47
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESNVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE PROJETO “A VEZ DO MESTRE” ATUAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE EM PACIENTES ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL LIANE GOMES DE FREITAS Orientador: Prof. Antonio Fernando Viera Ney RIO DE JANEIRO 2003

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

  • Upload
    trinhtu

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESNVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

ATUAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE EM PACIENTES

ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

LIANE GOMES DE FREITAS

Orientador: Prof. Antonio Fernando Viera Ney

RIO DE JANEIRO

2003

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESNVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

ATUAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE EM PACIENTES

ACOMETIDOS DE ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

LIANE GOMES DE FREITAS

Monografia apresentada a Universidade

Candido Mendes como requisito parcial

para obtenção do Título de Especialista em

Psicomotricidade.

RIO DE JANEIRO

2003

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

DEDICATÓRIA

Este trabalho é dedicado aos meus pais,

pelas palavras e atitudes de apoio

durante toda minha vida. Ao meu

marido, por incentivar as decisões, e

estar sempre ao meu lado.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, por estar

concluindo este curso tão desejado por

mim. Agradeço aos professores pela

atenção.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

“Antes que sejam adquiridos cinco

ingredientes essenciais, o sucesso não

será sucesso.”

Howard Whitman

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

RESUMO

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma síndrome que se caracteriza pelo

aparecimento rápido de sintomas ou de sinais de perda localizada da função cerebral

(parcial ou global), aparentemente devida a causa vascular. A gravidade clínica varia entre

a recuperação completa em horas, a recuperação incompleta, ou a evolução para a morte.

É uma doença com inúmeras causas, prognóstico variável, tipos de tratamento

diferentes e várias estratégias preventivas. A sua melhor definição sempre está na

dependência do diagnóstico por imagem.

A sensibilidade freqüentemente sofre prejuízos, mas raramente está ausente no lado

hemiplégico. São comuns as perdas proprioceptivas, exercendo significativo impacto sobre

as habilidades motoras, é em cima desses sinais que a psicomotricidade atua.

O desenvolvimento do esquema corporal é a representação que cada pessoa tem de

seu corpo, permitindo-lhe situar-se na realidade que o cerca. Esta representação forma-se a

partir de dados sensoriais múltiplos proprioceptivos, exteroceptivos e interoceptivos, que

estão geralmente estão deficitários nos pacientes acometidos pelo AVC.

A reeducação psicomotora é a ação desenvolvida em indivíduos que sofrem

perturbações ou distúrbios psicomotores, intervindo assim no estado patológico deste

indivíduo.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................................................1

CAPÍTULO I – ANATOMIA VASCULAR CEREBRAL....................................................3

CAPÍTULO II – ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL.....................................................5

2.1 – Definição............................................................................................................5

2.2 – Epidemiologia....................................................................................................6

2.3 – Fisiopatologia.....................................................................................................6

2.4 – Fatores de Risco.................................................................................................7

2.5 – Considerações sobre a Sintomatologia do AVC................................................9

2.6 – Níveis de Oclusão e suas Possíveis Seqüelas....................................................9

2.7 – Sinais e Sintomas..............................................................................................10

2.8 – Problemas Secundários e Complicações..........................................................14

2.9 – Diagnóstico.......................................................................................................15

2.10 – Tratamento Médico........................................................................................15

CAPÍTULO III – PSICOMOTRICIDADE E DESENVOLVIMENTO..............................17

3.1 – A Função Motora.............................................................................................17

3.2 – Tônus Muscular................................................................................................17

3.3 – A Estrutura do Esquema Corporal....................................................................18

3.4 – Fatores e Subfatores Psicomotores...................................................................20

CAPÍTULO IV – REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA........................................................32

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

8

4.1 – Sessão Psicomotora..........................................................................................33

CONCLUSÃO................................................................................................................

......35

REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................37

ANEXO...........................................................................................................................

......39

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

9

INTRODUÇÃO

O Acidente Vascular Cerebral (AVC), comumente conhecido como

derrame, resulta da restrição da irrigação sangüínea ao cérebro, causando lesão

celular e danos às funções neurológicas, conseqüentemente, perda ou diminuição das

respectivas funções (O’Sullivan e Schmitz, 1993).

Embora a incidência de doença vascular cerebral venha diminuindo nos

últimos 25 anos, o AVC é ainda a terceira causa de morte mais comum nos Estados

Unidos. A incidência de AVC aumenta rapidamente com o aumento da idade; na

faixa etária de 80 a 90 anos.

Os três fatores de risco mais comumente reconhecidos para a doença

vascular cerebral incluem hipertensão, diabetes mellitus e doenças cardíacas. O fator

mais importante desses é a hipertensão. A pressão sangüínea sistólica e/ou diastólica,

pressão de pulso, e variabilidade de pressão são fortes previsores de AVC para todas

as faixas etárias (Battistella e Ribeiro, 1992).

A psicomotricidade consiste na unidade dinâmica das atividades, dos

gestos, das atitudes e posturas, enquanto sistema expressivo, realizador e representativo do “ser em ação” e da coexistência com outrem.

Envolve toda a ação realizada pelo indivíduo, que represente suas necessidade

e permitem sua relação com os demais. É a integração psiquismo-motricidade (Bueno, 1998).

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

10

A pessoa acometida pelo acidente vascular cerebral apresenta disfunções motoras, que será trabalhada através da reeducação psicomotora, onde a mobilidade será compreendida em sua evolução, a partir dos movimentos reflexos e incoordenados, até os movimentos coordenados que t~em finalidade e os gestos, de valor simbólico.

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

11

CAPÍTULO I

ANATOMIA VASCULAR CEREBRAL

Segundo MACHADO (1991), o conhecimento da anatomia vascular cerebral

é essencial para a compreensão da sintomatologia, diagnóstico e tratamento do AVC.

Portanto, uma breve revisão do que se considera necessária: o suprimento sangüíneo

extra craniano do cérebro é propiciado pelas artérias vertebrais direita e esquerda.

A artéria carótida interna começa na bifurcação da artéria carótida comum e

ascende nas porções profundas do pescoço até o canal carotídeo. Ela volta-se

rostomedialmente e ascende até o interior da cavidade craniana. Lá, perfura a dura-

máter, ramifica-se nas artérias oftálmica e corióidea anterior e bifurca-se nas artérias

cerebrais média e anterior. A artéria comunicante anterior comunica-se com as

artérias cerebrais anteriores de ambos os lados, dando origem à porção rostal do

círculo de Willis.

A artéria vertebral é uma ramificação da artéria subclávia e penetra no forame

vertebral da 6ª vértebra cervical, deslocando-se, através dos forames dos processos

transversos das seis vértebras cervicais superiores até o forame magno e até o

cérebro. Lá, evolui ventral e medialmente na fosca craniana posterior, unindo-se com

a artéria vertebral do outro lado, para formar a artéria basilar no limite superior do

bulbo. O cerebelo e irrigado por três pares de artérias cerebelares, que se originam do

sistema vertebral-basilar. No limite superior da ponte, a artéria basilar bifurca-se,

para formar as artéria cerebrais posteriores, e a porção posterior do círculo de Willis.

As artérias comunicantes posteriores conectam as artérias cerebrais posteriores com

as artérias carótidas internas, e completam o círculo de Willis.

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

12

O círculo de Willis ou polígono de Willis é uma anastomose arterial de forma

poligonal situado na base do cérebro, e em casos favoráveis, permite a manutenção

de um fluxo sangüíneo o adequado em todo o cérebro, em casos de obstrução de uma

(ou mais) artérias que irrigam o cérebro.

As veias do encéfalo de um modo geral não acompanham as artérias, sendo

maiores e mais calibrosas do que elas. Drenam para os seios da dura-máter de onde o

sangue converge para as veias jugulares internas que recebem praticamente todo o

sangue venoso encefálico.

As veias do cérebro dispõem-se em dois sistemas, o sistema venosos

superficial e o sistema venoso profundo. Embora anatomicamente distintos, estes

dois sistemas são unidos por numerosas anastomoses.

As veias cerebrais superficiais distinguem-se em superiores e inferiores,

sendo que, a principal veia superficial. O sistema venoso profundo compreende veias

que drenam o sangue de regiões situadas profundamente no cérebro e a veia mais

importante deste sistema é a veia cerebral magna ou veia de Galeno, para a qual

converge quase todo o sangue do sistema venoso profundo do cérebro.

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

13

CAPÍTULO II

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

2.1 – Definição

Segundo BATTISTELLA e RIBEIRO (1992), entende-se pelo termo “doença

vascular” todas as alterações nas quais uma área cerebral é, transitória ou

definitivamente, afetada por isquemias ou (e) sangramento, ou nas quais um ou mais

vasos cerebrais são envolvidos num processo patológico.

As designações “doença cerebrovascular”, acidente vascular cerebral”,

“apoplexia cerebral” ou “derrame” são as que usualmente compreendemos como

sinônimos. Em nosso meio o nome “acidente vascular cerebral” é habitualmente o

mais utilizado e o termo “derrame” é usado em linguagem popular como sinônimo de

AVC.

Os termos acidente, icto e apoplexia geralmente refletem a instalação abrupta

de um processo (apoplexia refere-se mais especificamente à paralisia e perda da

consciência causadas por hemorragia) e, por esta razão, talvez fosse melhor a

utilização de designações mais genéricas como doença vascular cerebral (o termo

cerebral é sempre empregado com um sentido abrangente: cérebro, cerebelo e tronco

cerebral). O icto transitório é definido como um déficit neurológico de causa

vascular, de duração menor do que 24 horas.

O ataque isquêmico transitório (AIT) refere-se à temporária interrupção do

suprimento sangüíneo ao cérebro, porém, apenas alguns minutos, ou por diversas

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

14

horas. Depois de terminado o ataque, não há evidência de lesão cerebral residual ou

de disfunção neurológica permanente.

2.2 – Epidemiologia

Segundo O’Sullivan e Schimitz (1993), o AVC representa uma causa

importante de incapacidade e morte nos Estados Unidos e de acordo com Nitrini e

Bacheschi (1998) é a quinta causa mais freqüente de morte nos países em

desenvolvimento, sendo superado apenas pelos acidentes, doenças coronarianas,

câncer e doenças infecto-parasitárias.

Para O'Sullivan e Schimitz (1993), a incidência do AVC aumenta

dramaticamente com a idade, atingindo importantes proporções após os 55 anos.

Sendo muito maior em indivíduos entre 65 e 74 anos do que para indivíduos entre

55 e 64 anos.

Embora a maioria dos AVCs afete os mais idosos, uma porcentagem estimada

de 20% dos AVCs ocorre em indivíduos abaixo de 65 anos.

O AVC afeta homens e mulheres quase que igualmente, predominando mais

em negros que em brancos, especialmente nas faixas etárias mais jovens.

2.3 – Fisiopatologia

Diversos mecanismos podem resultar em insuficiência vascular e no AVC. As

causas mais comuns são:

trombos,

embolismo,

hemorragia secundária ou aneurisma, ou,

anormalidades do desenvolvimento.

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

15

Outras causas menos comuns são:

tumores,

abcessos,

processos inflamatórios (como as artreites) e,

traumatismos

A aterosclerose produz a formação de placas e progressiva estenose do vaso.

As principais seqüelas deste processo são a estenose, ulceração das lesões

ateroscleróticas e trombose. A trombose cerebral refere-se à formação ou

desenvolvimento de um coágulo de sangue ou trombo no interior das artérias

cerebrais, ou de seus ramos, levando à isquemia ou oclusão de uma artéria, com um

resultante infarto ou morte tissular (infarto cerebral aterotrombótico ou ICA).

Os êmbolos cerebrais (EC) são pequenas porções de matéria, como: trombo,

tecido, gordura, ar, bactérias ou outros corpos estranhos, que são liberadas na

corrente sangüínea e que se deslocam até as artérias cerebrais produzindo oclusão e

infarto.

Ocorre hemorragia a partir do sangramento anormal, devido à ruptura de um

vaso sangüíneo. Diante de um sangramento cerebral maciço, freqüentemente a morte

ocorre dentro de horas, como resultado de um rápido aumento na pressão

intracraniana e do deslocamento e compressão do tecido cortical adjacente.

2.4 – Fatores de Risco

Hipertensão arterial: considerado o mais importante fator de risco. A

população hipertensa apresenta um risco seis a sete vezes maior do que a sem

hipertensão arterial; Hiperlipidemia: tem sido apontada como causa de progressão

mais rápida da aterosclerose; não é tão conclusivamente aceita como fator de risco

em AVC, mas o aumento de colesterol, tem sido correlacionado com o aumento do

risco de AVC.

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

16

Diabete Melito: também não é tão nítida a correlação como a hipertensão

arterial, mas especialmente em mulheres e em níveis mais altos de glicemia

associam-se a maior incidência de AVC do que em níveis menores de glicemia.

Alterações cardíacas: sobressaem a insuficiência congestiva e a

coronariopatia. Também relacionam-se a valvulopatia reumática, endocardite

bacteriana, defeitos congênitos, próteses valvulares, arritmias e infarto miocárdio

agudo.

Etilismo: tem sido apontado numa grande quantidade de trabalho atuais como

fator de risco de AVC.

Uso de anticoncepcionais orais: de um modo genérico aumenta o risco de

AVC em cerca de seis vezes em relação à população em geral.

Pessoas com sensível elevação do hematócrito: também estão sob maior risco

de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral.

Fumo, obesidade, inatividade e estresse: são aspectos controversos como aumento do

risco de AVC.

O uso de drogas: é uma causa importante do AVC, principalmente entre

adolescentes e adultos jovens.

A presença de AIIs é um fator de risco: é extremamente importante, visto que

cerca de 1/3 daqueles indivíduos terminarão por sofrer um AVC dentro de 5 anos.

Como ocorre com o perfil de risco cardíaco, quanto maior o número de

fatores de risco presentes, ou quanto mais elevado o grau de anormalidades de

qualquer dos fatores, maior será o risco de ocorrência de um AVC (O’Sullivan e

Schimitz, 1993).

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

17

2.5 – Considerações sobre a Sintomatologia do AVC

A sintomatologia do AVC é dependente de uma série de fatores, dentre eles

estão:

A localização do processo isquêmico;

O tamanho da área isquêmica;

A natureza e funções da área envolvida;

A disponibilidade de um fluxo sangüíneo colateral.

A sintomatologia também pode depender da rapidez da oclusão de um vaso

sangüíneo, visto que oclusões lentas podem permitir que vasos colaterais assumam a

circulação, mas eventos súbitos não o permitem.

2.6 – Níveis de Oclusão e suas Possíveis Seqüelas

Oclusão da Artéria Cerebral Anterior (ACA): a oclusão proximal a este ponto

acarreta deficiência mínimas. Lesões mais distais produzem deficiências de

hemiparesia contralateral do membro inferior, ou da face. Inicialmente, pode ocorrer

um refluxo de preensão contralateral no membro superior, incontinência, ou estupor.

A lesão do lado direito do lobo frontal pode causar negligência contralateral. A lesão

à área motora suplementar do hemisfério dominante pode acarretar afasia.

Oclusão da Artéria Cerebral Média (ACM): é o local mais comum do AVC,

sua oclusão resulta em sonolência, hemiplegia contralateral e perda sensorial cortical

da face, braço e perna, com a face e braço mais envolvidos que a perna. Também

podem resultar hemianopsia hormônima (defeito do campo visual) e desvio dos olhos

com relação ao lado hemiplégico. São comuns as desordens do esquema

corporal/imagem corporal, síndrome das relações espaciais, agnosias e apraxias (é

uma desordem do movimento aprendido voluntário).

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

18

Oclusão da Artéria Cerebral Posterior (ACP): o envolvimento dos ramos

subcutâneos e mesencefálicos pode acarretar ampla variedade de deficiências, como:

desordens do movimento (hemiplegia branda, posicionamento atetóide, tremor,

hemibalismo) e defeitos de campo homônimos.

Oclusão da Artéria Carótida Interna (ACI): sua completa oclusão, produz

sintomas clínicos similares aos gerados pela oclusão tanto da ACM, quanto da ACA,

Pode ocorrer um extenso edema cerebral, levando freqüentemente ao coma e à

morte. Oclusões incompletas podem mimetizar tanto os sintomas da ACM, quanto da

ACA.

Oclusões da Artéria Vertebral-Basilar: sua completa oclusão, geralmente

acarreta a perda da consciência, lesão do tronco cerebral e nervos cranianos, e

hemiplegia ou quadriplegia, com postura de descerebração ou descorticação.

Freqüentemente os pacientes morrem, mas podem permanecer comatosos, num

estado vegetativo, ou ainda podem readquirir a consciência, mas ficarão num estado

de deseferentação ou de bloqueio.

O tipo e a extensão da deficiência estão relacionados à localização e extensão

da lesão vascular.

2.7 – Sinais e Sintomas

Função Sensorial

A sensibilidade freqüentemente sofre prejuízos, mas raramente está ausente

no lado hemiplégico.

São comuns as perdas proprioceptivas, exercendo significativo impacto sobre

as habilidades motoras.

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

19

A perda do tato superficial, dor e temperatura são comuns,

contribuindo para uma disfunção perceptiva e para o risco de auto-lesões.

Defeitos do campo visual, como a hemianopsia hormônima, são comuns nos

casos de hemiplegia.

Funções Motoras

– Estágios de Recuperação

Durante os estágios iniciais do AVC, é comum a flacidez sem movimentos

voluntários. Usualmente, este quadro é substituído pelo desenvolvimento de padrões

motores de espasticidade e em massa, denominados sinergismos. Com o progresso

da recuperação, a espasticidade começa a declinar, tornando-se possível os padrões

avançados de movimento (Machado, 1991).

Este processo de recuperação foi descrito por Twitchell em 1951, sendo

elaborado ainda mais por Brunnstrom, citado por O’Sullivan e Schimitz (1993),

segundo eles, os estágios da recuperação são seqüenciais, mas nem todo paciente

demonstrará uma completa recuperação, podendo atingir um platô em qualquer

estágio, dependendo da gravidade de seu envolvimento e de sua capacidade para

adaptar-se.

Bobath descreve três estágios principais da recuperação: (1) o estágio inicial

flácido, (2) o estágio da espasticidade, e (3) o estágio da recuperação relativa.

– Padrões de Sinergismo

Os padrões de sinergismo dos membros são padrões de movimento

primitivos e estereotipados, associados à presença de espasticidade.

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

20

– Reflexos

Os reflexos posturais estão alterados, freqüentemente em associação com o

estágio de recuperação no qual se situa o paciente.

– Incoordenação

Pode ocorrer incoordenação, devido ao envolvimento cerebelar ou dos

gânglios da base, perdas proprioceptivas, ou debilidade motora. A ataxia dos

membros ou do tronco é comum em pacientes com lesões cerebelares.

– Movimento Funcional

Os danos funcionais ocorrentes após o AVC variam de um paciente para

outro. Geralmente a rolagem, o ato de sentar-se, transferências, o ato de ficar de pé e

o caminhar resultam em problemas significativos para o paciente de AVC moderada

e gravemente envolvido. Habilidades para as atividades da vida diária (AVD), como

a alimentação e a colocação de roupas, também são prejudicadas (Battistella e

Ribeiro, 1992).

Função da Linguagem

Problemas da linguagem freqüentemente resultam de um AVC

envolvendo a artéria cerebral média e o hemisfério esquerdo dominante.

A afasia é o termo geral usado na descrição das desordens da função da

linguagem, previamente intacta, secundariamente à lesão cerebral.

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

21

Função Perceptiva

As lesões do lobo parietal do hemisfério não-dominante (tipicamente o

hemisfério direito para a maioria dos indivíduos) produzem distúrbios da percepção.

Tais distúrbios podem ser: distorções visuoespaciais, distúrbios na imagem corporal,

negligência unilateral, e outros tipos de apraxia.

Pacientes com distorções visuoespaciais podem não ser capazes de julgar a

distância, dimensões, posição, velocidade de movimento, forma, ou relação das

partes com relação ao todo.

Pacientes com negligência unilateral geralmente não estão cientes do que

acontece no lado hemiplégico. Uma forma grave envolve a franca negativa de que os

membros hemiplégicos pertencem ao paciente.

Comportamento Mental

O paciente pode apresentar duas característica:

Instabilidade emocional: é definida como emoções instáveis ou

intercambiáveis, podendo resultar após um AVC agudo, onde o paciente é incapaz de

inibir a expressão das emoções espontâneas, podendo mudar rapidamente da

gargalhada para o choro, e novamente para a gargalhada. O choro freqüente é muitas

vezes acompanhado por depressão, geralmente diminuindo com o passar do tempo.

Demência: caracteriza-se por um declínio generalizado nas funções corticais

superiores, inclusive julgamentos incorretos, consciência deficiente, memória fraca,

redução na comunicação e alterações do comportamento ou do humor.

Freqüentemente estas alterações estão associadas a episódios de isquemia cerebral,

sinais neurológicos focais e hipertensão.

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

22

2.8 – Problemas Secundários e Complicações

Além das seqüelas decorrentes do AVC, é freqüente os pacientes

apresentarem alguns problemas secundários, dentre eles, alguns estão citados aqui:

Problemas psicológicos

Contraturas e deformidades

Trombose Venosa Profunda (TVP)

Dor ( em queimação no lado hemiplégico)

Problemas urinários e intestinais

Disfunção oro-facial

Disfunção do ombro

Etc.

Não esquecendo de que as seqüelas e/ou as suas complicações

secundárias dependem do local e da extensão da lesão.

2.9 – Diagnóstico

Para se chegar à um diagnóstico definitivo, o médico deve procurar conhecer

a história da doença, realizar o exame físico e testes diagnósticos (O’Sullivan e

Schimitz, 1993).

Deve-se obter uma história acurada do paciente, ou de membros da família,

no caso de um paciente inconsciente ou incomunicável. Também investiga-se a

história passada do paciente, inclusive os episódios de AITs ou traumatismos

cranianos, presença de fatores de risco importantes ou secundários, medicamentos, e

a história familiar pertinente.

Qualquer alteração recente nas funções do paciente (seja transitória ou permanente)

deve ser detidamente investigada.

O exame físico do paciente abrange uma investigação dos sinais clínicos

(freqüência cardíaca, freqüência respiratória, pressão arterial) e sinais de

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

23

descompensação cardíaca. Também realiza-se o exame neurológico e testes

neurovasculares.

Dentre os testes diagnósticos, há uma série de rotina executados, abaixo

especificados:

Testes laboratoriais avaliam o estado geral da circulação sistêmica e função

corporal.

Os exames de eletrocardiograma e raios-x enfocam mais especificamente

pulmões e

coração.

A tomografia axial computadorizada (“TAC-sacn”), do crânio delineia as

alterações na estrutura cerebral, detectando as causas não vasculares do AVC.

Estes achados permitem uma localização mais precisa das lesões, tendo

revolucionado o diagnóstico do AVC.

2.10 – Tratamento Médico

O tratamento médico vai depender do quadro clínico que se encontrar o

paciente. O paciente que se encontrar com um quadro de AIT, poderá ser avaliados

em busca do diagnóstico da causa da insuficiência vascular, e para que seja instituído

um tratamento preventivo do AVC, podendo este, consistir da administração de

anticoagulantes, de terapia inibidora de plaquetas ou vasodilatadores. A arteriografia

craniana pode ser realizada quando o diagnóstico é incerto ou quando pode ser

considerada necessária a cirurgia reconstrutiva.

O tratamento médico dos pacientes com AVC, irá variar caso esteja o AVC

em progresso (AVC em evolução), ou completado (nenhum evento novo nas últimas

24 horas). Também irá variar dependendo do tipo de AVC, grau de deficiência

neurológica e estado do paciente. As preocupações clínicas primárias consistem em:

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

24

assegurar oxigenação e circulação adequadas;

restaurar o equilíbrio hídrico e eletrolítico;

impedir a hipoglicemia;

controlar ataques ou infecções, conforme seja necessário.

Mas pode haver necessidade da terapia medicamentosa na manutenção de um

quadro favorável (O’Sullivan e Schimitz, 1993).

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

25

CAPÍTULO III

PSICOMOTRICIDADE E DESENVOLVIMENTO

3.1 - A Função Motora

A função motora compreende o tônus muscular e o movimento propriamente

dito como também o estado de tensão/distensão das vísceras (Bueno, 1998).

3.2 - Tônus Muscular

Todo movimento humano, sob todas as suas formas, inclusive no relaxamento

elabora-se sobre o fundo tônico. O tônus muscular é uma tensão dos músculos pela

qual as posições relativas das diversas partes do corpo são corretamente mantidas e

que se opõe às modificações passivas destas posições.

Em condições normais o músculo esquelético está em repouso aparente, pois

ele é sede de uma constante contração tônica. Esta contração é controlada por centros

nervosos localizados no cerebelo e nódulos estriados.

Verifica-se o estado do tônus muscular através da resistência de um músculo

à mobilização passiva de um segmento do corpo.

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

26

3.3 - A Estrutura do Esquema Corporal

A construção do esquema corporal, a organização das sensações relativas ao

próprio corpo em relação com o mundo exterior tem um papel fundamental no

desenvolvimento da criança, pois é o ponto de partida para ela agir (Alves, 2003).

O tônus muscular e mobilidade são dois aspectos complementares e

indissociáveis do esquema corporal. A educação psicomotora irá conduzir a criança a

estruturar o seu esquema corporal através de atividades de:

- Controle do tônus muscular

- Deslocamentos globais do corpo

- Equilíbrio do corpo

A compreensão do que seja esquema corporal é de fundamental

importância para o trabalho na área de psicomotricidade.

O esquema corporal pode ser considerado como uma intuição de conjunto

ou um conhecimento imediato que temos do nosso próprio corpo, seja em posição

estática ou em movimento, em relação às diversas partes entre si e, sobretudo, nas

relações com o espaço e os objetos que o circundam.

A partir do momento que o indivíduo descobre, utiliza e controla o seu

corpo, o esquema corporal é estruturado e passa a ter consciência dele e suas

possibilidades, na relação com o meio ambiente em que vive. Vivenciar estímulos

sensoriais, para descriminar as partes do próprio corpo e exercer um controle sobre

elas, implica:

- a percepção do corpo;

- o equilíbrio;

- a lateralidade;

- a independência dos membros em relação ao tronco e entre si;

- o controle muscular;

- o controle de respiração.

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

27

Vayer (1984), citado por Alves (2003) afirma:

“Todas as experiências da criança (o prazer e a dor, o sucesso ou o fracasso) são sempre vividas corporalmente. Se acrescentarmos valores sociais que o meio dá ao corpo e a certas partes, este corpo termina por ser investido de signicações, de sentimentos e de valores muito particulares e absolutamente pessoais”. (p. 48)

Vemos, portanto, que o corpo não é somente algo biológico e orgânico, mas

que também expressa emoções e está repleto de siginifcados que são adquiridos

através da relação do indivíduo com o meio. Esses valores, aos quais Vayer (1984),

citado por Alves (2003) se refere, influenciarão na formação do esquema corporal e

principalmente na imagem corporal. Para Morais (1998) e Santos (1987), “a imagem

é uma impressão que se tem de si mesmo, subjetivamente”, e o esquema corporal.

A noção de esquema corporal é como noção de âmbito fisiológico. Ela

representa a experiência que cada um tem de seu corpo, quando em movimento ou

em posição estática, em relação com o meio. É consciente, um simples movimento

depende de seu esquema corporal.

O desenvolvimento do esquema corporal é a representação que cada pessoa

tem de seu corpo, permitindo-lhe situar-se na realidade que o cerca. Esta

representação forma-se a partir de dados sensoriais múltiplos proprioceptivos,

exteroceptivos e interoceptivos (Alves, 2003).

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

28

3.4 - Fatores e Subfatores Psicomotores

De acordo com Negrine (1987), compreendem os elementos que concorrem

para a produção ou não de resultados motores. São eles:

• Estruturação Espaço-Temporal

Resulta da integração de uma estrutura temporal e de outra espacial e que

estão relacionadas às percepções auditivas, visuais e proprioceptivas.

A estruturação espaço-temporal surge durante os movimentos e quando da

relação com os objetos e pessoas distribuídos (as) pelo espaço, onde ocorrem as

experiências com a lateralidade.

O corpo é provido de um sofisticado sistema neurofisiológico que permite

interpretar as informações do espaço em que está ‘’mergulhado’’ o indivíduo. Este

localiza-se a si próprio para depois se localizar no espaço e localizar os objetos e

pessoas.

• Praxia Global

A praxia global tem como função principal a organização da atividade

consciente e a sua regulação, programação e verificação. Compreende tarefas

motoras seguidas e simultâneas que se desenrolam num determinado período de

tempo e que exigem a atividade conjunta de vários grupos musculares (Le Bouch,

1983).

A praxia evoca quatro condições básicas: um projeto, vários engramas,

ligações projeto-engramas e instrumentos neuromusculares de expressão e comandos

em função do projeto.

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

29

Observa-se uma intenção por trás do movimento que será mantida ou

modificada por uma programação (que faz uma consulta à linguagem interior), uma

análise dos efeitos (receptores das ações) e uma auto-regulação (estabelecida por um

controle da atenção voluntária).

• Organização

Compreende a habilidade em calcular as distâncias e promover os ajustes

necessários dos planos motores para percorrer um determinado espaço, baseando-se

nas capacidades de análise espacial, processamento e julgamento das distâncias e das

direções, planificação motora e verbalização simbólica da experiência.

A tarefa requer a fusão de dados direcionais e espaciais ao mesmo tempo

que intervém uma programação do comprimento dos passos. A estrutura espacial é

guiada pela área de integração visual que contribui no fornecimento de informações

para os centros motores a fim de ajustamento das passadas (Le Bouch, 1983).

• Representação Topográfica

Retrata a noção espacial e a capacidade de interiorização de uma trajetória

espacial apresentada num levantamento topográfico (planta do campo) e das

coordenações espaciais que são os vários pontos e linhas distribuídos (as).

• Coordenação Óculo-Manual

Compreende a capacidade de coordenar movimentos com os membros

superiores de acordo com as referências perceptivo-visuais presentes no espaço.

Envolve a percepção de distâncias, alturas e características dos alvos ou objetos tais

como forma, altura, comprimento, largura, textura, etc.; e a consciência cinestésica

do segmento corporal que irá executar o movimento (Chazaud, 1976).

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

30

Durante o ato motor entram em ação a capacidade de reprogramação de

seqüências motoras em face de uma análise de todos os efeitos decorrentes desde o

ato motor até a seleção dos engramas (experiência motora memorizada).

• Coordenação Óculo-Pedal

Compreende a capacidade de coordenar movimentos com os membros

inferiores de acordo com as referências perceptivo-visuais presentes no espaço.

Observação: Acompanha o mesmo raciocínio da coordenação óculo-manual.

• Dissociação

Fonseca (1983) relata que entende-se por dissociação a capacidade de

individualizar os segmentos corporais que tomam parte na execução de um gesto

intencional. A dissociação reveste-se de uma formulação melódico-quinestésica que

põe em causa aspectos do auto comando motor e aspectos de adaptação a situações

que exijam continuidade rítmica de execução. Dissociar é sinônimo de diferenciar, e

no campo da psicomotricidade está em relação com o grau de dificuldade do controle

mental do gesto.

Nesta observação, interessa verificar a possibilidade de independência dos

vários segmentos corporais, quando estruturados em função de um fim. A

independência segmentar que nos é mais significativa é a que se estabelece entre o

trem superior (diferenciação dos braços em relação ao tronco) e o trem inferior

(diferenciação das pernas em relação ao tronco).

O tronco está organizado pelo seu sistema cruzado, em forma de torção com

os membros. Situa-se na continuidade dos movimentos dos membros, unindo as

mãos e os pés. Sendo assim procura-se perceber a dissociação segmentar como uma

estrutura resultante da coordenação.

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

31

Numa primeira análise verifica a independência dos dois membros

superiores entre si. Posteriormente analisa-se a diferenciação dos dois membros

inferiores entre si, tomando em consideração, tanto num caso como no outro, a

execução de movimentos de percussão (membros superiores) e de batimento

(membros inferiores), em função de um ritmo de metrônomo. Nesta observação

temos, como preocupação essencial, verificar a libertação da globalização do gesto,

que normalmente se encontra presa em crianças.

Em 3° e 4° caso, procura-se inter-relacionar a execução de movimentos

unilaterais. Solicita-se ao paciente, para realizar um batimento de pé e de mão do

mesmo lado, em seguida do lado contrário.

Em seguida as observações que se seguem visam a dissociação da mão

direita e esquerda, do pé direito e esquerdo. Exemplo: do primeiro sinal bater com a

mão esquerda, depois com a mão direita, ao segundo; em seguida um batimento do

pé esquerdo, e por último no quarto sinal um batimento do pé direito. A prova deve

ser continuada e permitir a observação de aspectos relativos ao controle e

coordenação do gesto.

Deve-se tomar nota da qualidade do gesto (crispado, sacado, armonioso,

etc.) da disponibilidade e da elegância psicomotora. Pode-se observar as variações de

execução, as blocagens, as hesitações, as inibições, e através delas tomar consciência

das relações automática e voluntária.

Há ainda na dissociação, outra prova que visa relacionar aspectos da

agilidade, da coordenação e da dissociação.

Trata-se de solicitar ao paciente a realização de uma prova mais dinâmica,

que pode dar origem a reação de desorganização e descoordenação, visto exigir uma

maior perfeição motora:

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

32

1° - Afastar e juntar as pernas (agilidade)

2° - O mesmo movimento, com batimento de palmas no momento da junção

das pernas (coordenação)

3° - O mesmo movimento com batimento de palmas no momento do

afastamento das pernas (dissociação)

4° - Os mesmos saltos, com batimento de palmas no primeiro e segundo

tempos.

No que se refere ao caráter de dissociação, há os movimentos coordenados

dissociados, em que ambas as mãos executam movimentos distintos. Por exemplo:

enquanto se corta uma folha de papel com uma tesoura segura pela mão dominante, a

folha de papel é segura pela outra mão. este exemplo refere-se ao tipo simples de

dissociação. Mas pode-se executar movimentos mais complexos de dissociação, isto

é, enquanto uma das mãos realiza uma tarefa, a outra realiza outra diferente, por

exemplo: bater com uma mão na mesa e com a outra alisá-la.

Dentro deste grupo de movimentos há outros movimentos distintos que são

os movimentos gestuais que acompanham geralmente as conversações e ajudam a

expressão facial e corporal; são gestos naturais necessários para a harmonia da

conduta motora e se caracterizam por sua amplitude variável. São os movimentos em

que participam tanto o braço, como antebraço e a mão.

Nestes movimentos gestuais há dois tipos de dissociação: a manual e a dos

membros superiores e inferiores.

1.Dissociação manual - trata-se sobretudo da apreciação da dissociação

manual:

⇒ Bater sobre a mesa com as duas mãos, depois só com a esquerda;

⇒ De novo as duas mãos, depois só a direita;

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

33

⇒ Bater as duas mãos juntas em pronação, depois uma em pronação e outra

em supinação.

⇒ Estuda-se a seguir a "pianotage": os dedos batem rapidamente sobre a

mesa: mãos juntas e separadas.

⇒ Aprecia-se a oposição do polegar a cada um dos dedos (nos dois

sentidos); os movimentos de afastamento dos dedos, de dobramento.

2. Dissociação dos membros superiores e inferiores -

A) É procurada entre os cinco a oito anos, fazendo bater o pé e bater as

mãos; depois, pedindo-se uma batida de mãos e duas de pé. A prova é inicialmente

ajudada pela ordem verbal, depois deve-se desenrolar sem apoio.

B) Além dos oito anos, faz-se o sujeito saltar no lugar ajuntando e afastando

os pés; retoma-se a prova fazendo as mãos baterem no primeiro tempo, no segundo,

nos dois, etc.

• Ritmo e Ritmica

- Ritmo e alegria do movimento

A palavra grega rhytmós significa movimentos ondulares. Indica uma

alternância regular de força, velocidade e duração que pode ser motora, visual ou

auditiva (Bueno, 1998).

O ritmo do movimento é uma alternância entre a contração e o relaxamento

e pode ser forte ou fraco, rápido ou lento, acelerando ou diminuindo a velocidade,

súbito ou hesitante de durações diferentes.

O ritmo do movimento é algo vivo; constitui uma expressão natural do

estado de ânimo e da natureza de cada indivíduo.

O ritmo dos movimentos não deve ser confundido com batimentos, não

deve ser contado, mas deve ser experimentado e percebido. Esta percepção do ritmo

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

34

do movimento, juntamente com a circulação acelerada causada por ele, evoca a

alegria do movimento que é o principal objetivo da ginástica.

- Movimento rítmico

Mesmo quando bebê a criança experimenta movimentos rítmicos - ela

mama em um certo ritmo. Mais tarde ela engatinha, anda e corre ritmicamente, assim

como, como escreve seus movimentos são rítmicos. Todos estes movimentos variam

mais ou menos de indivíduo para indivíduo, sob a influência de fatores como:

percepção e reação, comprimento comparativo dos membros, temperamento e estado

de ânimo momentâneo.

A inteligência assim como as condições e características mentais e físicas,

determinam o ritmo de movimento da criança o qual pode mudar por influência

psicológica.

- A cooperação de diferentes sentidos:

O ritmo pode ser percebido através de vários sentidos:

Audição: O ritmo auditivo é observado na música, na fala, nas ondas

batendo na praia etc.

Sentido cinestésico: O ritmo cinestésico é encontrado em movimentos, tais

como, respirar, andar, correr e dançar.

Tato: O ritmo pode ser sentido através do tato, o qual é utilizado para

ensinar o surdo, por exemplo, no qual o ritmo da música de piano é conduzido

através do chão até a criança ( o sentido cinestésico também é envolvido aqui).

Visão: Visualmente o ritmo é experimentado através dos movimentos das

pessoas e dos animais, das árvores curvando-se ao vento, das ondas encurvando-se

na superfície do mar. O ritmo também pode ser observado no arranjo e na relação das

cores, linhas e formas de paisagens, na pintura, na escultura e na arquitetura.

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

35

Senso de tempo: O comprimento das notas e a duração dos intervalos podem

ser observados.

- Rítmica

A palavra rítmica ou harmonia significa a ciência do ritmo, e também pode

abranger o estudo do ritmo do movimento.

Entretanto, a palavra rítmica, tal como utilizada na linguagem ordinária,

significa as muitas maneiras diferentes de produzir ritmos e movimentos rítmicos,

tais como: copiar simples padrões rítmicos, o que realmente significa copiar formas

métricas (metro: medida de verso ou de música ) de elementos acentuados ou não

pela percussão sobre instrumentos, ou batendo palmas com os pés.

Como treinamento para audição e concentração, esta espécie de rítmica

pode ser uma excelente preparação para o aprendizado dos rítmos da linguagem,

assim como para realização de outras espécies de movimentos com música.

O psicomotricista, por exemplo, pode produzir padrões rítmicos simples que

as crianças tentam acompanhar enquanto se movimentam ao redor da sala, ou o

professor pode tocar um disco e deixar as crianças acompanharem a música enquanto

se movem mais ou menos à vontade.

- Influência dos fatores extrínsecos nos comportamentos rítmicos

Desde o nascimento, o organismo, com seus rítmicos espontâneos, é

confrontado a uma realidade temporalmente estruturada, seja por razões puramente

físicas como alternância dos dias e das noites, seja pela influência das normas sócio-

culturais. Colocado frente a uma realidade temporalmente estruturada, o organismo

deve poder adaptar-se e encontrar seu próprio equilíbrio. Chama-se este processo de

sintonização (Negrine, 1987).

1-A sintonização. Esta sintonização participa primeiro no campo do

comportamento global, na organização dos grandes rítmicos vitais: alimentação,

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

36

sono, a fim de permitir que o ritmo circadiano se instalar progressivamente. A este

respeito, a atitude familiar é muito importante.

2-A influência do meio nos ritmos espontâneos. Pode-se emitir a hipótese de

que a inter-relação entre o organismo materno e o organismo da criança tem um

papel fundamental na instalação de automatismos cadenciados mais primitivos, tais

como ritmias, balanceamento cadenciados de cabeça ou de tronco. Esta ritmias são a

tradução de uma oscilação tônica, ou pulsação, fazendo alternar tensão-relaxação sob

a dependência da atividade espontânea da formação reticular.

A relação entre o balanceio e a estimulação do aparelho labiríntico cria um

mecanismo de auto-alimentação que reveste um caráter fundamentalmente hedônico

e primitivo que se observa em deficientes mentais e nas crianças que se desligam do

meio. Este corte com o meio manifesta-se em certas psicoses ou em certos casos de

autismo.

- Ritmo e Afetividade

A forma como é vivida a relação com a outra pessoa joga um papel muito

importante no movimento ou, ao contrário, pode bloquear a espontaneidade do

movimento, do que depende seu caráter harmoniosamente rítmico (Picq e Vayer,

1988).

Mais tarde, no transcurso do período de investigação e aquisição das praxias

fundamentais, a importância da atitude educativa do meio é essencial para manter e

aprimorar uma boa ordem temporal do movimento e da espontaneidade. O meio deve

favorecer as experiências práxicas em um clima bom de segurança e de bem-estar.

Em outros termos, o meio que priveligia a dimensão intelectual em detrimento da

experiência vivida do corpo terá uma influência importante, a favor da atividade

cortical no processo córtex-subcórtex.

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

37

• Sincinesias

O estudo do movimento voluntário revela que, quando nos expressamos

corporalmente através de uma ou outra ação, nem sempre os movimentos executados

obedecem a um controle cortical, acionado pelo sistema piramidal.

Movimentos e/ou expressões involuntárias, muitas vezes, estão presentes

em determinados ações, sem que o executante perceba estes movimentos parasitas

desencadeados e manifestados pelo corpo no momento em que realiza determinados

atos voluntários (Fonseca, 1983).

- Conceitos e Classificações

As SINCINESIAS são consideradas como um dos elementos da debilidade

motora, juntamente com as paratonias e as inabilidades, e que podem ser encontradas

em indivíduos psiquicamente normais e até intelectualmente superiores.

Da mesma forma, certos indivíduos com debilidade neurológica podem

apresentar desenvolvimento notável da força e da agilidade motora, constituindo um

exemplo inverso de que o cérebro motor, por vezes, é poupado, enquanto o cérebro

psíquico é detido em sua evolução.

Há de destacar-se que, nem sempre, as sincinesias representam debilidade

motora, até porque a imaturidade do feixe piramidal determina comportamento

motores involuntários que as caracterizam.

Entende-se, principalmente que as sincinesias podem ser definidas como

movimentos e/ou expressões involuntárias manifestadas pela criança no momento em

que realiza determinado movimento voluntário.

Para contribuir com o estudo das sincinesias Airton Negrine propõe a

seguinte classificação:

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

38

1-Sincinesias Faciais: ⇒ de expressão

⇒ de movimento

2 - Sincinesias Segmentares: ⇒ Hipertônica

⇒ Similar

SINCINESIAS FACIAIS: São movimentos ou expressões faciais

involuntárias manifestadas pelo indivíduo quando ele realiza algum movimento ou

expressão voluntária com qualquer parte do corpo (geralmente as mãos).

As sincinesias faciais podem ser manifestadas de duas formas distintas:

- Sincinesias Faciais de Expressões:

São aquelas manifestadas com expressões faciais (caretas), caracterizadas

como: abrir a boca, elevar as sobrancelhas, etc., enquanto algum segmento corporal

realiza algum movimento voluntário.

- Sincinesias Faciais de Movimento:

São manifestações dinâmicas realizadas com parte ou partes da face,

caracterizado como: morder a língua, elevar e baixar sucessivamente as

sobrancelhas, etc., enquanto o indivíduo realiza movimentos voluntários com

determinado segmento corporal.

SINCINESIAS SEGMENTARES: São caracterizadas como a falta de

controle segmentar nos braços, mãos e dedos, isto é, manifestam-se em atitudes

involuntárias no segmento contrário àquele que realiza o movimento voluntário.

Nesse caso também classifica-se em dois tipos distintos:

Sincinesia Segmentar Hipertônica

Refere-se ao estado de tensão da musculatura que se desencadeia no

segmento contrário àquele que realiza o movimento voluntário.

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

39

Nesse caso a Sincinesia ocorrida se dá de forma estática, isto é, sem

movimento no segmento contrário, muito próximo ao estado paratônico, que se

refere a uma dificuldade de relaxamento segmentar.

Sincinesia Segmentar Similar

Refere-se a movimentos desencadeados de forma involuntária do segmento

contrário àquele que realiza um determinado movimento voluntário.

Nesse caso, a Sincinesia aparente é evidenciada de uma forma dinâmica,

onde a característica principal é o movimento.

No momento em que se propõe uma classificação das sincinesias, deve-se

destacar que podem se r encontrados outros tipos de sincinesias e que vão depender

da posição em que se encontra a pessoa em que está sendo observada.

Por exemplo: se colocarmos um indivíduo sentado em uma cadeira e lhe

solicitarmos que abra e feche a mão sucessivamente, poderemos observar sincinesias

faciais e segmentares na mão contrária, ou ainda, sincinesias segmentares nos

membros inferiores.

Quando avaliamos, portanto, as sincinesias em um indivíduo, colocando-a

em posição em pé, estamos conseqüentemente, neutralizando as possíveis sincinesias

dos segmentos inferiores . O mesmo caso poderá acontecer se colocarmos uma

criança sentada no solo, apoiando suas mãos no chão, e lhe solicitarmos que, com um

pé faça extensão e flexão ou a circundação para fora e para dentro.

Neste caso, as sincinesias manifestadas poderão ser faciais ou segmentares

no pé contrário, porque as possíveis sincinesias dos segmentos superiores estarão

neutralizadas pelo apoio das mãos no solo.

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

40

CAPÍTULO IV

REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA

Segundo Meur e Staes (1989), é a ação desenvolvida em indivíduos que

sofrem pertubações ou distúrbios psicomotores, por exemplo indivíduo acometido

pelo acidente acidente vascular cerebral.

A reeducação psicomotora tem como objetivo retomar as vivências anteriores

com falhas ou as fases da educação ultrapasadas inadequadamente. Em termos

gerais, reeducar significa educar o que o indivíduo não assimilou adequadamente em

etapas anteriores. Deve começar em tempo hábil em função da instalação das

condutas psicomotoras, diagnosticando as dificuldades a fim de traçar o programa de

reeducação.

A atribuição da reeducação está contida em várias áreas profissionais:

pedagogia, fisioterapia, terapia educacional, fonoaudiologia, dentre outros. Mas o

mais importante para uma boa reeducação é a tranqüilidade e o intercâmbio afetivo e

presente do reeducador com o indivíduo, condição básica para uma boa reeducação.

O artigo 7 da proposição da lei francesa de 15/02/74 cita que a reeducação

deve ser “neurológica em sua técnica, psicológica e psíquica em sua meta, destinada

pela intermediação do corpo atuar sobre as funções mentais e psicológicas

perturbadas tanto na criança como no adolescente ou no adulto”.

A reeducação embasa sua eficácia no fato de que se remonta às origens, aos

mecanismo de base que estão na origem da vida mental, controle gestual e do

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

41

pensamento, controle das reações tônico-emocionais, equilíbrio, fixação na atenção,

justa preensão do tempo e do espaço.

4.1 - Sessão Psicomotora

As sessões de reeducação realizam-se em função do indivíduo ou do grupo

por um profissional habilitado, em local apropriado (sala e materiais) por meio de

atividades (psicomotoras) que desenvolvam o indivíduo no seu todo, global e

harmonicamente (Meur e Staes, 1989).

Em relação ao local de trabalho, esse pode ser interno ou externo e de

preferência exclusivo para atividades psicomotoras. Se é espaço interno deve ser uma

sala ampla a fim de que as pessoas possam correr, saltar, ficar tranqüilas e para uma

não interferir na atividade da outra se assim desejar. Deve ser ventilado, com janelas

mais altas que a altura das pessoas; se possível, um piso revestido com emborrachado

para poderem trabalhar com meias ou descalços e sem problemas com materiais

úmidos (água, tinta, etc.). Deve ter espelho, quadro negro e armários com os

materiais ali colocados. Lapierre sugere uma disposição conforme o objetivo, mas

entendemos que o mais importante é sabermos o que o indivíduo necessita e o que

cada material propicia, aliando a necessidade à possibilidade de exploração de seus

conteúdos por meio dos materiais.

Em relação à freqüência e duração da sessão, depende do trabalho

desenvolvido, mas não deve ser inferior a uma vez semanal de 45 minutos, podendo

chegar a sessões diárias, conforme a necessidade. Contudo, uma vez semanal é pouco

se não for associada a outras terapias, de forma interdisciplinar. O número de sessões

dependerá da natureza da dificuldade, da idade, do seu desenvolvimento e das

experiências vividas, ou seja de seu processo próprio.

Em relação à organização da sessão, é importante que esse momento seja de

prazer e de liberdade para a pessoa. Não podemos nunca deixar de lado o prazer do

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

42

movimento, da ação e da sensação prazerosa resgatada aí. A dosagem das propostas

deve levar a um resultado positivo com variabilidade de consignas, materiais e da

própria proposta, sendo a escolha do material feita pelo próprio terapeuta e às vezes

pelo indivíduo. As colocações espontâneas deverão ser ouvidas no momento, mesmo

que algumas vezes interrompam a ação motora. O humor faz parte das atividades,

deixando um ambiente descontraído e alegre.

Acreditamos que nenhuma técnica, por mais apropriada que seja, resolverá

um problema, mesmo o puramente intelectual, se a qualidade do relacionamento

entre reeducador e pessoa não estiver firmado na afetividade, e ainda mais, se não

passar pela via corporal.

Page 43: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

43

CONCLUSÃO

Um acidente vascular cerebral (AVC), resulta em um déficit neurológico

súbito e específico. É o aspecto repentino do déficit neurológico - segundos, minutos,

horas, ou poucos dias, que caracteriza o distúrbio como sendo vascular.

Embora a hemiplegia possa ser o sinal mais óbvio de um acidente vascular

cerebral e o principal interesse dos terapeutas, outros sintomas são igualmente

incapacitantes, incluindo a disfunção sensorial, afasia ou disartria, defeitos de campo

visual e comprometimento mental e intelectual. A combinação específica desses

déficits neurovasculares possibilita detectar tanto a localização quando o tamanho da

lesão. Os acidentes vasculares cerebrais podem ser classificados de acordo com o

tipo patológico - trombose, embolia ou hemorragia - ou de acordo com fatores

temporais - completado, em evolução, ou ataques isquêmicos transitórios.

A psicomotricidade constitui o estudo relativo às questões motoras e psico-

afetivas do ser humano. A mesma seria o ponto de encontro entre a expressão motora

(o que a pessoa faz ) e a característica pessoal-emocional de cada ser humano (o que

a pessoa sente).

O corpo é o seu ponto de referência e o seu interesse objetivo de estudo. As

alterações corporais constituem-se, assim, no motivo das suas pesquisas e no da sua

intervenção.

A psicomotricidade é, dessa forma, um tipo de psicoterapia de índole

corporal.

Page 44: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

44

Com isso, conclui-se neste estudo que através da reeducação psicomotora a

pessoa com AVC irá retomar as vivências anteriores com falhas, através de

atividades psicomotoras.

Page 45: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

45

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ALVES, F. Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção. Rio de Janeiro: Wak, 2003, p.

31-52.

BATTISTELLA, L. R. e RIBEIRO, S. J. B. Hemiplegia – Reabilitação. São Paulo:

Atheneu, 1992, p. 01-106.

BUENO, J. M. Psicomotricidade – Teoria e Prática. São Paulo: Lovise, 1998, 17-20,

57-61, 85-86.

CHAZAUD, Jacques. Introdução à psicomotricidade. editora Manole, São Paulo,

1976.

FONSECA, Vítor da. Psicomotricidade. Martins Fontes Editora, São Paulo, 1983.

LE BOULCH, Dr. Jean. Desenvolvimento psicomotor do nascimento até os seis

anos. Artes Médicas, Porto Alegre, 1982.

LE BOULCH, Dr. Jean. Psicomotricidade. Secretaria da Educação Física Desportos

- M.E.C, Uberlândia, 1983.

MACHADO, A. B. M. Neuroanatomia Funcional. Rio de Janeiro: Atheneu, 1991, p.

67-73.

MEUR, A., STAES, L. Psicomotricidade: Educação e Reeducação. São Paulo:

Manole, 1989.

Page 46: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

46

NEGRINE, Airton da Silva. A coordenação psicomotora e suas implicações. editora

Pallotti, Porto Alegre, 1987 .

O’SULLIVAN, S. e SCHIMITZ, J. Fisioterapia: Avaliação e Tratamento. 2 ed. São Paulo:

Manole, 1993, p. 385-399.

PICQ, L. & VAYER, P. Educação psicomotora e retardo mental. editora Manole, São

Paulo, 1988.

Page 47: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE … GOMES DE FREITAS.pdf · de AVC oclusivo, graças à redução generalizada do fluxo sangüíneo cerebral. Fumo, obesidade, inatividade

47

ANEXO