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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” A PRESENÇA DA FAMÍLIA PROMOVENDO UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA VIVIAN MARINS VELASCO ORIENTADORA MARY SUE PEREIRA

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A PRESENÇA DA FAMÍLIA PROMOVENDO UMA APRENDIZAGEM

SIGNIFICATIVA

VIVIAN MARINS VELASCO

ORIENTADORA MARY SUE PEREIRA

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A PRESENÇA DA FAMÍLIA PROMOVENDO UMA APRENDIZAGEM

SIGNIFICATIVA

VIVIAN MARINS VELASCO

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em

Psicopedagogia.

Niterói

Julho/2005

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Agradeço a Deus por me dar forças, a

minha mãe pela presença constante em

minha vida, a minha tia Luzinete e ao

meu noivo Glauco por estarem ao meu

lado. Enfim agradeço a toda minha

família por me dar a inspiração

necessária para a elaboração desse

trabalho.

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Dedico este trabalho aos meus amigos

que me levam a conhecer um mundo

diferente, às vezes cheio de

angústias, outras vezes repleto de

alegria. Fazer parte desse mundo foi

o ponto de partida para eu conhecer

novas maneiras de como trabalhar com

as dificuldades de aprendizagem.

Dedico também a minha família,

pois sou o que sou hoje graça ao

apoio de vocês.

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“A grande maioria dos pais quer,

deseja, luta pelo bem dos filhos. Às

vezes erram, é claro, perdem-se em

mil dúvidas, mas em geral essa

insegurança se dá justamente pelo

intenso desejo de acertar, de

encontrar a melhor resposta para a

educação dos filhos”.

Tânia Zagury

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SUMÁRIO

Introdução.........................................pág.07

Capítulo I – O que é família?......................pág.09

Capítulo II – A família e a aprendizagem escolar...pág.15

Capítulo III – Ambiente familiar e distúrbios de

aprendizagem.......................................pág.20

Capítulo IV – O psicopedagogo e a família..........pág.25

Capítulo V – A importância da família na escola....pág.28

Capítulo VI – Afeto e Família......................pág.31

Conclusão..........................................pág.35

Bibliografia.......................................pág.37

Anexo..............................................pág.38

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Introdução

Esta pesquisa tem por objetivo conscientizar os pais

e professores da importância de uma criança viver em uma

ambiente familiar saudável.

A aprendizagem constitui-se em um processo, numa

função, que vai além da aprendizagem escolar e que não

pertence exclusivamente a criança.

Segundo Fernandez (1990), a aprendizagem enquanto

conceito e experiência guardam um elemento universal do

humano, na medida em que permite a transmissão do

conhecimento e através desse processo garante a

semelhança e a continuidade do coletivo, ao mesmo tempo

permitindo a diferenciação e a transformação.

O aprender envolve simultaneamente a inteligência,

os desejos e necessidades; através do cognitivo busca-se

generalizar, classificar, ordenar, identificar-se as

semelhanças, enquanto que através dos desejos e

necessidades busca-se o individual, o subjetivo e o

diferente.

Na sociedade em que vivemos, o ingresso na

escolaridade formal compreende ao período do ensino

fundamental, que tem como característica a aquisição de

habilidades diversas, mas também exigem uma integração

entre os variados aspectos que fazem parte da sua vida,

incluindo a escola, os amigos e a família.

A familia e os pais podem contribuir positivamente

no aprendizado escolar, a motivação da criança para os

estudos e o desenvolvimento de competências interpessoais

garantindo um bom relacionamento com professores e

colegas.

O clima familiar é uma importante condição associada

ao desenvolvimento cognitivo.

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As interações entre pais e filhos promovem o

desempenho escolar por parte por facilitarem o

desenvolvimento lingüístico e cognitivo.

Entre os diversos aspectos pelos quais o

envolvimento dos pais com a escola favorece o desempenho,

destaca-se um de grande importância: é que, através do

seu envolvimento, os pais comunicam à criança o quanto se

importam com ela e o quanto valorizam o seu aprendizado

escolar.

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Capítulo I – O que é Família?

Até um tempo atrás o modelo de família consistia em

PAI-MÃE-FILHO. Esse modelo de estrutura familiar era

considerado ideal pelo modo dominante de pensar na

sociedade e, por isso, bastante usado para classificar

todos os outros modos de organização familiar como

desestruturados, desorganizados e problemáticos. Nesta

visão de família há, um julgamento que não é científico,

e sim moralista, pois utiliza um padrão como referência e

considera os outros inadequados.

O termo latino FAMÍLIA resultou em FAMILLE, em

francês, mas os termos familiar e familiaridade só

aparecem no século XII. Este termo se refere ao FAMULUS,

que designa o servidor, o doméstico.

Para o etnólogo Claude Lévi-Strauss a família “se

baseia na união com maior ou menor duração e socialmente

aprovada de um homem e uma mulher”.

Em nossa sociedade os historiadores dão sentidos

diferentes à palavra família: por um lado indica um

conjunto de seres de mesmo sangue; de outro lado, o grupo

doméstico, englobando o conjunto de pessoas que vivem sob

o mesmo teto.

Saindo das definições oficiais, pode-se dizer que a

família é a primeira comunidade social da qual a criança

participa. Ela permite o aprendizado da vida em sociedade

e a transmissão de valores.

A família não pode ser vista simplesmente como uma

associação, e sim como uma instituição regida por uma lei

e por regras.

“É onde as crianças descobrem o amor e o

ódio, onde elas podem superar, receber

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simpatia e tolerância, mas também

exasperação”.

Françoise Dolto

Nos dias atuais, é difícil não enxergar que existem

várias formas de estrutura familiar: a família de pais

separados, a família chefiado por mulher, a nuclear, a

extensa, a homossexual, enfim, uma infinidade de tipo que

a cultura e os novos padrões de relação humanas vão

produzindo. Não podemos desconsiderar culturas bastante

diferentes, como os grupos indígenas por exemplo.

Pesquisas realizadas pelo antropólogo americano L.H.

Morgan (1818-1881) mostram que, desde a origem da

humanidade, houve, sucessivamente:

·A família consangüínea – intercasamento de irmãos e

irmãs e colaterais no interior de um grupo;

· A família punaluana – o casamento de várias irmãs,

carnais e colaterais, com os maridos de cada uma

das outras; e, os irmãos também se casavam com as

esposas de cada um dos irmãos;

· A família sindiásmica ou de casal – o casamento

entre casais, mas sem obrigação de morarem juntos;

· A família patriarcal – o casamento de um só homem

com diversas mulheres;

· A família monogâmica – se funda sobre o casamento

de duas pessoas, com a obrigação de fidelidade.

A família que conhecemos hoje, não é uma

organização natural nem uma determinação divina.

Está inserida na base material da sociedade

determinando a forma como a família irá se organizar

para cumprir sua função social.

Por ter um papel importante na sociedade podemos

chamá-la de célula mater; sendo forte transmissora

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de valores ideológicos. Transmitir os valores que

constituem a cultura e as idéias dominantes em

determinado momento é sua função social.

É na família que surgem os primeiros

aprendizados dos hábitos e costumes da cultura.

A família faz parte de um grupo tão importante

que, na sua ausência, dizemos que a criança precisa

de uma “família substituta” ou é encaminhada a uma

instituição que cumpra as funções maternas e

paternas.

“Entre todos os grupos humanos, a família

desempenha um papel primordial na

transmissão de cultura. Se as tradições

espirituais, a manutenção dos ritos e dos

costumes, a conservação das técnicas e do

patrimônio são com ela disputados por

todos grupos sociais, a família prevalece

na primeira educação, na repressão dos

instintos, na aquisição da língua

acertadamente chamada de materna. Com

isso, ela preside os processos

fundamentais do desenvolvimento

psíquico”.

Lacan

A família, como lugar de proteção e cuidados, é em

muitos casos, um mito. Muitas crianças e adolescentes

sofrem ali suas primeiras experiências de violência: a

negligência, os maus-tratos, a violência psicológica, a

agressão física, o abuso sexual.

O direito a ter uma família e a importância dela

para a criança estão colocados no artigo 6 da Declaração

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dos Direitos da Criança (20/11/1959), da qual o Brasil é

signatário.

Princípio 6º

“Para o desenvolvimento completo e harmonioso de sua

personalidade, a criança precisa de amor e compreensão.

Criar-se-á, sempre que possível, aos cuidados e sob a

responsabilidade dos pais e em qualquer hipótese, num

ambiente de afeto e de segurança moral e material; salvo

circunstancias excepcionais, a criança de terna idade não

será apartada da mãe. À sociedade e às autoridades

públicas caberá a obrigação de propiciar cuidados

especiais às crianças sem família e àquelas que carecem

de meios adequados de subsistência. É desejável a

prestação de ajuda oficial e de outra natureza em prol da

manutenção dos filhos de famílias numerosas”.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei

8.069, de 13/07/1990, que regula os direitos da criança e

do adolescente no Brasil, coloca no Capítulo 3 – “Do

direito à convivência familiar e comunitária” – artigo

19: “Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado

e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em

família substituta, assegurada a convivência familiar e

comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas

dependentes de substancias entorpecente”.

Esta lei é considerada uma das mais avançadas do

mundo. Sua importância abrange vários aspectos. Em

relação ao tema família, a lei garante, por exemplo, a

igualdade de direitos aos filhos da relação do casamento

e aos filhos adotivos (isto é, proíbe a discriminação).

Afirma também, que o pátrio poder será exercido, em

condições iguais, pelo pai e pela mãe...”.

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Sendo assim, o modelo de família PAI-MÃE-FILHO

torna-se um entre vários modelos possíveis de estrutura e

organização do grupo humano.

FAMÍLIA

Arnaldo Antunes e Tony Belloto

Família, família,

Papai, mamãe, titia,

Família, família,

Almoça junto todo dia,

Nunca perde essa mania.

Mas quando a filha quer fugir de casa

Precisa descolar um ganha-pão

Filha de família se não casa papai,

mamãe, não dão nenhum tostão

Família ê

Família A

Família

Família, família

Vovô, vovó, sobrinha

Família, família janta junto todo dia

Nunca perde essa mania

Mas quando o nenê fica doente

Procura uma farmácia de plantão

O choro do nenê é estridente

Assim não dá pra ver televisão

Família ê

Família ê

Família

Família, família

Cachorro, gato, galinha

Família, família

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Vive junto todo dia

Nunca perde essa mania

A mãe morre de medo de barata

O pai vive com medo de ladrão

Jogaram inseticida pela casa

Botaram um cadeado no portão.

Família ê

Família ê

Família.

Titãs. Acústico. WEA. Music Brasil, 1997.

Dessa forma podemos observar que família não é só

pai e mãe e sim todas as pessoas que de certa forma estão

ao seu lado ao seu redor, como: avô, avó, tio, tia, fazem

parte do dia a dia da criança e assim podem contribuir

para uma aprendizagem significativa.

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Capítulo II – A Família e a Aprendizagem

Escolar

A família pode direcionar positivamente o

aprendizado escolar, a motivação da criança para os

estudos e o desenvolvimento de competências interpessoais

que garantem um bom relacionamento com professores e

colegas.

“Diversos aspectos da vida familiar são

importantes, incluindo desde a atmosfera

e organização do lar até o envolvimento

direto dos pais com a vida escolar da

criança”.

Bradly, Caldwell & Rock, 1988, Stevenson

& Baker, 1987).

À medida que a criança se desenvolve o seu

desempenho muda, mas os efeitos do ambiente familiar

podem ser identificados nos diferentes níveis de ensino:

na escola de educação infantil, no ensino fundamental e

médio e até mesmo na universidade.

Os pais podem fornecer os recursos emocionais de

competência através de seu envolvimento com a criança.

Envolvimento este que pode ser encontrado em um local

apropriado para fazer a lição com a criança, dar

supervisão e orientação no trabalho escolar, perguntar

sobre a escola, monitorar suas saídas e companhias.

É necessário que os pais disponham de algum tempo

para os filhos que sintam prazer em dedicar esse tempo a

atividades conjuntas com as crianças.

Segundo Ramey e Macphee (1986), o clima familiar é

uma importante condição associada ao desenvolvimento

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cognitivo. A coesão familiar é muito importante pois pode

ser traduzida em disposição para a ajuda e apoio

recíproco entre seus membros.

Estudos indicam que as interações entre pais e

filhos promovem o desempenho escolar em parte por

facilitarem o desenvolvimento lingüístico e cognitivo.

O processo que leva a um melhor desenvolvimento

cognitivo das crianças é a comunicação que elas

estabelecem com os pais diariamente. Alguns pais usam

estratégias que os distanciam dos seus filhos na

conversa, ou seja, colocam uma exigência cognitiva para a

criança, para que ela mentalmente se afaste do que está

acontecendo no presente.

Três conceitos devem ser trabalhados pelos pais para

ajudar no progresso escolar, são eles: o encorajamento da

maturidade, suporte à autonomia e estabelecimento de

regras e rotinas.

O conceito de encorajamento à maturidade é o

conceito mais amplo e de certa forma inclui os outros

dois; à autonomia se superpõe em parte ao de

encorajamento à maturidade e o estabelecimento de regras

e rotinas é um recurso importante por si mesmo.

Os pais que são afetuosos e controladores, sem seres

restritivos demais e que animam a criança a ser

independente e responsável, contribuem para maior auto-

regulação na escola, melhor desempenho escolar e melhor

ajustamento em sala de aula.

Algumas atividades de lazer podem contribuir para um

bom desenvolvimento da aprendizagem escolar. Essas

atividades podem propiciar momentos de prazer por toda

família estarem juntas e pode ampliar o conhecimento de

mundo da criança.

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“Sabe-se que o conhecimento do mundo é

fundamental para o desenvolvimento da

leitura com compreensão, e esta

habilidade, por sua vez, é um importante

instrumento de sucesso na escola”.

Milosky, 1990.

É de grande importância a disponibilidade de jogos e

materiais educacionais variados e adequados a faixa

etária da criança em casa, pois assim estará trabalhando

e desenvolvendo o pensamento e o raciocínio da criança.

O letramento no ambiente familiar é o ponto de

partida para o aprendizado da leitura.

Para Siegel, 1990 os hábitos de leitura dos pais, a

presença de jornais e revistas, o acesso a livros e

outros portadores de texto têm sido consistentemente

associados ao desempenho em leitura durante os anos do

ensino fundamental e médio.

Uma vantagem do letramento na família é a prática de

ler livros de histórias para a criança que ainda não sabe

ler. Essa prática combina vários componentes favoráveis

como o clima emocional positivo, a interação com os pais,

a oportunidade de praticar o distanciamento na linguagem

e a exposição a portadores de texto e ato de leitura.

O ato de ler em voz alta para a criança que ainda

não foi alfabetizada tem sido considerado como o melhor

subsídio de sucesso na aprendizagem da leitura, inclusive

favorecendo uma aquisição precoce desta habilidade. No

período pré-escolar, o que também favorece o

desenvolvimento posterior da leitura é a brincadeira com

lápis e papel e os jogos que envolvem rima, sempre sendo

mediado pelos pais.

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A participação em reuniões e eventos promovidos pela

escola, a participação na vida escolar e a assistência na

lição de casa são indicadores do desenvolvimento escolar

da criança.

Através do envolvimento os pais comunicam à criança

o quanto se importam com ela e o quanto valorizam sua

aprendizagem escolar.

A aprendizagem caracteriza-se como um processo que

segundo Weiss (1992) integra o pensar, o sentir, o falar,

o agir sendo que as rupturas e inibições neste processo

implicam dificuldades.

A aprendizagem constitui-se em um processo, uma

função que vai além da aprendizagem escolar e que não se

circunscreve exclusivamente à criança.

Fernandez diz que a aprendizagem enquanto conceito e

experiência guarda um elemento universal do humano, na

medida em que permite a transmissão do conhecimento e

através desse processo garante a semelhança e a

continuidade do coletivo, ao mesmo tempo permitindo a

diferenciação e a transformação. O aprender envolve

simultaneamente a inteligência, os desejos e

necessidades; através do cognitivo busca-se generalizar,

classificar, ordenar, identificando-se semelhanças,

enquanto que através dos desejos e necessidades busca-se

o individual, o subjetivo e o diferente (Fernandez,

1990).

Escola e família participam do processo de

desenvolvimento como matrizes de formação. Constitui-se

então um elo entre elas cuja figura de ligação é a

criança, o filho, o estudante.

Ajudar esse elo a se fortalecer é função primordial

dos pais, da família.

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Do nosso nascimento à nossa morte somos

um cortejo de outros, ligados por um

tênue fio.

Jean Cocteau.

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Capítulo III – Ambiente Familiar e

Dificuldade de Aprendizagem

Primeiramente é necessário esclarecer o que vem a

ser dificuldades de aprendizagem. Uma dificuldade de

aprendizagem especifica pode ser encontrada se uma

criança tem uma discordância severa entre o

aproveitamento e a habilidade intelectual em uma ou mais

das diversas áreas: expressão oral, expressão escrita,

compreensão oral ou compreensão escrita, habilidades de

leituras básicas, cálculo matemático, raciocínio

matemático ou soletração.

“As crianças que têm dificuldades de aprendizagem

são as que manifestam uma discrepância educativa

significativa entre seu potencial intelectual estimado e

o nível atual de execução relacionado com os transtornos

básicos nos processos de aprendizagem, que podem ou não

vir acompanhados por disfunções demonstráveis no sistema

nervoso central, e que não são secundárias ao retardo

mental generalizado, de privação cultural ou educativa,

alteração emocional severa ou perda sensorial”. (Bateman,

apud Garcia, 1992, p.8)

A dificuldade de aprendizagem pode ser de origem

orgânica, de origem intelecto-cognitiva e de origem

emocional (incluindo-se a familiar/relacional).

Essas dificuldades podem ocorrer durante toda a vida

do sujeito, afetando várias áreas: trabalhos escolares,

rotina diária, vida familiar, amizades e diversões. Em

algumas pessoas as dificuldades são aparentes. Em outras,

aparecem apenas em um aspecto isolado do problema,

causando pequeno impacto em outras áreas da vida.

Reconhecer quando uma criança ou jovem apresenta uma

Dificuldade de Aprendizagem já é um grande passo para não

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rotulá-la de lenta ou preguiçosa. Esses rótulos causam um

efeito negativo sobre as competências que estão

preservadas, uma vez que abalam profundamente a auto-

estima do sujeito. Quando os pais e a escola conseguem

oferecer diagnóstico e ajuda adequados, muitas crianças

demonstram melhora acentuada e uma redução nos conflitos

emocionais resultantes do contínuo fracasso.

A dificuldade de aprendizagem pode afetar a família,

perturbando a todos os membros e afetando o

relacionamento entre eles. Existem crianças com

dificuldades de aprendizagem grave, cujo pais com pouco

preparo para lidar com elas submetem-se a situações muito

estressantes agravando severamente o problema.

“É mais fácil ver o que há de errado com os filhos

de outras famílias, pois os filhos dos outros não geram

ruídos em nós. Os filhos dos outros não prejudicam nossa

capacidade de processamento. Uma atenção concentrada na

criança – problema organiza a família e a aclamar. Mas

como a família não está avaliando bem a situação, o tipo

de atenção que despeja na criança será todo errado,

aumentando seu comportamento difícil e tudo vira

aflição!”(Ratey; Johnson, 1997, p.3)

Estudos realizados na Universidade da Califórnia

(EUA), por Jeffrey Scwartz, mostram que pacientes com

problemas na química cerebral – DOC, hiperativos – mudam

inteiramente essa química, mediante o comportamento, pois

segundo eles, o meio ambiente (a família), afeta a

biologia cerebral, a ponto de ser possível detectar

mudanças nas imagens cerebrais, conseguidas por

tomografia.

Caso neurologistas identifiquem alguma lesão que

determine Dificuldade de Aprendizagem, não se pode pensar

que biologia é destino, que remédio é a solução.

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Alicia Fernandez (1990), faz a articulação entre a

inteligência e desejo e entre família e sintoma. Ela diz:

“se pensarmos no problema de aprendizagem como só

derivado do organismo ou só da inteligência, para sua

cura não haveria necessidade de recorrer a família. Se ao

contrário, as patologias no aprender surgissem na criança

ou adolescente somente a partir de sua função

equilibradora do sistema familiar, não necessitaríamos

para seu diagnóstico e cura, recorrer ao sujeito

separadamente de sua família. Ao considerar o sintoma

como resultante da articulação construtiva do organismo,

corpo, inteligência e a estrutura do desejo, incluído no

meio familiar no qual seu sintoma tem sentido e

funcionalidade... é que podemos observar o possível

"atrape” da inteligência.” (Fernandez, op. Cit., p.98)

É necessário considerar, os efeitos emocionais que

essas dificuldades acarretam, gerando problemas. Se seu

rendimento escolar for ruim, a criança talvez seja vista

como um fracasso pelos professores ou colegas e até pela

própria família. Infelizmente muitas dessas crianças

desenvolvem uma auto-estima negativa, que agrava muito o

seu problema, e, que poderia ser evitada, com o auxilio

da família. O apoio dos pais é essencial para as

crianças, pois quando dão suporte emocional, a criança

desenvolve uma base sólida e um senso de competência que

a leva a uma auto-estima satisfatória.

Para darem apoio, os pais precisam rever seus

próprios sentimentos, alguns sentem raiva, culpando a

criança pela situação. Outros entram em pânico, sentindo-

se incapazes de enfrentar os desafios à frente. Essas

reações são inúteis, pois impedem os pais e privam a

criança da necessária ajuda.

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Em muitos casos fica difícil para os profissionais

envolvidos distinguir a origem da desordem emocional,

pois muitos sintomas se sobrepõem dificultando um

diagnóstico mais preciso.

Muitas crianças são obrigadas a enfrentar desde o

nascimento uma patologia grave de um ou de ambos os pais

e que tiveram que aderir à loucura do ambiente para

sobreviver.

Para muitos jovens, aprender pode ser um desafio.

Isso não indica, necessariamente, dificuldade de

aprendizagem. Indica apenas que toda criança tem seus

pontos fortes e fracos na aquisição do conhecimento.

Toda criança em idade escolar sabe que precisa ter

sucesso nos estudos. Essa exigência é feita pelo seus

pais, familiares, colegas, professores, pela sociedade

como um todo. O sucesso opõe-se ao fracasso, e este

implica um prejuízo de valor, um julgamento que deve

corresponder a um ideal.

Esse ideal geralmente é ditado por valores

familiares transmitidos de geração em geração. Por

exemplo: pai advogado filho mais velho também deve ser

advogado, família de engenheiros filhos deverão ser

engenheiros.

Cada grupo familiar introduz expectativas e valores

sobre como o filho deve ser, como deve se comportar e

passa, mesmo sem o saber, os sonhos sobre a vida

profissional futura da criança. Desde seu nascimento, são

comuns as profecias em relação ao futuro profissional de

seu filho.

Para que uma criança aprenda é necessário que ela

tenha o desejo de aprender. E que, sobretudo o desejo dos

pais a autorize. Como diz Mannoni (1981, p.26), numa

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metáfora: “As crianças andam não só porque tem pernas,

mas porque seus pais assim o permitem”.

A existência de uma criança com problema representa

uma ruptura para os pais. Esses filhos representam a

perda de sonhos e esperanças e a obrigatoriedade em lidar

com as limitações, fazem com que muitos pais se sintam

despreparados para a tarefa que devem assumir.

Quando a criança apresenta alguma Dificuldade de

Aprendizagem, é necessário tentar buscar, além dos

padrões de interação do grupo familiar, a modalidade de

aprendizagem que operar no sistema.

Alicia Fernandez (1990) observou que cada família

tem uma modalidade de aprendizagem, que seria a maneira

pela qual cada grupo familiar se aproxima (ou se afasta

do saber). Essa modalidade seria, como as gerações mais

novas vão se relacionar com o conhecimento. A modalidade

de aprendizagem faz parte da história pessoal de cada

sujeito, obedecendo à dinâmica imposta pelo grupo.

A história da família em relação ao saber, permite

que cada membro reconte sua trajetória, descrevendo os

fatos à sua maneira, e sobre tudo a significação destes

para a vida do sujeito. Sua relação na estrutura familiar

pode nos permitir resgatar um pouco da história do grupo,

em que o problema passou a fazer sentido nessa família.

As famílias precisam estar em movimento, encarando o

passado como referência histórica e não como luta para

recuperá-lo.

O papel da família é decisivo para a forma como o

sujeito aprendente terá possibilidades de trabalhar com

suas dificuldades, tentando superá-las ou mantendo-as em

favor das relações com o grupo.

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Capítulo IV – O Psicopedagogo e a Família

O psicopedagogo deve observar um aspecto importante

que é o da relação vincular entre a criança/jovem

portador de Dificuldades de Aprendizagem e sua família.

Ele deve usar como instrumento para executar seu trabalho

o levantamento da queixa escolar, a anamnese familiar,

entrevistas semi-abertas e a orientação familiar. Para se

ter um bom diagnóstico de Dificuldades de Aprendizagem é

necessário incluir a verificação de fatores orgânicos,

maturativos/evolutivos, cognitivos, emocionais e,

sobretudo, relacionais e familiares.

É de suma importância a avaliação de alguns tópicos

importantes que são:

· a estrutura familiar;

· como a família reage à evolução natural do grupo;

· as alianças e coalizões existentes no grupo, quem é

leal a quem, quem se une a quem, contra quem;

· os padrões de repetição que determinam a formação

e/ou rompimento dos vínculos afetivos;

· o equilíbrio e desequilíbrio, o que é visto como

permitido para o crescimento e a diferenciação;

· o significado que a família confere aos mitos, que

geram mandatos relativos ao saber.

Segundo Wallon (apud TAILLE, 1992), o produto último

da elaboração de uma inteligência concreta pessoal

corporificada em alguém é uma pessoa. A construção da

pessoa é uma autoconstrução.

Os pais que sentem dificuldade em permitir o

processo de individualização causando uma superproteção,

dificultando saber quem protege quem, acabam dificultando

ou mesmo impedindo que aspectos sadios da inteligência

e/ou do desenvolvimento sócio-emocional surjam.

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O vinculo afetivo supre a insuficiência da

inteligência no inicio da vida, pois cria elos

necessários à ação coletiva.

O psicopedagogo deve ter como ponto de partida duas

premissas: a primeira é que o aluno aprende construindo

significados por meio da interação com o meio onde vive;

a segunda é que esse aprendizado é realizado dentro do

ambiente escolar concreto, com características próprias e

particulares. Isso significa que, além da organização e

estrutura formais da escola, que demandam alternativas de

trabalho planejadas, existe um mundo complexo de relações

humanas que forma a estrutura básica da ação educadora.

A família insere o sujeito no contexto, ele também

se insere, autorizando-se a pensar e a buscar

conhecimentos.

Essa modalidade vai depender de como quem ensina

mostra aquilo que saber e como quem aprende olha o que

quer conhecer (Fernandez, 1990).

É de suma importância que o psicopedagogo saiba

trabalhar com as diferenças e isso é fundamental. Temos

que entender os grupo humanos, como eles se agrupam nas

famílias, se suas interações são regressivas, primitivas

ou indiferenciadas, se elas servem de continente,

controle, se dão espaços para que os processos analógicos

contribuam para a individualização e diferenciação dos

seus elementos.

O psicopedagogo deve diagnosticar e atuar na

estagnação da escola e da família, por meio de uma

postura reflexiva e pesquisadora de eventos teóricos com

sua formação nessa área.

A psicopedagogia pesquisa, estuda e analisa as

questões relacionadas ao processo de aprendizagem e ao

tratamento de seus problemas. Juntar a psicopedagogia e a

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terapia familiar é enfatizar os processos relacionais,

entre eles, como o grupo lida com a aprendizagem.

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Capítulo V – A Importância da Família na

Escola

Escola e família participam do processo de

desenvolvimento como matrizes de formação. Constitui-se

então um elo entre elas cuja figura de ligação é a

criança, o filho, o estudante.

A escola é o local no qual tanto a criança quanto o

adolescente, tem a oportunidade de vivenciar novas

experiências, estabelecer novos contatos, ampliar e

construir grande parte de seu processo de

desenvolvimento. É uma das mais importantes instituições

sociais por fazer, assim como a família, a mediação entre

o indivíduo e a sociedade.

Ao transmitir a cultura e, com ela, modelos sociais

de comportamento e valores morais, a escola (a família

também faz) permite que a criança “humanize-se”, cultive-

se, socialize-se ou, numa palavra eduque-se. A criança,

então, vai deixando de imitar os comportamentos adultos

para, aos poucos, apropriar-se dos modelos e valores

transmitidos pela escola, aumentando sua autonomia e seu

pertencimento ao grupo social.

De um lado o estudante é o personagem principal do

processo, de outro, ele é parte integrante de um sistema

familiar, que existe num contexto histórico e temporal

marcado, de modo significativo, por valores socialmente

determinados.

A participação da família na escola se faz tanto por

meio da criança, do filho, e aluno, quanto de sua

presença no grupo de pais e alunos.

A família pode ter uma atuação permanente na escola

com objetivo de melhorar a vida escolar e social de seu

filho. Isso pode acontecer de várias maneiras como:

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participação freqüente nas reuniões de pais, conversas

com os professores para saber como anda a aprendizagem do

filho, participações de eventos promovidos pela escola

etc. Não é tão fácil como aparenta, pois existem escolas

que não dão abertura para os pais participarem ativamente

da vida da escola.

Porém, pais preocupados com a vida escolar de seus

filhos devem persistir para que esse paradigma seja

quebrado.

Em casa também é possível haver a participação da

família na vida escolar das crianças e isso pode ocorrer

de varias formas: ajudando nas atividades da escola,

criando uma rotina de horários para o estudo, conversas

entre pais e filhos para saber como foi o dia da criança

etc. São coisas simples que para as crianças adquirem

grande valor, elas se sentem valorizadas, importantes.

É necessário considerar que a criança realmente

precisa da atenção dos pais, mas, é também importante

lembrar que ela percebe quando os pais não estão fazendo

alguma coisa prazerosamente.

O papel do professor também é muito importante na

relação família-escola, pois é através do professor que o

relacionamento entre os pais e escola será estabelecido.

Quando há um interesse do professor em ter a presença

ativa da família na escola tudo fica muito mais fácil.

Ele também é um dos responsáveis pela aprendizagem

da criança. Havendo uma identificação entre a família, a

criança e o professor a aprendizagem flui de forma

melhor.

“O processo de aprendizagem será

altamente beneficiado quando houver uma

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troca coerente e conjunta entre a família

e a escola”.

Lea Chuster

Se por um lado, a escola exerce uma significativa

influência na dinâmica familiar, a família, por meio da

criança, do aluno, também exerce uma significativa

influência na instituição escolar.

O aluno, com suas características específicas e com

o processo de “estar” participante das propostas

escolares, também oferece generosamente a oportunidade de

a escola refletir sobre suas bases de funcionamento.

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Capítulo VI – Afeto e Família

“Não é a força, mas a Constancia dos

bons sentimentos que conduz os homens à

felicidade.”

Friedrich Nietzsche

Falar de sentimentos é favorecer sua manifestação,

bem como a reflexão sobre os estados de ânimo e as

relações intra-pessoais que podem provocá-los, amenizá-

los ou acentuá-los.

Piaget afirma que a afetividade é como se fosse a

gasolina do motor, ou seja, o que nos leva a conhecer é a

motivação interna, a dimensão de valor que projetamos em

determinada ação ou objeto. Assim, os sentimentos e as

emoções nutrem-se do efeito que causam no outro.

Nenhum outro ser tem a capacidade humana de pensar e

de sentir. Então, tal característica que faz o ser humano

se diferenciar dos outros viventes, começa desde a vida

intra-uterina pelas sensações que, antes de nascer, vão

sendo formadas, provocadas pelas interações que o bebê

estabelece com o meio que lhe é exterior.

Na vida intra-uterina, os estados afetivos começam

como sensações corporais, expressos sob a forma de

emoções. Não há, no início da vida humana, separações

entre sensações e sentimentos, por exemplo: quando os

bebês choram, suas mães confundem sentimentos e sensações

na tentativa de adivinhar os motivos de reações deles.

O homem se humaniza com próprio homem, ou seja, se

uma criança for criada por macacos, caso sobreviva, terá

as mesmas atitudes dos macacos, embora conserve ainda os

aspectos de possibilidade de vir a ser inteligente.

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Ao longo do tempo, a afetividade vai se tornando

independente dos fatores corporais. A capacidade de

representação da criança, como a fala, a imitação e

tantas outras manifestações, fazem com que as variações

nas disposições afetivas possam ser provocadas, agora,

por situações abstratas e as idéias possam ser expressas

por palavras (GALVÂO 2001, p.62)

Sendo assim, será preciso que esse ser humano, que

sente, tenha em sua vida escolar, em suas relações com os

outros, com a familia, oportunidades de construir cada

vez mais seu lado afetivo pela expressão e manifestação

dos sentimentos que permitam-lhe compreender a si mesmo e

autocontrolar-se.

Quem reconhecer os próprios sentimentos, o que lhes

causa tristeza, o que lhes causa alegrias, têm condições

de construir a idéia do que as outras pessoas possam

sentir. Acostuma-se à idéia de que os sentimentos são

importantes.

A afetividade está ligada aos sistemas de valores

que são formados desde que a criança é pequena. Da mesma

forma, as trocas que ele estabelece com o meio é que vão

fazer com que os sentimentos sejam diferenciados das

sensações.

Elogiar também é uma forma de transmitir afeto,

sentimento. Quando pais, professores, amigos emitem um

elogio estão mexendo com a auto-estima da criança

principalmente daquelas que possuem alguma dificuldade de

aprendizagem.

O elogio alivia as feridas da alma, educa a emoção e

auto-estima. Elogiar é encorajar e realçar as

características positivas. Há pais e professores que

nunca elogiaram seus filhos e alunos.

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Alguns pais devido as atribulações do dia-a-dia só

conseguem oferecer a seus filhos o amor explosivo, de

momento, porém é necessário que os pais ofereçam aos

filhos, uma atmosfera permanente de amor, que a criança

sente em todos os contatos com a família: abraçar, pegar

no colo, beijar, sorrir, falar, cantar. Para que sejam

sentidos, estes atos devem ser realizados. Muitas vezes,

os pais, preocupados em satisfazer exigências culturais,

no trabalho, no ganho, não podem estar sequer próximos do

filho. O amor não deve ser decantado ou propagado, mas

dado a sentido.

Afeto - amor para os filhos é atitude com sentimento

e emoção positivamente dirigida, com ligação calorosa,

prazerosa e cheia de entusiasmo. É ligação delicada, com

boa disposição; com inclinação, devotamente e

benevolência para o filho.

É a atitude que se opõe à rejeição – abandono.

Marx afirmou “que o homem se define no mundo

objetivo não somente em pensamento, senão com todos os

sentidos (...). Sentidos que se afirmam, como forcas

essenciais humanas(...). Não só os cinco sentidos, mas o

sentidos espirituais(amor, vontade)”.

Saber os aspectos que dão o colorido especial à

conduta de cada um e às suas vidas. Eles se expressam nos

desejos, sonhos, fantasias, expectativas, nas palavras,

nos gestos, no que fazemos e pensamos. É o que nos faz

viver.

Saber e compreender o mundo que nos rodeia é

fundamental para que possamos estar nele. A apreensão do

real é feita de modo sensível e reflexivo e, portanto,

realizada pelo pensar, sentir, sonhar, imaginar.

Afeto e família são componentes importantes para uma

aprendizagem significativa. Cabe aos pais, professores,

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amigos oferecer o que há de melhor dentro deles para as

crianças.

Aos professores é importante lembrar que ensinar com

afeto não é passar a mão na cabeça, é transmitir

segurança, atenção, é saber ouvir o outro, deixar o outro

falar.

“A prática educativa é tudo isso:

afetividade, alegria, capacidade

cientifica, domínio técnico a serviço da

mudança ou, lamentavelmente, da

permanência do hoje”.

Paulo Freire

Pais e professores são educadores, escultores da

emoção. Eduquem olham nos olhos, eduquem com gestos: eles

falam tanto quanto as palavras.

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CONCLUSÃO

Família palavra abrangente de inúmeros significados.

Para algumas crianças essa palavra lembra felicidade,

alegria, pai, mãe. Para outras lembra apenas tristeza,

saudade, mágoa. Enfim, impossível dizer qual é o seu

significado mais correto.

Podemos dizer que é a partir da família que se

estabelece a primeira relação ensino-aprendizagem, ponto

de partida de todo ser humano para construir e construir-

se.

Sendo assim, quando uma criança apresenta alguma

Dificuldade de Aprendizagem é necessário que os pais

estejam ao seu lado dando apoio, ajudando nas tarefas

escolares, brincando, levando para passear e procurando a

ajuda de um Psicopedagogo.

A presença da família nos anos iniciais de

escolarização é muito importante, pois a partir daí, as

crianças com ajuda da família pode criar o hábito de

estudar, pode ter uma rotina diária.

Uma atmosfera emocional positiva na família favorece

o desenvolvimento, pela criança,d e um senso de

permanência e estabilidade de sua base afetiva, tendo

efeito protetor diante da adversidade (Boyce, 1985).

A criança vem inscrita no desejo materno, afirma a

psicanálise, e os pais que se vêem as voltas com a

frustração de ter um filho diferente podem ter

dificuldade em estabelecer vínculos afetivos com essa

criança, dificultando seu acesso ao saber.

Aceitar os filhos como são é dever de todos os pais.

Mesmo que isso traga angústia; dor, sofrimento. As

crianças com Dificuldades de Aprendizagem precisam que os

pais lhes dêem apoio, que estejam do seu lado. Trabalhar

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a auto-estima é fator primordial para uma melhora

significativa.

Os pais precisam se educar no amor precisam aprender

que não há substituto para amor, não há presentes ou

dinheiro ou outro bem que substitua o bem-querer. A

criança precisa sentir que é um “objeto” que traz

felicidade para os pais e não só preocupações. Assim

poderá amar os pais sem medo de não ser correspondida.

As crianças não precisam de gigantes, precisam de

seres humanos. Falar o quanto a criança é importante,

perguntar como está a vida dele, são práticas necessárias

num ambiente familiar.

Deixe seus filhos participarem da sua vida. Nenhuma

técnica psicológica funcionará se o amor não funcionar.

Liberte a criança feliz que esta em você. Liberte o

jovem alegre que vive na sua emoção, mesmo que seus

cabelos já tenham embranquecido. É possível recuperar os

anos. Deixe seus filhos descobrirem seu mundo.

Abra-se, chore e abrace-os. Chorar e abraçar são

mais importantes do que dar-lhes fortunas ou fazer-lhes

montanhas de críticas.

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