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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS MAURA FERNANDES FRANCO ASSOCIAÇÃO ENTRE OSTEOARTRITE DE JOELHO E SÍNDROME METABÓLICA EM IDOSOS NÃO INSTITUCIONALIZADOS ASSOCIATION BETWEEN KNEE OSTEOARTHRITIS AND METABOLIC SYNDROME IN NON- INSTITUTIONALIZED AGED CAMPINAS 2018

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE ......ASSOCIATION BETWEEN KNEE OSTEOARTHRITIS AND METABOLIC SYNDROME IN NON- INSTITUTIONALIZED AGED Dissertação de Mestrado apresentada

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

MAURA FERNANDES FRANCO

ASSOCIAÇÃO ENTRE OSTEOARTRITE DE JOELHO E SÍNDROME METABÓLICA

EM IDOSOS NÃO INSTITUCIONALIZADOS

ASSOCIATION BETWEEN KNEE OSTEOARTHRITIS AND METABOLIC SYNDROME IN NON-

INSTITUTIONALIZED AGED

CAMPINAS

2018

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MAURA FERNANDES FRANCO

ASSOCIAÇÃO ENTRE OSTEOARTRITE DE JOELHO E SÍNDROME METABÓLICA

EM IDOSOS NÃO INSTITUCIONALIZADOS

ASSOCIATION BETWEEN KNEE OSTEOARTHRITIS AND METABOLIC

SYNDROME IN NON- INSTITUTIONALIZED AGED

Dissertação de Mestrado apresentada à

Faculdade de Ciências Médicas da

Universidade Estadual de Campinas como

parte dos requisitos exigidos para a

obtenção do título de Mestra em

Gerontologia.

ORIENTADORA: PROFA DRA ARLETE MARIA VALENTE COIMBRA

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA

ALUNA MAURA FERNANDES FRANCO, E ORIENTADA

PELA PROF. DRA. ARLETE MARIA VALENTE COIMBRA

CAMPINAS

2018

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BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MESTRADO

MAURA FERNANDES FRANCO

ORIENTADOR: PROFa. DRa. ARLETE MARIA VALENTE COIMBRA

MEMBROS:

1. PROF. DR. IBSEN BELLINI COIMBRA

2. PROFa. DRa. FLÁVIA SILVA ARBEX BORIM

3. PROFa. DRa. RUTH CALDEIRA DE MELO

Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da Faculdade de Ciências

Médicas da Universidade Estadual de Campinas

A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca

examinadora encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

Data: 10/12/2018

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“Independente das dificuldades do caminho,

acenda sorrisos. Aqueça corações. Semeie sonhos.

Incentive as pessoas a terem fé em si mesmas.

Desperte milagres.”

Ligia Guerra

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DEDICATÓRIA

Dedico esta dissertação à minha mãe Sílvia B. Fernandes Franco, ao meu

irmão Thiago Fernandes Franco e ao meu amor, Andressa F. de Oliveira, por

estarem sempre ao meu lado, me apoiarem durante todo o processo e por me

ajudarem a concretizar meu sonho do Mestrado em Gerontologia. Amo vocês.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, a quem chamo de Olorum, pelo dom da vida

e aos meus guias e orixás por toda luz, proteção e bênçãos.

Aos meus pais Silvia e Ronaldo por me permitirem chegar até aqui. Ao meu

irmão Thiago, por despertar em mim uma visão crítica do mundo e me incentivar a ir

além de meus limites acadêmicos e profissionais. Aos meus irmãos de fé, por me

auxiliarem a me tornar uma profissional diferenciada na ajuda ao próximo.

À minha terapeuta, Carol, que vem contribuindo com meu processo evolutivo

pessoal, profissional e espiritual. Sem você esse caminho seria bem mais árduo!

À minha amiga Renata que, pouco tempo antes de sua passagem, foi minha

grande incentivadora. Obrigada Rê por resgatar esse desejo. “Te encontro na fé”.

Aos professores e colegas do Programa por todo conhecimento

compartilhado.

Aos meus amigos mais que especiais que ganhei de presente deste

Programa: Daniel Vicentini, Thiago Vasconcellos, Daniel de Aguiar e Ediane

Machado. Gratidão, admiração e carinho eterno a vocês.

À minha orientadora, professora Dra. Arlete Coimbra e ao seu esposo,

professor Dr. Ibsen Coimbra, por confiarem a mim este projeto e pelos grandes

conselhos e sugestões acadêmicas que me fizeram crescer.

à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

pelo financiamento desta pesquisa.

E por fim, ao meu grande amor, Andressa, por todo incentivo, carinho,

parceria e paciência, entendendo minhas ausências e loucuras nesses últimos dois

anos. E que venham as próximas....!

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RESUMO

A Osteoartrite é considerada a maior causa de incapacidade física no mundo e, sua

incidência aumenta com o avanço da idade, especialmente acima dos 60 anos. Além

de um processo patogênico bastante complexo, a literatura recente sugere o

envolvimento de fatores metabólicos em sua etiologia, tais como adipocinas, níveis

de lipopolissacarídeos, obesidade e diabetes. Nesta perspectiva, esta dissertação

contemplou a elaboração de dois artigos, os quais atenderam aos seguintes

objetivos: Artigo 1: abordou a revisão da literatura referente à associação entre

osteoartrite de joelho e síndrome metabólica nos últimos 5 anos. Artigo 2: analisou a

associação entre osteoartrite de joelho e síndrome metabólica em idosos da

comunidade. Trata-se de um estudo transversal, aleatorizado, de idosos ≥ 65 anos,

de Amparo/SP. Foram avaliadas as variáveis sociodemográficas, antropométricas,

exame de imagem e laboratorial. A qualidade metodológica da revisão embasou-se

na Declaração STROBE e a análise estatística da pesquisa de campo foi realizada

através de análise exploratória de dados, testes de Mann-Whitney ou Qui-Quadrado

e regressões logísticas uni e multivariadas. Utilizou-se o The SAS System for

Windows versão 9.4, com nível de significância de p < 0,05. Como principais

achados, encontrou-se que a OA de joelho é mais prevalente em mulheres e a SM é

mais prevalente em homens e que essas prevalências aumentam com o avanço da

idade; que o acúmulo de componentes metabólicos está associado a maior

intensidade da dor e a uma maior degradação da cartilagem articular, independente

da idade, peso e sexo, que o fato de ter SM aumenta a probabilidade de OA em

ambos os sexos (Artigo 1); e que CC está associada com OA de joelho em idosos

não institucionalizados (Artigo 2).

Palavras Chave: Osteoartrite; Síndrome Metabólica; Obesidade; Envelhecimento;

Promoção da Saúde.

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ABSTRACT

Osteoarthritis is considered the largest cause of physical disability in the world and its

incidence increases with advancing age, especially over 60 years. In addition to a

rather complex pathogenic process, recent literature suggests the involvement of

metabolic factors in its etiology, such as adipokines, lipopolysaccharide levels,

obesity and diabetes. In this perspective, this dissertation contemplated the

elaboration of two articles, which met the following objectives: Article 1: approached

the literature review regarding the association between knee osteoarthritis and

metabolic syndrome in the last 5 years. Article 2: analyzed the association between

knee osteoarthritis and metabolic syndrome in the aged in the community. This is a

cross-sectional, randomized study of the aged ≥ 65 years of Amparo / SP.

Sociodemographic variables, anthropometric, image and laboratory tests were

evaluated. The methodological quality of the review was based on the STROBE

Statement and the statistical analysis of the field survey was performed through

exploratory data analysis, Mann-Whitney or Chi-Square tests and univariate and

multivariate logistic regressions. The SAS System for Windows version 9.4 was used,

with significance level of p <0.05. As the main findings, it was found that knee

osteoarthritis is more prevalent in women and MetS is more prevalent in men and

that these prevalences increase with advancing age; that the accumulation of

metabolic components is associated with greater pain intensity and a greater

degradation of articular cartilage, regardless of age, weight and gender, that having

Mets increases the probability of osteoarthritis in both sexes (Article 1); and that waist

circumference is associated with knee osteoarthritis in non-institutionalized elderly

(Article 2).

Keywords: Osteoarthritis; Metabolic Syndrome; Obesity; Aging; Health Promotion.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Fluxograma do processo de seleção amostral dos idosos

Artigo 1: Associação entre osteoartrite de joelho e síndrome metabólica: uma

revisão sistemática

Figura 1: Fluxograma das etapas de seleção dos estudos para revisão sistemática

Quadro 1: Caracterização dos estudos analisados

Artigo 2: Associação entre osteoartrite de joelho e síndrome metabólica em

idosos não institucionalizados

Figura 1: Fluxograma do processo de seleção amostral dos idosos

Gráfico 1: Associação da osteoartrite de joelho com o número de componentes

metabólicos em idosos

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LISTA DE TABELAS

Artigo 2: Associação entre osteoartrite de joelho e síndrome metabólica em

idosos não institucionalizados

Tabela 1. Caracterização da amostra de idosos do Jardim Camanducaia em

Amaparo/SP

Tabela 2. Prevalência de osteoartrite em relação às variáveis socioeconômicas,

síndrome metabólica e os componentes metabólicos

Tabela 3. Razão de chances da influência dos componentes metabólicos na

osteoartrite de joelho em idosos

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AVD – Atividade De Vida Diária

BVS – Biblioteca Virtual Em Saúde

CAPES – Comissão De Aperfeiçoamento De Pessoal De Nível Superior

CC – Circunferência Da Cintura

CEP – Comitê De Ética Em Pesquisa

DCV – Doença Cardiovascular

DM – Diabetes Mellitus

Dra. – Doutora

FCM – Faculdade De Ciências Médicas

HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica

HDL – High Density Lipoproteins

IBGE – Instituto Brasileiro De Geografia E Estatística

IMC – Índice De Massa Corpórea

KL – Kellgren-Lawrence

LDL – Low Density Lipoprotein

NCEP-ATP III - Third Report Of The National Cholesterol Education Program

OA – Osteoartrite

OMS – Organização Mundial Da Saúde

PA – Pressão Arterial

PAS – Pressão Arterial Sistólica

Profa. – Professora

SAS - Statistical Analysis System

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SM – Síndrome Metabólica

SP – São Paulo

STROBE – Strengthening The Reporting Of Observational Studies In Epidemiology

TCLE – Termo De Consentimento Livre E Esclarecido

UNICAMP – Universidade Estadual De Campinas

USF – Unidade De Saúde Da Família

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................. 15

2. OBJETIVO....................................................................................................... 18

2.1. Objetivo Geral............................................................................................... 18

2.2. Objetivos Específicos.................................................................................... 18

3. METODOLOGIA.............................................................................................. 19

3.1. Artigo 1.......................................................................................................... 19

3.2. Artigos 2........................................................................................................ 20

4. RESULTADOS................................................................................................. 25

4.1. Artigo 1.......................................................................................................... 25

4.2. Artigo 2. ........................................................................................................ 40

5. DISCUSSÃO GERAL...................................................................................... 56

6. CONCLUSÃO.................................................................................................. 60

7. REFERÊNCIAS................................................................................................ 61

8. ANEXOS.......................................................................................................... 65

Anexo 1................................................................................................................ 65

Anexo 2................................................................................................................ 66

Anexo 3................................................................................................................ 68

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1. INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial que reflete avanços

técnicos e científicos, especialmente no campo da saúde, além de mudanças

culturais e melhorias nas condições de vida1. No Brasil, segundo dados do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)2, o grupo de idosos de 60 anos ou mais

será maior que o grupo de crianças com até 14 anos já em 2030 e, em 2055, a

participação de idosos na população total será maior que a de crianças e jovens com

até 29 anos.

À medida que as pessoas envelhecem acumulam-se deficiências em diversos

sistemas fisiológicos, deixando-as cada vez mais vulneráveis3. Aumenta-se a

probabilidade de alterações neuromusculares, desregulação neuroendócrina e

disfunções no sistema imunológico4.

Do ponto de vista nutricional e músculoesquelético, o processo de

envelhecimento pode acarretar alterações na composição corporal, tais como a

redução da massa muscular e aumento de gordura corporal5,6. Essas, por sua vez,

podem acarretar diminuição da força muscular e da funcionalidade3-6 e assim

aumentar a probabilidade do desenvolvimento de incapacidade física e surgimento

de doenças crônicas não transmissíveis7.

Quando se fala em incapacidade, a osteoartrite (OA) do joelho é considerada,

atualmente, a maior causa de inaptidão física, além de ser a doença mais comum do

aparelho locomotor8. Ela caracteriza-se por dor e limitações nas atividades de vida

diária (AVD) causadas por deterioração gradual e inflamação das cartilagens

articulares8. Cerca de 40% dos adultos com idade acima de 70 anos apresentam OA

de joelhos e 80% dos que apresentam a doença têm algum tipo de limitação de

movimento9. E, apesar de os mecanismos fisiopatológicos da OA ainda estarem em

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debate, há um consenso de que a biomecânica e o aumento da carga dinâmica da

articulação estão envolvidos nesse processo10.

Por outro lado, há fortes indícios de que os fatores metabólicos,

representados pela Síndrome Metabólica (SM), também tenham interferência no

aumento da incidência e progressão da OA independente do estresse mecânico por

excesso de peso 11-13. A SM é uma alteração do metabolismo da glicose e/ou

resistência insulínica associada à hipertensão arterial, alteração do perfil lipídico e

obesidade8 e, quando associada à doença cardiovascular, aumenta a mortalidade

em cerca de 1,5 a 2,5 vezes17.

Durante o século 20, ganhou evidência devido às grandes mudanças no estilo

de vida (aumento da ingestão de calorias e comportamento sedentário) e tornou-se

uma grande questão da saúde pública18. Acomete principalmente sujeitos acima 45

anos, está presente em 10 a 30% da população mundial, é prevalente em 59% dos

pacientes com OA18; e, os indivíduos com OA e SM concomitantemente, apresentam

sintomas mais graves e precoces18.

A inflamação de baixo grau relacionada ao tecido adiposo e o estresse

oxidativo seriam mecanismos patogênicos em comum com as doenças

osteoarticulares e as doenças metabólicas teriam efeitos sistêmicos diretos sobre a

articulação, podendo danificar a cartilagem, o osso e o tecido sinovial12-15.

Li et al.19 realizaram um estudo de análise controlada com aproximadamente

150 pacientes e encontraram maior prevalência de hipertensão, obesidade,

dislipidemia e SM nos sujeitos com OA e observaram que a presença de

Hipertensão arterial sistêmica (HAS), baixos níveis de High Density Lipoproteins

(HDL) e o número de comorbidades aumentavam os sintomas da OA. No Brasil,

Rocha et al.20 investigaram a prevalência de SM e fatores associados em idosos do

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interior do Nordeste e concluíram que a maior prevalência se dá entre as mulheres e

a associação da SM com OA pode causar limitação funcional, comprometendo a

qualidade de vida do idoso.

Diante da importância da OA como fator de comprometimento funcional, da

SM como fator de risco para doenças cardiovasculares e mortalidade e a escassez

de estudos com a população idosa a presente pesquisa faz-se necessária inclusive

para direcionar futuras políticas públicas na saúde do idoso. Visto as alterações na

composição corporal durante o envelhecimento e a possibilidade da existência de

mecanismos patogênicos comuns, a hipótese é encontrar associação entre OA e os

fatores metabólicos em idosos de uma comunidade.

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2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

Analisar a associação entre OA de joelho, SM e seus componentes em

idosos da comunidade.

2.2. Objetivos Específicos

Avaliar a relação entre OA de joelho e SM: uma revisão sistemática

Identificar a prevalência de OA de joelho e a associação com SM e

seus componentes em idosos.

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3. METODOLOGIA

3.1. Artigo 1

Busca de Artigos

Foi realizada uma revisão sistemática de literatura, por meio da investigação

de trabalhos indexados nos seguintes bancos de dados: Biblioteca Virtual em Saúde

(BVS), Scielo, Cochrane e Embase; e foram analisados os estudos publicados entre

janeiro de 2012 e abril de 2017. Foi realizada uma busca por artigos que possuíam

como descritores os termos Osteoartrite (Osteoarthritis) e Síndrome Metabólica

(Metabolic Syndrome), utilizando o conector “e” („and‟).

Critérios de Inclusão

Foram incluídos trabalhos publicados na íntegra, em inglês e/ou português e

que haviam sido realizados com seres humanos.

Critérios de Exclusão

Foram excluídos os artigos que: a) eram editoriais, carta ao leitor e/ou revisão

de literatura, b) que não investigavam a associação entre OA e SM, c) que não

abordavam a OA isolada de joelho.

Processo de Seleção de Artigos

Na primeira etapa da investigação foi realizado um levantamento dos artigos

encontrados com os descritores propostos nas bases de dados anteriormente

citadas; em uma segunda etapa, foram aplicados os critérios de exclusão pré-

estabelecidos; em uma terceira etapa, foi realizada a análise dos títulos e dos

resumos dos estudos, excluindo os trabalhos que não atendiam aos critérios de

inclusão ou fossem duplicatas. Num quarto momento, foi realizada então a leitura

criteriosa dos artigos completos para análise qualitativa dos mesmos. O processo de

seleção e análises dos artigos foi conduzido por pares. Nos casos de desacordo

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entre os revisores, o artigo foi discutido a fim de determinar um consenso e então

definir ou não a integração daquele estudo à pesquisa.

Qualidade Metodológica

A qualidade metodológica dos estudos incluídos foi avaliada utilizando o

“Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology” ou

Declaração STROBE21. Trata-se de uma lista de verificação, com 22 itens, com

recomendações sobre o que deve ser incluído em uma descrição mais precisa e

completa de estudos. Esses itens são codificados em zero (item não contemplado)

ou um (contemplado) indicando, portanto, o nível de qualidade do estudo. Quanto

maior a pontuação, melhor a qualidade do artigo. Cada estudo foi comparado com a

pontuação máxima desse escore a fim de determinar a qualidade dos estudos: maior

qualidade (acima de 70% do escore), média qualidade (entre 50 a 69%) e baixa

qualidade (abaixo de 50%).

3.2. Artigo 2

Desenho do Estudo e Participantes

Trata-se de uma pesquisa com dados secundários extraídos de um estudo

probabilístico por conglomerado, transversal e aleatorizado, intitulado “Análise

Comparativa do Perfil Epidemiológico de Idosos de uma Comunidade: um Estudo de

Coorte”. O estudo principal buscou avaliar as condições gerais de saúde de idosos

com 65 anos ou mais da comunidade do município de Amparo/SP e relacioná-las

com os resultados de funcionalidade, antropometria, composição corporal, exames

de imagem, testes físicos e qualidade de vida.

O procedimento utilizado para seleção da amostra (Figura 1) foi um sorteio

aleatório, por meio de cálculo amostral, de 416 indivíduos, de ambos os sexos, entre

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os 820 cadastrados na Unidade de Saúde da Família (USF) do município de

Amparo/SP, unidade Jardim Camanducaia.

Os critérios de inclusão foram indivíduos cadastrados na USF com data de

nascimento limite no ano de 1948, residentes no município de Amparo/SP e que

assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (ANEXO 1).

Foram excluídos do estudo indivíduos com deficiências físicas e/ou cognitivas

severas (dados retirados dos registros médicos da USF) e indivíduos que não

concluíram todas as etapas da pesquisa. Dos 416 indivíduos sorteados, 56.25% não

concluíram a pesquisa, e assim, a amostra final do estudo foi de 182 indivíduos.

Figura 1. Fluxograma do processo de seleção amostral dos idosos

Page 22: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE ......ASSOCIATION BETWEEN KNEE OSTEOARTHRITIS AND METABOLIC SYNDROME IN NON- INSTITUTIONALIZED AGED Dissertação de Mestrado apresentada

22

Instrumentos

A etapa domiciliar consistiu primeiramente na aplicação de um questionário

com variáveis sociodemográficas (idade, grau de instrução, estado civil, arranjo

domiciliar e renda per capita) e variáveis relacionadas às condições de saúde

(morbidade referida, tabagismo, estado nutricional, capacidade funcional e nível de

atividade física) (ANEXO 2).

Em um segundo momento foi realizada uma avaliação clínica, na qual mediu-

se o peso e altura dos sujeitos, para determinação do índice de massa corporal

(IMC), em kg/m², e a medida da circunferência da cintura (CC), em centímetros. Para

aferição do peso foi utilizada balança eletrônica marca comercial Filizola®, modelo

E-150/3P, com capacidade para 150 kg e precisão de 0,1 Kg. Os idosos foram

pesados trajando roupas leves e sem sapatos. A altura foi medida utilizando-se um

estadiômetro, de escala de 0,1 cm, com os idosos descalços, com os pés unidos,

braços estendidos ao longo do corpo e olhar fixo na altura da linha do horizonte, e a

CC foi medida com fita métrica inextensível, graduada em 0,1cm seguindo as

recomendações de Callaway et al 22. Foram considerados obesos os indivíduos com

IMC ≥30 kg/cm2 17 e /ou CC ≥102 cm (homens) e ≥88 cm (mulheres)23. A aferição

da pressão arterial (PA) foi realizada através do método indireto, com técnica

auscultatória, com esfigmomanômetro de coluna de mercúrio, devidamente

calibrado. As aferições foram realizadas em duplicata com intervalo de cinco minutos

entre elas. Foram considerados sujeitos hipertensos aqueles com PA ≥ 130 x 85

mmHg ou em uso de medicação para hipertensão12.

Em um terceiro momento, realizou-se um Raio-X simples, com incidência

anteroposterior de ambos os joelhos. As imagens foram lidas por dois médicos, um

reumatologista e uma radiologista, sem conhecimento prévio do estado clínico dos

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participantes e foram categorizadas usando a escala de classificação Kellgren-

Lawrence (KL)24; os sujeitos com KL ≥ 2 foram classificados com OA radiográfica.

Por fim, foram feitas as coletas de sangue para análise laboratorial da

glicemia de jejum e perfil lipídico, composto por Low Density Lipiprotein (LDL), HDL,

triglicerídeos e colesterol total. Todos os idosos foram orientados a realizar jejum de

12 horas antes da coleta.

O diagnóstico de síndrome metabólica foi baseado nos critérios do Third

Report of the National Cholesterol Education Program (NCEP–ATP III)12, o qual

determina a presença de pelo menos três dos cinco fatores (ou uso de medicação):

obesidade abdominal (CC >102 cm e 88 cm para homens e mulheres

respectivamente), hipertrigliceridemia ( >150 mg/dL), baixos níveis de colesterol HDL

(< 35 mg/dL e 45 mg/dL para homens e mulheres respectivamente), hipertensão

arterial sistêmica ( > 130 x 85 mmHg) e glicemia de jejum elevada ( > 100 mg/dL.).

Procedimentos e coleta de dados

Após a seleção dos sujeitos, agendou-se uma entrevista domiciliar seguida de

avaliação clínica e agendamento para realização dos exames complementares -

Raio-X e coleta de sangue. Os participantes não tiveram gastos com a realização

dos exames e foram ressarcidos dos possíveis gastos com transporte e/ou

alimentação nos dias desses exames.

O trabalho de campo foi realizado entre os anos de 2013 e 2014, por três

pesquisadoras associadas, especialmente treinadas pela pesquisadora principal; a

avaliação clínica foi realizada pelas pesquisadoras na USF, o exame radiográfico foi

realizado por um mesmo técnico em todos os participantes em uma clínica

conveniada à prefeitura municipal e os exames de sangue foram colhidos na USF e

analisados pelo laboratório municipal.

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Estatística

Foi realizada uma análise exploratória de dados através de medidas resumo

(média, desvio padrão, mínimo, mediana, máximo, frequência e porcentagem). A

concordância entre os avaliadores foi verificada através do coeficiente Kappa. A

comparação entre os grupos com e sem OA foi realizada através dos testes de

Mann-Whitney ou Qui-Quadrado e a influência dos componentes da SM na OA foi

avaliada através da Regressão Logística, no modelo múltiplo o critério de variáveis

usado foi o stepwise. Utilizou-se o The SAS System for Windows versão 9.4, e

adotou-se o nível de significância de p < 0,05.

O protocolo de pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da

Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas/ FCM-

UNICAMP (no 3.114.868) (ANEXO 3).

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4. RESULTADOS

4.1. Artigo 1:

Associação entre osteoartrite de joelho e síndrome metabólica: uma revisão

sistemática

Association between knee osteoarthritis and metabolic syndrome: a systematic

review

Artigo submetido na Revista Brasileira de Promoção de Saúde (ID: 8448)

RESUMO

A Osteoartrite (OA) é considerada a maior causa de incapacidade física e, sua

incidência aumenta com o avanço da idade. Sua etiologia ainda é relativamente

desconhecida e sugere-se o envolvimento de fatores metabólicos neste processo.

Esta revisão sistemática objetivou identificar as possíveis associações entre OA de

joelho e síndrome metabólica (SM). A busca foi realizada nos principais bancos de

dados entre os anos de 2012 e 2017, em português e/ou inglês, com os descritores

“osteoartrite” e “síndrome metabólica” em ambas as línguas. Para avaliação da

qualidade metodológica utilizou-se a Declaração STROBE. Foram selecionados sete

artigos, todos com qualidade metodológica alta; seis utilizaram o NCEP-ATP III para

diagnóstico da SM e cinco utilizaram a escala de KL ≥ 2 para OA. Os dados apontam

para associação entre OA sintomática e hipertensão arterial sistêmica; entretanto,

ainda não se esclareceu por completo a associação entre o estado pré-inflamatório

da SM e a OA. Os resultados encontrados sugerem que uma melhor compreensão

das ações das vias metabólicas envolvidas com a OA poderia abrir uma nova

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avenida terapêutica, com foco no equilíbrio glicêmico e assim promover uma melhor

qualidade de vida a esses sujeitos.

Palavras Chave: Osteoartrite; Síndrome metabólica; Obesidade; Hipertensão;

Promoção da Saúde.

ABSTRACT

Osteoarthritis (OA) is considered the greatest cause of physical disability and its

incidence increases with advancing age. Its etiology is still relatively unknown and

the involvement of metabolic factors in this process is suggested. This systematic

review aimed to identify the possible associations between knee OA and metabolic

syndrome (MetS). The search was performed in the main databases between 2012

and 2017, in Portuguese and / or English, with the descriptors "osteoarthritis" and

"metabolic syndrome" in both languages. Methodological quality was assessed using

the STROBE Declaration. Seven papers were selected, all with high methodological

quality; six used the NCEP-ATP III for the diagnosis of MetS and five used the KL

scale ≥ 2 for OA. The data point to the association between symptomatic OA and

systemic arterial hypertension; however, the association between the

preinflammatory state of MetS and OA has not yet been fully clarified. The results

suggest that a better understanding of the actions of the metabolic pathways involved

with OA could open a new avenue of therapy, focusing on glycemic balance and thus

promote a better quality of life for these subjects.

Keywords: Osteoarthritis; Metabolic Syndrome; Obesity; Hypertension; Health

Promotion.

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27

Introdução

A Osteoartrite (OA) é uma condição musculoesquelética que afeta milhões de

pessoas e representa a primeira causa da deficiência no mundo após os 40 anos1-3.

É considerada a maior causa de incapacidade física e apresenta-se pela dor, rigidez

e limitações nas atividades de vida diária (AVD)3-5. Sua incidência aumenta com o

avanço da idade, particularmente acima dos 60 anos6. No mundo todo se estima que

9,6% dos homens e 18,0% das mulheres maiores de 60 anos têm OA sintomática3;

cerca de 40% dos adultos com idade acima de 70 anos apresentam OA de joelhos e

80% dos que apresentam a doença têm algum tipo de limitação de movimento5.

Além disso, a perda financeira, relacionada ao trabalho, associada à OA foi estimada

de 01 - 2,5% do PIB em países industrializados7. Pacientes com OA também tendem

a ter maiores taxas de mortalidade em comparação com a população em geral bem

como comorbidades associadas a doenças cardiovasculares8.

Embora tenha sido historicamente vista como uma doença do tipo "desgaste",

a OA é atualmente considerada uma doença inflamatória de baixo grau resultante da

perda do equilíbrio entre degradação e reparação celular dentro da cartilagem por

meio dos condrócitos1,9. Caracteriza-se pela deterioração progressiva da cartilagem

articular e mudanças estruturais, incluindo sinóvia, menisco, ligamentos

periarticulares, tecido adiposo e osso subcondral1,3,6,9 e ocasiona o

comprometimento da integridade funcional da articulação9.

Sua patogênese e progressão parecem ser resultado da interação complexa e

dinâmica de mecânica, fatores moleculares celulares e sistêmicos9,10. Devido à sua

heterogeneidade, subdivide-se em subgrupos fenotípicos9, que apesar de

apresentarem diferenças causais importantes, provavelmente compartilham

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elementos em comum, como envelhecimento, fatores biomecânicos e alterações

metabólicas9,10.

Durante o século 20, a Síndrome Metabólica (SM) aumentou drasticamente

devido às mudanças no estilo de vida da população (aumento da ingestão de

calorias e comportamento sedentário)1, tornando-se uma grande questão da saúde

pública nos países industrializados. Em 199811 a OMS definiu SM como uma

alteração do metabolismo da glicose e/ou resistência insulínica associada à

hipertensão arterial sistêmica (HAS), aumento de triglicérides do plasma e/ou

diminuição do colesterol High Density Lipoproteins (HDL) e obesidade central ou

abdominal, no entanto ainda não há uma definição única para SM. Ela acomete

principalmente sujeitos acima 45 anos, está presente em 10 a 30% da população

mundial, é prevalente em 59% dos pacientes com OA1 e os indivíduos com OA e SM

concomitantemente apresentam sintomas mais graves e precoces que a população

em geral2.

A associação entre diabetes mellitus (DM) e OA foi descrito pela primeira vez

em 196112, porém o primeiro grande estudo que explorou essa associação foi

realizado apenas em 2007, por Schett et al.13. Eles demonstraram que pacientes

com DM tipo 2 tiveram taxas duas vezes maiores de artroplastia de joelho ou quadril

decorrente de OA do que os sujeitos não diabéticos. Também descobriram que o

risco de artroplastia foi correlacionado com a duração da diabetes e que os

pacientes diabéticos apresentaram maiores níveis de inflamação sinovial e dor 13.

A partir de então foi proposto um novo subtipo de OA, a OA metabólica14. O

envolvimento dos fatores metabólicos na etiologia da OA é apoiado por estudos

epidemiológicos, bem como por dados experimentais15. Há um crescimento nos

indícios de que a inflamação crônica de baixo grau pode iniciar o desenvolvimento

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de inflamações locais e sistêmicas6. Tanto os achados in vivo quanto in vitro têm

demonstrado que os mediadores inflamatórios derivados do tecido adiposo,

hiperglicemia, dislipidemia e da inflamação crônica de baixo grau têm efeito

prejudicial direto da sobre o metabolismo da cartilagem1-3,10,15.

Portanto, compreender os mecanismos pelos quais os fatores metabólicos e a

OA de joelho se associam é fundamental para o desenvolvimento e direcionamento

de terapias específicas e eficazes na promoção de saúde desses sujeitos. Assim, o

objetivo desta revisão foi identificar as possíveis associações entre OA de joelho e

SM, concentrando-se nos fatores comuns.

Metodologia

A presente investigação foi sustentada por meio de uma revisão sistemática

de literatura, de trabalhos indexados nas bases de dados eletrônicos: Biblioteca

Virtual em Saúde (BVS), Scielo, Cochrane e Embase; foram analisados apenas os

estudos publicados entre janeiro de 2012 e abril de 2017.

Foi realizada uma busca por artigos que possuíam como descritores os

termos Osteoartrite (Osteoarthritis) e Síndrome Metabólica (Metabolic Syndrome),

utilizando o conector “e” („and‟). Foram incluídos trabalhos publicados na íntegra, em

inglês e/ou português e que haviam sido realizados com seres humanos. Foram

excluídos os artigos que: a) eram editoriais, carta ao leitor e/ou revisão de literatura,

b) que não investigavam a associação entre OA e SM, c) que não abordavam a OA

isolada de joelho.

Na primeira etapa da invetigação foi realizado um levantamento dos artigos

encontrados com os descritores propostos nas bases de dados anteriormente

citadas; em uma segunda etapa, foram aplicados os critérios de exclusão pré-

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30

estabelecidos; em uma terceira etapa, foi realizada a análise dos títulos e dos

resumos dos estudos, excluindo os trabalhos que não atendiam aos critérios de

inclusão ou fossem duplicatas. Num quarto momento, foi realizada então a leitura

criteriosa dos artigos completos para análise qualitativa dos mesmos. O processo de

seleção e análises dos artigos foi conduzido por pares. Nos casos de desacordo

entre os revisores, o artigo foi discutido a fim de determinar um consenso e então

definir ou não a integração daquele estudo à pesquisa.

A qualidade metodológica dos estudos incluídos foi avaliada utilizando o

“Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology” ou

Declaração STROBE16. Trata-se de uma lista de verificação, com 22 itens, com

recomendações sobre o que deveria ser incluído em uma descrição mais precisa e

completa de estudos. Esses itens são codificados em zero (item não contemplado)

ou um (contemplado) indicando, portanto, o nível de qualidade do estudo. Quanto

maior a pontuação, melhor a qualidade do artigo. Cada estudo foi comparado com a

pontuação máxima desse escore. Essa estratégia foi determinada para identificar os

estudos de maior qualidade (acima de 70% do escore), média qualidade (entre 50 a

69%) e baixa qualidade (abaixo de 50%).

Resultados

Após análise detalhada dos títulos e resumos, sete artigos foram

selecionados para nossa revisão: Niu et al., 201717, Yasuda et al., 201718, Eymard et

al., 201519, Maddah et al., 201520, Shin, 201421, Han et al., 201322 e Jungmann et al.,

201323. A Figura 1 evidencia as etapas do processo de seleção dos estudos, número

de estudos identificados, selecionados, excluídos e incluídos na revisão.

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31

Figura 1 - Fluxograma das etapas de seleção dos estudos para revisão sistemática

Características gerais dos estudos

A revisão sistemática foi composta pela análise dos sete trabalhos que

investigaram a associação entre OA de joelho e SM. Detalhes sobre composição da

amostra, local da pesquisa, critério diagnóstico de OA e critério diagnóstico de SM

de cada um deles são apresentados no Quadro I.

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Quadro I - Caracterização dos estudos analisados

Autor Amostra Idade /

Média

Estudo /

Local OA SM

Niu et al.

2017

991 sujeitos

> 40 anos

54.2

Framingham

EUA KL ≥ 2 NCEP ATPIII

Yasuda et

al.

2017

119

mulheres

45-88

anos

69.0

Japão KL ≥ 2

Examination

Committee of

Criteria for

Metabolic

Syndrome in

Japan

Eymard et

al.

2015

559

pacientes

> 50 anos

62.8

Estudo

SEKOIA

18 países

JSW

(medida

anual)

NCEP ATPIII

*Autorrelato

Maddah et

al.

2015

625

sujeitos

> 18 anos

Homem

55.4

Mulher

54.4

Irã KL ≥ 2 NCEP ATPIII

Shin

2014

2.363

sujeitos

≥ 50 anos

63.4

Estudo

KNHANES

Coréia

KL ≥ 2 NCEP ATPIII

Han et al.

2013

2.234

sujeitos

40- 91

anos

Com OA

64.5

Sem OA

53.2

Estudo

KNHANES

Coréia

Autorrelato NCEP ATPIII

Jungmann

et al

2013

403

sujeitos

45-60

anos

Homem

52.0

Mulher

52.2

The

Osteoarthritis

Initiative

Multicêntrico/

EUA

KL ≥ 2 NCEP ATPIII

*Autorrelato

OA = Osteoartrite; SM = Síndrome Metabólica; EUA= Estados Unidos da América; KL = Kellgreen-

Lawrence; SEKOIA = Strontium Ranelate in Knee Osteoarthritis; JSW = Joint Space Width; KNHANES

- Korean National Health and Nutrition Examination Survey; NCEP ATP III - National Cholesterol

Education Program-Adult Treatment Panel III

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33

Todos os estudos são observacionais, sendo três longitudinais17,19,23 e quatro

transversais18,20,21,22; dois são multicêntricos19,23, seis deles foram realizados com

indivíduos de ambos os sexos17,19-23 e um foi realizado apenas com mulheres18.

Quanto ao ano de publicação, dois são de 201717,18, dois são de 201519,20, um é de

201421 e dois são de 201322; nos anos de 2012 e 2016 não houve publicação que se

enquadrasse nesta revisão. Em relação à idade, um utilizou indivíduos acima de 18

anos20, dois utilizaram indivíduos acima de 40 anos17,22, dois utilizaram indivíduos

acima de 45 anos18,23 e dois utilizaram indivíduos acima de 50 anos19,21. Apenas um

deles possuía limite de idade máxima23, estipulada em 60 anos, nenhum deles foi

realizado exclusivamente com idosos e em um deles a média de idade dos

indivíduos foi superior a 6518. Sobre a composição da amostra, um estudo investigou

indivíduos internados para cirurgia eletiva de joelho18, dois deles foram com

indivíduos ambulatoriais com OA sintomática19,20, quatro deles com indivíduos da

comunidade17, 21-23 e nenhum deles foi realizado com indivíduos institucionalizados.

Para a definição de SM, seis artigos embasaram-se no NCEP ATP III17, 19-23,

entretanto dois desses utilizaram o autorrelato para alguns dos fatores

metabólicos19,23, como diabetes e triglicérides e um estudo utilizou outro critério

diagnóstico, o Examination Committee of Criteria for Metabolic Syndrome do

Japão18. Já para o diagnóstico de OA, cinco estudos utilizaram a escala de KL ≥

217,18,20,21,23, um utilizou a medida do espaço articular19 e um utilizou o autorrelato22.

Qualidade dos Estudos

Todos os artigos obtiveram a pontuação STROBE entre 16 e 22, o que

caracteriza um percentual de qualidade alto (entre 72,72% e 100%). Os itens não

pontuados relacionavam-se à falta da descrição dos elementos chave do desenho

do estudo, descrição do contexto, lugares e datas relevantes, medidas adotadas

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34

para evitar viés, discriminação dos participantes em cada fase do estudo,

especificação dos fatores de confusão, resumo dos principais objetivos e das

limitações do estudo na discussão, possibilidade de generalização dos resultados e

falta de descrição de financiamento da pesquisa.

Artigos Incluídos

Para 57% dos pesquisadores a OA de joelho prevalece entre sujeitos do sexo

feminino e com idades mais avançadas17,20-22. Para 29% os indivíduos com OA

apresentam maior IMC17,20, maior medida de CC, maiores valores de pressão arterial

sistólica (PAS), maiores níveis de LDL20,22, maior nível de tabagismo, menor peso,

menor altura, menor consumo de álcool e menor nível de atividade física17,22; e para

14% eles apresentam menor grau de escolaridade17.

Em relação à SM, 29% dos artigos relataram que sua prevalência é maior

entre os homens e que cresce com o avanço da idade20,22; 14% mostraram que,

entre as mulheres, a medida da CC associa-se a uma maior prevalência de OA22 e

que o fato de ter SM aumenta em 49% a probabilidade de OA21 em ambos os sexos.

Quando falamos dos fatores metabólicos isolados, 29% dos estudos encontraram

uma associação significativa entre diabetes tipo 2 e redução do espaço articular do

joelho19,23; porém 50% referem que tal associação se dá apenas nos homens19 e

para outros 50% ela se dá em ambos os sexos23.

Foi observado também que o acúmulo dos fatores metabólicos,

independentemente do IMC, esteve associado a uma maior degradação da

cartilagem articular em 14% das publicações23 e esses autores sugerem haver uma

interferência metabólica negativa na composição bioquímica da cartilagem. Por outro

lado, 43% dos relatos não encontraram associações entre os componentes

metabólicos17-19, sejam eles isolados ou acumulados, com OA radiográfica de joelho

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após os ajustes de confusão; tais autores17-19 ressaltaram que, tanto os fatores

isolados quanto a SM estão associados à OA de joelho, mas não independentes do

IMC e do peso corporal. Essa não associação também foi destacada na revisão

sistemática realizada recentemente por Li e Felson24, na qual os autores

encontraram que após os ajustes para IMC ou peso, a associação entre SM e OA

radiográfica de joelho não se manteve significativa nos estudos analisados.

Sobre SM e OA sintomática, foi encontrada uma associação significativa entre

HAS, dislipidemia e número de fatores acumulados com aumento da gravidade e

progressão dos sintomas em mulheres em 14 % das pesquisas18, mesmo após os

ajustes para IMC e idade. Com isso, os autores apontam que o acúmulo de

componentes metabólicos está associado a maior intensidade de dor,

independentemente da idade, sexo e peso18.

Considerações finais

A literatura concorda consensualmente que a prevalência de SM e de OA

estão aumentando drasticamente e embora a quantidade de estudos que avaliam a

possível associação entre ambas também venha aumentando, ainda não se

esclareceu por completo a relação entre o estado pré-inflamatório da SM com a OA

de joelho. Nossos achados apontam para uma associação significativa entre OA

sintomática e alguns componentes metabólicos, como HAS e dislipidemia, porém ela

precisa ser investigada mais detalhadamente.

Algumas divergências nos resultados das pesquisas possivelmente sejam

decorrentes da heterogeneidade das amostras - idades, sexo e condições de saúde

diferentes, e da falta de padronização (e até mesmo algumas adaptações) dos

critérios diagnósticos. Li e Felson24 também encontraram dados conflitantes e

insuficientes para estabelecer uma conclusão definitiva sobre tal associação, e

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sugerem que futuros estudos utilizem amostras mais robustas e foquem nos

estágios iniciais das doenças e manifestações de componentes metabólicos ao

longo da vida.

Concomitantemente, os presentes estudos também não foram capazes de

explicar a influência dos fatores socioeconômicos e estilo de vida na etiologia da SM

e OA. Talvez os resultados tivessem sido diferentes se os autores tivessem

apresentado análises adicionais sobre a influência destes fatores na associação

entre SM e OA.

Mesmo com essas dificuldades metodológicas e discrepâncias nos

resultados, a presente revisão sistemática sublinha a importância de iniciativas de

política pública, visto a crescente prevalência dos fatores de riscos na sociedade

moderna. É altamente benéfico educar a sociedade a se manter saudável, mesmo

aqueles indivíduos que ainda não tenham desenvolvido os sintomas, pois eles

podem surgir e vir a interferir negativamente nas atividades de vida diária.

Por fim, os resultados sugerem que uma melhor compreensão das ações das

vias metabólicas envolvidas no início e na progressão da OA poderia abrir uma nova

avenida terapêutica, com foco no equilíbrio glicêmico. Estudos longitudinais, com

critérios padronizados e que busquem avaliar o impacto específico dos componentes

metabólicos e hiperglicêmicos crônicos na progressão de OA também se mostram

interessantes.

Financiamento e Conflitos de Interesse

Esta pesquisa recebeu apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior (CAPES) e não apresenta conflitos de interesse.

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37

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40

4.2. Artigo 2:

Associação entre osteoartrite de joelho e síndrome metabólica em idosos não

institucionalizados

Association between knee osteoarthritis and metabolic syndrome in non-

institutionalized aged

Artigo submetido na Revista Brasileira de Ortopedia (RBO_2018_420)

RESUMO

A síndrome metabólica é bastante reconhecida como um fator de risco para doenças

cardiovasculares. Porém têm-se observado uma possível associação também com

doenças articulares, como a osteoartrite de joelho. Este estudo teve o objetivo de

analisar a associação entre osteoartrite de joelho e SM em idosos não

institucionalizados. Pesquisa transversal, aleatorizada, extraída de um estudo

probabilístico por conglomerado realizado com 182 idosos de uma Unidade de

Saúde da Família do município de Amparo/SP. A SM foi definida de acordo com o

NCEP-ATP III, e a OA de acordo com a escala KL ( ≥ 2). Para a análise estatística

foi realizada uma análise exploratória de dados, testes de Mann-Whitney ou Qui-

Quadrado e regressões logísticas uni e multivariadas, com nível de significância de p

< 0,05; a concordância entre os avaliadores foi verificada através do coeficiente

Kappa. Verificou-se associação entre OA e circunferência de cintura (CC) (p <.001;

OR = 3,524). Não foi encontrada associação significativa entre OA e número de

componentes metabólicos nem com a SM em si. Conclui-se que OA de joelho

associa-se a CC, independente do peso, e que o aumento em sua medida reflete em

uma maior chance de SM em idosos não institucionalizados.

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Palavras Chave: Osteoartrite; Síndrome Metabólica; Obesidade; Envelhecimento;

Promoção da saúde.

ABSTRACT

Metabolic syndrome (MetS) is widely recognized as a risk factor for cardiovascular

disease. However, a possible association has also been observed with joint

diseases, such as knee osteoarthritis (OA). This study aimed to analyze the

association among knee OA and MetS in non-institutionalized elderly. A cross-

sectional, randomized study, drawn from a probabilistic cluster study conducted with

182 aged from a Family Health Unit (USF) in the city of Amparo / SP. MS was

defined according to NCEP-ATP III, and OA according to the KL scale (≥ 2). For the

statistical analysis, an exploratory data analysis, Mann-Whitney or Qui-Square tests

and univariate and multivariate logistic regressions, with significance level of p <0.05;

the concordance between the evaluators was verified through the Kappa coefficient.

There was an association between OA and BMI (p = 0.0021) and between OA and

waist circumference (WC) (p <.001; OR = 3,524). There was no significant

association among OA and number of metabolic components nor with MetS itself.

We conclude that knee OA is associated with WC, regardless of weight, and that the

increase in its measure reflects a greater chance of MetS in non-institutionalized

elderly.

Keywords: Osteoarthritis; Metabolic Syndrome; Obesity; Aging; Health Promotion.

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Introdução

A ingestão de gordura e o sedentarismo estão em evidência no mundo

moderno e estão entre os responsáveis pelo aumento de uma condição identificada

como "síndrome metabólica”1. A síndrome metabólica (SM) é reconhecida como

fator de risco para diabetes mellitus (DM), doenças cardiovasculares (DCV) e

aterosclerose1. Recentemente também foi sugerida uma associação dela com um

maior risco de osteoartrite (OA)2-4.

A literatura5 tem reforçado o conceito de um componente metabólico na

patogênese da OA visto que os mediadores inflamatórios derivados do tecido

adiposo, hiperglicemia, dislipidemia e da inflamação crônica de baixo grau têm

apresentado efeito prejudicial direto sobre o metabolismo da cartilagem, favorecendo

seu desgaste e remodelamento4,6.

Já o crescente interesse pela OA deve-se ao fato de ela ser considerada

atualmente a maior causa de incapacidade física no mundo3 e sua incidência

aumentar com o avanço da idade6. No mundo todo é estimado que 40% dos sujeitos

acima de 70 anos apresentem OA de joelhos e que 80% dos acometidos por ela

tenham alguma limitação de movimento7.

Considerando o alto risco cardiovascular, o comprometimento funcional e a

escassez de pesquisas com idosos, este estudo objetivou analisar a associação

entre OA de joelho e SM em idosos não institucionalizados.

Metodologia

Trata-se de uma pesquisa transversal, aleatorizada, extraída de um estudo

probabilístico por conglomerado, intitulado “Análise Comparativa do Perfil

Epidemiológico de Idosos de uma Comunidade: um Estudo de Coorte”.

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43

A amostra se deu por sorteio aleatório, através de cálculo amostral, de 416

indivíduos entre os 820 cadastrados na Unidade de Saúde da Família (USF) do

Jardim Camanducaia/Amparo-SP (Figura 1). Foram incluídos sujeitos nascidos até o

ano 1948, residentes em Amparo, cadastrados nesta USF e que assinaram o Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos os idosos com deficiências

físicas e/ou cognitivas severas (descritos nos registros médicos) e aqueles que não

concluíram as etapas do estudo; 56.25% dos sujeitos não concluíram todas as

etapas, logo a amostra final foi de 182 idosos.

Figura 1. Fluxograma do processo de seleção amostral dos idosos

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44

Primeiramente aplicou-se de um questionário com dados sociodemográficos,

antropométricos e condições de saúde. Posteriormente, realizou-se um Raio-X de

incidência anteroposterior de ambos os joelhos e por fim, foram colhidas amostras

de sangue para análise laboratorial da glicemia de jejum e perfil lipídico – todos os

indivíduos foram orientados a realizar jejum de 12 horas antes da coleta. O

diagnóstico para OA considerou a escala de Kellgren-Lawrence (KL ≥ 2)8 e para SM

adotaram-se os critérios do Third Report of the National Cholesterol Education

Program (NCEP–ATP III)9.

O trabalho de campo foi realizado entre os anos de 2013 e 2014, por três

pesquisadoras treinadas pela pesquisadora principal; o exame radiográfico foi

realizado em uma clínica conveniada à prefeitura e os exames de sangue foram

colhidos na USF e analisados pelo laboratório municipal.

Foi realizada uma análise exploratória de dados através de medidas resumo

(média, desvio padrão, mínimo, mediana, máximo, frequência e porcentagem). A

concordância entre os avaliadores foi verificada através do coeficiente Kappa. A

comparação entre os grupos com e sem OA foi realizada através dos testes de

Mann-Whitney ou Qui-Quadrado e a influência dos componentes da SM na OA foi

avaliada através da Regressão Logística; no modelo múltiplo o critério de variáveis

usado foi o stepwise. Utilizou-se o The SAS System for Windows versão 9.4, e

adotou-se o nível de significância de p < 0,05.

O protocolo de pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da

Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP (no 3.114.868).

Resultados

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45

A Tabela 1 mostra uma maior proporção de idosos do sexo feminino (57,1%),

com média de idade de 73,0 ± 5,6 anos e média de IMC de 27.9 ± 4.8 kg/m². Dentre

os idosos cadastrados na USF analisada, 41.7% apresentam OA de joelhos, 52.1%

apresentam SM e 23% apresentam as duas concomitantemente.

O Gráfico 1 apresenta a proporção de idosos em relação ao número de

componentes metabólicos acumulados na presença ou ausência da OA. Nota-se

que não houve associação significativa entre OA e o acúmulo de componentes (p =

0.6320), porém a maioria dos sujeitos com OA apresentou de dois a quatro

componentes.

A Tabela 2 apresenta a prevalência de OA em relação às variáveis de idade,

sexo, SM e os componentes metabólicos, sendo que a concordância entre os

avaliadores para o diagnóstico da OA foi substancial para ambos os joelhos. Foi

encontrada relação da OA com CC (p-valor <.0001) e não houve associação

significativa entre OA e SM. (p > 0,05).

A Tabela 3 apresenta a influência da SM na OA. Verificou-se associação

significativa da CC com a OA (p <.0001), com OR = 3,524.

Discussão

O presente estudo avaliou a associação entre OA e SM em idosos da

comunidade e os principais resultados mostram associação da OA radiográfica de

joelho com CC.

Visto que a cartilagem é um tecido avascular, o comprometimento no fluxo

sanguíneo interfere negativamente nas trocas entre nutrientes e oxigênio

ocasionando maior degeneração na cartilagem10. Este fato vem sendo destacado

nas pesquisas recentes11-15, que apontam altos níveis de HAS nos sujeitos com OA.

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46

A taxa de HAS também é significativamente maior em pacientes com SM e, em

hipertensos sem SM, o risco de vir a apresentá-la é maior em comparação com a

população em geral11. Em um estudo com quase 1.400 hipertensos12, 50%

apresentaram comprometimento do metabolismo da glicose e SM associada, além

de risco cardiovascular significativamente maior. Outro estudo16 mostrou que entre

1.000 pacientes com OA de quadril, 55% apresentavam HAS ou DCV.

Esta pesquisa encontrou resultados semelhantes, visto que no grupo com OA,

86,8% dos idosos apresentaram HAS. Mas, apesar desta alta prevalência, HAS e

OA não se associaram significativamente, embora tal associação já tenha sido

relatada por alguns autores16,17, mesmo que antes dos ajustes de confusão.

Resultados semelhantes aos nossos foram descritos por Yasuda et al.13, nos quais

acharam associação de HAS com a gravidade dos sintomas e não com a radiológica

da OA.

A literatura também ressalta a associação da CC com OA. Um estudo15

associou SM ao aumento da prevalência de OA de joelho em mulheres, mas após o

ajuste para os fatores de confusão, apenas a CC se manteve associada ao maior

risco de OA. Em outras pesquisas18,19 essa associação representou um aumento na

gravidade dos sintomas e aumento da incidência de OA radiográfica15-17. Assim

como relatado na literatura, nesta pesquisa o aumento da CC aumentou a

probabilidade de OA radiográfica.

Culvenor et al.20 concluíram que apesar da obesidade se associar ao

desenvolvimento de OA, esta não é independente do IMC. Estes autores apontaram

que a obesidade abdominal pode se associar a OA também por meio das vias

metabólicas e biomecânicas, porém ela os resultados sugerem que tanto a CC

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47

quanto o IMC são igualmente suficientes para capturar o risco elevado OA

associada à obesidade.

Embora, neste estudo, DM e OA não tenham se associado estatisticamente,

outras pesquisas observaram maior degradação articular16 e à progressão da OA19.

E, fortalecendo a teoria de que a patogênese de OA independe de peso e

sobrecarga, diabéticos tiveram uma taxa duas vezes maior de OA de mão do que

não-diabéticos21. Além disso, um modelo experimental22 demonstrou que ratos

diabéticos apresentavam maior nível de glicose no sangue, diminuição das fibras de

colágeno e proteoglicanos nos ligamentos e na cartilagem articular e aumento do

colágeno no tecido sinovial em comparação com ratos de controle, evidenciando que

os ligamentos e a cartilagem articular foram afetados pela DM devido à remodelação

e depósito de colágeno no tecido sinovial.

O líquido sinovial humano contém baixas concentrações de colesterol

comparadas aos níveis plasmáticos23, no entanto, sujeitos com condições

inflamatórias apresentam elevações nessas quantidades. E, embora os dados

sugiram que as células sinoviais sejam capazes de sintetizar alguns desses lipídios

aí encontrados1,23, os mecanismos que poderiam explicar esse aumento ainda não

foram estabelecidos. Por outro lado, estudos epidemiológicos divergem sobre essa

ligação. Algumas pesquisas13-15 relatam uma ligação positiva entre

hipercolesterolemia e OA, enquanto outras19, uma correlação não significativa, assim

como o presente estudo.

Modelos animais24 têm mostrado associações entre dietas ricas em gordura

com aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias no liquido sinovial,

formação de osteófitos e degradação da cartilagem articular, independente do peso

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corporal; e que a diminuição dos níveis de colesterol poderia minimizar esses

efeitos.

Apesar de o presente estudo não ter encontrado associação significativa com

o número de componentes metabólicos acumulados, os dados foram interessantes.

Dentre os idosos com OA, apenas 7,5% apresentavam os cinco componentes. Visto

que os sujeitos tinham que se deslocar de suas casas em algumas etapas da

pesquisa, uma razão para essa baixa porcentagem pode ser a multimorbidade, que

associada à idade, pode elevar o grau de comprometimento funcional e que, um

maior número de componentes pode aumentar a sintomatologia13,18, dificultando

também esse deslocamento.

Alguns autores afirmaram não ter encontrado associação entre OA e SM13,19,

assim como este estudo. Porém, para outros, quanto mais componentes, maior foi a

incidência de OA17,18. Tiveram ainda aqueles que apontaram que a OA aumentaria a

probabilidade de SM em mulheres16, e que a SM aumentaria a probabilidade de

OA15,18. Porém, para a maioria deles, a correlação não se manteve após ajustes de

confusão 15,17,18.

As discrepâncias encontradas podem decorrer das diferenças amostrais -

desde diferentes etnias até número de sujeitos e média de idade, e dos diferentes

critérios diagnósticos para OA e SM. Dentre as limitações do estudo destacam-se:

amostra composta por indivíduos de uma única região de um município, o que não

implica em generalizações populacional; não consideração dos dados

sociodemográficos; não consideração dos valores reais de cada componente da SM

- sendo destacado apenas se o componente estava ou não alterado; deslocamento

dos sujeitos - pode ter excluído sujeitos com maiores comprometimentos; e

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transversalidade do estudo - impede a avaliação de relações diretas de causalidade

entre as variáveis estudadas.

Conclusão

Concluiu-se que a OA de joelho associa-se à CC e que seu aumento eleva a

probabilidade de SM em idosos. São necessárias pesquisas semelhantes,

principalmente longitudinais, com idosos da comunidade e institucionalizados, para

que se acompanhe a evolução das doenças, o nível de funcionalidade e as

implicações destas variáveis na saúde e qualidade de vida dos idosos.

Agradecimentos

Aos pesquisadores que contribuíram com a coleta e interpretação de dados e

aos profissionais de saúde que participaram da pesquisa. Não apresenta conflito de

interesses.

Financiamento

Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

[1741/2016; 3372/2017; 4588/2018].

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Tabela 1 – Caracterização da amostra de idosos do Jardim Camanducaia em Amaparo/SP

Variáveis N1 % Média ± DP

2

Sexo

Feminino

Masculino

Total

104

78

182

57.1

42.9

100.0

Idade 182 73.0 ± 5.6

IMC3 (kg/cm²) 182 27.9 ± 4.8

Presença de OA4 76 41.7

Presença de SM5 95 52.1

OA e SM

concomitantes

42

23.0

1Número de sujeitos;

2 Desvio padrão;

3 Índice de massa corpórea;

4 Osteoartrite;

5 Síndrome

Metabólica

Gráfico 1 - Associação da osteoartrite de joelho com o número de componentes metabólicos

em idosos

5,50%

17,60%

26,40%

28,60%

14,30%

7,70%

3,00%

11,90%

31,30%

23,90% 22,40%

7,50%

Nenhum 1 2 3 4 5

Número de componentes metabólicos

Sem OA

Com OA

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Tabela 2 – Prevalência de osteoartrite em relação às variáveis socioeconômicas, síndrome

metabólica e os componentes metabólicos

Osteoartrite de Joelho

Variável Sem OA Com OA p-valor

Idade (Média ± DP)

Total

72.3 ± 5.6

106

73.9 ± 5.5

76

0.05711

Sexo

Feminino

Masculino

59 (55.7%)

47 (44.3%)

45(59.2%)

31(40.8%)

0.63322

Síndrome Metabólica 53 (55.8%) 42 (44.2%) 0.69242

Circunferência Cintura

Dentro do limite

Fora do limite

61 (58.0%)

45 (42.0%)

21 (27.0%)

55 (73.0%)

<.00012

Pressão Arterial

Dentro do limite

Fora do limite

18 (17.0%)

88 (83.0%)

10 (13.2%)

66 (86.8%)

0.48082

Triglicérides

Dentro do limite

Fora do limite

51 (49.0%)

55 (51.0%)

39 (50.7%)

37 (49.3%)

0.82742

HDL – colesterol

Dentro do limite

Fora do limite

71 (67.7%)

35 (32.3%)

51 (66.7%)

25 (33.3%)

0.88812

Glicemia de jejum

Dentro do limite

Fora do limite

61 (57.5%)

45 (42.5%)

53 (69.7%)

23 (30.3%)

0.09372

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Tabela 3 - Razão de chances da influência dos componentes metabólicos na osteoartrite de

joelho em idosos

Análise Simples (Univariada)

Fator OR1 IC95% (OR) p-valor

Circunferência Cintura 3.729 1.949 7.133 <.0001

Pressão Arterial 1.350 0.585 3.116 0.4819

Triglicérides 0.935 0.510 1.714 0.8275

HDL – colesterol 1.048 0.543 2.025 0.8880

Glicemia jejum 0.588 0.316 1.097 0.0950

Análise Múltipla (Multivariada)

Fator OR IC95% (OR) p-valor

Circunferência Cintura 3.524 1.794 6.921 0.0003

1Odds ratio

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5. DISCUSSÃO GERAL

Esta dissertação objetivou analisar a associação entre OA de joelho e SM,

incluindo seus componentes isolados, em idosos. Como principais achados,

encontrou-se que a OA de joelho é mais prevalente em mulheres e a SM é mais

prevalente em homens e que essas prevalências aumentam com o avanço da idade;

que o acúmulo de componentes metabólicos está associado a maior intensidade da

dor e a uma maior degradação da cartilagem articular, independente da idade, peso

e sexo, que o fato de ter SM aumenta a probabilidade de OA em ambos os sexos

(Artigo 1); e que CC está associada com OA de joelho em idosos não

institucionalizados (Artigo 2).

A SM constitui o conjunto de alterações fisiopatológicas relacionadas a

distúrbios metabólicos que exercem uma importante influência, sobretudo à vida dos

idosos, tendo em vista o comprometimento causado pelas limitações impostas pelos

seus componentes, que repercutem diretamente na qualidade de vida 25. Entre os

fatores associados à SM destacam-se as doenças osteoarticulares. Todavia, essa

combinação ainda tem sido pouco investigada em idosos, considerando-se que os

estudos trabalham normalmente com amostras heterogêneas quanto à idade.

Um estudo realizado por Kadam e Croft26 em pacientes com OA e idade

acima de 50 anos na Inglaterra, demonstrou que a presença de comorbidades

clínicas, como diabetes e DCV, aumenta a possibilidade de comprometimento da

função física e que a influência da combinação delas é maior do que a influência

esperada para OA ou comorbidades isoladas26. Possíveis explicações para a

relação entre OA e essas comorbidades incluem etiologia e fisiopatologia

compartilhadas ou mesmo o próprio processo biológico do envelhecimento, em que

diferentes eventos ocorrem com maior frequência (degeneração da cartilagem,

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aumento da resistência à insulina, ganho de peso, dislipidemia) e desse modo,

podem aparecer simultaneamente, mesmo que não estejam inter-relacionados29.

A revisão sistemática (Artigo 1) evidenciou a escassez de estudos nesta

temática, na população mais velha. E, embora ela tenha demonstrado que a

prevalência tanto de OA quanto de SM é maior entre os sujeitos mais velhos, são

raros os estudos que investigam esses indivíduos especificamente - nenhuma das

pesquisas foi realizada exclusivamente com idosos e em apenas uma delas a média

de idade foi superior a 65 anos.

Por outro lado, os resultados encontrados nos forneceram informações

bastante relevantes dentro daquilo que se propuseram a investigar. A revisão (Artigo

1) demonstrou que sujeitos com OA apresentam maior IMC, maior CC, maiores

valores de PAS, maiores níveis de LDL, maior nível de tabagismo, menor peso,

menor altura, menor nível de atividade física e menor grau de escolaridade. Esses

achados vão de encontro com a literatura, a qual demonstra que a qualidade de vida

e mobilidade são reduzidas nos sujeitos com OA, além de eles apresentarem um

maior risco cardiovascular do que a população em geral 26.

Já nos sujeitos com SM, a diabetes tipo 2 esteve associada a redução do

espaço articular do joelho 10 e a CC esteve associada a maior prevalência de OA,

entretanto, apenas entre as mulheres 27. Os dados apontam para associações entre

OA e SM, mas não se esclareceu por completo esta relação. Algumas divergências

foram observadas nos resultados encontrados e podem ser decorrentes do fato de

amostras serem bastante distintas e os critérios diagnósticos adotados não terem

sido os mesmos em todos os estudos.

No artigo 2 os resultados mostram que o aumento na CC aumenta

significativamente a probabilidade de OA, independente da idade, sexo e peso. Este

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resultado concorda com o que vem sendo descrito na literatura 10,28-31. Uma

pesquisa realizada com mais de 2.000 sujeitos mostrou que a CC estava associada

ao maior risco de desenvolvimento de OA de joelho, independente de idade e IMC10.

E, também foram encontrados artigos mostrando um aumento da gravidade dos

sintomas da OA 28,29 e um aumento da incidência de OA radiográfica associados a

CC 10,30,31.

Apesar de o presente estudo não ter encontrado associação entre OA de

joelho e SM, outros autores mostraram que a OA aumentaria a probabilidade de SM

em mulheres iranianas32, que a SM aumentaria a probabilidade de OA10,28 e que,

quanto mais componentes acumulados da SM, maior seria a incidência de OA28,31.

Mas, na maioria desses estudos, a correlação não se manteve significativa após o

ajuste para o IMC 10,28,31. E assim como este estudo, uma recente pesquisa japonesa

afirmou não ter encontrado associação entre OA radiográfica e SM (nem com os

fatores individuais nem acumulados) após os ajustes de confusão27; e o estudo

SEKOIA29, que envolveu 18 países por três anos, também não encontrou

associação entre os fatores metabólicos acumulados e progressão radiográfica da

OA.

Nota-se que as pesquisas vêm destacando a associação entre OA e SM,

porém, a causalidade entre eles ainda não está esclarecida e faltam evidências

científicas quanto aos diferentes desfechos da OA e da SM, especialmente na

população idosa. Desta forma, é recomendável o incentivo à prática de ações de

educação em saúde para o autocuidado, a adoção de uma alimentação saudável e

mudanças no estilo de vida para a prevenção dos componentes isolados da SM.

Os pontos fortes desta dissertação são: o fato de não existir na literatura

recente estudos semelhantes com essa população, a utilização dos critérios

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diagnósticos para OA e SM mais utilizados nas pesquisas ao redor do mundo e a

fidelidade à coleta de dados desses critérios. Mesmo com os pontos fortes, algumas

limitações do presente estudo precisam ser apontadas: deve-se ter cuidado em

ampliar os achados para a população em geral, visto que a amostra é composta por

indivíduos residentes em uma única região de um município; não foram

considerados os sintomas clínicos da OA, apenas os achados radiográficos; não

foram considerados os valores de cada componente metabólico - as análises

levaram em consideração apenas se o componente estava adequado ou alterado; e,

o fato de tratar-se de um estudo transversal impede a avaliação de relações diretas

de causalidade entre as variáveis estudadas.

Ressalta-se então a necessidade de estudos longitudinais com critérios

padronizados e sugere-se a realização destes para que busquem avaliar o impacto

específico dos componentes metabólicos na progressão de OA especialmente em

idosos, para que se possa acompanhar além da evolução das doenças, o nível de

funcionalidade e as implicações destas variáveis na saúde e qualidade de vida

nesses sujeitos. Talvez, mais importante do que identificar a causa que leva à

simultaneidade dessas doenças seja definir o quanto elas podem influenciar o

estado de saúde da população idosa.

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6. CONCLUSÃO

Conclui-se que a medida de circunferência de cintura acima dos limites

estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde está associada a maior chance

de osteoartrite de joelho em idosos não institucionalizados. Ressalta-se que os

idosos que apresentavam osteoartrite, além de terem as maiores idades, tinham os

maiores índices de massa corpórea, maiores circunferências de cintura, maiores

valores de pressão arterial e maiores níveis de triglicérides. E assim, sugere-se que

uma melhor compreensão das ações das vias metabólicas envolvidas com a OA

poderia abrir uma nova avenida terapêutica e auxiliar na promoção de saúde e

qualidade de vida desses sujeitos.

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8. ANEXOS

8.1. Anexo 1: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

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8.2. Anexo 2: QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO E VARIÁVEIS

ANTROPOMÉTRICAS

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8.3. Anexo 3: PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA -

FCM/UNICAMP

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