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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS CAROLINA CARVALHO RIBEIRO DO VALLE LUPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO: AGENTES ETIOLÓGICOS, PERFIL DE SUSCEPTIBILIDADE, TRATAMENTO E SEU RESULTADO. CAMPINAS 2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

CAROLINA CARVALHO RIBEIRO DO VALLE

LUPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO:

AGENTES ETIOLÓGICOS, PERFIL DE SUSCEPTIBILIDADE, TRATAMENTO E

SEU RESULTADO.

CAMPINAS

2015

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CAROLINA CARVALHO RIBEIRO DO VALLE

LUPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO E INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO:

AGENTES ETIOLÓGICOS, PERFIL DE SUSCEPTIBILIDADE, TRATAMENTO E

SEU RESULTADO.

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da

Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos

exigidos para a obtenção do título de Mestra em Ciências na

área de concentração em Clínica Médica.

ORIENTADOR: Profa. Dra. Lilian Tereza Lavras Costallat

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA

ALUNA CAROLINA CARVALHO RIBEIRO DO VALLE, E ORIENTADO PELA PROFA. DRA.

LILIAN TEREZA LAVRAS COSTALLAT.

CAMPINAS

2015

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BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MESTRADO

CAROLINA CARVALHO RIBEIRO DO VALLE

ORIENTADOR: Profa. Dra Lilian Tereza Lavras Costallat

MEMBROS:

1. Profa. Dra Lilian Tereza Lavras Costallat

2. Prof. Dr. José Roberto Provenza

3. Profa. Dra. Zoraida Sachetto

Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica da Faculdade de Ciências

Médicas da Universidade Estadual de Campinas.

A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca

examinadora encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

Data: DATA DA DEFESA 15/12/2015

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Agradecimentos:

À Profa. Dra. Lilian Tereza Lavras Costallat, minha admirada orientadora, que

sempre esteve disposta a ajudar, incentivar e ilustrar.

Aos meus queridos pais Maria Helena e Luiz Otavio, que me incentivaram,

respeitaram, proporcionaram acesso ao conhecimento e ajudaram desde o meu

nascimento.

Ao meu querido namorado Miguel, que me incentivou em todos os momentos.

Ao meu irmão, Guilherme, que sempre esteve ao meu lado.

À minhas colegas de trabalho.

À equipe do SAME/HC que foi gentilíssima.

Aos pacientes, que participaram do estudo

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Resumo

Introdução: Lupus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença auto-imune que afeta

múltiplos órgãos, especialmente os rins. Tratamentos imunomoduladores permitiram

que pacientes com LES vivessem mais e melhor, no entanto propiciam aumento no

número de infecções. O trato urinário é uma das mais comuns localizações de

infecção em pacientes com LES.

Objetivos: O objetivo deste estudo foi descrever os uropatógenos, que acometeram

os pacientes com LES. Descrever seus padrões de susceptibilidade, assim como o

tratamento realizado e seu resultado.

Pacientes e Métodos: este foi um estudo restrospectivo, descritivo, que incluiu

pacientes com LES, seguidos no Ambulatório de Reumatologia do Hospital das

Clínicas da Universidade Estadual de Campinas, que apresentaram uroculturas

positivas de 1º de Julho de 2011 a 31 de janeiro de 2014. Os dados foram coletados

através da revisão de prontuários.

Resultados: Ocorreram 136 uroculturas positivas, de 65 pacientes. O patógeno mais

comumente encontrado foi Escherichia coli (54, 39,71%), seguido por Klebsiella

pneumoniae (17, 12,5%) e Enterobacter cloacae (12, 8,82%). Os antimicrobianos

mais comumente usados foram as fluoroquinolonas 41 (46,07%) e carbapenêmicos

in 11 (12,36%). Os resultados de tratamento foram a cura em 134 (98,53%) dos

casos, recaída em 1 (0,74%) e óbito em 1 (0,74%).

Conclusão: E. coli é o uropatógeno mais frequente em pacientes com LES, assim

como observado em outras populações, incluindo mulheres saudáveis. A maioria

dos casos estudados foram curados, a despeito de os pacientes terem doença auto-

imune, e em muitos casos, estarem sob terapia imunossupressora. É importante

conduzir estudos prospectivos para ter um panorama mais preciso dos patógenos e

do seu padrão de susceptibilidade, para guiar a terapia empírica ambulatorial.

Palavras chave: Lupus eritematoso sistêmico, infecção do trato urinário, infecções,

lupus

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ABSTRACT

Introduction: Systemic Lupus Eritematosus (SLE) is an autoimmune disease that

affects multiple organs, especially the kidneys. Immunomodulatory therapy has

allowed SLE patients to live longer and better, nevertheless, they enhance the

susceptibility to infections. The urinary tract is the commonest site of infection in

patients with SLE.

Objectives: To describe the uropathogens that caused Urinary Tract Infection in

patients with SLE. To describe its patterns of susceptibility to antimicrobial agents, as

well as the antimicrobial therapy and its duration.

Patients and Methods: this was a retrospective, descriptive study, which included

patients with the diagnosis of SLE, followed in the Rheumatology Clinic of the Clinics

Hospital of Campinas State University, who had positive urine cultures form July

2011 to January 2014. Data was collected by revising patients´ charts.

Results: Sixty-five patients had 136 positive urine cultures. The commonest pathogen

found was Escherichia coli (54, 39.71%), followed by Klebsiella pneumoniae (17,

12.5%) and Enterobacter cloacae (12, 8.82%). The commonest antimicrobial therapy

chosen were the fluoroquinolones 41 (46.07%) and carbapenems in 11 (12.36%).

The treatment results were cure in 134 (98.53%) of cases, relapse in 1 (0.74%) and

death in 1 (0.74%).

Conclusion: E. coli is the commonest uropathogen in patients with SLE, as it is

observed in other populations, including healthy women. The majority of the studied

cases were cured, in spite of the patients being immunosupressed by the disease

and, in many cases, by immunomodulatory therapy. It is important to conduct

prospective studies to get a more accurate view both of the uropathogens and their

antimicrobial susceptibility to guide empiric outpatient therapy.

Key words: Systemic Lupus Eritematosus, Urinary tract infection, infections, Lupus.

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Glossário

AVC Acidente Vascular Cerebral

FAN Fator anti-núcleo

HAS Hipertensão Arterial Sistêmica

IC Infecção comunitária

IRAS Infecção relacionada à assistência à saúde

ITU Infecção do Trato Urinário

LES Lupus Eritematoso Sistêmico

SLEDAI Systemic Lupus Erythematosus Disease Activity Index

SLICC Índice de dano causado pelo Lupus

UFC Unidades formadoras de colônia

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SUMÁRIO

1. Introdução e justificativa .........................................................................10

2. Objetivos ................................................................................................15

3. Pacientes e métodos ..............................................................................16

4. Análise estatística ..................................................................................21

5. Aspectos éticos ......................................................................................22

6. Resultados .............................................................................................23

7. Discussão ...............................................................................................32

8. Conclusões ............................................................................................35

9. Referências bibliográficas ......................................................................36

10. Anexo .....................................................................................................39

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1. Introdução e justificativa

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença inflamatória auto-imune

crônica multissistêmica que pode lesar virtualmente qualquer órgão, como pele,

articulações, rins, serosas, elementos sanguíneos, sendo mais incidente em

mulheres na idade fértil. Quanto à raça, é mais grave na mulher negra nos EUA1,

porém no Brasil não existem estudos populacionais que demonstrem predominância

de qualquer grupo étnico.

A etiopatologia desta doença não é totalmente esclarecida, estando fatores

genéticos, hormonais (como o estrógeno), ambientais (irradiação solar, drogas,

virais) e imunológicos certamente envolvidos2,3,4. Quanto às causas infecciosas,

estão, provavelmente, envolvidos os seguintes vírus: Epstein-Barr vírus (EBV),

Parvovirus B19, retrovirus e Citomegalovirus (CMV)5,6,7.

A resposta imunológica anormal observada revela uma alteração dos linfócitos

B, que produzem efetivamente os anticorpos, ou dos linfócitos T, que regulam essa

produção. Com o aumento de anticorpos, há maior concentração de

imunocomplexos circulantes e, portanto, a sua deposição, que atrai mediadores

inflamatórios, levando a lesão de tecidos. Essa alteração imunológica acredita-se,

resulta da combinação de uma série de fatores, mas a verdadeira etiologia

permanece ainda incerta2.

Os sintomas gerais mais comuns são emagrecimento, anemia, artralgia e/ou

artrite, sendo o envolvimento do sistema osteoarticular a mais frequente

manifestação clínica. O quadro articular é em geral poliartrite, podendo assemelhar-

se à Artrite Reumatóide (AR), entretanto, no LES não ocorrem lesões erosivas,

preservando-se a função articular. Pode ocorrer, também, com menor frequência,

necrose asséptica, principalmente, do quadril, em função de vasculite e/ou da

corticoterapia.

Observam-se alterações dermatológicas, como fotossensibilidade, rash malar

(especialmente a "asa de borboleta"), lesão discóide, bem como alopecia difusa

temporária e ulcerações e vasculite da mucosa oral.

Quanto ao aparelho cardiovascular, pode ocorrer pericardite, miocardite, lesões

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endocárdicas assintomáticas (endocardite de Libman-Sachs) e o envolvimento das

válvulas cardíacas associado à síndrome do anticorpo antifosfolípide8.

Embora acometimento pulmonar parenquimatoso grave seja incomum,

complicações do Lupus incluem pneumonite lúpica aguda, disfunção diafragmática e

síndrome do pulmão encolhido, hipertensão pulmonar, vasculite pulmonar, embolia

pulmonar, hemorragia alveolar, pneumonite crônica intersticial, bronquiolite

obliterante, além de infecções oportunistas e toxicidade dos imunossupressores. A

manifestação torácica mais comum é a pleurite. Derrames pleurais geralmente são

bilaterais, mas podem ser unilaterais, igualmente distribuídos entre os dois

hemitóraces. São, invariavelmente exsudativos9.

O envolvimento renal (nefrite) é a mais importante manifestação visceral e

uma das maiores causas de morte, juntamente com infecções. A Organização

Mundial de Saúde (OMS) divide histologicamente a glomerulonefrite lúpica em 6

classes, sendo as mais importantes as classes III (glomerulonefrite proliferativa

focal) e IV (glomerulonefrite proliferativa difusa) pelos seus prognósticos mais

graves. Em pacientes com comprometimento renal importante, pode-se observar

aumento da pressão arterial e perda de função renal. Pode ocorrer também

glomerulonefrite progressiva ou insuficiência renal no início da doença, embora

infrequentemente associados a outros sintomas do LES2.

Quanto às manifestações neuropsiquiátricas, elas podem ser primárias ou

secundárias a situações clínicas diversas como uremia, diabetes, infecção, drogas.

Crises convulsivas, acidentes vasculares, e quadros orgânicos, como perda da

memória, desorientação têmporo-espacial, irritabilidade, depressão, alteração de

comportamento, psicoses podem ocorrer nestes pacientes2.

As alterações hematológicas do LES são anemia normocrômica (eritropoiese

retardada ou falta de ferro) ou ainda anemia hemolítica, leucopenia (embora possa

ocorrer leucocitose em pacientes usuários de corticosteróides) e plaquetopenia2.

Diagnóstico

O diagnóstico do LES pode ser feito através de exames inespecíficos como

hemograma buscando a presença de anemia hemolítica, leucopenia ou

trombocitopenia; sedimento urinário alterado pela presença de proteinúria,

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hematúria e cilindrúria. Os exames específicos como o fator anti-núcleo (FAN),

positivo em 95-98% dos casos; autoanticorpos como o anti-DNA, anti-Sm e anti-

cardiolipina também são importantes para o diagnóstico. Os critérios classificatórios

do LES foram listados pelo Colégio Americano de Reumatologia (ACR), propostos

por Tan et al, 198210 e modificados por Hochberg11, visando a melhor uniformização

do diagnóstico e compõe a tabela do Anexo 1. A presença de quatro ou mais destes

critérios, afastadas outras causas, configura o diagnóstico de LES (ANEXO 1).

Recentemente, foram criados novos critérios para LES, que também podem ser

utilizados, por Petri et al12.

Tratamento:

A terapia do LES baseia-se no uso de antimaláricos, corticosteróides e

imunossupressores. Os antimaláricos são usados quase em todos os casos,

especialmente em manifestações cutâneas (hidroxicloroquina, difosfato de

cloroquina), devendo haver controle oftalmológico pelo risco de retinopatia. Os

corticosteróides são utilizados quando existe comprometimento visceral, tendo efeito

imunossupressor, com efeitos colaterais ao longo prazo como diabetes, osteoporose,

hipertensão arterial, infecção, incluindo infecções graves e sistêmicas, como as

doenças fúngicas invasivas. Os imunossupressores são usados quando não há

resposta adequada a corticoterapia (azatioprina, ciclofosfamida) ou nos casos de

envolvimento visceral grave, como na nefropatia. Tanto o seu tratamento quanto o

próprio curso da doença fragilizam o sistema imune e propiciam o surgimento de

doenças infecciosas, sejam elas bacterianas, micobacterianas, virais, fúngicas ou

parasitárias. Com o advento dos imunossupressores, o paciente com LES tem uma

maior sobrevida, chegando a 90% após 10 anos do diagnóstico. Entretanto, com

maior sobrevida e maior tempo de exposição ao tratamento e à doença, os pacientes

têm apresentado maiores morbidade e mortalidade relacionadas à infecção13.

Infecção no LES

As infecções são importante causa de morbi-mortalidade no LES. Predominam

as infecções bacterianas, todavia, ocorrem infecções virais, por protozoários,

micobacterianas e fúngicas, com variada gravidade. As infecções mais comuns são

preponderantes, mas frequentemente ocorrem infecções oportunistas14.

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Há diversos estudos que mostram como as infecções pioram o prognóstico e

levam à morte do paciente com LES15,16,17,18. Os preditores encontrados foram

envolvimento renal, uso de corticosteróides em dose superior a 0,5mg/kg/d de

prednisona, uso de ciclofosfamida, hipocomplementenemia.18

Infecções do trato urinário, cistite e pielonefrite, são afecções comuns e com

variada gravidade, desde cura com antibioticoterapia oral até urosepse e óbito. Em

estudo publicado em 2002, Gladman et al16. encontraram infecções genitourinárias

como terceiro sítio mais comum de infecções em pacientes lúpicos e como

patógenos mais comuns, bactérias em geral. Em outro estudo, publicado em 2006

por Bosch et al.17, o sítio de infecção mais comum foi o trato urinário e o patógeno

mais encontrado foi Escherichia coli.

Em um estudo prospectivo, realizado por Mohamed et al19. no Egito, 200

pacientes foram seguidos prospectivamente, por 1 ano, com visitas mensais. Destes

pacientes, 55% apresentaram, pelo menos, um episódio de infecção. A ITU foi a

infecção bacteriana mais comum, em 46,4% dos casos. O agente mais comumente

encontrado foi Escherichia coli 14,2%.

Em um estudo retrospectivo conduzido por Zhou et al20, foram revisados 1949

internações de pacientes com LES, entre Janeiro de 2002 e Maio de 2007, 487

apresentaram febre. Dentre os pacientes febris, a causa da febre foi infecciosa em

265 casos e infecção acompanhada de atividade do LES em 8 casos. O sítio de

infecção mais frequente, foi o trato respiratório, com 62,6% dos casos e a ITU foi o

segundo mais comum, com 8,6% dos casos.

Estudo realizado em Portugal, feito por Martins e colaboradores em 201021,

mostrou que Escherichia coli é o patógeno responsável por 73,3% das ITU em geral

e, em mulheres, 77,6%: em segundo lugar, ficou Proteus mirabilis, com 7,6% do total

e 6,8% das mulheres. No Sudão, Hamdam e colaboradores22, em 2011, estudando

gestantes, encontraram, predominantemente, Escherichia coli com 42,4% dos casos

e Staphylococcus aureus ficou em segundo lugar, com 39,3% dos casos.

Foi conduzido, na cidade de São Paulo um estudo retrospectivo, por Miranda

et al23, que analisaram os resultados de uroculturas coletadas em um grande

hospital universitário. Escherichia coli foi a bactéria mais comumente encontrada, em

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70,2% dos casos e menos de 20% de resistência a sulfametoxazol-trimetoprima,

norfloxacina, nitrofurantoina, cefazolina e ácido nalidíxico.

Ribeiro-do-Valle et al24, em uma análise retrospectiva das uroculturas

coletadas no Pronto Atendimento do Hospital da Mulher da Unicamp, encontraram E.

coli como o patógeno mais comum, sendo 53% nas gestantes e 64% nas não

gestantes. Com relação ao padrão de susceptibilidade, nas gestantes houve mais de

80% de susceptibilidade a amicacina, gentamicina, ciprofloxaxcina e nitrofurantoína.

Nas não gestantes, mais de 80% de susceptibilidade a amicacina gentamicina e

nitrofurantoína. Cefazolina e quinolonas tiveram 79% de susceptibilidade.

Com base nestes fatos, julgamos pertinente e necessário estudar quais

patógenos, em que proporção, com qual perfil de susceptibilidade acometem o

grupo de pacientes com diagnóstico de LES seguidos no Ambulatório de

Reumatologia do Hospital de Clinicas da Universidade Estadual de Campinas,

tratando-se de um hospital universitário, com nível de complexidade terciária-

quaternária.

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Objetivos:

1.Descrever quais foram os agentes etiológicos, sua prevalência e seu perfil de

susceptibilidade, de infecção do trato urinário (ITU) nos pacientes com LES

acompanhados no Ambulatório de Reumatologia da Universidade Estadual de

Campinas.

2.Descrever os tratamentos antimicrobianos usados, o tempo de tratamento e o

resultado dos tratamentos

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Pacientes e métodos

Foram analisados os dados referentes a pacientes com Lúpus Eritematoso

Sistêmico (LES), que preenchiam os critérios classificatórios do Colégio Americano

de Reumatologia-198210,11 acompanhados no Ambulatório de Reumatologia do

HC/Unicamp. Os dados clínicos e laboratoriais de todos os pacientes encontram-se

em um banco de dados no programa EPINFO.

O estudo é retrospectivo, através da análise dos dados demográficos, clínicos

e laboratoriais, provenientes de um banco de dados de 940 pacientes com LES,

reunidos no programa EPINFO. Para análise detalhada do quadro infeccioso foi

realizada a revisão dos prontuários.

Através de banco de resultados de Uroculturas coletadas de pacientes

inclusos no banco de Lupus, em cujos pedidos constavam: especialidade

Reumatologia, hipótese diagnóstica LES, Lupus.

Foram revisados os prontuários de todos os pacientes com resultados de

uroculturas positivas, com o auxílio de ficha de coleta de dados estruturada Anexo I.

Os dados foram compilados em bancos de dados em Microsoft Excel.

Os pacientes com Lúpus eritematoso sistêmico estudados preencheram pelo

menos 4 critérios diagnósticos propostos por Tan et al, 198210 e modificados por

Hochberg, 199711. Estes pacientes são acompanhados no Ambulatório de

Reumatologia – Lupus Eritematoso Sistêmico - do HC/Unicamp.

Todas as informações pertinentes fazem parte de um protocolo estabelecido

para este fim desde o final da década de 80, quais sejam: (anexo I)

Dados demográficos, ou seja, sexo, raça, idade de início, idade atual, tempo

de doença (meses), tempo de diagnóstico (meses), tempo de seguimento, presença

de diversos sintomas gerais, manifestações articulares, muco-cutâneas, renais, com

indicativo de biópsia renal, quando houver, serosite, manifestações

neuropsiquiátricas, AVC, cefaleia, alterações hematológicas, distúrbios do trato

gastrointestinal, hepatopatia, presença de Síndrome de Sjögren, envolvimento do

sistema reticulo endotelial, alterações oculares, fenômenos tromboembólicos,

miopatia, número de gestações, partos e abortos, em pacientes femininas, outras

manifestações clínicas não contidas neste e qual delas, doença autoimune

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associada e qual, doença autoimune associada na família e qual tipo, FAN , padrão

e título, células LE, anti-DNA, anti-Sm, Anti-Ro, Anti-La, fator reumatóide,

antifosfolípide, uso de corticosteróides, antimaláricos, azatioprina, pulso de

corticosteróides, ciclofosfamida, pulso de ciclofosfamida, micofenolato de mofetil ou

sódico, rituximabe, efeitos colaterais, infecções, óbito, necropsia.

Todas estas informações foram anotadas se ocorrerem, no início do quadro,

ou seja, até 6 meses do início dos sintomas (i) ou durante a evolução (ev). Estas

variáveis clínicas, laboratoriais e a terapêutica empregada foram analisadas através

da revisão dos prontuários dos pacientes obedecendo aos seguintes critérios:

Sintomas gerais como emagrecimento (> 4 kg); febre (≥37,8o C); adinamia, na

ausência de outro quadro que justifique ; artrite (não erosiva em duas ou mais

articulações periféricas, vista por médico); ou artralgia; necrose asséptica

(documentada por radiografia simples, cintilografia ou ressonância nuclear

magnética); deformidades articulares (síndrome de Jaccoud) ( redutíveis, vistas por

médico); eritema malar (eritema fixo sobre as eminências malares e/ou pregas naso-

labiais); lesões discóides (placas eritematosas com descamação, podendo ocorrer

atrofia nas lesões antigas); alopécia; fotossensibilidade (“rash” cutâneo resultado da

exposição à luz solar, relatado na história clínica ou observada por médico); outras

manifestações cutâneas como paniculite lúpica, lupus cutâneo sub agudo, lupus

bolhoso; úlcera oral e/ou nasal (ulceração oral e/ou em nasofaringe, geralmente

dolorosa, observadas por médico); nefrite (definida pela presença de proteinúria

maior que 0,5 g/l em 24 horas, aumento progressivo de creatinina sérica , sedimento

urinário ou ainda alterações histopatológicas quando compatíveis com nefrite lúpica,

segundo critérios da Organização Mundial de Saúde); hipertensão arterial (HAS):

pressão sistólica maior que 140 mmHg e/ou pressão diastólica maior que 110

mmHg; biópsia renal , com descrição; síndrome nefrótica (proteinúria maior que 3 g/l

em 24 horas); serosite (presença de pleurite, pericardite ou ambas documentada no

exame clínico e por imagem); outras manifestações pulmonares como hipertensão

pulmonar, fibrose, pneumonite e hemorragia pulmonar; outras manifestações

cardíacas como miocardite, endocardite própria do LES e infarto do miocárdio;

envolvimento neurológico e psiquiátrico como convulsão e psicose, na ausência de

infecções ,distúrbios metabólicos e corticoterapia; psicose por esteróides; neuropatia

periférica; neuropatia craniana; mielite transversa, acidente vascular cerebral,

cefaléia ;outras manifestações neuropsiquiátricas; miopatia (revelada por fraqueza

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muscular, alterações enzimáticas, alterações da biópsia muscular e /ou da

eletromiografia); alterações hematológicas: anemia hemolítica (Coombs direto

positivo), leucopenia < 4000 cels /mL, linfopenia < 1500 cels/mL em duas ou mais

ocasiões, plaquetopenia < 100.000 cels/mL na ausência de drogas supressoras da

medula óssea. Foram considerados, também, o envolvimento intestinal, hepático, e

do sistema retículo-endotelial, presença de tromboembolismo periférico e pulmonar,

presença da Síndrome de Sjögren, diagnosticada por critérios estabelecidos;

alterações oculares e a presença do fenômeno de Raynaud visto por médico. Todos

os exames laboratoriais e auto-anticorpos foram realizados seguindo técnicas de

rotina utilizadas no Laboratório de Patologia Clínica e no Laboratório de Investigação

em Alergia e Imunologia. As alterações hematológicas quando induzidas por drogas

ou infeções foram excluídas. Foram considerados: fator anti-núcleo (FAN) (por

imunofluorescência indireta, positivo em títulos maiores que 1:40 ou HEP 2);

anticorpo anti-DNA (por imunofluorescência indireta com Crithidia luciliae como

substrato); anticorpo anti Sm (por imunodifusão dupla); Anticorpo anti cardiolipina

(por método imunoenzimático); anticoagulante lúpico (por TTPA e Russel).

Foram calculados os índices de dano causado pelo Lupus (SLICC) no

momento do diagnóstico de cada episódio de ITU e também índice de atividade de

LES – SLEDAI no momento de cada episódio de ITU.

Foram incluídos 65 pacientes, que apresentaram 136 uroculturas positivas

no período do estudo.

Cálculo do SLEDAI25:

Considerando atividade de doença quando ≥4; foram avaliadas as presenças

nos últimos dez dias de: febre ( T⁰ C≥37,8), artrite ou artralgia, fraqueza ( se

presente, enzimas musculares), eritema malar ou outras alterações na pele,

alopécia, úlceras orais, pleurisia, pericardite, convulsão, psicose, alteração da função

mental, alterações oculares, cefaleia, AVC, vasculite, consumo de complemento,

palquetopenia (<100.000/mm3), leucopenia (<4.000/mm3), linfopenia (<1.500/mm3) e

presença de anticorpo anti-DNA em títulos anormais. Alterações de sedimento

urinário decorrente do LES pressupõem urocultura negativa, portanto não se aplicam

a este estudo.

Cálculo do SLICC26: sendo dada uma nota para cada dano; quanto maior a nota,

maior o dano; foram avaliadas:

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19

1. Sequelas oculares (catarata, alteração na retina ou atrofia óptica)

2. Alterações neuropsiquiátricas (déficit cognitivo ou psicose major), convulsões

requerendo terapia por mais que 3 meses, AVC (em qualquer momento da doença),

neuropatia periférica ou de pares cranianos, à exceção do nervo óptico, mielite

transversa

3. Alterações renais: taxa de filtração glomerular proteinúria nefrótica mantida ou

doença renal terminal.

4. Alterações pulmonares: Hipertensão pulmonar, fibrose, aprisionamento pulmonar,

fibrose pleural e infarto pulmonar

5.Alterações cardiovasculares: angina ou bypass arterial, infarto agudo do miocárdio,

cardiomiopatia com disfunção ventricular, doença valvar, pericardite, por no mínimo

6 meses, ou pericardiotomia

6. Alterações vasculares periféricas: claudicação por 6 meses, perda tecidual por

amputação, trombose ou estase venosa

7. Alterações gastrointestinais: infarto ou ressecção de parte do intestino, vesícula

biliar, baço ou fígado. Insuficiência mesentérica, peritonite crônica cirurgia alta

prévia.

8. Alterações músculo-esqueléticas: atrofia muscular ou fraqueza, artrite deformante

ou erosiva, osteoporose com fratura ou colapso vertebral, necrose avascular,

osteomielite.

9. Alterações em pele: presença de cicatrizes ou panniculum em outros locais além

do couro cabeludo e das polpas digitais, úlcera por mais de 6 meses.

10. Alterações glandulares: falência gonadal prematura, diabetes melitus.

11. Presença de malignidade

Uroculturas

As uroculturas dos pacientes com diagnóstico de LES são coletadas no

serviço de coleta do Laboratório de Patologia Clínica da UNICAMP, no Pronto

Socorro do Hospital das Clínicas da UNICAMP, ou na Enfermaria de Reumatologia

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20

do Hospital das clínicas da UNICAMP. São processadas no Setor de Microbiologia

do Laboratório de Patologia Clínica da Hospital das Clínicas da UNICAMP.

São coletadas em frascos estéreis de boca larga, preferencialmente antes do

início da antibioticoterapia e com estase vesical de 4 horas. Os pacientes são

orientados quanto à coleta do jato médio, após higiene genital. O frasco é

identificado e enviado ao laboratório27.

A semeadura da urina é feita tanto de maneira quantitativa, com alça de

platina, quanto semi-quantitativa, em lâmino-cultivo. O lâmino-cultivo contém os

meios CLED, citrato e um meio seletivo para bacilos Gram negativos, que permita o

teste do indol. Através do método quantitativo, a urina é semeada em placas de

CLED e Chromagar®. Depois da semeadura, são incubadas em estufas a 35°C±2°C

por 18-24 horas. São consideradas culturas com contagem de unidades formadoras

de colônia (UFC) maior que 105. A bactéria isolada é, então identificada e o

antibiograma é realizado, com uso do método automatizado, Vitek 2®, BioMerieux.

Definições:

1. Infecção do trato urinário simples – cistite: urocultura com contagem de unidades

formadoras de colônia (UFC) maiores que 105, e com urinálise concomitante com

leucocitúria, com ou sem urgência miccional e disúria. Obrigatoriamente sem dor em

flanco e febre.

2.ITU complicada – pielonefrite: urocultura com contagem de unidades formadoras

de colônia (UFC) maiores que 105, e com urinálise concomitante com leucocitúria,

com ou sem urgência miccional e disúria. Obrigatoriamente com dor em flanco e/ou

febre, e/ou métodos de imagem sugestivos de pielonefrite.

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21

Análise Estatística

Foi realizada análise exploratória de dados através de medidas resumo:

frequência, porcentagem, média, desvio padrão, mínimo e máximo. Foi utilizado o

SAS System for Windows (Statistical Analysis System®), versão 9.4, SAS Institue

Inc, Cary, NC, USA

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22

Aspectos éticos:

Por não haver nenhum tipo de exposição dos pacientes incluídos, nem

alteração do tratamento ou dos procedimentos diagnósticos propostos, solicitamos e

obtivemos dispensa do Termo de consentimento livre e esclarecido.

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23

Resultados

Foram encontrados 65 pacientes que contavam da lista de acompanhamento

de LES, com critérios do ACR e que apresentaram pelo menos uma urocultura

positiva no período do estudo. Foram encontradas 136 uroculturas positivas.

Dentre os pacientes com uroculturas positivas, 59 eram mulheres e 6 eram

homens, sendo a relação entre sexo feminino e masculino 9,83. A média de idade ao

diagnóstico do LES foi 28.92 anos, variando entre 12 e 62 anos. A média de idade

no diagnóstico de ITU foi 38,4 anos, variando entre 16 e 65 anos, como mostra a

tabela 1.

Tabela 1: idade dos pacientes ao diagnóstico de LES e de ITU

Variáveis Média±DP Mediana (Min–Max)

Idade ao diagnóstico de Lupus (anos) 28.92±10.24 28(12-62)

Idade ao diagnóstico de ITU (anos) 38.4±12.37 38(16-65)

A prevalência de positividade dos critérios diagnósticos do ACR é detalhada

na tabela 2.

Tabela 2: frequência dos critérios diagnósticos de LES

Critério N (%)

FAN 63 (96,92)

Artrite 50 (76,92)

Nefrite 41 (63,08)

Fotossensibilidade 38 (58,46)

Rash malar 36 (55,38)

Anti-dna 35 (53,85)

Linfopenia 24 (36,92)

Serosite 21 (32,31)

Trombocitopenia 16 (24,62)

Úlcera oral 12 (18,46)

Alteração neuropsiquiátrica 12 (18,46)

Anemia hemolítica 10 (15,38)

Rash discoide 3 (4,62)

O tratamento farmacológico para o LES usado no momento do diagnóstico da

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24

ITU é detalhado na tabela 3, sendo o mais comum o uso de Prednisona (n=113,

83,09%), seguido por Hidroxicloroquina (n=41, 30,15%) e Azatioprina (n=38,

27,94%).

Tabela 3: LES: tratamento imunomodulador

Prednisona em qualquer dose 113 (83.09%)

Prednisona < 20mg 73 (53.68%)

Prednisona 20-70mg 37 (27.21%)

Prednisona >70mg 3 (2.21%)

Hidroxicloroquina 41 (30.15%)

Difosfato de cloroquina 13 (9.56%)

Azatioprina 38 (27.94%)

Metilprednisolona 14 (10.24%)

Ciclofosfamida 10 (7.35%)

Micofenolato 16 (11.76%)

Metotrexate 1 (0.74%)

Rituximab 0 (0%)

As condições associadas mais comuns foram Hipertensão arterial 21

(32,31%), ITU de repetição 15 (23.08%) e Nefrolitíase 11 (16.92%), como mostra a

tabela 4. Havia 10 pacientes recebendo antibioticoprfofilaxia para ITU de repetição.

Tabela 4: frequência das comorbidades em 65 pacientes com LES

Comorbidade N (%)

Hipertensão arterial 21 (32.31%)

Itu de repetição 15 (23.08%)

Nefrolitíase 11 (16.92%)

Diabetes mellitus 8 (12.31%)

Bexiga neurogênica 4 (6.15%)

Vinte e seis pacientes (19,2%) apresentaram SLEDAI≥4 no momento do

diagnóstico da urocultura positiva. Na ausência de atividade da doença, (SLEDAI<4)

foram observados 2 (1,82%) casos de candidúria assintomática, 72 (65,45%) casos

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25

de bacteriuria assintomática, 30 (27,27%) casos de cistite e 6 (5,45%) casos de

pielonefrite. Na presença de atividade (SLEDAI≥4), foram observados 5 (19,23%)

casos de candidúria assintomática, 14 (53,85%) casos de bacteriuria assintomática,

5 (19,23%) casos de cistite e 2 (7,69%) casos of pielonefrite, como mostra a tabela

5.

Tabela 5. LES: sintomas de ITU em 65 pacientes

Febre 11 (8,21%)

Disuria 15 (11,19%)

Urgência urinária 3 (2,24%)

Incontinência urinária 1 (0,75%)

Polaciúria 1 (0,75%)

Mau odor 2 (1,49%)

Dor lombar 4 (2,99%)

Oliguria 1 (0,75%)

Sepse 2 (1,49%)

Sepse grave 2 (1,49%)

Choque séptico 2 (1,49%)

Quando estratificados por SLICC quando o SLICC score era 0, foram

observados 31 (67.39%) casos de bacteriuria assintomática e 15 (32.61%) casos de

cistite. Quando o SLICC era 1, foram observados 1 (3.13%) caso de candidúria

assintomática, 14 (53,85%) casos de bacteriuria assintomática, 8 (25%) casos de

cistite e 2 (7,69%) casos de pielonefrite. Quando o SLICC era 2, foram observados

17(73.91%) casos de bacteriuria assintomática, 5 (21.74%) casos de cistite e 1

(4.35%) caso de pielonefrite. Quando o SLICC era 3, foram observados 6 (33.33%)

casos de candidúria assintomática, 7 (38.89%) casos de bacteriuria assintomática e

5 (27.78%) casos de cistite. Quando o SLICC era 4, foram observados 7 (58.33%)

casos de bacteriuria assintomática, 1 (8.33%) caso de cistite and 4 (33.33%) casos

de pielonefrite. Quando o SLICC era 5 foram observados 3 (60%) casos de

bacteriuria assintomática, 1 (20%) caso de cistite e 1 (20%) caso de pielonefrite,

como mostram as tabelas 6 e 7.

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26

Tabela 6. SLEDAI e SLICC em 65 pacientes com LES

SLEDAI >4 26 (19,12%)

SLICC Casos Urocultura positiva n (%)

0 46 (3,82%)

1 32 (23,53%)

2 23 (16,91%)

3 18 (13,24%

4 12 (8,82%)

5 5 (3,68%)

SLICC: índice de dano causado pelo Lupus no momento do diagnóstico de cada episódio de ITU

SLEDAI: índice de atividade de LES

Tabela 7: Classificação da ITU, por SLICC

Dentre as 136 uroculturas positivas, independentemente da classificação em:

bacteriúria ou candidúria assintomática, cistite ou pielonefrite, o agente mais

comumente encontrado foi a Escherichia coli (54, 39,71%), seguida por Klebsiella

pneumoniae (17, 1,5%) e Enterobacter cloacae (12, 8,82%), como mostra a tabela 8.

Para ser considerada ITU, o paciente deveria ser descrito como sintomático no

prontuário. A classificação final foi: Bacteriúria assintomática 86 (63,24%), candidúria

assintomática: 7 (5,5%), Cistite: 35 (25,74%), Pielonefrite em 8 (5,88%).

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27

Tabela 8. LES: Frequência de uropatógenos encontrados

As frequências de patógenos encontrados em Infecções Relacionadas à

Assistência à Saúde (IRAS) e de Infecções Adquiridas na Comunidade (IC), são

detalhadas nas tabelas 9 e 10. No grupo das IC, o agente mais frequentemente

isolado E. coli (n=41, 49,4%), seguido por Enterobacter cloacae (n=9,10,8%) e K.

pneumoniae (n=6, 7,2%). Dentre os Enterobacter cloacae, 6 eram produtores de

ESBL (Extended Spectrum Beta-lactamase). No grupo das IRAS, o microrganismo

mais comum foi C. albicans (n=5, 27,78%) e K. pneumoniae (n=5, 27,78%). E. coli

foi encontrada em 3 (16.67%) IRAS. Dentre as K. pneumoniae, houve 3 isolados

produtores de KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase) e 1 de ESBL.

Patógeno Frequencia (%)

Acinetobacter baumanii 2 (1,47%)

Candida albicans 7 (5,15%)

Candida glabrata 3 (2,21%)

Citrobacter koseri 4 (2,94%)

Citrobacter sp 1 (0,74%)

Enterobacter cloacae 12 (8,82%)

Enterococcus faecalis 6 (4,41%)

Enterococcus faecium 2 (1,48%)

Escherichia coli 54 (39,71%)

Klebsiella oxytoca 1 (0,74%)

Klebsiella pneumoniae 17 (12,50%)

Morganella morgannii 2 (1,47%)

Pantoea aerogenes 1 (0,74%)

Proteus mirabilis 6 (4,41%)

Proteus vulgaris 2 (1,47%)

Pseudomonas aeruginosa 1 (0,74%)

Serratia marcescens 2 (1,47%)

Staphylococcus aureus 5 (3,68%)

Staphylococcus saprophyticus 1 (0,74%)

Staphylococcus sp (coagulase neg.) 4 (2,94%)

Streptococcus agalactiae 2 (1,47%)

Streptococcus sp (viridans) 1 (0,74%)

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28

Tabela 9. LES: Uropatógenos encontrados em IRAS

Patógenos n=18(%)

Acinetobacter baumanii 1 (5,56)

Candida albicans 5 (27,78)

Candida glabrata 2 (11,11)

Enterococcus faecalis 1 (5,56)

Escherichia coli 3 (16,67)

Klebsiella oxytoca 1 (5,56)

Klebsiella pneumoniae 5 (27,78)

IRAS: Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde

Tabela 10. LES: Uropatógenos encontrados em IC

Patógenos n=83 %

Candida albicans 1 1,2%

Citrobacter koseri 4 4,8%

Citrobacter sp 1 1,2%

Enterobacter cloacae 9 10,8%

Enterococcus faecalis 4 4,8%

Enterococcus faecium 1 1,2%

Escherichia coli 41 49,4%

Klebsiella pneumoniae 6 7,2%

Morganella morgannii 1 1,2%

Pantoea aerogenes 1 1,2%

Proteus mirabilis 5 6,0%

Proteus vulgaris 1 1,2%

Pseudomonas aeruginosa 1 1,2%

Staphylococcus aureus 4 4,8%

Staphylococcus saprophyticus 1 1,2%

Streptococcus agalactiae (grupo B) 1 1,2%

Streptococcus sp (grupo viridans) 1 1,2%

IC: Infecções adquiridas na comunidade

O resultado de tratamento foi cura em 134 casos (98.53%),

independentemente de uso de antimicrobianos, recorrência em 1 caso (0,74%) e

óbito em um caso (0,74%) de IRAS, em que a paciente estava recebendo pulso com

Metilprednisolona 1g por dia, por 3 dias e apresentou pielonefrite por Klebsiella

pneumoniae produtora de KPC. Neste caso, a terapia empírica não era adequada

para a bactéria causadora, o que retardou o início do tratamento efetivo.

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29

A Tabela 11 mostra a escolha de antimicrobiano usado no tratamento. A

classe de antimicrobiano mais utilizada foi a das fluoroquinolonas. O tempo de

tratamento variou entre 1 e 14 dias, com mediana de 7 dias e desvio padrão ±2,85

dias.

Tabela 11. LES: Escolha de antibioticoterapia

Antibioticoterapia N (%)

Quinolona 41 (46.07%)

Carbapenêmicos 11 (12.36%)

Cefalosporina de 1a geração 9 (10,11%)

Nitrofurantoina 4 (4.49%)

Amoxicilina/clavulanato 3 (3.37%)

Polimixina 3 (3.37%)

Ceftriaxona 3 (3.37%)

Fluconazol 3 (3.37%)

Sulfametoxazol trimetoprima 2 (2.25%)

Caspofungina 1 (1.12%)

Cefepima 1 (1.12%)

Colistina e amicacina 1 (1.12%)

Fosfomicina 1 (1.12%)

Vancomicina 1 (1.12%)

O Gráfico 1 mostra o susceptbilidade das Enterobacteriaceae aos

antimicrobianos nas IRAS, nas IC e em todos os isolados. Entre as IRAS, foram

encontradas 3 Klebsiella pneumoniae produtoras de KPC, 1 K. Pneumoniae

produtora de ESBL e E. Coli produtora de ESBL. Uma K. pneumoniae produtora de

KPC e a E. coli produtora de ESBL eram susceptíveis a sulfametoxazol-trimetoprima,

apresentando tratamento alternativo menos tóxico e com disponibilidade para a via

oral. Uma das IRAS, bacteriúria assintomática, foi causada por Enterococcus

faecium resistente a Vancomicina e foi tratada com sucesso com a troca da sonda

vesical de demora. A susceptibilidade total das Enterobacteriaceae a amicacina foi

99%, a amoxicilina/clavulanato 61,7%, a ampicilina 36,7%, a cefazolina 61,5%, a

cefepima 86%, a ceftriaxona 78,6%, a ciprofloxacina 70%, a ertapenem 95,9%, to

gentamicina 91,8%, a nitrofurantoína 46,8%, a piperacilina/tazobactama 81,8% e a

sulfametoxazol-trimetoprima 55,9%.

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30

As frequências de patógenos encontrados em IRAS e de IC, são detalhadas

nas tabelas 8 e 9. No grupo das IC, o agente mais frequentemente isolado E. coli

(n=41, 49,4%), seguido por Enterobacter cloacae (n=9,10,8%) e K. pneumoniae

(n=6, 7,2%). Dentre os Enterobacter cloacae, 6 eram produtores de ESBL (Extended

Spectrum Beta-lactamase). No grupo das IRAS, o microrganismo mais comum foi C.

albicans (n=5, 27,78%) e K. pneumoniae (n=5, 27,78%). E. coli foi encontrada em 3

(16.67%) IRAS. Dentre as K. pneumoniae, houve 3 isolados produtores de KPC

(Klebsiella pneumoniae carbapenemase) e 1 de ESBL. A susceptibilidade das

Enterobacteriaceae aos antimicrobianos está demonstrada no gráfico 1.

Gráfico 1. Susceptibilidade das Enterobacteriaceae a antimicrobianos, separados por IRAS,

IC e no total.

Quanto ao tratamento, a Tabela 10 mostra a escolha de antimicrobiano

usado. A classe de antimicrobiano mais utilizada foi a das fluoroquinolonas. O tempo

de tratamento variou entre 1 e 14 dias, com mediana de 7 dias e desvio padrão

±2,85 dias.

Dentre os casos tratados, 3/79 ou 3,8% foram inadequadamente tratados,

inicialmente. Um deles foi o caso da paciente que evoluiu a óbito e o agente foi

Klebsiella pneumoniae produtora de KPC. Os outros dois casos foram causados por

Enterococcus faecalis, que haviam sido tratados com Cefalosporina de primeira

88

,9%

33

,3%

22

,2%

37

,5%

44

,4%

44

,4%

44

,4%

66

,7%

88

,9%

25

,0%

37

,5%

50

,0%

10

0,0

%

69

,8%

40

,9%

68

,2%

88

,2%

84

,8%

79

,4%

10

0,0

%

90

,9%

56

,3%

88

,1%

57

,1%

99

,0%

61

,7%

36

,7%

61

,5%

86

,0%

78

,6%

70

,0%

95

,9%

91

,8%

46

,8%

81

,8%

55

,9%

0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%70,0%80,0%90,0%

100,0%

IRAS IC Total

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31

geração, a que são naturalmente resistentes. O tempo decorrido entre coleta do

exame e início de tratamento variou entre 0 e 54 dias. O tempo mediano foi 14 dias e

médio 12,32.

Os resultados de tratamento encontrados foram cura em 134 casos (98.53%),

independentemente de uso de antimicrobianos, recorrência em 1 caso (0,74%) e

óbito em um caso (0,74%) de IRAS, em que a paciente estava recebendo pulso com

Metilprednisolona 1g por dia, por 3 dias e apresentou pielonefrite por Klebsiella

pneumoniae produtora de KPC. Neste caso, a terapia empírica não era adequada

para a bactéria causadora, o que retardou o início do tratamento efetivo.

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32

Discussão

As infecções são a grande causa de morbi-mortalidade no Lupus Eritematoso

Sistêmico em virtude da imunossupressão causada pela própria doença e pelo

tratamento imunossupressor. A infecção do trato urinário é uma das mais frequentes

e neste trabalho buscou-se conhecer o perfil das infecções ocorridas nas pacientes

oriundas de um hospital universitário terciário. O patógeno mais frequentemente

encontrado nesta casuística foi a E. coli, assim como em outros estudos, como os

67,1% encontrados por Saha et al. e 60%28 por Zhou et al20. E. coli foi a causa de

bacteriúria assintomática em 64% dos casos, 80,7% das cistites e 84,7% das

pielonefrites das gestantes do Sul do Brasil estudadas por Schenkel et al29 Miranda

et al23 encontraram E. coli em 70,2% das uroculturas positivas em São Paulo, Brasil.

Na população do Pronto Atendimento do Hospital da Mulher da Unicamp, Ribeiro-do-

Valle et al24 encontraram E. coli como causa de ITU em 53% das gestantes e 64%

das não gestantes. No estudo de Mohamed et al19, que foi prospectivo e focou em

todas as causas de infecção, E. coli foi o patógeno bacteriano mais comum

independentemente do sítio de infecção, sendo 13,2% de todos agentes os isolados,

que incluíam bactérias, vírus parasitas e fungos. De forma que o patógeno mais

comum esperado neste estudo também era a E. coli, como de fato foi. A despeito do

uso de glicocorticóides, e, em algumas ocasiões, o uso de outros

imunossupressores, houve poucas infecções fúngicas, um episódio de infecção

adquirida na comunidade, causada por C. albicans, que coloniza o trato genital

feminino. Portanto, os uropatógenos encontrados não foram diferentes dos

esperados para a população geral, a despeito da imunodepressão apresentada

pelos pacientes estudados.

No grupo das IRAS, os patógenos mais comumente isolados foram Candida

albicans e Klebsiella pneumoniae, que são, de fato, os patógenos mais comumente

encontrados em IRAS. Num estudo multicêntrico de prevalência pontual em

hospitais Turcos, Taskaban et al.30 encontraram E. coli em 45,5%, Candida spp.

15,9%, Klebsiella spp. 13,3%, Enterococcus spp. 10,2% e Pseudomonas spp.

10,0%.

O padrão de susceptibilidade é mais difícil de comparar, posto que existem

poucos dados sobre esse assunto na mesma região, onde apenas um estudo foi

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conduzido. Ribeiro-do-Valle et al24. encontraram, entre mulheres grávidas,

susceptibilidade a amicacina em 100%, a gentamicina em 94%, a ciprofloxacina em

92%, cefazolina em 73% e a nitrofurantoína em 88%. E entre as mulheres não

grávidas, a susceptibilidade foi: 99% a amicacina, 93% a gentamicina, 79% a

ciprofloxacina, a cefazolina 79% e a nitrofurantoína 80%. Miranda et al23

encontraram em São Paulo, Brasil, menos de 20% de resistência a sulfametoxazol-

trimetoprima, norfloxacina, nitrofurantoína, cefazolina e a ácido nalidíxico e

resistência de aproximadamente 12% a fluoroquinolonas. Há que se considerar que

a população naquele estudo foi considerada geral, e que, se havia qualquer

comorbidade, não foi descrita. Enquanto este estudo encontrou o mesmo padrão de

susceptibilidade a Ciprofloxacina que as mulheres não grávidas, quando

considerada ITU IC, em todas as outras situações, as alternativas por via oral não

alcançam o limite de susceptibilidade de 80% recomendado pelas Infectious

Diseases Society of America (IDSA) e European Society of Clinical Microbiology and

Infectious Diseases (ESCMID)31 para o uso empírico no tratamento da Pielonefrite.

Há que se considerer que os pacientes LES são sabidamente mais suscetíveis a

infecções, sendo, portanto, presumidamente, mais expostos a antimicrobianos.

Considerando a atividade do LES, analisada pelo SLEDAI, a maioria das

pacientes não estava em atividade no momento da bacteriúria assintomática, ao

contrário do que foi encontrado por Mohammed et al19, em estudo que mostrou que

atividade da doença era um fator de risco independente para infecção. Quanto ao

dano causado pela doença, analisado pelo SLICC, observou-se que os pacientes

com menor índice de danos apresentaram menos ITU. Há que se considerar que o

desenho deste estudo não permite inferir se houve maior associação com dano ou

com atividade da doença.

O desenho retrospectivo do presente estudo pode ter causado vieses como

perda da precisão das descrições de sintomas dos pacientes assim como o

tratamento e sua duração.

A infecção urinaria é comum em pacientes com LES e neste estudo,

encontramos bons resultados de tratamento, com apenas um óbito (0,74%).

Encontramos patógenos semelhantes aos encontrados na população geral. Com

relação ao perfil de susceptibilidade dos mesmos, houve menos susceptibilidade aos

antimicrobianos de uso oral, o que dificulta o tratamento empírico ambulatorial.

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Entretanto, com a coleta de urocultura pode-se realizar tratamento direcionado e

adequado. Outro ponto interessante, é que a susceptibilidade a fosfomicina não foi

testada rotineiramente, de modo que não sabemos qual a porcentagem de

resistência a esse antmicrobiano de uso fácil, por ser utilizado em dose única e

bastante bem tolerado, excelente para o tratamento de cistites não complicadas.

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Conclusões

1. Em pacientes com LES a Escherichia coli foi o uropatógeno mais comumente

encontrado nas infecções adquiridas na comunidade (49,4%), enquanto nas

Infecções relacionadas à Assistência à Saúde, os patógenos foram Candida

albicans e Klebsiella pneumoniae.

2. O tratamento da ITU foi realizado com quinolona na maioria das vezes. O

tempo de tratamento foi de 1 a 14 dias, com mediana de 7 dias com acerto

em 96,2% dos casos, empiricamente e o tempo mediano transcorrido entre

coleta de urocultura e início do tratamento foi de 14 dias. O resultado de

tratamento foi a cura em 134 casos (98.53%), independentemente de uso de

antimicrobianos, recorrência em 1 caso (0,74%) e óbito em um caso (0,74%)

de IRAS.

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ANEXOS

ANEXO 1- QUESTIONÁRIO GERAL

Ficha de coleta de dados – LES URO

Nome:__________________________________________________________

sexo_______Raça____________________Idade____________HC:_________

Data coleta:______________Data nascimento:_________________________

Naturalidade: _________Cidade de procedência:_______________________

Data diagnóstico LES:______ Tempo de Diagnóstico:______ Tempo de

acompanhamento:____

Critério Data

Lesão malar

Lesão discóide

Fotossensibilidade

Úlcera oral

Artrite

Serosite pleura( ) pericardio( )

Dç renal Hematúria( ) Proteinúria( ) Cilindrúria ( )

Neuropsiq Convulsão( ) psicose ( )

Hematológicos Anemia hemolítica:

Leuco:

Linfo:

Plt:

Imunológicos Anti-DNA:

Anti-SM:

Anti-fosfolípide:Aca( ) Aco( ) Beta 2( )

FAN + ( ) –( )

Medicação Imunossupressora Data/duração

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Diagnóstico de

ITU:__________________________________Data:_____________________

Sintomas:_______________________________________________________

Infecção comunitária ( ) Infecção relacionada a assistência à saúde ( )

Data da Internação: __/__/__ Data da alta: __/__/__

Motivo da internação: ______________________________________________

Data da Infecção: __/__/__ Resultado da URO:__________________________

Data da Infecção: __/__/__ Resultado da URO:__________________________

Data da Infecção: __/__/__ Resultado da URO:__________________________

Data da Infecção: __/__/__ Resultado da URO:__________________________

Episódio Antibioticoterapia Data Duração

1

2

3

4

5

6

7

Resultado de tratamento:( ) cura ( ) óbito ( ) transferência ( ) abandono ( ) recidiva

( )

Sorologias: HIV ( ) HepB ( ) HepC ( ) VDRL ( ) TPHA ( )

Outras infecções:

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Infecção/sítio Medicação Data/duração