45
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA MARIELI PEREIRA RODRIGUES A Satisfação como um fator inerente à Qualidade de Vida no Trabalho em uma empresa calçadista na região do Vale do Rio Tijucas BIGUAÇU 2006

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU

CURSO DE PSICOLOGIA

MARIELI PEREIRA RODRIGUES

A Satisfação como um fator inerente à Qualidade de Vida no Trabalho em

uma empresa calçadista na região do Vale do Rio Tijucas

BIGUAÇU 2006

Page 2: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

MARIELI PEREIRA RODRIGUES

A Satisfação como um fator inerente à Qualidade de Vida no Trabalho em

uma empresa calçadista na região do Vale do Rio Tijucas

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para obtenção do título de Bacharel em Psicologia, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de Biguaçu. Profª. Orientadora: MSc.Ana Paula B. Karkotli

BIGUAÇU 2006

Page 3: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

MARIELI PEREIRA RODRIGUES

A Satisfação como um fator inerente à Qualidade de Vida no Trabalho em

uma empresa calçadista na região do Vale do Rio Tijucas

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________ Profª. MSc. Ana Paula Balbueno Karkotli

(Orientadora)

____________________________________________ Profª. MSc Ilma Borges

(Membro de Banca Examinadora)

____________________________________________ Profª. MSc. Jaqueline Longo Xikota (Membro de Banca Examinadora)

_____________________________________________ Profª. MSc. Maria Suzete Salib

(Coordenadora dos TCCs)

____________________________________________ Prof. MSc. Almir Pedro Sais

(Coordenador do Curso de Psicologia)

BIGUAÇU 2006

Page 4: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

AGRADECIMENTOS

Especialmente agradeço, À minha mãe Maria Eli Rodrigues, minha infinita gratidão, por ter feito de tudo para

viabilizar meus estudos sem nunca medir esforços.

Ao meu namorado Rudi de Assis, pelo amor dispensado a mim, servindo de estímulo durante

toda essa trajetória.

À minha querida orientadora Profª. MSc Ana Paula Balbueno Karkotli, pelo empenho

dedicado a mim, também pela ajuda na pesquisa e obtenção de bibliografias relacionadas ao

tema da minha pesquisa e recursos para a apresentação da mesma.

As minhas irmãs Elihéli Rodrigues Marchi, Deyse Isabel Rodrigues Sartotti e Diully

Aparecida Rodrigues do Nascimento, pelo carinho e apoio depositados à mim .

Aos parentes e amigos, que compreenderam meu afastamento durante a construção deste

estudo.

A minha amiga Elzi Pacheco Thiesen, por compartilhar suas experiências comigo e auxílio

na pesquisa.

Às minhas grandes amigas: Cleusa Della Flora, Cinthya Wagner e Pamela Kristina

Bastos, que apesar dos desafios enfrentados durante esse período acadêmico, sempre me

ofereceram palavras de conforto quando precisei e também pela amizade compartilhada.

Meus agradecimentos sinceros e profundos a cada um que compartilhou junto a mim de forma

direta ou indireta algum desses momentos rumo à busca desse novo conhecimento.

Page 5: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Escalas de Satisfação.......................................................................................... 13

Quadro 2: Modelos de QVT................................................................................................ 18

Quadro 3: Descrição das categorias inerentes à satisfação e à Qualidade de Vida no Trabalho................................................................................................................

24

Quadro 4: Verificação da existência da satisfação e sua relação com a QVT .................... 29

Page 6: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS .................................................................................................... 4

RESUMO.......................................................................................................................... 6

ABSTRACT .................................................................................................................... 7

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8

2 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO ............................................................................. 10

2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 10

2.1.1 Satisfação no Trabalho ............................................................................................ 10

2.1.2 Antecedentes ambientais da Satisfação no Trabalho .............................................. 11

2.1.3 Antecedentes pessoais da Satisfação no Trabalho .................................................. 11

2.1.4 Efeitos potenciais da Satisfação no Trabalho ......................................................... 12

2.1.5 A avaliação da Satisfação no Trabalho ................................................................... 12

2.1.6 Qualidade de Vida no Trabalho .............................................................................. 13

2.1.7 Modelos de Qualidade de Vida no Trabalho .......................................................... 15

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................. 20

3.1 Tipo de Pesquisa ........................................................................................................ 20

3.2 Descrição do contexto e os sujeitos da pesquisa ........................................................ 21

3.3 Instrumentos utilizados .............................................................................................. 22

3.4 Técnica de análise e Interpretação dos Resultados .................................................... 22

3.5 Aspectos éticos .......................................................................................................... 23

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................ 24

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 32

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 35

APÊNDICES .................................................................................................................... ANEXOS...........................................................................................................................

37

43

Page 7: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

RESUMO

RODRIGUES, M. P. A Satisfação como um fator inerente à Qualidade de Vida no Trabalho em uma empresa calçadista na região do Vale do Rio Tijucas. Trabalho de conclusão de curso (graduação em psicologia) Universidade do Vale do Itajaí – Biguaçu, 2006. Esta pesquisa trata sobre satisfação e sua influência sobre a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). É importante notar que os trabalhadores são fundamentais nas organizações produtivas e, no trabalho, passam a maior parte do tempo de suas vidas, buscando não apenas remuneração digna, mas espaço e oportunidade de demonstrar suas aptidões, de participar, de crescer profissionalmente e de ver seus esforços reconhecidos. Diante disso, não se pode falar em qualidade de serviço e produto se aqueles que vão produzi-los não têm QVT. Nesse sentido, esta pesquisa de campo de caráter qualitativo se constitui em um estudo de caso, no qual se procurou discutir os principais conceitos sobre a satisfação e a influência desta na QVT, de uma empresa calçadista da região do Vale do Rio Tijucas, destacando teorias de satisfação e da QVT. Ao investigar a possível relação, procurou-se identificar categorias norteadoras da satisfação e da QVT, evidenciando a existência da Satisfação e da QVT, que foi desenvolvida por intermédio de entrevistas semi-estruturadas. O resultado obtido foi a constatação de que a satisfação é inerente à QVT e, portanto, a maior parte dos entrevistados encontram-se satisfeitos, o que evidencia a presença da QVT nesta organização. Palavras-chave: Satisfação; Qualidade de Vida no Trabalho; Ambiente de Trabalho.

Page 8: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

ABSTRACT

RODRIGUES, M. P. Satisfaction as an inherent factor to the Quality of Life at Work in a shoes company in the area of Rio Tijucas's valley. Work of course conclusion (graduation in psychology) Universidade do Vale do Itajaí - Biguaçu, 2006. This research is about satisfaction and its influence on Quality of Life at Work (QLF). It is important to notice that workers are fundamental in productive organizations, and it is therefore in the work that they pass most of the useful time of their lives, looking for not only worthy remuneration, but space and opportunity to demonstrate their aptitudes, to participate, to increase professionally and to see their efforts recognized. After that it is not possible to speak about service quality and product if those that will produce them don't have QLF. In this sense, the field research, with qualitative characteristic is constituted in a case study, tried to discuss the main concepts on satisfaction and the influence of this in QLF, in a shoes company of the area of Rio Tijucas's valley, detaching satisfaction theories and of QLF. When investigating the possible relationship, it was tried to identify the guide categories of satisfaction and of QLF, identifying the existence of Satisfaction and of QLF, that was developed through semi-structured interviews. The obtained result was the verification that satisfaction is inherent to QLF and, that therefore most of the interviewees is satisfied, what evidences the presence of QLF in this organization. Key words: Satisfaction, Quality of Life at Work, Work environment. .

Page 9: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

8

1 INTRODUÇÃO

Parte-se do pressuposto de que a Qualidade de Vida no Trabalho é considerada

indispensável à produtividade e à competitividade, sendo que estas são imprescindíveis à

sobrevivência para toda e qualquer empresa. Tendo em vista que a satisfação diz respeito ao

quanto as pessoas gostam de seu trabalho, a idéia de que mensurar os níveis de satisfação dos

trabalhadores sobre suas condições de trabalho torna-se essencial para o êxito empresarial

(FERNANDES, 1996).

Nesse sentido, os trabalhadores são fundamentais nas organizações produtivas. No

ambiente organizacional, passam a maior parte do tempo útil de suas vidas, buscando não

apenas remuneração digna, mas espaço e oportunidade de demonstrar suas aptidões, de

participar, de crescer profissionalmente e de ver seus esforços reconhecidos. Em virtude desse

fator, “não se pode falar em qualidade de serviço e produto se aqueles que vão produzi-los

não têm qualidade de vida no trabalho” (FERNANDES, 1996).

Sendo assim, a representação da qualidade de vida que deveria estar associada apenas

à prática de exercícios físicos ou considerada um sonho pessoal, ampliou-se também para o

âmbito das organizações, com intuito de movimentar e buscar novas formas de gerir

empresas. De acordo com Burigo (1997), a satisfação não pode estar isolada da vida das

pessoas, admite-se que a Qualidade de Vida no Trabalho é um ponto vital, não só para a

realização do homem no trabalho, mas também em toda sua existência.

A qualidade de vida é a percepção de bem-estar quanto às expectativas de satisfação

das necessidades e do estado de motivação. Para tanto, nas empresas, a qualidade de vida

representa o resgate da valorização e da humanização do cidadão no trabalho, integrando

todos os fatores críticos determinantes de uma boa gestão de pessoas. Valores e políticas de

qualidade de vida como a produtividade, a legitimidade, a liderança, a cultura organizacional

e a rede de competência dos especialistas internos e externos à empresa são capazes de

oferecer produtos e serviços que geram o bem-estar (LIMONGI, 2004).

Atualmente existem muitos estudos a respeito do alcance da melhor qualidade de vida

no trabalho prestado e da maior produtividade. Esse tema tem sido objeto de estudo

acadêmico de experiências em diversos países. No Brasil, em especial, o interesse por tal

assunto pode ser considerado relativamente novo. No entanto, segundo Vieira (1996), existe

uma crescente pressão da sociedade por melhores condições de vida, incluindo o trabalho e

também já se tem informação de resultados favoráveis dos processos de gestão da Qualidade

Page 10: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

9

de Vida, os quais são comprovados em pesquisas brasileiras e internacionais sobre o tema.

Estudos de livre-docência realizados com 250 administradores que demonstram, pelo menos,

40% se interessam e utilizam essa prática. Através desses estudos, efetiva-se ainda mais o

quão é necessário e valioso poder estar a par e contribuir cientificamente na construção e no

aprimoramento de novos conhecimentos destinados a estudantes, pesquisadores e

profissionais da área. Além disso, a pesquisa é sempre o elo entre o pesquisador e a

comunidade científica, razão pela qual sua divulgação consiste em elemento indispensável do

processo de produção do saber.

Portanto, almejar, dentro de uma organização, uma melhora no desempenho do

trabalho em todos os sentidos – físico, instrumental, técnico, psicossocial, organizacional –

implica a implantação e a utilização de um processo de Qualidade de Vida no Trabalho.

Nessa perspectiva, esta pesquisa propõe a reflexão referente à temática de Qualidade

de Vida no Trabalho. Por meio desta investigação, espera-se caminhar na construção de

relações de trabalho mais humanizadas, que resultem em maior satisfação e produtividade dos

trabalhadores em seu ambiente laboral.

Page 11: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

10

2 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO

2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1.1 Satisfação no Trabalho

Desde as primeiras décadas do século passado, alguns estudos têm sido desenvolvidos

com o objetivo de desvendar as dimensões, os determinantes (possíveis causas), os correlatos

(conceitos semelhantes), as conseqüências (possíveis efeitos) e promover técnicas de

mensuração de um sentimento que emerge quando o homem se relaciona com situações de

trabalho, sentimento este identificado como satisfação no trabalho. É uma variável de

natureza afetiva desvendada por estudiosos tanto de Psicologia Organizacional e do Trabalho

como também por gestores e pesquisadores do comportamento organizacional (ZANELLI,

2004).

Zanelli (2004), aponta que a ênfase na pesquisa sobre a satisfação no trabalho decorre,

em grande parte, de suposições elaboradas por gestores e pesquisadores a respeito do seu

papel determinante sobre comportamentos dos trabalhadores considerados relevantes para a

organização. Ressalta, também, o autor que a relevância da satisfação laboral implica a

preocupação de uma concepção social segundo a qual trabalhador satisfeito com seu trabalho

pode se tornar uma pessoa com mais possibilidades de ser um cidadão integrado à sociedade,

à sua família e apresentar melhores índices de bem-estar físico e mental. Tais preocupações

refletem efetivamente o eixo central de estudos sobre o quanto o trabalho e as condições em

que é realizado podem influir sobre o bem-estar e a saúde de cidadãos.

Apesar do grande número de estudos sobre a satisfação no trabalho, poucos esforços e

raros debates têm sido feitos para apresentar uma definição mais consensual sobre essa

expressão. No século passado, existiu uma tendência para conceituá-la como afetiva,

representante de reações emocionais ante ao trabalho e experiências nesse contexto. Segundo

Zanelli, a principal acepção nessa direção que parece ter impressionado mais fortemente os

pesquisadores foi a oferecida por Locke (apud ZANELLI, 2004, p.303). Conforme esse autor,

a satisfação é “[...]um estado emocional positivo ou de prazer, resultante de um trabalho ou de

uma experiência de trabalho”.

A satisfação no trabalho diz respeito ao quanto as pessoas gostam de seu trabalho. É

uma variável de atitude que reflete com relação ao trabalho em geral em seus vários aspectos.

Page 12: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

11

A satisfação está ancorada em dois enfoques: o global e o de facetas. O primeiro enfoque diz

respeito à satisfação como um sentimento único e geral em relação ao trabalho. Quanto ao

segundo enfoque, o de faceta, ou alternativo, é o mesmo que os diferentes aspectos do

trabalho, como as recompensas (salário e beneficio), outras pessoas relacionadas a ele

(supervisores e colegas), as condições de trabalho e a natureza do trabalho em si (SPECTOR,

2003).

2.1.2 Antecedentes ambientais da Satisfação no Trabalho

Muitos estudos têm validado a idéia de que certas variáveis do ambiente de trabalho

relacionam-se à satisfação. Na década de 60, a idéia de que o trabalho de fábrica simples e

rotineiro era intrinsecamente tedioso e insatisfatório foi aceita. Para tanto, melhorar a

satisfação do trabalho implicaria mudanças para tornar o trabalho mais complexo e

significativo (SPECTOR, 2003). Nesse sentido, Frederick Herzberg, líder do movimento1,

focalizou as características principais do trabalho e contribuiu para enriquecer a forma de

tornar o trabalho mais significativo e satisfatório. Tais características, porém, referem-se ao

conteúdo e à natureza das tarefas em si. Além disso, como meio de contribuição para a

satisfação no trabalho, existem cinco características diferentes estudadas por Hackman e

Oldham: variedade das habilidades, identidade da tarefa, importância da tarefa, autonomia e

feedback no trabalho.

Spector (2003), considera que foi por meio de dezenas de estudos, que pode-se

mostrar tais características, uma a uma, possuem relação com a satisfação no trabalho.

Outra variável bastante representativa é a do papel, a qual apresenta duas variáveis

específicas: ambigüidade do papel e conflito de função. A primeira variável abrange o

conflito do papel e a segunda, compreende o conflito família, trabalho e salário.

2.1.3 Antecedentes pessoais da Satisfação no Trabalho

1 Movimento para enriquecer o trabalho de forma a torná-lo mais significativo e satisfatório para as pessoas.

Page 13: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

12

Nos últimos anos, os psicólogos organizacionais têm mostrado interesse na

possibilidade de as características pessoais também serem importantes, sugerindo que a

satisfação pode ser causada, em parte, por predisposição genética, em contraposição com a

maioria dos estudos que consideram a satisfação como perspectiva do ambiente. Vários

estudos revelam que a satisfação relaciona-se com a personalidade, que abrange a afetividade

negativa e o lócus de controle; gênero; idade e diferenças culturais e éticas (SPECTOR,

2003).

2.1.4 Efeitos potenciais da Satisfação no Trabalho

No que concerne à satisfação e à insatisfação, acredita-se que a satisfação laboral

esteja intimamente ligada a certos componentes relevantes para as organizações. Segundo

Spector (2003, p. 240),

muitos psicólogos organizacionais têm se sentido obrigados a justificar seu interesse na satisfação aos gerentes, mostrando que ela é relevante para os comportamentos que têm impacto importante para o bem-estar das organizações. Três destes comportamentos têm se mostrado proeminentes na literatura: desempenho no trabalho, rotatividade e ausência do funcionário.

Assim, a satisfação tem sido considerada importante, nos últimos anos, em virtude de

seus efeitos potenciais nas variáveis que dizem respeito aos funcionários do que às

organizações. No entendimento de Spector (2003, p.244), “se torna de maior interesse quando

se trata da relação entre satisfação no trabalho e a saúde e o bem-estar”. Nesse sentido, o autor

propõe que o papel da satisfação na saúde e no bem-estar é uma questão importante que

precisa de atenção. Existe a possibilidade de a melhoria da satisfação resultar em pessoas mais

saudáveis e bem ajustadas. Se este for o caso, será ainda mais relevante determinar como a

satisfação no trabalho pode ser melhorada.

2.1.5 A avaliação da Satisfação no Trabalho

A satisfação no trabalho é quase sempre avaliada perguntando-se às pessoas como elas

se sentem em relação ao seu trabalho, através de questionários ou entrevistas. Existem várias

Page 14: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

13

escalas que podem ser utilizadas em um questionário, e a satisfação é geralmente avaliada

dessa forma. Às vezes, mais freqüente na prática do que em pesquisas, os funcionários são

entrevistados sobre a sua satisfação. Spector (2003) pauta-se em três tipos de escalas de

satisfação: Índice Descritivo do Trabalho, o Questionário de Minnezota e a Escala de

Trabalho em Geral, conforme se ilustra no Quadro 1, a seguir:

Índice Descritivo do Trabalho Questionário de Minnesota Escala de Trabalho em Geral

De todas as escalas disponíveis, a mais utilizada entre os pesquisadores é a do Índice descritivo do trabalho, desenvolvida por Smith, Kendall e Hulin (1969). Considera-se a mais completa, pois possui a mais minuciosa validação. Essa escala avalia cinco facetas: trabalho, salário, oportunidade de promoção, supervisão e colegas de trabalho. Dezenas de usuários dessa escala a têm considerado como indicador geral da satisfação no trabalho.

Este questionário de satisfação, cunhado por Weiss, Dawis, Lofquist e England (1966), apresenta-se de duas formas: uma versão de 100 itens e outra reduzida, com 20 itens. Ambas contêm itens que questionam sobre 20 facetas da satisfação no trabalho, porém as pontuações para as facetas são computadas apenas para versão completa. Já a versão curta é utilizada para avaliar a satisfação global ou a satisfação intrínseca e extrínseca. Tais são combinações de diversas facetas.

A escala de satisfação global no trabalho, traçada por Ironson et al (1989), contém itens que não refletem as variáveis facetas do trabalho Esta escala usou como padrão o índice descritivo do trabalho. Ela contém dezoito itens que são adjetivos ou frases curtas sobre o trabalho em geral. Esta escala possui uma boa confiabilidade e boa correlação com outras escalas de satisfação geral no trabalho. Por ser uma escala relativamente nova, ela ainda não foi usada em muitos estudos.

Quadro 1: Escalas de Satisfação Fonte: Spector (2003, p.225)

De acordo com Spector (2003), as escalas para avaliar a satisfação são fundamentais

para se obter o resultado de como as pessoas se sentem com relação ao seu trabalho, tendo em

vista que, no local de trabalho, passam a maior parte do tempo. Sendo assim, a satisfação no

local de trabalho implica as condições de bem-estar, as quais estão intimamente ligadas à

Qualidade de vida no Trabalho, que será desenvolvido no próximo item.

2.1.6 Qualidade de Vida no Trabalho

Nas últimas décadas, tem-se procurado estudar o bem estar humano em organizações

produtivas através da Qualidade de Vida no Trabalho – QVT.

Page 15: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

14

Em 1950, Eric Trist e seus colaboradores desenvolveram estudos no Tavistock

Institute, em torno de uma abordagem sócio-técnica em relação à organização do trabalho. A

denominação QVT significa experiências sustentadas na relação indivíduo-trabalho-

organização, fundamentada na análise e reestruturação da tarefa, com objetivo de tornar a vida

dos trabalhadores menos penosa (FERNANDES, 1996).

Em 1970, Louis Davis cunha o termo QVT quando desenvolvia um projeto sobre

desenho de cargos. Para ele, no conceito de QVT, fica evidente uma preocupação com o bem-

estar geral e com a saúde dos trabalhadores no desempenho de suas tarefas. Para tanto, o

conceito de QVT mais difundido atualmente implica o envolvimento tanto de aspectos físicos

e ambientais como também os aspectos psicológicos do local de trabalho (CHIAVENATO,

1999).

Diante da idéia de que a QVT tem sido objeto de estudo de muitos autores e devido ao

fato de a QVT estar em constante e rápida transformação, percebe-se que se mudam as formas

de produção e também as relações de trabalho. Bowditch e Buono (1992, p. 207) ressaltam

que

um conjunto de definições equaciona a QVT com a existência de um certo conjunto de condições e práticas organizacionais, tais como: cargos enriquecidos, participação dos empregados nos processos de tomada de decisões, condições seguras de trabalho e assim por diante. Uma outra abordagem equaciona a QVT com os efeitos visíveis que as condições de trabalho têm no bem-estar de um indivíduo, como por exemplo, manifestação de satisfação no local de trabalho, crescimento e desenvolvimento de funcionários, a capacidade de atender a toda a gama de necessidades humanas[...]

Para Rodrigues (1995), ter qualidade de vida no trabalho significa segurança, higiene,

conforto, descanso, estruturas organizacionais adequadas, melhor distribuição de tarefas,

melhor remuneração e garantia de desenvolvimento.

A QVT possui um conceito abrangente, que inclui fatores pessoais que são entendidos

como necessidades, expectativas, crenças e valores do trabalhador, e fatores situacionais

como tecnologia, sistema de recompensa, ambiente de trabalho e estado geral da economia

(BURIGO, 1997). Surge, assim, a preocupação com a satisfação dos trabalhadores na

execução de suas tarefas, com o objetivo de se atingir altos índices de produtividade.

Parte-se do pressuposto de que a QVT é uma terminologia que se preocupa com a

satisfação do trabalhador e com sua produtividade. Ressalta-se que esse conceito surgiu há,

pelo menos, três décadas, portanto, não configura-se em um fato recente, mas sim uma

necessidade que vem progredindo até os dias atuais (CHIAVENATO, 1999).

A QVT é utilizada como “termômetro” indicador das experiências humanas no local

de trabalho e do grau de satisfação das pessoas que desempenham atividade laboral. Para

Page 16: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

15

Chiavenato (1999), o conceito de QVT implica um profundo respeito pelas pessoas. Para

alcançar níveis elevados de qualidade e produtividade, as organizações precisam de cidadãos

motivados2, que participem ativamente dos trabalhos que executam e também que sejam

adequadamente recompensados pelas suas contribuições. O autor aponta para a necessidade

de a organização reconhecer o seu cliente interno (funcionários) para bem atender o seu

cliente externo (clientela). Nesse sentido, conforme Möller (apud CHIAVENATO, 1999,

p.391), “a organização que investe diretamente no seu funcionário está, na realidade,

investindo indiretamente no seu cliente”. A gestão de qualidade total nas organizações

depende fundamentalmente da otimização do potencial humano, isso sugere o quão bem as

pessoas se sentem em seu ambiente de trabalho. Segundo Chiavenato (1999), com efeito, a

QVT envolve uma constelação de 9 fatores:

1- A satisfação com o trabalho;

2- As possibilidades de futuro na organização;

3- O reconhecimento pelos resultados alcançados;

4- O salário percebido;

5- Os benefícios auferidos;

6- O relacionamento humano dentro do grupo e da organização;

7- O ambiente psicológico e físico de trabalho;

8- A liberdade e responsabilidade de decidir;

9- As possibilidades de participar.

2.1.7 Modelos de Qualidade de Vida no Trabalho

Autores como Maslow, Herzberg, McClelland, McGregor e Lippit, dentre outros,

contribuíram em oferecer referências para aferição da motivação e satisfação no trabalho. Em

seus corpos teóricos, consideraram que situações de trabalho podem satisfazer a grande

variedade de necessidades pessoais, ou seja, sobreviver com alguma segurança, interagir com

outros, ter um senso pessoal de utilidade, ser reconhecido por suas realizações e ter

oportunidades de melhorar suas habilidades e seus conhecimentos (ROBBINS, 1998).

2 A motivação humana é constante e complexa. O indivíduo é um todo se motiva, e não parte dele, e a satisfação conseqüentemente atinge o individuo todo.

Page 17: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

16

Chiavenato (1999) sugere que o desempenho no cargo e o clima organizacional

representam fatores importantes na determinação da QVT. Quando a Qualidade de vida no

trabalho for escassa, encaminhará à alienação do empregado e à insatisfação, à má vontade, ao

declínio da produtividade, a comportamentos contraproducentes (como absenteísmo,

rotatividade, roubo, sabotagem, militância etc). Por outro lado, quando a qualidade do

trabalho é boa, conduzirá um clima de confiança e respeito mútuo, no qual o indivíduo

tenderá a aumentar suas contribuições e elevar suas oportunidades de êxito psicológico e a

administração tenderá a reduzir mecanismos rígidos de controle social.

Tendo em vista que a importância das necessidades humanas varia conforme a cultura

de cada indivíduo e de cada organização, a qualidade de vida não é determinada apenas pelas

características individuais (necessidades, valores, expectativas) ou situacionais (estrutura

organizacional, tecnologia, sistemas de recompensas, políticas internas), mas, sobretudo, pela

atuação sistêmica dessas características individuais e organizacionais. Sendo assim, alguns

autores apresentam modelos de QVT (CHIAVENATO, 1999).

Para tanto, a proposta de Walton se faz de extrema importância para esta pesquisa, já

que se pretende fundamentá-la segundo esse modelo.

Walton afirma que oito fatores afetam a QVT, a saber:

1- Compensação justa e adequada: a justiça distributiva de compensação depende da

adequação da remuneração ao trabalho que a pessoa realiza, da eqüidade interna3 e da

eqüidade externa4.

2- Condições de segurança e saúde no trabalho: envolve as dimensões jornada de

trabalho e ambiente físico adequados à saúde e ao bem-estar da pessoa.

3- Utilização e desenvolvimento de capacidades: proporciona oportunidades de

satisfazer as necessidades de utilização de habilidades e conhecimentos do trabalhador,

desenvolver sua autonomia, autocontrole e obter informação quanto ao seu desempenho.

4- Oportunidade de crescimento contínuo e segurança: promove possibilidades de

carreira na organização, crescimento e desenvolvimento pessoal e segurança no emprego de

forma duradoura.

5- Integração social na organização: eliminam-se barreiras hierárquicas marcantes,

apoio mútuo, franqueza interpessoal e ausência de preconceito.

3 Equilíbrio entre as remunerações dentro da organização. 4 Equilíbrio com as remunerações do mercado de trabalho.

Page 18: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

17

6- Constitucionalismo: refere-se ao estabelecimento de normas e regras da

organização, direitos e deveres do trabalhador, recursos contra decisões arbitrárias e um clima

democrático dentro da organização.

7- Trabalho e espaço total de vida: o trabalho não deve absorver todo tempo e energia

do trabalhador em detrimento de sua vida familiar e particular, de seu lazer e atividades

comunitárias.

8- Relevância social da vida no trabalho: o trabalhador necessita ter uma atividade

social que traga orgulho para a pessoa em particular de uma organização. A organização

precisa ter uma atuação e uma imagem perante a sociedade, responsabilidade social,

responsabilidade pelos produtos e serviços oferecidos, práticas de emprego, regras bem

definidas de funcionamento e de administração eficiente.

Entre os modelos que conceituam QVT, a proposta de Walton aproxima-se da

abrangência da definição, englobando os fatores intra e extra-organizacionais, proporcionando

uma melhor avaliação do nível de QVT nas organizações. Nesse sentido, Chiavenato (1999)

apresenta oito fatores e suas respectivas dimensões, que servem de indicadores para pesquisas

qualitativas, indicadas por Walton, juntamente com os modelos de Nadler e Lawler e

Hackman e Oldhan, que podem ser visualizados no Quadro 2, a seguir:

Page 19: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

18

Modelo de Hackman e Oldhan

Para os autores, as dimensões do cargo produzem estados psicológicos críticos que conduzem a resultados pessoais e de trabalho que afetam a QVT. Apresentadas como: 1- Variedade de habilidades: o cargo deve requerer várias e diferentes habilidades, conhecimentos e competências da pessoa. 2- Identidade da tarefa: o trabalho deve ser realizado do início até o fim para que a pessoa possa perceber que produz um resultado palpável. 3- Significado da tarefa: a pessoa deve ter uma clara percepção de como o seu trabalho produz conseqüências e impactos sobre o trabalho das outras. 4- Autonomia: a pessoa deve ter responsabilidade pessoal para planejar e executar as tarefas, autonomia e independência para desempenhá-las. 5- Retroação do próprio trabalho: a tarefa deve proporcionar informações de retorno à pessoa para que ela própria possa auto-avaliar seu desempenho. 6- Retroação extrínseca: deve haver o retorno proporcionado pelos superiores hierárquicos ou clientes a respeito do desempenho na tarefa. 7- Inter-relacionamento: a tarefa deve possibilitar contato interpessoal do ocupante com as outras pessoas ou com clientes internos e externos.

Modelo de Nadler e Lawler

A Qualidade de Vida está fundamentada em quatro aspectos: 1- Participação dos funcionários nas decisões. 2- Reestruturação do trabalho através do enriquecimento de tarefas e de grupos autônomos de trabalho. 3- Inovação no sistema de recompensas para influenciar o clima organizacional. 4- Melhoria no ambiente de trabalho quanto às condições físicas e psicológicas, horário de trabalho etc. Na medida em que esses quatro aspectos são incrementados, haverá uma melhoria na Qualidade de vida no trabalho.

Modelo de Walton

Existem oito fatores que afetam a QVT: 1- Compensação justa e adequada: Renda (salário) adequada ao trabalho, Equidade interna, Equidade externa. 2- Condições de segurança e saúde no trabalho: jornada de trabalho, ambiente físico (seguro e saudável) 3- Utilização e desenvolvimento de capacidades: Autonomia, Significado da tarefa, Identidade da tarefa, Variedade de habilidades, Retroação e retroinformação. 4- Oportunidades de crescimento e segurança: Possibilidades de carreira, Crescimento profissional, Segurança do emprego. 5- Integração social na organização: Igualdade de oportunidades, Relacionamento interpessoais e grupais, Senso comunitário. 6- Garantias constitucionais: Respeito às leis e aos direitos trabalhistas, Privacidade pessoal, Liberdade de expressão, Normas e rotinas claras da organização. 7- Trabalho e espaço total de vida:Papel balanceado do trabalho na vida pessoal. 8- Relevância social da vida no trabalho: Imagem da empresa, Responsabilidade social pelos produtos/serviços, Responsabilidade social pelos empregados.

Quadro 2: Modelos de QVT Fonte: Chiavenato (1999)

Nesse sentido, torna-se relevante conhecer os três modelos que fazem parte da QVT.

Também, é de extrema importância ressaltar que a QVT a cada momento, ganha mais espaço,

pois está intimamente ligado às oportunidades de trabalho significativo e satisfatório que

Page 20: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

19

podem tornar-se muitas situações, cada vez menos possíveis na sociedade contemporânea.

Principalmente quando se refere ao desenvolvimento de hábitos saudáveis, enfrentamento das

tensões cotidianas, consciência dos impactos dos fatores do ambiente, desenvolvimento

permanente do equilíbrio interior e na relação com as outras pessoas (ZANELLI, 2005).

Contudo, em um processo de busca do bem-estar, a partir de um olhar sistêmico, o

trabalhador não deve apenas ser encarado como um profissional, e sim como um ser

completo, que se emociona, que se relaciona, que tem família, amigos, lazer e diversão. Para

tanto, há de se ter um equilíbrio entre esses setores, somente assim se alcançará a tão almejada

e falada “Qualidade de Vida”, e por conseqüência extensiva ao trabalho, e por que não dizer

as organizações e as relações que se constituem nesse ambiente (KARKOTLI, 2005).

Page 21: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

20

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Tipo de Pesquisa

A ciência apresenta-se como um processo de investigação que procura atingir

conhecimentos sistematizados e seguros. Para que se alcance esse objetivo, é necessário

planejar o processo de investigação. Para tanto, planejar implica, aqui, traçar o curso de ação

que deve ser seguido no processo da investigação científica. Além disso, projetar subentende

prever as possíveis alternativas existentes para se executar algo.

Marconi e Lakatos (1999) consideram o método como sendo o conjunto das atividades

sistemáticas e racionais que permite com segurança alcançar o objetivo que são os

conhecimentos válidos e verdadeiros. O método traça o caminho a ser seguido auxiliando os

cientistas nas suas decisões. Nesse sentido, faz-se de extrema importância conhecer os

métodos e suas características para melhor escolher o caminho da construção do pensamento

científico e alcançar as metas almejadas.

Para Chizzoti (1995), a pesquisa qualitativa abriga correntes de pesquisa muito

diferentes, estas correntes se fundamentam em alguns pressupostos contrários ao modelo

experimental, afirmam que as ciências humanas têm sua especificidade, o estudo do

comportamento humano e social, que faz delas ciências específicas com metodologia própria.

Nesse método, os cientistas optam pelo método clínico, ou seja, a descrição do homem em um

dado momento, em uma dada cultura, e pelo método histórico-antropológico, que capta os

aspectos específicos dos dados e acontecimentos no contexto que acontecem.

A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o

mundo real e o sujeito, uma interdependência entre o sujeito e objeto, um vínculo

indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. Os conhecimentos não são

dados isolados, o sujeito observador é parte integrante do processo do conhecimento e

interpreta os fenômenos, dando-lhes um significado.

Entende-se que a pesquisa qualitativa objetiva provocar o esclarecimento de uma

situação para uma tomada de consciência pelos próprios pesquisados dos seus problemas e

das condições que os geram, a fim de elaborar os meios estratégicos de resolvê-los. Assim

nesta pesquisa não existe uma receita metodológica pronta, pois as fases não se apresentam de

modo estanque e a complexidade do exame aumenta à medida que se aprofunda o assunto.

Page 22: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

21

Portanto, busca-se construir uma metodologia baseada no Estudo de Caso, dando um caráter

exploratório na intervenção efetuada.

O estudo de caso é escolhido como método da pesquisa qualitativa quando se pretende:

- focalizar um fenômeno a partir de sua complexidade;

- estudar um fenômeno único e diferente;

- estudar um fenômeno em uma situação.

Gil (1999) propõe que o estudo de caso deve ser exaustivo e também profundo,

permitindo o seu amplo e detalhado conhecimento acerca do que está sendo pesquisado,

objetivando conhecer todos os detalhes possíveis. O estudo de caso pode ser visto de várias

maneiras. Assim, neste trabalho, interessa o estudo de caso como método de pesquisa, tendo

sua maior utilidade nas pesquisas exploratórias, quando é indicado na fase inicial de uma

investigação sobre temas complexos, para a construção de hipóteses ou reformulação de

problemas.

Segundo Gil (1999), existem algumas vantagens cômodo estudo de caso, como o

estímulo a novas descobertas que podem ocorrer ao longo da análise do caso, o pesquisador

estar voltado para a totalidade dos fatos, focalizando-o como um todo, além do procedimento

de coleta de dados ser bastante simples se comparado com outros tipos de delineamentos.

3.2 Descrição do contexto e os sujeitos da pesquisa

Esta pesquisa foi realizada em uma fábrica de calçados, com sede na cidade de São

João Batista, estado de Santa Catarina, no período de março a junho de 2006. O estudo tratou

de uma investigação que buscou, na realidade concreta, dados referentes à Satisfação e a

Qualidade de Vida no Trabalho. Sendo que a escolha pautou-se na percepção do

comprometimento desta para com seus funcionários.

Os participantes desta pesquisa foram trabalhadores da organização que atuam nos

setores de corte, pré-costura, distribuição, montagem, modelagem e almoxarifado. Para esta

investigação, contou-se com a participação de uma (01) pessoa de cada um dos setores,

totalizando seis (06) participantes, sendo quatro (04) do sexo feminino e dois (02) do sexo

masculino. Com idades de dezenove (19) a quarenta e oito (48) anos.

Page 23: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

22

3.3 Instrumentos utilizados

Para a realização desta pesquisa empírica, os instrumentos empreendidos foram as

técnica de entrevista semi-estruturada dirigida verbalmente ao pesquisado, tendo como

objetivo principal buscar conhecer in loco as indagações, opiniões, atitudes dos trabalhadores,

referentes à satisfação e à qualidade de vida no trabalho. A entrevista semi-estruturada é

apontada por Trivinõs (1987) como uma técnica que possibilita a descrição, compreensão e

explicação dos fenômenos sociais em sua totalidade. Assim, o próprio pesquisador registrou

os depoimentos, os quais também foram gravados e posteriormente desgravados. Ressalta-se

ainda que a entrevista foi marcada com antecedência, em comum acordo com os

entrevistados, conforme o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no Apêndice C,

deste trabalho.

Gil (1999) afirma que, para o estudo de caso, a entrevista é a fonte de informação mais

importante, podendo assumir formas diversas e ser conduzida de forma mais espontânea,

indagando-se o respondente sobre os fatos ou pedir sua opinião acerca de determinados

eventos. Os informantes são sempre fundamentais em um estudo de caso. Portanto, neste

estudo foram feitas 07 perguntas, conforme o Apêndice A deste estudo.

3.4 Técnica de análise e Interpretação dos Resultados

A análise dos dados é a descrição dos dados e a interpretação deles. Esta etapa possui

três finalidades: compreender os dados coletados, responder a pergunta de pesquisa que foi

formulada e expandir o conhecimento sobre o assunto pesquisado (MINAYO, 2003).

Para tanto, a análise foi feita de forma qualitativa, tendo em vista que é uma

característica do trabalho, sendo utilizada a técnica da análise de conteúdo. Chizzotti (1995)

discorre que a análise de conteúdo consiste em

um método de tratamento e análise de informações, colhidas por meio de técnicas de coleta de dados, consubstanciadas em um documento. A técnica se aplica à análise de textos escritos ou de qualquer comunicação (oral, visual, gestual) reduzida a um texto ou documento.

Page 24: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

23

Segundo Bardin (apud CHIZZOTTI, 1995), é “um conjunto de técnicas de análise de

comunicação” que contém informação sobre o comportamento humano atestado por uma

fonte documental.

Sendo assim, através da técnica de análise de conteúdo, é possível se compreender

criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, e as

significações explícitas ou ocultas.

Posteriormente à coleta, os dados foram classificados por categoria, sendo levantadas

suas respectivas freqüências. Para os resultados obtidos com a pesquisa foram confeccionadas

tabelas ilustrativas.

Com relação à interpretação dos dados, foram considerados apenas os resultados mais

significativos, sendo analisados sob a visão dos pesquisadores em concordância com sua

abordagem teórica.

3.5 Aspectos éticos

Os aspectos éticos deste estudo estão fundamentados na Resolução nº. 196, de

10/10/1996, do Conselho Nacional de Saúde. O projeto foi submetido à aprovação da

Comissão de Ética em Pesquisa (CEP), da UNIVALI, conforme Anexo A.

Após a aprovação da Comissão de Ética em Pesquisa (CEP), deu-se início à coleta de

dados, que foi conduzida exclusivamente pela pesquisadora durante o período de março a

abril.

Quanto ao comprometimento assumido pela pesquisa, a mesma foi oficializada através

do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido apresentado no Apêndice C desta pesquisa.

Como pesquisadora, firmou comprometimento com a observância dos princípios éticos, sigilo

das informações junto à organização, oficializando compromisso através do Termo de

Compromisso, de acordo com os Apêndices D e E, bem como a responsabilidade de fornecer

o feedback dos resultados para a organização e a comunidade científica.

Page 25: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

24

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Esta etapa é caracterizada pela análise e interpretação dos dados, momento em que se

retomam as entrevistas realizadas com os trabalhadores da organização. Para Best (apud

MARCONI e LAKATOS,1999, p.38), “representa a aplicação lógica dedutiva e indutiva do

processo de investigação”, cuja importância dos dados está não neles mesmos, mas no fato de

proporcionarem respostas às investigações.

Nesse sentido, serão apresentadas, nesta seção, a análise e a interpretação dos dados

obtidos através das entrevistas realizadas com seis trabalhadores dos setores: Corte, Pré-

Costura, Distribuição, Montagem, Modelagem e Almoxarifado de uma empresa calçadista na

região do Vale do Rio Tijucas. É de fundamental importância salientar que os dados mais

significativos foram classificados por categorias. Conforme Marconi e Lakatos (1999),

“categoria é a classe, grupo ou tipo em uma série classificada”, posteriormente organizada de

acordo com o Quadro 3, a seguir:

Categoria Síntese das Entrevistas

Companheirismo O Companheirismo foi apontado como fazendo parte das categorias determinantes da satisfação no trabalho. Também identificada sua significativa influência quanto à QVT, no que diz respeito à Integração Social especificadamente quando referem-se a chefia e colegas de trabalho.

Mudança de Chefia A mudança recente de chefia na organização foi evidenciada como imprescindível para a satisfação e para a QVT. Esse evento emergiu uma outra percepção sobre a satisfação e, automaticamente, elevou o grau de satisfação e QVT.

Gostar do que faz Gostar do que faz, nesta organização, foi levantado, com freqüência, como resposta quanto à influência na satisfação e na QVT.

Confiança A confiança apresentou uma relevância significativa. Principalmente quando os trabalhadores denotam serem possuidores desta, no sentido de não terem cobranças de seus chefes e de serem livres, autônomos e responsáveis por suas tarefas cotidianas. Podendo atribuir essas características ao uso do desenvolvimento das capacidades, determinado por Walton como inerente à QVT.

Quadro 3: Descrição das categorias inerentes à satisfação e à Qualidade de Vida no Trabalho

Identificar fatores que expliquem variações entre os indivíduos em suas respostas de

satisfação no trabalho tem sido uma área de desafio e inúmeras investigações. De modo geral,

são apontadas como antecedentes de satisfação as condições de trabalho e as características

individuais, incluindo-se, nesta última categoria, traços disposicionais, tais como

Page 26: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

25

personalidade e estado de ânimo, bem como características biográficas ou fatores genéticos

(ZANELLI, 2004).

No que concerne à dimencionalidade, alguns autores consideram-na como sendo um

conjunto de reações específicas a vários componentes do trabalho, capazes de desencadear no

indivíduo diferentes graus de satisfação/insatisfação (visão multidimencional). Consoante essa

visão, Zanelli (2004) propõe que diferentes aspectos do trabalho são considerados como fonte

de satisfação sendo mais freqüentes os fatores chefia, colegas de trabalho, o próprio trabalho,

salário e oportunidade de promoção.

Para tanto, esses fatores vem ao encontro da subjetividade, segundo Arruda (1998), a

subjetividade começa a constituir-se em decorrência de uma tomada de consciência, uma vez

que compreender os limites do individual (eu) o conteúdo que pertence à outrem viabiliza um

salto para a liberdade de ser e estar no mundo. A subjetividade aparece quando o processo

identificatório deixa de ser externo, algo que dizem ser, e é interiorizado por cada indivíduo.

Diante disso, a pesquisa revela como fonte de satisfação, a categoria colegas de

trabalho, denominada nesta pesquisa, como Companheirismo, identificada como tal para a

satisfação e a QVT. A fala dos trabalhadores, na voz de Robbins (1998), é traduzida como

determinante da satisfação no trabalho:

Pessoas tiram mais do trabalho do que meramente dinheiro ou realizações tangíveis. Para a maioria dos empregados, o trabalho também preenche a necessidade de interação social. Não causa surpresa, portanto que ter colegas amigáveis e que dêem apoio leva ao aumento da satisfação no trabalho.

Essa afirmação corrobora com as verbalizações dos trabalhadores a seguir:

Sujeito 01: “O que me prende aqui é a amizade, o Companheirismo dos colegas.”

Sujeito 03: “ Eu imagino comigo que tem que ser um local bom de se trabalhar, onde

tu faça amigos, companheiros não é verdade?”

Sujeito 05: “Acho que os colegas também, porque quando chego a primeira coisa que

faço é, como se diz, ‘coloco as fofocas em dia’ com as colegas de trabalho. É por isso que

acho que tá a satisfação.”

Quanto à QVT, grande parte dos participantes elegeu o fator Companheirismo como

influenciando na QVT, ao afirmar que:

Sujeito 02: “Não sei explicar direito [...], mas os colegas também tá dentro da QVT.”

Sujeito 05: “Não sei se tu vai entender mais os companheiros também ajudam nisso aí

entende?! Aqui o ambiente é muito bom. Me dou bem com todo mundo.”

Page 27: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

26

Esse discurso refuta a fundamentação de Walton, a qual faz parte das oito dimensões

inter-relacionadas do que se entende por QVT. A Integração Social, denominada pelos

participantes de Companheirismo, diz respeito ao apoio mútuo, franqueza pessoal assim como

ao cultivo do bom relacionamento (BOWDITCH e BUONO, 1992).

Já, no modelo de Hackman e Oldhan, esse fator está relacionado ao Inter-

relacionamento, que se refere à tarefa desempenhada no ambiente de trabalho. Para os

autores, deve-se possibilitar o contato interpessoal do ocupante com as outras pessoas ou com

clientes internos e externos. O que significa dizer que estas dimensões do cargo produzem

estados psicológicos críticos que conduzem a resultados pessoais e de trabalho que afetam a

QVT (CHIAVENATO, 1999).

Foi categorizada a Chefia, a qual Zanelli (2004) aponta como indispensável à

satisfação. Neste estudo, identificou-se esta categoria como fazendo parte das relações sociais,

caracterizada como Mudança de Chefia, a qual é de fundamental importância para aumentar

a satisfação no local trabalho, conforme os seguintes relatos:

Sujeito 02: “Para mim, ter satisfação é não ter incomodação com o encarregado.

‘Coisa’ que antes a gente tinha.”

Sujeito 05: “Agora sim, depois que mudou o nosso encarregado melhorou muito.”

Sujeito 06: “Eu não posso reclamar, ainda mais agora com o novo encarregado.”

De acordo com o discurso dos participantes, a mudança de chefia foi de extrema

importância para a organização se fortalecer mediante a satisfação de seus trabalhadores, a

qual se encontra ligada à necessidade dos funcionários de ter uma liderança eficaz5para

conduzi-los. Essa habilidade de influenciar pessoas é essencial para que se trabalhe

entusiasticamente, visando atingir aos objetivos identificados (HUNTER, 2004).

Bergamini (1997) discorre que a eficácia da liderança depende da definição que o líder

dá a respeito da situação que sirva como base para a ação dos demais. A liderança eficaz

apóia consistentemente o enquadramento da experiência dos outros de tal forma que a ação

pode ser guiada pela noção comum de como as coisas deveriam ocorrer. Muitas organizações

ficam paralisadas em situações nas quais as pessoas apelam por serem dirigidas, sentindo-se

imobilizadas e desorganizadas quando não estão sendo bem orientadas.

Nesse sentido, pode-se compreender quão necessário e imprescindível é o fator

liderança. Vale ressaltar que a Mudança de Chefia, de acordo com os relatos, foi um valioso

determinante da satisfação, o que está ancorado na seguinte afirmação: a satisfação do

5 Pela percepção dos trabalhadores, aquele líder que satisfaz as suas necessidades.

Page 28: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

27

trabalhador é aumentada quando o supervisor imediato é compreensivo e amigável, oferece

elogios pelo bom desempenho, ouve as opiniões dos empregados e mostra um interesse

pessoal para com eles (ROBBINS, 1997).

Para tanto, a Mudança de Chefia também faz parte das oito dimensões inter-

relacionadas do que se entende por QVT, descrita por Walton. Pode-se observar através do

discurso do trabalhador que mencionou o seguinte:

Sujeito 02: “É quase a mesma coisa que eu já tinha respondido, né?! Se eu não tive

um encarregado pegando no meu pé, eu tenho Qualidade.”

Dessa forma, remete à idéia de que os trabalhadores atribuem a categoria Mudança de

Chefia como fazendo parte da QVT, e esta vem ao encontro do que Walton determinou de

Integração Social. O autor discorre sobre o fator relacionamento que é o auxílio recíproco

marcado pelo apoio sócio-emocional, abertura interpessoal e respeito às individualidades por

parte da chefia (BURIGO, 1997).

De acordo com o modelo de Westley, a QVT pode ser examinada basicamente por

meio de quatro indicadores, para tanto, nesta pesquisa, relacionou-se o fator Mudança de

Chefia com o indicador político, que está fundamentado no relacionamento com a Chefia,

citado por Fernandes (1996). Evidencia-se que, nesta organização, a Mudança de Chefia foi

imprescindível em termos de melhoria organizacional e, através de uma nova liderança,

possibilitou um relacionamento capaz de proporcionar satisfação e, conseqüentemente, a

QVT.

Foi identificada outra categoria inerente à satisfação no trabalho, que é a categoria

Gostar do que faz. De acordo com Rodrigues (2000), a satisfação faz com que os

trabalhadores sintam-se mais felizes em seu trabalho. Atente-se aos relatos dos sujeitos:

Sujeito 01: “Me sinto satisfeito, também porque trabalho com amor, carinho, gosto

muito do que faço.”

Sujeito 06: “Acho que é porque eu gosto do que faço, sempre gostei desde

pequenininho, sou filho de fazendeiro.”

Sujeito 04: “Satisfação é a pessoa gostar do que faz”.

O fator satisfação remete à idéia de que gostar do que faz, nesta organização, é um

aspecto presente por parte dos trabalhadores, assim como envolvimento, comprometimento

com o trabalho. Zanelli (2004) propõe que a satisfação, o envolvimento e o comprometimento

são vínculos que tendem a apresentar níveis significativos de correlação positiva entre si. O

que significa dizer que se forem avaliados os níveis de satisfação, envolvimento e

comprometimento dos trabalhadores, será possível encontrar entre eles pessoas sentindo-se

Page 29: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

28

mais satisfeitas e envolvidas com o trabalho e, automaticamente, comprometidas com a

organização onde trabalham.

Portanto, no que diz respeito à QVT, os trabalhadores enfatizam a categoria gostar do

faz nos seguintes relatos:

Sujeito 06: “Também eu gostar do meu serviço faz parte. Ai meu Deus!!! Não sei

direito é quase a mesma que tu me perguntasse antes não é?!”

Esse relato retoma o que Walton refere como Relevância Social do trabalho, ou seja, o

empenho, o comprometimento do trabalhador, no sentido de que a organização não favoreça a

depreciação do seu trabalho e da sua profissão. Esses aspectos indicam a valorização do

trabalho que diz respeito à percepção do sentimento de valor e relevância do trabalhador,

atribuído ao seu trabalho pela organização e pela comunidade (BURIGO, 1997).

Para tanto, Fernandes (1996) cita que, no modelo Westley, há o indicador psicológico

da QVT, o qual tem a ver com a identificação do trabalhador com a tarefa, sendo que esta se

apresenta estreitamente relacionada com o fator gostar do que faz. Esse aspecto é confirmado

nas verbalizações dos pesquisados nesta organização, que¨, ao se identificarem com a tarefa,

conseqüentemente, gostam do que fazem, atribuindo como relativo à QVT.

No entanto, é importante abordar que os trabalhadores desta organização apontam a

Confiança também como outra categoria inerente à satisfação. Segundo Hunter (2004), sem

confiança torna-se difícil ou mesmo impossível conservar um relacionamento. A confiança é a

cola que gruda os relacionamentos. Sem níveis básicos de confiança, os casamentos se

desfazem, as famílias se dissolvem, as organizações tombam, os países desmoronam.

Evidencia-se, nos discursos abaixo, a Confiança que a chefia deposita no trabalho dos

sujeitos:

Sujeito 02: “A satisfação tá em eu poder fazer os meus serviços sem o encarregado ir

conferir para ver se eu fiz certo né?!”

Sujeito 04: “Eu gosto daqui também porque quase não tem cobranças de serviço, eu

fico à vontade para fazer o que eu quiser, eles confiam no meu serviço.”

Sujeito 06: “Aqui dentro eu tô satisfeito porque eu sou ‘dono de mim’, né? [...], quase

não tem cobranças por isso trabalho com qualidade aqui, os serviços se encaminham

certamente. Quando tem algum problema chamo o meu encarregado e a gente resolve

conversando. Isso agora né!? Daí isso faz com que eu também me sinta satisfeito. ‘Pô’ saber

que o encarregado confia em ti é muito bom.”

Esses dados indicam que a categoria Confiança permeia a relação e demonstra a

flexibilidade que a organização proporciona aos trabalhadores, atribuindo-lhes

Page 30: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

29

responsabilidade e autonomia, ao passo que estes atribuem tal fator como de extrema

importância para a sua satisfação. O que vem ao encontro do estudo de Kanaane (1995), que

afirma

o fato de o indivíduo tornar-se responsável por seus atos implica capacidade de discriminar entre condições prescritas pela organização e assumir o compromisso de intervir e posicionar-se como ator do processo de trabalho, representando os respectivos papéis profissionais

A categoria Confiança também é apontada na entrevista como inerente à QVT. Esse

aspecto remete à idéia de Walton como integrante de um dos oito fatores que causam a QVT,

identificado pelo autor como o uso do desenvolvimento das capacidades. Tal aspecto diz

respeito à disposição que a organização proporciona aos trabalhadores em satisfazer as

necessidades de utilização de habilidades e conhecimentos, de forma que estes se sintam à

vontade para executar suas tarefas e desenvolvam autonomia, autocontrole e obtenham

informações sobre o processo total do trabalho (CHIAVENATO, 1999).

A Confiança aqui identificada como inerente à QVT é evidenciada no seguinte

discurso:

Sujeito 06: “Também a Confiança que os encarregados tem na gente, faz parte dessa

Qualidade.”

Portanto, a fala do entrevistado elucida que a Confiança por parte da chefia depositada

em seus trabalhadores confirma a teoria de Walton, cuja facilitação de oportunidades de

utilização e conhecimentos do trabalhador proporciona QVT. (CHIAVENATO, 1999).

No que concerne ao modelo de Hackman e Oldhan, a Confiança nos trabalhadores diz

respeito à dimensão da autonomia, sendo que esta denota que a pessoa deve ter

responsabilidade pessoal para planejar e executar as tarefas, autonomia e independência para

desempenhá-las. Isto se concretiza nas falas dos entrevistados desta pesquisa, quando referem

a Confiança como também influenciando na QVT (FERNANDES, 1996).

Através das freqüências das categorias inerentes à satisfação e da QVT, foi possível

perceber, nesta organização, que ambas possuem uma relação estreita. Diante disso,

identificaram-se a presença e ausência da satisfação e QVT, as quais foram quantificadas e

apresentadas suas respectivas freqüências, conforme mostra o Quadro 4:

Freq Freq.%

Satisfação QVT Presente 05 83,33

Satisfação QVT Ausente 01 16,66

Page 31: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

30

TOTAL 06 100%

Quadro 4: Verificação da existência da satisfação e sua relação com a QVT

De acordo com o quadro acima, ao entrevistar os sujeitos quanto à existência da

satisfação no trabalho, 83,33% dos participantes discorreram que referem a satisfação

presente, mas 16,66% avaliaram como ausente a satisfação em seu local de trabalho.

Com relação à presença e ausência de satisfação em seu local de trabalho, Muchinsky

(2004) discorre acerca da existência de grandes diferenças quanto ao que as pessoas esperam

de seu trabalho e, portanto, diferentes reações a ele. Para esse autor, a satisfação no trabalho é

definida como sendo o grau de prazer que um funcionário sente em relação ao seu cargo.

De acordo com Muchinsky (2004), os trabalhadores executam suas tarefas com prazer,

e, como conseqüência disso, a organização obtém um alto nível de satisfação, o que pode ser

evidenciado nesta organização. Esses dados remetem à afirmação de que “a existência de um

alto nível de satisfação favorece os trabalhadores a se planejar menos de sair de seus

empregos, menos falta ao trabalho, um melhor desempenho e maior produtividade”

(ZANELLI, 2004).

Diante disso, enfatiza-se a importância do grau em que os funcionários são capazes de

satisfazer suas necessidades pessoais para a obtenção de uma melhor qualidade de vida no

trabalho, através de suas realizações na empresa (FERNANDES apud QUIRINO e XAVIER,

1996).

Portanto, a satisfação está fortemente associada à participação dos trabalhadores em

programas de qualidade de vida (ZANELLI, 2004). Essa afirmação também liga-se ao estudo

de Chiavenato (1999), no qual se verificou que a satisfação encontra-se fortemente associada

à participação dos trabalhadores em programas que fornecesse um aumento na QVT.

Diante dessas afirmações, a pesquisa evidenciou as seguintes verbalizações:

Sujeito 01: “Se eu tiver satisfeito aqui é porque eu tenho qualidade.”

Sujeito 04: “A QVT é eu me satisfazer aqui dentro.”

Sujeito 06: “Acho difícil explicar [....] mas é também eu tá satisfeito sabe?!”

Os dados elucidam a afirmação de Burigo (1999,p.31): “A qualidade de vida no

trabalho refere-se à satisfação das necessidades da pessoa”. À luz dessa teoria, os dados

obtidos nas entrevistas denotam que esta organização possui QVT, conforme demonstrado no

Quadro 4, a qual visa atender às necessidades psicossociais dos trabalhadores, elevando seus

níveis de satisfação no trabalho.

Page 32: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

31

Sendo assim, a tecnologia de QVT pode ser utilizada para que as organizações

renovem suas formas de organização no Trabalho, de modo que se eleve o nível de satisfação

do pessoal e, conseqüentemente, de produtividade (FERNANDES, 1996).

Para Rodrigues (1999), a QVT está voltada para facilitar ou trazer satisfação e bem-

estar ao trabalhador na execução de suas tarefas, portanto a QVT sempre foi objeto de

preocupação da raça humana, conforme demonstra o quadro apresentado sobre a identificação

da presença e ausência da QVT.

Além disso, ficou explicitado que os trabalhadores percebem a QVT neste ambiente de

trabalho, o que vem ao encontro dos relatos proferidos pelos participantes desta pesquisa,

visto a evidência de 83,33% dos entrevistados confirmarem a presença, isto é, percebem a

QVT nesta organização e, conforme as seguintes afirmações:

Sujeitos 02 e 05: “Acho que aqui tem QVT.”

Sujeito 04: “Penso que é grande a nossa QVT aqui dentro.”

Sujeitos 01 e 06: “Percebo sim aqui.”

Por outro lado, a minoria, cerca de 16,66%, percebe que a empresa não possui QVT.

Sujeito 03: “Pode até ter, mas, se tiver, é muito pouca.”

Segundo Chiavenato (1999), a QVT apresenta em que grau os membros da

organização são capazes de satisfazer suas necessidades pessoais através do seu trabalho na

organização.

Por meio de uma abordagem mais humanista, evidenciou-se, nesta pesquisa na

respectiva organização, que os fatores organizacionais, ambientais e comportamentais,

quando bem administrados, geram maior satisfação e motivação aos trabalhadores, elevando

seu nível de percepção sobre a QVT (BURIGO, 1997).

De modo geral, identificou-se que esta organização possui Qualidade de Vida no

Trabalho, o que significa dizer que a empresa pesquisada busca humanizar as relações de

trabalho na organização, mantendo uma relação íntima com a satisfação do trabalhador no seu

ambiente de trabalho.

Page 33: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

32

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa proporcionou experiências muito significativas para esta pesquisadora,

tanto para sua vivência pessoal como também como futuro profissional.

Algumas dificuldades surgiram no decorrer deste percurso, mas, na medida do

possível, procurou-se articular um suporte necessário que possibilitasse reduzir a ansiedade

frente ao novo, ao inesperado que estas situações proporcionaram. Este suporte foi viabilizado

a partir de feedbacks semanais adquiridos em encontros com a orientadora, colegas de curso e

mediante aprimoramentos teórico-técnicos adquiridos nesta caminhada da iniciação científica.

Para tanto, considerando o objetivo proposto para este estudo de examinar a relação

entre a Satisfação e a Qualidade de Vida no Trabalho em uma empresa do ramo calçadista, os

resultados encontrados permitiram as conclusões apresentadas a seguir.

Nesse sentido, o estudo se desenrolou em dois planos distintos e complementares, um

de natureza teórica que fundamentou aspectos conceituais do objeto de estudo e outro de

natureza empírica que levantou e analisou dados inerentes à Satisfação e a QVT.

Inicialmente, o estudo buscou discutir os principais conceitos relacionados com a

Satisfação e a Qualidade de Vida no Trabalho, destacando teorias de Walton, Zanelli,

Fernandes, Spector, Murchinski, Burigo, entre outros.

A pesquisa de campo foi desenvolvida por intermédio de entrevistas semi-

estruturadas, nas quais se esperava identificar os fatores que influenciavam na Satisfação e na

QVT, identificando a existência do seu nível de satisfação e sua relação, conforme proposto

como problema de pesquisa. Foi possível elaborar e aplicar um protocolo de entrevista

contendo questões relacionadas à problemática da pesquisa.

O tratamento das informações obtidas na pesquisa empírica, relacionado com a

literatura que fundamentou as categorias de análise, permitiu a aferição de resultados

significativos, os quais se passam a destacar.

Os dados apontados no Quadro 3, referem-se à descrição das categorias inerentes à

Satisfação e à QVT. As categorias eleitas mais significativas apontadas pelos entrevistados,

dizem respeito ao Companheirismo, Mudança de Chefia, Gostar do que faz e a Confiança.

A categoria Companheirismo foi mais significativa na identificação dos entrevistados.

O que denota que, para os trabalhadores desta empresa, o trabalho preenche as necessidades

de interação social, ou seja, a interação com outros colegas de trabalho é vista como

causadora da satisfação no trabalho. No que tange à QVT, os entrevistados relacionaram a

Page 34: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

33

categoria Companheirismo como integrante da QVT, identificado na pesquisa como

integração social.

Também foi identificada a categoria Mudança de Chefia, considerada como de

extrema importância para a satisfação e também referida na QVT. A mudança ocorrida

recentemente da chefia refletiu em um aumento do nível de satisfação e, conseqüentemente, a

QVT.

Com relação a gostar do que faz, os dados também apresentaram relevância nesta

organização, uma vez que os trabalhadores indicam esse fator como resposta à influência da

satisfação e da QVT.

Convém destacar que a categoria Confiança, neste estudo, também obteve um lugar de

destaque, sendo compreendida pelos trabalhadores como influenciando na satisfação e, por

conseqüência, na QVT. O que evidencia que, nesta organização, o crédito nos trabalhadores é

percebido pelos mesmos e identificado nas falas através da categoria Confiança. Esse fator faz

com que os trabalhadores sintam-se livres, autônomos, responsáveis, sem muita exigência

para com eles. O que faz com que estes trabalhadores execute suas tarefas mais à vontade sem

cobranças da chefia e demonstrem-se satisfeitos e detentores de QVT.

Além da freqüência dos fatores como Companheirismo, Mudança de Chefia, Gostar

do que faz e Confiança, os trabalhadores discorreram a Satisfação como influenciadora na

QVT, o que cada vez mais evidencia a estreita relação entre satisfação e QVT.

Considerando os aspectos discutidos neste estudo, é possível concluir que a satisfação

apresenta-se atrelada à QVT, quando apresentadas as questões referentes a essa temática,

grande parte dos entrevistados enfatizaram que essa resposta era a mesma da anterior, a qual

tratava sobre fatores inerentes à satisfação. Ou seja, quando solicitados os fatores de

permeiam a QVT, a maioria dos entrevistados levantou que era a mesma coisa que já haviam

respondido sobre a satisfação.

Partindo do pressuposto de que a pesquisa é uma indagação minuciosa ou exame

crítico exaustivo na procura de fatos e princípios, também pode ser interpretada como uma

diligente busca para averiguar algo. O que implica dizer que pesquisar não é apenas procurar

a verdade, mas encontrar respostas para as questões propostas, utilizando-se de métodos

científicos.

Nesse sentido, para a obtenção da construção deste conhecimento, respaldou-se no

método científico, o que tornou possível evidenciar que, nesta organização, nos setores de

Corte, Pré-costura, Montagem, Modelagem, Distribuição e Almoxarifado, a Satisfação

encontra-se em um grau elevado, como também a QVT. Ambas possuem uma estreita relação

Page 35: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

34

à medida que os pesquisados referem a existência da satisfação e da QVT, o que evidencia

que a satisfação está relacionada com a QVT.

E que portanto, os fatores: Companheirismo, Mudança de Chefia, Gostar do que Faz e

a Confiança, dizem respeito à aspectos subjetivos, à medida que cada trabalhador se apropria

da sua liberdade de ser e estar no mundo em decorrência de sua tomada de consciência.

Page 36: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

35

REFERÊNCIAS

ARRUDA, A. (org), Representando a autoridade, Petrópolis, Vozes, Rio de Janeiro, 1998.

BERGAMINI, C. W. E.; CODA, R. (Orgs.). Psicodinâmica da vida organizacional.

motivação e liderança. São Paulo: Atlas, 1997.

BOWDITCH, J. L.; BUONO, A . F. Elementos de comportamento organizacional. São

Paulo: Pioneira, 1992.

BURIGO, D. C. C. Qualidade de vida no trabalho: dilemas e perspectivas. 18. ed.

Florianópolis: Insular, 1997.

CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações.

6. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

CHIZZOTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1995.

FERNANDES, E. Qualidade de vida no trabalho: como medir para melhorar. 2. ed.

Salvador: Casa da qualidade, 1996.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

HUNTER. C. J. O monge e o executivo: uma história sobre a essência da liderança,

Editora.Sextante, Rio de Janeiro, 2004.

KANAANE, R. Comportamento humano nas organizações: o homem rumo ao século XXI.

São Paulo: Atlas, 1995.

KARKOTLI, A. P. B. Psicologia organizacional. Biguaçu: UNIVALI/EAD, 2005. Apostila.

LIMONGI, C. A . Qualidade na Vida profissional: qualidade sobre recursos humanos. São

Paulo, 2004. Disponível em: <http://www.rh.com.br/ler.pho?cod=3730>. Acesso em: 22 set.

2005.

MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de

pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. 4.

ed. São Paulo: Atlas, 1999.

MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Vozes: Petrópolis, 2003.

MUCHINSKY, P. M. Psicologia organizacional. Pioneira Thonson Learning, São

Paulo,2004.

ROBBINS, P. S. Comportamento organizacional. In: MENEZES, A. C. (Trad. e Org.). 8.

ed. Rio de Janeiro: JC editora, 1998.

RODRIGUES, M. V.C. Qualidade de vida no trabalho: Evolução e análise ao nível

gerencial. Petrópolis: Vozes, 1995.

Page 37: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

36

RODRIGUES, M.V.C. Qualidade de vida no trabalho. Petrópolis: Vozes, 2000.

SPECTOR, E. P. Psicologia nas organizações. In: VISCONTI, A. S. (Trad. e Org.). São

Paulo: Saraiva, 2003.

TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em

educação. São Paulo: Atlas, 1987.

VIEIRA, A. A. Qualidade de vida no trabalho: e o controle da qualidade total.

Florianópolis: Insular, 1996.

ZANELLI, C. J.; ANDRADE, B. E. J.; BASTOS. B. V. A. Psicologia, organizações e

trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

ZANELLI, J. C. Interação humana e gestão: uma compreensão introdutória da construção

organizacional. Porto Alegre: Artmed., 2005. No prelo.

Page 38: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

APÊNDICES

Page 39: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

38

APÊNDICE A – ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA ABERTA

Entrevista semi-estruturada

1) Qual a função que você exerce na empresa?

2) Há quanto tempo?

3) Descreva, com detalhes, como você executa suas tarefas em seu cotidiano no trabalho.

4) Em relação à satisfação, você se sente satisfeito em seu ambiente de trabalho? Por

quê?

5) Quais os principais fatores que influenciam a sua satisfação no trabalho?

6) O que você entende por Qualidade de Vida no Trabalho?

7) Como você percebe a Qualidade de Vida no Trabalho nesta empresa?

Page 40: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

39

APÊNDICE B – CARTA DE APRESENTAÇÃO

Carta de Apresentação

Tendo como perspectiva desenvolver a pesquisa intitulada “A Satisfação no Trabalho

e sua relação com a Qualidade de Vida”, cujos objetivos são (i) verificar o nível de Satisfação

no ambiente de trabalho; (ii) identificar fatores de satisfação dos trabalhadores que podem

influenciar na Qualidade de Vida no Trabalho; e (iii) identificar a relação da satisfação dos

trabalhadores com a Qualidade de Vida no Trabalho, eu, Marieli Pereira Rodrigues,

acadêmica do Curso de Psicologia, da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI –,

regularmente matriculada – pelo nº. 2.1.2726, e sob o consentimento desta relação ao caráter

científico da pesquisa e a orientação técnica e profissional da professora responsável Msc.

Ana Paula Balbueno Karkotli, solicito a apreciação do projeto de pesquisa em anexo, tendo

como finalidade desenvolver o mesmo nesta respeitável instituição denominada AMC

TEXTIL LTDA.

No aguardo do deferimento do pedido exposto, agradeço a atenção.

Biguaçu, 10 de novembro de 2005.

________________________ Marieli Pereira Rodrigues

Page 41: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

40

APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

O(a) senhor(a) foi plenamente esclarecido de que será submetido a uma entrevista

semi-estruturada sobre o tema “A Satisfação no Trabalho e sua relação com a Qualidade

de Vida: um estudo de caso”, a qual resultará em um trabalho de Conclusão de Curso de

Psicologia da UNIVALI – Centro de Educação Biguaçu –, a ser realizado pela discente

Marieli Pereira Rodrigues, sob orientação da Professora Msc. Ana Paula Balbueno Karkotli.

Esta pesquisa caracteriza-se por investigar “a satisfação no trabalho e sua relação com a

Qualidade de Vida”.

Ressalta-se também que esta pesquisa não terá intuito financeiro, ou seja, nem a

pesquisadora nem o pesquisado receberão qualquer quantia para a realização da mesma. Ao

aceitá-la espontaneamente, o(a) senhor(a) pode desistir a qualquer momento, bastando, para

isso, comunicar a sua desistência.

É importante informar ainda que lhe será garantido o sigilo que assegure sua

privacidade e anonimato e os dados obtidos nesta pesquisa não serão utilizados para os fins

senão os previstos nesse termo de consentimento. O(a) senhor(a) poderá solicitar informações

durante toda a fase de pesquisa, inclusive após o término da mesma.

Biguaçu______de_____________________de 2005.

Assinatura (de acordo)_____________________________________

Page 42: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

41

APÊNDICE D – TERMO DE COMPROMISSO DA PESQUISADORA

Termo de compromisso da pesquisadora

Eu, abaixo assinado, aluna e pesquisadora do Curso de Psicologia, da Universidade do

Vale do Itajaí, comprometo-me em realizar o Projeto de Pesquisa “A satisfação como um

fator inerente à Qualidade de Vida no Trabalho em uma empresa calçadista na região do Vale

do Rio Tijucas”, desenvolvendo todas as atividades relacionadas a sua concretização.

Marieli Pereira Rodrigues

Biguaçu_________/________/_______

Page 43: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

42

APÊNDICE E – TERMO DE COMPROMISSO DE UTILIZAÇÃO DE DADOS

Termo de Compromisso de utilização de dados

A abaixo assinado, em conformidade com a Instrução Normativa nº. 001/2002, autora

do projeto de pesquisa intitulado “A satisfação como um fator inerente à Qualidade de Vida

no Trabalho em uma empresa calçadista na região do Vale do Rio Tijucas”, a ser

desenvolvido no período de março a junho de 2006, na AMC TEXTIL LTDA, somente para

fins deste projeto e de divulgação cientifica através de artigos, resumos, pôsteres. Informa

também que a organização foi previamente consultada, concordando e se disponibilizando em

propiciar as condições necessárias para a obtenção dos dados. Outrossim, compromete-se a

retornar os resultados da pesquisa à organização, apresentando-os aos seus representantes

legais.

Marieli Pereira Rodrigues

Biguaçu______/______/______

Page 44: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

43

ANEXOS

Page 45: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE ...siaibib01.univali.br/pdf/Marieli Pereira Rodrigues.pdf · CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA

44