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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
EM DIREITO DO CONSUMIDOR
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A Defensoria Pública e as Ações Coletivas de Consumo
Por: Fábio Machado da Silva
Orientador
Prof. William Rocha
Rio de Janeiro
Janeiro/2008
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
EM DIREITO DO CONSUMIDOR
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A Defensoria Pública e as Ações Coletivas de Consumo
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a conclusão
do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito do
Consumidor.
3
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Prof. Willian Rocha, pelo incentivo e orientação ao longo
desse período. Desde o primeiro momento da acolhida deste projeto, sua sabedoria,
dedicação e interesse me permitiram uma aprendizagem constante e tornaram possível a
realização deste trabalho. Por tão valiosa seriedade profissional e amizade, a minha
eterna gratidão.
Ao pessoal da Biblioteca Nacional, pela presteza e dedicação, pela compreensão
naquelas horas que ficamos a mais do tempo. À Dona Carminha pelas sugestões de
pesquisa da biblioteca
A todos os colegas do Curso de Pós Graduação Lato Sensu em Direito do
Consumidor da Universidade Candido Mendes-Centro pelo apoio e facilidades
oferecidas.
Ao pessoal da administração do Projeto “ A vez do Mestre”, da Candido Mendes
pelo constante bom atendimento, competencia e simpatia prestados durante o curso.
Aos que buscam no direito do consumidor o combate às desigualdade, o
fortalecimento do equilibrio contratual, e aos estudiosos preocupados com a justiça e o
meio em que vivemos.
A todos que direta ou indiretamente colaboraram na realização do presente
trabalho, o meu muito obrigado.
E é claro, a Deus e minha família.
4
DEDICATÓRIA
À Deus, por tudo
À minha mãe, Lúcia Helena, por
cunhar minha moral.
A meus irmãos por acreditarem.
À minha mulher, Adriana pela
paciência e por tantas razões.
5
“Uma ciência empírica privada de reflexão bem como uma filosofia puramente
especulativa são insuficientes; consciência sem ciência e ciência sem consciência são
radicalmente mutilados e mutilantes...”.
Edgar Morin
6
RESUMO
O presente trabalho trata de relacionar as Ações Coletivas de consumo com a
legitimidade da Defensoria Pública para tais ações. Como o assunto merece ser bem
entendido, introduzimos alguns capitulos conceituais para melhor entender alguns
fundamentos que servem de base para entender a relação de consumo e justificar a
atuação da instutuição da Defensoria como defensor coletivo do consumidor. Assim
fizemos pesquisa e inserimos no trabalho noções históricas, conceitos de justiça e
noções de ética, em paralelo à introdução e desenvolvimento com o tema proposto.
7
METODOLOGIA
Procuramos nessa monografia, coletar o máximo de informações em literaturas
ligadas ao tema, a pesquisa de jornais e periódicos também foi fundamental. Os casos
concretos trazidos durante o curso de especialização, a conversa com os professores e
profissionais da área nos deu uma nova visão sobre o tema.
Poderíamos simplesmente ter realizado o presente trabalho mediante o critério
jurídico. Porém pela fascinação do tema, e a constante provocação a reflexão que o
curso proprocionou, nos conduzindo a bases metodológicas sólidas de raciocínio lógico
indutivo com base em premissas filosoficas e principiológicas.
Procuramos dar breves bases historicas sobre o surgimento da Defensoria
Pública, bem como ressaltar os diversos conceitos da ética e da justiça, já que a todo o
tempo iremos registrar que a instituição concretiza a justiça do consumidor.
O método é basicamente argumentativo, com farta pesquisa de textos e consultas
à rede internacional. A biblioteca Nacional foi fundamental no trabalho, pois a mera
menção de artigos de Internet comprometeria a fidelidade da pesquisa.
A inicio deste deu-se em agosto de 2007, época em que alcançávamos a
maturidade na pós-graduação Lato Sensu.
LISTAS
8
Capa................................................................................................................1/2
Agradecimentos................................................................................................3
Dedicatória.......................................................................................................4
Resumo.............................................................................................................6
Metodologia......................................................................................................7
Listas.................................................................................................................8
Sumário.............................................................................................................9
Introdução .......................................................................................................10
Capitulo 1.... ...................................................................................................13
Capitulo 2. .......................................................................................................23
Capitulo 3 ........................................................................................................47
Capitulo 4 ........................................................................................................74
Capitulo 5 ........................................................................................................89
Conclusão..........................................................................................................93
Bibliografia.......................................................................................................94
Folha de Avaliação............................................................................................99
9
SUMÁRIO
Introdução ...............................................................................................................10
Capitulo 1 Consumo, breve noção histórica: O Código de Defesa do Consumidor e a
sociedade atual...........................................................................................................13
1.1 Quando e onde, pela vez primeira, apareceu o direito do consumidor?...................14
1.2. Fundamentos filosoficos: Kant e a Etica aplicados à proteção do consumidor........16
Capitulo 2 Código de Defesa do Consumidor e o ordenamento juridico
brasileiro....................................................................................................................23
2.1 Justiça, a necessidade de entender as diversas concepções....................................23
2.2 Uma questão de principio:Os princípios juídicos-consumeiristas...........................35
2.3 A Constituição da República Brasileira e o consumidor........................................39
2.4 A L.8.078/90 e sua repercussão na sociedade.......................................................42
Capitulo 3. As Ações Coletivas de consumo........ ....................................................47
3.1. Origem e conceitos.............................................................................................47
3.2. O CDC e as Ações Coleivas de consumo..........................................................52
3.3. O Interesse nas Ações Coletivas de consumo.....................................................59
3.4. Os diversos legitimados nas Ações Coletivas.....................................................65
3.5. Breves considerações sobre a coisa julgada nas Ações Coletivas.........................68
Capitulo 4 A Defensoria Pública e o consumidor......................................................74
4.1. Breve historico do surgimento da Defensoria Pública........................................... 74
4.2. Atuação coletiva da Defensoria Pública na defesa do consumidor........................80
Capitulo 5 Casos Concretos................................................................................. ..89
Conclusão.......................................... ......................................................................93
Bibliografia.......................................... ....................................................................94
Folha de Avaliação.............................. ....................................................................99
INTRODUÇÃO
10
Homem e consumo sempre foram palavras que caminharam juntos.
Desde o mais primórdio momento da historia da humanidade, a questão do consumo
sempre se mostrou importante para o homem. Nas palavras do Ilustre professor William
Lima Rocha “ A matéria é vista sob o aspecto sociológico, vez que desde que o homem
passou a viver em sociedade já eram praticadas as relações de consumo”1
As manifestações se deram de diversas formas, desde a religião, no cristianismo
com o pecado capital da “gula”, mencionados por São Tomás de Aquino até no campo
cientifico-sociológico de Thomas Malthus, que analisou dados demográficos e
econômicos para justificar sua previsão de incompatibilidade entre o crescimento
demográfico e à disponibilidade de recursos.
A sociedade evoluiu, crescendo também seus interesses. Logo, o consumo e a
proliferação de empresas e atividades que nasceram para atender a demanda
consumerista, vieram também os problemas. As relações contratuais de consumo
passaram a apresentar um lado muito forte e estruturado, em contrapartida outro lado
mais fraco. Surgiram ainda os diversos movimentos sobre a falta de recursos em razão
do consumo acelerado e desproporcional. Diante desse quadro, paises estruturados em
Estado de Direito, evoluídos, atenderam aos reclames da sociedade e colocaram à
disposição legislações protetivas ao consumidor.
Com as demandas coletivas, a atuação da Defensoria Pública ganhou contornos
de grande importância face ao aumento das demandas coletivas. Nessa linha de ideia, a
L.8078/90 e a posterior Lei nº 11.448/2007, que dá legitimida à Defensoria Pública para
a propositura da Ação Civil Pública, alterando o art. 5º da Lei nº 7.347/1985, surgiu
como resposta ao anseio da sociedade que deixou registrar na Carta Cidadã de 1988 no
art. 5° CF/88, a vontade e necessidade de se ter um diploma legal que regulasse as
relações de consumo.
O que trataremos neste pequeno trabalho é o aspecto da Defensoria ligado a
essas Ações Coletivas de consumo.
1 Disponivel em http://www.williamrocha.kit.net/dir_consumidor_/
11
Capitulo 1 Consumo, breve noção histórica: O Código de Defesa do
Consumidor e a sociedade atual
A doutrina aponta a 1ª metade do séc. XIX, como um marco no que se refere as
relações de consumo, quando começou a mudar, a oxigenar os contratos. Ocorreu uma
mudança no individualismo: interesse individual; contrato relativo aos contratantes, e só
a eles interessava.
Nessa época houve passagem do período do Estado Liberal Clássico, em que
preponderavam os princípios da liberdade de contratar e da autonomia da vontade e o
pacta sunt servanda. No Estado Liberal Clássico, a idéia de contrato foi levada ao
extremo. Todas as relações econômicas deveriam ser reduzidas à forma de contrato.
Rosseau e sua Teoria do Contrato Social, já fazia a relação contratual até entre o homem
e o Estado.
A função do Estado Liberal era a de garantir a liberdade das partes para que
pudessem ajustar o contrato que melhor atendesse aos seus interesses. Tudo o que era
contratual era justo, desde que as partes fossem livres para contratar. O Estado Liberal
somente assistia à formação dos contratos.
Esses eram os dogmas que inspiraram o Estado Liberal Clássico (criado após a
Revolução Francesa), inclusive o nosso Código Civil de 1916, que sofria as influência
desse individualismo.
A partir da 2ª metade do século XIX, passou-se a temperar esses dogmas. O
excesso de Liberalismo foi fatal para a continuação dos dogmas do Estado Liberal
Clássico. Passou-se a entender que a igualdade das partes é fundamental para o
equilíbrio e a justiça dos contratos, a despeito da liberdade. As partes podem ser livres,
mas suas condições econômicas, sociais, culturais, e etc., influenciavam negativamente
neste equilíbrio.
Observou-se em um primeiro momento que os contratos de trabalho, a despeito
da liberdade das partes, impunham aos trabalhadores péssimas e desproporcionais
condições de trabalho, acarretando-lhes os mais diversos e intensos abusos: jornada de
trabalho excessiva, trabalho em condições insalubres, baixíssimos salários. Não eram
trabalhadores; na verdade, eram semi-escravos.
12
Desde então, vislumbrou-se uma ausência de igualdade entre as partes.
Percebeu-se que a igualdade é condictio sine quae non para o contrato justo e
equilibrado.
Nesse contexto o Estado Moderno resolveu a questão através do “Dirigismo
Contratual”.O Estado passou a dirigir, interferir nos contratos para proteger a parte que,
naquele contrato, era a mais fraca. O Estado compensa a parte economicamente mais
fraca, tornando-a juridicamente mais forte. O Estado passa a atuar, protegendo o mais
fraco na relação contratual. Daí o Estado Liberal Clássico enfraqueceu, sendo
substituído pelo Estado Intervencionista.
As maneiras de agir do Estado Intervencionista são:1ª) O Estado impõe aos
contratantes certas cláusulas, ainda que as partes não as quisessem (Ex.: Contrato de
Trabalho). Ora ele impõe, ora proíbe certas cláusulas, fulminando-as de nulidade (Ex.:
art. 51 do CDC “Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas
contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:” ); 2ª) Vedação de
certas cláusulas. Elas não existem pois nascem mortas. O Estado proíbe, sob pena de
nulidade, certas cláusulas.
Esse Dirigismo só pode haver quando as partes estejam desniveladas, seja
economicamente, seja tecnicamente. Há percepção de uma vulnerabilidade de uma das
partes. As legislações trabalhistas foram as primeiras a sofrerem essa nova leitura.
O Direito passou do individualismo para a sua função social. E na relação de
consumo, não foi diferente, pois nesta o consumidor é triplamente vulnerável em
relação ao fornecedor:
1º) Vulnerabilidade Econômica: Esta é a regra, até porque há casos em
que o contrário se verifica. Na maioria das vezes, o consumidor é economicamente mais
fraco em relação ao fornecedor.
2º) Vulnerabilidade Fática: O consumidor precisa de um produto ou de
um serviço, e o fornecedor lhe impõe condições. Essa vulnerabilidade decorre do fato
da necessidade do consumidor precisar do produto ou do serviço.
13
3º) Vulnerabilidade Técnica: O consumidor não dispõe de informações
técnicas sobre o produto ou serviço que adquiriu. O consumidor adquiria um produto
que não atendia às suas finalidades, e etc., porque os fornecedores não davam
informações a respeito do produto. Esta é a regra que também comporta exceções.
De outro lado, um dos princípios mais elementares do Direito do Consumidor,
sobre o qual toda a teoria encontra sustentáculo é o da proteção à dignidade humana,
juntamente com a garantia à sua saúde e à sua segurança, que são direitos fundamentais
do ser humano.
Assim, o respeito à pessoa humana deve ser considerado como pedra
fundamental na construção dos pilares do Direito e, em especial, do Direito do
Consumidor.
A Constituição Federal consagrou, no inciso III do artigo 1º, a dignidade da
pessoa humana como fundamento do Estado. Seguindo a mesma linha, a Lei 8078/90
realça o respeito à dignidade do consumidor como seu objetivo principal. E é sob esse
prisma que o Direito do Consumidor deve ser analisado.
Se a dignidade do consumidor estiver acima de qualquer interesse, os direitos do
homem serão preservados e nestes se incluem os direitos à vida, à saúde, à segurança e
também os econômicos.Com esses valores, a Constituição Federal de 1988 foi
elaborada, dando ênfase à perspectiva social do direito e determinando a
regulamentação das relações de consumo, sob a perspectiva da vulnerabilidade do
consumidor.
Essa necessidade de adequação à realidade social foi responsável pela mudança
de paradigmas no direito privado. Não é diverso o móvel do artigo 170 da norma
constitucional, que regulamenta a atividade econômica, estabelecendo seus pilares na
preservação de uma existência digna para o ser humano, conforme os ditames da justiça
social e com a observância, dentre outros princípios, da defesa do consumidor.
1.1 Quando e onde, pela vez primeira, apareceu o direito do consumidor?
14
Essa pergunta é respondida pelo autor Eduardo Gabriel Saad2 dizendo que “Não é
dado a ninguém responder, com segurança, a essa pergunta. Desde os tempos mais
recuados, sempre houve alguém que vendesse algo (ou trocasse um por outro produto)
e alguém que comprasse aquilo de que necessitava para alimentar-se ou para proteger-
se contra as intempéries. Durante milênios, esse comércio caracterizou-se por seu
individualismo, isto é, o produto era predominantemente de caráter artesanal e o
comprador limitava seu interesse a umas poucas unidades. O direito regulava essas
modestas relações de consumo. “
Por sua vez o ilustre professor Willian Rocha, da Universidade Candido Mendes,
revela3: “O conceito vem inglês consumerism, definido tanto como “políticas e
atividades traçadas para proteger os interesses e direitos dos consumidores, em suas
relações de troca com qualquer tipo de organização” também pode ser como “uma
reação popular contra negligência burocrática e desrespeito corporativo em relação
aos cidadãos e consumidores” não se confunde com consumismo, que é a compulsão
por consumir.”
E continua o mestre: “A matéria é vista sob o aspecto sociológico, vez que desde
que o homem passou a viver em sociedade já eram praticadas as relações de consumo.
O homem, desde a Antigüidade, verificou a necessidade de utilizar unidades de medidas
para as mercadorias, pois as transações eram feitas de diversas formas e maneiras,
tendo por base as regiões, os povos e os valores. E esse hábito mereceu que padrões
fossem adotados, surgindo assim, a unidade de medida nas relações de consumo.”
Com o passar dos tempos, o consumo aumentou e, continuando com a explicação do
professor, “O consumerismo americano se expandiu em seus enfoques, conceitos e
2 Saad, Eduardo Gabriel, Comentários ao Código de Defesa do Consumidor lei n. 8.078, de 11.9.90. — 4, ed., — São
Paulo - LTR, 1999.
3 http://www.williamrocha.kit.net/dir_consumidor_/
15
forma de ação, alastrando-se pelo mundo no decorrer do Século XX, resumindo-se em
três períodos marcantes, segundo Kotler.”
“O primeiro ocorreu no início do século motivado por uma alta de preços, questões
como ética em produtos medicinais e denúncias de condições de trabalho e higiene nas
indústrias de carne feitas por Upton Sinclair em seu livro “The Jungle”, que levou o
Congresso a aprovar em 1906 a regulamentação para inspeção de carne (Meat
Inspection Act), a lei de alimentos e medicamentos (Pure Food and Drug Act) e, em
1914, originou a Comissão Federal de Comércio (Federal Trading Comission).
O segundo se localiza depois da Grande Depressão (década de 30), em razão do
fortalecimento da legislação sobre alimentação e medicamentos (FDA), que, em 1938,
passou a incluir cosméticos e ampliou as funções da Comissão Federal de Comércio,
permitindo-lhe regular práticas e atos lesivos ou desleais.
O terceiro se deu nos anos 60, devido a um conjunto de fatores de insatisfação na
sociedade americana que incluiu o surgimento de produtos mais complexos e
perigosos, o escândalo da talidomida, a mensagem do presidente Kennedy
reconhecendo os direitos do consumidor, os livros críticos e, por último, a atuação
firme de Ralph Nader, lutando por mais segurança nos automóveis. “
Termina o professor, explicando que o marco tambem pode ser visto quando
Kennedy fez referencia ao Congresso americano para que se festeje, no dia 15 de março,
o Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, dizendo o então Presidente “todos nós
somos consumidores, e se não o somos, passamos a ocupar a posição de fornecedores
ou de prestadores de serviço”.
1.2 Fundamentos filosoficos: Kant e a Etica aplicados à proteção do consumidor
Percebemos neste ponto do trabalho que a questão de consumo é mais complexa
do que se imagina, por envolver os vários campos do saber. Percebemos que muita das
teorias que hoje aplicamos, e que numa primeira analise rotulamos de inovadoras,
16
podem ter suas bases encontradas naqueles primeiros filósofos da humanidade, mesmo
no período pré-socrático.
O consumo é um “fato social” como bem lembra O Professor Everardo Rocha4,
professor da PUC-Rio e COPPEAD/UFRJ. “É um processo de troca simbólica (...) é
uma questão complexa que possui implicações fundamentais para o entendimento da
cultura e do mercado contemporâneos. (...)possui a sua vinculação com a cultura de
massa; as representações sociais que aciona; seu poder classificatório das identidades;
seus espaços e modos de realização.”
Com fato social deve ser analisado em sua perspectivas filosoficas, para melhor
compreeensão do tema. Para ilustrar e fundamentar de maneira mais sólida a razão da
preocupação com a questão do consumo, relacionado ao o meio em que vivemos, numa
visão ético-principiológica, vamos em poucas palavras ilustrar com o pesamento de
Kant e a noção de ética na aplicação da questão da relação de consumo.
O Imperativo Categórico.
Como ensina Dario e Reali, Giovanni ANTISERI,na obra "História da Filosofia"
(Paulinas – 1990 – São Paulo), em termos simples, eis o que o grande filósofo alemão
Immanuel Kant chamou de imperativo categórico: você deve agir sempre baseado
naqueles princípios que desejaria ver aplicados universalmente.
Por que "imperativo categórico"?
4 http://joomla.coppead.ufrj.br/port/index.php?option=content&task=view&id=392&Itemid=160
17
Imperativo, porque é um dever moral.
Categórico, porque atinge a todos, sem exceção.
O Imperativo Categórico é uma das idéias centrais para a adequada compreensão
da moralidade e da eticidade. Nesta proposta Kant sintetizou o seu pensamento sobre as
questões da moralidade. Kant valorizava esta idéia de lei moral. Ele cunhou uma das
mais célebres frases a este respeito:
“Duas coisas me enchem o ânimo de admiração e respeito: o céu estrelado
acima de mim e a lei moral que está em mim.”(Crítica da Razão Pura)
Ao introduzir a ética em sua obra filosófica, Kant fez surgir uma nova versão da
antiga Regra de Ouro, aquela regra ditada pelos grandes Mestres da humanidade: "Faça
para os outros o que você gostaria que fizessem a você."
Kant ampliou a regra para algo assim: "Faça para os outros o que gostaria que
todos fizessem para todos."
Com isso, Kant queria evitar o problema das diferentes idéias que cada pessoa
tem sobre o que gostaria que se fizesse a elas. Queria enfrentar o "relativismo
moral", essa moralidade circunstancial tão generalizada hoje em dia: a noção de que o
que é certo depende da situação ou do contexto.
Ele não concordava com a doutrina do utilitarismo, ou seja, a de que "os fins
justificam os meios". Como podemos nortear nossas ações com base nos resultados, se
até mesmo os planos mais bem traçados podem ser desvirtuados? O resultado do que
fazemos, muitas vezes, não é absolutamente o que pretendíamos, portanto é um
desvirtuamento moral basear nossos julgamentos nos resultados.
Então, como agir com segurança? Segundo Kant, se quisermos ser objetivos,
temos que agir, não segundo os fins, mas segundo princípios universais.
Princípios universais e não regras circunstanciais.
Para Kant o bem supremo é a boa vontade, da qual a liberdade é propriedade. O
pensador alemão define vontade (que não é outra coisa senão a razão prática)
como “a faculdade de escolher só aquilo que a razão, independentemente da inclinação,
reconhece como praticamente necessário, quer dizer, como bom” (op.cit.: 123), ou ainda
“a faculdade de se determinar a si mesmo a agir em conformidade com a representação
de certas leis” (op.cit.: 134).
18
Somente sob a idéia de liberdade um ser racional pode ter vontade própria. No que
respeita à vontade humana, Kant diz haver um imperativo categórico cujo fundamento
está no princípio objetivo da vontade, segundo o qual a natureza racional existe como
fim..
Aplicações do imperativo categórico
No campo da bioética é comum decidir-se por meio do imperativo categórico. Em
contraposição à corrente pela qual deve prevalecer a autonomia do indivíduo, a quem –
e somente a ele – se dá o direito de escolha (no caso de sujeitar-se a experimentações ou
da decisão pelo aborto ou eutanásia, por exemplo), existe a corrente que se norteia por
princípios definidos categoricamente. Pessini e Barchifontaine, ao apontar a necessidade
de uma mística libertadora para a bioética, afirmam que esta mística deve proclamar,
“frente a todas as conquistas das ciências da vida e do cuidado à saúde, que o
imperativo técnico-científico, posso fazer, passa obrigatoriamente pelo discernimento
de outro imperativo ético, logo devo fazer?” (1998: 94). Enfim, não basta ater-se ao
primeiro imperativo, hipotético; é preciso passar por um imperativo categórico.
No campo da preocupação com o consumidor, necessitamos a todo o tempo
entrar com discussões éticas e morais. Dai vem a importância em conhecer Kant. Cada
individuo deve ter dentro de si um incontrolável desejo de preservação, de cuidado, de
amor à natureza e ao próximo, como um imperativo determinante. Devemos ter a
consciência que esse imperativo é fundamental para que não chegamos ao
“holocausto de consumo” provocado pela modernidade. A isto se liga a noção de
BOA-FÉ OBJETIVA, hoje consagrada tambem no Novo Código Civil.
Considerações sobre ÉTICA
É mais fácil “sentir” a questão da ética aplicada no consumo que defini-la.
Discutir e conceituar ética e relacioná-la com o consumo não é tarefa tão simples.
Encontramos diversos significados, diversos sentidos e interpretações de sua
conceituação. Porém, temos uma certeza não é uma discussão nova, mas é a base para
formação de muitas outras. Encontramos esta discussão por exemplo em “ética a
Nicômano’, em que Aristóteles discute conceitos éticos, nos primórdios da evolução
humana. Sócrates contraditou as duas teses básicas dos sofistas, que foram duas:
19
a) A tese de que os códigos morais, ou convicções éticas, e os conceitos
fundamentas da ética (como bom, justo, honesto etc) são frutos das convenções
sociais – para ele estes encontram seu fundamento na própria natureza humana;
b) A tese que afirma que as idéias e os principio morais se apreendem
através de ensino – defendeu, ele, que o ensino pressupõe a posse desses
princípios e idéias, contribuindo, no máximo, à tomada de consciência em
relação aos mesmos.
Com isto, acabou elegendo a liberdade com a primeira das concepções
transcendentais do agir moral, se o homem não é livre não se pode absolutamente falar
de moralidade.
O objeto da ética, para alguns, é a moral. A moral é um dos aspectos do
comportamento humano. Derivando de costumes significa o conjunto de normas
adquiridas pelo hábito reiterado de sua prática. Melhor explicando, o objeto da ética
é a moralidade positiva, ou seja, o conjunto de regras de comportamento e formas de
vida através das quais tende o homem a realizar o valor do bem.
A ética também é uma disciplina normativa pois procura descobrir as normas
e elucidá-las.
Para Nicola Abbagnano, (HISTORIA DA FILOSOFIA. pg 380 a 387),
encontramos duas concepções para o conceito de ética:
!ª- Como ciência do fim e meios por atingir tal fim. Entendendo Fim como um ideal
para o qual o homem se dirige, por sua natureza e essência.
2ª-Como ciência do móvel, da motivação. Entendendo como Móvel: motivos ou
causas da conduta e forças que o determinam.
Como ensina também a professora de filosofia Regina Queiroz, são pontos de vista
heterogêneos, mas que permanentemente se confundem. Essa confusão advém do fato
de que ambas as concepções costumam se apresentar com definições aparentemente
idênticas do BEM. Analisando a noção do BEM, verifica-se a ambigüidade: BEM pode
significar o que é, pelo fato de que é. Ainda BEM pode significar o que é objeto do
20
desejo. O primeiro significado aponta o BEM como realidade perfeita ou perfeição do
real., real como o eterno , o imutável, a essência.O segundo significado aponta o BEM
como objeto de apetição. Temos assim, BEM com significados e alcances muito
diferentes. Deve haver, portanto, a distinção, entre:
*ÉTICA DO FIM e
*ÉTICA DO MÓVEL.
A atual convulsão pelo consumo é uma crise Moral, porque os descaminhos da
criatura humana, refletidos na violência, no egoísmo e na indiferença pela sorte do
semelhante, no sentimento de consumir e de ganhar com o aumento de consumo,
assentam-se na perda de valores morais. De nada vale reconhecer a dignidade da pessoa,
se a conduta pessoal não se pautar por ela. Pois, ética pode ser tida também como a
ciência do comportamento dos homens em sociedade. Há quem faça ainda uma outra
classificação da ética:
a) Ética empírica; É aquela que pretende derivar seus princípios da
observação dos fatos.
b) Ética Anarquista: O anarquismo repudia toda norma e todo valor. Para
esta corrente, direito, moral, convencionalismos sociais, religião, tudo
constitui exigência arbitrária, nascida da ignorância, da maldade e do
medo. Assim, as leis não são legítimas, sejam morais, sejam jurídicas.É
uma doutrina egoísta. Prepondera a vontade humana e esta varia de
indivíduo para indivíduo.Para estes, só tem valor o que não contraria as
tendências e impulsos naturais. A ordem jurídica, como organização
social de tipo coercível, se opõe à liberdade e representa, por isso, um mal
que deve ser combatido.
21
c) Ética Utilitarista: O utilitarismo se caracteriza por considerar bom o que é
útil. Este tem sentido na vida moral, se entendido como prudente emprego
dos meios aptos à consecução de fins moralmente valiosos.
d) Ética dos bens ou dos fins: Esta formulação defende, ao contrário do
relativismo, a existência de um valor fundamental denominado bem
supremo.A criatura humana é capaz de se propor fins, eleger meios e
colocar em prática os últimos, para alcançar os primeiros.O supremo bem
da vida consistirá na realização do fim próprio da criatura humana. Esse,
na hierarquia dos bens, é o bem supremo.
Para Sócrates, o verdadeiro objeto do conhecimento é a alma humana. A verdade
vive oculta no espírito humano.A bonde é resultado do saber. Para alguém ser feliz é
necessário ser bom e para ser bom é preciso ser sábio. A maldade é produto da
ignorância.
Para os seguidores da ética Aristotélica, a finalidade da ética é descobrir o bem
absoluto, a meta definitiva, que é ponto de convergência e chegada e não pode ser ponto
de partida de mais nada.Chamando-se o bem absoluto de felicidade, para Aristóteles, ela
está no exercício, firme e constante, da virtude. Não basta um ato virtuoso de quando
em quando. A virtude é a atualização do que lhe é próprio. O homem virtuoso é aquele
que mergulha no desenvolvimento integral de suas faculdades.
Para quem ensinam a ética formal, dizem que o fundamento da lei moral não está
na experiência, mas se apóia em princípios racionais apriorísticos. O critério supremo da
moralidade é: age sempre de tal modo que a máxima de tua ação possa ser elevada por
sua vontade, à categoria de lei de universal observância.
Os principais conceitos kantianos nessa linha são: a) O mais importante: a boa
vontade – só se considera a atitude interior da pessoa. O centro de gravidade da vida
moral é a pureza das intenções. b) O dos imperativos – os fenômenos humanos derivam
de princípios.
Porém, as grandes discussões atuais já partem de um problema acontecendo,
uma degradação na personalidade, que tenta-se compensar pelo consumo forte, e uma
despreocupação na preservação das fontes esgotáveis, que aumenta, seja por falta de
22
educação, ou consciência. Daí a necessidade de chamar a tenção para aqueles que não
perceberam que nossa terra mãe, a Gaia, está morrendo. O que nos move para este
despertar ético, são os acontecimentos catastróficos relacionados ao Homem e ao
planeta.
De uma maneira ou de outra, ter a ética do fim ou do móvel, é uma necessidade
continua para preservamos a terra para as futuras gerações, é difundir a noção do bem,
da ética, do cuidar, do preservar, e viver de modo sustentável, realizar produção
razoável da mesa forma que o consumo.
Capitulo 2 O Código de Defesa do Consumidor e o ordenamento
juridico brasileiro
Nesse capitulo estudaremos as relações de consumo numa perspectiva juridica.
Para entendermos com profundidade o tema, achamos de bom alvitre fazer alguns
breves esclarecimentos sobre a noção de justiça, para depois ingressarmos nos
principios norteadores da relação consumeirista e analise constitucional e legal dos
negocios envolvendo o consumidor. A razão é simples: O sistema juridico deve existir
para compor conflitos e manter a ordem e equilibrio social, mas o sistema atual permite
de forma ampla o acesso do consumidor, parte mais fraca na relação contratual, de
forma material ou simplesmente formal? Meras previsões legais só suficientes para
23
afirmamos que existe justiça plena a acessivel ao consumidor? O que chamaremos de
justiça? Eis o porquê de ser exigida a noção de justiça para compreendermos o tema.
2.1 Justiça, a necessidade de entender as diversas concepções
"A justiça é a primeira virtude das instituições sociais, como a
verdade o é dos sistemas de pensamento". John Rawls – Uma
teoria da justiça.
O acesso a justiça e as concepções de justiça
Falar em justiça não simplesmente caracterizar o poder judiciário, seus órgãos e
instrumentos de acesso. Compreendemos que vivemos num sistema autopoiético, que
necessitamos despertar a consciência de todos em prol da preservação da vida, nosso
habitat e percebemos que o direito visa, entre outros termos, buscar o justo, por meio da
justiça.
Ter instrumentos eficazes para o homem busque a proteção do estado e do
consumo sustentavel para cessar uma agressão ao meio ambiente, poder cobrar dos
órgãos públicos a efetivação de políticas públicas, de conscientização dos direitos do
consumidor, mas tambem conscientização da educação no consumo, para o consumidor
e para o fornecedor, é uma das facetas do que é o verdadeiro acesso a justiça.
O livre acesso a justiça também é ponto central da moderna processualística. Seu
estudo pressupõe um alargamento e aprofundamento dos objetivos e métodos da
moderna ciência jurídica.
O livre acesso implica tanto que o sistema judiciário seja igualmente acessível a
todos quanto que produza resultados, individual ou coletivamente, justos. Assim, a
preocupação central deverá ser, não tanto com as garantias processuais clássicas, que
assegurem a possibilidade formal de acesso ao Judiciário, mas sim a criação de
instrumentos que permitam que as partes estejam, mais do que em igualdade jurídica,
mas também em igualdade técnica e econômica.
Seguindo o pensamento de CAPPELLETTI, ensinado por JOSÉ MÁRIO
WANDERLEY GOMES NETO- “ACESSO À JUSTIÇA EM MAURO
24
CAPELLETTI” editora Sergio Fabris, o acesso à Justiça constitui, hoje, um movimento
mundial, que pode, graficamente, se resumir em três fases (ou ondas) distintas:
- a primeira onda, preocupada pela assistência judiciária para os pobres.
- a segunda onda representou a mudança das regras tradicionais do processo
civil para a tutela dos interesses coletivos e difusos.
- a terceira onda seria a etapa das reformas dos códigos existentes em função da
necessidade de um enfoque de justiça mais efetiva.
Por sua vez, BOAVENTURA SOUZA SANTOS, na obra “Para uma Revolução
Democrática da Justiça”- Cortez editora, aponta três tipos de obstáculos à Justiça:
econômicos, sociais e culturais.
Relativamente aos obstáculos sociais e culturais, releva destacar que,
modernamente, tem se entendido da insuficiência da tradicional assistência judiciária,
que se limita ao apoio judiciário , assim entendido o patrocínio gratuito e a dispensa das
despesas processuais, mas abrange hoje “toda a assistência jurídica pré-processual, a
começar pela informação, com a correlata tomada de consciência, passando pela
orientação jurídica (complementada, quando necessário, por outros tipos de
orientação), pelo encaminhamento aos órgãos competentes e culminando finalmente,
na assistência judiciária propriamente dita”.
Quanto aos obstáculos econômicos, conforme BOAVENTURA SOUZA
SANTOS, estes atingem aos desfavorecidos de forma tripla:
a) nas sociedades capitalistas em geral os custos da litigação são muito elevados;
b) a relação entre o valor da causa e o custo da litigação aumenta à medida que baixa o
valor da causa;
c) a lentidão dos processos facilmente se converte em um custo econômico adicional e
este é proporcionalmente mais gravoso para os cidadãos de menos recursos.
Constata-se, como ensina Cappelletti, que, “em face das diferenças
fundamentais entre os homens, a que se reúne o custo da demanda”, nem sempre o
exercício do direito de ação “se oferece acessível ao alcance do corpo social, máxime
dos despossuídos de recursos financeiros, senão através de órgãos instituídos e
25
mantidos pelo Estado, no desempenho do dever-função de atribuir a cada qual o que
lhe pertence”.
È importante termos tais noções iniciais ao tratarmos do tema relacionado às
questões de consumo, especificamente porque o consumidor, parte mais fraca na relação
contratual deve ter o amplo e irrestrito acesso à justiça em suas várias concepções.
AS MODERNAS TEORIAS SOBRE JUSTIÇA
Amandino Teixeira Nunes Junior5, examina as teorias sobre a justiça
formuladas no século XX, tanto no meio jurídico, como no meio filosófico, e o faz com
relação às obras de Hans Kelsen, Jürgen Habermas, Chaïm Perelman e John Rawls.
Convém salientar, ainda, que não constitui propósito do presente estudo submeter
a um aprofundado exame crítico das complexas teorias desses renomados pensadores. O
que se objetiva aqui é uma exposição das linhas fundamentais dessas concepções sobre
a justiça que contribuíriam sobremodo para a doutrina jusfilosófica recente. O que será
importante para compreendemos o Sistema de Ações coletivas nas relação de consumo
pela defensoria Pública.
5 retirado do sitio “ As modernas teorias da justiça: a teoria discursiva de Jürgen Habermas. Disponível em:
<http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=4386.htm>. Acesso em: 05 agosto. 2007”
26
A TEORIA POSITIVISTA DE HANS KELSEN
Ao elaborar sua teoria da justiça, Kelsen (KELSEN Hans. O que é justiça?: a
justiça, o direito e a política no espelho da ciência. São Paulo: Martins Fontes, 2001)
realiza um exame crítico e profundo das teorias que se produziram desde a Antiguidade
clássica até a primeira metade do século XX sobre o tema.
Avaliando a justiça em Platão, Kelsen sustenta que a quase totalidade de seus
diálogos busca precisamente a pergunta: "O que é o Bem?" (na qual se insere, também,
a pergunta: "O que é a justiça?"). Afirma que o método dialético ensinado e praticado
nos diálogos platônicos não chegou a elaborar um conteúdo definível de justiça.
A conclusão de Kelsen de que "a idéia do Bem inclui a de justiça, aquela justiça a
cujo conhecimento aludem todos os diálogos de Platão. A questão "O que é justiça?"
coincide, portanto, com a questão o que é bom ou que é o Bem? Várias tentativas são
feitas por Platão, em seus diálogos, para responder a essa questão de modo racional,
mas nenhuma delas leva a um resultado definitivo".
Um outro exemplo, para Kelsen, da tentativa infrutífera de elaborar um conteúdo
definível de justiça, através de um método racional ou científico, é a ética de
Aristóteles. "Trata-se de uma ética da virtude, ou seja, ele visa a um sistema de virtudes,
entre as quais a justiça é a virtude máxima, a virtude plena."
Com relação ao Direito natural, Kelsen sustenta que essa doutrina "afirma existir
uma regulamentação absolutamente justa das relações humanas que parte da natureza
em geral ou da natureza do homem como ser dotado de razão"
Como se vê, o talento de Kelsen funciona como verdadeiro destruidor das
convicções jusnaturalistas elaboradas ao longo dos séculos, pois "encontrar normas para
o comportamento humano na razão é tão ilusório quanto extrair tais normas da
natureza."
Com Immanuel Kant, a crítica kelseniana não se passa de modo diverso. O
imperativo categórico kantiano determina que o sujeito moral, para ser justo, deve agir
sempre de tal modo que a máxima de seu agir possa ser querida como uma lei geral.
27
Noutras palavras, o comportamento humano é justo se for determinado por normas que
o homem, ao agir, pode ou deve esperar que sejam obrigatórias para todos.
Veja-se o seguinte excerto no qual Kelsen expõe sua crítica a Kant:
Mas quais são essas normas que podemos ou devemos esperar que sejam
genericamente obrigatórias? E essa é a questão decisiva da justiça; e a ela, o imperativo
categórico – da mesma forma a regra de ouro, seu modelo – não dá resposta."
Kelsen, na sua obra "O que é justiça?", considera a justiça "uma característica
possível, porém não necessária, de uma ordem social". E indaga: "mas o que significa
ser uma ordem justa? Significa essa ordem regular o comportamento dos homens de
modo a contentar a todos, e todos encontrarem sob ela felicidade. O anseio por justiça é
o eterno anseio do homem por felicidade. Não podendo encontrá-la como indivíduo
isolado, procura essa felicidade dentro da sociedade. Justiça é felicidade social, é a
felicidade garantida por uma ordem social" .
Observa Kelsen que o conceito de justiça passa por uma transformação radical: do
sentido original da palavra (que implica o sentimento subjetivo que cada pessoa
compreende para si mesma, de modo que a felicidade de um pode ser a infelicidade de
outro) para uma categoria social: a felicidade da justiça. É que a felicidade individual (e
subjetiva) deve transfigurar-se em satisfação das necessidades sociais. Como ocorre no
conceito de democracia, que deve significar o governo pela maioria e, se necessário,
contra a minoria dos sujeitos governados.
A TEORIA DISCURSIVA DE JÜRGEN HABERMAS
Habermas elabora sua teoria do agir comunicativo, contida na obra "Direito e
democracia: entre facticidade e validade", para analisar as instituições jurídicas e propor
um modelo onde se interpenetram justiça, razão comunicativa e modernidade.
Ao se referir à facticidade e à validade, Habermas intenta compreender a
dualidade do Direito moderno.
Assim, de um lado, o Direito é facticidade quando se realiza aos desígnios de um
legislador político e é cumprido e executado socialmente sob a ameaça de sanções
28
fundadas no monopólio estatal da força. De outro lado, o Direito é validade quando suas
normas se fundam em argumentos racionais ou aceitáveis por seus destinatários.
A relação entre facticidade e validade, "assume uma forma de tensão pelo fato de
o Direito reunir em si elementos sancionadores e elementos provenientes de uma
autolegislação. Dito em outros termos, a tensão entra facticidade e validade, no Direito
moderno, retorna pela circunstância de que com a sanção se restringe o nível de
dissenso, mas esse dissenso é superado no momento em que se introduz em seu bojo a
idéia de que as normas jurídicas são emanações do povo".
Essa tensão, nas palavras de Habermas, reside: “(...) mais precisamente entre a
coerção do Direito, que garante um nível médio de aceitação da regra, e a idéia de
autolegislação – ou da suposição da autonomia política dos cidadãos associados – que
resgata a pretensão da legitimidade das próprias regras, ou seja, aquilo que as torna
racionalmente aceitáveis".
No seio de uma tensão permanente entre facticidade e validade, a constituição de
uma comunidade jurídica autônoma requer o abandono, em termos pós-metafísicos, de
uma razão prática e a assunção de uma razão comunicativa.
Como afirma Habermas "Eu resolvi encertar um caminho diferente, lançando
mão da teoria do agir comunicativo: substituo a razão prática pela comunicativa. E tal
mudança vai muito além de uma simples troca de etiqueta. " HABERMAS, Jürgen, pág.
19. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 1997, t. I e II6
Mas qual é o sentido dessa mudança? Por não ser prática, vale dizer, por não
oferecer nenhum tipo de "indicação concreta para o desempenho de tarefas práticas,
pois não é informativa", a razão comunicativa afasta-se da tradição prescritiva da razão
prática.
A proposta da Habermas pretende, pois, situar a legitimidade do Direito não no
plano metafísico, mas no plano discursivo e procedimental, lançando mão da sua teoria
do agir comunicativo, na qual a linguagem supera a dimensão sintática e semântica,
6 Retirado de NUNES JUNIOR, Amandino Teixeira. As modernas teorias da justiça . Jus Navigandi, Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4386>. Acesso em: 19 ago. 2008.
29
constituindo o medium de integração social, isto é, o mecanismo pelo qual os agentes
sociais se interagem e fundamentam racionalmente pretensões de validade discursivas
aceitas por todos.
Para Habermas, o Direito legítimo, nas sociedades atuais pós-metafísicas, depende
do exercício constante do poder comunicativo. Para que não se esgote a fonte da justiça,
é mister que um poder comunicativo jurígeno esteja na base do poder administrativo do
Estado.
Mesmo assumindo a perspectiva de que o ordenamento jurídico emana das
diretrizes dos discursos públicos e da vontade democrática dos cidadãos,
institucionalizadas juridicamente, observando a correição parcial, há sempre a
possibilidade de que a normatividade seja injusta, abrindo-se assim para dois caminhos:
o primeiro, a permanecer injusta, passa a constituir-se arbítrio; o segundo, a tornar-se
arbítrio, surge a falibilidade e, com isso, a presunção de que seja revogada ou revista.
Ainda, para Habermas, a resolução dos conflitos será tanto mais facilmente
alcançada quanto maior for a capacidade dos membros da comunidade em restringir os
esforços comunicativos e pretensões de validade discursivas consideradas
problemáticas, deixando como pano de fundo o conjunto de verdades compartilhadas e
estabilizadoras do conjunto da sociedade, possibilitando que grandes áreas da interação
social desfrutem de consensos não problemáticos.
O genial da teoria de Habermas reside, portanto, na substituição de uma razão
prática, baseada num individuo que, através de sua consciência, chega à norma, pela
razão comunicativa, baseada numa pluralidade de indivíduos que, orientando sua ação
por procedimentos discursivos, chegam à norma. Assim, a fundamentação do Direito,
sua medida de legitimidade, é definida pela razão do melhor argumento. Como
30
emanação da vontade discursiva dos cidadãos livres e iguais, o Direito pode realizar a
grande aspiração da humanidade: a efetivação da justiça.
A TEORIA FORMAL DE CHAÏM PERELMAN7
Na sua obra "Ética e Direito", Perelman não pretende formular uma teoria da
justiça que seja a mais apropriada e consentânea com a idéia de racionalidade,
comparativamente às teorias de outros autores. Pretende, na verdade, a partir de um
ponto de vista lógico, examinar os diferentes sentidos da noção de justiça, para deles
extrair um substrato comum – a igualdade - que o conduzirá ao conceito de justiça
formal ou abstrata.
As seis concepções mais correntes da justiça concreta que se afirmaram na
civilização ocidental, desde a Antiguidade até nossos dias, segundo Perelman, são:
a)a cada qual a mesma coisa;
b)a cada qual segundo seus méritos;
c)a cada qual segundo suas obras;
d)a cada qual segundo suas necessidades;
e)a cada qual segundo sua posição;
f)a cada qual segundo o que a lei lhe atribui.
Segundo a primeira concepção da justiça concreta, ser justo é tratar todos da
mesma forma, sem considerar nenhuma das particularidades que distinguem os
indivíduos. Perelman observa que, no imaginário humano, o ser perfeitamente justo é a
morte que vem atingir todos os homens independentemente de seus privilégios.
A segunda concepção da justiça concreta não exige a igualdade de todos, mas um
tratamento proporcional a uma qualidade intrínseca, ao mérito do indivíduo. A questão
é saber o que deve ser levado em conta como mérito ou demérito de uma pessoa, quais
7 NUNES JUNIOR, Amandino Teixeira. As modernas teorias da justiça . Jus Navigandi,Disponível
em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4386>.
31
os critérios que devem presidir tal determinação, se deve ser considerado o resultado da
ação, a intenção do agente ou o sacrifício utilizado.
Perelman observa que, partindo-se dessa concepção, pode-se chegar a resultados
absolutamente distintos, bastando que não se conceda o mesmo grau de mérito aos
mesmos atos dos indivíduos.
A terceira concepção da justiça concreta, cujo único critério do tratamento justo é
o resultado da ação dos indivíduos, é de aplicação infinitamente mais fácil do que a
anterior, pois, ao invés de constituir um ideal quase irrealizável, permite só levar em
consideração elementos sujeitos ao cálculo, ao peso ou à medida. Daí por que sua
aplicação preside tanto o pagamento dos salários dos empregados quanto a definição do
resultado de concursos e exames para provimento de cargos públicos.
A quarta concepção da justiça concreta, em vez de levar em consideração
méritos dos indivíduos ou de sua produção, tenta reduzir os sofrimentos de que resultam
da impossibilidade em que o homem se encontra de satisfazer suas necessidades
essenciais. Assim, aqueles que se encontram em situação precária, carecendo de
condições consideradas como um mínimo vital, devem ter um tratamento diferenciado.
Perelman afirma que a legislação dos países ocidentais que criou, no século XX,
os direitos sociais, como o salário-mínimo e o seguro-desemprego, inspirou-se nessa
fórmula de justiça.
A quinta concepção da justiça concreta baseia-se na superioridade de indivíduos
em decorrência da hereditariedade (ou do nascimento), sendo muito usada na
hierarquização social das sociedades aristocráticas e escravocratas, onde as diferenças
de tratamento levam em consideração critérios como a raça, a religião e a fortuna.
A sexta (e última) concepção da justiça concreta é a paráfrase do princípio de "dar
a cada um o que lhe é devido" ("cuique suum", dos romanos) e se propõe a aplicar aos
fatos um sistema preestabelecido de regras de direito – razão pela qual levará a
resultados diferentes conforme o ordenamento jurídico a ser aplicado.
32
Perelman apresenta a noção de justiça formal (vinculada à igualdade) como o
substrato comum às seis concepções da justiça concreta examinadas anteriormente. Esse
substrato comum – a igualdade – fundamenta-se em valores escolhidos de forma
aleatória – igualdade segundo, por exemplo, a riqueza e a beleza. Em decorrência,
Perelman acaba por estabelecer, como regra de justiça, a igualdade formal, porquanto
"ser justo é tratar da mesma forma os seres que são iguais em certo ponto de vista, que
possuem uma mesma característica, a única que se deve levar em conta na
administração da justiça. Qualifiquemos essa característica de essencial."
A justiça formal ou abstrata, para Perelman, é, pois, "um princípio de ação
segundo o qual os seres de uma mesma categoria essencial devem ser tratados da
mesma forma", sendo que esse princípio subjaz latente em cada uma das seis noções da
justiça concreta.
A partir desse conceito de justiça formal ou abstrata, observa-se que as
concepções concretas de justiça se distinguem à medida que cada uma delas erige um
valor diverso para definir a pertinência dos indivíduos às categorias essenciais dentro
das quais aplicar-se-á um tratamento igual.
Em suma, a justiça possível em Perelman é a justiça formal ou abstrata segundo o
parâmetro da igualdade, fundado sobre uma pauta valorativa. Logo, a justiça deve
contentar-se com um desenvolvimento formalmente correto de um ou mais valores. E
assim Perelman é levado a distinguir três elementos na justiça de determinado sistema
normativo: o valor que a fundamenta, a regra que a enuncia e o ato que a realiza.
A TEORIA SOCIAL DE JOHN RAWLS
A teoria da justiça de John Ralws, contida na obra "Uma teoria da justiça", é uma
das mais importantes desenvolvidas no século XX. Pretende Rawls "elaborar uma teoria
da justiça que seja uma alternativa para essas doutrinas que há muito tempo dominam a
nossa tradição filosófica – a utilitária e a intuicionista".
33
A sociedade é vista por Rawls, como uma associação mais ou menos auto-
suficiente de pessoas que, em suas relações, reconhecem a existência de regras de
condutas como obrigatórias, as quais, na maioria das vezes, são cumpridas e obedecidas,
especificando um sistema de cooperação social para realizar o bem comum.
Nesse contexto, surgem tanto identidade de interesses como conflito de interesses
entre as pessoas, pois estas podem acordar ou discordar pelos mais variados motivos,
quanto às formas de repartição dos benefícios e dos ônus gerados no convívio social.
Para Rawls, são dois os princípios da justiça social:
"Primeiro: cada pessoa deve ter um direito igual ao mais abrangente sistema de
liberdades básicas iguais que seja compatível com um sistema semelhante de liberdades
para as outras.
Segundo: as desigualdades sociais e econômicas devem ser ordenadas de tal
modo que sejam ao mesmo tempo (a) consideradas como vantajosas para todos dentro
dos limites do razoável, e (b) vinculadas a posições e cargos acessíveis a todos."
Tais princípios, segundo Rawls, aplicam-se à estrutura básica da sociedade,
presidem a atribuição de direitos e deveres e regem as vantagens sociais e econômicas
advindas da cooperação social.
Rawls observa ainda que os dois princípios são um caso especial de uma
concepção mais geral da justiça assim expressa:
"Todos os valores sociais – liberdade e oportunidade, renda e riqueza, e as bases
sociais da auto-estima - devem ser distribuídos igualitariamente, a não ser que uma
distribuição desigual de um ou de todos esses valores traga vantagens para todos. “
Vê-se, pois, que os princípios de justiça social têm um nítido caráter "substancial",
e não meramente "formal", na teoria de Rawls. Logo no início de sua obra, ele é bem
claro quando sustenta que o que o preocupa é a justiça verificada na atribuição de
direitos e liberdades fundamentais às pessoas, assim como a existência real da igualdade
de oportunidades econômicas e de condições sociais nos diversos segmentos da
sociedade.
34
Assim, o objeto primário da justiça, para Rawls, "é a estrutura básica da
sociedade, ou mais exatamente, a maneira pela qual as instituições sociais mais
importantes distribuem direitos e deveres fundamentais e determinam a divisão de
vantagens provenientes da cooperação social."
Segundo Rawls, os princípios de justiça social, que regulam a escolha de uma
constituição política, devem ser aplicados em primeiro lugar às profundas e difusas
desigualdades sociais, supostamente inevitáveis na estrutura básica de qualquer
sociedade.
Em suma, para Rawls, a concepção de justiça apresentada na sua obra consiste na
"justiça como eqüidade" ("justice as fairness"), significando que é uma justiça
estabelecida numa posição inicial de perfeita eqüidade entre as pessoas, e cujas idéias e
objetivos centrais constituem uma concepção para uma democracia constitucional.
2.2 Uma questão de principio:Os princípios juídicos-consumeiristas
Podemos aduzir alguns princípios8 trazidos pela L.8078/90 tanto no art.4° do
CDC e em outros, que na verdade não são somente princípios fundamentais, são
cláusulas gerais abertas, que é uma técnica legislativa moderna alemã, técnica das
cláusulas gerais. Eles tem muita importância porque como são princípios fundamentais,
que na verdade funcionam como cláusulas gerais, eles se consideram como inseridos em
todos os contratos de consumo. Isso mitiga a inércia do judiciário, pois como elas se
consideram inseridas nos contratos, o juiz pode agora verificando a ausência de uma
dessas cláusulas modificar o contrato.:
8 Retirado das anotações em aula proferidas no Curso de Especialização em Direito Consumidor
2007, pela UCAM-Projeto A Vez do Mestre.
35
1) Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor: está bem claro no art.
4º CDC, quando fala da política nacional de consumo Ou seja, o governo declarou e
reconhece que o consumidor é vulnerável diante do fornecedor. Se ele é vulnerável, os
riscos do consumo não podem cair sobre os ombros dele, ao contrário, o risco do
consumo teve que se inverter e recair sobre os ombros do fornecedor, pois já que o
fornecedor é triplamente mais forte, ele tem mais condições de suportar esse risco. Por
isso que o título da lei afirma que ela dispõe sobre a proteção do consumidor.(4°,I CDC)
2) Princípio da Transparência: nas relações de consumo, o que se quer é uma
conduta transparente de ambas as partes. As partes não podem contratar de maneira
ambígua, com reserva mental, elas devem expor uma à outra as suas pretensões, as suas
expectativas.
3) Princípio da Informação: visa suprir a deficiência técnica, a vulnerabilidade
técnica. O fornecedor hoje tem que informar ao consumidor tudo que ele precisa saber
sobre o desempenho daquele produto/serviço, os riscos e danos que ele pode causar,
como usar o produto, como proteger-se dos seus riscos inerentes. (6°, III CDC)
4) Princípio da Segurança: o consumidor tem o direito de se sentir seguro ao
adquirir o produto, de saber que aquele produto não lhe causará dano. Quem tem que
responder por isso é o fornecedor, o risco é do fornecedor se esse produto causar dano.
(ART.8° CDC_
5) Princípio da solidariedade: Tal principio retira-se do art. 7º , p. único CDC.
Isso mudou as relações de consumo, pois agora o consumidor lesado que sofreu um
dano, pode eleger à sua vontade qualquer desses elos da cadeia da produção para entrar
com pretensão indenizatória. Essa é a regra de ouro da solidariedade, pois eu posso
acionar todos, do fabricante ao importador, como posso acionar um só deles, ou alguns
deles.(
6) Princípio do acesso à justiça: é diferente de acesso ao judiciário. Acesso ao
judiciário é o direito de propor a ação, e isso todos tem hoje com a Justiça Gratuita, nem
os carentes tem esse problema. Acesso à justiça é o direito que tem o consumidor de
obter do Estado uma resposta rápida e efetiva ao seu conflito de interesses; direito de
efetividade e da utilidade da prestação jurisdicional. O CDC criou regras que tornam o
acesso a justiça eficiente. este princípio está em vários lugares do CDC, espalhado, entre
36
eles onde está garantida a defesa do consumidor com a inversão do ônus da prova, que é
uma revolução no processo civil clássico.. Outro exemplo deste princípio é quando o
CDC proíbe a denunciação da lide nas ações referentes à relação de consumo, porque
ela tumultua e retarda o processo.(6°,VII CDC)
7) Princípio Geral da Boa-fé: também chamado de cláusula geral da boa-fé..
Ele se encontra no art. 4º III CDC, ele permite que o juiz modifique o contrato se
perceber que é abusivo. Está claramente também no art. 51 CDC, que elenca as
cláusulas abusivas. A boa-fé precisa ser dupla, tanto do consumidor quanto do
fornecedor.(ART.51 CDC)
Existem ainda importantes principios emanados do Codigo Civil de 2002, e para
alguns, já consagrado no Código Consumeirista como ensina Flavio Tartuce9 que
passamos a expor a seguir a reprodução do texto elaborado pelo renomado autor,
valendo ressaltar a aplicação plena face ao artigo 7° da L.8.078/90:
1) PRINCÍPIO DA ETICIDADE – O Novo Código Civil se distancia do
tecnicismo institucional advindo da experiência do Direito Romano, procurando, ao
invés de valorizar formalidades, reconhecer a participação dos valores éticos em todo
o Direito Privado.
Por isso muitas vezes se percebe a previsão de preceitos genéricos e cláusulas
gerais, sem a preocupação do encaixe perfeito entre normas e fatos. Também, o Novo
Código abandona o excessivo rigor conceitual, possibilitando a criação de novos
modelos jurídicos, a partir da interpretação da norma diante de fatos e valores –
melhor concepção da Teoria Tridimensional do Direito.
O Princípio da Eticidade pode ser percebido pela leitura de vários dispositivos do
Novo Codigo, sendo vários exemplos citados pelo próprio Miguel Reale.
9 retirado do sitio http://www.flaviotartuce.adv.br/secoes/artigos.asp em 03/01/2008),
37
Inicialmente, nota-se a valorização de condutas éticas, da boa-fé objetiva, pelo
conteúdo da norma do art. 113, segundo o qual "os negócios jurídicos devem ser
interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração."
O art. 187 prevê justamente qual a sanção para a pessoa que contraria a boa-fé,
a função social ou econômica de um instituto ou os bons costumes: cometerá abuso de
direito, assemelhado a ilícito: “comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes."
O art. 422 também valoriza a eticidade, prevendo que a boa-fé deve integrar a
conclusão e a execução do contrato. As conseqüências dessa previsão serão enormes,
conforme veremos oportunamente, mantendo íntima relação com o princípio da função
social do contrato.
Como bem enfoca Miguel Reale “freqüente é no Projeto a referência à probidade
e a boa-fé, assim como à correção (corretezza) ao contrário do que ocorre no Código
vigente, demasiado parcimonioso nessa matéria, como se tudo pudesse ser regido por
determinações de caráter estritamente jurídicas” (Visão geral do novo Código Civil .
Jus Navigandi, Teresina, a 6, número 54, fevereiro de 2002:
<http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=2718>. Acesso em: 30 dez. 2003).
2) PRINCÍPIO DA SOCIALIDADE – O Novo Código Civil procura superar o
caráter individualista que imperava na codificação anterior, valorizando a palavra
“nós”, em detrimento da palavra “eu”.
Isso diante das inúmeras modificações pelas quais passou a sociedade: houve o
incremento dos meios de comunicação, a “standardização” dos negócios e o
surgimento da sociedade de consumo em massa, trazendo uma nova realidade que
atingiu os alicerces de praticamente todos os institutos privados. Desse modo, deverá
prevalecer o social sobre o individual, o coletivo sobre o particular.
38
A função social do contrato está agora tipificada em lei, prevendo o art. 421 do
Novo Código, que “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da
função social do contrato.
3) PRINCÍPIO DA OPERABILIDADE – O Novo Código Civil segue tendência
de facilitar a interpretação e aplicação dos institutos nele previstos. Procurou-se assim
eliminar as dúvidas que imperavam na codificação anterior, fundada no tecnicismo
jurídico.
Com exemplo disso podemos citar a distinção que agora consta em relação aos
institutos da prescrição extintiva e da decadência, tópico que trazia grandes dúvidas
pela lei anterior. Agora, mais facilitadas as previsões legais desses institutos, poderá
o estudioso do direito entender muito bem as distinções existentes e identificar com
facilidade se determinado prazo é de prescrição ou de decadência.
Em matéria de Direito Contratual, o princípio da operabilidade pode ser
percebido pela previsão taxativa e conceitual dos contratos em espécie, cujas previsões
constam agora. O Novo Código conceitua a compra e venda, a locação, a empreitada, a
prestação de serviços, o transporte, o seguro, e assim sucessivamente.
Enfim, tal o sistema de proteção ao consumidor ganhar reforço ao ingressar no
sistema juridico patrio a noção, previsão e aplicação de tais principos juridicos.
2.3 A Constituição da República Brasileira e o consumidor
39
A questão dos Direitos do Consumidor é tão importante que em três
oportunidades distintas é tratada na Constituição Federal vigente, conforme relata a
doutrina10.
A primeira vez, já em seu Capítulo I do Título II, no artigo 5º, XXXII CF/88
que "o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor" . significando o
dever do Estado defender o consumidor, de acordo com o que estiver estabelecido nas
leis.
A segunda vez que a Constituição menciona a defesa do consumidor é quando
trata dos princípios gerais da atividade econômica no Brasil, citando em seu artigo 170,
V,CF/88 que a defesa do consumidor é um dos princípios que devem ser observados no
exercício de qualquer atividade econômica.
Finalmente, o artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
(ADCT), determina que o Congresso Nacional elabore o Código de Defesa do
Consumidor.
José Geraldo Brito Filomeno11 lembra que a sensibilização "constituintes de
1887/88, foi obtida por unanimidade na oportunidade do encerramento do VII
Encontro Nacional das (...) Entidades de Defesa Do Consumidor, desta feita realizado
em Brasília, por razões óbvias, no calor das discussões da Assembléia Nacional
Constituinte, e que acabou sendo devidamente protocolada e registrada sob n.º 2.875,
em 8-5-87, trazendo sugestões de redação, inclusive aos então artigos 36 e 74 da
Comissão "Afonso Arinos", com especial destaque para a contemplação dos direitos
fundamentais do consumidor (ao próprio consumo, à segurança, à escolha, à
informação, a ser ouvido, à indenização, à educação para o consumo e a um meio
ambiental saudável)." (Ob.cit. p. 21-22).
Nosso Código do Consumidor — como assinalamos acima reúne disposições
extraídas de vários ramos do direito, o que vai dificultar sobremaneira sua interpretação
e sua aplicação, porque, a todo instante, existe a possibilidade de conflito com a variada
legislação anterior.
10 PEDRON, Flávio Barbosa Quinaud; CAFFARATE, Viviane Machado. Evolução histórica do Direito do
Consumidor. Jus Navigandi, Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=687>. Acesso em: 20 ago.
2007.
11 FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de Direitos do Consumidor. São Paulo: Atlas, 1991
40
Rezava o § 42 do art. 153 da Constituição Federal anterior, verbis: “A lei não
poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão de direito
individual”. Ë bem verdade que as Constituições anteriores — a exemplo da de 1967,
Emenda n. 1/69 — só faziam menção a direito subjetivo individual.
Emanados da legislação, como já relatado, o surgimento de princípios próprios de
proteção ao consumidor é sem duvida a maior importância trazida pela L.8.078/90.
Para o professor Celso Antonio Bandeira de Mello12 ”principio é o mandamento
nuclear do sistema, verdadeiro alicerce dele que se irradia sobre diferentes normas
compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e
inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo,
no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico”.
Podemos aduzir alguns princípios13 trazidos pela L.8078/90 tanto no art.4° do
CDC e em outros, que na verdade não são somente princípios fundamentais, são
cláusulas gerais abertas, que é uma técnica legislativa moderna alemã, técnica das
cláusulas gerais. Eles tem muita importância porque como são princípios fundamentais,
que na verdade funcionam como cláusulas gerais, eles se consideram como inseridos em
todos os contratos de consumo. Isso mitiga a inércia do judiciário, pois como elas se
consideram inseridas nos contratos, o juiz pode agora verificando a ausência de uma
dessas cláusulas modificar o contrato.:
De conseqüência, ficava em aberto a defesa dos interesses coletivos ou difusos, no
plano constitucional.
Mais uma prova de que a Carta Magna em vigor (pelo menos,no ponto aqui
ventilado) quer acertar o passo com o Pais que, hoje, é a oitava potência econômica do
mundo vamos encontrar no inciso XXXVI do art. 5ª: “As entidades associativas,
quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados
judicial ou extrajudicialmente” Dilata a legitimação para agir em juízo. A pessoa
jurídica — autorizada por seus estatutos ou por seus associados reunidos em assembléia
— pode ingressar em juízo para defender interesse coletivo de seus filiados.
12 Celso Antonio Bandeira de Melo, curso de Direito Administrativo, 9ªed. Malheiros, 1997. pp573-574
13 Retirado das anotações em aula proferidas no Curso de Especialização em Direito Consumidor
2007, pela UCAM-Projeto A Vez do Mestre.
41
2.4 A L.8.078/90 e sua repercussão na sociedade
Um dos mandamentos da L.8078/90, art.4° e no art.6°, II, é a educação e
informação de fornecedores e consumidores para garantir melhoria da qualidade de
vida, mediante o consumo adequado. E prevê como um dos órgãos de execução da
Política Nacional das Relações de Consumo, as Associações de Defesa do Consumidor,
ampliando o debate para toda sociedade e outras áreas do conhecimento. 14
Por exemplo, se discute muito atualmente, mesmo com metade da humanidade
situada abaixo da linha de pobreza, que já se consome 20% a mais do que a Terra
consegue renovar. Se a população do mundo passasse a consumir como os americanos,
seriam necessários mais três planetas iguais a este para garantir produtos e serviços
básicos como água, energia e alimentos para todo mundo. A busca por adotar padrões
de produção e de consumo sustentáveis é um desses efeitos, que não são unicamente da
L.8078/90, mas certamente potencializados por ela. Para os países ricos, isso significa,
por exemplo, procurar fontes de energia menos poluidoras, diminuir a produção de lixo
e reciclar o máximo possível, além de repensar sobre quais produtos e bens são
realmente necessários para alcançar o bem-estar. Aos países em desenvolvimento, que
têm todo o direito a crescer economicamente, cabe o desafio de não repetir o modelo
predatório e buscar alternativas para gerar riquezas sem destruir florestas ou contaminar
fontes de água.
Nesse processo, o consumidor consciente tem um papel fundamental. Nas suas
escolhas cotidianas, seja na forma como consome recursos naturais, produtos e serviços,
seja pela escolha das empresas das quais vai comprar em função de sua
responsabilidade social, pode ajudar a construir uma sociedade mais sustentável e justa.
14 Retirado do site: http://www.akatu.net/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=9, em 20/09/2007
42
Podemos citar alguns exemplos muito divulgados na mídia15:
Fast-food e aquecimento global
11 de Julho de 2006 Fonte: Instituto Akatu
”Se "somos o que comemos", como diz o ditado, um estudo acadêmico feito nos Estados
Unidos comprovou que nossos hábitos alimentares têm relação direta também com a
"saúde" do planeta. De acordo com a pesquisa, adotar uma dieta vegetariana é uma
forma simples de consumir sem agredir o meio ambiente, enquanto que hábitos
alimentares com predominância de comida industrializada e rica em proteína animal
contribuem diretamente para um dos problemas ambientais que mais ameaçam o
mundo: o aquecimento global.
A pesquisa mostra que a produção, a estocagem e a conservação de alimentos
enlatados, embutidos e fast-food - todos com processamento industrial - é responsável
por cerca de 20% da queima de combustíveis fósseis (derivados do petróleo) nos EUA.
Assim, a dieta típica dos norte-americanos emite gases de efeito estufa em quantidade
equivalente a um terço da emissão de todos os carros, motos e caminhões do país. Os
transportes são apontados como os principais causadores do superaquecimento do
planeta.
Mas ressaltam que pequenas mudanças nos hábitos alimentares das pessoas
podem ter um impacto positivo muito grande. "Se cada um que come dois
hambúrgueres por semana cortasse essa quantidade pela metade, a diferença já seria
substancial", disse Eshel, professor-assistente em ciências geofísicas, ao jornal da
universidade.
Dessa forma, o consumidor consciente pode, por meio de sua escolha alimentar,
contribuir para não aprofundar o problema de aquecimento da Terra e mudanças
climáticas decorrentes.Com informações de A Tribuna Digital
15 Retirado do site: http://www.akatu.net/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=9, em 20/09/2007
43
Consumo consciente é a única salvação da Amazônia
30 de Março de 2006 Fonte: Instituto Akatu
“Um estudo realizado pelos cientistas brasileiros Britaldo Soares-Filho e Daniel
Nepstad, e publicado no último dia 23 pela revista inglesa Nature, indica que, mantido
o atual ritmo de devastação da floresta amazônica, 40% da maior cobertura vegetal do
planeta pode desaparecer até 2050. As consequências disso podem facilmente ser
classificadas como catastróficas: além da ameaça à biodiversidade do habitat mais rico
da Terra, bilhões de toneladas a mais de dióxido de carbono seriam lançadas na
atmosfera, contribuindo ainda mais para o aquecimento global.
São três os maiores responsáveis pela derrubada de árvores na Amazônia: a
pecuária extensiva, a monocultura de soja e o extrativismo ilegal de madeira. Essas
três atividades econômicas têm como objetivo abastecer os mercados interno e externo
com carne vermelha, ração para aves e porcos, óleo de cozinha e matéria-prima para
fabricação de uma extensa gama de produtos que usam a madeira.
Na ponta dessa cadeia produtiva está o consumidor, o único que tem poder para
mudar o panorama.
O poder de consumidor está na escolha. Mudar hábitos de consumo é um desafio
grande, mas que pode ser vencido se houver a sensibilização sobre a urgência da
questão. Ao comer menos carne vermelha, além de fazer bem à saúde, estaremos
diminuindo a demanda por pastagens. Optar por alimentos orgânicos (inclusive carne
de vaca e de frango), que são produzidos sob normas que preservam o meio ambiente, e
comprar apenas produtos feitos de madeira certificada são duas atitudes que
certamente contribuem muito para a preservação da Amazônia e outras florestas.
Como não há ainda no Brasil uma regulamentação sobre os alimentos orgânicos,
diversas certificadoras usam seus próprios critérios para dar o seu selo.
44
“As regras mais comuns para obter o selo de certificação incluem: a
desintoxicação do solo (fase de conversão, que dura, aproximadamente, dois anos), a
não-utilização de adubos químicos e agrotóxicos, a recomposição de matas ciliares, a
preservação de espécies nativas e mananciais, o respeito às normas sociais baseadas
nos acordos internacionais do trabalho e a não utilização de sementes geneticamente
modificadas. Saiba mais sobre os orgânicos clicando aqui.
A certificação florestal, por sua vez, deixou de ser uma realidade distante para se
tornar uma realidade para o consumidor brasileiro..São produtos como material de
construção, móveis, objetos de decoração, utensílios domésticos, brindes, cosméticos,
material escolar e de escritório, além de livros e até alimentos, com a garantia de
origem ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável. Se o
consumidor final pode exercer sua responsabilidade ao adquirir produtos e serviços, o
mesmo vale para os governos e as empresas. Um bom exemplo disso foi a medida do
governo estadual de São Paulo de pôr em prática um programa de compras
responsáveis para a madeira nativa utilizada em obras e serviços públicos. O termo
estabelece que apenas madeira com origem em planos de manejo florestal será aceita
dos fornecedores do governo, excluindo-se madeira de extração predatória e
desmatamentos. São Paulo é o primeiro estado da federação a participar do programa
"Cidade Amiga da Amazônia", do Greenpeace, que já está em andamento em 28
municípios brasileiros. “
45
Consumidor consciente exige nota fiscal
05 de Abril de 2006 Fonte: Instituto Akatu
Muitos brasileiros não pedem nota fiscal ao efetuar compras ou contratar
serviços. Esse "descompromisso", porém, pode ter consequências sérias para a
economia e a sociedade. Sonegação de impostos e exploração de mão-de-obra são
alguns dos perigos inibidos pelo documento.
A nota fiscal comprova a existência de um ato comercial (compra e venda de
mercadorias ou prestação de serviços). Qualquer transação sem a devida
documentação, portanto, é uma porta aberta para o famoso "caixa 2" - um dinheiro que
inexiste oficialmente, mas que pode ser usado, por exemplo, para a contratação de
pessoal sem o pagamento dos respectivos direitos trabalhistas.
Esse dinheiro "invisível", que não consta do balanço da empresa, também não
sofre a incidência de impostos. Isto é, a arrecadação do governo diminui, limitando
também sua capacidade de investimentos em serviços à população.
A informalidade é um mal para o País. De acordo com pesquisa da consultoria
McKinsey, 40% da renda brasileira é gerada em atividades ilegais como contrabando,
pirataria e sonegação de impostos. O estudo conclui, ainda, que uma redução de
apenas 20% na informalidade elevaria a taxa de crescimento do Brasil em 1,5 ponto
percentual ao ano, fazendo com que o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto)
chegasse a 5% ao ano.
Pelo respeito às leis e para o bem do País, o consumidor consciente exige nota
fiscal.
Além disso, por trás do mercado informal estão organizações criminosas que
roubam mercadorias, falsificam produtos e praticam o contrabando.
Com informações da Folha de S.Paulo e Receita Federal
46
Capitulo 3. As Ações Coletivas de consumo
Feitas as explicação necessárias iniciais passamos ao ponto central do tema.
3.1. Origem e conceitos
A Professora Ada Pelegrine Grinover16 ensina que, seja nos casos de controle
jurisdicional indispensável, seja quando simplesmente uma pretensão deixou de ser
satisfeita por quem podia satisfazê-la, a pretensão trazida pela parte ao processo clama
por uma solução que faça justiça a ambos os participantes do conflito e do processo. Por
isso é que se diz que o processo deve ser manipulado de modo a propiciar às partes o
acesso à justiça, o qual se resolve, na expressão muito feliz da doutrina brasileira
recente, em acesso à ordem jurídica justa.
Acesso à justiça não se identifica, pois, com a mera admissão ao processo, ou
possibilidade de ingresso em juízo. Para que haja o efetivo acesso à justiça é
indispensável que o maior número possível de pessoas seja admitido a demandar e a
defender-se adequadamente (inclusive em processo criminal), sendo também
condenáveis as restrições quanto a determinadas causas (pequeno valor, interesses
difusos), mas para a integralidade do acesso à justiça, é preciso isso e muito mais
Para a efetividade do processo, ou seja, para a plena consecução de sua missão
social de eliminar conflitos e fazer justiça, é preciso, de um lado, tomar consciência dos
escopos motivadores de todo o sistema (sociais, políticos, jurídicos); e, de outro, superar
os óbices que a experiência mostra estarem constantemente a ameaçar a boa qualidade
do seu produto final. A história do direito processual inclui três fases metodológicas
fundamentais.
16 Retirado de textos e anotações das aulas de Pós-Graduação “as grandes transformações do
Processo”, realizada no ano de 2006, pela Universidade do Mazonas em convênio com a rede de ensino
Luis Flavio Gomes.
47
Até meados do século passado, processo era considerado simples meio de
exercício dos direitos (daí, direito adjetivo, expressão incompatível com a hoje
reconhecida independência do direito processual). A ação era entendida como sendo o
próprio direito subjetivo material que, uma vez lesado, adquiria forças para obter em
juízo a reparação da lesão sofrida. Não se tinha consciência da autonomia da relação
jurídica processual em face da relação jurídica de natureza substancial eventualmente
ligando os sujeitos do processo.
Nem se tinha noção do próprio direito processual como ramo autônomo do
direito e, muito menos, elementos para a sua autonomia científica.
Foi o longo período de sincretismo, que prevaleceu das origens até quando os
alemães começaram a especular a natureza jurídica da ação no tempo moderno e acerca
da própria natureza jurídica do processo.A segunda fase foi autonomista, ou conceitual,
marcada pelas grandes construções científicas do direito processual. Foi durante esse
período de praticamente um século que tiveram lugar as grandes teorias processuais,
especialmente sobre a natureza jurídica da ação e do processo, as condições daquela e
os pressupostos processuais, erigindo-se definitivamente uma ciência processual. A
afirmação da autonomia científica do direito processual foi uma grande preocupação
desse período, em que as grandes estruturas do sistema foram traçadas e os conceitos
largamente discutidos e amadurecidos. Faltou, na segunda fase, uma postura crítica. O
sistema processual era estudado mediante uma visão puramente introspectiva, no exame
de seus institutos, de suas categorias e conceitos fundamentais; e visto o processo
costumeiramente como mero instrumento técnico predisposto à realização da ordem
judicial material, sem o reconhecimento de suas conotações deontológicas e sem a
análise dos seus resultados na vida das pessoas ou preocupação pela justiça que ele
fosse capaz de fazer.
A fase instrumentalista, ora em curso, é eminentemente crítica. O
processualista moderno sabe que, pelo aspecto técnico-dogmático, a sua ciência já
atingiu níveis muito expressivos de desenvolvimento, mas o sistema continua falho na
sua missão de produzir justiça entre os membros da sociedade. É preciso agora deslocar
o ponto-de-vista e passar a ver o processo a partir de um ângulo externo, isto é,
examiná-los nos seus resultados práticos.
48
Como tem sido dito, já não basta encarar o sistema do ponto-de-vista dos
produtores do serviço processual (juízes, advogados, promotores de justiça); é preciso
levar em conta o modo como os seus resultados chegam aos consumidores desse
serviço, ou seja, à população destinatária Para o desencadeamento desse novo método,
crítico por excelência, foi de muita relevância o florescer do interesse pelo estudo das
grandes matrizes constitucionais do sistema processual.
Diz-se que, no decorrer dessa fase ainda em andamento, tiveram lugar três
ondas renovatórias, a saber:
a) uma consistente nos estudos para a melhoria da assistência judiciária aos
necessitados;
b) a segunda voltada à tutela dos interesses supra-individuais, especialmente no
tocante aos consumidores e à rigidez ambiental (interesses coletivos e interesses
difusos);
c) a terceira traduzida em múltiplas tentativas com vistas à obtenção de fins
diversos, ligados ao modo-de-ser do processo (simplificação e racionalização de
procedimentos, conciliação, eqüidade social distributiva, justiça mais acessível e
participativa, etc.).
A terceira fase está longe de exaurir o seu potencial reformista.Já se obteve
também algum progresso no plano prático, especialmente mediante a legislação
brasileira sobre pequenas causas (ampla assistência jurídico-judiciária, simplificação
das formas, maior acessibilidade popular) e ação civil pública (tutela jurisdicional a
interesses supra-individuais), além das garantias constitucionais do mandado de
segurança coletivo (proteção a interesses homogêneos de pessoas integrantes de
determinada categoria), da assistência jurídica aos necessitados, da ação direta de
inconstitucionalidade aberta a diversas entidades representativas, da exclusão das provas
obtidas por meios ilícitos etc, (cfr. respectivamente, lei n. 7.244, de 7.11.84, lei n. 7.347,
de 24.7.85, e Const., art. 5º, incs. LXX, LXXIV, LVI, e art. 103). O Código do
Consumidor constitui outra conquista dessa fase, especialmente no que toca ao
tratamento processual específico ali estabelecido (v. lei n. 8.078, de 11.9.90).
49
Como resultado de todo esse esforço da doutrina, hoje se podem destacar as
linhas evolutivas do direito processual, no exterior e especialmente no Brasil. O
processo tradicional vem sendo marcado por profundas alterações metodológicas,
passando (a) do plano abstrato ao concreto, (b) do plano nacional ao internacional e
(c) do plano individual ao social.
Do abstrato ao concreto. As normas processuais buscam hoje a plena satisfação
do direito material, ou seja, um processo de resultados (efetividade do processo).
Inseremse nessa linha os novos dispositivos do Código de Processo Civil que adotam a
chamada tutela jurisdicional diferenciada, ou seja, procedimentos sumários e de
cognição superficial necessários a assegurar a fruição do bem antes que o tempo corroa
o direito ou seu objeto (como tutela antecipada) ou a encurtar o tempo do processo
(p.ex., ação monitória).
Do plano nacional ao internacional. Cada vez mais, as normas processuais
cuidam do transporte dos provimentos jurisdicionais para fora dos limites territoriais
dos Estados soberanos (o direito processual internacional). Nessa linha, vem-se
facilitando a homologação das sentenças estrangeiras, a colaboração nos atos de
comunicação processual, o cumprimento das medidas cautelares determinadas por juiz
estrangeiro, etc. Insere-se também nesse plano a harmonização de normas processuais
em comunidades econômicas e sociais homogêneas, como ocorre entre países da União
Européia. No Mercosul esse caminho é ainda incipiente, mas a comunidade ibero-
americana já conta com um Código Modelo de Processo Civil, um Código Modelo de
Processo Penal e um Código Modelo de Processos Coletivos, resultado dos trabalhos do
Instituto Ibero-Americano de Direito Processual. Os Códigos-Modelo não são
imperativos para os Estados, mas constituem um repositório de princípios e de normas
virtuais ali colocados como fonte de inspiração aos diversos países para suas reformas
processuais.
50
Do plano individual ao plano social. O processo eminentemente individualista
do século XIX e da primeira metade do século XX (até por volta dos anos setenta), que
respondia aos anseios de um direito material igualmente individualista, foi se
transformando em um processo destinado a atender também a grupos, categorias e
classes de pessoas, no que se refere, sinteticamente, à qualidade de vida (direito ao
ambiente sadio, a relações de consumo equilibradas, ao respeito ao usuário de serviços
públicos, à segurança dos investidores, etc.).
Trata-se, agora, de dar apoio, com novos instrumentos processuais, aos
interesses de massa, em uma sociedade de massa. E, para tanto, institutos inteiros que
estavam à base do direito processual tiveram de ser reformulados, para a tutela efetiva
dos titulares de novos direitos, reconhecidos nas modernas Constituições. Surgiram
nesse quadro as ações coletivas, destinadas à tutela referente aos direitos ou
interesses de inteiros grupos, categorias e classes de pessoas, indeterminados e às vezes
indetermináveis – e tudo isso possibilita, ao menos no Brasil, o reconhecimento de um
direito processual coletivo, ao lado do clássico direito processual individual ( o qual, por
sua vez, vai sendo revisitado, como visto).
51
3.2 O CDC e as Ações Coletivas
Entre os países de civil law, o Brasil foi pioneiro na criação e implementação dos
processos coletivos. A partir da reforma de 1977 da Lei da Ação Popular, os direitos difusos, em
sentido lato, receberam tutela jurisdicional por intermédio da legitimação do cidadão.
Mas foi com a Lei n. 7.347/85 – a Lei da Ação Civil Pública - que os interesses
transindividuais, ligados ao consumidor e outros temas, receberam tutela diferenciada,
por intermédio de princípios e regras que, de um lado, rompiam com a estrutura
individualista do processo civil brasileiro e, de outro, acabaram influindo no Código de
Processo Civil.
Tratava-se, porém, de uma tutela restrita a objetos determinados (meio ambiente e
consumidores), até que a Constituição de 1988 veio universalizar a proteção coletiva
dos interesses ou direitos transindividuais, sem qualquer limitação em relação ao objeto
do processo. Finalmente, com o Código de Defesa do Consumidor, de 1990, o Brasil
pôde contar com um verdadeiro microssistema de processos coletivos, composto pelo
Código - que também criou a categoria dos interesses ou direitos individuais
homogêneos - e pela Lei n. 7.347/85, interagindo mediante a aplicação recíproca das
disposições dos dois diplomas.
Com ensina Ada Pelegrine Grinover em texto fornecido na Pós Graduação “As
grandes transformaçãoes do processo”, realizada pela rede LFg de ensino e a
Universidade do Amazonas- o Código Modelo de Processo Civil para Ibero-América
recepcionou a idéia brasileira da tutela jurisdicional dos interesses difusos, com algumas
modificações em relação à legitimação (que inclui qualquer interessado) e ao controle
sobre a representatividade adequada (que no Brasil não é expresso). Com relação à coisa
julgada, o regime brasileiro do julgado erga omnes, salvo insuficiência de provas, foi
igualmente adotado.
52
Desse modo, o Brasil conta agora com vinte anos de experiência de aplicação da
Lei da ACP, quinze de CDC, numerosos estudos doutrinários sobre a matéria, cursos
universitários, de graduação e pós-graduação sobre processos coletivos, debates,
seminários e congressos a respeito do assunto. Na Colômbia, a legislação sobre a
matéria está sendo aplicada há 6 anos .
Outros países passaram por diversas experiências judiciais. O assunto foi objeto
de estudos e debates em numerosos seminários, encontros e congressos realizados na
América Latina, na Itália e na Espanha. A existência de um Código Modelo de
Processos Coletivos para Ibero-América consolidou o tratamento processual dos
interesses ou direitos difusos e individuais homogêneos. Chegada é a hora de nos
perguntarmos se tudo isso autoriza os estudiosos a conceber o surgimento de um Direito
Processual Coletivo, autônomo na medida em que observa seus próprios princípios e
seus institutos fundamentais, distintos dos princípios e institutos do direito processual
individual .
Podemos traçar e examinar os princípios e institutos fundamentais do direito
processual coletivo, naquilo em que se diferenciam dos que regem o direito processual
individual, com a finalidade de aferir se efetivamente se pode falar de um novo ramo do
direito processual:
Princípio do acesso à justiça:O tema do acesso à justiça, dos mais caros aos
olhos processualista contemporâneo, não indica apenas o direito de aceder aos tribunais,
mas também o de alcançar, por meio de um processo cercado das garantias do devido
processo legal, a tutela efetiva dos direitos violados ou ameaçados, principalmente os
direitos do Consumidor. Na feliz expressão de Kazuo Watanabe, o acesso à justiça
resulta no acesso à ordem jurídica justa.
Um dos mais sensíveis estudiosos do acesso à justiça – Mauro Cappelletti –
identificou três pontos sensíveis nesse tema, que denominou “ondas renovatórias do
direito processual”: a – a assistência judiciária, que facilita o acesso à justiça do
hipossuficiente; b – a tutela dos interesses difusos, permitindo que os grandes conflitos
de massa sejam levados aos tribunais; c – o modo de ser do processo, cuja técnica
processual deve utilizar mecanismos que levem à pacificação do conflito, com justiça.
Percebe-se, assim, que o acesso à justiça para a tutela de interesses
transindividuais, visando à solução de conflitos que, por serem de massa, têm
dimensão social e política, assume feição própria e peculiar no processo coletivo.
53
O princípio que, no processo individual, diz respeito exclusivamente ao cidadão,
objetivando nortear a solução de controvérsias limitadas ao círculo de interesses da
pessoa, no processo coletivo transmuda-se em princípio de interesse de uma
coletividade, formada por centenas, milhares e às vezes milhões de pessoas.
E o modo de ser do processo, que, quando individual, obedece a esquemas
rígidos de legitimação, difere do modo de ser do processo coletivo, que abre os
esquemas da legitimação, prevendo a titularidade da ação por parte do denominado
“representante adequado” , portador em juízo de interesses e direitos de grupos,
categorias, classes de pessoas.
Princípio da universalidade da jurisdição: Liga-se ao princípio do acesso à
justiça o da universalidade da jurisdição, segundo o qual o acesso à justiça deve ser
garantido a um número cada vez maior de pessoas, amparando um número cada vez
maior de causas.
O princípio da universalidade da jurisdição tem pouca significação no processo
individual, limitando-se à utilização da técnica processual com o objetivo de que todos
os conflitos de interesses submetidos aos tribunais tenham resposta jurisdicional, e
justamente a resposta jurisdicional adequada.
Mas o princípio assume dimensão distinta no processo coletivo, pois é por
intermédio deste que as massas têm a oportunidade de submeter aos tribunais as novas
causas, que pelo processo individual não tinham sequer como chegar à justiça. O
tratamento coletivo de interesses e direitos comunitários é que efetivamente abre as
portas à universalidade da jurisdição.
Princípio de participação: O princípio participativo é ínsito em qualquer
processo, que tem nele seu objetivo político
Mas, enquanto no processo civil individual a participação se resolve na garantia
constitucional do contraditório (participação no processo), no processo coletivo a
participação se faz também pelo processo. A participação popular pelo processo conta
com exemplo clássico no processo penal de diversos países, pela instituição do Tribunal
do Júri.
Para os demais processos, sustentava-se enquadrar-se também no momento
participativo o exercício da função jurisdicional por advogados e membros do MP, por
força da integração de alguns tribunais; e, ainda, a atividade dos conciliadores judiciais.
Mas se trata de exemplos pontuais, ao passo que com o acesso das massas à justiça,
54
grandes parcelas da população vêm participar do processo, conquanto por intermédio
dos legitimados à ação coletiva.
Aliás, uma consideração deve ser feita que distingue a participação no processo,
pelo contraditório, entre o processo individual e o processo coletivo. Enquanto no
primeiro o contraditório é exercido diretamente, pelo sujeito da relação processual, no
segundo – o processo coletivo – o contraditório cumpre-se pela atuação do portador, em
juízo, dos interesses ou direitos difusos (transindividuais) ou individuais homogêneos.
Há, assim, no processo coletivo, em comparação com o individual, uma participação
maior pelo processo, e uma participação menor no processo: menor, por não ser
exercida individualmente, mas a única possível num processo coletivo, onde o
contraditório se manifesta pelo chamado “representante adequado”.
Princípio da ação:O princípio da ação ou da demanda indica a atribuição à
parte da iniciativa de provocar o exercício da função jurisdicional (nemo iudex sine
actore). Sob esse ponto de vista, processo individual e processo coletivo parecem
idênticos, mas há, no Código Modelo, iniciativas que competem ao juiz para estimular o
legitimado a ajuizar a ação coletiva, mediante a ciência aos legitimados da existência de
diversos processos individuais versando sobre o mesmo bem jurídico.
Princípio do impulso oficial:O processo, que se inicia por impulso da parte,
segue sua caminhada por impulso oficial. Esse princípio, que permite que o
procedimento seja levado para frente até seu final, rege, de igual maneira, o processo
individual e o coletivo. Mas a soma de poderes atribuídos ao juiz é questão intimamente
ligada ao modo pelo qual se exerce o princípio do impulso oficial. Embora o aumento
dos poderes do juiz seja posto em destaque, atualmente, também para o processo
individual, a soma de poderes atribuídos ao juiz do processo coletivo é
incomensuravelmente maior. Trata-se da defining function do juiz, de que fala o direito
norte-americano para as class actions.
Pelo Código Modelo( Projeto de Código de Processo Coletivo), cabem ao juiz
medidas como desmembrar um processo coletivo em dois – sendo um voltado à tutela
de interesses ou direitos difusos, outro voltado à proteção dos individuais
homogêneos, quando conveniente para a tramitação do processo;
Todos esses poderes, alheios aos Códigos de Processo Civil, dão uma nova
dimensão ao princípio do impulso oficial.
55
Princípio da economia.:O princípio da economia preconiza o máximo de
resultado na atuação do direito com o mínimo emprego possível de atividades
processuais. Típica aplicação do princípio encontra-se no instituto da reunião de
processos em casos de conexidade e continência e do encerramento do segundo
processo em casos de litispendência e coisa julgada.
Mas os conceitos de conexidade, continência e litispendência são extremamente
rígidos no processo individual, colocando entraves ao reconhecimento das relações
entre processos, de modo a dificultar sua reunião ou extinção. No Código Modelo o que
se tem em mente, para a identificação dos fenômenos acima indicados, não é o pedido,
mas o bem jurídico a ser protegido; a causa de pedir é interpretada extensivamente; e a
diferença de legitimados ativos não constitui empecilho para o reconhecimento da
identidade dos sujeitos. Isso significa que as causas são reunidas com maior facilidade e
que a litispendência tem um âmbito maior de aplicação.
Outros institutos, como o reforço da coisa julgada de âmbito nacional, levam
ainda mais o processo coletivo a – na feliz expressão de Kazuo Watanabe –
“molecularizar” os litígios, evitando o emprego de inúmeros processos voltados à
solução de controvérsias fragmentárias, dispersas, “atomizadas”.
Princípio da instrumentalidade das formas.:Esse princípio demanda que as
formas do processo não sejam excessivas, sufocando os escopos jurídicos, sociais e
políticos da jurisdição, devendo assumir exclusivamente o formato necessário a
assegurar as garantias das partes e a conduzir o processo a seu destino final: a
pacificação com justiça.
A técnica processual deve ser vista sempre a serviço dos escopos da jurisdição e
ser flexibilizada de modo a servir à solução do litígio. A interpretação rigorosa da
técnica processual, no processo individual, tem dado margem a que um número
demasiado de processos não atinja a sentença de mérito, em virtude de questões
processuais (condições da ação, pressupostos processuais, nulidades, preclusões, etc.).
As normas que regem o processo coletivo, ao contrário, devem ser sempre
interpretadas de forma aberta e flexível– e o juiz encontrará nelas sustentáculo para
56
uma postura menos rígida e formalista, realizando o justo equlibrio na relação contratual
que envolve o consumidor.
O princípio geral do processo coletivo – capaz de transmitir-se ao processo
individual – é muito claro, nesse campo: observado o contraditório e não havendo
prejuízo à parte-consumidor ou fornecedor, as formas do processo devem ser sempre
flexibilizadas.
Em conclusão, o consumidor se mostra “ajustado” na relação contratual, diante
dos muitos dos princípios gerais do direito processual que assumem feição própria no
processo coletivo, apontando para a existência de diferenças substanciais.
No campo dos institutos fundamentais, o processo coletivo conta com
institutos muito diversos daqueles em que se alicerça o processo individual. O esquema
rígido da legitimação, próprio do processo individual, é repudiado no processo coletivo,
que passa a adotar uma legitimação autônoma e concorrente aberta, múltipla, composta.
A Representatividade adequada, esse instituto, desconhecido do processo
individual, alicerça no processo coletivo a legitimação, exigindo que o portador em
juízo dos interesses ou direitos difusos e individuais homogêneos apresente as
necessárias condições de seriedade e idoneidade, até porque o legitimado é o sujeito do
contraditório, do qual não participam diretamente os membros do grupo, categoria ou
classe de pessoas.
Ainda a Coisa julgada no processo coletivo: erga omnes, por vezes secundum
eventum litis e até secundum eventum probationis – ou seja, possibilitando a
repropositura da demanda, com base em provas novas, supervenientes, que não puderam
ser produzidas no processo e capazes, por si só, de mudar seu resultado.Tema que
falaremos em capitulo adiante.
Ainda em relação às ações coletivas do consumo, está disposto no Código de
defesa- L.8078/90:
57
“Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas
poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.”
Ensina o Autor Eduardo Gabriel Saad, na obra “Comentários ao Código de
Defesa do Consumidor - Lei n. 8.078, de 11.9.90”( 4ª edição – 4, ed., — São
Paulo - LTR, 1999) que : “O vocábulo “defesa” é usado, no artigo em epigrafe, no
sentido de designar os meios inscritos na legislação e utiiizáveis pelo indivíduo, perante
um órgão do Judiciário, para proteger sua pessoa e seus bens contra eventuais lesões.
“
E continua o autor ensiando que, da forma que foi dito, o consumidor pode
defender seus interesses e direitos de duas maneiras: individualmente ou de forma
coletiva. Sua defesa processual será como autor ou réu — adverte este Código.
Ligo Ruftdo, citado pelo autor retromencionado, (“interesse collettivi o diflusi e
tutela dei consumatore”, Miiano, Giuff ré, 1985, pág. 57) afirma que a tutela individual
é essencial e necessária “mas não suficiente a uma efetiva proteção do consumidor.
O alto custo de uma demanda judicial e o valor do dano nem sempre encorajam
o consumidor, isoiadamente, a lançar mão da tutela individual.
O dispositivo sob comento sublinha, também, que conta com tutela jurisdicional
a vitima, isto é, a pessoa que, nos termos do art.17 do Código de Defesa do
Consumidor, equipara-se ao consumidor, quando sofre dano devido a fato do produto
ou do serviço.
“Interesse” pode ser uma pretensão fundada em um direito ou simples
vantagem ou utilidade económica correspondente a uma necessidade. Estamos em
que, neste Código, o interesse do consumidor há de ter valoração jurídica. Assim
pensando, concluímos que “interesse” e “direito”, no artigo em estudo, são sinônimos.
Em havendo idêntico interesse, fundamentado no direito, de número
determinado ou indeterminado de pessoas, prevê o Código sua defesa em termos
coletivos.
58
3.3. O Interesse nas Ações Coletivas de consumo
O conceito de consumidor há muito vem sendo estudado como aquele que
figura na ponta da cadeia de produção. A Lei 8.078/90, em seu artigo 2º, dispõe que:
"Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço
como destinatário final."
A adoção legal do indigitado conceito tem merecido críticas. Para a
identificação do consumidor, numa visão finalista, deve-se adunar ao conceito o
critério da vulnerabilidade, restringindo àquele que se utiliza do bem ou do serviço para
seu uso próprio ou de sua família. Já para os maximalistas, a Lei 8.078/90 surge como
um novo regulamento jurídico para as relações de consumo, alcançando uma gama
muito ampla de negócios jurídicos, como, v.g., o médico que adquire um equipamento
para a realização de cirurgias em seu consultório ou o advogado que adquire
computadores para seu escritório.
Identificado o consumidor individual, necessário se faz o delineamento do
consumidor coletivo.
Com o desenvolvimento da tecnologia e principalmente com o aumento das
atividades econômicas, as sociedades têm passado por uma transformação em sua
estrutura de produção e distribuição. Esse fato acaba por fazer surgir a relação coletiva
de consumo.
59
O consumidor coletivo foi identificado pela Lei 8.078/90, quando o parágrafo
único do artigo 2º aduziu: "Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda
que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.". Como exemplos
de coletividade nas relações de consumo, pode-se verificar nos problemas de fabricação
de determinado veículo, quando é feito recall para que todos os proprietários troquem
gratuitamente determinada peça defeituosa de fábrica.
Definido o consumidor singular e o consumidor coletivo, de forma ampla,
apenas para a fixação do raciocínio, analisemos seus efeitos, sob a égide da tutela dos
interesses transindividuais.
Os direitos transindividuais são divididos em espécies: difusos, coletivos e
individuais homogêneos, na forma da regra enunciativa do parágrafo único do artigo
81 da Lei 8.078/90; daí a necessidade de análise individualizada de cada qual.
Assim, nos termos do inciso I do parágrafo único do artigo 81 da Lei 8.078/90:
"I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os
transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas
e ligadas por circunstâncias de fato;".
Os direitos difusos são aqueles que se situam na órbita mais ampla, pois
será necessário que pela sua natureza sejam indivisíveis, alcançando pessoas
indeterminadas e indetermináveis, ligadas tão somente por uma situação fática. Sua
amplitude é tão extensa que chega até a se confundir com o interesse público, como na
hipótese de propaganda enganosa de determinado produto farmacêutico.
Não sendo possível a determinação matemática das pessoas titulares de
determinado direito, alcança-se o requisito da ausência de identificação; A
indeterminidade é a característica fundamental dos interesses difusos e a
determinidade a daqueles interesses que envolvem os coletivos".
Os titulares de tal espécie de direitos transindividuais, além de
indetermináveis, deverão estar ligados por uma circunstância fática, titulares de direito
indivisível, isto é, não estarão unidos entre si, tampouco aos demais, como na definição
clássica de relação jurídica, mas sim em decorrência de um fato, como, v.g., a
comercialização de um alimento estragado, não se podendo dizer que cada pessoa tem o
direito divisível de consumir alimentos dentro da data de validade.
60
Ex 01: O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul enfrentou questão
patrocinada pelo Ministério Público Estadual, quando este pugnou pela declaração de
nulidade de diversas cláusulas abusivas existentes em contratos bancários, adotando
decisão no sentido de que se tratava não só de problema relacionado ao réu na demanda
– Banco BANESPA -, mas à "população em geral".
Ex 02: O Ministério Público do Estado de São Paulo propôs ação civil pública
com o objetivo de impugnar o critério de reajuste de mensalidades escolares, quando o
Tribunal de Justiça daquele Estado entendeu que se tratava de interesse difuso, ao passo
que, na verdade, está na órbita do interesse coletivo, pois não obstante a dificuldade a
ser enfrentada para a aferição dos titulares dos interesses - alunos da rede privada de
ensino -, o MEC (Ministério da Educação) possui registros das escolas, as quais também
poderão informar quem são os alunos matriculados.
Hipóteses que se amoldam com precisão ao conceito de interesse difuso são: a)
propaganda enganosa; b) a negativa por parte de um hotel em hospedar determinada
pessoa, em razão da cor da sua pele ou sua religião; c) a concorrência desleal; d) o
monopólio; e) a comercialização de alimentos ou remédios sem condições de consumo,
por estarem deteriorados. Em todos esses casos, tem-se um grupo de pessoas
indeterminadas e indetermináveis, pois não será possível saber-se quantas pessoas no
país, ou até mesmo no exterior, passaram mal com a ingestão de determinado alimento;
ligadas por uma mesma circunstância fática e titulares de direito indivisível - todos têm
direito à informação precisa sobre determinado produto ou serviço.
O interesse coletivo se afigurará também como uma espécie dos direitos
transindividuais, com um campo de alcance mais restrito. O inciso II do parágrafo
único do artigo 81 da Lei 8.078/90, dispõe: "interesses ou direitos coletivos, assim
entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de
que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica base".
Os titulares serão pessoas, numa análise perfunctória, indeterminadas, porém
determináveis, mesmo que com algum esforço, que façam parte de grupo, categoria ou
classe. Além disso o bem jurídico deve se denotar indivisível.
61
A indivisibilidade do objeto apresenta-se da mesma forma dos interesses
difusos, sendo possível exemplificar com a discussão judicial do aumento de
mensalidades escolares, eis que quando o pedido for julgado procedente beneficiará a
todos os alunos da rede de ensino particular.
A determinação dos titulares dos interesses coletivos será alcançada, como
já exarado, pela matemática, sendo possível a identificação dos sujeitos integrantes
de determinado grupo, categoria ou classe.
Ex 01: No campo dos direitos difusos, a eventual distorção na sua classificação
acarretará a identificação de um direito coletivo, não apresentando problemas práticos.
O contrário se dará com os interesses coletivos, pois a tergiversação culminará com a
classificação do interesse como individual homogêneo, ingressando em campo
controvertido sobre a legitimidade do Ministério Público para a tutela dos interesses
homogêneos indisponíveis.
O caso das mensalidades escolares, já assinalado, foi objeto de intensa
controvérsia jurisprudencial no cenário nacional, tanto que coube ao órgão pleno do
Supremo Tribunal Federal a definição da questão, decidindo que se tratava de um
interesse coletivo.
Ex 02:Também se amolda ao conceito de interesse coletivo a discussão sobre
o aumento de planos de saúde, como reconheceu o Superior Tribunal de Justiça em ação
proposta pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro: "O debate sobre a
legitimidade do Ministério Público para ajuizar ação civil pública em favor dos
consumidores do serviço de saúde prejudicados pela majoração ilegal dos prêmios de
seguro-saúde situa-se no campo do Direito Privado. É cabível ação civil pública para
requerer a suspensão de cobrança a maior de prêmios de seguro-saúde. Em tal caso, o
interesse a ser defendido não é de natureza individual, mas de todos os consumidores
lesados que pactuaram com as empresas de seguro-saúde. O Ministério Público
Estadual tem legitimidade para propor a ação porquanto se refere à defesa de
interesses coletivos ou individuais homogêneos, em que se configura interesse social
relevante, relacionados com o acesso à saúde."
62
Ex 03: O grupo de pessoas, que se unem pela situação fática caracterizada pela
aquisição de imóvel pelo SFH (Sistema Financeiro da Habitação), foi reconhecido como
detentor de interesse coletivo no que tange à discussão de cláusula contratual adesiva,
considerada leonina : "Legitimidade. Ministério Público. Ajuizamento. Ação Civil
Pública. Fundamentação. CDC. Hipótese. Existência cláusula abusiva. Contrato.
Compra e Venda. Casa Própria. SFH. Objetivo. Defesa direito coletivo, direito difuso,
direito individual homogêneo. Irrelevância. Direito indisponível. Caracterização.
Relevância. Interesse social"
A última espécie de interesses transindividuais é a dos individuais
homogêneos, apresentando-se, na maioria das vezes, como o que abrange, na escala
desenvolvida, o menor número de titulares de direitos.
O inciso III do parágrafo único do artigo 81 da Lei 8.078/90, preceitua que são:
"interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de
origem comum."
Os titulares de interesses individuais homogêneos são determináveis; o bem
jurídico é divisível e são ligados por origem comum. Assemelham-se aos difusos,
quanto à origem fática comum e aos coletivos, em relação à determinação dos sujeitos.
Contudo, a divisibilidade do objeto os tornará deveras diferente.
Um interesse individual, mesmo que homogêneo, pode ser identificado e
tutelado singularmente por seu titular. A possibilidade da tutela coletiva de tais
interesses, conferida pelo legislador, tem por escopo facilitar o acesso à justiça, ainda
mais em certos casos em que mesmo em se tratando de direito individual, tomará uma
feição de proporções vultosas, como a situação verificada em um recall (recitus:
chamada) promovido por determinada montadora de automóveis; cada proprietário do
veículo poderá pugnar do Poder Judiciário uma solução para a peça defeituosa, mas
através de uma demanda coletiva em que acarrete na condenação da montadora,
havendo uma abrangência maior, indo ao encontro do princípio da economia processual,
tão almejado nos dias em que há sobrecarga de processos judiciais.
Ex 01: Quando feita a referência aos interesses coletivos, demonstrou-se que a
questão do aumento abusivo de mensalidades escolares se encaixava naquela espécie;
63
contudo, como corolário do reconhecimento de que os aumentos foram ilegais, conclui-
se que o que foi pago a maior deve ser devolvido aos alunos, momento em que esse
direito à devolução do indébito afigurar-se-á como interesse individual homogêneo,
como ressalta Hugo Nigro Mazzilli .
Como já preceituado, o recall feito por indústrias para que os adquirentes de
determinado produto com vício de fabricação possa ser trocado ou corrigida a falha,
também está adstrito ao conceito de interesse individual homogêneo.
Indica Motauri Ciocchetti de Souza17 que "todos os adquirentes do feijão
daquela marca sofreram lesão da mesma natureza e decorrente de origem comum – a
subtração, em cada pacote do produto, de dez gramas em relação à quantidade devida."
Arrematando que "cada uma dessas lesões, em termos econômicos, possuirá mínima
expressão – para não dizermos praticamente nenhuma. Não obstante, o produtor, agindo
da forma preconizada em cerca de dez mil embalagens, por certo experimentou sensível
enriquecimento ilícito.". Nesse caso, vislumbra-se que a defesa dos interesses
individuais homogêneos de forma coletiva se apresenta não só repressiva à lesão
ocasionada ao consumidor, mas sobretudo de maneira preventiva.
Assunto muito ventilado nos Tribunais em passado recente foi o índice de
correção da caderneta de poupança quando da edição do chamado PLANO VERÃO
(janeiro de 1989), em que o Judiciário decidiu ser devido o percentual de 42,72%
(quarenta e dois, setenta e dois por cento). A discussão sobre a existência do crédito
encontra-se no plano do interesse coletivo, só que uma vez reconhecida a dívida e o seu
percentual, passa-se ao interesse individual homogêneo, em que cada poupador terá
direito à sua incidência, nos termos da sua própria situação – saldo na conta de
poupança à época. Nesse sentido, decidiu o Superior Tribunal de Justiça .
3.4. Os diversos legitimados nas Ações Coletivas
17 Ação Civil Pública e Inquérito Civil . Editora Saraiva
64
A tutela coletiva do consumidor, em juízo, foi instaurada pela lei n.º 7347/85 a lei
da ação civil pública, que previu a legitimação do MP, da União, Estados e Municípios,
dos órgãos da administração direta e indireta e das associações pré-constituídas há pelo
menos um ano às ações que visassem a uma condenação em dinheiro ou em obrigação
de fazer ou não fazer. Inicialmente não era prevista a legitimação da defensoria
publica.
Mas a LACP somente cuidava da defesa do consumidor (e do ambiente, em
sentido lato) no estrito âmbito dos interesses difusos e coletivos, ou seja quando se
tratasse de direitos supra-individuais, em sua dimensão indivisível. Foi o Código de
Defesa do Consumidor (lei n.º 8078/90) que, além de ampliar a abrangência da
referida lei determinando sua aplicabilidade a todos os interesses difusos e coletivos
(art. 110 CDC) criou uma nova ação coletiva, para a tutela dos que denominou
"interesses ou direitos individuais homogêneos": ou seja, direitos subjetivos divisíveis,
titularizados nas mãos de pessoas determinadas, tradicionalmente tratados apenas a
título individual (ou, quando muito, pela figura do litisconsórcio) e agora passíveis de
reunião num único processo, em virtude de sua homogeneidade, decorrente de uma
origem comum (art. 81, III, CDC).
Ainda no campo das ações coletivas em defesa de interesses individuais
homogêneos, não se pode certamente apoiar a orientação de certos juízes, que têm
negado legitimidade ao MP para essas demandas, por considerá--la inconstitucional,
uma vez que o art. 129, III CF só se refere à legitimação do MP para a defesa de
interesses difusos e coletivos. Nem tem bastado, para essa tendência, o argumento da
extensão das funções do MP a outras que lhe sejam atribuídas por lei, desde que
compatíveis com sua finalidade (inc. IX do art. 129 CF), porquanto se afirma que o MP,
nos termos do art. 127 CF, é pré-ordenado à defesa de interesses sociais e individuais
indisponíveis, e os interesses individuais homogêneos seriam disponíveis.
Ora, em primeiro lugar cumpre notar que a Constituição de 1988, anterior ao
CDC, evidentemente não poderia aludir, no art. 129, III, à categoria dos interesses
individuais homogêneos, que só viria a ser criada pelo Código. Mas na dicção
65
constitucional, a ser interpretada em sentido amplo, enquadra-se cômodamente a
categoria dos interesses individuais, quando coletivamente tratados.
Em segundo lugar, a doutrina, internacional e nacional, já deixou claro que a
tutela de direitos transindividuais não significa propriamente defesa de interesse
público, nem de interesses privados, pois os interesses privadosdo consumidor são
vistos e tratados em sua dimensão social e coletiva, sendo de grande importância
política a solução jurisdicional de conflitos de massa.
Assim, foi exatamente a relevância social da tutela coletiva dos interesses ou
direitos individuais homogêneos que levou o legislador ordinário a conferir ao MP e a
outros entes públicos a legitimação para agir nessa modalidade de demanda, mesmo em
se tratando de interesses ou direitos disponíveis. Em conformidade, aliás, com a própria
Constituição, que permite a atribuição de outras funções ao MP, desde que compatíveis
com sua finalidade (art. 129, IX); e a dimensão comunitária das demandas coletivas,
qualquer que seja seu objeto, insere-as sem dúvida na tutela dos interesses sociais
referidos no art. 127 da Constituição. Quando muito, poder-se-ia exigir, caso a caso, que
se aferisse a relevância social do objeto da demanda coletiva em defesa de interesses
individuais homogêneos, para o reconhecimento da legitimação do MP, na esteira do
disposto no art. 82, par. 1.º, CDC para a dispensa do requisito da pré-constituição para
as associações. Mas nunca afirmar-se a inconstitucionalidade do dispositivo do CDC
que confere ao MP a titularidade dessas ações.
Algumas palavras mais merecem as ações coletivas em defesa de interesses
individuais homogêneos, examinadas agora em relação à concomitante ou sucessiva
propositura de demandas individuais.
O art. 104 CDC aplica-se exclusivamente a caso diverso: ou seja, ao de
concomitância de uma ação coletiva em defesa de interesses difusos ou coletivos, em
cotejo com ações individuais. Para essa hipótese, a litispendência é excluída, numa
perfeita aplicação do disposto nos parágrafos 1.º, 2.º e 3.º do art. 301 CPC, que exigem,
para a caraterização do fenómeno, a tríplice eadem (partes, objeto e causa de pedir).
No caso, o objeto das ações individuais e da coletiva é inquestionavelmente
diverso. Mesmo assim, o Código oferece duas opções ao demandante individual:
pretendendo prosseguir em sua ação individual, ficará excluído da extensão subjetiva do
julgado prevista para a sentença que vier a ser proferida na ação coletiva, não podendo
ser por ela beneficiado, no caso de sentença favorável. Mas, se preferir, poderá requerer
66
a suspensão do processo individual, passando a ser beneficiado pela coisa julgada
positiva que se formar na demanda coletiva. Sendo improcedente a ação coletiva, o
processo individual retomará seu curso, podendo ainda o autor ver acolhida sua
demanda individual.
Outra é a relação que se estabelece entre uma ação coletiva em defesa de
interesses individuais homogêneos e as demandas individuais. Aqui, não há como
excluir a continência. O pedido da ação coletiva reparatória aos indivíduos
pessoalmente lesados contém os pedidos individuais, formulados nas distintas ações
indenizatórias, no que respeita ao reconhecimento do dever de indenizar.
A hipótese é regida pelo art. 104 CPC. Com relação às partes, há coincidência
perfeita dos sujeitos passivos e, quanto aos sujeitos ativos, a identidade resulta da
circunstância de que o legitimado à ação coletiva é o adequado representante de todos
os membros da classe, sendo portador em juízo dos interesses de cada um e de todos.
Talvez se possa falar, na espécie, de uma nova hipótese de continência, porquanto a
parte ideológica, portadora em juízo dos direitos individuais homogêneos, abrange a
todos os seus distintos titulares. A identidade da causa de pedir é evidente. E o objeto da
ação coletiva, mais amplo, abrange o das ações individuais.
A continência resolve-se, pelo art. 105 CPC, no sentido da obrigatória reunião dos
processos, para julgamento conjunto, ficando preventa a competência do juízo perante o
qual tiver primeiro ocorrido a citação válida (art. 219 CPC).
É esse, numa apertada síntese, o processo coletivo do consumidor plasmado pela
nova legislação brasileira, que tão generosamente se abriu aos anseios de acesso à
Justiça no limiar do novo século.
Cabe agora à sociedade civil em geral, que até ao momento só de modo incipiente
tem agido em juízo para a defesa coletiva por intermédio de associações, organizar-se
melhor, de modo a ocupar o espaço que o CDC e a LACP lhe abriram.
E cabe a todos nós, operadores do direito, nas diversas áreas de atuação, dar
aplicação correta às normas legais, interpretando-as dentro do mesmo espírito aberto
com que foram cunhadas. O legislador já fez sua parte. A nós todos, como verdadeiros
engenheiros sociais, a responsabilidade de não deixar que uma legislação de vanguarda
caia no vazio.
A legitimação da Defensoria foi inovação legislativa que reforçou o carater
democratico de acesso à justiça, e justiça em todos os sentidos que já explicamos,
67
espcificamente de dar acesso e condições de iguadade à parte mais fraca da relação
consumeirista, sobretudo devido a alta capacidade técnica dos defensores públicos.
3.5. Breves considerações sobre a coisa julgada nas Ações Coletivas
A reconhecida professora Ada Pelegrine ensina que vem do direito comum a regra
de que a coisa julgada não pode prejudicar os terceiros: res inter alios iudicata aliis non
praeiudicare . Mas, em função de exigências práticas, na mesma época, firmou-se o
entendimento que levou a estender a coisa julgada a alguma categoria de terceiros,
admitindo-se que a sentença pronunciada entre os interessados principais também
obrigasse os que tinham interesse secundário.
A distinção entre interesses difusos e coletivos, de um lado, e interesses
individuais homogêneos, do outro, é extremamente relevante para efeitos de limites
subjetivos da coisa julgada.18
Com efeito, para a primeira categoria, e dentro do conceito de indivisibilidade do
objeto, a coisa julgada terá efeitos erga omnes ou ultra partes, seja no caso de
procedência, como no de improcedência do pedido, com a única exceção do
desacolhimento por insuficiência de provas, hipóteses em que simplesmente não haverá
coisa julgada, podendo a ação ser repetida com novas provas (art. 103, incs. I e II CDC).
18 Registros de Jorge Bheron Rocha : LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA AJUIZAR AÇÃO CIVIL PÚBLICA TENDO POR OBJETO DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS disponivel em www.anadep.org.br
68
Já no caso de interesses individuais homogêneos, a coisa julgada terá efeitos erga
omnes apenas na hipótese de procedência do pedido ensejando, nas ações
condenatórias, imediata liquidação e execução por todos os titulares dos direitos
individuais (arts. 97 e 98 CDC). Mas, em caso de improcedência, a coisa julgada não
impedirá o ajuizamento de demandas individuais, segundo os esquemas processuais
clássicos (art. 103, III e par. 3.º CDC). A opção dos redatores do CDC foi no sentido da
coisa julgada erga omnes mas secundum eventum litis, ou seja para beneficiar, mas não
para prejudicar os titulares dos direitos subjetivos, que poderão ainda pleitear
judicialmente a tutela de seus direitos, em ações individuais.
Mais uma observação a respeito dos limites subjetivos do julgado. Os tribunais
não têm percebido o verdadeiro alcance da coisa julgada erga omnes, limitando os
efeitos da sentença e das liminares segundo os critérios da competência. Ora, não faz
sentido, por exemplo, que ações em defesa dos interesses individuais homogêneos dos
pensionistas e aposentados da Previdência Social ao recebimento da diferença de 147%
devam ser ajuizadas nas capitais dos diversos Estados, a pretexto da competência
territorial da Justiça federal. O problema, aqui, não é de competência: o juiz federal,
competente para processar e julgar a causa, emite um provimento (cautelar ou
definitivo) que tem eficácia erga omnes, abrangendo todos os aposentados e
pensionistas do Brasil. Ou a demanda é coletiva, ou não o é; ou a coisa julgada é erga
omnes ou não o é. E se o pedido for efetivamente coletivo, haverá uma clara relação de
litispendência entre as várias ações ajuizadas nos diversos Estados da Federação.
A limitação operada por certos julgados afronta o art. 103 CDC e despreza a clara
orientação fornecida pelo art. 91, II, por onde se vê que a causa que verse sobre a
reparação de danos de âmbito nacional deve ser proposta no foro da Capital do Estado
ou no Distrito Federal, servindo, evidentemente, a decisão para todo o território
nacional.
Fiquemos agora, mais especificamente, no campo das ações coletivas em defesa
de interesses ou direitos individuais homogêneos. Podem elas ser utilizadas para obter
69
todo e qualquer tipo de provimento jurisdicional, dentro da ideia do CDC de que para a
defesa dos direitos e interesses protegidos pelo Código são admissíveis todas as
espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela, explicitada no art.
83 CDC.
Assim, esse tipo de ação coletiva poderá ser meramente declaratória, constitutiva
ou condenatória (à obrigação de fazer ou não fazer ou à obrigação de pagar). Os arts. 91
e ss. CDC tratam de uma especial ação em defesa de interesses individuais homogêneos,
que é a de responsabilidade civil pelos danos individualmente sofridos, detalhando
minuciosamente sua disciplina: mas isso não exclui outros pedidos de tutela dos
interesses individuais homogêneos.
A técnica adotada para a ação coletiva de responsabilidade civil é a seguinte: no
processo de conhecimento, condenatório, o ente legitimado age como substituto
processual (art. 91), levando a juízo, em nome próprio, as pretensões das vítimas do
acidente de consumo, ainda indeterminadas. Comprovado o dano geral o que se fará
por amostragem, a sentença, genérica, reconhecerá a existência do prejuízo globalmente
ocasionado, e condenará o réu a indenizá-lo (art. 95 CDC). Aqui, ainda não se sabe
quem e quantos serão os beneficiários da indenização. No processo de liquidação,
caberá a cada vítima, ou a seus sucessores, individualizar as pretensões ressarcitórias,
por intermédio da liquidação por artigos, em que se deverá provar o dano pessoal, seu
nexo etiológico com o dano geral reconhecido pela sentença, e ainda quantificá-lo.
Assim, a liquidação toma conotação própria, não se restringindo ao quantum debeatur,
mas compreendendo o an debeatur quanto ao dano pessoalmente sofrido.
Não procede a crítica no sentido da inutilidade da sentença genérica, levantada
porque a vítima que se habilitar à indenização deverá ainda provar o seu dano pessoal.
A importância política de uma sentença condenatória coletiva poderá levar como se
tem notado em direito comparado a liquidações amigáveis dos ressarcimentos e, de
qualquer modo, o prejudicado já terá a seu favor a indiscutibilidade da sentença quanto
à existência do dano geral, restringindo-se consideravelmente o objeto do processo na
liquidação.
Cumpre notar que a técnica do Código, nesse ponto, respeita a autonomia da
vontade, pois os beneficiários que realmente quiserem receber sua indenização deverão
fazê-lo, agora a título pessoal, por advogado próprio ou pelos entes ou pessoas
legitimados às ações coletivas; mas, neste último caso, os referidos legitimados atuarão
70
como representantes das vítimas não mais como substitutos processuais passando a ser
parte no processo de liquidação e execução as próprias vítimas.
Interessante solução é a alvitrada pelo art. 100 CDC. Se, no prazo de um ano, a
habilitação dos interessados não se fizer em número compatível com a gravidade do
dano, os legitimados do art. 82 (agora de novo como substitutos processuais) poderão
proceder à liquidação da sentença, exactamente nos termos do art. 95 CDC. Ou seja, o
juiz fixará a indenização genérica pelos prejuízos causados, que será recolhida no Fundo
criado pela LACP. Trata-se da fluid recovery (indenização não reclamada), típica das
class actions norte-americanas, de extrema relevância no campo das relações de
consumo, onde frequentemente o prejuízo pessoalmente sofrido é insignificante, não
justificando o comparecimento dos consumidores lesados a juízo para o recebimento de
uma indenização individual.
Exemplifique-se com um processo coletivo, intentado pelo MP do Estado de São
Paulo antes da entrada em vigor do Código, visando à retirada do comércio de latas de
leite que continham produto em quantidade inferior à indicada no rótulo. Hoje, a ação
poderia também tender ao ressarcimento, a teor dos arts. 91/100 CDC. Certamente, na
espécie, não haveria habilitantes à indenização, dada a irrelevância do dano econômico
pessoalmente sofrido por cada qual dos compradores do produto. Mas a indenização
global, certamente significativa, seria, então, calculada na base do enriquecimento ilícito
do fabricante, revertendo seu produto ao Fundo.
A posição de Enrico Tullio Liebman. Liebman, na famosa teoria que
distingue entre eficácia natural da sentença e autoridade da coisa julgada,
sustentou que a eficácia natural da sentença, como ato de potestade do Estado, atinge a
todos; mas que a autoridade da coisa julgada só alcança as partes. Os terceiros
juridicamente prejudicados poderão opor-se à autoridade da coisa julgada.
A teoria mereceu ampla acolhida no Brasil e vem hoje consagrada, embora
numa dicção imperfeita, no Código de Processo Civil vigente, em seu artigo 472: “A
sentença faz coisa julgada entre as partes, entre as quais é dada, não beneficiando, nem
prejudicando terceiros”. A imperfeição, salientada por Barbosa Moreira, consiste na
circunstância de que os efeitos da sentença são reconhecidamente capazes de atingir a
esfera jurídica dos terceiros.
71
Mas o que o Código quer dizer é que a coisa julgada (e não a sentença) fica
restrita às partes, não beneficiando nem prejudicando terceiros, e assim tem sido
interpretada a norma legal.
O sistema brasileiro legitima à ação que objetiva a anulação da assembléia
qualquer dos sócios, mas é omissa em relação à extensão da coisa julgada aos demais
sócios, que não participaram da demanda. No entanto, o ordenamento pátrio avançou
em matéria de processos coletivos, nos quais é tradicional a extensão erga omnes
da coisa julgada, seja a sentença favorável ou desfavorável, ressalvada a
improcedência por insuficiência de provas. É o que já dispunha, em 1964, a Lei da
Ação Popular, que visa a anular ou desconstituir ato praticado pela administração,
ofensivo ao patrimônio público (entendido hoje em sentido lato).
Aqui também a legitimidade conferida a qualquer cidadão é concorrente e
autônoma, sendo o objeto da demanda indivisível: ou o ato é anulado ou desconstituído
para todos, ou não o é. Ainda no ordenamento brasileiro, a Lei da Ação Civil Pública,
de 1985, que tutela interesses ou direitos difusos ou coletivos, de natureza indivisível,
com legitimação concorrente e autônoma conferida ao Ministério Público e a diversos
entes, escolheu a coisa julgada erga omnes, seguindo exatamente o modelo da ação
popular. E o caminho completou-se com o Código de Defesa do Consumidor,
aplicável à tutela processual de qualquer interesse ou direito difuso ou coletivo, que
prevê, para estes e em face das mesmas circunstâncias (indivisibilidade do objeto e
pluralidade de legitimados à ação), a coisa julgada erga omnes.
A evolução do instituto da coisa julgada, em seus limites subjetivos, é
exatamente esta. Não há como fugir. É a própria natureza das coisas – a indivisibilidade
do objeto e a identidade de situações jurídicas– que dá resposta ao problema:
A coisa julgada secundum eventum litis. A rigor, o conceito de coisa julgada
secundum eventum litis não tem a ver com os terceiros (sujeitos ou não à coisa julgada,
como visto acima) mas diz respeito às partes do processo, podendo a coisa julgada
formar-se, ou não, de acordo com o resultado do processo.
Exemplo clássico da coisa julgada secundum eventum litis é a que se forma
ou não na ação monitória, dependendo de seu resultado. Acolhida a demanda monitória,
a sentença (condenatória) é coberta pela coisa julgada. Mas se, ao contrário, a demanda
monitória é rejeitada, a coisa julgada não se forma e a ação pode ser repetida pelo
72
mesmo autor. Outro exemplo, extraído do ordenamento brasileiro, é o da coisa julgada
que ocorre em caso de acolhimento ou rejeição da ação popular ou da ação civil pública,
com base nas provas produzidas, mas que não opera quando a demanda é rejeitada por
insuficiência de provas, nem mesmo com relação ao autor coletivo.
A coisa julgada secundum eventum litis no Projeto de Código de Processo
Coletivo - Código Modelo: ações em defesa de interesses ou direitos individuais
homogêneos – Diversa é a solução do Código quanto aos limites subjetivos da coisa
julgada em relação à sentença que julga a ação em defesa de interesses ou direitos
individuais homogêneos. Estes, por definição (art. 1º, II), são direitos subjetivos
clássicos, individualizados nas mãos de titulares determinados, que poderiam – e podem
– ser tutelados por intermédio do processo individual, e que só em virtude de sua
homogeneidade e de sua origem comum podem ser levados à justiça de maneira
coletiva. Na feliz expressão de Barbosa Moreira, “são direitos acidentalmente
coletivos, enquanto os difusos são essencialmente coletivos”. Por outro lado, não há
aqui a indivisibilidade do objeto, que é própria dos direitos difusos: se um litisconsórcio
se formasse (facultativo), não seria unitário, podendo cada demanda, no concurso de
ações, ser decidida de maneira diferente, de acordo com as peculiaridades de cada caso.
A aplicação pratica de tais teorias para o consumidor siginifica maior garantia de
justiça das decisões judiciais, já que as técnicas importam em fornecer jurisdição na
justa medida, de acordo com cada tipo de coisa julgada que se formara.
Capitulo 4 A Defensoria Pública e o consumidor
4.1 Breve historico do surgimento da Defensoria Pública
A idéia de Defensoria Pública como instituição organizada é, de certa forma, uma
idéia recente. No entanto, a consciência de que aos necessitados deve-se garantir o
acesso à Justiça e o direito a igualdade, remonta aos tempos mais antigos da sociedade.
É desta forma, que, o Código de Hamurabi admitiu um tratamento especial e um
limite às cobranças por empréstimos dados a quem tivesse insuficiência de recursos.
73
Já em Atenas, na Grécia antiga, podemos vislumbrar uma atuação mais concreta
junto aos pobres. Nesta região eram designados anualmente dez advogados para
defender esses menos favorecidos contra os poderosos diante dos tribunais civis e
criminais. Em Roma, existiam diversos dispositivos legais que resguardavam os
direitos dos necessitados, e era uma questão de honra para os governantes, observar se
seus governados mantinham entre si uma certa igualdade perante a lei, cabendo a estes
governantes sanar qualquer abuso.
Entretanto, é somente com a Revolução Francesa, em 1789 que o Estado passou
a organizar instituições oficiais a fim de prestar assistência judiciária aos pobres. É que,
junto com a Revolução Francesa, foi proclamado o Princípio da Igualdade perante a lei,
e com esta proclamação adveio a necessidade clara de que ao Estado cabia
responsabilizar-se, através de instituições organizadas, pela minimizarão das
desigualdades sociais em favor de uma suposta igualdade jurídica.
No Brasil, Pinto Ferreira ensina-nos que já as ordenações Afonsinas
amparavam aos miseráveis (Liv. 3º, Tit. 8º; Liv. 3º, Tit. 5º). Não obstante, a maioria
dos estudiosos sobre o assunto, atestam como primeiras manifestações sobre assistência
jurídica, em nosso país, as ordenações Filipinas, promulgadas em 1603.
Transcreveremos, então, parte do diploma, a qual nos interessa:
“Em sendo o aggravante tão pobre que jure não ter bens móveis, nem de raiz, nem
por onde pague o aggravo, e dizendo na audiência uma vez o Pater Noster pela alma del
Rey Don Diniz, ser-lha-á havido como que pagasse os novecentos reis, contanto que tire
de tudo certidão dentro do tempo, em que havia de pagar o aggravo.”
Embora esta Ordenação date de 1603, somente em 1823, estes dispositivos vieram
a vigorar por força de lei. Alguns anos depois, outros dispositivos vieram sobre formas
de leis e regulamentos, estabelecendo, de forma mais concreta a assistência judiciária no
país. Em um primeiro momento, essas leis disciplinavam essa assistência em processos
penais. Entretanto, posteriormente, outras leis vieram lhe dar um caráter mais
abrangente compreendendo o processo civil.
74
A primeira Constituição Republicana, de 24 de fevereiro de 1891, não elevou
a assistência judiciária à matéria constitucional, mantendo-se omissa sobre o assunto.
No entanto, esta Carta já fazia alusão à uma plena defesa que deveria realizar-se com
todos os recursos e meios essenciais a ela. (CF/1891, art. 72, § 16).
Alguns anos após a promulgação desta Constituição, uma legislação
infraconstitucional veio a organizar a assistência judiciária no Distrito Federal. Serviu
este sistema de exemplo a ser seguido, posteriormente, por alguns estados-membros,
como Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais e Bahia.
No século XX, no início da década de 30, foi criada a Ordem dos Advogados do
Brasil e assistência judiciária passou a não ser mais “recomendada” ao advogado;
elevou, então, à categoria de obrigação a este profissional, a ser cumprida sob pena de
multa.
A prestação da assistência judiciária tornou-se matéria constitucional a partir da
Carta Política de 1934, que a incluiu entre os Direitos e Garantias Individuais dos
cidadãos (art. 113).
“n. 32. A União e os Estados concederão aos necessitados assistência judiciária,
para esse efeito, órgãos especiais, e assegurando a isenção de emolumentos, custas,
taxas e selos.”
Como podemos observar esta Constituição trouxe à assistência judiciária
importantes inovações, entre outras: a competência concorrente9 da União e dos
Estados para a concessão deste préstimo; a criação de órgãos especiais e organizados
com a finalidade desta prestação; e a primeira alusão constitucional à justiça gratuita,
através da “isenção de emolumentos, custas, taxas e selos”.
Em 1935, cumprindo o que determinava esta Constituição, o Estado de São
Paulo criou o primeiro serviço governamental de assistência judiciária no Brasil.
Este órgão contava com advogados assalariados, pagos pelo poder público.
A Constituição do Estado Novo, que foi outorgado no período de ditadura de
Getúlio Vargas, não previa a assistência judiciária em seu texto (como é de se esperar de
uma Constituição Ditatorial, fruto de um período de quebra do período democrático).
75
Não obstante, o Código d3e Processo Civil, de 1940, prescreveu em si esse patrocínio
passando este preceito a ser infraconstitucional.
A assistência judiciária volta ao texto da Constituição de 1946 (art. 141):
“§ 35. O poder público na forma que a lei estabelecer, concederá assistência
judiciária aos necessitados”.
Como vemos o texto assegura aos necessitados essa prestação, a ser concedida
pelo poder público. No entanto, não especifica quem a prestará: se o Estado ou a União,
permanecendo concorrente esta competência.
Esta omissão quanto à competência de quem deverá patrocinar a assistência aos
necessitados, assim como, a omissão quanto aos meios de propiciá-la, fez com que cada
Estado-membro tomasse posicionamento diante do tema. Vários Estados, a partir de
então, criaram órgãos oficiais específicos para a prestação desta assistência. E, outros
vários Estados passaram a credenciar advogados especiais para o serviço, sem se deter à
criação de órgãos específicos.
Em 1950, foi publicada a Lei Federal nº 106011, que condensou toda a legislação,
antes dispersa, sobre o assunto. De grande importância, esta lei significou um avanço
substancial neste matéria, embora tenha confundido dois conceitos técnicos
completamente diferentes: assistência judiciária e justiça gratuita.
A Constituição de 1967, assim como a Emenda Constitucional nº 01/69,
mantiveram a mesma orientação da Carta de 1946.
O fato é que a situação mostrou-se sempre insatisfatória. Muitos Estados
acabaram por não criar órgãos específicos para esta prestação e a União se sentia sem
responsabilidade para com o assunto. A única solução foi que, nos Estados que não
mantivessem órgãos oficiais, obrigava-se o poder público a pagar advogados dativos,
designados pelo juiz. Entretanto, isso só ocorria nos processos criminais.
Mas estas eram soluções apenas paliativas, o certo é que o clamor por uma
legislação realmente eficaz só veio a ser atendido com a promulgação da Constituição
Cidadã de 1988. É com a Carta Política que surge a instituição Defensoria Pública,
essencial à função jurisdicional do Estado e incubida da orientação jurídica e defesa em
todos os graus da comunidade carente. Até então, o que existia era a “assistência
judiciária” como sendo o direito do cidadão sem recursos de obter do Estado (o que
também comporta um dever do Estado de conceder) a tutela jurisdicional gratuita.
76
ACERCA DA LLEGISLAÇÃO DE QUE TRATA DO ASSUNTO a Lei Nº
1.060, editada em 1950, e ainda em vigor em relação à matéria que disciplina a
concessão da justiça gratuita, constituiu um substancial avanço, determinando a quem
compete a concessão da assistência judiciária, isto é, prescrever a competência da União
e dos Estados-membros.
A Lei Federal Nº 1.060 avança, ainda, ao conceituar os beneficiários da
assistência judiciária, como “todo aquele cuja situação econômica não lhe permita pagar
as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou
da família”. (art. 2º, parágrafo único). Compreende-se assim o necessitado no sentido
legal, sem entender-se, evidentemente como “indigente”.
A Constituição Federal DE 1988, TROUXE IMPORTANTES INOVAÇÕES
SOBRE O TEMA. O ART. 134 desta carta prevê, sob a forma de direito subjetivo
público, a institucionalização da Defensoria Pública na forma do art. 5º, LXXIV. Este
último artigo dispõe:
“LXXIV. O Estado prestará ‘assistência jurídica integral’ e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos”.
A Constituição Federal de 1988 , ao tratar da Defensoria Pública, definiu-a
como sendo “essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação
jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV”.
O Conceito de necessitado, como vimos, já estava previsto na Lei n° 1.060, de 5
de fevereiro de 1950, que estabelece normas para a concessão de assistência judiciária
aos necessitados, até hoje em vigor, e recepcionado pela atual constituição segundo o
entendimento do Pretório Excelso:
77
“CONSTITUCIONAL. ACESSO À JUSTIÇA. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA. Lei
1.060, de 1950. C.F., art. 5º, LXXIV. I. – A garantia do art. 5º, LXXIV –
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recussos – não revogou a se assistência judiciária gratuita da Lei 1.060, de
1950, aos necessitados, certo que, para obtenção desta, basta a declaração,
feita pelo próprio interessado, de que a sua situação econômica não permite vir
a Juízo sem prejuízo da sua manutenção ou de sua família. Essa norma
infraconstitucional põe-se, ademais, dento do espírito da Constituição, que
deseja que seja facilitado o acesso de todos à Justiça (C.F., art. 5º, LXXXV).
(STF – RE 205.029/RS. Rel. Min. Carlos Velloso. “
Tal norma é de aplicação imediata pela importância da atuação da Defensoria
Pública, instrumento de justiça social que é, como se pode depreender do entendimento
expressado pelo Procurador Geral da República, e adotado pelo Ministro Sepúlveda
Pertence como razão de decidir, in verbis:
“(...) ao contrário do alegado pelos requeridos, a norma inscrita no
supratranscrito artigo 134, § 2º, da Constituição Federal é auto-aplicável e de eficácia
imediata, haja vista ser a Defensoria Pública um instrumento de efetivação dos direitos
humanos. De fato, o papel da Defensoria Pública como instrumento de afirmação da
dignidade humana, através da garantia do acesso ao Poder Judiciário, é relevante e
fundamental à construção de um verdadeiro Estado Democrático de Direito, daí
porque possui eficácia imediata a norma que assegura a autonomia da Instituição.
(STF - ADI 3569. Rel. Min. Sepúlveda Pertence)”
No mesmo sentido o Ministro Celso de Melo:
“É imperioso ressaltar, desde logo, Senhor Presidente, a essencialidade da Defensoria
Pública como instrumento de concretização dos direitos e das liberdades de que
também são titulares as pessoas carentes e necessitadas. É por esse motivo que a
78
Defensoria Pública foi qualificada pela própria Constituição da República como
instituição essencial ao desempenho da atividade jurisdicional. (STF - ADI 2903. Rel.
Min. Celso de Melo)”
A interpretação de hipossuficiente alcança inclusive as pessoas juridicas, e a
possibilidade de defesa de pessoas jurídicas, quando enquadradas no conceito de
necessitadas, é aceita de forma pacífica nos Tribunais, senão vejamos os seguintes
acórdãos do Superior Tribunal de Justiça – STJ:
“EMENTA: Assistência judiciária. Pessoa jurídica. Precedentes da Corte. 1.
Assentou a Corte ser possível à pessoa jurídica desfrutar do benefício da assistência
judiciária, demonstrada a sua necessidade. No caso, o próprio Estado, pela Defensoria
Pública, chamou a si a representação da empresa, sendo razoável supor-se a
necessidade de tal patrocínio para o livre acesso à Justiça. 2. Recurso especial
conhecido e provido. (STJ - REsp 330188 – Min. Carlos Alberto Menezes Direito. Neste
sentido: STJ – REsp 258174 – Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira)”
Assim a interpretação da noção de necessitados juridicos é ampla e a
Constituição da República confere à Defensoria Pública tal legitimidade constitucional.
As funções institucionais da Defensoria Pública, elencadas no art. 4º da Lei
Complementar nº 80/94, podem ser exercidas, como efetivamente são, contra as pessoas
jurídicas de direito público, inclusive em face do ente federativo que a mantém
financeiramente, consoante podemos destacar deste acórdão:
“Isso significa que a vinculação da Defensoria Pública a qualquer outra
estrutura do Estado se revela inconstitucional, na medida em que impede o pleno
exercício de suas funções institucionais, dentre as quais se inclui a possibilidade de,
com vistas a garantir os direitos dos cidadãos, agir com liberdade contra o próprio
Poder Público.(STF – ADI 3.569 - Rel Min. Sepúlveda Pertence)”
São muitas as funções institucionais da Defensoria Pública, elencadas no art. 4º
da Lei Complementar nº 80/94, que referente ao consumidor dispõe:
“Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:
(...) XI - patrocinar os direitos e interesses do consumidor lesado;”
79
Como podemos perceber a defensoria publica vem atingindo sua importancia na
sociedade, para equilibrar o acesso a justiça. Nessa linha de raciocinio a proteção do
consumidor ganha reforço com a evolução e reconhecimento da importancia da
instituição Defensoria Pública, sobretudo no aspecto coletivo, como veremos.
4.2 Atuação coletiva da Defensoria Pública na defesa do consumidor
Como vimos, são diversas as funções institucionais da Defensoria, elencadas no
art. 4º da Lei Complementar nº 80/94, especificamente o já citado que dispõe: “Art. 4º
São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:(...) XI - patrocinar os
direitos e interesses do consumidor lesado;”
Ocorre que tal proteção pode ser no campo individual, que é facil visualizar, poi é
o mais comum. Porem é possivel que a defensoria atue, por previsão legal, nas esfera
coletiva ou difusa.
Para WATANABE (2005, p. 623), o que diferencia os direitos coletivos dos
direitos difusos é a determinabilidade das pessoas titulares:
(...) seja através da relação jurídica-base que as une entre si (membros deuma
associação de classe ou ainda acionistas de uma mesma sociedade),seja por meio do
vínculo jurídico que as liga à parte contrária (contribuintesde um mesmo tributo,
contratantes de um segurador com um mesmo tipo de seguro, estudantes de uma mesma
escola etc.”
O importante instrumento para que seja exercida tal função é a Ação Civil
Pública, que é conceituada por MEIRELLES (2000, p. 152) como:
(...) instrumento processual adequado para reprimir ou impedir danos ao
meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico, protegendo os interesses difusos da
sociedade. Não se presta a amparar direitos individuais, nem se destina à
reparação de prejuízos causados por particulares pela conduta, comissiva
ou omissiva, do réu.”
Assim, importante o surgimento da Lei nº 11.448/07, que com aplausos, veio
trazer a expressa legitimidade da Defensoria Pública para ajuizar a ação civil pública,
ficando, porém, firme o entendimento de que – levando em consideração as normas
80
expressas e a interpretação sistêmica que surge do espírito da Constituição, além dos
preceitos normativos vigentes pertinentes à espécie, bem como o posicionamento já
pacificado dos Tribunais – a citada lei não inovou a ordem jurídica vigente, não trouxe à
realidade fático-jurídica um novo legitimado à propositura da ação civil pública, apenas
fez a explicitação legal.
QUESTIONAMENTO DA CONSTITUCIONALIDADE DA LEI n°.11.448/07
A referida Lei está sendo objeto de analise de constitucionalidade no STF, com
ação ajuizada pela Associação Nacional do Ministério Público – CONAMP – ajuizou
perante o Supremo Tribunal Federal – STF uma Ação Direta de Inconstitucionalidade –
ADI em face “do inciso II da Lei 7.347, de 24 de julho 1985, com a redação dada pela
Lei nº 11.448, de 15 de janeiro de 2007”, sob o argumento de que a referida norma:
“(...)padece de vício material de inconstitucionalidade, já que inclui a
Defensoria Pública no rol de legitimados para a propositura de ação civil
pública, caracterizando clara afronta aos arts. 5º, LXXIV, e 134, ambos da
Constituição Federal.”
“(...)a Defensoria Pública foi criada para atender, gratuitamente, aos
necessitados, aqueles que possuem recursos insuficientes para defender
judicialmente ou que precisem de orientação jurídica.”
81
“(...) a Defensoria Pública pode, somente, atender aos necessitados que
comprovem, individualmente, carência financeira. Portanto, aqueles que são
atendidos pela Defensoria Pública devem ser,pelo menos, individualizáveis,
identificáveis, para que se saiba, realmente,que a pessoa atendida pela
Instituição não possui recursos suficientes para o ingresso em Juízo. Por isso,
não há possibilidade alguma de a Defensoria Pública atuar na defesa de
interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos, como possuidora de
legitimação extraordinária(...).”
Ocorre que a legitimação de uma instituição não afasta a da outra, como
assevera a doutrina pátria mais abalizada, acerca da legitimação, em sede de ação civil
pública, na lição de Pedro Lenza (2003, p.86):
“Pode-se dizer, então, por todo o exposto, que a legitimação para a tutela
coletiva é extraordinária, autônoma, exclusiva, concorrente e disjuntiva:
a)extraordinária, já que haverá sempre substituição da coletividade; b)
autônoma, no sentido de ser a presença de ser a presença do legitimado
ordinário, quando identificado, totalmente dispensada; c) exclusiva em
relação à coletividade substituída, já que o contraditório se forma
suficientemente com a presença do legitimado ativo; d) concorrente em
relação aos representantes adequados, entre si, que concorrem em
igualdade para a propositura da ação; e e) disjuntiva, já que qualquer
entidade poderá propor a ação sozinha, se a anuência, intervenção ou
autorização dos demais, sendo o litisconsórcio eventualmente formado,
sempre facultativo”.
Está registrado na obra de importantes autores que:
“No Estado do Rio de Janeiro são 100 ações civis públicas promovidas pelo
Ministério Público para pouco mais de dez ações promovidas por
associações civis; em São Paulo, no campo dos Direitos do Consumidor,
são 95 ações do Ministério Público para 10 de associações; em matéria de
ambiente, segundo uma pesquisa feita 100 comarcas daquele Estado, das
444 ações propostas, apenas 4% o foram por associações civis.”
82
Reforçando, temos o defensor público SALLES (2007, on line):
“A afirmação é feita, inicialmente, através de uma análise simplista, porém, real
e efetiva, de que a existência de outros interessados – desnecessitados – não
pode impedir a defesa dos interesses daqueles que são necessitados e precisam,
deste modo, de maior tutela do Estado Há, pois legitimação concorrente entre os
legitimados ativos para a propositura da ação civil pública. Todos os sujeitos
arrolados na LACP, em seu art. 5º, estão autorizados a defender em juízo os
direitos transindividuais. “
Em recente artigo publicado na internet, excesso de demandas pelo Ministerio Público
ganhou contornos tão alarmantes que o Conselho Superior do Ministério Público do
Estado de São Paulo publicou, em 19.07.2000, duas súmulas internas, de nºs 28 e 29,
destinadas a racionalizar a atuação do órgão com vistas a desafogá-lo, melhorando sua
produtividade. Os fundamentos dos enunciados merecem transcrição:
Súmula 28 – Fundamento: ‘É conhecida a sobrecarga do Ministério Público
na área dos interesses difusos, conceito no qual se insere o da probidade
administrativa. O ideal seria que nossa estrutura permitisse a apuração de todo
e qualquer ato de improbidade administrativa, ainda que cometido por
funcionário sem qualquer poder decisório. Contudo, não mais é dado
desconhecer que no momento atual a realidade demonstra que isto não possível.
Urgente a racionalização do serviço, sendo imperioso que sejam traçados os
caminhos prioritários na área. A proposta tem esta finalidade, buscando-se
maior eficácia na atividade ministerial’.
Súmula 29 – Fundamento: ‘O Ministério Público, de um tempo a esta parte, vem
sendo o destinatário de inúmeros autos de infração lavrados pelos órgãos
ambientais compostos, em grande parte, por danos ambientais de pequena
monta. Isto vem gerando grande sobrecarga de trabalho, inviabilizando que os
promotores de Justiça se dediquem a perseguir maiores infratores. Mostra-se
inevitável a racionalização do serviço. A proposta ora apresentada tem esta
finalidade. O desejável seria que nossa estrutura permitisse a apuração de todo
e qualquer dano ambiental. Todavia, a realidade demonstra não ser isto
possível no momento.’
83
Verifica-se que o artigo 5º, da LACP atribui às pessoas jurídicas elencadas a
legitimação para propor ação civil pública possuindo legitimidade concorrente, isto é,
todas as instituições abraçadas pela LACP podem figurar no pólo ativo da ação civil
pública. Há, pois, legitimidade extraordinária ativa concorrente entre a Administração
Direta e Indireta, Associações, Defensoria Pública e Ministério Público. Conclui-se,
pois, que a legitimidade ampla conferida à Defensoria Pública não pode prevalecer, em
face dos artigos 5º, LXXIV, e 134 da Constituição Federal.
Ainda que se entenda poderem os defensores públicos propor ação civil pública,
quando se tratar de interesses coletivos ou individuais homogêneos, não é
constitucionalmente possível à Defensoria Pública ajuizar ação civil pública em relação
a interesses difusos. Assim, há de ser dada interpretação conforme à Constituição, à Lei
ora questionada, para que não sejam contrariados os dispositivos constitucionais acima
mencionados. Obtempera, ainda, acerca da pertinência temática que: Ora, a norma
impugnada, ao conferir legitimidade à Defensoria Pública para propor, sem restrições,
ação civil pública, afeta diretamente a atribuição do Ministério Público, pois ele é, entre
outros, o legitimado para tal propositura. A inclusão da Defensoria Pública no rol dos
legitimados impede, pois, o Ministério Público de exercer, plenamente, as suas
atividades, pois concede à Defensoria Pública atribuição não permitida pelo
ordenamento constitucional, e mais, contrariando os requisitos necessários para a ação
civil pública, cuja titularidade pertence ao Ministério Público, consoante disposição
constitucional.
AJUIZAMENTO COLETIVO PELA DEFENSORIA PÚBLICA NAS CAUSAS DE
CONSUMO
Quanto ao consumidor individual, que tiveram seu direito do consumidor
indevidamente violada, não existem duvidas quanto a legitimidade da Defensoria. No
entanto para as ações coletivas, apesar da previsão legal ser incontestavel, o tema
merece algumas explicações, como as feitas pelo ilustre membro do Parquet.
“ Com o desenvolvimento da tecnologia e principalmente com o aumento das
atividades econômicas, as sociedades têm passado por uma transformação em sua
estrutura de produção e distribuição.
84
Verifica-se em todo o mundo o fenômeno das fusões e incorporações, de modo
que cada vez mais aquelas empresas de médio porte têm se tornado de grande porte em
virtude da união ocorrida. Por outro lado, outras empresas de médio porte, inaptas ao
crescimento necessário, preferem o enxugamento, isto é, tornam-se pequenas. Já se
pode vislumbrar um quadro em que existem muitas pequenas, poucas médias e algumas
grandes empresas. A chamada base da pirâmide está muito alargada, com o seu topo
baixo. Esse fato acaba por fazer surgir a relação coletiva de consumo.”
O consumidor coletivo foi identificado pela Lei 8.078/90, quando o parágrafo
único do artigo 2º aduziu:
"Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que
indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.".
Como exemplos de coletividade nas relações de consumo, pode-se verificar nos
problemas de fabricação de determinado veículo, quando é feito recall para que todos os
proprietários troquem gratuitamente determinada peça defeituosa de fábrica. Tal idéia já
vinha sendo incutida na doutrina desde 1974, no direito italiano, traduzida pelo conceito
de direito metaindividual ou transindividual, a ser desenvolvido adiante.
Definido o consumidor singular e o consumidor coletivo, de forma ampla,
apenas para a fixação do raciocínio, analisemos seus efeitos, sob a égide da tutela dos
interesses transindividuais, que já explicamos em capitulo anterior, nesta monografia.
Assim é possivel ajuizamento coletivo, pela Defensoria Pública, espcialmente
por sua missão constitucional de promoção dos direitos e interesses dos necessitados,
tendo em vista que a República Federativa do Brasil, Estado Democrático de Direito,
tem como objetivo erradicar a pobreza e diminuir as desigualdades, construindo uma
sociedade livre justa e solidária. Em conseqüência, a Defensoria Pública pode e deve
atuar individualmente, ao ser procurada pelo necessitado, resolvendo seu problema
particular, seja através da orientação jurídica, seja na resolução extrajudicial de um
conflito, seja ajuizando ações judiciais.
Entretanto, a Instituição também pode e deve atuar de forma coletiva, pois a
forma individual não foi imposta pelo legislador ordinário, que, aliás, sempre utilizou o
plural para falar dos necessitados.
85
Poderia a Defensoria Pública ajuizar ação civil pública em qualquer caso? Poderia
atuar em proteção de direitos difusos, onde os destinatários são indeterminados e
indetermináveis? Poderia atuar nos casos em que entre os eventuais beneficiados
figurem indivíduos não necessitados financeiramente? Para responder estes
questionamentos devemos voltar os olhos para a Carta Política e dela colhermos que o
Constituinte Originário – ao cometer ao Ministério Público a legitimidade ativa para a
propositura da ação civil pública – não o fez com exclusividade, deixando,
expressamente, aberta a possibilidade para que outros órgãos, instituições, pessoas,
também pudessem fazê-lo.
ART. 129. São funções institucionais do Ministério Público: III - promover
o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e
social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; § 1º - A
legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não
impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta
Constituição e na lei. (grifo nosso)
A Lei Complementar 80 que Organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito
Federal e dos Territórios e prescreve normas gerais para sua organização nos Estados,
dá outras providências, surgiu após a Constituição de 1988.
É evidente que com o advento desta lei, a Defensoria que era despersonalizada,
ganhou status, podendo inclusive exercer suas funções institucionais em face de pessoas
Jurídicas de Direito Público.
A faculdade que lhe foi positivada existia mesmo antes que isto acontecesse, pois,
incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, dos necessitados, em todos os graus,
em se configurando como o mais adequado instrumento, a Ação Civil Pública, ela já
podia propor tal ação na defesa dos direitos coletivos de qualquer sorte.
Reitera-se: a atribuição conferida a Defensoria Pública para ajuizar Ação Civil
Pública, não impede o Ministério Público de exercer suas funções, até porque
implicitamente, nunca lhe foi vedada, nem, do MP privativa; o Parquet é um dos
titulares, não é o único.
A tendência moderna do direito conforme, entre tantos autores, ensina Cappelletti
é facilitar o acesso de todos à justiça, inclusive pela Defensoria Pública.
Mesmo antes da legitimidade dada pela Lei, incluindo a Defesnoria Pública no no
rol constante no artigo 5º da Lei nº 7.347/85, algumas Defensorias Públicas ajuízavam
86
ações civis públicas, sustentando sua legitimidade ativa, com vários fundamentos
jurídicos, principalmente no que tange à defesa coletiva de direitos de consumidores, o
que vinha sendo acolhido pela grande maioria dos tribunais pátrios, como se verifica
pela transcrição das seguintes ementas:
“Agravo de Instrumento. - Ação civil pública. - Defesa de direito coletivo. -
Legitimidade ativa da Defensoria Pública. - Existência. - Decisão que impede a
interrupção do fornecimento de energia elétrica, motivada pelo não pagamento das
contas. - Imperceptível a necessária verossimilhança. Ausente a razoabilidade, quando
se premia a inadimplência, pondo em perigo de colapso o fornecimento de energia
elétrica, levando, assim, o risco do dano irreparável a toda a coletividade. - RECURSO
PROVIDO. - DECISÃO CASSADA. – TJRJ. Processo AGRAVO DE INSTRUMENTO
no. 2003.002.23562. Rel. Des. DES. JOSE DE SAMUEL MARQUES . DECIMA
TERCEIRA CAMARA CIVEL. Julgado em 02/06/2004”.
“Direito Constitucional. Ação Civil Pública. Tutela de interesses consumeristas.
Legitimidade ad causum do Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria Pública
para a propositura da ação. A legitimidade da Defensoria Pública, como órgão
público, para a defesa dos direitos dos hipossuficientes é atribuição legal, tendo o
Código de Defesa do Consumidor, no seu art. 82, III, ampliado o rol de legitimados
para a propositura da ação civil pública àqueles especificamente destinados à defesa
dos interesses e direitos protegidos pelo Código. Constituiria intolerável discriminação
negar a legitimidade ativa de órgão estatal – como a Defensoria Pública – as ações
coletivas se tal legitimidade é tranqüilamente reconhecida a órgãos executivos e
legislativos (como entidades do Poder Legislativo de defesa do consumidor).
Provimento do recurso para reconhecer a legitimidade ativa ad causum da apelante. –
TJRS, AC 2.003.001.04832. Rel. Dês. Nagib Slaibi Filho. 6a. Cam Civ. Julg. Em
26/08/2.003”.
Destacavam-se ainda a legitimidade da Defensoria Pública para a propositura de
ações coletivas constante em algumas Constituições Estaduais, a exemplo da
87
Constituição do Estado do Rio de Janeiro, e faz parte das funções típicas da instituição,
consoante a Lei Complementar nº 80/94.
Ada Pelegirne registra :
“Despiciendo qualquer comentário acerca do relevante papel da Defensoria
Pública na defesa, além dos interesses meramente individuais, dos interesses coletivos e
individuais homogêneos. Assim, o cenário, que se apresenta no presente momento
aponta, para um considerável avanço na esfera da tutela dos direitos coletivos e, por
outro lado, para um possível retrocesso, caso reste inalterado e aprovado o artigo 21
do anteprojeto do Código Brasileiro de Processos Coletivos, situação com a qual a
sociedade não pode compactuar, fazendo-se indispensável sua reformulação. “
Capitulo 5 Alguns casos relevantes da atuação da Defensoria na
proteção do consumidor
88
Como ilustração do tema, colhemos alguns exemplos praticos de atuação da
Defensoria Pública nas ações coletivas de consumo, além daquelasjá citadas neste
trabalho de monografia.
CASO 01: A Defensoria Pública do Estado de São Paulo (DPE/SP) propôs ação
civil pública na Justiça Estadual contra os bancos Itaú, ABN AMRO Real, Santander
Banespa, Bradesco, Unibanco e Nossa Caixa pleiteando a correção do Plano Bresser
com juros e correção monetária. A ação visava beneficiar titulares de cadernetas de
poupança com aniversário de 1.º a 15 de junho de 1987 e que são usuários do serviço de
assistência jurídica da DPE/SP. No artigo pesquisado, o defensor público Carlos
Loureiro explica que, que assinava a ação, o objetivo foi resguardar o direito dos
titulares de cadernetas de poupança que são usuários do serviço da Defensoria e não
conseguiram até o último dia do prazo propor uma ação individual. Após o julgamento
da ação e se os bancos forem condenados, os titulares de cadernetas de poupança
poderão procurar a Defensoria e se habilitar na execução para obter a diferença de
8,08%, não concedida pelos bancos em junho de 1987, com juros e correção monetária.
(Coordenadoria de Comunicação Social e Assessoria de Imprensa-retirado do sitio
http://www.defensoria.sp.gov.br/noticias/MostraNoti.asp?par=218)
CASO 02: Em julgamento realizado, a 4ª Câmara Cível do TJRS decidiu, por
unanimidade, que a Defensoria Pública Estadual tem legitimidade para propor ação
coletiva visando à defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos dos
consumidores necessitados. Aplicando o disposto no Código do Consumidor, o
Colegiado deu provimento à apelação cível interposta pela entidade contra a empresa
Rio Grande Energia S.A. (RGE). Na ação coletiva, a Defensoria Pública solicitou a
declaração da ilegalidade imediata de norma da concessionária que autorizou a
89
suspensão do fornecimento de energia elétrica aos consumidores de Erechim por
irregularidades no consumo, devido a supostas ligações clandestinas ou fraudes no
medidor (confira mais detalhes abaixo).
O relator do recurso, Desembargador Araken de Assis, salientou que a
legitimidade da Defensoria Pública para propor tal ação encontra amparo no Código de
Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/90. “A disposição legal não exige que o órgão da
Administração Pública tenha atribuição exclusiva para promover a defesa do
consumidor, mas específica.” Destacou também que a Lei Complementar Estadual nº
11.795/02 estabelece como dever institucional da Defensoria Pública a defesa dos
consumidores.
A Câmara reformou, assim, a sentença de primeira instância da Justiça, que havia
considerado a ilegitimidade da Defensoria Pública para agir na condição de substituto
processual de consumidores de energia elétrica.
A Defensoria Pública alegou que, após afirmadas as irregularidades no consumo,
a RGE impôs aos consumidores a assinatura de “Termo de Confissão de Dívida”, como
condição para a continuidade do fornecimento do serviço. Solicitou seja determinado
que a empresa-ré se abstenha de efetuar o corte no fornecimento de energia elétrica,
motivada pelas apontadas irregularidades ou por inadimplemento. Pediu a suspensão da
exigibilidade das dívidas imputadas aos consumidores, relativas a período retroativo em
até 12 (doze) ciclos completos de medição anteriores à descoberta das supostas
irregularidades.
O Desembargador Araken de Assis ressaltou que a autora pretende a condenação
da ré em favor de consumidores “lesados” e necessitados. Por lesados, disse, “entenda-
se os consumidores que fraudaram os medidores e, pilhados no ilícito, admitiram a
dívida respectiva, calculada segundo regulamento geral e impessoal, e devem pagá-la,
sob pena de corte de fornecimento”.
Assim, prosseguiu o magistrado, pretendem “constitucionalmente” transferir para
os consumidores adimplentes o custo total do consumo de energia elétrica na cidade.
Fazendo referência, ainda, a personagem da obra “Dona flor e seus dois maridos”,
de Jorge Amado, o qual contraia dívidas junto aos bancos, deixando a obrigação para o
avalista, enfatizou: “é preciso abandonar a moral do Vadinho, inculcando em todos a
idéia de que agir conforme o direito é pagar as dívidas, e, não furtar energia em prejuízo
dos demais cidadãos”.
90
Por fim, declarou a legitimidade ativa da Defensoria Pública para promover ação
“coletiva”. Acompanharam o voto do relator os Desembargadores João Carlos Branco
Cardoso e Jaime Piterman. Proc. 70014404784 (Lizete Flores) retirado do
sitio:http://www.tj.rs.gov.br/site_php/noticias/mostranoticia.php?assunto=1&categoria
=1&item=38604
CASO 03: A Defensoria Pública do Estado de Sergipe ajuizou uma ação civil
pública coletiva contra as administradoras de cartão de crédito G Barbosa & Cia Ltda,
HiperCard Múltiplo S/A e Itaú Financeira CBD, operadora de crédito da rede de
supermercados Extra. O processo está protocolado e concluso na 11ª Vara Civil. O
órgão pediu para que sejam limitadas as taxas de juros dessas financeiras à média de
mercado, que tem sido estipulada pelo superior Tribunal de Justiça (STJ) e pelo
Tribunal de Justiça local. Isso representa em torno de 3% a 3,5% ao mês, valor
delimitado pelo Banco Central do Brasil. A média praticada por essas empresas é de
10,99% a 14,99%. As empresas estão cobrando de 60 a 70 vezes a expectativa de
inflação que o governo federal estipulou para 2007.
Segundo o defensor público, Herick Bezerra, são diversas as empresas que hoje
praticam a cobrança de juros abusivos sobre as compras dos sergipanos. O motivo pela
escolha dessas três empresas estarem inseridas na primeira ação é pelo grau de acordo
de necessidade da população. “Não é por serem as empresas que a gente tem mais ações
ajuizadas, porque não é esse o caso, mas apenas por serem aquelas que mais afetam as
necessidades básicas do nosso constituinte”, explicou. “Com esses cartões, as pessoas
podem adquirir alimentos e medicamentos tanto nas redes de supermercados quanto nos
postos de atendimento vinculados a eles. Os alimentos e os remédios parecem ser os
elementos mais essenciais para uma existência digna e saudável dessas pessoas”,
concluiu.
A decisão de buscar fazer valer para todos a média de mercado para a cobrança de
juros, para que todas as decisões se enquadrem na hipótese prevista pelo TSJ, também
teve como objetivo, além de proteger a população, melhorar o atendimento tanto da
Defensoria Pública quanto da prestação jurisdicional. “Nós temos centenas de ações
ajuizadas individualmente, sempre reclamando a mesma coisa: o abuso da prática dos
91
juros. Então, com essa ação coletiva, nós pretendemos evitar a continuação de
ajuizamento de muitas ações, atolando o próprio Poder Judiciário. Já para a Defensoria
Pública, faz sobrar mais tempo e atendemos aquelas pessoas que também estão
sofrendo, mas não procuraram ainda a Justiça”, ressaltou o defensor .
Retirado do sitio :
http://www.defensoria.se.gov.br/modules/news/article.php?storyid=7
CONCLUSÕES
A Defensoria Pública deve ser vista sob perfil constitucional em se analisando
os princípios institucionais prerrogativas, garantias e vedações de seus membros, e
legitimidade da Defensoria Pública para o ajuizamento de Ação Civil Pública tendo por
objeto direitos transindividuais que antecedem em muito a sua explicitação normativa
através da Lei nº. 11.448/2007.
Isso se dá porque, com o advento da Lei nº. 8.072/90 – Código de Defesa do
Consumidor –, houve a ampliação do rol de legitimados para qualquer entidade ou
órgão da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade
jurídica (inciso III, art. 82), em conjunto com a determinação (art. 117) de que esta
92
disposição se aplica à Lei nº. 7.347/85, além da norma expressamente contida na Lei
Orgânica da Defensoria
É constitucional e pertinente a atuação da Defensoria Pública na defesa de direitos
Coletivos por meio de ação civil pública, pois, nesta modalidade é aplicada a técnica
processual de tutela coletiva por razões práticas que levam a maior efetividade,
uniformidade e economia processual.
O direito fundamental à assistência jurídica integral e gratuita é importantíssimo,
pois consiste em um dos instrumentos para a realização dos direitos fundamentais.
Portanto, há uma cadeia de instrumentalidade: Enquanto a Defensoria Pública é
instrumento de efetivação do direito fundamental à assistência jurídica, este direito é
instrumento da realização de todos os outros direitos fundamentais assegurados pela
Constituição.
Não é difícil concluir que a Defensoria Pública é ferramenta essencial para a
construção de um verdadeiro Estado de direito, eis que a instituição tem como missão
constitucional retirar do papel os direitos da população menos favorecida, justamente
aquela que historicamente teve seus direitos negligenciados pelo Estado.
Assim, procuramos mostrar que a Defensoria Pública tem legitimidade para
ajuizar ações coletivas relacionadas ao consumo, realizando o conceito de justiça e ética
em todos os sentidos explicados nesse trabalho, evidenciando a legitimação legal
conferida.
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes- Projeto A vez
do Mestre
Título da Monografia: A Defensoria Pública e as Ações Coletivas de
Consumo
Autor: Fábio Machado da Silva
Data da entrega: fevereiro de 2008.
Avaliado por: Conceito:
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