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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE RESPONSABILIDADE CIVIL POR USO INDEVIDO DA MARCA Por: Claudia Guimarães de Moura Orientador Prof. Dr. Francis Rajzman Rio de Janeiro 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · ressarcimento dos danos causados ao proprietário da marca não era suficiente. Fazia-se necessário punir penalmente os usurpadores

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

RESPONSABILIDADE CIVIL POR USO INDEVIDO DA MARCA

Por: Claudia Guimarães de Moura

Orientador

Prof. Dr. Francis Rajzman

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

RESPONSABILIDADE CIVIL POR USO INDEVIDO DA MARCA

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito

Empresarial e dos Negócios.

Por: Claudia Guimarães de Moura

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AGRADECIMENTOS

A Deus, aos amigos, parentes,

clientes.

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DEDICATÓRIA

Dedica-se a todos que acreditam no

meu trabalho, no meu sucesso

profissional.

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RESUMO

O empresário, para a aquisição e conservação de clientela, tem a

necessidade de identificar a si mesmo e a sua atividade para o público em

geral. Para tanto, o empresário lança mão dos sinais distintivos da atividade

empresarial (nome, marcas, títulos de estabelecimento), que ganham grande

importância, dada a relevância desses elementos para as relações com a

clientela.

A concorrência e a disputa por novos mercados (que geram empregos

e desenvolvimento) se dá em nível internacional sendo necessário a proteção

dos produtos fornecidos pela empresa. Trata-se de direito de propriedade do

empresário que para conquistar mercados procura adequar-se a legislação

vigente e procura atender todos os parâmetros de credibilidade.

O uso indevido da marca pode prejudicar o patrimônio da empresa. A

jurisprudência terá papel decisivo para a consolidação de uma atitude mais

dirigente, cautelosa, prudente e honesta na defesa do patrimônio do

empresariado.

O presente trabalho acadêmico pretende demonstrar os mecanismos

que o ordenamento jurídico pátrio possui para proteger as marca, há ainda a

questão da proteção ao nome da empresa, abordar a importância do INPI, bem

como abordar as conseqüências jurídicas e sociais que podem resultar

quando uma empresa utiliza indevidamente uma marca registrada no mesmo

nicho mercadológico.

Pretende-se demonstrar além disso, que mais do que efeitos civis, o

uso indevido de marca registrada atinge, também, a esfera criminal,

constituindo-se em crime contra registro de marca e concorrência desleal,

como se pode verificar nos Artigos 189 e 95 da Lei nº 9.279/96 – LPI.

O foco central do estudo é a inegável ocorrência de dano quando do

uso indevido de marca registrada, embora tal dano seja de difícil comprovação

uma vez que marcas falsas podem manchar a empresa.

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METODOLOGIA

Trata-se de pesquisa bibliográfica documental visto que será estudada

bibliografia pertinente ao tema, além da análise de jurisprudências sobre a

questão tratada para que se possa consiga atingir os objetivos inicialmente

propostos e, ao mesmo tempo, atender aos critérios de menor custo, maior

rapidez, maior eficácia e mais confiabilidade de informação a monografia será

constituída principalmente através de informações contidas em livros e artigos

científicos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I- Marcas 10 1.1- A Marca Vista ao Longo da História 10 1.2- Definição de Marcas 12 1.3- Requisitos para Registro das Marcas 14 1.4- Distinção entre Marca e Nome Empresarial 17 1.5- Classificação das Marcas 20 CAPÍTULO II - O Registro das Marcas e o INPI 24 1.0- Sistemas Legislativos sobre o Registro de Marcas 26 CAPÍTULO III – Responsabilidade Civil pelo Indevido das Marcas 32 3.1- Responsabilidade Civil e Penal 33 3.2- Responsabilidade Subjetiva e Objetiva 33 3.2- Responsabilidade Civil Contratual e Extra Contratual 34 3.3- Uso Indevido das Marcas 36 CONCLUSÃO 47 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 48 BIBLIOGRAFIA CITADA 51 ÍNDICE 53 FOLHA DE AVALIAÇÃO 54

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INTRODUÇÃO

O tema em analise pertence ao ramo do Direito Comercial, mais

especificamente ao sub-ramo jurídico da Propriedade Industrial (marcas,

desenhos industriais e patentes), havendo, porém, e nem poderia deixar de

ser, correlação com o Direito Civil, na matéria atinente à Responsabilidade

Civil, em que neste trabalho limitar-se-á a um de seus pressupostos que é o

prejuízo ocasionado – o dano, este proveniente do uso indevido e

desautorizado de uma marca.

No Brasil, o sistema de proteção marcaria é atributivo uma vez que a

proteção é obtida somente através do registro perante o Instituto Nacional da

Propriedade Industrial (INPI).

A evolução e o aperfeiçoamento dos conceitos e princípios que regem

o tema proposto se dão em consonância com as novas tendências doutrinárias

sobre o dano moral e o dano à imagem .

A proteção a marca pelo ordenamento jurídico pátrio é de suma

importância uma vez que ela identifica o produto ou serviço comprometendo a

imagem da empresa que deve desempenhar uma função social.

Juridicamente, podemos entender a função social da empresa como

um conjunto de incumbências, direito e deveres, que gravam a atividade

atreladas a empresa. Deve o instituto da função social da empresa procurar

zelar pelo pleno exercício da atividade empresarial traduzida na geração de

riquezas, manutenção de empregos, pagamento de impostos,

desenvolvimentos tecnológicos, movimentação do mercado econômico, entre

outros fatores, tendo o Estado papel decisivo e insubstituível na aplicação

normativa, elaboração de políticas públicas de fiscalização, proteção e

incentivo ao desenvolvimento, especialmente às e média e pequena empresas

e às empresas em dificuldades financeiras.

A atuação do Estado na elaboração de normas de proteção a marca

transparece a defesa do empresariado no sentido de coibir produtos ou

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serviços sem qualidade , garantindo o patrimônio empresarial que gerará

emprego e pagamento de tributos.

Cabe ressaltar ainda que a proteção as marcas garante uma produto

ou serviço de qualidade protegendo o consumidor de riscos. Cabe lembrar que

o Código de Defesa do Consumidor coloca à disposição dos brasileiros um

arsenal de prerrogativas que protege seus direitos básicos: proteção da vida e

da saúde; informação; proteção contra publicidade e abusiva; reparação de

danos, entre outros.

O lançamento de produtos no mercado representa risco ao

consumidor, este por sua vez procura uma marca solidificada que garante o

conforto dos usuários.

O uso indevido da marca pode gerar diversos danos. O trabalho

abordará os tipos de danos e como a jurisprudência tem se manifestado

quanto aos casos levados ao Poder Judiciário.

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CAPÍTULO I

MARCAS

Em tese, tudo que integra o mundo pode receber uma marca, um sinal,

e ser identificado para se distinguir de outros objetos. Uma pedra solta na

planície pode ser assinalada de determinada forma para se distinguir de

outras, como muitos outros objetos podem sê-lo, mas isso, por si só, não

confere a noção de marca de que aqui se trata.

A marca deve distinguir um produto ou um serviço, ou seja, deve

assinalar algo para que se distinga de outro da mesma espécie. Esse produto

ou serviço deve se constituir no resultado da atividade empresária, a qual, em

última análise, é protegida pela marca.

O emprego do conceito de marca, nesses termos, está ligado ao

resultado da atividade empresária, o que implica na admissão de um dado

apurável da realidade: os produtos e serviços realizados no plano da

experiência concreta, no mundo físico e não ideológico. Implica, então, não

haver marca em bens ou serviços insuscetíveis de negociação pelo

empresário, ou por terceiro autorizado.

Os produtos e os serviços devem ser diferenciados de outros da

mesma espécie, resultando daí que o caráter distintivo é essencial ao conceito

de marca.

1.1 – A Marca Vista ao Longo da História

Há relatos históricos que apontam a utilização de sinais identificadores

pelo homem primitivo na fase de seu nomadismo. Na fase pastoril é mais

acentuado o emprego de marcas: bois e cavalos, utilizados para a tração, bem

como recebiam em seu “couro”, por meio de um ferro “em brasa” um sinal

indicativo - era a marca a ferro e fogo. Historiadores relatam a existência de

marcas nominais e figurativas na antiguidade greco-romana. Tinham esses

povos, o costume de revestir de sinais principalmente a sua produção artística.

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Em Roma, o uso de marcas espalhou-se logo: nomes, sinais,

desenhos, emblemas em seus vinhos e queijos.

Foi na época medieval que as marcas adquiriram certo cunho jurídico.

Da sociedade feudal foram gradativamente reaparecendo as cidades e as

práticas comerciais, as quais passariam a ocupar um significativo espaço na

esfera jurídica e, precipuamente, na esfera econômica.

As atividades econômicas desenvolvidas nos burgos medievos eram

administradas e controladas pelas corporações de artes e ofícios, as quais

agrupavam os comerciantes e os artesãos segundo seu ramo de negócio.

Delas surgiu a marca de comércio, não exatamente como a conceituamos,

mas já trazendo resquícios do que viria a ser.

Na Idade Média era comum empregarem-se marcas figuradas,

constituídas de linhas retas ou curvas, sendo reconhecido como direito privado

absoluto, protegido que era pelas corporações de mercadores. Essa proteção

– observa Von Gierke – mais tarde caiu em desuso, e somente em tempos

recentes foi reimplantada. Alguns autores acentuam que tais marcas eram

obrigatórias para atestar a conformidade dos produtos com os tipos

regulamentares.

O corporativismo da época não era tão radical a ponto de proibir o uso

de marcas individuais. Estas poderiam ser empregadas desde que o artesão

ou comerciante registrasse a marca de seus produtos na corporação ou no

ofício. A marca estava tão intimamente ligada com o sucesso das relações

comerciais que logo começaram os homens, a usurpá-la. O simples

ressarcimento dos danos causados ao proprietário da marca não era

suficiente. Fazia-se necessário punir penalmente os usurpadores e foi na

França que surgiu tal legislação positiva no séc. XIII. “Edito de Carlos V de

1544, mandava cortar o punho direito, depois de excluído de seu ofício, do que

contrafizesse, ou arrebatasse a marca de outrem.”

Foi somente em 1874 que a legislação pátria passou a proteger as

marcas.

A garantia constitucional à propriedade das marcas veio com a

Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 24 de

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fevereiro de 1891. Rezava o § 27 do art. 72 que “a lei assegurará a

propriedade das marcas de fábrica” . Nos dizeres de J. X. Carvalho de

Mendonça, esta Constituição teve o intuito de “garantir quanto possível à

lealdade da concorrência comercial”.

Todas as outras constituições adotaram esse direito individual. A nossa

atual Carta Magna, promulgada em 5 de outubro de 1988, assegura, no seu

art. 5º, inciso XXIX, a propriedade das marcas, visando o interesse social bem

como o desenvolvimento tecnológico e econômico de nosso Estado. Situado

entre os direitos e garantias fundamentais, não pode esse dispositivo ser

objeto de emenda constitucional por se tratar de direito individual e, portanto,

cláusula pétrea (art. 60, § 4º, IV da CF). O alcance de tal dispositivo não pode

ser reduzido por meio de legislação infraconstitucional

Foram abundantes as normas infraconstitucionais a tratarem da

propriedade industrial até chegarmos a nossa atual, a Lei n. 9.279, de 14 de

maio de 1996, que abandonou a enganosa expressão “código” e adotou a

ementa legal “direitos e obrigações relativos à propriedade industrial”.

1.2 – Definição de Marcas

Na literatura de marketing podemos encontrar a definição de marcas

conforme os doutrinadores Alves e Bandeira (2001), e em Kotler (1996), visto

que a consideram como uma designação, símbolo, desenho ou combinação

dos mesmos com o intuito de identificar as propostas e de as diferenciar

perante os competidores. Para Kapferer (1991, p.8) o valor de um produto é

indicado por dois elementos: o preço e a marca.

Se o primeiro mede o valor monetário, “ (...) a marca identifica o

produto e revela a sua identidade, ou seja, as facetas da sua diferença: valor

de utilização, valor de prazer, valor de reflexo do próprio comprador”.

Se, por um lado, o produto é tangível, podemos tocá-lo, vê- lo, tem

atributos físicos, diferentes modelos, características e preços, por outro lado, a

marca é intangível. Ou seja, diz respeito à forma como os consumidores se

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relacionam com os produtos, a personalidade que lhe atribuem, a confiança

sentida e a lealdade que lhe depositam.

Em tese, tudo que integra o mundo pode receber uma marca, um sinal,

e ser identificado para se distinguir de outros objetos.

Os produtos e os serviços devem ser diferenciados de outros da

mesma espécie, resultando daí que o caráter distintivo é essencial ao conceito

de marca.

Carvalho de Mendonça, assim elabora a definição:

“Essas marcas consistem em sinais gráficos ou

figurativos, destinados a individualizar os produtos de

uma empresa industrial ou as mercadorias postas à

venda em uma casa de negócio, dando a conhecer sua

origem ou procedência, e atestando a atividade e o

trabalho de que são resultado”.( CERQUEIRA,1976,

p.376)

O Decreto-Lei nº 7.903, de 27-8-1945, conceituou marca no artigo 89

da seguinte forma:

“Considera-se marca de indústria aquela que for usada

pelo fabricante, industrial, agricultor ou artífice, para

assinalar os seus produtos, e marca de comércio, aquela

que usa o comerciante para assinalar as mercadorias do

seu negócio, fabricadas ou produzidas por outrem”.

Pontes de Miranda, vê na marca um sinal:

“que se apõe em produtos ou mercadorias para servir de

indicação da sua qualidade, algumas vezes também da

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quantidade”, sendo “o mais típico sinal distintivo de

produto ou de mercadoria”.(MIRANDA,1983)

O artigo 59 do antigo Código da Propriedade Industrial Brasileiro (Lei

nº 5.772, de 21-12-1971) dispunha:

“Será garantida no território nacional a propriedade da

marca e o seu uso exclusivo àquele que obtiver o registro

de acordo com o presente Código, para distinguir seus

produtos, mercadorias ou serviços, de outros idênticos ou

semelhantes, na classe correspondente à sua atividade”.

A Lei nº 9.279, de 14-5-1996, no artigo 122, aboliu a viabilidade de se

ter uma marca sonora, olfativa ou degustativa, na medida em que conferiu

suscetibilidade registrária apenas aos “sinais distintivos visualmente

perceptíveis”. A preferência do legislador limitou a discussão no plano da

proteção legal, ou seja, conferiu a qualidade de marca protegível juridicamente

apenas àqueles signos, ou sinais, que podem ser apreendidos visualmente

1.3 - Requisitos para Registro da Marca

A Lei n. 9.279/96 exige certos requisitos para que os sinais distintivos

sejam registrados como marca. São eles: a novidade, a originalidade e a

licitude.

Quanto ao primeiro requisito podemos mencionar que a marca deve

ser nova, ou seja, distinta de outras já usadas legalmente. Exige-se para o sue

registro a novidade relativa, não é necessário que o empresário crie o signo

distintivo (novidade absoluta), basta que ele dê uma nova finalidade (utilidade)

para ele. A proteção concedida à marca registrada é restrita à classe de

produtos ou serviços a que pertence o objeto: princípio da especificidade. É

dada a proteção mesmo que o signo a ser registrado tenha se tornado público,

mas, no entanto, é novo para a sua utilização.

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Se o fabricante de móveis de escritório adota para seus produtos como

marca um circulo, ele poderá obter a proteção do direito industrial, apesar de a

expressão não ter sido criada por ele.

A novidade refere-se à classe a que pertence os produtos ou serviços

marcados, o uso empregado ao signo é que deve ser novo. As classes de

produtos e serviços são determinadas pelo INPI para efeitos de delimitação do

campo de atuação da tutela dada pelo registro. A exceção ao princípio da

especificidade é com relação à marca de alto renome (art. 125 da Lei n.

9279/96) que tem a proteção estendida a todos os ramos de atividade. É de se

anotar que a inobservância ao princípio da novidade implica em contrafação da

marca (reprodução da própria marca).

Assim temos que o direito brasileiro protege as marcas de alto renome.

Abaixo transcrevemos o caso da empresa Danome RECURSO ESPECIAL Nº

510.885 - GO (2003/0035347-0)

“impugnado que "o prefixo DAN é a abreviatura da palavra

inglesa DANISH PASTRY,que associado a outras palavras,

significa a massa de substância pastosa feita de fermento

ou germe cultivado que causa fermentação e que constitui

a essência de qualquer iogurte" (fls. 562/563), o que, diga-

se de passagem e com o maior respeito, éde aceitação

duvidosa, nem por isso a utilização desse radical DAN

pode ser deflagrada sem freios e sem medidas, pois a

possibilidade de seu uso não pode ser consentida quando

fere o direito de quem tem a titularidade de uma marca

devidamente registrada.

E a violação marcária se dá quando a imitação reflete na

formação cognitiva do consumidor que é induzido, por

erronia, a perceber identidade nos dois produtos, de

fabricações diferentes.No caso, DANONE é uma marca

vistosa, notoriamente conhecida, objeto de previsão e

especial tutela pela Lei nº 9.279/96, de Propriedade

Industrial (art. 126 e§§), ao dizer que "a marca

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notoriamente conhecida em seu ramo de atividade no

stermos do art. 6ºbis (I), da Convenção da União de Paris

para Proteção da Propriedade Industrial, goza de

proteção especial, independente de estar previamente

depositada ou registrada no Brasil" .A concessão de tal

justa proteção decorre das atividades permanentes e do

conceito público de quem a obtém, decorrente, pelo

menos em tese, de exitoso e laborioso desempenho ao

longo do tempo.E um outro produto, da mesma espécie

(iogurte), utilizando a marca DANALY, conduz o

consumidor intuitivamente a imaginar tratar-se de um

iogurte produzido pela DANONE, pela confusão mental

que as três marcas provocam (DANY, DANLY'S e

DANALY), sendo assim manifesta a capacidade de

suscitar imediata associação de idéias com a marca

DANONE.

Quanto ao segundo requisito podemos mencionar que a Originalidade

é o fruto da imaginação humana inédito e que não foi inspirado em nada

precedente. Uma marca original não pode reproduzir sinal genérico, nome,

denominações e indicação descritiva de uso comum.

Rubens Requião ressalta que a originalidade significa que a marca

deve ser intrinsecamente idônea e capaz de individuar os produtos de uma

determinada empresa.

No art. 122 da Lei n. 9279/96 encontramos as marcas registráveis,

enquanto que no art. 124 da mesma norma os sinais que não podem ser

registrados, em muitos casos por falta de originalidade.

Quanto ao terceiro requisito podemos afirmar que a marca não deve

contrariar a lei, os bons costumes e a ordem pública. Somente podem ser

registrados os signos considerados lícitos. O art. 124 da Lei n. 9279/96 nos

apresenta um enorme rol de signos não-registráveis. Nem todos os casos,

porém, significam proibição: nos incisos IV, XIII, XV e XVI o legislador

estabelece apenas condições especiais para alguns registros e nos incisos V,

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VII, XI, XII, XVII, XIX, XXII e XXIII ele refere-se ao âmbito da tutela dos bens

incorpóreos de natureza diversa. A proibição legal do registro desses sinais,

não impede, no entanto, a utilização deles na identificação de produtos e

serviços. Apenas não terá o empresário o direito de exclusividade sobre eles.

1.4 – Distinções entre Marca e Nome Empresarial

O nome empresarial tem como objeto de identificação o empresário,

pessoa física ou jurídica, ou seja, o sujeito de direito. O objeto da marca é

identificar, direta ou indiretamente, produtos ou serviços. O órgão competente

para o arquivamento do ato constitutivo da sociedade ou a inscrição da firma

individual é a Junta Comercial, enquanto que a competência para expedir

certifica de registro de marca é do INPI.

Destaca-se a jurisprudência TJMG: 200000045452440001 MG

2.0000.00.454524-4/000:

NOME COMERCIAL - MARCA REGISTRADA -

COLIDÊNCIA - MESMA ATIVIDADE DAS EMPRESAS -

GARANTIA DE PROTEÇÃO - ABSTENÇÃO DE NOME -

MULTA DIÁRIA - MAJORAÇÃO - DANOS MORAL E

PATRIMONIAL - LUCROS CESSANTES - MARCA

DESPROVIDA DE RENOME - NECESSIDADE DE

COMPROVAÇÃO DOS DANOS. - Havendo colidência

entre marca registrada no INPI com o nome comercial, e

não sendo distintas as atividades das duas empresas, a

fim de garantir a proteção jurídica reclamada é de

determinar ao proprietário do nome comercial que se

abstenha de utilizar a expressão que constitui a marca

registrada do outro, havendo ser mantida a sentença

neste particular. - Merece ser majorada a multa diária que

se revela inapropriada para o caso de descumprimento do

preceito judicial. - Não há como presumir danos morais ou

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patrimoniais pelo uso de marca registrada que não goza

de renome, pelo menos nacional, que na falta de cabal

demonstração desacolhe-se pretensão por danos moral e

material

A proteção conferida pela Junta Comercial é estadual: o registro do

nome empresarial terá efeito apenas nos estados em que o empresário tiver

sede ou filial. Para ter proteção nacional, o empresário deverá arquivar seu ato

constitutivo ou inscrever sua firma individual, nas Juntas Comerciais dos outros

estados brasileiros.

A proteção conferida pelo INPI é nacional e mais: se observadas as

condições da Convenção de Paris, a marca será protegida nos demais países

unionistas.

O prazo de duração do registro de marca é determinado: vigora por

dez anos, se não for requerida pelo interessado a sua prorrogação. O registro

do nome empresarial tem prazo indeterminado e esse somente será extinto

contra a vontade do empresário se, de acordo com o art. 60, § 1º da Lei n.

8.934/94, for declarada a inatividade da empresa.

Outra diferença é com relação ao âmbito da tutela. A proteção da

marca se limita à classe de produtos ou serviços na qual se encontra

registrada no INPI; a preservação se restringe ao ramo de atividade do

empresário (princípio da especificidade), exceto para as marcas de alto

Renome que têm proteção para todas as classes. Exemplo clássico de marca

que possui essa proteção especial é a Coca-Cola: o titular dessa marca pode

abandonar o seu ramo de atuação e se aventurar no ramo automobilístico,

colocando em seus carros a marca Coca-Cola que terá tutela legal para isso.

Já a proteção do nome empresarial não se limita à atividade: protege a

clientela e também o crédito.

Salienta Fábio Ulhoa Coelho que:

(...) a proteção liberada ao nome empresarial não visa

apenas impedir confusão entre os consumidores, mas

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principalmente preservar a reputação do titular da

empresa, junto aos fornecedores e financiadores. O

protesto de títulos em nome de um pode prejudicar o

crédito de outro empresário, com nome igual ou

semelhante. (COELHO, 2003,p.182)

Se existir conflito entre nome empresarial e marca este deve ser

resolvido à luz dos princípios da especificidade e novidade. Segundo Fábio

Ulhoa Coelho, a jurisprudência tem se posicionado a favor da marca, mesmo

quando o registro do nome empresarial é anterior. Entretanto, exige-se que o

titular da marca e do nome empresarial operem no mesmo ramo de mercado,

conforme o princípio da especificidade.

Por fim cabe ressaltar que título de estabelecimento é o designativo

referente ao ponto em que se exerce a atividade empresarial. Indica o local em

que se encontra o empresário, o estabelecimento físico onde ele coloca a

disposição dos consumidores seus produtos e serviços. Diferencia e

individualiza o estabelecimento empresarial.

Conforme Sérgio Campinho, o título de estabelecimento:

“é o sinal distintivo na fachada da casa onde se exerce o

negócio, como os letreiros de uso corrente, podendo ser

verificado, ainda, nos papéis de correspondência cartões,

catálogos de produtos, etc. Consiste, assim, no rótulo do

estabelecimento”.(CAMPINHO,2004, p.336)

1.5– Classificação das Marcas

Quanto a aplicação podem ser classificadas como marca de produto

ou de serviço que são as que Identifica diretamente produtos ou serviços e

distingue-os de outros idênticos, semelhantes ou afins, de origem diversa (art.

123, I da Lei n. 9.279/96).

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A segunda classificação é a Marca de certificação. Esta espécie de

marca atesta a conformidade de um produto ou serviço com certas normas ou

especificações técnicas, notadamente quanto à qualidade, natureza, material

utilizado e metodologia empregada (art. 123, II da Lei n. 9.279/96).

A marca de certificação e a coletiva tem em comum a necessidade de

um regulamento de uso e a desnecessidade de licença para o uso da marca,

bastando o empresário atender aos pressupostos previstos no regulamento de

uso.

Quanto a forma podem ser: Marca verbal ou nominativa. Constituída

de palavras, nomes ou expressões, compreendendo neologismos e

combinações de letras e/ou algarismos romanos e/ou arábicos. Marca

emblemática ou figurativa. Formada por desenho, figura, símbolos,

monogramas ou forma estilizada de letra ou número, isoladamente. “O

emblema ou figura pode versar sobre desenhos concretos ou abstratos,

imagens, letras ou linhas desde que se revistam de suficiente forma distintiva

(art. 124, II). Marca mista. Aquela que combina elementos nominativos e

figurativos ou emblemáticos. Marca tridimensional. Aquela que se apresenta

nas várias dimensões visuais com desenhos em vista frontal, lateral, dentre

outros e em perspectiva.

Vale ressaltar que, conforme o art. 124, XXI da Lei n. 9.279/96, a forma

necessária do produto (marca plástica) ou aquela que não possa ser

dissociada de efeito técnico não são registráveis.

Quanto a finalidade a doutrina menciona que podem ser:Marca

específica, singular ou especial. Aquela que tem a finalidade de sinalizar um só

objeto.

Marca genérica ou geral. Aquela que assinala produtos ou serviços

de uma série, produtos e serviços estes que devem estar identificados por

marcas específicas. Apenas pode ser usada quando acompanhada de marca

específica.

A doutrina ainda classifica as marcas quanto ao conhecimento comum:

Marca de alto renome. É aquela que a lei confere proteção especial em todos

os ramo de atividade (art. 125 da Lei n. 9.279/96). O proprietário dela pode

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impedir que outro empresário a utilize, mesmo que este se dedique a

segmento diverso, uma vez que a tutela não se restringe a uma classe, mas

abarca tosos os ramos de atividade. Exemplo: Coca-Cola. Marca notória. São

as ostensivamente conhecidas em seu ramo de atividade, que recebem

tratamento especial independente de estarem registradas no Brasil (art. 126 da

Lei n. 9.279/96).

Destaca-se a jurisprudência abaixo no AG 160559 RJ

2007.02.01.015209-1:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DA PROPRIEDADE

INDUSTRIAL. ANOTAÇÃO ADMINISTRATIVA DO ALTO

RENOME DE MARCA RECONHECIDO POR SENTENÇA

TRÂNSITA EM JULGADO. APLICABILIDADE DA

RESOLUÇÃO INPI 121-2005.

I -Editado ato normativo (Resolução INPI 121-2005), com

regramento específico quanto a forma de anotação do

alto renome de marca e do prazo de validade da proteção

especial (5 anos), qualidade essa reconhecida por

sentença definitiva, a sua aplicação não ofende ao

comando da coisa julgada no tocante à obrigação de

fazer, porquanto trata-se de ato de atribuição exclusiva da

autarquia federal.

II -Agravo provido para afastar a obrigação de fazer no

tocante à anotação do alto renome da marca no

Certificado de Registro de Marca nº 002.714.914; bem

assim para limitar a proteção especial ao prazo de 5

(cinco) anos, nos termos da citada Resolução INPI 121-

2005, a partir do trânsito em julgado daquela decisão

judicial.

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22

Cabe deixar claro que a a marca notoriamente conhecida não

necessita de registro no Brasil e o INPI pode indeferir de ofício o registro de

marca que imite outra notoriamente conhecida, lembrando sempre que a

proteção se limita ao ramo de atividade. O § 1º do art. 126 da Lei n. 9.279/96

estende o conceito de marca notória às marcas de serviços.

Fábio Ulhoa Coelho expressa que:

“A degeneração de marca notória é um interessante

fenômeno mercadológico, que se verifica quando os

consumidores passam a identificar o gênero do produto

pela marca de um de seus fabricantes (cf. Sampaio,

1995). Marcas como ‘aspirina’, ‘gilete’ e ‘fórmica’

encontram-se degeneradas, na medida em que deixaram

de identificar certo produto, fornecido por determinado

empresário, e passaram a se referir ao gênero, incluindo

produtos concorrentes.” (COELHO,p.1972)

Quanto a composição as marcas podem ser marcas de fantasia,

arbitrárias, sugestivas e descritivas. Marcas de fantasia. Integradas de

elementos novos que não têm significado. Geralmente possuem maior

proteção Marcas arbitrárias. Integradas por palavras que não tem relação com

o produto ou serviço que distinguem. Marcas sugestivas. Constituídas por

palavras que guardam relação com o produto ou serviço.Marcas descritivas.

Estas que possuem menor proteção são as constituídas por palavras que

descrevem ou caracterizam o produto ou serviço.

Por fim quanto a origem as marcas podem ser Marca brasileira. São

as depositadas no Brasil, por pessoa aqui domiciliada.Marca estrangeira. 1) As

depositadas no Brasil, por pessoa não domiciliadas aqui; 2) Aquela

regularmente depositada em país vinculado a tratado do qual o Brasil é

participante ou em Organizações Internacionais, que o Brasil faça parte, é

também depositada no território nacional no prazo do respectivo tratado, e cujo

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depósito no país contenha reivindicação de prioridade em relação a data do

primeiro pedido.

CAPÍTULO II

O REGISTRO DAS MARCAS E O INPI

A marca é um bem imaterial ou bem incorpóreo integrante do

estabelecimento empresarial de grande valor econômico. Configura-se como

bem imaterial também a invenção, o modelo de utilidade, o desenho industrial.

Dentre esses quatro bens imateriais, a marca é o bem mais conhecido

e difundido na sociedade, devido à sua própria essência. A marca é um bem

incorpóreo e propriedade da empresa. Ela é um dos elementos do

estabelecimento comercial e elemento identificativo da empresa.

Sumariamente, a propriedade industrial consiste nos bens incorpóreos

móveis que se integram no estabelecimento comercial sendo, portanto

propriedade do empresário.

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A Lei n. 9279/96 (Lei de Propriedade Industrial- LPI) não conceituou a

propriedade industrial. Menciona apenas a proteção que lhe é conferida, a qual

se concretiza mediante concessão de patentes de invenção e de modelo de

utilidade, concessão de registro de marca e de desenho industrial, repressão

às falsas indicações geográficas e à concorrência desleal.

A Lei n. 9.279/96 (Lei de Propriedade Industrial- LPI), trata dos direitos

e obrigações concernentes a propriedade industrial, abarcando as marcas, as

invenções, os desenhos industriais, as indicações geográficas e a concorrência

desleal. Não tratou, esta lei, do nome empresarial e da insígnia, os quais são

regidos pelo Registro Público de Empresas Mercantis.

São quatro os bens integrantes da propriedade industrial: a

invenção, o modelo de utilidade, o desenho industrial e a marca.

O INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) foi criado pela Lei

n. 5.648 de 11 de dezembro de 1970 em substituição ao velho Departamento

Nacional da Propriedade Industrial cuja função era proteger a propriedade

industrial, concedendo marcas e patentes. Além de agregar as atribuições

tradicionais do extinto Departamento, a lei confere ao INPI a função de

executar as normas que regulam a propriedade industrial em âmbito nacional.

Assim rege o artigo 2º da Lei n. 5.648/70:

O INPI tem por finalidade principal executar, no âmbito

nacional, as normas que regulam a propriedade

industrial, tendo em vista a função social, econômica,

jurídica e técnica, bem como pronunciar-se quanto à

conveniência de assinatura, ratificação e denúncia de

convenções, tratados, convênios e acordos sobre

propriedade industrial.

O INPI passou a executar o registro de desenho industrial e de

indicações geográficas, o registro de programas de computador e contratos de

franquia empresarial.

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O INPI é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e que por assim ser possui

autonomia administrativa e economia própria. O Poder Executivo, com o fim de

assegurar a autonomia financeira e administrativa, segundo o artigo 239 da Lei

n. 9.279/96, autoriza o INPI a contratar através de concurso público pessoal

técnico e administrativo, a fixar salários para seus funcionários que deverá ser

aprovado pelo Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior e a

dispor sobre a estrutura básica e regimento interno, que também deverão ser

aprovados pelo Ministério a que estiver vinculado o INPI.

A autonomia econômica provém das retribuições cobradas para os

serviços prestados um favor do titular da propriedade industrial. O valor e o

procedimento para recolhimento das retribuições é proposto pelo INPI e fixado

pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (artigo 228

da Lei n. 9.279/96).

Para uma melhor proteção das patentes, desenhos industriais e

marcas, o INPI estabelece classificação para os serviços e produtos, quando

não forem fixados em acordo ou tratado internacional em vigor no país (artigo

227 da Lei n. 9.279/96). Ressalte-se que os efeitos dos atos administrativos

dessa instituição só se darão com a publicação no respectivo órgão oficial

(artigo 226 da Lei n. 9.279/96).

A Lei n. 5.648/70 regulamentada pelo Decreto n. 68.104, de 22 de

janeiro de 1971, e modificada pelo Decreto n. 77, de 4 de abril de 1991,

estabeleceu a estrutura interna do INPI, o qual é composto pela Presidência,

órgão de direção superior, e de quatro órgãos singulares: a Diretoria de Marcas

(DIRMA), que analisa e decide acerca de registros de marcas e outros sinais

distintivos; a Diretoria de Patentes (DIRPA), que analisa e decide sobre

privilégios de patentes; a Diretoria de Transferência de Tecnologia (DIRTEC),

que decide quanto à averbação de contratos de exploração de patentes e de

marcas e aquele que implique transferência de tecnologia, dentre outros; e o

Centro de Documentação e Informação Tecnológica (Diretoria de Articulação e

Informação Tecnológica), que coleta e preserva a memória de patentes, bem

como promove a disseminação de informação tecnológica gerada pelo INPI.

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O INPI tutela os direitos de propriedade industrial coibindo a usurpação

com vistas a uma concorrência sadia. Além do mais, ele constitui-se num meio

de inserção do país na comunidade internacional. Esse instituto de Direito

Público, dotado de personalidade jurídica, é, portanto, um veículo de política

econômica de extrema importância para o desenvolvimento do Estado

brasileiro.

2.1 Sistemas Legislativos sobre o Registro de Marca

São dois os sistemas relativos ao registro de marca: o declarativo e o

constitutivo ou atributivo.

O sistema declarativo restringe-se a declarar a propriedade da marca,

uma vez que este direito de propriedade já existia antes do ato de registro,

sendo demonstrado pelo uso efetivo do sinal.. O Direito Macário brasileiro

recepcionou este sistema no Código da Propriedade Industrial de 1969, em

seu artigo 78.

O sistema constitutivo ou atributivo afirma que a propriedade da marca

se constitui pelo registro regularmente expedido. É titular do direito

àquele que primeiro registrou a marca. O Código da Propriedade Industrial de

1971 adotou o sistema constitutivo que também foi acolhido pele Lei nº.

9.279/96.

O Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Recurso Especial nº.

52.106-SP, por sua 4º turma, declarou:

Pelo sistema adotado pela legislação brasileira, afastou-

se o prevalecimento do regime da ‘ocupação’ ou da

‘utilização prolongada’ como meio aquisitivo de propriedade

da marca. O registro no INPI é que confere eficácia erga

omnes, atribuindo àquele que o promoveu a propriedade e

uso exclusivo da marca.

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Desta feita, no Brasil, o sistema legislativo sobre o registro marcário é

o constitutivo ou atributivo.

As pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado podem

requerer o registro (art.128 da Lei n. 9.279/96).

O registro de marca requerido por pessoas físicas deve guardar

relação com a atividade que exerçam efetiva e licitamente de modo direto ou

através de empresas que controlem direta ou indiretamente.

Em consonância com o art. 128 inciso 4º da Lei n. 9.279/96, a

reclamação de prioridade não isenta o pedido da aplicação dos dispositivos

constantes do título III.

O pedido de registro de marca, feito através de requerimento dirigido

ao Presidente do INPI, é apresentado à Diretoria de Marcas (DIRMA) e poderá

referir-se apenas a um sinal distintivo. Além do requerimento, o pedido deverá

conter etiquetas (exemplar descritivo da marca) e o comprovante do

pagamento da retribuição relativa ao depósito. O requerimento e toda a

documentação deverão ser apresentados em língua portuguesa e se houver

documento em língua estrangeira sua tradução deverá ser entregue no ato do

depósito ou até sessenta dias subseqüentes, sob pena de não ser considerado

(art. 155 da Lei n. 9.279/96).

O Brasil, como participante da Convenção Unionista, tem o

compromisso de conferir prioridade a certos registros da marca. A marca para

gozar da prioridade deve estar depositada em país que mantenha acordo com

o Brasil ou em organização internacional, que tenha efeito de depósito

nacional.

Após ser apresentado o pedido de registro, o INPI o submeterá ao

exame formal preliminar. Duas situações podem ocorrer: a) Pedido

devidamente instruído: será protocolizado, considerada a data de depósito a

da sua apresentação; b) Instrução incompleta: apesar de insatisfatória, se

conter dados suficientes sobre o depositante, sinal e classe poderá ser

entregue; o INPI dará recibo e determinara as exigências a serem cumpridas

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no prazo de cinco dias; cumpridas estas, o depósito considera-se efetuando na

data do recibo.

Protocolizado o pedido, a marca será publicada para apresentação de

oposição no prazo de 60 dias.

Havendo oposição, o depositante será intimado a se manifestar no

prazo de sessenta dias, defendendo sua pretensão. Decorrido o prazo para a

manifestação ou para a oposição, será realizado o exame das condições de

registrabilidade (novidade, originalidade, licitude) e se a marca não colide com

alguma proibição do art. 124 da Lei n.9.279/96. Nesta fase, poderá o INPI

formular exigências a serem cumpridas dentro de sessenta dias. Se estas não

forem respondidas o pedido será arquivado. Se respondidas ou contestadas

será dado prosseguimento ao exame. Terminado o exame, será dada decisão

que deferirá ou indeferirá o pedido.

Depois de deferido o registro da marca e comprovado o pagamento

das retribuições (prazo de sessenta dias após o deferimento), será concedido

o certificado de registro. A data de concessão do certificado será a da

publicação do respectivo ato. No certificado constará a marca, o número e a

data do registro, nome, nacionalidade e domicílio do titular, os produtos ou

serviços, as características do registro e se houver a prioridade estrangeira.

Da decisão que defira ou não o registro, cabe recurso no prazo de

sessenta dias, dirigido ao presidente do INPI, que terá efeito suspensivo e

devolutivo pleno. Os interessados serão intimados para apresentarem contra-

razões no prazo de sessenta dias. Ressalte-se que não cabe recurso da

decisão que determina o arquivamento definitivo. A decisão do recurso é

irrecorrível na esfera administrativa.

O registro será nulo se contrariar as disposições da Lei n. 9.279,

principalmente no que concernem às proibições do seu art. 124. Essa nulidade

poderá ser total ou parcial, entretanto a parte subsistente, no caso de nulidade

parcial, deverá ser considerada registrável (art. 165 da Lei n. 9.279).

O processo administrativo de nulidade poderá ser instaurado de oficio

ou a requerimento de pessoa interessada.

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Terá-se, para a instauração, o prazo de cento e oitenta dias, a contar

da expedição do certificado e o titular será intimado a se manifestar dentro de

sessenta dias. Concluído o prazo para na manifestação do titular, o Presidente

do INPI decidirá o processo. Se o registro se extinguir, o processo de nulidade

prosseguirá normalmente.

A lei não menciona se cabe recurso da decisão do processo

administrativo de nulidade.

É prevista a ação judicial de nulidade do registro de marca pela Lei. n.

9.279/96, a qual poderá ser proposta pelo INPI ou por pessoa que tenha

interesse legítimo (art. 173 da Lei n. 9.279/96).

Reza o art. 129 da Lei n. 9.279/96 que o registro validamente expedido

confere a propriedade da marca. O titular pode usar gozar, dispor e reivindicar

a sua propriedade seja no âmbito judicial, extrajudicial ou administrativo de

quem quer que a usufrua indevidamente. Tem, o proprietário, assegurado o

seu uso exclusivo em todo o território nacional, observado o disposto nos

artigos 147 e 148 quanto às marcas coletivas e de certificação.

De acordo com o art. 225 da Lei n. 9.279/96, prescreve em cinco anos

a ação para reparação de dano causado ao Direito Marcário.

A legislação marcária confere ao depositante o direito de ceder seu

pedido de registro e ao proprietário da marca o direito de ceder seu registro. É

assegurado, ainda, ao titular da marca, o direito de licenciar seu uso e o de

zelar pela sua integridade material ou reputação.

Todavia, o proprietário da marca não tem o direito de impedir que

distribuidores utilizem sinais distintivos que lhe são próprios, junto com a marca

do produto, na sua promoção e comercialização. Também, não pode impedir

que fabricantes de acessórios utilizem a marca para indicar a distinção do

produto, desde que observadas as práticas leais de concorrência. Não deverá

manifestar-se quanto à citação da marca em discurso, obra literária ou

científica ou outras publicações, desde que sem conotação comercial e com

respeito ao caráter distintivo da marca. E, por fim, não poderá impedir a livre

circulação de produto no mercado interno, por si ou por outrem, com seu

consentimento, ressalvando-se os casos de licença compulsória de patente,

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concedida por abuso de poder econômico e de importação de produtos para

exploração de patente.

O Direito Macário possui caráter temporário: vigorará por dez anos o

registro da marca a contar da sua concessão, podendo ser prorrogado por

períodos iguais e sucessivos (art. 133, Lei n. 9.279/96).

O pedido de prorrogação deverá ser requerido no último ano de

vigência do registro, instruído com a prova do pagamento da contribuição

relativa ao período novo. Se não for formulado neste período, o titular poderá

fazê-lo nos seis meses subseqüentes, pagando retribuição adicional. A

prorrogação não será concedida se requerida por pessoas que não tem

legitimidade.

No entender do ilustre Rubens Requião, não se justifica a limitação

temporal e as sucessivas prorrogações do registro. A Constituição da

República (art. 5º, inciso XXIX) diferenciou o tipo de propriedade que deferias

às invenções e às marcas: propriedade temporária para as invenções e

definitiva (vitalícia) para as marcas. Para ele, o art. 133 da Lei n. 5.279/96 deve

ser considerado inconstitucional.A extinção do registro se dá pela expiração do

prazo de vigência (mais comum), pela renúncia, pela caducidade ou pela

inobservância do disposto no art. 217 a Lei n.9.279/96.

Decorrido o prazo de dez anos de vigência do registro e não sendo

requerida sua prorrogação, estará extinto o registro macário.

A renúncia ao registro é ato voluntário praticado pelo titular ou por

procurador com poderes expressos.

A caducidade se dá quando depois de cinco anos da concessão do

registro e na data do requerimento, o uso da marca não tiver sido iniciado no

Brasil ou tiver sido interrompido por mais de cinco anos consecutivos ou se, no

mesmo prazo, tiver sido usada a marca com modificação que implique

alteração de seu caráter distintivo

O registro da marca extingue-se, se a pessoa domiciliada no exterior

não constituir procurador domiciliado no Brasil com poderes para representá-la

administrativa e judicialmente, inclusive para receber citações.

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Outro fator de extinção do registro é o que provém da nulidade do

registro. A extinção das marcas coletivas e de certificação pode derivar, além

dos fatos já explanados da extinção da entidade detentora ou de sua utilização

em condições outras que não aquelas previstas no regulamento de utilização

(art.151 da Lei n. 9.279/96).

CAPÍTULO III

RESPONSABILIDADE CIVIL PELO USO INDEVIDO DA

MARCA

A palavra "responsabilidade", segundo o vocabulário jurídico origina-se

do vocábulo responsável, do verbo responder, do latim respondere, que tem o

significado de assegurar, assumir o pagamento do que se obrigou, ou do ato

que praticou. O termo "civil" refere-se ao cidadão, assim considerado nas suas

relações com os demais membros da sociedade, um grupamento social das

quais resultam direitos a exigir e obrigações a cumprir.

Portanto, verifica-se a existência de requisitos essenciais para a

apuração da responsabilidade civil, como a ação ou omissão, a culpa ou dolo

do agente causador do dano e o nexo de causalidade existente entre ato

praticado e o prejuízo dele decorrente.

MARIA HELENA DINIZ revela que:

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"poder-se-á definir a responsabilidade civil como a

aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar

dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão

de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele

responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda

(responsabilidade subjetiva), ou, ainda, de simples

imposição legal (responsabilidade

objetiva)".(DINIZ,1984,p.32)

A Responsabilidade Civil como categoria jurídica que é, tem por

escopo a análise da obrigação de alguém reparar o dano que causou à

outrem, com fundamento em normas de Direito Civil, tratando-se portanto de

obrigação de indenizar,oriunda da máxima romana neminem laedere*. (não

lesar a ninguém).

3.1 Responsabilidade Civil e Responsabilidade Penal

De inicio convém distinguir responsabilidade penal e civil. É na esfera

do Direito Civil que se litiga e decide para que se exija a reparação civil, que

vem a ser a sanção imposta ao agente ou responsável pelo dano, porém tanto

na esfera penal quanto na civil, encontra-se basicamente, infração a um dever

por parte do agente. No ilícito penal o delinqüente infringe uma norma de

direito público e seu comportamento perturba a ordem social. A reação é,

portanto da sociedade e vêm representada pela pena, diferentemente no ilícito

civil , o interesse diretamente lesado é o privado.

Destrate é possível pela gravidade do dano, manifestar tanto a ordem

civil quanto a penal, infringindo norma de direito público, constituindo crime ou

contravenção, e acarretando danos à terceiros, como por exemplo no

homicídio onde se aplica a regra do art 121 CP e em ação própria indenização

a família pelo sofrimento, alimentos aos dependentes da vítima e despesas

com funeral podem ser citados.

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3.2 Responsabilidade Civil Subjetiva e Objetiva

Diz-se subjetiva a responsabilidade quando se baseia na culpa do

agente, que deve ser comprovada para gerar a obrigação indenizatória. A

responsabilidade do causador do dano só se configura se ele agiu com dolo ou

culpa. Trata-se da teoria clássica, também chamada teoria da culpa ou

subjetiva, segundo a qual a prova da culpa lato sensu (abrangendo o dolo) ou

stricto sensu se constitui num pressuposto do dano indenizável.

A lei impõe, em determinadas situações, a obrigação de reparar o dano

independentemente de culpa. Neste sentido funda-se a teoria objetiva ou do

risco, que prescinde de comprovação da culpa para a ocorrência do dano

indenizável devendo haver o dano e o nexo de causalidade para justificar a

responsabilidade civil do agente. Em alguns casos presume-se a culpa

(responsabilidade objetiva imprópria), noutros a prova da culpa é totalmente

prescindível (responsabilidade civil objetiva propriamente dita).

JOSÉ DE AGUIAR DIAS escreveu: "no sistema da culpa, sem ela, real

ou artificialmente criada, não há responsabilidade; no sistema objetivo,

responde-se sem culpa, ou, melhor, esta indagação não tem

lugar".(DIAS,1944,p.78)

Assim pela doutrina clássica francesa e pela tradução do art. 1.382 do

Código Napoleônico, os elementos tradicionais da responsabilidade civil são: a

conduta do agente (comissiva ou omissiva), a culpa em sentido amplo

(englobando o dolo e a culpa “stricto sensu”), o nexo de causalidade e o dano

causado.

Seguindo essa concepção, nosso Direito Civil consagra a

responsabilidade com culpa, tida como responsabilidade civil subjetiva. Ao

nosso ver essa era a regra geral anterior, totalmente mantida pela Lei nº

10.406, de 2002.

A Teoria do Risco ingressou no âmbito privado, pela previsão da

responsabilidade civil objetiva dos prestadores e fornecedores, por danos

causados aos consumidores vulneráveis expresso na lei 8078/90.

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3.3 Responsabilidade Civil Contratual e Extracontratual

A responsabilidade civil contratual é oriunda do descumprimento de

cláusula contratual, no campo em estudo o mandato, a ser analisado

posteriormente, será o instrumento que permitirá a responsabilização do

advogado, oriunda de um inadimplemento contratual por parte do profissional,

acarretando o dever de indenizar por perdas e danos, de acordo com o Art.

927ss do Código Civil.

Do mesmo modo, incorre em responsabilidade contratual, pela mora

no cumprimento da obrigação contratada em decorrência dos danos por ela

ocasionados.

Diante do exposto, conclui-se que, na responsabilidade contratual, ao

credor incumbe o ônus da prova no que tange ao descumprimento da

obrigação, cabendo ao devedor demonstrar em sua defesa que o fato se deu

em decorrência de caso fortuito ou força maior, ou ainda por culpa exclusiva da

vítima ou até mesmo demonstrar o cumprimento fiel do acordado.

A Legislação Objetiva Civil disciplinou a questão da responsabilidade

contratual no art. 389ss vejamos. Quando a responsabilidade for

extracontratual, regulada nos arts 186 a 188 e 927 ss cabe ao Autor

demonstrar a culpa ou o dolo do agente, em decorrência de descumprimento

do dever legal. Não há, in casu, qualquer insatisfação de convenção prévia

entre as partes, ou acordo de vontade, mas se funda nos deveres gerais de

abstenção ou omissão a que todos devem observar, como no caso dos direitos

reais, dos direitos de personalidade e os direitos do autor.

Para que seja caracterizado deve ser demonstrado pela vítima, o

dano, o ato ilícito e a relação de causalidade, para que o agente causador seja

condenado na reparação dos prejuízos que causou. É também conhecida

como responsabilidade delitual ou aquiliana. No seu Curso de Direito ao tratar

da Responsabilidade Civil, a Professora Maria Helena Diniz afirma:

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“Via de regra, a responsabilidade extracontratual será

baseada na denominada Teoria da Responsabilidade

Subjetiva ou Teoria da Culpa, que deverá ser provada

pelo lesado. Quanto ao agente causador do dano, poderá

ser direta, caso o ato causador da lesão tenha sido

praticado pela própria pessoa, ou indireta, caso seja

resultado de ato de terceiro, com o qual o agente tem

vínculo legal, ou de animal, ou coisa inanimada sob a

guarda do agente.”( DINIZ,2001)

O dano é pressuposto indispensável à responsabilidade civil, quer seja

em sede subjetiva, quer em sede objetiva . Os demais pressupostos são a

ação ou omissão (comportamento humano), a relação de causalidade e a

culpa ou dolo do agente. Assim, para que de plano se demonstre a relevância

do dano, é preciso sempre se ter bem em conta que "pode haver

responsabilidade sem culpa, mas não pode haver responsabilidade sem dano"

3.4 Uso Indevido da Marca

A princípio, é importante lembrar que o Código Civil expressamente

prevê que só há o dever de indenizar se houver sido efetivado algum dano

(arts. 1.059 e 1.060). No entanto, tal disposição não foi adotada pela LPI (Lei

n.º 9.279/96) como se pode conferir pela leitura dos arts. 208, 209 e 210.

Destes sim, afere-se que o simples uso da marca – que é o fato da

violação – já gera o dever de indenizar (danum in re ipsa), este muito mais

facilmente caracterizado e visualizado nos lucros cessantes (deixar de receber

royalties pelo uso da marca, principalmente); contudo, com o advento dos

novos conceitos sobre o dano moral, em se tratando de uma marca famosa ou

de pessoas jurídicas concorrentes cujas circunstâncias fáticas admitam

presumir o dano (diluição da marca, confusão no espírito do consumidor/cliente

do verdadeiro titular da marca, da marca legítima, etc.), é aceitável, além de

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bastante prudente e razoável, a aplicação da teoria da presunção de dano.

A LPI por ser uma Lei Especial/Específica e não cogitar, em seus arts. 208,

209 e 210 pertinentes à indenização, da comprovação de danos efetivos,

tampouco da pretensão do infrator em se locupletar ou não da marca violada,

afasta a regra geral, contida na legislação comum, prescrita no Código Civil

(arts. 1.059 e 1.060).

O dano patrimonial (ou dano material) é aquele que "atinge os bens

integrantes do patrimônio da vítima, entendendo-se como tal o conjunto de

relações jurídicas de uma pessoa apreciáveis em dinheiro". É subdividido em:

dano emergente e lucro cessante; espécies estas que serão comentadas a

seguir.

Em virtude do advento de novos conceitos e estudos sobre o dano

moral, e conseqüentemente sobre o próprio dano, deve-se atentar que "tanto é

possível ocorrer dano patrimonial em conseqüência de lesão a um bem não

patrimonial como dano moral em resultado de ofensa a bem material" .

O dano emergente (ou positivo) é aquele que de forma imediata, em

razão do ato ilícito, atinge o patrimônio presente da vítima. É tudo que foi

perdido.

A Lei da Propriedade Industrial (LPI) não traz norma expressa atinente

ao dano emergente, talvez por ter o legislador optado em dar mais ênfase ao

lucro cessante, que em âmbito marcário é mais fácil de se verificar que o dano

emergente (o que diverge dos casos comuns). Esta assertiva decorre de

simples leitura dos artigos 208, 209 e 210, e seus incisos, da citada Lei, em

que se constata a não previsão, tampouco exigência, de dano emergente.

O lucro cessante caracteriza-se pelos reflexos futuros que sobrevirão

por causa do ato ilícito cometido; consiste na elisão de uma expectativa em

lucrar, na diminuição potencial do patrimônio da vítima. Assim decidiu REsp

316275 PR 2001/0039282-2:

MARCA. Título de estabelecimento. Prejuízo. Lucro

cessante. Prova. - A prova do dano (lucros cessantes)

pelo uso indevido da marca ou do nome é necessária

para o deferimento de indenização a esse título, salvo

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37

quando do próprio fato surge a certeza do prejuízo, como

ocorre com a colocação de produto no mercado com a

marca de outrem. - No caso de nome do estabelecimento

de ensino, era necessária a prova do prejuízo, que não foi

feita. - Recurso conhecido e provido.

Quanto a prova do dano destaca-se a jurisprudência abaixo no REsp

101.059/RJ:"2.

“Trata-se de estabelecer se a prova do uso indevido da

marca é suficiente para presumir o prejuízo, ficando

autorizado o juiz a condenar o réu à indenização por

danos, cujo valor ficaria relegado à fase de liquidação da

sentença.Observo, desde logo, a razoabilidade da

argumentação expendida pelos que defendem posições

antagônicas.O v. acórdão recorrido assim está

fundamentado:"Esta prova é de essência cognitiva e

constitui pressuposto indeclinável para um juízo

condenatório de indenização de perdas e danos. Não se

pode extrair tão só da violação do direito uma presunção

de prejuízo, cuja existência e extensão não podem ser

aleatoriamente relegadas à prova em liquidação de

sentença. Haveria nisso uma gritante agressão à lógica

que deve presidir a realização dos atos processuais, que

tendem para um final justo e insuscetível de dúvida

quanto à certeza do direito postulado." (fl. 141)

No mesmo sentido, o julgado da eg. Câmara do TJESP:

"Propriedade industrial. Nome comercial. Proteção.

Patronímico.Utilização por sócio dissidente. Possibilidade

de confusão. Circunstância de o réu possuir o mesmo

apelido de família que não atasta a proteção aonome

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comercial. Abstenção de uso. Recurso não provido.

Indenização. Perdas e danos. Propriedade industrial.

Nome comercial. Proteção. Denominações semelhantes.

Necessidade de prova de prejuízo concreto. Não

cabimento da prova prima facie. Ação improcedente.

Recurso não provido.Apelação Cível n° 116.953-1 -

Americana - Apelante e Apelado:Dollo Têxtil S. A. e Ivan

Dollo Têxtil Ltda. " (Rev. Jur. TJESP - Lex- 129,221)

No caso de violação ao direito marcário, a caracterização e fixação

deste dano é de mais fácil constatação do que a do dano emergente, ainda

mais quando vem crescendo o entendimento de que, a priori, basta a prova do

simples uso indevido e desautorizado da marca pelo infrator, para que surja o

dever de indenizar, fundamentado nos lucros cessantes.

Em sendo conferido ao titular da marca a exclusividade do uso da

mesma (art. 129, da LPI) em todo território nacional, entende-se que a regra

(excetuando-se alguns casos em que determinadas circunstâncias estejam

presentes; v. item 2) é: provado o simples uso indevido e desautorizado da

marca, obrigado estará o infrator a indenizar o titular da marca.

De forma simples e didática, o dano moral costuma a ser identificado

como os danos causados por lesão aos direitos da personalidade (direitos à

honra, à imagem, ao nome, à integridade física, à privacidade...). Porém, as

lesões a estes direitos não delimitam as demais possibilidades de reparação

do dano moral, já que "nem sempre o dano moral decorre de violação aos

chamados direitos da personalidade, como expressão dos atributos essenciais

da própria pessoa tutelados pela ordem jurídica" .

Este esclarecimento se faz necessário, uma vez que nos casos de

violação de marcas, quase sempre (para não se dizer sempre) junto com o

dano moral erigirá um dano patrimonial indireto.

Entretanto, a ressarcibilidade ao dano moral não se trata de pretium

doloris, mas de simples compensação, ainda que pequena , pelo mau-estar,

desconforto causado pelo ato ilícito, ou seja, não tende à restitutio in integrum

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do dano causado, possui uma função satisfatória. Desta forma, não é de boa

técnica vincular o dano moral aos prejuízos materiais sofridos.

Como curiosidade e informação, a Associação Brasileira da

Propriedade Industrial (ABPI) por seu Conselho Diretor aprovou, em 27 de

janeiro de 2000 , uma Resolução dispondo sobre as infrações aos direitos da

Propriedade Intelectual (que será transformada em um projeto de lei a ser

enviado ao Congresso (24)), em que consta de seu item 3.3 o seguinte texto:

"3.3 – O dano moral resulta da própria violação ao direito,

devendo ser indenizado sem qualquer necessidade de

prova de prejuízo material."

Hodiernamente, contudo, a jurisprudência já vem se consolidando no

sentido de ser cabível a indenização por danos morais à pessoa jurídica,

independente de acarretar danos patrimoniais indiretos ou não. O egrégio

Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, no julgamento, datado de 08/11/94, de

Apelação Cível, tendo sido Relator o Des. Sérgio Cavalieri Filho (este um dos

que, com clareza e didática, abordam o tema , assim decidiu (in "RT", vol.

725/336):

"A pessoa jurídica, embora não seja titular de honra

subjetiva que se caracteriza pela dignidade, decoro e

auto-estima, exclusiva do ser humano, é detentora de

honra objetiva, fazendo jus à indenização por dano moral

sempre que o seu bom nome, reputação ou imagem

forem atingidos no meio comercial por algum ato ilícito.

Ademais, após a CF/88, a noção do dano moral não mais

se restringe ao pretium doloris, abrangendo também

qualquer ataque ao nome ou imagem da pessoa, física ou

jurídica, com vistas a resguardar a sua credibilidade e

respeitabilidade"

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Quanto ao crescimento desta corrente, admitindo a indenização por

danos morais às pessoas jurídicas, importante se faz destacar o verdadeiro

leading case do STJ, consubstanciado no brilhante voto vencedor do Min. Ruy

Rosado de Aguiar (STJ, 4ª Turma, RESP n.º 60.033-2, in "RT", vol. 727/126):

"Quando se trata de pessoa jurídica, o tema da ofensa à

honra propõe uma distinção inicial: a honra subjetiva,

inerente à pessoa física, que está no psiquismo de cada

um e pode ser ofendida com atos que atinjam a sua

dignidade, respeito próprio, auto-estima, etc., causadores

de dor, humilhação, vexame; a honra objetiva, externa ao

sujeito, que consiste no respeito, admiração, apreço,

consideração que os outros dispensam à pessoa. Por

isso se diz ser a injúria um ataque à honra subjetiva, à

dignidade da pessoa, enquanto a difamação é ofensa à

reputação que o ofendido goza no âmbito social onde

vive. A pessoa jurídica, criação da ordem legal, não tem

capacidade de sentir emoção e dor, estando por isso

desprovida de honra subjetiva e imune à própria injúria.

Pode padecer, porém, de ataque à honra objetiva, pois

goza de uma reputação junto a terceiros, passível de ficar

abalada por atos que afetam o seu bom nome no mundo

civil ou comercial onde atua.

Há quem defenda o surgimento de um terceiro tipo de dano, que assim

como o dano moral também teria o caráter extrapatrimonial, este dano seria o

chamado dano à imagem, fundamentado no inciso V, art. 5º, da CF.

A prescrição da ação por uso indevido da marca é de 20 anos assim

temos REsp 40021 SP :

“Nome comercial. Marca. Exclusividade. Prescrição.1. Na

linha de precedentes da Corte, a proteção pura e simples

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ao uso do nome comercial ou marca tem prescrição

vintenária, mas o ressarcimento do dano causado pelo

uso indevido tem prescrição qüinqüenal, a contar da data

em que se deu a ofensa ou o dano. 2. O nome comercial

deve ser protegido, nos termos da Convenção de Paris,

vigente no Brasil, até mesmo na ausência de qualquer

registro. 3. A marca devidamente registrada deve ser

protegida, não se podendo impedir o detentor do registro

de usá-la com exclusividade. 4. Recurso conhecido e

provido, em parte”

No mesmo sentido temos:

"PROCESSUAL E CIVIL - PEDIDO COMINATÓRIO -

TUTELA DE NOMECOMERCIAL OU MARCA -

PRESCRIÇÃO.I - Na tutela de nome comercial ou marca,

a jurisprudência do STJacolheu entendimento no sentido

de que pedido formulado a titulo de preceito,cominatório,

sem o objetivo de reparar danos, tem ação sujeita à

prescrição vintenária de que cuida o artigo 177 do Código

Civil.II - Recurso conhecido e provido. " (REsp n°

33.787/SP, 3a Turma, DJ de 28/06/93)

Cumpre lembra que a diferença entre o Direito Industrial e o Direito

Intelectual diz respeito à exclusividade de exploração de seus bens

incorpóreos. Terá o uso exclusivo do bem, no Direito Industrial, aquele que

requerer primeiro junto ao órgão competente, o INPI, o documento

apropriado.Já o registro dos bens de Direito Intelectual possui natureza

declarativa. Terá a exclusividade de exploração desses bens aquele que

efetivamente os criou e não depende para essa exploração de ato concessivo.

O registro vem apenas comprovar a anterioridade. Exemplos de bens

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intelectuais são as obras literárias, artísticas, programas de computador, dentre

outros.

Assim, uma vez registrada a marca registrada, nenhuma outra

empresa, desde que no mesmo nicho mercadológico, poderá utilizar a

expressão ou signo protegido, de modo idêntico ou similar, em nome

empresarial, nome fantasia, título de estabelecimento, produto, publicidade, e

também em domínios ou conteúdo de Internet, pois agindo desta forma estaria

causando confusão aos consumidores.

O uso indevido e indiscriminado de marca registrada coloca em risco

tanto a atividade desenvolvida licitamente pelo seu titular, diante da prática

concorrencial desleal, como também o interesse direto do consumidor em ver

protegida sua livre escolha e identificação precisa de seu prestador de serviço.

Está jurisprudencialmente fincada a matéria aqui estudada. Anote-se:

“MARCA COMERCIAL - CONCORRÊNCIA DESLEAL -

Caracterização - Internet - Site registrado por empresa

que também promove a venda de publicidade e de alguns

produtos contendo símbolos de clube de futebol -

ENDEREÇO ELETRÔNICO SEMELHANTE AO DE

DOMÍNIO DA AGREMIAÇÃO ESPORTIVA -

CIRCUNSTÂNCIA QUE PODE INDUZIR EM ERRO O

CONSUMIDOR - Inteligência da Lei 9.279/96.”

(TJSP - RT 798/259) (g.n.)

Cumpre ao final mencionar que tanto o empresário individual quanto as

sociedades usam um nome empresarial e devem ter o direito de proteger esse

nome em face de utilizações indevidas. Essa proteção decorre do direito que

os empresários têm sobre o seu nome, a natureza desse direito é

extremamente discutida na doutrina, inclui nesse sentido o uso das marcas.

As relações comerciais estabelecidas entre fornecedores, fabricantes,

clientes e consumidores geram diferenciais e preferências, decorrentes da

qualidade do produto ou serviço, de sua confiabilidade e identidade.

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Visando o lucro e o constante crescimento da empresa, os

empresários e afins comercializam seus produtos, relacionando-se com uma

clientela e, por vezes, objetivando a fidelidade desta.

A empresa pretende ser conhecida pelos consumidores, a fim de

sobressair-se perante as demais e alcançar um número cada vez maior de

vendas, por outro lado, o cliente simpatiza-se com aquele fornecedor do

produto ou serviço, criando uma relação de preferência e identificação do que

consome ou contrata.

Em razão do exposto, nasceu no mundo comercial o que chamamos

de marca. E esta deve ser registrada para gerar efeitos perante terceiros e

proteger seu proprietário.

Diante de tal relevância jurídica, o Estado garante ao proprietário da

marca a devida proteção, legislando, julgando e administrando os atos

comerciais. No entanto, para que haja a referida proteção, impreterível o

registro da marca. Com tal procedimento, haverá a garantia do proprietário

contra uso indevido, má-fé e concorrência, resguardando, não só o

empresário, mas também os consumidores.

Por fim quanto a questão do dano moral a pessoa jurídica Rodrigues

(2002, p. 87, v. 1) conceitua as pessoas jurídicas como sendo entidades a que

a lei empresta personalidade capazes de serem sujeitos de direitos e

obrigações na ordem civil.

A teoria da personalidade jurídica, segundo Monteiro (2000), apresenta

alguns princípios fundamentais: a) a distinção da personalidade da pessoa

jurídica da de seus membros (universitas distat a singulis); b) a existência de

patrimônio próprio da pessoa jurídica; c) a pessoa jurídica tem vida própria,

distinta de seus membros.

Em regra, a pessoa jurídica possui os mesmos direitos da pessoa

natural, assim, ela pode contratar, adquirir por testamento e exercer ainda

alguns direitos personalíssimos como a nacionalidade, o nome e, até mesmo,

mutatis mutandis, a morte e a sucessão. Porém, como é óbvio, a pessoa

jurídica não pode casar, adotar, testar, etc.

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Por seu turno, Viana (2002) afirma que para a constituição dessa

entidade é necessário a conjugação de três requisitos: a vontade humana

criadora, isto é, a organização de pessoas ou de bens, com as vontades

dirigidas a um fim comum; a observância das regras legais relativas à sua

formação (arts. 45 e 46 do Código Civil), como a obrigatoriedade da inscrição

de seu ato constitutivo no Registro Público; e a liceidade de seus propósitos,

não podendo seus objetivos serem contrários a moral e aos bons costumes.

Com o registro de seu contrato constitutivo, a pessoa jurídica adquire

capacidade para ser titular de direitos e obrigações na ordem civil, o que é uma

conseqüência lógica da personalidade. Por sua vez, como não dispõe de

manifestação direta de vontade, a lei condiciona o exercício dos direitos aos

seus órgãos de deliberação e representação, de modo que, para exercê-los e

atuar na vida cotidiana, ela recorre às pessoas físicas que a representam (art.

47, do Código Civil e art. 12, VI, do Código de Processo Civil).

A proteção a marca garante ao empresariado o direito a livre iniciativa.

Na concepção de CELSO RIBEIRO BASTOS, a livre iniciativa :

"é uma manifestação dos direitos fundamentais e no rol

daqueles devia estar incluída. De fato o homem não pode

realizar-se plenamente enquanto não lhe for dado o

direito de projetar-se através de uma realização

transpessoal. Vale dizer, por meio da organização de

outros homens com vistas à realização de um objetivo.

Aqui a liberdade de iniciativa tem conotação econômica.

Equivale ao direito de todos têm de lançarem-se ao

mercado da produção de bens e serviços por sua conta e

risco. Aliás, os autores reconhecem que a liberdade de

iniciar a atividade econômica implica a de gestão e a de

empresa." (BASTOS,1995)

Concluindo o trabalho cumpre dizer que o Poder Judiciário é também

responsável pela proteção ao empresariado, coibindo atos de uso indevido de

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marca alheia, combatendo a concorrência desleal de mercado, protegendo a

livre iniciativa e a ordem econômica com a finalidade de garantir também a

ampla defesa do consumidor.

CONCLUSÃO

O registro de marcas serve para individualizar produtos ou serviços

fornecidos por determinada empresa, de forma a torná-la distinguível de

produtos ou serviços semelhantes existentes no mercado, com o fito de

agregar as qualidade a ele inerentes. É também forma de fidelização de

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clientes e consumidores, em razão da qualidade ou competência nela

reconhecidos.

Existem marcas registradas detentoras de grande prestígio e

reconhecimento, tanto pelo consumidor comum quanto pelos profissionais que

atuam no mesmo nicho mercadológico, de modo que chega-se mesmo a

confundi-las com o próprio produto que representam.

Da ofensa a um bem jurídico não-patrimonial pode surgir uma perda

patrimonial (dano patrimonial indireto). Desta feita, a ofensa à reputação, à

imagem, ao nome e ao bom conceito da marca, além de configurar o dano

moral, configura também de forma indireta o dano patrimonial.

O simples fato de se violar o Direito Marcário através do uso indevido

de marca faz nascer a obrigação de indenizar. A responsabilidade do

usurpador opera-se por força do simples fato da violação (danum in re ipsa).

Não é necessário que se comprove de forma efetiva os danos

causados pelo uso indevido de marca. Exigir que esses danos sejam

comprovados realmente é querer que a lei marcária se torne ineficaz. É

impossível uma usurpação não gerar danos. Do contrário, se usurpações não

gerassem danos, desnecessário se faria o registro de marca.

A própria essência do registro marcário (bem móvel imaterial) bem

como a sua peculiar função(distinguir/identificar produtos e serviços no

mercado), dificultam a prova de danos efetivos. Todavia, isto não pode

constituir uma barreira para a indenização. Para tanto, aplica-se a teoria da

presunção de dano.

BLIOGRAFIA CONSULTADA

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BILIOGRAFIA CITADA

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Forense Universitária, 1989.

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51

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO

02

AGRADECIMENTO

03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I- Marcas 10

1.1- A Marca Vista ao Longo da História 10

1.2- Definição de Marcas 12

1.3- Requisitos para Registro das Marcas 14

1.4- Distinção entre Marca e Nome Empresarial 17

1.5- Classificação das Marcas 20

CAPÍTULO II - O Registro das Marcas e o INPI 24

1.0- Sistemas Legislativos sobre o Registro de Marcas 26

CAPÍTULO III – Responsabilidade Civil pelo Indevido das Marcas 32

3.1- Responsabilidade Civil e Penal 33

3.2- Responsabilidade Subjetiva e Objetiva 33

3.2- Responsabilidade Civil Contratual e Extra Contratual 34

3.3- Uso Indevido das Marcas 36

CONCLUSÃO 47

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 48

BIBLIOGRAFIA CITADA 51

FOLHA DE AVALIAÇÃO 54

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes – Instituto a Vez do

Mestre

Título da Monografia: Responsabilidade Civil pelo Uso Indevido da Marca

Autor: Cláudia Guimarães de Moura

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: