Upload
hoangtu
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A ARTETERAPIA E A
MANIFESTAÇÃO DO INCONSCIENTE
CRISTINA MOTTA PALHARES
Orientadora
Profa. DAYSE SERRA
Rio de Janeiro
2010
2
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A ARTETERAPIA E A
MANIFESTAÇÃO DO INCONSCIENTE
Apresentação de monograf ia ao Inst i tuto
A Vez do Mestre-Univers idade Cândido
Mendes, como requis ito parc ial para
obtenção do grau de especial is ta em
Arteterapia na Educação e na Saúde.
Aluna: Cr ist ina Motta Palhares*
Matr ícula C205791, Turma: C048.
Rio de Janeiro
2010
• Cr ist ina Motta Palhares, graduada em Nutr ição pela Univers idade do
Estado do Rio de Janeiro em 1977, graduada em Direi to pela Univers idade do Estado do Rio de Janeiro em 1984, Pós-graduada em Direito Processual Civi l pela Escola Super ior de Advocacia/ OAB-RJ, Pós-graduada em Direito e Processo do Trabalho pela Univers idade Cândido Mendes/ Inst i tuto A Vez do Mestre, Pós-graduada em Direito Ambiental pela Univers idade Cândido Mendes/ Inst i tuto A Vez do Mestre, Advogada inscr i ta na OAB/RJ sob n. 61368.
3
3
AGRADECIMENTOS
A todos que não acreditaram em
minha capacidade, em minha atitude
perante a vida, em minha coragem
para lutar e na minha força para
vencer. A todos que, de alguma
forma me subestimaram, porque
devido a eles eu cresci.
Rio de Janeiro
2010
4
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos
que um dia me amaram e aqueles
que ainda me amam, conscientes
de todos os meus defeitos e de
minhas qualidades, porque esta é a
verdadeira forma de amar.
Rio de Janeiro
2010
5
5
RESUMO
O presente trabalho visa esclarecer assuntos polêmicos, uma vez
que a Arteterapia na Educação e na Saúde trata-se de uma
disciplina que possui caráter multidisciplinar. E o conteúdo do
presente trabalho se desenvolve em torno do tema, objetivo
específ ico e hipóteses primária e secundárias; e, a pesquisa foi
realizada em livros e em consultas na internet.
Acontece que, com o novo paradigma surgido por meio do estudo
da f ísica e da mecânica quântica no século XX, tanto a educação
como a psicologia cognitiva e outras disciplinas, sofreram
inf luências deste novo modelo; isto, por estarem interligadas, como
todas as coisas estão interligadas no universo, pois o universo é
um sistema em rede estando tudo interligado, e todas as coisas
são feitas de consciência, a qual pertence a um mundo imaterial,
sendo a consciência um elo entre todas as coisas no universo, o
qual é autoconsciente, isto é, a própria consciência é que cria o
mundo físico.
Desta forma, procuro demonstrar a importância do pós-posit ivismo
na educação, pois com a queda das idéias cartesianas posit ivistas,
que tiveram início no século XVII com o método cartesiano
de investigação, podemos hoje estudar matérias conexas
pelo aparecimento de um novo paradigma denominado
transdisciplinaridade, devido a uma interdependência entre as
disciplinas na educação.
6
6
Assim sendo, procuro ainda demonstrar a importância da conexão
existente entre as duas matérias, psicologia e arte, durante a
conscientização do eu, fato que auxil ia na cura e no processo de
crescimento do eu interior. Isto, porque existe uma interação entre
a arte e a psicologia, uma vez que a manifestação artística no
ser humano é um ref lexo do seu inconsciente, sendo uma atividade
psicológica.
Procuro demonstrar a importância dos materiais expressivos
diversos durante a criação da obra pelo seu criador, os quais
simbolizam o inconsciente pessoal do autor da obra e sua conexão
com o inconsciente coletivo. Procuro demonstrar como o trabalho
com a Arteterapia na Educação e na Saúde facil ita uma
comunicação do mundo interior com o exterior, por meio da arte.
Assim, por meio da prática da Arteterapia na eduacação e na
saúde, teremos a expansão do inconsciente, o que pode gerar uma
nova conscientização do eu, inclusive auxil iando o processo de
cura; além de auxil iar no desbloqueio de aptidões e da criatividade;
isto, porque a Arteterapia é uma prática terapêutica
multidisciplinar que trabalha com as áreas da educação, das artes
plásticas, da saúde, e da psicologia, entre outras; buscando
conscientizar o ser humano das suas potencialidades, descobrindo
novos valores, inclusive trabalhando a sua auto-estima, por meio
de uma linguagem que é a linguagem do inconsciente, segundo a
teoria Junguiana.
Sendo assim, a Arteterapia auxil ia as pessoas na busca e no
encontro com o seu verdadeiro Eu, por meio do
autoconhecimento.
7
7
É muito importante e essencial é que o ser humano adquira
sabedoria de vida para alcançar a sua felicidade e facil itar a
felicidade dos que lhes são próximos. Todavia, para que isso
aconteça, deverá ser l ivre de dogmas, l ivre em seus pensamentos
e atitudes, não se permitindo ser manipulado pelas expectativas
alheias, além de ser consciente dos seus sentimentos e emoções.
O ser humano necessita estar consciente das conseqüências de
suas atitudes, devendo possuir maturidade, auto-estima e amor por
si próprio e f irmeza de caráter, pois, somente assim poderá
compreender e amar o seu semelhante; entretanto, sem deixar
morrer o seu lado criança, que habita em seu eu interior, na sua
essência.
8
8
METODOLOGIA
O presente trabalho foi conduzido a partir das técnicas de estudo
das normas gerais para as mais específ icas. A investigação
científ ica orientou-se pela análise de Princípios e Doutrinas
direcionados a investigação, objeto da pesquisa, sendo o presente
trabalho desenvolvido por meio de pesquisa em livros didáticos,
l ivros não didáticos, ainda, da internet, os quais me auxil iaram na
percepção e conteúdo profundo. niciou-se pela percepção de um
questionamento no conhecimento e formulação de hipóteses, para
chegar a uma conclusão. Partiu do geral normativo e científ ico para
o particular, sendo o trabalho fruto de observações pessoais e
ref lexão sobre o aprendizado.
O desenvolvimento metodológico util izado foi o hipotético-
dedutista, o qual pressupõe que somente a razão é capaz de levar
ao conhecimento verdadeiro. Tal raciocínio tem por objetivo
explicar o conteúdo das premissas, pela análise do geral para o
particular, chegando a uma conclusão; uti l izando o silogismo,
construção lógica para, a partir das premissas e retirar uma
terceira logicamente decorrente das duas primeiras, denominada
de conclusão.
O procedimento metodológico foi estudado em apostilas de
Metodologia da Pesquisa, de autoria da Professora Dra. Maristela
Chicharo de Campos; e, apostila de Didática do Ensino Superior,
da mesma autora; além da apostila “COMO PRODUZIR UMA
MONOGRAFIA” de autoria dos professores LAROSA, Marco
9
9
Antonio e ARDUINI AYRES, Fernando, Rio de Janeiro. 2008.
UCAM.
SUMÁRIO
FOLHA DE ROSTO 002
AGRADECIMENTO 003
DEDICATÓRIA 004
RESUMO 005
METODOLOGIA 008
SUMÁRIO 009
INTRODUÇÃO 011
CAPÍTULO I 019
A IMPORTÂNCIA DO PÓS-POSITIVISMO NA EDUCAÇÃO
10
10
CAPÍTULO II 037
A INTERAÇÃO ENTRE A ARTE E A PSICOLOGIA
CAPÍTULO III 045
A MANIFESTAÇÃO DO INCONSCIENTE PESSOAL E COLETIVO.
CAPÍTULO IV 049
O TRABALHO COM A ARTETERAPIA FACILITA UMA
COMUNICAÇÃO DO MUNDO INTERIOR COM O EXTERIOR, POR
MEIO DA ARTE.
CONCLUSÃO 059
BIBLIOGRAFIA 066
ÍNDICE 069
11
11
INTRODUÇÃO
“ o desenvolvimento da c iência e das
at ividades do espír i to em geral exige,
ainda, outro t ipo de l iberdade que pode
ser caracter izado como l iberdade interna.
Trata-se daquela l iberdade de espír i to
que consiste na independência do
pensamento em face das restr ições de
preconceitos autor i tár ios e sociais, bem
como da rot inização e do hábito ir ref let ido
em geral. Essa l iberdade interna é o raro
dom da natureza e uma val iosa meta para
o indivíduo”.
ALBERT EINSTEIN
Crianças gostam de desenhar, de colorir, de recortar, de colar e de
pintar. Com o passar dos anos algumas reconhecem que possuem
uma aptidão para artes. Entretanto, as artes em geral não servem,
apenas, para passar o tempo ou para formar prof issionais em arte:
servem como terapia, pois o simples “fazer arte” não cura ninguém.
Para haver tratamento a pessoa necessita submeter-se a uma
12
12
terapia com prof issional (psicólogo ou psiquiatra) que possua
formação psicanalista e, que seja especializado em Arteterapia,
isto, porque existe a necessidade de saber como trabalhar com os
materiais expressivos e analisar o inconsciente.
Assim, a aptidão para pintura, para desenho, para música, para
colagem, para costura, e outras artes, é uma forma de adquirir
momentos de paz interior, de equilíbrio emocional e, uma forma de
buscar harmonia. Mas, somente o prof issional especializado em
Arteterapia poderá auxil iar as pessoas a materializar em um
suporte o que se encontra escondido no inconsciente, por meio do
uso adequado dos materiais expressivos.
Entretanto, somente o psicanalista, psicólogo ou psiquiatra, poderá
analisar o signif icado do trabalho realizado, do processo criativo;
isto, porque somente a estes prof issionais cabe esta tarefa, por
estarem legalmente habilitados quando houverem concluído o
curso de formação psicanalít ica. Desta forma, o especialista em
Arteterapia necessita ter formação psicanalít ica para poder
analisar o inconsciente, através da idéia que foi materializada em
um suporte. Necessita ser graduado em psicologia ou medicina
(psiquiatria) e, ainda ter formação psicanalista para poder analisar.
Caso contrário, o curso de Arteterapia servirá, apenas, de um
título de especialização em Arteterapia.
Desta forma, o prof issional com formação psicanalistas e
especializado em Arteterapia na Educação e na Saúde, poderá
analisar e ajudar a quem possui problemas psicológicos e
cognitivos, estando ou não presentes patologias graves, problemas
de ordem emocional, os quais, muitas vezes são derivados de
13
13
traumas psicológicos ou abusos psicológicos sofridos na infância e
ao longo da vida adulta, como, por exemplo: uma criação em um
lar infeliz ou uma criação errônea, uti l izando a arte para tal.
A Arteterapia auxil ia as pessoas a conscientizarem-se do seu
lado das sombras e/ou das feridas emocionais que se encontram
presentes e escondidas, muitas vezes camufladas, dentro do seu
Eu. Assim, por meio da prática da Arteterapia, a verdadeira
essência do ser aparece durante o processo criativo, momento em
que a pessoa inconscientemente exterioriza o que se encontra
escondido em sua alma, no seu inconsciente e, que é materializado
em um suporte qualquer.
Durante o processo criativo, ao termos uma idéia criativa, esta é
materializada em um suporte e, com o surgimento de uma idéia há
a libertação do que está perdido no inconsciente. Desta forma, a
pessoa se liberta do que estava a aprisionando, tornando-se mais
leve, mais l ivre.
Com a prática da Arteterapia a pessoa poderá tornar-se mais
consciente de si mesma e adquirir auto-estima; poderá ver que
possui valor como pessoa, independentemente dos bens materiais
que possui ou de títulos ou notoriedade conquistada; pois admite
que é única como pessoa e reconhece que o seu valor como ser
humano é inestimável.
Assim, com o passar do tempo vai transformando a si mesma,
tornando-se um ser mais completo e mais rico adquirindo uma
auto-estima mais elevada, adquirindo a auto-aceitação dos seus
lados da luz e das sombras; isto é, f icando ciência de seus
14
14
defeitos e de suas qualidades; entretanto, sabendo manter um
equilíbrio entre eles e aceitando a si próprio.
É notório que todos nós necessitamos obter um estado de
equilíbrio emocional, o qual nos é necessário para manter, não
apenas a paz interior, mas, ainda, a saúde, a qual é o bem estar
f ísico, mental, social e espiritual. E, ao alcançarmos o equilíbrio
emocional estaremos aptos a evitar o aparecimento de doenças,
pois aumentaremos a nossa imunidade, inclusive por revitalizarmos
a nossa energia vital.
Todos nós, sem exceção, adquirimos cicatrizes emocionais ao
longo da nossa jornada, cicatrizes que são signif icados de luta,
de força e bravura; entretanto, muitas vezes nos envergonhamos
delas, mesmo não tendo culpa. E, ao nos envergonharmos
delas, tentamos ocultá-las, consciente ou inconscientemente.
Na verdade tentamos escondê-las, maquiá-las ou esquecê-las. Tais
marcas, causadas pelos sofrimentos emocionais são muitas vezes
irreversíveis. Todavia, não apenas sofremos tais dores, mas as
causamos também a terceiros. Mesmo que sem querer, sem termos
a noção de estarmos fazendo sofrer, causamos dores aos demais.
E a partir daí, tentamos nos punir pelo erro cometido, por meio da
autopunição.
Na verdade estamos sempre sangrando e chorando por estarmos
sofrendo as dores que ninguém vê. Necessitamos de amor, de
colo, de carinho, pois estamos fragil izados, com medo, com culpa e
com vergonha, por termos feito sofrer, por termos sofrido e, muitas
vezes, por carregarmos nos ombros o peso da vergonha pelo erro
que não cometemos, mas que terceiros nos impuseram a culpa que
f icou incutida em nossa mente. E, quando isso acontece, nós nos
afastamos da nossa essência, da nossa criança interior e nos
15
15
tornamos pessoas tristes e imaturas, doando o pior de nós aos
demais; isto, porque nos tornamos pessoas rígidas, egoístas,
amargas, irritadiças, cheias de dogmas, engessadas em
preconceitos e em neuroses, sem espontaneidade, sem alegria de
viver, sem risos nos lábios e sem brilho no olhar. Escondemos de
nós mesmos e do mundo o nosso verdadeiro Eu e criamos
mecanismos de defesas, passando a usar máscaras, muitas
máscaras. Assim, passamos a ser pessoas dissimuladas e não
verdadeiras, e, cada vez mais preocupadas com o que somos
esquecendo-nos de quem somos.
Acontece que todos nós queremos uma vida de paz e harmonia,
todos nós queremos uma página em branco para recomeçar. E,
uma vez, possuindo saúde mental e emocional obteremos mais
alegria de viver.
É fato que o desequilíbrio emocional provoca sensações de
incompletude, que são dissociações; estado crônico de sofrimento,
pois a pessoa se distancia da sua essência. Todavia, por meio da
prática da Arteterapia o inconsciente pode ser manifestado, pois
uma das funções da Arteterapia é auxil iar as pessoas a realizar o
resgate da criança interior, ajudando as pessoas a voltar a viver na
luz que irradia alegria e energia vital, as quais estão escondidas no
inconsciente sombrio e frio. E ao reencontrarmos a nossa
essência, ao tomarmos consciência do que está oculto no nosso
inconsciente e, ao conscientizarmo-nos dos nossos mecanismos de
defesas, que util izamos para nos mantermo-nos alienados dos
nossos traumas, dos nossos medos, das nossas vergonhas, das
nossas dores, dos nossos defeitos - nós resgatamos a nossa
vitalidade, pois mudamos para melhor e passamos a dar o melhor
de nosso Eu, porque f icamos em sintonia com o nosso lado da luz
e nos tornamos fortes, com consciência de quem somos e do que
16
16
sentimos. E é por meio do processo criativo a pessoa pode ser
auxil iada a resgatar as partes da personalidade, do self , que um
dia f icaram perdidas no inconsciente.
Desta forma, precisamos mudar a nós mesmos para depois mudar
nossas vidas; e isto se dá por meio do resgate das partes do ego
que f icaram perdidas no inconsciente. Assim, haverá o equilíbrio
emocional, e aparecerão qualidades que estavam latentes durante
a vida, qualidades e aptidões que a própria pessoa não tinha
consciência de possuir, tais como: afetividade, auto-estima,
vitalidade, imaginação, criatividade, espontaneidade, sociabil idade,
inclusive a auto-aceitação, e com ela a alegria de viver. Desta
forma, tornaremos mais rica a nossa vida em signif icados ao ter a
consciência de quem somos e, passaremos a pertencer a nós
mesmos.
Ao livrarmo-nos das partes perdias do ego que carregamos no
inconsciente estaremos aceitando a nós mesmos; pois a negação
nos asf ixia. Isto signif ica que maus sentimentos, maus
pensamentos, más palavras, más atitudes, em f im, tudo de ruim
que está oculto de dentro de nós, nos contamina pela sua
negatividade, nos asf ixia a alma.
As emoções mal resolvidas, quando não manifestadas, se
armazenam no coração do homem causando danos à mente e ao
corpo. Assim sendo, quanto melhor o pensamento, quanto mais
sadios os sentimentos e, quanto mais conscientes as nossas
atitudes, melhores seremos e mais forte f icaremos.
Assim sendo, a Arteterapia nos ajuda no processo da
autodescoberta, aumentando a nossa capacidade de percepção, de
cognição e aptidões, pois uma pessoa consciente de si mesma
17
17
adquire maior percepção da vida e daquilo que não gosta em si
mesma. E, é no lado da sombra é onde guardamos o que não
aceitamos como sendo parte de nós, de nossas vidas.
Guardamos no inconsciente as “tralhas” que queremos esquecer,
como se guardássemos no sótão empoeirado o que queremos
esconder. Escondemos nossas faltas, defeitos, erros,
ressentimentos, ódios, isto, por medo de não sermos aceitos, por
medo de sermos rejeitados por quem somos. Entretanto,
esquecemos que somos seres humanos e nos é impossível não
sentir ódio, raiva, sentimento de vingança, medo, dor, rancor,
inveja. Devemos sim, saber l idar com esses sentimentos e
aprender a ter l imites.
Desta forma, o que necessitamos fazer é manter o equilíbrio,
estabil izar nossas emoções e conscientizarmos de quem somos e
não nos punir por isso ou nos anularmos.
Precisamos ter em mente que não podemos viver reprimindo as
emoções, os sentimentos. Ao contrário, devemos nos colocar,
devemos falar o que queremos e não queremos, porém, sempre
procurando manter o equilíbrio. Assim, tentaremos dar e ser o que
há de melhor em nós.
É necessário sabermos que o desequilíbrio causa problemas na
personalidade e, reprimir ou dissimular nossos sentimentos nos faz
mal, porque reprimir emoções reduz a nossa capacidade de
percepção e isto nos impede de saber l idar com as dif iculdades
que a vida nos impõe; é, quando isso acontece nós adoecemos e
perdemos a nós próprios, porque nos permitimos f icar nas mãos de
terceiros interessados em nos manipular ou de preconceitos,
dogmas e/ou condicionamentos nefastos. Neste caso não
18
18
saberemos viver e enfrentar nossas dif iculdades e poderemos nos
tornar pessoas neuróticas e infelizes, criando nossas próprias
prisões e jogando as chaves fora. E, uma vez neurótico, diante das
mais simples dif iculdades que a vida apresenta, não saberemos
tomar atitudes, enfrentar obstáculos; mas saberemos sim,
transferir nossas limitações e defeitos a terceiros pelos nossos
fracassos, pelos nossos erros, pois não aceitaremos a nós próprios
como seres passíveis de falhas e erros, pois não aprendemos a ter
responsabilidades sobre nossos atos, por nós mesmos e por
nossas atitudes; e, ainda, não sabemos lidar com o sentimento de
frustração.
É bom lembrar que, com a conscientização de si mesmo, o homem
passou a ser diferente do homem primitivo. A falta de
conscientização de nós mesmos leva a distorção dos fatos, o que
ocasiona a patologia. Desta forma, a conscientização dos nossos
sentimentos e limitações é pré-requisito para obtenção e pela
manutenção de saúde mental e emocional. E, enquanto não ocorrer
esta conscientização, a pessoa estará imatura ou até mesmo
doente psicologicamente, perdendo assim a sua autonomia e
capacidade de emancipação.
A falta de conscientização faz f icarmos doentes da alma, nos
permite aprisionarmos a nós próprios.
19
19
CAPÍTULO I
A IMPORTÂNCIA DO PÓS-POSITIVISMO NA EDUCAÇÃO
“O desenvolvimento da capacidade geral de
pensamento e julgamento independentes deve
ser sempre colocado em pr imeiro plano, e
não a aquis ição de conhecimentos
específ icos. Quando uma pessoa domina os
fundamentos de sua disc ipl ina e aprendeu a
pensar e trabalhar independentemente, por
certo haverá de encontrar seu caminho e,
além disso, será mais capaz de se adaptar ao
progresso e as mudanças do que outro, cujo
aprendizado tenha consist ido sobre tudo, na
aquis ição de conhecimentos detalhados”.
ALBERT EINSTEIN
Com a ajuda do prof issional especializado em Arteterapia,
juntamente com o psicanalista, psicólogo e/ou psiquiatra, poderá
ocorrer o despertar da consciência, trazendo de volta do
inconsciente para o consciente as partes do self que estavam
perdidas. E é neste momento que a pessoa deixa de se sentir o
vazio interior e a sensação de estar incompleta, pois passa a
superar os sofrimentos e as dores que um dia sofreu, pois a
Arteterapia auxil ia no processo de conscientização de quem
somos.
20
20
Feliz ou infelizmente vivemos em sociedade e, o homem é um
animal polít ico, necessitando viver em convívio com os demais.
Entretanto, existe um probleminha: desde pequenos absorvemos,
direta ou indiretamente, mensagens, preconceitos e idéias
distorcidas, crenças errôneas sobre assuntos diversos, tais como
sexo, religião, amor, ética, princípios, valores, educação e saúde,
entre outros. Assim, desde a nossa infância somos bombardeados
constantemente com informações errôneas e sofremos cobranças
por meio de exigências, sem que tenhamos a conscientização de
que muitas delas não nos são simpáticas ou são verdadeiras. E,
a educação é fundamental ao desenvolvimento da humanidade.
Entretanto, o antigo modelo de ensino que era util izado no século
XIX sofreu algumas modif icações e, supostamente, ainda
continuará sofrendo, para melhor; isto, pela mudança ocorrida na
f ísica.
Na antiguidade idéia de objetividade fazia que os objetos de
estudo fossem estudados independentemente, pois o Princípio da
época era o Princípio da Objetividade Forte. Durante o século XVIII
surgiu o Princípio do Determinismo Causal, onde todo movimento
poderia ser previamente previsto, isto, por causa das leis do
movimento e das condições iniciais em que se encontravam os
objetos, e da velocidade com que se deslocavam – era a visão
cartesiana do mundo.
Assim, podemos ver que a f ísica clássica baseava-se em dois
princípios rígidos e fundamentais, que eram o Princípio da
Objetividade Forte e o Princípio do Determinismo. Mas, a
passagem do século XIX para o século XX, foi um período de
grandes descobertas no campo das ciências e das artes, e a f ísica
21
21
passou da f ísica clássica para Física Moderna, com a Teoria da
Relatividade e com a Mecânica Quântica, que foram teorias novas
que levaram ao rompimento com os antigos conceitos cartesianos
da f ísica clássica, os quais passaram a ser reformulados e
adaptados às novas descobertas.
Acontece que Einstein, Albert* defendeu a Teoria da Relatividade
Com o Princípio da Relatividade foi visto que o tempo é relativo,
não podendo ser medido por relógios; foi visto que a massa do
corpo depende da sua velocidade e, que a velocidade da luz é
constante para todos os observadores.
O Princípio da Relatividade Geral introduziu o Princípio da
Equivalência, e com ele a descoberta dos “buracos negros”, que é
uma região de forte curvatura do espaço-tempo, que possui
gravidade muito forte; que aparece em núcleos de galáxias e ao
redor de velhas estrelas. A Teoria da Relatividade inf luenciou não
apenas a f ísica, mas outras disciplinas, inclusive a f i losof ia do
século XX, inf luência esta que foi explicada por psicólogos,
antropólogos e lingüistas. Assim, houve o desenvolvimento do
relativismo cultural, por inf luência do pensamento moderno, uma
vez que a Teoria da Relatividade apóia a idéia de que “tudo é
relativo no universo” e, de que “nada é absoluto”, divergindo do
que af irmava o relativismo extremado.
*Einstein, Albert, nascido em 14 de março de 1879 e falecido em
18 de abril de 1955, alemão, de família judaica, radicado nos
Estados Unidos da América do Norte, f ísico teórico,
(Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Einstein).
22
22
O Princípio da Relatividade ratif ica o caráter universal das leis da
natureza, que independe do movimento ou da posição onde se
encontra o observador. Af irma a unidade da razão humana, que
reconhece essas leis por trás da diversidade de fenômenos vistos
por diferentes observadores. Desta forma, o mundo moderno teve
início com o eclipse solar no dia 29 de maio de 1919, dando início
à crença de que não existia mais tempo e, nem espaços absolutos
e não existiria mais dualismos, tais como “o bem e o mal”, nem
crenças e valores dualistas.
Com a evolução da f ísica, deu margem para a evolução de outras
disciplinas conexas e foi comprovado que o homem não deve,
apenas, aprender e se f ixar em uma determinada especialidade,
pois, com o tempo f icará engessado e fossil izado dentro desta
especialidade e perderá o contato com o mundo e a realidade
atual. Assim sendo, deverá estudar outras disciplinas conexas, a
f im de manter-se sempre atualizado, a f im de não tornar-se um
robô.
Atualmente, temos a noção que tudo no universo encontra-se
interligado, que este é um sistema em forma de rede e, quando
afetamos a um ponto, todo o resto é afetado também. Assim, por
exemplo, as escolas posit ivistas e marxista, as quais defendiam
uma f i losof ia que não abria espaço para metafísica e/ou para a
religião, atualmente fazem parte de uma época
do passado, pois foram ultrapassadas pelo no paradigma do século
XX, quando a prática da ciência provou o contrário; isto, porque
a visão da transdisciplinaridade levou ao processo de estudo de
qualquer assunto, havendo a compreensão de outro assunto, em
23
23
qualquer nível de aprendizado, devido à interdependência e
coerência que existe entre as disciplinas.
Hoje, o método de ensino util izado no século XIX não contribui
mais, pois teve seu começo, meio e f im, uma vez que não podemos
mais separar as disciplinas em “caixas” isoladas e realizar estudos
sem interagir com outras matérias, como se estas estivessem em
outros mundos não correlatos.
A mudança na educação deve-se ao avanço da f ísica. A antiga
f ísica clássica, a qual era cartesiana, supunha que a matéria, e
apenas a matéria, era a realidade, por ser sentida, tocada, e
composta por átomos. Assim sendo, a visão limitada daquela
época era uma visão dual, a qual dividia a realidade em matéria
propriamente dita e mente – era a época da f i losof ia dualista
cartesiana do posit ivismo.
Pelo pensamento posit ivista daquela época, o que não pudesse ser
visto ou tocado não poderia existir. Desta forma, a consciência não
poderia existir, uma vez que para concepção daquela época a
única realidade era a matéria.
A visão da f i losof ia materialista teve seu lado posit ivo em uma
determinada etapa da evolução da humanidade, cuja visão da
f ísica clássica era descrita como “realismo materialista”. Todavia,
como a evolução acontece, pois tudo é passível de evolução, a
f ísica clássica foi formalmente substituída por uma nova física,
denominada de Física Quântica. Assim sendo, é notório que há
grande importância do pós-posit ivismo na educação, pois com a
queda das idéias cartesianas podemos hoje estudar matérias
correlatas pelo aparecimento de um novo paradigma chamado
transdisciplinaridade, devido a uma interdependência entre as
24
24
disciplinas na educação. Assim na visão do mundo atual, o pref ixo
“trans” designa “aquilo que se encontra no mesmo tempo entre as
disciplinas”. Desta forma, a transformação produzida pela lógica
quântica, modif icou a lógica clássica, pois, a lógica atual exige
mais do que a capacidade intelectual lógica e raciocínio analít ico;
isto, porque, para ter conhecimento é necessário, ainda, ensinar e
aprender a criar pensamentos e, a abrir seus próprios caminhos
pelo trabalho criativo. Desta maneira, a nova educação exige
escolhas conscientes e deve ter por objetivo a formação integral do
ser humano.
Com o surgimento da transdisciplinaridade não podemos ser
rotulados de “estar invadindo em outras áreas”, em outras
disciplinas nas quais não somos graduados, pois todas as
disciplinas estão interligadas; e, a sua prática signif ica a
metodologia transdisciplinar, através de um conjunto de métodos
adaptados a cada situação específ ica., nos permitindo considerar
uma realidade multidimensional, estruturada em muitos níveis.
Todavia, no antigo pensamento clássico, posit ivista e cartesiano,
isso não seria admitido, pois a transdisciplinaridade seria visto
como um verdadeiro absurdo, uma vez que para seus adeptos
aqueles espaços entre as disciplinas estariam sempre vazios.
Entretanto, a transdisciplinaridade constatou que o espaço entre
as disciplinas está repleto de potencialidades e a
transdisciplinaridade se interessa pela dinâmica gerada pela
ação de vários níveis de realidade ao mesmo tempo, o que passa
pelo conhecimento disciplinar.
A partir daí, entende-se que são três os pilares da
transdisciplinaridade, que determinam a metodologia da pesquisa
transdisciplinar. São eles: a) os níveis de realidade; b) a lógica do
25
25
terceiro incluído e, c) a complexidade. Entretanto, existe uma única
ciência que satisfaz inteiramente e integralmente esses três
postulados acima – que é a Física.
O novo Princípio da Relatividade emerge da existência entre a
pluralidade complexa e a unidade aberta. Somos capazes de
compreender todos os outros níveis da realidade que existem ao
mesmo tempo – coexistência entre a pluraridade complexa e a
unidade aberta. Desta forma, houve uma modif icação na forma de
ensinar e de aprender, pois as disciplinas são estudadas por uma
outra perspectiva, porque a visão transdisciplinar é
multireferencial. A pluraridade complexa das culturas e a unidade
aberta do transcultural, ambas, convivem na visão transdisciplinar,
pois são diferentes facetas do ser humano.
A linguagem transcultural permite o diálogo entre todas as
culturas e impede sua homogeinização. Assim sendo, a
transdisciplinaridade engloba e transcende o que passa por
todas as disciplinas e, o que está presente em todas elas,
buscando encontrar seus pontos de interseção em um vetor
comum. A palavra “transdisciplinaridade” foi usada pela primeira
vez e, 1970 por PIAGET*, considerado o maior expoente do estudo
do desenvolvimento cognitivo, havendo se dedicado ao estudo da
biologia, psicologia, epistemologia e educação, foi professor da
Universidade de Genebra de 1929 até 1954, e escreveu mais de
cinquenta livros; quando, em um colóquio sobre
interdisciplinaridade.
*PIAGET, Sir Jean Will iam Fritz, suíço, epistemólogo nascido em 9
de agosto de 1896 em Genebra e, falecido em 16 de setembro de
1980. . (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Piaget ).
26
26
PIAGET disse: ...” esta etapa deverá posteriormente ser sucedida
por uma etapa superior transdisciplinar”, sendo um modo de
conhecimento, uma compreensão de processos, uma ampliação da
visão do mundo, uma nova atitude de ser e diante do saber. É a
assimilação de uma cultura, é uma arte, no sentido da capacidade
de articular
CARTA DE TRANSDISCIPLINARIDADE*
Esta carta foi adotada no Primeiro Congresso Mundial da
Transdisciplinaridade, Convento de Arrábia 2 a 6 de novembro de
1994.
Preâmbulo
Considerando que a proliferação atual das disciplinas acadêmicas
conduz a um crescimento exponencial do saber que torna
impossível qualquer olhar global do ser humano;
Considerando que somente uma inteligência que se dá conta da
dimensão planetária dos conflitos atuais poderá fazer frente à
complexidade de nosso mundo e ao desafio contemporâneo de
autodestruição material e espiritual de nossa espécie;
Considerando que a vida está fortemente ameaçada por uma
tecnociência triunfante que obedece apenas à lógica assustadora
da ef icácia pela ef icácia;
27
27
Considerando que a ruptura contemporânea entre um saber cada
vez mais acumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido
leva à ascensão de um novo obscurantismo, cujas conseqüências
sobre o plano individual e social são incalculáveis;
Considerando que o crescimento do saber, sem precedentes na
história, aumenta a desigualdade entre seus detentores e os que
são desprovidos dele, engendrando assim desigualdades
crescentes no seio dos povos e entre as nações do planeta;
Considerando simultaneamente que todos os desafios enunciados
possuem sua contrapartida de esperança e que o crescimento
extraordinário do saber pode conduzir a uma mutação comparável
à evolução dos humanóides à espécie humana;
Considerando o que precede, os participantes do Primeiro
Congresso Mundial de Transdisciplinaridade (Convento de
Arrábida, Portugal 2 - 7 de novembro de 1994) adotaram o
presente Protocolo entendido como um conjunto de princípios
fundamentais da comunidade de espíritos transdisciplinares,
constituindo um contrato moral que todo signatário deste Protocolo
faz consigo mesmo, sem qualquer pressão jurídica e institucional.
Artigo 1:
Qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma mera definição e
de dissolvê-lo nas estruturas formais, sejam elas quais forem, é
incompatível com a visão transdisciplinar.
28
28
Artigo 2:
O reconhecimento da existência de diferentes níveis de realidade,
regidos por lógicas diferentes é inerente à atitude transdisciplinar.
Qualquer tentativa de reduzir a realidade a um único nível regido
por uma única lógica não se situa no campo da
transdisciplinaridade.
Artigo 3:
A transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar:
faz emergir da confrontação das disciplinas dados novos que as
articulam entre si; oferece-nos uma nova visão da natureza e da
realidade. A transdisciplinaridade não procura o domínio sobre as
várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que
as atravessa e as ultrapassa.
Artigo 4:
O ponto de sustentação da transdisciplinaridade reside na
unif icação semântica e operativa das acepções através e além das
disciplinas. Ela pressupõe uma racionalidade aberta por um novo
olhar, sobre a relatividade definição e das noções de ““def inição” e
"objetividade”. O formalismo excessivo, a rigidez das definições e o
absolutismo da objetividade comportando a exclusão do sujeito
levam ao empobrecimento”.
29
29
Artigo 5:
A visão transdisciplinar está resolutamente aberta na medida em
que ela ultrapassa o domínio das ciências exatas por seu diálogo e
sua reconcil iação não somente com as ciências humanas mas
também com a arte, a l iteratura, a poesia e a experiência
espiritual.
Artigo 6:
Com a relação à interdisciplinaridade e à multidisciplinaridade, a
transdisciplinaridade é multidimensional. Levando em conta as
concepções do tempo e da história, a transdisciplinaridade não
exclui a existência de um horizonte trans-histórico.
Artigo 7:
A transdisciplinaridade não constitui uma nova religião, uma nova
f i losof ia, uma nova metafísica ou uma ciência das ciências.
Artigo 8:
A dignidade do ser humano é também de ordem cósmica e
planetária. O surgimento do ser humano sobre a Terra é uma das
etapas da história do Universo. O reconhecimento da Terra como
pátria é um dos imperativos da transdisciplinaridade. Todo ser
humano tem direito a uma nacionalidade, mas, a título de habitante
da Terra, é ao mesmo tempo um ser transnacional. O
reconhecimento pelo direito internacional de um pertencer duplo -
a uma nação e à Terra - constitui uma das metas da pesquisa
transdisciplinar.
30
30
Artigo 9:
A transdisciplinaridade conduz a uma atitude aberta com respeito
aos mitos, às religiões e àqueles que os respeitam em um espírito
transdisciplinar.
Artigo 10:
Não existe um lugar cultural privilegiado de onde se possam julgar
as outras culturas. O movimento transdisciplinar é em si
transcultural.
Artigo 11:
Uma educação autêntica não pode privilegiar a abstração no
conhecimento. Deve ensinar a contextualizar, concretizar e
globalizar. A educação transdisciplinar reavalia o papel da intuição,
da imaginação, da sensibil idade e do corpo na transmissão dos
conhecimentos.
Artigo 12:
A elaboração de uma economia transdisciplinar é fundada sobre o
postulado de que a economia deve estar a serviço do ser humano e
não o inverso.
Artigo 13:
A ética transdisciplinar recusa toda atitude que recusa o diálogo e
a discussão, seja qual for sua origem - de ordem ideológica,
31
31
científ ica, religiosa, econômica, polít ica ou f i losóf ica. O saber
comparti lhado deverá conduzir a uma compreensão comparti lhada
baseada no respeito absolutodas diferenças entre os seres, unidos
pela vida comum sobre uma única e mesma Terra.
Artigo 14:
Rigor, abertura e tolerância são características fundamentais da
atitude e da visão transdisciplinar. O rigor na argumentação, que
leva em conta todos os dados, é a barreira às possíveis distorções.
A abertura comporta a aceitação do desconhecido, do inesperado e
do imprevisível. A tolerância é o reconhecimento do direito às
idéias e verdades contrárias às nossas.
Artigo f inal:
A presente Carta Transdisciplinar foi adotada pelos participantes
do Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, que
visam apenas à autoridade de seu trabalho e de sua atividade.
Segundo os processos a serem definidos de acordo com os
espíritos transdisciplinares de todos os países, o Protocolo
permanecerá aberto à assinatura de todo ser humano interessado
em medidas progressistas de ordem nacional, internacional para
aplicação de seus artigos na vida.
*Convento de Arrábida, 6 de novembro de 1994 Comitê de
Redação Lima de Freitas, Edgar Morine Basarab Nicolescu. Fonte:
Educação e Transdisciplinaridade. V. II São Paulo: Triom, 2002.
32
32
DECLARAÇÃO DE VENEZA*
Comunicado f inal do Colóquio
A CIÊNCIA DIANTE DAS FRONTEIRAS DO CONHECIMENTO
Veneza, 7 de março de 1986
Os participantes do colóquio "A Ciência Diante das Fronteiras do
Conhecimento", organizado pela UNESCO, com a colaboração da
Fundação Giorgio Cini (Veneza, 3-7 de março de 1986), animados
pôr um espírito de abertura e de questionamento dos valores de
nosso tempo, f icaram de acordo sobre os seguintes pontos:
1. Somos testemunhas de uma revolução muito importante no
domínio da ciência, provocada pela ciência fundamental (em
particular a f ísica e a biologia), devido a transformação que
ela traz à lógica, à epistemologia e também, através das
aplicações tecnológicas, à vida de todos os dias. Mas,
constatamos, ao mesmo tempo, a existência de uma
importante defasagem entre a nova visão do mundo que
emerge do estudo dos sistemas naturais e os valores que
ainda predominam na f i losof ia, nas ciências do homem e na
vida da sociedade moderna. Pois estes valores baseiam-se
em grande parte no determinismo mecanicista, no posit ivismo
ou no nii l ismo. Sentimos esta defasagem como fortemente
nociva e portadora de grandes ameaças de destruição de
nossa espécie.
33
33
2. O conhecimento científ ico, devido a seu próprio movimento
interno, chegou aos limites onde pode começar o diálogo com
outras formas de conhecimento. Neste sentido, reconhecendo
os diferenças fundamentais entre a ciência e a tradição,
constatamos não sua oposição mas sua complementaridade.
O encontro inesperado e enriquecedor entre a ciência e as
diferentes tradições do mundo permite pensar no
aparecimento de uma nova visão da humanidade, até mesmo
num novo racionalismo, que poderia levar a uma nova
perspectiva metafísica.
3. Recusando qualquer projeto globalizante, qualquer sistema
fechado de pensamento, qualquer nova utopia,
reconhecemos ao mesmo tempo a urgência de uma procura
verdadeiramente transdisciplinar, de uma troca dinâmica
entre as ciências "exatas", as ciências "humanas", a arte e a
tradição. Pode-se dizer que este enfoque transdisciplinar
está inscrito em nosso próprio cérebro, pela interação
dinâmica entre seus dois hemisférios. O estudo conjunto da
natureza e do imaginário, do universo e do homem, poderia
assim nos aproximar mais do real e nos permitir enfrentar
melhor os diferentes desafios de nossa época.
4. O ensino convencional da ciência, pôr uma apresentação
linear dos conhecimentos, dissimula a ruptura entre a ciência
contemporânea e as visões anteriores do mundo.
Reconhecemos a urgência da busca de novos métodos de
educação que levem em conta os avanços da ciência, que
agora se harmonizam com as grandes tradições culturais,
cuja preservação e estudo aprofundado parecem
34
34
fundamentais. A UNESCO seria a organização apropriada
para promover tais idéias.
5. Os desafios de nossa época: o desafio da autodestruição de
nossa espécie, o desafio da informática, o desafio da
genética, etc., mostram de uma maneira nova a
responsabilidade social dos cientistas no que diz respeito à
iniciativa e à aplicação da pesquisa. Se os cientistas não
podem decidir sobre a aplicação da pesquisa, se não podem
decidir sobre a aplicação de suas próprias descobertas, eles
não devem assistir passivamente à aplicação cega destas
descobertas. Em nossa opinião, a amplidão dos desaf ios
contemporâneos exige, por um lado, a informação rigorosa e
permanente da opinião pública e, por outro lado, a criação de
organismos de orientação e até de decisão de natureza pluri
e transdisciplinar.
6. Expressamos a esperança que a UNESCO dê prosseguimento a esta
iniciativa, estimulando uma reflexão dirigida para a universalidade e a
transdisciplinaridade.
Signatários :
D.A. Akyeampong ( Gana ) Avishai Margalit ( Israel )
Ubiratan d'Ambrosio ( Brasil ) Yujiro Nakamura ( Japão )
René Berger ( Suiça ) Basarab Nicolescu ( França )
Nicolo Dallaporta ( Itália ) David Ottoson ( Suécia )
35
35
Jean Dausset ( França )
Prêmio Nobel de Fisiologia e de
Medicina
Abdus Salam ( Paquistão )
Prêmio Nobel de Física
Maitreyi Devi ( India ) Rupert Sheldrake ( Reino Unido
)
Gilbert Durand ( França ) Henry Stapp ( Estados Unidos
da América )
Santiago Genovès ( México ) David Suzuki ( Canadá )
Susantha Goonatilake ( Sri Lanka )
Observadores que intervieram: Michel Random (França) e
Jacques Richardson (França- Estados Unidos da América).
Assim, constata-se que, atualmente, com o Pós-posit ivismo e com
a Globalização, a transdisciplinaridade englobou e transcendeu o
que passa por todas as disciplinas, reconhecendo o desconhecido
e o inesgotável que estão presentes em todas elas. A
Transdisciplinaridade procura buscar um ponto em comum de
interseção entre elas.
*Convento de Arrábida, 6 de novembro de 1994 Comitê de
Redação Lima de Freitas, Edgar Morine Basarab Nicolescu. Fonte:
Educação e Transdisciplinaridade. V. II São Paulo: Triom, 2002.
36
36
A palavra Transdisciplinaridade* foi usada pela primeira vez
em 1979 por , quando PIAGET, em um colóquio
sobre interdisciplinaridade, quando preveu que tal etapa
seria posteriormente sucedida por outra etapa superior
e transdisciplinar, segundo a transdisciplinaridade
multidimensional, sendo levado em conta as concepções do tempo
e da história; sendo que o ponto de sustentação
da trasdisciplinaridade reside na unif icação semântica e
operativa das acepções através das disciplinas. Segundo os
autores, acima citados, a transdisciplinaridade pressupõe uma
racionalidade aberta por um novo olhar, sobre a relatividade da
definição e das noções de definição e objetividade, sendo que a
nova hermenêutica é uma interpretação não tradicional, a qual
atualmente desaparece para dar lugar à outra razão ontológica da
criação de direito pelo intérprete autêntico. Assim concluí-se que a
aplicação da nova hermenêutica é benéfica à sociedade, uma vez
que qualquer exposição de matéria que se afasta do posit ivismo
legalista, o qual erroneamente supunha a disciplina como um
sistema fechado e não admitia exceções. A educação deve ser
adequada à realidade social. Assim, deve-se adequar a ef icácia da
educação às exigências e momentos sociais do pós-posit ivismo.
*NICOLESCU, Basarab; PINEAU, Gastón; MATURANA, Humberto;
RONDOM, Michel; TAYLOR, PAUL – Educação e
transdisciplinaridade. Editora UNESCO.SP.1999.
37
37
CAPÍTULO II
A INTERAÇÃO ENTRE A ARTE E A PSICOLOGIA
“A arte oferece sat is fações culturais e,
por esse motivo, ela serve, como
nenhuma outra coisa, para reconci l iar o
homem com os sacr i f íc ios que tem de
fazer em benef íc io da c ivi l ização, de que
toda unidade cultural carece tanto,
proporcionando uma ocasião para a
part i lha de exper iências emocionais
altamente valor izadas. E quando essas
cr iações retratam as real izações de sua
cultura específ ica e lhe trazem a mente
os ideais dela de maneira impressiva,
contr ibuem também para sua sat is fação
narcís ica”.
SIGMUND FREUD
É na infância que aprendemos a obedecer, na maioria das vezes
por medo e, sem questionar o que nos é imposto, isto, mesmo que
ocorra contra a nossa vontade. Deixamos que isto nos aconteça
por vários motivos e a aceitação é um deles, inclusive para sermos
aceitos pela família, pelos amigos, no local de trabalho, isto é,
pelo grupo social em geral.
38
38
E assim, em conseqüência disso, com o passar do tempo
aprendemos a reprimir nossas emoções e a escondê-las, a f im de
agradar às expectativas alheias. Desta forma, deixamos de
expressar nossas verdades a f im de “aceitar” como verdadeiras as
“verdades” alheias.
Acontece que, aos poucos, acabamos esquecendo de quem
realmente somos e de como assumir nossas responsabilidades
pelas nossas atitudes, pois f icamos em um estado de
inconsciência, de medo e de insegurança crônicos, devido à
sensação de impotência que vai gerando a sensação de
inferioridade, que se agrava em uma baixa auto-estima.
É na infância, na época em que somos frágeis e ingênuos, quando
somos severamente abusados, isto é, crit icados, cobrados de
forma amedrontadora, rotulados, diminuídos, muitas vezes
sofrendo verdadeiras torturas emocionais constantemente,
inclusive dentro do lar, na escola, entre amiguinhos, no clube, no
grupo social.
Este quadro se agrava quando a educação é severa e rígida,
porque amedronta a criança, tornando-a tímida, triste, temerosa e
apática diante da vida; caso em que, mais tarde, certamente
f icará insegura de suas próprias capacidades, pois terá,
permanentemente, uma eterna sensação de culpa por tudo que
acontece em sua jornada; culpa esta, que f icará acumulada no
inconsciente pessoal, podendo tornar-se uma neurose.
Assim sendo, para defender-se, o futuro adulto poderá fazer uso
de mecanismos de defesas, tais como transferência desta suposta
“culpa” que sente e o incomoda, para terceiros, com o intuito de
livrar-se da sensação de mal estar ou cobrança e, a f im de aliviar
39
39
o seu conflito interno; pois existe um fórum íntimo acusador, uma
auto-acusação constante em seu inconsciente, a qual não lhe dá
paz. Desta forma, por meio de uma educação errônea, essas
crianças são manipuladas pelo medo, pela culpa e pela vergonha
pelos seus atos e comportamentos que, na maioria das vezes, não
cometeram.
E, em consequência, poderão desenvolver psicopatologias e
tornar-se pessoas rígidas, crít icas, intransigentes, dogmáticas que
repetirão o mesmo erro educacional de que foram vít imas.
Poderão, ainda, se tornar pessoas de dif ícil adaptação às
mudanças e a imprevistos, e adquirirem características anti-sociais
e não aceitar as diferenças, não admitir a l iberdade de ser
diferente, uma vez que nunca tiveram tal l iberdade. Poderão
tornar-se pessoas desagradáveis, irritadiças, e com medo, muito
medo do diferente, do desconhecido, da liberdade de ser. Assim,
aprisionam a si próprios a f im de sentirem-se seguros, mesmo que
seja uma falsa sensação de segurança – se iludem; além de
tentarem aprisionar os seus semelhantes.
Em outros casos, quando houver uma predisposição à psicose,
poderão adoecer saindo da realidade por esta ser cruel demais
para eles.
É verdade que todos nós possuímos problemas de ordem
emocional e mecanismos de defesas, como a fuga; mas o perigo é
quando não sabemos identif icar o problema e solucioná-lo. Por
isso, é sadio que tenhamos consciência do nosso valor como
pessoa e adquirir autoconfiança e, somente com uma
aprendizagem consciente é que poderemos estar aptos para
enfrentar a vida e os obstáculos. E, para sermos fortes
necessitamos ser aceitos por nós mesmos, possuir amor próprio,
40
40
não ter a necessidade de agradar a terceiros, mas a nós mesmos.
E, a Arteterapia nos auxil ia a expandir a nossa consciência por
meio do aprendizado, pelo seu caráter educativo e pelo seu caráter
curativo. Isto acontece durante o processo criativo, ainda que a um
nível inconsciente.
Entretanto, é importante frisar que o que interessa à Arteterapia é
o processo criativo e o material expressivo que é escolhido no
momento da criação, não a obra; pois o resultado f inal do
processo criativo – a obra – esta, poderá ser objeto do direito
autoral, ou das galerias de arte, mas não da Arteterapia.
A importância do processo criativo deve-se ao fato dele possibil itar
a mudança em nosso nível de consciência pessoal, por meio do
aprendizado, e na ampliação da nossa visão do mundo exterior e
do nosso mundo interior.
Uma vez fortalecida, ao adquirir a percepção dos fatos e
sentimentos, a pessoa rompe com antigos dogmas que antes a
aprisionava, f icando livre para expor seu eu sob a forma de
poemas, desenhos, música, pintura, colagem e outros; isto, sem
culpas, sem medo e sem vergonha, externado seu inconsciente
pessoal, juntamente com a idéia materializada em um suporte
qualquer.
Assim, a pessoa se reeduca e transforma antigos hábitos mentais
em outros mais novos e sadios, transformando suas atitudes,
enriquecendo seu eu interior, transformará, também, a maneira
como os outros a vêm. Desta forma, poderá descobrir que possui
aptidões que, até aquele momento estavam latentes em seu
interior; e novos valores, capacitando-se para expandir a
consciência por meio do contato com a sua criança interior, que se
41
41
encontrava perdida em seu inconsciente, engessada e
amordaçada. Assim, conclui-se que, a arte oferece meios de
obtenção uma satisfação interna, por meio da criação, trazendo
para o consciente o que está oculto no inconsciente, l ibertando
nosso eu interior.
Assim sendo, pela f i losof ia monista, o consciente é considerada
uma realidade, devendo ser encarada em primeiro plano em face
da matéria. Ela postula que tudo existe no universo deve-se à
consciência e sofre a inf luencia dela – inclusive a matéria. Desta
forma, conclui-se que a realidade da matéria vem em segundo
plano, pois em primeiro plano encontra-se a consciência, segundo
a visão da f ísica quântica, pois o universo é auto-consciente.
Todavia, para a f i losof ia materialista a consciência era
simplesmente uma propriedade do cérebro, o qual era visto como
uma máquina. Porém, acontece que a nossa mente possui
fenômenos criativos e de autoconsciência, estando o self em
harmonia com o universo, segundo a f i losof ia monista. Desta
forma, o materialismo dá lugar ao idealismo, onde a consciência é
a fonte geradora, onde o nosso self organiza o nosso mundo.
Assim, a nova educação, com o novo paradigma da
transdisciplinaridade, a psicologia separou-se da f ísica clássica
cartesiana e materialista, a qual se baseava no realismo, dando
lugar para um novo olhar. O avanço da f ísica nos trouxe a f ísica
quântica, com a f i losof ia idealista da consciência, juntamente com
o conhecimento do self em um nível profundo.
O novo Princípio da Relatividade surgiu da coexistência entre a
pluralidade complexa e a unidade aberta; desta forma, nenhum
nível de realidade pode ser considerado um lugar privilegiado, uma
42
42
verdade absoluta, a partir da qual poderemos assimilar outros
níveis da realidade. Isto, porque tudo é relativo no universo e nada
é absoluto – assim, não existem verdades absolutas.
É fato que existe uma interação entre a arte e a psicologia, pois a
arte, ao ser manifesta durante o processo criativo, é uma atividade
psicológica que poderá vir a ser objeto de estudo da psicologia.
É, é o processo criativo, a fase da criação, que interessa a
psicologia e, não o produto f inal da criação, o qual é a obra; pois a
obra, independentemente desta ser obra de arte ou não.
Para a psicologia não importa se o resultado f inal da criação – a
obra; não importa se a obra é feia ou bonita ao olhar. O que
realmente é o processo psicológico ocorrido durante a criação,
uma vez que a criação está relacionada com a vida subjetiva do
criador da obra; pois o que está oculto e armazenado no
inconsciente do autor, durante o processo criativo é projetado para
fora, sendo materializado em um suporte qualquer, “falando” um
pouco da personalidade criador.
A criação pode, posteriormente, ser analisada por um psicanalista
psicólogo ou psiquiatra, que tenha formação psicanalista; isto,
porque a pintura, o poema, a música, em f im, a idéia materializada
em um suporte revela a maneira pessoal de cada pessoa se
colocar perante o mundo e perante si mesma, expressando o
estado psicológico do criador, o que facil ita na diagnose.
Pela Arteterapia há a liberação do que encontra-se reprimido
no id. Um exemplo típico de repressão inconsciente é o do
neurótico, o qual reprime o seu lado das sombras, lado não
aceito por ele e que foi armazenado em seu inconsciente.
43
43
O armazenamento pode ser de fatos, de defeitos, de traumas, de
sentimentos, todos indesejáveis. Desta forma, o neurótico fabrica
fantasias e adquire distúrbios orgânicos e/ou psicológicos, que são
sintomas (não a causa), mal-estar interior causado pelo conteúdo
das sombras que foi rejeitado e reprimido por ele e, devidamente
guardados no inconsciente pessoal.
O psicanalista então, ao analisar o processo criativo, detecta a
causa da neurose. É necessário lembrar que não se deve
investigar o sentido da obra, a qual pode ser um desenho, uma
pintura, uma escultura, um poema, mas sim o material uti l izado, as
cores, a forma, os quais foram util izados com um determinado
propósito, dando assim, um efeito especial e personalíssimo ao
trabalho realizado.
É importante que a criação não deva ter compromisso com o belo,
com o que é considerado como arte, ou com dogmas e
preconceitos; isto, porque o processo criativo deve ser realizado
com espontaneidade, l ivremente, a f im de o criador uti l izar o
“material” que se encontra estocado no inconsciente pessoal,
trazendo-o à tona, tudo que estava oculto, aparentemente
escondido.
Este processo se dá inconscientemente, mesmo que contra a
intenção do criador, pois é um processo psicológico e inconsciente.
Tal processo criativo pode estar l igado a fenômenos psíquicos
patológicos ou não. Quando patológicos, aparecem sob a forma de
distúrbios mentais.
Assim, o consciente poderá até imaginar-se na direção, mas na
verdade quem se encontra na direção é o inconsciente pessoal
44
44
do criador, o qual exerce inf luencia sobre o consciente, por
meio da sua energia criativa.
É no inconsciente pessoal que se encontram presentes fenômenos
psicológicos rejeitados pelo consciente, que f icam reprimidos e
podem ser materializados na arte, fazendo aparecer os sintomas
das psicopatologias.
Assim, existe uma contribuição da arte para a psicologia e uma
importante conexão entre a arte e a psicologia durante o processo
criativo, fato que auxil ia o criador da obra na conscientização do
eu e crescimento pessoal, inclusive auxil ia no processo de cura.
Assim, a arte ref lete o inconsciente pessoal do autor, sendo uma
atividade psicológica e, por meio da Arteterapia poderá ocorrer a
expansão do inconsciente, gerando uma nova conscientização do
eu e, desbloqueando o que estava reprimido, inclusive aptidões
e melhora na criatividade e potencialidades.
Assim, a Arteterapia renova e libera forças renovadoras durante o
processo criativo, possibil itando realizações da personalidade em
sua totalidade.
45
45
CAPÍTULO III
A MANIFESTAÇÃO DO INCONSCIENTE PESSOAL E COLETIVO.
A auto-referencia do universo divide-se em sujeito, entendendo-se
por auto-referencia o lógico do self , referindo-se a si mesmo.
O ego é o nosso self clássico, que signif ica o sujeito
da consciência. Mas existe um self além do ego, que é o
self quântico, o qual é um sujeito primário do self , além do ego e
no qual reside a autentica liberdade, a criatividade e
a não-localidade da experiência humana.
O modelo cognitivo da psicologia do século XX, chamado
Behaviorista, não aceita as experiências trans-pessoais. Todavia, a
teoria quântica as aceita.
Existem descobertas científ icas simultâneas, as quais servem de
exemplo dessas experiências com sincronicidade, isto é, com
coincidências sem causa aparente, mas, as quais são
signif icativas. Como exemplo, podemos observar as experiências
paranormais, a telepatia e outras admitidas em psicologia. São
experiências diretas da modalidade quântica do self .
Na ocasião da criação, durante o processo criativo, essa
experiência é chamada de experiência trans-pessoal do self , onde
o self não é dominante, pois transcende o ego.
46
46
O nosso ego é o que executa, o que codif ica os nossos
pensamentos e sentimentos, integrando o comportamento que
temos com o mundo exterior, isto, a partir dos nossos
pensamentos, do mundo interno.
Todavia, pela teoria quântica, a consciência deixa sempre algum
espaço para o livre-arbítrio, ou seja, para os acontecimentos
incondicionados; pois, pela teoria quântica o self atua em duas
formas: a primeira, pela modalidade clássica, a qual está
condicionada pelo ego, a qual diz respeito a experiências
secundárias, onde se encontra a auto-percepção; a segunda, pela
modalidade quântica é a não condicionada, associada às
experiências de percepção primária, sem auto-percepção.
Entende-se por l ivre-arbítrio a capacidade de dizer não a
condicionamentos aprendidos ou que nos foram impostos, e os
quais acabamos incorporando, ou não.
Acontece que, pelo pensamento psicanalít ico, o nosso ego/self ,
reprime algumas das nossas experiências negativas, isto é, das
quais não desejamos lembrar, guardando-as em nosso lado das
sombras, também denominado de “id”. Entretanto, as experiências
conscientes que se encontram no nosso consciente, são as que
projetamos para o mundo exterior, a f im de definir quem somos ao
mundo exterior; isto é, que definem a nossa aparente
personalidade, a qual gostaríamos de realmente ter.
Mas, acontece que algumas dessas experiências do ego acabam
f icando distorcidas; isto acontece pela forte inf luencia do
inconsciente pessoal, o qual dá margem ao aparecimento de
psicopatologias, entre elas, a neurose.
47
47
Assim, pela teoria quântica, o inconsciente pessoal surge porque o
sujeito está condicionado a rejeitar determinados estados mentais,
reprimindo-os, levando a um estado de ansiedade, o qual gera a
neurose. Este processo pode ocorrer por inf luencia de temas
relacionados aos arquétipos reprimidos do inconsciente coletivo,
mesmo os não experimentados por nós, mas que são universais,
que podem originar patologias; entendendo-se por arquétipos a
idéia platônica que provoca uma manifestação mental,
provenientes de processos psíquicos do inconsciente coletivo.
A neurose é um rompimento que ocorre internamente, entre o
consciente e o inconsciente, quando o consciente quer manter-se
em uma moralidade condicionada e, ao mesmo tempo, o
inconsciente deseja romper com este condicionamento moral.
Neste caso, o consciente cria mecanismos de defesas
para negar o desejo t ido como “imoral”, estado em que aparece os
sintomas neuróticos. Assim, o neurótico reprime a si próprio e, ao
mesmo tempo, deseja se libertar; isto, porque não consegue ver o
seu lado sombrio e, nem aceitar o seu lado sombrio.
Pela teoria quântica, o ser humano é constantemente submetido a
condicionamentos que impedem a manifestação de determinados
estados mentais, inclusive dando origem a arquétipos, tais como o
arquétipo da anima no homem, em face a repressão do seu lado
feminino e, ainda, dando origem ao arquétipo animus na mulher,
em face a repressão do lado masculino na mulher; entretanto,
acontece que, no homem, a repressão do anima prejudica e limita
o comportamento masculino.
48
48
Entende-se por inconsciente quando temos consciência da
realidade, embora não tenhamos a percepção da realidade.
O inconsciente pessoal é o inconsciente das memórias pessoais
reprimidas que por meio de impulsos inconscientes, afetam as
ações conscientes.
Entende-se por inconsciente coletivo ou unit ivo, o lado da nossa
consciência que transcende espaço, tempo e cultura, e que não é
percebido por nós.
No idealismo monista a consciência é una, consistindo o espectro
da autoconsciência em vários estágios do desenvolvimento
humano. Desta forma, encontra-se na extremidade inferior o
inconsciente pessoal e, na extremidade superior o inconsciente
coletivo.
Assim, quanto mais evoluídos estivermos, estaremos com “menos
ego”, no sentido egóico. Desta forma, o nível mais evoluído será o
nível do “além ego”, onde há um estado de grande humildade, isto
é, o nível mais alto do self ; este nível é o não-self , isto é, quando o
ego é substituído pelo autoconhecimento e pela criatividade
interior.
49
49
CAPÍTULO IV
O TRABALHO COM A ARTETERAPIA FACILITA UMA
COMUNICAÇÃO DO MUNDO INTERIOR COM O EXTERIOR, POR
MEIO DA ARTE.
A ciência idealista possui a força restauradora da consciência ao
self fragmentado, o qual teve origem devido a uma visão distorcida
do mundo materialista.
Para o self fragmentado, rompido, f icar inteiro outra vez e alcançar
o estado de inteireza, deverá compreender a situação e
transcender o nível do ego, superar as limitações do ego, e
recuperar o estado de conexão com a sua essência.
Com a teoria quântica descobriu-se que a consciência não é
matéria e, a antiga idéia cartesiana do realismo materialista de que
tudo é feito de matéria, teve de ser reformulada. Tudo que faz
parte do universo é relativo, e o que faz parte do ser humano,
também.
50
50
Por meio dos sonhos e da hipnose pode ser trazido do inconsciente
as lembranças reprimidas a f im de ser realizada a percepção
consciente. E a Arteterapia pode realizar isso, por meio do
processo criativo.
Assim, nas camadas mais profundas do inconsciente pessoal é
onde estão armazenadas as lembranças pessoais perdidas,
reprimidas e esquecidas, as quais ainda não chegaram ao
consciente e estas, correspondem as sombras. Entretanto, o
inconsciente coletivo, supra-pessoal ou coletivo, o qual não possui
l igação com o inconsciente pessoal, por ser universal os seus
conteúdos, pode ser encontrado em qualquer parte e correspondem
aos arquétipos.
Temos acessos aos arquétipos os quais não pertencem às nossas
experiências pessoais vividas, mas ao inconsciente coletivo.
Assim, os materiais uti l izados durante o processo criativo
simbolizam o inconsciente pessoal do autor e a sua conexão com o
inconsciente coletivo. Mas, é notório que em todos nós existem
bloqueios a ser enfrentados, os quais nos impedem de ser e
dif icultam o nosso pensamento, inclusive a criatividade, que é o
pensamento criativo. E, isto ocorre devido a uma rigidez adquirida,
ao receio que temos de errar, ao medo de ousar, aos preconceitos
que são as idéias pré-concebidas que incorporamos ao longo do
51
51
tempo, muitas vezes sem questionarmos o por que delas em
nossas vidas. A insegurança, a vaidade, a competição, a pressão
psicológica, excessos de regras, e outras padronizações, formam
barreiras em nossa percepção, tornando nosso pensamento
estreito e inf lexível. Assim, nós mesmos nos impedimos de ser
pessoas inteiras e l ivres.
A Arteterapia nos ajuda a alcançar a l iberdade de ser, pois
emprega meios expressivos que desenvolvem a capacidade
expressiva e criativa, beneficiando na educação e na saúde. A
Arteterapia funciona como um estímulo da nossa capacidade
criativa, procurando trazer para o consciente os recalques
encontrados no inconsciente. Assim, possibil ita uma reconstrução
da personalidade, uma vez que fortalece a mesma diante da vida.
A criatividade é um impulso originado do nosso inconsciente, o
qual é colocado para fora e, ao soltar-se para fora acontece a
inspiração de realizar, de criar algo novo, pois o ego, quando é
criativo, possui a vontade de criar.
Na Arteterapia não existe a necessidade da pessoa possuir algum
talento, embora possa chegar a descobrir que possui algum, por
meio do autoconhecimento.
52
52
A criatividade não necessita de talento, mas sim de curiosidade, de
vontade e persistência. E, para isso acontecer, o ego deverá estar
descondicionado, a f im de transcender, pois os saltos quânticos
não são alcançados por modalidades condicionadas. Desta forma,
a transformação deve ser do nosso mundo interno, mas não pelo
rasciocínio.
O aprendizado apenas intelectual não basta, pois há a necessidade
do desenvolvimento emocional e desenvolvimento da capacidade
de expressão, a qual se dá por meio da linguagem verbal e da
linguagem não-verbal. E a Arteterapia auxil ia para que isso
aconteça, pois busca no inconsciente o que f icou perdido no
inconsciente, muitas vezes na infância, através do processo
criativo, que tem por objeto a expansão da consciência por meio da
arte.
Assim, a Arteterapia atua como atividade antiestressante, uma vez
que o processo criativo descansa a mente e nos permite pensar em
nada, apenas no que estamos criando; pois a mente f ica solta na
imaginação e a consciência se expande. Por exemplo: ao
trabalharmos com a argila, damos forma as nossas emoções e
estruturamos a nós próprios. A argila é um material natural da
terra, o barro. Propicia no sujeito, tanto alívio quanto tensão,
durante o manuseio, podendo emergir algo que está plasmado no
53
53
seu interior, assim como emergir emoções, possibil i tando
descargas emocionais e conseqüentemente liberando energias
estagnadas.
Ao trabalharmos com mosaico, o qual é uma analogia da vida, ao
montar e desmontar a mandala, de fragmentos de pedra ou de
areia colorida, podemos ver a analogia com a impermanência de
todas as coisas no universo, ao ser rapidamente desfeita após
horas e horas de criação. E, nos auxil ia a caminharmos em direção
de um objetivo na vida, o centro da mandala, com paciência e
determinação. Assim, em ambas as técnicas necessitamos exercer
a concentração, a disciplina, a atenção e a paciência; para tal,
superemos nossas limitações.
O trabalho com massinha de modelar ativa a motricidade ref inada
com crianças na educação infantil, sendo considerado um
pré-requisito necessário para beneficiar a criança no processo de
alfabetização; estimula a criatividade, beneficia o desenvolvimento
psicomotor e facil ita o autoconhecimento. Por exemplo: em
crianças com problemas de hiperatividade e distúrbios da
concentração, deve-se util izar materiais calmantes como: argila,
pintura, areia e água; pois a experiência táti l ajuda a concentração.
54
54
Percebemos as coisas em uma forma global, que é a gestált ica e é
o lado direito do nosso cérebro o responsável pela gestalt. O
nosso sistema perceptual garante uma percepção correta do
objeto, segundo as leis da gestalt. Assim, pelo desenho livre
eliminamos as nossas imperfeições, porque ele nos ajuda na
informação sobre aspectos gráf icos e facil ita a recuperar a
motricidade e facil ita a superar as dif iculdades de comunicação.
Desta forma, a educação deve aplicar a Arteterapia a f im de
auxil iar o desenvolvimento social, mental emocional e a
psicomotricidade da criança; além de ensinar a crescer, no sentido
de crescimento interno.
A Arteterapia auxil ia, ainda, na psicanálise, com o aprofundamento
em questões que estão escondidas no inconsciente, por meio da
util ização das modalidades expressivas que facil itam a catarses,
l iberando a mente do peso do conflito interno. Assim, traz para o
consciente o que se encontra oculto no inconsciente, por meio da
criação, materializando os sintomas em um suporte qualquer, pela
imaginação, onde haverá um enigma a ser decifrado pelo
prof issional da área.
A função terapêutica da Arteterapia é a passagem do conteúdo do
inconsciente, o qual não foi percebido ou assimilado, para o
55
55
consciente; e, na educação, a arteterapia possibil i ta o
desenvolvimento social, cognitvo, psicomotor, psicopedagógico,
entre outros; auxil iando na aprendizagem, por estimular a
ordenação de pensamentos durante o processo criativo, a qual é
ref letida na forma como a pessoa se relaciona com o mundo
externo.
Ao criar estamos exercitando a capacidade de concentração e
habilidades mentais, além de integração social.
Pelo rasciocínio lógico podemos desenvolver uma criatividade
externa, a qual nos habilita a exercer alguma tarefa ou prof issão.
Entretanto, o crescimento interior, isto é, a nossa percepção de
nós mesmos, este não é feito apenas pelo rasciocínio e, deverá ser
um processo contínuo para que alcancemos a libertação.
É necessário estarmos atentos de que existem bloqueios a ser
superados e que eles nos impedem ou dif icultam a desenvolver o
pensamento criativo. E, a Arteterapia auxil ia nos tratamentos
psicológicos, uma vez que facil ita a catarse, além de atuar como
tranqüilizante e como medida preventiva ao embotamento psíquico.
56
56
O uso de analogia também é de grande importância, pois exige
muita imaginação e, o uso de metáforas, a f im de se estabelecer
relações incomuns.
O símbolo abstrato uti l izado em pinturas é de natureza interior, isto
é, vem do fundo do meu eu, pois é inspirada na sensibil idade
interior voltada para a pintura. Desta forma, a pintura abstrata é
uma linguagem que é util izada para expor o inconsciente e para
comunicar, por meio da intuição.
E, a intuição é um processo criativo totalmente inconsciente e não
lógico, e é l ivre da lógica e do conhecimento. Desta forma, auxil ia
o tratamento psiquiátrico no retorno à razão e ao raciocínio lúcido,
auxil iando o interagir em sociedade; pois o crescimento pessoal
dá-se pelo autoconhecimento, com o desenvolvimento da intuição e
sensibil idade. Devemos lembrar que o ego é uma identidade do
self , mas ele é temporário.
57
57
NO SEU SILÊNCIO
Seu EGO
Veio nos vis i tar !
Ele pensa ser. . . REAL!
É muito racional
Não sabe ser
Temporár io e i lusór io
Nossas ALMAS...
Há muito tempo se conhecem!
E, meu EGO...
É muito emotivo!
Não l iga muito para a RAZÃO
Ele ouve mais a voz do meu coração!
Meu EGO
Mora na emoção!
O seu
Na mente
COITADO! ! !
Ele está doente
Pensa ser o seu EU!
PURA ILUSÃO!
Viu muito f i lme de f icção!
Nossas ALMAS são
Ant igas
58
58
Companheiras!
Moram sempre
No mundo
REAL!
Meu EGO
É consciente de SER
PROVISÓRIO!
Ele mora no mundo
ILUSÓRIO!
Seu EGO
Está confuso
Não sabe a quem ouvir !
Angust iado
Quer fugir
Nossas ALMAS
Dão r isadas!
Elas são eternas!
Seu EGO
Não sabe de nada
Ele morre com
A
MATÉRIA.
Cr ist ina Motta Palhares.
(LOBABOBINHA – 1997).
59
59
CONCLUSÃO
“a psicologia
do indivíduo corresponde à psicologia das
nações. As nações fazem extremamente o que
cada um faz individualmente, e do modo como o
indivíduo age, a nação também agirá. Somente
com a transformação da at i tude do indivíduo é
que começará a transformar-se a psicologia da
nação. Até hoje os grandes problemas da
humanidade nunca foram resolvidos por decretos
colet ivos, mas somente pela renovação da at i tude
do indivíduo. Em tempo algum, meditar sobre s i
mesmo foi uma necessidade tão imper iosa e a
única coisa certa, como nesta catastróf ica época
contemporânea. Mas, quem se quest iona a s i
mesmo depara invar iavelmente com as barreiras
do inconsciente, que contém justamente aqui lo
que mais importa conhecer.”
C.G. Jung - Zurich, dezembro de 1916.
60
60
Não é uma regra, mas a maioria das nossas “neuroses” e outras
psicopatologias vem da fase infantil, quando o menor sofre e
suporta condicionamentos arbitrários e, entretanto obedece por
medo, por assumir a culpa ou a vergonha de fatos que nem
sempre ocorreram e, de atos que nem sempre cometera, mas
que, no entanto lhe foi imputado. Desta forma, por ser imaturo,
não entende o sentido do que está ocorrendo e não reconhece
suas emoções e sentimentos – apenas adoece no corpo e/ou na
alma, deixando seqüelas para a vida adulta. Assim, criança
necessita concordar com a falsa moral que lhe é imposta, mesmo
que violentando a si mesmo e, assim nasce o conflito interno
inconsciente e surgem os sintomas neuróticos - assim aparece a
neurose.
Acontece que, se o conflito fosse consciente, não haveria a
formação dos sintomas neuróticos; isto, se encarássemos de
frente o nosso lado das sombras, os nossos defeitos e as nossas
qualidades. Os sintomas são “gritos” de socorro, que mostram a
“chave do enigma”, o lado oculto e sombrio que se encontra no
inconsciente. O que impede a pessoa de ver o confl ito é o fato
de ter sido levado para o inconsciente, não podendo ser
compreendido pelo consciente. Assim, os conflitos se tornam
complexos autônomos. Entretanto, para que os complexos
autônomos possam voltar para o consciente e ser controlados
por ele, a pessoa necessita de ajuda de um prof issional
psicanalista, psiquiatra e/ou psicólogo, pois, por meio da análise
do inconsciente.
61
61
E, a Arteterapia é um meio de auxil iar a conscientização, de
trazer para o consciente o que está armazenado no inconsciente.
Mas, acontece que isto não ocorre com facil idade, pois existem
resistências ao processo, pois a pessoa se sabota, com
mecanismos de defesas, não permitindo que a pessoa tenha o
domínio pleno da sua personalidade.
Assim sendo, a educação deveria, não apenas ensinar a
aprender a ler, a ser um prof issional qualif icado na vida, mas
ainda ensinar as pessoas, desde cedo, a ver a si mesmos do
jeito que são, com seus defeitos e qualidades, amando-se do
jeito que são; pois ao ser ensinados desde cedo a reprimir o seu
lado sombrio, as pessoas entram em conflito e f icam
inconscientes de si próprias. Assim, não devemos corresponder
às expectativas criadas pela hipocrisia e, ainda, a f im de
praticarmos a tolerância com nós próprios e com o próximo, o
qual encontra-se na mesma condição que nós – a condição
humana de ser.
Ao conhecermos a nós próprios poderemos conhecer o próximo,
e praticar a tolerância com o próximo e com nós mesmo. Desta
forma, a educação não deve ter por objetivo, unicamente o
ensino intelectual ou científ ico, mas sim, aprender a ser na sua
totalidade, o que há de melhor dentro de nós, pois devemos
estar evoluindo para chegar até a nossa essência, isto é, entrar
em contato com o que há de melhor dentro de nós.
BRINCANDO COM A ARTE
Se por fazer ar te
Fui levada à terapia
Por que não fazer a
ARTETERAPIA ?
62
62
Assim, de ré passo à autora
Na l ide dentro de meu ser
Deixo de ser aluna para ser
Professora
Deixo de ser louca para ser
Terapeuta de mim !
Se, por não fazer ar te
Deixei de aprender a viver
Faço ARTETERAPIA !
Assim, aprenderei a
Resgatar a cr iança
Que f icou sem br incar,
Ensinarei a cr iança a VIVER
Pela arte, br incarei com as
Cores do arco ír is
Pela alegr ia voltarei a ser,
Em todo o meu ser,
A cr iança, que jamais poderá morrer !
Se a coragem em mim
Quiser se esconder. . .
Farei ARTETERAPIA !
Pois a loucura lhe dará forças
Para sobreviver em mim
Sem o medo de viver. . .
E a cr iança lhe dará alegr ia
Para sorr ir todos os dias
Com os dedos sujos de t inats
E um dia deixar de sofrer.
Cr ist ina Motta Palhares
(Lobabobinha, 2010)
63
63
É necessário lembrar, ainda, que segundo o Princípio da Dignidade
Humana, sem distinção, a pessoa é um ser digno, dotado de
dignidade que é um atributo da essência do ser humano, superior a
qualquer preço, pois é um valor a priori, que é preexistente à
qualquer Constituição; é um fundamento, um valor supremo que
serve de alicerce à Democracia. A dignidade da pessoa humana é
inviolável, pois todo ser humano, sem distinção, é pessoa.
E a Tutela Constitucional da Carta Magna de 1988 à dignidade da
pessoa humana é inviolável, pois nem mesmo um comportamento
indigno priva a pessoa dos seus direitos fundamentais, que lhes
são inerentes, porque a dignidade acompanha o homem, o qual
merece uma existência digna conforme os ditames da justiça
social. E é do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana que vem
a necessidade de estabelecer-se a proteção ao interesse do
indivíduo, quando ameaçado, frente aos interesses da coletividade.
Tal princípio signif ica que a Pessoa Humana é o f im, proclamado
como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, pelo
artigo primeiro, inciso III da Constituição de 1988 e signif icando
que a pessoa humana é o f im, sendo o Estado, não mais que um
instrumento para garantia e promoção de seus Direitos
64
64
Fundamentais. ssim sendo, é sempre bom lembrar que, é dever do
Estado oferecer uma boa educação e boa saúde a todos, assim
como é um dever dos nossos prof issionais nas áreas da educação
e da saúde, exigir do Estado que cumpra o que foi estabelecido na
carta magna, isto é, na nossa primeira Constituição democrática, a
de 1988; isto, a f im de todos terem oportunidades e direitos iguais
e, não apenas, deveres iguais, principalmente no âmbito da saúde,
da educação e da liberdade, uma vez que são bens inerentes à
vida humana. E, existe também, a necessidade dos prof issionais
também se conscientizarem como pessoa e como prof issionais que
são, de adquirirem consciência do papel e da força que
representam na sociedade e, lutarem por condições dignas de
trabalho a f im de realizarem o que se propuseram. E, ainda,
adquirir o autoconhecimento, a f im de se policiarem para não
repassar condicionamentos errôneos adquiridos ao longo de suas
vidas, a terceiros, inclusive alunos e pacientes, durante a vida
prof issional.
Menciono o pensamento polít ico de THOUREAU*, não como
ideologia polít ica, mas para que sirva de motivação a uma f i losof ia
de vida na prática prof issional, o qual diz respeito as suas
concepções sobre o Estado e a Liberdade. Ele se uti l izou da
natureza como um paradigma para transformações que gostaria de
ver em sua utopia, onde coloca o indivíduo acima de tudo, inclusive
65
65
do próprio governo, porque é no indivíduo que pensa estar
centrada toda a ordem polít ica e social, a f im de haver realizado o
princípio de justiça. esta forma, o homem estaria apenas obrigado
a obedecer ao Estado, se este estivesse fundado no princípio da
justiça e da moral, sendo o indivíduo o detentor de um poder a ser
respeitado em todas e sobre todas as circunstâncias.
Segundo o pensamento de THOREAU, eram extremamente
necessárias as reformas na sociedade e a transformação do ser
humano, sendo o homem o centro de suas preocupações. ssim
sendo, é ingênuo de nossa parte tentar mudar o mundo; pois o que
devemos fazer é mudar a nós mesmos. Porém, ao mudarmos a nós
próprios, em conseqüência disto, mudaremos o mundo a nossa
volta, uma vez que tudo está interligado e a cada ação existirá uma
reação igual e contrária. E ao mudarmos a nós próprios para
melhor, teremos mais compaixão e amor pelo próximo, por nós
mesmos e por toda a humanidade.
*THOUREAU, Henry David (1817-1862), f i lósofo, que nasceu e
viveu nos Estados Unidos da América do Norte, e foi um dos
principais inspiradores de movimentos modernos de defesa da
natureza e do meio ambiente, BESSA ANTUNES, PAULO DE –
DANO Ambiental – 1* edição. RJ. 2002. Lúmen&Júris, págs 41 a
53.
66
66
BIBLIOGRAFIA
BARROSO, Luis Roberto – Interpretação e Aplicação da
Constituição, fundamentos de uma dogmática constitucional
transformadora. 6* edição. SP. 2004. Saraiva.
CIORNAI, Selma – Percursos em Arteterapia. SP. 2005. Summus
editora.
DA SILVEIRA, Nise – Jung vida e obra. SP.2007. 21* edição. Ed.
Paz e Terra.
FORD, Debbie – Como entender o efeito sombra em sua vida. Ed.
SP. 2010. Cultrix.
GOSWAMI, Amit – O universo autoconsciente. SP. 2007.Ed. Aleph.
HOLLIS, James, Ph.D. – A Sombra Interior. SP. 2010. Ed. Novo
Século.
JUNG, C.G – Psicologia do Inconsciente. 18* edição. Volume
VII/1.1978. Ed. Vozes.
JUNG.C.G – O espírito na arte e na ciência. 5* edição. Volume
XV. 1985. Ed. Vozes.
67
67
KNOBEL, Marcelo e SCHULZ, Peter - EINSTEIN muito além da
relatividade.SP. 2010. Instituto Sangari
LACHAUD, Denise – O inferno do Dever o discurso do obsessivo.
RJ. 2007. Ed. Companhia de Freud
NICOLESCU, Basarab; PINEAU, Gastón; MATURANA, Humberto;
RONDOM, Michel; TAYLOR, PAUL – Educação e
transdisciplinaridade. SP.1999. Editora UNESCO.
OLIVER, Lou de – Distúrbios familiares. RJ.2008. Ed. Wak.
OLIVER, Lou de – Distúrbios de aprendizagem e de
comportamento. 5* edição. RJ.2008. Ed. Wak.
PHILIPPINI, Ângela – Mas o que é mesmo Arte Terapia ? Capítulo I
Revista Arteterapia – imagens da transformação n.5. Vol 5. RJ.
1998. Pomar.
ROCHA, Dina Lucia Chaves - Brincando com a criatividade:
contribuições teóricas e práticas na Arteterapia e na Educação /
Dina Lúcia Chaves Rocha – Rio de Janeiro. 2009. Ed. Wak.
SIGMUND, Freud – O Futuro de uma ilusão, O mal estar na
civil ização e outros trabalhos (1927-1931).. Volume XXI. RJ. 2006.
Ed. Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud. Ed. Imago.
THOUREAU, Henry David - BESSA ANTUNES, Paulo de – Dano
ambiental – 1* edição. RJ. 2002. págs 41 a 53. Lúmen&Júris.
68
68
URRUTIGARAY, Maria Cristina - A transformação pessoal pelas
imagens / Maria Cristina Urrutigaray. Rio de Janeiro. 2003.
Ed.Wak.
SITES
http://ajaneladosaber.blogspot.com/2009/10/crianca-hiperativa.html
http://www.educador.brasilescola.com/orientacao-escolar/os-
beneficios-trabalhar-motricidade-ref inada-na-educacao-.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Papel_machê.
http://tesoura-cola.blogspot.com/2009/11/cri-do-mat-eri-al-massa-
de-modelar.html
http://pinturaepoeticadaimagem O SIGNIFICADO DA PINTURA
ABSTRATA
MAURÍCIO PULS
Vilabol.uol.com.br
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Einstein),
( http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Piaget ).
http://www.crearmundos.net TSCHIMMEL, KATIJA . O Pensamento
criativo em design.
69
69
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 002
AGRADECIMENTO 003
DEDICATÓRIA 004
RESUMO 005
METODOLOGIA 008
SUMÁRIO 009
INTRODUÇÃO 011
CAPÍTULO I 019
A IMPORTÂNCIA DO PÓS-POSITIVISMO NA EDUCAÇÃO
70
70
CAPÍTULO II 037
A INTERAÇÃO ENTRE A ARTE E A PSICOLOGIA
CAPÍTULO III 045
A MANIFESTAÇÃO DO INCONSCIENTE PESSOAL E COLETIVO.
CAPÍTULO IV 049
O TRABALHO COM A ARTETERAPIA FACILITA UMA
COMUNICAÇÃO DO MUNDO INTERIOR COM O EXTERIOR, POR
MEIO DA ARTE.
CONCLUSÃO 059
BIBLIOGRAFIA 066
ÍNDICE 069
71
71