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1 Quantidade de “enter” para posicionar o cabeçalho, apague em seguida <> <> <> <> UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA <> <> <> <> <> RESERVA BIOLÓGICA DO TINGUÁ: PARADÍGMA DE RESERVAS DE PROTEÇÃO INTEGRAL <> <> <> Por: Antonio Ozires Alvarenga Gonçalves <> <> <> Orientador Prof. Marcelo Saldanha Rio de Janeiro 2011

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · recursos naturais, e gradativamente foi apropriando-se do Espaço Natural transformando-o em Espaço Geográfico. No Período Neolítico,

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1 Quantidade de “enter” para posicionar o cabeçalho, apague em seguida

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

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RESERVA BIOLÓGICA DO TINGUÁ:

PARADÍGMA DE RESERVAS DE PROTEÇÃO INTEGRAL

<>

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<>

Por: Antonio Ozires Alvarenga Gonçalves

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Orientador

Prof. Marcelo Saldanha

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

<>

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RESERVA BIOLÓGICA DO TINGUÁ:

PARADÍGMA DE RESERVAS DE PROTEÇÃO INTEGRAL

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Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Gestão Ambiental.

Por: . Antonio Ozires Alvarenga Gonçalves

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter-me dado forças para a

realização deste trabalho, amparando-

me em todos os momentos de

insegurança.

Aos meus pais e avós, por terem me

ensinado a caminhar no sentido do

bem.

Ao meu Orientador, Prof. Marcelo

Saldanha, pela paciência e apoio.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a Deus e a todos

que de alguma forma participaram para

que esta monografia se realizasse.

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RESUMO

O presente estudo objetiva analisar o porquê da biosfera encontrar-se no atual

estágio de degradação, agravando-se minuto após minuto, pesquisando

ferramentas que possam ir trabalhando na reversão deste desequilíbrio

ambiental. Não há modelos onde o "trator devastador capitalismo" não tenha

tido passe carimbado pelo progresso, economia e demais justificativas, deixado

o selo da destruição. Este trabalho de conclusão de curso visa o estudar

desde as remotas interferências na apropriação dos recursos naturais,

transformação do espaço natural em espaço geográfico, encontrar viabilidades

que possam ser implementadas nas mudanças comportamentais, bem como

buscar uma sensibilização do homo sapiens em prol de tornar-se um zelador

incondicional do seu habitat. Este trabalho perpassa desde o neolítico até os

dias atuais, onde os históricos de preservação têm marcos nessas evoluções.

Esses fragmentos, áreas protegidas, vêm sendo escudeiras diante das

progressões devastadoras. A exemplo do que resta de Mata Atlântica,

encontra-se dentre outras a Reserva Biológica de Proteção Integral do Tinguá,

senso deste trabalho, com enfoque para Políticas Ambientais Locais.

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METODOLOGIA

Os procedimentos usados para a realização desta pesquisa foi

inicialmente o levantamento bibliográfico, material basilar do desenvolvimento

do trabalho. Em seguida foi feito um fichamento; paralelamente foram feitas

observações empíricas no campo, bem como entrevistas pessoais.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................. 8

CAPÍTULO I - AS PRIMEIRAS ÁREAS PROTEGIDAS NO MUNDO ........ 11

1.1 - A gênese da exaustão da natureza ..................................................... 13

1.2 - Conferências das Nações Unidas sobre mudanças climáticas

aquém do anseio planetário ................................................................. 15

1.3 - Progressão das emissões .................................................................... 15

1.3.1 - Soluções locais ......................................................................... 17

1.4 - Acordos comerciais .............................................................................. 18

1.5 - Genocídio ambiental ............................................................................ 19

CAPÍTULO II - A GÊNESE DAS ÁREAS DE CONSERVAÇÃO

AMBIENTAL NO BRASIL .................................................. 21

2.1 - Brasil Colônia ...................................................................................... 21

2.2 - Sob o domínio espanhol ...................................................................... 23

2.3 - Portugal reassume a colônia brasileira ................................................ 24

2.4 - A primeira recuperação no mundo de área degradada ....................... 26

2.5 - As primeiras áreas protegidas no Brasil .............................................. 29

2.6 - Primeiro Código Florestal Brasileiro ..................................................... 30

2.7 - As primeiras áreas protegidas no Brasil ............................................... 31

2.8 - Evoluções posteriores ao Novo Código Florestal ................................ 32

2.9 - Evoluções posteriores a Constituição de 1988 ................................... 34

2.10 - As defasagens nas Leis Ambientais .................................................. 35

CAPÍTULO III - A GEOPOLÍTICA DA REBIO TINGUÁ .............................. 39

3.1 - Área de estudo .................................................................................... 40

3.1.1 – Denominação ........................................................................... 40

3.1.2 – Criação ..................................................................................... 40

3.1.3 – Localização .............................................................................. 41

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7 3.2 - Meio físico ............................................................................................ 42

3.3 - Tópicos históricos da configuração territorial ...................................... 43

3.4 - Ocupação colonizadora ....................................................................... 45

3.4.1 – Prevenção ................................................................................ 46

3.4.2 – Morada ..................................................................................... 46

3.5 - Ciclo do ouro ........................................................................................ 46

3.5.1 - Os Inconfidentes ...................................................................... 47

3.6 - Ciclo do café ........................................................................................ 47

3.6.1 – Ascensão .................................................................................. 47

3.6.2 – Pousada ................................................................................... 48

3.6.3 – Decadência .............................................................................. 48

3.7 - De Iguassu a Nova Iguaçu passando por Maxambomba .................... 49

3.7.1 - De Iguassu para Maxambomba ................................................ 49

3.7.2 - De Maxambomba para Nova Iguaçu ........................................ 49

3.8 - Prefeito confundiu tombamento com “derrubamento” ......................... 49

3.9 - Tinguá e a derrota da seca .................................................................. 50

3.10 – Ferroviarismo .................................................................................... 51

3.11 - Outro modelo devastador de Tinguá ................................................. 51

3.11.1 - Centro da comercialização ..................................................... 52

3.11.2 - Presença de quadrilhas .......................................................... 52

3.12 - Os sítios no entorno ........................................................................... 53

3.13 – Recategorização ............................................................................... 54

3.14 - Grandes empresas poluidoras .......................................................... 56

3.15 - Zona de sacrifício ............................................................................... 58

CONCLUSÃO .............................................................................................. 60

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................. 63

ANEXOS ...................................................................................................... 76

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INTRODUÇÃO

A trajetória do homem na Terra sempre vinculou-se à utilização dos

recursos naturais, e gradativamente foi apropriando-se do Espaço Natural

transformando-o em Espaço Geográfico.

No Período Neolítico, transição do nomadismo para o sedentarismo,

o homem descobriu-se como ser social, as estruturas sócio-políticas

consolidaram-se sob formas de clãs, conduzidas por um líder, o mais velho, ou

o mais destacável. Essas sociedades fixaram-se em certas regiões dedicando-

se à agricultura e a criação de animais. Com utensílios confeccionados a partir

do cobre, do bronze e posteriormente do ferro, os quais se tornaram usuais no

manejo do cultivo. As vegetações naturais deram lugar à agricultura; foi o

pioneirismo das devastações em grande escala.

[...] primeiros sistemas de cultivo e de criação apareceram no período neolítico, há menos de dez mil anos, em regiões pouco numerosas e relativamente pouco extensas do planeta. Originavam-se da autotransformação de alguns dos sistemas de predação muito variados, que reinavam então no mundo habitado. Essas primeiras formas de agricultura eram certamente praticadas perto de moradias e aluviões das vazantes dos rios, ou seja, terras já fertilizadas que não exigiam portanto desmatamento.

A partir daí, a agricultura neolítica expandiu-se pelo mundo de duas formas principais: os sistemas pastoreio e de cultivo derrubada-queimada.

Os sistemas de criação pastoreio estenderam-se às regiões com vegetação herbácea e se mantiveram até nossos dias nas estepes e savanas de diversas regiões, na Eurásia Setentrional, Ásia Central, Oriente Médio, no Saara, no Shael, nos Andes. Por outro lado os sistemas de cultivo derrubada-queimada conquistaram progressivamente a maior parte das zonas de florestas temperadas e tropicais, onde perpetuaram durante séculos, senão milênios, e perduram ainda em certas florestas da África e América Latina. Desde essa época pioneira, na maior parte das regiões originalmente arborizadas, o aumento da população conduziu ao desmatamento e até mesmo, em certos casos, a desertificação (MAZOYER; ROUDART, 2010, p. 45).

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9 O desmatamento, gerador de ambientes degradados, propensos a

desertificação, ao desequilíbrio da balança térmica no nível da superfície, a

diminuição da capacidade de retenção hídrica do solo, a diminuição do volume

de pólen em suspensão, enfim, a gama de fatores desfavoráveis para a biota,

culmina com extinções.

Desertos antrópicos, ou seja, áreas degradadas pela ação humana

vêm sendo criados há milênios, através de desmatamentos, excesso de

pastoreio, consumo exagerado de água do subsolo, atividades mineradoras

etc.

Para Conti (1998, p. 67), "A antiga Mesopotâmia, beneficiada pelos

rios Tigre e Eufrates, (o "Crescente Fértil" dos historiadores), sustentou na

antiguidade prósperas civilizações, e hoje é uma região árida e improdutiva".

No mundo conhecido antes de Cristo, grandes seguimentos

religiosos já havia; é lídimo mencionar o livro sagrado de um desses

seguimentos, a Bíblia Sagrada, onde o líder do povo hebreu, profeta Moisés

(1592 a.C.-1472 a.C.), orienta o uso de árvores para estratégias de guerra.

Lemos no discurso de Moisés na Planície do Jordão, em

Deuteronômio, cap. 20, ver. 19-20:

Quando sitiardes uma cidade por muitos dias, pelejando contra ela para tomar, não destruirás os seus arvoredos metendo neles o machado, porque deles comerás, pelo que não cortarás (pois o arvoredo do campo é o mantimento do homem), para que sirva de tranqueira diante de ti.

Mas as árvores que souberes que não são de comer, destrui-las-ás e corta-las-ás; e contra a cidade que guerrear contra ti, edificarás baluartes, até que esta seja derribada (ALMEIDA, 1969, p. 215).

Corrobora desde os tempos primitivos, a utilização dos recursos

naturais, todos, e para todas as finalidades, sem um olhar voltado para

consequências ambientais futuras, sem as preocupações reposicionais, a

utilização dos recursos naturais visando exclusivamente as necessidades

imediatas, seja para nutrir-se, seja como apoio para consolidar os seus feitos.

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10 A exemplo, a Era Moséica deixa prerrogativa de questionamento, se

houvesse orientação preservacional, qual o percentual da humanidade

veneraria o meio ambiente? Qual seria o comportamento ambiental ao longo

desses séculos? Esse líder, profeta, cujas palavras e leis conduziu um povo,

os Hebreus, mantém até hoje expressivo número de adeptos.

Daí a justificativa do questionamento: se na Era Moséica a questão

preservacional fosse levantada, teria suprido a defasagem que vem até hoje,

cultuar, venerar o meio ambiente, visando equilíbrio e provê-lo para gerações

futuras?

Dentre as inúmeras culturas e ideologias que as civilizações mais

proeminentes praticaram, venerar o meio ambiente, tratá-lo com

sustentabilidade, provendo-o para gerações futuras, esse comportamento foi

relegado.

O primeiro continente a sofrer a ação do homem, em razão de um desenvolvimento político social, econômico e estrutural de suas civilizações, foi a Europa. Já por volta do século V a.C., regiões que haviam sido quase totalmente cobertas por florestas, como a Ática, por exemplo, estavam destruídas.

[...] Os europeus, com suas viagens ao redor do mundo, foram os primeiros a descobrir novas fontes de riquezas e, conseqüentemente, de devastação ecológica.

[...] As nações colonizadoras, com uma política de desenvolvimento econômico já avançada, procuravam explorar as regiões colonizadas no sentido de conseguir ali as matérias-primas de que necessitavam. Tudo, é claro, sem qualquer preocupação ambientalista (SILVA, 1978, p. 55).

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CAPÍTULO I

AS PRIMEIRAS ÁREAS PROTEGIDAS NO MUNDO

O eixo norteador das áreas de proteção ambiental é permitir que a

biodiversidade tenha "ilhas" de perpetuação dos ecossistemas, e para tal, os

instrumentos legais, a percepção ambiental, juntas, desencadeiam ações que

levam à criação de áreas protegidas.

Outros eixos, os cênicos, os históricos, têm menos expressividade,

uma vez que, perpetuação de espécies, exige áreas vastas, intocadas,

isoladas, mínimo de presença estranha. A intransponibilidade é vencida, na

maioria das vezes, pelo trator capitalismo.

"E o dinheiro enquanto capital, sempre que quer progredir, ou

acumular, primeiro explora, depois rejeita o trabalho enquanto essência

humana e, de quebra destrói a Natureza essencial à vida" (BARREIRA, 2004,

p. 16).

No período da manufatura artesanal e da agricultura rudimentar, são

encontrados documentos que testemunham a criação das primeiras "ilhas"

destinadas à perpetuação de ecossistemas.

Várias literaturas exemplificam a preocupação de civilizações a.C.

com a preservação ambiental em áreas protegidas fora do eixo América do

Norte-Europa.

Por milhares de anos, os povos reconheceram os valores especiais ligados a sítios geográficos e tomaram medidas para protegê-los. Tais sítios estavam associados a fontes de animais sagrados, água pura, plantas medicinais, matéria-prima para uso futuro, mitos e ocorrências históricas. O acesso e uso dessas áreas e de seus recursos eram controlados por tabus, éditos reais e mecanismos sociais comunitários. Na Indonésia, nas Filipinas e nas ilhas do Pacífico, por exemplo, combinaram-se poderosos tabus sociais com rígidos controles administrados em nível de aldeia, muitas vezes com reforço religioso, para evitar uma exploração que viria contrariar os interesses da comunidade.

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12 Uma das mais antigas referências documentadas vem da Ásia, onde o Imperador Ashoka, da Índia, em 252 a.C., ordenou a proteção de certos animais, peixes e áreas florestadas. A primeira área de Proteção na Indonésia foi criada em 684 a.C., na ilha de Sumatra, por ordem do Rei de Srivijya. Conta-se que no século XV, Babar, o primeiro Imperador Mogul da Índia, caçava rinocerontes em reservas especiais criadas para esse fim nas zonas pantanosas do Punjab. O Real Parque Nacional de Chitwan, no Nepal, foi criado inicialmente como reserva de caça para a família Rana. Assim também, Ujung Kulon, em Java, e Ranthambore, na Índia, hoje em dia, importantes parques nacionais, foram originariamente criados como reservas de caça. Em Kumano, Japão, há milhares de anos que o povo vai ao santuário de Tamaki para comunicar-se com os cedros. A reverência aos macacos, captada no antigo épico da cultura hindu, o Ramayana, ainda hoje é mantida na reserva de Cagar Alam, assim como também em Bali. Esses sítios preservam não somente valores culturais e religiosos, como também os habitats florestais próximos.

Registros contam que na Dinastia Chow (1122 a.C. - 255 a.C.) havia uma recomendação imperial para a conservação de florestas. Em outras dinastias, que sucederam a de Chow, houve outros fatos de destaque como o reflorestamento de áreas desmatadas e a criação de estações experimentais (MILLER, 1997, p. 4 apud SOUZA, 2003, p. 37-38).

Pelos relatos é reiterada a existência da preocupação com recursos

naturais, a criação de áreas de preservação ambiental, o prover dos recursos

naturais para gerações futuras, desde séculos, até mesmo milênios antes de

Cristo, em cuja vanguarda está o mundo oriental.

Somente após muitos séculos, no ano de 1872, no mundo ocidental,

nos E.U.A. é que surgiu o primeiro marco de preservação do meio ambiente, o

Parque Nacional de Yellowstone. Inaugurado em 01 de março de 1872, com

8980 Km2, possui expressivo campo de envolvência em seguimentos da

história e geografia, a exemplo, arqueologia e geomorfologia respectivamente,

além de endemismos de flora no rico ecossistema que possui. “Está sobre

caldeirão vulcânico, possuindo 62% das fontes geotermais e gêisers existentes

no planeta” (PRESS et al., 2006, p. 334).

Esse parque, até sua consolidação política sócio-ambiental, sofreu

agressivas intervenções antrópicas, incluindo a iminência de ser leiloado pelo

governo.

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13 Um grupo de pesquisadores interveio junto ao Congresso dos Estados Unidos da América, para que anulasse a decisão do governo em levar tão expressiva área a leilão público, o que culminou na realização do anseio ambientalista, transformá-la em área preservacional. É um dos maiores ecossistemas de clima temperado ainda restante no planeta (WIKIPEDIA, 2011a).

O que se verifica foi o antagonismo capitalismo x ambientalismo pela

salvação da biodiversidade desse ecossistema, discussões que já permeavam

aqueles anos.

1.1 - A gênese da exaustão da natureza

O entendimento da realidade do mundo contemporâneo respalda-se

nas ocorrências do passado.

A história do mundo contemporâneo respalda-se no ontem. Mudanças Climáticas e Aquecimento Global, que surgiram principalmente a partir dos anos 1970. O mote do modelo de desenvolvimento proposto, desde os primórdios da Revolução Industrial, no século XVIII, é considerado como um elemento importante a ser revisto no mundo contemporâneo, desde aquela época (RESK, 2009, p. 17).

Nos finais do século XIX, Segunda Revolução Industrial, as buscas

por matéria prima acentuaram-se abruptamente, ao mesmo tempo, o

capitalismo comercial passa para sua fase superior, o capitalismo imperialista.

Este segundo modelo assume nova expressão, neocolonialismo. O planeta

imergiu na Geopolítica do expansionismo. Acirraram-se os interesses das

potências imperialistas pela divisão dos continentes em zonas de influência.

A exemplo, em 1876, a Conferência de Bruxelas, na Bélgica,

convocada pelo Rei Leopoldo II, cujos olhares eram voltados para a Bacia do

Congo, na África, em discurso de abertura proferiu: "[...] abrir a civilização, a

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14 única parte do nosso globo em que ela não havia sido penetrada [...]"

(MOREIRA, 2010, p. 12). Esta conferência deu origem a de Berlim, em 1885,

com a finalidade de consolidar acertos dos respectivos interesses, e outras que

seguiram-se. Estabelecer zonas de dominação, de influência, na Ásia e

principalmente na África. A competitividade entre estas potências, o acúmulo

de capital, o espaço vital, as únicas metas, fortalecidos pelas teorias

ratzelianas, do Determinismo Geográfico e a do Espaço Vital. "Frederic Ratzel,

geógrafo, darwinista, afirmava a idéia do espaço vital, e com ela, a lei do mais

forte que predominaria na natureza" (GONÇALVES, 2010, p. 62).

Este novo modelo, neocolonialismo, agravou a obsoletação dos

ecossistemas. A gênese da degradação ambiental consolidou-se em função

do capital. Concomitantemente a produção industrial ampliou-se com as novas

tecnologias; as cidades cresciam sem nenhuma forma de planejamento e

ordenamento, ocasionando uma série de problemas socioambientais.

Diante das insanidades, pensadores manifestaram preocupação

quanto aos resultados desta competitiva corrida mercantilista.

E é em O capital (1867) que as reflexões de Marx sobre o tema se sobressaltam, aproximando-o de questões ambientais e ecológicas, diante das quais podemos concluir que as discussões que assolam nossos dias e que abordam consumo excessivo e poluição, já eram uma preocupação para o filósofo do século XIX (RESK, 2009, p. 17).

"Em face da natureza, como em face da sociedade, o modo de

produção capitalista só leva em conta o êxito inicial o mais palpável [...].

Friendrich Engels" (contemporâneo de Marx) (BARREIRA, 2004, p. 20).

O que se verifica é a sociedade humana ter se desenvolvido sem

planejamento e controle adequados, e cujo modelo perpetua-se até nossos

dias, culminando dentre outras gravidades, com o aquecimento global.

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15 1.2 - Conferências das Nações Unidas sobre mudanças

climáticas aquém do anseio planetário

Convenções sobre mudanças climáticas, as COPs de 1 a 16 não têm

chegado a acordos consensuais para ir retendo as causas, consequentemente

os efeitos das emissões de poluentes.

Conferências internacionais são inversas as expectativas e esperanças. Copenhage é vida ou morte. Para o ex-secretário-geral da ONU, 1997/2006, Kofi Annan, “um fracasso no encontro internacional sobre aquecimento global em dezembro, na Dinamarca", COP-15, "representaria um desastre para o mundo" (SALGADO, 2009, p. 43).

Já o atual secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, enfatizou:

"Precisamos mobilizar a vontade política necessária para selar os termos de

um ambicioso acordo climático. Se formos mal sucedidos, haverá danos

catastróficos para as pessoas e para o planeta" (LEVI, 2009, p. 17).

Após Cancún, sede da COP 16, em 2010, o mundo ficou sem a

esperança de um acordo conclusivo.

Não se avançou um milímetro em Cancún nas metas de cortes das emissões. Houve o progresso suficiente para indicar que um acordo internacional é até possível. É muito pouco para a urgência que o aquecimento global requer e é o máximo que se conseguiu após o naufrágio das esperanças em Copenhague (VALOR ECONÔMICO, 2010).

1.3 - Progressão das emissões

O aquecimento global é uma realidade consolidada. A figura 1 nos

mostra que

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16 [...] nos anos 50 a concentração de CO2 na atmosfera era cerca de 315 ppmv (parte por milhão em volume – porque se trata de ar), e em apenas 5 décadas houve um aumento de cerca de 16%. Esse aumento tão rápido e tão intenso nunca foi observado na história do planeta. O zigue-zague observado na Figura 1 (sic) é por causa do aumento de CO2 na atmosfera durante o outono-inverno devido à baixa atividade fotossintética, já no período de primavera-verão a fotossíntese é mais eficiente, diminuindo então a concentração de CO2 na atmosfera. O aumento de CO2 de um ano para outro é controlado pela atividade humana, principalmente devido à queima de combustível fóssil (QUÍMICA AMBIENTAL, 2011).

Figura 1: Variação na concentração de CO2 na atmosfera medida no Observatório de Mauna Loa no Havaí localizado a 3.500 m de altitude (QUÍMICA AMBIENTAL, 2011).

Outro problema que merece atenção é o buraco na camada de

ozônio.

Enquanto esses furos estavam restritos às calotas polares, seus efeitos nocivos, embora existissem, eram menores. O problema é que, agora, os raios ultravioleta estão sobre regiões habitadas por populações humanas ou cobertas por vegetação (figura 2). (CONECTEEDUCAÇÃO, 2011)

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17 .

Figura 2: Progressão do buraco na camada de ozônio (CONECTEEDUCAÇÃO, 2011).

Inúmeras comprovações têm sido insuficientes para sensibilizar os

países a consensuarem-se quanto a soluções inexoráveis, voltadas para

reverter ou ao menos ir freando o atual estágio de degradação ambiental.

É possível fazer um acordo climático sem a participação da maior economia do planeta e da segunda maior nação poluidora? Não, e por isso Kyoto, que expira em 2012, corre risco de acabar sem que um acordo o substitua tempestivamente. O cronograma até Durban marcará uma nova corrida contra o relógio para arrancar um compromisso eficaz para deter o aquecimento global (VALOR ECONÔMICO, 2010).

1.3.1 - Soluções locais

Ocorrem a níveis locais ações e avanços voltados para questões

ambientais, onde podem ser desenvolvidas e aplicadas metodologias que

venham atingir o estágio superior da educação ambiental, a consciência

ambiental, cada vez mais carente no homo sapiens.

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18 Há estudos que abonam as ações locais, porém, ressaltam que

somente reconhecendo a subjacência do capitalismo, causa principal desse

genocídio ambiental, a exemplo, a obsoletação planejada é que haverá a

gênese da reversão.

As soluções setoriais são úteis, mas não são capazes de resolver definitivamente o dilema. A tecnologia pode municiar-nos com as armas que tornarão mais fácil o reparo dos danos causados pela poluição. Mas só quando for cortada a causa principal do complexo de problemas de poluição, isto é, o sistema político e econômico baseado na desigualdade social e no máximo consumo em busca do máximo lucro, é que se poderá afastar definitivamente o espectro da poluição dos pesadelos do homem [...] (SILVA, 1978, p. 185-186).

1.4 - Acordos comerciais

Entretanto, acordos voltados para fins comerciais, a nível mundial,

têm apresentado resultados amplos.

[...] Assim, vemos nascer espaços cativos do tipo organismos que reúnem o empresariado em nível mundial, com a função de fazer seus acertos globais. Organismos que são uma reedição para o presente daqueles que existiam no tempo das sociedades de geografia do passado.

O melhor exemplo é o Fórum Econômico Mundial, o organismo que reúne regularmente todo ano as 200 maiores empresas monopolistas mundiais, com a função de regular as ações internacionais e evitar os desastres do passado (MOREIRA, 2010, p. 85).

Segundo entendimento de Abranches (2011),

A única referência mais substantiva ao tema do aquecimento global foi um texto para discussão preparado pelo Fórum, sobre mudança climática e comércio internacional. Não chega a ter muita novidade, nem aprofunda as questões. Pede um acordo global sobre o clima que ajude a dissipar as incertezas sobre as políticas nacionais e a legalização pela OMC dos subsídios que induzam o desenvolvimento de uma economia verde.

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19 Nos anos de existência desse fórum, as suas contribuições para as

questões ambientais foram imperceptíveis, em virtude do contínuo

desenvolvimento técnico-científico, perfeitamente integrado com o modo de

produção capitalista, que por sua vez é excludente, destrutivo e age

cegamente.

[...] e o dinheiro, enquanto capital, sempre que quer progredir ou acumular, primeiro explora, depois rejeita o trabalho enquanto essência humana e, de quebra, destrói a Natureza, essencial à vida.

[...] O caráter destrutivo do modo de produção capitalista está em sua gênese, mas desenvolveu-se ao longo da história de forma subjacente. Contudo, nesta fase terminal, o fenômeno aflora, expõe-se à luz do dia, e só não é visto por quem não tem olhos de ver (BARREIRA, 2004, p. 16).

1.5 - Genocídio ambiental

Há estudos que denominam o atual estágio da natureza como,

genocídio ambiental.

[...] Em seus estudos, Augusto Rushi1 percebeu que a causa da praga estava na desmedida ambição humana, e que as consequências seriam um genocídio ambiental.

[...] A pandemia destruiu a consciência humana, o homem passou a desfrutar do meio ambiente de forma ilícita, irresponsável, suicida.

[...] Augusto Rushi encontrou a cura, entretanto, muitos se negam a tomar a vacina, têm medo de perder os benefícios, as alucinações que a praga proporciona. Esquecem que esses benefícios são efêmeros, que as próprias gerações necessitam não desses benefícios, e sim de um Planeta em equilíbrio ambiental, o qual possibilitará a sobrevivência da espécie humana e de outras espécies (JUNIOR CAMBUÍ, 2011).

1 Augusto Rushi nasceu em Santa Teresa, em 12 de dezembro de 1915 e faleceu em Vitória em 3 de junho de 1986. Foi um agrônomo, ecologista e naturalista brasileiro. É o Patrono da Ecologia no Brasil e um dos ícones mundiais da proteção ao meio ambiente (WIKIPÉDIA, 2011b).

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20 Segundo o provérbio “Sempre há uma luz no fundo do túnel”, o túnel

é o estágio atual do planeta e no extremo do seu horizonte, a luz, que são as

questões preservacionais. É nestas, a níveis locais, a proposta do presente

trabalho, no ensejo de contribuir para ir sensibilizando o homo sapiens a tornar-

se um zelador incondicional do seu habitat.

Para tal, mediante escolha aleatória, a Reserva Biológica de

Proteção Integral do Tinguá é tomada como paradigma pela expressão

histórica, presença de endemismos, perimetrada pela periferia de quatro

grandes cidades, enfim, gama de discussões que envolvem e violam a

preservação ambiental. Em todas as discussões a defesa ambientalista faz-se

presente, opondo-se as justificativas em detrimento do meio ambiente.

[...] Ao analisar a busca de respostas da sociedade à questão ambiental é possível verificar que os processos de intervenção aplicados através da política ambiental brasileira têm sido ineficaz para deter a progressão dos danos ambientais e que uma nova estratégia política deve ser formulada a partir da mobilização da cultura das comunidades locais para que seja ajustada a participação ativa dos indivíduos na aplicação de medidas de política ambiental. A questão ambiental não é apenas uma crise natural, mas uma cultura que precisa ser substituída, para que a intervenção dos indivíduos na proteção possa ser maximizada localmente. [...] (SEIFFERT, 2008, p. 19).

[...] É no município onde as opções de medidas de proteção ambiental, nos campos de alterações no marco regulatório, incentivos econômicos fiscais e não-fiscais para setores como a proteção das águas, ordenamento espacial, zoneamento ambiental, plano de expansão urbana, normas para a construção civil, entre outras, assumem a sua melhor face de política econômica ambiental (FEDERAL ENVIRONMENT MINISTRY, 1995 apud SEIFFERT, 2008, p. 41).

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21

CAPÍTULO II

A GÊNESE DAS ÁREAS DE CONSERVAÇÃO

AMBIENTAL NO BRASIL

Precedendo ao adentramento na área de estudo deste trabalho,

Reserva Biológica de Proteção Integral do Tinguá: paradigma de área de

preservação integral, os textos deste capítulo perpassam pelas fases

intrínsecas da evolução dos instrumentos e tipologias de áreas protegidas

instituídas no Brasil. Esses acontecimentos, da evolução da legislação

ambiental brasileira, objetivam apresentar e analisar criticamente a evolução

dos instrumentos destas áreas no território nacional; buscando revelar

intenções e contradições desse processo, bem como suas sequências e

influências, as quais culminaram com a existência do modelo atual, fortemente

centrado no SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação).

Tema cada dia mais relevante no universo jurídico, o Direito Ambiental é também resultado, no Brasil, de importantes fatores históricos, alguns deles anteriores à própria independência do país. Nem sempre relevantes na sua aparência, alguns deles foram essenciais para o desenvolvimento dessa temática, como o surgimento de importantes leis de natureza ecológica. [...] (SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 2010).

2.1 - Brasil Colônia

Os dispositivos destinados à proteção de áreas em terras brasileiras,

têm seus primeiros registros no período colonial, porém, Leis, Decretos, Cartas

Régias, não eximiram o Brasil do caráter eminentemente predador.

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22 A partir do século XVI, os europeus que chegavam ao continente americano, trouxeram consigo a concepção de destruição indiscriminada das “coisas selvagens da natureza” [...]. (ROSA, 2000, p. 113 apud SOUZA, 2003).

Segundo Eduardo Bueno (1997), durante os trinta primeiros anos após o descobrimento do Brasil, as naus portuguesas que deixavam o país, costumavam levar em seus porões aproximadamente três mil peles de onças (Pathera onca) e 600 papagaios (Amazona sp.) em média (PADRONE, 2004, p. 7).

Na primeira década do Brasil Colônia vigorava a legislação

portuguesa, as Ordenações Afonsinas, onde há menções voltadas para as

preocupações ambientais, porém, leis advindas do século XIV, aplicadas em

Portugal.

Segundo a história do direito ambiental brasileiro, o Brasil esteve

subordinado as Ordenações Afonsinas até o século XVI, precisamente 1514,

baseada no Direito Canônico e Romano, reunindo concordatas de reis

antecessores – portugueses.

Após revisões e ampliações, e a partir de 1521, passou a vigorar as

Ordenações Manuelinas. Dentro de ambas, Afonsinas e Manuelinas, é

mencionada a preocupação da Coroa Real com proteção das riquezas

florestais, visando atender a eminente Expansão Ultramarina Portuguesa –

fabricação de caravelas. “A preocupação Real com a proteção das riquezas

florestais estava motivada pela necessidade premente do emprego das

madeiras para o impulso da almejada expansão ultramarina portuguesa. [...]”

(SILVA, 2011, p. 1).

No descumprimento as Ordenações, Legislação daquela época, o

infrator era condenado ao degredo. “[...] Até pelo corte de árvores de fruto,

quando o seu valor fosse superior a 30 cruzados, o autor era degredado para o

Brasil (SILVA, 2011, p. 2).

Com a instituição do Governo Geral, em 1548, aflorou a Geopolítica:

centralização do poder Real, provisões, repressão ao contrabando, Cartas

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23 Régias, alvarás, e é reafirmado o monopólio do pau-brasil, através da

legislação especial de 17/12/1548 concedida a Thomé de Souza, primeiro

Governador Geral. No capítulo 35 desta legislação, mencionava que a

extração deveria ser feita “com o menor prejuízo da terra” (SILVA, 2011, p. 2).

Outro estudo corrobora a existência de legislações voltadas para

preservação ambiental nas primeiras décadas do Brasil Colônia, cujas medidas

foram a gênese do Direito Ambiental Brasileiro.

[...] Até a instituição do Governo Geral, em 1548, aplicava-se a legislação do reino, as Ordenações Manuelinas cujo Livro V, no título LXXXIII proibia a caça de perdizes, lebres e coelhos e, no título “C”, tipificava o corte de árvores frutíferas como crime. Após 1548, o Governo Geral passou a expedir regimentos, ordenações, alvarás e outros instrumentos legais, o que marcaria o nascimento do nosso Direito Ambiental [...] (MEIRA, 2011, p. 1).

2.2 - Sob o domínio espanhol

Sob a dominação espanhola, Brasil Filipino, 1580/1640, com a

unificação da Península Ibérica, passou a vigorar as Ordenações Filipinas,

legislação espanhola, com avanços para as questões ambientais.

[...] Com o domínio espanhol, foram aprovadas as Ordenações Filipinas, em 11 de janeiro de 1603, que disciplinou a matéria ambiental no Livro I, título LVIII; livro II, título LIX; livro IV, título XXXIII; livro V, títulos LXXV e LXXVIII. [...] as Ordenações Filipinas “previam no Livro Quinto, Título LXXV, pena gravíssima ao agente que cortasse árvore ou fruto, sujeitando-o ao açoite e ao degredo para a África por quatro anos, se o dano fosse mínimo, caso contrário, o degredo seria para sempre” [...]. (MEIRA, 2011, p. 1).

Em 1605 foi criada a primeira lei de cunho ambiental no país, O

Regimento do Pau-Brasil, proibindo o corte do mesmo sem licença Real,

aplicando penas severas aos infratores, realizado investigações nos

solicitantes das licenças, dentre outras medidas.

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24 [...] Em 1605, o Soberano espanhol Filipe 3º estabeleceu o Regimento do Pau-Brasil, fixando a exploração em 600 toneladas por ano, de modo a limitar a oferta da madeira na Europa, mantendo assim seus preços elevados (UOL EDUCAÇÃO, 2011).

Eu Ei-rei. Faço saber aos que este Meu Regimento virem, que sendo informado das muitas desordens que lia no certão do páo brasil, e na conservação delle, de que se tem seguido haver hoje muita falta, e ir-se buscar muitas legoas pelo certão dentro, cada vez será o damno mayor se se não atalhar, e der nisso a Ordem conveniente, e necessaria, como em cousa de tanta importancia para a Minha Real Fazenda, tomando informações de pessoas de experiência das partes do Brasil, e comunicando-as com as do Meu Conselho, Mandei fazer este Regimento, que Hei por bem, e Mando se guarde daqui em diante inviolavelmente.

Parágrafo 1′. Primeiramente Hei por bem, e Mando, que nenhuma pessoa possa cortar, nem mandar cortar o dito páo brasil, por si, ou seus escravos ou Feitores seus, sem expressa licença, ou escrito do Provedor mór de Minha Fazenda, de cada uma das Capitanias, em cujo destricto estiver a mata, em que se houver de cortar; e o que o contrário fizer encorrerá em pena de morte e confiscação de toda sua fazenda (MANIA DE HISTÓRIA, 2011).

Este Regimento, composto por esta introdução e mais onze

parágrafos (Anexo 1) passou a pertencer ao primeiro tribunal brasileiro,

Regimento e Relação da Casa Brasil, instalado em Salvador, com jurisdição

para toda a colônia.

2.3 - Portugal reassume a colônia brasileira

Desvinculada do domínio espanhol, a Coroa Portuguesa emite

regulamentação, a Carta Régia de 13 de março de 1797, que favoreceu

diretamente ao controle geomorfológico; as devastações já expunham

expressivas consequências ao meio ambiente, motivadas pelos acelerados

ciclos do pau-brasil e da cana-de-açúcar. Como já mencionamos, medidas de

proteção ambiental sempre houve, porém, eram os interesses econômicos que

motivavam-nas, estes mesmos interesses infringiam o descumprimento.

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25 Não tinham como fundamento à ecologia diretamente, pois estava em primeiro plano o aspecto econômico das florestas. Indiretamente, entretanto, eram leis de proteção ambiental também. Protegiam-se as florestas, protegiam os rios, as nascentes, a fauna, o clima e os solos. Como bem lembra José Cândido de Melo Carvalho .“No período colonial e durante o Império (1500/1889), a legislação aplicada ao Brasil pela Corte Portuguesa e pela Monarquia não teve a preocupação da conservação, pois as cartas régias, alvarás e atos similares visavam a defender apenas os interesses econômicos do governo, como foi o caso do pau-brasil (NOGUEIRA, 2011).

Essa Carta Régia (1797), de maior abrangência, em cujos conteúdos

incluía limitações junto aos acidentes geográficos, sem que houvesse a

intenção, influíram na proteção de ecossistemas.

[...] Em finais do século XVIII, foram definidas medidas mais rigorosas, respaldadas em cartas régias expedidas em 1796 e 1797, declarando de propriedade da Coroa “todas as matas e arvoredos à borda da Costa, ou dos rios que desemboquem imediatamente no mar e por onde as jangadas se possam conduzir as madeiras cortadas, até as praias”[...] (URBAN, 1998, p. 71).

A “borda da costa” já havia sido concedida a particulares,

consequentemente essas determinações expedidas pelas Cartas Régias

jamais foram cumpridas. Em 1800, novas medidas vindas da Corte obrigando

os particulares a conservar as madeiras e “paus reais” numa faixa de

aproximadamente 600 Km de largura a partir da praia.

Em 1802, Intendente Geral das Minas e Metais do Reino, José

Bonifácio de Andrade e Silva, dentre as fases que passou, uma delas foi

estudos de pedologia, em Portugal, o que fortaleceu seus ideais junto as

questões do meio ambiente no Brasil. Recomendou o reflorestamento da costa

brasileira – foram baixadas instruções para execução do projeto. “[...] José

Bonifácio, em 1802, recomendou o reflorestamento da costa brasileira, em

atendimento ao mesmo, foram baixadas as primeiras instruções para

reflorestar a costa brasileira” (LIMA, 2008, p. 20). Entretanto, não há estudos

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26 que corroborem o reflorestamento da citada costa brasileira, na qual encontra-

se a devastada Mata Atlântica2.

2.4 - A primeira recuperação no mundo de área degradada

Com a chegada da Família Real no Rio de Janeiro (trazendo em

torno de 15.000 pessoas), no ano de 1808, causou grandes impactos. Dentre

outros, o de maiores consequências, foi a volumosa escassez de água. O

manancial abastecedor estava seriamente comprometido, o Rio Carioca, cujas

águas transportadas pelo arqueoduto que passava sobre os Arcos da Lapa,

abastecia os chafarizes da cidade, os quais encontravam-se com a vazão cada

vez mais escassa. “Já em 1817, D.João VI, baixou decreto em que

determinava o fim do corte de árvores junto a mananciais e nas beiras dos

riachos nas proximidades da capital” (DRUMOND, 1997 apud LIMA, 2007, p.

9).

“Na década de 1830 os cafezais alcançam predominância ainda

maior no Maciço da Tijuca [...]” (ABREU, 1992 apud LIMA, 2007, p. 9).

[...] O plantio do café foi associado a uma redução da disponibilidade de água, mudando inclusive o regime de chuvas generalizado pelo Rio de Janeiro. A cidade foi atingida por secas severas nos anos de 1824, 1829, 1833 e 1843, entremeadas com algumas estiagens menos graves (LIMA, 2007, p. 9).

2 A mata atlântica originalmente percorria o litoral brasileiro de ponta a ponta. Estendia-se do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, e ocupava uma área de 1,3 milhão de quilômetros quadrados. Tratava-se da segunda maior floresta tropical úmida do Brasil, só comparável à Floresta Amazônica. O grande destaque da mata original era o pau-brasil, que deu origem ao nome do nosso país. Alguns exemplares eram tão grossos que três homens não conseguiam abraçar seus troncos. O pau-brasil hoje é quase uma relíquia, existindo apenas alguns exemplares no Sul da Bahia. Atualmente da segunda maior floresta brasileira restam apenas cerca de 5% de sua extensão original. Em alguns lugares como no Rio Grande do Norte, nem vestígios. Hoje a maioria da área litorânea que era coberta pela Mata Atlântica é ocupada por grandes cidades, pastos e agricultura. Porém, ainda restam manchas da floresta na Serra do Mar e na Serra da Mantiqueira, no sudeste do Brasil (MARTINS; RÓZ; MACHADO, 2011). Uma dessas manchas na Serra do Mar é a Reserva Biológica do Tinguá.

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27 Chegado o ano de 1843, a história da expansão do café pelo maciço da Tijuca iria começar a se modificar. Por um lado é nesse ano que os cafezais aí existentes sofreram os efeitos de uma violenta praga, que diminuiu drasticamente a sua produtividade. Esta por sua vez, já vinha decrescendo bastante, afetada que era pela exaustão progressiva do solo e pela total ausência de cuidados com a terra. Com efeito, plantados sem qualquer preocupação com a manutenção da fertilidade do solo, os cafezais logo aceleraram o processo de esgotamento da terra. As plantações de café passaram a contribuir decisivamente para a aceleração dos processos erosivos, pois facilitavam o carreamento das camadas superficiais do solo pela ação da água das chuvas (ABREU, 1992 apud LIMA, 2007, p. 10).

O fenômeno das enxurradas se tornou rotineiro: a falta de cobertura vegetal fazia com que todas as águas das grossas chuvas de verão escorressem em grande volume e velocidade diretamente para as calhas dos riachos, provocando inundações repentinas nas partes baixas da cidade [...] (DRUMOND, 1997 apud LIMA, 2007, p. 10).

[...] Foi também nesse ano de 1843 que o problema periódico da falta d’água atingiu proporções críticas na cidade, fazendo com que o governo passasse a tomar medidas de preservação dos mananciais. Isto iria também afetar a área em questão, já que era aí que estavam todas as fontes supridoras de água da cidade (ABREU, 1992 apud LIMA, 2007, p. 10).

A introdução da monocultura canavieira e posteriormente a

“explendorosa” monocultura cafeeira, a qual propagou-se para a história do

Brasil, depois de desnudar a Floresta da Tijuca, deixando todo um rastro de

destruição.

A desocupação dessas áreas pelo Governo Imperial começou em 1844, com a decisão inédita e histórica de replantar toda a vegetação local segundo recomendação de D. Pedro II. Em 1857, o Barão de Bom Retiro, Ministro dos Negócios do Império, iniciou a desapropriação das fazendas devastadas pelas plantações de café instituindo, em 1861, as “Florestas da Tijuca e das Paineiras”, com o objetivo de resguardar os recursos hídricos da região [...] (DRUMMOND, 1997; BARRETO-FILHO, 2004 apud MEDEIROS, 2006, p. 44).

[...] É possível que, pelos registros disponíveis, elas efetivamente tenham sido as primeiras áreas protegidas do país, um esboço do que viriam mais tarde a ser as florestas protetoras instituídas pelo Código Florestal de 1934 (MEDEIROS, 2003 apud MEDEIROS, 2006, p. 44).

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28 A carência de água na cidade joanina, e posteriormente imperial, fez

com que fosse promovida pela primeira vez na história da humanidade,

recuperação de uma área degradada pelo homem, com a implementação de

desapropriações e reflorestamento. A insuficiência de vazão dos chafarizes foi

o motivo das bem sucedidas realizações imperiais. Há de convir-nos que esta

vanguarda recuperadora de antropismo ter sido a “sede”, a grande propulsora.

Desapropriar residências situadas em espaço privilegiado da Tijuca, reduto

especulativo, local de fuga do empesteado e fétido núcleo urbano?! Foi a

escassez do líquido indelével da vida, e a urgência inadiável de recuperar suas

fontes – o grande herói dessas realizações.

É de se admitir que houve pedidos, justificativas, apresentação de

prestígio, enfim, tudo em detrimento do meio ambiente, conforme ocorre nos

dias de hoje. Entretanto, em virtude da redução drástica dos lençóis freáticos,

restabelecê-los “falou mais alto”.

Abandonar a “cidade empesteada” seria um objetivo comum entre aqueles que podiam desfrutar do privilégio de se ausentarem das áreas centrais do Rio de Janeiro. Estas epidemias de febre amarela e cólera teriam feitos marcantes sobre a cidade. E a região da Tijuca seria considerada um bom refúgio para isto (LIMA, 2007, p. 11).

“[...] Com os mananciais que abasteciam a Cidade seriamente

ameaçados, a falta de água fez com que D. Pedro II determinasse o

reflorestamento da área. [...]” (IESAMBI, 2011). Determinação de

reflorestamento, a qual originou a maior floresta urbana do mundo e a

recuperação dos seus mananciais.

Segundo o mesmo autor, "pela primeira vez - em toda a história da

raça humana - promoveu-se a recuperação de uma área devastada pela ação

antrópica, e isto ocorreu quatro anos antes que Haeckel viesse a criar o

vocábulo ecologia" (IESAMBI, 2011).

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29 2.5 - As primeiras áreas protegidas no Brasil

Em 1876 o engenheiro André Rebouças propôs a criação dos

Parques Nacionais da Ilha do Bananal e Sete Quedas. Na Ilha do Bananal

encontra-se o Parque Nacional do Araguaia, criado oito décadas depois,

precisamente em 1959, pelo Decreto 47.570 e o Salto das Sete Quedas, que

sucumbiu as águas da Barragem de Itaipu – só restando nos lamentos do

poema de Carlos Drummond de Andrade “Adeus a Sete Quedas” (Anexo 2).

Há consenso entre autores ser o Parque Nacional de Itatiaia, criado

em 1937, a primeira área protegida no Brasil. Entretanto, há estudos

demonstrando ter sido no território do Acre a primeira reserva de conservação

ambiental brasileira. Instituída no território acreano, no ano de 1911, sob o

Decreto 8.843 de 26 de julho de 1911.

A história da conservação da biodiversidade “in situ”, no Brasil,

começa bem antes do que afirmam muitos autores [...] (TAMBELLINI, 2007, p.

31).

[...] Segundo Andrade Filho (2005, p. 44 apud TAMBELLINI, 2007, p. 31) “a primeira unidade de conservação criada, no Brasil, foi a Reserva Florestal do Acre e ocorreu em 1911”. Essa reserva foi criada pelo Decreto nº 8.843 de 26 de julho de 1911 é a mais antiga ação do governo brasileiro para a conservação da biodiversidade [...] (TAMBELLINI, 2007, p. 31).

O Decreto 8.843 de 26 de julho de 1911, baixado no Governo

Republicano de Hermes da Fonseca, criara a Reserva Florestal do Acre, com

37.000 Km2, abrangendo as bacias dos rios: Acre, Purus-Envira, Gregório e

Rio Juruá, no sudoeste amazônico, cuja razão era a de conter a devastação

desordenada das matas.

Esta reserva não teve sua implementação – ficou esquecida ao

longo de oitenta anos, “não saiu do papel”.

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30 Em decorrência de sua publicação, decretos foram editados na mesma época pela Presidência da República, criando dois Parques Nacionais no então território do Acre. A iniciativa foi tão avançada para o início do século no país, que os decretos caíram no total esquecimento e essas áreas nunca foram implementadas. Apenas recentemente, em meados dos anos 90, descobriram-se esses instrumentos legais e constatou-se que os nossos primeiros parques nacionais já estavam quase completamente destruídos, não havendo mais sentido procurar preservá-los. Somente parte que se salvou de um deles está hoje inserida dentro da Estação Ecológica do Rio Acre (COSTA, 2003 apud MEDEIROS, 2006, p. 45).

2.6 - Primeiro Código Florestal Brasileiro

Com a revolução de 1930, ascendeu ao poder o Presidente Getúlio

Vargas. No ano de 1934 esse governo instituiu ordenamentos jurídicos

voltados para codificar as questões da natureza – Código Florestal Brasileiro,

Código de Águas, Código de Minas. “[...] a chamada Revolução de 30

inaugurou ‘um período de intensa atividade legisferante de conteúdo inovador’"

(COSTA NETO, 2003: p. 118 apud MACIEL, 2011, p. 1).

O Código Florestal, 1934, ofereceu abertura para questões de

proteção ao meio ambiente, e uma dessas questões deu margem para a

criação dos parques nacionais. Entretanto, as normas desse primeiro Código

Florestal Brasileiro não impediu as ações de desmatamento. Na sua

subjacência permitiu a introdução de flora exótica em detrimento da mata

nativa, a exemplo a introdução do eucalyptus, pelo seu grande rendimento.

Dispunha o artigo 19 do código em questão: “Visando maior rendimento

econômico é permitido aos proprietários de florestas heterogêneas transformá-

las em homogêneas executando trabalho de derrubada a um só tempo ou

sucessivamente de toda vegetação a substituir [...]” (BRITO, 2003, p. 55).

[...] a atividade florestal era fundamentada no mais puro extrativismo. Nos Estados do Paraná e Santa Catarina os estoques de Araucaria angustifolia eram rapidamente exauridos. Foi nesse cenário que o Poder Público decidiu interceder, estabelecendo limites ao que parecia ser um saque ou pilhagem dos recursos florestais (muito embora, até então, tais práticas fossem lícitas). A mencionada

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31 “intervenção”, necessária, materializou-se por meio da edição de um (primeiro) Código Florestal, o de 1934 (AHRENS, 2003, p. 6).

Pode ter havido intervenção, mas não impedimento, uma vez que

das quatro classes de florestas legisladas nesse Código (1934), “protetoras”,

“remanescentes”, “modelo”, “de rendimento”; as “de rendimento”, imensa

maioria, ficaram vulneráveis a devastação e a grilagem. A ação controladora

do Estado, incipiente, com pouco raio de abrangência; gestor, Serviço

Florestal, subordinado ao Ministério da Agricultura. Por outro lado, as

ambiguidades. A exemplo, as florestas de rendimento, compreendendo todas

as demais florestas, sendo estas a imensa maioria, cuja classificação de

rendimento (fins econômicos) dava licitude as devastações.

A inércia, por displicência, das autoridades estaduais e municipais, quando não resistência passiva e deliberada, encontra sua explicação na mentalidade reinante no país, incapaz de compreender até hoje que a desflorestação das terras é um mal de terríveis consequências para as regiões onde é praticado. Mas se essa é a lamentável realidade oferecida pelos que governam ou administram que se presumem saírem das elites locais, mesmo constituídos os conselhos, nem por isso ficam interessados seus membros em dar cumprimento ao dispositivo do Código, continuando como dantes as florestas, que deveriam ser declaradas protetoras ou remanescentes, por sua localização, entregues ao machado e ao fogo, mesmo quando revestindo terras ainda devolutas ao patrimônio dos estados e municípios (SWIOKLO, 1990, p. 55 apud BRITO, 2003, p. 54-55).

2.7 - As primeiras áreas protegidas no Brasil

Segundo estudos, o Código Florestal de 1934 era obsoleto, e

tornavam-se dificultosos o cumprimento dos artigos, porém, ofereceu abertura

para questões de proteção ao meio ambiente, e uma dessas questões deu

margem para a criação dos parques nacionais.

Em seu artigo 5º - “Serão declaradas florestas remanescentes:

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32 a) As que formarem os parques nacionaes, estaduaes, ou

municipaes” (BRASIL, 1934).

Em seu artigo 9º:

Os parques nacionaes, estaduaes ou municipaes, constituem monumentos publicos naturaes, que perpetuam em sua composição floristica primitiva, trechos do paiz, que, por circumstancias peculiares, o merecem.

§ 1º É rigorosamente prohibido o exercicio de qualquer especie de actividade contra a flora e a fauna dos parques (BRASIL, 1934).

O primeiro parque posterior a essa Lei foi o Parque Nacional do

Itatiaia. “[...] através do Decreto nº 1.713, o presidente Getúlio Vargas criou o

Parque Nacional do Itatiaia.

A mais antiga reserva ecológica do país [...]” (BORGES, 2008).

Outro avanço nas questões ambientais mencionadas nesse Código

limita o exercício do direito à propriedade. Segundo o Desembargador José de

Castro Meira, em “A origem do Direito Ambiental”, “[...] O Código Florestal de

1934 impôs limites ao exercício do direito de propriedade. Até então os únicos

limites eram os constantes no Código Civil, quanto ao direito de vizinhança.

[...]” (MEIRA, 2011, p. 3).

O Código Florestal (Decreto nº 23.793 de 23/01/1934) não deu certo

devido as dificuldades para interpretá-lo. Com o surgimento da Lei 4.771 de

15/09/1965 este é chamado de “Novo Código Florestal” (INFO ESCOLA, 2011).

2.8 - Evoluções posteriores ao Novo Código Florestal

A mudança mais categórica para as Unidades de Conservação

mencionada nesse novo Código (1965), referiu-se a divisão básica das UCs.

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33 Para o Código Florestal de 1965, as categorias de áreas protegidas eram assim conceituadas:

Parque Nacional e Reserva Biológica – Tem a finalidade de resguardar atributos excepcionais da natureza, conciliando a proteção da flora, da fauna e das belezas naturais com a utilização para objetivos educacionais, recreativos e científicos. Nessas áreas é proibida qualquer forma de exploração dos recursos naturais.

Florestas Nacionais – Têm fins econômicos técnicos ou sociais (BRITO, 2003, p. 58).

Dois anos mais tarde, a Lei de Proteção a Fauna (5197 de

3/01/1967) contribuiu para os Planos de Manejo das Reservas Biológicas e

Parques Nacionais.

[...] além de definir que, nesta unidade de conservação, as atividades de utilização, perseguição, caça, apanha ou introdução de espécimes da fauna e flora silvestres e domésticas, bem como modificações do meio ambiente a qualquer título, são proibidas, ressalvadas as atividades científicas devidamente autorizadas pela autoridade competente (QUINTÃO, 1983, p. 20 apud BRITO, 2003, p. 58).

Nesse mesmo ano, 1967, foi criado o Instituto Brasileiro de

Desenvolvimento Florestal (IBDF), com atribuições mais específicas para as

áreas protegidas no território nacional. Esse órgão tinha como competência

prioritária fazer cumprir o Código Florestal, a Lei de Proteção a Fauna e

administrar o Jardim Botânico do Rio de Janeiro3. Entretanto, este foi mais um

órgão a não ter cumprido as metas a que se destinava.

As dificuldades do IBDF em cumprir suas atribuições aumentavam a cada ano. Em 1969, com a Lei de Proteção à Fauna já em vigor, o Brasil exportou 1.670 toneladas de couros e peles de animais silvestres, um volume bem maior do que o de anos anteriores, quando a caça profissional ainda não era proibida. Somente em abril de 1971, quatro anos depois de promulgada a Lei de Proteção à Fauna, foi eliminada definitivamente a possibilidade de exportação de peles sob a justificativa de que se tratavam de “estoques antigos”.

3 O Jardim Botânico do Rio de Janeiro não teve sua criação voltada para as questões de proteção do meio ambiente. Foi criado para aclimatação de plantas exóticas.

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34 Calcula-se que as exportações de 1969 corresponderam a setenta mil peças de peles de onça e gatos-do-mato, no mínimo4.

Apesar de tudo, uma pequena estrutura, dentro do IBDF, tratava de manter a chama do antigo DRNR. Era o Departamento de Pesquisa e Conservação da Natureza, que tinha, por decreto, a atribuição de conservar os recursos naturais renováveis e, para cumpri-la, foi organizada a Divisão de Proteção à Natureza, que deveria “prover a instalação e funcionamento dos parques nacionais e das reservas biológicas, além de atender a proteção da flora e da fauna”. Entrincheirados nessa divisão, os conservacionistas pressionavam o Governo Federal para a criação de novas áreas protegidas [...] (URBAN, 1998, p. 106-107).

Segundo Meira (2011), dois tópicos são marcantes na evolução da

legislação ambiental no Brasil, Lei 6938 de 31/08/1981, que estabeleceu a

Política Nacional para o Meio Ambiente, na qual, entre as medidas adotadas,

está a exigência do EIA/RIMA (Estudo de Impacto Ambiental / Relatório de

Impacto Ambiental) para obtenção de licenciamento ambiental e a Lei 7347 de

24/07/1985, que institui a Ação Civil Pública.

2.9 - Evoluções posteriores a Constituição de 1988

Chamada de “Constituição Cidadã”, “Constituição Verde”, reservou

vários artigos voltados para questões da natureza. Isso porque, antes da

Constituição de 1988, a defesa e a promoção do meio natural tinha seus

marcos legais pulverizados em leis, decretos, resoluções, portarias etc. Agora,

dentro da Constituição Federal (1988), estão artigos não superficiais mais

enfáticos para defesa das questões de proteção ao meio ambiente.

A exemplo, o artigo 5º, LXXIII,

Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao

4 CARNEIRO, Newton I. da Silva. 370 dias na presidência do IBDF. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1971.

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35 patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência (BRASIL, 1988).

Dessa forma, o cidadão tem um remédio constitucional para assegurar o respeito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (CARDINELLI, 2011, p. 2).

No capítulo VI – Do meio ambiente –, em seu artigo 225, temos que:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988).

Com a Lei 9985 de 18/07/2000, foi estabelecido o SNUC (Sistema

Nacional de Unidades de Conservação), com critérios mais objetivos, para

sistematizar áreas protegidas, as quais, até então, estavam dispersas sob

diversos instrumentos legais.

2.10 - As defasagens nas Leis Ambientais

Ao chegarmos ao final deste capítulo, deparamo-nos com a

continuidade das ações, as quais, conseguem transformar em inócuas medidas

de salvação da biodiversidade. Amparada pelas subjacências arrancadas das

entranhas dos Instrumentos Legais. As respectivas tipologias deixam lacunas

que permitem o descumprimento dos artigos. Há casos de defasagens muito

claras, nas leis ambientais brasileiras, permitindo o pleno exercício – e

protegido pelas leis – do maior dos maiores genocídios praticados pelo

capitalismo: destruir indiscriminadamente a biodiversidade.

A exemplo podemos citar a Constituição de 1988, “Constituição

Verde”, no seu artigo 225, § 4º, não cita os biomas do Cerrado e da Caatinga.

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36 A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais (BRASIL, 2010, p. 165).

A injustificabilidade da ausência dos biomas cerrado e caatinga na

“Constituição Verde” (1988) agrava-se diante das classificações do professor

geógrafo Aziz Ab’Saber5 “Domínios Morfoclimáticos Brasileiros” (figura 3). Em

anexo a figura 4, mapa original de Aziz Ab’Saber (anexo 3).

Figura 3: Domínios morfoclimáticos brasileiros. Adaptado de Aziz Ab’Saber, 1965 (FILIZOLA, 2005, p. 154).

5 Geógrafo e professor universitário brasileiro, sendo considerado como referência em assuntos relacionados ao meio ambiente e impactos ambientais decorrentes de ações antrópicas. Membro Honorário da Sociedade de Arqueologia Brasileira, Grão Cruz em Ciências da Terra pela Ordem Nacional do Mérito Científico, Prêmio Internacional de Ecologia de 1998 e Prêmio UNESCO para Ciência e Meio Ambiente, Professor Emérito da USP.

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37 Em relação ao cerrado, temos que:

[...] A integração da região central do país aos mercados de consumo interno e externo se, de um lado, beneficia os produtores agropecuários, de outro amplia os impactos ambientais, dentre eles o desmatamento, a erosão dos solos e o envenenamento, tanto das terras como das águas, pelo uso excessivo de agrotóxicos e adubos químicos (FILIZOLA, 2005, p. 166).

Já com relação à caatinga,

[...] É importante ressaltar que os solos do Sertão são de boa fertilidade, pois são ricos em nutrientes, ao contrário dos solos da Amazônia. Portanto, se iniciativas forem tomadas de modo a assegurar o abastecimento de água e conter o desmatamento, a população sertaneja, na sua quase totalidade de baixa renda, e o ambiente, seriam amplamente beneficiados. Contudo, poucos têm sido os empreendimentos voltados para emancipação dessa população (FILIZOLA, 2005, p. 168).

Em agosto de 2003, em cooperação com o MME, o IBGE editou o

Mapa de Biomas do Brasil (figura 5).

Neste mapa percebemos outra defasagem: limites rigorosos entre os

biomas; não são mencionadas as faixas de transição, isto é, a passagem de

um bioma para o outro, áreas tão importantes quanto as partes centrais. A

exemplo, a mata de cocais6 que faz a transição entre os biomas da Caatinga,

Floresta Amazônica e Cerrado.

Segundo o IBGE, em sua pesquisa Indicadores de Desenvolvimento

Sustentável, referente ao ano de 2010, o Cerrado teve sua cobertura reduzida

praticamente à metade de sua área original (1.052.708 Km2), apresentando sua

área total desmatada em 48,37%, isto até o ano de 2008 (RAFAEL, 2010).

6 Na faixa de transição entre os biomas Cerrado, Floresta Amazônica e Caatinga, contém duas fontes de extrativismo de destaque na geopolítica brasileira: o babaçuzeiro e a carnaubeira – Mata dos Cocais.

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38

Figura 5: Mapa dos biomas brasileiros (IBGE, 2003).

De acordo com Vinicius Sassine, do Correio Braziliense,

Com quase 20 mil nascentes, o Cerrado irriga seis das 12 regiões hidrográficas brasileiras e tem papel decisivo no abastecimento do Pantanal, situado na Bacia do Paraguai, e da Amazônia, na Bacia Amazônica. O bioma funciona como uma caixa d’água para 1,5 mil cidades de 11 estados, do Paraná ao Piauí, incluindo o Distrito Federal. Mas a fonte seca de forma dramática. Há provas suficientes da morte no berço das águas (SASSINE, 2011).

Buscando a fala de Serafini Júnior, sem que o Cerrado e a Caatinga

fossem citados na Constituição de 1988, houve o favorecimento de sua

exploração desenfreada (SERAFINI JÚNIOR, 2011).

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39

CAPÍTULO III

A GEOPOLÍTICA DA REBIO TINGUÁ

Nos capítulos anteriores mencionamos as violações dos

instrumentos legais, sob diversas justificativas, em detrimento do meio

ambiente. Consequentemente as formulações desses capítulos fizeram-se

necessárias objetivando entender porque a Reserva Biológica de Proteção

Integral do Tinguá encontra-se na constante posição de defesa, opondo-se as

intervenções antrópicas.

Nos perpasses pela história evolutiva dos instrumentos legais,

voltados para amenizar a degradação da natureza, percebemos que a

necessidade inadiável de proteger os fragmentos da biosfera, é sempre

vencida pelos interesses econômicos. A exemplo, conferências internacionais:

COPs e outras, pelos tempos afora, as quais parecem maquiagem de uma

ética que o homem não aprendeu a ter, e vem deixando que cada vez mais

submirjam-se no pélago do capitalismo.

[...] A pretensa superioridade racional da condição humana sobre a natureza serviu de legitimação ideológica para a sua exploração incondicional. Tudo se curva e se cala quando se atua em nome da civilização, eis a palavra de ordem do homem alienado da consciência natural [...] Mito moderno do progresso tal como propagado pela cultura européia, seja na Filosofia Positivista como nas suas aplicações concretas. O Positivismo propõe como lema o Amor por princípio, a Ordem por base e o progresso por fim. Podemos então afirmar que o tecnicismo jamais amou a natureza, explorando-a desordenadamente em nome do fabuloso progresso. As inovações técnicas do mundo moderno trouxeram consigo um contraponto difícil de ser contornado por nós: a manutenção do conforto material associado ao uso consciente dos recursos naturais de um planeta em estado de exaustão vital [...] (BITTENCOURT, 2011, p. 18-19).

O texto, por si, corrobora não ser contra o progresso: “associado ao

uso consciente dos recursos naturais” (BITTENCOURT, 2011, p. 19).

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40 3.1 - Área de estudo

Esse paradigma, Rebio do Tinguá, enfrenta diversas violações, sob a

justificativa do “progresso”, que apresentam-se em detrimento do meio

ambiente. Porém, os ambientalistas tinguaianos e outros, em muitas das

vezes, são frágeis diante do trator devastador capitalismo.

Haja vista que, a reserva em discussão tem na sua área de

amortecimento, e rasgando o seu interior, empresas de alto risco de poluição,

as quais serão detalhadas mais a frente. Além do mais, as devastações e as

extrações fazem-se presentes, financiadas por grandes interesses. A exemplo,

o assassinato do ambientalista policial aposentado Dionísio Júlio Ribeiro Filho,

morto pelo caçador Leonardo de Carvalho, réu confesso.

Segundo a revista Veja, de 02 de março de 2005, o “Tio Júlio”, como

era popularmente conhecido, organizava patrulhas voluntárias para ajudar o

IBAMA a fiscalizar crimes ambientais na região do Tinguá. Foi morto pelo

caçador Leonardo de Carvalho. “O Tinguá [...] é alvo de companhias

clandestinas de extração de palmito e de caçadores especializados em

contrabando de animais silvestres” (LIMA; COUTINHO, 2005).

3.1.1 - Denominação

Tinguá, palavra de origem Tupi-Guarani, significa pico em forma de

nariz. Essa montanha é formada por tinguaíto, rocha alcalina descoberta e

descrita pela primeira vez na Serra do Tinguá (TORRES, 2004).

3.1.2 - Criação

Este fragmento de Mata Atlântica (Rebio Tinguá) tem sua

classificação a partir do ano de 1941.

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41 Sua criação deu-se após intenso trabalho desenvolvido junto aos mais velhos residentes e segmentos da sociedade.

A região onde foi criada a Reserva Biológica do Tinguá refere-se atualmente, a parte mais preservada da antiga Floresta Protetora da União Tinguá, Xerém e Mantiqueira, criada pela União através de um Decreto datado de 1941 e que abrangia 50.000 há apenas no Município de Nova Iguaçu, de acordo com o antigo Código Florestal, em 1934. Florestas Protetoras diziam respeito a “áreas extensas não habitadas de difícil acesso e em estado natural, das quais ainda são necessárias conhecimento e tecnologia para uso”.

Passado mais de um século a Reserva foi então oficializada em 23 de maio de 1989, pelo Decreto Federal nº 97.780, com o objetivo de proteger esta amostra representativa da Mata Atlântica, sua flora, sua fauna, seus recursos naturais, especialmente seus recursos hídricos. Em 15 de fevereiro de 1993, por decisão do Conselho Internacional da UNESCO, foi decretada Reserva da Biosfera da Floresta Atlântica (DIAS; DIAS; XAVIER, 2002, p. 9).

3.1.3 - Localização

A Rebio do Tinguá possui 26.000 hectares de área, com perímetro

não estaqueado, englobando Nova Iguaçu (55,14%), Duque de Caxias

(37,44%), Petrópolis (4,26%), Miguel Pereira (3,16%) (PINTO SOBRINHO,

2007). As coordenadas geográficas tomadas por GPS, defronte a sede social

da Rebio do Tinguá são: 22º22’20” e 22º45’00” de latitude sul com 43º40’00” e

43º05’40” de longitude oeste. Estes valores aproximam-se dos apresentados

por Felipe Araújo Pinto Sobrinho: “coordenadas: 22º 28’ e 22º 39’S; 43º 13’ e

43º34’W” (RODRIGUES, 1996 apud PINTO SOBRINHO, 2007, p. 18).

Dista 70 Km da cidade do Rio de Janeiro e 16 Km do centro de Nova

Iguaçu, via Distrito de Vila de Cava. Sua sede social está localizada na

Estrada do Comércio, 3.400, Tinguá, Nova Iguaçu. Telefones: (21) 3767-7009

/ 2633-7211. Sua administração está a cargo do Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade (ICMBio), situada no extremo nordeste do

município de Nova Iguaçu, sede social (DIAS; DIAS; XAVIER, 2002), local de

onde partimos, objetivando enfocar as áreas limítrofes frontais (figura 6).

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42

Figura 6: Rebio Tinguá. (Foto: Antonio Ozires).

3.2 - Meio físico

As serras da Rebio do Tinguá é um corpo plutônico formado por

rochas magmáticas, bastante antigas, Era Proterozóica, ou seja, com mais de

600 milhões de anos, com especificidade para o “tinguaíto”, rocha alcalina

cujos afloramentos só ocorrem em Tinguá. Segundo Torres (2004, p. 148),

“[...] O Maciço de Tinguá é formado por rochas alcalinas bastante raras, entre

elas uma que só existe lá, o tinguaíto”. Em entrevista pessoal, realizada com o

geólogo e professor da UERJ, professor Botock, o nome técnico desta rocha é

Saprolito.

O clima é tropical úmido com temperatura variando entre 15ºC a

27ºC nas partes baixas. As encostas da Serra do Mar e do Maciço do Tinguá

provocam as chamadas chuvas orográficas (ou de relevo), portanto, não há

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43 estação seca. Nas altimetrias superiores a 500m a temperatura cai chegando

a 0ºC no inverno, tipo climático conhecido como tropical de altitude.

A hidrografia tem como divisores de águas as serras do Couto,

Macuco e do Tinguá, cujos rios drenam para as bacias Ocidente e Oriente. Os

rios da Bacia Ocidental deságuam no Rio Guandu que por sua vez desemboca

na Baía de Sepetiba. Os rios da Bacia Oriental nos remete com especificidade

para o rio Tinguá, que nasce das micro bacias e sub bacias, dentro da Rebio,

deságua no rio Iguaçu, hoje ligado artificialmente ao rio Sarapuí, que

desemboca na Baía de Guanabara.

Estudos acadêmicos têm se pautado na variedade de insetos, anuros

(o menor anfíbio já catalogado, o sapo pulga, endêmico, com 1 centímetro de

comprimento quando adulto).

Na flora, encontramos o histórico Pau Brasil, os medicinais Pau

Pereira e a Copaíba, o cosmético Jaborandi e as palmeiras do alimento

palmito.

Na fauna, grandes espécies de mamíferos como a anta, a onça-

parda, esta por sua vez necessita de grande área para sobrevivência

(TORRES, 2004; DIAS, DIAS, XAVIER, 2002).

3.3 - Tópicos históricos da configuração territorial

As primeiras presenças humanas datam de milênios A.P. com a

presença dos povos sambaqueiros. A transgressão marinha atingia Belford

Roxo, permitindo a sobrevivência desses habitantes coletores de moluscos,

pescadores, praticantes de agricultura rudimentar. Construíam montanhas cuja

matéria-prima básica era o exoesqueleto7 de moluscos (as conchas em

maioria) e crustáceos. “[...] o Sambaqui de São Bento era de encosta tendo

7 Os exoesqueletos dos crustáceos são bem menos encontrados, uma vez que possuem menores teores quimicamente conservacionais, o que acarretou uma maior decomposição no transcorrer do tempo.

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44 mais de 7 m de altura o que permitia a seus construtores uma vista panorâmica

da Baía da Guanabara [...]” (SOUZA; BEZERRA; CORDEIRO, 2007, p. 7). A

figura 7 é o marco do local onde existiu um sambaqui, nomeado pelos

arqueólogos como Sambaqui do São Bento.

Figura 7: Marco do Sambaqui do São Bento. (Foto: Antonio Ozires).

[...] O território que denominamos Baixada Fluminense já foi palco da presença dos povos das conchas. Vestígios de materiais desses homens antigos podem ser encontrados no Sambaqui do São Bento e no de Iguaçu. Os povos das conchas viveram no Rio de Janeiro e nas cercanias da Guanabara entre 8 a 3 mil anos Antes da Presente (A.P.) [...](SOUZA; BEZERRA; CORDEIRO, 2007, p. 7).

Segundo essa equipe de historiadores, ainda não foi possível saber

se os sambaqueiros foram dizimados ou incorporados ao modo de vida dos

Tupinambás. Os guerreiros Tupis por volta de 3 mil anos A.P. foram ocupando

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45 o litoral fluminense, e segundo escavações arqueológicas, os sambaqueiros

possuíam pouca estatura e não eram muito voltados para a guerra. Durante a

ocupação portuguesa nas cercanias da Guanabara, foram feitos registros da

presença de uma aldeia Tupinambá denominada Jacutinga, localizada entre os

rios Meriti e Iguaçu (atual centro de Caxias, até o Pilar) (SOUZA; BEZERRA;

CORDEIRO, 2007, p. 7).

3.4 - Ocupação colonizadora

Com a expulsão dos franceses hunguenotes, protestantes

calvinistas, e seus aliados tupinambás, dizimados, os que restaram foram

escravizados.

O Padre José de Anchieta, na sua “DI GESTIS A MENDI DE SAA”

conta esta batalha:

[...] Os inimigos resistem com denodo aos assaltantes, rolando pedras enormes, mas aos esquadrões de Cristo nem flechas nem pedras conseguem parar [...] Foge o selvagem. Persegue-o, alcança-o, mete-lhe a espada, vara-lhe o peito [...] Cento e sessenta foram as aldeias incendiadas, mil casas arruinadas pela chama devoradora, assolados os campos, com suas riquezas, passadas tudo a fio de espada [...] Morreram muitos à míngua perdidos na selva, e, fato horroroso! Com as próprias mãos, pais desumanos mataram os filhos, que pelos bosques os seguiam chorando, para que o choro deles não atraísse o inimigo [...] estava arrasado o último reduto dos Tamoios. Seus chefes estavam mortos. Aimberê, Igaraçu, Pindobuçu e seu filho Parabuçu, o francês Ernesto e sua mulher Guaraciaba tiveram suas cabeças cortadas e espetadas em estacas, porque “Daquela raça maldita de Tamoios nada haveria de subsistir nas terras conquistadas pelos portugueses” (TORRES, 2004, p. 16-17).

Pelos relatos do Padre José de Anchieta, percebemos que a batalha

final foi travada contra os índios Tupinambás, ainda porque não faz citação que

justifique a presença de franceses.

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46 3.4.1 - Prevenção

O governo português para evitar novas invasões providenciou a

ocupação territorial, usando o princípio da doação de terras pelo sistema de

sesmarias. De 1565 até 1692, setenta sesmarias aproximadamente ocuparam

a Baixada Fluminense Política. Colonos portugueses, escravos índios e negros

(TORRES, 2004).

3.4.2 - Morada

Segundo Torres (2004), as casas de pau-a-pique, cobertas de sapê,

um complemento mútuo de habitação africana com indígena. Poucas eram as

casas de tijolo cozido.

Crescendo vagarosamente, o casario dessa gente chegadiça

formaram os primeiros arruamentos próximo aos rios. A capela, o cemitério, as

missas, os batizados e o compadrio, origem dos nossos atuais municípios. A

exemplo, a Igreja de Nossa Senhora da Piedade do Inhomirim (1677), onde foi

batizado o Duque de Caxias em 25 de agosto de 1803. Pelo rio Inhomirim

entraram e se estabeleceram os colonos onde hoje “serra acima” e “serra

abaixo” Petrópolis e parte de Magé. Inhomirim em Tupi-Guarani significa

campo pequeno.

3.5 - Ciclo do ouro

Fugir da pirataria francesa, encurtar percurso, fez o “ouro” mudar-se

de Parati para a Baixada Fluminense. Portos, caminhos, entroncamentos

uniram-se para esse fruto do suor escravo passar (TORRES, 2004). A

exemplo, o Porto Estrela, as margens do rio Inhomirim, penúltimo centro dessa

rede dendrítica (figura 8).

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47

Figura 8: Rede dendrítica. Adaptado por Antonio Ozires (CORRÊA, 2010, p. 48).

3.5.1 - Os Inconfidentes

Pelo Caminho do Inhomirim, embarcando no Porto Estrela, desceram

acorrentados os Inconfidentes rumo ao cárcere, e por onde retornou

esquartejado o corpo de Tiradentes (TORRES, 2004).

3.6 - Ciclo do café

3.6.1 - Ascensão

Século XIX (1811) – Implantação da primeira estrada brasileira para

o transporte desse grão. A Estrada Real do Comércio, construída por braço

4

4

4

4

2 1

4

3

5 5 5

5 5 5 5 5

5

5

5

5 5 5 5

5 5

Rede hidrográfica – transporte fluvial e lavagem do ouro

Fluxo ascendente – bens de consumo + instrumentos de trabalho

Fluxo descendente – Ouro

1 – Porto marítimo 4 – Embarque em lombos de mula 2 – Rio Inhomirim 5 – Pequenos transportes fluviais e 3 – Porto Estrela Inhomirim (fluvial) extração / lavagem do ouro

4

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48 escravo, calçada pelo Cel. Engº Conrado Jacob de Niemeyer, a qual ligava o

Vale do Paraíba, cortando a Serra do Tinguá, chegando ao Largo dos

Ferreiros, situado junto ao porto, da hidrovia – Rio Iguaçu x Baía de

Guanabara, na Cidade do Rio de Janeiro. Em trapiches, embarcações de

carga da época (transportavam toneladas), a produção escoava sobre as

águas do rio Iguassu, que deu nome à posterior Cidade de Nova Iguaçu. Nos

armazéns de descarga, recarregavam com produtos comercializáveis para

viagem de retorno8 (TORRES, 2004).

3.6.2 - Pousada

Em local de repouso de tropeiros, no interior da serra, a margem da

Estrada Real do Comércio, ergueu-se a Freguesia de Santana das Palmeiras

(TORRES, 2004).

3.6.3 - Decadência

Com a criação das ferrovias, o transporte foi transferido para os

trens. A Estrada Real entrou em obsoletação, o Porto de Iguassu e Freguesia

de Santana das Palmeiras entraram em total decadência. Restam as ruínas

(TORRES, 2004).

8 Em Duque de Caxias, no bairro Amapá, nas proximidades do Rio Iguaçu, foram resgatados um machado de pedra, além de cerâmica tupi-guarani. Em outro ponto, os arqueólogos encontraram louça do século XVI, provavelmente de fabricação portuguesa, uma garrafa da bebida Genebra, da mesma época, além de um relógio de sol e um peso de rede. Desta forma, havia indícios de que esta seria a região onde se localizava o Porto do Barriga, que os arqueólogos e historiadores buscam pistas. Como o sítio fica próximo ao Rio Iguaçu, esta hipótese não deve ser descartada (PREFEITURA DE DUQUE DE CAXIAS, 2011).

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49 3.7 - De Iguassu a Nova Iguaçu passando por Maxambomba

3.7.1 - De Iguassu para Maxambomba

Com a implantação do transporte ferroviário os fluxos deslocaram-se

para os trilhos, e o povoado de Maxambomba, outra parada de tropeiros,

passou a ser o novo centro de circulação de mercadorias e capitais. Local

onde hoje encontra-se a Igreja de Fátima e São Jorge no centro de Nova

Iguaçu.

Os portos [...] Estrela e Iguaçu entraram então em profundo declínio. No ano de 1891, o então governador Portela transferiu a sede municipal das bordas do rio Iguassú para a beira da estrada de Ferro Central do Brasil, num local chamado Maxambomba (RODRIGUES, 2006, p. 35).

3.7.2 - De Maxambomba para Nova Iguaçu

Já no ano de 1916, seguindo a iniciativa do político Manuel Reis, o

nome do município que era Maxambomba é mudado para Nova Iguaçu, sendo

que três anos após esta mudança, foi construída a sede da prefeitura municipal

(RODRIGUES, 2006).

3.8 - Prefeito confundiu tombamento com “derrubamento”

Com a destruição de documentos históricos, o acervo da história

iguaçuana perdeu-se abruptamente pela insanidade do prefeito Antonio

Joaquim Machado, que em 1968 confundiu tombamento com “derrubamento”,

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50 ordenando a demolição do prédio onde funcionava a prefeitura iguaçuana,

erguido na antiga Maxambomba, com arquivos vindos desde o tempo da sede

as margens do rio Iguassu (anexo 4). “[...] Antonio Joaquim Machado

confundindo tombamento com derrubamento, executou o prédio, demolindo o

mais importante símbolo da autonomia municipal, erguido na antiga

Maxambomba [...]” (TORRES, 2004, p. 105). Na fala deste mesmo autor,

nessa demolição foram-se documentos dos primórdios de Nova Iguaçu, mesmo

com o árduo trabalho de historiadores que vasculharam entulhos, sob as

máquinas de remoção e transporte, procurando recuperar o que fosse possível.

3.9 - Tinguá e a derrota da seca

A história tinguaiana liga-se ao processo de devastação da Bacia

Hidrográfica do Rio Maracanã. Essa devastação implicou na redução do

volume hídrico, causando problemas no abastecimento da Cidade Imperial,

consequentemente, a proliferação de epidemias assolavam-a. Somava-se ao

caos situacional as críticas tenazes de Rui Barboza no jornal Diário de Notícias.

O Imperador Dom Pedro II solicitou publicamente que fossem apresentadas

solução definitiva.

Dos projetos apresentados, tomou vulto o do Engº Paulo de Frontim:

Água em seis dias, ao custo de oitenta mil contos de réis (figura 9).

O desafio concretizou-se com as águas de Tinguá. Os

abastecimentos encontram-se até hoje, sob administração da Companhia

Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE), sob o nome: Sistema Acari.

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51 Angelo Agostini/reprodução Lula Rodrigues

O aqueduto do Tinguá, na charge de Agostini: Frontin dá um banho no governo

Figura 9: Charge sobre a água em seis dias captada em Tinguá (VEJA NA HISTÓRIA, 1889).

3.10 - Ferroviarismo

A expansão do ferroviarismo e a ocupação territorial estão

estreitamente ligadas aos mananciais de Tinguá, a partir do segundo meado do

século XIX.

A Estrada de Ferro Rio D'Ouro começou a ser construída em 1876, para o transporte dos tubos de ferro e demais materiais, que completaram as obras de construção das redes de abastecimento d'água, asseguradas por um contrato assinado e dirigido pelo Dr. Paulo de Frontin, obrigando-a fornecer o precioso líquido no prazo de seis dias à Cidade do Rio de Janeiro.

Somente em 1883, em caráter provisório, começaram a circular os primeiros trens de passageiros que partiam do Caju em direção à represa Rio D'Ouro.

A Baixada Fluminense seria mais tarde dividida em três sub-ramais: Ramal de São Pedro, hoje Jaceruba; ramal de Tinguá, que se iniciava em Cava (Estação José Bulhões); e o ramal de Xerém, partindo do Brejo, hoje Belford Roxo. [...] (PERES, 2011).

3.11 - Outro modelo devastador de Tinguá

Das devastações para o plantio de café e das extrações de madeiras

sobraram as montanhas íngremes. Com a chegada da Estrada de Ferro Rio

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52 D’Ouro, criada em função da construção dos mananciais, ao ser transformada

para o transporte de passageiros, tem aí mais uma razão para serem

divulgadas as fantásticas histórias tinguaianas: solução de abastecimento de

água para a Corte, as cachoeiras, a imensidão da flora, a variedade da fauna,

que transformou os primeiros habitantes em negociantes de ganhos fáceis e

rápidos, dependendo somente da captura ou extração.

As proximidades com a cidade do Rio de Janeiro, encurtada com a

chegada da ferrovia, servindo aos grandes municípios do entorno, incentivou o

mercado de encomendas e vendas de toda espécie de produtos da floresta: de

óleo de copaíba, venenos de cobras, de aranhas a carnes exóticas.

3.11.1 - Centro da comercialização

O centro de comercialização encontra-se na feira de animais na

cidade de Duque de Caxias, também servida pela Estrada de Ferro Rio D’Ouro.

Segundo Sick & Teixeira (1979) apud Padrone (2004), a feira de

animais de Duque de Caxias é considerada a maior do país nesta espécie de

comércio, apesar de ter sido fechada em 1969.

Ainda segundo os mesmos autores, até 1987 eram encontrados

3000 animais a venda a cada fim de semana, sendo surpreendente a

variedade.

3.11.2 - Presença de quadrilhas

Hoje em dia aventurar-se a caça e ao extrativismo é arriscado. A

floresta está loteada por quadrilhas, há a escassez de produtos e a atuação da

Polícia Federal para coibir estas práticas.

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53 Depois de enfrentar uma troca de tiros que durou cerca de cinco minutos dentro de mata densa, mas que não deixou feridos, policiais federais prenderam três caçadores, um palmiteiro e um comerciante que comprava palmito extraído ilegalmente, durante uma operação na Reserva Biológica do Tinguá, em Nova Iguaçu. [...] A operação na Reserva do Tinguá começou domingo, depois que oito policiais, entre eles o próprio delegado Alexandre Saraiva, chefe da Delegacia de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico (Delemaph) da PF do Rio, acamparam na reserva. Anteontem, depois de caminharem mais de cinco horas, os policiais encontraram cinco caçadores que montaram um acampamento na mata. Na aproximação, os federais foram recebidos a tiros. Dois caçadores conseguiram fugir e três foram presos. [...]

No acampamento, os policiais encontraram um tatu , uma paca e uma cutia, todos recém abatidos, além de três espingardas calibre 24 (usadas como escopetas), 20 trabucos (espécie de arma usada em armadilhas), material para confecção de munição (pólvora, espoleta e projéteis), roupa de camuflagem militar (gandola, cinto e mochila) e 13 cartuchos de espingarda calibre 24. [...] o palmiteiro Luiz Penha, que já havia sido preso outras duas vezes pela Polícia Federal e cumprido três anos de prisão. Com ele foram recolhidos 50 caules de palmito in natura e aproximadamente 120 frascos de palmito em conserva. Também foi preso o comerciante José Jurimar Alves de Assis, que comprava os palmitos de Luiz Penha. Ele ainda tentou, ao receber voz de prisão, subornar os policiais federais (WERNECK, 2007, p. 23).

3.12 - Os sítios no entorno

As áreas situadas no entorno da Rebio do Tinguá, obtidas junto ao

INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), mediante títulos

de posse, vêm sendo negociadas para terceiros. Poucas restam com a

finalidade para a qual foram destinadas. As que persistem é com a plantação

de aipim e banana, razão da Festa Anual do Aipim e recentemente a Festa da

Banana.

Esses sítios renegociados dão lugar ao ecoturismo, cujos fundos,

limitando com a floresta densa, dão lugar a outro tipo de devastadores, os

caçadores esportivos (hobby). Por não possuírem habilidade de locomoção no

interior da floresta, além do risco de conflitarem com quadrilheiros, caçadores

profissionais, os esportivos fazem o percurso em linha reta, fundos do sítio x

rancho, e vice-versa.

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54 Em relação às invasões, mesmo não havendo demarcações por

estaqueamento, percebe-se moradias de entorno adentrando a Reserva. As

pedras do calçamento da histórica Estrada Real do Comércio são removidas e

sendo utilizadas em barragens, para piscinas de água natural dos sítios, enfim,

vão para as construções (figura 10).

Figura 10: Estrada Real do Comércio atualmente. (Foto: Antonio Ozires).

3.13 - Recategorização

Pautada na sustentabilidade, vislumbrando uma das suas

ramificações, o ecoturismo, com especificidade para a Rebio do Tinguá,

mostra-se inviável a proposta de recategorização dessa área, isto é,

transformá-la em parque. Mamíferos em fase de extinção encontram refúgio

na reserva, dentre eles espécies que necessitam de grande área para manter

seu território, além do mais, toda a reserva é cortada por micro bacias que

abastecem os mananciais. Na maior das ingenuidades, é percebido que seus

mananciais estão longe de qualquer semelhança no tocante à economia e

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55 excepcionalidade da água, quase zero de potabilizantes, o que é um

investimento natural, sendo a saúde a maior beneficiada. Em matéria do Jornal

O Globo, edição de 6 de maio de 2003, “A química da água”, matéria escrita

pelo jornalista André Trigueiro, cariocas e paulistas tornaram-se “dependentes

químicos” quando o assunto é água potável (TRIGUEIRO, 2003). A exemplo, a

rede hidrográfica que alimenta a Estação de Tratamento do Guandu, são rios

que recebe todo tipo de eutrofização.

Os rios dos Poços e Queimados nas proximidades da Estação de Tratamento de Águas do Guandu estão frequentemente cobertos por vegetação flutuante, pois esses rios têm altíssima concentração de matéria orgânica que alimenta as plantas. O rio dos Poços é um dos mais poluídos de toda macrorregião da bacia hidrográfica do rio Guandu. Ele vai descendo, forma uma grande lagoa e se junta ao rio Guandu (TRIGUEIRO, 2003).

Existem fortes especulações desde a época do ex-ministro do Meio

Ambiente e atual Secretário do Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro,

Carlos Minc, em mudar a categorização da citada Reserva, transformando-a

em parque ecológico, o que permitirá legalmente o adentramento do fluxo

humano, que atraídos pelo verde, pelas cachoeiras, piscinas de água natural,

programações “vips" nos sítios do entorno, já causam grande movimento

pendular de população.

[...] as piscinas de água natural construídas no entorno da Rebio, onde o banho é cobrado por comerciantes. Alguns destes empreendimentos chegam a receber 15.000 pessoas por dia. Com a mudança de categoria da UC indubitavelmente haverá um deslocamento desses banhistas para o interior da UC, o que pode comprometer a qualidade da água utilizada para o abastecimento público (RUIZ, 2009, p. 2).

[...] Ambientalistas ligados ao Fórum Ecossocial da Baixada Fluminense vem atuando com insistência para anular as manobras de bastidores que vem sendo tramadas para recategorizar a reserva. O ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, vem sinalizando e trabalhando de forma mais ou menos ostensiva em favor da proposta pró-parque, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente.

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56 Uma das formas que os defensores da reserva encontraram para combater a idéia foi o recolhimento de assinaturas em abaixo-assinado, da mesma forma que há 21 anos. Primeiramente, em papel, e mais recentemente na forma on line, onde se pode assinar digitalmente em http://www.petitiononline.com/tingua/petition.html.

A Reserva Biológica do Tinguá, como expressão e símbolo de uma conquista popular, segue seu destino. A mesma polêmica que cercou sua criação agora está de volta, muito por culpa da gestão anterior da unidade, que não soube ou não quis dar respostas às imensas demandas sociais e ambientais acumuladas ao seu redor. Podemos, sem medo de errar, chamá-la de nossa Amazônia do Sudeste, o nosso pulmão verde da Baixada Fluminense [...] (PORTUGAL, 2010).

3.14 - Grandes empresas poluidoras

Segundo estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisas e

Planejamento Urbano e Regional (Ippur/UFRJ), o descumprimento das normas

ambientais, é que é a origem dos conflitos que se manifestam no Estado do Rio

de Janeiro. Por conseguinte, neste tópico, vamos trabalhar com as instalações

altamente poluidoras, situadas na área de amortecimento da reserva, e as que

rasgam a área causando além dos riscos, o efeito de borda.

Petrobrás Transporte S/A – TRANSPETRO: Os dutos Orbel 1 e

Orbel 2, para o transporte de nafta e o gasoduto Rio-Belo Horizonte. As faixas

de transporte por onde passam os dutos apresentam-se com vegetação

rasteira onde foi floresta, a permitir as inspeções por parte dos andarilhos da

empresa. Pelo volume dessas obras percebemos a dimensão impactante

causada pela poluição sonora, trilhas rompidas, ninchos desfeitos e o efeito de

borda.

Em matéria do Jornal O Globo de 03 de novembro de 2003, intitulada

“O oleoduto da discórdia”, o jornalista Paulo Marqueiro menciona que “no

EIA/RIMA, encomendado pela Petrobrás, há 33 hipóteses de vazamento”

(MARQUEIRO, 2003), e ainda mais, sem que fossem levadas em consideração

as evidências flagrantes de risco de acidentes geomorfológicos, a exemplo,

desprendimento e rolagem de matacões, uma vez que os dutos atravessam

serras.

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57 O oleoduto terá influência direta ou indireta em algumas reservas ambientais. Ele deverá passar a cerca de 800 metros da Reserva Biológica de Poço das Antas, em Silva Jardim, que abriga micos-leões-dourados e preguiças-de-coleira, espécies ameaçadas de extinção. Na Reserva Biológica do Tinguá, povoada por 296 espécies de aves, o empreendimento atravessará uma área de quatro hectares.

De acordo com o estudo, os efeitos diretos da construção do oleoduto serão sentidos numa faixa de 200 metros para cada lado. Os dutos serão projetados para operar 24 horas.

Na maior parte do trajeto, o grau de sensibilidade ambiental varia de médio-alto a muito alto. Os trechos mais sensíveis são os de Quissamã, Macaé, Nova Iguaçu e Japeri (MARQUEIRO, 2003) (figura 11).

Figura 11: Transporte dutoviário que atravessa a Rebio do Tinguá. Fonte: Souza (2003).

Furnas: Estação de distribuição e setor de pesquisas. Instalada em

área de amortecimento da Rebio do Tinguá, estende suas torres e

cabeamentos atravessando a Reserva. Entretanto, foi durante muitos anos

depósito de substância altamente cancerígena (óleo ascarel).

Problemas relacionados à disposição ou depósito inadequado de rejeitos tóxicos somam o quadro de agressões ambientais ao distrito de Vila de Cava. Este é o caso da empresa Furnas, localizada no

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58 bairro de Adrianópolis, que usava no local um depósito de materiais contaminados por ascarel, considerado um dos maiores do estado. Tal depósito recebeu resíduos provenientes de outras sedes da empresa de vários estados brasileiros ao longo de mais de 10 anos (VIÉGAS, 2011, p. 18).

3.15 - Zona de sacrifício

Segundo o sociólogo Robert Bullard dos EUA, o Departamento de

Justiça Ambiental na Agência de Proteção Ambiental nos EUA (Environmental

Protection Agency – EPA), esta área é classificada “zona de sacrifício”.

O Distrito de Vila de Cava está localizado no entorno direto da

Reserva Biológica do Tinguá.

Tal região tem sido cenário de agressões ambientais, tais como: lixão da Marambaia; aterro sanitário de Adrianópolis; despejo de produtos químicos pela Fábrica de Papel Paineira Ltda.; abandono de resíduos tóxicos pela Cerâmica Açores [...]

O aterro de Adrianópolis, situado no bairro de Adrianópolis, entrou em operação em fevereiro de 2003, sob a justificativa da necessidade de se encerrar com as atividades do Lixão da Marambaia, que apresenta graves impactos ambientais [...]

Em outra vistoria do DRM, constatou-se a poluição do lençol freático por chorume. Segundo os peritos do órgão, o rio Iguaçu, o canal das Flechas, alguns brejos e pelo menos uma nascente localizada próximo ao vazadouro requeriam cuidados especiais após o encerramento das atividades do último. Desde então, o Lixão da Marambaia vem sendo coberto por argila e virou um grande passivo ambienal (VIÉGAS, 2011, p. 15-16).

Atualmente, em Adrianópolis, está instalada a Companhia de

Tratamento de Resíduos de Nova Iguaçu, empresa particular, que com

tecnologia moderna processa 1,5 toneladas de lixo diário. Ocupa a área de 1,2

milhões de metros quadrados e tem a capacidade de 30 anos de operação,

área esta que por um longo período de tempo (aproximadamente 400 anos)

não poderá ser ocupada por residências.

Não há garantia quanto ao vazamento de chorume, uma vez que,

nas operações de despejo, vazamento de lixo, pode haver a perfuração da

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59 camada de argila atingindo a manta asfáltica que possui 0,6 mm de espessura

(a manta), cujas emendas são feitas sob a forma de fusão.

A Prefeitura não mantém controle das análises laboratoriais. Se for

constatado vazamento a produção irá parar? Será anunciada a contaminação

do lençol freático? Não há nenhuma justificativa que contrarie o processo de

tratamento de lixo da cidade de Unaí, com percentual irrisório de qualquer

risco, no Estado de Minas Gerais.

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CONCLUSÃO

Nas veiculações da Educação Ambiental são lançados de maneira

impercebível, indireta, os fardos de culpa do caos ambiental sobre os ombros

de quem cujo acesso ao cognitivismo e a epistemologia foram poucos ou

inteiramente inatingíveis.

A Educação Ambiental é contribuinte, porém, absorvida pela

infringência do consumismo.

Segundo Gabriela Cabral (Equipe Brasil Escola.com), a compulsão

desenfreada influenciada pelo marketing, incluindo as obsoletações planejadas,

características do capitalismo, é que causam a multiplicação dos supérfluos –

de produtos eletrônicos aos instrumentos manuais de escrita – o chamado

consumismo, multiplicação dos descartes. Outros estudos apontam para a

globalização, que além do exposto acima, aumenta a distância entre ricos e

pobres. E, ainda, o filósofo Nietzsche destaca: Hybris é hoje a atitude do

homem para com a natureza, com ajuda dos tão irrefletidos engenhos

tecnológicos. Exemplo, e simplíssimo, são as motosserras, as quais deveriam

sofrer controle e sanções rigorosíssimas. Tratamento quase em nível de

segredo militar.

Diante do constatado aquecimento global, as reflexões a que somos

levados, lança-nos diante do provérbio popular, “e que se exploda o planeta!”.

Já dizia o filósofo Rousseau: “O homem nasce bom, a sociedade é que o

corrompe”.

Entretanto, juntando-nos aos resíduos de ética ambiental que ainda

restam, devemos lutar contra o atual quadro, o qual, a cada dia veicula nova

hipocrisia, a exemplo, “explorar com sustentabilidade”.

A teorização dessa luta está explicitamente delineada na obra

Política Ambiental Local (SEIFFERT, 2008), que apresenta de forma prática e

viável todos os instrumentos necessários, além das já estabelecidas fontes

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61 concretas de apoio. Uma dessas fontes podemos citar:

www.terracycle.com.br, que oferece retorno financeiro, a nível de incentivo, por

cada embalagem de produto alimentício, até de guloseimas a eles remetidas

com postagem paga. É a chamada Logística Reversa, e os estabelecimentos

receptores já existem, e a todo vapor: AMATRECO (Associação de Moradores

do Bairro Três Corações – Av. Henrique Duque Est. Mayer, 2260 / Fundos –

Nova Iguaçu – Rio de Janeiro – Tel.: (21) 2799-7604 – E-mail:

[email protected] – Site: www.amatreco.org). Esta é uma das

associações pioneiras na prática desse processo.

A ação mais expressiva consiste na questão de solucionar o

problema de todo tipo de lixo. A exemplo, a cidade de Unaí, Minas Gerais,

onde, com seus 98.000 habitantes, o lixo é coletado sem a mínima seleção,

conduzido a um sistema de autoclave. Nesse tratamento, não há emissão de

poluentes, após essa desinfecção, é trabalhada a seleção, e os orgânicos, já

transformados em carvão, são cilindrados e vendidos como combustível para

alimentar altos fornos. O chorume transformado em gás alimenta toda frota da

coleta, e os excedentes, direcionados para os veículos privativos da prefeitura

local (Prefeitura Municipal de Unaí). A implementação das políticas ambientais

locais é plenamente viabilíssima e econômica.

Em estudos da Ippur/UFRJ, existem áreas intituladas Zonas de

Sacrifício no Estado do Rio de Janeiro, uma delas é Vila de Cava, com

perímetro tangente a Rebio do Tinguá, onde conflitos tem havido, em virtude do

estabelecimento de empresas altamente poluidoras. O abastecimento de água

em muitas residências é extraído de poços artesianos.

Nos bairros pertencentes ao Distrito de Vila de Cava, sendo deixada

de lado a liberdade de culpar e descarregar nos indefesos os males diretos do

capitalismo. Podemos transformá-los, estes bairros, em pólos padrão de

soluções, sendo que o preconceito, a falta de ética e o egoísmo dão-lhes pouca

importância.

Por que não cultuar Tinguá como Santuário Ecológico?

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62 Por que posteriormente aos acidentes geomorfológicos e agravados

pelo antropocentrismo, aos acidentes nucleares e outros, o homem consegue

se adequar?

Por que então se acha difícil isolar tudo que nos resta de floresta, e

radicalizar ao mínimo as já protegidas pela legislação ambiental, como área de

proteção integral, terminantemente intransponível?

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 >> REGIMENTO DO PAU-BRASIL – 1605 Anexo 2 >>> ADEUS A SETE QUEDAS Anexo 3 >>> MAPA DOS DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS BRASILEIROS Anexo 4 >>> O VELHO PRÉDIO DA PREFEITURA DE NOVA IGUAÇU Anexo 5 >>> RESERVA BIOLÓGICA DO TINGUÁ

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Anexo 1

REGIMENTO DO PAU-BRASIL – 1605

Eu Ei-rei. Faço saber aos que este Meu Regimento virem, que sendo

informado das muitas desordens que lia no certão do páo brasil, e na

conservação delle, de que se tem seguido haver hoje muita falta, e ir-se buscar

muitas legoas pelo certão dentro, cada vez será o damno mayor se se não

atalhar, e der nisso a Ordem conveniente, e necessaria, como em cousa de

tanta importancia para a Minha Real Fazenda, tomando informações de

pessoas de experiência das partes do Brasil, e comunicando-as com as do

Meu Conselho, Mandei fazer este Regimento, que Hei por bem, e Mando se

guarde daqui em diante inviolavelmente.

Parágrafo 1′. Primeiramente Hei por bem, e Mando, que nenhuma

pessoa possa cortar, nem mandar cortar o dito páo brasil, por si, ou seus

escravos ou Feitores seus, sem expressa licença, ou escrito do Provedor mór

de Minha Fazenda, de cada uma das Capitanias, em cujo destricto estiver a

mata, em que se houver de cortar; e o que o contrário fizer encorrerá em pena

de morte e confiscação de toda sua fazenda.

Parágrafo 2′. O dito Provedor Mór para dar a tal licença tomará

informações da qualidade da pessoa, que lha pede, e se delia ha alguma

suspeita, que o desencaminhará, ou furtará ou dará a quem o haja de fazer.

Parágrafo 3′. O dito Provedro Mór fará fazer um Livro por elle

assignado, e numerado, no qual se registarão todas as licenças que assim der,

declarando os nomes e mais confrontações necessarias das pessoas a que se

derem, e se declarará a quantidade de páo para que se lhe dê licença, e se

obrigará a entregar ao contractador toda a dita quantidade, que trata na

certidão, para com elia vir confrontar o assento do Livro, de que se fará

declaração, e nos ditos assentos assignará a pessoa, que levar a licença, com

o Escrivão.

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78 Parágrafo 4′. E toda a pessoa, que tomar mais quantidade de páo de

que lhe fôr dada licença, além de o perder para Minha Fazenda, se o mais que

cortar passar de dez quintaes, incorrerá em pena de cem cruzados, e se

passar de cincoenta quintaes, sendo peão, será açoutado, e degradado por

des annos para Angola, e passando de cem quintaes morrerá por elle, e

perderá toda sua fazenda.

Parágrafo 5′. O provedor fará repartição das ditas licenças em o

modo, que cada um dos moradores da Capitania, a que se houver de fazer o

corte, tenha sua parte, segundo a possibilidade de cada um, e que em todos se

não exceda a quantidade que lhe for ordenada

Parágrafo 6′. Para que se não córte mais quantidade de páo da que

eu tiver dada por contracto, nem se carregue à dada Capitania, mais da que

boamente se pôde tirar delia; Hei por bem, e Mando, que em cada um anno se

faça repartição da quantidade do páo, que se ha de cortar em cada uma das

Capitanias, em que há mata delle, de modo que em todo se não exceda a

quantidade do Contracto.

Parágrafo 7′. A dita Repartição do páo que se ha de cortar em cada

Capitania se fará em presença do Meu Governador daquelle Estado pelo

Provedor Mór da Minha Fazenda, e Off iciaes da Camara da Bahia, e nelia se

terá respeito do estado das matas de cada uma das ditas Capitanias, para lhe

não carregarem mais, nem menos páo do que convém para benefício das ditas

matas, e do que se determinar aos mais votos, se fará assento pelo Escrivão

da Camara, e delles se tirarão Provisões em nome do Governador, e por elle

assignadas, que se mandarão aos Provedores das ditas Capitanias para as

executarem.

Parágrafo 8′. Por ter informação, que uma das cousas, que maior

damno tem causado nas ditas mattas, em que se perde, e destroe mais páos, é

por os Contractadores não aceitarem todo o que se corta, sendo bom, e de

receber, e querem que todo o que se lhe dá seja roliço, e massiço do que se

segue ficar pelos mattos muitos dos ramos e ilhargas perdidas, sendo todo elle

bom, e conveniente para o uso das tintas: Mando a que daqui em diante se

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79 aproveite todo o que fôr de receber, e não se deixe pelos matos nenhum páo

cortado, assim dos ditos ramos, como das ilhargas, e que os contractadores o

recebão todo, e havendo dúvida se é de receber, a determinará o Provedor da

Minha Fazenda com informação de pessoas de crédito ajuramentadas; e

porque outrosym sou informado, que a causa de se extinguirem as matas do

dito páo como hoje então, e não tornarem as árvores a brotar, é pelo mão

modo com que se fazem os cortes, não lhe deixando ramos, e varas, que vão

crescendo, e por se lhe pôr fogo nas raizes, para fazerem roças; Hei por bem,

e Mando, que daqui em diante se não fação roças em terras de matas de páo

do brasil, e serão para isso coutadas com todas as penas, e defesas, que estas

coutadas Reaes, e que nos ditos córtes se tenhão muito tento a conservação

das árvores para que tornem a brotar, deixando-lhes varas, e troncos com que

os possão fazer, e os que o contrário fizerem serão castigados com as penas,

que parecer ao Julgador.

Parágrafo 9′. Hei por bem, e Mando, que todos os annos se tire

devassa do córte do páo brasil, na qual se perguntará pelos que quebrarão, e

forão contra este Regimento.

Parágrafo 10′. E para que em todo haja guarda e vigilância, que

convém Hei por bem, que em cada Capitania, das em que houver matas do

dito páo, haja guardas, duas delias, que terão de seu ordenado a vintena das

condemnações que por sua denunciação se fizeram, as quaes guardas serão

nomeadas pelas Camaras, e approvadas pelos Provedores de Minha Fazenda,

e se lhes dará juramento, que bem, e verdadeiramente fação seus Off icios.

Parágrafo 11′. O qual Regimento Mando se cumpra, e guarde como

nelle se contém e ao Governador do dito Estado, e ao Provedor Mór da Minha

Fazenda, e aos Provedores das Capitanias, e a todas as justiças dellas, que

assim o cumprão, e guarde, e fação cumprir, e guardar sob as penas nelle

contheudas; o qual se registrará nos Livros da Minha Fazenda do dito Estado,

e nas Camaras das Capitanias, aonde houver matas do dito páo, e valerá posto

que não passe por carta em meu nome, e o effeito delta haja de durar mais de

um anno, sem embargo da Ordenação do segundo Livro, título trinta e nove,

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80 que o contrário dispoem. Francisco Ferreira o fés a 12 de Dezembro de 1605.

E eu o Secretario Pedro da Costa o fis escrever “Rey”.

Fonte: Mania de História (2011).

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81 Anexo 2

ADEUS A SETE QUEDAS

Sete quedas por mim passaram,

e todas sete se esvaíram.

Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele

a memória dos índios, pulverizada,

já não desperta o mínimo arrepio.

Aos mortos espanhóis, aos mortos bandeirantes,

aos apagados fogos

de Ciudad Real de Guaira vão juntar-se

os sete fantasmas das águas assassinadas

por mão do homem, dono do planeta.

Aqui outrora retumbaram vozes

da natureza imaginosa, fértil

em teatrais encenações de sonhos

aos homens ofertadas sem contrato.

Uma beleza-em-si, fantástico desenho

corporizado em cachões e bulcões de aéreo contorno

mostrava-se, despia-se, doava-se

em livre coito à humana vista extasiada.

Toda a arquitetura, toda a engenharia

de remotos egípcios e assírios

em vão ousaria criar tal monumento.

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E desfaz-se

por ingrata intervenção de tecnocratas.

Aqui sete visões, sete esculturas

de líquido perfil

dissolvem-se entre cálculos computadorizados

de um país que vai deixando de ser humano

para tornar-se empresa gélida, mais nada.

Faz-se do movimento uma represa,

da agitação faz-se um silêncio

empresarial, de hidrelétrico projeto.

Vamos oferecer todo o conforto

que luz e força tarifadas geram

à custa de outro bem que não tem preço

nem resgate, empobrecendo a vida

na feroz ilusão de enriquecê-la.

Sete boiadas de água, sete touros brancos,

de bilhões de touros brancos integrados,

afundam-se em lagoa, e no vazio

que forma alguma ocupará, que resta

senão da natureza a dor sem gesto,

a calada censura

e a maldição que o tempo irá trazendo?

Vinde povos estranhos, vinde irmãos

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83 brasileiros de todos os semblantes,

vinde ver e guardar

não mais a obra de arte natural

hoje cartão-postal a cores, melancólico,

mas seu espectro ainda rorejante

de irisadas pérolas de espuma e raiva,

passando, circunvoando,

entre pontes pênseis destruídas

e o inútil pranto das coisas,

sem acordar nenhum remorso,

nenhuma culpa ardente e confessada.

(“Assumimos a responsabilidade!

Estamos construindo o Brasil grande!”)

E patati patati patatá...

Sete quedas por nós passaram,

e não soubemos, ah, não soubemos amá-las,

e todas sete foram mortas,

e todas sete somem no ar,

sete fantasmas, sete crimes

dos vivos golpeando a vida

que nunca mais renascerá.

(Carlos Drummond de Andrade)

Fonte: Jornal do Brasil (1982).

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84 Anexo 3

MAPA DOS DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS BRASILEIROS

Figura 4: Domínios morfoclimáticos brasileiros (RICHTER, 2011).

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Anexo 4

O VELHO PRÉDIO DA PREFEITURA DE NOVA IGUAÇU

(Criminosamente posto abaixo no governo-tampão

de Antônio Joaquim Machado)

O prefeito confundiu tombamento com “derrubamento” e pôs o prédio

da antiga Prefeitura de Nova Iguaçu abaixo.

Fonte: Jornal Correio da Lavoura (2006).

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Anexo 5

RESERVA BIOLÓGICA DO TINGUÁ

Reserva Biológica do Tinguá. Fonte: Rebio do Tinguá (s/d).