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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O REFLEXO DOS INSTITUTOS DO PROCESSO CIVIL NOS
RECURSOS TRABALHISTAS
Por: Thaís de Siqueira Campos Azevedo
Orientador
Prof. José Roberto Borges
Rio de Janeiro
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O REFLEXO DOS INSTITUTOS DO PROCESSO CIVIL NOS
RECURSOS TRABALHISTAS
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Processo Civil.
Por: José Roberto Borges
3
AGRADECIMENTOS
... primeiramente a minha família pelo incentivo, iluminação, pela felicidade que seu amor me proporciona, a Deus que me guiou nessa jornada sem nunca ter me desamparado, me dando força e sabedoria, aos professores que encontraram tempo de rever o presente trabalho.
4
DEDICATÓRIA
... dedico este trabalho monográfico a
todos os operadores e estudantes que
consultem a obra para o esclarecimento
de dúvidas e revisão do assunto.
5
RESUMO
No âmbito da Justiça do Trabalho o legislador deixou lacunas quando
elaborou a CLT, principalmente no tocante a área processual. Deste modo
vários assuntos ficaram com déficit de normas que os disciplinasse o objeto
dessa obra, os recursos em espécie. Para tal problema foi apresentada pelos
intérpretes do direito a solução de utilizar como fonte subsidiária a legislação
processual do direito comum, mas para isso é necessário ter a devida cautela
com os princípios que norteiam o processo do trabalho. Pois é de suma
importância que haja compatibilidade entre as normas usadas de forma
subsidiária com a Justiça do Trabalho.
6
METODOLOGIA
Cabe esclarecer que a pesquisa a ser realizada será a bibliográfica,
devido ao fato de se explorar os grandes doutrinadores do Direito Moderno
como Vólia Bonfim Cassar, Mauricio Godinho Delgado e Carlos Henrique
Bezerra Leite que nos ajudarão a tentar unir a teoria com a prática.
Ressalta-se que as fontes de pesquisa doutrinárias serão realizadas de
forma particular através de bibliotecas, livrarias e conhecidos que tenha o
material necessário ao estudo que será feito.
Além de livros que versem sobre o tema, também serão analisadas
jurisprudências e súmulas tanto do STJ quanto do TST que contenham
aspectos sobre o mesmo.
Assim, de tal forma, fizemos, através da pesquisa bibliográfica, uma
busca por pontos teóricos e práticos desse ramo do direito, abordando sempre
sobre os Recursos Trabalhistas em Espécie, para ao final confrontar os
pensamentos dos grandes juristas apresentando as críticas e possíveis
soluções acerca do tema.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I
CONCEITO DE RECURSO E SUA NATUREZA JURÍDICA
09
1.1 Conceito 09 1.2 Natureza Jurídica 10 CAPÍTULO II
PRESSUPOSTOS RECURSAIS GENÉRICOS
12
CAPÍTULO III
PRINCÍPIOS RECURSAIS NO PROCESSO DO TRABALHO
18
CAPÍTULO IV
AS RECENTES REFORMAS DO CPC E AS LACUNAS DO PROCESSO DO TRABALHO
25
CAPÍTULO V
OS RECURSOS EM ESPÉCIES
33
CONCLUSÃO
74
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
76
INDICE
77
FOLHA DE AVALIAÇÃO
78
8
INTRODUÇÃO
A palavra recurso etimologicamente provém do latim (recursus, us)
dando-nos idéia da repetição de um caminho anteriormente percorrido.
Na antiguidade, a Justiça era uma emanação ao poder real. Nessa
época já havia previsão para o inconformismo da parte com a decisão julgada
por um terceiro e ao rei cabia recorrer, que era órgão supremo do Estado.
Surgia, então, o instituto do recurso.
A própria origem já revela que os meios de impugnação às resoluções
judiciais tutelam relevante interesse público. Os atos do órgão judiciário nem
sempre se revelam isentos de defeitos, ou vícios, quanto ao fundo e à forma.
Não poderia o Estado desinteressar-se da correta aplicação do direito material
e processual. O indispensável serviço de resolver lides abrange a faculdade de
promover o reexame dos elementos do processo, no todo ou em parte,
incutindo confiança ao público. O recurso mostra a sociedade que os juízes e
tribunais são destinados a regrar com justiça as demandas e aplicar com
exatidão o direito objetivo. Em alguns meios de impugnação, o objetivo
fundamental é o único que importa: o remédio promove, concretamente, a
supremacia da Constituição ou controla a exata aplicação das leis. A maioria
das impugnações sobreleva o interesse em reavaliar a justiça do provimento,
sem prejuízo, no entanto, da finalidade pública há pouco reconhecida ao
instituto.
Os recursos são comumente os remédios mais utilizados para a revisão
das decisões judiciais. Mas não são os únicos. Existem, também, as chamadas
ações autônomas de impugnação contra atos decisórios, como: Mandado de
Segurança, Ação rescisória, os Embargos do Devedor e os Embargos de
Terceiro.
9
CAPÍTULO I
CONCEITO DE RECURSO E SUA NATUREZA JURÍDICA
1.1 - Conceito
A palavra recurso pode ser entendida em sentido amplo e em sentido
restrito. Em sentido amplo é um remédio, isto é, um meio de proteger um
direito: ações, recursos processuais ou administrativos, exceções,
contestações, reconvenção, medidas cautelares. Em sentido estrito, é a
provocação de novo julgamento, na mesma relação processual, da decisão
pela mesma ou por outra autoridade judiciária superior.
Cabe esclarecer que o recurso não é apenas um direito da parte
vencida é também um ônus processual, uma vez que para obter a reforma da
decisão, salvo nos casos de remessa obrigatória, é necessária a provocação
da parte. Pois a jurisdição é inerte, necessitando da provocação da parte.
Neste capítulo ainda vale comentar a cerca do duplo grau de jurisdição
que se destaca por ser a principal garantia constitucional da ampla defesa
permitindo assim que os litigantes insatisfeitos com as decisões proferidas em
processo judicial ou administrativo possam utilizar meios e recursos inerente a
ela.
Diversos são os conceitos formulados pela doutrina no que tange aos
recursos e todos são aplicáveis a todos os ramos do direito processual,
incluindo o direito processual do trabalho. Alguns foram reproduzidos nesta
obra.
“Recurso é um dos meios de que pode valer-se a parte,
inconformada com a decisão judicial, que lhe foi
desfavorável, para vê-la reexaminada na mesma ou na
instância superior” (ALMEIDA, 1991, p. 301).
10
“Recursos constituem um instrumento assegurado aos
interesses para que, sempre que vencidos, possam pedir
aos órgãos jurisdicionais um novo pronunciamento sobre a
questão decidida” (NASCIMENTO, 1994, p. 281).
“Os meios de impugnação dividem-se em duas grandes
classes: a dos recursos- assim chamados os que podem
exercitar dentro do processo em que surgiu a decisão
impugnada- e o das ações impugnativas autônomas, cujo
exercício, em regra, pressupõe a irrecorribilidade da decisão,
ou seja, o seu trânsito em julgado. No direito brasileiro,
protótipo da segunda classe é a ação rescisória” (MOREIRA,
1993, p. 139).
Pode-se admitir que recurso é uma espécie de remédio processual, é
um direito assegurado por lei para que a(s) parte (s), o terceiro juridicamente
interessado ou o Ministério Público possam provocar o reexame da decisão
proferida na mesma relação jurídica processual, retardando, assim a formação
da coisa julgada.
1.2 - Natureza Jurídica
Há uma disputa doutrinária no tocante à natureza jurídica dos recursos
em geral, desta forma surgiram duas correntes: recurso como ação autônoma
de impugnação e recurso como prolongamento do exercício do direito de ação.
a) Recurso como Ação Autônoma de Impugnação
Para esta corrente doutrinária, o recurso é uma ação autônoma
relativamente àquela que lhe deu origem.
11
Funciona como se fosse uma nova ação, de natureza constitutiva
negativa, independente daquela que surgiu com a petição inicial.
Para os defensores desta corrente, o direito de recorrer constitui (novo)
exercício, após decisão judicial, do próprio direito de ação.
Exemplo de ação autônoma de impugnação é a ação rescisória que
constitui remédio apto a atacar, em outra relação processual e nas hipóteses
expressamente admitidas (art. 485 do CPC), as decisões de mérito transitadas
em julgado.
b) Recurso como Prolongamento do Exercício do Direito de Ação
A segunda corrente majoritária defende que recurso é a continuação do
procedimento, atuando como prolongamento do exercício do direito de ação
dentro do mesmo processo.
Por esta razão afirmar-se que o recurso não é, em sentido estrito, o
próprio direito de ação, já que pressupõe a existência de lide pendente sobre a
qual se formou a coisa julgada.
Conclui-se que recurso constitui corolário, prolongamento, do exercício
do direito de ação. Sendo esta concepção aplicável tanto no processo comum
quanto no trabalhista.
12
CAPÍTULO II
PRESSUPOSTOS RECURSAIS GENÉRICOS
A admissibilidade dos recursos está condicionada à satisfação, pelo
recorrente, de pressupostos previstos em lei para que o recurso interposto
possa ser reconhecido.
Não havendo o atendimento a tais pressupostos o recurso será
inadmitido pelo mesmo órgão judicial prolator da decisão, ou por outro
hierarquicamente superior. Vale dizer, a ausência de qualquer dos
pressupostos de admissibilidade impede o reexame do mérito do recurso pelo
órgão competente para a sua apreciação.
Alerte-se que além dos pressupostos genéricos (objetivos e subjetivos)
há também os pressupostos específicos que acompanha cada recurso e será
analisado no momento oportuno.
São pressupostos subjetivos: a legitimidade, a capacidade e o interesse.
Legitimado recursal é a habilitação outorgada por lei para que possa
recorrer. Nesse sentido pode recorrer à parte vencida, total ou parcialmente, o
terceiro prejudicado ou interessado e o Ministério Público tanto nos processos
em que for parte como naqueles em que estiver atuando como fiscal da lei.
Destaca-se que para o terceiro recorrer tem que demonstrar o nexo de
interdependência entre o seu interesse de intervir e a relação jurídica
submetida à apreciação judicial, conforme previsão no CPC no seu art. 499, §
1°.
Além da legitimidade, também deve o recorrente ter capacidade no
momento da interposição do recurso. Tem a capacidade de recorrer quem é
capaz nos termos do art. 7°, XXXIII da Constituição Federal e dos arts. 3° e 5°
do Código Civil. Os incapazes serão representados por seus pais, tutores ou
curadores, conforme o art. 8° do CPC.
13
Por fim o interesse recursal, nada mais é do que a situação desfavorável
em que a parte foi colocada em razão da decisão.
O interesse repousa na necessidade que tem o recorrente de obter a
anulação ou a reforma da decisão que lhe foi desfavorável. É preciso, portanto,
que tenha sucumbido, entendida a sucumbência como a não obtenção, pelo
recorrente, de tudo o que poderia ter obtido no processo. Assim, ainda que
tenha se saído vencedor, pode ter sucumbido, e consequentemente ter
interesse em recorrer.
E os últimos, os pressuposto objetivos dos recursos, que são a
recorribilidade da decisão, a previsão legal, a adequação, tempestividade,
preparo e regularidade de representação.
O ato judicial impugnado deve ser recorrível, pois o recurso somente
poderá ser processado e apreciado se não existir no ordenamento jurídico
óbice ao exercício do direito de recorrer. Verificando ser irrecorrível o ato
judicial atacado, o órgão julgador não deve conhecer do recurso.
Elucida-se que são irrecorríveis no Processo do Trabalho os despachos
de mero expediente, as decisões interlocutórias e as sentenças proferidas no
procedimento sumário que não versem sobre matéria constitucional (Lei nº
5.584/70 art. 2°, § 4°).
Também existem os termos de conciliação lavrados na Justiça do
Trabalho que são irrecorríveis, somente podendo ser atacados por meio de
ação rescisória. Esta irrecorribilidade não atinge a Previdência Social quanto
às contribuições que lhe forem devidas podendo ser atacados por via de
recurso ordinário.
O pressuposto objetivo da exigência de previsão legal significa que as
partes só poderão utilizar os recursos que estiverem previstos em lei. No
Processo do Trabalho os recursos estão dispostos no rol do art. 893 da CLT e
o mesmo não deve ser interpretado de forma taxativa, pois outros recursos
também são cabíveis no sistema recursal trabalhista e estarão disciplinados na
Constituição Federal ou no Código de Processo Civil, fonte subsidiária.
14
Desta forma, não basta que o ato judicial seja recorrível. É necessário
que o recurso utilizado seja adequado, ou seja, deve estar em conformidade
com a decisão por ele impugnada. Para cada ato judicial recorrível existe um
recurso adequado.
Entretanto, a má adequação do recurso não pode prejudicar o
recorrente, pois o Processo do Trabalho tem o respaldo do princípio da
fungibilidade dando a possibilidade do recurso ser conhecido pelo órgão
julgador, salvo no caso de comprovada a má-fé.
Os recursos devem ser tempestivos, ou seja, devem ser interpostos no
prazo previsto em lei. Lembrando que os prazos são peremptórios, sobre os
mesmos não podem as partes convencionar.
No Processo do Trabalho, os prazos dos recursos estão estipulados no
art. 893 da CLT de forma unificada, sendo todos de oito dias, contados da
intimação da decisão em audiência, por via postal ou por publicação no jornal
oficial. Já os recursos de natureza civil usados no processo do trabalho
obedecem aos prazos do processo civil.
Convém comentar à respeito dos entes públicos e do Ministério Público
que possuem prazo em dobro para recorrer, pois possuem prerrogativas
processuais.
O preparo também é outro pressuposto objetivo significando o
pagamento das custas processuais e do depósito recursal.
As custas são taxas devidas ao Estado como contraprestação do
serviço público prestado.
A CLT determina que deverão ser pagas dentro do prazo recursal e o
seu recolhimento deverá ser comprovado no mesmo prazo, sob pena de
deserção. A quantia a ser paga será indicada na sentença e calculada,
conforme previsão legal do art. 789 da CLT.
Advirta-se, desde logo, que no processo (ou fase) de execução as
custas são pagas ao final. Razão pela qual não constituem pressupostos de
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admissibilidade de recursos interpostos contra decisões proferidas nessa fase
processual.
A lei faculta aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do
trabalho de qualquer instância conceder, a requerimento ou de ofício, o
benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a translados e instrumentos,
àqueles que perceberem salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, ou
declararem, sob pena de lei, que não estão em condições de pagar as custas
do processo sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família. É o que
dispõe o art. 790, § 3° da CLT. Também se acrescentam neste rol a massa
falida e os que litigam sob o pálio da assistência judiciária sindical (Lei nº
5.584/70, art. 14).
Além desses estão isentos do pagamento de custas a União, os
Estados, os Municípios, o Distrito Federal, suas respectivas autarquias e
fundações públicas que não explorarem atividade econômica e o Ministério
Público.
No entanto, as empresas em liquidação extrajudicial devem pagar
custas processuais, sob pena de deserção dos recursos que interpuserem.
O depósito recursal está previsto no art. 899, § 1° da CLT e tem
natureza de garantia do juízo para futura execução, razão pela qual é exigida
apenas em relação ao reclamado, quando este interpuser qualquer recurso,
salvo quando houver interposição de agravo de instrumento e de agravo de
petição.
Vale ressaltar que o empregado ou o trabalhador, ainda que vencido em
ação ajuizada pelo empregador, jamais estará obrigado ao recolhimento do
depósito a que alude o art. 899 da CLT.
O valor do depósito recursal equivale ao valor da condenação arbitrado
na sentença, limitando ao teto máximo fixado pelo TST. Registra-se que a
atualização dos valores é feita por Ato da Presidência do Tribunal Superior do
Trabalho, que entra em vigor após o quinto dia da sua publicação no DJU.
16
A parte recorrente está obrigada a efetuar o deposito recursal,
integralmente, em relação a cada novo recurso interposto, sob pena de
deserção. Atingindo o valor da condenação, nenhum outro depósito é exigido
para qualquer recurso.
Aqui também se aplica o benefício da justiça gratuita mencionado nas
custas, sendo devido as pessoas jurídicas de direito público, o Ministério
Publico do Trabalho e a massa falida. Já o mesmo não ocorre em relação às
empresas em liquidação extrajudicial.
Havendo condenação solidária de duas ou mais empresas, o depósito
recursal efetuado por uma delas aproveita as demais. Quando a empresa que
efetuou o depósito não pleiteia sua exclusão do pólo passivo na lide.
No que tange ao prazo para efetuar e comprovar o depósito diz a lei que
é o mesmo prazo para a interposição do recurso e havendo antecipação do
mesmo em nada ficará prejudicada a dilação legal.
A respeito do recolhimento das custas e do depósito recursal afirma-se
que deve ser feito no montante exato, pois se houver diferença no valor, ainda
que ínfima, ocorrerá a deserção (OJ SDI-I 140).
Com o advento da Constituição Federal de 1988, alguns doutrinadores
manifestaram-se pela inconstitucionalidade do depósito recursal prévio, sob o
argumento de que ele impede o exercício do amplo direito de defesa com os
meios e recursos a ela inerentes. Mas o TST entendeu de forma diversa e
enfrentou a questão alegando que o depósito recursal é uma garantia ao juízo
e não uma taxa judiciária, assim não havendo qualquer ofensa ao princípio do
contraditório e da ampla defesa. Verifica-se o seguinte julgado:
“O art. 899 da CLT vincula o conhecimento do recurso ao
prévio depósito da condenação. Trata-se de garantia do
juízo e não taxa judiciária. A existência de condições para a
utilização dos recursos não configura ofensa ao princípio
constitucional do contraditório e da ampla defesa. Não
garantindo o juízo, verifica-se a deserção do recurso
ordinário. Embargos providos” (TST-ERR 22734/91-Ac. SDI
17
835/95 - Rel. Min. José Luiz Vasconcellos - j.30.3.95-
DJ4.8.95 - p. 22827).
Por fim, deve ser observada também a regularidade de representação,
para que possa se admitir o recurso.
Embora no Processo do Trabalho seja admitido o jus postulandi das
partes, a essas é dada a faculdade de constituírem advogados. Assim, caso a
parte interponha o recurso por meio do seu advogado, este deve estar
devidamente constituído por meio de procuração, sob pena de não
conhecimento do recurso, salvo na hipótese de mandado tácito (Súmula nº 164
do TST).
Desta forma, é considerado advogado da parte aquele que tiver
praticando, em seu nome, vários atos no curso do processo em primeiro grau
de jurisdição, bem como a chamada procuração apud acta, que decorre da
circunstância fática de o advogado figurar como assistente da parte na ata da
audiência, independentemente de juntada do instrumento formal de mandato.
Na hipótese de irregularidade de representação na interposição do
recurso, não será concedido prazo para regularização, pois a regra do art. 13
do CPC somente se aplica em primeiro grau.
18
CAPÍTULO III
PRINCÍPIOS RECURSAIS NO PROCESSO DO
TRABALHO
Não há uniformidade doutrinária à respeito da enumeração dos
princípios que informam o sistema dos recursos trabalhistas.
Sabe-se, apenas, que para caracterizar a autonomia de determinado
ramo do direito, é importante que ele possua princípios próprios ou peculiares.
Há, contudo, princípios recursais que são comuns a dois ou mais ramos
da árvore jurídica processual, sem que isso comprometa a autonomia de cada
ume deles. Isto é que ocorre com o direito processual do trabalho.
1) Princípio do Duplo Grau de Jurisdição
O duplo grau de jurisdição é previsão normativa contida em um sistema
jurídico para que as decisões judiciais de um processo possam ser
submetidas, por intermédio de um recurso voluntário ou de ofício, a um novo
julgamento por um órgão judicial, geralmente colegiado, e hierarquicamente
superior.
Este princípio foi previsto expressamente apenas na constituição
brasileira de 1824. As demais cartas republicanas, inclusive a CF de 1988 não
contemplam de forma explícita, o que proporciona divergências doutrinárias e
jurisprudenciais acerca não somente de sua existência como também do seu
status constitucional. Ou seja, a dúvida surge para definir se é princípio, direito
ou garantia.
Pode-se dizer que o duplo grau de jurisdição é um direito humano
conferido a toda pessoa de interpor recurso das decisões judiciais para um juiz
ou um tribunal superior, conforme expõe a Convenção Americana sobre
Direitos Humanos, ratificada pelo Brasil (Decreto nº 678, de 6.11.1992). Em
nosso sistema é um direito fundamental, à luz dos §§ 2° e 3° do art. 5° da
CF/88, embora não seja absoluto.
19
É importante lembrar que os recursos extraordinários de competência
originária do STF (CF, art. 102, I) revelam que há julgamentos sem duplo grau
de jurisdição e o mesmo artigo no seu inciso III diz que compete ao STF julgar,
mediante recurso extraordinário, as causas decididas “em única” ou última
instância. Isso se deve porque os recursos extraordinários não têm por escopo
o reexame de fatos e provas, assim não efetivando o duplo grau de jurisdição.
A discussão que causa maior repercussão para aqueles que advogam é
a cerca da regra contida no art. 2°, § 4° da Lei nº 5.584/70. O melhor
entendimento para o TST está sedimentado na Súmula nº 356 e é
acompanhado pela súmula nº 640 do STF, pois reconhece o cabimento de
recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas
causas de alçada, o que reforça a tese do § 4° do art. 2° da Lei nº 5.584/1970.
Registra-se ainda, que a súmula nº 303 do TST também mitiga o
princípio do duplo grau de jurisdição nas sentenças desfavoráveis às pessoas
jurídicas de direito público.
2) Princípio da Concentração ou da Irrecorribilidade das Decisões
interlocutórias
De forma diversa do que ocorre com o processo civil, cujas decisões
interlocutórias proferidas no curso do processo podem ser impugnadas por
agravo (retido ou de instrumento), o direito processual do trabalho não admite
recurso específico contra tais espécies de atos judiciais, salvo quando
terminativas do feito no âmbito da Justiça do Trabalho.
Ou seja, a regra geral reside na irrecorribilidade imediata, por intermédio
de recurso próprio, contra as decisões interlocutórias, assim dispõe o art. 893,
§ 1° da CLT e afirma o Eg. Tribunal Superior do Trabalho a Resolução TST nº
121/2003.
Seguindo este raciocínio, pode-se dizer que a decisão interlocutória, no
processo do trabalho, somente empolgaria a interposição imediata de recurso
se a permitisse recurso para o mesmo Tribunal, como o agravo regimental da
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decisão do Juiz Relator que defere ou indefere liminar ou se acolhesse
exceção de incompetência em razão do lugar (relativa) e remetesse os autos
para o Tribunal distinto daquele a que se vincula o juiz prolator da decisão.
Todavia, por força da Súmula nº 214 do TST foi criada mais uma
hipótese de cabimento de recurso contra decisões interlocutórias, a
interposição de recurso contra decisão de Tribunal Regional do Trabalho
contrária a Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do
Trabalho.
Desta forma, o Colendo TST prestou homenagem aos princípios da
economia processual e celeridade processual, pois evita que o processo
retorne a Vara do Trabalho quando a decisão atacada já possui entendimento
sumulado, reiterado e atual do TST.
Faz-se uma crítica a redação da Súmula nº 214 do TST por não
mencionar outras decisões interlocutórias suscetíveis de interposição imediata
de recurso, como a decisão interlocutória que acolhe preliminar de
incompetência absoluta em razão da matéria ou da pessoa. E a decisão do juiz
que mantiver o valor da causa fixado para fins de alçada, poderá a parte
formular pedido de revisão que será julgado pelo Presidente do Tribunal ao
qual está vinculado o juiz prolator da decisão.
a) Princípio da Instrumentalidade das Formas
As formas assumem caráter meramente instrumental, não passando de
meios para a consecução dos fins; quando estes são atingidos, não se deve,
como regra geral, declarar a nulidade dos atos processuais.
b) Princípio da Preclusão
Este princípio está diretamente ligado às nulidades relativas e as
anulabilidades, conforme previsão do CPC (art. 154 e art. 245) quanto na CLT
(art. 795). O TST também já se manifestou sobre o assunto editando as
Súmulas nº 184 e 297.
A preclusão pode ser lógica quando a parte pratica ato incompatível
com o anteriormente praticado; consumativa quando, por exemplo, a parte
21
apresentar a contestação e no mesmo prazo tenta apresentar nova resposta e
por fim a preclusão temporal na hipótese de perda de prazo para a prática de
algum ato processual a cargo da parte.
c) Princípio da Transcendência ou Prejuízo
Este também é um princípio que guarda pertinência com as nulidades
relativas, ou seja, estas só podem ser declaradas se e quando puderem
acarretar prejuízo as partes.
Tal princípio consagrado no art. 794 da CLT e art. 249, § 1° do CPC não
deve ser confundido com o pressuposto recursal específico da transcendência
no recurso de revista.
d) Princípio da Proteção
Também aplicável na hipótese de nulidade relativa o princípio da
proteção, inserido no CPC pelo art. 243 e na CLT pelo art. 796, b, diz que a
nulidade só poderá ser decretada quando não for possível suprir a falta ou
repetir o ato, sendo certo que, por ser o processo um meio ético de solução de
conflitos, a nulidade não pode ser alegada por quem lhe deu causa. Afinal,
ninguém pode beneficiar-se da própria torpeza.
e) Princípio da Convalidação
Este princípio emana de uma regra processual, indicada pelo art. 795 da
CLT e art. 245 do CPC em que o silêncio de uma das partes faz gerar a
aceitação do ato praticado pelo adversário, ou induz à veracidade das
alegações feitas por este. Isto só será aplicado para a nulidade relativa.
f) Princípio da Causalidade, Utilidade ou Aproveitamento
O princípio em tela tem respaldo no art. 798 da CLT e preza pelo
aproveitamento dos atos processuais sempre que possível, pois não serão
invalidados os atos de mero expediente, mas tão-somente, os atos que tenham
conteúdo decisório.
22
3) Princípio da Manutenção dos Efeitos da Sentença
O art. 899 da CLT determina que os recursos trabalhistas terão efeito
meramente devolutivo. Por essa razão, não há necessidade de o juiz declarar
o efeito em que recebe o recurso para, só então, remetê-lo ao juízo ad quem.
No silêncio, pois, incide a regra legal, em função do que não precisaria o juiz
pronunciar o óbvio.
Nos domínios do processo do trabalho a regra é a não-suspensividade
dos efeitos da sentença, ou seja, aos recursos é atribuído apenas o efeito
devolutivo, como regra. A devolutividade é inerente a todo recurso, consistindo
em submeter à matéria impugnada a novo julgamento pelo mesmo ou por
outro órgão judicial hierarquicamente superior.
Ressalta-se que com a nova redação dada aos parágrafos do art. 897
da CLT ficou afastada a possibilidade de “sobrestamento do feito”, que nada
mais era que uma forma de se dar efeito suspensivo ao agravo de petição,
agora pode a parte extrair carta de sentença, e proceder, a qualquer tempo, à
execução provisória do julgado, que tramitará até a penhora dos bens (art. 899
da CLT), se for o caso.
4) Princípio da Singularidade, Unirrecorribilidade ou Unicidade Recursal
O princípio em comento não permite a interposição simultânea de mais
de um recurso contra a mesma decisão (ou parte ou capítulo da mesma
decisão). Ou seja, os recursos não podem ser utilizados simultaneamente, mas
sim sucessivamente, obedecendo-se à hierarquia dos órgãos jurisdicionais.
5) Princípio da Conversibiidade ou Fungibilidade
Em sede de processo laboral, o princípio da fungibilidade sempre foi
adotado nos recursos trabalhistas por eles terem, em geral, o mesmo prazo
para interposição, prevalecendo, entretanto, a ressalva de má-fé.
23
Isto é, interposto um recurso trabalhista em lugar de outro, dentro do
prazo alusivo ao recurso próprio, não se perde aquele, salvo no caso de
evidente má-fé do recorrente, assim afirma a Súmula nº 421, II do TST.
Ressalta-se que recentemente foi editada a OJ nº 152 determinando
que não há lugar para a incidência do principio da fungibilidade na hipótese de
erro grosseiro. Eis o teor da referida OJ:
“Ação Rescisória e Mandado de Segurança. Recurso de
revista de acórdão regional que julga ação rescisória ou
mandado de segurança. Princípio da fungibilidade.
Inaplicabilidade. Erro grosseiro na interposição do recurso.
(DEJT divulgado em 03, 04 e 05.12.2008). A interposição de
recurso de revista de decisão definitiva de Tribunal Regional
do Trabalho em ação rescisória ou em mandado de
segurança, com fundamento em violação legal e divergência
jurisprudencial e remissão expressa ao art. 896 da CLT,
configura erro grosseiro, insuscetível de autorizar o seu
recebimento como recurso ordinário, em face do disposto no
art. 895, b da CLT”.
6) Interposição do Recurso “por Simples Petição” e Princípio da
Dialeticidade ou Discursividade
O dispositivo que trata deste princípio é o art. 899 da CLT que não
poderá ser interpretado literalmente, pois o recorrente deve expor as razões do
seu inconformismo com a decisão hostilizada.
A interpretação literal da lei poderia endossar, por outro lado, a prática
de recursos meramente procrastinatórios, em detrimento dos postulados éticos
do processo e mesmo da sua celeridade, tão caros ao processo trabalhista.
O princípio ora focalizado, informa que o recurso deve ser discursivo,
dialético. Cabe ao recorrente, portanto, indicar no apelo às razões com que
impugna a decisão para que ela possa ser reexaminada pelo mesmo ou outro
órgão jurisdicional.
24
7) Princípio da Voluntariedade
Este princípio também norteia o sistema recursal trabalhista, pois como
o recurso é um prolongamento do exercício do direito de ação, é óbvio que os
tribunais não poderão apreciar matérias que não foram levadas à sua cognição
pelas partes.
Desta forma, não poderá o juízo ad quem conhecer de matérias não
agitadas no recurso, salvo aquelas consideradas de ordem pública a cujo
respeito, enquanto não configurada a res judicata, não tenha operado a
preclusão.
No entanto, o CPC nos §§ 1° e 3° do art. 515 e o art. 516, permitem ao
juízo ad quem, na apelação (e por similitude no recurso ordinário), conhecer de
questões não decididas ou não decididas por inteiro, bem como adentrar no
exame da lide mesmo quando a sentença tenha julgado extinto o processo
sem resolução do mérito.
8) Princípio da Proibição da Reformatio in Pejus
O princípio em epígrafe proíbe que, no julgamento de um recurso, o
órgão judicante superior profira decisão que piore o resultado meritório da
demanda para o recorrente.
Se não houve recurso contra uma parte do decisum desfavorável a um
dos demandantes, tal parte torna-se intangível, isto é, transita em julgado, não
podendo ser atingida pelo julgamento das outras partes que formam
devolvidas, no apelo, ao conhecimento da instância superior.
Este princípio, todavia, não é adotado expressamente pelo CPC, mas é
largamente aceito pela doutrina e jurisprudência.
Cumpre assinalar que o principio em tela não tem o condão de alcançar
aquelas questões consideradas de ordem pública, conhecíveis de ofício em
qualquer tempo e grau de jurisdição, assim determinam os arts. 267, § 3° e
516 do CPC.
25
CAPÍTULO IV
AS RECENTES REFORMAS DO CPC E AS LACUNAS
DO PROCESSO DO TRABALHO
Há mais de uma década o Direito Processual Civil vem sofrendo
alterações, as quais, consideradas em seu conjunto, já constituem mudança
profunda nesse microssitema jurídico. Por outro lado, o Direito Processual do
Trabalho, concebido à época em que vigente o antigo Código de Processo Civil
de 1939, tem-se relevado mais estável, ainda imperando o modelo simplificado
originariamente adotado.
Esse modelo simplificado, que visava a celeridade, evidentemente
tornou-se, com o tempo, insuficiente para solucionar as lides trabalhistas, em
boa parte, pois carente de mecanismos modernos e necessários à solução
jurisdicional dos conflitos trabalhistas.
Natural então a utilização das normas processuais civis,
subsidiariamente. Mais robustas e conectadas com a necessidade de
mudanças, elas vem amparar o microssistema processual trabalhista na
solução de incidentes processuais até então sem uma solução segura, bem
como impulsionar novas formas de composição dos conflitos de interesse.
A grande dificuldade, todavia, está em compatibilizar as normas do
Direito Processual Civil com a versão simplificada do Processo do Trabalho.
É que a singela utilização de todo arcabouço de normas processuais
civis no Direito Processual do Trabalho possivelmente surtiria um efeito
nefasto, qual seja o de transferir toda a complexidade do Processo Civil, o que
não é desejado, pela sua conseqüência ainda não neutralizada de todo: a
morosidade.
Embora não seja a complexidade do Processo Civil a única causa para
a prestação lenta da Justiça, é uma delas. Vem sendo atacada, mais ainda
não com toda a eficiência necessária.
26
Por outro lado, as recentes alterações no Direito Processual Civil
admitem prever uma prestação jurisdicional mais célere e possivelmente mais
justa. Podem ser com uma análise adequada, adotadas com sucesso no
Processo Trabalhista.
O processo do trabalho, parcamente entabulado no texto consolidado,
foi estruturado ainda na vigência do Código de Processo Civil de 1939, como já
mencionado acima, e tem como esse modelo próximas semelhanças; basta
ver, por exemplo, que, o paradigma da execução provisória no processo do
trabalho (art. 899 da CLT), concebido apenas para a realização de medidas
conservativas, e, portanto, proibindo a prática de atos de alienação, foi
inspirado justamente no modelo do anterior CPC. Este dispunha, em único
dispositivo legal (art. 883, III), também a expressa vedação à prática de atos de
alienação.
Tal exemplo serve para demonstrar que, enquanto o processo do
trabalho estagnou em relação às prementes reformas legislativas e anda a
passos de cágado na sua evolução científica, o processo civil (mesmo que com
algumas reservas quanto à recente fúria legiferante) vem sofrendo,
usualmente, benéficas transformações por intermédio de constantes
aperfeiçoamentos legislativos, bom como por meio de admirável produção
científica dos seus doutrinadores.
Percebeu-se que o desenvolvimento do processo civil precisava ser
“aproveitado” de alguma maneira pelo processo do trabalho, com o fito último e
maior da incessante busca da eficiência e justiça processual.
Desta forma verifica-se que a possibilidade de um aproveitamento maior
das alterações do processo civil, relaciona-se à tentativa de impingir ao
processo do trabalho, com fulcro em ensinamentos normalmente esquecidos
pela dogmática processual clássica desse ramo, maior penetração de outros
textos legais, inclusive por força das alterações ocorridas em razão da Reforma
do Poder Judiciário e do processo civil, com o objetivo maior de alcançar a tão
sonhada e almejada qualidade na entrega da tutela jurisdicional.
27
Daí a necessidade de interpretar o princípio da subsidiariedade que tem
texto consolidado na CLT no seu art. 769. A partir disso, a doutrina clássica
aponta dois elementos primordiais necessários à incidência supletória do CPC:
omissão da lei processual trabalhista e ausência de incompatibilidade entre
textos do direito comum e o processo do trabalho.
Assim, na interpretação literal dessa vetusta concepção bastaria, para
acontecer transposição de determinado regramento disposto na norma
processual civil, a ausência de previsão no processo laboral daquela regra
específica, bem como a inocorrência de incompatibilidade da aplicação da
mesma em relação ao ideário desse ramo.
O primeiro passo, portanto, seria a constatação da ausência de
regramento leal no processo laboral. O operador do direito, ao depara-se com
dada situação litigiosa, precisaria perscrutar o ordenamento processual do
trabalho em busca da solução daquela contenda.
Caso constatada efetividade a omissão citada, seria necessário, num
segundo momento, verificar a compatibilidade daquela solução transposta de
outro ramo científico com o processo laboral.
Porém, o paradigma da técnica clássica da subsidiariedade não seria
suficiente à resolução dos conflitos laborais hodiernos, bem como não seria
mecanismo suficiente à busca do resultado jurisdicional mais equânime.
Por conseguinte, no momento crucial foi promulgada a Emenda
Constitucional nº 45/2004, que instituiu uma nova garantia fundamental que
repercutiu diretamente na reforma do sistema processual pátrio: o princípio da
duração razoável do processo com os meios que garantam a celeridade de sua
tramitação (art. 5°, LXXVIII da CF).
Nesta ceara, o citado princípio constitucional impõe a necessidade de
conferir ao disposto no art. 769 da CLT técnica de interpretação conforme à
Constituição, isto é, em consonância com os princípios constitucionais
processuais. Isso significa que é imprescindível a integração das reformas
atuais do processo civil no processo do trabalho, tendo como norte a
28
necessidade de visualizar naquelas a possibilidade de alcançar maior
efetividade à prestação jurisdicional trabalhista.
Há certo consenso no sentido de que todas as fases reformistas do
processo civil tiveram seu escopo a efetividade do processo, o que implica, em
certa medida, o reconhecimento da relativização do dogma da autonomia do
processo do trabalho nos casos em que o art. 769 da CLT representar, na
prática, descompromisso com a efetividade, porquanto a morosidade
processual favorece os mais ricos (empregadores) em detrimento dos mais
pobres (trabalhadores), sendo estes últimos certamente os mais prejudicados
com a intempestividade da prestação jurisdicional.
É sabido que todas essas transformações são necessárias e úteis para
salvaguardar a tutela jurisdicional, principalmente, daquele que se encontra em
situação desfavorável. Porém, deve-se ter o cuidado de não provocar ofensas
aos princípios do processo laboral, assim as reformas devem ser todas
compatíveis com os preceitos da Justiça do Trabalho.
Neste sentido, aponta-se o agravo retido previsto pelo CPC no seu art.
522 como um instituto incompatível com o processo do trabalho, uma vez que
na esfera trabalhista não cabe recurso de decisão interlocutória. Essa
exemplificação apenas nos mostra uma dentre outras incompatibilidades
existente entre o CPC e a CLT, por isso é de suma importância que os
operadores do direito façam um estudo rebuscado a respeito do assunto.
Vale atentar-se para o conceito de lacuna, de maneira, a possibilitar a
heterointegração dos subsistemas do direito processual civil e do direito
processual do trabalho, o que pode ser implementado mediante transplante de
normas daquele, sempre que isso implicar maior efetividade deste.
A heterointegração pressupõe, portanto, existência não apenas das
tradicionais lacunas normativas, mas também das lacunas ontológicas e
axiológicas. Dito de outro modo, a heterointegração dos dois subsistemas
(processo civil e trabalhista) pressupõe a interposição evolutiva do art. 769 da
CLT, para permitir a aplicação subsidiária do CPC não somente na hipótese
(tradicional) de lacuna normativa do processo laboral, mas também quando a
29
norma do processo trabalhista apresentar manifesto envelhecimento que, na
pratica, impede ou dificulta a prestação jurisdicional justa e efetiva deste
processo especializado.
Fica evidente que há a necessidade da heterointegração do sistema,
não apenas diante da lacuna normativa, mas, também, diante das freqüentes
hipóteses em que a norma processual trabalhista sofre de manifesto e
indiscutível ancilosamento (envelhecimento da norma jurídica) em face de
institutos processuais semelhantes adotados em outras esferas processuais,
inequivocamente mais modernos e eficazes.
Ressalta-se que a regra inscrita no art. 769 da CLT apresenta duas
espécies de lacunas quando comparada como o processo sincrético
inaugurado com as recentes reformas introduzidas pela Lei nº 11.232/2005, a
saber:
a) lacuna ontológica: não se pode negar que o desenvolvimento das
relações políticas, sociais e econômicas desde a vigência da CLT em 1943 até
os dias atuais revelam que inúmeros institutos e garantias do processo civil
passaram a influenciar diretamente o processo do trabalho, tais como as
astreintes, a antecipação de tutela e as multas por litigância de má-fé e por
embargos procrastinatórios, além do progresso técnico decorrente da
constatação de que, na prática, raramente é exercido o ius postulandi pelas
próprias partes, e sim por advogados cada vez mais especializados na área
justrabalhista;
b) lacuna axiológica: a interpretação literal do art. 769 da CLT, mostra-
se muitas vezes injusta e insatisfatória em relação ao usuário da jurisdição
trabalhista quando comparada com as novas regras do sistema do processo
civil sincrético que propiciam situação de vantagem (material e processual) ao
titular do direito deduzido na demanda. Ademais, a transferência da
competência material das ações oriundas da relação de trabalho para a justiça
do Trabalho não pode redundar em teses em que a migração de normas do
CPC, não obstante a existência de regras da CLT, impliquem em melhoria da
efetividade da prestação jurisdicional, como é o caso da multa de 10% e a
30
intimação do advogado (em lugar de citação) do devedor para o cumprimento
da sentença.
Para eliminar as lacunas ontológica e axiológica do art. 769 da CLT,
torna-se necessária uma nova hermenêutica que propicie um novo sentido ao
seu conteúdo devido ao peso dos princípios constitucionais do acesso efetivo à
justiça que determinam a utilização dos meios necessários para abreviar a
duração do processo.
Atualmente, porém, a realidade é outra, pois o processo civil, em virtude
das recentes alterações legislativas, passou a consagrar, em muitas situações,
a otimização do princípio da efetividade da prestação jurisdicional, de modo
que se deve, sempre que isso ocorra excluir as lacunas ontológica e axiológica
das regras constantes da CLT e estabelecer a heterointegração do sistema
mediante o diálogo das fontes normativas com vistas à efetivação dos
princípios constitucionais concernentes à jurisdição justa e tempestiva. A
utilização desta nova hermenêutica, portanto, pode ser adotada “sem ruptura
no desenvolvimento aberto do Direito”.
Em contrapartida, é inevitável romper com o formalismo jurídico e
estabelecer o diálogo das fontes normativas infraconstitucionais do CPC e da
CLT, visando à concretização do principio da máxima efetividade
especialmente o novel princípio da “duração razoável do processo com os
meios que garantem a celeridade de sua tramitação” (EC nº 45/2004, art. 5°
LXXVIII).
Se o processo nada mais é do que instrumento necessário de realização
do direito material, sendo condição necessária aplicar as normas do CPC que,
na prática, implicam na operacionalização do princípio da máxima efetividade
da tutela jurisdicional, que tem o princípio da celeridade uma de suas formas
de manifestação. Isso significa que as normas do processo civil, desde que
impliquem maior efetividade à tutela jurisdicional dos direitos sociais
trabalhistas, devem ser aplicadas nos domínios do processo do trabalho como
imperativo de promoção do acesso do cidadão (trabalhador) à jurisdição justa.
31
É importante assinalar que na 1ª Jornada de Direito Material e
Processual do Trabalho, realizada em Brasília-DF, foi aprovado, em 23 de
novembro de 2007, o Enunciado nº 66, que admite a aplicação subsidiária do
CPC nas hipóteses de lacunas ontológicas ou axiológicas, nos seguintes
termos:
“APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DE NORMAS DO PROCESSO
COMUM AO PROCESSO TRABALHISTA. OMISSÕES
ONTOLÓGICA E AXIOLÓGICA. ADMISSIBILIDADE. Diante
do atual estágio de desenvolvimento do processo comum e
da necessidade de se conferir aplicabilidade à garantia
constitucional da duração razoável do processo, os artigos
769 e 889 da CLT comportam interpretação conforme à
Constituição Federal, permitindo a aplicação de normas
processuais mais adequadas à efetivação do direito.
Aplicação dos princípios da instrumentalidade, efetividade e
não-retrocesso social.”
1) Aplicação
A aplicação é a adaptação dos preceitos normativos às situações de
fato, ou seja, é a subsunção de um fato à lei. A aplicação de uma norma é
precedida de sua interpretação. Vale dizer, para aplicar uma norma é preciso
antes interpretá-la.
Aplicar o direito significa submeter o caso concreto a uma norma
jurídica, mediante a utilização dos métodos de interpretação e das técnicas de
integração, levando em conta a eficácia da norma no tempo e no espaço.
2) Eficácia
A eficácia da norma jurídica possui mais de um sentido jurídico serão
expostos dois, dos quais são mais utilizados.
O primeiro corresponde a um problema a ser investigado principalmente
pela sociedade do direito com o escopo de descortinar se determinada norma
32
está sendo cumprida espontaneamente pelo destinatário ou, em caso negativo,
se existem mecanismos suficientes e adequados para o seu efetivo
cumprimento. É a chamada eficácia social da norma jurídica.
O segundo sentido de eficácia é estudado primordialmente pela teoria
geral do direito e concerne ao exame da aptidão de dada norma para produzir
efeitos jurídicos. Daí a expressão eficácia jurídica, também chamada de
eficácia técnica.
Em suma, o legislador do texto consolidado se voltou ao direito material
e às normas de proteção ao trabalho, deixando de lado o processo do trabalho.
Tal desprezo restou provocando a necessidade de recorrer a outro título para
subsidiar a CLT no que concerne ao rito procedimental das ações sob a tutela
da Justiça do Trabalho. Nesse sentido, o próprio legislador permitiu que as
demandas trabalhistas sejam acompanhadas pelas normas expostas no CPC,
o qual servirá como fonte subsidiária ao processo do trabalho, contanto que
não contravenham os preceitos contidos no referido texto consolidado.
33
CAPÍTULO V
OS RECURSOS EM ESPÉCIES
Das decisões proferidas pelos órgãos da Justiça do Trabalho são
admissíveis os seguintes recursos: embargos no TST, recurso ordinário,
recurso de revista, agravo de instrumento e agravo de petição, assim disciplina
o art. 893 da CLT.
Recentemente por força da Lei nº 9.957/2000, que inseriu na CLT o art.
897-A, pode-se dizer que há previsão literal no texto obreiro para os embargos
de declaração da sentença ou acórdão. A jurisprudência, com base no art. 769
da CLT, já admitia os embargos de declaração, mas agora é a própria lei
trabalhista que os permite expressamente.
Além, desses recursos, a legislação processual trabalhista prevê, ainda,
o pedido de revisão do valor da causa (art. 2° da Lei nº 5.584/70).
Ressalta-se que a doutrina e, principalmente, a jurisprudência do TST,
não obstante a literalidade dos dispositivos legais supracitados, passaram a
admitir também, por aplicação subsidiária do art. 500 do CPC, o recurso
adesivo, conforme reza a Súmula nº 283 do TST.
Ao lado desses recursos, cabíveis no âmbito da jurisdição trabalhista, há
possibilidade, ainda, da interposição do recurso extraordinário para o STF,
ante o disposto no art. 102, III da CF.
Há ainda, os recursos previstos nos regimentos internos dos tribunais,
como o agravo regimental.
1) Recurso Ordinário: Destaca-se de início que o recurso ordinário
de que cuida a CLT não se confunde como o recurso ordinário previsto nos
arts. 102, II e 105, II, da CF. Embora recebam a mesma denominação “recurso
ordinário”, os recursos insculpidos na Carta Magna, de competência do STF e
do STJ respectivamente, têm escopo o reexame de matérias absolutamente
distintas das que versam o recurso ordinário trabalhista. Por essa razão pode-
34
se dizer que o recurso ordinário previsto na CLT corresponde ao recurso de
apelação tratado no Código de Processo Civil, na medida em que diversos
aspectos são comuns a ambos. A existência de alguns pontos que distinguem
essas duas modalidades recursais, a começar pela possibilidade de a
apelação cível ser manejada tanto no processo de conhecimento como no
processo de execução, não chega a comprometer a similitude científica de
ambas.
O recurso ordinário é o meio de impugnar as decisões finais
desfavoráveis no âmbito da processualística laboral, já que, através dele,
torna-se possível submeter ao juízo ad quem o reexame das matérias de fato e
de direito apreciadas pelo juízo a quo.
O recurso em estudo deve ser interposto por petição dirigida ao juiz que
proferiu a sentença no prazo de oito dias contados da intimação da sentença
recorrida. Caso esse prazo não seja observado o recurso será intempestivo.
No tocante ao prazo há uma contagem especial quando o recurso for
interposto por pessoas jurídicas de direito público, assim o prazo passando a
ser contado em dobro.
Os recursos interposto pelo Ministério Público do Trabalho quer na
condição de órgão agente, quer na de órgão interveniente, também será
computado em dobro, a teor do art. 188 do CPC, aplicável ao processo do
trabalho por força do art. 769 da CLT.
E ainda está sujeito ao preparo, devendo ser pagas as custas e o
depósito recursal segundo as seguintes regras: se o reclamado recorrer da
sentença em que foi vencido total ou parcialmente, deverá pagar as custas
fixadas na sentença e o depósito recursal equivalente ao valor da condenação
até o limite do teto fixado pelo TST para o recurso ordinário e se o reclamante
recorrer da sentença de improcedência da ação, deverá pagar as custas
fixadas na sentença. Tais recolhimentos devem realizados dentro do prazo
recursal e comprovados no ato da interposição do recurso.
35
Cabe mencionar que o depósito recursal só é exigido do empregador
(tomador do serviço). Logo, o empregado ou o trabalhador, ainda que vencido
em ação ajuizada pelo empregador (ex: ação de consignação em pagamento),
jamais estará obrigado ao recolhimento do depósito a que alude o art.899 da
CLT.
É importante assinalar que o juízo de admissibilidade é feito para
verificar se estão presentes os requisitos específicos do recurso, ora
interposto. E o responsável por isso é próprio juiz que proferiu a sentença que
gerou insatisfação da parte. Assim, cabendo a ele admiti-lo ou não.
Nota-se que esse é um recurso de larga utilização no cotidiano forense
trabalhista, usado, em regra, para atacar as sentenças terminativas ou
definitivas proferidas pelos órgãos de primeiro grau da jurisdição trabalhista no
processo de conhecimento.
O recuso em estudo ainda é utilizado para hostilizar acórdãos proferidos
pelos Tribunais Regionais do Trabalho nos feitos de sua competência
originária, tanto nas ações individuais como nos dissídios coletivos e nas ações
anulatórias de cláusula de acordos e convenções coletivas de trabalho, assim
prevê o art. 895 da CLT.
Embora o referido dispositivo legal fale em decisões definitivas que são
as que resolvem o processo com apreciação do mérito também cabe recurso
ordinário para as decisões terminativas que extinguem o processo sem
julgamento do mérito.
Melhor seria se o legislador utilizasse a expressão ”decisões finais”, pois
estas resolvem o processo de forma definitiva. Mas não somente as decisões
definitivas ou terminativas podem ser suscetíveis de ataque por recurso
ordinário, isso significa que o art. 895 da CLT é meramente exemplificativo.
Com efeito, algumas decisões interlocutórias, como as decisões
“terminativa do feito” no âmbito da justiça desafiam a interposição imediata do
recurso ordinário, como a que declara a incompetência absoluta ratione
36
materiae da Justiça do Trabalho e remete os autos à Justiça Comum (art. 799,
§ 2° da CLT).
Porém, a decisão interlocutória que acolhe exceção de incompetência
em razão do lugar arguida pela ré determina a remessa dos autos para outra
Vara do Trabalho, ainda que esta esteja localizada em outro Estado da
Federação, não desafia, de imediato recurso ordinário. É que tal decisão não é
terminativa do feito no âmbito da Justiça do Trabalho, pois o processo
continuará “dentro” da jurisdição trabalhista.
Nada impende, contudo, que o autor que se sentir prejudicado com tal
decisão interlocutória que acolhe exceção de incompetência ex ratione loci
possa impetrar mandado de segurança, ante a inexistência de recurso próprio
e eficaz para esse fim.
Ressalta-se que as decisões interlocutórias podem ser atacadas quando
forem de Tribunal Regional do Trabalho contrária à Súmula ou Orientação
Jurisprudencial do TST, suscetível de impugnação mediante recurso para o
mesmo tribunal, que acolhe exceção de incompetência territorial, com a
remessa dos autos para o Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o
juízo excepcionado, consoante o disposto no art. 799, § 2° da CLT. E também
se acrescenta neste rol as decisões interlocutórias terminativas do feito como a
que acolhe preliminar de incompetência absoluta em razão da matéria e
remete os autos a Justiça comum.
Merece destaque o inciso III do art. 269 do CPC que trata do termo de
conciliação assinado pelo Juiz do Trabalho, possui força de decisão irrecorrível
(art. 831, § único da CLT), somente sendo atacável por ação rescisória
(Súmula nº 259 do TST), salvo quanto à Previdência Social no que concerne
às contribuições que a autarquia entender ser delas credora.
Não cabe, porém recurso ordinário das decisões proferidas em sede de
processo submetido ao procedimento sumário (Lei nº 5.584/70, art. 2º, §§ 3º e
4º), isto é, naqueles em que o valor atribuído à causa for igual ou inferior a dois
salários mínimos.
37
O recurso ordinário devolve ao juízo ad quem o reexame da matéria
efetivamente impugnada pelo recorrente. Isso significa que o recurso ordinário,
em princípio, possui apenas efeito devolutivo, permitindo, pois, a execução
provisória do julgado. O juiz não precisa declarar os efeitos em que recebe o
recurso, pois, de lege data, os recursos trabalhistas possuem, em regra,
apenas efeito devolutivo (art. 899 da CLT).
Conclui-se que toda matéria impugnada é devolvida ao Tribunal para
apreciação, não sendo admissível, porém, a arguição de questões novas, salvo
comprovado que a parte deixou de fazê-lo por motivo de força maior, conforme
prevê art. 517 do CPC. Como regra o Tribunal não pode decidir sobre matéria
não submetida à apreciação da Vara sem descumprimento do princípio do
duplo grau de jurisdição.
Chama-se a atenção para a aplicação subsidiária da ação cautelar, com
pedido de liminar que vem sendo admitida pela jurisprudência em situações
excepcionais com o único objetivo de dar efeito suspensivo ao recurso
ordinário.
Com esse mesmo raciocínio é interpretada a Súmula nº 414 do TST,
pois a antecipação de tutela concedida na sentença não comporta impugnação
pela via mandado de segurança, por ser impugnável mediante recurso
ordinário. A ação cautelar é o meio próprio para se obter efeito suspensivo a
recurso.
É preciso reiterar que apenas as matérias impugnadas no recurso
ordinário são devolvidas à cognição do juízo ad quem. A regra geral é a de que
a matéria que não foi objeto de ataque pelo recurso ordinário sofre os efeitos
da preclusão máxima, isto é, fica encoberta pelo manto da coisa julgada.
O recurso ordinário pode ser manejado tanto para a correção dos
errores in judicando quanto dos errores in procedendo, ou seja, sua finalidade
pode ser a de reformar (função rescisória do recurso), corrigindo as injustiças
ou reexaminando as provas, ou a de anular (função rescindente) a sentença,
respectivamente.
38
Existem as matérias consideradas de ordem pública que devem ser
conhecidas ex officio pelo órgão revisor, independentemente de arguição pelas
partes. São as matérias que não se sujeitam à preclusão enquanto não
transitada em julgado a decisão final, como os pressupostos processuais e as
condições da ação (arts. 267, § 3º e 301, § 4º do CPC). Essas questões são
transferidas ao reexame do tribunal não por força do efeito devolutivo, mas em
decorrência do efeito translativo, já comentado nesta obra.
Há grande discussão doutrinária no que tange ao juízo ad quem quando
dá provimento ao recurso da sentença que pronuncia a prescrição total,
adentrar, desde logo, no mérito da causa. Três correntes doutrinárias
enfrentam o problema.
A primeira sustenta que a prescrição é prejudicial do mérito, em função
do que o tribunal não poderia apreciar e julgar o restante da causa (pedido),
pois isso importaria supressão de um grau de jurisdição, impedindo, assim, o
exercício do amplo direito de defesa com os meios e recursos a ela inerentes.
Desse modo, o juízo ad quem, ao afastar a prescrição, deveria determinar o
retorno dos autos ao juízo a quo, para que este decidisse o mérito
propriamente dito.
A segunda advoga ser perfeitamente possível o julgamento do restante
da causa, por ser a prescrição, com o advento do CPC de 1973, matéria de
mérito. Logo, o recurso ordinário contra a decisão que pronuncia a prescrição
devolve (de forma ampla) ao tribunal o conhecimento de tudo aquilo que diz
respeito ao mérito.
A última corrente é eclética, pois admite que o tribunal adentre no
restante do mérito, desde que a causa “esteja madura”, em expressão
magistralmente empregada por Barbosa Moreira. Assim, desde que a causa
esteja devidamente instruída, para julgamento por inteiro, ou seja, desde que
as demais matérias referentes ao mérito propriamente dito tenham sido objeto
de apreciação e discussão no juízo de primeiro grau, poderá o tribunal
prosseguir no julgamento da lide.
39
Acredita-se que a terceira vertente doutrinária seja a melhor, pois está
de acordo com o art. 515, § 3º do CPC permitindo ao juízo ad quem adentrar
no mérito, ainda que o recurso ataque sentença terminativa.
Ainda em relação à prescrição, há um outro tema tormentoso que diz
respeito à possibilidade ou não de o tribunal, ao reexaminar sentença que julga
improcedente o pedido, silenciar sobre prescrição arguida na contestação e
não renovada nem em recurso nem em contra-razões. Enfrentando o
problema, o TST já decidiu:
“PRESCRIÇÃO-ARGUIÇÃO EM CONTESTAÇÃO, MAS
NÃO RENOVAÇÃO NAS CONTRA-RAZÕES AO
RECURSO ORDINÁRIO INTERPOSTO PELO
RECLAMANTE-EFEITO DEVOLUTIVO. A junta (atualmente,
Vara do Trabalho) julgou improcedente os pedidos, não se
manifestando, via de consequência, sobre a prescrição,
oportunamente arguida na contestação. O Reclamante
recorreu ordinariamente e obteve êxito no TRT quanto aos
pedidos formulados na exordial. A Reclamada, em embargos
declaratórios ao acórdão regional, postulou manifestação
acerca da prescrição. O Tribunal Regional entendeu que
teria ocorrido a preclusão consumativa dos atos processuais,
porquanto não renovada a prescrição em contra-razões.
Todavia, considerando que as contra-razões constituem
faculdade, já que desnecessário o pré-questionamento em
sede ordinária e, por outro lado, considerando que o apelo
devolve ao TRT todas as questões trazidas ao debate nos
limites da listiscontestatio (art. 515, § 1º e 516 do CPC),
deve o tribunal enfrentar a prescrição, ainda que a parte não
a tenha renovado em contra-razões ao apelo ordinário.
Invocam-se os princípios da finalidade e utilidade
processuais, bem como os da economia e celeridade, para a
Turma, de plano, pronunciar a prescrição das parcelas
anteriores ao quinquênio do ajuizamento da reclamação.
40
Revista provida (TST- RR 403519-4ª T.-Rel. Min. Ivens
Gandra Martins Filho-DJU 1º.9.2000-p. 435).
A nova regra processual civil introduzida pela Lei nº 11.280/2006 que
deu nova redação ao art. 219, § 5º do CPC interpretada de forma literal dita
que a prescrição deixa de ser ato dependente da arguição da parte e passa a
ser ato judicial obrigatório. Dito de outro modo, o decreto de prescrição passa a
ser matéria de ordem pública, uma vez que o verbo “pronunciará” é imperativo.
A doutrina e a jurisprudência divergem sobre a decretação, de ofício, da
prescrição nos sítios do processo do trabalho.
Vale ressaltar que o pedido quando possuir mais de uma causa de
pedir, e a sentença acolher apenas um deles, o recurso ordinário também
devolve ao tribunal o conhecimento das demais causas de pedir, assim reza o
art. 515, § 2º do CPC.
Tratando-se de mais de um fundamento da contestação, e a sentença
acolhe apenas um deles, também poderá o juízo ad quem, conhecendo do
recurso ordinário, manifestar-se sobre o fundamento não apreciado pelo juízo
a quo. Trata-se, neste caso, segundo o TST, do efeito devolutivo em
profundidade do apelo ordinário, isto é, o que prevê a Súmula nº 393 do TST.
Assim julgada improcedente a ação, os fundamentos jurídicos da defesa
que não foram apreciados na sentença podem ser objeto de exame pelo
tribunal em sede de recurso ordinário, sem que haja necessidade de recurso
do vencedor. Neste caso, havendo recurso ordinário do autor, o tribunal está
autorizado a examinar a outra justa causa não apreciada pela sentença, ainda
que não renovado tal fundamento em contra-razões. Todavia, a Súmula nº 393
do TST impede que isso se aplique em casos de pedidos formulados pelo réu
na contestação, não apreciados na sentença e não renovados em contra-
razões, como a compensação ou a retenção. É importante notar que a Súmula
nº 393 do TST tem sido utilizada também para a hipótese de prescrição
arguida na contestação e não renovada em contra-razões.
41
Outro tema corrente do cotidiano forense é a respeito do tribunal anular
a sentença que não reconheceu a relação empregatícia, declarando o autor
carecedor do direito de ação, ingressar no mérito, ou seja, apreciando os
demais pedidos formulados na petição inicial. Em outros termos, o tribunal
anulou a sentença terminativa e logo ingressou no mérito da causa.
Com o advento do novel § 3º do art. 515 do CPC, introduzido pela lei nº
10.352/2001, não há vedação para que o juízo ad quem, em sede de apelação
(no processo civil) ou recurso ordinário (no processo do trabalho), possa
adentrar no mérito, mesmo nos casos em que a sentença tenha julgado extinto
o processo com base no art. 267 do CPC.
Trata-se da ampliação do efeito translativo ou, segundo alguns,
ampliação da extensão do efeito devolutivo do recurso ordinário (ou apelação),
em que a decisão do tribunal poderá ser mais ampla do que a proferida pelo
juízo de primeiro grau, sem que isso implique violação do art. 463 do CPC.
Diz o § 3º do art. 515 do CPC que nos casos de extinção do processo
sem resolução de mérito (art. 267 do CPC), o tribunal pode julgar desde logo a
lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em
condições de imediato julgamento.
Uma das hipóteses para se aferir à desnecessidade da baixa dos autos
ao juízo de origem repousa na contestação de que na ata da audiência as
partes tenham declarado ”sem outras provas a produzir”. Neste caso, o tribunal
pode julgar, desde logo, porquanto preclusa a matéria para ambas as partes
recorrentes.
Quando se trata de questão de fato que dependa de prova obrigatória
não realizada perante o juízo de primeiro grau, o tribunal, ao anular a sentença
que extinguira o processo nos termos do art. 267 do CPC, não poderá adentrar
no exame do mérito.
Há outro quesito não previsto expressamente no art. 515, § 3º do CPC e
que deve ser observado, a necessidade do recorrente pleitear expressamente,
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nas razões recursais, o pedido sucessivo de continuidade do julgamento do
mérito.
Parece ser coerente a atitude do tribunal, na hipótese de recurso contra
sentença terminativa (art. 267 do CPC) não julgar logo o mérito da causa se
não houver pedido expresso do recorrente em tal sentido, sob pena de o
acórdão implicar, não supressão de instância, e sim violação ao princípio da
inércia da jurisdição.
É importante notar que o art. 516 do CPC alude a questões (processuais
ou prejudiciais), e não a “pedidos” (mérito propriamente dito ou lide). Esse
dispositivo deve ser interpretado em sintonia com o § 3º do art. 515 do mesmo
Código, de tal arte o tribunal, ao apreciar o recurso ordinário da sentença que
extinguiu o processo sem julgamento do mérito, poderá anular a sentença,
determinando o retorno dos autos ao juízo a quo para julgar o pedido ou
prosseguir no julgamento e apreciar o pedido, sem que se possa falar, neste
último caso, em supressão de um grau de jurisdição.
Ademais, se o tribunal verificar que houve ampla produção de prova,
constatando que o processo reúne todos os elementos fáticos e jurídicos para
prosseguir no julgamento da causa, pois houve ampla cognição com
manifestação das partes a respeito das questões suscitadas no feito, poderá o
Tribunal adentrar desde logo no julgamento do mérito, acolhendo ou rejeitando
os pedidos formulados na petição inicial, sem que isso implique violação aos
princípios da ampla defesa, do contraditório e do duplo grau de jurisdição. Isso
só será possível se houver pedido expresso do recorrente nas razões do
recurso ordinário. Caso contrário, o tribunal estará proferindo julgamento extra
petita.
De outra parte o art. 517 do CPC traz o fundamento da proibição de se
inovar, em sede de recurso, o pedido ou a causa de pedir. Se houver direito
superveniente, a parte pode alegá-lo no recurso ordinário, pois se trata de
questão de direito, e não de questão fática (Súmula nº 8 do TST).
Admitindo o recurso, a parte contrária será intimada para apresentar
contra-razões, também no prazo de oito dias, conforme o art. 900 da CLT.
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Ressalvando que este prazo também é aplicável para as pessoas jurídicas de
direito público e ao Ministério Público.
Admitindo o recurso, a parte contrária será intimada para apresentar
contra-razões, também no prazo de oito dias, conforme o art. 900 da CLT.
Ressalvando que este prazo também é aplicável para as pessoas jurídicas de
direito público e ao Ministério Público.
Recebidas as contra-razões, é facultado ao juiz de primeiro grau
reconsiderar ou não sua decisão quanto à admissibilidade do recurso (art. 518,
§ único do CPC). Mantida a decisão de admissibilidade, o juiz remeterá os
autos ao Tribunal para julgamento do recurso ordinário.
Não admitindo o recurso, o recorrente poderá interpor agravo de
instrumento no prazo de oito dias, com o objetivo de que seja destrancado o
processamento do recurso e apreciado pelo tribunal.
Cabem embargos de declaração em caso de manifesto equívoco no
exame dos pressupostos extrínsecos do recurso, conforme prevê o art. 897-A
da CLT.
A decisão que admite o recurso é irrecorrível, mas não vincula o juízo ad
quem, que, ao fazer novo exame dos pressupostos recursais, pode entender
não estarem os mesmos presentes, o que impede o exame do recurso.
Remetidos os autos ao Tribunal, a distribuição do recurso será imediata
(art. 93, XV da CF), com designação de relator e de revisor. Os autos serão
remetidos ao Ministério Público, que terá prazo de oito dias para exarar seu
parecer (art. 5º da Lei nº 5.584/70).
No julgamento, a decisão será tomada, na Turma, pelo voto de três
juízes (relator, revisor e terceiro juiz), embora a Turma seja composta de cinco
juízes, assim prevê o art. 555 do CPC).
O julgamento proferido pelo Tribunal substituirá a sentença ou a decisão
recorrida no que tiver sido objeto do recurso (art. 512 do CPC), ou seja, o
acórdão substitui a sentença.
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Os acórdãos deverão ter ementas, exceto nas causas sujeitas ao
procedimento sumaríssimo, informa o art. 895, § 1º, IV da CLT.
2) Recurso de Revista
O objeto do recurso de revista consiste apenas em impugnar acórdão
regional que contenha determinados vícios. Noutro falar, a interposição do
recurso de revista não exige o simples fato da sucumbência, tal como ocorre
com os recursos de natureza ordinária.
É certo que a revista, como todos os demais recursos visa aprimorar a
excelência, a qualidade, dos pronunciamentos judiciais em geral e a rechaçar
os arbítrios e ilegalidade que eventualmente podem ocorrer nas decisões
proferidas pelos tribunais regionais. Mas é inegável que os objetivos
específicos da revista repousam na supremacia do direito nacional, cujo
conceito mais amplo do que direito federal, em face do direito local ou regional.
Direito nacional é o que é aplicável em todo o território nacional, ultrapassando
a autonomia dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Direito Federal
é também aplicável em todo território nacional, mas a sua incidência vincula
apenas a União e seus entes descentralizados (ex: autarquias, fundações e
empresas públicas federais).
Em suma, o recurso de revista se presta a corrigir a decisão que violar a
literalidade da lei e a uniformizar a jurisprudência nacional concernente à
aplicação dos princípios e normas de direito material e processual do trabalho.
Este recurso exige cumulativamente, para o seu conhecimento, ou seja,
para a sua admissibilidade, os pressupostos genéricos inerentes a qualquer
recurso e alguns pressupostos específicos.
O recurso de revista deverá ser interposto também no prazo de oito
dias, em petição dirigida ao Presidente do TRT correspondente (ou outro órgão
previsto no respectivo regimento interno), que poderá recebê-lo ou negá-lo,
depois de analisar os pressupostos recursais.
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No que tange as custas processuais seu valor pode sofrer alteração em
função do julgamento do recurso ordinário, ou seja, se houver alteração na
sucumbência, a parte então vencida fica obrigada a pagar as custas
independentemente de nova intimação (Súmula nº 25 do TST).
Já em relação ao depósito recursal as regras serão as mesmas do
recurso ordinário, apenas acrescentando que o valor do depósito recursal
como pressuposto de admissibilidade do recurso de revista é o dobro do fixado
no recurso ordinário, assim explica a Súmula nº 128 do TST. E lembrando que
tantos as custas como o depósito devem ser realizados dentro do prazo
recursal.
Ressalta-se que o prequestionamento compõe o rol dos pressupostos
específicos para o cabimento da revista. E este de forma bem simples significa
uma exigência feita pelo tribunal para que a matéria, ora impugnada, já tenha
sido exposta em outra ocasião. Matéria essa que viole lei federal ou dispositivo
constitucional.
O prequestionamento trata de condição imposta pela jurisprudência,
como se infere a Súmula nº 356 do STF, in verbis “O ponto omisso da decisão,
sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto
de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento”.
No âmbito da Justiça do Trabalho, o TST pacificou o entendimento de
que irá ocorrer a preclusão se não forem opostos embargos declaratórios para
suprir a omissão apontada em recurso de revista ou de embargos. Então para
evitar a preclusão o TST exige o prequestionamento explicitamente da matéria
impugnada.
A partir do art. 896, caput, da CLT, o recurso de revista passou a ser
cabível apenas “das decisões proferidas em grau de recurso ordinário, em
dissídio individual, pelos Tribunais Regionais do Trabalho”. Mas o recurso não
se presta apenas a atacar acórdão proferido no processo de conhecimento em
sede de recurso ordinário.
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Isso significa que a revista também é cabível, no processo de execução
em grau de agravo de petição, desde que o recorrente fundamente o recurso
com base em violação direta e literal à Constituição.
Como a lei não faz distinção a respeito das espécies de decisões
proferidas, é lícito utilizar a interpretação lógica e sistemática do art. 896 da
CLT, de modo que cabe a revista contra acórdãos regionais de natureza
terminativa (art. 267 da CLT) ou definitiva (art. 269 da CLT). Igualmente,
quando se trata de decisões interlocutórias terminativas do feito (art.799, § 2°
da CLT) ou nas hipóteses da Súmula nº 214 do TST.
Não é admissível a revista das decisões finais proferidas em dissídio
coletivo, mandado de segurança e ação rescisória, pois o recurso cabível
dessas decisões é o ordinário (art. 895, b da CLT), uma vez que os TRTs
funcionam aqui na sua competência originária.
Além disso, parece ser cabível a revista, no processo de conhecimento,
das decisões dos Tribunais Regionais do Trabalho proferidas em grau de
remessa ex officio. O TST, no entanto, firmou entendimento de que, neste
caso, só será admitido recurso de revista se, no Tribunal Regional, o ente
público tiver interposto recurso ordinário voluntário, é o que deflui a OJ nº 334
da SBDI-1.
Assim, a admissibilidade da revista pressupõe que a decisão recorrida
tenha se pronunciado explicitamente sobre a matéria veiculada no recurso,
ainda que se trate de violação frontal e direta à norma da Constituição Federal.
Não vale, pois, o pronunciamento implícito. Mas não é preciso que a decisão
reproduza na íntegra o dispositivo de lei que o recorrente alega ter sido
violado. O importante é que a tese explícita sobre a matéria questionada faça
parte da fundamentação do julgado.
Além disso, para satisfazer o requisito do prequestionamento há a
necessidade de que haja, no acórdão, de maneira clara, elementos que levem
à conclusão de que o Tribunal Regional adotou uma tese contrária à lei ou à
Súmula.
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Se a decisão recorrida é silente sobre a alegada violação à lei, incumbe
ao recorrente interpor embargos de declaração para que o TRT se pronuncie
literalmente sobre a matéria.
Assim, se o acórdão regional, não obstante os embargos declaratórios
continuar omisso sobre a matéria de direito invocada nos embargos
declaratórios, o TST tem-na como prequestionada para fins de admissibilidade
do recurso de revista.
Desta forma, mesmo que o acórdão recorrido tenha violado norma de
ordem pública, o recurso de revista só será admitido se houver
pronunciamento explícito do TRT sobre a matéria.
Por outro lado, não se pode exigir prequestionamento quando a violação
à disposição literal de lei surge no próprio acórdão impugnado pelo recurso de
revista. Isso pode ocorrer quando o tribunal fundamenta a decisão com base
em dispositivo de lei não ventilado no recurso ordinário.
Não configura prequestionamento o acórdão regional que simplesmente
adota como razões de decidir os fundamentos da sentença. Se isso acontecer,
o recorrente deverá interpor embargos de declaração, sob pena de não ser
conhecido o recurso de revista.
Cumpre destacar, que se a finalidade dos embargos de declaração
consistir justamente no prequestionamento fica afastado o eventual intuito
protelatório daqueles. Por decorrência lógica da própria exigência das Cortes
Superiores, no que concerne ao cabimento dos recursos de natureza
extraordinária, não podem os Tribunais Regionais aplicar multa ao embargante
que deseja tão-somente ver prequestionada a matéria para poder ter acesso
às instancias de cúpula do Judiciário brasileiro. Inclusive o STJ já deixou
assentado na Súmula nº 98, embora súmula do STJ não seja aplicável ao
processo do trabalho, ela serve, pelo menos, para reforçar a correta
interpretação do sistema recursal pátrio.
Se a finalidade do recurso de revista repousa na supremacia do direito
objetivo e na uniformização acerca da interpretação dos tribunais regionais do
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trabalho, salta aos olhos que esta modalidade de recurso extraordinário não se
presta a reexame de fatos e provas.
É sabido que o exame e reexame de provas significa na verdade de
apreciar ou reapreciar questões de fato, o que se mostra incabível em sede e
instância extraordinária. Daí a afirmação corrente de que os recursos de
natureza extraordinária são eminentemente técnicos e não se prestam a
corrigir justiça ou injustiça.
Com o propósito de dificultar a interposição do recurso de revista foi
criado um novo pressuposto específico de admissibilidade prévia, o da
transcendência. De outro modo, em tema da transcendência no recurso de
revista não há o juízo primeiro de admissibilidade exercido pelo Presidente do
TRT.
Pode-se definir o vocábulo “transcendência” dentro do contexto que
interessa ao tema como algo muito relevante, de extrema importância, a ponto
de merecer julgamento completo por parte do TST. De toda sorte, evidencia-se
a marca da subjetividade conceitual.
Faz-se uma crítica ao sistema, pois não obstante o esforço de se
restringir à admissibilidade da revista, o requisito da transcendência acabará
criando novos obstáculos à celeridade.
Somente é cabível o recurso de revista quando a decisão proferida pelo
Tribunal Regional do Trabalho enquadrar-se em uma das hipóteses do art. 896
da CLT.
O recurso é interposto para a Turma do Tribunal Superior do Trabalho
das decisões proferidas em grau de recurso ordinário, em dissídio individual,
pelos Tribunais Regionais do Trabalho, em caso de interpretações divergentes
(art. 896, a e b da CLT) e de infrigência da lei ou afronta à Constituição Federal
(art. 896, c da CLT).
O art. 896 da CLT prevê algumas hipóteses em que o recorrente tem
que provar que a interpretação dada ao acórdão a lei federal, a lei estadual, a
convenção coletiva de trabalho, a acordo coletivo, a sentença normativa ou a
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regulamento empresarial de observância obrigatória em área territorial que
exceda a jurisdição do Tribunal Regional prolator da decisão recorrida diverge
de que tenha sido adotada sobre o mesmo dispositivo: por outro TRT (por
Turma ou pelo Pleno), pela Sessão de Dissídios Individuais do TST ou por
Súmula de Jurisprudência Uniforme do TST.
É necessário que haja a comprovação da divergência justificadora do
recurso de revista, não bastando apenas juntar o acórdão divergente, ou seja,
é indispensável mostrar onde está a divergência.
O art. 541, § único do CPC diz que a prova da divergência
jurisprudencial pode ser feita mediante a certidão, cópia autenticada ou pela
citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em
mídia eletrônica, em que tiver sido publicada a decisão divergente, ou ainda
pela reprodução de julgado disponível na Internet, com indicação da respectiva
fonte, mencionando, em qualquer caso, as circunstâncias que identifiquem ou
assemelhem os casos confrontados. Trata-se de dispositivo legal de aplicação
subsidiária ao processo do trabalho.
As súmulas de jurisprudência dos Tribunais Regionais do Trabalho não
servem para ensejar a admissibilidade do recurso de revista quando contrariar
Súmula do TST.
A divergência capaz de ensejar o recurso de revista deve ser atual, não
se considerando como tal a ultrapassada por súmula, ou superada por iterativa
e notória jurisprudência do TST consubstanciada nas Orientações
Jurisprudenciais.
Fundando-se o recurso de revista na alínea c do art. 896 da CLT, o que
é preciso provar é que a decisão adotou, como razão de decidir, critério que
entra em choque com aquilo que está na lei federal ou na Constituição Federal.
A decisão recorrida deve ter sido proferida com violação literal de disposição
de lei federal ou com afronta direta e literal à Constituição Federal.
Tal dispositivo tem, na verdade, o sentido maior de salientar que no
recurso de revista não se rediscute matéria de fato, nem se visa corrigir
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injustiças (Súmula nº 126 do TST). O recurso de revista visa preservar o
interesse de fazer cumprir as leis e a Constituição Federal como nelas se
dispõe; não visa corrigir injustiças, mas a ilegalidade. O que lastreia a
pretensão é a prova de que houve violação à lei ou à Constituição Federal.
Não é permitida a concessão de efeito suspensivo ao recurso de revista.
Vale dizer, o recurso de revista “dotado de efeito apenas devolutivo, será
apresentado ao Presidente do Tribunal recorrido, que poderá recebê-lo ou
denegá-lo, fundamentando, em qualquer caso, a decisão”.
É importante ressaltar que a devolutibilidade da revista não é ampla,
como recurso ordinário. Pelo contrário, é bem limitada, como no recurso
especial ou no recurso extraordinário.
No recurso de revista, também não há lugar para o efeito translativo, na
medida em que o TST somente apreciará as questões prequestionadas, ainda
que tais questões sejam de ordem pública.
Assim, diferentemente do que se dá com recurso ordinário, o TST, na
revista, fica impossibilitado de reexaminar a decisão recorrida em todos os
seus aspectos fáticos e probatórios, limitando-se apenas, a apreciar as
matérias e as questões de direito constantes das razões recursais que tenham
sido impugnadas pelo recorrente. Isso significa que o TST, ao julgar a revista,
não poderá adotar fundamento diverso do apresentado nas razões recursais,
mesmo se tratando de questões de ordem pública.
O empregador deve estar atento, pois, em se tratando de decisão
condenatória, será indispensável o recolhimento prévio do depósito recursal ou
o seu complemento.
Se o Presidente do TRT denegar seguimento ao recurso de revista, o
recorrente poderá interpor agravo de instrumento.
Importante lembrar que é exigida a autenticação das cópias do
despacho denegatório da revista e da respectiva certidão de intimação para
fins de admissão do agravo de instrumento.
51
O Presidente do TRT também pode admitir parcialmente o recurso de
revista. Neste caso, entende o TST que não há necessidade de interposição
de agravo de instrumento em relação aos tópicos que não foram admitidos.
Admitido o processamento da revista, será intimado o recorrido para
tomar ciência da decisão e, querendo, contra-arrazoar, oportunidade em que
poderá apresentar recurso adesivo, também sujeito ao controle de
admissibilidade do juízo a quo. Se denegado o recurso de revista adesivo,
também será cabível o agravo de instrumento.
Decorrido o prazo para contrarrazões, com ou sem elas, o Presidente do
TRT encaminhará os autos ao Tribunal Superior do Trabalho. Neste, a revista
será submetida a dois novos exames de admissibilidade: o primeiro é exercido
monocraticamente pelo Ministro Relator; o segundo, pela Turma.
Se a decisão recorrida estiver em consonância com Súmula do TST,
poderá o Ministro Relator, indicando-a, negar seguimento ao recurso de
revista. Igualmente, será denegado seguimento à revista nas hipóteses de
intempestividade, deserção, falta de alçada e ilegitimidade de representação,
cabendo a interposição de agravo, conforme prevê art. 896, § 5º da CLT.
Assim, caso o Ministro Relator designado não admitir o recurso de
revista, é facultada à parte interpor agravo regimental de tal decisão, podendo
haver reconsideração. Mantida a decisão, o agravo regimental será submetido
a julgamento pelo órgão colegiado.
Em caso de provimento do recurso de revista, o TST aplicará o direito à
espécie (Súmula nº 456 do STF), decidindo desde logo a lide, salvo na
hipótese de anulação do acórdão recorrido, caso em que os autos deverão ser
baixados pelo Tribunal a quo para novo julgamento.
3) Embargos no TST
Cumpre destacar, de inicio, que foram extintos os embargos infringentes
ou de nulidade que eram interpostos perante as extintas Juntas de Conciliação
e Julgamento.
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O recurso de embargos, com redação dada pela Lei nº 5.442/68, que
estava previsto no art. 894 da CLT, era cabível, no TST, para o Pleno, no
prazo de oito dias, contados da publicação do acórdão: a) das decisões a que
se referem às alíneas b e c do inciso I do art. 702; b) das decisões das Turmas
contrárias à letra de lei federal, ou que divergirem entre si, ou da decisão
proferida pelo Tribunal Pleno, salvo se a decisão recorrida estiver em
consonância com súmula de jurisprudência uniforme do Tribunal Superior do
Trabalho.
Com o advento da Lei nº 7.701/88 que dispõe sobre a especialização de
Turmas dos Tribunais do Trabalho passaram a existir três espécies de
embargos no âmbito do TST: os infringentes, os de divergência e os de
nulidade.
Todavia, a Lei nº 11.496/2007, modificou o cabimento do recurso de
embargos do TST, alterando o art. 894 da CLT e a alínea b do inciso III do art.
3º da Lei nº 7.701/88.
O grande mérito da Lei nº 11.496 foi extinguir os embargos de nulidade
que era cabível da decisão de Turma do TST que violasse “literalmente
preceito de lei federal ou da Constituição da República”.
Em suma, pode-se dizer que, atualmente, só existem dois recursos de
embargos no âmbito do TST: os infringentes e os de divergência.
Os embargos infringentes, recurso de natureza ordinária, são da
competência da SDC - Seção Especializada em Dissídios Coletivos. Trata-se
de recurso cabível para impugnar decisão não unânime proferida em dissídio
coletivo de competência originária do TST.
Com a interpretação sistemática dos art. 894, I, a da CLT e 2º, II, c da
Lei nº 7.701/88, autoriza concluir que são admissíveis os embargos
infringentes de decisão não unânime da SDC, salvo se esta estiver em
consonância com Precedente (ou OJ da SDC) ou Súmula do TST.
53
O prazo para interposição é de oito dias e os embargos devem ser
enviados para a própria SDC, pois ela é que possui competência funcional
para julgá-los, assim disciplina o art. 70, II, c do Regimento Interno do TST.
Os embargos infringentes, por serem recurso de natureza ordinária,
comportam devolutibilidade ampla, abrangendo matéria fática e jurídica, desde
que restritas à cláusula em que não tenha havido julgamento unânime. Além
disso, possuem efeito meramente devolutivo.
O procedimento dos embargos infringentes está previsto nos arts. 233 e
234 do Regimento Interno do TST.
Vale dizer, que registrado o protocolo na petição a ser encaminhada à
Secretaria do órgão julgador competente (SDC), esta juntará o recurso aos
autos respectivos e abrirá vista à parte contrária, para impugnação, no prazo
legal.
Transcorrido o prazo, o processo será remetido à unidade competente,
para ser imediatamente distribuído.
Não atendidas as exigências legais relativas ao cabimento dos
embargos infringentes (art. 894, I, a da CLT e art. 232 RITST), o Relator
denegará seguimento ao recurso, facultada à parte a interposição de agravo
regimental.
O recurso de embargos de divergência tem cabimento conforme dispõe
o art. 894, II da CLT e também tem previsão legal no art. 71, I e II do RITST.
Importante notar que os embargos de divergência também estão
previstos no art. 231 do RITST, segundo o qual: “Cabem embargos, por
divergência jurisprudencial, das decisões das Turmas do Tribunal, no prazo de
oito dias, contados da publicação, na forma da lei”. Vê-se que este dispositivo
regimental não faz referência à hipótese de divergência entre a SBDI-1 e SBDI-
2.
Não obstante, parece ser factível deduzir, pela interpretação sistemática
do art. 894, II da CLT e das normas previstas no RITST, que os embargos de
divergência são cabíveis das decisões: divergentes entre SBDI-1 e SBDI-2 a
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respeito da aplicação de norma prevista em lei federal ou na Constituição,
divergentes entre duas ou mais Turmas, de uma ou mais Turmas que
divergirem das decisões da SDI, de uma ou mais Turmas que divergirem de
Orientação Jurisprudencial (SDI ou SDC); de uma ou mais Turmas que
divergirem de Súmula do TST.
A competência funcional originária para julgar os embargos de
divergência é da SDI, em sua composição plena; nas demais hipóteses, da
SBDI-1.
O recurso de embargos de divergência, assim como o recurso de
revista, tem natureza extraordinária. Há, inclusive, alguns pontos de similitude
entre essas duas espécies recursais, na medida em que um dos objetivos da
revista é uniformizar a jurisprudência, superando as divergências entre os
Tribunais Regionais, enquanto o escopo dos embargos de divergência reside
na uniformização jurisprudencial interna no âmbito do TST.
É importante assinalar que as controvérsias já superadas por iterativa,
notória e atual jurisprudência do TST em matérias relacionadas a processos
individuais (Orientações Jurisprudenciais das SBDIs 1 e 2) não empolgam a
interposição de embargos nem recurso de revista (Súmula nº 333 do TST),
salvo, evidentemente, se a jurisprudência do TST colidir com a do STF
(Súmula nº 401). E há uma razão lógica para tal exceção: em matéria de
interpretação de norma constitucional, cabe ao STF a última palavra sobre a
uniformização jurisprudencial.
Outra consideração importante acerca do cabimento dos embargos
reside na Súmula nº 353 do TST, segundo a qual, não cabem embargos para a
Seção de Dissídios Individuais de decisão de Turma proferida em agravo,
salvo: a) da decisão que não conhece de agravo de instrumento ou de agravo
pela ausência de pressupostos extrínsecos; b) da decisão que nega
provimento a agravo contra decisão monocrática do Relator, em que se
proclamou a ausência de pressupostos extrínsecos de agravo de instrumento;
c) para a revisão dos pressupostos extrínsecos de admissibilidade do recurso
de revista, cuja ausência haja sido declarada originariamente pela Turma no
55
julgamento do agravo; d) para impugnar o conhecimento de agravo de
instrumento; e) para impugnar a imposição de multas previstas no art. 538, §
único do CPC ou no art. 557, § 2º do CPC.
Os embargos de divergência possuem efeito devolutivo, seguindo,
assim, a regra geral prevista no art. 899, caput, da CLT, mas a matéria
discutida só pode ser de direito, ou seja, por ser recurso de natureza
extraordinária, não se admite apreciação de matéria fática ou de prova.
O procedimento de embargos de divergência está previsto no § único do
art. 231 do RITST.
Assim, registrado o protocolo na petição recursal a ser encaminhada à
Coordenadoria da Turma prolatora da decisão embargada, esta juntará o
recurso aos autos respectivos e abrirá vista à parte contrária para impugnação
no prazo legal (oito dias).
Transcorrido o prazo, o processo será remetido à unidade competente
para ser imediatamente distribuído.
A comprovação da divergência dos julgados será feita na forma da
Súmula nº 337 do TST.
Por fim, os embargos de nulidade que foi proscrito do nosso
ordenamento jurídico com o advento da Lei nº 11.496/2007 o que acarretará
em cancelamentos de súmulas e orientações jurisprudenciais do TST.
4) Agravo de instrumento, agravo de petição e agravo regimental
No processo do trabalho, não há agravo retido, uma vez que o art. 522
do CPC estabelece que a forma retida passa a ser a regra de sua interposição.
Vale dizer, o agravo retido é a principal modalidade de agravo para atacar as
decisões interlocutórias, somente sendo admitido o agravo de instrumento
quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão grave e de
difícil reparação, como é o caso de trancamento de recurso de apelação pelo
juízo a quo.
56
A Lei nº 11.187/05, que alterou os arts. 522 e 523 do CPC, não produz
reflexos nos domínios do processo do trabalho, pois neste vige o princípio da
irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias (art. 893, § 1º da CLT),
sendo certo, ainda, que neste setor o papel do agravo de instrumento é tão
somente destrancar recurso que teve seu seguimento obstado por órgão da
Justiça do Trabalho (art. 897, b da CLT).
Já que as decisões interlocutórias no Processo do Trabalho são
irrecorríveis chega-se à conclusão de que o agravo de instrumento no âmbito
trabalhista tem uma finalidade menos ampla do que o agravo de instrumento
no Processo Civil: enquanto neste último o agravo de instrumento é utilizado
para impugnar decisões interlocutórias (art. 522 do CPC), no Processo do
Trabalho ele se destina a atacar despacho que não haja admitido recurso (art.
897, b da CLT), tendo um escopo unicamente liberativo.
Portanto, o agravo de instrumento, no âmbito da Justiça do Trabalho, é
o recurso cabível contra decisão monocrática (despacho) que nega
processamento a recursos, ou seja, através de agravo de instrumento a parte
volta-se contra a decisão monocrática do chamado juízo de admissibilidade a
quo.
Ciente o recorrente da denegação de seguimento de seu recurso, tem
prazo de oito dias para interpor o agravo de instrumento para a autoridade que
seria competente para conhecer do recurso que teve denegado seu
processamento (art. 897, § 4º da CLT).
Sob pena de não conhecimento, as partes promoverão a formação do
instrumento do agravo, de modo a possibilitar, caso provido, o imediato
julgamento do recurso denegado, devendo a petição do agravo ser instruída
com cópias de peças necessárias para tal fim (art. 897, § 5º da CLT). Além,
das peças obrigatórias indicadas no inciso I (decisão agravada, certidão da
respectiva intimação, procuração outorgadas aos advogados do agravante e
do agravado, petição inicial, contestação, decisão originária, comprovação do
depósito recursal e recolhimento das custas), o agravante poderá juntar outras
57
peças que repute úteis para o deslinde da matéria de mérito controvertida
(Inciso II).
Será de inteira responsabilidade do advogado subscritor do agravo de
instrumento juntar cópias não autenticadas para a formação do instrumento,
assim explica a Instrução Normativa do TST nº 16/03.
Deixando o agravante de juntar a cópia de qualquer uma das peças
obrigatórias, o agravo de instrumento não será conhecido.
O agravo de instrumento é interposto perante o juiz prolator da decisão
denegatória, que poderá exercer o juízo de retratação, caso em que
determinará o processamento do recurso trancado, enviando-o ao Tribunal
competente.
Mantida a decisão que negou seguimento ao recurso, o agravado será
intimado para, no prazo de oito dias, apresentar respostas ao agravo e ao
recurso principal, juntando as peças que entender necessárias para o
julgamento de ambos (art. 897, § 6º da CLT). Em seguida, os autos serão
remetidos ao Tribunal competente para julgamento do agravo. Provido o
agravo, a Turma deliberará sobre o julgamento do recurso principal,
observando-se, se for o caso, daí em diante, o procedimento relativo a este
recurso, assim prevê o art. 897, § 7º da CLT.
Diferentemente do que ocorre no Processo Civil, no Processo do
Trabalho, em nenhuma hipótese, o agravo de instrumento fica retido nos autos
principais.
O agravo de instrumento, inclusive o interposto contra despacho que
não receber agravo de petição, tem efeito meramente devolutivo, não
suspendendo, portanto, a execução (art. 897, § 2º da CLT).
O agravo de petição é o recurso cabível das decisões do juiz proferidas
nas execuções, assim dispõe o art. 897, a da CLT.
Este recurso será interposto no prazo de oito dias, perante o juiz prolator
da decisão agravada e somente será recebido quando o agravante delimitar,
justificadamente, as matérias e os valores impugnados, permitida a execução
58
imediata da parte remanescente até o final, nos próprios autos ou por carta de
sentença. Tal recurso possui, pois, efeito meramente devolutivo em relação à
matéria e aos valores impugnados pelo agravante.
Acrescenta-se ainda que não lhe é exigido nenhum tipo de preparo.
Admitido o agravo de petição, o agravado será intimado a apresentar
contraminuta no prazo de oito dias, após o que os autos serão remetidos ao
órgão competente para julgamento do recurso. O agravo será julgado pelo
próprio Tribunal, presidido pela autoridade recorrida, salvo se tratar de decisão
de Juiz de 1ª instancia, quando o julgamento competirá a uma das Turmas do
TRT a que estiver subordinado o prolator da sentença, a quem serão
remetidas às peças necessárias para o exame da matéria controvertida, em
autos apartados, ou nos próprios autos, se tiver sido determinada a extração
da carta de sentença (art. 893, § 3º da CLT).
Quando o agravo de petição versar apenas sobre as contribuições
previdenciárias, o juiz da execução determinará a extração de cópias das
peças necessárias, que serão autuadas em apartado e remetidas à instância
superior para a apreciação, após contra-minuta, assim reza o art. 897, § 8º da
CLT.
O agravo regimental não é um recurso previsto no art. 893 da CLT, mas
nos Regimentos Internos dos Tribunais do Trabalho, embora a CLT a ele se
refira no art. 709, § 1º- “Das decisões proferidas pelo corregedor, nos casos do
artigo, caberá o agravo regimental, para o Tribunal Pleno”.
Também é previsto no art. 9º, § único da Lei nº 5.584/70, como o
remédio cabível no TST contra o “despacho” do relator que nega seguimento a
recurso, baseando-se em Enunciado do TST.
Igualmente, o art. 2º, II, d e o art. 3º, III, todos da Lei nº 7.701/88
prevêem, respectivamente, o agravo regimental contra a decisão que indeferir
recurso em ações coletivas e nos embargos de divergência em ações
individuais. O art. 5º, c da Lei nº 7.701/88 prevê, ainda, a competência das
Turmas do TST para julgar, em última instância, os agravos regimentais.
59
Há quem sustente a inconstitucionalidade das normas regimentais que
instituem essa espécie recursal, porquanto somente a lei, de competência do
Congresso Nacional, pode legislar sobre processo (art. 22, I da CF).
Em linhas gerais, o agravo regimental, à semelhança do agravo de
instrumento, é o recurso cabível contra decisões que denegam seguimento a
recursos.
Além disso, o agravo de regimental também é utilizado para impugnar
decisões proferidas por juízes de tribunais das quais não haja um meio
impugnativo específico legalmente previsto.
É importante notar que, por ser recurso previsto, via de regra, apenas
em regimentos internos, os tribunais, com base no princípio da fungibilidade,
têm admitido agravo de instrumento interposto equivocadamente em lugar de
agravo regimental.
O agravo regimental tem efeito meramente devolutivo, o que equivale a
dizer que a matéria nele versada é restrita ao exame do acerto ou não da
decisão agravada, salvo em se tratando de decisão do Corregedor, cuja
devolutibilidade é mais ampla, permitindo, assim, a plena revisão do ato
processual proferido, abordando questões fáticas e jurídicas.
Além disso, o agravo regimental não obsta a execução provisória.
Há acirrada polêmica sobre a natureza jurídica dos embargos de
declaração.
Duas correntes se dividem. Para a primeira, os embargos de declaração
seriam recurso, porque: não são julgados por outro órgão judicial, e sim pelo
mesmo que proferiu a decisão embargada; não há previsão para o
contraditório; interrompem o prazo para recurso, e exatamente por isso não
seriam recursos; não objetivam reforma da decisão etc.
Para a segunda corrente, os embargos declaratórios possuem natureza
recursal, tendo em vista a sua expressa previsão no elenco dos recursos cíveis
do CPC (art. 496, IV).
60
O STF, ao que parece, veio robustecer a tese defendida pela segunda
corrente, pelo menos quando se tratar de embargos interpostos contra
omissão do julgado que possa ocasionar efeito modificativo da decisão. É que,
em tais casos, é obrigatória a instauração do contraditório e os embargos
podem ocasionar reforma do julgado. O fato de os embargos não se
submeterem ao duplo grau de jurisdição não desfigura a sua natureza recursal.
Reforçando a tese de que os embargos de declaração são recursos, a
SBDI-1 do TST editou a OJ nº 192, que prevê que é “em dobro o prazo para a
interposição de embargos declaratórios por pessoa jurídica de direito público”.
Não tivesse a natureza de recurso, inexistiria embasamento legal para tal
verbete.
Em regra, a finalidade principal dos embargos de declaração,
diferentemente do que se dá com os demais recursos, repousa não na
modificação da decisão por eles hostilizada, mas tão somente no seu
esclarecimento ou na sua complementação, salvo quando puderem ocasionar
efeito modificativo do julgado.
No processo do trabalho, os embargos de declaração são cabíveis para
impugnar sentença ou acórdão quando, nesses atos processuais, for verificada
a ocorrência de: omissão, obscuridade ou contradição.
O procedimento dos embargos declaratórios está sedimentado no art.
536 do CPC, adaptando, contudo, ao art. 897-A da CLT.
Há um único juízo de admissibilidade, exercido pelo próprio órgão
prolator da decisão embargada, no qual examina os pressupostos recursais.
Presentes os pressupostos genéricos e específicos, o órgão judicial ao
qual é dirigido o recurso deverá emitir juízo de mérito, que consiste em
examinar se a decisão embargada padece dos vícios da obscuridade,
contradição ou omissão apontados pelo embargante.
Desta forma, os embargos serão interpostos, no prazo de cinco dias,
contados da intimação da sentença ou do acórdão, em petição dirigida ao juiz
61
ou relator, com indicação do ponto obscuro, contraditório ou omisso, não
estando sujeito ao preparo.
Além desses pressupostos genéricos, o art. 536 do CPC, aplicando
subsidiariamente ao processo do trabalho (art. 769 da CLT), exige um
pressuposto específico dos embargos de declaração, na medida em que impõe
ao embargante o dever de fazer a “indicação do ponto obscuro, contraditório
ou omisso” contido na decisão hostilizada.
O cabimento dos embargos de declaração não exige preparo.
Nota-se que as decisões monocráticas proferidas nas hipóteses do art.
557 do CPC também podem ensejar interposição dos embargos de declaração
(Súmula nº 421 do TST).
Cabem embargos de declaração quando houver omissão de ponto,
questão ou matéria sobre os quais devia o juiz ou tribunal ter se pronunciado.
Nesse caso, os embargos podem versar não apenas sobre pedido não
apreciado, mas também sobre causa de pedir não enfrentada na decisão
embargada, caso em que a sua utilização visa ao prequestionamento para
possibilitar o acesso às instâncias extraordinárias.
Ocorre preclusão se não forem opostos embargos declaratórios para
suprir omissão apontada em recurso de revista ou de embargos (Súmula nº
184 do TST).
Incumbe à parte interessada, desde que a matéria haja sido invocada
no recurso principal, opor embargos declaratórios objetivando o
pronunciamento sobre o tema, sob pena de preclusão.
Considera-se prequestionada a questão jurídica invocada no recurso
principal sobre o qual se omite o Tribunal de pronunciar tese, não obstante
opostos embargos de declaração (Súmula nº 297 do TST).
São cabíveis os embargos declaratórios quando o embargante objetiva
fixação de novo valor da condenação para fins de depósito recursal. Trata-se
de omissão sanável pela interposição dos declaratórios. Acrescenta-se ainda
62
que não cabem embargos declaratórios para corrigir justiça ou injustiça da
decisão.
A sentença (e o acórdão) deve ser clara. A obscuridade há de ser
entendida como a falta de clareza que impede ou dificulta a correta
compreensão do julgado e, por via de consequência, acaba retardando ou
dificultando, posteriormente, o desfecho do processo de execução.
A contradição, para fins de embargos de declaração, deve se encontrar
no corpo da sentença. Pode ocorrer contradição não apenas entre o relatório e
a fundamentação ou entre essa e o decisum, mas também entre quaisquer
partes da sentença ou do acórdão.
Assim, a adoção de teses contrárias às suscitadas pelo embargante, a
não-aplicação de determinada norma ao caso concreto, a conclusão contrária
à prova dos autos, à doutrina ou à jurisprudência são insuficientes para o
provimento dos declaratórios.
Não cabem embargos declaratórios para reexame do conteúdo da
decisão embargada, assim entende o TST. Em contrapartida, há entendimento
no sentido de admitir embargos declaratórios quando existe contradição entre
acórdão e a certidão de julgamento.
A jurisprudência especializada, não obstante a literalidade do art. 897-A,
§ único da CLT e do art. 463 do CPC, vem admitindo embargos declaratórios
quando há erros materiais na decisão embargada.
Prescreve o art. 897-A da CLT que cabem embargos de declaração
contra sentença ou acórdão, e não contra decisões interlocutórias. Por óbvio,
não se cogita dos despachos, pois estes são sempre irrecorríveis.
Sabe-se que a sentença é ato processual do juiz que, apreciando ou
não o mérito da causa, resolve o processo (o procedimento no primeiro grau
de jurisdição). Dá-se o nome de acórdão às decisões proferidas pelos
tribunais, por meio de seus órgãos colegiados, evidentemente (art. 162 do
CPC).
63
Todavia, em se tratando de decisões monocráticas proferidas em grau
de recurso, normalmente nas hipóteses do art. 557 do CPC, isto é, quando o
relator julgar manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado etc., há
fortes razões de ordem lógica que justificam o cabimento dos embargos
declaratórios contra tal decisão.
Os embargos de declaração não visam, em princípio, reformar a decisão
embargada, razão pela qual, a rigor, eles não devolvem ao juiz prolator o
conhecimento da matéria impugnada.
Todavia, quando a decisão embargada contiver omissão, contradição ou
manifesto equívoco no exame dos pressupostos extrínsecos do recurso, os
embargos poderão ensejar a reforma do decisum hostilizado. Quando isso
ocorre, os embargos declaratórios, desde que providos, podem implicar a
reforma da decisão embargada.
A partir da Lei nº 8.950/94, que deu nova redação ao art. 538 do CPC,
os embargos de declaração deixaram de ter efeito suspensivo e passaram a
ter efeito interruptivo.
A jurisprudência é praticamente unânime em afirmar que somente os
embargos de declaração intempestivos não interrompem o prazo para
interposição de outros recursos, sendo certo que alguns julgados admitem que
tanto a intempestividade quanto a irregularidade de representação nos
embargos declaratórios não produzem o efeito interruptivo.
Seguindo o entendimento do STF, o TST editou a súmula nº 278
afirmando que a omissão quando suprida pelo julgamento de embargos
declaratórios pode gerar efeito modificativo no julgado. Acrescenta-se que não
apenas no caso da omissão, mas também no de contradição, os embargos
poderão ter efeito modificativo.
Assim, em homenagem ao princípio constitucional do contraditório, se o
juiz (relator), ao verificar que a sua decisão poderá ocasionar efeito
modificativo no julgamento embargado, deverá abrir vista dos autos à parte
contrária para, querendo, contra-arrazoar os embargos. Caso não seja adotada
64
tal providencia, o prejudicado poderá recorrer argüindo a nulidade da decisão
dos embargos, por violação ao princípio do contraditório.
Não há previsão para contrarrazões, salvo na hipótese prevista na OJ nº
142 da SBDI-1 do TST, nem para sustentação oral nos tribunais.
Caso o embargante seja pessoa jurídica de direito único, a OJ nº 192 da
SBDI-1 do TST assegura-lhe o prazo em dobro para a interposição de
embargos declaratórios.
O art. 538, § único do CPC, prescreve que, quando manifestamente
protelatórios os embargos, o juiz ou o tribunal, declarando que o são,
condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente de um
por cento sobre o valor da causa.
Tendo em vista a omissão da parte processual da CLT e ausência de
incompatibilidade com a principiologia do direito processual do trabalho, não se
vê incompatibilidade na aplicação subsidiária do § único do art. 538 no âmbito
da Justiça do Trabalho.
A parte final do § único do CPC, ao prever a “reiteração de embargos”,
acabou sedimentando o cabimento “dos embargos dos embargos
declaratórios”, isto é, o cabimento de outros embargos declaratórios contra a
decisão que apreciou os primeiros declaratórios. Estes segundos embargos
devem observar os mesmos pressupostos dos primeiros.
Na reiteração de embargos protelatórios, a multa é elevada a até dez
por cento, ficando condicionada a interposição de qualquer outro recurso ao
depósito do valor respectivo (art. 538, § único do CPC, parte final).
É preciso deixar claro que não se configura o caráter procrastinatório
dos embargos de declaração se estes têm por escopo o prequestionamento,
pois somente assim estará aberta a possibilidade de a parte ter acesso às
instâncias extraordinárias, assim explica a Súmula nº 98 do STJ.
65
5) Recurso Extraordinário em Matéria Trabalhista
A natureza jurídica dos recursos extraordinários não se confunde com a
dos recursos ordinários. Enquanto estes decorrem da natural disposição
humana de não se conformar com um julgamento único, em função do que
buscam a instância superior com o fito de modificar a decisão primeira,
aqueles, ao revés, têm por escopo não o interesse das partes em litígio, mas o
interesse público, qual seja, o de “assegurar o primado da Constituição e a
unidade de interpretação do Direito material e processual em todo o território
nacional”.
A CLT admite ainda a existência do recurso extraordinário, como se
infere o art. 893, § 2º. Porém, seu fundamento em matéria trabalhista está no
art. 102, III da Constituição Federal juntamente com o art. 541 do CPC e o art.
321 a 329 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.
Vale dizer que nos domínios do processo do trabalho, o recurso
extraordinário somente caberá de decisões de última ou única instância do
TST ou das sentenças das Varas do Trabalho proferidas em procedimento
sumário (§ 4º do art. 2º da Lei nº 5.584/70), desde que tais decisões: violem
direta e literalmente norma da Constituição Federal; declarem a
inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; julguem válida lei ou ato de
governo local contestado em face da Constituição Federal.
Logo, não cabe recurso extraordinário das decisões dos TRTs, nem
quando houver divergência jurisprudencial quando a orientação do plenário do
STF já tiver ser firmado no mesmo sentido da decisão recorrida.
Ainda quanto ao cabimento do recurso extraordinário, prevê a Súmula
nº 400 do STF: “Decisão que deu razoável interpretação à lei, ainda que não
seja a melhor, não autoriza recurso extraordinário pela letra a do art. 101, III,
da CF”.
Como o recurso de revista, o recurso extraordinário está sujeito a todos
os pressupostos recursais genéricos (objetivos e subjetivos), salientando-se,
porém, que o ius postulandi nesta modalidade de recurso não pode ser
66
exercido pelas próprias partes, mas exclusivamente por advogados. Isso
porque o recurso extraordinário é apreciado por órgão diverso da Justiça do
Trabalho.
O prazo é de quinze dias, contado da publicação ou ciência da decisão
pelo recorrente. Em se tratando de ente público ou Ministério público, o prazo é
computado em dobro, segundo entendimento pacífico do Supremo Tribunal
Federal, no qual afirma que é de dez dias o prazo para que o Presidente do
Tribunal recorrido admita ou não o recurso, em decisão fundamentada. Caso
não admita, caberá agravo de instrumento, no prazo de dez dias, perante o
Supremo Tribunal Federal (art. 544 do CPC).
No que tange ao preparo, este recurso está sujeito a efetivação do
depósito recursal, no limite do valor da condenação, ou igual ao valor máximo
previsto pelo TST para o recurso de revista.
É imprescindível que o recorrente satisfaça, cumulativamente, os
pressupostos específicos do recurso extraordinário como: a existência de uma
causa, ou seja, de qualquer questão submetida à decisão judicial; que a
decisão tenha sido proferida em única ou última instância; que haja questão
constitucional a ser resolvida e que a matéria tenha sido prequestionada
(Súmula nº 282 e 356 do STF).
O recurso extraordinário submete-se a um duplo juízo de
admissibilidade.
O primeiro juízo de admissibilidade é exercido pelo Presidente do
tribunal a quo, podendo este admitir ou denegar o seu seguimento. E o
segundo, além de reexaminar a sua admissibilidade, poderá apreciar aspectos
alusivos ao mérito do recurso. O juízo de admissibilidade exercido pelo tribunal
ad quem não se vincula, pois, ao despacho de admissibilidade prolatado pelo
tribunal ou juízo a quo.
O recurso extraordinário possui efeito meramente devolutivo.
A devolutibilidade, todavia, é restrita à matéria de natureza
exclusivamente constitucional devidamente prequestionada.
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Isso significa que no extraordinário, assim como na revista e no
especial, não se examina a justiça ou injustiça da decisão recorrida, nem
questões de fato ou matéria de prova.
A interposição de recurso para o Supremo Tribunal Federal não
prejudicará a execução do julgado, assim prevê o art. 893, § 2º da CLT.
O procedimento do recurso extraordinário segue as regras previstas
pela lei processual comum (art. 541 do CPC, Leis nº 8.950/94 e 8.038/90). No
âmbito do TST, observar os arts. 266 a 268 do Regimento Interno.
Cumpre sublinhar que o agravo de instrumento, cujo escopo é
destrancar o recurso extraordinário, poderá se for o caso, e “se contiver os
elementos necessários ao julgamento do mérito” do extraordinário, ser
convertido e apreciado como se fosse um autêntico recurso extraordinário.
Ressalta-se que com a nova redação do art. 557 do CPC faculta ao
relator, em certos casos, além do exame acerca dos pressupostos de
admissibilidade, decidir sobre o mérito do recurso.
6) Recurso Adesivo
O recurso adesivo não é propriamente um tipo de recurso, mas uma
forma de interposição dos recursos, que podem ser interpostos pela via
principal ou pela via adesiva.
Não há previsão expressa na legislação trabalhista acerca do recurso
adesivo. No entanto, não há incompatibilidade entre esta forma de interposição
de recurso com as regras e princípios do Processo do Trabalho, o que permite
a sua utilização de forma subsidiária, assim reza o art. 769 da CLT.
Como regra, os recursos são interpostos por cada uma das partes, de
forma independente. Sendo, porém vencidos autor e réu, ao recurso interposto
por qualquer delas poderá aderir a outra parte (art. 500 do CPC).
Ressalta-se que qualquer um que sofrer os efeitos da sucumbência terá
legitimidade para interpor recurso adesivo. Ou seja, se de algum modo o
68
terceiro juridicamente interessado estiver em situação desfavorável com a
sentença prolatada será parte legítima para recorrer, assim melhor se
interpreta o art. 500 do CPC.
Além dos pressupostos genéricos inerentes aos recursos em geral,
como a legitimidade, o interesse, a capacidade, o preparo, a tempestividade, a
adequação, a representação e a recorribilidade do ato.
O recurso adesivo exige, ainda, quatro outros pressupostos específicos
de admissibilidade, conforme inframencionados:
O primeiro pressuposto trata da sucumbência recíproca, ou seja, é
preciso que o autor e réu tenham tido pelo menos uma de suas pretensões
rejeitadas pelo juízo a quo.
O segundo da possibilidade de a parte ter recorrido autonomamente,
isto é, o recurso adesivo apenas está sendo utilizado no lugar do recurso que a
parte poderia, no prazo legal contado da ciência da decisão que reconheceu a
sucumbência recíproca, ter interposto. Esse pressuposto específico justifica a
parte final da Súmula nº 283 do TST, na medida em que o recurso adesivo é
cabível, ainda que a matéria nele veiculada não esteja relacionada com a do
recurso interposto pela parte contrária.
Já o terceiro se refere à existência do recurso principal, ao qual ficará o
adesivo subordinado, de modo que, se aquele não for conhecido, ou se houver
desistência do recurso principal, este estará prejudicado. Dito de outra forma, o
recurso adesivo não será conhecido se houver desistência do recurso principal,
ou se for ele declarado inadmissível ou deserto. Assim, se o recurso principal
não for conhecido, o adesivo seguira a mesma sorte.
E por último os demais pressupostos específicos exigíveis para os
recursos principais aos quais fica o adesivo subordinado. No processo do
trabalho, portanto, o adesivo deve atender aos mesmos pressupostos
genéricos ou específicos dos recursos ordinário, revista, embargos para o TST
e agravo de petição. Ademais os mesmos procedimentos relativos as custas e
69
ao depósito recursal aplicáveis ao recurso principal são exigíveis para a
admissibilidade ao recurso adesivo.
Ao recurso adesivo se aplicam as mesmas regras do recurso principal,
quanto às condições de admissibilidade, preparo e julgamento pelo tribunal
superior, assim explica o art. 500, § único do CPC.
No processo civil, o recurso adesivo é cabível na apelação, nos
embargos infringentes, no recurso extraordinário e no recurso especial (art.
500, II do CPC).
Já no processo do trabalho, a jurisprudência pacificou o entendimento
de que o adesivo é cabível nas hipóteses de interposição de recurso ordinário,
de agravo de petição, de revista e de embargos, conforme Súmula nº 283 do
TST.
Embora não haja previsão na Súmula nº 283 do TST sobre o cabimento
de adesivo a recurso extraordinário, há essa possibilidade. Isso porque o
recurso extraordinário no processo do trabalho não segue as normas desse
setor especializado, mas sim do direito processual civil. Logo, em tema de
recurso extraordinário das decisões proferidas pela Justiça do Trabalho, hão
de ser observadas as regras próprias desse apelo, previstas na Constituição
Federal, no CPC, na legislação específica sobre recurso extraordinário e no
Regimento Interno do STF.
A parte parcialmente sucumbente que interpuser recurso autônomo
contra a parte da sentença que lhe for desfavorável não poderá recorrer
adesivamente. É que, nesse caso, já teria ocorrido a preclusão consumativa,
com a interposição do primeiro recurso. Além disso, parece que não é cabível
a interposição, pela mesma parte, de dois recursos, principal e adesivo,
porquanto, nessa hipótese, haveria ofensa ao princípio da unirrecorribilidade.
A devolutibilidade da matéria que pode ser deduzida no adesivo é
ampla. Isso significa que não há necessidade de que a matéria nele veiculada
esteja relacionada com a do recurso interposto pela parte contrária. É o que se
infere da parte final da Súmula nº 283 do TST.
70
Assim, o recurso adesivo pode ter correlação com a matéria veiculada
no recurso principal, mas também pode tratar de matéria diversa.
O adesivo no âmbito da Justiça do Trabalho deverá ser interposto por
petição (escrita ou reduzida a termo) dirigida ao juiz ou órgão prolator
competente para admitir o recurso principal.
O prazo para interposição do recurso adesivo, segundo o CPC, é o
mesmo de que a parte dispõe para responder, ou seja, quinze dias. Esse prazo
deve ser observado na hipótese de recurso extraordinário de decisão de
órgãos da Justiça do Trabalho.
No processo do Trabalho, o prazo para contrarrazões é de oito dias;
logo o recurso adesivo, nesse setor especializado, deve ser interposto nesse
prazo (Súmula nº 283 do TST), salvo se o recorrente aderente for pessoa
jurídica de direito público ou o Ministério Público, caso em que o prazo recursal
será em dobro (16 dias), a teor do art. 1º, III do Decreto-lei nº 779/1969, pois
esta norma é aplicável a qualquer recurso interposto pelas pessoas jurídicas
de direito público.
Embora não haja regra específica no processo laboral, deduz-se que o
adesivo deve ser apresentado em peça distinta das contrarrazões, porquanto
estas, não possuem efeito devolutivo, ou seja, não se prestam à reforma do
julgado.
Se a autoridade judiciária denegar seguimento ao recurso adesivo,
poderá a parte interpor agravo de instrumento (art. 897, b da CLT), também no
prazo de oito dias.
No que concerne à desistência do recurso adesivo, recorrente aderente
não necessitará da anuência do recorrido aderido ou dos litisconsortes, dispõe
o art. 501 do CPC.
No tribunal, o adesivo não será conhecido se o recurso principal não for
admitido por qualquer motivo, ou se houver desistência do apelo principal.
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7) Pedido de Revisão
Está previsto no procedimento sumário (“causa de alçada”),
precisamente no art. 2º e seus parágrafos da Lei nº 5584/70.
Há divergência doutrinária acerca da recepção da causa de alçada pela
Constituição Federal vigente.
Contudo o SFT já decidiu que a lei ordinária pode limitar o exercício do
direito de recorrer, sem que isso implique maltrato ao disposto no art. 5º, LV da
CF. Da mesma forma, o TST acompanha o entendimento da Suprema Corte
defendendo a manutenção das causas de alçada, como deduz a Súmula nº
356 do TST.
O pedido de revisão será dirigido ao Presidente do Tribunal Regional do
Trabalho, pois apenas ele tem competência hierárquica e funcional para
processá-lo e julgá-lo.
É essencial para o conhecimento desse recurso os pressupostos
genéricos da tempestividade, legitimidade, interesse, recorribilidade do ato e
adequação.
Contudo, o pedido de revisão exige três pressupostos específicos, a
saber:
• valor da causa igual ou inferior a dois salários mínimos arbitrados pelo
juiz, em função da omissão da petição inicial (art. 2º da Lei nº 5.584/70);
• impugnação em audiência (até razões finais), por qualquer das partes,
do valor arbitrado à causa
• inexistência da retratação, pelo juiz, do valor arbitrado.
Cabe explicar que diferentemente do processo civil, a indicação do valor
da causa não constitui requisito essencial da petição inicial trabalhista (art. 840,
§ 1º da CLT), pois a ausência deste elemento, ao contrário do que dispõe o
CPC (art. 282 e 295, VI), não implica indeferimento da peça vestibular.
72
No processo do trabalho, o valor da causa tem o escopo exclusivo a
determinação do procedimento a ser adotado nos dissídios individuais, ou seja,
o rito sumário aborda as causas de valor até dois salários mínimos.
Assim, se na data da distribuição da petição inicial da reclamação
trabalhista o valor da causa atribuído pelo autor, ou, se omissa a peça de
ingresso, o fixado pelo juiz na audiência de conciliação for igual ou inferior a
dois salários mínimos, o procedimento será o sumário (causa de alçada).
Neste caso, será dispensável o resumo dos depoimentos e não caberá recurso
da decisão judicial aí prolatada, salvo se esta violar e frontalmente a
Constituição Federal.
Caso o autor não indique na petição inicial e se o juiz não fixar de ofício
o valor da causa, há de se presumir pela recorribilidade da decisão proferida
na causa de alçada, utilizando como fundamento o princípio do duplo grau de
jurisdição, que é a regra, enquanto a irrecorribilidade é uma exceção.
Dessa forma, se o procedimento sumário for estabelecido na inicial, a ré
deverá impugná-lo na própria contestação, que poderá ser verbal ou escrita
(art. 847 da CLT).
Na hipótese do juiz fixar o valor da causa, se indeterminado o valor na
inicial, o que somente ocorrerá após a apresentação da defesa, qualquer das
partes poderá impugnar o valor fixado, em audiência, por ocasião das razões
finais.
Convém lembrar, no entanto, o teor da Súmula nº 71 do TST, segundo a
qual a “alçada é fixada pelo valor dado à causa na data de seu ajuizamento,
desde que não impugnado, sendo inalterável no curso do processo”.
Se for mantido, pelo juiz, o valor da causa, qualquer das partes tem o
prazo de 48 horas para interpor o pedido de revisão.
A decisão que dispõe sobre o valor da causa no processo do trabalho é
tipicamente interlocutória, da qual cabe o recurso, cognominado “pedido de
revisão”, cuja competência hierárquica e funcional para processá-la e julgá-lo é
do Presidente do Tribunal Regional do Trabalho.
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Destaca-se que a natureza jurídica do pedido de revisão recorrida é
matéria controvertida por parte da doutrina, a posição mais aceita advogada a
favor de que a natureza jurídica é de recurso, já que ataca decisão tipicamente
interlocutória proferida no curso do processo, constituindo, portanto, exceção
ao princípio da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias do
processo do trabalho.
Ante a omissão da CLT e da Lei nº 5.584/70 sobre os critérios para
indicação e atribuição pelo juiz do valor da causa, parece que devem ser
aplicadas, subsidiariamente, as regras estabelecidas nos arts. 258 a 261 do
CPC, com as devidas adaptações.
Se o autor atribuir o valor da causa na petição inicial, não pode o juiz de
ofício, arbitrar outro valor, mas o réu pode, juntamente com a contestação (art.
261 do CPC), impugnar o valor atribuído. Neste caso, a decisão que acolher ou
rejeitar a impugnação não desafia o pedido (recurso) revisão, mas poderá ser
suscitada como preliminar em recurso ordinário. Há, porém, entendimentos no
sentido de admitir o pedido de revisão do valor da causa atribuído pelo autor
quanto arbitrado pelo juiz.
O pedido de revisão possui efeito não suspensivo e devolutivo, pois este
é inerente a qualquer recurso.
A devolutibilidade, no entanto, é bastante restrita, na medida em que o
juízo ad quem, se conhecido o recurso, limita-se a apreciar o acerto ou não da
decisão que fixou o valor da causa no processo do trabalho.
Recebido o recurso, o Presidente terá o prazo de 48 horas para decidir
monocraticamente a questão.
Nos tribunais, recomenda-se a consulta aos respectivos regimentos
internos acerca do processamento do pedido de revisão.
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CONCLUSÃO
Como já estudado nos capítulos anteriores inexiste no Brasil um Código
de Processo do Trabalho, estando as normas processuais trabalhistas
inseridas na Constituição Federal, na Consolidação das Leis do Trabalho e em
algumas leis esparsas.
Essa situação faz com que se verifique que há omissões no sistema
processual trabalhista, razão pela qual o legislador estabelece a possibilidade
de utilização subsidiária do Direito Processual Comum, nos termos do art. 769
da CLT.
Portanto, para que seja possível a aplicação subsidiária do Código de
Processo Civil, dois requisitos devem estar presentes concomitantemente:
deve haver a omissão na legislação trabalhista e a norma processual civil a ser
aplicada deve ser compatível com os princípios gerais do Processo do
Trabalho.
De acordo com a obra em comento verifica-se que o legislador
trabalhista não especificou quais as normas processuais civis são compatíveis
ou incompatíveis com os princípios gerais do Processo do Trabalho, sendo de
responsabilidade do julgador verificar se os requisitos exigidos no art. 769 da
CLT estão presentes, assim autorizando a aplicação subsidiária do Código de
Processo Civil.
Interessante ocorre com a execução no âmbito da Justiça do Trabalho,
pois a mesma tem disciplina própria na CLT. No entanto, se identificam
algumas omissões da norma específica, razão pela qual o art. 899 da CLT
dispõe expressamente que a legislação aplicável à cobrança judicial da dívida
ativa da União é fonte subsidiária do processo de execução trabalhista.
Merece destaque aos recursos por receber também orientações de
forma subsidiária das normas processuais do direito comum, mas
especificadamente as do Processo Civil. Isso se deve principalmente ao fato
do art. 893 da CLT expor um rol não taxativo e sim meramente exemplificativo.
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Desta forma, explica-se que os embargos de declaração admitidos na
Justiça do Trabalho não estão elencados no art. 893 da CLT motivo este que
ele é orientado pelo art. 535 do CPC e depois da vigência da Lei nº 9.957/2000
passou a seguir também orientações do art. 897-A da CLT.
No mesmo raciocínio se apresenta o recurso adesivo perante o
processo do trabalho sendo disciplinado pelo art. 500 do CPC com as suas
devidas adaptações. Apesar de ter sofrido resistência por parte da
jurisprudência hoje é bem aceito pelo Colendo do TST de modo que foi criada
a Súmula nº 283 do TST o disciplinando também.
Conclui-se que o constituinte no âmbito da Justiça do Trabalho deixou
lacunas no que diz respeito aos recursos, conforme disposto no art. 893 da
CLT. Desse modo verifica-se a carência de espécies de recursos aplicáveis no
caso concreto quando a parte se encontre em situação desfavorável.
Por isso, pode se afirmar que o processo do trabalho vai de encontro
com o princípio do duplo grau de jurisdição, uma vez que não fornece meios
adequados para a parte recorrer. Logo, para fazer valer o direito dos
sucumbentes cabe aos operadores do direito usar a norma processual civil
como fonte subsidiária, sob a condição de observar as exigências do art. 769
da CLT.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ALMEIDA, de Isis. Manual de Direito Processual do Trabalho. 5 ed., São
Paulo: LTR, v. 2, 1991.
CASSAR, Vólia Bonfim. Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Impetus, 2009.
CLT ACADÊMICA E CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Mini, 8 ed., 2010.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Col. Saraiva de
Legislação, 44 ed., 2010.
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTR,
2007.
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. São
Paulo: LTR, 2009.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Novo Processual Civil Brasileiro. Rio de
Janeiro: Forense, 1993.
NASCIMENTO, Mascaro Amauri. Curso de Direito Processual do Trabalho.
São Paulo: LTR, 1994.
ROMAR. Carla Teresa Martins. Direito Processual do Trabalho. Série Leituras
Jurídicas. São Paulo: Atlas, 2007.
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INDICE
FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTO 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I CONCEITO DE RECURSO E SUA NATUREZA JURÍDICA 09 1.1 - Conceito 09 1.2 - Natureza Jurídica 10 CAPÍTULO II
PRESSUPOSTOS RECURSAIS GENÉRICOS 12 CAPÍTULO III
PRINCÍPIOS RECURSAIS NO PROCESSO DO TRABALHO
18
CAPÍTULO IV
AS RECENTES REFORMAS DO CPC E AS LACUNAS DO PROCESSO DO TRABALHO
25
CAPÍTULO V
OS RECURSOS EM ESPÉCIES 33 CONCLUSÃO
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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INDICE
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
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