52
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A importância da promoção de atividades lúdicas no âmbito escolar para alunos do ensino fundamental Por: Camila Simões Pelaes Orientadora: Prof. Ana Paula Lutieri Fulco Rio de Janeiro 2007

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

  • Upload
    vananh

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A importância da promoção de atividades lúdicas no âmbito

escolar para alunos do ensino fundamental

Por: Camila Simões Pelaes

Orientadora:

Prof. Ana Paula Lutieri Fulco

Rio de Janeiro

2007

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A importância da promoção de atividades lúdicas no âmbito

escolar para alunos do ensino fundamental

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

psicopedagogia

Por: Camila Simões Pelaes

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

AGRADECIMENTOS

A minha família sempre tão presente,

aos meus amigos, aos professores da

UERJ, Guilherme Locks e Edson

Almeida, pelas oportunidades

confiadas, carinho e apoio constantes,

aos professores e colegas do curso de

psicopedagogia, aos alunos da UERJ e

da academia por suas contribuições

direta ou indiretamente e a todos que

participaram de alguma forma para a

confecção desse trabalho acadêmico.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

DEDICATÓRIA

.Dedico esse trabalho a minha família,

meu porto-seguro: à minha mãe pelo

apoio incondicional em todos os

momentos, ao meu pai por ter sido

sempre um exemplo de dignidade e

honestidade e ao meu irmão pela força

inexplicável que nos une e de quem tanto

me orgulho.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

RESUMO

O ensino fundamental é um período escolar indispensável e obrigatório

para o desenvolvimento de crianças e jovens, cujos objetivos são definidos em

termos de ordem cognitiva, afetiva, física, relação interpessoal e inserção

social, ética, estética, visando uma formação ampla do aluno. Nessa fase da

vida, o pensamento é reorganizado, a criança sai do mundo da fantasia e

começa a ver o mundo com mais realismo, a aceitar as regras do jogo, a ter um

pensamento mais introspectivo, formando assim sua identidade e raciocínio

lógico-dedutivo. Sendo o lúdico considerado uma necessidade do ser humano

em qualquer idade, e que tem entre suas características básicas o prazer, a

espontaneidade e a busca pela autonomia, acredita-se que uma aula com

características lúdicas favorece o aprendizado dos conteúdos e principalmente

desperta ou desenvolve alguma habilidade do aluno. Além disso, desenvolve

também momentos de diálogo, exposição de desejos, construção de regras,

enfim, um exercício de liberdade constante. Mas, para que os benefícios

ocorram, é preciso que a escola e os professores estejam preparados para

aplicar essas atividades de forma correta, com objetivos definidos, em

momentos propícios e que principalmente tragam consigo uma bagagem

lúdica, condizente com seu discurso, sabendo descentralizar o seu papel,

reconhecendo o papel ativo do aluno e estimulando sempre a criatividade e

espontaneidade dos alunos.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

METODOLOGIA

O presente estudo tem um caráter eminentemente teórico e será

realizado através de pesquisas bibliográficas, cujas informações serão

procuradas em livros, artigos científicos, periódicos direcionados e em sites

especializados.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I- Ensino fundamental 9

1.1Sobre o ensino fundamental 9 1.2Objetivos gerais 12 1.3Características psicomotoras dos alunos 16

CAPÍTULO II – Lúdico 21

2.1 Homo faber, homo ludens 21 2.2 Definição do Lúdico 22 2.3 Um pouco sobre Piaget 25 2,4 Sobre Vygotsky 29 2.5 Algumas diferenças entre Piaget e Vygotsky 32

CAPÍTULO III - Benefício das atividades lúdicas na escola 33 3.1Importância do jogo no desenvolvimento da criança 33 3.2 Jogos em aula 39 3.3 Sugestões de atividades lúdicas para o âmbito escolar 43 3.3.1 Boca do forno 43 3.3.2 Futebol aos pares 44 3.3.3 Pular corda 44 3.3.4 Jogos com matemática em sala 45

CONCLUSÃO 47

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 49

ANEXO 52

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

INTRODUÇÃO

O termo ludus se origina do latim e significa jogo. Caso o seu significado

se prendesse apenas na sua origem, significaria brincar, jogar, realizar

movimentos espontâneos. No entanto, houve uma evolução semântica e o

lúdico deixou de ser apenas sinônimos de jogo e hoje em dia é considerado um

traço marcante da psicofisiologia do comportamento humano.

Admite-se que a ludicidade é uma necessidade do ser humano. Em

contra partida, as escolas, vão deixando de utilizar atividades lúdicas cada vez

mais cedo. Na Educação infantil, onde os resultados não são cobrados com

tanta intensidade observa-se a presença de atividades lúdicas, mas a partir do

Ensino fundamental, deixam-se essas atividades de lado, visando incutir nos

alunos valores de uma sociedade capitalista: produtividade, eficiência,

competitividade, racionalidade e trabalho como antônimo de prazer. Por

acreditarmos que tais atividades possam desenvolver inúmeras qualidades e

ajudar no ensino de tantos conceitos, resolvemos investigar qual o papel das

atividades lúdicas no âmbito escolar, para alunos do ensino fundamental.

Para tentar responder essa questão, o presente estudo foi dividido em

três capítulos: o primeiro versará sobre o ensino fundamental, principais

objetivos e algumas características psicomotoras dos alunos. O segundo

capítulo será sobre as variadas definições de lúdico, tentando identificar uma

que mais se aplique ao ambiente escolar. E por último, no terceiro capítulo

serão apresentados os benefícios das atividades lúdicas, quando utilizadas

corretamente nas escolas e algumas sugestões de atividades para serem

desenvolvidas principalmente no ensino fundamental.

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

CAPÍTULO 1 ENSINO FUNDAMENTAL

1.1Sobre o ensino fundamental

O ensino fundamental é o período escolar obrigatório e indispensável

para o desenvolvimento das crianças e jovens, já que é nessa fase que elas

adquirem o domínio da escrita, da leitura e do cálculo, conhecimento

indispensável para nossa vida em sociedade.

O ensino fundamental compõe, juntamente com a educação infantil e o

ensino médio, o que a Lei Federal nº 9.394, de 1996 – nova Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional -, nomeia como educação básica, cuja finalidade

é: “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação indispensável para o

exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em

estudos posteriores.”

A LBD, em seu artigo 5º, afirma que “o acesso ao ensino fundamental é

direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos,

associação comunitária,organização sindical, entidade de classe ou outra

legalmente constituída, e ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público,

para exigi-lo”.

Em 1961, através da Lei nº 4.024 foi estabelecido 4 anos de

escolaridade obrigatória para o sistema educacional brasileiro e em 1970 o

governo estendeu para 6 anos este dispositivo. Já com a Lei 5.692, de 1971,

houve a determinação federal de ampliar a obrigatoriedade para oito anos.

O artigo 32 da lei nº 9.394,de 20 de Dezembro de 1996, passou a vigorar

com a seguinte redação, a partir da Lei 11.274, de 6 de fevereiro de 2006: “ O

ensino fundamental é obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na

escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a

formação básica do cidadão.”

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

O objetivo desse aumento de tempo no ensino fundamental foi colocar

mais crianças na escola e proporcionar mais tempo de escolaridade aos

estudantes brasileiros. No novo modelo, os conteúdos serão aplicados de

forma mais lúdica, valorizando as características de cada criança

Segundo os dados do Ministério da Educação, o ensino Fundamental

ficou assim dividido: anos iniciais, dos 6 a 10 anos de idade, indo da primeira

à quinta série,com duração de 5 anos, caracterizado pela alfabetização e

solidificação de conteúdos básicos e anos finais, caracterizado pela

diversificação e especificidades dos conteúdos, que vai da sexta à nona série,

normalmente de 11 a 14 anos de idade, se ele sempre tiver sido aprovado nas

séries anteriores, com duração de 4 anos.

Tabela 1: Divisão de séries do Ensino Fundamental de 9 anos

Ensino Fundamental

Anos Iniciais Anos Finais

1ºano 2ºano 3ºano 4ºano 5ºano 6ºano 7ºano 8ºano 9ºano

Dados do INEP, indicam que no ano de 2006, 33.282.663 alunos foram

matriculados no ensino fundamental, em todo o Brasil, sendo que destes

9.104.589, estavam matriculados entre a 5ª e a 8ª série.

Tabela 2: Ensino Fundamental, número de matrículas no ano de 2006

Fonte:edudatabrasil/INEP

Ano Total Rural Urbana

público privado público privado

2006 33.282.663 5.528.460 37.972 24.286.226 3.430.005

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

A tabela 2 nos mostra que dos 33.282.663 alunos matriculados no

Ensino Fundamental em 2006, a maior parte se encontra na área urbana e nas

instituições públicas, 24.286.226. Restam ainda, 3.430.005 alunos matriculados

em instituições privadas, na área urbana. Quando se trata da área rural,

apenas um pequeno número de alunos, 37.972, estuda em estabelecimentos

privados. E, 5.528.460, estudam em escolas públicas.

Tabela 3: Número de alunos matriculados, separados por idades

Ano Total Menos de 7

anos

Entre 7 e 14

anos

Acima de 14

anos

2006 33.282.663 901.297 27.127.536 5.253.830

Fonte: edudatabrasil/INEP

Pode-se observar que a maior parte dos alunos que estudam no Ensino

Fundamental, estão entre 7 e 14 anos (idade prevista , até 2006, pela LDB nº

9.394). Porém, não podemos ignorar, os alunos que estão com mais de 14

anos no Ensino Fundamental, 5.253.830, seja por repetência, por abandono e

regresso, ou por outro motivo qualquer.

Tabela 4: Divisão do número de matrículas por sexo

Ano Total Feminino Masculino

2006 33.282.663 15.602.989 17.679.674

Fonte: edudatabrasil/INEP

A tabela 4 mostra, que ainda há uma predominância de meninos,

17.679.674, no Ensino Fundamental, contra 15.602.989.

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

O número de matrículas vêm crescendo a cada ano que passa, mas

acredita-se ser necessário um aumento ainda maior desse número , do tempo

de permanência dos alunos na escola, e da qualidade de ensino, numa etapa

da educação tão, se não, a mais importante, que é o ensino fundamental, para

que possamos alcançar uma educação de qualidade, que garanta as

aprendizagens essenciais para a formação de cidadãos autônomos, críticos e

participativos, capazes de atuar com competência, dignidade e

responsabilidade na sociedade em que vivem e na qual esperam ver atendidas

suas necessidades individuais, sociais, políticas e econômicas. (PCN, 1998)

1.2 Objetivos do ensino fundamental:

De acordo com a Lei nº 9.394, de 1996, o ensino fundamental no Brasil

tem por objetivo, a formação básica do cidadão mediante:

I. “O desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como

meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

II. A compreensão do ambiente natural e social, do sistema político,

da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a

sociedade;

III. O desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em

vista a aquisição de conhecimentos e habilidade e a formação de

valores e atitudes;

IV. O fortalecimento do vínculo de família, dos laços de solidariedade

humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida

social.”

Os objetivos propostos nos Parâmetros Curriculares Nacionais, 1998,

concretizam as intenções educativas em termos de capacidades que devem

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

ser desenvolvidas pelos alunos ao longo da escolaridade. Assim, os objetivos

são definidos em termos de capacidades de ordem cognitiva, físico, afetiva, de

relação interpessoal e inserção social, ética, estética, tendo em vista uma

formação ampla.

A capacidade cognitiva influencia diretamente na postura do indivíduo

em relação às metas que ele deseja atingir, nas mais diversas situações do

dia-a-dia, vinculando-se diretamente ao uso de formas de representação e

comunicação, envolvendo resolução de problemas.

A capacidade física engloba o auto conhecimento e uso do corpo na

expressão de emoções, na superação de esteriotipias de movimentos e nos

jogos. A afetiva, refere-se às motivações, à auto-estima, à sensibilidade e à

adequação de atitudes no convívio social. O aluno passa então, a compreender

melhor a si mesmo e aos outros. Essa capacidade, liga-se diretamente à

capacidade de relação interpessoal, que significa, compreender, conviver e

produzir com os outros, percebendo distinções entre as pessoas, diferenças de

temperamento, intenções e estados de ânimo.

A capacidade estética permite produzir arte e apreciar as diferentes

produções artísticas, produzidas em diferentes culturas e em momentos

históricos distintos. A capacidade ética, é a possibilidade de reger as próprias

ações e tomadas de decisões por um sistema de princípios, onde são

analisados as diversas situações de vida, de valores e opções. O

desenvolvimento dessa capacidade permite a superação da rigidez moral no

julgamento e na atuação pessoal, na relação interpessoal e na compreensão

das relações sociais.

Quanto à capacidade de inserção social, refere-se à possibilidade de o

aluno perceber-se como parte de uma comunidade, de uma classe, ou de

grupos sociais e de comprometer-se pessoalmente com questões que

considere relevante para a vida coletiva, Seu desenvolvimento é necessário

para que se possa superar o individualismo e atuar no cotidiano e na vida

política, levando em conta a dimensão coletiva.

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

São objetivos dos Parâmetros Curriculares Nacionais do ensino

fundamental, que os alunos sejam capazes de:

I. “Compreender a cidadania como participação social e política,

assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e

sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade,

cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo

para si o mesmo respeito;

II. Posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas

diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de

mediar conflitos e de tomar decisões coletivas;

III. Conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões

sociais, materiais e culturais como meio para construir

progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o

sentimento de pertinência ao país;

IV. Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural

brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e

nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada

em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de

etnia ou características individuais e sociais;

V. Perceber-se integrante, dependente e agente transformador do

ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles,

contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente;

VI. Desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o

sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física,

cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e inserção

social, para agir com perseverança na busca do conhecimento e

no exercício da cidadania;

VII. Conhecer o próprio corpo e dele cuidar, valorizando e adotando

hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos de qualidade

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

de vida e agindo com responsabilidade e relação à sua saúde e à

saúde coletiva;

VIII. Utilizar as diferentes linguagens – verbal, musical, matemática,

gráfica, plástica e corporal – como meio para produzir expressar e

comunicar suas idéias, interpretar e usufruir das produções

culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a

diferentes intenções e situações de comunicação;

IX. Saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos

tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos;

X. Questionar a realidade, formulando-se problemas e tratando de

resolvê-los, utilizando para isso o pensamento lógico, a

criatividade, a intuição, a capacidade de análise crítica,

selecionando procedimentos e verificando sua adequação;”

Baseada nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino

fundamental, no artigo 3º, da Resolução CNE/CEB, n º2, de 1998, as escolas

deverão estabelecer como norteadores de sua ações pedagógicas:

a. Os princípios éticos da autonomia, da responsabilidade, da

solidariedade e do respeito ao bem comum;

b. Os princípios dos Direitos e do Deveres da Cidadania, do

exercício da criticidade, e do respeito à ordem democrática;

c. Os princípios estéticos da sensibilidade, da criatividade, e

da diversidade de manifestações artísticas e culturais.

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

1.3 Características psicomotoras dos alunos:

Nessa fase da vida, o crescimento físico é mais lento do que nas fases

anteriores, as diferenças resultantes do fator sexo começam a se acentuar

mais nitidamente.

Na opinião de Pinheiro (2007), este período, ou idade escolar, segundo a

teoria freudiana, corresponde ao estágio latente, assim designado por que nela

a libido não exerce grande influência no comportamento observável do

indivíduo, visto que praticamente toda a sua energia é utilizada no sentido de

adquirir as competências básicas para a vida em sociedade. O ponto mais

importante a salientar nesta fase da vida, no contexto da teoria psicanalítica, é

o conceito de mecanismo de defesa, dos quais se distinguem a negação, a

identificação com o agressor, a repressão a sublimação, o deslocamento, a

regressão, a racionalização e a projeção.

Ainda para Pinheiro (2007), do ponto de vista do desenvolvimento

cognitivo, o indivíduo se encontra no estágio de operações concretas, segundo

Piaget. A criança se limita ao seu mundo imediato e concretamente real.

Para Piaget, nessa época o pensamento é verdadeiramente

reorganizado. As crianças começam a ver o mundo com mais realismo,

deixando de confundir o real com fantasia.

A criança começa a adquirir capacidade de realizar operações – cuja

definição é: ação interiorizada, realizada no pensamento, composta por várias

ações reversíveis.

Lacombe (2002) acredita que num primeiro momento, a criança pensa

sem tomar consciência do seu pensamento. Por isso, não consegue, muitas

vezes, explicar como chegou a determinada resposta. Depois, por volta dos

nove/dez anos, a criança começa um processo de interiorização do

pensamento; é a construção do pensamento introspectivo que lhe vai permitir

refazer mentalmente as etapas de seu raciocínio, tomando consciência de sua

seqüência de pensamento.

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

No início desse período, a criança consegue realizar operações, porém

precisa de uma realidade concreta para realizá-las. Um bom exemplo a ser

dado, pode ser a experiência dos copos de água. No estágio anterior (pré-

operatório), a criança não consegue perceber que a quantidade de liquido é a

mesma, independente do formato do copo. No estágio operatório, elas já

percebem que o volume de água é o mesmo, pois já tem noção de volume,

peso, espaço, classificação e operações numéricas.

São três as construções lógicas fundamentais deste estágio:

• A lógica das classes – relações de semelhança – que vai fazer

com que a criança agrupe seus elementos segundo diferentes

critérios de semelhança: animais, pessoas, objetos.

• A lógica das séries – relações de diferença – permite a ordenação

de elementos segundo suas diferenças: tamanho, peso, altura...

• As conservações das quantidades numéricas e físicas –

construção do conceito de quantidade, independente das

alterações espaciais e de forma a que sejam submetidos.

Exemplo de conservação numérica: a quantidade 8 é sempre igual,

independente dos elementos serem formigas ou girafas

Exemplo de conservação de quantidade: uma vez estabelecida a

igualdade inicial de “massinha”, esta quantidade, não se altera independente

do seu formato, uma “cobra”, um “disco”, ou uma “bola”.

Esses conceitos que para os adultos parecem tão óbvios, não são para

criança. Para construí-los, a criança precisa abandonar a força da imagem e

operar sobre a quantidade, comparando, relacionando, fazendo o caminho

inverso. Esses conceitos darão condições a criança de aprender os conteúdos

escolares da 1ª à 4ª série do ensino fundamental.

Apesar de já conseguir efetuar operações corretamente, precisa ainda

de estar em contato com a realidade, por isso seu pensamento é descritivo

intuitivo – parte do particular para o geral.

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

A criança já interiorizou algumas regras sociais e morais e, por isso as

cumpre, para se proteger. Segundo Carvalho (2006), é nesta fase que a

criança começa a dar grande valor ao grupo de pares, por exemplo: começa a

sair com os amigos, adquirindo valores como a amizade, companheirismo,

partilha, etc...Começam também a aparecer os líderes. Graças a isso, a

socialização da criança dá um salto qualitativo.

As regras do jogo começam a ser aceitas e respeitadas. Entende-se que

o que vale para uma criança também vale para outra, e ainda, que as regras

não são absolutas, podendo ser modificadas, recriadas, desde que em comum

acordo com os parceiros, mas isso só ocorre a partir dos oito anos. Até essa

idade, as regras são consideráveis imutáveis, e do ponto de vista moral, são

encaradas como leis, que precisam ser impostas por alguém, como pai e

professores.

Para Carvalho (2006), a criança progressivamente começa a

desenvolver a capacidade de se colocar no lugar do outro, o que chamamos de

descentralização cognitiva e social. Nessa fase deixa de existir monólogo

passando a haver diálogo intenso. O pensamento é cada vez mais estruturado

devido ao domínio da linguagem. A criança já tem mais capacidade de estar

concentrada e algum tempo interessada em realizar determinada tarefa.

Lacombe (2002) acrescenta que ao final deste estágio, o pré-

adolescente vai conseguir discutir e relativizar as normas em função de cada

situação. Do ponto de vista moral, pais e professores já não encarnam a lei:

são vistos como os representantes da lei e também sujeitos a ela.

É preciso que se incentive a autonomia e a autoconfiança da criança

diante das situações da vida. A criança que segundo Piaget antes era

heteronômica, agora tende a ser autonômica.

Aos 11/12 anos, inicia-se um novo estágio, o das operações formais.

Essa transição é bem evidente, graças às notáveis diferenças que surgem nas

características de pensamento. A condição para a entrada no pensamento

formal, é o desenvolvimento do pensamento introspectivo, que permite a

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

tomada de consciência do processo de pensar.

É nessa fase, que a criança realiza pensamentos abstratos, não

necessitando mais da realidade. O pensamento formal, é caracterizado pela

possibilidade de se trabalhar com hipóteses, por isso, chama-se também

pensamento hipotético-dedutivo.

Lacombe (2002), também afirma que a partir das hipóteses, o

adolescente pode confirmá-las ou negá-las, através de raciocínio lógico-

dedutivo, com todas as variáveis do problema. Para isso, o pensamento deve

ter mobilidade: capacidade de juízo critico, de analisar uma situações por

vários ângulos, de trabalhar com correlações e implicações.

Surge o desenvolvimento da própria identidade, podendo haver

problemas de existência e dúvidas entre o certo e o errado. Avaliações das

relações afetivas e sociais também acontecem nesse período.

A adolescência é caracterizada por aspectos de egocentrismo cognitivo:

o adolescente “resolve” todos os problemas sociais, políticos e morais

teoricamente, sem buscar confrontar suas hipóteses com a realidade.

O adolescente, precisa se sentir autorizado a pensar. Só onde as idéias

são favorecidas e as diferenças respeitadas, há o enriquecimento afetivo e

cognitivo de seus participantes.

A adolescência é, também, um período em que o indivíduo tem que lutar

contra o estereótipo social e contra uma autoimagem distorcida dele

decorrente. A cultura tende a ver o adolescente como um indivíduo desajeitado,

irresponsável e inclinado às mais variadas formas de comportamento

antisocial.

Por sua vez, o adolescente vai desenvolvendo uma autoimagem que

reflete, de alguma forma, esse estereótipo da sociedade. Essa condição

indesejável ordinariamente cria conflitos entre pais e filhos, entre o adolescente

e a escola, entre o adolescente e a sociedade em geral.

A adolescência é o período de grandes sonhos e aspirações, mesmo

que não sejam sempre, realistas. De acordo com o próprio Piaget, nessa fase

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

da vida a possibilidade é mais importante do que a realidade. Pinheiro (2007),

acredita, que a partir do amadurecimento normal do ser humano é que ele vai

aprendendo a discriminar entre o possível e o desejável.

Vale ressaltar, que se a criança for suficientemente madura para o seu

estágio, ela imitará o modelo de ação utilizado pelos mais velhos, e, por

conseqüência, iniciará sua entrada no estágio seguinte.

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

CAPÍTULO 2 LÚDICO

“Brincar com criança não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste

ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados

enfileirados, em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem

valor para a formação do homem.”

(Drummond)

2.1 Homo faber, homo ludens:

Essas duas expressões latinas indicam dois instintos contrários do

homem: o de fazer as coisas e o de desfrutar das coisas.. Como diz Camargo,

o reino da necessidade e o reino da expressão, o que cria e o que desfruta da

criação.

O homem para ser faber, em todas as épocas, teve de ser disciplinado,

tenso, produtivo. Hoje, ele tem de manter posturas artificiais, nos limites

indicados pela sua função exposta no crachá.

Enquanto trabalha, não pode se divertir com o mundo exterior, deve

estar atento a todos os fatos que possam prejudicar suas tarefas, sabe que a

adrenalina aumenta se o chefe se aproximar......O homo faber é tenso!

Deve executar também, o maior número de tarefas, em um menor tempo

possível. O homo faber é produtivo!

Todo trabalhador sabe que sua função exige uma postura específica.

Caso seja adequado viver sorrindo, ele o fará; se não convier, ficará sério. O

homo faber passou a ser também artificial!

Já o homo ludens abomina a disciplina e a rotina. Procura perceber a cor

do céu, a expressão no rosto do amigo. O homo ludens é relaxado!

O homo ludens sabe que para se divertir, o segredo é deixar passar o

tempo, jogando conversa fora, por exemplo, sem sentir remorso. O homo

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

ludens é improdutivo!

Para o homo ludens, o que vale é a espontaneidade. Ser divertido,

contar piadas, degustar do momento presente. O homo ludens é espontâneo!

Segundo Camargo (1998), do homo ludens nasce o faber. O bebê na

sua primeira infância é totalmente ludens, procura se exprimir, exercita seus

sentidos, sua voz. Aos poucos o homo faber emerge, seja a partir dos objetivos

externos à brincadeira, seja por influência dos pais, induzindo o sentido do

“dever”.

Nossos antepassados também derivaram do ludens, se transformando

em faber, para coletar alimentos, construir abrigos ou lutar contra animais

selvagens.

O que acontece atualmente, é que a capacidade faber do homem

continua evoluindo, enquanto a capacidade ludens do homem se atrofia.

Ainda segundo Camargo (1998), a nossa civilização teria imensas

vantagens, se acreditasse mais no faber que nasce do ludens, sem sentir

necessidade de sufocá-lo. Na família e até mesmo na escola, o lúdico, o

espontâneo, são sufocados pela artificialidade, pelos gestos controlados, pela

preparação precoce para o vestibular e o mercado de trabalho. Resultando em

futuros adultos, trabalhando sem nenhuma paixão, aguardando apenas a

permissão do ponteiro do relógio para recomeçar a viver.

2.2 Definição do lúdico

O termo lúdico vem do latim e cobre todo o terreno do jogo com uma

única palavra: ludus. Ludus é alegria e liberdade, abrange os jogos infantis,

teatrais e os jogos de azar, refere-se a : brinquedo, jogo, divertimento e

passatempo.

Huizinga (2001), diz que etimologicamente, a palavra jogo também vem

do latim lodo, que significa gracejo e zombaria, que foi empregada no lugar de

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

ludu. Embora ludere, de onde vem ludu e onde deriva diretamente lusus

também possa significar “ilusão” e “simulação”.

Matos (2006), acrescenta: no italiano gioco, espanhol juego, em francês

jeu e em português jogo, a palavra jogo é usada não só para designar os jogos,

mas também as brincadeiras. O inglês traz duas palavras: game, que é o jogo

organizado e play, que é o jogo sem regras. Portanto, para essas civilizações

ludus e jogo significam a mesma coisa e se referem também a brincadeiras.

Cabe destacar, que essa palavra não é utilizada com o mesmo significado em

todas as civilizações.

Para Huizinga, o jogo caracteriza-se por ser voluntário. Quando imposto,

não é mais jogo, e sim no máximo, uma imitação forçada, exercida dentro de

certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente

consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo,

acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria. Diz também, que o

jogo tem por natureza um ambiente instável. É possível, em qualquer momento

adiar ou suspender o jogo. Jamais é imposto pela necessidade física ou pelo

dever moral. A qualquer instante, a vida cotidiana “volta ao normal”, seja por

um impacto exterior, que interrompa o jogo, ou quebre as regras, ou interior,

causado pelo afrouxamento do espírito do jogo, uma desilusão ou desencanto.

Segundo Luckesi (2000), o que caracteriza o lúdico “é a experiência de

plenitude que ele possibilita a quem o vivencia em seus atos.” A ludicidade

como estado de inteireza, de estar pleno naquilo que se faz com prazer, de

poder estar presente em diversas situações de nossas vidas.

Já Le Boulch (1987), diz que a atividade lúdica representa um gasto de

atividade física e mental que não tem finalidade imediatamente útil, nem se

quer um objetivo definido, e cuja única razão de ser, para consciência de quem

pratica, é o prazer nela encontrado.

É oportuno falarmos em Feijó (1998), para evidenciar a importância do

lúdico no desenvolvimento cognitivo psicomotor e psicológico da criança:

“O lúdico passou a ser reconhecido como um traço essencial da psicofisiologia do comportamento humano. De modo que a

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

definição de lúdico deixou de ser o simples sinônimo de jogo. As implicações da necessidade de lúdico extrapolam as demarcações do brincar espontâneo.

O lúdico é uma das necessidades básicas de personalidade, do corpo e da mente. [...] Faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana [...]

Este traço o coloca no mesmo grupo de todas as outras necessidades da pessoa, [...] tão essencial quanto respirar e receber afeto.” (p.67)

A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e

não pode ser vista apenas como diversão. Tem como características a

espontaneidade, funcionalidade e satisfação. Uma vez funcional, o lúdico não

pode ser confundido com simples repetição, com monotonia do comportamento

cíclico, sem alvo ou objetivo aparente. No lúdico não importa apenas o produto

da atividade, mas a própria ação, o momento vivido, possibilitando a quem

vivencia momentos de encontro consigo e com o outro, momentos de fantasia

e realidade, momentos da vida.

As manifestações lúdicas podem ser caracterizadas por jogos, festas,

brincadeiras, danças e por outras inúmeras e inesperadas expressões

culturais, não necessitando de lugares ou momentos “privilegiados” para

ocorrer, podendo acontecer na fila do supermercado, numa reunião de

negócios ou numa sala de aula.

Percebe-se com isso que as experiências lúdicas são permeadas por

elementos íntimos e próprios de cada sujeito, de forma subjetiva, não se

encontrando no outro, no objeto ou no ambiente. É possível que um jogo ou um

teatro, possa ser extremamente prazeroso para uns e entediante para outros.

Conclui-se então, que se trata de uma manifestação que envolve o gosto, o

desejo, a vontade do sujeito, tornando-a única, ao ser contemplada.

As vivências lúdicas podem ocorrer também no encontro com outros

sujeitos, caracterizando-se por momentos de diálogo, construção de regras,

onde os envolvidos participam em conjunto do processo de permitir, desejar,

decidir e realizar em contextos diferentes.

Em suma, o lúdico em seus aspectos fundamentais, caracteriza-se por:

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

X Ser um fim em si mesmo, tendo como objetivo uma vivência

prazerosa de sua atividade. É o “gosto porque gosto” que as

crianças tanto usam para expressar suas preferências;

X Ser espontâneo , diferindo de qualquer atividade imposta;

X Pertencer à dimensão do sonho, da sensibilidade. Relaciona-

se mais com o principio do prazer, que com o da realidade.

Infelizmente vivenciar os sonhos e os desejos tornou sinônimo

de imaturidade ou inadaptação.

X Basear-se na atualidade, favorecendo a construção do futuro a

partir do presente. O hoje será apenas a semente que

germinará o amanhã, e não a preparação para um futuro

inexistente.

X Privilegiar a criatividade, inventividade e imaginação, não

comportando com isso, regras preestabelecidas.

2.3 Um pouco de Piaget

Até o início do século xx, acreditava-se que qualquer diferença entre os

processos cognitvos de crianças e adultos era, sobretudo de grau: os adultos

eram superiores mentalmente, assim como eram fisicamente maiores, mas os

processos cognitivos básicos ao longo da vida eram os mesmos.

Piaget, a partir de observações com seus filhos e com outras crianças,

concluiu que em várias questões as crianças não pensam como adultos, por

lhes faltarem certas habilidades, não somente em grau, como em classe.

Surge então a teoria do desenvolvimento cognitivo, que pressupõe, que

os indivíduos passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis,

desde o nascimento até o início da adolescência, quando a capacidade plena

de raciocínio é atingida.

São pressupostos básicos dessa teoria: o interacionismo, a idéia do

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

construtivismo seqüencial e os fatores que interferem no desenvolvimento.

Por ser concebida como ser dinâmico, a criança interage a todo

momento com o ambiente. Essa interação faz com que se construam

estruturas mentais, e acontece a partir de dois processos simultâneos: a

organização interna e a adaptação ao meio.

A adaptação, que pode ser definida como desenvolvimento da

inteligência, ocorre através da assimilação (incorporar objetos do mundo

exterior a esquemas mentais preexistentes) e da acomodação (modificações

dos sistemas de assimilação por influência do mundo externo).

Por construtivismo seqüencial entende-se que é a construção da

inteligência através de etapas sucessivas, com complexidades crescentes,

encadeadas umas às outras.

Para Piaget, há quatro estágios básicos do desenvolvimento cognitivo:

1) Sensório-motor – que vai do nascimento até os dois anos. Nessa fase, a

criança adquire a capacidade de administrar seus reflexos básicos para

que gerem ações vantajosas ou prazerosas. A inteligência trabalha

através das percepções e das ações e através de deslocamentos do

próprio corpo. É uma inteligência iminentemente prática. Sua linguagem

vai da ecolalia (repetição de sílabas) à palavra-frase (uma palavra

representando uma frase inteira). Sua conduta social é de isolamento e

indiferenciação.

2) Pré-operatório – vai dos 2 aos 7 anos, e se caracteriza pelo surgimento

da capacidade de dominar a linguagem e a representação por meio de

símbolos. A criança continua ainda egocêntrica, ou seja, não consegue

se colocar na perspectiva do outro. Existe um caráter lúdico do

pensamento e a irreversibilidade também está presente (a criança não

compreende a existência de fenômenos reversíveis). No entanto, já é

capaz de organizar coleções e conjuntos, sem incluir conjuntos menores

em conjuntos maiores. Quanto à linguagem não mantém uma

conversação longa, mas já é capaz de adaptar sua resposta às palavras

do companheiro.

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

3) Operatório concreto - 7 aos 11 anos, aproximadamente. O indivíduo

consolida as conservações de número, substância, volume e peso.

Existe a noção de reversibilidade das coisas. Já é capaz de ordenar

elementos por seu tamanho, incluindo conjuntos. Sua organização social

é a de bando, podendo participar de grupos maiores, chefiando e

admitindo a chefia. Já podem compreender regras e são fiéis a elas. A

conversação é possível mas,não podem ainda discutir pontos de vista,

para chegar a uma conclusão comum.

4) Operatório abstrato ou formal - dos 11 anos em diante. É o ápice da

inteligência e corresponde ao nível de pensamento hipotético-dedutivo

ou lógico-matemático. A partir dessa estrutura de pensamento é possível

a dialética, que permite que a linguagem se dê ao nível de discussão

para se chegar a uma conclusão. Sua relação grupal pode estabelecer

relações de cooperação e reciprocidade. A grande novidade é que o

sujeito torna-se capaz de raciocinar corretamente sobre proposições em

que ainda não acredita, que considere puras hipóteses.

Piaget acredita, que a educação deve provocar a atividade, estimular a

busca pelo conhecimento, possibilitar à criança um desenvolvimento amplo e

dinâmico. Propondo atividades desafiadoras, que provoquem desequilíbrios e

reequilibrações sucessivas.

Para construir esse conhecimento, as concepções infantis combinam-se

às informações advindas do meio, na medida em que o conhecimento não é

concebido apenas como sendo descoberto espontaneamente pela criança e

nem transmitido de forma mecânica pelo meio exterior ou pelos adultos, mas

sim, como resultado de uma interação, onde o sujeito é sempre elemento ativo.

Apesar de não propor um método, ele acredita que os conteúdos de

ensino servem como instrumentos que vão levar ao desenvolvimento evolutivo

natural do aluno e principalmente que os objetivos pedagógicos devem estar

centrados no aluno.

Os objetivos da educação estão centrados na formação de homens

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

criativos, inventivos e descobridores, de pessoas críticas e ativas, e em busca

constante da autonomia.

A aprendizagem é um processo de reorganização cognitiva, construída

internamente, que depende do nível de desenvolvimento do sujeito ( ou seja,

não se pode fazer uma criança aprender o que ela ainda não tem condições de

absorver, ou mesmo que tenha essas condições, ela não vai se interessar a

não ser por conteúdos que lhe façam falta em termos cognitivos) , e que é

favorecida pela interação social.

A teoria piagetiana considera o erro não como um fracasso, mas como

um indicador positivo de que o aluno ainda não aprendeu ou em que fase se

encontra em relação à constituição de determinado conhecimento. A isso

chama-se erro construtivo.

Quando Piaget fala que um dos objetivos da educação deve ser a busca

da autonomia não está se referindo a um isolamento. Na verdade, ser

autônomo significa estar apto a cooperativamente construir o sistema de regras

morais e operatórias necessárias à manutenção de relações permeadas pelo

respeito mútuo, significa o indivíduo ser governado por si próprio.

A constituição da autonomia se desenvolve junto com o processo de

desenvolvimento de autoconsciência. No início, a inteligência está calcada em

atividades motoras, centradas no próprio indivíduo, numa relação egocêntrica;

nessa fase a criança joga consigo mesmo, não precisa compartilhar nada. É o

estado de anomia. No desenvolvimento e na complexificação das ações, o

indivíduo reconhece a existência do outro e passa a reconhecer a necessidade

de regras, de hierarquia. O controle está centrado no outro, existe uma relação

de heteronomia. Nesse caso a regra é externa, e, portanto sagrada. A

consciência centrada no outro anula a ação do indivíduo como sujeito.

Na medida em que os indivíduos decidem com igualdade, as pressões

que exercem uns sobre os outros se tornam colaterais. E, para que surja a

autonomia adquirida pela moral, é necessária essa cooperação progressiva.

Portanto, o respeito mútuo aparece como condição necessária da autonomia,

sobre seu duplo aspecto intelectual e moral.

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

Falando um pouco sobre as atividades lúdicas, elas são o berço

obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo, indispensável à

prática educativa. Por isso, Piaget acredita que o jogo é essencial na vida da

criança.

Descreve então, quatro estruturas básicas de jogos infantis, que vão se

sucedendo e se sobrepondo: de início tem-se o jogo de exercício que é aquele

em que a criança repete uma situação por puro prazer. Entre os 2 e 6 anos

aproximadamente, ocorrem os jogos simbólicos ou dramáticos e jogos de

construção, que satisfazem a necessidade da criança de relembrar o que

aconteceu e de executar a representação também. Após esse período surgem

os jogos de regras, que é quando a criança aprende a lidar com a delimitação,

no espaço, no tempo, no tipo de atividade válida, o que pode ou não fazer e

que são transmitidos de criança para criança. Sua importância aumenta de

acordo com o desenvolvimento social da criança.

Para Piaget, o jogo constitui-se em expressão e condição para o

desenvolvimento infantil, já que ao jogar , a criança assimila e pode transformar

a realidade.

Conhecer sua obra, pode ajudar o professor a tornar seu trabalho mais

eficiente, elaborando atividades de acordo com o estágio de desenvolvimento

(importante lembrar que as idades são meros parâmetros e não são fixas),

percebendo que educar não é transmitir conteúdos e que o intelecto é formado

por esquemas capacitados a evoluir e se tornar progressivamente mais

complexos, onde a inteligência é formada pela ação do sujeito sobre o objeto,

numa espécie de dialogo entre as estruturas internas e a realidade externa.

2.4 Sobre Vygotsky

Vygotsky estabelece uma relação estreita entre o jogo e a

aprendizagem, atribuindo-lhe uma grande importância. Para esclarecer melhor

essa importância, vamos apresentar algumas idéias de sua teoria do

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

desenvolvimento cognitvo.

A principal idéia é que o desenvolvimento ocorre ao longo da vida e que

as funções psicológicas superiores são construídas ao longo dela.

Diferentemente de Piaget, ele não estabelece estágios para explicar o

desenvolvimento, e o sujeito não é ativo, nem passivo, ele é interativo.

A criança se desenvolve a partir de interações sociais com pessoas que

mantém contato regular. Aprendem a regra do jogo, através dos outros e não

como resultado de um engajamento individual na solução de problemas.

Outro ponto importante é o conceito de Zona de desenvolvimento

proximal, que é a diferença entre o desenvolvimento atual, já adquirido da

criança (zona de desenvolvimento real) e o nível que atinge quando resolve os

problemas com auxílio de outras pessoas que já tenham adquirido o

conhecimento (zona de desenvolvimento potencial).

Zona de Desenvolvimento real Zona de desenvolvimento potencial

________I_____Zona de desenvolvimento proximal________I________

Vygotsky (1979), afirma que no desenvolvimento a imitação e o ensino

desempenham um papel de primeira importância. Põem em evidência as

qualidades especificamente humanas do cérebro e conduzem a criança a

atingir novos níveis de desenvolvimento. A criança fará amanhã sozinha aquilo

que hoje é capaz de fazer em cooperação. Por conseguinte, o único tipo

correto de pedagogia é aquele que segue em avanço relativamente ao

desenvolvimento e o guia; deve ter por objetivo não as funções maduras, mas

as funções em vias de maturação.

Na visão sócio-histórica, a brincadeira e o jogo são atividades

específicas da infância, onde a criança pode recriar a realidade usando

sistemas simbólicos. Participando assim de um contexto social e cultural.

Não é o caráter de espontaneidade do jogo que favorece o

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

desenvolvimento da criança, e sim o exercício no plano da imaginação de

planejar, imaginar diversas situações, representar papéis do cotidiano, bem

como, o caráter social das situações lúdicas, os seus conteúdos e regras

inerentes à cada situação.

A partir do jogo, cria-se uma zona de desenvolvimento proximal, e sob

orientação de um adulto, ou de um companheiro mais capaz, a criança

consegue resolver um problema, atingindo a zona de desenvolvimento

potencial.

Porém vale ressaltar que não são todos os jogos que possibilitarão a

criação de uma zona de desenvolvimento proximal, assim como nem todo

ensino o consegue.

Há também no jogo um elemento de grande importância para a criança:

a situação imaginária, que tem relação estreita com a vivenciada até então. Ele

afirma que durante os jogos, a criança reproduz muito mais do que aquilo que

viu.

“Todos conhecemos o grande papel que nos jogos da criança desempenha a imitação, com muita freqüência estes jogos são apenas um eco de que as crianças viram e escutaram aos adultos, não obstante estes elementos da sua experiência anterior nunca se reproduzem no jogo de forma absolutamente igual e como acontecem na realidade. O jogo da criança não é uma recordação simples do vivido, mas sim a transformação criadora das impressões para a formação de uma nova realidade que responda às exigências e inclinações da própria criança”. (Vygotsky, 1999,p.12)

Vygotsky, classifica o brincar em algumas fases: na primeira fase, a

criança começa a se distanciar do seu meio social, representado pela mãe.

Movimenta-se em volta das coisas, começa a andar e falar. Essa fase dura até

aproximadamente os 7 anos. A segunda fase, caracteriza-se pela imitação e

pela cópia dos modelos dos adultos. E a terceira e última fase, é marcada por

convenções que surgem de regras.

O professor deve conhecer a teoria de Vygotsky, para que possa

oferecer brincadeiras de acordo com a zona de desenvolvimento em que a

criança se encontra, adequando às suas necessidades e capacidades,

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

possibilitando enfim que a criança passe do que sabe fazer para o que ainda

não sabe.

2.5 Algumas diferenças entre Piaget e Vygotsky

Um dos pontos divergentes entre as duas teorias esta centrado na

concepção do desenvolvimento. Para Piaget, o nível mental atingido pelo

sujeito, determina o que o sujeito pode fazer. E Vygotsky, afirma que o

processo em formação pode ser concluído através da ajuda oferecida ao

sujeito na realização de uma tarefa.

Piaget não aceita ajuda de outra pessoa em provas com o sujeito, por

considerá-las inviáveis para detectar a evolução mental, enquanto Vygotsky,

não só as aceita, como considera fundamental para a evolução.

Para Piaget o nível de desenvolvimento é considerado um limite para

adequar o conteúdo de ensino; para Vygotsky, o que precisa ser estabelecido é

uma seqüência que permita ao aluno progredir, impulsionando ao longo de

novas aquisições. Graças a isso, Vygotsky afirma que a aprendizagem vai à

frente do desenvolvimento. A partir do contato com uma pessoa mais

experiente e com quadro histórico cultural, as potencialidades do aprendiz são

transformadas em situações que ativam nele esquemas cognitivos ou

comportamentais, num processo dialético contínuo. Acreditando nisso, ele diz

que a escola deveria dirigir o ensino para etapas ainda não alcançadas pelo

aluno, incentivando novas conquistas por parte do aluno.

Segundo Piaget, a imaginação da criança não é mais que uma atividade

deformante da realidade, para Vygotsky a criança cria a partir do que conhece,

das oportunidades do meio e em função de suas necessidades e preferências.

No jogo, Piaget acredita predominar a assimilação, ou seja, a criança

assimila no jogo o que percebe da realidade e sendo assim, o jogo não é

determinante nas modificações das estruturas já constituídas. E para Vygotsky,

o jogo proporciona alterações das estruturas.

Para finalizar, segundo as concepções de Vygotsky, não basta apenas

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

deixar a criança brincar, mas sim, ajudá-las a brincar e até mesmo, ensiná-las

a brincar.

CAPÍTULO 3 BENEFÍCIOS DAS ATIVIDADES LÚDICAS

NA ESCOLA

“É no brincar, e somente no brincar que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser

criativo e utilizar sua personalidade integral; e é somente sendo criativo que o

indivíduo descobre o eu.” ( Winnicott)

3.1 Importância do jogo no desenvolvimento da criança

Segundo Le Boulch (1987), atividade lúdica representa gasto de

atividade física e mental, que não têm finalidade imediatamente útil, nem

sequer objetivo definido, e cuja única razão de ser, é o próprio prazer nela

encontrado. E jogo é toda atividade despendida de finalidade exterior a ela

mesma, pelo prazer.

O jogo é comum ao homem e ao animal; suas manifestações mais

primitivas são descargas motoras, como gritos, corridas, gesticulações

diversas.

O jogo no humano é bem diferente daquele dos animais, não se

limitando a simples descargas motoras e nem a atividades de exploração do

meio. Na atividade lúdica, é a função de simulação que representa o nível mais

elevado da função cognitiva. Pela imaginação e atividade criadora, o homem

pode evadir-se da realidade e do presente. Porém, o jogo como atividade

adaptativa, pode realizar um certo equilíbrio entre o mundo interior e exterior .

Sendo assim, o jogo aparece como um modo de expressão, revelando desejos,

temores, frustrações, obsessões da criança e até mesmo do adulto.

Como diz Le Boulch (1987):

“O jogo pode, sob este aspecto, ser considerado como uma desforra do principio de prazer sobre o principio da realidade. Se, por um lado,

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

o jogo não tem significação relacionada à adaptação, por outro ele nada possui de uma atividade verdadeiramente “gratuita”, pois há no jogo uma estrutura e um sentido que o convertem numa forma involuntária de linguagem, conferindo-lhe assim um valor simbólico.”(p.49)

No jogo, a criança tem oportunidade de estruturar seu esquema

corporal, sua relação com espaço e tempo, ampliar a utilização do perceptivo

motor e ainda estampar a afetividade, desencadeando suas emoções.

É brincando que a criança aprende a trabalhar suas frustrações, na

medida em que perde ou ganha. Esse fator se torna inerente ao crescimento e

fortalece emocionalmente o indivíduo e suas relações com o outro. O brincar é

um ato social.

Para Macedo (1994), no contexto do jogo, a criança pode encontrar

tempo e espaço para pensar, ou seja, a construção de um saber por uma

criança, pode ser considerada como produto de um “ócio digno”.

Piaget (1975) acredita que o lúdico está presente no jogo, mas faz a

separação entre ambos. Assim, o jogo em seu desenvolvimento aparece como

jogo de exercício, depois se torna simbólico, jogo com regras, e então jogo de

construção. Apesar da divisão, sabemos que mesmo um jogo de regras pode

apresentar características dos jogos de exercício ou simbólico. Quando se

descobre uma boa jogada, e ela é repetida pelo simples prazer funcional, ou

quando há fantasia enquanto se joga.

No jogo de exercício, há o prazer funcional, o trabalho é visto como algo

que produz satisfação. O jogo consiste em rituais ou manipulações de objetos

em função dos desejos e hábitos motores da criança. Observa-se um prazer

em exercitar o que já foi aprendido.

No jogo simbólico, aparece o faz-de-conta, existe a possibilidade de

experimentar papéis, recriar situações. Há uma liberdade de regras,

desenvolvimento da imaginação e fantasia, ausência de objetivo e de uma

lógica da realidade.

Barbosa (2006), afirma que no jogo de regras, a criança passa por

restrições, limites. As obrigações são impostas por intermédio das relações de

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

reciprocidade e cooperação do grupo. A criança pode criar e recriar regras.

Esse tipo de jogo é necessário então, para o desenvolvimento de regras

sociais, culturais, de comportamento e de valores morais. Uma vez que se faz

imprescindível a socialização, o seu aparecimento é tardio, e intensifica-se dos

sete aos onze anos.

As estratégias de ação, tomadas de decisão, análise dos erros, lidar com

perdas e ganhos, replanejar jogadas em função dos movimentos dos

adversários, tudo isso é importante para o desenvolvimento cognitivo de cada

pessoa. O jogo provoca conflitos internos e a necessidade de buscar saídas. A

partir desses conflitos, o pensamento sai enriquecido, reestruturado e pronto

para lidar com novas transformações.

No caso da Matemática, como exemplifica Macedo, o jogo de regras

possibilita relações quantitativas, lógicas, construções de raciocínios e

demonstrações, questionamentos de “como” e do “porque”, dos erros e

acertos.

Os jogos de construção permitem a reconstrução do real. Esses jogos

nos remetem à vida social, à vida de trabalho e à vida adaptativa. Depende da

imaginação da criança, onde ela pode “ser grande” antes de sê-lo, a partir do

desenho, do faz-de-conta. O gozo no jogo de construção é definido pelas

vivencias do processo e do resultado a que se chega.

Ainda tendo como exemplo a Matemática, o jogo de construção

possibilita uma problematização, enriquecida através de estabelecimento de

relações e necessidades, que podem ser tratadas como solução de

dificuldades a serem superadas no contexto do jogo. Diferente do jogo de

regras, cuja problematização é limitada pela própria regra.

Para Piaget (1975), o jogo faz parte do desenvolvimento da inteligência,

sendo um agente muito importante das relações da criança com o meio, no

sentido de alcançar o equilíbrio diante de um processo de desenvolvimento

cognitivo, social e emocional.

Para o mesmo autor, deve ser dado à criança o direito de escolher

materiais, brinquedos que ela vai utilizar e também as atividades que quer

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

participar.

Ao lidar com o lúdico através de situações imaginárias, ou seja, do faz

de conta, a criança experimenta diversos papéis sociais, que são

representações das situações reais vivenciadas por ela ou representações

baseadas na observação do mundo dos adultos. É também o espaço, onde ela

expressa suas fantasias, desejos, medos, sentimentos agressivos e

conhecimentos adquiridos ao longo de sua existência.

Não podemos esquecer a teoria de Vygotsky, que diz que a criança ao

chegar à escola, traz consigo uma “bagagem de conhecimento” adquirida em

suas experiências vividas no contexto em que se insere. Certamente esse

conteúdo será exteriorizado através do jogo, possibilitando uma inter-relação

entre os iguais e a troca de experiências que resultará em maior

desenvolvimento.

Segundo Bustamante (2004), as vivências lúdicas que ocorrem no

encontro com outros sujeitos, podem se caracterizar por momentos de diálogo,

construções de regras, onde os envolvidos participam juntos do processo de

permitir, desejar, decidir em diferentes contextos. E exposição de desejos,

capacidades e dificuldades pessoais pode constituir um exercício de liberdade.

A heterogeneidade no grupo possibilita o reconhecimento do outro enquanto

sujeito que também sonha, deseja e possui os mesmos defeitos.

As vivências lúdicas, marcadas pelo encontro consigo mesmo,

possibilitam reflexões e ações nos quais o sujeito “escuta” a si próprio em

busca de uma realização pessoal. Permitem também ao sujeito, se colocar em

contato com seus limites, capacidades, sentimentos, sendo satisfeito pela

possibilidade de criação de suas próprias ações.

As vivências espontâneas, gratuitas do sujeito, podem expor ou

questionar elementos do próprio contexto em que vive. Portanto, momentos

alegres, prazerosos, podem estar entrelaçados com manifestações de

inquietude, insatisfações, carências, relacionados à realidade na qual o sujeito

vive.

Bustamante (2004), também afirma que a experiência lúdica realizada

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

nos espaços relacionados a atividades obrigatórias, como no trabalho, na

escola, em atividades físicas e esportivas, pode assumir perspectivas

funcionalistas e utilitaristas, visando bem-estar, contentamento, diversão para

que a produção continue ou melhore.

Nunes (2004), aponta algumas razões para utilização de atividades

lúdicas no processo de ensino-aprendizagem, entre elas:

X As atividades lúdicas correspondem a um impulso natural da criança,

satisfazendo uma necessidade interior, já que o ser humano sempre

apresentou uma tendência lúdica;

X O lúdico apresenta dois elementos: prazer e esforço espontâneo. O

prazer porque tem a capacidade de absorver o indivíduo de forma total e

intensa, criando um clima de entusiasmo, o que gera uma esfera

motivacional. Em virtude desse clima, a ludicidade é portadora de um

interesse intrínseco, canalizando as energias no sentido de um esforço

total para a consecução dos objetivos;

X As situações lúdicas mobilizam esquemas mentais. Sendo uma

atividade física e mental, a ludicidade aciona e ativa as funções psico-

neurológicas e as operações mentais, estimulando o pensamento;

X As atividades lúdicas integram as varias dimensões da personalidade:

cognitiva, motora e afetiva. As duas primeiras são atingidas a partir de

atividades mentais e físicas e a última, surge na medida em que há um

envolvimento emocional. Percebe-se então, que o ser que brinca e joga,

é também, o ser que age, sente, pensa, aprende e se desenvolve.

Em geral, desenvolve-se o jogo pedagógico com intenção explícita de

provocar aprendizagem significativa, estimular a construção de novo

conhecimento e principalmente despertar o desenvolvimento de uma

habilidade, ou de uma aptidão cognitiva ou apreciativa específica, que

possibilita a compreensão e intervenção do indivíduo nos fenômenos sociais e

culturais.

Murcia (2005), diz que o jogo educativo é proposto pelo adulto com uma

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

intenção dirigida, seletivamente para um ou vários fatores situados no terreno

cognitivo, afetivo, social, motor, preparação para vida pessoal e social,

favorecendo portanto, o desenvolvimento integral do indivíduo, sendo um

excelente meio favorecedor de toda aprendizagem. Acrescenta ainda, que o

jogo como meio educativo funciona porque além da satisfação dos jogadores,

deixa uma sobra que se acumula em forma de ensinamentos, que os

participantes vão assimilando e que um dia serão úteis.

Para Murcia (2005), o jogo converte-se no melhor recurso para obter

informações sobre os alunos e verificar se eles adquiriram as aprendizagens

definidas pelos critérios de avaliação.

Porém, não podemos esquecer que nem todas as crianças têm a

possibilidade de vivenciar experiências lúdicas. Como bem nos mostra

Bustamante (2004), enfatizando que há dois fatores que podem provocar o

furto do lúdico da vida da criança brasileira. O primeiro deles é a preparação

para o futuro, iniciada na infância, baseado numa visão utilitarista da

sociedade. Onde as crianças são inseridas em cursos que poderão facilitar a

futura profissão. Nesse sentido, brincadeira, festa e diversão são vistos como

tempo não sério, abstrato de significados e contribuições para formação

humana.

O segundo fator, é o trabalho infantil. Infelizmente, grande parte da

população infantil brasileira tem necessidade de trabalhar para ajudar no

orçamento familiar. Percebe-se também uma precoce maturidade, seja por ter

de assumir responsabilidades trabalhando, seja por ter de cuidar de irmãos

mais novos, ou até mesmo filhos.

Nota-se que dever e prazer podem ser conjugados e vivenciados em

sala de aula, não havendo uma valorização maior de um, em detrimento do

outro. E que a escola apesar de educar para o trabalho, pode trabalhar numa

perspectiva mais crítica e criativa, onde os futuros trabalhadores poderão

buscar experiências prazerosas em seu ambiente profissional. A escola pode, e

até mesmo, deve, enfatizar que a infância e a adolescência, não são

preparações para a vida adulta ou para o trabalho, mas um tempo rico de

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

experiências próprias, reveladoras e prazerosas.

3.2 Jogos em aula

O lúdico é para crianças, adolescentes e adultos, uma possibilidade de

desenvolver o afetivo, o motor, cognitivo, o social, o moral e possibilita também

a aprendizagem de conceitos.

Ao falarmos em jogos na educação, aparecem duas correntes: há

autores que destacam sua importância e outros que apontam seus limites e

cuidados.

Essa informação é relevante, na medida em que nos faz pensar que jogo

deve ser usado de maneira correta e não como forma de substituição da

realidade.

A escola atual, com o perfil – educação para o trabalho -, controlando o

tempo e o espaço dos alunos, acaba por formar sujeitos não estimulados a

criar, ousar, fazer suas próprias escolhas, questionar, realizar-se enquanto

seres humanos que possuem desejos e vontades, experimentando a liberdade,

espontaneidade, gratuidade e alegria. Para essa educação não há espaço para

o lúdico, o prazer em ensinar e aprender é limitado.

Apesar disso, Bustamante (2004) acredita que mesmo a escola

utilizando ferramentas que dificultem e limitem as manifestações lúdicas, estas

vão estar sempre presentes, até mesmo como forma de resistir às coações

existentes.

Para Barbosa (2006), trabalhar o lúdico em sua proposta pedagógica

requer conhecimento sobre seu significado, função e importância para a

aprendizagem. Caso contrário, a aprendizagem prazerosa através do jogo se

confundiria com momentos induzidos pelo professor, ou com atividades

prontas.

Nunes (2004), nos fala que o jogo no processo de ensino-aprendizagem

somente tem validade se for usado na hora certa, e essa hora é determinada

pelo seu caráter desafiador, pelo interesse do educando e pelo objetivo

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

proposto. Enfatiza ainda, que nunca deve se introduzir um jogo antes que o

aluno revele maturidade para superar seu desafio ou quando o aluno

apresentar cansaço pela atividade ou tédio por seus resultados.

Kuwahara (2004) ressalta, que se faz importante entender o lugar que o

jogo ocupa para que possa ser empregado de forma adequada. Ele só é

educativo, quando o educador o desenvolve com objetivo e intencionalidade.

Oliveira e Vargas (2006) quanto à função do educador, dizem que ele

tem um papel importante no desenvolvimento de atividades lúdicas. Para isso,

ele deve ter conhecimento teórico, objetivos bem definidos e principalmente

deve passar por suas próprias vivências corporais, a fim de obter o auto-

conhecimento e a auto-consciencia, para só então entender o que a criança

vive. Sendo assim, o adulto conseguirá intervir no jogo de maneira adequada,

sem projetar-se.

Segundo Murcia (2005), o educador deve ser animado, um professor

aberto, flexível, motivador, buscando desafiar e dialogar. Ao longo das sessões

deve conseguir com que prevaleçam os interesses do grupo. Deve também

instigar os alunos a criarem novos jogos ou inventarem variantes, possibilitando

que os jogos se tornem mais complexos e variados, e permitir acima de tudo,

que todas as pessoas se sintam incluídas e participantes na construção de

situações lúdicas.

Para Almeida, uma aula com características lúdicas não precisa ter

jogos ou brincadeiras. O que traz ludicidade para sala de aula é muito mais

uma atitude lúdica do educador e dos educandos. Essa postura implica, como

já foi dito, sensibilidade, envolvimento, mudança interna, cognitiva e

principalmente afetiva.

Em uma sala de aula ludicamente inspirada convive-se com a

aleatoriedade, descentralização do papel do professor, reconhecimento do

papel ativo do aluno nas situações de ensino, estimulação de criatividade e

espontaneidade constantemente. São exemplos de atividades lúdicas:

dinâmicas de grupo, trabalhos de recorte e colagem, jogos dramáticos,

exercícios de relaxamento e respiração, cirando, movimentos e atividades

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

rítmicas, entre outras.

Fortuna (2003), afirma que aprende-se a jogar em sala de aula, e isto

vale tanto para os alunos quanto para o professor. No inicio é difícil, parece que

os alunos não levam a sério, ou vêem como sem sentido as atividades

propostas, e o professor facilmente didatiza o jogo. A agitação, o barulho e a

aparente desordem concorrem para dissuadir o professor que quer dar uma

aula lúdica, mas é preciso manter a confiança no potencial pedagógico dos

jogos e renunciar ao controle onipresente da turma.

Jogando, alunos e professores são instigados a saber mais, em

diferentes áreas e níveis de complexidade, devido às exigências do próprio

jogo.

No jogo, o jogador enfrenta desafios, testa limites, formula hipóteses e

soluciona problemas, alem de se ter de haver com regras a serem obedecidas

e mesmo estabelecidas. Em uma época em que a principal queixa dos

educadores é a indisciplina escolar, o que mais faz a escola a respeito, senão

ameaçar e punir, pedir atenção e silêncio? A atividade lúdica na sala de aula

apresenta-se como uma alternativa para repensar as relações de ensino-

aprendizagem e com os conteúdos escolares, instaurando uma nova ordem

pedagógica onde a aprendizagem pelo brincar inclui lidar com os limites que

são testados, ultrapassados, estabelecidos e exigidos.

O reconhecimento do lúdico como expressão cultural permeado de

significados, inserida nas práticas escolares pode ser realmente uma tarefa

difícil, mas como diz Bustamante (2004), vale a pena refletir sobre as

possibilidades e implicações dessa manifestação humana:

X Para o ensino de determinados temas, é extremamente importante que

o discurso do professor reflita em suas ações, ou seja, os professores

não podem transmitir às crianças a conveniência do trabalho

cooperativo, se eles não praticam em seu próprio trabalho;

X Uma vez que o professor utilize propostas pedagógicas lúdicas, é

fundamental que ele brinque, e para brincar, ele precisa se colocar no

jogo, vivenciando momentos de troca e de alegria;

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

X A partir da convivência, permitimos conhecer o outro, suas

particularidades, expressões culturais, construindo relações solidárias,

de respeito e prazer;

X É preciso conhecer quem a escola está educando; aproximar conteúdos

escolares dos conhecimentos e experiências vividas, considerar laços

culturais particulares dos alunos, gerando assim, interesse e motivação

para a aprendizagem;

X É necessária a criação de espaços para diálogos, possibilitando o ato de

conversar, a troca com o outro, onde informações são transmitidas e

armazenadas. Ampliando conhecimentos e renovando a nossa vivência

particular e a coletividade. As diferenças entre os sujeitos podem

aparecer, precisando haver respeito entre eles e uma combinação de

limites e possibilidades, exercitando assim a liberdade. Através do

diálogo, o professor pode se apresentar enquanto ser humano que

também tem sentimentos, sonhos, vontades, favorecendo uma relação

menos hierárquica e mais próxima entre aluno e professor.

Entendemos, a partir dos princípios aqui expostos, que o professor

deverá contemplar a brincadeira como princípio norteador das atividades

didático-pedagógicas, possibilitando às manifestações corporais encontrarem

significado pela ludicidade presente na relação que as crianças mantêm com o

mundo.

Porém essa perspectiva não é tão fácil de ser adotada na prática.

Podemos nos perguntar: como colocar em prática uma proposta de educação

infantil em que as crianças desenvolvam, construam/adquiram conhecimentos

e se tornem autônomas e cooperativas? Como professores favorecerão a

construção de conhecimentos se não forem desafiados a construírem os seus?

Page 43: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

3.3 Sugestões de atividades lúdicas para o âmbito escolar

3.3.1 BOCA DE FORNO:

“Boca de forno – forno – darei um bolo – bolo – fareis tudo que seu rei

mandar? – Faremos. – Então, corram até......” (e aí surge a ordem para o

cumprimento de qualquer tarefa).

Uma criança comanda e as demais cumprem as tarefas o mais

rapidamente possível. Aquele que comanda reveza o cargo com os demais.

Para que este brinquedo incorpore aspectos mais voltados para o

desenvolvimento da criança em níveis cada vez mais elevados, pode-se, por

exemplo, sugerir o cumprimento das tarefas em grupos, em forma de gincana.

Outra maneira seria solicitar as tarefas de maneira que a criança tivesse

que utilizar noções de seriação e classificação. Por exemplo, o professor

comandaria a atividade e solicitaria que trouxessem objetos de uma certa cor,

de um certo peso, tamanho, etc.

Todo conhecimento lógico-matemático da criança forma-se basicamente

a partir da atividade de classificar e seriar. Quando pede-se às crianças que

busquem objetos redondos não verdes, a criança estará classificando os

elementos entre as classes dos redondos, os que não são verdes.

Essa tarefa parece fácil, mas para quem acabou de adquirir essas

noções, é algo muito complexo, considerando-se que a tarefa consiste em

realizar ações com rapidez. Ou seja, não há tempo para pôr-se a pensar na

solução do problema, o que torna o conhecimento corporal dos objetos

extremamente importante e associado ao conhecimento conceitual de classes.

Para cada situação específica do jogo, o sujeito tem de formar

esquemas ou combinações particulares.

Page 44: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

3.3.2 FUTEBOL AOS PARES:

Mais aplicável aos alunos mais velhos, de 10 anos em diante. É

realizado por duplas que entrelaçam os braços e assim jogam o tempo todo.

De um lado metade das crianças formam duplas; do outro lado as crianças

restantes também jogam em duplas. Até os goleiros permanecem nessa

formação.

O professor sugere apenas algumas bases de organização do jogo.

Todas as demais regras são de competência dos alunos.

Apesar de poder ser praticado com as regras do futebol, acontecem

situações tão imprevistas que regras diferentes das convencionais são

inventadas a todo instante. Quando houver um impasse, com relação as

regras, o professor deve agir como mediador para facilitar a solução.

Esse jogo é bastante divertido e tem uma característica especial: não

privilegia apenas os mais hábeis em futebol.

3.3.3 PULAR CORDA:

Uma simples atividade como pular corda, pode se relacionar com o

aprendizado de diversos conteúdos. Por exemplo:

1. A criança entra e pula a corda dizendo, em correspondência com os

saltos, as sílabas de uma palavra que escolha ou que seja proposta pelo

professor (nome de animais, frutas, cores, capitais...)

É possível que a criança cometa erros frequentemente, porque o ritmo da

corda não lhe permitirá pensar muito antes de agir. Porém, sendo tantas as

crianças que brincam, a ação de um corrige a da outra e, em cada tentativa,

elas tentarão corrigir erros percebidos na ação anterior, ajudadas pela

reflexão nos intervalos entre uma ação e outra.

O que consiste em erro para os adultos, nem sempre é para as crianças.

Damos muito valor ao produto apresentado (nas palavras escritas, nos

Page 45: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

resultados de operações matemáticas, nos saltos realizados), mas não

conseguimos enxergar sua produção (o que fazem para chegar ao

resultado). Tão ou mais importante que o resultado é o que fazem para

chegar a ele, o raciocínio, as coordenações motoras.

2. Outra forma, é a composição de palavras pulando corda. A cada criança

deve se atribuir uma letra. Deve-se atentar porque algumas letras aparecem

mais, como “L” e “A”, por exemplo, escolhe-se, então, mais de uma criança

responsável por essas letras, em contrapartida letras como “Z”, podem ser

excluídas.

Em seguida, enquanto duas crianças batem corda, o professor deverá falar

uma palavra, caderno, por exemplo. A criança correspondente a letra “C”

entra e pula corda, depois a letra “A”, e assim sucessivamente, até

completar toda a palavra.

Pode-se trabalhar também a socialização, pedindo que todas as crianças

que formem a palavra escolhida, entrem e pulem corda ao mesmo tempo,

se possível de mãos dadas.

3. Uma outra sugestão seria pular corda e realizar operações matemáticas.

Uma criança entra na corda, pula uma vez e grita “um”. A segunda entra,

pula duas vezes e grita “dois”, e assim por diante, até a atividade se

tornar cansativa, ou até alguém errar. A cada erro a contagem

recomeça. Pode-se pular mencionando só os números pares ou

ímpares, múltiplos.

Os exemplos foram dados com corda, mas seria possível realizá-los com

bolas, bastões, arcos, latinhas, etc.

3.3.4 JOGOS COM A MATEMÁTICA EM SALA:

1. O professor pedirá que a turma se divida em grupos de acordo com o

número de colunas de carteiras existentes na sala de aula. Os alunos

estarão de pé, ao lado de suas carteiras. O professor anunciará uma

operação matemática, cujo resultado final de um número de um algarismo.

Page 46: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

Ex: 3 x 5 – 12 =

Os alunos, em grupo, resolvem mentalmente a expressão e agrupam-se

em círculo, na frente se sua coluna, dando os braços entre si, de acordo

com o resultado (no exemplo acima, apenas 3 alunos devem estar com os

braços dados).

Os alunos que sobrarão podem se movimentar evitando que as outras

equipes observem o resultado.

Vencerá a equipe que responder a expressão corretamente no menor

tempo possível.

2. Outra atividade que pode ser feita é a seguinte:

A turma será dividida em grupos, que formaram uma fileira. O professor

deverá escrever várias contas no quadro negro, onde um componente de

uma expressão será o resultado da anterior. Por exemplo:

6 x 4 = a

A +77=b

B – 25 = c

C x 4 = d

D / 2 = resultado final

Cada aluno do grupo será responsável pela realização de uma conta. É

importante que o professor, trabalhe com as operações já ensinadas, e que

crie uma expressão, pelo menos, para cada integrante do grupo.

Vencerá a equipe, que chegar ao resultado correto, no menor tempo

possível.

Page 47: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

CONCLUSÃO

Sabemos que o mundo escolar atual é um mundo marcado pela

preparação para o futuro, pela importância das atividades adultas e pela

homogeneização dos sujeitos abstraídos em um ideal de futuro cidadão, onde

imperem a racionalidade, a produtividade, a competição, a responsabilidade e

até mesmo o terrorismo, causado pelas notas, onde o lúdico é banido da vida

das crianças.

Entendendo o lúdico como espontaneidade, prazer, alegria, a não

racionalidade, banir o lúdico, seria como excluir o direito da criança em ser

criança. E não acredito que esse seja um dos objetivos da educação.

A partir dos objetivos propostos pelo PCN, que visam formar um cidadão

autônomo, crítico e participativo, acredito que o lúdico seria de grande valia no

desenvolvimento desses valores.

Na faixa etária escolhida, o aluno está reorganizando seu pensamento,

aprendendo a “ver o mundo com seus próprios olhos”, formulando e

respondendo hipóteses, ou seja, nessa faixa etária, nós professores,

poderemos induzir nossos alunos a serem meros robôs reprodutivos ou

pessoas com uma visão mais crítica do mundo, aprendendo a produzir e não a

reproduzir conhecimentos.

E o objetivo do trabalho, foi justamente tentar apresentar os benefícios

que as atividades lúdicas aplicadas em sala podem trazer aos alunos. Desde o

estímulo a desenvolver novas habilidades, novos conhecimentos, até seu

aperfeiçoamento, do desenvolvimento da linguagem e de relações

interpessoais ao próprio autoconhecimento do aluno, da criatividade à

autonomia.

Vale ressaltar que a criança quando age com liberdade e autonomia

suficientes para manter os êxitos da ação ou para corrigir os erros, volta

atenção para o que fez, elevando portanto, seu nível de compreensão das

Page 48: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

ações realizadas.

A partir do lúdico, do jogo, a criança mostra quem realmente é, suas

angústias e frustrações, alegrias e desejos, permitindo assim, que o professor

conheça melhor quem está ensinando.

O papel do professor também é de fundamental importância para a

consecução dos objetivos propostos, sabendo escolher atividades, desenvolvê-

las sem impor nada aos alunos, sem manipular ou induzir suas respostas.

Deve também saber lidar com a aparente desordem e desorganização,

com a descentralização do seu papel e com os debates e aparentes

discussões apresentadas em sala.

Apesar de sabermos das dificuldades presentes em incluir na rotina de

atividades de aula, atividades lúdicas, da resistência apresentada por algumas

escolas, pais e até mesmo alunos, acredito ser possível e extremamente

importante a utilização de estratégias lúdicas no decorrer do processo de

ensino aprendizagem. Que muito mais do que uma perda de tempo, como

chamam alguns autores, ao brincar, ao trazer o lúdico, estamos não só

ganhando muito tempo e ajudando no desenvolvimento de alunos críticos,

autônomos e acima de tudo felizes.

Page 49: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

BIBLIOGRAFIA:

ALMEIDA, Anne. Ludicidade como instrumento pedagógico. Disponível

em www.edof.com.br/recrea22.htm. Acessado em 16/06/2007

BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional, nº 9.394,

1996.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros

curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental:

introdução aos parâmetros curriculares nacionais/ Secretaria de Educação

Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998, 174 pg.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros

curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais/

Secretaria de educação fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1997.

BRASIL. Resolução CNE/CEB nº 2, 07/04/1998. Diretrizes curriculares

nacionais para o ensino fundamental.

BARBOSA, Márcia. A afetividade e o lúdico como elementos essenciais

do desenvolvimento infantil. Campinas, 2006. Disponível em

http://libdigi.unicamp.br/document/?view=20751. acessado em 24/06/2007

BROTTO, Fabio. Jogos cooperativos, o jogo e o esporte como um

exercício de convivência. Santos, SP.Projeto cooperação, 2001.

BRUHNS, H. O corpo e o lúdico. Campinas: autores associados, 2001.

BUSTAMANTE, G. Por uma vivência escolar lúdica. In: Dinâmica lúdica:

novos olhares. Barueri, SP: Manole 2004

CAMARGO, Luiz Octavio. Educação para o lazer. 1ª ed. SP: Editora

Moderna, 1998.

CARVALHO, Silvia. O crescimento da criança segundo Piaget, 2006.

www.notapositiva.com. Acessado em 07/06/2007.

Page 50: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

FEIJÓ, Olavo. Psicologia para o esporte: corpo e movimento. Rio de

Janeiro: SHAPE, 1998.

FORTUNA, R. Jogo em aula. Revista do professor, Porto Alegre, v.19,

n.75, p 15-19, jul/set, 2003

FREIRE, J. Educação de corpo inteiro. 2ª ed. SP: Editora Scipione.

HUIZINGA, J. Homo ludens. O jogo como elemento de cultura. 5ªed. São

Paulo:perspectiva, 2001.

KUWAHARA, Maria. Jogos no processo de aprendizagem, 2004.

disponível em www.psicopedagogia.com.br. Acessado em 17/06/07

LACOMBE, Anna Maria e LACOMBE, Ana Luisa. Acender um fogo. O

jogo e o teatro na escola. 1ª ed. Rio de Janeiro: Pró saber, 2002.

LAROSA, M. e AYRES, F. Como produzir uma monografia passo a

passo....siga o mapa da mina. 5ª ed. Rio de Janeiro: Wak editora, 2005.

LE BOULCH, J. Rumo a uma ciência do movimento humano. Porto

Alegre: Artes Médicas, 1987.

LUCKESI, C. Prefácio: Educação e ludicidade, ensaios 01, Gepel,

FACED/UFBA. Salvador, BA, 2000

MACEDO, Lino. A importância do jogo na criança ou na psicopedagogia.

MARCELINO, Nelson. Lúdico, educação e educação física. 2ªed. Ijuí:

Unijuí, 2003.

MATOS, Neuza Moreira de. O significado do lúdico para idosos. 168f.

Dissertação de mestrado. Programa de pós-graduação stricto sensu em

gerontologia. – Universidade Católica de Brasília, 2006.

MURCIA,J. Aprendizagem através do jogo. Porto Alegre: Artmed, 2005.

NUNES, A. O lúdico na aquisição da segunda língua, 2004. Disponível

em: http://www.linguaestrangeira.pro.br/artigos_papers/ludico_linguas.htm.

Acessado em 23/06/07.

OLIVEIRA, F. e VARGAS, L. Brincadeira é jogo sério, 2006. Disponível

Page 51: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

em

http://websmed.portoalegre.rs.gov/escolas/emilio/autoria/artigos2006/brincadeir

a_jogos.pdf, acessado em 24/06/07

PIAGET, J. A formação do símbolo na criança, imitação, jogo e sonho,

imagem e representação. 3ªed. RJ: Zahar, 1975

PINHEIRO, M. Aspectos biopsicosociais da criança e do adolescente,

www.cedeca.org.br. Acessado em 07/06/2007 .

VYGOTSKY. L.S. Pensamento e linguagem. Lisboa: edições antídoto,

1979.

http://revistanovaescola.abril.com.br/especiais/pensdores/pdfs/jean_piag

et.pdf, acessado em 23/04/2007.

www.centrorefeducacional.pro.br/piaget.html, acessado em 23/04/2007.

www.centrorefeducacional.com.br/ludicolinf.htm, acesso em 10/06/2007.

www.portal.mec.gov.br, acessado em 05/06/2007.

www.edudatabrasil.inep.gov.br, acessado em 05/06/2007.

www.pmf.sc.gov.br, acessado em 05/06/2007.

Page 52: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … SIMÕES PELAES.pdf · UERJ, Guilherme Locks e Edson Almeida, pelas oportunidades confiadas, carinho e apoio constantes, ... mais cedo

ANEXO

INDÍCE DE TABELAS

TABELA 1: Divisão de séries do Ensino Fundamental de 9 anos 10

TABELA 2: Ensino Fundamental, número de matrículas no ano de 2006 10

TABELA 3: Número de alunos matriculados separados por série 11

TABELA 4: Divisão do número de matrículas por sexo 11