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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I
CURSO DE PEDAGOGIA
MARCELO LAGO ARAUJO
EXCLUSÃO SOCIODIGITAL EM ESCOLA PÚBLICA DO ENSINO
FUNDAMENTAL EM SALVADOR/BA
Salvador 2011
MARCELO LAGO ARAUJO
EXCLUSÃO SOCIODIGITAL EM ESCOLA PÚBLICA DO ENSINO FUNDAMENTAL EM SALVADOR/BA
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação da Profª Cláudia Silva de Santana e da Profª Drª Tânia Maria Hetkowski.
Salvador 2011
FICHA CATALOGRÁFICA
Sistema de Bibliotecas da UNEB
Araújo, Marcelo Lago
Exclusão sociodigital em escola pública do ensino fundamental em Salvador-Ba / Marcelo
Lago Araújo. – Salvador, 2011.
104f.
Orientadoras: Profª. Cláudia Silva de Santana , Tânia Maria Hetkowski.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia.
Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2011.
Contém referências, apêndices e anexos.
1. Sociedade da informação - Brasil. 2. Inovações educacionais - Aspectos sociais. 3. Internet
(Rede de computação) . 4. Escolas públicas - Bahia. 5. Ensino fundamental. I. Santana, Cláudia
Silva de Santana. II.Hetkowski, Tânia Maria. III.Universidade do Estado da Bahia, Departamento
de Educação.
CDD: 303.4833
MARCELO LAGO ARAUJO
EXCLUSÃO SOCIODIGITAL EM ESCOLA PÚBLICA DO ENSINO FUNDAMENTAL EM SALVADOR/BA
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação da Profª Cláudia Silva de Santana e da Profª Drª Tânia Maria Hetkowski.
Salvador, 30 de setembro de 2011.
Aprovada em 30 de setembro de 2011.
_______________________________________________________ Professor Dr. Arnaud Soares de Lima Júnior - UNEB
_______________________________________________________ Professora Msc. Bernadete Lourdes de Oliveira Barbosa - UNEB
_______________________________________________________ Professora Drª. Tânia Maria Hetkowski - UNEB
AGRADECIMENTOS
Agradeço à professora Jane Negreiros, pela dedicação à educação em escola pública, apesar de tantas adversidades. Agradeço aos professores e funcionários da Escola Pública onde este estudo foi realizado. Aos funcionários e professores da Uneb que muito contribuíram para melhorar minha formação acadêmica. Aos colegas da Uneb nas diversas turmas pelas quais passei. Aos irmãos Márcia, Suely, Leonardo e Laise. Aos amigos Alexey Dodsworth, Bárbara Souza, Josineia Fernandes, Mara Rúbia, Jordan Lima, Paulo Bassan. Aos colegas de trabalho: Isete Paranhos e Jorge Pergentino. Ao Cosmos. À orientação precisa e gentil das professoras Cláudia Sisan e Tânia Hetkowski.
RESUMO
Este trabalho foi concebido com a intenção de compreender as dificuldades
encontradas, numa escola da rede pública de Salvador/BA, para potencializar a
inclusão sociodigital de alunos do ensino fundamental. Para tanto, algumas noções
conceituais foram abordadas, além de ter sido empreendida uma pesquisa de campo.
São seis capítulos que o compõem e, inicialmente, nos referenciais teóricos, são
abordados os aspectos: panorama histórico e cultural, incluindo a evolução tecnológica
no Brasil e, neste mesmo capítulo, as noções de Nativos Digitais, Cibercultura,
Hipertexto e Interatividade. No capítulo seguinte são analisadas a Inclusão e a Exclusão
Sociodigital. No terceiro capítulo, encontra-se a análise da correlação de forças entre a
sociedade civil, as elites dominantes e o Estado. Também são mencionados programas
públicos que promovam a inclusão sociodigital. Além disso, há uma visão crítica da
inclusão sociodigital em relação aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). A
cultura da convergência nas escolas públicas e as tecnologias digitais são também
estudadas complementando o quadro teórico. A pesquisa em campo é descrita em
seus pormenores, desde a caracterização da infraestrutura escolar, professores, plano
pedagógico, os alunos, até a transcrição das visitas em campo, em nove visitas. As
atividades e os resultados das coletas de dados são então analisados à luz dos
conceitos vistos, contextualizando a análise da exclusão sociodigital nas escolas
públicas.
Palavras-chave: Exclusão sociodigital. Nativos digitais. Exclusão social. Escola pública.
ABSTRACT
This work was conceived with the intention to understand the difficulties encountered in
a public school in Salvador/BA, to enhance the sociodigital inclusion of elementary
school students. To this end, some conceptual notions have been addressed, and have
been undertaken field research. There are six chapters that comprise it and, initially, in
the theoretical, aspects are covered: historical background and cultural, including the
technological developments in Brazil and in this chapter, the notions of Digital Natives,
Cyberculture, Hypertext and Interactivity. In the next chapter are analyzed Sociodigital
Inclusion and Exclusion. The third chapter is the analysis of the balance of power
between civil society, the ruling elites and the state. Also mentioned are public programs
that promote inclusion sociodigital. In addition, there is a critical inclusion sociodigital in
relation to National Curriculum Parameters (PCN). The convergence culture in public
schools and digital technologies are studied by complementing the theoretical
framework. The field research is described in exhaustive detail, from the characterization
of school infrastructure, teachers, teaching plan, students, to the transcript of field visits
in nine visits. The activities and results of data collection are then analyzed in light of the
concepts seen, contextualizing sociodigital exclusion analysis in public schools.
Keywords: Sociodigital exclusion. Digital natives. Social exclusion. Public school.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Programas do governo federal do Brasil para a inclusão sociodigital ........ 42
Figura 2 - Programas do governo estadual da Bahia para a inclusão sociodigital ..... 43
Figura 3 - Programas do governo municipal de Salvador/BA para a inclusão
sociodigital .................................................................................................................... 43
Figura 4 – Planta simplificada da Escola Nativos Digitais ........................................... 60
Figura 5 - Gabarito da atividade Computador para que – momento 2 ......................... 74
Figura 6 - Respostas dos alunos à atividade Computador para que – momento 1............. 80
Figura 7 - Respostas dos alunos à atividade Computador para que – momento 1 ........... 81
Figura 8 - Respostas dos alunos à atividade Computador para que – momento 2 ............ 82
Figura 9 - Respostas dos alunos à atividade Computador para que – momento 2 ............ 83
Figura 10 - Respostas dos alunos à atividade Computador para que – momento 3 .......... 84
Figura 11 - Respostas dos alunos à atividade Computador para que – momento 3 .......... 85
Figura 12 - Grade curricular 4ª série, matutino ...................................................................... 88
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13
1 CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURA DIGITAL ................................................ 17
1.1 A CULTURA DIGITAL NO BRASIL ................................................................. 19
1.2 REFLEXÕES CONCEITUAIS DA ERA DIGITAL ............................................. 23
1.2.1 Nativos digitais e cibercultura ........................................................................... 24
1.2.2 Hipertexto .......................................................................................................... 26
1.2.3 Interatividade ..................................................................................................... 28
2 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIODIGITAL ........................................................... 33
2.1 INCLUSÃO SOCIODIGITAL .................................................................................. 35
2.2 EXCLUSÃO SOCIAL ............................................................................................. 36
3 A CORRELAÇÃO DE FORÇAS ENTRE A SOCIEDADE CIVIL, AS ELITES
DOMINANTES E O ESTADO ....................................................................................... 40
3.1 PROGRAMAS PÚBLICOS VERSUS INCLUSÃO SOCIODIGITAL ....................... 41
3.2 INCLUSÃO SOCIODIGITAL E OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
....................................................................................................................................... 48
4 A CULTURA DA CONVERGÊNCIA NAS ESCOLAS PÚBLICAS ............................ 51
4.1 A ESCOLA PÚBLICA E AS TECNOLOGIAS DIGITAIS ......................................... 53
5 CAMINHOS PERCORRIDOS NA PESQUISA EM CAMPO ................................... 56
5.1 PRIMEIROS PASSOS ............................................................................................ 58
5.2 A ESCOLA .............................................................................................................. 59
5.2.1 Infraestrutura ...................................................................................................... 60
5.2.2 Os professores ................................................................................................... 61
5.2.3 Plano pedagógico da escola ............................................................................. 62
5.2.4 Os alunos – bairros em que eles moram .......................................................... 63
5.3 A ESCUTA DAS VOZES DOS ALUNOS ................................................................ 64
5.4 ATIVIDADES EM CAMPO ...................................................................................... 67
5.4.1 Primeira visita ..................................................................................................... 68
5.4.2 Segunda visita .................................................................................................... 68
5.4.3 Terceira visita ..................................................................................................... 72
5.4.4 Quarta visita ........................................................................................................ 72
5.4.5 Quinta visita ........................................................................................................ 72
5.4.6 Sexta visita .......................................................................................................... 73
5.4.7 Sétima visita ....................................................................................................... 73
5.4.8 Oitava visita ........................................................................................................ 73
5.4.9 Nona visita .......................................................................................................... 75
6 REFLETINDO SOBRE OS DADOS COLETADOS ................................................... 77
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 90
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 93
APÊNDICES ................................................................................................................. 97
ANEXOS ..................................................................................................................... 105
13
INTRODUÇÃO
Foram muitas as indagações que levaram à escolha do tema exclusão
sociodigital para o Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia, mas o motivo mais
óbvio que emergiu foi o da impressão inicial de que a maioria dos alunos de escola
pública não tinha nenhum acesso às tecnologias de informação e comunicação – TIC,
em rede, especialmente careceriam de familiaridade com a Internet.
Hoje, depois de ler a respeito em livros, revistas, sites e blogs, e, mais do que a
leitura, após a convivência com os alunos ao longo de várias atividades realizadas em
escolas, e especialmente durante os quatro meses do Estágio Supervisionado de
Regência, esta percepção sobre o assunto mudou. Não no sentido de abandonar a
noção de que os alunos da escola pública, em geral, prescindam do acesso à Internet,
mas no sentido de questionar como acontece esta relação precária: alunos versus
tecnologias da informação.
Talvez a mobilização deste estudo tenha se tornado mais crítica, e floresceu a
indagação de como efetivamente a comunidade de alunos da escola pública, em sua
maioria, vivencia o acesso às TIC, os serviços da Internet e o que eles estão fazendo
ao usarem o computador e acessarem a rede. E, também, qual o uso pedagógico dos
recursos do computador e da Internet no ambiente de escola pública e como isto
repercute, a partir do ponto de vista dos alunos.
Para investigar estas indagações, foi necessário empreender uma pesquisa de
campo, no ambiente escolar, para testar a percepção de que a frequência dos alunos
às lan houses de bairro, ou às ONGs que permitem o acesso à rede, bem como a
redução dos preços dos computadores e até mesmo dos notebooks, facilitou o
crescimento do acesso à Internet. Os celulares também são ferramentas tecnológicas,
denominadas e-mobili, apesar de mais restrito, e mais caro, mas também são
instrumentos de inclusão sociodigital, em função da convergência de plataformas que
possibilitam acesso à rede.
Além disso, há programas do governo que objetivam levar a banda larga às
escolas públicas. Quando foi constatado que havia diversas possibilidades de estes
alunos terem contato com as TIC, surgiu também o questionamento de qual seria a
14
plataforma de observação mais adequada do fenômeno da exclusão sociodigital, pois,
paradoxalmente, apesar da enorme difusão dos computadores, celulares e Internet,
ainda há um enorme contingente de excluídos, nas grandes cidades, nas cidades do
interior e no campo. Mas por questões práticas e metodológicas, a análise será restrita
ao ambiente de uma escola pública estadual, do Ensino Fundamental, na cidade do
Salvador/BA.
Inicialmente, foram muitos os questionamentos, surgindo como se fossem uma
“tempestade de idéias” a inspirarem à escolha do tema exclusão sociodigital. E foi
imperioso refinar as questões, reelaborá-las diversas vezes, acatando e às vezes
descartando perguntas, que certamente um dia novamente emergirão, à busca de
respostas. E assim se constituiu a pergunta que norteará este trabalho: Quais as
dificuldades concretas que a comunidade escolar – em escolas da rede pública de
Salvador/BA - encontra para potencializar a inclusão sociodigital de alunos do ensino
fundamental?
Para tentar encontrar respostas, foi necessário, em primeiro lugar, problematizar
as políticas públicas de governo versus a inclusão sociodigital. No binômio exclusão
versus inclusão – ao se utilizar esta terminologia – percebe-se que o conceito de
exclusão emana das carências e negações impostas ao “excluído” – aquela pessoa
que, inclusive, pode até não ter consciência do seu lugar na sociedade e a exclusão
acontece pelo que ela não é, não possui, não compreende, não reivindica, ou não
representa. Para a busca de situações concretas que ajudassem a encontrar respostas,
houve uma imersão no ambiente escolar, precedida de uma pesquisa bibliográfica, para
subsidiar o pesquisador no estudo de caso, como método de abordagem considerado
apropriado ao presente trabalho.
O entendimento da exclusão, por exemplo, para aqueles que não têm trabalho,
caracterizada pela sua precariedade sócio-econômica, será refletida também no
encurtamento de horizontes, posto que a premência para a obtenção das necessidades
primárias, provavelmente, dificultará quaisquer outros sonhos. A inclusão, por outro
lado, pode ser exemplificada pela presença dos alunos em sala de aula, já que estamos
tratando do tema do ponto de vista da vivência escolar, mas ainda assim, dentro dos
portões da escola poderá haver outros tipos de exclusão a exemplo da hesitação do
15
papel da escola ao conduzir este processo, que, em muitos casos, mantém os
laboratórios de informática com portões cerrados por grades.
É necessário que estas grades sejam removidas, as grades que dificultam o
acesso dos alunos ao computador, são as mesmas “grades” que o impedirão no futuro
de participar com maior autonomia nos blogs, redes sociais, portais de notícias, portais
do governo. Para que o uso destas ferramentas seja corriqueira para estes alunos,
além de uma melhor infra-estrutura será necessária a motivação das instâncias
escolares, promovendo a participação ativa dos professores neste processo.
Para estes potenciais sujeitos da cultura digital, os alunos da escola pública que
ainda estejam excluídos digitalmente, que representam uma faceta perversa da
exclusão social, estará sendo negada a participação desde o início das suas vidas num
processo já há muito naturalizado nas famílias de classe média, qual seja a utilização
das possibilidades da “cibercultura” e do “ciberespaço”1, neologismos que serão
abordados ainda neste estudo.
Quando se escolhe a Pedagogia como curso de graduação, o discente pode
ainda não ter noção de quais realidades enfrentará em sala de aula. Mesmo tendo
vivenciado o ensino básico da escola pública e entendendo que ver a educação como o
substrato de toda uma vida seja um excesso, mas não podemos negar que a educação
está presente em vários momentos cruciais da vida, mesmo que não seja formal. Mas
educar formalmente pressupõe o uso de tecnologias, inclusive digitais, que
isoladamente talvez não se mostrem adequadas, entretanto elas tornam a mediação do
professor altamente significativa.
Quando as atividades de regência são iniciadas, de fundamental importância
para a formação do discente de Pedagogia, o contato com o ambiente escolar revela,
em diversas nuances, especialmente para quem estiver interessado em pesquisar
qualquer um dos aspectos da educação pública, situações e vivências que poderão
repercutir decisivamente na formação do futuro professor.
Faz-se necessário um depoimento pessoal (do autor deste trabalho): à medida
que várias disciplinas da Uneb exigiam atividades de campo nas escolas públicas do
1Ciberespaço é definido por Lévy como o novo meio de comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ele abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo.
16
ensino fundamental, as reais condições de ensino, tantas vezes discutidas em debates
acalorados em classe, ficavam evidentes. Chama a atenção a infraestrutura física das
escolas, com ambientes degradados, escuros, gradeados, com a manutenção de
elementos básicos de uma escola, como salas, sanitários e bibliotecas, muito aquém do
mínimo desejável.
Ainda neste sentido da precariedade material, as salas de informática
representam um nó ainda não desatado e as diversas grades que separam os alunos
do uso corriqueiro dos computadores representam um abismo que deve ser transposto.
Ao vivenciar as dificuldades e a realidade de alguns alunos numa escola pública, a
intenção é entender o fenômeno da exclusão sociodigital do ponto de vista acadêmico
para juntar esforços na busca de soluções realistas.
Assim, para o estudo da temática ora apresentada, o presente trabalho está
organizado em seis capítulos. No primeiro, serão abordados o contexto histórico da
cultura digital, especialmente em relação ao Brasil, e também algumas considerações
conceituais. O segundo capítulo aborda a exclusão e a inclusão sociodigital. No terceiro
capítulo são analisadas as correlações de forças entre a sociedade civil, as elites
dominantes e o Estado. O quarto capítulo trata da cultura da convergência no ambiente
da escola pública. O quinto capítulo aborda a metodologia da pesquisa em campo, com
estudo de caso, e a efetivação deste trabalho. Por último, após a análise dos dados,
são feitas as considerações à luz dos autores pesquisados.
17
1 CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURA DIGITAL
O uso das tecnologias permeia os fazeres humanos desde os tempos
imemoriais, a exemplo das pinturas do período Paleolítico, há cerca de 35000 anos,
quando foram registradas nas profundezas das cavernas, como aquelas de
Lascaux, na França, que guardam até hoje as representações de animais em
trabalhos rupestres, amostras da técnica pictórica daqueles homens. Segundo
Janson (1989, p. 27), o artista daquela época “ao representar esses animais
pretendia tê-los à sua mercê” ou, também, as pinturas seriam símbolos usados para
“fortalecer a coragem dos caçadores e de lhes incutir confiança, para arrostarem,
com armas primitivas, feras tão formidáveis” (p. 28). Ainda segundo o autor, a
elaboração das imagens também sugere que poderiam ser construções pictóricas
direcionadas aos rituais de relação com o Divino, com fins de obter algum controle
sobre a caça, ou para obter proteção contra predadores.
O registro das figuras dos animais nas cavernas, neste caso, é uma
ilustração da capacidade humana de transformar suas ideias em interferências no
mundo concreto. O registro de outrora com fins ritualísticos, hoje traz indícios de
como viviam aqueles povos, que surgiram na África e ao longo de eras migraram
para os demais territórios, hoje denominados continentes: Ásia, Europa, Américas,
Oceania.
Grande parte do sucesso da migração humana pelo mundo se creditou a,
além da sua incrível capacidade de adaptação, também ao domínio de técnicas
diversas. A tradição de viver em comunidades em que os saberes eram transmitidos
de geração a geração, entre nômades ou, posteriormente nos habitantes das
primeiras comunidades ocidentais – com a invenção e o domínio da escrita,
possibilitou o surgimento de inúmeras civilizações que viveram áureos tempos –
com seus intrincados enredos históricos recheados de guerras, dominações,
apogeus e declínios.
O registro da história, além de estar escrito no interior das cavernas, bem
como nas ruínas de templos e palácios, reminiscência do esplendor da cultura
18
Mediterrânea, hoje permite aos especialistas lerem, interpretarem, coletarem pistas
do que ocorreu no passado até a atualidade, possibilitando entenderem como as
inovações tecnológicas repercutiram na história humana.
É sabido que os gregos educavam os jovens oriundos das elites dominantes,
valendo-se de educadores de notório saber que lhes mostravam como interpretar o
mundo a partir dos conhecimentos e filosofias tidas como válidas à época. Convém
destacar que, segundo Cambi (1999, p. 51) “a educação no mundo antigo, pré-
grego e greco-romano é também uma educação por classes: diferenciada por
papéis e funções sociais, por grupos sociais e pela tradição de que se nutre”.
Assim, na Antiguidade, no Mundo Ocidental, a educação ainda era restrita aos
nobres e àqueles ligados aos grupos mais privilegiados, contribuindo este fato para
a manutenção de uma abrupta separação entre as elites dominantes – que
detinham o controle sobre a circulação das informações – e o povo.
A partir da Idade Média, com a invenção da imprensa por Gutemberg, foi
possível a maior difusão de textos ao possibilitar uma alternativa mais barata aos
livros manuscritos e o consequente incremento na circulação de informações. A
publicação de teorias e estudos da Natureza por personalidades da estatura de
Galileu, Kepler, Copérnico, deu início a uma série de procedimentos que mais tarde
viriam a ser um dos cânones da metodologia científica.
Ao mesmo tempo em que a quantidade de informações circulantes no mundo,
valendo-se do meio de difusão dos livros e periódicos impressos, crescia, ainda
havia uma enorme população de pessoas alijadas do acesso a estes saberes,
alheias ao contato com o primeiro recurso tecnológico de massa necessário ao
acesso à informação dos livros: ou seja, careciam do domínio da escrita e da
leitura.
No Brasil, somente por volta do Século XIX, com a vinda da família real
portuguesa, foram criadas instituições voltadas para o ensino superior, cursos de
Medicina, “a partir de 1808, na Bahia e no Rio” (ARANHA, 2006, p. 221) e de
Direito, ou “cursos jurídicos”, em São Paulo e Recife, fundados em 1827 (ARANHA,
2006, p. 226). Entretanto, o acesso às instituições de ensino somente foi objeto de
uma política pública de inclusão social a partir de meados do Século XX. A
19
Revolução Industrial chegou ao Brasil tardiamente, mas forçou o Estado a um maior
investimento educacional para as classes populares que seriam a mão-de-obra das
fábricas.
A exigência de maior capacitação técnica a partir dos Anos 1950, com o
Brasil industrializado, e a aceleração do desenvolvimento tecnológico dos
microprocessadores, a partir dos anos 1970, dobrando sua capacidade a cada dois
anos, de acordo com a Lei de Moore, concorreram para e exigência de
trabalhadores capacitados para lidarem com tecnologias de informática em vários
campos de atuação. A queda dos preços dos computadores contribuiu para sua
maior popularização e a Internet, hoje uma mídia repleta de portais de serviços,
portais dos governos, portais educacionais e redes sociais, é uma via a mais de
expressão popular.
1.1 A CULTURA DIGITAL NO BRASIL
Atualmente, no Brasil, o uso da Internet (acessada pelo computador, ou
também pelos celulares smartphones) está cada vez mais popularizado, com
incentivo de acesso das pessoas aos portais de grandes empresas de mídia, a
exemplo de redes de televisão, rádios, jornais e revistas, que divulgam seus
endereços (WWW, e-mails, blogs). E algumas pessoas, que antes percebiam o
computador como uma ferramenta de trabalho, passam a desejá-lo como objeto de
comunicação, entretenimento e interação nas redes sociais (inclusive com
posicionamentos políticos). Para que esta popularização seja possível, o
computador e o acesso à Internet precisam ser de fácil aquisição, alem disso, é
necessário que o cidadão comum aprenda a utilizar seus recursos, domine os
códigos de acesso à rede. Atualmente os preços dos equipamentos e do acesso à
Internet, apesar de ainda caros no Brasil, estão caindo, ajudando a tornar o
computador um bem de consumo de massa, mas nem sempre foi assim.
20
O Brasil por muito tempo padeceu de um descompasso tecnológico com os
países mais desenvolvidos em recursos científicos e educacionais. Desde os anos
1960 até meados dos anos 1980, uma política de reserva de mercado – cuja
intenção a princípio louvável era o de desenvolver um parque industrial eletrônico–
proibia a importação de computadores e o Brasil chegou a ter menos computadores
que a Argentina o México e a Venezuela, dados do final dos anos 1990, publicados
pelo semanário Veja2.
Informações do blog de tecnologia do colunista do jornal O Estado de São
Paulo, Renato Cruz3, mantém uma cronologia do desenvolvimento dos
computadores no país, abrangendo a época da reserva de mercado no Brasil,
cabendo destacar:
1961 - Quatro alunos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, constroem o Zezinho, primeiro computador desenvolvido no Brasil, sob orientação do chefe da Divisão Eletrônica do ITA, Richard Wallauschek. São utilizados cerca de 1,5 mil transistores, todos de fabricação nacional.
A criação deste computador é destacada por representar a inventividade dos
estudantes, mas ao mesmo tempo, pode ser visto como um fato isolado, pois não
houve o desenvolvimento de uma indústria eletrônica nacional a partir da criação
desta máquina.
1974 - O governo Ernesto Geisel anuncia o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que prevê a implantação de uma indústria brasileira de minicomputadores, sob controle de capital nacional. O Patinho Feio, desenvolvido na USP, serve de base para a Marinha criar fundar a Computadores Brasileiros (Cobra), pontapé inicial da indústria brasileira de informática.
Aqui pode ser ressaltada a efetiva criação de uma política pública, apesar de
ter sido obra de um regime de exceção, que deu origem a uma indústria nacional de
computadores. Entretanto, os computadores brasileiros não se mostraram aptos a
serem objetos de consumo de massa em função de seu preço:
2De acordo com o sítio: http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/computadores-internet-reserva-mercado-pc-web-sites-bolha.shtml 3 Disponível em: http://www.estadao.com.br/tvdigital/reserva.shtm
21
1981 - Chegam ao mercado os primeiros microcomputadores produzidos no Brasil, com preços cinco vezes maiores que seus equivalentes no mercado internacional. Eles eram compatíveis principalmente com máquinas TRS-80, Apple II e CP/M.
Novas evoluções tecnológicas na produção de softwares e hardwares são
também motivadoras de pressões internacionais sobre a política protecionista do
Brasil:
1985 - O mercado foi invadido é por PCs e MSX. O governo americano começou a pressionar o Brasil por mudanças na política de informática, alegando desrespeito a direitos autorais.
Finalmente, o governo brasileiro revê sua política e o mercado nacional de
informática é aberto aos produtos estrangeiros:
1990 - O governo Fernando Collor de Mello anuncia que, a partir de janeiro de 1991, estará liberada a importação dos equipamentos de informática. Em setembro, a SEI é extinta. 1992 - A reserva de mercado termina oficialmente em 29 de outubro.
Convém frisar que a reserva de mercado foi instituída pelo Regime Militar e
foi posteriormente revogada já na vigência de um governo civil, posterior à
promulgação da Constituição de 1988. Uma das críticas à política de reserva de
mercado, publicada no portal da revista Istoé4, diz que resultou na disposição de
produtos mais caros que os seus equivalentes em outros países e eram de
qualidade técnica inferior, além de não promoverem a indústria de tecnologia de
computadores no Brasil e “as máquinas custavam em média US$ 5 mil. Além disso,
quando chegavam ao mercado, já eram consideradas obsoletas” (2009).
Em termos de políticas públicas, pode-se reconhecer que há programas em
estudo e em implementação desde os primórdios da popularização do uso dos
computadores, a título de exemplo:
Em 1989, o MEC institui o Programa Nacional de Informática na Educação (Proninfo) com o objetivo de promover o desenvolvimento da informática
4 Disponível em
http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/772_OS+EFEITOS+COLATERAIS+DA+LEI+DE+INFORMATICA
22
educativa e seu uso nos sistemas públicos de ensino (1o, 2o, 3o graus e Educação Especial). A partir do fim da década de 1980, diversas ações municipais e estaduais em todo o país se somam às iniciativas federais quanto a investimentos em informática educativa (FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA, 2010, p.278)
Com o fim da reserva de mercado e a Internet começando a sair do domínio
essencialmente acadêmico, para a comunidade pública em geral, depois da criação
de um backbone em 1991 pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP)5, com a
sua posterior abertura aos provedores nacionais, liberado pelo governo em 1995,
surgem os provedores comerciais e pode-se dizer que se inicia no Brasil a cultura
de acesso à Internet. A RNP permanece em funcionamento para prover acesso em
alta velocidade às instituições acadêmicas.
A partir de 1996, o número de provedores comerciais aumenta e o
desenvolvimento tecnológico associado à redução do preço dos equipamentos vai
possibilitar a difusão do uso da rede. Pode-se destacar a emergência de novos
provedores, o aumento de velocidade de acesso, o surgimento e a popularização da
banda-larga e o crescente interesse das pessoas em estarem “conectadas”.
As redes sociais, os portais de vídeos, os blogs, os portais de notícias, os
portais de serviços bancários, de governos federal, estaduais e municipais, de
agendamentos e compras online são exemplos do que o cidadão busca na rede.
Mas há também a possibilidade de manifestação política, de poder se comunicar
diretamente ao reivindicar direitos, que são ilustrações do que se convencionou
chamar de interatividade, que é um termo comumente utilizado para designar a
comunicação em duas vias que as redes de computadores possibilitam. E no Brasil,
muitos cidadãos utilizam plenamente destes meios, e é para estender este direito
democrático a todos os brasileiros que as escolas públicas não podem negar aos
seus alunos a imersão na cultura digital.
5 Disponível em http://www.rnp.br/noticias/imprensa/2002/not-imp-marco2002.html
23
1.2 REFLEXÕES CONCEITUAIS DA ERA DIGITAL
No livro Psicogênese e História das Ciências, Piaget e Garcia (2011) ao
dissertarem sobre a evolução do conhecimento, no capítulo intitulado Ciência,
psicogênese e ideologia, alertam que “a cada momento histórico e em cada
sociedade, predomina um determinado quadro epistêmico, produto de paradigmas
sociais e origem de um novo paradigma epistêmico” (2011, p. 344). É apropriado o
resgate desta constatação especialmente quando lidamos com a cibercultura, cujos
pressupostos teóricos emergem à medida em que a sociedade contemporânea
vivencia a cultura digital e cria novos modos de ler e entender o mundo.
Para tentar entender o panorama da exclusão sociodigital, a partir desta
pesquisa, para a qual foi vivenciada a realidade num contexto de escola pública,
cujos alunos residem em bairros populares de Salvador/BA – foram destacados
inicialmente quatro conceitos, nesta ordem: nativos digitais, cibercultura, hipertexto
e interatividade.
Para a análise destes conceitos se buscará um diálogo com vários autores,
visando escapar da armadilha denominada como “obstáculo epistemológico” (p.344)
por Piaget e Garcia, em que o próprio quadro epistêmico age como uma ideologia
que condicionará o desenvolvimento da ciência. O estudo da cultura digital é
relativamente recente e busca-se aqui, ao refletir sobre diversos conceitos e visões
de estudiosos sobre os próprios conceitos, o entendimento da exclusão sociodigital
tendo em vista que, apesar de suas peculiaridades em função das dificuldades
sociais, os alunos de escolas públicas são nativos digitais. Mesmo se os
considerarmos excluídos digitalmente, os alunos das escolas públicas são sujeitos
ativos e passivos da cibercultura em que o hipertexto e a interatividade afetam a
maneira de lermos o mundo.
24
1.2.1 Nativos digitais e cibercultura
Seria muito difícil abordar a temática da exclusão sociodigital que afeta os alunos
do ensino fundamental em escola pública, abdicando do conceito de Nativos Digitais.
Assim sendo, em primeiro lugar, buscou-se um conceito objetivo da expressão “nativos
digitais” e o livro Nascidos na Era Digital: entendendo a primeira geração de nativos
digitais, apresenta um glossário em que podemos encontrar a seguinte definição:
Uma pessoa nascida na era digital (depois de 1980), que tem acesso às tecnologias digitais de rede e a grandes habilidades e conhecimentos de computação. Os Nativos Digitais compartilham uma cultura global comum que não é rigidamente definida pela idade, mas por alguns atributos e experiências relacionadas a como eles interagem com as tecnologias da informação, com a própria informação, um com o outro e com outras pessoas e instituições (PALFREY, J.; GASSER, U. 2011, p. 324).
Neste livro também são problematizadas questões como a identidade, a
privacidade, a educação e o posicionamento político, dentre outros aspectos, em se
tratando de comportamentos e modos de ser dos Nativos Digitais, que ainda causam
estranheza para pais e professores refratários a esta nova cultura, e que motiva o
estudo de muitos especialistas sobre esta temática ainda incipiente.
Alunos e professores das escolas públicas não desconhecem a existência dos
computadores, nem da Internet. Mesmo aqueles que não sabem utilizá-lo, nem
possuam o equipamento como mais um eletrodoméstico, já devem ter tido contato com
esta máquina em supermercados, caixas eletrônicos, repartições públicas, dentre
outros locais, ou já ouviram falar da Internet em novelas ou filmes. Estes alunos que
nasceram no final do Século XX e início do Século XXI, numa grande capital do país,
como Salvador, mesmo que sejam os ditos “excluídos digitais”, por não dominarem o
uso destas tecnologias da informação, eles nasceram numa sociedade que assimilou e
se reinventa a partir da revolução tecnológica em curso.
Neste sentido, ainda na busca de entender a noção de Nativos Digitais, a
seguinte afirmativa, mesmo sendo referente a sujeitos dos Estados Unidos, merece
uma analogia com a realidade brasileira:
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Hoje os alunos [...] representam as primeiras gerações a crescer com esta nova tecnologia. Eles passaram a vida inteira rodeados por e usando computadores, videogames, tocadores de música digital, filmadoras, telefones celulares, e todos os outros brinquedos e instrumentos da era digital. Hoje "graduados universitários s média gastaram menos de 5.000 horas de suas vidas lendo, mas mais de 10.000 horas a jogar jogos de vídeo (para não falar de 20 mil horas assistindo TV). Jogos de computador, e-mail, Internet, telefones celulares e mensagens instantâneas são parte integrante de suas vidas. (PRENSKY, 2001, p. 1).
Obviamente, os alunos de Salvador/BA, vindos de famílias carentes, não terão
acesso a todos os elementos descritos acima, mas não há como negar que – mesmo
nas escolas públicas é comum os alunos utilizarem aparelhos celulares (que são
também tocadores de música, jogos e TVs e alguns podem acessar a Internet). Muitos
alunos também já estão acostumados a acessarem redes sociais na Internet, a exemplo
do Orkut ou Facebook.
Consideramos premente a necessidade de os professores e a escola não
fecharem os olhos para esta realidade, que parece inexorável - porque isto
representaria abandonar novas possibilidades didáticas, com a riqueza de informações
que a Internet põe ao nosso alcance, à distância de poucos “cliques”, mas, também,
porque a escola poderá se apropriar de recursos que potencializam a manifestação da
cidadania no território da chamada cibercultura.
A cibercultura é outro termo que está intimamente ligado à noção de Nativos
Digitais, pois nasceram neste caldo cultural em que as informações, as empresas, os
governos e as pessoas são influenciados pela revolução causada pela ampla difusão
das TIC. Assim, justifica-se também buscar o entendimento da cibercultura, que pode
ser assim vislumbrada:
é um terreno fértil, repleto de projetos inusitados, que instigam o pensamento crítico, a tomada de consciência e, muitas vezes, a ação. Para podermos adentrar no território da cibercultura, é preciso que nos libertemos das leituras reducionistas que vêem o ciberespaço como um mero aglomerado de máquinas (LEÃO, 2009, p. 588).
Os Nativos Digitais que frequentam a escola pública também precisam ter
acesso às possibilidades de leitura crítica do mundo em que vivem. Ao terem
26
contato com a miríade de informações e às novas maneiras que a Internet oferece
precisam aprender a lidar com este turbilhão de saberes.
Em se tratando de cibercultura, para abordar mais uma visão sobre este
neologismo, é crucial abordarmos o a definição de Pierre Lévy (1999, p. 17), que
“especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de
atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o
crescimento do ciberespaço”. Lévy também usou o termo “rede” (1999, p. 17) como
sinônimo de ciberespaço, e são as novas maneiras e valores apreendidos pelos alunos
que de um modo ou de outro acessam a “rede” que devem motivar o entendimento
deste fenômeno pela comunidade escolar, de outro modo poderá a escola também
contribuir para manter a exclusão sociodigital.
1.2.2 Hipertexto
Assim, dentre tantos outros saberes que o professor deve dominar, está o
convívio com alunos que já se habituaram à leitura mediada pelo computador, a partir
dos recursos do hipertexto,
que vem a ser um modelo não-seqüencial, um mosaico de conexões em rede que permite e exige o diálogo e participação efetiva. O hipertexto não elimina o professor como autor do processo porque de mero transmissor de “lições-padrão”, o professor será o mediador de novas experiências. (SILVA, 2003, p.11).
O hipertexto, que traz uma mudança nos processos de leitura, não deve ser
superdimensionado, mas deve ser usado juntamente com o modelo tradicional. O livro
didático deve ser utilizado, como mais um recurso, pois sempre será uma fonte de
conhecimentos e por trazê-los sistematizados em capítulos, ajudando o professor a
organizar seu planejamento de aulas e para o aluno será uma fonte de pesquisa rápida,
e um treino ao hábito da leitura.
27
De certa maneira, o professor num modelo interativo e que valorize a inclusão
sociodigital, será forçado a adotar práticas menos lineares, pois ao estimular a
participação e a interferência dos alunos em sua atividade pedagógica, a quantidade de
informações, estímulos aleatórios e informações circulando em rede pela sala de aula
será enorme.
Outra conceituação para hipertexto pode ser inicialmente percebida quando
relembramos também do termo palimpsesto, que era uma estratégia dos antigos
escribas de manuscritos, que, para reaproveitar um suporte relativamente caro, o
pergaminho, faziam várias cópias de diferentes textos superpostos, apagando o
anterior, e escrevendo novos textos. Porém, neste processo, os textos anteriores ainda
podiam ser lidos no mesmo suporte e, assim, também podemos entender o hipertexto
como um meio de informação que existe on-line (disponível eletronicamente sob demanda) em um computador. Possuindo uma estrutura composta por blocos de informação interligados, através de links (interconexões ou nexos) eletrônicos, ele oferece ao usuário diferentes trajetos para a leitura, provendo os recursos de informação de forma não linear. (DIAS, 2000, p. 2)
A analogia com o palimpsesto é limitada, no entanto, quando, na atualidade, nos
damos conta de que, sendo nós mesmos leitores de páginas da internet, esta leitura
deixa de ser determinada apenas pelo que está visível na tela em determinado
momento, pois certas palavras, ícones, ou imagens, podem funcionar como links,
conexões, para outros textos, num mergulho virtualmente infinito em busca de mais
informações.
Esta característica de texto, entretanto, pode representar uma fonte de riqueza
informacional, mas, se mal conduzida, poderá também subsidiar a perda de
objetividade, a dispersão e a pesquisa, ou a leitura, poderão também perder-se num
emaranhado desconexo na mente do leitor.
Outro conceito de hipertexto que merece mais uma reflexão ressalta que “um
hipertexto é uma matriz de textos potenciais, sendo que alguns deles vão se realizar
sob o efeito da interação com um usuário” (LÉVY apud PRIMO, 2008, p. 153). Isto
ocorre porque a leitura no ambiente virtual é como uma experiência de imersão nas
diversas conexões que se abrem – e vale destacar – não somente quando se clica em
28
textos, mas também é relevante a leitura que as imagens, gráficos, tabelas, sons e
vídeos remetem a quem quer que vivencie esta interação com a Internet.
Estes textos potenciais, em uma determinada página da Internet, que vão sendo
criados na mente do leitor, à medida que escolhe um caminho de leitura entre os links
disponíveis, estão todos armazenados em servidores à mercê do acesso de cada link,
mas somente se realizarão à medida que forem escolhidos por cada sujeito da leitura.
Neste sentido, cada pessoa poderá ter uma experiência de leitura diferente da outra,
mesmo tendo começado a leitura de uma mesma página, mas tenha optado por
“caminhar” por links diferentes dos outros leitores.
Por ser o hipertexto este mosaico não seqüencial, um caminho não convencional
para a leitura, que pode conduzir o aluno tanto a um jardim de delícias do saber
acadêmico quanto a um paraíso perdido de ideias confusas e desconectadas, é que o
professor deve estar atento e familiarizado com a sua filosofia de múltiplas dimensões,
podendo, então, ser capaz de melhor mediar as atividades didáticas para os seus
alunos.
1.2.3 Interatividade
Ao tratarmos da interatividade, quando a temática subjacente é a da exclusão
sociodigital nas escolas públicas, é importante que esteja claro que, como outros
conceitos aqui abordados, a interatividade também pode ser concebida em diversas
vertentes e é importante realçar que a interatividade aqui analisada é aquela mediada
por alunos e computadores, pois estamos lidando com o ambiente da cultura digital.
Muitas críticas são feitas, especialmente por considerável parcela dos estudantes
e professores de pedagogia, ao ensino dito “tradicional”, aquele caracterizado pela
centralização do saber na figura do professor. Também é um estereótipo o modelo de
escola severa, com regras disciplinares, currículos predominantemente pautados em
conteúdos das matérias típicas e alunos perfilados em suas carteiras e atentos às
palavras do mestre, como nos Séculos passados.
29
Mas os estereótipos nas escolas tradicionais que atuam há dezenas de anos,
estão notadamente abalados com o mundo contemporâneo, em que a influência dos
meios de comunicação a tudo permeia e implica em influências diversas. Por isso é
difícil conceber, hoje, alunos estáticos em sua posição passiva de ouvintes e meros
copiadores de conteúdos.
Uma palavra que pode ajudar a entender este novo cenário, mais participativo e
crítico, é a interatividade. Para entender a educação moderna e as influências das TIC
na prática pedagógica, especialmente quando se busca entender a exclusão
sociodigital, é importante tentar entender o conceito de interatividade, assim, foram
pesquisadas três definições. A primeira pontua que
interatividade é um caso específico de interação, a interatividade digital, compreendida como um tipo de relação tecno-social, ou seja, como um diálogo entre homem e máquina, através de interfaces gráficas, em tempo real (LEMOS, 2000, p. 3).
Este conceito pode ser ilustrado com o uso das redes e bancos de dados, jogos,
páginas de redes sociais, etc., e está atrelado à característica técnica dos artefatos que
permitem uma interação homem/máquina mais complexa do que uma simples
manipulação física, como, por exemplo, no caso de uma interação menos complexa,
para obter um refrigerante após inserir uma moeda numa máquina automática de
venda. O exemplo de uma interação mais complexa implica uma resposta da máquina
com um nível maior de “inteligência” aos estímulos produzidos por seu usuário. Por
exemplo, como num vídeo game, que é construído e programado para apresentar um
grande leque de “respostas” diferenciadas, dentro de um número limitado de
possibilidades, mas ainda assim um número muito grande delas, a cada situação dada.
A segunda explica que a
interatividade assinala muito mais um problema, a necessidade de um novo trabalho de observação, de concepção e de avaliação dos modos de comunicação do que uma característica simples e unívoca atribuível a um sistema específico, não se limitando, portanto às tecnologias digitais (LÉVY, 1999, p. 82).
30
Percebe-se que, considerando a definição proposta por Lévy (1999), a
interatividade pode ser entendida como uma possibilidade de estratégia
comunicacional, que pode ou não ser adotada pelos professores, que enfrentam um
grande desafio hoje em dia – a dispersão da atenção de muitos alunos,
desinteressados pelas aulas típicas, ditas tradicionais. Sua definição transcende o uso
da máquina, do computador, mas não significa que seu uso não seja indicado, quando
usado de forma adequada.
Os diferentes modos de comunicação podem ser interpretados como as vias em
que ocorrem: unilateralmente, em relação ao sentido de um para o outro apenas, em
que poderia haver a prevalência de apenas um ponto de vista, ou nos dois sentidos, em
que haverá maior interatividade. Mas também podemos ter modos de comunicação
diferenciados com a utilização de diversos suportes, não apenas computadores, mas
também livros, revistas, o pátio da escola; ou estratégias como jogos, teatro, desenhos,
concursos temáticos. A criatividade deverá ser estimulada quando se pensa em
interatividade.
A busca da compreensão do que vem a ser a interatividade revela que este é um
conceito extremamente complexo e que precisa de um maior aprofundamento para o
entendimento do fenômeno da exclusão sociodigital. O seu entendimento e domínio
podem representar a diferença entre incluir ou excluir os alunos do processo de
acelerada valorização do conhecimento, característica marcante do mundo
contemporâneo.
A interatividade pode ser uma filosofia de atuação do professor em sala de aula,
convocando os seus alunos a participarem ativamente da criação do saber. A partir do
momento em que os alunos são sujeitos do conhecimento, serão mais propensos a
valorizarem aquilo que entenderam.
Evidentemente, a questão da relação homem máquina, valendo-se dos seus
recursos de interatividade cada vez mais sofisticados e a custos mais baixos, também
poderá ser aproveitada pelo professor para a motivação dos seus alunos, porém, é
necessário estar ciente de que o professor está formando cidadãos que deverão estar
aptos a lidar com as TIC com sabedoria e responsabilidade.
31
O professor poderá mostrar estratégias para condução de conversas em salas
de bate-papo ou postar comentários nos blogs de diversos temas, ou utilizar uma rede
social para conduzir um trabalho em equipe, mostrando também como utilizar estas
redes, para que os alunos saibam se precaver e vir a ter cuidados básicos, como, por
exemplo, com a privacidade, a exposição inadvertida a crimes digitais, a difusão de
vírus, spams (difusão de e-mails), hoax (histórias falsas), etc.
Em outra vertente do estudo, Primo (2007), em seu livro Interação Mediada por
Computador, elabora importantes reflexões críticas sobre os conceitos de interatividade
no mundo impregnado pela cibercultura e dentre as diversas noções, ele destaca duas
abordagens: a da interação mútua e a da interação reativa, os conflitos e desequilíbrios
decorrentes são assim explicados:
As interações mútuas – diferentemente das interações reativas, onde as alternativas já se encontram estabelecidas – se desenvolvem através do choque dos comportamentos comunicativos dos interagentes (o que não é necessariamente sinônimo de briga ou violento desacordo), isto é, as cartas não estão todas dadas e as regras de combinação entre elas tampouco se encontram firmemente estabelecidas. (PRIMO, 2007, p.118).
O que fundamentalmente diferencia os dois tipos de interação é a maior
flexibilidade e possibilidade de ressonância entre os interagentes - definidos pelo autor
como “os participantes da interação” (PRIMO, 2007, p. 14), mesmo quando são
lançados estímulos não previamente previstos, na interação mútua, como, por exemplo,
num bate-papo entre duas pessoas pelo Skype, em que a conversação ocorre em
tempo real. Em contraste com a interação reativa em que um rol de possibilidades
limitadas são previamente estabelecidas e poderão ser desconsiderados estímulos que
não se enquadrem na comunicação esperada por que determinou as situações
possíveis de comunicação. Um exemplo possível: uma pessoa utilizando um terminal
de banco eletrônico só poderá realizar tarefas previamente determinadas.
Concomitantemente ao termo interagente, também há o termo “interator”, que
designa o aluno “enquanto personagem interativo, inserido na própria narrativa fruída,
permitindo a este a direta influência na seqüência de acontecimentos daquele enredo
que, de certa forma, torna-se para o então interator sua realidade imediata” (MURRAY
apud OLIVEIRA, 2007, p. 2). Tanto o interagente como o interator bem representam os
32
nativos digitais, acostumados a lidar com celulares, jogos online, computadores, em
seus múltiplos usos, e demais aparatos tecnológicos, também familiarizados com a
experiência de imersão que o ciberespaço oferece.
Mas ao se tentar implementar a interatividade, é preciso estar atento para não se
cair facilmente na armadilha do uso do termo em seu aspecto mais banalizado, apenas
pelo forte apelo, inclusive comercial, que a palavra passou a evocar, pois:
O termo interatividade tem sido usado de maneira abusiva como modismo, como slogan de venda [...] Os avanços na telemática oferecem novas formas de mediação comunicacional, quebrando barreiras geográficas e potencializando o diálogo. É verdade que muitos se embriagam com a técnica e não conseguem pensar sobre o impacto social dessas tecnologias. Enquanto isso, no outro extremo, as críticas negativas a priori, ou a nostalgia tacanha caricaturam os prejuízos, exagerando os traços dos problemas e negando a aplicação construtiva das tecnologias digitais (PRIMO, 2007, p.54).
Os professores devem estar familiarizados com a interação que acontece nas
comunidades virtuais para falar a mesma linguagem dos seus alunos. Entretanto,
muitos alunos ainda não têm, também, a familiaridade com as características do
ambiente da Internet devido a não possuírem computador em casa e na escola pública
os computadores ainda estão guardados a “sete chaves”. A interatividade é, antes, uma
forma de se comunicar que, nos tempos atuais, com a tecnologia da informática, obteve
enorme desenvolvimento e impacto cultural. O que se esperará do professor, que não
disponha dos recursos técnicos imediatos em sua escola, é usar características da
interatividade, como um recurso didático e pedagógico, na intenção de fomentar a
inclusão sociodigital, pois a interatividade não requer, necessariamente, um computador
ou uma rede tecnológica numa sala.
33
2 INCLUSÃO E EXCLUSÃO SOCIODIGITAL
Para a vivência da cidadania em suas diversas facetas, o indivíduo está,
numa sociedade democrática, circundado de direitos e deveres que se manifestarão
desde antes do seu nascimento, como os direitos do nascituro, por exemplo,
garantidos no nosso Código Civil6, ou os deveres, também estabelecidos em nossas
Leis, inclusive na Constituição. Hoje em dia, em nossa complexa sociedade
tecnológica, o direito à informação já se configura como um dos maiores legados da
revolução digital, desde a popularização da imprensa ao uso disseminado da
Internet.
O acesso às informações é um dos pilares da democracia, pois o cidadão, ao
informar-se, poderá posicionar-se politicamente, interferindo nos destinos da nação,
mas, também, o acesso à informação é um meio para garantir melhor qualidade de
vida, e de educação, permitindo aos sujeitos desenvolver suas capacidades de
aprender a aprender.
Quem aprende a lidar com as informações, saberá encontrar os meios de
garimpar mais saberes, e poderá ser mais competente nos mais diversos estratos:
profissionais, educacionais, sociais e emocionais. A informação como um valor em
si mesmo é uma das características do nosso tempo e a educação nas escolas
públicas prestará um relevante serviço aos seus alunos se os preparar para
entenderem o mundo da informação a que temos acesso através do uso das TIC
(tecnologias de informação e comunicação).
Para entender as noções de exclusão sociodigital, que serão trabalhadas
posteriormente, é necessário entender, também, o que é a inclusão sociodigital. Os
dois conceitos são objetos de estudo de muitos especialistas das mais diversas
áreas (comunicação, bibliotecários, pedagogos, sociólogos, tecnólogos) e, de
acordo com a primeira definição analisada, a inclusão digital é compreendida a
partir de números estatísticos, pela “relação entre a porcentagem de pessoas com
6 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm.
34
acesso a computador e/ou Internet no domicílio e o total da população ” [de uma
localidade] (SORJ e GUEDES, 2005, p. 103).
Os autores ressaltam que este conceito sofre críticas principalmente por
mascarar números de acessos à Internet em famílias pobres, que podem acessar a
Internet em seus locais de trabalho, e, também, da classe média, que podem ter
mais de um computador por residência. Mesmo assim é possível deduzir que o
contato com o computador conectado à Internet é crucial, bem como a necessidade
de saber utilizar conscientemente seus recursos, da máquina associada aos seus
infindáveis usos, o que vem a ser entendido como alfabetização digital.
Além de promover a alfabetização e do letramento para os discentes do
ensino fundamental, os professores devem também estar atentos à inclusão
sociodigital dos seus alunos pois estarão promovendo, em verdade, a sua inclusão
social. Aqui, cabe destacar outra definição para inclusão digital oriunda do Grupo de
Estudos em Políticas de Informação e Inclusão Digital (Gepindi), onde temos que a
inclusão digital é um processo que deve levar o indivíduo à aprendizagem no uso das TICs e ao acesso à informação disponível nas redes, especialmente aquela que fará diferença para a sua vida e para a comunidade na qual está inserido (GEPINDI, UFBA, 2005, p. 32).
Os conceitos representarão visões diversas, dependendo dos objetivos dos
pesquisadores, mas é possível delimitar uma noção de que a inclusão digital será, num
primeiro momento, fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade mais
solidária, em que os cidadãos possam ter acesso às informações e, o mais importante,
que eles saibam como utilizar o conhecimento, para terem maior autonomia e que não
fiquem à margem, se assim não quiserem, das oportunidades e possibilidades da
cibercultura.
35
2.1 INCLUSÃO SOCIODIGITAL
O uso do computador, hoje em dia, não surpreende mais a quem está
familiarizado com máquinas para realizar as atividades cotidianas, tão comuns como,
por exemplo, utilizar uma caneta esferográfica para anotar um recado. Pagar contas
valendo-se do “home banking”, comprar ingressos, elaborar planilhas de controle
doméstico, guardar memórias afetivas em fotos, vídeos e músicas são exemplos do uso
corriqueiro das tecnologias digitais, ademais, com a conexão à Internet, este universo
se amplia, e a velocidade da conexão à banda larga é o limite técnico atual.
O outro limite é, em se tratando de inclusão sociodigital, efetivamente possuir a
conexão em si, e aqui estamos nos referindo à possibilidade de uso do computador
interligado à Internet pelos alunos da escola pública, pois,
se há um consenso acerca das consequências sociais do maior acesso à informação é que a educação e o aprendizado permanente tornam-se recursos essenciais para o bom desempenho no trabalho e o desenvolvimento pessoal. Embora aprendizado seja mais amplo que educação, as escolas ainda têm muito a fazer com relação ao processo de aprendizado. Em sociedades avançadas, elas estão se conectando rapidamente à Internet (CASTELLS, p. 211, 2003).
Desta forma, abordar a inclusão sociodigital, ao mesmo tempo, deve ser temática
do cotidiano escolar, não somente como discurso, mas na prática das aulas, pois o uso
das TIC já está presente no cotidiano das pessoas, nos mais variados graus de uso.
Encarar a tecnologia digital como mais um elemento didático é uma saída possível para
que a inclusão sociodigital seja abordada como uma perspectiva pedagógica inovadora
e potencial entre professores e alunos, e não mais como uma novidade que provoca
deslumbramento ou resistências – ambas impróprias para o que se deseja – a inclusão
social do cidadão.
Não se deve esquecer de que os alunos, crianças e adolescentes, neste começo
de Século XXI, já nasceram sob a influência de uma cultura digital que causou e causa
impactos em toda a sociedade. A tecnologia digital facilita a aproximação dos sujeitos,
promovendo processos comunicativos, bem como as relações comerciais e culturais, à
36
velocidade de luz pelos meios eletrônicos, especialmente as fibras óticas e os satélites
geoestacionários. As crianças que estão se tornando adultas neste caldo cultural são
nativos digitais, como vimos anteriormente e assim,
promover a inclusão digital é, na nossa percepção, oportunizar que cada sujeito social possa, efetivamente, participar desse movimento, não se sujeitando às práticas que o condicionam a mero consumidor, seja de informações, seja de bens, seja de cultura. (BONILLA, 2009, p. 13).
Não se trata de minimizar a importância dos produtos da tecnologia nem do
desenvolvimento tecnológico em si, mas de atentar para não ser um escravo dos bens
de consumo. É também valer-se exatamente da possibilidade de crescimento humano
e, por que não, humanitário, ao dominar o trânsito, a comunicação e a interação nos
caminhos que a rede oferece. Pode-se dizer que o ciberespaço é um espelho do mundo
concreto, mas deve-se admitir que a educação se aproprie das idiossincrasias do meio
digital, para a promoção da inclusão sociodigital. Mas também é importante o educador
ter em mente que
a inclusão sociodigital está para além do acesso aos instrumentos tecnológicos, aos programas de inclusão digital, a conectividade em redes digitais, ao conhecimento da linguagem binária, as inserções em ambientes modernos e informatizados e ao manuseio adequado das TIC, mas também não podemos negar que estes elementos constituem e são constitutivos de uma promessa de sociedade em rede e, consequentemente, da efetivação da inclusão sociodigital (BONETI; ALMEIDA; HETKOWSKI, 2010, p. 5-6).
Pois em última análise, o que se pretende é a promoção da autonomia dos
sujeitos no mundo, para que os alunos de hoje se tornem cidadãos que possam fazer
escolhas, tomar decisões e interferir democraticamente na realidade que os circunda.
2.2 EXCLUSÃO SOCIAL
Para tratarmos da exclusão digital nas escolas públicas, é importante abordar a
noção de exclusão social, estabelecendo uma perspectiva a partir da qual se possa
entender como são os dois fenômenos imbricados.
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A exclusão sociodigital pode ser uma das facetas da exclusão social. É mais um
elemento no rol de necessidades que são negadas ao cidadão. A exclusão sociodigital,
reflexo de um processo educacional que não esteve atento ao desenvolvimento
tecnológico, e todo um conjunto de valores que sofrem mudanças a partir desta
evolução, pode ser hoje a ponta menos perversa de um iceberg de direitos
precarizados, mas que, ao longo da vida de uma pessoa, em um mundo globalizado,
conectado pelos computadores e dispositivos portáteis (celulares, notebooks, tablets),
revelará, cedo ou tarde, sua característica deletéria aos direitos e liberdades individuais.
A exclusão social no Brasil é fruto de um complexo contexto histórico, que
engloba as peculiaridades da nossa colonização, do regime escravocrata e das
políticas públicas educacionais tímidas ao longo do Século XX. Dessa forma, pode-se
citar o primeiro conceito de exclusão social como sendo
inseparável do de cidadania, que se refere aos direitos que as pessoas têm de participar da sociedade e usufruir certos benefícios considerados essenciais. A literatura costuma distinguir três tipos de direito – os direitos civis, políticos e sociais (REIS e SCHWARTZMAN, 2007, p. 6).
Este primeiro conceito reflete a preocupação dos estudiosos com a integridade
da cidadania, em suas esferas: social, política e dos direitos civis, mesmo estando
todas elas interligadas. Em relação aos estudos da exclusão digital, é importante a
noção da exclusão social para redimensionarmos o vácuo que se cria para o cidadão
quando um dos seus direitos é negado pelas instâncias global, nacional e local.
A caracterização da nossa sociedade tecnológica – antes marcada pela televisão
e pelos livros – hoje é marcada pela fusão de mídias digitais, transformando o
computador e outros instrumentos móveis, em suportes universais de integração de
conteúdos, centralizando a atenção e o desejo de muitos jovens de estar conectados a
outros jovens, valendo-se das comunidades virtuais, grupos de discussão, trocas de
arquivos, vídeos, jogos online, entre outros. Há uma reprodução do mundo real no
mundo virtual com repercussões concretas em ambos.
Aquele que estiver fora deste processo será excluído digitalmente e, quando se é
carente de outros recursos materiais básicos, é que o conceito de exclusão social
revela-se como uma das causas da exclusão sociodigital, pois, este conceito
38
de exclusão social – bem como os de pobreza e desemprego – é uma resposta à necessidade de lidar com algumas características sócio-econômicas surgidas recentemente. Ela enumera, assim, mais de 20 categorias de excluídos, entre eles os sem-habilidades (skill-less), os analfabetos, os fora-da-escola, os viciados, os delinqüentes, as crianças que sofreram abuso (DUPAS, 1998, p. 122).
São muitas as possibilidades de exclusão, mas mesmo que os autores
estudados para a citação dos conceitos de exclusão social reforcem o quão difícil é
definí-la, podemos perceber, em nossa realidade de metrópole de um país emergente,
estas definições em seu aspecto cru e nada sutil, no dia a dia das escolas públicas e na
repercussão dos processos formativos dos alunos do ensino fundamental.
Portanto, para entender a exclusão sociodigital, é preciso saber o contexto de
exclusão social em que estão mergulhados os atores deste processo: alunos,
familiares, funcionários, professores das escolas públicas. Este contexto – no micro
cosmo da escola - é a reprodução da realidade social do país e a resposta para a
problemática da exclusão digital nas escolas públicas pode estar na minimização das
desigualdades na sociedade, para além dos muros das escolas.
Em seu livro Trajetórias Desiguais, Mônica Peregrino (2010), realizou um estudo
em que vivenciou o cotidiano de uma escola pública carioca. Ela problematizou as
noções de exclusão social a partir das diversas possibilidades de usos, indefinições e
“armadilhas” que o termo encerra, criticando os meandros de uma sociedade capitalista
por um lado, quando afirma que este é um termo “amplo o suficiente para descrever
variados processos que abarcam desde a degradação das relações sociais às
desigualdades múltiplas postas em ação pela forma violenta da acumulação capitalista
em nosso país” (p. 64), até a referência ao termo exclusão quando “é posta não nas
situações ou processos, mas nos próprios atores sociais, sendo assim descritos como
„excluídos‟”,(p. 64) o que só faz revelar a necessidade de enfrentar a questão.
Talvez o ideal fosse tentar minimizar as desigualdades sociais mais evidentes
para depois se pensar na inclusão sociodigital, entretanto, não há tempo há perder, e
os dois fenômenos estão imbricados de tal maneira que, ainda sob a ótica da
perpetuação histórica das desigualdades e da necessidade de reverter esta situação, a
autora alerta para o fato de que
39
a exclusão vem funcionando como uma espécie de conceito/denúncia da degradação e da vulnerabilização das condições de vida de parte considerável da população no planeta. No Brasil, o termo ganha contornos agudos, apontando para o descarte social de parte significativa da população, desconsideradas pelas políticas públicas tanto no campo das chamadas políticas compensatórias quanto no campo das políticas emergenciais (PEREGRINO, 2010, p.79).
Portanto, não é admissível conceber o descarte de um contingente populacional,
nem de um sujeito sequer, pois as políticas públicas devem buscar atender a todos, não
para promover a propaganda de programas de governo, nem para adornar planilhas
com indicadores com números arredondados que podem apontar tendências, mas
sempre deixam margem para justificar manter sem assistência do Estado, aqueles que
nunca serão atendidos adequadamente em suas necessidades básicas.
40
3 A CORRELAÇÃO DE FORÇAS ENTRE A SOCIEDADE CIVIL, AS ELITES
DOMINANTES E O ESTADO
A partir das análises da exclusão sociodigital e exclusão social, vistos
anteriormente, é pertinente o entendimento de que estes fenômenos podem ser
determinantes de um mesmo efeito perverso, efeito este que promove a junção de
fatores que concorrem para manter uma segregação do sujeito (no caso deste estudo,
os alunos do ensino fundamental), que será podado de vivenciar a cidadania em maior
plenitude.
Entretanto, cabe ressaltar que, se vivemos numa sociedade em que há um
enorme número de pessoas que vivem em situações críticas no que concerne a ter os
mesmos bens culturais e materiais, ao se buscar as razões para estas disparidades é
possível regredir à gênese da criação da nossa própria sociedade, que por suas
características peculiares produziu historicamente a sucessão de governos que moldam
e conduzem políticas públicas interrompidas entre gestões diferentes.
Uma análise possível para a manutenção desta situação: de acordo com Boneti
(2007, p.15), há fatores condicionantes que em termos globais, “obrigariam países
periféricos a adotar „modelos‟ homogêneos de desenvolvimento econômico e social”. O
autor também cita os fatores condicionantes em termos do contexto nacional, “o das
classes dominantes e dos vários segmentos que compõem a sociedade civil” e que esta
correlação de forças se daria num contexto global que interferiria nas “instâncias locais”,
representativa da instância da operacionalidade, e que, na prática é onde mais afeta ao
cidadão, pois atinge diretamente sua vida cotidiana.
Entretanto, o próprio autor reconhece que há uma pluralidade de fatores políticos
nos dias atuais e os agentes globais e nacionais que são agentes determinantes da
implementação das políticas públicas não são os únicos a fazê-lo. Há que se
reconhecer, e Boneti (2007, p. 16) o faz, que a alegada pluralidade nos dias atuais
também possui poder político neste xadrez de poder, e são representados por entes da
sociedade civil.
41
Considerando esta pluralidade de elementos na correlação de forças, que em
termos ilustrativos poderia ser entendida como um sistema de amarras e contrapesos,
em que cada ente exerce determinado vetor de força em busca de seus interesses,
podemos também acrescentar como elemento atuante na sociedade civil os cidadãos
que utilizam cada vez mais as redes sociais para manifestarem, no ciberespaço, sua
indignação, sendo estes movimentos extrapolados para manifestações presenciais em
ruas e praças de diversas nações. A chamada “Primavera Árabe” é uma ilustração
desta força, neste caso a da sociedade civil.
As redes de computadores parecem estar cada vez mais a serviço dos sujeitos
que dominam sua cultura, especialmente para quem nasceu numa conjuntura social
que permitisse ter acesso a todos os bens materiais e culturais que lhes desse
oportunidade desde cedo de lidar com sua linguagem e operação, portanto, mais uma
vez é dever da escola pública educar os alunos com entendimento de causa destes
novos saberes.
3.1 PROGRAMAS PÚBLICOS VERSUS INCLUSÃO SOCIODIGITAL
Apesar de nos percebermos mergulhados nos domínios da cibercultura e os
alunos, nativos digitais, estarem à frente, em termos de domínio tecnológico, de muitos
professores do ensino fundamental, mesmo em contextos carentes, não é somente o
esforço pessoal que deve contribuir para a promoção da inclusão sociodigital, o Estado
é um dos atores mais importantes neste cenário.
O entendimento de como pode existir, em tão larga escala, a exclusão
sociodigital para os alunos oriundos da escola pública se há diversos programas oficiais
de combate à exclusão sociodigital é um primeiro passo para a compreensão deste
fenômeno. É importante, inicialmente, fazer um levantamento de quais políticas
públicas são levadas a cabo pelos governos Federal, Estadual e Municipal (no caso de
Salvador/BA), pelo menos as mais relevantes e divulgadas nos meios de comunicação
42
oficiais por estas esferas de poder, para em seguida avaliar quais se aplicam ao
universo em que foi realizada esta pesquisa.
Desta maneira, a título de exemplo, os seguintes programas permaneciam em
voga, no momento em que esta pesquisa estava em andamento, com seus respectivos
objetivos (2011):
Programas Sites
PLANO NACIONAL
DE BANDA LARGA
http://www.mc.gov.br/plano-nacional-para-banda-larga
“com o objetivo de massificar, até 2014, a oferta de acessos banda larga e
promover o crescimento da capacidade da infraestrutura de telecomunicações
do país”
BANDA LARGA NAS
ESCOLAS
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=15808
http://www.inclusaodigital.gov.br/links-outros-programas/programa-banda-
larga-nas-escolas/
http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do
“tem como objetivo conectar todas as escolas públicas urbanas à internet, rede
mundial de computadores, por meio de tecnologias que propiciem qualidade,
velocidade e serviços para incrementar o ensino público no País”
TELECENTROS http://www.inclusaodigital.gov.br/telecentros
http://www.telecentros.desenvolvimento.gov.br/sitio/sobre/apresentacao/
“é uma ação do Governo Federal de apoio à implantação de novos espaços
públicos e comunitários de inclusão digital e o fortalecimento dos que já estão
em funcionamento em todo o território”
UM
COMPUTADOR
POR ALUNO - UCA
http://www.uca.gov.br/institucional/
“tem como objetivo ser um projeto Educacional utilizando tecnologia, inclusão
digital e adensamento da cadeia produtiva comercial no Brasil”
Figura 1 – Programas do governo federal do Brasil para a inclusão sociodigital
Programas referentes à esfera estadual:
Programas Sites
CIDADANIA DIGITAL http://www.cidadaniadigital.ba.gov.br/
“visa garantir à população baiana o acesso às
tecnologias da informação e da comunicação,
através dos recursos tecnológicos das redes de
43
computadores”
SECTI - SECRETARIA DE CIÊNCIA E
TECNOLOGIA
http://www.secti.ba.gov.br/
atua "junto às tecnologias de ponta, portadoras de
futuro, e às tecnologias sociais, que proporcionam
inclusão, a exemplo do Cidadania Digital
(Programa de Inclusão Sociodigital do Estado da
Bahia)"
SEPROMI – SECRETARIA DE PROMOÇÃO
DA IGUALDADE
http://www.inclusaodigital.gov.br/noticia/sepromi-
inicia-programa-de-inclusao-digital-para-jovens-ba
“visando a qualificação para o trabalho e o apoio a
atividades escolares, tendo a inclusão digital como
vetor para a inclusão social”
Figura 2 – Programas do governo estadual da Bahia para a inclusão sociodigital
Programas referentes à esfera municipal:
Programas Sites
COGEL http://www.tecnologia.salvador.ba.gov.br/
“garantir e ampliar a qualidade da informação, provendo soluções de Tecnologia da
Informação e Comunicação - TIC para a excelência dos processos da administração pública”
BUZU DIGITAL http://www.maissocial.salvador.ba.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=57&It
emid=72
“é um ônibus adaptado para uma sala de aula, com 11 computadores e acesso à Internet, com
o objetivo de levar às comunidades pobres de Salvador, o ensino gratuito de informática”
CÂMARA
MUNICIPAL
http://www.cms.ba.gov.br/noticia_int.aspx?id=3196
projeto de vereador que “defende que a prefeitura de Salvador viabilize o acesso gratuito à
internet em bairros populares”
Figura 3 – Programas do governo municipal de Salvador/BA para a inclusão sociodigital
Convém destacar que estes programas são equivocadamente chamados de
políticas públicas, pelos próprios governos e pela sociedade, mas são exemplos de
políticas do governo de ocasião, aquele que estiver no poder no momento. A realidade
das políticas públicas no Brasil, representadas por inúmeros programas, nas esferas
federal, estadual e municipal, nem sempre permite a continuidade de ações de Estado,
o que, por vezes implica na descontinuidade de ações implementadas parcialmente e
que não foram suficientemente amadurecidas e logo são abandonadas.
44
Apesar desta característica desabonadora, no momento em que esta pesquisa é
conduzida, o Governo Federal está implementando uma política denominada de
Programa Banda Larga nas Escolas Públicas Urbanas. De acordo com dados
publicados no portal da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)7 - planilha
anexada -, em todo o Brasil foram atendidas, até a data da elaboração divulgada,
29/4/2011, 58764 escolas em todo o Brasil. Na Bahia, foram 5766 e em Salvador, local
deste estudo, 613 escolas estavam interligadas à rede por Banda Larga:
Frente a estas novas perspectivas, e considerando a política nacional de inclusão digital, conectar as escolas à internet é fator estratégico do governo. Para tanto, em 04 de abril de 2008, através do Decreto Presidencial n. 6424, foi lançado o Programa Banda Larga nas Escolas, com a participação das operadoras de telefonia e da Agência Nacional de Telecomunicações. (BONILLA, p. 6)
O acesso à rede é um passo fundamental, mas não é a única etapa para que os
alunos tenham a logística e a infra-estrutura necessária para um funcionamento
adequado. São requisitos necessários: salas convenientemente equipadas e
climatizadas, os computadores funcionais e atualizados com os softwares e os
monitores, ou seja, as pessoas capacitadas, para conduzirem um uso didático da rede.
Evidentemente, muitos alunos já terão acesso em casa, em ONGs ou nas “lan houses”
de bairro, mas na escola haverá a possibilidade do uso pedagógico do computador em
rede.
O contexto das escolas públicas ainda revela a presença de professores que se
mostram refratários ao uso das tecnologias da informação e comunicação para
complementar as atividades didáticas. Um grande exemplo para ilustrar esta afirmativa
são as “TVs Pendrive”. Podemos descrever estes equipamentos como grandes
aparelhos de televisão, de 29 polegadas, ainda do modelo de tubo de raios catódicos
(tubo de imagem), adaptados para a leitura de arquivos multimídia, nos formatos mais
comuns de áudio e vídeo, “mp3” e “avi”, “mpeg”, substituindo os ainda caros projetores
“datashow”.
7 Conforme portal:
http://www.anatel.gov.br/Portal/verificaDocumentos/documento.asp?numeroPublicacao=254860&pub=original&filt
ro=1&documentoPath=254860.pdf
45
Estas TVs são instaladas em caráter permanente nas salas de aula, num local
alto, geralmente num dos cantos, ao lado do quadro, requisitando basicamente uma
tomada de energia elétrica ao seu lado e um controle remoto para sua
operacionalização. O que se encontra, no entanto, nas salas pesquisadas são as TVs
meramente afixadas a um suporte, ou sobre um armário, em diversos casos longe das
tomadas elétricas e não há garantia de que funcionarão, se ligadas ou se a fiação
estará íntegra, pode ter sido vandalizada. Também é comum o controle remoto estar
quebrado, sem pilhas, ou simplesmente ter sido perdido.
A descrição do parágrafo acima é uma ilustração de como se aplica uma política
pública verticalizadora, em que não há uma efetiva participação da comunidade escolar
em sua implementação, ou, quando menos, num treinamento adequado que possa em
tempo suficiente incorporar este recurso à cultura escolar, pois muitos professores não
dominam o uso da TV Pendrive. E, obviamente, não deve recair sobre os ombros do
professor, isoladamente, toda a responsabilidade por esta situação, pois ele é um dos
atores num contexto complexo.
Para a utilização deste recurso, o professor deverá ter noções mínimas do uso
de uma TV comum, ligar e desligar o aparelho via controle remoto. A operação do
controle é semelhante à utilização de um aparelho de DVD, ou “home theather”.
Entretanto, a obtenção das mídias de áudio e vídeo que serão apresentadas requerem
do professor uma pesquisa na Internet.
Nas escolas analisadas, não havia um banco de dados de materiais didáticos já
convertidos para os formatos “avi”, “mpeg” ou “mp3”, relacionados às atividades letivas
de cada matéria e/ou classe. Em verdade, o que se percebe é que a pesquisa nos
horários livres dos professores para a elaboração de apresentações em “power point”, o
“download” e conversão de vídeos didáticos na Internet e a sua cópia e organização de
pastas de arquivos nos “pendrives” requererá que o professor: a) domine a utilização do
computador; b) possua um computador ligado a uma conexão de banda larga em sua
casa; c) disponha de tempo livre para esta pesquisa, que, efetivamente, requer muito
tempo; d) possua um “pendrive” de capacidade mínima de 2GB; e) esteja motivado a
utilizar estes recursos em suas aulas.
46
Estes requisitos dependerão, para sua efetiva aplicação, em grande medida, de
empenho pessoal de professores abnegados, pois a realidade da escola pública ainda
é precária para que eles encontrem, em seu ambiente de trabalho, salas onde possam
fazer pesquisas, onde tenham acesso à banda larga, onde possam planejar suas aulas
e organizar arquivos digitais pertinentes aos conteúdos sob sua responsabilidade. Mas
depender do eventual empenho de um ou outro professor não é fazer parte de um
programa público adequado para a inclusão digital, ao contrário, se as escolas e, em
última instância, os alunos, dependem da existência fortuita de professores abnegados
e não há uma estrutura que lhes dê suporte, isto significa que opera de fato uma “não-
política” para tratar a exclusão, com a consequente promoção da inclusão sociodigital.
Por estes motivos é importante entender criticamente o contexto em que as
políticas públicas de inclusão sociodigital são implementadas. Para tanto, podemos
considerar a coexistência de três instâncias – global, nacional e local (BONETI, 2010,
p.14-15) – principais, que se formam, respectivamente, pelos conjuntos de instituições
internacionais, a segunda pela sociedade civil, estados e municípios, e a local onde são
efetivadas as políticas públicas, atingindo diretamente aos sujeitos envolvidos. Nestas
três instâncias atuam forças numa coreografia tal que privilegiará a quem detiver maior
manifestação de poder.
Em relação à instância global, o Banco Mundial, o FMI, o BNDS representam
instituições nacionais e organismos internacionais que conduzem programas em
diversos países, interferindo diretamente com os capitais que serão destinados e quais
os indicadores que deverão ser considerados para a implementação dos programas
sociais.
Os Estados e Municípios (se estiverem representando a instância local) são
extensões das instituições a quem responderão pela efetivação dos programas e pela
busca de adequação das realidades locais aos indicadores esperados (por exemplo,
número de alunos de determinada idade matriculados em diversas séries, naquele
ano). Muitas vezes, percebe-se que há uma necessidade de atender estatísticas,
números, que poderão não representar efetivamente o atendimento às necessidades
dos sujeitos envolvidos no processo.
47
A sociedade civil (como instância local), representada pelas ONGs, igrejas,
associações, cidadãos, é a instância a quem os agentes mencionados anteriormente
dedicam suas políticas e programas, sendo que a sociedade civil, para efeitos
administrativos, será convertida em dados numéricos, por meio de planilhas e gráficos.
A crítica possível, num primeiro momento, a este modelo de implementar
políticas e monitorar os seus resultados, é a de que os números, as planilhas, as
médias, as curvas dos gráficos, por sua natureza generalizante, deixarão de refletir as
realidades das escolas em que, mesmo havendo o acesso à banda larga numa
determinada sala, isto não significa que todos os alunos daquela comunidade escolar
estejam efetivamente conectados à rede.
Ou seja, um modem ligado a um computador, não significa que os alunos
estejam efetivamente conectados. Para entender como esta relação entre uma escola
interligada a um programa do governo federal, até então vislumbrada pelo governo
como mais um número numa planilha, e a efetivação da funcionalidade do programa,
será necessário adentrar às várias instâncias da própria escola, vivenciar sua dinâmica,
dificuldades, desafios e relatar as impressões, bem como as coletas de dados e,
sobretudo, perceber como as crianças são afetadas por todo o funcionamento das três
esferas anteriormente descritas.
Ao problematizarmos as políticas públicas de governo em relação à inclusão
sociodigital, percebemos que o conceito de inclusão pode emanar, por eliminação, do
que ele não representa: quem está incluído. Neste ponto, convém ressaltar uma visão
crítica da noção de “inclusão” considerada inadequada pelo autor:
Em primeiro lugar em decorrência da transposição automática advinda da exclusão, uma espécie de positivação de uma dada condição social. Em segundo lugar, a partir dos ingredientes históricos que constituem esta palavra (BONETI, 2010, p. 21).
No entendimento da exclusão, por exemplo, para aqueles que não têm trabalho,
a exclusão vem a ser dada pelo patamar sócio-econômico destes cidadãos que, ao
enfrentarem dificuldades da ausência de uma fonte regular de salário, não terão
recursos a determinados objetos culturais (cinemas, livros, Internet) e lhes será negado
acesso a outros bens, inclusive de consumo.
48
A inclusão pode ser, por outro lado, exemplificada pela presença dos alunos em
sala de aula em escolas públicas. E em se tratando de inclusão sociodigital, mesmo
com a dubiedade do papel da escola, que em muitos casos mantém os laboratórios de
informáticas com portões cerrados por grades, significando isto que mesmo a escola
pode ser agente de manutenção de desigualdades.
3.2 A INCLUSÃO SOCIODIGITAL E OS PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS (PCN)
De acordo com informações disponíveis no portal do Ministério da Educação8, a
Educação Básica no Brasil é norteada pelo Plano Nacional de Educação (PNE), Lei
Federal 10.172, de 09 de janeiro de 20019, na qual se encontra a expressão
“parâmetros curriculares nacionais” (os PCN, que foram elaborados há mais de 10
anos), nesta Lei está estabelecido que
as novas concepções pedagógicas, embasadas na ciência da educação, sinalizaram a reforma curricular expressa nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que surgiram como importante proposta e eficiente orientação para os professores. Os temas estão vinculados ao cotidiano da maioria da população (BRASIL, 2001).
Merece destaque a determinação de que os temas estejam vinculados ao
cotidiano da maioria da população. Há 10 anos os computadores e a Internet estavam
mais distantes deste cotidiano, mas atualmente, não. Ao se buscar as palavras “digital”
e “computador” nos textos do PCN para o Ensino Fundamental, disponíveis para
download no formato PDF, no Portal do MEC na Internet, é sintomático constatar que,
para o primeiro caso, esta palavra simplesmente não foi encontrada. Mas ao se
pesquisar a palavra computador, foi possível encontrar diversas referências, e a
seguinte recomendação:
8 Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=293&Itemid=358
9 Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm
49
É indiscutível a necessidade crescente do uso de computadores pelos alunos como instrumento de aprendizagem escolar, para que possam estar atualizados em relação às novas tecnologias da informação e se instrumentalizarem para as demandas sociais presentes e futuras (PCN, 1997, p. 67).
Entretanto, no mesmo texto do PCN, o próprio Ministério da Educação (MEC) -
reconhece que a situação das escolas públicas é precária ao declarar que “a menção
ao uso de computadores, dentro de um amplo leque de materiais, pode parecer
descabida perante as reais condições das escolas, pois muitas não têm sequer giz para
trabalhar” (PCN, 1997, p. 68). Pode-se argumentar que, desde o ano de 1997, muita
coisa mudou na educação, mas para este argumento é possível perguntar: o que de
fato mudou? Talvez o nome dos programas implementados, talvez o número de escolas
construídas em determinado período de tempo, mas ainda é possível a questão:
quaisquer que sejam as mudanças, aquelas representadas pela cultura digital, em que
estão imersos os alunos e professores das escolas públicas, ainda não estão refletidas
apropriadamente no texto dos Parâmetros que são norteadores para o currículo do
ensino fundamental.
A desatualização implica, por exemplo, em se tratando de inclusão sociodigital,
que os parâmetros para o currículo escolar refletem uma visão de mundo em que a
Internet já despontava como uma ferramenta que teria um impacto significativo na
educação, mas há 14 anos os computadores não estavam tão difundidos quanto hoje.
Os volumes do PCN abrangem os seguintes temas: Introdução; Língua Portuguesa,
Matemática, Ciências Naturais, História, Geografia, Arte e Educação Física; Temas
Transversais; Ética; Pluralidade Cultural e Orientação Sexual; Meio Ambiente e Saúde.
Não há uma temática referente ao letramento digital, por exemplo.
Enquanto este estudo estava em andamento, a imprensa noticiava a utilização
de computadores tablets em escolas da Coréia do Sul10, com a previsão da substituição
dos livros nas escolas por tablets, já em 2014. Apesar de haver no Brasil um programa
do Governo Federal denominado Um Computador por Aluno (UCA), o número de
10
Disponível em: http://tecnoartenews.com/desafio-digital-coreia-do-sul-substituira-os-livros-nas-escolas-por-
tablets-eletronicos-0
50
escolas atendidas ainda é pequeno, por se tratar de um projeto piloto. Na Bahia,
quando o portal do UCA foi consultado (em setembro de 2011), havia 13 escolas
beneficiadas pelo programa11. Não se trata de empreender uma corrida para
implementar programas com grande apelo midiático, o que se espera é a aplicação
efetiva de recursos que promovam a inclusão sociodigital nas escolas públicas, para
evitar a manutenção de um descompasso ainda maior na educação de quem mais
precisa do Estado.
11
Disponível em: http://www.uca.gov.br/institucional/escolasBeneficiadas.jsp
51
4 A CULTURA DA CONVERGÊNCIA NAS ESCOLAS PÚBLICAS
A sociedade da informação, com todas as suas características, promove
impactos em diversas áreas do saber humano, exatamente por permear toda a
produção cultural, com a possibilidade de transformação dos produtos diversos, como
músicas, livros, vídeos, filmes, que são transformados em códigos binários, viabilizando
o seu armazenamento, processamento e a transmissão destes dados codificados, para
qualquer lugar, através da conexão em rede. Esta facilidade de gravação,
armazenamento e transmissão de informações revolucionou tanto a indústria da
produção cultural de massa, como vem revolucionando a convivência política e a forma
de exercitar a cidadania.
Quem é adulto hoje, no ano de 2011, vivenciou a transformação paulatina a que
a sociedade foi submetida, devido à evolução tecnológica, que possibilitou a criação da
rede mundial de computadores e, em seguida, com a redução do preço de hardware, a
disseminação e o uso de softwares livres, a troca de arquivos e a explosão das redes
sociais, cujo impacto político ainda é objeto de estudo – mas já é considerado mais do
que significativo, é decisivo para a transformação da nossa sociedade. A título de
exemplo, a campanha política do atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama,
ou, a chamada Primavera Árabe, conduzida em parte por comunidades organizadas
pelo Tweeter, Facebook, dentre outras redes sociais. Estas mudanças, que podem
eleger governos democraticamente constituídos ou derrubar ditaduras no poder há
dezenas de anos, nos dão conta do poder da Internet e tudo o que ela representa por
permitir aos cidadãos comuns uma imensa capacidade de comunicação e mobilização
política.
Quando pensamos nas mudanças em que estamos imersos, é evidente que esse
caldo cultural, inerente às características de uma sociedade globalizada, repercute no
modo de ser dos alunos, sujeitos potenciais da sociedade da informação e da
comunicação:
Internautas, telespectadores, ouvintes, coautores etc., qualquer que seja a condição, cada vez mais se encontram expostos e imersos nesta
52
Sociedade da Informação, a qual reconfigura a forma de ser, estar, agir e interagir no mundo. A presença de computadores, rádio, fax, TVs digitais, telefones celulares, aparelhos eletrodomésticos, circuitos internos de TV, geoprocessadores, nanotecnologias, Internet, dentre outros, aparecem como componentes inerentes à vida cotidiana do homem, os quais possibilitam, de forma ágil, o processamento, o armazenamento, a incorporação e a circulação de informações, como nunca assistido na história da humanidade (HETKOWSKI, 2008, p. 86).
Meninos e meninas nascidos no final do Século XX, hoje, são adolescentes, são
eles os frequentadores das escolas públicas em Salvador, Estado da Bahia, que não
ficaram isolados das influências da cultura da convergência. Quando estes nasceram, o
mundo já estava prestes a se assustar com a Bolha das Empresas Ponto Com. Agora,
adolescentes, já utilizam redes sociais e celulares. Estes são os nativos digitais, mesmo
estes sujeitos sejam provenientes dos bairros carentes de Salvador. Não há como
escapar à realidade de que as TIC estão presentes no cotidiano das pessoas,
especialmente numa metrópole como Salvador/BA.
E as pessoas também buscam a cultura digital, movidas por curiosidade
(inerente ao ser humano), por modismo (a TV, o rádio e as revistas difundem a cultura
digital), por necessidade (muitos trabalhos dependem do uso de computadores), para
se comunicarem (via SMS pelo celular, MSN, Skype, e-mail) e, por que não?, para
estudarem (pesquisas no Google, Wikipedia, por exemplo).
Percebe-se uma multiplicidade de plataformas às quais os alunos fazem uso e
talvez não percebam que assim procedendo estão usufruindo de uma outra facilidade
para quem estiver familiarizado com a cultura digital, a convergência, que é
o fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam. Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais (JENKINS, 2009, p.29).
A ideia de colaboração associada às transformações tecnológicas, em nosso
tempo, talvez seja um dos grandes legados da cibercultura, que merece das escolas
uma maior atenção. O convívio em redes sociais, valendo-se de computadores e
celulares, para além dos limites físicos e temporais da escola, pode levar os conteúdos
53
do currículo escolar a novas fronteiras, aproximando, em vez de afastar, a cultura digital
já utilizada por muitos alunos, em prol do seu próprio crescimento cultural, sem
abandonar os conteúdos básicos do currículo, apenas valendo-se de novos meios de
difusão.
4.1 A ESCOLA PÚBLICA E AS TECNOLOGIAS DIGITAIS
O uso de tecnologias de informação e comunicação (TIC) não é mais uma
novidade nas escolas, mesmo nas escolas públicas, que atualmente contam com
programas de governo para estarem conectadas à Internet.
Atualmente muitas tecnologias podem ser utilizadas pedagogicamente. Quando
se indaga quais as tecnologias viáveis de uso numa escola pública, é possível elaborar
uma lista com os seguintes elementos: cadernos, livros, canetas, quadro branco,
carteiras. Estes são os elementos corriqueiros que há numa escola típica. Mas há
também mimeógrafos, televisores, aparelhos de som e de DVD, computadores,
impressoras, modens para acesso à Internet.
Há até mesmo, em grande número de escolas estaduais um equipamento de
exibição de arquivos multimídias, o Monitor Educacional, apelidado de “TV Pendrive".
Este equipamento é descrito nos seguintes termos no manual do usuário: “o Monitor
Educacional possibilita a exibição de arquivos digitalizados de áudio, imagem e vídeo
diretamente de uma mídia de armazenamento (pendrive, por exemplo)” (SEC, 2007, p.
6). Esta é uma ferramenta que poderia auxiliar em muito ao professor, podendo
promover a participação dos alunos e tornar as aulas mais dinâmicas.
Os recursos de vídeo, músicas e apresentações de imagens, poderiam ser
levados à sala de aula para o auxílio do professor, mas há outras utilizações possíveis:
promover a criação de vídeos pelos alunos, com temas relacionados a conteúdos do
currículo escolar. Promover a criação de músicas ou poemas que seriam exibidos na
tela da TV. Os exemplos dependerão da criatividade e motivação do professor em
comunhão com sua turma de alunos.
54
Porém, há alguns dados de realidade que muitas vezes limitam a possibilidade
de uso deste recurso tecnológico pois há que se encarar a realidade de muitos
professores que terão dificuldades em operar o equipamento, pesquisar arquivos de
vídeo e de músicas na Internet, convertê-los, gravá-los em pendrives. Haverá também
dificuldades relacionadas à edição e conversão de arquivos de texto para o formato de
imagem, que poderão ser exibidos na TV. O rol de senões descrito anteriormente,
também poderia ilustrar possíveis obstáculos para o uso de computadores nas escolas
públicas.
Pesquisa realizada pela Fundação Victor Civita sobre o uso de computadores e
Internet em escolas públicas de capitais brasileiras, em 2008, possibilitou, dentre
outras, a seguinte conclusão: “a maioria das escolas têm recursos materiais para fazer
algum tipo de uso pedagógico do computador” (FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA, 2010,
p.327). De fato, já é possível verificar que muitas escolas públicas estão atendidas
pelas operadoras de telecomunicações para terem o acesso à Internet com conexões
de Banda Larga. A página da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) na
Internet12 mantém um relatório atualizado das escolas conectadas à Internet – Projeto
Banda Larga nas Escolas (Quadro de escolas atendidas disponível no Anexo A).
Esta interligação física, não há como negar, pode ser um reflexo concreto da
aplicação de políticas públicas voltadas para interligar as escolas à rede de
computadores, mas, logo em seguida, no mesmo estudo da Fundação Vitor Civita, há
conclusões outras que merecem uma análise mais crítica e que mostram ainda haver
muito a ser feito, dentre elas, destacam-se:
O número de professores que usam a tecnologia com seus alunos é ainda pequeno e este uso se dá eminentemente no laboratório de informática; Na maioria das escolas, as atividades que utilizam tecnologia e são realizadas com os alunos têm pouca complexidade ou usam de recursos simples (FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA, 2010, p.328).
Estas duas situações descritas no estudo foram vivenciadas, na prática, durante
a pesquisa em campo, que será descrita no próximo capítulo. Assim, aos poucos vai se
delineando um quadro em que é preciso ter, nas escolas, os recursos materiais
12
Disponível em: http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do# - a partir do link “Interação com a
Sociedade”, procurar por “Projeto Banda Larga nas Escolas”.
55
concomitantemente com uma política que se reflita numa gestão que promova sua
utilização efetiva, ou seja, com a mediação do professor, motivado para o do uso das
TIC, para a socioinclusão dos alunos.
56
5 CAMINHOS PERCORRIDOS NA PESQUISA EM CAMPO
Os pressupostos metodológicos que possam abordar a complexidade do
fenômeno da exclusão digital de professores e, em especial para o estudo deste
trabalho, da exclusão sociodigital de alunos nas escolas públicas do ensino
fundamental, perpassam o entendimento da pesquisa qualitativa.
Dentre os motivos que justificam esta escolha, no entendimento de que o
pesquisador é sujeito participante no cotidiano escolar, em que o contexto dos alunos e
professores foi observado, coletado, descrito, em um empenho de análise processual
que não descartasse novas descobertas, para além daquelas suscitadas pela questão
que, a princípio, norteia este objeto de estudo.
Destacamos a seguir, resumidamente, cinco características básicas da pesquisa
qualitativa em educação:
1) A pesquisa qualitativa em educação tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento (LUDKE e ANDRÉ, apud BOGDAN e BIKLEN, 1986).
Neste caso, o ambiente natural é o próprio ambiente escolar: o lócus onde se
situa o prédio escolar, seu bairro, suas características socioeconômicas, as
características físicas e também a interação com os alunos, professores e funcionários
deste ambiente que serão vivenciados e analisados pelo pesquisador em seu mergulho
na realidade estudada, em campo.
Este estudo é conhecido como “naturalístico”, aquele em que a situação
estudada é muito influenciada pelo seu contexto sendo suas circunstâncias essenciais
para o entendimento do fenômeno estudado, além disso, “(2) os dados coletados são
predominantemente descritivos” (LUDKE e ANDRÉ, apud BOGDAN e BIKLEN, 1986).
Este tipo de coleta de dados exige um grande cuidado por parte do pesquisador
para tentar representar em suas descrições e impressões, com a maior fidelidade e
com cuidado nas técnicas de captação da realidade a ser descrita, em busca de ser fiel
às condições reais do que se deseja estudar.
57
O pesquisador deve estar atento para o maior número de elementos obtidos nas
entrevistas, fotos, desenhos, depoimentos, tudo pode ser essencial para o
entendimento do problema estudado.
A terceira característica: “A preocupação com o processo é muito maior do que
com o produto” (LUDKE e ANDRÉ, apud BOGDAN e BIKLEN, 1986). Esta
preocupação com o processo refere-se aos cuidados de como acontece de fato a
dinâmica da pesquisa feita, tudo o que aconteceu para referendar os resultados
encontrados, foi a partir de uma cadeia de acontecimentos, ao longo de um
determinado período de tempo, num determinado espaço, com a presença de atores,
incluindo aí o pesquisador, envolvidos num processo dinâmico que será também objeto
de análise.
O pesquisador deve estar atento às manifestações do problema em estudo nas
atividades, procedimentos e interações cotidianas, pois “o „significado‟ que as pessoas
dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador” (LUDKE e
ANDRÉ, apud BOGDAN e BIKLEN, 1986), quarta característica. Os depoimentos,
posturas, opiniões, as falas dos sujeitos da pesquisa, são elementos essenciais e que
possuem alto valor para subsidiar a pesquisa em campo, pois o pesquisador estará
mergulhando em parte das histórias de vida dos pesquisados.
O pesquisador deve ter uma maior acuidade para revelar os pontos de vista dos
participantes do estudo. “A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo”
(LUDKE e ANDRÉ, apud BOGDAN e BIKLEN, 1986).
Desta maneira, após uma reflexão bibliográfica que buscou referendar-se em
conceitos e noções de autores que buscam entender a cultura digital, a cibercultura,
bem como as noções de exclusão digital e social, mais uma vez se faz necessário
reforçar o questionamento que suscitou esta pesquisa: Quais as dificuldades concretas
que a comunidade escolar – em escolas da rede pública de Salvador/BA - encontra
para potencializar a inclusão sociodigital de alunos do ensino fundamental?
Para encontrar elementos concretos que possam ajudar na busca das respostas
a esta indagação, a estratégia de imersão no ambiente escolar para o presente
trabalho, precedida de uma pesquisa bibliográfica, remete às características dos
58
estudos de caso como método de abordagem adequado, que foram utilizadas no
contexto deste trabalho, pois:
visam à descoberta [...]; enfatizam a „interpretação em contexto‟ [...]; buscam retratar a realidade de forma completa e profunda [...]; usam uma variedade de fontes de informação [...]; revelam experiência vicária e permitem generalizações naturalísticas (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p. 18-19).
Também é importante ressaltar que a escolha de uma escola estadual voltada
para o ensino fundamental, para este estudo, foi determinada por questões objetivas,
da existência de horários em que foi possível empreender as observações e por haver
colaboração do corpo docente da referida instituição ao presente ao trabalho. Neste
sentido, as “generalizações naturalísticas” (1986, p.19) que vierem a ser feitas a partir
da leitura do presente estudo, podem ser aplicadas ou não a situações específicas de
outras escolas públicas, ou de outras esferas (municipal ou federal).
Assim, serão descritos nos próximos capítulos os caminhos percorridos pelo
pesquisador, os primeiros passos, o descritivo do local pesquisado, os alunos e suas
respostas ao questionário e atividades, as impressões, a motivação de professores, a
análise de dados e as conclusões finais do trabalho.
5.1 PRIMEIROS PASSOS
Para a realização da pesquisa em campo, o primeiro passo consistiu em definir
qual a escola em que seriam feitas as observações. A escolha da Escola Estadual do
Ensino Fundamental Nativos Digitais13, situada nas proximidades do Barbalho, um
bairro popular de Salvador/BA, foi consequência natural das atividades de Estágio
Supervisionado de Regência.
Quando da realização do Estágio Supervisionado, foi constatado que uma das
professoras da turma da 4ª Série, matutina, aqui denominada Professora A, uma vez
por semana levava cerca de 5 a 7 alunos para a Sala de Computadores para
13
O nome real da escola foi omitido, tendo sido criado o nome de fantasia “Nativos Digitais” para designá-la neste
trabalho.
59
complementar a sua alfabetização, pois muitos alunos tinham sérios problemas para a
escrita e leitura, prejudicando seu desempenho em todas as matérias. Professora A
valia-se dos computadores como um recurso a mais, que pudesse ser mais instigante
para os alunos, podendo motivá-los a se interessarem pela leitura.
Esta atividade era realizada após a última aula, às quartas-feiras (eventualmente
às sextas-feiras, após o recreio), iniciando-se às 11h30min até o horário do almoço,
aproximadamente às 12h30min, para não interromper as aulas da grade curricular
regular. Esta seria a oportunidade para vivenciar como se dava, na prática, em seu
estado natural, o uso das TIC para a educação dos alunos de escola pública do Ensino
Fundamental.
Para possibilitar a realização da pesquisa, em função das dificuldades de horário
do pesquisador para estar presente das 11h30min às 12h30min, a Professora A
conseguiu negociar com a Professora C, de Geografia, a liberação de alunos para a
Sala de Computadores mais cedo, logo após o recreio. Também foi possível realizar
estas atividades às sextas-feiras, também após o Recreio.
Agendamentos e reuniões prévias foram feitas com a Professora A para que
fosse possível acompanhar esta atividade na Sala de Computadores. A seguir serão
descritos os aspectos físicos da Escola, sua infraestrutura, seu plano pedagógico, os
professores, os alunos. Também serão relatadas as visitas, previamente agendadas
para quartas e sextas-feiras, dependendo dos horários da Professora A. As impressões,
as coletas de dados e os ajustes nos procedimentos, feitos à medida que a pesquisa
era realizada, serão também descritos a seguir.
5.2 A ESCOLA
A pesquisa de campo foi realizada na Escola Estadual do Ensino Fundamental
Nativos Digitais, localizada próxima ao bairro do Barbalho, cujos alunos são os
moradores dos bairros populares vizinhos. A escola funciona nos três turnos, matutino
vespertino e noturno.
60
5.2.1 Infraestrutura
A escola está situada anexa a uma construção maior de um tradicional colégio
estadual de Salvador e é composta de dois prédios, um grande pátio e quadra de
esportes. O prédio escolar do Ensino Fundamental I é constituído de um único
pavimento térreo, com 10 salas de aula, dois sanitários para os alunos, um para os
professores e funcionários e uma sala de reunião para os professores. Há também o
prédio do Ensino Fundamental II, constituído por um grande pavilhão em formato de “L”,
com 2 pavimentos, com muitas salas de aula e onde está localizada a parte
administrativa da escola, bem como a portaria principal de entrada dos alunos. É neste
outro prédio que fica localizada a Sala de Computadores, no 1º andar.
Figura 4 – Planta simplificada da Escola Nativos Digitais
As salas de aulas do prédio do Ensino Fundamental I possuem amplas janelas
de vidro, às quais foram acrescentadas grades metálicas no lado exterior. Todo o
prédio é protegido por portões e grades e seu portão principal de acesso é também
usado para a quadra de esportes anexa.
61
Não há computadores ou telefones, ou ramais internos, para a comunicação dos
professores com a administração da escola. Na sala de professores há armários, outra
TV pendrive, geladeira, mesa com cadeiras e estantes com diversos livros didáticos.
As salas de aula possuem armários, quadro branco, ventiladores e TVs Pendrive.
Para os alunos terem acesso aos computadores é necessário ir ao outro prédio, do
Ensino Fundamental II, sendo necessário o professor solicitar as chaves da sala na
administração da escola.
A conexão à Internet: foi identificado um modem da operadora “Oi” na Sala de
Computadores, no primeiro dia de visita à sala. De acordo com relatório da Anatel com
a relação de escolas atendidas pelo Plano de Banda Larga nas Escolas Públicas
Urbanas14, a “Escola Nativos Digitais” está contemplada (foi consultado o nome oficial
da escola).
5.2.2 Os professores
As professoras da Escola Nativos Digitais, do Ensino Fundamental I, matutino,
destacam-se pelo empenho, assiduidade, envolvimento e cuidado para com os seus
alunos. O corpo docente trabalhava, durante o período do estudo, sem a presença de
um coordenador pedagógico, pois de acordo com o depoimento das professoras,
“ninguém havia sido nomeado pela direção da escola”, até o momento da pesquisa.
Eram comuns as reuniões informais entre as professoras no horário do recreio, na sala
de professores, ou pouco antes do início das aulas, para definirem algum aspecto, ou
tratarem sobre algum fato relevante referente a alguma turma ou aluno.
Estas professoras que compartilhavam e organizavam os horários de aulas,
definindo atividades do início do ano letivo, os horários de cada turma, também
atendiam aos pais e responsáveis que eventualmente fossem à escola e sempre
estavam às voltas com a resolução de conflitos entre alunos. Na ausência de uma
coordenação que dirigisse as atividades, a Professora B, por vezes assumia uma
liderança informal.
14
Disponível em: http://sistemas.anatel.gov.br/sici/Relatorios/BandaLarga/tela.asp
62
5.2.3 Plano pedagógico da escola
O plano pedagógico da escola foi consultado indiretamente a partir de um
documento intitulado “Informativo 2011”, norteador das práticas pedagógicas do ano em
referência, repleto de normas e diretrizes para balizar o trabalho dos professores e as
atitudes esperadas dos alunos. O Plano Pedagógico propriamente dito encontrava-se
em revisão, não estando disponível no momento em que foi solicitado, de acordo com
informações da Direção Escolar (relato detalhado na Nona Visita).
As seguintes informações são derivadas do Informativo:
Um poema de Paulo Freire ilustra a escola como local de “fazer amigos,
educar-se, ser feliz”;
Escola do Ensino Fundamental: 1ª à 8ª séries, 1º ao 9º ano;
Missão: “oferecer uma educação de qualidade para a formação de
cidadãos críticos, conscientes e preparados para os desafios do mundo
moderno”;
Preocupação em “oferecer uma educação voltada para o desempenho
acadêmico dos alunos, através de uma prática pedagógica globalizada,
tendo como suporte os valores humanos, morais e sociais básicos,
necessários para que cada um torne-se um ser criativo, agente de sua
própria história pessoal e social”;
Cita a “importância da participação da família no percurso educativo das
crianças e jovens, interagindo e dialogando com a escola”;
Calendário detalhando as 4 unidades, com início do ano letivo em 07/02, e
conclusão em 07/12;
Detalhamento dos horários do Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano) e II (6º
ao 9º ano), nos turnos matutino e vespertino;
Detalhamento das normas de utilização do uniforme escolar;
Detalhamento da distribuição e normas de uso dos livros didáticos;
63
Detalhamento da importância da manutenção e do uso dos materiais
escolares;
Normas disciplinares, mencionando o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA);
Elenco de direitos e deveres, mencionando a importância do diálogo na
resolução de conflitos;
Procedimentos quanto às atividades avaliativas, destacando-se uma
definição de avaliação: “compreendida como a ação de refletir sobre os
processos de aprendizagem [...] na busca incessante de compreensão
das dificuldades do educando”; e também “envolvendo conhecimento,
atitude, comportamento e relacionamento”;
Atividades avaliativas distribuídas nas 4 Unidades: avaliações parciais
com valor 4,0 e avaliação global, valor 6,0, perfazendo o valor 10,0.
Aprovação do aluno com média 5,0 ou mais em cada disciplina e
frequência superior a 75% das aulas;
Também cabe destacar: “a escola se propõe a oferecer condições para
que os alunos adquiram competências e habilidades na construção do
conhecimento e na busca de soluções para vencer os desafios”.
Não foram encontradas referências, no documento apresentado, sobre a
utilização das TIC, já instaladas na Sala de Computadores, ou outra menção à
promoção da inclusão sociodigital dos alunos.
5.2.4 Os alunos – bairros em que eles moram
A pesquisa foi realizada com alunos da quarta série do ensino fundamental, de
uma turma com alto índice de alunos repetentes, com faixa etária entre os 10 e os 18
anos. Os meninos e meninas, moradores de bairros da Liberdade, Barbalho, Cosme de
Farias, Pela Porco, Baixa de Quintas, Curuzu, locais populosos e carentes de
64
Salvador/BA, davam uma personalidade forte e desafiadora à sala de aula onde
estudavam.
Esta força se expressava tanto pela intensidade de seu questionamento agudo,
em certos momentos, quanto pela agressividade literal de palavras e atitudes. Eram
muito frequentes os conflitos – e os motivos para que surgissem, aparentemente, os
mais prosaicos. Mas também havia motivos outros interferindo no modo de ser e agir
destes alunos: a violência familiar ou nos bairros em que moravam, as drogas, a falta
de apoio dos responsáveis legais. Poderia haver também o cansaço, pois alguns alunos
cumpriam jornadas de trabalho após a escola; também o desinteresse por assuntos que
já viram antes, quando se tratava de repetentes.
5.3 A ESCUTA DAS VOZES DOS ALUNOS
Os sons da escola estão presentes na [minha] memória afetiva como um “ruído
branco” – aquele som semelhante ao que escutamos ao encostar uma concha do mar
no ouvido, ou o som do próprio mar quebrando incessantemente na praia. Mas os sons
da escola são um pouco mais agudos, como o tilintar de várias gotas de chuva caindo
com determinação num telhado, a água correndo numa bica até espraiar-se num
quintal.
A escola produz uma musicalidade sonora que, em meio ao ruído geral das
coisas, deixa escapar vozes, gritos, risadas, especialmente no começo e no fim da aula
e durante o intervalo do recreio. A escola das memórias de quem hoje, início do Século
XXI, já completou quarenta anos deixa também – permeando as lembranças – os sons
da cantilena de tabuadas e “ABC‟s”, das músicas cantadas antes de entrar nas salas, o
arrastar de pés e o farfalhar de fardas, cadernos e livros.
Cadeiras são empurradas, lugares são disputados, territórios dentro das
geografias das salas são demarcados. No horizonte de acontecimentos de cada
pequena nação que se vai construindo dentro da escola, em cada sala, o burburinho
peculiar é o hino que representa cada turma. Cada uma com sua personalidade, com
65
seus alunos constituindo entes que representam o conjunto de toda a sociedade –
emissários do “além muros” da escola – de onde vieram.
Hoje, as escolas estão mais cercadas por muros e grades e portões do que
antes? Evidentemente, para responder a este questionamento, uma outra pesquisa
seria necessária. Mas, mesmo que estejam mais cercadas por muros, estes são
ineficientes para não deixarem escapulir os sons que emanam da escola. Entretanto, o
“ruído branco” que de lá emerge não constitui, ao observador desatento, uma voz que
se traduza num clamor pelas causas da escola. Mas refinando-se um pouco a atenção,
a depender do momento, pode ser encarado o ruído como musicalidade, rotina,
diversão, mas também pode ser percebido como um clamor angustiado.
Uma cena: certo grupo de alunos, do lado de fora do prédio, faz uma tempestade
de sons trovejantes batendo com as mãos no portão de ferro da Escola Municipal
Cidade de Jequié, em outro bairro de Salvador/BA. Os sons são uma manifestação de
apreço, de alegria, ou de protesto daqueles alunos? O que podem representar as vozes
metálicas do portão azul inflamado pelas mãos adolescentes? Seria sua atitude uma
vocalização do clamor angustiado daquela escola?
Visualizar o prédio escolar sendo uma espécie de tambor anunciando
codificadamente o que pode ser, dentre muitos, um sintoma, é uma possibilidade e,
assim sendo, podemos visualizar este sinal: o da precariedade da comunicação interna.
Outros sintomas certamente podem ser denunciados pelo bater vigoroso naquele
portão: agressividade, insatisfação, rebeldia. Mas em se tratando de uma pesquisa
orientada para o entendimento da exclusão sociodigital, o sintoma da precariedade
comunicacional é um ponto crucial quando nos sabemos imersos num mundo
globalizado e que esta globalização tem como suporte a infraestrutura tecnológica das
telecomunicações, da informática – da cibercultura.
Do ponto de vista dos alunos, aqui representados metaforicamente como as
mãos que repercutem os portões da escola, talvez a escola careça de uma voz que
leve aos alunos os saberes integrados ao cotidiano de quem já utiliza ferramentas de
acesso à Internet. Atualmente as escolas públicas estão conectadas à internet. Mas
estão os alunos conectados às escolas?
66
A prática adotada para a promoção da inclusão sociodigital – na quarta série
matutina da escola pública onde foi realizada a pesquisa - se dá a partir do uso dos
computadores para o reforço da alfabetização dos alunos que tenham mais dificuldades
com a escrita e a leitura e esta atividade é conduzida como atividade que escapa ao
currículo da instituição.
A Turma em que foi realizada a pesquisa é composta de 25 alunos, com idades
entre os 10 e os 18 anos de idade. A sala é composta predominantemente por alunos
oriundos de bairro populares circunvizinhos à escola, com histórico de repetência e
também, de acordo com muitos depoimentos pessoais e de professores, são oriundos
de contextos de violência familiar e urbana. Apesar de a sala ter 25 alunos, a
assiduidade é baixa, e nos momentos das pesquisas havia um número menor de
participantes.
Percebe-se que as professoras têm conhecimento das dificuldades de leitura e
de escrita de grande parte dos alunos e que buscam diversas estratégias para que os
alunos sejam letrados e aperfeiçoem sua alfabetização. A este respeito, cabe a
observação de que
um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e escrita (SOARES, 2010, p. 39-40).
Vistos a partir desta ótica, há uma premente necessidade de efetivamente
alfabetizar e letrar os alunos. Os professores sabem que é corriqueira a reclamação dos
alunos quando há alguma atividade em que eles precisam escrever uma redação.
Muitas vezes eles têm dificuldades para articular um texto opinativo e escrevem frases
isoladas, mas é preciso perseverar, talvez com novas estratégias como a utilizada pela
Professora A de levá-los à Sala de Computadores da escola.
A alfabetização e o letramento são cruciais para a cidadania plena alem de ser
pré-requisito à promoção da inclusão sociodigital especialmente quando não há uma
política claramente adotada pela escola que esteja em prática atendendo a todo o
público discente. Apesar deste vácuo institucional, especialmente se considerarmos
que o prédio do Ensino Fundamental I não é dotado de uma sala de computadores para
67
os alunos, mas que é possível utilizar a sala do prédio anexo (Figura 4), constatou-se
que o contato dos alunos com os computadores no ambiente escolar, ocorre
dependendo de:
a) Professores voluntários que promovam atividades com computadores;
b) Alunos que se interessem em participar das atividades na sala de
computadores;
c) Horário vago na sala de computadores;
d) Interesse dos alunos em participar das atividades no horário do almoço.
Os computadores não possuem pacotes de programas institucionais voltados
para atividades de alfabetização, mas a professora utiliza o programa de edição de
textos para que os alunos ao mesmo tempo em que aprendem a lidar com o
computador, também aprendam a língua portuguesa – área do saber em que
demonstram maior dificuldade.
Segundo depoimento da Professora A, as atividades para a escrita e leitura no
computador têm efetivamente melhorado a aprendizagem dos alunos para ler e
escrever. Nos parágrafos a seguir, serão descritos os acompanhamentos das atividades
presenciadas em campo:
5.4 ATIVIDADES EM CAMPO
As atividades em campo foram denominadas “visitas”, e podem ser divididas em
três momentos:
a) Reuniões com professores (para confirmação de datas, aplicação de
questionário (Apêndice A), recolhimento de materiais, depoimentos sobre
a situação dos alunos; negociar a presença de alunos na Sala de
Computadores, nos dias em que a atividade ocorreu mais cedo );
b) Atividades em Sala de aula (palestra sobre computadores; exibição de
vídeos; aplicação de atividades, conversar com os alunos):
68
c) Atividades na Sala de Computadores (observar o contexto da Sala de
Computadores numa escola pública; vivenciar a atividade realizada pela
Professora A; Observar o interesse e a desenvoltura dos alunos ao
utilizarem o computador).
Vivências serão relatadas a seguir.
5.4.1 Primeira visita
Nesta visita, houve uma breve reunião com a Professora A, que na ocasião
comentou sobre os alunos K e L cuja dificuldade para a escrita é muito grande e que os
tem acompanhado em atividades com o editor de textos. Professora A reitera que
motiva os alunos que estão com dificuldades de alfabetização a utilizarem os
computadores da sala das TIC, onde exercitam a escrita e leitura – com conteúdos
vistos em sala de aula anteriormente, especialmente assuntos da língua portuguesa
como verbos, substantivos, orações, vocabulário, ortografia, digitação de frases.
Expliquei a intenção de realizar a pesquisa sobre a exclusão sociodigital e este
primeiro contato selou um compromisso para que a pesquisa fosse realizada às sextas-
feiras, após o intervalo do recreio (09h30min) e, se possível, também às quartas-feiras
após as aulas.
5.4.2 Segunda visita
Sexta-feira, às 09h30min. Um breve encontro na Sala dos Professores enquanto
aguardávamos os alunos retornarem do recreio. As professoras comentavam sobre
episódios ilustrativos da violência no ambiente escolar, relatando aspectos de vários
alunos cujos familiares sofreram perdas graves (com atentados às suas vidas) e como
estes fatos repercutem em suas posturas em sala de aula e de outros alunos. Também
69
houve relatos de pais e parentes de alunos cuja conduta, muitas vezes associada ao
consumo de drogas, também interfere nas atividades escolares.
Antes de irmos à sala de computadores, foram apresentados dois vídeos aos
alunos, na própria sala de aula, valendo-se da “TV Pendrive”: um dos vídeos abordava
a história e a evolução dos computadores e o segundo vídeo explicava o funcionamento
do “hardware” dos computadores (Anexo B). Também foi elaborado um questionário
(Apêndice A) a ser respondido pelos alunos, sem a necessidade de identificação
pessoal. Os alunos demonstraram pouco interesse pelo questionário, mas expliquei que
seria uma atividade “fácil” de ser respondida.
Este questionário não foi respondido nesta data pelos alunos. Em acordo com a
Professora A, a pesquisa com os questionários foi reagendada para o encontro da
próxima semana.
O primeiro contato do pesquisador com a Sala das TIC merece um detalhamento
mais descritivo, a seguir:
a) Sala climatizada, com área aproximada de 25m², com acesso de entrada
protegido por grade metálica e a iluminação vinda das janelas que davam
para o pátio externo era filtrada por película plástica;
b) Possui 15 computadores da marca Positivo, com monitores de LCD,
sistema operacional Linux, e software “BR Office”. O sistema operacional
instalado é o da versão “Linux Educacional 3.0”, que, segundo descreve o
portal linuxeducacional.com “é uma distribuição Linux desenvolvida pela
equipe do Centro de Experimentação em Tecnologia Educacional (CETE)
do Ministério da Educação (MEC)”15.
c) Foi identificado um modem da operadora “Oi”, com acesso de 1Mbps.
Este modem estava interligado a um roteador sem fio e cada
microcomputador possuía uma placa de rede “wireless”. As máquinas
também possuíam kit multimídia, com fones de ouvidos e microfones.
Após ser ligado, para ter acesso aos computadores havia um gerenciamento que
dispunha três possíveis perfis de alunos e um de professor. Os alunos ao entrarem na
sala, logo escolhiam em que máquina ficariam e apenas duas delas não funcionaram.
15
Conforme sítio: http://downloads.linuxeducacional.com/categoria/distribuicoes/
70
Nesta data havia 13 alunos na sala participando da atividade, número considerado
muito elevado pela Professora A, que temia haver muita indisciplina dos alunos.
O Aluno V demonstrou pouco interesse por participar desta atividade.
Curiosamente, durante a exibição dos vídeos na sala de aula, ele demonstrou possuir
familiaridade com o uso de computadores, mas logo ao entrar na sala de informática
ele, de frente ao microcomputador, indagou: “para que serve isso?”. Este
questionamento do aluno repercutiu fortemente, pois o seu desinteresse foi
desconcertante e a resposta que foi dada à sua pergunta não foi satisfatória. A resposta
que lhe foi dada: aquela era uma ferramenta útil e que seria importante para seu
crescimento educacional e profissional. Em relação a este episódio, outros comentários
serão feitos ao final das observações deste encontro.
Professora A. conduziu uma atividade com os alunos, com a seguinte sequência:
1. Cada aluno ligar o computador;
2. Acessar o perfil (aluno, professor);
3. Encontrar e executar o editor de textos (do BR Office);
4. Exercitar comandos do editor de textos;
5. Digitar palavras (verbos) ditadas pela professora;
6. Digitar frases valendo-se dos verbos;
7. Atentar ao uso de maiúsculas, minúsculas, espaçamento entre palavras,
pontuação;
8. Mudar o tamanho e as cores do texto;
Os textos gerados por cada aluno não eram salvos no computador.
Quatro alunos logo que ligaram o micro começaram a jogar. Estes mesmos
alunos faziam as atividades propostas e paralelamente continuavam o jogo. Outrossim,
foram percebidos alguns problemas de interatividade dos alunos com as máquinas, a
saber:
A falta de familiaridade de duas alunas com o mouse;
A sua hesitação ao ligar o computador;
A dificuldade em escrever segundo a norma culta;
A pouca familiaridade com os comandos para edição de texto.
71
A inexistência de uma sistemática escolar para conduzir didaticamente a
utilização dos computadores por aqueles alunos;
Os computadores não estavam com acesso à internet em funcionamento, apesar
de haver um modem de banda larga na sala.
Concluídas as observações deste encontro, que representou um reconhecimento
do território da Sala das TIC desta escola pública de ensino fundamental, é necessário
resgatar algumas indagações subjacentes, decorrentes da pergunta feita pelo Aluno V:
“para que serve isso?”. Esta foi uma importante provocação, que pode indicar um
desinteresse específico pela tarefa, pois o Aluno V possui bom domínio do uso dos
computadores, relatou possuir computador em casa, utilizando-o para Internet e Jogos,
predominantemente e, neste encontro, muitos alunos presentes não faziam parte do
grupo selecionado pela Professora A, com dificuldades de alfabetização e letramento.
Entretanto, este questionamento serviu para ajudar a problematizar as demais
atividades que seriam propostas aos alunos, para tentar responder a este
questionamento subjacente com uma atividade prática, por exemplo:
1. Devolver a pergunta do Aluno V aos alunos e colher seus depoimentos;
2. Refletir conjuntamente com os alunos sobre as questões levantadas;
3. Elaborar conjuntamente o seguinte pensamento: o computador é uma
máquina inventada pelo homem cuja intenção inicial era a de ajudar-nos a
encontrar respostas às nossas necessidades em diversos campos do
conhecimento: engenharia, medicina, ciências físicas, químicas; indústria,
governos, dentre outros. O computador não é uma máquina que fornece
respostas como um oráculo. É um artefato que necessita da intervenção
humana – a programação – que consiste em instruções codificadas, rotinas.
Uma outra opção, que foi a escolhida, foi elaborar uma atividade que pudesse
ser mensurada e, para isso, foram elaboradas duas atividades (Apêndices B, C, D) que
consistiam, primeiro, em propor aos alunos a identificação dos principais tipos de
hardware, e outra, para que eles identificassem algumas de suas funções. Depois, a
segunda atividade, propor aos alunos identificarem definições básicas para e-mail,
Facebook, Orkut, Google, dentre outros termos e, também, responderem livremente à
pergunta que motivou esta atividade e que poderia ser utilizada para ajudar a entender
72
a sua realidade, de alunos de escola pública do ensino fundamental, quanto à inclusão
sociodigital e seria, então, feita a problematização “Para que?” Em relação ao
computador e à Internet (Apêndice D).
Estas atividades, aqui denominadas “Computador para que?”, divididas em
momentos 1, 2 e 3, foram desenvolvidas para serem aplicadas em três encontros
consecutivos, nos agendamentos seguintes.
5.4.3 Terceira visita
Nesta data, a visita à escola ocorreu, conforme agendamento prévio, mas não foi
possível ter contato com os alunos, pois os professores estavam reunidos para
planejamento de atividades e avaliação dos trabalhos.
Para evitar maiores atrasos com a pesquisa, deixei com Professora A os
questionários – referentes ao levantamento dos seus perfis sociodigitais - para serem
respondidos posteriormente pelos alunos, sob a supervisão da Professora A, a quem
solicitei que instruísse aos respondentes que o questionário não era uma avaliação
para nota, nem era necessário identificar-se, bem como deveriam ser respondidos de
acordo com seus entendimentos e vivências de cada tópico.
5.4.4 Quarta visita
Foi cancelada - por telefone, pela Professora A - devido à paralisação dos
professores.
5.4.5 Quinta visita
73
Nesta data, em contato com Professora A, parte dos questionários respondidos
pelos alunos foi devolvida e foram deixados com ela mais cópias dos questionários e,
também da segunda atividade, Computador para que?, momento 1, com os diagramas
de associação dos elementos dos computadores para serem completados pelos alunos,
para identificação de seus componentes e das suas funções (hardware e software).
As respostas dos questionários recolhidos foram copiadas numa planilha, para
facilitar a interpretação dos dados. Foi iniciada a análise, ainda parcial, do levantamento
do perfil sociodigital dos alunos, com os questionários já devolvidos, esta etapa seria
concluída com a resposta dos demais questionários ainda pendentes, para posterior
análise.
5.4.6 Sexta visita
Mais questionários foram respondidos pelos alunos, bem como a atividade de
identificação dos elementos mais comuns do hardware e software do computador, da
atividade Computador para que?, momento 1.
Foi concluído o levantamento do perfil sociodigital da turma.
Foi iniciada e concluída a análise da atividade Computador para que?, momento
1, transposta para o formato de gráfico de barras, para a posterior análise dos dados
coletados em campo.
5.4.7 Sétima visita
Esta atividade foi cancelada devido à paralisação dos professores.
5.4.8 Oitava visita
74
Conforme agendamento prévio, dando prosseguimento à pesquisa, neste
encontro foram aplicadas mais duas atividades, antes da ida dos alunos à Sala de
Informática:
1.) Computador para que? - momento 2: foram distribuídos para os 15 alunos
presentes na sala de aula, folhas impressas com imagens de balões
contendo, cada um, aplicativos como “mp3”, “e-mail”, “Google”, “MSN”, dentre
outros, para que os alunos os interligassem a uma descrição sucinta de suas
funções, localizada no meio da página. Nesta atividade os alunos não
precisariam escrever, apenas ler, interpretar e proceder a associação.
As respostas consideradas adequadas para cada um dos aplicativos estão
listadas a seguir:
APLICATIVO FUNÇÃO
MP3 Arquivo de música
E-MAIL Correio eletrônico
ORKUT Site de relacionamentos
TORPEDO Mensagem de texto no celular
GOOGLE Site de buscas
MSN Programa de bate-papo
YOUTUBE Site de vídeos
WIKIPEDIA Enciclopédia digital
GOOGLE EARTH Programa de mapa do mundo
FACEBOOK Site de relacionamentos
DOWNLOAD Baixar arquivos da Internet
Figura 5 – Gabarito da atividade Computador para que – momento 2
A análise dos dados será feita no próximo capítulo.
A segunda atividade:
2.) Computador para que? - momento 3: Foram distribuídos aos 15
alunos presentes as folhas impressas contendo as seguintes questões: “Para
que Internet?” e “Para que Computador?”.
Como ocorreu nos encontros anteriores, os alunos reclamaram porque teriam de
escrever, mas ainda assim, fizeram a atividade proposta.
75
Com as atividades 1 e 2 concluídas, Professora A selecionou os alunos que iriam
para o Laboratório de Informática. Houve um aluno que não foi convocado e
demonstrou contrariedade por isso. A Sala de Computadores estava em uso por um
funcionário da escola, mas isto não impediu a presença dos alunos.
Os alunos logo foram para as máquinas e ligaram os computadores, mas muitas
máquinas estavam sem alimentação do disjuntor geral e foi preciso pedir apoio
administrativo para sanar o problema.
Com todas as máquinas em funcionamento, foram iniciadas atividades de
explorar os recursos do computador com os alunos, especialmente em relação aos
jogos, editores de texto e um programa de correção de frases em português.
Como a Sala de Computadores estava sem acesso à Internet, apesar de possuir
cabeamento estruturado e placas de rede sem fio (wireless) em todas as máquinas, não
foi possível empreender atividades com uso da rede, e Professora A deu início à suas
atividades relacionadas à escrita e leitura de textos.
Como ocorreu no encontro anterior, os alunos faziam várias atividades ao
mesmo tempo: escreviam os textos propostos pela Professora A, jogavam, ouviam
músicas, interagiam entre si.
5.4.9 Nona visita
Esta visita surgiu da necessidade de obter mais informações, especialmente do
Plano Pedagógico (PP) da Escola Nativos Digitais, bem como perceber um pouco da
visão da gestão escolar sobre o tema do presente trabalho.
Ao solicitar o PP na secretaria da escola, uma funcionária recomendou solicitá-lo
diretamente à Direção. De acordo com informações da vice-diretora, Professora H, o PP
não estava disponível para consulta naquele momento porque “encontrava-se em
revisão”, para atender às definições do Progestão16, um programa de capacitação de
16
Ver Blog: http://progestaobahia.blogspot.com/ ; Também existe um portal da Plataforma Moodle:
http://progestaoead.sec.ba.gov.br/login/index.php
76
gestores da rede pública estadual e municipal. Portanto, o PP da Escola X está em
processo de reorganização, mas foi entregue uma cópia do documento “Informativo
2011”, balizador das atividades letivas, que, segundo a Direção, possui informações
relativas ao PP, que foram utilizadas neste estudo.
Durante o diálogo com Professora H, ela fazia também atendimentos às
demandas da escola e esta foi uma experiência rica para ilustrar o tema deste estudo,
destacando-se:
Grupo de alunas solicita sair da escola para ir a uma Lan House para fazer uma
pesquisa de uma determinada matéria. O pedido foi negado com justificativas legais,
dadas por Professora H, sobre a responsabilidade da escola com os alunos, menores
de idade. Não foi mencionada a possibilidade de a pesquisa ser feita na própria escola,
na Sala de Computadores, no 1º andar do prédio, o que é um indício de que a cultura
digital não está totalmente incorporada na prática escolar.
Uma mãe, Senhora S, levou a filha, Aluna Y, à direção escolar e estabeleceu um
longo diálogo com Professora H sobre um aparelho celular de sua propriedade, usado
por Aluna Y, que foi furtado na sala de aula. As questões que mais afligiam Senhora S,
além do furto do objeto em si, era a do uso do celular na sala de aula e o
comportamento da Aluna Y, descrito como impertinente e refratária às atividades
escolares. Vários alunos que vieram falar com Professora H portavam aparelhos
celulares.
Ao ser questionada sobre a utilização de computadores pelos alunos, Professora
H mencionou que a escola possui uma Sala de Computadores, já descrita, além de
estar em vias de construção outra sala, com outros equipamentos de TIC, bem como
equipamentos para alunos deficientes visuais. Disse que “os alunos dão um show” caso
queiram usar a TV Pendrive, mas que vários professores demonstravam pouca
habilidade para fazê-lo.
A este respeito, Professora H espontaneamente falou sobre a Instalação das TVs
Pendrive há muito tempo e disse que todos os professores foram treinados, num curso
de dois dias de duração, para a utilização dos equipamentos, mas ela destacou que há
“pouca exploração [da TV] pelos professores”.
77
6 REFLETINDO SOBRE OS DADOS COLETADOS
Para analisar os dados utilizou-se de categorias de análises, que são:
a) O perfil socioeconômico e sociodigital;
b) A utilização da ferramenta computador;
c) A hegemonia de conteúdos tradicionais da matriz curricular.
O questionário de levantamento do perfil sócio-econômico e sociodigital dos
alunos – Apêndice A – era composto de 20 questões de múltipla escolha e 1 questão
aberta. Foram sondadas informações quanto à idade, série, gênero, bairro residencial.
As questões também tocavam aspectos como possuir ou não computador em casa,
com ou sem acesso à Internet, qual o tipo de acesso, a frequência de utilização,
interesses e tipos de uso, bem como relacionar este uso às atividades escolares.
As atividades denominadas Computador para que? – momentos 1, 2 eram
predominantemente imagéticas, para inferir o mais objetivamente possível o
conhecimento dos alunos quanto ao Hardware e aos Softwares, bem como em relação
à Internet. Das respostas destas atividades foram confeccionadas planilhas eletrônicas
atribuindo valor 1 para os acertos e valor 0 para os não acertos, o que possibilitou a
construção dos gráficos percentuais, que ilustram esta seção. A atividade Computador
para que? – momento 3, faz duas perguntas aos alunos, devolvendo-lhes o importante
questionamento lançado pelo Aluno V, no dia da primeira visita à Sala de
Computadores: Para que computador e para que internet?
Foram respondidos 16 questionários, 6 pelas meninas e 10 pelos meninos. A
análise das respostas do questionário do perfil sociodigital revela, em relação ao local
de moradia dos alunos, bairros populares da cidade de Salvador: Sete Portas,
Barbalho, Matatu, Fazenda Garcia, Pela Porco e Liberdade.
Os meninos que responderam a pesquisa estão na faixa etária dos 14 aos 17
anos. A maioria (70,0%) revelou possuir computador em casa, todos disseram saber
utilizar o computador, mesmo os que declararam não ter, e começaram a fazê-lo numa
faixa de idade entre os 10 e os 15 anos. Quase todos consideraram ruim não saber
utilizar o computador.
78
Os alunos (meninos) que não possuem computador em casa, utilizam o
computador em locais como a casa de amigos, na escola e em lan houses. A utilização
majoritária – de acordo com as respostas ao questionário - é para acessar o Orkut, para
jogos e ver fotos e vídeos. As pesquisas escolares também foram citadas como de uso
regular.
Apesar de 100% dos meninos declararem saber utilizar o computador, eles
somente identificaram o Internet Explorer, programa navegador de Internet, como
programa que lhes é familiar. Quase todos responderam gostar de matérias ligadas à
tecnologia, como a de Ciências e consideram que a escola estimula o uso do
computador (80%), bem como os seus professores, neste ponto foram unânimes. E
com relação à capacidade de leitura de textos, quase todos consideraram ser uma
atividade importante e interessante.
Os alunos terem respondido que a leitura de textos é uma atividade importante é
um dado interessante por revelar que eles parecem reconhecer na leitura, uma
capacidade necessária para agir com desenvoltura em nossa sociedade, porém, para
responder ao questionário foi necessário o apoio do professor para a interpretação das
questões, porque, de fato, muitos alunos da 4ª série do ensino fundamental ainda
possuem graves deficiências para interpretação de textos.
Uma das TIC mais reconhecidas pelos alunos foi o celular, que é utilizado por
muitos deles durante as aulas, mas por todos os que responderam à pesquisa, foi
identificado como um objeto tecnológico que pode prejudicar a atenção à aula.
A questão aberta “como o computador pode ser usado para melhorar seus
estudos”, em contraponto às respostas dadas de que gostam de ler, revela que, os
alunos da quarta série ainda possuem muita dificuldade de traduzir seu pensamento
para a expressão escrita, especialmente no padrão da norma culta. As respostas
mencionavam “pesquisas”, “aprender” e “escrita de textos”.
Com relação às respostas dadas pelos meninos, Professora A, que acompanhou
a aplicação do questionário, mencionou que alguns meninos tinham vergonha de
admitir não possuir computador em casa e outros tentaram responder às questões em
grupo, copiando de outros colegas, o que pode justificar as respostas parecidas.
79
As meninas que responderam, por sua vez, em sua maioria (66,7%), declararam
não possuir computador em suas casas, mas todas também disseram saber utilizar o
computador e têm contato com a máquina desde crianças, entre os 10 e os 15 anos,
numa frequência, em sua maioria, de uso três vezes por semana.
Os locais onde lidam com o computador são as lan houses e a escola, sendo o
uso preponderante para escrever textos, jogos, Orkut e bate-papo. Pesquisas escolares
foram pouco citadas.
Foi curiosa a revelação de que as meninas identificaram o Linux, como programa
que conhecem além do Internet Explorer. A maioria das meninas (83,3%) revelou
possuir facilidade de uso do computador e que a escola estimulava o seu uso.
A maioria (83,3%) disse gostar de ler e considerava que a dificuldade de leitura
também atrapalhava o uso do computador. O uso do celular durante as aulas foi
considerado prejudicial à atenção aos assuntos e como a maioria das meninas revelou
gostar de ler, esta resposta está coerente com as respostas escritas, em relação ao uso
do computador, para melhorar os estudos, cuja escrita se aproximava à norma culta,
também responderam utilizando termos como “pesquisar” e “escrever textos”.
Uma característica observada entre alguns alunos que responderam possuir
acesso à Internet em casa é o de acessarem a rede todos os dias da semana. Há
também uma predominância para o uso de redes sociais – no caso, o Orkut – e,
também para atividades lúdicas como os jogos, vídeos e músicas. O uso do
computador para atividades escolares foi mencionado, mas não na mesma proporção
das atividades lúdicas.
Considerando os dados das meninas e meninos somados, em relação a possuir
computador em casa, 56,2% declararam possuí-lo, e destes, todos com acesso à
Internet.
Para a análise da atividade denominada Computador para que? - momento 1,
são destacados os seguintes aspectos:
Quando aos alunos foi apresentada esta tarefa que consistia em identificar
imagens típicas de “hardware” de computador, foi observado o seguinte padrão de
respostas:
80
Figura 6 – Respostas dos alunos à atividade Computador para que – momento 1
Em primeiro lugar, os itens que obtiveram 100% de identificação foram os mais
icônicos: celular, notebook, mouse, teclado, televisão. Os itens celular e televisão foram
incluídos para efeitos comparativos, por serem em termos imagéticos, comumente
difundidos no cotidiano dos alunos e de toda a sociedade.
Os elementos menos reconhecidos foram: monitor, pendrive, impressora, CPU e
joystick. Em algumas respostas houve ambigüidade ao associarem televisão e monitor.
Os alunos entregaram as folhas com suas respostas e o registro da hesitação quanto à
identificação do hardware foi percebida pela quantidade de respostas modificadas com
corretivo de texto: 50% das respostas estavam com algum tipo de correção.
Entretanto, considerando-se o índice de acerto em aproximadamente 70% das
respostas, poderíamos entender que há um bom nível de reconhecimento da imagética
do computador. Mas ainda assim, isto é apenas um primeiro passo. O passo seguinte é
entender as funções destas partes que integram a máquina e para isto foi solicitado aos
alunos que identificassem para cada objeto a sua função mais premente, o que resultou
no seguinte gráfico:
020406080
100120
% RECONHECIMENTO
81
Figura 7 – Respostas dos alunos à atividade Computador para que – momento 1
Neste conjunto de respostas, a hesitação dos alunos foi mais ampla e permitiu
confirmar que o celular e a televisão são os únicos elementos identificados com 100%
de certeza pelos alunos. O celular em algumas respostas foi associado à função de
jogar, além de fazer ligações telefônicas, o que pode ser um exemplo do uso
convergente das tecnologias digitais.
Quando a função acessar à internet do modem foi analisada, apenas 50%
conseguiram identificá-lo como o elemento que é responsável por esta conexão. Alguns
alunos confundiram esta função com a do mouse.
O uso de imagens nesta etapa da pesquisa foi adotado primordialmente em
função da dificuldade de muitos alunos em interpretarem o texto do questionário
anterior, mesmo sendo questões objetivas.
Ainda assim, as respostas representam uma constatação de que estes alunos,
mesmo oriundos da escola pública e com histórico de repetência, na quarta série do
ensino fundamental, com média etária de 13 anos para os meninos e meninas, em sua
maioria já tiveram contato com o computador, confirmando sua resposta do
questionário, em que 56,2% declararam ter computador em casa e que os meninos, a
maioria, possui computador em casa e no caso das meninas ocorre o inverso. Mas
todos aqueles que possuem computador em casa também têm acesso à Internet.
Continuando a análise dos dados pesquisados, em campo, serão vistos os dados
coletados durante a Oitava Visita, em que foram aplicadas as atividades Computador
0,020,040,060,080,0
100,0120,0
% RECONHECIMENTO
82
para que? - momento 2 e Computador para que? - momento 3, esta pesquisa contou
com a participação de 15 alunos. O gráfico a seguir ilustra o percentual de acerto ao
associarem o nome dos aplicativos às suas respectivas funções:
Figura 8 – Respostas dos alunos à atividade Computador para que – momento 2
A primeira constatação é a de que o aplicativo “MP3”, que é um formato de
arquivo de compactação de áudio, muito popular para audição de músicas, obteve o
maior percentual de reconhecimento (93,3%). Em segundo lugar as mensagens de
celular, popularizadas como “torpedos” (86,7%), seguido do site Youtube (80%),
especializado em vídeos online. O Orkut, rede social ainda muito popular no Brasil,
também foi facilmente identificado pelos alunos (73,3%).
Dentre aqueles menos reconhecidos estão o MSN (26,7%), o Facebook e o
Google Earth (33,3%, cada). Há que se lamentar a baixa identificação do Google Earth
pelos alunos, pois seria uma excelente possibilidade para estudar Geografia, História,
Ciências e Matemática.
Outro gráfico foi elaborado a partir das respostas dadas por cada um dos 15
alunos, para identificar as respostas individuais:
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
100,0
% POR APLICATIVOS
83
Figura 9 – Respostas dos alunos à atividade Computador para que – momento 2
O gráfico acima revela que pouco mais de metade dos alunos (8 dos 15,
representando 53,3%) reconheceu mais do que 60%, cada um, dos tipos de aplicativos
associados a usos das TIC. Dois dos alunos conseguiram reconhecer todos os
aplicativos e dentre os 3 alunos que reconheceram a menor quantidade, os aplicativos
reconhecidos por eles foram Torpedo, MP3, Wikipedia e Facebook.
Em relação à atividade Computador para que? - momento 3, em que os alunos
deveriam responder com suas próprias palavras para que eles achavam que servia o
computador e para que a Internet, as respostas foram lançadas a uma planilha
eletrônica, para estratificar por quantidade as palavras mais citadas, quanto a estes
dois ícones do mundo contemporâneo, conforme gráficos a seguir:
0
20
40
60
80
100
120
A B C D E F G H I J K L M N O
% POR ALUNO
84
Figura 10 – Respostas dos alunos à atividade Computador para que – momento 3
O gráfico acima revela que os alunos entendem que o computador é relevante
quanto:
a) À comunicação e às relações interpessoais: 5 citações (2x acessar, 2x
conversar e 1x e-mail);
b) Às atividades lúdicas: 7 citações (1x brincar, 4x jogar, 2x vídeo);
c) Às atividades relacionadas à educação e ao trabalho: 12 citações (2x ler e
escrever, 3x pesquisa, 1x digitar, 1x estudar, 1x cursos, 4x trabalho).
Tratando-se de uma atividade em que os alunos responderam espontaneamente,
percebe-se que estas três linhas temáticas, da comunicação, da ludicidade, e da
educação e trabalho, revelam estarem os alunos alinhados com o que estudam os
teóricos da cibercultura, pois o computador é a máquina que está revolucionando
exatamente estas três esferas do saber.
Este contexto vem exigindo novas maneiras de comunicação, com interatividade
crescente nas interfaces, com profusão de textos e hipertextos nos diversos suportes
digitais, além de promover uma crescente rede de contatos interpessoais via redes
sociais, com repercussões políticas. Também está revolucionando a indústria cultural
com repercussões na maneira de produzir e consumir músicas, jogos, vídeos, livros. E
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5
CONVERSAR
TRABALHO
CURSOS
VÍDEO
ESTUDAR
DIGITAR
PESQUISA
JOGAR
LER ESCREVER
BRINCAR
ACESSAR
COMPUTADOR PARA QUE?
85
quanto à educação e ao trabalho, também há reflexo das duas temáticas anteriores,
muitas mudanças estão em curso, decorrentes da crescente informatização do trabalho,
com a criação e extinção de profissões e a necessidade de as pessoas buscarem maior
capacitação para ocuparem estas novas profissões, exigindo um perfil multitarefa, e
autônomo.
O segundo gráfico surge das palavras mais citadas espontaneamente pelos
alunos para dizerem para que “serve” a Internet.
Figura 11 – Respostas dos alunos à atividade Internet para que – momento 3
As respostas dizem que, quanto à relevância da Internet, destacam-se:
a) O aspecto da comunicação e da educação: 6 citações (1x sites, 2x
pesquisar, 1x e-mail, 1x Google, 1x ficar online);
b) O aspecto lúdico: 11 citações (1x desenhar, 1x brincar, 1x vídeos, 2x
músicas, 3x Youtube, 3x jogos);
c) O aspecto das relações interpessoais: 24 citações (1x namorar, 2x
amizades, 8x Orkut, 7x MSN, 6x conversar).
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
FICAR ONLINE
CONVERSAR
JOGOS
YOUTUBE
MSN
ORKUT
PESQUISAR
BAIXAR MÚSICAS
VER VÍDEOS
ACESSAR SITES
FAZER AMIZADES
NAMORAR
BRINCAR
DESENHAR
INTERNET PARA QUE?
86
Então podemos inferir que, para os alunos, a Internet é, primordialmente, um
meio que serve para a vivência das relações interpessoais, quase um “lugar”, mas não
se pode esquecer que neste espaço digital a comunicação se dá em todas as
plataformas citadas e havendo comunicação há possibilidade de usos para a educação.
Havendo espaço para a ludicidade, haverá espaço para o interesse, e a educação
poderá ser mais bem vivenciada neste contexto. Portanto, por vias indiretas, os alunos
com estas respostas estão também em consonância com os teóricos da cibercultura.
Os professores e responsáveis pelos alunos talvez ainda não tenham percebido
o valor das ferramentas que estão à sua disposição – até mesmo nas escolas públicas
que disponham, ao menos, uma sala de computadores. É plausível que muitos deles
não tenham a menor noção das mudanças em curso. Mas pode ser que alguns vejam
os computadores e a Internet com certa desconfiança: uma porta que se abriu para o
mundo de informações que não existia na sua juventude, trazendo informações e
possibilidades de contato com pessoas de todo o mundo. A estes pais e professores
pode-se argumentar que
as pessoas com as quais devemos nos preocupar são aquelas que estão crescendo em uma era digital, mas não estão aprendendo as habilidades sofisticadas de coletar, processar e criar informações, baseadas no que aprendem e compartilham com os outros (PALFREY, 2011, p. 271) .
Foram os Nativos Digitais oriundos da escola pública que responderam às
atividades propostas e são eles que – à revelia das dificuldades da realidade em que
vivem, parecem mesmo estar sob influência do caleidoscópio de mudanças da era
digital – mas se a escola e os professores não se engajarem nesta realidade, com a
implementação de políticas públicas educacionais adequadas, sua formação escolar
será insuficiente para reverter seu quadro de exclusão digital.
Se considerássemos apenas o que estes gráficos nos dizem, poderíamos
incorrer em concluir apressadamente que a inclusão sociodigital está em andamento e
que os alunos, em média, têm acesso representativo às TIC e aos serviços de rede e
Internet. Porém, é necessário confrontar a realidade perversa que encontramos no
âmbito escolar, uma vez que a observação em campo nos revela que:
87
Há alunos na 4ª série com sérias dificuldades de letramento, bem como no
domínio da leitura e escrita;
Alguns alunos têm vergonha em admitir não possuir computador em casa;
Há alunos com vergonha de não saber usar o computador;
Não sabem os comandos básicos para edição de textos;
Interessam-se e dominam games;
O acesso à Internet no laboratório é precário;
Não há um planejamento da escola quanto ao uso das TIC;
Os alunos contam (apenas) com o voluntarismo de alguns professores;
Muitos alunos não vêem muito sentido nas atividades da Sala de
Computadores da escola;
O uso predominante da Sala de Computadores é para sanar deficiências
da alfabetização dos alunos;
Não se deve desconsiderar o aspecto quantitativo deste tipo de informações
levantadas em campo, mas – em termos críticos – os números não representam tudo.
Os números traduzem os indicadores, que norteiam as políticas públicas, por exemplo,
podem deixar de fora aqueles que deveriam ser o principal foco de atenção dos
programas e políticas públicas. Ao mesmo tempo, os recursos tecnológicos ainda estão
distanciados dos alunos, como se fossem, literalmente, um anexo às atividades
escolares. Não deixa de ser sintomático que os laboratórios de informática estejam em
salas gradeadas, é interessante perceber também que:
Da mesma forma que as TIC entram na escola como dispositivos técnicos, as práticas pedagógicas continuam pautadas em velhos paradigmas, porém, com uma diferença: agora se retira a centralidade do professor e a transfere às TIC. Essa transferência é preocupante, sendo imprescindível discutir as possibilidades para inverter a lógica dominante e superar a passividade de saberes, percebendo, principalmente, o ciberespaço como espaço de inovação, de colaboração social e política e de mobilidade de práticas pedagógicas, pois elas agem em contextos muito amplos, não unívocas ou lineares, são fluidas e consideram situações muito peculiares para estabelecer comunicações (HETKOWSKI, 2004, p. 156).
Como a escola não aplica em seu currículo os saberes advindos da sociedade
da informação, os alunos que vão à sala das TIC ainda estão sujeitos à antiga filosofia
88
do ensino verticalizado. Na aplicação de métodos de alfabetização, louva-se aqui o
espírito empreendedor de professores que encaminham os alunos a uma nova
estratégia de ensino-aprendizagem, louva-se a tentativa de usar as TIC para promover
a inclusão sociodigital de alunos da 4ª série do ensino fundamental que ainda estão
semi-alfabetizados. Mas há que se criticar as políticas públicas educacionais, refletidas
na estrutura escolar que ainda não atualizou seu currículo frente à nova realidade da
cultura digital.
A título de exemplo, a seguir é transcrita a grade curricular para os alunos da 4ª
Série:
HORÁRIO SEG TER QUA QUI SEX
08:00 – 09:30
MATEMÁTICA
MATEMÁTICA
CIÊNCIAS
CIÊNCIAS
HISTÓRIA
HISTÓRIA
HISTÓRIA
HISTÓRIA
CIÊNCIAS
PORTUGUÊS
09:30 – 10:00
RECREIO
RECREIO
RECREIO
RECREIO
RECREIO
10:00 – 11:45
PORTUGUÊS
PORTUGUÊS
MATEMÁTICA
MATEMÁTICA
GEOGRAFIA
GEOGRAFIA
CIÊNCIAS
CIÊNCIAS
RECREAÇÃO
ARTES
Figura 12 – grade curricular 4ª série, matutino
Os componentes curriculares incluem as matérias do PCN para o Ensino
Fundamental, mas não percebemos neste currículo nenhuma preocupação da
instituição de ensino, a partir da implementação de políticas educativas, com a inclusão
sociodigital.
A promoção do ensino das TIC fica então vinculada à ocupação de espaços
externos à grade curricular, o que caracteriza a precariedade das políticas públicas no
domínio das escolas. Um outro sintoma desta realidade, é o próprio discurso dos
professores. Durante a Oitava Visita, numa reunião na Sala de Professores, durante o
Recreio, o teor das conversas era sobre a falta de uma coordenação pedagógica e a
subutilização da Sala de Computadores.
Neste ponto cabe destacar, em contrapartida, que, durante a Nona Visita, a
direção escolar mencionou o uso pouco frequente das TVs Pendrive pelos professores.
89
Talvez haja uma necessidade de comunicação mais efetiva entre os gestores e o corpo
docente, com uma política interna de maior acompanhamento das atividades, com a
promoção e incentivo de uso das TIC disponíveis.
Os professores sabem que a sala está à disposição, mas poucos se programam
para utilizá-la, foi uma percepção constatada durante as visitas, corroborada pelo
discursos de vários professores. Durante os dias das observações em campo, nenhum
professor regular utilizou a TV Pendrive. E apenas Professora A programava usos para
que as TIC pudessem de alguma forma ser úteis para os seus alunos. Isto representa a
necessidade de que o corpo docente, que provavelmente teve em sua formação
carências quanto ao conhecimento e aplicação didática das TIC, perceba as
deficiências, critique e reivindique, mas que também se proponha a utilizar o que já
existe de concreto em prol da melhor educação para seus alunos.
90
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização deste trabalho surgiu da necessidade de entender o fenômeno da
exclusão sociodigital no contexto das escolas públicas do ensino fundamental,
especialmente para tentar aprofundar, a partir da vivência no ambiente escolar, o
entendimento das repercussões e das dificuldades encontradas, para a vida escolar
dos alunos. À medida que a pesquisa em campo era realizada, paralelamente à
pesquisa bibliográfica, foi-se delineando um quadro mais complexo em que a exclusão
sociodigital não dependia apenas de as escolas possuírem Salas de Computadores e
dispor de acesso à Internet.
Hoje em dia, há um grande número de operadoras de telecomunicações no Brasil
e o acesso à Internet pode ser fornecido por diversas tecnologias: modens de banda
larga ligados à rede de cabos telefônicos, conexões via rádios digitais, conexões por
telefones celulares, Wimax, conexões por fibras óticas, satélites, e o que vier a ser
criado. Há que se reconhecer que há programas das esferas governamentais para levar
o acesso à Internet às escolas públicas e que este é um avanço, mas na verdade este é
o primeiro passo, pois, isoladamente, possuir o acesso às TIC é suficiente?
A pesquisa em campo aponta que não. Apesar de a escola pesquisada dispor de
uma Sala de Computadores, com acesso à Internet (nas datas pesquisadas a rede
estava fora do ar, mas havia modem da operadora telefônica local) isto não é
determinante para que os alunos estejam de fato incluídos num planejamento
pedagógico que faça uso destes recursos, e a escola pode elaborá-lo.
A complexidade e o fascínio por tentar encontrar respostas do fenômeno da
exclusão sociodigital está em criar meios de fazer as engrenagens da escola
funcionarem adequadamente, organicamente, para que professores, gestores,
funcionários, alunos, estejam num mesmo movimento em busca de aperfeiçoamento do
saber. Neste aspecto, as políticas públicas podem contribuir decisivamente.
Então, ao tentarmos encontrar repostas à pergunta que motivou esta pesquisa,
nos deparamos com inúmeras dificuldades de ordem social, material, profissional, que
pareciam estar mais coesas e firmes no propósito de manter a exclusão sociodigital
91
(uma das faces perversas da exclusão social) do que encontrar situações favoráveis à
inclusão, derivadas de políticas públicas que fossem capazes de reverter este
processo.
Além das dificuldades externas que podem afetar a pesquisa, também é
necessária a busca do rigor metodológico, disciplina e empenho para perseverar na
busca das respostas. Entretanto, é fundamental o cuidado a mais para que o desejo
inconsciente do pesquisador por determinadas respostas não contamine a condução do
próprio trabalho, levando-o a cometer erros, se privilegiar determinados dados em
detrimento de outros.
Este estudo fez o pesquisador se deparar com a angústia de perceber que há
escolas com elementos mínimos que podem ser o início de um verdadeiro uso da
cultura digital nas escolas públicas, mas estes elementos mínimos muitas vezes são
ignorados pelos gestores escolares, e por alguns professores, que – paradoxalmente –
parecem estar mais perdidos que os Nativos Digitais das escolas públicas.
Entender o fenômeno da exclusão sociodigital que afeta os alunos da rede
pública, depende de entender que este é um problema mais complexo do que
simplesmente considerar, a priori, que todos são excluídos ou que quase nenhum deles
tem acesso ao computador. Não é uma relação binária e simples assim. Também é
necessário considerar que estes alunos são Nativos Digitais, mesmo dentro das
limitações de acesso à rede nas comunidades em que vivem, e que muitos professores
não tiveram formação acadêmica quanto ao uso das TIC.
Outro aspecto que a pesquisa de campo revelou, numa análise mais imediata, é
que quase todos os alunos, em algum momento, tiveram a possibilidade de usar o
computador e que, para muitos, este uso é freqüente. Entretanto, a qualidade do uso do
computador é a outra face da moeda que deve ser analisada e deveria ser uma
fronteira a ser explorada pela comunidade escolar.
O uso do computador e da Internet por si só não representa a inclusão
sociodigital, pois o que se está buscando é a promoção da autonomia dos alunos das
escolas públicas para as suas vidas fora dos portões da escola. Então, mesmo que a
escola possua acesso às TIC, mesmo que todos os professores desta escola levem
regularmente seus alunos à Sala de Computadores – o que não era o caso da escola
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pesquisada aqui -, mesmo assim deverá haver uma constante realimentação e
capacitação destes professores, promovida pelos administradores públicos, para
saberem utilizar estas ferramentas para além de meros suportes tecnológicos.
As observações feitas em campo parecem apontar que são necessárias, por parte
dos professores, investidas na vivência e no entendimento dos processos interativos,
das leituras de multimídias e dos hipertextos, para a convivência fluída e proveitosa
com os Nativos Digitais, habitantes desenvoltos dos espaços da cibercultura. Parece
também que, isoladamente, poucos professores se motivarão a fazer este tipo de
investida. Precisa haver um suporte institucional que lhes proporcione treinamentos e
facilidades para pesquisas e edição de aulas com o uso de recursos das TIC.
Por outro lado, esta atividade em campo descerrou um horizonte de novas
possibilidades de entendimentos do fenômeno da exclusão sociodigital e se por um
lado mostrou que é possível realizar muito mais com o que se tem hoje de acesso
às TIC em muitas escolas, por outro abriu campo para novas pesquisas e mais
indagações. Seria importante estudar, por exemplo, a realidade das escolas
atendidas pelo Programa Banda Larga nas Escolas Públicas, para avaliar como o
Programa afetou a realidade escolar e como é a vivência dos alunos ao acesso às
TIC nestes locais.
Em vários momentos, para entrar e sair da escola, ou para transitar entre seus
pavilhões internos era necessário atravessar muitos portões e vigilâncias e eram
como se fossem senhas requisitadas por um sistema operacional muito receoso de
ser invadido. As grades metafóricas da escola representam um desafio ao
pesquisador, que precisa ser melhor compreendido.
Então, surgirão outras indagações a partir da percepção de que talvez os
portões mais fortes a impedir o acesso dos alunos ao laboratório de informática, e
por conseguinte às TIC, com mediação escolar, talvez sejam aqueles que os
mantém à mercê da falta de planejamento, do descaso ao acompanhamento das
políticas e programas públicos, que são lançados e logo em seguida esquecidos. E
os estudos e as pesquisas devem ser feitos para identificar, compreender e reverter
este cenário.
93
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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS
QUESTIONÁRIO Levantamento do Perfil dos Alunos.
Escola Estadual do Ensino Fundamental 1 Idade: _______________ Série: ______________ Data: __________________ Gênero: ( ) Feminino ( ) Masculino Bairro onde mora: _________________________________________________ Possui computador em casa?( ) Sim ( ) Não Caso tenha computador em casa: O computador está ligado à Internet? ( ) Sim ( ) Não Tipo da conexão: ( ) Banda Larga ( ) Discada ( ) Móvel ( ) Cabo Sabe utilizar o computador? ( ) Sim ( ) Não Não saber como usar o computador e a Internet é: ( ) Bom ( ) Ruim ( ) Tanto faz Desde que idade utiliza o computador? ( ) Nunca usou; ( ) Antes de 5 anos; ( ) Entre os 5 e os 10 anos; ( ) Entre os 10 e os 15 anos; ( ) Acima dos 15 anos. Quantas vezes você usa do computador? ( ) Nunca utilizou; ( ) Muito pouco; ( ) Uma vez por semana; ( ) 3 vezes por semana; ( ) Todos os dias da semana. Caso não possua computador em casa, onde costuma ter acesso ao mesmo? ( ) Lan House; ( ) Casa de amigos; ( ) Escola; ( ) ONG; Qual?____________________________________________________ ( ) Outro local:_____________________________________________________ Quais destes usos você faz do computador? ( ) Jogos ( ) Orkut ( ) Facebook ( ) Bate-papo ( ) Baixar vídeos ( ) Assistir vídeos ( ) Baixar músicas ( ) Ouvir músicas ( ) Pesquisas da escola ( ) Escrever textos
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( ) E-mail ( ) Fotos ( ) Ler sites ( ) Ler notícias ( ) Desenhar ( ) Outro:__________________________________________________________ Quais destes programas você conhece? ( ) Word ( ) Excel ( ) Internet Explorer ( ) Outro:__________________________________________________________ ( ) Nenhum Possui facilidade para usar o computador? ( ) Sim ( ) Não Você gosta de Ciências e de tecnologia? ( ) Sim ( ) Não Você acha que a escola estimula o uso do computador? ( ) Sim ( ) Não Você gosta de ler? ( ) Sim ( ) Não Marque tarefas prejudicadas pela dificuldade de leitura: ( ) O uso do computador ( ) O uso do celular ( ) Utilizar ônibus ( ) Conferir o troco ( ) Não atrapalha Qual destas atividades você acha mais interessante? ( ) Ler ( ) Fazer contas ( ) Usar o computador ( ) Estudar ( ) Esportes Seus professores estimulam o uso de tecnologias (computadores, celulares, etc.)? ( ) Sim ( ) Não Qual tecnologia utilizada em sua escola? ( ) Computador ( ) TV Pendrive ( ) Livros ( ) DVD Você usa o celular na sala de aula? ( ) Sim ( ) Não O uso do celular atrapalha sua atenção à aula? ( ) Sim ( ) Não Como o computador pode ser usado para melhorar seus estudos?
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ANEXO B – VÍDEOS APRESENTADOS NA ESCOLA NATIVOS DIGITAIS
ALVES, Alecsander. História do Computador em 5 minutos. Disponível em: < http://www.youtube.com/watch?v=vbR7jiUQReA&feature=related>. Acessado em
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