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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA FASE PRÉ-ESCOLAR Myrian Clayse de Assis Mendes Rio de Janeiro, jan. de 2007.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA NO DESENVOLVIMENTO

DA CRIANÇA NA FASE PRÉ-ESCOLAR

Myrian Clayse de Assis Mendes

Rio de Janeiro, jan. de 2007.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA FASE PRÉ-ESCOLAR

Trabalho monográfico de conclusão do curso de pós-graduação em Psicopedagogia, apresentado à UCAM como requisito parcial para obtenção do título de licenciada em Psicopedagogia, sob a orientação do Professor Vilson Sérgio de Carvalho.

Rio de Janeiro, jan. de 2007.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao professor Vilson Sérgio de Carvalho por toda a força, carinho e estímulo durante os meses de convívio. Às minhas amigas de turma Marseille e Miriam pela amizade verdadeira. A todos os meus familiares e principalmente ao meu marido Davi Mendes.

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DEDICATÓRIA

Dedico a realização desta monografia ao professor Vilson Sérgio de Carvalho, que a tornou possível graças à sua eficiente orientação e ajuda.

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MENDES, Myrian Clayse de Assis

(RE) A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA NO DESENVOLVIMENTO DA

CRIANÇA NA FASE PRÉ-ESCOLAR

Tendo em vista o reconhecimento da brincadeira infantil como uma atividade natural e espontânea da criança, um meio pela qual ela apreende a cultura da qual faz parte, esta monografia tem como finalidade principal abordar a importância desta atividade no desenvolvimento integral da criança na fase pré-escolar, onde a metodologia abordada é a de propiciar o conhecimento na construção de uma mentalidade científica para a importância das brincadeiras lúdicas no desenvolvimento da criança, a partir da leitura de diversos autores como Brougère (2002), Winnicott (1975), Piaget (1975), Vygotsky (1998), Almeida (1984), Kishimoto (2002), entre outros, os quais vêem a brincadeira infantil como a mais autêntica atividade na vida e no desenvolvimento da criança. Outro ponto de considerável importância é demonstrar a relevância do jogo, bem como seus colaboradores na construção do conhecimento das crianças, seguindo algumas idéias propostas pelos autores citados anteriormente, por permitir a exploração do mundo exterior e interior, exercitando a socialização e desenvolvendo aspectos cognitivos e afetivos. É preciso que os educadores pensem o brincar, os jogos e as situações-problema, como sendo recursos úteis para uma aprendizagem diferenciada e significativa, reavaliando seu papel e suas atitudes, se fazendo um profissional ativo, que saiba tomar decisões e aceitar as formas de pensar de cada criança. Enfim, cabe aos educadores reconhecer e refletir sobre o papel do jogo como estratégia pedagógica, explorando seu potencial educativo e buscando assim o sucesso escolar.

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“Os professores podem guiar as crianças proporcionando-lhes os materiais apropriados, mas o essencial é que, para que uma criança entenda, deve construir ela mesma, deve reinventar. Cada vez que ensinamos algo a uma criança estamos impedindo que ela descubra por si mesma. Por outro lado, aquilo que permitimos que descubra por si mesma, permanecerá com ela”.

Jean Piaget

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SUMÁRIO

Resumo iv

Epígrafe v

INTRODUÇÃO 01

Capítulo I – TEORIAS SOBRE A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA INFANTIL NO

PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA 04

1.1 – Algumas Considerações sobre o Brincar e o Desenvolvimento Infantil 04

Capítulo II – O ASPECTO AFETIVO DA BRINCADEIRA 11

2.1 – A Relação entre a Criança, o Brinquedo e o Adulto 11

2.2 – Como podemos ajudar a criança a brincar 13

2.3 – Os benefícios do método lúdico 14

2.3.1 – Estimular os sentidos 15

2.3.2 – Desenvolvimento motor 15

2.3.3 – Desenvolvimento intelectual 15

2.3.4 – Desenvolvimento afetivo e emocional 15

2.3.5 – Desenvolvimento social 16

Capítulo III – BRINCAR, UMA NECESSIDADE DE TODA CRIANÇA 17

3.1 – Brincadeiras Lúdicas 17

3.1.1 – Brincar com os outros favorecendo a integração social

com o grupo 17

3.2 – Brincadeiras Cooperativas 18

3.2.1 – Cooperação Complexa 19

3.3 – Brincadeira de Faz-de-Conta 21

3.4 – Brincadeira de Super-Herói 22

3.5 – Brincadeira com Sucata 23

3.6 – A Importância dos Jogos e Brincadeiras na Educação Atual 25

CONCLUSÃO 27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 31

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INTRODUÇÃO

Com o passar dos anos, observou-se a eficácia do aprendizado

através das brincadeiras. As crianças têm a capacidade de absorver melhor e

mais rápido algo que tenha significado para elas e para o seu universo, pois a

brincadeira faz parte da essência da criança e por isso precisa ser adaptada de

forma mais efetiva ao currículo da Educação Infantil.

A brincadeira é uma forma de divertimento típico da infância, isto é,

uma atividade natural da criança, que não implica em compromisso,

planejamento ou seriedade e que envolve comportamentos espontâneos e

geradores de prazer. Ela é transmitida à criança através de seus próprios

familiares, de forma expressiva, de uma geração à outra, ou pode ser

aprendida pela criança de forma espontânea.

A escolha do tema consistiu em uma postura pedagógica, com uma

visão educacional voltada para as necessidades e características da criança

que se encontra em idade pré-escolar, uma conscientização de que através da

brincadeira a criança interage com o mundo, percebendo e assimilando o

ambiente no qual está inserido.

Este trabalho abordou as brincadeiras e os jogos infantis, fator

fundamental ao desenvolvimento das aptidões físicas e mentais da criança,

sendo um agente facilitador para que esta estabeleça vínculos sociais com os

seus semelhantes, descubra sua personalidade, aprenda a viver em sociedade

e prepare-se para as funções que assumirá na idade adulta.

A brincadeira e os jogos são fundamentais no desenvolvimento da

criança, pois brincando ela tem a oportunidade de descobrir, aprender,

inventar, desenvolver habilidades, além de estimular a curiosidade, a

autoconfiança e a autonomia, que lhe serão exigidas na vida adulta.

O brincar dá à criança a oportunidade de formular e resolver seus

problemas, através de experiências anteriores, levando-a a examinar novos

materiais e recursos. É com a exploração e com esforços mentais da criança

em observar, testar e experimentar que o domínio será atingido.

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As brincadeiras e os jogos servem para simular situações de trocas

que se estabelecem durante toda a vida entre o indivíduo e o meio no qual está

inserido. Portanto podemos dizer que as trocas que ocorrem no período da

infância são uma aprendizagem necessária para a vida adulta do indivíduo.

Essencialmente, para a criança em idade pré-escolar, a brincadeira

é a coisa mais importante do mundo, tão necessária ao seu desenvolvimento

quanto o alimento e o descanso, por isso é muito importante que a escola

compreenda a sua importância e utilize os jogos infantis para favorecer a

evolução dos processos de desenvolvimento afetivo e cognitivo da criança.

O ato de brincar é o meio pelo qual a criança trava conhecimento

com o mundo e adapta-se ao que a rodeia. Por isso quando a criança chega à

escola é preciso não toler a sua criatividade, suas dúvidas, incertezas e

questionamentos. É preciso entender o processo de construção do seu

desenvolvimento cognitivo, a fim de que recursos lúdicos favoreçam a

aprendizagem dos alunos.

A escola, por sua vez, recebe as crianças com algumas deficiências

no processo do seu desenvolvimento e com dificuldades de relacionamento

com o grupo e cabe ao professor identificar as necessidades e procurar saná-

las através das brincadeiras. Para isto os professores devem aproveitar todas

as manifestações que as crianças exprimem naturalmente, e suas alegrias e

tristezas, e tentar direcioná-las educacionalmente, objetivando a integração

com o grupo.

As situações problemas contidas na manipulação dos jogos e

brincadeiras fazem a criança crescer através da procura de soluções e de

alternativas. Enquanto a criança brinca alcança níveis de desempenho

psicomotor que só são possíveis devido à motivação da própria brincadeira. Ao

mesmo tempo favorece a concentração, a atenção, o engajamento e a

imaginação. Como conseqüência a criança fica mais calma, relaxada e

aprende a pensar, estimulando sua inteligência.

Para que o brinquedo seja significativo para a criança é preciso que

tenha pontos de contato com a sua realidade. Através da observação do

desempenho das crianças com seus brinquedos podemos avaliar o nível de

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seu desenvolvimento motor e cognitivo. No lúdico manifestam-se suas

potencialidades e ao observá-las poderemos enriquecer sua aprendizagem,

fornecendo através dos brinquedos os nutrientes necessários ao seu

desenvolvimento.

Assim sendo, o presente trabalho abordou as contribuições teóricas

sobre o brincar como instrumento útil para favorecer o aprendizado da criança,

bem como o aspecto afetivo da brincadeira e as mais variadas brincadeiras

lúdicas. Isso se deu através dos três capítulos.

No primeiro capítulo pretendeu-se expor algumas considerações

sobre o brincar e o desenvolvimento infantil na ótica de alguns autores,

contrapondo os mais diversos pontos de vista, entendendo como a brincadeira

pode facilitar a aprendizagem da criança.

Já no segundo capítulo comentou-se sobre o aspecto afetivo da

brincadeira e como a fase da infância é uma das etapas mais importantes no

desenvolvimento social, afetivo e cognitivo, sendo assim uma preparação para

a vida adulta.

No terceiro capítulo tratou-se da brincadeira como uma necessidade

de toda criança, além de abordar algumas das brincadeiras lúdicas que são

úteis para favorecer a integração social da criança, a fim de adaptá-la melhor

ao ambiente no qual está inserida.

A conclusão ressalta que é importante que os educadores e

psicopedagogos estejam atentos aos recursos lúdicos e sua utilização como

meio de minimizar as dificuldades de aprendizagem.

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CAPÍTULO I TEORIAS SOBRE A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA INFANTIL NO

PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

Quando se discute o uso de jogos na educação, aparecem duas

correntes: há autores que destacam sua importância e outros ressaltam seus

limites e cuidados.

É importante essa ressalva, pois no contexto educativo o jogo deve ser

usado de maneira justa para que não venha a substituir a realidade.

1.1 – Algumas Considerações Sobre o Brincar e o

Desenvolvimento Infantil

É importante observarmos a definição do que é aprender, jogo e

brincadeira. Segundo o Aurélio (1999): “Aprender: tomar conhecimento de.

Tornar-se apto ou capaz de alguma coisa, em conseqüência de estudo,

observação, experiência, etc”. “Jogo: uma atividade física ou mental

organizada que por um sistema de regras definem quem perde ou ganha”.

“Brincadeira: passatempo, entretenimento”.

Destacamos alguns autores e suas posições sobre a importância dos

jogos e brincadeiras na vida do ser humano.

Em Huizinga (1977) encontramos a expressão homo ludens para

demonstrar que na vida humana além da capacidade de raciocinar há uma

outra função importante que é o jogo, o qual se faz presente também entre os

animais. Para este autor, o jogo é considerado um fenômeno cultural,

reiterando que é no jogo e pelo jogo que a civilização surge e se desenvolve.

Fica claro que Huizinga emprega também o termo jogo como sinônimo de

brincadeira no sentido que aqui damos ao termo.

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Brougère (2002) atribui à brincadeira o resultado de relações

interindividuais, a qual pressupõe uma aprendizagem social, o que quer dizer

que a brincadeira é uma atividade aprendida, complementando “brincar não é

uma dinâmica interna do indivíduo, mas uma atividade dotada de uma

significação social precisa que, como outras, necessita de aprendizagem”.

(Brougère, 2002, p.20)

Château (1987) vê no jogo a expressão do buscar o outro e, em

especial, a expressão do buscar o adulto, a quem a criança procura imitar,

salientando que “[...] por não poder trabalhar com o adulto a criança vai

primeiramente imitar as atividades. É por isso que nos jogos de imitação tão

freqüentes entre 3 e 7 anos, as cenas imitadas são quase unicamente as da

vida adulta”. (Château,1987, p. 37)

Segundo a visão psicanalítica do jogo, Winnicott (1975), diz que a

brincadeira fornece a organização das relações emocionais proporcionando o

desenvolvimento de contatos sociais, e assume a função de elo entre a relação

do indivíduo com a realidade interior, e entre o indivíduo e a realidade externa.

Foi a partir da primeira metade do século XX que as brincadeiras

passaram a ser também objeto de estudo entre os teóricos que dedicaram suas

pesquisas às representações mentais. Surgem então as contribuições teóricas

de autores como Piaget, Vygotsky, Leontiev e Elkonin, que mostram a

importância e o valor das brincadeiras no desenvolvimento infantil e na

aquisição de conhecimentos. As pesquisas desses cientistas influenciaram

diretamente o campo educacional e até hoje suas ilustres contribuições fazem

parte das atividades curriculares das escolas e de outras pesquisas na área.

Piaget (1975), através dos processos de assimilação e acomodação,

propôs uma análise de como o jogo se processa ao longo do desenvolvimento

da criança, realizando uma classificação baseada na evolução das estruturas

mentais que estão ligadas aos estágios de desenvolvimento da criança:

sensório-motor (0 a 2 anos), pré-operatório (2 a 7 anos), operatório concreto (7

a 11 anos) e formal (11 a 15 anos), traçando um paralelo entre o aparecimento

desses estágios de desenvolvimento e dos jogos.

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De acordo com Piaget (1975), ao longo do desenvolvimento da criança

ocorrem três formas de jogos: os jogos de exercícios, os jogos simbólicos e os

jogos de regras.

O jogo de exercício é o primeiro a aparecer no desenvolvimento da

criança, prolongando-se até os primeiros dezoito meses de vida. São jogos que

não supõem qualquer técnica em particular, são apenas exercícios que

implicam no próprio prazer e funcionamento dos gestos. No jogo de exercício

não está suposto o pensamento, nem qualquer estrutura representativa

especificamente lúdica, são jogos que implicam basicamente atividades

motoras de repetição de gestos e movimentos. Através desses jogos

acontecem os primeiros contatos da criança com os objetos, com as pessoas e

com o mundo ao seu redor.

Já o jogo simbólico surge na criança a partir do segundo ano de vida

juntamente com o aparecimento da linguagem e da representação, quando a

criança começa a substituir um objeto ausente por outro. A função do jogo

simbólico para a criança consiste em assimilar a realidade, ou seja, através da

situação imaginária a criança realiza sonhos, revela conflitos e se auto-

expressa, reproduzindo diversos papéis, imitando situações da vida real.

Finalmente, por volta dos 4 aos 7 anos surgem as primeiras

manifestações dos jogos com regras, que se desenvolverão ainda mais dos 7

aos 12 anos, e até mesmo na vida futura. Nessa fase, a criança perde

progressivamente o egocentrismo inicial que vai sendo substituído por um

cooperativismo, tornando sua atividade mais socializada. Para Piaget (1975):

[...] “os jogos de regras são jogos de combinações sensório-motoras (corridas, jogos de bola de gude ou com bolas etc.) ou intelectuais (cartas, xadrez etc.), com competição dos indivíduos (sem o que a regra seria inútil) e regulamentados quer por um código transmitido de gerações em gerações, quer por acordos momentâneos”. (Piaget, 1975, p.84)

Para Vygotsky (1998) e Leontiev (1998), o brinquedo tem intrínseca

relação com o desenvolvimento infantil, especialmente na idade pré-escolar.

Embora os autores não o considerem como o único aspecto predominante na

infância, é o brinquedo que proporciona o maior avanço na capacidade

cognitiva da criança. É por meio do brinquedo que a criança se apropria do

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mundo real, domina conhecimentos, se relaciona e se integra culturalmente. Ao

brincar e criar uma situação imaginária, a criança pode assumir diferentes

papéis: ela pode se tornar um adulto, outra criança, um animal ou um herói

televisivo; ela pode mudar o seu comportamento e agir e se comportar como se

fosse mais velha do que realmente é, pois ao representar o papel de “mãe” ela

irá seguir as regras de comportamento maternal, porque agora ela pode ser a

“mãe”, e procura agir como uma mãe age. É no brinquedo que a criança

consegue ir além do seu comportamento habitual, atuando num nível superior

ao que ela realmente se encontra.

No entender de Vygotsky (1998) é no brinquedo que a criança aprende

a agir numa esfera cognitiva que depende de motivações internas. Para uma

criança muito pequena os objetos têm força motivadora, determinando o curso

de sua ação, já na situação de brinquedo os objetos perdem essa força

motivadora e a criança, quando vê o objeto, consegue agir de forma diferente

em relação ao que vê, pois ocorre uma diferenciação entre os campos do

significado e da visão, e o pensamento que antes era determinado pelos

objetos do exterior, passa a ser determinado pelas idéias. A criança pode, por

exemplo, utilizar um palito de madeira como uma seringa, folhas de árvore

como dinheiro, enfim, ela pode utilizar diversos materiais que venham a

representar uma outra realidade.

Numa situação de brinquedo a imaginação da criança é, segundo

Vygotsky (1998), uma atividade especificamente humana e consciente, que

surge da ação. Em suas ações, a criança representa situações as quais já

foram de alguma forma vivenciadas por ela em seu meio sócio-cultural, ou seja,

a sua representação no brinquedo está muito mais próxima de uma lembrança

de algo que já tenha acontecido do que da pura imaginação.

De acordo com Leontiev (1998), o brinquedo surge na criança no início

da idade pré-escolar, no momento em que ela sente a necessidade de agir não

apenas com os objetos que fazem parte de seu ambiente físico e que são

acessíveis a ela, mas com objetos a que ela ainda não tem acesso, e que são

objetos pertencentes ao mundo dos adultos. Para superar essa necessidade a

criança brinca, e durante a atividade lúdica ela vai compreendendo à sua

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maneira o que faz parte desse mundo, esforçando-se para agir como um

adulto. A contradição existente entre a necessidade da criança agir com os

objetos do mundo adulto e a impossibilidade de operar de acordo com tais

ações, vem a ser solucionada pela criança através de suas brincadeiras. É na

atividade e, sobretudo, no brinquedo que a criança supera os limites da

manipulação dos objetos que a cercam e se insere num mundo mais amplo.

Para Leontiev (1998), o brinquedo é a atividade principal da criança,

aquela em conexão com a qual ocorrem as mais significativas mudanças no

desenvolvimento psíquico do sujeito e na qual se desenvolvem os processos

psicológicos que preparam o caminho da transição da criança em direção a um

novo e mais elevado nível de desenvolvimento.

De acordo com Almeida (1984):

”É na fase pré-escolar que o brinquedo torna-se a atividade principal na criança, a qual se caracteriza como uma atividade cujo motivo reside no próprio processo e não no resultado da ação. A atividade da criança não a conduz a um resultado de modo que satisfaça suas reais necessidades. O motivo que a conduz a determinada ação é, na verdade, o conteúdo do processo real da atividade. Como um exemplo disso, podemos citar uma criança construindo com pequenos blocos de madeira. O alvo da brincadeira não consiste em chegar a um resultado final como montar uma pequena cidade com todos os detalhes que a caracterizam como tal, e sim no próprio conteúdo da ação, no “fazer” da atividade”. (Almeida, 1984, p. 39)

O prazer também pode ser reconhecido como um elemento presente

na maioria dos brinquedos. Entretanto, para Vygotsky (1998), o brinquedo não

pode ser definido somente pelo prazer que a atividade lúdica dá à criança, pois

a criança pode ter mais prazer em outras atividades e porque, algumas vezes,

o brinquedo envolve desprazer. O autor afirma também que uma brincadeira

que interessa a uma criança de três anos pode não despertar nenhum

interesse a uma criança de seis anos ou mais; isso ocorre porque a brincadeira

não é uma atividade estática, ela evolui e se modifica à medida que a criança

cresce.

Outro aspecto importante a ser examinado na brincadeira infantil e sua

função no desenvolvimento da criança é o conceito de “zona de

desenvolvimento proximal”, ou “zona de desenvolvimento imediato”. Vygotsky

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(1998), afirma que o brinquedo cria na criança uma zona de desenvolvimento

proximal, que é por ele definida como:

[...] ”a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes”. (Vygotsky, 1998, p.85)

Para esse autor, o nível de desenvolvimento real refere-se a tudo

aquilo que a criança já tem consolidado em seu desenvolvimento, e que ela é

capaz de realizar sozinha sem a interferência de um adulto ou de uma criança

mais experiente. Já a “zona de desenvolvimento proximal” refere-se aos

processos mentais que estão em construção na criança, ou que ainda não

amadureceram. A “zona de desenvolvimento proximal” é, pois, um domínio

psicológico em constantes transformações, aquilo que a criança é capaz de

fazer com a ajuda de alguém hoje, ela conseguirá fazer sozinha amanhã. É

nesse sentido que a brincadeira pode ser considerada um excelente recurso a

ser usado quando a criança chega na escola, por ser parte essencial de sua

natureza, podendo favorecer tanto aqueles processos que estão em formação,

como outros que serão completados.

Visto dessa forma, não há dúvidas do quanto o brinquedo influencia o

desenvolvimento da criança. Ainda que não seja o aspecto predominante na

infância, é através dele que a criança obtém as suas maiores aquisições.

A brincadeira de faz-de-conta também foi tema de valiosos estudos do

autor russo Elkonin (1998). Para este autor, a base do jogo de faz-de-conta,

também denominado por ele de jogo de papéis ou jogo protagonizado, é de

natureza e origem social, tornando-se um meio pelo qual a criança assimila e

recria a experiência sócio-cultural dos adultos. Para ele, os temas dos jogos

das crianças são extremamente variados e são o reflexo das condições

concretas vivenciadas pelas crianças.

É indispensável que a criança sinta-se atraída pelo brinquedo e cabe a

nós mostrar a ela as possibilidades de exploração que ele oferece, dando-lhe

tempo para observar e motivar-se.

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A criança deve explorar livremente o brinquedo, mesmo que a

exploração não seja a que esperávamos. Não cabe a nós, pais e educadores,

interromper o pensamento da criança ou atrapalhar a simbolização que está

fazendo. Devemos nos limitar a sugerir, a estimular, a explicar, sem impor

nossa forma de agir, para que a criança aprenda descobrindo e

compreendendo, e não por simples imitação. A participação do adulto é para

ouvir, motivá-la a falar, pensar e inventar.

Segundo Maranhão (2003):

”Brincando a criança desenvolve seu senso de companheirismo. Jogando com amigos, aprende a conviver, ganhando ou perdendo, procurando aprender regras e conseguir uma participação satisfatória. No jogo, ela aprende a aceitar regras, esperar sua vez, aceitar o resultado, lidar com frustrações e elevar o nível de motivação. Nas dramatizações, a criança vive personagens diferentes, ampliando sua compreensão sobre os diferentes papéis e relacionamentos humanos”. (Maranhão, 2003, p.47)

As relações cognitivas e afetivas da interação lúdica propiciam

amadurecimento emocional e vão pouco a pouco construindo a sociabilidade

infantil. O momento em que a criança está absorvida pelo brinquedo é um

momento mágico e precioso, em que está sendo exercitada a capacidade de

observar e manter a atenção concentrada e que irá influenciar na sua eficiência

e produtividade quando adulto.

A participação do adulto na brincadeira da criança eleva o nível de

interesse, enriquece e contribui para o esclarecimento de dúvidas durante o

jogo. Ao mesmo tempo, a criança sente-se prestigiada e desafiada,

descobrindo e vivendo experiências que tornam o brinquedo um recurso mais

estimulante e mais rico em aprendizado.

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CAPÍTULO II

O ASPECTO AFETIVO DA BRINCADEIRA

2.1 – A relação entre a criança, o brinquedo e o adulto

As crianças aprendem o tempo todo, mas não necessariamente aquilo

que os pais ou professores tentam ensinar-lhes de forma intencional. A relação

de ensino-aprendizagem nem sempre é linear, direta, pois nem tudo que se

ensina se aprende e às vezes elas causam surpresa com coisas que não se

pretendia ensinar.

As crianças absorvem aquilo que tem a ver com elas e se interessam

por algo que lhes dá prazer, desta forma ao brincar elas se apropriam do

conhecimento, que se torna significativo e capaz de permanecer nelas por toda

a vida.

Os brinquedos e as brincadeiras ocupam um papel importante nas

vidas das crianças. Brincar é a principal atividade na infância na qual as

crianças, sem dúvida, empenham a maior parte do seu tempo. A brincadeira é

um impulso que desde pequenos nos estimula a descobrir, manipular, observar

e interpretar o mundo que nos rodeia.

É interessante notar que a brincadeira faz parte da essência natural da

criança, pois nenhuma criança é ensinada a brincar, ela por si só desde os

seus primeiros anos de vida já começa a brincar com os objetos, com os

adultos. É algo tão espontâneo que aos poucos esse processo vai

amadurecendo a criança e mais tarde ela já começa a brincar com outras

crianças.

A fase da infância é uma das etapas mais importantes na vida de uma

pessoa. É o momento da descontração, da brincadeira, da total falta de

compromisso com a sociedade, da alegria, do divertimento, enfim de tudo é

natural da criança, mas também é o momento de formação da sua

personalidade, autonomia, autoconfiança, auto-estima, entre outros, por isso é

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uma fase que deve ser bem estruturada por parte da família e bem acolhida

pela escola de uma maneira bem cuidadosa, com o objetivo de garantir que a

escola seja realmente um lugar de alegria e ideal para favorecer o aprendizado

da criança.

Para Moyles (2002):

”Se faz necessário que os professores repensem sua prática, quando esta considera mais importantes os exercícios de lápis e papel, desprezando ou negligenciando o brincar. Com isto as oportunidades e habilidades infantis de solucionar problemas práticos permanecerão limitadas ou mesmo inexistentes. Estas oportunidades existem constantemente, sendo preciso que os adultos envolvidos as reconheçam e pensem em como aproveitá-las”. (Moyles, 2002, p. 34)

O aspecto afetivo tem uma profunda influência sobre o

desenvolvimento intelectual da criança. Ele pode acelerar ou diminuir o ritmo

de desenvolvimento. Segundo Piaget (1975), o desenvolvimento intelectual tem

dois componentes paralelos: um cognitivo e outro afetivo. Afeto inclui

sentimentos, desejos, interesses, tendências, valores e emoções em geral e

apresenta várias dimensões, incluindo os sentimentos de amor, raiva,

depressão, etc. e expressões como sorrisos, gritos, lágrimas, etc.

O afeto é o princípio norteador da auto-estima. Atendendo as

necessidades afetivas das crianças, a aprendizagem acontecerá naturalmente.

Na ótica de Cury (2003): “o que gera os vínculos inconscientes não é

só o que você diz a eles, mas também o que eles vêem em você”. (Cury, 2003,

p.23)

A criança que se sente aceita, amada e respeitada, adquire autonomia,

confiança e aprende a amar, desenvolvendo um sentimento de autovalorização

e importância. A auto-estima é uma coisa que se aprende. Se uma criança tem

uma opinião positiva sobre si mesma e sobre os outros, terá maiores condições

de aprender.

Nas brincadeiras das crianças o adulto tem um papel fundamental de

facilitar as condições necessárias para que a brincadeira se desenrole de forma

natural e espontânea. As crianças precisam ter à sua disposição cenários de

brincadeira adequados que convidem à descoberta e à imaginação.

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É importante que as crianças tenham amigos e amigas para

compartilhar as brincadeiras e momentos ao ar livre para proporcionar o

contato com o ambiente físico, além de contar com a participação dos adultos,

que deverão favorecer a alegria e a troca de experiências.

2.2 Como podemos ajudar a criança a brincar

Sendo parte da essência da criança, a brincadeira deve ser incentivada

e trabalhada de forma mais efetiva dentro das escolas.

O jogo dá à criança ou adolescente a oportunidade de se desenvolver

e enfrentar situações problemas que certamente mais tarde como adulto terá

que enfrentar no seu dia-a-dia.

As situações problemas contidas na manipulação dos jogos e

brincadeiras fazem a criança crescer enquanto exercita a procura de soluções

e alternativas.

De acordo com Almeida (1984):

”O brinquedo é a oportunidade de desenvolvimento. Brincando a criança descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração e atenção”. (Almeida, 1984, p.25)

Por isso é essencial que os educadores tenham consciência da

importância de ensinar utilizando os recursos dos jogos e brincadeiras lúdicas,

oferecendo aos alunos uma aula e um conteúdo mais dinâmico, explorando os

conhecimentos científicos formais, aliados à informalidade das brincadeiras

lúdicas e jogos didáticos.

Os jogos são tão importantes que ensinam a criança a entender a si

mesma, e também a compreender o seu papel dentro de uma sociedade, pois

é de pequeno que começam as primeiras noções de regras sociais que irão ser

ensinadas e posteriormente cobradas pela escola, pela família e pela

sociedade.

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Ensinar usando jogos e brincadeiras é muito interessante, pois a

criança tem a sensação de que está apenas brincando, e ao brincar surgem

inúmeras reações de imaginação, alegria, contentamento, confronto de

opiniões, às vezes choro, raiva, entre outras. Essa intensa relação com o

objeto, ambiente e com os amiguinhos produz uma troca de informações que

acabam produzindo o aprendizado mais significativo para a criança.

Os jogos são utilizados desde o tempo antigo e até hoje continuam

sendo utilizados como recurso para o desenvolvimento motor, cognitivo,

lingüístico, emocional e afetivo da criança.

O lúdico faz parte essencialmente da vida de todas as pessoas, umas

com mais e outras com menos intensidade, e através dos jogos é possível

ensinar a criança a viver e a se comportar socialmente, garantindo-lhe atitudes

de respeito mútuo, cidadania, respeito às diferenças, integridade, etc.

Para ensinar com jogos é necessário que o professor compreenda bem

o mesmo e saiba escolher os jogos de acordo com a faixa etária adequada e o

amadurecimento cognitivo dos seus alunos, para proporcionar o interesse e o

aproveitamento da turma. É essencial também fazer uma avaliação sobre a

atividade proposta através do jogo, para verificar se este realmente atingiu o

seu objetivo.

Faz-se necessário que os educadores possam cada vez mais se

aprimorar no sentido de ensinar usando as brincadeiras e os jogos, para que o

aluno tenha prazer em aprender e alegria em participar das atividades

escolares, garantindo um aprendizado significativo para as nossas crianças.

2.3 Os benefícios do método lúdico

As brincadeiras e os brinquedos devem ser atrativos e estimulantes,

devendo permitir que a criança desenvolva brincadeiras ricas e versáteis,

permitindo desenvolver as diferentes facetas da sua personalidade.

Embora, as brincadeiras e os brinquedos estimulem o desenvolvimento

global das crianças, cabe-nos destacar o papel de alguns brinquedos em áreas

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concretas do desenvolvimento, como a motricidade, a sensibilidade ou o

intelecto.

2.3.1 Estimular os sentidos

Brinquedos como os móbiles, os caleidoscópios, os jogos de modelar

convidam ao desenvolvimento dos sentidos e favorecem o descobrimento e o

gozo de novas sensações.

Estes tipos de brinquedos facilitam o conhecimento e domínio do

próprio corpo e estimulam a criança desde nova a entrar em contato com o

mundo ao seu redor.

2.3.2 Desenvolvimento motor

Existem brinquedos que constituem uma forma fascinante de dominar o

próprio corpo, ganhando agilidade, coordenação e equilíbrio, tais como

brinquedos de arrastar, de corrida, patins, skate, etc. Esses brinquedos

estimulam o desenvolvimento motor da criança.

2.3.3 Desenvolvimento intelectual

Incluem-se os jogos de mesa, quebra-cabeças, etc., brinquedos que

estimulam o raciocínio, a concentração e o domínio da linguagem. Já os jogos

de construção geram estímulos divertidos para a imaginação e a criatividade.

Em situações de aprendizagem, o jogo é um excelente recurso que, de

uma forma atrativa, animam as crianças a familiarizarem-se com conteúdos

mais formais como por exemplo, as letras e os números.

2.3.4 Desenvolvimento afetivo e emocional

As marionetes, as bonecas ou figuras de heróis de ação promovem a

expressão e manifestação de sentimentos, desejos, medos e emoções.

As crianças gostam de ser postas à prova. Os desafios que lhes são

propostos nas brincadeiras, os disfarces e as representações em miniatura de

elementos do mundo real (carros, lojas, cozinhas) permitem representar e

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imaginar diversas situações do mundo dos adultos experimentando diferentes

papéis que as ajudarão a caracterizar a sua própria identidade.

2.3.5 Desenvolvimento social

Os jogos que favorecem as relações entre as pessoas e a participação

de mais de um jogador ajudam as crianças a relacionar-se com os demais e a

se comunicar, favorecendo a troca de idéias, materiais e experiências.

Jogos que usam regras pré-estabelecidas pelos participantes, como os

jogos de mesa, os desportivos e as brincadeiras que envolvem imitações,

facilitam a familiarização com normas sociais, o respeito aos outros e a

aceitação de acordos, que são aspectos básicos nas relações sociais.

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CAPÍTULO III

BRINCAR, UMA NECESSIDADE DE TODA CRIANÇA

3.1 - Brincadeiras Lúdicas

Uma modificação muito grande acontece quando a criança passa a

mostrar interesse nas atividades de outras crianças. No início, tal interesse

parecerá bastante passivo, e a criança vai gastar boa parte do tempo

observando as brincadeiras. Pode-se notar, porém, que esse comportamento

será bem diferente de uma olhada sem compromisso, pois a criança estará

obviamente envolvida, muito absorvida em sua observação, e com o tempo vai

tentar integrar-se ao grupo.

3.1.1 – Brincar com os outros favorecendo a integração social com

o grupo

Os primeiros movimentos em direção a juntar-se às brincadeiras de um

grupo tanto podem ser tranqüilos quanto tempestuosos; isto depende do grupo

em questão e da criança que pretende juntar-se. Seja como for, os

relacionamentos no interior do grupo tendem a se formar rapidamente, talvez

cessar com a mesma rapidez e, freqüentemente, se refazer minutos depois.

Existem dois tipos característicos de brincadeiras nessa fase:

O primeiro tipo envolve fazer o que todos estão fazendo, apenas para

não ser diferente, ou talvez como um meio de tornar-se um membro do grupo.

É o que pode acontecer, por exemplo, quando um pequeno grupo de crianças

está correndo juntas, gritando qualquer coisa.

O segundo tipo surge quando membros do grupo estão engajados

numa mesma atividade, como, por exemplo, desenhando ou montando um

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quebra-cabeça em volta de uma mesa, tendo, porém, como principal interesse

conversar entre si.

O assunto da conversa pode afastar-se completamente da atividade

que esteja sendo desenvolvida e incluir a troca de informações sobre os pais,

os acontecimentos especiais como aniversários e passeios. A atividade em si

pode ser mencionada na conversa, mas outra vez ocorrerá em uma situação

mais ampla, relacionada com o que as crianças gostam ou não gostam, ou

sobre o que cada uma está fazendo.

3.2 – Brincadeiras Cooperativas

Na brincadeira cooperativa é muito importante pertencer ao grupo. Em

algum momento, o interesse do grupo se desvia da troca de idéias para o jogo

no qual está envolvido. No grupo a criança tem um lugar definido, bastante

diferente daquele decorrente da atividade individual que caracteriza as

brincadeiras solitárias ou em paralelo (com mais uma ou duas crianças no

máximo), e diferente até da simples socialização que é característica do

processo de se juntar a um grupo (cooperação simples). Brincadeiras

cooperativas podem constituir, simplesmente, a atividade conjunta de montar

objetos com peças de encaixe, ou fazer castelos de areia. A criança toma parte

em atividades compartilhadas, fazendo as mesmas coisas, divide brinquedos,

espera a sua vez, trabalha com os outros. A conversa é principalmente em

torno da própria atividade.

As brincadeiras e os jogos cooperativos podem produzir na criança

alegrias e momentos de desafios pessoais e sociais, pois todos os

participantes buscam alcançar um objetivo comum que favoreça um resultado

onde todos os integrantes sejam igualmente qualificados. Já as brincadeiras e

os jogos competitivos produzem na criança prazer de jogar contra o outro. A

vida é um verdadeiro jogo e em nossa sociedade depara-se com algumas

surpresas que necessitarão de algumas jogadas de inteligência, dinamismo,

cooperação, criatividade, respeito mútuo, organização, determinação, entre

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outras, pois o ser humano está inserido num grande contexto social, que requer

competidores preparados para as demandas que a sociedade necessita e

busca no ser humano.

Os jogos e brincadeiras com estilo competitivo, são jogos em que todos

os participantes buscam alcançar os seus objetivos pessoais, articulando suas

jogadas com o objetivo de minimizar as jogadas dos outros competidores. É a

busca de um melhor resultado, sem se importar com os outros.

Embora o mundo atual seja extremamente competitivo, a cooperação

entre as pessoas ainda é muito forte; existe a preocupação com o outro, a

disposição em ajudar ainda que seja com pouco, repartir com quem tem mais

necessidade. O sentimento social ainda é capaz de mobilizar as pessoas,

embora tente se impor que a competição é fato predominante no ser humano.

A competição tem seus aspectos positivos e negativos. Positivos

quando causam bem-estar entre todos que competem, produzindo a

socialização entre os que compõem o grupo, a auto-confiança, habilidades

cognitivas, etc. Negativos quando causam sentimentos de inferioridade,

síndrome da perda. Há pessoas que não sabem e nem aceitam perder,

achando-se superiores aos outros. Por isso toda competição deve ser saudável

e não deve produzir exageros extremos, tornando-se algo prazeroso,

desenvolvendo a criatividade natural do ser humano. Este processo se inicia na

infância e dura por toda a vida do indivíduo. Por esse motivo a aprendizagem

cooperativa é algo muito importante que precisa ser incentivada por parte das

instituições escolares, pois a cooperação entre os alunos é algo saudável, que

promove a troca de experiências entre todos os envolvidos, na busca por um

objetivo comum, promovendo a socialização e integração de grupos

extremamente diversificados.

3.2.1 – Cooperação Complexa

Nesse tipo de brincadeira as crianças assumem papéis, esperam a

vez, e toda a atividade depende mais do desempenho conjunto do grupo.

A criança brinca de faz-de-conta, assume um papel e o representa.

Participa também de jogos com regras complexas. Certas brincadeiras, como

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imitar papai e mamãe, por exemplo, podem durar vários dias ou semanas, com

graus variáveis de elaboração e com interrupções causadas por outros

interesses. A conversa gira principalmente em torno dos papéis representados.

À medida que cresce, a criança vai incluindo mais tipos de brincadeiras

em suas atividades. Assim, aos dois anos ela não é capaz de brincar

cooperativamente, mas aos quatro já consegue.

As brincadeiras sociais vão se desenvolvendo à proporção em que a

criança descobre como se comunicar com as outras, usando a palavra. De um

modo geral, somente aos dois anos ela começa a se interessar em observar

outras crianças brincando, e até tentar brincar junto. Mas sempre estas

crianças são suas rivais, e quando encontra problemas, procura a mãe. Aos

três anos ela começa a brincar mais com outras crianças, fica feliz em ser

aceita em um grupo. A partir dos quatro anos participa de jogos de faz-de-

conta, além de brincar de forma cooperativa simples, em paralelo ou solitária.

Nessa idade a criança gosta de todos os tipos de atividade.

Observando as brincadeiras das crianças, vamos notar o

desenvolvimento e as mudanças em seus interesses e nos padrões de seu

relacionamento social. Tal compreensão tem a vantagem adicional de nos

ajudar a lidar com crianças pequenas. Por exemplo, sabemos que uma festa de

aniversário com muitas crianças de dois anos de idade não terá o sucesso

desejado. Já aos três anos enquanto algumas crianças estão prontas para

participar de brincadeiras de grupo, outras ainda se encontram no estágio

solitário ou em paralelo (quando a criança brinca com uma ou duas crianças).

A maior parte das crianças que brinca sozinha, leva mais tempo para

atravessar diversos estágios de aprender a brincar em grupo. Nunca devemos

forçar uma criança a participar de brincadeiras em grupo se ela não quiser; é

perfeitamente possível que ela não saiba como fazer isto, por ainda não estar

preparada.

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3.3 – Brincadeira de Faz-de-Conta

Até algum tempo atrás, quando víamos uma criança brincando em um

mundo da fantasia, acreditava-se que ela não estava fazendo nada de sério,

estando fora da realidade. Hoje esta visão tem mudado, vários estudos têm

apontado a importância da brincadeira para o desenvolvimento psicológico do

indivíduo, utilizando meios comportamentais retirados de suas experiências

vividas em cada período de sua vida.

É através da brincadeira de faz-de-conta que as crianças estão

construindo e compartilhando significados. Para Wallon (2000): “O intercâmbio

que a criança estabelece com o meio social implica processos históricos da

humanidade e ajuda o espaço psíquico a incluir necessidades e desejos,

direcionando a construção de uma vida de representações”.(Wallon, 2000, p.

96)

A seguir citamos algumas características da brincadeira de faz-de-

conta, segundo Oliveira (2000):

a) Transforma os objetos em outra coisa que não é a realidade do

objeto – Exemplo: uma criança, com uma peça de plástico na mão

brinca como se fosse um microfone;

b) Representa personagens (mãe, pai, filho, etc.), desenvolvendo

regras a serem seguidas pelos participantes da brincadeira;

c) Representa animais, assumindo com o uso do corpo as

características do animal – Exemplo: imitar o leão, andando,

rugindo, etc;

d) Trata objetos inanimados como animados – Exemplo: a vassoura

vira um cavalo, a boneca chora como um bebê;

e) Utiliza a postura do próprio corpo para chamar personagens que

não estão presentes – Exemplo: fica de joelho, movimenta a cabeça

e range os dentes como um cachorro faz;

f) Utiliza a vocalização para representar animais e/ou coisas –

Exemplo: latir imitando o cachorro ou imitar o barulho de um carro;

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g) Pronuncia frases que explicam papéis, significados atribuídos a

objetos e ao ambiente físico – Exemplo: “Não saia de casa,

filhinha!”, uma criança que está no papel de mãe fala para a outra

que está no papel de filha.

Na brincadeira de faz-de-conta, segundo Vygotsky (apud Oliveira,

2000), a criança substitui o objeto real e uma ação real pela fantasia, mas

essas ações têm um fundo na realidade, pois a criança em idade pré-escolar,

“ainda necessita de um pivô, de um suporte para lidar com o campo do

significado”.

As crianças utilizam gestos, posturas e sons associados aos recursos

do ambiente e trazem para a brincadeira personagens e animais não presentes

no ambiente, mas em situações já vividas por elas ou por pessoas próximas.

Elas criam um elo em torno de todos os seus componentes, desenvolvendo a

brincadeira. Esses elos são apoiados em objetos similares, como um fogão de

plástico (a criança brincando de cozinhar), mas em outras situações os objetos

podem ser subjetivos. Exemplo: uma caixa de papelão passa a ser um carro;

uma peça de plástico, um telefone, etc.

É necessário que as crianças compartilhem os significados da

brincadeira de faz-de-conta para poderem brincar juntas, sendo importante que

elas compartilhem as regras do faz-de-conta.

Oliveira (2000) afirma que o faz-de-conta serve para a criança

experimentar os diferentes papéis que tem do mundo que a cerca, contribuindo

para discriminar as representações de si, principalmente quando ocorre na

faixa etária de três anos, onde a criança está construindo a sua personalidade.

3.4 – Brincadeira de Super-Herói

Segundo Kishimoto (2002), é através da brincadeira de super-herói,

que a criança tenta compensar as pressões da realidade representando

fantasias de ira, hostilidade, desejos de grandeza, imaginando ser algum

super-herói, procurando livrar-se do controle dos pais, pois nestas brincadeiras

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as crianças estão “dotadas” de super poderes como voar, esticar-se, força,

velocidade, etc., possuindo mais poderes que seus pais, fugindo da dura

realidade, tendo consciência do pouco poder que elas têm no mundo do adulto.

Pais e educadores vêem a brincadeira de super-herói como algo

prejudicial ao desenvolvimento da criança, como sendo violento ou caótico,

mas a realidade é outra. É através deste tipo de brincadeira que a criança tem

oportunidade de aumentar suas habilidades lingüísticas, solucionar problemas,

desenvolver a cooperação ajudando na construção da autoconfiança, pois leva

a superar obstáculos da vida real como vestir, comer um alimento sem deixar

cair ou até mesmo fazer amigos, encaixando-se em um mundo adulto, graças a

algumas características dos super-heróis que as crianças acabam

identificando-se.

Citaremos algumas características dos super-heróis e heroínas:

a) Bondade, sabedoria, coragem, inteligência e força;

b) Solucionar qualquer problema e ultrapassar obstáculos. Suas

decisões são sempre aceitas por todos;

c) Não recebem ordem de ninguém e resolvem os problemas dos

outros;

d) Estão certos sempre, nunca se enganam;

e) Estão acima de frustrações e fraquezas como a maioria das

pessoas;

f) São aprovados e reconhecidos por todos;

g) Todos são seus amigos.

As crianças desejam ter estas características para não precisarem

enfrentar todos os problemas que o ser humano normal tem que enfrentar,

criando um mundo imaginário, mas com traços de realidade.

3.5 - Brincadeira com Sucata

A brincadeira com sucata é um exemplo de brincadeira que estimula

muito as crianças, pois é um exemplo de material que é retirado do cotidiano

da criança.

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Sucata é qualquer material ou coisa considerada inútil depois de ter

sido utilizada e reaproveitada de uma maneira diferente. Trabalhar com sucata

na sala de aula pode facilitar a aprendizagem e o interesse das crianças pelas

aulas ministradas. Ao manusear a sucata elas são capazes de vivenciar a

grande mágica de verem simples objetos considerados como lixo e que elas

conhecem e podem facilmente colecionar, transformando-se em bonecos,

bichos, fantoches, carros, etc.

Segundo Machado (1994): ”Quando a criança tem a espontaneidade

da brincadeira com sucata, ela está exercendo sua capacidade de escolha e a

liberdade para utilizar o material que escolheu, como queira. É mais fácil dar

essa liberdade com materiais de sucata do que com os brinquedos

comprados”. (Machado, 1994, p.30)

Hoje em dia é difícil a criança ter oportunidade de criar alguma coisa e

muitas vezes as pessoas acham que apenas materiais caros serão capazes de

despertar o interesse da criança, mas, ao contrário, pode-se levar a criança a

fazer uma reciclagem com embalagens e começar a trabalhar conceitos e

valores superficialmente. A sucata vai desenvolver a criatividade da criança e

também sua coordenação motora fina. É surpreendente o que uma criança

pequena pode aprender brincando apenas com caixas de papelão, rolo de

papel higiênico, ou como pode ser construtivo, alegre e educativo poder brincar

com caixas vazias que se tornam verdadeiros brinquedos preferidos pelas

crianças.

Materiais criados com sucata permitem à criança expressar

sentimentos, interesses e desenvolver-se em vários aspectos cognitivos. É

importante que o professor sabia encontrar na utilização da sucata recursos

úteis para trabalhar nas aulas como Alfabetização, Matemática, Linguagem,

Natureza e Sociedade e não utilizar-se desse recurso somente nas aulas de

Educação Artística.

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3.6 – A Importância dos Jogos e Brincadeiras na Educação

Atual

A família, sendo o lugar ideal para a criança expandir-se, tornou-se o

lugar comum, onde cada integrante tem o seu papel definido dentro do lar.

Infelizmente em muitos lares a criança, em vez de ser a fonte de alegria, acaba

sendo um “desmancha prazer”, porque atrapalha a programação idealizada

pelos pais como, por exemplo, entreter-se com programas de futebol, novelas,

computador, enfim, tudo é mais importante do que “perder tempo brincando

com os filhos”. Muitas vezes os pais, sobrecarregados pelos encargos da vida

e pelas preocupações, não têm força nem coragem para estar sorridentes e

tranqüilos quando os filhos estão à sua volta. A criança é capaz de perceber

quando não é bem vinda e isso poderá acarretar danos irreparáveis para ela,

pois é como se os pais não tivessem nenhum interesse por ela. Estudos

comprovam que a infância bem vivida gera adolescência, juventude,

maturidade e velhice bem estruturada e feliz.

Sabe-se que os pais de hoje efetivamente têm pouco tempo para estar

com os filhos, mas o pouco de tempo que ainda possuem devem procurar vivê-

lo intensamente, organizando com os filhos programas variados de

entretenimento. O que as crianças realmente desejam é que os pais se

alegrem com a sua presença e que estejam dispostos a brincar e alegrar o

ambiente familiar. Importa mais para a criança a presença ativa de seus pais

no seu dia-a-dia do que a quantidade de brinquedos que possui. É preciso que

tenham um lugar seguro sempre que precisarem, a qualquer momento mais

difícil que venham a enfrentar.

Cury (2003) diz: “Pais brilhantes dão algo incomparavelmente mais

valioso aos filhos. Algo que todo o dinheiro do mundo não pode comprar: o seu

ser, a sua história, as suas experiências, as suas lágrimas, o seu tempo”.

(Cury, 2003, p.21).

O papel da família integrado ao papel social da escola deve propor

uma mudança na educação para a sociedade atual. As brincadeiras e os jogos

devem ser estimulados tanto pela família como também pelas instituições

escolares, na busca do crescimento e desenvolvimento integral da criança. É

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importante não deixar que se perca a pureza de brincadeiras antigas, como

amarelinha, cantigas de roda, piques, jogos de tabuleiro, mostrando à criança

alternativas mais saudáveis aos jogos eletrônicos, tão comuns atualmente.

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CONCLUSÃO

O mundo da criança difere do mundo adulto, pois nele há o encanto da

fantasia, do faz-de-conta, do sonhar e do descobrir. É através das brincadeiras,

atividade mais nobre da infância, que a criança irá se conhecer e terá a

oportunidade de se constituir socialmente. É também a partir da

espontaneidade do brincar que a criança poderá expressar as diferentes

impressões vivenciadas em seu contexto familiar e social.

As características comuns entre a brincadeira infantil e a natureza da

própria criança tem reconhecimento histórico, por isso, vem sendo tema de

inúmeras pesquisas e estudos ao longo dos anos. A brincadeira é a atividade

que faz parte do cotidiano de qualquer criança, independente do local onde se

vive, dos recursos disponíveis, do grupo social e da cultura da qual faça parte,

todas as crianças brincam. Dentro desta perspectiva esta monografia se propôs

a apresentar algumas das idéias de autores que relacionam, cada qual à sua

maneira, a brincadeira com o desenvolvimento infantil.

O ato de brincar tem que ser desafiador, criar alguma dificuldade, por

mais simples que a brincadeira seja. É através dela que a criança consegue

adquirir conhecimento, estimular a percepção, superar limitações, integrar-se

socialmente com o grupo e desenvolver-se como indivíduo. Podemos citar o

exemplo de uma criança de cinco anos aprendendo a fazer bolinha de sabão. A

criança fica encantada, quer aprender, leva algum tempo para adquirir toda a

técnica necessária, é um desafio para a criança, tendo que utilizar a parte

motora, a questão do tempo, a força correta do ar para sair a bolha perfeita.

Quando desenvolve estas técnicas a criança passa a executá-las de maneira

mecânica.

As crianças são capazes de lidar com complexas dificuldades quando

estão brincando, desenvolvendo todo um processo psicológico e intelectual,

pois elas interagem com experiências de dor, medo, bom e mau. Sendo

comum às crianças brincarem de heróis protegendo vítimas inocentes.

A partir da leitura dos autores citados nesta monografia verificou-se

que a brincadeira é um meio que a criança utiliza para se relacionar com o

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ambiente físico e social de onde vive, despertando sua curiosidade e

ampliando seus conhecimentos e suas habilidades, sejam elas motoras,

cognitivas ou lingüísticas, e assim, temos os fundamentos teóricos para

deduzirmos a importância que deve ser dada à experiência da criança.

A criança em idade pré-escolar gosta de ser percebida por todos e

mostra grande satisfação no que quer que realize. Sente-se orgulhosa de

mostrar o que pode fazer a fim de receber atenção e reconhecimento do adulto.

A escola, por ser um segmento da sociedade que se organiza e se

estrutura, deve oportunizar o desenvolvimento da criança de acordo com suas

potencialidades e seu nível de desenvolvimento, pois a criança não inicia sua

aprendizagem somente ao ingressar na escola, ela traz consigo uma gama de

conhecimentos e habilidades adquiridas desde seus primeiros anos de vida em

seu ambiente sócio-cultural. A escola não deve dificultar a imaginação, a

criatividade e a capacidade de investigação que a criança tem naturalmente,

antes deve facilitar a resolução dos “por quês” naturais da criança nessa fase.

Diante dessas considerações seria oportuno salientar que a pré-escola

deve oferecer à criança um ambiente de qualidade que estimule as interações

sociais entre as crianças e professores, e que seja um ambiente enriquecedor

da imaginação infantil, onde a criança tenha a oportunidade de atuar de forma

autônoma e ativa. E é neste local que o educador tem papel fundamental no

preparo do ambiente e na seleção e definição dos objetivos a serem

alcançados por meio da brincadeira infantil.

É muito importante também ressaltar que para garantir o aprendizado

da criança é necessário que a proposta pedagógica da apresentação do

brinquedo tenha um real significado para a criança, despertando a sua

curiosidade e estimulando a assimilação do conteúdo que se objetiva trabalhar.

Do mesmo modo vale ressaltar o papel do professor no sentido de

compreender e utilizar o jogo como recurso privilegiado de sua intervenção

educativa. Além disso, ele precisa estar atento à faixa etária de seus alunos e

suas necessidades para selecionar e deixar à disposição os materiais

adequados. O material deve ser diversificado e em quantidade suficiente para

todos, com o objetivo de despertar o interesse e a curiosidade das crianças,

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lembrando sempre da importância de propiciar elementos que favoreçam a sua

criatividade.

A participação dos pais em conjunto com a escola é fundamental para

promover um relacionamento sadio, alegre, afetivo e carinhoso, que é

indispensável para garantir o equilíbrio emocional da criança, que

posteriormente terá um aprendizado melhor em relação às atividades

competitivas que terá que enfrentar na vida adulta.

É preciso que a escola seja um lugar de alegria, prazer intelectual e

satisfação, e para garantimos isto é necessário a formação continuada dos

professores, a preparação para incentivar o uso de jogos e brincadeiras

lúdicas, com o objetivo de garantir a formação integral da criança. Para

trabalhar com o lúdico é essencial ter o domínio sobre o assunto, planejar e

determinar regras para o desenvolvimento das tarefas propostas, conhecer

bem o grupo com o qual se está trabalhando, observando e explorando as

necessidades individuais e do grupo, para garantir a aceitação e assimilação

da atividade proposta, pois educar através do lúdico deve ser uma ação

consciente e planejada com objetivos a serem alcançados.

O ato de brincar é uma das poucas coisas que podemos considerar

democráticas na sociedade de hoje, pois para brincar não é necessário um

aparato tecnológico, ou algum brinquedo sofisticado, e sim um ambiente

desafiador que proporcione um desenvolvimento psicológico e emocional para

base de um bom desenvolvimento intelectual.

Os jogos constituem uma atividade primária do ser humano. É

principalmente na criança que se manifestam de maneira espontânea, aliviam a

tensão interior e permitem a reeducação do comportamento, o aumento do

coeficiente de autoconfiança e suficiência, a expansão do eu, e, às vezes, a

sublimação das tendências instintivas; fazem a criança agir com firmeza;

trazem grandes benefícios, não só do ponto de vista físico, mas intelectual e

social.

A dinâmica lúdica enriquece a formação da personalidade humana,

agindo eficientemente na vida cooperativa do grupo, e ajuda a criar uma ordem

social plena de vida e de felicidade. A alegria e a felicidade que derivam desse

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espírito de cooperação enriquecem a vida e são essenciais para a

tranqüilidade, a ordem e a segurança social.

Os jogos não são apenas uma forma de entretenimento para gastar

energia das crianças, mas sim meios que contribuem e enriquecem o

desenvolvimento intelectual. A função principal é facilitar a descoberta de si

mesma, dos outros e do mundo que a cerca, exercitar novas habilidades,

digerir medos e angústias, estimular o prazer das novas descobertas e

desenvolver a criatividade. Como exemplo podemos citar os jogos pré-

operatórios (antes do período escolar) não servem somente para desenvolver o

instinto natural, mas para representar simbolicamente o conjunto de realidades

vividas pela criança.

Enfim, considerando toda a evolução dos jogos, podemos dizer que a

educação lúdica integra na sua essência uma concepção teórica profunda e

uma concepção prática atuante e concreta. Seus objetivos são a estimulação

das relações cognitivas, afetivas, verbais, psicomotoras, sociais, melhorando

assim a questão da memória e da capacidade de concentração da criança,

como também a mediação socializadora do conhecimento e a provocação para

uma reação ativa, crítica, criativa dos alunos.

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