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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO A VEZ DO MESTRE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: OPÇÕES NA ESCOLHA DE CURSOS DE FORMAÇÃO NO ENSINO MÉDIO NOTURNO MARIA TERESA DA SILVA ORIENTADORA: PROFª. GENI LIMA NITEROI AGOSTO/2009

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … · ... de Carl Rogers. Neste livro, Rogers (1942) ... As idéias de Rogers influenciaram ... trouxe à luz a primeira Teoria do Desenvolvimento

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: OPÇÕES NA

ESCOLHA DE CURSOS DE FORMAÇÃO NO ENSINO

MÉDIO NOTURNO

MARIA TERESA DA SILVA

ORIENTADORA: PROFª. GENI LIMA

NITEROI AGOSTO/2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em Orientação Educacional e Pedagógica.

NITEROI AGOSTO/2009

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: OPÇÕES NA

ESCOLHA DE CURSOS DE FORMAÇÃO NO ENSINO

MÉDIO NOTURNO

MARIA TERESA DA SILVA

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AGRADECIMENTO

Agradeço a DEUS por orientar meus caminhos. Agradeço aos meus pais pelo amor e dedicação recebidos. Agradeço ao meu filho pelo eterno amor oferecido.

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DEDICATÓRIA

Dedico essa monografia a todos aqueles que de forma direta e indireta contribuíram para o meu crescimento profissional.

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RESUMO

A Orientação Profissional surgiu no bojo das transformações

ocasionadas no trabalho após as Revoluções Industriais, visando garantir e

aumentar a eficiência da produção das organizações. O aspecto histórico é

analisado para ter-se um embasamento teórico mais preciso do percurso desse

assunto em sua tangente com a educação do jovem. O surgimento da

Psicologia Diferencial e da Psicometria veio influenciar sobremodo a

Orientação Profissional, com a produção e aplicação de testes em que eram

analisadas as aptidões, os interesses e outros traços da personalidade dos

avaliados. Devido às grandes transformações que o trabalho vem passando ao

longo do tempo, houve a necessidade do surgimento do Orientador

Profissional. Nas escolas é uma função exercida pelo Orientador Educacional.

O trabalho do Orientador Profissional é dirimir as dúvidas e dificuldades em

relação à escolha profissional do aluno. As dúvidas ocorrem porque há fatores

que interferem e influenciam na tomada de decisão, como o contexto familiar,

numerosas carreiras existentes no mercado de trabalho, a globalização e as

vivências pessoais. O esclarecimento desses fatores se faz necessário. A parte

prática da Orientação Profissional neste trabalho fica por conta da aplicação do

Programa de Orientação Profissional aos alunos do 3º ano do 2º grau de uma

escola pública noturna da cidade de Niterói, para o encaminhamento do aluno

em direção à formação profissional e ao engajamento em uma carreira que

lhes traga não só sua independência e progresso econômico mas também a

satisfação de exercerem uma profissão que se coadune com suas aptidões,

capacidades e reais interesses e que lhes proporcione um futuro com

cidadania, poder de decisão e de escolha e melhor qualidade de vida.

Palavras-chave: autoconhecimento – orientação – trabalho.

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METODOLOGIA

O presente trabalho se utilizou da análise de livros e artigos de

autores reconhecidos cientificamente no Brasil e no Exterior como Celso

Ferretti, Selma Garrido e Rodolfo Bohoslavsky dentre outros que se dedicaram

ao estudo do Tema proposto.

A pesquisa foi do tipo Explorativa, Descritiva e Experimental.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – As lesões ortopédicas e suas manifestações 10

CAPÍTULO II – Avaliações do paciente ortopédico 23

CAPÍTULO III – Didática e consulta ortopédica: uma combinação possível? 33

CONCLUSÃO 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48

ÍNDICE 50

FOLHA DE AVALIAÇÃO 51

8

INTRODUÇÃO

A escola do tema Orientação Profissional: opções na escolha de

cursos de formação no Ensino Médio noturno ocorreu pela observação de que

o jovem apresenta dificuldades de aplicar o conhecimento assimilado ao longo

de toda a escolaridade, de forma satisfatória às habilidades e potencialidades.

O foco são alunos do 3º ano do 2º grau da rede estadual de ensino da cidade

de Niterói. São jovens entre 18 e 24 anos e adultos que querem participar da

reescolha profissional. O jovem busca estabelecer uma relação maior entre as

necessidades e interesses com as oportunidades oferecidas pela vida. Busca a

satisfação interna, tendo que respeitar as exigências de uma realidade externa

a ser enfrentada para crescer.

O primeiro capítulo faz, inicialmente, uma breve recapitulação

histórica do desenvolvimento da Orientação Profissional no ambiente

internacional. Em seguida, são descritos os fatos históricos de maior relevância

para o nascimento e o desenvolvimento da Orientação Profissional em nosso

país, as relações da Orientação Profissional brasileira com a Psicologia e a

Orientação Educacional, os principais modelos teóricos sobre escolha

profissional utilizados e a reflexão de novos paradigmas, para a

instrumentalização do Orientador Profissional na atualidade.

O segundo capítulo aborda os fatores que influenciam e interferem

na escolha de um curso de formação. Faz-se o questionamento, a partir daí, se

o jovem é livre na escolha. O jovem precisa considerar a globalização que gera

padrão de comportamentos, o mercado de trabalho, as mudanças culturais,

contexto familiar e as relações pessoais para ser apto a tomar uma decisão

consciente e autônoma.

E, por fim, o terceiro capítulo mostra que é imprescindível a busca

de maior conhecimento acerca da realidade do mundo do trabalho, o

esclarecimento das informações profissionais, a relação que se estabelece com

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o papel social a desenvolver e o significado dessa escolha na vida de cada

orientando. Para que a proposta apresentada nessa monografia ficasse mais

clara e objetiva, foi desenvolvido um projeto de Orientação Profissional para

auxiliar o aluno inserido no contexto escolar e auxiliar aqueles que se

interessam nessa linha de trabalho.

O presente trabalho tem como finalidade proporcionar ao jovem

estabelecer um projeto de vida em que esteja prevista uma profissão que irá

garantir-lhe não só ganhos materiais, mas também satisfação profissional e

uma carreira produtiva e proveitosa para ele, sua família e a sociedade como

um todo.

10

CAPÍTULO I

A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL

1.1- Contexto histórico

A questão da escolha de uma profissão ou ocupação é uma

preocupação recente da humanidade, pois na Antiguidade a necessidade era

de sobreviver, ou seja, o trabalho era organizado através da coleta e

posteriormente através da caça,não havendo muitas diferenças em relação a

funções, a não ser a diferenciação pelo sexo.

A sociedade é constituída em diferentes épocas e contextos, sendo

esta determinante para o surgimento, a modificação e a evolução de tarefas ou

profissões.

“ O homem é um ser ativo, social e histórico”__É por meio do trabalho

que o ser humano mostra-se ativo, ao buscar sua sobrevivência. Ele

faz isto com outros seres humanos, o que lhe dá a característica

social. A forma de exercício do trabalho é histórica, isto é, o modo de

produzir e de relacionar-se com a natureza e com os outros ocorre de

acordo com o modo de produção de cada período”.

(BOCH, A.,1999ª: 32).

Somente com o início do capitalismo que mudanças significativas

relacionadas ao trabalho começam a ocorrer. Por volta do meado do século

XVIII, na Inglaterra, estava em curso a Revolução Industrial. Este processo

gerou profundas mudanças na forma de organização do trabalho,

transformando a tradicional burguesia mercantil (investia o próprio capital em

mercadorias) numa burguesia fabril. Surgia, nesse primeiro processo de

industrialização, outra classe social: o proletariado. Esta classe era formada por

uma massa de trabalhadores “livres”, sem nenhuma coação do tipo político ou

consuetudinário

11

que os obrigassem a servir a um senhor. A forma de sobrevivência passou a

ser a venda de sua força de trabalho em alguma das recentes fábricas surgidas

ou em algum outro setor da economia que articulava-se em torno do centro

industrial.

Outra característica dessa primeira Revolução Industrial seria o

impulso dado pela descoberta e aplicação da energia a vapor. A máquina a

vapor, a fiandeira e o tear mecânico causaram uma revolução produtiva. Com a

aplicação dessa força motriz às máquinas fabris, a mecanização se difunde na

industria têxtil. A invenção dos navios e locomotivas a vapor contribuíram para

acelerar a circulação das mercadorias produzidas nas fábricas.

As mudanças significativas nos meios de produção ocorridas

durante a primeira Revolução Industrial, afetaram diretamente os modelos

econômicos e sociais de sobrevivência.

Com o desenvolvimento efetivo da atividade industrial em diversas

partes do mundo, os donos dos meios de produção e capitais começaram a

direcionar recursos financeiros para a criação e o desenvolvimento de novas

tecnologias. O intuito era de dinamizar e acelerar a produtividade e

automaticamente os percentuais de lucros. Desse modo, grande parte dos

avanços tecnológicos foi derivado de pesquisas científicas que são realizadas

para o aperfeiçoamento industrial. O período que mais marcou esses avanços

tecnológicos foi entre o final do século XIX até meados do século XX, chamado

de segunda Revolução Industrial.

Os fatos de maior destaque dessa segunda Revolução Industrial

foram o petróleo, o motor a combustão, a utilização do aço e da energia

elétrica.

12

As revoluções industriais são processos que estão ligados

diretamente aos avanços tecnológicos que determinam o sucesso de cada uma

delas.

A Orientação Profissional nasceu como uma prática cujos objetivos

estavam diretamente ligados ao aumento da eficiência industrial.O marco oficial

de início da Orientação Profissional, mundialmente, situa-se entre os anos de

1907 e 1909, com a criação do primeiro Centro de Orientação Profissional

norte-americano, o Vocational Bureau of Boston, e a publicação do livro

Choosing a Vocation, ambos sobre a responsabilidade de Frank Parsons. Ele

teve o grande mérito de acrescentar à Orientação Profissional idéias da

Psicologia e da Pedagogia e a preocupação com a escolha profissional dos

jovens de seu país. Em seu livro, Parsons definia três passos a serem seguidos

durante o processo de Orientação Profissional: a análise das características do

indivíduo, a análise das características das ocupações e o cruzamento destas

informações. Desta forma, a Orientação Profissional baseava-se na promoção

do autoconhecimento e no fornecimento de informação profissional.

Nas décadas de 1920 e 1930, a Psicologia Diferencial e a

Psicometria passaram a influenciar fortemente a prática da Orientação

Profissional, o que se deu devido ao grande desenvolvimento dos testes de

inteligência, aptidões, habilidades, interesses e personalidade durante as

Primeira e segunda Guerras Mundiais. A Orientação Profissional passou a ser

um processo fortemente diretivo, em que o orientador tinha como objetivos

fazer diagnósticos e prognósticos do orientando e, com base nesses

procedimentos, indicar ao mesmo profissões ou ocupações apropriadas. Esse

modelo,preocupado com a adequação do homem à profissão,costuma ser

identificado como Teoria do Traço e Fator. Seria a colocação do Homem certo

no lugar certo. A Orientação Profissional se utilizou desse modelo, pois até

esse momento ainda não havia uma teoria propriamente dita que embasasse a

sua prática.

13

Importantes mudanças começaram a ocorrer na prática da

Orientação Profissional a partir da década de 1940. Em 1942 foi publicado o

livro Counseling and Psychotherapy: Newer Concepts in Practice, de Carl

Rogers. Neste livro, Rogers (1942) lançou as bases de sua Terapia Centrada

no Cliente, que aproxima os conceitos de Psicoterapia e Aconselhamento

Psicológico e valoriza a participação do cliente no processo de intervenção,

que passa a ser não-diretivo. As idéias de Rogers influenciaram enormemente

a Psicologia, a Psicoterapia, o Aconselhamento Psicológico e a Orientação

Profissional da época, tendo sido um importante marco de transformação das

práticas de Orientação Profissional.

A partir da década de 1950, começaram a surgir diversas teorias

sobre a escolha profissional, que vieram dar continuidade à mudança de

paradigma iniciada na década anterior. Em 1951 foi publicado o livro

Occupational Choice, de Ginzberg, Ginsburg, Axelrad e Herma, livro este que

trouxe à luz a primeira Teoria do Desenvolvimento Vocacional. De acordo com

esta teoria, a escolha profissional não é um acontecimento específico que

ocorre num momento determinado da vida, mas é um processo evolutivo que

ocorre entre os últimos anos da infância e os primeiros anos da idade adulta.

Dois anos mais tarde foi publicada a Teoria do Desenvolvimento

Vocacional de Donald Super. Tal teoria definiu a escolha profissional como um

processo que ocorre ao longo da vida, da infância a velhice,através de

diferentes estágios do desenvolvimento vocacional e da realização de diversas

tarefas evolutivas. Em 1959, foi publicada a Teoria Tipológica de John Holland.

Para Ele os interesses profissionais são o reflexo da personalidade do

indivíduo e, sendo assim, podem servir de base para a definição de diferentes

tipos de personalidade,cujas características definem diferentes grupos laborais

e correspondem a diferentes ambientes de trabalho. Ainda nas décadas de

1950 e 1960, foram publicadas Teorias Psicodinâmicas da escolha Profissional,

baseadas fundamentalmente na Teoria Psicanalítica, na Teoria de Satisfação

das Necessidades, e nas Teorias de Tomada de Decisão, sendo estas mais

14

preocupadas com o momento da escolha do que com o processo em si.

Internacionalmente, as teorias de Super e Holland estão entre as mais

pesquisadas e utilizadas em processo de intervenção na atualidade.

1.2- Contexto brasileiro

No Brasil, a Orientação Educacional teve, em sua implantação, uma

grande influência da orientação americana, em especial o “counseling”

(aconselhamento), e da orientação educacional francesa.

A Orientação Profissional, no país, tem como marco de origem a

criação na década de 20, em 1924, do Serviço de Seleção e Orientação

Profissional para os alunos do Liceu de Ates e Ofícios de São Paulo sob

responsabilidade do engenheiro suíço Roberto Mange.Inicialmente era

direcionado para os alunos do Curso de Mecânica.Nesse trabalho de

Seleção,Roberto Mange teve a ajuda técnica de Henri Pièron e de sua esposa.

Em 1930, na Estrada de Ferro Sorocabana, ainda sob a direção de Mange e de

seu colaborador Ítalo Bologna, teve início um serviço de seleção, orientação e

formação de alunos em cursos de aprendizagem mantidos por aquela

instituição. Esses serviços deram origem, em 1934, à criação do Centro

Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional (CFESP), que passou a ser

modelo para outras ferrovias do país. Dentre os princípios que regiam os

trabalhos do CFESP, encontra-se a seleção profissional baseada no

conhecimento das características individuais e nas aptidões funcionais para

determinadas funções e ocupações.

Em 1931, Lourenço Filho criou o primeiro serviço público de

Orientação Profissional no Brasil, que depois prosseguiu no Instituto de

Educação da Universidade de São Paulo, tendo sido extinto em 1935.

15

Em termos de tentativas isoladas de Orientação, nos modelos

americanos ou europeus, começam a ser estruturados os serviços de

orientação nas escolas, cuja experiência pioneira é de Aracy Muniz Freire e de

Maria Junqueira Schmidt, no Colégio Amaro Cavalcanti, no Rio de Janeiro,em

1934.

Pela reforma Capanema, em 1942, a Lei Orgânica do Ensino

Industrial instituiu o Serviço de Orientação Educacional nas escolas com a

finalidade, dentre outras, de auxiliar a escolha profissional dos alunos. Nesse

mesmo ano temos o Decreto 4048, de 22 de Janeiro de 1942, que criou o

SENAI - dois acontecimentos importantes no campo da Orientação

Profissional.

A Orientação Educacional e o Aconselhamento Vocacional, sob

responsabilidade dos Serviços de Orientação Educacional (SOE), tornaram-se

obrigatórios nas Escolas somente com a promulgação da lei 5.692 de 11 de

Agosto de 1971 que determinou as novas diretrizes e bases para os ensinos de

primeiro e segundo graus. Esta lei tornou a profissionalização no segundo grau

obrigatória e determinou a sondagem de aptidões no primeiro grau.

A Orientação Profissional brasileira teve um grande desenvolvimento

a partir da década de 1940. No ano de 1944, foi criada a Fundação Getúlio

Vargas, no Rio de Janeiro, que estudava a Organização Racional do Trabalho

e a influência da Psicologia sobre a mesma. Em 1947, foi fundado o Instituto de

Seleção e Orientação Profissional (ISOP) junto à FGV. Esse Instituto reuniu

técnicos e estudiosos da Psicologia Aplicada, muitos deles formados pelo curso

ministrado por Emílio Mira y López, que foi seu primeiro diretor. Emílio M. y

Lopez em 1945 e 1946 ofereceu cursos de Seleção, Orientação e Readaptação

Profissional com o objetivo de formar técnicos brasileiros nestas áreas de

atuação.

16

O desenvolvimento da Psicologia enquanto ciência independente e

área de atuação profissional levou a uma gradativa modificação dos objetivos

do ISOP que, no ano de 1970 tornou-se um órgão normativo de Psicologia:

Seu nome foi alterado para Instituto Superior de Pesquisa Psicológica.

Ampliou seu campo de interesse, parou de prestar atendimento ao público e

passou a realizar a formação de especialistas docentes e pesquisadores em

nível de pós-graduação.

A regulamentação da profissão de psicólogo, não modificou apenas

os objetivos do ISOP, mas influenciou a Orientação Profissional ao vincular

esta atividade à Psicologia Clínica e ao transferir o processo de intervenção

para consultórios particulares.

A Orientação Profissional brasileira realizada por psicólogos foi

influenciada diretamente pela Psicanálise e, especialmente, pela Estratégia

Clínica de Orientação Vocacional do psicólogo argentino Rodolfo Bohoslavsky,

introduzida no Brasil na década de 1970 por Maria Margarida de Carvalho (

primeira professora da disciplina de Seleção e Orientação Profissional do curso

de Psicologia da Universidade de São Paulo-USP). Propôs o Processo Grupal

em Orientação Profissional como alternativa ao modelo psicométrico e como

forma de promoção da aprendizagem da escolha.

Desde o seu nascimento, na década de 1920, a Orientação

Profissional brasileira pautou-se pelo modelo da Teoria do Traço e Fator; isto é,

pelas idéias de que o processo de Orientação Profissional é o de fazer

diagnósticos, prognóstico e indicações das ocupações certas para cada

indivíduo tendo como base a Psicologia Aplicada especialmente a psicometria.

Bohoslavsky foi de encontro a esse modelo chamando-o de Estratégia

Estatística. Ele, durante o processo de orientação, utiliza a Entrevista Clínica

como principal instrumento. A primeira entrevista tem por objetivo alcançar o

diagnóstico de orientabilidade que permitirá a realização de um prognóstico e

de uma definição de estratégias de trabalho.

17

A partir da década de 1980, alguns autores no âmbito da Educação

começaram a teorizar sobre os processos de escolha e Orientação

Profissional. Foi neste momento que Celso Ferretti e Selma Garrido Pimenta

passaram a tecer uma série de críticas às teorias psicológicas de escolha

profissional. Ferretti (1980;1988) apontou a função ideológica de manutenção

da sociedade de classes capitalista subjacente às teorias psicológicas da

escolha profissional e propôs um novo modelo de Orientação Profissional

dentro do processo de ensino-aprendizagem, capaz de suplantar tal ideologia.

O objetivo do seu modelo é a reflexão sobre o próprio processo de escolha

profissional e sobre o trabalho. O método de trabalho proposto é o Modelo de

Ativação do Desenvolvimento Vocacional de Pelletier e seus colaboradores

(1974/1985). Apesar de fazer uma grande crítica às teorias psicológicas da

escolha profissional, inclusive às Teorias de Desenvolvimento Vocacional,

Ferretti acaba por aderir a elas, já que este modelo de intervenção é uma

operacionalização do modelo teórico de Donald Super. Selma G.

Pimenta(1981) discutiu a insuficiência das teorias psicológicas da escolha

profissional para a compreensão da decisão vocacional e propôs a

fenomenologia existencial como alternativa para esta compreensão.

Ferretti e Pimenta denunciam a ausência de questões sociais,

políticas e econômicas na abordagem teórica tradicional. Pimenta ao denunciar

o psicologismo recorrente nas teorias e práticas da Orientação profissional,

sugere que o indivíduo, no capitalismo, praticamente não existe. Ele passa a

ser entendido como reflexo da organização social, não detendo nenhum grau

de autonomia frente a tais determinações. Coloca que a estrutura social tem

um poder avassalador sobre o indivíduo, negando assim sua existência. A idéia

de indivíduo seria uma articulação idealista e liberal para manter o status quo.

Desta forma, ao criticar a concepção de indivíduo subjacente à ideologia liberal,

nega a existência do indivíduo propriamente dito. Se na ideologia liberal o

indivíduo ‘pode tudo’, em sua crítica ele passa a ‘não poder nada’. Para

Pimenta só a transformação estrutural da sociedade poderia colocar em pauta

a liberdade de escolha.

18

“A orientação vocacional, ao usar técnicas, advindas da psicologia, que acentuam a ênfase no indivíduo, cria neste a impressão de que é ele quem decide; com isso facilita o ajustamento dele à estrutura ocupacional. Imbuído de uma ‘certeza’ de que escolheu (a partir daquilo que era possível), o indivíduo tem maiores chances de vir a ser mais produtivo. Isto é, contribuir para o aumento da mais-valia fomentada pela classe dominante, que é a que detém o controle da produção. A liberdade de decidir é da classe dominante. Por isso, a classe a que o indivíduo pertence determina a sua escolha profissional. Portanto, aos orientadores vocacionais de pouco adianta trabalhar ao nível da decisão individual, se não for libertada a liberdade de decidir”. (1979, p.124).

A orientação vocacional e a escolha, colocadas como problemas,

deveriam ser revistas pensando-se em como atuar de forma a contribuir para a

modificação da estrutura social que impossibilita a liberdade de escolha.

Celso Ferretti, diferentemente de Pimenta, deixa aberta uma

possibilidade para aceitação de que o indivíduo não é mero reflexo da estrutura

social, ao incluir o conceito de consciência crítica, ressaltando que existem

pessoas que podem usufruir o direito de escolha e outras não.

Ferretti sugere que a orientação profissional crie

“ condições para que a pessoa a ela submetida reflita sobre o processo e o ato de escolha profissional, bem como sobre o ingresso em uma atividade profissional e no seu exercício no contexto mais geral da sociedade onde tais ações se processam. Subsidiariamente, espera-se que o indivíduo assim assistido ganhe condições de realizar escolhas profissionais conscientes (no sentido de escolhas que ocorrem a partir da reflexão sobre seus condicionamentos, e não a partir de sua aceitação), quando e onde as oportunidades se apresentarem.”(1988, p.45).

Ainda segundo Ferretti a orientação profissional deveria deslocar

seu eixo central de preocupação, que tem sido a escolha dos indivíduos, para a

abordagem da temática do trabalho na sociedade atual. Ele esboça a estrutura

de alguns conteúdos que poderiam ser abordados nas atividades de orientação

Profissional: a) trabalho como transformação da natureza e do homem; b)

trabalho e estrutura social; c) trabalho e relações sociais; d) trabalho e

desenvolvimento econômico-social; e) trabalho e educação ; f) sindicatos e

associações trabalhistas; g) seleção profissional e discriminação social.

19

“A proposta de reflexão sobre o trabalho enquanto atividade social e enquanto processo de modificação da natureza e determinante de relações sociais, parece-nos fundamental para que tanto os que optam como os que não o fazem desenvolvam uma consciência crítica dessa atividade humana que, espera-se, venha a influenciar o exercício de sua atividade profissional.” (1988, p.46)

A crítica à orientação profissional tradicional coloca em xeque a

concepção de que os indivíduos escolhem suas profissões. A escolha seria um

fenômeno pertencentes à classe dominante, que, ideologicamente, é

transposta para todas as classes sociais, sem qualquer questionamento,

acabando por tornar-se uma idéia que mais justifica as desigualdades e

injustiças engendradas pelo modo de produção capitalista do que a explicação

de como as pessoas posicionam-se na sociedade, tanto como atividade

ocupacional quanto de poder e prestígio.

“ A crítica à ideologia liberal e à concepção de indivíduos nela embutida sem dúvida é um grande avanço na compreensão do funcionamento da sociedade capitalista. Entretanto, no desenvolvimento da análise, ao negar a existência da liberdade de escolha, acaba por também negar a existência do indivíduo.” (Bock, S.,1989, p.16).

Mais recentemente, Silvio Bock (2002), com base nas críticas

realizadas por Ferretti e Pimenta, propôs uma nova abordagem de Orientação

Profissional que definiu como além da crítica e chamou de Abordagem Sócio-

histórica. Sua base teórica são as idéias de Vygotsky de que o indivíduo

desenvolve-se através de uma relação dialética com o ambiente sócio-cultural

em que vive.

A perspectiva das teorias para além da crítica é superar a dicotomia

entre o indivíduo e a sociedade. Sílvio Bock propõe uma nova abordagem

denominada “sócio-hitórica”, aceitando as formulações desenvolvidas pelas

teorias críticas, mas apontando que é necessário um avanço na compreensão

da relação indivíduo-sociedade, de forma dialética, e não idealista ou liberal;

isto é, deve-se caminhar para a compreensão do indivíduo como ator e ao

20

mesmo tempo como autor de sua individualidade, que não deve ser confundida

com individualismo.

A abordagem sócio-histórica aceita a denúncia que os teóricos,

denominados críticos, fazem a respeito da abordagem tradicional. A denúncia

referida aponta que a teoria liberal entende que a ordem econômica e social

está pronta e acabada e que apenas é o lugar onde as escolhas se realizam.

Segundo Bock, ao invés dos teóricos tradicionais procederem uma análise de

como a sociedade está estruturada, desenvolve-se a análise do indivíduo para

que ele bem se adapte a esta ordem econômica e social, sem jamais

questioná-la.

Da mesma forma que a perspectiva crítica, a abordagem sócio-

histórica entende que as profissões e ocupações não são perenes e imutáveis.

E esta abordagem trabalha com a idéia da multideterminação do humano.

Combate-se a concepção do ser humano natural ou abstrato.

“ As propriedades que fazem do homem um ser particular, que fazem deste animal um ser humano, são um suporte biológico específico, o trabalho e os instrumentos, a linguagem, as relações sociais e uma subjetividade caracterizada pela consciência e identidade, pelos sentimentos e emoções e pelo inconsciente. Com isto queremos dizer que o ser humano é determinado por todos esses elementos. Ele é multideterminado.”(Bock, 1999,p. 177).

Segundo Bock, o desafio constitui na construção de uma abordagem

na área da orientação profissional que entenda o indivíduo em sua relação com

a sociedade, superando visões que o colocam como mero reflexo da sociedade

ou como totalmente autônomo em relação a ela. A abordagem sócio-histórica

aponta caminhos para entender o indivíduo na sua relação com a sociedade

deforma dinâmica e dialética. Vygotsky, o principal representante dessa

abordagem, tem como um dos seus pressupostos básicos a idéia de que o ser

humano constitui-se enquanto tal na sua relação com o outro social. A cultura

torna-se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo do

desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico

21

do homem. Dessa forma, não há ruptura do indivíduo com a sociedade e nem a

sua anulação enquanto ser singular.

De acordo com a Lei 9.394 de dezembro de 1996, atual lei das

diretrizes e bases da Educação nacional, o ensino médio continua a ter como

um de seus objetivos a preparação básica para o trabalho. No entanto, o

ensino médio não possui mais o objetivo de profissionalização. O ensino

profissionalizante de nível médio aparece apenas na condição de curso

continuado; isto é,não substitui o ensino médio,apenas o complementa.

Segundo Uvaldo & Silva(2001), esta lei oferece mais abertura para a criação de

projetos de Orientação Profissional integrados no currículo escolar. Esta idéia

está em conformidade com a tendência internacional dos programas de

Educação de Carreira, programas de cunho pedagógico realizados pela escola

que pretendem capacitar os estudantes para a transição entre a escola e o

mundo do trabalho dentro da nova ordem sócio-econômica mundial

(Guichard,2001).

No ano de 1993, foi fundada a Associação Brasileira de

Orientadores Profissionais (ABOP) durante o I Simpósio Brasileiro de

Orientação Vocacional Ocupacional. A ABOP foi criada com os objetivos de

unificação e desenvolvimento da Orientação Profissional no Brasil.

No Brasil, a Orientação Profissional pode ser realizada por

psicólogos e pedagogos, mas ,como afirmou Soares D. H. P. (1999), a

formação de orientadores profissionais brasileiros ainda não possui

regulamentação ou lei que determine conteúdos mínimos a serem ministrados.

Esta formação fica a cargo de universidades e cursos livres, mas a falta de

uma regulamentação mais estrita da profissão acaba por diluir boas iniciativas

e não oferece poder para que a ABOP possa fiscalizar os cursos oferecidos em

território nacional.

22

Muito ainda falta ser feito para o aprimoramento da competência de

pesquisadores e profissionais, bem como para a adequação metodológica dos

processos de investigação e intervenção, para que a Orientação Profissional

constitua-se como uma área do conhecimento autônoma e devidamente

regulamentada. O desenvolvimento teórico e técnico e a formação adequada

de orientadores profissionais são os grandes desafios para a Orientação

Profissional brasileira nos próximos anos.

Finalmente, é importante ressaltar que a escolha de uma profissão,

bem como a dúvida e a indecisão, fazem parte do desenvolvimento normal dos

indivíduos e que o papel do Orientador Profissional é o de servir como

instrumento para este desenvolvimento.

23

CAPÍTULO II

INTERFACES SOCIAIS NO COMPROMETIMENTO DAS

ESCOLHAS PARA O TRABALHO

Escolher, tarefa constante e difícil na vida do ser humano. Implica

em questionamentos, dúvidas, incertezas e principalmente o enfrentamento ao

desconhecido. Diversos fatores influenciam nessa trajetória com peso e

composição diferentes na história de cada indivíduo.

Os fatores envolvidos na escolha profissional estão em permanente

interação e esta combinação entre eles caracteriza o quadro geral da escolha

profissional.

2.1- Mercado de Trabalho e Globalização

Os fatores que determinam o mercado de trabalho (a relação entre a

oferta e a procura) são fundamentalmente relacionados à política econômica de

um país. Assim, num momento de recessão econômica ocorre uma diminuição

de investimentos, ou seja, a produção, ao invés de aumentar, se equilibra ou

diminui e o mercado de trabalho, em geral, se retrai. Em conseqüência, ocorre

não só a expulsão de trabalhadores já empregados como também a não

absorção de novos trabalhadores. Quando acontece essa retração do

mercado, há, concomitantemente, um aumento dos requisitos necessários para

a ocupação de cargos. Então, passa-se a exigir um grau de escolarização

superior ao que se exigia anteriormente, um número maior de anos de

experiência naquele tipo de trabalho, por exemplo.

O mercado de trabalho, portanto, não é algo estável. Assim, no

momento em que o jovem se coloca esta questão, o mercado de determinada

profissão pode ser promissor, mas a curto ou médio prazo esta situação poderá

24

ter-se invertido. Por isso, o mercado não pode ser considerado fator decisivo

na escolha.

Observa-se que mudanças ocorrem no processo de vida social e

consequentemente no mundo do trabalho, trazendo assim inúmeros

questionamentos para aqueles que se encontram num momento de escolha.

Diversos autores, entre eles Frigotto (2000), Gentil (1999) e Paro

(1999), têm feito críticas à aplicação da lógica do mercado de produção aos

assuntos educacionais que limita a Educação ao mero fator de produção e

reduz a formação humana a um processo de qualificação e treinamento.

É necessário que não se desconsidere as relações entre educação e

trabalho, no entanto elas precisam ser redimensionadas, como sugere Arroyo

(1999):

Consequentemente situar a relação escola-trabalho-formação do

trabalhador no âmbito das relações sociais na escola e na produção, significa

ver a educação como prática social e cultural, como relação humana de

sujeitos, como produção e se produção consciente e intencional de um

protótipo de ser humano, e, como ação – intervenção política e cultural que

mexe com aspirações, valores, pensamentos, enfim com sujeitos humanos que

pensam e têm suas aspirações.

Neste sentido, essa concepção de educação traz um caráter de

liberdade (construção histórica) para ação educativa.

A qualificação para o trabalho é direito e não privilégio. Cabe

questionar se privilegiar a preparação para o mercado de trabalho no ensino

Médio, em seus aspectos de competitividade, não descaracteriza o trabalho

como valor humano e transforma o jovem em mercadoria.

25

Há uma tendência nas produções sobre educação e trabalho em

conformar o papel da escola às relações de produção. Nesta perspectiva, cabe

à mesma a função de moldar o ser humano, reduzir e adaptar as suas

dimensões aos princípios da empresa capitalista, centrada no desenvolvimento

econômico e industrial.

O papel da Orientação como prática seria de resgatar junto aos

jovens a dimensão do trabalho humano enquanto direito inalienável,

capacitando esse jovem para realização de escolhas críticas e emancipadoras,

bem como as influências do papel da cultura no processo de escolha da

profissão.

Na década de 70 programas relacionados as ocupações ou

profissões são desenvolvidos de forma mais sistemático e estruturados para

proporcionar ao jovem projetos adequados, que propiciem a superação da

visão estreita e mecanicista tradicionalmente desenvolvida. Bohoslavisk (1977),

psicólogo argentino, contribuiu para superar essa visão com a abordagem

denominada “estratégia clínica”. Sob a luz da psicanálise, buscava uma

interpretação de como os indivíduos escolhiam suas profissões. Sua grande

contribuição foi ter apontado que as profissões não são pensadas ou operadas

de forma abstrata pelo indivíduo.

“[...] a escolha sempre se relaciona com os outros (reais e imaginados). O futuro nunca é pensado abstratamente. Nunca se pensa numa carreira ou numa faculdade despersonificadas. Será sempre essa carreira ou essa faculdade ou esse trabalho, que cristaliza relações interpessoais passadas, presentes ou futuras. Deve-se examinar as relações com os outros com os quais se estabelecem relações primárias (membros da família, do mesmo ou do outro sexo como, por exemplo, o casal) e aqueles outros com os quais se mantém uma relação de natureza secundária (fundamentalmente professores, psicólogos ou técnicos[...], que pode determinar ou influir diretamente sobre o futuro de quem escolhe) [...]O futuro implica desempenhos adultos e se trata, novamente, de um futuro personificado. Não há nenhum jovem ou adolescente que queira ser engenheiro ‘em geral’ ou lanterninha de cinema ‘em geral’ ou psicólogo ‘em geral’. [...] . Isto quer dizer que o ‘queria ser engenheiro’ nunca é somente ‘queria ser engenheiro’ , mas ‘quero ser como suponho que seja fulano de tal, que é engenheiro e tem tais ‘poderes’, que quisera fossem meus.” (Bohoslavsky, 1977,p53).

26

Segundo Silvio D. Bock essa formulação de Bohoslavsky mantém

proximidade, neste particular, com a visão sócio-histórica de indivíduo, embora

não seja seu representante. Busca-se o entendimento de que o indivíduo se

constrói a partir do que do que vive, isto é, da internalização do vivido,

resultando daí a dimensão histórica da construção de sua identidade.

Quando uma pessoa pensa em seu futuro, ela nunca o faz de forma

despersonificada. Ao escolher uma forma de se envolver no mundo do trabalho

bem como a atividade que vai desenvolver, a pessoa mobiliza imagens que

adquiriu durante sua vida. Assim, ao pensar em profissões específicas, o

indivíduo está expressando que “Quer ser como tal pessoa, real ou imaginada,

que tem tais e quais possibilidades ou atributos e que supostamente, os possui

em virtude da posição ocupacional que exerce”.(idem:53).

Ao pensar numa profissão, a pessoa mobiliza uma imagem que foi

construída a partir de sua vivência por meio de contatos pessoais, de

exposição à mídia, de leituras (biografias, romances,revistas), de ouvir dizer

(transposição de experiências de outros), portanto não só por intermédio de

contatos pessoais, como Bohoslavsky aponta. Assim, quando uma pessoa diz

que pretende ser tal ou qual profissional, não está pensando em algo genérico

e abstrato; existe um modelo que dá forma a esta pretensão. Esta imagem gera

uma identificação ou um afastamento da profissão.

A profissão necessita ser vista como uma relação conectada entre

trabalho e vida, onde contínuas transformações acontecem, construindo assim

a subjetividade na relação com o mundo. O trabalho pode ser classificado

como toda ação sobre a natureza, com o objetivo de transformá-la de acordo

com a necessidade. O ser humano inicia sua participação direta com o mundo,

através de seu trabalho, do contexto do qual encontra-se inserido, contribuindo

efetivamente em seu papel social e profissional.

27

Os jovens necessitam encontrar-se preparados para enfrentar as

constantes transformações sociais e profissionais. Dentro desse contexto, é

que a escolha profissional torna-se necessária, possibilitando o indivíduo a

conhecer melhor sua capacidade e consequentemente atuar de forma mais

produtiva, se auto-sustentando com êxito, satisfazendo suas necessidades

profissionais e pessoas.

Através do momento histórico, em que se vive, predominando

economia e política globalizadas, inúmeras fronteiras necessitam ser

ultrapassadas. Observa-se a incerteza decorrente de profundas mudanças nos

sistemas econômicos, sociais e políticos impossibilitando inúmeras vezes de se

fazer projeções futuras.

Pode-se falar que todo movimento de transformação, gera dúvidas e

incertezas, melhorando em alguns aspectos em detrimento de outros. Objetivos

a serem alcançados necessitam de atitudes adequadas, caminhando de forma

paralela com todo o desenvolvimento da globalização.

As relações humanas, encontram-se completamente

comprometidas, na medida em que o desenvolvimento tecnológico se instala

na sociedade, nessa fase o indivíduo é induzido a priorizar o racional, deixando

as relações afetivas num plano de distanciamento, interferindo inclusive no

desenvolvimento psíquico do homem. As ações objetivas e mecanicistas

prevalecem. Ocorre então, uma cisão entre o êxito profissional e a vida afetiva,

isto é, para conseguir alcançar um sucesso profissional, o indivíduo muitas

vezes necessita abrir mão do desenvolvimento das relações interpessoais, pois

demonstraria toda a sua sensibilidade e fraqueza em alguns aspectos. A

tecnologia surge, para deixar para trás o afetivo e o emocional do ser humano,

passando a lidar com as situações de forma fria e calculista, visando a

produtividade e não o bem estar dentro da atividade que exerce.

28

A inteligência não está restrita a fronteiras instituídas nem a

nacionalidades. Pode-se dizer que o momento é de grandes transformações,

de fragmentação do trabalho em função da revolução tecnológica. Mas ao

mesmo tempo, momento muito interessante de grandes descobertas

científicas. A troca desses conhecimentos é mais rápida e envolve, cada vez

mais, um número maior de pessoas no mundo. A globalização, contudo,

poderá trazer sentimentos extremos, na medida em que inicia uma demanda

de buscar ser sempre o melhor, conseguindo assim, destaque dentre os

inúmeros profissionais existentes no mercado de trabalho. Tornar-se bem

sucedido, necessita conhecimentos profundos, utilização da criatividade e

saber se relacionar em equipe. Através de constante trocas, o ser humano

cresce individualmente e possibilita resultados mais satisfatórios na atividade

que desenvolve.

Atualmente muitas são as profissões existentes no mercado de

trabalho, assim como as especializações, deixando o indivíduo muito confuso

na hora de sua escolha. O profissional necessita estar constantemente

atualizado. O profissional no passado era valorizado pela sua fidelidade à

empresa e pela sua especialização em determinada área. Com essas

mudanças, os profissionais começam a ser valorizados pela sua diversidade de

experiências, sua criatividade e sua iniciativa na resolução de problemas.

Os conflitos de cada sujeito, marcam com bastante peculiaridade a

história de vida de cada um, ou seja, sua estrutura psíquica, sua situação

sócio-cultural, sua aprendizagem e enfim sua história familiar. Crescer significa

abandonar o infantil. Passar para a fase adulta e amadurecer significam, tornar-

se uma pessoa relativamente estável, com papéis claros e definidos,

desprendendo-se do conhecido para ingressar no desconhecido.

O jovem necessita conhecer a si próprio, conhecer a realidade,

refletir e buscar decisões compatíveis com seus desejos e planos futuros.

29

O desenvolvimento profissional do indivíduo, é influenciado por

diversos fatores junto à sociedade, justamente por esta ser dinâmica e estar

constantemente em mudança. Portanto, as expectativas e as demandas sociais

são construídas para as diferentes profissões, tornando como fator de

condição, situação e evolução de acordo com o perfil de cada profissional no

mercado de trabalho. Observa-se, então, espaço para todos aqueles que

verdadeiramente se interessam e aprofundam seus conhecimentos na área de

interesse. O profissional necessita estar em constante evolução, reconstruindo

e aperfeiçoando sua formação, desenvolvendo assim realmente o seu papel

social perante a sociedade e a si mesmo. Originalidade, iniciativa e criatividade

são características que capacitam ao homem transformar situações,

compreendendo com veracidade o seu papel profissional, pessoal e social.

Através da subjetividade, pode-se pensar não em individualidades, mas em

singularidades como possibilidades de constantes transformações e

adaptações nas relações estabelecidas com o mundo tanto interno quanto

externo do indivíduo.

2.2- Os pais e a família

Intensas pressões podem vir da família, tanto para que se escolha

uma determinada profissão, quanto para que não se escolha outra. As

expectativas, os valores e os projetos familiares, por mais bem intencionados

que sejam, são como “marcas de um desejo do outro”, que incidem sobre o

jovem e influenciam suas escolhas explícita ou implicitamente . Muitas vezes, o

jovem não percebe a identificação com esses desejos. Com isso, ele acaba

perdendo um pouco a capacidade de diferenciar-se desse “desejo do outro”.

Os desejos e projeções da família são feitos em relação aos seus

filhos desde o nascimento para uma expectativa do que serão no futuro.

30

Normalmente os pais constroem o futuro de seus filhos,

estabelecendo metas e objetivos a serem alcançados. Desejam que

correspondam a imagens projetadas, ou seja, investem na missão de que os

filhos deverão ser o que eles pais não conseguiam ou não tiveram

oportunidades de realizar profissionalmente e pessoalmente. Com isso os pais

apresentam maiores dificuldades do que os próprios filhos nesse momento.

Não percebem a necessidade de motivá-los pela busca da independência,

autonomia e consequentemente a realização de seus desejos e anseios.Os

pais não devem cobrar excessivamente e muito menos projetar em seus filhos

escolhas próprias. A escolha do jovem deve ser embasada em suas aptidões e

interesses, para que profissionalmente sinta-se plenamente realizado.

Escolher está diretamente relacionado a perdas e ganhos,

corroborando com a difícil tarefa de ter que decidir por uma determinada

profissão, supõe-se então que a escolha profissional proporciona conflitos,

incertezas, gerando ansiedade e possibilitando a vivência de lutos, já que

alguns pontos de referência vão sendo substituídos e reorganizados.

O tão sonhado crescimento e amadurecimento do filho, podem gerar

angústia e temor por parte dos pais, levando–os a superproteção.O jovem que

pertence a esse núcleo familiar de relações dependentes não está maduro o

suficiente para enfrentar as barreiras que surgem. Possui sentimentos de

insegurança e dúvidas, por não conseguir simbolicamente e efetivamente

romper com essa dependência extrema. Então, torna-se imprescindível que os

pais exerçam verdadeiramente a tarefa de ajudar o filho a crescer, para que ele

se torne um adulto responsável, capaz de tomar e assumir as decisões e

escolhas feitas. Dessa forma, a tarefa inicialmente assustadora se transforma

em gratificante, na medida em que o jovem deixa de ser aquela criança

completamente dependente rumo à maturidade e independência dos pais.

Quando a família é bem estruturada, o processo de tomada de

decisões se desenvolve de forma mais harmônica e equilibrada, na medida em

31

que a criança cresce e se transforma em um adolescente mais seguro, capaz

de falar e ouvir sobre seus sentimentos, otimizando seus potenciais de forma

positiva e individual, estabelecendo uma relação construtiva e prazerosa com o

mundo do trabalho e consequentemente com a vida adulta. Mas quando ocorre

da família não ter essa dinâmica relacional mais estruturada, o jovem poderá

sentir maiores dificuldades para desenvolver seus potenciais ocupacionais.

Então, se o jovem não receber da família uma estrutura necessária (emocional

e/ou financeira) que possibilite a realização da escolha adequada, ele

priorizará, por necessidade, a busca de uma ocupação remunerada para sua

sobrevivência.

Pais que demonstram satisfação e prazer, em sua escolha

profissional, desenvolvem em seus filhos sentimentos como esperança e

entusiasmo com a sua futura escolha.

Observa-se que pais bem sucedidos profissionalmente, acabam por

transmitir satisfação na atividade que desenvolve e proporciona ao filho

segurança e uma perspectiva futura promissora. Mas por outro lado, quando a

escolha é feita por influência ou persuasão dos pais e não pelo interesse

próprio do jovem, pode posteriormente ser um fator complicador para o

desenvolvimento e crescimento dentro da profissão. A tendência natural é o

jovem se sentir frustrado e acabar optando em abandonar o curso ou a

profissão. Portanto, os pais devem estar sempre prontos a apoiá-los

incondicionalmente, mas não ter a pretensão de decidir por eles.

A comunicação é o caminho da indiscriminação de papéis à

discriminação, da identificação à identidade, da confusão a clareza, de

dissociação à síntese, de negação ao sentimento de realidade, da dependência

à autonomia, da estereotipia à liberdade. (Bohoslavsky, 1987,p.199).

Filhos se sentem muito gratificados quando pais possibilitam essa

trajetória, à medida que oferecem oportunidades que possam ser aproveitadas

32

de forma autêntica e pessoal rumo à confiança, autonomia e independência do

jovem. Assim, ocorre o início de uma trajetória de desprendimento do interno

conhecido (família), para um externo desconhecido (a sociedade).

A escolha deve fazer parte de um processo construído desde a

infância com reflexão pessoal, amadurecimento, conhecimento acerca das

profissões existentes no mercado de trabalho, assim como o reconhecimento

da compatibilidade existente entre o desejo e as habilidades individuais para a

definição da profissão a escolher. A possível integração a seu contexto social,

físico e emocional.

33

CAPÍTULO III

O FAZER DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL FACE Á

ORIENTAÇÃO PROFISSIO NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

A Orientação Profissional, baseada nos pressupostos da abordagem

sócio-histórica, parte da premissa que o indivíduo escolhe uma determinada

profissão a partir de todas as suas vivências e das interações que estabelece

em seu meio social. De acordo com Bock (2000), não se trata de dizer que o

meio social do qual o sujeito faz parte lhe determina mecanicamente seu modo

de ser. Entretanto, também não se pode desprezar o papel desta interação do

sujeito com o seu meio nem se fazer uma apologia de uma escolha meramente

individual, desvinculada de qualquer relação com o coletivo. De acordo com a

referida teoria, a orientação profissional deveria superar a dicotomia individuo e

sociedade e não pensar as escolhas como atividades individuais e fora de

contexto. Isto porque o meio social coloca ao sujeito possibilidades nas suas

escolhas. Entretanto, como o sujeito é personagem desta história de cuja

construção ele próprio participa, Ele é responsável por suas escolhas, ou seja,

por mais que o meio lhe limite as opções, ele tem a possibilidade de refletir

sobre o que está lhe acontecendo e de posicionar-se diante dos fatos. Quando

o sujeito faz uma escolha, além de ter que avaliar as suas efetivas condições

de possibilidade, ele tem que admitir que deixou de escolher várias outras

coisas, ou seja, nos termos de Bohoslavsky (1993), tem que elaborar o luto das

outras opções. Diante das influências, como a família, o grupo de amigos, as

possibilidades de retorno financeiro, a concorrência no vestibular, a

representação social da profissão, o mercado de trabalho e, conforme Whitaker

(2002), tantos outros fatores “ocultos” (p.52), o sujeito acaba tendo que se

posicionar frente as diferentes opções profissionais e fazer uma escolha,

admitindo sua responsabilidade neste ato e arcando com as conseqüências.

Pode-se pensar, porém, que esta ocupação é realizada com plena liberdade.

Entretanto, Ferreti (1997) não considera que todos os sujeitos tenham a

mesma liberdade para determinar seu futuro profissional, isto porque a

34

realidade social concreta impõe certos limites que, embora o sujeito deseje

superar, não o conseguirá sempre, porque ultrapassam a questão individual.

Conforme Bock(2002), o sujeito “escolhe e não escolhe sua

profissão”, pois afirma que dependendo da classe social terá mais ou menos

liberdade de escolher realmente sua profissão. Isso não quer dizer que

sujeitos oriundos das parcelas mais pobres da população não possam

ascender socialmente, pois Bock (2002) admite “(...) a possibilidade de

mudança, de alteração histórica, ao reconhecer que os indivíduos podem, de

certo modo, intervir sobre as condições sociais, por meio de ações pessoais

e/ou coletivas” (p.69). Todavia não basta o desejo de mudança, pois assim

como Ferreti (1997), Bock (2002) admite que nem todos os obstáculos

colocados pelo meio social podem ser superados, e que é necessária a

permanente luta por mudanças sociais.

Portanto, segundo os referidos autores a escolha profissional deve

sempre ser compreendida de acordo com os respectivos contextos onde acontece.

O processo de Orientação Profissional tem como finalidade auxiliar

os jovens no momento da escolha, possibilitando um autoconhecimento para a

descoberta de seus reais interesses, potencialidades, aptidões, competências,

habilidades, valores e ansiedades, assim como informações acerca das

profissões existente no mercado de trabalho, para que possa exercer

verdadeiramente seu papel social.

Conhecer-se é essencial para escolher uma profissão ou ocupação,

permitindo aspirações profissionais coerentes com suas características

pessoas. Ao jovem consciente, é possível estabelecer seu projeto de vida

levando em consideração aspectos positivos e negativos de sua personalidade.

Para facilitar a escolha, segundo Lucchiari(1993), alguns aspectos são

necessários de serem trabalhados: quem sou eu (quem fui, quem sou, quem

pretendo ser); qual meu projeto de vida; como me vejo no futuro

35

desempenhando meu trabalho; expectativas da família X expectativas pessoais

e quais são meus principais gostos, interesses e valores. O indivíduo deve ser

levado em consideração como um todo, abrangendo aspectos sociais, físicos e

psíquicos assim como o histório familiar e o ambiente no qual encontra-se

inserido socialmente. As profissões já não possuem o mesmo perfil que dez ou

vinte anos atrás, daí a necessidade de atualização constante para um maior

esclarecimento de dúvidas existentes, que podem prejudicar as futuras

escolhas. O processo de Orientação Profissional atua como forma preventiva

de promoção do bem- estar.

É relevante ressaltar as diferenças existentes entre os termos

aptidões, interesses, potencialidades e competências, visto que são conceitos

imprescindíveis de serem trabalhados nesse momento. Constata-se que

aptidão, é uma união de habilidades inatas e adquiridas demonstrando algo

que a pessoa realiza bem, com certa facilidade não estando obrigatoriamente

relacionada a algo que lhe agrade. Já os interesses estão relacionados a algo

que se gosta, podendo estar relacionado a aptidões ou não. A potencialidade

está ligada ao que a pessoa poderá desenvolver e por fim as competências,

como sendo as capacidades já desenvolvidas, a partir das aptidões ou

potencialidades. Para Coutinho (1993,p.117) a escolha profissional é o

momento em que o sujeito reflete e articula seu projeto profissional, buscando

assim determinar a trajetória de sua futura relação produtiva com o mundo.

O processo de Orientação Profissional tornou-se um instrumento

válido para os jovens que não conseguem definir suas escolhas. As atividades

desenvolvidas de caráter vivencial-informativo auxiliam nesse momento,

levando-o a experimentar e refletir acerca dos sentimentos, propiciando uma

relação saudável com o mundo de forma produtiva. O jovem escolhe de forma

mais consciente, sentindo-se melhor preparado para superar as dificuldades

naturais que eventualmente possam surgir em sua trajetória, assim como o

estabelecimento de uma parceria entre o desejo e a profissão pretensamente

escolhida de acordo com seus interesses e suas perspectivas futuras.

36

Segundo Bohoslavsky, em geral, os adolescentes não adquirem

consciência da necessidade e da possibilidade de escolher até que estejam

para concluir seus estudos no ensino médio. À urgência em resolver as

situações, responde de diversas maneiras: a) renunciam à possibilidade de

escolher por si mesmos e submetem-se voluntariamente à escolha de outros (

pais, amigos, parentes, colegas, professores); b) apegam-se a velhas

escolhas, negando-se a pensar sobre um campo de possibilidades, que o

crescimento e a aprendizagem vêm ampliando; c) escolhem não escolher,

livrando-se de um problema que no fundo, os preocupa muito; e d) escolhem

por si mesmos, mas sobre a base de preconceitos, distorções ou

conhecimentos parciais sobre si mesmos e sobre o mundo das ocupações e o

mundo da universidade.

A construção de um projeto na área de Orientação Profissional, se

faz necessário para que possa minimizar no jovem e no adulto sentimentos

negativos, incertezas, preconceitos e distorções que venham a interferir nesse

momento de escolha ou de reescolha da carreira.

Será apresentado um modelo de programa de Orientação

Profissional que poderá ser desenvolvido de forma individual ou grupal, como

sugestão para que se torne possível alcançar avanços significativos no

processo de tomada de decisão sobre cursos de nível médio e pós-médio dos

jovens e adultos.

3.1 – Programa de Orientação Profissional

Tal programa tem como objetivo geral, proporcionar ao aluno a

possibilidade de escolher seu curso ou profissão de maneira consciente,

levando-o a sentir-se preparado para o mercado de trabalho assim como a vida

em sociedade, exercendo verdadeiramente seu papel social. Como objetivos

específicos, pode-se estabelecer a necessidade de transmitir ao aluno maiores

37

informações sobre as carreiras existentes no mercado de trabalho; auxilia a

relacionar o seu desejo com a futura profissão que supostamente será de seu

interesse e por fim permitir ao aluno expressar seus sentimentos em relação ao

processo seletivo do vestibular.

Dessa forma o referido programa deverá ser realizado em oito

encontros com duração de 60 minutos.

3.1.1- Objetivos e Técnicas de cada encontro

Primeiro Encontro

Nesse primeiro contato, será apresentado de maneira formal o

programa e seus objetivos, confirmando o dia e horário dos próximos

encontros.

Objetivos:

# informar que o processo será construído por três etapas: a

primeira referente ao autoconhecimento, ou seja, a reflexão sobre si mesmo, a

segunda com informações acerca das profissões e das possibilidades na

inserção do mercado de trabalho e por último a junção das etapas anteriores,

proporcionando a tomada de decisão de forma consciente.

# solicitar que cada elemento do grupo se apresente, favorecendo

um ambiente descontraído e interessante para melhor integração.

# conhecer as expectativas do grupo em relação ao processo.

Técnicas:

38

Abaixo seguem sugestões de técnicas compatíveis com os objetivos

de cada etapa do processo.

1) Adivinhando quem é quem

Solicitar que o grupo sente-se em círculo, para melhor visualização

de todos os elementos. Será pedido que cada um se apresente

individualmente, falando o seu nome e uma característica pessoal com a

mesma letra iniciada de seu nome.

2) Expectativas

Pedir aos membros do grupo que relate suas expectativas em

relação a esse momento de escolha que vive e ao processo do qual estão

participando. Tal técnica tem como objetivo, levantar os motivos que levou o

jovem e o adulto a participar do processo de Orientação Profissional, assim

como detectar as fantasias sobre a perspectiva de futuro. Discutir sobre os

sentimentos surgidos e as expectativas relacionadas ao processo.

Segundo Encontro

Objetivo:

# aprofundar o conhecimento mútuo e de si mesmo, fortalecendo o

processo de integração da dimensão temporal passado-presente.

Técnica:

Esta técnica oportuniza uma retomada da história de vida

possibilitando uma boa elaboração da questão pessoal versus profissional dos

conflitos relacionados à vivência profissional.

39

Procedimento

O coordenador fala durante alguns minutos sobre a importância do

conhecimento de si mesmo e da integração de todas as etapas da vida

pessoal, isto é, do passado, presente e futuro.

Primeiro momento individual – Pede-se a cada membro para redigir

a sua autobiografia a partir da proposição “por que estou aqui, agora”,

destacando aspectos significativos do seu desenvolvimento vocacional desde a

infância. (Essa tarefa pode ser pedida previamente, no Encontro anterior, para

ser entregue neste Encontro).

Segundo momento em pares – Conversar em duplas, apresentando

a sua redação ao colega e fazendo alguns comentários.

Terceiro momento grupal – Relato da experiência vivida, enfatizando

a percepção de cada um sobre o colega e ressaltando pontos comuns e

diferentes.

Com base no relato da experiência de cada um, outros temas de

interesse do grupo são discutidos, como a inserção de cada um na sociedade a

partir da sua situação específica de nascimento (socioeconômico e cultural) e

em que medida esse fato influi na sua decisão.

Terceiro e Quarto Encontros

1- A Técnica: Gosto e Faço

Objetivos:

#levantar as atividades que cada um gosta de executar;

40

#discutir sobre os sentimentos relacionados a essas atividades;

#auxiliar a discriminar os diferentes vínculos que estabelecemos

com as diversas atividades;

#levar o jovem a se conhecer melhor por meio de uma

conscientização de seu cotidiano.

Procedimentos:

Completar as frases com atividades que realiza no cotidiano:

Gosto e Faço

Gosto e não Faço

Não gosto e Faço

Não Gosto e não Faço

Comentários:

Discutir em qual das situações se encontra o maior número de

atividades. Se for a situação “não gosto e Faço”, pensar por que fazemos

tantas coisas de que não gostamos? O que poderíamos deixar de fazer? Como

podemos mudar essa situação? Ou se for a situação “gosto e não Faço” ,

verificar o que está acontecendo e avaliar o que impede a realização de

alguma coisa de que se gosta.

2) Técnicas das Frases Incompletas

41

Objetivos:

#identificar e descrever características pessoais, habilidades e

atividades de interesse.

#proporcionar uma primeira reflexão e relacionar os interesses, as

habilidades, o potencial de aprendizagem e suas implicações frente às

atividades profissionais.

#auxiliar no diagnóstico da situação do orientando sobre sua

possibilidade de escolha, ajudando a conhecer-se melhor e a pensar no mundo

que o cerca.

Aplicação:

Entregar o material para os participantes preencherem e

posteriormente fazer uma análise das respostas e procurar saber se houve

alguma dificuldade para responder.

Frases: O mais importante na vida é... ; No mundo em que vivemos,

vale mais a pena... do que... ; Comecei pensar no futuro... ; Quando penso no

curso técnico... ; Sempre quis... mas nunca poderei fazer...; Minha capacidade

de ... .

3) Técnica da Sondagem da Habilidades e Experiências

Objetivo

# proporcionar maior reflexão das habilidades que possui e

futuramente relacionar com as áreas profissionais que estarão diretamente

ligadas.

42

Aplicação

Uso das mãos:

( ) Trabalha com ferramentas;

( ) Opera máquinas;

( ) Toca algum instrumento;

( ) Outros. Cite:

Uso do Corpo

( ) Coordena a musculatura: ginástica, dança ou esporte;

( ) Faz atividades ao ar livre;

( ) Outros. Cite:

Uso da palavra

( ) Faz leitura;

( ) Redige com facilidade;

( ) Fala em público;

( ) Gosta de fazer teatro;

( ) Gosta de ensinar;

( ) Possui memória para textos;

( ). Outros. Cite:

Uso do Pensamento Lógico ou Analítico

( ) Facilidades com números;

( ) Pesquisa, junta informações;

( ) Organiza, classifica material;

( ) Avalia os prós e contras de uma situação;

( ) Procura a causa de um problema ou o porquê de um engano;

( ) Outros.Cite:

43

Quinto e Sexto encontros:

Encontros fundamentais para esclarecimentos mais aprofundados

acerca das diversas carreiras existentes no mercado, assim como as inúmeras

possibilidades de inserção profissional.

Objetivos:

# relacionar as profissões de interesse para investigação e busca de

informação.

# esclarecimento sobre as profissões, assim como os cursos

técnicos e pós-técnicos; as possibilidades futuras na inserção no mercado de

trabalho e as diversas atividades possíveis de desenvolver.

# entrega do material explicativo sobre os cursos técnicos e pós-

técnicos.

# solicitar que realizem contatos com profissionais da área de

interesse, para saber a rotina da profissão.

Técnicas

1) Solicitar que os participantes façam uma lista das profissões que

despertam maior interesse e relatem o motivo pelo qual gostariam de investigar

tais profissões.

2) Levar material informativo para debates e aprofundamentos das

profissões.

3) Sugerir ao grupo, como enriquecimento investigativo, a

formulação de algumas perguntas para servir de roteiro nos contatos com

profissionais das áreas de interesse.

44

Sétimo encontro

Objetivos

# refletir sobre tudo o que foi trabalhado nos encontros e as

perspectivas profissionais.

# definir metas profissionais e pessoais para programar o futuro de

forma produtiva, madura e saudável.

#esclarecer situações pessoais que possam estar interferindo

negativamente na escolha profissional.

1- Técnica da Autobiografia do Futuro

Objetivo

#possibilitar ao orientando a observação de como se sente

futuramente em relação às atividades que estará desenvolvendo.

Procedimento

Solicitar a realização de uma redação tentando responder à seguinte

questão: Quem sou eu? Eu sou... (profissional escolhido daqui a dez anos).

Deve-se sugerir ao orientando que se imagine no futuro

desempenhando essa profissão e relate a sua vida diária, como se sente

realizando as atividades, seus momentos de alegria e satisfação, seus

momentos de cansaço e tristeza.

45

A realização da redação leva o jovem a projetar-se no futuro, a

imaginar como ele quer vir a ser e em que medida a profissão escolhida

responderá à sua expectativa.

Em alguns casos, o fato de imaginar o seu dia-a-dia leva o jovem a

ter condições mais realistas para decidir.

Oitavo encontro

Objetivos

# avaliar os resultados alcançados em relação aos objetivos da

Orientação Profissional.

1) Técnica

Fazer uma auto-avaliação: Como eu cheguei no grupo e como estou

saindo?

O exercício profissional, envolve muitas tarefas e atribuições frente à

sociedade, que é algo dinâmico, em constante mudança. Para que se possa

acompanhar tais mudanças, torna-se imprescindível para o indivíduo gostar da

atividade que exerce, podendo assim contribuir efetivamente para uma

sociedade criativa e coletiva, assumindo um compromisso com a construção de

futuros cidadãos.

Portanto, na Orientação Profissional, tomar uma decisão é o

resultado de um processo de aprendizagem de habilidades na resolução de

problemas. Decidir é a possibilidade de unir os comportamentos anteriores

apreendidos, para se obter uma resposta final de seus questionamentos.

46

CONCLUSÃO

A pesquisa Orientação Profissional: Opções na escolha de cursos de

formação no ensino médio noturno focaliza a aplicação do Programa de

Orientação Profissional da rede pública estadual da cidade de Niterói, com

vistas ao atendimento e emancipação sócio-econômica, intelectual dos sujeitos

envolvidos.

A pesquisa bibliográfica desenvolvida nesse projeto pode comprovar

que quanto maior o número de informações que o orientando recebe, maior a

segurança de escolher de forma consciente e satisfatória, além de proporcionar

ao adulto novos desafios profissionais e pessoais, quando descontente com a

profissão escolhida inicialmente.

A Orientação Profissional é fator relevante para que o aluno possa

dedicar-se ao seu aprendizado de forma confiante, certo de estar trilhando um

caminho que lhe garantirá um futuro acadêmico e profissional gratificante.

O processo dessa escolha deve fazer parte da construção do ser em

formação, desde a infância, constando de reflexão pessoal, amadurecimento,

conhecimento acerca das profissionais disponíveis no mercado de trabalho,

bem como o reconhecimento da compatibilidade existente entre o desejo e as

aptidões e habilidades individuais, para que possa definir com toda a

segurança a profissão que irá seguir.

A escolha abalizada da profissão, reforçada pelo autoconhecimento,

irá garantir ao aluno sua integração no contexto social, enquanto profissional e

ser humano.

O Programa de Orientação Profissional, quando aplicado de acordo

com as proposições, pode proporcionar ao aluno a possibilidade de escolher

seu curso ou profissão de maneira consciente, passando a partir daí a sentir-se

47

preparado e apto a enfrentar o mercado de trabalho, assim como a vida em

sociedade em posição de igualdade, exercendo assim seu papel social.

48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Elementos Materiais de Formação Humana. In: Silva, T. T. Trabalho, Educação

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1997.

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Porto Alegre: ArtMed, 2004).

49

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Profissional. São Paulo: Summus. (1993).

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SZYMONSKI, Helena. A relação família/escola: desafios e perspectivas

Brasília: Plano (2003).

WHITAKER, D. Escolha da carreira e Globalização. São Paulo: Moderna, 1997.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL 10

1.1. Contexto histórico 10

1.2. Contexto brasileiro 14

CAPÍTULO II

INTERFACES SOCIAIS NO COMPROMETIMENTO DAS ESCOLHAS PARA O

TRABALHO 23

2.1. Mercado de Trabalho e Globalização 23

2.2. Os Pais e a Família 29

CAPÍTULO III

O FAZER DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL FACE À ORIENTAÇÃO

PROFISSIONAL NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR 33

3.1. Programa de Orientação Profissional 36

3.1.1. Objetivos e Técnicas de cada encontro 37

CONCLUSÃO 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48

ÍNDICE 50

FOLHA DE AVALIAÇÃO 51

51

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Instituto de Pesquisa Sócio-Pedagógicas

Pós-Graduação “Lato Sensu”

Título da Monografia

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: OPÇÕES NA ESCOLHA

DE CURSOS DE FORMAÇÃO NO ENSINO MÉDIO

NOTURNO

Avaliação:

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Data da Entrega: 01 de Agosto de 2009.

Avaliado por Profª. Geni Lima Grau: _______________

Rio de Janeiro, 01 de Agosto de 2009.

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Coordenação do Curso