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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE FARMÁCIA MESTRADO EM ANÁLISES CLÍNICAS HOSPITAL DR. NÉLIO MENDONÇA, FUNCHAL ORIENTADORA: DRA. MARLENE PIRES ALUNO: EILYN MARISOL GOMES RODRIGUES LISBOA, 2013

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE FARMÁCIA

MESTRADO EM ANÁLISES CLÍNICAS

HOSPITAL DR. NÉLIO MENDONÇA, FUNCHAL

ORIENTADORA:

DRA. MARLENE PIRES

ALUNO: EILYN MARISOL GOMES RODRIGUES

LISBOA, 2013

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Índice

Resumo .................................................................................................................. 7

Lista de abreviaturas ............................................................................................... 8

1- Controlo de qualidade em análises clínicas ................................................. 10

1.1- Fase pré-analítica ....................................................................................... 11

1.1.1- Colheita de amostras biológicas .......................................................... 12

1.2- Fase analítica .............................................................................................. 16

1.3- Fase pós-analítica ....................................................................................... 17

2- Resíduos hospitalares ....................................................................................... 17

Microbiologia ...................................................................................................... 19

I- Bacteriologia .................................................................................................... 20

I- 1- Diagnóstico das infeções bacterianas e fúngicas ...................................... 21

I- 1.1- Amostras ............................................................................................. 22

I- 1.2- Exame microscópico ........................................................................... 23

I- 1.3- Meios de cultura sólidos ..................................................................... 27

I- 1.4- Meios líquidos de enriquecimento ...................................................... 32

I- 1.5- Geradores ............................................................................................ 33

I- 1.6- Floras bacterianas e fúngicas normais ................................................ 33

I- 2- Provas de identificação de bactérias e fungos leveduriformes ................. 37

I- 3- Processamento dos produtos para exame bacteriológico .......................... 39

I- 3.1- Urina ................................................................................................... 39

I- 3.2- Hemocultura ....................................................................................... 41

I- 3.3- Vias respiratórias: superiores e inferiores .......................................... 43

I- 3.4- Exsudado ocular e exsudado do ouvido ............................................. 45

I- 3.5- Feridas, abcessos, exsudados purulentos, biópsia de tecido e conteúdo

de bomba ........................................................................................................ 45

I- 3.6- Líquidos biológicos ............................................................................ 47

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I- 3.7- Fezes ................................................................................................... 49

I- 3.8- Aparelho genital .................................................................................. 51

I- 3.9- Pontas de cateter ................................................................................. 53

I- 4- Teste de sensibilidade aos antimicrobianos .............................................. 54

I- 4.1- Métodos laboratoriais utilizados no estudo da atividade dos

antibióticos ..................................................................................................... 54

I- 4.2- Métodos automatizados-VITEK ......................................................... 59

I- 5- Teste de despiste de resistência à meticilina do Staphylococcus em meio

de cultura sólido ................................................................................................ 62

I- 6- Controlo de qualidade interno e externo na Bacteriologia ........................ 64

II- Serologia ......................................................................................................... 65

II- 1- Colheita e amostra ................................................................................... 65

II- 2- Metodologia ............................................................................................. 66

II- 2.1- Metodologia automatizada ................................................................ 66

II- 2.2- Metodologia manual .......................................................................... 68

II- 3- Testes serológicos realizados na Serologia.............................................. 69

II- 4- Interpretação e validação das provas serológicas .................................... 70

II- 5- Controlo de qualidade interno e externo na Serologia ............................ 71

III- Parasitologia e Urinas tipo II...................................................................... 72

III- 1- Pesquisa de sangue oculto ...................................................................... 72

III- 2- Exame parasitológico nas fezes .............................................................. 73

III- 3- Urianálise (Urinas Tipo II) ..................................................................... 74

III- 3.1- Análise bioquímica .......................................................................... 75

III- 3.2- Sedimento urinário ........................................................................... 76

III- 4- Controlo de qualidade interno e externo na secção de Parasitologia e

Urinas ................................................................................................................ 77

IV- Hematologia .................................................................................................. 78

IV- 1- Amostra .................................................................................................. 81

IV- 2- Metodologia ........................................................................................... 82

IV- 3- Hemograma ............................................................................................ 82

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IV- 4- Esfregaço de sangue periférico .............................................................. 86

IV- 4.1- Coloração de May-Grünwald-Giemsa ............................................. 87

IV- 5- Separação de hemoglobinas ................................................................... 88

IV- 5.1- HbA1C ............................................................................................. 88

IV- 5.2- HbA2 e HbF ..................................................................................... 89

IV- 6- Teste da fragilidade osmótica ................................................................. 90

IV- 7- Velocidade de sedimentação .................................................................. 91

IV- 8- Coagulação ............................................................................................. 91

IV- 8.1- Avaliação laboratorial ...................................................................... 94

IV- 8.2- Patologias mais comuns na secção de Hematologia ........................ 97

IV- 9- Controlo de qualidade interno e externo em Hematologia .................... 98

V- Bioquímica ..................................................................................................... 99

V- 1- Amostra ................................................................................................... 99

V- 2- Metodologia e análises efetuadas na secção de Bioquímica ................. 101

V- 2.1- Equipamento automatizado e método ............................................. 103

V- 2.2- Urina de 24h .................................................................................... 105

V- 2.3- Líquidos biológicos ......................................................................... 106

V- 2.4- Testes de diagnóstico rápido ........................................................... 107

V- 3- Controlo de qualidade interno e externo em Bioquímica ...................... 108

VI- Hormonologia ............................................................................................. 109

VI- 1- Amostra e metodologia ........................................................................ 110

VI- 2- Análises efetuadas na secção de Hormonologia .................................. 112

VI- 3- Controlo de qualidade interno e externo em Hormonologia ................ 114

VII- Imunologia ................................................................................................ 115

VII- 1- Amostra ............................................................................................... 116

VII- 2- Metodologia ........................................................................................ 116

VII- 2.1- Técnicas ........................................................................................ 116

VII- 2.2- Equipamentos automatizados ....................................................... 118

VII- 3- Análises efetuadas na secção de Imunologia ...................................... 120

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VII- 3.1- Teste de diagnóstico rápido para a pesquisa da proteína de Bence-

Jones............................................................................................................. 121

VII- 4- Controlo de qualidade interno e externo em Imunologia ................... 121

VIII- Bibliografia .............................................................................................. 122

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Agradecimentos

Deixo aqui expressos os meus agradecimentos à Dra. Graça Andrade, pela

oportunidade de realizar o meu estágio no Hospital Dr. Nélio Mendonça,

Funchal.

Às minhas orientadoras, a Dra. Marlene Pires e a Prof. Leonor Correia, por todo

o apoio, atenção, carinho, exigência, disponibilidade e paciência que dispensaram

neste meu percurso.

A todas as pessoas das secções do Serviço de Patologia Clínica em que estagiei,

que contribuíram para que eu fizesse deste estágio uma grande experiência a

nível de formação e a nível pessoal.

Ao serviço de Hemato-Oncologia, pela informação cedida, sobre os doentes de

mieloma múltiplo. Ao Departamento de Informática e ao Departamento de

Estatística à Dra. Alexandra Borges por toda a ajuda prestada.

À minha família e amigos.

E por fim, um agradecimento muito, mas muito especial, à minha mãe, por toda a

atenção e carinho, por estar sempre presente em todas as fases da minha vida,

pelo apoio incondicional e pelos seus grandes conselhos. Sem ti, nada disto seria

possível.

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Resumo

O meu estágio teve lugar no Hospital Dr. Nélio Mendonça, situado na avenida

Luís de Camões, no Funchal. Passei por todas estas valências do Serviço de

Patologia Clínica: Bacteriologia; Serologia; Parasitologia e Urinas; Bioquímica;

Hormonologia; Imunologia; Hematologia, por um período total de 6 meses. Este

serviço está integrado no Hospital Dr. Nélio Mendonça a par dos restantes

serviços clínicos, departamentos clínicos, unidades clínicas, unidades de apoio

clínico, consulta externa, serviço de urgência e outros serviços. Funciona 24

sobre 24 horas dando resposta aos pedidos de análise de rotina e urgência.

Este serviço também recebe as colheitas efetuadas no Hospital dos Marmeleiros e

no Hospital João da Almada, assim como, nos restantes centros de saúde da

Região Autónoma da Madeira, casas de saúde, lares, domicílio, que estão todos

estes integrados, no Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira.

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Lista de abreviaturas

Ac/Acs- Anticorpo/anticorpos

ADA- Adenosina desaminase

Ag/Ags- Antigénio/ antigénios

AT- Aspirado traqueal

ATB- Antibiograma

ATCC- American type culture collection

BAAR- Bacilo álcool-ácido resistente

CDE- Coeficiente de dispersão eritrocitária

CHGM- Concentração de hemoglobina globular média

CLSI- Clinical and laboratory standards institute

CMI- Concentração mínima inibitória

EDTA- Etilenodiaminotetraacetato tripotássico

ELFA- Enzyme linked fluorescent assay

ELISA- Enzyme-linked immunosorbent assay

EQAS- External quality assurance services

EXP- Expetoração

FT- Fator tecidular

HbA1C- Hemoglobina glicada

hCG- Hormona gonodatrofina coriónica humana

HGM- Hemoglobina globular média

HPLC- High-performance liquid chromatography

INSA- Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge

ITU- Infeção do trato urinário

LBA- Lavado bronco-alveolar

LCR- Líquido cefalorraquidiano

LDH- Lactato desidrogenase

McK- MacConkey

NEQAS- National external quality assessment service

PNAEQ- Programa nacional de avaliação externa da qualidade

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RAM- Região autónoma da Madeira

RID- Imunodifusão radial

RLV- Unidade de luz relativa

RNI- Razão normal internacional

RPR- Rapid plasma reagin

SB- Secreções brônquicas

SESARAM- Serviço de saúde da região autónoma da Madeira

SS- Salmonella & Shigella

TP- Tempo de protrombina

TPHA- Treponema pallidum haemagglutination

TSA- Teste de sensibilidade antibiótica

TTP- Tempo de tromboplastina parcial

TTPA- Tempo de tromboplastina parcial ativada

VDRL- Venereal disease research laboratory

VGM- Volume globular médio

VS- Velocidade de sedimentação

vW- VonWillebrand

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1- Controlo de qualidade em análises clínicas

A qualidade consiste num espetro de atividades e processos que formam as

características de um produto ou serviço. Esse espectro divide-se em 5 níveis:

qualidade total ou gestão total da qualidade ou melhoria contínua da qualidade; a

gestão da qualidade; o sistema da qualidade; a garantia da qualidade e o controlo

da qualidade.

Atualmente, a maioria dos serviços de saúde operam duas etapas: a nível da

garantia da qualidade, que consiste num conjunto de atividades que demonstram

que uma organização atingiu um nível aceitável de qualidade; e a nível do

controlo de qualidade, que se baseia em técnicas operacionais para medir,

comparar com objetivos, identificar erros ou problemas e respetivas medidas

corretivas.

Para que uma organização como um hospital atinja os padrões de qualidade

desejados é necessária a participação ativa de todo os seus funcionários. Num

hospital, as funções de cada grupo funcional têm que estar definidas na estrutura

da gestão da qualidade da instituição.

O conceito de qualidade nas análises clínicas deverá, portanto, ser encarado

como parte do conceito mais vasto da qualidade dos serviços de saúde. Assim,

cada laboratório deverá procurar implementar à sua escala o sistema de

qualidade.

Para implementar um sistema de qualidade no laboratório tem de ser

implementado pelo menos estes três conceitos:

Controlo de qualidade

Resume numa monitorização contínua das práticas de trabalho, do equipamento e

dos reagentes, em que o próprio pessoal faz a avaliação dos resultados/dados,

chamando-se assim o controlo de qualidade interno.

Avaliação da qualidade

Ou a avaliação do desempenho, que se apoia na avaliação por terceiros, do

desempenho do laboratório através da análise dos resultados obtidos em análises

de material de controlo (amostras fictícias) realizados da forma e nas condições

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habituais do laboratório, como se de uma amostra de um doente se tratasse, é

denominada como a avaliação da qualidade externa ou controlo de qualidade

externo.

Garantia da qualidade

É o processo total que garante a qualidade dos resultados finais fornecidos pelo

laboratório. Esta garantia da qualidade compreende não só o controlo da fase

analítica mas também das fases pré e pós analíticas do ciclo analítico. O controlo

da fase analítica compreende tanto o controlo de qualidade interno como o

externo.

1.1- Fase pré-analítica

Esta fase consiste todo o processo que envolve e antecede à fase de execução

analítica da amostra, a solicitação da amostra, a preparação do paciente, o registo,

a colheita da amostra biológica, a preparação, o transporte e a receção da

amostra.

Esta fase é da inteira responsabilidade pelo pessoal administrativo e do pessoal

da triagem dentro do serviço de Patologia Clínica (SPC), em caso das não

conformidades e das medidas corretivas. Há erros que têm de ser

resolvidos/retificados nesta fase para que não cheguem à fase analítica, por

exemplo, uma incorreta identificação da amostra (erro no nome do utente), este

problema sendo resolvido na fase pré-analítica, evitará certos problemas na

atribuição dos valores analíticos obtidos a um utente que não fez colheita,

gastando desta forma o hospital, recursos humanos e materiais, levando o

laboratório à algum prejuízo. A maior parte dos erros executados no ciclo

laboratorial é cometida na fase pré-analítica, cerca de 60%.

Na solicitação das análises, seja em formato eletrónico ou em papel, é necessário

adquirir a máxima e correta informação sobre o utente: o serviço requisitante, a

informação clinica, os dados completos do paciente, a data de solicitação e

carimbo.

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Na preparação do doente, necessitou-se fornecer as recomendações corretas do

preparo prévio para a colheita, no jejum, não realizar atividade física, não

consumir drogas e/ou álcool antes da colheita e evitar o stress.

1.1.1- Colheita de amostras biológicas

A avaliação das funções fisiológicas, recorrendo a exames laboratoriais é hoje

em dia importante e indispensável.

Os problemas mais comuns aquando da colheita e no armazenamento das

amostras podem ser:

Hemólise: trata-se da lise dos glóbulos vermelhos. Estes libertam lactato

desidrogenase e potássio, resultando numa amostra não representativa do estado

real do paciente. A hemólise pode ser causada por centrifugação excessiva,

agitação brusca, congelamento das células, colheita mal executada;

Hemoconcentração: acontece quando o garrote é deixado muito tempo no braço,

podendo ocorrer estase na veia e alguns constituintes do sangue podem ficar mais

concentrados em relação ao sangue, numa circulação normal;

Centrifugação: só deve ser feita depois do sangue repousar cerca de 20-30

minutos, após a colheita, para obtenção de soro;

Evaporação: quando as amostras não se encontram devidamente tapadas;

Contaminação química: quando as amostras múltiplas de sangue são obtidas com

o sistema fechado de colheita por vácuo. Os tubos de soro devem ser colhidos

antes dos tubos com anticoagulantes.

A colheita deve ser feita 12 horas após a última refeição, e a recolha deve ser

feita antes da realização de determinados procedimentos diagnósticos ou

terapêuticos. Na altura da colheita, procede-se à confirmação de toda a

informação com o utente.

As administrativas, após receberem a requisição médica e preencherem a ficha

informática, emitem e anexam as etiquetas de código de barras (tantas quanto

forem necessárias, conforme a requisição e os tubos de colheita necessários). A

etiqueta possui os seguintes elementos: nome completo, sexo, idade, serviço, nº

do processo clínico, se é urgente ou de rotina e a data da colheita.

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As amostras são rececionadas na sala de triagem, vindas das diversas unidades de

saúde do serviço de saúde da região autónoma da Madeira (SESARAM), e as

administrativas processam os pedidos de requisição. As amostras são rejeitadas

se estiverem indevidamente acondicionadas, mal vedadas e com derramamento

de produto, coaguladas, hemolisadas ou se as proporções de sangue

anticoagulante não foram respeitadas.

A colheita da amostra constitui uma das etapas mais importantes para assegurar

um resultado laboratorial correto. Representa o primeiro contato entre o

laboratório e o paciente. O sangue é o produto biológico mais utilizado no

laboratório.

O método mais comum para obter uma amostra de sangue é através de uma

punção venosa. O sangue venoso é retirado através de uma agulha e é recolhido

para uma seringa ou para um tubo de vácuo.

1.1.2- Execução da punção venosa

A execução da punção venosa, executou-se em várias etapas:

1- Preparação do utente:

Identificou-se e preparou-se o paciente: identificação completa; requisição

analítica corretamente preenchida; explicação do procedimento;

Efetuou-se um exame visual e a palpação das veias: viabilidade,

estabilidade, direção e profundidade da veia. As veias mais

frequentemente utilizadas são: veia cefálica mediana, veia cubital

mediana, veia cefálica e veia basílica;

Procedeu-se aos seguintes cuidados: seleção do braço do paciente do lado

de uma mastectomia e /ou onde fora submetido a uma infusão intravenosa,

de um local com hematoma, edema ou contusão, e de um local com

múltiplas punções;

Caso as veias anteriormente referidas não forem viáveis há outros locais de

punção: região dorsal da mão/ face plantar do pé.

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2- Preparação do material de colheita

Depois de escolhido o local de punção, deu-se a selecção do material necessário,

as etiquetas para identificação das amostras, as luvas, o algodão ou gaze

esterilizada, o álcool etílico a 70%, o adaptador para colheita por vácuo e a

butterfly ou seringa (o método mais utilizado no SPC é o sistema fechado de

colheita por vácuo tipo Vacuette)

Os tubos de vácuo mais utilizados no SPC são:

Tampa de cor amarela (bioquímica)

Possuem um gel ativador da coagulação para obtenção de soro. Os tubos para

bioquímica são revestidos internamente com partículas de sílica micronizada, as

quais ativam a coagulação quando os tubos são gentilmente invertidos. Esses

tubos contêm uma barreira de gel presente no fundo do tubo. Este material possui

densidade intermediária entre o sangue coagulado e o soro. Durante a

centrifugação, a barreira de gel move-se para cima posicionando-se entre o soro e

o coágulo, onde forma uma barreira estável, separando o soro dos outros

componentes celulares. O soro pode ser utilizado diretamente do tubo de colheita

(tubo primário). Esta barreira permite a estabilização da maioria dos parâmetros

no tubo primário, sob as condições de armazenamento recomendadas, até 48

horas.

Tampa de cor lilás (hematologia)

Com anticoagulante etilenodiaminotetraacetato tripotássico (EDTA) que é um

quelante do cálcio, forma sais de cálcio insolúveis e impede a coagulação do

sangue. As análises no setor de Hematologia são executadas em sangue total.

Tampa de cor azul (coagulação)

Com anticoagulante citrato de sódio que forma sais de cálcio e remove o cálcio.

Tampa de cor verde

A parede interna deste tubo é revestida com heparina de lítio. Esse anticoagulante

ativa as enzimas antiplaquetárias, bloqueando, assim, a coagulação em cascata

dos elementos do sangue. Normalmente são utilizados nos exames de química

clínica.

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Cada tipo de anticoagulante exerce o seu efeito de maneira própria. A proporção

do anticoagulante em relação ao volume de sangue é uma variável importante, de

forma a evitar erros nos resultados.

3- Execução da colheita da amostra

Assegurou-se o correto posicionamento do antebraço e desinfecção do local da

punção com uma mecha de algodão, ou gaze embebida em álcool etílico a 70 %,

e deixou-se secar ao ar livre, logo de seguida:

1- aplicou-se o garrote;

2- associou-se a agulha ao adaptador;

3- descapsulou-se a agulha;

4- com o indicador ou o polegar de uma das mãos, esticou-se a pele do paciente

fixando a veia escolhida e, com o sistema agulha-adaptador na outra mão,

puncionou-se a veia com precisão e rapidez (movimento único). O sistema

agulha-adaptador deve estar a um ângulo de 15˚ em relação ao braço do paciente;

6- com a outra mão pegou-se no tubo de colheita adequado e conectou-se ao

adaptador;

7- com o tubo de colheita dentro do adaptador pressionou-se com o polegar, até

que a tampa ficasse perfurada;

8- logo que o sangue flui para dentro do tubo, retirou-se o garrote;

9- à medida que foram sendo preenchidos os tubos, homogeneizou-se

gentilmente por inversão os tubos com anticoagulante;

10- aquando da utilização último tubo, retirou-se a agulha. A agulha foi

descartada no contentor para resíduos corto-perfurantes;

11- colocou-se os tubos no suporte, devidamente identificados que de seguida

foram levados para a sala de triagem;

12- pediu-se ao paciente que exercesse pressão sobre o local da punção com

algodão, sem dobrar o braço, até que parasse de sangrar e aplicou-se um penso

rápido.

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Considerações aquando da colheita

Todo o produto de origem humana deve ser considerado um potencial

transmissor de infeção e, como tal, manuseado de acordo com regras de

segurança. Contudo, é necessário especial cuidado com os produtos provenientes

de doentes com hepatites, sida e com patologias infecto-contagiosas.

Na prevenção do risco biológico, no ato da colheita, deve-se:

- usar luvas descartáveis de plástico ou de borracha. Se houver um risco alto,

tomar outras precauções adicionais como usar um avental de plástico descartável

e uma máscara;

- ter cuidado para prevenir feridas com agulhas e lancetas. Não manipular

agulhas usadas;

- utilizar sempre seringas, agulhas e lancetas descartáveis;

- o material usado nas colheitas (compressas e algodão) deve ser deitado no

contentor preto de PVC;

- as amostras devem ser enviadas ao laboratório em contentores próprios,

suficientemente resistentes, para evitar acidentes.

1.2- Fase analítica

Após a obtenção das amostras, seguiu-se a marcha laboratorial analítica. O

controlo desta fase analítica compreende tanto o controlo de qualidade interno

como o externo.

Esta fase compreende a execução da amostra, bem como tudo o que lhe está

inerente: as técnicas, os reagentes, os equipamentos, os controlos, os

calibradores, a refrigeração.

Monitorizou-se todos os reagentes e todas as técnicas todos os dias, com uma

especial atenção, na secção de Bioquímica, em que as técnicas são mais sensíveis

e os valores são mais “apertados” (e.g. creatinina), bem como nas secções de

Hormonologia e Imunologia.

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1.3- Fase pós-analítica

Muito sucintamente, esta fase surge depois da fase analítica e nesta deu-se a

validação dos resultados, de acordo com a informação clínica do doente e a

entrega atempada ao médico ou ao serviço requisitante.

2- Resíduos hospitalares

Triagem e acondicionamento dos resíduos hospitalares

No SPC e em qualquer outro hospital, existem preocupações ambientais e com a

saúde pública, existindo um sistema de triagem e de acondicionamento de

resíduos em todos os sectores (quadro I).

Quadro I: Gestão de resíduos dos grupos I, II, III e IV

Resíduos dos grupos I e II

(resíduos não perigosos):

Resíduos dos grupos III e IV (resíduos

perigosos):

São resíduos equiparados a urbanos não

apresentam exigências especiais no seu

tratamento (I) e resíduos hospitalares não sujeitos

a tratamentos específicos, podendo ser

equiparados a urbanos (II).

Depositam-se nos

sacos de plástico preto e destinam-se à lixeira

comum. A título de exemplo, invólucros de

vários materiais em papel plastificado, papel

autocolante, papel encerado, papel metalizado,

toalhetes de papel, material de escritório.

São resíduos de risco biológico: resíduos

contaminados ou suspeitos de contaminação,

suscetíveis de incineração ou de outro pré-

tratamento eficaz, permitindo uma posterior

eliminação como resíduo urbano (III) e resíduos

hospitalares específicos; resíduos de vários tipos

de incineração obrigatória (IV). São depositados

nos contentores de polietileno, de cor preta, e

destinam-se à incineração. Encaixam-se nessa

categoria: tubos já analisados, frascos de reagentes

vazios, calibradores vazios, controlos utilizados,

monovettes utilizadas, compressas, qualquer

material que teve contacto com os produtos

biológicos.

Resíduos corto-perfurantes

Deu-se a colocação destes resíduos (exemplos: lâminas, agulhas e restante

material corto-perfurante que constituem um risco potencial de ocorrer acidentes

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por picada ou corte.) nos contentores estanques e rígidos, identificados com o

símbolo de BioHazard, geralmente são de cor amarela e vermelha.

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Microbiologia

A microbiologia médica é uma ciência que estuda a interação entre o ser humano

e os microrganismos, nomeadamente as bactérias, vírus, fungos e parasitas.

A microbiologia clínica ocupa-se primordialmente com a etiologia das doenças

infeciosas, com o estudo da suscetibilidade aos antimicrobianos e o controlo da

infeção associada aos cuidados de saúde. Esta valência no Hospital Dr. Nélio

Mendonça está dividida em 5 secções: Bacteriologia I; Serologia; Biologia

Molecular, que dão apoio aos vários hospitais, a Bacteriologia II e secção de

Parasitologia / Urinas direcionadas essencialmente para a saúde pública.

Na secção de Bacteriologia I, na qual realizei o meu estágio, deu-se resposta ao

diagnóstico hospitalar, desde consulta externas e serviços de internamento dos

três Hospitais (H. Dr. Nélio Mendonça (HNM), H. dos Marmeleiros e o H. Dr.

João de Almada) incluindo o Serviço de Urgência.

Na secção de Bacteriologia II, respondeu-se aos pedidos de todos os centros de

saúde da região e da unidade Dr. Agostinho Cardoso.

A secção de Serologia contempla as anteriores Bacteriologias, I e II e é onde se

realizaram análises de biologia molecular e micobacteriológico.

Na secção de Parasitologia e Urinas, executou-se a análise sumária da urina

(urinas Tipo II), as pesquisas de parasitas e também de sangue oculto nas fezes.

O meu estágio teve a duração de dois meses, durante os quais acompanhei as

secções de Bacteriologia I, onde permaneci por um período maior, da Serologia e

da Parasitologia/Urinas.

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I- Bacteriologia

No campo das doenças infeciosas, os resultados laboratoriais dependem, em

grande parte, da qualidade da amostra, do momento em que o produto é colhido,

dos cuidados a ter com a sua manipulação, bem como dos conhecimentos e

experiência dos profissionais.

Na maior parte dos casos de doença infeciosa, o diagnóstico de entrada feita pelo

médico é um diagnóstico presuntivo, tendo em conta os sinais e sintomas

apresentados pelo doente, sendo o diagnóstico definitivo realizado aquando da

identificação do agente patogénico.

O diagnóstico microbiológico abrange a caracterização de milhares de agentes

que provocam doenças infeciosas ou estão associadas a elas, sejam elas causadas

por bactérias, vírus, parasitas e fungos. As técnicas utilizadas para caracterizar

estes agentes infeciosos dependem da clínica e do tipo de agente que está a ser

investigado, tendo em conta, sempre, a flora normal da amostra para saber o que

realmente é patológico a fim de fazer uma correta reportação de resultados.

Nenhum teste, por si só, permite o isolamento ou a caracterização de todos os

organismos patogénicos potenciais. As informações clínicas do paciente e toda a

diagnóstica envolvente, como a Bioquímica ou a Hematologia, são de extrema

importância e um auxílio para um correto diagnóstico com a máxima qualidade e

fidelidade.

A maior parte dos microrganismos patogénicos cresce lentamente, levando no

mínimo 24 horas ou mais, dias ou mesmo até semanas, para o seu isolamento e

identificação. Porém o tratamento a administrar ao paciente não pode ser adiado

até que esse processo tenha sido concluído. Após a obtenção das amostras

adequadas e da informação do diagnóstico clínico presuntivo ao laboratório, o

médico inicia o tratamento antibiótico empírico contra o(s) microrganismo(s),

eventuais responsáveis pela infeção do paciente. Quando obtém resultados do

laboratório o médico poderá ponderar a eventual mudança de terapêutica e

reavaliar o diagnóstico. Essas informações por parte do laboratório consistem em

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relatórios preliminares dos resultados, obtidos em cada etapa de isolamento e

identificação do agente etiológico da doença.

I- 1- Diagnóstico das infeções bacterianas e fúngicas

O exame laboratorial bacteriológico iniciou-se com o exame direto, seguindo-se

do exame cultural, ambos realizados em ambiente estéril. Se for isolado um

microrganismo específico na cultura passa-se à respetiva identificação e a

avaliação quanto a sua suscetibilidade aos antimicrobianos.

Utilizou-se os seguintes procedimentos laboratoriais (metodologia) no

diagnóstico clínico das causas infeciosas:

- Exame macroscópico;

- Exame microscópico;

- Sementeira em meios de cultura adequados para o enriquecimento, isolamento e

seleção de colónias;

- Caraterização das bactérias patogénicas ou potencialmente patogênicas

isoladas:

Caraterísticas morfológicas;

Caraterísticas culturais;

Caraterísticas tintoriais;

Caraterísticas bioquímicas;

Estrutura antigénica;

- Provas de sensibilidade aos agentes quimioterapêuticos e a respetiva

interpretação de acordo com o microrganismo identificado e origem do produto a

partir do qual foi isolado;

- Deteção do antigénio do agente por ensaio imunológico (aglutinação do latex)

ou anticorpos marcados com fluoresceína ou com peroxidase (Serologia);

- Hibridização DNA-DNA ou DNA-RNA para a deteção de genes específicos do

agente patogénico nas amostras do paciente (biologia molecular).

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I- 1.1- Amostras

Deu-se a identificação adequada da amostra e rotulação, com a introdução da

informação clínica relevante ao diagnóstico, os dados de identificação do

paciente, a identificação do médico e serviço requisitante. Estes critérios estão

enquadrados na fase pré-analítica, tanto na microbiologia, como nas outras

valências do SPC, dado que um erro a esse nível pode comprometer as fases

seguintes: a analítica e a pós-analítica.

Uma colheita correta da amostra constitui uma das etapas mais importantes da

marcha laboratorial, visto que os resultados vão depender em grande parte desta

etapa (pré-analítica).

A amostra deve ser obtida do local que provavelmente há presença do agente

infecioso (num determinado estadio da doença), devendo ser manipulada de

modo a favorecer a sua sobrevida e crescimento do microrganismo.

Algumas regras gerais da colheita e manipulação das amostras:

a) a quantidade de material deve ser adequada e bem representativa (e.g. uma

amostra salivar em vez de uma expetoração);

b) obtenção de amostras significativas para o diagnóstico preferencialmente antes

da administração de antimicrobianos;

c) evitar a contaminação da amostra , utilizando apenas equipamento estéril e

sempre com precauções assépticas;

d) a amostra deve ser levada de imediato para o laboratório e processada o mais

rapidamente possível.

Acompanhou-se a rotina do laboratório, e adquiriu-se treino na execução do

exame bacteriológico de diferentes produtos:

- urina;

- sangue;

- expetoração (EXP), secreções brônquicas (SB), aspirado traqueal (AT), lavado

bronco-alveolar (LBA);

- exsudados nasais, faríngeos, ocular e ouvido;

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- pus e líquidos biológicos (LCR, L. ascítico, L. pleural, L. peritoneal, L.

pericárdico e L. sinovial);

- exsudado vaginal, uretral e perianal;

- fezes;

- pontas de cateter.

I- 1.2- Exame microscópico

O exame macroscópico é a primeira etapa do estudo, seguido do exame

microscópico e identificação de um microrganismo com a observação e análise

da forma, tamanho e organização/agrupamento dos microrganismos.

o Exame a fresco

O exame a fresco é utilizado por e.g. no estudo das urinas, com a visualização do

sedimento urinário (e.g. com a presença de leucócitos em caso de infeção) e no

estudo micológico no exsudado vaginal para a visualização de elementos

leveduriformes (Candida albicans). Este tipo de exame é utilizado sempre que

necessário ou em caso de dúvidas.

o Exame direto

O exame direto constitui um método relativamente simples, permite o

diagnóstico presuntivo devendo ser sempre acompanhado pelo exame cultural. É

um exame de baixo custo e institui-se como uma ferramenta de apoio à

identificação do microrganismo (embora muito menos sensível que o exame

cultural).

No laboratório são efetuados dois tipos de coloração: a coloração pelo método de

Gram; a coloração para as bactérias álcool-ácido resistentes (BAAR) de Ziehl-

Neelsen:

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Coloração pelo método de Gram

Constitui um procedimento de grande utilidade no diagnóstico microbiológico.

Quando há suspeita de infeção bacteriana, deve-se efetuar um esfregaço, corado

pelo método de Gram, figura 1, e examinadas ao microscópio

Fig. 1: Coloração pelo método de Gram.

Os corantes combinam-se quimicamente com o protoplasma bacteriano. Se a

célula ainda não estiver morta, o próprio processo de coloração irá destruí-la.

Os corantes mais utilizados são os sais. Os corantes básicos consistem num

catião dotado de cor com um anião incolor e os corantes ácidos comportam-se de

modo inverso.

As células bacterianas são ricas em ácido nucleico, que apresentam cargas

negativas na forma de grupos fosfato que se combinam com os corantes básicos

de carga positiva. Os corantes ácidos não coram as células bacterianas e podem

ser utilizados para corar o material de fundo com uma cor contrastante. Os

corantes básicos coram uniformemente as células bacterianas, a não ser que o

RNA citoplasmático seja inicialmente destruído. Entretanto, podem-se utilizar

técnicas especiais de coloração para diferenciar flagelos, cápsulas, paredes

celulares, membranas celulares, grânulos, núcleos e esporos.

1.Fixação com calor ou álcool 96%: 1min.;

2.Cobrir com solução de cristal de violeta: 1

min.;

3.Lavar com H2O;

4.Cobrir com Iodo: 5 min.;

6.Descorar álcool-acetona: 10 a 30s;

7. Cobrir com Safranina: 1min.;

8. Lavar com H2O e secar.

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Coloração de Ziehl-Neelsen

Utilizada para corar as BAAR, que são aquelas que retêm carbol-fucsina (fucsina

básica dissolvida numa mistura de fenol-álcool-água), mesmo quando descoradas

com ácido clorídrico em álcool. Um esfregaço de células em lâmina é banhado

com carbol-fucsina e aquecido em vapor, procedimento após o qual a

descoloração com ácido- álcool é efetuada. Por fim, aplica-se um contra corante

contrastante (azul de metileno). As BAAR (micobactérias e alguns dos

actinomicetos relacionados) adquirem cor vermelha, enquanto as outras

apresentam a cor do contra corante.

Os verdadeiros bacilos da tuberculose caracterizam-se pela sua álcool-ácido-

resistência, isto é, o álcool etílico a 95% contendo 3% de ácido clorídrico

descolora rapidamente todas as bactérias, exceto as micobactérias. As amostras

destinadas à pesquisa de BAAR, são para a pesquisa de Mycobacterium

tuberculosis. Estas são pesquisadas normalmente no trato respiratório no LBA,

na EXP, nas SB, no LCR e no suco gástrico.

Na bacteriologia, só se realizam as colorações para suspeita de tuberculose,

sendo o resto do diagnóstico realizado na Serologia: o exame cultural, o teste de

sensibilidade antibiótica (TSA) e também a confirmação por Biologia Molecular.

Sendo a M. tuberculosis a BAAR mais comum, as amostras de excelência

destinadas para a sua pesquisa são: LCR, lavado bronco alveolar e suco gástrico.

No exame direto, corado pelo método de Gram, os microrganismos Gram +

apresentam uma coloração púrpura-azulada, ao passo que a cor vermelha é

indicadora de microrganismos Gram -. Este exame também permite avaliar a

morfologia (cocos, bacilos, vibrião, etc.) das bactérias (fig.2).

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Fig.2: Morfologia bacteriana.

Embora não permitindo a identificação da espécie, clarifica-nos apenas se são

bactérias gram-positivas ou gram-negativas, e também se são cocos, bacilos,

diplococos. Este método de Gram permite realizar um diagnóstico presuntivo e

orientar o estudo para a identificação do microrganismo, por exemplo, se forem

observados cocos gram-positivos dispostos em cadeia são sugestivos de

estreptococos e cocos gram-positivos dispostos em cacho são sugestivos de

estafilococos. Algumas bactérias gram-positivas não viáveis podem exibir

coloração gram-negativa, daí a importância de uma boa coloração para que não

haja enganos na identificação do tipo de bactérias presentes.

o Exame cultural

O exame cultural consiste em semear amostras biológicas, em meios de cultura,

gerais ou seletivos. Este processo é feito em meio próprio (culturas) que permita

a nutrição, o crescimento e a multiplicação de microrganismos. Para cada

produto biológico, são utilizados diferentes meios, consoante os microrganismos

possíveis de se encontrar nessa amostra e o diagnóstico clínico do doente. Este

exame permite, também, a identificação do género/espécie do agente causador da

infeção.

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Nota: Para a realização do exame cultural, a amostra deve conter pelo menos 105

microrganismos por mililitro (mo/ml) para que possam ser detetados num

esfregaço. O meio de cultura líquido contendo 105mo/ml tem um aspeto

macroscopicamente turvo, que também pode ser observado em algumas amostras

líquidas (urina turva pode ser um sinal de infeção). Nas amostras que contêm 102

a 103 mo/ml há crescimento em meios sólidos de culturas, enquanto as que

contêm 10 mo/ml ou menos bactérias podem produzir crescimentos em meios

líquidos, sendo estes meios utilizados apenas para enriquecimentos para garantir

o crescimento da bactéria.

I- 1.3- Meios de cultura sólidos

Os meios de cultura utilizados para a realização do exame cultural, são muito

mais sensíveis e específicos que o exame direto.

Para o diagnóstico bacteriológico utilizaram-se vários meios de cultura gerais,

seletivos e diferenciais para as bactérias aeróbias, as anaeróbias facultativas e

obrigatórias.

O conhecimento sobre os mecanismos e exigências da nutrição microbiana

permite, aos microbiologistas, cultivar microrganismos em laboratório, usando

meios de cultura adequados. Uma má escolha do tipo de meio compromete, de

certo modo, a amostra e o tempo de identificação. Nos meios de cultura, os

microrganismos multiplicam-se, o que vai permitir isola-los e identifica-los. Para

além dos nutrientes necessários às exigências dos microrganismos, os meios de

cultura devem ser estéreis.

Para caracterizar individualmente um microrganismo, é necessário obtê-lo em

cultura pura (apenas um tipo de microrganismo). Essas culturas podem ser

obtidas pelos métodos de estrias ou de espalhamento em placa, obtendo-se

colónias, que são visíveis macroscopicamente e são provenientes da

multiplicação celular. À partida, as colónias individualizadas e bem distanciadas

umas das outras, são originadas, em princípio a partir de uma única célula.

O isolamento de uma estirpe bacteriana, em cultura pura a partir de uma cultura

mista (cultura que tem mais do que um tipo de microrganismos), requer o uso de

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meios de cultura seletivos e/ou diferenciais. Os meios seletivos são formulados

para suprimir o crescimento dos microrganismos que não interessam, permitindo

o crescimento dos microrganismos que se desejam isolar.

I- 1.3.1- Meios de cultura não seletivos

Meios de cultura não seletivos utilizados na Bacteriologia do HNM:

Gelose de sangue

É um meio de cultura padrão para qualquer tipo de amostra. Geralmente

preparado com 5% de sangue de carneiro, sendo um meio geral, permite a

deteção da maioria dos microrganismos aeróbios e anaeróbios facultativos,

bactérias exigentes e também permite a evidência de hemólise.

Gelose de chocolate Polivitex

É um meio que contém sangue aquecido com ou sem suplementos sendo um

meio não seletivo. Alguns microrganismos que não crescem em gelose de sangue

como a Neisseria spp. e Haemophilus spp. patogénicos e crescem nesta gelose.

Muller-Hinton

Este meio usou-se para o estudo da suscetibilidade aos antimicrobianos.

I- 1.3.2- Meios seletivos

Meios seletivos utilizados:

Gelose chocolate PolyVitex V.C.A.T

Normalmente denominada por gelose de chocolate. Pode ser suplementada para o

isolamento de determinadas bactérias, uma vez que inclui os seguintes

antibióticos vancomicina, colistina, anfotericina e trimetropim – com incubação a

35ºC em atmosfera enriquecida com 5% de CO2, o que provoca o isolamento de

Neisseria gonorrhoeae em amostras com flora autóctone, mais utilizado para os

gonococos, visto que é uma bactéria muito exigente.

A gelose chocolate com bacitracina vai favorecer o crescimento de Haemophilus

spp. nos produtos com flora mista, devido à inibição das bactérias gram-positivas

e a maioria das Neisserias spp..

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Gelose MacConkey (McK)

É um meio de cultura seletivo para bactérias gram-negativas suprimindo as gram-

positivas (através dos sais biliares).

Num meio diferencial podem crescer vários tipos de microrganismos, mas devido

ao diferente aspeto que tomam nesse meio, podem distinguir-se entre si as

colónias microbianas (e.g. o meio de cultura McK contém lactose e vermelho

neutro, um indicador de pH que é amarelo, a pH neutro, e rosa ou vermelho, a pH

ácido. A Escherichia coli fermenta lactose e produz ácidos originando nesse

meio colónias vermelhas ou rosa. A Salmonella, não fermenta a lactose, origina

colónias incolores nesse meio, ou seja, a presença de lactose permite diferenciar

as bactérias fermentadoras das não fermentadoras).

As amostras que são semeadas para a pesquisa de anaeróbios obrigatórios devem

ser semeadas em pelo menos dois tipos de meios, um que seja enriquecido e

suplementado e um meio seletivo contendo substâncias que inibem o crescimento

de bacilos gram-negativos e cocos gram-positivos anaeróbios facultativos.

Gelose de Chapman (manitol salgado)

É um o meio de cultura que favorece o crescimento dos gram-positivos,

precisamente para o isolamento de Staphylococcus spp. e identificação

presuntiva de S. aureus (fermentação do manitol).

Gelose de CNA (meio de azido)

Gelose com sangue, colistina e ácido nalidíxico, onde a colistina e o ácido

nalidíxico inibem o crescimento das Enterobacteriaceae e Pseudomonas spp., o

que torna o meio seletivo para bactérias gram-positivas. Contudo, algumas

bactérias gram-negativas como Gardnerella vaginalis e alguns Bacteroides spp.

também se desenvolvem neste meio.

Gelose CLED (cistina- lactose - défice de eletrólitos)

É um meio não seletivo, diferencial, que vai permitir o isolamento dos agentes

mais frequentes de infeção urinária. A insuficiência de eletrólitos inibe o

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“swarming” dos Proteus spp. e a lactose permite diferenciar os fermentadores dos

não fermentadores.

Gelose Salmonella & Shigella (SS)

Para a cultura de fezes existem meios específicos, seletivos e diferenciais como,

por exemplo, a gelose SS que favorece o crescimento da Salmonella e da

Shigella e o seu isolamento. As colónias distinguem-se pela cor. Este meio inibe

também dos “coliformes” pelo verde brilhante e sais biliares. A presença de sais

de ferro permite a deteção das estirpes produtoras de H2S.

Gelose SMID

É um meio cromogéneo para o isolamento seletivo e de diferenciação destinado à

deteção das Salmonella a partir de fezes

A coloração das colónias obtém-se através da associação de substratos:

- Dois substratos nutritivos hidrocarbonados (sorbitol e glucuronato) combinados

com um indicador colorido (vermelho neutro) que provoca a coloração rosa das

colónias de Salmonella;

- Dois substratos cromogéneos que provocam a coloração azul das colónias que

possuem uma β-glucosidade (não Salmonella).

Gelose campylobacter

É um meio para campylobacter, requer uma temperatura muito particular de

crescimento, os 42ºC durante 3 dias.

Gelose sorbitol

É um meio cromogéneo específico para Escheriachia coli O157, em que as

colónias apresentam-se de cor violeta. Se houver outro tipo de bactérias no meio,

estas apresentam-se de cor azul metálico. A incubação é durante 18h, a uma

temperatura de 35-37ºC.

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Gelose sabouraud

Para o isolamento de fungos, é um meio que possui essencialmente glicose.

Muitas leveduras crescem em ágar de sangue. Os fungos dimórficos, na fase de

micélio crescem bem em meio sabouraud. As culturas para fungos costumam ser

efetuadas em duplicado, sendo um conjunto incubado entre 25 e 30ºC e o outro

entre 35 e 37ºC (isto em zonas endémicas com essas temperaturas que

desenvolvam esse tipo de fungos).

Gelose candida (CAN)

É um meio seletivo e cromogénico destinado ao isolamento das leveduras, à

identificação imediata de Candida albicans e à diferenciação de um conjunto de

espécies agrupando C. tropicalis, C. lusitaniae e C. Kefyr.

A hidrólise específica de um substrato cromogéneo de hexosaminidase na

presença de um indutor da enzima leva à coloração azul das colónias de C.

albicans. A hidrólise de um segundo substrato permite diferenciar as culturas

mistas e orientar a identificação para as outras espécies. As colónias que

hidrolisam este substrato são pigmentadas a rosa.

A inibição da flora bacteriana é obtida pela adição de uma mistura de

antibióticos.

Gelose de Lowenstein-jensen

Para a cultura das micobactérias (realizado na Serologia) é utilizado o meio

sólido com uma incubação até 45 dias. As culturas são observadas

periodicamente durante o período de incubação, ao fim do qual, se não houver

crescimento, é dado como resultado negativo. A colónia da micobactéria é muito

particular, sendo em forma de couve-flor. É utilizado também um meio líquido

de referência que leva ao crescimento mais rápido destas colónias do que no

meio sólido.

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I- 1.4- Meios líquidos de enriquecimento

As culturas em caldo em meios altamente enriquecidos, os caldos de carne, são

importantes para culturas de líquidos biológicos e tecidos obtidos de biópsia.

Caldo Cooked Meat Medium (caldo de carne) e caldo Todd Hewitt

Meio líquido em tubo para o crescimento de micro-organismos.

Caldo selenito

Os meios de cultura que permitem o crescimento de uma espécie bacteriana em

detrimento de outras, caldo selenito ou caldo de tetrationato permitem o

crescimento de Salmonella a partir de fezes, sem o crescimento da flora

autóctone existente no intestino. A subcultura para meio sólido deve ocorrer

entre as 6 e 12 horas, pois esse é o prazo médio de inibição de outras estirpes, tal

como o Proteus spp..

Granada (IGLB) - caldo bifásico

Meio seletivo para o rastreio e a identificação dos estreptococos do grupo B (S.

agalactiae).

Frascos de hemocultura BACTECTM

Os meios existentes nestas garrafas são constituídos por:

- caldo nutritivo próprio para aeróbios, anaeróbios e fungos, de acordo com a

garrafa em questão;

- anticoagulante, para além da sua atividade anticoagulante, tem uma ação

fagocítica e anti-complemento e inativa parcialmente alguns antibióticos;

- penicilinase, que inativa certas penicilinas e outros antibióticos β-lactâmicos

presente no sangue do doente;

- resinas, inativam a maioria dos antibióticos pela absorção dos mesmos à

superfície das partículas de resina e outros componentes específicos do meio.

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I- 1.5- Geradores

Há técnicas especiais de crescimento para microrganismos anaeróbios e

microaerofílicos. Os anaeróbios estritos exigem uma ausência total de oxigénio

para o seu crescimento, enquanto os microaerófilos requerem cerca de 5% de O2.

Para isso, estão disponíveis comercialmente geradores que permitem obter as

diferentes atmosferas necessárias para a cultura de microrganismos patogénicos

em laboratório, em CO2, microaerofilia e anaerobiose. Para a anaerobiose,

incuba-se 24 horas a 37˚C usando o Genbox anaer. Para o meio em CO2 incuba-

se 24 horas a 37˚C usando o Genbox CO2. Para obter uma atmosfera

microaerofílica, incuba-se 72 horas a 42˚C usando também o Genbox.

I- 1.6- Floras bacterianas e fúngicas normais

O termo “flora normal” refere-se à população de microrganismos que habita

normalmente num dado local anatómico (pele e nas mucosas) dos indivíduos

saudáveis. Alguns microrganismos, como a Mycobacterium tuberculosis, a

Salmonella thyphi e as espécies da Brucella spp., são considerados bactéricas

patogénicas sempre que encontradas em pacientes.

Muitas infeções são causadas por microrganismos que fazem parte da flora

normal ou que colonizam transitoriamente um determinado local anatómico,

como e.g., a Escherichia coli, que faz parte da flora gastrointestinal normal e

constitui a causa mais comum das infeções do trato urinário. Da mesma forma, a

grande maioria das infeções bacterianas mistas por anaeróbios é causada por

microrganismos que fazem parte da flora normal.

O número relativo de microrganismos encontrados numa cultura é importante

quando se trata de microrganismos da flora normal. Quando existe um

predomínio, poderá ser ele o próprio o responsável pela infeção. Por e.g. sempre

que os bacilos gram-negativos são numerosos como a Klebsiella pneumoniae,

estas são encontradas em associação a algumas bactérias nasofaríngeas normais

em amostras como a expetoração. Os bacilos gram-negativos são fortemente

suspeitos como causa da pneumonia, visto que normalmente não se encontram

em grande número na expetoração ou nas secreções brônquicas como também na

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flora nasofaríngea, logo, é necessário proceder à identificação destes

microrganismos.

Já os abcessos abdominais costumam conter uma distribuição normal de

microrganismos aeróbios, anaeróbios facultativos e anaeróbios obrigatórios

representativos da flora gastrointestinal. Nestes casos, não se justifica a

identificação de todas as espécies presentes, sendo significativo as três

predominantes, comparando-as com a flora normal gastrointestinal e logo que

possível reportando-as ao médico.

Os fungos, em pequeno número, podem fazer parte da flora normal, sobretudo,

nos locais anatómicos com comunicação com o exterior, e.g. o nariz, os ouvidos.

Normalmente, não estão presentes em zonas profundas, do aparelho respiratório

inferior, e.g. nos pulmões, desta forma quando encontrados (e.g. Aspergillus

spp.) têm de ser estudados, identificados e reportados.

Segue-se a tabela I com alguns os microrganismos residentes na flora normal nos

diferentes tratos, nomeadamente, da pele, da nasofaringe, do gastrointestinal e

por fim no genital.

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Tabela I: Flora normal nos indivíduos saudáveis.

Bactérias da flora normal

Pele

Staphylococcus epidermidis; Staphylococcus aureus (em <nº); Micrococcus

spp.; Neisseria spp. não-patogénicas; Estreptococos α-hemolíticos e não-

hemolíticos; Difteróides; Proponibacterium spp.; Peptostreptococcus spp.;

Outros microrganismos em < nº: Candida spp., Acinobacter spp..

Nasofaringe

- Qualquer quantidade observada dos seguintes microrganismos:

Difteroides, Neisseria spp. não-patogénicas, Estreptococos α-hemolíticos e

não-hemolíticos, Staphylococcus epidermidis, anaeróbios (e.g. cocos

anaeróbios, Fusobacterium spp.).

- Em menor número, os seguintes microrganismos quando acompanhados com

os citados anteriormente:

Leveduras, Haemophilus spp., pneumococos, Staphylococcus aureus, bacilos

gram-negativos, Neisseria meningitidis.

Gastrointestinal

Várias enterobactérias, exceto Salmonella spp., Shigella spp., Yersínia spp.,

Vibrio e Campylobacter .

Bacilos gram-negativos não-fermentadores de glicose, Enterococos,

Estreptococos α-hemolíticos e não-hemolíticos, Difteroides, Staphylococcus

aureus e Leveduras (em pequeno nº) anaeróbios em grande número (e.g.

Bacteroides fragilis, Fusobacterium spp., Clostridium perfringens e

Bifidobacterium spp.-lactobacilos anaeróbios)

Genital

Qualquer quantidade observada dos seguintes microrganismos:

Corynebacterium spp e Lactobacillus spp.,estreptococos α-hemolíticos e não-

hemolíticos, Neisseria spp. não-patogénicas.

Os seguintes microrganismos quando presentes e não predominantes:

enterococos, enterobactérias e outros bacilos gram-negativos, Staphylococcus

epidermidis, Candida albicans e outras leveduras.

Anaeróbios; quando em crescimento puro ou nitidamente predominante o

Clostridium spp. e Peptostreptococcus spp. podem ser importantes. O

estreptococo do grupo B faz parte da flora em 25% nas mulheres durante o

período da gravidez, o que é preocupante na altura do parto passe para o bebé

o que pode levar a uma sépsis neonatal e meningite (no último trimestre).

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O isolamento de bactérias e fungos são de uma importância significativa se o

microrganismo for isolado de um local normalmente estéril, ou seja desprovido

de microrganismos como, por exemplo, o sangue ou líquidos biológicos. No

entanto, muitas partes do corpo possuem uma flora microbiana normal que pode

ser alterada por influência endógena ou exógena e o isolamento de

microrganismos potenciais nestes locais, como e.g. nas vias respiratórias, na

pele, no trato intestinal, devem ser considerados no contexto da flora normal de

cada trato.

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I- 2- Provas de identificação de bactérias e fungos leveduriformes

Na secção realizou-se alguns métodos de identificação dos vários

microrganismos, tais como:

● Provas “rápidas” de caracterização bioquímica, nomeadamente: a prova da

coagulase (a coagulase liga-se à protrombina e juntas tornam-se enzimaticamente

activas iniciando o processo de polimerização) é muito importante para distinguir

os Staphylococcus spp. de coagulase negativa da positiva; a prova da catalase

(converte o peróxido de hidrogénio em H2O e O2), um exemplo, é na

diferenciação de um estafilococo (positivo) de um estreptococo (negativo);

● Provas de suscetibilidade a antibióticos: optoquina, novobiocina e a

bacitracina;

● Provas com discos impregnados com fatores de crescimento (fator X:hemina e

V:NAD);

● Prova de filamentação para a identificação presuntiva de Candida albicans;

● Testes imunoquímicos:

- aglutinação com partículas de látex (Identificação de Streptococcus β-

hemolíticos do grupo A, B, C, G e F);

- aglutinação direta para a caracterização antigénica de Salmonella,

Shigella e E. coli O157:H7.;

● Galerias de identificação manual, Api®

/ID 32, consistem em testes

bioquímicos, com leitura visual ou automática, por comparação com uma base de

dados:

- Api 20 Strepto, para identificação de Streptococcus spp.;

- Api NH, para identificação de Haemophilus spp. e Neisseria spp.;

- Api 20E, para identificação de Enterobacteriaceae;

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-Api 20 NE, para identificação de bactérias Gram negativas não

fermentativas;

- Api Coryne, para identificação de Corynobacteriaceae;

- Api Campy, para identificação de Campylobacter;

- ID 32 C, para identificação de fungos;

● Sistema de identificação Vitek.

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I- 3- Processamento dos produtos para exame bacteriológico

I- 3.1- Urina

A infeção do trato urinário (ITU) é a infeção mais comum no homem. A urina é

um produto estéril. A uretra possui a sua flora normal. Quando a urina normal é

eliminada, contém um pequeno número de bactérias. Como é necessário

distinguir os microrganismos contaminantes dos etiologicamente importantes,

apenas o exame quantitativo da urina pode fornecer resultados significativos.

A colheita da amostra é muito importante visto que, se não houver uma boa

colheita, facilmente esta se contamina e torna-se necessária a sua repetição. Para

que isso não aconteça, tem de haver uma boa higienização dos órgãos genitais

exteriores antes da colheita da amostra, devendo ser colhida urina do jacto médio

e colocada num recipiente estéril.

Nos doentes algaliados, a amostra nunca deve ser obtida do saco coletor mas sim

por punção da algália, após clampagem, com a respetiva desinfeção. É necessário

transmitir essa informação ao laboratório, visto que estas urinas normalmente

vêm contaminadas por mais que um microrganismo (sendo apenas um só

microrganismo o causador da infeção).

É necessário ter atenção ao analisar as urinas, a condição clínica em que o

paciente se encontra, se provêm do ambulatório, se está hospitalizado, se está

algaliado, ITU sucessivas, com ou sem antibioterapia.

Devido à rápida multiplicação dos microrganismos na urina à temperatura

ambiente, estas amostras devem ser rapidamente levadas até ao SPC ou

refrigeradas sem ultrapassar uma noite.

O sedimento urinário realizou-se após uma centrifugação e, posteriormente, são

analisados ao microscópio: o nº de leucócitos, das células epiteliais, dos

eritrócitos e a presença de leveduras. A presença de muitos leucócitos bem como

de eritrócitos faz suspeitar de uma infeção. A observação de numerosas células

epiteliais escamosas, de lactobacilos ou flora mista, sugere uma má colheita.

O exame cultural na urocultura, para ser significativa tem que ser efetuada de

modo quantitativo.

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O Uriline®, o meio de cultura usado na secção, é também um meio de transporte,

que consiste num recipiente estéril, contendo uma lâmina com 2 meios de cultura

sólidos contrapostos: o CLED (meio geral) e o McK. (meio seletivo para gram-

negativos).

Após a incubação da amostra, confirmou-se, se a bacteriúria era positiva (igual

ou superior a 105 colónias/mililitro), e em caso ser positiva, verificou-se se a

cultura era pura (presença de 1 microrganismo), caso contrário, seria necessário

proceder a novo isolamento para os meios sólidos (geralmente para gelose McK,

gelose manitol chapman, gelose azido e gelose Candida).

Incuba-se os meios durante 24 horas à 37ºC. Findo este tempo, se as colónias já

se apresentarem puras, efetuam-se o seu estudo de identificação e antibiograma.

Se a cultura se encontrar pura logo de início, o microrganismo já pode ser

identificado e efetuar o antibiograma.

São realizadas reservas das placas primárias para uma gelose de sangue e McK

caso sejam positivas, com o intuito de confirmar se a cultura se encontra mesmo

pura ou se existe mais que um microrganismo.

Notas:

- Quando as culturas se encontram puras, há provas rápidas de identificação

como já foi anteriormente referido, como a catalase. Há evidências que têm de

ser levadas em conta, como as características morfológicas das colónias, o odor,

se são lactose+ ou lactose – (bactérias que fermentam ou não a lactose) e o teste

da oxidase (Pseudomonas são oxidase +). Por e.g. a Escherichia coli que é o

microrganismo mais predominante nas ITU tem características muito

particulares, as colónias são secas, pequenas, vermelhas tem um cheiro

característico e não fermentam a lactose.

- Quando a cultura se encontra com mais de um microrganismo sem predomínio

é sugerido repetição de colheita. A condição clínica em que o paciente se

encontra (algaliado, doente renal, má colheita, falta de higienização) tem de ser

sempre tida em conta no estudo da análise de urina asséptica.

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I- 3.2- Hemocultura

A hemocultura é uma análise que consiste na deteção de uma infeção sistémica

causada por bactérias e fungos. A hemocultura fornece informações na

abordagem de pacientes com picos febris associados a complicações clínicas com

ou sem sinais e sintomas localizados e também na suspeita de endocardite

infeciosa.

Nos indivíduos sem infeção generalizada, a amostra de sangue devidamente

obtida deverá ser estéril, embora os microrganismos provenientes das floras,

respiratória e gastrointestinais normais possam penetrar na corrente sanguínea,

mas são rapidamente removidos pelo sistema reticuloendotelial. Estes

microrganismos transitórios, raramente, afetam na interpretação das

hemoculturas positivas.

A secção de Bacteriologia dispõe de um equipamento, o Bactec 9240, que

permite detetar a positividade das hemoculturas. Este equipamento é de rápida

deteção de bactérias e fungos em amostras clínicas de sangue. As amostras são

colhidas dos pacientes e injetadas diretamente nos frascos de cultura Bactec.

Existem 4 tipos de frascos de hemocultura:

- frasco pediátrico: Bactec Péds Plus;

- frasco adulto aeróbio: Bactec Plus + Aerobic;

- frasco adulto anaeróbio: Bactec Plus + Anaerobic;

- frasco micológico.

Quando as hemoculturas chegam ao laboratório, colocam-se no Bactec, ficando a

incubar durante 5 dias. Este procedimento não se aplica aos fungos que ficam a

incubar durante 14 dias, a uma temperatura de 37ºC.

Na presença de microrganismos, os nutrientes do meio de cultura são

metabolizados libertando dióxido de carbono. É assim modulada a quantidade de

luz absorvida pelo material fluorescente do sensor. Os fotodetetores do

instrumento medem o nível de fluorescência a cada dez minutos, que

corresponde à quantidade de CO2 libertada pelos microrganismos. A medição é

então interpretada pelo sistema de acordo com parâmetros de positividade pré-

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programados. Uma leitura positiva indica a presença presuntiva de

microrganismos viáveis no frasco.

Quando o equipamento deteta positividade (é necessário excluir uma

contaminação, que na maior parte das vezes acontece através da flora da pele,

devido a erros procedidos durante a colheita). Efetuam-se subculturas para meios

de cultura sólidos e exame direto pela coloração de Gram, consoante o respetivo

frasco:

Frasco pediátrico e frasco adulto aeróbio:

- gelose de sangue

- gelose manitol Chapman

- gelose chocolate polyvitex (em jarra CO2)

Frasco adulto anaeróbio:

- gelose de sangue em anerobiose

- gelose de chocolate polyvitex

Frasco micológico:

- gelose de Sabouraud

- gelose de sangue

Nota: O crescimento de microrganismos da flora normal da pele (e.g.

Staphilococcus epidermidis) ou cocos gram-positivos anaeróbios em apenas uma

das várias culturas sugere contaminação, mas, se estes microrganismos crescerem

em mais de uma cultura, aumenta a probabilidade de ser mesmo uma

bacteriémia.

Os fungos raramente são isolados no sangue.

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I- 3.3- Vias respiratórias: superiores e inferiores

Segundo os sinais e sintomas clínicos do paciente, vão indicar o

comprometimento de determinada área das vias respiratórias, superior ou

inferior, sendo a colheita efetuada de acordo com a suspeita.

I- 3.3.1- Vias respiratórias superiores

Exsudado faríngeo

Nas vias respiratórias superiores, o microrganismo de principal interesse é o

estreptococo beta-hemolítico do grupo A, um dos principais responsáveis por

infeções respiratórias altas, nomeadamente, amigdalite, faringite e a escarlatina.

Torna-se muito importante diferenciar as infeções por estreptococos do grupo A

de outras infeções (por e.g. infeções virais) de modo a prescrição terapêutica ser

adequada ao doente. O diagnóstico precoce destas infeções permite reduzir a

severidade dos sintomas.

Realizou-se o exame direto em esfregaço por coloração de Gram e o exame

cultural em gelose de sangue e caldo Todd e incubou-se a 35-37ºC durante 24h,

para colocar em evidência e identificar o agente infecioso.

Aquando da solicitação do teste rápido para a pesquisa do antigénio do

estreptococcos do grupo A, utilizou-se a técnica de imunocromatografia

(Streptatest®) que permite a deteção direta do antigénio específico do

estreptococo do grupo A a partir de uma amostra colhida em zaragatoa, tornando

o diagnóstico rápido (5 minutos).

I- 3.3.2- Vias respiratórias inferiores

Tipo de amostras mais comuns:

A EXP o AT o LBA e a SB.

O objetivo do estudo destas amostras é diagnosticar uma possível pneumonia,

uma bronquite ou uma tuberculose. As amostras de LBA são muito úteis em

doentes imunocomprometidos com pneumonia.

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Os agentes mais frequentes nas infeções do trato respiratório inferior são: o

Streptococcus pneumoniae e a Klebsiella penumoniae e em infeções pulmonares

crónicas a Mycobacterium tuberculosis também é um agente infecioso comum.

A EXP é uma das amostras mais rotineiras do laboratório, fácil de obter sem

sujeitar o paciente a técnicas invasivas, como por e.g. um LBA. Na colheita da

EXP, há possibilidade de contaminação pela flora bucal, nomeadamente pela

saliva. Uma boa EXP para ser significativa, deve ser proveniente das vias

inferiores, sendo possível observar macroscopicamente pelo seu aspeto mucoso e

purulento, ou seja, com alguma consistência.

No caso das SB líquidas e LBA a amostra tem que ser bem homogeneizada e

centrifugada (se a quantidade for superior a 1ml). O LBA deve ser processado

imediatamente assim que chegue ao SPC.

Nestas amostras, o procedimento laboratorial efetuou-se na câmara de fluxo

laminar. Realizou-se o exame direto pelo método de Gram e pelo método de

Ziehl-Neelsen, e o exame cultural, semeou-se em gelose de chocolate

Haemophilus (jarra com CO2), gelose de sangue, gelose manitol Chapman,

gelose McK e gelose de sabouraud (quando solicitado). Incubou-se a 37ºC,

durante 24 a 48h em aerobiose.

Notas:

- A presença de numerosas células epiteliais escamosas numa EXP, observadas

no exame direto pela coloração de Gram, sugere uma amostra salivar que tem de

ser reportada ao médico, visto que é uma amostra pouco representativa, devendo

o paciente realizar a repetição da colheita. A presença de leucócitos,

nomeadamente de polimorfonucleares, sugere uma boa colheita em caso de uma

infeção. Esta é indispensável, para avaliar o nº e tipo de microrganismos e a

presença de leucócitos polimorfonucleares. Caso existam leveduras é necessário

isolar para Sabouraud e para um meio específico de Candida.

- O exame direto pela coloração de Ziehl-Neelsen, para a pesquisa de BAAR, é

sempre efetuada nestas amostras (em caso de suspeita ou não de uma

tuberculose).

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- Os meios utilizados para as culturas têm como objetivo isolar bactérias como os

pneumococos, as pseudomonas, as micobactérias, a Klebsiella spp. e outras

enterobacteriaceas e outros microrganismos.

I- 3.4- Exsudado ocular e exsudado do ouvido

No exame direto em ambos os exsudados realizou-se um esfregaço para a

coloração de Gram.

No exame cultural semeou-se em gelose de Haemophillus (jarra com CO2),

gelose de sangue, gelose de McK, gelose de manitol Chapaman e em leio líquido

de Todd Hewitt. Incubou-se a 3ºC durante 24 a 48h em aerobiose.

Após a incubação, sub cultivou-se do meio líquido, para meios sólidos.

Normalmente a passagem é feita para gelose de McK, gelose manitol Chapman,

gelose azido, gelose sabouraud e incubar a 37ºC, durante 24 a 48h em aerobiose.

I- 3.5- Feridas, abcessos, exsudados purulentos, biópsia de tecido e

conteúdo de bomba

O estudo microscópico destes produtos, por exame direto e pelo exame cultural,

apresentam regra geral sempre mais que um microrganismo (à exceção do

conteúdo de bomba).

Quando estudados estes microrganismos, é importante ter sempre em conta a

flora normal de cada local proveniente. Estas amostras possuem indicações

iniciais e importantes quanto à natureza do microrganismo, ajudando assim, na

escolha dos meios e posteriormente dos antimicrobianos.

O pus em abcessos fechados contém, normalmente, apenas um microrganismo

como agente causador de infeção, sendo os agentes mais comuns, os

estafilococos, estreptococos e bacilos gram-negativos. Muitos são os

microrganismos encontrados com frequência em abcessos abdominais bem como

em feridas abertas. No caso das feridas abertas, por e.g. as escaras em que a

amostra é colhida por zaragatoa trata-se, de uma amostra não muito

representativa, podendo estar contaminada com flora colonizadora da pele. Neste

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caso, o ideal seria colher o pus através de seringa e, em caso de suspeita de uma

bacteriémia colher hemocultura.

Relativamente ao pus em zaragatoa, realizou-se o exame cultural em gelose de

sangue, gelose de chocolate (jarra com CO2), gelose de manitol Chapman, gelose

McK e em meio líquido caldo de carne, e realizou-se também lâmina para

coloração de Gram. Incubou-se a 37ºC, durante 24 a 48h em aerobiose. Após a

incubação, subcultivaram-se os meios líquidos em meios sólidos para gelose

McK, gelose manitol Chapman e gelose azido.

No que concerne ao pus não superficial, semeou-se nos mesmos meios mais o

meio de gelose de sangue para anaeróbios, e realização de lâmina pela coloração

de Zhiehl-Neelsen. Nos casos em que a cultura em anaerobiose foi positiva,

procedeu-se apenas à pesquisa da bactéria isolada usando a coloração Gram

(neste serviço não é feita a identificação das bactérias anaeróbias por falta de

recursos humanos).

Em geral, o objetivo é saber o tipo de microrganismo presente, por isso, é

semeado em todos os meios possíveis (primeiro gelose de sangue e meio líquido

de enriquecimento, depois se houver turvação então procede-se ao cultivo para

meios seletivos) para estuda-los posteriormente e por fim ponderar qual (ais) o

(s) agente (s) predominante (s) (até 3 microrganismos) relacionando sempre com

a informação clínica.

O St. aureus, Pseudomonas, Enterobactérias, Streptococcus beta hemolíticos e

Enterococos foram os agentes mais frequentemente isolados em amostras com

pus.

As amostras de biópsias de tecido não são muito comuns na rotina do laboratório,

são semeadas numa gelose de sangue (se o tecido tiver consistência), em caldo de

enriquecimento e é realizado o esfregaço para exame direto com coloração de

Gram e Zhiel-Neelsen. É valorizado qualquer crescimento microbiano.

O conteúdo de bomba é uma amostra estéril. Colocou-se a amostra num

recipiente estéril, adicionou-se caldo de carne e incubou-se a 37ºC em aerobiose

durante 5 dias. O meio foi observado diariamente para a avaliação do

crescimento bacteriano (turvação do meio). Quando a amostra tinha turvação,

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sub-cultivou-se em gelose de chocolate Polyvitex (em CO2) e quando límpida,

realizou-se a passagem apenas ao 5º dia, também para gelose de chocolate

Polyvitex (em CO2).

I- 3.6- Líquidos biológicos

Os líquidos biológicos, pleural, peritoneal, pericárdico e sinovial devem ser

aspirados com uma técnica de assepsia, visto que se tratam de líquidos estéreis

porque qualquer contaminação na colheita atrasa e dificulta o estudo.

Aquando da amostra purulenta, efetuou-se diretamente da amostra os esfregaços

e culturas, caso contrário, o líquido teria de ser centrifugado, 5 minutos a 3000

rpm, sendo o sedimento utilizado para exame direto (Gram e Zhiel-Neelsen) e

para exame cultural, geloses de sangue, para aerobiose e anaerobiose, e gelose de

chocolate Polyvitex em jarra com CO2 (culturas para o crescimento de

microrganismos suspeitos, micobactérias, microrganismos anaeróbios e as

bactérias piogénicas).

Utilizou-se meio líquido de enriquecimento (caldo Todd e caldo de carne),

porque estes produtos têm uma flora pobre. A sua passagem para meios sólidos

efetuou-se de acordo com o diagnóstico do paciente, mas normalmente foram

para os meios de cultura, gelose de chocolate em CO2 e gelose de sangue em

aerobiose. Incubou-se os meios sólidos e líquidos a 37ºC, durante 24 a 48 horas.

Nota: A coloração de Gram é de extrema importância porque na presença de

polimorfonucleares e bactérias (caso existam) é indicador de infeção. O estudo

citológico dos esfregaços e contagem também podem revelar/sugerir a natureza

da infeção seja bacteriana, viral ou neoplásica.

I- 3.6.1- Líquido cefalorraquidiano

O líquido cefalorraquidiano (LCR) ocupa uma posição de destaque na urgência

clínica, tornando essencial o seu diagnóstico precoce, rápido e preciso.

A meningite é a grande suspeita e preocupação no LCR porque o risco de morte

ou lesão irreversível é grande, a não ser que o tratamento seja iniciado de

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imediato. As amostras, antes do tratamento, são essenciais ao diagnóstico

etiológico.

O objetivo do diagnóstico com urgência é diferenciar uma meningite bacteriana

de uma viral. O diagnóstico inicia-se com a contagem de células e a avaliação do

tipo de células que predominam (se são mononucleares poderá tratar-se de uma

infeção viral ao contrário na presença de polimorfonucleares que indicam tratar-

se de uma infeção bacteriana) (realizado no laboratório da urgência do SPC). Nos

parâmetros bioquímicos, analisa-se a concentração da glicose e de proteínas e o

exame microscópico para a identificação de microrganismos caso existam

(estudados na Bacteriologia).

No sector de Bacteriologia, avaliou-se o volume da amostra de LCR. Se o

volume for superior a 1ml, centrifugar durante 6 minutos à uma baixa rotação, se

for inferior, não centrifugar e homogeneizar a amostra antes de semear.

Semeou-se (colocou-se 3 gotas em cada meio) em gelose de chocolate (jarra em

CO2) e gelose de sangue, incubando a 37ºC, durante 24 a 48h.

Realizou-se 2 esfregaços (1 gota em cada lâmina) em lâminas para coloração de

Gram e Ziehl-Neelsen.

O restante produto foi colocado em meio de enriquecimento, o caldo Todd, e

incubou-se a 37ºC, durante 24h. Ao fim das 24h, fez-se a passagem dos meios

líquidos para os seguintes meios sólidos, gelose de sangue e gelose de chocolate

Polyvitex.

No caso de se tratar de um individuo imunodeprimido, outro agente a considerar,

é o Criptococcus neoformans (fungo) em que a pesquisa é feita através do exame

a fresco com tinta-da-china, da pesquisa do antigénio e do exame cultural.

Os principais microrganismos de interesse clínico são Neisseriae meningitidis,

Streptococcus pneumoniae e o Haemophilus influenza.

A monitorização destes doentes por parte do SPC é feita pela normalização da

glicose e da contagem do número de células no LCR. Estes parâmetros vão

revelar a boa ou não resposta ao tratamento.

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I- 3.7- Fezes

Os sintomas relacionados com o trato gastrointestinal, quando associadas a uma

infeção são sobretudo náuseas, vômitos e diarreia, e é diagnosticada com o

auxílio de uma coprocultura.

A flora bacteriana normal do intestino é muito rica. O aspeto macroscopicamente

das fezes já induz em algumas orientações em caso de infeção (e.g. se são

moldadas ou diarreicas especialmente nas crianças).

Qualquer tentativa de isolar bactérias patogénicas nas fezes requer a separação

dos agentes infeciosos patogénicos dos microrganismos da flora normal com o

uso de meios de cultura seletivos. Os microrganismos patogénicos mais comuns

são: a Shigella spp.; a Salmonella spp.; o Campylobacter spp.; a Escherichia coli

enteropatogénica (serotipo mais comum Escherichia coli O157:H7), e menos

comuns, o Clostridium spp., e o Vibrio spp..

Nesta amostra realizou-se o exame direto para coloração de Gram com o objetivo

de observar a flora e as percentagens relativamente a gram-positivos e gram-

negativas e à presença de polimorfonucleares (sinal de infeção).

No exame cultural, utilizaram-se meios específicos para os microrganismos

anteriormente referidos, gelose de sangue, gelose de Mck, gelose de SS, Gelose

campi (Campylobacter) e caldo selenito. Incubou-se a 37ºC, durante 24h em

aerobiose. O mesmo não se aplica à gelose campi, que teria que ser incubada a

uma temperatura de 42ºC, durante 48h, numa atmosfera microaerófila.

Após a incubação, efetuou-se a passagem do meio líquido para os seguintes

meios sólidos, gelose SS, gelose SMID, gelose McK e incubou-se a 37ºC

durante, 24h em aerobiose.

I- 3.7.1- Identificação de Campylobacter spp.

No caso de colónias suspeitas de serem Campylobacter spp., procedeu-se da

seguinte forma:

- executou-se o teste da catalase e oxidase (deve ser positivo);

- corou-se a lâmina com fucsina previamente fixada;

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- executou-se um (TSA (em microaerofilia durante 48h) com cefalotina (deve ser

resistente) e com ácido nalidixico (deve ser sensível);

- efetuou-se um isolamento de novo para 2 placas de gelose de sangue, colocou-

se uma aerobiose (não deve haver crescimento) e outra em microaerofilia (deve

haver crescimento).

I- 3.7.2- Identificação de Escherichia coli

Perante a suspeita de Escherichia coli O157 (meio sorbitol), procedeu-se a

aglutinação direta com um antissoro E.coli O157 para confirmação, e

posteriormente realizou-se o TSA.

I- 3.7.3- Identificação de Salmonella spp.

Entre os diversos antissoros existentes para a identificação da Salmonella, a

secção de Bacteriologia utiliza apenas 3: os antissoros O:9; O:4 e 5 e O:8, de

acordo com a frequência desta bactéria na RAM. Aquando na presença de uma

Salmonella. Procedeu-se da seguinte forma:

- colocou-se uma gota omnivalent numa lâmina, se aglutinar trata-se de uma

Salmonella, caso contrário, significa que a bactéria testada não é uma

Salmonella;

- aglutinou-se posteriormente com antissoro monovalente O:9, se positiva, indica

Salmonella do grupo D. Procedeu-se então a utilização dos antissoros S. typhi e

S. enteritidis, para a identificação do serotipo;

- se o resultado for negativo, aglutinar com antissoro monovalente O:4,5 que

identifica a Salmonella do grupo B, se o resultado for positivo, utilizar o

antissoro S. typhimurium. Se negativo, aglutinar com o anti-soro monovalente

O:8 que deteta a Salmonella do grupo C2.

I- 3.7.4- Identificação de Shigella spp.

Na presença de uma Shigella, a secção de Bacteriologia dispõe de 4 tipos de

antissoros que possibilita a identificação da Shigella pertencentes aos grupos de

A, B, C e D.

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Retiraram-se as colónias suspeitas de Shigella e colocou-se numa lâmina,

adicionou-se uma gota de antissoro Shigella flexineri (identifica as Shigella do

Grupo B). Se ocorrer aglutinação, indica reação positiva para a bactéria testada.

Repetiu-se o procedimento com os antissoros Shigella sonnei (identifica Shigella

do Grupo D), Shigella dysenteriae poly A1 e poly A2 (identifica Shigella do

grupo A) e com o antissoro Shigella boydii (identifica Shigella do Grupo C).

I- 3.7.5- Identificação de rotavírus e adenovírus

No caso das crianças, procedeu-se ao cultivo da amostra da mesma forma, mas

com a realização da pesquisa do rotavírus e do adenovírus, em fezes diarreicas.

Utilizou-se para tal, o teste imuno-cromatográfico (Vikia®

Rota-Adeno) que

permite a dupla deteção qualitativa do rotavírus e do adenovírus.

Os rotavírus e os adenovírus são responsáveis por gastroenterites agudas,

principalmente nas crianças mais novas. As diarreias virais, frequentemente

sazonais, evoluem favoravelmente. No estado agudo da doença, são excretadas

grandes quantidades de vírus, sendo estes responsáveis pela propagação da

epidemia. A cultura dos rotavírus e dos adenovírus é difícil, o que explica a

utilização preferencial das técnicas imunológicas.

I- 3.8- Aparelho genital

A Neisseria gonorrhoeae é uma bactéria associada a uma doença sexualmente

transmissível, a Gonorreia. É transmitida por contacto sexual e nos homens a

infeção é assintomática. A infecciosidade é tão elevada que a probabilidade de

contrair a infeção de uma única exposição sexual não protegida a partir de um

parceiro infetado é de 20 a 30% nos homens e uma probabilidade ainda maior

nas mulheres.

As amostras de eleição são um exsudado vaginal ou num exsudado uretral e é

necessário fazer a pesquisa do gonococo quer em meios de cultura (Gelose de

Chocolate em CO2), quer em esfregaços corados pelo método de Gram. Neste

último método, é possível observar nos polimorfonucleares, a inclusão destas

bactérias intracelulares obrigatórias (diplococos gram-negativos).

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I- 3.8.1- Exsudado vaginal e uretral

No exsudado vaginal, o estudo é bacteriológico, micológico e parasitológico.

No exame a fresco, pesquisaram-se células, leucócitos e os elementos

leveduriformes. Aquando da presença de leveduras, a amostra semeou-se para

um meio de Candida spp., que, na maior parte das vezes, é albicans. Para além

da gelose de Candida, o exame cultural também se executou para uma gelose de

sangue e uma gelose chocolate polyvitex (jarra com CO2) e incubou-se a 37ºC,

durante 24h em aerobiose.

Efetuou-se a pesquisa de Trychomonas vaginalis, um parasita flagelado. É

possível visualiza-lo, pela sua movimentação no exame a fresco (uma

característica particular, para confirmar a presença deste parasita) e é causador de

infeção na vulva, na vagina e no colo uterino, em geral não se estende para o

útero. A sua transmissão é feita por via sexual.

I- 3.8.2- Exsudado vaginal e perianal na grávida

O exsudado vaginal e perianal consiste numa pesquisa orientada para o estudo de

Streptococcus agalactiae (Streptococcus beta hemolítico do grupo B de

Lancefield). Estes estreptococos do grupo B fazem parte da flora normal da

vagina em 5 a 25% das mulheres.

Esta pesquisa é feita nas grávidas no último trimestre de gravidez (entre as 35 e

as 37 semanas), para poder prevenir a colonização no recém-nascido por estes

estreptococos. Se o recém-nascido for infetado pode desenvolver uma meningite,

uma sépsis fulminante ou até mesmo um síndrome respiratório.

No exame direto realizou-se o esfregaço para a coloração de Gram e no exame

cultural fez-se uma gelose de sangue e o meio granada (IGLB).

Incubou-se a 37ºC, durante 24 a 48h em aerobiose.

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I- 3.9- Pontas de cateter

O uso generalizado de acessos vasculares cria uma porta de entrada de risco

significativo de bacteriémia.

Os Staphylococcus spp. são bactérias que, mais frequentemente colonizam, os

cateteres pois têm adesinas especiais para os plásticos de que eles são feitos. Os

Staphylococcus coagulase negativa são colonizadores mais frequentes que os

Staphylococcus aureus.

O cateter semeou-se por rolamento, pela técnica de Maki, em gelose de sangue.

Após 24h de incubação, a 37ºC, realizou-se a avaliação semiquantitativa do

crescimento bacteriano, sendo valorizado e identificado um número de colónias

≥15.

O microrganismo normalmente isolado em cateter e de importância clínica é o

estafilococo coagulase negativa.

Notas:

- Em caso de infeção associada a cateter (um fragmento do cateter), é enviado ao

laboratório, associado ou não a uma hemocultura, caso esteja associado, tanto o

cateter, como a hemocultura tem que se obter o mesmo microrganismo em caso

de infeção, e descartar a hipótese de contaminação da flora da pele ou dos

procedimentos.

- Para fazer o diagnóstico de bacteriémia relacionada com cateter é necessário o

isolamento do mesmo microrganismo nas amostras obtidas de diferentes locais

em espaços de tempo diferentes, (hemocultura periférica, ponta do cateter,

zaragatoa da zona de inserção do cateter). O crescimento de diferentes

microrganismos em frascos de cultura diferentes pode sugerir uma contaminação.

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I- 4- Teste de sensibilidade aos antimicrobianos

Os TSA são indicados para qualquer microrganismo que contribua para um

processo infecioso, que justifique uma terapia antimicrobiana.

O reconhecimento do padrão de sensibilidade à terapêutica antimicrobiana é

fundamental na medida em que se assiste ao aparecimento de estirpes

microbianas resistentes a alguns antibióticos que, por isso, deixam de ser eficazes

no tratamento das infeções.

Os antibióticos distinguem-se em:

- bactericidas: quando eliminam as bactérias, provocando a destruição da parede

bacteriana;

- bacteriostáticos: detêm o crescimento das bactérias, deixando ao sistema

imunitário a tarefa de eliminar a infeção.

O estudo do comportamento de uma bactéria aos antibióticos permite avaliar a

sua sensibilidade ou a sua resistência.

Existem vários métodos de execução do TSA ou antibiograma (ATB). A sua

seleção deve ter em conta, para além da rapidez do resultado e de uma resposta

facilmente interpretável pelo clínico, a política de utilização de antibióticos do

hospital, assim como, a política nacional de administração destes fármacos.

I- 4.1- Métodos laboratoriais utilizados no estudo da atividade dos

antibióticos

Para avaliar in vitro a suscetibilidade bacteriana aos antibióticos, podem usar-se

várias metodologias, o método de diluição, o método de difusão (Kirby-Bauer e

E-test) e métodos automatizados (VITEK).

O método de diluição consiste em meios de cultura líquidos ou sólidos

adicionados de concentrações crescentes de um dado antibiótico. Para cada um

destes meios, adiciona-se a mesma quantidade de inóculo (suspensão bacteriana).

Após a incubação à temperatura adequada, observa-se se ocorreu crescimento

bacteriano. Deste modo, avalia-se a concentração mínima inibitória (CMI) em

mg/L de antibiótico.

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A CMI é a mais fraca concentração de um antibiótico em solução, capaz de

impedir o crescimento de uma estirpe, em relação à qual se determina a CMI

relativamente a um determinado antibiótico, num meio de composição

estandardizada.

O método de difusão consiste na utilização de meios sólidos, a inoculação de

uma dada suspensão bacteriana por espalhamento à superfície do meio. Na

superfície do meio sólido inoculado, colocam-se discos de papel impregnados

com antibióticos. Após incubação de 24 horas à temperatura adequada, medem-

se os halos de inibição à volta dos diferentes discos de papel impregnados com os

diferentes antibióticos.

O tamanho dos halos é expresso em milímetros, é avaliado em sensível (S)

resistente (R) e intermédio (I). É sensível quando o microrganismo responde à

terapêutica com o antimicrobiano utilizando a dosagem normalmente

recomendada para aquele tipo de infeção e espécie bacteriana (aparece um halo

na placa, à volta do disco do antibiótico). É resistente quando não há uma boa

resposta à terapêutica, às concentrações de antimicrobiano atingidas, com as

dosagens habitualmente utilizadas com aquele antimicrobiano, e/ou logo, está

presente um mecanismo específico de resistência (não aparece o halo). E por fim

é intermédio quando a CMI do antimicrobiano para o microrganismo é próxima

do valor que ele pode atingir no sangue ou tecidos, para a qual a resposta clínica

é inferior à de uma estirpe sensível.

Na secção de Bacteriologia utilizou-se os métodos de difusão de Kirby-Bauer e o

E-test.

Método Kirby-Bauer

Consiste num método qualitativo que permite classificar os microrganismos em

resistentes, sensíveis ou intermediários em relação a uma grande variedade de

agentes antimicrobianos.

Nesta técnica é utilizado o meio de cultura Mueller-Hinton. A densidade da

suspensão bacteriana a inocular deve ser equivalente a 0,5 unidade Mac Farland e

a concentração de cada antibiótico em discos de papel é determinada segundo as

regras Clinical Laboratory Standards Institute (CLSI). A droga difunde-se

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radialmente, ocorrendo em simultâneo a multiplicação do microrganismo. Em

áreas onde a concentração do agente antimicrobiano é inibitória, não ocorre

crescimento, formando-se uma zona (halo de inibição) à volta de cada disco. O

halo de inibição corresponde ao número de microrganismos mortos.

Seleção dos antibióticos

A seleção dos discos de antibióticos, depende do produto donde provém o

microrganismo isolado. Os discos utilizados na secção foram adaptados da FDA-

EUA e recomendado pelo CLSI. Segue-se algumas tabelas (II-VIII), da seleção

dos antibióticos utilizados, consoante o microrganismo isolado e o respetivo

produto (amostra) e/ou espécie.

Tabela II: Seleção de antibióticos em cada produto biológico, na presença de

Enterobacteriaceaeas. Enterobacteriaceaeas

Produto Antibiótico

Urina Ampicilina, Cefalotina, Gentamicina 10μg, Nitrofurantoina, Cotrimoxazol,

Amoxicilina+Ac. Clavulâmico, Cefuroxime, Levofloxacina/Ciprofloxacina,

Cefotaxime, Ceftazidime, Amicacina e Ofloxacina

Pus, Expetoração

ou Hemocultura

Ampicilina, Cefalotina, Gentamicina, Amoxicilina+Ac. Clavulâmico, Co-

trimoxazol, Amicacina, Cefuroxime, Cefotaxime, Aztreonam,

Imipenem/Meropenem, Piperacilina+Tazobactam, Tobramicina, Ceftazidime e

Levofloxacina/Ciprofloxacina

LCR Ampicilina, Gentamicina, Cefotaxime, Amicacina, Meropenem, Co-trimoxazol

e Ceftazidima

Fezes Ampicilina, Ciprofloxacina e Co-trimoxazol

Se o microrganismo isolado for Salmonella typhi, utilizar os seguintes

antibióticos: ampicilina, ciprofloxacina, cotrimoxazol e cefotaxime.

Se o microrganismo isolado for Listeria, utilizar os seguintes antibióticos:

ampicilina, co-trimoxazol e gentamicina. Nas Pseudomonas, utilizar os seguintes

antibióticos: piperacilina+tazobactam, ceftazidime, amicacina, gentamicina,

imipenem/meropenem, tobramicina, aztreonam e ciprofloxacina.

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Tabela III: Seleção de antibióticos em cada produto biológico, na presença de

Sthaphilococcus. Sthaphilococcus

Produto Antibiótico

Urina Penicilina, Oxacilina, Novobiocina, Nitrofurantoina, Gentamicina,

Levofloxacina/Ciprofloxacina, Vancomicina, Co-trimoxazol, Teicoplanina

Pus, Expetoração

ou Hemocultura

Penincilina, Oxacilina, Co-trimoxazol, Cefalotina, Teicoplanina, Clindamicina,

Eritromicina, Rifampicina, Vancomicina, Amicacina, Gentamicina,

Levofloxacina/Ciprofloxacina, Tetraciclina, Amoxicilina+Ac. Clavulâmico

LCR Penicilina, Oxacilina, Clindamicina, Co-trimoxazol, Vancomicina,

Teicoplanina, Amicacina, Rifampicina, Cloranfenicol, Gentamicina,

Eritromicina, Levofloxacina/Ciprofloxacina.

Exsudado nasal Penincilina, Oxacilina, Vancomicina, Eritromicina, Amoxicilina+Ac.

Clavulâmico, Gentamicina e Teicoplanina

Tabela IV: Seleção de antibióticos consoante a espécie aquando do isolamento de

Neisseria. Neisseria

Espécie Antibiótico

Meningococcus Penicilina, Cefotaxime, Cloranfenicol, Ampicilina

Gonococcus Penincilina, Tetraciclina, Spectinomicina, Cefalotina, Cefuroxime, Cefas de 3ª

geração, Ciprofloxacina e pesquisa da β-lactamase (nitrocefina).

Moraxella

catarrhalis

Penicilina, Amoxicilina+Ac.Clavulâmico, Cefuroxime, Cefotaxime,

Levofloxacina/Ciprofloxacina e pesquisa da β-lactamase (nitrocefina).

Tabela V: Seleção de antibióticos em cada produto biológico, na presença de

Haemophilus.

Haemophilus

Produto Antibiótico

Hemocultura e

LCR

Ampicilina, Cefotaxime, Cloranfenicol e pesquisa da β-lactamase (nitrocefina).

Expetoração, Ex.

nasal e pus

Ampicilina, Co-Trimoxazol, Eritromicina, Amoxicilina+Ac.Clavulâmico,

Levofloxacina/Ciprofloxacina, Cefuroxime, Tetraciclina e pesquisa da β-

lactamase (nitrocefina).

Tabela VI: Seleção de antibióticos em cada produto biológico e espécie, na presença de

Streptococcus.

Streptococcus

Espécie Antibiótico

Pneumococcus Expetoração e

Exsudados

Penicilina, Ampicilina, Optoquina

LCR e

Hemocultura

Penicilina, Oxacilina, Cefotaxime, Cloranfenicol,

Optoquina, Ampicilina, Vancomicina, Eritromicina

Streptococcus

diversos

Penicilina, Tetraciclina, Ampicilina, Cefalotina, Clindamicina, Gentamicina,

Vancomicina, Teicoplanina, Ciprofloxacina, Eritromicina

Streptococcus A Penicilina, Ampicilina, Eritromicina, Clindamicina

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Tabela VII: Seleção de antibióticos em cada produto biológico, na presença de

Enterococcus.

Enterococcus

Produto Antibiótico

Urina Penicilina, Ampicilina, Nitrofurantoina, Co-Trimoxazol, Eritromicina,

Gentamicina HC, Estreptomicina HC, Levofloxacina/Ciprofloxacina e pesquisa

da β-lactamase (nitrocefina).

Pus Penicilina, Ampicilina, Gentamicina HC, Eritromicina, Vancomicina,

Teicoplanina, Levofloxacina/Ciprofloxacina e pesquisa da β-lactamase

(nitrocefina)

LCR e Hemocultura Ampicilina, Estreptomicina HC, Teicoplanina, Gentamicina HC, Vancomicina e

pesquisa da β-lactamase (nitrocefina).

Tabela VIII: Seleção de antibióticos usados no exsudado ocular consoante o

microrganismo isolado. Exsudado ocular

Microrganismo Antibiótico

Pneumococcus Cloranfenicol, Tetraciclina

Staphilococcus

aureus

Cloranfenicol, Ac. Fusidico, Gentamicina, Tetraciclina, Ofloxacina

Haemophilus Cloranfenicol, Tetraciclina

Enterobacteriaceaes Cloranfenicol, Tetraciclina, Colistina, Gentamicina

Pesudomonas Colistina, Gentamicina, Ofloxacina

Épsilon test (E-test)

O E-test permite determinar quantitativamente a suscetibilidade de determinado

microrganismo. Consiste na aplicação de uma tira impregnada com um gradiente

de antibiótico, tornando possível determinar o CMI pela linha de intersecção do

crescimento bacteriano com a respetiva tira.

Neste teste, a CMI é lida diretamente na escala da tira, no ponto onde a elipse de

inibição do crescimento intercepta a tira. Usou-se o E-test da vancomicina e o da

penicilina.

E-test vancomicina

Procedimento laboratorial:

- efetuou-se uma suspenção de 0,5 de Mcfarland;

- numa placa de Muller-Hinton, efetuou-se estrias apertadas em 3 direções;

- colocou-se a tira E-test e incubou-se a 37ºC durante 24h ao ar.

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E-test penicilina

Procedimento laboratorial:

- efetuou-se uma suspenção de 0,5 de Mcfarland;

- numa placa de gelose de sangue, efetuou-se estrias apertadas em 3 direções;

- colocou-se a tira E-test;

- incubou-se a 37ºC durante 24h em CO2.

I- 4.2- Métodos automatizados-VITEK

Na secção de Bacteriologia existe o sistema automatizado denominado VITEK 2

da bioMérieux, o qual permite a identificação do microrganismo isolado, assim

como, a determinação também da sua suscetibilidade aos antimicrobianos.

O sistema VITEK automatiza todas as etapas necessárias para a realização dos

testes de identificação, usando as cartas VITEK para Gram-positivos,

estreptococos e estafilococos, para os Gram-negativos, para as Pseudomonas

spp., para fungos e para anaeróbios.

O teste de identificação pelas cartas do VITEK consiste numa combinação de

açúcares e substratos bioquímicos desidratados, os quais vão ser digeridos e

provocar uma reação, em que o VITEK, com uma memória implementada dos

vários microrganismos existentes industrializados, identifica o microrganismo

em estudo.

O TSA é umas das técnicas que se baseia na determinação da capacidade que um

microrganismo tem de se multiplicar in vitro na presença de diferentes fármacos.

O TSA nas cartas do VITEK consiste numa combinação de fármacos para

determinados microrganismos (e.g. gram-positivos ou gram-negativos) em que o

resultado é dado como sensível, resistente e intermédio, ao antibiótico.

É de salientar, que para a leitura das cartas de identificação e das cartas de TSA é

necessário fazer suspensões padronizadas das colónias (Mac Farland) para que o

teste seja bem-sucedido quer na identificação acertada do microrganismo quer no

TSA na sensibilidade e resistências reais dos microrganismos.

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O aparelho VITEK 2 executa as análises de identificação e sensibilidade, através

da monitorização contínua do crescimento e da atividade dos microrganismos no

interior das cartas. Existem 2 sistemas óticos que executam esta função:

Sistema ótico de fluorescência

Deteta indiretamente o crescimento e a atividade dos microrganismos, usando um

derivado químico do seu crescimento, em vez dos próprios microrganismos. Esta

substância química, denominado fluoróforo, absorve a luz num comprimento de

onda de 365nm, reemitindo imediatamente a luz num comprimento de onda de

445nm.

São utilizados tubos de luz xénon e filtros óticos para criar o comprimento de

onda específico da luz. Posteriormente, um detetor de fluorescência captura a luz

reemitida pelo fluoróforo. O sistema bioquímico nestes poços foi concebido para

produzir esta substância em proporção direta ao crescimento e à atividade dos

microrganismos. A quantidade de luz reemitida que é produzida, fornece um

excelente indicador do crescimento e da atividade dos microrganismos,

utilizando uma referência interna.

Sistema ótico de transmitância

Utiliza luz visível para medir diretamente o crescimento dos microrganismos.

Este sistema baseia-se numa leitura de luz inicial do poço, antes do início de

crescimento microbiano significativo. Amostragens de transmitância de luz do

mesmo poço, com intervalos de 15 minutos, medem o crescimento de

microrganismos, através da quantidade de luz que é impedida de atravessar o

poço.

O sistema ótico utiliza díodos emissores de luz (LED) que produzem luz nos

comprimentos de onda apropriados e fotodetetores de silicone para capturar a luz

transmitida. O sistema efetua autocalibração.

A identificação VITEK cobre mais de 300 espécies encontradas em clínica e na

área industrial.

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Galerias de antibiograma

A secção de Bacteriologia possui algumas galerias de ATB para algumas

estirpes, nomeadamente as enterobactérias, as pseudomonas e outros bacilos

gram-negativos não fermentadores, os haemophillus e as neisserias.

Estas diferentes galerias de ATB comportam 16 pares de cúpulas. O primeiro

par, sem antibiótico, que vai servir de controlo de crescimento. Os 14 pares

seguintes contêm antibióticos com uma ou duas concentrações. O último par, não

tem antibiótico, permitindo a adição de um antibiótico suplementar, caso seja

necessário.

A bactéria a analisar foi colocada em suspensão. Depois transferida para o meio

de cultura e inoculada na galeria. Após 18 a 24h de incubação, a leitura de

crescimento, por vezes, fez-se visualmente, ou no aparelho Vitek systems-ATB

expression. O resultado obtido permitiu classificar a estirpe como sensível,

intermédia ou resistente

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I- 5- Teste de despiste de resistência à meticilina do

Staphylococcus em meio de cultura sólido

Os Staphylococcus aureus resistentes à meticilina, normalmente designados por

MRSA, são comuns em ambientes hospitalares e pouco comuns em indivíduos

provenientes da comunidade.

A resistência à oxacilina é utilizada para detetar a presença de estafilococcus

resistentes à meticilina. A maioria destes microrganismos são geralmente

resistentes também a múltiplos antibióticos, incluindo outros β-lactâmicos,

aminoglicosídeos, macrólidos, clindamicina e tetraciclina.

Realizou-se o seguinte procedimento laboratorial:

1- Fazer uma suspensão de densidade de 0,5 da escala de Mac-Farland;

2- A partir desta suspensão fazer uma diluição de 1:2;

3- Numa placa de Mueller-Hinton suplementado com 4% de cloreto de sódio

efetuar estrias apertadas em 3 direções;

4- Colocar o disco de oxacilina;

5- Incubar durante 24h, à temperatura 35-37ºC;

Nota: A ausência de um halo de inibição, é sinónimo de resistência.

Pesquisa de β- lactamases

As β-lactamases (penicilinases) são enzimas bacterianas heterogéneas que clivam

o anel β-lactâmico das penicilinas e cefalosporinas para inativar o

antimicrobiano.

As β-lactamases conferem, às bactérias que as contêm, resistência às

cefalosporinas de amplo espectro de ação (3ª geração) como a ceftazidima,

cefotaxima e ceftriaxone (oximino-cefalosporinas) e aos monobactâmicos, como

o aztreonam.

Dos vários processos usados na Bacteriologia para a pesquisa das β-lactamases,

utlizou-se o método da cefalosporina cromogénica.

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Princípio

O disco de cefinase está impregnado com cefalosporina cromogénica

(nitrocefina). O teste é baseado na liberação de um radical cromogéneo, que irá

ocasionar uma mudança rápida de cor (de amarelo para vermelho) quando a

ligação amido no anel β-lactâmico é hidrolisado pela ação da β-lactamase.

O teste para a deteção de β-lactamase deve ser realizado em todas as amostras de

Haemophillus spp.. Quando o resultado for positivo para produção de β-

lactamase, reportar resistência à ampicilina e amoxicilina. O resultado negativo

não garante sensibilidade à ampicilina e um outro teste deverá ser realizado.

O teste da nitrocefina apresenta resultados fidedignos para a deteção da produção

de β-lactamases em isolados de Haemophillus spp., Neisseria gonorrhoeae,

Moraxella catarrhalis, Staphylococcus spp. e Enterococcus spp..

Procedimento laboratorial:

1- Humedecer com água destilada e esterilizada o disco de nitrocefina

previamente colocado na lâmina de vidro;

2- Utilizando uma ansa, remover 4 a 5 colónias morfologicamente

semelhantes da cultura e depositar na superfície do disco;

3- Verificar se há modificação da cor: resultados positivos aparecem 15

segundos a 5 minutos. Se não houver alteração da cor, o teste é negativo.

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I- 6- Controlo de qualidade interno e externo na Bacteriologia

O controlo de qualidade interno é um controlo que assegura a qualidade dos

resultados diariamente. Através do controlo interno, pode-se avaliar o

funcionamento confiável e eficiente dos procedimentos laboratoriais, fornecendo

resultados válidos, que possam contribuir de forma eficaz no estabelecimento do

diagnóstico pelo clínico.

Na secção, fez-se diariamente a monitorização da temperatura das estufas,

mensalmente a temperatura dos frigoríficos e de acordo com o aparecimento dos

erros detetados, fez-se a monitorização dos reagentes, meios de cultura e

técnicas. Procedeu-se também à manutenção e controlo dos equipamentos.

Usou-se na secção de Bacteriologia o controlo de qualidade interno

quinzenalmente, as estirpes american tipe culture collection (ATCC): S. aureus

ATCC, E.fecalis ATCC, E.coli ATCC, K. pneumoniae ATCC, P. aeruginosa

ATCC.

Realizou-se o controlo de qualidade externo, o UK national external quality

assessment service (UK NEQAS) for Microbiology, numa periocidade mensal.

Este controlo externo consiste em amostras desconhecidas, testadas como

amostras biológicas e cujos resultados são enviados ao laboratório de referência

(Londres) dentro do prazo solicitado por esta entidade. Os resultados são

pontuados e comparados com outros laboratórios participantes.

A secção recebe mensalmente o controlo de qualidade externo-NEQAS, que

consiste em 5 amostras:

- 1 amostra de fezes que tem como objetivo, a identificação de bactérias

patogénicas;

- 2 amostras variáveis, que tem como objetivo, a identificação de bactérias

patogénicas;

- 2 amostras variáveis para, a identificação de microrganismos e TSA.

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II- Serologia

A secção de Serologia do SPC consiste no diagnóstico laboratorial através de

técnicas imunológicas, que detetam a resposta imune específica do hospedeiro

infetado, contra o microrganismo causador da infeção, sejam eles, vírus,

bactérias, fungos e parasitas.

O diagnóstico serológico baseia-se na resposta imune humoral dependendo da

atividade dos linfócitos B, na presença de microrganismos (antigénios (Ag))

estranhos ao indivíduo infetado, pela produção de anticorpos (Ac) e por uma

reação Ag-Ac. A produção de Ac é quantificada e, a partir dessa quantificação

dos Acs, podemos obter o diagnóstico, se bem que a sua presença nem sempre

confirma o diagnóstico e podem permanecer para sempre, ou seja, um resultado

positivo nem sempre é sinal de doença contraída recentemente.

II- 1- Colheita e amostra

Os Ac são pesquisados no soro, plasma e líquidos biológicos (LCR, urina e

outros).

Colheita

A colheita é muito importante tal como a sua manipulação. Deve evitar-se

sempre a contaminação, porque se trata de uma colheita estéril.

A refrigeração deve ser feita entre as temperaturas de 2 a 8º C nos 7 dias

posteriores á colheita. Em caso de períodos mais prolongados conservar a uma

temperatura de -20ºC.

As amostras devem ser colhidas em tempos específicos, em que o 1º soro deverá

ser na fase aguda da doença e um 2º soro colhido na fase de convalescença (pelo

menos com 15 dias de intervalo).

Amostra

Não usar soros lipémicos, hemolisados ou contaminados, e em caso de soros com

partículas, deve-se proceder a uma centrifugação.

Sempre que possível evitar congelamentos e descongelamentos da amostra,

porque pode levar a alterações no doseamento das Imunoglobulinas.

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II- 2- Metodologia

Os métodos utilizados em diagnóstico serológico são ensaios com grande

afinidade entre o Ac e o Ag, sendo uns mais sensíveis que outros.

As reações antigénio Ag-Ac podem ser detetadas num nível primário pela

marcação de um Ag com uma enzima ou com uma substância fluorescente,

ensaios imunoenzimáticos e de imunofluorescência, ou, secundariamente, pelo

reconhecimento de alterações físicas (precipitação e aglutinação) resultantes

destas reações.

II- 2.1- Metodologia automatizada

Utilizou-se vários métodos de ensaio nesta secção, nomeadamente por, enzyme-

linked immunosorbent assay (ELISA), Imunofluorescência, enzyme linked

fluorescent assay (ELFA) e quimioluminescência.

A secção possui um equipamento, o Ap 22, que executa métodos de ELISA e de

imunofluorescência.

ELISA

Consiste na reação dos Ac presentes na amostra, com o Ag fixo à superfície de

poliestireno da microplaca, onde num primeiro passo há uma reação Ag-Ac e um

tempo de incubação. As imunoglobulinas não ligadas nesta reação são eliminadas

durante um processo de lavagens, onde, posteriormente, após a adição do

conjugado, há novamente um tempo de incubação. A globulina anti-humana

conjugada com uma enzima vai reagir com o complexo Ag-Ac formado

anteriormente. Procede-se novamente às lavagens e a globulina que não se fixou

ao complexo é eliminada nesta etapa. Há a adição do substrato, mais tempo de

incubação, e o conjugado que contém a enzima, reage originando uma reação de

cor azul. É adicionado uma solução de paragem e a reação de cor azul altera-se

para amarelo quando é positivo. Quando não há reação Ag-Ac (no primeiro

passo) a amostra é negativa e não há cor no poço. Por fim, é feita a leitura por um

espetrofotómetro a um comprimento de onda de 450/620 nm.

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Imunofluorescência

A Imunofluorescência é aplicada também para a deteção de Ac e/ou Ag. Na

secção de Serologia utilizou-se dois tipos de imunofluorescência:

Imunofluorescência indireta: consiste na pesquisa de Ac marcados em que

a reação imunológica baseia-se em duas etapas;

Imunofluorescência direta: consiste na pesquisa de Ag por uma só reação

imunológica (1 só Ac) que habitualmente a lâmina é visualizada num

microscópio de fluorescência.

Os Ac são marcados com fluoresceína, quer na imunofluorescência direta, quer

na indireta, que, sob uma radiação ultravioleta, emitem uma luz verde (cor de

maçã). A imunofluorescência direta é a mais utilizada na secção, pelo

equipamento Ap 22.

ELFA

Ainda nos métodos serológicos automatizados, é usado também um equipamento

VIDAS, baseado na Técnica ELFA, a qual associa o método imunoenzimático

sanduíche em duas etapas, com uma deteção final em fluorescência. Esta técnica

é realizada no VIDAS (testes de rubéola e de Citomegalovírus).

Quimioluminescência

Também é utilizado o equipamento LIAISON que usa a tecnologia de

quimioluminescência:

Principio:

Consiste numa fase sólida, composto por partículas magnéticas, onde fixam-se os

Ag. Numa primeira etapa dá-se a reação Ac-Ag, numa segunda fase junta-se o

conjugado (Ac monoclonais de ratinho anti-IgG humana conjugado com um

derivado do isoluminol). O reagente iniciador induz uma reação de

quimioluminescência (emissão dum sinal luminoso), em que o sinal luminoso e

por conseguinte a quantidade de conjugado anticorpo-isoluminol e é medido por

um fotomultiplicador em unidades relativas de luz (RLU).

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Nota: Todos estes reagentes e procedimentos são fornecidos pelas casas

comerciais que obedecem a protocolos de validação e controlos de qualidade

interno. São fornecidos controlos positivos, negativos e, para cada reagente

utilizado, são fornecidos valores de cut-off para interpretação dos resultados.

A execução das técnicas tem de ser feitas de forma rigorosa (os critérios e

normas propostas para execução dos testes, manutenção, conservação dos

reagentes) para uma boa e correta interpretação dos resultados.

II- 2.2- Metodologia manual

No diagnóstico serológico, para além dos ensaios mencionados anteriormente,

utilizou-se as técnicas manuais (as reações de aglutinação e as reações de

hemaglutinação).

Reações de aglutinação

Baseiam-se na agregação de partículas (latex, eritrócitos, bactérias) que têm na

sua superfície o Ag, quando em contacto com os Acs específicos presentes no

soro do doente. Estas provas de aglutinação são usadas na deteção de Ag em

soro, LCR, urina, LBA (por ex. na pesquisa do Cryptococcus neoformans).

Outro exemplo de reação de aglutinação é o teste de Rosa Bengala (Brucella) que

consiste num teste rápido para a deteção de Ac aglutinantes anti-brucella no soro

(teste de despiste). O método consiste num método em cartão que deteta Ac

aglutinantes, utilizando células de Brucella inativada, coradas com rosa bengala e

suspensa num tampão ácido. O pH ácido da suspensão impede a aglutinação não

específica das bactérias. Nesta reação são detetados Ac aglutinantes das classes

IgA, IgM e IgG. A suspensão bacteriana (suspensão antigénica) vem corada para

facilitar a interpretação dos resultados.

Reações de hemaglutinação

Utilizou-se por e.g. no serodiagnóstico da distomatose (fascíola hepática) e

treponema pallidum hemaglutination assay (TPHA). Esta reação opera-se em

microplacas (poços com fundo em U). São utilizadas hemácias de carneiro

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sensibilizadas, cobertas com o Ag da fascíola e no TPHA- hemácias de galinha

sensibilizadas e estabilizadas com Ags solúveis de Treponema pallidum. A

presença de anticorpos faz com que haja uma aglutinação de hemácias, que tem

um aspeto de véu uniforme (acastanhado ou avermelhado) que cobre o poço. A

ausência de Acs específicos faz com que as hemácias se sedimentem no fundo do

poço, assumindo a forma de botão compacto. Usa-se um controlo do soro num

dos poços, com hemácias não sensibilizadas (excluir interferências de outras

aglutininas assegurando a especificidade da reação).

Utilizaram-se também as técnicas do título de Antiestreptolisina O (ATPO -

Estreptococcus A), para a sífilis os testes rapid plasma reagin (RPR) e venereal

disease research laboratory (VDRL) (teste de screening) e o TPHA para o teste

confirmatório, a reação de Paul Bunnel para o vírus Epstein Barr (mononucleose

infeciosa) e a reação de Waller Rose para a artrite reumatoide.

II- 3- Testes serológicos realizados na Serologia

Os testes analíticos realizados com mais frequência na secção são demostradas na

tabela IX.

Tabela IX: Testes realizados na secção de Serologia com a respetiva metodologia. Método Testes

ELISA

Enterovírus; Adenovírus; Vírus Influenza A e B; Parainfluenza 1,2 e 3;

Vírus Sincicial Respiratório; Parvovírus B19; Vírus Epstein Barr (anti-

VCA e anti-EBNA); Mycoplasma pneumoniae; Clamydia trachomatis;

Aspergillus spp.; Helicobacter pylori e Leptospira spp.

ELFA Toxoplasma, Toxoplasma, Rubéola, Citomegalovírus e Herpes Simplex 1 e

2.

Aglutinação

Reação de Paul- Bunnell (anticorpos heterófilos do vírus EBV); Anti-

estreptolisina O (TASO) do Strepto β-hemolítico do grupo A; Reação de

Rosa Bengala (pesquisa de Ac anti-Brucella); Treponema pallidum pelo

teste não treponémico RPR.

Hemaglutinação Treponema pallidum pelo teste treponémico (TPHA); Aspergillus

fumigatus; Fascíola hepática e o Echinococcus.

Pesquisa de Antigénios Strepto β-hemolítico do grupo B (soro e urina); Cryptococcus neoformans.

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II- 4- Interpretação e validação das provas serológicas

Os resultados destes testes, tais como outros realizados em outras valências do

SPC, deverão ser valorizados em conjunto com a informação clínica e com o

resultado de outros meios complementares de diagnóstico.

Em geral, são tidas em conta as principais imunoglobulinas, a IgG e a IgM. As

IgM surgem logo no início da resposta humoral, podem persistir após a doença

aguda (de 2 meses até um ano) e com o passar da infeção são substituídas pelas

IgG. A imunoglobulina IgA surge muito cedo na fase aguda da doença. Esta

imunoglobulina tem aplicação no diagnóstico de algumas infeções o que permite

fazer diagnóstico serológico mais precoce.

Estes anticorpos específicos surgem na 1ª a 2ª semana, após o contato com os

antigénios do agente infecioso, atingindo e evoluindo para um valor máximo, que

depois desce para valores basais, nem sempre detetáveis.

Na interpretação e na validação dos resultados serológicos, é necessário

distinguir uma infeção antiga de uma infeção primária. Os critérios de infeção

primária consistem num aumento de 2 vezes ou mais de título de IgG, há

presença de IgM (podem persistir até um ano) é possível visualizar a

seroconversão (inexistência de Ac na amostra anterior). Na infeção antiga, a

quantidade de Ac residuais não se altera ao longo do tempo, e na reinfeção

normalmente só há um aumento acentuado das IgGs.

Na interpretação da evolução do título de Acs:

Se as duas colheitas apresentam uma subida exponencial, significa que a

infeção é muito recente (titulo ainda a subir). Caso o título seja igual ao

anterior doseado (1º soro) ou apresente uma descida significa, indica uma

infeção antiga, ou seja, houve contacto com o agente infecioso em estudo,

mas não há relação com a situação presente.

A ausência de um aumento significativo do nível de Ac não exclui a

possibilidade de infeção. As amostras colhidas numa fase precoce no

decurso duma infeção podem não apresentar níveis de IgG detetáveis.

Nestes casos, recomenda-se a realização de teste para IgM ou obtenção de

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uma 2ª amostra decorridos 14 a 21 dias que deverá ser testada em paralelo

com a amostra original.

No recém-nascido também poderá haver dificuldade na interpretação dos

testes serológicos, devido à presença da IgG da mãe e da imaturidade do

sistema imune. Neste caso se deverá pesquisar os Ac nucleicos para o

diagnóstico correto.

Considerações

- A evolução do título de Ac entre duas colheitas espaçadas no tempo pode

avaliar a sua possível relação com a doença aguda que queremos diagnosticar.

- Os Ag utilizados no teste podem ser comuns a outros organismos e que por isso

podemos ter resultados falsos positivos por reações cruzadas.

- As reações cruzadas surgem quando os testes são muito sensíveis mas pouco

específicos. Devem ser confirmados por outros mais específicos.

- A 1ª colheita pode ser muito precoce levando a falsos negativos. É importante

considerar os imunocomprometidos que não respondem às infeções com níveis

de Ac detetáveis.

Em suma, a altura da colheita, a evolução da doença, a especificidade e classe

das imunoglobulinas e a avaliação da evolução dos títulos de Ac ao longo do

tempo são considerações importantes a reter aquando na validação e

interpretação dos resultados.

II- 5- Controlo de qualidade interno e externo na Serologia

O controlo de qualidade interno na Serologia é feito a partir dos controlos das

casas comerciais, seguindo rigorosamente o recomendado.

No controlo de qualidade externo realizou-se o Programa Nacional de Avaliação

Externa de Qualidade do Instituto Nacional Ricardo Jorge (PNAEQ-INSA).

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III- Parasitologia e Urinas tipo II

A secção de Parasitologia e Urinas do SPC é completamente automatizada, com

a exceção da pesquisa de parasitas nas fezes, que é feita por microscopia ótica.

Nesta secção executou-se as seguintes análises: pesquisa de sangue oculto nas

fezes, a análise sumária da urina (Urianálise), pesquisa de parasitas nas fezes

(pesquisa de Giardia lamblia) e na urina.

III- 1- Pesquisa de sangue oculto

A quantidade de hemoglobina presente nas fezes aumenta com alguns tipos de

patologias que vêm associadas a lesões hemorrágicas no intestino. A

determinação da quantidade de hemoglobina nas fezes é um método eficaz para

analisar precocemente o diagnóstico e tratamento em patologias como o cancro

do cólon.

A amostra de fezes deverá ser colhida durante os 3 dias consecutivos e anteriores

à análise (são 3 amostras por paciente para aumentar a probabilidade de encontrar

sangue, caso exista).

A pesquisa de sangue oculto nas fezes é feita por um equipamento OC-Sensor em

que o princípio do método baseia-se numa reação de aglutinação-látex:

Princípio

Um reativo ao látex prepara-se sensibilizando partículas de látex de poliestireno

com anticorpos anti-HbAo humana. Quando este reativo se mistura com a

amostra, os anticorpos anti-HbAo humana ligadas as partículas do látex reagem

com a hemoglobina da amostra. A mudança na absorvância por unidade de

tempo é resultante da reação de aglutinação-látex é proporcional à concentração

da hemoglobina na amostra. Os resultados obtidos são analisados por uma curva

de calibração dose-resposta da unidade de absorvância frente à concentração. A

concentração de hemoglobina na amostra do paciente determina-se a partir desta

curva dose-resposta.

São cerca de 3000 amostras por mês, em que são pedidas a análise de pesquisa de

sangue oculto nesta secção.

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III- 2- Exame parasitológico nas fezes

Na pesquisa de parasitas nas fezes, que são cerca de 220 amostras por mês, é

utilizado um método de concentração, o Easy-Copros®, de modo a facilitar a

pesquisa. Esta técnica aumenta o número de cistos, trofozoítos, ovos ou larvas na

preparação, elimina a maior parte do material orgânico fecal (resíduos) e

apresenta o organismo inalterado, de forma a serem facilmente identificados.

Princípio

As técnicas de concentração estão divididas em dois tipos principais, a flutuação

e sedimentação. As técnicas de flutuação usam soluções de densidades

específicas superiores às dos ovos e cistos (normalmente sulfato de zinco ou

açúcar de Sheather) separando-os dos resíduos fecais, permitindo que os ovos e

os cistos se concentrem à superfície do tubo e a maior parte dos resíduos

depositados no fundo do tubo. As técnicas de sedimentação usam uma ação

reserva, fazendo com que os ovos e os cistos concentrem-se no fundo do tubo e a

maior parte dos resíduos fecais no topo, de forma a serem removidos. As técnicas

de sedimentação são as recomendadas para diagnóstico laboratorial porque são

fáceis de executar e menos sujeitas a erros técnicos.

A Easy-Copros é um dispositivo que tem por base o método de sedimentação por

centrifugação de Ritchie (método de sedimentação), simplificado, com a

finalidade de concentrar ovos e cistos de parasitas das amostras fecais para

posteriormente identificar.

No decorrer do estágio, observou-se os seguintes parasitas: Trichuris trichiura,

Taenia spp., Entamoeba coli e a Giardia intestinalis nas fezes e o Oxyorus na

urina (contaminação fecal). A maior parte destes parasitas é transmitida por má

higienização das mãos, contaminadas com ovos do solo e são acidentalmente

ingeridos em alimentos mal confecionados (carne crua- Taenia spp.).

A Giardia intestinalis ou Giardia lamblia é um protozoária flagelado patogénico

encontrado no duodeno e no jejuno dos seres humanos. Há indivíduos totalmente

assintomáticos que possuem este parasita (cistos) em grande número nas fezes

mas em contrapartida existem outros indivíduos cuja presença deste parasita

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fixado à parede intestinal pode causar irritação e infeção da mucosa do duodeno

ou do jejuno que consequentemente irá provocar diarreia, aguda ou crónica,

associada a hipertrofia das criptas, atrofia das vilosidades e lesão nas células.

Pesquisa da Giardia lamblia

A Giardia lamblia pode ser pesquisada por uma técnica rápida, que consiste na

utilização de tecnologia de membrana com ouro coloidal.

Princípio da técnica:

Uma membrana de nitrocelulose é sensibilizada com um Ac dirigido contra os

quistos da Giardia lamblia. A especificidade é garantida por um anticorpo

específico aos antigénios da membrana do quisto da Giardia lamblia e que se

conjuga com o ouro coloidal. Este conjugado é seco numa membrana. A amostra

por sua vez tem que ser diluída no tampão de diluição fornecido com o teste.

Quando a fase líquida da suspensão fecal entra em contato com a tira, o

conjugado solubilizado migra com a amostra por difusão passiva e o conjugado e

amostra entra em contacto com o Ac anti-Giardia adsorvido na nitrocelulose. Se

a amostra contiver quistos de Giardia lamblia, o complexo conjugado-quisto

permanece ligado ao reagente anti-Giardia e aparece uma linha vermelha. A

solução continua a migrar até encontrar um controlo que confirma o correto

funcionamento do teste.

III- 3- Urianálise (Urinas Tipo II)

A urianálise é o estudo da urina não asséptica, que consiste num estudo

bioquímico por tiras reativas, e no estudo citológico pelo sedimento urinário.

Consiste numa análise de screening de doença renal para os utentes no geral. É

feito uma primeira avaliação macroscópica, que inclui a avaliação do parâmetro

da cor, a avaliação bioquímica, com o estudo de alguns parâmetros bioquímicos,

(e.g. glucose) por fim, a observação do sedimento urinário ao microscópio para a

visualização dos elementos figurados.

É um teste rotineiro, simples e barato. Nesta secção, a urianálise encontra-se

completamente automatizada, o equipamento SediMax, desde a análise

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bioquímica, centrifugação e a visualização do sedimento por fotografias de

imagens do sedimento (câmara digital incorporada que tira 15 fotografias por

cada urina que é possível visualizar como se fossem 10 campos visuais do

microscópio).

III- 3.1- Análise bioquímica

A análise bioquímica consiste em tiras reativas, que estão impregnadas por

reagentes bioquímicos. A tira reativa ao entrar em contato com a urina vai fazer

com que haja reações e envolvimento de cor, que depois são avaliados numa

escala.

São analisados os seguintes parâmetros: a glicose; as proteínas; a bilirrubina; o

urobilinogénio; o pH; o sangue; os corpos cetónicos; os nitritos; leucócitos.

É necessário ter em conta a idade do doente, o sexo, dieta e exercício físico. A

presença de glicose na urina denomina-se glicosúria, que poderá tratar-se de

diabetes mellitus ou não, no caso das grávidas.

A bilirrubina existe sob duas formas, conjugada e não conjugada, mas apenas a

conjugada é solúvel em água, logo a bilirrubinúria significa a presença de

bilirrubina conjugada na urina. Isto acontece quando a circulação enterohepática

é interrompida por mecanismos de obstrução o que resulta em elevados níveis de

conjugada na circulação sistémica e que, por sua vez, é excretada.

O urobilinogénio é avaliado juntamente com a bilirrubina (produtos de excreção).

O pH varia consoante a dieta, a ingestão de fármacos. A presença de cristais

surge na variação do pH.

As cetonas são produtos dos ácidos gordos. O aparecimento das cetonas pode

indicar uma diabetes descontrolada (cetoacidose), no alcoolismo, em jejum

prolongado e vómitos.

As proteínas elevadas são indicadores de uma má excreção por parte do rim, leva

ao aumento da produção e pode aparecer em situações não patológicas, como o

excesso de exercício físico ou em situações patológicas, como por exemplo, no

mieloma múltiplo.

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O sangue na urina (hematúria) pode ocorrer em situações como na ITU,

contaminação menstrual no caso das mulheres ou em casos neoplásicos, bexiga/

próstata. No caso da tira positiva ser forte e não for visualizado eritrócitos no

sedimento é porque se trada de mioglobina e não de hemoglobina.

Os nitritos dependem da conversão de nitratos (da dieta) para nitritos pela ação

redutora das bactérias (caso estejam presentes) na urina. Um resultado positivo

indica a presença de bactérias, logo uma possível infeção.

Os leucócitos na urina sugerem a presença de uma ITU.

Estas tiras reativas (URIFLET S®

) não têm o parâmetro da densidade, que

consiste num parâmetro que permite avaliar, por exemplo, se o individuo colheu

a 1ª urina da manhã, ou se o indivíduo em estado de desidratação ou não.

Os parâmetros bioquímicos têm que coincidir com o sedimento urinário, nos

leucócitos, nos eritrócitos, nas proteínas (visualização ou não de cilindros ou

muco), nitritos (presença ou não de bactérias). A análise bioquímica de certo

modo desperta, o que encontrar posteriormente no sedimento urinário.

III- 3.2- Sedimento urinário

No sedimento urinário realizou-se a observação e semi-quantificação (raros,

alguns ou frequentes) dos elementos celulares:

- células epiteliais, células do epitélio de transição e células tubulares;

- leucócitos, eritrócitos, cilindros hialinos, cilindros eritrocitários e leucocitários

(patológicos);

- elementos leveduriformes (estudados na Bacteriologia)

- cristais mais comuns: ácido úrico; oxalato de cálcio; fosfatos (fosfato, amónio e

magnesiano) e menos comuns e patológicos os cristais de leucina, tirosina e

cistina.

Os cilindros são formados pela proteína de Tamm-horsfall nos túbulos renais, a

forma em cilindro é a do túbulo que serviu de molde. São de formação

exclusivamente renal, portanto aquando da sua presença em excesso, é sugestivo

de doença renal, embora um cilindro hialino até 1 a cada 2 campos pode ser

normal. A presença de cilindros eritrocitários (contêm eritrócitos no seu interior)

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é sugestiva de lesão dos túbulos renais ou capilares renais, aquando dos cilindros

leucocitários (contém leucócitos no seu interior), significa infeção e/ou

inflamação no interior do nefrónio.

Os cristais são formados por precipitações dos sais da urina por alterações na

concentração, na temperatura e no pH da urina, também podem formar cálculos

renais. Os cristais são classificados na diferença do pH:

Cristais ácidos: ácido úrico (é o mais comum) os uratos amorfos, os

cristais de oxalato de cálcio (vitamina C), os cristais de cistina, os cristais

de leucina (doença hepática), os de tirosina e os de colesterol;

Cristais alcalinos: fosfato triplo (fosfato, amónio e magnesiano), os

fosfatos amorfos e por fim os cristais de bilirrubina.

III- 4- Controlo de qualidade interno e externo na secção de

Parasitologia e Urinas

O controlo de qualidade interno é fornecido pelas casas comerciais dos

equipamentos.

O controlo externo da qualidade na pesquisa parasitológica e pesquisa de sangue

oculto nas fezes e na urianálise realizou-se o PNAEQ-INSA.

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IV- Hematologia

A Hematologia é uma especialidade biomédica, que estuda o sangue e os órgãos

hematopoiéticos em situações fisiológicas e patológicas, bem como os

mecanismos de hemostase (primária e secundária).

O sangue é um tecido altamente especializado e em permanente renovação que,

conjuntamente com o sistema circulatório, tem como funções abastecer as

necessidades dos tecidos, órgãos e sistemas do organismo. Também tem como

função transporte de gases e nutrientes, manutenção da temperatura corporal e

equilíbrio hídrico e eletrolítico, proteção contra infeções e excreção de produtos.

O sangue é composto por duas fases, a fase líquida, que corresponde ao plasma, e

a fase sólida que corresponde aos elementos figurados do sangue. O plasma é

constituído essencialmente por água (91%), proteínas (7%) como a albumina,

globulinas (α1, α2, β1, β2 e γ), fibrinogénio e solutos (2%), iões, nutrientes,

hormonas e produtos residuais.

Em relação às proteínas do sangue, a albumina fornece a pressão osmótica

necessária para bombear água do fluido intersticial para os capilares mantendo

também a pressão sanguínea estável; as globulinas α e β são responsáveis pelo

transporte de lípidos e vitaminas lipossolúveis; as globulinas γ que são sobretudo

anticorpos e o fibrinogénio, que estão envolvidos nos processos de coagulação.

Os elementos figurados do sangue: os eritrócitos são células bicôncavas e

anucleadas (fig.3) com função de transportar o oxigénio no sangue

(hemoglobina). Têm uma duração média de vida de 120 dias. São formados

novos eritrócitos através da eritropoiese (fig.4).

Fig.3: Eritrócitos

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Fig.4: Processo de maturação dos eritrócitos

Este processo é estimulado por uma hormona, a eritropoetina, que é segregada

nos rins. São necessários os seguintes elementos, o ferro, a vitamina B 12 e o

ácido fólico para que ocorra este processo.

Os leucócitos são células de defesa que se encontram livres no plasma com

possibilidade de movimento ameboide com funções de defesa. Dividem-se em

dois grupos de acordo com os grânulos e linhagens: leucócitos granulares ou

granulócitos (origem mielóide) que inclui os neutrófilos, os eosinófilos e os

basófilos. Os leucócitos agranulares ou agranulócitos (origem linfoide) que inclui

os linfócitos e os monócitos.

Os neutrófilos são células polimorfonuclerares, responsáveis por fagocitose de

bactérias e fungos e, na maioria das vezes, são a primeira resposta a uma infeção;

Os eosinófilos são vesículas repletas de enzimas digestivas com defesa contra

vermes e parasitas, também estão envolvidas em reações alérgicas (fagocitam os

complexos Ag - Ac); Os basófilos libertam histamina (vasodilatador) e heparina

(anticoagulante) e estão envolvidos nas reações alérgicas.

Em relação aos leucócitos agranulares, os monócitos são células fagocíticas que

por vezes se tornam macrófagos. Os linfócitos participam nas defesas imunitárias

e subdividem-se em linfócitos B e T.

O processo de maturação destas células processa-se da seguinte forma (fig.5).

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Fig.5: Leucopoiese

Estas células têm em comum a célula primordial, com origem na medula óssea

onde se diferencia a via mieloide e a via linfoide. Na via mielóide vão-se

diferenciar, os eosinófilos, os neutrófilos, os basófilos e os monócitos e pela via

linfoide, os linfócitos B e T.

As plaquetas (fig.6) são fragmentos citoplasmáticos celulares provenientes dos

megacariócitos, produzidos também na medula óssea. São importantes na

coagulação participando na formação do tampão plaquetário e promove-se a

formação e endurecimento dos coágulos.

Fig.6: Agregado plaquetário

Os elementos figurados do sangue sofrem um processo de maturação até

chegarem propriamente a células maduras.

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Neste estágio, na secção de Hematologia, realizou-se, em sangue periférico, a

análise das séries: leucocitária, plaquetária e eritrocitária. Na série eritrocitária,

efetuou-se a contagem total dos eritrócitos e a determinação de parâmetros

hematológicos como o da hemoglobina, do hematócrito e os índices eritrocitários

ou globulares, o volume globular médio (VGM), a hemoglobina globular média

(HGM), a concentração de hemoglobina globular média (CHGM), o coeficiente

de dispersão eritrocitária (CDE) e os reticulócitos.

Na linhagem plaquetária, realizou-se a contagem total de plaquetas e a

determinação de alguns parâmetros associados a esta linhagem, tais como, o

volume plaquetar médio.

No estudo da série leucocitária, efetuou-se a contagem total dos leucócitos, no

sangue periférico, e a respetiva fórmula leucocitária das cinco populações, os

neutrófilos, os eosinófilos, os basófilos, os linfócitos e os monócitos. Executou-

se também a velocidade de sedimentação (VS), a hemoglobina glicada (HbA1C)

e a separação das hemoglobinas, e por fim, o estudo da hemostase secundária

(Coagulação).

Nesta secção, também realizou-se o mielograma, que consiste no estudo de

avaliação da celularidade da medula óssea, assim como, das características

maturativas e morfológicas das linhagens hematopoiéticas, e a contagem

diferencial destas células.

IV- 1- Amostra

A amostra utilizada no hemograma, na VS, na HbA1C e na separação de

hemoglobinas, é sangue total com anticoagulante, o EDTA, em concentração de

1,50 +/- 0,25 mg/ml de sangue total. Este anticoagulante é um quelante do cálcio

e forma sais de cálcio insolúveis impedindo a coagulação do sangue.

Na coagulação é utilizado plasma, no qual é aplicado o anticoagulante citrato de

sódio, na proporção 9:1, para a obtenção de amostra de plasma.

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IV- 2- Metodologia

Esta secção encontra-se praticamente automatizada, com a exceção, da execução

dos esfregaços periféricos e a coloração dos aspirados de medulas ósseas. O

hemograma efetuou-se no analisador automático Coulter® LH 750 Hematology

Analyser da Beckman Coulter (Citometria de Fluxo) Beckman Coulter. Os

esfregaços de sangue periférico realizaram-se manualmente e corados pelo

equipamento automático, o Aerospray® 7120 Hematology Slide Stainer.

Os analisadores em que se determinou a VS foram da Menarini, baseados num

método derivado ao método de Westergren.

O equipamento onde se efetuou a separação das hemoglobinas (A2, F e A1c) foi o

BioRad Variant™ II, que utiliza os princípios de high-performance liquid

chromatography (HPLC) na permuta de iões para efetuar a separação automática

das hemoglobinas normais e anormais e também na quantificação da

hemoglobina A2, F e A1c, em amostras de sangue total.

A Coagulação realizou-se no equipamento da Werfen Group - Izasa, o ACL

TOP, que consiste em três métodos, dependendo da análise: coagulimétrico,

cromogénico e imunológico.

IV- 3- Hemograma

O hemograma é um dos exames complementares de diagnóstico mais

frequentemente requisitados na secção de Hematologia, permite a avaliação e

quantificação dos elementos celulares do sangue: eritrócitos, leucócitos e

plaquetas.

Na realidade, é o exame de primeira linha no estudo da função hematológica,

contudo, uma análise atenta e cuidada dos elementos celulares implica, para além

da quantificação de cada um dos tipos de células sanguíneas, o estudo da sua

morfologia a partir dos índices eritrocitários, leucocitários e plaquetários, e da

visualização do esfregaço de sangue periférico.

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Eritrócitos

O estudo da série eritrocitária inclui a contagem do número total de glóbulos

vermelhos, a determinação da hemoglobina, do hematócrito e dos índices

eritrocitários ou globulares (tabela X).

Tabela X: Índices Globulares Índices eritrocitários

Definição

Hemoglobina (g/dL)

Proteína nos eritrócitos que transporta O2 para os órgãos vitais e todo o

sistema vascularizado.

Hematócrito (L/L)

Volume médio do volume dos glóbulos vermelhos.

Volume globular médio

(VGM) (fl)

Valor médio do volume do glóbulo vermelho.

Hemoglobina globular média

(HGM) (pg)

Indica o peso da hemoglobina contida num glóbulo vermelho médio

Concentração da hemoglobina

globular média (HGM) (g/dL)

Indica a concentração média de Hemoglobina por unidade de volume

de glóbulos vermelhos

Os métodos e interesse destes índices estão demonstrados na tabela seguinte

(tabela XI).

Tabela XI: Método e análise dos Índices eritrocitários Índices eritrocitários do hemograma no Coulter LH750

Parâmetro Método Análise

Hemoglobina

(Hb)

Cianohematohemoglobina Detetar, avaliar e monitorizar (no tratamento) as

anemias

Hematócrito (Ht)

Calculado (Coulter) Deteção de anemias e poliglobulias; Informação

sobre o aspecto do plasma; Determinação dos

índices globulares (VGM, CHGM).

VGM

VGM(fl)= Ht(L/L)/GV(x1012

/L) Microcitose; Macrocitose; Anisocitose

(Macrocitose + Microcitose).

CHGM

CHGM(g/dL)=

Hb(g/dL)/Ht(L/L)

Hipocromia, Normocromia e Esferocitose.

Coeficiente de

dispersão

eritrocitária CDE

(%)

Analisador automático através

do histograma da dispersão do

VGM

Dispersão do volume dos eritrócitos, ou seja

para identificar uma possível anisocitose.

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O VGM, a HGM, a CHGM e o CDE, para além de serem determinados pelo

analisador automático, podem ser visualizados num esfregaço de sangue

periférico. Podem apresentar varias formas e tamanhos, como demonstrados na

figura 7.

Fig.7: As variações do tamanho e forma mais frequentes nos glóbulos vermelhos, onde

poderão ser encontradas em algumas anemias.

Com a análise destes parâmetros, nomeadamente o VGM e o CHGM, é possível

classificar algumas anemias (anemia microcítica hipocrómica, normocítica

normocrómica, macrocítica), demonstrados na figura 8.

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Fig.8: Classificação das anemias com base no volume globular médio.

Leucócitos

Na série leucocitária realizou-se o número total de leucócitos no sangue

periférico e a respetiva fórmula. A metodologia da citometria de fluxo classifica

o maior número de células, tendo, portanto uma maior precisão.

O analisador da Beckman-Coulter, o contador fornece os cinco elementos

diferenciais de leucócitos através da tecnologia VCS (volume, condutividade e

dispersão da luz laser (scatter)). À medida que as células passam na célula de

fluxo, são realizadas 3 medições: a impedância, a frequência baixa determina o

volume celular; a condutividade, a frequência alta permite avaliar a

condutividade interna da célula e, portanto, a sua complexidade em termos de

organelos celulares; e, por fim, a dispersão da luz dá informação acerca da forma

e estrutura celular.

Os valores de referência da linhagem leucocitária e das restantes linhagens

hematopoiéticas estão representados na figura 9.

Os valores de referência variam consoante o sexo e a idade.

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Fig.9: Valores de referência do hemograma.

Reticulócitos

O número total de reticulócitos contabilizou-se também no analisador Beckman-

Coulter, onde se utiliza também a tecnologia VCS, referida anteriormente, após

coloração dos reticulócitos com azul de metileno (que vai ligar-se ao RNA dos

reticulócitos). O interesse na contagem dos reticulócitos é sobretudo:

- Avaliar a atividade da linhagem eritropoiética da medula, diagnosticar se uma

anemia é regenerativa (↑) ou arregenerativa (N ou↓);

- Aquando de um tratamento de anemias (ferropénica, perniciosa ou deficiência

em ácido fólico);

- Monitorização de doentes renais em tratamentos com eritropoetina;

- Avaliar se há regeneração sanguínea após uma grande perda de sangue.

IV- 4- Esfregaço de sangue periférico

O esfregaço sanguíneo permite realizar:

o estudo morfológico e dos eritrócitos, plaquetas e leucócitos;

a fórmula leucocitária;

a confirmação dos parâmetros obtidos nos auto-analisadores.

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Na técnica para execução do esfregaço utilizou-se lâmina com lâmina. Deve

limpar-se sempre a lâmina antes de realizar o esfregaço, para evitar que a gordura

(por vezes existente) interfira no esfregaço.

Colocou-se uma gota de sangue próxima de uma das extremidades da lâmina.

Procedeu-se à sua extensão, com uma lâmina com uma inclinação de 45º.

Retrocedeu-se um pouco a lamela, havendo o contato com a gota de sangue e

esta espalha-se por capilaridade ao longo da linha de contato. De seguida fez-se

deslizar a lâmina sobre a lâmina, com movimento firme e delicado e deixou-se

secar ao ar, posteriormente, corou-se pela coloração de May-Grünwald-Giemsa

(sendo esta coloração utilizada também na coloração dos aspirados de medula

óssea).

IV- 4.1- Coloração de May-Grünwald-Giemsa

A coloração de May-Grünwald-Giemsa fundamenta-se em fixar o esfregaço pelo

metanol presente na solução de May-Grünwald (solução metanólica de eosinato

de azul de metileno). A dissociação do corante de May-Grünwald efetuada pelo

tampão de fosfatos (o eosinato de azul de metileno, ao pH conferido pelo

tampão→ eosina + azul de metileno). Vai dar-se a ação individual dos corantes,

eosina (corante ácido que vai corar os componentes citoplasmáticos da célula

(eosinófilos ou acidófilos) de rosa-alaranjado e o azul de metileno corante básico

que vai corar o núcleo e os componentes citoplasmáticos ácidos (basófilos) de

azul-arroxeado. A eosina em conjunto com o azul de metileno vão corar as

granulações (neutrófilas) de cor rosa. A ação da solução de Giemsa diluída é

fazer com que os corantes presentes no Giemsa, o eosinato de azul de metileno e

o esoinato de azur de metileno sejam dissociados pelo tampão de fosfatos, assim

os corantes individuais→ eosina + azul de metileno + azur de metileno (cora as

granulações azurófilas de vermelho-púrpura) vão exercer a sua ação. Esta

coloração May-Grünwald-Giemsa é uma coloração panótica que combina as

vantagens na utilização de vários corantes, corando elementos acidófilos,

granulações azurófilos e granulações neutrófilos.

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O esfregaço de sangue periférico, do lado anterior para o lado posterior da lâmina

é constituído por três zonas, cabeça, corpo e franja/cauda. É na zona da franja,

onde as células se apresentam constantes e uniformes com as características e

tamanho adequados, que se deve proceder à contagem leucocitária e à análise

morfológica dos eritrócitos, leucócitos e plaquetas.

A visualização do esfregaço de sangue periférico, no microscópio ótico, inicia-se

com a objetiva de 10x para avaliar se a coloração e o esfregaço, se estiverem

adequados, segue-se para a observação com a objetiva de 40x para contagem

celular e, por fim, a observação com a objetiva de 100x, para avaliação

morfológica.

IV- 5- Separação de hemoglobinas

Este é um parâmetro que habitualmente não é avaliado na secção de

Hematologia, mas sim na secção de Bioquímica. Por uma questão de espaço

físico, é realizado e validado na secção de Hematologia.

O analisador é o VARIANT™ II HbA2/ HbA1c destina-se à determinação da

hemoglobina A2, F e A1C no sangue total, utilizando o método de HPLC, por

permuta de iões.

IV- 5.1- HbA1C

A diabetes mellitus (doença que afeta mais de 5% da população) foi definida do

ponto de vista clínico como sendo uma deficiência absoluta ou relativa da

insulina que pode progredir para uma hiperglicémia e que está muitas vezes

associada a complicações micro e macrovasculares específicas.

O objetivo do tratamento da diabetes é manter um nível constante e normal de

glicose no sangue. À medida que o nível de glicose no sangue sobe, o aumento

da glicação não enzimática das proteínas é proporcional, tanto ao nível de

glicose, como ao tempo de vida da proteína na circulação ou nos tecidos. Uma

vez que a vida média de um eritrócito é de 120 dias, a HbA1C tem sido aceite

como uma medição que reflete melhor as concentrações em jejum de glicose no

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sangue, a concentração de glicose no sangue diária média e o grau de

desequilíbrio de carbohidratos durante os quatro meses anteriores.

A HbA1C forma-se lentamente em dois passos, através da glicação não

enzimática da HbA. Primeiro forma-se uma aldimina lábil (base de Schiff)

através da condensação reversível do grupo carbonilo (C=O) da glicose e do

grupo amina (NH) da valina do terminal N da cadeia de Hb-β. A quantidade da

aldimina formada depende da concentração de glicose no sangue.

Enquanto os eritrócitos circulam, uma parte da aldimina é sujeita a um processo

de conversão lenta (rearranjo Amadori) para formar uma cetoamina estável

(HbA1C), uma vez que a concentração da base de Schiff (aldimina) muda de

forma, com as flutuações da concentração de glicose no sangue e, uma vez que

nem toda a aldimina é convertida em HbA1C estável, é essencial fazer a

distinção entre HbA1C estável e lábil. O nível de HbA1C é proporcional à

concentração média de glicose como ao tempo de vida da Hb em circulação.

Os métodos para a determinação da HbA1C incluem a electroforese, a focagem

isoelétrica, métodos colorimétricos, ensaios imunológicos e cromatografia em

coluna. Se bem que cada técnica possa ter uma vantagem sobre as outras, pode

igualmente ter desvantagens (ex: usando métodos electroforéticos, as Hb S e C

não interferem, mas níveis elevados de HbF interferem nas medições da HbA1C.

O programa do Variant baseia-se na separação cromatográfica das hemoglobinas

num contexto de permuta de iões. A separação é otimizada para minimizar as

interferências das variantes de hemoglobina, base de Schiff e da hemoglobina

carbamilada.

IV- 5.2- HbA2 e HbF

O sangue em indivíduos adultos contém principalmente HbA, uma pequena

percentagem de HbA2 e vestígios de hemoglobina fetal, HbF.

As hemoglobinas variantes fazem parte de um grupo de distúrbios herdados, as

hemoglobinopatias, que são o resultado de uma síntese defeituosa das cadeias de

globina, formam a molécula de hemoglobina, podendo ocorrer um defeito de

duas formas: enquanto as hemoglobinas anormais resultam da produção de uma

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cadeia de globinas estruturalmente diferentes, as hemoglobinopatias também

podem ser criadas por uma diminuição na produção de uma cadeia de globinas,

estruturalmente normal. Nesta situação, as cadeias de globina e β são

sintetizadas em quantidades desiguais. A produção desequilibrada de cadeias,

que daí resulta, dá origem a uma produção inadequada de hemoglobina normal e

cria um excesso da cadeia de globina normalmente produzida, originando um

tetrâmero instável. Os estados que resultam de tal produção desequilibrada de

cadeias denominam-se de talassémias. Os portadores da β-talassémia têm níveis

de HbA2 e F que podem ser superiores a 3,5% e a 2% da Hb total,

respetivamente. A determinação de níveis simultaneamente elevados de HbA2 e

F tornou-se o meio mais prático para diagnosticar β-talassémia. Os métodos para

a quantificação da HbA2 incluem a electroforese e a cromatografia em colunas de

permuta de aniões. Os métodos para a quantificação da HbF incluem a

electroforese, a desnaturação alcalina e a imunodifusão radial (RID).

IV- 6- Teste da fragilidade osmótica

Este teste consiste em detetar problemas de membrana nos eritrócitos. Este teste

é um meio simplificado de estimar a razão superfície/área/volume dos eritrócitos.

A sua utilidade é no diagnóstico de esferocitose hereditária (↑CHGM), mas pode

também ser utilizado na triagem para a β-talassémia. O princípio do teste: os

glóbulos vermelhos são colocados numa solução hipotónica, a água desloca-se

por osmose para o interior do eritrócito. Isto resulta na turgescência da célula,

que forma toma uma forma esférica. Após o volume crítico ser atingido, a

membrana primeiro cede e depois rompe-se (usando várias concentrações

salinas), libertando a hemoglobina e todo o seu conteúdo. A quantidade de

hemoglobina no sobrenadante é medida colorimetricamente e comparada com

uma amostra de células completamente em lise.

A fragilidade osmótica aumentada ocorre na esferocitose hereditária, na anemia

hemolítica autoimune. O aumento da resistência à hemólise é característica da β-

talassémia, em ambas as formas, homozigótica e heterozigótica, na deficiência de

ferro, ou seja em qualquer outra condição em que o aumento da

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superfície/área/volume dos glóbulos vermelhos esteja presente (também em

alguns casos de doença hepática).

IV- 7- Velocidade de sedimentação

A VS consiste na queda espontânea dos elementos figurados do sangue (os

eritrócitos são os que existem em maior número) em suspensão no plasma. O

analisador da Menarini baseia-se de um método equivalente ao de Westergren em

que numa primeira fase há uma agregação e depois ocorre a sedimentação dos

eritrócitos.

Os valores de VS aumentados ocorrem em várias situações: infeções agudas e

crónicas (tuberculose, sífilis) processos inflamatórios agudos (apendicite);

doenças reumáticas (febre, artrite); necrose tecidular; doenças neoplásicas

(leucemias, mielomas, plasmocitomas) e em anemias. Quando a VS se encontra

diminuída poderá tratar-se de poliglobulias, hipofibrinogenémia e situações

associadas a alteração da forma dos glóbulos vermelhos (valores de referência da

VS: homem até 13mm e mulher até 10 mm). Há dados fisiológicos que vão

alterar estes valores de referência, como a idade, o sexo, a gravidez e o período

menstrual. Além dos fatores fisiológicos existem outros fatores que vão

influenciar na análise, como por e.g. a formação de rouleaux, a viscosidade do

sangue e a proporção do sangue/anticoagulante.

IV- 8- Coagulação

A coagulação no sangue envolve um sistema de amplificador biológico em que

algumas substâncias ativam por proteólise, a cascata de proteínas (figura 10)

circulantes e percursoras da coagulação.

Plaquetas

As plaquetas derivam do citoplasma dos megacariócitos após um tempo de

maturação de aproximadamente de 4 dias, cada megacariócito origina cerca de

1000 plaquetas. O tempo de sobrevivência destas células na circulação é de 7 a

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10 dias. A contagem normal destas células varia entre os 150-400 109/ml nos

indivíduos.

As plaquetas funcionam como a base celular para a hemostase primária, os

recetores da membrana plaquetária são os mediadores primários da hemostase e

permitem que as plaquetas se liguem diretamente ao endotélio e subendotélio nos

locais de lesão. A adesão plaquetária provoca uma sinalização transmembranar,

através dos seus recetores de superfície, induzindo a ativação plaquetária e

posterior função pró-coagulante através de translocação de recetores para a

superfície da membrana celular, alteração conformacional dos recetores,

libertação do conteúdo dos grânulos e exposição dos fosfolípidos membranares.

Fig.10: Via extrínseca e via intrínseca da cascata da coagulação.

A superfície da plaqueta serve como plataforma para a montagem da cascata da

coagulação e formação de trombina, que amplifica a resposta pró-coagulante e

produz a fibrina, permitindo a hemostase secundária.

Por fim as plaquetas ajudam na consolidação do trombo através do fator XIII e

proteção contra a fibrinólise através do fator 4 plaquetário.

A síntese da maioria dos fatores de coagulação ocorre no fígado, de modo que,

nas doenças hepáticas graves, os níveis de todos esses fatores estão diminuídos,

exceto o fator VIII, que também é produzido pelas células endoteliais e as células

do sistema reticuloendotelial. A protrombina (fator II) e fatores VII, IX e X são

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dependentes da Vitamina K para se tornarem ativos, assim como os

anticoagulantes naturais as Proteína C e S. O fator tecidular (FT) é o iniciador

fisiológico da coagulação e é expresso nos fibroblastos subendoteliais e células

musculares lisas, sendo também expresso pelos monócitos periféricos e células

endoteliais vasculares após exposição de estímulos ativadores ou inflamatórios

como as endotoxinas.

Cascata da coagulação

A cascata da coagulação (hemostase secundária) in vivo é propagada por

complexos enzimáticos que apenas funcionam eficazmente nas superfícies

membranares de fosfolípidos, fornecidos pelas plaquetas ativadas e células

endoteliais (figura 11).

O FT, expresso após lesão endotelial, liga-se ao fator VIIa circulante e o

complexo FT-VIIa liga-se aos seus substratos, fatores IX e X, na superfície

plaquetária, formando o complexo tenase, dependente de FT.

As plaquetas fornecem ainda recetores específicos para os fatores de Xa, IXa e

Va. O fator V é secretado pelos grânulos α e principalmente, fornecido pelo pool

citoplasmático. A fosfatidilserina expressa pelas plaquetas acelera as reções

enzimáticas pró-coagulantes e protege os fatores ativados dos inibidores

circulantes, culminando este processo com a formação acelerada de trombina, do

seguinte modo:

1- o complexo fator Xa-Va, juntamente com cálcio livre e fosfatidilserina

plaquetária, liga-se ao fator II (pró-trombina) formando o complexo

protombinase que gera trombina em pequenas quantidades;

2- a trombina formada inicialmente não forma fibrina em quantidades

significativas mas pode ativar os fatores VIII, V e XI;

3- a trombina exerce feedback positivo amplificando a cascata da coagulação,

aumentando exponencialmente a formação do fator Xa e trombina;

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4- com este rápido aumento na formação de trombina, o fibrinogénio é degradado

em monómeros de fibrina que formam uma matriz integrada no coágulo de

plaquetas;

5- o fator XIII converte a fibrina solúvel num polímero insolúvel e liga a α2-

antiplasmina à fibrina, protegendo o coágulo da dissolução pela plasmina.

Fig.11: Cascata da coagulação

A avaliação laboratorial da coagulação inclui a avaliação da via extrínseca e da

via intrínseca, através do tempo de protrombina (TP) e o tempo de

tromboplastina parcial (TTP), respetivamente. O TP monitoriza primariamente a

atividade do fator VII e o TTP é o parâmetro que analisa os fatores hemofílicos,

VII, IX e XI. Ambos (TP e o TTP) detetam a deficiência dos fatores comuns às

duas vias (II, V e X).

IV- 8.1- Avaliação laboratorial

A avaliação de uma discrasia hemorrágica requer uma história clínica bem

organizada, o exame físico e laboratorial. Os exames laboratoriais, o tempo de

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tromboplastina parcial ativada (PTTA), o TP são geralmente úteis na avaliação

inicial do doente com hemorragia (fig.12).

PTTA

Monitoriza a via intrínseca, consiste no tempo de coagulação após estimulação

plasmática com um composto de carga negativa, sendo o seu valor normal de

27s. O TTP é sensível à deficiência de fatores de contato e dos fatores de

coagulação, VIII, IX e XI. O TTP é usado também na monitorização rápida da

terapêutica com Heparina não fracionada.

TP

Monitoriza a via extrínseca, em que mede a interação entre o fator VIIa

circulante e FT-tromboplastina exógeno adicionado. O TP é altamente sensível a

deficiências dos fatores II (pró-trombina) V, VII e X. Como os fatores II, VII e X

são dependentes da Vitamina K. O TP é o mais sensível a medir a eficácia da

terapêutica da Varfarina. O TP nunca é afetado pela deficiência dos fatores VIII,

IX, XI e XII. O valor normal do TP é à volta dos 12s.

As anomalias do fatores II, V e X causam o prolongamento do TP e do APTT.

Fig.12: Testes usados no screening da coagulação.

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O RNI (razão normalizada internacional) é importante na monitorização de

doentes hipocoagulados.

Foi criado para normalizar as variações do TP

induzido pela Varfarina e para permitir a

aplicação global de recomendações

anticoagulantes.

O RNI baseia-se no ISI (Índice de

Sensibilidade Internacional (fornecido pelo

fabricante da tromboplastina) de cada

tromboplastina, estandardizado para o FT e é

calculado da seguinte forma:

Razão (R) = Tempo formação do coágulo do plasma a testar

Tempo formação do coágulo do plasma normal

RNI=RISI

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A tabela seguinte mostra outros parâmetros envolvidos na hemostase secundária

determinados na secção de Hematologia.

Tabela XII: Testes realizados na secção de Hematologia no estudo da hemostase

secundária. Teste

Definição

ATIII (Antitrombina III) Protease circulante que inibe a atividade da trombina e fatores IXa, Xa e

XIa. A sua ação é potenciada pela ligação à heparina

D-Dímeros Produtos de degradação de um agregado de fibrina, formados

exclusivamente a partir da degradação de um trombo. O teste é indicado

quando há suspeita clínica de trombose venosa profunda ou embolia

pulmonar, é um teste de valor preditivo negativo (permite exclusão de

diagnóstico). Pode também ajudar no diagnóstico de coagulação

intravascular disseminada, em casos de suspeita.

Proteína C ativada (APC) Cliva os fatores Va e VIIIa livres inibindo os respetivos complexos

protombinase e tenase e inibe a formação de trombina

Proteína S Cofator da APC. Funciona apenas no estado livre e não quando ligada à

proteína ligante de C4b. esta última pode estar aumentada em doenças

agudas, levando a um estado pró-coagulante

Défice de atividade da

Proteína C ativada ou

Resistência à Proteína C

ativada (APCR)

É teste de rastreio da resistência à Proteína C ativada para a mutação do

fator V Leiden (Biologia Molecular). A maioria dos pacientes com

resistência funcional à APC tem uma única mutação pontual no gene do

fator V. Esta mutação torna o fator Va incapaz de ser inativado pela APC.

Deste modo o fator Va ativa a cascata da coagulação e há um predomínio

dos fatores pró-trombóticos. O padrão de hereditariedade do fator V de

Leiden é autossómico dominante.

IV- 8.2- Patologias mais comuns na secção de Hematologia

As hemofilias são doenças hereditárias ligadas ao X, afetam a hemostase

secundária e são deficiências de fatores de coagulação mais comuns a seguir da

doença de von Willebrand (vWF) (fig. 13).

A hemofilia A consiste numa deficiência de fator VIII e tem uma maior

prevalência do que a hemofilia B, que se deve uma deficiência do fator IX. Afeta

essencialmente indivíduo do sexo masculino mas pode também afetar mulheres

se houver uma inativação extrema do cromossoma X. Clinicamente, os doentes

apresentam hemorragias e o tratamento consiste na administração de

concentrados de fator VIII ou IX, dependendo do tipo de hemofilia, viralmente

inativados ou recombinantes. Quer em casos mais graves ou ligeiros, estes

doentes necessitam de repor os fatores em falta.

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Fig.13: Demonstração de alguns parâmetros alterados nas patologias: hemofilia A,

deficiência do fator IX e na doença de von Willebrand.

A doença de vWF é uma discrasia hemorrágica do tipo plaquetária e deve-se a

uma alteração genética ou adquirida do vWF. São os multímeros maiores de

vWF que conferem maior capacidade hemostática. Em pacientes com pouco

vWF ou em que o vWF é anormal, a adesão das plaquetas aos vasos lesados é

lenta, o que resulta em hemorragia das mucosas e aumento do tempo de

hemorragia.

O vWF é também o transportador do fator VIII, de modo que a deficiência de

vWF ou a ligação anormal vWF-fator VIII leva a uma depuração rápida do fator

VIII, diminuição dos níveis de fator VIII e aumento do TTP.

IV- 9- Controlo de qualidade interno e externo em Hematologia

O controlo interno da qualidade na secção de Hematologia provém das casas

comerciais da Bio-rad.

O controlo externo da qualidade realizou-se o PNAEQ-INSA.

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V- Bioquímica

A bioquímica clínica é uma área laboratorial que se dedica ao estudo analítico de

amostras biológicas, tendo como objetivo principal dar apoio ao diagnóstico e

monitorização clínica de doentes.

Neste âmbito, permite avaliar funções biológicas; processos metabólicos; função

e/ou lesão de órgãos mediante, por exemplo, o doseamento de enzimas que são

produzidos /secretados por estes órgãos em condições normais ou patológicas

(por exemplo, doseamento de enzimas cardíacas na suspeita de enfarte do

miocárdio), entre outros.

Outras vertentes da bioquímica clínica são: a toxicologia (que se dedica ao

rastreio de drogas de abuso) e a monitorização de fármacos.

Estruturalmente, a secção de bioquímica clínica situa-se numa das maiores áreas

do serviço, o LabCore, que inclui também as secções de Imunologia e

Hormonologia.

O SPC dispõe ainda de uma sala de química manual onde são realizados alguns

testes de cromatografia (cobre urinários, zinco), assim como doseamentos de

fármacos imunossupressores tais como ciclosporina, tacrolimus e sirolimus.

V- 1- Amostra

A maioria dos parâmetros bioquímicos é determinada em amostra de soro, sendo

também utlizadas amostras de plasma, urina 24 h, amostra de urina ocasional,

sangue total e líquidos biológicos. É importante que, tanto o soro como o plasma,

sejam separados da parte sólida (elementos celulares) o mais breve possível após

a colheita. Este passo previne a troca de substâncias entre a porção celular e a

porção líquida, o que pode alterar os resultados dos testes.

O procedimento da colheita do sangue venoso também é muito importante, visto

que um mau procedimento pode comprometer os resultados de alguns parâmetros

analíticos, tais como o potássio e as proteínas totais.

O transporte da amostra biológica também é um fator muito importante, tendo

em conta que a maior parte das amostras provêm do exterior do HNM.

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De entre os fatores que podem afetar a viabilidade das amostras, os mais

relevantes são: sistema de transporte, posicionamento da amostra primária à

exposição de luz solar/artificial, temperatura (↑ºC: deteriora alguns parâmetros,

diminuição da glicose, aumento do fósforo, hemólise; ↓ºC: hemólise), tempo

(máximo de 2h após a colheita de sangue venoso não centrifugado, para manter a

estabilidade) e alterações mecânicas, onde um excesso de agitação leva a

hemólise.

As condições em que a amostra biológica se encontra, por exemplo, com fibrina,

lipémicas, ictéricas, hemolisadas, têm que ser avaliadas e reportadas, podendo

condicionar a alteração de alguns parâmetros bioquímicos. As amostras de soro

com fibrina advêm do tempo insuficiente para a retração do coágulo (30 minutos

a temperatura ambiente) e da terapêutica com anticoagulantes, levando a

consequências adversas, como, obstrução das pipetas dos aparelhos o que resulta

na obtenção de resultados incorretos. As amostras lipémicas surgem pelo

aumento das lipoproteínas, principalmente dos triglicéridos, o que leva a algumas

interferências no método, como por exemplo, no aumento de ácido úrico,

proteínas totais e glicose e na diminuição por e.g. da creatinina. As amostras

ictéricas resultam do aumento da concentração das bilirrubinas, interferindo em

parâmetros como ácido úrico, colesterol total e triglicéridos, diminuindo-os. A

hemólise da amostra interfere no doseamento nomeadamente, bilirrubinas,

marcadores cardíacos (Ck e Ck-MB) e analitos intracelulares tais como o

potássio e o lactato desidrogensase (LDH).

As amostras devem ser analisadas no prazo de uma hora, deixando-as à

temperatura ambiente. Caso o prazo de análise seja superior a uma hora,

refrigera-se as amostras a 4˚C. No caso dos testes que envolvam enzimas, as

amostras devem ser congeladas imediatamente após a colheita, para evitar a

perda da atividade enzimática. As amostras para o estudo da bilirrubina devem

ser conservadas num recipiente escuro já que a bilirrubina é degradada pela luz.

Alguns parâmetros são alterados após a ingestão de alimentos (glucose,

triglicerídeos, colesterol), daí que a colheita tem que ser efetuada ao paciente em

jejum (12h antes da hora da colheita). Há outros parâmetros que podem sofrer

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variações como, a creatinina quinase, ferro e corticoesteróides, daí que seja

fundamental a indicação da hora da colheita.

V- 2- Metodologia e análises efetuadas na secção de Bioquímica

O número de instrumentos disponíveis no mercado, para realização de análises

bioquímicas, cresceu rapidamente nos últimos anos. Muitos desses instrumentos

fornecem uma ampla variedade de técnicas e metodologias que se encontram

disponíveis em simultâneo no mesmo equipamento, sendo também de fácil

utilização sob o ponto de vista do operador.

A par dos avanços tecnológicos dos analisadores de química clínica, também se

verificou a criação de sistemas automatizados para os processos da fase pré-

analítica com o intuito de atenuar a ocorrência de erros inerentes a esta fase,

assim como garantir a segurança dos funcionários e diminuir o tempo de resposta

dado pelo laboratório.

Neste sentido, e de forma a melhorar a resposta dada pelo SPC, foi implementado

na área LabCore, um sistema automatizado de pré análise e uma cadeia robótica,

a qual permite a articulação dos vários equipamentos de bioquímica e

hormonologia com módulos de pré-analítica e um armazenador de amostras.

A secção de Bioquímica utiliza os seguintes aparelhos do LabCore da Beckman

coulter®

:

AutoMate™ Sample Processing System

o Centrifugação; determinação do nível de soro mínimo para a realização de

alíquotas; módulo de descapsulação; execução de alíquotas para as

secções de Serologia, Imunologia e Hormonologia e sua etiquetagem;

o Separação de amostras (tubos primários e alíquotas) para as várias secções

do serviço, assim como para o serviço de imunohemoterapia;

o Separação das amostras destinadas à secção de hematologia de acordo

com os parâmetros a analisar (hemograma, VS e hemoglobina glicada).

Cadeia robótica

o Módulo de entrada

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Unidade Inlet (entrada de amostras no sistema informático

do laboratório)

Unidade Outlet (para separação de amostras rejeitadas);

o Centrífuga;

o Descapsulador;

o Analisador automatic UniCel DxI 800 (Hormonologia);

o Analisador automatic Dxi Au 5400 (Bioquímica analítica);

o Recapsulador;

o Armazenador frigorífico para amostras;

o Módulo de saída

Unidade outlet (para amostras com parâmetros analíticos a

determinar fora da cadeia robótica).

Rotina

Quando as amostras chegam à secção (após terem passado pela triagem do SPC),

são colocadas em racks do automate: com centrifugação ou sem centrifugação

(Imunologia, Serologia, Hematologia, Imunohemoterapia) e robótica

(Bioquímica e Hormonologia). Insere-se as duas primeiras no automate e a

última na cadeia robótica. Esta última é colocada na cadeia robótica se as

amostras tiverem somente pedidos de parâmetros que se realizem nos aparelhos

da cadeia.

O equipamento automate faz também a separação para uma rack específica de

amostras que não obedeçam aos critérios definidos para a sua colocação na

cadeia robótica, tais como tubos pediátricos, amostras com quantidade de soro

insuficiente ou alíquotas. No final da análise, os tubos são armazenados no

armazém refrigerado, através da seleção automática da cadeia robótica.

A fase pré-analítica é uma das fases suscetível de maior número de erros

analíticos na marcha laboratorial.

Esta automatização (LabCore) do SPC traz muitas vantagens, nomeadamente:

- reduz a exposição do técnico ao risco biológico;

- permite padronizar as várias etapas e atividades da fase pré-analítica;

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- reduz o tempo de manipulação das amostras (preparação das amostras,

alíquotas e etc.);

- diminuição da ocorrência de erros;

- permite visualizar o trajeto da amostra (rastreabilidade da amostra).

V- 2.1- Equipamento automatizado e método

A tabela seguinte mostra os testes e a respetiva metodologia executadas no

equipamento Dxi Au5400.

Tabela XIII: Testes realizados na secção de Bioquímica .

Testes Metodologia Interesse

Glucose Ensaio enzimático (método de

hexoquinase)

Diabetes; Defeitos

congénitos enzimáticos

Bilirrubina direta

Ensaio colorimétrico

Função hepática

Bilirrubina total

Albumina Função hepática e renal;

Perturbações metabólicas e

nutricionais.

Proteínas totais

β2-microglobulina

Imuno-turbidimétrico

Patologias renais,

oncológicas, auto-imunes,

infeções bacterianas e

víricas

Ck (creatinina quinase) Ensaio enzimático com imuno-inibição

Função cardíaca

Ck-mb (creatinina quinase

miocárdio)

Teste de imuno-inibição enzimática

AST (Aspartato

aminotransferase)

Ensaio enzimático cinético

Função Hepática e

Cardíaca

ALT (Alanina

aminotransferase)

Função Hepática

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Testes Metodologia Interesse

ApoB (Apolipoproteína B) Imuno-turbidimétrico

Avaliação cardiovascular

Perfil lipídico

Colesterol Total Ensaio enzimático colorimétrico

LDL

HDL

Triglicéridos Ensaio enzimático colorimétrico

Ureia Ensaio enzimático cinético

Função renal

Creatinina Método de Jaffé (cinético colorimétrico)

Microalbumina Ensaio imuno-turbidimétrico

Magnésio Ensaio colorimétrico - método direto no

qual os iões de magnésio formam um

complexo colorido com azul de xilidil

numa solução fortemente básica.

Ácido úrico Ensaio enzimático colorimétrico Doença renal e Gota

Fosfatase alcalina Ensaio cinético

colorimétrico

Função hepática e

Metabolismo ósseo

Amónia Ensaio enzimático Insuficiência renal;

Acidoses tubulares;

Insuficiência hepatocelular

Ferro

Ensaio colorimétrico

Anemias

Fósforo inorgánico Aporte nutricional

γGT (gama-glutamil

transferase)

Ensaio cinético

colorimétrico

Função hepática

Lactato Ensaio enzimático colorimétrico Hipoxia e distúrbios

metabólicos

LDH- Lactato

Desidrogenase

Ensaio enzimático cinético

Enzima inespecífica

(hepática, músculo

cardíaco, sistema músculo-

esquelético, doenças

Hemato-oncológicas: e.g.

testículos, linfomas e

leucemias

Proteína C-reativa Ensaio de imuno-turbidimétrico Processo inflamatório

agudo

Transferrina Ensaio de imuno-turbidimétrico Anemias

Sódio

Potássio e Cloro

Potenciometria indireta

Função Hidro-electrolítica

Função renal

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V- 2.2- Urina de 24h

A colheita de urina de 24h constitui uma parte importante do exame. Se o

volume de urina colhida é muito reduzido, é necessário repetir a colheita.

- O início da colheita deverá dar-se referencialmente pela manhã, desprezando-

se a primeira micção;

- A partir daí, deverá colher a urina de todas as micções que se seguirem

durante as 24 horas, se possível diretamente para o recipiente, sem perder

qualquer quantidade de urina;

A última micção deverá ser rigorosamente à mesma hora em que iniciou a

recolha no dia anterior, neste exemplo às 8 horas da manhã seguinte;

A urina desta última micção deve ser, totalmente vertida no recipiente de

colheita;

- Se verificar que o frasco de 2L fornecido não é suficiente para guardar toda a

sua urina de 24 horas, pode colocar o excesso de urina numa garrafa de água

de 1,5 litros, limpa e seca.

- Durante o período de colheita da urina de 24 horas, o(s) recipiente(s) deverão

Testes Metodologia Interesse

Cálcio Ensaio colorimétrico Paratiróide; Doenças

ósseas; Doença renal

crónica; Urolitíase e

Tetania

Adenosina desaminase

(ADA)

Método colorimétrico cinético Diagnóstico e

monitorização de

tuberculose pleural e

peritoneal

Aldolase Ensaio enzimático Doenças primárias do

sistema músculo-

esquelético

Enzima conversora

Angiotensina (ECA)

Ensaio cinético Sarcoidose; Doença de

Gaucher; Lepra

Amilase Ensaio enzimático colorimétrico

Patologia pancreática Lipase Ensaio cinético colorimétrico

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ser armazenados no frigorífico ou guardados em local muito fresco.

Interesse

Uma das principais indicações para a utilização deste tipo de amostra é a

avaliação da diurese e função renal. Neste sentido são determinados os seguintes

parâmetros:

- medição do volume da urina;

- análise bioquímica (uma amostra representativa): proteinúria, microalbuminúria

e a creatinúria;

- clearance da creatinina.

A urina de 24 horas pode ser também utilizada para doseamentos de hormonas,

metabolitos ou outras substâncias que são excretados na urina.

V- 2.3- Líquidos biológicos

Na secção de Bioquímica, faz-se o estudo bioquímico dos líquidos biológicos:

cefalorraquidiano e líquidos serosos - pleural, peritoneal, sinovial e pericárdico.

Para avaliar a citologia do líquido biológico, efetuou-se uma contagem celular no

autoanalisador hematológico COULTER® LH 750. Se a contagem celular for

inferior a 300 (limite de deteção do analisador), é realizada a contagem celular

manual em câmara de Neubauer. A contagem diferencial de células e a sua

avaliação morfológica são realizados em lâmina de citoesfregaço corado com

coloração de Wright.

Na avaliação bioquímica são determinados, essencialmente, a glucose e as

proteínas, úteis no diagnóstico diferencial entre exsudados e transudados (nos

líquidos serosos), assim como no diagnóstico diferencial de meningite bacteriana

e viral (LCR), entre outras patologias que afetam o sistema nervoso central.

Pode haver interesse em determinar outros parâmetros analíticos, como por

exemplo: triglicéridos (na suspeita de líquido quiloso) e adenosina desaminase

(ADA) (suspeita de tuberculose).

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V- 2.4- Testes de diagnóstico rápido

Para além dos autoanalisadores, a secção possui testes de diagnóstico rápido, o

teste de gravidez e o das drogas de abuso.

V- 2.4.1- Teste imunológico de gravidez

Este teste consiste num teste de imunoensaio cromatográfico (Nadal hCG®) que

permite a avaliação qualitativa rápida da hormona gonadotrofina coriónica

humana (hCG) na urina.

Na membrana da área do teste, estão fixados anticorpos ligados à cadeia α da

hCG; na membrana da zona de controlo estão fixados Acs de cabra anti- rato.

Durante o ensaio, a amostra é misturada com partículas de ouro coloidal que

possuem à sua superfície Acs monoclonais com afinidade para a cadeia beta da

hCG. Com o resultado positivo, isto é, com a presença de hCG, um conjugado

Ac – hCG/ Ac - ouro surge, através da presença de uma linha de cor na zona do

teste. Se esta linha de cor não aparece na área do teste, o resultado é negativo.

Em ambos os casos (resultados positivo ou negativo), deverá aparecer uma linha

de cor (na zona de controlo). Se esta não aparecer, o teste é dado como inválido.

V- 2.4.2- Drogas de abuso

Utilizou-se um teste imunocromatográfico (Drug-Sreen®

) para detetar a presença

de drogas de abuso, na urina. É um teste rápido, qualitativo para deteção

simultânea de várias drogas e seus metabolitos, nomeadamente cocaína,

anfetamina, metanfetaminas, canabinóides e morfina. O teste baseia-se num

imunoensaio competitivo, sendo composto por um dispositivo com uma

membrana que contem partículas ligadas a anticorpos dirigidos contra as várias

drogas, assim como conjugados de proteína-droga. A amostra é colocada num

poço do dispositivo e migra por ação capilar ao longo da membrana. Se a

quantidade de droga na amostra for inferior ao valor de cut-off, as partículas de

Ac ligam-se aos respetivos conjugados proteína-droga, fazendo aparecer uma

linha de cor na região designada para essa droga. Se, por outro lado, a

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concentração de droga na amostra for superior ao valor de cut-off, esta vai saturar

os sítios de ligação no Ac, e não se forma uma linha visível.

Porém, um resultado negativo não indica urina livre de droga, mas sim abaixo do

nível de deteção do teste. O teste é inválido se não surgir a linha de controlo.

V- 3- Controlo de qualidade interno e externo em Bioquímica

Consiste essencialmente no controlo diário (interno) e no controlo mensal

(externo) dos parâmetros bioquímicos, feitos a partir das cartas de Levey-

Jennings (cartas de controlo de qualidade com regras padronizadas).

Controlo de qualidade interno

Este é realizado com materiais de controlo comerciais disponibilizados,

geralmente, em 2 ou 3 níveis de concentração, de forma a monitorizar diferentes

níveis de decisão médica. Nos analisadores automáticos utilizam-se, para a

maioria dos parâmetros, controlos Bio Rad®, tendo alguns parâmetros controlos

específicos. Os resultados são avaliados, utilizando o programa informático

Unity-Real Time®.

O controlo interno é realizado diariamente e sempre que há necessidade de

avaliar possíveis erros nos equipamentos. É realizado também o controlo de

temperaturas dos frigoríficos.

Controlo de qualidade externo

External Quality Assurance Services (EQAS) da Bio-rad

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VI- Hormonologia

O sistema endócrino consiste em diferentes glândulas que secretam várias

hormonas diretamente na corrente sanguínea. Algumas têm ação reguladora, que

estimula a secreção das hormonas metabolicamente ativas de outras glândulas.

A secreção e a concentração de cada hormona, está sujeita a um controlo

contínuo por mecanismos de feedback negativo em condições fisiológicas

normais. Consequentemente, a concentração de cada hormona na circulação deve

enquadrar-se dentro de valores de referência normais, em condições normais de

saúde. O diagnóstico dos distúrbios endócrinos é possível principalmente através

da quantificação direta das hormonas individuais no soro.

As ações das hormonas podem ser divididas de modo amplo em funções

reguladoras, morfogénicas e integrativas.

Função reguladora

Uma das funções do sistema endócrino é a de regular a homeostasia dos líquidos

extra e intracelulares. A homeostasia é mantida pela ação das hormonas que

regulam o metabolismo hídrico, glicídico, lipídico e proteico. Outra função

reguladora importante é na resposta às necessidades, na falta do aporte

nutricional do organismo, infeções, trauma, stress e reprodução sexual.

Função morfogénica

As hormonas desempenham um papel importante no crescimento e

desenvolvimento do organismo. Os órgãos sexuais masculinos e femininos

desenvolvem-se sob a ação de hormonas, a testosterona e o estradiol

respetivamente.

Função integrativa

As hormonas são produzidas por várias glândulas endócrinas e atuam

frequentemente em conjunto para regular uma função específica. Um exemplo

disso é no metabolismo dos glúcidos normal, em que necessita de uma ação

conjunta de hormonas produzidas pelo pâncreas (insulina e o glucagon), pela

hipófise (hormona de crescimento), pelas glândulas suprarrenais

(glicocorticóides, epinefrina), pela tiroide (T4) e pelas gónadas (estrogénio).

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VI- 1- Amostra e metodologia

A amostra utilizada na maioria dos testes nesta secção é soro, mas também

plasma para a determinação por exemplo do peptídeo natriurético cerebral para

avaliar patologias como, enfarte agudo do miocárdio e a insuficiência cardíaca

congestiva.

Nesta secção, os ensaios imunoquímicos, com reação entre Ag e o Ac, basearam-

se em métodos de electroquimiolumiscência e quimioluminescência, nos

seguintes equipamentos:

UniCelTm

DxI 800 da Beckman Coulter

O UniCelTm DxI 800 utiliza a metodologia de quimioluminiscência (CLIA).

A CLIA consiste numa reação química, que envolve a oxidação de um composto

orgânico (normalmente a fosfatase alcalina) na presença de catalisadores. A luz é

emitida a partir do produto instável formado na reação de oxidação. Os eletrões

de um átomo recebem energia, saltam para camadas mais externas e depois

voltam para as mesmas camadas mais internas, libertando energia em forma de

luz. A emissão de fotões luz é medida com um luminómetro.

Elecsys® 2010 e Cobas e 411, da Roche Diagnostics

O Elecsys®

2010 utiliza a tecnologia de deteção por electroquimioluminiscência.

As reações químicas geram luminescência a partir de um estímulo elétrico, no

qual o quelato de ruténio, juntamente com a tripropilamina, forma intermediários

eletronicamente excitados que emitem fotões. Esta excitação ocorre devido à

transferência de eletrões energéticos. A emissão de fotões de luz é medida com

um fotomultiplicador.

Estes imunoensaios consistem em dois princípios: o sanduíche e o competitivo.

o Princípio sandwich

São utilizados 2 anticorpos, um ligado à fase sólida e outro marcado com uma

substância geradora de sinal, que se ligam a substância em estudo.

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Em ambos a quantidade de luz produzida é diretamente proporcional à

quantidade de antigénio na amostra do paciente.

Electroquimiolumiscência

A amostra liga-se ao Ac biotinilado, enquanto o Ac marcado com complexo de

ruténio reage com um sítio antigénico presente na amostra, formando um

complexo sandwich.

São adicionadas micropartículas revestidas de estreptavidina ao complexo,

ligando-se à fase sólida pela interação da biotina e da estreptavidina.

A mistura da reação é aspirada para a célula de leitura, onde as microparticulas

são fixadas magneticamente à superfície do elétrodo. É aplicada uma corrente

elétrica ao elétrodo, induzindo uma emissão quimioluminescente que é medida

por um fotomultiplicador.

Quimioluminescência

A amostra liga-se ao Ac imobilizado na fase sólida, enquanto o Ac conjugado à

fosfatase alcalina (composto orgânico) reage com um sítio antigénico presente na

amostra, formando um complexo sanduíche. É adicionado o substrato

quimioluminescente (Dioxetano), que sofre hidrólise na presença da enzima,

produzindo substâncias instáveis responsáveis pela emissão de luz. A luz gerada

é medida num luminómetro.

o Princípio competitivo

Todo o procedimento é semelhante ao princípio sanduíche, com a diferença de

haver competição entre a substância presente na amostra e outra marcada com

alguma substância geradora de sinal. Ao contrário do princípio do sandwich, a

quantidade de luz produzida é inversamente proporcional à quantidade de

antigénio presente na amostra.

Electroquimiolumiscência

Há competição entre o Ag da amostra com os anticorpos marcados com ruténio

pelo Ag biotinilado.

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Quimioluminescência

Há competição entre o Ag da amostra e o Ag conjugado à fosfatase alcalina,

pelos sítios de ligação no Ac específico.

VI- 2- Análises efetuadas na secção de Hormonologia

Na secção realiza-se o estudo das várias hormonas e marcadores tumorais (tabela

XIV).

Tabela XIV: Testes realizados na secção de Hormonologia. Testes Equipamento Interesse

Folato

DxI 800

Anemias Vitamina B12

Ferritina

Eritropoetina

PSA total (PSA-antigénio

específico da próstata)

PSA livre-interesse: Próstata

DxI 800

Marcadores

Tumorais

CEA (antigénio

carcinoembrionário) interesse:

Carcinomas do Cólon, Pulmão e

Mama

CA125(antigénio carbohidrato)-

interesse: Carcinomas do ovário

Endométrio e Mama.

CA 19.9- interesse: Carcinoma do

Pâncreas, Estômago, Vias biliares e

colo-retal

CA 15.3- interesse: Carcinoma da

Mama e Ovário

AFP (alfa-fetoproteína) – interesse:

Células germinativas, Carcinoma

hepatocelular

NSE (Enolase Neuro-específica) -

interesse: Neuroblastoma,

Melanoma

Cobas e 411

Cyfra 21.1- interesse: Carcinoma

do pulmão

CA 72.4- interesse: Cancro gástrico

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Testes Equipamento Interesse

Mioglobina

DxI 800

Função

Cardíaca Troponina I

BNP (Peptídeo Natriurético tipo B)

Procalcitonina Elecsys 2010 Função renal

Vitamina D Elecsys 2010

Metabolismo

Ósseo

Osteocalcina

PTH (Paratormona) DxI 800

hGH (Hormona do crescimento)

TSH (Hormona estimulante da

tiróide)

DxI 800

Função da Tiroide

T3 (Triiodotironina) livre e total

T4 (Tiroxina) livre e total

Tiroglobulina (Tg) (marcador

tumoral)

Cobas e 411 Anti-Tg (Diagnóstico auto-imune

da tiróide)

Anti-TPO (Diagnóstico auto-imune

da tiróide)

TRAb (Diagnóstico auto-imune da

tiróide)

Elecsys 2010

Progesterona

DxI 800

Fertilidade

Testosterona

FSH (Hormona do folículo

estimulante)

LH (Hormona luteinizante)

Prolactina

β-HCG (Hormona Gonadotropina

coriónica humana) total

Estradiol

DHEA (Dehidroepiandrosterona)

Cortisol DxI 800 Supra-renais (Síndrome de

Cushing) ACTH (Hormona

adrenocorticrópica)

Elecsys 2010

Insulina DxI 800 Diabetes

Péptido C Elecsys 2010

PAPP-A Kryptor Compact Rastreio pré-natal

β-HCG livre

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VI- 3- Controlo de qualidade interno e externo em Hormonologia

Consiste essencialmente no controlo diário (interno) e no controlo mensal

(externo) das hormonas e dos marcadores tumorais, realizados a partir das cartas

de Levey-Jennings (cartas de controlo de qualidade com regras padronizadas).

Controlo de qualidade interno

À semelhança da secção de Bioquímica, esta secção também utiliza materiais de

controlo comerciais, a maioria em 2 níveis, sendo os procedimentos para a sua

utilização sobreponíveis aos descritos anteriormente. Os resultados são avaliados,

utilizando o programa informático Unity-Real Time®.

O controlo interno é realizado diariamente e sempre que há necessidade de

avaliar possíveis erros nos equipamentos. É realizado também o controlo de

temperaturas dos frigoríficos.

Controlo de qualidade externo

- EQAS da Bio-rad

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VII- Imunologia

A Imunologia clínica consiste no estudo das respostas do organismo que

fornecem imunidade, ou seja, mecanismos que estão envolvidos na proteção

contra organismos estranhos ao organismo. Apesar da complexidade do sistema

imunológico, é possível detetar, em laboratório, certos constituintes do sistema

imunitário, como os Acs.

O sistema imunológico tem funções mais amplas do que fornecer, somente,

proteção de microrganismos invasores. Um sistema imune saudável é

fundamental para uma boa saúde e, não só, envolve a prevenção ou o combate

contra as doenças infeciosas, mas também, a proteção do organismo contra

toxinas e tumores. Este sistema, fornece mecanismos de defesas específicas

contra uma variedade de substâncias estranhas ao organismo (Ags) que podem

ser vírus, células ou moléculas proteicas. Este sistema é uma organização

complexa que envolve tecidos, células, produtos celulares, mediadores químicos

biologicamente ativos, que se interagem mutuamente para produzir uma resposta

imune.

O sistema imunológico consiste em dois tipos de imunidade, a imunidade inata e

a imunidade adquirida. A imunidade inata consiste na ação concertada de

variados tipos celulares, recetores, sistemas de sinalização e mecanismos

efetores, em que as barreiras epiteliais têm um papel fundamental na proteção do

organismo contra a invasão de agentes patogénicos externos. Nestas barreiras, o

reconhecimento direto de diferentes agentes agressores induz a imunidade inata,

que constitui a primeira linha de defesa do organismo, com uma especificidade

de largo espectro. A resposta de imunidade adaptativa, é aquela que reconhece e

relembra diferentes Ags. A imunidade específica é caracterizada pela capacidade

de reconhecer, pela resposta específica e pela memória.

Os testes que avaliam a função imunológica são realizados em pacientes com

infeções recorrentes ou possuem sintomas que indicam um problema provável

com o seu sistema imunológico. Devido à sua propriedade única de reconhecer e

distinguir os vários Ags intimamente relacionados, os Acs são largamente usados

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em testes laboratoriais. Alguns dos quais incluem: testes de aglutinação; testes de

inibição; testes de precipitação; técnicas de anticorpos fluorescentes; testes de

imunoensaios entre outros.

Os Acs usados nos testes imunológicos podem ser monoclonais ou policlonais.

Os primeiros são Acs com uma especificidade e classe e são derivados de um

clone (mono) ou linha celular. Os anticorpos monoclonais podem ser produzidos

em laboratório e são usados como reagentes para diversos kits

imunodiagnósticos. No caso dos anticorpos policlonais, são imunoglobulinas

com mais de um epítopo específico ou são mais derivados de mais do que uma

linha celular. Os Acs que normalmente estão presentes no soro do indivíduo

saudável ou situações reativas são policlonais.

Nesta secção de Imunologia e não só, devem-se escolher métodos baseados na

sensibilidade e especificidade dos mesmos. A especificidade refere-se à

habilidade de detetar somente o Ac ou Ag para o qual o teste foi desenvolvido. A

deteção de outras substâncias (reação cruzada) diminui a especificidade e pode

causar reações falsamente positivas. O menor limite de deteção ou a mais baixa

concentração capaz de ser detetada pelo método refere-se à sensibilidade.

VII- 1- Amostra

- Sangue total: soro

- Urina de 24h para a pesquisa da proteína de Bence-Jones.

VII- 2- Metodologia

Utilizou-se as várias técnicas/metodologias no sector de Imunologia.

VII- 2.1- Técnicas

Aglutinação

É a aglomeração ou agregação de células ou partículas devido à sua reação com

os Acs. Quando células ou partículas (ex. partículas de látex) têm moléculas de

Ag na sua superfície, vão aglutinar ao reagirem com o Ac específico. A

aglutinação representa um teste positivo. Uma variação do teste de aglutinação é

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a inibição da aglutinação. Nos testes de inibição, um resultado positivo é

indicado pela ausência de aglutinação.

Fixação do complemento

Trata-se de um método sensível para a deteção da reação Ag-Ac. No laboratório

este método é aplicado para detetar Acs no soro do paciente. O teste de fixação

de complemento é baseado na habilidade das proteínas do complemento de

interagir com o Ac e o Ag específico para causar lise. Esse teste é feito em duas

partes, o sistema teste e o sistema indicador. No sistema de teste, o soro do

paciente e o Ag (viral, fúngico) reage na presença do complemento. Se o Ac

específico para o Ag estiver presente, então o complemento é fixado na reação

Ag-Ac e torna-se incapaz de reagir na segunda parte do teste. O sistema

indicador é adicionado aos tubos, após o soro, o complemento e o Ag terem

reagido. Um teste negativo é indicado pela hemólise, que não pode ocorrer se o

Ac, na amostra, estiver ausente. A ausência de hemólise é um teste positivo,

indicando a presença de Acs no soro do doente.

Técnica do anticorpo marcado

Os Acs podem ser marcados por moléculas (marcadores). Essas moléculas são

ligadas (conjugadas) aos Acs, possibilitando a visualização da reação. Os

marcadores podem ser corantes, enzimas ou radioisótopos. A ligação de

marcadores aos Acs não interfere com a capacidade dos Acs de se ligarem aos

Ags.

Ensaio imunoenzimático

Envolve sempre um Ag, um Ac específico para um Ag e um segundo Ac

conjugado a uma enzima. O teste permite a deteção de um Ac especial ou um Ag

na amostra do paciente.

Nota: as técnicas podem ser quantitativas. Nesse caso, requerem diluições

seriadas de tubos para estimar a concentração de imunoglobulinas para um dado

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Ag específico. A concentração da imunoglobulina é expressa em título que é o

recíproco da última diluição que apresentou reação.

VII- 2.2- Equipamentos automatizados

Capillarys 2

O Capillarys 2 é um sistema automatizado que consiste numa eletroforese

capilar, usado na electroforese das proteínas séricas, utilizando tubos capilares

para múltiplas e simultâneas separações das seis frações diferentes: albumina;

α1-globulinas; α2-globulinas; β1-globulinas; β2-globulinas e as γ-globulinas.

Este equipamento permite realizar automaticamente todas as sequências da

eletroforese, desde o tubo de colheita até a obtenção do perfil electroforético:

identificação da amostra; diluição da amostra; lavagem dos capilares; injeção da

amostra nos capilares; migração; deteção; tratamento dos resultados e a sua

transmissão informática dos resultados obtidos.

Esta análise é muito útil na deteção de anomalias do perfil proteico.

Sebia

A imunofixação destina-se à deteção de proteínas, quando detetadas na

eletroforese das proteínas. Estas apresentam-se sob a forma de bandas anormais

situadas nas zonas de β ou γ globulinas.

A técnica divide-se em 4 partes: separação; fixação e imunoprecipitação;

lavagem; coloração. As proteínas são separadas por eletroforese em meio

alcalino, sendo depois imunoprecipitadas com antissoros monoespecíficos. Os

antissoros usados são: anti-cadeias pesadas IgG, IgA e IgM e as anti-cadeias

leves κ e λ. Estes antissoros são colocados no gel em poços para a corrida

electroforética juntamente com o soro a analisar, de modo a identificar de forma

qualitativa a natureza das bandas monoclonais. Em simultâneo há uma corrida de

eletroforese sérica a fim de orientar/avaliar na interpretação da imunofixação.

Após a imunoprecipitação, as proteínas que não estão ligadas são removidas por

lavagem e as que estão ligadas são coradas.

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A existência de gamapatias monoclonais é detetada pelo aparecimento de uma

banda monoclonal, revelada por um antissoro de cadeia pesada e de cadeia leve.

Estas duas bandas têm que ser interpretadas em conjunto com a corrida

electroforética sérica na presença da banda monoclonal na zona das γ-globulinas.

Siemens BN Prospec

A nefelometria é utilizada como método, para o doseamento (análise

quantitativa) de algumas proteínas séricas, das imunoglobulinas IgG, IgA, IgM e

das subclasses IgG e das cadeias leves e cadeias leves livres κ e λ. Este método

consiste na medição de luz dispersa a partir do feixe principal, por uma

determinada amostra. Esta técnica baseia-se na reação de Acs específicos.

Forma-se um complexo, por ex. Ac-imunoglobulina, que dispersa a luz do feixe

incidente e a luz dispersa é proporcional à concentração de imunoglobulina

presente no soro.

ImmunoCAP™ 250 da Phadia Sweden Diagnostics

O ImmunoCAP™ 250 permite efetuar o estudo dos alergénios através do

doseamento das IgE’s específicas para um vasto painel de alergénios, utilizando

como metodologia o ensaio imunoenzimático de fluorescência. A reação produz

fluorescência diretamente proporcional à quantidade de IgE total ou específica

existente na amostra.

Zenit RA- autoimunidade

Dependendo do tipo de análise, o equipamento utiliza os princípios de medição,

por luminescência ou absorvância.

o Luminescência

São utilizados subprodutos de ésteres de acridínio luminescentes como

marcadores de deteção. Há uma reação de oxidação para uma forma excitada, em

que o regresso ao estado de estabilidade é acompanhado pela emissão de luz, que

é medida em unidade de luz relativa (RLU) pelo luminímetro (integrado no

autoanalisador). Os testes são executados usando o método competitivo ou o

método sandwich.

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o Absorvância

As amostras e os reagentes são aspirados de acordo com os parâmetros validados

para cada teste e são transferidos para uma cuvete onde serão monitorizadas as

alterações da absorvância (densidade ótica) durante cada reação em progresso.

As medições são executadas a um comprimento de onda específico para a

análise.

A pesquisa de Ac anti-dsDNA; Ac antinucleares; Ac anti-citoplasma dos

neutrófilos (MPO e PR3); Ac anti-gliadina IgA e IgG; IgE específicas; citrulina e

transglutaminase IgA são exemplos de alguns testes realizados no estudo da

autoimunidade no sector de Imunologia.

VII- 3- Análises efetuadas na secção de Imunologia

Realizaram-se várias análises nesta secção de demonstradas na tabela seguinte.

Tabela XV: Testes realizados na secção de Imunologia com o respetivo equipamento. Testes Equipamento Interesse

Proteinograma Capillarys 2 Perfil proteico

IgG, IgA, IgM Siemens BN Prospec Resposta imunitária

Imunofixação

Cadeias Leves Kappa e Lambda Siemens BN Prospec Gamapatias monoclonais

Imunofixação

C3

Siemens BN Prospec

Proteínas do complemento

C4

α1-antitripsina Enfisema pulmonar; Cirrose

hepática

Haptoglobina Proteína de fase aguda

Ceruloplasmina Glicoproteína hepática que

assegura o transporte de cobre

no plasma. Diagnóstico na

doença de Wilson.

Cadeias Leves e Cadeias Leves

livres Kappa e Lambda

Gamapatias monoclonais

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Testes Equipamento Interesse

IgE Total ImmunoCAP Estudo dos alergénios

IgE específica

ANA/ENA (screen)

Anticorpos anti: mitocrondiais, anticorpos

das células parietais gástricas, músculo liso

(e.g. de anticorpos anti-específico)

Zenit RA

Autoimunidade

Nesta secção, no âmbito dos estudos de autoimunidade, também se realiza a

pesquisa de auto-Acs por método de imunofluorescência indireta em células

Hep-2 e cortes de tecidos.

VII- 3.1- Teste de diagnóstico rápido para a pesquisa da proteína de

Bence-Jones

A proteína de Bence Jones é uma proteína de cadeias leves (lambda ou kappa) de

imunoglobulinas, que se pode observar na urina em caso de mieloma múltiplo,

quando a imunoglobulina monoclonal está degradada em cadeias pesadas (que

não passam para a urina) em cadeias leves. Aparece na urina em 60 a 70% dos

casos de mieloma, sendo a sua presença de mau prognóstico.

A secção executa um teste imuno-electroforético rápido, que é realizado a partir

de uma amostra de urina de 24 horas.

VII- 4- Controlo de qualidade interno e externo em Imunologia

Consiste essencialmente no controlo diário (interno) e no controlo mensal

(externo) dos testes imunológicos, feitos a partir das cartas de Levey-Jennings

(cartas de controlo de qualidade com regras padronizadas).

O controlo de qualidade interno é efetuado com controlo das casas comerciais,

disponibilizados geralmente em 2 ou 3 níveis de concentração. Nos analisadores

automáticos utilizam-se, para a maioria dos parâmetros, controlos Bio Rad®,

tendo alguns parâmetros controlos específicos.

No controlo de qualidade externo é efetuado, o EQAS da Bio-rad e o NEQAS.

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VIII- Bibliografia

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Brooks G, Carroll K, Butel J, Morse S, Mietzner T. Medical Microbiology. 25th

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Burtis C, Ashwood E, Bruns D. Tietz Clinical Chemistry and Molecular

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Caquet René. Guia Prático de Análises Clínicas. 1ª ed. Climepsi Editores. Lisboa

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Gaw A, Murphy M, Cowan R, O’Reilly D, Stewart M, Shepherd J. Clinical

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