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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A INEFICIÊNCIA DO INQUÉRITO POLICIAL RICARDO RIBEIRO BALDANZA Orientador Prof. Francis Rajzman Rio de Janeiro 2011

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · 5 RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris. 2006, p. 69. 6 Ibdem. 7 Vade Mecum

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A INEFICIÊNCIA DO INQUÉRITO POLICIAL

RICARDO RIBEIRO BALDANZA

Orientador

Prof. Francis Rajzman

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A INEFICIÊNCIA DO INQUÉRITO POLICIAL

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito e

Processo Penal

Por: Ricardo Ribeiro Baldanza

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AGRADECIMENTOS

À minha esposa, Elaine Ferreira

Baldanza, pela compreensão nos

momentos em que passei ausente,

confeccionando o trabalho

monográfico.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, que

mesmo diante de todas as dificuldades

que a vida nos impôs, nunca deixaram de

me dar afeto, dedicação e principalmente

educação.

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RESUMO

Analisa-se o papel do Inquérito Policial no ordenamento processual pátrio,

abordando a ineficiência em que tal instituto cumpre seu objetivo, que é a

descoberta das circunstâncias do fato delituoso, bem como sua autoria. Para

melhor compreensão do tema, a primeira parte volta-se à análise da trajetória

histórica do Inquérito Policial, suas características e seu conceito, bem como a

responsabilidade da Polícia Judiciária na confecção deste procedimento

administrativo. Na segunda parte é realiza crítica ao atual modelo de Inquérito

Policial, demonstrando que este instituto contribui para o crescimento da

criminalidade. Para tanto, é apresentado dados estatístico que demonstram a

baixíssima taxa de elucidação de delitos através do inquérito policial e como

conseqüência o aumento da criminalidade. A terceira parte dedica-se a trazer

propostas para aumentar a eficiência do inquérito policial, comparando o nosso

procedimento com o de outros países, estudando uma redefinição do papel do

Ministério Público nas investigações preliminares e analisando os benefícios da

lavratura dos termos circunstanciados de ocorrência pelas Policiais Militares.

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METODOLOGIA

A metodologia se baseia em estudos realizados por diversos autores

acerca do inquérito policial, que de uma forma explícita ou implícita atestam

sua ineficiência. Tal situação foi ratificada através de dados estatísticos, como

taxa de elucidação de delitos e de aumento de índices criminais. Também foi

utilizado reportagens de jornais recentes para confirmar as informações

apresentadas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................08

CAPÍTULO I - Considerações iniciais sobre o inquérito policial........................10

CAPÍTULO II - Críticas ao atual modelo de inquérito policial ...........................19

CAPÍTULO III – Propostas de aumento na eficiência inquérito policial............33

CONCLUSÃO...................................................................................................46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA........................................................................52

BIBLIOGRAFIA CITADA...................................................................................53

ANEXOS...........................................................................................................56

ÍNDICE..............................................................................................................54

FOLHA DE AVALIAÇÃO...................................................................................56

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico versa sobre a ineficiência do inquérito

policial e sua relação com o aumento da violência assistida diariamente pela

sociedade brasileira. Tal relação se dá quando é observado que o

procedimento policial não cumpre com eficiência sua finalidade, que é reunir

elementos comprobatórios acerca do fato criminoso e sua autoria, bem como

servir de peça inicial para a propositura da ação penal.

É certo que, numa visão global, a impressão que a população possui é

de que o criminoso, na maioria das vezes, não é punido. Neste cenário, o

inquérito policial tem grande parcela de culpa, uma vez que, ao não descobrir

as circunstâncias e autoria do crime, contribui para a sensação de impunidade.

Neste mesmo sentido, uma parcela dos estudiosos do tema aponta

outro motivo para classificar o inquérito policial como um dos responsáveis por

esta sensação presente na sociedade, uma vez que devido ao seu caráter

informativo, este instituto serviria apenas para atravancar e atrasar o sistema

processual penal, causando-lhe retardo e contribuindo significativamente para

o sentimento de impunidade.

Será feito no primeiro capítulo algumas considerações iniciais sobre o

inquérito policial, citando sua evolução histórica e demonstrando que o atual

procedimento policial, elaborado durante o Estado Novo e sob o regime

totalitarista da época, ainda guarda as características daquele período, como o

caráter inquisitivo e sigiloso. Será demonstrado, também, quem é responsável

pela elaboração do inquérito policial, a quem se destina, suas características e

seu conceito.

No segundo capítulo, observa-se que o inquérito policial não comporta

os princípios constitucionais do contraditório e ampla defesa, não podendo

assim, ser utilizado como prova no processo, o que acarreta demora na

aplicação da justiça. Será demonstrado, ainda, que a taxa de elucidação de

delitos através do inquérito policial é baixíssima, o que evidencia por si só, que

tal instituto não vem cumprindo com a sua finalidade. Por fim, será utilizada a

criminologia para explicar que a sensação de impunidade propiciada pela

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ineficiência do inquérito policial, gera aumento da criminalidade, sendo

utilizados dados estatísticos que comprovam tal afirmativa.

No terceiro e último capítulo pretende-se demonstrar algumas propostas

para aumentar a eficiência do inquérito policial. Para tanto, é avaliado o

sistema investigatório mais vantajoso ao ordenamento jurídico pátrio,

utilizando-se o método do direito comparado, sendo efetuada breve incursão

sobre os sistemas investigatórios atualmente em uso em outros países do

mundo. Em seguida, estuda-se o importante papel que o Parquet desenvolve

no âmbito do inquérito policial, colocando posicionamento de diferentes

doutrinadores, quanto a possibilidade do Ministério Público realizar diretamente

as investigações preliminares. É feito, também, um breve comentário acerca

das inovações propostas pelo projeto de lei 156/09 comparando-o ao projeto

de lei 4.209/01 no Código de Processo Penal. Por fim, estudam-se as

vantagens que a lavratura do Termo Circunstanciado de Ocorrência pela

Polícia Militar traria para o processo penal como um todo, enfatizando a

celeridade de tal procedimento e a conseqüente liberação dos policiais civis

para realização das investigações preliminares.

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CAPÍTULO I

CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O INQUÉRITO POLICIAL

1.1 BREVE ABORDORDAGEM HISTÓRICA

O Inquérito Policial teve seu surgimento, mesmo que de forma

embrionária, em Roma, tendo evoluído junto com o direito. Pode-se dizer que

inicialmente o inquérito Policial brasileiro sofreu, logicamente, forte influência

da legislação portuguesa. Julio Fabrini Mirabete, sobre o assunto expõe que

“editadas as Ordenações Manoelinas, Martim Afonso de Souza foi

encarregado de formar as bases da organização judiciária na Colônia nos

moldes da implantada em Portugal.”1

O inquérito Policial, embora não possuísse esta denominação, foi

introduzido em nosso ordenamento jurídico pela lei número 261 de 03 de

dezembro de 1841, que relatava o seguinte:

Aos Chefes de Polícia, em toda a Província e na sua Corte, e

aos Delegados, nos seus respectivos distritos, compete:

§ 9º remeter, quando julgarem conveniente, todos os dados,

provas e esclarecimentos que houverem obtido sobre um

delito, com uma exposição do caso e das circunstâncias, aos

juizes competentes, a fim de formarem culpa.2

Porém, a primeira referência expressa do inquérito Policial em nosso

direito penal é encontrada no decreto nº. 4.824 de 1871 que regulamentou a lei

nº. 2.033, também de 1871, que expõe o seguinte:

Os chefes, Delegados e subdelegados de Polícia, logo que,

por qualquer meio, lhes chegue a notícia de se ter praticado

algum crime comum, procederão em seus distritos às

1 MIRABETE, Julio Fabbrini, Processo Penal. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 17 2 GARCIA, Ismar Estulano. Procedimento Policial-Inquérito. 7ª ed. Goiânia: AB, 1998, p. 8.

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diligências necessárias para verificação da existência do

mesmo crime, descobrimento de todas as circunstâncias e dos

delinqüentes(Art. 38, Decreto n.4.824, de 1871,

regulamentando a Lei n. 2.033 de 20de setembro de 1871).

O Inquérito Policial consiste em todas as diligências

necessárias ao descobrimento de fatos criminosos, de suas

circunstâncias e dos seus autores e cúmplices; deve ser

reduzido a escrito(Art. 42 do Decreto n. 14.824, de 1871,

regulamentando a lei n. 2.033 de 20 de setembro de 1871)3.

Sobre o surgimento do inquérito Policial em nosso Direito, Paulo Rangel

expõe o seguinte:

O Inquérito Policial foi estruturado, no direito brasileiro, pelo

Decreto 4.824, em 1871, fruto de uma preocupação do Estado

monárquico com os direitos e garantias individuais, pois os

abusos eram constantes por parte das autoridades policiais

que, desde a Lei de 03 de dezembro de 1841 e do

regulamento 120, de 31 de dezembro de 1842, possuíam

poderes excessivos no sistema processual

brasileiro(Fernandes, Antônio Scarance. Teoria Geral do

Procedimento e o procedimento no Processo Penal. São

Paulo: RT, 2005, p.92)4.

Em primeiro de janeiro de 1942 entrou em vigor o atual Código de

Processo Penal, tendo sido mantido o inquérito policial como procedimento

preliminar ou preparatório da ação penal. Cabe ressaltar que o País estava

passando pelo período totalitarista e ditatorial do Estado Novo, o que

inegavelmente, influenciou nas características do procedimento policial, como

veremos mais a frente.

3 Ibdem. 4 FERNANDES, Antonio, Op. Cit. Apud RANGEL, Paulo, p.67.

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1.2 O INQUÉRITO POLICIAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO.

Segundo Paulo Rangel: “enquadrar o inquérito policial dentro da ordem

jurídica vigente é perceber sua própria natureza dentro da sistemática em

vigor”5. Ou seja, para que possamos analisar o inquérito policial no

ordenamento jurídico brasileiro, temos que conhecer sua natureza jurídica.

O inquérito policial é parte do processo criminal, integrando-se a um

conjunto de atos praticados pelo Estado que visa manter a ordem social, não

sendo o inquérito um processo, mas sim um procedimento administrativo e

informativo, que se destina a proporcionar ao órgão de acusação elementos

mínimos para a propositura da ação penal, ou seja, pode-se dizer que ele é

uma fase preparatória da ação penal. Segundo Paulo Rangel a natureza

jurídica do inquérito policial é “de um procedimento de índole meramente

administrativa, de caráter informativo, preparatório da ação penal” 6.

Encontramos no artigo 144 § 4º da Constituição Federal a previsão da

competência para presidir o inquérito policial, sendo esta, conferida aos

Delegados de Polícia de carreira:

Art.144[...] § 4º. - Às polícias civis, dirigidas por delegados de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. 7

5 RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris. 2006, p. 69. 6 Ibdem. 7 Vade Mecum / obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antônio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. – 4 ed. – São Paulo: Saraiva, 2007.p. 49

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Contudo, os Delegados não são “donos” do inquérito policial, tendo o

Ministério Público legitimidade para atuar nos atos investigatórios, conforme o

previsto no artigo 129 VI; VII, VII da Constituição Federal:

Art. 129. São Funções institucionais do Ministério Público: VI – expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar específica;

VII – exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior;

VIII- requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;8

As normas para elaboração do inquérito policial estão presentes no

código de processo penal do artigo 4º até o 23º. Seu caráter é inquisitivo

conforme é indicado no artigo 14 do CPP, onde o indiciado e a vítima podem

apenas requerer a produção de provas, não estando à autoridade judiciária

obrigada a realizá-las. Portanto tem o presidente do inquérito poder

discricionário para conduzir as investigações.

O artigo 5º do CPP explicita as possibilidades de se iniciar o inquérito

policial, devendo a Autoridade policial iniciá-lo de ofício ao tomar conhecimento

de que alguma infração penal foi cometida, mediante requisição do juiz ou do

Ministério Público, por requerimento do ofendido ou de seu representante legal

nos crimes de ação pública condicionada ou nos crimes de ação privada.

O artigo 6º do Código de Processo Penal dispõe sobre as medidas a

serem tomadas pela autoridade policial logo que esta tiver conhecimento da

infração penal, sendo que tais medidas visam obter as provas necessárias

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para a instrução do inquérito policial, e a conseqüente propositura da ação

penal, conforme exposto no artigo 12 do mesmo dispositivo legal: “o inquérito

policial acompanhará a denúncia ou a queixa, sempre que servir de base a

uma ou outro”

O artigo 9º do CPP explicita outra característica do inquérito policial, que é

ser escrito: “todas as peças do inquérito policial serão, num só processado,

reduzido a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela

autoridade”9.

Há previsão legal quanto ao sigilo das investigações desenvolvidas

durante o inquérito, conforme o previsto no artigo 20 do CPP: “a autoridade

assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo

interesse da sociedade”10. Cabe ressaltar que o sigilo em certos casos, pode

tornar-se imprescindível para a elucidação do delito, frente à possibilidade de

que as provas desapareçam em virtude da publicidade das investigações.

1.3 CONCEITO DE INQUÉRITO POLICIAL

Não há em nosso ordenamento jurídico um conceito preciso de inquérito

policial, encontramos apenas na lei nº 2033, de 20 de setembro de 1871,

regulamentada pelo Decreto-lei nº 2824 de 28 de novembro do mesmo ano,

que em seu artigo 42 menciona que: o inquérito policial consiste em todas as

diligências necessárias para o descobrimento dos fatos criminosos, de suas

8 Ibdem.p. 45 9 Ibdem.

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circunstâncias e de seus autores e cúmplices, devendo ser reduzido a

instrumento escrito11.

Paulo Rangel utiliza o código de processo penal Português para

conceituar o inquérito policial, pois, segundo ele, o conceito português é bem

claro e perfeitamente aplicável ao direito brasileiro:

O inquérito policial compreende o conjunto de diligências que visam investigar a existência de um crime, determinar os seus agentes e a responsabilidade deles e descobrir e recolher as provas, em ordem à decisão sobre a acusação(CPP português – art. 262, item 1)12

Segundo Julio Fabrini Mirabete: “o inquérito policial é todo procedimento

policial destinado a reunir elementos necessários a apuração da prática de

uma infração penal e de sua autoria. 13

Neste mesmo entendimento, Fernando Capez conceitua o inquérito

policial como sendo “ o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária

para a apuração de uma infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular

da ação penal possa ingressar em juízo(CPP, art. 4º)”14.

No dicionário Michaelis é exposto que o conceito de inquérito vem de

inquirir que significa tomar ou procurar informações15. Já no inciso IV da

exposição de motivos do CPP está descrito que “ o inquérito foi mantido como

processo preliminar ou preparatório da ação penal”16. Por fim, temos no artigo

10Ibdem. 11 GARCIA, Ismar Estulano. Procedimento Policial-Inquérito. 7ª ed. Goiânia: AB, 1998, p. 8. 12 RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 11ª ed. Rio de Janeiro: 2006, p. 66. 13 MIRABETE, Julio Fabbrini, Processo Penal.18 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 60 14 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal / Fernando Capez. – 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p 71 15 MICHAELIS: dicionário escolar Língua portuguesa. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2002. p 426 16 VADE MECUM RT – 2. ed. São Paulo; ed. Revista dos Tribunais, 2008. p 587

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16

4º do Código de Processo Penal que expõe que “a polícia judiciária será

exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas

circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua

autoria”17.

Podemos extrair dos conceitos acima mencionados que o inquérito

policial consiste em um conjunto de diligências realizadas pela polícia

Judiciária para apuração de uma infração penal e a sua autoria, para que o

titular da ação penal possa ingressar em juízo, pedindo a aplicação da lei ao

caso concreto.

1.4 CARACTERÍSTICAS QUE REGEM O INQUÉRITO POLICIAL

Segundo Fernando Capez, as características do inquérito policial são:

procedimento escrito; sigiloso; oficialidade; oficiosidade; autoritariedade;

indisponibilidade e inquisitivo18 . A primeira característica pode ser encontrada

no artigo 9º do Código de Processo Penal, que menciona que todas as peças

do inquérito policial devem ser reduzidas a escrito ou datilografadas, ou seja,

não é possível investigação verbal neste procedimento policial.

Outra característica é ser o inquérito policial sigiloso, pois no artigo 20

do Código de processo Penal está disposto que “a autoridade assegurará no

inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da

17 Ibdem. 18 CAPEZ, Fernando. Curso de processo Penal – 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 77.

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17

sociedade”19. Cabe ressaltar, que tal característica é fundamental para que a

autoridade policial promova diligências que irão desvendar o fato, sem que

fatores alheios as investigações atrapalhem a colheita de informações.

Segundo Paulo Rangel o sigilo imposto no curso de uma investigação

policial alcança, inclusive, o advogado, pois a lei nº 8.906/94 em seu artigo 7º

III e XIV, não permite a intromissão do advogado durante a fase investigativa

que está sendo feita sob sigilo20. Ou seja, sendo decretado judicialmente o

sigilo nas investigações o advogado não poderá acompanhar a realização dos

atos procedimentais. Cabe ressaltar que tal procedimento não é pacífico na

doutrina.

O inquérito policial é uma atividade investigativa que deve ser realizada

por órgãos oficiais, não podendo o particular ser responsável por tais

atividades. Daí, podemos extrair a terceira característica que é a oficialidade.

Fernando Capez afirma que a oficiosidade “ significa que a atividade

das autoridades policiais independe de qualquer espécie de provocação,

sendo a instauração do inquérito obrigatória diante da notícia de uma infração

penal (CPP, art.5ºI)(...)” 21.

A característica de autoritariedade vem diretamente da Constituição

Federal que em seu artigo 144 § 4º expõe o seguinte: “Às polícias civis,

dirigidas por delegados de carreira, incumbem, ressalvada a competência da

União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais,

19 VADE MECUM RT – 2. ed. São Paulo; Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 589 20 RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 11ª ed. Rio de Janeiro: 2006, p. 87. 21 CAPEZ, Fernando. Curso de processo Penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p 77.

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18

exceto as militares”22. Ou seja, o inquérito deve ser presidido por autoridade

pública que no caso são os delegados(autoridade policial).

A indisponibilidade está presente no artigo 17 do Código de Processo

Penal que expõe que após instaurado o Inquérito policial, o mesmo não pode

ser arquivado pela autoridade policial23, ou seja, os Delegados não dispõe do

inquérito, pois uma vez instaurado o procedimento policial, o arquivamento só

se dará mediante decisão judicial, provocada pelo Ministério Público, e de

forma fundamentada.

Por fim, pode-se dizer que o inquérito é um procedimento inquisitivo,

pois não comporta o contraditório e a ampla defesa. Evidenciam a natureza

inquisitiva do inquérito o artigo 14 do Código de Processo Penal, que possibilita

à autoridade policial indeferir diligências solicitadas pelo ofendido ou indiciado,

ressalvado o exame de corpo de delito que é obrigatório se solicitado, e

também o artigo 107 do Código de Processo Penal que veda a argüição de

suspeição em relação aos Delegados.

1.5 O INQUÉRITO POLICIAL E A POLÍCIA JUDICIÁRIA

Quanto ao objeto, as Polícias dividem-se em administrativa ou de

segurança e judiciária, sendo que a primeira tem a função de atuar de modo a

evitar a prática de ilícitos penais, ou seja, atua preventivamente, tendo como

exemplo as Policias Militares. Já a segunda funciona como órgão auxiliar da

22 VADE MECUM RT – 2. ed. São Paulo; Editora Revista dos Tribunais, 2008. p 145 23 Ibdem.. p 588

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19

justiça, atuando na apuração das infrações penais que deveriam ter sido

evitadas pela Polícia Administrativa.

O texto do artigo 4º do Código de Processo Penal expõe que “a polícia

judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas

respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da

sua autoria”24. Já o artigo 144 § 4º expõe o seguinte: “Às polícias civis, dirigidas

por delegados de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as

funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as

militares”25. Juntando os dois preceitos teremos que a polícia judiciária é

dirigida por Delegados e sua função é apurar as infrações penais através do

inquérito policial, a fim de fornecer elementos para propositura da ação penal.

Sendo desempenhada pelas Policiais civis nos Estados e em âmbito federal

pela Polícia Federal.

A Polícia Judiciária é órgão auxiliar da justiça, atuando após a prática do

crime e tem por finalidade investigar as ocorrências delituosas, fornecendo ao

Ministério Público os elementos que permitam a propositura da ação penal.

CAPÍTULO 2

CRÍTICAS AO ATUAL MODELO DE INQUÉRITO POLICIAL

2.1 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA

DEFESA NO INQUÉRITO POLICIAL

24 Ibdem. p 588 25 Ibdem. p 145

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20

Está previsto no artigo 5º LV da Constituição Federal de 1988 que “aos

litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são

assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela

inerentes.”26

Para Aury Lopes Jr “O contraditório deve ser visto basicamente como o

direito de participar, de manter uma contraposição em relação à acusação e de

estar informado de todos os atos desenvolvidos no inter procedimental.”27 Ou

seja, é a oportunidade de dar ciência e viabilizar que uma das partes contradite

a outra em todos os atos processuais.

Já o princípio da ampla defesa traduz-se na necessidade de se dar às

partes a possibilidade de exporem suas razões e requererem a produção das

provas que julgarem importantes para a solução do caso penal. Em suma, é a

bilateralidade das controversas processuais. Melo advoga que:

Por ampla defesa deve-se entender o asseguramento que é feito ao réu de condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a esclarecer a verdade. É por isso que ela assume múltiplas direções, ora se traduzirá na inquirição de testemunhas, ora na designação de um defensor dativo, não importando, assim, as diversas modalidades, em um primeiro momento. Por ora basta salientar o direito em pauta como um instrumento assegurador de que o processo não se converterá em uma luta desigual em que ao autor cabe a escolha do momento e das armas para travá-la e ao réu só cabe timidamente esboçar negativas.28

26 VADE MECUM RT. 2. ed. São Paulo; ed. Revista dos Tribunais, 2008. p. 33 27 LOPES JR., Aury.Introdução crítica ao processo penal. Rio de Janeiro. Lúmen Júris. 2004, p 221 28 MELO, José Antonio apud BASTOS, Antônio de Menezes. Direito Penal Moderno, 7ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p.266

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21

Contrário ao descrito em nossa Carta Magna, o inquérito policial não

comporta os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa em

virtude de seu caráter inquisitivo. Segundo Fernando Capez ao Inquérito

Policial “não se aplicam os princípios do contraditório e ampla defesa, pois se

não há acusação, não se fala em defesa”29

Parte da doutrina declara ser plenamente admissível e necessário o

inquérito não cumprir com tais imperativos constitucionais, já que a natureza do

próprio procedimento como atividade persecutória impõe que o rito desta fase

preliminar seja inquisitivo. Fernando da Costa Tourinho entende que pelo

Inquérito não ter finalidade punitiva, por obvio não admite o contraditório,

expondo da seguinte forma:

O contraditório implica uma série de poderes que não se encontram, nem podem ser encontrados, no inquérito Policial: formular reperguntas às testemunhas, argüir a suspeição da Autoridade Policial, ter o direito de requerer diligências que lhe interessem, não podendo sua realização ser mera faculdade da Autoridade Policial, recorrer dos atos da Autoridade Policial... Ademais, na técnica do processo penal, o contraditório consiste, em última análise, em se poder contrariar a acusação. Se no inquérito não há acusação, mas investigação, não se pode admitir contraditório naquela fase preambular da ação penal.

Entretanto, há outra corrente doutrinária que se posiciona justamente no

pólo oposto a tal entendimento, ou seja, para tais estudiosos o inquérito

Policial deve comportar os princípios constitucionais do contraditório e da

ampla defesa, como salienta Aury Lopes Júnior:

O direito de defesa é igualmente aplicável no inquérito Policial, em que pese todo ranço do senso comum espelhado por numerosa jurisprudência e doutrina.

29 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p 78.

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22

O direito de defesa é um direito-réplica, que nasce com a agressão que representa para o sujeito passivo a existência de uma imputação ou ser objeto de diligências e vigilância policial. Nesta valoração reside um dos maiores erros de numerosa doutrina brasileira que advoga pela inaplicabilidade do art. 5º, LV, da Constituição ao inquérito policial, argumentando que não existem “acusados” nessa fase, eis que não foi oferecida denúncia ou queixa.

Da mesma forma, quando da investigação ex oficio realizada pela polícia surgem suficientes indícios contra uma pessoa, a tal ponto de tornar-se o alvo principal da investigação – imputado de fato -, devem ser feitos a comunicação e o chamamento para ser interrogado pela autoridade policial. Em ambos casos, inegavelmente, existe uma atuação de caráter coercitivo contra uma pessoa determinada, configurando uma “agressão” ao seu estado de inocência e de liberdade, capaz de autorizar uma resistência em sentido jurídico-processual. Essa resistência é o direito de defesa.30

Divergências doutrinárias a parte, parece óbvio que a adoção do

princípio do contraditório e o da ampla defesa dá ao inquérito policial outra

natureza, não de peça meramente informativa, mas com valor de prova na

instrução, o que aceleraria o processo como um todo, trazendo mais eficiência

na aplicação da justiça.

2.2 O VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL

Como já visto anteriormente, o inquérito policial é procedimento de

conteúdo informativo, tendo por finalidade fornecer ao Ministério Publico ou ao

particular, dependendo da natureza da ação, os elementos necessários para a

propositura da ação.

30 LOPES JR., Aury.Introdução crítica ao processo penal. Rio de janeiro. Lúmen Júris. 2004, p 242

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As provas obtidas em sede policial são de valor meramente informativo

devendo, para serem validadas no processo, serem reavaliadas em sede

judicial, salvo as chamadas provas irrepitíveis, que devido sua natureza

peculiar, não necessitam ser corroboradas em juízo, como por exemplo, o

exame de corpo de delito.

O projeto de lei 4.209/01 modificou o artigo 155 do código de processo

penal, que passou a vigorar da seguinte forma:

Art.155. O Juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.31

Percebe-se que o legislador consagra a exclusividade da formação do

convencimento do Juiz com base na prova colhida em contraditório judicial,

ressalvando as provas cautelares, que dentre outras estão incluídas as

interceptações telefônicas cuja colheita, por razões obvias não é oferecido o

princípio do contraditório, ressalvando também as provas não repetíveis, aí

incluídos os exames de corpo de delito realizados no curso da investigação

policial que pelo decurso de tempo pode não ser possível serem repetidas em

sede judicial e por fim as provas antecipadas, como, por exemplo, a oitiva

antecipada de testemunhas que por enfermidade ou por velhice, inspirar receio

de que ao tempo da instrução criminal já não exista a possibilidade de realiza-

las.

Porém, não se pode negar ao inquérito policial seu devido valor como

integrante de um conjunto probatório, cuja finalidade é formar a livre convicção

31 http://www.conjur.com.br/static. Acesso em: 21 abril. 2008

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do julgador na busca da verdade real dos fatos. Assim, pode o inquérito

constituir elemento para a formação do convencimento do magistrado mesmo

que de forma inconsciente, mesmo porque integra os autos do processo.

Por este motivo, é defendida por Aury Lopes Junior a exclusão física do

inquérito policial no processo, para que não haja contaminação inconsciente do

julgador através de atos de investigação colhidos no segredo da inquisição. 32

2.3 A CIFRA NEGRA E A ESTATÍSTICA DE ELUCIDAÇÃO DE DELITOS

ATRAVÉS DO INQUÉRITO POLICIAL

Antes de analisarmos especificamente as taxas de elucidação de delitos

através do inquérito policial é importante entendermos a chamada “cifra negra”

que é a diferença entre a quantidade de crimes cometidos e aqueles que

chegam ao conhecimento da Polícia. Embora se trate de uma grandeza

praticamente desconhecida, tudo leva a crer que a “cifra negra” excede em

muito o volume da criminalidade oficial.

Variadas são as situações que podem influenciar no quantitativo de

crimes que deixam de ser registrados pela Polícia, dentre elas, citamos as

apresentadas por Jorge Figueiredo Dias e Manuel da Costa Andrade.

Em primeiro lugar, a não visibilidade do crime. Quer porque a própria expressão material e fática da conduta se subtrai de todo ou em todo à observação(v.g., na criminalidade ocupacional); quer porque ninguém se sente como vítima ou assume o respectivo papel(v.g., nos crimes sem vítima em sentido genérico); quer porque não se atualiza a consciência do caráter ilícito de muitas condutas delinqüentes( v.g., em certas formas de criminalidade econômica).

32 LOPES JR., Aury.Introdução crítica ao processo penal. Rio de janeiro. Lúmen Júris. 2004, p 245.

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Em segundo lugar, há as razões específicas que se prendem com a vítima como a mais decisiva instância não formal de seleção e responsável pelo in-put dos casos no sistema formal e, por via disso, pela criação da criminalidade latente. São vários os motivos que podem levar a vítima a abster-se da participação: desde a falta de confiança na eficácia das instâncias formais, ao desejo de evitar incômodos de resultados aleatórios, ao medo de retaliações, à solidariedade com o delinqüente, ao desejo de evitar as repercussões negativas do processamento do caso. Em terceiro lugar, deve referir-se a chamada tolerância social do crime, isto é, a sua capacidade que se revela tanto maior quanto menor for a correspondência entre as normas penais e as representações axiológicas da comunidade em geral ou de certas formações subculturais. Em quarto e último lugar, deve salientar-se a tendência crescente para o recurso as formas privadas de resposta ao crime. A generalização de um certo medo coletivo face ao crime e ao criminoso, por um lado, e a descrença na eficácia ou adequação dos meios formais de controle, por outro lado, tem estimulado a multiplicação das formas de reação privada. Formas que vão desde as manifestações mais inorgânicas de auto-tutela até às reações para-institucionais aplicadas por empresas, supermercados, etc. 33

Para corroborar com as situações apresentada acima utilizaremos os

dados referentes à pesquisa de vitimização em Belo Horizonte, realizada pelo

Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública – CRISP, onde as

vítimas de furto que não acionaram a Polícia deram as seguintes justificativas:

47,4% não chamaram, pois não acharam que a polícia não poderia fazer nada;

31,3% acharam que o incidente não era importante o suficiente para chamar

polícia; 7,2% não queriam a polícia envolvida. Cabe ressaltar que na mesma

33 DIAS, Jorge de Figueiredo. Criminologia o Homem Delinqüente e a Sociedade Criminógena . 2ª ed.: Coimbra, 1997, p. 135.

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pesquisa foi verificado que 73% das vítimas de roubo não acionaram a polícia,

70,8% nos furtos, 86% nas agressões sexuais. 34

Uma pesquisa realizada pelo ISER (Instituto de Estudos da Região) e

pela Fundação Getúlio Vargas na Região metropolitana do Rio de Janeiro, em

1996, mostrou que as “cifras negras”são muito elevadas. No caso de roubo,

por exemplo, 80% das vítimas não comunicaram o crime à polícia. “ Não

acredita ou tem medo da polícia” foi o motivo que os entrevistados alegaram

com maior freqüência para explicar o não registro dos crimes. 35

Podemos visualizar através da rápida explicação a respeito da “cifra

negra” que apenas cerca de 20% a 25% dos crimes realizados chegam ao

conhecimento da polícia. Vejamos agora as taxas de elucidação destes delitos.

É difícil encontrarmos estas estatísticas, pois os órgãos responsáveis

por tais dados, na grande maioria das vezes não os divulgam, por um motivo

simples: são baixíssimas as taxas de elucidação de delitos. Segundo pesquisa

realizada por Luiz Eduardo Soares, em 1996, 8% dos homicídios cometidos

chegam a se transformar em processos devidamente instruídos e

encaminhados ao judiciário, ou seja, em média 92% dos homicídios do Estado

do Rio de janeiro ficam absolutamente impunes. 36

O último estudo a respeito do assunto elaborado pelo Instituto de

Segurança Pública – ISP do Estado do Rio de Janeiro data de 2003 e é

impressionante. Vejamos o quadro abaixo referente à taxa de elucidação dos

inquéritos Policiais envolvendo homicídio doloso e roubo a transeunte. 37

34 http://www.crisp.ufmg.br/vitimiza.htm. Acesso em: 23 set. 2008 35 OLIVEIRA, Nilson Oliveira. Insegurança Pública. São Paulo: Nova Alexandria, 2002, p. 158. 36 Ibdem.. p. 162 37 http://www.isp.rj.gov.br/Conteudo.asp?ident=75. Acesso em: 23 set. 2008

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27

Ranking das dez Delegacias Policiais Legais com maior número de Vítimas de homicídio doloso no Estado do Rio de Janeiro no 1º Semestre de 2003

- Ordenadas por investigações concluídas com êxitos –

Ordem

Unidades Policiais

Percentual investigações

total

Concluídas

com êxito

Concluídas

sem êxito

Sem definição

1º 044a. Inhaúma 10,2 25,4 64,4 100 2º 071a. Itaboraí 3,4 24,7 71,9 100 3º 058a. Posse 2,4 28,6 69,0 100 4º 074a. Alcantara 2,3 27,2 70,5 100 5º 062a. Imbariê 2,1 35,8 62,1 100 6º 054a. Belford Roxo 1,8 82,5 15,7 100 7º 034a. Bangu 1,8 69,2 29,0 100 8º 035a. Campo Grande 1,3 43,8 54,9 100 9º 056a. Comendador

Soares 0,9 43,8 55,3 100

10º 021a. Bonsucesso 0,7 13,1 86,1 100 Média 2,7 39,4 57,9 100

Fonte:SGO/GE/SSP Tabulações: NuPeSP Relatório gerado em 15/07/2003. Nota: (i) As investigações concluídas com êxito englobam os Flagrantes e Inquéritos; (ii) As investigações concluídas sem êxito englobam os Inquéritos e VPI´s; (iii) As investigações sem definição englobam os Inquéritos, VPI´s e RO´s.

Ranking das dez Delegacias Policiais Legais com maior número de roubo a transeunte no Estado do Rio de Janeiro no 1º Semestre de 2003

- Ordenadas por investigações concluídas com êxitos –

Ordem

Unidades Policiais

Percentual investigações

total

Concluídas

com êxito

Concluídas

sem êxito

Sem definição

1º 005a. Mem de Sá 5,3 86,4 8,3 100 2º 134a. Campos 4,0 69,5 26,5 100 3º 018a. Praça da

Bandeira 4,0 79,7 16,3 100

4º 074a. Alcântara 3,9 87,4 8,7 100 5º 022a. Penha 3,7 82,5 13,8 100 6º 035a. Campo Grande 2,5 76,8 20,7 100 7º 030a. Marechal Hermes 1,9 79,3 18,8 100

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28

8º 034a. Bangu 1,9 86,1 12,0 100 9º 021a. Bonsucesso 1,5 83,7 14,8 100 10º 019a. Tijuca 0,8 90,7 8,5 100 Média 3,0 82,2 14,8 100

Fonte:SGO/GE/SSP Tabulações: NuPeSP Relatório gerado em 15/07/2003. Nota: (i) As investigações concluídas com êxito englobam os Flagrantes e Inquéritos; (ii) As investigações concluídas sem êxito englobam os Inquéritos e VPI´s; (iii) As investigações sem definição englobam os Inquéritos, VPI´s e RO´s

Os dados apresentados se tornam ainda mais alarmantes se

observarmos que no cálculo da taxa de elucidação de delitos, os casos de

prisão em flagrante também estão inseridos nos Inquéritos concluídos com

êxito.

Vejamos, por fim, as taxas de esclarecimento de alguns crimes

registrados pela polícia da Inglaterra e País de Gales em 199738, dispensando

qualquer comparação com as nossas taxas.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Homicídio Violência

contra Pessoa

Crimes Sexuias Roubo

Fonte: Home office – Digest 4/England and Wales, outubro de 1999

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29

2.4 “SENSAÇÃO DE IMPUNIDADE” E O AUMENTO DA CRIMINALIDADE

Analisemos inicialmente o significado da expressão “sensação de

impunidade”. Segundo o dicionário Michaelis, sensação significa “condição

mental ou emocional produzida como apreensão de um órgão do sentido,

como apreensão, angustia, prazer etc39.” e impunidade significa “que ficou

sem castigo”40. Logo, “sensação de impunidade” é a percepção de que algo

não foi punido, cabendo ressaltar que tal expressão é utilizada ao invés de,

simplesmente, impunidade, pois em muitos casos, esta não ocorre de fato,

como veremos a seguir.

Primeiramente, deve-se haver a violação de alguma norma, digo isto,

pois em muitas situações as pessoas “falam” da existência de impunidade

onde simplesmente não há crime ou a conduta está acobertada por alguma

excludente de ilicitude.

Em segundo lugar existe o fator tempo, ou seja, o lapso temporal entre o

cometimento da conduta criminosa até o desfecho processual. Neste contexto,

o inquérito policial pode contribuir sobremaneira no aumento deste tempo, pois

dependendo da complexidade do crime, o inquérito policial pode levar muitos

meses para ser concluído e ser enviado ao Ministério Público, que deverá,

ainda, refazer grande parte das provas obtidas em sede inquisitorial, como por

exemplo, a oitiva de testemunhas, ofendido e acusado, além de abrir espaço

para o contraditório e a ampla defesa para que o acusado, só agora, possa

38 OLIVEIRA, Nilson Oliveira. Insegurança Pública. São Paulo: Nova Alexandria, 2002, p. 161. 39 MICHAELIS: dicionário escolar Língua portuguesa – São Paulo: Melhoramentos, 2002. p. 714 40 Ibdem. p. 413

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30

defende-se. Com isso, o processo pode desenrolar-se por anos o que dá a

impressão de que o acusado encontra-se impune.

Por fim, utilizo os dados já apresentado neste trabalho onde cerca de

80% dos crimes nem mesmo são levados ao conhecimento da polícia, o que

nos leva a concluir que o cidadão também é responsável por grande parte da

sensação de impunidade, pois ao não procurar a Polícia ou procurá-la e não

registrar a ocorrência está contribuindo para a alta taxa de impunidade.

Verifica-se, portanto, que a impunidade é mais aparente do que real,

pois muitos casos considerados como tal, constituem-se, na verdade, apenas

demora no desfecho processual e outros considerados impunes, na realidade

não chegam nem mesmo até o conhecimento da Autoridade responsável pelas

investigações iniciais, constituindo-se em uma sensação de impunidade.

Porém, o que menos importa, é se estamos presenciando a uma

impunidade real ou apenas sua sensação, o que importa é que dentre vários

outros fatores, a impunidade vem majorando paulatinamente o índice de

criminalidade no Brasil, pois ela influencia triplamente de forma negativa

nestes índices, podendo atuar como incentivo à reincidência do infrator no

mesmo crime, no cometimento de outros crimes de maior periculosidade por

este criminoso ou como incentivo ou somente como falta de freio para que

outras pessoas passem a delinqüir.

A sensação de impunidade está visivelmente presente na sociedade

brasileira e vem refletindo no aumento dos índices de criminalidade, com

poderemos verificar a seguir.

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31

2.5 DADOS ESTATÍSTICO SOBRE O AUMENTO DA CRIMINALIDADE

Há um consenso na sociedade de que a cada dia aumenta o número de

crimes. O próprio legislador pátrio dá sinais claros de que não pretende ficar

inerte quanto a essa realidade. Para exemplificar esta afirmação, cito o

primeiro parágrafo da justificação do Projeto de lei 1914/07 do Deputado

Federal Maurício Rands que visa modificar o Código de Processo Penal, a fim

de reprimir a crescente violência:

Face a realidade de violência crescente instaurada no País, carece o Estado Brasileiro, na busca de aperfeiçoamento para acompanhar e intervir nas condutas e atividades criminosas, de regras mais eficazes que promovam um ajustamento o mais preciso possível, à necessidade de celeridade do processo de enfrentamento, repressão e punibilidade ao crime.41

Vejamos agora dados oficiais que ratificam esta triste realidade

brasileira. O Governo do Estado de São Paulo apresenta em seu site um

comparativo de ocorrências registradas naquele Estado no primeiro trimestre

de 1997 e 2007, sendo que neste período houve um aumento de mais de 70%

em quase todos os delitos analisados. Abaixo temos tais dados expostos lado

a lado para melhor visibilidade42.

41 http://www.camara.gov.br. Acesso em: 21 abril. 2008 42 http://www.ssp.sp.gov.br/estatisticas/plantrim/2007-01.htm. Acesso em: setembro 2008

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32

QUADRO COMPARATIVO ENTRE A QUANTIDADE DE OCORRÊNCIAS POLICIAIS REGISTRADAS NO ESTADO DE SÃO PAULO NO PRIMEIRO TRIMESTRE DOANO DE 1997 E 2007.

TIPOS DE DELITOS ANO 1997 ANO 2007 Delitos contra pessoa 99.380 161.861 Delitos contra o patrimônio 169.575 283.965 Delitos contra os costumes

3.829 3.083

Entorpecentes 5.629 10.142 Total 278.413 459.051

Fonte:Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, setembro de 2008.

No Estado do Rio de Janeiro, o Instituto de Segurança Pública - ISP

divulgou recentemente um estudo onde aponta que nos últimos oito anos o

número de mortos em confronto com a Policia subiu em todos eles,

culminando com a incrível marca de 694 mortes oficiais no ano de 2007 contra

172 em 2000. Exatamente igual ocorreu com o número de registro de

ocorrência que também aumentaram em todos os anos e que em 2007 atingiu

o pico de 314.594 casos contra 215.715 em 200043.

O Estado do Rio de Janeiro presenciou no ano de 2010 uma diminuição

de alguns crimes, sobretudo os praticados com violência real. Por exemplo, o

número de homicídios dolosos teve queda de 16,8% em setembro de 2010.

Foram 360 casos, contra 433 no mesmo mês de 2009. A estatística, divulgada

pelo Instituto de Segurança Pública mostra ainda uma queda no roubo de

veículos: o crime caiu 13,8%, em relação a setembro do ano anterior(2009).

Porém, também foi observado um crescimento significativo de outros tipos de

crimes como o furto, conforme dados citados no Jornal Extra de 18 de

novembro de 2010(em anexo). Tal fato possui ligação direta com a instalação

43 http://www.isp.rj.gov.br/Conteudo.asp?ident=75 Acesso em: setembro 2008

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33

das Unidades de Polícia Pacificadora que embora tenha trazido avanços

significativos para segurança pública no Estado do Rio de Janeiro, é

insuficiente como política única de segurança pública, pois o princípio básico

de atuação destas Unidades é voltado para o policiamento ostensivo, visando

evitar o cometimento de crimes. Porém algumas perguntas devem ser

respondidas: o que fazer depois que o crime ocorre? Quais as medidas que

devemser adotadas para evitar a migração do tipo de crime? A resposta para

estas duas perguntas pode ser a mesma: fortalecimento da investigação

policial, com a necessária reformulação do inquérito.

Parece claro que, pelo menos em números absolutos, sem levarmos em

conta qualquer conjuntura de momento ou política de segurança pública,

houve um aumento significativo no número de crimes no Estado do Rio de

Janeiro nos últimos dez anos.

CAPÍTULO 3

PROPOSTA DE AUMENTO NA EFICIÊNCIA DO INQUÉRITO POLICIAL

3.1 O INQUÉRITO POLICIAL COMPARADO

Utilizando o direito comparado no que tange à atribuição para conduzir as

investigações preliminares, observamos a predominância de dois tipos: o

Inglês, pelo qual a polícia detém o poder de conduzir as investigações

preliminares e o Europeu-continental, onde o Ministério Público conduz a

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34

indagini preliminari, diretamente ou por intermédio do auxílio da Polícia

Judiciária.44

Na vertente inglesa dois órgãos distintos devem funcionar, sendo um a

Polícia, responsável pela investigação preliminar e outro que tem a função de

promover a acusação e atuar em sede processual(Serviço de Proteção a

Coroa – CPS). Sobre o assunto Mauro Fonseca Andrade expõe:

Entendendo que a investigação e promoção da ação penal não podem se prestar a um só órgão, o direito inglês, através do Prosecution of Offence Act, de 1985, restringiu a atuação da parte acusadora somente à fase processual. Assim, dois órgãos distintos devem existir – um voltado à investigação policial, e outro voltado à atuação em nível processual, promovendo a acusação criminal.45

Cabe ressaltar que embora, em uma primeira impressão, o legislador

inglês atribuiu pouca participação do Ministério Público na condução da

investigação, não é bem assim, pois até 1985, o direito inglês não previa a

existência do Ministério Público ou de qualquer outro acusador público com

esta estrita incumbência. Antes dessa data, o princípio reitor do processo penal

inglês era o da acusação popular, permitindo que os processos penais fossem

iniciados pelo próprio cidadão, que tinha a capacidade postulatória vinculada

ao exercício de sua cidadania. O direito à realização de uma acusação privada

era tido como anterior à possibilidade de o Estado assim fazê-lo. 46 A respeito

do tema Mauro Fonseca Andrade assim leciona:

O Prosecution of Offence Act, criado em 1985, não só se restringiu a atuação da parte acusadora à fase processual. Na verdade, se criou, com a finalidade de ser parte acusadora, o Serviço Real de Persecução(Crown Prosecution Service) –

44 GRANZOTTO, Cláudio Geoffroy. Investigação direta pelo Ministério Público. Rio de Janeiro: Letra Legal, 2006. p 49. 45 ANDRADE, Mauro Fonseca. Ministério Público e sua investigação Criminal. Porto Alegre: Fundação Escola Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul, 2001.p 37 46 Ibdem.p. 38

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leia-se Ministério Público, retirando da polícia judiciária parcela de tal incumbência. 47

Não bastasse isso, atualmente o direito inglês vem adotando o mesmo

princípio de relacionamento entre o Ministério Público e a polícia judiciária

encontrada no Brasil, ou seja, apesar de não dirigir o trabalho policial, o

Parquet inglês possui como atribuição, aconselhar a polícia e revisar a decisão

de indiciamento por ela tomada. Segundo Andrade, isto só vem a demonstrar

que o processo penal inglês caminha para a adoção do modelo adotado pelo

sistema continental.48

Neste segundo sistema encontramos países como Itália, Alemanha,

França e Portugal, dentre outros. Na Itália, a investigação preliminar está a

cargo do Ministério Público, tendo a sua disposição a polícia judiciária, sendo

que no modelo atual, cabe ao Ministério Público a procura de todos os

elementos probatórios, quer incriminem ou favoreçam o investigado.

Nesse sentido, Fauzi Hassan Chouckr, citado por Cláudio Granzotto se

manifesta sobre as atribuições do Parquet durante a investigação preliminar da

seguinte forma:

O Ministério Público é dirigente da investigação preliminar, ressaltando caber ao Parquet nessa fase, inclusive, a produção de meios de prova que eventualmente sirvam para a defesa daquele que poderá a se réu na futura ação penal, desde logo evitando-se qualquer nomenclatura que possua indicar tratar-se essa etapa de um verdadeiro momento de formulação da acusação.49

47 Ibdem.p. 39 48 Ibdem.p. 41 49 CHOUCKR, Fauzi Hassan apud GRANZOTTO, Cláudio Geoffroy Investigação direta pelo Ministério Público. Rio de Janeiro: Letra Legal, 2006. p 57.

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No sistema alemão, o órgão ministerial, além da exclusividade da ação

penal, também possui monopólio da investigação preliminar, orientando a

polícia. Mauro Fonseca Andrade, sobre a investigação preliminar alemã expõe

o seguinte:

Desta forma, prevê a StPO, em seu § 160 (1), que está a investigação criminal a cargo do Ministério Público, possuindo ele uma gama enorme de poderes e possibilidades para bem desempenhar esta tarefa, entre as quais podemos citar a de dirigir o trabalho da polícia e, em nome do princípio da oportunidade, sequer dar seguimento a ela (§ 153). Por isso, é o Ministério Público alemão reconhecido como o “dueño del procedimiento de investigación”50

Na prática, a Polícia realiza grande parte da investigação, pois segundo

o parágrafo 163 do Código de Processo Penal Alemão(StPO) a Polícia pode

intervir, por iniciativa própria, em casos urgentes, para evitar o

desaparecimento da prova, como também por determinação do Ministério

Público.51

Na França que também utiliza o sistema misto de instrução, as

autoridades de Polícia judiciária funcionam sob direção do Ministério Público.

Quando o fato já está na fase de instrução preparatória, de responsabilidade

do Juiz de Instrução, a Polícia Judiciária atua sob orientação dessa autoridade

judicial. Em síntese, na fase meramente policial, não tem a autoridade policial

o poder, por exemplo, de proceder buscas domiciliares e de apreender objetos

50 ANDRADE, Mauro Fonseca. Ministério Público e sua investigação Criminal. Porto Alegre: Fundação Escola Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul, 2001.p 50 51 GRANZOTTO, Cláudio Geoffroy. Investigação direta pelo Ministério Público. Rio de Janeiro: Letra Legal, 2006. p 59.

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e coisas do suspeito, e frequentemente o relatório é concluído sem que o

indivíduo investigado tenha conhecimento de que é suspeito52

Em Portugal, a instrução preparatória é secreta e fica sob

responsabilidade do Ministério Público, sendo a Polícia Judiciária órgão

auxiliar.

Igualmente como na Itália, os promotores pertencem ao poder

Judiciário, sendo considerados Magistrados por expressa disposição

constitucional, porém não possuem poder jurisdicional.53

Analisando e confrontando as duas vertentes( sistema inglês e

continental ), pode-se afirmar que o legislador brasileiro optou pelo sistema

acusatório em que há uma diversidade de funções em relação aos órgãos

atuantes na investigação preliminar. Neste aspecto, Antônio Evaristo Moraes

Filho, citado por Granzotto, leciona que:

Entre os dois sistemas – o inglês e o continental – o legislador brasileiro optou por aquele que estabelece uma diferenciação de funções, incumbindo à polícia a realização do inquérito, ainda que admitida certa vigilância por parte do Ministério Público. Enquanto para este último ficou atribuída a função de promover a ação pública, em regra com assento nos elementos coligidos pela polícia judiciária.54

3.2 REDEFINIÇÃO DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO

INQUÉRITO POLICAL.

52 SILVA, Jorge da. Controle da Criminalidade e Segurança Pública na nova ordem constitucional. Rio de Janeiro: forense, 2008. p 38 53 GRANZOTTO, Cláudio Geoffroy. Investigação direta pelo Ministério Público. Rio de Janeiro: Letra Legal, 2006. p 62.

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Os debates sobre a ineficiência do inquérito policial permitem a proposição

de análises acerca do papel do Ministério Público como instituição capaz de

garantir o devido processo legal a partir da fase policial. O Ministério Público no

Brasil constitui-se em um dos órgãos previstos na Constituição Federal de

1988, cujas funções são essenciais à Justiça, conforme o previsto no artigo

127 da Carta Magna: “O Ministério Público é instituição permanente, essencial

à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do

regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.55

Já o artigo 129 VII da Constituição Brasileira menciona ser função do

Ministério Público “exercer o controle externo da atividade policial, na forma da

lei complementar mencionada no artigo anterior”

Pela forma que foi redigido os dois artigos mencionados e pela importância

que foi conferida ao Ministério público, pode-se afirmar que havia entre os

constituintes a idéia da necessidade de se instituir mecanismos de controle

externo acerca da legalidade dos atos praticados no inquérito policial. Sobre o

assunto Paulo Rangel disserta o seguinte:

Hoje, dentro de um devido processo legal, a dignidade da pessoa humana não pode sofrer restrições que não as previstas em lei. A autoridade policial primeiro investiga(principio da verdade processual) para depois, se necessário for, representar pela custódia cautelar do indiciado. Porém, tudo sob os lhos atentos do Ministério Público. Disto isto, verifica-se que o papel institucional do Ministério Público não significa ingerência nos assuntos interna corporis da polícia, muito menos subordinação desta ao Parquet. Mas sim, controle da legalidade dos atos praticados no inquérito

54 FILHO, Antônio Evaristo de Moraes apud GRANZOTTO, Cláudio Geoffroy Investigação direta pelo Ministério Público. Rio de Janeiro: Letra Legal, 2006. p 63. 55 VADE MECUM RT – 2. ed. São Paulo; ed. Revista dos Tribunais, 2008. p 25

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policial e/ou das diligências realizadas visando a instauração deste. 56

Porém, na prática, o trabalho do Ministério Público fica delimitado pela

atuação policial, uma vez que o Parquet não tem como conhecer todos os

aspectos do crime, senão pelo inquérito policial. O Projeto de lei nº 156/2009

que trata da reforma processual penal não visou redefinir o papel do Ministério

Público nesta fase, ratificando, conforme é observado nos próprios itens 1 e 2

da justificativa apresentada pela comissão de juristas que elaborou o

anteprojeto de lei 156/09, exposta da seguinte forma:

Não bastasse, é de se ter em conta que o Ministério Público mereceu tratamento constitucional quase equiparável à magistratura, notadamente em relação às garantias institucionais da inamovibilidade, da vitaliciedade e da irredutibilidade de vencimentos. Assim, seja do ponto de vista da preservação do distanciamento do julgador, seja da perspectiva da consolidação institucional do Parquet, não há razão alguma para permitir qualquer atuação substitutiva do órgão da acusação pelo juiz do processo. Não se optou pelo juiz inerte, de resto inexistente nos países de maior afinidade processual com o Brasil, casos específicos de Portugal, Itália, Espanha e Alemanha, e que também adotam modelos acusatórios, mas, sim, pelo fortalecimento das funções de investigação e, assim, das respectivas autoridades, e pela atribuição de responsabilidade processual ao Ministério Público57.

Porém outros projetos de lei ao longo da história já foram elaborados,

com o objetivo de prestar ao Ministério Público maior participação no inquérito

Policial e por vezes, até atuando como responsável direto pelo procedimento,

como pode ser observado, por exemplo, no PL 4.209/01. Ponto relevante do

projeto é que o princípio da ampla defesa passaria a ser exercido já na fase

56 RANGEL, Paulo Direito Processual Penal. 11.ed. Rio de Janeiro. Lúmen Júris.2006 p.91 57 PROJETO LEI 156/09, legis.senado.gov.br. acesso em 22dez.2010

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extra judicial, afastando o caráter inquisitorial do inquérito e acabando com a

justificativa de que o indiciado não poderia se defender, por ainda não ser

objeto de acusação, pois conforme a segunda parte do item 2 da exposição de

motivos “a defesa é assegurada a partir do momento em que o investigado

passa à condição de indiciado; e o ofendido assume, igualmente, papel de

relevância, podendo exercer diversas iniciativas ao longo da investigação.”58

Cabe ressaltar, que um tema polêmico e que não foi mencionado no PL

4.209/01 é a atuação do Ministério Público diretamente nas investigações.

Parte da doutrina entende que o Ministério Público, não deve se envolver

diretamente nas investigações, pois esta não é sua atribuição constitucional ou

porque o Parquet passaria a receber as mesmas críticas que hoje são

endereçadas as Polícias Judiciárias. Sobre o assunto, Fernando da Costa

Tourinho Filho expõe o seguinte:

Quanto à entrega da chefia das investigações preparatórias ao Ministério Público não se afigura de boa política criminal, uma vez que, daqui a alguns anos, o Promotor de Justiça estará sofrendo as mesmas críticas que fazem a alguns Delegados... Se o Promotor têm a mesma formação universitária, porque a substituição? Não faz sentido.59

Cláudio Geoffroy Granzotto também é contrário a possibilidade do

Parquet desenvolver a investigação preliminar, pois julga faltar atribuição

constitucional e legal, defendendo seu posicionamento da seguinte forma:

Na verdade, da mesma forma que no modelo inquisitivo eram atribuídas ao juiz diversas funções(julgar, acusar e defender o réu), estar-se-ia pretendendo a mesma coisa agora, porém,

58 http://www.camara.gov.br. Acesso em: 28 jan. 2011 59 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa, Manual de Processo Penal. 4.ed.. São Paulo: Saraiva, 2002. p 98.

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com a figura do promotor inquisidor, podendo este acumular funções incompatíveis. Cumpre salientar que não se pugna por uma instituição ministerial inerte, distante das investigações preliminares. Aliais, a própria sociedade reconhece sua relevância, todavia, exige desse mesmo órgão o cumprimento dos princípios que estão a nortear o Estado democrático de Direito, mormente o do devido processo legal, que veda ao Parquet, por falta de atribuição constitucional e legal, investigar crimes, salvo os perpetrados por membros de sua instituição60.

Fernando Capez pertence a outra parte da doutrina que defende a

possibilidade do Ministério Público desenvolver as investigações preliminares.

Segundo ele “a lei complementar federal n.75/93(do MP da União), em seu

art.8º, assegura expressamente o Ministério Público realizar diretamente

diligências investigatórias”61

Para Capez, “quem pode mais pode menos”, ou seja, se o Ministério

Público pode oferecer a própria acusação formal em juízo, decerto que pode

obter os dados indiciários que subsidiem tal propositura. 62 O doutrinador

ressalta, ainda, que a atividade investigatória jamais foi exclusiva da Polícia,

tanto que, em nosso ordenamento, temos também exercendo tal função: (a) a

ABIN( Agência Brasileira de Inteligência); (b) a CVM(Comissão de Valores

Imobiliários); (c) o Ministério da Justiça, por meio do COAF (Comissão de

Controle de Atividades Financeiras); (d) as Corregedorias da Câmara e do

Senado Federal; (e) os Tribunais de Contas da União, dos Estados e dos

Municípios; (f) a Receita Federal. Não podendo, portanto, excluir o Ministério

Público desse rol.63

60 GRANZOTTO, Cláudio Geoffroy. Investigação direta pelo Ministério Público. Rio de Janeiro: Letra Legal, 2006. p 68. 61 CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 105 62 Ibdem. p 107 63 Ibdem. p 109

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Julio Fabrini Mirabete também considera possível o Ministério Público

desenvolver diretamente as investigações preliminares. Segundo ele “tem o

Ministério Público legitimidade para proceder as investigações e diligências,

conforme determinarem as leis orgânicas estaduais”64

Percebe-se que realizando diretamente as investigações preliminares ou

não, o Parquet necessita atuar mais diretamente no inquérito policial,

principalmente de forma a assegurar a ampla defesa já na fase pré-judicial,

favorecendo assim a economia processual e a celeridade na aplicação da

justiça.

3.3 A LAVRATURA DO TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA

PELAS POLÍCIAS MILITARES

A lei 9.099/95 que dispõe sobre os Juizados Especiais cíveis e criminais

foi criada tomando por base os critérios da oralidade, simplicidade,

informalidade, economia processual e celeridade, que visa proporcionar uma

justiça mais econômica e ágil, conforme menciona o próprio artigo 2º da

referida Lei.

Quanto aos motivos que levaram nossos legisladores a criarem tal

dispositivo, percebe-se pelo próprio texto legal que houve uma preocupação

com a lentidão do judiciário e a sensação de impunidade que tal atraso tende a

gerar. Ismar Estulano Garcia expõe este assunto da seguinte forma:

As críticas contra a lentidão do Judiciário e a impunidade dos infratores sensibilizaram os constituintes brasileiros, resultando

64 MIRABETE, Julio Fabbrini, Processo Penal.18 ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 59

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na previsão constitucional de dispositivo que permitisse a apuração de pequenas infrações penais, através de procedimentos oral e sumaríssimo. O assunto foi esculpido na Carta Magna de 1998(art. 98 I)65 Art 98 - A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I – Juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau. 66

Atendendo os critérios acima citados, sobretudo o da celeridade, o

artigo 69 da lei 9.099/95 menciona que “a autoridade policial que tomar

conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará

imediatamente para o Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-

se as requisições dos exames periciais necessários.” Neste artigo é que

encontramos a divergência quanto a possibilidade da Polícia Militar

confeccionar ou não os Termos Circunstanciados de Ocorrência – TCO, uma

vez a expressão “autoridade policial” seria, para parte da doutrina, exclusiva

dos Delegados, enquanto para outra parte seria qualquer um investido em

função policial, ou seja, tanto Policial Civil quanto Policial Militar. Esta segunda

corrente baseia-se no previsto pela Comissão Nacional de interpretação da lei

9.099/95 que entendeu que “a expressão autoridade policial referida no artigo

69 compreende quem se encontra investido em função policial”. 67 Também

existem outros posicionamentos favoráveis à lavratura do TCO pelas Polícias

Militares, como por exemplo, o provimento nº 04/99, da corregedoria do

65 GARCIA, Ismar Estulano. Procedimento Policial-Inquérito. 7ª ed. Goiânia: AB, 1998, p. 224. 66 VADE MECUM RT – 2. ed. São Paulo; Editora Revista dos Tribunais, 2008. p 60. 67 http://www.pm.sc.gov.br Acesso em: 28 out. 2008

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Tribunal de Justiça de Santa Catarina que informa que nada obsta o

conhecimento de termo circunstanciado realizado pela Polícia Militar, e a Ação

Direta de Inconstitucionalidade nº 70014426563 julgado pelo Órgão Especial

do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, proposta com o objetivo de ver

declarada a inconstitucionalidade da portaria nº 172/00, do Secretário de

Justiça e de Segurança do Estado, que permite a lavratura de Termos

Circunstanciados pela Brigada militar, tendo a Corte concluído pela

improcedência da ADIn por 19 votos a seis.68

Porém não é objeto do presente estudo tais divergências doutrinárias,

mas sim, demonstrar que tal procedimento já está sendo utilizado em alguns

Estados brasileiros, bem como os benefícios que a lavratura do TCO pela

Polícia Militar trás para o cidadão.

O TCO já é lavrado pela Polícia Militar em vários Estados, como Rio

Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul69 e de

forma experimental pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro – PMERJ,

no ano de 2005.

Sobre os benefícios que a lavratura do TCO pelas Polícias Militares

proporciona à Justiça e conseqüentemente ao cidadão, podemos destacar a

celeridade no desfecho das ocorrências policiais, uma vez que o atendimento

ao cidadão é feito no local da infração, não necessitando, assim, que este se

desloque até a Delegacia. Tal afirmativa já foi constatada no Estado do Rio de

Janeiro, conforme reportagem do jornal Extra:

A PM de São Gonçalo está realizando, em caráter experimental, procedimento inédito no RIO. Há 15 dias, com

68 Ibdem. 69 Ibdem.

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autorização do Juizado Especial Criminal, os registros de ocorrência de menor potencial ofensivo estão sendo feitos diretamente pelo 7º BPM e depois enviados à Justiça. Segundo o Comandante do batalhão, Coronel Ronaldo Menezes, o tempo gasto para registrar os crimes nas Delegacias que era de quatro horas, foi reduzido para menos de uma hora.70

Parece óbvio que também há redução na sensação de impunidade, pois

as partes envolvidas saberão na hora e no local da infração os

desdobramentos decorrentes do fato, inclusive com o agendamento da

audiência Judicial, o que reforçaria a idéia de que o crime não compensa. Tal

fato pode ser exemplificado pela reportagem do Jornal Extra datado de 06 de

setembro de 2005:

Vítima de ameaça do ex-marido, Arlete da Conceição Gomes, de 51 anos, foi uma das 43 pessoas que foram atendidas pelo TCO, e considera positiva a ação da PM: no mesmo dia em que os policiais estiveram na minha casa, a audiência com o juiz foi marcada para 30 dias. Nas outras duas vezes que fui à delegacia, o caso só foi para Justiça em cinco meses. 71

O argumento utilizado por aqueles que são contrários a lavratura do

TCO pela Polícia Militar é de que esta Corporação estaria usurpando função

exclusiva da polícia Civil ao invés de desenvolver sua atribuição constitucionais

que é de Polícia Preventiva. Porém é justamente ao contrário, uma vez que

com a redução do tempo de envolvimento das guarnições policiais militares

nas ocorrências, abre-se a possibilidade de aumentar o policiamento nas ruas,

pois não haveria a necessidade do deslocamento da guarnição até a

delegacia.

70 Menos Burocracia,Jornal Extra, Rio de Janeiro,06/09/2005, p 10 71 Ibdem.

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Rivalidades históricas a parte, tanto a Polícia Militar quanto a Polícia

Civil deveriam unir esforços para transformar a, ainda embrionária, lavratura do

Termo Circunstanciado de Ocorrência pelas Polícias Militares em realidade,

pois aumentaria o policiamento preventivo e principalmente, liberaria o efetivo

da Polícia Civil para realizar sua atribuição principal que é a apuração das

infrações penais.

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CONCLUSÃO Diante do exposto, seria leviano apontar o inquérito policial como o

único responsável pelo aumento da taxa de criminalidade. Pelo contrário, tal

procedimento é mais vítima do que algoz, pois foi concebido durante o período

ditatorial e totalitarista do estado novo e ainda guarda as características

daquela época, além do que outros fatores contribuem para a ineficiência

deste procedimento, tal como sucateamento do aparelho policial, deficiência

nas investigações periciais, má formação dos policiais, escassez de instrução

de qualificação, falta de investimento na área de tecnologia, inteligência e

segurança pública.

Porém, é inegável que o inquérito policial não cumpre eficientemente

com a sua finalidade, que é de apurar as circunstâncias do fato delituoso e sua

autoria, pois é comprovado através de dados estatísticos oficiais que o número

de crimes solucionados através dos inquéritos policiais é baixíssimo e que, em

contrapartida, os índices de criminalidade aumentam gradativamente.

Outro ponto que evidencia a ineficiência do Inquérito é seu valor

probatório, pois como as provas obtidas em sede policial devem ser

reavaliadas em sede judicial, há uma demora na aplicação da justiça o que

pode causar na população uma sensação de impunidade, servindo de estímulo

para o cometimento de novos crimes, o que é inconcebível, pois o direito

penal, de forma ampla, serve justamente para coibir novas condutas

delituosas.

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Nossos legisladores demonstram estar cientes da necessidade de

mudança nas investigações preliminares, como evidencia o projeto de lei

4.209/01 que visa dar mais celeridade ao inquérito policial, redefinir o papel do

Ministério Público nesta fase e principalmente mudar o caráter inquisitorial

deste instituto, abrindo a possibilidade para que os princípios constitucionais do

contraditório e da ampla defesa possam ser utilizados já na fase pré-judicial.

Algumas medidas para aumentar a eficiência do inquérito policial

poderiam ser implantadas de imediato, como por exemplo, a lavratura do

Termo Circunstanciado de Ocorrência pelas Polícias Militares, que diminuiria o

tempo de empenho dos policiais militares nas ocorrências, liberando os

mesmos para o policiamento preventivo e os policiais civis para a apuração

das infrações penais, duas medidas que, em uma análise superficial, ajudariam

a diminuir os índices criminais.

Percebe-se, por fim, que mesmo aqueles que defendem o atual modelo

de inquérito policial, consideram necessárias as mudanças para enquadrá-lo

nos preceitos previstos na Constituição Federal de 1988, de maneira que

efetivamente cumpra sua função social e auxilie de forma eficiente na

aplicação do processo judicial.

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 Reportagens sobre aumento dos índices criminais;

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ANEXO 1

REPORTAGEM SOBRE AUMENTO DOS ÍNDICES CRIMINAIS

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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QUEDA DE CRIMES, Jornal Extra, Rio de Janeiro,06/09/2010

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BIBLIOGRAFIA CITADA

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CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

GARCIA, Estulano. Procedimento Policial-Inquérito. 7ª ed. Goiânia: AB, 1998.

DIAS, Jorge de Figueiredo. Criminologia o Homem Delinqüente e a Sociedade Criminógena. 2ª ed.: Coimbra, 1997

GRANZOTTO, Cláudio Geoffroy. Investigação direta pelo Ministério Público. Rio de Janeiro: Letra Legal, 2006

INSTITUTO DE SEGURNÇA PÚBLICA. Estatísticas. Disponível em www.isp.rj.gov.br/Conteudo.asp?ident=75. Acesso em: 23 set. 2008

LOPES JÚNIOR, Aury. Introdução Crítica Ao Processo Penal. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004.

MENOS BUROCRACIA,Jornal Extra, Rio de Janeiro,06/09/2005

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO............................................................................................2

AGRADECIMENTO............................................................................................3

DEDICATÓRIA...................................................................................................4

RESUMO............................................................................................................5

METODOLOGIA.................................................................................................6

SUMÁRIO...........................................................................................................7

INTRODUÇÃO....................................................................................................8

CAPÍTULO I

CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O INQUÉRITO POLICIAL....................10

1.1 Breve abordagem histórica.........................................................................10

1.2 O inquérito policial no ordenamento jurídico...............................................12

1.3 Conceito de inquérito policial......................................................................14

1.4 Características que regem o inquérito policial............................................16

1.5 O inquérito policial e a polícia judiciária......................................................18

CAPÍTULO II

CRÍTICAS AO ATUAL MODELO DE INQUÉRITO POLICIAL..........................19

2.1 Os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa no

inquérito policial................................................................................................19

2.2 O valor probatório do inquérito policial........................................................22

2.3 A “cifra negra” e a estatística de elucidação de delitos através do inquérito

policial...............................................................................................................23

2.4 “Sensação de impunidade” e o aumento da criminalidade.........................28

2.5 Dados estatísticos sobre o aumento da criminalidade................................30

CAPÍTULO III

PROPOSTAS DE AUMENTO NA EFICIÊNCIA INQUÉRITO POLICIAL..........33

3.1 O inquérito policial comparado....................................................................33

3.2 Redefinição da atuação do Ministério Público no inquérito policial............36

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3.3 A lavratura do Termo Circunstanciado de Ocorrência pelas Polícias

Militares.............................................................................................................42

CONCLUSÃO.................................................................................................. 46

ANEXOS...........................................................................................................47

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA........................................................................51

BIBLIOGRAFIA CITADA...................................................................................52

ÍNDICE..............................................................................................................55

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