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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO MARINA MAURO GOMES DEGRADAÇÃO ANAERÓBIA DE PAPEL COM RECUPERAÇÃO DE METANO UTILIZANDO-SE CONSÓRCIO POTENCIALMENTE CELULOLÍTICO E METANOGÊNICO SÃO CARLOS 2015

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO

MARINA MAURO GOMES

DEGRADAÇÃO ANAERÓBIA DE PAPEL COM

RECUPERAÇÃO DE METANO UTILIZANDO-SE

CONSÓRCIO POTENCIALMENTE CELULOLÍTICO E

METANOGÊNICO

SÃO CARLOS

2015

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MARINA MAURO GOMES

DEGRADAÇÃO ANAERÓBIA DE PAPEL COM

RECUPERAÇÃO DE METANO UTILIZANDO-SE

CONSÓRCIO POTENCIALMENTE CELULOLÍTICO E

METANOGÊNICO

Trabalho de Graduação apresentado à Escola

de Engenharia de São Carlos da Universidade

de São Paulo, para a obtenção do título de

Graduada em Engenharia Ambiental.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Bernadete Amâncio Varesche.

Co-orientadora: Msc. Lívia Silva Botta.

SÃO CARLOS

2015

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DEDICATÓRIA

Dedico à minha família, com carinho, pelo

incentivo e apoio para que eu atingisse meus

objetivos.

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AGRADECIMENTOS

À Deus pela saúde, oportunidade e força para superar as dificuldades;

Aos meus pais e irmãos, pelo incentivo, amor e carinho;

À minha orientadora Profa. Dra. Maria Bernadete Amâncio Varesche por todo o aprendizado

proporcionado durante o período de trabalho, pela oportunidade, atenção e orientação;

À pesquisadora MSc. Lívia Silva Botta pela motivação, ensinamentos, amizade e pela

contribuição para o meu crescimento pessoal e profissional;

À especialista de laboratório Dra. Isabel Kimiko Sakamoto pelo auxílio na análise de Biologia

Molecular;

À especialista em laboratório Dra. Maria Angela Talarico Adorno pela ajuda nas análises de

cromatografia gasosa;

À pesquisadora Dra. Inês Tomita por estar sempre à disposição para me auxiliar;

Aos pesquisadores do Laboratório de Processos Biológicos, por compartilhar experiências e

pelas orientações que contribuíram para o meu desenvolvimento;

Ao Eder, pelo companheirismo, compreensão e apoio;

Às amigas, Cristiane e Luma, pelos conselhos e incentivo durante a graduação e ao longo da

realização deste estudo;

À esta universidade e seu corpo docente pelos valiosos fundamentos transmitidos;

Ao CNPq pelo apoio financeiro;

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“Foi o tempo que dedicastes a tua rosa que a fez tão

importante” (Antoine de Saint-Exúpery)

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RESUMO

GOMES, M.M. Degradação anaeróbia de papel com recuperação de metano utilizando-

se consórcio microbiano potencialmente celulolítico e metanogênico. 2015. 66 f. Trabalho

de Graduação – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos,

2015.

Neste estudo teve-se o intuito de obter um consórcio microbiano misto e aplicá-lo em reatores

em batelada, a fim de avaliar a degradação anaeróbia de papel sulfite sem uso e papel residual

de escritório, com recuperação de metano. O consórcio microbiano foi obtido a partir de

fluido de rúmen bovino e lodo de reator UASB. Os ensaios foram conduzidos em triplicata de

reatores, em meio reacional composto por meio mineral, biomassa microbiana e substrato.

Foram realizados ensaios com o substrato papel sulfite sem uso (papel limpo) nas

concentrações: (1) 2,5; (2) 5,0 e (3) 10,0 g/L e com o substrato papel de escritório usado

(papel residual) nas concentrações de (4) 5,0 e (5) 10,0 g/L. O pH inicial do meio foi mantido

em 6,8, o headspace foi preenchido com N2 (99,99%) e os reatores foram incubados a 37oC

por cerca de 30 dias. Durante este período a produção de metano, ácidos orgânicos voláteis e

álcoois, série de sólidos totais, pH, demanda química de oxigênio e carboidratos totais foram

monitorados. Os rendimentos de metano obtidos nos ensaios (1), (2) e (3) foram de 14; 10 e

9,6 mmol CH4/ g de papel sem uso, respectivamente. Para os ensaios (4) e (5) obteve-se

rendimentos de 11,3 e 14 mmol CH4/ g de papel residual, respectivamente. O consumo de

substrato durante o período de incubação foi de 66%; 56%; 78%; 63% e 83% para os ensaios

(1), (2), (3), (4) e (5), respectivamente. Foram detectados ácidos orgânicos em todos os

ensaios, sobretudo os ácidos acético, butírico e propiônico. O pH final dos ensaios (1), (2),

(3), (4) e (5) foi de, respectivamente, 7,9; 6,4; 6,5; 6,4 e 6,5. Por meio da análise de

PCR/DGGE observou-se redução da diversidade microbiana para os Domínios Bacteria e

Archaea à medida que ocorreu o acréscimo da concentração de substrato nos reatores com

papel limpo. Em relação ao substrato papel residual verificou-se aumento da diversidade

populacional dos Domínios Bacteria e Archaea conforme houve aumento da concentração de

substrato nos reatores em batelada, além do melhor rendimento metanogênico.

Palavras-chave: Fluido de rúmen. Lodo de reator UASB. Consórcio microbiano. Papel

limpo. Papel residual.

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ABSTRACT

GOMES, M.M. Anaerobic digestion of paper with methane recovery using a potentially

cellulolytic and methanogenic consortium. 2015. 66 f. Trabalho de Graduação – Escola de

Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2015.

This study aimed to obtain a mixed microbial consortium to be applied as inoculum in

anaerobic batch reactors to evaluate anaerobic degradation of clean office paper and waste

office paper, with methane recovery. The microbial consortium was obtained from bovine

rumen fluid and granular slugde from UASB reactor. The tests were performed in batch

flasks, in triplicate, with reaction medium composed of mineral medium, microbial biomass

and substrate. Tests were performed using clean office paper in concentrations of (1) 2,5; (2)

5,0; (3) 10,0 g/L and waste office paper in concentrations of (4) 5,0 and (5) 10,0 g/L. The

initial pH was 6,8, headspace was filled with N2 (99,99%) and the reactors were incubated at a

temperature of 37oC for about 30 days. During this period, the following parameters were

monitored: methane generation, volatile organic acids and alcohols production, the series of

total solids, pH, chemical oxygen demand and total soluble carbohydrates. The methane

yields obtained for tests (1), (2) and (3) were 14, 10 and 9,6 mmol CH4/g substrate,

respectively. The tests (4) and (5) produced methane yields of 11,3 and 14 mmol CH4/g

substrate, respectively. Substrate consumption percentage was 66%, 56%, 78%, 63% and

83%, respectively for the tests (1), (2), (3), (4) and (5). The volatile organic acids were

detected in all reactors, mainly acetic acid, butyric acid and propionic acid. Final pH values

were 7,9; 6,4; 6,5; 6,4 and 6,5 for the tests (1), (2), (3), (4) and (5), respectively. From

PCR/DGGE analysis it was possible to observe a decrease in the microbial diversity of

Domains Bacteria and Archaea when substrate concentration was increased in reactors with

clean office paper. In the case of waste office paper was the substrate, the reactors showed an

increase of microbial diversity of Domains Bacteria and Archaea with the enhancement of

concentration, in addition to higher methane yields.

Key-words: Rumen fluid. UASB reactor sludge. Microbial consortium. Clean office paper.

Residual office paper.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 4.1 – Fluxograma das atividades realizadas. ................................................................. 27

Figura 4.2- Lisímetro de bancada em operação ........................................................................ 30

Figura 5.1– Variação temporal de metano nos reatores em batelada com papel limpo. ......... 36

Figura 5.2– Variação temporal de gás carbônico nos reatores em batelada com papel limpo. 36

Figura 5.3 – Variação temporal de produção dos ácidos propiônico, butírico e acético nos

reatores em batelada com 2,5 g/L de papel limpo. ................................................................... 39

Figura 5.4 – Variação temporal da produção dos ácidos capróico, valérico, isovalérico e

isobutírico nos reatores em batelada com 2,5 g/L de papel limpo. .......................................... 39

Figura 5.5 – Variação temporal da produção dos ácidos propiônico, butírico e acético nos

reatores com 5,0 g/L de papel limpo. ....................................................................................... 40

Figura 5.6 – Variação temporal da produção dos ácidos capróico, valérico,isovalérico e

isobutírico nos reatores com 5,0 g/L de papel limpo. ............................................................... 40

Figura 5.7 – Variação temporal da produção dos ácidos propiônico, butírico e acético nos

reatores com 10,0 g/L de papel limpo. ..................................................................................... 41

Figura 5.8 – Variação temporal dos ácidos capróico, valérico, isovalérico e isobutírico nos

reatores com 10,0 g/L de papel limpo. ..................................................................................... 42

Figura 5.9 – Variação temporal da DQO dos reatores em batelada com 2,5; 5,0 e 10,0g/L de

papel limpo. .............................................................................................................................. 43

Figura 5.10 – Variação temporal de carboidratos totais solúveis para os reatores em batelada

com 2,5; 5,0; 10,0 g/L de papel limpo. ..................................................................................... 44

Figura 5.11 – Reatores com 2,5 g/L de papel limpo................................................................ 46

Figura 5.12 – Reator com 5,0 g/L de papel limpo. .................................................................. 46

Figura 5.13 – Reator com 10,0 g/L de papel limpo. ................................................................ 47

Figura 5.14 – Variação temporal de metano nos reatores com 5,0 e 10,0 g/L de papel residual

.................................................................................................................................................. 48

Figura 5.15 – Variação temporal da produção de gás carbônico nos reatores com 5,0 e 10,0

g/L de papel residual................................................................................................................. 49

Figura 5.16 – Variação temporal da produção dos ácidos propiônico, butírico e acético nos

reatores com 5,0 g/L de papel residual. .................................................................................... 50

Figura 5.17 – Variação temporal da produção dos ácidos capróico, valérico, isovalérico e

isobutírico nos reatores com 5,0 g/L de papel residual. ........................................................... 50

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Figura 5.18 – Variação temporal da produção dos ácidos propiônico, butírico e acético nos

reatores com 10,0 g/L de papel residual. .................................................................................. 51

Figura 5.19 – Variação temporal da produção dos ácidos propiônico, butírico e acético nos

reatores com 10,0 g/L de papel residual. .................................................................................. 51

Figura 5.20 – Variação temporal da Demanda Química de Oxigênio solúvel nos de reatores

com 5,0 e 10,0 g/L de papel residual. ....................................................................................... 52

Figura 5.21 – Variação temporal de carboidratos solúveis nos reatores com 5,0g/L de papel

residual. .................................................................................................................................... 53

Figura 5.22 – Reatores com 5,0 g/L de papel residual. ............................................................ 54

Figura 5.23 – Reatores com 10,0 g/L de papel residual em fase de encerramento. ................. 55

Figura 5.24 – Dendograma para Domínio Bacteria baseado no coeficiente de similaridade de

Pearson a partir do padrão de bandas do DGGE. In_Rumen: inóculo fluido de rúmen;

In_lodo: inóculo lodo; R2,5_Lim: ensaio 2,5 g/L de papel limpo; R5,0_Lim: ensaio 5,0 g/L de

papel limpo; R10,0_Lim: ensaio 10,0 g/L de papel limpo; R5,0_Res: ensaio 5,0 g/L de papel

residual; R10,0_Lim: ensaio 10,0 g/L de papel residual. ......................................................... 57

Figura 5.25 – Dendograma para Domínio Archea baseado no coeficiente de similaridade de

Pearson a partir do padrão de bandas do DGGE. In_Rumen: inóculo fluido de rúmen;

In_lodo: inóculo lodo; R2,5_Lim: ensaio 2,5 g/L de papel limpo; R5,0_Lim: ensaio 5,0 g/L de

papel limpo; R10,0_Lim: ensaio 10,0 g/L de papel limpo; R5,0_Res: ensaio 5,0 g/L de papel

residual; R10,0_Lim: ensaio 10,0 g/L de papel residual. ......................................................... 58

Figura 5.26 – Variação temporal de DQO solúvel em lisímetro de bancada. .......................... 60

Figura 5.27 – Variação temporal de carboidratos solúveis em lisímetro de bancada. ............. 60

Figura 5.28 – Ácidos propiônico, butírico e acético entre os 25o e 51

o dias de operação do

lisímetro com papel residual. .................................................................................................... 61

Figura 5.29 – Ácidos capróico, valérico, isovalérico e isobutírico entre os 25o e 51

o dias de

operação do lisímetro com papel residual. ............................................................................... 61

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LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1 – Condições utilizadas na PCR para o DGGE ........................................................ 34

Tabela 5.1 – Sólidos totais nos reatores com 2,5 g/L de papel limpo no início da incubação. 44

Tabela 5.2 – Sólidos totais nos reatores com 2,5 g/L de papel limpo no final da incubação. .. 45

Tabela 5.3 – Sólidos totais nos reatores com 5,0 g/L de papel limpo no início da operação. .. 45

Tabela 5.4 – Sólidos totais nos reatores com 5,0 g/L de papel limpo no final da operação. .... 45

Tabela 5.5 – Sólidos totais nos reatores com 10,0 g/L de papel limpo no início da operação. 45

Tabela 5.6 – Sólidos totais nos reatores com 10,0 g/L de papel limpo no final da operação. .. 46

Tabela 5.7– Sólidos totais nos reatores com 5,0 g/L de papel residual no início da operação. 53

Tabela 5.8 – Sólidos totais nos reatores com 5,0 g/L de papel residual no final da operação. 53

Tabela 5.9 –Sólidos totais nos reatores com 10,0 g/L de papel residual no início da operação.

.................................................................................................................................................. 54

Tabela 5.10 – Sólidos totais nos reatores com 10,0 g/L de papel residual no início da

operação. ................................................................................................................................... 54

Tabela 5.11 – Parâmetros obtidos para os ensaios com substrato papel limpo: (1) 2,5 /L; (2)

5,0 g/L e (3) 10,0 g/L e substrato papel residual: (4) 5,0 g/L e (5) 10,0 g/L. ........................... 56

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LISTA DE SIGLAS

CSTR- Continuous stirred-tank reactor

DGGE- Eletroforese em Gel de Gradiente Desnaturante

DNA- Deoxyribonucleic acid

DQO- Demanda Química de Oxigênio

Embrapa- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

GC- Gas Chromatography

PBM-Potencial Bioquímico de Metano

PCR- Reação em Cadeia de Polimerase

pH- Potencial Hidrogeniônico

PNRS- Política Nacional de Resíduos Sólidos

ST-Sólidos Totais

STV- Sólidos Totais Voláteis

STF- Sólidos Totais Fixos

TAE- Tris-Acetate-EDTA

TDH- Tempo de Detenção Hidráulica

UASB- Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente em Manto de Lodo

UPGMA- Unweighted Pair Group Method with Arithmetic Mean

UV- Ultravioleta

SS-AD- Solid-state Anaerobic Digestion

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16

2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 18

2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 18

2.2 Objetivos Específicos .................................................................................................... 18

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 19

3.1 Degradação anaeróbia e produção de metano ........................................................... 19

3.2 Resíduos Sólidos e Recuperação de Energia .............................................................. 21

3.3 Biorreatores para fermentação de resíduos sólidos celulósicos a biogás ................. 24

4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................ 27

4.1 Inóculo ............................................................................................................................ 27

4.2 Meio de Cultivo ............................................................................................................. 28

4.3 Ensaios em Reatores Anaeróbios em Batelada .......................................................... 28

4.4 Lisímetro ........................................................................................................................ 29

4.4.1 Unidade Experimental .............................................................................................. 29

4.4.2 Substrato orgânico .................................................................................................... 30

4.4.3 Umidade Papel ......................................................................................................... 31

4.4.4 Camada Filtrante–pedregulho .................................................................................. 31

4.4.5 Procedimentos para o preenchimento do lisímetro .................................................. 31

4.4.6 Amostragens ............................................................................................................. 32

4.4.7 Aspersão Meio Mineral ............................................................................................ 32

4.5 Análises Físico-químicas e Cromatográficas .............................................................. 32

4.6 Ajuste dos dados experimentais ................................................................................... 33

4.7 Biologia Molecular ........................................................................................................ 33

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................... 34

5.1 Papel ............................................................................................................................... 34

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5.2 Ensaios com papel sem uso .......................................................................................... 35

5.3 Ensaios com papel residual .......................................................................................... 47

5.4 Análise Comparativa entre os Ensaios em Batelada ................................................. 55

5.5 Análise de Biologia Molecular ..................................................................................... 56

5.6 Lisímetro ........................................................................................................................ 59

5. CONCLUSÕES ............................................................................................................... 61

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 64

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16

1 INTRODUÇÃO

Os combustíveis fósseis compõem a maior parcela da matriz energética mundial,

apesar de se tratar de uma fonte energética não renovável e de serem os principais atores de

problemas ambientais, tais quais o aquecimento global e a emissão de poluentes atmosféricos.

O fornecimento do petróleo por países que concentram as grandes jazidas obedecem às leis de

mercado e está vulnerável às crises políticas e econômicas, haja vista a crise ocorrida na

década de 70.

Diante da crescente demanda energética decorrente do aumento populacional, há

necessidade de redução da dependência de combustíveis fósseis, o que motiva estudos acerca

de combustíveis de fontes renováveis cujo impacto ambiental seja reduzido.

O aproveitamento de resíduos municipais tem sido empregado em grande escala na

geração de biogás a fim de solucionar, tanto a questão da disposição final desses resíduos,

bem como a necessidade de se obter energia renovável e eficaz. O biogás é resultado da

digestão anaeróbia de matéria orgânica, seja de origem vegetal ou animal, e sua composição

varia de acordo com as características dos resíduos utilizados como substrato de fermentação

e com as condições de operação do biodigestor. No entanto, há predominância de metano e

gás carbônico.

Para a escolha do substrato deve-se considerar a disponibilidade, o teor de

carboidratos, o seu custo e a sua biodegradabilidade. Destaca-se que para as fontes puras de

carboidratos tem-se alto rendimento, todavia, seu custo de produção torna-se maior. Açúcares,

amido, lipídeos e proteínas são facilmente degradados por micro-organismos, enquanto

frações ligno-celulósicas são mais resistentes à degradação.

Resíduos sólidos celulósicos e ligno-celulósicos têm sido muito estudados como fontes

renováveis para a produção de hidrogênio, especialmente pela celulose ser a biomassa mais

abundante do planeta. Tais compostos compreendem os resíduos domésticos, resíduos

florestais e resíduos da agricultura (NTAIKOU et al., 2008).

O papel é um composto celulósico presente em altas porcentagens nos resíduos sólidos

municipais. O aumento da população mundial, com projeções próximas de 8,1 bilhões para

2025 (United Nations Environment Programme, 2013) e o elevado crescimento dos centros

urbanos dificulta o gerenciamento dos resíduos municipais devido ao aumento do volume

gerado.

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17

Dentre os resíduos descartados, o papel e materiais feitos de papelão ainda são parcela

significativa, apesar do predomínio de meios digitais de comunicação e do avanço

tecnológico. Portanto, o uso de papel como recurso energético e seu gerenciamento adequado

implicaria redução do volume disposto em aterros sanitários de modo a aumentar sua vida

útil, bem como possibilitaria a geração de energia limpa e renovável.

Muitas pesquisas tem considerado o papel, sobretudo em sua forma hidrolisada, como

substrato para a geração de biogás. Dessa forma, por meio da aplicação de processo

biotecnológico, tem-se uma medida mitigadora para os modelos de disposição em aterros

sanitários em virtude do papel ser reutilizado visando à geração de energia.

Por meio de ensaio de Potencial Bioquímico de Metano (PBM), Valle (2010) analisou

a capacidade de vários materiais de produzir metano, tais quais resíduos sanitários, têxteis,

papel/papelão, plástico, borracha e couro. Os maiores potenciais de geração de biogás

determinados no ensaio foram obtidos para os seguintes substratos: resíduos sanitários,

materiais têxteis, papel e papelão.

Portanto, a utilização da microbiota fermentativa e metanogênica com o intuito de

gerar biogás a partir da degradação de resíduos sólidos celulósicos não apenas contribui com a

preservação ambiental devido ao reaproveitamento dos resíduos, mas também tem-se, por

meio da sua aplicação, simplicidade operacional, sendo economicamente viável.

Conforme descrito na literatura, há possibilidade de recuperação de energia na forma

de biogás por meio de biorreator para degradação anaeróbia de resíduos sólidos celulósicos.

Algumas pesquisas com biorreatores já foram realizadas com o objetivo de determinar os

melhores parâmetros operacionais para a obtenção dos máximos rendimentos de biogás. O

efeito da umidade do substrato, bem como a melhor proporção entre resíduo e inóculo

adicionado aos biorreatores foram analisados anteriormente. Contudo, há poucos relatos

acerca do potencial específico para a geração de biogás em biorreatores a partir de compostos

celulósicos não hidrolisados, com controle de umidade e utilizando um inóculo

essencialmente celulolítico.

Portanto, é necessário o estudo dos melhores parâmetros operacionais de biorreatores

para a produção de biogás utilizando resíduos celulósicos, de modo a impulsionar a geração

de energia a partir de fontes renováveis. Ao serem estabelecidas as condições operacionais

funcionais dos biorreatores para degradar papel de escritório, a aplicação do processo poderá

abranger vários tipos de papéis de despejo e resíduos da indústria de papel e celulose.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Obter consórcio microbiano misto a partir de fluido de rúmen bovino e lodo anaeróbio

de reator UASB aplicado em reatores anaeróbios em batelada para degradação de papel com

recuperação de energia na forma de metano.

2.2 Objetivos Específicos

Avaliar o potencial metanogênico do consórcio microbiano com papel limpo e papel

residual de escritório como substratos em reatores em batelada;

Avaliar a produção de biogás em lisímetro de bancada (20L) com papel residual de

escritório;

Avaliar a produção de compostos orgânicos em meio líquido;

Avaliar a diversidade dos Domínios Bacteria e Archaea.

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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Degradação anaeróbia e produção de metano

O desenvolvimento não baseado nos preceitos da sustentabilidade e a exploração

irracional dos combustíveis fósseis, bem como a perspectiva do aumento do preço do petróleo

vêm motivando esforços para desenvolver fontes alternativas de energia (COSTA et al.,

2014).

A indústria está buscando uma matéria-prima de baixo custo, renovável, abundante e

acessível para produzir biocombustível, seja entre resíduos agropecuários, seja entre os vários

tipos de biomassa. Enquanto isso, a crescente geração de material descartado relacionado ao

aumento da população e dos padrões de vida são um desafio no mundo inteiro para os

sistemas de gerenciamento de resíduos (WANG; TEMPLER; MURPHY, 2012).

Por meio da aplicação da digestão anaeróbia tem-se a recuperação de energia

associada ao processo, cujo impacto ambiental é limitado. Além disso, esta possibilidade de

degradação é a alternativa mais limpa para a decomposição de resíduos orgânicos

(ALVAREZ; MACÉ; LLABRÉS, 2000). Este processo ocorre por meio de um consórcio de

micro-organismos variados em diferentes ambientes, incluindo sedimentos, solos úmidos,

intestinos de animais e aterros sanitários (CHYNOWETH, 2001).

A fermentação de resíduos cuja composição contém celulose, aliada ao processo de

metanogênese, sustentam a promessa dupla de produção de metano e reaproveitamento de

resíduos. A formação de gases combustíveis por digestão anaeróbia de resíduos orgânicos é

bastante atrativa (TAHERZADEH; KARIMI, 2008).

A digestão anaeróbia é um complexo processo em que diversas populações de micro-

organismos participam da degradação da matéria orgânica. Esse processo depende, dentre

outros fatores, do pH, da temperatura, do conteúdo orgânico e dos componentes tóxicos

presentes (HERMANSSON, 2012). Não há disponibilidade de um modelo de digestão

anaeróbia que apresente os melhores parâmetros de operação para um controle ótimo, o que

motivou muitos estudos visando a esse objetivo. Entretanto, há muitas dificuldades em

modelar a fermentação e a metanogênese a partir de frações orgânicas de resíduos sólidos

municipais, uma vez que há várias etapas e micro-organismos envolvidos (ALVAREZ;

MACÉ; LLABRÉS, 2000).

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A obtenção do metano da digestão anaeróbia é bastante atrativa em termos de

eficiência e custo diante de outras formas de energia de biomassa, inclusive no aquecimento,

na síntese de gases e até mesmo de etanol. Portanto, a tendência é o aumento do uso desse

combustível para eletrodomésticos, veículos e equipamentos industriais. Apesar de algumas

aplicações exigirem metano altamente purificado, esse gás pode ser utilizado em várias

porcentagens de purificação e eficiência, além da conversão energética ser boa quando

comparada a energia elétrica (CHYNOWETH, 2001).

A digestão anaeróbia é um processo que acontece em quatro etapas: hidrólise,

acidogênese, acetogênese e metanogênese. A primeira delas envolve a transformação, por

intermédio de enzimas, de moléculas insolúveis e de alta massa, como lipídios,

polissacarídeos, proteínas e ácidos nucléicos, a compostos orgânicos solúveis, isto é, passíveis

de serem usados como fonte de energia, tais quais monossacarídeos, aminoácidos e outras

moléculas orgânicas simples. Esta etapa é chamada de hidrólise, a qual é realizada por

bactérias anaeróbias, como Bacteroidese Clostridium, e por bactérias facultativas, como

Streptococus. Na segunda etapa, a acidogênese, outro grupo de micro-organismos

fermentativos sintetiza ácidos orgânicos, como os ácidos propiônico e butírico (YADVIKA et

al., 2004).

Na acetogênese ocorre a oxidação dos ácidos orgânicos resultantes da acidogênese e

geração de ácido acético, hidrogênio e dióxido de carbono (DRAPCHO; NHUAN;

WALKER, 2008).

Por meio da digestão anaeróbia, os micro-organismos oxidam parcialmente a matéria-

orgânica produzindo energia e biomassa, de modo a promover seu crescimento. Esta oxidação

libera elétrons, os quais são neutralizados por aceptores de elétrons e prótons do meio,

formando hidrogênio molecular por meio de enzimas hidrogenases. (NANDI; SENGUPTA,

1998).

Na quarta etapa, ácido acético, ácido fórmico, hidrogênio e dióxido de carbono são

convertidos em uma mistura de metano e dióxido de carbono por meio das arqueias

metanogênicas (consumidoras de acetato, como Methanosarcina spp. e Methanosaeta spp.,

além de populações consumidoras de hidrogênio, como Methanobacterium e Methanococcus)

(YADVIKA et al., 2004).

Na metanogênese, o metano pode ser produzido por duas vias por meio de dois grupos

distintos de micro-organismos. Em umas das vias, o H2 é doador de elétrons e o CO2 é

oxidado para liberação de CH4 (Eq. 1). Pela segunda via, acontece a conversão de ácido

acético a metano e dióxido de carbono. Aproximadamente 2/3 do volume de metano

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produzido é derivado da metanogênese acetoclástica (Eq. 2). A completa conversão de

carboidratos a metano na digestão anaeróbia resulta em 85 a 90 % de recuperação de energia

(DRAPCHO; NHUAN; WALKER, 2008). A pressão do hidrogênio gasoso necessita estar

baixa para a acetogênese ser termodinamicamente favorável. Na metanogênese, os micro-

organismos consomem o hidrogênio e mantém a pressão do gás reduzida. O biogás resultante

é composto, geralmente, por 50-70% de metano e 30-50% de dióxido de carbono

(SCHNURER; JARVIS, 2009).

(Eq. 1)

(Eq. 2)

Há três diferentes intervalos de temperatura em que os micro-organismos

metanogênicos são ativos: psicrofílica (0-20oC), mesofílica (25-40

oC) e termofílica (50-60

oC)

(SEADI, 2008). Condições mesofílicas são amplamente utilizadas para a digestão anaeróbia

em virtude do processo, nessa faixa de temperatura, ser mais eficiente e exigir menos energia

quando comparado com as condições termofílicas (SCHNURER; JARVIS, 2009). Para a

digestão anaeróbia, geralmente a temperatura ideal está em torno de 35o± 1

oC, considerada a

faixa mesofílica ótima (BENBELKACEM et al., 2010).

O biogás pode ser produzido em faixa de pH de 5,5 – 8,5. O metano é produzido em

pH 7-8 e a sua produção decresce consideravelmente em pH inferior a esse intervalo. Micro-

organismos fermentativos e hidrolíticos, geralmente, se desenvolvem em pH abaixo de 7 ( até

mesmo abaixo de 5) (SCHNURER; JARVIS, 2009). A digestão de substratos complexos

resulta na produção de ácidos orgânicos intermediários, desse modo é importante que a

alcalinidade no sistema seja suficiente para manter o pH em faixa ótima, considerada pela

maioria dos autores, como situada entre 6,6 e 7,4 (SPEECE, 1996).

3.2 Resíduos Sólidos e Recuperação de Energia

Por meio da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei n.º

12.305/2010, determinou-se que os municípios brasileiros elaborassem e entregassem seus

respectivos Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos até 2012, impondo a erradicação

dos chamados lixões até o ano de 2014. Contudo, há certo atraso por parte dos municípios

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brasileiros quanto ao acatamento dessa lei, quer por falta de recursos financeiros, quer por

desconhecimento dos seus benefícios. Para o ano de 2013, os estados e municípios deveriam

apresentar os projetos integrados determinados pela PNRS e, para 2014, estava prevista a

conclusão total desses planos, o que não ocorreu (GOMES et al., 2014).

De acordo com a Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos Especiais

(ABRELPE, 2013), entre 2010 e 2011 a geração de resíduos sólidos aumentou 1,8% no

Brasil, o que representou mais de um milhão de toneladas, número significativo, considerando

o prazo de um ano.

A coleta seletiva e a reciclagem são elementos básicos e indispensáveis de todo

sistema de gerenciamento de resíduos sólidos: a coleta é considerada pela PNRS um dos

instrumentos (artigo 8º, inciso III), ao passo que a reciclagem constitui-se em um dos

objetivos da referida lei (artigo 7º, inciso II). De acordo com dados do IBGE, em 2011, dos

5.565 municípios brasileiros, somente 854 informaram a existência de iniciativas de coleta

seletiva (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2011).

A geração de resíduos sólidos é o indicador mais importante para dimensionar a escala

que terão os diferentes serviços do município, além de prever as dificuldades a serem

encontradas nos processos. Portanto, a geração de resíduos é um parâmetro para a tomada de

decisões no que se refere ao planejamento dos sistemas de coleta e disposição final

(ESPINOZA et al., 2011). Verifica-se que existe a necessidade de uma evolução dos

municípios brasileiros no que se refere ao gerenciamento dos resíduos municipais e à

implantação da PNRS, além de estudos sobre novas formas de manejo.

No município de São Carlos, a massa total estimada disposta no aterro sanitário no ano

de 2005 foi de 49.280,12 toneladas, desta quantia, 3.170 toneladas correspondem a papel e

papelão (6,44%) (FRÉSCA, 2007). Quanto à coleta seletiva, Frésca (2007) relatou que a

massa total estimada foi de 748,23 toneladas no mesmo ano, sendo que 376 toneladas eram de

papel e papelão. Segundo o autor, esses são os principais materiais recicláveis

comercializados, contudo seu valor de comercialização é muito baixo. Além disso, a venda

não é contínua em virtude das cooperativas armazenarem material para posterior

comercialização, seja com o intuito de acumular volume maior de material ou de aguardar

melhora do valor no mercado. Por meio da coleta seletiva tem-se a redução da quantidade de

papel e papelão entre os resíduos sólidos de São Carlos, todavia, há papéis cujo processo de

reciclagem é inviabilizado, tais quais papel higiênico, papéis engordurados ou sujos e papel

toalha.

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Resíduos lignocelulósicos, como livros, revistas e jornais, são amplamente disponíveis

já que estão presentes em grandes quantidades em aterros municipais. Uma vez que possuem

altos níveis de carboidratos, os mesmos podem ser facilmente convertidos em energia (WU,

2014).

Os resíduos celulósicos são parte de uma fração biodegradável dos resíduos sólidos

municipais com matéria-prima para a produção de biocombustível. As razões pelas quais essa

afirmação se justifica são as seguintes: (1) resíduos de papel são relativamente abundantes (2)

tais resíduos são relativamente de baixo custo (3) contém alto nível de carboidratos, que são

potencialmente convertidos em biocombustível (4) esses resíduos são facilmente digeridos

sem métodos físicos agressivos ou pré-tratamento químico (5) a utilização de resíduos de

papel para a produção de biocombustível pode oferecer uma alternativa útil e valiosa para o

gerenciamento desses papéis, complementando a reciclagem (6) para aplicação de algumas

tecnologias de reciclagem de papel tem-se algumas limitações, como por exemplo, efetivo

processo de remoção de tintas é necessário para gerar produtos com papel de alta qualidade,

as fibras do papel só podem ser recicladas por apenas alguns ciclos e a reciclagem do papel é

difícil para aqueles que estão misturados com resíduos orgânicos (WANG; TEMPLER;

MURPHY, 2012).

Wayman, Chen e Doak (1992) verificaram que o açúcar produzido a partir da hidrólise

enzimática de papel de escritório foi de 65-80% da carga adicionada (5 e 10%m/m). Kádar,

Szengyel e Réczey (2004) obtiveram 56% e 59% de glicose a partir de papelão e papel de

despejo, respectivamente, com massa inicial de 6% (m/m) em sacarificação e fermentação

simultâneas, com hidrólise enzimática e fermentação de açúcar favorecidas em único reator

em batelada.

Há grande interesse em se obter bons resultados para a produção de biogás utilizando-

se resíduos celulósicos em virtude da grande diversidade de substratos potenciais de baixo

custo, tais como resíduos da agricultura, madeira e resíduos de municípios. Dessa forma, a

produção de energia renovável a partir de resíduos e biomassa desponta entre as principais

estratégias para a geração de energia sustentável, se opondo ao aumento de refugos gerados

pela sociedade. Além disso, a recuperação de energia gerada da fração residual proporciona

subprodutos com valor agregado, como energia e combustíveis (ARANDA et al., 2012).

O papel já foi analisado como substrato em vários estudos, entre eles com a finalidade

de produção de etanol (SAXENA; GARG; VERMA, 1992; LARK et al., 2007) e ácido lático

( SHIMIDT et al., 1997). A possibilidade de se utilizar o lodo de papel e mesmo o papel em si

foram estudadas obtendo-se resultados satisfatórios, com auxílio de cultura pura (NTAIKOU;

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KOUTROS; KORNAROS, 2009), bem como utilizando culturas mistas (BOTTA, 2012;

CHAIRATTANAMANOKORN et al., 2012; WU; ZHOU, 2012).

O uso de lodo de papel ou papel com a finalidade de geração de biogás foi analisado

por diversos estudos bem-sucedidos, nos quais foram utilizados operações em batelada,

culturas puras e até mesmo pré-tratamento dos substratos. Entretanto, o uso de culturas mistas

poderá proporcionar a redução do custo de operação, uma vez que a utilização de culturas

puras em biorreatores de grande escala não é viável devido ao alto custo de manutenção de

condições assépticas e ao risco de contaminação (NTAIKOU; LYBERATOS, 2010).

Portanto, visando à escala real de produção de biogás a partir de resíduos celulósicos, faz-se

necessário novos estudos em que sejam utilizadas culturas mistas de bactérias celulolíticas,

produtoras de hidrogênio e metanogênicas com o intuito de tornar mais interessante a geração

de energia renovável a partir da biomassa celulósica.

3.3 Biorreatores para fermentação de resíduos sólidos celulósicos a biogás

A análise do potencial fermentativo-metanogênico para a digestão anaeróbia de

biomassa visa à possibilidade de recuperação de energia por meio do metano via digestão

anaeróbia de resíduos celulósicos, haja vista que ensaios deste tipo são pouco descritos na

literatura.

O desempenho da geração de biogás depende de estudos e monitoramento da variação

de parâmetros, como temperatura, pH, carga de alimentação do reator, agitação, entre outros.

Qualquer mudança drástica nestas condições poderá afetar a produção de biogás (YADVIKA

et al., 2004).

Baldochi (1990) estudou a decomposição anaeróbia de resíduos municipais por meio

de dois aterros sanitários experimentais cuja forma era de tronco de pirâmide

impermeabilizada e provida de sistemas de drenagem para percolado, gases e águas pluviais,

além de cobertura com manta plástica, solo compactado e grama. As unidades experimentais

foram preenchidas com resíduos unicamente de origem urbana, havendo predominância de

matéria orgânica, papel e plástico, respectivamente. Ao final dos ensaios, foi constatada

atmosfera composta por 59% e 41% (aterro sanitário 1) e 57% e 43% (aterro sanitário 2) para

metano e gás carbônico, respectivamente, quando o acúmulo de ácidos voláteis e DQO

decresceram a níveis mínimos.

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A digestão anaeróbia pode ser realizada seja em sistemas em batelada, seja em reatores

de fluxo contínuo. No entanto, os sistemas em batelada são de operação mais simples se

comparados aos últimos, o que os torna mais atrativos, exigindo menos tecnologias

(DRAPCHO; NHUAN; WALKER, 2008).

Lissens et al. (2004) avaliaram a produção de metano utilizando como substrato

resíduos orgânicos, sendo 70% de resíduos de colheita (1/3 de resíduos de soja, 1/3 de repolho

e 1/3 de trigo), 10% de algas verdes (Spirulina platensis) e 10 % de esterco. Cada componente

do substrato passou por secagem e manutenção a 4oC até que atingisse massa seca de

concentração 2-3%. Foi utilizado reator CSTR, reator de fluxo contínuo perfeitamente agitado

(70 rpm), metanogênico, mantido a 34oC e com pH do meio entre 7,3-7,4. O reator foi

inoculado com lodo granular de reator anaeróbio de indústria de processamento de batatas e

com bactéria isolada de fluido de rúmen bovino, Fibrobacter succinogenes. O reator foi

alimentado diariamente com 1,5-2,5g DQO/L e o tempo de detenção hidráulica (TDH) foi de

20 dias. Após esse período, foi detectada remoção de 78% dos sólidos suspensos voláteis,

72% de celulose, 80% de DQO e atmosfera composta por 65% de metano.

Yen et al. (2006) utilizaram papel impresso fragmentado e lodo de algas como

substrato para produção de metano. Os reatores foram mantidos a temperatura de 35o

C e pH

de 6,5, com operação em fluxo semi-contínuo, alimentação e coleta de amostras líquidas e

gasosas diárias. Foram testados reatores com 4g de sólidos voláteis /L dos substratos: (1)

apenas lodo de algas; (2) 25% de papel + lodo de alga, (3) 50% de papel + lodo de alga e (4)

75% de papel + lodo de alga, com relação C/N de, respectivamente 6,7; 11,8; 18,0 e 36,4. Os

rendimentos de metano resultantes foram de 573, 968, 1.170 e 317 mg/L.dia, respectivamente.

Portanto, reatores com maiores porcentagens de papel como substrato obtiveram aumento do

rendimento metanogênico, contudo pode haver influência da relação C/N presente no

substrato.

Lopes, Leite e Prasad (2004) estudaram a eficiência do inóculo fluido de rúmen

bovino no tratamento anaeróbio de frações orgânicas de resíduos municipais. O trabalho foi

realizado utilizando-se quatro reatores de 20 litros em batelada durante o período de 365 dias,

mantidos a temperatura de 30 oC. As proporções entre resíduos municipais/ inóculo aplicadas

aos reatores foram Reator A (100%/0%), Reator B (95%/5%), Reator C (90%/10%) e Reator

D (85%/15%), de modo que foi introduzido massa total de 10 kg de resíduo municipal e

fluido de rúmen bovino em cada reator. O tempo necessário para a bioestabilização da DQO

nos Reatores A, B, C e D foram de 459, 347, 302 e 234 dias, respectivamente. A produção de

metano produzida durante o período de operação dos Reatores A, B, C e D foram,

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respectivamente, de 3,6%, 13%, 25% e 42,6 %. Segundo os autores, o uso do fluido de rúmen

como inóculo influenciou positivamente o processo de digestão anaeróbia destes resíduos.

Gadow, Li e Liu (2012) compararam a eficiência de produção de hidrogênio e metano,

utilizando celulose como substrato (5g/L), em três temperaturas (37o, 55

o e 80

oC), na presença

de cultura mista sem pré-tratamento. O consórcio microbiano foi obtido a partir de lodo da

estação de tratamento municipal e três reatores CSTR foram operados, cada um deles mantido

em uma das temperaturas mencionadas, com Tempo de Detenção Hidráulica (TDH) de 10

dias. Segundo os resultados obtidos após a estabilização dos ensaios, na condição mesofílica a

composição do biogás foi de 2% de H2 e 26% de CH4, na condição termofílica foi de 51% de

H2 e nenhum volume de CH4 detectado e para a condição hipertermofílica foi de 55% de H2

sem volume de CH4 detectado. Desse modo, os autores verificaram que a maior eficiência de

degradação da celulose para geração de metano ocorreu em temperatura mesofílica, enquanto

para produção de hidrogênio, obtiveram melhores resultados sob condições termofílica e

hipertermofílica.

A quantidade de água presente no meio é um parâmetro de grande relevância, uma vez

que esta condiciona reações enzimáticas e contribui com o metabolismo dos micro-

organismos. Dessa forma, a disponibilidade hídrica ideal é capaz de maximizar o tratamento

de resíduos por digestão anaeróbia (TCHOBANOGLOUS; THEISEN; VIGIL, 1993).

A importância do teor de umidade para digestão anaeróbia de biomassa e recuperação

de energia foi evidenciada por Leite et al. (2009). No estudo sobre tratamento anaeróbio de

resíduos orgânicos vegetais, comparou-se a alta concentração de sólidos totais (20%) e 80%

de umidade e baixa concentração de sólidos totais (5 %) e 95 % de umidade. Os autores

verificaram que a taxa de produção de metano foi maior para a condição com maior

concentração de sólidos por massa de DQO aplicada (0,25 Nm3CH4/ Kg DQO aplicada)

diante daquela com baixa concentração (0,10 Nm3 CH4/ Kg DQO aplicada). Contudo, para a

condição com maior concentração de sólidos, o tempo de retenção para redução de DQO em

80% foi três vezes maior do que para a outra condição.

Diante disso, a determinação de condições de umidade para a se obter os melhores

rendimentos de metano a partir de resíduos sólidos celulósicos é de grande interesse.

Por meio deste estudo buscou-se avaliar o potencial de papel sulfite sem uso (papel

limpo) e papel de escritório (papel residual) como substrato para produção de

biocombustíveis renováveis, em especial o metano. Diferentes concentrações de papel foram

estudadas e comparou-se a eficiência de obtenção de metano a partir de papel residual à

eficiência obtida com papel limpo, em reatores anaeróbios em batelada. Além disso, foi

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realizada operação de lisímetro de bancada para fermentação de substrato semi-sólido (papel

com teor de umidade 80%), a fim de verificar a possibilidade de recuperar metano, nessa

configuração de reator, usando consórcio microbiano misto advindo do fluido de rúmen e

lodo granular de reator UASB.

4 MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo consistiu na obtenção de um inóculo celulolítico metanogênico a partir de

fluido de rúmen bovino e lodo de reator UASB, empregado no tratamento de água residuária

de abatedouro de aves, de forma a promover a degradação eficiente de matéria orgânica

celulósica e produção de metano. Posteriormente, o inóculo foi aplicado em biorreatores para

fermentação e metanogênese a partir de resíduos sólidos (papel limpo e papel residual) com

recuperação de energia na forma de metano. O substrato papel limpo consistiu em papel

sulfite não utilizado fragmentado e o substrato papel residual apresentava em sua composição

mistura de papel pardo, cartolina, havendo predominância de papel sulfite com tinta e papel

de revista. A seguir, a Figura 4.1 representa o fluxograma das atividades realizadas.

4.1 Inóculo

in cu o foi o tido do fluido de rúmen bovino, cedido pela Embrapa Pecuária

Sudeste (Fazenda Canchin, São Carlos, SP), e do odo anaer io de reator usado no

Lodo do reator

UASB e fluido

de rúmen bovino

Adição do meio de

cultivo;

Adição do substrato

fragmentado;

Aplicação de consórcio

microbiano celulolítico

metanogênico;

N2 gasoso.

ANÁLISES:

CH4

Ácidos orgânicos e

álcoois

pH

Sólidos Totais

Voláteis (STV)

DQO

Carboidratos Totais

Solúveis

Figura 4.1 – Fluxograma das atividades realizadas.

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tratamento de gua residu ria de a atedouro de aves v co a a ar iet ara a

inocu a ão o f uido de r men foi utilizado in natura e o lodo granulado foi avado com gua

destilada para a retirada de impurezas advindas do sistema de tratamento de abatedouro de

aves, o qual foi desestruturado em liquidificador.

4.2 Meio de Cultivo

A composição do meio de cultivo utilizado consistiu em micronutrientes (10 mL.L-1

),

água ultrapurificada, soluções-estoque de macronutrientes (10 mL.L-1

) e de vitaminas (10

mL.L-1

), segundo meio LMG 94 modificado (ATLAS, 2005). As soluções-estoque foram

esterilizadas previamente por meio de filtração em membrana (0,22 μm), utilizando-se

sistema de filtração previamente esterilizado em autoclave a 121oC e 1 atm, durante 20

minutos. A solução de vitaminas continha (mg.L-1

): ácido lipóico, 5; Piridoxina-HCl, 10;

ácido fólico; DL - pantotenato de cálcio, 5; riboflavina; ácido nicotínico, 5; tiamina – HCl, 5;

biotina, 2; vitamina B12, 2. A solução de macronutrientes consistiu em (g.L-1

): NH(4)2SO4,

0,15; NH4Cl, 0,68;MgSO4.7H2O, 0,12; KH2PO4, 0,18; K2HPO4, 0,296. A composição da

solução de micronutrientes foi de (mg.L-1

): ácido nitriloacético,15; CaCl2.6H2O,

61;Na2MoO4.2 H2O, 0,1;KAl(SO4)2.12H2O, 0,1; FeSO4.7 H2O, 21; NaCl, 10; MnSO4.H2O, 5;

CoCl2.6 H2O, 1; CuSO4.5 H2O, 0,1; H3BO3, 0,1;ZnSO4.7 H2O, 1.O pH do meio de cultura foi

mantido em 6,8.

4.3 Ensaios em Reatores Anaeróbios em Batelada

Foram montados reatores anaeróbios em triplicata para incubação em temperatura

mesofílica (37 oC) para três concentrações do substrato papel limpo: (1) 2,5 g/L de papel (2)

5,0 g/L de papel e (3) 10,0 g/L de papel. Além disso, foram montados reatores em triplicata,

nas mesmas condições, para o substrato papel residual em duas concentrações: (4) 5,0 g/L de

papel e (5) 10,0 g/L de papel.

O meio reacional foi preparado, conforme o descrito, e inserido nos reatores junto com

o substrato. O papel residual de escritório foi coletado no Departamento de Hidráulica e

Saneamento e, tanto o substrato papel residual como o papel sulfite sem uso foram

fragmentados em máquina fragmentadora de papel PROCALC ES9520.

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Para inoculação dos reatores, foram adicionados 20% v/v de inóculo, correspondendo a

70% de fluido de rúmen e 30% de lodo de reator UASB. Em seguida, os biorreatores foram

fluxionados com N2 (99,99%), por 15 minutos, visando à troca de atmosfera do headspace e

remoção de oxigênio, mantendo-se o sistema em anaerobiose. Os biorreatores foram fechados

com tampa de butila e rosca plástica e foram incubados em estufa.

Os ensaios (1), (2) e (4) foram montados em frascos Duran com volume total de 2 L,

dos quais 1 L era composto de meio reacional (meio de cultivo, biomassa microbiana e

substrato) e 1 L de headspace preenchido com gás nitrogênio. Já o ensaio (3) e (5) foi

montado em frascos Duran com volume de 5 L, sendo 1 L o volume do meio reacional e 4 L o

de headspace contendo gás nitrogênio.

Os reatores em batelada dos ensaios (3) e (5) cujas concentrações de substrato eram,

respectivamente, de 10 g/L de papel limpo e 10 g/L de papel residual foram despressurizados

até 1 atm, após as coletas de amostras gasosas por questões de segurança ao longo do

monitoramento.

Durante o período de operação dos reatores foram realizadas as seguintes análises:

determinação de gás metano por cromatografia gasosa; geração de ácidos voláteis, álcoois e

acetona; sólidos totais voláteis (STV); demanda química de oxigênio (DQO), carboidratos

totais solúveis e pH.

4.4 Lisímetro

4.4.1 Unidade Experimental

As dimensões da unidade experimental foram 60 cm de altura por 20 cm de diâmetro,

cujo material de confecção foi o acrílico. Os seguintes dispositivos foram parte da unidade

(Figura 4.2):

Entrada de líquidos composta por tubo de aço inoxidável (10 cm de comprimento e

diâmetro de 0,5 cm). A bomba de alimentação foi ligada por uma mangueira à parte

superior do biorreator, do lado externo. No lado interno, na parte superior do reator,

foi posicionado um bico aspersor para atuar como um spray durante a alimentação.

Saída de líquidos formada por tubo PVC (comprimento de 10 cm e diâmetro de 1,9

cm) vinculado a mangueira de silicone no formato de sifão.

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30

Amostrador de gases, na extremidade superior do biorreator, formado por registro (2,5

cm) e mangueira de silicone para coleta de amostra de biogás por meio de seringa

gastight.

Amostrador de sólidos composto por orifício com tampa de rosca com a finalidade de

facilitar a coleta de substrato para análises.

Câmara para controle térmico (1,80 x 1,96 x 1,0 cm) do lisímetro para manutenção da

temperatura em 37o C.

Figura 4.2- Lisímetro de bancada em operação

4.4.2 Substrato orgânico

O substrato utilizado foi papel residual de escritório (do Departamento de Hidráulica e

Saneamento, USP, São Carlos) após fragmentação em máquina fragmentadora de papel

PROCALC ES9520. Foram realizadas no início do experimento, com alíquotas do substrato,

determinações de sólidos totais, sólidos totais voláteis, e umidade de acordo com o Standard

Methods for the Examination of Waterand Wastewater (AMERICAN PUBLIC HEALTH

ASSOCIATION, 2005). As cápsulas, em duplicata com 5 g de papel, foram colocadas na

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estufa a 100oC por 24 horas para o cálculo do teor da umidade do papel. Posteriormente, as

cápsulas foram colocadas em mufla a 700 0C por 30 minutos para volatilização da matéria

orgânica.

4.4.3 Umidade do Papel

Foi acrescentada água em excesso a uma amostra de papel com peso previamente

determinado com o intuito de estimar o grau de absorção de líquidos. Desse modo, a amostra

foi mantida em repouso por 24 horas. Em seguida, a água foi escoada, este volume foi

mensurado, sendo possível o cálculo do volume de água absorvido. Um volume adicional de

água foi inserido na amostra a fim de comprovar que ocorreu máxima absorção de água pelo

papel, obtendo-se volume de saída igual ao volume de entrada. Então, massa de água

necessária para uma determinada massa de papel atingir a saturação foi calculada.

Realizou-se análise de Sólidos Totais para obtenção da porcentagem de massa

condizente ao teor de umidade de 100% da amostra (AMERICAN PUBLIC HEALTH

ASSOCIATION, 2005). A partir de então, calculou-se a porcentagem em massa de água

necessária para que o papel fosse umidificado a 80%, teor de umidade do substrato utilizado

no lisímetro.

4.4.4 Camada Filtrante–pedregulho

A camada filtrante teve como objetivo a retenção de percolado durante a operação do

lisímetro para que fosse liberado um efluente com menor concentração de substrato e de

biomassa microbiana. Uma camada filtrante composta por pedregulhos de rio, com cerca de

10 cm, foi posicionada ao fundo do lisímetro. Para tanto, foram selecionados pedregulhos

com diâmetro de 10 a 20 mm por granulometria. Então, os mesmos foram lavados em água

corrente e imersos em solução de HCl 15% por 1 hora para remoção de impurezas. Antes da

inserção dos pedregulhos no lisímetro, estes ainda foram lavados com água destilada e secos

em estuda de 100o C.

4.4.5 Procedimentos para o preenchimento do lisímetro

A umidificação e inoculação do papel foram realizadas após a massa total de papel,

correspondente a 500 gramas, ser dividida em duas bandejas tabuleiro de aço inox. Utilizou-

se, para a umidificação e inoculação dessa massa de substrato, um volume de 570 mL, sendo

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que 50% eram constituídos de meio de cultivo e 50% de inóculo (70 % de fluido de rúmen

bovino e 30% de lodo de reator UASB). Desse modo, os volumes de inóculo (lodo de reator

UASB e fluido de rúmen bovino) e de meio mineral modificado de Atlas, (2005) foram

divididos igualmente entre as duas bandejas contendo papel. Um spray foi acionado com a

mesma frequência para cada quadrante das bandejas, visando umidificar e inocular a massa de

papel de forma homogênea. Após este processo, as massas de papel provenientes das duas

bandejas foram misturadas em um recipiente único. Em seguida, o papel foi acrescentado ao

lisímetro e compactado manualmente. Com o intuito de proporcionar um ambiente anaeróbio,

houve fluxionamento com N2 (99,99%) promovendo a troca de atmosfera do headspace.

Então, o lisímetro foi fechado assumindo-se o instante inicial da operação.

4.4.6 Amostragens

As coletas de amostras de biogás foram realizadas diariamente no período inicial da

operação do lisímetro. As coletas das alíquotas para amostragem do percolado ocorreram

diariamente a partir do início de sua liberação pelo biorreator, com 12 dias de operação.

A partir do percolado gerado durante o período de operação do lisímetro, foram

executadas três vezes por semana análises de pH, série de sólidos, demanda química de

oxigênio (DQO), carboidratos totais solúveis de acordo com o método colorimétrico fenol-

ácido sulfúrico, conforme descrição a seguir.

4.4.7 Aspersão Meio Mineral

Procedeu-se a aspersão do meio três vezes por semana a fim de prover ao sistema sais

minerais utilizados na síntese de enzimas hidrolíticas e de manter o teor de umidade do

substrato próximo a 80%, condição inicial. Para tanto, o volume de meio utilizado a cada

aspersão foi de 10% do volume total usado na umidificação da massa de papel no início do

ensaio (570 mL).

4.5 Análises Físico-químicas e Cromatográficas

O biogás produzido teve sua composição determinada por cromatografia gasosa (GC

2010 Shimadzu) com gás argônio como carreador e detector de condutividade térmica (TCD).

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33

As temperaturas de operação da coluna, detector e injetor foram, respectivamente, 230oC,

200oC e 30

oC. Foram coletadas amostras de 0,5 mL de biogás com a finalidade de determinar

a composição do gás do headspace dos biorreatores, utilizando seringa gastight com trava.

A determinação de ácidos orgânicos voláteis e alcoóis foi realizada por cromatografia

gasosa (Shimadzu GC-2010) de acordo com Adorno et al. (2014). O preparo da amostra

consistiu em utilizar 2,0 mL de amostra a ser analisada, além da adição de 1,0 g de NaCl, 100

L de solução de ácido crotônico, 70 L de solução de isobutanol e 200 L de solução de

ácido sulfúrico 2M.

As análises físico-químicas foram DQO, pH, série de sólidos totais de acordo com o

Standard Methods for the Examination of Waterand Wastewater (AMERICAN PUBLIC

HEALTH ASSOCIATION, 2005). Para análise de carboidratos totais solúveis utilizou-se o

método colorimétrico fenol-ácido sulfúrico (DUBOIS et al., 1956, modificado por

HERBERT; PHILIPPS; STRANG, 1971), utilizando glicose como padrão.

4.6 Ajuste dos dados experimentais

Os dados experimentais foram ajustados para valores médios obtidos de triplicatas de

reatores, usando-se o software Statística® 9.0. As atividades máximas de produção de metano

foram obtidas a partir do ajuste não linear sigmoidal da função de Gompertz, obtendo-se os

seguintes parâmetros: potencial máximo e velocidade máxima de produção de metano, e

período de fase-lag. A velocidade máxima de consumo de papel foi obtida por meio do maior

coeficiente angular gerado das retas traçadas entre os pontos experimentais da concentração

de celulose em função do tempo. H representa a produção acumulada e t, o tempo (Eq.4.1.):

4.7 Biologia Molecular

As populações microbianas do Domínio Bacteria e Archaea foram analisadas

utilizando-se amostras do inóculo (fluido de rúmen bovino e lodo de reator UASB) e da

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biomassa microbiana do final dos ensaios de produção de metano com papel limpo e papel

residual, testando as diferentes condições estudadas, pela técnica do PCR/DGGE, que

consistiu em: a) extração do DNA de acordo com Griffiths et al. (2000) modificado; b)

amplificação do DNA por reação em cadeia de polimerase e condições descritas na Tabela

4.1; c) separação do fragmento alvo por meio da desnaturação parcial da dupla hélice, por

meio da técnica de DGGE.

Tabela 4.1 – Condições utilizadas na PCR para o DGGE

Domínio Pré- Desnaturação Nº. de Ciclos Desnaturação Anelamento Extensão Final de

Extensão Resfriamento

Bacteria

(NUBEL et

al., 1996)

95ºC 35 94ºC 63ºC 72ºC 72ºC 4ºC

5 min

1min 1min 1 min 5 min -

Archaea

(KUDO et

al., 1997)

94ºC 35 94ºC 55 ºC 72ºC 72ºC 4ºC

5 min

1min 1min 7 min 5 min -

Para o DGGE do Domínio Bacteria foi utilizado os iniciadores 968FGC–1401R

(NUBEL et al., 1996). No DGGE do Domínio Archaea foi utilizado iniciadores 1100FGC –

1400R (KUDO et al., 1997).

Os produtos da PCR foram aplicados em gel de poliacrilamida 8% (massa/volume),

em TAE 1X, com gradiente linear desnaturante (uréia e formamida) variando de 45 a 65%. A

eletroforese foi realizada em voltagem constante de 75 V e temperatura de 60 °C, durante 16

h. A imagem do gel foi capturada em equipamento Eagle Eye II (Stratagene, La Jolla, CA,

USA) com iluminação UV. O perfil de DGGE foi analisado no software Bionumerics® 2.5.

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 Papel

Verificou-se, por análises de Sólidos Totais e Sólidos Totais Voláteis, que a

composição do papel sulfite sem uso aplicado aos reatores era de 2,8% de umidade, 87,2% de

matéria orgânica (celulose) e 10 % de matéria inorgânica (CaCO3). O papel de escritório

residual utilizado nos ensaios era constituído por 6,5% de umidade, 79,3% de matéria

orgânica e 14,2% de matéria inorgânica.

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35

5.2 Ensaios com papel sem uso

Os biorreatores anaeróbios alimentados com 2,5; 5,0 e 10 g/L de papel limpo foram

incubados a 37oC e monitorados por 31, 36 e 42 dias, respectivamente. Ao longo do período

de incubação foi observada hidrólise dos fragmentos de papel a carboidratos fermentáveis,

com desaparecimento total dos fragmentos inicialmente suspensos no meio líquido. A

degradação do papel se iniciou logo nas primeiras horas de incubação para todos os ensaios.

Para o ensaio (1), verificou-se produção de hidrogênio, metano e gás carbônico abaixo do

limite de detecção do método nos três primeiros dias. A produção detectável de metano se

iniciou no quarto dia de incubação, cujo volume máximo de metano (35 mmol) foi obtido

entre 21o e 25

o dias de operação mantendo-se estável até o 31

o dia de operação (Figura 5.1). A

produção máxima de gás carbônico, 23 mmol, foi registrada no 19odia de operação (Figura

5.2).

No ensaio (2) foi verificada a produção de metano, gás carbônico e hidrogênio abaixo

do limite detectável pelo método cromatográfico, no primeiro dia de incubação. A partir do

segundo dia verificou-se produção detectável tanto de metano, quanto de gás carbônico, cujo

volume máximo foi de aproximadamente 50 mmol e 35,5 mmol, respectivamente, no 34o

dia

de operação.

Já no ensaio (3), foi verificado produção de metano, hidrogênio e gás carbônico em

nove horas de operação. Obteve-se produção de metano de 42,5 mmol no 4o dia de incubação

e 68,1 mmol no 5o

dia, e máxima (96,5 mmol) no 33o dia de operação. Em relação ao gás

carbônico obteve-se máximo volume (97 mmol) no 16o dia de operação, com estabilidade de

produção até o término do período de operação.

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36

Figura 5.1 – Variação temporal de metano nos reatores em batelada com papel limpo.

Figura 5.2 – Variação temporal de gás carbônico nos reatores em batelada com papel limpo.

0

20

40

60

80

100

120

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

s ca

rbô

nic

o (

mm

ol)

Tempo (dias)

2,5 g/L papel

limpo

5,0 g/L papel

limpo

10,0 g/L papel

limpo

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37

A adição de duas fontes distintas de inóculo, das quais o fluido de rúmen continha

principalmente populações de bactérias celulolíticas e arqueias metanogênicas (Flint et al.,

2008) e o lodo de reator UASB, com populações fermentativas e metanogênica,

aparentemente foi promissora para um sistema gerador de energia a partir de resíduos

celulósicos. As populações de ambas as fontes de inóculo se adaptaram às condições

operacionais impostas e agiram em sintrofia para promover a hidrólise de papel, fermentação

acidogênica e produção de metano nos reatores em batelada.

Analisando-se os parâmetros obtidos pelo ajuste dos dados de evolução de produção

de metano no modelo modificado de Gompertz, verificou-se que o mesmo foi adequado para

ajustar a evolução de produção de metano nos reatores anaeróbios do ensaio (1), com R2 =

0,98. A produção máxima de metano obtida foi de 33,65 mmol e a velocidade máxima de

produção de metano de 2,3 mmol/dia. O período da fase-lag nos reatores foi de

aproximadamente 1,6 dias.

O modelo modificado Gompertz também foi adequado para o ajuste de dados da

evolução de produção de metano do ensaio (3), com obtenção de R2= 0,99, potencial máximo

de produção de metano de 23,05 mmol e velocidade máxima de produção de metano de 1,22

mmol/dia. A duração da fase-lag foi estimada em 0,8 dias. O período de adaptação dos micro-

organismos e início da atividade hidrolítica foi consideravelmente menor se comparado aos

ensaios com 2,5 g/L e 5,0 g/L de papel limpo.

A curva do ensaio (2) não foi ajustada pelo modelo modificado de Gompertz, contudo

foi possível verificar maior período da fase-lag, de aproximadamente 2 dias, e dois períodos

de crescimento exponencial da produção de metano. Um deles do 2o ao 4

o dia, seguido de um

período de estabilização do volume de metano no headspace de 20 dias, e o segundo do 24o

ao 33o dia, quando o volume de metano triplicou (de 20 mmol a 60 mmol, aproximadamente).

A geração de metano no processo de digestão anaeróbia é proporcional à redução de DQO de

águas resíduárias (DRAPCHO; NHUAN; WALKER, 2008). Portanto, o aumento da carga

orgânica pode ter influenciado as atividades fermentativa e metanogênica, haja vista que a

fase estável da produção metanogênica se estendeu durante o período em que a concentração

de DQO solúvel se manteve em torno de 3000 mg/L.

Analisando a curva de evolução da produção de gás carbônico para o ensaio (2),

verifica-se que não há dupla sigmoide, ao contrário do ocorrido com a curva de produção de

metano. Portanto, há a possibilidade da primeira sigmoide ter ocorrido em decorrência da

metanogênese hidrogenotrófica, ao passo que a segunda sigmoide provavelmente foi formada

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pela metanogênese acetoclástica, já que no 23° dia do ensaio houve aumento da concentração

deste ácido no meio.

Verificou-se para todos os ensaios período de adaptação microbiana relativamente

curto e favorecimento da produção de metano para as duas fontes de inóculo.

O rendimento da produção de metano foi determinado dividindo-se a produção

máxima pela quantidade de papel acrescentada aos biorreatores. Dessa forma, para os ensaios

(1), (2) e (3) obteve-se rendimentos de 14; 10 e 9,6 mmol CH4/g de papel adicionado,

respectivamente.

Por meio das análises da composição dos ácidos orgânicos ao longo do período de

incubação dos ensaios pôde-se também acompanhar a produção concomitante de biogás.

No ensaio (1) foi observada crescente produção de ácidos orgânicos ao longo da

operação, principalmente de ácido acético, cujo valor observado foi de 579,9 mg/L no 8o dia

de operação (Figura 5.3). Posteriormente, verificou-se diminuição gradual da concentração

de ácidos orgânicos no meio líquido, provavelmente, relacionado à acetogênese e

metanogênese. No último dia de operação já não foi detectado ácido acético, provavelmente,

usado pelas arqueias metanogênicas acetoclásticas.

Além do ácido acético verificou-se também ácido butírico e ácido propiônico,

respectivamente de 74,17 e 119,42 mg/L, no 8 o e no 4

o dia de operação (Figura 5.3). Os

ácidos isobutírico, isovalérico, valérico e capróico também foram detectados, porém em

baixas concentrações (Figura 5.4). Ácido fórmico e solventes como etanol e metanol não

foram detectados nos reatores em batelada.

De acordo com McInerney e Bryant (1981), carboidratos podem ser degradados a

ácido acético, propiônico ou butírico em função da pressão parcial de hidrogênio no meio. Já

as proteínas e lipídeos são degradados a ácidos de cadeias mais longa como o ácido valérico,

isobutírico e isovalérico (BALDOCHI,1990). Dessa forma, a composição química do papel,

com composição predominante de carboidratos, pode ser responsável pelas concentrações

menores dos ácidos valérico, isobutírico e isovalérico.

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39

Figura 5.3 – Variação temporal de produção dos ácidos propiônico, butírico e acético nos reatores em batelada

com 2,5 g/L de papel limpo.

Figura 5.4 – Variação temporal da produção dos ácidos capróico, valérico, isovalérico e isobutírico nos

reatores em batelada com 2,5 g/L de papel limpo.

Durante o período de operação do ensaio (2), verificou-se principalmente ácido acético

cuja concentração máxima foi de 1145 mg/L em 23 dias de operação (Figura 5.5). A partir de

então, observou-se diminuição gradual da concentração do ácido acético no meio detectada

até o 36o dia de operação.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

600

0 2 4 8 10 14 20 24 30

Áci

do

s o

rgân

ico

s (m

g/L)

Tempo (dias)

Ác. Acético

Ác. Butírico

Ác. Propiônico

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

0 2 4 8 10 14 20 24 30

Áci

do

s o

org

ân

ico

s (m

g/L

)

Tempo (dias)

Ác. Isobutírico

Ác. Isovalérico

Ác. Valérico

Ác. Capróico

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40

Figura 5.5 – Variação temporal da produção dos ácidos propiônico, butírico e acético nos reatores com 5,0 g/L

de papel limpo.

Além do ácido acético verificou-se também os ácidos butírico e propiônico, em

concentrações máximas de 259,83 e 276,63 mg/L, respectivamente, ambos no 33o dia de

operação. Os ácidos isobutírico, isovalérico, valérico e capróico também foram detectados em

baixas concentrações no efluente (Figura 5.6), não havendo detecção de metanol e butanol.

Figura 5.6 – Variação temporal da produção dos ácidos capróico, valérico,isovalérico e isobutírico nos

reatores com 5,0 g/L de papel limpo.

Por meio das análises da composição dos ácidos orgânicos realizadas no decorrer do

monitoramento do ensaio (3) verificou-se concentrações reduzidas destes compostos, cujos

valores máximos foram de 236,72 mg/L e 72,70 mg/L para os ácidos propiônico e acético,

0

200

400

600

800

1000

1200

1 8 16 23 27 30 33 36

Áci

do

s o

rgâ

nic

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(mg

/L)

Tempo (dias)

Ác. Acético

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0

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120

1 8 16 23 27 30 33 36

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do

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rgâ

nic

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Tempo (dias)

Ác. Isobutírico

Ác. Isovalérico

Ác. Valérico

Ác. Capróico

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41

respectivamente (Figura 5.7 e 5.8). Na digestão anaeróbia, micro-organismos metanogênicos

e acidogênicos diferem consideravelmente em termos de fisiologia, necessidades nutricionais,

crescimento cinético e sensibilidade às condições do ambiente (POHLAND; GHOSH, 1971).

O desequilíbrio entre esses dois grupos de micro-organismos é o motivo principal da

instabilidade do reator (DEMIREL; YENIGÜN, 2002). Portanto, esse resultado deve estar

relacionado com a estabilidade do processo de digestão anaeróbia nas condições estudadas e

com o favorecimento das populações metanogênicas que rapidamente converteram estes

ácidos orgânicos em metano.

Figura 5.7 – Variação temporal da produção dos ácidos propiônico, butírico e acético nos reatores com 10,0 g/L

de papel limpo.

0

50

100

150

200

250

0 1 3 7 13 14 18 30 34

Áci

do

s o

rgâ

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g/L)

Tempo (dias)

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Ác. Isovalérico

Ác. Valérico

Ác. Capróico

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42

Figura 5.8 – Variação temporal dos ácidos capróico, valérico, isovalérico e isobutírico nos reatores com 10,0

g/L de papel limpo.

O pH final médio dos três biorreatores dos ensaios (1), (2) e (3) foram de 7,9±0,1 ;

6,4±0,04 e 6,5±0,05, ou seja, houve pouca variação em relação ao pH inicial (6,8),

evidenciando-se boa capacidade tamponante do meio de cultura. A metanogênese é a etapa

única no processo geral de produção de metano por meio do consumo de ácido acético, de

modo a remover uma fonte importante de acidez. O consumo de H2 permite o contínuo de

sintrofismo entre bactérias que convertem ácido propiônico e ácido butírico a ácido acético.

Se a atividade de sintropia das bactérias é inibida, ácidos orgânicos serão acumulados,

resultando em decréscimo do pH, criando um ambiente desfavorável para o desenvolvimento

das arqueias metanogênicas. Neste ponto, a fermentação cessa (DRAPCHO; NHUAN;

WALKER, 2008). A reduzida variação de pH pode ter sido adequada para o crescimento das

populações metanogênicas e para o estabelecimento do metabolismo metanogênico, que pode

ser atenuado em baixos valores de pH.

Ao longo do período de operação de todos os ensaios foi observado aumento gradual

de DQO solúvel afluente até a concentração máxima, seguido de diminuição gradual até o

final da operação (Figura 5.9). No momento da incubação, a DQO dos ensaios (1), (2) e (3)

era de 182±31,5; 625±70,9, 161±21,2 mg/L, respectivamente. As máximas concentrações de

DQO solúvel detectadas para os ensaios (1), (2) e (3) foram de, respectivamente, 4.332±70,0;

3.444,2±65,0 e 1.895,3±8,44 mg/L, e valores finais de 246,4±4,0; 527,7±32,0 e 110±12,81

mg/L, após 30, 36 e 42 dias de operação. Os picos de DQO máximos ocorreram no 11o, 16

o e

3o dias de operação, respectivamente para os ensaios (1), (2) e (3).

Uma vez que o meio de cultivo utilizado era composto apenas de sais minerais e

vitaminas e a única fonte orgânica de substrato foram os fragmentos de papel, provavelmente,

o aumento da concentração de DQO solúvel ao longo dos ensaios foi decorrente dos

carboidratos solúveis liberados na hidrólise microbiana do papel e do acúmulo de compostos

orgânicos solúveis, resultantes da atividade fermentativa acidogênica. Entretanto, devido às

atividades acetogênica e metanogênica, provavelmente houve conversão dos ácidos orgânicos

a ácido acético e metano, resultando em diminuição da DQO solúvel até o final do período de

operação.

A detecção de concentração reduzida de DQO solúvel no final da operação pode ser

um indicativo de que o sistema foi adequado para hidrólise e fermentação de papel, bem como

para consumo de matéria orgânica solúvel, ou seja, obteve-se sistema adequado, tanto para

geração de metano, quanto na estabilização total de resíduos orgânicos. A introdução de dois

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43

inóculos mistos nos reatores, levando a maior diversidade microbiana, provavelmente

acentuada, pode ter potencializado a digestão anaeróbia completa dos resíduos de papel com

recuperação de energia na forma de metano em um sistema simples e de baixo custo de

manutenção.

Figura 5.9 – Variação temporal da DQO dos reatores em batelada com 2,5; 5,0 e 10,0g/L de papel limpo.

Verificou-se pico de DQO máximo ao longo do período de operação do ensaio (1),

bastante superior aos demais ensaios, além de sua possível relação com a conversão do papel

em açúcares solúveis, ácidos orgânicos voláteis e álcoois. Provavelmente, pode ter ocorrido a

auto-degradação da biomassa do inóculo. Ou seja, após a hidrólise e digestão do papel

disponível como substrato orgânico, o lodo granular também pode ter sido utilizado como

substrato.

Nos ensaios (1), (2) e (3) foram verificadas concentrações iniciais de carboidratos

totais solúveis, das amostras coletadas antes da incubação, de 18,3±6,4; 30,5±3,0 e 21,5±0,33

mg/L, respectivamente. Verificou-se gradual aumento de carboidratos ao longo do período de

operação, até atingirem seus valores máximos e, então, declínio e estabilização até a

finalização dos ensaios (Figura 5.10). Este perfil temporal foi semelhante ao perfil de DQO,

em virtude da hidrólise microbiana do papel que promoveu acréscimo da concentração de

carboidratos no meio, havendo posterior redução da sua concentração.

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

5000

0 10 20 30 40

DQ

O (

mg

/L)

Tempo (dias)

2,5 g/L papel limpo

5,0 g/L papel limpo

10,0 g/L papel limpo

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44

Figura 5.10 – Variação temporal de carboidratos totais solúveis para os reatores em batelada com 2,5; 5,0; 10,0

g/L de papel limpo.

Para o ensaio (1), a concentração máxima de carboidratos solúveis detectada foi de

29,4±4,4 mg/L, no 9o

dia de operação. Após 21 dias, o ensaio foi encerrado sendo verificado

10±3,5 mg/L de carboidratos e consumo de 66% de carboidratos.

No ensaio (2), foi verificada concentração máxima de carboidratos solúveis de

62,2±1,3 mg/L no 8o dia de operação. Ao longo dos 28 dias posteriores, a concentração foi

reduzida para 28,2±0,6 mg/L, resultando em consumo de carboidratos de 54,7%.

Verificou-se evolução de carboidratos solúveis durante a operação dos reatores do

ensaio (3) com concentração máxima no 7o dia (64,5±8,0 mg/L) e posterior declínio e

comportamento estável a partir do 18o dia até o final do experimento. O ensaio foi finalizado

com 14±1,88 mg/L de carboidratos totais solúveis. Portanto, o consumo de açúcares

dissolvidos, após 35 dias de operação foi de 78%.

Foi observado aumento da concentração de ST e STV ao longo do período de

operação dos reatores pertencentes aos três ensaios, o que reitera a adaptação da biomassa

microbiana às condições operacionais impostas. O aumento na concentração de STF,

verificado em todos os ensaios, provavelmente foi relacionado à liberação durante a hidrólise

de carbonato de cálcio do papel (Tabela 5.1; 5.2 e 5.3).

Tabela 5.1 – Sólidos totais nos reatores com 2,5 g/L de papel limpo no início da incubação.

Concentração Inicial ST

(mg/L)

STV

(mg/L)

STF

(mg/L)

Fluido de rúmen 3,01 1,7 1,31

0

10

20

30

40

50

60

70

80

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Car

bo

idra

tos

Tota

is S

olú

veis

(m

g/L)

Tempo (dias)

2,5 g/L papel limpo

5,0 g/L papel limpo

10,0 g/L papel limpo

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45

Lodo de reator UASB 2,82 2,15 0,67

Total 5,83 3,85 1,98

Tabela 5.2 – Sólidos totais nos reatores com 2,5 g/L de papel limpo no final da incubação.

Concentração Final ST

(mg/L)

STV

(mg/L)

STF

(mg/L)

Total 7,0 4,6 2,4

No início da operação dos reatores do ensaio (2) foram adicionados 4,07 mg/L de

sólidos voláteis, 1,92 e 2,82 mg/L advindos de fluido de rúmen e de lodo de reator UASB,

respectivamente (Tabela 5.3). Ao final da operação, a concentração de STV foi de 5,2 mg/L

(Tabela 5.4).

Tabela 5.3 – Sólidos totais nos reatores com 5,0 g/L de papel limpo no início da operação.

Concentração Inicial ST

(mg/L)

STV

(mg/L)

STF

(mg/L)

Fluido de rúmen 3,22 1,92 1,31

Lodo de reator UASB 2,82 2,15 0,67

Total 6,04 4,07 1,97

Tabela 5.4 – Sólidos totais nos reatores com 5,0 g/L de papel limpo no final da operação.

Concentração Final ST

(mg/L)

STV

(mg/L)

STF

(mg/L)

Total 7,8 5,2 2,6

No ensaio (3), o inóculo adicionado continha 4,37 mg/L de sólidos totais voláteis (1,87

mg/L provenientes do fluido de rúmen e 2,5 mg/L do lodo de reator UASB) (Tabela 5.5). Por

meio da análise final dos reatores verificou-se 4,47 mg/L de STV e 3,33 mg/L de SF. Assim

como nos ensaios anteriores, verificou-se aumento das concentrações de matéria orgânica e

inorgânica (Tabela 5.6).

Tabela 5.5 – Sólidos totais nos reatores com 10,0 g/L de papel limpo no início da operação.

Concentração Inicial

ST

(mg/L)

STV

(mg/L)

STF

(mg/L)

Fluido de rúmen 3,10 1,87 1,23

Lodo de reator UASB 2,98 2,5 0,48

Total 6,01 4,37 1,71

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46

Tabela 5.6 – Sólidos totais nos reatores com 10,0 g/L de papel limpo no final da operação.

Concentração Final

ST

(mg/L)

STV

(mg/L)

STF

(mg/L)

Total 6,43 4,47 3,33

Durante o período de incubação dos reatores, foi possível observar suspensão dos

fragmentos de papéis no meio reacional (Figura 5.12), aderência da biomassa microbiana a

este substrato, liberação de gases caracterizada pela formação de espuma (Figura 5.11 e 5.13),

redução e desaparecimento do substrato. Aparentemente, o papel subiu para a superfície

durante a atividade hidrolítica microbiana nos reatores.

Figura 5.11 – Reatores com 2,5 g/L de papel limpo.

Figura 5.12 – Reator com 5,0 g/L de papel limpo.

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47

Figura 5.13 – Reator com 10,0 g/L de papel limpo.

5.3 Ensaios com papel residual

Os ensaios em batelada (4) e (5) (com 5,0 e 10,0 g/L de papel residual,

respectivamente), incubados a temperatura de 37oC, foram operados e monitorados por 29 e

30 dias, respectivamente, sendo observado hidrólise da maior quantidade de papel e

desaparecimento da maioria do substrato suspenso, restando apenas alguns papéis do tipo

pardo. No ensaio (4), houve produção de metano, hidrogênio e gás carbônico abaixo do limite

de detecção no primeiro dia de incubação. Foi detectada produção de metano no 2o

dia de

operação, cujo valor máximo (56,3 mmol) foi observado entre 6o e 8

o dias.

Verificou-se estabilidade de produção metanogênica até o 15o dia de operação e, a

partir do 19odia, verificou-se gradual declínio (Figura 5.14). Os pontos máximos de produção

de gás carbônico ocorreram entre os 6o e 8

o dias, seguindo comportamento de gradual

decréscimo nos dias posteriores (Figura 5.15).

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48

Figura 5.14 – Variação temporal de metano nos reatores com 5,0 e 10,0 g/L de papel residual

Para o ensaio (5), no primeiro dia de incubação obteve-se produção de metano,

hidrogênio e carbônico abaixo do limite de detecção do equipamento cromatográfico. A partir

do segundo dia verificou-se produção de metano, a qual seguiu de forma crescente até o 4o dia

de incubação. Os maiores volumes produzidos foram constatados entre os 3o e 5

o dias de

operação, com respectivamente, 140 e 134,7 mmol de metano. Houve posterior declínio da

produção de metano até o 11o

dia de operação (47,9 mmol) e estabilização da produção até o

encerramento do ensaio. Verificou-se para o gás carbônico máxima produção (103,4 mmol)

entre os 3o e 5

o dias de operação (Figura 5.15).

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49

Figura 5.15 – Variação temporal da produção de gás carbônico nos reatores com 5,0 e 10,0 g/L de papel residual

Por meio da aplicação do modelo modificado de Gompertz para os resultados obtidos

no ensaio (4) verificou-se R2= 0,81, potencial máximo de produção de metano de 20,66

mmol, velocidade máxima de produção de 2,5 mmol/dia e fase-lag de aproximadamente 1,7

dias.

Os resultados obtidos para o ensaio (5) não foram ajustado ao modelo Gompertz

modificado. Os rendimentos calculados para os ensaios (4) e (5) foram de, respectivamente,

11,26 e 14,0 mmol CH4/g de papel adicionado.

Assim como no ensaio (3), baixas concentrações de ácidos orgânicos foram

constatadas durante o período de incubação dos ensaios (4) e (5). Para o ensaio (4), foram

detectadas máximas de 37,7 mg/L de ácido acético, 18,35 mg/L de ácido butírico (Figura

5.16) e 23,1 mg/L de ácido valérico (Figura 5.17). No ensaio (5) verificou-se para o ácido

acético e ácido propiônico concentrações máximas de 50 mg/L e 37,2 mg/L, respectivamente

(Figura 5.18) e de 42 mg/L para o ácido valérico (Figura 5.19). Para todos os ácidos orgânicos

foram verificadas menores concentrações no último dia do experimento, reiterando que

provavelmente houve conversão dos mesmos por meio da acetogênese e metanogênese.

Como já mencionado, verificou-se condições favoráveis para a metanogênese em

virtude de não ocorrer acúmulo de ácidos orgânicos resultantes da fermentação do substrato,

ocorrendo rápida conversão dos mesmos. A inibição ou instabilidade do processo de digestão

anaeróbia estão relacionadas com o acúmulo de ácidos orgânicos no meio líquido e

consequente redução do pH. As baixas concentrações observadas nas condições estudadas

0

20

40

60

80

100

120

0 5 10 15 20 25 30 35

s ca

rbô

nic

o (

mm

ol)

Tempo (dias)

5,0 g/L papel residual

10,0 g/L papel

resídual

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50

podem significar que os processos foram estáveis e que não houve prevalência da comunidade

fermentativa em relação à comunidade metanogênica.

Figura 5.16 – Variação temporal da produção dos ácidos propiônico, butírico e acético nos reatores com 5,0 g/L

de papel residual.

Figura 5.17 – Variação temporal da produção dos ácidos capróico, valérico, isovalérico e isobutírico nos

reatores com 5,0 g/L de papel residual.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1 3 6 8 11 14 21 29

Áci

do

s o

rgâ

nic

os

(mg

/L)

Tempo (dias)

Ác. Acético

Ác. Butírico

Ác. Propiônico

0

5

10

15

20

25

30

1 3 6 8 11 14 21 29

Áci

do

s o

rgâ

nic

os

(mg

/L)

Tempo (dias)

Ác. Isobutírico

Ác. Isovalérico

Ác. Valérico

Ác. Capróico

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51

Figura 5.18 – Variação temporal da produção dos ácidos propiônico, butírico e acético nos reatores com 10,0 g/L

de papel residual.

Figura 5.19 – Variação temporal da produção dos ácidos propiônico, butírico e acético nos reatores com 10,0 g/L

de papel residual.

Nos ensaios (4) e (5), o pH médio do efluente dos reatores ao término da operação foi

de 6,4±0,05 para o ensaio (4) e 6,5±0,02 para o ensaio (5). Portanto, não houve considerável

oscilação do pH durante a incubação dos ensaios, reiterando que não houve acúmulo de

ácidos orgânicos intermediários de modo que a metanogênese procedeu-se de forma eficiente.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

1 2 6 11 15 23 27 30

Áci

do

s o

rgâ

no

ico

s (m

g/L

)

Tempo (dias)

Ác. Acético

Ác. Butírico

Ác. Propiônico

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

1 2 6 11 15 23 27 30

Áci

do

s o

rgâ

nic

os

(mg

/L)

Tempo (dias)

Ác. Isobutírico

Ác. Isovalérico

Ác. Valérico

Ác. Capróico

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52

A DQO solúvel no início dos ensaios era de 193,5±45,7 e 231,9±30,0 mg/L,

respectivamente, para os ensaios (4) e (5). Ao longo do período de incubação dos reatores do

ensaio (4) verificou-se aumento da DQO solúvel (380±48,3 mg/L) até o 3o dia de operação

seguido por declínio gradual até 142±32,4 mg/L ao término da operação. Em relação ao

ensaio (5) verificou-se DQO solúvel de 546,7±45,0 mg/L; ou seja, concentração máxima

detectada. Posteriormente, verificou-se decréscimo e, no encerramento do ensaio, constatou-

se 189±18,0 mg/L de DQO (Figura 5.20).

Por meio da evolução dos valores de DQO evidenciou-se a ocorrência de atividade

hidrolítica e fermentação de açúcares solúveis, com produção de compostos intermediários da

digestão anaeróbia com posterior consumo dos mesmos.

Figura 5.20 – Variação temporal da Demanda Química de Oxigênio solúvel nos de reatores com 5,0 e 10,0 g/L

de papel residual.

As concentrações de carboidratos totais solúveis no início da operação dos ensaios (4)

e (5) eram de 23,3±7,2 e 29,7±4,2 mg/L, respectivamente (Figura 5.21).As maiores

concentrações de carboidratos solúveis verificadas no ensaio (4), ocorreram entre o 6º dia

(50,9±6,5 mg/L) e 14o

dia (50,6±13,1 mg/L) de operação, com declínio até o 29o (18,9±2,0

mg/L). Desse modo, o consumo de carboidratos totais solúveis foi de 63% em 23 dias de

operação, considerando-se o dia de máxima concentração detectada e o último dia de

operação.

Para o ensaio (5), entre os 6o e 11

o dias foram detectadas as concentrações máximas

(98,8±12,0 mg/L) e (97,9±15,0 mg/L) de carboidratos totais solúveis, respectivamente. Em

0

100

200

300

400

500

600

0 5 10 15 20 25 30

DQ

O (

mg

/L)

Tempo (dias)

5,0 g/L de papel

residual

10,0 g/L de papel

residual

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53

seguida, verificou-se gradual declínio até que fossem atingidos 16,6±3,6 mg/L no 30o dia de

operação (Figura 5.21). Logo, estimou-se que o consumo de açúcares foi de 83% no período

de 24 dias de operação.

Figura 5.21 – Variação temporal de carboidratos solúveis nos reatores com 5,0g/L de papel residual.

Segundo as análises de STV, verificou-se manutenção das concentrações de STF e de

STV no ensaio (4) (Tabela 5.7 e 5.8), indício da adaptação da população microbiana às

condições dos reatores.

Tabela 5.7 – Sólidos totais nos reatores com 5,0 g/L de papel residual no início da operação.

Concentração Inicial ST

(mg/L)

STV

(mg/L)

STF

(mg/L)

Fluido de rúmen 3,28 1,9 1,38

Lodo de reator UASB 3 2,5 0,5

Total 6,28 4,40 1,88

Tabela 5.8 – Sólidos totais nos reatores com 5,0 g/L de papel residual no final da operação.

Concentração Final ST

(mg/L)

STV

(mg/L)

STF

(mg/L)

Total 6,45 4,45 2,0

0

20

40

60

80

100

120

0 5 10 15 20 25 30 35

Ca

rbo

idra

tos

To

tais

So

lúv

eis

(mg

/L)

Tempo (dias)

5,0 g/L de papel residual

10,0 g/L de papel residual

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54

No ensaio (5), constatou-se que houve acréscimo das concentrações de STF e

manutenção da concentração de STV (Tabela 5.9 e 5.10). Portanto, pode-se inferir que a

biomassa microbiana adaptou-se ao ambiente imposto.

Tabela 5.9 – Sólidos totais nos reatores com 10,0 g/L de papel residual no início da operação.

Concentração Inicial ST

(mg/L)

STV

(mg/L)

STF

(mg/L)

Fluido de rúmen 3,2 2,08 1,12

Lodo de reator UASB 2,9 2,3 0,6

Total 6,1 4,38 1,72

Tabela 5.10 – Sólidos totais nos reatores com 10,0 g/L de papel residual no início da operação.

Concentração Final ST

(mg/L)

STV

(mg/L)

STF

(mg/L)

Total 7,62 4,50 3,17

Nestes ensaios também foi possível observar a suspensão dos fragmentos de papel no

meio, aderência da biomassa microbiana ao substrato, liberação de gases caracterizada por

formação de espuma (Figura 5.22), redução e desaparecimento da maior parte do substrato

(Figura 5.23).

Figura 5.22 – Reatores com 5,0 g/L de papel residual.

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55

Figura 5.23 – Reatores com 10,0 g/L de papel residual em fase de encerramento.

5.4 Análise Comparativa entre os Ensaios em Batelada

Diante dos resultados obtidos a partir da execução dos ensaios com biorreatores em

batelada cujo substrato consistiu em papel limpo, verificou-se que o maior rendimento foi

associado àquele com 2,5 g/L de papel limpo (14 mmol CH4/ g de papel). Verificou-se para os

biorreatores com 5,0 g/L e 10,0 g/L de substrato rendimentos bastante próximos; ou seja, de

10 e 9,6 mmol CH4/ g de papel, respectivamente (Tabela 5.11).

Botta (2012) observou redução do rendimento de H2 com o aumento da concentração de

substrato para ensaios em batelada com 0,5 g/L de papel sulfite e 4 mL/L de celulase, 2 g/L de

papel sulfite e 15 ml/L de celulase e 4,0 g/L de papel sulfite e 30 ml/L de celulase, incubados

a 37oC e com pH inicial igual a 7,0. Para os ensaios com menor rendimento, sobretudo para o

ensaio com maior concentração de substrato, cujo rendimento foi menor, a quantidade de

papel e celulase pode ter sido inibitória. Segunda a autora, além do aumento da concentração

de papel sulfite para os dois últimos ensaios, também houve maior quantidade de celulase

adicionada, o que representou acréscimo na carga orgânica (BOTTA, 2012).

O primeiro ensaio foi favorável não apenas para a produção de CH4, mas também para

o crescimento da biomassa, enquanto o acréscimo de substrato pode ter agido de forma

inibitória para a biomassa, por conseguinte, com menor produção de metano.

Por outro lado, para os biorreatores cujos substratos eram de 5,0 e 10,0 g/L de papel

residual verificou-se rendimentos de, respectivamente, 11,26 e 14 mmol CH4 /g de papel.

Neste caso, o acréscimo da concentração de substrato proporcionou elevação do rendimento

de CH4. Comparando-se estes ensaios com aqueles cujos substratos foram o papel limpo,

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56

notou-se que, para a mesma concentração, os primeiros ofereceram melhores desempenhos

quanto ao rendimento. Verificou-se para 5,0 g/L, que os rendimentos obtidos pouco diferiram

(10 mmolCH4/ g de papel limpo e 11,26 mmolCH4/ g de papel residual). No entanto, para

10,0 g/L verificou-se distinção entre os rendimentos foi mais significativa; ou seja, de 9,6

mmolCH4/ g de papel limpo e 14 mmolCH4/ g de papel residual.

Tabela 5.11 – Parâmetros obtidos para os ensaios com substrato papel limpo: (1) 2,5 /L; (2) 5,0 g/L e (3) 10,0

g/L e substrato papel residual: (4) 5,0 g/L e (5) 10,0 g/L.

Parâmetro

Ensaio

1

Ensaio

2

Ensaio

3

Ensaio

4

Ensaio

5

Tempo de incubação (dias) 31 36 42 29 30

Máximo volume de metano (mmol) 35 50 96,5 56,3 140

Ocorrência (dia) 21 34 33 6 3

Redimento (mmol CH₄/g de substrato) 14 10 9,6 11,26 14

DQO máxima (mg/L) 5000 3444,23 318 380 546,7

Consumo de Carboidratos Solúveis

(mg/L) 66% 56% 78% 63% 83%

pH final 7,9 6,45 6,5 6,45 6,5

STV Final (mg/L) 7 7,8 6,43 6,45 7,62

Além disso, pode-se destacar que os intervalos de tempo em que foram observadas as

máximas concentrações de DQO solúvel não eram concomitantes àqueles com máxima

produção de metano. A quantidade de carga orgânica aplicada pode ter influenciado a

produção de metano.

Baldochi (1990), em estudo sobre degradação anaeróbia de resíduos municipais,

observou que durante o período em que a DQO do percolado manteve-se alta, para duas

unidades experimentais de aterros sanitários, havia também acúmulo de ácidos voláteis e

provavelmente não existiam condições favoráveis à metanogênese. Quando o processo

anaeróbio atingiu o equilíbrio, ou seja, quando houve redução do acúmulo de ácidos voláteis,

a DQO presente no percolado reduziu.

5.5 Análise de Biologia Molecular

Por meio da análise de PCR/DGGE buscou-se verificar a alteração da estrutura da

comunidade microbiana entre os inóculos originais (fluido de rúmen e lodo de reator UASB)

e as biomassas obtidas no final dos ensaios em batelada, tanto com papel sem uso, quanto

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para aqueles com papel residual. Os dendrogramas foram elaborados com auxílio do método

de agrupamento UPGMA, considerando-se o coeficiente de similaridade Pearson e os padrões

de bandas do DGGE com iniciadores para os Domínios Bacteria (Figura 5.24) e Archaea

(Figura 5.25).

Figura 5.24 – Dendograma para Domínio Bacteria baseado no coeficiente de similaridade de Pearson a partir do

padrão de bandas do DGGE. In_Rumen: inóculo fluido de rúmen; In_lodo: inóculo lodo; R2,5_Lim: ensaio 2,5

g/L de papel limpo; R5,0_Lim: ensaio 5,0 g/L de papel limpo; R10,0_Lim: ensaio 10,0 g/L de papel limpo;

R5,0_Res: ensaio 5,0 g/L de papel residual; R10,0_Lim: ensaio 10,0 g/L de papel residual.

Tendo em vista o Domínio Bacteria, observou-se dissimilaridade de 67% entre as

populações dos inóculos (fluido de rúmen e lodo), reiterando a presença de consórcio

microbiano diversificado. Considerando os ensaios cujo substrato foi o papel limpo, para

aqueles com (1) 2,5 e (2) 5,0 g/L observou-se coeficiente de similaridade de 42% , ao passo

que o coeficiente de similaridade entre este último e o ensaio com (3) 10,0 g/L de papel sem

uso foram de apenas 15%. Os índices de diversidade populacional para os ensaios (1), (2) e

(3) foram de, respectivamente, 3,31±0,01; 3,28±0,02 e 3,26±0,01. Para os ensaios com papel

residual, verificou-se coeficiente de similaridade de 64% entre aqueles com (4) 5,0 e (5) 10,0

g/L, com índices de diversidade populacional de 3,32±0,01 e 3,44±0,01, respectivamente.

Tendo em vista o aumento do número de bandas com o aumento da carga orgânica para este

substrato, possivelmente esta alteração foi favorável para o desenvolvimento de maior número

de populações bacterianas.

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Figura 5.25 – Dendograma para Domínio Archea baseado no coeficiente de similaridade de Pearson a partir do

padrão de bandas do DGGE. In_Rumen: inóculo fluido de rúmen; In_lodo: inóculo lodo; R2,5_Lim: ensaio 2,5

g/L de papel limpo; R5,0_Lim: ensaio 5,0 g/L de papel limpo; R10,0_Lim: ensaio 10,0 g/L de papel limpo;

R5,0_Res: ensaio 5,0 g/L de papel residual; R10,0_Lim: ensaio 10,0 g/L de papel residual.

Quanto ao Domínio Archaea, verificou-se que as populações dos inóculos fluido de

rúmen e lodo foram similares em apenas 32%, coeficiente próximo ao obtido para o Domínio

Bacteria (33%).

Nos ensaios (1) e (2), com o substrato papel limpo, verificou-se coeficiente de

similaridade de 54% e índice de diversidade populacional de 3,17±0,008 e 3,15±0,01,

respectivamente. A similaridade observada entre o ensaio (2) e (3) foi de 61%, sendo o índice

de diversidade do último de 2,9±0,01. Ao analisar os padrões de bandas e considerando o

índice de diversidade populacional, conclui-se que houve pequena redução da diversidade de

populações de arqueias à medida que ocorreu o acréscimo de carga orgânica no sistema,

sobretudo entre os ensaios (2) e (3).

Em relação aos ensaios com substrato papel residual, observou-se coeficiente de

similaridade de 66% entre os ensaios com (4) e (5) e índices de diversidade populacional de

2,88±0,02 e 3,10±0,01, respectivamente. Observando-se bandas pertencentes aos dois ensaios

e considerando-se o índice de diversidade, pode-se inferir que no ensaio com 10,0 g/L havia

maior quantidade de populações se comparado àquele com 5,0 g/L de papel residual. Além

disso, notou-se maior similaridade entre as populações do inóculo do lodo e ensaio com 10,0

g/L de papel residual (87%). Diante do melhor rendimento metanogênico obtido nesta

condição, pode-se destacar que este ensaio foi favorável ao desenvolvimento das populações

de arqueias, ao passo que concentração mais reduzida de carga orgânica implicou inibição de

algumas delas.

Devido à maior produção de metano e consequente consumo de acido acético nos

ensaios (3) e (5), estes podem ter proporcionado melhores condições para arqueias

acetoclásticas, diferente do que ocorreu nos ensaios anteriores. É provável que, no inóculo

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lodo de reator UASB havia maior concentração de populações de arqueias, por isso o

coeficiente de similaridade entre o lodo e o ensaio (5) foi de 87% e a similaridade entre este

inóculo e o ensaio (3) foi de 66%.

Portanto, por meio da análise de PCR/DGGE observou-se que para o substrato papel

limpo, o acréscimo da concentração não foi favorável para o aumento da diversidade de

populações de bactérias fermentativas e arqueias. Por outro lado, os ensaios com papel

residual obtiveram um pequeno aumento da diversidade populacional de ambos Domínios.

5.6 Lisímetro

A operação do lisímetro de bancada foi motivada pelas condições estudadas em

batelada, sobretudo, por aqueles ensaios cujo substrato utilizado foi o papel residual, nos

quais foi constatada a conversão satisfatória do papel a metano.

Visando ao aumento da escala de produção metanogênica, foi utilizado para o

lisímetro papel residual com teor de umidade 80%, bem como o mesmo inóculo advindo do

lodo de reator UASB e do fluido de rúmen usados nos biorreatores em batelada, além da

manutenção da anaerobiose com fluxo de nitrogênio no início da operação, temperatura de

37o C e alimentação com meio de cultivo em pH igual 6,8. Embora todas as condições

impostas tenham sido iguais àquelas proporcionadas para os ensaios em batelada, foi

observada atividade metanogênica reduzida ao longo da operação.

Durante o período de 58 dias, o volume de metano produzido foi abaixo do limite de

detecção do método utilizado, com volume apenas de gás carbônico detectado. Além disso,

concentrações reduzidas de DQO e carboidratos foram detectadas no efluente, ou seja,

provavelmente a hidrólise do papel foi minimizada nessas condições (Figura 5.26 e 5.27).

Devido a pouca quantidade de água, a digestão em Solid-state Anaerobic Digestion

(SS-AD) possui algumas desvantagens, tais como a necessidade de maior quantidade de

inóculo e maior tempo de retenção (LI; PARK; ZU,2011). É possível que estas condições

operacionais junto ao reduzido teor de umidade, se comparado aos ensaios em batelada, foram

desfavoráveis a metanogênese neste reator. Para produção de metano, o controle dos

parâmetros operacionais (pH, temperatura de incubação e manutenção da anaerobiose) deve

ser mais estrito, uma vez que as arqueias metanogênicas são mais susceptíveis à inibição se

comparadas às bactérias fermentativas, por exemplo. Logo, provavelmente a presença de

oxigênio inibiu o estabelecimento da microbiota anaeróbia estrita.

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A concentração máxima de DQO foi obtida no 34o dia de operação para amostra bruta

(773,59 mg/L) e filtrada (683,99 mg/L). Já em relação a carboidratos totais solúveis obteve-se

concentrações máximas entre os 34o e 41

o dias de operação, com 207,2 mg/L para DQO

filtrada e 224 mg/L de DQO bruta.

Figura 5.26 – Variação temporal de DQO solúvel em lisímetro de bancada.

Figura 5.27 – Variação temporal de carboidratos solúveis em lisímetro de bancada.

A composição de ácidos foi analisada entre o 25o e 51

o dias de operação do lisímetro

com papel residual, obtendo-se detecção de ácido valérico (10,67 mg/L) e acético (35,36

mg/L) no 32o dia de operação (Figuras 5.28 e 5.29).

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

0 10 20 30 40 50 60

DQ

O (

mg

/L)

Tempo (dias)

Amostra filtrada

Amostra bruta

0

50

100

150

200

250

10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60

Co

nce

ntr

açã

o d

e ca

rbo

idra

tos

solú

vei

s (m

g/L

)

Tempo (dias)

Amostra filtrada

Amostra bruta

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Figura 5.28 – Ácidos propiônico, butírico e acético entre os 25o e 51

o dias de operação do lisímetro com papel

residual.

Figura 5.29 – Ácidos capróico, valérico, isovalérico e isobutírico entre os 25o e 51

o dias de operação do lisímetro

com papel residual.

O pH do meio de cultivo usado para alimentação do lisímetro era de 6,8. Durante os

dias de monitoramento verificou-se que o pH das amostras de efluente variou entre 8,3 e 5,7.

5. CONCLUSÕES

Os inóculos fluido de rúmen bovino e lodo anaeróbio de reator UASB (usado para

tratamento de águas residuárias de abatedouro de aves) adicionados aos reatores anaeróbios

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

25 27 28 32 37 48 51

Áci

do

s o

rgâ

nic

os

(mg

/L)

Tempo (dias)

Ác. Acético

Ác. Butírico

Ác. Propiônico

0

10

20

30

40

50

60

25 27 28 32 37 48 51

Áci

do

s o

rgâ

nic

os

(mg

/l)

Tempo (dias)

Ác. Capróico

Ác. Valérico

Ác. Isovalérico

Ác. Isobutírico

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continham diversidade de populações microbianas para a degradação de papel e produção de

metano.

As condições operacionais impostas que compreendiam incubação em temperatura

mesofílica (37oC), pH inicial de 6,8 e papel como única fonte orgânica de substrato foram

adequadas para adaptação da biomassa microbiana, já que houve hidrólise e fermentação de

papel com geração de DQO, seguido de elevada remoção das concentrações de carboidratos e

DQO até o final da operação.

Em todos os ensaios em batelada foi observada visualmente redução dos fragmentos

de papel, no caso dos ensaios com papel residual, ou desaparecimento total dos fragmentos de

papel no meio liquido, no caso dos ensaios com papel limpo, bem como a produção de

metano por análise cromatográfica. Aparentemente, os papéis do tipo pardo são mais

resistentes à digestão anaeróbia, uma vez que foram detectados visualmente no encerramento

dos ensaios com papel residual.

O aumento da concentração de papel limpo acarretou redução no rendimento da

produção metanogênica, com rendimentos de 14 mmol CH4/ g de papel adicionado, 10,0 CH4/

g de papel adicionado e 9,6 mmol CH4/ g de papel, para 2,5 g/L, 5,0 g/L e 10,0 g/L,

respectivamente. A elevação da carga orgânica nos biorreatores em batelada, para os quais foi

utilizado papel limpo, agiu de modo inibitório.

Para os biorreatores alimentados com papel residual de escritório verificou-se

desempenho favorável a metanogênese. Além disso, o acréscimo de 5,0 g/L de papel residual

para 10,0 g/L não provocou redução do rendimento metanogênico, pelo contrário, houve

elevação desse parâmetro. Portanto, pode-se concluir que alguns tipos de papel residual são

mais susceptíveis à degradação anaeróbia do que papéis sulfite sem uso.

O aumento gradual da concentração de ácido acético seguido da sua diminuição ao

longo do período de incubação nos ensaios (1) e (2), provavelmente, ocorreu em virtude da

atividade acetogênica e metanogênica, o que indicou equilíbrio entre as populações

hidrolíticas, acidogênicas, acetogênicas e metanogênicas.

As reduzidas concentrações de ácidos orgânicos constatadas durante o monitoramento

dos ensaios (3), (4) e (5), enquanto houve produção de metano é um indício de que as

atividades fermentativa e metanogênica mantiveram-se em equilíbrio nos períodos estudados;

sem o acúmulo de ácidos intermediários a esses processos.

O acréscimo da concentração de ambos os substratos nos ensaios promoveu o aumento

da diversidade populacional para indivíduos do Domínio Bacteria. Contudo, considerando o

Domínio Archaea, verificou-se que o aumento da concentração do substrato papel limpo nos

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ensaios (1), (2) e (3) pode ter inibido a presença de algumas populações. O contrário ocorreu

com os ensaios (4) e (5) cujo substrato era papel residual, uma vez que foi detectado

incremento da diversidade populacional entre o ensaio com 5,0 g/L e 10,0 g/L.

Em relação ao lisímetro de bancada, apesar de submetido às mesmas condições de

operação dos ensaios em batelada no que se refere ao pH do meio de cultivo, temperatura,

anaerobiose e fonte de inóculo, verificou-se atividade metanogênica reduzida com detecção

considerável apenas de gás carbônico. É provável que o teor de umidade aliado a tais

condições operacionais, principalmente, em relação à manutenção da anaerobiose estrita, não

favoreceram a manutenção das arqueias metanogênicas.

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