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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM PSICOMOTRICIDADE A INFLUÊNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL ARLENE MARIA FARO SUED ORIENTADOR: Profª Vilson Sérgio Rio de Janeiro Abril/2007

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES EM PSICOMOTRICIDADE … MARIA FARO SUED.pdf · O movimento não é puro deslocamento no espaço e ... A compreensão do que seja esquema corporal é de

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

EM PSICOMOTRICIDADE

A INFLUÊNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

ARLENE MARIA FARO SUED

ORIENTADOR: Profª Vilson Sérgio

Rio de Janeiro

Abril/2007

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

EM PSICOMOTRICIDADE

A INFLUÊNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

ARLENE MARIA FARO SUED

OBJETIVO:

Enfocar que a psicomotricidade é o fio

condutor no seio da educação infantil. A

importância do trabalho corporal e o

cuidado com a integridade física da

criança é a base para se desenvolver um

trabalho de qualidade nas escolas

referentes a educação infantil.

Rio de Janeiro

Abril/2007

Agradeço a minha família e as instituições pela

qual passei que adquiri a prática para unir com

a psicomotricidade, as minhas amigas de

turma, pela dedicação e amizade.

Muitas outras pessoas a mais tiveram

presentes na confecção deste trabalho.

Impossível nomear todos, mas minha gratidão

se estende igualmente a cada um que, em seu

momento, contribuiu com uma parcela de seu

trabalho e expressividade na consolidação

desta monografia.

Dedico o presente trabalho aos meus pais e

aos meus filhos, que foram essenciais na

consolidação do mesmo. Agradeço a

compreensão dos meus familiares, pelos

momentos que tive que ficar ausente me

dedicando à faculdade.

RESUMO

Este trabalho está dividido em três capítulos: o primeiro referente a

psicomotricidade outro aos circuitos motores e por último aos movimentos e

brincadeiras na Educação Infantil. A psicomotricidade já faz parte da minha

prática educacional pois trabalho com crianças na faixa etária da Educação

Infantil mais ou menos 20 anos. O trabalho com crianças pequenas é todo

corporal e o jogo tem seu espaço garantido na Educação Infantil. Huizinga no

seu livro Humo Ludens diz: "O jogo puro e autêntico é uma das principais

bases da civilização". Por volta dos 3 anos é importante lembrar que as

cranças estão começando aprender a compartilhar: a seguir regras coletivas

como por exemplo saber esperar sua vez. É importante resaltar que as

crianças desta faixa etária apreciam muito o faz-de-conta. Portanto os jogos de

percursos devem ser contextualizados a partir de contos de fada ou outras

história que estimulem o imaginário infantil. O aprender vinculado ao prazer e

ficar consciente de que errar faz parte do processo de aprendizagem, que se

aprende buscando informações, pensando, discutindo idéia, analisando as

alternativas e não reproduzindo, mas significando o conhecimento.

Palavras-chaves: Psicomotricidade, ed. Infantil, movimentos corporais, jogos

SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................... 07

Capítulo I A psicomotricidade e o desenvolvimento do ser humano .... 10

Capítulo II Os circuitos motores na Educação Infantil ........................... 29

Capítulo III Movimentos e brincadeiras na Educação Infantil ................. 34

Conclusão ............................................................................................... 41

Bibliografia ............................................................................................... 43

INTRODUÇÃO

“Brincar é, em essência, experimentar a emoção da descoberta. É

surpreender-se investigando, no cume da árvore, as frutas e as flores.

É admirar as conchas na praia, olhar os peixes no rio, sentir o gosto

da chuva no rosto, sujar-se na lama, entrar em cavernas. Ou

simplesmente ficar sem fazer nada vendo as coisas, quaisquer

coisas, entretido com o canto de um passarinho. É cutucar a terra,

descobrir a minhoca, cortá-la em pedaços e ver as várias partes se

contorcerem, é ficar sentado, intrigado com as cores do arco íris”.

(Folha de São Paulo, Cotidiano 2 de novembro de 2003)

A citação acima é de Gilberto Dimenstein. Ele se refere a sua própria

experiência de infância, na qual era comum as crianças passarem horas

furando caixas, amarrando cordas, pulando muros, ou seja, criando diversos

desafios e brincadeiras para seu próprio divertimento. As crianças dessa época

nunca imaginariam que a escola pudesse ser um lugar que as incentivassem a

fazer estas coisas. Ocorre que hoje principalmente nas grandes cidades, quem

reúne as condições onde o tempo, o espaço e as pessoas estão mais

favoráveis para o ensino e atividades lúdicas é a escola.

A capacidade de brincar com diferentes materiais e elaborar estratégias

motoras e jogos, hoje só se desenvolve se proporcionarmos para elas a

mediação com determinados conteúdos culturais.

As brincadeiras, jogos e movimentos são fundamentais para

desenvolvimento das crianças pequenas. Ao brincar a criança imita, representa

e comunica, através de ações, a maneira como compreende a realidade. A

criança a quem é permitido expressar-se livremente se expressa tanto ou até

mais fisicamente do que pela palavra. A atitude, a contenção da criança, seus

gestos, seus deslocamentos, seu ritmo, permitem-nos muitas vezes conhecê-la

e compreendê-la melhor do que as palavras que a pronuncia. Naturalmente, a

criança brinca imitando cenas da vida cotidiana: fala movimetando-se, canta

dançando ou inversamente, põe-se primeiro a dançar e o canto nasce com a

dança. Ela exprime sua afetividade e ao mesmo tempo exercita sua

inteligência.

Por isso, pensamos ou brincar com uma forma de linguagem que se

desenvolve desde os primeiros contatos das crianças com seus pais ou com os

adultos comquem convivem. Assim as crianças aprendem a brincar ao mesmo

tempo que através da interação, experimentam o desempenho de vários papéis

e aproximam-se de determinadas regras.

O ato de jogar é tão antigo como o próprio homem pois este sempre

manifestou uma tendência lúdica, isto é, um impulso para o jogo. Alguns

autores vão além, afirmando que o jogo não se limita apenas a humanidade,

seria anterior inclusive ao próprio homem, pois já era praticado por alguns

animais, Johan Huzinga diz:

“Os animais brincal tal como os homens... convidam-se uns aos

outros para brincarem mediante um certo ritual de atitudes de gestos.

Respeitam a regra que os proíbem morderem ou pelo menos com

violência, a orelha do próximo. Fingem ficar zangados o que é mais

importante, eles, em tudo isso, parecem experimentar um imenso

prazer em divertimento.” (HUZINGA, Johan Homo Ludens. O jogo

como elemento da cultura, São Paulo: Universidade de São Paulo e

Perspectiva, 1981, p. 3)

Quanto a relação existente entre jogo e cultura, Huzinga fez um estudo

profundo sobre o assunto abordando a função social do jogo desde as

sociedades primitivas até as civilizações consideradas mais complexas.

Embora o caráter lúdico dessas realizações seja mais evidentes nas

sociedades arcaicas, ele aparece também nas sociedades mais complexas,

muitas vezes atenuado ou disfarçado. Huizinga explica a concepção dizendo:

“mesmo as atividades que visam a satisfação imediata das necessidades vitais,

como por exemplo, a caça, tendem a assumir nas sociedades primitivas uma

forma lúdica”.

Portanto a idéia básica desse autor é que além dos jogos que são

normalmente incorporados à cultura de um povo, a própria cultura se forma e

se desenvolve pelo espírito lúdico.

Sendo parte integrante da vida em geral, o jogo tem uma função vital

para o indivíduo, não só para distração ou descarga de energia mais

principalmente como forma de assimilação da realidade, além de ser

culturalmente útil para sociedade como expressão de ideais comunitários.

Algumas escolas maternais têm como ambição legítima não suem

apenas “guardadoras”, mas locais voltados atentamente às necessidaes

afetivas das crianças, com toda consciência que isso pode apresentar a seu

futuro e à evolução de sua personalidade.

A escola foi concebida e riada para ensinar e aprender, para transmitir

conhecimentos e saberes. Somente há poucos anos atrás o corpo ocupou o

seu lugar oficial na instituição, sobe a forma de um ensino teoricamente

obrigatório de educação física que tem um bom lugar no horário escolar.

Segundo Laiperre em seuida apareceu a psicomotricidade. Ela

apresentava o corpo e a atividade motora sob um aspecto bastante

tranquilizador: um corpo racionalmente organizado em torno do eixo e servindo

de referência a toda organização espaço-temporal que permitia estruturar o

mundo, uma atividade motora exploradora e inteligente.

CAPÍTULO I

A PSICOMOTRICIDADE E O DESENVOLVIMENTO

DO SER HUMANO

“A psicomotricidade visa privilegiar a qualidade da relação afetiva, a

mediatização. A disponibilidade tônica, a seguran gravitacional e

controle postural. A noção do corpo, sua lateralidade e

direcionalidade e a planificação práxica, enquanto componentes

essenciais e globais de aprendizagem e do seu ato não

concomitante. Nela o corpo e a motricidade são abordados como

unidades e totalidade do ser, o seu enfoque é, portanto, psico-

somático, psico-cognitivo, psiquiátrico, somato-analítico, psico-

neutrológico e psico-terapêutico”.

Vitor da Fonseca

Vitor da Fonseca é professor catedrático da faculdade de Motricidade

Humana da Universidade Técnica de Lisboa e docente do departamento de

educação especial e reabilitação, com mestrado em dificuldades de

aprendizagem pela Universidade de Northwestern, Psicopedagogo e

psicomotricista.

Prestigiado autor de várias obras no domínio da Psicomotricidade, da

Antropologia, das dificuldades de aprendizagem da estimulação precoce da

educação especial, da Psicopedagia, do Neuropsicologia e da Educação

Cognitiva. É formador especializado em programas cognitivos, nomeadametne

do programa de enriquecimento instrumental e do programa de

desenvolvimento cognitivo para pré-escola, onde desenvolve trabalhos de

pesquisa e de formação de mediatizadores.

Para Vitor da Fonseca, “a psicomotricidade é a evolução das relações

recíprocas, incessantes e permanentes dos fatores neurofisiológicos,

psicológicos e sociais que intervêm na integração e realização do movimento

humano”.

Segundo ele, “A ausencia de espaço e privação de movimento é uma

verdadeira ‘taledomida’ da atual sociedade, continuando na família e na escola.

A total não aceitação da necessidade do movimento e da experiência corporal

da criança põe em causa as atividades instrumentais que organizam o cérebro.

O que vemos hoje em dia são crianças de uma sete anos hipotônicas

(relaxamento exagerado da musculatura), descoordenação (crianças

desajustadas), arrítmicas, com dificuldade verbal (fala infantilizada), com

dificuldades verbal (fala infantilizada), com dificuldades de orientação espaço-

temporal, de percepção visual, de esquema corporal e de lateralidade.

Essas conseqüências citadas acima, se juntam a outras como super

proteção, falta de limite, rejeição, impedindo de que cresçam a evoluam em sua

independência.

Acredita-se, erradamente, que a criança só deva ir para escola após

completar 03 anos de idade, com isso perdemos nós, euquanto profissionais de

saúde e educação e a criança também. Pois essa é a melhor fase para se

trabalhar, toda uma consciência corporal, colocado no afeto e no movimento.

O movimento não é puro deslocamento no espaço e nem uma pura e

simples contração de músculos, o movimento tem um significado de reação

afetiva com o mundo, projetando a criança em direção a sociedade em que

vive.

As crianças que adquirem independência mais cedo, se sentem mais

capazes e seguras, levando-as a terem iniciativas, tomarem decisões,

participando ativamente do seu meio sócio-cultural.

Segundo Vítor da Fonseca, “a evolução da inteligência é indissociável de

uma motricidade cada vez mais organizada”.

Defensor ferrenho do acesso da criança à escola mais cedo possível,

garantindo desta forma, o direito a ela de brincar e fantasiar, integrando

diferentes linguagens para se expressarem tudo isso associado a presença de

um profissional qualificado e de materiais adequados.

Ele acredita que uma boa aprendizagem tem como base uma harmonia

entre o meio (social) em que a criança vive e seus aspectos psicológicos.

Le Boulch usa o método “psicogenético” que visa a educação pelo

movimento através da coordenação, estrutura de esquema corporal, adaptação

postural, percepção temporal, percepção espacial e a estruturação temporal-

espacial e a expressão corporal com temas musicais.

Le Boych (1990), explica que a imagem corporal não é pré-formada. Ela

estrutrua-se nas relações mútuas da criança. As atividades motoras de

exploração e experimentação são essenciais na sua evolução. A estruturação

do esquema corporal, no qual insere-se a imagem corporal, dá-se por uma

estreita ligação entre as duas imagens corporais: “o corpo vivido” que é a

imagem do corpo identificado pela criança como o seu próprio eu; e o “corpo

percebido” que é a própria organização do esquema corporal. Com isso, a

criança dispõe de uma imagem do “corpo operário”. Le Bouch emprega aqui

em sentido piagetiano que é um suporte que permite a ela programar

mentalmente ações em torno de um determinado objeto e também do seu

próprio corpo.

A compreensão do que seja esquema corporal é de fundamental

importância para o trabalho na área de psicomotricidade para o trabalho na

área de psicomotricidade. Esquema corporal é a representação que cada um

faz de si mesmo, e que lhe permite orientar-se no espaço. Baseada em vários

dados sensoriais proprioceptivos e esferoceptivos. Se todas as experiências da

criança (o prazer e a dor, o sucesso e o fracasso) são sempre vividas

corporalmente, então se extinde que é através do corpo que a criança vai

descobrir o mundo, experimentar situações e sensações, expressar-se,

perceber-se. À medida que a criança se desenvolve, vai ampliando suas

percepções e controlando seu corpo através da interiorização das sensações.

Pode-se dizer que o corpo funciona como ponto de referência que o ser

humano possui para conheer e interagir com o mundo externo.

Faz-se necessário uma diferença sobre esquema corporal e imagem

corporal, segundo Francoise Dolto, “a imagem corporal diz respeito aos

sentimentos do indivíduo em relação à estrutura do seu corpo, como a

bilateralidade, lateralidade, dinâmica e equilíbrio corporal”.

As relações entre o corpo e os objetos situados no espaço ao seu redor

refere-se aos conceitos direcionais do indivíduo e a consciência de si próprio e

do desempenho que ele cria no espaço.

A ação da criança e a ação do outro são atitudes que se inter-penetram

simultaneamente, estímulo e resposta. Na criança, a imagem do corpo

depende, compreende e completa-se na imagem do corpo do outro e dos

outros que a rodeiam e a envolvem. O outro é para criança o centro de suas

atenções e motivações, é para ele que ela canaliza toda sua afetividade.

Segundo estudo de Françoise Dolto, imagem corporal é a encarnação

simbólica inconsciente do sujeito desejante.

O esquema corporal não é um conceito aprendido, que se possa

ensinar, pois não depende de treinamento. Ele se organiza pela experienciação

do corpo da criança, é uma construção mental que a criança realiza

gradualmente, de acordo com o uso que faz de seu corpo.

A criança nasce com uma bagagem de sensações e percepções

proprioceptivas. Na medida em que há maior amadurecimento do sistema

nervoso, ela vai podendo distinguir, por exemplo, que o desconforto que sentia

anteriormente é proveniente de fome ou dor. Assim, desde o nascimento, vai

gradualmente organizando as diversas sensações que vão surgindo. Guillerme

(1983, p. 39) traduz muito bem este pensamento:

“O esquema corporal ... não tem nada a ver com uma tomada de

consciência sucessiva de elementos distintos, os quais, como num

quebra-cabeça, iriam pouco a pouco encaixar-se uns nos outros para

compor um corpo completo a partir de um corpo desmembrado. O

esquema corporal revela-se gradativamente à criança da mesma

forma que uma fotografia revelada na câmara escura mostra-se

pouco a pouco para o observador, tomando contorno, forma e uma

coloração cada vez mais nítidos.”

Ao nascer, a criança tem como principal fonte de conhecimento a boca e

através dela, recebe sensações de calor, de frio, de umidade. Passa a levar na

boca tudo o que vê e sente, e, assim vai iniciando seu aprendizado. Sente a

pressão executada em que seu corpo pelo cobertor, pelo beço, pelo afago das

pessoas ao seu redor e vai incorporando este conhecimento. Descobre suas

mãos, leva-as à boca, brinca com elas; descobre seus pés, seu sexo. Sente o

poder que tem sobre seu corpo quando, depois de cair e levantar-se diversas

vezes, aprende a encontrar seu ponto de equilíbrio e anda. Seu poder tornar-se

maior quando aprende a controlar seus esfincteres. Pouco a pouco, então, vai-

se conhecendo e integrando as diversas sensações que experimenta;

apreende o sentimento de mundo através da audi~]ao, visão, olfação,

sensação de calor, de frio; percebe também sensações provenientes das

inervações dos músculos das vísceras.

Para Defontaine (1980, vol. 1, p. 10), a criança descobre o corpo através

das deslocações que normalmente lhe são impostas pela sociedade, desde

uma atividade inicial automático reflexa até adquirir uma capacidade de

movimentos dessociados devido ao processo de maturação.

“O ser humano é um complexo de emoções e ações, propiciadas por

meio de contato corporal nas atividades psicomotoras, que também

favorecem o desenvolvimento afetivo entre as pessoas, o contato

físico, as emoções e ações.” (autor desconhecido)

1.1 A visão de profissionais a respeito de métodos e teorias

da Psicomotricidade

Júlio de Ajuriaguerra

Desenvvolveu um trabalho profundo dentro da neurofisiologia e

neuropsiquiatria infantil. Estudou por muito tempo a criança e foi o ponto de

referência de vários outros psicomotricistas.

Visão homem/corpo – a criança ou o homem é o seu próprio corpo.

Visão teórica – embasa-se no estudo da neurologia do movimento

humano e da gênese do corpo:

− Aprimorou-se na neuropsiquiatria infantil;

− Considera que a evolução da criança é sinônimo de conscientização e

conhecimento cada vez mais profundo do seu corpo: “A criança é o seu

corpo”;

− Defende que a diferença em cada criança está no seu desenvolvimento

mental;

− Estudou a evolução do desenho do corpo, considerando-o um excelente

meio para testar o nível de desenvolvimento;

− Refere-se à noção de corpo como somatognosia: relação dialética da

atividade corporal e do reconhecimento da sua estrutura e posição

postural. Trata-se do conhecimento do corpo, por meio de uma

sensibilidade integrada e permanentemente mobilizada no sentido da

ação intencional” (in Mendes, 1987);

− Estudou e definiu os tipos psicomotores sob uma perspectiva patológica,

relacionando o comportamento motor e as respectivas atividades

psíquicas.

Visão metodológica – amplia a visão das noções de esquema corporl e

de imagem de seu corpo, estabelecendo estudos da ilusão do membro

fantasma do amputado e da somatognosia:

− Define e explora as diferentes desintegrações patológicas da imagem do

corpo, defendendo que o corpo evolui confore sua aprendizagem,

estudando as dificuldades de aprendizagem e dificuldades psicomotoras e

utilizando os termos específicos para designar os divesos problemas

(apraxia, agnosia, afasia, dislexia, disnomia, dispraxia, assomatognosia,

etc.);

− Considera importantíssima a comunicação não-verbal, sendo a mesma

suporte indiscutível e insubstituível da linguagem humana;

− Estabelece algumas condições necessárias para a reeducação da escrita:

⇒ desenvolvimento da motricidade;

⇒ desenvolvimento mental em seus aspectos global e específico;

⇒ desenvolvimento da linguagem;

⇒ desenvolvimento sócio-afetivo.

− Para a alfabetização coloca três métodos:

⇒ sintético – sílaba ĺ frase;

⇒ global – frase ĺ sílaba;

⇒ misto ĺ junção.

− Na alfabetização parte de que a leitura depende da aquisição da

linguagem falada e escrita.

Visão prática – reeducação da escrita: condições necessárias:

− Desenvolvimento da motricidade;

− Desenvolvimento mental (global – específico);

− Desenvolvimento da linguagem;

− Desenvolvimento sócio-afetivo.

Os métodos preparatórios, ou técnicas utilizadas são:

1. Relaxamento, sugerindo a técnica de Schultz;

2. Técnicas pcitográficas, ou seja, pinturas;

3. Técnicas escriptográficas, ou seja, com a utilização de papel e lápis.

Explora a atividade tônica e a construção da imagem do corpo.

Visão de avaliação – analisa a evolução do desenho de corpo, pois

provou em testes experimentais que a criança expressa no desenho o que

sabe e sente sobre o seu corpo:

− Define os tipos de tônus;

− Confronta a avaliação com a produção e o ambiente pedagógico.

Marianne Frostig

Americana, muito conhecida na área das dificuldades escolares, mais

atuante na questão da percepção visual como fator interveniente dessas

dificuldades.

Visão homem/corpo – estabelece que o desenvolvimento do homem

decorre da percepção que o indivíduo tem do meio.

Visão metodológica – desenvolveu técnicas com exercícios baseados

nas aquisições visomotoras, considerando-as básicas para o sucesso escolar:

− Provou por meio de pesquisas que a qualidade de percepção visual afeta

todos os comportamentos da criança;

− Estabelece que há que se considerar cinco capacidades perceptivo-

visuais: coordenação viso-motora, figura-fundo, consistência da forma,

posição no espaço e relações espaciais;

− Afirma que só com as capacidades perceptivo-visuais integradas e

adquiridas se torna possível a aprendizagem escolar;

− Treinos possíveis para crianças pré-escolares, ou crianças deficientes,

com dificuldades de aprendizagem ou psicomotoras, e as culturalmente

privadas.

Visão prática – sugere um programa de atividades sensório-motoras e

perceptivo-motoras que nomeia de Educação pelo Movimento, em que objetiva

abordar os seguintes aspectos:

− Conscientização do corpo – esquema corporal e imagem corporal;

− Conscientização do envolvimento – relação sozinho, a dois, em grupo;

− Desenvolvimento da coordenação geral – equilíbrio, locomoção, posição

ereta e jogos de imaginação;

− Desenvolvimento sensório-motor – movimentos globais e vividos no

corpo;

− Controle de movimento – em relação a seus pontos de apoio e várias

posições;

− Coordenação oculomanual – coordenação motora com pêndulo/lanternas;

− Noção de direção espacial – posição e padrões de espaço;

− Estimulação das vias tátil-cinestésica, auditiva e visual – propõe treinos

visuais, figura-fundo, percepção, discriminação, constância perceptiva –

tridimensional para papel/forma invariável do objeto;

− Conscientização espaço-temporal – espaço pessoal e comunitário, tempo

acelerado, imediato, rápido e seus contrastes;

− Desenvolvimento das capacidades motoras – coordenação, ritmo,

flexibilidade, velocidade, agilidade, equilíbrio, força e endurance.

Visão teórica – apóia-se na percepção como sendo a base e ponte de

relação entre o indivíduo e seu meio:

− Acredita que a percepção deve ser trabalhada em todos os âmbitos, ou

seja, numa visão interdisciplinar;

− Antes da aquisição da linguagem deve ser explorado o “vocabulário do

movimento”, baseando sua teoria em cima do movimento em Laban,

Dalcroze e Mosston;

− A reeducação psicomotora é muito eficaz para crianças portadoras de

dificuldades, principalmente as deficiências auditivas e de visão

subnormal.

Visão de avaliação – desenvolveu um teste de percepção visual

(Develpmental Test of Visual Perception – DTVP) em que avalia a coordenação

viso-motora, figura e fundo, consistência da forma, posição e relações de

espaço:

− Preconiza o atendimento ao portador de distúrbios por uma equipe

multidisciplinar de profissionais. Contudo, vê os tratamentos como

independentes ainda na sua prática.

Dalila Costallat

Grande preocupação com o processo de aquisição da alfabetização.

Visão teórica – baseou-se muito em Guilmain, que divide a atividade

psicomotora em atividade funcional e atividade e atividade de relação:

− Estabelece que a regulação da atividade está dominada pelo sistem

cerebral;

− A atenção está ligada ao equilíbrio do corpo e ao frio inibitório;

− Merleau-Ponty – “a atividade é um ato cíclico”;

− Considera como prioritário ao corpo sua representação internalizada e

esquema corporal e o conhecimento que a criança tem de sua estrutura

corporal;

− O espaço corporal e o espaço objetivo bem estruturados darão passagem

à organização do plano gráfico. Essas passagens sucedem-se a partir do

corpo próprio e darão sustentação para as noções de seriação,

ordenação, antes/depois, ao lado, adiante/atrás e transposições

temporais;

− Esses processos devem ser estimulados em fases anteriores à iniciação

escolar, ou seja, na pré-escola.

Visão metodológica – explora a reeducação psicomotora nas

dificuldades de alfabetização e nas deficiências:

− Posiciona que as primeiras evidências de uma doença mental são as

manifestações motoras;

− O método explora os movimentos e também o intelecto, ou seja, a

atividade tônica, a atenção, o equilíbrio e o esquema corporal (global e

segmentar);

− Estabelece que a construção e o manejo correto do espaço e do tempo

são inseparáveis do corpo e da ação, sendo obtidos pela experiência

pessoal;

− Estabelece as funções de base que, se trabalhadas inadequadamente,

interferem na aprendizagem da leitura e da escrita. São elas: estabilidade

do eixo corporal, freio inibitório, controle muscular ocular, processo

dissociativo, informação proprioceptiva, equilíbrio, cinestesia e

coordenação viso-motora;

− Desenvolve e valoriza os processos de atenção e memória, justificando

que sua dispersão impede a fixação e, em conseqüência, a

aprendizagem.

Visão prática – desenvolve a reeducação psicomotora por meio da:

− Adaptação de movimentos crescentes;

− Consciência do corpo segmentar;

− Trabalha esquema corporal, lateralidade, orientação espacial,

discriminação visual e auditiva;

− Atenção e memória.

Algumas atividades que desenvolve são picado com punção, recortes

sem tesoura, recortes com tesoura, bordado, calcado, desenho, contorno e

colorido com lápis, colorido com pincel e modelagem.

Visão de avaliação – defende que a avaliação deve ser “prévia a todo e

qualquer ensino”, pois permite perceber os diversos níveis de rendimento motor

e adequar os exercícios à idade motriz.

Simone Ramain

Visão teórica – utilizou-se da experiência pós-guerra para fundamentar a

teoria e prática do seu método, pelas dificuldades instaladas nos sobreviventes

da mesma:

− No Brasil, houve um desmembramento do método original de reeducação,

que continua sendo desenvolvido, e o método terapêutico denominado

Ramain-Thiers, estabelecendo algumas análises emocionais pautadas em

corrente psicoanalítica.

Visão metodológica – é organizado em dossiês com propostas

sistematizadas pelas necessidades da faixa etária, onde a base do trabalho é a

“atenção interiorizada”.

− É um método de terapia global em que a psicomotricidade é o instrumento

de relação;

− A preocupação é com o processo que leva ao produto final;

− O movimento corporal e a psicomotricidade são desenvolvidos de forma

diferenciada, com verbalização posterior;

− O método objetiva despertar sensibilidade, diluir recalques corporais,

organizar o esquema corporal e situar o indivíduo no contexto social, no

mundo das relações com desenhos de animais (baseado em Jung), cores

que denotam o estado de ânimo da pessoa e arame que sugere

relacionamento;

− O método terapêutico é desenvolvido individualmente.

Visão prática – pequenos grupos com desenvolvimento individual de

habilidades manuais, atenção e raciocinio de forma progressiva, por intermédio

de três momentos interligados:

− Movimento corporal;

− Psicomotricidade diferenciada – propostas de desenho, recorte, arame,

pranchas-modelo, cores;

− Estabelece que no “fazer” ocorre uma reorganização do material

emocional.

Visão de avaliação – ocorre em cima do fracasso do indivíduo em algum

dos momentos acima, com reavaliação e reeducação da atividade, repetindo a

etapa equivocada.

André Lapierre

Estudioso das relações, tudo como centro de atenção na abordagem

psicomotora.

Visão homem/corpo – tem uma visão global do indivíduo, voltada para a

relação com o mundo e com seu corpo – metacomunicação.

Visão teórica – defende como base do trabalho a atividade motora

espontânea:

− Refere-se à pulsão de movimento como sendo a pulsão de vida, a pulsão

feita de desejos, satisfações e prazeres, de frustrações e proibições que

gerarão conflitos e fantasias inconscientes no indivíduo;

− Fundamenta-se na psicanálise, em que defende que cada ação motora

tem um significado;

− Coloca a importância dos contrastes nas vivências corporais para

qualquer educação ou reeducação;

− Define a relação tônica como o intercâmbio entre dois corpos, numa

relação de prazer e também de frustrações, o qual gerará a instituição da

identidade e a afirmação de suas vontades na relação, propiciando uma

comunicação entre dois corpos ativos;

− Defende que o tônus prepara e sustenta o movimento, dando origem ao

diálogo tônico-afetivo, suporte das comunicações não-verbais;

− Encara a agressividade como uma forma de comunicação, ainda que

primitiva, como um dos veículos de afirmação do seu desejo de existir;

− Explora incansavelmente a criatividade e espontaneidade, em que o

psicomotricista se põe a disposição da criança na expressão de seus

desejos, buscando facilitar de forma simbólica suas ações.

Visão metodológica – preocupação com a expressão e a relação entre

adulto e criança e entre indivíduo e indivíduo:

− A comunicação se dá pelo movimento e numa abordagem não-verbal;

− Desenvolve a psicomotricidade relacional, definindo-a como uma prática

que permite à criança expressar suas dificuldades relacionais e superá-

las. Não possui objetivos pedagógicos diretos, mas interfere de forma

clara sobre as dificuldades de adaptação social e escolar na medida em

que essas estão diretamente relacionadas com os fatores psicoafetivos

relacionais” (Vieira, 1993);

− Prioriza o conteúdo simbólico da ação e da relação;

− Explora conteúdos como sexualidade, poder, limite, sedução, contenção,

agressividade, etc.

Visão prática – atividades com olhar nos conteúdos simbólicos que

aparecem nas vivências?

− Evoluiu da reeducação para a educação e depois para a análise,

diferenciando a psicomotricidade relacional da análise corporal da

relação;

− Propicia atividades psicomotoras espontâneas, em que as atividades

envolvem comunicação, ações do corpo e voz de forma espontânea nas

vivências;

− Utiliza diferentes objetos e materiais, cada um com um significado a nível

simbólico;

− Prioriza o trabalho em grupo, numa postura espontânea, criativa e de livre

expressão.

Visão de avaliação – avalia o sistema escolar e repensa a educação:

− Avalia o indivíduo na relação consigo mesmo, com o outro, com o espaço

e com o objeto (Franch, 1990).

Vitor da Fonseca

Português estudioso dos conteúdos da psicomotricidade.

Visão homem/corpo – vê a evolução do homem de forma global:

− Estudou a filogênese e ontogênese do ser humano e no sentido

antropológico.

Visão teórica – tem uma abordagem filosófica:

− Coloca que a psicomotricidade é o cume da união do corpo com o cérebro

e o movimento;

− Explana sobre a hierarquia da experiência humana, afirmando que ela

passa do biológico ao sociológico;

− Afirma que o homem é uma totalidade biopsicossocial, ou seja, tem uma

psicomotricidade que se distingue das outras espécies;

− Desenvolveu que a diferença entre homo sapiens e primata está na

psicomotricidade e campos neurológicos: área frontal = planificação e

elaboração da linguagem e estruturas temporais do movimento, área

parietal = integração da imagem do corpo, área occipital = ligada ao

componente espacial do movimento;

− Estabelece que a personalidade da criança é resultado da interação entre

o potencial hereditário e o meio, entre fatores endógenos e exógenos,

entre atividade bioquímica e bioelétrica do cérebro;

− Alerta que uma boa aprendizagem só ocorre com um desenvolvimento

psicológico harmonioso;

− Desenvolveu estudos sobre sistema psicomotor humano (SPMH);

− Assume que o aspecto social é vital para o ser humano.

Visão metodológica – preocupação com integração social:

− Acredita que o indivíduo aprende por meio dos fatores biológicos,

psicológicos e sociais associados;

− Questiona a escola como meio de formação;

− Desenvolve 13 postulados da aprendizagem humana partindo do meio, da

maturação biológica, da experiência pessoal, da linguagem lingüística,

verbal e escrita para conseguir uma aprendizagem completa e adequada;

− Estabelece o perfil da criança com dificuldades de aprendizagem e com

dificuldades de comportamento, com alguns parâmetros diferenciais;

− Preocupa-se com a integração social e com a comunicação não-verbal no

processo evolutivo do indivíduo, base de sua filosofia educacional;

− Institui a hierarquização morfológico-motora.

Visão prática – preocupação com o desenvolvimento da psicopedagogia:

− Defende a importância da interação entre a área biológica e a social;

− Crítica a escola tradicional questionando-a como meio de formação;

− Afirma que a aprendizagem ocorre por intermédio de fatores biológicos,

psicomotores e sociais associados;

− Desenvolveu um método de intervenção para cada deficiência;

− Apresenta um plano de terapia psicomotora que objetiva “diminuir a

deficiência instrumental e, paralelamente, tentar enquadrar uma linha de

estudo e investigação que compreenda melhor a problemática da

psicomotricidade” (Fonseca, 1983);

− A estrutura das sessões atingirá os aspectos: descondicionamento,

esquema corporal (relaxamento e descoberta do corpo), motricidade

manual (preensão de objetos), lateralidade, grafismo (do movimento ao

símbolo), organização espacial (representação e execução), organização

temporal (mímica e ritmo), linguagem (escrita e oral) e situação lúdica

relacionada com as perturbações correspondentes.

Visão de avaliação – sugere uma bateria de testes iniciais baseada nas

experiências de Ajuriaguerra e colaboradores relativa a problemas de controle

de atitude, de noção de corpo, de organização espacial, de noção de simetria,

inversão e inclinação, de identificação de diferentes orientações (esqueda,

direita, alto e baixo, etc.), de lateralidade (olho, mão e pé), de ritmo, de

conceitualização do gesto, de coordenação dinâmica geral, de organização

perceptiva e de simbolismo:

− Realiza uma prova inicial, uma de controle e outra final em cada indivíduo

sujeito a um trabalho de reeducação.

Jean Le Boulch

Francês, seus estudos caminham da psicocinética à psicomotricidade

funcional.

Visão homem/corpo – conceitua o indivíduo como personalidade que se

organiza a partir da imagem do seu corpo.

Visão teórica – a visão da psicomotricidade baseia-se no

desenvolvimento, em que o centro é seu corpo:

− Orienta seus estudos por meio da psicocinética;

− Divide os estudos do corpo em corpo sentido (0-3 anos), corpo vivido (4,

5-7 anos), corpo percebido (7-10 anos) e corpo representado (10-12

anos);

− Estuda a interiorização dos mecanismos reguladores e de ajustamento do

movimento;

− Desenvolve uma abordagem psiconeurológica, baseado em Ajuriaguerra,

visando desenvolver uma concepção geral da educação psicomotora;

− Entende que a imagem corporal é o núcleo central da personalidade e

ponto de referência na sua organização gnóstica e práxica;

− Afirma que a evolução do indivíduo depende da qualidade do

relacionamento afetivo;

− Privilegia a experiência vivida com preparo profundo do educador ou

terapeuta.

Visão metodológica – baseia-se nas situações-problema e no controle

tônico:

− Afirma que a ação educativa desenvolve-se por meio de movimentos

espontâneos e atitudes corporais, sendo a gênese da imagem do corpo;

− Defende que o ajustamento da ação desenvolve-se pela tríade estipulada

por Piaget: adaptação, assimilação e acomodação;

− Estuda e defende a plasticidade do sistema nervoso;

− Defende a espontaneidade da expressão e ação em decorrência do

funcional e do relacional;

− Comenta que na ação educativa, em idade pré-escolar, a primeira

prioridade é a atividade motora global, seguindo-se à expressão verbal;

− Aborda as dificuldades escolares relacionadas à leitura e escrita.

Visão prática – na pré-escola sugere o jogo e a expressão livre, jogos

ritmados, de coordenação global, coordenação fina, grafismo e espaço-

temporais:

− Na escola sugere atividades com situações-problema, jogos com regras,

esportes coletivos e trabalho com música e ritmo.

Visão de avaliação – a partir das atividades propostas de acordo com a

faixa etária explorada, estabelece naturalmente os parâmetros de

acompanhamento dentro de uma adequada evolução, sem estabelecer um

método específico de avaliação.

Pierre Vayer

Francês, estudioso do corpo e de suas relações no mundo.

Visão homem/corpo – seu princípio fundamental baseia-se no corpo

como presença de ser no mundo – corporeidade:

− A visão da psicomotricidade é na abordagem existencial, em que busca o

enfoque global da criança na educação e reeducação.

Visão teórica – estudou muito a corporeidade:

− Desenvolveu novas dimensões das teorias de comunicação;

− Na educação corporal defende que “não existe relação e comunicação se

não for corporal”, visando conscientizar possibilidades e descobertas dos

meios para exercer sua autonomia e potencialidades, buscando a

integração e desenvolvendo a criatividade;

− Estabelece os campos de relação: criança como pessoa, relação

adulto/criança e adulto/grupo, ambiente e família;

− Defende que a idade de 2 a 5 anos é a fase da formação da

personalidade;

− Tem uma visão sistêmica e associa o corporal com o social;

− Defende sempre a percepção e controle do próprio corpo e a regulação

das condutas psicomotoras.

Visão metodológica – desenvolve propostas individuais e em grupo:

− Estabelece que para um bom trabalho as condições devem ser: presença

do outro, metacomunicação, comunicação a nível da ação, priorizando a

ação que a criança assume, buscar a disponibilidade do adulto;

− Estabelece que a linguagem da criança se situa em três planos de

comunicação: tônico, gestual e verbal;

− Orienta que o trabalho corporal objetiva reconhecer a realidade tal como é

(em relação aos limites), visando suprimir fracassos e rompendo algum

possível ciclo de inadaptação;

− Considera a realidade na educação sob dois aspectos: sócio-político e

ecológico;

− Prioriza as relações humanas, trabalhos em grupo e evoluções pessoais

por meio do movimento;

− Estabelece tipos de grupo, fazendo uma leitura sociométrica desses.

Visão prática – sua abordagem é global, mas o educador não entra na

relação:

− Não trabalha em cima do fracasso;

− Defende a prática que evolui da ação à reflexão, em três etapas:

definição/eleição do projeto, realização e reflexão;

− Sugere duas sessões semanais, em torno de quatro exercícios;

− Afirma que a atitude educativa deve ser: “voluntária, porque eu escolhi,

ativa, porque tenho a intenção de ajudar, aceita pela criança, isto é, nem

constestada nem tolerada, mas calorosa e autêntica”.

Visão de avaliação – desenvolveu uma avaliação psicomotora de 2 a 6

anos e de 6 a 11 anos que envolve: coordenação oculomanual, coordenação

dinâmica (das mãos e geral), controle postural (equilíbrio), controle

segmentário (controle do próprio corpo), organização perceptiva, organização

espacial, estruturação espaço-temporal, observação da dominância lateral,

rapidez e linguagem:

− Criou também uma escala de desenvolvimento e de comportamento

psicossocial de 2 a 6 anos baseado nos estudos de Gesell, a qual aborda:

alimentação, habilidade no vestir-se no despir-se; higiene pessoal,

autonomia nos deslocamentos, jogo e sociabilidade.

De acordo com o Ministério da Educação e do Desporto (MEC) e

Secretaria de Educação Especial (MEC/SEE, 1993), a psicomotricidade é a

integração das funções motrizes e mentais, sob o efeito do desenvolvimento do

sistema nervoso, destacando as relações existentes entre a motricidade, a

mente e a afetividade do indivíduo.

Na concepção atual, é impossível separar as funções motoras, as neuro-

motoras e perceptivo-motoras, das funções puramente intelectuais e da

afetividade. Daí pode-se afirmar que o desenvolvimento psicomotor se opõe à

dualidade entre a psique e o corpo.

A função motora, o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento

afetivo estão intimamente ligados no indivíduo, e a psicomotricidade quer

justamente destacar a relação existente entre a motricidade, a mente e a

afetividade, facilitando a abordagem global da criança por meio de uma técnica.

(Meur e Stules, 1989).

Diante desas definições, teorias e abordagens, concluo, que cabe ao

psicomotricista alertar a necessidade de garantir à criança o direito a um

desenvolvimento integral e harmônico, dando-lhe espaço para que se

desenvolva, primeiramente na área motora e conseqüentemente na cognitiva

social e emocional.

Somente assim, pode-se garantir o desenvolvimento do ser humano na

sua totalidade, isto é, corpo (orgânico) e alma (psíquico) unidos num só

objetivo, a eterna busca de um sujeito feliz e realizado.

CAPÍTULO II

OS CIRCUITOS MOTORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL

“Circuitos motores é o conjunto ou séries de habilidades relacionadas

com o deslocamento, o equilíbrio e a manipulação realizadas pelas

crianças com diversos materiais, na intenção de repetir um trajeto

previamente determinado.” (Araújo, V.C. O jogo no contexto da

educação psicomotora. São Paulo: Cortez, 1992).

No circuito a criança percebe o seu corpo e movimento com precisão,

mobiliza-os de múltiplas formas no espaço. Cada circuito solicita uma tomada

de consciência das possibilidades de movimento em função das características

dos objetos e do espaço, tanto numa dimensão pessoal como social.

Quem realiza um circuito se depois com desafios e obstáculos às vezes

fócus ou não, que aos poucos constróem as suas habilidades, motivações e

interesses, ao mesmo tempo em que se depara com situações de respeito e

cooperação com o outro (não debochar de quem não consegue, esperar a sua

vez, etc.). Naturalmente há uma predominância do lado individual sobre o

coletivo, pois na maioria das vezes a criança tem que realizar a ação sozinha.

Entretanto a habilidade motora isolada não é o foco exclusivo desta proposta.

O educador tem que ter um olhar mais abrangente para tratar da comunicação

das habilidades corporais estimulando as crianças a compartilhar suas

habilidades e conquistas.

O circuito não deve se reduzir apenas a realização das habilidades e

tarefas motoras. A partir do momento em que a criança já tiver uma certa

autonomia corporal para realizar os desafios enfrentados num circuito, sua

atenção, motivação e interesse deverão se voltar para o contexto lúdico

simbólico.

Poder tornar algo que não é em alguma coisa que é (ex.: bola virou

máquina fotográfica). O jogo simbólico é o alimento constante para o

desenvolvimento cognitivo, psicomotor e social. E neste sentido a brincadeira

assume um significado essencial, pois entre outras coisas ela transporta a ação

corporal na compreensão mental.

Quando a criança realiza um circuito e se imagina um guerreiro por

exemplo, ela assume uma série de gestos que são próprios deste personagem:

saltos, chutes, corridas, manipulação da espada – junto destes gestos há uma

série de frases e histórias que desempenham um papel fundamental na

organização do corpo e do movimento.

Um circuito deve ser organizado pensando nas inúmeras possibilidades

que as crianças encontrarão para resolver os desafios ou transpor obstáculos.

Os materiais devem disparar nas crianças questões sobre de que formas elas

podem subir, saltar, equilibrar, etc. Daí a importância do professor não

apresentar apenas um modelo único e fechado para as crianças. O

interessante é apresentar o circuito mostrando e falando para as crianças o que

se deve fazer em cada etapa e não necessariamente como se deve fazer, pois

cada criança deve atuar de sua melhor forma, com os recursos motores que

possui.

Uma vez que as crianças já tenham adquirido a habilidade necessária

para transpor todos os obstáculos, a intervenção do professor deve se centar

na colocação de novos problemas seja modificando a distribuição, distância ou

altura dos materiais, ou anda acrescentando outros.

A interação entre os alunos no circuito também é outro aspecto a

considerar. Apesar do circuito ser uma atividade individual, há questões de

cooperação que precisam ser observadas, uma vez que quase sempre uma

criança precisa esperar a sua vez, ajudar a outra e respeitar as limitações do

colega. Cabe a professsora criar um ambiente no qual as crianças se ajudem,

se tolerem e respeitem suas diferentes possibilidades e limitações. Ao pedir pra

que uma criança dê a mão para a outra saltar de uma mesa, estamos

compartilhando comela a ajuda necessária para que seu colega consiga fazer

algo que por si só não seria capaz.

Quando se define uma rotina de trabalho, pensa-se em quais atividades

farão parte desse planejamento, logo é importante a questão do tempo

necessário para cada uma delas, isso é válido para todas as propostas

apresentadas para as crianças, e não poderia ser diferente no que diz respeito

às atividades de movimento, neste caso, os circuitos motores.

Segundo Antoni Zabala, “muitas das boas intervenções podem fracassar

se o tempo não for considerado como uma autêntica variável nas mãos dos

professores, para utilizá-la conforme as necessidades educacionais que se

apresentem em cada momento”.

Quando o professor planeja um circuito motor dentro de sua rotina

analisando o tempo necessário para a realização da tarefa, este precisa definir

os objetivos que pretende alcançar, pensando que essa variável deve

contemplar as explicações da atividade, a organização e a realização da

mesma.

Para explicar o circuito o professor pode organizar os alunos em um

local e de uma forma que considere adequada, conversando com as crianças

sobre quais desafios e materiais serão utilizados neste dia. Também pode

acontecer de o circuito já estar organizado, possibilitando que o professor

explique através de demonstração, ou seja, que passe pelo circuito

comunicando a seus alunos sobre cada etapa percorrida. É importante que

neste momento ele mostre e considere outras formas que as crianças tenham

para percorrer o circuito.

Ao pensar nas explicações do circuito, nos vem em mente a questão da

organização do espaço para a realização do mesmo. É importante destacar

que, o professor pode organizar esse circuito sozinho ou com ajuda de seus

alunos. Pode “montar” esse circuito junto com o professor torna-se uma tarefa

bastante interessante e prazerosa.

A organização do espaço engloba não somente a montagem do circuito,

mas também a organização dos diversos materiais utilizados, em seus devidos

lugares. Para isso, o professor poderá contar com o auxílio de seus alunos,

desde que estes possam carregar os materiais utilizados.

O planejamento do tempo necessário deve possibilitar que o aluno

realize várias vezes o circuito, pois ao pensar na adequação da proposta temos

que considerar que nas primeiras vezes a criança está se familiarizando com

os desafios, portanto, é preciso garantir que a criança tenha oportunidade de

exploração e descoberta. É fundamental que o professor cude para que o

tempo permita que os alunos passem por esse circuito, sem “congestioná-lo” e

que garanta um espaço adequado para que não fiquem esperando por muito

tempo.

É importante ter claro que o tempo deverá adequar-se a cada grupo,

para cada proposta é desafio. Cabe ao professor adequar sua proposta à

realidade de sua classe, pensando em quais desafios poderão ser

contemplados e quanto tempo deverá ser dedicado a essa atividade.

Quando pensamos nos diferentes espaços que a escola possui, as aulas

de movimentos e brincadeiras na Educação Infantil, deixam de ser realizadas

somente nas quadras e ganha uma melhor perspectiva quando exploramos os

diferentes espaços, sejam externos e internos, já que estes devem ser amplos

o suficiente para acolher as manifestações de motricidade infantil.

Deslocar-se pelo espaço físico da escola é uma das maiores conquistas

para as crianças de educação infantil e conforme se deslocam e brincam, elas

nos oferecem pistas dos diferentes locais e das diferentes maneiras que

encontram para superar os desafios encontrados, criando maior familiarização

com o espaço. Logo, esta maior autonomia e uma melhor relação com este

espaço vão acontecer, gradualmente e vão depender da quantidade de

experiências oferecidos.

Segundo Le Boulch

“Os circuitos motores propiciam uma exploração individual de

movimentos muito importantes, já que são desafios corporais que a

criança estabelece numa interação entre o corpo, espaço e materiais

essenciais pra sua construção corporal”.

O papel do educador neste momento é crucial à medida que é ele que

será o responsável pela organização dos espaços com os materiais disponíveis

e a criação de desafios corporais pertinentes ao seu grupo.

O espaço e o material oferecem a descoberta e a exploração dos

movimentos, criando situações de desafios que contribuem para uma maior

apropriação corporal das crianças, de forma que elas ajam com mais

autonomia. Devemos sempre estar atentos aos progressos alcançados e

valorizando as conquistas corporais das crianças.

A escolha dos materiais para a elaboração dos circuitos tem

fundamental importância na construção e ampliação do repertório motor das

crianças. É de conhecimento geal que nem todas as instituições possuem os

recursos materiais adequados, o que, muitas vezes, impede que um professor

menos experiente monte um circuito que ofereça desafios interessantes e

adequados às crianças. No entanto, a falta de materiais específicos, possa

limitar, mas não impedir que os educadores organizem um circuito.

É importante que o educador observe as crianças brincando, se

movimentando pelo espaço físico da escola e utilizando os equipamentos que

esta possui. Através desta observação, o professor pode compreender e

ampliar as possibilidades e os recursos que cada material oferece, não se

restringindo às prescrições que alguém possa fazer ou a uma única maniera de

utilizar um objeto.

Cabe ainda lembrar que além das ações motoras solicitadas no circuito,

o professor também deve se preocupar com o que os materiais podem oferecer

às crianças sob o ponto de vista simbólico. Dito de outra forma, que “viagens”

podem fazer as crianças enquanto “trabalham” percorrendo o circuito.

Quando uma criança brinca, joga ou desenha, ela está desenvolvendo a

capacidade de representar, de simbolizar. É construindo suas representações

que as crianças se apropriam da realidade.

Segundo Madalena Freire,

“É através do jogo simbólico, do “faz-de-conta”, que a criança

assimila a realidade externa – adulta – à sua realidade interna. É

construindo representações, símbolos, que a criança registra, pensa,

lê o mundo”.

CAPÍTULO III

MOVIMENTOS E BRINCADEIRAS

NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O que é jogo, o que é brinquedo e o que é brincadeira? Definição do

jogo: tarefa difícil pois existe uma grande variedade de fenômenos

considerados como jogo. O mesmo comportamento pode ser visto como jogo

ou não jogo dependendo do significado atribuído a ele em cada cultura.

Segundo estudiosos o jogo pode ser visto como resultado de um termo

lingüístico.

Diferenças entre brinquedo e jogo: Brinquedo: supõe uma relação íntima

com a criança e uma indeterminação quanto ao uso, ou seja, ausência de um

sistema de regras que organizam sua utilização. Ele estimula a representação,

a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade. Possui uma

conotação infantil e tem uma dimensão material, cultural e técnica para fazer

fluir o imaginário. Jogo: Exigem de modo implícito ou explícito o desempenho

de certas habilidades definidas por uma estrutura preexistente no próprio objeto

e suas regras.

A brincadeira é ação que a criança desempenha ao concretizar as

regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica. A brincadeira é o lúdico em ação.

Análises do jogo segundo alguns autores:

- Huizinga: analisa apenas os jogos produzidos pelo meio social

apontando as características de prazer, não seriedade, liberdade, separação

do cotidiano, regras, caráter fictício ou representativo e limitação de tempo e

espaço.

- Vigotsky: analisa casos em que o desprazer é o elemento que

caracteriza o jogo.

- Callois: introduz a noção da natureza improdutiva do jogo (ênfase no

processo) e incerta (fatores internos, motivações pessoais, estímulos externos).

- Brougére: analisa o caráter simbólico, regrado, incerto, fútil e

internamente motivado do jogo.

Na educação infantil é essencial a utilização da brincadeira e do jogo

educativo para que a criança se desenvolva em todos os aspectos, social,

cognitivo e motor.

É necessário garantir que seja mantida a ação intencional da criança

para brincar e introduzir as propriedades do lúdico, do prazer, da capacidade

de iniciação e ação ativa e motivadora nas situações de ensino e

aprendizagens infantis através da estruturação adequada do ambiente, dos

materiais, do tempo, das pessoas, enfim, dos contextos em que ocorrem.

Considerar que apesar da riqueza de situações de aprendizagem que o

jogo e o brinquedo proporcionam, nunca se tem a certeza de que a construção

do conhecimento efetuado pela criança será exatamente a mesma desejada

pelo professor pois o brincar deve ser aceito como um processo, não

necessariamente com algum resultado.

Os pais têm o direito de esperar que o brincar na escola seja significativo

e diferentemente organizado do brincar em casa ou em qualquer outro lugar.

Se isso puder ser comparado, é mais provável que eles atribuam valor a

importância a ele.

Algumas possibilidades da brincadeira:

Vigotsky: O brincar tem sua origem na situação imaginária criada pela

criança, em que desejos irrealizáveis podem ser realizados com a função de

reduzir a tensão, e ao mesmo tempo para constituir uma maneira de

acomodação a conflitos e a frustração da vida real.

Piaget: O brincar representa uma fase no desenvolvimento da

inteligência, marcada pelo domínio da assimilação sobre a acomodação, tendo

como função consolidar a experiência passada. Quando brinca a criança

assimila à sua maneira, sem compromisso com a realidade, pois sua interação

com o objeto mas da função a ele atribuído.

Freud: O brincar possibilita a criança construir uma ponte entre a

fantasia e a realidade, sendo capaz de lidar com complexas dificuldades

psicológicas através da brincadeira, além de permitir a criança passar do papel

de passivo para ativo.

Só brincando é que a criança vai começar a perceber o objeto não de

maneira que ele é, mas como desejaria que fosse. A brincaderia criar novas

relações entre situações de pensamento e situações reais, aumenta as

habilidades (lingüística, corporal, afetiva, social) das crianças levando-as a

saber solucionar melhor os problemas. É através do brincar que a criança tem

a oportunidade de desenvolver um canal de comunicação com o adulto.

Desenvolvimento do jogo segundo Piaget:

1ª etapa: A atividade lúdica não é separada do objeto assimilado e não é

de forma independente transferida pela criança a outro objeto. A assimilação

do objeto aparece claramente na repetição de movimentos com mais diversos

brinquedos.

2ª etapa: A criança começa a reproduzir ações nas suas brincadeiras.

3ª etapa: A criança é capaz de reparar ação do objeto reproduzindo a

situação na qual os objetos estão ausentes (dar banho numa boneca com água

imaginária).

4ª etapa: A criança passa a representar papéis da vida dos adultos como

brincar de mãe, de médico, professor, ou seja, o jogo evolui para um estágio

sócio-dramático.

É denominado jogos de cultura corporal de movimentos, as brincadeiras

que através dos saltos, da locomoção, da velocidade, dos lançamentos, do

equilíbrio, do ritmo, da coordenação e de outras diversas habilidades,

permitem, entre vários fatores o desenvolvimento do corpo e do movimento.

As relações entre jogos da cultura corporal e educação ainda, hoje

surpreendentemente, são pouco discutidas. Os jogos da cultura corporal

existem, alguns estão na escola e até utilizados pelos educadores. Mas são

poucas as escolas que conseguem realmente fundamentar sua proposta de

jogos e brincadeiras no seu projeto pedagógico. Nestas escolas além de

considerar a importância dos jogos para a produção do conhecimento, partir o

desenvolvimento da moralidade, da afetidade e do corpo e do movimento das

crianças, elas proporcionam para cada classe situações desafiadoras,

contextualizadas e significativas. As educadoras estão sempre considerando e

registrando as idéias e sugestões das crianças, preocupando-se em construir

um ambiente sócio moral e afetivo positivo. Os jogos e as brincadeiras

realizadas são socializados para os pais através de relatórios gerais e

individuais que reservam sempre espaço para o aspecto corporal do trabalho.

Mas se há algum lugar onde as propostas educativas dos jogos da

cultura corporal de movimento devem ser discutidas, refletidas e

fundamentadas certamente é dentro de uma escola da educação infantil, pois

esta adequiriu, pelo menos aos de algumas pessoas a imagem do local no qual

se brinca. E não é por falta de referencial teórico que as escolas de primeira

infância deixarão de fundamentar a importância dos jogos, pois há diversos

autores que tratam da questão do jogo com os mais diferentes referenciais

possíveis, tais como: Piaget, Huizinga, Wallon, Winnicot, Chateau, Brogere e

outros.

Num projeto de movimentos e brincadeiras, apenas, a utilização do jogo

não é suficiente. É preciso, entre outras coisas, que ele ofereça uma intenção

de qualidade, incentive a relação entre as crianças, ajude a desenvolver as

capacidades físicas, habilidades e destrezas báscias de forma espontânea e

programada e permite o desenvolvimento da capacidade de adpatação e

resolução de problemas quanto as regras, espaços e gestos. Para tanto a ação

do educador torna-se fundamental. Se ficar apenas olhando para o jogo das

crianças, perderá a possibilidade de colocar novas questões, situações

enquanto atuam, pois é nesta ação direta que se pode estruturar e avançar na

aquisição de novos conhecimentos, estratégias e habilidades. Por outro lado ,

se ficar inteferindo demasiadamente com a intenção de controlar as açãos do

jogo, através por exemplo de interrupções e punições são as próprias

características específicas do jogo que desaparecem. O educador deve

encontrar um meio termo entre os dois e construir um percurso próprio de

investigação do jogo que atenda os pressupostos dos construtivistas é mais um

desafio da sua formação.

Antes de realizar o jogo, cabe ao educador pensar em como será a

atuação das crianças dentro dele. O que se espera de um jogo realizado por

crianças de 3 anos é diferente para crianças de 6 anos. Elas são a peça do

qual devem partir todas as situações e inovações. Não se trata apenas de ela

jogos. O objetivo deve se construir relacionamentos, estratégias e habilidades.

Toda atividade lúdica possui sua particularidade. Na realidade, o que

vemos é que, numa mesma brincadeira, vários elementos estão presentes.

Todos são importantes e devem ser considerados na hora de planejar os jogos

e brincadeiras para educação infantil. Apesar disto, a educação infantil tem

apontado para uma tendência preocupante: a retirada do contexto simbólico

dos jogos e a utilização excessiva e precoce com o cumprimento de regras das

brincadeiras. É necessário que as crianças da educação infantil possam desde

cedo participar de jogos regrados, considerando entretanto que quanto mais

nova a criança, mais presente deve ser o contexto simbólico e menos o de

regras. Isto equivale a valorizar brincadeiras que tragam situações de

representação (coelho, raposa, urso, abelhas...) com regras simples. A

preocupação com a regra para as crianças de primeira infância ainda é

recente, e que esta aos poucos sendo compreendida e praticada. É o adulto

mesmo que tem colocar regras, mas respeitando a criança. Se a criança não

reconhece a regra necessária a qualquer momento ela pode desrespeitar,

gradativamente, ela vai construindo sua autonomia moral.

“O ser humano possui uma tendência lúdica ou como denominam

alguns, um “impulso parar o jogo”. O estudo mais completo sobre a

evolução do jogo na criança é de autoria de Jean Piaget, que

verificou este impulso lúdico já nos primeiros meses de vida do bebê,

na forma do jogo de exercício sensório-motor; do segundo ao sexto

ano de vida predomina sob a forma do jogo simbólico, para se

manifestar, a partir da etapa seguinte através da prática do jogo de

regras”. (Piaget, J. Op.cit., p. 148)

A atividade lúdica surge, primeiramente, sob a forma de simples

exercícios motores. Piaget diz que “quase todos os esquemas sensório-

motores dão lugar a um exercício lúdico”.

Esses exercícios motores consistem na repetição de gestos e

movimentos simples, com um valor exploratório nos primeiros meses da vida, o

bebê estica e recolhe os braços e as pernas, agira as mãos e os dedos, toca os

objetos e os sacode, produzindo ruídos ou sons. “Esses exercícios têm valor

exploratório porque a criança os realiza para explorar e exercitar os

movimentos do próprio corpo, seu ritmo, cadência e desembaraço ou então

para ver o efeito que sua ação vai produzir” (Piaget, J. A formação do símbolo

na criança, p. 185). É o caso das atividades em que a criança manipula

objetos, tocando, deslocando, superpondo, motando e desmontando.

No período entre 2 e 6 anos, o lúdico se manifesta, sob a forma de jogo

simbólico, isto é, por imaginação ou imitração. Por exemplo, um cabo de

vassoura se transforma nun cavalo, uma caixa de fósforo num pedacinho de

carro. E também no de papéis de brincar de mãe, filho, de professor, de médico

etc.

“O jogo simbólico se desenvolve a partir dos esquemas sensório-

motores que à medida que são interiorizadas, dão origem à imitação e,

posteriormente, à representação” (Piaget, J. A formação do símbolo na criança,

p. 149).

A função desse tipo de atividade lúdica, de acordo com Piaget,

“consiste em satisfazer o eu por meio de uma transformação do real

em função dos desejos: a criança que brinca de boneca refaz sua

própria vida, corrigindo-a à sua maneira, e revive todos os prazeres

ou conflitos, resolvendo-os, compensando-os, ou seja, completando a

realidade através da ficção”. (Piaget, Jean. Seis estudos de

Psicologia. Rio de Janeiro, Forense, 1969, p. 29)

Portanto, o jogo simbólico, de imaginação ou imitação, tem como função

assimilar a realidade, seja através da geração de conflitos da compensação de

necessidades não satisfeitos, ou da simples inversão de papéis. É o transporte

a um mundo de faz-de-conta, que possibilita à criança a realizações de sonhos

e fantasias, revela conflitos interiores, medos e angústias, aliviando a tensão e

as frustrações.

O jogo simbólico é, simultaneamente, uma forma de assimilação do real

e eum meio de auto-expressão, pois a medida que a criança brinca de casinha,

representando os papéis de mãe, pai e filho, ou brinca de escola, ela está ao

mesmo tempo, criando novas cenas e também imitando situações reais por ela

vivenciadas.

Froebel, que viveu de 1782 a 1852, pregava uma pedagogia da ação, e

mais particularmente do jogo. Ele dizia que a criança, para se desenvolver, não

devia apenas olhar e escutar, mas agir e produzir. Essa necessidade de

criação, de movimento, de jogo produtivo deveria encontrar seu canal de

expansão através da educação. Como a natureza da criança tende à ação, a

instrução deveria levar em conta seus interesses e suas atividades

espontâneas. Por isso, considerava que o trabalho manual, os jogos e os

brinquedos infantis tinham uma função educativa básica: é através dos jogos e

brinquedos que a criança adquire a primeira representação do mundo e é por

meio deles, também, que ela penetra no mundo das relações sociais,

desenvolvendo um senso de iniciativa e auxílio mútuo;

CONCLUSÃO

Foi de grande valor para mim a tarefa de ealborar esse trabalho. Unir a

psicomotricidade a prática educativa, foi um processo fácil e consciente de

assimilar. Pois a psicomotricidade é o canal de expansão, é o fio condutor para

o trabalho realizado com crianças na fase de educação infantil.

Psicomotricidade é um termo empregado para uma concepção de

movimento organizado e integrado, em função de experiências vividas pelo

sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua

socialização.

Não permitir que a criança vivencie seu corpo, através de jogos,

brincadeiras e vivências significativas é na verdade tirar a sua capacidade de

construir seu conhecimento.

Através desse estudo pude constatar ainda com mais certeza o valor do

jogo pedagógico como agente educativo. Guy Joacquim diz que

“o jogo é para a criança a coisa mais importante da vida. O jogo é,

nas mãos do educador, um excelente meio de formar a criança. Por

esas duas razões, todo educador – pai ou mãe, professor, dirigente

de movimento educativo – deve não só fazer jogar como utilizar a

força educativa do jogo”. (Joacquim, Guy. A educação pelo jogo. São

Paulo: Flamboyant, 1963, p. 7).

Brincando, jogando, participando do jogo de faz-de-conta, a criança vai

tendo um papel ativo no seu processo do conhecimento. A Escola não é mais a

detendora do saber o papel do educador é o iniciador e mediador da

aprendizagem, isso faz as coisas ficarem muito diferentes.

Na Educação Infantil é de suma importância as atividades lúdicas e é

por isso que se deve garantir que elas ocorram nas salas de aula, através de

uma diversidade de brincadeiras, movimentos e jogos. O resultado pode ser

observado a todo momento através dos diálogos entre as crianças, do

envolvimento nas brincadeiras de faz-de-conta e do respeito às regras

estabelecidas em jogos variados.

Brincando e jogando, a criança reproduz as suas vivências,

transformando o real de acordo com seus desejos e interesses. Por isso, pode-

se dizer que, através do brinquedo e do jogo, a criança se expressa, assimila e

constrói a sua realidade.

BIBLIOGRAFIA

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