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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE ATIVIDADES LÚDICAS NA EDUCAÇÃO Por: Ingrid Monique Lourenço Orientador Prof. Maria Esther de Araújo Oliveira Rio de Janeiro 2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

ATIVIDADES LÚDICAS NA EDUCAÇÃO

Por: Ingrid Monique Lourenço

Orientador

Prof. Maria Esther de Araújo Oliveira

Rio de Janeiro

2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

ATIVIDADES LÚDICAS NA EDUCAÇÃO

Apresentação de monografia ao Conjunto

Universitário Cândido Mendes como condição

prévia para a conclusão do Curso de Pós-

Graduação “Lato Sensu” em Docência do Ensino

Superior.

Por: Ingrid Monique Loureiro

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RESUMO

O presente trabalho monográfico teve como objetivo analisar e

demonstrar a importância das atividades lúdicas na formação do educando, visando

sempre estabelecer relações entre criança, jogo, brinquedo e educação como

fatores essenciais na construção do conhecimento. Nesse sentido o lúdico é

encarado como um recurso Pedagógico fundamental no processo ensino-

aprendizagem. Diversos autores foram abordado como Walter Benjamin, Tizuko

Morchida Kishimoto, Jean Piaget, Leonor Rizzo, Vigostky e outros, destacando-se os

aspectos do processo de ensino-aprendizagem através de jogos e brincadeiras,

demonstrando que a diversidade de práticas pedagógicas que caracterizam o

universo da educação infantil reflete diferentes concepções quanto ao sentido e

funções atribuídas ao lúdico no cotidiano das pré-escolas.

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METODOLOGIA

Para a realização do presente trabalho optou-se por uma pesquisa

bibliográfica acerca do assunto em questão, que aborda o tema “atividades lúdicas

na educação”.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................. 06 CAPÍTULO I A BRINCADEIRA NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM..................... 08 CAPÍTULO II A BRINCADEIRA, A SOCIALIZAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO............................................................................................

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CAPÍTULO III BRINCADEIRA NA ESCOLA: PERDA DE TEMPO OU PRECIOSA AJUDA? 34 CONCLUSÃO................................................................................................... 42 BIBLIOGRAFIA................................................................................................. 45 ÍNDICE ............................................................................................................ 47 FOLHA DE AVALIAÇÃO ................................................................................. 48 ANEXOS ......................................................................................................... 49

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INTRODUÇÃO

Este trabalho monográfico vem ao encontro de um aprofundamento

teórico e metodológico mostrando a importância do lúdico no desenvolvimento da

criança. Enfatizando o papel que o jogo e a brincadeira desempenham no

desenvolvimento e atuam como instrumentos do qual a criança se apropria da

cultura.

No brinquedo a criança encontra como objetivo a descoberta do mundo

que a rodeia, pois ela se desenvolve brincando e procura satisfazer-se de certas

necessidades no brinquedo.

O brincar envolve uma série de atividades que apresentam um caráter

lúdico e a brincadeira tem fundamental importância no processo - ensino -

aprendizagem, além de ser uma atividade essencialmente lúdica, assume a função

de promover o desenvolvimento integral da criança.

A brincadeira não pode ser considerada uma atividade complementar,

mas sim uma atividade fundamental pedagógica em conjunto com outras atividades,

pois é através da brincadeira que a criança está em constante interação com

diferentes modos de comportamentos, e é na relação com outras pessoas que ela

constrói e amplia conceitos dos quais não teria condições de realizar sozinha. É na

brincadeira que a criança é inserida neste meio social compreendendo e

conhecendo diversos papéis.

O brinquedo e a brincadeira podem permear a prática escolar fluindo

na criatividade, postura e convicção do professor. Alertamos os adultos a

importância do brincar como uma ação motivadora, faz-se necessário ampliar a

visão sobre a metodologia em questão.

Sabe-se que tanto o jogo, o brinquedo, quanto a brincadeira estão

atrelados no mundo infantil, pois a criança adquire a aprendizagem brincando,

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brincar fornece a ela a possibilidade de construir uma identidade autônoma,

cooperativa e criativa. A brincadeiras e os jogos fazem parte do ato de educar, um

compromisso consciente, intencional e modificador da sociedade.

Para atingir um objetivo, é preciso que os educadores repensem o

conteúdo e sua prática pedagógica, substituindo a passividade pela alegria, pela

vida, pelo entusiasmo de aprender, pela maneira de ver, pensar, compreender e

reconstruir o acontecimento. A missão dos educadores é preparar gerações para o

mundo em que terão que viver, ensinar as crianças aprender a aprender.

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CAPÍTULO I

A BRINCADEIRA NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

Sabemos que a criança adquire aprendizagem brincando, pois brincar

fornece a elas a possibilidade de construir uma identidade autônoma cooperativa e

criativa. Brincar é uma atividade gratuita, é um espaço da imaginação que não tem

tempo nem lugar para acontecer, mas precisa de muito tempo e de um lugar que

seja acolhedor. A criança pode brincar com a linguagem, os brinquedos, os

personagens, os espaços, os desenhos mas depende da motivação de recursos

disponíveis e é preciso entender que a brincadeira é uma atividade da imaginação,

cabe ao adulto saber o momento adequado de interferir.

Para Vigotsky:

“O prazer do brinquedo na idade pré-escolar é controlado por motivações diversificadas. Isso não quer dizer que todos os desejos não satisfeitos dão origem a brinquedos. Raramente as coisas acontecem dessa maneira, tampouco a presença de tais emoções generalizadas no brinquedo significa que a própria criança entende as motivações que dão origem ao jogo. Quanto a isso, o brinquedo difere substancialmente do trabalho e de outras formas de atividade”. (VIGOTSKY, 1989, p. 123)

No dia-a-dia, vê-se que a criança através das brincadeiras constrói

aprendizagem, através dos jogos de montar elas vão construindo, nomeando, cores,

separando peças, tudo isso desenvolve nelas, atenção, percepção, imaginação e

vão ampliando seu vocabulário, criando e imaginando situações de representação

simbólica entre o mundo a ser construído. A criança aprende brincando, e brincando

ela é feliz.

O brinquedo e a brincadeira pode permear a prática escolar, fluindo e

manifestando-se na criatividade, postura e convicção do professor, é necessário que

os adultos, pais e educadores levem a sério a importância do brincar, como ação

motivadora, pois a criança em idade pré-escolar começa a experimentar

necessidades, onde os desejos não realizáveis podem ser realizados através do

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brinquedo, como um mundo imaginário onde a criança cria e imagina, e ao imaginar

ela brinca. Pois o brinquedo proporciona para ela a mediação entre o real e o

imaginário. A criança e o brinquedo se completam.

“No mundo lúdico a criança encontra equilíbrio entre o real e o

imaginário, alimenta sua vida interior, descobre o mundo e torna-se operativa.”

(SANTOS, 1997,p. 56)

A criança que busca investiga tem uma experiência total, e deve ser

respeitada, seu mundo, é rico e está em constante mudança, ela possui um

intercâmbio entre fantasia e realidade, se o adulto interferir em sua atividade lúdica

pode perturbar o desenvolvimento da experiência que a criança realiza ao brincar.

Brincar de carros é a paixão dos meninos, pois é compartilhada com as meninas,

também adoram brincar de casinha onde representam suas fantasias amorosa dos

pais e de si próprios, assim também o brinquedo como as bonecas satisfazem as

necessidades de paternidade e maternidade.

A criança que brinca bem tranqüila com a imaginação, dá uma prova

de saúde mental. As brincadeiras sexuais entre as crianças não são negativas, pelo

contrário contribuem para o bom desenvolvimento, os desejos genitais podem

analisar-se em brincar de pai e de mãe, médico e enfermeira, de namorados,

casados, etc., esses tipos de brinquedos satisfazem suas necessidades de tocar, de

se mostrar de serem vistos e de ver, transportando para o mundo sua própria

criação, nesta fantasia aprendem sobre a relação entre as pessoas, sobre ela

própria e sobre o outro.

O não brincar no momento adequado com o brinquedo correspondente

acarreta perturbações, e o fato de não surgir um determinado modo de brincar pode

ser um sinal de mau desenvolvimento da criança.

Sabe-se que durante o primeiro ano de vida de uma criança, seus

interesses se centralizam nos elementos, prazeres e exigências derivados da fase

oral como: chupar, morder, beijar, lamber, explorar os objetos com a boca, isso

acontece de uma maneira intensa até a aparição dos dentes ou até aparecerem

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novos interesses. A criança vai sentir a necessidade de querer explorar o corpo,

tanto o seu quanto o dos outros, até surgir o aprendizado do movimento e a

necessidade de se deslocar no espaço. Aí surge a necessidade do brinquedo pois

oferece a criança uma longa experiências que correspondem a necessidade

específica a etapa de desenvolvimento da criança. Sendo que ao brincar, ela

desloca para o exterior seus medos, angústias e problemas internos, dominando-os

por meio de ações, pois através do brincar ela repete todas as situações

vivenciadas.

Na medida que a criança vai crescendo surgem sempre novos

interesses, novas situações de mudanças e os brinquedos vão se modificando, por

isso o brinquedo infantil, progride constantemente para identificações cada vez mais

aproximadas da realidade.

De acordo com PIAGET:

“Conquanto seja fácil perceber que as crianças brincam por prazer, é muito mais difícil para as pessoas verem que as crianças brincam para dominar angústias, controlar idéias ou impulsos que conduzem à angústia se não forem dominados”. (PIAGET, 1988, p.81)

Brincar não é mentir, é fantasiar, a criança retira de sua vida os

conteúdos da brincadeira através de impressões e sentimentos que vivência e dos

conhecimentos que aprende. A brincadeira é uma atividade social, imaginativa e

interpretativa. Pois toda criança é um ser social que constrói seus conhecimentos a

partir de sua vivência, por isso ela necessita diversas atividades que façam com que

ela compreenda melhor seu meio social e cultural. As atividades lúdicas são

fundamentais no desenvolvimento da criança em todos os aspectos, sendo um fator

essencial no processo de seu desenvolvimento. Em meu dia-a-dia como educadora

faço do ato de brincar uma atividade criativa, prazerosa e de aprendizagem, sem

deixar de lado a espontaneidade da criança.

O ato de brincar desempenha papéis diferentes em que a criança

normalmente realiza, pois possibilita perceber situações imediatas dos objetos, a

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situações que vivência e o significado da mesma, percebendo o significado, a

criança vislumbra ações futuras e elabora novas formas de pensar. O brincar

proporciona a troca de pontos de vista diferentes, ajuda a perceber como os outros a

vêem, auxiliando a criação de interesses comuns, uma razão para que se possa

interagir com o outro. O brinquedo tem em cada momento da vida da criança, uma

função, um significado diferente e especial para quem dele participa.

O brinquedo é o elemento possilbilitador dos avanços afetivos e

cognitivos. Ao recuperar a história de vida de cada criança, a auxilia a pensá-la,

repensá-la e relacioná-la a outras vivências também significativas buscando o

exercício da reflexão. A brincadeira além de desenvolver uma série de atividades

lúdicas assume uma fundamental importância no processo de aprendizagem infantil,

assume a função de promover o desenvolvimento da criança enquanto indivíduo, e a

construção do conhecimento. A brincadeira não pode ser considerada uma atividade

complementar, mas sim uma atividade fundamental pedagógica.

“Se brinquedos são sempre suportes de brincadeiras, sua utilização deveria criar momentos lúdicos de livre exploração, nos quais prevalecem a incerteza do ato e não se buscam resultados. Porém, se os mesmos objetos servem como auxiliar da ação docente, buscam-se resultados em relação à aprendizagem de conceitos e noções ou, mesmo, ao desenvolvimento de algumas habilidades. Nesse caso, o objeto conhecido como brinquedo não realiza sua função lúdica, deixa de ser brinquedo para tornar-se material pedagógico” (Kishimoto, 1994, p.14).

A escola não pode ser vista como um local onde a brincadeira ocorre

como meio e fim, ou seja, brincar por brincar, mas que haja condições para a criança

adquirir o conhecimento formal e o desenvolvimento dos processos do pensamento,

para que nela a criança aprenda a forma de se relacionar com o próprio

conhecimento. A princípio o professor observa as inter-relações entre as crianças,

de seus interesses, para partir dessas observações em conjunto com os

conhecimentos necessários para o processo educativo, necessita programar

atividades no sentido de possibilitar novas aprendizagens. Pois toda criança pode

construir e ampliar conceitos na interação de outras crianças ou indivíduos mais

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experientes, os quais ela não teria condições de realizar sozinha. É através da

brincadeira que a criança é inserida neste meio social.

As brincadeiras assumem características diferentes nos vários

períodos de desenvolvimento.

Esta diversidade de formas e funções que o brincar assume na infância

em primeiro lugar nos revela sua complexidade, em seguida nos sugere que

compreender sua importância na infância deve passar necessariamente pela

compreensão da importância que a atividade lúdica tem para o ser humano em

qualquer idade e para o desenvolvimento cultural de um povo.

É através de uma educação lúdica, de qualidade que pressupõe uma

criança construir seu conhecimento, possibilitando seu desenvolvimento adequado,

dando-lhe condições de executar com maior probabilidade e êxito as atividades

propostas.

O brinquedo não é uma coisa séria para a criança, pois permite a elas

fazer fluir sua fantasia, sua imaginação, justamente por não ser sério é que ele se

torna importante, pois é a não seriedade que dá seriedade ao brinquedo. As

crianças fazem do brinquedo uma ponte para o seu imaginário, um meio pelo qual

externam suas criações e suas emoções. O brincar ganha densidade, trás enigmas,

comporta leituras mais profundas, vivas, ricas em significados. As crianças aplicam

no brinquedo toda sua sensibilidade sem duvidar daquilo que é dado, daquilo que é

aparente. Pois brincando com uma boneca ou um carrinho não é apenas uma

boneca ou um carrinho, é tudo aquilo que sua imaginação desejar. Elas querem

sonhar, exercitar todos os sentidos com seus brinquedos e, junto a eles, explorar,

sentir e conhecer o mundo. O brinquedo é capaz de revelar as contradições

existentes entre a perspectiva adulta e a infantil. É através do brinquedo que a

criança faz sua excursão no mundo, trava contato com os desafios e busca saciar

sua curiosidade.

Segundo WAJSKOP (1999), nos diz sobre os primórdios da educação

grego-romana, partindo das idéias de Platão e Aristóteles que já utilizavam o

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brinquedo na educação. Platão não só comentava sobre a importância de aprender

brincando, como também sugeria para a educação das crianças pequenas, o uso de

jogos que imitassem atividades sérias preparando-as para a vida. Não se discutia o

uso do jogo como recurso para o ensino eram destinados ao preparo físico da

criança voltando-se para a formação de soldados e cidadãos obedientes e devotos,

e a influência na cultura física, a formação estética e espiritual. No entanto, somente

com a ruptura do pensamento romântico que a valorização da brincadeira ganha

espaço na educação das crianças.

A partir dos trabalhos de Comenius (1593), Rousseau (1712) e

Pestalozzi (1746) surge um novo “sentimento de infância que protege as crianças e

auxilia na conquista de um lugar enquanto categoria social. Dá-se inicio a

elaboração de métodos próprios para sua educação, baseada em uma concepção

idealista e protetora da infância, fazendo uso de brinquedos e centradas no

divertimento.

1.1 O brincar na infância

O brincar sempre foi e será uma realidade cotidiana na vida das

crianças, para que brinquem não devem ser impedidas de exercitar sua imaginação,

de assimilar o real aos desejos de construir, seus conhecimentos a partir de

experiências vivenciadas. Pois a imaginação é um instrumento que elas relacionam

seus interesses e suas necessidades com a realidade um mundo que vão

conhecendo aos poucos, meio ao qual interagem com o universo dos adultos, do

qual já existia quando nasceram e que aos poucos vão compreendendo.

KISHIMOTO nos diz que:

“O brinquedo coloca a criança na presença de reproduções: tudo o que existe no cotidiano, a natureza e as construções humanas. Pode-se dizer que um dos objetivos do brinquedo é dar à criança um substituto dos objetivos reais, para que possam manipulá-los.’’ (KISHIMOTO, 1997, p.18).

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A partir dos trabalhos de Comenius (1593), Rousseau (1712) e

Pestalozzi (1746) surge um novo “sentimento de infância que protege as crianças e

auxilia na conquista de um lugar enquanto categoria social. Dá-se inicio a

elaboração de métodos próprios para sua educação, baseada em uma concepção

idealista e protetora da infância, fazendo uso de brinquedos e centradas no

divertimento.

O primeiro brinquedo da criança é o seu próprio corpo, descobrir,

perceber, sentir o próprio corpo permite a ela construir seu esquema corporal,

aprendendo a lidar com sua realidade interior e a busca da compreensão do mundo

exterior. É por meio destes contatos iniciais com seu próprio corpo, mais aos

cuidados, carinhos e afagos que recebe do adulto que a criança percebe seu próprio

corpo como separado do outro, estabelecendo referências sobre si, suas

necessidades, sentimentos e sexualidade.

A medida que a criança vai ampliando suas experiências, seu corpo já

não lhe basta para as brincadeiras, na medida que ela vai crescendo, as

brincadeiras vão tomando uma dimensão mais socializadora, em que os

participantes se encontram, tem uma atividade comum e aprendem a coexistência

com tudo o que lhe possibilita aprender, como lidar com o respeito mutuo, partilhar

brinquedos e dividir tarefas. Pois o brinquedo pode ser definido de duas maneiras,

uma em relação à brincadeira outra a uma representação social. É através do

brinquedo que a criança constrói suas relações de posse, de utilização, de

abandono, de perda, além dos esquemas que reproduzirá com outros objetos na sua

vida futura. Sendo que no brinquedo a criança entra em contato com um discurso

cultural sobre a realidade que o cerca. O brinquedo testemunha a importância da

interação, do que se passa entre o objeto e a criança.

Desde o nascimento as crianças agem e se relacionam com o

ambiente físico e social e passam toda a sua infância construindo seus

conhecimentos sobre a realidade que a cercam de um mundo de objeto, relações e

sentimentos que pouco a pouco, vão ampliando e procurando todo o tempo

compreender, vão percebendo como o ser humano é único entre os outros

indivíduos.

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Para um bom andamento e sucesso para que as crianças possam

usufruir de tudo que a brincadeira lhes permite tanto jogo, atividades, faz-de-conta,

bolas, brincadeiras de rodas, brincadeiras livres, etc. O professor não deve se utilizar

de prêmios e recompensas como instrumento de motivação e sim prazer pela

realização da atividade proposta.

O brincar fornece a criança a possibilidade de construir uma identidade

autônoma, cooperativa e criativa. Nenhuma criança nasce sabendo brincar, ela vai

aprendendo com seus semelhantes.

É nos primeiros anos de vida que se instala a relação da criança com o

conhecimento, é ali que a ação pedagógica competente provoca a paixão de

conhecer o mundo e começa a ser construída a cidadania consciente e

comprometida. O fato da criança desde muito cedo, poder se comunicar por meio de

gestos, sons e mais tarde representar determinados papéis na brincadeira, faz com

que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças desenvolvem

algumas capacidades importantes na sua vida, como a atenção, a imitação, a

memória e a imaginação, amadurecendo algumas capacidades de socialização por

meio da interação com regras e papéis sociais.

A criança está inserida, desde o seu nascimento, num contexto social e

seus comportamentos estão impregnados por esta imersão inevitável. Não existe na

criança uma brincadeira natural. A brincadeira é um processo de relações inter-

individuais, por tanto de cultura.

“É preciso partir dos elementos que ela vai encontrar em seu ambiente,

para se adaptar a suas capacidades. A brincadeira pressupõem uma aprendizagem

social. Aprende-se a brincar”. (BROUGERE 1997, p 97 - 98).

O movimento e as sensações de movimentos são os primeiros

divertimentos que os adultos oferecem as crianças. O adulto que brinca, estimula e

conversa com os bebês, ensina-os a brincar.

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Ensinar a brincar é ensinar o faz-de-conta, é ensinar a criança a atribuir

diferentes sentidos para as suas ações. A criança aprende a brincar da mesma

forma como aprende a se comunicar. Os adultos têm um papel importante nessa

aprendizagem.

A criança brinca porque gosta de brincar, porque a brincadeira é o

melhor instrumento para a satisfação das necessidades que vão surgindo no seu dia

a dia. Para ela é um espaço de investigação e construção de conhecimento sobre si

e sobre o mundo. É através da brincadeira que a criança expressa a forma de como

ela ordena, desorganiza, destrói e reconstrói o mundo a sua maneira. É o espaço

onde ela expressa suas fantasias, seus desejos, seus medos, seus sentimentos

agressivos ou passivos e os conhecimentos que vai construindo a partir das

experiências vivenciadas em seu meio.

Para a criança sua principal atividade na vida, é o brincar. Brincar é sua

linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não a entendemos. Brincar é,

sem dúvida uma forma de aprender, mas é muito mais que isso. Brincar é

experimentar, relacionar-se, transformar-se, negociar. As brincadeiras favorecem a

formação da personalidade, e trazem benefícios didáticos e importantes. São meios

indispensáveis de se promover a aprendizagem, hábitos, comportamentos sociais

necessários a sua formação.

As crianças tem o prazer em todas as experiências de brincadeiras

físico e emocional, podemos ampliar o âmbito de suas experiências fornecendo

materiais e idéias. A criança adquire experiência brincando, pois a brincadeira é uma

parcela importante de sua vida. As experiências tanto externas como internas podem

ser férteis para o adulto mas, para a criança essa riqueza encontra-se

principalmente na brincadeira e na fantasia. As crianças evoluem por intermédio de

suas próprias brincadeiras e das suas invenções, sendo a brincadeira a prova

evidente e constante de capacidade criadora, que quer dizer vivência. A brincadeira

fornece uma organização para a iniciação de relações emocionais e assim propicia o

desenvolvimento de contatos sociais, é nas brincadeiras que a criança liga as idéias

com a função corporal.

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“A brincadeira só é possível se os seres que a ela se dedicam forem

capazes de um certo grau de meta-comunicação, ou seja, se forem capazes de

trocar sinais que veiculem a mensagem isto é uma brincadeira”. (BROUGERE,

1997, p 99).

Uma criança brincando pode mostrar pelo menos, uma parte tanto do

interior como do exterior a pessoa escolhida no meio ambiente. As crianças de todo

mundo têm uma brincadeira chamada “pais e mães” enriquecida por uma quantidade

infinita de materiais imaginativos, e o padrão que cada grupo de criança elabora,

especialmente sobre a personalidade dominante do grupo.

A criança nos desafia, porque ela tem uma lógica que é toda sua,

porque ela encontra maneiras peculiares e muito originais de se expressar, porque

ela é capaz através do brinquedo, do sonho e da fantasia de viver num mundo que é

apenas seu, e fazer nós perceber o quanto elas são diferentes.

Por meio da representação lúdica, a criança está explorando o mundo

ao seu redor e expressando idéias, sentimentos, valores, fantasias, intercalando o

real e o imaginário, num terceiro espaço, o espaço do brincar, que possibilita

também raciocinar, descobrir, persistir e perseverar, aprender a ganhar e perder,

percebendo que haverá novos momentos para ganhar, esforçar-se, ter paciência e

persistência.

A brincadeira favorece a auto–estima das crianças, e através das

brincadeiras que as crianças transformam os conhecimentos que já possuem

anteriormente em conceitos gerais com os quais brinca, pois ao assumir um

determinado papel ao brincar a criança necessita conhecer algumas de suas

características. Brincar com os outros possibilita não só a troca de experiências, mas

ajuda a perceber como os outros a vêem, auxiliando a criação de interesses

comuns.

Na visão de Brougere (1997) com as imagens a criança poderá se

expressar e com referências a elas que a criança poderá captar novas produções.

Pois o brinquedo com todas as suas especificidades é uma das fontes. Ele trás para

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a criança um suporte de ação, de manipulação, de conduzir o lúdico, trás as formas

e imagens, símbolos para que as crianças possam manipular. Manipular brinquedos,

além de remeter a várias outras coisas remete a manipular significações culturais de

uma determinada sociedade. Sendo que o brinquedo oferece um universo

estruturado e completo no qual a criança pode mergulhar, no qual cada brinquedo

pode ser analisado do ponto de vista de sua significação. Na brincadeira, a criança

não se contenta em desenvolver comportamentos, ela manipula as imagens, as

significações simbólicas que constituem uma parte da impregnação cultural na qual

está inserida. Por isso o brinquedo deve ser considerado na sua especificidade, pois

na maior parte das vezes as crianças não se contentam em olhar ou registrar as

imagens, ela as manipula na brincadeira para dar-lhes novos significados.

1.2 Confecção do Brinquedo

Os brinquedos artesanais sempre terão espaço muito importante na

formação social das pessoas. São insubstituíveis justamente porque concebidos e

realizados na sua totalidade por homens e não por máquinas, em seu ritmo humano,

como produto da habilidade manual, da fantasia e da capacidade criadora do ser

humano. O fato de o brinquedo artesanal ainda se fazer presente numa sociedade

dominada pela automação, e mais recentemente, pela informática testemunha de

conflitos por artesãos amadores e profissionais, que deixam parecer brinquedos se

expressar no mundo, na qual resulta a habilidade manual que as mãos humanas são

capazes de exprimir o que a máquina jamais poderia fazer, isto é nossa identidade.

Certamente a escola tem uma missão educativa importante, mas quanto as atividade

manuais e, mais particularmente, com relação as atividade lúdicas ligadas ao

brinquedo.

Sabe-se que a prática manual também requer conhecimento,

habilidade, talento e criatividade. Todos esse elementos estão presentes na criação

do brinquedo artesanal sem falar do ato criativo e do ato lúdico.

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O artesão do brinquedo transforma e trabalha os materiais tanto quanto

o autor trabalha o texto; o escritor, a palavra; o poeta, o verso; o cientista, os

fenômenos e as teorias. O brinquedo artesanal não necessita ser contraposto ao

brinquedo industrializado para se mostrar importante, basta observar o cotidiano de

nossa sociedade se encarregam de manter vivo o espaço dos brinquedos

artesanais. Através do objeto lúdico que constrói o artesão anônimo de brinquedos

se transforma em produto de cultura.

Acrescenta a brincadeira o caráter lúdico, a alegria e o encantamento,

pois em cada brinquedo sempre se esconde uma relação educativa, a criança

quando brinca aprende a se expressar no mundo, criando ou recriando novos

brinquedos, e com eles, participando de novas experiências e aquisições. No

convívio com outras crianças trava contato com a sociabilidade espontânea, ensaia

movimentos do corpo, experimenta novas sensações. No brinquedo artesanal,

podemos utilizar-se da sucata, suporte muito importante para o desenvolvimento nas

atividades infantis, mas necessita ser selecionado, também proporciona momentos

de ludicidade, despertando a criatividade, e é um material de fácil acesso a todas as

crianças. Todos os brinquedos possuem o seu valor e são indispensáveis para a

formação infantil.

O brinquedo educativo se auto-define como agente de transmissão

metódica de conhecimento e habilidades, uma intervenção deliberada no lazer

infantil no sentido de oferecer conteúdo pedagógico ou entretenimento da criança.

Pois o brinquedo não é apenas um instrumento para as crianças utilizarem para se

divertir e ocupar seu tempo. é um objeto capaz de educá-las e torná-las felizes. A

função do brinquedo educativo seria levar a criança a adquirir uma consciência

verdadeira de si mesma. Todo brinquedo é educativo, sempre há em qualquer

brinquedo um conjunto de mensagens implícitas ou explícitas a serem assimiladas

ou transformadas pela criança. Pois ao criar o brinquedo do seu entretenimento ou

ao atribuir novas significações ao brinquedo que a criança recebe pronto, ela nega

as rédeas e as prisões adultas que lhe reservaram, e se renova, liberando seus

sentidos em todos os sentidos.

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O brinquedo é mais um instrumento para a brincadeira. Ele trás para a

criança, não só um meio de brincar, mas também a imagem, representação, a

imaginação, estrutura o conteúdo da brincadeira sem limitar a criança no qual ela vai

agrupar esses brinquedos na sua história, no seu contexto e na sua função para

depois interpretá-los. A brincadeira é o meio principal da educação da criança, pois

consiste a uma educação natural. Não existe na criança uma brincadeira natural, ela

é um processo de relações da própria cultura, faz-se necessário partir dos elementos

que ela vai encontrar em seu meio ambiente para se adaptar às suas capacidades.

1.3 Função do Brinquedo

A criança na luta do seu crescimento deve aprender a consolidar a

realidade e transgredir a satisfação imediata dos impulsos instintivos. Neste inter-

jogo de forças, o brinquedo exerce sua importante função e nós adultos devemos

conhecer essas atividades para compreendermos sua real importância na vida da

criança.

Assim como o trabalho está para o adulto, o brinquedo está para a

criança. A presença do brinquedo ativo e espontâneo é sinal de saúde e o modo de

como a criança brinca é um indicativo de como ela está e como ela é. Pois a criança

que brinca é capaz de fantasiar, de sonhar, está relevando e aceita o desafio do

crescimento possibilitando de errar, de tentar, e arriscar para progredir e evoluir.

O jogo é expressão da cultura, característica de toda a estrutura social.

Aos poucos os jogos e brincadeiras vão possibilitando às crianças a experiência de

buscar coerência e lógica nas suas ações, governando a si e ao outro. As crianças

passam a pensar sobre suas ações nas brincadeiras, sobre o que falam e sentem,

não só para que os outros possam compreendê-las, mas também para que

continuem participando das brincadeiras. O prazer de brincar, olhar, curtir, tocar,

experimentar faz parte do ser criança, faz parte da descoberta na infância e da

construção de novos sujeitos-criança. É o momento de resgatarmos o prazer do

estar brincando juntos, afetos, solidariedades, compreensão que só as brincadeiras

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com os outros podem nos proporcionar. E, nesse resgate buscaremos como

educadores novos modos de educação que garantem que o brincar faz parte da

criança. A manipulação livre de instrumentos e materiais é o primeiro passo da

criança na familiarização com os recursos disponíveis para a sua expressão.

Através do brinquedo a criança inicia sua integração social, aprende a

conviver com os outros, e situar-se frente ao mundo que a cerca. Brincando a

criança desenvolve seu lado emocional e afetivo bem como algumas áreas do

domínio cognitivo, tais como a capacidade do jogo simbólico. Essa integração do ato

lúdico entre aprender e brincar são rompidos gradativamente, impondo-se a criança

a hora de brincar e a hora de aprender. As funções importantes que o brinquedo

estimula com o pensamento criativo, o desenvolvimento social e emocional, tudo

isso a indústria de brinquedos observou e oferece para as pessoas uma gama de

brinquedos educativos, eletrônicos, preparando a criança para suas funções na

sociedade.

O brinquedo possui várias características, de modo especial o de ser

um objeto portador de significados, ele remete elementos legíveis do real ou do

imaginário das crianças. Neste sentido, o brinquedo é dotado de um valor cultural,

percebemos como ele é rico de significados que permitem compreender

determinada sociedade e cultura.. A criança que manipula um brinquedo possui nas

mãos uma imagem a decodificar. A brincadeira pode ser considerada como uma

forma de interpretação dos significados contidos no brinquedo. Pois a imagem do

brinquedo sintetiza a representação que uma dada sociedade tem da criança. O

brinquedo se mostra como um objeto complexo, que permite a compreensão do

funcionamento da sociedade de uma determinada cultura. A criança dá significados

ao brinquedo durante a sua brincadeira, por ele oferecer um suporte determinado.

A brincadeira não pode ser limitada ao agir, o que a criança faz tem

sentido, é a lógica do faz-de-conta e de tudo o que chamamos de brincadeira

simbólica. Pois ao conceber e produzir um brinquedo é transformar em objeto uma

representação, um mundo imaginário ou real. Pode-se dizer que o brinquedo

socializa o desejo, dando-lhe uma forma que pode ser dominada através da

brincadeira, porque a imagem sedutora relaciona-se, com o desejo é que ela pode

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desencadear a brincadeira. Sendo que o brinquedo tem por característica essencial

ser uma imagem num objeto e num volume, além disso deve conter funções lúdicas

precisas e possibilidades de manipulação que deverão se harmonizar com a

imagem, para não destruir seu sentido.

Faz parte dos processos de ensino-aprendizagem a investigação das

concepções e representações das crianças considerando-se as características da

faixa etária e as especificidades sócio-culturais do grupo e os ritmos de cada

indivíduo, no qual a linguagem ocupa um papel central, além de possibilitar o

intercâmbio entre os indivíduos, é através dela que o sujeito consegue abstrair e

generalizar o pensamento. Ao desenvolver atividades de expressão baseadas no

jogo infantil, não se pretende formar gênios, mas sim um ser espontâneo, vivo,

dinâmico, capaz de exteriorizar seus pensamentos, sentimentos e sensações de

utilizar diversas formas de linguagem. O objetivo das atividades é formar um ser

social apto a construir gradualmente sua própria escala de valores de desenvolver

seu senso estético. O nosso objetivo da tarefa enquanto educador é a própria

criança, sendo que a sua imaginação se desenvolve a partir do seu conhecimento.

Quanto mais elementos concretos o professor oferecer, mais rica se tornará a

imaginação da criança, cabe ao professor dar condições para que ela se

desenvolva, levando-a a questioná-los.

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CAPÍTULO II

A BRINCADEIRA, A SOCIALIZAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DO

CONHECIMENTO

A brincadeira é uma aprendizagem social, a brincadeira não é inata

aprende-se a brincar. Cabe a nós educadores proporcionar e criar um ambiente que

estimule a brincadeira. Pois a criança desenvolve-se pela experiência social, nas

interações que estabelece, desde cedo com a experiência dos adultos e do mundo

que por eles foi criado.

A brincadeira é uma atividade social privilegiado de interação

específica e fundamental que garante a interação e construção do conhecimento da

realidade vivenciada pelas crianças e de constituição do sujeito-criança como sujeito

produtor de sua história. É no brincar que as crianças se podem colocar desafios e

questões além de seu comportamento diário tentando compreender os problemas

que lhes são propostos, pois ao brincar, ao mesmo tempo em que desenvolvem sua

imaginação, elas constroem relações reais entre elas.

Na visão de Vigostsky (1996), a interação social é o fator determinante

para o sujeito passar de nível de pensamento pseudo-conceito, para o nível de

elaboração de conceitos. No contexto escolar, interagindo com os demais, os alunos

inferem as estruturas dos conceitos e os significados dos mesmos. Este é o espaço

privilegiado para que se processe a aproximação dos conceitos empíricos com os

conceitos científicos, que são sistematizados em situações de aprendizagem no

processo educativo.

Assim, para que os jogos contribuam pedagogicamente com a

socialização, a construção e reconstrução do conhecimento é preciso diminuir o

autoritarismo do professor, criar situações para o desenvolvimento da autonomia,

incrementar ações que favoreçam a troca de opiniões e sugestões nas atividades.

Brincar é apropriar-se de elementos da realidade e atribuir-lhes novos significados,

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essa peculiaridade da brincadeira ocorre por meio da articulação entre a imaginação

e a imitação da realidade.

Toda brincadeira é uma imitação transformada, no plano das emoções

e das idéias vivenciadas anteriormente. Ao brincar as crianças recriam e repensam

os acontecimentos que lhes deram origem, o principal indicador da brincadeira, entre

as crianças, é o papel que assumem enquanto brincam. A brincadeira favorece a

auto-estima das crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas aquisições

de forma criativa, pois brincar contribui, na interiorização de determinados modelos

de adulto, em diversos grupos sociais.

Essas significações atribuídas ao brincar transformam-no em um

espaço singular de constituição infantil. É na brincadeira que as crianças

transformam os conhecimentos que já possuíam anteriormente em conceitos gerais

com os quais ela brinca, sendo que ao assumir um determinado papel numa

brincadeira a criança deve conhecer algumas de suas características. Seus

conhecimentos vêm da imitação de alguém ou de algo conhecido, de uma

experiência vivenciada. É no ato de brincar que a criança estabelece os diferentes

vínculos entre as características do papel assumido, suas competências e as

relações que possuem com outros papéis e generalizando para outras situações.

As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de construção e aqueles que

possuem regras, como os jogos de sociedade, jogos tradicionais, didáticos,

corporais, propiciam a ampliação dos conhecimentos infantis por meio da atividade

lúdica. Por meio das brincadeiras o professor pode observar e constituir uma visão

dos processos de desenvolvimento das crianças em conjunto ou em particular,

registrando suas capacidades de uso das linguagens, assim como de suas

capacidades sociais e dos recursos afetivos e emocionais que dispõem.

Para Vigotsky (1989), a brincadeira cria para a criança uma zona de

desenvolvimento proximal, que é a distancia entre o nível atual de desenvolvimento,

determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o

nível desenvolvimento potencial determinado através da resolução de um problema

com a orientação de um adulto. Ainda conforme o autor a brincadeira possui três

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características, a imaginação, a imitação e a regra. Elas estão presentes em todos

os tipos de brincadeiras.

A brincadeira tem fundamental importância na perspectiva do trabalho

do professor pois as crianças aprendem brincando, neste espaço de interação elas

vivenciam situações familiares, de trabalho, na qual a brincadeira se transforma num

fator educativo no processo pedagógico. Esta atividade não surge do nada, mas da

influência da educação formal, inicial pelos seus familiares. Se o professor

considerar que a brincadeira deva ocupar um espaço central na educação infantil,

criando espaços, oferecendo materiais e partilhando das brincadeiras ele estará

possibilitando as crianças uma forma criativa, social e partilhada, ao mesmo tempo

estará transmitindo valores.

2.1 Faz-de-Conta

O faz de conta surge por volta de três anos, nesta fase a criança

dedica-se longos momentos ao jogo solitário criando e assumindo diferentes papéis.

A criação de personagens imaginários é um jogo no qual se constata o progresso da

criança com relação à coerência. A medida que evolui, o faz-de-conta assume

diferentes funções dependendo do contexto em que se realiza.

Quando a criança não pode participar do mundo adulto, ela realiza

seus desejos através do faz-de-conta, pois é através do faz-de-conta que a criança

tem a possibilidade de experimentar diferentes papéis sociais que conhece e

vivência no cotidiano de sua história de vida.

Vygotsky (1989), enfatiza a importância do brinquedo e da brincadeira

do faz-de-conta para o desenvolvimento infantil, quando a criança coloca várias

cadeiras uma atrás da outra dizendo tratar-se de um trem, percebe-se que ela já é

capaz de simbolizar tal capacidade, representa um passo importante para o

desenvolvimento do pensamento. É na brincadeira que a criança se comporta além

do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário. A

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criança vivência uma experiência no brinquedo como se fosse maior do que é na

realidade.

Para este pesquisador o brinquedo fornece a estrutura básica para

mudanças das necessidades e da consciência da criança. Sabe-se que toda a

criança ao chegar a escola já traz consigo uma ampla bagagem de conhecimentos e

estes devem ser considerados pela escola, pois é entre a palavra e o mundo que os

educadores devem se preocupar, a qual poderá tornar-se a principal intermediária

entre o leitor e o mundo. Faz-se necessário que na escola estejam previstos na

rotina escolar, períodos destinados ao jogo livre, permitindo que as crianças

interajam entre si e com os objetos de forma espontânea.

É pelo brincar e repetir a brincadeira que a criança saboreia a vitória da

aquisição de um novo saber fazer, incorporando-o a cada novo brincar. Na

concepção de RIZZO (1987), o jogo é fundamental, pois brincando e jogando, a

criança amplia seus esquemas corporais e mentais aprendendo e assimilando o

mundo que a cerca, bem como produz e reproduz, transformando o real que se

apresenta, conforme seus desejos e interesses na busca de seu ideal.

Compreender a brincadeira como mais um eixo de organizador do

trabalho, é de fundamental importância, pois é através dela que se estabelece o

vínculo entre o imaginário e o real. É através da brincadeira do faz-de-conta que a

criança tem a possibilidade de trabalhar com a imaginação. A criança organiza o seu

pensamento através de vivências simbólicas, elaborando o seu real. A brincadeira

constitui-se em um momento de aprendizagem em que a criança tem a possibilidade

de viver papéis, de elaborar conceitos e ao mesmo tempo exteriorizar o que pensa

da realidade. Assim, a brincadeira é uma atividade humana e social, produzida a

partir de seus elementos culturais, deixa de ser encarada como uma atividade inata.

2.2 O Jogo Simbólico

É importante que o educador observe o que as crianças brincam, como

estas brincadeiras se desenvolvem o que mais gostam de fazer, em que espaços

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preferem ficar, o que lhes chama mais atenção, em que momentos do dia estão mais

tranqüilas ou mais agitadas. Este conhecimento é fundamental para a estruturação

espaço-temporal tenha significado. É importante que nos períodos de jogos de livre

escolha às crianças tenham o tempo para construir a brincadeira e desenvolvê-la.

Pois a capacidade de imaginação da criança transforma sensivelmente

a forma de interação dela com o mundo. Ela passa a inventar o mundo, surgindo

novas maneiras de interpretá-lo, que caracteriza um novo tipo de atividade lúdica

denominada jogos simbólicos.

Os jogos simbólicos ocorrem a partir da aquisição da representação

simbólica, pela imitação, pois a criança é capaz de imitar algo presente. Esses jogos

de imitação ocorrem entre dois ou três anos de idade pela utilização do seu corpo

todo, onde ela assume papéis imitando vozes, gestos e formas de locomoção.

De acordo com PIAGET:

“A verdadeira linguagem social das crianças, quer dizer, a linguagem

utilizada em atividades fundamental da criança, o jogo, é uma linguagem de gestos,

movimentos e mímicas, tanto quanto uma linguagem de palavras”. (PIAGET, 1988.

p. 76)

O jogo simbólico constitui uma atividade real essencialmente

egocêntrica e sua função consiste em atender o eu por meio de uma transformação

do real em função de sua própria satisfação. O jogo é um vínculo que une a vontade

e o prazer durante a realização de uma atividade.

No jogo simbólico as crianças tornam-se autoras de seus papéis,

escolhendo, elaborando e colocando em prática suas fantasias e conhecimentos,

sem a intervenção direta do adulto, podendo pensar e solucionar problemas de

formas livres das pressões e situações da realidade imediata.

Segundo PIAGET:

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‘’São sobretudo os conflitos afetivos que aparecem no jogo simbólico. Podemos ter certeza, quando ocorre alguma cenazinha banal no almoço, que uma ou duas horas depois o drama será reproduzido num brinquedo de bonecas e, sobretudo, conduzido a uma solução mais feliz, ou porque a criança aplica à sua boneca uma pedagogia mais inteligente do que a dos pais, ou porque integra no jogo o que o seu amor próprio a impedia de acentar à mesa.’’ (PIAGET, 1988, p. 83)

O brinquedo simbólico ocorre também em função de expressões e

ações culturais. A complexidade destas brincadeiras dependem das experiências

físicas e sociais vividas pelas crianças, enriquecendo seu repertório e nutrindo seu

imaginário.

Desde a época anterior a Cristo já havia uma preocupação em discutir

o valor do jogo na vida da criança, Platão preconizava o valor educativo do jogo,

apesar de dar a criança a liberdade do jogo. Com a evolução, muitos autores vem

dando ênfase no estudo do jogo e de sua importância nas várias culturas

indistintamente.

Embora Kishimoto (1994), numa ampla revisão bibliográfica, encontre

referências ao uso do jogo na educação que remontam a Roma e a Grécia antiga,

se tomarmos como marco apenas a história mais recente, veremos que é deste

século, preponderantemente na sua segunda metade, que vamos ter entre nós as

contribuições teóricas mais relevantes para o aparecimento de propostas de ensino

que incorporam o uso de materiais pedagógicos em que os sujeitos possam tornar

parte ativa na aprendizagem.

As contribuições de Piaget, Bruner, Wallon e Vigotsky que,

definitivamente, marcam as novas propostas de ensino em bases mais cientificas,

portanto é recente a consciência de que o sujeito ao aprenderem, não o fazem como

meros assimiladores de conhecimentos, mas há um processo de aprendizagens

determinados componentes internos que não podem ser ignorados pelos

educadores.

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A idéia de um ser humano relativamente fácil de moldar e dirigir a partir do exterior foi progressivamente substituída pela idéia de um ser humano que seleciona, assimila, processa, interpreta e confere significações aos estímulos e configurações de estímulos. (Coll, 1994, p.100)

Segundo o autor esta perspectiva tem contribuído para por em relevo a

inadequação de certos métodos essencialmente expositivos que simplificam os

papéis dos professores e dos alunos como de simples transmissores e receptores de

conhecimentos. Esta nova perspectiva sobre a ação educativa tem servido para

revitalizar as propostas pedagógicas, como ponto de partida necessária para uma

verdadeira aprendizagem.

Neste contexto o jogo desde cedo é de fundamental importância na

vida da criança, pois enquanto ela brinca está explorando e manuseando tudo aquilo

que está a sua volta, através de esforços físicos e mentais sem se sentir coagida

pelo adulto, onde passa a ter sentimentos de liberdade e satisfação pelo que faz

dando valor e atenção as atividades vivenciadas.

A criança brinca porque gosta de brincar e é ai que reside sua

liberdade e o jogo é uma atividade que parte da própria vontade do ser humano.

Portanto a intervenção do adulto no jogo da criança fez-se necessária se esta se

apresentar de uma forma de orientação e incentivo as atividades exercidas pela

criança, fazendo com que ela se empenhe cada vez mais naquilo que é proposto ou

descoberto por ela mesmo. É através do jogo que a criança apresenta

características de um ser livre motivado por uma necessidade da realidade pessoal.

Pode-se perceber que a maior parte do tempo na idade infantil é

dedicada ao jogo e esta dedicação e interesse se dá a partir do momento que são

oferecidos a criança objetos e situações de entretenimento, e esta atitude do adulto

só terá características de jogo se for absorvido pela criança no sentido de prazer e

esta necessidade deve ser respeitada e entendida como um aspecto importante na

vida dela. O jogo tem por função permitir ao indivíduo realizar o seu eu, ostentar a

sua personalidade e seguir seus interesses.

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Aos poucos os jogos e brinquedos vão possibilitando as crianças as

experiências de buscar coerência e lógica nas suas ações, governando a si e ao

outro. Elas passam a pensar sobre suas ações nas brincadeiras, sobre o que falam

e sentem, não só para que os outros possam compreendê-las, mas também para

que continuem participando das brincadeiras.

Em Kishimoto (1997) encontramos que Dewey modificou as idéias de

Froebel, estabelecendo novos eixos do interesse infantil. Ele via as crianças como

seres sociais e afirmava que a aprendizagem ocorreria de forma expontânea, por

meio do jogo, em situações do cotidiano, tais como: Preparar o lanche, representar

peças para a família, brincar de faz-de-conta com temas familiares. Dewey concebeu

o jogo, como atividade livre, como uma maneira de se compreender os problemas do

cotidiano.

Segundo KISHIMOTO,

“Utilizar o jogo na educação infantil significa transportar para o campo do ensino-aprendizagem, condições para maximizar a construção do conhecimento, introduzindo as propriedades do lúdico, do prazer, da capacidade de iniciação e ação ativa e motivadora” (1997, p. 37)

É muito interessante recriar espaços para jogos espontâneos como:

canto de boneca, biblioteca, teatro, blocos de madeiras; jogos de pátio como: jogo

de tiro ao alvo, boliche, corrida de saco, corrida com colher, com empecilhos com

limites de espaço e tempo, ovo choco, cantigas de roda, polícia e ladrão, brincar com

palavras através de trava língua, caça palavras, adivinhas, carta enigmática,

diagramas, poesias, paródias e muita outras brincadeiras, pois todo mundo brinca se

você brinca. O momento de resgatarmos o prazer do estar brincando juntos, afetos,

solidariedade, compreensão que só as brincadeiras com os outros podem nos

proporcionar.

Nesse resgate buscaremos como educadores novos modos de

educação que garantem que o brincar faz parte da criança.

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Kishimoto (1997) ainda se refere a Henry Wallon, dizendo que para ele

o jogo provém da imitação, que representam uma acomodação ao objeto. Ele vê na

imitação uma participação motora do que é emitido e um certo prolongamento de

imitação do real. A atividade lúdica é uma forma de exploração, de infração da

situação presente.

Sabemos que através do jogo e pelo brinquedo a criança vai se

constituindo como sujeito e se organizando. A criança parte primeiro das

brincadeiras com o seu corpo para aos poucos ir diferenciando os objetos ao seu

redor. Desde bem pequena a criança vai conhecer o mundo, isso depende das

relações que constituem aos que estão à sua volta e como eles interagem, é pelo

brincar que as crianças expressam e se comunicam e é através das brincadeiras

que elas começam a experimentar e a fazer interações com os objetos e as pessoas

que estão a sua volta.

Faz-se necessário oferecer as crianças pequenas a possibilidade da

brincadeira ou de jogos simbólicos que em algum momento são organizados e

dirigidos por eles e, em outro momento , organizados pelo educador, porém de livre

opção das crianças. A possibilidade de participar desde a construção, dos mais

diferentes materiais como fantasia, máscaras, fantoches, dramatizações, se

constituem em um espaço de vivência onde a criança trabalha com imitação e a

representação.

Sabemos que hoje vivemos numa sociedade em que a violência se

encontra a todo o momento e nossas crianças ao buscar recursos no ambiente que

as cerca, vão se apropriando deste rico vocabulário, que é a violência, gerada pela

sociedade, a cultura lúdica está marcada por essa estrutura, nos jogos derivando

uma aparência de espontaneidade da brincadeira de guerra, como toda a

brincadeira, é uma construção social.

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2.3 Brinquedos, brincadeiras e os meios de comunicação

Na concepção de Brougere (1997) os meios de comunicação vem

transformando a vida cultural das crianças, em particular a vida lúdica, devido a sua

forte contribuição na divulgação dos brinquedos industrializados e comercializados.

O brinquedo contribui para o desenvolvimento da cultura lúdica, através

de sua apropriação durante uma brincadeira, pois o brinquedo serve de suporte para

as representações. Através das imagens que a televisão mostra, fornece as crianças

conteúdos para as suas brincadeiras na qual as crianças se transformam em

personagens vistos pela televisão a qual oferece uma linguagem comum a todas,

mesmo pertencentes a ambientes diferentes.

Pois a brincadeira permite que a criança se aproprie de certos

conteúdos da televisão. Durante a brincadeira a criança se apropria dos objetos

lúdicos de que ela dispõe, é claro que a televisão influencia sobre a imagem do

brinquedo e sobre seu uso, com certeza estimula o consumo.

Conforme Brougere:

‘’A televisão não se opõe a brincadeira, mas alimenta-a, influencia-a, estrutura-a na medida em que a brincadeira não nasceu do nada, mas sim daquilo com o que a criança é confrontada. Reciprocamente, a brincadeira permite a criança apropriar-se de certos conteúdos da televisão.’’ (1997, p 56)

Os adultos têm mania de planejar os brinquedos das crianças, criando

brinquedos na visão de adultos e não na visão das crianças. O brinquedo pronto

corta a criatividade das crianças, impondo a elas o tipo de brincadeiras a ser criado.

O brinquedo industrializado é projetado pelo adulto para a criança conforme a sua

concepção e não da criança, restringindo a criatividade e a atividade lúdica.

Sabemos que o brinquedo está cada vez mais ligado a uma história, a

um determinado universo, e é através da brincadeira que a criança encontra um

meio de viver a cultura que a cerca, tal como ela é verdadeiramente e não como ela

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deveria ser para a criança conforme a sua concepção e não da criança, restringindo

a criatividade e a atividade lúdica.

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CAPÍTULO III

BRINCADEIRA NA ESCOLA: PERDA DE TEMPO OU

PRECIOSA AJUDA?

Para se ter uma idéia da importância do ato de brincar na

construção do conhecimento é preciso que se observe uma criança brincando. É

possível aprender muito desta observação. Se formos atentos e sensíveis,

veremos os caminhos que ela trilha ao aprender, sem a intervenção direta do

adulto. Brincando, a criança aprende a lidar com o mundo e forma sua

personalidade, recria situações do cotidiano e experimenta sentimentos

básicos.

Hoje, estamos numa sociedade de produção e isto tem levado as

instituições educacionais a desenvolverem um modelo de educação

massificante, onde a atividade lúdica, espontânea, tem espaço tão limitado

que não surte efeito. Crianças transformadas em miniaturas de adultos,

reduzidas a seguir uma rotina eficaz para os adultos, mas sem sentido para

elas, estão sendo privadas de um de seus direitos básicos.

A escola deveria aproveitar mais potencial educativo próprio da

brincadeira, que é também ótima para proporcionar a abertura necessária para

o educador conhecer a personalidade das crianças, suas dúvidas e seus

conhecimentos prévios.

Quando a criança brinca (e o adulto não atrapalha), muitas

coisas sérias acontecem. Quando ela mergulha em sua atividade lúdica,

organiza-se todo o seu ser em função da sua ação. O interesse provoca o

fenômeno, reúnem-se potencialidades num exercício mágico e prazeroso. E

quanto mais a criança mergulha, mais estará exercitando sua capacidade de

concentrar a atenção, descobrir, de criar e, especialmente, de permanecer em

atividade, e a aprendizagem pelo sentir, e não para obter determinado

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resultado ou para possuir alguma coisa. A criança estará aprendendo a

engajar-se seriamente, gratuitamente, pela atividade em si. Estão sendo

cultivadas aí, qualidades raras e fundamentais. Sem brincar, ela não vive a

infância.

As palavras de D. W. Winnicott deixam clara as idéias que quero

propor: “É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o

adulto fruem sua liberdade de criação".

A brincadeira, como atividade dominante na infância, tendo em

vista as condições concretas da vida da criança e o lugar que ela ocupa na

sociedade, é, primordialmente, a forma pela qual esta começa a aprender.

Secundariamente, é onde tem início a formação de seus processos de

imaginação ativa, e por último, onde ela se apropria das funções sociais e

das normas de comportamento que correspondem a certas pessoas.

Para Vigotsky, a aprendizagem configura-se no desenvolvimento

das funções superiores através da apropriação e internalização de signos e

instrumentos em um contexto de interação. A aprendizagem humana pressupõe

uma natureza social específica e um processo mediante o qual as crianças

acedem à vida intelectual daqueles que as rodeiam. É por isso, que, para

ele, a brincadeira cria na criança uma nova forma de desejos. Ensina-se a

desejar, relacionando os seus desejos , a um "eu" fictício, ao seu papel na

brincadeira e suas regras. Dessa maneira, as maiores aquisições que no

futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade.

Portanto, a brincadeira é uma situação privilegiada de

aprendizagem infantil onde o desenvolvimento pode alcançar níveis mais

complexos, exatamente pela possibilidade de interação entre os pares em uma

situação imaginária e pela negociação de regras de convivência e de

conteúdos temáticos.

Ao definir papéis a serem representados, aferindo significados

diferentes aos objetos para uso no brinquedo e no processo de administração

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do tempo e do espaço em que vão definindo os diferentes temas dos jogos, as

crianças têm a possibilidade de levantar hipóteses, resolver problemas e ir

acedendo, a partir de sistemas de representação, ao mundo mais amplo ao qual

não teriam acesso no seu cotidiano infantil.

A brincadeira é a estrada que a criança percorre para chegar ao

coração das coisas para desvelar os segredos que lhe esconde um olhar

surpreso ou acolhedor, para desfazer temores, para explorar o desconhecido.

É através do brinquedo que ela consegue pegar o mistério na mão, sem queimar

o coração, sem enredar-se em dúvidas insolúveis e massacrantes. Autoridade,

poder de dar ordens e exigir obediência, morte, escuridão, fogo, incêndio,

briga e agressividade, solidão, tristeza, alegria ... mistérios que precisam

ser desvelados.

Brincando, as crianças recriam o mundo, refazem os fatos, não

para mudá-los simplesmente ou para contestá-los, mas para adequá-los aos

filtros da compreensão. E há dois tipos de filtros: o cognitivo e o afetivo.

Algo pode caber ao cognitivo, mas não no afetivo. O brinquedo e o jogo

facilitam o trânsito do cognitivo para o afetivo.

Do ponto de vista psicanalítico, Freud e Lacan consideram o

brinquedo um instrumento não verbal valioso, um fazer efeito da estruturação

significante do sujeito, um recurso importante, de que se valem as crianças

para lidar com o mundo fantasmático. Winnicott diz que a brincadeira tem um

lugar, um tempo e uma função muito importante: preparar a criança para um

relacionamento social, e que é pelo jogo que a criança recebe e se

compromete com o sistema linguístico exterior a ele.

Melanie Klein , para quem a criança é um sujeito em análise, o brincar

é uma atividade mediadora para abordar o inconsciente. Daí a necessidade do

adulto, especialmente o educador, se esforçar em compreender essa linguagem.

O jogo do faz-de-conta", brincadeira na qual a criança cria um

enredo fantasioso e se coloca nele, é a mais rica e constante brincadeira da

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infância. Através dele, a criança trabalha sua angústia frente ao

desconhecido, pratica o auto conhecimento, descobrindo quem é e o que deseja

ser, exercita sua capacidade de decisão e experimenta sentimentos como o

amor, o medo, o ódio e o desapontamento, entre outros, essa estruturação

emocional proporcionada também através do ato de brincar é essencial para

que a aprendizagem formal aconteça.

Piaget reconhece a necessidade de equilíbrio emocional para que

a capacidade intelectual seja plenamente exercida, pois, segundo ele, o

desenvolvimento afetivo inclui sentimentos, tendências, valores, emoções,

desejos, interesses e motivação, sendo os três últimos essenciais para o

desenvolvimento intelectual.

De acordo com Piaget as crianças só são livres quando brincam entre

si dentro de suas faixas etárias ): é nesta ocasião que, verdadeiramente, criam e

desenvolvem sua autonomia. O melhor brinquedo didático para ma criança é outra

criança da mesma faixa de desenvolvimento.

Segundo Vygotsky, o brinquedo fornece a estrutura básica para as

mudanças das necessidades de da consciência. O desenvolvimento da criança é

determinado pela ação na esfera imaginativa, pela criação de intenções

voluntárias, pela formação de planos da vida real e pelas motivações. Do

ponto de vista psicológico, pode-se observar que as crianças que não têm

oportunidade de brincar, não conseguem conquistar o domínio sobre o mundo

exterior. O brincar assume, pois, duas facetas: a de passado, através da

resolução simbólica de problemas não- resolvidos; e a de futuro, na forma de

preparação para a vida.

Embora no “jogo de faz-de-conta" a criança pareça fazer só o

que gosta, ela na verdade se sujeita às circunstâncias que ela determina,

aprendendo assim a se subordinar às regras. Por exemplo: a menina escolhe

ser a "mãe" numa brincadeira de casinha, apega-se às atividades restritas

aos seus papéis, ela só mudará de atitude, se trocar o papel e concordar em

não ser mais a "mãe".

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O brincar ainda funciona como agente de socialização. Não só

quando em grupo, mas também sozinha, a criança aprende, brincando, as regras

de convivência. Há jogos que pressupõem atividades associativas,

cooperativas ou competitivas, outros exercitam a linguagem e a capacidade de

expressar-se eficazmente, seguir regras, exercer paciência para esperar sua

vez, compartilhar, experimentar a vitória e a derrota, definir-se ou não

como líder.

Muitos confundem brincadeiras com "jogos didáticos". Estes

últimos, usados nas escolas para servir de auxiliares na aprendizagem de

determinados conteúdos, ou para promover a memorização de uma seqüência de

dados ( um exemplo é o baralho de fatos fundamentais, usado por muitos

professores ), não pode ser considerado um brinquedo, apenas simula um, pois

não é espontâneo, nem usa o faz-de-conta. No jogo didático o adulto cria as

regras, comanda a atividade e define o objetivo, seu valor como instrumento

de aprendizagem é indiscutível, as crianças realmente podem aprender com

ele, mas não substitui a brincadeira, e confundir essas duas coisas pode

fazer o professor pensar que usa o brinquedo em sala de aula quando não faz

mais do que apresentar jogos didáticos.

A brincadeira é organizada pela própria criança de forma

espontânea e autônoma. A participação do adulto é mínima, ele jamais

interfere no papel que o aluno assume, na linguagem que usa ou no rumo que a

fantasia toma. O papel do adulto é criar condições para que as crianças

brinquem, incentivar e propor o que se fará para que a brincadeira tenha

início, mas se as crianças se desviarem da atividade inicialmente proposta,

isto não constitui problema algum: a liberdade de mudar de rumo durante a

brincadeira é uma característica importante da atividade. Cabe assim o

professor organizar a sala, conseguir brinquedos e arrumá-los de forma

lógica, estimular o início da brincadeira com uma história (por exemplo),

combinar regras e impedir regras, fornecer informações, ajuda e incentivo

quando as crianças os pedem e dar assistência àqueles que não entram na

brincadeira.

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A professora deverá ter cuidado ao propor brincadeiras. Determinados

alunos simplesmente ficam de fora. Alguns são agressivos e atrapalham o brinquedo

enquanto outros, apáticos, ficam quietos e apenas olhando. Essas crianças não

podem ser forçadas a participar, senão a atividade perde seu objetivo. Elas precisam

do apoio do professor, que, por exemplo, fiquem sentados juntos e que se

diversifique o tema das brincadeiras, com a finalidade de atrair sua atenção. Esse

cuidado tem como objetivo não desacertar o caráter de socialização do momento da

brincadeira.

Outras formas de intervenção podem ser propostas no sentido de

incitar eventualmente as crianças a desenvolverem o jogo, nesta ou naquela

direção; apenas incitações, nunca obrigações, sempre cabendo à criança a

decisão de ficar na atividade que ela desenvolveu, sem retomar por sua conta

a proposta do educador, o qual, caso ela se relacione com a atividade, deve

respeitar o fato da criança ter o direito de decidir se quer realmente

brincar.

Em certos casos o adulto pode também brincar com a criança,

sobretudo se a criança o convida, então é mais fácil respeitar a

brincadeira, uma vez que a criança pediu ao adulto para participar ou

intervir no jogo. Estas formas de intervenção são delicadas, porque é muito

difícil para o adulto entrar numa brincadeira sem destruí-la. Mas acredito

que certos adultos que conhecem muito bem a brincadeira das crianças, que a

observaram muito bem, conseguem fazer esta intervenção.

As brincadeiras não devem ser adaptadas a conteúdos. Na verdade,

o paradoxo do uso da brincadeira em sala de aula é que os objetivos da

atividade não podem ser determinados de antemão. Diferente do jogo didático,

a brincadeira não é dirigida, é apenas assistida e é com base nessa

observação que o professor determinará objetivos que serão alcançados em

outras atividades.

A brincadeira é uma atividade informal que se desenvolve sem

que haja investimento de objetivos pedagógicos. Mas a brincadeira também se

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desenvolve no quadro familiar, no quadro das relações de comunicação, das

relações de prazer na construção de um universo de vida cotidiana entre as

crianças e os pais.

Então, o que é interessante perceber, que a maioria das

atividades das crianças no espaço familiar são atividades informais: de

informação, de comunicação, de passeio, de descobertas, e assistir

televisão. Neste conjunto de atividades, a brincadeira tem características

peculiares porque se desenvolve por iniciativa da criança, enquanto as

outras iniciativas podem estar mais relacionadas a uma proposta de adultos.

E estas iniciativas informais, sem intenções educativas, têm,

entretanto, a característica de ser um jogo de aprendizagem considerável para a

criança. A aprendizagem da linguagem materna é um exemplo, os adultos

comunicam-se com as crianças (atividade informal) , e não têm objetivos

pedagógicos: não tentam desenvolver uma aprendizagem da língua, mas a criança

vai aprender naturalmente.

Isto posto, é preciso contudo assinalar que o informal passa por

processos de formalização, no sentido em que os adultos são peritos em

relação às crianças, que são iniciantes em muitos campos. As crianças mais

velhas, que são peritos em relação às crianças que são iniciantes, têm uma

tendência a desenvolver com estas, uma atividade quase pedagógica, no

sentido popular e não no técnico dos especialistas; no sentido da educação,

quando se começa a desenvolver uma atividade pedagógica em uma atitude de

tutela. De fato, há uma tendência a usar uma linguagem mais simples para se

transmitir algo a alguém que sabe menos, e isto nos remete às tradições:

desde que o mundo existe, assumiu-se a posição de simplificá-lo para as

crianças. É uma atitude, eu diria, de pedagogia popular, de pedagogia

tradicional.

Há um processo de semi-formalização que faz com que os ambientes

da vida da criança talvez já sejam ambientes de adultos. Então qual é o

papel da educação, da escola, neste universo? É , por um lado, o de fazer o

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que a família já está fazendo, sobretudo quando a família está menos

presente pelo fato de ambos os pais trabalharem. Por outro lado, aceitar o

desenvolvimento da atividade informal, mas fazê-lo sob a perspectiva

educacional para que as crianças possam se apropriar do mundo, se apropriar

do entorno. A diferença é que o educador tem uma competência pedagógica e a

formalização se tornará mais significativa.

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CONCLUSÃO

Tendo em vista que o lúdico tem o poder de facilitar no progresso da

personalidade integral da criança, nas funções psicológicas, intelectuais, morais e

sociais. É por meio do brincar que a criança torna-se um ser ativo no seu próprio

desenvolvimento, construindo seus pensamentos e adaptando-se ao ambiente,

dessa maneira podemos afirmar que o brincar não é somente um facilitador da

aprendizagem, mas sim um fator fundamental e essencial para um bom

desenvolvimento global do indivíduo, pois possibilita a criança a melhorar sua

relação com outras pessoas, assumir responsabilidade, adaptações a situações

frustradoras e percepção geral de si mesmo como sujeito.

É fundamental ao educador a perfeita concepção do lúdico como

recurso pedagógico, exigindo-se desta nova postura profissional uma visão do

mundo atual, no qual cada fenômeno se estabelece no conjunto das relações, onde

tudo interage exercendo influência, onde nada mais se encontra pronto e acabado,

não havendo mais espaço para verdades absolutas.

Espera-se que os educadores adotem cada vez mais a dinâmica lúdica

e percebam a importância de sua aplicação na aprendizagem, proporcionando à

criança um clima prazeroso, cheio de alegria e espontaneidade, propondo atividades

e estimulando-as que descubram o mundo e a si mesmas, para isto, elas precisam

ser ouvidas e viver intensamente cada experiência.

Como podemos ver a criança aprende brincando, o brinquedo é uma

necessidade, ela busca a satisfação de seus desejos imediatos. A criança está

sempre pronta para criar outros sentidos para os objetos que possuem significados

fixados pela cultura dominante, a criança conhece o mundo enquanto cria, e ao criar

ela nos revela a verdade da realidade em que se encontra.

O presente estudo se constitui em um desafio, a medida em que levou

a um aprofundamento maior de conhecimento sobre a importância do aprender

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brincando, faz-se necessário de que todo trabalho na educação parta das

necessidades e interesses das crianças.

Desta maneira não é mais possível distinguir brincadeira de aula,

alegria de ensino-aprendizagem. A escola atual pretende e necessita garantir uma

aprendizagem integral, real, frente as necessidades do mundo tecnológico e

globalizado.

Acredita-se que o papel do professor é, além de ser orientador, estar

presente em todas as atividades, auxiliando quando necessário, sugerindo e

estimulando para que a criança brincando aprenda, e aprendendo ela é feliz.

Ainda há quem julgue o brincar como perda de tempo ou sinal de

indisciplina, mas um número cada vez maior de educadores descobrem que a

criança aprende, e muito, numa brincadeira. A observação e a correta

interpretação do ato lúdico, dá ao educador um instrumento valioso para

entender seus alunos, além da oportunidade de mesclar as informações, não

privando a infância das belas brincadeira que não se perdem em meio a nenhum

progresso tecnológico, por combinarem aspectos lúdicos que agradam à própria

essência da criança.

Várias pesquisas já comprovaram que são os desafios,

encontrados na vivência das diferentes experiências, que vão provocar a

construção do conhecimento da criança, sentindo, percebendo, pensando,

brincando, a criança descobre o mundo e pode ser atraída pelos seus

encantos e mistérios.

O brincar é atividade própria da criança, sua forma de estar

diante do mundo social e físico e interagir com ele, a porta pela qual entra

em contato com outras pessoas e com as coisas, o instrumento para a

construção coletiva do conhecimento. Se a criança necessita brincar para

ser ela mesma, para desenvolver-se, para construir conhecimentos, expressar

suas emoções, entender o mundo que chega até ela, pode-se afirmar que a

criança tem o direito de brincar e que os adultos (principalmente os

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educadores) têm obrigação de possibilitar o exercício desse direito,

assegurando a sobrevivência dos sonhos e promovendo uma construção de

conhecimentos vinculada ao prazer de viver.

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ÍNDICE

RESUMO........................................................................................................ 03 METODOLOGIA............................................................................................. 04 SUMÁRIO....................................................................................................... 05 INTRODUÇÃO................................................................................................. 06 CAPÍTULO I A BRINCADEIRA NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM ................... 08

1.1 O brincar na infância.............................................................................. 13 1.2 Confecção do brinquedo........................................................................ 18 1.3 Função do brinquedo............................................................................. 20

CAPÍTULO II A BRINCADEIRA, A SOCIALIZAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ...........................................................................................

23

2.1 Faz-de-conta.......................................................................................... 25 2.2 O jogo simbólico.................................................................................... 26 2.3 Brinquedos, brincadeiras e os meios de comunicação......................... 32

CAPÍTULO III BRINCADEIRA NA ESCOLA: PERDA DE TEMPO OU PRECIOSA AJUDA? 34 CONCLUSÃO................................................................................................... 42 BIBLIOGRAFIA................................................................................................. 45 ÍNDICE ............................................................................................................ 47

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Instituto de Pesquisa Sócio-Pedagógicas

Pós-Graduação “Latu Sensu”

Título da Monografia: ATIVIDADES LÚDICAS NA EDUCAÇÃO

Data da entrega: _______________________________________

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Avaliado por:_______________________________Grau______________.

Rio de Janeiro_____de_______________de 20___

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ANEXOS