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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO COMO UM PROFISSIONAL LIBERAL DOUGLAS FREITAS DOMINGUES ORIENTADOR: CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO RIO DE JANEIRO 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO COMO UM

PROFISSIONAL LIBERAL

DOUGLAS FREITAS DOMINGUES

ORIENTADOR: CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO

RIO DE JANEIRO

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO COMO UM

PROFISSIONAL LIBERAL

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Responsabilidade Civil.

DOUGLAS FREITAS DOMINGUES

RIO DE JANEIRO

2009

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RESUMO

O presente trabalho monográfico tem como tema, especificamente, a

responsabilidade médica propriamente dita, portanto, visa-se debater e analisar

temas como sua responsabilidade perante os clientes, o dever de prestar socorro,

a natureza jurídica do contrato médico, a atividade médica e o ônus da prova, a

indenização pela perda da chance de uma cura, o consentimento esclarecido e o

dever de aconselhar, e, por fim, tecer pequenos adendos acerca a

responsabilidade civil de hospitais e clínicas.

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METODOLOGIA

A metodologia de pesquisa da presente monografia trata-se de profunda

pesquisa bibliográfica de autores consagrados previamente selecionados a qual

sempre nos traz importantes contribuições culturais e científicas. Além disso, será

utilizada pesquisa em outras fontes, como por exemplo, jornais, revistas, textos

legais, jurisprudências e decisões de importantes Tribunais brasileiros.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................06

CAPÍTULO 1 – DA RESPONSABILIDADE CIVIL

1.1 CONCEITO........................................................................................................09

1.2 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL..................................... .12

1.3 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL...................19

1.4 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SUBJETIVA.................................20

1.5 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE....................................................25

CAPÍTULO 2 – DO CONTRATO MÉDICO

2.1 O CONTRATO MÉDICO NO ORDENAMENTO JURÍDICO............................27

2.2 A NATUREZA JURÍDICA DO CONTRATO MÉDICO......................................28

2.3 ATIVIDADE MÉDICA E O ÔNUS DA PROVA.................................................30

CAPÍTULO 3 – DA RESPONSABILIDADE CIVIL MÉDICA

3.1 INDENIZAÇÃO PELA “PERDA DE UMA CHANCE DE CURA”.......................32

3.2 O CONSENTIMENTO ESCLARECIDO E O DEVER DE ACONSELHAR.......34

3.3 O EQUÍVOCO DA RESPONSABILIDADE SEM CULPA NO TOCANTE À

ATUAÇÃO DO HOSPITAL.....................................................................................36

CONCLUSÃO.........................................................................................................38

BIBLIOGRAFIA......................................................................................................40

ÍNDICE....................................................................................................................42

FOLHA DE AVALIAÇÃO.......................................................................................44

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INTRODUÇÃO

O direito da responsabilidade civil, em todos os ordenamentos jurídicos,

visa regular e dar resposta ao problema social da distribuição dos infortúnios.

Trata-se de investigar, em suma, em face de um dano, quem haverá de por ele

responsabilizar-se, e em que medida. Assim, a responsabilidade civil passa a ser

entendida como um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano

decorrente da violação de um dever jurídico originário.

É fundamental considerar que o interesse em restabelecer o equilíbrio

violado pelo dano é a fonte geradora da responsabilidade civil. É a perda ou a

diminuição verificada no patrimônio do lesado ou o dano moral que geram a

reação legal movida pela ilicitude da ação do autor da lesão ou pelo risco da

atividade.

E com o advento do Código de Defesa do Consumidor, muitas mudanças

ocorreram no cenário jurídico – uma delas – foi a proclamação da

responsabilidade civil dos profissionais liberais, incluindo-se os médicos, a ser

apurada mediante a verificação de culpa, ou seja, a responsabilização desse

profissional liberal é subjetiva.

Assim, pelo fato desses profissionais exercerem atividades de meio,

evidentemente utilizando-se de toda perícia e prudência para atingir um resultado,

contudo, não se comprometendo a alcançá-lo, haverá a responsabilidade civil

somente mediante a verificação de culpa salvo situações excepcionalíssimas onde

não há a possibilidade de apresentação desta.

Portanto, é imperioso estabelecer quais são as condições e requisitos de

aplicação da responsabilidade civil ao médico como um profissional liberal. Seria

mesmo necessária a verificação da culpa todas as vezes que esse profissional

liberal ocasionar danos a outrem em virtude de sua atividade? Se positivo, a

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verificação de culpa é absoluta ou existem casos em que ela não é necessária?

Isto é, devido ao avanço médico-científico nas atividades médicas, em situações

excepcionais, não se poderia deixar de se exigir a comprovação da culpa, afim de

adequar o desejo de reparação de dano da vítima à efetiva realidade médica, a

qual apresenta, diversas vezes, inviabilidade de demonstração de culpa? Ou seja,

a necessidade da difícil comprovação da culpa, muitas vezes, não prejudica o

paciente em pleitear seu direito?

Para que se possa demonstrar a responsabilidade civil desses profissionais

liberais, esclarecendo essas e outras questões, o presente trabalho será dividido

em três capítulos. No capítulo um, tal monografia faz o estudo e a análise da teoria

básica da responsabilidade civil. Além disso, identifica que esta teoria se presta a

responder conceitos de responsabilidade civil e os pressupostos de existência da

responsabilidade; além de traçar um diferencial entre a responsabilidade

contratual e a extra-contratual. E por fim, o presente capítulo esclarece a teoria da

culpa e a teoria do risco configuradoras da responsabilidade civil subjetiva e

objetiva, respectivamente, além de se observar a ausência de responsabilidade

gerada pela inexistência do nexo de causalidade, o que se convencionou chamar

de excludentes de responsabilidade.

Por sua vez, o capítulo dois discorre acerca do contrato médico,

examinando sua natureza jurídica e o ônus da prova. Já o capítulo três dispõe

sobre a responsabilidade médica, debatendo e analisando temas como o dever de

prestar socorro, a indenização pela perda da chance de uma cura, o

consentimento esclarecido e o dever de aconselhar, e, por fim, tece pequenos

adendos acerca a responsabilidade civil de hospitais e clínicas, a qual gera grande

controvérsia e dúvidas.

Finalmente, na conclusão serão expostas todas as respostas e

entendimentos obtidos pela leitura do presente trabalho monográfico. Desse

modo, buscar-se-á apurar a responsabilidade dos profissionais médicos, que, com

frequência, são encontrados nos pólos passivos das lides em razão de suas

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atuações negligentes ou imprudentes que acabam por ocasionar danos ao

paciente.

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CAPÍTULO 1

DA RESPONSABILIDADE CIVIL

1.1 CONCEITO

Considera-se que “a responsabilidade civil é a conseqüência da imputação

do dano à pessoa que lhe deu causa ou que responda pela indenização

correspondente, nos termos da lei ou do contrato” (NERY JÚNIOR, 2006, p. 08).

Ainda acentua o mestre Nelson Nery (2006, p. 608-609), ao tratar dos

fundamentos da responsabilidade civil, que esta “se assenta na conduta do agente

(responsabilidade subjetiva) ou no fato da coisa ou no risco da atividade

(responsabilidade objetiva)”.

Prosseguindo, o mestre dispõe que:

“Na responsabilidade objetiva o sistema fixa o dever de indenizar independentemente da culpa ou do dolo do agente. Na responsabilidade subjetiva há o dever de indenizar quando se mostra o dolo ou a culpa do agente, na causação do fato que ocasionou o dano”. (NERY JÚNIOR, 2006, p. 109)

Sérgio Cavalieri Filho (2006, p. 24), traçando distinção entre obrigação e

responsabilidade, entende que esta é um dever jurídico sucessivo que decorre da

violação daquela – a qual é dever originário. Deve-se ressaltar, contudo, que esse

dever jurídico originário pode ser até o que prescreve o dever geral de não se

prejudicar a ninguém – “neminem laedere”.

Neste sentido, para haver responsabilidade (dever jurídico sucessivo de

reparar o prejuízo), deve haver um dever jurídico preexistente (originário ou

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primário) e a sua violação. A partir disso, como corolário da idéia de

responsabilidade, responsável é a pessoa que deve reparar o prejuízo causado.

Ainda com as lições do ilustre Sérgio Cavalieri Filho, este elenca o que

considera ser importantes causas geradoras da obrigação de indenizar:

“a)ato ilícito (strictu sensu), isto é, lesão antijurídica e culposa dos comandos que devem ser observados por todos; b) ilícito contratual (inadimplemento), consistente no descumprimento de obrigação assumida pela vontade das partes; c) violação de deveres especiais de segurança, incolumidade ou garantia impostos pela lei àqueles que exercem atividades de risco ou utilizam coisas perigosas; d) obrigação contratualmente assumida de reparar o dano, como nos contratos de seguro e de fiança (garantia); e) violação de deveres especiais impostos pela lei àquele que se encontra numa determinada relação jurídica com outra pessoa (casos de responsabilidade indireta), como os pais em relação aos filhos menores, tutores e curadores em relação aos pupilos e curatelados; f) ato que, embora lícito, enseja a obrigação de indenizar nos termos estabelecidos na própria lei (ato praticado em estado de necessidade)”. (CAVALIERI FILHO, 2006, p. 28)

A obrigação de indenizar, assim, pode ser gerada a partir da produção do

ato ilícito, por exemplo, e tem por finalidade “tornar indemne o lesado, colocar a

vítima na situação em que estaria sem a ocorrência do fato danoso” (CAVALIERI

FILHO, 2006, p. 26). A indenização deve recuperar de forma mais ampla possível

o prejuízo sofrido pela vítima.

Nesse aspecto de ato ilícito, é necessário o entendimento corrente na

doutrina de que ilicitude é contrariedade ao Direito. Assim, ato ilícito é “todo fato,

conduta ou evento, contrário ao direito que seja imputável a alguém com

capacidade delitual” (MELLO, 1999, p. 206). Essa conclusão é também a de

Sérgio Cavalieri Filho (2006, p. 34) de que “ato ilícito é o conjunto de pressupostos

da responsabilidade”.

Para a configuração do ato ilícito deve-se, contudo, haver a comprovação

de determinados elementos essenciais, sendo eles: a conduta (omissiva ou

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comissiva), nexo de causalidade (entre a conduta e o dano) e dano (patrimonial ou

não-patrimonial).

Quanto à culpa, como elemento caracterizador do ato ilícito, deve-se notar

que ela só se faz presente e necessária quando se tratar de caso de

responsabilidade subjetiva (aquela pautada na teoria da culpa). Por sua vez, a

responsabilidade objetiva (pautada na teoria do risco), mesmo não havendo

necessidade do elemento culpa, pode ser gerada pela inexistência de um ato

ilícito.

No que tange a sua classificação quanto à teoria geral do Direito, tem-se

por certo que o ato ilícito integra a categoria dos fatos jurídicos.

Segundo Cavalieri filho, fato jurídico:

“É aquele que se ajusta à hipótese prevista na lei (fato abstrato). Quando, no mundo real, ocorre um fato que se ajusta à hipótese prevista na norma (fato jurígeno), a norma incide sobre esse fato, atribuindo-lhe efeitos jurídicos. Eis aí o fato jurídico, que, como sabido, é o acontecimento capaz de produzir conseqüências jurídicas, como o nascimento, a extinção e a alteração de um direito subjetivo”. (CAVALIERI FILHO, 2006, p. 28)

E continua,

“Os fatos jurídicos – ninguém desconhece – podem ser: a)naturais, quando decorrem de acontecimentos da própria natureza, como o nascimento, a morte, a tempestade, etc.; b)voluntários, quando têm origem em condutas humanas capazes de produzir efeitos jurídicos.

Os fatos jurídicos voluntários, por sua vez, dividem-se em lícito e ilícitos. Lícito é o fato praticado em harmonia com a lei; ilícito, contrário sensu, é o fato que afronta o Direito, fato violador do dever imposto pela norma jurídica.” (CAVALIERI FILHO, 2006, p. 29)

Observe-se, entretanto, que não é somente o ato ilícito que gera o dever de

indenizar, mas também ato lícito gerador de prejuízo (dano), sendo que neste

caso “não há responsabilidade em sentido técnico, por inexistir violação de dever

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jurídico, mas mera obrigação legal de indenizar por ato lícito”. (CAVALIERI FILHO,

2006, p. 31)

1.2 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

1.2.1 Conduta

Ao se tratar da conduta, deve-se levar em consideração que esta pode se

manifestar de duas formas: comissiva (ação) ou omissiva.

Cavalieri Filho (2006, p. 42) afirma que a ação ou omissão é aspecto físico,

objetivo da conduta, sendo a vontade o seu aspecto psicológico ou subjetivo.

A ação implica um movimento ativo, positivo. Já a omissão é caracterizada

por inatividade, por um não-fazer, e, apesar de “do nada, nada provém”, ela possui

“Relevância jurídica, e torna o omitente responsável quando este tem o dever jurídico de agir, de praticar um ato para impedir o resultado, dever, esse que pode advir da lei, do negócio jurídico ou de uma conduta anterior do próprio omitente, criando o risco da ocorrência do resultado, devendo, por isso, agir para impedi-lo”. (CAVALIERI FILHO, 2006, p. 49)

Conclui-se que a relevância da omissão, concernente à responsabilidade

civil, está em que determinado resultado danoso, o qual deveria ter sido impedido

por quem tinha o dever jurídico de agir, não o foi (não-ação).

Ressalte-se que há possibilidade de se responder por fato de outrem (ex.,

Código Civil, art. 932), porém, como regra, a responsabilidade se dá de forma

direta, por fato próprio. Convém afirmar, ainda neste contexto, que, para

caracterização da responsabilidade subjetiva, é necessária a presença do

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elemento culpa na prática da conduta para a existência da própria

responsabilidade.

1.2.2 Nexo Causal

Conforme menciona o mestre Nelson Nery Júnior:

“O uso jurídico mais corriqueiro do termo causa se dá no sentido de causa efficiens, quando da apuração da responsabilidade de alguém por algo, quando da análise do dever de indenizar um dano sofrido por outrem, ocasião em que se analisa o nexo de causalidade como critério para identificar-se, por quem e a favor de quem a indenização é devida e em que medida. “ (NERY JÚNIOR, 2006, p. 608)

Para Sérgio Cavalieri Filho (2006, p. 71), “o nexo causal é um elemento

referencial entre a conduta e o resultado. É através dele que poderemos concluir

quem foi o causador do dano”.

Deve-se notar que o nexo de causalidade é elemento indispensável em

quase todas as espécies de responsabilidade civil, com exceção da

responsabilidade civil objetiva baseada na teoria do risco integral, na qual há um

dever jurídico objetivo de indenizar diante da simples produção de dano,

observando-se, entretanto não ter sido adotada no ordenamento pátrio, conforme

doutrina majoritária.

Destaca-se a relação de causalidade na omissão que, conforme já exposto,

quando da análise da conduta, possui forte relevância em matéria de

responsabilidade civil. A omissão adquire relevância causal quando há o resultado

danoso decorrente de uma não ação, além da imposição legal ao sujeito de

praticar determinada conduta (praticar um ato ou impedir que determinado evento

danoso se realize), permitindo, assim, que a causa se opere.

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Cumpre salientar, quanto ao nexo de causalidade e seu fato gerador, que:

“Quando o resultado decorre de um fato simples, a questão não oferece a menor dificuldade, porquanto a relação de causalidade é estabelecida de maneira direta entre o fato e o dano. O problema torna-se um pouco mais complexo nas hipóteses de causalidade múltipla, isto é, quando há uma cadeia de condições, várias circunstâncias concorrendo para o evento danoso, e temos que precisar qual dentre elas é a causa real do resultado”. (CAVALIERI FILHO, 2006, p. 71)

Acerca das teorias que fundamentam o nexo de causalidade, podem ser

identificadas duas principais: teoria da equivalência e teoria da causalidade

adequada, sabendo-se que esta é a adotada, no que tange à responsabilidade

civil.

A teoria da equivalência tem como fundamento que “causa é a ação ou

omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido, sem distinção da maior ou

menor relevância que cada um teve. Por isso, essa teoria é também chamada de

conditio sine qua non, ou da equivalência das condições”. (CAVALEIRI FILHO,

2006, p. 72)

Assim:

“Se o questionamento se dá na seara da apuração da responsabilidade de alguém, por eventual dano sofrido por outrem, toda condição, por mais longígua que esteja na cadeia do processo de causalidade desse evento danoso, se considera causa. A teoria, entretanto, leva a conseqüências ilógicas que ferem a sensatez do equilíbrio jurídico, porque permite que se chegue a absurdos”. (NERY JÚNIOR, 2006, p. 609)

Para a teoria da causalidade adequada, “causa é a condição que se mostra

apropriada para produzir o resultado a respeito de cuja lesividade se indaga”

(NERY JÚNIOR, 2006, p. 610)

Com efeito, e com inspiração do Código Civil de 2002, em seu artigo 403,

verifica-se que é preciso existir entre o fato e o dano uma relação de causa e

efeito direta e imediata.

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No que tange ao artigo supramencionado, Sérgio Cavalieri Filho declara que:

“Deve-se ressaltar que a expressão “efeito direto e imediato” não indica a causa cronologicamente mais ligada ao evento, temporalmente mais próxima, mas sim aquela que foi a mais direta, a mais determinante segundo o curso natural e ordinário das coisas. Com freqüência a causa temporalmente mais próxima do evento não é mais determinante, caso em que deverá ser desconsiderada, por se tratar de mera concausa”. (CAVALIERI FILHO, 2006, p. 75)

José de Aguiar Dias, consagrando a causalidade adequada considera que:

“em lugar de se apurar quem teve a última oportunidade (como sustenta a teoria norte-americana - the last clear chance), o que se deve verificar é quem teve a melhor ou mais eficiente, isto é, quem estava em melhores condições de evitar o dano, de quem foi o ato que decisivamente influiu para o dano”. (DIAS, 2006, p. 945)

Expostas essas teorias, deve-se destacar que elas visam solucionar as

questões apresentadas pelo fenômeno da concausa. “Concausa é outra causa

que, juntando-se à principal, concorre para o resultado”. “Ela não inicia e nem

interrompe o processo causal, apenas o reforça” na impecável lição do mestre

Sérgio Cavalieri (2006, p. 84).

A concausa pode ser preexistente, concomitante ou superveniente. As

concausas preexistentes não eliminam o nexo causal, assim como as

supervenientes e as concorrentes. Observe-se, porém, que estas últimas podem

romper a relação de causalidade anteriormente constituída, desde que se

manifestem como a causa direta e imediata do dano. Ou seja, o dano resulta

deste fato, ainda que possa ser produzido pelo outro.

Neste contexto, cabe salientar que, quando o dano tiver sido produzido por

mais de um autor, haverá responsabilidade solidária entre eles, na medida da

culpa ou da diferente distribuição de riscos. Esse é o entendimento extraído do

artigo 942 do Código Civil de 2002.

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1.2.3 Dano

Ao se tratar do dano, deve-se ter como premissa que não há

responsabilidade civil sem a configuração deste.

Assim, para José de Aguiar Dias (2006, p. 973), “o dano que interessa ao

estudo da responsabilidade civil é o que constitui requisito da obrigação de

indenizar”. Portanto:

“Em matéria extracontratual, não se levanta nenhuma dúvida sobre a necessidade do prejuízo. Isso já suscita dificuldade, contudo, no campo da responsabilidade contratual, o que é determinado pela suposição comum de que o simples inadimplemento do contrato já constitui o dano.” (DIAS, 2006, p. 974)

Sérgio Cavalieri Filho conceitua dano como sendo:

“A subtração ou diminuição de um bem jurídico, qualquer que seja a sua natureza, que se trate de um bem patrimonial, que se trate de um bem integrante da própria personalidade da vítima, como a sua imagem, liberdade, etc. Em suma, dano é lesão de um bem jurídico, tanto patrimonial como moral“. (CAVALIERI FILHO, 2006, p. 96)

O dano pode ser: patrimonial ou não-patrimonial (moral ou imaterial).

O dano patrimonial, também chamado de dano material, “tinge bens

integrantes ao patrimônio da vítima, entendendo-se como tal o conjunto de

relações jurídicas de uma pessoa apreciáveis em dinheiro”. (CAVALIERI FILHO,

2006, p. 96)

Ressalte-se, porém, que a violação de bens personalíssimos, como o bom

nome, a reputação, a saúde, a imagem e a própria honra pode refletir no

patrimônio da vítima, gerando perda de receitas ou realização de despesas.

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O dano material pode atingir o patrimônio atual da vítima (o que

efetivamente perdeu), como também o patrimônio futuro (o que razoavelmente

deixou de lucrar). É o que prescreve o artigo 402 do Código Civil. Ao primeiro,

denomina-se dano emergente; ao segundo, lucro cessante.

O dano moral é distinguido do dano material de forma ímpar por José de

Aguiar Dias:

“Quando ao dano que não correspondem as características do dano patrimonial, dizemos que estamos em presença do dano moral. A distinção, ao contrário do que parece não decorre da natureza do direito, bem ou interesse lesado, mas do efeito da lesão, do caráter da sua repercussão sobre o lesado. De forma que tanto é possível ocorrer dano patrimonial em conseqüência de lesão a um bem não-patrimonial como dano moral em resultado de ofensa a bem material”. (DIAS, 2006, p. 992)

O dano moral e sua reparação são estabelecidos, especialmente, na

CRFB/88, em seu artigo 5º, incisos V e X.

Deve-se analisar, portanto, um conceito de dano moral inspirado pela ótica

constitucional. Dano moral é, assim, ofensa à dignidade da pessoa humana. A

dignidade da pessoa humana, elevada à categoria de fundamento do Estado

democrático de Direito, é princípio norteador de todo ordenamento pátrio e de

todas as relações estabelecidas.

Ressalte-se que o princípio da dignidade da pessoa humana é integrado

por sub-princípios – igualdade, liberdade, solidariedade e integridade psicofísica - ,

assim como é a essência de todos os direitos da personalidade – honra, vida,

intimidade, privacidade, etc. A sua violação é o fato gerador do dano moral.

Para efeitos de reparação, destaca-se o enunciado n.º 37 da súmula da

jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça que declara que “são cumuláveis as

indenizações por dano material e moral oriundos do mesmo fato.”

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José de Aguiar Dias (2006, p. 973-974) , tratando sobre o momento de

aferição do dano questiona “se devemos considerar dano tão-somente a

repercussão prejudicial imediata de um dado fato, ou a contrário, o prejuízo

consumado e definitivo, última conseqüência da cadeia causal”.

Assim, deve-se concluir desde logo pela aplicação da noção de dano ao

prejuízo consumado. Considera-se, entretanto, que, visando à reparação ideal do

dano, não se deve adiar o momento de deferir a indenização, tendo em vista que

pode haver necessidade de uma certeza que só se dará no futuro. Eventual

indenização prestada indevidamente gera a possibilidade de ação de

enriquecimento sem causa.

No que tange à fixação do quantum debeatur, o artigo 944 do Código Civil

prevê que “a indenização mede-se pela extensão do dano”.

A indenização deve ser proporcional ao prejuízo sofrido pela vítima,

buscando-se, com isso, recolocar a vítima na situação que estava antes da

produção do evento danoso, o máximo possível, reparando o melhor possível. É o

princípio do restitutio in integrum.

Sérgio Cavalieri Filho pondera que:

“Tratando-se de lucro cessante e dano moral, deve o juiz ter em mente o princípio de que o dano não pode ser fonte de lucro. A indenização, não há dúvida, deve ser suficiente para reparar o dano, o mais completamente possível, e nada mais. Qualquer quantia maior importará enriquecimento sem causa, ensejador de novo dano”. (CAVALIERI FILHO, 2006, p. 115)

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1.3 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL

Ao traçar a distinção entre responsabilidade contratual e extracontratual,

deve-se ter como certo que grande parcela da doutrina vem entendendo que essa

bipartição é inútil.

A responsabilidade contratual tem origem na “infração a um dever especial

estabelecido pelas vontades dos contraentes, por isso decorrente de relação

obrigacional preexistente” (CAVALIERI FILHO, 2006, p. 294). Tem como

pressupostos: existência de contrato válido, inexecução do contrato, dano e nexo

causal.

A responsabilidade extracontratual ou aquiliana “importa na violação de um

dever estabelecido na lei, ou na ordem jurídica, como, por exemplo, o dever geral

de não causar dano a ninguém” (CAVALIERI FILHO, 2006, p. 296). Não há

relação jurídica anterior entre a vítima e o causador do dano. É a prática da

conduta causadora de dano que gera o dever de indenizar.

Nelson Nery afirma que:

“Há algumas cláusulas gerais extraídas do sistema do CC para a responsabilidade extracontratual. Há o direito do prejudicado de ser indenizado e o dever de o ofensor indenizar quando: a) a ofensa se der a qualquer direito (patrimonial – material – ou imaterial – como o moral, `a imagem, da personalidade, etc., b) a ofensa ocorrer em desrespeito a norma de ordem pública imperativa (v.g. abuso de direito – CC, 187; direito protegido por norma imperativa: constitucional, penal, administrativa, etc., c) o dano causado for apenas moral; d) por expressa especificação legal, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza risco para os direitos de outrem, independentemente de dolo ou culpa (responsabilidade objetiva – CC, 927, parágrafo único); e) a ofensa se der por desantendimento manifesto à boa-fé e aos bons costumes”. (NERY JÚNIOR, 2006, p. 459)

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1.4 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SUBJETIVA

Identificam-se dois sistemas de responsabilidade civil: objetiva e subjetiva.

A responsabilidade civil subjetiva, fundada na teoria da culpa, exige para a

existência do dever de indenizar: dano, nexo de causalidade entre o fato e o dano,

culpa lato sensu (culpa em sentido estrito ou dolo) do causador do dano.

Já a responsabilidade civil objetiva, fundada na teoria do risco, torna

irrelevante a conduta (culpa lato sensu) do agente para a existência do dever de

indenizar; exigindo apenas a existência do dano, do fato gerador do dano

(praticado por ação ou omissão) e do nexo de causalidade entre os dois

anteriores. Assim, há responsabilidade civil objetiva quando a lei determinar ou

quando a atividade do agente por sua natureza implicar risco para outrem.

José de Aguiar Dias (2006, p. 100), traçando a distinção entre as

modalidades de responsabilidade afirma que “em teoria, a distinção subsiste,

ilustrada por exemplo prático: no sistema da culpa, sem ela, real ou artificialmente

criada, não há responsabilidade; no sistema objetivo, responde-se sem culpa, ou

melhor, esta indagação não tem lugar.”

Deve-se ressaltar que a responsabilidade contratual pode ser objetiva ou

subjetiva, assim como ocorre com a responsabilidade extracontratual.

1.4.1 Responsabilidade Civil subjetiva e a Teoria da culpa

Fundada na teoria da culpa, a responsabilidade civil subjetiva tem como um

de seus pressupostos a conduta culposa, em suas modalidades de dolo ou culpa

em sentido estrito (negligência, imprudência ou imperícia).

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Além desse pressuposto, demonstra-se necessária a presença do nexo de

causalidade entre a conduta culposa e o dano, este último se configurando como

requisito indispensável para a responsabilidade civil.

Assim, a vítima, para ter garantido seu direito à reparação, deve provar a

culpa daquele a quem se imputa o fato causador de dano.

Sérgio Cavalieri Filho aborda magistralmente a distinção entre dolo e a

culpa stricto sensu quando afirma que:

“Tanto no dolo como na culpa há conduta voluntária do agente, só que no primeiro caso a conduta já nasce ilícita, porquanto a vontade se dirige à concretização de um resultado antijurídico – o dolo abrange a conduta e o efeito lesivo dele resultante - , enquanto que no segundo a conduta nasce lícita, tornado-se ilícita na medida em que se desvia dos padrões socialmente adequados. O juízo de desvalor no dolo incide sobre a conduta, ilícita desde a sua origem; na culpa, incide apenas o resultado. Em suma, no dolo o agente quer a ação e o resultado, ao passo que na culpa ele só quer a ação, vindo a atingir o resultado por desvio acidental de conduta decorrente de falta de cuidado”. (CAVALIERI FILHO, 2006, p. 55)

Conclui o ilustre mestre Cavalieri Filho, (2006, p. 59) que “enquanto no dolo

o agente quer a conduta e o resultado, a causa e a conseqüência, na culpa a

vontade não vai além da ação ou omissão. O agente quer a conduta, não, porém,

o resultado; quer a causa, mas não quer o efeito”.

Diante da dificuldade de se provar a culpa, a doutrina evoluiu apresentando

diversas teorias que buscassem tornar garantida a reparação da vítima. A prova

da culpa mostrava-se, em muitos momentos, óbice para a indenização.

Em clara demonstração, Sérgio Cavalieri Filho (2006, p. 75) analisa a

questão da prova da culpa: “(...), em muitos casos, é verdadeiramente diabólica,

erigindo-se em barreira intransponível para o lesado. Em tais casos, os tribunais

têm examinado a prova da culpa com tolerância, extraindo-a, muitas vezes, das

próprias circunstâncias em que se dá o evento”.

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Assim, por exemplo, se o motorista sobe com o veículo na calçada e

atropela o transeunte, a culpa decorre do próprio fato; está in re ipsa, cabendo ao

agente afastá-la provando o caso fortuito ou a força maior (CAVALIERI FILHO,

2006, p. 63). Nasce, assim, a culpa presumida, em face dessa dificuldade da

vítima de provar a culpa em determinadas situações. A existência do pressuposto

“culpa” continua se fazendo necessário pois se trata de responsabilidade civil

subjetiva. O que ocorre é que no plano processual se opera a inversão do ônus da

prova, na qual o causador do dano pode elidir a presunção de culpa, considerando

tratar-se de presunção relativa.

Ilustra-se a construção da doutrina, para fundamentar a teoria da presunção

da culpa, como modalidades desta, a culpa in eligendo, a culpa in vigilando, culpa

in custodiando, etc.

Ainda nesse contexto, a culpa contra a legalidade ocorre:

“Quando o dever violado resulta de texto expresso de lei ou regulamento, como ocorre, por exemplo, com o dever de obediência aos regulamentos de trânsito de veículos motorizados ou com o dever de obediência a certas regras técnicas no desempenho de profissões ou atividades regulamentadas. A mera infração da norma regulamentar é fator determinante da responsabilidade civil; cria em desfavor do agente uma presunção de Ter agido culposamente, incumbindo-lhe o difícil ônus da prova em contrário”. (CAVALIERI FILHO, 2006, p. 65)

Considera-se, assim que, quando se age em culpa contra a legalidade, não

é necessário se examinar a conduta culposa. Havendo nexo de causalidade entre

a infração e o fato danoso, a culpa, no caso, in re ipsa, está configurada.

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1.4.2 Responsabilidade Civil Objetiva

Sérgio Cavalieri Filho, com muita perspicácia, identifica a deficiência da

responsabilidade civil subjetiva explicando que:

“Logo os juristas perceberam que a teoria subjetiva não mais era suficiente para atender a essa transformação social ocorrida em nosso século; constataram que, se a vítima tivesse que provar a culpa do causador do dano, em numerossíssimos casos ficaria sem indenização, ao desamparo, dando causa a outros problemas sociais”. (CAVALIERI FILHO, 2006, p. 154)

O festejado autor identifica as fases de evolução da responsabilidade

subjetiva para a objetiva:

“Primeiramente, os tribunais começaram a admitir maior facilidade na prova da culpa, extraindo-a, por vezes das próprias circunstância em que se dava o acidente e dos antecedentes pessoais dos participantes. Após evoluiu-se para a admissão da culpa presumida, na qual, há inversão do ônus da prova. Sem abandonar a teoria da culpa, consegue-se, por via de uma presunção, um efeito máximo ao da teoria objetiva. O causador do dano, até prova em contrário, presume-se culpado, cabendo-lhe ilidir tal presunção, isto é, provar que não teve culpa, o que, sem dúvida, favorece sobremaneira a posição da vítima. Passou-se, ainda, pela fase em que se ampliou o número de casos de responsabilidade contratual, até que, finalmente, chegou-se à admissão da responsabilidade sem culpa em determinados casos. Provados o dano e o nexo causal, ônus da vítima, exsurge o dever de reparar, independentemente de culpa. O causador do dano só se exime do dever de indenizar se provar algumas das causas de exclusão do nexo causal. Não cabe, aqui, qualquer discussão em torno da culpa”. (CAVALIERI FILHO, 2006, p. 154-155)

Surgida a teoria do risco, verifica-se que esta prevê o dever de reparar o

dano independentemente de culpa. O risco é uma probabilidade de dano. Quem

exerce uma atividade de risco deve suportá-lo e reparar eventuais danos

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resultantes dele. O dever de indenizar tem por fundamento a violação do dever

jurídico de segurança, que se fundamenta na existência do risco.

A teoria do risco, fundamentadora da responsabilidade civil objetiva, possui

diversas modalidades, sendo as principais:

• Risco criado: a doutrina dispõe ser a melhor, sustenta que aquele

que produz o dano no exercício de uma atividade de risco tem o dever de reparar;

• Risco-proveito: responsável é aquele que tira proveito da atividade

danosa, com base no princípio de que, onde está o ganho, aí reside o encargo.

(CAVALIERI FILHO, 2006, p. 156);

• Risco integral: modalidade extremada, sustenta que, havendo a

produção do dano, independentemente da presença de nexo de causalidade, há

dever jurídico de indenizar. Ressalte-se entendimento da doutrina, salvo o de Hely

Lopes Meirelles (2005, p. 646), no qual essa modalidade da teoria do risco não foi

adotada por nosso ordenamento jurídico;

• Risco administrativo: no plano da responsabilidade objetiva, o dano

sofrido pelo administrado tem como causa a atividade administrativa, sendo

incompatível, portanto, com a concepção de culpa administrativa.

• Risco excepcional: “a reparação é devida sempre que o dano é

conseqüência de um risco excepcional, que escapa à atividade comum da vítima,

ainda que estranho ao trabalho que normalmente exerça”. (CAVALIERI FILHO,

2006, p. 156)

• Risco profissional: o dever de indenizar tem lugar sempre que o fato

prejudicial é uma decorrência da atividade ou profissão do lesado.

Destaca-se que o artigo 927, parágrafo único do Código Civil, traz uma

espécie de cláusula geral da responsabilidade civil objetiva (fundamentada na

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teoria do risco criado) que abrange todos os serviços que criam para a sociedade

e o usuário.

1.5 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE

O nexo de causalidade é elemento essencial para a caracterização da

responsabilidade civil. Como corolário, excluí-lo importa em afastar a própria

responsabilidade e, assim, o dever jurídico de indenizar.

A doutrina aponta determinados fatos que, quando presentes, afastam o

nexo causal entre o dano e a sua causa aparente, sendo eles: caso fortuito, força

maior, fato exclusivo da vítima e fato de terceiro.

1.5.1 Fato exclusivo da vítima

José de Aguiar Dias (2006, p. 944) “alude a ato ou fato exclusivo da vítima,

pela qual fica eliminada a causalidade em relação ao terceiro interveniente no ato

danoso”. Sérgio Cavalieri Filho (2006, p. 89) pondera que “para fins de interrupção

do nexo causal basta que o comportamento da vítima represente o fato decisivo

do evento”.

1.5.2 Fato de terceiro

José de Aguiar Dias (2006, p. 926), tratando do fato de terceiro, garante

que este só exonera a responsabilidade quando constituir uma causa estranha,

eliminando totalmente a relação de causalidade do autor aparente com o dano.

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O grande mestre da responsabilidade civil ainda elenca pressupostos para

a caracterização do fato de terceiro:

“a)causalidade: escusado dizer que, se não é causa do dano, nenhuma influência pode o fato de terceiro exercer no problema da responsabilidade; b) inimputabilidade: com efeito, se o fato danoso pode ser imputado ao devedor, fica fora de questão apurar em que medida terá influído, no resultado, o fato de terceiro, porque não foi este, mas aquele, o produtor do dano; c: qualidade: terceiro é qualquer pessoa além da vítima e do responsável. (...); d) identidade: o fato de terceiro há de poder ser atribuído a alguém (...)”. (DIAS, 2006, p. 925)

1.5.3 Caso fortuito e força maior

O caso fortuito e a força maior, por ensejarem o evento danoso,

descaracterizam a presença do nexo de causalidade com a aparente conduta

geradora do dano.

Sérgio Cavalieri Filho os diferencia nos seguintes parâmetros:

“Estaremos diante do caso fortuito quando se tratar de evento imprescindível e, por isso, inevitável; se o evento for inevitável, ainda que previsível, por se tratar de fato superior às forças do agente, como normalmente são os fatos da natureza, como as tempestades, enchentes, etc., estaremos em face da força maior, como próprio nome o diz. É o act of God, no dizer dos ingleses, em relação ao qual o agente nada pode fazer para evitá-lo, ainda que previsível”. (CAVALIERI FILHO, 2006, p. 91)

Deve-se ressaltar, entretanto, que parcela da doutrina considera inútil a

distinção entre ambos, considerando as expressões como sinônimas.

Ainda, caracteriza-se o fortuito interno, inerente ao risco da atividade, e o

fortuito externo, estranho a este risco, confundindo-se com a força maior.

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CAPÍTULO 2

DO CONTRATO MÉDICO

2.1 O CONTRATO MÉDICO NO ORDENAMENTO JURÍDICO

Em relação à natureza jurídica do contrato médico, pode-se perceber que

não houve nenhuma modificação na edição do novo Código Civil. Na verdade,

apenas aquilo que era específico para os profissionais da saúde, passou a ser

tratado de forma genérica pois dizia o artigo 1.545, do Código Civil de 1.916: “Os

médicos, cirurgiões, farmacêuticos, parteiras e dentistas são obrigados a

satisfazer o dano, sempre que da imprudência, negligência, ou imperícia, em atos

profissionais, resultar morte, inabilitação de servir, ou ferimento”. Isso traduzia que

a responsabilidade do médico era subjetiva, por uma das modalidades de

imprudência, negligência e imperícia. E o novo Código Civil, por sua vez, manteve

a mesma natureza jurídica de responsabilidade subjetiva, isto é, pendente de

apuração da culpa, pelas mesmas modalidades, conforme dispõe o artigo 951: “o

disposto nos artigos 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização

devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência,

imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-

lhe lesão ou inabilitá-lo para o trabalho”.

Já o Código de Defesa do Consumidor, ao dispor sobre a atuação dos

profissionais liberais numa relação de consumo, tomou para si a mesma

abrangência que o Código Civil. Assim, também prevaleceu a responsabilidade

subjetiva para os profissionais liberais, atendendo então a atuação dos médicos.

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Na ordem prática, isso traduz que o ônus da prova, como vias de regra no

campo da saúde, continua sendo do paciente. E devido à isso, o julgador continua

atrelado ao convencimento da culpa, mediante prova nos autos. Evidentemente

que este mesmo julgador pode adotar medidas processuais necessárias à

apuração da verdade, diante da situação singular da relação médico/paciente,

inclusive com a inversão do ônus da prova (cumpridos os requisitos próprios), para

prestação jurisdicional a contento.

2.2 A NATUREZA JURÍDICA DO CONTRATO MÉDICO

Conforme é sabido, nas obrigações de resultado, o devedor se compromete

à obtenção de resultado útil em favor do credor. Não ocorrendo esse resultado

esperado, na existência de um contrato plenamente válido, opera-se a

responsabilidade, cabendo ao devedor o ônus probatório da ausência de culpa

para ser exonerado do dever de reparar.

Já no campo dos profissionais liberais, ou seja, no âmbito da atividade

médica, vias de regra os profissionais de saúde ficam vinculados pelas chamadas

obrigações de meio, não de resultado. Embora exista todo um aparato tecnológico

e científico do mundo moderno, não há como qualquer profissional de saúde,

mormente o médico, por mais bem conceituado e estudioso que seja, assumir a

certeza de curar o paciente ou de salvar um doente. Até mesmo porque a

imortalidade não é inerente ao ser humano.

Entretanto, há uma exceção à essa regra de contrato de meio. Conforme

lembra Washington de Barros Monteiro (2005, p. 52) ao fazer uma ressalva de que

“na obrigação de resultado, obriga-se o devedor a realizar um fato determinado,

adstringe-se a alcançar certo objetivo”, pode citar como exemplo,

excepcionalmente, a cirurgia estética, que obriga ao cirurgião a obter um resultado

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satisfatório para o cliente uma vez que opera com algo que somente tem a

finalidade estética, e não de reparação.

Neste diapasão, dispõe Carlos Roberto Gonçalves que:

“Os pacientes, na maioria dos casos de cirurgia estética, não se encontram doentes, mas pretendem corrigir um defeito, um problema estético.

Interessa-lhes, precipuamente, o resultado. Se o cliente fica com aspecto pior, após a cirurgia, não se alcançando o resultado que constituía a própria razão de ser do contrato, cabe-lhe o direito à pretensão indenizatória. Da cirurgia mal-sucedida surge a obrigação indenizatória pelo resultado não alcançado. A indenização abrange, geralmente, todas as despesas efetuadas, danos morais em razão do prejuízo estético, bem como verba para tratamentos e novas cirurgias”. (GONÇALVES, 2003, p. 124)

Já nas obrigações de meio, que é a regra do contrato médico, este se

compromete a empenhar os seus melhores esforços (habilidade, técnica,

diligência, prudência) com objetivo a um resultado cuja obtenção, no entanto,

escapa ao seu compromisso. Isto ocorre porque o conteúdo deste tipo de

obrigação é a própria atividade do devedor, sendo esse contratado apenas para

desempenhar suas tarefas, o que deve ser realizado da melhor forma possível

para se alcançar um resultado. Já na hipótese de evento lesivo, o credor

(paciente) insatisfeito deverá demonstrar, além da existência do contrato e da

lesão (inocorrência do resultado esperado), a culpa do devedor, isto é, a

imprudência, imperícia ou negligência causadora do dano.

Na verdade, na visão do Direito Material doutrinário, nunca houve dúvida de

que a atividade médica envolve contrato de meio. Entretanto, não é a simples

atividade profissional que se esgota em si mesma. Trata-se de dever de empenho,

o quanto necessário e na exata conformidade com os avanços técnico-científicos

da Ciência Médica, portanto, é extremamente necessária a perfeita atuação do

profissional médico sob pena de uma responsabilização civil.

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2.3 ATIVIDADE MÉDICA E O ÔNUS DA PROVA

Essa distinção entre contrato de meio e de fim é imperiosa principalmente

no aspecto do ônus da prova. Na obrigação de resultado cabe ao contratado

apenas fazer a prova da impossibilidade de se atingir o fim desejado pelo

contratante, ao passo que no contrato de meio cabe ao contratante provar que o

contratado (médico, no caso), não cumpriu satisfatoriamente o empenho.

Destarte, a investigação da culpa do médico, imprescindível à configuração

da responsabilidade, requer uma definição dos inúmeros deveres tais como o

dever de fornecer ampla informação quanto ao diagnóstico e ao prognóstico; o

emprego de todas as técnicas disponíveis para a recuperação do paciente,

aprovadas pela comunidade científica e legalmente permitidas; a tutela do melhor

interesse do enfermo em favor de sua dignidade e integridade física, moral e

psíquica. Isso torna extremamente difícil para a vítima a comprovação da culpa do

médico quanto aos seus erros, quando não houver a possibilidade inversão do

ônus da prova.

Contudo, o Código de Proteção e Defesa do Consumidor autoriza, por outro

lado, a inversão do ônus da prova em benefício do consumidor, nos termos do

artigo 6º, VIII, desde que presentes os requisitos da hipossuficiência ou da

verossimilhança da alegação, sem se cogitar da natureza (contratual ou

extracontratual) da relação subjacente. Nesse campo, discorre Venosa que:

“a lei do consumidor veio, portanto, facilitar sobremaneira os reclamos de maus serviços médicos, matéria que ainda não ganhou a dimensão esperada nos julgados justamente porque o acesso à Justiça era sumamente dificultado pela manutenção dos princípios tradicionais da responsabilidade civil subjetiva”. (VENOSA, 2002, p. 100)

De qualquer forma, as dificuldades existentes na determinação do

componente culposo no erro médico não servem a legitimar a disposição legal,

dominante em doutrina e jurisprudência, no sentido de que somente com culpa

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(responsabilidade subjetiva) se pode imputar ao médico o dever de reparar os

danos nesses casos.

Agora, é claro que excepcionalmente, conforme já visto, para definição de

conflito decorrente da cirurgia plástica exclusivamente embelezadora, a doutrina e

a jurisprudência se determinam no sentido de interpretá-la como obrigação de

resultado. Nesta situação, caberá ao médico provar que atuou de acordo com

todos os rigores da técnica cirúrgica adequada; que o paciente preenchia as

condições físicas permitindo a intervenção procedida e que o propósito a que foi

contratado era possível, mas que, infelizmente, frustrou-se o resultado. Mesmo

nesta hipótese os honorários médicos poderão ser revistos, em benefício do

paciente.

Enfim, espera-se que os novos tempos do Direito abram novos caminhos

no sentido de se atribuir ao médico o ônus da prova da mesma forma que os

casos de cirurgia plástica embelezadora. Na evolução da Direito Civil e

Processual, com vistas ao princípio da efetividade da prestação jurisdicional, em

todas as atividades de Medicina o médico está sendo compelido a provar o exato

cumprimento do contrato de empenho, isto é, que empregou em prol do paciente a

atenção e recursos, em quantidade suficiente e em qualidade técnica adequada,

sob pena de se caracterizar erro médico ou aquilo que se denomina “perda de

uma chance de cura”, cuja conseqüência será sua condenação em mitigada

indenização moral.

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CAPÍTULO 3

DA RESPONSABILIDADE CIVIL MÉDICA

3.1 INDENIZAÇÃO PELA “PERDA DE UMA CHANCE DE CURA”

No campo médico, sobrepõe-se a nova concepção de responsabilidade

profissional, de modo a obrigar o profissional médico a se atualizar constante e

permanentemente para que o paciente possa, sempre, receber o melhor

tratamento possível. Na verdade, a questão é muito simples: quem procura o

médico não o faz para receber deste o melhor; mas sim, para receber o melhor da

Medicina de uma forma geral. Quando o médico deixa de aplicar ao paciente o

melhor da Ciência Médica (seja por desídia ou omissão no acompanhamento de

sua evolução), estará prestando serviços de qualidade inferior, deixando de

oferecer ao paciente o melhor, retardando a cura – o que significa sofrimento

desnecessário – ou perdendo a oportunidade de cura, quando, por exemplo, não

diagnostica corretamente a doença em tempo plenamente oportuno (pelo não

acompanhamento da evolução da Medicina), tornando-a grave ou crônica.

Aliás, conforme dispõe Genival Veloso de França:

“não podemos omitir o fato de a Medicina atual ter tomado rumos diferentes da de antigamente. Uma verdadeira multidão de acontecimentos e situações começa a se verificar em nosso derredor, como contingência da modernização de meios e de pensamentos. Não estamos mais na época em que o medico exercia, de forma quase solitária e espiritual, uma atividade junto a quem pessoalmente conhecia. Hoje, é ele um pequeno executivo que se rege por regras e diretrizes traçadas por uma elite burocrática que tudo sabe e tudo explica. A Medicina-Arte agoniza nas mãos da Medicina-Técnica. A erudição medica

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vai sendo substituída por uma sólida estrutura instrumental”. (apud BITTAR, 1991, p. 132)

Assim, a “perda de uma chance” é uma situação intermediária entre o erro

profissional, não censurável, e o erro médico, censurável. O simples erro

profissional, a exemplo do erro de diagnóstico não grosseiro, não gera

indenização. O erro médico, por causar dano no paciente, por culpa, gera

indenização integral. Por sua vez, a “perda de uma chance de cura”, por ser uma

situação intermediária e se caracteriza pela incerteza quanto aos resultados do

procedimento não adotado (porque não se mais pode voltar ao passado do

paciente para se saber ao certo), gera uma indenização de natureza moral, com

valor mitigado. Não se trata, evidentemente, de obrigação do médico “adivinhar” a

doença do paciente e sua evolução, com todos os imprevistos. Mas sim, da

obrigação de aplicar ao paciente o que a Ciência médica tem de mais avançado e

disponível.

Neste caso, aplica-se o princípio da boa fé objetiva - que é a estrutura do

novo Código Civil. O fundamento é que na moderna concepção de solidariedade

humana, como valor permanente de agregação social (principalmente na

sociedade de consumo), o médico tem o dever de acompanhar todos os avanços

da Medicina, para ofertar ao doente o que de melhor e disponível existe – já que

saúde plena é interesse de todos. Se, como profissional, não faz o

acompanhamento do aprimoramento da Ciência Médica, deixa ele de ter

condições de aplicar ao seu paciente o melhor. Dessarte, apesar do médico

dispensar ao seu paciente o máximo de si, esse máximo, às vezes não é

satisfatório. Como a conduta médica insatisfatória, neste caso, ultrapassa os

limites estreitos do simples erro profissional, mas não chega a se constituir em

erro médico, a decisão judicial se faz como se fosse dano moral, porém em valor

reduzido, isto é, aplica-se ao médico uma sanção indenizatória mitigada.

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3.2 O CONSENTIMENTO ESCLARECIDO E O DEVER DE

ACONSELHAR

Os artigos 46 e 56 do Código de Ética Médica estabelecem obrigação do

médico em obter o prévio consentimento do paciente para aplicação da terapia

que se recomendar, salvo em caso de perigo de vida, quando então o médico

deve agir independentemente da anuência do doente.

Pontes de Miranda (apud BITTAR, 1991, p. 125) considera a atuação do

médico como expressão da vontade presumida do paciente: “há gestão útil de

negócio alheio. Há mais: o médico tem dever de executar a gestão, o que somente

poderia ser afastado se fora de presumir-se a vontade contrária da pessoa que

precisa do tratamento”.

Mas, com o passar do tempo doutrina e jurisprudência modernas

avançaram na direção de exigir que o prévio consentimento deva ser,

necessariamente, esclarecido, sob pena de ineficácia da manifestação de

vontade. Assim, passou a não mais bastar a simples anuência do paciente. É

necessário também que ele saiba das reais conseqüências e das opções a

exercitar, diante dos riscos existentes. E a interpretação doutrinária não cessou o

seu caminhar e, por isso, em caso de perigo de vida ou de lesão permanente, o

medico passou a também ter o dever de fazer as advertências prévias o quanto

necessário à total compreensão do risco.

Neste sentido, dispõe o professor João Vaz Rodrigues, do Centro de Direito

Biomédico da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, abordando com

propriedade a questão da autonomia e do consentimento do paciente:

“Ao indivíduo, que se quer livre, quando não afetado por deficiência física, psíquica ou anímica comprometedora das suas faculdades naturais de entendimento ou de volição, i.e., quando juridicamente capaz para o exercício dos direitos de que é titular, a ordem jurídica reconhece, e protege erga

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omnes, uma considerável esfera de autonomia. E esta autonomia exprime-se, entre o mais, pela autodeterminação em relação ao próprio corpo. O mesmo é dizer, pelo respeito, pela vontade manifestada por uma pessoa sobre a sua própria esfera física, psicológica e social. Deste modo, em princípio, e por princípio, o paciente deve poder permitir ou impedir a intervenção do médico na sua esfera físico-psiquica, e, permitindo-a, deve poder pronunciar-se, na medida do possível, sobre o respectivo sentido e limite”. (apud BITTAR, 1991, p. 136)

Nessa mesma linha evolutiva, ao lado do artigo 6º, III, do Código de Defesa

do Consumidor, dispõe o artigo 15 do novo Código Civil: “ninguém pode ser

constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a

intervenção cirúrgica”.

Entretanto, os deveres impostos pela Medicina moderna não se esgotam

com o prévio consentimento esclarecido e nem com as advertências prévias sobre

os riscos do ato médico a ser praticado. Mais que tudo isso, com vistas ao

prognóstico ou ao diagnóstico preditivo e/ou pré-sintomático obtidos mediante

auxílio de laboratórios especializados, o médico ainda tem o dever de aconselhar

o paciente da forma mais sábia possível, para que este fique motivado ou

encorajado a seguir a terapia que a Medicina indicar em cada situação fática.

Nesse diapasão, aplica-se o ensinamento do ilustre prof. Matielo:

“A insuficiência ou falta de informações ao paciente ou responsável no momento da obtenção do consentimento faz com que juridicamente se cuide da matéria como se inexistisse este, porque se presume que, recebendo corretamente os dados que foram sonegados, os diretamente interessados melhor poderiam sopesar os detalhes e decidir de forma diversa”. (apud BITTAR, 1991, p. 138)

Por outro lado, também é verdade que aos profissionais da área médica é

lícito silenciar diante de determinados diagnósticos preditivos, para que o paciente

não passe da categoria de “sadio” à condição de doente, desnecessariamente e

por antecipação.

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3.3 O EQUÍVOCO DA RESPONSABILIDADE SEM CULPA NO

TOCANTE À ATUAÇÃO DO HOSPITAL

Conforme já dito e visto, a atividade médica encerra um contrato de

empenho e meio. Logo, os conflitos patrimoniais decorrentes dessa atividade são

analisados e decididos dentro da chamada responsabilidade subjetiva, como regra

geral, cujo reflexo no âmbito processual é comprovação de culpa por parte do

médico, ou seja, o paciente deve provar o erro médico.

Todavia, como vem sendo defendido pelos melhores intérpretes e pela

doutrina moderna, independentemente da possibilidade de inversão do ônus da

prova, o médico sempre deve levar para os autos a prova do exato e satisfatório

cumprimento da obrigação de meio. Na prática, isso traduz-se à presunção de

culpa que poderá ser afastada pelo réu através da prova de ausência de culpa.

Pela visão processual, esse entendimento importa na adoção do princípio

denominado carga probatória dinâmica, de modo que cada qual das partes deve

sempre carregar para os autos processuais os elementos ao seu alcance,

cumprindo à outra parte produzir prova em contrário, numa dinâmica

procedimental para o convencimento do julgador – já que o processo tem natureza

pública, cujo objetivo é a paz social, via pesquisa da verdade real e não simples

verdade formal. Tudo isso em relação ao médico.

Entretanto, em relação ao hospital, numa interpretação apressada e isolada

do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, a responsabilidade civil tem

sido entendida como objetiva, pela modalidade absoluta – sem culpa. Isto é, no

tocante aos hospitais e clínicas, estes prestam também um serviço de consumo,

contudo, eles não são profissionais liberais pois estes só podem ser pessoas

físicas.

Desta forma, seria mais fácil demandar o hospital em face do Código de

Defesa do Consumidor do que responsabilizar o médico por seu erro uma vez que

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é mais difícil se comprovar sua culpa. Na realidade, sob o ponto de vista prático, o

médico é apenas um empregado do hospital e este sendo Pessoa Jurídica, então

a sua responsabilidade é objetiva, cabendo-lhe ação regressiva contra o médico.

Juridicamente, o paciente contrata o Hospital e este presta o serviço através de

seus médico integrante de seus quadros. Além disso, os hospitais privados, na

prática empreendem uma atividade empresarial, logo, se houver um dano aplica-

se a responsabilidade objetiva.

Contudo, o STJ tem entendido que se o paciente for vítima de erro médico

em virtude a atuação do médico integrante do Hospital, então, a responsabilidade

do hospital também será baseada na culpa igualmente ao do médico. O STJ só

entende que a responsabilidade do hospital e de clínicas será objetiva quando em

face de serviços auxiliares. Por exemplo, o dano decorrente do mal uso dos

equipamentos.

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CONCLUSÃO

Na Constituição Federal do Brasil, o artigo 5º, inciso XIII, estabelece-se a

liberdade profissional, ou seja, é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou

profissão, atendida as qualificações profissionais que a lei estabelecer.

Entretanto, o profissional médico, ao exercer sua atividade, tem que

trabalhar dentro dos parâmetros profissionais e éticos exigidos, estando sempre

obrigado a usar de sua total diligência e capacidade profissional com o objetivo

único de salvar vidas humanas. E o afastamento desses parâmetros, quando

causar lesão ao cliente pode ocasionar eventualmente o dever de indenizar. Além

disso, tal erro médico profissional em certos casos, pode ser fatal, razão pela qual

não se exime esse profissional liberal de responder pelos danos que

eventualmente causar a outrem por violação de dever a que estava

profissionalmente adstrito.

Na realidade, o erro médico não é algo totalmente distante dos profissionais

da medicina, nem da população. A cada dia crescem os processos judiciais que,

fundadas em tal questão, objetivam obter reparação aos pacientes vítimas de

danos causados por culpa na atuação desses profissionais. Desta forma, a

aplicação da responsabilidade civil dos médicos tem ganhado, nos últimos anos,

progressivamente os tribunais do Brasil todo, provocando uma constante

imputação de erro médico. E muitos desses profissionais são levados às

discussões jurídicas, sem o menor conhecimento das condições que o Direito

impõe para a sua responsabilização civil.

Assim, nos termos da responsabilidade civil os profissionais de saúde estão

sujeitos às sanções do Código Civil e do Código de Defesa do Consumidor. Ou

seja, vias de regra estão sujeitos à responsabilidade civil subjetiva com a

comprovação de culpa.

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A partir disso, a questão dessa culpa ganha enorme importância, através da

questão de imprudência, da imperícia e negligência, as quais envolvem

considerações que tem de ser provadas pois envolvem conduta de profissionais

atuantes, bem como há de se diferenciar o fato danoso com comprovação de

culpa.

Além disso, a própria medicina, bem como outras áreas da saúde evoluíram

e com elas o aparato tecnológico trouxe inovações, outras formas de tratar a

saúde, bem como trouxe consigo mais acesso à informação e o paciente virou

consumidor e exige seus direitos, tanto é que hoje o termo de consentimento é

usual entre pacientes e profissionais, onde definem por escrito os termos e

condições para prestação de serviços médicos.

Portanto, se na sua atuação o profissional médico causar dano a alguém,

estará indo de encontro ao ditame maior da sua profissão, qual seja, não

prejudicar o paciente com sua atividade profissional. Se isto acontecer, causado o

prejuízo, surge, para o médico causador do dano, o dever de reparar. Depara-se

com a necessidade de ressarcir aquele que foi lesado, já que, conforme já

amplamente explanado, a responsabilidade civil é a obrigação, que tem qualquer

pessoa, de reparar o prejuízo causado à outrem.

Concluindo, este trabalho, portanto, vem a dirimir questões sobre a

responsabilidade civil, a ética nas relações de consumo e a facilitar o trabalho dos

profissionais que lidam com a saúde e o bem maior do ser humano que é a vida.

Diante deste novo panorama social no ramo da Medicina, percebe-se que é

extremamente necessário se averiguar até que ponto cabe uma responsabilização

desse profissional liberal, e quais são os fundamentos para tal responsabilização,

conforme mostrado na presente monografia. A partir disto, espera-se com este

trabalho contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária, atribuindo-se a

devida responsabilidade àqueles que por seus atos causarem prejuízos à outrem.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO..................................................................................................................................06

CAPÍTULO 1– DA RESPONSABILIDADE CIVIL

1.2 CONCEITO.................................................................................................................................09

1.2 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL.................................................................12

1.2.1 Conduta....................................................................................................................................12

1.2.2 Nexo Causal.............................................................................................................................13

1.2.3 Dano.........................................................................................................................................16

1.3 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL..............................................19

1.4 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SUBJETIVA............................................................20

1.4.1 Responsabilidade Civil subjetiva e a Teoria da culpa..............................................................20

1.4.2 Responsabilidade Civil Objetiva...............................................................................................23

1.5 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE...............................................................................25

1.5.1 Fato exclusivo da vítima...........................................................................................................25

1.5.2 Fato de terceiro........................................................................................................................25

1.5.3 Caso fortuito e força maior.......................................................................................................26

CAPÍTULO 2 – DO CONTRATO MÉDICO

2.1 O CONTRATO MÉDICO NO ORDENAMENTO JURÍDICO.......................................................27

2.2 A NATUREZA JURÍDICA DO CONTRATO MÉDICO.................................................................28

2.3 ATIVIDADE MÉDICA E O ÔNUS DA PROVA............................................................................30

CAPÍTULO 3 – DA RESPONSABILIDADE CIVIL MÉDICA

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3.1 INDENIZAÇÃO PELA “PERDA DE UMA CHANCE DE CURA”..................................................32

3.2 O CONSENTIMENTO ESCLARECIDO E O DEVER DE ACONSELHAR..................................34

3.3 O EQUÍVOCO DA RESPONSABILIDADE SEM CULPA NO TOCANTE À ATUAÇÃO DO

HOSPITAL.........................................................................................................................................36

CONCLUSÃO...................................................................................................................................38

BIBLIOGRAFIA................................................................................................................................40

ÍNDICE..............................................................................................................................................42

FOLHA DE AVALIAÇÃO.................................................................................................................44

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Título da Monografia: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO COMO UM

PROFISSIONAL LIBERAL

Autor: DOUGLAS FREITAS DOMINGUES

Data da entrega: 29/07/2009

Avaliado por:

Conceito: