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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A FORÇA DO ÍDOLO O MARKETIG ESPORTIVO DO FUTEBOL
Por: Herbert Maldotti Ramos
Orientador
Prof. Antônio Fernando Vieira Ney
Niterói (RJ)
2009
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A FORÇA DO ÍDOLO O MARKETIG ESPORTIVO DO FUTEBOL
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Marketing.
Por: Herbert Maldotti Ramos
3
AGRADECIMENTOS
....aos amigos e colegas de curso e ao
Professor Antonio Ney pela orientação
neste trabalho.
4
DEDICATÓRIA
.....dedica-se a minha esposa e aos meus
familiares.
5
RESUMO
Este estudo se dedica a analisar a importância da figura do ídolo para o
marketing esportivo nos clubes do futebol brasileiro. O elevado custo de
manutenção de equipes de alto nível no futebol é um dos grandes problemas
do futebol nacional. A exploração da marca dos times, via marketing esportivo,
é uma das soluções para essa dificuldade e a figura do ídolo um grande
propulsor deste potencial. Para auxiliar o trabalho, será feio um estudo de caso
em relação a contratação do atleta Ronaldo Nazário pelo Sport Club
Corinthians, no final de 2008.
6
METODOLOGIA
Os métodos utilizados no trabalho foram a revisão bibliográfica de livros da
área de marketing, sociologia, comunicação e esporte (material adquirido e
obtido junto a Universidade Estácio de Sá). Também foram consultadas
publicações especializadas em futebol como revistas e jornais, além de meios
eletrônicos. Complementarmente, foi efetuado um estudo de caso em relação a
contratação do atleta Ronaldo Nazário pelo Sport Club Corinthians, no final de
2008.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I – O MARKETING: DEFINIÇÃO E SUAS ORIGENS 10
CAPÍTULO II – O ESPORTE E A SOCIEDADE 19
CAPÍTULO III – MARKETING ESPORTIVO: DEFINIÇÃO E ORIGENS 36
CAPÍTULO IV - ESTUDO DE CASO: CORINTHIANS / RONALDO 47
CONCLUSÃO 53
BIBLIOGRAFIA 55
ÍNDICE 57
8
INTRODUÇÃO O futebol, atualmente, representa para a sociedade, tanto no Brasil
quanto no resto do Mundo, muito mais do que um esporte e atividade de lazer.
O futebol além de ser o único esporte acessível a milhares de pessoas e fonte
de entretenimento e até “devoção” para estas e outras tantas milhares também
se mistura com a própria cultura dos povos.
Como não podia deixar de ser, uma atividade que ganha tanto destaque
na sociedade, acaba ganhando importância também no campo econômico,
envolvendo milhares de profissionais diretamente (jogadores, técnicos,
médicos, fisioterapeutas, etc.) e indiretamente (fabricantes de material
esportivo, mídia, etc.).
No Brasil, contraditoriamente, em um país onde, talvez, o povo seja o
mais apaixonado por futebol do planeta, ele é administrado de forma amadora
na maioria dos casos. Este esporte sofre com inúmeras denúncias de
corrupção, dirigentes que agem nos clubes apenas para usá-los a favor de
seus interesses, além da má administração pura e simples. Os clubes de
futebol profissional vivem um dilema: manter uma atividade, mesmo quando
bem administrada, que custa caro aos seus cofres por um lado e com fontes
incertas de receita por outro. Uma das alternativas que se apresenta para que
se mantenha a viabilidade econômica da atividade é a utilização do potencial
dos times em relação ao marketing esportivo.
O marketing esportivo possui várias formas de aplicação: o patrocínio, o
merchadising, o licenciamento de produtos, receitas de bilheteria, entre outras.
Uma das formas de potencializar essas ações é a presença de grandes ídolos
nas equipes de competição.
Diante do exposto, a pesquisa pretende ser um estudo sobre a
possibilidade de uso da força da imagem do ídolo no marketing esportivo do
9futebol brasileiro. Para auxiliar na pesquisa, será realizado um estudo de caso
envolvendo o episódio da contratação do atleta Ronaldo Nazário pelo Sport
Club Corinthians, analisando a repercussão e as consequências desta ação
sob o âmbito do marketing esportivo.
10
CAPÍTULO I
MARKETING: DEFINIÇÃO E SUAS ORIGENS
Ao longo dos anos, vários teóricos, especialistas na área de
administração de empresas, com amplo conhecimento sobre o marketing,
apresentaram as mais diversas definições sobre o tema. Há estudos cujo
fundamento trata de avaliar se o marketing é ou não ciência. A complexidade
sobre o tema encontra embasamento descrito por COBRA:
“Mais importante que entender sua definição é compreender que marketing deve ser encarado como uma filosofia, uma norma de conduta para a empresa, onde as necessidades latentes, quer no plano qualitativo, quer no quantitativo, impõem a dedução dos objetivos que a empresa deve ter em mente, para definir as características dos produtos ou serviços a serem elaborados e as respectivas quantidades a serem definidas.” COBRA(1985: 22)
A essência do marketing é o processo de troca, em que duas ou mais
partes se dão algo de valor, com o objetivo de satisfazer necessidades
recíprocas. O objeto desta troca pode ser um bem tangível como uma camisa
ou um disco; ou ainda, um serviço como um corte de cabelo ou a lavagem de
um carro, trocados por dinheiro (BOONE & KURTZ, 1998).
A troca é a origem da atividade do marketing. Quando há necessidade
de trocar mercadorias, o que ocorre é um esforço de marketing por parte das
pessoas envolvidas. A partir do momento que o Homem passa a estabelecer
relações de trocas daquilo que produzia em excedentes com os outros, a
Humanidade avança, pois começa a surgir a especialização, a divisão de
trabalho levando a um aumento na produção. Como ressaltou ALDERSON,
citado por BOONE & KURTZ, 1998: “Parece totalmente razoável descrever a
evolução da troca como uma grande invenção que ajudou o homem primitivo a
iniciar-se no caminho da civilização.”
11O conceito de marketing consiste em uma ideologia relativa à maneira
de se administrar uma empresa e está firmada sobre três requisitos, de acordo
com CRAVENS & WOODRUFF, citado por PITTS & STOLLAR (2002):
- “Analisar as necessidades e desejos das pessoas como base para decidir o que o negócio (ou economia) irá fazer.”
- “Selecionar a melhor maneira de atender às necessidades do consumidor-alvo da empresa.”
- “Alcançar os objetivos de desempenho da organização atendendo aos desejos do consumidor de maneira satisfatória.”
1.1. Orientação das empresas em relação ao mercado
O marketing, pode se afirmar, é uma evolução na maneira como as
organizações enxergam seus negócios. Segundo KOTLER & ARMSTRONG,
são as seguintes formas de orientar o esforço de marketing das organizações:
“Orientada para produção: sustenta que os consumidores preferirão os produtos que estejam acessíveis e sejam muito baratos. A administração deveria se concentrar em melhorar a produção e distribuição.”
“Orientada para o produto: sustenta que os consumidores preferem os produtos que oferecem mais qualidade, desempenho e aspectos inovadores. Levam aos administradores a pensarem que seus produtos sejam cada vez melhores, enquanto o consumidor quer é uma solução melhor para suas necessidades (que não necessariamente virá do mesmo produto).”
“Orientada para venda: sustenta que os consumidores não comprarão os produtos de uma empresa em quantidade bastante a menos que ela despenda um grande esforço em vendas e promoção.”
12“Orientada para o marketing: sustenta que para atingir as metas organizacionais é preciso determinar as necessidades e desejos dos mercados-alvo e proporcionar a satisfação desejada de forma mais eficaz e eficiente que seus concorrentes.”
“Orientada para o marketing social: sustenta que para atingir as metas organizacionais é preciso determinar as necessidades e desejos dos mercados-alvo e proporcionar um valor superior aos clientes de forma a manter ou melhorar o bem-estar do consumidor e o da sociedade. O conceito de marketing social é a mais recente das cinco filosofias de administração de marketing.” KOTLER & ARMSTRONG (1997: 38)
Segundo BOONE & KURTZ, pode-se identificar três eras na história do
marketing, tendo como referência os Estados Unidos e outros países de
economias altamente industrializadas: a Era da produção, até os anos 20; a
Era das vendas, até os anos 50; e Era do marketing, segunda metade do
século XX.
Fazendo um paralelo da administração utilizada nos clubes, no Brasil, de
maneira geral e as filosofias de administração de marketing, pode-se afirmar
que os clubes atuam com uma orientação para o produto (o futebol). Têm como
objetivo único o sucesso do seu time dentro de campo, que muitas vezes é a
própria causa de seu fracasso financeiro. Administrar o clube com uma visão
mais ampla (orientada para o marketing e marketing social), levando em
consideração não só a relação do torcedor e o futebol, mas também com seu
estilo de vida e necessidades do dia a dia poderia abrir os horizontes do clube,
auxiliando em sua manutenção financeira e, conseqüentemente, no seu
sucesso dentro das quatro linhas. O clube de futebol ainda tem a grande
vantagem mercadológica de praticamente não possuir concorrentes (pois
dificilmente algum torcedor muda de time). Por outro lado, para aumentar o
tamanho de uma torcida é necessário pelo menos uma geração e depende
muito da performance da equipe.
13
1.2. A Função de Marketing
O marketing, como função empresarial, integra o conjunto de funções
desempenhadas na empresa e que gerenciam recursos e geram resultados
para agregar valor econômico ao processo empresarial, tais como a produção,
a logística, os recursos humanos, a engenharia de produtos, a gestão da
informação, dentre outras. Portanto, a função marketing engloba o conjunto de
decisões, a gestão de recursos, a coordenação de processos e a avaliação de
resultados, como as demais funções empresariais.
1.2.1. Composto de Marketing
O composto de marketing é a seleção e combinação de instrumentos
adotados por uma empresa para alcançar os seus objetivos de mercado em um
prazo pré-determinado. Integram o composto de marketing:
Produto: envolve o lançamento de produtos, serviços e marcas, a
adequação destes às necessidades e desejos dos clientes; a formulação das
estratégias de produto e gerenciamento de ciclo de vida. No caso estudado, é o
evento esportivo, a marca da equipe ou a própria partida de futebol.
Preço: envolve a estratégia de preço para gerar vantagem competitiva e
diferenciação, além de buscar maximizar a rentabilidade para a empresa e os
demais parceiros de distribuição. No contexto da pesquisa, são as estratégias
relativas a estipulação dos valores de ingressos para os jogos e dos produtos
licenciados e também aqueles vendidos nos locais do evento. Sob um outro
enfoque, também está relacionado a precificação dos patrocínios, contratos de
cessão de uso de imagem e direitos televisivos, por exemplo.
Praça: envolve a identificação e a escolha das formas pelas quais o
cliente terá acesso ao produto, afim de realizar a compra e atender aos seus
desejos e necessidades. No marketing esportivo tanto se aplica ao local do
14evento, a arena, quanto as localidades onde serão distribuídos produtos
licenciados.
Promoção: envolve as estratégias de comunicação e promoção de
vendas. É a divulgação do evento esportivo. Nesse item, em relação ao
marketing esportivo, ocorre um fenômeno interessante pois seu “produto” é
uma constante fonte de notícia para a mídia, o que facilita muito a sua
promoção e exposição nos diversos veículos. No marketing esportivo, nas
situações em que os outros P’s são bem trabalhados, a mídia se vê obrigada,
pela própria demanda do público, a dar visibilidade ao composto de marketing.
1.2.2. O Processo de gestão de marketing
A administração ou gestão de marketing pode ser conceituada como o
processo de analisar, planejar, implementar e controlar as estratégias, os
programas e projetos elaborados para desenvolver e manter trocas e
relacionamentos com os mercados-alvo, de forma que a empresa alcance os
seus objetivos.
A gestão de marketing se inicia com a análise do ambiente visando a
identificação de oportunidades que possam ser exploradas pela empresa. Em
seguida, essas oportunidades identificadas precisam ser refinadas a partir de
um estudo mais aprofundado dos consumidores que a compõem. A partir do
estudo do comportamento do consumidor, a empresa vai segmentar o mercado
em diversos grupos para escolher o(s) segmento(s) mais conveniente(s) para
focar, em função do perfil da empresa e de seus interesses.
Escolhido o segmento-alvo ou segmentos-alvo, a empresa vai construir
um posicionamento junto a cada um, e, a partir daí, é desenvolvido o produto
ou serviço definido o seu preço e sua estratégia de distribuição, bem como a
forma de a empresa se comunicar com seu cliente-alvo. Finalmente, a empresa
vai procurar, por meio da sua estratégia, fidelizar o cliente.
15
1.2.3. Ambiente de Marketing
O ambiente de marketing se divide em externo e interno. No ambiente
externo atuam as forças macroambientais que são incontroláveis pelo
profissional de marketing. São elas: o ambiente econômico, o ambiente político
e legal, o ambiente cultural, o ambiente físico natural, o ambiente tecnológico e
o ambiente demográfico. Compõem o microambiente de marketing: as divisões
internas da própria empresa, os fornecedores, os clientes, os intermediários de
marketing (revendedores, operadores logísticos, entre outros), os concorrentes
e os públicos da empresa.
1.2.4. A pesquisa de Mercado e Comportamento do
Consumidor
A pesquisa de mercado é aplicada com o fim de suprir o gerenciamento
com informações sobre fatores que afetam o consumidor na aquisição,
consumo e utilização de mercadorias, serviços e idéias. Pode ser definida
como um instrumento para se obter informações descritivas e interpretativas,
assim como previsões a respeito da natureza e da estrutura do mercado,
analisando os fenômenos que caracterizam as suas possíveis transformações.
Obter informações sobre o comportamento do consumidor é uma parte
importante no processo de gestão de marketing. A maioria das grandes
empresas pesquisa sobre as decisões de compra dos consumidores com
grande detalhamento para responder a questões que envolvem o que os
consumidores compram, os locais, de que forma, as quantidades, quando eles
compram e por que compram. Segundo KOTLER & ARMSTRONG:
“Os profissionais de marketing podem estudar as compras de consumo correntes para descobrir o que eles compram, onde e quanto. Mas descobrir acerca dos porquês do comportamento de compra do consumo não é tão fácil – freqüentemente as respostas estão
16trancadas no fundo da cabeça do consumidor.” KOTLER & ARMSTRONG (1997: 76).
Conforme KOTLER & ARMSTRONG (1997), alguns fatores influenciam
o comportamento do consumidor, embora não possam ser controlados, devem
ser levados em consideração: aspectos culturais, sociais, pessoais e
psicológicos. O marketing busca estimular a compra, usando dos 4 P’s, agindo
nesse ambiente descrito acima e em combinação com forças econômicas,
tecnológicas, políticas e culturais.
1.2.5. Segmentação do Mercado, Identificação do Público-
Alvo e Posicionamento
A análise do ambiente de marketing, pesquisas de mercado e o estudo
do comportamento do consumidor são etapas importantes no processo de
gestão de marketing. Com base nessas informações levantadas até então se
parte para a segmentação do mercado, a identificação do público-alvo e o
posicionamento que a organização ou o produto vai adotar.
Através das pesquisas e do estudo do comportamento do consumidor se
chega a conclusão que cada consumidor é único em função de sua
combinação de características, tais quais desejos, necessidades, renda, idade,
atitudes de compra, entre outros. Uma ação de marketing perfeita seria única
para cada consumidor. Como isso não é possível, de uma maneira geral, as
organizações classificam os consumidores em grupos que possuem
características e atitudes semelhantes em relação ao seu produto. A essa
segmentação é dada o nome de segmentação, e tem como objetivo maximizar
o resultado das ações de marketing, que serão diferentes para cada segmento.
A identificação do público alvo é a decisão de qual(is) segmento(s) a
organização irá atuar, direcionando seus esforços para essa(s) fatia(s) de
mercado.
17 Uma vez escolhidos os segmentos de mercado em que a empresa vai
entrar, é preciso decidir que “posições” ocupar nesses segmentos. Segundo
KOTLER & ARMSTRONG:
“Posição de um produto é a forma como o produto é definido pelos consumidores quanto aos seus atributos importantes – o lugar que ele ocupa na mente dos consumidores com relação aos produtos concorrentes.” KOTLER & ARMSTRONG (1997:120)
Assim sendo, por exemplo, fazendo uma analogia com o futebol, o
Vasco é o clube dos portugueses, ou descendência portuguesa, o Palmeiras é
uma referência em relação à comunidade italiana em São Paulo, o América-RJ,
o segundo clube de todo carioca.
1.3. Fundamentação do Marketing de Serviços
O setor de serviços, atualmente, já detem a maior participação no PIB
dos países desenvolvidos e em muitos dos países em desenvolvimento. É o
setor que, presentemente, mais emprega mão-de-obra. Os serviços, hoje no
Brasil, representam mais de 55% da economia brasileira. “Serviço é toda
atividade ou benefício, essencialmente intangível, que uma parte pode oferecer
a outra e que não resulte na posse de algum bem.” KOTLER & ARMSTRONG
(1997: 142).
Para conhecer um serviço, o cliente tem de experimentá-lo já na
situação de usuário, de compra realizada. Por isso, a percepção de risco tende
a ser muito elevada nos serviços, pois eles não podem ser experimentados
antes do ato da compra. Portanto, a percepção da qualidade é fortemente
influenciada pela experiência, um atributo que só pode ser avaliado depois do
uso do serviço.
18
1.3.1. Características dos serviços
Segundo KOTLER & ARMSTRONG (1997), são quatro as principais
características de um serviço:
“Intangibilidade: os serviços não podem ser vistos, provados, sentidos, ouvidos ou cheirados. O desafio para a área de marketing é a de evidenciar a qualidade dos serviços, procurando, de alguma forma, tangibilizar esse serviço, através da estrutura física em que o serviço está sendo prestado, e dos seus equipamentos de apoio.”
“Inseparabilidade: o contato direto com o cliente é uma característica do serviço. O serviço não pode ser separado daqueles que o fornecem, sejam pessoas ou máquinas. Na interação fornecedor-cliente, os serviços são produzidos, entregues e consumidos simultaneamente.”
“Variabilidade: um serviço prestado a um cliente não é exatamente o mesmo serviço prestado para o próximo cliente. A tentativa de padronização do serviço é um desafio constante aos profissionais. A personalização de cada serviço é importante, mas a qualidade deve permanecer em um mesmo nível, para todos os cliente.”
“Percibilidade: os serviços não podem ser estocados, obrigando o gestor a estabelecer um grande equilíbrio entre a demanda e a oferta.”
Quando se pensa em gestão de marketing aplicada ao futebol, pelas
características elencadas acima, está se tratando de marketing de um serviço.
Nesta cadeia de relacionamentos, temos o torcedor como cliente final, os times
e as entidades que organizam os campeonatos como prestadores de serviços,
e ainda, como clientes intermediadores, a mídia, patrocinadores, entre outros,
conforme AIDAR, LEONCINI & OLIVEIRA (2002).
19
CAPÍTULO II
O ESPORTE E A SOCIEDADE
Uma classificação sociológica define o esporte como o resultado de um
processo crescente de organização e complexidade de regras das atividades
recreativas. De acordo com essa classificação o nível inicial da atividade
recreativa é a Brincadeira, “caracterizada por uma função de entretenimento,
de passa-tempo, em que conta apenas o gosto e o prazer da prática” (VAZ,
1995:253). Praticamente não há regras, nem espírito de competição, apenas a
orientação para o desenvolvimento pessoal de uma destreza, intelectual ou
física. Exemplos: encontrar o caminho do ponto A até o B (intelectual), ou
andar de balanço (física).
A partir do estabelecimento de regras, a Brincadeira passa a adquirir
características de Jogo. As normas são fixadas e devem ser cumpridas, e não
observância delas pode resultar em penalidades e até expulsão da atividade.
Os jogos, além de intelectuais e físicos, podem ser competitivos ou não-
competitivos. Como não-competitivos, podem ser citados a língua do pê, como
intelectual e o jogo da amarelinha, como físico. Entre os competitivos, são
exemplos os jogos de tabuleiro (damas e xadrez, por exemplo) como atividades
intelectuais e os esportes de modo geral como exemplo tipos de atividades
físicas de jogos competitivos.
Sociologicamente, os esportes ainda são classificados em três tipos,
conforme VAZ (1995):
Esporte-Educação. É o conjunto das práticas esportivas que tem a
escola como espaço físico característico, mas não limitado a ela. Tem como
finalidade o desenvolvimento integral da pessoa. Nesta categoria, no Brasil, o
futebol, sendo tão popular, possui uma grande importância, uma vez que o
esporte é uma forma de manter jovens e crianças afastadas da delinqüência e
20do uso de drogas. Sem mencionar os benefícios que a atividade física
proporciona a saúde e ao convívio social.
Esporte-Participação. São aquelas atividades praticadas como
recreação, nos períodos de lazer. Geralmente, acontece em espaços abertos
ou em sedes de pequenos clubes comunitários. O futebol amador é a
manifestação típica do esporte-participação. É uma atividade à qual os seus
praticantes se dedicam nas horas de lazer e, embora organizado por
intermédio de Ligas Amadoras, funciona de modo improvisado.
Esporte-Desempenho. São as atividades esportivas competitivas de alto
nível, o que lhes confere o caráter de espetáculo. A disputa é cercada de alto
grau de organização e desperta intenso interesse da população. As
modalidades têm regras pré-estabelecidas e aprovadas por organismos
internacionais de cada prática. De certa forma, o esporte-educação e o
esporte-participação servem de base para o esporte-desempenho, e este
último é sobre o qual se aplica o marketing esportivo.
Sobre o significado do esporte no mundo moderno, DAMATTA afirma:
“... ele tem uma notável autonomia, sendo uma dimensão social marcada por normas, gestos, valores, objetos, vestimentas, espaços e temporalidades singulares que ultrapassam um mundo construído e rotinizado em torno do trabalho e do econômico, como base do progresso e eixo de redenção moral” (DAMATTA,2006:146).
As arenas esportivas se tornam quase que universos paralelos, as
pessoas comuns quando assumem o papel de competidores e torcedores
seguem regras próprias daquela competição, “os espetáculos esportivos
promovem o abandono temporário das regras utilitárias que conformam a
ideologia burguesa, propondo a separação entre meios e fins, essa norma de
ouro da racionalidade moderna” (DAMATTA, 2006:147).
21 O tempo também adquire um significado diferente no esporte:
“Em torneios esportivos, a regra de ouro da vida burguesa que utilitariamente submete o tempo ao mundo prático dos negócios, afirmando que não se pode perder tempo e que o tempo é uma mercadoria – tempo é dinheiro -, podendo ser vendido e comprado, é subvertida, pois nos espetáculos esportivos, o tempo não tem como medida nenhum objetivo prático, exceto servir como moldura para as ações contidas pelo evento esportivo que o engendra. Com isso, o espaço e o tempo podem ser expandidos ou reduzidos, sendo agora contados em jardas, metros ... o que os torna portentosos aliados ou temíveis adversários...” (DAMATTA, 2006:148)
Não só o tempo no esporte não tem objetivo prático, o esporte em si
também não é produtivo no sentido de produzir riqueza, mas sim focado no
relaxamento e detém todos os fatores que caracterizam o lazer. “Como
atividades voltadas para si mesmas, esporte e arte configuram esferas de vida
que negam o utilitarismo dominante e promovem um efeito de pausa”
(DAMATTA, 2006:149).
Embora possua características tão peculiares, o esporte não está
divorciado da sociedade que o criou. Segundo DAMATTA, sua função no
mundo moderno tem uma ligação íntima com dois aspectos fundamentais da
vida burguesa. O primeiro está relacionado a disciplina, que ensina a chegar no
horário dos eventos, o pagamento das entradas, o seguimento das regras da
atividade. O segundo é:
“... a sua ligação estrutural e estruturante com a idéia de fair-play, que conduz à trivialização (e à relativização) da vitória e da derrota... somente poderiam ocorrer numa sociedade transformada... pelo mercado que tudo engloba e faz crer que todos são mesmo jogadores com iguais oportunidades” (DAMATTA, 2006:150).
O esporte, se por um lado segue regras próprias, afirma valores que
também são básicos para o capitalismo: o individualismo (ter o direito de
22escolher um clube ou tentar ser atleta) e o igualitarismo (todos têm as mesmas
oportunidades).
No mundo ocidental, o esporte serve como válvula de escape para o ser
humano, que tem no confronto parte intrínseca da vida social, inclusive na
esfera do consumo e do lazer.
“... tradicionalmente o confronto entre grupos e pessoas cimentava reputações e desonrava nomes de família e aldeias... modernamente, e graças ao esporte, a disputa transformou-se numa competição entre iguais. Um ritual agonístico, por certo, pois em cada encontro os adversários querem desforrar a derrota ou aumentar a vitória, mas uma celebração na qual o conflito é programado e regido por normas conhecidas dos disputantes, da platéia, dos oficiantes (os juízes esportivos) e dos patrocinadores” (DAMATTA, 2006:153).
2.1. O futebol: origem e importância e social
Existem várias versões sobre o local e a época do surgimento do futebol.
Uma das hipóteses mais aceitas é a de que o esporte teve origem no tsü tsü,
ritual de guerra na antiga China, em 2600 a.C. Após os combates bélicos, a
tribo vencedora jogava um futebol ritual com a cabeça do chefe inimigo e/ou
com as cabeças dos seis guerreiros mais valentes. Posteriormente, surgiu o
calcio (chute ou coice em italiano), um ritual de lazer da nobreza italiana de
século XIV, jogado por dezenas de pessoas em cada um dos lados.
No século XVII, bem mais popular e agressivo, o cálcio foi levado para a
Inglaterra pelos partidários de Carlos II, exilados na Itália até a restauração do
trono. Neste país, nos burgos da Bretanha, o mob football (ou futebol popular)
era praticado nos jogos anárquicos e violentos da terça-feira gorda de
Carnaval. O Jogo que florescia nas Ilhas Britânicas, praticado nas formas mais
diversas segundo alguns lugares e regiões, se tornou no que conhecemos
23hoje. Não havia regulamentos e não tinha um número de participantes e tempo
de duração definidos, além de ser bastante violento.
A categoria de "Futebol Massivo", sem limitação de número de
participantes e sem regras (segundo um antigo manual de Workington,
Inglaterra, tudo estava permitido para levar a bola até a meta contrária, com
excessão de assassinato e homicídio), pertence, por exemplo, a "Shrovetide
Football", que se praticava em alguns centros tradicionais como Ashbourne e
Derbyshire, em forma muito menos brusca. A transformação do jogo em
esporte ocorre nas grandes escolas reservadas às elites da sociedade
burguesa inglesa. Acontece uma mudança de significado e função dos jogos
populares (mob football) e surge o fair play, “...a maneira de jogar o jogo dos
que não se deixam levar pelo jogo a ponto de esquecer que é um jogo.”
(AIDAR, LEONCINI & OLIVEIRA, 2002:80).
Em 1830, o Dr. Arnold de Rugby recebeu uma importante missão:
deveria mudar as estruturas das escolas públicas da Inglaterra. Ele criou o
sistema de prefeitos e monitores, deu grande importância a religião, mas não
esqueceu os esportes. Os jogos deveriam ser tão organizados como a rígida
disciplina escolar. Foi a partir daí que o futebol começou a tomar ares de
organização. As primeiras regras variavam de acordo com a escola e o
tamanho do campo. Até hoje, não se tem um registro exato dos motivos que
levaram cada equipe a ter onze jogadores, mas existe uma explicação
aceitável: as turmas escolares da época eram formadas por dez rapazes que
se enfrentavam, mas os bedéis, líderes de cada turma, nunca abriam mão do
direito de entrar em seus times. Assim, dez rapazes, mais um bedel, formaram
o número onze, que persiste até hoje. Nessa época havia muitas regras e
formas de se praticar o futebol.
Coube a escola de Eton a organização do primeiro jogo onde era
permitido apenas o uso dos pés. Aos poucos, a nova corrente foi ganhando
adeptos. Uma outra corrente continuou no velho estilo, que, mais tarde, se
24transformaria no rugby.
O novo esporte espalhou-se pela Inglaterra inteira. Era a nova paixão,
que dominava as universidades e escolas e chagava ao povo através do
entusiasmo dos estudantes. Criaram-se rivalidades e, as regras, em cada
localidade divergiam muito umas das outras, até que houve uma reunião para
unificação das regras. Isso aconteceu em 1846, quando foi elaborado o
Regulamento de Cambridge, que serviu como base para as atuais regras do
jogo.
Em 1863, na Great Queen Street, Londres, numa reunião acontecida na
Freemason's Tavern, foram definidas as 17 regras atuais do futebol e, também
foi criada, a The FA – The Football Association – a entidade que regulariza o
futebol na Inglaterra. Em 1871, começou a disputa da Copa da Associação de
Futebol. No ano seguinte, houve o primeiro jogo internacional, entre Inglaterra
e Escócia. No mesmo ano foi criada a figura do guarda-redes (goleiro) que
seria o único que poderia colocar as mãos na bola e deveria ficar próximo ao
gol para evitar a entrada da bola. Em 1875, foi estabelecida a regra do tempo
de 90 minutos e em 1891 foi estabelecido o pênalti, para punir a falta dentro da
área. Somente em 1907 foi estabelecida a regra do impedimento.
O futebol começou a ser exportado para o resto do mundo, juntamente
com os novos produtos fabricados pela indústria inglesa. Assim chegou à
América do Sul. Na Argentina, em 1864, um professor inglês chamado
Alexander Watson-Hutton, fundou sua própria escola, e resolveu que o futebol
seria bom para acalmar o espírito dos estudantes, e introduziu a nova mania no
currículo escolar.
O futebol começou a se espalhar pelo mundo e, em 1904, em Paris, foi
fundada a FIFA – Fédération Internationale de Football Association – entidade
que, hoje, conta com um número de filiados maior que a ONU – Organização
das Nações Unidas.
25A primeira Copa do Mundo aconteceu em 1930, no Uruguai, e sua
realização só foi interrompida durante o período da II Guerra Mundial. A Copa
do Mundo é, hoje, o evento que possui a maior audiência em todo o mundo.
FIG 1 - Bola de futebol : final do século XIX
2.1.1. O futebol no Brasil
Nascido no bairro paulistano do Brás, Charles Miller viajou para
Inglaterra aos nove anos de idade para estudar. Lá tomou contato com o
futebol e, ao retornar ao Brasil em 1894, trouxe na bagagem a primeira bola de
futebol e um conjunto de regras. É considerado, oficialmente, o percursor do
futebol no País. No Brasil, seguindo o que acontecia na Inglaterra, o futebol era
uma prática para as elites, mas em pouco tempo o esporte se popularizou em
todas as classes sociais. Miller e outros ingleses radicados em São Paulo
protagonizaram em 1895 o primeiro jogo de futebol no Brasil, entre os
funcionários da Companhia de Gás e os da São Paulo Railway. A partida foi
disputada na Várzea do Carmo, e os empregados da empresa ferroviária
venceram por 4 a 2.
Aos poucos, foi aumentando o interesse dos brasileiros pelo esporte. Em
1898, os estudantes do Colégio Mackenzie, em São Paulo, fundaram a
Associação Atlética Mackenzie, criada com a intenção específica de jogar
futebol. Logo apareceram outros clubes em vários Estados do país, como o
São Paulo Athletic, o Sport Club Internacional, o S.C Germânia, o S.C Rio
Grande e a Associação Atlética Ponte Preta.
26A Liga Paulista de Futebol foi criada em 1901 e, no ano seguinte, o São
Paulo Athletic Clube conquistou o primeiro título paulista. No mesmo ano, foi
fundado no Rio de Janeiro o Fluminense Futebol Clube e, em São Paulo, o
Sport Club Corinthians Paulista. O Flamengo surgiu em 1911.
Não demorou muito para o futebol brasileiro se organizar. Em 1914, foi
fundada a Federação Brasileira de Sport, que dois anos mais tarde passou a
ser chamada de Confederação Brasileira de Desportos. Em 1923, a CBD
vinculou-se à Fifa.
O Brasil conquistou em 1919 o título sul-americano em torneio disputado
no Rio e, em 1922, alcançou nova conquista continental. Nesta época já
começavam a despontar os primeiros craques do futebol brasileiro, como Arthur
Friedenreich (mulato, que para alguns historiadores simbolizou o início da
ascensão do negro no futebol brasileiro).
“Quando chegou ao Brasil, o futebol era um esporte proibitivo, elitista, racista, praticado apenas nos clubes de elite. Mas as várzeas devolveram ao povo o que era seu por direito, já que este esporte, como o conhecemos hoje, é originário das manifestações culturais das camadas populares da Inglaterra do final do século XIX” (AIDAR, LEONCINI & OLIVEIRA, 2002:87).
A questão do racismo no futebol brasileiro é amplamente discutida, e
com diversos pontos de vista, por pesquisadores. Alguns autores defendem a
idéia, entre eles Mário Filho, que o futebol serviu como instrumento de
afirmação do negro, criando, através da mistura de raças na formação das
equipes e de suas conquistas no futebol, uma identidade nacional. Outros
pesquisadores, entre eles Antônio Jorge Soares, defendem o ponto de vista de
que o racismo não foi uma questão central no futebol, e sim secundária frente à
disputa entre amadorismo e profissionalismo, que era uma maneira de se
manter a prática como uma atividade da elite.
27“O que era originário do povo retorna ao povo. Na mesma época, paralelamente a história oficial, vinha sendo gestado, no seio das camadas populares, um processo subterrâneo, clandestino de paixão, divulgação e prática futebolísticas. Driblando todas as interdições, por meio das várzeas, das peladas e da periferia, negros, mulatos e brancos pobres engendraram uma posição firme: a da apropriação e da inversão do código vigente, isto é, a popularização e a democratização do futebol (destaque para a fundação do Corinthians, em 1910, de origem realmente popular). Este processo atravessa os anos da Belle Époque mais ou menos no anonimato e se instala e se consolida quando o Vasco da Gama se torna bicampeão em 1924 (invicto) com um time basicamente composto por negros e pobres” (AIDAR, LEONCINI & OLIVEIRA, 2002:88).
Sem dúvida a questão do racismo se confundia com a briga entre
amadorismo e profissionalismo: a maioria dos negros e mestiços eram pobres,
embora também houvesse brancos pobres. A profissionalização do esporte foi
fundamental para que caísse a barreira para a prática do futebol pelas
camadas menos favorecidas. Quem precisava trabalhar para ter seu sustento
não podia se dar ao luxo de praticar o esporte apenas por prazer. O futebol,
mantendo-se assim até hoje, transformou-se em uma das poucas
possibilidades de ascensão social e econômica das classes mais pobres.
Apesar da crítica de muitos intelectuais a importância dada ao futebol,
afirmando que não passa de uma forma de alienação do povo, alguns autores
ressaltam a importância do futebol como forma de auto-reconhecimento de um
povo, criação de uma identidade e elevação da auto-estima:
“Foi o futebol que juntou hino e povo, que consorciou camisa e bandeira, que popularizou a idéia de pátria e de nação como algo ao alcance do homem comum e não apenas do doutor e do mandão” (DAMATTA, 2006:111).
Esse fenômeno não estaria restrito ao Brasil:
28“Em todo grupo de nações que escapam e destoam do padrão de desenvolvimento modelado pelo Ocidente, tem sido o futebol o promotor dessa notável aproximação entre os símbolos da sociedade (e da cultura) e os do Estado nacional” (DAMATTA, 2006:111).
Esse sentimento de nacionalismo pode se apresentar de forma positiva
para a sociedade, como apresentado acima, e como forma negativa, é o caso
da ditadura militar na campanha da seleção brasileira de futebol na Copa do
Mundo de 1970 e também pela ditadura militar na Argentina, o futebol, de certa
forma, ratificava o sistema. Cabem as lideranças do País aproveitar de forma
positiva para a população esse potencial contido no futebol, que faz com que o
povo brasileiro ainda tenha esperança de ter tanta qualidade no aspecto social
e econômico quanto tem na prática desse esporte.
2.1.2. Início e consolidação do profissionalismo no Brasil
Em São Paulo, na primeira década do século, se pensa pela primeira
vez na cobrança de ingressos. É um sinal da transição do esporte amador para
o profissional (surgimento dos consumidores do futebol como espetáculo).
Os craques surgidos nas várzeas começavam a ser contratados pelos
clubes, pressionados pela torcida e pelos sócios por melhores resultados. Esse
processo, dos clubes grandes contratando àqueles jogadores que se
destacavam nos clubes menores, ocorreu até a década de 80, quando os
clubes europeus passaram a ser o destino final dos melhores jogadores
brasileiros. “Mesmo com entidades de prática (clubes) de origem amadora,
resistindo à idéia de profissionalização, a popularidade do esporte e dos
jogadores forçava os clubes a remunerarem seus atletas.” (AIDAR, LEONCINI
& OLIVEIRA, 2002:88).
Em 1976, os jogadores tiveram a profissão regulamentada na CLT. Com
o fortalecimento do profissionalismo, outro profissionais (médicos,
preparadores físicos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, entre outros)
29passaram a fazer parte da estrutura montada com o objetivo de melhorar o
desempenho dos times.
2.2. O futebol hoje
Muito se discute sobre os fatores que levaram o futebol a ser o esporte
mais popular do planeta. A Fifa, principalmente na gestão do brasileiro João
Havelange, teve um papel importante na divulgação do futebol nos quatro
cantos do mundo. Uma das medidas importantes foi a ampliação para 32
países na disputa da Copa do Mundo. Mas, segundo AIDAR, LEONCINI &
OLIVEIRA (2002), a televisão foi decisiva na divulgação deste esporte pelo
mundo todo. Há ainda, para explicar esse fenômeno, argumentos de toda
ordem: sociológicos, psicológicos, econômicos, entre outros. Porém, algumas
características deste esporte despontam como as principais responsáveis pelo
seu sucesso:
“Alto grau de imprevisibilidade dos resultados: Diferentemente de outros esportes individuais ou coletivos, a incidência estatística de resultados inesperados é maior no futebol do que em qualquer outro esporte. Jamais se formou um dream team no futebol, como ocorre com o basquete norte-americano, por exemplo” (AIDAR, LEONCINI & OLIVEIRA 2002:135).
DAMATTA aponta também o fato de ser jogado com os pés como um
dos fatores que tornam o futebol tão imprevisível.
“Se o football americano é bastante preciso, desenrolando-se como um jogo tático, aberto a uma hipertecnicalidade e especialização (pois nele existe um time de defesa e outro de ataque), as jogadas são planejadas e exatas; o futebol jogado com os pés apresenta de saída um problema de coordenação motora razoável, qual seja: como fazer com que os pés que servem para andar e correr sejam igualmente um instrumento de condução e controle da bola.” (DAMATTA, 2006:155).
30 Também são apontadas como questões importantes para a
popularidade do futebol:
“A simplicidade de suas regras: com exceção da regra do impedimento, quem assiste, ainda que pela primeira vez, a um jogo de futebol compreende imediatamente a sua mecânica” (AIDAR, LEONCINI & OLIVEIRA 2002:136).
“Não necessita de biótipo específico para sua prática”
(AIDAR, LEONCINI & OLIVEIRA 2002:136).
Quanto a este item, acrescenta-se:
“... pois o uso exclusivo do pé como um instrumento de controle da bola faz com que ela tenda a correr rente ao chão, anulando ou neutralizando a altura e o grau de robustez física dos jogadores” (DAMATTA, 2006:156).
O mesmo autor faz menção a um traço que, segundo muitos jornalistas
esportivos e pesquisadores, foi decisivo para a construção de uma maneira
brasileira de se jogar futebol, caracterizado pelos dribles, a forma de
movimentar o corpo que às vezes se assemelha a uma dança e o uso
freqüente de jogadas de mais plasticidade.
“Outro elemento ligado ao uso do pé é que os pés conduzem a uma subordinação de todo o corpo às pernas, quadris e cintur, essas partes inferiores da anatomia humana que, no caso da sociedade brasileira, são centrais para as danças nacionais como o samba e alvo de um elaborado simbolismo” (DAMATTA, 2006:156).
Como ressaltaram AIDAR, LEONCINI & OLIVEIRA (2002), outro ponto
importante para essa popularidade está na mínima exigência de equipamentos
para a sua prática, tornando-o acessível praticamente a todas as classes
sociais.
31
2.2.1. Aspectos Econômicos
Nos Estados Unidos, a indústria do esporte gera US$ 613 bilhões por
ano, representando 6,7 % do PIB (é a primeira indústria do país, à frente da
indústria automobilística). Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o esporte
movimentou no Brasil, em 2005, entre atividades direta e indiretamente ligadas
a alguma prática esportiva, cerca de R$ 37,1 bilhões, o equivalente a 1,95% do
PIB (Produto Interno Bruto). Segundo o mesmo instituto, de 1995 a 2005 o PIB
esportivo cresceu em torno de 10% ao ano, contra a média de 3,2% da
economia nacional. No Brasil, anualmente, são vendidos mais de 85 milhões
de pares de tênis, mais de 6 milhões de bola de futebol e são publicadas mais
de 70 revistas de esporte dentro da mais diversas modalidades.
A infra-estrutura para a prática de esportes no Brasil é invejável, embora
existam problemas graves de manutenção. São mais de 8.000 equipes de
futebol, mais de 300 estádios de futebol com capacidade para mais de 5
milhões de torcedores. São Paulo é considerada a cidade com a maior torcida
futebolística do mundo. Apesar dos números expressivos, o potencial do
esporte como atividade econômica ainda não é aproveitado em todo seu
potencial.
Conforme estudos do Atlas do Esporte no Brasil, o futebol mundial
movimenta 250 bilhões de dólares anuais, dos quais apenas 3,2 bilhões no
Brasil. O futebol mobiliza uma infinidade de profissionais diretamente
(jogadores, técnicos, médicos, fisioterapeutas, etc.) e indiretamente
(fabricantes de material esportivo, mídia, comércio, turismo, etc.). Em 2005, o
número de empregados registrados em atividades vinculadas ao esporte
alcançou 315 mil pessoas no país. Estima-se que a cada final de semana o
futebol movimenta 18% da população do país, o que corresponde a 31 milhões
de pessoas entre atletas, dirigentes, árbitros, profissionais de imprensa, público
nos estádios e telespectadores.
32
2.3. Os “Mitos” do futebol
A maioria das pessoas associa o termo mito com algo que não
corresponde a realidade (algo inventado). A outra associação mais comum é
com a mitologia clássica grega ou romana. Nas culturas ocidentais européias, o
termo mitologia tornou-se sinônimo de mitologia grega ou romana. Geralmente
são as únicas mitologias às quais o mundo ocidental de maneira geral é
apresentado. Na verdade, existem várias mitologias: asiática, africana, nórdica,
árabe, entre outras.
Mito vem da palavra grega mithos (µῦθος) que pode ser traduzido como
discurso ou narrativa. A definição de mitologia, no sentido mais amplo “abrange
qualquer coisa que de alguma forma mitifica ou enfeita a realidade. Moby Dyck
é uma mitologia. Assim como é mitologia o anúncio da cerveja Budweiser que
vemos na tevê.” (RANDAZZO, 1997: 57). O mito é então uma história narrada,
indiferente do julgamento que façamos sobre ela de verdadeira ou falsa.
Resumir a mitologia a algo que “enfeita a realidade” seria muito simplista. O
mitólogo e estudioso Joseph Campbell diz que os mitos atuam em vários
níveis:
“Função Mística: ... percebendo a maravilha que é o universo, e a maravilha que nós mesmos somos e, ficando fascinados diante do mistério,” “Função Cosmológica: ajudando-nos a entender o universo e o lugar que ocupamos nele” “Função Sociológica: apoiando e defendendo uma certa ordem social.” “Função Pedagógica: ... como viver a nossa vida sob qualquer circunstância.” (CAMPBELL, 1988: 31).
O fascínio, a riqueza e o poder que as mitologias grega e romana
exercem sobre o ocidente, ainda hoje, são facilmente observáveis. Não são
poucos os exemplos nas artes (na literatura, no cinema, na música, entre
outras) de enredos que, de uma forma ou de outra, recontam estórias dessas
mitologias (a “volta por cima” de um personagem remete ao mito da Fênix que
33renasce das cinzas; o filho que de alguma forma quer tomar o lugar do pai,
lembra o Complexo de Édipo, entre outros). Quando esses “enredos”
acontecem na “vida real”, o fascínio é maior ainda, como ocorre, vez por outra,
na trajetória de um grande ídolo do esporte ou da política.
Uma das explicações do sucesso dessas mitologias ainda hoje pode
estar no conceito de “inconsciente coletivo” de Carl Jung. Um inconsciente que
contém imagens arquetípicas (universais) cuja pista pode ser seguida até as
origens da espécie humana e que são as mesmas para todas as pessoas. Para
Jung, as imagens arquetípicas contidas no inconsciente estão profundamente
marcadas na espécie humana e, de alguma forma, influenciam e controlam
comportamento humano. Um exemplo é o arquétipo básico do Guerreiro, que
representa o instinto de guerra e agressão e remete a independência, força e
coragem, expressa-se modernamente, entre outra formas, na figura do jogador
de futebol.
Essa referência não ocorre apenas no inconsciente, mas também
estimulado pela própria mídia que cria denominações para eventos e jogadores
marcantes: a partida em que o Grêmio vence o Náutico pelo campeonato
brasileiro da série B e garante o retorno a série A do campeonato nacional, no
Estádio dos Aflitos, ficou conhecida como a “Batalha dos Aflitos”; o zagueiro
Rondinelli, jogador do Flamengo na década de 70 e 80, ganhou a alcunha de
“Deus da Raça” pelo seu empenho nos jogos. Na maioria das vezes, é a
repetição pela mídia desses termos e que os torna consagradas para a história
do esporte.
Jung e Neumann estudaram uma série de arquétipos femininos (“A
grande mãe, “A Donzela”, entre outros) e alguns masculinos (“O Grande Pai” e
o “Guerreiro-Herói”). Devido a este trabalho se propor a estudar alguns
aspectos da figura do ídolo do futebol, o foco estará no arquétipo do “Guerreiro-
Herói”.
34Como foi mencionado acima, a figura do Guerreiro-Herói simboliza a
independência, força e coragem. “O Bom Guerreiro é o generoso defensor da
verdade e da justiça, pronto a morrer por aquilo em que acredita e/ou ao
serviço daqueles que não podem defender a si mesmos.” (RANDAZZO, 1997:
160).
Também como foi citado anteriormente, é enorme a influência da
mitologia grega sobre as culturas ocidentais. Odisséia, de Homero retrata bem
a noção patriarcal do ocidente.
“É uma história que marcou para sempre a civilização ocidental. A Odisséia é uma história de aventuras, um mito do Herói-Guerreiro. Num nível, é a história de um homem que deixa a mulher e o filho recém-nascido par ir à guerra. Em outro, como todos os mitos, é uma viagem de autodescobrimento.” (RANDAZZO, 1997: 160).
“Na Odisséia, um mítico rei grego chamado Ulisses vive na mítica ilha de Ítaca. Ulisses é chamado a lutar na guerra de Tróia, que dura dez anos. Na volta para casa, tem uma série de incríveis aventuras com deuses, monstros sereias e magas, que o mantêm ocupado por mais dez anos. Durante a sua ausência, a sua fiel esposa Penélope é cortejada e cercada por um grupo de incômodos pretendentes. ... O filho de Ulisses, agora um rapaz, quer ajudar a mãe e defender a sua herança, mas não sabe como lidar com os intrusos. O filho sai em busca do pai. ... Quando Ulisses finalmente volta a Ítaca, chega disfarçado para surpreender os rivais assim como para ver se a esposa e os criados mantiveram-se fiéis. A mulher, de fato, foi incrivelmente fiel, mas alguns dos criados o traíra. O único que o reconhece é o seu velho cão que o recebe festivo e morre logo a seguir. ... Ulisses fica então junto do filho, que conta as novidades acerca dos indesejados hóspedes. Ulisses diz ao filho que, com a sua ajuda poderá vingar-se deles. ... Com o leal filho ao seu lado, Ulisses enfrenta corajosamente os intrusos. Com o seu grande arco mata sem piedade os quarenta e tantos rufiões. Também mata os criados traidores e qualquer um que de alguma forma não se lhe mantivera fiel.” (RANDAZZO, 1997: 172,173).
35Joseph Campbell afirma:
“O roteiro padrão da aventura mitológica dos heróis é uma amplificação da fórmula representada nos ritos de passagem: separação-iniciação-volta: ... O herói sai do mundo cotidiano para se aventurar numa região de maravilhas sobrenaturais: ali, encontra forças fabulosas e ganha uma batalha decisiva: o herói volta desta misteriosa aventura com o poder de dispensar dádivas aos seus similares.” (CAMPBELL, 1968: 30)
Novamente, fazendo um paralelo com o universo do futebol, é
rigorosamente isto que se percebe, por exemplo, nas carreiras dos jogadores
Ronaldo e Adriano, que recentemente retornaram ao Brasil para defender
Corinthians e Flamengo, respectivamente. Encaixam-se perfeitamente no
roteiro padrão da aventura mitológica dos heróis. Daí também o poder de suas
imagens como ídolos. É evidente que o “Herói Moderno” dificilmente segue a
risca o mito do Herói, como Ulisses: são falíveis (os dois jogadores citados são
prodígios em se envolver em escândalos); na maioria das vezes age mais em
função de razões financeiras do que motivados por qualquer outro valor moral
ou ético; não vencem todas as batalhas; entre outras características. Talvez até
a sociedade contemporânea deseje ídolos mais humanos e menos divinos, e
suas fraquezas humanas ajudam a reforçar o fascínio exercido naqueles que
os admiram.
No caso do jogador Adriano, o ciclo se completa de forma mais perfeita:
o jogador retorna ao clube que o revelou, o começo de tudo. Enquanto que
Ronaldo não completa o ciclo perfeitamente (ele retorna ao Brasil, mas para
um clube ao qual não possuía nenhuma ligação anteriormente), sua imagem
mítica é reforçada pela comparação inevitável com o mito da ave Fênix, que
renasce das cinzas. Em função de uma série de lesões muito sérias e
constantes problemas para entrar em forma, o atleta por diversas vezes foi
considerado acabado para o futebol, mas sempre surpreende com retornos
triunfais. Em seu retorno para o Corinthians, não foi diferente.
36
CAPÍTULO III
MARKETING ESPORTIVO: DEFINIÇÃO E ORIGENS
Assim como no marketing, são várias as definições dadas a marketing
esportivo. Há, inclusive, autores que defendem a idéia de que a definição de
marketing latu sensu é por si só suficiente para englobar a conceituação de seu
subgrupo esportivo. “A definição de marketing esportivo não pode ser muito
diferente do marketing propriamente dito, ela apenas deve estar relacionada à
disciplina do esporte” (CARDIA, 2004:21).
A expressão marketing esportivo pode ser usada tanto para descrever
as atividades de patrocínio nas quais as empresas se envolvem, a
comunicação da imagem corporativa ou de produto específico por meio do
esporte e ainda como as atividades pelas quais pessoas e entidades ligadas ao
esporte usam para trazer dinheiro para o negócio do esporte. O enfoque da
pesquisa será nesta última atividade descrita.
Para Pitts & Brenda, marketing esportivo é:
“... o processo de elaborar e implementar atividades de produção, formação de preço, promoção e distribuição de um produto esportivo para satisfazer as necessidades ou desejos de consumidores e realizar os objetivos da empresa” (PITTS & STOTLAR, 2002: )
Segundo Cardia, há ainda duas maneiras de se definir o marketing
esportivo, dependendo sob qual prisma o assunto é analisado:
“... sob o prisma das entidades, é o processo pelo qual se suprem necessidades e desejos de entidades esportivas através da troca de produtos e valores com seus mercados” (CARDIA, 2004:22)
Quando o assunto é visto sob a ótica dos fãs, torcedores e
consumidores, o autor define da seguinte forma:
37
“...é o processo social e gerencial pelo qual os indivíduos e grupos têm seus desejos e necessidades atendidas por meio de transações com o fim de lhes trazer satisfação” (CARDIA, 2004:22)
Em relação as primeiras ações de marketing esportivo, também existem
várias referências. Do material pesquisado, a referência mais antiga em relação
ao tema data de 1850, quando John Wisden, fabricante de confecções
masculinas do Reino Unido, resolveu patrocinar uma anuário sobre cricket
associado à sua marca comercial, o Wisden’s Cricketer’s Almanack.
No Brasil, começaram nas regatas do início do Século XX e no futebol
deste mesmo período, quando eram veiculados anúncios nos jornais e revistas
de empresas que associavam suas imagens aos esportes em ascensão
daquela época. Na década de 70 e início dos anos 80 a transformação do
esporte brasileiro incentivou que as empresas investissem nos esportes em
busca de retorno publicitário e vendas.
O termo marketing esportivo foi utilizado pela primeira vez em 1978, em
um artigo escrito no periódico americano Advertising Age devido à necessidade
de descrever as ações que determinadas empresas estavam utilizando para
promoção de seus produtos por meio do esporte.
3.1 O Marketing na gestão dos clubes brasileiros de
futebol
A maioria maciça da bibliografia produzida sobre marketing esportivo
trata do assunto sob o viés de como as empresas podem tirar proveito dessa
atividade. O enfoque proposto neste trabalho é um pouco diferente: como os
clubes de futebol, brasileiros, em especial, podem tirar proveito de suas marcas
e da relação com sua torcida.
38Os clubes ingleses se tornaram, nos últimos anos, modelos, no que se
refere a administrar times de futebol, que lá são empresas, com
profissionalismo sem deixar de lado a paixão que envolve o futebol. Os 92
clubes das 4 divisões têm balanços publicados. Os números são públicos e
sujeitos a auditoria. Essas iniciativas demonstram transparência, atraem
investidores e se refletem em uma boa situação financeira e bom desempenho
dentro de campo. O torcedor é tratado como cliente, e, assim sendo, fonte de
renda para o time. Essa preocupação é percebida no conforto e estrutura dos
estádios, na organização do calendário dos campeonatos, na obselecência
programada dos uniformes que são alterados periodicamente, a fim de gerar
demanda continuamente, entre outros pontos.
No Brasil, menos de 1 dezena de clubes possuem departamentos de
futebol profissionalizados segundo estruturas de companhias – sejam abertas
ou fechadas e não há balanços divulgados. Os clubes brasileiros, quase que
em sua totalidade, vivem em grandes dificuldades financeiras decorrentes de
dívidas com o governo (que está mais rígido na questão tributária) e gastos
cada vez maiores, principalmente, em decorrência de salários de atletas (que
crescem em uma proporção maior do que as receitas). A principal fonte de
renda dos clubes brasileiros, “o passe” dos jogadores, foi praticamente extinta
pela “Lei Pelé”. Com o fim do passe, os clubes deixaram de gerar caixa através
da venda de jogadores, principalmente para o exterior. Alternativamente a essa
mudança na legislação, existem as multas recisórias (o clube faz um contrato
longo com um atleta, fazendo com que outra equipe interessada em contratar
este jogador pague esta multa para quebrar o contrato).
Mas, de fato, a via para os clubes se manterem, é a exploração de suas
marcas, que no Brasil ainda é incipiente. No exterior, o modelo adotado é a
transformação dos clubes em empresas, com uma gestão profissional. No
Brasil, essa possibilidade foi aberta com a Lei Pelé, porém, há uma grande
resistência por parte de dirigentes e torcedores a essa transformação. Há um
temor que o time perca autonomia e sua identidade. O modelo que começou a
39ser adotado por alguns clubes brasileiros (Vasco, São Paulo, Corinthians e
Cruzeiro, por exemplo) é a venda dos direitos sob exploração da marca.
Empresas e investidores, geralmente estrangeiros e com know how nessa
área, criam empresas que adquirem os direitos sob a marca do clube por
determinado valor e se comprometem a repassar determinado percentual da
receita obtida. A exploração da marca, normalmente, envolve negociação de
direitos de transmissão televisivos, merchandising e bilheteria. O clube, em si,
permanece com sua estrutura e administrando o futebol.
3.2. Formas de comercialização do esporte
A indústria esportiva gira em torno da criação e realização de eventos
com a finalidade de oferecer entretenimento para a comunidade. A promoção
deste não resulta somente na atração do público ao local em que se realizará o
evento esportivo e na geração de renda aos detentores dos seus direitos, mas
também impulsiona paralelamente diversos negócios no mercado do esporte.
O merchandising, o patrocínio esportivo, o licenciamento e o fornecimento de
material esportivo são as formas mais usuais de comercialização.
3.2.1. Patrocínio e Patrocínio Esportivo
Na definição de CARROGGIO, citado por CARDIA (2004):
“... patrocínio é uma relação jurídica entre patrocinador e patrocinado, em virtude da qual o primeiro colabora de forma tangível na organização ou celebração de um evento e, em contrapartida, obtém do segundo facilidades para difundir mensagens favoráveis a um público mais ou menos determinado.”
CARDIA (2004) define da seguinte forma o patrocínio esportivo:
“... é o investimento que uma entidade pública ou privada faz em um evento, atleta ou grupo de atletas com a finalidade precípua de atingir públicos e mercados
40específicos, recebendo, em contrapartida, uma série de vantagens encabeçadas por incremento de vendas, promoção, melhor imagem e simpatia do público” (CARDIA: 2004:25)
As empresas patrocinam atividades esportivas como forma de
propaganda, promoção de vendas e relações públicas. Associar a marca de
uma empresa a um atleta, time ou evento proporciona ganho de imagem,
agregando valor à marca, exposição na mídia (normalmente a um custo mais
baixo do que a veiculação de anúncios) e, consequentemente, incremento nas
vendas, na maioria dos casos.
3.2.1.1. Categorias de Patrocínio
Segundo CARDIA (2004), são as seguintes as propriedades que podem
ser colocadas à disposição de cada patrocinador:
Nome do evento. “O evento pode ter o nome do patrocinador. Essa é
uma maneira excepcional de divulgação da marca do patrocinador, porque
ninguém (a mídia principalmente) poderá deixar de mencionar e divulgar a
marca” (CARDIA, 2004:45). Exemplos: Tim Festival ou Circuito Banco do Brasil
de Vôlei de Praia.
Nome da arena ou estádio. Consiste me dar a uma arena, estádio ou
ginásio de esportes, o nome do patrocinador. Também é utilizado para teatros
e casas de eventos (Claro Hall, no Rio de Janeiro ou o Kodak Theater, onde é
realizada a cerimônia de entrega do Oscar, em Los Angeles). No futebol, um
exemplo é o estádio do Atlético Paranaense, a Arena Kyocera.
Sorteio de partidas, adversários ou rodadas. O sorteio dos grupos da
Copa do Mundo, por exemplo, é um grande evento, com ampla cobertura da
imprensa e, conseqüentemente, uma ótima oportunidade de divulgação de
patrocinadores.
41
Cidade-anfitriã. Consiste em vender antecipadamente os direitos de
sediar uma competição ou a final de uma competição em troca de exposição ou
organização. É o caso das Olimpíadas e da Copa do Mundo de futebol.
Patrocinador exclusivo. A própria expressão já a define: é o patrocinador
exclusivo de um evento.Essa categoria é pouca utilizada em função do alto
custo que representa. O mais usual é o que o patrocinador seja exclusivo no
seu ramo de atividade.
Patrocinador principal. “Quando os organizadores resolvem dividir o
ônus e os privilégios do patrocínio entre mais de uma categoria de
patrocinadores, um deles fica como o principal” (CARDIA, 2004:47). Este,
logicamente, terá maior exposição e participação no evento.
Patrocinadores oficiais. São aqueles que estão um degrau abaixo do
patrocinador principal, com ônus e privilégios proporcionais.
Fornecedor oficial. É sempre associada a uma categoria de produtos ou
serviços. O fornecimento desses produtos ou serviços implica o consumo
exclusivo dos bens vendidos pelo fornecedor oficial. Em alguns casos, o
patrocínio se dará simplesmente pela permuta dos bens ou serviços, enquanto
em outros, além do fornecimento dos bens, o patrocinador trá que pagar uma
quantia pelo privilégio de ter sua marca associada ao evento. Um exemplo
disso é o fornecimento de bolas para o Campeonato Brasileiro de Futebol.
Apoiador. Este tipo de patrocinador fornece bens ou serviços,
normalmente desvinculados do escopo do evento, necessários para a sua
realização em troca de alguma publicidade. Normalmente, não consta no rol de
patrocinadores.
42
3.2.1.2 – O Patrocínio nos times de futebol
Nos times de futebol, as possibilidades de patrocínio são as do nome do
estádio, os patrocinadores exclusivo, principal e oficial e o fornecedor oficial,
independente do porte da equipe. No futebol há a possibilidade da veiculação
de patrocínio nos uniformes (seria o patrocinador principal, pois é o espaço
nobre que um time de futebol pode oferecer ao seu patrocinador), espaços no
estádio e website do clube, além da própria uniformização da torcida
(patrocinadores oficiais). Trocar o nome de um estádio para o nome do
patrocinador já é uma tarefa delicada. Nesse ponto se mexe com a história e
tradição de uma equipe, sem mencionar que dificilmente o nome antigo do
estádio deixe de ser o mais utilizado pela mídia e pelos torcedores. Já a
construção de um estádio ou uma grande reforma justificaria e legitimaria essa
prática, mas pela grande soma que isso envolve, sua utilização se torna mais
difícil. A questão do fornecedor oficial talvez seja o tipo de patrocínio mais bem
utilizado pelos clubes de futebol, e a maioria consegue tirar uma bom proveito
deste potencial.
3.2.2. Licenciamento
O licenciamento é o mecanismo pelo qual uma indústria adquire o direito
de uso de determinada marca, logotipo, mascotes ou slogan para colocar em
um produto de sua fabricação em troca do pagamento de royalties. SHERMAN
citado por CARDIA (2004:127) define o licenciamento como “o método
contratual de desenvolvimento e exploração de propriedades intelectuais
através da transferência do seu direito de uso a terceiros, sem que com isso,
se transfira a propriedade.” Segundo CARDIA (2004), o esporte, juntamente
com a indústria cinematográfica (com todos os seus personagens), são os
maiores mercados mundiais de licenciamento.
É quase inesgotável as possibilidades de comercialização de produtos e
serviços com o uso de símbolos que remetam ao esporte, seja um evento, uma
43equipe, ou um atleta, diferenciando-o e agregando valor. Também nesse
quesito, assim como em todos os outros em relação a marketing esportivo, nos
Estados Unidos e na Europa os números são muitos mais expressivos.
Conforme CARDIA (2004), em 1994, a Liga Nacional de Futebol Americano
alcançou U$$ 3 bilhões em vendas com seus 2.500 produtos licenciados. O FC
Barcelona possuía 2200 itens com sua marca, e uma loja totalmente dedicada
a sua torcida. Os dois clubes brasileiros que até hoje melhor exploraram o
licenciamento foram o Grêmio Football Porto Alegrense e o Sport Club
Internacional. O Grêmio chegou a estampar sua logotipia em 252 produtos,
além de manter 42 lojas franqueadas com sua marca, para venda de produtos
licenciados, no sul do país. O Internacional atingiu a marca de 350 produtos
licenciados. Uma grande quantidade de produtos licenciados, desde que com
controle para que a marca não seja usada de forma errada ou indevidamente
ou ainda em produtos de baixa qualidade, amplia a possibilidade de receitas
com royalties, possibilita a abertura de lojas próprias, aumentando assim
também o vínculo com a própria torcida.
3.2.3. Merchandising
O uso do termo Merchandising neste capítulo se faz com o sentido da
atividade de venda de mercadorias nos locais de eventos esportivos. “Um dos
adágios mais repetidos no marketing esportivo é aquele que prega: para cada
dólar de ingresso vendido, outros dois têm que entrar no caixa com a venda de
mercadorias no local do evento” (CARDIA, 2004:125).
O merchandising funciona muito bem na Europa e, principalmente, nos
Estados Unidos. Segundo CARDIA (2004), o Astrodome Arena (de Houston,
Texas) vende em suas dependências em torno de 11,28 milhões de dólares
anualmente, valor maior que a receita total de muitos clubes importantes do
futebol brasileiro. Entre os itens comercializados estão bebidas, comidas,
camisetas, bonés, chaveiros, bonecos, entre outros.
44 Nos estádios brasileiros, geralmente, o que se encontra são bares sujos
e caros, oferecendo cerveja ou refrigerante (muitas vezes, quentes). Em
relação a comida, o máximo que se encontra é um cachorro-quente mal
preparado. Dificilmente se encontra lojas em que se possa adquirir produtos do
clube, e nos estádios que a oferta existe, a quantidade de itens é muito
limitada. Soma-se as deficiências citadas anteriormente, a violência entre as
torcidas, o trânsito congestionado e, muitas vezes, o horário inadequado dos
jogos.
Dois fatores que aparecem pesando contra a implementação de práticas
mais agressivas de merchandising nos estádios brasileiros são o público
relativamente pequeno nos estádios e seu baixo poder aquisitivo, de modo
geral. Porém, é importante lembrar que um dos motivos para que os estádios
brasileiros não atraiam maior público é a precária estrutura oferecida aos
torcedores, afastando, principalmente, a camada de público de maior renda. O
futebol deve ser encarado como uma atividade de lazer, e seus gestores
devem ter consciência que concorrem com cinemas, teatros e shopping
centers, onde tudo é pensado para agradar e cativar o usuário, maximizando o
retorno financeiro dessa interação.
3.2.4. Bilheteria e Quadro social
A venda de ingressos para os eventos esportivos pode ser considerada,
a grosso modo, a venda do produto esporte propriamente dito. E uma
ramificação importante desta atividade são os sistemas em que o torcedor se
associa no clube e mediante a um pagamento mensal ou anual possui uma
série de vantagens na sua relação com o clube (geralmente é o acesso gratuito
ou por valores reduzidos aos jogos do clube). É evidente que esse formato,
com o sócio-torcedor, só é possível em times de futebol que possuem natureza
jurídica de clubes (quase a totalidade dos clubes brasileiros). Na Europa e nos
Estados Unidos muitas equipes esportivas são, juridicamente, empresas e
programas de sócio-torcedor normalmente não existem. Entretanto, o sistema
45de venda antecipada de ingressos (muitas vezes para uma temporada inteira)
são também fontes importantes de receita.
No Brasil, novamente, Internacional e Grêmio despontam em programas
de sócio-torcedor. Nos dois casos, o fato dos dois clubes possuírem estádios
próprios, organização administrativa e um relativo sucesso dentro de campo
foram fundamentais para o sucesso.
Segundo a revista FutLance, o Internacional possuí a 9ª maior torcida do
Brasil (4,7 milhões de torcedores), 83 mil sócios que garantiram uma receita de
R$ 27 milhões em 2008 (20% da receita total do clube no ano); o Grêmio
possuí a 7ª maior torcida do Brasil (6,4 milhões de torcedores), 50 mil sócios
que garantiram uma receita de R$ 24 milhões em 2008 (27% da receita total do
clube no ano). A revista ainda cita o jornal francês L’Equipe que, em fevereiro
de 2008, colocava o Internacional entre os 10 times de futebol com o maior em
número de sócios no mundo.
Para o sucesso de público nos estádios, além das já citadas,
relacionadas a toda infra-estrutura do evento em si, sem dúvida, a qualidade da
disputa esportiva é fundamental. Se o seu time é qualificado e vencedor, o
torcedor vai mais vezes ao estádio. Equipes vencedoras disputam mais jogos
decisivos, conseqüentemente, levam mais público aos estádios, isso gera mais
receitas, não só de bilheteria, mas através de licenciamento, merchandising,
entre outras. Enfim, cria-se um ciclo virtuoso, não só de vitórias, mas também
de receitas.
Para a qualidade do “espetáculo”, como a mídia gosta de se referir aos
jogos de futebol (e é importante para o marketing esportivo que as partidas se
tornem espetáculos), ter grande ídolos em campo certamente ajuda muito.
46No próximo capítulo, será abordado o impacto que a contratação do
jogador Ronaldo Nazário causou em relação ao marketing esportivo no Sport
Club Corinthians.
47
CAPÍTULO IV
ESTUDO DE CASO: CORINTHIANS / RONALDO
O Sport Club Corinthians foi fundado por cinco operários em 1º de
setembro de 1910, no bairro Bom Retiro, em São Paulo. De acordo com
informação do site oficial do clube, o nome foi dado algum tempo depois da
data considerada como a de fundação oficial do clube, inspirado no time inglês
Corinthian Football Club, que por aquela época havia feito alguns amistosos no
Rio de Janeiro e em São Paulo, saindo vitoriosa de todos eles. O uniforme era
creme (como seu homônimo inglês), porém ao desbotar com as lavagens, foi
substituído pelo branco, utilizado desde então como a camisa principal do time.
Distintivo atual do Sport Club Corinthians Paulista
O fato do clube ter sido fundado por pessoas de uma classe popular é
uma peculiaridade, já que na época os times de futebol tinham suas origem nas
camadas mais abastadas da sociedade brasileira. Segundo AIDAR, LEONCINI
& OLIVEIRA (2002), o Corinthians foi o primeiro clube de São Paulo a abrir
espaço para pessoas de origem mais humilde, fato que se reflete em alguns de
seus apelidos, como clube dos operários ou time do povo.
Já em 1914, o Corinthians conquista o seu primeiro título paulista, de
forma invicta. Desde então o clube cresceu e começou a competir em outras
modalidades esportivas. Até a década de 90, o time de futebol alternou bons,
com diversas conquistas de títulos estaduais, e maus momentos, com longas
períodos sem conquistar títulos. Tornou-se conhecido e formou uma das
maiores e mais apaixonadas torcidas do País (segundo pesquisa publicada na
48Revista Futlance, edição de junho de 2009, o clube possui a segunda maior
torcida do País, ficando atrás apenas do Flamengo).
A partir da década de 90 vieram as conquistas mais importantes do
clube, dentre elas o Mundial de Clubes em 2000 e 4 títulos do Campeonato
Brasileiro (1990, 1998, 1999 e 2005). Também a partir de 1995, assim como
diversos clubes brasileiros, o Corinthians passou a buscar parceiros como
forma de financiar suas atividades. Conforme artigo publicado pelo site do
jornal Folha de São Paulo, foram eles: Banco Excel (1995), da Hicks, Muse,
Tate & Furst - HTMF (1999) e da Media Sport Investiment - MSI (2005).
O sistema de parcerias adotado no Brasil em diversos clubes, consistia,
na maioria dos casos, na exploração da marca dos clubes por essas “empresas
parceiras” e direito a parte das rendas do clube, entre elas, percentual dos
valores envolvendo negociação de jogadores; em contrapartida, as empresas
se comprometiam a contratar jogadores, fazer repasses mensais para os
clubes, construir estádios, entre outros, dependendo do formato do acordo
efetuado entre as partes. Inicialmente, esta parecia ser a solução para os
problemas financeiros dos clubes. Porém, no Corinthians, assim como na
maioria dos clubes, essas parcerias não deram certo por diversos motivos.
Empresas que não cumpriam suas obrigações, corrupção dos dirigentes, e
fortes suspeitas quanto à origem dos recursos dessas empresas acabaram por
levar ao fracasso esse modelo de gestão.
No Corinthians, se o início era promissor, com o fim das parcerias, o
resultado foi catastrófico. O clube acabou ficando em uma financeira
extremamente complicada e acabou sendo rebaixado para a 2ª Divisão do
Campeonato Brasileiro em 2007.
“É duro explicar como um time que recebeu tanto dinheiro quanto o Corinthians nos últimos anos esteja nesta situação de penúria. Só para lembrar, desde 1995 o time teve três parceiros que investiram pesado. Foram um banco, um fundo de ações e uma (infelizmente não
49sei como classificar a MSI), mas no término dessas três parcerias o clube conseguiu sair quebrado.” (http://www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/futebolnarede/ult868u323678.shtml, publicado em 28/08/2007, acessado em 22/07/2009).
A partir deste momento, foi afastada a diretoria que permanecia no clube
desde 1992 e foi iniciada uma grande reestruturação. O clube montou uma boa
equipe em 2008, conseguiu o título de campeão brasileiro da série B,
garantindo o retorno à série A.
“Quando assumiram o Corinthians em outubro do ano passado, o presidente Andrés Sanchez e sua diretoria encontraram uma dívida superior a R$ 100 milhões e a sensação de falência no Parque São Jorge. Passado um ano, a disputa da Série B e o retorno à elite do futebol brasileiro, a equipe alvinegra pode se orgulhar de ostentar um dos maiores faturamentos atuais de um clube no País. E pela primeira vez nos últimos quatro anos, terá lucro em seu balanço, de acordo com a diretoria.” (http://www.pa.terra.com/tecnologia/interna/0,,OI3283225-EI11422,00.html, publicado em 25/08/2008, acessado em 22/07/2009).
Dentre diversas ações de marketing implementadas pela atual diretoria,
sem dúvida, destaca-se a contratação do jogador Ronaldo Nazário, anunciada
no fim de 2008.
4.1. O Ídolo
Conforme o site http://www.copanobrasil2014.com, Ronaldo Luís
Nazário de Lima nasceu no Rio de Janeiro em 22 de setembro de 1976.
Começou jogando pelo Social Ramos e posteriormente pelo São Cristóvão,
ambos do Rio de Janeiro, transferindo-se ainda com 14 anos para o Cruzeiro
de Belo Horizonte, onde se profissionalizou. Destacou-se rapidamente pela
equipe mineira e com menos de 2 anos como profissional, chamou a atenção
do futebol europeu e se transferiu para o PSV Eindhoven da Holanda. A partir
50de então, foram 13 anos no futebol europeu com passagens por Barcelona,
Internazionale, Real Madrid e Milan. Conquistando diversos títulos e prêmios
(como melhor jogador do mundo em 1996, 1997 e 2002). Durante todo este
período, lesões graves o deixaram longos períodos afastado dos gramados.
Combinado a isso, sua notória dificuldade para entrar em forma fez que seus
retornos sempre fossem cercados de desconfiança pela mídia e por parte do
público.
4.2. A contração de Ronaldo
No final de 2008, a euforia da torcida era grande. O time havia feito uma
irrepreensível campanha no campeonato nacional da série B e a expectativa de
um retorno triunfal a 1ª divisão do futebol nacional também era enorme. A
direção do clube, sempre atenta às oportunidades que se construíam no âmbito
do marketing esportivo, também percebia isto. Em 2010, o clube comemorará
seu centenário, e o planejamento para tornar este ano especial deveria
começar o quanto antes.
“Após a conquista da Série B e o retorno à elite do futebol brasileiro em 2009, o Corinthians prepara um presente fenomenal de Natal para a Fiel: Ronaldo. O clube chegou a um acordo com o Fenômeno, que assinará contrato de um ano e deverá ser apresentado na sexta-feira. A confirmação do negócio foi feita pelo empresário do atacante, Fabiano Farah, nesta terça, e também por Antônio Carlos, diretor técnico do clube.” (http://jotablog.com/contratacao-ronaldo-fenomeno-jogara-pelo-corinthians-em-2009/, publicado em 12/2008. acessado em 22/07/2009).
Uma equipe vencedora era uma peça chave para uma grande
temporada, dentro e fora dos gramados. Contratações de atletas de renome,
não só reforçaria a equipe, como seria um grande instrumento de marketing
esportivo. Surgiu a oportunidade do clube trazer de volta aos campos o
atacante Ronaldo, e com um acordo que prevê a participação do jogador em
parte da receita com patrocínios, esta contratação foi viabilizada.
51
Com o anúncio da contratação de Ronaldo, além de reforçar a equipe, a
diretoria do Corinthians declarou que tinha como meta chegar ao valor de R$
30 milhões em patrocínios no uniforme para o ano de 2009. Só o fato do clube
estipular uma meta a ser alcançada já é um avanço no futebol brasileiro.
Demonstra algum tipo de planejamento, e propicia também uma gestão melhor
das despesas do clube.
Devido a maior exposição na mídia, o retorno em patrocínios, ainda que
uma boa parte seja direcionada para remunerar o jogador, é o que mais se
destaca nesta ação do clube paulista. A contratação de um grande ídolo do
esporte projetou mundialmente o time. Prova disso é que a Visa,
administradora de cartões de crédito, escolheu a camisa do Corinthians como
uma das mídias para lançar mundialmente a Campanha publicitária “Go – Mais
pessoas vão com Visa”.
Palmeiras 1 x 1 Corinthians (08/03/2009). Foto da partida de estréia do jogador pelo Corinthians, em São Paulo. Ronaldo comemora o gol de empate contra o arqui-rival Palmeiras. A Visa patrocinou a camisa do time neste jogo.
“O projeto Corinthians/Ronaldo, financeiramente, é um sucesso. Com presença do Fenômeno, o clube alcançou mais de R$ 30 milhões de patrocínio na temporada. O valor é recorde do futebol brasileiro, que tem como segundo colocado o rival São Paulo, com R$ 15,5
52milhões.” http://www.clicrbs.com.br/esportes/rs/noticias/futebol,2494161,Com-Ronaldo-Corinthians-chega-a-R-30-milhoes-de-patrocinio.html – acessado em 01º/05/2009.
Esta cifra alcançada pelo Corinthians é a soma dos valores envolvidos
com a renovação do contrato com a Nike, fornecedora oficial, até 2014;
patrocínio principal; patrocínio das mangas; patrocínio dos calções e
patrocínios de oportunidade (como foi o caso da Visa, patrocinando apenas a
partida de estréia do atleta).
O efeito da contratação do jogador em outras áreas do marketing
esportivo do clube também foi imediato. Segundo a Revista Época, a
arrecadação com bilheteria no campeonato paulista de 2009, vencido pelo
Corinthians, cresceu 70% em relação a 2008. Na venda de camisas o aumento
foi de 50% em 2009 em relação a 2008 (praticamente toda a procura é pela
“número 9” com a qual o jogador atua). Sem contar que o licenciamento de
produtos, que não se restringe as camisas oficiais, abrange também um grande
número de itens que vão de todo tipo de peças do vestuário até livros e DVD’s.
Ainda existe o potencial a ser explorado em relação a quadro social, que
é um dos projetos em andamento no departamento de marketing corinthiano,
que pode se apresentar como outra fonte constante e regular de recursos para
montar boas equipes e alcançar as vitórias, que são a razão de ser de toda
equipe esportiva competitiva e é o que espera o torcedor.
Segundo o consultor em marketing esportivo, Amir Somoggi, a
experiência do Corinthians demonstra como os clubes brasileiros podem se
livrar da dependência da negociação de jogadores para o exterior para se
manter financeiramente: "é claro que o Ronaldo é um caso especial, mas os
times devem aprender a construir seus ídolos, como os americanos fazem há
cem anos".
53
CONCLUSÃO
É inegável o potencial econômico do esporte como um todo, e
especialmente o do futebol. Comparando-se com países europeus e os
Estados Unidos, mesmo dadas as proporções econômicas, o Brasil ainda pode
incrementar em muito os já significativos números da indústria do esporte no
país.
No futebol essa realidade não é diferente. Foi observado que o primeiro
passo para o melhor aproveitamento econômico, por parte dos clubes, da força
de suas marcas é uma mudança estrutural na gestão dos mesmos. A
estruturação de um departamento de marketing e a elaboração de objetivos
claros e planejamento para a área surgem como condição básica para que o
trabalho seja desenvolvido.
Quanto ao estudo de caso, acredita-se que a presença de ídolos nos
times funcione efetivamente como importante força para impulsionar o
marketing esportivo do clube, dados os significativos números apresentados
pelo Sport Club Corinthians após a contratação de Ronaldo. Outra questão que
há de se salientar é que um dos principais motivos para o não investimento na
contratação de atletas de renome são os custos para contratação e salários.
Porém, fica evidenciado que a presença de grandes nomes possuem a
capacidade de gerar uma receita que é mais do que suficiente para cobrir estes
custos. É evidente que o caso analisado não pode ser tomado como uma regra
geral, dadas as muitas peculiaridades das partes envolvidas, para a utilização
da imagem do ídolo do marketing esportivo nos clubes de futebol. São
inúmeras variáveis que devem ser levadas em consideração para se medir se o
esforço na área de marketing terá retorno para o clube.
O mais importante é que os clubes estejam atentos as oportunidades
que surgem e que consigam avaliar, objetivamente, o custo e o retorno que a
associação de suas marcas com grandes personalidades do esporte podem
oferecer. Ao desconsiderar essa possibilidade, o clube está correndo o risco de
54desperdiçar uma excelente maneira de tornar a entidade auto-sustentável e
fechando uma porta para o seu próprio crescimento.
55
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Livros
AIDAR, Antonio Carlos Kfouri; LEONCINI, Marvio Pereira; OLIVEIRA (orgs), João José de. A nova gestão do Futebol. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2002. BOONE, Louis E.; KURTZ, David L. Marketing Contemporâneo. S/L, LTC Editora, 1998. CARDIA, Wesley. Marketing e Patrocínio Esportivo. Porto Alegre, Editora Bookman, 2004. COBRA, Marcos Henrique Nogueira. Marketing Básico: uma perspectiva brasileira. São Paulo, Editora Atlas, 1985. COSTA, Lamartine da (org). Atlas do Esporte no Brasil: Atlas do esporte, educação física e atividades físicas de saúde e lazer no Brasil. Rio de Janeiro, Shape Editora, 2005. DAMATTA, Roberto. A bola corre mais que os homens. Rio de Janeiro, Editora Rocco, 2006. KOTLER, Philip; ARMSTRONG, Gary. Introdução ao Marketing. Rio de Janeiro, LTC Editora, 2000. PITTS, Brenda G. & STOLLAR, David K. Fundamentos de Marketing esportivo. São Paulo, Phorte Editora, 2002. RANDAZZO, Sal. A criação de mitos na publicidade: como os publicitários usam o poder do mito e do simbolismo para criar marcas de sucesso. Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1996. VAZ, Gil Nuno. Marketing Institucional: o mercado de idéias e imagens. São Paulo, Editora Pioneira, 1995. Revistas
LENCINA, Paulo; ANTUNES, Pedro. Paixão S/A. In Revista Futlance. Rio de Janeiro, 06/2009, p. 30. Artigos de Jornais ROSEGUINI, Guilherme. Esporte gera dinheiro, mas não ganha atenção. In Jornal Folha de São Paulo. São Paulo, 05/11/2006, p. D8.
56BENCHIMOL, Rodrigo. Na conta do marketing. In Jornal Lance!. Rio de Janeiro, 01º/05/2009, p. 6. Meios Eletrônicos http://www.clicrbs.com.br/esportes/rs/noticias/futebol,2494161,Com-Ronaldo-Corinthians-chega-a-R-30-milhoes-de-patrocinio.html, acessado em 01º/05/2009. http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI66337-15228,00.html, acessado em 01º/05/2009.
http://www.corinthians.com.br/site/, acessado em 20/06/2009. http://www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/futebolnarede/ult868u323678.shtml, acessado em 22/07/2009. http://www.pa.terra.com/tecnologia/interna/0,,OI3283225-EI11422,00.html, acessado em 22/07/2009. http://www.copanobrasil2014.com/2009/04/ronaldo-fenomeno-atacante/, acessado em 22/07/2009.
57
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTOS 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I – O MARKETING: DEFINIÇÃO E SUAS ORIGENS 10
1.1 – Orientação das empresas em relação ao mercado 11
1.2 – A Função do Marketing 13
1.2.1 – Composto de Marketing 13
1.2.2 – O Processo de gestão de marketing 14
1.2.3 – O Ambiente de Marketing 15
1.2.4 – A pesquisa de mercado e comportamento do
consumidor 15
1.2.5 – Segmentação do mercado, identificação do
público-alvo e posicionamento 16
1.3 – Fundamentação do Marketing de Serviços 17
1.3.1 – Características dos serviços 18
CAPÍTULO II – O ESPORTE E A SOCIEDADE 19
2.1 - O futebol: origem e importância econômica e social 22
2.1.1 – O futebol no Brasil 25
2.1.2 – Início e consolidação do profissionalismo no Brasil 28
2.2 - O futebol hoje 29
2.2.1 – Aspectos Econômicos 31
2.3 - Os “Mitos” do futebol 32
58CAPÍTULO III – MARKETING ESPORTIVO: DEFINIÇÃO E ORIGENS 36
3.1 – O Marketing na gestão dos clubes brasileiros de
futebol 37
3.2 – Formas de comercialização do esporte 39
3.2.1 – Patrocínio e Patrocínio Esportivo 39
3.2.1.1 – Categorias de Patrocínio 40
3.2.1.2 – O Patrocínio nos times de futebol 42
3.2.2 – Licenciamento 42
3.2.3 – Merchandising 43
3.2.4 – Bilheteria e Quadro social 44
CAPÍTULO IV - ESTUDO DE CASO: CORINTHIANS / RONALDO 47
4.1 – O ídolo 49
4.3 – A contratação de Ronaldo 50
CONCLUSÃO 53
BIBLIOGRAFIA 55