59
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA CRISTIANO EDUARDO RODRIGUES REIS CONSTRUÇÃO DE UM BIORREATOR TUBULAR PARA CRESCIMENTO DA MICROALGA Chlorella sp. EM MEIO DE LIXIVIADO LORENA 2014

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

  • Upload
    buidiep

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

CRISTIANO EDUARDO RODRIGUES REIS

CONSTRUÇÃO DE UM BIORREATOR TUBULAR PARA CRESCIMENTO DA

MICROALGA Chlorella sp. EM MEIO DE LIXIVIADO

LORENA

2014

Page 2: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

CRISTIANO EDUARDO RODRIGUES REIS

Construção de um biorreator tubular para crescimento da microalga Chlorella sp. em

meio de lixiviado

Trabalho de conclusão de curso

apresentado à Escola de Engenharia de

Lorena da Escola de Engenharia de

Lorena para aprovação na disciplina

LOQ4048 – Trabalho de Conclusão de

Curso II

Áreas de concentração: Engenharia

Ambiental e Processos Biotecnológicos

Orientador: Prof. Dr. Messias Borges Silva

Lorena

2014

Page 3: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

Resumo

REIS, C. E. R. Construção de um biorreator tubular para crescimento da

microalga Chlorella sp. em meio de lixiviado. Monografia (Trabalho de Conclusão

de Curso II em Engenharia Industrial Química) – Escola de Engenharia de Lorena,

Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.

A utilização da carga orgânica presente em efluentes de baixíssimo valor agregado,

como o lixiviado, para o cultivo de microrganismos apresenta duas vantagens

principais: o crescimento celular a um baixo custo e a redução de compostos

poluentes no resíduo. A utilização de algumas espécies de microalgas tem ganhado

notoriedade no meio acadêmico por diversas características, como a acumulação de

lipídios, capacidade de sorção de metais pesados, fácil e rápido crescimento celular e

capacidade de crescer em meios com altas concentrações de CO2. O incentivo à

utilização de microalgas como fonte de matéria-prima para produção de

biocombustíveis, como o biodiesel, o biogás e o bioetanol, por exemplo, é decorrido

dos grandes avanços da engenharia de biossistemas nesse meio; mas que ainda

apresenta grandes lacunas a serem otimizadas. Além de outros desafios, como as

técnicas de separação celular e de extração de compostos, a utilização de

biorreatores contínuos para o crescimento celular ainda é tido como um campo

relativamente pouco estudado. A otimização de parâmetros físicos, biológicos e

químicos para cultivo em valores próximos à taxa de crescimento máxima celular,

juntamente com a redução da carga orgânica, turbidez e de metais pesados do

lixiviado compõem o escopo deste projeto de trabalho de conclusão de curso. Em

suma, visa-se a construção e a otimização de um biorreator tubular para o cultivo

celular em meio de lixiviado do aterro sanitário da cidade de Cachoeira Paulista, SP,

da microalga Chlorella sp., tida como uma das mais estudadas no meio acadêmico

em quesitos de bioenergia.

Palavras-chave: Chlorella, microalga, biorreator, lixiviado

Page 4: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

Abstract

REIS, C. E. R. Construction of a tubular bioreactor for microalga Chlorella sp.

growth in leachate medium. Monograph (Chemical Engineering Final Project II) –

School of Engineering of Lorena, University of São Paulo, Lorena – 2014.

The utilization of organic matter present in low-value effluents, such as municipal

leachate, for microorganism cultivation shows two main advantages: low cost cell

growth and reduction of pollutants in the residue. The utilization of certain species of

microalgae have gained notoriety in the Academia for several characteristics, such as

lipid accumulation, heavy metal sorption, fast and easy cell growth and capability of

growing in environments with high concentrations of CO2. The incentive to the

utilization of microalgae as feedstock source of biofuels production, such as biodiesel,

biogas and bioethanol, for example, is due to great advances in biosystems

engineering in this field; having large blanks yet to be optimized though. Beyond other

challenges, as cell harvesting techniques and extraction of compounds, the utilization

of continuous bioreactors for cell growth is still a relatively little studied research field.

The optimization of physical, biological and chemical factors to the cultivation in

numbers close to the maximum rate of cell growth, as well as the reduction of organic

matter, measured, turbidity, and heavy metals present in the leachate, make up the

scope of this graduation project. In short, the aims are the construction and

optimization of a tubular bioreactor for cell growth, using leachate from Cachoeira

Paulista’s landfill (SP), as culture medium, of Chlorella sp., known as one of the most

studied species in the Academia in the bioenergy field.

Keywords: Chlorella sp., microalgae, bioreactor, leachate

Page 5: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

Agradecimentos

Não poderia começar agradecendo a outrem, senão Deus e Nossa Senhora por toda

a iluminação. Agradeço também aos meus pais, pelas mais diversas razões, e

principalmente por acreditarem em mim e pelo amor incondicional.

Não menos importante, agradeço às minhas irmãs por terem me acompanhado desde

criança e sempre me motivarem, e mais em especial aos meus sobrinhos: Augusto,

Arthur e Gabrielinha, vocês são a razão do meu orgulho!

Agradeço aos meus amigos, de longa e de curta datas, de Lorena, de Lafaiete, e os

que fui encontrando ao longo das viagens. As palavras de apoio, o aprender a viver

fora de casa, as festas, momentos bons e ruins que passamos são as razões para o

meu mais sincero agradecimento.

Aos meus queridos amigos e professores da EEL, em especial aos meus orientadores:

Messias e Domingos pela orientação e amizade. Deixo meu muito obrigado também

aos professores que contribuíram de maneira muito significativa para a realização

deste projeto e de atividades a ele relacionadas, Patrícia, Júlio, Heizir, Hélcio e

Gerônimo. Meu mais sincero obrigado aos professores que marcaram minha

formação. De maneira muito querida, deixo registrado o meu mais sincero

agradecimento.

Agradeço aos funcionários da oficina da EEL, em especial ao Adilson, pelo montagem

do reator e todo o auxílio na restruturação do laboratório. Ao Capucho, pelo desenho

e pelas assistências na montagem do reator. Ao pessoal do laboratório de microalgas:

muito obrigado e continuem o trabalho pesado!

A todos que contribuíram para a minha formação, de maneira direta ou indireta, deixo

o meu obrigado.

Page 6: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

“I do not know what I may appear to the

world, but to myself I seem to have been

only like a boy playing on the seashore,

and diverting myself in now and then

finding a smoother pebble or prettier shell

than ordinary, whilst the great ocean of

truth lay all undiscovered before me.”

Sir Isaac Newton

Page 7: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

Lista de tabelas

Tabela 2.1: Características físico-químicas dos lixiviados no Brasil...........................25

Tabela 2.2: Biorreatores para tratamento de águas residuárias via microalgas........29

Tabela 3.1: Composição do meio f/2 sem sílica adaptado...........................................32

Tabela 3.2: Arranjo ortogonal L4 de Taguchi...............................................................36

Tabela 3.3: Planejamento experimental do projeto.....................................................36

Tabela 4.1: Resultados de porcentagem de redução de turbidez................................42

Tabela 4.2: ANOVA dos fatores em relação à redução do teor de turbidez................43

Tabela 4.3: ANOVA adaptada dos fatores em relação à redução do teor de turbidez..43

Tabela 4.4: Resultados de teor de redução de DQO do lixiviado...............................46

Tabela 4.5: ANOVA dos fatores em relação à redução do teor de DQO.....................47

Tabela 4.6: ANOVA adaptada dos fatores em relação à redução do teor de DQO......47

Tabela 4.7: Resultados de teor de redução de TOC do lixiviado.................................48

Tabela 4.8: ANOVA dos fatores em relação à redução do teor de TOC.....................48

Tabela 4.9: ANOVA adaptada dos fatores em relação à redução do teor de TOC.....49

Tabela 4.10: Concentrações de metais do meio de lixiviado......................................51

Tabela 4.11: Resultados quanto à redução da concentração de Boro e Prata............51

Tabela 4.12: ANOVA dos fatores em relação à redução do teor de Prata.................52

Tabela 4.13: ANOVA adaptada dos fatores em relação à redução do teor de Prata...52

Tabela 4.14: ANOVA dos fatores em relação à redução do teor de Boro...................53

Tabela 4.15: ANOVA adaptada dos fatores em relação à redução do teor de Boro...53

Page 8: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

Lista de figuras

Figura 2.1: Variação da biomassa em um cultivo em batelada...................................17

Figura 2.2: Biocoil na Universidade Murdoch, Perth, Austrália...................................21

Figura 2.3: Tanque de lixiviado no aterro sanitário de Cachoeira Paulista, SP............24

Figura 3.1: Esquema do fotobiorreator tipo Biocoil usado no projeto...........................33

Figura 3.2: Fotobiorreator usado no projeto................................................................35

Figura 4.1: Espectro de absorbância de cultivo da microalga Chlorella sp. ................39

Figura 4.2: Espectro de absorbância do lixiviado........................................................40

Figura 4.3: Curva analítica de contagem celular em função de absorbância..............41

Figura 4.4: Curvas de crescimento nos experimentos 1, 2, 3 e 4................................41

Figura 4.5: Plot dos efeitos principais sobre a redução da Turbidez..........................42

Figura 4.6: Análise visual da redução da turbidez do lixiviado pós floculação

microalgal...................................................................................................................44

Figura 4.7: Curva analítica de DQO de baixo teor – 0 a 200 mg O2/L...........................45

Figura 4.8: Curva analítica de DQO de alto teor – 200 a 2000 mg O2/L......................45

Figura 4.9: Plot dos efeitos principais sobre a média da redução de DQO..................46

Figura 4.10: Plot dos efeitos principais sobre a redução de TOC................................48

Figura 4.11: Plot dos efeitos principais para a redução da concentração de Prata......52

Figura 4.12: Plot dos efeitos principais para a redução da concentração de Boro.......53

Page 9: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

Lista de Abreviaturas e Siglas

μ : micro (10-6);

ANOVA: Analysis of Variance – Análise de Variância

ATP: Adenosina trifosfato;

DBO: Demanda bioquímica de oxigênio (mg O2/L);

DQO: Demanda química de oxigênio (mg O2/L);

CI: Carbono Inorgânico;

CT: Carbono Total;

GL: Graus de liberdade;

NADPH: Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo Fosfato;

NTU: Nephelometric Turbidity Units – Unidades Nefelométricas de Turbidez;

sp. : Espécie(s);

SQ: soma quadrática;

TOC: Total Organic Carbon – Carbono Orgânico Total (mg/L);

X: concentração celular (g/L);

Page 10: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................................12

1.1. Justificativa.................................................................................................13

1.2. Objetivos....................................................................................................14

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................15

2.1. Microalgas..................................................................................................15

2.2. Metabolismo...............................................................................................16

2.2.1. Autotrófico.............................................................................................16

2.2.2. Heterotrófico.........................................................................................16

2.2.3. Mixotrófico.............................................................................................16

2.3. Meios de cultivo..........................................................................................16

2.4. Regimes de cultivo.....................................................................................17

2.4.1. Descontínuos........................................................................................17

2.4.2. Semi-contínuos.....................................................................................19

2.4.3. Contínuos..............................................................................................19

2.5. Cultivo........................................................................................................19

2.5.1. Sistemas abertos..................................................................................19

2.5.2. Sistemas fechados................................................................................20

2.5.2.1. Biocoil.........................................................................................20

2.6. Aplicações dos cultivos de microalgas........................................................21

2.7. Lixiviado.....................................................................................................22

2.7.1. Definição de Lixiviado...........................................................................22

2.7.2. Métodos de Tratamento de Lixiviado.....................................................25

2.7.3. Tratamento Biológico de Efluentes........................................................26

2.7.4. Lixiviado como meio de cultivo celular...................................................27

2.7.5. Crescimento de Microalga no Lixiviado.................................................27

2.7.6. Desenvolvimento de Fotobiorreatores microalgais para tratamento de

águas residuárias..................................................................................28

2.8. Planejamento de experimentos..................................................................29

2.8.1. Método de Taguchi................................................................................30

3. MATERIAIS E MÉTODOS....................................................................................31

3.1. Obtenção da estirpe...................................................................................31

3.2. Preparação do meio de cultivo para crescimento celular...........................31

3.3. Manutenção da cepa..................................................................................32

3.4. Obtenção e caracterização do lixiviado......................................................32

3.5. Preparação do meio de cultivo para o biorreator........................................32

3.6. Construção e operação do biorreator..........................................................33

3.7. Amostragem e separação celular...............................................................34

3.8. Planejamento de Experimentos..................................................................36

3.9. Métodos analíticos......................................................................................37

3.9.1. Análise Espectrofotométrica de Densidade Ótica..................................37

3.9.2. Análise Microscópica............................................................................37

Page 11: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

3.9.3. Determinação do peso seco da amostra...............................................37

3.9.4. Determinação da Turbidez....................................................................37

3.9.5. Determinação da DQO..........................................................................38

3.9.6. Determinação do TOC..........................................................................38 3.9.7. Determinação dos metais......................................................................38

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................39

4.1. Relação entre contagem celular e absorbância..........................................39

4.2. Curvas de crescimento nos reatores..........................................................41

4.3. Análise da redução de turbidez...................................................................42

4.4. Análise da redução de carga orgânica........................................................45

4.4.1. Análise da redução de DQO..................................................................45

4.4.2. Análise da redução de TOC..................................................................47

4.5. Análise de redução do teor de metais.........................................................50

5. CONCLUSÃO......................................................................................................54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................55

Page 12: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

12

1. INTRODUÇÃO

A utilização de microrganismos como fonte de matéria-prima para biocombustíveis

caracterizam a geração mais recente no meio científico. A então chamada terceira

geração corresponde à produção de biodiesel, de bioetanol e de bio-hidrogênio

obtidos de espécies de microalgas e de outros microrganismos. O interesse em

utilizar-se do crescimento celular de espécies microbianas está relacionado, dentre

outros fatores, a diversos questionamentos sobre a sustentabilidade dos combustíveis

de primeira geração, como o etanol proveniente da cana-de-açúcar e do milho, do

biodiesel da soja e de outras oleaginosas. Tal fato é devido à agricultura intensificada

para a produção dessas espécies, que aumentou a utilização de defensivos agrícolas

e de fertilizantes, reduziu a biodiversidade em muitas regiões e promoveu também um

desequilíbrio no sistema de demanda de alimentos.

Um problema urbano acarretado pelos grandes aglomerados é a produção de

enormes volumes de lixo, que ocasiona inúmeros problemas relacionados à saúde

pública, como proliferação de doenças, de urbanismo e arquitetura, em quesitos

estéticos, e não menos importantes, problemas de engenharia, relacionados ao

tratamento desses resíduos. Um dos derivados do lixo acumulado em lixões ou em

aterros sanitários é o lixiviado, que consiste em uma mistura de diversos componentes

derivados da decomposição química e biológica da carga orgânica dos detritos, com

carga inorgânica dispersa.

Como dito, a criação de microalgas tem recebido uma atenção diferenciada do meio

acadêmico na área de bioenergia. O fato de grande parte das microalgas

apresentarem regime fotoautotrófico, isto é, crescimento celular na presença de CO2

e luz, apresenta uma série de vantagens, sendo a mais clara delas que essas espécies

são capazes de crescerem em um meio sem adição de carga orgânica. No entanto,

foi comprovado que o regime mixotrófico, no qual há presença de carga orgânica e da

utilização de CO2, ambas como fonte de carbono para crescimento, apresenta uma

maior produtividade quando comparado ao regime meramente autotrófico. Sabido

isso, é interessante o cultivo de espécies de microalga em meios que apresentam

carga orgânica e que possuam custo zero ou mesmo negativos, como o lixiviado.

Page 13: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

13

Grande parte dos estudos acadêmicos estão voltados para a otimização de

parâmetros químicos e biológicos no crescimento, como a determinação de pH,

temperatura e concentração de nutrientes ótimos para o crescimento celular ou para

a produção de um dado composto de interesse. Um campo de pesquisa, relativamente

menos estudado, é sobre os modos de operação contínuos para cultivo celular, ainda

mais em meios residuais, como o lixiviado.

O presente projeto de trabalho de conclusão de curso visa, portanto, a construção e a

otimização de um biorreator, de forma tubular, para o cultivo da microalga Chlorella

sp. utilizando-se o lixiviado como meio de crescimento. Serão analisados, por meio de

técnicas estatísticas de planejamento de experimentos, fatores voltados para

processos químicos e bioquímicos, como tempo de residência médio no biorreator,

temperatura do meio e não menos importante no caso da microalga, a intensidade

luminosa. Visa-se, consequentemente, uma análise primária desses fatores na

operação do biorreator para aumento do crescimento celular, isso é, acumulação de

biomassa, contendo lipídeos saponificáveis, propícios à produção de biodiesel por

transesterificação ou hidroesterificação, e de redução da carga orgânica e de metais

do lixiviado, o que facilitaria o tratamento posterior do mesmo, por técnicas como

processos oxidativos avançados.

1.1. Justificativa

Venho desenvolvendo atividades de iniciação científica ou similares desde 2010;

todas elas ligadas, direta ou indiretamente à produção de biocombustíveis. Em 2011,

realizei um intercâmbio acadêmico na Universidade de Minnesota, EUA, onde

trabalhei no laboratório de bioprocessos do prof. Bo Hu, no departamento de

bioprodutos e engenharia de biossistemas. Nessa estadia, trabalhei com cultivo de

fungos oleaginosos e desde então tenho tido um interesse bem profundo na área de

microbiologia aplicada à produção de bioenergia, aliada à utilização de meios de

cultivo residuais, como hidrolisados, efluentes e agora, lixiviado.

A fim de realizar um trabalho de conclusão de curso dentro do escopo da engenharia

química, aplicada à biotecnologia, sugeri ao prof. Messias B. Silva, meu orientador de

iniciação científica na EEL, um projeto no qual eu pudesse trabalhar com microalgas

cultivadas em lixiviado, e para tal, um crescimento em biorreator. Com esse projeto,

abordarei tópicos do meu interesse de pesquisa e ao mesmo tempo, tópicos

Page 14: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

14

importantes que aprendi ao longo de todos os créditos feitos no curso de graduação

em engenharia química. Aliando-se a isso, a pesquisa com microalgas para fonte de

bioenergia e como fonte de descontaminação biológica é algo que vem sido explorado

cada vez mais no meio acadêmico; fazendo-se deste projeto algo inovador e de

possíveis expansões de estudo.

1.2. Objetivos

O objetivo geral do trabalho de conclusão de curso foi estudar o crescimento da

microalga Chlorella sp. em meio de lixiviado de Cachoeira Paulista utilizando-se de

um biorreator tubular do tipo Biocoil, avaliando também a redução da carga orgânica,

turbidez e metais do lixiviado. Para tal objetivo geral ser alcançado, os objetivos

específicos delineados abaixo também hão de ser:

Estudo de fatores controláveis no crescimento celular da microalga Chlorella

sp. no lixiviado em batelada;

Construção e pré-operação do biorreator;

Estudo de fatores controláveis no crescimento no biorreator;

Page 15: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

15

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Microalgas

Microalgas são microorganismos fotossintéticos (dotados de clorofila a) que podem

crescer rapidamente e viver em condições rigorosas devido à sua estrutura unicelular.

Podem ser encontradas em todo mundo, na superfície de alguns tipos de solos e

principalmente em ambientes aquáticos, apresentando-se como células isoladas,

agrupadas formando colônias ou encadeadas sob forma de segmentos lineares de

células. Em todos os casos ocorre pouca ou nenhuma diferenciação das funções ou

especialização das células, ou seja, cada célula realiza todas as funções vitais.

(LOURENÇO, 2006; MATA et al., 2010).

A primeira vez que o ser humano usou microalgas foi há mais de 2000 anos, na China,

onde a microalga Nostoc sp. foi utilizada como alimento. Há relatos também da

utilização de algas de lagos como fonte de alimentos pelos astecas (SPOLAORE et

al., 2006). Por volta do final da década de 1910, houve intensificação de estudos

relativos ao crescimento de espécies de Chlorella, verificando-se que alguns cultivos

atingiam até 50% de proteína crua (COLLA et al., 2002).

O gênero Chlorella compreende um conjunto de espécies caracterizadas por serem

unicelulares e microscópicas, esféricas e com diâmetro entre 5 e 10 μm, encontrada

comumente em lagos, com grande habilidade de realizar fotossíntese (ILLMAN et al.,

2000).

Estudos apontam que as espécies do gênero Chlorella são consideradas candidatas

promissoras para a produção comercial de lipídios devido ao rápido crescimento e

fácil cultivo, destacando a C. vulgaris como uma das espécies mais robustas para o

cultivo em tanques abertos devido ao alto potencial de resistência a contaminações

(HUNTLEY et al., 2007).

As microalgas armazenam energia na forma de ATP e NADPH, compostos utilizados

para a síntese de carboidratos, lipídios e outros compostos orgânicos, a partir de água

e redução de CO2. Essas espécies, além de possuírem um rápido crescimento, podem

conter altos teores de óleo, comparando-se com espécies de plantas oleaginosas

(LEHNINGER, 1990).

Page 16: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

16

Microrganismos fotossintéticos como as microalgas têm sido amplamente utilizadas

em projetos de mecanismo de desenvolvimento limpo, por meio de sequestro de CO2

atmosférico a fim de produzir biomassa, além de serem responsáveis por 40% do

carbono fotossintetizado na crosta terrestre (CHISTI, 2007).

2.2. Metabolismo

As microalgas apresentam três tipos principais de metabolismo quanto à origem de

carbono:

2.2.1. Autotrófico:

No metabolismo autotrófico, as microalgas utilizam a luz como fonte única de energia

para reduzir o CO2 atmosférico em várias formas de energia química, como

polissacarídeos, proteínas, lipídios e hidrocarbonetos por meio de reações anabólicas

(MATA et al., 2010).

2.2.2. Heterotrófico:

No metabolismo heterotrófico, as microalgas utilizam apenas compostos orgânicos

dissolvidos como fonte de carbono, geralmente sob a forma de glicose ou derivados

de polissacarídeos. Nesse tipo de cultivo, são obtidas altas densidades celulares,

proporcionando menores custos relacionas à etapa de colheita de biomassa (HUANG

et al., 2010).

2.2.3. Mixotrófico:

O regime mixotrófico constitui o tipo de cultivo no qual a microalga é capaz de realizar

a fotossíntese e consumir fontes dissolvidas de carbono, isso é, a microalga consegue

sobreviver em regime autotrófico quanto heterotrófico (CHEN & WALKER, 2011).

2.3. Meios de cultivo

Dentre os mais diversos meios de cultivo disponíveis e detalhados na literatura, todos

apresentam em comum a presença de macro e micronutrientes essenciais ao

crescimento (GUILLARD, 1975).

Os macronutrientes são classificados em compostos de carbono, hidrogênio, oxigênio,

nitrogênio, fósforo, enxofre, potássio, magnésio, silício e ferro. Esses compostos

apresentam funções de grande importância, como constituir a estrutura de

Page 17: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

17

biomoléculas, membranas e do meio intracelular; também participam do processo de

troca de energia e regulam várias atividades metabólicas (LOURENÇO, 2006).

Os micronutrientes principais são manganês, molibdênio, cobalto, boro, vanádio,

zinco, cobre e selênio. Esses participam da estrutura e atividade de diversas enzimas

(LOURENÇO, 2006).

De acordo com Lourenço (2006), há também algumas vitaminas essenciais aos meios

de cultivo, como a tiamina (vitamina B1), que atua como enzima em diversas reações,

biotina (B7), atuando no transporte de CO2 e a cianocobalamina (B12).

2.4. Regime de cultivo

Os cultivos podem ser divididos em três grandes classes: descontínuos (ou batelada),

semicontínuos e contínuos.

2.4.1. Descontínuos

Nos cultivos descontínuos, as células são inoculadas no meio fresco e esterilizado no

início do cultivo, sem quaisquer adições futuras de nutrientes (LOURENÇO, 2006).

É possível seguir o crescimento de um cultivo em batelada, ao inocular uma população

de microalgas em um meio de cultivo líquido, com uma fonte de energia adequada,

nutrientes necessários, condições químicas e físicas favoráveis (tais como pH e

adição de agente tamponante) em um sistema fechado com troca de gases. A figura

abaixo mostra as várias fases características de crescimento de população microbiana

(RICHMOND, 2004).

Figura 2.1: Variação da biomassa em um cultivo em batelada (Adaptado de RUSSO,

2011)

Page 18: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

18

1. Fase de adaptação, ou lag

Trata-se de um período de adaptação das células extraídas de uma cultura em fase

exponencial ou estacionária para um meio fresco. Esta fase é extensa na presença

de altas concentrações de compostos tóxicos, de nutrientes dificilmente

metabolizáveis ou se o inóculo for inadequado.

2. Fase de aceleração de crescimento

Trata-se de um período onde as células já estão adaptadas e começam a se

multiplicar; a taxa específica de crescimento é inferior ao valor máximo.

3. Fase de crescimento exponencial

Fase de crescimento acelerado onde o valor da taxa específica de crescimento se

mantém constante, atingindo o valor máximo.

4. Fase de desaceleração do crescimento

Nesta fase, a concentração de um ou mais nutriente(s) torna-se limitante, com o

consequente decréscimo da taxa específica de crescimento.

5. Fase estacionária

As populações raramente conseguem manter um crescimento exponencial a altas

velocidades durante um largo período de tempo em regime batelada, visto que o

crescimento está limitado pelo esgotamento dos nutrientes ou pela acumulação de

produtos inibitórios do metabolismo. Consequentemente, a velocidade de crescimento

diminui e iguala à taxa de morte. A população de microrganismos mantém, durante

algum tempo, uma concentração aproximadamente constante de biomassa à custa

da utilização de reservas internas de nutrientes, que são libertadas para o meio devido

à lise de outras células.

6. Fase de morte

A morte resulta do esgotamento de nutrientes do cultivo de microrganismos. A cinética

de morte é equivalente à uma reação de primeira ordem, isso é, a velocidade de morte

é proporcionalmente direta à concentração de células.

Page 19: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

19

2.4.2. Semicontínuos

Nos cultivos denominados semicontínuos, uma parcela do meio de cultivo de

microalgas é removida e substituída por meio de cultura novo, sem células. Durante a

manipulação do meio de cultivo, por meio da remoção de células e diluição da cultura,

é essencial que todos os demais parâmetros do cultivo, isso é, temperatura,

intensidade luminosa, composição do meio e pH, sejam mantidos constantes e a

coleta das algas realizadas com o cultivo ainda na fase exponencial. Isso é devido ao

fato de que, quando as células estão nesse estado de crescimento, o meio como um

todo não sofre com o efeito da diluição do cultivo (LOURENÇO, 2006).

2.4.3. Contínuos

Nos cultivos contínuos, ocorre um permanente processo de entrada de meio

esterilizado e saída de cultura em iguais taxas e de modo constante. Este tipo de

cultivo pode exigir tempos maiores para atingir a estabilidade (LOURENÇO, 2006).

2.5. Cultivo

Os cultivos de microalgas envolvem geralmente a intensificação de densidade celular,

a fim de se obter maiores concentrações de produto por unidade de volume colheita.

As microalgas podem ser cultivadas tanto em sistemas abertos quanto em sistemas

fechados. Cultivos em sistemas abertos são usualmente conduzidos em piscinas ou

tanques diretamente expostas ao meio ambiente, enquanto cultivos em sistemas

fechados são conduzidos em biorreatores, que podem ser divididos em algumas

categorias, como tubulares, flat-plate e de tipo coluna. A colheita geralmente é feita

por centrifugação, floculação ou flotação celular (LOURENÇO, 2006).

2.5.1. Sistemas abertos

Nos sistemas abertos, as microalgas são produzidas em lagos ou lagoas, piscinas,

tanques ao ar livre. Apresentam baixos custos de instalação e fácil operação de

manutenção, no entanto, estão sujeitos a contaminações e variações nos parâmetros

de cultivo, como por exemplo, temperatura e intensidade luminosa.

Na construção dos sistemas abertos, a profundidade geralmente está compreendida

em valores de 10 a 50 cm, de modo que o CO2 atmosférico seja capaz de sofrer

difusão e que também haja penetração da luz solar. São construídos usualmente em

Page 20: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

20

cimento ou terra compactada, impermeabilizada por plástico. O tipo raceway pond é

o sistema mais utilizado tanto em nível de escala piloto, quanto em escala comercial,

devido à facilidade de set-up desse (SUALI E SARBATLY, 2012).

Nos cultivos de microalgas em maiores escalas, a agitação e/ou aeração do sistema

acarreta oxigenação do cultivo, aporte de CO2 ao meio de cultura, exposição das

células à luz e acesso homogêneo das microalgas aos nutrientes. A aeração também

pode ser promovida mediante a introdução de ar nos tanques, produzindo pequenas

bolhas. Porém a movimentação causada pela aeração não é o suficiente para

homogeneizar a distribuição das células. Em maiores escalas, são utilizadas, portanto,

pás giratórias, que geram misturas hidráulicas eficientes (LOURENÇO, 2006).

2.5.2. Sistemas fechados

Nos sistemas fechados, é comum a utilização de fotobiorreatores. O princípio de um

fotobiorreator está no fornecimento eficaz de luz para cada célula presente no cultivo.

Os fotobiorreatores são construídos com materiais oticamente transparentes, como

vidros e plásticos derivados do acrílico, permitindo plena penetração de luz. Em

comparação com tanques, os fotobiorreatores apresentam um custo de produção

muito mais elevado, porém podem gerar maiores produtividades. Dentre os tipos mais

comuns, há o flat-plate, coluna de bolhas e fermentadores aeróbicos tradicionais.

Os sistemas flat-plate são caracterizados por paralelepípedos de vidro, acrílico ou

outro material rígido e transparente. O ar é injetado pela base, enriquecido com CO2

necessário ao crescimento de biomassa e a promoção de turbulência para que todas

as células estejam ao alcance da radiação solar (LOURENÇO, 2006).

2.5.2.1. Biocoil

O desenvolvimento de uma planta piloto denominada “Biocoil” foi realizada no Reino

Unido e na Austrália na década de 1980 (ROBINSON, 1987). A proposta original era

da utilização de uma bobina de tubos de polietileno de 30 mm de diâmetro, arranjados

ao longo de um suporte aberto circular com uma alta razão de área superficial/volume

(100 m² para 1,2 m³ de cultivo). Neste mesmo projeto, havia um trocador de calor entre

os coletores solares e uma bomba, que permitia o controle da temperatura do cultivo.

Page 21: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

21

Uma companhia de origem australiana investiu para operação de larga escala para

produção de Spirulina e Tetraselmis. Tal companhia foi à falência, mas algumas

operações adaptadas continuaram a ser realizadas no Reino Unido pela empresa

Biotechna-Graesser A. P. Ltd.

Algumas poucas estratégias de utilização do biocoil são encontradas no campo

acadêmico, como na Universidade Murdoch, em Perth, na Austrália, com o prof.

Borowitzka, e na Universidade de Minnesota, em Saint Paul, nos Estados Unidos, com

o prof. Roger Ruan. Os projetos reportados incluem remoção ou redução de metais e

toxinas de efluentes de baixa a moderada toxicidade (como esgoto doméstico),

acúmulo de lipídeos e produção de carotenoides (CHAUMONT, 1993, KONG et al.,

2010).

A figura 2 ilustra um dos primeiros reatores do tipo Biocoil, na Universidade Murdoch,

na Austrália, onde o prof. Borowitzka aprofundou a temática de produção de lipídeos

e produção de carotenos o utilizando (STERL Project).

Figura 2.2: Biocoil na Universidade Murdoch, Perth, Austrália (STERL Project)

2.6. Aplicações dos cultivos de microalgas

De acordo com Lourenço (2006), os cultivos microalgais, assim como outras diversas

fermentações, são as ferramentas que viabilizam o aproveitamento direto ou indireto

da biomassa microalgal. As aplicações mais simples consistem na alimentação

humana e animal. Algumas outras possíveis aplicações são: extração de produtos de

Page 22: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

22

interesse da indústria farmacêutica, produção de corantes alimentícios, produção de

cosméticos, indicadores ambientais, etc.

A utilização eficiente de matéria orgânica abre espaço para aplicações

biotecnológicas, como a bioconservação da energia solar (estocagem de energia),

fermentação para produção de metano ou de etanol, por exemplo (LOURENÇO, 2006)

e também o tratamento de resíduos, como o estrume, hidrolisados e o lixiviado (REIS

et al., 2014).

2.7. Lixiviado

2.7.1. Definição de lixiviado

Há diversas denominações para o líquido residuário de aterros sanitários. De acordo

com Gomes (1995), o termo em inglês “leachate” pode ser traduzido como “lixiviado”,

“chorume”, “percolado” e “líquidos percolados”. Segundo a pesquisadora, “chorume”

é melhor empregado para o resultado de atividades metabólicas utilizando-se

nutrientes do efluente. É sabido que há presença da água da chuva no resíduo pós

ação microbiana, o que origina os termos “percolado” e “líquidos percolados”.

De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (1992), “percolado” é

definido como “líquido que passou através de um meio poroso”. De acordo ainda com

a mesma fonte, “chorume” ou também conhecido como “sumeiro” é “líquido produzido

pela decomposição de substâncias contidas nos resíduos sólidos, que tem como

características a cor escura, o mau cheiro e a elevada DBO (demanda bioquímica de

oxigênio)”; e define como “lixiviado” o “produto líquido proveniente de aterros

sanitários de resíduos sólidos urbanos”.

Para tal trabalho, será utilizada a denominação “lixiviado”, o qual é conceituado por

alguns pesquisadores (TILLMANN, 2003; RENOU, 2008) como sendo um líquido de

cor negra gerado pela decomposição de resíduos orgânicos depositados em aterros,

o qual somado à agua da chuva, percola através de uma massa de resíduos. Tal

efluente é provido de algumas fontes, como a umidade natural do aterro, da água de

constituição de materiais residuários, da água superficial e daquela resultante do

processo de decomposição. Sua composição consiste em elevados valores de DQO,

DBO, metais, ácidos graxos voláteis, nitrogênio amoniacal e poluentes tóxicos.

Page 23: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

23

Dentre os modos de disposição de resíduos sólidos decorrentes das atividades

humanas (lixão e aterro controlado, por exemplo), os aterros sanitários ganharam

espaço por atenderem a necessidade de grandes quantidades a custos relativamente

baixos. Decorrente desse armazenamento, há a formação do lixiviado, que é

constituído de reações e processos biológicos, químicos e físicos a partir do material

depositado, além de água fluvial (CAMPOS et al., 2002).

Sabe-se que a decomposição de resíduos em aterros dá-se em três fases, com um

tempo aproximado de 15 anos até a estabilização final, sendo que há produção de

percolado por cerca de 50 anos, mesmo desativado (CAMPOS et al., 2002). A primeira

etapa consiste na decomposição aeróbica dos resíduos, gerando grandes

quantidades de gás carbônico e gás hidrogênio. Segue-se com etapas de digestão

anaeróbica, produzindo compostos simples e solúveis, como ácidos voláteis e

compostos nitrogenados de baixa massa molecular. Os produtos finais são os

compostos recalcitrantes.

A composição do lixiviado é variável e depende de fatores que compreendem as

condições pluviométricas, tempo de disposição, idade do aterro, operação e estrutura,

condições ambientais e características de como o despejo é feito. Logo, não é possível

acondicionar uma composição fixa para este resíduo.

Christensen et al (2001) dividiu os compostos orgânicos derivados do lixiviado em

duas categorias. A primeira, correspondente à matéria orgânica dissolvida,

corresponde às macromoléculas como ácidos húmicos, fúlvicos e graxos, além da

lignina. A presença destes compostos em grandes quantidades faz com que o resíduo

apresente características bem definidas, como cor, tensoatividade, atividade

fotoquímica, capacidade de tamponamento. Esses também afetam o comportamento

de outras substâncias no meio, modificam processos de oxidação e redução,

solubiliza determinados metais e varia a toxicidade. A segunda categoria corresponde

aos compostos orgânicos xenobióticos, que são hidrocarbonetos aromáticos,

compostos halogenados e fenólicos, álcoois, aldeídos, cetonas e ácidos carboxílicos

de baixa cadeia, além de outras substâncias com características tóxicas. Estes,

embora em concentrações muito menores que os ácidos húmicos e fúlvicos, possuem

toxicidade muitas vezes maior que os outros componentes presentes no lixiviado.

Page 24: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

24

O tratamento de lixiviado se faz de enorme importância devido à possibilidade de

transferência dos contaminantes presentes no mesmo aos lençóis freáticos, a

ecossistemas e também às comunidades humanas.

O lixiviado oriundo deste trabalho é oriundo do aterro sanitário da cidade de Cachoeira

Paulista, SP, administrado pela empresa Vale Soluções Ambientais.

Conforme visto na figura 3, o lixiviado do aterro sanitário de Cachoeira Paulista, SP, é

armazenado a ceu aberto em grandes reservatórios, para futuro tratamento.

Figura 2.3: Tanque de lixiviado no aterro sanitário de Cachoeira Paulista, SP (Vale

Soluções Ambientais)

Souto e Povinelli (2006) realizaram um trabalho de grande valia quanto à análise de

lixiviados no Brasil. As tabelas de composição encontradas na literatura são, na

grande maioria, de estudos realizados no exterior, principalmente de países de clima

temperado; o que difere bastante da realidade brasileira. Os pesquisadores realizaram

uma caracterização do efluente no Brasil a partir de dados na literatura

correspondentes a 25 aterros, de 9 estados, cuja classificação encontra-se na tabela

2.1.

Page 25: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

25

Tabela 2.1: Características físico-químicas dos lixiviados no Brasil. (SOUTO e

POVINELLI, 2006)

Variável Faixa Máxima Faixa mais provável

pH 5,7 – 8,6 7,2 – 8,6

Alcalinidade total (mg L-1 de CaCO3) 750 – 11400 750- 7100

Dureza (mg L-1 de CaCO3) 95 – 3100 95 – 2100

Condutividade (μS cm-1) 2950 – 25000 2950 – 17660

DBO (mg L-1) <20 – 30000 <20 – 8600

DQO (mg L-1) 190 – 80000 190 – 22300

Óleos e Graxas (mg L-1) 10 – 480 10 – 170

Fenóis (mg L-1 C6H5OH) 0,9 – 9,9 0,9 – 4,0

Nitrogênio Total (mg L-1) 80 – 3100 Não Há

Nitrogênio Amoniacal (mg L-1) 0,4 – 3000 0,4 – 1800

Nitrogênio Orgânico (mg L-1) 5 – 1200 400 – 1200

Nitrito (mg L-1) 0 – 50 0,0 – 15

Nitrato (mg L-1) 0 – 11 0,0 – 3,5

Fósforo Total (mg L-1) 0,1 – 40 0,1 – 15

Sulfeto (mg L-1) 0 – 35 0,0 – 10

Sulfato (mg L-1) 0 – 5400 0,0 – 1800

Cloreto (mg L-1) 500 – 5200 500 – 3000

Sólidos totais (mg L-1) 3200 – 21900 3200 – 14400

Sólidos totais voláteis (mg L-1) 630 – 20000 630 – 5000

Sólidos totais fixos (mg L-1) 2100 – 14500 2100 – 8300

Sólidos suspensos totais (mg L-1) 5,0 – 2800 5,0 – 700

Sólidos suspensos voláteis (mg L-1) 5,0 – 530 5 – 200

Ferro (mg L-1) 0,001 – 260 0,01 – 65

Manganês (mg L-1) 0,04 – 2,6 0,04 – 2,0

Cobre (mg L-1) 0,005 – 0,6 0,05 – 0,15

Níquel (mg L-1) 0,03 – 1,1 0,03 – 0,5

Cromo (mg L-1) 0,003-0,8 0,003 – 0,5

Cádmio (mg L-1) 0,0 -0,26 0 – 0,065

Chumbo (mg L-1) 0,01 – 2,8 0,01 – 0,5

Zinco (mg L-1) 0,01 – 8,0 0,01 – 1,5

De acordo com Peixoto et al (2008), as concentrações de DBO e de DQO tendem a

diminuir ao longo do tempo no lixiviado. É sabido que a DBO tende a decrescer com

uma taxa superior à da DQO, já que há a presença de material orgânico de difícil

degradação que faz parte da DQO.

2.7.2. Métodos de Tratamento do Lixiviado

Dentre as mais diversas técnicas de tratamento de efluentes, muitas são aplicáveis

ao lixiviado. Uma metodologia que vem demonstrando resultados relativamente

positivos é a recirculação do percolado pós-tratamento para dentro do aterro. O

Page 26: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

26

resultado desta prática é a melhoria da biodegradação da matéria orgânica presente

no lixo por meio da introdução de oxigênio dissolvido, estendendo o metabolismo

aeróbico e também reduzindo a vazão a tratar; o que garante a manutenção de um

nível admissível no interior das células que não inibe o processo de decomposição

dos resíduos, e também assegurando a estabilidade geotécnica do depósito (CHAN

et al., 2002; SAN e ONAY, 2001). Problemas que devem ser atentados quanto à

recirculação estão relacionados à saturação de lixiviado quando grandes quantidades

do resíduo são recirculadas (SAN e ONAY, 2001).

Há também o tratamento bioquímico por meio de wetlands, utilizando-se de plantas

aquáticas, solos e a associação de microrganismos para remoção de contaminantes

de águas residuárias, e também do lixiviado. Além destas, há as chamadas lagoas de

estabilização, caracterizadas por sua simplicidade, eficiência e baixo custo, onde a

estabilização da matéria orgânica é realizada por oxidação de origem microbiana, e é

completada de forma cíclica na redução fotossintética por algas.

Não menos importante, há o tratamento químico, e dentro desta categoria, o

tratamento via Processos Oxidativos Avançados (POA). Estes são capazes de

promover a degradação e até mesmo, a mineralização dos poluentes. O lixiviado,

tratado por POA, pode promover uma depuração significativa o suficiente para deixá-

lo em condições de reuso (DE MORAIS e PERALTA-ZAMORA, 2005).

2.7.3. Tratamento Biológico de Efluentes

A natureza do tratamento biológico de efluentes é de tal sorte a acelerar os

mecanismos presentes de degradação natural nos corpos receptores. Logo, a

decomposição dos poluentes orgânicos é alcançada em condições controladas em

intervalos menores do que nos sistemas naturais, por meio de reações bioquímicas

utilizando-se de microrganismos como agentes de catálise (SPERLING, 2005).

A base do processo microbiológico é a utilização do material orgânico presente nos

efluentes como forma nutricional para o microrganismo. A matéria orgânica é

convertida em gás carbônico, água, material celular e produtos de fermentação

anaeróbica. Como qualquer cultivo celular, a decomposição biológica será efetiva se

houver condições favoráveis de pH, temperatura, concentração de macro e

micronutrientes, oxigênio, etc (SPERLING, 2005).

Dentre os processos de tratamento biológico, há as chamadas lagoas de

Page 27: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

27

estabilização, fermentadores anaeróbicos, lodos ativados, reatores aeróbicos, etc.

2.7.4. Lixiviado como meio de cultivo celular

O lixiviado é constituído de uma série de compostos orgânicos e inorgânicos, dentre

os quais destacam-se produtos nitrogenados, fosforados, metais pesados, taninas e

fenóis (BERNARD et al., 1997) e é considerado um forte poluente se descartado no

solo ou em águas de superfície sem tratamento prévio (ALKALAY et al., 1998).

Comparando-se diversas técnicas de tratamento disponíveis hoje no mercado e no

meio científico, é sabido que as técnicas por via química são extremamente eficazes,

porém apresentam custos operacionais elevados (WONG et al., 1990).

O lixiviado não apresenta uma composição fixa, e varia de acordo com a localidade,

o tempo de existência do aterro e inúmeros outros fatores. Consequentemente, a

utilização de um certo tipo de lixiviado como fonte de matéria prima para tratamento

biológico pode ser inadequada para diversas outras espécies, ou então, o tratamento

eficaz de um tipo de lixiviado por uma certa espécie pode ser falho quanto à utilização

do lixiviado de outra localidade (CHEUNG et al., 1993).

Lin et al. (2011) estudaram o cultivo de algumas espécies de microalga para cultivo

no lixiviado, com o aspecto apenas de crescimento celular. De acordo com Lin et al.

(2006), uma das prováveis causas da alta toxicidade do lixiviado é a alta concentração

de nitrogênio amoniacal (NH4+/NH3), que chegam a valores de até 5000 mg/L. Essa

concentração alta inibe o crescimento de microrganismos capazes de realizar

tratamento biológico, como os de lodo ativado. Rai et al. (1996) indica que o gênero

Chlorella pode ser uma boa escolha para tratamento biológico de resíduos, visto que

as células apresentam alto poder de resiliência no crescimento em meios não

favoráveis, sejam meios ácidos, pela alta concentração de inibidores ou pela

quantidade de metais pesados presentes.

2.7.5. Crescimento de microalga no lixiviado

Lin et al (2007) provou ser possível a redução de toxicidade e de carga orgânica do

lixiviado a partir do cultivo microalgal; os pesquisadores discorrem que o a remoção

total de amônia e ortofosfato de resíduos do lixiviado é algo difícil, vista a

complexidade do efluente. Algumas estratégias para o tratamento de resíduos via

Page 28: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

28

microalgas foram desenvolvidas com sucesso, como fotobiorreatores com sistemas

imobilizados de bactérias e algas (TAM e WONG, 1989), contudo, para o tratamento

do lixiviado propriamente dito, pouco desenvolvimento técnico foi feito.

Além do problema da concentração de compostos nocivos aos microorganismos,

como alguns de origem fenólica, o lixiviado apresenta dificuldades de natureza física

que dificultam o seu tratamento via microrganismos com regimes fototróficos (LIN et

al, 2007). A principal dificuldade apresentada de natureza física é sua turbidez e sua

cor, que permanecem altas mesmo depois de filtração por membrana. Tal limitação

reduz a penetração luminosa no percolado e consequentemente se torna um fator

limitante ao crescimento celular. Além disso, Harmmer (1996) constata que, para

tratamento de lixiviado utilizando-se microalgas em tanques, não se deve permitir uma

profundidade superior a 1,50 m, visto a necessidade de liberação do fluxo de produtos

gasosos decorridos da anaerobiose, além, obviamente, da redução significativa da

penetração luminosa.

O lixiviado, após sua estabilização, é geralmente saturado em gás carbônico derivado

das aerobioses de origem microbiana; o que é um fator positivo e significativo para o

crescimento microalgal. No entanto, como muitos dos sistemas de tratamento

microbiológicos de lixiviado levam tempos elevados, a concentração de gás carbônico

tende a se dizimar com o tempo (ADAMSSON et al., 1998).

2.7.6. Desenvolvimento de fotobiorreatores microalgais para tratamento de

águas residuárias

Pouco fora feito e reportado quanto ao desenvolvimento de fotobiorreatores utilizando-

se de microalgas para tratamento de efluentes. O único trabalho feito com reator do

tipo biocoil encontrado na literatura foi um utilizando-se da espécie Chlamydomonas

reinhardtii (KONG et al., 2010). Su (2012) sumarizou os experimentos na literatura, e

a relação de espécie com tipo de reator é encontrada no quadro 2.7.6.

Page 29: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

29

Tabela 2.2: Biorreatores para tratamento de águas residuárias via microalgas (SU,

2012)

Espécie microalgal Tipo de reator Referência

Botryococcus braunii Erlenmeyer de 1 L com

500 mL de meio

CHINNASAMY et al.,

2010

Chlamydomonas

reinhardtii

Fotobiorreator biocoil KONG et al., 2010

Chlorella vulgaris Reator piloto GUTZEIT et al., 2005

Chlorella sp. Reator em bobina LI et al., 2011

Chlorella sp. Frascos cônicos ZHOU et al., 2011

Dunaliella terctioleta Erlenmeyer de 1 L com

500 mL de meio

CHINNASAMY et al.,

2010

Scenedesmus Fotobiorreator tubular DI TERMINI et al., 2011

Scenedesmus sp. LX1 Erlenmeyer de 250 mL LI et al., 2010

Scenedesmus sp. Frascos cônicos ZHOU et al., 2011

Scenedesmus

rubescens

Fotobiorreator em

ambiente fechado

LIN e LIN, 2011

Spirulina platensis Fotobiorreator com airlift YUAN et al., 2011

2.8. Planejamento de experimentos

O chamado projeto de experimentos está delineado numa classe de técnicas

estatísticas aplicadas ao planejamento, à condução, à análise e à interpretação de

testes controlados, buscando encontrar e definir fatores que influenciam os valores de

um parâmetro ou de um grupo de parâmetros (BARROS et al., 2010).

A otimização de parâmetros de processo e a melhoria da qualidade de produtos têm

sido amplamente alcançada com a utilização dos projetos de experimentos por meio

de aplicação de conceitos e técnicas de engenharia e de estatística aplicada

(BARROS et al., 2010)

O planejamento de experimentos leva em consideração interações entre os fatores e

pode ser utilizado para a otimização de parâmetros operacionais em sistemas com

multivariáveis e essa técnica visa maximizar ou minimizar o efeito das variáveis

respostas obtidas em cada experimentação, além de obviamente, reduzir o número

de condições experimentais, a fim de minimizar custos e tempo (AY et al., 2009).

Page 30: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

30

2.8.1. Método de Taguchi

As técnicas de Planejamento de Experimentos vêm sendo utilizadas como uma

ferramenta para verificar o funcionamento de sistemas ou processos produtivos,

permitindo a melhoria destes como a redução da variabilidade e conformidade

próximas do resultado desejado, além de redução no tempo de processo e

conseqüentemente dos custos operacionais (BARROS et al.,1995).

O método de Taguchi é uma aplicação sistemática de Planejamento de Experimentos.

Esta técnica de Genichi Taguchi foi projetada especificamente para aperfeiçoar a

qualidade dos manufaturados japoneses (PHADKE, 1989). Este é um método

relativamente simples de ser executado e reduz extremamente o número de

experimentos necessários se comparado com as técnicas convencionais utilizadas.

No delineamento de experimentos são utilizados arranjos ortogonais. Na análise dos

resultados utiliza-se a técnica da ANOVA, que pode ser encontrado na maioria dos

softwares atuais de estatística.

Page 31: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

31

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Obtenção da estirpe

Para o estudo deste Trabalho de Conclusão de Curso, foi utilizada a microalga

Chlorella sp., oriunda de Cabo Frio, RJ, (chlor-CF), que foi gentilmente doada pelo

Departamento de Oceanografia Biológica do Instituto Oceanográfico da Universidade

de São Paulo.

3.2. Preparação do meio de cultivo para crescimento celular

Para cada série de cultivo, todo o material usado (pipetas, erlenmeyers, micropipetas,

béqueres, etc) foi lavado em água corrente, rinsado com água destilada e autoclavado

a 121 ºC durante 20 minutos. Para os erlenmeyers de ensaio, foram utilizados como

tampa pedaços de papel alumínio desinfectados (XIA et al., 2011).

A inoculação das microalgas foi feita próximo à chama de lamparina, e o cultivo, em

sala climatizada. A iluminação, a não ser que dito diferente, fora feita com lâmpadas

fluorescentes de 40 W. A intensidade luminosa foi medida com um luxímetro e a

temperatura da sala foi mantida constante por um aparelho de ar-condicionado tipo

quente/frio. O cultivo foi feito na sala de fotobiorreatores, no laboratório do prof.

Messias B. Silva, de aproximadamente 8 m², isolada de luz difusa e portada de um

aparelho de ar-condicionado portátil quente/frio, para controle total de luz artificial e

de temperatura.

Todos os reagentes utilizados na preparação dos meios de cultivo foram de padrão

analítico, e o meio de cultivo básico, para manutenção do cultivo mãe, foi aquele

mostrado na tabela 3.1.

As soluções de estoque, utilizadas na preparação do meio de cultivo foram

autoclavadas a 110 ºC, com exceção da solução de vitaminas (Tiamina,

Cianocobalamina e Biotina), que foram filtradas através de filtros de 0,22 μm de

tamanho de poro.

O meio Guillard é baseado para cultivo de microalgas marinhas, e apresentou bons

resultados para o crescimento celular de Chlorella sp. (LOURENÇO, 2006).

Page 32: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

32

Tabela 3.1: composição do meio f/2 sem sílica adaptado (GUILLARD, 1975)

Componentes Concentração

Sal marinho 30 g/L

NaNO3 75 g/L

NaH2PO4.H2O 5 g/L

FeCl3.6H2O 3,15 g/L

Na2EDTA 4,3 g/L

ZnSO4.7H2O 22,2 mg/L

MnCl2.4H2O 180 mg/L

Na2MoO4.2H2O 6,3 mg/L

CoCl2.6H2O 10 mg/L

CuSO4.5H2O 9,8 mg/L

Tiamina 100 mg/L

Cianocobalamina 0,5 mg/L

Biotina 0,5 mg/L

3.3. Manutenção da cepa

A cepa da microalga Chlorella sp. utilizada nesse estudo foi mantida em uma

incubadora confeccionada em madeira e dotada de um fotoperíodo, controlada por

um temporizador. A intensidade luminosa fornecida foi de 15 W por uma lâmpada

fluorescente.

Para manutenção de um banco de células, a repicagem foi feita em erlenmeyers de

volume de 250 mL, com volume útil de 100 mL, com fotoperíodo de 12 h: 12 h

(luz/escuro) e luminosidade média de 4,8 klux, correspondente à iluminação pela

lâmpada de 15 W. As repicagens foram feitas em períodos de 10 a 15 dias, na

proporção de 10 mL de cultura antecessora para 90 mL de meio de cultivo novo, e os

frascos foram agitados de forma manual uma vez ao dia.

3.4. Obtenção e caracterização do lixiviado

O lixiviado do aterro sanitário de Cachoeira Paulista, SP, foi gentilmente doado pelo

prof. Dr. Hélcio José Izário Filho, da própria Escola de Engenharia de Lorena, e a sua

caracterização físico-química foi feita nos laboratórios do prof. Dr. Hélcio José Izário

Filho, da própria Escola de Engenharia de Lorena.

3.5. Preparação do meio de cultivo para o biorreator

O meio de cultivo era constituído de uma parte de lixiviado de Cachoeira Paulista, SP,

com nove partes de água destilada. Após autoclavagem deste, havia a adição de

Page 33: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

33

vitaminas, correspondente àquela do meio Guillard f/2 (100 mg/L de tiamina, 0,5 mg/L

de cianocobalamina e 0,5 mg/L de biotina, mantidas em soluções estoque). A

autoclavagem era feita geralmente um dia antes da inoculação, e era mantida em

galões comerciais de polipropileno de 20 L.

3.6. Construção e operação do biorreator

O biorreator foi construído a partir de uma adaptação do design de Biocoil

(ROBINSON, 1987).

A construção foi feita utilizando-se de um galão comercial de 20 L como tanque de

aeração, de tubos de PVC de ¾” como sistema de tubulação iluminada, com

comprimento total de 100 m, de vergalhões, abraçadeiras e demais suportes para as

lâmpadas, como pode ser visto na representação esquemática da figura 3.1.

Figura 3.1: Esquema do fotobiorreator tipo Biocoil usado no projeto

Os galões eram levados à sala de fotobiorreatores, previamente limpa e borrifadas

com álcool etílico a 70%, e a um deles, era adaptada a cortina de ar. O ar inserido era

provido de um compressor de ar BOYU ACQ-003 (1), e era passado por um filtro com

diâmetro de poro 0,22 μm e introduzido ao galão estoque, o qual será denominado

Page 34: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

34

galão aerado (2), até a cortina de ar (3), a fim de uma aeração eficiente do meio (com

uma razão VVM aproximada de 0,56 min-1). A um galão, era ligada a bomba centrífuga

BOMAX NH-30PX-T (4) a fim de promover o carregamento ascendente do biorreator.

Conforme havia decréscimo do volume do primeiro galão, o segundo era utilizado para

completar o seu volume, até que todo o volume operacional estivesse completo (i.e.,

a parte iluminada estivesse completa com o meio de lixiviado). A parte superior do

tubo da parte iluminada era ligada à parte aerada, de modo que houvesse recirculação

de cultivo. Após visualização de estabilidade do reator (i.e., sem acréscimo ou

decréscimo significativo de volume na parte aerada), as vitaminas eram adicionadas

(40 mL de solução estoque), e aproximadamente 4 L de volume microalgal era

adicionado (o volume era adicionado de modo que a concentração inicial celular fosse

de 0,7E06 células/mL), a partir de cultivos estoque. O galão era mantido coberto com

uma rolha de algodão, de forma a prevenir a entrada de contaminantes, mas que

houvesse troca gasosa entre o meio e o ambiente. A vazão de entrada era controlada

por uma válvula do tipo bola, ou esfera (5). O tempo total de operação era de 3 dias

para cada batelada.

A amostragem era feita a partir da parte final do tubo de iluminação (6), de 24 em 24

h, tomadas na ligação feita ao galão de aeração (7), tomando um volume de cerca de

50 mL, que serviu de material para todas as análises.

Para o carregamento do reator, primeiramente, os meios de lixiviado diluído eram

autoclavados a 0,5 atm de pressão por 20 min., da forma que, para cada batelada,

foram utilizados 2 galões de 20 L cada, cheios.

3.7. Amostragem e separação celular

As amostragens, como previamente dito, foram tomadas da parte final da tubulação

da parte iluminada, sendo congeladas a -20 ºC até utilização. A única análise feita

prontamente após a amostragem foi a estimativa de concentração celular por

densidade ótica (LOURENÇO, 2006). A figura 3.2 ilustra a parte iluminada do

fotobiorreator.

Page 35: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

35

A separação celular foi feita utilizando-se coagulação induzida por Al2(SO4)3 a 1,0 g/L

(PAPAZI et al., 2010). Havia separação de fases, e a separação celular, para as

análises químicas era feita utilizando-se filtros de diâmetro de poro de 0,45 μm.

Figura 3.2: Fotobiorreator utilizado no projeto

Page 36: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

36

3.8. Planejamento de experimentos

Os experimentos foram delineados utilizando matrizes experimentais do tipo arranjo

ortogonal de Taguchi. A matriz do tipo L4 consiste em um arranjo de quatro linhas,

isso é, quatro experimentos com até três fatores, em dois níveis (alto e baixo).

A tabela 3.2 mostra um arranjo ortogonal L4 de Taguchi para 3 fatores, A, B e C, no

qual a operação é feita em 2 níveis (1 é o nível baixo, 2, o alto).

Tabela 3.2 Arranjo ortogonal L4 de Taguchi

Exp. A B C

1 1 1 1

2 1 2 2

3 2 1 2

4 2 2 1

No fotobiorreator, foram analisados três fatores em dois níveis: tempo de circulação

no tubo (controlado por uma válvula de bola adaptada na entrada da seção iluminada

do reator), temperatura do ambiente (controlada pelo aparelho de ar-condicionado

quente/frio) e fotoperíodo (controlado por um temporizador ligado às lâmpadas da

seção iluminada). O tempo de batelada foi fixado em 72 h para cada ensaio.

Logo, a matriz experimental, com os fatores decodificados, é a mostrada na tabela

3.3.

Tabela 3.3. Planejamento experimental do projeto

Exp. Temperatura Fotoperíodo Tempo no Tubo iluminado

1 20 ºC 12 h: 12h 5 min.

2 20 ºC 24 h: 0 h 12 min.

3 30 ºC 12 h: 12 h 12 min.

4 30 ºC 24 h: 0 h 5 min.

As respostas analisadas compreendem a redução de DQO, de TOC, de turbidez e de

metais presentes no lixiviado. A análise estatística foi feita utilizando o software

Minitab.

Page 37: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

37

3.9. Métodos analíticos

3.9.1. Análise Espectrofotométrica de Densidade Ótica

O uso de densidade ótica para avaliação de crescimento microalgal baseia-se na

obstrução física da luz pelas células. Quanto mais células estiverem presentes na

amostra, maior será a absorção de luz e menor será a passagem de luz. Embora seja

uma alternativa prática para acompanhar o desenvolvimento das células em cultura,

é necessário estabelecer correlações entre a contagem celular e as medidas de

absorbância para a espécie (LOURENÇO, 2006).

O crescimento microalgal foi acompanhado por análise de absorbância em

espectrofotômetro UV-Vis modelo Bel Photonics, selecionando o comprimento de

onda de 690 nm, correspondente a um pico de clorofila-a, para a realização das

leituras (LOURENÇO, 2006).

3.9.2. Análise Microscópica

A contagem celular foi realizada num microscópio modelo BIOVAL com o auxílio de

um hemacitômetro, tipo câmara de Neubauer de 0,1mm de profundidade.

(LOURENÇO, 2006).

3.9.3. Determinação do peso seco da amostra

Com auxílio de uma bomba a vácuo, alíquotas de cultivo foram filtradas em filtros de

0,7 µm de porosidade (GF-3 MN) previamente pesados. Após o escoamento do

líquido, os filtros foram lavados com água destilada para remoção de impurezas no

filtrado e em seguida alocados em vidros de relógio para secagem em estufa a 105˚C

por 24 h. Depois de transcorridos o período de secagem, os filtros foram colocados

em um dessecador para evitar a absorção de umidade durante o resfriamento por

cerca de uma hora e imediatamente após a retirada dos filtros do dessecador

procedeu-se à pesagem em balança analítica ADA, modelo 210/L para a

determinação da biomassa. (LOURENÇO, 2006).

3.9.4. Determinação da turbidez

Para a determinação da turbidez nefelométrica das amostras de efluente investigadas,

utilizou-se um turbidímetro da TECNOPON-1000. Para a calibração do equipamento

utilizaram-se padrões de 0,1 NTU, 0,8 NTU, 8,0 NTU, 80,0 NTU e 1000 NTU. A análise

do lixiviado tratado foi feita após coagulação com Al2(SO4)3 e separação do

sobrenadante com filtros de 0,45 μm para remoção celular.

Page 38: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

38

3.9.5. Determinação da DQO

A preparação dos reagentes para DQO no tubo digestor foi realizada de acordo com

metodologia rotineira do laboratório. Em frascos de digestão foram adicionados

sequencialmente: 40 mg de sulfato de mercúrio PA, 2,5 mL da solução de sulfato ácido

de prata (0,67% m/v), 0,5 mL da solução de dicromato de potássio 1,0 N, 0,3 mL de

água deionizada e 2,0 mL da amostra/padrões. A mistura foi aquecida a 150 ºC por 2

horas, em bloco digestor. Após condicionamento à temperatura ambiente, realizou-se

as medidas da absorbância de cada tubo à 620 nm para as amostras de alto teor, e à

420 nm, para as de baixo teor, utilizando uma cubeta de quartzo de 2 mL.

3.9.6. Determinação do TOC

Para as medidas de TOC foi utilizado um analisador TOC VCPH – Shimadzu. Este

equipamento mede a quantidade de carbono total (CT) e carbono inorgânico (CI) da

amostra. O TOC é dado pela subtração de CT e CI. Para a determinação de carbono

total, a amostra injetada fora carreada para um tubo de combustão a 680 °C contendo

platina suportada em alumina e que sofre oxidação catalítica a CO2. Para a

determinação de carbono inorgânico a amostra injetada reage com ácido fosfórico 25

%, sendo que todo carbono inorgânico é convertido a CO2. O CO2 produzido, tanto na

oxidação catalítica como o proveniente de carbono inorgânico, foi quantificado por

absorção no infravermelho não dispersivo (FONSECA, 2006).

Para maior eficiência do equipamento acima, as amostras foram preparadas da

seguinte maneira: Em um balão volumétrico de 25,0 mL, colocava-se 10,0 mL da

amostra, e completou-se o volume do balão com água deionizada, ajustando o pH

para 3 com solução 5,0 eq L-1 de H2SO4. A análise de TOC foi realizada pelo prof. Dr.

Hélcio J. Izário Filho.

3.9.7. Determinação dos metais

A análise de metais foi feita pelo prof. Dr. Hélcio José Izário Filho, utilizando-se a

técnica de espectrometria de emissão atômica por plasma acoplado indutivamente

(ICP-AES). O espectrômetro usado foi da marca Perkin Elmer, modelo Optima 8000.

As amostras foram avolumadas, digeridas com HNO3 e analisadas seguindo roteiro

de padrões do laboratório.

Page 39: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

39

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos com o biorreator podem ser caracterizados quanto à curva de

crescimento obtida do cultivo e às análises estatísticas dos efeitos estudados sobre

as médias de crescimento celular, redução de turbidez, redução de demanda química

de oxigênio, redução de carbono orgânico total e redução de metais pesados.

4.1. Relação entre contagem celular e absorbância

Uma varredura de espectro do cultivo de Chlorella sp. foi feita, com passo de varredura

de 2 nm utilizando um espectofotômetro FEMTO 800 XI, a fim de determinar a região

de pico para redução de erros de medição espectrofotométricos. Conforme pode ser

visto na figura 4.1, há um pico para o comprimento de onda de 690 nm. Logo, as

medições experimentais foram realizadas a 690 nm.

Figura 4.1: Espectro de absorbância de cultivo da microalga Chlorella sp.

400 450 500 550 600 650 700 750 800

Ab

sorb

ânci

a re

lati

va

Comprimento de onda (nm)

Espectro de absorbância de cultivo da microalga Chlorella sp.

Page 40: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

40

Uma varredura de espectro também foi feito para o lixiviado, a fim de saber se haveria

alguma interferência significativa na região de análise por espectrofotometria do

crescimento da microalga. Como não há região de pico para a região de análise de

crescimento celular (690 nm), como pode ser visto a partir da figura 4.2, fora utilizado

o branco da região no lixiviado sem a inoculação celular para cálculo do crescimento

celular efetivo.

Figura 4.2: Espectro de absorbância do lixiviado

A contagem celular relaciona a absorbância do cultivo com a quantidade de células

presentes. A contagem foi feita em câmara de Neubauer. A curva analítica que

relaciona a contagem celular como função da absorbância é aquela apresentada na

figura 4.3.

Observa-se um bom coeficiente de correlação na curva analítica (R²=0,9972). A

estimativa de contagem celular nos experimentos foi, por consequência, baseada

nesta relação de densidade ótica.

300 350 400 450 500 550 600 650 700

Ab

sorb

ânci

a re

lati

va

Comprimento de onda (nm)

Espectro de absorbância do lixiviado

Page 41: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

41

Figura 4.3: Curva analítica de contagem celular em função de absorbância

4.2. Curvas de crescimento nos reatores

Figura 4.4: Curvas de crescimento nos experimentos 1, 2, 3 e 4

y = 3E+07x - 152375R² = 0,9972

0,00E+00

5,00E+06

1,00E+07

1,50E+07

2,00E+07

2,50E+07

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

Cél

ula

s/m

L

Absorbância

Absorbância vs. Contagem celular

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

0 h 2 4 h 4 8 h 7 2 h

célu

las/

mL

Milh

ões

tempo

Curvas de Crescimento nos Reatores

Exp. 1 Exp. 2 Exp. 3 Exp. 4

Page 42: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

42

Percebe-se que os experimentos 3 e 4 obtiveram perfis similares de crescimento,

atingindo uma região de crescimento estacionário após as primeiras 24 h, embora o

experimento 3 apresentou um número final de células superior. Os experimentos 1 e

2 obtiveram uma cinética de crescimento levemente diferente, provavelmente

influenciada pela temperatura; sendo que nestes, a região estacionária se mostrou

presente no tempo compreendido entre 48 h e 72 h de crescimento.

4.3. Análise da redução de turbidez

A análise da redução de turbidez foi feita com base na turbidez do lixiviado diluído,

que continha turbidez de 9,19 NTU. Os experimentos do arranjo L4 de Taguchi

geraram os dados da tabela 4.1 e da figura 4.5.

Tabela 4.1: Resultados de porcentagem de redução de turbidez

Exp. Turb. Final (NTU) Teor de redução

1 1,85 0,80

2 0,71 0,92

3 0,16 0,98

4 4,41 0,52

21

0,9

0,8

0,7

21

21

0,9

0,8

0,7

Temperatura

dia

da

s m

éd

ias

Fotoperíodo

TempoTubo

Plot dos efeitos principais sobre a redução da TurbidezMédias dos dados

Figura 4.5: Plot dos efeitos principais sobre a redução da Turbidez

Page 43: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

43

Os resultados quantitativos estão mostrados na tabela 4.2, ANOVA dos fatores em

relação à redução de turbidez.

Tabela 4.2: ANOVA dos fatores em relação à redução de turbidez

Fonte de erro GL SQ F

Temperatura 1 0,0121 *

Fotoperíodo 1 0,0289 *

TempoTubo 1 0,0841 *

Erro residual 0 * *

Total 3

A partir da análise estatística pela visualização qualitativa dos resultados (figura 10),

espera-se que, para uma redução na turbidez mais eficiente, deva-se trabalhar com

as variáveis temperatura e fotoperíodo nos níveis baixos (20 ºC e 12 h:12 h,

respectivamente), e a variável TempoTubo, relacionada com o tempo médio de

residência no tubo iluminado, no nível alto, ou seja, de aproximadamente 12 min.

No entanto, a partir da ANOVA, vê-se que o fator Temperatura é aquele que menos

contribui para o efeito de redução da turbidez, já que sua soma quadrática é a menor

de todas (0,0121 < 0,0289 < 0,0841). Como a matriz L4 de Taguchi é saturada com 3

fatores, não há graus de liberdade para o cálculo do erro residual. A técnica estatística

permite utilizar-se do fator com menor significância, que no caso é a Temperatura,

para cálculo de tal, atribuindo-se os graus de liberdade e às somas quadráticas do

fator menos significante para o erro residual. Assim sendo, a Temperatura deixa de

ser um fator significante para cálculo da redução de turbidez e é utilizada como fonte

do erro, o que gera a nova ANOVA. Sabendo-se que a estatística F é dada pela razão

da média quadrática do fator pela do erro, vêm os resultados da tabela 4.3.

Tabela 4.3: ANOVA adaptada dos fatores em relação à redução do teor de turbidez

Fonte de erro GL SQ F

Temperatura (Erro) 1 0,0121 *

Fotoperíodo 1 0,0289 2,38843

TempoTubo 1 0,0841 6,95041

Total 3

Page 44: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

44

Figura 4.6: Análise visual da redução da turbidez do lixiviado pós floculação microalgal

A partir de análise visual do lixiviado, após crescimento celular e coagulação via

Al2(SO4)3 para remoção das células, vê-se um sobrenadante de característica clara e

incolor, conforme ilustrado pela figura 4.6.

A redução da turbidez está relacionada à redução de particulado interferente na

aparência do efluente. O fotobiorreator de Biocoil adaptado apresentou resultados

promissores para a redução da turbidez (em 98%, em estudos exploratórios apenas).

É interessante notar que a temperatura não se fez de grande significância nos

resultados. Extrapolando tal ideia, a operação do fotobiorreator em condições ao ar-

livre não apresentaria diferenças significativas para tratamentos a 20 ºC ou a 30 ºC;

que é uma faixa de temperatura facilmente encontrada ao longo do ano em muitas

cidades brasileiras. O fator crítico à redução da turbidez foi a variável TempoTubo,

que está relacionada ao tempo de irradiação luminosa que cada célula leva em cada

ciclo de recirculação. Para maior redução da turbidez, deve-se operar o biorreator com

um tempo maior de irradiação luminosa, o que provavelmente faz com que as células

sejam capazes de assimilar ou metabolizar compostos de natureza cromófora, como

por exemplo a lignina, presentes no lixiviado.

Page 45: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

45

4.4. Análise da redução da Carga Orgânica

4.4.1. Análise da redução de DQO

A análise da redução da carga orgânica, medida em DQO, foi feita a partir da análise

em baixo teor (de 0 a 200 mg O2/L) e em alto teor (200 a 2000 mg O2/L). As curvas

analíticas que relaciona DQO com a absorbância estão mostradas nas figuras 4.7 e

4.8.

Figura 4.7: Curva analítica de DQO de baixo teor – 0 a 200 mg O2/L

Figura 4.8: Curva analítica de DQO de alto teor – 200 a 2000 mg O2/L

y = -397,73x + 221,62R² = 0,9841

0

50

100

150

200

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

DQ

O (

mg

O2/

L)

Absorbância a 420 nm

Curva analítica de DQO - Baixo Teor - 0 a 200 mg O2/L

y = 2982,5x + 81,791R² = 0,9935

0

500

1000

1500

2000

2500

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

DQ

O (

mg

O2/

L)

Absorbância a 620 nm

Curva analítica de DQO - Alto Teor - 200 a 2000 mg O2/L

Page 46: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

46

A redução da DQO nos quatro experimentos está representada na tabela 4.4.

Tabela 4.4: Resultados de teor de redução de DQO do lixiviado

Exp. Abs. 420 nm DQO final (mg O2/L) Teor de redução

1 0,061 197,75 0,21

2 0,105 179,85 0,29

3 0,128 170,71 0,32

4 0,407 79,63 0,68

O lixiviado utilizado nos experimentos foi diluído de 10 vezes (uma parte de lixiviado

in natura para 9 partes de água destilada), e apresentou uma DQO inicial de 251,8 mg

O2/L.

A análise estatística dos fatores sobre as médias de redução da DQO via metodologia

de Taguchi gera os dados da figura 4.9.

21

0,5

0,4

0,3

21

21

0,5

0,4

0,3

Temperatura

dia

da

s m

éd

ias

Fotoperíodo

TempoTubo

Plot dos efeitos principais sobre a média da redução de DQOMédias dos dados

Figura 4.9: Plot dos efeitos principais sobre a média da redução de DQO

Page 47: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

47

Cuja análise de variância é a apresentada na tabela 4.5.

Tabela 4.5: ANOVA dos fatores em relação à redução de DQO

Fonte de erro GL SQ F

Temperatura 1 0,0625 *

Fotoperíodo 1 0,0484 *

TempoTubo 1 0,0196 *

Erro residual 0 * *

Total 3

A análise qualitativa dos resultados permite uma conclusão rápida que para uma

melhor redução da carga orgânica, medida em DQO, as variáveis Temperatura e

Fotoperíodo devem ser operadas em seus níveis altos (30 ºC e 24 h:0 h,

respectivamente), e a variável TempoTubo, em seu nível baixo (5 min).

A ANOVA dos resultados permite dizer, a partir das médias quadráticas dos fatores,

que o fator Temperatura foi o mais significante, e a variável TempoTubo, a menos. Ao

utilizar-se da variável TempoTubo como sendo fonte dos erros, i.e., atribuindo os seus

graus de liberdade e média quadrática como fonte de erro a fim de cálculo da

estatística F, vem, pela ANOVA ilustrada pela tabela 4.5.

Tabela 4.6: ANOVA adaptada dos fatores em relação à redução de DQO

Fonte de erro GL SQ F

Temperatura 1 0,0625 3,1888

Fotoperíodo 1 0,0484 2,4694

TempoTubo (Erro) 1 0,0196 *

Total 3

4.4.2. Análise da redução do Carbono Orgânico Total (TOC)

Os resultados dos experimentos 1 a 4 estão mostrados na tabela 4.6. O grau de

redução está relacionado com o TOC da amostra em branco (i.e. lixiviado diluído). O

valor inicial de TOC encontrado foi de 92,7 mg/L para o lixiviado diluído. A figura 4.10

apresenta os resultados qualitativos sobre a redução do teor de TOC. A tabela 4.8

apresenta a análise quantitativa sobre a ANOVA dos efeitos dos fatores na redução

de TOC.

Page 48: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

48

Tabela 4.7: Resultados de teor de redução de TOC do lixiviado

Exp. TOC Final (mg/L) % redução

1 75,8 0,18

2 61,6 0,34

3 58,7 0,37

4 36,8 0,60

21

0,45

0,40

0,35

0,30

0,25

21

21

0,45

0,40

0,35

0,30

0,25

Temperatura

dia

da

s m

éd

ias

Fotoperíodo

TempoTubo

Plot dos efeitos principais sobre a redução de TOCMédias dos dados

Figura 4.10: Plot dos efeitos principais sobre a redução de TOC

Tabela 4.8: ANOVA dos fatores em relação à redução de TOC

Fonte de erro GL SQ F

Temperatura 1 0,0511 *

Fotoperíodo 1 0,0379 *

TempoTubo 1 0,0017 *

Erro residual 0 * *

Total 3

A análise qualitativa dos resultados para redução de carga orgânica, medida em TOC,

indica que as variáveis Temperatura e Fotoperíodo devem ser operadas em nível alto

(30 ºC e 24 h:0 h, respectivamente) e a variável TempoTubo, em nível baixo (5 min).

Page 49: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

49

A ANOVA permite concluir que a Temperatura foi o fator mais significativo e

TempoTubo, o menor. Rearranjando a ANOVA da tabela 4.8 de modo a utilizar os

graus de liberdade e sua média quadrática para cálculo da estatística F dos fatores

mais significativos (Temperatura e Fotoperíodo), vem os resultados da tabela 4.9.

Tabela 4.9. ANOVA adaptada dos fatores em relação à redução de TOC

Fonte de erro GL SQ F

Temperatura 1 0,0511 29,609

Fotoperíodo 1 0,0379 21,979

TempoTubo (Erro) 1 0,0017 *

Total 3

Analisando-se os resultados obtidos para a redução da carga orgânica, medidos em

DQO e TOC, é interessante notar que ambos os resultados apresentam uma

correlação estatística. Embora o teor de redução de DQO tenha sido maior do que o

teor de redução de TOC, faz-se vista aos fatores Temperatura e Fotoperíodo em

ambas análises como de primeiro e segundo lugar quanto à significância estatística.

Ainda mais, ambos os fatores apresentam melhores resultados, i.e., maiores taxas de

redução quando operados em nível similares (altos, nos dois casos).

Uma provável conclusão para isso é que, embora o experimento 4 não tenha sido

aquele com maior número final de células, a temperatura e o fotoperíodo nele

presentes foram capazes de fazer as células assimilarem com maior rapidez os

compostos orgânicos presentes no lixiviado.

Isso pode levar a indicar que o metabolismo da espécie Chlorella sp., nas condições

estudadas, seja mixotrófico, visto que, o maior fotoperíodo fora capaz de induzir uma

maior redução da carga orgânica, partindo do pressuposto que a redução da carga

orgânica seja decorrida do metabolismo microalgal. É difícil dizer, mas uma provável

razão para que o experimento 4 não tenha sido aquele com número final de células

superior ao de todos, é que, embora o consumo da carga orgânica tenha sido maior

neste experimento, o consumo de toxinas e compostos de natureza inibitória ao

crescimento provavelmente também foi maior; o que pode ter levado à uma limitação

no crescimento celular.

Page 50: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

50

O experimento 3 apresentou fotoperíodo de 12 h:12 h. É sabido da bioquímica que a

fase escura do crescimento fotoautrotófico é responsável por uma reprodução celular

desacelerada, quando comparada à da fase clara (LEHNINGER, 1990). Como a

variável relacionada ao tempo de residência médio no tubo de iluminação apresentou

significância estatística inferior ao dos outros fatores analisados, faz-se indiferente à

comparação dos resultados obtidos entre os experimentos 3 e 4 (aqueles com

temperatura a 30 ºC, nível alto) quanto à variável TempoTubo; deixando como fator

crítico à redução da carga orgânica o fotoperíodo (fator diferenciador entre os

experimentos 3 e 4). Embora o experimento 3 apresentou uma contagem celular

superior ao do experimento 4, a redução da carga orgânica foi bem inferior ao do

experimento 4. Logo, esta constatação pode servir de base para futuros testes quanto

à significância do fotoperíodo no tratamento de lixiviado em regime mixotrófico.

Cheung et al (1993) discutiram a natureza microalgal i.e., marinha ou de água doce,

na eficácia do crescimento celular no lixiviado. De acordo com os autores, as espécies

marinhas apresentam maiores chances de desenvolvimento, já que a alta salinidade

dos seus habitats ser um fator significativo na adaptação celular a ambientes não

favoráveis, como o lixiviado. A microalga Chlorella sp. utilizada no projeto é de

natureza marinha, e isso, aliado a outros fatores, como o design do reator e as

condições metabólicas, pode ter garantido um crescimento celular significativo e

redução relevante da carga orgânica e da turbidez do efluente.

4.5. Análise de redução do teor de metais

Os metais que apresentaram concentrações mensuráveis foram: Ag, B, Cd, Cu, Fe e

Pb. Já havia sido reportado na literatura a capacidade da Chlorella sp. em sorver

alguns metais na sua estrutura celular (REIS et al, 2014).

Na amostra de lixiviado diluído, utilizado nos experimentos, foram encontradas as

concentrações de metais apresentadas na tabela 4.10.

Page 51: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

51

Tabela 4.10: Concentrações de metais do meio de lixiviado

Metal Branco (ppm)

Ag 0,025

B 3,380

Cd 0,110

Cu 0,870

Fe 19,615

Pb 0,280

As concentrações finais de Cu e Pb sofreram diminuição baixa o suficiente para não

serem significativas (de 0,870 ppm para 0,860 ppm para o Cu e de 0,280 ppm para

0,270 ppm para o Pb). A concentração de ferro, em todos os experimentos foi a

valores próximos de 0; não sendo possível também a análise estatística para seu

comportamento. O ferro é um dos constituintes do meio Guillard f/2, utilizado na

manutenção da cepa; podendo esta ser a razão do decréscimo significativo nos

experimentos.

A tabela 4.11 apresenta os valores finais das concentrações, com seus respectivos

teores de redução na concentração relativos ao Boro e à Prata.

Tabela 4.11: Resultados quanto à redução da concentração de Boro e Prata

Exp. Ag final (ppm) Teor de redução de Ag B final (ppm) Teor de redução de B

1 0,02 0,12 0,40 0,88

2 0,02 0,08 0,45 0,87

3 0,02 0,20 0,31 0,91

4 0,02 0,20 0,06 0,98

A análise estatística quanto à redução da concentração de prata gera a figura 4.11 e

a tabela 4.12.

Page 52: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

52

21

0,200

0,175

0,150

0,125

0,100

21

21

0,200

0,175

0,150

0,125

0,100

TemperaturaM

éd

ia d

as

dia

sFotoperíodo

TempoTubo

Plot dos efeitos principais para a redução da concentração de PrataMédias dos dados

Figura 4.11: Plot dos efeitos principais para a redução da concentração de Prata

Tabela 4.12: ANOVA dos fatores em relação à redução do teor de Prata

Fonte de erro GL SQ F

Temperatura 1 0,01 *

Fotoperíodo 1 0,0004 *

TempoTubo 1 0,0004 *

Erro residual 0 * *

Total 3

A partir da ANOVA, vê-se que ambos os fatores Fotoperíodo e TempoTubo

apresentam as menores somas quadráticas; restando somente o fator Temperatura

com uma significância maior.

Ao utilizar-se qualquer um dos dois fatores (Fotoperíodo ou TempoTubo) como fonte

de erros, atribuindo seus graus de liberdade e médias quadráticas ao erro residual,

vem a tabela 4.13

Tabela 4.13: ANOVA adaptada dos fatores em relação à redução do teor de Prata

Fonte de erro GL SQ F

Temperatura 1 0,01 25

Fotoperíodo (Erro) 1 0,0004 *

TempoTubo (Erro) 1 0,0004 *

Total 3

Page 53: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

53

Quanto à redução da concentração de Boro, vem a figura 4.12.

21

0,94

0,92

0,90

0,88

21

21

0,94

0,92

0,90

0,88

Temperatura

dia

da

s m

éd

ias

Fotoperíodo

TempoTubo

Plot dos efeitos principais sobre a redução do teor de BoroMédias dos dados

Figura 4.12: Plot dos efeitos principais para a redução da concentração de Boro

Cuja respectiva ANOVA é apresentada pela tabela 4.14.

Tabela 4.14. ANOVA dos fatores em relação à redução do teor de Boro

Fonte de erro GL SQ F

Temperatura 1 0,0049 *

Fotoperíodo 1 0,0009 *

TempoTubo 1 0,0016 *

Erro residual 0 * *

Total 3

A partir da ANOVA, vê-se que a variável Fotoperíodo apresenta a menor média

quadrática. Consequentemente, ao atribuir-se os valores de graus de liberdade e

média quadrática do fator Fotoperíodo à fonte de erros residuais, obtém-se a nova

análise, apresentada na tabela 4.15.

Tabela 4.15: ANOVA adaptada dos fatores em relação à redução do teor de Boro

Fonte de erro GL SQ F

Temperatura 1 0,0049 5,4444

Fotoperíodo (Erro) 1 0,0009 *

TempoTubo 1 0,0016 3,0625

Total 3

Page 54: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

54

Consequentemente, vê-se que a variável temperatura é a de maior significância na

redução dos teores de prata e de boro. Pode-se dizer, pela análise qualitativa, que os

níveis operacionais para maiores reduções de teores de ambos os metais é a

Temperatura em nível alto (30 ºC) e o tempo médio de residência no tubo de

iluminação, TempoTubo, no nível baixo (5 min). É permitido dizer isto, embora a

primeira vista a análise qualitativa se mostre contraditória quanto ao fator fotoperíodo

(visualizado nas figuras 15 e 16), porque o fotoperíodo se mostrou de baixa

significância; logo, a partir dos resultados analisados, e nas condições estudadas, o

fotoperíodo pouco influenciou a redução do teor de boro e prata.

É interessante ver que a redução de boro atingiu valores altos (maiores ou iguais a

87% nos quatro experimentos). Os experimentos não permitiram dizer se o metal fora

utilizado como nutriente ou fora sorvido na estrutura de parede das células. A prata

apresentou teores de redução menores, mas no entanto, significativos. Caso a prata

esteja sofrendo adsorção na parede celular, provavelmente uma concentração celular

maior, aliada a um fator temperatura adequado, proveria melhores resultados. Esses

fatores são decorridos da escolha da cepa utilizada no estudo, visto que as interações

célula-meio são específicas para cada metal (REIS et al, 2014).

Page 55: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

55

5. CONCLUSÃO

O presente projeto foi capaz de abrir novas oportunidades de pesquisa para o

laboratório de engenharia de microalgas, coordenado pelo prof. Messias B. Silva, vista

a vasta gama de possibilidades de operação do biorreator, como estudos de operação

em forma contínua e fed-batch, estudos paramétricos para otimização do reator,

oportunidades de instrumentação, estudos de modelagem, etc.

O design do reator foi um ponto crítico para o sucesso dos experimentos, já que,

provavelmente, grande parte do tratamento do lixiviado, tal qual o crescimento celular,

seja devido à alta taxa de irradiação luminosa proveniente na parte de tubo iluminado

do reator. Como o lixiviado apresenta uma alta turbidez e cor naturalmente escura, o

tratamento microbiológico aeróbico com regimes mixotróficos em ambientes que não

favoreçam a penetração da luz não se faz muito eficiente. Portanto, a proposta de

construir-se um reator para um pré-tratamento do lixiviado, além de acumulação de

biomassa celular, se fez eficiente e abriu possibilidades de diversos projetos de

pesquisa no campo, atingindo-se resultados de remoção de TOC em 60%, de DQO

em 68%, turbidez em 98%, a totalidade de ferro e 98% de teor de boro.

Além de todos os pontos acima, é importante frisar que o preço total de construção do

reator foi inferior à R$ 1000,00. O baixo custo e a fácil operação são fatores que

podem levar o interesse de novos desenvolvimentos na área.

Page 56: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABNT. Norma NBR 8419 – Apresentação de Projetos de Aterros Sanitários de Resíduos Sólidos Urbanos, 1992.

ADAMSSON, M. DAVE, G. FORSBERG, K, GUTERSTAM, B. Toxicity identification evaluation of ammonia, nitrite and heavy metals at the Stensund Wastewater Aquaculture plant. Sweden Water Science and Technology, v. 38, p. 151–157, 1998

ALKALAY, D., GUERRERO, L., LEMA, J. M., MENDEZ, R., CHAMY, R. Anaerobic treatment of municipal sanitary landfill leachates: the problem of refractory and toxic componentes. World Journal of Microbiology Technology, v. 14, p. 309-320, 1998.

AY, F., CATALKAYA, E. C., KARGI, F. A statistical experiment design approach for advanced oxidation of Direct Red azo-dye by photo-Fenton treatment. Journal of Hazardous Materials, v. 162, p. 230-236, 2009.

BARROS, N.; BRUNS R. E.; SCARMINIO, I. S. Otimização e planejamento de Experimentos. Campinas: Editora da Unicamp, 1995.

BERNARD, C., COLIN, J. R., ANNE, L. D., Estimation of the hazard of landfills through toxicity testing leachate. 2. Comparison of physic-chemical characteristics of landfill leachates with their toxicity determined with a battery of tests. Chemosphere, v. 35 p. 2783-2796, 1997.

CAMPOS, J. C.; FERREIRA, J. A.; FERREIRA, C.; HELTON, M.; DA SILVA, R. e BORBA, S. Tratamento do chorume do aterro sanitário de Piraí (RJ) utilizando wetlands. In: VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. p. 1-7, 2002.

CHAN, G. Y. S; CHU, L. M. e WONG, M. H. Effects of leachate recirculation on biogas production from landfill co-disposal of municipal solid waste, sewage sludge and marine sediment. Environmental Pollution v.118, p. 393-399, 2002.

CHAUMONT, D. Biotechnology of algal biomass production: a review of systems for outdoor mass culture Journal of Applied Phycology v. 5.6, p. 593-604, 1993.

CHEN, H. & T. H. WALKER. Biomass and lipid production of heterotrophic microalgae Chlorella protothecoides by using biodiesel-derived crude glycerol. Biotechnology letters, v. 33, p. 1973-1983, 2011.

CHEUNG, K. C., CHU, L. M., WONG, M. H. Toxic effect of landfill leachate on microalgae. Water, Air, and Soil Pollution v. 69. n.3-4, p. 337-349, 1993.

CHINNASAMY, S., BHATNAGAR, A., HUNT, R.W., DAS, K.C. Microalgae cultivation in a wastewater dominated by carpet mill effluents for biofuel applications. Bioresource Technology v.101, p. 3097-3105, 2010.

CHISTI, Y. Biodiesel from microalgae. Biotechnology Advances, v. 25, n. 3, p. 294-306, 2007.

Page 57: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

57

CHRISTENSEN, T.; KJELDSEN, P.; BJERG, P. L.; JENSEN, D. L.; CHRISTENSEN, J. B.; BAUN, A.; ALBRECHTSEN, H., HERON, G. Biogeochemistry of landfill leachates plumes. Applied Geochemistry. v.16 p. 659-718, 2001.

COLLA, L., RUIZ, W. A., COSTA, J. A. V. Metabolismo de carbono e nitrogênio em microalgas, Vetor, n. 12, p. 61-78, 2002.

DE MORAIS, J. L., PERALTA-ZAMORA, P. Estudo da potencialidade de processos Oxidativos avançados, isolados e integrados com processos biológicos tradicionais, para tratamento de chorume de aterro sanitário. Tese (Doutorado em Química Analítica) Universidade Federal do Paraná, 2005.

DI TERMINI, I., PRASSONE, A., CATTANEO, C., ROVATTI, M. On the nitrogen and phosphorus removal in algal photobioreactors. Ecological Engineering v. 37, p. 976-980, 2011.

FARGIONE, J., HILL, J., TILMAN, D., POLASKY, S. & HAWTHORNE, P. Land clearing and the biofuel carbon debt. Science, v. 319, no. 5867, p. 1235-1238. 2008.

FONSECA, J.C.L.; SILVA, M.R.A.; BAUTITZ, I.R.; NOGUEIRA, R.F.P.; MARCHI, M.R.R. Avaliação da confiabilidade analítica das determinações de carbono orgânico total (COT). Ecl. Quím., v. 31, n. 3, p. 47-52, 2006.

GOMES, L. P. Avaliação da atividade bacteriana anaeróbia celulolítica do chorume originado em sistema de disposição de resíduos sólidos urbanos a ceu aberto. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – EESC – USP, 1995.

GUILLARD, R. R. L. Culture of phytoplankton for feeding marine invertebrates. In: SMITH, W. L., CHANLEY, M. H. (Eds.). Culture of marine invertebrate animals. New York: Plenum, 1975.

GUTZEIT, G., LORCH, D., WEBER, A., ENGELS, M., NEIS, U. Bioflocculent algal-bacterial biomass improves low-cost wastewater treatment. Water Science and Technology v. 52, p. 9-18, 2005.

HARMMER, M.J. Water and Wastewater Technology. Prentice Hall, 1996

HUANG, G., CHEN, F., WEI, D., ZHANG, X., CHEN, G. Biodiesel production from microalgal technology. Applied Energy, n. 87, p. 38-46, 2010.

HUNTLEY, M. E., REDALJE, D. G. CO2 mitigation and renewable oil from photosynthetic microbes: a new appraisal. Mitigation and Adaptation Strategies for Global Change, n. 12, p. 573-608, 2007.

ILLMAN, A. M., A. H. SCRAGG & S. W. SHALES. Increase in Chlorella strains calorific values when grown in low nitrogen medium. Enzyme and Microbial Technology, n. 27, p. 631-635, 2000.

KONG, Q.X., LI, L., MARTINEZ, B., CHEN, P., RUAN, R. Culture of Microalgae Chlamydomonas reinhardtii in Wastewater for biomass feedstock production. Applied Biochemistry and Biotechnology v. 160, p. 9-18, 2010.

LEHNINGER, A. L. Princípios de Bioquímica. LODI, W. R., SIMÕES, A. A. (Trads.). São Paulo: Savier, 1990.

Page 58: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

58

LI, Y.C., CHEN, Y.F., CHEN, P., MIN, M., ZHOU, W.G., MARTINEZ, B., ZHU, J., RUAN, R. Characterization of a microalga Chlorella sp. well adapted to highly concentrated municipal wastewater for nutrient removal and biodiesel production. Bioresource Technology v.102, p.5138-5144, 2011.

LI, X., HU, H.Y., GAN, K., YANG, J. Growth and nutrient removal properties of a freshwater microalga Scenedesmus sp. LX1 under different kinds of nitrogen sources. Ecological Engineering 36, 379-381, 2010.

LIN, L. CHAN, G. Y. S., JIANG, B. L., LAN, C. Y. Use of ammoniacal nitrogen tolerant microalgae in landfill leachate treatment. Waste Management, v. 27, p. 1376-1382, 2007.

LIN, Q.A., LIN, J.D. Effects of nitrogen source and concentration on biomass and oil production of a Scenedesmus rubescens like microalga. Bioresource Technology v. 102, p. 1615-1621, 2011.

LOURENÇO, S. O. Cultivo de microalgas marinhas: princípios e aplicações. São Carlos: RiMa. 2006.

MATA, T. M., A. A. MARTINS & N. S. CAETANO. Microalgae for biodiesel production and other applications: a review. Renewable & Sustainable Energy Reviews, n. 14, p. 217-232, 2010.

PAPAZI, A., PAVLOS M., PASCAL D. Harvesting Chlorella minutissima using cell coagulants. Journal of applied phycology v. 22.3, p. 349-355, 2010.

PHADKE, M. S. Quality Engineering Using Robust Design. New Jersey: Prentice-Hall, 1989.

PEIXOTO, A.L.C. Ozonização catalítica homogênea do chorume proveniente do antigo aterro controlado da cidade de Guaratinguetá-SP, utilizando os íons Fe2+, Fe3+, Zn2+, Mn2+, Ni2+ e Cr3+. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química). Universidade de São Paulo, 2008.

RAI, L. C., RAI, P. K., MALLICK, N. Regulation of heavy metal toxicity in acid-tolerant Chlorella: physiological and biochemical approaches. Environmental Experimental Botany, v. 36, p. 99-109, 1996.

RENOU, S., GIVAUDAN, J. G., POULAIN, S., DIRASSOUYAN, F., MOULIN, P. Landfill leachate treatment: Review and Opportunity. Journal of Hazardous Materials. n. 150, p. 468-493, 2008.

REIS, C. E. R., AMARAL, M. S., LOURES, C. C. A., DA RÓS, P. C. M., HU, B., IZÁRIO FILHO, H. J., DE CASTRO, H. F., GIANESELLA, S. M. F., SILVA, M. B. Microalgal Feedstock for Bioenergy: Opportunities and Challenges In Biofuels in Brazil, p. 367-392. Springer International Publishing, 2014.

RICHMOND, A. Handbook of microalgal culture: biotechnology and applied phycology. Oxford: Blackwell Science, 2004.

ROBINSON, L. F., MORRISON, A. W., BAMFORTH, M.R. Improvements relating to biosynthesis. Patente europeia n. 261872

RUSSO, D. A. M. T. Estudo do crescimento da microalga Chlorella vulgaris numa água residual tratada, sob diferentes condições de fotoperíodo e

Page 59: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE …sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MIQ14012.pdf · Lixiviado como meio de cultivo celular.....27 2.7.5. Crescimento

59

temperatura. Dissertação de mestrado. Faculdade de Ciência e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2011.

SAN, I., ONAY, T. T. Impact of various leachate recirculation regimes on municipal solid waste degradation. Journal of Hazardous Materials B, v. 87 p. 259-271, 2001

SOUTO, G. D. A. B., POVINELLI, J. Características de lixiviado dos aterros sanitários no Brasil. Anais do 24º Congresso Brasileiro de Engenharia Ambiental e Sanitária. Belo Horizonte, MG, 2006.

SPERLING, M. V. Princípios básicos do tratamento de esgotos, vol. 2. Minas Gerais: SEGRAC, 1996.

SPOLAORE, P., C. JOANNIS-CASSAN, E. DURAN & A. ISAMBERT. Optimization of Nannochloris oculata growth using the response surface method. Journal of Chemical Technology and Biotechnology, n. 81, p. 1049-1056, 2006.

STERL Project. Case Study: SARDI Aquatic Sciences ̶ Microalgal fuels. Disponível em < http://www.stelr.org.au/biodiesel-case-study/>.

SU, Y. Absetzbare Algen-Bakterien-Kulturen für Kommunale Abwasserreinigungen. Tese (Doutorado em Recursos Naturais, Energia e Meio Ambiente). Leuphana Universität Lüneburg, Alemanha, 2012.

SUALI, E. & R. SARBATLY. Conversion of microalgae to biofuel. Renewable & Sustainable Energy Reviews, v. 16, p. 123-132, 2012.

TAM, N. F. Y. WONG, Y. S. Wastewater nutrient removal by Chlorella pyrenoidosa and Scenedesmus sp. Environmental Pollution v.58.1, p.19-34, 1989

TILLMANN, A. C. Avaliação da Eficiência Ambiental de Trincheiras para Disposição Final de Resíduos Sólidos Urbanos operados com Recirculação de Lixiviado. Dissertação (Mestrado em Gerenciamento Ambiental). UNISINOS, 2003.

VALE SOLUÇÕES AMBIENTAIS. O Processo. Disponível em < http://www.valesolucoesambientais.com.br/>

WONG, M. H., LI, M. M., LEUNG, C. K., LAN, C. Y., Decontamination of landfill leachate by soils with different textures. Biomedical and Environmental Science, v. 3, p. 429-442, 1990.

YUAN, X., KUMAR, A., SAHU, A.K., ERGAS, S.J. 2011. Impact of ammonia concentration on Spirulina platensis growth in an airlift photobioreactor. Bioresource Technology v.102, p. 3234-3239, 2011.

XIA, C., ZHANG, J., HU, B. A new cultivation method for microbial oil production: cell pelletization and lipid accumulation by Mucor circinelloides. Biotechnology for biofuels, v.4, p. 4-15, 2011.

ZHOU, W.G., LI, Y.C., MIN, M., HU, B., CHEN, P., RUAN, R. Local bioprospecting for high-lipid producing microalgal strains to be grown on concentrated municipal wastewater for biofuel production. Bioresource Technology v. 102, p. 6909-6919, 2011.