação formal, os alunos recebem atendimento especializado nas

áreas de fonoaudiologia, psicologia e assistência social. Os cursos

profissionalizantes e estágios remunerados capacitam os surdos para sua

inserção no mercado de trabalho. O Projeto do Centro de Atendimento

Alternativo florecer, atende alunos matriculados nos segmentos da

escolaridade formal do CAP/INES que apresentam dificuldades de

aprendizagem e/ou outros comprometimentos, como também a crianças e

jovens com múltipla deficiência que procuram escolaridade. Arte e esporte

completam o atendimento diferenciado do INES aos seus alunos.

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O INES, através do Departamento de Ensino Superior – DESU

oferece o Curso Bilingue de Pedagogia, às pessoas surdas e ouvintes.

As informações acima foram extraídas do (SITE:

http://www.ines.gov.br).

2.3. A Feneis – Federação Nacional de Educação e Integração

dos Surdos

Federação Especializada para Surdos - Educação e Integração

HISTÓRICO

A criação das associações foi, sem dúvida, um passo decisivo para

a autonomia dos surdos. Com o passar do tempo, sentiu-se a necessidade de

fundar uma organização nacional que atendesse a todas as pessoas surdas do

país. Como resultado da reunião de várias entidades que já trabalhavam com

essa temática, em 1977, foi fundada a Federação Nacional de Educação e

Integração dos Deficientes Auditivos - Feneida. Entretanto a representatividade

dos surdos estava comprometida, pois a nova entidade era composta apenas

por pessoas ouvintes.

Como resposta a essa exclusão, em 1983, a Comunidade Surda

criou uma Comissão de Luta pelos Direitos dos Surdos, um grupo não

oficializado, mas com um trabalho significativo na busca de participação nas

decisões da diretoria da Feneida. Até então esse direito lhes era negado por

não se acreditar na capacidade de que poderiam coordenar uma entidade.

Mas, não demorou muito e devido à grande credibilidade adquirida, a

Comissão conquistou a presidência da Feneida. Em 16 de maio de 1987, em

Assembléia Geral, a nova diretoria reestruturou o estatuto da instituição, que

passou a se chamar Federação Nacional de Educação e Integração dos

Surdos - Feneis.

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A Feneis incentivada pela Coordenadoria Nacional para a Integração

de Pessoas Portadoras de Deficiência - CORDE, do Ministério da Justiça,

iniciou a realização de convênios para a inserção de surdos no mercado de

trabalho. O primeiro deles foi assinado com a DATAPREV, posteriormente,

vieram outros que hoje empregam mais de seiscentos surdos.

É uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, com finalidade

sócio-cultural, assistencial e educacional que tem por objetivo a defesa e a luta

dos direitos da Comunidade Surda Brasileira, através de ações desenvolvidas

pelos seus escritórios regionais e o seu quadro de filiadas. Também, está

filiada à Federação Mundial dos Surdos e suas atividades foram reconhecidas

como de Utilidade Pública Federal, Estadual e Municipal.

Sua sede fica localizada à Rua Santa Sofia, número 139, Tijuca, Rio

de Janeiro.

O QUE FAZ A Feneis

Desde sua fundação, o seu maior propósito tem sido divulgar a

Libras-Língua Brasileira de Sinais. Ao longo dos anos, a Federação esteve

envolvida em várias atividades como: encontros, seminários, cursos de

capacitação de intérpretes de língua de sinais, formação de instrutores surdos

para a divulgação da Língua e outros trabalhos que sempre visaram esclarecer

para a sociedade em geral, a importância de ser respeitada a forma de

comunicação da Comunidade Surda, a sua cultura e porque não dizer a sua

história de evolução, enquanto minoria linguística, que há séculos vem lutando

pelo seu espaço e o reconhecimento de direitos que lhes são inerentes.

Importantes vitórias foram alcançadas com a oficialização e a

regulamentação da Libras. A Feneis luta por uma educação de qualidade, pelo

direito de acessibilidade a qualquer tipo de informação e a conquista de novas

oportunidades no mercado de trabalho para os Surdos.

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A Federação pratica ações com o apoio de seus escritórios regionais

e de seu quadro de filiadas que, aliados ao mesmo objetivo busca qualificar

suas atividades para atenderem da melhor forma possível as demandas da

Comunidade Surda Brasileira.

As informações acima foram extraídas do (SITE:

http://www.feneis.org.br/page/historico.asp).

2.4 A Comunicação dos Surdos

A forma de comunicação dos surdos tem uma especificidade

linguística pela qual a fala não é utilizada e a linguagem é expressa, através de

sinais e gestos com significados, que substituem as palavras utilizando-se das

mãos, do olhar e do corpo.

Cabe citar algumas afirmações de Lev Semiónovitch Vygotsky

(1896-1934) sobre o desenvolvimento intelectual humano: “A função primordial

da fala é a comunicação, o intercâmbio social.” (VIGOTSKI, 2008, p.6) e,

também:

Signos e palavras constituem para as crianças, primeiro e acima de tudo, um meio de contato social com outras pessoas. As funções cognitivas e comunicativas da linguagem tornam-se, então, a base de uma forma nova e superior de atividade nas crianças, distinguindo-as dos animais. (VIGOTSKI, 2007, p.18).

Filosofias Educacionais para Surdos

Entende-se por filosofias educacionais para surdos, como

sendo a escolha dos métodos mais apropriados para serem utilizados na

comunicação de surdos.

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Goldfeld (2002, pp.33 a 45) descreve as Filosofias Oralista, da

Comunicação Total e o Bilinguismo, conforme segue:

ORALISMO

O Oralismo ou filosofia oralista tem como objetivo à integração da

criança surda na comunidade de ouvintes, permitindo-lhe condições de

desenvolver a língua oral, no caso do Brasil, a Língua Portuguesa. Ao adotar o

Oralismo alguns profissionais consideram que esta deve ser a única forma de

comunicação dos surdos.

A filosofia oralista utiliza diversas metodologias, conforme a opinião

de alguns profissionais, na área da Fonoaudiologia, a oralização deve ser

iniciada, tão logo se descubra a surdez, porque a plasticidade das vias

auditivas, durante o período maturacional da cóclea favorece o

desenvolvimento da criança.

Trata-se do processo de estimulação para o resgate de resquícios

auditivos, que possibilitam a aprendizagem da língua portuguesa, desta forma

permitirá à criança surda a sua integração na comunidade ouvinte e

desenvolver uma personalidade ouvinte. São os denominados surdos

oralizados.

A metodologia audiofonatória, também conhecida como Perdoncini,

é bastante utilizada no Brasil.

COMUNICAÇÃO TOTAL

Esta filosofia tem como principal preocupação os processos

comunicativos entre surdos e surdos e entre surdos e ouvintes. Preocupa-se

com a aprendizagem da língua oral pela criança surda, mas acredita que os

aspectos cognitivos, emocionais e sociais não devem ser deixados de lado em

prol do aprendizado exclusivo da língua oral e, também, defende a utilização de

recursos espaçovisomanuais para favorecer a comunicação.

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Um dos seus princípios orientadores afirma que: os estudos, desde

1960, claramente indicam que a criança que cresce em um ambiente, onde são

utilizados recursos visuais e gestuais, demonstra mais habilidade para

comunicar-se e tem mais êxito na escola. Prioriza e respeita a participação da

família na sua função de compartilhar seus valores com a criança surda.

A Comunicação Total em oposição ao Oralismo acredita que

somente o aprendizado da língua oral não assegura pleno desenvolvimento da

criança surda. Defende o uso de qualquer recurso linguístico, seja a língua de

sinais, a língua oral ou outros códigos manuais, no sentido de beneficiar a

comunicação entre os surdos, em detrimento do aprendizado de uma língua.

No Brasil, seus adeptos utilizam a Língua de Sinais-Libras, a

datilologia (representação manual das letras do alfabeto), o cued speech

(sinais manuais que representam os sons da língua portuguesa), o português

sinalizado (língua artificial que utiliza o léxico da língua de sinais com a

estrutura sintática do português e alguns sinais inventados, para representar

estruturas gramáticas do português que não existem na língua de sinais) e o

pidgin (simplificação da gramática de duas línguas em contato, o português e a

língua de sinais).

O uso dos diversos códigos manuais acima citados é uma forma de

comunicação denominada de bimodalismo, que é um dos recursos utilizado no

processo de aquisição da linguagem pela criança e na facilitação da

comunicação entre surdos e ouvintes.

A Comunicação Total não privilegia a Libras, mesmo sendo esta

uma língua natural, ela procura criar recursos artificiais para facilitar a

comunicação e a educação dos surdos, pois reconhece que poderá haver

dificuldade entre surdos que desconhecem os códigos da língua de sinais.

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BILINGUISMO

O Bilinguismo tem como pressuposto básico que o surdo deve

adquirir como língua materna: a língua de sinais, que é considerada a língua

natural dos surdos e como segunda língua: a língua oficial de seu país, no caso

desta pesquisa a Língua Portuguesa.

Na concepção dos autores bilinguistas, o surdo não precisa desejar

uma vida semelhante ao ouvinte, ele pode aceitar e assumir a sua surdez. É

rejeitada a idéia de que o surdo deve tentar aprender a língua oral, para

aproximar-se do padrão da comunidade ouvinte, embora que esta

aprendizagem seja importante.

Na filosofia bilíngue há duas maneiras distintas de definição:

1) autores acreditam que a criança surda deve adquirir a língua de

sinais e a modalidade oral da língua de seu país, sendo que depois a criança

deverá ser alfabetizada na sua segunda língua, no caso a língua portuguesa;

2) outros autores acreditam ser necessário para o surdo adquirir a

língua de sinais, sua língua materna, e a de seu país na modalidade escrita,

apenas.

No Brasil, grande parte dos surdos e seus familiares não conhecem

Libras. Há um grande número de crianças, adolescentes e adultos surdos que

não participam de comunidades surdas, não utilizam a língua de sinais e,

também, não dominam a língua oral. Estes vivem à margem da sociedade, sem

acesso à comunicação e à educação desejadas, precisando criar entre os

membros de suas famílias seus próprios sinais de linguagem para serem

compreendidos.

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2.4.1 A Língua Oficial dos Surdos: Libras

A Língua Brasileira de Sinais – Libras é uma das línguas faladas no

Brasil e obteve o seu reconhecimento oficial do governo brasileiro pela Lei nº

10.436, de 24 de abril de 2002, que foi regulamentada pelo Decreto nº 5.626,

de 22 de dezembro de 2005:

Artigo 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados.

Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.

Artigo 4º Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais-Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa.

A lei prevê, também, a garantia do direito à educação das pessoas

surdas ou com deficiência auditiva, conforme capítulo VI, do Decreto

5.626/2005.

A sua legalização e oficialização representa a luta de muitos anos da

comunidade surda, pelo reconhecimento de sua língua.

Para melhor explicitar o tempo, acima citado: “muitos anos”

considera-se para o início da contagem: a data de fundação do INES, 26 de

setembro de 1857, durante o Império de D. Pedro II, até o dia 24 de abril de

2002, data da lei nº 10.436, que dispõe sobre a Libras, que só foi

regulamentada no dia 22 de dezembro de 2005, pelo Decreto nº 5.626.

Definição de Libras – Língua Brasileira de Sinais, conforme a Feneis:

“É a língua materna dos surdos brasileiros”. Como língua é

composta de todos os componentes pertinentes às línguas orais, como a

gramática, semântica, pragmática sintaxe e outros elementos, preenchendo os

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requisitos científicos para ser considerada instrumental linguístico de poder e

força. Possui todos os elementos classificatórios identificáveis de uma língua e

demanda de prática para o seu aprendizado, como qualquer outra língua. É

uma língua viva e autônoma, reconhecida pela linguística. (SITE:

www.feneis.com.br/Libras/index.shtml).

A Libras é uma língua dinâmica e seu vocabulário está sempre se

ampliando com a criação de novos sinais. Esta modalidade de língua, também,

sofre variações regionais, semelhante ao que ocorre com as palavras, na

Língua Portuguesa, da seguinte maneira: há sinais utilizados no estado do Rio

de Janeiro que são diferentes de outros sinais utilizados em São Paulo ou até

em outros estados do país, com o propósito de representar o mesmo

significado. Compara-se com os termos abóbora e jerimum, o significado é o

mesmo, mas difere o seu uso, dependendo de qual estado do Brasil a pessoa

esteja.

Cabe registrar que a língua de sinais não é universal. O Brasil tem a

sua própria língua, o mesmo ocorre com outros países.

2.4.2 As Barreiras da Comunicação

Goldfeld (2002, p.80) em sua pesquisa sobre o tema Surdez

observou que:

A dificuldade dos surdos ocorre pelo fato de as línguas – auditivas-orais serem as únicas utilizadas pela grande maioria das comunidades e a surdez impossibilita a criança de adquiri-la espontaneamente.

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2.4.2.1 Surdos com Surdos

A realidade brasileira, com relação à Surdez, é que grande parte dos

surdos e suas famílias não conhecem a Língua de Sinais. Este fato cria

barreiras na comunicação entre os surdos que dominam a Libras e aqueles que

não a conhecem porque gestos isolados não representam as palavras.

A condição da surdez torna-se mais precária, no tocante a

comunicação e a socialização, porque de acordo com Goldfeld (2002, p.46) “há

crianças, jovens e adultos que não participam de comunidade surda, não

utilizam a língua de sinais e também não dominam a língua oral”.

A comunicação utilizando a linguagem escrita poderá ser uma

alternativa, desde que as pessoas surdas tenham conhecimento das palavras,

em Língua Portuguesa.

2.4.2.2 Surdos com Ouvintes

A comunicação entre surdos e ouvintes ocorre com o uso da língua

de sinais, pela leitura labial ou pela oralização do surdo.

A comunicação utilizando a linguagem escrita poderá ser uma

alternativa, desde que as pessoas surdas e ouvintes tenham conhecimento das

palavras, em Língua Portuguesa.

2.5 Comunidades Surdas

Observa-se que no material do curso oferecido pela Feneis para o

aprendizado da Libras, pelo público ouvinte, Felipe (2007, p.45) insere no texto

dedicado ao conhecimento e à divulgação da Cultura e Comunidades Surdas o

conceito da linguista surda Carol Padden:

Uma Comunidade Surda é um grupo de pessoas que mora em uma localização particular, compartilha as metas comuns de seus membros e, de vários modos, trabalha para alcançar estas metas.

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As “Comunidades Surdas” do Brasil são aquelas organizadas e

formadas pelas associações de pessoas surdas, com consciência política e,

também de pessoas ouvintes a elas vinculadas, pela causa da surdez. Estas

comunidades apresentam diferenças regionais, em relação a hábito alimentar,

vestuário e situação socioeconômica e com variações lingüísticas regionais.

Felipe (2007, pp. 81, 82) descreve que as Comunidades urbanas

Surdas no Brasil têm como fatores principais de integração a Libras, os

esportes e interações sociais.

As associações dos surdos possuem estatutos e estão sujeitas às

eleições de gestão de dois anos, geralmente.

Os surdos, que são membros das associações, estão sempre

interagindo com outras associações de outros estados ou cidade, como

também com as Federações, Confederação e a Feneis – Federação Nacional

de Educação e Integração dos Surdos.

A Feneis atua como órgão de integração dos Surdos na sociedade,

através de convênios com empresas e instituições que empregam surdos;

promove debates, seminários, congressos nacionais e internacionais em

defesa dos direitos dos Surdos, com relação à sua língua, à educação, aos

intérpretes em escolas e estabelecimentos públicos, a programas de televisão

legendados e às assistências social, jurídica e trabalhista.

2.5.1 Identidade e Socialização

Os Surdos que participam das Comunidades, referidas no subitem

anterior, assumem uma cultura própria e em consequência passam a se

identificar por comportamentos semelhantes, como: o uso da língua de sinais, a

interação com o outro surdo e a sua visão de mundo. Os surdos que têm pais

ouvintes que não se comunicam em sinais, possivelmente, só terão contato

com a cultura e a comunidade surda, quando forem para uma escola surda,

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onde poderão desenvolver a identidade do sujeito surdo. No Brasil, muitos

surdos só encontram com o outro quando já estão entrando na adolescência ou

na vida adulta. Só então, começam a frequentar os clubes e escolas aonde

frequentam surdos ou vão se aproximando de grupos espontâneos de surdos,

fora das escolas, nas igrejas, nos shoppings, em eventos sociais, onde

discutem livremente suas idéias e opiniões. Cabe comentar, que no Brasil,

conforme pesquisa de Teske (2010, p.147) “alguns surdos até imaginavam que

todas as pessoas eram surdas, outros pensavam que só eles eram surdos em

seu meio”.

Nas comemorações sociais, o dia 26 de setembro tem um

significado muito importante para os Surdos porque nesta data é comemorado

o dia do Surdo. As Comunidades Surdas promovem festa e eventos culturais.

As associações de surdos costumam organizar, também, festejos

durante o ano todo, como por exemplo: festas juninas, homenagem ao dia dos

pais e das mães, Natal, churrascos, eventos beneficentes e até viagens.

Através desses encontros os surdos se fortalecem emocional e

psicologicamente, reforçando a sua identidade como pessoa, pois se

reconhece no seu semelhante, que faz parte do mesmo grupo social.

Oliveira (1992, pp.24, 25) comenta que:

Falar da perspectiva de Vygotsky é falar da dimensão social do desenvolvimento humano (...). Vygotsky tem como um de seus pressupostos básicos a idéia de que o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação com o outro social. A cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem.

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CAPÍTULO 3

EDUCAÇÃO DE SURDOS NO BRASIL

Comunicação Gestual – Um pouco de sua história

A filosofia educacional oralista foi a que mais influenciou a prática

pedagógica, no INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos. Este

instituto adotou os preceitos do oralismo que foram decretados pelo Congresso

de Milão, realizado no período de 06 a 11 de setembro de 1880. Os países

participantes foram Bélgica, França, Alemanha, Inglaterra, Itália, Suécia,

Rússia, Estados Unidos e Canadá.

O objetivo do evento foi discutir a educação de surdos, entre outras

questões, mas, também, definir qual o método a ser utilizado para ensiná-los: a

linguagem oral ou a gestual. Após discussão, o Congresso declarou que o

método oral na educação de surdos, deveria ser preferido em relação ao

gestual, pois as palavras eram para os ouvintes, sem qualquer dúvida,

superiores aos gestos. (SILVA, 2006, p.26).

No Brasil, dentro do INES era proibido usar as mãos como forma de

expressão, ou seja, na comunicação gestual. Mesmo assim, diariamente, entre

os alunos e entre estes e alguns professores aquela modalidade de

comunicação sempre ocorreu.

Somente, na década de 80, por volta de 1987, o modo de se

comunicar através de gestos, passou a fazer parte do projeto pedagógico do

INES, sendo utilizado numa das alternativas educacionais: o método da

Comunicação Total, que foi o escolhido entre outros dois métodos

especializados, através de pesquisa realizada dentro da própria escola.

Dez anos depois, já em 1997, por ocasião da data comemorativa

dos 140 anos do Instituto, numa edição especial da Revista Espaço, um

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informativo técnico e científico do INES, Rocha (1997, p.30) relembrou a

trajetória atuante dos alunos surdos reivindicando o uso da língua de sinais,

dentro das salas de aulas, muito antes dela tornar-se lei:

Desde 1993, os alunos do Instituto, através do seu Grêmio, vêm participando ativamente, com diálogo permanente junto ao corpo docente e em instâncias deliberativas, como o Conselho Diretor. Hoje, os alunos reivindicam que os professores utilizem a Libras em suas aulas (...)

Ainda, ressalta o preconceito que existia na aceitação da

comunicação gestual, dentro do próprio Instituto de Educação de Surdos:

De toda maneira, a comunicação gestual sempre esteve à margem da escolaridade, aqui no Instituto. Eventualmente era usada, de forma clandestina, por alguns professores que entendiam que era um importante recurso para a escolarização dos alunos. Sua utilização, em sala de aula, sem constrangimentos, tem pouco mais de dez anos. (ROCHA, 1997, p.31).

Finalmente, após tantas lutas das comunidades surdas, com intensa

atuação e grande influência da Feneis e outras associações, a tão proibida e

marginalizada comunicação gestual foi reconhecida e oficializada como a

língua natural dos surdos, denominada Libras, pelas Leis n° 10.436, de 24 de

abril de 2002 e Lei n° 10.098, de 19 de dezembro de 2000, regulamentadas

pelo Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Foi assegurada a sua

utilização, sempre que necessário, em eventos sociais e pedagógicos,

referentes à pessoa surda.

Educação Oralista e Educação Bimodal

Quadros (1997, pp.21, 24) em seu trabalho acadêmico, no que se

refere à escolarização de surdos no país, aponta duas fases distintas: a

educação oralista e a educação bimodal ou bimodalismo.

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Na filosofia educacional oralista enfatiza-se a língua oral, em termos

terapêuticos, com o apoio de um profissional da área de fonoaudiologia.

Percebe-se que o Oralismo não produz resultados satisfatórios,

conforme citação abaixo:

Tomando como base o ensino desenvolvido em muitas cidades brasileiras, o oralismo sempre foi e continua sendo uma experiência que apresenta resultados nada atraentes para o desenvolvimento da linguagem e da comunidade surda. (QUADROS, 1997, p.21).

Já, na educação bimodal o objetivo é desenvolver a linguagem na

criança surda. O uso da língua de sinais é permitido, mas como suporte para a

da estrutura da língua portuguesa. É um sistema de educação artificial que

passou a ser chamado de “português sinalizado”, pois utiliza a fala e o uso de

sinais, simultaneamente. Neste método entende-se que o uso da língua de

sinais não tem prioridade, é um recurso para o ensino da língua oral.

Pesquisas efetuadas sobre este assunto consideram, também, que o

uso de sinais ao mesmo tempo com a fala causa alterações fonológicas e

dificulta a compreensão dos nativos da língua de sinais. (DORZIAT, 2010).

Comenta-se, também, que o “português sinalizado” é um método

limitado para os surdos na aquisição dos conteúdos e informações escolares.

Entende-se melhor tal afirmação, a seguir:

Esse fato também é observado entre os profissionais que trabalham com surdos no Brasil e utilizam o português sinalizado. Algumas investigações sobre os resultados da interação e o acesso às informações utilizando esse meio indicam muitas limitações. (QUADROS, 1997, p.25)

Considerações sobre o Oralismo e o Bimodalismo

Na busca pela obtenção de um ensino de qualidade da pessoa

surda pode-se considerar que:

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O Oralismo é como uma imposição social de uma maioria

linguística, ou seja, as pessoas que fazem uso da fala, através das línguas

orais, sobre uma minoria linguística: os surdos.

Ainda hoje, fora da escola, existe a prática legal de oralização de

crianças surdas, por decisão e escolha de alguns surdos e/ou suas famílias,

por considerarem os benefícios que este método traz na comunicação social

com os ouvintes.

O Bimodalismo não é uma língua de sinais, mas um sistema artificial

inadequado e ineficiente no ensino da língua portuguesa. As crianças surdas

que são submetidas a esse método apresentam defasagem tanto na leitura

quanto na escrita e, também, na aquisição dos conteúdos pedagógicos.

3.1 Bilinguismo

É uma proposta de ensino usada por escolas que se propõem a tornar acessível à criança duas línguas no contexto escolar. Os estudos têm apontado para essa proposta como sendo mais adequada para o ensino de crianças surdas, tendo em vista que considera a língua de sinais como língua natural e parte desse pressuposto para o ensino da língua escrita. (QUADROS, 1997, p.27)

Uma Nova Proposta Educacional

Fora do Brasil, diante das opiniões divergentes e polêmicas entre

pesquisadores e educadores adeptos das correntes defensoras do Oralismo e

do Bimodalismo, surgiu uma nova proposta de ensino que considera a língua

de sinais em toda a sua essência: o Bilinguismo.

Esta nova proposta educacional apresenta o seguinte pressuposto

básico: “o surdo deve adquirir como língua materna, a língua de sinais que é

considerada a sua língua natural e, como segunda língua, a língua oficial de

seu país”.

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Aos surdos é dado o direito de serem ensinados na língua de sinais,

que servirá de base para o aprendizado da língua portuguesa, segunda língua,

na sua modalidade escrita e de leitura.

Entende-se que no Brasil, com relação ao surdo, a Libras é a sua

língua materna, a primeira língua adquirida naturalmente, e a Língua

Portuguesa é a sua segunda língua.

Para melhor compreensão: os símbolos L1 e L2 que serão

utilizados, mais adiante neste capítulo, representarão os termos: “primeira

língua” e “segunda língua”, respectivamente.

O uso da comunicação gestual, muito antes da sua legalização, tem

grande importância para os surdos brasileiros. Conta-se que aqueles oriundos

de outras cidades e outros estados, que vieram estudar no INES, localizado no

Rio de Janeiro, ao retornarem aos seus locais de origem, depois de formados,

comunicavam-se através dos sinais, contribuindo para a divulgação da língua.

Em sua abordagem sobre a educação bilíngue de surdos brasileiros,

Quadros (1997, p. 28) faz referência à Skutnabb-Kangas (1994) que afirma: “o

nível ótimo de bilinguismo deve ser o objetivo educacional para todas as

crianças surdas”. Tal afirmação tomou por base os princípios dos Direitos

Humanos Linguísticos, citados a seguir:

a) todos os seres humanos têm direito de identificarem-se com uma

língua materna (s) e de serem aceitos e respeitados por isso;

b) todos têm o direito de aprender a língua materna (s)

completamente, nas suas formas oral (quando fisiologicamente possível) e

escrita (pressupondo que a minoria linguística seja educada na sua língua

materna);

c) todos têm o direito de usar sua língua materna em todas as

situações oficiais (inclusive na escola);

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d) qualquer mudança que ocorra na língua materna seja voluntária e

nunca imposta.

Estudos afirmam que uma proposta puramente bilíngue não é

possível, devido às diversidades culturais existentes, dentro do mesmo país. A

Comunidade Surda tem a sua cultura própria, que deve ser preservada

enquanto a Comunidade Ouvinte, também tem a sua, de forma distinta.

Formas Básicas de Bilinguismo na Educação de Surdo

Respeitar a língua de sinais como primeira língua, natural e

espontânea, e através dela facilitar o ensinamento de uma língua secundária é

o princípio básico da proposta bilíngue, que apresenta duas formas de atuação:

1) O ensino da segunda língua, a língua portuguesa, quase de forma

simultânea à aquisição da primeira língua, a Libras;

2) O ensino da segunda língua, a língua portuguesa, somente após

a aquisição da primeira língua, a Libras.

Na segunda forma, o ensino da língua portuguesa é para a aquisição

da leitura e escrita ou, com a possibilidade de incluir a oralização, pelos alunos

surdos.

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Implicações na Prática Bilíngue

1) As Conquistas já Alcançadas

Existem conquistas e progressos no processo educacional da

criança surda. Estas conquistas devem ser reconhecidas como metas

constantes da proposta do bilinguismo.

As conquistas em andamento perfazem os seguintes aspectos,

conforme citação de (QUADROS, 1997, p.40):

a) o reconhecimento da pessoa surda enquanto cidadã integrante de uma sociedade surda com o direito de ter assegurada a aquisição da língua se sinais como primeira língua:

b) o uso da língua de sinais na escola para garantir o desenvolvimento cognitivo e o ensino de conhecimentos gerais;

c) o ensino da língua oral e auditiva com estratégias de ensino de segunda língua;

d) a inclusão de pessoas surdas nos quadros funcionais das escolas.

Cabe citar nesta pesquisa que O Decreto nº. 5.626, de dezembro de

2005, regulamenta a Lei n.º10.436, de abril de 2002 que oficializa a Libras-

Língua Brasileira de Sinais e assegura direitos ao cidadão surdo.

2) As Resistências e Dificuldades de Aceitação

Na escolarização brasileira “fala-se”, “pensa-se”, “ouve-se”,

“escreve-se” e “lê-se” utilizando os sons e sinais gráficos de uma língua oral e

auditiva: a língua portuguesa.

Mudar e introjetar outra forma de agir, dentro e fora da escola, em

prol de uma minoria de pessoas surdas, certamente não é fácil. Exige

comprometimento e novas adaptações.

Diante da complexidade da prática bilíngue, surgem opiniões

pertinentes que devem ser consideradas e tomadas para reflexão:

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Educação bilíngue para os surdos é, de longe, um projeto ainda utópico na grande maioria das escolas. (...) não só impõe a necessidade de um novo olhar sobre os surdos, mas, sobretudo, porque envolve a transformação da situação monolíngue da escola, fundada pela língua portuguesa. (FERNANDES, 2006, p.3).

Em prosseguimento, Fernandes (2006, p.4) observa que o

bilinguismo é desenvolvido, apenas, nas escolas especiais.

No INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos a instrução é

passada em Libras e o Português é ministrado como segunda língua, conforme

site oficial do Instituto. (<http://www.ines.gov.br/Paginas/edu_colegio.asp>).

No Colégio de Aplicação do INES as aulas são ministradas por

professores ouvintes, em língua portuguesa, e intermediadas pelos assistentes

educacionais em Libras, que transmitem todo conteúdo pedagógico em língua

de sinais. O assistente educacional em Libras é um profissional surdo e atua

junto com o professor regente.

Muitas escolas regulares, ainda, encontram-se despreparadas e

não se dispõem às adaptações necessárias para a inclusão de alunos surdos.

Também, deve-se considerar que as interações são realizadas pela oralidade,

deixando os alunos surdos numa situação de desvantagem, dentro de sala de

aula. (FERNANDES, 2006, p.3).

Bilinguismo – Um breve Resumo

No desenvolvimento do subitem 3.1, deste trabalho, mostrou-se a

proposta bilíngue na educação de crianças surdas como a mais adequada,

pelo seu princípio em respeitar a língua materna, cumprindo um direito humano

linguístico, em conseqüência a língua portuguesa é considerada a segunda

língua – L2; apresentou-se as formas de aplicação daquela proposta, sendo

que numa delas, o ensino da L1 – Libras deve ser adquirido antes, pois servirá

de base para a aquisição e o conhecimento da língua portuguesa, na forma

escrita e de leitura; evidenciou-se uma das conquistas do bilinguismo: o uso da

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língua de sinais na escola para garantir o desenvolvimento cognitivo e o ensino

de conhecimentos gerais.

De acordo com Gomes, et al.(2009, p.32): “no Brasil, a educação

bilíngue ainda não é uma realidade, e o desenvolvimento da linguagem de

sinais é restrito aos filhos de surdos”.

Como toda novidade traz resistências à sua aceitação, esta situação

foi apontada, anteriormente, pela professora e pesquisadora Fernandes (2006,

p.3) sobre a realidade da grande maioria das escolas, num cenário atual de

inclusão: “Educação bilíngue para surdos (...) envolve transformações (...)”.

Encerra-se este subitem com a seguinte informação: a educação

bilíngue para os surdos é um assunto vasto, complexo e encontra-se em

andamento.

3.2 Aquisição de Linguagem

O termo linguagem tem um sentido bastante amplo, linguagem é tudo que evolve significação, que tem um valor semiótico e não restringe apenas a uma forma de comunicação. É pela linguagem que se constitui o pensamento do indivíduo. (...). A linguagem constitui o sujeito, a forma como este recorta e percebe o mundo e a si próprio. (GOLDFELD, 2002, pp.18,19)

Antes de dar início à abordagem sobre aquisição de linguagem,

torna-se importante rever conceitos do desenvolvimento cognitivo, segundo a

perspectiva de Piaget, com a finalidade de facilitar a compreensão do que será

comentado mais adiante, no que se refere à aquisição de linguagem da criança

surda.

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Piaget, através de pesquisas sobre a construção do conhecimento

humano, fez várias observações que deram origem à “Teoria do

Conhecimento”.

Ao transcrever, abaixo, parte do texto apresentado por Ferreira

(2010, p.2) sobre a Epistemologia Genética, compreende-se que:

Herdamos um organismo formado por uma série de estruturas biológicas e neurológicas, que vão dar lugar ao surgimento de certas estruturas mentais. As estruturas mentais vão sendo construídas e reorganizadas sucessivamente no decorrer do processo de maturação biológica, em conexão com a ação e interação da criança com o meio dos objetos e seu ambiente social, atingindo patamares cada vez mais elevados de organização que se concretizam sob a forma de desempenhos específicos, em situações concretas dadas.

Destaca-se, também, naquela teoria que o desenvolvimento da

inteligência infantil, inicia-se a partir do nascimento em três estágios diferentes

e cumulativos, relatados a seguir:

(...) todas as crianças passam por três estádios, por sua vez subdivididos em sub-etapas que, começando a partir de esquemas perceptivo-motores, próprios do recém nascido, evoluem até chegar ás estruturas complexas de raciocínio de tipo hipotético-dedutivo, características do adulto.

(...) A psicogênese é, portanto, um processo universal; todas as crianças se desenvolvem obedecendo a este paradigma básico, podendo haver, no entanto, defasagens ou alterações nas idades para cada estádio. (FERREIRA, 2010, p.5).

O que se pretende mostrar é que a criança surda, também

desenvolve a sua inteligência de modo análogo à criança não surda ou ouvinte,

sendo possível a aquisição de linguagem, desde que sejam respeitadas as

suas especificidades linguísticas.

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3.2.1 Aquisição de Linguagem em Crianças Surdas

Inicialmente, considera-se importante relacionar as definições de

conceitos apresentados por Goldfeld (2002, p.25) em sua pesquisa sobre

linguagem e cognição da criança surda:

DEFINIÇÕES DE CONCEITOS ESSENCIAIS NA SURDEZ

1a) Fala: (no sentido de Vygotsky) – produção da linguagem pelo

falante nos momentos de diálogo social e interior, pode utilizar tanto o canal

audiofonatório (pessoas ouvintes), quanto o espaço visomanual (pessoas não

ouvintes);

1b) Acrescenta-se a definição de Fala identificada nos estudos de

Lamoglia (2009, pp.4,5):

Fala é a exteriorização da língua através da emissão dos signos verbais, sejam eles orais, no caso das línguas fonológicas, ou visuais, no caso das línguas de sinais. (GOLDFELD, 1997).

O termo Fala na área da surdez é, comumente, utilizado para

designar a enunciação produzida pelo sistema fonador.

2a) Língua: (sob a visão de Bakhtin) – sistema semiótico criado e

produzido no contexto social e dialógico, servindo como elo entre o psiquismo e

a ideologia;

2b) Acrescenta-se a definição de Língua identificada nos estudos de

Lamoglia (2009, pp.4,5):

Língua é todo código estruturado que apresente as características essenciais para a veiculação de uma comunicação verbal. Possui, necessariamente, os níveis semântico, sintático, morfológico, fonológico e pragmático. (GOLDFELD, 1997).

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3a) Linguagem: códigos que envolvem significação não precisando,

necessariamente, abranger uma língua;

3b) Acrescenta-se a definição de Linguagem identificada nos

estudos de Lamoglia (2009 pp.4,5):

Linguagem será considerada como toda e qualquer forma de representação (verbal ou não-verbal) que signifique algo para alguém. Qualquer veículo que transmita uma mensagem pode, nessa perspectiva, ser considerado linguagem. (WITTGENSTEIN, 1994).

Como exemplo: a linguagem visual, a linguagem falada e a

linguagem musical.

Uma importante noção de Vygotsky é o fato de perceber a

linguagem não apenas como uma forma de comunicação, mas também como

uma função reguladora do pensamento. “É pela linguagem que se constitui o

pensamento do indivíduo”. (GOLDFELD, 2002, p.18, 19).

4) Signo: elemento da Língua marcado pela história e cultura de

seus falantes, possui inúmeras possibilidades de sentidos, sendo estes criados

no momento da interação, dependendo do contexto e dos falantes que o

utilizam.

Para Vygotsky o desenvolvimento cognitivo se dá pela interiorização

de sistemas de signos, produzidos culturalmente.

Como por exemplo: as palavras são signos linguísticos, os números

são signos matemáticos e as placas de trânsito, também, são signos.

5) Sinal: elemento léxico da língua de sinais. É um signo linguístico

da mesma forma que as palavras, na Língua Portuguesa;

6) Sinalização: Fala produzida pelo canal visuomanual.

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7) Significado: é uma generalização ou um conceito, do ponto de

vista da psicologia. Para Vygotsky é um fenômeno do pensamento verbal ou

da fala significativa – uma união da palavra e do pensamento.

“Uma palavra sem significado é um som vazio; o significado,

portanto, é um critério da “palavra”, seu componente indispensável”.

(VYGOTSKY, 2008, p.150).

PROCESSO INICIAL DE AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM

Como exemplo: O choro do bebê pode significar fome. A mãe o

amamenta, então, ele se cala.

Na sequência da interação da criança, choro e balbucio são ações

que passam a ter uma função de comunicação, que servirão para desenvolver

a linguagem.

A linguagem é reconhecida como o processo mais complexo que o

ser humano domina, possibilitando-lhe formas de raciocínio bem

desenvolvidas.

Durante o desenvolvimento, ao ouvir a fala do adulto a criança

começa a desenvolver a sua própria fala e o adulto ao se relacionar com ela

passa a estimulá-la no seu processo de comunicação e no seu

desenvolvimento intelectual, além de ajudá-la na realização de pequenas

tarefas que ainda não pode fazer sozinha. Numa perspectiva

sociointeracionista, Goldfeld (2002, p.58) esclarece que: “no início da vida do

bebê o pensamento e a linguagem estão dissociados”. Nesta etapa, Vygotsky

denomina estas funções de linguagem não intelectual e pensamento não

verbal.

Sabe-se que o bebê expressa reações instintivas, como o balbucio e

o choro. De sua relação com a mãe, ele começa a compartilhar significados

criados por ela.

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No seu processo de desenvolvimento normal, entre dois e seis anos,

é muito comum criança falar sozinha enquanto brinca: fase da fala egocêntrica.

Dentro deste intervalo de tempo, quanto mais idade ela vai somando, menos

utiliza a fala egocêntrica, esta vai se interiorizando, e dando vez ao

aparecimento da fala interior.

Goldfeld (2002, p. 60) aponta que:

A fala interior tem suas próprias leis gramaticais. Sua sintaxe parece desconexa e incompleta, quando comparada à fala social. A fala interior é basicamente uma cadeia de significados, de generalizações, sua expressão fonética é secundária. Os indivíduos pensam basicamente por meio de conceitos.

A criança recorre à sua capacidade de organização mental, num

processo natural utilizando o seu pensamento verbal para planejar atividades.

Pelo percurso descrito acima, entende-se que a aquisição de

linguagem acontece, através dos estímulos recebidos e da troca de

significados na interação social, que internalizados passam a orientar o

pensamento, por meio da fala interior do indivíduo, também chamado de

pensamento linguístico.

Toda a cognição passa a ser determinada pela linguagem.

Conclui-se que a criança surda que sofre atraso de linguagem fica

em desvantagem com relação àquela não surda que adquire a linguagem, de

forma natural.

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Convém citar Oliveira (2009, p.58) em seus estudos sobre

desenvolvimento e aprendizado, sob o enfoque de Vygotsky:

Existe um percurso de desenvolvimento, em parte definido pelo processo de maturação do organismo individual, pertencente à espécie humana, mas é o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento que, não fosse o contato do indivíduo com certo ambiente cultural, não ocorreriam.

AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM DE CRIANÇA SURDA

É necessário que a família, juntamente com a escola, faça um trabalho para impedir um atraso de linguagem, com o intuito de evitar e minimizar possíveis prejuízos em seu desenvolvimento cognitivo (SIXEL, 1999).

No desenvolvimento deste assunto será considerado o grupo de

crianças que se utiliza das línguas de sinais no modelo bilíngue e que possuem

possibilidades de desenvolvimento da linguagem.

Conforme já comentado, anteriormente, o modelo de educação

bilíngue tem como pressuposto o ensino da Libras como L1, primeira língua, e

a aquisição de Língua Portuguesa, na escrita e leitura, considerada L2,

segunda língua.

“A Língua de sinais é importante nas interações ou nas relações

sociais para a construção da subjetividade da pessoa surda”. (SILVA, 2001,

p.36).

Goldfeld (2002, p.45) ao fazer uso da afirmação de Brito (1993), cita

as consequências que a criança surda poderá sofrer se não for exposta à

língua de sinais desde seus primeiros anos de vida:

a) O surdo perde a oportunidade de usar a linguagem, senão o mais

importante, pelo menos um dos principais instrumentos para a solução de

tarefas que se lhe apresentam no desenvolvimento da ação inteligente;

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b) o surdo não há de recorrer ao planejamento para a solução de

problemas;

c) não supera a ação impulsiva;

d) não adquire independência da situação visual concreta;

e) não controla seu próprio comportamento e o ambiente;

f) não se socializa adequadamente.

CONSIDERAÇÕES A SEREM OBSERVADAS:

A seguir serão apresentados os estudos denominados Caso I e

Caso II, sendo que:

Estudo de Caso I

Pretende-se mostrar, numa visão geral, a opinião da pesquisadora e

estudiosa Quadros (1997) sobre Aquisição de Linguagem na Educação de

Surdos.

O objetivo da autora foi direcionado em conhecer algumas pesquisas

sobre o processo de aquisição da língua de sinais em:

CRIANÇAS SURDAS, FILHAS DE PAIS SURDOS – LÍNGUA DE SINAIS

Quadros (1997, p.71) em suas pesquisas baseadas em estudos de

autores estrangeiros, define que:

“O estágio de um sinal inicia por volta dos doze meses da criança

surda e percorre um período até por volta dos dois anos”.

Também, por volta dos dois anos de idade surgem as primeiras

combinações de sinais.

Na Libras, Quadros (1995) observou que, por volta dos três anos e

meio, a criança usa a concordância verbal, não corretamente. Enquanto que

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por volta dos cinco anos e meio a seis anos e meio, ela adquirindo a Libras usa

a concordância verbal de forma consistente.

As autoras estrangeiras, Bellugi e Petitto (1988), apontaram que

todos os estudos referentes à aquisição da língua de sinais por criança surda

concluíram que este processo ocorre de forma natural, porque ela usa a

mesma língua que seus pais surdos. Estes, por sua vez, usam a Libras para se

comunicarem entre eles e com amigos.

Considera-se, também, que o surdo adquire a linguagem em período

semelhante à aquisição de criança ouvinte.

CRIANÇAS SURDAS, FILHAS DE PAIS OUVINTES – LÍNGUA DE SINAIS

A aquisição de linguagem da criança nesta condição já é mais difícil.

Bergmann (1994), em seus estudos sobre as crianças surdas, filhas

de pais ouvintes apresentou uma preocupação com a formação dos

profissionais, em relação à língua de sinais dinamarquesa, para o

funcionamento de uma escola bilíngue. Afirma que todos os professores devem

dominar a língua de sinais.

Enquanto que, no Brasil, para que haja uma proposta bilíngue

bicultural, na concepção de Quadros (1997, p.83) exige-se das escolas um

trabalho que insira profissionais surdos formados para servirem de modelo

linguístico e cultural para os alunos surdos e a formação dos próprios

profissionais quanto à Libras e aos pressupostos da educação bilíngue.

A autora, acima citada, descreveu que: “A partir dessas iniciativas

poder-se-á pensar em outras medidas com pais ouvintes e com crianças

surdas, no sentido de garantir a aquisição da língua de sinais”.

Atualmente, em 2010, torna-se necessário registrar conquistas e

mudanças que evidenciam o andamento deste processo, entre elas:

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1) O Decreto nº. 5.626, de dezembro de 2005, que regulamenta a

Lei n.º10.436, de abril de 2002, que oficializa a Língua Brasileira de Sinais-

Libras;

2) O Decreto prevê a inclusão da disciplina de Libras, nos Cursos

de formação de Professores, em nível superior, como Pedagogia e Letras;

3) O funcionamento do Curso Letras/Libras, Licenciatura e

Bacharelado, da Universidade de Santa Catarina - UFSC, na modalidade à

distância, com nove pólos espalhados pelo Brasil. O pólo no Rio de Janeiro

está localizado no INES, desde 2006;

4) O funcionamento do Curso Superior de Pedagogia Bilíngue, no

DESU/ INES, com a formação de alunos surdos e ouvintes, com o seu primeiro

vestibular em 2006;

5) Curso de Libras, no INES, com o propósito de divulgar a Língua

de Sinais, com inscrições anuais;

6) Cursos de Libras e formação de Instrutores e Intérpretes de

Libras, na Feneis;

7) O funcionamento do Curso de Pós Graduação Lato Sensu,

Especialização em Letramentos e Surdez, em 2009 e 2010.

As informações acima foram obtidas pelos SITES:

(<http:// portal.mec.gov.br > <http://www.universia.com.br >e

<http://www.coperve.ufsc.br/ead2008/libras/orientacoes_matricula.pdf>).

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3.2.2 Aquisição de Leitura e Escrita, em L2 – Segunda

Língua

AQUISIÇÃO DE LEITURA E ESCRITA - ALFABETIZAÇÃO

O surdo deve adquirir a leitura e a escrita em Língua Portuguesa,

como segunda língua, em conformidade com a proposta da educação bilíngue.

A Libras, sua primeira língua, não poderá substituir a modalidade escrita da

língua portuguesa, em cumprimento ao Parágrafo único da Lei n° 10.436, de 24

de abril de 2002.

A EDUCAÇÃO BILÍNGUE AINDA É UMA UTOPIA- ESCOLA REGULAR

“A educação bilingue para os surdos é um projeto ainda utópico na

grande maioria das escolas”, comenta (FERNANDES, 2006, p.3).

A situação da escolarização de surdos, em 2010, não mudou quase

nada, pois esta prática de educação, que tem como pressuposto o ensino de

língua portuguesa - L2, em sua modalidade escrita e leitura, exige um novo

olhar sobre a forma diferenciada do aprendizado destes alunos.

Para que uma escola se ajuste, na categoria de inclusiva, precisa-se

de mudanças estruturais, pedagógicas, metodológicas e de mentalidade. Em

conseqüência, novas ações e metas devem ser adotadas e incorporadas, em

sua filosofia de trabalho e educação.

Ressalta-se que, a Lei que impõe estas mudanças, já, está em vigor,

porém, mudar implica em atitudes políticas e envolve outras questões

complexas.

A maioria das escolas, ainda hoje, atua e preserva os padrões da

língua portuguesa, porque elas estão organizadas para funcionarem com

características constituídas pela oralidade, causando uma extrema

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desvantagem para o aluno surdo, em consequência de sua diferença

linguística.

Conforme observação de Fernandes (2006, p.4) as propostas

bilíngues, geralmente, são mais desenvolvidas no contexto das escolas

especiais.

Sabe-se que o surdo tem condições de adquirir a leitura e a escrita

em L2, língua portuguesa, por processos visuais de significação, com base na

estrutura da língua de sinais.

As dificuldades com as quais o aluno convive em sala de aula

prende-se às estratégias utilizadas no processo de alfabetização. No início do

processo os professores seguem regras que valorizam a parte fonética da

escrita, desta maneira, dificultam e impossibilitam o seu aprendizado

significativo, que por não entender este procedimento, cria seu próprio

mecanismo num esquema de copiar.

Durante a alfabetização a criança surda copia as letras e as palavras

que aparentemente demonstra que aprendeu. Muitas das vezes o professor

ouvinte, por não saber se comunicar com o aluno, não percebe o que está,

realmente, acontecendo. A situação vai se repetindo, causando atrasos

consideráveis na vida escolar daquela criança.

Utiliza-se as palavras de Resende (2009, p.2) para complementar a

abordagem sobre a prática da alfabetização:

Na escola o processo da escrita consiste em um ato mecânico, concentrando-se inteiramente na reprodução das letras (...). Este passa a ser um treinamento artificial, no qual se ignora os aspectos psíquicos da criança, considerando o processo de alfabetização apenas como aquisição de habilidade motora, enquanto que ao contrário dos que acreditam alfabetizar é mais que aprender a grafia das palavras. Aprender a escrever é construir nova inserção cultural, é aprender uma forma de interagir com o meio sob o qual está inserido.

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AQUISIÇÃO DE LEITURA E ESCRITA EM L2- SEGUNDA LÍNGUA

Estudo de Caso II

Apresenta-se a aquisição de leitura e escrita em L2, sob o enfoque

de Letramento na Educação Bilíngue para Surdos. Toma-se como base, a

proposta da professora e pesquisadora Sueli Fernandes:

Sabe-se, sem sombra de dúvidas, que é perfeitamente possível que os surdos mergulhem no mundo da leitura e da escrita por processos visuais de significação que têm na língua de sinais seu principal elemento fundador. (FERNANDES, 2006, p. 6).

Diante da real dificuldade enfrentada pelos surdos no que se refere

ao aprendizado de leitura e escrita em Língua Portuguesa-L2, transformando-

se em meros copiadores, sem um aprendizado significativo, Fernandes (2006,

p.8) afirma que para ensinar aos surdos a ler e escrever tem-se que repensar

as metodologias atuais de alfabetização, porque estas não respeitam a

singularidade linguística dos surdos e seguem estratégias baseadas na

oralidade.

A ALFABETIZAÇÃO INTEGRADA NA PRÁTICA SOCIAL: LETRAMENTO

Alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e para escrever. (SOARES, 2003).

O letramento considera a leitura e a escrita sempre inseridas em práticas sociais significativas (...)

O letramento torna a leitura e a escrita como processos complementares e dependentes – o português é o que o aluno lê e vê.

(...) as práticas de letramento estão intimamente ligadas a contextos de leitura. Sem leitura não há escrita significativa e, portanto, inexiste o letramento. (FERNANDES, 2006, pp.8, 9).

Fernandes (2006, p.8) observa: “a constituição dos sentidos na

escrita pelas crianças surdas decorrerá de processos simbólicos visuais e não

auditivos”.

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A autora nega qualquer tentativa de ensinar a escrita por meio da

oralidade, ou seja, ela entende que o surdo não aprende com a alfabetização.

Sugere novo método de ensino no qual o aluno surdo passará de

uma língua não alfabética (língua de sinais) para uma língua alfabética

(português). Não haverá o conhecimento fonológico comum na alfabetização

do aluno não surdo.

Novas práticas de leitura e escrita, em sala de aula, são sugeridas

com o uso de recursos que tenham significação e estejam integrados no

contexto social, diário ou escolar do aluno, para poder dar sentido ao que ele

vê, lê e escreve. Como exemplo: aprender a ler um manual de TV, uma bula de

remédio, uma informação num frasco de xampu, um outdoor; escrever um

bilhete, escrever a lista do supermercado ou um cartão de aniversário;

conhecer a importância e a diversidade de textos apresentados através de

revistas, jornais ou em forma de poesia, entre outros.

O que se pretende, com a utilidade destes recursos, é estimular e

desenvolver a aquisição de leitura e a produção de textos, sistematicamente,

em L2, tomando como base as comparações estruturais da língua materna –

L1.

Denomina-se a esta nova prática para o ensino da língua portuguesa

como segunda língua de: Letramento.

“O letramento na língua portuguesa, portanto, é dependente da

constituição de seu sentido na língua de sinais”. (FERNANDES, 2006, p.6).

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CAPÍTULO 4

O ALUNO SURDO NO CONTEXTO DA ESCOLA REGULAR

Como o aluno surdo aprende na Escola Regular?

Reserva-se para início desse capítulo, apresentar em subitens

distintos os seguintes assuntos: no item 4.1 – Escola para Surdos – Objetivos,

Recursos e Procedimentos necessários para se obter um modelo mais

apropriado; no item 4.2 – Quadro Comparativo Simplificado – Escola Surda

Sugerida Versus Escola Regular; item 4.3 – Escola Regular – Narrativas

Surdas e Atuais são depoimentos de alunos surdos, alunos ouvintes,

professores e profissionais sobre a escola regular; item 4.4 – Processo de

Aprendizagem; item 4.5 – Recursos e Adaptações Pedagógicos e 4.6 – Um

Olhar sobre as diferenças.

Pretende-se, assim, nortear este trabalho no sentido de favorecer à

leitura, à observação e à reflexão necessárias para a análise sobre a qualidade

do processo de aprendizagem do aluno surdo, na Escola Regular.

Sabe-se que a Escola Regular é a instituição, preferencialmente,

indicada por lei para receber e incluir o aluno surdo e outros com necessidades

educacionais especiais.

Pergunta-se, com relação à inclusão social e escolar: A escola

regular está preparada para cumprir o seu papel de receber “todos”, inclusive

as crianças surdas?

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4.1 Escola para Surdos – Um Modelo mais Apropriado

Objetivos, Recursos e Procedimentos

Este subitem foi desenvolvido com base nos estudos da Professora

e Pesquisadora Ronice M. Quadros.

Objetivos

Em seu livro, Quadros (1997, pp.107, 108) relaciona os objetivos de

uma escola para surdos, transcritos resumidamente:

1) criar um ambiente linguístico apropriado às formas particulares de

processamento cognitivo e linguístico das crianças surdas;

2) assegurar os desenvolvimentos social e emocional íntegros das

crianças surdas a partir da identificação com surdos adulto;

3) garantir a possibilidade de a criança construir uma teoria de

mundo. A criança precisa ter a oportunidade de conceber sua própria teoria de

mundo, através de suas experiências diárias e do diálogo com as pessoas que

a rodeiam;

4) oportunizar o acesso completo à informação curricular e cultural.

A autora, com relação aos itens acima, esclarece o seguinte:

Criar um “ambiente linguístico” apropriado é favorecer o acesso à

língua de sinais, única língua adquirida de forma espontânea, sem intervenção

sistemática e formal, desde que seja respeitada a condição física das pessoas

surdas: ser surda.

Em consequência, esse “ambiente linguístico” implica a presença de

pessoas que dominem a língua de sinais, de preferência pessoas surdas

adultas que possam assegurar o desenvolvimento social e emocional íntegro

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da criança e a formação de sua personalidade por poder estabelecer uma

identificação com estes adultos.

O desenvolvimento social e emocional, também, deve ser garantido

na relação dos pais com as crianças; da relação da escola com os pais, junto

aos seus filhos.

Oportunizar a criança conceber a sua própria teoria de mundo,

através de suas experiências, vivências e da comunicação com as pessoas no

seu cotidiano, dentro e fora da escola. Bem, como a escola lhe permitir o

acesso completo às informações escolares e culturais.

Programas de Participação de Pais Ouvintes

É importante a escola criar programas que incluam os pais ouvintes

e promovam a interação desses pais com adultos surdos e a aprendizagem da

língua de sinais.

Recursos e Procedimentos

1) Ter nas escolas pessoas que usam a língua de sinais, de

preferência que sejam surdas, para favorecer a aquisição da Libras, servir de

modelo bilíngue e bicultural à criança e mostrar traços específicos da

comunidade surda;

2) Que as pessoas sejam competentes no conhecimento da Libras,

de forma fluente, para interagir com a criança e com os seus pais. Refere-se à

qualidade da exposição à Libras;

3) Que a criança tenha acesso à língua de sinais, durante o período

escolar. Refere-se à quantidade da exposição à Libras;

4) Atividades que incluam os pais e possibilite-lhes o acesso à língua

de sinais como sua segunda língua, estimulando a relação entre pais e filhos

surdos. Como exemplo: Jogos, brincadeiras, passeios, reuniões;

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5) Visitas sistemáticas às residências dos alunos feitas por pessoas

surdas;

6) Ensinar a Libras como disciplina e ser ministrada por um

profissional competente e participante da Cultura Surda - Professor Surdo que

tenha habilidade para interagir com os alunos, observando o nível linguístico

dos mesmos;

7) A disciplina de Libras deve abordar questões da língua, aspectos

sociais, culturais e políticos das comunidades surdas e da importância dos

intérpretes da língua de sinais;

8) Acesso curricular em Libras;

9) Aquisição da língua portuguesa de forma sistemática, dentro de

uma proposta bilíngue como segunda língua-L2;

10) Propõe-se uma nova prática de ensino diferente do processo de

alfabetização de crianças ouvintes. É preciso motivar o aluno surdo à aquisição

da língua portuguesa para que ele possa utilizar-se dela como instrumento de

comunicação para fazer valer os seus direitos, diante de uma sociedade

ouvinte”. (SCLIAR-CABRAL, 1988);

11) O professor deverá estimular o interesse do aluno

contextualizando o conteúdo a ser ensinado. Sugere-se utilizar textos diversos:

informativo, narrativo, dialógicos compatíveis com o seu nível de compreensão.

Como exemplo: jornais, revistas, gibis, poesia, textos de embalagens de

produtos, entre outros;

12) O professor deverá estar atento às oportunidades que o aluno

dispõe para expressar sua L2;

13) Cabe ao professor de língua portuguesa observar a oralidade

presente nos textos escritos, porque a base comunicativa da pessoa surda

passa pelo visual espacial e não pelo oral;

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14) A língua portuguesa – L2 deverá ser ensinada como uma língua

GRÁFICO/VISUAL, enquanto a Libras – L1 é VISUAL/ ESPACIAL. Desta

forma, parte do pressuposto que a criança estará adquirindo uma L2 na mesma

modalidade linguística de sua L1;

15) A alfabetização em L2, na modalidade escrita e leitura, parte do

princípio que a criança adquiriu a L1, de forma natural e servirá de base para

esta aprendizagem;

16) Mesmo que os surdos façam parte de uma sociedade majoritária

onde a língua é falada, poder-se-ia supor uma aquisição de L2 natural e

espontaneamente, mas devido à sua condição física os surdos não têm acesso

à língua portuguesa de forma natural;

17) A Aquisição da língua portuguesa é de forma artificial porque

deverá ser ensinada;

18) Oferecer ao aluno surdo a oportunidade da escrita é fundamental

para que o professor avalie o seu desenvolvimento e observe os erros fazendo

uma análise da evolução do processo de aprendizagem da estrutura do

português adquirido;

19) A escrita do aluno deverá expressar idéias que apresentam uma

relação direta com a Libras. O processo de ensino do português ocorrerá em

uma etapa seguinte. É preciso respeitar a construção da escrita do surdo. A L1

servirá de base para a aquisição de L2;

20) A intervenção do professor é fundamental ao analisar e corrigir a

produção textual do surdo. Serve de apoio para a reflexão e compreensão do

conceito que ele criou, na apresentação de um assunto em sala de aula,

fundamentado na relação direta com a libras;

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21) O professor deve estar atento ao processo de escrita do aluno

surdo desde as fases:

Pré escrita: a formação do conceito em libras;

Escrita: a produção textual, com base na língua de sinais e;

Reescrita: a correção da produção textual para a língua portuguesa.

Trabalhar construtivamente com os erros.

Informações Complementares

Atualmente, ano de 2010, no sentido de suprir a carência de

profissionais surdos e ouvintes especializados na área da educação de surdos,

pode-se citar, em andamento:

O Curso Superior de Pedagogia Bilíngue (Libras e Português), com

autorização do MEC, para a formação de professores surdos e ouvintes,

oferecido pelo INES, na cidade do Rio de Janeiro;

O Curso de Pós Graduação em Letramento e Surdez, para a

especialização de professores surdos e ouvintes, oferecido pelo INES, no Rio

de Janeiro;

O Curso Superior de Letras/Libras promovido pela UFSC –

Universidade Federal de Santa Catarina para alunos surdos e ouvintes, na

modalidade de EAD, com a distribuição de nove (nove) pólos pelo Brasil. O

pólo do Rio de Janeiro fica localizado no INES;

O Curso de formação de Instrutor de Libras e Curso de formação de

Tradução e Interpretação de Libras, pela Feneis, no Rio de Janeiro;

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Bem como, a inclusão da disciplina de Libras, na grade curricular de

outras instituições de formação de professores e fonoaudiólogos, em

conformidade com o Artigo 3º, Capítulo II – Da Inclusão da Libras como

Disciplina Curricular, do Decreto n° 5.626, de 22 de dezembro de 2005 que faz

a seguinte exigência:

A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

4.2 Quadro Comparativo Simplificado

Acrescenta-se como recurso de visualização o quadro comparativo

entre o modelo de escola para surdos brasileiros sugerido e o modelo padrão

da maioria das escolas regulares, na atualidade.

Torna-se importante esclarecer que o quadro apresentado, a seguir,

considera o público de alunos surdos, de uma forma geral, sem a distinção

entre:

• Crianças que nasceram surdas, filhas de pais surdos;

• Crianças que nasceram surdas, filhas de pais ouvintes;

• Crianças ex-ouvintes filhas de pais ouvintes;

• Surdos oralizados.

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No Brasil, somente 5% (cinco por cento) das crianças surdas são

filhas de pais surdos, ou seja, somente estas adquirem a língua de sinais

naturalmente, quando elas chegam às escolas já sabem sinalizar; por analogia,

é um processo idêntico às crianças não surdas, que já chegam às escolas

falando. Significa dizer que 95% (noventa e cinco por cento) das crianças

surdas são filhas de pais ouvintes, que, normalmente, não conhecem a Libras e

chegam à escola sem dominar nenhuma língua.

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QUADRO COMPARATIVO SIMPLIFICADO

Escola Surda Sugerida X Escola Regular

Escola Surda – Modelo Sugerido Escola Regular - Atual

Proposta: Bilíngue

Língua Oficial de Comunicação:

Libras – Língua de Sinais Brasileira (natural

dos surdos)

Sistema de Língua:

Visuomanual

Língua do Currículo:

Libras – Língua de Sinais Brasileira

Profissionais:

Professores Surdos Professores Ouvintes com formação bilíngue Intérpretes e Tradutores em Libras Alfabetização: Não há este processo. A professora e pesquisadora Sueli Fernandes declara:

• Não há conhecimento prévio internalizado na criança sobre a língua portuguesa;

• Impossibilidade de estabelecer

relações letra X som; a criança desconhece o léxico (vocabulário) da língua portuguesa, já que no ambiente familiar sua comunicação restringe-se a gestos naturais ou caseiros (na ausência da língua de sinais);

Proposta: Monolíngue

Língua Oficial de Comunicação:

Língua Portuguesa (natural dos ouvintes)

Sistema da Língua:

Oral e auditiva

Língua do Currículo:

Língua Portuguesa

Profissionais:

Professores ouvintes, sem fluência em Libras; Bem poucos Intérpretes e Tradutores em Libras. Alfabetização:

• Utiliza a oralidade (fala) e a audição (sons);

• Consciência Fonológica;

• Relação Grafema-fonema.

Fonetização das letras escritas-sílabas;

• Domínio da escrita como código lexical;

• Conforme Leite (2010, p.32) alfabetização é a apropriação da escrita como sistema convencional, alfabético e ortográfico.

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Escola Surda – Modelo Sugerido

• A percepção de sílabas não ocorre

já que a palavra é percebida por

suas propriedades visuais

(ortográficas) e não auditivas;

• A criança não percebe o mecanismo

da relação letra-som, então, começa

a copiar o desenho das letras e

palavras e simula a aprendizagem,

prática que se perpetua ao longo da

vida escolar. (FERNANDES, 2006,

p.7).

Aquisição de Linguagem:

Bilinguismo: Libras-Língua 1 e Português-

Língua 2. (Alguns pesquisadores sugerem

ensinar primeiro a língua de sinais, pois sua

estrutura servirá de base para a

aprendizagem da língua portuguesa, como

segunda língua).

Aquisição de Leitura e Escrita, em língua

portuguesa, como L2:

Libras não tem modalidade escrita

LETRAMENTO – Uma Nova Proposta na

Surdez

Aquisição de leitura e escrita em Língua

Portuguesa - L2:

Entende-se como letramento o conceito

apresentado pela Professora Fernandes

(2006, p. 6):

“Leitura e escrita em Português por

processos visuais de significação que tem

Escola Regular - Atual

Aquisição de Linguagem:

Língua Portuguesa: Língua materna (língua majoritária).

Aquisição de Leitura e Escrita, em língua portuguesa

LETRAMENTO – Uma Nova Proposta

Acabar com o analfabetismo funcional

“É o envolvimento dos indivíduos com as práticas sociais de leitura e escrita”. (LEITE, 2010, p. 28).

É dar sentido e utilidade ao processo de alfabetização.

Tem-se como exemplo: saber escrever um bilhete; fazer uma lista de supermercado; ler um texto de jornal ou revista e saber

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na língua de sinais seu principal elemento

fundador”.

A Professora Sueli Fernandes

explica que: “no Letramento a leitura se

processa de forma simultânea e analítica (do

todo para o todo), a palavra é vista como

uma unidade compacta, na ausência de

imagens acústicas que lhes confira

significados, as palavras são memorizadas,

mecanicamente, sem sentido”. Afirma que a

palavra é percebida por suas propriedades

visuais (ortográficas).

O letramento considera a leitura e

escrita sempre inseridas em práticas sociais

significativas;

O letramento torna a leitura e a

escrita como processos complementares e

dependentes: o português é o que o aluno

surdo lê/vê. Despertar o interesse e a

utilidade de leitura e escrita em Português.

Como exemplo, textos escritos em

forma de: poesia; revistas; gibis; jornais;

carta; lista de supermercado; etc.

interpretá-lo; preencher uma ficha de inscrição

para cadastro pessoal; etc.

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Considerações:

A Professora Dra. Sueli Fernandes afirma ser impossível ensinar ao

surdo a ler e escrever pela alfabetização, através do modelo utilizado para a

criança não surda, cita que:

Para que esse processo se efetive há que se repensar as metodologias atualmente utilizadas na escola que ignoram as singularidades linguísticas dos surdos e seguem reproduzindo as estratégias baseadas na oralidade e na audição como referenciais para a apropriação da leitura e escrita. (FERNANDES, 2006, p.8).

Também, defende o uso da prática do Letramento, pois é através de

processos simbólicos visuais que o aluno surdo perceberá e atribuirá sentidos

na escrita em língua portuguesa.

“Ser surdo é pertencer a um mundo de experiência visual e não

auditiva”. (PERLIN, 2010, p.56).

Durante esta aprendizagem as palavras serão processadas como

um todo, sendo reconhecidas em forma ortográfica, visualizadas e

armazenadas mentalmente, se a elas corresponder alguma significação. Se

não houver sentido não houve leitura. Tem que haver um contexto.

Para Fernandes (2006, p.10) “ler não é reconhecer palavras

isoladas, mas, sim, compreender e negociar sentidos na interação com o texto

escrito”.

A autora acredita que a criatividade do professor e o conhecimento

que ele possa ter das necessidades de seus alunos pode definir a escolha do

programa mais adequado para facilitar a aprendizagem em sala de aula. Para

ela o letramento é apenas um dos caminhos possíveis para seguir, deixando de

lado o uso das práticas tradicionais e mecânicas que as escolas têm submetido

aos alunos surdos, desconsiderando-se as singularidades implícitas em seu

processo de apropriação da escrita.

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4.3. Escola Regular - Narrativas Surdas

ESCOLA REGULAR – MUDAR PARA INCLUIR

Século XX, até bem pouco tempo a escola regular não possuía

padrões e competência para receber as crianças e jovens surdos. A língua de

comunicação da escola é o Português, com modalidade oral e auditiva, os

conteúdos pedagógicos são transmitidos nesta língua, através de currículos

planejados com a missão de educar o aluno preparando-o para o futuro e

ensinando-lhe a tornar-se um cidadão autônomo e crítico capaz de resolver

seus próprios problemas, dentro de uma sociedade majoritária que pensa e

age como ouvinte.

Em 1994, o cenário da escolarização de surdos passou a ser mais

evidenciado com a emissão do mais famoso documento que oficializou o termo

inclusão no campo da educação: a Declaração de Salamanca assinada neste

mesmo ano, na Espanha.

Werneck (1997, p.50) salienta que:

A Declaração de Salamanca recomenda que as escolas se ajustem às necessidades dos alunos quaisquer que sejam suas condições físicas, sociais e linguísticas, incluindo aquelas que vivem nas ruas, as que trabalham, as nômades, as de minorias étnicas, culturais e sociais, além das que se desenvolvem à margem da sociedade.

Prosseguindo, em 20 de dezembro de 1996, com a vigência da nova

Lei de Diretrizes e Bases da Educação do Brasil, Lei nº 9394, ficou definido que

as crianças portadoras de necessidades educacionais especiais, inclusive a

criança surda, devem ter sua escolaridade atendida, fundamentalmente, pela

escola regular, de modo a promover sua integração/inclusão. (MACHADO,

2006, p.39).

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MUDAR PARA INCLUIR

Diante do contexto escolar em que vivemos, esse processo de integração/inclusão, por mais bem elaborado que seja, tem apresentado dificuldades em sua implantação pela instituição escolar. Ou seja, mesmo diante da obrigatoriedade gerada pela política educacional atual, muitos educandos surdos encontram-se à margem da escola. Alguns estão “incluídos” em classes regulares e poucos conseguem permanecer no sistema. (MACHADO, 2006, pp. 39 e 40).

Ainda, a maioria das escolas regulares não renovou as suas práticas

e costumes; não há profissionais especializados e deixa transparecer que não

está preparada, suficientemente, para receber este novo público,

principalmente aquelas pessoas que necessitam de atendimento e recursos

específicos, devido à sua diferença linguística.

Às vezes, o que acontece é a tentativa de adaptação curricular,

porém conservando as bases da oralidade da língua portuguesa e mantendo

os traços de uma cultura de ouvintes, sem se preocupar se o aluno surdo está

compreendendo o que lhe está sendo ensinado, realmente.

Thoma (2010, p.126) destaca em seu texto a responsabilidade que é

atribuída ao surdo pelo seu sucesso escolar, desde que a característica

biológica que o difere seja superada em nome de uma integração escola e

social mais efetiva. Caso ele não consiga se integrar à sociedade majoritária

dos denominados ouvintes, “a culpa é dele”, pois é ele quem fracassa ao não

conseguir ser como os demais.

Evidencia-se no parágrafo, imediatamente acima, a transferência de

responsabilidade da escola para a pessoa surda como se ela não pertencesse

à mesma sociedade, pretensamente democrática, que lhe deu chances de

inclusão.

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Há que se mudar para incluir. O autor Machado (2006, p.40) faz a

seguinte citação:

A educação de surdos torna-se um assunto inquietante, principalmente porque diferentes práticas pedagógicas, envolvendo os alunos surdos, apresentam uma série de limitações, geralmente levando esses alunos, ao final da escolarização básica, a não serem capazes de desenvolver satisfatoriamente a leitura e a escrita na língua portuguesa e a não terem o domínio adequado dos conteúdos acadêmicos. (LACERDA, 1989).

4.3.1 Narrativas Surdas - Pesquisa sobre a Escola

regular, Ano 2006

Denominam-se Narrativas Surdas: os depoimentos de alunos surdos

sobre as suas experiências, dentro da escola regular. Estes depoimentos foram

obtidos num trabalho investigativo, em forma de questionário, com alunos

matriculados no Curso de Pedagogia para Surdos da Universidade de Santa

Catarina- UDESC, realizado pelo professor e pesquisador Paulo César

Machado, do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Educação de Surdos –

NEPES, do Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina –

CEFET/SC e publicados no “Capítulo 2 – Integração/Inclusão na escola

regular: um olhar do egresso surdo, do livro Estudos Surdos I”, organizado pela

Professora Ronice Quadros, no ano de 2006.

Chama-se a atenção para a condição destes alunos entrevistados,

em 2006, estarem cursando o nível superior, quando muitos surdos

abandonam a escola.

O autor ressalta a importância de questionar dos alunos as suas

próprias experiências sobre a Integração/Inclusão na escola regular:

Na urgência de se ouvir os usuários do sistema educacional para garantir propostas curriculares capazes de atender, realmente, às peculiaridades de aprendizagem de seus alunos, criando-se caminhos mais ajustados às necessidades escolares dos estudantes surdos. (MACHADO, 2006, p.44).

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Apresentam-se os depoimentos coletados por Machado (2006,

pp.47a 67) e preservados na sua construção escrita:

DANDO VOZES AOS SURDOS

Quanto à Abordagem de Ensino

Depoimentos...

“A abordagem de ensino era exclusivamente oralista. É ruim e

obrigava-nos apenas a copiar, o que provocava uma desvantagem em relação

ao aluno ouvinte e um entrave para a comunicação com professores e colegas

ouvintes”;

“Não tem escola que utilize a língua de sinais”;

“Em minha opinião a escola regular, onde se usava apenas oralismo

foi péssima, só aprendi a copiar”;

“Com o oralismo fica difícil. O professor fala muito rápido. O ouvinte

tem informação, mas o surdo não tem, então para o torna-se muito difícil e ele

não aprende”;

“O ouvinte aprende mais rápido, o surdo não, aprende mais devagar

porque muda a língua dele, a língua é diferente”;

“Português/Libras é diferente. Se inverter o ouvinte também não

aprende, se fosse Libras o surdo aprenderia rapidamente e o ouvinte não”;

“Quando eu estudava em função do oralismo era difícil entender os

professores. Apesar de me esforçar eu vivia perguntando. Até meus colegas

reconheciam a dificuldade”;

“A escola regular acaba privando o surdo do importante contato com

outros surdos, pois é nesse contato que o surdo aprende a ser surdo, ou seja,

a se identificar com seus iguais, a se apropriar de sua língua e a ingressar na

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sua cultura, construindo a sua identidade e se organizando enquanto grupo

social”;

“Na escolar regular, que geralmente não reconhece a diferença

cultural, o surdo não tem espaço para manifestar-se culturalmente, nas suas

formas particulares de expressão”;

“Nessa escola, o surdo é participante de programas educacionais

voltados para ouvintes e elaborados por ouvintes, sem qualquer participação

de surdos e, portanto, sem considerar o seu modo de viver: sua cultura, sua

língua, suas necessidades e seus interesses”;

“O aluno surdo não pode apreender um conteúdo transmitido em

uma língua que ele não domina, fato que restringe a sua aprendizagem a uma

quantidade muito reduzida de conhecimento com qualidade questionável”;

“A minha experiência na escola revela a falta de direitos e espaços

para os surdos e suas diferenças”;

“Se naquela época 5ª a 8ª série (tempo em que o aluno investigado

freqüentou a escola regular) existisse escola própria para surdos com domínio

da língua de sinais, com certeza seria diferente, não basta apenas inserir a

língua de sinais na escola, tem que ser uma escola própria para surdo”;

“Para mim foi muito difícil, não foi fácil. Agora, eu penso como

planejar o futuro mais fácil. Se for criança surda e professor ouvinte, os surdos

não vão se capacitar para um futuro melhor para eles. Precisa de professor

surdo, precisa de aluno surdo”;

“Porque realmente eu não quero que os surdos continuem perdendo

muito de si como eu perdi, quero que se desenvolvam”.

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Com Relação à Necessidade de Ajuda na Escola Regular – Salas de Recursos

Depoimentos...

“Os serviços especializados para surdos eram ruins. No 2º Grau

havia um serviço especializado para surdos no qual ajudavam a tirar as

dúvidas de como ler e escrever melhor, apenas Português e Matemática”;

“Os professores do ensino regular tendem a transferir a

responsabilidade pelo ato de ensinar aos professores da educação especial”;

“Eu apenas copiava, aprender alguma coisa era difícil”.

Com Relação ao Currículo da Escola Regular

“O currículo é um espaço político em que se enfrentam as diferentes

e conflitantes concepções de homem, de educação e de sociedade”.

(LUNARDI, 1998).

Depoimentos...

“Não há preparação de professores para trabalhar com surdo,

somos dominados, o que quiseram foi consertar nosso “problema”. É difícil,

porque somos minoria, mas estamos lutando: hoje está começando a

preparação de professor para trabalhar com o surdo na escola, pensando

didática e materiais que utilizam a língua do surdo (refere-se ao Curso de

Pedagogia para Surdos oferecido pela UDESC- Universidade do Estado de

Santa Catarina”;

“Em geral os professores não tiveram acesso à Faculdade de

Educação Especial, faltando a formação adequada para ensinar ou criar

materiais que atendam às necessidades do aluno”;

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“O professor não tem conhecimento da cultura surda. Ele pensa que

o surdo precisa de Português”.

“Entendo que não houve procedimentos didáticos”;

“Em relação às disciplinas que cursei, não atendiam minhas

expectativas, pois não eram explicadas pela falta de comunicação”;

“O professor não tem conhecimento de como explicar mais claro

para o surdo, então fica mais difícil, porque a leitura, o texto, é tudo para o

ouvinte. E o ouvinte acha que o surdo tem a mesma língua dele. Mas não, é

diferente... O professor pedia para o aluno ouvinte explicar para o surdo”.

Avaliação

Depoimentos...

“A avaliação era por provas, então eu usava a memória, eu me

lembrava das palavras e aí conseguia resolver algumas das questões”;

“Na escola regular o surdo sempre roda, por exemplo, professor faz

prova, surdo não sabe ler, a nota é zero porque Português é diferente Libras. O

governo bota o surdo junto com o ouvinte, aí o surdo não consegue passar.

Essa é a inclusão, né?”;

“Por exemplo, na prova, trabalho, o surdo escreve, escreve, faz

coisa erradas. Então o professor vai lá e coloca nota zero porque a cultura não

é própria dele. A cultura é diferente, é outra língua”;

“O surdo roda, roda, não passa, fica triste”;

“Já no Português, por mais que me esforçasse, eu acabava

desistindo. Quando chegava nos dias das provas: Ah! Eu não sei! Ia

escrevendo qualquer coisa e sempre tirava nota cinco, quatro mais ou menos”;

“Muitas vezes tinha que fazer uma, duas, três vezes a mesma prova

até me sair bem”;

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“E com relação às provas, os professores ficavam bravos. Eu dizia: -

Eu não entendi nada!”;

“Não tinha conteúdo para surdos, não há adequação de disciplinas”;

“No ensino fundamental, o surdo gosta mais de Educação Artística e

Matemática. Já Português, Ciências, História são difíceis. No ensino Médio,

Física, Química e Português são muito difíceis. O surdo gosta de Desenho,

Matemática, Informática e Prática. Mas as palavras em Português são difíceis

em todas as áreas”;

Outras Considerações:

Depoimentos...

“A língua de Sinais e Português sugerindo comparação entre os

sistemas lingüísticos”;

“Aprofundamento na Língua de Sinais’;

“História dos surdos, professor surdo e material didático para

surdos”;

“Presença do professor surdo na sala de aula para contato com a

representação de identidade surda”;

“Professor ouvinte com domínio de língua de sinais e capacitado

para ensino de Português como segunda língua, participante do movimento da

comunidade surda, o que vai possibilitar a vivência, ou seja, a experiência

cultural presente”;

“Contato do surdo com a cultura surda, movimento surdo,

expressões culturais surdas, o que facilita a sintonia dos estilos de ensino com

o estilo de aprendizagem e motivação dos estudantes’.

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Família

Depoimentos...

“Atribuo a conclusão do ensino médio à influência da família. No

começo, eu não dava importância e não sabia para o que poderia servir o

estudo”;

“Meu pai e minha mãe exigiram que eu estudasse. Mesmo me

sentindo mal, como nas vezes em que eu quis desistir, meus pais insistiam

comigo. Também tive amigos que me ajudavam um pouco e diziam: “Vamos

você consegue. É claro, uma grande força de vontade”.

É preciso avançar com a escola inclusiva, entendendo que essa prática se baseia na aceitação das diferenças individuais, valorização de cada pessoa e a aprendizagem por meio da cooperação. (...) a escola tem que rever seu papel, seu currículo, suas concepções (...) um resultado da transformação do ensino. (MACHADO, 2006, p.70).

4.3.2 Narrativas Atuais – Pesquisa sobre a Escola

Regular, Ano 2010

Denominam-se Narrativas Atuais: os depoimentos coletados através

de pesquisas efetuadas, na forma de questionário, no período de maio a

agosto de 2010, sobre questões, referentes à educação inclusiva de alunos

surdos na escola regular.

Torna-se necessário esclarecer que para melhor direcionar este

trabalho, foram distribuídas vinte cópias do questionário a pessoas surdas e

ouvintes que estão envolvidas, diretamente, com a educação de surdos, no

sentido de obterem-se esclarecimentos e conhecerem-se as práticas, ações e

opiniões mais atualizadas destas pessoas, na área da surdez.

Informa-se que o modelo do questionário utilizado nas pesquisas

encontra-se mais à diante, compondo o Anexo 1 deste trabalho.

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Narrativas Atuais – Opiniões

Cada pessoa participante da pesquisa será denominada pela letra

“P” acompanhada de um numeral, por convenção, que a distinguirá das

demais. Dezoito pessoas responderam ao questionário.

Será mantida a forma original de escrita, em língua portuguesa,

referentes às narrativas de pessoas surdas.

1) Questionário: Item III – Educação de Surdos – Pergunta 02

“Você concorda com a inclusão de alunos surdos, na Escola

Regular?”.

Respostas: Sim, 7 pessoas; Não, 8 pessoas; Sim e Não, 2 pessoas;

Não respondeu, 1 pessoa.

Narrativas Atuais – Opiniões

2) Questionário: Item III – Educação de Surdos – Pergunta 04

“Você considera que as Escolas Públicas estão preparadas para a

inclusão de alunos surdos, no Sistema de Ensino Regular?”

P1: “Não. Tem que haver uma conscientização da importância dessa

língua (libras) no contexto escolar e profissionais especializados”;

P2: “Não respondeu”;

P3: “Não. Falta qualificação de professores e de toda a rede

escolar”;

P4: “Não. Porque os professores precisam cumprir com uma grade

escolar em tempo pré-estabelecido, e esse tempo não é o mesmo para a

compreensão, assimilação e aprendizagem de uma criança surda”;

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P5:” Não. Os professores não sabem Libras. Desconhecem todo o

processo do desenvolvimento surdo”;

P6: “Não. Precisa-se de profissionais preparados, projetos que se

adequem à realidade do surdo (para resolução de eventuais problemas). Seria

bom se tivesse um Projeto Político Pedagógico específico”;

P7: “Não. Os profissionais não estão aptos para lidar com essa

realidade. É necessário um preparo especial”;

P8:”Não. O sistema de ensino das escolas públicas ainda se

encontram precárias, e ainda não estão preparadas, faltando recursos para

atender a diversidade”;

P9: “Não. Porque a questão de aprendizagem da língua de sinais

com os ouvintes é árdua, a ser a língua visual-gestual”;

P10: “Não. Não há uma preparação qualificada desses profissionais

que os recebem”;

P11: “Não. Por não haver professores suficientes capacitados

utilizando a Língua de Sinais, por não haver intérpretes e outros recursos”;

P12: “Não. Os professores não estão preparados para lidar com

alunos com necessidades educacionais especiais – mesmo essas

necessidades não sendo sinônimo de deficiência. A escola pública visando a

implementação da política de inclusão, coloca cegos, surdos, cadeirantes e

pessoas com outras necessidades especiais todas juntas sem que as práticas

pedagógicas e o espaço físico da escola esteja de acordo com as

necessidades dessas pessoas”;

P13: “Não. Porque falta conhecimento sobre a surdez”;

P14: “Não. Os professores das escolas regulares em sua maioria

não sabem Libras, tornando assim o ensino deficitário”;

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P15: “Não. Por falta de formação dos cursos de capacitação dos

professores nas universidades. E também apresentam total ignorância

enquanto recebe os surdos, não sabendo por onde começar”;

P16: “Não. As políticas públicas que vigoram atualmente para esses

alunos não estão ainda bem delineadas. Achar que inclusão é somente colocar

sentado junto a ouvintes ou outros alunos com diferença funcional, não resolve

em nada o problema. O aluno surdo tem uma especificidade linguística

diferente e essa deve ser respeitada no âmbito geral, por todos os envolvidos

com a educação. Disponibilizar também um intérprete, em alguns casos, é

perda de tempo. O ideal é que esses alunos tivessem como modelo um surdo

adulto proficiente na língua para que pudessem ter um referencial de fato, que

não tivessem sua avaliação feita de igual modo que os alunos ouvintes e que

seus professores conhecessem a língua de sinais”;

P17: “Não. Não concordo com a maioria das experiências de

inclusão de surdos porque eles acabam por não ter acesso a uma formação de

qualidade, o que exige não apenas intérpretes em sala, mas adaptação do

acesso ao currículo e formação dos educadores, famílias e comunidade

escolar”;

P18: ”Pelo que vem sendo registrado nas pesquisas sobre o tema

parece que não. Falta muita coisa: políticas linguísticas que assegurem aos

surdos (sobretudo crianças provenientes de lares ouvintes) a aquisição de

língua de sinais: projetos pedagógicos pensados para as especificidades

lingüísticas e culturais de aprendizes surdos: formação de professores para

atuarem com esse alunado: interação da escola com a comunidade surda local;

ausência de intérpretes, etc.”.

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4.4 Processo de Aprendizagem

Weiss (2008, p.27) destaca a idéia básica de aprendizagem como:

Um processo de construção que se dá na interação permanente do sujeito com o meio que o cerca. Meio esse expresso inicialmente pela família, depois pelo acréscimo da escola, ambos permeados pela sociedade em que estão Esta construção se dá sob a forma de estruturas complexas.

“Toda a aprendizagem da criança na escola tem uma pré-história.”

(WEISS, 2008, p.27).

Narrativas Atuais – Opiniões

Mantém-se o mesmo padrão utilizado no subitem 4.3.2 - Narrativas

Atuais – Pesquisa sobre a Escola Regular Ano 2010.

1) Questionário: Item III – Educação de Surdos – Pergunta 07

Como acha que deve ser o processo de ensino/aprendizagem para

os alunos surdos, na Escola Regular?

P1: “A visão é o sentido mais importante, é por meio dela que o

surdo entende o mundo, isso torna imprescindível no processo de

aprendizagem, deve haver muitas ilustrações, maquetes, pôsteres, cartazes,

etc.”;

P2: “Não respondeu”;

P3: ”Com professores fluentes em Libras e com o auxílio de um

instrutor surdo”;

P4: “Como o trabalho do fonoaudiólogo na escola é orientar equipes

e professores quanto ao processo de ensino/aprendizagem, cabe também

orientar quanto às dificuldades encontradas nas crianças surdas e nas

dificuldades específicas de cada criança”;

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P5: “Deveria ser em turno regular com intérprete”;

P6: “Ter libras (se puder), se não tomar o cuidado para que este

aluno compreenda o tema abordado, tomando cuidado em esclarecer

significado das palavras no seu contexto”;

P7: “Através de figuras e palavras”;

P8: “(...) não sou a favor da inclusão, então na escola regular, deve

oferecer uma sala para alunos surdos de acordo com a série, com o professor

especializado na área da educação de surdos. E também a escola deve

oferecer cursos de Libras para os seus funcionários e aula de disciplina de

Libras para os alunos interessados”;

P9: “A inclusão de professores surdos qualificados de ensino para

surdos”;

P10: “Não penso que deveria ser inclusão, e sim interação, onde os

alunos iriam dividir compartilhar momentos juntos, porém suas necessidades

específicas seriam atendidas”;

P11: “Deve haver a troca entre professores e alunos, assim também

como deveria ser com os alunos ouvintes”;

P12: “Com uma sala onde todos os alunos sejam surdos e as aulas

sejam ministradas em língua de sinais, inclusive as avaliações. Que o professor

saiba língua de sinais e entenda sobre especificidades da surdez, em vez de

olhá-los pela perspectiva clínica”;

P13: “Em minha opinião poderia ter profissionais surdos que

ajudariam bastante. Também usar materiais visuais para facilitar a

aprendizagem dos alunos surdos”;

P14: “Com professores que dominem o idioma usado pelos surdos –

Libras e que usem estratégia que atendam essa especificidade”;

P15: “Professores surdos, alteração do currículo escolar, salas

especiais com professor surdo, etc.”;

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P16: “Um ensino pautado na diferença funcional linguística

apresentada por esse aluno. Onde sua L1 fosse respeitada como língua de

instrução e sua L2, que é a língua portuguesa fosse somente língua escrita,

não tendo o mesmo peso que tem para os alunos ouvintes”;

P17: “Os alunos surdos deveriam ter a mesma, ou melhor, formação

que é dada aos alunos ouvintes. Eles têm apenas uma diferença lingüística que

vira diferença em termos de rendimento e desenvolvimento cognitivo por não

terem, muitas vezes, acesso a uma língua que faça sentido. Fundamento

minha resposta na neuropsicologia”;

P18: “Como já mencionei anteriormente, aprendizagem significativa

para surdos, em qualquer tipo de escola, depende de algumas condições:

ambiente favorável à aquisição de língua de sinais: professores proficientes

nessa língua: presença de intérpretes com boa proficiência na Libras; projetos

pedagógicos elaborados com base nas especificidades dos aprendizes surdos:

material didático que contemple as estratégias visuais utilizadas por surdos em

seus processos de aprendizagem: contato da escola com pessoas da

comunidade surda; orientação às famílias, etc. Creio que estamos um pouco

longe de verificarmos essas condições nas escolas em geral”.

Narrativas Atuais – Opiniões

2) Questionário: Item III – Educação de Surdos – Pergunta 09

“Pode-se afirmar que o aluno surdo tem uma aprendizagem

significativa, na Escola Regular?”

P1: “Não, nesse modelo que encontramos é difícil”.

Outros Comentários:

“Nenhuma técnica ou estratégia de ensino é eficaz a não ser que

práticas sólidas de ensino estabeleçam os fundamentos de sua sala de aula. A

verdade é que a maioria dos alunos, mesmo os especiais, aprende a crescer

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em sua sala de aula em que o professor usa estratégias eficazes que alcançam

êxito com todos os alunos. Lembre-se que ser justo não quer dizer fazer a

mesma coisa para todos, mas fazer o que cada um precisa”;

P2: “Sim, desde que com apoio específico, como também acontece

com vários alunos, com deficiência ou não”;

P3: “Acredito que não. A idéia da inclusão não é de tudo ruim, porém

há muito que mudar”;

P4: “É relativo, pois cada criança surda tem uma capacidade de

compreensão, percepção, discriminação, interpretação, etc. A linguagem

adquirida no ambiente familiar, o conhecimento e a experiência de vida é muito

importante para uma aprendizagem significativa. O maior impedimento, muitas

vezes, vem exatamente da família que demora a diagnosticar a surdez e,

consequentemente, a estimulação, que quanto mais tarde ocorre, mais

prejuízos a criança apresenta”.

Outros Comentários:

“Quanto mais conhecemos e convivemos com crianças surdas, mais

nos envolvemos e nos comovemos com as aprendizagens. Um surdo aprender

a falar, fazer inferências, abstrair, e compreender essa sociedade ouvinte é um

verdadeiro milagre. Omitir essa possibilidade é um pecado. Quando

questionada se não é egoísmo e comodismo exigirmos de um surdo a

oralização, eu respondo que é, acima de tudo, muito amor. Cabe ao surdo o

livre arbítrio para usar somente a Libras ou também fazer uso da fala oral”.

P5: “Caso ele tenha a sorte de ter uma professora que saiba libras

sua aprendizagem será boa”.

Outros Comentários:

“Trabalho em uma escola particular para surdos que aceita ouvintes.

Todos os professores sabem Libras. “As crianças surdas têm o atendimento de

“fono”, semanalmente”.

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P6: “Depende do que quer dizer significativo e também depende de

aluno para aluno, se não tem outros complicadores, além da surdez, se a

família trabalhe junto com a equipe, escola, professor e família. Se tudo estiver

a contento o aluno aprende”.

Outros Comentários:

“Muito cuidado com o que se chama de “inclusão” principalmente em

escolas particulares, às vezes com vontade de acertar (que o aluno aprenda)

acaba excluindo-se este aluno de forma imperceptível Ex: o surdo frequenta

algumas aulas com o grupo de colegas e em outras, nas quais têm dificuldades

ele é separado para uma aula, digamos “particular”, preferiria que ele mesmo

com dificuldade estivesse com os colegas e depois trabalharia a dificuldade.

Ainda é muito cedo para se ter certezas, métodos infalíveis, profissionais

conscientes. É acerto e erro, cada caso é um caso, o que usa com uma criança

pode não dar certo com outra”.

P7: ”Não. Existe muito vocabulário que é naturalmente usado no

universo do ouvinte que seria quase impossível criar uma forma de expressar

esse vocabulário. O ritmo de ensino não tem como se comparar porque os

desafios são diferentes. O aluno ouvinte passa por um processo de aprender

as idéias e os conceitos, enquanto o surdo precisa, antes de tudo, aprender a

língua, compreender o vocabulário para então captar as idéias e os conceitos”;

P8: “Pode acontecer caso os alunos possam ser atendidos de

acordo com sua especificidade linguística e recebam recursos que possam

contribuir para a qualidade do seu aprendizado”;

P9: “O aluno surdo tem a facilidade para aprendizagem pela língua

de sinais em relação da Língua Portuguesa”.

Outros Comentários:

Os surdos devem aprender a língua portuguesa com a 2ª língua,

para produzir o acesso das relações da comunicação com ouvinte, podem ser

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feitos nas escritas ou em oral, através da leitura labial. “Se treinam com

professores da língua portuguesa e com fonoaudiólogos”.

P10: ”Particularmente penso que não, pois há muitas outras

dificuldades que não são atendidas e esta é somente uma forma de mascarar

as verdadeiras necessidades”;

P11: ”Não. Faltam professores qualificados para receber não só os

alunos surdos, mas todos os alunos; Na falta desta qualificação, intérpretes de

Libras, caso aquela escola tenha alunos surdos usuários desta língua;

professores surdos formados e atuantes no trabalho com os professores

ouvintes ou não. Como estes alunos terão troca?”

Outros Comentários:

“Creio que esta pesquisa seja de grande relevância e deve ser

aprofundada, para que juntos possamos encontrar um melhor caminho para a

educação como um todo, não só para surdos, mas também para ouvintes, que

muitas vezes enfrentam grandes dificuldades, e não são notadas”.

P12: “Não. Os relatos que vi de surdos que estudaram em escolas

assim não são felizes. Os surdos apenas copiavam a matéria, se esforçando

para fazer leitura labial ou entender sinais que não são realizados respeitando

a estrutura da Libras (português sinalizado) e por isso não fazem sentido.

Muitos deles se viram sozinhos, estando presentes fisicamente, mas sem

participação efetiva das aulas. O resultado é alunos que chegam à faculdade

sem ter noção de conhecimentos básicos que já deveriam estar claros”;

P13: ”Depende dos surdos, como eu sempre estudei com a inclusão

foi bom para mim, porque aprendi muita coisa, mas prefiro os surdos

estudarem na escola especial, porque ajudar a língua Libras”.

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Outros Comentários:

“Os surdos são inteligentes o que prejudica a aprendizagem deles é

a falta da língua Libras, como foi aceita em 2002 pela Lei. “Então é importante

utilizar Libras para os surdos”.

P14: ”Não, na maioria das vezes o surdo não consegue entender o

que a professora fala, o que o livro didático diz e qual a sua obrigação,

enquanto aluno”.

Outros Comentários:

“A Libras é a língua natural do surdo, então é necessário que a

educação de surdo se dê nesse idioma e todas as adequações que se fazem

necessárias ao uso desse idioma tem que ser feita; habilitar professores, uso

da imagem em mais vezes, turma com um grupo de surdo para que esse

sujeito se identifique”.

P15: ”Não”;

P16: “Vejo com muitos déficits em relação à aprendizagem de

alguns alunos ouvintes”.

Outros Comentários:

“Em minha opinião, temos que pensar primeiro na questão cognitiva

do aluno surdo. Se ele está sendo instruído em uma língua que não é a sua,

essa cognição sofrerá uma perda, que poderá perpetuar durante muito tempo

em sua vida escolar. Encontramos essas lacunas quando trabalhamos com

sujeitos surdos adultos. O que vemos é um conhecimento até de mundo que

falta muita informação”.

P17: “De forma genérica não podemos afirmar nada, que o aluno

surdo? Existem várias formas de viver e conviver com a surdez. O que

podemos dizer é que dadas as atuais condições da escola pública, ninguém

que tenha uma especificidade consegue ter uma aprendizagem significativa no

sentido do que é valorizado cientificamente”.

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Outros Comentários:

“Não sou contrária à inclusão, pois entendo que a modalidade da

inclusão depende das características dos alunos. O que deve nortear essa

escolha é o aluno, nada diferente disso. Para que exista de fato uma interação

social, os alunos surdos ou com qualquer outra especificidade, não deveriam

ficar isolados nas suas escolas adaptadas, mas ocupar os vários espaços da

sociedade. Deveria haver de fato ações que diminuíssem cada vez mais o

preconceito contra os surdos. Dependendo da situação o aluno poderia

ingressar numa escola regular ou na escola regular existir turmas para surdos,

mas com uma organização que atendesse suas especificidades. É preciso

incluir também os professores surdos como um grupo que precisa ser atendido

nas suas especificidades, e consideradas as suas habilidades e não a falta da

audição”.

P18: “Como já mencionei anteriormente, aprendizagem significativa

para surdos, em qualquer tipo de escola, depende de algumas condições:

ambientes favorável à aquisição de língua de sinais; professores proficientes

nessa língua; presença de intérpretes com boa proficiência na Libras; projetos

pedagógicos elaborados com base nas especificidades dos aprendizes surdos;

material didático que contemple as estratégias visuais utilizadas por surdos em

seus processos de aprendizagem; contato da escola com pessoas da

comunidade surda; orientação às famílias, etc. Creio que estamos um pouco

longe de verificarmos essas condições nas escolas em geral”.

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Complementa-se este subitem citando Machado (2006, pp.49 e 50):

Perlin e Quadros (1997) advertem sobre as condições desiguais oferecidas aos alunos surdos em relação à apropriação do saber, quando comparadas àquelas oferecidas aos ouvintes.

As necessidades do aluno surdo frente ao processo educacional não são observadas e, consequentemente, tampouco supridas. Assim sendo, não lhes são viabilizadas condições capazes de possibilitar o seu pleno desenvolvimento, como acontece com os alunos em geral.

O aluno surdo não pode apreender um conteúdo transmitido em uma língua que ele não domina fato que restringe a sua aprendizagem a uma quantidade muito reduzida de conhecimento com qualidade questionável.

Evidencia-se as limitações do surdo, devido a um sistema

educacional inadequado à sua particularidade.

4.5 Recursos e Adaptações Pedagógicos

Mantém-se o mesmo padrão utilizado no subitem 4.3.2 - Narrativas

Atuais – Pesquisa sobre a Escola Regular Ano 2010

Narrativas Atuais – Opiniões

1) Questionário: Item III – Educação de Surdos – Pergunta 08

Em sua opinião, quais os recursos e suportes específicos

necessários à adequação do processo de ensino/aprendizagem do aluno

surdo, na Escola Regular?

P1: “Através de uma boa equipe especializada com recursos visuais,

instrutor de Libras diariamente, para trabalhar os sinais que se referem ao

contexto e conteúdo e ainda iniciar os ouvintes da comunidade na linguagem.

Já a professora de Libras trabalha os significados desses conceitos e

vocábulos. É papel da professora de Língua Portuguesa, como segunda língua

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do aluno, que o ajude a memorizar a estruturas do idioma para usar nos textos

os ajudando a compreender e a elaborar textos escritos, sua atuação será

fundamental, porque em libras não há conjugação de verbos, nem preposições

ou artigos”;

P2: “Não respondeu”;

P3: “O processo tem que se dar com professores fluentes em Libras

e passando prova diferenciada e com muito recurso visual”;

P4: “Nem toda criança surda tem conhecimento de Libras, por isso

além do intérprete é preciso toda atenção e preocupação com o que está

sendo apreendido e de que forma essa criança está percebendo o que está

sendo apresentado”;

P5: “Intérprete na sala ou que os professores aprendam libras”;

P6: “Imagens muitas e coloridas, acesso a internet para pesquisa,

dar sempre exemplos (mais de um), interação com a turma fazendo com que

os ouvintes também ajudem no trabalho em grupo e com explicações próprias

(aluno para aluno”;

P7: “Figuras, objetos, palavras, frases prontas como se fosse o

processo de aprender uma língua estrangeira”;

P8: “Recursos tecnológicos visuais, como, datashow, gravuras,

computador, entre outros e formação continuada para professores”;

P9: “Usar as figuras visuais em relação ao ensino, com aparelhos

retroprojetor, DVD, datashow, filmes, etc. sempre acompanhado com Libras”;

P10: “Já que no momento o que se tem é a inclusão, então que se

ofereçam recursos tecnológicos e é claro profissionais qualificados para

exercer sua profissão levando a um sucesso de todos”;

P11: “Professores qualificados e preparados para receber não só os

alunos surdos, mas todos os alunos. Na falta desta qualificação; intérpretes de

Libras, caso aquela escola tenha alunos surdos usuários desta língua,

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professores surdos formados e atuantes no trabalho com os professores

ouvintes ou não”;

P12: “(...) percebo a carência de materiais didáticos, como vídeos

em Libras, ensino da escrita de sinais (Sign writting) como iniciação ao ensino

da escrita, recursos visuais, etc.”;

P13: “Utilizar Libras, usar DVD, o principal é recursos visuais”;

P14: “Turmas com o menor número de aluno possível (máximo de

10), professores que usem Libras, uso de imagem no auxílio (estratégia)

pedagógica”:

P15: “Professores surdos, alteração do currículo escolar, salas

especiais com professor surdo”;

P16: “Um professor surdo; a Libras como L1, língua de instrução; a

língua portuguesa ou L2 como língua escrita e conhecimento; a maioria do

material visual; uma avaliação diferenciada, etc.”;

P17: ”Além do desenvolvimento de uma língua verdadeira, formação

dos educadores para compreensão das especificidades da pessoa surda

(professores e demais funcionários das escolas), presença de intérpretes de

língua de sinais, recursos que atendam às especificidades sensoriais dos

surdos, formação em língua de sinais para toda a comunidade escolar”;

P18: “Não creio muito em adequação tal como vem sendo praticada

na maioria das escolas. Em geral essa adequação tem se resumido quando

muito à presença de intérpretes em sala de aula. Se os alunos surdos

estiverem em sala de aula com maioria ouvintes, por mais que o (a) professor

(a) se esforce, dificilmente será possível dirigir o trabalho para as necessidades

dos surdos. As especificidades lingüísticas dos surdos são tão importantes e

cruciais nos processos de aprendizagem que se não houver um trabalho

voltado para essas especificidades, com quase toda certeza esses alunos não

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lograrão êxito na escola. Essas especificidades vão muito além de adaptações

curriculares”.

Narrativa Atuais – Considerações Finais sobre a Pesquisa

Questionário: Item IV – Outros Comentários

P11: “Creio que esta pesquisa seja de grande relevância e deve ser

aprofundada, para que juntos possamos encontrar um melhor caminho para a

educação como um todo, não só para surdos, mas também para os ouvintes,

que muitas vezes enfrentam grandes dificuldades, e não são notadas”.

4.6 Um olhar sobre as diferenças

Na Sociedade Inclusiva

No tocante a respeitar as diferenças causadas pela surdez, por

analogia, vale ressaltar o desejo e o olhar diferenciado de Werneck (1997,

p.21), em respeitarem-se as diferenças existentes na concepção e constituição

de uma sociedade inclusiva:

A sociedade para todos, consciente da diversidade da raça humana, estaria estruturada para atender às necessidades de cada cidadão, das maiorias às minorias, dos privilegiados aos marginalizados. Crianças, jovens e adultos com deficiência seriam naturalmente incorporados à sociedade inclusiva, definida pelo princípio: “todas as pessoas têm o mesmo valor”. E assim trabalhariam juntas, com papéis diferenciados, dividindo igual responsabilidade por mudanças desejadas para atingir o bem comum.

Na sociedade inclusiva ninguém é bonzinho. Ao contrário. Somos apenas – e isto é o suficiente – cidadãos responsáveis pela qualidade de vida do nosso semelhante, por mais diferente que ele seja ou nos pareça ser.

Inclusão é, primordialmente, uma questão de ética.

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Na Surdez

Perlin (2010, p.71) ressalta a existência dos movimentos surdos que

fortalecem as comunidades surdas, na conquista de sua valorização e contra

as injustiças sociais e políticas presentes. Um dos compromissos do

movimento é abrir espaço para o surdo, apesar da complexidade da cultura

vigente, onde ele possa ser reconhecido e aceito pela sua diferença.

Faz-se uma chamada para que os ouvintistas revertam suas

posições, ajudando na construção de um mundo surdo, com um novo olhar:

Importa salientar a diferença das pessoas. Respeitá-las como surdas, índias, nômades, negras, brancas... Importa deixar os surdos construírem sua identidade, assinalarem suas fronteiras em posição mais solidária que crítica. A educação, ainda que já esteja saindo do domínio do oralismo, tem que desaprender um grande número de preconceitos, entre eles o de querer “fazer do surdo um ouvinte”. A educação tem que caminhar no sentido da identidade do surdo, permitindo também a presença do professor surdo. Novas hipóteses podem ser levantadas, novos achados são necessários. Entre eles sobressai a urgência de dizer que o surdo é sujeito surdo. (PERLIN, 2010, p.72).

4.6.1 Aspectos Psicológicos, Sociais e Culturais

O Aluno Surdo no Contexto da Escola Regular- Um Olhar Sobre as Diferenças

Fragmentos extraídos do texto original da Fonoaudióloga e

Psicopedagoga Seno (2009, pp.376 a 385) denunciam o despreparo da escola

regular, no tocante à inclusão de aluno com perda auditiva e sua implicação

nos seguintes apectos:

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Sociais

“O aluno deficiente dentro de uma sala de aula, que não esteja

integrado aos demais, acaba tendo suas limitações destacadas de forma que

suas diferenças parecem acentuar-se ainda mais representando um prejuízo

para todos”;

“O sucesso do processo da inclusão está diretamente ligado à

possibilidade de reconhecer as diferenças e aceitá-las. Isso não significa

ignorá-las ou colocar crianças com necessidades educacionais especiais na

sala de aula regular e esperar que elas aprendam pela proximidade com seus

colegas da mesma idade ou copiando tudo que vê. É fundamental que haja

especialistas nessa equipe de apoio para que o professor não tenha que se

tornar um super-herói conhecedor de todas as deficiências e de seus recursos

de auxílio”.

Psicológicos, Sociais e Culturais

“A partir do momento em que os ajustes não estejam sendo

realizados para oferecer ao indivíduo deficiente todas as possibilidades para o

seu progresso, da mesma maneira que acontece com os demais, não podemos

dizer que está havendo inclusão. Apenas inserir o aluno deficiente na classe

comum não garante que ele se integre de fato ao grupo que pode sofrer

exclusão tanto no interior da classe, quanto na comunidade a qual pertence”;

“O professor deve ser orientado que, devido às barreiras de acesso

aos estímulos sonoros, a criança deficiente auditiva é extremamente

prejudicada, em especial, nos processos de aquisição e desenvolvimento da

linguagem e, em conseqüência no processo de construção de conhecimento,

por apresentar dificuldades cognitivas que estão diretamente relacionadas ao

desenvolvimento da linguagem, e não a deficiência auditiva, a qual não

acarreta qualquer déficit cognitivo”;

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“Muitos alunos com deficiência auditiva ou surdez podem ser

prejudicados pela falta de estímulos adequados ao seu potencial cognitivo,

sócio-afetivo, linguístico e político-cultural e ter perdas consideráveis no

desenvolvimento da aprendizagem”;

“De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação

Infantil (1998) é competência do professor a tarefa de individualização das

situações de aprendizagem oferecidas às crianças, considerando as suas

capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas. Nessa perspectiva, não

se deve estigmatizar as crianças pelo que diferem, mas levar em consideração

as suas singularidades, respeitando-as e valorizando-as como fator de

enriquecimento pessoal e cultural”.

Conscientização da Responsabilidade e Importância do Professor

Ainda, ao transcreverem-se fragmentos extraídos do texto original da

Fonoaudióloga e Psicopedagoga Seno (2009, pp.376 a 385) observa-se:

“O despreparo do professor ao receber uma criança com deficiência

é um dos fatores mais relevantes na inclusão”;

“O professor deve estar ciente de que a obtenção de sucesso na

educação especial depende, em grande parte, da compreensão que tenha do

significado de sua atuação”;

“A partir do momento em que os educadores têm consciência da sua

importância no processo da inclusão e como algumas atitudes simples podem

auxiliar o desenvolvimento desse aluno, passam a agir como agentes

multiplicadores, repassando informações, buscando apoio e intervindo com

maior propriedade”;

“A maioria dos professores desconhece informações básicas que

podem ser fundamentais para o bom desenvolvimento do aluno com perda

auditiva incluído na sala de aula regular”;

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“Para a aceitação das diferenças não basta que os currículos sejam

adaptados, os professores capacitados ou que haja uma equipe de

especialistas na unidade escolar; antes de qualquer coisa é necessária uma

mudança interna e individual. É preciso que as pessoas aceitem a diversidade

naturalmente, para que suas atitudes e paradigmas sejam modificados da

mesma forma”.

Parceria e Integração

“A parceria entre escola, família e profissionais especializados é

indispensável para que, em conjunto, haja um trabalho reflexivo que

proporcione desenvolvimento satisfatório ao indivíduo”.

Outros Aspectos Gerais:

“Limitação da formação profissional dos professores; obstáculos

para a integração do surdo na sociedade; falta de colaboração da família no

processo escolar e condições institucionais para o trabalho pedagógico

(recursos materiais insuficientes, instabilidade na atribuição de classes, tempo

reduzido de aulas, etc.)”.

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4.6.2 Aspectos Psicopedagógicos

Destacam-se o título e parte do texto da autora e psicopedagoga

Laura Monte Serrat Barbosa, publicado na Revista Brasileira de

Psicopedagogia (s/d), conforme Site < http://www.abpp.com.br/artigos/03.htm>:

“O Papel da Psicopedagogia na Inclusão de Pessoas com

Dificuldade de Aprendizagem”.

“A Psicopedagogia pode auxiliar no enfrentamento da exclusão e na

luta pela não exclusão através de pesquisas e produções científicas, orientação

e ação pontual sobre as situações já existentes e prevenção tanto no grupo

familiar quanto escolar.

O psicopedagogo, portanto, precisa utilizar seu papel articulador

para auxiliar no enfrentamento das dificuldades que o processo de inclusão

pode trazer:

Entre as possíveis ações, a Psicopedagogia pode:

- propiciar a reflexão na escola, auxiliá-la a repensar seus valores e crenças

com relação à diversidade e à igualdade;

- auxiliar os pais a pensarem sobre as dificuldades de seus filhos e perceberem

se a insistência a respeito da inclusão não está atrelada à negação da

dificuldade;

- conhecer o real potencial da criança a ser incluída e as possibilidades que o

meio possui para estimular este potencial;

- não focar na doença, e sim nas possibilidades do sujeito e do contexto;

- auxiliar a escola a encontrar saídas metodológicas e avaliativas não

exclusivas;

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- divulgar uma proposta de trabalho grupal, descentralizador do papel do

professor;

- divulgar o ensino pela pesquisa, para que todos possam participar

independente de suas dificuldades;

- indicar as possibilidades de adaptação de linguagens e materiais, quando isto

for necessário.

O novo olhar que a Psicopedagogia possibilita necessita também de

uma reflexão sobre o contexto sócio-político e sobre a diferença na sociedade.

É preciso repensar sobre o papel do profissional da saúde e da

educação na questão da inclusão.

As tarefas que aqui enumeramos devem estar articuladas a outras

desta e de outras áreas e têm por objetivo a compreensão de que a

contradição faz parte da vida humana e social. De nada adianta querermos

eliminar o que consideramos negativo para, em outra dimensão, reproduzirmos

a ação "hitleriana" e contarmos apenas com a perfeição e com o ideal.

O papel da Psicopedagogia e da Educação é o de instituir caminhos

entre os opostos que liguem o saber e o não saber, o acesso ao conhecimento

e a falta desse acesso, a facilidade e a dificuldade, a rapidez e a lentidão e

outros opostos que possam se apresentar em um processo de aprendizagem.

Estas ações devem acontecer no âmbito do indivíduo, do grupo, da instituição

e da comunidade, visando à aprendizagem e, portanto, é também tarefa da

Psicopedagogia.

O campo que se delineia é vasto; olhar a diferença sem perder a

dimensão da igualdade é um dos maiores desafios educacionais neste século.

A Psicopedagogia, como uma das áreas responsáveis pela aprendizagem, tem

muito a aprender e muito a contribuir”.

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O texto acima exposto, na íntegra, traduz a necessidade da

intervenção da Psicopedagogia nas dificuldades de aprendizagem, decorrentes

do sistema de educação Inclusiva.

O Aluno Surdo no Contexto da Escola Regular

A Psicopedagogia deverá ...

Conhecer este ser aprendente, que traz consigo uma especificidade

linguística que o difere e afasta-o, na maior parte das vezes, do processo de

comunicação natural, com os indivíduos pertencentes ao mesmo meio social

em que está incluído;

Conhecer o processo de desenvolvimento da inteligência do surdo,

considerando a particularidade de sua funcionalidade sensorial e mais: qual o

prejuízo cognitivo que este ser está sujeito, quando há atraso no seu processo

de aquisição de linguagem; características da sua aprendizagem; saber se é

filho de pais surdos ou ouvintes; sua família; se foi uma criança estimulada,

desde o seu nascimento, por seus pais ou responsáveis a desenvolver a

comunicação, mesmo que gestual; a Libras, sua língua natural; o seu jeito de

apreender o mundo; seus gostos e suas necessidades; seu comportamento

social, emocional e psicológico; sua auto-estima; sua escolarização e

comunidade e cultura surdas;

Em sua intervenção, orientar à escola na conscientização da

importância de mudanças e prática de novas ações com a necessidade de

capacitação de seus professores; curso de Libras para todos os funcionários da

escola; a presença de intérprete/tradutor de Libras; sala de recursos

específicos; a integração do surdo nas atividades sociais e de lazer da escola;

assistência nas áreas de fonoaudiologia e psicologia, quando necessários e a

participação da família na escola;

Observar a necessidade de o psicopedagogo conhecer a Língua de

Sinais - Libras, que permitirá que haja a comunicação e a aproximação com o

aluno surdo, na clínica ou na escola.

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É necessário vivenciar a inclusão no cotidiano das instituições, pensando em novas premissas, em novas potencialidades e buscando modos novos de pensar e agir, onde seja possível sonhar, desejar, criar e realizar, efetivamente, uma prática psicopedagógica e inclusiva, colocando, assim, em movimento, os tantos e excelentes referenciais que temos, à nossa disposição, nas legislações e propostas vigentes de Educação e Inclusão. (BEAUCLAIR, 2008).

A Psicopedagogia e a sua Contribuição na Inclusão

“A Psicopedagogia é uma área de estudos que se dedica a

compreender os processos de ensino e aprendizagem humana”. (ZAWASKI,

2010).

Sua contribuição poderá ser efetuada através da parte clínica, bem

como sob a orientação institucional, no que se refere à escola e à família. Sua

parceria será de grande valor em auxiliar aos alunos e professores nas

dificuldades de aprendizagem, pertinentes às necessidades especiais.

Em seu artigo, a autora considera que a função da Psicopedagogia

no processo inclusivo deve orientar aos educadores a não focarem a “doença”

dos alunos, pois muitas vezes este fato impõe limites que, por conseqüência

trarão impossibilidades para que o aluno aprenda. Observa que a função

psicopedagógica na escola inclusiva está alicerçada em um trabalho voltado

para o desenvolvimento possível para que o aluno chegue ao esperado, e não

o que imaginem ser o ideal.

A Psicopedagogia, com base em seus fundamentos teóricos,

aplicados ao seu processo de avaliação e intervenção poderá contribuir para a

inclusão do aluno surdo na sociedade e na escola, com autonomia e melhor

qualidade.

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CONCLUSÃO

Como o aluno surdo aprende, na Escola Regular?

Esta pesquisa ocupou-se de observar e apresentar conhecimentos

sobre a surdez: suas causas e consequências que influenciam com prejuízos,

diretamente, no desenvolvimento cognitivo das crianças que são acometidas,

por nascença ou adquirida; mostrou-se que ao detectar o problema quanto

mais cedo, melhor para minimizar os possíveis atrasos de aquisição da

linguagem específica do surdo; quanto ao item, referente à educação fez-se

uma abordagem sobre a prática do bilinguismo: proposta educacional que tem

o pressuposto do uso da língua de sinais – L1, primeira língua, denominada

Libras, reconhecida e oficializada por Decreto, utilizada como instrumento de

comunicação das comunidades surdas brasileiras e, também usada, quando

necessário, em lugares públicos. Considera-se o ensino da língua portuguesa-

L2, segunda língua, em suas modalidades escrita e de leitura, apoiado na

estrutura linguística da Libras; mostrou-se a adoção de práticas de letramento

como um dos recursos utilizado para ensinar ao surdo no processo de

produção textual e de apreensão de leitura, em língua portuguesa; o aluno lê e

escreve aquilo que ele vê e que tenha para ele um significado útil em seu

cotidiano; apontou-se os objetivos e recursos necessários ao modelo de escola

mais apropriado para a educação de surdos, no Brasil, sob o ponto de vista de

professores-pesquisadores conceituados e estudiosos sobre o assunto.

O surdo é capaz de aprender significativamente, pois sua alteração

sensorial não implica numa deficiência intelectual, porém é uma pessoa que

necessita de suporte específico e apoio diferenciado para que possa

desenvolver-se pedagogicamente, na escola regular.

A escola regular deve oferecer sistematicamente: condições

materiais; recursos visuais; uso da informática como ferramenta de ensino; o

ensino da língua de sinais, bem como a toda comunidade escolar e também,

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aos pais interessados; incluir o aluno surdo e seus pais nas atividades sociais

da escola, como festas, passeios, campeonatos, etc.; inclusão do aluno nas

atividades educacionais, sociais, culturais, esportivas e recreativas da escola;

palestras para esclarecimentos aos pais, responsáveis, familiares e demais

alunos sobre assuntos pertinentes à surdez, sob os aspectos social,

psicológico, saúde e educacional; a inclusão de intérpretes e tradutores da

língua de sinais; currículos contextualizados; ter professores surdos e ouvintes

preparados para a especificidade linguística do aluno surdo, como referencial

de identidade e facilitador da apreensão dos conteúdos pedagógicos; sala de

recursos com professores especializados; apoio ao aluno, professores e pais e

a orientação interdisciplinar de profissionais afins capacitados como:

fonoaudiólogos, psicólogos e psicopedagogos capazes de desenvolver as

práticas necessárias, sustentadas por teorias e aprendizagens especializadas,

para ajudar ao aluno surdo no desenvolvimento de sua autoconfiança e elevar

sua auto-estima, reconhecendo-se e aceitando-se como uma pessoa diferente,

apenas.

O aluno surdo é um ser aprendente saudável e capaz, dotado de

sentimentos e emoções: alegria, tristeza, raiva, passividade, impulsividade,

afeto, impotência, desejos, ansiedades, angústias, frustrações, curiosidades e

limitações que o faz apreender o mundo de uma forma peculiar e diferente da

maioria das outras pessoas com quem, diariamente, convive: na família, nos

grupos sociais e na escola.

Deve-se destacar no aluno o seu potencial, a sua eficiência e

habilidade durante o desenvolvimento de seu processo de ensino-

aprendizagem; avaliar a qualidade da aquisição do seu conhecimento,

gradativamente, através da observação e leitura feita pelo professor sobre os

acertos e erros deste aluno, sendo os erros trabalhados de maneira criativa e

construtiva, de acordo com as dificuldades apresentadas em cada etapa, tendo

como base norteadora: a compreensão, o respeito, a ética, a afetividade e o

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olhar atento para a condição que o faz ser diferente e necessitar de atenção

especial.

Conclui-se, no discorrer dos assuntos apresentados durante esta

dissertação sobre o tema da aprendizagem do aluno surdo incluído na escola

regular, formular a seguinte pergunta para análise e reflexão:

A escola regular está preparada para oferecer o processo de

ensino-aprendizagem significativo para o aluno surdo, atualmente?

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 - Modelo de Questionário para Pesquisa

Anexo 2 – Estatística do Roteiro do Questionário

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ANEXO 1

MODELO DO QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

“PÓS GRADUAÇÃO PSICOPEDAGOGIA LATO SENSU”

MONOGRAFIA: “PROCESSO DE APRENDIZAGEM DO ALUNO SURDO, NA ESCOLA REGULAR”

ALUNA: Ana Maria Machado dos Santos ORIENTADORA: Profª Simone Ferreira

QUESTIONÁRIO (pesquisa auxiliar para a Monografia)

SUA PARTICIPAÇÃO É IMPORTANTE!

DATA: ____/______/ ________

I) DADOS DO ENTREVISTADO

1) Nome: ______________________________________ ___________ Idade: ____________

2) Profissão: _________________________________________________________________

3) Onde trabalha (local e endereço): __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4) Formação Escolar:

R:__________________________________________________________________________

5) Com relação à Surdez, você é:

( ) Surdo ( ) Ouvinte

II) RELAÇÃO SOCIAL COM PESSOAS SURDAS

1) Você se relaciona com pessoas Surdas?

( ) SIM ( ) NÃO

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2) Qual o meio social em que você se relaciona com pessoas surdas?

( ) Na Família ( ) Na Escola ( ) Na Comunidade Surda ( ) Na Igreja

( ) No Trabalho ( ) Em outros lugares: _____________________ ______________

III) A EDUCAÇÃO DE SURDOS

1) Você é a favor da oralização das crianças surdas?

( ) SIM ( ) NÃO

Justifique a sua resposta: __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2) Você concorda com a inclusão de alunos surdos, na Escola Regular?

( ) SIM ( ) NÃO

Justifique a sua resposta: __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3) Na sua opinião, a partir de que segmento deve-se começar a inclusão do aluno surdo, na Escola Regular?

( ) Educação Infantil ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio

4) Você considera que as Escolas Públicas estão preparadas para a inclusão de alunos surdos, no Sistema de Ensino Regular?

( ) SIM ( ) NÃO

Justifique a sua resposta: __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5) As Escolas Particulares, na sua opinião, estão preparadas para a inclusão de alunos surdos, no Sistema de Ensino Regular?

( ) SIM ( ) NÃO

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Justifique a sua resposta: __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6) Você é a favor da inclusão da disciplina de LIBRAS- Língua Brasileira de Sinais no Currículo das Escolas do Sistema Regular?

( ) SIM ( ) NÃO

Justifique a sua resposta: __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7) Como acha que deve ser o processo de ensino/aprendizagem para os alunos surdos, na Escola Regular?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8) Na sua opinião, quais os recursos e suportes específicos necessários à adequação do processo de ensino/aprendizagem do aluno surdo, na Escola Regular?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9) Pode-se afirmar que o aluno surdo tem uma aprendizagem significativa, na Escola Regular?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

IV) OUTROS COMENTÁRIOS:

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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ANEXO 2

Estatística do Roteiro do Questionário

Emissão de 20 (vinte) questionários, no período de maio a agosto

de 2010, enviados via Internet e/ou entregues pessoalmente.

Tema da pesquisa: O Processo de Aprendizagem do Aluno Surdo,

na Escola Regular.

Destacam-se os seguintes itens:

1) Emissão: 20 (vinte) questionários

2) Devolução: 18 (dezoito) questionários

Via Internet: 10 (dez)

Pessoalmente: 8 (oito)

3) Número de pessoas participantes:

Sexo feminino: 15 (quinze)

Sexo masculino: 3 (três)

4) Intervalo de idade dos participantes:

21 anos a 30 anos = 6 pessoas

31 anos a 40 anos = 3 pessoas

41 anos a 50 anos = 6 pessoas

51 anos a 53 anos = 3 pessoas

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5) Público participante:

• Surdo - Coordenador de Assistentes Educacionais em Libras, no

INES; aluno do Curso de Pedagogia Bilíngue - 8º período, do DESU/INES e do

Curso de Letras/ Libras - 5º período, da UFSC - Pólo INES;

• Surda - Professora de alunos surdos numa Escola, do bairro do

Grajaú - Rio de Janeiro; aluna do Curso de Pedagogia Bilíngue, do

DESU/INES;

• Surda - Instrutora de Libras, na Feneis/CELES - Tijuca, Rio de

Janeiro; aluna do Curso de Letras/Libras, da UFSC - Pólo INES;

• Surda - Assistente Educacional em Libras, no INES; graduada no

Curso de Pedagogia Bilíngue, pelo DESU/INES; aluna do Curso de

Letras/Libras, da UFSC - Pólo INES; desenvolve, voluntariamente, trabalho

pedagógico para surdos, na Igreja Batista de Barão de Taquara, Jacarepaguá -

Rio de Janeiro;

• Ouvinte – Psicóloga, com Mestrado. Ministra aulas no Curso de

Pedagogia Bilíngue, do DESU/INES;

• Ouvinte - Aluno do Curso de Pedagogia Bilíngue - 6º período, no

DESU/INES;

• Ouvinte - Instrutor de Inglês para ouvintes; Intérprete e Tradutor

de Inglês;

• Ouvinte - Professora de Educação Artística. Atua como mediadora

de surdo implantado, no Colégio Metodista Bennett, no Rio de Janeiro; aluna

do Curso de Pedagogia Bilíngue - 6º período, do DESU/INES;

• Ouvinte - Professora de Educação Física, com Pós Graduação;

ministra aulas para os alunos surdos e ouvintes, do Instituto Nossa Senhora de

Lourdes - INOSEL, na Gávea – Rio de Janeiro;

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• Ouvinte - Intérprete de Língua de Sinais. Atua como intérprete no

Curso de Pedagogia Bilíngue, do DESU/INES; aluna do Curso de Letras/Libras,

da UFSC - Pólo INES;

• Ouvinte - Professora de alunos surdos e ouvintes, do Instituto

Nossa Senhora de Lourdes – INOSEL, na Gávea - Rio de Janeiro; aluna do

Curso de Pedagogia Bilíngue - 8º período (finalização), do DESU/INES;

• Ouvinte - Fonoaudióloga e Professora de alunos surdos e

ouvintes, no Instituto Nossa Senhora de Lourdes – INOSEL, na Gávea - Rio de

Janeiro; aluna do Curso de Pedagogia Bilíngue, do DESU/INES;

• Ouvinte - aluna do Curso de Pedagogia Bilíngue - 8º período

(finalização), do DESU/INES; desenvolve, voluntariamente, trabalho

pedagógico para surdos, na Igreja Batista de Barão de Taquara, Jacarepaguá -

Rio de Janeiro;

• Ouvinte – Fonoaudióloga, trabalha com a oralização de crianças

surdas, com o método Perdoncini, no Instituto Anne Sulivan, na Tijuca - Rio de

Janeiro. O método Perdoncini é um método aurioral, que procura resgatar os

resquícios auditivos sem usar a leitura labial e a Libras;

• Ouvinte - Professora e Intérprete de Libras, aluna do Curso de

Pedagogia Bilíngue, do DESU/INES; trabalha no Município de Nova Iguaçu -

Rio de Janeiro;

• Ouvinte – Psicóloga e Pedagoga, com Mestrado em Educação –

UERJ; trabalha no SME e atende em consultório particular. Ministra Palestras

sobre Educação Especial, na APPAI – Associação dos Professores Públicos

Ativos e Inativos, do Estado do Rio de Janeiro;

• Ouvinte - Graduada em Pedagogia; Pós Graduanda do Curso de

Psicopedagogia, do Instituto a Vez do Mestre - UCAM; enfermeira trabalha no

Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca - Rio de Janeiro;

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• Ouvinte - Professora, com Bacharelado e Licenciatura em

Letras/Português-Literatura, pela UFRJ; Mestrado em Letras - PUC-RJ;

Doutorado em Linguística Aplicada - UNICAMP. Ministra aulas no Curso de

Pedagogia Biíngue, do DESU/INES.

DESU/INES: Departamento de Ensino Superior, do Instituto Nacional

de Educação de Surdos – Rua das Laranjeiras, 232 – Rio de Janeiro.

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ÍNDICE

AGRADECIMENTOS 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 7

SUMÁRIO 9

INTRODUÇÃO 10

CAPITÚLO 1 12

EDUCAÇÃO INCLUSIVA 12

1.1 Educação Inclusiva no Brasil 15

1.1.1 A Nova Constituição Federal do Brasil 16

1.1.2 Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA 17

1.1.3 Declaração Mundial de Educação para Todos – Jomtien 17

1.1.4 Plano Decenal de Educação para Todos – Brasil 18

1.1.5 Declaração para a Estrutura de Ação em 18

Educação Especial - Declaração de Salamanca

1.1.6 A nova lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB 21

1.2 Legislações Pertinentes 26

1.3 Pessoas que deverão ser Incluídas 28

CAPÍTULO 2 30

A SURDEZ NO BRASIL 30

2.1 A Surdez 33

2.2 O INES - Instituto Nacional de Educação de Surdos 48

2.3 A FENEIS - Federação Nacional de Educação 52

e Integração de Surdos

2.4 A Comunicação dos Surdos 54

2.4.1 A Língua Oficial dos Surdos: Libras 58

2.4.2 As Barreiras da Comunicação 59

2.4.2.1 Surdos com Surdos 60

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2.4.2.2 Surdos com Ouvintes 60

2.5 Comunidades Surdas 60

2.5.1 Identidade e Socialização 61

CAPÍTULO 3 63

EDUCAÇÃO DE SURDOS NO BRASIL 63

3.1 Bilinguismo 66

3.2 Aquisição de Linguagem 71

3.2.1 Aquisição de Linguagem em Crianças Surdas 73

3.2.2 Aquisição de Leitura e Escrita, em L2 (Segunda Língua) 81

CAPÍTULO 4 85

O ALUNO SURDO NO CONTEXTO DA ESCOLA REGULAR 85

4.1 Escola para Surdos - Um modelo mais apropriado 86

4.2 Quadro Comparativo Simplificado 91

4.3 Escola Regular - Narrativas Surdas 97

4.3.1 Narrativas Surdas- 99

Pesquisa sobre a Escola Regular, Ano 2006

4.3.2 Narrativas Atuais- 105

Pesquisa sobre a Escola Regular, Ano 2010

4.4 Processo de Aprendizagem 109

4.5 Recursos e Adaptações Pedagógicos 117

4.6 Um olhar sobre as diferenças 120

4.6.1 Aspectos Psicológicos, Sociais e Culturais 121

4.6.2 Aspectos Psicopedagógicos 125

CONCLUSÃO 129

BIBLIOGRAFIA 132

ANEXOS 141

ÍNDICE 149