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http://virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=156&sec=53 Carl Rogers Incluído em 24/01/2005 Uma premissa fundamental da teoria de Carl Rogers é o pressuposto de que as pessoas usam sua experiência para se definir. Em seu principal trabalho teórico de 1959, Rogers define uma série de conceitos a partir dos quais delineia teorias da personalidade e modelos de terapia, mudança da personalidade e relações interpessoais. Os construtos básicos aqui apresentados estabelecem uma estrutura através da qual as pessoas podem construir e modificar suas opiniões a respeito de si mesmas. O Conhecimento O conhecimento objetivo é uma forma de testar hipóteses, especulações e conjecturas em relação a sistemas de referência externos. Em Psicologia, os pontos de referência podem incluir observações do comportamento, resultados de testes, questionários ou julgamentos de outros psicólogos. A utilização dos colegas baseia-se na idéia de que se pode confiar nas pessoas treinadas em uma determinada disciplina para aplicar os mesmos métodos de julgamento a um dado evento. A opinião de um especialista pode ser objetiva mas também pode ser uma percepção coletiva errônea. Qualquer grupo de especialistas pode mostrar-se rígido e defender-se quando se lhes pede para considerar dados que contradizem aspectos axiomáticos de sua própria formação. Rogers observa que teólogos comunistas dialéticos e psicanalistas exemplificam esta tendência. Rogers é o único a questionar a validade do conhecimento objetivo, em especial na tentativa de compreender a experiência de uma outra pessoa. A terceira forma de conhecimento é o conhecimento inter- pessoal ou conhecimento fenomenológico, que é a essência da terapia centrada no cliente. É a prática da compreensão empática. Penetrar no mundo subjetivo particular do outro para ver se nossa compreensão da opinião dele é correta, não

Teorias Da Personalidade - Carl Rogers

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http://virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=156&sec=53

Carl Rogers

Includo em 24/01/2005

Uma premissa fundamental da teoria de Carl Rogers o pressuposto de que as pessoas usam sua experincia para se definir. Em seu principal trabalho terico de 1959, Rogers define uma srie de conceitos a partir dos quais delineia teorias da personalidade e modelos de terapia, mudana da personalidade e relaes interpessoais. Os construtos bsicos aqui apresentados estabelecem uma estrutura atravs da qual as pessoas podem construir e modificar suas opinies a respeito de si mesmas.

O Conhecimento O conhecimento objetivo uma forma de testar hipteses, especulaes e conjecturas em relao a sistemas de referncia externos. Em Psicologia, os pontos de referncia podem incluir observaes do comportamento, resultados de testes, questionrios ou julgamentos de outros psiclogos.

A utilizao dos colegas baseia-se na idia de que se pode confiar nas pessoas treinadas em uma determinada disciplina para aplicar os mesmos mtodos de julgamento a um dado evento. A opinio de um especialista pode ser objetiva mas tambm pode ser uma percepo coletiva errnea. Qualquer grupo de especialistas pode mostrar-se rgido e defender-se quando se lhes pede para considerar dados que contradizem aspectos axiomticos de sua prpria formao. Rogers observa que telogos comunistas dialticos e psicanalistas exemplificam esta tendncia. Rogers o nico a questionar a validade do conhecimento objetivo, em especial na tentativa de compreender a experincia de uma outra pessoa.

A terceira forma de conhecimento o conhecimento inter-pessoal ou conhecimento fenomenolgico, que a essncia da terapia centrada no cliente. a prtica da compreenso emptica. Penetrar no mundo subjetivo particular do outro para ver se nossa compreenso da opinio dele correta, no apenas para ver se objetivamente correta ou se concorda com o nosso prprio ponto de vista, mas se correta no sentido de compreender a experincia do outro como ele a experincia. Esta compreenso emptica testada pela resposta quilo que se entendeu, perguntando-se ao outro se foi ouvido corretamente. "Voc est se sentindo deprimido esta manh?", "Parece-me que voc est contando ao grupo que seu choro um pedido de ajuda", "Aposto que voc est muito cansado para concluir isto agora".

O Campo da ExperinciaH um campo de experincia nico para cada indivduo. Este campo de experincia ou "campo fenomenal" contm tudo o que se passa no organismo em qualquer momento, e que est potencialmente disponvel conscincia. Inclui eventos, percepes, sensaes e impactos dos quais a pessoa no toma conscincia, mas poderia tomar se focalizasse a ateno nesses estmulos. um mundo privativo e pessoal que pode ou no corresponder realidade objetiva.

De incio a ateno colocada naquilo que a pessoa experimenta como seu mundo, no na realidade comum. O campo de experincia limitado por restries psicolgicas e limitaes biolgicas. Temos tendncia a dirigir nossa ateno para perigos imediatos, assim como para experincias seguras ou agradveis, ao invs de aceitar todos os estmulos que nos rodeiam.

SelfDentro do campo de experincia est o Self. O Self no uma entidade estvel, imutvel, entretanto, observado num dado momento, parece ser estvel. Isto se d porque congelamos uma seco da experincia a fim de observ-la. Rogers concluiu que a idia do eu no representa uma acumulao de inumerveis aprendizagens e condicionamentos efetuados na mesma direo.... Essencialmente uma gestalt cuja significao vivida suscetvel de mudar sensivelmente (e at mesmo sofrer uma reviravolta) em conseqncia da mudana de qualquer destes elementos. O Self uma gestalt organizada e consistente num processo constante de formar-se e reformar-se medida que as situaes mudam.

Assim como uma fotografia uma "parada" de algo que est mudando, da mesma forma o Self no nenhuma das "fotografias" que tiramos dele, mas o processo fluido subjacente. Outros tericos usam o termo Self para designar aquela faceta da identidade pessoal que imutvel, estvel ou mesmo eterna.

Rogers usa o termo para se referir ao contnuo processo de reconhecimento. esta diferena, esta nfase na mudana e na flexibilidade, que fundamenta sua teoria e sua crena de que as pessoas so capazes de crescimento, mudana e desenvolvimento pessoal. O Self ou auto-conceito a viso que uma pessoa tem de si prpria, baseada em experincias passadas, estimulaes presentes e expectativas futuras.

Self IdealSelf Ideal o conjunto das caractersticas que o indivduo mais gostaria de poder reclamar como descritivas de si mesmo. Assim como o Self, ele uma estrutura mvel e varivel, que passa por redefinio constante. A extenso da diferena entre o Self e o Self Ideal um indicador de desconforto, insatisfao e dificuldades neurticas. Aceitar-se como se na realidade, e no como se quer ser, um sinal de sade mental. Aceitar-se no resignar-se ou abdicar de si mesmo. uma forma de estar mais perto da realidade e de seu estado atual. A imagem do Self Ideal, na medida em que se diferencia de modo claro do comportamento e dos valores reais de uma pessoa um obstculo ao crescimento pessoal.

Um trecho da histria de um caso pode esclarec-lo. Um estudante estava planejando desligar-se da faculdade. Havia sido o melhor aluno no ginsio e o primeiro no colegial e estava indo muito bem na faculdade. Estava desistindo, explicava, porque havia recebido um "C" num curso. Sua imagem de ter sido sempre o melhor estava em perigo. A nica seqncia de aes que ele vislumbrava era escapar, deixar o mundo acadmico, rejeitar a discrepncia entre seu desempenho atual e sua viso ideal de si prprio. Disse que iria trabalhar para ser o "melhor" de alguma outra forma.

Para proteger sua auto-imagem ideal ele desejava cortar pela raiz sua carreira acadmica. Ele deixou a escola, viajou pelo mundo e, por vrios anos, teve uma grande quantidade de empregos originais. Quando foi visto novamente era capaz de discutir a possibilidade de que talvez no fosse necessrio ser o melhor desde o comeo, mas tinha ainda grandes dificuldades em explorar qualquer atividade na qual pudesse experimentar fracasso.

Congruncia e IncongrunciaCongruncia definida como o grau de exatido entre a experincia da comunicao e a tomada de conscincia. Ela se relaciona s discrepncias entre experienciar e tomar conscincia. Um alto grau da congruncia significa que a comunicao (o que se est expressando), a experincia (o que est ocorrendo em nosso campo) e a tomada de conscincia (o que se est percebendo) so todas semelhantes. Nossas observaes e as de um observador externo seriam consistentes.Crianas pequenas exibem alta congruncia. Expressam seus sentimentos logo que seja possvel com o seu ser total. Quando uma criana tem fome ela toda est com fome, neste exato momento! Quando uma criana sente amor ou raiva, ela expressa plenamente essas emoes. Isto pode justificar a rapidez com que a criana substitui um estado emocional por outro. A expresso total de seus sentimentos permite que elas liquidem a bagagem emocional que no foi expressa em experincias anteriores. A congruncia bem descrita por um Zen-budista ao dizer: "Quando tenho fome, como; quando estou cansado, sento-me; quando estou com sono, durmo".

A incongruncia ocorre quando h diferenas entre a tomada de conscincia, a experincia e a comunicao desta. As pessoas que parecem estar com raiva (punhos cerrados, tom de voz elevado, praguejando) e que replicam que de forma alguma esto com raiva, se interpeladas, ou as pessoas que dizem estar passando por um perodo maravilhoso mas que se mostram entediadas, isoladas ou facilmente doentes, esto revelando incongruncia. definida no s como inabilidade de perceber com preciso mas tambm como inabilidade ou incapacidade de comunicao precisa. Quando a incongruncia est entre a tomada de conscincia e a experincia, chamada represso. A pessoa simplesmente no tem conscincia do que est fazendo. A maioria das psicoterapias trabalha sobre este sintoma de incongruncia ajudando as pessoas a se tomarem mais conscientes de suas aes, pensamentos e atitudes na medida em que estes as afetam e aos outros.

Quando a incongruncia uma discrepncia entre a tomada de conscincia e a comunicao a pessoa no expressa o que est realmente sentindo, pensando ou experienciando. Este tipo de incongruncia muitas vezes percebido como mentiroso, inautntico ou desonesto. Muitas vezes esses comportamentos tomam-se foco de discusses em terapias de grupo ou em grupos de encontro. Embora tais comportamentos paream ser realizados com malcia, terapeutas e treinadores relatam que a ausncia de congruncia social, aparente falta de boa vontade em comunicar-se, com freqncia, uma falta de autocontrole e conscincia pessoal. A pessoa no capaz de expressar suas emoes e percepes reais em virtude do medo e de velhos hbitos de encobrimento que so difceis de superar. Por outro lado, possvel que a pessoa tenha dificuldade em compreender o que os outros esperam dela.

A incongruncia pode ser sentida como tenso, ansiedade ou, em circunstncias mais extremas, como confuso interna. Um paciente internado em hospital psiquitrico que declara no saber onde est, em que hospital, qual a hora do dia, ou mesmo quem ele , est exibindo alto grau de incongruncia. A discrepncia entre a realidade externa e aquilo que ele est subjetivamente experienciando tomou-se to grande que ele no capaz de atuar. A maioria dos sintomas descritos na Literatura psiquitrica podem ser vistos como formas de incongruncia. Para Rogers, a forma particular de distrbio menos crtica do que o reconhecimento de que h uma incongruncia que exige uma soluo.

A incongruncia visvel em observaes como, por exemplo, "no sou capaz de tomar decises", "no sei o que quero", "nunca serei capaz de persistir em algo", A confuso aparece quando voc no capaz de escolher dentre os diferentes estmulos aos quais se acha exposto. Considere o caso de um cliente que relata: "Minha me pede-me que cuide dela, o mnimo que posso fazer. Minha namorada recomenda que eu me mantenha firme para no ser puxado de todo lado. Penso que sou muito bom para minha me, mais do que ela merece. s vezes a odeio, s vezes a amo. s vezes bom estar com ela, s vezes ela me diminui."

O cliente est assediado por estmulos diferentes. Cada um deles vlido e conduz a aes vlidas por algum tempo. difcil diferenciar, dentre estes estmulos, aqueles que so genunos daqueles que so impostos. 0 problema pode estar em reconhec-los como diferentes e ser capaz de trabalhar sobre sentimentos diferentes em momentos diferentes. A ambivalncia no Iara ou anormal; no ser capaz de reconhec-la ou enfrent-la pode ser uma causa de ansiedade.

Tendncia Auto-AtualizaoH um aspecto bsico da natureza humana que leva uma pessoa em direo a uma maior congruncia e a um funcionamento realista. Alm disso, este impulso no limitado aos seres humanos; parte do processo de todas as coisas vivas. este impulso que evidente em toda vida humana e orgnica, expandir-se, estender-se, tornar-se autnomo, desenvolver-se, amadurecer a tendncia a expressar e ativar todas as capacidades do organismo na medida em que tal ativao valoriza o organismo ou o Self.

Rogers sugere que em cada um de ns h um impulso inerente em direo a sermos competentes e capazes quanto o que estamos aptos a ser biologicamente. Assim como uma planta tenta tornar-se saudvel, como uma semente contm dentro de si impulso para se tomar uma rvore, tambm uma pessoa impelida a se tomar uma pessoa total, completa e auto-atualizada.O impulso em direo sade no uma fora esmagadora que super., obstculos ao longo da vida; pelo contrrio, facilmente embotado, distorcido e reprimido. Rogers o v como a fora motivadora dominante numa pessoa que est funcionando de modo livre, no paralisada por eventos passados ou por crenas correntes que mantinham a incongruncia. Maslow chegou a concluses semelhantes; chamava esta tendncia de uma voz interna e fraca que facilmente abafada. A suposio de que o crescimento possvel e central para o projeto do organismo crucial para o restante do pensamento de Rogers.

Para Rogers, a tendncia auto-atualizao no simplesmente mais um motivo. importante observar que esta tendncia atualizante o postulado fundamental da teoria rogeriana.

Crescimento PsicolgicoAs foras positivas em direo sade e ao crescimento so naturais e inerentes ao organismo. Baseado em sua prpria experincia clnica, Rogers conclui que os indivduos tm a capacidade de experienciar e de se tomarem conscientes de seus desajustamentos. Isto , voc pode experienciar as incoerncias entre seu auto-conceito e suas experincias reais. Esta capacidade que reside em ns associada a uma tendncia subjacente modificao do auto-conceito, no sentido de estar realmente de acordo com a realidade. Rogers postula, portanto, um movimento natural para a resoluo e distante do conflito. V o ajustamento no como um estado esttico, mas como um processo no qual novas aprendizagens e novas experincias so cuidadosamente assimiladas.

Rogers est convencido de que estas tendncias em direo sade so facilitadas por qualquer relao interpessoal na qual um dos membros esteja livre o bastante da incongruncia para estar em contato com seu prprio centro de auto-correo. A maior tarefa da terapia estabelecer tal relacionamento genuno. Aceitar-se a si mesmo um pr-requisito para uma aceitao mais fcil e genuna dos outros. Em compensao, ser aceito por outro conduz a uma vontade cada vez maior de aceitar-se a si prprio. Este ciclo de auto-correo e auto-incentivo a forma principal pela qual se minimiza ns obstculos ao crescimento psicolgico.

Obstculos ao CrescimentoRogers sugere que os obstculos aparecem na infncia e so aspectos normais do desenvolvimento. O que a criana aprende em um estgio como benfico deve ser reavaliado nos estgios posteriores: Motivos que predominam na primeira infncia mais tarde podem inibir o desenvolvimento da personalidade.

Quando a criana comea a tomar conscincia do Self, desenvolve uma necessidade de amor ou de considerao positiva. Esta necessidade universal, considerando-se que ela existe em todo ser humano e que se faz sentir de uma maneira contnua e penetrante. A teoria no se preocupa em saber se uma necessidade inata ou adquirida. Uma vez que as crianas no separam suas aes de seu ser total, reagem aprovao de uma ao como se fosse aprovao de si mesmas. Da mesma forma, reagem punio de um ato como se estivessem sendo desaprovadas em geral.

O amor to importante para a criana que ela acaba por ser guiada, no pelo carter agradvel ou desagradvel de suas experincias e comportamentos, mas pela promessa de afeio que elas encerram. A criana comea a agir da forma que lhe garante amor ou aprovao, sejam os comportamentos saudveis ou no para ela. As crianas podem agir contra seu prprio interesse, chegando a se perceber em termos destinados, a princpio, a agradar ou apaziguar os outros. Teoricamente esta situao poderia no se desenvolver se a criana sempre se sentisse aceita e houvesse aprovao dos sentimentos mesmo que alguns comportamentos fossem inibidos. Em tal situao ideal a criana nunca seria pressionada a se despojar ou repudiar partes no atraentes mas autnticas de sua personalidade.

Comportamentos ou atitudes que negam algum aspecto do Self so chamados de condies de valor. Quando uma experincia relativa ao eu procurada ou evitada unicamente porque percebida como mais ou menos digna de considerao de si, diz Rogers que o indivduo adquiriu um modo de avaliao condicional. Condies de valor so os obstculos bsicos exatido da percepo e tomada de conscincia realista.

H vendas e filtros seletivos destinados a assegurar um suprimento interminvel de amor da parte dos parentes e dos outros. Acumulamos certas condies, atitudes ou aes cujo cumprimento sentimos necessrio para permanecermos dignos. Na medida em que essas atitudes e aes so idealizadas, elas constituem reas de incongruncia pessoal. De forma extrema, as condies de valor so caracterizadas pela crena de que "preciso ser respeitado ou amado por todos aqueles com quem estabeleo contato".

As condies de valor criam uma discrepncia entre o Self e o auto-conceito. Para mantermos uma condio de valor temos que negar determinados aspectos de ns mesmos. Por exemplo, se falaram "Voc deve amar seu irmozinho recm-nascido, seno mame no gosta mais de voc", a mensagem a de que voc deve negar ou reprimir seus sentimentos negativos genunos em relao a ele. Se voc conseguir esconder sua vontade maldosa, seu desejo de machuc-lo e seu cime normal, sua me continuar a am-lo. Se a pessoa admitir que tem tais sentimentos, se arriscar a perder o amor. Uma soluo que cria uma condio de valor rejeitar tais sentimentos sempre que ocorram, bloqueando-os de sua conscincia. Agora a pessoa pode reagir de formas tais como: "Eu realmente amo meu irmozinho, apesar das vezes em que o abrao tanto at ele gritar" ou, "Meu p escorregou sob o seu, eis porque ele tropeou".

Posso ainda lembrar-me da enorme alegria demonstrada por meu irmo mais velho quando lhe foi dada uma oportunidade de bater em mim por algo que fiz. Minha me, meu irmo e eu ficamos todos assustados com sua violncia. Ao recordar o incidente, meu irmo lembrou-se de que ele no estava especialmente bravo comigo, mas que havia compreendido que aquela era uma rara ocasio e queria descarregar toda a maldade possvel enquanto tinha permisso. Admitir tais sentimentos e permitir-lhes alguma expresso e, quando ocorrem mais saudvel, segundo Rogers, do que rejeit-los ou alien-los.

Quando a criana amadurece, o problema persiste. O crescimento impedido na medida em que a pessoa nega impulsos diferentes do auto-conceito artificialmente "bom". Para sustentar a falsa auto-imagem a pessoa continua a distorcer experincias, quanto maior a distoro maior a probabilidade de erros e da criao de novos problemas. Os comportamentos, os erros e a confuso que resultam do manifestaes de distores iniciais mais fundamentais. E a situao realimenta-se a si mesma. Cada experincia de incongruncia entre o Self e a realidade aumenta a vulnerabilidade, a qual, por sua vez, ocasiona o aumento de defesas, interceptando experincias e criando novas ocasies de incongruncia.

Por vezes as manobras defensivas no funcionam. A pessoa toma conscincia das discrepncias bvias entre os comportamentos e as crenas. Os resultados podem ser pnico, ansiedade crnica, retraimento ou mesmo uma psicose. Rogers observou que o comportamento psictico parece ser muitas vezes a representao externa de um aspecto anteriormente negado da experincia.

Em 1974 Perry corrobora essa idia, apresentando evidncia de que o episdio psictico uma tentativa desesperada da personalidade de se reequilibrar e permitir a realizao de necessidades e experincias internas frustradas. A terapia centrada no cliente esfora-se por estabelecer uma atmosfera na qual condies de valor prejudiciais possam ser postas de lado, permitindo, portanto, que as foras saudveis de uma pessoa retomem sua dominncia original. Uma pessoa recupera a sade reivindicando suas partes reprimidas ou negadas.

O CorpoEmbora Rogers defina a personalidade e a identidade como uma gestalt contnua, no d ao papel do corpo uma ateno especial. Mesmo no seu trabalho com encontros ele no promove ou facilita o contato fsico nem trabalha diretamente com gestos fsicos. Como Rogers mesmo assinala, "a minha formao no das que me tornem especialmente liberto a esse respeito". Sua teoria baseada na tomada de conscincia da experincia. Ela no seleciona a experincia fsica como diferente em espcie ou valor das experincias emocionais, cognitivas ou intuitivas.

Relacionamento SocialO valor dos relacionamentos de interesse central nas obras de Rogers. Os relacionamentos mais precoces podem ser congruentes ou podem servir como foco de condies de valor. Relaes posteriores so capazes de restaurar a congruncia ou retard-la.

Rogers acredita que a interao com o outro capacita um indivduo a descobrir, encobrir, experienciar ou encontrar seu Self real de forma direta. Nossa personalidade torna-se visvel a ns atravs do relacionamento com os outros. Na terapia, em situaes de encontro e em interaes cotidianas, o feedback dos outros oferece s pessoas oportunidade de experienciarem a si mesmas. Se pensamos em pessoas que no tm relacionamentos, imaginamos dois esteretipos contrastantes. O primeiro o do ermito relutante, inbil para lidar com outros. O segundo o contemplativo que se retirou do mundo para cumprir outras tarefas.

Nenhuma dessas imagens atrai Rogers. Para ele, os relacionamentos oferecem a melhor oportunidade para estar "funcionando por inteiro", para estar em harmonia consigo mesmo, com os outros e com o meio ambiente. Atravs dos relacionamentos, as necessidades organsmicas bsicas do indivduo podem ser satisfeitas. A esperana desta satisfao faz com que as pessoas invistam uma quantidade de energia incrvel em relacionamentos, at mesmo naqueles que no parecem ser saudveis ou satisfatrios.

O CasamentoO casamento um relacionamento no usual. potencialmente de longo prazo, intensivo, e carrega dentro de si a possibilidade de manuteno do crescimento e do desenvolvimento. Rogers acredita que o casamento siga as mesmas leis gerais que mantm a verdade dos grupos de encontro, da terapia ou de outros relacionamentos. Os melhores casamentos ocorrem com parceiros que so congruentes consigo mesmos, que tm poucas condies de valor como empecilho e que so capazes de genuna aceitao dos outros. Quando o casamento usado para manter uma incongruncia ou para reforar tendncias defensivas existentes, menos satisfatrio e menos provvel que se mantenha.

As concluses de Rogers sobre qualquer relao ntima a longo prazo, tal como o casamento, so focalizadas sobre quatro elementos bsicos: compromisso contnuo, expresso de sentimentos, no-aceitao de papis especficos e capacidade de compartilhar a vida ntima. Ele resume cada elemento como uma promessa, um acordo sobre o ideal de um relacionamento contnuo, benfico e significativo.

1. Dedicao e compromisso.Cada membro de um casamento deveria ver a unio como um processo contnuo e no como um contrato. O trabalho feito visa tanto a satisfao pessoal como a satisfao mtua. Uma relao trabalho; um trabalho tendo em vista objetivos separados ou comuns. Rogers sugere que este compromisso seja expresso da seguinte maneira: "Ns dois nos comprometemos a cultivar juntos o processo mutvel de nosso atual relacionamento, porque este relacionamento est enriquecendo nosso amor e a nossa vida e ns queremos que ele cresa".

2. Comunicao; expresso de sentimentosRogers insiste na comunicao total e aberta. "Arriscar-me-ei tentando comunicar qualquer sentimento persistente, positivo ou negativo, ao meu companheiro, com a mesma profundidade com que o percebo em mim, como uma parte presente e viva em mim. Em seguida, arriscar-me-ei ainda mais tentando compreender, com toda a empatia de que eu for capaz, a sua resposta, seja acusativa e crtica, seja compartilhante e auto-reveladora". A comunicao tem duas fases igualmente importantes: a primeira expressar a emoo. A segunda permanecer aberto e experienciar a resposta do outro.

Rogers no defenda simplesmente o colocar para fora os sentimentos Ele sugere que devemos nos comprometer tanto com os efeitos que nossos sentimentos causam em nosso parceiro quanto com a expresso original dos sentimentos em si mesmos.

Isto muito mais difcil do que simplesmente "desabafar" ou "ser aberto e honesto". a disposio de aceitar os riscos reais envolvidos: rejeio, desentendimento, sentimentos feridos e retribuio. A crena de Rogers na necessidade de instituir e manter este nvel de troca contrape-se a posies que advogam o ser polido, diplomtico, o contornar questes perturbadoras ou o no mencionar interesses emocionais que aparecem.

3. No-aceitao de papisNumerosos problemas desenvolvem-se na medida em que tentamos satisfazer as expectativas do outro, ao invs de determinarmos as nossas prprias. Rogers dizia que "Viveremos de acordo com as nossas opes, com a sensibilidade orgnica mais profunda de que somos capazes, mas no seremos afeioados pelos desejos, pelas regras e pelos papis que os outros insistem em impor-nos". Ele relata que muitos casais sofrem graves tenses na tentativa de fazer sobreviver sua aceitao parcial e ambivalente das imagens que seus pais e a sociedade impuseram a eles. Um casamento efetuado com tal quantidade de expectativas e imagens irreais inerentemente instvel. e potencialmente pouco : recompensador.

4. Tomar-se um Self separadoEste compromisso uma profunda tentativa de descobrir e aceitar a natureza total da pessoa. o mais desafiador dos compromissos, dedicar-se remoo das mscaras to logo elas se formem. "Eu talvez possa descobrir mais do que sou realmente em meu ntimo e chegar mais perto disso sentindo-me, s vezes, encolerizado ou aterrado, s vezes amante e solcito, de vez em quando belo e forte ou desordenado e medonho, sem esconder de mim mesmo esses sentimentos. Eu talvez possa estimar-me como a pessoa ricamente variada que sou. Talvez possa ser espontaneamente mais essa pessoa. Nesse caso, poderei viver de acordo com os meus prprios valores experimentados, conquanto tenha conscincia de todos os cdigos da sociedade. Nesse caso, poderei ser toda esta complexidade de sentimentos, significados e valores com meu companheiro suficientemente livre para dar o amor, a raiva e a ternura que existem em mim. possvel, ento, que eu venha a ser um participante real de uma unio, porque estou em vias de ser uma pessoa real. E espero poder incentivar meu companheiro a seguir o seu caminho na direo de uma personalidade nica, que eu gostaria imensamente de partilhar".

EmoesO indivduo saudvel toma conscincia de suas emoes, sejam ou no expressas. Sentimentos negados conscincia distorcem a percepo e a reao s experincias que os desencadearam.

Um caso especfico sentir ansiedade sem tomar conhecimento da causa. A ansiedade aparece quando uma experincia que ocorreu, se admitida na conscincia, poderia ameaar a auto-imagem. A reao inconsciente a estas subcepes alerta o organismo para possveis perigos e acarreta mudanas psicofisiolgicas. Estas reaes defensivas so uma forma do organismo manter crenas e comportamentos incongruentes. Uma pessoa pode agir com base nestas subcepes sem tomar conscincia do por qu est agindo assim. Por exemplo, um homem pode sentir-se desconfortvel ao ver homossexuais declarados. A informao que tem de si mesmo incluiria o desconforto, mas no mencionaria sua causa. Ele no poderia admitir seu prprio interesse, sua identidade sexual no resolvida, ou talvez as expectativas e medos que tem a respeito de sua prpria sexualidade. Distorcendo suas percepes ele pode, em compensao, reagir com hostilidade aberta a homossexuais, tratando-os como uma eterna ameaa ao invs de admitir seu conflito interno.

IntelectoRogers no segrega o intelecto de outras funes. Ele valoriza-o como um tipo de instrumento que pode ser usado de modo efetivo na integrao de experincias. Mostra-se ctico em relao a sistemas educacionais que do nfase exagerada a desempenhos intelectuais e desvalorizam os aspectos intuitivos e emocionais do funcionamento total.

Em particular, Rogers pensa que cursos de graduao em campos diversos so exigentes, pouco significativos e desanimadores. A presso para a produo de trabalhos limitados e pouco originais, associada aos papis passivos e dependentes atribudos aos estudantes de graduao, na realidade sufocam ou retardam suas capacidades criativas e produtivas. Cita a queixa de um estudante: "Essa coero teve sobre mim um efeito to desencorajador, que, depois que fiz o exame final, a considerao de qualquer problema me repugnava, durante um ano inteiro".

Se o intelecto, como outras funes, ao operar de forma livre, tende a dirigir o organismo tomada de conscincia mais congruente, ento forar o intelecto por vias especficas pode no ser benfico. O ponto de vista de Rogers de que as pessoas esto em melhor situao decidindo o que fazer por si mesmas, com o apoio de outros, do que fazendo o que os outros decidem por elas.

SelfAutores de manuais de psicologia que dedicaram espao a Rogers, geralmente classificam-no como um terico do Self. De fato, embora Rogers encare o Self como o foco da experincia, ele est mais interessado na percepo, na tomada de conscincia e na experincia do que num construto hipottico, o Self. Como j descrevemos a definio de Rogers sobre o Self, podemos agora voltar para a descrio da pessoa de funcionamento integral: a pessoa que est mais plenamente consciente de seu Self contnuo. A noo de funcionamento timo sinnimo das noes de adaptao psicolgica perfeita, de maturidade tima, de acordo interno completo, de abertura total experincia. Como estas noes tm a desvantagem de sugerir algum estado mais ou menos esttico, final ou acabado, devemos ressaltar que todas as caractersticas que acabamos de enumerar, a propsito do indivduo hipottico, no tm o carter de estagnao, mas de um processo dinmico. A personalidade que funciona plenamente uma personalidade em contnuo estado de fluxo, uma personalidade constantemente mutvel.

A pessoa de funcionamento integral tem diversas caractersticas distintas, a primeira das quais uma abertura experincia. H pouco ou nenhum uso das "subcepes", estes primeiros sinais de alerta que restringem a percepo consciente. A pessoa est continuamente afastando-se de suas defesas na direo da experincia direta. A pessoa est mais aberta a seus sentimentos de receio, de desnimo e de desgosto. Fica igualmente mais aberto aos seus sentimentos de coragem, de ternura e de fervor. Torna-se mais capaz de viver completamente a experincia do seu organismo, em vez de a impedir de atingir a conscincia.

Uma segunda caracterstica viver no presente, realizar-se completamente cada momento. Este engajamento contnuo e direto com a realidade permite dizer que o eu (Self) e a personalidade emergem da experincia, em vez de dizer que a experincia foi traduzida ou deformada para se ajustar a uma estrutura preconcebida do eu. Uma pessoa capaz de reestruturar suas respostas medida que a experincia permite ou sugere novas possibilidades.

Uma caracterstica final a confiana nas exigncias internas e no julgamento intuitivo, uma confiana sempre crescente na capacidade de tomar decises. Quando uma pessoa est melhor capacitada para coletar e utilizar dados, mais provvel que ela valorize sua capacidade de resumir esses dados e de responder. Esta no uma atividade apenas intelectual, mas uma funo da pessoa inteira. Rogers sugere que na pessoa de funcionamento integral os erros efetuados sero devidos informao incorreta e no ao processamento incorreto.

Isto se assemelha ao comportamento de um gato que jogado ao cho de uma determinada altura. O gato no considera a velocidade do vento, o momentum angular ou o tamanho da queda. Ainda assim, tudo isto est sendo levado em conta em sua resposta total.

0 gato no reflete sobre quem poderia t-lo empurrado, quais teriam sido seus motivos ou o que pode acontecer no futuro. O gato lida com a situao imediata, o problema mais gritante. Roda em meio ao ar e aterriza em p, ajustando na mesma hora a sua postura pua enfrentar o prximo evento.A pessoa de funcionamento integral livre para responder e experienciar suas respostas s situaes. Esta a essncia do que Rogers chama de viver uma vida plena. Tal pessoa estar comprometida num contnuo processo de atualizao.

Terapia Centrada no ClienteRogers foi um terapeuta praticante durante toda sua carreira profissional. Sua teoria da personalidade emerge de seus mtodos e idias sobre terapia e integrada a eles. A teoria psicoterpica de Rogers passou por diversas fases de desenvolvimento e mudanas de nfase, e ainda assim h alguns pontos bsicos que se mantiveram inalterados. Rogers faz uma citao de uma palestra onde, pela primeira vez, descreveu suas novas idias sobre terapia:

1. Esta nova abordagem coloca um peso maior sobre o impulso individual em direo ao crescimento, sade e ao ajustamento. A terapia uma questo de libertar o cliente para um crescimento e desenvolvimento normais.2. Esta terapia d muito mais nfase ao aspecto afetivo de uma situao do que aos aspectos intelectuais.3. Esta nova terapia d muito mais nfase situao imediata do que ao passado do indivduo.4. Esta abordagem enfatiza o relacionamento teraputico em si mesmo como uma experincia de crescimento.

Rogers usa a palavra "cliente" ao invs do termo tradicional "paciente". Um paciente em geral algum que est doente, precisa de ajuda e vai ser ajudado por profissionais formados. Um cliente algum que deseja um servio e que pensa no poder realiz-lo sozinho. O cliente, portanto, embora possa ter muitos problemas, ainda visto como uma pessoa inerentemente capaz de entender sua prpria situao. H uma igualdade implcita no modela do cliente, que no est presente no relacionamento mdico-paciente.

A terapia atende a uma pessoa ao revelar seu prprio dilema com um mnimo de intruso por parte do terapeuta. Rogers define a psicoterapia como a liberao de capacidades j presentes em estado latente. Isto , implica que o cliente possua, potencialmente, a competncia necessria soluo de seus problemas. Tais opinies se opem diretamente concepo da terapia como uma manipulao, por especialista, de um organismo mais ou menos passivo. A terapia apontada como dirigida pelo cliente ou centrada no cliente, uma vez que quem assume toda direo que for necessria.

A terapia centrada no cliente e a modificao de comportamento tm algumas semelhanas: ambas ouvem as idias do cliente sobre suas dificuldades e ambas aceitam o cliente como capaz de compreender seus prprios problemas. Entretanto, na terapia centrada no cliente, a pessoa continua a dirigir e modificar as metas da terapia e iniciar as mudanas comportamentais (ou outras) que deseja que ocorram. Na modificao de comportamento, os novos comportamentos so escolhidos pelo terapeuta. Rogers sente de modo intenso que tais "intervenes do especialista", qualquer que seja a sua natureza, so em ltima instncia prejudiciais ao crescimento da pessoa.

Suas opinies sobre a natureza do homem e sobre os mtodos teraputicos no somente amadureceram durante sua vida, passaram por uma inverso quase que total. "Espero ter deixado claro que, no decorrer dos anos, distanciei-me muito de algumas das coisas em que inicialmente acreditei: de que o homem em essncia pecador; de que, profissionalmente, ele melhor tratado enquanto objeto; de que a ajuda fundamenta-se na percia; de que o perito pode aconselhar, manipular e moldar o indivduo a fim de produzir o resultado desejado".

Terapeuta Centrado no ClienteO cliente tem a chave de sua recuperao mas o terapeuta deveria ter determinadas qualidades pessoais que ajudam o cliente a aprender como usar tais chaves. Estes poderes dentro do cliente, tornar-se-o efetivos se o terapeuta puder estabelecer com o cliente um relacionamento de aceitao e compreenso suficientemente caloroso. Antes do terapeuta ser qualquer coisa para o cliente, ele deve ser autntico, genuno, e no estar desempenhando um papel, especialmente o de um terapeuta, quando est com o cliente. Isto envolve a vontade de ser e expressar com minhas prprias palavras e meus comportamentos, os diversos sentimentos e atitudes que existem em mim. Isto significa que se precisa, na medida do possvel, perceber os prprios sentimentos, ao invs de apresentar uma fachada externa de uma atitude enquanto na verdade mantm se outra.

Terapeutas que esto se formando em terapia centrada no cliente por vezes perguntam, "como se comportar se no gostamos do paciente ou se estamos aborrecidos ou bravos?" No sero estes sentimentos genunos justamente os que ele desperta em todas as pessoas que ofende? A resposta centrada no cliente a estas questes envolve diversos nveis de compreenso. Em um nvel, o terapeuta serve como modelo de uma pessoa autntica. O terapeuta oferece ao cliente um relacionamento atravs do qual este pode testar sua prpria realidade. Se o cliente confia que v receber uma resposta honesta, pode descobrir se suas antecipaes ou defesas so justificadas. O cliente pode aprender a esperar uma reao real, no distorcida ou diluda, sua busca interior. Este teste de realidade crucial se o cliente quer se afastar das distores e experienciar a si mesmo de modo direto.

Num outro nvel, o terapeuta centrado no cliente proporciona uma relao de ajuda enquanto aceita e capaz de manter uma considerao positiva incondicional. Rogers a define como uma preocupao que no possessiva, que no exige qualquer favor pessoal. simplesmente uma atmosfera que demonstra, "eu preocupo-me", e no "eu preocupo-me consigo se se comportar desta ou daquela maneira". No uma avaliao positiva porque toda avaliao uma forma de julgamento moral. A avaliao tende a restringir o comportamento respeitando algumas coisas e punindo outras; a considerao positiva incondicional permite pessoa ser realmente o que , no importando o que possa ser.

Esta atitude aproxima-se daquilo que Maslow denomina amor taostico, um amor que no faz julgamento prvio, que no restringe nem define. a promessa de aceitar algum simplesmente como ele revela ser. Para fazer isto, um terapeuta centrado no cliente deve ser sempre capaz de ver o centro auto-atualizador do cliente e no os comportamentos destrutivos, prejudiciais e ofensivos. Se puder reter uma conscincia da essncia positiva do indivduo poder-se- ser autntico com tal pessoa, ao invs de ficar aborrecido, irritado ou bravo com expresses particulares de sua personalidade. Esta atitude similar dos mestres espirituais da tradio oriental que, vendo o divino em todos os homens, podem tratar a todos com igual respeito e compaixo.

O terapeuta centrado no cliente mantm uma certeza de que a personalidade interior, e talvez no desenvolvida do cliente, capaz de entender a si mesma. Na prtica, isto extremamente difcil. Terapeutas rogerianos admitem que so, com freqncia, incapazes de manter esta qualidade de compreenso quando trabalham.

A aceitao pode ser uma mera tolerncia, uma postura no julgadora que pode ou no incluir uma real compreenso. Esta aceitao inadequada. A considerao positiva incondicional deve incluir tambm uma compreenso emptica, captar o mundo particular do cliente como se fosse o seu prprio mundo, mas sem nunca esquecer esse carter de "como se". Esta nova dimenso permite ao cliente maior liberdade para explorar sentimentos internos. O cliente est certo de que o terapeuta far mais do que aceit-lo, pois est engajado de maneira ativa na tentativa de sentir as mesmas situaes dentro de si prprio.

O critrio final para um bom terapeuta que ele deve possuir a habilidade para comunicar esta compreenso ao cliente. O cliente precisa saber que o terapeuta autntico, preocupa-se, ouve e compreende de fato. necessrio que o terapeuta seja claro apesar das distores seletivas do cliente, das subcepes de ameaa e dos efeitos danosos de uma auto-considerao mal colocada. Desde que esta ponte entre terapeuta e cliente seja estabelecida, o cliente pode comear a trabalhar a srio.

Grupos de EncontroA passagem de Rogers de terapeuta centrado no cliente para lder de encontros e pesquisador foi quase inevitvel. Suas afirmaes de que as pessoas, no especialistas, eram terapeutas, foram correlacionadas com os primeiros dados de encontro. Quando Rogers foi para a Califrnia, foi capaz de dedicar mais tempo para participar, estabelecer e pesquisar este tipo de trabalho de grupo.

parte da terapia de grupo, os grupo de encontro tm uma histria que prenuncia seu ressurgimento nas dcadas de 1950 e 1960. Dentro da tradio protestante norte-americana e, numa extenso menor, no Judasmo, tinha havido experincias de grupo elaboradas para alterar as atitudes de uma pessoa em relao a si mesma e para modificar seu comportamento para com os outros. As tcnicas incluam pequenos grupos de colegas, insistncia na honestidade e na abertura, nfase no aqui e agora e manuteno de uma atmosfera calorosa, de apoio. Mesmo as maratonas (encontros de grupos durante o dia e a noite) no so invenes recentes.

Caractersticas comuns a todos os grupos de encontro incluem um clima de segurana psicolgica, o encorajamento expresso dos sentimentos imediatos e a resposta subseqente por parte dos membros do grupo. O lder, qualquer que seja sua orientao, responsvel por estabelecer e manter o tom e o enfoque de um grupo. Este pode estender-se desde a atmosfera funcional de negcios, at estimulao emocional ou excitao sexual, promoo de medo, raiva ou mesmo violncia. H relatos de grupos de todas as descries.

A contribuio de Rogers e seu trabalho contnuo com grupos de encontro so aplicaes de sua teoria. Em Grupos de Encontro ele descreve os principais fenmenos que ocorrem nos grupos que se prolongam por vrios dias. Embora haja muitos perodos de insatisfao, incerteza e ansiedade na descrio de encontros que se segue, cada um desses perodos conduz a um clima mais aberto, menos defensivo, mais exposto e mais confiante. A intensidade emocional e a capacidade de tolerar a intensidade parecem aumentar medida que o grupo prossegue.

Processo de EncontroUm grupo comea andando volta, esperando que lhe seja dito como se comportar, o que esperar, como trabalhar com as expectativas sobre o grupo. H uma crescente frustrao medida que o grupo percebe que os prprios membros determinaro a forma pela qual o grupo funcionar.

H uma resistncia inicial expresso ou explorao pessoais. o eu exterior que os membros tm tendncia para mostrar e s gradual, tmida e ambiguamente vo revelando algo do eu ntimo. Esta resistncia visvel na maioria das situaes de grupo, como em coquetis, bailes ou piqueniques, onde em geral h alguma atividade, alm da auto-explorao, disposio dos participantes. Um grupo de encontro desencoraja a busca de qualquer outra atividade.

medida que as pessoas continuam a interagir elas compartilham sentimentos passados associados a pessoas ausentes no grupo. Ainda que possam ser experincias importantes para o indivduo, no passam de uma forma de resistncia inicial; as experincias passadas so mais seguras e pouco provvel que sejam afetadas por crticas ou apoio. As pessoas podem ou no responder ao relato de um evento passado, mas ainda assim um evento passado.

Quando as pessoas comeam a expressar seus sentimentos presentes, o mais freqente serem as primeiras expresses negativas. "No me sinto bem com voc". "Voc tem uma maneira de falar vulgar". "No acredito que voc na realidade queria dizer o que disse sobre sua esposa".

Os sentimentos profundos positivos so muito mais difceis e perigosos de exprimir que os negativos. Se digo que te amo fico vulnervel e exposto mais terrvel rejeio. Mas se digo que te detesto, fico quando muito sujeito a um ataque de que posso defender-me. A no compreenso deste paradoxo aparente levou a uma srie de programas de encontro cujo fracasso era previsvel. Por exemplo, a Fora Area desenvolveu programas de relacionamento racial incluindo sesses de encontro entre brancos e negros, conduzidas por lderes treinados. O resultado final desses encontros, no entanto, sempre parecia ser uma intensificao dos sentimentos racistas de ambos os lados.

Em virtude das dificuldades de planejar horrio para as pessoas inseridas no regime militar, tais encontros no duravam mais do que trs horas, tempo bastante para que as expresses negativas fossem expressas, mas insuficiente para desenvolver o restante do processo. Quando os sentimentos negativos so expressos e o grupo no se desintegra, divide-se ou desaparece no fogo do inferno, comea a aparecer um material com significado pessoal. Sendo ou no aceitvel para os membros do grupo, o "clima de confiana" comea a se formar e as pessoas comeam a assumir riscos reais.

Quando o material significativo emerge, as pessoas comeam a expressar umas s outras seus sentimentos imediatos tanto positivos quanto negativos. "Acho bom que voc esteja compartilhando isto com o grupo". "Toda vez que falo algo voc me olha como se quisesse me estrangular." "Gozado, eu pensei que no iria gostar de voc. Agora tenho certeza disso."

Quanto mais expresses emocionais vm tona e sofrem as reaes do grupo, Rogers nota o desenvolvimento de uma capacidade teraputica no mesmo. As pessoas comeam a fazer coisas que parecem ser de grande auxlio, que ajudam os outros a tomar conscincia de sua prpria experincia de uma forma no-ameaadora.O que o terapeuta bem treinado aprendeu a fazer durante anos de superviso e prtica, comea a emergir de modo espontneo da prpria situao. "Esta espcie de faculdade manifesta-se to freqentemente em grupos, que me leva a considerar que a capacidade de tratamento ou teraputica muito mais freqente do que supomos na vida humana. Muitas vezes, para se manifestar, apenas necessita da licena concedida, ou da liberdade tornada possvel, pelo clima de uma experincia de grupo em liberdade.

Um dos efeitos da disposio do grupo para a aceitao e feedback que os pessoas podem aceitar a si mesmas. "Creio que realmente tento impedir que as pessoas se aproximem de mim." "Sou forte e mesmo cruel s vezes." "Quero tanto ser amado que chego a fingir ser meia dzia de coisas." Paradoxalmente, esta aceitao de si mesmo, incluindo suas falhas, inicia a mudana. Rogers nota que quanto mais perto estivermos da congruncia, mais fcil ser de tomarmo-nos sadios. Se uma pessoa for capaz de admitir que de uma certa maneira, ser ento capaz de considerar possveis alternativas de comportamento. Se negar parte de si mesma, no far qualquer esforo para mudar. A aceitao, no domnio das atitudes psicolgicas por vezes ocasiona uma mudana naquilo que foi aceito. irnico, mas verdadeiro.

medida que o grupo continua, h uma crescente impacincia para com as defesas. O grupo parece exigir o direito de ajudar, de curar, de provocar a abertura das pessoas que parecem constrangidas e defendidas. Por vezes gentilmente, outras de forma quase que selvagem, o grupo exige que o indivduo seja ele mesmo, isto , que no esconda os sentimentos comuns. A expresso pessoal de alguns membros do grupo tornou evidente que possvel um encontro mais profundo e essencial, e o grupo parece procurar intuitiva e inconscientemente este objetivo.

Em qualquer troca ou encontro h feedback. O lder est sendo informado a todo instante de sua eficincia ou da falta dela. Cada membro que reage a outro pode, por sua vez, obter um feedback sua reao. Este pode ser difcil de aceitar, mas uma pessoa, num grupo, no pode evitar facilmente o conflito com a opinio do mesmo.

Rogers chama de confrontao s formas extremas de feedback. Conforme diz, "h momentos em que o termo feedback excessivamente moderado para descrever as interaes que se processam, momentos em que mais correto dizer que um indivduo se confronta com outro, diretamente, em p de igualdade. Tais confrontaes podem ser positivas, porm so muitas vezes nitidamente negativas". A confrontao leva os sentimentos a uma intensidade tal que um tipo de resoluo exigida. Este um momento perturbados e difcil para um grupo e, potencialmente, muito mais perturbador para os indivduos envolvidos.

Parece claro que toda vez que o grupo demonstra de modo efetivo que pode aceitar e tolerar os sentimentos negativos sem rejeitar a pessoa que os expressa, os membros do grupo tomam-se mais confiantes e abertos uns com os outros. Muitas pessoas relatam suas experincias em grupos como as experincias de aceitao mais positivas e empticas de suas vidas. A popularidade das experincias de grupo repousa tanto no calor emocional que geram como em sua capacidade de facilitar o crescimento pessoal.

RefernciaBallone GJ - Carl Rogers, in. PsiqWeb, internet, disponvel em http://www.psiqweb.med.br/, revisto em 2005

* - baseado no livro "Teorias da Personalidade"- J. Fadiman, R. Frager - Harbra - 1980 para saber mais: Tipos Psicolgicos - C.G.Jung - Zahar Editores - RJ - 1980