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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU GESTÃO DE PESSOAS UMA ANÁLISE A INSERÇÃO DOS TRANSGÊNEROS NO MUNDO DO TRABALHO FORMAL GEOVANA FLÁVIA DA CONCEIÇÃO Orientador: Professor Paulo José Rio de Janeiro/RJ 2018.1 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

GESTÃO DE PESSOAS

UMA ANÁLISE A INSERÇÃO DOS TRANSGÊNEROS NO

MUNDO DO TRABALHO FORMAL

GEOVANA FLÁVIA DA CONCEIÇÃO

Orientador: Professor Paulo José

Rio de Janeiro/RJ

2018.1

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

GESTÃO DE PESSOAS

UMA ANÁLISE A INSERÇÃO DOS TRANSGÊNEROS NO

MUNDO DO TRABALHO FORMAL

Apresentação de Monografia para

obtenção do Grau de Especialista em

MBA de Gestão de Pessoas.

Por: Geovana Flávia da Conceição

Rio de Janeiro

2018.1

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, e ao sagrado, por ter me

dado saúde, força, entendimento e mansidão para

superar as dificuldades do dia a dia.

Agradeço a meus amigos, a AVM, seus

docentes, direção e administração que me deram

segurança para chegar até o fim. E a todos que

direta ou indiretamente fizeram parte dessa

especialização, o meu muito obrigado.

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Dedico esse trabalho aos meus

familiares, e a meu companheiro, pois

sem eles eu não teria dado mais esse

passo.

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”Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre

escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de

trabalho e à proteção contra o desemprego.

” Artigo 23º, § 1º Declaração Universal dos Direitos do

Homem

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RESUMO

CONCEIÇÃO, Geovana Flávia da. UMA ANÁLISE A INSERÇÃO DOS

TRANSGÊNEROS NO MUNDO DO TRABALHO FORMAL. Monografia do MBA em

Gestão de Pessoas da Universidade Cândido Mendes – AVM - Centro: Rio de

Janeiro, 2018.

Esta pesquisa foi realizada através de debate em curso de extensão na UFRJ/

Núcleo de Inclusão Social - Justiça Social e Direitos Básicos: por perspectiva mais

inclusiva, em segunda edição “Cinema em Cores” desenvolvido juntamente com o

Laboratório de Ética Ambiental em 2017 com base em filmes e revisão bibliográfica

em livros, artigos, e monografias já existentes com conteúdo correlacionado ao tema

da pesquisa aqui apresentada, o material de vários estados, e de diversas formas de

apresentação. O estudo está voltado à inserção de pessoas transgêneras no mundo

do trabalho formal, com objetivo de analisar os entraves, impactos e as diferenças e

também sensibilizar e incentivar as organizações a incluírem a diversidade de

orientação sexual e de gênero na identidade e estratégia das empresas, realizando

processo de inserção dessas pessoas ao trabalho formal. A pesquisa pretende

abordar as questões referentes às demandas das pessoas, a fim de procurar maior

entendimento a respeito dos entraves, impactos e as diferenças dos atendimentos

sofridos pelos candidatos no âmbito do trabalho. Sendo de suma importância

compreender cada detalhe dessa temática. Para esta pesquisa, utilizou-se do

método qualitativo/quantitativo, o instrumento da pesquisa utilizado foi coleta de

dados em documentos conforme caput, visto que os documentos estão conectados

ao tema. Pretende-se com a pesquisa contribuir para outras pesquisas futuras, para

ações futuras, para a geração de material acadêmico para outras áreas que

trabalhem com a questão social, a contratação de profissionais, aos transgêneros de

maneira geral, contribuindo para a sistematização de dados ligados ao perfil social,

econômico e cultural dessas pessoas e empresas visando sempre uma melhora na

qualidade dos serviços prestados à população.

Palavras-chaves:

Trans; Transgênero; Mundo do trabalho; Inserção; Trabalho.

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METODOLOGIA

O desenvolvimento dessa pesquisa foi realizado através de participação em

curso de extensão na UFRJ/ Núcleo de Inclusão Social - Justiça Social e Direitos

Básicos: por perspectiva mais inclusiva, em segunda edição “Cinema em Cores”

desenvolvido juntamente com o Laboratório de Ética Ambiental em 2017 com base

em filmes um estudo bibliográfico sobre o tema com autores que abordam a

temática sobre transgêneros e mercado de trabalho. A metodologia utilizada nesta

pesquisa busca analisar, por meio da literatura existente, algumas variáveis

relacionadas à inserção dos transgêneros no mercado de trabalho formal. Também

foram utilizadas fontes secundárias, como canais e sites da internet, que abordaram

o tema proposto.

Segundo Rampazzo (2002, p.53), a pesquisa bibliográfica tem por objetivo

explicar um problema a partir de referências teóricas já publicadas em livros, canais,

artigos e outros, podendo ser realizada de forma independente ou como parte de

outras pesquisas, sendo necessária e obrigatória para todas as modalidades de

pesquisa em qualquer área, pois fundamentar a teoria serve para justificar os limites

e contribuições da pesquisa em questão.

Para tanto, a metodologia usada buscou-se fazer ao longo desta pesquisa

uma revisão bibliográfica de autores que desenvolvem importantes pesquisas

documentais sobre gênero, sexualidade e movimento LGBT, a fim de analisar e

verificar como esse público vem sendo inserido no mundo do trabalho, através de

melhores práticas profissionais de políticas públicas que visam à inserção de

transgêneros, de forma a promover reflexões e discussões acerca da inserção de

pessoas transexuais no mercado de trabalho formal. Pois é alarmante a

precarização das condições de vida dessa população, e exige esforços no sentido

da inclusão, visibilidade e respeito da sociedade.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

CAPITULO I

REFLEXÃO CONCEITUAL SOBRE TRANSSEXUALIDADE & TRANSGÊNERO 11

CAPITULO II

AS POLÍTICAS PÚBLICAS/SOCIAIS DIRECIONADAS AO PÚBLICO

TRANSGÊNERO 22

II.I – UNIÃO DE PESSOAS DO MESMO SEXO 28

II.II – NOME SOCIAL 30

CAPITULO III

O ACESSO AO TRABALHO FORMAR PARA PESSOAS TRANSGÊNERO

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CONSIDERAÇÕES FINAIS 43

BIBLIOGRAFIA 45

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INTRODUÇÃO

Diante da atuação do Assistente Social, o que sou por formação, o

Departamento de Seleção e Contratação de Pessoas, e uma possibilidade de

atuação, que vem trazendo aos profissionais da área de humanas, a Gestão de

pessoas, o que me especializo, a fim de ampliar conceitos, mais uma possibilidade

de inserção ao mundo trabalho, fora da área da formação; com isso quero trazer o

tema a fim de firmar informações, unir conceitos e juntar justificativas para as futuras

atuações, pois ter um olhar diferente dentro do mundo do trabalho pode ser

fundamental, assim como deixa claro Iamamoto (1998).

O desafio é re-descobrir alternativas e possibilidades para o trabalho profissional no cenário atual; traçar horizontes para a formulação de

propostas que façam frente à questão social e que sejam solidárias com o modo de vida daqueles que a vivenciam, não só como vítimas, mas como sujeitos que lutam pela preservação e conquista da sua vida, da sua

humanidade. Essa discussão é parte dos rumos perseguidos pelo trabalho profissional contemporâneo (IAMAMOTO, 1998, p.75).

Dessa forma resgatarei um pouco da construção do Estado moderno laico,

apresentando uma conquista da humanidade, que busca e segue seu caminho para

frente, na direção de uma sociedade emancipada verdadeiramente que valoriza os

indivíduos em sua diversidade em suas riquezas culturais e espirituais.

Para Karl (2005), somente com o trabalho é possível a criação de valores para

compor a riqueza social. O autor esclarece que o trabalho se configura em uma

categoria de análise essencial para a compreensão da atividade econômica e social,

pois influencia a sociedade individual e coletiva. Por esse motivo, o trabalho é tão

importante, por ser uma categoria central, para a compreensão das relações sociais,

um dos marcos do modo de produção capitalista, como afirma Marx:

O processo de trabalho, como o apresentamos em seus elementos simples e abstratos, é atividade orientada a um fim para produzir valores de uso,

apropriação do natural para satisfazer a necessidades humanas, condição universal do metabolismo entre o homem e a Natureza, condição natural eterna da vida humana e, portanto, independentemente de qualquer forma

dessa vida, sendo antes igualmente comum a todas as suas formas sociais. (Marx, 1983, p. 303).

Observado essa questão, a pesquisa se propõe a analisar as possíveis causas

da falta de representatividade dessas pessoas nos ambientes de trabalho formal

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e/ou qualificado no contexto brasileiro e assim incentivar a criação de estratégias de

empresas brasileiras para a incorporação desses trabalhadores.

De acordo com Lemos (2017), o mundo do trabalho e a diversidade aqui

contextualizado dialogam sobre a sustentabilidade corporativa, seguindo uma

abordagem para refletir sobre os impactos nas, e, das empresas que não tiverem

políticas sobre a diversidade, colocando em questão o profissional de RH, trazendo

a ampliação de suas oportunidades de trabalho.

Com isso os níveis de inserção das pessoas “trans” no mercado formal de

trabalho brasileiro são baixos e chamam a atenção para a instabilidade vivida por

essa população em nossa sociedade. A partir de 2012, a parceria entre Organização

Internacional do Trabalho (OIT), o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre

HIV/Aids (UNAIDS) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

(PNUD), uni representantes dos sindicatos, das organizações LGBT, e de empresas

e do governo para combater a homo-lesbo-transfobia no mundo do trabalho

(ONUBR). Em meio a um histórico marcado pelo preconceito, pela incompreensão e

pela violência, a falta de oportunidades de trabalho formal se mostra como mais um

sintoma dessa invisibilidade vivida pelos “trans” na sociedade brasileira.

Assessorar as pessoas é algo fascinante, mas analisar a mudança que um

profissional de humanas pode causar na vida do indivíduo dentro do trabalho é

minha linha de pensamento atual; ir além, e ver o que o MBA em Gestão de

Pessoas pode intervir na vida do indivíduo dentro desse mundo é o alvo.

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CAPITULO I

1 - REFLEXÃO CONCEITUAL SOBRE TRANSSEXUALIDADE & TRANSGÊNERO

Saber o que o outro pensa, tentar entender o motivo de suas escolhas, é algo

muito além de nossos conhecimentos para essa pesquisa, mas respeitar e analisar

essas escolhas e usá-la a favor da sociedade é essencial.

Para algumas pessoas, a vivência de um gênero diferente do sexo é uma

questão de identidade, é o caso das pessoas conhecidas como travestis, e das

transexuais, que são tratadas, coletivamente, como parte do grupo chamado de

“transgênero”.

A pessoa transgênero vive vários aspectos de sua humanidade além dos

relacionados à sua identidade de gênero, essas que vão além de ser uma pessoa

transexual, pois ela tem raça, idade, classe, origem geográfica, religião, uma

abundante história que perpassa a da transexualidade.

Lima (2011) nos mostra à primeira vista que nos deparamos com o conceito e

sua aparente contradição, pois o que parece obvio não significa necessariamente

que seja. Ora como a própria matriz da palavra, “seres ou objetos semelhantes entre

si e distintos do resto”. Ficando a identidade um processo de construção que passa

por assemelhação em relação ao outro. Mas sendo a identidade características

únicas, como distinguir a diferença dos outros. O fato é que já nascemos com um

processo de identificação no imaginoso na mente de nossos genitores, desde nosso

nome até a simbologia social e cultural que se manifesta junto ao nascimento.

Sendo assim, homens e mulheres, em suas lutas diárias, aprendem, ao

relacionarem, a necessidade do respeito das diferenças que fica claro e evidente, se

fazendo importante o resguardo de tais diferenças, pois essa e uma riqueza para a

raça humana. Desse modo, os grupos ainda socialmente vedados como: mulheres,

magras, gordos, gays, lésbicas, negros, trans e tantos outros, gera o desacordo que

chega ao questionamento, até quando? Por que as diferenças mais marcantes nos

excluem?

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A transexualidade não tem nada a ver com orientação sexual, como

geralmente se pensa, não é um capricho ou uma escolha. Ela é identificada ao longo

de toda a história e em todo mundo.

Abrindo a ciência social novas perspectivas, o que a postura critico-reflexiva

nos possibilita o direito de ser diferente. Posição essa que chega ao Brasil de forma

lenta, e por que não dizer, tardia, e com as mais diversas discussões em grupos de

pesquisa sobre os direitos dos “vedados”, a fim de defender os fundamentos da

riqueza do gênero humano e toda a sua diversidade. Lima (2011)

A/O heterossexual é algo natural e instintivo presente em nossa sociedade

segundo Lima (2011). Sendo assim, a homossexualidade fica vista como algo

equivocado, fora do normal. No entanto, sabemos que a noção de certo e errado é

criada culturalmente pela sociedade.

A partir da segunda metade do século XX em estudos realizados, observou-

se que há uma diferença entre sexo, gênero e sexualidade. De forma que o sexo se

refere ao órgão sexual de nascimento, sendo ele masculino ou feminino, o gênero

faz referência a opção social, e a sexualidade já se refere ao desejo sexual,

podendo a orientação sexual ser heterossexual, homossexual ou bissexual. Tendo

esses conceitos suas diferenças:

O fato de um indivíduo se sentir homem ou mulher (sua identidade de gênero) não tem, necessariamente, relação com seu sexo biológico (identidade

sexual); nem tampouco com sua orientação sexual (que pode ser heterossexual, homossexual, bissexual). Contudo, no Ocidente, o conceito de gênero está colado ao de sexualidade/reprodução, o que promove uma

imensa dificuldade de separar, segundo o senso comum, a problemática da

identidade de gênero da de orientação sexual. (LIMA, 2011, p. 169).

O mundo que tinha suas explicações baseados em Deus e na Bíblia, a partir

do século XIX, passa pouco a pouco a ter suas explicações por métodos racionais,

como experimentações, observações, teorias e demonstrações cientificas. Processo

esse que é chamado, por alguns autores, de “dessacralização do mundo” – O

homem se torna o senhor da explicação, e substitui Deus e o sagrado por

explicações cientifica, simplifica Weber (1864-1920) quando diz que as explicações

deixam de ser magicas e passam a ser racionais, dando no nome de “

desencantamento do mundo”.

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A cultura Brasileira acredita que o indivíduo nascido com órgão masculino é

obrigatoriamente homem, da mesma forma quem nasce com o órgão feminino é

mulher. Esta é uma visão binária1 – homem e mulher, onde o gênero corresponde ao

sexo de origem biológica, mas, o indivíduo pode ter o sexo feminino e se identificar

com o gênero masculino e vice-versa.

Reforçando Mathieu (2009), diz que o gênero feminino é culturalmente

imposto à fêmea para que se torne uma mulher e o gênero masculino ao macho,

para que se torne um homem. De acordo com a autora, há vários aspectos do

gênero, tais como:

O gênero se manifesta materialmente em duas áreas fundamentais:

1) na divisão sociossexual do trabalho e dos meios de produção, 2) na organização social do trabalho de procriação, em que as capacidades reprodutivas das mulheres são transformadas e mais frequentemente

exacerbadas por diversas intervenções sociais. Outros aspectos do gênero diferenciação da vestimenta, dos comportamentos e atitudes físicas e psicológicas, desigualdade de acesso aos recursos

materiais e mentais etc. – são marcas ou consequências dessa diferenciação social elementar. (MATHIEU, 2009)

Desta forma podemos perceber que o gênero é construído socialmente, tendo

influencia pelos costumes, comportamentos e pela sociedade como um todo. As

influências sociais não são tão aparentes, para nós pode parecer que as diferenças

entre homens e mulheres são totalmente biológicas, naturais, normais, sendo que

parte delas é influenciada pelo convívio social.

O transexual é um ser, indivíduo, que possui uma identidade de gênero

inversa ao sexo designado (biologicamente a do seu nascimento). Homens e

mulheres transexuais alguns pretendem fazer uma transição de sexo, para o sexo

oposto, sempre com alguma ajuda médica para seu corpo. Uma forma de explicar é

imaginar "uma mulher presa em um corpo masculino" ou vice-versa de acordo com

Becher (2007). Becher completa:

“O transexual, psicologicamente, não se sente à vontade com o sexo biológico, o que lhe acarreta profundo sofrimento, apresentando

características de inconformismo, depressão, angústia e repulsa pelo próprio corpo. Experimenta desconforto psíquico com seu sexo antagônico, desejando obsessivamente ter seu corpo readequado ao sexo oposto que

acredita possuir. Para ele, a operação de mudança de sexo é uma

1 O binário de gênero é a classificação do sexo e do gênero em duas formas distintas, opostas e desconectadas

de masculino e feminino; homem e mulher. É um dos tipos gerais de sistemas de gênero.

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obstinação, não se comportando em momento algum de acordo com o seu

sexo biológico.’ Becher (2007)

Assim uma pessoa transexual dependendo do gênero que adota e do gênero

com relação ao qual se atrai afetivo-sexualmente pode ser bissexual, heterossexual

ou homossexual, portanto, mulheres transexuais que se atraem por homens são

heterossexuais, tal como seus parceiros, homens transexuais que se atraem por

mulheres também; já mulheres transexuais que se atraem por outras mulheres são

homossexuais, e vice-versa.

É imprescindível para as pessoas transexuais, viver integralmente como ela é

por dentro, seja social ou profissional do nome pelo qual ele/ela se identifica ou no

uso do banheiro que corresponde à sua identidade, dentre tantos aspectos.

Assim os países do ocidente têm pensamentos religiosos ainda muito

enraizados no judaísmo e no cristianismo, unindo valores greco-romanos. Já na

Bíblia o apóstolo Paulo, segundo Lima (2011), era judeu e romano e se converteu ao

cristianismo. Sendo ele um grande propagador do cristianismo, ainda tendo

influencias de alguns valores do judaísmo.

Deste modo, o apóstolo Paulo semeia na igreja cristã uma visão venerável e

heteronormativa. Como podemos ver em nesse trecho bíblico:

“Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é;”

(Levítico 18:22)

Afirmando assim a autora pedi que façamos sempre uma leitura crítica da

bíblia, sendo de suma importância: Uma leitura a partir de uma perspectiva histórico-

crítica, deslumbrando quem escreveu, os costumes temporais, a língua que foi

escrita, e o significado dado a palavras da época as mais diversas formas de

tradução, bem como as circunstâncias históricas e sociais. (LIMA, 2011, p. 172).

Citações como as de Paulo, são frequentemente repetidas em discursos

homofônicos, mas como diz o ditado: “todo texto sem contexto e pretexto para

heresia”, veja em outro trecho da bíblia que já tínhamos fatos que retratam os

acontecimentos de hoje:

“Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas

mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza.

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E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher,

se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com

homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que

convinha ao seu erro.” (Romanos 1:26,27)

Então por que não usamos os mesmos textos com a mesma mentalidade:

“Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus?” (1 Coríntios

6:9)

Não! Não usaremos! Evoluímos, em algumas questões, são outros tempos e

o termo “transfobia2” vem sendo usado o para se referir ao preconceito e

discriminações sofridos pelas pessoas transgênero, de forma geral. Falta muito

pouco para se chegar a um mínimo de dignidade e respeito à identidade das

pessoas transexuais e travestis.

A sociedade tem rotulado as pessoas transexuais, que sofrem com a

dificuldade de serem empregadas, mesmo as que tenham qualificação, que acabam,

em sua maioria, sendo forçadas a trabalharem como profissionais do sexo ou em

cargos menos elevados, diante de suas qualificação e capacidade. Entretanto, nem

todo transexual é profissional do sexo.

Se identificar com alguma das expressões da transgeneridade é enfrentam

um primeiro desafio, de reconhecer a si mesmos e fazer decisões pessoais sobre si

e quando irá se apresentar aos outros da forma como se identificam. E isso pode

levar tempo, essa não é uma atitude simples de se tomar, nem fácil, mas necessária,

para que possam ser quem são por inteiro.

Olhando para fora vemos que em toda parte do mundo de acordo com a

Nações Unidas (2016), pessoas transexuais sofrem e estão em maior risco de

violência, assédio e discriminação. Violações essas que falham os direitos humanos

ligadas a diversos fatores tais como idade, etnia, ocupação, classe socioeconômica

ou deficiência e vão de bullying3, abuso verbal, negação de assistência médica,

2 A transfobia é uma série de atitudes ou sentimentos negativos em rela ção às pessoas travestis, transexuais e

transgêneros. 3 Termo util izado para descrever atos de violência física ou psicológica intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos, causando dor e angústia e sendo executadas dentro d e uma relação desigual de poder. Bullying é uma palavra de origem americana que hoje é um problema mundial, sendo que a

agressão física ou moral repetitiva deixa sequelas psicológicas na pessoa atingida. O termo com esta definição

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educação, trabalho, moradia, criminalização, prisão, lesão corporal, tortura, estupro

e sem pôr fim aos absurdos a que são expostos o assassinato.

Ainda à falta de dados confiáveis e atualizados o que torna difícil medir a

dimensão da violência, relatórios sugerem que milhares de pessoas transexuais são

assassinadas ou gravemente feridas em ataques motivados por ódio todos os anos.

A Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia em pesquisa revelou

que 1/3 das pessoas transexuais que participaram da pesquisa relataram terem

sofrido algum tipo de ataques, ameaças ou violência, a maioria relatou também ter

passado por incidentes do tipo múltiplas vezes todos os anos.

Os transexuais já foram e ainda são frequentemente diagnosticados como

doentes “patologizados”, com base em sua identidade de gênero. As Nações Unidas

(2016) já destacaram que a patologização como sendo uma das causas primárias

das violações de direitos humanos sofridas por pessoas transexuais. Sabendo que

não é doença, por que é crescente a violência? São questionamentos que não

param. Ser transexual é parte da rica diversidade da raça humana. Ser diferente não

pode ser visto como um transtorno.

Diferentes são as abordagens que tratam sobre o tema da transexualidade,

um aspecto que parece ser ligada na transexualidade e o desacordo entre o sexo

biológico e o sexo psicológico. Pessoas transexuais querem viver como uma pessoa

do sexo oposto, como já vimos linhas acima. A frase: “tenho o corpo de um sexo e a

alma do outro”, já fica conhecida. Apesar de suas necessidades em relação às

mudanças corporais em muitos casos, serem as mesmas, as pessoas transexuais

são diferentes umas das outras, por serem indivíduos, assim como todas as demais

pessoas não transexuais.

Para a medicina, o sexo biológico é a referência para a determinação da

identidade sexual dos sujeitos, já os profissionais da saúde, as formas pelas quais a

transexualidade é entendida variam a depender do referencial teórico-profissional e

vivencial. Qualquer desvio em relação a essa lógica médica é visto como um

transtorno, que pode ser tratado com cirurgias, modificando o corpo ao que o

indivíduo entende ser como seu.

foi proposto após o Massacre de Columbine, ocorrido nos Estados Unidos no ano de 1999, pelo pesquisador sueco Dan Olweus, a partir do gerúndio do verbo inglês to bully (que tem acepção de "tiranizar, oprimir, ameaçar ou amedrontar") para definir os valentões que, nas escolas, proc uram intimidar os colegas que trata

como inferiores.

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As ciências sociais, preferem discutir a transexualidade com normas e os

valores do universo sociocultural, numa perspectiva crítica em relação à biomedicina

o que não fica tão distante.

“A sexualidade é um aspecto central do ser humano ao longo da vida e inclui o sexo, gênero, identidades e papéis, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. A sexualidade é experienciada e expressa através

de pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos, práticas, papéis e relações. Embora a sexualidade possa incluir todas estas dimensões, nem sempre elas são todas experienciadas ou

expressas. A sexualidade é influenciada pela interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos, culturais, éticos, legais, históricos, religiosos e espirituais”. (OMS - Organização Mundial da Saúde).

Bento e Pelúcio (2012), esclarecem que atualmente existem mais de 100

organizações e quatro redes internacionais na África, Ásia, Europa, América do

Norte e do Sul engajadas na campanha pela retirada da transexualidade do DSM e

do CID.

As mobilizações se organizam em torno de cinco pontos:

1) retirada do Transtorno de Identidade de Gênero (TIG) do DSM-V e do CID- 11;

2) retirada da menção de sexo dos documentos oficiais;

3) abolição dos tratamentos de normalização binária para pessoas intersexo;

4) livre acesso aos tratamentos hormonais e às cirurgias (sem a tutela psiquiátrica); e

5) luta contra a transfobia, propiciando a educação e a inserção social e laboral das pessoas

transexuais (BENTO E PELÚCIO, 2012, p.537).

Para fechar a sexualidade podemos compreender que é um processo em

constante movimento, como todo processo da humanidade, plural e em construção,

com várias dimensões históricas, sociais, culturais, étnico, político e religiosos.

Foucault (1979) salienta que é um “dispositivo histórico”, pois sugere “um conjunto

decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações

arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados

científicos”. (FOUCAULT, 1979, p. 244)

Desse modo notamos que a sexualidade não deve ser sondada como uma

“propriedade natural e inerte ao próprio sexo” (FOUCAULT, 1990, p. 69), logo o

autor completa que:

A sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não à realidade subterrânea que se apreende com a dificuldade, mas à grande rede

de superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação do discurso,

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a formação dos conhecimentos, o reforço dos controles e das resistências,

encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas grandes estratégias de saber e de poder. (FOUCAULT, 1990a, p.100)

Ainda contemplando o autor, acrescentamos que a sexualidade humana não

pode ser considerada como um dado da natureza e sim observada como uma

sequência de estimulação dos corpos, do prazer, discursos, resistências e da

incitação. Sendo assim, a sexualidade está sendo construída constantemente. Não

podendo prender a sexualidade como:

um ímpeto rebelde, estranha por natureza e indócil por necessidade a um poder que, por sua vez, esgota-se na tentativa de sujeitá-la e muitas vezes fracassa em dominá-la inteiramente. Ela aparece mais como um ponto de

passagem particularmente denso pelas relações de poder: entre homens e mulheres, entre jovens e velhos, entre pais e filhos, entre educadores e alunos, entre padres e leigos, entre administração e população. (FOUCAULT,

1999, p. 58)

Dando continuidade ao pensamento do autor, salientamos que o dispositivo

da sexualidade é a ligação entre os discursos, que existe “uma relação entre o que

fazemos, o que estamos obrigados a fazer, o que nos está permitido fazer, o que

nos está proibido fazer no campo da sexualidade. ” (FOUCAULT, 1996, p. 9).

Usando ainda as palavras do autor onde se pode compreender que o

“dispositivo da sexualidade tem, como razão de ser, não o reproduzir, mas o

proliferar, inovar, anexar, inventar, penetrar nos corpos de maneira cada vez mais

detalhada e controlar as populações” (FOUCAULT, 2007a, p. 118).

De acordo com Amaral (2011) entender o transexual como um fenômeno

complexo no qual o indivíduo, apesar de muitas demandas pelas interferências em

seu corpo físico, muitas vezes não nega a anatomia de nascimento, ou seja, a

negação ao sexo biológico que se apresenta não pode ser um distúrbio delirante,

excluindo também as bases orgânicas, como é o caso do hermafroditismo e tantas

outras anomalias endócrinas. A autora completa ao dizer que: “para a psiquiatria,

trata-se de uma desordem mental, denominada Transtorno de Identidade de

Gênero” (AMARAL, 2011, p.17).

Mas de acordo com a Associação Psiquiátrica Americana – APA e Movimentos

Ativistas, fica aprovado a remoção, do DSM, do “Transtorno de Identidade de

Gênero”, propondo usar o diagnóstico de “Disforia de Gênero”. Visto ainda por

algumas pessoas essa alteração um passo importante para a despatologização.

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Porém, ainda existe muitos ativistas trans pelo mundo a lutar pela retirada de tais

classificações dos manuais de psiquiatria, afirmando que as identidades trans não é

uma doença, assim, pelo direito de decidirem autonomamente sobre seus corpos.

“[...] a necessidade de uma avaliação psiquiátrica e um acompanhamento regular de

candidatos à modificação corporal do sexo impõe uma adaptação a modelos

tradicionais de masculinidade de feminilidade”, o que exclui a diversidade dessa

experiência e revela uma obstrução do direito à autodeterminação (AMARAL, 2011,

p.84).

Os deputados Jean Wyllys e Érika Kokay, em 2013, com base na lei de

identidade de gênero da Argentina, apresentaram o Projeto de Lei/ PL nº 5002/2013

João W. Nery - Lei de Identidade de Gênero, que dispõe sobre o direito à identidade

de gênero e propõe a alteração do artigo 58 da Lei 6.015 de 1973, segundo o qual:

Parágrafo único

Em nenhum caso serão requisitos para alteração do prenome:

I - Intervenção cirúrgica de transexualização total ou parcial;

II - Terapias hormonais;

III - Qualquer outro tipo de tratamento ou diagnóstico psicológico ou médico;

IV - Autorização judicial.

A nova Lei propõe que todo indivíduo seja reconhecido e tratado de acordo

com sua identidade de gênero e identificado de tal maneira nos locais que creditem

sua identidade pessoal, assegurando também a continuidade jurídica da pessoa,

através do número de identidade e do registro civil das pessoas naturais e sua

notificação aos órgãos competentes, garantindo o sigilo do trâmite.

Além disso, garantir os direitos e obrigações eleitorais, fiscais e antecedentes

criminais. Os interesses da criança e do adolescente, ficam sobre o olhar e a

assistência da Defensoria Pública, de acordo com o estabelecido pelo Estatuto da

Criança e do Adolescente. A Lei também regulamenta as intervenções cirúrgicas e

os tratamentos hormonais que se realizam como parte do processo de

transexualização, garantindo a livre determinação das pessoas sobre seus corpos,

não sendo obrigatório o tempo de terapia compulsória.

Para alguns autores a busca pela adequação do corpo à identidade acarreta

em alguns casos, o comprometimento do exercício e/ou do prazer sexual, ao mesmo

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tempo, existem argumentos contra a puberdade, onde alguns pesquisadores

defendem que não é possível fazer um diagnóstico definitivo de TIG na

adolescência; outros temem que bloquear o desenvolvimento sexual inibirá a

formação espontânea de uma identidade consistente de gênero, que ocorre em

consequência da crise que envolve o momento da identificação de gênero; Tendo

ainda outros que afirmam que há riscos potenciais para o processo de crescimento e

do desenvolvimento cerebral e da massa óssea (CONSELHO FEDERAL DE

MEDICINA, 2013).

Salientar a grande parcela dessa população que busca atingir seu objetivo do

modo mais rápido possível, é importante, pois devido ao sofrimento que passam,

tornasse urgente a transformação e a legalidade por sua opção. No tocante ao

discurso da medicina, COHEN (1999) quando aborda, em texto e diz:

Historicamente, a medicina, enquanto atividade humana especializada,

esteve sempre balizada por normas de conduta virtuosa, que foram e são

transmitidas aos médicos ainda na escola sob a forma de preces, juramentos

e códigos deontológicos. Devido a esse tipo de transmissão foi possível impor

a moral médica. Pouco pesou o pensamento individual do médico, ao mesmo

tempo em que, na prática, houve apenas uma aceitação, por parte dele,

dessas preces, juramentos e códigos.

Atualmente, a bioética com sua nova filosofia já questiona o sentido do que é

“fazer um bem”. A questão é saber se esse bem é aquele que o médico

preconiza para o paciente ou aquele que o paciente pede ao médico para

auxiliá-lo a alcançar. Muitas vezes, esse bem é interpretado de uma forma

pelo médico e de outra pelo paciente, gerando um conflito ético (COHEN,

1999, 26-27).

Que bem, e a quem! Para além disso o sofrimento, o abuso físico em muitas

situações, provenientes de pessoas próximas, como colegas, de escola/ trabalho,

pais e professores. A pessoa transexual tende a diminuir sua capacidade de

produção e geração de renda quando inicia as mudanças corporais na fase adulta,

retraindo a autoconfiança e a determinação para o enfrentamento dos embates e

desafios da vida, pelos inúmeros percalços que ela/ele terá que passar.

Seguindo nessa direção, um aspecto é muito discutido entre diversos autores e

entre as pessoas transexuais é o quanto as mudanças corporais e de nome são

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importantes para o reconhecimento social. Pois são essas que vão contribuir,

evitando constrangimentos e impasses diante dos demais. Negar esse direito, assim

como o condicionamento da alteração do nome no registro civil à realização do

procedimento cirúrgico, tem sido considerada uma ação violenta (TEIXEIRA, 2009).

Lionço (2009) afirma que, sobre essa vertente que a justiça social deve garantir a

universalidade dos direitos humanos e sociais, assegurando mediante o

reconhecimento e a consideração das diferenças entre grupos sociais, que se

encontram em situação de distinção e desigualdade.

No entanto, é importante lembrar que os transexuais se assemelham com

outros grupos marginalizados, pois as pessoas transexuais passam por muitas

situações de opressão, assédio e inúmeras violência, enfrentando dificuldades em

áreas importantes para o crescimento pessoal como da empregabilidade, da

habitação, da educação e a de acesso aos serviços de saúde em geral.

Diante das nuances conceituais, o que podemos notar é que as identidades

têm um ponto em comum: percepção interna do indivíduo, e à sua experiência

pessoal perante as construções sociais do que é masculino e feminino. O modo

como cada indivíduo se reconhece e quer ser reconhecido na sociedade, pode estar

relacionado ao gênero masculino ou feminino, ficando valido modificações na

aparência, função corporal, expressões de gênero, vestimentas e modo de falar.

(PRINCÍPIOS DE YOGYAKARTA)

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CAPITULO II

II - AS POLÍTICAS PÚBLICAS/SOCIAIS DIRECIONADAS AO PÚBLICO

TRANSGÊNERO

O esforço da presente pesquisa quer refletir e analisar sobre a inserção do

transgêneros no mundo do trabalho formal, mas também combater à violência e à

discriminação no Brasil. Onde nessa pesquisa usarei alguns pontos marcantes de

debates que participei, com a visão na empregabilidade, sim, mas sem homofobia,

de maneira clara, à quem interessar possa que, enquanto existirem indivíduos cujos

direitos fundamentais não sejam respeitados por quaisquer razões, com evidente

olhar na discriminação por: orientação sexual, raça, etnia, idade ou opinião política,

não se pode afirmar que nossa sociedade é justa, igualitária e democrática.

RENAULT e RIOS (2010) afirmam que:

A discriminação, qualquer que seja a sua natureza, deve ser repudiada,

inclusiva e principalmente aquela que ocorre nas relações de trabalho, visto que constituem uma das maiores violências contra dignidade da pessoa humana, pois priva a vítima de direitos básicos, criando dificuldade para a

melhoria de sua condição de vida, resultando em desigualdade social que se caracteriza por ameaça permanente a existência. (RENAULT; RIOS, 2010, p.290)

Essa exclusão impossibilita a experiência, impondo diferentes formas de

discriminação. Produzindo sofrimento e tristeza que se concretiza de forma

lamentável no dia a dia desses indivíduos, que se reproduz ainda de geração em

geração.

De acordo com dados de organizações da sociedade civil, uma pessoa morre

no Brasil a cada 27 horas, e por que? Por conta de sua orientação sexual ou

identidade de gênero. O Brasil ocupa o 1º lugar no ranking mundial de nações que

mais matam travestis, transexuais e pessoas trans. A expectativa de vida da

população brasileira, tem aumentado, hoje, tendo crescido para uma média 75 anos

de vida, a de uma pessoa trans não passa de 35 anos, apenas, menos da metade.

(ONUBR, 2018)

Políticas Públicas são um conjunto de programas, ações e atividades

desenvolvidas pelo Estado, com a participação do setor público ou privado, para

assegurar o direito à cidadania, para grupos sociais, culturais, étnicos ou

econômicos. Como vimos no capítulo anterior, respeito e a palavra-chave, e fazer

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um recorte a fim de citar pontos marcantes durante os debates do curso será o

propósito nesse capitulo.

O texto Constitucional da República Federativa do Brasil - CF 88, promulgado

em 1988, tem muitas alterações, as emendas constitucionais e nessas temos muitos

textos criados para assegurar os direitos e garantir a liberdade, a segurança, o bem-

estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, como valores supremos, de uma

sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos. Mas, é uma irrealidade, pois na

prática nada do que foi descrito é realizado de forma mínima a garantir a dignidade

do cidadão. Em meio a tantos escândalos políticos, é difícil crer que o dinheiro que

seria destinado a tais Políticas Públicas esteja sendo aplicado de fato de forma

correta. É difícil entender a ideia de que a Constituição representa o cidadão.

Voltando um pouco no tempo no período de 1930, a historiadora Laurie

Marhoefer4 (2015) foi buscar material para relatar em ampla pesquisa publicada em

seu livro (Sex and the Weimar Republic: German Homosexual Emancipation and the

Rise of the Nazis, 2015), que soldados homossexuais, principalmente da Alemanha

(1930-1945), uniram suas forças para lutar, não somente na Guerra, mas também,

publicamente, por seus direitos após o fim do conflito armado, ou seja, só depois da

Guerra que esses movimentos ganharam o contorno que possuem hoje em dia.

Em busca de mais informações a pesquisadora Marhoefer (2015) foi a

procura de mais detalhes, e em carta, um rapaz desabafa, quando escreve

lamentando que apesar de seu amado, namorado, estar lutando pela pátria, em prol

de todos, a pátria o tratava como corja, por ser homossexual.

A empregabilidade na época, já não era das melhores, anos de 1930 a 1945,

os homossexuais eram desligados do trabalho, e sofriam ostracismo5 social e se

descobertos podiam até sofrer ameaças, já que muitos preferiam, e achavam

melhor, viver no anonimato, mesmo no âmbito familiar e meio a amigos.

4 “Historiador de Weimar e Alemanha Nazista”. Autor de um livro sobre os direitos dos homossexuais na Alemanha na década de 1920 e o surgimento dos nazistas (Sexo e República de Weimar: Emancipação homossexual alemã e Rise of the Nazis, University of Toronto Press, 2015), bem como uma série de artigos em

principais revistas, incluindo a American Historical Review. Ex pesquisador da Universidade de Oxford e da Universidade de Toronto. Disponivel em: <https://theconversation.com/profiles/laurie-marhoefer-342373>. Acesso em 07 fevereiro 2018. 5 Substantivo masculino - hist na antiga Grécia, desterro político, que não importava ignomínia, desonra nem

confiscação de bens, a que se condenava, por período de dez anos, o cidadão ateniense que, por sua grande

influência nos negócios públicos e por seu distinto merecimento ou serviços, se receava que quisesse atentar

contra a l iberdade pública.

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De forma especial, pessoas se unem para construção social e plural da cultura,

trazendo uma demanda do cotidiano a termos políticos, um passo certo a essas

demandas, dando visibilidade e importância necessária a questões que estão

atingindo muitas pessoas. Um desses passos foi unir forças, montar um marco, e um

desses marcos são as bandeiras, que representam o grupo é símbolo do orgulho, da

cultura LGBT no mundo inteiro. Feia por Gilbert Baker6, em 1978, a bandeira é feita

em listas horizontais de cores diferentes, mas especificas, dando ideia a um arco

íris, que visam representar a diversidade humana, criada para homenagear, trouxe

força e inspiração para unir, “unir novamente” como declarou Dustin Lance Black7.

A bandeira LGBT inicialmente a tinha oito (08) cores, e atualmente e composta

apenas por seis (06) cores. As cores a serem retiradas foram o rosa e o turquesa.

Cada cor tem seu distinto significado especifico, a fim de definir cada objetivo desse

movimento;

ROXO - O espírito, o desejo de vontade e a força.

AZUL – As artes e o amor pelo artístico.

VERDE - A natureza e o amor pela mesma.

AMARELO - O sol, a luz e a claridade da vida.

LARANJA - A cura e o poder.

VERMELHO - O fogo, a vivacidade.

Cores retiradas da bandeira, mas que ainda tem sua representatividade:

ROSA - Sexo e o prazer carnal.

TURQUESA - A harmonia e a pacificação.

6 Gilbert Baker, um artista plastico com sede em San Francisco, que criou a bandeira do arco-íris como símbolo da comunidade gay, morreu aos 65 anos. O San Francisco Chronicle disse que Baker morreu em seu sono em sua casa em Nova York na noite de quinta -feira. Inicialmente, ele criou uma bandeira de oito cores em 1978 para o dia da liberdade gay da cidade, o precursor do desfile do orgulho moderno. A bandeira do arco -íris foi

criada no centro de San Francisco para homenageá -lo. Está voando perto da Harvey Milk Plaza, que recebeu o nome do primeiro político abertamente gay dos Estados Unidos, um amigo íntimo de Baker antes de seu assassinato em 1978. Disponivel em:< http://www.bbc.com/news/world-us-canada-39462530>. Acessado em

06 fevereiro 2018. 7 O roteirista Dustin Lance Black, que escreveu o roteiro de Leite, o biopic do político, twitou: "Os arcos-íris choram. Nosso mundo é muito menos colorido sem você, meu amor. Gilbert Baker nos deu a bandeira do arco -íris para nos unir. Unir novamente. " Disponivel em:< http://www.bbc.com/news/world-us-canada-39462530>.

Acessado em 06 fevereiro 2018.

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Afinal, não pode faltar prazer nem harmonia na bandeira que é um ícone da

cultura LGBT estando presente nos mais variados eventos, festas e organizações de

temática lésbica, gay, bissexual, transgêneras e outros que respeitam e aceitam a

vontade do outro. A bandeira também representa a paz da cultura LGBT e dos seus

direitos, sendo usava na segunda guerra mundial como símbolo da esperança numa

nova era, vejamos:

Fonte: Site Virgula

Falando ainda sobre bandeira, o marco, não podemos deixar de falar da

bandeira do Orgulho transgênero, que é o “gênero” foco da pesquisa. Que feita por

Monica Helms8 em 2000, tem apenas três (03) cores, e ela esclarece: “O azul para

meninos, rosa para meninas, brancos para que esta em transição e para quem não

se sente pertence a qualquer gênero. Simbolizar que não importa a direção do seu

alvo, ele sempre estará correto! ”

8 Monica F. Helms é uma ativista transgênero, autora e veterana da Marinha dos Estados Unidos. Ela é a

criadora da bandeira Transgender Pride. Helms criou a Bandeira do Orgulho Transgender, que foi lançada pela primeira vez em um Pride Parade em Phoenix, Arizona, 2000. Helms doou a bandeira original do Orgulho Transgender na primeira cerimônia homenageando a adição de uma coleção de itens históricos LGBT no Smithsonian em 19 de agosto, 2014. Helms fundou a Associação de Veteranos Americanos Transgender (TAVA)

em 2003 e permaneceu presidente até 2013.

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Bandeira do orgulho trans hasteada em São Francisco, nos Estados Unidos. Foto: Flickr (CC)/torbakhopper

Em 1997 foi realizada oficialmente a primeira Parada do Orgulho LGBT em

São Paulo, e reuniu 2.000 pessoas na Avenida Paulista, os homossexuais,

transexuais e a população LGBT ainda não podia casar, adotar filhos ou trocar o

nome na cédula de identidade. Mas vinte anos se passaram, e o evento se tornou o

maior do mundo, não sendo em vão, e Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais

(LGBT) brasileiros que antes invisíveis, e ainda não tão notados, obtiveram avanços

sociais, políticas e jurídicas de muita importância. As leis, entretanto, ainda têm

muito para avançar.

A existência dessa união é fruto de um movimento que começou, no Brasil, na

década de 70, com pequenas publicações alternativas9, se reorganizando na década

de 80 em resposta ao avanço da Aids, tomando mais visibilidade na década de

1990, abrindo espaço para novas conquistas de direitos. Então podemos afirmar

quando dizemos que os movimentos sociais10 sempre existiram e tem forte

representação das massas sociais. Onde para Gohn (1995), os movimentos sociais:

[...] são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil.

Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de: conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade

9 O Lampião da Esquina foi um jornal homossexual brasileiro que circulou durante os anos de 1978 e 1981. Nasceu dentro do contexto de imprensa alternativa na época da abertura política de 1970, durante o

abrandamento de anos de censura promovida pela ditadura militar brasileira. 10 Movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que tem como objetivo alcançar mudanças sociais por meio do embate político, dentro de uma determinada sociedade e de um contexto específico. Fazem parte dos movimentos sociais, os movimentos populares, sindicais e a organizações não

governamentais (ONGs).

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coletiva ao movimento a partir de interesses em comum. Esta identidade

decorre da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo (GOHN, 1995, p. 44).

De acordo ainda com o autor, Gohn (1995), os movimentos sociais no Brasil,

ganham visibilidade ainda na década de 1950, tendo início em territórios rurais e

avançando em seguida para os espaços urbanos das cidades. Os movimentos

ganham força a partir da década de 1960, com o surgimento dos primeiros

movimentos de luta e reivindicação contra a política vigente da época, onde ainda

em período militar a população encontrava-se insatisfeita com as transformações

ocorridas tanto no campo econômico como no campo social, e de lá para cá

conquistas foram alcançadas: (VEJA, Abril, 2017)

Casamento gay – O Supremo Tribunal Federal (STF), em maio de 2011,

reconheceu a união homoafetiva como uma entidade familiar. O primeiro casamento

civil entre pessoas do mesmo sexo do Brasil foi formalizado em Jacareí, interior de

São Paulo, em junho do mesmo ano.

Adoção por casais homoafetivos - Em 2005 aconteceu a primeira adoção de

uma criança por um casal homossexual no Brasil, em Catanduva, interior de São

Paulo. O reconhecimento oficial veio um ano depois, quando o nome do casal foi

colocado no registro da criança. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mudou o

formato da certidão de nascimento, sabiamente, três anos depois, o tradicional de

“pai e mãe” para “filiação”, o que evita constrangimentos e permite o registro de

crianças por casais homossexuais.

Mudança de nome civil e social – Já é possível no Brasil alterar o nome civil

e gênero no registro de nascimento.

Eleição de candidatos assumidamente homossexuais - Em 2006, Clodovil11

foi eleito deputado federal por São Paulo, tornando-se o primeiro político

assumidamente gay do Brasil, tempos depois em 2010, o professor Jean Wyllys12

11 Clodovil Hernandes (Elisiário, 17 de junho de 1937 - Brasíl ia, 17 de março de 2009) foi um estil ista, ator,

apresentador de televisão, cantor e político brasileiro. Atuou como estil ista e apresentador de programas em diversas emissoras. Tornou-se o terceiro deputado federal mais votado do País nas eleições de 2006, com 493 951 votos ou 2,43% dos votos válidos. Foi conhecido principalmente pela postura controversa e por

declarações consideradas impróprias ou indelicadas, muitas vezes dirigidas a outras personalidades famosas. Disponível em:< https://cloparaosintimos.wordpress.com/historia/>. Acesso em 14 fevereiro 2018. 12 Jean Wyllys de Matos Santos (Alagoinhas, 10 de março de 1974) é um jornalista, professor universitário e político brasileiro, eleito pela primeira vez em 2010 para um mandato de deputado federal pelo Partido

Socialismo e Liberdade (PSOL) do Rio de Janeiro. Nas eleições de 2014 foi reeleito como o sétimo mais votado

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ganhou a disputa como deputado federal pelo Rio de Janeiro e se elegeu

defendendo a causa LGBT. Em 2017, Edgar de Souza (PSDB), prefeito de Lins, se

tornou o primeiro prefeito assumidamente gay casado com outro homem no Brasil.

Cirurgia de mudança de sexo e de reprodução assistida feita pelo SUS - A

cirurgia de mudança de redesignação sexual de homem para mulher é oferecida

pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2008 e de mulher para homem desde

2013. Além dos procedimentos, o SUS também oferta acompanhamento

ambulatorial com equipe multiprofissional, incluindo psicólogos, como parte do

tratamento. A primeira brasileira a passar pela operação de mudança de sexo paga

pelo SUS, conseguiu o procedimento em 2011, após longo processo.

Presença na mídia – A novela de horário nobre do SBT transmitiu o primeiro

beijo gay da televisão brasileira, em 2011, "Amor e Revolução". Já a rede Globo

levou ao ar em 2014, a primeira cena gay em suas novelas. Em 2016, surge a

cantora Drag Queen Pabllo Vittar13 que emergiu, com sua música, e em campanhas

publicitárias das mais variadas vertentes.

Paradas do Orgulho LGBT - São Paulo entra para o Guinness Book por ter a

maior celebração LGBT do mundo.

II.I – UNIÃO DE PESSOAS DO MESMO SEXO

Nenhuma lei proíbe a união homoafetiva, pelo contrário, o art. 3º da

Constituição Federal, especificamente no inciso IV, constitui como objetivo

fundamental “promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo,

cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. ” O art. 5º declara que

“homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) já buscava a igualdade

de direitos entre os indivíduos, mas ainda não dá poderes legais as grandes nações

do mundo, nem tão pouco e posta em pratica de forma ativa e efetiva, sendo regidas

entre os candidatos a deputado federal do estado do Rio de Janeiro, com pouco menos de 145 mil votos

válidos. Em 2015, a revista britânica The Economist classificou Wyllys como uma das 50 personalidades que mais lutam pela diversidade no mundo. Em 2012 e 2015 Jean foi eleito pelos internautas o melhor deputado federal do Brasil. Disponível em:< http://jeanwyllys.com.br/wp/>. Acesso em 14 fevereiro 2018. 13 Phabullo Rodrigues da Silva nasceu em São Luís, em 1 de novembro de 1994, possui uma irmã gêmea chamada Phâmela e é fi lho de uma técnica de enfermagem. Ele não conhece seu pai biológico, pois ele deixou a sua mãe quando ela ainda estava grávida. Se apresenta profissionalmente desde 2013 e começou a ganhar notoriedade em 2015, com o lançamento do vídeo clipe de sua música Open Bar, no Youtube. Atualmente, o

seu clipe mais popular, K.O, conta com mais de 80 milhões de visualizações na mesma plataforma.

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por leis e contendo códigos de conduta discriminatórios até os dias de hoje,

dificultando o acesso e o entendimento. No Brasil, a constituição visa garantir vários

direitos, fundamentais, aos indivíduos, independente de seu gênero. Existem ainda

muitos projetos de leis tramitando nas câmaras e congressos em todas as esferas

sejam elas municipais, estaduais e federal, sem entrar em detalhes sobre a

jurisprudência sobre direitos de adoção de crianças e herança patrimonial e outros

direitos a que os casais gays podem e devem ser incluídos.

Hoje já existem vários países no mundo que aprovam o casamento

homossexual, o que colabora com muitas questões judiciais. No entanto existe ainda

muita discriminação14. A discriminação acontece quando há uma questão diferente

da esperada, ou já antes determinada por “padrões”. A pessoa é discriminada por

causa do gênero, da orientação sexual, da raça, da nacionalidade, da religião, da

situação social e por tudo que um olhar preconceituoso pode ter.

Onde o artigo 7 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, diz:

"todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção

da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a

presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação." Por anos, e

até os dias de hoje, a Organização das Nações Unidas tem feito muitos esforços

para acabar com a discriminação o preconceito na sociedade, e minimizar essa

evasão.

Contudo em 14 de maio de 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ)

publicou a Resolução 17515, que passou a garantir aos casais homoafetivos o direito

de se casarem no civil. Onde com a resolução, os tabeliães e juízes não poderiam

se recusar a registrar a união. Essa conquista deu direito de se casarem, tendo os

homossexuais o direito de usufruir de mecanismos legais do Código Civil que era

exclusividade dos casais héteros.

A união estável firmada em cartório, assegura a maioria dos direitos de um

casamento civil convencional com menor solenidade e algumas poucas diferenças.

O que muitos casais, sendo eles héteros e homossexuais, hoje optam pela menor

14 Discriminação é um substantivo feminino que significa distinguir ou diferenciar. No entanto, o sentido mais comum desta palavra aborda a discriminação como fenômeno sociológico. 15 Ementa: Dispõe sobre a habilitação, celebração de casamento civil, ou de conversão de união estável em casamento, entre pessoas de mesmo sexo. Origem: Presidência. Disponível em:< http://www.cnj.jus.br/busca -

atos-adm?documento=2504>. Acesso em 06 fevereiro 2018.

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burocracia do procedimento. As poucas diferenças entre a união estável e o

casamento firmados em cartório foram motivo de debates no Supremo Tribunal

Federal – STF (2013). Ficando decidido pelos ministros a equiparação dos dois tipos

de contrato quanto ao regime de herança. Onde para estar casado hoje, basta fazer

uma escritura pública no cartório, na hora, elegendo o tipo de divisão de bens e

pronto, isso para união estável, já o casamento no civil pode levar até 90 dias”.

Com conhecimento, o povo brasileiro pode dar um passo crucial no sentido da

construção de uma verdadeira cultura de paz, mas para tal precisa conhecer para

respeitar, o que não pode, ou não quer entender.

II.II – NOME SOCIAL

Olhando as legislações pertinentes à alteração de nome e sexo no registro

civil nos países europeus, podemos verificamos que elas já são encontradas há

alguns anos. A Alemanha regulamentou as mudanças corporais e legais em 1980,

pouco mais tarde em 1982 a Itália normatizou, na Inglaterra as mudanças foram em

2004, e na Espanha em 2007 tomou a iniciativa. Muitas com pontos a serem

melhorados, algumas mantendo o caráter de patologia na transformação, outras

tornando a alteração independente de intervenção judicial. O que é comum a todas é

a discussão ser pautada pelos direitos humanos.

A legislação do Brasil ainda não contempla, as demandas do segmento das

pessoas transexuais, em sua totalidade, necessitando de longos processos através

de ações judiciais, para que venha a ocorrer a adequação do nome ao gênero

(VIEIRA, 2012, 2014).

No Brasil, em tramitação na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei

5.002/2013, João W. Nery16 conhecida como “Lei de Identidade de Gênero”, de

autoria do deputado Jean Wyllys (PSol-RJ) e da deputada Erika Kokay (PT-DF), que

trata da viabilização e desburocratização para o indivíduo ter assegurado, por lei, o

direito de ser tratado conforme o gênero escolhido por ele. Com base no direito à

identidade de gênero e altera o art. 58 da Lei nº 6.015 de 31 de dezembro de 197, é

baseada na lei Argentina que visa autorizar a alteração do nome civil e gênero na

certidão de nascimento e nos demais documentos, sem necessidade de intervenção

16 Nome dado em homenagem ao primeiro homem trans a ser operado no Brasil.

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cirúrgica ou autorização judicial, ainda aguarda designação de Relator na Comissão

de Direitos Humanos e Minorias (CDHM).

Promulga da em 09 de maio de 2012 Lei Argentina, é considerada o maior

avanço para os transexuais, pois facilita e acelera o processo de alteração nos

registros sem intervenção do judiciário, necessitando apenas do consentimento do

interessado. Escrita com base a partir dos Princípios de Yogyakarta17 com olhar na

Aplicação do Direito Internacional de Direitos Humanos às Questões de Orientação

Sexual e Identidade de Gênero. A norma foi elogiada pelo Escritório Regional para

América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos

(ACNUDH), por agregar padrões internacionais de direitos humanos em termos de

acessibilidade, confidencialidade e universalidade.

Em alguns órgãos desde 2016, já está permitido o uso do nome social em

crachás e formulários por funcionários públicos federais, em inscrições do Exame

Nacional de Ensino Médio (Enem) e por médicos e advogados ligados ao Conselho

Federal de Medicina (CFM), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Ministério da

Educação (MEC) autoriza o uso do nome social de travestis e transexuais nas

escolas de educação básica, assim como e outras instituições, sempre a pedido

indivíduo e através de formulários e processos, esses um pouco mais ágeis, por não

envolvem maiores esfera.

Há pelo menos duas ações semelhantes tramitando no Supremo Tribunal

Federal (STF), a possibilidade de alterar os documentos sem a necessidade da

cirurgia, por ser uma intervenção arriscada e um longo processo de transição.

Um dos problemas para a população transgêneras no Brasil continua sendo a

falta de legislação de reconhecimento, vigente e presente, dos direitos civis. O

nome social, além de não vigorar em muitos dos Estados brasileiros, não é cumprido

como deveria, o que dificulta e constrange cada vez a população trans. Muitas são

as iniciativas de legalização do nome social têm sido consideradas como

insatisfatórias, e longas, na medida em que não resolvem os impasses e

constrangimentos pelos quais passam os indivíduos trans para uso da

documentação civil, por ainda haver muitas restrições de seus direitos. Diversas

17 Os Princípios de Yogyakarta tratam de um amplo espectro de normas de direitos humanos e de sua aplicação a questões de orientação sexual e identidade de gênero. Os Princípios afirmam a obrigação primária dos

Estados de implementarem os direitos humanos.

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normas que dispõem sobre o uso do nome social são setorizadas e restritas a

estabelecimentos da esfera pública.

A Instrução Normativa Nº - 1.718, de 18 de julho de 2017 dá a população

trans a possibilidade ter o nome social incluído no documento de Cadastro de

Pessoas Físicas (CPF). As informações, são que basta compareçam a uma unidade

de atendimento da Receita Federal (RF) e pedir a inclusão. A dúvida é, será

realmente tão fácil? Veja como fica o documento:

Fonte: Receita Federal, 2017

Em decreto o governador Luiz Fernando Pezão a pedido da Secretaria de

Direitos Humanos, no dia 23 de novembro de 2017, institui que o documento seja

regulamentado pelo Detran, tendo o órgão prazo de 120 dias para iniciar as

emissões. O presidente do Detran e o secretário de Direitos Humanos expressão

suas opiniões sobre o decreto.

— A emissão da identidade social é uma conquista histórica e o Detran se preparou para estar pronto para oferecer um atendimento com respeito, qualidade, eficiência, dignidade e carinho. Por isso, treinamos cerca de 200

funcionários no mês passado para aguçar a nossa sensibilidade com este público e entender as suas necessidades, iniciando uma grande campanha interna do Detran que vai ao encontro dessas pessoas, que merecem toda a

nossa deferência porque somos uma casa aberta para que o cidadão se sinta acolhido aqui — explica o presidente do Detran, Vinicius Farah. (DETRAN, 2017)

— A Carteira de Identidade Social é uma grande vitória para o movimento LGBT do Rio de Janeiro. O documento, além de reconhecer a identidade

social de travestis e transexuais, evitará diversos constrangimentos aos quais elas estão submetidas diariamente ao serem chamadas por nomes de um gênero ao qual elas não se identificam — diz o secretário de Direitos

Humanos, Átila Alexandre Nunes. (DETRAN, 2017)

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Ressalto o decreto onde deixa claro que, o documento trará os nomes de

batismo e aquele que deseja usar, pelos quais são conhecidos socialmente. “O

nome social, no entanto, não poderá ser alterado”. (DETRAN, 2017)

É a conquista mais vantajosas para essa população, o nome social é a

denotação pela qual o indivíduo trans se identifica e quer ser socialmente

reconhecido, e a definição da sua personalidade e dignidade humana. A definição

que alguns transexuais dão ao receber sua nova carteira de identidade é de

renascimento. Não é apenas de uma segunda via, mas da atualização do RG com

seu novo nome e gênero. Um processo longo e cansativo, mais de um ano de luta

contra a burocracia e preconceito, para conseguir fazer sua nova identificação.

Os indivíduos trans não querem privilégios, como muitos políticos, querem

apenas o fundamental para viver com dignidade. O direito e o dever devem

caminhar juntos para que não haja constrangimento nem sofrimento. O respeito

volta a ser a palavra-chave, e deve ser essencial por parte de todos, mas tudo isso

só será possível quanto o Estado reconhecer toda a diversidade de gênero da sua

população como parte da sociedade.

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CAPITULO III

I - O ACESSO AO TRABALHO FORMAL PARA PESSOAS TRANSGÊNERO

Combater o preconceito enfrentado pelos trans, e tentar se inserir no mundo

do trabalho e a questão central dessa pesquisa, mas como passar sem notar a

intolerância à transexualidade e a homofobia, impregnadas essas questões sociais

foram pontos que já refletimos nos capítulos anterior que não poderiam faltam.

Para analisar melhor o mundo do trabalho e as questões de gênero

envolvidas nele, precisamos verificar a compreensão de toda sociedade, que gira

em torno do indivíduo e influência as normas e regras desse mundo, pois “O nosso

sistema social só aceita como positiva a categoria hetero-masculina” (FACCO,

2009), a heterossexualidade é imposta como obrigatória, sendo vista como a única

forma de legitimidade a todos, e os que não se encaixam a ela são “simplesmente”

excluídos, quando percebidos, pois sair da “caixinha” é uma liberdade que a

sociedade insiste em ignorar. O que é de externa necessidade essa visibilidade,

afinal são pessoas com qualidades e precisam de acesso ao trabalho formal, para

que todos os seus direitos sejam garantidos perante a lei. Pois ser humano é estar

num grupo só de acordo com Cortella:

Ser humano é ser junto. É necessário negar a afirmação liberticida18 de que ‘a

minha liberdade acaba quando começa a do outro’. A minha liberdade acaba

quando acaba a do outro; se algum humano ou humana não é livre, ninguém

é livre. Se alguém não for livre da fome, ninguém é livre da fome. Se algum

homem ou mulher não for livre da discriminação, ninguém é livre da

discriminação. Se alguma criança não for livre da falta de escola, de família,

de lazer, ninguém é livre (CORTELLA, 2007 apud RANGEL, 2011, p. 23)

Com isso podemos ver que o que não é bom para um, não é bom para

ninguém, e o autor fala para todos os gêneros e idades.

Existe uma forte relação entre o trabalho e a educação na atualidade, pois o

trabalho cumpre um papel fundamental na vida do ser humano, desde os seus

primórdios, já dizia Paulo no velho testamento no livro de Salmos 128:2 “Pois

18 Que se opõe a quaisquer tipos de liberdade; contrário à l iberdade de um povo, de um país, de uma nação;

que age com o propósito de destruir as l iberdades de uma nação: lei l iberticida.

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comerás do trabalho das tuas mãos; feliz serás, e te irá bem. ” E cita essa questão e

vários outros livros como no livro de Eclesiastes 3:13, quando ressalta “E também

que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto é um

dom de Deus.”; assim como em tantos outros pontos da história do mundo, sendo a

atividade profissional uma inserção social e a construção de sua real identidade.

Coutinho, Krawulski e Soares (2007) afirmam que o mundo do trabalho tem muitos

impactos na compreensão de si, estabelecendo assim, uma ligação entre os

desafios do trabalho na modernidade e a formação da identidade do sujeito. Entendo

que o trabalho, para além de garantir as necessidades básicas do indivíduo e os

meios de satisfação para o mesmo, tem grande representatividade na identificação

do mesmo na sociedade em que vive, sendo essencial para determinar a inserção

do mesmo em qualquer grupo.

O trabalho é um princípio educativo, sendo tema recorrente no Brasil, a anos,

entre pensadores da educação, principalmente para aqueles que pertencem ao

campo do trabalho e educação que se apoiavam no o texto dedicado à educação na

nova Constituição, aprovada em 1988, e para a nova

LDB - Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/1997), discutiu-se muito a questão da

educação politécnica, da escola unitária e do trabalho como princípio educativo. O

trabalho é parte fundamental da história do ser social, traz a aquisição da

consciência pelo trabalho, pela ação com grupos. O trabalho é a base estruturante

de um novo tipo de ser, não apenas uma forma histórica em sociedade, ele é uma

atividade fundamental pela qual o ser se humaniza, se transforma, amplia seu

conhecimento e se aperfeiçoa.

O trabalho como princípio educativo sofreu um grande revigoramento na

medida em que passa a se constituir como fundamento de propostas de educação

que pretendem inovar de formas progressistas, desenvolvidas por alguns

movimentos sociais.

Para o autor Lobo (1991, p.203) o uso do conceito de gênero na sociologia do

trabalho compatibiliza com "a problematização da subjetividade e também com as

identidades presentes no mundo do trabalho". Lobo ainda afirmar e deixa claro que

quando gênero é visto como uma questão subjetiva vira sinônimo de problemas para

o mundo do trabalho. De acordo como Artigo 113, inciso 1 da Constituição Federal,

“todos são iguais perante a lei”. Não sendo essa a nossa realidade, pois infelizmente

essa não se aplica ao mundo do trabalho nos dias de hoje.

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Contemplemos as ideias de Butler:

“Se o caráter imutável do sexo é contestável, talvez o próprio construto

chamado “sexo” seja tão culturalmente construído quanto o gênero; a rigor, talvez o sexo sempre tenha sido o gênero, de tal forma que a distinção entre sexo e gênero revela-se absolutamente nenhuma. Se o sexo é, ele próprio,

uma categoria tomada em seu gênero, não faz sentido definir o gênero como uma interpretação cultural do sexo. O gênero não deve ser meramente concebido como a inscrição cultural de significado num sexo previamente

dado.”. (BUTLER, 2003, p. 24-25)

Vemos que o destaque acima esclarece ainda mais, quando diz que gênero

traça uma percepção as diferenças entre os sexos, sendo uma construção

meramente mental que demarca relações de poder, pois seu gênero não altera seu

caráter. Costa (2008, p.41) diz que o mundo do trabalho é penetrado por

discriminações de todo gênero, onde não há mistura de sexo profissional em

algumas categorias, e a feminização da população ativa, se torna irreal.

Demostrando a ideia dos autores vejamos o que Lobo relata:

"As relações entre homens e mulheres são vividas e pensadas enquanto

relações entre o que é definido como masculino e feminino - os gêneros.

Nesse sentido, a divisão sexual do trabalho é um dos muitos lócus das

relações de gênero. (...) Abrindo espaço para se pensar as novas questões

que preocupam a sociologia do trabalho: as "metamorfoses" do trabalho e o

seu questionamento, a subjetividade no trabalho, e as identidades no

trabalho, o problema de igualdades e diferenças e as formas contemporâneas

de gestão e de políticas sociais". (LOBO, 1991, p.200)

Com olhar propriamente no gênero, como ficaria a absorção dos/das

transgêneros pelo mundo do trabalho? São distribuídos homens e as mulheres,

sendo diferentes os tipos de emprego, gênero feminino desempenha funções onde

não aja força física, da mesma forma os homens em posições onde a força e o

poder sejam empenhados. Aldemam traz o seguinte pensamento:

“Basta uma rápida olhada nos anúncios de emprego para deixar claro que o

mercado de trabalho possui uma estrutura segmentada pelo gênero-definido

pela dicotomia convencional homem/ mulher. Muitos valores subjetivos e

avaliações estão embutidos nesta divisão sobre aquilo que um homem ou

uma mulher pode ou deve fazer. Pessoas com uma ambiguidade de gênero

poderiam causar confusão e sentir rejeição, por não se encaixarem facilmente

nos nichos que existem no mercado de trabalho. A mesma ambiguidade pode

ser vista como algo capaz de perturbar o desempenho da função,

principalmente num mundo onde muitas ocupações se exercem vinculadas à

apresentação e conservação da imagem.” (ADELMAN 2003, p. 83-84)

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A citação de Ademan (2003) fica claro que o mundo já possui uma

demarcação ocupacional, distribuída em gêneros. Onde existem profissões

especificas para cada gênero, mas além dessa demarcação existe uma outra

questão velada, pois quando o assunto é transgênero, que segundo a autora os

empregadores veem os transgêneros como ambíguos19, não possuindo espaço

nesse mundo já demarcado.

Com um mundo do trabalho passando por intensas mudanças, no contexto

social atual no qual as organizações precisam buscar novas formas de gestão para

permanecer num Mercado altamente competitivo, fica a pergunta: Por que alguns

gestores/empresas, ainda deixam de contratar profissionais por preconceito? O tema

preconceito de gêneros no Brasil tem sido bastante abordada. FLEURY (2000)

afirma que:

Não havia medidas concretas sendo tomadas a respeito, embora o

programa nacional dos Direitos Humanos, criado em 1996, visasse

programar atos internacionais relacionais aos direitos humanos com a

convenção nº.111 da Organização internacional do trabalho (OIT), sobre

discriminação nas relações de emprego. O fato é que a implementação

efetiva de políticas para combater a discriminação. FLEURY (2000).

Definido pelo Plano Plurianual - PPA 2004-2007, no âmbito do Programa

Direitos Humanos, Direitos de Todos, a ação para Elaboração do Plano de

Combate à Discriminação contra Homossexuais. Visando efetivar este e outros

compromissos, a Secretaria Especial de Direitos Humanos lança o Brasil Sem

Homofobia - Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra LGTB e

de Promoção da Cidadania Homossexual. O objetivo do Programa e promover a

cidadania para gays, lésbicas, travestis, transgêneros e bissexuais, e toda a

variação de gênero existente a partir da igualdade de direitos e do combate à

violência e à discriminação homofônicas, respeitando a individualidade de cada um

desses grupos. Para alcançar o objetivo, o Programa tem diferentes ações:

a) apoio a projetos de fortalecimento de instituições públicas e não-

governamentais que atuam na promoção da cidadania homossexual e/ou no

combate à homofobia;

19 Um adjetivo da língua portuguesa que define algo que tem ou pode ter mais do que um sentido. Alguma

coisa que pode ter múltiplos significados.

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b) capacitação de profissionais e representantes do movimento homossexual

que atuam na defesa de direitos humanos;

c) disseminação de informações sobre direitos, de promoção da auto-estima

homossexual; e

d) incentivo à denúncia de violações dos direitos humanos do segmento

LGTB.

Todo trabalho envolvido é a consolidação de avanços políticos, sociais e

legais tão dificilmente conquistados. O Governo Federal, ao tomar a iniciativa de

elaborar esse e outros Programas, reconhece o longo caminho de luta de milhares

de brasileiros e brasileiras que desde os anos 80 vêm se entregando a causa para

garantia dos direitos humanos de homossexuais.

Um dos pontos do Plano Plurianual - PPA 2004-2007, chamado de

MEGAOBJETIVO II: Crescimento com geração de emprego e renda,

ambientalmente sustentável e redutor das desigualdades regionais, traz em seu

terceiro parágrafo: “Ampliar a oferta de postos de trabalho, promover a formação

profissional e regular o mercado de trabalho, com ênfase na redução da

informalidade. Mas como garantir trabalho, sem políticas ativas temos ainda outro

texto brasileiro que diz muito, mas não tem atuado em nada.

VII – Direito ao Trabalho: garantindo uma política de acesso e de promoção da não-discriminação por orientação sexual 27. Articular, em parceria com o Ministério Público do Trabalho, a

implementação de políticas de combate à discriminação a gays, lésbicas e travestis no ambiente de trabalho. 28. Apoiar e fortalecer a rede de Núcleos de Combate à Discriminação no

Ambiente de Trabalho das Delegacias Regionais do Ministério do Trabalho e Emprego. 29. Ampliar a articulação com o Ministério do Trabalho, na implementação

de políticas de combate à discriminação no ambiente de trabalho, incluindo nos programas de políticas afirmativas existentes, como GRPE (Gênero, Raça, Pobreza e Emprego) e da fiscalização do trabalho, o combate à

discriminação de gays, lésbicas e travestis, bem como de políticas de acesso ao emprego, trabalho e renda. 30. Desenvolver, em parceria com o Ministério do Trabalho, programa de

sensibilização de gestores públicos sobre a importância da qualificação profissional de gays, lésbicas e travestis, nos diversos segmentos do mundo do trabalho, contribuindo para a erradicação da discriminação.

(BRASIL,2004)

Nesse sentido, podemos notar que as políticas para o trabalho ainda estão

excludentes e ineficazes, onde a ótica da sexualidade muitas vezes é tratada como

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uma diferença entre os trabalhadores, isso contra princípios constitucionais, diga se

de passagem, com necessidade de atenção para políticas públicas, que funcionem,

sobre o assunto em questão, pois na maioria das vezes, foram propostas pelo

Ministério da Saúde, Educação ou Direitos Humanos e não pelo Ministério do

Trabalho e Emprego e ficam todas só no papel.

O jornal Gazeta do Povo (2009), publicou a matéria: “Transexual ganha na

Justiça o direito a mudar de nome sem cirurgia de sexo”. Na matéria, a advogada de

uma transexual declara que esteve com a cliente por alguns dias, devido a processo,

e presenciou situações constrangedoras. O que fez e faz muitos abandonarem os

estudos e outras questões pelo preconceito que sofrem [...]” (Gazeta do Povo, 8 jan.

2009). No mesmo jornal, outra matéria chama atenção: “Entidades querem que

escola use o nome social”:

O preconceito e o constrangimento são algumas das causas que levam transexuais a abandonar a escola. Muitos não completam sequer o ensino

fundamental e na fase adulta acabam sem profissão definida (Gazeta do Povo, 8 jan. 2009: 8).

Um número que salta aos olhos, O IBGE destaca falta trabalho para 26,3

milhões de brasileiros não têm emprego. Esse é o número do contingente que a

economia brasileira descartou em mão de obra formal, um índice de 23,6% de

trabalhadores na fila da desocupação no fim de 2017, sem educação não existe mão

de obra qualificada.

Esses dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)

trimestral, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O ano

de 2017 apresentou uma constante redução da taxa de desemprego, trimestre a

trimestre de acordo com as pesquisas realizadas pelo IBGE, mostrou que o número

de trabalhadores em busca de uma ocupação foi decrescente, mas a informalidade

ganha proporções ainda não vista.

O preconceito, a exclusão e a dificuldade no acesso a boa educação,

indisponibilizam vagas, violando direitos. Esses são apenas alguns dos embates

enfrentados dia a dia por pessoas trans no Brasil. O país lidera os rankings de

violência contra trans, segundo último levantamento, muitos trans são mortos no

pais, o que evidencia uma realidade de intensa intolerância. São sucessivas as

dificuldades enfrentas desde o momento da percepção da identidade até a vida

adulta, isso quando a vida não é cerceada no meio de uma dessas etapas. Em dado

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da Associação Nacional de Travestis e Transexuais - ANTRA (2017), mais de 90%

de travestis e transexuais vivendo unicamente da prostituição e informalidade, sendo

visto como um cárcere social. A sociedade não pode separar seres humanos, pois

todos possuem suas potencialidades para exercer várias funções.

Avanços estão ganhando forma e a inclusão e a diversidade no mundo do

trabalho, com a inclusão de toda variedade da comunidade LGBT, que cresceu,

apareceu, de um tempo para cá, de maneira lenta, mas já é uma melhora, pois

empresas, já identificaram que as instituições com mais diversidade e inclusivas

movimentam mais e consequentemente tem maior produtividade, a ideia é contribuir

para uma melhor interação entre os colaboradores internos, aumentando o respeito.

De acordo com a SAP20 (2015) em março de 2013 foi criado um Fórum para

unir as instituições no compromisso com o respeito e promoção de direitos humanos

de pessoas LGBTs. Sendo atualmente mais de 80 companhias de grande porte

envolvidas nessa iniciativa louvável, entre elas o Carrefour, IBM, Accenture, Alcoa,

Basf, Caixa, Dow, Dell, HSBC, P&G, PwC e Sodexo, número ainda pequeno, mas

representativo.

Esse grupo de empresas lançou no Fórum 10 compromissos para colaborar

com ‘Promoção dos Direitos LGBT’ que são:

1. Comprometer-se, presidência e executivos, com o respeito e com a

promoção dos direitos LGBT; 2. Promover igualdade de oportunidades e tratamento justo às pessoas LGBT;

3. Promover ambiente respeitoso, seguro e saudável para as pessoas LGBT; 4. Sensibilizar e educar para o respeito aos direitos LGBT; 5. Estimular e apoiar a criação de grupos de afinidade LGBT;

6. Promover o respeito aos direitos LGBT na comunicação e marketing; 7. Promover o respeito aos direitos LGBT no planejamento de produtos, serviços e atendimento aos clientes;

8. Promover ações de desenvolvimento profissional de pessoas do segmento LGBT; 9. Promover o desenvolvimento econômico e social das pessoas LGBT na

cadeia de valor; 10. Promover e apoiar ações em prol dos direitos LGBT na comunidade. (SAP, 2015)

Tais iniciativas só afirmam a necessidade e colaboram para que mais

empresas se disponham a incluir, como temos também funcionando na Lapa, na

região central do Rio, a Casa Nem, representa o orgulho trans, e vem trabalhando

20 A SAP é uma das maiores empresas do mundo no setor de software empresarial. Ela ajuda empresas de

todos os portes, em todos os setores, a administrarem seus negócios com mais eficiência.

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para dar formação profissional e ampliar o horizonte de travestis e transexuais. No

local, a população tem acesso a cursos de modelagem, corte e costura e até a um

pré-vestibular, criando novas formas de visibilidade com competências e

profissionalismo. Em outro ponto do Rio, e de grande tradição, é casa de

espetáculos, o Teatro Rival, que está orgulhoso de ter em seus quadros funcionários

transexuais. Postos importantes para o funcionamento da casa, estão sobre os

comandados de pessoas trans. Da recepção ao bar, o espaço cultural optou pela

inclusão sem distinção. Mas nem tudo são flores Bianca Barbosa, sócia do teatro,

revela fatos sobre a burocracia e deixa claro que a contratação de pessoas trans,

ainda passa por muitas questões burocráticas que complicam a contratação.

Questões como o nome social, aquele que é usado pela travesti ou transexual,

diferente daquele da identidade, ainda não é respeitado, o que causa

constrangimento. E destaca: — “Todos eles trabalham com carteira assinada e, no

momento da contratação, enfrentamos dificuldades burocráticas em relação a isso.

É preciso mudar, para que o processo de inclusão seja mais efetivo” — (Extra,

2016).

A fim de agilizar e criar mais conectividade algumas plataformas vem sendo

criadas para profissionais transexuais e travestis que queiram oferecer seus serviços

a empresas interessadas em contratar sem preconceitos, uma delas é o

Transerviço21 , muito bem cotada pelo número de inscrições e trabalho sério, tendo

também a Rede Monalisa22 que segue a mesma linha de inclusão e seriedade, com

seu objetivo.

No Brasil, é muito difícil ver pessoas trans e travestis em trabalhos formais, e

por isso acabam por se prostituir ou fazendo trabalhos manuais, como cabeleireiro,

culinária, pintura, marcenaria, isso tudo de forma avulsa, sem vínculo, não que tais

serviços não tenham seu valor, mas nem sempre é o que a pessoas gostaria de

21 O site criado em 2013 tem dois propósitos. O primeiro é voltado ao profissional trans ou travesti que quer ofertar seu trabalho e para pessoas que são sensíveis à causa e contratam os serviços desse profissional. O

segundo objetivo é criar um banco de profissionais e estabelecimentos que atendam essa população sem discriminação. Disponível em: <http://www.transervicos.com.br/servicos>. Acesso em 17 fevereiro 2018. 22 Um projeto para conectar pessoas trans e travestis a empresas amigas da visibil idade trans. Somos também

uma plataforma de compartilhamento de histórias e geração de conteúdo humano de relevância. E atuamos fornecendo apoio psicológico e capacitação empresarial para que as empresas sejam capazes de construir uma inclusão real, com afeto e respeito. Se é empresário e tem interesse em saber mais sobre a Monalisa ou ofertar vagas de emprego, entre em contato com a gente. Disponível em:< http://www.redemonalisa.com.br/>.

Acesso em 17 de fevereiro 2018.

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fazer, e o ponto mais gritante da questão é a informalidade. Vejamos o que afirma

Nascimento:

As possibilidades de inserção no mercado de trabalho para as transgêneros são mínimas; mesmo nas situações em que estas executem atividades tidas como femininas, não são consideradas mulheres e pela ambiguidade são

alvos de preconceitos por parte da sociedade. Considera-se que a questão da diversidade é colocada a dupla dificuldade enfrentada pelas transgêneros, pois é difícil para a mulher entrar no mercado de trabalho, e ter as mesmas

condições trabalhistas e salariais do homem, o desafio aumenta para a travesti (NASCIMENTO, 2003, p.37).

Para inverter esse quadro também bons exemplos positivos que vêm

acontecendo como na rede de supermercados Carrefour, que apoia a inclusão de

pessoas trans no seu quadro de funcionários. O diretor de Sustentabilidade e

Responsabilidade Social do supermercado Carrefour Brasil, sr. Paulo Pianez, conta

ao G1 (2017) que o tema ainda e novo na empresa e não existe facilidade em de

lidar, porque traz dúvidas e conflitos. No entanto, montado um programa de

diversidade, com o compromisso da instituição para a valorização de todas, sem

distinção, as pessoas e divulgação de informações que promovam a

conscientização, os colaboradores internos aprendem como lidar com diferentes

grupos e situações do dia a dia. Ele ainda destacou a importância de a instituição

agregar a cultura de acolhimento, do respeito, do diálogo e da colaboração.

Conjunto de ações melhora o clima institucional e garante o desenvolvimento

sustentável do negócio e da toda uma sociedade. “A inclusão de pessoas trans traz

muitos benefícios, mas o principal deles é cultivar a cultura do respei to entre todos e

todas. À medida que a empresa foca nas competências essenciais para os negócios

e o profissional pode ser quem é, ele pode empregar 100% das suas capacidades

para fazer bem o seu trabalho”, destaca Pianez (G1, 2017).

O bem-estar, dos indivíduos, é consequência de ações políticas e sociais que

o Estado promove, com a ajuda da população, pois sem movimentação do povo o

Estado, é provável que não se mova, e esse dever de lutar é o reconhecimento das

excentricidades de cada parte da sociedade. Olhar um indivíduo, e ver além do ser,

e dar a ele o que lhe é de direito não basta, mas também garantir que a democracia

pertença a todos e todas, isso sim fará a diferença.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando que no meio acadêmico já existem alguns artigos e trabalhos

publicados com a temática voltada aos trans e o público LGBT, porém abordam as

questões sobre a saúde e prostituição, busquei neste trabalho refletir algumas

razões que diferenciam o preconceito, discriminação, limitação vividos pela

população trans/ LGBT ao se inserirem ao mundo do trabalho formal, visando

contribuir para a desconstrução de uma visão conservadora e politicamente

prejudicial que quer impor aos seus indivíduos uma postura única.

Para falar sobre a inserção das transgênero no mundo do trabalho é

imprescindível observar as condições em que eles foram inseridos já que muitas

vezes o ambiente profissional se torna tão excludente quanto todo o resto. Pois a

trajetória educacional é um dos reflexos de construção do preconceito presentes na

sociedade, o que impacta muito negativamente a vida dessas pessoas desde sua

infância, mas também durante todas as etapas de sua vida adulta, como no

momento de inserção profissional.

Observado e analisando percebemos pela homogeneização no mundo do

trabalho vem apenas segregando, deixando de lado, como outros, grupos possuem

suas especificidades e precisam ser consideradas tais diferenças, e, mesmo diante

de políticas públicas que visam reduzir os impactos sociais e profissionais para as

trans e o público LGBT, o mundo do trabalho ainda tem muito preconceito e

discriminação, tendo a sociedade suas complexidades e desdobramentos, o mundo

do trabalho acaba sendo influenciado por crenças, valores pessoais e sociais.

Foram apresentados ideias, planos e projetos que tentam recuperar e inserir essas

pessoas, a partir da educação e da capacitação profissional. Por outro lado, cientes

da inatividade de políticas públicas ou projetos sociais, que funcionem de fato, como

os fatores decisivos da inclusão dos trans no mundo do trabalho, foram também

apresentadas mudanças na gestão de algumas empresas para um tratamento

humanizado e digno dos trans/ LGBTs num ambiente de trabalho. O comportamento

do mundo do trabalho frente aos trans/LGBTs é ainda uma análise inicial e recente

que precisa ser amplamente fomentado, pois ainda existem muitas conquistas e

lutas pela frente, para construir um mundo profissional menos desigual.

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Acreditamos que a luta por dignidade, respeito e visibilidade dos trans/ LGBTs

é um longo e complexo processo de construção social no qual a educação e a

informação são necessárias afim de defenderem seus direitos, e pela forma da lei,

que existe, mas não atua.

Minha contribuição, simpatizante pela causa, é para que esse problema

perpasse a divulgação de informações, que chame a atenção para conscientização

em termos mais respeito em nossa sociedade, e que possamos verdadeiramente

buscarmos o bem, e não oprimir, um ou outro grupo, e envolver todos na mesma

causa, o de “viver” em sociedade, construindo cidadania e humanidade, com

criatividade no seu âmbito mais profundo, não esgotando nossa existência.

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OUTRAS REFERÊNCIAS

FILMES

Kátia - Um documentário conta a história da primeira transexual eleita para um

cargo político no Brasil. Lançamento 2013 o documentário tem 1h 14min de duração,

tem por Diretora Karla Holanda, protagonizado pela própria Kátia Tapety, feito no

Brasil.

XXY – O filme trata e relata a história de uma criança que nasce com ambiguidade

genital, os pais estão convencidos de que uma cirurgia deste tipo seria uma

violência ao corpo do filho. A família recebe a visita de um casal de amigos, que

através do contato com outro adolescente o filho apresenta sua sexualidade. O

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Filme foi lançamento em 2008, tem 1h 31min de duração, tem por diretora Lucia

Puenzo e foi produzido na França, Espanha e Argentina.

Pariah – Um filme para maiores de 16 anos, lançado em 2011 com 1h 26min de

duração, tem por direção Dee Rees, o filme de origem Americana de gênero

dramático e forte, pois uma garota de 17 anos enfrenta muitos problemas para

alguém de sua idade. Sofrer de baixa autoestima, e precisa decidir entre expressar

sua sexualidade ou obedecer a seus pais.

Moonlight: Sob a Luz do Luar - “Todo crioulo é uma estrela”, essas são as

primeiras palavras que se ouvem em Moonlight. As questões de raça e preferência

sexual, ganham contornos, numa comunidade pobre da Miami onde há

predominância das drogas, anos 1980, sofrer bullying dos colegas de escola que o

chamam de bicha, mesmo sem ele ter noção do que se trata, aos dez anos, ao

longo das três fases do filme a vida do personagem busca o autoconhecimento.

Encontra o um carinho que é a grande sacada da obra. Um importante instrumento

de voz para os afrodescendentes. O filme foi visto no 41º Toronto International Film

Festival, em setembro de 2016.

Meu Nome é Jacque - O documentário foi lançado em abril no Rio de Janeiro na

Casa da ONU em Brasília para funcionários das Nações Unidas e convidados. O

filme retrata a trajetória de Jacqueline Côrtes, mulher transexual e soropositiva que

também já atuou como funcionária no Brasil do Programa Conjunto das Nações

Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS).

RuPaul's Drag Race - É um reality show realizado pela produtora World of Wonder

originalmente para o canal pago Logo, hoje também exibido pelo Netflix e outras

emissora de canal fechado. Idealizado e apresentado pela Drag Queen RuPaul, o

programa que ocorrem episódios, onde as competidoras participam de gincanas e

provas onde são testadas suas habilidades em canto, dança, costura, talento, humor

e personalidade, assim como o carisma, singularidade, coragem e talento de uma

Drag Queen, para receber o título de "America's Next Drag Superstar". O show foi

pensado em 2008 e estreiou em 2009 nos EUA, inicialmente desenvolvido para a

MTV norte-americana. O show é exibido na Austrália, Brasil, Canadá, Alemanha,

Hungria, Irlanda, América Latina, Espanha, Suécia, Filipinas e Reino Unido.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABGLT - Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis

AIDS - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

APA - Associação Psiquiátrica Americana

ARV - Anti-retrovirais

ASICAL - Associação para a Saúde Integral e Cidadania na América Latina DST -

Doenças Sexualmente Transmissíveis

DSM - Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais

EBGLT - Encontro Brasileiro de Gays, Lésbicas e Transgêneros

FTM - Female To Male (Feminino para homem)

GBLTT - Gays, bissexuais, lésbicas, transgêneros e transexuais

GLTB - Gays, Lésbicas, Transgêneros e Bissexuais

HIV - Vírus de Imunodeficiência Humana

HSH - Homens que fazem sexo com homens (categoria epidemiológica)

LGBT - Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais

MEC - Ministério da Educação MTE - Ministério do Trabalho e Emprego

MJ - Ministério da Justiça MinC - Ministério da Cultura

MRE - Ministério das Relações Exteriores

MHB - Movimento Homossexual Brasileiro

MTF - Male To Female (masculino para feminino)

OIT - Organização Internacional do Trabalho

OMS - Organização Mundial da Saúde

OMS - Organização Mundial da Saúde

ONG - Organização Não-Governamental

ONUBR - Organização Nações Unidas do Brasil

OPAS - Organização Pan-americana da Saúde

PL - Projeto de Lei

PN-DST/Aids - Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde do Brasil

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

SEDH/PR - Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

SEPPIR/PR - Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da

Presidência da Republica

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SPM/PR - Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da

Republica

TIG - Transtorno de Identidade de Gênero

UDI - Usuários de Drogas Injetáveis

UNAIDS - Programa Conjunto das Nações Unidades sobre HIV/Aids

UNAIDS - Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids

USAID - Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional

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GLOSSÁRIO

Cisgênero - Quem se identifica com gênero que lhe foi atribuído ao nascer. Por

exemplo, uma mulher cis é aquela pessoa designada mulher e que se reconhece como uma. Crossdresser - Termo mais comum nos países de língua inglesa. É alguém que

gosta de usar ocasionalmente roupas características do gênero oposto, geralmente

em ocasiões específicas. Drag king - São mulheres que se vestem como homem de maneira caricata com o

intuito de realizar performances artísticas, que incluem canto e dança, geralmente em festas e casas noturnas.

Drag queen - São homens que se vestem como mulher de maneira caricata com o

intuito de realizar performances artísticas, que incluem canto e dança, geralmente

em festas e casas noturnas. Expressão de gênero - É como alguém se mostra para os outros, diz respeito à

aparência. É possível ter uma aparência feminina, masculina ou andrógina (que mescla elementos tidos como femininos e masculinos).

FTM - Sigla para female to male (feminino para masculino). São os homens

transgêneros, aqueles que transicionaram do feminino para o masculino. Gênero - Construção social e cultural ligada às características do órgão sexual

biológico de uma pessoa – aquele que recebeu ao nascer. Identidade de gênero - É o gênero com o qual a pessoa se identifica. Não é relativo

ao outro, mas sobre como ela reconhece a si mesma, independente do órgão sexual biológico.

LGBT - Essa sigla significa lésbicas, gays, bissexuais e transexuais e serve para

designar o grupo de pessoas que têm uma orientação sexual (LGB) ou uma identidade de gênero (T) diferente da dominante. MTF - Sigla para male to female (masculino para feminino). São os as mulheres

transgêneras, aquelas que transicionaram do masculino para o feminino.

Não binário - Há ainda pessoas cuja identidade de gênero não é nem masculina

nem feminina, está entre os sexos ou é uma combinação de gêneros. Essas são as

não binárias. Orientação sexual - É o sexo pelo qual a pessoa sente atração. Está diretamente

relacionado à preferência em relação ao outro. Pode ser heterossexual, homossexual, bissexual etc.

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Sexo biológico - Determinado pelos genitais, sistema reprodutivo, cromossomos e

hormônios. Pode ser feminino, masculino ou intersexo (quando há presença de determinantes tanto masculinos quanto femininos).

Transexual/Transgêneros - São todos os indivíduos cuja identidade de gênero não

corresponde ao seu sexo biológico. De maneira geral, essas pessoas sentem um

grande desconforto com seu corpo por não se identificar com seu sexo biológico. Por isso, têm a necessidade de adotar roupas características do gênero com o qual

se identificam, se submetem a terapia com hormônios e realizam procedimentos para a modificação corporal, tais como: a colocação de implantes mamários, a cirurgia plástica facial, a retirada das mamas, a retirada do pomo de Adão. Na

maioria das vezes, desejam realizar a cirurgia de redesignação sexual (cirurgia genital). O termo também pode ser usado para todas as identidades não cisgêneras

(transexual, travesti, não binário, crossdresser). Transfobia - É o preconceito, o ódio e a violência dirigida às pessoas transgêneras.

Travesti - Termo tipicamente dos países da América Latina, Espanha e Portugal. É

uma identidade de gênero feminina. O conceito de travesti ainda causa divergência. Mas, para grande parte da comunidade LGBT, a travesti, ainda que invista em roupas e hormônios femininos, tal qual as mulheres transexuais, não sente

desconforto com sua genitália e, de maneira geral, não tem a necessidade de fazer a cirurgia de redesignação sexual.

HSH - Sigla da expressão “Homens que fazem Sexo com Homens” utilizada

principalmente por profissionais da saúde, na área da epidemiologia, para referirem-

se a homens que mantêm relações sexuais com outros homens, independente destes terem identidade sexual homossexual.

Homossexuais - São aqueles indivíduos que têm orientação sexual e afetiva por

pessoas do mesmo sexo.

Gays - São indivíduos que, além de se relacionarem afetiva e sexualmente com

pessoas do mesmo sexo, têm um estilo de vida de acordo com essa sua preferência, vivendo abertamente sua sexualidade. Bissexuais - São indivíduos que se relacionam sexual e/ou afetivamente com

qualquer dos sexos. Alguns assumem as facetas de sua sexualidade abertamente,

enquanto outros vivem sua conduta sexual de forma fechada. Lésbicas - terminologia utilizada para designar a homossexualidade feminina.

Transgêneros: terminologia utilizada que engloba tanto as travestis quanto as transexuais. É um homem no sentido fisiológico, mas se relaciona com o mundo

como mulher. Transexuais - são pessoas que não aceitam o sexo que ostentam anatomicamente.

Sendo o fato psicológico predominante na transexualidade, o indivíduo identifica-se com o sexo oposto, embora dotado de genitália externa e interna de um único sexo.