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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE OS ATOS ADMINISTRATIVOS Por: Diego Queirós César Orientador: Professor: Anselmo Souza Niterói 2012

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · 2012. 8. 26. · RESUMO Ao desempenhar a função administrativa com o fito de satisfazer as necessidades coletivas primárias,

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

OS ATOS ADMINISTRATIVOS

Por: Diego Queirós César

Orientador:

Professor: Anselmo Souza

Niterói

2012

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

OS ATOS ADMINISTRATIVOS

Apresentação de monografia à Universidade Cândido

Mendes como condição prévia para conclusão do curso de

Pós-Graduação em Direito Público e Tributário

Por: Diego Queirós César

3

AGRADECIMENTOS

A Deus não só por este trabalho, mas por tudo em

minha vida, à minha mãe que contribuiu muito

para o meu êxito .

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe Elizabeth pelo

amor e carinho dado a mim em todo o tempo e à

minha noiva pelo apoio ilimitado.

5

RESUMO

Ao desempenhar a função administrativa com o fito de satisfazer as

necessidades coletivas primárias, a Administração Pública utiliza-se de um

artifício peculiar, que lhe garante um conjunto de prerrogativas necessárias ao

alcance das finalidades estatais: o denominado regime jurídico-administrativo.

É o regime jurídico-administrativo que assegura à Administração Pública a

possibilidade de interagir com os particulares em condição de superioridade,

podendo infligir-lhes decisões administrativas independentemente da anuência

ou da aquiescência, porquanto são necessárias ao alcance das finalidades

estatais. Com o objetivo de materializar as funções administrativas, ou seja, para

realmente colocar em prática a vontade da lei, a Administração irá editar várias

espécies de atos, cada um com uma finalidade específica, a exemplo de uma

portaria, um decreto de nomeação de servidor, uma ordem de serviço, uma

certidão negativa de débitos previdenciários, uma instrução normativa, uma

circular, entre outros.

Embora seja regra geral, é válido alumiar que nem sempre os atos

editados pela Administração estarão sob a égide do direito público, pois,

depende do fim ao qual se destina legalmente, pois alguns atos podem ser

executados sob o regime do direito privado.

6

METODOLOGIA

A pesquisa do assunto terá como principais referências as obras: “Direito

Administrativo Brasileiro – Autor: Meirelles, Hely Lopes, “Manual de Direito

Administrativo – Autor: Carvalho Filho, José dos Santos e “Direito Administrativo

– Autor: Pietro, Maria Sylvia Zanella Di. O estudo abrangerá também obras de

outros autores, artigos e textos encontrados na internet, condizentes ao assunto

a ser pesquisado. E, de forma paralela, serão utilizados dispositivos legais, em

específico, a Constituição da República Federativa do Brasil e legislação

complementar.

7

SUMÁRIO

Folha de Rosto................................................................................................02

Agradecimentos..............................................................................................03

Dedicatória.......................................................................................................04

Resumo............................................................................................................05

Metodologia.....................................................................................................06

Sumário............................................................................................................07

Introdução........................................................................................................09

Capítulo I – Conceito de Ato, Fato Jurídico, Ato da Administração e Ato

Administrativo..................................................................................................10

1.1 Ato e Fato Jurídico..........................................................................10

1.2 Ato da Administração e Ato Administrativo.................................13

1.2.1 Vinculação e Discricionariedade................................................15

Capítulo II – Elementos, Atributos e Classificação do Ato

Administrativo.................................................................................................18

2.1 Elementos do Ato Administrativo................................................18

2.1.1 Sujeito Competente.....................................................................19

2.1.2 Forma............................................................................................20

2.1.3 Motivo........................................................................................... 22

2.1.4 Objeto............................................................................................23

2.1.5 Finalidade......................................................................................24

2.2 Atributos do Ato Administrativo....................................................25

2.2.1 Presunção de Legitimidade, Legalidade e de Veracidade........25

2.2.2 Autoexecutoriedade.....................................................................26

2.2.3 Imperatividade..............................................................................26

2.2.4 Tipicidade......................................................................................26

2.3 Classificação do Ato Administrativo.............................................27

2.3.1 Quanto aos Destinatários............................................................27

2.3.2 Quanto ao Alcance.......................................................................28

2.3.3 Quanto à Manifestação de Vontade............................................29

2.3.4 Quanto ao Grau de Liberdade.....................................................29

8

2.3.5 Quanto ao Objeto.........................................................................30

2.3.6 Quanto à Formação.....................................................................30

2.3.7 Quanto à Estrutura......................................................................31

2.3.8 Quanto aos Efeitos......................................................................32

Capítulo III – Modalidades de Atos Administrativos, Formação e

Efeitos..............................................................................................................33

3.1 Modalidades de Atos Administrativos..........................................33

3.1.1 Atos Normativos..........................................................................32

3.1.2 Atos Ordinatórios........................................................................34

3.1.3 Atos Negociais.............................................................................36

3.1.4 Atos Enunciativos........................................................................38

3.1.5 Atos Punitivos..............................................................................40

3.2 Formação e efeitos.........................................................................41

3.2.1 Perfeição.......................................................................................41

3.2.2 Validade.........................................................................................41

3.2.3 Eficácia..........................................................................................42

Capítulo IV – Extinção do Ato Administrativo...............................................43

4.1 Formas de Extinção........................................................................43

4.1.1 Formas de Invalidação.................................................................45

4.1.2 Anulação.......................................................................................46

4.1.3 Convalidação e Sanatória............................................................47

4.1.4 Revogação....................................................................................48

Conclusão.........................................................................................................50

Bibliografia.......................................................................................................52

Índice.................................................................................................................53

Folha de Avaliação...........................................................................................55

9

INTRODUÇÃO

O assunto atos administrativos são, seguramente, um dos tópicos mais

relevantes, e, ao mesmo tempo, mais discrepantes do Direito Administrativo. A

grande maioria dos atos executados pela Administração Pública são atos

administrativos. Obrigatoriamente, esses atos são praticados em todas as

esferas de atuação administrativa, das licitações às questões referentes aos

bens públicos. Trata-se do que pode ser chamado da “Parte Geral do Direito

Administrativo”, e sendo, devido a sua inquestionável importância, fruto de

diversos pronunciamentos judiciais.

Há de se destacar que, infelizmente, sua importância é proporcional às

divergências que os circundam. A disciplina dos atos administrativos depende

quase exclusivamente da doutrina, com a inestimável exceção da bem

formulada Lei 9.784/99 (Lei de Processo Administrativo), que lhes destina alguns

dispositivos. Finalmente, a origem da matéria é a doutrina civilista dos atos

jurídicos, cuja transposição ao Direito Administrativo é uma das grandes

reptações aos doutrinadores e estudiosos da matéria.

10

CAPÍTULO I

CONCEITO DE ATO, FATO JURÍDICO, ATO DA

ADMINISTRAÇÃO E ATO ADMINISTRATIVO

1.1 ATO E FATO JURÍDICO

Para conceituar ato administrativo, é necessário entender alguns

conceitos preliminares, tais como: fato, ato, fato jurídico, ato jurídico, fato da

administração, ato da administração e suas divergências e distinções.

Inicialmente, conceitua-se fato como qualquer acontecimento do mundo

em que se vive. Toda a sucessão de eventos e/ou condutas que integram a vida

são fatos.

Já o conceito de ato é um pouco mais restrito que o de fato. Ato é toda

conduta imputável ao homem, que decorre de uma manifestação de vontade,

isto é, de um comportamento humano, voluntário.

Estabelecidos os conceitos de fato e de ato, passa-se a analisar fato

jurídico e ato jurídico.

Foi visto que tudo o que ocorre no mundo são fatos. Contudo, nem todos

os fatos têm importância para o Direito, pois alguns deles são considerados pelo

homem como mais relevantes do que outros. Assim, existem fatos que

interferem diretamente nas relações humanas e, para tanto, precisam estar

regulados por normas jurídicas. Esses fatos regulados por normas jurídicas são

considerados fatos jurídicos.

Ensina Marcos Bernardes de Mello1 que a “norma jurídica representa a

valoração de fatos feita pela comunidade jurídica”. Realmente, quando o homem

traça as regras jurídicas de convivência social trata os fatos segundo critério

axiológico, em razão dos quais é medida a importância que possuem para o

relacionamento humano

1 Teoria do Fato Jurídico, Plano da Existência, 12ªed., São Paulo, Editora Saraiva, 2003, p.40

11

Destarte, são denominados fatos jurídicos os acontecimentos aos quais o

Direito imputa efeitos jurídicos, ou seja, aqueles fatos importantes para o mundo

jurídico.

Segundo entendimento de Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo 2 , o

conceito de ato jurídico é mais restrito ao de fato jurídico, sendo ato jurídico o ato

humano decorrente de uma manifestação de vontade que desencadeia efeitos

jurídicos.

Nesse sentido, os eventos da natureza que não gozam de manifestação

de vontade e, por isso, não são considerados atos, recebem a denominação de

eventos materiais, pois tratam tão somente de fatos. Já os comportamentos

humanos, que são alheios ao propósito de gerar efeitos jurídicos, estão incluídos

no conceito de ato, entretanto não são atos jurídicos, porque não atingem a

órbita jurídica. São denominadas condutas materiais.

Preliminarmente, é possível admitir que, se esses fatos e atos jurídicos

forem relevantes para o Direito Administrativo, caracterizam-se como fatos e

atos administrativos.

As noções de ato jurídico e ato administrativo têm diversos pontos em

comum, como os elementos estruturais do ato jurídico, tais como: sujeito, objeto

e forma. O ato administrativo, todavia, ganha algumas qualificações especiais

como, por exemplo: o sujeito precisa ser agente público, o objeto deve ser

preordenado a um interesse público etc. Sendo assim, é possível concluir que o

ato jurídico é gênero do qual o ato administrativo é espécie.

Para facilitar a compreensão, citem-se alguns exemplos: são fatos

administrativos (acontecimentos relevantes para o Direito Administrativo) a morte

de um funcionário que gera a vacância de um cargo, a destruição de uma escola

pública em razão da chuva, a mudança de lugar de certo órgão público, além de

outros. De outro lado, são atos administrativos (manifestações de vontade

relevantes para essa disciplina) a aplicação de uma pena de multa em razão do

excesso de velocidade, a desapropriação de uma área privada, o tombamento

de um patrimônio de relevância histórica, entre outros.

2 Direito Administrativo Descomplicado, 14ª ed., Rio de Janeiro, Impetus, 2007, p.331

12

No entanto, esses conceitos de tornam confusos quando são citados

alguns institutos como a prescrição, a decadência ou, ainda, os atos praticados

por máquinas ou independentes da vontade do agente.

No caso da prescrição e da decadência, são institutos que produzem

efeitos jurídicos, em razão da soma de dois elementos, que são o decurso do

tempo e a inércia do titular do direito. Desse modo, não representam nem evento

da natureza nem conduta material, tendo sido reconhecidos de forma pacífica

como fatos jurídicos em sentido estrito, ou fatos jurídicos objetivos.

No que tange aos atos jurídicos ou até administrativos, dependendo da

hipótese, encontram-se situações em que não são necessariamente

comportamentos humanos voluntários, como é o caso de atos que sejam

expedidos por máquinas ou casualmente, sem que seu produtor tenha

pretendido isso, portanto, sem a intenção de gerar efeitos jurídicos. Nesses

casos, são atos ou fatos jurídicos? Como distingui-los?

Essas situações acontecem quando os serviços ou atividades públicas

são controlados por computadores como, por exemplo, as centrais controladoras

dos semáforos da cidade, hipótese em que a própria máquina emite ordens de

“pare” ou “siga”, que são atos jurídicos e administrativos, embora não decorram

de uma verdadeira manifestação de vontade humana.

Já no que se refere ao conceito de fatos administrativos, ainda existem

algumas divergências doutrinárias.

Para José dos Santos Carvalho Filho3, a noção de fato administrativo não

guarda relação com a noção de fato jurídico dada pelo direito privado, pois este

“não leva em consideração a produção de efeitos jurídicos, mas, ao revés, tem o

sentido de atividade material no exercício da função administrativa, que visa a

efeitos de ordem prática para a Administração”.

O autor cita como exemplos, a apreensão de mercadorias, a dispersão de

manifestantes, a desapropriação de bens privados, além de outros que

representam alteração dinâmica na Administração, concluindo que “a noção de

fato administrativo é mais ampla que a de fato jurídico, uma vez que, além deste,

3 Manual de Direito Administrativo, 22ª, ed., Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2009, p.91

13

engloba, também, os fatos simples”, aqueles que não repercutem na esfera de

direitos, mas estampam evento material ocorrido no seio da Administração.

De outro lado, Para Maria Sylvia Zanella Di Pietro4, se o fato não produz

qualquer efeito jurídico no Direito Administrativo, ele é denominado da

Administração.

1.2 ATO DA ADMINISTRAÇÃO E ATO ADMINISTRATIVO

Pode-se conceituar ato da administração como todo ato praticado pela

Administração Pública, mais especificamente pelo Poder Executivo, no exercício

da função administrativa, podendo ser regido pelo direito público ou pelo direito

privado. Note que esse conceito tem sentido mais amplo do que o conceito de

ato administrativo, que necessariamente, deve ser regido pelo direito público.

Os atos da administração podem ser:

a) atos privados da Administração como, por exemplo: a doação, a permuta,

a compra e venda e a locação;

b) atos materiais: que são condutas que não contêm manifestação de vontade,

consistindo apenas em uma execução, como a demolição de uma casa, a

apreensão de mercadoria, a realização de um serviço, configurando fatos

administrativos e não atos administrativos;

c) atos administrativos.

Nesse conceito, alguns doutrinadores também incluem os atos políticos,

que são atos praticados com grande margem de discricionariedade e

diretamente em obediência à Constituição, no exercício de função puramente

política, tais como: o indulto, a iniciativa de lei, a sanção e o veto. Esses atos

têm uma normatização peculiar, podendo também ser controlados pelo Poder

Judiciário, mas são praticados de modo amplamente discricionário e são

expedidos em nível imediatamente infraconstitucional.

Por essas razões, alguns doutrinadores criticam essa inclusão, alegando

que esses atos políticos estão fora do campo administrativo, pois representam

4 Direito Administrativo, 16ed. São Paulo: Editora Atlas, 2003, p.183

14

uma função de governo que não se confunde com a função administrativa, por

não cuidar de questões rotineiras da Administração, tendo um relevante caráter

governamental.

Nesse cenário, ficam excluídos do conceito de atos da administração os

atos administrativos não praticados pela Administração, como é o caso de

alguns atos praticados por concessionárias. Portanto, a noção de ato

administrativo não depende da noção de Administração Pública, porque

acontecem atos administrativos dentro e fora da Administração.

Consequentemente, existem atos administrativos que não são atos da

administração, porque não foram praticados pelo Poder Executivo, tais como os

praticados pelos Poderes Judiciário e Legislativo, quando no exercício de sua

função administrativa atípica, ou ainda, segundo alguns doutrinadores, certos

atos praticados por concessionários e permissionários de serviços públicos,

quando regidos pelo direito público, o que é bastante discutível.

No que tange ao conceito de ato administrativo, há muita divergência

doutrinária decorrente da ausência de conceituação legal, o que dá margem aos

juristas de apresentarem classificações diferentes com base em

sistematizações.

Conforme já explicado, o ato administrativo é nada mais do que um ato

jurídico, tratando-se de uma manifestação de vontade que produz efeitos

jurídicos, caracterizando-se como uma espécie do gênero ato jurídico, por ser

marcado por peculiaridades que o individualizam, como é o caso das condições

para sua válida produção, ou ainda, quanto às regras para sua eficácia.

Na tentativa de melhor definir esses atos, é possível a fixação de alguns

pontos fundamentais, tais como: a vontade que deve necessariamente emanar

de um agente público no exercício de sua função administrativa, o que distingue

do particular; seu conteúdo que deve propiciar efeitos jurídicos sempre com um

fim público; e, por fim, o regime que deve ser de direito público.

Para José dos Santos Carvalho Filho 5 , ato administrativo “ é a

exteriorização da vontade de agentes da Administração Pública ou de seus

5 Manual de Direito Administrativo,ob. Cit.,p.95

15

delegatários, nessa condição, que, sob regime de direito público, vise à

produção de efeitos jurídicos com o fim de atender ao interesse público

Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello 6 , para conceituar ato

administrativo, devem-se utilizar dois sentidos: o ato em sentido amplo e o ato

em sentido estrito.

Assim define Bandeira de Mello que o ato administrativo, em sentido

amplo é a “declaração do Estado (ou de quem lhe faça às vezes – como, por

exemplo, um concessionário de serviço público), no exercício de prerrogativas

públicas, manifestada mediante providências jurídicas complementares da lei a

título de lhe dar cumprimento, e sujeitas a controle de legitimidade por órgão

institucional”

O ato administrativo, em sentido estrito, representa uma categoria menor

de atos, associados por uma quantidade maior de traços de afinidade, isto é, o

conceito é o mesmo colocado acima, entretanto, acrescentam-se lhe duas novas

características que são a concreção e a unilateralidade. Com efeito, Ato

Administrativo é toda declaração unilateral de vontade do Estado, no exercício

de prerrogativas públicas, manifestada mediante comandos concretos

complementares da lei, expedidos a título de lhe dar cumprimente e sujeitos a

controle pelo Poder Judiciário, ficando, assim, excluídos, os atos abstratos e os

convencionais.

1.2.1 VINCULAÇÃO E DISCRICIONARIEDADE

No exercício das funções estatais, a Administração Pública goza de

diversos poderes e prerrogativas que garantem a busca do interesse público em

um patamar de supremacia em face dos interesses privados. Todavia, esses

poderes, que se materializam por meio de atos administrativos, estão limitados

pela previsão legal, como exercício do princípio da legalidade, visando impedir

abusos praticados pelos administradores públicos.

6 Curso de Direito Administrativo, 26ª ed., São Paulo: Editora Malheiros, 2009, p.381.

16

Considerando esse regramento legal que pode atingir diversos aspectos

de uma atividade determinada, de uma conduta praticada pelo agente, é

possível dividir os atos administrativos de acordo com o maior ou menor grau de

liberdade concedido pela lei e, assim, existem atos administrativos vinculados e

atos administrativos discricionários.

Os atos vinculados ou regrados são aqueles em que a Administração age

nos estritos limites da lei, simplesmente porque a lei não deixou opções. Ela

estabelece os requisitos para a prática do ato, sem dar ao administrador

liberdade de optar por outra forma de agir. Por isso, diante do poder vinculado,

surge para o administrado o direito subjetivo de exigir da autoridade a edição do

ato, ou seja, preenchidos os requisitos legais, o administrador é obrigado a

conceder o que foi requerido.

Para Celso Antônio Bandeira de Mello7, atos vinculados são “ os que a

Administração pratica sem margem alguma de liberdade para decidir-se, pois a

lei previamente tipificou o único possível comportamento diante de hipótese

prefigurada em termos objetivos”. Logo, nesse caso, o administrador não

interfere com nenhuma apreciação subjetiva.

A concessão de uma aposentadoria é exemplo de ato vinculado, além das

diversas formas de licenças expedidas, mediante alvará, tais como:a licença

para construir, a licença para exercer atividade profissional e a licença para

funcionamento de bares e restaurantes. Para esses atos, quando preenchidos

os requisitos legais, configura-se direito subjetivo à sua concessão, sendo

inclusive, passível de mandado de segurança quando denegatória a decisão.

Atos discricionários são aqueles em que a lei prevê mais de um

comportamento possível a ser adotado pelo administrador em um caso concreto.

Contudo, há margem de liberdade para que ele possa atuar com base em um

juízo de conveniência e oportunidade, porém, sempre dentro dos limites da lei.

O ato discricionário deve estar previsto em lei, inclusive cabe à própria lei

instituir e delimitar essa discricionariedade, o que pode ser feito de diversas

maneiras.

7 Curso de Direito Administrativo, Ob. Cit., p. 424.

17

A discricionariedade é identificada quando a norma confere, em seu

próprio mandamento, uma liberdade decisória que envolve o exame de

conveniência e oportunidade, ao invés de estipular um dever de praticar um ato

específico. Ou seja, quando a lei expressamente confere mais de uma

alternativa para o administrador que, em sua escolha, deve se limitar a essas

opções; caso contrário, o ato é arbitrário e, portanto, ilegal.

Conforme leciona Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo 8 , “ato

discricionário é aquele que a Administração pode praticar com certa liberdade de

escolha, nos termos e limites da lei,quanto ao seu conteúdo, seu modo de

realização, sua oportunidade ou conveniência administrativa. Diferenciando,

assim, do ato vinculado, ao qual a autoridade pública está presa à lei em todos

os seus elementos( competência, finalidade, forma, motivo e objeto).

Destarte, a discricionariedade existe em razão da complexidade e da

variedade dos problemas e visa proporcionar ao administrador, em cada caso, a

melhor escolha para o interesse público, devendo ser observados a disposição

legal e o caso concreto para a definição de sua presença.

Para exemplificar sobre atos discricionários, temos: a permissão de uso

para colocação de mesas e cadeiras nas calçadas públicas, as autorizações

também expedidas, mediante alvará, como a autorização para pesca amadora,

autorização para porte de arma, autorização para utilização de meios de

transporte que ultrapassam os limites normais de medida ou peso, além de

outros.

8 Direito Administrativo Descomplicado, 14ª ed., Rio de Janeiro, Impetus, 2007, p.358

18

CAPÍTULO II

ELEMENTOS, ATRIBUTOS E CLASSIFICAÇÃO DO ATO

ADMINISTRATIVO

2.1 ELEMENTOS DO ATO ADMINISTRATIVO

Inicialmente, é relevante ressaltar que este assunto também apresenta

uma acirrada divergência doutrinária. Por isso, e visando à melhor compreensão

da matéria, são necessárias algumas considerações iniciais.

No que tange à terminologia, a expressão elementos é a mais adotada no

Brasil. Entretanto, alguns doutrinadores preferem usar a expressão requisitos,

não existindo qualquer incorreção nessa escolha; é somente uma questão de

estilo.

Quanto à enumeração, a maioria dos doutrinadores elenca cinco

elementos ou requisitos, que são: sujeito competente, forma, motivo, objeto e

finalidade. Essa enumeração utiliza como fundamento a previsão do art.2º, da

Lei nº 4.717/65, que dispõe sobre a ação popular, cabível, além de outros

objetivos, para a invalidação de atos ilegais praticados pelos agentes públicos,

permitindo esse rol um desenho de suas linhas mais marcantes.

Contudo, é importante ressaltar o entendimento de Celso Antônio

Bandeira de Mello 9 que discorda dessa divisão, justificando que o termo

elemento sugere a ideia de parte componente de um todo, sendo esse conceito

incompatível com alguns dos elementos apontados acima, já que nem todos

podem ser considerados partes do ato, porque são aspectos exteriores a ele,

como é o do motivo e da finalidade.

9 Curso de Direito Administrativo, ob. Cit., p 384 e seguintes.

19

2.1.1 SUJEITO COMPETENTE

Os atos administrativos não podem ser praticados por qualquer pessoa. O

sujeito competente deve ser necessariamente um agente público, que é o

conceito mais amplo encontrado na doutrina, consistindo em qualquer pessoa

que exerça de forma temporária ou permanente, com ou sem remuneração, uma

função pública, devendo estar, de alguma forma, ligado à Administração Pública.

A competência para a prática de atos administrativos não se presume,

dependendo sempre de previsão legal. Normalmente, a previsão decorre de lei.

Excepcionalmente, a regra é disciplinada no texto constitucional, como ocorre

com os agentes de elevada hierarquia ou com finalidades específicas. Nessas

hipóteses, seja legal ou constitucional.

A competência representa regra de exercício obrigatório para os órgãos e

agentes públicos, sempre que caracterizado o interesse público. Portanto,

exercitá-la não é livre decisão de quem a titulariza; trata-se de um poder-dever

do administrador. Alguns doutrinadores10 preferem a expressão dever-poder, em

razão da importância. A obrigação é mais relevante que a prerrogativa, por isso

deverá vir primeiro.

Essa competência é irrenunciável, o que se justifica em razão de dois

princípios. Primeiro, porque o agente público exerce função pública, isto é,

exerce atividade em nome e interesse do povo, sendo inadmissível, em virtude

do princípio da indisponibilidade do interesse público, que o administrador

público abra mão de algo que não lhe pertence.

A delegação e a avocação de competência são possíveis quando

legalmente autorizadas, em caráter excepcional e por motivos relevantes

devidamente justificados, tendo em vista que ambas subtraem de agentes

administrativos funções normais que lhes foram atribuídas. Para fundamento

desses institutos, encontra-se à disposição o art. 12, do Decreto-Lei nº 200/67,

que dispõe sobre a Organização da Administração Pública na ordem federal,

10 Nesse sentido, Celso Antônio Bandeira de Mello, Curso de Direito Administrativo, ob. Cit., p.72

20

bem como a Lei nº 9.784/99, que disciplina procedimento administrativo em seus

arts. 11 e 15.

Deve-se observar que a delegação de competência normalmente é

realizada para agentes de plano hierárquico inferior. Todavia, a lei também a

admite para o mesmo plano hierárquico inferior, quando não existirem

impedimentos, sendo conveniente em razão de circunstâncias de índole técnica,

social, econômica, jurídica ou territorial. Essa hipótese aplica-se à delegação de

competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes (art. 12, da Lei

9.784/99).

O ato de delegação exige publicação oficial e deverá especificar as

matérias e os poderes transferidos, definindo os limites de atuação do delegado,

a duração e os objetivos da delegação, além dos recursos cabíveis e demais

ressalvas que o delegante entender convenientes.

A avocação, conforme posição de Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo11

é: “o ato mediante o qual o superior hierárquico traz para si o exercício

temporário de parte da competência atribuída originariamente a um

subordinado”.

2.1.2 FORMA

Inicialmente, é preciso lembrar que é condição para que o ato

administrativo produza efeitos, no mundo jurídico, a exteriorização da vontade, é

considerada como instrumento de sua projeção, representando elemento que

integra a própria formação do ato e é fundamental para completar o seu ciclo de

existência.

Entretanto, com o fito de que o ato administrativo seja válido, não basta a

manifestação da vontade; é preciso que seja realizada conforme as exigências

definidas pela lei, que são denominadas formalidades específicas do ato, cuja

ausência gera vício de legalidade, com sua consequente invalidação.

11 Direito Administrativo Descomplicado, ob. cit., p.337

21

Em regra, os atos administrativos representam o resultado de um

procedimento administrativo prévio, formado por uma série de atos formais que

levam a um provimento final, observando o princípio constitucional do devido

processo legal. O processo administrativo existe sempre como instrumento

indispensável para o exercício da função administrativa, considerando que tudo

que a Administração for tomar uma decisão, executar uma obra, celebrar um

contrato, editar um regulamento, o ato final é sempre precedido de uma série de

atos materiais ou jurídicos, enfim, de tudo o que for necessário para instruir,

preparar e fundamentar o ato final objetivado.

Cabe ressaltar que a forma dos atos administrativos é definida por lei, não

se admite que o administrador deixe de observá-la, sob pena de invalidação do

ato por vício de legalidade. Todavia, a adequação dessa forma legal exige

sempre uma carga de comedimento e de razoabilidade por parte do intérprete,

do aplicador da norma, para evitar exageros desnecessários.

Ainda na esteira do elemento forma, o silêncio administrativo e suas

consequências são assuntos divergentes, sendo certo que ao direito público não

se pode dispensar o mesmo tratamento do direito privado que admite o silêncio

como consentimento tácito, exceto quando a lei exigir manifestação expressa.

Para a doutrina majoritária, o silêncio administrativo não produz nenhum

efeito, salvo quando a lei, reconhecendo o dever da Administração de agir,

atribui esse resultado, admitindo-se, nesse caso, possibilidade de uma anuência

tácita, ou até, de efeito denegatório do pedido, contrariando o interesse de

peticionário. Nessas hipóteses, em que a lei atribui efeito ao silêncio, o mesmo

não decorre do silêncio, e sim previsão legal.

Para o eminente jurista José dos Santos Carvalho Filho 12 , o silêncio

caracteriza um fato administrativo e, por isso, pode produzir efeitos na ordem

jurídica, tanto para o agente que se omitiu, quanto para o administrador que

busca um provimento administrativo, não existindo, normalmente, previsão legal

para esses efeitos.

12 Manual de Direito Administrativo, ob. Cit., 97

22

2.1.3 MOTIVO

O motivo do ato administrativo representa as razões que justificam a

edição do ato. É a situação de fato e de direito que gera a vontade do agente

quando da prática do ato administrativo. Pode ser dividido em: pressuposto de

fato, enquanto conjunto de circunstâncias fáticas que levam à prática do ato, e

pressuposto de direito que é a norma do ordenamento jurídico e que vem a

justificar a prática do ato. Verificam-se, ainda, algumas hipóteses: a remoção de

um servidor público que pode ter como motivo a ausência de trabalho suficiente

no local em que está lotado; a dissolução de uma passeata tumultuosa que tem

como motivo a perturbação da ordem pública, o tumulto; ou ainda, a interdição

de uma fábrica poluente que tem como motivo a existência real de poluição da

atmosfera causada por essa empresa. Para Celso Antônio Bandeira de Mello13,

o requisito motivo é conceituado como “o pressuposto de fato que autoriza ou

exige a prática do ato” e é classificado como condição de validade do ato

administrativo.

Para a legalidade do motivo e, por conseguinte, validade do ato

administrativo é preciso que ele obedeça a algumas exigências. Primeiro, exige-

se a materialidade do ato, isto é, o motivo em função do qual foi praticado o ato

deve ser verdadeiro e compatível com a realidade fática apresentada pelo

administrador.

Segundo, é indispensável a correspondência do motivo existente que

embasou o ato com o motivo previsto na lei. Esse requisito exige a

compatibilidade entre o motivo declarado para a prática do ato e o evento que

efetivamente ocorreu, devido à situação abstrata pela lei, denominada motivo

legal.

É importante destacar também que o motivo é o fato e o fundamento

jurídico que o justificam a prática do ato, enquanto a motivação tem um enfoque

mais amplo. A motivação exige da Administração o dever de justificar seus atos,

apontando-lhes os fundamentos de direito e de fato, assim como a correlação

13 Curso de Direito Administrativo, ob. Cit., p.391

23

lógica entre esses fatos ocorridos e o ato praticado, demonstrando a

compatibilidade da conduta com a lei. Enfim, exige um raciocínio lógico entre o

motivo, o resultado do ato e a lei.

No que tange ao dever de motivar, há divergências doutrinárias. Haja

vista que parte da doutrina entende que a motivação é obrigatória para todos os

atos administrativos, enquanto outra parte defende que essa obrigatoriedade só

existe em alguns atos, sendo facultativa nas demais hipóteses.

Para José dos Santos Carvalho Filho14, a motivação não é obrigatória,

entretanto é aconselhável que ela seja realizada. Para esse autor, a

obrigatoriedade só existe quando a lei a exigir expressamente.

2.1.4 OBJETO

O objeto do ato administrativo é o seu resultado prático; é ato em si

mesmo considerado. Representa o efeito jurídico imediato que o ato produz, o

que este decide, certifica, opina, atesta. Esse elemento configura a alteração no

mundo jurídico que o ato administrativo se propõe a processar. Para melhor

identificação desse elemento, verifiquem-se os exemplos: em uma licença para

construir, o objeto é o “permitir que o interessado edifique legitimamente, o

concedo a licença”; na aplicação de uma multa, o objeto é a “aplicação efetiva

da penalidade”; em uma nomeação, o objeto é o “admitir o indivíduo no serviço

público, atribuir um cargo a alguém”.

Portanto, o objeto corresponde ao efeito jurídico imediato do ato, ou seja,

o resultado prático causado em uma esfera de direitos. Representa uma

consequência para o mundo fático em que vivemos e, em decorrência dele,

nasce, extingue-se, transforma-se um determinado direito.

Para que o objeto do ato administrativo seja válido, exigem-se três

requisitos:

a) licitude: o objeto do ato administrativo precisa ser lícito. Em se tratando de

atividade administrativa, é necessário mais do que a não contradição à lei; é

14 Manual de Direito Administrativo, ob.cit., p. 108-112

24

preciso que o ato seja permitido pela lei, em razão do princípio da legalidade

que, para o Poder Público, segue critério de subordinação à lei. O administrador

só pode fazer o que está autorizado ou determinado por lei. Portanto, o simples

fato de o objeto não estar previsto em lei já é ilícito para o direito público;

b) possibilidade: o objeto deve ser possível, isto é, suscetível de ser realizado;

c) determinação: o objeto deve ser definido, determinado ou, ao menos

determinável, previsão do atual Código Civil, art. 104,II.

Para Celso Antônio Bandeira de Mello 15, a tomada de decisão deve ser

decidida em dois aspectos: inicialmente, tem-se a decisão propriamente dita,

v.g., o “conceder” o “deferir”, isto é, a própria medida que produz a alteração na

ordem jurídica que representa o conteúdo do ato administrativo, definido como

elemento na divisão do autor. Para esse ensinamento, o elemento é um aspecto

interno do ato, representando uma condição indispensável para a existência de

um ato jurídico.

2.1.5 FINALIDADE

A finalidade do ato administrativo é o bem jurídico objetivado pelo ato, o

que se visa proteger com uma determinada conduta. Por exemplo, na nomeação

de um servidor, o objetivo é aumentar o quadro da Administração, buscando dar

maior eficiência ao serviço. Esse elemento representa o fim mediato do ato

administrativo que deve ser sempre o interesse público, o bem comum.

Portanto, se o ato administrativo perseguir interesses ilícitos ou contrários

ao interesse coletivo, estará eivado de vício de finalidade, denominado desvio de

finalidade, e deverá ser retirado do ordenamento jurídico.

Todavia, o ato administrativo, além da finalidade geral que é o interesse

coletivo, deve também observar a finalidade específica, prevista pela lei, tendo

em vista que, para cada propósito que a Administração pretende alcançar,

existe um ato definido em lei, porque o ato administrativo caracteriza-se por sua

15 Curso de Direito Administrativo, ob. Cit., p 388-389

25

tipicidade, atributo pelo qual o ato administrativo deve corresponder às figuras

previamente definidas em lei, como aptas a produzirem determinado resultado.

Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello16 , há desvio de finalidade,

ainda que não exista intenção viciada, desde que tenha desacordo objetivo entre

a finalidade do ato e a finalidade da lei.

2.2 ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVO

Os atos administrativos, como manifestação do Poder Público, possuem

atributos que os diferenciam dos atos privados e lhes conferem características

peculiares. Entretanto, mais uma vez, a doutrina é divergente a respeito do

assunto, pois não há uma definição exata quanto à enumeração desses

atributos. Para a maioria, são atributos do ato administrativo a presunção de

legitimidade ou de veracidade, a auto-executoriedade e a imperatividade,

embora alguns doutrinadores incluam um quarto atributo, a tipicidade.

2.2.1 PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE, LEGALIDADE E

DE VERACIDADE

A presunção de legitimidade e de veracidade é característico do ato

administrativo. Decorre do princípio da legalidade que informa toda atividade da

Administração Pública.

Segundo esse atributo, os atos administrativos presumem-se legais, isto

é, compatíveis com a lei, legítimos, porque coadunam com as regras da moral e

verdadeiros, considerando que os fatos alegados estão condizentes com a

realidade posta. Essa presunção permite que o ato produza os seus efeitos até

qualquer prova em contrário.

É oportuno distinguir duas formas de presunção. A absoluta (jure et de

jure), não admite prova em contrário, não pode ser contestada, é a verdade

16 Curso de Direito Administrativo, ob. Cit., p.400

26

absoluta. De outro lado, a presunção relativa ou presunção juris tantum admite

prova em contrário.

2.2.2 AUTOEXECUTORIEDADE

O atributo da autoexecutoriedade autoriza a Administração a executar

diretamente seus atos e fazer cumprir suas determinações sem precisar recorrer

ao Judiciário, admitindo-se até o uso de força, se necessário, sempre que for

autorizada por lei.

A autoexecutoriedade apresenta dois aspectos: a exigibilidade, que

permite que o administrador decida, sem a exigência de controle pelo Poder

Judiciário, representando a tomada de decisão; e a executoriedade, que é a

possibilidade que tem o administrador de fazer cumprir as suas decisões e

executá-las, independentemente da autorização de outro Poder.

A autoexecutoriedade existe em duas situações: quando a lei

expressamente prevê e, mesmo quando não expressamente previstos.

2.2.3 IMPERATIVIDADE

Em razão da imperatividade, a Administração pode impor unilateralmente

as suas determinações válidas, desde que dentro da legalidade, o que retrata a

coercibilidade imprescindível ao cumprimento ou à execução de seus atos,

sejam eles normativos, quando regulam determinada situação, ordinatórios,

quando organizam a estrutura da Administração ou punitivos, quando aplicam

penalidades.

Um ponto importante acerca desse atributo é que ele não está presente

em todos os atos administrativos, apenas naqueles que impõem obrigações aos

administrados.

27

2.2.4 TIPICIDADE

Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro17, os atos administrativos gozam

de um quarto atributo, característica por meio da qual o “ato administrativo deve

corresponder a figuras definidas previamente pela lei como aptas a produzir

determinados resultados.

Para cada finalidade que a Administração pretende alcançar existe um ato

definido em lei.

Esse atributo decorre do princípio da legalidade, representando mais uma

garantia para o administrado, o que impede que a Administração pratique atos

inominados, atos sem a respectiva previsão legal, representando limites à

discricionariedade do administrador, e, por conseguinte, afastando a

possibilidade de ato arbitrário.

Para a autora, a tipicidade só está presente nos atos administrativos

unilaterais, inexistindo nos atos bilaterais, como os contratos, porque nestes não

há imposição de vontade da Administração, dependendo sempre da aceitação

do particular.

2.3 CLASSIFICAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO

Faz-se mister, antes de iniciar este tópico, esclarecer o conceito de

'' classificação”. Classificação é uma forma de se agrupar determinados objetos

por suas semelhanças e, ao mesmo tempo, de separá-los por suas diferenças.

Toda classificação deve se utilizar de um critério válido para que seja legítima.

Sendo assim, não há que se falar em classificação correta ou incorreta, certa ou

errada.

17 Direito Administrativo, 16ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2003, p.183.

28

2.3.1 QUANTO AOS DESTINATÁRIOS

No que tange aos destinatários, os atos administrativos são classificados

em gerais e individuais. Os atos gerais são os que possuem caráter geral,

abstrato impessoal, com finalidade normativa, alcançando todos que se

encontram na situação, de fato, abrangida por seus preceitos, atingindo a

coletividade como um todo. Já os atos individuais, também denominados

especiais, são os que se dirigem a destinatários certos e determinados, criando

uma situação jurídica particular, como ocorre no decreto expropriatório, no

decreto de nomeação etc.

Os atos individuais, também denominados especiais, são os que se

dirigem a destinatários certos e determinados, criando uma situação jurídica

particular, como ocorre no decreto expropriatório, no decreto de nomeação etc.

Os atos individuais quando geram direitos adquiridos são irrevogáveis,

conforme preceituado na Súmula nº 473 do STF18. Nos demais casos, podem

ser modificados ou revogados, bastando indenizar o prejudicado, se for o caso.

2.3.2 QUANTO AO ALCANCE

Os atos administrativos podem ser internos, quando destinados a

produzir afeitos dentro das repartições administrativas, incidindo normalmente

sobre órgãos e agentes da Administração que os expedirem. Por isso, têm

natureza tipicamente operacional, tais como: portarias, instruções de serviço etc.

Os atos administrativos, quanto ao alcance, podem ser também externos,

ou de efeitos externos, como também são denominados, são os de alcance

mais abrangente, traduzindo-se em qualquer providência de efeitos externos,

disseminando seus efeitos sobre os administrados, os contratantes e, em casos

especiais, os próprios servidores públicos.

18 STF – Súmula 473: “ A Administração pode anular os seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial”

29

Os atos externos são aqueles que atingem os administrados em geral,

criando para estes o direitos, obrigações, declarando situações jurídicas a eles

relativas, determinando procedimento.

São também considerados atos externos os que, embora não destinados

aos administrados, devam produzir efeitos fora da repartição que os editou ou

onerem o patrimônio público, casos em que é imprescindível a observância do

princípio da publicidade.

Os atos externos devem produzir efeitos perante terceiros, externos à

Administração, a vigência de tais atos somente se inicia com sua publicação na

imprensa ou órgão oficial, antes da qual evidentemente não pode ser presumido

seu conhecimento nem exigida sua observância. São exemplos de atos externos

todos os decretos, os regulamentos, a nomeação de candidatos aprovados em

concurso público etc.

2.3.3 QUANTO À MANIFESTAÇÃO DE VONTADE

A classificação quanto à manifestação de vontade pode ser encontrada

em outros doutrinadores, como hipóteses, quanto à formação do ato. Nesse

caso, estão os atos unilaterais, que são os atos formados pela declaração

jurídica de uma só das partes, consoante ocorre com a emissão de um servidor,

as multas, as autorizações, as licenças, além de inúmeros outros. De outro lado,

há os atos bilaterais, que são os atos formados por um acordo de vontades

entre as partes. Em regra, são atos convencionais como, por exemplo, os

contratos administrativos de concessão, de permissão, os contratos de gestão e

outros.

2.3.4 QUANTO AO GRAU DE LIBERDADE

Quanto ao grau de liberdade que tem o administrador, os atos

administrativos podem ser classificados em vinculados ou discricionários.

Atos vinculados são aqueles em que o administrador não tem liberdade, não tem

opção de escolha, estabelecendo a lei um único comportamento possível.

30

Nessas hipóteses, preenchidos os requisitos legais, o administrador é obrigado a

praticar o ato, gerando para o peticionário direito sujeito à concessão do pedido.

Atos discricionários são aqueles em que o administrador goza de

liberdade para sua prática, realizando um juízo de valor de conveniência e

oportunidade para o interesse público.

2.3.5 QUANTO AO OBJETO

Os atos de império são aqueles que a Administração pratica usando da

sua supremacia sobre o administrado. São impostos unilateral e coercitivamente

ao particular independentemente de autorização judicial, sendo regidos por um

direito especial exorbitante do direito comum. Temos por exemplo: a

desapropriação, a requisição do patrimônio do particular quando há iminente

perigo, interdição de atividades profissionais e outros.

Do outro lado, os atos de gestão são aqueles praticados pela

Administração, sem valer-se da sua supremacia sobre os destinatários. São

fundamentalmente regidos pelo direito privado. A Administração afasta-se de

suas prerrogativas, colocando-se em pé de igualdade com os particulares como,

contrato de locação, alienação de bens inservíveis. Esses atos não exigem

coerção, ocorrem nos atos puramente de administração dos bens e serviços

públicos e nos negociais com os particulares que não exijam coerção.

Pro fim, atos de expediente são os atos que se destinam a impulsionar

os processos administrativos e papéis que tramitam pelas repartições públicas,

com vistas à decisão da autoridade superior, da qual emana a vontade da

Administração, como no despacho de encaminhamento de um processo.

2.3.6 QUANTO À FORMAÇÃO

Ato simples é o que resulta de uma única manifestação de vontade de

um órgão da Administração Pública. Esse órgão pode ser singular ou

unipessoal, oportunidade em que a vontade expressada no ato provém de uma

só autoridade, ou colegiado, caso em que o ato provém do concurso de várias

31

vontades, unificadas de um mesmo órgão, no exercício de uma mesma função

jurídica e cujo resultado final substancia-se na declaração do órgão colegiado.

Os professores Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo19 alertam que “não

interessa o número de pessoas que pratica o ato, mas sim a expressão de

vontade , que deve ser unitária”. Portanto, para exemplificar, é simples tanto o

ato de exoneração de um servidor comissionado como a decisão administrativa

proferida pelo Conselho de Contribuinte do Ministério da Fazenda

Ato composto é aquele que depende de mais de uma manifestação de

vontade, o que distingue do ato simples. Essas manifestações devem acontecer

dentro de um mesmo patamar de desigualdade, em que a vontade de um é

instrumental em relação à do outro que edita o ato principal. Assim uma vontade

é a principal e a outra é secundária, como acontece nos atos que dependem da

autorização de um superior hierárquico.

Ato complexo é aquele que, para se aperfeiçoar, depende de mais de

uma manifestação de vontade, porém essas manifestações de vontade devem

ser produzidas por mais de um órgão, sejam elas singulares ou colegiadas, e

estão em patamar de igualdade, tendo ambas, a mesma força. Também não se

confunde com procedimento, que são vários atos e não várias manifestações de

vontade.

2.3.7 QUANTO À ESTRUTURA

Os atos concretos são os que se colocam para um único e específico

caso, esgotando-se em uma única aplicação, como na exoneração de um

determinado funcionário, na decretação de uma desapropriação de determinado

particular, na aplicação de uma multa a um infrator de trânsito.

Em situação oposta, encontram-se os atos abstratos que são aqueles que

preveem reiteradas e infindas aplicações, as quais se repetem cada vez que

ocorre a reprodução de hipótese neles prevista, alcançando um número

indeterminado e indeterminável de destinatários como, por exemplo, um

19 Direito Administrativo Descomplicado, ob. Cit., , p.360

32

regulamento, atos que decidem a velocidade permitida avenida, que decide o

horário de funcionamento dos órgãos públicos, etc.

2.3.8 QUANTO AOS EFEITOS

Os atos administrativos são divididos de acordo com os efeitos que

produzem no mundo jurídico e podem ser denominados atos constitutivos e

atos declaratórios.

Atos constitutivos são aqueles que fazem nascer uma nova situação

jurídica, seja produzindo-a originalmente, seja extinguindo-a ou modificando a

situação anterior, a exemplo da autorização para exploração de jazida, a

demissão.

Os atos declaratórios, por sua vez, são aqueles que afirmam a

preexistência de uma situação de fato ou de direito, objetivando reconhecer uma

situação jurídica preexistente, como ocorre, por exemplo, na conclusão de

vistoria em edificação, na certidão de matrícula em escola pública.

33

CAPÍTULO III

MODALIDADES DO ATO ADMINISTRATIVO, FORMAÇÃO

E EFEITOS

Para a melhor organização dos atos administrativos e as suas diversas

denominações e espécies, é que será apresentado este capítulo. Ressalte-se

que alguns doutrinadores preferem o termo “ espécies” de atos administrativos.

3.1.1 ATOS NORMATIVOS

Atos normativos são aqueles atos que contêm comando geral e abstrato,

visando à correta aplicação da lei, detalhando melhor o que a lei previamente

estabeleceu. São eles: regulamentos, decretos, instruções normativas,

regimentos, resoluções e deliberações.

a) Regulamentos: são atos administrativos postos em vigência por

decreto para especificar os mandamentos da lei. É o ato administrativo ( não

legislativo), de caráter explicativo ou supletivo, hierarquicamente inferior à lei e

com eficácia externa, denominado, nesse caso, de regulamento executivo. Pode

representar condição para a aplicação da lei, quando essa depende de

regulamentação, admitindo-se, igualmente, o exercício facultativo, hipótese em

que a norma já é autoexecutável.

A grande divergência doutrinária sobre esse assunto, nos últimos tempos,

é quanto à possibilidade de regulamento autônomo no ordenamento jurídico

vigente. Em resumo, o texto constitucional brasileiro, em seu texto original, não

admitia essa espécie de regulamento. Contudo, com o advento da Emenda

Constitucional nº32/20012, a discussão ficou mais acirrada.

Atualmente, a corrente majoritária admite regulamento autônomo somente

nas hipóteses expressamente autorizadas pela Constituição, isto é, apenas nas

hipóteses previstas no art. 84, VI, da CF, que dispõe que o Presidente da

República poderá, mediante decreto, regulamentar a organização e

34

funcionamento da Administração sem gerar aumento de despesa e, ainda,

extinguir cargo vagos.

b) Decretos: são atos administrativos de competência exclusiva dos

Chefes do Poder Executivo, federal, estadual, municipal ou distrital, destinados a

situações gerais ou individuais. Quando individual, é dirigido a um grupo de

pessoas determinadas, com efeitos concretos, como o decreto de

desapropriação, o decreto de nomeação ou de demissão. Quando geral,

disciplinam, da mesma forma que a lei, regras gerais e abstratas que se dirigem

a todas as pessoas que se encontram na mesma situação, sendo, entretanto,

inferiores à lei. São exemplos, os regulamentos.

c) Instruções normativas: são atos administrativos expedidos pelos

Ministros de Estado para a execução das leis, decretos e regulamentos, art. 87,

parágrafo único, inciso II, mas também podem ser utilizados por outros órgãos

para o mesmo fim.

d) Regimentos: são atos administrativos normativos de atuação interna

destinando-se a reger o funcionamento de órgãos colegiados e de corporações

legislativas. Como ato regulamentar interno, o regimento só se dirige aos que

devem executar o serviço ou realizar a atividade funcional regimental, sem

obrigar os particulares em geral.

e) Resoluções: são atos normativos ou individuais, emanados de

autoridades de elevado escalão administrativo como, por exemplo, Ministros e

Secretários de Estado ou Municípios, ou pelos Presidentes de Tribunais, órgãos

legislativos e colegiados administrativos, para disciplinar matéria de sua

competência específica.

f) Deliberações: são atos oriundos, em regra, de órgãos colegiados,

como conselhos, comissões, tribunais administrativos, etc. Normalmente,

representam a vontade majoritária de seus componentes.

3.1.2 ATOS ORDINATÓRIOS

Os atos ordinatórios são aqueles que visam disciplinar o funcionamento

da Administração e a conduta funcional dos seus agentes, representando

exercício do poder hierárquico do Estado.

35

Conforme entendimento de Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo20, “ os

atos ordinatórios têm por fulcro o poder hierárquico e somente vinculam os

servidores que se encontram subordinados àquele que os expediu”. Assim, os

atos ordinatórios não atingem os administrados, não criando para eles direitos

ou obrigações.

São espécies de atos ordinatórios: as portarias, as instruções, os avisos,

as circulares, as ordens de serviço, os ofícios e os despachos.

a) Portaria: são atos administrativos internos pelos quais os chefes de

órgãos e repartições públicas expedem determinações gerais ou especiais a

seus subordinados, ou designam servidores para funções e cargos secundários.

b) Instrução: é a forma de expedição de normas gerais e abstratas de

orientação interna das repartições, emanadas de seus chefes, a fim de

prescrever o modo pelo qual seus subordinados deverão dar andamento aos

seus serviços.

c) Aviso: foi utilizado no tempo do Império pelos Ministros de Estado,

para prescrever orientação dos órgãos subordinados, tendo, nesse caso, o

mesmo caráter das instruções atuais ou, ainda, como instrumento de

comunicação à autoridade de alto escalão. Hoje, tem utilização restrita, salvo

quando utilizado com a simples finalidade de dar notícia ou conhecimentos de

assuntos afetados à atividade administrativa.

d) Circular: é utilizado pelas autoridades superiores quando querem

transmitir ordens uniformes a funcionários subordinados. Não veicula regras de

caráter abstrato como as instruções, mas concreto, ainda que geral, por

abranger uma categoria de subalternos encarregados de determinadas

atividades.

e) Ordem de serviço: é instrumento usado para transmitir determinação

aos subordinados, quanto à maneira de conduzir determinado serviço. É de

caráter concreto, apesar de geral. Ao invés desse instrumento, as ordens, pr

vezes, são veiculadas por via circular.

f) Ofício: é o ato administrativo pelo qual os agentes administrativos se

comunicam.

20 Direito Administrativo Descomplicado, ob. cit., p.369

36

Formalmente, são cartas oficiais, por meio das quais se expedem

convites, agradecimentos e encaminham-se papéis e informações em geral.

g) Despacho: é o ato administrativo que contém decisão das autoridades

administrativas sobre assunto de interesse individual ou coletivo, submetido à

sua apreciação. Utilizado para decisões finais ou interlocutórias das autoridades,

os despachos devem ser publicados, exceto se o sigilo for autorizado pela

norma, sob pena de prejudicar a própria moralidade administrativa.

3.1.3 ATOS NEGOCIAIS

Atos negociais são aqueles que contém uma declaração de vontade da

Administração, coincidente com a pretensão do particular, visando concretizar

atos jurídicos, nas condições previamente impostas pela Administração Pública.

São todos aqueles desejados por ambas as partes, excluindo-se os atos

impostos pela Administração, independentemente do consentimento do

particular, tendo em vista que estes não gozam de imperatividade.

Não se pode confundir ato negocial com negócio jurídico, pois neste, há

livre estipulação dos efeitos pelas partes, enquanto no ato negocial, os efeitos,

embora pretendidos por ambas as partes, não são por elas livremente

estipulados, mas decorrem da lei. Para Celso Antônio Bandeira de Mello21, não

há essa distinção. O autor trata ato negocial e negócio jurídico como sinônimos,

já que são atos negociais.

a) Alvará: é o instrumento formal pelo qual a Administração expressa

aquiescência, no sentido de ser desenvolvida certa atividade pelo particular. Seu

conteúdo é o consentimento dado pelo Estado e, por isso, fala-se em alvará de

autorização, alvará de licença.

b) Licença: é o ato unilateral e vinculado pelo qual a Administração

faculta àquele que preencha os requisitos legais o exercício de uma atividade.

Um exemplo é a licença para edificar (depende de alvará), a licença de

importação, licença de atividade profissional.

21 Curso de Direito Administrativo, ob., cit., p.419.

37

No que se refere à licença para edificar, é preciso lembrar inicialmente

que se trata de um ato vinculado e, portanto, preenchidos os requisitos legais, o

administrado goza de direito subjetivo à sua concessão, não havendo análise de

conveniência e oportunidade.

No Manual de Direito Administrativo de José dos Santos Carvalho Filho22,

o autor ressalta que: “no que tange à licença para construir, doutrina e

jurisprudência a têm considerado como mera faculdade de agir, por conseguinte,

suscetível de revogação enquanto não iniciada a obra licenciada, ressalvando-se

o prejudicado o direito à indenização pelos prejuízos causados”. O autor afirma

que “o STF já confirmou, por mais de uma vez, esse entendimento. Numa das

vezes, deixou assentado que, antes de iniciada a obra, a licença para construir

pode ser revogada por conveniência da Administração pública, sem que se valha

do argumento do direito adquirido. Recentemente, rediscutindo o tema, a Corte

reiterou essa orientação averbando que não fere direito adquirido decisão que,

no curso do processamento de pedido de licença de construção em projeto de

loteamento, estabelece novas regras de ocupação do solo”

c) Concessão: é a designação genérica de fórmula pela qual são

expedidos atos ampliativos da esfera jurídica de alguém. Há subespécies: como

atos bilaterais, há a concessão de serviços públicos e de obra pública e como

atos unilaterais, a concessão de prêmio ou de cidadania.

d) Permissão: designa o ato administrativo unilateral, discricionário e

precário, gratuito ou oneroso, pelo qual a Administração Pública faculta ao

particular a execução de serviço público ou a utilização privativa de bem público

para a instalação de banca de jornais.

Importante salientar que o instituto da permissão pode ter duas naturezas

jurídicas diferentes. Inicialmente, a permissão de serviços públicos e de bens

públicos surgiu como atos unilaterais, discricionários e precários.

Posteriormente, com o advento da Lei nº8.987/95, a permissão de serviços

públicos ganhou uma formalização especial, exigindo o art.40 do referido

diploma, a formalização por meio de contrato de adesão.

22 Manual de Direito Administrativo, ob. Cit., p137

38

Dessa forma, não se pode confundir a forma da permissão de serviços(

contrato de adesão) com a forma da permissão de uso de bens públicos (ato

unilateral).

e) Autorização administrativa: em sentido amplo, é o ato administrativo

unilateral, discricionário e precário pelo qual a Administração faculta ao particular

o uso privativo de bem público, ou o desempenho de atividade material, ou a

prática e ato que, sem esse consentimento, seria legalmente proibido.

f) Admissão: é o ato unilateral e vinculado pelo qual a Administração

faculta a alguém a inclusão em estabelecimento governamental para o gozo de

um serviço público. Um exemplo disso é a admissão nas escolas públicas, nos

hospitais, nos estabelecimentos de assistência social. Consiste no gozo de

diversos serviços públicos que dependem do ato de admissão, o qual não pode

ser negado a quem preencha os requisitos.

g) Aprovação: é o ato unilateral e discricionário pelo qual se exerce o

controle do ato administrativo. Esse controle analisa os critérios de conveniência

e oportunidade, não só de legalidade e constitui uma condição para a eficácia do

ato. Modalidades: aprovação prévia, que ocorre antes da edição do ato,

liberando a sua prática ou aprovação a posteriori, que só acontece após o ato

praticado, mas dela depende para se tornar eficaz.

h) Homologação: é o ato unilateral e vinculado, pelo qual a

Administração reconhece a legalidade de um ato jurídico. Ela se realiza sempre

a posteriori e examina apenas o aspecto de legalidade, no que se distingue da

aprovação.

3.1.4 ATOS ENUNCIATIVOS

Os atos enunciativos não contêm uma manifestação de vontade da

Administração. São, portanto considerados atos administrativos apenas em

sentido formal.

Podemos definir que os atos enunciativos são todos aqueles em que a

Administração se limita a certificar ou atestar um determinado fato, ou então a

emitir uma opinião acerca de um tema definido. São exemplos o parecer, a

certidão e o atestado.

39

Esse mesmo conceito é denominado por Maria Sylvia Zanella Di Pietro23

de mero ato administrativo e a autora conceitua:” no mero ato administrativo há

uma declaração de opinião (parecer), conhecimento (certidão) ou desejo (voto

num órgão colegiado)”, alertando, ainda, que há divergência sobre a

possibilidade de encaixá-los ou não como espécie de ato administrativo,

reconhecendo que para muitos autores “eles não têm esta natureza, porque não

produzem efeitos jurídicos imediatos”. Por fim, a autora distingue esses atos dos

atos administrativos propriamente ditos, que são aqueles em que há uma

declaração de vontade da Administração, voltada para a obtenção de

determinados efeitos jurídicos definidos em lei.

Para Celso Antônio Bandeira de Mello24, os meros atos administrativos

são sinônimos de atos puros e “correspondem à simples manifestação de

conhecimento (como uma certidão)ou de desejo (como um voto em órgão

colegiado), nos quais os efeitos jurídico descendem diretamente da lei, de tal

sorte que o ato nada mais faz que implementar uma condição legal para a

deflagração deles”.

a) Parecer: é o ato pelo qual os órgãos consultivos da Administração

emitem opinião sobre assuntos técnicos ou jurídicos de sua competência. Pode

ser: facultativo, quando dispensável para a prática do ato, ficando critério da

Administração solicitá-lo ou não, e obrigatório, quando a lei o exige.

b) Certidões: são cópias ou fotocópias fiéis e autenticadas de atos ou

fatos constantes de processo, livro ou documento que se encontrem nas

repartições públicas. Podem ser de inteiro teor ou resumidas, desde que

expressem fielmente o que se contém no original do qual foram extraídas.

Nesses atos, o Poder público não manifesta sua vontade, limitando-se a

transcrever, par o documento a ser fornecido ao peticionário, o que consta de

seus arquivos. As certidões, desde que autenticadas, têm o mesmo valor

probatório dos originais. Esses atos devem ser expedidos no prazo máximo de

quinze dias a contar de seu pedido, conforme previsão da Lei nº 9.501/95, em

seu art. 1º.

23 Direito Administrativo, ob., cit., p.214 24 Curso de Direito Administrativo, ob.,cit., p. 419

40

c) Atestados: são os pelos quais a Administração comprova um fato ou

situação de que tenha conhecimento por seus órgãos competentes. Não se

admite confundir o atestado com a certidão, porque esta reproduz atos ou fatos

constantes de seus arquivos, enquanto o atestado comprova um fato ou situação

existente, mas não constante de livros, papéis ou documentos em poder de

Administração. O atestado presta-se à comprovação de fatos ou situações

transeuntes, passíveis de modificações frequentes.

3.1.5 ATOS PUNITIVOS

Os atos punitivos são aqueles que contêm uma sanção imposta pela

Administração àqueles que infringem disposições legais, regulamentares e

ordinatórias de bens e serviços públicos. Visam punir ou reprimir as infrações

administrativas ou o comportamento irregular dos servidores ou dos particulares,

perante a Administração, podendo a atuação ser interna ou externa. Como

exemplo: as multas, as interdições, embargos de obras. Dependem, em

qualquer caso, de processo administrativo, com a observância dos princípios do

contraditório e da ampla defesa.

A prática dos atos punitivos pode representar exercício de diversos

Poderes da Administração, já que, quando se trata de infração funcional do

servidor, é exercício de Poder Hierárquico, em razão da distribuição da

competência para aplicação de uma sanção, e exercício de Poder Disciplinar,

quanto à aplicação da sanção propriamente dita. No que tange à irregularidade

praticada por particular, representa exercício de Poder de Polícia.

Cabe ressaltar que, de acordo com pensamento de Marcelo Alexandrino e

Vicente Paulo25, “a edição de atos punitivos não deve ser confundida com o

exercício do jus puniendi do Estado, por meio do qual este aplica o Direito Penal

objetivo visando a reprimir as infrações conceituadas em lei como crimes ou

contravenções”. Dessa forma, o exercício do jus puniendi sempre exige

25 Direito Administrativo Descomplicado, ob. cit., p.377

41

intervenção prévia do Poder Judiciário, diferentemente do que ocorre

relativamente às sanções administrativas.

3.2 FORMAÇÃO E EFEITOS

Os atos administrativos, à semelhança dos atos jurídicos, apresentam três

momentos: a criação/ formação, a irradiação de seus efeitos e a efetivação

desses efeitos no plano concreto.

No que tange ao estudo da formação e dos efeitos dos atos

administrativos, encontra-se também divergência doutrinária. Aqui, será

analisada a formação, bem como os efeitos do ato jurídico no âmbito da doutrina

administrativa e da Teoria Geral do Direito, entendendo que, para a sua

plenitude, o ato administrativo deve ser perfeito, válido e eficaz.

3.2.1 PERFEIÇÃO

A perfeição do ato administrativo consiste na conclusão de seu ciclo de

formação, significa dizer, é a situação do ato cujo processo de formação já está

concluído, quando esgotadas as fases necessárias à sua produção. De outro

lado, situa-se o ato imperfeito como aquele em que ainda está em curso o

processo constitutivo. Sendo assim, é possível concluir que a perfeição não

afasta possíveis vícios do ato administrativo; seu sentido é o de consumação,

conclusão. Quando concluída a sua prática, o ato assume a garantia atribuída ao

ato jurídico perfeito, impedindo que seja atingido por efeito retroativo da lei.

3.2.2 VALIDADE

O ato administrativo é válido quando for expedido em absoluta

conformidade com as exigências do ordenamento jurídico 26 . Validade é a

adequação do ato às exigências normativas, seja com a lei ou com outro ato de

grau mais elevado; se contrário, o caso é de invalidação.

26 Nesse sentido, Marcos Bernardes de Mello, ( ob., cit., p. 156)

42

Segundo Hely Lopes Meirelles27, há também os atos inexistentes, que são

aqueles que têm a aparência de manifestação regular da Administração, mas

não chegam a se aperfeiçoar como atos administrativos, pelo fato de estar

ausente um dos elementos qualificadores do ato administrativo como, por

exemplo, ato praticado por quem não é agente público, um usurpador de função

pública. Todavia, a consequência jurídica da invalidação e inexistência são

iguais, não existindo interesse prático nessa distinção.

3.2.3 EFICÁCIA

O ato eficaz é aquele apto a produzir efeitos próprios, ou seja, quando

seus efeitos típicos, ao serem desencadeados, não se encontram dependentes

de qualquer evento posterior, como uma condição suspensiva, termo inicial ou

ato controlador a cargo de outra autoridade. Eficácia é a situação atual de

disponibilidade para a produção de efeitos típicos, próprios do ato, quando o ato

está pronto para atingir o fim que foi destinado.

27 Direito Administrativo Brasileiro, ob., cit., p. 170.

43

CAPÍTULO IV

EXTINÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO

O ato administrativo pode ser extinto por diversas razões: porque já

produziu todos os seus efeitos; porque atos ou fatos posteriores interferem de

maneira a suspender ou eliminar definitivamente seus efeitos; porque não está

mais compatível com a conveniência e a oportunidade do interesse público, ou

ainda, porque não está compatível com o ordenamento jurídico e, até, pelo

descumprimento de condições impostas por parte do interessado. Alguns atos,

inclusive, não chegam nem a produzir seus efeitos típicos, porque a

Administração ou o Poder Judiciário os fulminou, ou porque os seus

beneficiários os recusam. Entretanto, de todas as hipóteses, as mais relevantes

são a revogação e a anulação.

4.1 FORMAS DE EXTINÇÃO

O ato administrativo eficaz pode ser extinto devido ao cumprimento de

seus efeitos, em diversas circunstâncias que ora passam a ser analisadas.

Acontece a extinção do ato pelo cumprimento de seus efeitos quando

esgotado o seu conteúdo jurídico . É o que ocorre, por exemplo, com as férias de

um servidor, o ato concessivo desse direito estará extinto quando gozado o

período previsto na norma, ficando, dessa forma, esgotado o seu conteúdo.

Ocorre também a extinção do ato administrativo quando extinta a sua

execução material. Isso decorre do fato de o ato visar ao cumprimento de uma

ordem que já foi cumprida. Por exemplo: determinada a demolição de uma obra

que já foi demolida, o ato que a determinou está extinto. Encontra-se, de igual

maneira, nessa modalidade, a extinção pelo implemento de uma condição

resolutiva ou termo final, lembrando-se de que a condição é um evento futuro e

incerto, enquanto termo, um evento futuro e certo, podendo ele ser determinado

ou indeterminado.

44

O ato administrativo poderá, ainda, ser desfeito em razão do

desaparecimento do sujeito ou do objeto, como ocorre na morte de

beneficiário em ato intuitu personae. Por exemplo: a morte de um funcionário

extingue os efeitos da nomeação, hipótese denominada extinção subjetiva. Da

mesma forma, ocorre a extinção quando do desaparecimento do objeto, o que é

possível verificar na tomada pelo mar de um terreno de marinha dado em

aforamento, que termina por extinguir o ato de enfiteuse, denominada extinção

objetiva.

Outras hipóteses de retirada do ato administrativo do ordenamento

jurídico são aquelas efetuadas por meio de atos concretos, praticados pelo

Poder Público. No que tange à revogação e à anulação.

Entende-se por cassação, a retirada do ato administrativo do

ordenamento jurídico, em virtude do descumprimento, pelo seu destinatário, das

condições impostas e que deveriam ser mantidas. Exemplo: a retirada da licença

para funcionamento de hotel por ter o proprietário convertido a atividade em

motel, o que é proibido pelas leis de seu município. Nesse caso, o ato de licença

será extinto porque o interessado descumpriu a condição: a implantação do

hotel.

Tem-se, ainda, a caducidade, que consiste na retirada do ato

administrativo pelo Poder Público, em razão da superveniência de uma norma

jurídica que impede a sua manutenção. Exemplo: a retirada da permissão de uso

de bem para a instalação de circo, em virtude do advento da lei do Plano Diretor,

que designa o mesmo local para a construção de uma rua, tornando impossível

a manutenção da permissão. Ressalte-se que, em tal situação, tem-se a retirada

de um ato administrativo por meio de uma lei, porquanto sejam atos de

hierarquia diferentes, não se admitindo o instituto da revogação.

Também é possível a extinção dos efeitos de um ato administrativo,

mediante o instituto da contraposição, que consiste na edição de um novo ato

que, devido a seus efeitos, impede que um anterior continue existindo. Nesse

caso, o ato é retirado do ordenamento porque foi emitido outro, com fundamento

em competência diversa da que gerou o ato anterior, mas com efeitos

45

contrapostos aos daquele. Exemplo: a exoneração de um funcionário que

aniquila os efeitos do ato de nomeação.

Por fim, a retirada de um ato administrativo pode ocorrer de uma

renúncia, que consiste na extinção de seus efeitos ante a rejeição, pelo

beneficiário, de uma situação jurídica favorável de que desfrutava em

consequência daquele ato. Exemplo: a renúncia a um cargo de Secretário.

4.1.1 FORMAS DE INVALIDAÇÃO

A doutrina brasileira é bastante divergente quando se fala em formas de

invalidação dos atos administrativos, isto é, quanto à possibilidade dos atos

administrativos serem válidos, nulos, anuláveis, inexistentes e até irregulares.

Para alguns doutrinadores, como Hely Lopes Meirelles 28 os atos

administrativos só podem ser válidos quando preenchem todos os requisitos da

lei, e nulos quando possuem alguma ilegalidade. Em resumo, tem-se que:

a) atos inexistentes: são aqueles que se encontram fora do possível

jurídico e são radicalmente vedados pelo Direito. Exemplo: condutas criminosas

como uma ordem de uma autoridade superior para o seu subordinado torture um

preso; autorização para que alguém explore o trabalho escravo; autorização

para que sejam saqueadas as casas de devedores do fisco. Segundo o

regimento jurídico, esses atos são imprescritíveis, não admitem convalidação,

admite-se direito de resistência contra eles, sendo possível que o destinatário se

recuse a cumpri-lo e, quando declarados inexistente, não se ressalvam efeitos

pretéritos, em nenhuma hipótese.

b) atos nulos: são aqueles que a lei assim os declara. Os atos podem,

ainda, ser nulos quando for verificada a impossibilidade material de sua

convalidação, por não admitirem a reprodução de forma válida, não admitirem

conserto.

c) atos anuláveis: são aqueles cuja lei assim os declara ou, ainda,

aqueles que puderem ser praticado sem vício. Normalmente, admite-se ato

28 Direito Administrativo Brasileiro, ob. Cit., p. 169-170 e 194 e seguintes.

46

anulável quando o defeito é de competência e de forma, desde que possua

defeito sanável.

d) atos irregulares: são aqueles que padecem de vício material

irrelevante, contendo uma violação à norma que objetiva impor a padronização

interna. Como não atinge a segurança e as garantias dos administrados, o vício

não atinge a validade do ato, não se admitindo anulação. É apenas possível a

aplicação de sanção para o agente que o praticou.

4.1.2 ANULAÇÃO

A anulação consiste em um ato administrativo que tem o poder de

supressão de outro ato ou da relação jurídica dele nascida, por haver sido

produzido em desconformidade com a ordem jurídica, tratando-se de ato

ilegítimo ou ilegal.

O fundamento para a anulação de um ato administrativo é a existência de

uma ilegalidade, o que viola o dever de obediência à lei, ofendendo o próprio

princípio constitucional da legalidade.

O sujeito ativo da anulação pode ser, tanto a Administração Pública,

quanto o Poder Judiciário. Nesse sentido, há hoje algumas Súmulas do Supremo

Tribunal Federal: a Súmula nº 346 que estabelece que a “Administração pode

anular os seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais,

porque deles não se originam direito”, complementada pela Súmula nº 473, cujo

texto diz que: “A Administração pode anular os seus próprios atos, quando

eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos;

ou revogá-los, por motivos de conveniência ou oportunidade, respeitados os

direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial”.

A anulação, que é o ato responsável pela retirada de um ato

administrativo ilegal, tem como fundamento a manutenção da ilegalidade,

devendo operar seus efeitos de tal forma a atingir o ato ilegal desde a sua

edição. Produz, portanto, efeitos retroativos, ex tunc.

47

4.1.3 CONVALIDAÇÃO E SANATÓRIA

A convalidação é o ato administrativo por meio do qual o administrador

corrige os defeitos de um ato anterior que contém um defeito sanável. Trata-se

de uma suprimento de invalidade de um ato, apresentando efeitos retroativos; é

uma recomposição da legalidade ferida. O ato convalidador remete-se ao ato

inválido para legitimar seus efeitos pretéritos.

O fundamento para a convalidação é a preservação da ordem jurídica e

social, garantindo-se a estabilidade das relações já constituídas.

O instituto está previsto na Lei nº 9.784/99, em seu art. 55, ao dispor que:

“ Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão ao interesse público

nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão

ser convalidados pela própria Administração”.

Esse instituto recebe denominações diferentes, a depender da autoridade

que o praticou. Se a convalidação procede da mesma autoridade que emitiu o

ato inválido, é denominada ratificação; se procede de outra autoridade, é

confirmação e, quando resulta de um ato do particular, denomina-se

saneamento.

Há muita discussão doutrinária sobre a obrigatoriedade de convalidar o

ato administrativo anulável, haja vista que, para alguns doutrinadores, trata-se

de um dever, enquanto para outros, é mera faculdade. Em razão do princípio da

legalidade, indispensável para o Direito Administrativo, a Administração não

pode conviver com relações jurídicas formadas ilicitamente. Portanto, é dever

seu recompor a legalidade ofendida. Assim, tanto se recompõe a legalidade

anulando um ato administrativo viciado, nulo, como convalidando-o, se anulável.

Para a última medida há, como acréscimo, a manutenção do princípio da

segurança jurídica, além da boa-fé.

Sendo assim, sempre que Administração estiver perante um ato

suscetível de convalidação, deve convalidá-lo, ressalvando-se a hipótese de

vício de competência em ato de conteúdo discricionário, em que a autoridade

competente é que deve realizar o juízo de valor. Como não o fez por ocasião da

prática do ato, não há a obrigação de mantê-lo.

48

E, ainda, sempre que a Administração estiver diante de um ato

insuscetível de convalidação, terá a obrigação de anulá-lo, exceto quando já

escoado o prazo para a Administração fazê-lo (art.54, da Lei nº9.784/99) ou,

ainda, quando a desconstituição do ato gerar agravos maiores aos interesses

protegidos na ordem jurídica do que os resultados da manutenção do ato ilegal.

Por fim, não se admite confusão entre os institutos da convalidação e da

conversão. Convalidação, já é sabido, trata-se da correção de ato administrativo

inválido, transformando-o em ato válido. No que tange à conversão, também

denominada sanatória, o objetivo é a manutenção da ordem jurídica. Entretanto,

nesse caso, o ato solene, que não preenche todos os requisitos para tanto, deve

ser transformado em um ato mais simples, bastando-lhe os requisitos. Sendo

assim, tem-se, inicialmente, um ato ilegal de certa categoria, tornando-se legal

após a conversão, embora seja de categoria mais simples29.

Portanto, esse instituto distingue-se da convalidação em dois aspectos,

primeiro em virtude da qualidade do ato inválido, uma vez que é anulável na

convalidação, enquanto é nulo na conversão; segundo, quanto à categoria e

seus efeitos, visto que, na convalidação, o ato continua da mesma categoria,

produzindo os mesmos efeitos previstos antes da convalidação, enquanto, na

conversão, ele é transformado para outra categoria, produzindo os efeitos

condizentes com sua nova natureza.

4.1.4 REVOGAÇÃO

A revogação é a extinção de um ato administrativo ou de seus efeitos por

outro ato administrativo, efetuada por razões de conveniência e oportunidade,

respeitando-se os efeitos precedentes. Pode acontecer de forma explícita ou

implícita, total ou parcial.

Pode ser sujeito ativo da revogação a autoridade no exercício de função

administrativa e competência administrativa, isto é, o agente que praticou o ato

ou o superior no exercício do poder hierárquico.

29 Nesse sentido, Celso Antônio Bandeira de Mello, Curso de Direito Administrativo, ob.,cit., p.466

49

Também se admite a revogação praticada pelo Poder Legislativo e pelo Poder

Judiciário, quando no exercício atípico de função administrativa. Entretanto, não

se admite a um Poder revogar ato do outro, sob pena de violação da

independência recíproca dos Poderes, com violação do princípio da separação

dos Poderes.

A competência para a realização da revogação deve ser atual, é dizer,

deve estar vigente no momento em que se pretende editar o ato de força

revogatória. Também deve ser contínua, exigindo-se que não haja esgotado a

competência administrativa sobre a questão.

Quanto ao objeto da revogação, pode ser um ato ou uma relação jurídica

válidos, praticados no exercício de uma competência discricionária, não se

admitindo a sua incidência sobre fatos, e sim, sobre atos ou sobre relações

constituídas por esses fatos. Trata-se de um ato secundário, porque pressupõe a

existência de um ato primário que anteriormente dispôs sobre a mesma questão

agora acolhida.

O motivo da revogação é a inconveniência ou inoportunidade da

manutenção da situação. Nesse sentido, é indiferente distinguir se a

inconveniência foi contemporânea ou superveniente ao ato que se vai revogar; a

ideia é que determinada situação não deve mais ser mantida.

No que tange aos seus efeitos, assunto de relevante importância, a

revogação é um ato administrativo que retira do outro que, embora válido, não é

mais conveniente, portanto não deve ser mantido para o futuro. A revogação

impede que a relação jurídica prossiga , mantendo-se os efeitos já ocorridos, o

que significa que produzirá efeitos ex nunc, eficácia somente para o futuro, não

retroagindo, não tendo o poder de desconstituir efeitos passados.

50

CONCLUSÃO

Para um melhor entendimento sobre o ato administrativo é mister que se

assente a ideia de ato jurídico, tratado no campo do direito privado. Numa

síntese do conceito que repousa na doutrina pátria, ato jurídico consiste numa

manifestação de vontade que esteja de acordo com os ditames normativos em

vigor. Logo, o ato administrativo oriunda do ato jurídico, pois não deixará de

existir também uma emissão de vontade.

Mas ocorre que nos atos administrativos iremos ver peculiaridades que os

colocam numa seara peculiar, o que nos leva a inferir que os atos

administrativos seriam uma espécie do gênero ato jurídico. Os elementos

basilares dos atos administrativos e jurídicos são idênticos. Em ambos se assiste

a primazia da volição. Ocorre, que nas manifestações decorrentes do Poder

Público a vontade administrativa se traduz na vontade da própria lei, não se

observando nos atos administrativos a autonomia que resplandece nas vontades

emanadas pelo particular.

Em acolhimento ao princípio-mor da legalidade, a Administração só age

no campo delimitado pela lei, ao passo que ao particular se aufere a

possibilidade de agir livremente, desde que a lei não venha a coibir aquele

comportamento. Dentro dessa concepção é que se ergue a máxima de que a

Administração só pode fazer o que a lei determina, enquanto o particular pode

fazer tudo o que a lei não proíbe.

Quando a Administração manifesta a sua vontade, é preciso entender que

tal manifestação se dará por meio de um de seus agentes, que são aqueles que

dão vivacidade e instrumentalizam as ações do Estado. Para que a

exteriorização de vontade seja tipificada como ato administrativo é necessário

então que o agente público tenha se atuado no exercício de suas atribuições. E

será tratado como ato administrativo tanto a vontade, emanada pelos agentes da

Administração, como pelos seus delegatários, ou seja, pessoas que não

integram a estrutura orgânica administrativa, como os agentes de

concessionárias e permissionárias de serviço público.

51

Outro ponto que peculiariza o ato administrativo dentro do campo dos atos

jurídicos seria que o alcance do ato administrativo é bem mais abrangente e

nobre que do ato emitido pelo particular. O fim colimado em qualquer declaração

exteriorizada pela Administração é a satisfação de um interesse coletivo, e em

virtude de tal característica, enraizada em qualquer atividade estatal, é que se

torna necessário que sejam colocados veículos à disposição do Estado para que

no instante em que venha a se manifestar possa dar efetividade ao princípio

informador de todo direito administrativo, que é o da supremacia do interesse

público.

Em razão do fim público perseguido, é que o ato administrativo

apresentará caracteres próprios, que em geral seriam inconciliáveis como os

atos emitidos por particulares, tais como a possibilidade, com algumas

restrições, do Estado impor sua vontade sobre terceiros independentemente da

concordância dos administrados, bem como de em certas situações executar

diretamente suas decisões sem ser necessária uma autorização prévia do Poder

Judiciário.

Com base no estudo feito, esta pesquisa conclui que os atos

administrativos serão submetidos à um regime jurídico de direito público,

derrogatório e exorbitante do direito comum, ou seja, as normas que regerão as

vontades emitidas pela Administração serão dispositivos de cunho

administrativo, não se aplicando, em geral, sobre os atos administrativos as

normas de direito privado que regem os atos produzidos por particulares.

52

BIBLIOGRAFIA

ALEXANDRINO, Marcelo & PAULO, Vicente. Direito Administrativo

Descomplicado. 14ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2007;

BANDEIRA DE MELLO, Celso Antonio. Curso de Direito Administrativo. 26ª

ed. São Paulo: Malheiros. 2009;

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 22ª

ed., Rio de Janeiro:Lúmen Júris, 2009;

CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 5ª ed. Salvador:

Juspodivm, 2011;

DE MELLO, Marcos Bernardes. Teoria do Fato Jurídico, Plano da Existência.

12ª ed. São Paulo:Saraiva, 2003;

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 16ª ed. São Paulo:

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LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 16 ª ed. São Paulo:

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MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 33ª ed. São Paulo:

Malheiros, 2007;

VADE MECUM. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

Sites de consulta: www.conjur.com.br, www.jurisway.org.br, www.jus.com.br,

www.planalto.gov.br, www.stf.gov.br.

53

ÍNDICE

Folha de Rosto................................................................................................02

Agradecimentos..............................................................................................03

Dedicatória.......................................................................................................04

Resumo............................................................................................................05

Metodologia.....................................................................................................06

Sumário............................................................................................................07

Introdução........................................................................................................09

Capítulo I – Conceito de Ato, Fato Jurídico, Ato da Administração e Ato

Administrativo..................................................................................................10

1.1 Ato e Fato Jurídico..........................................................................10

1.2 Ato da Administração e Ato Administrativo.................................13

1.2.1 Vinculação e Discricionariedade................................................15

Capítulo II – Elementos, Atributos e Classificação do Ato

Administrativo.................................................................................................18

2.1 Elementos do Ato Administrativo................................................18

2.1.1 Sujeito Competente.....................................................................19

2.1.2 Forma............................................................................................20

2.1.3 Motivo........................................................................................... 22

2.1.4 Objeto............................................................................................23

2.1.5 Finalidade......................................................................................24

2.2 Atributos do Ato Administrativo....................................................25

2.2.1 Presunção de Legitimidade, Legalidade e de Veracidade........25

2.2.2 Autoexecutoriedade.....................................................................26

2.2.3 Imperatividade..............................................................................26

2.2.4 Tipicidade......................................................................................26

2.3 Classificação do Ato Administrativo.............................................27

2.3.1 Quanto aos Destinatários............................................................27

2.3.2 Quanto ao Alcance.......................................................................28

2.3.3 Quanto à Manifestação de Vontade............................................29

2.3.4 Quanto ao Grau de Liberdade.....................................................29

54

2.3.5 Quanto ao Objeto.........................................................................30

2.3.6 Quanto à Formação.....................................................................30

2.3.7 Quanto à Estrutura......................................................................31

2.3.8 Quanto aos Efeitos......................................................................32

Capítulo III – Modalidades de Atos Administrativos, Formação e

Efeitos..............................................................................................................33

3.1 Modalidades de Atos Administrativos..........................................33

3.1.1 Atos Normativos..........................................................................32

3.1.2 Atos Ordinatórios........................................................................34

3.1.3 Atos Negociais.............................................................................36

3.1.4 Atos Enunciativos........................................................................38

3.1.5 Atos Punitivos..............................................................................40

3.2 Formação e efeitos.........................................................................41

3.2.1 Perfeição.......................................................................................41

3.2.2 Validade.........................................................................................41

3.2.3 Eficácia..........................................................................................42

Capítulo IV – Extinção do Ato Administrativo...............................................43

4.1 Formas de Extinção........................................................................43

4.1.1 Formas de Invalidação.................................................................45

4.1.2 Anulação.......................................................................................46

4.1.3 Convalidação e Sanatória............................................................47

4.1.4 Revogação....................................................................................48

Conclusão.........................................................................................................50

Bibliografia.......................................................................................................52

Índice.................................................................................................................53

Folha de Avaliação...........................................................................................55

55

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Instituição de Ensino : Universidade Cândido Mendes –

Projeto a Vez do Mestre

Título da Monografia: Os Atos Administrativos

Autor: Diego Queirós César

Orientador: Anselmo Souza

Data da Entrega: 04 de Agosto de 2012

Conceito de Avaliação: