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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE A PSICOMOTRICIDADE NO TRATAMENTO DA HIPERATIVIDADE E DÉFICIT DE ATENÇÃO EM ALUNOS DE UMA ESCOLA MUNICIPAL EM SÃO GONÇALO POR ANA MARIA MACHADO DE OLIVEIRA GOMES ORIENTADOR PROF. HENRIQUE PEREIRA Niterói 2004

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … MARIA MACHADO DE OLIVEIRA GOMES.pdf · habilidade da criança e nas exigências impostas à criança pelo ambiente. Os pais não

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

A PSICOMOTRICIDADE

NO TRATAMENTO DA HIPERATIVIDADE E DÉFICIT

DE ATENÇÃO EM ALUNOS DE UMA ESCOLA

MUNICIPAL EM SÃO GONÇALO

POR

ANA MARIA MACHADO DE OLIVEIRA GOMES

ORIENTADOR

PROF. HENRIQUE PEREIRA

Niterói

2004

2

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A PSICOMOTRICIDADE

NO TRATAMENTO DA HIPERATIVIDADE E DÉFICIT

DE ATENÇÃO EM ALUNOS DE UMA

ESCOLA MUNICIPAL EM SÃO GONÇALO

Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato-Sensu” em Psicomotricidade.

POR

ANA MARIA MACHADO DE OLIVEIRA GOMES

Niterói 2004

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por mais esta conquista e por

sempre ter me amparado nos momentos mais

difíceis dando-me forças para prosseguir.

Agradeço ao meu marido José, grande

companheiro e cúmplice em minha jornada pela

vida, incentivador do meu crescimento pessoal e

profissional.

Agradeço a minha mãe Leonor que através do seu

amor e cuidados me ensinou a tornar-me a pessoa

íntegra e batalhadora.

Agradeço aos meus amigos, colegas de trabalho

e, sobretudo aos meus pacientes pela constante

troca que fazemos em nossa busca pelo

autoconhecimento.

Agradeço em especial ao meu orientador

Henrique Pereira que muito contribui para o

enriquecimento da minha monografia.

Agradeço a todos os professores do curso pela

dedicação e pelos ensinamentos que me

transmitiram.

4

DEDICATÓRIA

Dedico ao meu pai Alberto, apesar da vida ter nos separado guardo boas recordações dos momentos de felicidade que tivemos. Obrigada pelo seu amor.

Saudades!

5

RESUMO A hiperatividade durante a sua evolução recebeu várias denominações: Lesão

Cerebral Mínima a (DCM), Hiperatividade de Evolução e Desordem Déficit de

Atenção, sem que houvesse concordância entre os autores.

No entanto, estudos e o avanço tecnológico nesta área, não conseguiram

identificar nenhuma alteração orgânica que indicasse como causa da hiperatividade.

O conceito de lesão passou a ser considerado disfunção, ou seja, alterações mínimas

na função cerebral que repercutem de forma específica no comportamento da

criança.

Na década de 80, há uma proposta da Academia Americana de Psiquiatria

para transformar os vários conceitos em um único: Distúrbio por Déficit de Atenção

com ou sem hiperatividade. Neste período começa-se a questionar o tratamento com

medicamento e outros profissionais, como os psicólogos e sociólogos imputam-lhe

um novo enfoque diante da evolução de conceito, podem-se constatar que a

hiperatividade é, ainda hoje, uma questão obscura e polêmica para os estudiosos do

assunto, porque não existe uma uniformidade de opinião na comunidade científica

que justifique a adoção de uma terminologia única.

A hiperatividade resulta de quatro tipos de deficiência (atenção,

impulsividade, excitação, e frustração ou motivação) que podem causar problemas

em casa, na escola e com amigos. Os problemas ocorrem com base na pouca

habilidade da criança e nas exigências impostas à criança pelo ambiente. Os pais não

provocam a hiperatividade, mas seu comportamento pode determinar o número de

problemas em casa, na escola ou com amigos.

Nenhuma informação isolada confirma ou descarta a possibilidade de uma

criança ser hiperativa. Existem, entretanto, muitos aspectos comportamentais e de

6

desenvolvimento que sugerem hiperatividade. Uma avaliação minuciosa de

hiperatividade incluiu informações sobre o histórico do desenvolvimento, da

personalidade, do desempenho escolar, do relacionamento com os amigos, do

comportamento em casa e na escola, e da condição clínica da criança.

Para detectar a hiperatividade é realizado um diagnóstico ou identificação do

problema . Diante da constatação torna-se necessário o posicionamento da escola, da

família e do professor.

Este estudo busca analisar a hiperatividade e mais especificamente

compreender como a Educação Psicomotora contribui para o desenvolvimento de

habilidades que recuperam a auto-estima da criança e permitem que elas tenham um

bom rendimento escolar e consigam socializar-se.

As referências bibliográficas utilizadas para a realização deste trabalho

fornecem informações que ampliam o conhecimento sobre a hiperatividade e a

importância da Psicomotricidade para o desenvolvimento intelectual e social da

criança hiperativa.

7

METODOLOGIA

A fim de investigar e analisar a importância da Psicomotricidade no

tratamento da hiperatividade procurou-se desenvolver uma pesquisa qualitativa

baseada em observações e coletas de dados mais adequados ao estudo. O estudo foi

exploratório e literário, as observações foram feitas em uma Escola da Rede Pública

do Município de São Gonçalo que trabalha com crianças hiperativas. As análises

surgiram a partir da fundamentação teórica realizada através de um levantamento

bibliográfico sobre o tema abordado.

O trabalho de pesquisa foi realizado em quatro momentos: primeiro buscou-

se analisar os conceitos históricos da hiperatividade, a importância do diagnóstico e

do tratamento da criança hiperativa. Em seguida realizou-se uma reflexão sobre a

situação da criança na escola. No terceiro momento, buscou-se analisar a importância

da formação dos profissionais de educação que trabalham com crianças hiperativas.

Finalmente, aborda-se as contribuições da Educação Psicomotora para o

desenvolvimento de habilidades que favorecem a aprendizagem da criança

hiperativa.

8

“Neste instante, esteja você onde estiver, há

uma casa com seu nome. Você é o único

proprietário, mas faz tempo que perdeu as

chaves. Por isso. Fica de fora, contemplando a

fachada. Não chega a morar nela. Essa casa, teto

que abriga suas mais recônditas e reprimidas

lembranças, é o seu corpo”.

THÈRESE BERTHERAT

9

SUMÁRIO INTRODUÇÃO 10 CAPÍTULO I- ALGUMAS CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS DA HIPERATIVIDADE 13 CAPÍTULO II- A CRIANÇA HIPERATIVA NA ESCOLA 24

CAPÍTULO III- A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE UMA ESCOLA DA

REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SÃO GONÇALO QUE TRABALHAM

COM CRIANÇAS HIPERATIVAS 30

CAPÍTULO IV- DESENVOLVENDO A CAPACIDADE DE ATENÇÃO DA

CRIANÇA HIPERATIVA ATRAVÉS DE ATIVIDADES PSICOMOTORAS 39

CONCLUSÃO 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48 ANEXOS 53 ÍNDICE 59

10

INTRODUÇÃO

Este trabalho monográfico propõe o estudo da hiperatividade, suas

implicações no processo de aprendizagem e as contribuições da Educação

Psicomotora para o desenvolvimento das crianças hiperativas nas escolas.

A proposta desta pesquisa está relacionada aos problemas que vivenciam-se

no contexto escolar, reconhecendo a importância do acolhimento das diferenças e de

uma educação que garanta a todos um desenvolvimento pleno e uma formação

enquanto cidadão e trabalhador.

Os profissionais da educação defrontam com uma série de dificuldades e

contradições que permeiam o trabalho docente como um todo e que nos desafiam a

buscar alternativas para contribuir com o processo de desenvolvimento dos alunos

em sua globalidade.

No caso específico das crianças hiperativas são vários os sintomas

apresentados: hiperexcitação motora, mau humor, dificuldades de aprendizagem

relacionadas à falta de atenção e concentração. Tais sintomas podem acarretar um

rendimento escolar insatisfatório perante as demais.

Observa-se que a dificuldade de relacionamento com crianças hiperativas

contribuem para que grande parte dos professores e pais assumam atitudes

inadequadas em relação a elas, como: exigência excessiva, superproteção, rejeição e

etc. Tais atitudes poderão agravar seu problema de conduta, contribuindo para sérias

conseqüências: reprovações sucessivas, evasão escolar, marginalização social e até

mesmo a delinqüência infanto-juvenil.

11

A manutenção da criança hiperativa no ensino regular exige o repensar em

propostas concretas que permitam a integração do aluno ao meio educacional,

vinculado à vida real e cotidiana.

Este trabalho realiza uma analise sistemática da importância da Educação

Psicomotora para o desenvolvimento intelectual do aluno hiperativo.

Sabe-se que durante algum tempo as brincadeiras e os jogos foram

negligenciados, principalmente pelas escolas que os consideravam desprovidos de

qualquer significado funcional. Porém, a pedagogia moderna, com base na

participação ativa e alegre do aluno no processo ensino aprendizagem, fez ressurgir a

necessidade e a importância do lúdico e do movimento nas atividades educacionais.

Esta pesquisa constata os benefícios que a Psicomotricidade proporciona às

crianças, benefícios esses: físicos (coordenação motora), intelectuais

(desenvolvimento da memória, atenção, observação, raciocínio), sociais

(fortalecimento das relações humanas para amizade e companheirismo) e didáticos

(através do jogo e das brincadeiras aprende-se de forma mais prazerosa alguns

conceitos de matemática e outras disciplinas).

Esta análise desenvolveu-se em quatro momentos:

No primeiro capítulo conceitua-se hiperatividade, faz-se um breve histórico

deste fenômeno e analisam-se os procedimentos de diagnósticos e tratamentos.

No segundo momento analisa-se o comportamento da criança hiperativa na

escola.

No terceiro capítulo aborda-se a formação e a prática pedagógica dos

professores da escola Municipal de São Gonçalo que serviu como espaço de pesquisa

para este trabalho.

12

No quarto e último capítulo analisa-se como a Psicomotricidade desenvolve a

capacidade de atenção da criança hiperativa.

13

CAPÍTULO I – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

HISTÓRICAS DA HIPERATIVIDADE

O estudo do Distúrbio de Déficit de Atenção (D.D.A OU D.H.D.A) tem

despertado o interesse de pesquisadores e educadores, pois já atinge cerca de 3% das

crianças das classes populares.

Na metade do século XIX, surgem as primeiras referências a hiperatividade.

No entanto, é no início do século XX que o seu diagnóstico passa a ser realizado de

forma mais sistemática.

Historicamente a hiperatividade recebeu diferentes definições; conseqüência

da discordância existente entre alguns autores sobre sua nomenclatura e suas

características.

Em 1940 é caracterizada como uma doença provocada por uma lesão cerebral

sendo compreendida como um distúrbio de comportamento, uma vez que as crianças

hiperativas, não apresentavam problemas neurológicos.

Nos anos 50, quando era solicitado aos professores o levantamento das

crianças hiperativas, alguns chegavam apontar a metade dos seus alunos. Isso

porque, muitas crianças nas idades de três a seis anos, no período pré-escolar,

demonstram algumas características hiperativas, o que não significa que elas são

hiperativas. Nesse período o conceito de hiperatividade passou a ser relacionado com

problemas de falta de atenção, impulsividade e demais sintomas, sendo estudada pela

medicina.

“Apesar dos inúmeros estudos sobre a hiperatividade e de todo avanço tecnológico da medicina, não se conseguiu detectar nenhuma alteração orgânica, seja no

14 eletroencefalograma, raio x de crânio, na ultra-sonografia ou mesmo da tomografia computadorizada, que possa ser considerada causa da hiperatividade” (SUCUPIRA,1985, p.31).

Esse estudo contribuiu para desvincular a hiperatividade da lesão cerebral,

ficando conhecida a partir de 1962 pelo termo de Disfunção Cerebral Mínima,

observando-se que as alterações características da patologia relacionam-se mais a

disfunções em vias nervosas do que propriamente lesões nas mesmas. Na década de

80, passou-se a chamar Distúrbio de Déficit de Atenção, denominação dada pela

Academia Americana de Psiquiatria. Nesse período, são formuladas novas

abordagens pela medicina, caracterizando a criança hiperativa como:

“(...) aquele que apresenta um conjunto variável de comportamentos inadequados como: movimentação física excessiva e despropositada, dificuldade para se concentrar em tarefas propostas, agressividade difusa e não justificada associada à queixa de mau rendimento escolar” (SUCUPIRA, 1995, p.32).

No ano de 1987 foi modificado o nome da patologia para Distúrbio de

Hiperatividade com Déficit de Atenção. E em 1994 ficou conhecida como Distúrbio

de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Segundo o Dr. Keith, um pesquisador muito conhecido na área de

hiperatividade infantil, em relação aos distúrbios de aprendizagem, o diagnóstico da

hiperatividade é considerado o mais difícil e complexo para psicólogos, pedagogos e

neuropediatras. Pois não existe um teste diagnostico absoluto.

“É preciso uma cuidadosa coleção de informações das mais variadas fontes, através dos mais variados instrumentos e por vários meios. Além disso, não há sinais significativos na história do desenvolvimento da criança que com certeza absoluta possam contribuir para diagnosticar a hiperatividade” (GOLDSTEIN, 1994, p.21).

Mas o que é hiperatividade?

15

De acordo com Oliveira (1995, p.34), a hiperatividade é um fenômeno

comportamental visível, “... uma atividade motora diária significadamente maior do

que a normal, para a idade”.

A criança hiperativa não consegue ficar sentada por muito tempo e tem pouca

capacidade de concentração. Apresenta desatenção, excesso de atividade,

emotividade, impulsividade e baixo limiar de frustração (dificuldade para adiar

recompensa), podendo afetar sua integração na escola, na comunidade e em todo o

seu mundo.

A hiperatividade não pode ser vinculada com distúrbio de aprendizagem,

como esclarece SIQUEIRA (1994, p. 9):

“(...)hiperatividade é uma designação essencialmente relativa, descrita, que reflete as reações de terceiros, ao comportamento da criança ou seja, consiste nas expectativas em que o ambiente social faz com relação ao que esta estabelece com nível adequado da atividade motora de uma criança.”

Em seguida a autora explica que:

“(...) os distúrbios de aprendizagem são, na verdade, um problema para a criança e que a hiperatividade é principalmente um problema para os adultos que a cercam (...) o tratamento é geralmente dirigido ao aspecto que mais incomoda na criança – a sua agitação – e não a dificuldade de aprendizagem (...) ( id.ibid.,p.20).

Pode-se entender que Hiperatividade é um desvio comportamental

caracterizado por mudanças de atitudes e de atividades. O indivíduo não consegue

manter-se quieto por um período de tempo necessário para realizar algumas tarefas

que exijam concentração, podendo apresentar dificuldades emocionais, de

relacionamento, tanto familiar quanto social, e baixo rendimento escolar.

16

De acordo com os autores Sam Goldstein e Michael Goldstein (1994, p.19).

“A hiperatividade pode ser o problema mais persistente e comum na infância. É persistente ou crônico porque não há cura e muitos problemas apresentados pela criança hiperativa devem ser administrados, dia-a-dia, durante a infância e a adolescência”.

A presença de hiperatividade na infância, segundo uma pesquisa realizada na

revista Veja, é de aproximadamente 3% a 5% e ocorre com mais freqüência, em

populações de famílias de baixa renda. Além disso, observou-se que atinge mais os

meninos do que as meninas.

Para o senso comum, a hiperatividade apresenta quatro características, que

comprometem significativamente a capacidade da criança de ser bem-sucedida ao

lidar com a realidade e com o desenvolvimento do pensamento, são elas

(GOLDSTEIN, 1994):

ü Desatenção e distração; as crianças hiperativas têm dificuldade de concentrar-se,

quanto menos atrativa for a tarefa a ser realizada, menor será sua atenção.

ü Superexcitação e atividade excessiva: são crianças excessivamente agitadas,

ativas e facilmente levadas a uma emoção exagerada; encontrando dificuldade

em controlar o corpo nas situações que exijam calma e silêncio. Têm reações

emocionais mais intensas e freqüentes que as outras crianças.

ü Impulsividade: a criança hiperativa tem dificuldade de pensar antes de agir e de

respeitar regras. Possui necessidade de agir rapidamente e atropela o

autocontrole, tendo um comportamento inadequado e irrefletido.

ü Dificuldade com frustrações: seu comportamento é visto como um déficit

motivacional que conta como um componente cultural, apresentado como reforço

negativo pelos psicólogos. Isto significa fazer algo que cause aversão à criança

para mudar o comportamento dela, ao passo que reforço positivo significa

17

ü recompensá- la pelo comportamento desejado, buscando seu fortalecimento.

Geralmente, o comportamento de crianças hiperativas resulta em um grande

número de reforços negativos, fruto das tentativas dos pais e professores em

controlar a criança.

Concepções errôneas sobre o assunto podem prejudicar a vida social e

emocional da criança hiperativa e podem intensificar os problemas e não solucioná-

los.

De acordo com GOLDESTEIN (1994), os pais quando reconhecem que seu

filho não é igual às outras crianças costumam formular idéias. Ou passam a

considerar a si mesmos normais e o filho como mau ou problemático, ou consideram

o filho normal e a si mesmos como inadequados. Idéias como estas podem ser

extremamente prejudiciais: “O primeiro leva à raiva e indignação. O segundo leva a

culpa e, possivelmente, a uma permissividade excessiva”. (GOLDSTEIN, 1994,

p.124).

É necessário ter cuidado ao realizar o diagnóstico de hiperatividade da

criança, pois embora algumas pesquisas realizadas tenham constatado que as crianças

hiperativas têm maior probalidade de desenvolver depressão ou ansiedade, além de

exibir comportamento perturbador, dificuldade de aprendizagem e auto-estima mais

fraca do que as crianças consideradas normais. Não se pode confundir déficit de

atenção com outras doenças como: depressão e ansiedade.

O dia-a-dia para as crianças hiperativas representam um grande desafio, pois

geralmente não conseguem satisfazer as exigências impostas pelo mundo interior,

pois se tornam uns problemas para os pais e para a escola quando não são

compreendidas, ou fazem exigências impróprias ou excessivas.

É necessário que os profissionais especializados, professores e a própria

família sejam capazes de ajudá- las de uma forma construtiva, considerando

18 “(...) que os hiperativos que vivem anos de experiências negativas, de reforço negativo e de incapacidade de satisfazer as exigências razoáveis da família, dos amigos e da escola, poderão certamente ficar marcados para o resto da vida. Pais e professores devem ficar atentos não só com as deficiências e seus problemas imediatos, mas também com problemas significativos de longo prazo”. (GOLDSTEIN, 1994, p.13).

1.1 Diagnóstico e tratamento

Embora já tenha sido diagnosticado há quase 20 anos, o distúrbio de déficit

de atenção (D.H.D.A.) ainda gera controvérsia entre os especialistas. As principais

dúvidas se concentram nos motivos que produzem a hiperatividade e como ela

ocorre.

A maioria das crianças com D.H.D.A. não demonstram evidência de dano

estrutural maciço ou doença no Sistema Nervoso Central (S.N.C.) quando examinada

por métodos neurológicos convencionais.

A maioria das crianças com perturbações ou danos cerebrais não apresentam

quaisquer características de hiperatividade. Não obstante, algumas crianças com a

perturbação podem ter dano cerebral mínimo por insultos circulatórios, tóxicos,

metabólicos, mecânicos ao S.N.C durante os períodos fetais e perinatal.

Uma base genética para o D.H.D.A. tem sido sugerida por dados que

mostram uma concordância em alguns gêmeos. Irmãos de crianças hiperativas têm

também um maior risco de hiperatividade do que meio- irmão.

Para alguns especialistas algumas crianças com D.H.D.A. podem ter sofrido

dano cerebral mínimo ou sutil ao S.N.C. durante os períodos fetais ou perinatal. Esse

dano pode ter sido causado por insultos circulatórios, tóxicos, metabólicos e outros,

bem como por estresse e insultos físicos ao cérebro durante a primeira infância,

causada por infecção, inflamação ou traumatismos.

19

Outros especialistas relacionam a hiperatividade a alguns fatores tais como:

epilepsia, certos medicamentos (Fenofarsitol) intoxicação por chumbo e

hereditariedade.

É na fase escolar onde, geralmente, identifica-se a hiperatividade nas

crianças. Pois começam a ser notados os problemas de comportamento, dificuldades

de socialização e fracassos escolares.

Um diagnóstico minucioso da hiperatividade na infância deve incluir a coleta

e a observação de oito tipos de informação.

1-Histórico da família

Desenvolvimento da criança. Informações referentes a outros problemas que

a família teve.

Os acontecimentos da vida da criança são fundamentais para o diagnóstico.

2-Inteligência

Crianças com inteligência abaixo da média ficam provavelmente muito mais

frustradas pelas exigências cada vez mais complexas impostas pela escola e pela

vida. Assim elas têm mais probalidade de apresentarem problemas de hiperatividade.

3- Personalidades e desempenho emocional

Algumas crianças hiperativas são bastante conscientes de seus problemas e

em conseqüência tornam-se cada vez mais infelizes, desamparadas e frustradas na

medida em que continuam a fracassar.

4- Desempenho escolar

20

Uma determinação precisa das habilidades escolares da criança é uma parte

essencial da avaliação. Normalmente a criança hiperativa encontra dificuldades na

escola, principalmente dificuldades de aprendizagem.

5- Amigos

Por meio de entrevistas avaliar a integração da criança na escola, com o

objetivo de analisar sua capacidade de fazer amigos.

6- Disciplina e comportamento em casa

A maneira como os pais interagem com a criança pode não ser a causa da

hiperatividade, mas é sem sombra de dúvida um fator que determina o nível de

gravidade dos problemas que a criança hiperativa possa ter em casa.

7- O comportamento na sala de aula

Obter informações sobre o processo do hiperativo na escola. Sua capacidade

de seguir regras e limites deve ser observada pelo professor.

8- Consulta médica

Um diagnóstico clínico é a parte essencial do processo de avaliação.

Os questionários não fazem diagnósticos, nem explicam as causas, eles só

descrevem o comportamento. Se a criança está tendo problemas e a maioria das

respostas para os questionários é sim, os pais devem procurar a assistência de um

profissional para determinar se a criança é hiperativa. Segundo Goldstein (1994,

p.33).

“O diagnóstico precisa ser feito por um ou mais profissionais familiarizados com comportamentos infantis. Esses profissionais precisam estar dispostos a despender o tempo necessário para a avaliação da criança”.

21

Quanto mais cedo for diagnosticada a dificuldade de concentração, melhor

o resultado do tratamento e evita-se o baixo rendimento na escola; diminui ainda

as dificuldades do convívio social.

Os problemas das crianças hiperativas devem ser abordados a partir da idéia

de que são necessários tratamentos quando se deseja que a criança seja bem-

sucedida. Os pais devem compreender e aceitar que a hiperatividade não pode ser

curada. Os problemas dessa criança precisam ser administrados com eficácia, através

de diversas abordagens médicas e não-médicas.

Os medicamentos continuam a ser tratamento comum e eficaz para a

hiperatividade. Os agentes farmacológicos para esta condição são os estimulantes do

sistema nervoso central, principalmente sulfato dextroanfetamina (Dexedrina)

metilfenidoto (Ritalina) e pemolina (Cylert).

Uma criança pode responder favoravelmente a uma dessas drogas e

desfavoravelmente a outra, a dosagem adequada também varia.

O uso contínuo e popularizado de medicamentos, basicamente estimulantes,

tais como a Ritalina, no tratamento da hiperatividade, resulta de uma demonstração

realizada por pesquisas científicas bem controladas sobre uma faixa de efeitos

positivos de curto prazo, sem desprezar, no entanto, o risco dos efeitos colaterais.

O médico Larri Greenhill, presidente do Instituto de Psiquiatria de Nova York

e pesquisador dos efeitos da Ritalina, aponta seus efeitos colaterais, que, embora

conhecidos, são bastante graves: perda de apetites, queda de peso, insônia, irritação,

dores de estômago e dores de cabeça e alguns sintomas de alucinação.

Segundo Greenhill não há dúvidas sobre a eficácia desse medicamento. Ele

identificou índices de melhora em 75% dos casos. No entanto cabe ao médico

juntamente com a família a decisão de adotar o uso do remédio.

22

A Ritalina começa a fazer efeito após uma hora da ingestão e é eliminada do

organismo em um dia.

A decisão de adotar a intervenção por medicamentos deve ser tomada apenas

após cuidadosa consideração dos riscos causados pelos efeitos colaterais e dos

benefícios da medicação.

A medicação, segundo especialistas, apenas prepara a criança. É necessário

que haja um trabalho de orientação psicológica, sem o qual, de pouco servirão os

remédios. Esse tratamento psicológico deve ser mais freqüente que o neurológico.

No momento, o medicamento é o tratamento mais eficaz para a

hiperatividade; segundo especialistas.

As pesquisas de longo prazo sugerem que crianças com a hiperatividade são

mais propensas que as normais ao abuso de drogas e álcool, bem como a

manifestarem comportamento criminoso. A medicação na infância, contudo, pode

diminuir tais riscos. Para pesquisadores, tratar de crianças hiperativas com

medicamento estimulante não aumenta a probabilidade de dependência posterior de

drogas, abuso do álcool ou atividade criminosa. O receio de tal problema não deve

ser um empecilho a medicação da hiperatividade na infância.

As crianças hiperativas, que reagem bem com a Ritalina, demonstram

notáveis melhoras em seu grau de atenção e uma sensível redução no comportamento

impulsivo hiperativo. Em situações em que precisam controlar seus movimentos

corporais e ficarem sentadas por longo tempo, seu comportamento também não se

distingue das outras crianças normais.

Os efeitos da medicação sobre o aprendizado não são considerados tão

eficazes quanto ao comportamento.

23

Com o auxílio de educadores, controle comportamental, orientação e

medicamentos, o tratamento da criança pode se tornar mais eficaz.

24

CAPÍTULO II - A CRIANÇA HIPERATIVA NA

ESCOLA

No primeiro capítulo desta pesquisa foram apresentados alguns conceitos

históricos da hiperatividade e questões sobre seu diagnóstico e tratamento.

O presente capítulo busca refletir a situação da criança hiperativa na escola e

o seu desempenho no processo de aprendizagem.

Desde o século XIX, a escola tornou-se uma atividade obrigatória, tendo um

papel fundamental para a ascensão social.

A partir deste período, as dificuldades de aprendizagem e o fracasso escolar

passaram a ser consideradas como um problema e até mesmo uma doença. Dentre as

causas do fracasso escolar, a hiperatividade atinge uma boa parte da população, que

apresenta dificuldades para adaptação escolar, social e familiar.

Nas últimas décadas, o estudo do Distúrbio de Déficit de Atenção (DDA ou

DHDA) tem atraído o interesse de pesquisadores de diferentes áreas.

Sabe-se que a hiperatividade é um desvio comportamental caracterizado por

desatenção, agitação, excesso de atividade, emotividade, impulsividade e frustração.

Ao ingressar no universo escolar a criança hiperativa enfrenta diversas

dificuldades por apresentar comportamentos diferentes dos ditos normais.

Na primeira etapa do ensino básico, a educação infantil, as crianças

apresentam-se ativas, inquietas, agitadas, cheias de energia. Durante o pré-escolar há

uma grande dificuldade em reconhecer os alunos hiperativos.

25 “Durante o período pré-escolar, a criança recebe uma enorme quantidade de informações sobre si mesma e seu mundo. Pesquisadores clínicos sugeriam que o cérebro da criança pré-escolar é sobrecarregado e contém um maior número de conexões celulares que em qualquer outro período da vida. É muito difícil definir o nível normal de atividade e atenção em bebês e crianças em idade pré-escolar” (GOLDSTEIN, 1994, p.75).

Na idade pré-escolar, as brincadeiras são atividades que ajudam as crianças a

desenvolverem os fundamentos básicos para o desenvolvimento social. As crianças

hiperativas, por causa do seu comportamento acabam sendo privadas dessas

interações e assim deixam de dar os primeiros passos para sua integração na

sociedade.

Na escola as crianças começam a aprender sobre o mundo e a interagir com

os outros. É nesse espaço, que muitas vezes se evidencia a hiperatividade; crianças

que não conseguem seguir instruções, prestar atenção, são inquietas, não completam

as tarefas solicitadas e raramente acompanham o ritmo de seus colegas de turma.

Estas mesmas crianças necessitam aprender a lidar com as regras, a estrutura

e os limites propostos pela instituição, mas seu comportamento não se ajusta as

expectativas da escola, dos professores e dos próprios pais.

Alguns pesquisadores afirmam que as crianças hiperativas geralmente

apresentam quocientes de inteligência (QI), normais, elas apenas não conseguem se

submeter a regras. E as dificuldades que encontram no processo de construção do

conhecimento, estão relacionadas com a falta de concentração e a ansiedade

provocada pelo aumento de fracassos.

Outros pesquisadores sugerem que as crianças hiperativas não aprendem tão

bem quanto às outras crianças. Muitas têm um comprometimento tão grave em sua

capacidade de aprender que poderia dizer que são incapazes de aprender. Alguns

estudos feitos na década de 1970 demonstram que 40% a 80% das crianças

hiperativas vivenciam uma dificuldade específica no processo de aprendizagem.

26

Observa-se que as crianças hiperativas, no período escolar, apresentam

dificuldades para o aprendizado principalmente para a leitura, gerando desinteresse e

desprezo para outras atividades escolares. Com isso a criança hiperativa pode

desenvolver uma visão negativa de si mesmo, criando conflito de insatisfação,

incapacidade, com baixa auto-estima, tornando-se depressivo e agravando mais ainda

seu comportamento.

Pesquisas recentes constataram que aproximadamente, 10% a 30% das

crianças hiperativas exibem atraso nas aptidões escolares, suficientes para se

determinar um diagnóstico de inaptidão de aprendizagem.

Uma das observações mais comum feita por professores sobre as crianças

hiperativas é a de que parecem estar sempre distraídas, sonhando acordadas. Muitas

das vezes elas estão interessadas em alguma coisa diferente daquilo que professor

possa está focalizando no momento. O comportamento da criança é imprevisível e

não reage às intervenções do professor; um dia ela pode concluir uma atividade e no

dia seguinte ser incapaz de completar uma tarefa similar.

Alguns professores interpretam esse comportamento como desobediência, e

pressionam a criança a realizar a atividade. A tentativa de forçá- la a executar uma

tarefa não é bem sucedida e o resultado é a crescente frustração para o professor e

para a criança.

Observa-se que a criança hiperativa com dificuldades de aprendizagem, às

vezes deixa o professor impaciente. O fracasso escolar pode tornar a criança ansiosa

e até depressiva.

As características hiperativas que uma criança pode apresentar na sala de aula

são as seguintes: dificuldade para se concentrar e manter a atenção, que contribui

para as dificuldades de aprendizagem; atrapalha a aula devido o mau comportamento

prejudicando o relacionamento entre o professor e os colegas; não consegue trabalhar

27

em grupo e atrapalha o rendimento dos outros alunos; tumultua a classe com

brincadeiras, dificultando para a professora a organização da sala.

Com todos esses problemas que a criança hiperativa apresenta, ela acaba

excluída e rejeitada pelos colegas em todo o ambiente escolar.

Outra dificuldade que a criança hiperativa enfrenta na escola, que também

repercute em sua aprendizagem, é a incapacidade de fazer amigos. Quando a

hiperatividade não é diagnosticada, algumas crianças isolam-se em sala de aula e

começam a ficar mais desatentas, outras tornam-se um problema de indisciplina para

a escola, sendo excluídas do processo de aprendizagem.

O sistema educacional valoriza muito as crianças que permanecem

calmamente sentadas, prestam atenção e conseguem alcançar os objetivos propostos.

A criança hiperativa é incapaz de atender a essas exigências, tendo uma infinidade de

problemas na escola.

As discussões sobre as crianças hiperativas no que se refere ao seu

rendimento escolar, possuem a tendência de atribuir à criança como se fosse a

responsável solitária do seu insucesso, automaticamente aplica-se a ela o rótulo de

causadora de problemas. Observa-se que esta triste realidade é conseqüência de uma

política escolar, voltada para busca da homogeneidade que incorpora características

excludentes e separatistas.

A despeito de todos os esforços em reverter tal situação, mediante a bandeira

da integração, os alunos com deficiências, condutas típicas de síndromes

neurológicas, quadros psicológicos graves, ou ainda, os de altas habilidades

(superdotados) continuam excluídos da apropriação do saber na intensidade e ritmo

necessário para a sua aprendizagem.

28

Com o objetivo de reverter este quadro tem-se gerado inúmeras discussões

quanto a necessidade dos alunos, com ou sem necessidades educacionais especiais,

visando uma proposta integradora. Como nos diz MADER (1997, p.47):

“Um novo paradigma está nascendo, um paradigma que considera a diferença como algo inerente na relação entre os seres humanos. Cada vez mais a diversidade está sendo vista como algo natural”.

Frente esse novo paradigma, a escola tem por obrigação atender a todas as

crianças, sem exceção, oferecendo-lhes oportunidades de desenvolver suas

potencialidades: WERNECK (1997, p.42) coloca que “... a inclusão vem quebrar

barreiras cristalizadas em torno dos grandes estigmatizados”.

A escola, ao receber a criança hiperativa deve estar preparada para vencer os

limites da estigmatização e criar um ambiente de trocas interativas, que é

fundamental para valorização da auto-estima. O educador precisa reconhecer que o

aluno hiperativo tem determinado tipo de limitação, mas que possui pontos positivos.

Sabe-se que cada vez mais, evidencia-se a necessidade de remover as

barreiras da aprendizagem dos alunos, sem que precise excluí- los ou isolá- los

pedagogicamente. Muitos são os fatores que geram dificuldades como: as condições

em que se dá o processo ensino-aprendizagem; o tamanho das turmas, o estado de

valorização do magistério, a qualidade política da formação dos professores.

Nesse sentido, acredita-se que remover as dificuldades da aprendizagem é

pensar em todos os alunos como seres em processo de desenvolvimento, que

necessitam vivenciar o ensino, seja por suas diferenças individuais, seja por seus

interesses e motivações. Para isso, faz-se necessário o abandono dos rótulos, das

classificações, levando em conta as possibilidades e necessidades que a

hiperatividade traz à criança.

29

O sucesso escolar das crianças hiperativas, segundo os especialistas, exige

uma combinação de intervenção médica, cognitiva de acompanhamento dos pais e

professores.

30

CAPÍTULO III - A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE

UMA ESCOLA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE

SÃO GONÇALO QUE TRABALHAM COM CRIANÇAS

HIPERATIVAS

No passado, a formação do professor dava-se a partir da idéia de que ele era

um mero transmissor de conhecimentos.

“Na sociedade ocidental, em primeiro lugar, as famílias procuravam desenvolver nas crianças os paradigmas da obediência, da educação como forma de autoridade e a pressuposição de que educar evita o fantasma da ociosidade. Era preciso transformar os filhos de seres instintivos, ignorantes, rudes e indisciplinados, em pessoas instruídas, polidas, ajuizadas e disciplinadas, confiando ao educador a matéria-prima que era o filho” (COUSINET,1955, p.2).

A escola era vista como um modelo de ajustamento para o grupo social e para

a futura escolha da profissão e esperava-se do educador as três qualidades de sua

profissão: a virtude, o saber e a habilidade. O que transformava o professor numa

entidade modelar, um tanto inacessível, semelhante a um sacerdote.

O mestre tinha que ser um modelo, um exemplo vivo e sua atuação deveria

ser espetacular. O mestre, quanto mais estimado, mais mestre. Ele exercia sobre si

mesmo vigilância e domínio constantes, pois tinham a responsabilidade de transmitir

um saber que os pais não possuíam.

Essa antiga mentalidade mostrou-se efetiva, num primeiro momento, para

construir e institucionalizar a escola como lugar do conhecimento, para o qual as

pessoas deveriam levar os filhos de tal sorte que tornassem cidadãos integrados ao

mundo real, sendo capazes de contribuir para o seu melhoramento e o da espécie

humana.

31

Com o fim da 2ª Guerra Mundial, junto com as demais crises do século XX,

novos problemas surgiram ligados à formação dos educadores.

Na Europa, tornou-se necessário, pela primeira vez, escolher os que tivessem

reais aptidões pedagógicas para o trabalho intensivo em educação. Isto tinha como

objetivo acelerá- la, em função da necessidade de oferecer escolarização aos diversos

segmentos da população européia prejudicados pela guerra. Sendo assim a

capacidade do candidato a professor passou a ser questionada e a educação de

crianças passou a ser confiada a pessoas que fossem realmente capazes de promovê-

la.

Começou-se a exigir mais capacidade pedagógica do que moral para o

professor, que deveria obter as seguintes características: vitalidade, interesse real

pela classe, convicção da importância social das escolas, capacidade de considerar os

problemas do ensino do ponto de vista das crianças, disposição em refletir sobre a

própria experiência e capacidade de agir conforme os conselhos recebidos durante o

ano da escola normal ou durante o estágio prático.

Uma distinção fundamental que diferencia o mestre antigo dos modernos é

que muitos que adquiriam grande conhecimento teórico, não continuavam o seu

aperfeiçoamento.

Este comportamento caracterizava o ensino tradicional que colocava o

professor como alguém que nada mais tinha a aprender. Essa imutabilidade do ensino

afastava o professor do verdadeiro ensino para a vida, a verdadeira aprendizagem que

se deve alcançar.

Atualmente, as instituições de ensino estão num mercado cada vez mais

exigente, onde as perspectivas de emprego e até mesmo para se manter empregado

necessitam de maiores esforços de natureza educacional e aperfeiçoamento constante

dos alunos.

32

Nessa perspectiva, os princípios pedagógicos tiveram que ser adaptados

devido à velocidade com que os conceitos educacionais têm mudado.

Novos paradigmas estão se impondo, confrontando os aspectos racionais e

tradicionais do processo educativo com as necessidades da sociedade e do mercado.

Os profissionais devem estar sempre atualizados e em constante aperfeiçoamento.

Antes, a educação tradicional dava ênfase ao conteúdo, às informações

corretas e ao aprendizado visto como um produto.

O aprendizado era visto como uma estrutura hierárquica e autoritária, que

estimulava o conformismo e desencorajava a divergência. Possuía uma estrutura

rígida e o currículo era predeterminado.

A educação, mesmo encarada como necessidade social, proporcionaria ao

educando um mínimo de treinamento, capaz de garantir o desempenho e determinado

papel. O professor seria apenas um agente acabado de transmissão do conhecimento.

No entanto, contra essa realidade tradicional, que predominou quase até o

final do século XX, as sociedades estão procurando produzir uma educação que

responda aos desafios, tanto os sociais quanto os referentes ao progresso científico e

da tecnologia.

São necessárias constantes reciclagem e atualização, porque o conhecimento

é mutável e não estático.

Além disso, os temas da atualidade como: os problemas de aprendizagem, a

inclusão dos alunos com necessidades especiais, a hiperatividade e o comportamento

social como um todo, devem ser objetos de pesquisa e compreensão.

O professor necessita de constante atualização diante das exigências impostas

de um mundo em constante transformação.

33

De um modo geral, a situação dos professores que trabalham com crianças

hiperativas não difere dos que trabalham com crianças ditas “normais”. Baixos

salários, poucas orientações para o desempenho de sua função e sem recursos

necessários pra desenvolver sua atividade.

Paulo Freire (2000, p.98) diz que:

“Se é possível obter água cavando o chão, se é possível enfeitar a casa, se é possível nos defender do frio ou do calor, se é possível mudar o mundo que não fizemos, o da natureza, por que não mudar o mundo que fazemos, o da cultura, o da história, o da política?”

O professor ao diagnosticar o aluno hiperativo deve estar preparado para

vencer os limites da estigmatização e criar um ambiente de trocas interativas, que é

fundamental para a valorização da auto-estima. O educador precisa reconhecer que o

aluno hiperativo tem limitações, mas também é capaz de aprender.

A necessidade de remover as barreiras da aprendizagem dos alunos

hiperativos, sem necessitar excluí- los ou isolá- los, fez com que alguns professores

que trabalham com esta realidade adotassem algumas práticas pedagógicas com o

objetivo de propiciar o aprendizado desses alunos.

Professores das séries iniciais do ensino fundamental de uma escola da rede

Municipal de Ensino de São Gonçalo, com formação superior em Pedagogia;

resolveram questionar os fatores que estavam contribuindo para o fracasso escolar de

alguns alunos.

Conscientes do grau de maturidade e capacidade do aluno, os professores

diagnosticaram a dificuldade na área de comportamento e buscaram combater esse

problema.

Assim, a escola, buscou promover um estudo sobre a hiperatividade

juntamente com profissionais de outras áreas, psicólogo, psiquiatra e neurologista.

34

Os professores analisaram os impactos significativos que a hiperatividade

exercia sobre as crianças da classe, e começaram a transformar sua prática

pedagógica.

O professor deixou de empregar como primeira opção o reforço negativo ou a

punição, como meios para lidar com problemas e para motivar as crianças na sala de

aula. Procurou elaborar com os próprios alunos um conjunto de regras na classe,

colocando-as expostas em um cartaz na sala de aula.

As atividades propostas passaram a respeitar o nível de capacidade das

crianças, tornando a aula mais participativa, despertando a atenção do aluno

hiperativo. O professor passou a fornecer instruções curtas e repetidas de várias

maneiras, diretamente a criança hiperativa em um nível que ela conseguisse entender.

Os professores buscaram valorizar o lúdico e o movimento das crianças em

suas atividades, procurando auxiliar a criança hiperativa a aprender, praticar e manter

aptidões organizacionais.

Compreendendo que a maioria dos problemas de relacionamento social

vivido por uma criança hiperativa é resultado da falta de habilidades e não

necessariamente de incompreensão; os professores da escola resolveram, juntamente

com a orientação educacional, promover oficinas que buscassem trabalhar essas

habilidades, com o objetivo de promover a integração da criança hiperativa.

Quatro habilidades sociais foram trabalhadas pelos educadores:

Habilidade I Ouvir o outro.

Para desenvolver a capacidade da criança ouvir o outro e compreender o que

outro diz, o professor trabalhou com atividades que propiciaram a criança encarar a

pessoa com quem estava falando, estabelecendo contato visual e estabelecendo

regras como:

ü Não falar enquanto os outros estiverem falando

35

ü Pensar sobre o que está sendo dito

ü Revezar a fala.

Habilidade II Seguir instruções.

A criança hiperativa tem dificuldades para seguir instruções, geralmente

porque não presta atenção o tempo suficiente para recebê- las. Em situações sociais,

isto pode conduzir a um desastre e levar à rejeição por parte de seus colegas. Por essa

razão o professor buscou desenvolver essa habilidade propondo atividades que

permitiam a criança:

ü Ouvir com atenção o que estava sendo dito

ü Fazer perguntas sobre o assunto até que ficasse claro o que estava sendo

solicitado

ü Repetir as instruções para si mesma

ü Realizar a tarefa, cumprindo um estágio por vez, na ordem em que as

instruções foram apresentadas.

Habilidade III Compartilhar.

A criança hiperativa, por causa de sua necessidade impulsiva de recompensa

imediata, freqüentemente tem dificuldade de compartilhar. Não é por ser maldosa ou

egocêntrica, trata-se simplesmente do fato de sua necessidade de auto-satisfação ser

muito maior do que sua capacidade de parar e perceber que os outros também têm o

direito a recompensas.

Para desenvolver essas habilidades o professor propôs atividades que

permitiram a criança:

ü Reconhecer que compartilhar é importante para conquistar amigos

ü Decidir se ela tinha algo para compartilhar

ü Decidir com ela iria compartilhar

36

ü Encontrar o melhor momento para compartilhar

ü Compartilhar de modo honesto sem trapacear ou esperar algo em troca.

Habilidade IV Compreender a linguagem do corpo.

As mensagens não-verbais, normalmente de comunicação muito eficiente

entre amigos, requerem sempre maior grau de atenção. Para desenvolver a leitura da

linguagem corporal o professor realizou atividades em que a criança foi capaz de:

ü Encarar a outra pessoa e olhar para ela

ü Ficar atento para identificar como a pessoa se sentia em relação a sua

expressão facial

ü Identificar como o indivíduo se sentia observando sua postura corporal.

Observa-se que a hiperatividade é um desafio enfrentado por esses

profissionais da educação, que compreendem que a criança hiperativa apesar de

apresentar comportamentos diferentes dos demais , possuem potencialidades que

convenientemente orientadas podem permitir a sua alta realização e a sua integração

no meio social de forma positiva.

A formação continuada do educador de alunos permite que este reconheça o

seu papel real e repense a sua própria prática. É nessa busca constante do

conhecimento e de novas possibilidades que o educador vai poder melhor exercer a

função social e política do seu trabalho na educação de crianças hiperativas.

“É bem verdade que a descoberta da possibilidade de mudar não é mudar. Indiscutivelmente, porém, saber que, mesmo difícil, mudar é possível é algo superior ao imobilismo fatalista em que mudar é impensável ou em que mudar é pecado contra Deus. É sabendo que, mesmo difícil, mudar é possível, que o oprimido nutre sua esperança”. (FREIRE, 2000, p.99).

A prática pedagógica é uma função social, uma vez que o seu trabalho

competente na alfabetização e sua continuidade, contribui para que essa população

37

marginalizada de direitos sociais, passe a ter acesso, pelo menos a esse direito social.

No trabalho cotidiano do professor nas situações que enfrenta no dia a dia, nos

conteúdos que trabalha em sala de aula, na forma de se relacionar com seus alunos é

que se encontra a maior fonte para as suas reflexões, para compreensão de seu papel

e para o repensar de sua própria ação.

O professor exerce a função política, porque sua ação se dá através de uma

prática pedagógica e social, competente e lúcida, onde conhece os meios necessários

para a realização de seu trabalho e a sua própria condição, refletindo, enquanto

professor, junto a seus alunos, sobre a situação educacional e social do país.

É preciso conhecer e levar em conta as características específicas e as

percepções de cada grupo a que se está dirigindo o trabalho.

É importante o educador viabilizar a formação do educando como ser criador

do seu próprio universo, da sua própria história.

Como diz Paulo Freire:

“(...) sentimos, de um lado, a necessidade de uma educação que não descuidasse da vocação ontológica do homem, a de ser sujeito, e, por outro, de não descuidar das condições peculiares de nossa sociedade em transição, intensamente mutável e contraditória. Educação que tratasse de ajudar o homem brasileiro em sua emersão e o interesse criticamente no seu processo histórico. Educação que por isso mesmo libertasse pela conscientização. Não aquela educação que doméstica e acomodada. Educação, afinal, que promovesse a “ingenuidade”, característica da emersão, em criticidade, com a qual o homem opta e decide” (FREIRE, 1979, p.66).

Deve-se entender que a educação, isto é, a relação pedagógica, só ocorre se

estiver impregnada de sentido, se ela se referir ao sentido do mundo, da vida, do

homem.

38

Percebe-se que os professores dessa escola atuam como mediadores, dando

pistas, fazendo propostas, mostrando novos caminhos para que os alunos se

desenvolvam no processo educativo. Caracterizam-se como educadores sociais,

orientadores da aprendizagem e provocadores de novos conhecimentos.

Com o auxílio desses profissionais, as crianças hiperativas demonstram que

podem obter sucesso em classes normais.

39

CAPÍTULO IV - DESENVOLVENDO A

CAPACIDADE DE ATENÇÃO DA CRIANÇA

HIPERATIVA ATRAVÉS DE ATIVIDADES

PSICOMOTORAS

A educação tem como finalidade única o crescimento intelectual e emocional

de cada indivíduo.

“A finalidade da educação escolar é a de promover certos aspectos do crescimento pessoal considerados importantes no marco da cultura do grupo, que não ocorrem, ou ao menos não satisfatoriamente, a não ser por meio de ajuda específica mediante a participação em atividades especialmente pensadas com esse fim” (COLL, 1996, p.154).

É compreensível que se veja a educação sob diversos enfoques.

Dos estudiosos da educação há alguns que defendem pressupostos de que a

educação se fundamenta nas desigualdades sociais, ou seja, na estrutura social atual.

Outros destacam os fatores psicológicos e a relação professor e alunos, no

desempenho e continuidade escolar. Já outros consideram fatores internos em uma

escola como determinantes dos problemas escolares.

A educação no Brasil difere pela origem econômica dos alunos e pelas verbas

destinadas à educação.

Desde muito tempo, que diagnósticos, denúncias e propostas de educação

popular têm estado sempre presentes nos discursos sobre a educação brasileira. O

objetivo é sempre a igualdade social, a democratização do ensino, apesar de não

passarem de palavras que vêm se perdendo ao longo do tempo.

40

Dentre os estudos relacionados à educação, no que se refere à melhoria do

ensino, constata-se obviamente, que existe, também, o descaso de muitos

profissionais. Principalmente quando se trata de crianças hiperativas, já que elas

exigem atenção especial, conforme artigo de A Gazeta (30/06/1990, p.34):

“A psicomotricidade nasceu da necessidade sentida pelos neurologistas de tratar crianças que apesar de não apresentarem lesões cerebrais, tinham distúrbios como falta de equilíbrio, ou de ritmo”.

A arte de ensinar ou educar exige um compromisso total do aluno com o

educador. Os de seis a dez anos, conseguem maiores progressos quando encontram

um ambiente favorável e um contato bem próximo com o seu educador.

De acordo com a experiência vivida em sala de aula a criança hiperativa é

aquela desastrada, incontrolável ou solitária, apática, dispersa. Quando se tem uma

criança nessas condições é importante levá- la a conhecer um psicomotricista, uma

pessoa preparada para acompanhá- la. É evidente que tanto a criança quanto à família

precisam de ajuda, de conhecimento, a respeito do assunto.

A Psicomotricidade surgiu da necessidade de alguns especialistas, em

neurologia, no tratamento de crianças que tinham distúrbios cerebrais, como falta de

equilíbrio, ou ritmo, mas não tinham lesões. Portanto, surgiu a prática psicomotora

que trata a criança pela via motora. Conforme estudos realizados a prática

psicomotora conseguiu verificar que atrás do comportamento da criança, dos sinais

que seu corpo envia, estão mensagens de seu interior, o que beneficiou a descoberta

dos principais distúrbios como: a hiperatividade, a inabilidade corporal, dificuldades

de relacionamento e de aprendizagem.

Ás vezes, alguns psicólogos atribuem o problema aos pais que são pessoas

hiperativas e que não se trataram quando criança. Entretanto, há de se compreender

que essa modalidade de tratamento é recente e que tem se tornado cada vez mais

necessária na vida e certas crianças, segundo afirma Torres (1996, p. 34):

41 “A terapia psicomotora age libertando a criança de seus bloqueios, ajudando-a a descobrir prazer nos movimentos. A criança brinca, joga, destrói, constrói, cria. Sempre com o acompanhamento de um psicomotricista”.

Esses profissionais que atuam nessa área, ainda lutam pela regulamentação da

profissão, já que hoje esta modalidade é uma especialização para profissionais da

área de saúde e educação.

O desenvolvimento motor é o resultado da maturação de certos tecidos

nervosos, aumento em tamanho e complexidade do sistema nervoso central,

crescimento dos ossos e músculos. São, portanto, comportamentos não aprendidos

que surgem espontaneamente, desde que a criança tenha condições adequadas para

exercitar-se.

A Psicomotricidade se preocupa com o desenvolvimento neuro-muscular,

tendo como objetivo desenvolver o aspecto comunicativo do corpo, isto é, oferecer

ao indivíduo a condição de dominar seu corpo buscando seu aperfeiçoamento e seu

equilíbrio.

A Psicomotricidade é subdividida em áreas que agem sempre vinculadas

umas às outras. São elas:

Comunicação e expressão

A linguagem tem função de expressão e comunicação do pensamento e

função de socialização, pois permite ao indivíduo trocar experiências e atuar

verbalmente e gestualmente no mundo.

Por ser a linguagem verbal intimamente dependente da articulação e da

respiração, inclui nesta área os exercícios fono-articulatórios e respiratórios.

Percepção

42

Percepção é a capacidade de reconhecer e compreender estímulos recebidos.

A percepção está ligada à atenção, à consciência e à memória.

Os estímulos provocam uma sensação que possibilita a percepção e a

discriminação. Primeiramente, sente-se através dos sentidos, em seguida, percebe-se

a realização de uma mediação entre o sentir e o pensar. E, por fim, discriminam-se as

diferenças e semelhanças entre estímulos e percepções.

Coordenação

A coordenação motora é ligada ao desenvolvimento físico. Entendida como a

união harmoniosa de movimentos, a coordenação supõe integridade e maturação do

sistema nervoso.

Orientação

A orientação ou estruturação espacial/temporal é importante no processo de

adaptação do indivíduo ao ambiente, já que todo corpo, animado ou inanimado,

ocupa necessariamente um espaço em um momento.

A orientação espacial e temporal corresponde à organização intelectual do

meio e está ligada a consciência, a memória e as experiências vivenciadas pelo

indivíduo.

Conhecimento corporal e lateralidade

O conceito corporal é o conhecimento intelectual sobre as partes e funções do

corpo; é o esquema corporal, que na mente humana regula a posição dos músculos e

das partes do corpo, é inconsciente e modifica-se com o tempo.

43

Quando se trata de conhecimento corporal, insere-se a lateralidade. A

lateralidade diz respeito á percepção dos lados direito e esquerdo e a atividade

desigual de cada um desses lados, visto que sua distinção será manifestada com o

desenvolvimento de experiências.

As atividades psicomotoras auxiliam a criança a adquirir boa noção de espaço

e lateralidade e boa orientação com relação a seu corpo, aos objetos, às pessoas e aos

sinais gráficos.

Habilidades conceituais

A matemática é considerada uma linguagem cuja função é expressar relações

de quantidade, espaço, tamanho, ordem, distância, etc.

A criança desenvolve o conhecimento lógico-matemático, pela relação que

estabeleceu entre objetivos.

Para que se construa o conhecimento físico a criança necessita ter um sistema

de referência lógico-matemático que lhe possibilite relacionar novas observações

com o conhecimento já existente.

Para desenvolver as áreas psicomotoras, a atenção e a motivação das crianças

hiperativas é necessário que o professor trabalhe com um projeto interdisciplinar.

“No projeto interdisciplinar não se ensina, nem se aprende: vive-se, exerce-se. A responsabilidade individual é a marca do projeto interdisciplinar, mas essa responsabilidade está imbuída do envolvimento _ envolvimento esse que diz respeito ao projeto em si, às pessoas e às instituições a ele pertencentes” (FAZENDA, 1991, p.17).

No projeto interdisciplinar encontram-se sempre barreiras, mas elas poderão

ser superadas pelo desejo de criar, inovar e de ir além. Reforça-se a idéia de que a

44

interdisciplinaridade é a possibilidade de se chegar a síntese da totalidade do

conhecimento fundamental a todo ser humano em sociedade.

É importante salientar que o processo interdisciplinar possibilita a

comunicação entre as diversas disciplinas, procurando cada uma delas facilitar o

entendimento uma das outras, por parte do aluno.

Objetiva-se situar a Psicomotricidade neste contexto.

O professor de história, por exemplo, poderia combinar uma caminhada a

uma localidade ou patrimônio histórico próximo à escola e durante a mesma, o

professor explicaria aos alunos e demais acompanhantes sobre os diversos benefícios

desta atividade física, isto é, da caminhada.

Um outro trabalho em conjunto pode ser feito com o professor de

Matemática, onde se aproveitando das dimensões de uma quadra, campo de futebol,

ou qualquer outra área, formularia questões, problemas de geometria e aritmética, em

sala de aula, familiarizando os alunos ainda mais com estes locais utilizados na

escola para realização de atividades psicomotoras.

Os alunos na aula de Educação Física ao se deslocarem, andando, correndo,

saltitando em um determinado espaço, terão a visão de figuras geométricas

reforçando a compreensão dos problemas de geometria resolvidos em sala de aula.

O professor de inglês poderia propor um campeonato de futebol, onde os

alunos, por meio desta língua, elaborariam um trabalho explicando a origem e as

atuais características do futebol na Inglaterra.

A responsável pela merenda escolar explicaria aos alunos a importância dos

alimentos para a vida diária, e estes com relação à atividade físico-mental. Em troca

o professor de Ciências trabalharia a questão do zelo e a manutenção do refeitório,

como parte integrante da vida escolar.

45

Através desta relação irá se construir um sistema realmente integrado,

facilitando ao aluno no entendimento do contexto escolar.

O processo da interdisciplinariedade contribui para que a Psicomotricidade

seja desenvolvida dentro da escola permitindo que o aluno hiperativo desenvolva o

seu potencial, aprenda em movimento, construa seu próprio conhecimento sendo

inserido no processo ensino-aprendizagem.

A criança hiperativa, assim como a criança dita “normal” tem o direito à

educação que ofereça seu pleno desenvolvimento e a prepare para o exercício da

cidadania.

46

CONCLUSÃO

Este estudo aborda os tratamentos utilizados por profissionais que amenizam

os problemas de aprendizagem e de sociabilidade da criança hiperativa e a

importância da Psicomotricidade no desenvolvimento da atenção desta criança no

processo ensino-aprendizagem.

A realização desta pesquisa permite concluir-se que:

Há uma grande variação de tipos de problemas comportamentais apresentados

por crianças hiperativas; de acordo com a idade, que interfere no relacionamento

social, emocional e na capacidade de aprendizagem dessa criança.

A busca da orientação por equipes multidisciplinar compostas por neuro-

pediatras, psicólogos e pedagogos seria o indicado para o estabelecimento do

diagnóstico da hiperatividade e da conduta a ser seguida para o tratamento da criança

hiperativa.

A utilização de atividades Psicomotoras propicia o desenvolvimento de

habilidades como: concentração, pensamento lógico, etc.

A maioria das dificuldades no relacionamento social, vividas por uma criança

hiperativa é resultado da falta de habilidades e não necessariamente da

incompreensão. Quando pais, educadores e orientadores se empenham a ensinar estas

práticas sociais, elas são mais bem-sucedidas.

Alguns tipos de intervenções são necessárias no tratamento da hiperatividade

como: Medicamentos, Orientação e Controle do Distúrbio e Desenvolvimento de

Habilidades.

47

Os medicamentos continuam a ser um tratamento comum e eficaz para o

controle da hiperatividade. Entre eles o mais usado é a Ritalina. Embora possam

surgir efeitos colaterais, pesquisas demonstram significativas melhoras em diversas

áreas da atividade escolar, principalmente na atenção.

A orientação das técnicas utilizadas para gerenciar o comportamento do

hiperativo pelos pais e professores, que devem administrar eficazmente os ambientes

doméstico e escolar da criança pode ser dada por psicólogos e pedagogos.

As atividades Psicomotoras desenvolvem habilidades que ajudam a criança

hiperativa a prestar atenção de modo mais efetivo, planejar, seguir regras e fazer

amizades.

O sucesso do tratamento para minimização dos problemas de aprendizagem e

socialização da criança hiperativa depende em grande parte do empenho, dedicação e

carinho dos seus pais e professores.

48

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53

ANEXOS

54

PRIMEIRA ATIVIDADE CULTURAL: CELEBRARE

SEGUNDA ATIVIDADE CULTURAL: TEATRO DA MAISON FRANCE

55

TERCEIRA ATIVIDADE CULTURAL: CANECÃO

QUARTA ATIVIDADE CULTURAL: TEATRO UFF

56

QUINTA ATIVIDADE CULTURAL: THEATRO MUNICIPAL DO RJ

SEXTA ATIVIDADE CULTURAL: CNC/SK

57

SÉTIMA ATIVIDADE CULTURAL: TEATRO CARLOS GOMES

OITAVA ATIVIDADE CULTURAL: CINE ARTE UFF

58

NONA ATIVIDADE CULTURAL: TEATRO DA UFF

DÉCIMA ATIVIDADE CULTURAL: CANECÃO

DÉCIMA PRIMEIRA ATIVIDADE CULTURAL: CLARO HALL

59

ÍNDICE

INTRODUÇÃO..........................................................................................................10 CAPÍTULO I- ALGUMAS CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS DA HIPERATIVIDADE...................................................................................................13 1.1 – Diagnóstico e tratamento...................................................................................18 Histórico da família....................................................................................................19 Inteligência.................................................................................................................19 Personalidades e desempenho emocional...................................................................19 Desempenho escolar...................................................................................................19 Amigos........................................................................................................................20 Disciplina e comportamento em casa.........................................................................20 O Comportamento na sala de aula..............................................................................20 Consulta médica..........................................................................................................20 CAPÍTULO II- A CRIANÇA HIPERATIVA NA ESCOLA.....................................24 CAPÍTULO III- A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE UMA ESCOLA DA

REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SÃO GONÇALO QUE TRABALHAM

COM CRIANÇAS HIPERATIVAS ..........................................................................30

CAPÍTULO IV- DESENVOLVENDO A CAPACIDADE DE ATENÇÃO DA

CRIANÇA HIPERATIVA ATRAVÉS DE ATIVIDADES PSICOMOTORAS......39

Comunicação e expressão...........................................................................................41

60 Percepção....................................................................................................................41 Coordenação...............................................................................................................42 Orientação...................................................................................................................42 Conhecimento corporal e lateralidade........................................................................42 Habilidades conceituais..............................................................................................43 CONCLUSÃO............................................................................................................46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................48 ANEXOS....................................................................................................................53 Primeira atividade cultural..........................................................................................54 Segunda atividade cultural..........................................................................................54 Terceira atividade cultural..........................................................................................55 Quarta atividade cultural.............................................................................................55 Quinta atividade cultural.............................................................................................56 Sexta atividade cultural...............................................................................................56 Sétima atividade cultural.............................................................................................57 Oitava atividade cultural.............................................................................................57 Nona atividade cultural...............................................................................................58 Décima atividade cultural...........................................................................................58 Décima primeira atividade cultural.............................................................................58 ÍNDICE.......................................................................................................................59