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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE BIOLOGIA CAROLINA MORETTO CARNIELLI ESTUDO DA COMPOSIÇÃO DE PROTEÍNAS NA ÁREA DE INVASÃO DE CARCINOMA EPIDERMÓIDE DE BOCA POR PROTEÔMICA BASEADA EM ESPECTROMETRIA DE MASSAS CAMPINAS 2018

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE BIOLOGIA

CAROLINA MORETTO CARNIELLI

ESTUDO DA COMPOSIÇÃO DE PROTEÍNAS NA ÁREA DE

INVASÃO DE CARCINOMA EPIDERMÓIDE DE BOCA POR

PROTEÔMICA BASEADA EM ESPECTROMETRIA DE

MASSAS

CAMPINAS

2018

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CAROLINA MORETTO CARNIELLI

ESTUDO DA COMPOSIÇÃO DE PROTEÍNAS NA ÁREA DE INVASÃO DE CARCINOMA EPIDERMÓIDE DE BOCA POR PROTEÔMICA

BASEADA EM ESPECTROMETRIA DE MASSAS

Tese apresentada ao Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do Título de Doutora em Ciências, na área de Fármacos, Medicamentos e Insumos para Saúde.

Orientadora: ADRIANA FRANCO PAES LEME

CAMPINAS

2018

ESTE ARQUIVO DIGITAL CORRESPONDE À

VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA

ALUNA CAROLINA MORETTO CARNIELLI E

ORIENTADA PELA PROFA. DRA. ADRIANA

FRANCO PAES LEME.

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Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): FAPESP, 2013/16483-0

Ficha catalográficaUniversidade Estadual de Campinas

Biblioteca do Instituto de BiologiaMara Janaina de Oliveira - CRB 8/6972

Carnielli, Carolina Moretto, 1988- C217e CarEstudo da composição de proteínas na área de invasão de carcinoma

epidermóide de boca por proteômica baseada em espectrometria de massas /Carolina Moretto Carnielli. – Campinas, SP : [s.n.], 2018.

CarOrientador: Adriana Franco Paes Leme. CarTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de

Biologia.

Car1. Carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço. 2. Proteômica.

3. Espectrometria de massas. 4. Microdissecção e captura a laser. I. Leme,Adriana Franco Paes. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto deBiologia. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Study of protein composition in the invasion area of squamous cellcarcinoma by proteomics based on mass spectrometryPalavras-chave em inglês:Carcinoma, Squamous cell of head and neckProteomicsMass spectrometryLaser capture microdissectionÁrea de concentração: Fármacos, Medicamentos e Insumos para SaúdeTitulação: Doutora em CiênciasBanca examinadora:Adriana Franco Paes Leme [Orientador]Alexandre Keiji TashimaDiana Noronha NunesDaniel Guariz PinheiroMariane Tami AmanoData de defesa: 08-01-2018Programa de Pós-Graduação: Biociências e Tecnologia de Produtos Bioativos

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)

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Campinas, 08 de janeiro de 2018.

COMISSÃO EXAMINADORA Profa. Dra. Adriana Franco Paes Leme

Prof. Dr. Alexandre Keiji Tashima

Profa. Dra. Diana Noronha Nunes

Prof. Dr. Daniel Guariz Pinheiro

Profa. Dra. Mariane Tami Amano Os membros da Comissão Examinadora acima assinaram a Ata de Defesa, que se encontra no processo de vida acadêmica do aluno.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por estar sempre presente em minha vida, me dando forças e direção para

vencer os mais diversos obstáculos e seguir adiante.

À minha mãe Sonia e à minha irmã Helena, pelo amor e companheirismo que sempre

me acompanharam.

A todos os meus familiares, pelo seu carinho e apoio em cada momento.

À Profa. Dra. Adriana Franco Paes Leme, pela confiança em me receber em seu

laboratório, pela disposição, orientação e amizade. Obrigada pelo apoio em toda essa

jornada e em continuar adiante.

Ao Prof. Dr. Ricardo Della Colleta, pela disponibilidade em me auxiliar em diversas

fases desse trabalho.

Ao Prof. Dr. Vitor Faça e Guilherme Lanfredi pelo auxílio nos experimentos iniciais de

proteômica baseada em alvos.

Às agências CAPES e FAPESP (Projeto 2013/16483-0), pelo financiamento que

permitiram o desenvolvimento desse trabalho.

Ao grupo MAS, por todo apoio e amizade durante esses quatro anos: Sami, Daniela,

Romênia, Bianca, Flávia, César, Rute, Ana Karina, Tatiane e Ariane. Aos demais que

já fizeram parte dessa jornada, seja no início ou no final dela, agradeço à Rebeca,

Flávia Winck, Raquel e Jamile. Agradeço à Carolina Carneiro, por todo auxílio no

desenvolvimento desse trabalho.

A todos do CNPEM e especialmente ao LNBio, por toda a equipe que possibilitou o

desenvolvimento desse trabalho.

Ao meu amigo e companheiro, Fábio Patroni, por todo o seu amor, carinho e apoio

nas mais diversas situações, fazendo a minha vida mais colorida.

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RESUMO

Câncer de cabeça e pescoço é um grupo de câncer que envolve a cavidade oral, faringe e

laringe. A maioria dos casos é de carcinoma oral de células escamosas ou epidermóide

(CEC), o qual apresenta alta morbidade. Em câncer, mudanças no estroma dirigem a invasão

e metástase, cujos processos são característicos da malignidade. Evidências recentes

sugerem que a área do fronte invasivo dos carcinomas, ou seja, na interface do tumor-

hospedeiro, apresenta perfil molecular e características morfológicas diferentes em

comparação a outras áreas do mesmo, sendo considerada como uma região de interesse

para a identificação de potenciais assinaturas de prognóstico. Dessa forma, o objetivo desse

estudo foi identificar as proteínas presentes no estroma do fronte invasivo do tumor em

comparação ao estroma do interior do tumor. Para isso, a microdissecção a laser (LMD) foi

associada à espectrometria de massas (MS), técnicas consideradas de alta robustez quando

combinadas para a identificação e quantificação de proteínas em tecidos tumorais de regiões

específicas. Vinte amostras teciduais fixadas em formalina e parafina de CEC de língua foram

utilizadas para isolar o estroma da região do fronte invasivo e o estroma do interior de tumores

por LMD, seguida de extração e digestão das proteínas e análise por cromatografia líquida

acoplada à espectrometria de massas in tandem por proteômica baseada em descoberta (LC-

MS/MS). A partir das análises, incluindo análises estatísticas e a correlação com os dados

clínico-patológicos dos pacientes, cinco proteínas foram encontradas estatisticamente

significantes em relação as suas abundâncias entre as regiões do fronte invasivo e do interior

do estroma tumoral. As abundâncias de COL6A1 (Collagen alpha-1(VI) chain), FSCN1

(Fascin-1), ITGAV (Integrin alpha-V), MB (Myoglobin) e THBS2 (Thrombospondin-2) foram

associadas ao estadiamento clínico do paciente, à presença de metástase linfonodal, à

recorrência de metástase linfonodal e ao grau de diferenciação histomorfológica do tumor (p-

valor<0,05, R<-0,7 ou 0,7<R e R2>0,5). Dentre essas proteínas, a localização de COL6A1 e

MB foram confirmadas por imunohistoquímica em um novo conjunto de amostras de CEC oral

(n=96 casos) e as proteínas COL6A1 e ITGAV foram associadas as características infiltração

capsular do linfonodo, margens livres e recorrência regional. Uma vez que a ocorrência de

metástase linfonodal é o principal fator associado ao pior prognóstico de CEC oral, a presença

dessas proteínas foi avaliada em amostras de saliva de pacientes com CEC oral com

metástase linfonodal (n=10) e em pacientes sem metástase linfonodal (n=23). Por meio da

análise proteômica baseada em alvos pelo método de monitoramento seletivo de reações

(SRM) foi demonstrado que COL6A1 e ITGAV (Integrin alpha-V) estão menos abundantes em

amostras de saliva de pacientes com metástase linfonodal. Curvas ROC revelaram um bom

desempenho dessas proteínas em classificar pacientes com ausência e presença de

metástase, apresentando uma área sob a curva (AUC) de 0.8 para COL6A1

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(sensibilidade=0,739; especificidade=0,9) e AUC de 0.75 para ITGAV (sensibilidade=0,696;

especificidade=0,8). Portanto, este trabalho demonstra pela primeira vez por meio da

combinação das técnicas de LMD e MS proteínas com distribuição espacial distinta entre as

regiões de fronte invasivo e interior tumoral, presentes no estroma e também em saliva de

pacientes com CEC oral, sendo capazes de distinguir entre pacientes com e sem metástase

linfonodal, apresentando assim potencial valor prognóstico. Os presentes resultados indicam

proteínas candidatas que podem ser associadas ao prognóstico para CEC de boca que

podem guiar estratégias terapêuticas na prática clínica.

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ABSTRACT

Head and neck cancers are a group of cancers that involve the oral cavity, pharynx and larynx.

The majority of head and neck cancers are squamous-cell carcinoma (SCC), which has high

morbidity. In cancer, changes in the stroma drive invasion and metastasis, the hallmarks of

malignancy. Recent evidence suggests that the invasive tumor front area of carcinomas, ie,

the tumor-host interface, have different molecular profile and distinct morphological features

compared to other areas of the tumor and may be considered as a region of interest to identify

prognostic markers. Thus, the aim of this study is to identify the proteins present in the stroma

of the invasive tumor front compared to the stroma of the inner tumor. The combination of laser

microdissection (LMD) and mass spectrometry (MS) has been considered as an approach with

high robustness to protein identification of specific regions of tumor tissues. Twenty samples

of CEC of tongue tissues fixed in paraffin and in formalin were used to isolate the stroma from

the invasive tumor front and from the inner tumor by LMD, followed by protein extraction,

protein digestion and liquid-chromatography coupled to mass spectrometry in tandem by

discovery-based proteomics (LC-MS/MS). Statistical analysis and correlation analysis with

clinicopathological data revealed five spatially distinct proteins between the stroma regions.

The abundance of COL6A1 (Collagen alpha-1(VI) chain), FSCN1 (Fascin-1), ITGAV (Integrin

alpha-V), MB (Myoglobin) and THBS2 (Thrombospondin-2) were associated to clinical stage,

lymph node metastasis and lymph node recurrence (p-valor<0.05, R<-0.7 or 0.7<R and

R2>0.5). The location of COL6A1 and MB were confirmed by immunohistochemistry in a new

set of 96 patient samples of oral SCC (OSCC) and association to lymph node capsular

infiltration, margin status and local recurrence. Once lymph node metastasis is the main poor

prognostic factor in OSCC, the selected proteins were evaluated in saliva samples of patients

with metastasis (n=10) and without metastasis (n=23). Targeted proteomics analysis based on

SRM method (Selected Reaction Monitoring) demonstrated that COL6A1 and ITGAV were

found with lower abundance in patients with lymph metastasis and able to distinguish between

the two groups of samples by ROC analysis with an area under curve (AUC) of 0.8 for COL6A1

(sensitivity: 0.739; specificity: 0.9) and AUC of 0.75 for ITGAV (sensitivity: 0.696; specificity:

0.8). Taken together, by the association of LMD and MS (DDA and SRM) approaches, this

project demonstrate for the first time proteins spatially organized in the stroma of different

regions of the tumor, the invasive tumor front and the inner tumor, that are also present in

saliva samples of OSCC patients and able to distinguish between those with metastasis and

without metastasis, thus, with potential prognostic value. These results indicate new candidate

prognosis markers for OSCC that may guide therapeutic strategies in clinical routine.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Representação esquemática dos componentes básicos de uma neoplasia

de células escamosas.. ............................................................................................. 18

Figura 2: Imagens de cortes histológicos mostrando tecidos em diferentes condições,

do normal ao carcinoma. ........................................................................................... 19

Figura 3. Lesões de carcinoma oral de células escamosas (CEC). ......................... 20

Figura 4. Composição estrutural e proteica da matriz extracelular (ECM)................ 31

Figura 5. Componentes básicos de um espectrômetro de massas. ......................... 43

Figura 6. Representação esquemática da fragmentação de peptídeos. .................. 45

Figura 7. Comparação do fluxograma de proteômica baseada em descoberta versus

proteômica baseada em alvos. .................................................................................. 49

Figura 8. Fotomicrografia de um corte histológico de CEC oral de língua. ............... 56

Figura 9. Sequência de LMD em um corte de CEC de língua. ................................. 73

Figura 10. Representação das proteínas identificadas nas regiões estroma do fronte

invasivo tumoral (ITF) e estroma do interior tumoral. ................................................ 75

Figura 11. Associação entre as proteínas com expressão diferencial significativa entre

fronte invasivo tumoral (ITF) e interior tumoral à sobrevida livre de doença em meses.

.................................................................................................................................. 81

Figura 12. Perfil da abundância das proteínas selecionadas como alvos para

experimentos de verificação. ..................................................................................... 82

Figura 13. Marcação imunohistoquímica para as proteínas alvos em cortes de CEC

oral ............................................................................................................................ 84

Figura 14. Análise de sobrevida Kaplan-Meier para valores de score de IHC e dados

de fechamento clínico. .............................................................................................. 88

Figura 15. Avaliação das proteínas alvos por proteômica baseada em alvos. ......... 92

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Definições de TNM para câncer oral de acordo com o World Health

Organization (WHO) Classification of Tumours. ........................................................ 22

Tabela 2. Estadiamento e classificação TNM para câncer oral de acordo com o World

Health Organization (WHO) Classification of Tumours. ............................................ 23

Tabela 3. Dados clínico-patológicos dos pacientes com CEC de língua utilizados no

estudo de proteômica baseada em descoberta. ........................................................ 55

Tabela 4. Dados clínico-patológicos dos pacientes com CEC de língua utilizados no

estudo de proteômica baseada em descoberta quanto ao grau de diferenciação

histológica e estágio clínico de CEC. ........................................................................ 56

Tabela 5. Dados clínico-patológicos dos pacientes com CEC oral utilizados para as

análises por imunohistoquímica. ............................................................................... 58

Tabela 6. Método de score baseado na intensidade e porcentagem de marcação das

proteínas para avaliação da marcação imunohistoquímica nas áreas fronte invasivo e

interior tumoral de CEC oral. ..................................................................................... 64

Tabela 7. Dados clínico-patológicos de pacientes com CEC oral utilizados para

análise por proteômica baseada em alvos. ............................................................... 66

Tabela 8. Transições utilizadas para monitorar as proteínas de interesse por

proteômica baseada em alvos. .................................................................................. 68

Tabela 9. Proteínas com diferentes abundâncias entre as regiões do estroma do fronte

tumoral invasivo (ITF) e estroma do interior do tumor que apresentam correlação com

dados clínico-patológicos por análise de regressão linear. ....................................... 77

Tabela 10. Associação dos dados demográficos e clínico-patológicos com a

expressão de três proteínas alvos presentes no estroma de amostra de CEC oral. . 85

Tabela 11. Taxa de sobrevida de pacientes com CEC oral de acordo com a expressão

de proteínas. ............................................................................................................. 89

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AUC: Área sob a curva (area under curve)

BD: Tumor de brotamento (tumor buddings)

CAF: Fibroblastos associados ao carcinoma (carcinoma-associated fribroblasts)

CEC: Carcinoma de células escamosas ou epidermóide

CID: Dissociação induzida por colisão (collision induced dissociation)

DDA: Aquisição dependente de dados (data-dependent acquisition)

ECD: Dissociação por captura de elétrons (electron capture dissociation)

ECM: Matriz extracelular (extra cellular matrix)

emPAI: Índice modificado de abundância de proteínas de forma exponencial

(exponentially modifed protein abundance index)

EMT: Transição epitélio-mesenquimal (epitelial mesenchymal transition)

ESI: Ionização por eletrospray (electrospray ionization)

ETD: Dissociação por transferência de elétrons (electron-transfer dissociation)

FFPE: formalin-fixed paraffin-embedded

FT-MS: Fourier transform ion cyclotron mass spectrometer

FWHM: Largura total do pico na metade de sua altura máxima (full width of the peak

at half its maximum height)

GAG: Glicosaminoglicanos

HCD: Dissociação induzida por alta energia de colisão (high-energy collisional

dissociation)

HPV: Papilomavírus humano

HRM: Modelo de risco histológico (histological risk model)

IHC: Imunohistoquímica (immunohistochemistry)

ITF: Fronte invasivo tumoral (invasive tumor front)

iTRAQ: Etiquetas isobáricas para quantificação relativa e absoluta (isobaric tag for

relative and absolute quantitation)

LC-MS/MS: Cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas in tandem

(liquid-chromatography tandem-mass spectrometry)

LFQ: Quantificação label-free (label-free quantification)

LHR: Resposta linfocítica do hospedeiro (lymphocytic host response)

LMD: Microdissecção a laser (laser microdissection)

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MALDI: Ionização a laser auxiliada por matriz (matrix-assisted laser

desorption/ionization)

MG: Classificação das margens (margin grading)

MRM: Multiple reaction monitoring

NSAF: Fator de abundância espectral normalizado (normalized spectral abundance

factor)

dNSAF: Fator distribuído de abundância espectral normalizado (distributed

normalized spectral abundance fator)

PAI: Índice de abundância de proteínas (protein abundance índices)

PG: Proteoglicanos

PNI: Invasão perineural (perineural invasion)

PRM: Monitoramento de reações paralelas (parallel reaction monitoring)

ROC: Curvas de características de operação do receptor (receiver operating

characteristic)

SIL: Marcação isotópica estável (stable isotope-labelled)

SILAC: Stable isotope-based labeling with amino acids

SRM: Monitoramento seletivo de reações (selected reaction monitoring)

TME: Microambiente tumoral (tumor microenvironment)

TNM: Tumor-node-metastasis

TOF: tempo de voo (time-of-flight)

WHO: World Health Organization

WPOI: Pior padrão de invasão (worst pattern of invasion)

XIC: Cromatograma de íon extraído (Extracted ion chromatogram)

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15

1.1 Epidemiologia do câncer oral ........................................................................... 15

1.2 Patogênese do câncer oral .............................................................................. 17

1.3 Tratamento, prognóstico e sobrevida ............................................................... 20

1.4 Sistemas de classificação histológica em CEC oral ......................................... 24

1.5 Região de fronte invasivo tumoral .................................................................... 27

1.6 Ambiente tecidual em câncer – estroma .......................................................... 29

1.7 Alvos terapêuticos e marcadores de prognóstico em CEC oral ....................... 33

1.8 A complexidade do CEC oral e a importância da proteômica clínica ............... 35

1.9 Proteômica baseada em descoberta e proteômica baseada em alvos ............ 39

1.10 Associação da microdissecção a laser à proteômica baseada em

espectrometria de massas ..................................................................................... 50

2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 52

2.1 Objetivo geral ................................................................................................... 52

2.2 Objetivos específicos ....................................................................................... 52

3 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................... 53

3.1 Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa ................................................... 53

3.2 Seleção das amostras teciduais ....................................................................... 53

3.3 Processamento das amostras teciduais e microdissecção a laser (LMD) ....... 59

3.4 Extração de proteínas e digestão enzimática para proteômica baseada em

descoberta ............................................................................................................. 60

3.5 Análise por espectrometria de massas em tandem (LC-MS/MS) com aquisição

dependente de dados (DDA) ................................................................................. 60

3.6 Análise dos dados brutos de proteômica baseada em descoberta .................. 61

3.7 Correlação da abundância de proteínas identificadas por proteômica baseada

em descoberta com dados clínico-patológicos dos pacientes ............................... 63

3.8 Análise imunohistoquímica dos tecidos de CEC oral ....................................... 63

3.9 Coleta de amostras de saliva ........................................................................... 64

3.10 Seleção dos peptídeos proteotípicos e das transições .................................. 66

3.11 Preparação das amostras de saliva para proteômica baseada em alvos ...... 70

3.12 Verificação dos peptídeos por proteômica baseada em alvos ....................... 70

3.13 Análise quantitativa e estatística dos dados de proteômica baseada em alvos

(SRM) ..................................................................................................................... 71

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3.14 Predição do valor prognóstico de proteínas para CEC oral ........................... 72

4 RESULTADOS ....................................................................................................... 73

4.1 Proteínas identificadas a partir da associação da microdissecção a laser e

espectrometria de massas por proteômica baseada em descoberta ..................... 73

4.2 Dados clínico-patológicos correlacionados com a abundância de proteínas

identificadas por proteômica baseada em descoberta no estroma de CEC oral .... 76

4.3 Verificação da abundância das proteínas selecionadas por imunohistoquímica e

correlação com dados clínico-patológicos ............................................................. 83

4.4 Avaliação das proteínas alvos em saliva de pacientes com CEC oral por

proteômica baseada em alvos ............................................................................... 89

5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 93

6 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 99

APÊNDICE 1 ........................................................................................................... 110

APÊNDICE 2 ........................................................................................................... 113

ANEXO 1 ................................................................................................................. 114

Anexo 2 ................................................................................................................... 117

Anexo 3 ................................................................................................................... 118

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15

1 INTRODUÇÃO

1.1 Epidemiologia do câncer oral

O termo câncer oral engloba um conjunto de neoplasias de cabeça e

pescoço que acometem a cavidade oral em suas mais variadas etiologias e aspectos

histopatológicos. O carcinoma oral de células escamosas ou epidermóide (CEC) é

considerado o tipo mais comum de câncer da cavidade oral, apresentando alta

prevalência, com uma estimativa de 300 mil novos casos no mundo por ano, além de

alta recorrência e mortalidade, com 145 mil mortes por ano e sobrevida de

aproximadamente 5 anos (Ferlay et al. 2015; Chi et al. 2015).

A distribuição geográfica de câncer oral é variável nas diferentes regiões

do mundo devido a diferentes hábitos, cultura, expectativa de vida e educação

preventiva da população (Petti 2009; Túri et al. 2013; Jadhav & Gupta 2013). Em

muitos países o câncer oral tem sido considerado um crescente problema de saúde

pública, uma vez que seu diagnóstico é realizado em estágios avançados da doença,

o que acarreta em um baixo prognóstico (Scully & Felix 2005). Segundo dados do

GLOBOCAN 2012, a incidência de câncer de lábios e da cavidade oral representa

cerca de 2% de todos os novos casos de câncer diagnosticados mundialmente (Ferlay

et al. 2015). No Brasil, estima-se que no ano de 2016, surgiram 11.140 novos casos

de câncer da cavidade oral em homens e 4.350 em mulheres. Tais valores

correspondem a um risco estimado de 11,27 casos novos a cada 100 mil homens e

4,21 a cada 100 mil mulheres (Instituto Nacional de Cancer José Alencar Gomes da

Silva 2016). Essas taxas de incidência de câncer da cavidade oral também

apresentam variações entre as regiões do Brasil, sendo mais frequente nas regiões

sul e sudeste entre homens, e na região sudeste e nordeste entre mulheres do país

(Instituto Nacional de Cancer José Alencar Gomes da Silva 2016).

Entre as localizações de mais alto risco para o desenvolvimento do CEC

oral estão o lábio inferior, as margens póstero-laterais, a base da língua e o assoalho

bucal, podendo ocorrer também na gengiva e nas glândulas parótidas e salivares

(Bagan et al. 2010; Rivera 2015). O CEC oral possui uma etiologia multifatorial, com

a participação de fatores tanto extrínsecos quanto intrínsecos, podendo também

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16

ocorrer a participação de mais de um fator (cocarcinogênese) no desenvolvimento da

doença (Petti 2009; Scully & Felix 2005). Entre os fatores de risco extrínsecos

encontram-se o uso de tabaco, o consumo de álcool, exposição à radiação

ultravioleta, além da infecção pelo papilomavírus humano (HPV) principalmente dos

subtipos 16 e 18, enquanto os fatores intrínsecos que podem estar envolvidos no

desenvolvimento da doença compreendem alterações genéticas, deficiências

nutricionais e imunossupressão (Winn et al. 2015; Instituto Nacional de Cancer José

Alencar Gomes da Silva 2016).

Muitos casos apontam um aumento no número de pessoas que

desenvolvem câncer devido à exposição a agentes etiológicos. O consumo de tabaco

e o álcool tem sido relatado na literatura como os principais fatores de riscos para o

desenvolvimento de CEC oral. Um consórcio realizado pelo International Head and

Neck Cancer Epidemiology (INHANCE) com 35 estudos abrangendo 25.500 casos de

câncer de cabeça e pescoço e 37.100 controles apontou o papel significante do uso

de tabaco e álcool na etiologia do câncer oral (Winn et al. 2015). O consumo de tabaco

por fumo demonstrou um aumento no risco de desenvolvimento de câncer da

cavidade oral, bem como etilistas com alto consumo de álcool. Juntos, o consumo de

tabaco por fumo e de álcool estavam presentes em 64% dos casos de câncer da

cavidade oral, demonstrando o elevado risco de desenvolvimento da doença

apresentado por esse comportamento. Além disso, uma diminuição no risco de

desenvolvimento de câncer oral foi observada em pessoas que deixaram de usar

tabaco por fumo, e após 20 anos sem consumo, o risco chega a ser comparável ao

de não fumantes.

O perfil epidemiológico clássico dos pacientes com câncer da cavidade oral

compreende homens da quinta a oitava décadas de vida, tabagistas e etilistas

crônicos. Entretanto, tem sido observado uma mudança nesse perfil devido ao

aparecimento de novos casos em pacientes jovens e pacientes do sexo feminino

possivelmente associados a fatores como predisposição genética e HPV, além da

mudança do hábito tabagista entre as mulheres (Túri et al. 2013; Van Monsjou et al.

2013; Fakhry & D’Souza 2013). O HPV está etiologicamente envolvido com o câncer

cervical, entretanto, estudos têm investigado a prevalência de HPV em pacientes de

câncer de cabeça e pescoço (Van Monsjou et al. 2013; Antonsson et al. 2015; Ndiaye

et al. 2014), demonstrando uma associação entre a infecção por HPV e a ocorrência

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de CEC da cavidade oral e de orofaringe durante a carcinogênese (Hansson et al.

2005). Embora a prevalência de infecções por HPV esteja associada ao

comportamento sexual, alguns estudos discutem se o consumo de álcool e de tabaco

apresentam alguma associação ao câncer oral causado por HPV, tendo ainda

controversas entre resultados provenientes de diferentes populações (McCullough et

al. 2010; Túri et al. 2013). Propriedades oncogênicas tem sido atribuídas às proteínas

E6 e E7 do HPV, as quais conferem o fenótipo de maior risco da doença e atuam na

degradação do supressor tumoral p53 e Rb (proteína retinoblastoma),

respectivamente, acarretando também na desregulação do controle do ciclo celular

(Van Monsjou et al. 2013).

Outros fatores também podem estar associados com a ocorrência de

câncer oral. A exposição crônica à radiação ultravioleta pode aumentar o risco do

desenvolvimento de câncer nos lábios (Gallagher & Lee 2006; Gallagher et al. 2010)

e outros fatores como desnutrição, baixo nível econômico e higiene também

apresentam associação ao desenvolvimento de câncer oral (Winn et al. 2015). Assim,

a prevenção depende parcialmente em evitar os fatores de risco, enquanto o

diagnóstico precoce é de suma importância para o manejo dos pacientes com CEC

oral, o que está relacionado a um melhor prognóstico (Ford & Farah 2013).

1.2 Patogênese do câncer oral

O CEC oral é uma neoplasia maligna de origem epitelial, derivada do

epitélio escamoso estratificado da mucosa oral (Rivera & Venegas 2014). Os

componentes básicos desta neoplasia são: 1) parênquima, composto por células

neoplásicas da camada escamosa do epitélio oral de superfície displásica e 2) o

estroma tumoral, composto por tecido conjuntivo subjacente, vasos sanguíneos,

células inflamatórias, fibroblastos, e outros componentes da matriz extracelular, que

confere suporte para o crescimento tumoral (Figura 1). Histologicamente o CEC oral

caracteriza-se por ilhas e cordões invasivos de células escamosas epiteliais malignas

infiltrando os tecidos normais subjacentes (Sharma et al., 2013).

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Figura 1. Representação esquemática dos componentes básicos de uma neoplasia de células escamosas. A figura apresenta o parênquima tumoral, o qual é composto por células neoplásicas da camada escamosa do epitélio oral e o estroma tumoral, composto pelo tecido conjuntivo subjacente, vasos sanguíneos, células inflamatórias, fibroblastos, entre outros componentes da matriz extracelular. Modificado de Servier Medical Art website.

As lesões de CEC oral podem se desenvolver a partir da mucosa oral

aparentemente normal. O câncer oral é formado por meio de uma série de etapas

histopatológicas a partir da hiperplasia benigna à displasia epitelial para carcinoma in

situ, seguido por células escamosas invasivas (Shah et al. 2011) (Figura 2). O CEC

oral surge a partir de um epitélio de superfície displásico em que a queratinização de

células epiteliais escamosas pode ser observada com a possível formação de

“pérolas” de queratina associados a um padrão de crescimento invasivo. Displasias

leves apresentam uma proliferação celular atípica, com células acima da região

parabasal, enquanto que na displasia moderada e severa as células encontram-se

próximas ao limite do epitélio (Speight et al. 1996). Tumores bem diferenciados

apresentam grandes queratinócitos, que produzem abundante queratina, e células

atípicas. Os tumores moderadamente diferenciados geralmente apresentam menor

queratinização e distinto pleomorfismo nuclear e mitoses aberrantes e, por fim, o CEC

oral pobremente diferenciado apresenta predominantemente células imaturas com

numerosas mitoses aberrantes e baixa queratinização.

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Figura 2: Imagens de cortes histológicos mostrando tecidos em diferentes condições, do normal ao carcinoma. O epitélio oral normal (A/G) apresenta uma arquitetura com vários estratos definidos e com continuidade da membrana basal. Na displasia, pode-se observar vários graus de atipia celular. Quando as alterações se apresentam na camada basal ou parabasal, corresponde a uma displasia leve (B/H). Alterações atingindo a metade do epitélio correspondem a uma displasia moderada (C/I) e quando se estendem até à superfície, a displasia é avançada (D/J). No carcinoma bem diferenciado (E/K), a invasão apresenta produção de queratina (E/K), enquanto que no carcinoma pobremente diferenciado (F/L) é difícil identificar o tecido de origem, os clones perdem adesões celulares facilitando a metástase. Fonte: doação de Prof. Ricardo Della Coletta (FOP-UNICAMP).

A malignidade é geralmente precedida por lesões potencialmente

malignas, cuja evolução histopatológica pode ser observada clinicamente pela

presença dessas lesões antes do surgimento do CEC oral. Entre as lesões

potencialmente malignas mais importantes para o CEC da cavidade oral encontra-se

a leucoplasia, que se assemelha a placas brancas na mucosa oral, e a eritroplasia,

caracterizada por lesões avermelhadas na mucosa oral. Para o CEC de lábio inferior,

a queilite actínica apresenta-se como uma lesão potencialmente maligna para essa

região anatômica (Neville & Day 2002). Tais lesões têm sido documentadas em

associação ou precedendo as lesões de CEC oral (van der Waal 2009), apresentando

maior risco de transformação maligna quando comparadas à mucosa normal, uma vez

que as alterações histopatológicas são similares às observadas nos carcinomas

pouco invasivos (Eversole 2009). Além disso, o aumento progressivo na taxa de

transformação maligna está diretamente relacionado à severidade da alteração

displásica do epitélio (Kujan et al. 2006).

O tamanho das lesões de CEC pode variar de alguns milímetros para vários

centímetros em casos mais avançados (Bagan et al. 2010). Lesões iniciais são

geralmente assintomáticas e à medida que crescem podem se tornar uma massa

exofítica (formação de aumento de volume vegetante, papilar, verruciforme), ou então

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podem apresentar um padrão endofítico caracterizado por uma depressão (invasiva,

escavada) com uma superfície ulcerada (Neville & Day 2002) (Figura 3).

Figura 3. Lesões de carcinoma oral de células escamosas (CEC). (A) Paciente com lesão exofítica e ulcerada na borda lateral da língua (retirado de Muñoz-Corcuera et al. 2009). (B) Paciente com lesão endofítica ulcerada na borda lateral esquerda da língua (retirado de Chi et al. 2015).

1.3 Tratamento, prognóstico e sobrevida

O objetivo do tratamento de câncer oral consiste em eliminar o tumor,

restaurar a estrutura e a função da área afetada, minimizar as sequelas deixadas pela

doença e tratamento e prevenir a ocorrência de novos tumores primários. Entretanto,

casos em que não há cura, o objetivo passa a ser aumentar a qualidade de vida do

paciente durante a sobrevida (Shah & Gil 2009).

A escolha do tratamento inicial de CEC oral deve considerar alguns fatores

relacionados ao tumor primário e características relacionadas ao paciente. Dentre as

características tumorais a serem consideradas são o sítio primário, tamanho,

proximidade aos ossos da mandíbula e maxila, condição dos linfonodos cervicais,

tratamentos prévios e características histológicas como o tipo, classificação e

profundidade de invasão do tumor. Fatores relacionados ao paciente incluem idade,

condição de saúde em geral, tolerância ao tratamento e estilo de vida (fumante ou

etilista) e características socioeconômicas (Shah & Gil 2009).

Os métodos de tratamento de CEC oral podem incluir a combinação de

terapias como radioterapia e quimioterapia seguido por cirurgia, geralmente utilizada

em estágios avançados da doença, ou apenas a aplicação de uma dessas terapias

isoladamente, comumente utilizado em casos iniciais da doença. Em tumores

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malignos da cavidade oral, a remoção cirúrgica é um dos procedimentos mais

importantes para o tratamento. Tumores pequenos e superficiais podem ser

facilmente removidos por cirurgia pela abertura da boca, enquanto tumores maiores

requerem outras técnicas cirúrgicas para a exposição e excisão tumoral. Alguns sítios

primários da cavidade oral, como tumores primários da língua, podem ser inicialmente

tratados com radioterapia, em contraste a tumores situados próximos aos ossos. Além

disso, quanto maior o tumor, maior o risco de metástase linfonodal regional, sendo

necessário considerar um tratamento eletivo (Shah & Gil 2009).

Na prática clínica, o estadiamento do câncer oral é importante para

estabelecer o plano de tratamento e determinar o prognóstico do paciente. A

necessidade de se classificar os casos de câncer em estádios baseia-se na

constatação de que as taxas de sobrevida são diferentes quando a doença está

restrita ao órgão de origem ou quando ela se estende a outros órgãos, implicando

assim no prognóstico do paciente. Portanto, estadiar um caso de neoplasia maligna

significa avaliar o seu grau de disseminação e para isso há regras internacionalmente

estabelecidas. Essas regras são estabelecidas em sistemas de classificação, os quais

obedecem a diferentes variáveis, dentre elas: a localização, tamanho ou volume do

tumor, invasão direta e linfática, presença de metástases à distância, diagnóstico

histopatológico, produção de substâncias, manifestações sistêmicas, duração dos

sinais e sintomas, sexo e idade do paciente. O sistema mais utilizado para a

classificação dos tumores, incluindo o CEC oral, é o TNM (tumor-node-metastasis),

preconizado pela União Internacional Contra o Câncer (UICC) (Edge & Compton

2010), no qual T representa o tamanho do tumor primário, N indica a condição dos

linfonodos regionais (acometimento linfonodal) e M indica a presença ou ausência de

metástase à distância (Tabelas 1 e 2). Estes parâmetros recebem graduações,

geralmente de T0 a T4, de N0 a N3 e de M0 a M1. Além das graduações numéricas,

as categorias T e N podem receber subclassificações em graduações alfabéticas (a,

b, c), sendo que tanto as graduações numéricas como as alfabéticas expressam o

nível de evolução do tumor e do comprometimento linfonodal. As categorias T, N e M

também podem ser agrupadas em combinações pré-estabelecidas e organizadas em

estádios que variam de I a IV, os quais podem ser subclassificados em A e B para

expressar o nível de evolução da doença.

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Tabela 1. Definições de TNM para câncer oral de acordo com o World Health Organization (WHO) Classification of Tumours.

Categoria Definição

Tumor primário (T)

TX Tumor primário não pode ser avaliado T0 Sem evidência de tumor primário Tis Carcinoma in situ T1 Tumor de 2 cm ou menor em seu maior diâmetro T2 Tumor maior de 2 cm, mas não maior que 4 cm em seu

maior diâmetro T3 Tumor maior que 4 cm em seu maior diâmetro T4a Doença local moderadamente avançada

Cavidade oral: tumor invade estruturas adjacentes apenas (ex.: mandíbula e maxila, musculatura extrínseca profunda da língua, seios maxilares, pele da face)

T4b Doença local bastante avançada Cavidade oral: tumor invade espaço mastigatório, a base do crânio e/ou envolve a artéria carótida interna

Linfonodo regional (N)

NX Linfonodos não podem ser avaliados

N0 Sem metástase em linfonodos regionais

N1 Metástase em um único linfonodo ipsilateral, menor ou igual a 3 cm em seu maior diâmetro.

N2a Metástase em um único linfonodo ipsilateral, maior do que 3 cm, porém menor do que 6 cm em seu maior diâmetro; ou múltiplos linfonodos ipsilaterais, nenhum maior do que 6 cm em seu maior diâmetro; ou linfonodos bilaterais ou contralaterais, nenhum maior do que 6 cm em seu maior diâmetro.

N2b Metástase em múltiplos linfonodos ipsilaterais, maior do que 3 cm, porém menor que 6cm em seu maior diâmetro.

N2c Metástase em linfonodos bilaterais e contralaterais, nenhum maior do que 6 cm em seu maior diâmetro

N3 Metástase em linfonodo maior que 6 cm em seu maior diâmetro

Metástase à distância (M)

M0 Sem metástase à distância

M1 Presença de metástase à distância

Adaptado de (Barnes et al. 2005).

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Tabela 2. Estadiamento e classificação TNM para câncer oral de acordo com o World Health Organization (WHO) Classification of Tumours.

Estádio Classificação TNM

0 Tis N0 M0 I T1 N0 M0 II T2 N0 M0 III T3 N0 M0

T1 N1 M0 T2 N1 M0 T3 N1 M0

IV

IVA T4a N0 M0 T4a N1 M0 T1 N2 M0 T2 N2 M0 T3 N2 M0 T4a N2 M0

IVB T4b qualquer N M0 Qualquer T N3 M0

IVC Qualquer T qualquer N M1

Adaptado de (Barnes et al. 2005).

Em CEC oral, casos em estágios iniciais ou mesmo avançados são tratados

cirurgicamente com a remoção de margens de 1-2 cm, podendo ser acompanhado de

dissecção do pescoço se houver acometimento linfonodal ou quando há um elevado

risco de metástase regional oculta (Chi et al. 2015). Quando em estágio inicial (T1 e

T2), os casos são tratados com cirurgia ou radioterapia e comumente apresentam um

prognóstico favorável. Tumores de estádio III ou IV geralmente requerem uma

combinação de métodos de tratamento, com cirurgia para remoção do tumor primário

e aplicação de radioterapia e/ou quimioterapia, cuja necessidade é definida de acordo

com algumas características, incluindo presença de margens cirúrgicas positivas,

invasão perineural ou linfovascular, estadiamento N2 ou N3 e extensão extracapsular

do tumor nos linfonodos (Chi et al. 2015). Assim, critérios para a ressecção cirúrgica

precisa são necessários, de forma que a indicação terapêutica do câncer depende do

estadiamento da doença. Assim, um estadiamento bem conduzido leva a condutas

terapêuticas corretamente aplicadas.

Um fator importante que afeta o resultado a longo prazo após o tratamento

inicial de câncer da cavidade oral é o estágio da doença no momento do diagnóstico

(Shah & Gil 2009). O diagnóstico precoce tem sido um dos principais fatores para a

sobrevida do paciente. Em geral, a sobrevida de 5 anos ocorre em apenas 53% dos

casos de CEC oral (Bánkfalvi & Piffkò 2005), entretanto, se detectado em estágios

iniciais as taxas de sobrevida são de 80-90% em CEC oral (Bagan et al. 2010). No

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entanto, mais de 60% dos casos de CEC oral são diagnosticados tardiamente, o que

implica em uma maior agressividade dessa neoplasia e em tratamentos mutiladores,

impactando negativamente na qualidade de vida do paciente. Uma diminuição na taxa

de sobrevida também é observada quando ocorre metástase dos linfonodos regionais

(Neville & Day 2002). Adicionalmente, o câncer oral apresenta alta taxa de

recorrência, sendo que pacientes que sobrevivem a um primeiro quadro da doença

apresentam 20 vezes mais risco de desenvolver um segundo tumor primário (Seoane

Lestón & Diz Dios 2010; Shah et al. 2011). Assim, o diagnóstico precoce continua

sendo uma importante etapa, podendo impactar positivamente no prognóstico do

paciente e na sobrevida.

Os fatores prognósticos de CEC oral compreendem características que

compõe o sistema de classificação TNM. Entretanto, tumores de um mesmo grupo de

estadiamento TNM podem apresentar comportamentos diferentes, diferindo na

sobrevida e na resposta ao tratamento (Takes et al. 2010). Embora o prognóstico seja

pior em pacientes com tumores em estadiamentos mais avançados, o prognóstico

pode diferir significativamente dentro do mesmo grupo devido a diferenças explicadas

pelas características biológicas do tumor e a fatores relacionados à interação tumor-

hospedeiro, informações que não são incluídas no sistema TNM. Embora esse

sistema seja imperfeito, ele é amplamente utilizado no plano de tratamento e na

determinação do prognóstico. Por outro lado, estudos tem demonstrado a associação

de características clínico-patológicas e histopatológicas ao prognóstico de pacientes

com CEC oral, incluindo o padrão de crescimento, padrão de invasão em ilhas nos

tecidos subjacentes, profundidade de invasão, presença de infiltrado inflamatório,

invasão perineural, invasão vascular, dentre outros (Takes et al. 2010; Brandwein-

Gensler et al. 2010; Jadhav & Gupta 2013; Almangush et al. 2015; Sawazaki-Calone

et al. 2015). A inclusão desses critérios dentro de um sistema de classificação pode

acarretar na determinação mais precisa do prognóstico e auxiliar na decisão clínica.

1.4 Sistemas de classificação histológica em CEC oral

O estadiamento clínico com base na classificação TNM e na localização do

tumor são rotineiramente os principais critérios para o prognóstico e tratamento de

CEC oral (Scully & Bagan 2009). No entanto, é possível observar variações na

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resposta ao tratamento e no prognóstico entre pacientes com tumores de mesmo

estadiamento, ou seja, alguns pacientes podem apresentar uma sobrevida

prolongada, enquanto outros podem morrer de metástase rapidamente. Diante disso,

foi proposto que a gradação histopatológica detalhada dos tumores poderia ajudar os

médicos na individualização do tratamento e no prognóstico de pacientes com CEC

oral (Almangush et al. 2015; Brandwein-Gensler et al. 2005; Bryne et al. 1992).

Muitos estudos têm buscado determinar quais parâmetros histológicos

mais contribuem para a determinação do prognóstico. O primeiro sistema de

classificação histopatológica de CEC oral foi desenvolvido por Broders em 1920

(Broders 1920), o qual considera que tumores pobremente diferenciados apresentam

um pobre prognóstico. Esse modelo foi mais tarde adotado pela Organização Mundial

da Saúde (WHO) (Barnes et al. 2005), porém foi criticado em alguns estudos por ser

subjetivo e devido à característica celular heterogênea que os tumores apresentam,

podendo refletir em diferenças no comportamento invasivo e metastático (Bryne et al.

1989). Outros sistemas foram propostos para padronizar a classificação e os fatores

prognósticos. Em 1984, Anneroth e colaboradores (Anneroth & Hansen 1984)

propuseram um novo sistema de classificação de malignidade, o qual avalia

características da região invasiva do tumor. Nesse sistema, 3 características das

células tumorais das regiões menos diferenciadas do tumor, juntamente com outras 3

características histológicas da relação célula tumoral e tecido conectivo, são

consideradas, sendo: grau de queratinização, número de polimorfismo, número de

mitoses, padrão de invasão, estágio da invasão e infiltração de leucócitos. Ao

comparar o valor prognóstico desse novo sistema com o sugerido por Broders, Bryne

e colaboradores (Bryne et al. 1989) mostraram que o novo sistema de classificação

maligna é um fator prognóstico altamente significativo em CEC oral, sugerindo assim

que características histológicas da região invasiva do tumor são importantes para a

predição do comportamento clínico do tumor, região em que as células mais se

assemelham às que dão origem à metástases. Mais tarde, um novo estudo realizado

por Bryne e co-autores (Bryne et al. 1992) com a avaliação histológica de 61 casos de

CEC oral, demonstrou que a classificação maligna das margens invasivas (MG,

margin grading ou deep invasive margins) do tumor apresentam um alto valor

prognóstico, concluindo que essa região pode ser utilizada para auxiliar no

planejamento do tratamento de CEC oral. Esse sistema de classificação de

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malignidade nas margens invasivas considera o grau de queratinização, polimorfismo

nuclear, padrão de invasão e infiltração linfoplasmocitária somente nas áreas mais

invasivas do tumor. Mais tarde esse modelo de classificação maligna foi também

utilizado em um novo estudo com a inclusão do parâmetro de invasão vascular, o qual

foi fortemente associado à metástase linfonodal e sobrevida específica (Larsen et al.

2009).

Outro sistema de classificação baseado em características histológicas é o

modelo de risco histológico (HRM, histological risk model), proposto por Brandwein-

Gensler e colaboradores (2005), o qual se baseia em três parâmetros histopatológicos

para a avaliação de espécimes cirúrgico: (1) pior padrão de invasão (WPOI, worst

pattern of invasion), (2) invasão perineural (PNI, perineural invasion) e (3) resposta

linfocítica do hospedeiro (LHR, lymphocytic host response) (Brandwein-Gensler et al.

2005). Este modelo classifica os pacientes em grupos de baixo, intermediário e alto

risco e demonstrou seu poder preditivo para recidiva local e sobrevida global em CEC

oral (Brandwein-Gensler et al. 2005; Brandwein-Gensler et al. 2010). De uma forma

geral, o padrão de invasão tumoral pode ser descrito como o modo que o tumor infiltra

no tecido subjacente, na interface tumor/hospedeiro. Esse padrão de invasão pode

ocorrer de um modo disperso, com ilhas celulares ou células soltas, refletindo uma

neoplasia mais agressiva do que em padrões de crescimento mais uniformes, por

inteiro. A resposta linfocitária do hospedeiro pode estar presente ao redor da

neoplasia, como uma faixa contínua de células inflamatórias, como placas de células

inflamatórias dispersas ou então ausente. Por sua vez, a invasão perineural pode

ocorrer com a presença de células e/ou ilhas neoplásicas ao longo ou dentro de um

fascículo nervoso, o que está relacionada a um padrão mais invasivo do tumor

(Brandwein-Gensler et al. 2005).

Recentemente, Almangush e colaboradores (2014) avaliaram a eficácia de

parâmetros histomorfológicos em predizer a mortalidade de pacientes em estágios

iniciais de CEC oral, afim de agrupar pacientes em grupos de alto risco para

tratamentos multimodais, ou em grupos de baixo risco, no qual o tratamento cirúrgico

seria suficiente (Almangush et al. 2014). Resultados revelaram que a profundidade de

invasão, tumor de brotamento (do inglês tumor buddings) e pior padrão de invasão

(WPOI, worst pattern of invasion) foram os únicos parâmetros capazes de predizer

independentemente o prognóstico de pacientes em estágios iniciais (T1/T2N0M0) de

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CEC oral de língua. Em 2015 introduziram o modelo BD, que é baseado em dois

parâmetros: 1) tumor de brotamento (B, tumor buddings), composto por duas

propriedades de malignidade: perda da coesão celular e ativo movimento invasivo; 2)

profundidade de invasão tumoral (D, depth of tumor invasion), em milímetros. O tumor

de brotamento, definido como a presença de uma única célula neoplásica ou de um

pequeno grupo composto por até 5 células neoplásicas na região de fronte invasivo,

foi utilizado como um parâmetro para avaliar o padrão de invasão, enquanto a

profundidade da invasão foi aplicada para avaliar a profundidade de invasão do tumor

nos tecidos adjacentes. A combinação desses dois fatores BD apresentaram um

importante valor prognóstico associado ao alto risco de recorrência loco-regional e

menor sobrevida em pacientes com CEC oral, conferindo também um aumento na

acurácia e na confiabilidade da predição do prognóstico comparado ao uso desses

parâmetros separadamente (Almangush et al. 2015; Sawazaki-Calone et al. 2015).

Muitos estudos tem buscado um parâmetro histológico que contribua

fortemente na determinação do prognóstico, entretanto, nenhum sistema de

classificação histopatológica tem sido universalmente aceito para CEC oral

(Sawazaki-Calone et al. 2015). As diferenças encontradas entre os perfis histológicos

de CEC oral podem estar relacionadas à agressividade do carcinoma não somente

por características histomorfológicas, mas também pela composição molecular das

distintas regiões do tumor, deixando evidente a necessidade de estudos detalhados

nessas áreas, principalmente na região de fronte tumoral, a qual tem sido

demonstrada como associada à agressividade do tumor.

1.5 Região de fronte invasivo tumoral

Em 1989, Bryne já sugeria que a histologia das áreas invasivas do tumor

(ITF, Invasive Tumor Front) eram importantes para a predição do comportamento

clínico do tumor de CEC oral e auxiliasse na escolha do tratamento (Bryne et al. 1989;

Bryne 1998). Outros estudos também utilizaram essa região ITF para definir um

sistema de classificação histológica e assim tentar predizer o prognóstico de um

paciente de CEC oral (Brandwein-Gensler et al. 2005; Almangush et al. 2014).

A região de fronte invasivo tumoral é um local dinâmico e fundamental na

diferenciação dos tumores malignos, sendo considerada a frente invasiva do epitélio

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na margem do tecido conjuntivo na transição epitélio-mesenquimal (EMT, epithelial

mesenchymal transition) (Costa et al. 2015; Almangush et al. 2015; Salo et al. 2014).

Essa região ITF apresenta menor grau de diferenciação e alto grau de dissociação

celular, sendo composta por células que apresentam características diferentes

àquelas presentes nas demais regiões do tumor, mais semelhantes às células que

promovem metástase do que às células de outra áreas menos invasivas do tumor

(Liotta 1986; Bryne et al. 1992; Bryne 1998; Almangush et al. 2015). Além disso, as

células neoplásicas da região ITF apresentam um fenótipo mais agressivo e com

habilidade de invadir tecidos adjacentes, vasos sanguíneos e linfáticos e assim

promover metástase (Bankfalvi & Piffko 2000).

A composição molecular e morfológica da área ITF tem sido abordada em

alguns trabalhos, uma vez que eventos importantes para a disseminação do tumor

como o ganho e a perda de moléculas de adesão, a secreção de enzimas proteolíticas,

o aumento da proliferação celular e iniciação da angiogênese ocorrem na interface de

interação tumor-hospedeiro, isto é, na região de invasão do tumor (Bryne 1998;

Bankfalvi & Piffko 2000; Sharma et al. 2013). Muitos processos de adesão célula-

matriz e perda de adesão célula-célula são pré-requisitos para a progressão tumoral

e estudos sugerem que alterações na expressão de moléculas de adesão podem ser

úteis para a determinação do prognóstico. Um aumento na expressão de moléculas

de adesão como caderinas, integrinas, CD44, lamininas, tenascina e glicoproteínas já

foi observado na região ITF. Enzimas proteolíticas também participam do processo de

invasão celular e podem ser ativadas por células do estroma ou pelas células

neoplásicas da região ITF, sendo que o aumento na expressão dessas enzimas na

região de ITF em comparação com as demais áreas do tumor já foi relatado em

estudos de CEC oral. De forma semelhante, um aumento na expressão de moléculas

relacionadas à proliferação celular também já foi encontrado na região ITF comparado

às demais regiões do tumor. Outros eventos como a sinalização molecular para

iniciação da angiogênese e migração celular, bem como interações entre células

neoplásicas e células do sistema imunológico também ocorrem na região de fronte

invasivo tumoral (Bryne 1998; Bankfalvi & Piffko 2000).

Em 2013, Usami e colaboradores (Usami et al. 2013) demonstraram que a

expressão de ICAM-1, uma proteína que acredita-se estar relacionada à malignidade,

é predominante na região frontal invasiva de CEC de língua, tendo sua expressão

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correlacionada à invasão, metástase em linfonodos e ao aumento do número de vasos

sanguíneos e linfáticos na região afetada. Adicionalmente, desequilíbrios

cromossômicos foram encontrados exclusivamente na região frontal invasiva de

carcinomas de laringe (Ambrosio et al. 2013), sendo que tais alterações

cromossômicas revelaram genes associados a um pior prognóstico.

Portanto, vários eventos moleculares de importância para a disseminação

do tumor ocorrem na interface tumor-hospedeiro, de forma que o fronte invasivo

tumoral pode refletir o prognóstico melhor que outras áreas do tumor (Sharma et al.

2013). Assim, as áreas invasivas do fronte tumoral diferem das demais regiões do

tumor e são de grande interesse para o estudo de malignidade em CEC oral, bem

como na determinação do prognóstico e contribuir para o entendimento da interação

tumor-hospedeiro.

1.6 Ambiente tecidual em câncer – estroma

O sucesso do desenvolvimento tumoral é dirigido em grande parte pelo

ambiente tecidual, no qual as células do estroma do hospedeiro participam da

indução, seleção e expansão das células neoplásticas. Tumores são tecidos

complexos formados por células neoplásicas e pelo estroma circundante. O estroma

é formado por tecido conjuntivo, contendo vários tipos de células, e atua no suporte

de tecidos e órgãos. Dentre os componentes do estroma, fibroblastos são essenciais

na síntese e depósito de matriz extracelular (ECM, extra celullar matrix) a partir da

produção de uma variedade de colágenos e fibronectinas. Coletivamente, o tecido

tumoral é referido como microambiente tumoral (TME, tumor microenvironment). Na

medida que o câncer progride, o TME ao redor também evolui através de contínuas

mudanças nas interações tumor-estroma (Koontongkaew 2013).

A ECM é uma estrutura tridimensional e acelular, presente em todos os

tecidos. Sua função vai além de prover suporte à integridade e elasticidade de tecidos,

a camadas de células na membrana basal e a células individuais como substrato para

a mobilidade celular. Por ser uma estrutura dinâmica, a ECM é constantemente

remodelada para controlar a homeostase tecidual (Hynes 2009). Em mamíferos, a

ECM é composta por diversas proteínas, incluindo colágenos, proteoglicanos (PG,

proteoglycans) e glicoproteínas (Hynes & Naba 2012). Colágenos são as principais

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proteínas estruturais da ECM e podem ser classificadas em fibrilares (colágenos I-III,

V e VI), que proveem resistência à ECM, e não fibrilares. PGs, como aggrecan,

versican, perlecan e decorin apresentam cadeias laterais de glicosaminoglicanos

(GAGs, glycosaminoglycans) e são intercaladas entre colágenos fibrilares,

preenchendo o espaço intersticial extracelular e conferindo hidratação. Além de sua

função de modelamento da ECM, glicoproteinas como as lamininas, elastina,

fibronectinas, trombospondinas, tenascinas e nidogênio também estão envolvidas na

interação célula-ECM, atuando como ligantes para receptores da superfície celular

como as integrinas. Há ainda outras proteínas associadas à ECM e que participam de

seu modelamento, entre elas encontram-se fatores de crescimento, citocinas,

metaloproteinases como as ADAMs, mucinas, lectinas, galectinas, semaforinas e

plexinas (Murphy 2008; Bonnans et al. 2014).

Há dois tipos de ECM que diferem quanto à localização e composição: 1)

matriz do tecido intersticial conjuntivo, que envolve células e provê suporte para

tecidos e 2) membrana basal, uma forma especializada da ECM que separa o epitélio

do estroma circundante e controla a organização celular e a diferenciação por meio

de interações com receptores da superfície celular e outras proteínas da ECM

(Bonnans et al. 2014). A matriz intersticial é composta principalmente por colágeno

tipo I e fibronectina, enquanto que a membrana basal consiste em grande parte de

colágeno tipo IV, lamininas, proteoglicanos e outras proteínas sintetizadas e

secretadas pelas células epiteliais, endoteliais e fibroblastos (Figura 4) (Bonnans et

al. 2014).

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Figura 4. Composição estrutural e proteica da matriz extracelular (ECM). A ECM pode ser dividida em dois tipos, a membrana basal, a qual separa o epitélio do estroma circundante, e a matriz intersticial, que envolve células e provê suporte para tecidos. Componentes da ECM interagem constantemente com as células epiteliais, servindo como ligantes para receptores celulares e transmitindo sinais que regulam vias e processos biológicos. (Adaptado de Bonnans et al. 2014).

A estrutura da ECM bem como as proteínas nela presentes apresentam

papéis vitais na determinação, diferenciação, proliferação, sobrevivência, migração e

invasão celular. Os processos de invasão celular e metástase ocorrem em diversos

passos, incluindo a formação de novos vasos sanguíneos (angiogênese), invasão

local, migração celular, intravasation (invasão de vasos sanguíneos ou linfáticos por

células cancerígenas), extravasation (saída das células cancerígenas pelos capilares)

e crescimento em um sítio secundário (Hanahan & Weinberg 2000; Zetter 1998).

Embora muitos genes estejam relacionados com a disseminação do

câncer, entre os mais caracterizados estão aqueles que codificam proteases de

degradação da matriz e proteínas de adesão. Por sua vez, proteases como as

metaloproteases de matriz (MMPs, matrix metalloproteinases) degradam e

remodelam a matriz extracelular, permitindo que células tumorais possam invadir

localmente ou também formar metástase. Além de permitirem o desenvolvimento de

metástases, proteases também podem ativar fatores como fator de crescimento de

fibroblasto-2 (FGF-2), fator-α de transformação de crescimento (TGF-α) e fator de

crescimento endotelial vascular (VEGF), os quais promovem o aumento do

crescimento celular, a migração celular e angiogênese. De acordo com suas funções

apresentadas no processo de metástase, altos níveis de diversas proteases têm sido

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associados com prognósticos em diferentes malignidades (Duffy 1996; Murphy 2008;

Roy & Walsh 2014).

Assim como as proteases, moléculas de adesão também estão envolvidas

em muitos estágios durante invasão e metástase. Nos estágios iniciais da via

metastática, as células necessitam se soltar das células vizinhas e aderirem à

membrana basal. Como as células invasoras migram através da matriz extracelular,

muitos passos de adesão e liberação ganham espaço. Na circulação, células tumorais

aderem a células sanguíneas e a células endoteliais. A adesão é mediada por

proteínas transmembrânicas, como integrinas, caderinas e selectinas alterações na

expressão dessas proteínas, especialmente as caderinas e integrinas, são

frequentemente encontradas em condições de malignidade (Behrens 1993; Bendas &

Borsig 2012).

Diversos tipos celulares podem ser encontrados no TME, incluindo

fibroblastos, fibroblastos associados ao carcinoma (CAFs, carcinoma-associated

fibroblasts), miofibroblastos, células do músculo liso, células endoteliais, pericitos,

células do sistema imunológico como neutrófilos, eosinófilos, basófilos, manócitos,

linfócitos T e B, células natural killer e células apresentadoras de antígeno (APC),

como os macrófagos e células dendríticas (Koontongkaew 2013; Kalluri 2016). Esses

diferentes tipos celulares no ambiente estromal podem ser recrutados pelas células

malignas para auxiliar o crescimento tumoral e facilitar a disseminação metastática

(Xing et al. 2010). Muitos estudos têm demonstrado o papel desses componentes no

desenvolvimento e progressão tumoral, em particular os CAFs (Salo et al. 2014;

Bagordakis et al. 2016). Os CAFs são abundantes no estroma do tumor e

desempenham um papel fundamental na progressão tumoral, promovendo o

crescimento e invasão de células neoplásicas por diversos mecanismos (Xing et al.

2010). Seus precursores são fibroblastos normais e a trans-diferenciação em CAFs é

dirigida em grande parte por citocinas como o transforming growth factor-β (TGF- β)

liberadas pelas células neoplásicas (Pietras & Östman 2010; Bremnes et al. 2011;

Salo et al. 2014). CAFs podem ser identificados pela expressão de α-actina de

músculo liso (α-smooth muscle actin, αSMA) e sua presença tem sido associada a um

pobre prognóstico à invasão de ossos em CEC oral (Bremnes et al. 2011; Elmusrati

et al. 2017). Muitos reguladores moleculares secretados por CAFs apresentam papel

pró-tumorigênico. A avaliação do secretoma (proteínas secretadas) de CAFs de CEC

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oral indicou uma indução da produção de colágeno tipo I (PINP, type I collagen N-

terminal propeptide) por essas células estromais, sendo que altos níveis da expressão

dessa proteína foi associada a um pior prognóstico da doença (Bagordakis et al.

2016). Outros estudos demonstraram que CAFs são encontrados em

aproximadamente 60% dos casos de CEC oral (Kellermann et al. 2007; Kellermann et

al. 2008), frequentemente em contato com ilhas tumorais, mas não encontrados em

tecidos livre de tumor e no estroma adjacente ao tumoral (Rodrigues et al. 2015),

sendo sua presença também associada ao pior prognóstico de CEC oral (Dourado et

al. 2017). Por sua vez, a habilidade de CAFs em influenciar o crescimento tumoral

está associada à indução da angiogênese por meio do stromal cell-derived factor 1

(SDF1) derivado de CAFs e pelo recrutamento de células endoteliais derivadas da

medula óssea (Kalluri 2016). Em estudos pré-clinicos, CAFs foram indicados como

mediadores da resistência à terapia anti-angiogênica e à terapia com o uso de

inibidores de tirosina quinase (Pietras & Östman 2010).

Nos últimos anos, a interação entre células tumorais e o estroma celular,

que é altamente responsável pela progressão de tumores e suas metástases, tem sido

investigada. Assim, um melhor entendimento da contribuição do estroma para a

progressão do câncer pode aumentar o conhecimento atual sobre a promoção do

crescimento celular por vias de sinalização e possivelmente levar a novas

intervenções terapêuticas direcionadas ao estroma do tumor (Bremnes et al. 2011;

Bonnans et al. 2014; Kalluri 2016).

Sabendo-se que características histológicas e alterações moleculares

podem diferir amplamente de uma área para outra em um mesmo tumor, o estudo da

composição de proteínas provenientes de diferentes regiões de CEC oral,

especialmente do estroma da região frontal invasiva e do interior dos tumores, tem o

potencial de fornecer um melhor entendimento dos eventos relacionados ao processo

de malignidade, bem como determinar alterações do tecido hospedeiro em resposta

ao desenvolvimento tumoral.

1.7 Alvos terapêuticos e marcadores de prognóstico em CEC oral

Procedimentos cirúrgicos continuam sendo a modalidade de tratamento

principal em CEC oral, exceto em casos inoperáveis. Muitos casos apresentam

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capacidade de resposta limitada à quimioterapia envolvendo o uso de drogas

citotóxicas devido a mecanismos que podem tanto bloquear o transporte intracelular

desses agentes quanto interferir com os alvos desses agentes moleculares. Assim,

um melhor entendimento dos perfis moleculares e biológicos de CEC oral e da

heterogeneidade dessa doença pode facilitar o desenvolvimento de terapias mais

eficientes e específicas (Silva et al. 2011). Para isso, estudos tem buscado identificar

marcadores moleculares, os quais podem ser definidos como moléculas que indiquem

a presença do câncer ou que possam também informar sobre o comportamento futuro

do câncer quanto à possível metástase ou reposta à terapia.

Diversos fatores moleculares têm sido estudados em câncer de cabeça e

pescoço, incluindo CEC oral. O objetivo de muitos estudos na busca de um marcador

é a identificação inicial de lesões potencialmente malignas e lesões malignas, bem

como a identificação de padrões de marcadores para determinar o prognóstico e

predizer a resposta ao tratamento. Uma vasta lista de potenciais marcadores com um

papel significante no prognóstico tem sido identificada para CEC oral (Silva et al. 2011;

Rivera et al. 2017). Muitos desses estudos foram incluídos em uma recente revisão

sistemática para identificar e avaliar as evidências desses marcadores reportados

para CEC oral (Rivera et al. 2017). Entre os critérios utilizados, os autores

encontraram que a maioria dos estudos na busca por marcadores envolve a análise

de proteínas como alvos, sugerindo 41 marcadores com valor prognóstico em CEC

oral. Dentre esses trabalhos, MMP-2, MMP-1, caderina-1, mucina-1, GLUT-1, mucina-

4, interleucina-8, HPV-16, EGFR (epidermal growth factor receptor) e p53 tem

recebido grande atenção e interesse na comunidade científica. O fator de transcrição

p53, o qual é responsável por regular negativamente o ciclo celular e proteger a

integridade do genoma, também atua como um supressor tumoral por meio da inibição

da proliferação celular. Interessantemente, em CEC oral, estudos apontam que a

maior expressão de p53 indica um pobre prognóstico em casos avançados da doença

(Cutilli et al. 2013; Cutilli et al. 2016). Alterações na cascata de EGFR-Stat3 são

frequentes em CEC oral, sendo que a avaliação das proteínas envolvidas nessa

cascata de sinalização, incluindo as proteínas EGFR, o transdutor de sinal Stat3,

fatores de transcrição como H-ras e c-myc, reguladores celulares p53, ciclina D1, p16,

Rb e Bcl-2 e o marcador de proliferação celular Ki-67, demonstrou que a expressão

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de p53 e de Stat3 juntamente com a perda de expressão de p16 são preditores

independentes de um prognóstico desfavorável (Shah et al. 2009).

Em geral, muitos estudos abordam a investigação de outras proteínas

como marcadores para CEC oral, incluindo fatores de crescimento e seus receptores,

transdutores de sinais, fatores de transcrição, reguladores do ciclo celular, proteínas

relacionadas à proliferação celular e apoptose, proteínas relacionadas à hipóxia e à

angiogênese (Shah et al. 2009; Jadhav & Gupta 2013). A maioria dos trabalhos

disponíveis na literatura utilizam apenas um marcador, enquanto que uma minoria

avalia o valor prognóstico de um grupo de marcadores. A partir da análise de poucos

marcadores, a relação e a complexidade dos eventos moleculares envolvidos com o

desenvolvimento e progressão tumoral fica difícil de ser compreendida. Dessa forma,

é clinicamente importante analisar simultaneamente uma lista de alterações

moleculares e identificar as modificações mais importantes que possam auxiliar na

compreensão da agressividade da doença e predizer o prognóstico, provendo uma

informação mais precisa a respeito da resposta ao tratamento (Shah et al. 2009).

Atualmente, o uso de marcadores é um assunto de interesse em muitas

pesquisas, uma vez que podem ter grande importância nas etapas de determinação

do diagnóstico e prognóstico. Entretanto, muitos desses estudos ainda se encontram

na fase de descoberta e requerem validação para serem aceitos na prática clínica.

Futuramente, espera-se que um diagnóstico personalizado possa guiar o tratamento

e consequentemente aumentar a chance de cura da doença.

1.8 A complexidade do CEC oral e a importância da proteômica clínica

O CEC oral é o tipo de câncer de cabeça e pescoço mais prevalente, sendo

as modalidades terapêuticas ainda baseadas na predição de índices de estadiamento

clínico e classificação histopatológica. Entretanto, esses critérios são subjetivos e

relativamente incertos devido à natureza heterogênea do tumor e à resposta variável

do paciente à terapia (Silva et al. 2011), de forma que pacientes com o mesmo estágio

da doença podem apresentar uma evolução clínica e tempo de sobrevida distintos.

Num esforço para um melhor entendimento da natureza biológica dessa doença,

pesquisadores têm buscado abordagens alternativas que possam ser úteis para

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diagnósticos precoces e para a diminuição da mortalidade de câncer oral (Shah et al.

2009).

Há uma grande heterogeneidade celular e molecular no CEC oral, com

muitos genes e produtos proteicos potencialmente envolvidos em sua carcinogênese.

A carcinogênese oral, por sua vez, é um processo multifatorial com várias etapas,

modulado por fatores ambientais e genéticos, no qual diferentes mecanismos estão

envolvidos na progressão da aquisição de mutações, levando ao acúmulo de

alterações genéticas e a padrões de expressão alterados e modificações da estrutura

e função de proteínas (Wu et al. 2002; Rivera 2015). Tais mecanismos estão

relacionados com a autonomia na aquisição da sinalização de crescimento

(oncogenes), inibição de sinais de crescimento (genes supressores de tumor), fuga

da apoptose, imortalização celular, angiogênese e, finalmente invasão e metástase

estão presentes simultaneamente (Choontharu et al. 2012). De forma geral,

queratinócitos da mucosa oral normal são cronicamente expostos a fatores de risco

ao desenvolvimento de câncer oral, os quais podem interromper a homeostase e gerar

instabilidade genética, com alterações genéticas chaves nos genes TP53, NOTCH1,

EGFR, CDKN2 (cyclin-dependent kinase inhibitor 2a), STAT3, ciclina D1 e Rb. A

proliferação e o crescimento celular descontrolado, juntamente com alterações do

microambiente tumoral e perda de adesão celular, favorecem eventos de invasão das

células. Alterações nos níveis de E-caderina, N-caderina e vimentina promovem a

transição EMT, enquanto endotelinas promovem a proliferação de células endoteliais,

as quais produzem fatores como EGF que estimulam a migração celular (Rivera

2015). Portanto, há uma associação entre diferentes genes, seus produtos proteicos

e o desenvolvimento e progressão de CEC oral. Muitos destes genes e proteínas já

foram previamente descritos na literatura, enquanto outros apresentam funções

biológicas desconhecidas e necessitam de mais estudos.

Na busca por proteínas que sejam marcadores de diagnóstico e de

prognóstico ou até mesmo alvos de drogas e terapias, abordagens modernas de

proteômica baseada em espectrometria de massas têm sido amplamente utilizadas

para a identificação e caracterização de proteínas em diversos tipos de amostras

biológicas para o estudo de neoplasias, incluindo o CEC oral. A proteômica consiste

no estudo de proteínas em larga escala, incluindo a detecção, identificação,

quantificação, caracterização de modificações pós-traducionais (PTMs,

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posttranslational modifications), determinação de interação proteína-proteína e

regulação (Bensimon et al. 2012). Juntamente com a espectrometria de massas, a

proteômica permite identificar e quantificar proteínas em uma determinada condição

biológica, seja em cultura de células ou tecidos e fluidos, e assim compreender vias

de sinalização e processos biológicos regulados por essas proteínas que estejam

associados a um determinado fenótipo.

Amostras de tecidos de biópsia e de peças cirúrgicas de pacientes tem sido

amplamente utilizadas no estudo de neoplasias, incluindo o CEC oral. Em seu

trabalho, Flores e colaboradores (Flores et al. 2016) combinaram técnicas de

microdissecção a laser e proteômica baseada em espectrometria de massas para

isolar células e identificar proteínas em amostras teciduais frescas de CEC oral e

mucosa oral normal. Seus resultados identificaram 2529 proteínas, dentre as quais

107 proteínas apresentaram maior expressão nas amostras de CEC oral comparado

ao tecido normal. Particularmente, a proteína EEF1D foi encontrada com maior

abundância nas amostras de CEC oral e, juntamente com seus parceiros de interação,

promoveu a ativação das proteínas ciclina D1 e vimentina. Além disso, a diminuição

de EEF1D em linhagens celulares de câncer oral resultou na diminuição da

proliferação celular, indução da transição EMT e invasão celular. Outros estudos com

amostras de biópsias de CEC oral apontam uma lista de proteínas candidatas a

marcadores de diagnóstico, incluindo ANXA4, FLNA, heat shock protein (HSP)60,

HSP27, alpha B-cristalina, ATP sintase beta, calgranulina B, miosina, tropomiosina e

galectina 1 (He et al. 2004; Liu et al. 2016). Entretanto, a aplicação dessas proteínas

como marcadores ainda se investigações adicionais.

Em comparação com amostras de tecido de biópsia, a qual é obtida de uma

forma invasiva, muitos estudos têm utilizado fluidos biológicos como saliva e plasma

sanguíneo na busca de marcadores em CEC oral. Por sua vez, a saliva apresenta

vantagens sobre o uso de plasma por ser facilmente coletada por uma técnica de

baixo custo e não invasiva. Adicionalmente, a transformação de células epiteliais da

mucosa oral em células malignas ocorre em contato com a saliva, a qual é constituída

por secreções complexas contendo proteínas, carboidratos, lipídeos, eletrólitos e

água, bem como por microrganismos da microbiota oral (Sannam Khan et al. 2016).

Assim, a saliva humana tem sido bastante estudada e considerada uma promissora

estratégia para a descoberta e avaliação de marcadores de CEC oral.

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Em 2008, um painel de potenciais marcadores para a detecção de CEC

oral foi indicado por um estudo proteômico em saliva (Hu et al. 2008). Cinco proteínas

candidatas (M2BP, MRP14, CD59, catalase e profilina) foram validados por ELISA e

obtiveram alta sensibilidade (90%) e especificidade (83%) para detecção de CEC oral.

De forma semelhante, um outro estudo utilizou uma abordagem proteômica com

marcação isobárica por iTRAq (Isobaric tag for relative and absolute quantitation) em

saliva de pacientes com lesões orais potencialmente malignas e lesões malignas e

identificou actina e miosina como potenciais marcadores para a detecção de câncer

oral (de Jong et al. 2010). Em um estudo mais recente, dentre 19 proteínas candidatas

a marcadores de CEC oral identificadas a partir da avaliação do secretoma de uma

linhagem celular primária de CEC oral e epitélio normal adjacente, THBS2, UFD1L e

DNAJB11 foram validados em maior expressão por imunohistoquímica em CEC oral

(Hsu et al. 2014). Adicionalmente, THBS2 foi também validada com maior expressão

em amostras de saliva de pacientes com CEC oral em comparação com amostras de

indivíduos saudáveis (Hsu et al. 2014).

Considerando o papel de vesículas extracelulares liberadas por células

neoplásicas em mecanismos de sinalização mesmo a longas distâncias, Winck e

colaboradores (Winck et al. 2015) avaliaram por proteômica baseada em

espectrometria de massas o proteoma de microvesículas e o proteoma total da saliva

de pacientes com CEC oral e de indivíduos saudáveis. Proteínas relacionadas ao

sistema inflamatório, ao transporte de metais e proliferação celular foram identificados

no proteoma das vesículas extracelulares, enquanto processos imunológicos foram

encontrados no proteoma de saliva de pacientes, indicando que esses dados podem

contribuir para a determinação do prognóstico de CEC oral. A avaliação de saliva

também foi abordada em um trabalho por Kawahara e colaboradores para a avaliação

de 14 proteínas candidatas a marcadores de diagnóstico de CEC oral (Kawahara et

al. 2016). Por meio da proteômica baseada em alvos, ou seja, por meio do

monitoramento específico de proteínas pré-selecionadas por espectrometria de

massas, as proteínas C1R, LCN2, SLPI, FAM49B, TAGLN2, CFB, C3, C4B, LRG1,

SERPINA1 demonstraram maior abundância em amostras de saliva de pacientes com

CEC oral em comparação com saliva de indivíduos saudáveis. Adicionalmente, as

proteínas CFB, C3, C4B, SERPINA1 e LRG1 foram associadas ao maior risco de

desenvolvimento de CEC oral.

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Tais estudos demonstram a grande contribuição da proteômica baseada

em espectrometria de massas na descoberta de potenciais marcadores em câncer

oral. Entretanto, nenhum candidato está sendo utilizado na prática clínica devido à

falta de validação desses marcadores em um grande número de amostras clínicas

(Rivera et al. 2017). Além disso, estratégias de proteômica baseada em descoberta

enfrentam desafios como complexidade e faixa dinâmica da mistura de proteínas

presente na amostra, baixa abundância de alguns marcadores e grande

heterogeneidade biológica da doença e entre indivíduos (Rifai et al. 2006). Outro

desafio na validação de marcadores consiste na escassez de estratégias eficientes

para a determinação de quais candidatos justificam o grande investimento financeiro

necessário para o desenvolvimento de um ensaio que demonstre sua robustez. Para

isso, a proteômica baseada em alvos, juntamente com a espectrometria de massas,

tem surgido como a ligação entre a fase de descoberta e a validação de marcadores,

dirigindo os recursos para a avaliação de apenas um grupo de proteínas candidatas

(Rifai et al. 2006).

1.9 Proteômica baseada em descoberta e proteômica baseada em alvos

A quantificação de proteínas é uma das análises mais comuns na

bioquímica. Essa caracterização indica mudanças na expressão de proteínas em um

determinado fenótipo ou a um estímulo. A proteômica baseada em espectrometria de

massas é um método sensível e oferece mais do que a identificação e a quantificação

de proteínas, permitindo também a caracterização funcional, estrutural e pós-

traducional de proteínas, bem como a determinação das relações entre elas,

denominado de interactoma e delas com o sistema biológico (Bensimon et al. 2012).

Inicialmente, muitos estudos de proteômica utilizavam a separação de

proteínas por gel bidimensional (two-dimensional gel electrophoresis, 2D-PAGE), cujo

princípio consiste em separar as proteínas de acordo com seu ponto isoelétrico, a

partir da focalização isoelétrica na primeira dimensão, e de acordo com suas massas

moleculares na segunda dimensão, seguido pela análise dos spots de gel por

espectrometria de massas para identificação das proteínas (O’Farrell 1975; Celis &

Gromov 2003). Posteriormente, a proteômica utilizando gel bidimensional foi

combinada a técnicas de marcação por sondas fluorescentes, dando origem ao 2D-

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DIGE (Fluorescence Difference Gel Electrophoresis) (Unlu et al. 1997). Nessa técnica,

cada amostra é marcada com uma sonda fluorescente denominada CyDye (Cy2, Cy3

ou Cy5) e após marcação as amostras podem ser combinadas a fim de que a corrida

seja realizada no mesmo gel 2D, minimizando a variação experimental e facilitando a

comparação entre a mesma proteína proveniente de diferentes amostras (spot

matching). Embora a proteômica por gel bidimensional tenha trazido importantes

contribuições para área, essa técnica limita-se em sensibilidade, faixa dinâmica e

reprodutibilidade (Koomen et al. 2008). A separação por gel bidimensional ainda é

utilizada em alguns estudos, entretanto, esse método tem sido substituído por outras

abordagens mais sensíveis e reprodutíveis, entre outras vantagens.

O desenvolvimento de métodos sem a separação em gel iniciou-se com a

publicação do trabalho de Yates e colaboradores em 1998. O termo shotgun protein

analysis refere-se à técnica que combina digestão enzimática de proteínas seguida

pela separação por cromatografia líquida e análise por espectrometria de massas

sequencial (LC-MS/MS, tandem mass spectrometry) (Yates 1998). Essa técnica

propiciou um ganho significante em eficiência e sensibilidade na análise de misturas

complexas de proteínas, pois muitas moléculas podem ser ionizadas ao mesmo tempo

e o espectrômetro de massas é capaz de selecionar íons individuais para a

fragmentação. A análise direta de misturas complexas apresenta grandes vantagens

em relação a outros métodos que necessitam etapas prévias de purificação, evitando

também perdas significantes de proteínas menos abundantes (Yates 2013).

O rápido avanço da proteômica nos últimos anos foi possível

principalmente devido ao desenvolvimento de duas tecnologias de ionização, como a

ionização por eletrospray (ESI, electrospray ionization) (Fenn et al. 1989) e a

dessorção/ionização a laser auxiliada por matriz (MALDI, matrix-assisted laser

desorption/ionization) (Karas & Hillenkamp 1988). Juntamente com a miniaturização e

automatização da cromatografia líquida, essas tecnologias possibilitaram mensurar e

identificar peptídeos com alta sensibilidade em amostras biológicas complexas

(Mallick et al. 2007). O surgimento de novos espectrômetros de massas com maior

sensibilidade, resolução e acurácia de massas, acompanhada da geração de

algoritmos computacionais capazes de analisar os dados gerados, permitiram que a

proteômica baseada em espectrometria de massas se tornasse uma poderosa

ferramenta para a identificação e quantificação de proteínas em larga escala.

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Fundamentalmente, a espectrometria de massas mede a relação de

massa-carga (m/z) de íons em fase gasosa. Por definição, um espectrômetro de

massas consiste em uma fonte de íons, um analisador de massas e um detector que

registra o número de íons em cada valor m/z (Aebersold & Mann 2003). O estudo de

analitos na forma de íons em fase gasosa possui duas características fundamentais:

1) o movimento desses íons podem ser precisamente controlados por um campo

magnético (proporcional a m/z) e 2) Íons em fase gasosa são transmitidos com alta

eficiência para sistemas detectores e multiplicadores de elétrons, possibilitando uma

análise com alta sensibilidade (Kinter & Sherman 2000).

A ionização por ESI e MALDI são as duas técnicas mais utilizadas para

volatilizar e ionizar proteínas ou peptídeos. O método por ESI ioniza os analitos

contidos em uma solução ácida, comumente acoplado à uma coluna de cromatografia

líquida, e são então dispersos em pequenas gotículas carregadas, as quais evaporam

e transferem o analito em sua forma ionizada para o espectrômetro de massas

(Aebersold & Mann 2003). Por sua vez, MALDI forma íons em fase gasosa a partir de

moléculas presentes em uma matriz sólida ou líquida via pulsos de laser (Hoffmann &

Stroobant 2007). Esse método é geralmente utilizado para analisar misturas simples

de peptídeos, enquanto o sistema ESI-MS são mais comuns para a análise de

misturas complexas (Aebersold & Mann 2003). Na proteômica, os principais

parâmetros do analisador de massas são a capacidade de seleção ou filtro,

sensibilidade, resolução e a acurácia de massa que determinam a qualidade do dado

(espectro) gerado. Uma vez ionizados e transferidos para o espectrômetro de massas,

os íons são analisados de acordo com suas razões massa/carga (m/z) no analisador

de massas (Aebersold & Mann 2003).

Atualmente há quatro tipos básicos de analisadores de massas utilizados

na proteômica: ion trap, tempo de voo (TOF, time-of-flight), quadrupolo e o Fourier

transform ion cyclotron (FT-MS). Nos analisadores ion trap, os íons são capturados

por um certo intervalo de tempo e então submetidos à fragmentação. Ion traps são

robustos e sensíveis, porém, uma desvantagem é a baixa acurácia de massas. O

instrumento FT-MS também é um tipo de ion trap, entretanto a captura de íons ocorre

sob um campo de alto vácuo e altamente magnético, o que oferece maior

sensibilidade, acurácia de massas, resolução e faixa dinâmica. O analisador de

massas do tipo TOF opera de forma pulsada e baseia-se no princípio de que as

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velocidades de dois íons, criados no mesmo instante e com a mesma energia cinética

variam conforme a m/z dos íons, de forma que os mais leves atingem o detector mais

rápido que íons com m/z mais altas. A ionização do tipo MALDI foi a que melhor se

ajustou com esse tipo de analisador, uma vez que é produzida de forma pulsada

(Aebersold & Mann 2003). Por sua vez, o analisador do tipo quadrupolo consiste em

quatro barras paralelas, arranjadas em dois pares opostos, sendo que cada par

apresenta cargas opostas (positiva ou negativa). A aplicação de uma voltagem de

corrente continua (AC) e alternada (RF) gera um campo eletrostático oscilante que

afeta a trajetória centralizada dos íons. O quadrupolo age como um filtro de massas,

pois a variação das voltagens permite que apenas íons com uma determinada m/z

atravessem o centro do quadrupolo, enquanto que os outros íons são desviados da

trajetória central. As vantagens desse tipo de analisador de massas são a alta

velocidade de varredura e fácil acoplamento para análise em tandem, porém, ao filtrar

íons, o quadrupolo se torna um analisador de massas discriminatório (Kinter &

Sherman 2000).

Entre os diferentes tipos de instrumentos, a combinação de um ion trap

linear com um FT-MS rapidamente se tornou uma plataforma popular na proteômica

por combinar a sensibilidade, velocidade e a robustez dos ion traps com a alta

resolução dos instrumentos FT. Esse conceito foi aplicado por Makarov para o

desenvolvimento do analisador Orbitrap combinado a um ion trap linear (Hardman &

Makarov 2003). A estrutura de um Orbitrap consiste em um eletrodo externo no

formato de barril e um eletrodo central coaxial fusiforme. Ambos os eletrodos são

conectados de forma independente com fontes elétricas, as quais produzem um

campo com potencial de distribuição do tipo quadro-logarítmica. Uma vez injetados de

forma deslocada ao equador (z=0), os íons presos em órbita começam a oscilar no

sentido axial e rotacional em um movimento harmônico ao longo do eletrodo axial. A

frequência de oscilação do íon no sentido axial é independente da energia e posição

do íon, porém inversamente proporcional à raiz quadrada da m/z. O movimento dos

íons entre os eletrodos induzem uma corrente elétrica que pode ser medida e

posteriormente transformada em espectro de massas por meio da equação de

transformada de Fourier (Hu et al. 2005).

Por fim, os íons podem ser eletricamente detectados pelo detector. A

escolha do detector depende do tipo de instrumento e das aplicações analíticas. Após

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serem fragmentados e analisados, o sinal dos íons alcança o detector, o qual amplifica

o sinal da corrente de íons e o transfere para o sistema de processamento de dados.

Há vários tipos de detectores que podem ser utilizados na espectrometria de massas.

Os dois tipos principais de detectores são os multiplicadores de elétrons (electron

multiplier detector) e os fotomultiplicadores. No detector do tipo multiplicador, várias

placas coletoras de íons em série são utilizadas e mantidas em potencial crescente.

Quando o íon choca a superfície do multiplicador, dois elétrons são ejetados e em

seguida atraídos pela segunda placa gerando novos dois elétrons. Esse processo

continua até chegar à extremidade do multiplicador de elétrons, resultando em uma

corrente elétrica que é analisada e registrada pelo sistema de dados. De forma

semelhante, na placa de conversão fotomultiplicadora, os íons atingem uma placa e

ocorre a emissão de elétrons, os quais atingem uma tela de fósforo e resultam na

liberação fótons. Estes, por sua vez, são detectados por uma fotomultiplicadora, que

opera em cascada como uma multiplicadora de elétrons (Hoffmann & Stroobant 2007)

(Figura 5).

Figura 5. Componentes básicos de um espectrômetro de massas. Diferentes tipos de fontes de ionização, analisadores de massas e detectores podem ser utilizados para a análise proteômica. Os mais comuns são apresentados na ilustração. Modificado de (Aebersold & Mann 2003).

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A fragmentação de peptídeos por espectrometria de massas envolve um

aumento da energia interna dos íons promovida pela colisão com um gás inerte,

levando-os à dissociação. Comumente, a fragmentação é realizada por meio do

processo de dissociação induzida por colisão (CID, collision induced dissociation).

Neste processo, os peptídeos ionizados são introduzidos em uma região de vácuo do

espectrômetro de massas e são então isolados no primeiro analisador de massas,

sendo então acelerados para uma região do espectrômetro preenchida com um gás

inerte (hélio, argônio ou nitrogênio) proporcionando, assim, a colisão dos peptídeos

ionizados com as moléculas do gás inerte. Como resultado, a energia cinética dessas

colisões é convertida em energia vibracional interna e liberada na forma de reações

de fragmentação direcionadas pelos sítios protonados. O modelo da mobilidade do

próton descreve como a energia interna adquirida induz a transferência intramolecular

dos prótons em cada peptídeo, culminando na desestabilização das ligações do

esqueleto polipeptídico. Por consequência, ocorre a formação de dois íon-fragmentos

classificados de acordo a carga residual (próton) retida no lado N-terminal (gerando

fragmentos -a, -b e -c, dependendo da ligação que é fragmentada) ou na região C-

terminal (gerando os fragmentos -x, -y -z, dependendo da ligação que é fragmentada),

segundo a nomenclatura proposta por Roepstorff–Fohlmann–Biemann (Roepstorff &

Fohlman 1984) (Figura 6). Os pares de íons a/x, b/y e c/z são íons correspondentes

aos fragmentos opostos e complementares entre si. A fragmentação por CID favorece

principalmente a formação de íons da série b e y. Embora essa técnica seja

universalmente utilizada para sequenciar peptídeos, ela gera informações limitadas

para peptídeos grandes (>15 aa) e proteínas intactas, além de não preservar

modificações pós-traducionais (Hoffmann & Stroobant 2007).

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Figura 6. Representação esquemática da fragmentação de peptídeos. Série de íons gerados pela fragmentação, segundo lado N-terminal ou C-terminal em que o íon retém a carga residual (próton). A formação dos pares de íons é favorecida de acordo com o método de fragmentação utilizado. (Retirado de Steen & Mann 2004).

Outro método para a fragmentação de peptídeos é a dissociação por

captura de elétrons (ECD, electron capture dissociation), na qual moléculas com

múltiplas protonações interagem com elétrons de baixa energia, resultando na quebra

da ligação peptídica N-Cα e na formação de fragmentos principalmente do tipo c e z

(Zubarev et al. 1998). Ao contrário da fragmentação por CID, a ECD preserva

modificações pós-traducionais e permite um espectro de MS/MS mais informativo e

homogêneo, com maior cobertura de sequência, sendo, portanto mais utilizado em

análises de proteínas intactas sem uso de digestão enzimática. De forma similar ao

ECD, a dissociação por transferência de elétrons (ETD, electron-transfer dissociation),

utiliza ânions com afinidade eletrônica relativamente baixa. Esses elétrons são

transferidos para cátions multiprotonados de peptídeos, resultando na fragmentação

do esqueleto peptídico e formação de íons da série c e z (Syka et al. 2004; Hoffmann

& Stroobant 2007).

Em 2007, a fragmentação por dissociação induzida por alta energia de

colisão (HCD, high-energy collisional dissociation) foi implementada pela primeira vez

no instrumento LTQ Orbitrap XL (Thermo Fisher Scientific, U.S.A.) (Olsen, Macek et

al., 2007). Essa tecnologia é similar a CID, porém utiliza uma maior energia de colisão,

com menor tempo de ativação (~0.1 ms para HCD, comparado com ~10 a 30 ms para

CID). Além disso, a fragmentação por HCD utiliza uma câmara do tipo octapolo (e não

do tipo ion trap) e a detecção dos fragmentos é realizada em alta resolução no orbitrap,

possibilitando um espectro mais informativo principalmente na região de baixa m/z

(Olsen et al. 2007; Hoffmann & Stroobant 2007).

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Para a interpretação dos dados de proteômica e chegar em uma hipótese

biológica, dados quantitativos são crucialmente importantes. A quantificação de

proteínas por espectrometria de massas pode ser realizada a partir da determinação

absoluta ou relativa em comparação a um padrão de referência. Abordagens de

comparação quantitativa de proteínas sem o uso de marcação isotópica é denominada

de label-free (Neilson et al. 2011). Dentre as técnicas de quantificação label-free, a

contagem de espectros (spectral counts) é bem utilizada em estudos proteômicos, a

qual se baseia no princípio de que quanto mais abundante a proteína na amostra,

maior será número de vezes que determinado(s) peptídeo(s) dessa proteína será

selecionado e fragmentado, e portanto maior será o número de espectros desse

peptídeo (Arike & Peil 2014). Muitos métodos de contagem de espectros têm sido

desenvolvidos, incluindo índices de abundância de proteínas (PAIs, protein

abundance indices) (Rappsilber et al. 2003) e o índice modificado de abundância de

proteínas de forma exponencial (emPAI, exponentially modifed protein abundance

index) (Shinoda et al. 2009), no qual o número de peptídeos observados é normalizado

com o número de peptídeos observáveis para a proteína em questão. Outro método

para quantificação label-free é denominado fator de abundância espectral normalizado

(NSAF, normalized spectral abundance factor) (Zybailov et al. 2006), no qual a

contagem de espectro de uma proteína é dividida pelo comprimento da mesma e

normalizado com a soma total de contagem de espectros em uma análise. Uma

variação desse método é o fator distribuído de abundância espectral normalizado

(dNSAF, distributed normalized spectral abundance fator) (Zhang et al. 2010), o qual

considera peptídeos comuns entre diferentes proteínas, de forma que a contagem de

espectro/peptídeos em comum entre diferentes proteínas são distribuídos para cada

proteína baseado na quantidade de peptídeos/contagem de espectros únicos para

cada proteína.

Alguns programas de análise de dados proteômicos reportam o dado

quantitativo baseado na intensidade dos peptídeos de determinada proteína

identificada. A intensidade do sinal do peptídeo ao longo da corrida cromatográfica

pode ser plotado em um gráfico juntamente com o tempo de corrida, de forma que a

área sob a curva (XIC, extracted ion chromatogram) pode ser utilizada para determinar

a quantidade de proteína presente na amostra. Muitos outros métodos para a

quantificação de proteínas têm sido desenvolvidos e podem ser determinados por

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programas computacionais com a leitura dos dados brutos gerados pelo

espectrômetro de massas, os quais, além de fornecer a identificação das proteínas

por busca contra banco de dados, reportam informações quantitativas para as

proteínas identificadas (Ong & Mann 2005). Embora não seja o objetivo descrever e

comparar diferentes métodos de quantificação e algoritmos utilizados por programas

de busca para identificação de proteínas, o programa MaxQuant com o algoritmo

Andromeda (Cox & Mann 2008) tem sido aplicado em muitos estudos proteômicos.

MaxQuant pode ser aplicado para analisar dados de técnicas de quantificação relativa,

incluindo a quantificação label-free (LFQ, label-free quantification). Valores de LFQ

representam a quantificação relativa da proteína e são representados por um perfil de

intensidade normalizada gerado de acordo com o algoritmo implementado, o qual

considera informações de intensidade do peptídeo, tempo de retenção e m/z entre as

amostras (Cox et al. 2014).

Com o desenvolvimento de técnicas de marcação de proteínas ou

peptídeos, proteomas complexos provenientes de diferentes amostras podem ser

analisados em uma mesma corrida cromatográfica, reduzindo assim a variabilidade e

as etapas no processo de análise. A marcação baseada em isótopos (SILAC, stable

isotope-based labeling with amino acids) é amplamente utilizada para a quantificação

de proteínas provenientes de cultura de células. Entretanto, essa técnica exige passos

extras para o preparo do experimento, enquanto técnicas sem marcação (label-free)

são mais simples e mais baratas. Outra vantagem de não utilizar marcação é que

pode ser aplicada para qualquer amostra, incluindo aquelas que não podem ser

marcados metabolicamente, como por exemplo, amostras clínicas. Além disso, há um

número limitado de amostras que podem ser comparadas em um mesmo experimento

que envolve marcação devido ao número de tipos de marcadores diferentes que

podem ser aplicados simultaneamente.

Em um experimento de proteômica baseada em descoberta, ou seja,

quando o objetivo do experimento é explorar, identificar e quantificar o proteoma da

amostra, o espectrômetro de massas é operado principalmente em um modo de

aquisição dependente dos dados (DDA, data-dependent acquisition), no qual se utiliza

a informação de um espectro de varredura (survey scan ou full MS scan) para

selecionar os íons para fragmentação em um segundo experimento de espectrometria

de massas sequencial. Comumente, os íons mais abundantes detectados na primeira

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varredura são então isolados para subsequentes fragmentações (MS/MS scans)

(Domon & Aebersold 2010). Embora essa estratégia seja poderosa para identificar

com acurácia milhares de proteínas em uma amostra complexa, peptídeos de baixa

abundância podem não ser selecionados para fragmentação, levando a uma perda de

sensibilidade e reprodutibilidade.

A partir da análise proteômica baseada em descoberta, uma lista de

proteínas pode ser identificada e análises posteriores com dados clínicos pode

levantar proteínas candidatas a marcadores de uma determinada condição, como por

exemplo, diagnosticar ou predizer o prognóstico de doenças. Entretanto, um dos

maiores desafios na identificação de marcadores é a verificação dessas proteínas

candidatas. Nesse contexto, outra abordagem chamada de proteômica baseada em

alvos (targeted proteomics) tem surgido na área de pesquisa em marcadores, cujo

objetivo é a quantificação de um conjunto ou painel de proteínas direcionadas a

responder determinada hipótese biológica (Elschenbroich & Kislinger 2011). Para isso,

proteínas pré-selecionadas em um experimento de proteômica de descoberta podem

ser avaliadas pelo método de monitoramento seletivo de reações (SRM, selected

reaction monitoring), o qual opera em um modo independente dos dados e oferece

alta reprodutibilidade, seletividade, sensibilidade e acurácia quantitativa. Quando um

instrumento do tipo triplo quadrupolo é operado no modo SRM, o primeiro e o terceiro

quadrupolo atuam como filtros de massas para selecionar de forma específica valores

m/z predefinidos de acordo com os peptídeos a serem monitorados, enquanto que o

segundo quadrupolo é utilizado como uma câmara de colisão (Gallien et al. 2011;

Bereman et al. 2012). Assim, o íon precursor e fragmento são escolhidos a partir da

informação m/z do peptídeo, em geral único para a proteína de interesse, com seu

respectivo fragmento (transição) e o instrumento é programado para selecionar,

fragmentar e quantificar somente os peptídeos de interesse (Bereman et al. 2012). O

modo SRM é caracterizado por alta sensibilidade, permitindo o monitoramento de

várias transições (dando origem ao termo multiple reaction monitoring, MRM) e a

quantificação de diferentes proteínas ao mesmo tempo, possibilitando também a

detecção de proteínas de baixa abundância em uma matriz complexa. A quantificação

precisa das proteínas é comumente realizada a partir da adição de peptídeos

proteotípicos – ou seja, peptídeos únicos que identificam apenas uma proteína em

uma análise por espectrometria de massas (Mallick et al. 2007) – para cada proteína

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monitorada. Esses peptídeos proteotípicos podem ser marcados isotopicamente com

a versão “pesada” (heavy peptides) de resíduos de aminoácidos, comumente lisina ou

arginina, de forma que a quantificação é obtida a partir da razão do peptídeo endógeno

pelo peptídeo de referência encontrado na amostra (razão light/ heavy peptides)

(Wohlgemuth et al. 2015) (Figura 7).

Figura 7. Comparação do fluxograma de proteômica baseada em descoberta versus proteômica baseada em alvos. LC-ESI: cromatografia líquida-ionização eletrospray (liquid chromatography–electrospray ionization); MS/MS: espectrometria de massas in tandem. Modificado de (Doerr 2012).

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Outras técnicas para a proteômica baseada em alvos tem surgido, incluindo

o monitoramento de reações paralelas (PRM, parallel reaction monitoring), no qual

precursores de m/z específicos referentes aos peptídeos de interesse são isolados no

primeiro analisador e após fragmentação todos os íons fragmentos são detectados

em um espectro de MS/MS, diferindo do SRM convencional em que transições pré-

selecionadas são monitoradas. No PRM, a aquisição do espectro do precursor (MS)

é realizada em alta resolução e acurácia de massa (Gallien et al. 2013). Para isso,

espectrômetros de massas do tipo quadrupolo de alta resolução como o Q Exactives

são utilizados para a realização do método PRM, no qual o terceiro quadrupolo é

substituído por um analisador Orbitrap (ou TOF) (Peterson et al. 2012). Por outro lado,

muitos estudos de proteômica baseada em alvos são conduzidos com instrumentos

triplo quadrupolo de baixa resolução e assim operados pelo modo SRM (Lesur &

Domon 2015).

Uma das aplicações mais encontradas em proteômica baseada em alvos é

a quantificação de candidatos a marcadores para validação e verificação, visando

aumentar a confiabilidade para sua aplicação na prática clínica. Assim, a proteômica

baseada em alvos tem surgido como uma técnica para testar hipóteses geradas na

proteômica de descoberta, de forma mais precisa e quantitativa.

1.10 Associação da microdissecção a laser à proteômica baseada em

espectrometria de massas

A análise de tecidos incluindo técnicas histomorfológicas e

imunohistoquímicas são tradicionalmente utilizadas para realizar diagnóstico de

câncer. A fixação de tecidos em formalina e parafina (FFPE, formalin-fixed paraffin-

embedded) preserva detalhes celulares, estruturais e morfológicos observados por

avaliação microscópica de cortes teciduais finos. Esse processo também estabiliza os

tecidos, permitindo um fácil armazenamento à temperatura ambiente por longos

períodos (Mangé et al. 2009). Por essa razão, o armazenamento de tecidos por FFPE

tem sido utilizado por décadas e ainda hoje é o padrão ouro na prática de laboratórios

de histopatologia (Magdeldin & Yamamoto 2012). Enquanto técnicas como o

congelamento do tecido podem levar à ruptura da estrutura histológica, o uso de FFPE

permite a preservação da histomorfologia do tecido, bem como de seus componentes

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moleculares, como DNA, RNA e proteínas por longos períodos. Outra vantagem é a

fácil preparação e baixo custo, além de permitir o armazenamento da peça cirúrgica à

temperatura ambiente, facilitando assim a criação de bancos de amostras para

estudos clínicos (Magdeldin & Yamamoto 2012; Gustafsson et al. 2015).

Considerando que tumores são tecidos com alta heterogeneidade celular e

molecular, muitas técnicas têm surgido para o isolamento de regiões de interesse ou

de populações celulares específicas. Nesse contexto, a microdissecção à laser (LMD,

laser microdissection) é uma ferramenta bem estabelecida utilizada para facilitar a

obtenção de áreas de interesse e a aquisição de populações celulares específicas.

Por meio de um sistema de laser infravermelho para captura e de laser ultravioleta

para corte acoplados a um microscópio, a LMD permite a obtenção da região de

interesse sob observação direta (Mustafa et al. 2008).

A espectrometria de massas pode ser empregada juntamente a

ferramentas não proteômicas como a LMD para detalhar o perfil proteico de uma

região de interesse, como o isolamento de células neoplásicas de células normais e

do estroma para posterior caracterização molecular (Mustafa et al. 2008; Datta et al.

2015). Os equipamentos de LMD são capazes de microdissectar tecidos com variadas

espessuras, porém cortes com espessuras inferiores a 5 µm e superiores a 15 µm

podem não serem bem processados. Os cortes são coletados em lâminas especiais

cobertas com membranas e submetidos a protocolos específicos das análises

posteriores.

A associação de ferramentas em combinação com a proteômica vem sendo

amplamente utilizada para descoberta de proteínas diferencialmente expressas no

CEC oral. Patel e colaboradores (Patel et al. 2008) utilizaram a análise proteômica

combinada à LMD para a identificação de novos candidatos para a detecção precoce,

prevenção e tratamento de CEC oral. Esse estudo detectou proteínas

diferencialmente expressas no epitélio oral normal e CEC oral, incluindo

citoqueratinas, marcadores de diferenciação e proteínas envolvidas na transdução de

sinal, migração, regulação do ciclo celular, angiogênese, matriz degradação e

proteínas de supressão tumoral e oncogênicas. Em um outro estudo (Negishi et al.

2009), a aplicação de LMD em tecidos FFPE de CEC oral permitiu o isolamento de

células neoplásicas e resultou na identificação da proteína trasnglutaminase 3 (TGM3)

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com menor expressão em CEC oral, a qual também estava associada à menor

diferenciação histológica.

Enfim, a análise proteômica baseada em espectrometria de massas

combinada à LMD de tecidos fixados pode permitir a determinação da expressão

diferencial de proteínas em diversas regiões de interesse de amostras clínicas que,

combinadas com os dados clínico-patológicos dos pacientes, resultará em uma

melhor caracterização proteômica para auxiliar na identificação de novos marcadores

de prognóstico e alvos terapêuticos.

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Comparar o estroma da região de fronte tumoral invasivo com o estroma

da região do interior do tumor de CEC de língua por meio da identificação de proteínas

diferencialmente expressas e associá-las com um valor prognóstico.

2.2 Objetivos específicos

O objetivos específicos foram:

i) identificar proteínas presentes no estroma do fronte invasivo e do interior

tumoral de tecidos fixados de CEC oral e avaliar sua expressão por proteômica

baseada descoberta;

ii) identificar proteínas com diferentes abundâncias entre o fronte invasivo

tumoral e o interior do tumor a partir da avaliação dos resultados de proteômica

baseada em descoberta;

iii) correlacionar a abundância das proteínas selecionadas com

características clínico-patológicas e com a sobrevida dos pacientes por análises

estatísticas;

iv) avaliar a abundância de proteínas selecionadas em um novo conjunto

de amostras de tecidos fixados de CEC oral por análise imunohistoquímica e

associação com dados clínico-patológicos dos pacientes;

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v) avaliar proteínas com possível valor prognóstico em amostras de saliva

de pacientes com CEC oral com e sem metástase linfonodal por proteômica baseada

em alvos utilizando o método SRM.

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa

O presente trabalho tem aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa

vinculado à Faculdade de Ciências Médicas UNICAMP para a utilização das amostras

de CEC oral para os estudos de proteômica baseada em descoberta, com o protocolo

CAAE 23163113.5.1001.5404 (Anexo 1), submetido via Plataforma Brasil. As etapas

e experimentos realizados neste estudo seguiram as normas referentes a este comitê

de ética no que diz respeitos ao estudo com seres humanos.

As amostras de CEC oral utilizadas para os experimentos de

imunohistoquímica, sob a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa vinculado à

Faculdade de Ciências Médicas UNICAMP, com o protocolo CAAE

71351517.7.0000.5418, seguiram as normas referentes a este comitê de ética no que

diz respeitos ao estudo com seres humanos (Anexo 2).

Para os experimentos realizados com amostras de saliva, este estudo foi

aprovado pelo Comitê de Ética do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo

(ICESP), Octavio Frias de Oliveira, ICESP, São Paulo, SP, Brasil e Plataforma Brasil

sob parecer de número 675.999 e protocolo CAAE 30658014.1.1001.0065. Um termo

de consentimento foi obtido por todos os pacientes. Os procedimentos utilizados para

a coleta e anotação seguiram os protocolos definidos pelo Comitê de Ética do ICESP

(Anexo 3).

3.2 Seleção das amostras teciduais

Este estudo foi realizado com dois diferentes conjuntos de amostras de

tecidos: 1º) 20 amostras de peças cirúrgicas (n=20) de paciente com carcinoma oral

de células escamosas (CEC oral) primário de língua, fixadas em formalina e

emblocadas em parafina (FFPE) para as análises por espectrometria de massas e 2º)

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96 amostras de peças cirúrgicas (n=96) de pacientes com CEC oral em FFPE para

marcação por imunohistoquímica (IHC).

No primeiro conjunto de amostras, os pacientes foram diagnosticados e

tratados em dois hospitais de referência em Cascavel, Paraná, Brasil: o Centro de

Oncologia de Cascavel (CEONC) e Hospital do Câncer (UOPECCAN) no período de

1998 a 2008, selecionadas pela Profa. Iris Sawazaki-Calone da Faculdade de

Odontologia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel, Paraná. Para

a seleção das amostras, foram considerados dados clínico-patológicos completos dos

pacientes em relação à progressão do CEC oral, a localização do tumor na língua e o

tratamento baseado em cirurgia radical com ou sem radioterapia pós-operatória e/ou

quimioterapia (Tabela 3 e Tabela 4). A partir da avaliação de lâminas histológicas

coradas em hematoxilina e eosina das peças cirúrgicas de cada paciente, critérios

histológicos de inclusão foram considerados quanto à presença das áreas específicas

de interesse no tumor: presença de estroma da região frontal invasiva do tumor (ITF)

e estroma do interior do tumor (Figura 8). A presença de padrão de invasão em ilhas

de células neoplásicas também foi um critério de inclusão. Em cada lâmina histológica

a região de fronte invasivo tumoral foi considerada como a área onde ilhas neoplásicas

invadem os tecidos subjacentes, como tecido conjuntivo, músculo, glândulas salivares

e vasos sanguíneos, com a delimitação de 1 mm em direção ao interior do tumor. O

interior do tumor por sua vez, foi considerado como a região mais próxima ao epitélio

de origem da neoplasia (quando este estava presente), ou seja, o mais distante da

região ITF.

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Tabela 3. Dados clínico-patológicos dos pacientes com CEC de língua utilizados no estudo de proteômica baseada em descoberta.

Número de Casos Porcentagem

Gênero

Masculino 17 85

Feminino 3 15

Faixa Etária

≤ 56 anos 11 55

> 56 anos 9 45

Tabagismo

(informação de 19 pacientes)

Não Tabagista 3 15,7

Tabagista/Ex Tabagista 16 84,3

Etilismo

(informação de 14 pacientes)

Não Etilista 7 50

Etilista/Ex Etilista 7 50

Estadiamento Clínico

I 3 15

II 6 30

III 5 25

IV/IVa 6 30

Infiltração/ extravasamento capsular

(informação de 19 pacientes)

Não 11 57,9

Sim 8 42,1

Tratamento

Cirurgia 5 25

Cirurgia + Radioterapia 13 0,65

Cirurgia + Radioterapia + Quimioterapia 2 0,1

Recidiva Local

Não 13 65

Sim 7 35

Recidiva Linfonodal

Não 16 80

Sim 4 20

Recidiva à Distância

Não 20 100

Sim 0 0

Sobrevida Livre de Doença

≤ 32 meses 14 70

> 32 meses 6 30

Situação

Vivo 4 20

Morto 16 80

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Tabela 4. Dados clínico-patológicos dos pacientes com CEC de língua utilizados no estudo de proteômica baseada em descoberta quanto ao grau de diferenciação histológica e estágio clínico de CEC.

Paciente Grau de diferenciação Estágio de CEC oral

1 Moderadamente diferenciado Inicial 2 Moderadamente diferenciado Inicial 3 Moderadamente diferenciado Avançado 4 Moderadamente diferenciado Avançado 5 Moderadamente diferenciado Avançado 6 Moderadamente diferenciado Avançado 7 Indiferenciado Avançado 8 Indiferenciado Inicial 9 Bem diferenciado Inicial 10 Moderadamente diferenciado Inicial 11 Moderadamente diferenciado Inicial 12 Moderadamente diferenciado Avançado 13 Moderadamente diferenciado Inicial 14 Moderadamente diferenciado Avançado 15 Indiferenciado Inicial 16 Moderadamente diferenciado Inicial 17 Moderadamente diferenciado Inicial 18 Moderadamente diferenciado Inicial 19 Moderadamente diferenciado Avançado 20 Moderadamente diferenciado Avançado

Figura 8. Fotomicrografia de um corte histológico de CEC oral de língua. (A) A região de fronte invasivo (aumento 2,5x), com uma profundidade de 1 mm, e a região de interior tumoral são evidenciadas na imagem. (B) Em detalhe a região de fronte invasivo tumoral (aumento 20x), destacando a presença de ilhas neoplásicas (setas) e a delimitação de uma parte do estroma tumoral (linha tracejada). (C) Detalhe da região do interior tumoral (aumento 20x) destacando a presença de ilhas neoplásicas (setas) e a delimitação de uma parte do estroma tumoral (linha tracejada).

O segundo conjunto de amostras, utilizado para os experimentos de IHC,

foi constituído por 96 peças cirúrgicas de pacientes diagnosticados e tratados no

Centro de Oncologia de Cascavel (CEONC) e Hospital do Câncer (UOPECCAN),

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Paraná, Brasil. Os 96 casos foram selecionados para a verificação das proteínas de

interesse, baseado na disponibilidade de estroma tumoral nos cortes histológicos.

As informações clínicas dos pacientes foram: sexo, idade, hábitos como o

tabagismo e o consumo de álcool, localização do tumor, estágio TNM, estado das

margens cirúrgicas, recorrência local e linfonodal, metástase, presença de segundo

tumor primário, tratamento e sobrevivência (Tabela 5). Após o tratamento, os

pacientes foram acompanhados por pelo menos 5 anos e a recorrência da doença foi

confirmada histologicamente. Os resultados foram classificados como sobrevida

específica para a doença, com o tempo de início do tratamento até a morte devido ao

CEC oral ou a última data conhecida em que o paciente estava vivo, e para sobrevida

livre de doença, com o tempo de início do tratamento até o diagnóstico da primeira

recorrência (local, regional ou à distância) ou últimas informações de

acompanhamento para aqueles sem recorrência.

Lâminas histológicas de cada caso foram coradas em hematoxilina e

eosina avaliadas de acordo com quatro sistemas de classificação histopatológicos:

sistema de classificação da OMS (Barnes et al. 2005), sistema de MG (Bryne et al.

1992), modelo HRM (Brandwein-Gensler et al. 2005) e modelo BD (Almangush et al.

2015), todos avaliados por dois patologistas calibrados (Sawazaki-Calone et al. 2015).

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Tabela 5. Dados clínico-patológicos dos pacientes com CEC oral utilizados para as análises por imunohistoquímica.

Casos (N) %

Gênero (96)

Masculino 81 84,3

Feminino 15 15,7

Idade (96)

≤ 57,2 51 53,1

> 57,2 45 46,9

Tabagismo (76)

Ausente 12 15,7

Presente 64 84,3

Etilismo (67)

Ausente 20 29,8

Presente 47 70,2

Tumor primário (96)

T1/T2 78 81,2

T3/T4 18 18,8

Metástase linfonodal (96)

N0 47 48,9

N+ 49 51,1

Estadiamento clínico (96)

I 21 21,8

II 23 23,9

III 19 19,7

IV 33 34,6

Recorrência local (95)

Ausente 73 76,8

Presente 22 23,2

Recorrência linfonodal (95)

Ausente 84 88,4

Presente 11 11,6

Recorrência distante (95)

Ausente 93 97,8

Presente 2 2,2

Sobrevida livre de doença (95)

≤ 44,6 meses 60 63,1

> 44,6 meses 35 36,9

Situação (95)

Vivo 38 40

Morto 57 60

Classificação WHO* (96)

I 15 15,6

II 70 72,9

III 11 11,5

Padrão de invasão** (93)

Ilha 71 76,3

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Satélite 22 23,7

Resposta linfocítica do hospedeiro** (96)

Ausente 26 27

Presente 70 73

Invasão perineural** (96)

Ausente 67 69,7

Presente 29 30,3

Buddings*** (95)

Ausente 16 16,8

Presente 79 83,2

* Barnes et al. 2005; ** Bradwein-Gensler et al. 2005; *** Almangush et al. 2015.

3.3 Processamento das amostras teciduais e microdissecção a laser (LMD)

Para a microdissecção a laser foram utilizadas um n=20 amostras, sendo

20 amostras originadas do estroma fronte e 20 amostras do estroma no interior do

tumor. Para cada amostra, foram preparadas 4 lâminas histológicas com cortes feitos

em micrótomo, sendo um corte na espessura de 5 μm e as outras três na espessura

de 10 μm. Uma das lâminas histológicas (corte de 5 μm de espessura) foi

confeccionada para guiar o corte por LMD e corada em hematoxilina e eosina. Os

demais cortes (3 lâminas, 10 μm de espessura) foram confeccionados em lâminas

com membrana específicas para LMD (Arcturus® PEN Membrane, Life Technologies),

seguido por coloração com hematoxilina e desidratação em etanol 90% e 100%. As

lâminas foram armazenadas em recipientes para dessecação antes da LMD, segundo

orientações do fabricante.

Após esse processo, as seções de tecido foram submetidas à LMD

utilizando o sistema Leica Laser Microdissection Systems (Equipamento Multiusuário

Projeto FAPESP 2009/53998-3, adquirido pelo Laboratório de Biologia Molecular e

Celular do Centro de Pesquisa Nuclear na Agricultura – CENA USP), para o

isolamento das duas áreas de interesse desse estudo: 1) áreas do estroma da região

frontal invasiva do tumor (ITF) e 2) o estroma do interior tumoral. A profundidade e

extensão da área microdissecada das regiões de interesse foram padronizadas na

objetiva de 10x da seguinte maneira: 1) a região de fronte invasivo foi cortada a partir

da ilha mais distante na superfície invasiva do tumor até 1 mm de profundidade do

corte histológico, contornando toda a extensão do fronte; e 2) o interior foi definido

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desde as a ilha mais distante no interior tumoral até 1 milímetro à frente, contornando

toda sua extensão. Uma média de 1.000.000 µm² de tecido foi isolada para cada

região do estroma tumoral. Todas as amostras foram coletadas em microtubos de 600

μL, identificadas segundo cada paciente e região histológica e armazenadas à -80ºC

até o momento da extração de proteínas. Os parâmetros ajustáveis no Laser

Microdissection Leica LMD Software do equipamento referentes ao controle do laser

foram considerados ideais para essas amostras e a área em μm² cortada para cada

paciente foi registrada.

3.4 Extração de proteínas e digestão enzimática para proteômica baseada em

descoberta

Os tecidos microdissecados do estroma da região ITF e do estroma interior

foram submetidos à extração de proteínas e digestão com tripsina. Para isso, as

amostras foram tratadas com uréia na concentração final de 8 M, seguido por redução

das proteínas com ditiotreitol (DTT) a 5 mM por 25 minutos a 56°C, alquilação com

iodoacetamida (IAA) a 14 mM por 30 minutos à temperatura ambiente e protegido da

luz, adição de 1mM de cloreto de cálcio e em seguida digestão com tripsina por 16h a

37ºC (2 μg tripsina). A reação foi interrompida com ácido fórmico a 0,4% v/v e as

amostras submetidas à remoção de sais por meio de stage tips coluna C18

(Rappsilber et al. 2007). A remoção de sais das amostras consiste em condicionar a

coluna com metanol 100%, equilibrar com ácido fórmico 0,1% v/v, carregar as

amostras, lavando com ácido fórmico 0,1% v/v e eluir com uma solução de acetonitrila

80% v/v com ácido fórmico 0,1% v/v. As amostras foram então submetidas à secagem

em um concentrador a vácuo e armazenadas a -20ºC para posterior análise por

espectrometria de massas.

3.5 Análise por espectrometria de massas em tandem (LC-MS/MS) com

aquisição dependente de dados (DDA)

As análises por LC-MS/MS foram realizadas com a ressuspensão da

mistura de peptídeos em 15 µL de ácido fórmico a 0,1% v/v, sendo 4,5 µL deste

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volume analisados no espectrômetro de massas LTQ Orbitrap Velos (Thermo Fisher

Scientific, U.S.A.) conectado ao sistema de cromatografia líquida EASY-nLC (Proxeon

Biosystem) por meio da fonte nanoeletrospray (Proxeon). Os peptídeos foram então

separados por um gradiente de acetonitrila de 2-90% em ácido fórmico a 0,1% v/v em

uma coluna analítica PicoFrit (20 cm x 75 µm ID e de 5 µm de tamanho de partícula,

New Objective), a um fluxo de 300 nL/min durante 212 minutos, no qual o gradiente

de 35% de acetonitrila é alcançado em 175 min. A tensão do nanoeletrospray foi

ajustada para 2.2 kV e a temperatura da fonte a 275°C. Os métodos de instrumento

para o LTQ Orbitrap Velos foram realizados no modo de aquisição de análise

dependente dos dados (DDA). O espectro full scan (m/z 300-1600) foi adquirido no

analisador Orbitrap após acúmulo de íons 1e6. A resolução no Orbitrap foi definida

para r=60.000 e os 20 íons de peptídeos mais intensos com carga ≥ 2 foram

sequencialmente isolados para um valor de 5000 e fragmentados na câmara de alta

pressão ion trap por dissociação induzida por colisão (CID) (normalizada de 35%). A

exclusão dinâmica foi habilitada com uma lista de exclusão de 500 peptídeos, duração

da exclusão de 60 segundos e contagem de repetição de 1. Uma ativação de Q=0,25

e tempo de ativação de 10 ms foram utilizados.

Os dados de espectrometria de massas de proteômica baseada em

descoberta (DDA) foram depositados no Consórcio ProteomeXchange

(http://proteomecentral.proteomexchange.org), por meio do repositório PRIDE

(Vizcaíno et al. 2014; Vizcaíno et al. 2016), com o identificador PXD007232.

3.6 Análise dos dados brutos de proteômica baseada em descoberta

Dados brutos provenientes da análise por LC-MS/MS das amostras dos 20

pacientes foram processados pelo programa MaxQuant v1.3.0.3 (Cox & Mann 2008)

e os espectros MS/MS submetidos à busca contra o banco de dados de humano do

Uniprot (download em 7 de janeiro de 2015, com 89.649 sequências e 35.609.686

resíduos) por meio da ferramenta de busca Andromeda (Cox et al. 2011). Os

parâmetros de busca incluíram uma tolerância de massas de 6 ppm para íons

precursores (MS search) e de 0,5 Da para íons fragmentos (MS/MS search), com um

máximo de perda de 2 sítios de clivagens. Carbamidometilação das cisteínas foi

considerada como modificação fixa e oxidação da metionina e acetilação do N-

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terminal de proteínas foram consideradas modificações variáveis. A identificação de

peptídeos e a identificação de proteínas foram filtradas para um máximo de 1% false

discovery rate (FDR). A quantificação das proteínas foi realizada pelo método LFQ

(label-free quantification) disponível no ambiente MaxQuant, com uma contagem

mínima (minimal ratio count) de 2 peptídeos e uma janela de 2 min. Análises

estatísticas foram realizadas com o programa Perseus v1.2.7.4, disponível junto como

pacote MaxQuant (Cox & Mann 2008). Entradas identificadas apenas por sítio de

modificação, bem como aquelas identificadas pelo banco reverso, foram excluídas

para análises posteriores. O filtro de contaminantes não foi utilizado, uma vez que

proteínas como queratina, consideradas como contaminantes, são importantes em

análises de tecidos. O proteoma de amostras de três pacientes foi removido devido à

ausência de quantificação de proteínas observado pelos valores de LFQ e pelo baixo

número de proteínas identificadas representado no histograma dos valores de LFQ

contra o número de proteínas, realizado no Perseus (Apêndice 2).

A abundância das proteínas foi calculada com base na intensidade

normalizada do espectro (LFQ intensity) e seus valores convertidos para log2. As

amostras foram agrupadas de acordo com sua origem tumoral, ou seja, estroma do

fronte invasivo ou estroma do interior tumoral. Um filtro de pelo menos 8 valores

válidos por grupo foi aplicado e valores faltantes (missing values) foram substituídos

por valores randômicos simulando uma distribuição normal, cuja média e desvio

padrão foram escolhidos para simular valores baixos próximos ao nível de ruído

(imputation width = 0.3, shift = 1.8) (Hubner et al. 2010; Marakalala et al. 2016).

Significância estatística na expressão das proteínas entre os grupos foi avaliado por

Student's t-test (p<0.05). Proteínas comuns e exclusivas foram representadas em

diagrama de Venn construído com a ferramenta on line InteractiVenn (Heberle et al.

2015). Para visualização dos dados, heat maps com valores em z-score das

intensidade em log2 LFQ e volcano plot foram construídos com a ferramenta

estatística R. A abundância das proteínas entre as corridas MS foi avaliada com a

ferramenta MSstats (Choi et al. 2014) disponível dentro do programa Skyline

(MacLean et al. 2010).

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3.7 Correlação da abundância de proteínas identificadas por proteômica

baseada em descoberta com dados clínico-patológicos dos pacientes

A análise de regressão linear foi realizada em ambiente R para avaliar a

(relação linear entre a expressão da proteína e os) seguintes dados clínico-

patológicos: idade (>50 ou <50 anos), gênero, tabagismo, tamanho do tumor,

presença de metástase linfonodal no momento do diagnóstico, estadiamento clínico,

tipo de tratamento (cirurgia, cirurgia e radioterapia, ou combinação de cirurgia,

radioterapia e quimioterapia), sobrevida livre de doença, segundo tumor primário (de

origem histológica diferente), recorrência local, recorrência linfonodal, presença de

pior padrão de invasão (WPOI) (Brandwein-Gensler et al. 2005), presença de infiltrado

inflamatório, invasão perineural, presença de tumor de brotamento (tumor buddings)

de acordo com o modelo BD (Almangush et al. 2015), e sistema de classificação

histopatológica da OMS (WHO histopathological grading system). Um p-valor menor

que 0.05 foi considerado para definir significância estatística. O coeficiente de

correlação de Pearson (coeficiente de correlação produto-momento) foi calculado para

medir a força da associação entre as variáveis. Adicionalmente, a análise de sobrevida

foi calculada pelo método Kaplan-Meier e comparado com o Log-rank t-test, com nível

de significância de 5% (p≤0.05).

3.8 Análise imunohistoquímica dos tecidos de CEC oral

Cortes histológicos de 96 casos de CEC oral foram incubados com anti-

COL6A1 (HPA019142, policlonal, Sigma) diluído 1:1000, anti-ITGAV (HPA004856,

policlonal, Sigma) diluído 1:300 and anti-MB (HPA003123, policlonal, Sigma) diluído

1:75, de acordo com a indicação do Human Protein Atlas (http://www.proteinatlas.org),

seguido pelo sistema de detecção Envision (Dako). As reações controle foram

realizadas a partir da exclusão dos anticorpos primários.

Após marcação histoquímica, as lâminas foram coradas com hematoxilina

e eosina para avaliação da marcação dos anticorpos por dois patologistas (valor de

concordância: kappa=0.706), seguindo protocolo de Silva e colaboradores (da Silva

et al. 2015, com modificações). As amostras foram classificadas de acordo com a

intensidade e porcentagem de marcação imunohistoquímica na região do estroma da

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região ITF ou do estroma do interior do tumor separadamente. O score de cada

intensidade foi somado ao score da porcentagem de marcação, gerando um score

combinado, um para a região ITF e outro para a região do interior tumoral. O score da

região do interior do tumor foi subtraído do score da região ITF, afim de identificar a

diferença das intensidades entre as regiões analisadas. Valores abaixo de zero foram

considerados com menor expressão na região ITF, enquanto valores acima de zero

foram considerados com maior expressão na região ITF (Tabela 6).

Tabela 6. Método de score baseado na intensidade e porcentagem de marcação das proteínas para avaliação da marcação imunohistoquímica nas áreas fronte invasivo e interior tumoral de CEC oral.

Intensidade Porcentagem Score combinado Diferença de expressão

(ITF - interior = -6 a 6) Score

0 – negativo

1 – fraco

2 – moderado

3 – forte

0 – 0%

1 – 1 a 25%

2 – 26 a 50%

3 – >50%

Intensidade + % = 0 a 6

0 = 0

-6 a -1 = 1

1 a 6 = 2

0 mesma expressão

1 menor expressão no IFT

2 maior expressão no ITF

ITF: fronte tumoral invasivo (invasive tumor front).

A correlação entre a marcação imunohistoquímica e parâmetros

demográficos e clínico-patológicos dos pacientes foi realizada por tabulação cruzada

(cross-tabulation) e teste Qui-quadrado. Além disso, análise de sobrevida foi calculada

pelo método Kaplan-Meier e comparado por teste Log-rank t-test. Para análise de

sobrevida multivariada foi utilizado o modelo de risco proporcional de Cox. O nível de

significância considerado foi de 5% (p-valor<0.05).

3.9 Coleta de amostras de saliva

As amostras de saliva foram obtidas voluntariamente de pacientes com

CEC oral apresentando lesões ativas no momento de coleta e então distribuídas de

acordo com o estadiamente clínico (TNM), incluindo pacientes sem metástase

linfonodal (denominado de “N0”, n=10) e pacientes com metástase linfonodal

(denominado de “N+”, n=23). As informações clínico-patológicas dos pacientes são

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apresentadas na Tabela 7. Para a coleta de saliva, os pacientes estavam em jejum

por pelo menos 1h e enxaguaram a boca com 5 mL de água potável no momento

anterior à coleta, sem estímulo, em um recipiente de vidro (procedimentos seguiram

protocolo descrito em Winck et al. 2015). As amostras de saliva foram separadas em

alíquotas e estocadas a -80°C até o momento de uso.

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Tabela 7. Dados clínico-patológicos de pacientes com CEC oral utilizados para análise por proteômica baseada em alvos.

Número de casos %

Gênero

(informação para 33 pacientes)

Masculino 29 87,9

Feminino 4 12,1

Idade (33 pacientes)

≤ 54,5 15 45,5

> 54,5 18 54,5

Tabagismo

(informação para 33 pacientes)

Ausente 2 6,1

Presente 31 93,9

Etilismo

(informação para 33 pacientes)

Ausente 3 9,1

Presente 30 90,9

Tumor primário

(informação para 33 pacientes)

T1/T2 13 39,4

T3/T4 20 60,6

Linfonodo

(informação para 33 pacientes)

N0 10 30,3

N+ 23 69,7

Estadiamento clínico

(informação para 31 pacientes)

I 0

II 4

III 7

IV/IVa 20

Recorrência

(informação para 33 pacientes)

Ausente 32 97,0

Presente 1 3,0

Situação

(informação para 33 pacientes)

Vivo 16 48,5

Morto 17 51,5

3.10 Seleção dos peptídeos proteotípicos e das transições

Dentre as proteínas associadas às características clínico-patológicas dos

pacientes, as proteínas COL6A1 [Collagen alpha-1(VI) chain], ITGAV (Integrin alpha-

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V) e MB (Myoglobin) foram selecionadas para a verificação em amostras de saliva de

pacientes com CEC oral sem apresentação de metástase (N0) ou com metástase

(N+). Os peptídeos foram selecionados com base em parâmetros previamente

descritos (Lange et al. 2008; Gallien et al. 2011). Resumidamente, são escolhidos 2 a

3 peptídeos por proteína considerando o número de resíduos, hidrofobicidade e

evidências de outros experimentos relatados no SRMAtlas (http://www.srmatlas.org).

Ao todo, 8 peptídeos foram selecionados e adquiridos comercialmente como

peptídeos não purificados (pureza 40-50%) marcados isotopicamente (crude heavy-

isotope-labelled peptide) (Thermo Fisher Scientific, U.S.A.). Peptídeos com marcação

isotópica estável (SIL, stable isotope-labelled) foram sintetizados com isótopos

pesados na lisina, arginina ou leucina (+8, +10 ou +7 Da, respectivamente),

localizados preferencialmente no C-terminal do peptídeo (Thermo Fisher Scientific,

U.S.A.). Três transições foram monitoradas para cada peptídeo leve e pesado,

totalizando 48 transições (8 peptídeos leves x 3 transições + 8 peptídeos pesados x 3

transições) (Tabela 8). Oito peptídeos de padrões internos de tempo de retenção

(Pierce™ Peptide Retention Time Calibration Mixture, Thermo Fisher Scientific,

U.S.A.) foram adicionados às amostras e 24 transições foram monitoradas para

controlar desvios no tempo de retenção na cromatografia líquida. Ao todo, 72

transições foram monitoradas em cada amostra.

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Tabela 8. Transições utilizadas para monitorar as proteínas de interesse por proteômica baseada em alvos.

Sequência do peptídeo Proteína Modificação m/z do precursor

Carga do precursor

m/z do fragmento

Carga do fragmento

Íon fragmento

Melhor tempo de retenção*

Tempo de retenção predito

GLEQLLVGGSHLK COL6A1 Leve 450,929509 3 810,483214 1 y8 28,33 27,91

GLEQLLVGGSHLK COL6A1 Leve 450,929509 3 697,399149 1 y7 28,33 27,91

GLEQLLVGGSHLK COL6A1 Leve 450,929509 3 598,330736 1 y6 28,33 27,91

GLEQLLVGGSHLK COL6A1 Pesado 453,600909 3 818,497413 1 y8 28,23 27,91

GLEQLLVGGSHLK COL6A1 Pesado 453,600909 3 705,413348 1 y7 28,23 27,91

GLEQLLVGGSHLK COL6A1 Pesado 453,600909 3 606,344935 1 y6 28,23 27,91

LSIIATDHTYR COL6A1 Leve 430,56646 3 863,400606 1 y7 20,33 23,2

LSIIATDHTYR COL6A1 Leve 430,56646 3 691,315814 1 y5 20,33 23,2

LSIIATDHTYR COL6A1 Leve 430,56646 3 576,288871 1 y4 20,33 23,2

LSIIATDHTYR COL6A1 Pesado 433,902549 3 873,408875 1 y7 20,44 23,2

LSIIATDHTYR COL6A1 Pesado 433,902549 3 701,324083 1 y5 20,44 23,2

LSIIATDHTYR COL6A1 Pesado 433,902549 3 586,29714 1 y4 20,44 23,2

TAEYDVAYGESHLFR COL6A1 Leve 586,609164 3 788,404963 1 y6 25,58 28,6

TAEYDVAYGESHLFR COL6A1 Leve 586,609164 3 728,846415 2 y12 25,58 28,6

TAEYDVAYGESHLFR COL6A1 Leve 586,609164 3 647,314751 2 y11 25,58 28,6

TAEYDVAYGESHLFR COL6A1 Pesado 589,945254 3 798,413232 1 y6 25,54 28,6

TAEYDVAYGESHLFR COL6A1 Pesado 589,945254 3 733,85055 2 y12 25,54 28,6

TAEYDVAYGESHLFR COL6A1 Pesado 589,945254 3 652,318886 2 y11 25,54 28,6

IYIGDDNPLTLIVK ITGAV Leve 787,445431 2 1184,652129 1 y11 35,72 34,24

IYIGDDNPLTLIVK ITGAV Leve 787,445431 2 1127,630666 1 y10 35,72 34,24

IYIGDDNPLTLIVK ITGAV Leve 787,445431 2 1012,603723 1 y9 35,72 34,24

IYIGDDNPLTLIVK ITGAV Pesado 791,452531 2 1192,666328 1 y11 35,76 34,24

IYIGDDNPLTLIVK ITGAV Pesado 791,452531 2 1135,644865 1 y10 35,76 34,24

IYIGDDNPLTLIVK ITGAV Pesado 791,452531 2 1020,617922 1 y9 35,76 34,24

LQEVGQVSVSLQR ITGAV Leve 481,603573 3 689,394064 1 y6 22,54 24,27

LQEVGQVSVSLQR ITGAV Leve 481,603573 3 503,293622 1 y4 22,54 24,27

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69

LQEVGQVSVSLQR ITGAV Leve 481,603573 3 416,261593 1 y3 22,54 24,27

LQEVGQVSVSLQR ITGAV Pesado 484,939663 3 699,402333 1 y6 22,84 24,27

LQEVGQVSVSLQR ITGAV Pesado 484,939663 3 513,301891 1 y4 22,84 24,27

LQEVGQVSVSLQR ITGAV Pesado 484,939663 3 426,269862 1 y3 22,84 24,27

STGLNAVPSQILEGQWAAR ITGAV Leve 999,523795 2 1355,706625 1 y12 31,63 32,32

STGLNAVPSQILEGQWAAR ITGAV Leve 999,523795 2 688,352534 1 y6 31,63 32,32

STGLNAVPSQILEGQWAAR ITGAV Leve 999,523795 2 503,272492 1 y4 31,63 32,32

STGLNAVPSQILEGQWAAR ITGAV Pesado 1004,52793 2 1365,714894 1 y12 31,67 32,32

STGLNAVPSQILEGQWAAR ITGAV Pesado 1004,52793 2 698,360803 1 y6 31,67 32,32

STGLNAVPSQILEGQWAAR ITGAV Pesado 1004,52793 2 513,280761 1 y4 31,67 32,32

HGATVLTALGGILK MB Leve 450,941638 3 772,492716 1 y8 31,22 33,48

HGATVLTALGGILK MB Leve 450,941638 3 600,407923 1 y6 31,22 33,48

HGATVLTALGGILK MB Leve 450,941638 3 487,323859 1 y5 31,22 33,48

HGATVLTALGGILK MB Pesado 453,613037 3 780,506915 1 y8 31,19 33,48

HGATVLTALGGILK MB Pesado 453,613037 3 608,422122 1 y6 31,19 33,48

HGATVLTALGGILK MB Pesado 453,613037 3 495,338058 1 y5 31,19 33,48

YLEFISECIIQVLQSK MB Leve 657,348293 3 815,498529 1 y7 25,76 43,3

YLEFISECIIQVLQSK MB Leve 657,348293 3 702,414465 1 y6 25,76 43,3

YLEFISECIIQVLQSK MB Leve 657,348293 3 709,389602 2 y12 25,76 43,3

YLEFISECIIQVLQSK MB Pesado 660,019693 3 823,512728 1 y7 26,04 43,3

YLEFISECIIQVLQSK MB Pesado 660,019693 3 710,428664 1 y6 26,04 43,3

YLEFISECIIQVLQSK MB Pesado 660,019693 3 713,396701 2 y12 26,04 43,3

*Melhor tempo de retenção reportado pelo programa Skyline de acordo com os dados observados experimentalmente.

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3.11 Preparação das amostras de saliva para proteômica baseada em alvos

As amostras de saliva foram centrifugadas a 1.500 x g por 5 min, a 4°C,

para sedimentação dos debris celulares. O sobrenadante foi separado do sedimento

e então quantificado pelo ensaio de Bradford (Bio-Rad, U.S.A.). Um volume

correspondente a 10 µg do total de proteínas foi utilizado para o preparo da amostra

e o volume de todas as amostras foi ajustado para que tivessem a mesma

concentração final de proteínas. Os 10 µg do total de proteínas foi então desnaturado

em solução contendo concentração final de 100 mM de Tris-HCl pH 7,5, 8 M ureia, 2

M tioureia, 5 mM EDTA, 1 mM PMSF, 1 mM DTT e coquetel inibidor de protease

(Protease Inhibitor Cocktail cOmplete Mini Tablets, Roche, Auckland New Zealand).

As amostras foram sonicadas por 10 min e então centrifugadas a 10.000 x g por 5

min. O sobrenadante foi coletado e as proteínas foram reduzidas com DTT e

alquiladas com iodoacetamida, seguido por digestão com tripsina (1,8 µg) a 37°C. A

reação foi interrompida com a adição de ácido trifluoracético 0,4% v/v, ou até atingir

um pH próximo de 2, seguido por remoção de sal das amostras por stage tips coluna

C18 (Rappsilber et al. 2007). Após secagem em vácuo, os peptídeos foram

ressuspendidos em 0,1% de ácido fórmico. Peptídeos SIL e padrões do tempo de

retenção iRT foram adicionados às amostras digeridas a partir de 10 µg de saliva.

A fim de prevenir viés durante a análise por espectrometria de massas, a

ordem de corrida das amostras foi preparada por randomização e blocking (Oberg &

Vitek 2009) dos grupos (N0 e N+), incluindo as réplicas técnicas (triplicatas), em

ambiente R.

3.12 Verificação dos peptídeos por proteômica baseada em alvos

Amostras foram analisados em espectrômetro de massas triplo quadrupolo

Xevo TQ-XS (Waters, Milford, MA, USA), equipado por fonte electrospray acoplada à

Acquity UPLC-Class M LC system (Waters, Milford, MA, USA) e pelo software

MassLynx (version 4.2). Uma alíquota contendo 1 µg da mistura de peptídeos foi

utilizada por cada amostra. Os peptídeos foram separados em coluna BEH Shield C18

IonKey (10 cm x 150 µm ID, matriz de resina de sílica, 1,7 µm partículas C18 - Waters,

USA) aquecida a 40°C. As amostras foram mantidas a 4°C antes de serem carregadas

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na coluna Acquity UPLC-Class M LC. As condições cromatográficas utilizadas foram:

gradiente de 60 min e fluxo de 1,2 µL/min, iniciando com 98% A (água), seguido por

40% B (acetonitrila) por 45 min, até 85% B até 47 min e 2% B em 60 min. O

instrumento foi operado em modo SRM programado (tempo de retenção, janela de 3

min e tempo de ciclo de 3s), sob a unidade de resolução (0,7 Th de largura total do

pico na metade de sua altura máxima – full width of the peak at half its maximum

height, FWHM) nos analisadores de massas Q1 e Q3. O espectrômetro de massas foi

operado em modo positivo, com temperatura do capilar de 150°C, com fonte sob 30V,

e voltagem do capilar de 3,5 kV. A voltagem do cone foi ajustada para 50 V, fluxo de

gás no cone à 150L/h, nanofluxo de gás à 0,4 bar e energia de colisão (CE, collision

energy) foi determinada pelo programa Skyline. A energia de colisão foi determinada

pela equação linear: para peptídeos com carga 2, CE= 0,037±0,009*m/z-1,066±5,024,

e para peptídeos com carga 3, CE=0,036±0,004*m/z-1,328±2,088 (MacLean et al.

2010). O dwell time para os peptídeos monitorados foi calibrado automaticamente no

programa MassLynx v4.2, não abaixo de 0,010s, correspondendo à aproximadamente

10 ou mais pontos de aquisição por pico da cromatografia. Padrões de peptídeos

internos marcados com isótopos na porção C-terminal em lisina ou arginina, +8 ou

+10 Da, respectivamente (Thermo Fisher Scientific, U.S.A.).

3.13 Análise quantitativa e estatística dos dados de proteômica baseada em

alvos (SRM)

A visualização e avaliação dos peptídeos foi manualmente realizada com o

programa Skyline. Ambos peptídeos leve e pesado foram conferidos quanto à

qualidade do dado pela observação da co-eluição de todas as três transições,

alinhamento do tempo de eluição dos peptídeos leve e pesado, correlação da

intensidade relativa à biblioteca de espectros (dotp score), intensidade relativa aos

fragmentos leve e pesado (rdotp score) e reprodutibilidade entre as réplicas técnicas.

Cada peptídeo foi quantificado na amostra pela divisão da intensidade do peptídeo

leve (soma das transições leves) pela intensidade de cada peptídeo SIL de referência

(soma das transições pesadas) para obter a relação de peptídeo leve e pesado.

A razão leve/pesado para cada peptídeo foi obtida pelo programa Skyline.

A fim de determinar a razão de peptídeos entre os dois grupos analisados (N+ vs N0),

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as seguintes etapas foram realizadas: 1) a razão leve/pesado de cada peptídeo

monitorado foi exportado pelo programa Skyline; 2) a média foi calculada para cada

razão leve/pesado dos peptídeos (média da razão leve/pesado); 3) para avaliar a

correlação da quantificação do peptídeo, em todas as amostras, a média de cada

peptídeo em cada grupo de amostra (média do grupo) foi calculada considerando o

valor da média leve/pesado calculado anteriormente; 4) por último, a razão entre os

dois grupos (razão N+/N0) foi calculada e transformada em log2.

De forma semelhante, para avaliar a quantidade de proteína entre os dois

grupos (N+ vs N0), as etapas foram as seguintes: 1) as médias dos valores para cada

peptídeo individual (média da razão leve/pesado) correspondente a uma proteína de

interesse foram somadas para obter a abundância relativa da respectiva proteína

(soma da razão leve/pesado de cada peptídeo da mesma proteína); 2) a partir da

média dessa soma das médias dos peptídeos de uma mesma proteína, a razão foi

calculada entre os dois grupos (razão N+/N0 de cada proteína) e transformada em

log2. Significância estatística na expressão das proteínas entre os grupos foi avaliado

por Student's t-test (p-valor<0.05) e proteínas acima do corte estabelecido foram

indicadas em um Volcano plot e em gráficos de barras.

As correlações entre a abundância das proteínas resultantes da análise por

SRM e os dados clínico-patológicos foram calculadas por tabulação cruzada e teste

Qui-quadrado. O nível de significância considerado foi de 5% (p-valor<0.05).

Dados de espectrometria de massas com o método SRM estão

depositados no repositório Panorama no seguinte link

(https://panoramaweb.org/labkey/project/LNBio%20-%20Mas%20Lab/PaesLeme-

SRM%20Saliva%20OSCC/begin.view?).

3.14 Predição do valor prognóstico de proteínas para CEC oral

Para avaliar o valor prognóstico das proteínas selecionadas para os

experimentos de verificação da abundância (COL6A1, ITGAV, MB), foi determinado o

valor da abundância de cada proteína em pacientes do grupo N0 e em pacientes do

grupo N+. Valores de ponto de corte ótimo foram determinados pela análise de curvas

de características de operação do receptor (ROC, receiver operating characteristic).

Curvas ROC foram geradas plotando a taxa de verdadeiro positivo (sensibilidade)

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contra a taxa de falso positivo (1-especificidade) usando easyROC (Goksuluk et al.

2016) e valores de abundância das proteínas. Um intervalo de confiança (CI) de 95%

da área sob a curva (AUC, area under curve) foi determinado. Pontos de corte ótimos

para as proteínas foi calculado por meio do Youden's J statistic (Ruopp et al. 2008).

4 RESULTADOS

4.1 Proteínas identificadas a partir da associação da microdissecção a laser e

espectrometria de massas por proteômica baseada em descoberta

A microdissecção a laser (LMD) foi utilizada para individualizar as regiões

de interesse, separando as regiões do estroma do fronte invasivo tumoral (ITF) e

estroma do interior tumoral (Figura 9). Foram isoladas em média 1.413.055 μm2 para

estroma do ITF e 1.195.036 μm2 para estroma do interior tumoral.

Figura 9. Sequência de LMD em um corte de CEC de língua. (A) Região do fronte invasivo tumoral de um corte histológico de CEC de língua antes e após a remoção do estroma tumoral (corado com hematoxilina, aumento 10x). (B) Em detalhe, imagem do microtubo coletor com o tecido microdissectado (aumento 6,3x). (C) Região do interior do tumor de um corte histológico de CEC de língua antes e após a remoção do estroma tumoral (corado com hematoxilina, aumento 10x). (D) Imagem do microtubo coletor com o tecido microdissectado (aumento 6,3x).

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A partir da proteômica quantitativa, baseada em espectrometria de massas

com aquisição dependente de dados (DDA), foram identificadas e quantificadas 1.733

proteínas nas duas regiões do estroma, após exclusão de proteínas identificadas

unicamente por sítio de modificação e aquelas identificadas pelo banco reverso.

Considerando as proteínas quantificadas ou com valores válidos em pelo menos 8

amostras em pelo menos um grupo, 704 proteínas permaneceram na lista de

identificadas e quantificadas. O número de proteínas identificadas em cada região é

apresentado em diagrama de Venn (Figura 10A), no qual é possível verificar o número

de proteínas identificadas nas duas diferentes áreas do tumor, bem como proteínas

encontradas apenas em uma das regiões. Um total de 602 proteínas foi compartilhado

entre as duas regiões do tumor estudas, sendo 42 proteínas identificadas apenas no

estroma do ITF e 60 proteínas identificadas no estroma do interior do tumor. A análise

de agrupamento apresentou diferenças no perfil de expressão de proteínas entre

amostras da mesma região do tumor, revelando a heterogeneidade da doença entre

os diferentes indivíduos (Figura 10B).

Dentre as 704 proteínas identificadas (após filtro de valores válidos), 101

proteínas revelaram expressão diferencial pelo Student’s t-test pareado (p-valor<0,05)

entre estroma do ITF e estroma do interior tumoral (Tabelas suplementares, Apêndice

1).

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Figura 10. Representação das proteínas identificadas nas regiões estroma do fronte invasivo tumoral (ITF) e estroma do interior tumoral. (A) Número de proteínas identificadas em comum entre as regiões do estroma e proteínas identificadas apenas em uma das regiões. (B) Análise de agrupamento mostra a separação das amostras de acordo com a similaridade no perfil de abundância das proteínas, representada em z-score (log2 LFQ intensity) e em cores de acordo com baixa (azul) ou alta (vermelho) abundância. Análise de agrupamento foi realizada em ambiente R utilizando distância Euclideana e método de ligação por média para cálculo da similaridade.

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4.2 Dados clínico-patológicos correlacionados com a abundância de proteínas

identificadas por proteômica baseada em descoberta no estroma de CEC oral

Análise de regressão linear foi utilizada para analisar a associação do

fenótipo clínico-patológico do paciente com o proteoma das diferentes regiões do

estroma de CEC oral. Dentre as 101 proteínas com expressão diferencial entre as

regiões de interesse, 5 proteínas foram associadas (p-valor<0.05, R<-0.7 ou 0.7<R e

R2>0.4) a características clínico-patológicas: a maior abundância de COL6A1

(Collagen alpha-1(VI) chain), de MB (Myoglobin) e de THBS2 (Thrombospondin-2) no

estroma ITF foi associada à metástase linfonodal, estágio clínico avançado e

recorrência linfonodal, respectivamente; enquanto a maior abundância de FSCN1

(Fascin) e ITGAV (Integrin alpha-V) no estroma do interior do tumor foi associada a

tumor altamente indiferenciado e metástase linfonodal, respectivamente (Tabela 9).

Para a correlação da abundância das proteínas à sobrevida dos pacientes,

foram selecionadas aquelas com expressão diferencial entre estroma ITF e estroma

interior (p-valor<0,05, Student’s t-test) e também três características de fechamento

clínico: presença de metástase linfonodal, segundo tumor primário de outra origem

histológica e recidiva loco-regional. Foi utilizada a análise de sobrevida univariada

Kaplan-Meier comparada por Log-rank t-test, de forma que os pacientes foram

divididos por maior ou menor abundância da proteína na região ITF, isto é, acima ou

abaixo da média da abundância da proteína entre as amostras da região ITF

proveniente dos 17 pacientes, a qual também apresenta expressão diferente entre ITF

e interior tumoral, associada a uma das três características clínico-patológica e à

sobrevida livre de doença. Dentre as 19 proteínas associadas à sobrevida livre de

doença, 13 proteínas estão associadas à característica clínica de recorrência loco

regional, 2 proteínas associadas à acometimento de linfonodo, as quais também estão

associadas a segundo sítio tumoral primário com mais outras 4 proteínas. Dentre as

proteínas com correlação com os dados clínico-patológicos, apenas a proteína

COL6A1 também está associada à sobrevida (Figura 11), de forma que a menor

expressão dessa proteína na região ITF resultou em menor tempo de sobrevida.

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Tabela 9. Proteínas com diferentes abundâncias entre as regiões do estroma do fronte tumoral invasivo (ITF) e estroma do interior do tumor que apresentam correlação com dados clínico-patológicos por análise de regressão linear.

Nome proteína Símbolo do gene

Uniprot ID Abundância* (ITF/interior)

Dado clínico-patológico

Regressão linear (p-valor)**

Coeficiente de correlação (R)***

R quadrado múltiplo****

Collagen alpha-1(VI) chain COL6A1 P12109 0,534 Condição linfonodal 0,0006 0,7 0,5

Fascin FSCN1 Q16658 -0,673 WHO 2,34e-05 0,8 0,7

Integrin alpha-V ITGAV P06756 -1,674 Condição linfonodal 0,0014 0,7 0,5

Myoglobin MB P02144 2,901 Estadiamento clínico 0,0015 0,7 0,5

Thrombospondin-2 THBS2 P35442 -0,712 Recorrência linfonodal 0,0001 0,7 0,6

ITF: fronte tumoral invasiva; WHO: sistema de classificação da OMS (WHO Histopathological Grading System). *Abundância: razão de valores LFQ intensity em log2 **Regressão linear foi considerada com p-valor>0,05. ***Coeficiente de correlação R<-0,7 ou R>0,7 foram utilizados para considerar correlação entre as variáveis. ****R quadrado múltiplo acima de 0,5 foi considerado para verificar quanto da variação de uma variável é explicada por outra variável.

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Figura 11. Associação entre as proteínas com expressão diferencial significativa entre fronte invasivo tumoral (ITF) e interior tumoral à sobrevida livre de doença em meses. Os gráficos apresentam as associações com p-valor<0,05 do Log-rank t-test.

A partir dos resultados de associação com as características clínico-

patológica dos pacientes, proteínas foram selecionadas como alvos para os

experimentos de verificação e foram representadas no volcano plot, o qual apresenta

o perfil da abundância das proteínas selecionadas (Figura 12A) e a abundância entre

as amostras dos pacientes (Figura 12B).

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Figura 12. Perfil da abundância das proteínas selecionadas como alvos para experimentos de verificação. (A) Proteínas diferencialmente expressas entre o estroma do fronte invasivo tumoral (ITF) e o estroma do interior do tumor são apresentadas no volcano plot de acordo

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com a razão da abundância (log2 razão ITF/interior do tumor) e a significância (-log10 p-valor, Student’s t-test). (B) Diagramas de caixas representam a abundância das proteínas no perfil de cada paciente normalizada pela mediana, nas diferentes corridas por espectrometria de massas (MS runs).

4.3 Verificação da abundância das proteínas selecionadas por

imunohistoquímica e correlação com dados clínico-patológicos

As proteínas avaliadas por imunohistoquímica (IHC) foram selecionadas a

partir da correlação com dados clínico-patológicos dos pacientes e que não

estivessem descritas na literatura como associadas ao CEC oral, como já abordado

para as proteínas FSCN1 (Alam et al. 2012; Campioni Rodrigues et al. 2017) e THBS2

(Hsu et al. 2014). Outro critério adicional, foi se já haviam informações sobre a

marcação imunohistoquímica dessas proteínas em tecidos de tumores no Human

Protein Atlas. Assim, para a seleção dos anticorpos específicos para cada alvo foram

consideradas as informações apresentadas pelo Human Protein Atlas, referente à

marcação imunohistoquímica do anticorpo em tecidos de câncer de cabeça e

pescoço, à diluição do anticorpo e à recuperação antigênica. A avaliação da

abundância das proteínas alvos foi realizada em um novo conjunto de amostras de

pacientes com CEC oral (n=96). Por meio do sistema de score utilizado (Tabela 5,

sessão 3.8), foi possível diferenciar a marcação entre as regiões do tumor, ITF e

interior tumoral, avaliada por dois patologistas de forma cega e independente

(kappa=0.706). Os valores de abundância das proteínas variaram de acordo com o

score criado em uma escala de 0 a 6, o que gerou uma escala de marcação para

todos os casos (Figura 13). A marcação das três proteínas avaliadas (COL6A1, ITGAV

e MB) foi predominante no estroma tumoral, com pouca observação de marcação em

células neoplásicas. Também foi possível notar marcação em músculo pela proteína

MB.

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Figura 13. Marcação imunohistoquímica para as proteínas alvos em cortes de CEC oral. Noventa e seis casos foram utilizados para verificar a abundância das proteínas COL6A1, ITGAV e MB. A intensidade de marcação no estroma ITF ou no estroma do interior tumoral é apresentado como um heat map. Diferenças na marcação entre as diferentes regiões do estroma tumoral foram observadas, com predomínio de COL6A1 e MB no estroma do ITF e de ITGAV no estroma do interior tumoral. A marcação das três proteínas avaliadas foi predominante no estroma tumoral. A ausência de marcação foi representada pela cor branca no heat map.

A correlação da marcação das proteínas no novo conjunto de amostras de

CEC oral com os dados clínico-patológicos dos pacientes revelou a associação da

proteína COL6A1 com a condição da margem tumoral (p-valor=0,005) e infiltração

capsular do linfonodo (p-valor=0,007) (Tabela 10). A recorrência regional também foi

demonstrada em associação à expressão de ITGAV (p-valor=0,02).

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Tabela 10. Associação dos dados clínico-patológicos com a expressão de três proteínas alvos presentes no estroma de amostra de CEC oral.

Parâmetro COL6A1 p-valor ITGAV p-valor MB p-valor

Baixo ITF n (%)

Igual n (%)

Alto ITF n (%)

Baixo ITF n (%)

Igual n (%)

Alto ITF n (%)

Baixo ITF n (%)

Igual n (%)

Alto ITF n (%)

Gênero

Masculino 10 (100) 37 (78,7) 32 (88,9) 10 (100) 44 (83,0) 14 (82,4) 02 (66,7) 68 (86,1) 03 (75,0) Feminino 0 (00) 10 (21,3) 04 (11,1) 0,16 0 (00) 09 (17,0) 03 (17,6) 0,36 01 (33,3) 11 (13,9) 01 (25,0) 0,55

Idade ≤ 58 06 (60,0) 29 (61,7) 21 (58,3) 05 (50,0) 32 (60,4) 11 (64,7) 03 (100) 45 (57,0) 03 (75,0) > 58 04 (40,0) 18 (38,3) 15 (41,7) 0,95 05 (50,0) 21 (39,6) 06 (35,3) 0,74 0 (00) 34 (43,0) 01 (25,0) 0,26

Tabagismo Não 01 (11,1) 07 (19,4) 03 (10,0) 02 (25,0) 06 (14,0) 01 (10,0) 01 (33,3) 08 (13,1) 01 (33,3) Sim 08 (88,9) 29 (80,6) 27 (90,0) 0,53 06 (75,0) 37 (86,0) 09 (90,0) 0,64 02 (66,7) 53 (86,9) 02 (66,7) 0,41

Etilista Não 01 (16,7) 13 (38,2) 05 (19,2) 02 (25,0) 13 (35,1) 01 (11,1) 01 (50,0) 13 (23,6) 02 (66,7) Sim 05 (83,3) 21 (61,8) 21 (80,8) 0,21 06 (75,0) 24 (64,9) 08 (88,9) 0,34 01 (50,0) 42 (76,4) 01 (33,3) 0,19

Sítio tumoral Língua 05 (50,0) 23 (48,9) 16 (44,4) 03 (30,0) 23 (43,4) 08 (47,1) 02 (66,7) 36 (45,6) 0 (00) Outro 05 (50,0) 24 (51,1) 20 (55,6) 0, 90 07 (70,0) 30 (56,6) 09 (52,9) 0,66 01 (33,3) 43 (54,4) 04 (100) 0,14

Tamanho do tumor (T) T1/T2 09 (90,0) 36 (76,6) 31 (86,1) 08 (80,0) 45 (84,9) 13 (76,5) 03 (100) 63 (79,7) 04 (100) T3/T4 11 (10,0) 11 (23,4) 05 (13,9) 0,41 02 (20,0) 08 (15,1) 04 (23,5) 0,71 0 (00) 16 (20,3) 0 (00) 0,41

Acometimento linfonodal (N)

N0 04 (40,0) 23 (48,9) 18 (50,0) 06 (60,0) 28 (52,8) 08 (47,1) 02 (66,7) 37 (46,8) 04 (100) N+ 06 (60,0) 24 (51,1) 18 (50,0) 0,85 04 (50,0) 25 (47,2) 09 (52,9) 0,80 01 (33,3) 42 (53,2) 0 (00) 0,09

Tratamento Cirúrgia 05 (50,0) 20 (42,6) 11 (30,6) 04 (40,0) 24 (45,3) 05 (29,4) 01 (33,3) 27 (34,2) 04 (100) Cirúrgia +RT 05 (50,0) 22 (46,8) 19 (52,8) 04 (40,0) 24 (45,3) 11 (64,7) 02 (66,7) 42 (53,2) 0 (00) Cirúrgia +RT+QT 0 (00) 05 (10,6) 06 (16,7) 0,52 02 (20,0) 05 (09,4) 01 (05,9) 0,51 0 (00) 10 (12,7) 0 (00) 0,10

Margem > 5 mm 08 (80,0) 47 (100) 35 (97,2) 10 (100) 52 (98,1) 17 (100) 03 (100) 77 (97,5) 04 (100) < 5 mm 02 (20,0) 0 (00) 0 (02,8) 0,005 00 (00) 01 (01,9) 0 (00) 0,77 0 (100) 02 (02,5) 0 (00) 0,91

Infiltração capsular linfonodal

Não 02 (50,0) 0 (00) 07 (50,0) 02 (66,7) 05 (29,4) 01 (20,0) 0 (00) 09 (33,3) 0 (00) Sim 02 (50,0) 14 (100) 07 (50,0) 0,007 01 (33,3) 12 (70,6) 04 (80,0) 0,36 01 (100) 18 (66,7) 0 (00) 0,49

Recorrência local Não 05 (50,0) 23 (48,9) 16 (44,4) 03 (30,0) 23 (43,4) 08 (47,1) 02 (66,7) 36 (45,6) 0 (00)

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Baixo ITF: baixa expressão no fronte tumoral invasivo (ITF); Igual: expressão igual entre ITF e o interior tumoral; Alto ITF: alta expressão no fronte tumoral invasivo; RT: radioterapia; QT: quimioterapia.

Sim 05 (50,0) 24 (51,1) 20 (55,6) 0,90 07 (70,0) 30 (56,6) 09 (52,1) 0,66 01 (33,3) 43 (54,4) 04 (100) 0,14 Recorrência regional

Não 09 (90,0) 42 (89,4) 31 (86,1) 10 (100) 49 (92,5) 12 (70,6) 03 (100) 70 (88,6) 03 (75,0) Sim 01 (10,0) 05 (10,6) 05 (13,9) 0,88 0 (00) 04 (07,5) 05 (29,4) 0,02 0 (00) 09 (11,4) 01 (25,0) 0,57

Recorrência loco-regional

Não 07 (70,0) 30 (63,8) 26 (72,2) 09 (90,0) 38 (71,7) 10 (58,8) 01 (33,3) 56 (70,9) 03 (75,0) Sim 03 (30,0) 17 (36,2) 10 (27,8) 0,71 01 (10,0) 15 (23,8) 07 (41,2) 0,22 02 (66,7) 23 (29,1) 01 (25,0) 0,37 Recorrência distante

Não 09 (90,0) 47 (100) 35 (97,2) 52 (98,1) 52 (98,1) 16 (94,1) 03 (100) 77 (97,5) 04 (100) Sim 01 (10,0) 0 (00) 01 (02,8) 0,13 01 (01,9) 01 (01,9) 01 (05,9) 0,56 0 (00) 02 (02,5) 0 (00) 0,91

Segundo tumor primário

Não 08 (80,0) 36 (78,3) 27 (75,0) 08 (80,0) 36 (69,2) 14 (82,4) 03 (100) 59 (75,6) 03 (75,0) sim 02 (20,0) 10 (21,7) 09 (25,0) 0,91 02 (20,0) 16 (30,8) 03 (17,6) 0,50 0 (00) 19 (24,4) 01 (25,0) 0,61

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A análise de sobrevida nos pacientes de CEC oral revelou a associação da

expressão de ITGAV no estroma do ITF com recorrência de acometimento dos

linfonodos (Figura 14). A sobrevida global de 5 anos, sobrevida específica à doença e

a sobrevida livre de doença foram analisadas para as três proteínas avaliadas,

entretanto, somente ITGAV apresentou associação com esses parâmetros (Tabela

11). A análise multivariada de Cox não apresentou resultados significativos para essas

proteínas em relação aos dados clínico-patológicos.

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Figura 14. Análise de sobrevida Kaplan-Meier para valores de score de IHC e dados de fechamento clínico. A sobrevida total, sobrevida livre de doença e sobrevida específica à doença foram avaliadas em relação a dados de segundo tumor primário, local do tumor, e recorrência linfonodal. Pacientes com maior expressão de ITGAV no ITF estavam associados ao maior risco de apresentar recorrência linfonodal e baixa sobrevida (p-valor<0.05).

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Tabela 11. Taxa de sobrevida de pacientes com CEC oral de acordo com a expressão de proteínas.

Parâmetro Sobrevida global em 5 anos % (N)

p-valor Sobrevida livre de doença em 5 anos % (N)

p-valor Sobrevida específica à doença em 5 anos % (N)

p-valor

ITGAV Maior expressão no ITF

73% (17) 65% (17) 72% (16)

Expressão igual 92% (53) 90% (52) 92% (50)

Menor expressão no ITF

100% (08) 0,0081 100% (10) 0,0288 100% (08) 0,0115

4.4 Avaliação das proteínas alvos em saliva de pacientes com CEC oral por

proteômica baseada em alvos

Um conjunto de 33 pacientes com CEC oral, com e sem metástase

linfonodal, foi selecionado para monitorar peptídeos derivados das proteínas COL6A1,

ITGAV e MB por proteômica baseada em alvos a fim de correlacionar a abundância

dessas proteínas com dados clínico-patológicos dos pacientes. Essas proteínas foram

identificadas com um total de 45 peptídeos únicos por proteômica baseada em

descoberta (DDA). Considerando observações na proteômica por DDA e do SRM

Atlas, 8 peptídeos proteotípicos foram escolhidos para monitorar as proteínas alvos.

Os peptídeos não purificados foram adquiridos comercialmente e marcados com

isótopo pesado (heavy-isotope-labelled synthetic peptides), como padrões internos, e

adicionados às amostras de saliva juntamente com os padrões de tempo de retenção

(15 iRT peptides, Pierce), para avaliar entre outras considerações, o desempenho em

experimentos de proteômica baseada em alvos diretamente com a matriz de interesse

(saliva). Nessa fase, a utilização de peptídeos não purificados tem sido indicada e

comumente utilizada em estudos proteômica baseada em alvos, uma vez que, a partir

desses resultados, uma nova seleção de peptídeos pode ser realizada para o

desenvolvimento de experimentos de quantificação absoluta (AQUA) com peptídeos

de alta pureza (acima de 98%) (Gerber et al. 2003; Elschenbroich & Kislinger 2011).

A abundância relativa das 3 proteínas foi avaliada pelo monitoramento de

pelo menos 3 peptídeos proteotípicos leves (endógeno) e 3 peptídeos pesado

(sintético) para cada proteína, pelo método SRM. Os dados gerados por SRM foram

manualmente conferidos no programa Skyline para verificação da qualidade e

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identificação dos picos. O tempo de retenção predito de cada peptídeo foi realizado

pelo programa Skyline, a partir de uma curva padrão previamente analisada de 36

peptídeos (peptídeos sintéticos em uso no laboratório) com diferentes tempos de

retenção. A partir dessa curva padrão com um coeficiente de correlação R2 acima de

0.9, o programa Skyline é capaz de calcular e predizer o tempo de retenção do

peptídeo, considerando a sua sequência de aminoácidos e levando em consideração

as mesmas condições de gradiente de cromatografia líquida e especificações da

coluna cromatográfica. O método no qual o Skyline se baseia para fazer esses

cálculos é denominado de SSRCalc calculadora de hidrofobicidade (Krokhin 2006).

Assim, peptídeos monitorados que apresentaram pelo menos duas transições foram

alinhados no tempo de retenção predito, com os peptídeos leve e pesado, com o

mínimo de interferência e alta reprodutibilidade foi considerada para análises

posteriores. Os 8 peptídeos monitorados se enquadraram nesses critérios. Todas as

três proteínas alvos foram quantificadas pelo método SRM, demonstrando sua

aplicação para a análise de amostras clínicas como a saliva.

A fim de explorar o valor prognóstico dessas proteínas na saliva de paciente

com CEC oral, a quantificação dos peptídeos de cada proteína foi utilizada para

associar com o risco de desenvolver metástase. As amostras foram então divididas

em dois grupos, um grupo com pacientes sem metástase regional (N0) e outro grupo

de pacientes com metástase regional (N+). A maioria dos peptídeos apresentou menor

abundância em pacientes N+ em comparação com pacientes N0 (Figura 15A). A

quantificação das proteínas COL6A1 e ITGAV demonstrou que há diferença

significativa na abundância dessas proteínas entre os grupos de pacientes (Student’s

t-test, p<0.05) (Figura 15B) e também com certa variabilidade entre os pacientes

(Figura 15C). Para verificar o valor prognóstico das proteínas nas amostras clínicas

de saliva, curvas de características de operação do receptor (curvas ROC) foram

calculadas para fornecer os melhores valores de corte quanto à variação da

sensibilidade e especificidade. Dentre as proteínas selecionadas para os

experimentos de verificação, a proteína COL6A1 foi a que apresentou melhor poder

de classificação entre pacientes com ausência e presença de metástase a partir dos

resultados da curva ROC, apresentando uma área sob a curva (AUC) de 0.8

(sensibilidade=0,739; especificidade=0,9) (Figura 15D), enquanto a proteína ITGAV

apresentou AUC de 0.75 (sensibilidade=0,696; especificidade=0,8). Além disso, a

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análise de tabulação cruzada revelou que essa mesma proteína está associada ao

estadiamento clínico (p-valor=0,04) e à metástase linfonodal (p-valor=0,01). As

presentes análises sugerem que experimentos por SRM em amostras de saliva são

capazes de discriminar pacientes em grupos de acordo com a expressão de proteínas

alvos. Além disso, ambas as técnicas de proteômica baseada em espectrometria de

massas, DDA e SRM, na busca por candidatos marcadores de prognóstico em tecido

e saliva, demonstraram diferentes abundâncias dessas proteínas entre os grupos

analisados (Figura 15E).

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Figura 15. Avaliação das proteínas alvos por proteômica baseada em alvos. (A) Quantificação relativa dos peptídeos por SRM em amostras de saliva de 33 pacientes com CEC oral. Maioria dos peptídeos encontram-se com menor abundância nos pacientes com metástase linfonodal. (B) A diferença de expressão das proteínas COL6A1 e ITGAV é significativa entre os grupos de pacientes, N0 e N+. (C) As intensidades normalizadas das proteínas COL6A1 e ITGAV são menores entre os pacientes com metástase (N+) em comparação aos pacientes com CEC oral sem metástase. (D) Curva ROC para a predição de metástase em pacientes com CEC oral. A predição do risco foi avaliada pela área sob a curva (AUC) baseada na abundância das proteínas. A curva ROC e os gráficos complementares para

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COL6A1 foram capazes de separar os casos N+ dos casos N0. (E) Comparação entre a quantificação das proteínas candidatas pelas técnicas DDA, em amostras de tecido, e SRM, em amostras de saliva. Log2 da razão de N+/N0 em amostras de saliva e entre ITF/interior tumoral em amostras de tecido são apresentados no gráfico.

5 DISCUSSÃO

O CEC oral representa mais de 90% de todos os cânceres de cabeça e

pescoço, e cada tumor pode apresentar padrões de dispersão e prognósticos

característicos (Ferlay et al. 2015). O principal tratamento da doença é a ressecção

cirúrgica do tumor, acompanhada ou não por radioterapia e/ou quimioterapia (Shah &

Gil 2009) e a predição do prognóstico é baseada em sistemas de estadiamento clínico

como o TNM, o qual apresenta algumas limitações devido à heterogeneidade

biológica do tumor (Takes et al. 2010). Considerando a taxa de sobrevida de 5 anos e

a alta taxa de recorrência de CEC oral (Rivera et al. 2017), há uma grande

necessidade de marcadores de prognóstico mais precisos para o tratamento de CEC

oral. Para isso, o uso de classificações histológicas que se baseiam nas

características histomorfológicas da área do fronte tumoral invasivo (ITF) do tumor

para contribuir com a determinação do prognóstico pode auxiliar na busca de

marcadores moleculares, uma vez que essa região ITF está associada à invasão e

agressividade do tumor. Por sua vez, o estroma é fundamental para o sucesso da

formação tumoral, atuando na manutenção do tecido, na diferenciação, proliferação,

migração e invasão de células neoplásicas (Salo et al. 2014).

A caracterização do proteoma de tumores é um método promissor para a

identificação de marcadores de diagnóstico e de prognóstico, bem como de alvos

terapêuticos. Um melhor entendimento do proteoma das diferentes regiões

histomorfológicas do tumor pode identificar proteínas de valor prognóstico e auxiliar

na determinação de pacientes com CEC oral, contribuindo para a redução da

recorrência tumoral ou de metástase linfonodal e melhora na taxa de sobrevida.

Assim, considerando que características histológicas e os perfis moleculares podem

diferir amplamente de uma área para outra de um mesmo tumor (Bryne 1998;

Almangush et al. 2015; Jensen et al. 2015), neste estudo buscou-se determinar a

composição de proteínas provenientes de diferentes regiões de CEC oral,

compreendendo o estroma da região do fronte invasivo tumoral (ITF) e o estroma do

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interior tumoral, a fim de identificar proteínas com valor prognóstico em CEC oral, bem

como auxiliar no entendimento dos eventos relacionados ao processo de

agressividade da região ITF.

Muitos estudos têm utilizado amostras de tecido fixadas em formalina e

parafina (FFPE) para a caracterização molecular, incluindo análises proteômicas com

a extração e digestão de proteínas seguida por identificação por espectrometria de

massas (LC-MS/MS) para determinação do proteoma tumoral. A fim de contornar a

complexidade morfológica do tumor, características histomorfológicas foram utilizadas

neste estudo para distinguir a região ITF e a região do interior tumoral e, juntamente

com a proteômica baseada em espectrometria de massas, guiar a identificação de

proteínas associadas ao prognóstico e à agressividade de CEC oral.

A microdissecção a laser (LMD) tem sido abordada em estudos de

proteômica para avaliar células neoplásicas de origem epitelial (Patel et al. 2008;

Negishi et al. 2009; Chi et al. 2009). Até o presente momento, o presente trabalho é o

primeiro a separar o estroma da região ITF e o estroma da região do interior tumoral

para determinação do proteoma dessas áreas de CEC oral. Embora o trabalho

desenvolvido por Jensen e colaboradores (Jensen et al. 2015) tenha analisado a

região ITF e a área central de CEC oral, o isolamento do estroma não foi realizado,

de forma que o conteúdo total dessas regiões, ou seja, células neoplásicas e

componentes estromais foram analisados sem distinção.

O estroma tumoral apresenta origem histológica diferente das de células

neoplásicas, sendo composto por fibroblastos, células endoteliais, células do sistema

inflamatório e proteínas da matriz extracelular (Bremnes et al. 2011). Além disso,

alguns tipos celulares no ambiente estromal podem ser recrutados por células

malignas para auxiliar o crescimento tumoral e facilitar a disseminação metastática

(Xing et al. 2010), com muitos estudos destacando o papel de fibroblastos associados

ao carcinoma (CAFs) para a progressão tumoral (Salo et al. 2014). Assim, o estroma

é um compartimento de alta complexidade celular e molecular, atuando em vias de

sinalização e processos biológicos fundamentais para o desenvolvimento e

progressão do tumor.

A partir da associação da LMD e análises por espectrometria de massas

com aquisição dependente de dados (DDA), as regiões de interesse do estroma, ou

seja, região ITF e interior tumoral, foram caracterizadas quanto ao perfil proteico em

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amostras de 20 peças cirúrgicas provenientes de pacientes com CEC oral. A

proteômica baseada em alvos revelou 101 proteínas com diferente localização

espacial no tumor (Students’s t-test, p-valor<0,05). A importância da separação das

regiões do tumor para a caracterização do proteoma pode também ser demonstrada

a partir da correlação da expressão das proteínas com dados clínico-patológicos dos

pacientes. A maior expressão da proteína COL6A1 (Collagen alpha-1(VI) chain) no

estroma da região ITF foi correlacionada à metástase linfonodal, dado clínico também

associado à maior abundância da proteína ITGAV (Integrin alpha-V) no estroma do

interior tumoral, enquanto estágios avançados da doença foram associados à maior

expressão de MB (Myoglobin) no estroma da região ITF. A abundância de algumas

proteínas também foi associada à sobrevida de pacientes com CEC oral, dentre elas

algumas proteínas de matriz extracelular como o colágeno VI (COL6A1, COL6A2,

COL6A3), colágeno 7 (COL7A1), anexina 2 (ANXA2), laminina (LAMC2), mimecan

(OGN). Embora as proteínas THBS2 e de FSCN1 estivessem associadas à

recorrência linfonodal e a tumores pobremente diferenciados (classificação WHO),

respectivamente, não foram selecionadas para os experimentos de verificação da

abundância por já terem sido descritas na literatura como associadas a características

de CEC oral (Alam et al. 2012; Hsu et al. 2014; Campioni Rodrigues et al. 2017).

Uma vez identificadas proteínas correlacionadas a características clínico-

patológicas, a abundância dessas proteínas foi verificada em utilizando um conjunto

maior de amostras de pacientes com CEC oral. Muitas estratégias poderiam ser

utilizadas nesta etapa do estudo, como a proteômica baseada em alvos,

imunohistoquímica (IHC), ELISA e western blotting. Entretanto, a verificação por IHC

foi o método de escolha devido à sua aplicação na prática clínica. Adicionalmente, a

histopatologia é o padrão ouro na determinação do prognóstico de pacientes com CEC

oral a partir da avaliação morfológica como padrão de invasão das ilhas neoplásicas

e invasão perineural (Sundquist et al. 2017), de forma que tal conhecimento foi

aplicado no delineamento deste estudo.

Proteínas selecionadas a partir da proteômica baseada em descoberta e

da correlação com dados clínico-patológicos foram avaliadas por IHC. A realização de

IHC no novo conjunto de amostras, composto por 96 casos de CEC oral em FFPE,

permitiu confirmar a abundância das proteínas no estroma tumoral, corroborando a

associação dessas proteínas com dados clínicos dos pacientes. Para avaliação, as

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amostras foram classificadas de acordo com o score baseado na intensidade e na

porcentagem de marcação na região do estroma da região ITF ou do estroma do

interior do tumor, de forma separada. Como esperado, as três proteínas avaliadas

apresentaram marcação predominante no estroma tumoral. A marcação também foi

observada no citoplasma em músculo para proteína MB.

A análise por IHC mostrou concordância com os resultados da proteômica

por DDA apenas para as proteínas COL6A1 e MB, ou seja, em ambos os

experimentos essas proteínas foram encontradas com maior expressão no estroma

do ITF, enquanto a ITGAV foi encontrada com maior abundância no estroma do

interior tumoral por marcação imunohistoquímica. Entretanto, essa diferença pode ser

causada devido à inespecificidade do anticorpo utilizado nas análises de IHC,

enquanto que espectrometria de massas foi capaz de fornecer informações

específicas e precisas de identificação e quantificação de proteínas em cada região

de interesse por meio da associação com a LMD.

Para a correlação entre a marcação imunohistoquímica e parâmetros

demográficos e clínico-patológicos dos pacientes, foi realizada tabulação cruzada

(cross-tabulation) e teste Qui-quadrado, seguida por análise de sobrevida. Com esses

resultados foi demonstrado novamente a associação da abundância dessas proteínas

com características que influenciam o prognóstico (Almangush et al. 2015; Sawazaki-

Calone et al. 2015), como invasão extracapsular (linfonodo) e margens associadas à

abundância de COL6A1 e recorrência regional associada à abundância de ITGAV. A

sobrevida dos pacientes também foi associada à expressão de ITGAV no estroma do

ITF com recorrência de metástase linfonodal. Mais uma vez, essa mesma proteína

apresentou associação à sobrevida global de 5 anos, à sobrevida específica e à

sobrevida livre de doença, demonstrando um papel biológico relevante de ITGAV no

prognóstico de pacientes com CEC oral.

A matriz extracellular (ECM) é comumente desregulada e reorganizada de

forma a contribuir com a progressão tumoral de forma direta, promovendo o

crescimento de células neoplásicas e metástase, ou indiretamente, alterando outros

componentes do microambiente tumoral (Lu et al. 2012). As proteínas da família de

integrinas são relevantes no processo de sinalização celular pois são receptores de

superfície da membrana celular amplamente expressas nas células, atuando na

adesão e interação célula-célula. Essas proteínas também estão envolvidas com a

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mobilidade, diferenciação, migração, adesão e proliferação celular, processos de

grande importância para o desenvolvimento e progressão tumoral. Um outro aspecto

interessante é que a presença de integrinas em vesículas extracelulares circulantes

de vários linhagens celulares que tendem a promover metástase no pulmão foi

demonstrada como determinante para a ocorrência de metástase e para a

determinação do futuro sítio de metástase (Hoshino et al. 2015). Dentre essas

integrinas identificadas nas vesículas extracelulares, tanto a Integrin beta-4 (ITGB4) e

a Integrin alpha-V (ITGAV) foram encontradas no presente estudo com diferentes

abundâncias entre a região ITF e a região do interior tumoral de CEC de língua por

proteômica baseada em descoberta. Especificamente, a proteína ITGAV é um

receptor de matriz extracelular e serve como subunidade para receptores de integrina

ligados RGD-motif contendo substratos como vibronectina, fibronectina e fibrinogênio,

componentes do estroma envolvidos com a transição EMT (Jin & Varner 2004).

Adicionalmente, ITGAV tem sido associada à regulação do crescimento tumoral e

metástase em câncer de laringe e hipofaringe (Lu et al. 2011) e à progressão tumoral

de câncer colorretal (Waisberg et al. 2014). O heterodímero de ITGAV também foi

descrito associado à angiogenêse via altos níveis de bFGF e o fator de necrose

tumoral α (TNF-α) (Varner & Cheresh 1996). O uso de moléculas antagonistas de

integrinas, como os antagonistas RGD e anticorpos, tem demonstrado uma diminuição

na angiogênese, crescimento tumoral e mestástase em muitos tipos de tumor sólido,

nos quais ITGAV apresenta maior expressão, incluindo câncer de mama, melanoma

e câncer de próstata (Trikha et al. 2004; Chen et al. 2008; van der Horst et al. 2011).

O tratamento com um antagonista de ITGAV, assim como a diminuição da expressão

dessa proteína em linhagens celulares de carcinoma de bexiga, resultou na redução

da malignidade in vitro, baseada na diminuição da proliferação e migração celular (Van

Der Horst et al. 2014). Muitos desses antagonistas estão em testes clínicos de fase I

e II (Nemeth et al. 2007; O’Day et al. 2012). Apesar de todos esses estudos

descreverem sobre o papel de ITGAV em câncer, nenhum deles correlacionou a sua

distribuição de abundância no tecido, o que também faz o presente estudo ser

relevante nesse contexto de localização espacial de proteínas.

Assim como as integrinas, colágenos são proteínas abundantes na matriz

extracelular (ECM). Colágeno VI pode ser sintetizado por macrófagos e expresso em

muitos tecidos, incluindo músculo esquelético, pulmão e pele. Essa proteína pode ser

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composta por três cadeias α distintas (α1, α2 e α3) secretadas na ECM para a

formação da rede de microfilamentos, a qual está associada à membrana basal de

células musculares e em interação com vários outros constituintes da matriz (de

Carvalho et al. 1997; Sabatelli et al. 2001). Por outro lado, colágeno VI é um importante

fator pró-tumorigênico que atua no microambiente tumoral, promovendo eventos de

inflamação e angiogênese. Além disso, COL6A1 participa de vias de sinalização que

resultam na regulação da apoptose, autofagia, proliferação, angiogênese, fibrose e

inflamação (Chen et al. 2013). A maior expressão de colágeno VI é relatada em uma

variedade de tumores em comparação com tecidos normais. O aumento da

mobilidade de células malignas pulmonares é marcado pelo tratamento com colágeno

VI, sendo que a análise do secretoma de células de câncer de pulmão mostrou que a

proteína COL6A1 é associada a características de metástase. O uso de RNA de

interferência para diminuição da abundância dessa proteína suprimiu a habilidade

metastática de células de câncer de pulmão, enquanto a super-expressão demonstrou

efeito oposto (Chiu et al. 2011). Entretanto, o mecanismo de COL6A1 na metástase

ainda não é bem compreendido, de forma as variações na abundância dessa proteína

entre as diferentes regiões do tumor encontradas no presente trabalho podem auxiliar

no entendimento da modulação dessa proteína.

A fim de avaliar se as proteínas COL6A1, ITGAV e MB são encontradas em

fluidos biológicos, cujos métodos de coleta não são invasivos, foi utilizada a

proteômica baseada em alvos para a quantificação desses alvos em saliva de 33

pacientes com CEC oral. A saliva é considerada uma fonte promissora na busca de

marcadores e de uso como biópsia líquida (Aro et al. 2017), uma vez que por estar

em contato direto com a lesão pode refletir a abundância das proteínas presentes no

tecido e assim correlacionar com fatores de prognóstico associados ao CEC oral

(Ganly et al. 2012; Shah et al. 2011; Xie et al. 2015). A análise por SRM foi capaz de

monitorar as três proteínas selecionadas na fase de descoberta. COL6A1 e ITGAV,

tipicamente proteínas de matriz extracelular, foram quantificadas em amostras de

saliva de pacientes com CEC oral, apresentando menor abundância no grupo de

pacientes com metástase (N+), em comparação à saliva de pacientes sem metástase

(N0), de forma significativa (p-valor<0,05, Student’s t-test). Na comparação da

capacidade de predição dos grupos de pacientes, a abundância da proteína COL6A1

demonstrou melhor desempenho (curva ROC, AUC 0,8) em comparação à proteína

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ITGAV (curva ROC, AUC 0,75). O possível valor prognóstico para COL6A1 foi também

demonstrado pela associação da abundância dessa proteína em amostras de saliva

com o estadiamento clínico e à metástase linfonodal.

Interessantemente, o peptídeo (IYIGDDNPLTLIVK) de ITGAV que

apresentou maior abundância em saliva de pacientes com metástase linfonodal

também foi identificado em amostras de tecido na fase de proteômica baseada em

descoberta, entretanto, apenas foi possível encontrar esse peptídeo no interior

tumoral. Tal informação traz direções para investigar o papel de peptídeos em

processos biológicos e suas contribuições para as diferentes características

hitopatológicas encontradas entre as regiões do tumor.

Apesar de outros estudos envolvendo a análise de saliva em câncer

apontarem proteínas associadas ao prognóstico e processos relacionados à doença

(Shah et al. 2011; Winck et al. 2015; Kawahara et al. 2016), o presente estudo foi

capaz de quantificar com acurácia as proteínas selecionadas como potenciais

marcadores de prognóstico em amostras de saliva de pacientes com CEC oral

utilizando SRM, um método considerado como padrão ouro em proteômica baseada

em alvos, com resultados capazes de discriminar pacientes em grupos de acordo com

a presença ou ausência de metástase linfonodal.

6 CONCLUSÃO

O presente estudo demonstrou que a combinação de características

histomorfológicas, microdissecção a laser (LMD) e proteômica baseada em

espectrometria de massas foi capaz de mapear o proteoma do estroma de duas

diferentes áreas do tumor, revelando proteínas espacialmente distribuídas entre o

estroma do fronte tumoral invasivo (ITF) e o estroma do interior do tumor com valor

prognóstico em CEC oral. Análises por SRM revelaram o valor prognóstico de

COL6A1 e ITGAV em amostras de saliva de pacientes com CEC oral, as quais foram

capazes de distinguir entre pacientes com e sem metástase linfonodal.

Embora muitos estudos tenham se empenhado na seleção de marcadores

de agressividade ou de prognóstico para CEC oral, nenhum foi capaz de adicionar

esses marcadores na prática clínica. Dessa forma, estudos adicionais são necessários

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em um conjunto maior de amostras a fim de fornecer novas direções sobre os

candidatos a marcadores de prognóstico apresentados pelo presente estudo e

possivelmente incluí-los na rotina clínica para CEC oral. Adicionalmente, a abordagem

aqui empregada pode contribuir com o entendimento de mecanismos de sinalização

entre as diferentes regiões do tumor, fornecendo informações sobre o comportamento

clínico de CEC oral.

Em resumo, a busca de indicadores de agressividade poderia antecipar o

comportamento clínico do CEC oral e auxiliar no prognóstico considerando a alta

heterogeneidade desta neoplasia associada aos diferentes comportamentos clínicos

e padrões de invasão.

Dessa forma, a abordagem utilizada neste estudo demonstra a importância

da combinação de diferentes métodos e materiais biológicos para buscar potenciais

marcadores ou assinaturas que possam influenciar na decisão clínica. Além disso, os

presentes resultados abrem novas perspectivas para estudos com a quantificação

absoluta das proteínas candidatas e estudos da sinalização desses alvos em câncer

oral.

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APÊNDICE 1

Tabela suplementar 1. Proteínas com abundância diferencial (Student’s t-test, p-valor<0,05) entre estroma do fronte invasivo tumoral (ITF) e estroma do interior tumoral identificadas em amostras de CEC oral.

Nome proteína

Log2 razão

ITF/interior tumoral

(LFQ intensity)

UniProt IDs

Tripeptidyl-peptidase 1 0,670785374 O14773

Myosin regulatory light chain 12A -0,300320106 J3QRS3

Prolyl 4-hydroxylase subunit alpha-2 -0,563140914 O15460

Histone H2B 0,694409807 U3KQK0

Cartilage intermediate layer protein 1 0,587885194 O75339

Core histone macro-H2A.1 0,606355273 O75367

Isoform 8 of Filamin-B -0,69978537 O75369-8

PRA1 family protein 3 0,913867931 O75915

Isoform 3 of Peptidyl-prolyl cis-trans isomerase FKBP9 -1,481027331 O95302-3

Coagulation factor XIII A chain 0,997989868 P00488

Angiotensinogen 0,809130785 P01019

Kininogen-1 0,610276921 P01042

HLA class II histocompatibility antigen, DR alpha chain 0,896303498 P01903

Myoglobin 2,901378967 P02144

Keratin, type I cytoskeletal 14 -2,257044582 P02533

Prelamin-A/C -0,326420085 P02545

Interstitial collagenase -1,079376233 P03956

Isoform sGi2 of Guanine nucleotide-binding protein G(i)

subunit alpha-2 0,339628779 P04899-4

Creatine kinase M-type 2,706802841 P06732

Integrin alpha-V -1,674279451 P06756

L-lactate dehydrogenase B chain 0,427840382 P07195

Glutathione peroxidase 1 0,67878108 P07203

Isoform 2 of Annexin A2 -0,431494295 P07355-2

Extracellular superoxide dismutase [Cu-Zn] 2,013683559 P08294

Cathepsin G 1,26076864 P08311

Protein tyrosine phosphatase, receptor type, C, isoform

CRA_d 1,101464767 A0A0A0MT22

Glutathione S-transferase P -0,438908402 P09211

Galectin-1 -0,605895039 P09382

SPARC -1,537199451 D3DQH8

Histone H2A type 1 0,441534132 P0C0S8

Non-secretory ribonuclease 3,352805634 P10153

Eosinophil peroxidase 3,059351974 P11678

Collagen alpha-1(VI) chain 0,534962699 P12109

Collagen alpha-2(VI) chain 0,561583507 P12110

Collagen alpha-3(VI) chain 0,351737972 P12111

Eosinophil cationic protein 3,594172458 P12724

Keratin, type II cytoskeletal 5 -2,149217955 P13647

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Bone marrow proteoglycan 2,593693665 P13727

Plastin-2 1,123581304 P13796

Plastin-3 -0,451190002 P13797

Integrin beta-4 -1,239838156 P16144

Histone H1.5 0,523773777 P16401

Histone H1.2 0,635898665 P16403

HLA class II histocompatibility antigen, DRB1-11 beta

chain 0,781369351 P20039

Lamin-B1 0,519782376 P20700

Mimecan 0,913669308 P20774

Filamin-A -0,589782114 P21333

Protein-glutamine gamma-glutamyltransferase 2 2,629504995 P21980

Myosin regulatory light polypeptide 9 -0,939278199 P24844

ATP synthase subunit alpha, mitochondrial 0,383101205 P25705

High mobility group protein B2 1,064686082 P26583

Isoform 2 of Transketolase 1,226421881 P29401-2

Coronin-1A 1,318567487 P31146

14-3-3 protein sigma -1,280293902 P31947

Thrombospondin-2 -0,712335335 P35442

Myosin-9 -0,384437657 P35579

Collagen alpha-1(XV) chain 1,432731656 P39059

Eukaryotic translation initiation factor 2 subunit 3 -0,613871089 P41091

Myeloid cell nuclear differentiation antigen 0,93636475 P41218

60S ribosomal protein L5 0,423002792 P46777

Matrix metalloproteinase-14 -0,686171546 P50281

PDZ and LIM domain protein 4 -0,697006591 P50479

Prolargin 0,944026898 P51888

Epiplakin -2,341058325 P58107

Myosin light polypeptide 6 -0,43705882 B7Z6Z4

Proteasome subunit alpha type 0,492847159 G3V5Z7

Destrin -0,398039879 P60981

60S ribosomal protein L26 0,792450918 P61254

Histone H4 0,381686029 P62805

40S ribosomal protein S25 0,590497281 P62851

40S ribosomal protein S26 -0,619173224 P62854

Isoform 2 of Fibulin-2 -1,073581267 P98095-2

Fatty acid-binding protein, epidermal -1,33212052 Q01469

Collagen alpha-1(VII) chain -1,34471226 Q02388

Keratin, type I cytoskeletal 17 -2,569912015 Q04695

Collagen alpha-1(XIV) chain 1,408752186 Q05707

Cytoskeleton-associated protein 4 -0,364059229 Q07065

Rho GTPase-activating protein 1 -0,52548658 Q07960

Laminin subunit beta-3 -1,698437446 Q13751

Laminin subunit gamma-2 -1,496188143 Q13753

Src substrate cortactin -0,431859637 Q14247

Plectin -0,422601593 Q15149

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Prostacyclin synthase 1,610427835 Q16647

Fascin -0,673794229 Q16658

Histone H3.2 0,648022034 Q71DI3

Polyadenylate-binding protein 2 0,789939033 Q86U42

Fermitin family homolog 3 0,785027294 Q86UX7

Isoform 2 of Leucine-rich repeat-containing protein 15 -0,802318298 Q8TF66-2

Palladin -1,138299227 Q8WX93

Protein NDRG1 -2,00068386 Q92597

Far upstream element-binding protein 2 0,526173664 Q92945

BTB/POZ domain-containing protein KCTD12 0,65692292 Q96CX2

Reticulocalbin-3 -0,660454261 Q96D15

Calponin -1,096604219 B4DUT8

Aconitate hydratase, mitochondrial 0,664531913 A2A274

Matrix-remodeling-associated protein 5 -0,626436807 Q9NR99

Isoform 2 of Endoplasmic reticulum aminopeptidase 1 0,765546617 Q9NZ08-2

Myoferlin -0,693628764 Q9NZM1

LIM and cysteine-rich domains protein 1 -0,486761558 Q9NZU5

Proteasome activator complex subunit 2 0,690805162 A0A087X1Z3

Deoxynucleoside triphosphate triphosphohydrolase

SAMHD1 1,014329177 Q9Y3Z3

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APÊNDICE 2

Figura suplementar 1. Avaliação dos valores de quantificação (LFQ intensity) por de

histograma das amostras excluídas. A baixa quantificação das proteínas nas amostras de um

mesmo paciente foi utilizada como critério de exclusão.

LFQ_intensity P11E

LFQ_intensity P11F

LFQ_intensity P19E

LFQ_intensity P19F

LFQ_intensity P20E

LFQ_intensity P20F

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Declaração

As cópias de artigos de minha autoria ou de minha co-autoria, já publicados ou

submetidos para publicação em revistas científicas ou anais de congressos sujeitos a

arbitragem, que constam da minha Dissertação/Tese de Mestrado/Doutorado, intitulada

Discovery and targeted proteomics map of prognostic signature proteins in oral

cancer, não infringem os dispositivos da Lei n.° 9.610/98, nem o direito autoral de

qualquer editora.

Campinas, 21 de março de 2018

Assinatura : __________________________________

Nome do(a) autor(a): Carolina Moretto Carnielli

RG n.° 33062814-8

Assinatura : __________________________________

Nome do(a) orientador(a): Adriana Franco Paes Leme

RG n.° 32480203135039

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