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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia GIOVANNA SOARES ALMEIDA O PROCESSO DE FORMAÇÃO E EXPANSÃO DA CADEIA AGROALIMENTAR DE CARNE BOVINA NO BRASIL E O CASO PAULISTA (1909-1989) CAMPINAS 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Instituto de Economia

GIOVANNA SOARES ALMEIDA

O PROCESSO DE FORMAÇÃO E EXPANSÃO DA CADEIA

AGROALIMENTAR DE CARNE BOVINA NO BRASIL E O CASO

PAULISTA (1909-1989)

CAMPINAS

2017

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A crença cria o fato. A maior revolução de

minha geração é a descoberta de que os

indivíduos, ao mudarem sua atitude mental,

podem mudar os aspectos externos de suas

vidas.

William James, 1905.

Uma jornada de mil léguas começa com um

simples passo.

Confúcio.

É necessário sempre acreditar que o sonho é

possível, que o céu é o limite e você, truta, é

imbatível. Que o tempo ruim vai passar, é só

uma fase, e o sofrimento alimenta mais a sua

coragem.

Racionais Mc´s.

Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

Dedico este trabalho à minha mãe Zenaide e

ao meu pai Edson; aos pais deles, Justiniano,

migrante do Rio Grande do Sul, e Humberto,

migrante de Alagoas; às mães deles,

Sebastiana, que já estava no Mato Grosso do

Sul, sabe-se lá como, e Perpétua, nascida no

caminho, numa fazenda do Paraguai; aos pais

desta, Pedro, migrante do Rio Grande do Sul, e

Anália, imigrante da Argentina. Todos eles, no

carro de boi ou no caminhão, incutiram em

mim, o espírito de que mudar é preciso.

Saímos do campo, mas o campo nunca sai de

nós.

Page 7: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

AGRADECIMENTOS

A certeza de que sozinha eu não teria feito este trabalho, me leva a fazer os

seguintes agradecimentos:

Á Deus pela força, fé, persistência, inspiração e orientação;

Á minha mãe Zenaide, pelo sustento, amizade, apoio emocional e amor, e ao meu

pai Edson, por tudo o que sou;

À minha irmã Stella Maris por acreditar muito em mim e por ser minha irmã mais

velha e influência positiva; ao meu amigo, Denilson; à minha irmã Silvana, pelas palavras de

estímulo;

Ao meu orientador, Professor Dr. Pedro Ramos, por me ensinar, doar seu tempo e

contribuir com este trabalho;

Ao meu amigo Cid, que é minha Estrela de Belém, portanto um astro, que apostou

em mim quando eu jamais apostaria e me puxou pela mão;

Aos generosos professores membros da banca, que vieram acudir uma

pesquisadora/escritora iniciante, Fernando Cézar de Macedo Mota, Eduardo Francisquine

Delgado, Rodrigo Lanna Franco da Silveira, em especial Pedro Eduardo de Felício, que foi

determinante para definir o caminho que esta pesquisa seguiu;

Aos meus professores do Trenzinho Amarelo, Bom Senso, Castro Alves,

Presidente Vargas, Mundo da Criança, Imaculada Conceição, Objetivo, Universidade Federal

de Santa Maria e Universidade Estadual de Campinas; especialmente aos Professores Wilson

Cano, Carlos Augusto Mallmann e João Armando Dessimon;

Às amigas Maria Olívia, Glória, Gabriela, Mel, Sibele, Claudinha, Maricy

Apparicio Ferreira e Verena; e aos amigos Nivaldo, Nelsinho, Márcio, Álvaro, Gilson, Rafael,

Rafa, Lucas, Paulo, José Vitor, Pablo, Marcos, Armando, Henrique, Carlos, Anderson e Fred;

Aos meus alunos da Faculdade de Jaguariúna, especialmente os que orientei, e ao

Professor Ricardo Tannus;

Também aos entrevistados Marcus Vinícius Pratini de Moraes, Emílio Carlos

Salani e Sebastião Costa Guedes;

A todos os autores que utilizei;

Ao Governo Federal e ao povo brasileiro, que financiaram meu estudo, através da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.

Page 8: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

RESUMO

O objetivo deste trabalho é narrar a história da formação, iniciada em 1534, e a

expansão, até 1989, da cadeia de carne bovina no Brasil. Isto se justifica pela importância

econômica e social dessa cadeia no país e suas marcantes contradições, com lenta evolução

dos índices de produtividade e reprodutora de um padrão de produção arraigado, dentro de um

ambiente vasto em tecnologias avançadas e disponíveis para todos os elos. Neste trabalho

assume-se como hipótese, que os elementos que distorcem e reduzem sua eficiência, têm sua

origem em estruturas inadequadas, inalteradas no tempo, já que as diversas políticas voltadas

para essa cadeia, as quais serão aqui expostas e analisadas, foram incapazes de alterar tais

estruturas. Buscou-se destacar os aspectos estruturais e conjunturais, as crises recorrentes e as

soluções dadas a elas, tanto por parte dos agentes privados, como, principalmente, decorrentes

das políticas públicas a ela voltadas. São destacadas as fragilidades e aspectos negativos das

partes constitutivas da estrutura da cadeia, lançando-se mão, quando oportuno e necessário, de

algumas comparações com outros países. Analisou-se a instalação da indústria frigorífica, sua

interiorização e modernização constante, assim como os outros agentes atuantes no setor de

abates com estabelecimentos precários, e o esforço recorrente do governo para que

evoluíssem. Analisou-se também a expansão da pecuária a qual ocupou novas áreas,

aumentou o rebanho, sem, porém elevar os índices de produção. Destacou-se o caso da cadeia

no Estado de São Paulo, as políticas estaduais de estímulo e amparo à pecuária e à indústria

da carne, porque São Paulo foi, entre os estados brasileiros, o maior exportador de carne

bovina ao longo de todo o século XX, apesar de não ter o principal rebanho. A principal

conclusão é que, as políticas implantadas pelo governo federal não foram capazes de

aumentar os índices de produtividade da pecuária, nem mesmo de eliminar as imperfeições do

setor de abates e consequentemente do mercado de carnes, porque tais políticas não alteraram

as estruturas desta cadeia. Foram capazes de aumentar a oferta, mas não o modo de produção.

Page 9: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

ABSTRACT

The objective of this work is to narrate the history of the formation, begun in 1534,

and the expansion, until 1989, of the beef chain in Brazil. This is justified by the economic

and social importance of this chain in the country and its marked contradictions, with slow

evolution of productivity and reproductive indices of a rooted production pattern, within a

vast environment in advanced technologies and available for all links. In this work, it is

assumed as hypothesis that the elements that distort and reduce its efficiency, have their origin

in inadequate structures, unchanged in time, since the several policies directed to this chain,

which will be exposed and analyzed here, were unable to change the structures. It sought to

highlight the structural and conjunctural aspects, the recurrent crises and the solutions given

to them, both by the private agents, and mainly, arising from the public policies addressed to

them. The fragilities and negative aspects of the constituent parts of the chain structure are

highlighted, and some comparisons with other countries are used, when appropriate and

necessary. The establishment of the slaughterhouse, its interiorization and constant

modernization, as well as the other agents acting in the sector of slaughterings with precarious

establishments, and the recurrent effort of the government were analyzed to evolve. It was

also analyzed the expansion of livestock which occupied new areas, increased the herd,

without, however, raising production rates. The case of the chain in the state of São Paulo was

highlighted, the state policies of stimulus and support to the cattle industry and the meat

industry, because São Paulo was, among the brazilian states, the largest exporter of bovine

meat throughout the century XX, despite not having the main herd. The main conclusion is

that the policies implemented by the federal government were not able to increase livestock

productivity rates, nor even eliminate the imperfections of the slaughtering sector and

consequently of the meat market, because these policies did not alter the structures of this

chain . They were able to increase supply but not the mode of production.

Page 10: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura I.1: Cinco principais setores do agronegócio. ............................................................ 21

Figura I.2: Esquema ilustrativo da cadeia agroalimentar de carne bovina. ............................ 22

Figura 2.1.1: Brasil com delineação do Brasil Central Pecuário ............................................ 37

LISTA DE QUADROS

Quadro 3.1.1: Planos de Abastecimento de Carne (1947-1955) ............................................ 85

Quadro 4.1.1: Projetos aprovados pelo DIPOA para a construção de novos frigoríficos, após o

início da federalização em São Paulo (suínos, bovinos, ou dupla função) .... 124

Page 11: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1.1: Rio Grande do Sul - Exportação de charque, volume, valor, preço médio e imposto, 1822 a 1900 .................................................................................... 30

Tabela 2.1.1: Exportação de carne bovina - principais países exportadores mundiais, exclusive sebo, 1909 a 1939 (toneladas) ....................................................................... 42

Tabela 2.1.2: Importação de carne bovina - principais países importadores mundiais, 1909 a 1939 (toneladas) ............................................................................................ 43

Tabela 2.1.3: Brasil - Exportação de carne bovina refrigerada ou congelada por principais países de destino, volume (toneladas) e valor total anual, 1914 a 1923 .......... 44

Tabela 2.1.4: Brasil - Exportação de carne bovina em conserva, seca, em extrato e sebo (toneladas) (1909 a 1923) .............................................................................. 45

Tabela 2.1.5: Exportações de máquinas de refrigeração para o Brasil procedentes dos Estados Unidos, 1911 a 1921 (US$ a preços correntes) .............................................. 46

Tabela 2.1.6: Rebanho bovino brasileiro (1912, 1916, 1920 e 1938)..................................... 46

Tabela 2.1.7: Número de estabelecimentos de abate e/ou de manipulação de carnes e derivados inspecionados pela Seção de Carnes e Derivados durante a década de 1920, fechados e restantes ............................................................................. 46

Tabela 2.1.8: Rio Grande do Sul e Brasil Central Pecuário (SP, GO, MT e Triângulo Mineiro) - Produção de charque em frigoríficos e charqueadas sob inspeção federal, 1933 a 1940 (1.000 toneladas) ....................................................................... 51

Tabela 2.2.1: Brasil, regiões e estados - Efetivo do rebanho bovino, número de cabeças (1920)...................................................................................................................... 53

Tabela 2.2.2: São Paulo - Exportações internacionais de carne, volume (toneladas) e valor (contos de réis) (1914 a 1924, 1926 a 1929) .................................................. 54

Tabela 2.2.3: São Paulo - Número e espécie de animais abatidos pelos frigoríficos, 1919 a 1921, 1924 a 1929 ......................................................................................... 56

Tabela 2.2.4: São Paulo - valor e volume da produção dos frigoríficos, carnes e outros produtos, 1919 a 1921, 1924 a 1929 .............................................................. 60

Tabela 3.1.1: Brasil - Exportação de carne bovina resfriada e congelada, por países de destino, volume e valor, 1936 a 1940.......................................................................... 67

Tabela 3.1.2: Brasil - Exportação de carne bovina em conserva, por países de destino, volume e valores, 1936 a 1940 ................................................................................... 67

Tabela 3.1.3: Rebanho bovino - Número de animais existentes nos países com os seis maiores rebanhos, 1935 a 1945 (1.000 cabeças) .......................................................... 68

Tabela 3.1.4: Brasil - Exportação de carne, 1939 a 1949 (tonelada) ...................................... 69

Tabela 3.1.5: Brasil - Exportação de charque, por países de destino, volume e valores, 1936 a 1940 .............................................................................................................. 69

Tabela 3.1.6: Brasil - Rebanho, número de animais abatidos, produção de carne e valor da produção de carne de bovinos (1936-1967) ................................................... 72

Tabela 3.2.1: Brasil - Exportações de carne em geral, volume, valor, preço da tonelada e índice de preço .............................................................................................. 75

Tabela 3.2.2: Gado tipo chilled beef abatido pelo frigorífico Anglo de acordo com procedência, número absoluto e participação (1936-1939) ............................. 76

Tabela 3.2.3: Área de pecuária dos frigoríficos Armour, Wilson e Anglo e respectivas capacidades de terminação ............................................................................ 76

Tabela 3.3.1: São Paulo, Goiás e Mato Grosso - Produção de farinhas, adubo e resíduos de autoclave de estabelecimentos sob Inspeção Federal (toneladas) ................... 90

Tabela 3.3.2: Brasil - Exportação de carnes, 1950 a 1955 (toneladas) ................................... 91

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

Tabela 3.5.1: Brasil - Exportações de carnes frigorificadas, enlatadas e preparadas, 1956 a

1967 (toneladas) ............................................................................................ 97

Tabela 3.5.2: São Paulo, Goiás e Mato Grosso - Estabelecimentos de carne sob Inspeção Federal (1937, 1947, 1957 e 1967) .............................................................. 102

Tabela 3.6.1: Brasil, regiões e estados - Efetivo do rebanho bovino, 1940, 1950 e 1960 (número de cabeças) .................................................................................... 104

Tabela 3.6.2: Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais - bovinos exportados em pé, 1936 a 1940, 1950 a 1951, e 1954 (número de cabeças) ................................................... 105

Tabela 3.6.3: São Paulo - bovinos criados, entrados, saídos, abatidos e índice de abates, 1945 a 1954 (número de cabeças) ........................................................................ 105

Tabela 3.6.4: São Paulo - Renda bruta da bovinocultura, valor e colocação por ordem de renda gerada entre os produtos agropecuários produzidos no estado, 1948 a 1953 . 106

Tabela 3.6.5: São Paulo - Bovinos abatidos pelos cinco principais frigoríficos e pelos demais estabelecimentos sob Inspeção Federal, 1950 a 1955 (número de cabeças) .. 107

Tabela 3.6.6: São Paulo - Utilização da área rural, exclusive litoral, 1953 a 1954 ............... 109

Tabela 3.6.7: São Paulo - Crédito concedido pela Carteira de Crédito Agrícola do Banco do Brasil para a pecuária, 1954 ........................................................................ 109

Tabela 3.6.8: São Paulo - Capacidade anual de abate instalada, matança máxima verificada em todo o período de operação do estabelecimento, número de bovinos abatidos e capacidade ociosa dos em operação, fechados e novos, 1955 ...... 111

Tabela 4.1.1: Brasil - Matadouros bovinos constantes no levantamento do DIPOA com o objetivo de implantar a Federalização, 1971 ................................................ 119

Tabela 4.1.2: Carne bovina enviada para a Grande São Paulo a partir de estabelecimentos de abate com inspeção Federal (SIF) ou sob outro tipo de inspeção, ou sem nenhuma (quilos e percentual) ..................................................................... 122

Tabela 4.1.3: Número de frigoríficos existentes, em construção e com projetos aprovados pelo DIPOA no Estado de São Paulo, dezembro de 1973 .................................... 124

Tabela 4.1.4: São Paulo - Mão de obra ocupada e a ser ocupada em matadouros-frigoríficos sob Inspeção Federal, 1973/1974 ................................................................. 125

Tabela 4.1.5: São Paulo - Subprodutos não comestíveis de 300.000 bovinos abatidos sob Inspeção Federal, volume e valor, dez meses de 1973 ................................. 125

Tabela 4.1.6: São Paulo e Rio Grande do Sul - Número de bovinos abatidos sob Inspeção Federal, 1965 a 1976 ................................................................................... 126

Tabela 4.1.7: Meios de acesso utilizados para o deslocamento de 1.183.162 bovinos abatidos no ano de 1965, e de 887.260 bovinos e 622 bubalinos abatidos no ano de 1975, nos estabelecimentos sob Inspeção Federal no Estado de São Paulo (percentual) ................................................................................................. 131

Tabela 4.1.8: Brasil - Estabelecimentos sob Inspeção Federal existentes até 30/09/1977 .... 132 Tabela 4.2.1: Brasil - Rebanho bovino, produção e exportação de carne bovina, taxas de

crescimento anuais, 1961-1970, 1961-1968, e 1968-1970 ............................ 133 Tabela 4.2.2: Brasil - produção, exportação e consumo de carne bovina, 1947-1971 .......... 135 Tabela 4.2.3: Brasil - Carne bovina, exportação e importação, 1968 a 1990 (toneladas)I ..... 137 Tabela 4.2.4: Brasil - Rebanho bovino, número de bovinos abatidos, peso total das carcaças,

produção de carne e valor da produção de carne bovina, 1968 a 1990 .......... 138 Tabela 4.2.5: Brasil, estados e regiões - Efetivo do rebanho bovino, 1960, 1970, 1980, 1985

(número de cabeças) .................................................................................... 141 Tabela 4.2.6: Brasil - Área ocupada com pastagens naturais e plantadas, 1920 a 1985 ........ 142

Tabela 4.2.7: Brasil e regiões - Lotação média de pastos naturais e plantados, 1971 (cabeças por hectare) ................................................................................................. 143

Page 13: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

Tabela 4.2.8: Brasil e regiões - Índice de lotação da pastagem, 1970 e 1985 (número de

bovinos por hectare) .................................................................................... 143

Tabela 4.2.9: Brasil: Regiões de ocupação antiga e regiões de ocupação recente, cabeças por hectare, 1960, 1970, 1985 e 2006 ................................................................ 145

Tabela 4.2.10: Brasil - Rebanho bovino, hectares de pastagem por cabeça de bovino, número de bovinos por hectare, 1920 a 1985 ............................................................ 146

Tabela 4.2.11: Produtividade média de matéria seca (MS), porcentagem de proteína bruta (PB), estimativas de custos para diferentes alternativas de alimentação de rebanho bovino e índices percentuais dos custos de produção de matéria seca (IMS) e de proteína bruta (IPB), em relação à pastagem de capim-elefante (Pennisetum purpureum) ............................................................................. 147

Tabela 4.2.12: Brasil – bovinos, rebanho, número de animais abatidos, desfrute, taxa de abate, produção de carne e rendimento do rebanho, 1920 a 1985. .......................... 148

Tabela 4.2.13: Brasil - bovinos, rebanho, nascimentos e vitimados, 1920 a 1985 ................ 149

Tabela 4.2.14: Brasil - Produção de carne bovina, exportação e consumo, 1940-1991 ........ 150

Tabela A. 1: Brasil, Estados e Regiões: Área ocupada com pastagens naturais e plantadas, 1920 a 1985 (1.000 hectares)...........................................................................183

Tabela A. 2: Brasil – população, vários anos entre 1872 a 1991 ......................................... 188

Page 14: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................................................................... 15

CAPÍTULO I - ANTECEDENTES HISTÓRICOS: PERÍODO ANTERIOR Á INSTALAÇÃO DOS

FRIGORÍFICOS NO BRASIL (1534 A 1908) .................................................................................................. 26

1.1 Introdução e desenvolvimento inicial da bovinocultura no Brasil, a produção do charque ................... 26

1.2 Antecedentes históricos no Estado de São Paulo e o entendimento de que a produção agrícola era sua

base econômica (1830 a 1908) ............................................................................................................. 33

CAPÍTULO II - A INSTALAÇÃO DAS PRIMEIRAS EMPRESAS FRIGORÍFICAS DA CARNE BOVINA NO

BRASIL E OS EFEITOS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL SOBRE ESSA INDÚSTRIA, SOBRE AS

EXPORTAÇÕES DE CARNE E SOBRE O REBANHO (1909 A 1938) .......................................................... 35

2.1 Instalação da indústria frigorífica no Brasil: motivações e consequências ............................................ 36

2.2 Ação pública no Estado de São Paulo para o desenvolvimento da pecuária bovina no período de 1909,

ano de instalação do primeiro frigorífico em São Paulo, primeiro no Brasil, e o efeito das exportações

sobre as políticas estaduais voltadas para a pecuária até 1938 ............................................................. 51

CAPÍTULO III - SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E SEUS EFEITOS SOBRE AS EXPORTAÇÕES DE

CARNE, SOBRE A PECUÁRIA BOVINA E SOBRE A OFERTA INTERNA DE CARNE NO BRASIL,

COM ÊNFASE EM SÃO PAULO, E A IMPLANTAÇÃO DO PLANO SALTE (1939 Á 1967) ..................... 65

3.1 Evolução das exportações de carne bovina em função da Segunda Guerra Mundial e seus entraves e

efeitos sobre o mercado interno ............................................................................................................ 66

3.2 Conflitos entre pecuaristas e frigoríficos estrangeiros ........................................................................... 74

3.3 Planos de Abastecimento de Carne e a publicação do RIISPOA ........................................................... 83

3.4 O Plano SALTE e a interiorização dos frigoríficos ............................................................................... 91

3.5 Retorno do Brasil Central ao comércio mundial de carnes, emissão das Normas Higiênicas,

financiamento público para a expansão da capacidade de estocagem da carne, despontar dos grandes

grupos e nova crise no setor ................................................................................................................. 96

3.6 As medidas do Governo do Estado de São Paulo para o desenvolvimento da pecuária bovina e da

tecnologia da carne (1939-1967) ........................................................................................................ 103

CAPÍTULO IV - TRANSFORMAÇÕES NA CADEIA AGROALIMENTAR DE CARNE BOVINA: A

FEDERALIZAÇÃO NORMATIVA DOS FRIGORÍFICOS E A OCUPAÇÃO DA FRONTEIRA AGRÍCOLA

(1968/1971 A 1989) ........................................................................................................................................ 116

4.1 O processo de federalização normativa do parque nacional de abate .................................................. 116

4.2 Produção e exportações de carne e aumento de sua oferta ................................................................... 133

4.3 Ações do Governo do Estado de São Paulo voltadas para a cadeia agroalimentar de carne bovina

(1967-1989) ........................................................................................................................................ 151

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................................. 155

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................ 159

ANEXO ............................................................................................................................................................... 183

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

15

INTRODUÇÃO

Os primeiros lotes de gado bovino foram introduzidos no Brasil em 1534, na

província de São Vicente, e em 1535, nas províncias de Pernambuco e Bahia. Na colônia, as

funções do gado eram as seguintes: animal de tração para carregar a lenha utilizada nos

engenhos para o fabrico do açúcar, e fonte de alimento, através da carne. Em 1701, a

metrópole portuguesa determinou que a criação do gado deveria ser feita a uma distância

mínima de 10 léguas da costa, o equivalente a 48 quilômetros, desta forma, a pecuária passou

a ocupar os sertões e desempenhou outra importante função, a ocupação do território

brasileiro.

Até 1908, a única forma disponível na colônia para preservar a carne, era a salga.

As charqueadas tiveram importante função econômica no Ceará, durante o século XVIII, e no

Rio Grande do Sul, durante o século XIX. Tais estabelecimentos aproveitavam a carne, para a

elaboração do charque, e o couro, o qual era comercializado. As demais partes do animal

abatido eram desperdiçadas e depositadas no meio ambiente. Em 1909, foi iniciada a

construção do primeiro frigorífico no Brasil, com a importação de todos os equipamentos

necessários, o qual, diferente das charqueadas, implantou o completo e higiênico

aproveitamento da rês, e a preservação da carne pelo emprego do frio artificial.

A grande extensão territorial brasileira, propícia à expansão da pecuária,

conhecida no estrangeiro, e o crescimento da demanda por carne nos países envolvidos na

Primeira Guerra Mundial, serviram de estímulo à instalação de subsidiárias de frigoríficos

ingleses e dos Estados Unidos. Em apenas dez anos, contados a partir do início da construção

do primeiro frigorífico, o Brasil passou a ter oito frigoríficos, três de capital nacional e cinco

de capital estrangeiro, e as exportações cresceram rapidamente entre 1914 e 1918. Mesmo

com a guerra, os países envolvidos no conflito mundial exigiram que a carne fosse

inspecionada, e o Brasil, que até então não possuía uma só palavra em sua legislação sobre a

qualidade da carne aqui produzida, criou em 1915, a Inspeção Federal brasileira.

A soma da capacidade diária de abate dos frigoríficos que entraram em

funcionamento até 1918 era de 3.900 animais, e o rápido crescimento do volume exportado,

quase dizimou o rebanho. Com o objetivo de preservá-lo, o Governo Federal realizou uma

intervenção sobre as categorias e as idades dos animais a serem abatidos, a qual seria a

primeira de muitas outras, como será aqui demonstrado, em função da baixa produtividade da

pecuária.

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16

Quatro frigoríficos estavam instalados em São Paulo, e o governo do estado

rapidamente percebeu ser isto uma grande oportunidade para a pecuária e a economia

paulista. O fato de os frigoríficos abaterem e exportarem em grande escala; a localização de

São Paulo na região conhecida como Brasil Central Pecuário, a qual inclui Mato Grosso,

Minas Gerais e Goiás, estados criadores de gado, e fornecedores de animais para São Paulo; e

a disponibilidade do Porto de Santos, deu início a criação de todo um aparato de pesquisa e

extensão nas áreas de sanidade, alimentação e melhoramento genético, tomando para o estado,

inclusive, a missão de realizar o melhoramento do gado e de difundir para aqueles estados, o

animal selecionado, chegando ao ponto, de importar de reprodutores. Ao longo do período

analisado neste trabalho, São Paulo criará uma rede estatal de suporte completa para o

aprimoramento da cadeia agroalimentar da carne bovina.

Em 1921, foram publicadas as Instruções para Regerem a Inspeção Sanitária

Federal de Frigoríficos, Fábricas e Entrepostos de Carnes e Derivados, a qual desencadeou, ao

longo da década de 1920, um amplo levantamento sobre os estabelecimentos de abate e

manipulação de carne. Dos 144 estabelecimentos inspecionados, apenas 51 atendiam as

condições estruturais e higiênicas exigidas pela legislação para operarem (PECEGO, 1969).

Este seria o primeiro embate de muitos outros que serão apresentados neste trabalho, travados

pelo Governo Federal, para fazer com que o parque de abates nacional evoluísse em

tecnologia empregada, higiene e aproveitamento econômico da rês abatida.

Com o início da Segunda Guerra Mundial, as exportações de carne bovina

novamente cresceram, e em 1942, o governo precisou intervir para garantir a preservação do

rebanho e, acima de tudo, para garantir o abastecimento do mercado interno, de modo que o

Brasil Central Pecuário teve suas exportações suspensas. A partir de 1947, como a oferta de

carne ainda estava baixa, passaram a vigorar os Planos de Abastecimento, os quais

estabeleciam quando e quantos animais poderiam ser abatidos, qual o estoque que deveria ser

formado, e quais os cortes e quantidade de carne que deveriam ser fornecidos nos grandes

centros. Através do estabelecimento de quotas de abate, o governo pressionou as charqueadas

para que implantassem equipamentos de produção de farinhas de ossos, sangue e carne, e de

frio artificial, condicionando o estabelecimento de quotas a essas melhorias.

Em 1952, ocorreu o fato mais importante da história da Inspeção brasileira, que

foi a publicação do Regulamento da Inspeção Industrial Sanitária de Produtos de Origem

Animal (RIISPOA). Este regulamento trata, além dos aspectos sanitários, também dos

aspectos tecnológicos da indústria, e determinou que os estabelecimentos que

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17

comercializassem seus produtos para o mercado externo e interestadual, estariam sob

inspeção federal, e os estabelecimentos que realizassem o comércio de seus produtos apenas

dentro dos estados, estariam sob inspeção estadual.

Diante do momento econômico que o Brasil estava vivendo de voltar-se para

dentro, na década de 1950, através do Plano SALTE, ocorreu a instalação dos frigoríficos em

regiões determinadas pela Inspeção Federal, de modo a interiorizar o parque de abate,

buscando dar solução para o problema das longas caminhadas pelas quais o gado passava

entre as regiões de cria, recria e terminação, o que prolongava o período de produção e

consequentemente diminuía a oferta de carne, e de criar condições para que a renda obtida

pelos abates, ficasse internalizada na própria zona de produção pecuária. Assim, foram

construídos frigoríficos no Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e interior de São Paulo, através

do financiamento público.

Ao longo das décadas de 1970 e 1980, ocorreu a introdução de duas políticas com

o intuito de superar a limitação do rebanho, em fornecer carne para atender, tanto a demanda

interna, quanto a da exportação. A primeira delas, que ficou conhecida como federalização

normativa do parque nacional de abate, tinha por objetivo dar enfrentamento a baixa oferta de

carne; ao comércio ilegal de carne entre estados, procedente de estabelecimentos com

inspeção estadual; e retirar dos estados a competência para fiscalizar estabelecimentos de

abate, já que esta efetivamente não era realizada, e os estabelecimentos não possuíam

mínimas condições de higiene, trazendo prejuízo econômico, pelo subaproveitamento da rês,

pela sonegação fiscal, e a contaminação ambiental, pois os restos do animal eram depositados

no meio. A solução, então encontrada pelo governo, era a de submeter todos os

estabelecimentos à inspeção federal.

Em um primeiro levantamento realizado em onze estados em 1971, de 1.179

estabelecimentos, apenas 56 foram considerados recuperáveis após reformas, e 1.123

deveriam ser fechados (CALDAS, 1977). A federalização foi inicialmente implantada no Rio

Grande do Sul, e quando ela começou a ser implantada em São Paulo, proprietários de

pequenos e médios estabelecimentos, através de vereadores e deputados federais,

conseguiram enfraquecer legalmente a lei da federalização, ao longo da década de 1970.

Sendo que, em 1989 ela foi completamente encerrada e da pior forma possível, pois agora,

além da fiscalização federal e a estadual, também os municípios passariam a inspecionar,

porém, estas duas últimas instâncias não possuíam infraestrutura para realizá-la, assim na

prática ela não existia.

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18

A segunda política implantada ao longo das décadas de 1970 e 1980, foi a de

ocupação das áreas de fronteira agrícola através dos planos de desenvolvimento, expandindo a

pecuária para estas regiões. No entanto, a nova pecuária implantada, manteve o modo de

produção extensivo, e a lotação por hectare, era inferior a das áreas de ocupação antiga.

Assim, apesar de ter ocorrido a expansão numérica do rebanho, o aumento da produtividade

foi muito baixo. De modo que, até 1989, o problema da baixa oferta de carne para atender os

mercado interno e externo, não foi superado.

Por todos os fatos acima expostos, este trabalho pretende responder ao seguinte

problema: os elementos que distorcem e reduzem a eficiência da cadeia agroalimentar de

carne bovina brasileira são de origem estrutural?

A hipótese aqui estabelecida é de que os elementos distorcivos e redutores da

eficiência da cadeia agroalimentar de carne bovina brasileira têm sua origem em estruturas

inadequadas já que diversas políticas implantadas ao longo do tempo com o objetivo de

solucioná-los não, obtiveram êxito porque não modificaram as estruturas, o que será provado

através de uma pesquisa histórico-estrutural.

O objetivo geral deste trabalho é analisar o processo de formação e expansão da

cadeia agroalimentar de carne bovina brasileira entre 1534 e 1989. O objetivo específico é

identificar os elementos que possam contribuir para o aumento do progresso técnico na cadeia

agroalimentar de carne bovina brasileira.

O que justifica a escolha do tema deste trabalho é a importância econômica e

social da cadeia agroalimentar de carne bovina e suas marcantes contradições, seu caráter

estacionário e modelar, dentro de um ambiente vasto em tecnologias avançadas e disponíveis

para todo os elos.

Neste trabalho será dado tratamento especial ao caso do Estado de São Paulo, com

seções específicas que abordam as políticas estaduais voltadas para o desenvolvimento da

pecuária e da indústria da carne, justifica-se pelo fato de São Paulo ter permanecido como

principal estado exportador durante todo o século XX, mesmo sem possuir o maior rebanho.

Este trabalho demonstra que tal posicionamento tornou-se possível, pela conjunção dos

seguintes fatores: a presença do Porto de Santos e a expansão das vias de comunicação

interligando o interior ao Porto; a instalação dos frigoríficos no estado, tanto pela primazia

quanto pela presença da moderna tecnologia de abate e processamento aí instalada; o aporte

de animais recebidos do sul do antigo estado do Mato Grosso, Triângulo Mineiro e Goiás; a

condição de maior centro consumidor da cidade de São Paulo; também em função da sua

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19

posição geográfica, maior possibilidade de integração com o restante do mercado nacional,

especialmente Rio de Janeiro e Belo Horizonte; e as importantes políticas implantadas pelo

Governo do Estado a partir da sua concepção de que São Paulo tinha como vocações a

engorda (em suas áreas de invernagem recebendo gado criado e recriado nos estados vizinhos)

e a produção de carne (dispondo de modernos frigoríficos), promotor de melhoramento

genético e de pesquisa em sanidade animal e nutrição animal. Todas essas políticas foram

amparadas em ampla rede de pesquisa e de extensão rural.

Para atingir o objetivo proposto, esta dissertação está seccionada em quatro

capítulos delimitados em função de mudanças na base técnica, industrialização brasileira e

alteração do marco institucional.

O primeiro capítulo inicia-se em 1534 e termina em 1908, período em que a salga

é a única tecnologia de preservação da carne. Tem-se aí o início da bovinocultura no Brasil

através da importação dos primeiros animais que terão importância fundamental na ocupação

do território brasileiro e na alimentação da população. Neste período será implantado e

consagrado o modelo de exploração extensivo e de abertura de novas áreas da pecuária

brasileira que permanecerá até os dias atuais, com alguns casos de exceção.

O segundo capítulo começa em 1909 e termina em 1938. Este período é assim

delimitado porque corresponde ao momento de implantação no Brasil, de uma nova base

técnica no processo industrial de abate, aproveitamento da rês e de preservação da carne,

como consequência do momento histórico em que os países subdesenvolvidos passam a

ocupar a condição de fornecedores de alimentos para os países do Primeiro Mundo e de

compradores de manufaturados destes países, o que Eric Hobsbawm chamou de Imperialismo

e Celso Furtado, de Nova Divisão Internacional do Trabalho, o qual se tornou possível a partir

da revolução nos transportes, que inclui navios de grande calão, a implantação do frio em

navios cargueiros, além da linha de produção, ocorridos na Segunda Revolução Industrial,

liberando a indústria de alimentos para instalar-se em qualquer lugar do planeta em que

houvesse matéria-prima abundante, como era o caso do Brasil, reconhecido pelo rebanho e

possibilidade de exploração pecuária. Após o início da construção do primeiro frigorífico,

sendo este de capital nacional, empresas de capital americano e inglês, instalam-se no Brasil.

O terceiro capítulo, tem início em 1939 e é concluído em 1967. Abrange a

incapacidade da pecuária de atender a demanda gerada pela Segunda Guerra Mundial e a

urbanização acelerada do Brasil a partir da década de 1950, assim como o aumento e

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interiorização das empresas frigoríficas no segundo período de industrialização brasileira, e o

surgimento da indústria de bens de capital nacional para a indústria de abate e processamento.

O quarto capítulo é iniciado em 1968 e termina em 1989, por abordar do início ao

fim o processo de tentativa do Governo Federal de alterar o marco institucional e a estrutura

do setor de abates, de modo a superar o atraso tecnológico, econômico e sanitário. A seguir,

serão tratados os problemas de produtividade da pecuária brasileira e as novas políticas

paliativas que promoverão a expansão numérica do rebanho, porém sem alterar os índices de

produção.

Finalmente, nas considerações finais, são feitos alguns comentários sobre os

problemas estruturais presentes na cadeia e sobre o desenvolvimento do setor alcançado por

São Paulo, além da apresentação de sugestões para o futuro.

O referencial analítico utilizado nesta dissertação será o de cadeia de produção

agroalimentar, dado o seu viés intersetorial, em função do entrelaçamento crescente das

atividades de origem agropecuária com os demais setores econômicos, assim como, do

conjunto de influências sobre cada um dos setores participantes da produção da carne bovina,

como será abordado abaixo, elaborado a partir de Graziano da Silva (1998).

Os primeiros autores a utilizarem um conceito demonstrativo das fortes

interligações da agropecuária com os demais setores econômicos, foram os norte-americanos

Davis & Goldberg (1957, apud GRAZIANO DA SILVA, 1998, p. 65), que definiram

Agribusiness como a “soma de todas as operações envolvidas no processamento e na

distribuição dos insumos agropecuários, as operações de produção na fazenda; e o

armazenamento, o processamento e a distribuição dos produtos agrícolas e seus derivados.”, e

que, no Brasil, passou a ser utilizado como complexo agroindustrial.

A partir da década de 1990, a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG),

passou a utilizar amplamente a palavra agronegócio como sinônimo de Agribusiness ou de

complexo agroindustrial, a qual passou a ser empregada pela imprensa. De acordo com a

ABAG, o agronegócio brasileiro é composto por cinco principais setores: fornecedores de

insumos e bens de produção; produção agropecuária; processamento e transformação;

distribuição e consumo; e serviços de apoio, ressaltando-se que, o agribusiness ou

agronegócio, abrange todos os produtos de origem agropecuária, inclusive os florestais, e não

somente os produzidos para alimentação (Figura I.1).

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Figura I.1: Cinco principais setores do agronegócio.

FONTE: ABAG (2006, apud MENDES & PADILHA JUNIOR, 2007. p. 48).

Na França, Malassis (1973, apud GRAZIANO DA SILVA, 1998, p. 67),

utilizou-se do conceito de sistema agroalimentar para englobar as empresas fornecedoras para

a agropecuária, tanto de recursos produtivos, quanto financeiros e de serviços; as unidades de

produção agropecuária; as indústrias processadoras dos produtos agropecuários; e os

distribuidores de alimentos, sendo este conjunto, caraterística de economias complexas

industrializadas com agropecuária também industrializada.

Outra importante contribuição de Malassis (1973, apud GRAZIANO DA

SILVA, 1998, p. 67), foi a formulação do conceito de cadeia agroalimentar (filière), a qual se

destina à análise individual de cada um dos produtos que compõem o sistema agroalimentar,

mostrando o percurso de produção, transformação e distribuição do produto (identificação do

produto) e os aspectos reguladores que influenciam estas interconexões, como as políticas

governamentais, a legislação, a estrutura dos mercados, a pesquisa, entre outros (Figura I. 2).

Nesta dissertação, que se utilizará do referencial analítico de cadeia

agroalimentar para tratar da carne bovina, será dada ênfase aos elos da produção animal, do

abate e processamento, mercados externo e interno. Dentre os mecanismos de regulação,

serão abordadas as políticas governamentais, o sistema de inspeção sanitária, o sistema de

P&D de São Paulo e as políticas de comércio exterior.

Nos parágrafos seguintes, até o final desta seção, analisar-se-á o modelo de

exploração, historicamente consolidado, da agropecuária brasileira, a agricultura itinerante,

referencial teórico desta dissertação, elaborado a partir de Furtado (1972). A agricultura

itinerante caracteriza-se como extensiva, ou de baixo investimento e de formação de capital,

Fornecedores de insumos e bens de produção

Produção agropecuária

Processamento e transformação

Distribuição e consumo

Serviços de apoio

Sementes Produção animal Alimentos Restaurantes Agronômicos Calcário Fertilizantes

Lavouras permanentes

Têxteis Vestuário

Hotéis Bares

Veterinários Pesquisa

Rações Defensivos

Lavouras temporárias

Calçados Madeira

Padarias Feiras

Bancário Marketing

Produtos veterinários

Horticultura Silvicultura

Bebidas Álcool

Supermercados Comércio

Vendas Transporte

Combustíveis Floricultura Papel e papelão Exportação Armazenagem Tratores Extração vegetal Fumo Portos Colheitadeiras Indústria rural Óleos essenciais Bolsas Implementos Seguros Máquinas Motores

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baseada na utilização de técnicas rudimentares e, portanto, de baixa produtividade,

determinando uma agricultura que se desloca, tanto pelo interior da unidade de produção

agrícola, quanto pelo território nacional, gerando um elevado custo para o patrimônio natural

nacional, assim como para a população, já que se reproduz a partir de recursos não

renováveis.

Figura I. 2: Esquema ilustrativo da cadeia agroalimentar de carne bovina.

Fonte: adaptado de IEL, CNA e SEBRAE (2000, p. 22).

Na grande empresa agropecuária, em suas extensas áreas, é praticada a agricultura

tradicional, onde a “única fonte adicional de renda gerada pela produção agrícola provém dos

incrementos, na quantidade de fatores tradicionais, exatamente da mesma classe que os

usados durante muitos decênios.” (SCHULTZ, 1964, p. 23 apud FURTADO, 1972, p. 108). A

prática usual consiste em derrubar e queimar a vegetação original para formar a roça. Quando

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o nível de fertilidade diminui, a área é deixada em descanso, formando-se a capoeira ou pastos

naturais, os quais, para elevar a fertilidade do solo, exigirão 5 a 10 vezes mais tempo do que a

cultura anual levou para reduzi-la. Nova área será então explorada, ou seja, apenas aumenta-

se a quantidade de um dos fatores de produção tradicionais, sem alterar a técnica de produção,

e aquela ficará subutilizada, em repouso, assim, internamente á grande unidade de exploração

agropecuária o uso da agricultura itinerante (shifting cultivation), resulta na imobilização de

grande superfície em função do emprego de técnica rudimentar de exploração, arruinando

recursos naturais não renováveis.

A minimização dos custos, possível através da agricultura itinerante, de acordo

com Schultz (1964, p. 23 apud FURTADO, 1972, p. 108), é uma clara demonstração da

racionalidade do agente econômico, não tendo importância para a consideração desta

racionalidade, que a técnica empregada seja primitiva, consequentemente de retornos

achatados, de modo a ser considerada pelo autor, como um caso excepcional de equilíbrio

econômico. Os custos de produção minimizados não significam ocupação plena da

capacidade produtiva. Ao elevar-se a demanda, ocorre apenas um rearranjo dos recursos

empregados em subsistência para a exploração comercial, ocorrendo o aumento da

produtividade média dos fatores sem alterar a técnica de produção empregada. Assim, tal

modelo permanece sendo o mais econômico para a estrutura agrária corrente, sob o

argumento de que o manejo e a exploração agropecuária utilizados sejam os definitivamente

mais economicamente adequados, mesmo admitindo que tal modelo é crescentemente

explorador da mão de obra, e sem considerar os danos nefastos aos recursos naturais não

renováveis, esses sim, certamente, de elevado custo.

Mais importante ainda: dada a abundância de terras de que dispõe a empresa, a existência de uma fronteira móvel e o crescimento da população trabalhadora rural, essa agricultura tradicional está quase sempre em condições de responder com prontidão ao aumento da demanda de produtos agrícolas criada no exterior ou nas zonas urbanas. A tal ponto que o Brasil tem sido apresentado como autêntico fenômeno: uma economia que se desenvolve com base em uma agricultura tradicional, ou seja, uma agricultura que praticamente não absorve progresso técnico. (FURTADO, 1972, p. 108-109).

Assim, discutir se a agropecuária brasileira estaria de fato em desenvolvimento,

ou seja, intensificando o uso de progresso técnico, aumentando a qualificação do recurso

humano e promovendo a elevação da qualidade de vida da massa rural, deixou de ser uma

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questão importante, já que ela atende ao aumento da demanda, mesmo que por simples

expansão de área explorada.

Para a empresa agromercantil, a mão de obra é, a um só tempo, escassa e barata.

Quando ocorre aumento da demanda por produtos agropecuários, em um primeiro momento,

a oferta de mão de obra é escassa, determinando o modo de produção extensivo, reproduzindo

a agricultura itinerante. Num segundo momento, sempre que ocorrem novas explorações

agropecuárias, a mão de obra migra para essas regiões e sua demanda é suprida. A baixa

oferta de mão de obra é apenas relativa, já que o Brasil tem uma grande extensão territorial e a

agropecuária historicamente realizada, é também em grandes áreas, e se de fato fosse escassa,

a própria concorrência entre as unidades de produção agropecuária elevaria sua remuneração,

e se solidificaria com o aumento do progresso técnico. A agricultura itinerante é

economicamente vantajosa porque o investimento é baixo e a terra é utilizada extensivamente,

por outro lado, como as técnicas são rudimentares, a produtividade do trabalho é

relativamente baixa.

De acordo com Schultz (FURTADO, 1972, p. 109), a introjeção de progresso

técnico seria inviável, pois elevaria os custos rapidamente e a formação de capital ficaria

impedida. Furtado (1972, p. 109) afirma que a rentabilidade não diminui, e que na verdade a

agricultura tradicional possui custos elevadíssimos para a nação, tanto pela eliminação dos

recursos naturais quanto pela exploração acintosa e crescente da população rural.

Em áreas onde a terra já ficou mais escassa, o período de repouso do solo é

reduzido e o esgotamento da fertilidade é acelerado, tais áreas logo são destinadas à pastagem.

Ocorre uma situação semelhante à venezuelana, que optou por substituir as atividades

econômicas, cujos produtos poderiam ser importados através das divisas obtidas pela

exportação do petróleo. Do mesmo modo, no Brasil, a coletividade vive de recursos naturais

não renováveis.

Na agropecuária brasileira, com certas exceções, como a dos produtos

hortigranjeiros e da avicultura, entre outras, todas as explorações que requerem um maior

incremento de tecnologia são vistas como antieconômicas, assim o modelo da agricultura

predatória se reproduz. Em geral, quanto maior for a relação entre o capital fixo e a produção,

ou o coeficiente de capital por pessoa, maior é a introjeção de progresso técnico. No curto

prazo, o fato de a grande empresa agropecuária explorar a terra, recurso caro ou escasso,

através da agricultura itinerante, configura-se em economicamente viável, mas em médio e

longo prazo, o custo social é elevado e difuso, já que ao não introjetar progresso técnico,

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compromete a todos do país. Por pagar salário de subsistência à massa de trabalhadores,

compromete também a capacidade do recurso humano se qualificar, bloqueando um dos

principais meios de incorporar o progresso técnico na exploração agropecuária. Ademais, o

salário baixo dos trabalhadores rurais rebaixa também o salário dos trabalhadores urbanos,

pois aqueles sempre podem migrar para as cidades e aumentar a oferta de mão de obra.

Crescimento econômico a partir da exploração e esgotamento de recursos naturais

não renováveis, sem a formação de capital, não proporciona desenvolvimento econômico, o

qual é marcado pelo aumento constante da produtividade, o que ocorre necessariamente,

através da introdução e expansão de progresso técnico, baseadas na acumulação de capital e

na transformação da qualidade da mão de obra. A agricultura itinerante praticada pela

privilegiada empresa agromercantil é mais uma estrutura explicativa do subdesenvolvimento

brasileiro.

De maneira, que este referencial se adequa e explica de que forma a pecuária

bovina expandiu-se no Brasil, minimizando os custos de produção, sem utilizar plenamente

sua capacidade produtiva, com um crescimento lento da quantidade de animais e carne, o que

ocorre principalmente pela ocupação de novas terras, sem a introdução de progresso técnico,

sujeita às condições impostas pela natureza. Explica também, o baixo preço da carne nacional

no comércio mundial, assim como os deslocamentos da criação pecuária no espaço territorial.

Todos estes e outros aspectos serão abordados ao longo desta dissertação.

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Capítulo I - ANTECEDENTES HISTÓRICOS: PERÍODO ANTERIOR Á

INSTALAÇÃO DOS FRIGORÍFICOS NO BRASIL (1534 A 1908)

O objetivo deste capítulo é apresentar os antecedentes históricos à instalação da

indústria frigorífica no Brasil, abordando desde o ano de 1534, quando os primeiros bovinos

foram introduzidos no país, até 1908, ano anterior à construção do primeiro frigorífico. Neste

período, o gado desempenha um papel econômico de fornecedor de carne, tração e couro e

importante vetor de abertura de novas áreas territoriais, a partir do litoral em direção ao

interior, sendo que a única forma disponível para preservar a carne era a salga.

No primeiro tópico, destaca-se que o surgimento da pecuária na região Nordeste

ocorreu como economia subsidiária da açucareira, e adquiriu importância como fornecedora

de charque para as demais regiões, financiando inclusive o comércio ultramarino escravagista.

Depois de sua desintegração provocada principalmente pelas secas, a produção do charque no

Rio Grande do Sul, ganha escala, mas enfrenta dura concorrência dos saladeiros platinos no

abastecimento do mercado brasileiro.

1.1 Introdução e desenvolvimento inicial da bovinocultura no Brasil, a produção do

charque

O bovino foi introduzido no Brasil em 1534, por Martim Afonso de Souza, na

capitania de São Vicente. No ano seguinte, mais animais foram importados com destino a

Pernambuco e Bahia (CARRER e CARDOSO, 1999). No Nordeste, a pecuária bovina

desenvolve-se como um sistema econômico secundário e dependente do açúcar, expandindo-

se nas áreas vizinhas às plantações de cana. Os rebanhos forneciam a matéria-prima para

elaboração do charque, e os animais de tração utilizados no transporte da lenha necessária ao

processo de produção do açúcar (FURTADO, 1977, p. 54-60).

A partir de 1701, com a proibição de se exercer a atividade criatória a menos de

dez léguas de distância da costa, imposta pela Metrópole, com o objetivo de proteger os

canaviais da invasão do gado e de restringir essa área exclusivamente ao cultivo da cana-de-

açúcar, os rebanhos se deslocam sertão adentro, atravessando o rio São Francisco. De cada

quatro novas crias, uma pertenceria ao vaqueiro, o que possibilitou a expansão desse sistema

econômico sem a necessidade de possuir um significativo capital para investimento.1

1 Para mais detalhes sobre pessoas ocupadas, renda obtida, número de animais, ver Furtado (1977, p. 58).

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Ademais, a exploração do ouro estimulou ainda mais a expansão da criação do gado

(FURTADO, 1977), aumentando a demanda por animais de tiro e elevando o preço da carne

(CARRER e CARDOSO, 1999).

Assim, o gado passava por longas caminhadas deslocando-se entre o interior e o

litoral, para ser comercializado nas feiras, onde, muitas vezes era abatido sem nenhum

descanso ou recomposição. As distâncias provocavam a perda de até metade do valor do

animal. Era necessária uma maneira mais racional de fornecer a carne, transportando-se esta e

não o animal. Prado Júnior (1987, apud OLIVEIRA, 2009) viu no processo de surgimento das

charqueadas, importante solução para tal problema.

O Ceará possuía condições naturais propícias à instalação das charqueadas como,

sol e vento. O sal era proveniente de Assu e Mossoró, no Rio Grande do Norte, capitania que

também fornecia o gado, além do disponível no próprio sertão cearense. Por volta de 1740, as

charqueadas expandiram-se na vila de Santa Cruz do Aracati, na capitania do Siará Grande.

Os acessos ao mar e ao rio Jaguaribe contribuíram decisivamente para tal expansão. Aracati

funcionava como um entreposto comercial de abastecimento entre o interior e o litoral,

fornecendo couro, sola e charque para os tropeiros, naus e Recife (SILVA, 2002 apud

OLIVEIRA, 2009; VIEIRA JUNIOR, 2009).

Outro elemento fundamental para o desenvolvimento do charque em Aracati foi a

sua proximidade de Recife, centro econômico e administrativo da capitania de Pernambuco, o

qual distribuía o charque produzido em Aracati através do comércio intenso centralizado em

seu porto e influenciava de maneira hierárquica a região que ia do Ceará até a foz do rio São

Francisco (MELO, 2001 apud OLIVEIRA, 2009; VIEIRA JUNIOR, 2009).

A partir de 1757, em função da maior disponibilidade de registros, é possível

perceber a grande importância do charque na expansão da força comercial recifense sobre o

comércio ultramarino escravagista, no abastecimento das tropas, da Bahia e do Rio de Janeiro.

Nesse mesmo ano, os comerciantes recifenses solicitaram a constituição da Companhia Geral

de Comércio de Carnes Secas e Couros do Sertão, a qual teria por objetivo o fortalecimento

da produção do charque e do couro e da sua comercialização para Bahia, Rio de Janeiro e

Pernambuco, os portos mais importantes do comércio atlântico. A formação da companhia

tinha, em sua proposta, a aquisição de 24 sumacas, as quais tinham a capacidade de

transportar o charque produzido de 28 a 30 mil cabeças de gado (OLIVEIRA, 2009), sendo

cada uma com a capacidade de suportar 80 toneladas (MELO, 2002 apud OLIVEIRA, 2009).

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Em termos de comércio ultramarino escravagista, o charque cearense era utilizado

no abastecimento dos navios negreiros e estava entre os produtos da Colônia como o fumo e a

cachaça que financiaram o tráfico negreiro, superando os traficantes da metrópole

(FERREIRA, 2001 apud OLIVEIRA, 2009).

Mas, ocorreu uma grande seca entre 1777 e 1780 (OLIVEIRA, 2009) e a que

ficou conhecida como Seca-Grande, entre 1791 e 1793, a qual dizimou o rebanho cearense,

desestabilizando as rotas comerciais, impulsionando a migração dos sertanejos para Aracati,

com o objetivo de obter alimentos através do porto da vila, o que propiciou a concentração

populacional, e uma epidemia de varíola (VIEIRA JUNIOR, 2009, p. 206). Assim, entre os

anos de 1783 a 1802, viria a ocorrer um processo de desarticulação da economia do charque

que envolvia o gado, sal, couro, solas, os produtos produzidos em Recife, ligando diversas

regiões (OLIVEIRA, 2009, p. 515).

Além dos elementos anteriores, a produção do charque gaúcho estava em

expansão, e competia com o cearense, contribuindo para a sua desintegração (OLIVEIRA,

2009). Por volta de 1780, a produção e comercialização do charque gaúcho passam a ser em

grande escala, e vai ocupar o espaço deixado pelo charque nordestino na lavoura escravagista,

nas zonas mineradoras e no atendimento da população mais pobre das áreas urbanas.2

Charqueadores nordestinos transferiram-se para o Rio Grande do Sul e em um cenário de

2 Numa primeira etapa, denominada vacaria, a região fornecia couro para Europa, a partir de Buenos Aires. Milícias especializadas formadas por crioulos, luso-brasileiros, gaúchos-mestiços, índios e negros caçavam e coureavam o gado solto e abundante (REICHEL & GUTFREIND, 1996 apud COURLET, 2005). De acordo com Deffontaines (1953), as primeiras introduções de gado bovino na região do Prata, ocorreram em 1552, no Paraguai; na Argentina, em 1568, em Tucumán, 1572, em Córdoba e em 1589, em Buenos Aires. Do lado leste do Rio Paraná o gado entrou pelo sul e pelo norte. Pelo sul, em 1611, no Uruguai, no Rio Las Vacas, lote que ficou conhecido como as cinquenta vacas de Hernandaria; e em 1617, na Ilha Vizcaino, além do Rio Uruguai. Pelo norte, o gado era procedente do Brasil Meridional e passaram para o Uruguai. Outros animais introduzidos no Chile, atravessaram os Andes e chegaram na direção oriental. Após Portugal fundar a Colônia de Sacramento, em 1680, funcionando como ponto de comércio do couro e fortificação militar, a Espanha estimulou a instalação das reduções jesuíticas no norte do Rio Grande do Sul, em 1682, região que lhe pertencia pelo Tratado de Tordesilhas de 1494, para introduzir e realizar a criação de gado (bovino, muar e cavalar) de modo a superar o esgotamento da reserva de animais em função da caça predatória e reduzir as variações na rentável exportação de couro. Mas as frequentes incursões dos bandeirantes paulistas que caçavam índios e os vendiam como escravos, nas plantações de cana-de-açúcar do nordeste brasileiro, forçaram os jesuítas a abandonarem a região, deixando para trás grande reserva de gado que originou a atividade pecuária na Campanha gaúcha (COURLET, 2005). Também, com o início da mineração em Minas Gerais, no século XVIII, bandeirantes deslocavam-se até a região para caçar animais e levá-los até Sorocaba, em São Paulo, e de lá eram comercializados para Minas Gerais para serem usados como animais de carga ou fornecer carne (SINGER, 1977 apud ALMEIDA, 1992; ROCHE, 1969 apud ALMEIDA, 1992). Em função do embate existente pela área que ia de Laguna até o Estuário do Prata, Portugal passou, a partir de 1732, a conceder sesmarias a caçadores e militares engajados nas disputas da fronteira, para que a área fosse ocupada e a produção do couro aumentasse. Dando princípio a uma segunda etapa da pecuária na região, formando-se as estâncias (ALMEIDA, 1992; REICHEL & GUTFREIND, 1996 apud COURLET, 2005).

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demanda crescente, boas pastagens, existência de grandes rebanhos, implantaram suas

experiências e consolidaram a charqueada como força econômica desse estado (DALMAZO,

2004).

Outro aspecto fundamental para a consolidação da charqueada gaúcha, foi o

momento de crise que atravessavam os saladeiros uruguaios e argentinos que também

comercializavam no mercado brasileiro, em função de guerras locais e internacionais

(ALMEIDA, 1992). Na medida em que novamente se organizaram, a expansão da produção

das charqueadas gaúchas é cessada. A concorrência com os saladeiros platinos aparece como

principal causa do enfraquecimento das charqueadas gaúchas no período subsequente, em

função das regulações impostas pelo poder central brasileiro, que buscavam manter o custo da

mão de obra escrava das lavouras exportadoras o mais reduzido possível, relegando-se a

segundo plano a pecuária-charqueada do Rio Grande do Sul. A livre entrada sem taxas

alfandegárias do charque platino, o imposto sobre o sal adquirido pelo Rio Grande do Sul e a

tributação sobre o charque gaúcho, elevando seu preço final, estavam entre os elementos que

contribuíram para a deflagração da Guerra dos Farrapos (1835-1845) (DALMAZO, 2004).

Enquanto Farrapos e Caramurus (cavalaria imperial) se confrontavam, as brigadas

uruguaias e argentinas entravam com frequência na fronteira brasileira; assim, o Império tinha

urgência em encerrar o conflito para fortalecer a proteção das fronteiras. Ao assinar o tratado

de Paz de Ponche Verde, em 28 de fevereiro de 1845, o Império atendeu a algumas

solicitações de cunho econômico e político dos farroupilhas, mas de fato foram as disputas

políticas ocorridas no Prata, que vieram a dar algum alento para o charque gaúcho

(DALMAZO, 2004). Ao longo do conflito farroupilha, as exportações do charque gaúcho,

lentamente, cresceram, sendo acompanhadas pela elevação do preço médio da tonelada, mas

no ano seguinte ao final do conflito, entraram em queda acentuada até 1849 (Tabela 1.1.1).

Em 1851, na assinatura do tratado que marcava a derrota de Oribe, as charqueadas

uruguaias passaram por uma grave desarticulação, já que este documento assinalava que o

gado uruguaio, em pé, poderia entrar no território brasileiro sem nenhuma taxa de importação,

já, o charque pagaria, permitindo assim que as charqueadas gaúchas tivessem acesso à

matéria-prima mais em conta e que o charque uruguaio ficasse menos competitivo

(PESAVENTO, 1980 apud DALMAZO, 2004).

Na década de 1860, as charqueadas do Prata passaram por um processo de

modernização, convertendo-se em empresas capitalistas, apresentando condições de produção

muito distantes das charqueadas gaúchas (DALMAZO, 2004).

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30

Tabela 1.1.1: Rio Grande do Sul - Exportação de charque, volume, valor, preço médio e imposto, 1822 a 1900

Ano Volume (t) Valor (Réis) Preço médio (Réis/tonelada) Imposto de exportação (Réis)

1822 10.677 797$183 74$664 - 1837 2.601 234$079 89$996 - 1838 2.360 235$975 99$989 - 1839 6.497 649$691 99$999 - 1840 5.959 595$932 100$005 - 1841 8.187 900$533 109$995 - 1842 9.932 1:092$491 109$997 - 1843 13.910 1:669$152 119$997 - 1844 11.888 1:426$552 119$999 - 1845 33.963 4:528$442 133$335 135$853 1846 14.496 6:378$149 439$994 191$344 1847 14.671 6:455$351 440$008 193$660 1848 13.138 3:468$432 264$000 104$052 1849 6.318 1:338$090 211$790 50$042 1850 10.515 2:775$858 263$990 83$275 1851 12.386 3:269$819 263$993 98$094 1852 10.541 2:782$822 264$000 83$484 1853 17.128 4:521$764 263$998 135$652 1854 16.387 4:325$983 263$989 129$779 1855 16.617 4:386$895 264$000 131$606 1856 18.436 4:874$509 264$402 146$353 1857 21.930 5:918$862 269$898 180$312 1858 14.559 4:474$373 307$327 133$602 1859 25.433 2:662$674 104$694 79$880 1860 22.808 5:889$354 258$214 58$893 1861 29.956 5:940$415 198$305 59$404 1862 28.341 3:546$793 125$147 106$403 1863 30.171 3:620$508 120$000 108$615 1864 35.952 6:054$735 168$412 181$642 1865 31.518 3:826$323 121$401 114$789 1866 32.532 3:977$714 122$271 119$331 1867 33.315 6:205$710 186$274 186$171 1868 43.748 6:597$740 150$812 197$932 1869 21.406 5:568$102 260$119 167$043 1870 27.190 5:556$516 204$359 166$695 1871 16.394 5:784$343 352$833 173$530 1872 33.513 5:416$272 161$617 162$488 1873 30.087 4:626$360 153$766 138$790 1874 22.491 4:520$563 200$994 135$616 1875 25.937 5:556$433 214$228 166$693 1876 23.847 5:902$529 247$517 177$065 1877 29.734 7:956$163 267$578 238$684 1878 28.005 7:921$372 282$856 237$641 1879 23.709 6:786$564 286$244 203$596

(continua)

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31

(continuação)

Ano Volume (t) Valor (Réis) Preço médio (Réis/tonelada) Imposto de exportação (Réis)

1880 24.575 7:617$018 309$950 228$510 1881 16.818 5:197$577 309$048 155$927 1882 19.130 4:781$670 249$957 143$450 1883 22.925 5:531$102 241$269 165$933 1884 22.644 5:018$435 221$623 150$553 1885 24.221 4:917$773 203$038 147$533 1886 22.659 8:297$638 366$196 248$935 1887 6.534 1:433$477 219$387 43$004 1888 27.670 4:732$210 171$023 141$966 1889 25.660 4:765$883 185$732 142$976 1890 26.000 5:223$186 200$892 156$695 1891 33.936 9:039$019 266$355 271$170 1892 35.707 11:813$685 330$851 354$410 1893 32.325 12:353$215 382$157 370$596 1894 28.382 11:633$371 409$886 349$111 1895 21.709 8:265$700 380$750 247$971 1896 18.794 7:107$944 378$203 213$238 1897 25.464 11:496$795 451$492 344$903 1898 28.544 16:667$453 583$921 500$023 1899 20.314 13:754$486 677$094 412$634 1900 21.462 15:002$431 699$023 450$072 Fonte: Revista do Arquivo Público do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, n. 8, dez. 1922 (apud DALMAZO, 2004, p. 80).

Concorriam então, no mesmo mercado, o charque produzido por relações de

produção escravagista e o charque de relações de produção capitalista. No Uruguai e na

Argentina, o saladeiro era a principal atividade econômica e, consequentemente, o suporte da

camada mais influente no poder, tendo seus interesses sempre defendidos. Já a camada

dominante gaúcha tinha apenas a hegemonia no estado e não junto ao Império, sem conseguir,

portanto, obter situações que eliminassem as desvantagens concorrenciais com o charque do

Prata (DALMAZO, 2004).

Para Cardoso (1962 apud FONSECA, 1985 apud ALMEIDA, 1992) o modo de

produção escravagista das charqueadas brasileiras justifica a sua reduzida competitividade em

relação à charqueada platina capitalista, já que na primeira, havia menores condições de

divisão do trabalho, custos elevados na manutenção do escravo e na repressão dos

trabalhadores livres. Mesmo nesse contexto, em 1868, o Rio Grande do Sul exportou 43.748

toneladas, o maior volume até então.

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O cenário de incerteza criado pelas oscilantes exportações repercutia nos

pecuaristas, na forma de baixa rentabilidade, inibindo a modernização das estâncias. Para

reagir a este panorama, os estancieiros reduziram os custos, tornando-se o investimento de

modernização que poderia gerar aumento da produtividade da terra, uma atitude

economicamente antirracional (DALMAZO, 2004).

Após 1872, as exportações do charque do Rio Grande do Sul entraram em

tendência decrescente que permaneceu até 1887. A partir de 1889, a pecuária gaúcha passou

por alguns avanços como a importação de touros puros do Prata e da Europa, a separação em

lotes de animais de reprodução e dos destinados à engorda, a construção de banheiros,

aumentando o controle sanitário do rebanho, de currais e de bretes. A charqueada, assim como

a estância, passou a ter mão de obra assalariada (DALMAZO, 2004).

Agravando ainda mais a situação das estâncias, a Reforma Tributária de 1902, a

qual tinha o objetivo de incentivar a indústria, instituiu o Imposto Territorial, como

compensação à perda de receita decorrente das taxas sobre produtos exportados. O Imposto

Territorial, calculado de acordo com o tamanho da área e de seu valor venal, era cobrado

somente sobre a propriedade rural e não sobre a urbana. Assim criava privilégio aos

comerciantes e industriais, e por pesar mais sobre as grandes propriedades, dava privilégio aos

colonos do norte e nordeste do Rio Grande do Sul. A maior parte dos pecuaristas,

normalmente grandes proprietários, se opôs à reforma. Assim estimulavam-se as exportações

e transferia renda que antes era apropriada pelos pecuaristas, para comerciantes e industriais

(ALMEIDA, 1992).

O Brasil chamava a atenção do estrangeiro por seu potencial pecuário e pela

inexistência da indústria frigorífica para explorá-la. Em 1905 e 1906, relatos enviados por

cônsules dos Estados Unidos que atuavam no Brasil, incentivavam a instalação da moderna

indústria de matadouros-frigoríficos de capital e tecnologia norte-americanos em território

brasileiro. Ressaltavam que o clima, a grande extensão de terras e a produção de produtos

cárneos de baixa qualidade, criavam um panorama excepcional para a indústria americana.

Ademais, as elevadas tarifas aduaneiras eram impeditivas a uma importação de carne em

conserva (CÔNSUL SEEGER, 1905 apud SUZIGAN, 2000, p. 351; CÔNSUL ANDERSON,

1905 apud SUZIGAN, 2000, p. 351).

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1.2 Antecedentes históricos no Estado de São Paulo e o entendimento de que a produção

agrícola era sua base econômica (1830 a 1908)

De acordo com Martins (1991, p. 91), os relatórios da administração da província

de São Paulo ao longo da década de trinta do século XIX, consideravam que sua base

econômica estava assentada na produção agrícola, sendo do mesmo período a primeira

iniciativa voltada para o desenvolvimento da pecuária, organizando, em 1836, a Fazenda

Normal, a qual deveria, entre outras funções, reunir, melhorar, adaptar e distribuir as melhores

raças de animais domésticos, além de capacitar a mão de obra (SÃO PAULO, 1836).

Cerca de sessenta anos depois, em 1899, foi organizado o Serviço Agronômico do

Estado, o qual deveria, além de realizar estudos do solo, do clima, dividir o estado em

distritos agronômicos; levantar dados estatísticos; publicar periódicos; e realizar diversas

ações voltadas especificamente para a cultura vegetal; deveria também estudar o

desenvolvimento dos sistemas de criação de gado e suas doenças. Para tanto, deveriam ser

criados postos zootécnicos e campos de demonstração, como de fato ocorreu e que serão

descritos na sequência desta seção (SÃO PAULO, 1899).

Em 1905, com o objetivo de estimular e divulgar a pecuária, o Governo de São

Paulo determinou que era o momento de organizar a primeira Exposição Estadual de Animais,

a primeira do gênero no país. A partir das exposições regionais em Pindamonhangaba, São

Carlos, Batatais, Itapetininga e Campinas, que eram os centros dos cinco distritos agrícolas

em que o estado fora dividido, foram selecionados e premiados os melhores exemplares e

expostos na Exposição Estadual. A lavoura de café, no norte do estado, estava em decadência

e o Governo via a pecuária como possibilidade de se tornar uma nova atividade para os

produtores rurais da região, sendo aí realizada a primeira exposição regional. Outra forma

encontrada pelo Governo de promover o desenvolvimento da pecuária, era arcar com as

despesas relativas ao transporte na importação de reprodutores de raça realizada pelos

criadores. O primeiro levantamento estatístico agrícola e zootécnico, ainda inédito no Brasil,

foi também organizado nesse ano, com o objetivo de conhecer a real importância do setor

agropecuário no estado. Ainda foi inaugurada a pesquisa zootécnica organizada no país, com

a criação do Posto Zootécnico Central, voltado exclusivamente para a pecuária, com a função

de aclimatar reprodutores importados e aprimorar o Caracu, em seguida vendendo-o aos

criadores (MORETI & FONSECA, 2005; RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS

ESTADOS BRASILEIROS, 1906).

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No ano seguinte, o Governo do Estado criou a Comissão Consultiva de Criadores

Paulistas junto à Secretaria de Agricultura, para tratar de assuntos relativos à criação animal,

estímulo à indústria de derivados e de sistemas frigoríficos, abrangência de novos mercados e

organização de exposições animais (MARTINS, 1991).

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Capítulo II - A INSTALAÇÃO DAS PRIMEIRAS EMPRESAS FRIGORÍFICAS DA

CARNE BOVINA NO BRASIL E OS EFEITOS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

SOBRE ESSA INDÚSTRIA, SOBRE AS EXPORTAÇÕES DE CARNE E SOBRE O

REBANHO (1909 a 1938)

O período de 1909 a 1938, abordado neste capítulo, começa com a instalação da

empresa frigorífica de abate e processamento de carne bovina no Brasil, o que foi possível

graças a acumulação que o complexo cafeeiro gerou e pelos investimentos feitos através das

economias centrais, potencializados com os efeitos da Primeira Guerra Mundial. Tal

instalação introduz no país uma nova tecnologia de abate, processamento, preservação,

comercialização e de aproveitamento dos subprodutos do bovino. Isso impactou nos hábitos

de consumo dos brasileiros, na pecuária, no aproveitamento econômico da rês abatida e na

balança comercial brasileira, á medida em que a carne preservada pelo sistema de

frigorificação e pela fabricação de conserva, expandiu-se para o mercado estrangeiro,

especialmente com a demanda dos países envolvidos na Primeira Guerra Mundial.

Pelo lado da pecuária, as exportações colocaram em risco a reprodução e a

manutenção do rebanho brasileiro, já que o volume de abates quase o dizimou, requerendo a

intervenção do Governo Federal para preservá-lo. Ao mesmo tempo, a inspeção sanitária

começa a pressionar as charqueadas consideradas como econômica e sanitariamente arcaicas

comparativamente aos frigoríficos. O capítulo encerra-se em 1938, ano anterior à Segunda

Guerra Mundial, a qual ao gerar novo crescimento das exportações, agravará ainda mais a

situação do rebanho e da sua capacidade de fornecimento de carne.

Assim, o primeiro tópico tratará da instalação dos primeiros frigoríficos e de

iniciativas do Governo Federal para incentivar sua instalação, as exportações realizadas no

período da guerra e as intervenções do Governo Federal para proteger o rebanho bovino.

Ainda, as exportações brasileiras começam a enfrentar as primeiras restrições por questões

sanitárias do rebanho. Apresentamos também o papel concentrador que a legislação sanitária

acabou por desencadear no setor de abates na década de 1920, assim como as aquisições

realizadas pelo capital estrangeiro, o qual dominava o setor frigorífico nacional.

No segundo tópico apresentamos as políticas voltadas para a pecuária em São

Paulo, o qual concentrava a maior parte da carne produzida, e que chamou para si a função de

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invernista e produtor de carne, empenhando-se no melhoramento genético do rebanho dos

estados vizinhos, que forneceram os animais a serem terminados e abatidos em São Paulo.

2.1 Instalação da indústria frigorífica no Brasil: motivações e consequências

Com o objetivo de garantir frete para a ferrovia Companhia Paulista de Estradas

de Ferro, Antônio Prado, cafeicultor e presidente da Companhia, iniciou em 1909 e finalizou

em 1913, a construção do primeiro frigorífico no Brasil, localizado em Barretos, a Companhia

Frigorífica e Pastoril de Barretos (ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INDUSTRIAL DE

BARRETOS, 1942). No primeiro ano de funcionamento, o frigorífico abateu 28.251 bovinos

e 1.834 suínos (PARDI, 1996) e enviou, em 1914, através do Porto de Santos, o primeiro

carregamento marítimo de carne congelada para a Grã-Bretanha (SUZIGAN, 2000).

Barretos era o principal mercado de gado do circuito conhecido como Brasil

Central Pecuário (Figura 2.1.1). Localizado na bacia do rio Grande, tinha extensas áreas de

pastagens naturais (CORRÊA, 1942) estando a 450 km da capital de São Paulo e a 50 km da

região do Triângulo Mineiro que inclui os municípios de Uberaba, Uberlândia e Araguari.

Recebia boiadas criadas no sul de Goiás, sul de Mato Grosso, Pantanal e norte e nordeste de

Minas Gerais, que após longas caminhadas em comitivas, eram engordadas nas invernadas de

Barretos e então comercializadas (ARAÚJO, 2003)3.

Em 1910, o governo de Nilo Peçanha acreditava que o país havia superado os

impedimentos na circulação de mercadorias através da expansão da ferrovia e das boas

instalações dos portos marítimos. Visando ocupar e colonizar o solo brasileiro, divulgar e

defender os produtos nacionais de exportação, gerar divisas e oferecer à população, produtos

com qualidade conservada, abriu concorrência para a construção de matadouros-modelos

dotados de câmaras frigoríficas, entrepostos frigoríficos, vapores marítimos frigoríficos,

3 Ao longo do desenvolvimento da pecuária brasileira esta estrutura de produção onde a cria e a maior parte da

recria se dão em terras mais distantes dos centros de consumo mais populosos, e a engorda e a terminação em terras mais próximas, viria a ser consolidada (GONÇALVES & PEREZ, 2006). Mais informações ver IEL, CNA e SEBRAE (2000). De acordo com Corrêa (1983, p. 9-10), na pecuária bovina de corte, há três principais fases, sendo a primeira a cria, a qual dura de um ano e sete meses até um ano e nove meses, incluindo a gestação de nove meses, e envolve a maior parte do rebanho com 54 a 56% dos animais, também é onde ocorrem as maiores perdas, em percentuais que variam de 6 a 6,5%. É composta pelos animais destinados à reprodução, ou seja, os touros, as vacas e as novilhas em idade reprodutiva, e os bezerros até serem desmamados ou até atingirem 12 meses de idade. A fase da recria, a qual é a de mais longa duração, levando em torno de dois anos e meio, envolve 30% do rebanho, sendo que as baixas, por óbito, atingem até 5%. Na recria, estão os animais de um ano de idade, os machos até atingirem o desenvolvimento necessário para entrarem na fase de engorda, e as fêmeas até a entrada na idade reprodutiva (três anos). Na última fase, a engorda, a qual é a mais curta, levando de oito a dez meses de duração, e onde ocorrem as menores perdas, as quais variam de 1,5 a 2%, estão os animais que estão sendo preparados para o abate.

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vapores fluviais frigoríficos e vagões ferroviários frigorificados nos estados do Rio Grande do

Sul, São Paulo, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro (BRASIL, 1910a).

Figura 2.1.1: Brasil com delimitação do Brasil Central Pecuário

Fonte: o mapa político do Brasil tem como fonte o IBGE (2016a); a delimitação do Brasil Central Pecuário tem

como fonte OLIVEIRA & BRITO (s.d. apud MONT’ALEGRE, 1946). 4

4 Segundo MONT’ALEGRE (1946, p. 37-38), em apresentação realizada ao Conselho de Expansão Econômica, em data que o autor afirma ter sido por volta de 1940, OLIVEIRA & BRITO, definiram o Brasil Central Pecuário como a região composta pelo estado de São Paulo, grande parte do antigo Mato Grosso, o sudoeste goiano e o Triângulo Mineiro. Os mesmos delimitaram a região geograficamente da seguinte forma:

Traçando uma linha sinuosa, que parte da fronteira boliviana, com início no morro da Bela Vista, em que controvertem nascentes, o Guaporé para o Norte (rio Alegre, rio Barbado) e para o Sul o Paraguai (rio Aguapeí, rio Jaurú, rio Sepetuba),

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O próprio Ministro da Agricultura, Rodolpho Miranda, surpreendia-se com o fato

de o país ainda não possuir o uso do frio artificial, mesmo conhecendo os resultados positivos

sobre a produção da Argentina, Europa Ocidental e dos Estados Unidos. Lembrava que em

1906, Argentina5 e Uruguai exportaram 1,3 milhões de quartos de bovinos congelados e 454

mil quartos de bovinos refrigerados. Mas, diferente do que o Governo afirmava sobre terem

sido superadas as limitações do transporte interno de mercadorias, os dois projetos inscritos

de capital nacional, não puderam ser realizados exatamente em função da indisponibilidade de

acesso entre o interior e o litoral (BRASIL, 1910; SUZIGAN, 2000).

O Brasil passava por um momento de crescimento e diversificação da economia,

propiciando novas oportunidades a investidores, e se, no primeiro frigorífico instalado, vemos

a expansão do capital acumulado na economia cafeeira, nos seguintes, temos a expansão das

alcançando, nas imediações de Aldeia Queimada, a serra dos Parecís, - com seus campos quase limpos, inferiores, secos. - divisora das águas desse rio sulino e do rio Juruema à altura das cabeceiras dos rios Sacre, Verde, do Sangue, Sacuruína em Parecís, na serra de Tapierapoá, de vegetação subxerófila na criação de serrados típicos, sempre contornando os mananciais do Paraguai, agora sotoposto aos nascedouros do rio Arinos (rios Água Verde, Sumidouro, Novo), perlongando ainda os mesmos cerrados até Diamantino. Ainda subxerófila a vegetação que se estreita à margem direita do Cuiabá, contornando pela linha que vimos traçando, em direção ao seu afluente, o Manso, (em pleno planalto mato-grossense), com seus "estirões de léguas em água". Inflete para o Sul até a serra dos Coroados que abandona em busca do Coronel Ponce e Ponte Murtinho, contornando, pelo morro do Chapéu de Sol, as cabeceiras do São Lourenço e Pequeri, à cata do Araguaia (aí chamado Caiapó) e em Santa Rita, atingindo território goiano na Serra da Marta, divorciadas aqui pelas serras das Divisões, dos Caiapós, do Rio Claro, águas do Araguaia — pelas nascentes do Bonito, Caiapozinho, Claro — e do Paranaíba — pelas do rio Verdinho em Jataí, do rio Verde em Rio Verde, do rio Turvo em Parauna e S. José, do rio dos Bois em Novo Horizonte e Capelinha, do rio Dourado em Trinidade, do Meia Ponte em Itaberaí, Aracati, de Corumbá em Anápolis, contornada Goiânia pelo Norte, salta da a estrada de ferro, penetrando o perímetro demarcado pelo futuro Distrito Federal, para alcançar o território mineiro em Formosa. Infletindo para o Sul verticalmente, deixa à esquerda a bacia do S. Francisco, em contraposição à do Paranaíba à direita, até à serra da Canastra em Delfinópolis à margem do Rio Grande, à vista de S. Paulo. Seguindo a sinuosa iremos abarcar, sem saltar qualquer curso d´água, contorno da bacia do Rio Grande, o seu tributário, o Sapucaí, até as fraldas da Mantiqueira, aquela sub-região pecuária, com epicentro em Três Corações, já em terra de S. Paulo, às margens do Paraíba, cujo vale caracteriza a região gadeira, à parte, no conjunto da pecuária central brasileira. OLIVEIRA & BRITO (s.d. apud MONT’ALEGRE, 1946, p. 37-38).

5 Em 1876, ocorreu o primeiro transporte de carne conservada pela tecnologia do frio, instalada em navio cargueiro, da Argentina para a França, em uma viagem que durou 105 dias, no navio Frigorifique. Com o sucesso dessa viagem, as empresas de comércio marítimo passaram a implantar a tecnologia do frio em seus navios, estimulando a instalação de grandes frigoríficos junto às fontes de matéria-prima abundante, modificando profundamente o comércio mundial da carne. A quantidade crescente de carne importada da América do Sul, Oceania e Estados Unidos movimentou de 8 a 10 bilhões de francos em 1910 (PEDROCCO, 1998; PERINELLI NETO, 2007; SUZIGAN, 2000).

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economias centrais, o que necessariamente envolvia a exportação de capital (CASTRO,

1979).

O americano Percival Farqhuar, líder da Brazil Railway, empresa dos ramos

ferroviário e portuário, fundou em 1911, com um capital de US$ 1.000.000 a Brazil Land,

Cattle and Packing Company, com o objetivo de garantir fretes para a ferrovia. A nova

empresa adquiriu uma área de quatro milhões de acres, ou 1,6 milhões de hectares,

distribuídos entre Botucatu e Descalvado, em São Paulo; Vacaria, no Rio Grande do Sul; e

Três Lagoas, no Mato Grosso. Um ano depois, a área estava ocupada por 150.000 cabeças de

gado (CASTRO, 1979; SUZIGAN, 2000).

Em seguida, Farqhuar associou-se com a Sulzberger, frigorífico de Chicago, que

já atuava na Argentina, e iniciou, em 1913 a construção do matadouro-frigorífico Continental

Products Company, em Osasco, São Paulo, entrando em funcionamento em 1915.

Através de negociações com a São Paulo Railway Co., uma terceira linha foi

implantada na ferrovia Santos-Jundiaí para o transporte de vagões refrigerados. Em julho de

1915, foi enviada a primeira remessa de carne congelada para os Estados Unidos.

Posteriormente, a gigante empresa de processamento de carne de Chicago, Wilson & Co.,

adquiriu a parte da Sulzberger, assumindo depois a totalidade da empresa, tornando-se

Frigorífico Wilson (ALMEIDA, 1942; SUZIGAN, 2000).6

Para Castro (1979), ocorreram duas fases de investimento estrangeiro entre os

anos de 1860 e 1913. Na segunda metade do século XIX, instalou-se no Brasil um tipo de

empresa internacional diretamente conectada ao capitalismo financeiro inglês. Do início do

século XX até a I Guerra Mundial, entramos em uma fase de competição imperialista, onde

6 Com o advento da Guerra Civil nos Estados Unidos (1860-1865) Chicago passou a centralizar todos os abates de suínos e bovinos. Em 1865, as novas ferrovias investiram US$ 1.500.000 numa área de 300 acres na construção do Union Stockyards, um curral com capacidade para 10.000 bovinos e 100.000 suínos. Em pouco tempo oito grandes frigoríficos e outros pequenos, transformaram a paisagem de um pântano em uma paisagem industrial (CHAMBERLAIN, 1965). Nos Estados Unidos a linha de produção contínua através da correia transportadora, encontrava seu desenvolvimento nas indústrias da carne embalada de Chicago e Cincinnati, em 1860. O aumento da escala da empresa, a concentração da produção e da propriedade levaria ao aparecimento do truste (HOBSBAWM, 1979 e 1996). Hobson (1983) afirma que o poder de monopólio do truste da carne embalada não estava originalmente na concentração do capital ou industrial, e sim no “Acesso especial a matérias-primas” e no “Controle especial dos meios de transporte e distribuição”. O truste da carne recebia favores especiais como fretes com valores diferenciados pelas ferrovias que tinham acesso direto ás áreas de grande criação de gado. Através de tais condições especiais, as indústrias da carne de Chicago, Armour, Morris e Hammond, determinavam ao criador do gado o preço a ser pago, já que possuíam acesso exclusivo através da ferrovia ás fontes de matéria-prima para a carne, e decidiam o preço ao consumidor final através do controle da oferta no mercado americano.

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proliferaram os grandes cartéis europeus e começam a despontar as futuras multinacionais

norte-americanas.

Com a deflagração da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o comércio mundial

de carne bovina passou por um período de grande crescimento, especialmente a partir de

1915, repercutindo até 1919 (Tabela 2.1.1; Tabela 2.1.2). O Brasil passou a ser um

fornecedor de carne frigorificada para os países em guerra, exportando principalmente para

Itália, Reino Unido e França, os quais juntamente com Alemanha, Países Baixos, Uruguai e

Estados Unidos importavam mais de noventa por cento de toda a carne comercializada pelo

Brasil no exterior, entre 1914 e 1923 (Tabela 2.1.3). Dentre as carnes com algum tipo de

processamento, estavam também, além dos países citados, Cuba e Argentina, como

importantes mercados e as exportações de charque apresentaram números cada vez menores,

em meio ao crescimento dos abates para a produção da carne frigorificada (Tabela 2.1.4). Á

reboque da expansão do parque industrial frigorífico exportador e sob a pressão da Itália,

Inglaterra e França, o Governo Federal organizou, em 1915, o Serviço de Inspeção e seu

Regulamento, pois mesmo estando em guerra, os países importadores exigiam a aplicação de

leis sanitárias que há muito tempo eram aplicadas em seus países, ao passo que na legislação

brasileira não havia uma frase que desse respaldo à integridade da carne (BRASIL, 1915a,

1915b; PECEGO, 1969).

Enquanto um dos gigantes de Chicago, o Armour & Co., iniciava suas obras na

cidade de São Paulo, em 1916, finalizando em 1919, construindo o maior frigorífico da

América do Sul, com capacidade para abater dois mil bovinos, três mil suínos e dois mil

ovinos por dia, o Rio Grande do Sul ainda não tinha frigorífico instalado. Em 1916, com o

intuito de estimular a indústria no estado, foram publicadas as Leis n. 201 e n. 215. A primeira

concedia isenção tarifária por trinta anos, sobre as exportações dos frigoríficos que lá se

instalassem, e pela Lei n. 215, o governo pagaria juros de 6% sobre o capital investido, se

nacional. Além disso, estavam sendo concedidos subsídios de fretes e doações de terrenos.

Nos anos seguintes, a partir de 1917, visando a crescente demanda gerada pela guerra, o

Governo Federal isentou de taxas alfandegárias, todo equipamento importado necessário para

a construção de frigoríficos exportadores e concedeu descontos em fretes da carne, em

ferrovias federais (ALMEIDA, 1992; BRASIL, 1917; PECEGO, 1969; SUZIGAN, 2000).

Em meio a todos esses incentivos e crescimento da demanda, a Armour & Co.

também instala-se no Rio Grande do Sul, em Santana do Livramento, com capacidade para

abater oitocentos bovinos por dia, com uma fábrica de carne enlatada, com capacidade de

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produzir vinte mil latas de 2,7 quilos de corned beef por dia, realizando a primeira exportação

de carne congelada do estado, em 1918. Quando a obra estivesse terminada, sua capacidade

de abate seria de mil e duzentos bovinos por dia, quinhentos suínos e a mesma capacidade

diária para o abate de ovinos (ALMEIDA, 1942; SUZIGAN, 2000). 7

Em 1917, a empresa britânica Anglo - Brazilian Meat Company iniciou a

construção de um matadouro-frigorífico em Mendes, Rio de Janeiro, iniciando suas operações

no mesmo ano, abatendo 126.461 cabeças de gado, sendo 85% desse total, destinado á

exportação, com capacidade para abater setecentos bovinos por dia (SUZIGAN, 2000). No

mesmo ano, a Companhia Frigorífica de Santos, iniciativa da mesma empresa que controlava

a Companhia Frigorífica e Pastoril de Barretos, foi instalada. A planta tinha capacidade de

abater seiscentos bovinos por dia, e em 1918 iniciou suas operações (ALMEIDA, 1942;

SUZIGAN, 2000).

Ainda em 1917, em Pelotas, instalou-se, a Companhia Frigorífica de Pelotas,

investimento realizado pela União dos Criadores, entrando em operação em 1919, realizando

o sonho dos gaúchos de terem um frigorífico de capital nacional. Outra gigante do ramo da

carne de Chicago, Swift & Co, construiu no Porto de Rio Grande, uma planta com capacidade

para abater mil cabeças de bovinos por dia e começou a operar em 1919 (PECEGO, 1969;

SUZIGAN, 2000).

Os frigoríficos acima descritos importaram todo o equipamento para suas

instalações, porque a produção nacional de tais bens de capital era inexistente. De origem

americana, as importações mais intensas ocorreram em 1914, ano em que se iniciou a guerra,

e que as exportações de outros bens de capital, diminuíam em torno de 60%. Em 1919, já

encerrada a Guerra Mundial, as exportações chegaram bem próximas do primeiro ano do

conflito (Tabela 2.1.5).

No Censo de 1907 a indústria da alimentação representava 26,7% do valor da

produção total. Com a expansão dos frigoríficos, no Censo de 1920, a indústria da

alimentação passou a ser responsável por 40,2%, do valor da produção total, superando a

indústria têxtil (PRADO JÚNIOR, 1967). Se somarmos as capacidades de abate diária dos

frigoríficos que entraram em funcionamento até 1918 com o objetivo de exportar, sendo eles a

Companhia Frigorífica e Pastoril de Barretos (400 bovinos), Continental Products Company

7 O corned beef é a carne bovina moída, curada e enlatada, ou seja, esterilizada (IEL, CNA E SEBRAE, 2000).

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(1.000), Armour & Co (1.200), Brazilian Meat Company (700) e Companhia Frigorífica de

Santos (600), o total é de 3.900 bovinos por dia.

Tabela 2.1.1: Exportação de carne bovina - principais países exportadores mundiais, exclusive sebo, 1909 a 1939 (toneladas)

Ano Argentina Uruguai Estados Unidos

Austrália Nova Zelândia

Brasil Países Baixos

1909 244.481 58.303 - 32.269 28.648 850 15.784 1910 292.653 68.741 57.790 49.636 29.960 804 14.453 1911 353.009 67.059 42.465 49.344 15.999 473 13.618 1912 390.307 62.755 29.202 64.505 16.843 475 16.445 1913 401.948 81.872 18.171 99.300 16.331 941 17.234 1909-1913 (Média)

336.480 67.746 36.907 59.011 21.556 708 15.507

1914 404.176 86.569 15.025 132.479 34.406 700 14.392 1915 409.230 120.199 125.899 52.016 43.379 11.159 18.543 1916 494.750 98.070 145.209 109.807 55.231 42.109 13.694 1917 520.677 122.516 146.405 81.760 49.033 82.404 2.756 1918 718.423 129.743 317.517 54.427 41.988 83.498 193 1919 558.909 146.621 122.968 54.921 51.560 86.121 16.933 1920 455.936 115.808 63.134 81.484 45.625 73.767 3.130 1921 430.264 88.912 18.601 56.321 50.404 68.475 6.621 1922 472.406 116.697 14.820 69.377 29.024 37.776 10.046 1923 668.388 163.423 12.774 47.711 41.345 84.189 9.413 1924 869.823 158.168 11.817 128.647 59.483 81.911 110.452 1925 768.501 171.483 73.772 172.924 62.901 - 112.675 1926 763.308 166.204 71.945 139.726 44.335 - 113.450 1927 835.382 - 60.188 50.890 47.763 - 113.518 1928 - - - - - - - 1929 - - - - - - - 1930 505.302 136.078 24.494 101.605 46.720 102.965 19.051 1931 - - - - - - - 1932 478.222 92.580 40.709 114.758 53.251 40.421 24.969 1933 462.972 92.158 43.100 108.057 75.948 38.112 17.260 1934 451.103 91.272 41.122 103.576 74.015 43.724 16.676 1935 455.600 116.048 23.529 138.873 67.298 24.041 11.241 1936 445.845 81.604 23.739 112.792 69.866 63.314 12.560 1937 516.611 102.738 18.681 139.876 77.382 71.376 16.634 1938 499.442 72.773 16.697 161.346 82.712 68.879 16.812 1939 619.275 85.494 17.322 152.434 91.877 80.579 11.797 Fonte: para 1909 a 1923, Wrenn (1925, p. 150-151, 185, 190, 193, 239, 308, 314); para 1924, United States Department of Agriculture (1926, p. 864); para 1925 a 1927, United States (1928, p. 706); para 1930, United States Department of Agriculture (1934, p. 170); de 1932 a 1939, United States Department of Agriculture (1936, p. 217; 1937, p. 256; 1938, p. 294; 1939, p. 320; 1940, p. 363; 1941, p. 359; 1942, p. 329).

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Tabela 2.1.2: Importação de carne bovina - principais países importadores mundiais, 1909 a 1939 (toneladas)

Ano Reino Unido

Alemanha Países Baixos

França Bélgica Japão Estados Unidos

1909 380.504 13.568 78 1.427 8.736 - - 1910 430.452 17.269 124 1.437 7.016 - 430 1911 460.653 19.759 158 2.541 10.522 - 173 1912 494.142 38.117 1.051 2.424 10.221 - 464 1913 553.156 32.370 3.362 2.343 9.039 - 1.918 1909-1913 (média)

463.781 24.217 955 2.034 9.107 - -

1914 546.717 - 1.709 15.331 - - 81.709 1915 585.496 - 491 173.172 - - 83.684 1916 492.333 - 39 209.088 - - 32.251 1917 441.955 - 6 188.030 - - 6.902 1918 530.664 - 20 215.688 - - 10.586 1919 546.581 - 16.377 231.543 - - 17.446 1920 551.991 92.830 6.813 133.783 23.729 - 22.762 1921 629.321 13.911 27.328 53.173 48.865 - 14.686 1922 610.353 29.609 22.309 36.022 41.382 - 16.644 1923 714.440 51.744 21.906 56.977 79.891 - 8.780 1924 806.411 134.449 101.943 114.831 108.136 - 8.212 1925 841.231 200.938 95.779 113.337 86.907 - 7.199 1926 861.701 199.981 77.321 84.980 59.304 - 9.120 1927 830.989 210.507 77.482 79.720 58.245 - 19.311 1928 - - - - - - - 1929 - - - - - - - 1930 735.727 78.018 27.669 17.629 - 1931 - - - - - - - 1932 680.087 36.144 - 36.412 23.782 21.729 13.777 1933 684.745 37.480 - 27.818 22.955 10.735 22.560 1934 707.526 25.408 - 16.065 21.109 24.892 42.732 1935 678.404 17.184 - 12.329 10.976 17.588 155.869 1936 714.642 44.174 - 37.610 31.076 26.820 81.957 1937 751.975 67.563 - 19.476 9.381 17.629 53.025 1938 757.146 92.529 - 13.557 10.676 8.577 39.334 1939 781.487 19.615 12.399 6.834 43.522 Fonte: para todos os países, excluindo Estados Unidos, anos 1909 a 1923, Wrenn (1925, p. 217-218, 225, 239, 244, 257); para Estados Unidos 1910 a 1927, Voorhies & Koughan (1928, p. 110); para todos os países, excluindo Estados Unidos, 1924, United States Department of Agriculture (1926, p. 864); para todos os países, excluindo Estados Unidos, 1925 a 1927, United States (1928, p. 706); para 1930, United States Department of Agriculture (1934, p. 170); de 1932 a 1939, United States Department of Agriculture (1936, p. 217; 1937, p. 256; 1938, p. 294; 1939, p. 320; 1940, p. 363; 1941, p. 359; 1942, p. 329).

Com tamanha expansão econômica e de capacidade de abate em um período tão

curto, o rebanho brasileiro quase não suportou, ficando desfalcado e com oferta restringida.

Em 1918, o Governo Federal precisou intervir para que ele fosse recomposto, proibindo o

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abate de vitelas e de vacas com idade inferior a oito anos aptas à reprodução (Tabela 2.1.6)

(BRASIL, 1918b). Por outro lado, em 1921, em função de um surto de peste bovina trazida

pelos zebus importados, ficando localizada apenas no estado de São Paulo, as exportações

ficaram praticamente paralisadas, atingindo somente 31.187 toneladas. Mesmo com sua

erradicação em 1922 (PECEGO, 1969), os países da Grã-Bretanha decidiram interromper as

importações de carne brasileira, sob a alegação do risco de transmissão; mas França,

Alemanha, Bélgica e Itália seguiram importando e o Brasil obteve um novo crescimento nas

exportações de carne congelada (ALMEIDA, 1942) (Tabela 2.1.3).8

Tabela 2.1.3: Brasil - Exportação de carne bovina refrigerada ou congelada por principais países de destino, volume (toneladas) e valor total anual, 1914 a 1923

Destino 1914 1915 1916 1917 1918 1919 1920 1921 1922 1923

Estados Unidos

- 1.997 2.486 951 - 57 - - - 34

Uruguai - - - - - - 8.299 17.422 3.670 9.109 Reino Unido 1,4 4.360 5.734 3.961 27.343 19.436 26.832 11.128 1.258 8.860 França - 101 4.455 5.184 3.796 12.606 - 4.714 9.574 21.579 Itália - 2.055 20.985 50.420 29.369 18.661 28.469 19.233 12.807 20.048 Países Baixos - - - - - 120 - 3.929 - 936 Alemanha - - - - - - - 5.508 3.932 5.114 Outros países - - - 5.936 - 3.215 - - 1.067 11.147 Total 1,4 8.514 33.661 66.451 60.508 54.094 63.599 61.934 32.308 76.903 Total em milhares de mil-réis

1 61.22 28.193 60.233 60.755 60.183 67.213 65.305 33.300 86.645

Fonte: Commercio Exterior do Brazil apud Wrenn (1925, p. 186).

Ainda em 1921, o Anglo adquiriu a Companhia Frigorífica de Pelotas. No mesmo

ano, a Portaria “Instruções para regerem a inspeção sanitária federal de frigoríficos, fábricas e

8 O Brasil importava zebus da Índia e do Paquistão, países onde havia uma série de doenças e a partir do Porto

de Santos, a peste bovina se alastrou através da estrada de ferro por Osasco, Santo Amaro, Cotia, São Roque e Itu. A peste bovina é uma doença de elevada mortalidade e historicamente temida, tendo inclusive gerado fome na Europa em tempos passados, tendo sido descrita pela primeira vez, em 1711. Tal é a sua importância que motivou em 1924, a criação da Organização Mundial de Epizootias, e só foi mundialmente erradicada, em 2011 (MOURA, 2012, p. 61). Esta interrupção das importações foi a primeira de muitas que viriam a ocorrer de barreiras não tarifárias à importação da carne brasileira e que se repete até os dias atuais. Para mais informações ver MIRANDA, S. H. G. Quantificação dos efeitos das barreiras não-tarifárias sobre as exportações brasileiras de carne bovina. 2001. 254f. Tese (Doutorado em Economia Aplicada)-Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2001.

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entrepostos de carnes e derivados”, com base no modelo americano,9 desencadeou ao longo

da década de 1920, um minucioso levantamento sobre todos os estabelecimentos de abate

e/ou de manipulação de carnes e derivados. Em seguida, estabeleceram-se os que atendiam

exigências sanitárias mínimas; os que poderiam ser reformados; e os que deveriam ser

incondicionalmente fechados (PECEGO, 1969).

Tabela 2.1.4: Brasil - Exportação de carne bovina em conserva, seca, em extrato e sebo (toneladas) (1909 a 1923)

Ano Carne em conserva Carne seca Extrato de carne Sebo Total

1909 159 645 46 80 929 1910 204 482 118 168 972 1911 339 114 20 79 552 1912 456 14 5 - 475 1913 906 20 14 5 945 1909 – 1913(média) 413 255 40 66 775 1914 354 138 26 171 870 1915 356 2.265 24 - 2.645 1916 1.310 7.121 17 529 8.978 1917 7.182 8.728 43 7.374 23.327 1918 17.994 4.809 186 558 23.548 1919 26.085 5.557 386 9.183 41.210 1920 2.254 7.889 24 3.632 13.800 1921 2.195 4.333 12 4.788 11.329 1922 1.729 3.729 10 2.528 7.996 1923 3.345 3.928 39 13.000 20.286

Fonte: Commercio Exterior do Brazil apud Wrenn (1925, p. 190).

Assim, de 144 estabelecimentos, restaram apenas 51 (Tabela 2.1.7). Os

estabelecimentos fechados compreendiam matadouros e charqueadas que atendiam a

municípios, com uma capacidade de abate restritíssima, produzindo apenas couro, gordura

para indústria, miúdos e carne. Suas instalações eram mínimas, e excepcionalmente, algum

outro subproduto era aproveitado. No Brasil, não havia demanda por subprodutos dos

bovinos. Até em matadouros municipais, como em Belém do Pará, Fortaleza, Recife, Maceió

e Aracajú, que haviam sido construídos ao longo da década de 1890, com projetos baseados

em modelo europeu, possuindo por isso bucharia, triparia, e mesmo graxaria com digestor a

9 Portaria sem número de 30 de novembro de 1921 (PECEGO, 1927, apud PARDI, 1996, p. 30).

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seco e que poderiam produzir farinha de sangue e de carne, nunca tiveram essas instalações

para subprodutos, utilizadas (PECEGO, 1969).

Tabela 2.1.5: Exportações de máquinas de refrigeração para o Brasil procedentes dos Estados Unidos, 1911 a 1921 (US$ a preços correntes)

Ano fiscal nos Estados Unidos (de 01/07 até 30/06 do ano seguinte) US$

01/07/1910 - 30/06/1911; 01/07/1911 - 30/06/1912; 01/07/1912 - 30/06/ 1913 (média dos três anos)

33.793

01/07/1913 - 30/06/1914 255.785 01/07/1914 - 30/06/1915 43.334 01/07/1915 - 30/06/1916 5.535 01/07/1916 - 30/06/1917 88.104 01/07/1917 - 30/06/1918 85.830

Ano civil (01 de janeiro a 31 de dezembro) US$

1918 39.675 1919 251.725 1920 83.725 1921 23.359

Fonte: Suzigan (2000, p. 354).

Tabela 2.1.6: Rebanho bovino brasileiro (1912, 1916, 1920 e 1938)10

Anos Efetivo (1.000 cabeças)

1912 30.705 1916 28.962 1920 34.271 1938 40.076 Fonte: IBGE (1990).

Tabela 2.1.7: Número de estabelecimentos de abate e/ou de manipulação de carnes e derivados inspecionados pela Seção de Carnes e Derivados durante a década de 1920, fechados e restantes

Região/Local Existentes Fechados Restantes

Vale do Paraíba (ao longo da Estrada de Ferro Central do Brasil)

50 40 10

Interior de São Paulo 30 16 14 Mato Grosso 38 20 18 Goiás 16 11 5 Triângulo Mineiro 10 6 4

Total 144 93 51 Fonte: Pecego (1969, p. 14).

10 Para o período abordado neste capítulo, infelizmente, só existem dados disponíveis para estes quatro anos.

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Porém, com a entrada das empresas modernas no Brasil, as quais já possuíam

mercado consolidado e décadas de estabelecimento na indústria e realizavam rotineiramente o

aproveitamento de todos os subprodutos industriais, os quais possuíam demanda certa no

exterior, as empresas nacionais existentes até então também viram neste aproveitamento, uma

possibilidade de ampliar a variedade de produtos ofertados no mercado, começando a

processar, a partir da década seguinte, tripas, cabelos e nervos (PECEGO, 1969).

Em relação ao sistema de frio nos locais de abate, era ausente, assim como no

transporte e no varejo. Já os frigoríficos estrangeiros que se instalaram no Brasil durante a

década de 20 com suas câmaras frias, já tinham por objetivo exportar carne frigorificada.

Muitos desses elevadíssimos investimentos foram possíveis em decorrência dos juros bastante

reduzidos, muitas vezes em empréstimos fornecidos pelos países que estavam envolvidos na

Primeira Guerra Mundial e necessitavam da carne para seu abastecimento, o que tornava o

investimento viável, inclusive porque o retorno era bastante elevado (PECEGO, 1969).

Para Pecego (1969), o frigorífico estrangeiro foi fundamental para que o capital

nacional que atuava no setor de abate, viesse a evoluir tecnicamente e aumentasse o

aproveitamento comercial do bovino, como também para superar os hábitos de consumo

tradicionais dos brasileiros.

Estavam os açougueiros acostumados ao recebimento de carnes procedentes do Matadouro Santa Cruz, que eram transportadas para o Entreposto de São Diogo, em vagões fechados, da E.F.C.B., sem qualquer dispositivo de abaixamento de temperatura. As carnes chegavam ao dito Entreposto, principalmente no verão, nos dias quentes, em condições precaríssimas: superfícies musculares de vermelho escuro, não raro enegrecidas, manchadas de sangue coagulado e com desprendimento de odor azêdo. A maior parte das carnes procedia de bois carreiros, marrucos ou animais velhos de grande porte e cujos quartos, dependurados nas gancheiras do Entreposto, arrastavam-se pelo chão. Pois, bem, quando os Frigoríficos passaram a enviar carnes de animais novos, quartos menores, com superfície carnosa de vermelho claro, isentas de coágulos sanguíneos e sem odores das carnes já em franca acidificação, os próprios açougueiros propalavam entre os seus fregueses, que ditas carnes distribuídas por seus concorrentes, eram carnes sem gôsto, lavadas, sem condições de conservabilidade. Os hábitos da população estavam arraigados àquêle tipo de carne procedente de Santa Cruz, e, até que êsses hábitos se modificassem, demandava tempo e propaganda educacional. Para esta propaganda e para esta modificação de hábitos, muito contribuíram os frigoríficos, tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo, que passou também, a partir de 1924, a consumir carnes procedentes dos frigoríficos. (PECEGO, 1969, p. 16-17).

Em 1923 o Anglo comprou a Companhia Frigorífica e Pastoril de Barretos. No ano

seguinte, o rebanho continuava em situação calamitosa, com dificuldades de recomposição,

levando o Governo Federal a intervir novamente, proibindo o abate de fêmeas (BRASIL,

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1924). Em 1926, em decorrência do estabelecimento de uma nova política para conter a

desvalorização do Mil-Réis e consequente elevação cambial do preço da tonelada da carne

brasileira, os importadores europeus preferiram importar mais carne dos países do Rio da

Prata. A exportação brasileira foi de apenas 6 mil toneladas de carnes congeladas

(SUZIGAN, 2000). Mas nesse mesmo ano, a Grã-Bretanha liberou a importação da carne

brasileira, coincidindo com o início da utilização da nova frota da Blue Star Line, equipada

para transportar carne resfriada, e com a inserção de algumas políticas protecionistas à

pecuária inglesa (ALMEIDA, 1942).

Em 1927 a Anglo adquiriu a Companhia Frigorífica de Santos (PECEGO, 1969).

Assim, somando a capacidade de abate em Mendes, mais as adquiridas, a empresa poderia

abater 2.150 bovinos por dia, concentrando capital e com maior domínio do capital

estrangeiro sobre a indústria frigorífica operante no Brasil. A instalação de novos frigoríficos

de capital nacional, voltados para o mercado interno, como veremos a seguir, não viria a fazer

frente ao estrangeiro, dada a reduzida escala (SUZIGAN, 2000).

Em 1928, após a verificação da situação da febre aftosa por uma missão britânica

no Brasil, Argentina e Uruguai, foram exportadas 250 mil toneladas entre 1928 e 1930 de

carne resfriada e congelada (frozen beef). No mercado inglês, a classe operária consumiu mais

carne, dado o preço mais baixo da carne brasileira. O Presidente Getúlio Vargas estava

estimulando os pecuaristas a produzirem o animal tipo chilled beef, pois no Reino Unido o

frozen beef não estava encontrando demanda após o conflito mundial, e os pecuaristas

empenharam-se no primeiro tipo baseado nos resultados positivos entre 1927 e 1929

(ALMEIDA, 1942).11

Outro importante aspecto a destacar é que ao longo da década de 1920,

começaram a surgir no Brasil os frigoríficos de capital nacional no modelo vertical como os

estrangeiros aqui instalados. Assim, são construídos o Frigorífico Três Corações, em Minas

Gerais e o Frigorífico Bianco, em Cruzeiro, São Paulo. Não possuíam a sofisticação dos

estrangeiros, mas a mudança na base técnica estava colocada (PECEGO, 1969). O Bianco foi

11 Chilled beef é a classificação para uma carcaça que deve apresentar:

“coxão desenvolvido, descendo com massas musculares densas até o garrão. As massas musculares que se estendem até a anca e as que vão até a cauda deveriam ser firmes, abundantes e profundas; a garupa, larga, harmonizando-se com o lombo; o lombo, bem formado, plano e profundo, provido de vasta manta de carne, desde o fio do lombo até o costado; as costelas deveriam ser carnudas e bem arqueadas.” (PARDI et al., 1996, p. 66).

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fundado em 1929, e em 1936, tinha capacidade para abater trezentos bovinos e cento e oitenta

suínos diariamente (SUZIGAN, 2000).

Em 1930, o Brasil exportou o maior volume desde o início da instalação dos

frigoríficos: 112.000 mil toneladas de carnes frigorificadas, mesmo em um contexto de

aprofundamento dos efeitos da Crise de 1929 e de elevação das tarifas alfandegárias na Grã-

Bretanha. Em 1932, durante a Conferência Econômica Imperial Britânica, foi decidido que o

comércio entre os países membros teria preferência, entrando em vigor restrições qualitativas

a produtos importados de outros países. Ao mesmo tempo, tem início a política de subsídio à

pecuária na Grã-Bretanha. Além disso, os cargueiros ingleses equipados para o transporte do

chilled beef da Austrália, Nova Zelândia e África do Sul começaram a operar. Com todas

essas mudanças, as exportações brasileiras entram em queda em 1934, mantendo-se,

principalmente, pelos envios para a Abissínia (Guerra da Abissínia, 1934-1935) (ALMEIDA,

1942).12

Em 1934, com a emissão do novo “Regulamento da Inspeção Federal de Carnes e

Derivados”, atendendo a exigências dos países importadores, os estabelecimentos que

manipulavam carne e seus derivados, passaram a ser classificados em sete categorias:

matadouros-frigoríficos; matadouros; charqueadas; fábricas de produtos suínos; fábricas de

conservas de gorduras; fábricas de produtos industriais ou destinados à alimentação dos

animais; e entrepostos. Com detalhes sobre a estrutura, relativos á: iluminação; ventilação;

impermeabilização; currais; e instalações das graxarias, definia também a matança de

emergência e seus procedimentos; matança normal; inspeção post-mortem; produtos de

triparia e alguns de seus processos; e outros novos elementos. Tais medidas excluiriam

diversos estabelecimentos do setor de abate, ao aumentar o grau de exigência em instalações;

mas os efeitos da legislação sanitária sobre o número de agentes atuantes no parque nacional

de abates serão mais intensamente percebidos em período posterior, como será demonstrado

neste trabalho (BRASIL, 1934).

No final de 1936, foi assinado o novo tratado de Comércio Anglo-Argentino,

assim como tem início a cobrança de tarifas alfandegárias nos portos do Reino Unido sobre a

carne e miúdos frigorificados. Tentando contornar a situação das tarifas, o governo de Getúlio

Vargas concedia favores cambiais aos exportadores, de forma que o preço do animal tipo

12 A Conferência Imperial Britânica era composta pelos países da Grã-Bretanha (Escócia, Inglaterra e País de Gales) e a Irlanda do Norte e sua colônias que se reuniam regularmente desde 1887, e recebeu esta denominação em 1911.

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chilled pudesse ser internamente mantido. Na negociação da dívida brasileira com Inglaterra e

França, a importação de produtos alimentícios brasileiros entrou como parte do acordo. O

setor de produção de carnes tinha grande importância na economia brasileira e por isso

recebia atenção especial do governo brasileiro. A partir de 1937, a pecuária bovina (incluindo

abate, processamento e exportação) passou a ocupar o primeiro lugar no valor da produção

nacional, gerando 2.002.326 contos de réis, enquanto o café gerou 1.940.401 e o algodão

1.512.780 contos de réis. Considerando-se os subprodutos, o total se elevava para 3.533.237

contos de réis. Sendo a pecuária do Brasil Central a principal responsável por tal importância

(KAMPRAD, 1941b; MEINBERG, 1942; ALMEIDA, 1942).

No início ano seguinte, entrou em vigor o regime de repartição diária, semanal,

mensal e quadrimestral do fornecimento de carnes, por quotas anuais de importação para os

países da América do Sul. Assim, foram definidas 80% para a Argentina; de 12 a 13,5% para

o Uruguai; e 6,5 a 8% para o Brasil. A quota para carne em conserva era maior e sem

determinação por país, assim os frigoríficos voltaram-se mais para a produção desse produto,

como por exemplo, o Armour que realizou um investimento de 3.500 contos para a fabricação

de corned beef. Tal direcionamento era considerado vantajoso, já que os Estados Unidos só

importavam carne em conserva em função da febre aftosa presente no rebanho brasileiro.13

Kamprad (1941b, p. 84) afirma que: “Em realidade, a Inglaterra compra carnes brasileiras por

motivos políticos internacionais, por política de fretes e por política de proteção dos capitais

britânicos invertidos no Brasil”.

Em 1935, um novo frigorífico de capital nacional foi construído: o DIMAR, em

Santo André (PECEGO, 1969).14 Assim, até esse momento, operavam em São Paulo, quatro

frigoríficos voltados para exportação: Armour e Wilson na capital, o Anglo em Barretos e a

Companhia Frigorífica localizada em Santos. Para o mercado interno, operavam dois: o

Frigorífico DIMAR e o Frigorífico Bianco, localizado em Cruzeiro (KAMPRAD, 1941b). Em

13

A febre aftosa causa aftas na língua e nos cascos comprometendo a apreensão do capim através da língua e a locomoção, causando o emagrecimento e enfraquecimento do animal. Causa perdas econômicas drásticas nos rebanhos. As primeiras iniciativas de combate a esse vírus ocorreram no Brasil, em 1919, quando o Ministério da Agricultura instituiu o Código de Polícia Sanitária. Estima-se que na década de 1980, entre embargos à carne bovina pelos países importadores e perdas produtivas em relação ao rebanho, a febre aftosa gerou um prejuízo de US$ 200 milhões (SANTO, 2001, p. 265). Para informações sobre as ocorrências de febre aftosa ao longo do tempo no Brasil, ver Buainain & Batalha (2007). 14

Depois foi comprado e ampliado pela Cia. Swift do Brasil, depois adquirido pelo Frigorífico Bordon e depois pela Perdigão Agroindustrial (PECEGO, 1969, p. 18).

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1936, os frigoríficos de capital externo possuíam 95% da capacidade de abate de bovinos para

exportação, e 87% da capacidade de abate de suínos e ovinos (SUZIGAN, 2000).

A produção do charque pelas charqueadas no Rio Grande do Sul foi

gradativamente perdendo força, tanto pelo aumento da produção de carne frigorificada neste

Estado, pois do total de 558.450 animais abatidos em 1926, 93% (519.989 cabeças), foram

abatidas nas charqueadas; já em 1930, dos 836.894 animais abatidos, somente 42% (349.979

cabeças), abates foram realizados pelas charqueadas, quanto pelo aumento do número de

charqueadas e da produção de charque pelos matadouros-frigoríficos localizados no Brasil

Central Pecuário (PARDI, 1996). Em 1938, no estado gaúcho, havia 37 charqueadas,

enquanto que na região do Brasil Central Pecuário, havia 40. A população brasileira mantinha

o hábito de consumo, e as limitações do transporte frigorificado e, o fator mais importante, o

reduzido poder de compra da população brasileira; criavam condições econômicas para a

sobrevivência das charqueadas mesmo com a presença dos frigoríficos (KAMPRAD, 1941b)

(Tabela 2.1.8).

Tabela 2.1.8: Rio Grande do Sul e Brasil Central Pecuário (SP, GO, MT e Triângulo Mineiro) - Produção de charque em frigoríficos e charqueadas sob inspeção federal, 1933 a 1940 (1.000 toneladas)

Ano Rio Grande do Sul Brasil Central Brasil

Frigoríficos Charqueadas Total Frigoríficos Charqueadas Total Total

1933 4.217 37.944 42.161 18.660 11.062 29.722 71.883 1934 7.583 44.311 51.895 20.589 10.527 31.117 83.012 1935 8.997 60.274 69.271 24.496 9.083 33.580 102.851 1936 7.374 58.841 66.215 29.744 12.531 42.275 108.490 1937 6.918 46.370 53.288 25.018 7.801 32.819 86.107 1938 8.376 40.349 48.725 27.022 7.831 34.833 83.558 1939 12.450 15.907 28.358 27.098 7.874 34.973 63.331 1940 5.044 18.618 23.662 18.570 12.600 31.170 54.832 Fonte: (PARDI, 1996, p. 45).

2.2 Ação pública no Estado de São Paulo para o desenvolvimento da pecuária bovina no

período de 1909, ano de instalação do primeiro frigorífico em São Paulo, primeiro no

Brasil, e o efeito das exportações sobre as políticas estaduais voltadas para a pecuária até

1938

O Governo Federal criou em 1909, em Nova Odessa, a Fazenda de Seleção do

Gado Nacional, especializada na seleção das raças nacionais Caracu e Mocho Nacional, o que

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também viria a fortalecer a pesquisa zootécnica em São Paulo (MORETI & FONSECA,

2005).

Em 1913, entrou em funcionamento o primeiro frigorífico do Brasil, instalado em

São Paulo, o qual serviria de estímulo para a formulação de políticas voltadas para o

desenvolvimento da pecuária por parte do governo do Estado, o qual, no ano seguinte,

advertiu que a pecuária paulista possuía elementos que, em breve, a tornaria a base da

economia do estado juntamente com o café. Para tal previsão, ele considerou as extensas

criações de gado existentes nos estados vizinhos, nas regiões fronteiriças a São Paulo,

instaladas em amplas pastagens naturais e artificiais, assim como, a presença do Porto de

Santos capaz de escoar a produção para a Europa, onde a oferta de carne estava em baixa.

Assim, a partir de uma reunião realizada com criadores paulistas para discutir propostas para

o desenvolvimento da pecuária, ficou definido que o importante era atrair a pecuária dos

estados criadores para São Paulo e que para tanto, o estado daria continuidade na melhoria das

estradas de ferro e rodoviárias, ligando as zonas criatórias, às de invernagem, e delas aos

centros de consumo e ao Porto de Santos (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS

ESTADOS BRASILEIROS, 1914, 1915).

São Paulo possuía o sexto maior rebanho do país, com um contingente de

2.441.989 cabeças de gado e fazia divisa com os estados que possuíam o segundo, terceiro e

quarto maiores rebanhos, sendo eles, respectivamente, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso

(Tabela 2.2.1).

Com o deflagrar da Primeira Guerra Mundial, as exportações de carne

frigorificada de São Paulo foram iniciadas em 1914, alcançando 1:100$000 com 1.415 quilos

(Tabela 2.2.2) e o Governo de São Paulo afirmava que o aumento da demanda pela carne nos

países envolvidos na Primeira Guerra Mundial, era uma oportunidade que deveria ser

aproveitada para desenvolver, como importante fonte econômica, a pecuária que até então

estava pouco explorada. Segundo o Governo, as primeiras exportações de carne de São Paulo

eram um sinal do que iria acontecer com a pecuária paulista, e que mesmo a produção

estadual sendo ainda insuficiente para atender o próprio mercado paulista, a organização

zootécnica estadual daria ao estado a condição de elo intermediário na transformação dos

produtos da pecuária. A intenção era que São Paulo atuasse no melhoramento dos animais dos

estados criadores, para alcançarem níveis melhores quando comparados aos exportados por

outros países, de modo a terem o peso e a qualidade exigidos pelos importadores. “A São

Paulo cabe formar o tipo do puro sangue, que terá de regenerar o gado indígena dos três

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grandes estados criadores, que lhe são limítrofes” (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS

ESTADOS BRASILEIROS, 1915, p. 674); (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS

ESTADOS BRASILEIROS, 1915, 1916).

Tabela 2.2.1: Brasil, regiões e estados - Efetivo do rebanho bovino, número de cabeças (1920)

Estados, Regiões e Brasil 1920 Acre 15.178 Amazonas 238.449 Pará 615.482 Norte 869.109 Alagoas 388.371 Bahia 2.698.106 Ceará 580.028 Maranhão 834.596 Paraíba 444.928 Pernambuco 745.217 Piauí 1.044.734 Rio Grande do Norte 318.274 Sergipe 311.239 Nordeste 7.365.493 Espírito Santo 161.160 Minas Gerais 7.333.104 Rio de Janeiro 581.203 São Paulo 2.441.989 Distrito Federal 23.367 Sudeste 10.540.823 Paraná 539.765 Rio Grande do Sul 8.489.496 Santa Catarina 614.202 Sul 9.643.463 Goiás 3.020.769 Mato Grosso 2.831.667 Centro-Oeste 5.852.436 Brasil 34.271.324 Fonte: Brasil (1923, p. 59) – Recenseamento do Brazil.

Para a criação do puro sangue nacional, indispensável, porém, será a iniciativa do Governo da União, que deverá contar com a nossa eficaz colaboração. Ao Estado competirá propagar tão patriótica cruzada, por meio das estações de monta auspiciosamente iniciadas, e que precisam ser multiplicadas. Aos criadores, e, sobretudo, aos agricultores, em geral, incumbirá a aquisição de reprodutoras de puro sangue, que deverão ser enviadas às referidas estações, para fecundação. Será isso realizado, desde que a União tome o encargo de facilitar a importação dos exemplares de puro sangue que se tornem necessários. [...] Produzir o puro sangue, melhorar as nossas pastagens, deve ser, presentemente, o nosso principal objetivo, sem prejuízo da seleção do gado nacional e das

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experiências de cruzamento. (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1915, p. 675).

Assim o Governo seguia promovendo palestras pelo interior do estado, de modo a

fomentar a atividade pecuária, e criando estações de monta para o melhoramento genético do

gado em Faxina, Santo Antônio da Boa Vista, Mogi Mirim e Pirassununga, além das

regionais, que seriam mantidas pelos municípios, em São Carlos e Itapetininga. Os

experimentos em Nova Odessa estavam bem avançados na composição de massas musculares

e na melhoria da precocidade das raças Caracu e da Mocha ou Mocho Nacional

(RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1915).

Tabela 2.2.2: São Paulo - Exportações internacionais de carne, volume (toneladas) e valor (contos de réis) (1914 a 1924, 1926 a 1929)

Ano Carne congelada e resfriada Carne conservada Total exportado Volume Valor Volume Valor Volume Valor 1914 1,4 1,1 0 0 1,4 1,1 1915 7.946 5.739 93 132 8.040 5.871 1916 18.688 15.716 362 612 19.051 16.329 1917 29.134 26.388 1.097 1.738 30.231 28.126 1918 32.654 32.754 2.791 5.222 35.446 37.977 1919 32.033 35.606 2.877 6.683 34.911 42.290 1920 32.710 36.532 570 1.425 33.280 37.957 1921 24.673 29.943 734 1.306 25.407 31.249 1922 17.816 19.046 - - 17.816 19.046 1923 45.837 56.099 - - 45.837 56.099 1924 41.026 47.298 - - 41.026 47.298 1926 5.526 7.360 - - 5.526 7.360 1927 26.129 31.745 286 993 26.415 32.739 1928 29.515 49.499 424 1.547 29.940 51.046 1929 43.683 65.838 230 764 43.914 66.603 Fonte: Relatório dos Presidentes dos Estados Brasileiros, diferentes números: 1914 até 1920, (1916, 1921, p. 85); para 1921 (1922, p. 92); para 1922 e 1923 (1924, p. 22); para 1926 e 1927 (1927, p. 85; 1928, p. 69, 331; 1929, p. 39); para 1928 e 1929 (1930, p. 25).

Em 1915, ano em que entrou em operação o segundo frigorífico de São Paulo e do

Brasil, o Continental Products Company, de Osasco, as exportações de carne frigorificada de

São Paulo alcançaram 5.739:112$000 (Tabela 2.2.2). No mesmo ano, foram distribuídas

26.000 doses de vacina contra o carbúnculo sintomático e, como não houve importação de

reprodutores por iniciativa particular, o estado a fez com o intuito de aclimatá-los e vendê-los

aos produtores cumprindo assim, segundo o Governo, o objetivo buscado há anos, de fazer o

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puro sangue crioulo e melhorar o gado indígena. De acordo com o Governo, logo o gado teria

condições de equiparar-se ao internacional, sendo para tanto necessária a instalação da

indústria do sal para alimentação animal e o desenvolvimento de pesquisas em bromatologia

de pastos e forragens na Escola Superior de Agricultura “Luís de Queiroz”. Tal era a

determinação governamental em estimular a cadeia da carne, que no final de 1915, a carne

exportada pelos frigoríficos instalados ou que viessem a se instalar no estado, ficaria livre de

taxas de exportação por dez anos (SÃO PAULO, 1915; RELATÓRIO DOS PRESIDENTES

DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1916).

Em 1916, a exportação de carnes resfriadas de São Paulo para outros estados e

internacionais, alcançou 17.216:248$800, ficando, em valores, atrás do café, feijão e tecidos

de algodão, sendo que, em 1917, elas totalizaram 29.660:185$000 (RELATÓRIO DOS

PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1917, 1918, 1919).

Em 1918, o Instituto Agronômico dava continuidade aos experimentos voltados

para o desenvolvimento de culturas utilizadas na alimentação animal e foi criada a Fazenda

Pastoril de Itapetininga, especializada na criação de gado puro sangue e no aperfeiçoamento

de raças destinadas à produção de carne, com um plantel de gado Hereford e Durhan, sendo

que o Red-Polled estava sendo estudado em uma fazenda específica em Amparo.15 No mesmo

ano, passaram pelo Posto Zootécnico Central, a fim de aclimatação e aplicação de vacinas,

793 animais importados, sendo a grande maioria bovinos. Em Botucatu, foi instalado o Posto

Zootécnico Regional para estabelecer reprodutores para a melhoria do gado da região e foi

criado o registro dos criadores, constando 161 proprietários inscritos, os quais entre outros

animais, possuíam 94.833 bovinos.16 Também foi criado o Instituto de Veterinária, o qual

deveria preparar vacinas e soros para combater as doenças que afetavam a pecuária e

desenvolver a vacina contra a febre aftosa.17 Neste mesmo ano, entra em operação o terceiro

frigorífico de São Paulo, a Companhia Frigorífica de Santos, os três frigoríficos atingiram um

valor total de produção de 56.174:510$000 (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS

ESTADOS BRASILEIROS, 1919; 1921, p. 85).

15

O Instituto Agronômico de Campinas foi fundado por Dom Pedro II em 1887 e transferido ao Governo de São Paulo, em 1892. 16

Decreto n. 2.975, de 30 de outubro de 1918 (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1919). 17

Lei n. 1.597, de 31 de dezembro de 1917 (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1918).

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56

Em 1919, ficaram prontos e foram divulgados os dados do primeiro levantamento

estatístico agrícola e zootécnico de São Paulo, o qual constatou a existência de 3.108.205

bovinos no estado (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS,

1920). Também foi criado o Serviço de Polícia Sanitária Animal (MARTINS, 1991)18 e

entrou em funcionamento o Frigorífico Armour. Os outros três abateram neste ano, 238.664

bovinos (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1921)

(Tabela 2.2.3).

Tabela 2.2.3: São Paulo - Número e espécie de animais abatidos pelos frigoríficos, 1919 a 1921, 1924 a 1929

Ano Bovinos Suínos Ovinos Caprinos Total 1919 238.664 65.182 2.253 - 306.099 1920 208.303 76.927 2.598 - 287.828 1921 148.377 52.879 1.923 351 203.530 1924 302.400 104.093 813 - 407.306 1925 288.188 58.174 1.290 787 348.439 1926 221.528 67.370 1.301 453 290.652 1927 376.430 96.011 1.500 690 474.631 1928 470.016 145.933 6.044 3.675 625.668 1929 537.716 129.523 4.864 4.345 676.448 Fonte: Relatório dos Presidentes dos Estados Brasileiros (1921, p. 84, 1922, 1925, 1926, 1927, 1928, 1929, p. 32; 1930, p. 21).

Em 1920, os mercados mais importantes das carnes congeladas paulistas, eram a

Itália, Grã-Bretanha, Egito e França e para as do tipo conserva, Bélgica e Grã-Bretanha. Em

função do surto de peste bovina ocorrido nesse mesmo ano, as carnes em conserva perderam

um importante mercado, os Estados Unidos, e a trajetória de crescimento de exportação desse

produto foi interrompida (Tabela 2.2.2). O estado indenizou os 1.454 bovinos abatidos, sendo

191 doentes e 1.263 considerados casos suspeitos, pagando 80$000 por boi carreiro e

200$000 por bovino de raça. Também foram distribuídas pela Secretaria de Agricultura,

194.580 doses de vacinas contra pneumoenterite e carbúnculo, e 11.603 doses contra

batedeira (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1921).

Para o Governo de São Paulo, a Primeira Guerra Mundial gerou efeitos muito

positivos sobre o desenvolvimento da pecuária paulista, tendo como força motriz os três

frigoríficos instalados no estado (Barretos, Osasco e Santos), os quais somavam o capital

18 Lei n. 1.655, de 1919 (MARTINS, 1991).

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empregado de 24.000 contos, sendo o de Barretos com dez mil contos, empregando 350

funcionários; o de Osasco, com 12 mil contos, com 700 funcionários; e o de Santos, com 2

mil contos e 147 funcionários. Fornecedores de carne para os países em conflito, criaram

condições para que as indústrias de subprodutos do abate, como fábrica de solas, pentes,

botões, calçados e outras, ganhassem importância econômica no estado, mas após o final do

conflito, a conjunção da queda da demanda e da volta à produção pelos países antes

envolvidos na guerra, provocaram a queda dos preços da carne e a redução das exportações.

Também, o reestabelecimento dos transportes marítimos e as facilidades proporcionadas pelos

comerciantes dos Estados Unidos, estimularam o aumento das importações brasileiras,

escoando a reserva de ouro interna e provocando a desvalorização da moeda nacional. Essa

inflação elevou os preços internos, incluindo o da terra, sendo que a pecuária foi a primeira

atividade econômica de São Paulo a sentir o problema, a partir de julho de 1920. Os

boiadeiros de Barretos alegaram ao Governo do Estado, que estavam à beira da falência,

vendendo o gado a qualquer preço em função de compromissos assumidos com notas

promissórias e letras e que não conseguiam renegociação independente das condições que

estivessem dispostos a aceitar. Assim, em Barretos, havia 150.000 alqueires de terra que, se

cotados a 500$000, valeriam 75.000:000$000; e o gado lá criado valia 10.000:000$000,

somando tudo daria um total de 85.000:000$000, sendo que o passivo dos boiadeiros era de

9.000:000$000 (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS,

1921).

A pecuária mundial atravessava um período de crise, não apenas a paulista, e o

Governo do Estado aguardava um novo equilíbrio de preços. Para o governo paulista, a

atividade econômica da indústria frigorífica só era viável e rentável, se realizada em grande

escala, a qual, somente seria possível através das exportações, também em grande escala, já

que o consumo interno era insuficiente para gerar tal demanda e remunerá-la, merecendo a

sua atenção e da população, pois sem ela, a pecuária não seria uma atividade econômica

expressiva. Com esse intuito, é que logo nos primeiros dias de 1921, a taxa de expediente por

quilo de carne, destinada à estatística de exportação, caiu de 10 réis para 2 réis, consistindo,

de acordo com o Governo, em um aumento de lucro para o exportador, de 8$000 por tonelada.

O Governo também fixou imposto de exportação de 50$000 sobre vaca ou novilha aptas à

reprodução e 20$000 sobre vaca ou touro de raça considerados reprodutores, e 10$000 sobre

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boi, garrote ou vaca inapta à reprodução (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS

ESTADOS BRASILEIROS, 1922).19

O intuito da lei é destinar os bois aos Frigoríficos, transformando S. Paulo num grande centro de exportação de carne industrializada, mantendo e protegendo, ao mesmo tempo, os grandes consumidores do gado em pé, única forma de fazer prosperar a pecuária em grande vulto, tendo em vista, conseguintemente, o interesse do criador. Mais ainda. Os Matadouros Frigoríficos, e já temos quatro, exportando a carne, deixam, entre nós, os subprodutos do boi, que são matéria prima de novas indústrias, condição muito boa para se observar no Estado que não quer ficar com a monocultura. É assim que se acham muito desenvolvidas, entre nós, indústrias que só vivem por terem essa matéria prima à mão e barata. Temos três fabricas de pentes, uma das quais faz diariamente 15.000 pentes, aproveitando os chifres; duas de botões, usando os ossos; diversas de cola, extraída dos tendões; numerosas de calçados e de correias, utilizando os couros, e diversas de adubos, transformando todos os restos. S. Paulo não é, propriamente, um estado criador. Cria em boa escala, mas é principalmente um território de engorda de gado. Dada a absoluta falta de meios de transportes, o Estado de S. Paulo aproveita principalmente as suas grandes e magníficas pastagens, em invernadas para engorda do gado que, a pé, em viagens de meses, nos chega magro dos vizinhos estados criadores de Minas, Goiás e Mato Grosso. O seu interesse atual está em facilitar a entrada e dificultar a saída do gado em pé, visto que é ele industrializador do boi sob todos os aspectos, nos seus Matadouros Frigoríficos. Nada perdem os estados criadores com isso; ao contrário, sendo a regra a mesma, só têm a ganhar por encontrar vasto mercado de consumo para as suas criações. (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1922, p. 88-89).

As exportações de carnes de São Paulo, em 1921, tanto para o mercado interno

quanto para o externo, superaram, em valores, as dos produtos têxteis e do feijão, ficando

atrás apenas do café, contabilizando o total de 25.810.771 quilos, entre carnes congeladas e

em conserva, resultando no valor total de 31.363:141$000; mesmo com um período de

interrupção em função da peste bovina, mantendo o equilíbrio dos anos anteriores. A Itália era

o principal importador com 15.927:634$000, seguida pela Espanha, com 8.641:543$000;

Inglaterra, 3.531:206$000; e França, 2.280:153$000 (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES

DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1922).

Em 1922, as exportações seguiram caindo em função da crise mundial e do surto

de peste bovina. Alguns frigoríficos paralisaram ou reduziram suas operações, já que o preço

da tonelada exportada estava baixo e havia forte concorrência com o mercado europeu. Neste

19

Lei n. 1.764, de 31 de dezembro de 1920 (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1922).

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ano, entrou em funcionamento o Armour, na capital, com 1.300 operários e o capital de 12

mil contos, com capacidade para abater 2.000 novilhos e 3.000 suínos dia, mas em

decorrência do contexto pouco favorável, suas atividades foram completamente paralisadas,

só voltando a funcionar no começo do ano seguinte. Em 1923, ano em que a Anglo adquiriu a

Companhia Frigorífica de Barretos, passando a ter a sua primeira planta de abate e

processamento no estado de São Paulo, a carne congelada e resfriada voltou a ocupar o

segundo lugar em valores das exportações de São Paulo, tanto para o mercado internacional

quanto para o nacional. No mesmo ano, o registro dos criadores da Diretoria da Indústria

Pastoril tinha registrado 650 criadores, que entre outros animais, possuíam 516.145 alqueires

de terra, 266.504 bovinos, sendo 29.914 alqueires somente de pastagem, e o governo

continuava dando destaque à pecuária em suas mensagens anuais para o Legislativo

(RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1922, 1923, 1924):

É sensível o progresso da nossa Pecuária e Indústria Pastoril. As diversas exposições levadas a efeito demonstraram o grau de aperfeiçoamento a que chegou o gado e o grandioso futuro que o espera dentro de pouco tempo. O governo nunca deixou de interessar-se francamente por este assunto, que é de grande alcance para o trabalho e riqueza do estado, que se acha aparelhado para a melhor defesa e desenvolvimento da pecuária, com o Serviço de Polícia Sanitária Animal. Este Serviço vem prestando ótimos auxílios aos interessados e fazendo interessantes experiências na prevenção e cura das moléstias do gado em geral. (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1924, p. 41).

Em 1924, o Governo de São Paulo transformou seus Comissários em Adidos

Comerciais do Estado no Estrangeiro, atuando em 2 escritórios de propaganda (MARTINS,

1991). Somando a produção dos quatro frigoríficos instalados em São Paulo entre carnes,

couros, ossos, chifres, sebo, óleo e outros produtos, o total foi de 109.197:100$000 (Tabela

2.2.4). As carnes congeladas ocuparam o segundo lugar entre as exportações paulistas, mas

com valores e volume inferior ao ano anterior (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS

ESTADOS BRASILEIROS, 1925).

Em 1925, os quatro frigoríficos trabalharam com menos intensidade. A alta da

taxa de câmbio tornou a carne brasileira mais cara em relação à exportada pelos países

platinos, e as exportações paulistas para o mercado externo, caíram para 26.301 toneladas,

totalizando 32.143 contos, assim o governo paulista estava interessado em escoar a produção

para os estados do nordeste, como Pernambuco e Bahia (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES

DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1926).

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Tabela 2.2.4: São Paulo - valor e volume da produção dos frigoríficos, carnes e outros produtos, 1919 a 1921, 1924 a 1929

Ano Carne (toneladas) Outros produtos (toneladas)

Produção total (toneladas)

Valor da produção total (contos de réis) Resfriada Congelada Fresca Conserva

1919 4.609 34.748 13.016 2.458 - 54.833 69.780 1920 - - - - - - 57.066 1921 9.469 16.560 8.860 60 2.357 37.307 42.144 1924 - - - - - - 109.197 1925 4.682 25.974 6.109 158 33.333 70.258 79.739 1926 - - - - - 63.440 86.673 1927 14.561 25.106 29.890 1.894 27.373 98.826 124.688 1928 - 27.549 73.233 250 40.525 141.559 181.732 1929 - 54.441 43.398 308 56.923 155.072 211.551 Fonte: Relatório dos Presidentes dos Estados Brasileiros (1921, p. 84; 1922, 1925, 1926, 1927, 1928, 1929, 1930).

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61

O governo continuava diretamente preocupado com o desenvolvimento da

pecuária, tanto no andamento dos trabalhos da Diretoria da Indústria Pastoril, quanto em

promover o melhoramento do rebanho.

Durante o ano de 1925, a Diretoria de Indústria Pastoril tratou de auxiliar o desenvolvimento da pecuária paulista, tendo para isso respondido todas as consultas recebidas, como também prestado aos interessados, verbalmente, todos os esclarecimentos que foram solicitados. Não obstante esse fato, os serviços da Diretoria, em relação ao valor do progresso atingido pela nossa pecuária, precisam ser modificados e devidamente desenvolvidos, de modo a torná-los mais eficientes e em condições de melhor auxiliar os criadores e outros interessados que deles necessitarem. A pecuária paulista, já mais ou menos orientada, necessita do decisivo apoio oficial, principalmente no que diz respeito ao combate sistemático às doenças epizoóticas e enzoóticas que entre nós reinam. Para isso, a Diretoria deverá estar habilitada a fornecer todas as vacinas e soros necessários que a qualquer momento sejam solicitados pelos interessados. Tais soros e vacinas devem ser fabricados e distribuídos pelo governo gratuitamente ou por preços reduzidos aos criadores inscritos em livros especiais mantidos pela Diretoria. Por essa forma além de obter-se a relação dos criadores residentes do estado, poder-se-á observar a relação e eficácia dos soros ou vacinas empregados. A assistência veterinária deve ser também mais rápida; e para isso necessário é que o quadro de profissionais existentes seja convenientemente aumentado, colocando-os permanentemente nos centros de maior criação e nas fronteiras, onde, não somente observarão a entrada e saída de animais, como também executarão, com vigor as medidas de profilaxia contra as doenças contagiosas, impedindo, por essa forma, a sua propagação. Deve-se também, por meio dos veterinários estaduais, melhor cuidar dos transportes ferroviários de animais, exigindo-se completa desinfecção dos vagões e outros materiais para isso usados. A introdução de animais reprodutores é outro ponto que se deve cuidar com presteza e com o máximo de carinho, a bem de atender ao melhoramento do rebanho nacional, quer pelo cruzamento progressivo, com raças indígenas, quer pela criação in-loco das raças importadas em pleno estado de pureza. Os criadores paulistas, por motivos especiais, desde muito tempo nenhum reprodutor tem importado; daí a consanguinidade estreita já observada, do que resulta o definhamento dos rebanhos descendentes das raças exóticas. Além da introdução desses espécimes, é indispensável que nos estabelecimentos oficiais seja intensificada a criação de bons animais reprodutores, para serem igualmente vendidos aos criadores. Os reprodutores aqui nascidos são mais rústicos que os importados, imunes contra a tristeza e mais adaptados ao nosso sistema de criação em liberdade ou em semiestabulação; daí serem eles preferidos pelos que não estão ainda convenientemente preparados para a manutenção de reprodutores importados. (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1926, p. 79-80).

Em 1926, as carnes continuaram sofrendo os efeitos do aumento da oferta

mundial, já que os países, anteriormente envolvidos no conflito, estavam em plena produção e

estava praticamente impossível competir no mercado estrangeiro com as carnes produzidas na

Austrália, Argentina e Uruguai. As exportações de carnes paulistas tiveram um baixíssimo

desempenho, com apenas 5.526 toneladas (Tabela 2.2.2) o que levou os frigoríficos à redução

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62

dos abates (Tabela 2.2.3) (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS

BRASILEIROS, 1927).

Em 1927, ano em que a Anglo adquiriu a Companhia Frigorífica de Santos,

passando a ter duas plantas de abate e processamento em São Paulo, as exportações voltaram

a crescer (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1928) e os

Adidos Comerciais de São Paulo passaram a manter o governo informado sobre o

desempenho dos produtos paulistas no exterior, inclusive das carnes frigorificadas. Os Adidos

estavam sediados em Bruxelas e Washington, e suas áreas de cobertura abrangiam Bélgica,

Holanda, Alemanha, Suécia, Noruega, Dinamarca, Estados Unidos e Canadá (MARTINS,

1991).

No mesmo ano foi criado o Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal, “o

que todos pediam, para defesa da maior fonte de riqueza pública e particular, era a sua

criação.” (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS 1928, p.

27). O Instituto tinha entre suas atribuições, o estudo dos assuntos relativos à defesa animal e

vegetal; para isso estudaria as doenças, em geral, diversos tipos de produtos, como os

parasiticidas, sendo responsável pela fiscalização da sua comercialização, além de

desenvolver vacinas, soros e demais produtos para a saúde animal (RELATÓRIO DOS

PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1928).

Em 1928, passou a vigorar o Código de Polícia Sanitária Animal, sob a

responsabilidade da Diretoria de Indústria Animal. A intenção era de que o estado colaborasse

diretamente com o Governo Federal, no combate à febre aftosa, causadora de entraves nas

exportações de carne congelada. No mesmo ano, o governo abriu um fundo de reserva de

10.000:000$000 para financiar o açúcar, o algodão, a fruticultura e a pecuária, sendo que para

esta última, seriam fornecidos empréstimos hipotecários, usando as propriedades como

garantia, até no máximo de 66 vezes o valor do imposto territorial médio dos três últimos anos

pago pela propriedade, com a garantia de não ser superior a um terço da avaliação feita pelo

banco (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1928; 1929).

Entre 1928 e 1929, foram instaladas as estações de monta e campos de

agrostologia, ciência que estuda as plantas forrageiras destinadas à alimentação animal, em

Tietê e Pirassununga (MARTINS, 1991), na Fazenda de Nova Odessa e no Posto Zootécnico,

respectivamente, buscando reunir coleções nacionais e exóticas para o estudo das forragens, a

fim de encontrar a que melhor se adaptasse na formação de pastagens, ao mesmo tempo, foi

distribuída aos criadores grande quantidade de mudas e sementes. Na zona da Alta

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63

Sorocabana, crescera bastante o carbúnculo hemático, para o qual foram distribuídas 121.035

doses de vacina (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS,

1930).

Em 1929, ano em que as exportações atingiram o maior volume e valor dentro do

período até aqui analisado (Tabela 2.2.2), assim como o número de bovinos abatidos (Tabela

2.2.3), entrou em operação o Frigorífico Bianco em Cruzeiro, voltado para o atendimento do

mercado interno e a carne congelada foi o segundo principal produto, em valor, exportado por

São Paulo (RELATÓRIO DOS PRESIDENTES DOS ESTADOS BRASILEIROS, 1930).

No mesmo ano, foi elevado para 100$000 (cem mil réis) o imposto estadual sobre o abate de

vacas e vitelas aptas à reprodução com idade inferior a dez anos (MARTINS, 1991).20

Ao longo da década de 1930, importantes ações foram tomadas, por parte do

Governo de São Paulo, em relação à pecuária bovina, sendo que a partir de 1931, a Diretoria

da Indústria Pastoril começou a explorar experimentos com novas formas de conservação de

alimentos para o gado, como ensilagem e fenação, e a organizar livros genealógicos

(MARTINS, 1991). Já o Instituto Biológico realizou trabalho fundamental no controle do

curso branco em bezerros; controle da peste suína, produzindo inclusive uma nova vacina;

produziu tuberculina, realizou exames em propriedades e introduziu o tratamento com

isoniazida; identificou, pela primeira vez, em São Paulo, a raiva bovina epizoótica e produziu

vacina; realizou estudos em relação à toxicidade de determinadas plantas para os bovinos;

desenvolveu estudos relativos à carência de oligoelementos minerais, na qual se incluía a

peste de secar; e produziu vacina contra a febre aftosa (QUEIRÓZ, 1991 apud MARTINS,

1991).

Em 1933, foi criada a Fazenda Experimental de Criação, em Sertãozinho,

especializada em pecuária de corte, já que o Interventor do Estado considerava esta atividade

econômica fundamental para o desenvolvimento econômico de São Paulo. De acordo com o

Interventor, fazia-se necessário o melhoramento das raças para competir com a carne

produzida na Argentina e Uruguai, sendo que a disponibilidade do Porto de Santos e a posição

geográfica ocupada pelo estado, davam a São Paulo, as condições necessárias para tornar-se o

maior produtor de carnes da América do Sul, com capacidade para engordar um milhão de

bovinos por ano. Sendo assim, o poder estatal deveria agir no melhoramento racial e estendê-

lo a Mato Grosso, Goiás e sul de Minas Gerais, áreas provedoras de animais para engorda nas

20 Lei n. 2.417 de 31 de dezembro de 1929 (apud MARTINS, 1991, p. 237).

Page 64: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

64

invernadas paulistas, pois os pecuaristas haviam tentado importar reprodutores para a

melhoria do plantel produtor de carne para exportação, porém não obtiveram sucesso,

resultando em muitas mortes, em função das complicações advindas do processo de

aclimatação. O estado importaria os reprodutores e produziria os crioulos e os repassaria aos

pecuaristas (SÃO PAULO, 1933). Na Fazenda Experimental foram inseridos exemplares das

raças Gir, Guzerá, Nelore e cruzados, voltando-se para o estudo dos fatores que aumentassem

a produção de carne, para o selecionamento e melhoramento genético (MORETI &

FONSECA, 2005).

Com base nos anos 1933 e 1934, o Recenseamento Agrícola - Zootécnico de São

Paulo apontou que, dentro das 274.740 propriedades existentes no Estado, 68.138 possuíam o

efetivo de 2.289.680 cabeças de gado e que a área total dedicada a campos e pastos no estado

era de 3.334.429,75, correspondendo a 38,2% do total do universo das propriedades paulistas

(SÃO PAULO, 1936). Em 1934, o estado adquiriu a Fazenda Canchim, em São Carlos e

trocou-a com o Governo Federal, de forma que este pudesse instalar a Inspetoria Regional do

Serviço de Fomento da Produção Animal, órgão responsável pela liberação de importação de

reprodutores, o que era do interesse de São Paulo (MARTINS, 1991). Em 1935, pela primeira

vez, aparece a preocupação com o processamento da carne nas estruturas do Governo

Estadual, criando-se uma Seção de Carnes a qual teria o objetivo de desenvolver melhores

formas de industrializar, transformar e aproveitar os produtos de origem animal (TEIXEIRA

& TISSELI, 1991).21

Em 1937, foram criadas novas estações experimentais, sendo uma em Araçatuba,

destinada à instalação do Posto Experimental de Criação, para aprofundar o estudo do bovino

de corte, inclusive com instalações de campo de agrostologia e outras espécies animais

(MARTINS, 1991),22 e outra, em Andradina, Fazenda Experimental de Criação do Gado

Indiano, voltada entre outras atividades, para o estudo da raça Guzerá, seus cruzamentos,

produção de carne, pastejo, manejo, seleção e melhoramento genético de reprodutores

(MORETI & FONSECA, 2005).

21 Decreto n. 7.313, de 5 de julho de 1935 (apud TEIXEIRA & TISSELI, 1991). 22 Lei n. 2.891, de 13 de janeiro de 1937.

Page 65: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

65

Capítulo III - SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E SEUS EFEITOS SOBRE AS

EXPORTAÇÕES DE CARNE, SOBRE A PECUÁRIA BOVINA E SOBRE A OFERTA

INTERNA DE CARNE NO BRASIL, COM ÊNFASE EM SÃO PAULO, E A

IMPLANTAÇÃO DO PLANO SALTE (1939 Á 1967)

Este capítulo tem por objetivo, expor as transformações ocorridas na cadeia

agroalimentar de carne bovina, entre os anos de 1939 e 1967 e inicia-se no ano da deflagração

do segundo conflito mundial, introduzido por um panorama geral sobre a importância

econômica dessa no Brasil, e depois relata os impactos das exportações para os países em

conflito, sobre o rebanho, pecuaristas e o mercado interno. As exportações para a guerra

geraram escassez interna de carne e entre diversas políticas adotadas pelo Governo Federal

para tentar contornar a crise, foi instaurado inclusive o seu racionamento. O Governo realizou

várias tentativas de solucionar o problema da cadeia, inclusive expandindo o número de

plantas frigoríficas durante o Plano SALTE, o qual será aqui analisado incluindo seus

resultados, encerrando o período de análise em 1967, ano anterior ao início do processo de

implantação de uma nova política para tentar superar os entraves da produção de carne que

continuavam a persistir.

Dividido em seis sessões, a primeira inicia apresentando a entrada em vigor de

barreiras tarifárias na Inglaterra, principal mercado da carne brasileira exportada. Também é

apresentado que, com as exportações de carne brasileira para os países envolvidos na Segunda

Guerra, ocorreram impactos diretos sobre o rebanho e sobre o mercado interno. A segunda

seção trata dos impactos sobre os pecuaristas. A terceira seção apresenta os Planos de

Abastecimento de Carnes implantados pelo governo brasileiro, para dar solução às questões

sobre o rebanho e sobre o abastecimento interno, e são utilizados para buscar a evolução do

setor de abates, especialmente das charqueadas.

Na quarta seção, apresenta-se, dentro do Plano SALTE, o Plano de Interiorização

de Matadouros Frigoríficos em Regiões Geoeconômicas Adredemente Estudadas, implantado

no início da década de 1950, o qual buscava dar soluções estruturais para o problema de

abastecimento interno da carne e de modernização do setor de abates.

Na quinta seção, trataremos dos novos entraves impostos às exportações

brasileiras e da publicação de moderna norma federal relativa ao setor de abates, e no último

tópico, apresentamos as políticas públicas implantadas pelo governo de São Paulo, para o

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66

desenvolvimento da pecuária e da tecnologia da carne, o qual já possuía o maior parque

frigorífico do país.

3.1 Evolução das exportações de carne bovina em função da Segunda Guerra Mundial e

seus entraves e efeitos sobre o mercado interno

Até 1939, as quotas para importação de carnes frigorificadas da Grã-Bretanha

foram reduzidas em no mínimo 5% para as importações provenientes da Argentina, Uruguai e

Brasil, e o restante seria reservado aos países membros da Conferência Imperial Britânica.

Observa-se que a carne brasileira enfrentou uma série de obstáculos ao longo da década de

1930: “Autarquias, escassez de divisas, quotas, em uma palavra, dirigismo econômico,

monetário e financeiro, índices todos de uma economia estratégica vigente entre as mais

poderosas nações do globo.” (ALMEIDA, 1942, p. 82).

Somando-se o volume total de carnes refrigeradas e congeladas, em conserva e

charque, exportado pelo Brasil, em 1939, a Grã-Bretanha era o principal importador,

adquirindo 50%. Nas carnes refrigeradas e congeladas, o segundo maior importador era a

França, com 15%, seguida pela Itália com 9%, enquanto que a Grã-Bretanha adquiriu 66% do

total exportado desses tipos de carnes. Analisando-se apenas a exportação de carne em

conserva, o principal importador era os Estados Unidos, com 64% do volume, e em segundo

lugar, a Grã-Bretanha, com 31% das importações (Tabela 3.1.1; Tabela 3.1.2).

O Brasil Central Pecuário exportou mais carne refrigerada e congelada do que o

Rio Grande do Sul, e menos em conserva. O preço médio, pago por tonelada de carne

frigorificada proveniente de São Paulo, era superior, em média, 300 mil réis ao preço pago

pelo mesmo tipo proveniente do Rio Grande do Sul. Assim, o preço médio pago em 1939, por

tonelada de carne resfriada de São Paulo era de Rs. 2:500$000, do Rio Grande do Sul de Rs.

2:260$000. A congelada exportada de São Paulo era de Rs. 2:000$000, do Rio Grande do Sul

1:850$000. Já o preço pago pela tonelada da enlatada proveniente do Rio Grande do Sul era

superior a proveniente do Brasil Central (KAMPRAD, 1941a, 1941b)

O Brasil possuía o quarto maior rebanho bovino do mundo (KAMPRAD, 1941a)

ficando atrás da Índia, União Soviética e Estados Unidos (Tabela 3.1.3). As indústrias

frigoríficas da carne eram a segunda maior em valor da produção, na economia brasileira. A

capacidade de abate diário em São Paulo era de 4.740 bovinos e de 4.100 suínos; no Rio

Grande do Sul, de 3.500 bovinos e 3.400 suínos; e no Rio de Janeiro, de 500 bovinos e 200

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67

suínos. O valor das exportações de carne, couro e derivados era superior a 300 mil contos de

réis por ano (SIMONSEN, 1939).

Tabela 3.1.1: Brasil - Exportação de carne bovina resfriada e congelada, por países de destino, volume e valor, 1936 a 1940

Destino Unidade 1936 1937 1938 1939 1940

Grã-Bretanha

Tonelada 23.189 25.281 24.797 28.847 63.708 Milréis 28.938.839 37.967.207 52.809.268 68.124.543 160.503.048

França Tonelada 1.933 6.841 3.460 6.725 24.594 Milréis 2.509.001 9.240.001 5.772.974 14.078.346 52.573.664

União Belgo-Luxemburgo

Tonelada 2.102 2.480 2.439 2.413 3.230 Milréis 2.642.141 3.605.037 4.012.866 4.080.024 7.385.532

Itália Tonelada 19.500 4.587 3.529 3.832 1.848 Milréis 24.738.274 6.747.350 6.134.784 6.806.464 4.629.601

Gibraltar Tonelada 158 135 234 777 370 Milréis 209.929 212.248 471.245 1.460.351 778.789

Subtotal Tonelada 46.882 39.324 34.459 42.593 93.750 Milréis 59.038.184 57.771.843 69.201.137 94.549.728 225.870.634

Outros países Tonelada 6.446 24.077 8.518 948 202 Milréis 8.440.100 34.975.523 13.206.187 1.701.416 541.987

Total

Tonelada 53.328 63.401 42.978 43.541 93.952

Milréis 67.478.284 92.747.366 82.407.324 96.251.144 226.412.621 Fonte: Brasil (1941, p. 174).

Tabela 3.1.2: Brasil - Exportação de carne bovina em conserva, por países de destino, volume e valores, 1936 a 1940

Destino Unidade 1936 1937 1938 1939 1940

Grã-Bretanha

Tonelada 4.464 1.198 1.404 10.710 35.781 Milréis 11.232.027 2.046.957 3.100.804 35.704.157 177.508.900

Estados Unidos

Tonelada 830 6.754 12.775 21.876 8.358 Milréis 2.272.494 16.749.667 37.691.708 68.085.891 27.113.172

União Sul-Africana

Tonelada 20 17 144 62 779 Milréis 58.456 54.818 425.714 332.555 4.601.228

Canadá Tonelada - - 1.999 693 644 Milréis - - 4.288.644 2.174.930 2.715.264

Moçambique Tonelada 2 97 30 21 266 Milréis 6.803 257.726 116.208 88.996 1.305.051

Subtotal Tonelada 5.317 8.066 16.352 33.362 45.828 Milréis 13.569.780 19.109.168 45.623.078 106.386.529 213.243.615

Outros países Tonelada 14.488 14.254 4.611 999 542 Milréis 41.531.375 26.487.134 9.762.418 3.487.099 2.466.841

Total

Tonelada 19.805 22.319 20.964 34.361 46.370

Milréis 55.101.155 45.596.302 55.385.496 109.873.628 215.710.456 Fonte: Brasil (1941, p. 175).

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Em 1939 a exportação de produtos e subprodutos de origem animal ocupava o

terceiro lugar, em valor, nas exportações brasileiras, sendo inferior somente ao café e ao

algodão. O valor total das exportações desses produtos e subprodutos de origem animal foi de

582.444:000$000 (KAMPRAD, 1941a).

Tabela 3.1.3: Rebanho bovino - Número de animais existentes nos países com os seis maiores rebanhos, 1935 a 1945 (1.000 cabeças)

Ano Índia U.S.S.R. Estados Unidos

Brasil Argentina China Alemanha França

1926-1930 (média)

190.379 64.900 59.191 47.492 32.212 23.000 17.776 14.886

1931-1935 (média)

202.726 43.740 68.361 44.178 31.540 23.000 19.134 15.616

1935 214.109 49.300 68.529 40.514 - 24.000 19.266 15.704 1936 211.153 56.500 67.929 - - 23.000 18.938 15.670 1937 211.269 57.000 66.803 40.861 33.207 - 20.088 15.762 1938 - 63.200 66.083 40.864 - - 20.504 15.805 1939 - - 66.029 40.745 - 23.000 19.934 15.622 1940 208.231 49.500 68.197 41.546 - 22.000 19.943 14.662 1941 - - 71.461 - 33.750 - 19.700 14.857 1942 - - 75.162 46.000 31.460 - 19.400 15.991 1943 - - 81.204 42.500 - - 19.102 16.282 1944 200.000 35.000 85.334 42.000 33.500 22.500 19.598 14.997 1945 200.000 37.800 85.573 42.000 34.010 22.000 20.286 13.960 Fonte: para os anos de 1926 a 1938, United States Department of Agriculture (1940, p. 346-348); para 1939 a 1942 (1945, p. 287-288); e de 1943 a 1945 (1947, p. 316-317).

Com a deflagração da Segunda Guerra Mundial, as exportações de carne brasileira

voltaram a crescer e a carne bovina ocupou o terceiro lugar entre os produtos brasileiros

exportados, gerando 809.414 contos de réis (MENEZES, 1942) (Tabela 3.1.4). As

exportações para França e Inglaterra, atingiram 96 mil toneladas, e o Brasil tornou-se o quinto

maior produtor e exportador mundial de carne bovina frigorificada, e o terceiro maior

produtor e exportador de carnes enlatadas (SUZIGAN, 2000).

O mesmo não ocorreu com o charque, que decresceu justamente pelo aumento da

produção e exportação da carne frigorificada. De acordo com Menezes (1942), em 1940, o

Brasil exportou 217 toneladas de charque, o que totalizou 708 mil contos de réis, e importou

1.163 toneladas, o que correspondeu a 3.397:000$000 (Tabela 3.1.5). Vigorava o Tratado de

Navegação e Comércio entre o Brasil e Uruguai, o qual permitia a entrada de até 2.000

toneladas de charque uruguaio anualmente, sem impostos de importação (ALMEIDA, 1942).

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A grande demanda gerada pela Segunda Guerra Mundial, provocou a falta de charque para o

Nordeste, Norte e outros pontos do país, sendo esse o alimento principal das regiões citadas,

estimulando a importação.

Tabela 3.1.4: Brasil - Exportação de carne, 1939 a 1949 (tonelada)

Ano

Carne frigorificada Conservas enlatadas e carnes preparadas (bovina,

suína e ovina) Total Bovina Suína Ovina Subtotal 1939 - - - 48.694 37.715 86.409 1940 93.952 5.178 861 99.991 48.125 148.116 1941 39.314 4.834 - 44.148 64.066 108.214 1942 53.344 4.915 - 58.259 69.852 128.111 1943 16.266 121 432 16.819 41.478 58.297 1944 8.751 23 530 9.304 25.848 35.152 1945 867 897 302 2.076 21.822 23.898 1946 9.108 34 1.250 10.392 37.430 47.822 1947 16.266 136 490 18.453 15.876 34.329 1948 20.226 - 621 29.847 23.112 43.959 1949 24.248 - - 24.248 9.082 33.330 Fonte: para 1939, Pardi (1966 apud PARDI, 1996, p. 46), inclusive miúdos e miúdos em conserva; para os demais anos: Anuário Estatístico do Brasil/SIPAMA (apud CALDAS, 1977), incluindo miúdos.

Tabela 3.1.5: Brasil - Exportação de charque, por países de destino, volume e valores, 1936 a 1940

Destino Unidade 1936 1937 1938 1939 1940

Trinidad

Tonelada 351 334 355 354 172 Milréis 811.123 720.952 942.513 1.016.490 574.064

Bolívia Tonelada - - - 0,430 27 Milréis - - - 1.548 75.221

Perú Tonelada - - - 0,469 4 Milréis - - - 1.434 16.566

Portugal Tonelada 7 8 8 20 4 Milréis 16.879 20.406 22.686 55.936 15.141

Grã-Bretanha Tonelada 90 57 28 3 6 Milréis 218.375 127.532 74.102 9.247 12.794

Subtotal Tonelada 449 400 391 378 213 Milréis 1.046.377 868.890 1.039.301 1.084.655 693.786

Outros países Tonelada 480 468 479 401 4 Milréis 1.061.299 1.100.994 1.234.570 1.080.864 14.520

Total

Tonelada 929 867 870 779 218

Milréis 2.107.676 1.969.884 2.273.871 2.165.519 708.306 Fonte: Brasil (1941, p. 174).

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O crescimento das exportações, exclusive o charque, como na Primeira Guerra

Mundial, provocou o desfalque no rebanho brasileiro. Crises na pecuária, nos

estabelecimentos de abate e no abastecimento de carne dos grandes centros de consumo

brasileiros ocorreram (CALDAS, 1977). Em 1942, o governo brasileiro precisou novamente

intervir no setor, limitando em 15% o percentual de fêmeas entre os animais a serem abatidos,

enquanto que nas charqueadas, esse percentual variava de 35 a 70%, dependendo do estado ou

região em que estavam localizadas, sendo que o abate de bezerras aptas à reprodução foi

proibido. Em setembro, após a declaração de Estado de Guerra em todo o território nacional,

todos os recursos econômicos brasileiros foram mobilizados, através da Coordenação da

Mobilização Econômica, incluindo a pecuária e a carne produzida, tanto para o mercado

interno quanto para o externo (BRASIL, 1942a; 1942b; 1942c; 1942d), e as exportações

caíram drasticamente (Tabela 3.1.4).

Quando da expedição da primeira portaria pela recém-criada Comissão da

Mobilização Econômica, o assunto tratado era o fornecimento da carne bovina para o Rio de

Janeiro e para a cidade de São Paulo, localidades que vinham passando por um abastecimento

irregular ou insuficiente. O preço da arroba foi tabelado por todo o período da guerra e foi

estipulado bônus para animais com peso acima de 250 quilos de peso morto, com o objetivo

de incentivar os pecuaristas à produção do animal tipo exportação, e estabelecidas quotas de

abate para os estabelecimentos que abastecessem o Rio de Janeiro, sendo que São Paulo já

possuía quotas diárias de abate estabelecidas. Os cortes e partes da carcaça também foram

tabelados tanto para o açougueiro quanto para o consumidor, e ficou estabelecida a formação

de estoques dentro dos estabelecimentos de abate.

Ainda no mesmo ano, o Brasil Central teve suas exportações interrompidas para

assegurar o abastecimento do mercado interno (BRASIL, 1942e). Somente o Rio Grande do

Sul pôde exportar quotas determinadas que eram estipuladas pelo Instituto Sul-Riograndense

de Carnes e autorizadas pela Coordenação da Mobilização Econômica. A oferta de gado

estava baixa e os preços elevados, além disso, ocorria a retenção de animais terminados no

pasto, e o governo brasileiro queria evitar lucros excessivos por parte dos pecuaristas e

marchantes, assim, autorizou os governos estaduais a requisitarem os animais para serem

abatidos, sempre que houvesse necessidade de abastecer o consumo local (BRASIL, 1942f).

Houve tabelamento do charque; estabelecimento de quotas de carne congelada que

deveriam ser entregues pelos frigoríficos, durante o período de entressafra, no Rio de Janeiro;

foram especificados dias da semana em que a carne deveria ser entregue em Minas Gerais,

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São Paulo, Distrito Federal e Rio de Janeiro; a importação de carne ovina do Rio Grande do

Sul de forma a suprir a baixa oferta de carne bovina para o abastecimento do Rio de Janeiro e

São Paulo foi estimulada; reembolso de frete ferroviário tanto da carne quanto do gado

destinado ao Rio de Janeiro, assim como isenção de imposto para a carne que entrava nesse

mesmo local; e novas determinações de quotas de animais que poderiam ser adquiridas pelos

frigoríficos e matadouros (BRASIL, 1943a; 1943b; 1943c; 1943d; 1943e; 1943f).

De dezembro de 1943 até o fim de 1944, ano em que, mesmo com todas essas

ações a crise de abastecimento viria a atingir seu ápice e a produção de carne bovina seria a

menor de todos os tempos, tanto que para abastecer as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo,

foi necessário importar carne argentina (LINHARES, 1946), as importações de carne bovina

foram isentadas de taxas alfandegárias e nesse momento a própria Coordenação da

Mobilização Econômica poderia requisitar gado nos pastos do Brasil Central (Tabela 3.1.6).

Em abril de 1944, o abate de vitelos ficou limitado a 10% do total de animais abatidos,

enquanto que o de vitelas continuou proibido. Mas a situação agravava-se cada vez mais na

metade de 1944, ao ponto de três dias da semana, o fornecimento de carne fresca ser suspenso

e de cada consumidor passar a ter um Registro de Consumidor no Rio de Janeiro, através da

instituição do racionamento da carne in natura (BRASIL, 1943g; 1943h; 1944b; 1944d;

1944e; 1944f; 1944g; 1944h).

No final de 1944, as requisições de gado foram suspensas e foram proibidas a

abertura de novas charqueadas e o funcionamento das que não estavam sob inspeção federal

nos estados do Brasil Central, Rio de Janeiro e Espírito Santo (BRASIL, 1944i). Com o

encerramento da Segunda Guerra, a Coordenação da Mobilização Econômica foi extinta no

final de 1945. A partir de janeiro de 1946, a Divisão de Inspeção de Produtos de Origem

Animal, do Departamento Nacional da Produção Animal do Ministério da Agricultura, passou

a elaborar os planos de abastecimento de carnes (BRASIL, 1945, 1946c).

Neste período, houve uma grande polêmica sobre o que de fato teria gerado o

desfalque no rebanho brasileiro: se por abate excessivo para exportação, entre os anos 1940-

1942; ou pelo abate exagerado de vacas e vitelas; ou pelo fato de ter aumentado o consumo

interno; ou por ter havido uma menor produção de charque no Rio Grande do Sul, já que a

produção de carnes frigorificadas foi privilegiada.

Para Brito (1944, p. 16), o problema era decorrente de estimativas irreais e muito

otimistas realizadas pelo Ministério da Agricultura, que apontavam dados sobre o número de

cabeças existentes no rebanho brasileiro, maiores do que os reais. Tal superestimativa deu

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suporte ao número de animais enviados para o abate e consequentemente dizimou parte do

rebanho. O autor acreditava ser urgente a realização de um censo pecuário.

Tabela 3.1.6: Brasil - Rebanho, número de animais abatidos, produção de carne e valor da produção de carne de bovinos (1936-1967)

Ano Rebanho efetivo

Bovinos abatidos Produção de carne

Número Peso das carcaças (t) Quantidade (t) ValorI

1936 - 4.551.000 - 853.688 1.221.122 1937 - 4.683.000 - 883.683 1.314.676 1938 40.076.000 4.271.000 - 793.915 1.364.505 1939 - 4.280.000 - 785.580 1.549.377 1940 34.392.000 5.596.000 - 766.003 1.651.032 1941 - 4.751.000 - 781.635 1.803.439 1942 - 4.979.000 - 803.056 2.193.392 1943 - 4.592.000 - 682.943 2.248.950 1944 - 4.036.000 - 625.733 2.594.142 1945 44.574.000 4.202.000 - 636.907 3.078.538 1946 46.358.000 4.875.000 - 735.863 3.872.868 1947 47.927.000 5.204.000 - 799.871 4.507.166 1948 50.089.000 5.829.000 - 910.292 5.277.784 1949 51.937.000 6.023.000 - 954.664 6.016.407 1950 52.655.000 5.965.000 - 955.956 6.686.672 1951 53.513.000 6.452.000 - 1.002.765 8.604.335 1952 55.854.000 6.003.000 - 974.620 10.772.220 1953 57.626.000 6.245.000 - 984.813 13.112.574 1954 60.700.000 6.171.000 - 1.003.411 17.013.089 1955 63.608.000 6.031.000 - 992.432 23.357.518 1956 66.695.000 6.574.000 - 1.076.825 28.509.844 1957 69.548.000 7.033.000 - 1.156.545 31.854.388 1958 71.420.000 7.857.000 1.473.381 1.285.159 40.056.227 1959 72.829.000 7.783.000 1.458.922 1.261.076 55.641.253 1960 73.962.000 7.207.000 1.359.217 1.196.842 88.528.558 1961 76.176.000 7.141.000 1.369.078 1.192.888 128.250.037 1962 79.078.000 6.989.000 1.355.958 1.183.275 204.401.679 1963 79.855.000 7.065.000 1.360.928 1.191.969 339.479.139 1964 84.167.000 7.523.000 1.437.185 1.259.426 664.368.575 1965 90.505.000 7.843.000 1.496.849 1.312.119 1.085.564.055 1966 89.969.000 7.608.000 1.452.331 1.295.826 1.730.156.547 1967 89.896.000 7.810.000 1.505.502 1.348.840 2.127.423

Fonte: IBGE (1990). I: Até 1941, valores em conto de réis; de 1942 a 1966, valores em milhares de cruzeiros correntes de acordo com o padrão monetário de 1942; em 1967, milhares de cruzeiros “Novos” segundo o padrão monetário de 1967.

Até o momento da publicação de Brito, tinham sido realizados um Censo Pecuário

em 1912 e um Censo Agrícola em 1920. Nos anos de 1940 e 1941, foram coletados os dados

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do Censo Agrícola 1940, que teriam seus resultados divulgados somente em 1950 (IBGE,

2016b). Brito (1944, p. 16) é o primeiro autor a colocar em dúvida os números oficiais sobre o

rebanho, os quais serão até os dias atuais, motivo de discussões.

Para Menezes (1942, p. 64-65), o fator principal da incapacidade do rebanho em

suprir a demanda gerada pela exportação e pelo abastecimento do mercado interno, era a

baixa produtividade da pecuária brasileira. A partir de dados do Instituto Internacional de

Agricultura, observava-se que, na França e na Rússia a taxa de desfrute era superior a 50%, e

em países como Alemanha, Polônia e Grã-Bretanha, era de 30%, enquanto que, no Brasil o

valor transitava em algo inferior a 13%, o que representava a disponibilidade de 6 milhões de

cabeças ano. 23 Para Menezes, o elevado coeficiente de mortalidade de bezerros (animais com

menos de 1 ano de idade), que no Pará, por exemplo, era de 60%, e no Vale do Paraíba em

torno de 30 a 35%, sendo que no país, de forma geral, os dados eram assim elevados,

impediam a expansão do rebanho nacional (SOCIPE apud MENEZES, 1942 p. 64-65).

De acordo com Corrêa (1983, p. 22), a eficiência reprodutiva do rebanho

composta pela taxa de natalidade, taxa de mortalidade dos bezerros, idade da primeira

parição, tempo de intervalo entre partos, em conjunto com, a idade em que os animais são

enviados ao abate, influenciam diretamente os índices que apontam a produtividade do

rebanho, que são a taxa de desfrute, a taxa de abate, o rendimento da carcaça e o peso da

carcaça.

Não se deve confundir taxa de desfrute com taxa de abate, como ocorre comumente. Taxa de desfrute é a relação entre o número de animais disponíveis para a venda (fêmeas para reprodução e machos e vacas descartadas para abate) e o efetivo do rebanho, enquanto que taxa de abate é a relação entre o número de cabeças abatidas, ou vendidas para o abate, e o efetivo total. Para este fim, não se computam, no efetivo, os bezerros de menos de um ano. [...]. Nos rebanhos estabilizados, a taxa de desfrute mede a capacidade real de produção, mas, nos rebanhos em evolução, deve-se acrescentar ao desfrute, a taxa de crescimento. Note-se, ainda, que a nível de fazenda, ou mesmo de região, a taxa de desfrute é maior do que a de abate; mas, a nível de país, as duas taxas se igualam. (CORRÊA, 1983, p. 23-22).

Mas, para julgar a produtividade do rebanho brasileiro, as estatísticas novamente

necessitam ser analisadas e os dados são pouco confiáveis para obter-se uma conclusão

23 A taxa de desfrute da pecuária brasileira em 1980 era de 11,7%, inferior a da primeira metade do século XX. Em 1990 ela aumentou, atingindo 16,5%, e 17,8% em 1995 (JANK, 1996). Em 2003 ela estava em 19,9% (BUAINAIN e BATALHA, 2007), portanto ainda é muito baixa quando comparada as taxas dos países citados, há mais de sessenta anos atrás.

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realista, além de apresentarem grande variação (IEL, CNA E SEBRAE, 2000, p. 85-87). Em

relação ao número de animais abatidos, necessário para o cálculo das taxas anteriormente

citadas, uma boa parte não é contabilizada, considerada como abate clandestino e ainda ocorre

a ocultação de informações reais em estabelecimentos legalizados.24 De acordo com Ramos

(2005, p. 70-71), existe a sonegação das informações em todas as etapas da produção: cria,

recria, engorda e abates, e ainda alerta que se as informações estão subestimadas, a

responsabilidade sobre isso, não é do órgão oficial que levanta os dados e sim dos

informantes.

3.2 Conflitos entre pecuaristas e frigoríficos estrangeiros

Pelo lado dos pecuaristas, os efeitos da Segunda Guerra repercutiram na

remuneração do animal terminado. Os navios cargueiros de transporte marítimo eram muito

visados e mais escassos, para otimizar o transporte e por exigir menor controle ambiental, os

frigoríficos voltaram-se exclusivamente para a produção do corned beef, o qual utiliza

matéria-prima de qualidade inferior ao chilled beef, gerando a queda do preço dos animais,

assim o preço pago pelo animal chilled estava muito próximo ao do tipo conserva. Ademais, a

definição de tais tipos se dava de maneira empírica, sem nenhuma regulamentação, enquanto

Argentina, Uruguai, Austrália e África do Sul tinham seus próprios técnicos, formados em

Chicago e Smithfield, capacitados para realizarem a classificação das carcaças, desde o tipo

graxaria a baby-beef, possibilitando um melhor direcionamento no desenvolvimento genético

do rebanho e uma melhor remuneração ao pecuarista, o Brasil apresentava-se completamente

atrasado (ASSIS, 1942; GOUVÊA, 1942; JORDÃO, 1942).

Mesmo sem nenhuma regulamentação, antes da guerra, o gado chilled beef

recebia remuneração superior aos demais, já que seu destino era o internacional, assim era

visto como uma oportunidade pelos pecuaristas de serem mais remunerados por estes animais

de qualidade superior, porém, durante a guerra, a melhor remuneração não ocorreu, já que a

demanda era para a produção de conservas. Isso repercutiu no valor dos animais de reposição,

já que a baixa remuneração da fase de terminação, também pressionou o preço do boi magro e

do bezerro, impactando toda a pecuária (SINDICATO DOS INVERNISTAS E CRIADORES

24 Quando se confronta o número de couros crus inteiros percebe-se que, abate-se muito mais do que os dados oficiais apontam. Como os estados tributam através do Imposto sobre Circulação de Mercadorias, existe a sonegação de informações do real número de abates. Para mais informações ver IEL, CNA E SEBRAE (2000, p. 85-87) onde se aborda a Pesquisa Anual do Couro (PACo) e a Pesquisa Mensal de Abate (PMA), ambas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

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DE GADO DE BARRETOS, 1942). Os pecuaristas sentiram-se reféns dos frigoríficos de

capital estrangeiro atuantes no Brasil, estando dependentes somente deles para o escoamento

da sua produção e para a manutenção da pecuária nacional (ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E

INDUSTRIAL DE BARRETOS, 1942).

Em 1940, quando ocorreu a maior exportação de carnes e derivados (incluso

couro e peles) da história da pecuária brasileira, até aquele momento, no valor de 465.812

contos de réis, mais o item considerado “outros de matadouros”, de 48.361 contos de réis,

totalizando 514.173 contos de réis, e o valor da tonelada exportada teve um aumento de

404$000 contos de réis em relação ao ano anterior, os pecuaristas compraram gado magro de

260$000 até 350$000, e se do tipo chilled, por mais de 300$000, em 1939. No primeiro

semestre de 1940, a arroba foi comercializada entre 24$000 a 27$000, situação que na visão

dos pecuaristas, beneficiava somente a indústria (Tabela 3.2.1) (SINDICATO DOS

INVERNISTAS E CRIADORES DE GADO DE BARRETOS, 1942).

Tabela 3.2.1: Brasil - Exportações de carne em geral, volume, valor, preço da tonelada e índice de preço

Ano Volume (tonelada)

Valor (contos de réis)

Preço da tonelada (contos de réis)

Índice de preço da tonelada exportada

1934 53.258 79.734 1:397$000 100 1935 72.370 114.429 1:581$000 105 1936 84.161 147.588 1:753$000 117 1937 100.659 174.442 1:733$000 115 1938 80.180 186.773 2:329$000 155 1939 83.989 221.961 2:838$000 189 1940 148.119 465.812 3:242$000 216 Fonte: de 1934 a 1937, dados oficiais de exportação de carnes e derivados (produtos de matadouro) apud Sindicato dos Invernistas e Criadores de Gado de Barretos (1942, p. 110). De 1938 e 1939 do Serviço de Estatística de Economia e Finanças do Ministério da Fazenda, divulgados na Folha de Minas em 8 de março de 1941, Belo Horizonte, movimento de exportação de carnes (resfriadas e congeladas), em conserva e seca (charque), excetuados os outros de matadouros e também para dados referentes a preços de tonelada apud Sindicato dos Invernistas e Criadores de Gado de Barretos (1942, p. 110).

Também contribuía para o rebaixamento dos preços dos animais, de acordo com

os pecuaristas, o enorme percentual de gado abatido do tipo chilled de propriedade dos

próprios frigoríficos, sendo que em 1937, por exemplo, o Frigorífico Anglo, de Barretos,

abateu mais gado chilled de produção própria do que o adquirido dos pecuaristas (Tabela

3.2.2). A área de pastagem pertencente aos frigoríficos estrangeiros comprovava a sua

verticalidade, já que o Armour possuía 4.910 alqueires paulistas; o Wilson (Continental

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Products) 8.871, sendo as terras de ambos, localizadas no Estado de São Paulo (Tabela 3.2.3)

(SINDICADO DOS INVERNISTAS E CRIADORES DE GADO EM BARRETOS, 1942).

Kamprad (1941b) afirma que os frigoríficos estrangeiros eram os maiores criadores,

recriadores e invernistas do país.

Tabela 3.2.2: Gado tipo chilled beef abatido pelo frigorífico Anglo de acordo com procedência, número absoluto e participação (1936-1939)

Fonte: Sindicato dos Invernistas e Criadores de Gado de Barretos (1942, p. 107).

Tabela 3.2.3: Área de pecuária dos frigoríficos Armour, Wilson e Anglo e respectivas capacidades de terminação

Frigorífico Área (alqueire paulista) Capacidade de terminação (número de animais)

Armour 4.910 8.000 Wilson 8.871 15.000 Anglo 180.000 100.000 Total 184.910 123.000 Fonte: Sindicato dos Invernistas e Criadores de Gado de Barretos (1942, p. 102, 115).

A The Lancashire General Investement C.° Ltda. possuía algo em torno de 180

mil alqueires paulistas que estavam concedidos ao Frigorífico Anglo, sob a forma de

comodato, ou seja, sem cobrar nada, e estavam distribuídos da seguinte forma: 111.925

alqueires paulistas no Mato Grosso; 3.076 em Goiás; e 63 mil no estado de São Paulo. Os

campos de GO e MT eram principalmente para a cria e a recria, e os de SP para a terminação.

Os pecuaristas consideravam o Anglo como o frigorífico de maior verticalidade, pois suas

pastagens no MT tinham capacidade, para produzir 20 mil cabeças anualmente, já que a

média de produção era de 2 por 10 alqueires ano, sendo esta uma média pequena,

comparativamente a outras regiões do Brasil. Em Goiás, na área destinada à recria, a Anglo

poderia produzir 12 mil cabeças ano, já que a média era de 6 por alqueire ano. Em São Paulo,

Ano Anglo Northen Camps Invernistas nacionais

Total de animais

abatidos Número de animais

% Número de animais

% Número de animais

%

1936 30.475 42,6 9.194 12,8 31.735 44,5 71.404 1937 22.040 44,1 7.912 15,8 20.046 40,1 49.998 1938 20.230 33,2 11.920 17 34.776 49,8 66.926 1939 (até maio) 15.328 35,1 11.533 26,3 16.810 38,6 43.671

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na área total de 63 mil alqueires, podia-se produzir muito mais do que 100 mil cabeças ano, já

que a média era de 2 a 3 por alqueire. O Wilson teria capacidade para produzir 15 mil cabeças

ano, e a Armour, 8 mil. No total, os três poderiam produzir anualmente mais de 120 mil

cabeças de gado (SINDICADO DOS INVERNISTAS E CRIADORES DE GADO EM

BARRETOS, 1942).25

Em 1936, 44,5% da área de invernagem de gado no município de Barretos

pertencia a pecuaristas nacionais. Em 1939, houve uma redução para 32%, enquanto o Anglo

possuía 35% e a Northern Camps26 26%. O município de Barretos possuía em 1940, 65.000

alqueires de pastagem, sendo que 12.160 eram dos frigoríficos estrangeiros, o que não

encontrava situação semelhante em nenhum outro município do país. Ainda, toda a região em

torno de Barretos, incluindo outros municípios, tinha capacidade para produzir 550 mil

cabeças anualmente. Nesse ano, foram abatidos no município de Barretos, 272.391 bovinos e

embarcados vivos 225.262 animais, fora outros não contabilizados, desse total de 550 mil,

100 mil foram terminados pelos frigoríficos internacionais (KAMPRAD, 1941a;

SINDICATO DOS INVERNISTAS E CRIADORES DE GADO DE BARRETOS, 1942).

A prática dos frigoríficos era a de terminar sua própria recria, assim como adquirir

gado magro no mercado e engordá-lo, compondo estoques que possibilitavam maior margem

de manobra na negociação do gado gordo, no momento de adquiri-lo de pecuaristas A

abrangência do frigorífico era tão grande que, para as charqueadas conseguirem animais para

abater, necessitavam ir até às fazendas de pecuaristas e pagar adiantado o animal que viriam a

abater. Para Kamprad (1941b) os efeitos da ação vertical dessas indústrias eram percebidos na

redução do abastecimento de carne para o mercado interno e no escoamento de todos os

lucros para o exterior, mantendo a pecuária nacional em uma pobreza indevida. A carne

passou a ter um preço internamente elevado, em função dos lucros excessivos obtidos pelos

frigoríficos, prejudicando tanto o pecuarista quanto o consumidor nacionais. Segundo Zalecki

(1938 apud KAMPRAD, 1941b, p. 83) a rentabilidade obtida pelos frigoríficos era de 160%

ao ano.

25

A título de comparação com tempos mais recentes, de acordo com Teixeira et all., em trabalho publicado em 2004, o Grupo Bertin possuía áreas de confinamento de gado em Goiás e São Paulo com capacidade para terminar 31.000 cabeças de gado. 26

A Northen Camps era uma empresa inglesa (SINDICATO DOS INVERNISTAS E CRIADORES DE GADO DE BARRETOS, 1942).

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A atuação dos frigoríficos na atividade pecuária, incomodava os pecuaristas que

afirmavam que a “A própria etimologia da palavra frigorífico indica que a empresa que o

explora não pode ser uma invernista, nem criadora ou recriadora de gado.” (SINDICATO

DOS INVERNISTAS E CRIADORES DE GADO DE BARRETOS, 1942, p. 112), que seu

objetivo era a atividade industrial e que deveria restringir-se a tal, ainda mais se afetava os

negócios dos pecuaristas. De outra maneira, se não se proibisse completamente que eles

exercessem atividades pecuárias, elas deveriam ao menos ser restringidas à formação de um

pequeno estoque, quando houvesse redução da oferta (GOUVÊA, 1942). O Sindicato dos

Invernistas Criadores de Gado de Barretos (1942) alegava que, na Argentina, somente dois

frigoríficos praticavam a pecuária, e que seus rebanhos não eram tão expressivos ao ponto de

afetarem o mercado, além disso, existiam leis que regulamentavam a pecuária de forma a

resguardar o bom andamento do mercado. Nos Estados Unidos, também existia uma

legislação proibindo que os frigoríficos investissem em pecuária.

Como resultado dos apelos feitos pelos pecuaristas, sobre a verticalidade da

atividade dos frigoríficos expressada no 1º Congresso de Pecuária do Brasil Central, Getúlio

Vargas regulamentou em 1942, a recria e engorda por pessoas físicas ou jurídicas que

explorassem a indústria de carnes frigorificada. Assim, tais indústrias não poderiam abater

animais recriados ou engordados em suas propriedades, em proporção superior à média

abatida em 1940/1941 da mesma procedência, a não ser que fossem animais de cria própria ou

então que fossem de cooperativas de produtores (BRASIL, 1942g). Para Pardi (1996, p. 136),

há indícios de que os técnicos do Serviço de Inspeção Federal não foram chamados á

participar do processo de elaboração desta regulamentação, o que acabou por determinar que

ela não tivesse nenhum efeito real. Em 1944, o próprio Getúlio suspendeu a regulamentação

até o final de 1945 (BRASIL, 1944a).27

27 O mesmo tipo de intervenção também aconteceu na quantidade de cana-de-açúcar de produção própria que as usinas de açúcar poderiam moer a partir de 1936. Ramos (1991, p. 106-38) apresenta um detalhamento muito interessante e uma análise profunda de quais eram as reais intenções do Governo Getúlio Vargas ao realizar este tipo de intervenção estatal. Ramos aponta que, na verdade, o Governo estava interessado em resolver um conflito social dentro do complexo canavieiro defendendo os interesses dos Senhores de Engenhos que estavam sendo expropriados em decorrência do que ele denomina de “processo usineiro”, especialmente no Pernambuco, o qual consistia na intensificação da integração vertical da atividade usineira e do cultivo da cana, que teve como consequência o aumento da propriedade fundiária pelos usineiros, o aumento da produção do açúcar de usina em detrimento do de engenho e a diminuição da necessidade de adquirir cana-de-açúcar de terceiros para a produção do açúcar de usina. Em São Paulo, a intervenção estatal quanto à concessão de quotas de cana a ser moída, terá uma repercussão tão profunda quanto em Pernambuco, apesar de não haver no primeiro estado, os Senhores de Engenho como existia no segundo, já que as terras em que a cana se expandiu eram remanescentes da lavoura do café. Em São Paulo, ao definir, em 1941, a condição de fornecedor, incluindo os que cultivavam a cana e que já

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Havia ainda, por parte dos pecuaristas, a suspeita da formação de cartel entre os

frigoríficos, motivo pelo qual acreditavam que os preços pagos pelos animais estavam

baixos.28 Em 1940, o Anglo havia exportado 13.200 toneladas; o Swift, 13.800; o Armour,

12.000; e o Wilson, 6.800, somente corned beef (ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E

INDUSTRIAL DE BARRETOS, 1942). Segundo Menezes (1942, p. 65-66), a distribuição

das quotas de exportação era decidida pelo “[...] monopólio das diretorias das companhias

reunidas em Londres que, atendendo às suas conveniências, as distribuem pelas suas

empresas, sem a menor atenção às suas congêneres nos países em que trabalham.”

Kamprad (1941b) afirma que a maioria dos frigoríficos pertencia ao Cartel

Internacional de Carnes. Segundo o autor, a pesquisa realizada pela Sociedade das Nações,

apontava que esse Cartel atuava no controle de mais de 500 sociedades comerciais nos

Estados Unidos, e por volta de 40, no Canadá, Argentina, Brasil e Uruguai, dominando mais

que a metade da produção da carne mundialmente exportável. O grupo Vestey Bros., o qual

também faz parte do cartel, aparece com nomes diversos publicamente, seja Weddel, Angliss,

Anglo e outros. Os componentes do cartel são proprietários de enormes rebanhos na América

do Sul, Nova Zelândia, Austrália e Rodésia (atual Zimbabwe), e controlam quase que

completamente os mercados importadores e distribuidores da carne. Assim como são

proprietários de linhas de transporte marítimo como a Blue Star Line.

Este gigantesco cartel reúne a organização horizontal e a vertical, criando desta forma uma rede econômica perfeita, garantidora de lucros extraordinários, devido ao

haviam feito remessas para as usinas nas três safras anteriores seguidas, mesmo não sendo proprietários das terras, o Estatuto da Lavoura Canavieira abriu precedentes para a alteração do status quo, o que não era o objetivo da intervenção estatal. Em 1944, nova legislação viria a resolver a situação criada pelo Estatuto e que incomodava os proprietários paulistas. Na presente dissertação, que tem o gado como matéria-prima, também vemos o Governo agindo como atenuador dos conflitos sociais existentes dentro do setor, mas suas intervenções no complexo canavieiro atingiram tal intensidade no período Getúlio Vargas que influenciarão a estrutura desse setor ao longo do seu desenvolvimento. Nesta dissertação, veremos diversas intervenções com o intuito de proteger o consumidor interno, como aconteceu também na cana, e controlar a perda de valor da moeda, tais medidas de tabelamento dos preços irão afetar negativamente a expansão do setor, em especial a partir da década de 1960, e causando refreamento no aumento da produtividade, por períodos superiores a no mínimo dez anos. 28 A discussão sobre a formação de cartel por parte das indústrias frigoríficas permanece no Brasil. Ver em IEL, CNA E SEBRAE (2000) e Perez (2003) onde há opinião de alguns pecuaristas de que há combinação de preço para a aquisição dos animais. A fraca relação de confiança e a presença de conflito entre pecuaristas e frigoríficos é presente desde o período relatado no presente trabalho até os dias atuais, sendo sempre destacada em trabalhos que verificam a competitividade da cadeia da carne bovina, independente de o capital proprietário do frigorífico ser nacional ou estrangeiro. Isso pode ser verificado nas duas publicações acima citadas e também em Jank (1996). Além da suspeita de combinação de preços, os pecuaristas, algumas vezes, sofrem calotes já que os pagamentos são realizados na maior parte das vezes, em até 30 dias, e com a exceção da formação de alianças mercadológicas, não há realização de contratos. Em 2002, foi apontada inclusive a presença de um chip no sistema da balança de um frigorífico influenciando o peso aferido durante a pesagem (ANUÁRIO DBO, 2003). Para mais detalhes sobre a formação de alianças mercadológicas ver, Perosa (1999).

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controle dos preços e à racionalização comercial. Dispondo de meios financeiros praticamente ilimitados, e de uma experiência extraordinária no terreno da política comercial, a rede dos frigoríficos estrangeiros pratica uma drenagem de lucros para o exterior, que gravemente prejudica não só o criador como o próprio conjunto econômico da nação. Emprega para a realização desta transferência todos os meios, entre os quais, avulta uma baixa fictícia de preços. A carne é vendida abaixo do seu preço real aos importadores estrangeiros, que a revendem a preços normais. Sendo estes importadores membros do trust, os lucros anormais verificados, revertem ao exportador. O prejuízo para a economia nacional é extraordinário. (KAMPRAD, 1941b, p. 83).

Nas primeiras décadas do século XX, o Anglo Vest tinha o domínio de 75% dos

abates realizados no Uruguai, 45% da Argentina, sendo que 70% das exportações de carne

destes países, era financiada pelo Bank of London. A Inglaterra possuía o monopólio do

transporte frigorífico marítimo de carne, e o capital inglês permaneceu no monopólio do

comércio mundial de carnes, até a Segunda Guerra Mundial, momento em que, os Estados

Unidos passam a despontar como nova referência da bovinocultura internacional (MIELITZ

NETTO, 1994).

Havia também o fato de que por o cartel dominar o mercado internacional da

carne, especialmente na Inglaterra, os frigoríficos nacionais que se organizavam para

exportar, encontravam muitas dificuldades em função da concorrência asfixiante, como estava

ocorrendo com o Frigorífico Nacional do Rio Grande do Sul (KAMPRAD, 1941b).29

Haviam duas teses sendo discutidas pelos pecuaristas durante a Segunda Guerra

Mundial, que buscavam resolver os problemas de abastecimento interno e o preço do gado. A

primeira era de que deveria ser criado um Frigorífico Nacional voltado para o mercado

interno, ficando o frigorífico de capital estrangeiro aqui instalado, restrito à produção de carne

para exportação. O frigorífico seria instalado em Barretos, sob a organização de uma

cooperativa de pecuaristas, através de empréstimo. Essa tese já havia sido levantada em 1936,

por Getúlio Vargas, na abertura da II Conferência Nacional de Pecuária (ASSOCIAÇÃO

COMERCIAL E INDUSTRIAL DE BARRETOS, 1942; SINDICATO DOS INVERNISTAS

E CRIADORES DE GADO DE BARRETOS, 1942).

Quero referir-me especialmente à formação cooperativista, à organização sindical, à reunião de todas as entidades de classe na confederação rural, já instituída.

29 O Frigorífico Nacional Sul Brasileiro Ltda. – FRIGOSUL, inicialmente voltado para o atendimento do mercado interno e destacando-se entre os nacionais em função do porte elevado, foi construído em 1937, em Canoas, ás margens do Gravataí, no Rio Grande do Sul, com capacidade diária para abater 850 bovinos além de suínos (PECEGO, 1969).

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Desse trabalho de colaboração, resultará uma das criações mais necessárias à prosperidade de vossa indústria – A fundação de um frigorífico nacional – livrando-nos da asfixia dos frigoríficos estrangeiros, todos eles comprometidos num “trust” que tem como atribuição, das principais, distribuir quotas de produção mundial, de acordo, apenas, com as necessidades de seus capitais. Urge a criação do Frigorífico Nacional. (PRESIDENTE GETÚLIO VARGAS, 1936 apud MENEZES, 1942, p. 63)

Naquele momento, dados apontavam que o consumo de Campinas, Santos, São

Carlos, Araraquara, Jundiaí, Rio Claro e Colina somados, totalizava 82.952 cabeças de gado

por ano. A cidade de São Paulo consumia anualmente 230.409 cabeças, enquanto que se

estimava que o Rio de Janeiro consumia 460.000 reses ano. No total, havia um consumo de

773.361 cabeças de gado por ano. O consumo per capita, nas capitais de São Paulo e Rio de

Janeiro, era de 47 quilos ano, o que seria distante do ideal recomendado na época, que era de

110 quilos por ano, demonstrando-se assim que o consumo ainda estaria reprimido, com

muito espaço para crescer, sendo uma oportunidade então para o Frigorífico Nacional

(ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INDUSTRIAL DE BARRETOS, 1942).30

O consumo per capita de carne variava de região para região. No sul, era superior

ao de São Paulo e Rio de Janeiro, os quais eram superiores ao das regiões Norte e Nordeste.

Kamprad (1941b), citando dados divulgados pelo Instituto de Pecuária da Bahia, aponta o

consumo per capita de carne de 37,7 kg em Manaus; de 25,8 kg em Belém; de 22,7 kg em

São Luís; de 12,1 kg em João Pessoa; de 7 kg em Maceió; de 26,6 kg na Bahia; de 32 kg em

Vitória; de 27 kg em Goiânia; e de 21 kg em Cuiabá. Tão grande variação era resultado da

renda do consumidor regional e do hábito de consumo. Assim, pelo consumo anual ideal

anteriormente citado de 110 quilos por ano, ou 300 gramas diários por pessoa, a demanda

poderia ser três vezes superior a daquele momento.

Na Argentina, o consumo de carne per capita em 1939, era de 121 quilos por ano

e de 331 gramas diários; na Nova Zelândia, 104 quilos por ano e 284 gramas diários; na

Austrália, de 92 quilos por ano e de 252 gramas diários. Na Inglaterra e na Dinamarca, era de

60 quilos. O consumo brasileiro era superior aos 22 quilos da Romênia, aos 19 quilos da

Polônia e aos 16 quilos da Itália. Entre as dificuldades para a expansão do consumo no Brasil,

estava a concepção de que a carne não era alimento saudável para o clima tropical,

preferindo-se consumir hidrocarbonos, que são ricos em energia, mas pobres em outros

30 O consumo per capita de carne bovina no Brasil em 1990, segundo Wilkinson (2008), era de 25 kg. Em 1995 era de 42,6 kg. e de 32,6 kg em 2005 (NEVES e SAAB, 2008).

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nutrientes, pensava-se que a carne causaria problemas hepáticos e estomacais. O outro

problema para a expansão do consumo interno era a baixa renda da população, especialmente

frente a uma carne com preço elevado, seria necessário um aumento do poder de compra da

população e a diminuição do preço da carne (BRITO, 1939 apud KAMPRAD, 1941b, p. 84;

KAMPRAD, 1941b).31

Para Kamprad (1941b), a indústria da carne poderia perfeitamente voltar-se para o

mercado interno como via de crescimento, não necessitando do externo, bastaria atender com

maior quantidade o interno. O capital necessário para a edificação de um frigorífico

semelhante ao estrangeiro era de vinte mil contos, o que, segundo o autor, tanto os bancos

quanto os capitalistas brasileiros possuíam e o frigorífico era um dos investimentos mais

garantidos e rentáveis daquele momento, além disso, os frigoríficos estrangeiros eram

voltados exclusivamente para o mercado externo, enquanto que o capital nacional, atuante nos

abates, era para o mercado interno (KAMPRAD, 1941b).

A segunda tese levantada pelos pecuaristas para solucionar os problemas

anteriormente expostos, era de que a indústria estrangeira deveria ser nacionalizada. Os

pecuaristas propunham que deveria ser feito com os frigoríficos, o mesmo que Getúlio Vargas

fez com os bancos de depósito e com as companhias de seguro “’nacionalizar as forças

econômicas para libertá-las de influências externas’” (ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E

INDUSTRIAL DE BARRETOS, 1942, p. 127). Entre os empecilhos que uma indústria

nacional encontraria, caso tivesse o objetivo de exportar, estava no fato de que a carne

exportada, era adquirida nos países importadores, por organizações comerciais pertencentes ás

próprias indústrias estrangeiras aqui instaladas, e as quotas delimitadas pelos países

importadores eram repassadas aos escritórios importadores e não a governo de países.

Ademais, os navios frigoríficos eram das próprias empresas frigoríficas que aqui atuavam

31 De acordo com Batalha et all. (2005 apud SILVA e BATALHA, 2008, p. 166) o comportamento de compra do consumidor em relação à carne bovina não é determinado apenas por preço e renda. Os consumidores de todos os níveis de renda afirmam que a carne bovina é cara (52,9% entre os consumidores com renda inferior a 2 salários mínimos consideram a carne bovina, um produto caro; 61,3% entre os consumidores com renda de 2 a 5 salários mínimos; 54,5% entre os de renda entre 5 a 10 salários mínimos; 60,2% com renda entre 10 a 20 salários mínimos; 59,7% entre os consumidores com renda entre 10 a 30 salários mínimos; e 68,4% dos consumidores com renda acima de 30 salários mínimos). Inclusive, ressalta que os consumidores que mais consomem carne bovina durante o período de uma semana, são os das classes mais baixas. Em países ricos, essa realidade também é encontrada, já que entram na decisão de consumir carne, elementos estéticos e nutricionais. Os consumidores com renda e informação maiores optam por peixes e frango (carnes brancas) pois as consideram mais saudáveis do que a bovina (carne vermelha). Já os consumidores de baixa renda optam pela vermelha em detrimento da branca, pela sensação de saciedade por ela provocada, já que o processo de digestão da vermelha é mais lento, quando comparado com o das carnes brancas.

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(BRITO, 1942; SINDICATO DOS INVERNISTAS E CRIADORES DE GADO DE

BARRETOS, 1942).

Ademais, para se transportar uma tonelada de carne refrigerada entre Barretos e

São Paulo, o valor do frete ferroviário era de 55$320, valor composto pelo frete na

Companhia Paulista, 448 klms, 37$700; somado ao frete na São Paulo Railway, 60 klms,

14$600; mais a taxa de expediente, C.P., 2$000; e a taxa de descarga, S. P. R, de 1$020.

Havia poucos vagões refrigerados nas ferrovias nacionais e o custo para a construção de cada

vagão com refrigeração úmida de bitola larga (1,60 m), capaz de transportar 2.000 quilos de

gelo, era de 60 contos de réis (BRITO, 1942).

Em função dos apelos dos pecuaristas em 1941, Getúlio Vargas ouviu opiniões

por todo o país, sobre a possibilidade de promover a nacionalização dos matadouros-

frigoríficos de capital estrangeiro. Pardi (1996), enquanto Inspetor do Serviço de Inspeção

Federal no Frigorífico Anglo de Barretos, ao ser convidado a dar opinião, posicionou-se

contra a nacionalização (encampação), pois o mérito desses frigoríficos em conseguir exportar

para os países estrangeiros, era deles mesmos, já que possuíam organizações no exterior que

possibilitavam essas vendas. Outro aspecto, era que a evolução da indústria de capital

nacional nos aspectos tecnológicos e administrativos, dependia do modelo das empresas

estrangeiras. O resultado desta polêmica, foi que o Governo Federal não nacionalizou as

estrangeiras, mas ficou evidente naquele momento, entre os agentes envolvidos, a necessidade

de expansão de frigoríficos de capital nacional (PARDI, 1996).

3.3 Planos de Abastecimento de Carne e a publicação do RIISPOA

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o rebanho brasileiro ainda continuava

atravessando dificuldades para ser recomposto, a oferta de carne permanecia baixa e sua

comercialização racionada e tabelada, agora pela Comissão Central de Preços (CALDAS,

1977). O Governo Federal seguiu intervindo, suspendendo em 1946, a exportação de gado de

corte em pé, seus produtos e subprodutos, sendo que o único estado autorizado a abater para

exportar, foi o Rio Grande do Sul, que poderia escoar até 350.000 cabeças de gado pelo seus

portos (BRASIL, 1946a; 1946b). O fato é que as limitações do transporte frigorificado interno

impediam o fornecimento de carne gaúcha aos centros consumidores do Sudeste brasileiro,

sendo possível apenas o envio do charque e de conservas (LINHARES, 1946).

No mesmo ano, o Governo voltou a regular a recria e a engorda realizadas pelos

frigoríficos e matadouros que abasteciam o Rio de Janeiro e as capitais do Paraná, São Paulo,

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Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Espírito Santo. Somente um terço do total do número de

abates, baseado em dados de 1943, poderia ser de animais procedentes de suas propriedades

ou de áreas por eles arrendadas, o que deveria ser destinado ao abastecimento na entressafra

(agosto e dezembro). Obrigava também, que todos os anos, os frigoríficos vendessem ao

Departamento Nacional da Produção Animal, não menos que 0,5% de reprodutores machos

sobre o total dos abates do ano anterior, por um preço máximo de duas vezes o preço do

animal de corte, os quais seriam revendidos a preço de custo para áreas despovoadas.

Deveriam ainda manter fêmeas em idade reprodutiva, e de acordo com condições

estabelecidas, a área total para a criação do gado por esses estabelecimentos, não deveria ser

superior ao necessário para a manutenção do total de animais inclusos nos objetivos acima

descritos. Matadouros e frigoríficos de propriedade de cooperativas de produtores, não

estavam sujeitos a essas regulamentações. Dez anos depois, a lei era razoavelmente cumprida

e havia influenciado positivamente sobre os estoques de carne e permitido um bom

abastecimento na entressafra (BRASIL, 1946d; PARDI, 1996).

As condições precárias de transporte do gado, caminhando longas distâncias entre

os centros produtores e os locais de abate, emagrecendo e consequentemente tendo que ser

invernado, e a ausência de armazéns frigoríficos nos centros consumidores, tornavam a

situação ainda pior. O governo buscava também o melhoramento do rebanho como forma de

aumentar o rendimento da carcaça, investindo para isso, em 1947, Cr$ 15.500.000 na

aquisição de reprodutores, tanto do Brasil quanto do exterior, e os revendia a preço de custo

aos pecuaristas (DUTRA, 1947).

Visando recuperar o rebanho e preservá-lo; regularizar o abastecimento do

mercado interno; promover a evolução do parque de abate com o objetivo de fortalecer a

saúde pública e de dar maior aproveitamento aos subprodutos não comestíveis obtidos do

abate, foram organizados os Planos de Abastecimento de Carne, elaborados pela Divisão de

Inspeção de Produtos de Origem Animal, do Departamento Nacional da Produção Animal do

Ministério da Agricultura, que passaram a vigorar a partir de 1947, e o último emitido foi em

1955, voltados para estabelecimentos que realizassem uma ou mais das seguintes atividades:

abate, elaboração, manipulação, conserva e estocagem de carnes e derivados (CALDAS,

1977) (Quadro 3.3.1).

O Planos de Abastecimento incluíam os objetivos de avançar na evolução do

parque de abate para promoção da saúde pública e dar maior aproveitamento aos subprodutos

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não comestíveis, obtidos do abate, já que, havia duas realidades completamente opostas em

termos de abate e processamento da carne no Brasil (SANTOS, 1969 e 2005).

Quadro 3.3.1: Planos de Abastecimento de Carne (1947-1955)

Ano Medidas

1947 Estabelecia, para cada estabelecimento, os meses em que os abates poderiam acontecer com o objetivo de restringir ou suspender a matança na entressafra e determinava qual a tonelagem de carne que deveria ser comercializada em meses em que a matança era proibida. Especificava o número de dianteiros, proporcionalmente ao número de traseiros, que deveriam ser entregues nos centros de consumo, restringindo o número de dianteiros que seriam liberados para serem industrializados, com variações nos períodos de safra (janeiro a julho) e entressafra (agosto a dezembro) e a quantidade de carne que cada cidade, especialmente os grandes centros de consumo, deveriam receber (BRASIL, 1946e).

Regulamentava o abate de novilhos do tipo industrial, com um peso morto médio mínimo diário, sendo um para a safra e outro para a entressafra, sendo que entre os vitelos, somente os puros de raças leiteiras ou mestiços dessas raças, com até 100 quilos, no limite de 15% do total de abates, poderiam ser abatidos.

Somente fêmeas velhas ou inaptas à reprodução, poderiam ser abatidas dentro de um limite máximo proporcional ao número de animais abatidos.

As exportações continuaram proibidas e, no Rio Grande do Sul, o Instituto Sul-Riograndense de Carnes é que faria o estabelecimento das quotas, continuando a permissão para abater com destino à exportação de até 350.000 cabeças de gado (BRASIL, 1946e, 1947).

Atrelava o estabelecimento de quotas de abate à instalação de equipamentos para o aproveitamento racional dos resíduos de autoclave, que resultam em farinhas de sangue, ossos e carne, e às melhorias de higiene previstas pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, e instalação de câmaras frigoríficas nas charqueadas, podendo as quotas serem aumentadas em 25%, caso os equipamentos fossem instalados (BRASIL, 1946e).

1948 Continuou em vigência o Plano de 1947.

1949 Trazia as mesmas regulações do Plano anterior, mas permitia que os estabelecimentos do Brasil Central industrializassem as aparas de carne e de partes impróprias para o consumo in natura, podendo essa produção ser exportada, como também órgãos e vísceras frigorificados desde que o consumo interno não a demandasse.

O abate de vacas seria permitido até um percentual do total, variando de 20% até 70%, dependendo do tipo de estabelecimento e localização.

Só poderiam funcionar as charqueadas que estivessem sob Inspeção Federal, e teriam as quotas de abate aumentadas de 20 a 25% aquelas que implantassem câmaras frigoríficas.

A Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul passaria a determinar as quotas de carnes que poderiam ser exportadas por esse estado (BRASIL, 1949a).

1950 Permitia industrializar e exportar 15% da carne com osso entregue aos centros de consumo, desde que não houvesse demanda para o mercado interno, além dos órgãos e vísceras já citadas no Plano anterior (BRASIL, 1949b).

(continua)

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86

(continuação)

Ano Medidas

1951 Permitia exportar um terço do total da carne industrializada. A novidade é que não foi estabelecido o número máximo de animais que

poderiam ser abatidos através de quotas, o que regularia tal limite seria a capacidade de trabalho disponível no estabelecimento, isso contando não apenas a matança em si, mas a capacidade de industrialização completa, assim como não foi estabelecido qual deveria ser o total de carne a ser fornecido para os centros de consumo32 (BRASIL, 1950c).

1952 Volta a determinar o número de animais a serem abatidos em cada estabelecimento, a tonelada total anual de carne a ser entregue nos grandes centros de consumo.

Reduz em 20% o número de animais a serem abatidos, com base nas quotas de 1950, para as charqueadas de Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Goiás.

Determina a quantidade de carne que deveria ser estocada pelos estabelecimentos, de forma a atender o período de entressafra. Assim em 1952, foram estocadas 12.000 toneladas (BRASIL, 1951b).

1953 As novidades eram apenas modificações relativas aos equipamentos das charqueadas, determinando que as que não possuíssem, logo no início da safra deste mesmo ano, equipamentos para o aproveitamento racional dos subprodutos industriais, teriam suas quotas reduzidas em 25%, e não receberiam quotas para o ano seguinte (BRASIL, 1952b).

1954 Poder-se-ia industrializar dois dianteiros para cada cinco traseiros entregues ao mercado.

As charqueadas deveriam então ter seguido a prerrogativa do Plano anterior para receberem as quotas (BRASIL, 1953).

1955 Não foram atribuídas quotas de abate para as charqueadas que não possuíam os equipamentos para o aproveitamento racional dos subprodutos industriais. Caso se adequassem até a safra de 1954-1955 e 1955-1956, respectivamente, poderiam então recebê-las (BRASIL, 1955b).

De um lado, a moderna indústria estrangeira de origem inglesa ou americana, com

o emprego do que havia de mais avançado em termos de tecnologia e organização industrial

no ramo da carne, aos moldes de Chicago, realizando o aproveitamento completo e racional

de todos os subprodutos procedentes do abate do animal, através de modernos equipamentos e

práticas de higiene adequadas à elaboração de produtos alimentícios perecíveis. Operavam

com digestores a seco (dry rendering), equipamento que possibilitava produzir de maneira

higiênica, a farinha de carne, de sangue e outros subprodutos destinados à exportação, além

do sebo industrial (SANTOS, 1969 e 2005).

32 Essa alteração fez com que na cidade de São Paulo, em decorrência do descontentamento da prática das indústrias estrangeiras, ocorressem diversos protestos e que a prefeitura determinasse que as duas mil toneladas necessárias ao abastecimento semanal da cidade, fossem inteiramente distribuídas pelo Tendal Municipal (SÃO PAULO, 1950).

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Do outro lado, estavam as charqueadas, as quais constituíam o parque de capital

nacional em si, espalhadas em grande número pelos estados do Mato Grosso, Goiás, e Rio

Grande de Sul, onde se concentrava a maior parte, e uma menor parte em São Paulo.

Realizavam um número reduzido de abates e utilizavam práticas totalmente anti-higiênicas,

em função da rusticidade da sua organização industrial, produziam apenas charque, couro e

sebo, desperdiçando todo o restante dos subprodutos, os quais eram despejados em riachos,

ficando a paisagem com rins, fígados, estômagos, intestinos e demais partes, atraindo uma

infinidade de insetos, roedores, aves e seus predadores, afastando-se muito do controle ideal

do ambiente no entorno do local onde se abatem animais. No decorrer de trinta anos, elas

haviam passado, por força da lei, por pequenas melhorias estruturais, mas continuavam sendo

o estágio industrial primário, possuindo algumas, apenas a autoclave de vapor úmido, onde

vísceras e ossos eram colocados para a produção do sebo (SANTOS, 1969).

Ao longo do processo de extração do sebo, a água residual retirava a proteína

solúvel de boa qualidade, a qual ficava perdida, sendo depois exposto ao sol para secar e os

pássaros se serviam. O pouco que sobrava com resíduo de ossos, não encontrava uma grande

remuneração. Em relação à higiene, mais precário não poderia ser, pois os funcionários não

possuíam nenhum asseio e a carne ficava em contato permanente com a pele do animal

abatido e o piso, além disso, o manuseio e estocagem do sal e da salmoura causavam uma

série de comprometimentos no produto final. Até mesmo a rotina dos trabalhos de inspeção

do serviço de inspeção via-se comprometida (PARDI, 1996).

A sala de matança, atestando com a sua nudez a ausência de qualquer implemento industrial, só exibia mesmo a carreta, que movimentada sobre trilhos, impelida manualmente, levava, à medida que o abate se desenvolvia, as reses “chopeadas” do brete até a “praia de matança”, onde sobre o piso, eram esfoladas, evisceradas e retalhadas, numa verdadeira rapina, tumultuada e açodada. É bem de ver que em semelhantes condições, a higiene e a sanidade da carne, estavam muito aquém do razoável, mesmo porque da maneira como se desenvolviam as operações, não podia haver o mínimo de facilidades necessárias à inspeção, “post-mortem” e à limpeza. Dessa forma, o inspetor veterinário era apenas uma figura de presença formal da lei. (SANTOS, 1969, p. 26-27).

Em 1947, estavam sob inspeção federal nos estados do Mato Grosso, São Paulo e

Goiás, 25 charqueadas e 7 matadouros-frigoríficos, sendo que, a produção de farinhas de

carne e de sangue só era realizada em São Paulo, com destaque para os frigoríficos

internacionais (Tabela 3.3.1). Os outros dois estados produziam apenas o resto de autoclave.

Com o objetivo de promover o aproveitamento completo da rês, superar o desperdício

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econômico e os efeitos ambientais, fazia-se necessário superar a autoclave úmida (SANTOS,

1969).

Em 1952, ocorreu o que Pardi (1996, 57-59) acredita ser o fato mais marcante do

século passado, no Serviço de Inspeção Federal, a criação do Regulamento da Inspeção

Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal – RIISPOA (BRASIL, 1952a). O SIF

sempre atuou de duas formas no exercício da inspeção: a preventiva, relativamente ao aspecto

higiênico-sanitário; e a assistência tecnológica, relativa ao processo industrial. A indústria, de

origens inglesa e americana, instalada no Brasil, serviu como verdadeira escola para os

técnicos do SIF, sobre a tecnologia empregada no abate e no processamento da carne, e tal

aprendizado foi utilizado na implantação do parque industrial de abates de capital nacional.

Daí a própria referência e diferenciação do Regulamento ter em seu título a palavra industrial,

em relação aos serviços de inspeção dos demais países. De acordo com IEL, CNA E SEBRAE

(2000) esta legislação possibilitou que o Serviço de Inspeção Federal modernizasse o parque

industrial de abates, alcançando níveis internacionais.

Para Pardi (1996, p. 59-60), o contexto de escassez de carne em função do

desfalque do rebanho brasileiro, o qual determinou a criação dos Planos de Abastecimento,

coincidente com a criação do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de

Origem Animal - RIISPOA, geraram uma oportunidade histórica para fazer com que as

charqueadas evoluíssem em termos técnicos, higiênicos e econômicos. As charqueadas

desperdiçavam 80$000 contos de réis em subprodutos por boi (MENEZES, 1942). Em 1952,

o Ministério da Agricultura avaliou em quatro bilhões de cruzeiros antigos, as perdas

econômicas decorrentes do subaproveitamento das reses em matadouros e charqueadas

(SANTOS, 1969).33

O Serviço de Inspeção Federal agiu de maneira mais intensa sobre as charqueadas

de Goiás, Triângulo Mineiro, São Paulo e Mato Grosso, enquanto que no Rio Grande do Sul,

ocorria uma intensa evasão dessa atividade dada a expansão da carne frigorificada. Medidas

duras foram tomadas com relação a Goiás e Triângulo Mineiro, realizando-se, inclusive,

33

De acordo com IEL, CNA E SEBRAE (2000) são as receitas provenientes do aproveitamento racional da rês e da venda de seus subprodutos, as quais são exclusivas do frigorífico, que formam o principal fluxo de lucro real da atividade de abate. O mesmo trabalho citando Felício (1992 apud IEL, CNA E SEBRAE, 2000, p. 147-148) um animal de peso vivo de 470 quilos rende 2,8% em vísceras e glândulas, 10,2% em sangue, ossos e gorduras e 13,9% em pele, mocotó, intestinos e bucho.

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sindicâncias com o objetivo de avaliar o cumprimento dos limites de quotas e para o abate de

fêmeas (PARDI, 1996).

A resistência dos charqueadores e donos de matadouros prolongou o período de

implantação, a qual não se baseava no valor do investimento ou nas complexidades de

importação, já que, naquele momento, o Brasil não produzia esses equipamentos. Na

realidade desconheciam as vantagens econômicas e higiênicas da farinha de carne, em

detrimento da graxa industrial e seu equipamento básico de extração. Os charqueadores ainda

colocavam ossos, os quais possuíam muitas aparas de carne da desossa mal feita, na autoclave

úmida apenas para cumprir a lei, obtendo de cinco a seis quilos de farinha por animal abatido.

Os modernos frigoríficos permitiam que os funcionários das empresas que foram implantando

os equipamentos exigidos, fossem estagiários em suas graxarias, e com o passar do tempo, a

compreensão dos benefícios da produção da farinha de carne, permitiu obter, em média, vinte

quilos por animal e a aquisição dos equipamentos passou a ser natural para estabelecimentos

do ramo (SANTOS, 1969).

Os resultados das ações empreendidas foi muito positivo e possibilitou que as

firmas das charqueadas sobrevivessem e gerassem mais renda. A instalação de cozinhadores a

seco, “virtualmente compulsória”, dos despojos, possibilitou o aproveitamento completo

destes e permitiu um ambiente mais limpo. Permitiu a transformação de muitas das

charqueadas em matadouros-industriais, melhorando as condições de competição com as

carnes frigorificadas e em conserva. Em charqueadas que não dispunham de equipamento de

frio, quando não era possível a instalação de câmara fria, colocavam-se aparelhos de fazer

gelo, congelando em fôrmas o filé mignon e os miúdos mais valorizados que, acondicionados

em caixas isotérmicas, poderiam ser levados para centros consumidores distantes como, São

Paulo (PARDI, 1996).

Santos (1969), afirma que uma das consequências diretas das exigências, a partir

de 1947, foi a elevação da produção de subprodutos utilizados na alimentação de outros

animais, servindo como estímulo para o desenvolvimento da avicultura e consequentemente

reduzindo os resíduos de autoclave. Para Pardi (1996), o correto aproveitamento dos

subprodutos estimulou as indústrias e setores relacionados à alimentação animal,

principalmente de utilização da farinha fosfatada, pois de uma produção inexistente de

farinhas de carne, osso e sangue em Goiás e Mato Grosso, esses estados já estavam

produzindo 1.323 e 913 toneladas, respectivamente, em 1957 (Tabela 3.3.1).

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90

Tabela 3.3.1: São Paulo, Goiás e Mato Grosso - Produção de farinhas, adubo e resíduos de autoclave de estabelecimentos sob Inspeção Federal (toneladas)

Anos Farinhas de carne, osso e sangue Adubos e resíduos de autoclave

São Paulo Goiás Mato Grosso São Paulo Goiás Mato Grosso

1937 5.372 - - 10.260 251 472 1947 3.264 - - 10.203 - 531 1957 16.322 1.323 913 4.301 815 216 Fonte: Santos (1969).

A outra consequência positiva apontada por Santos (1969), foi que a indústria de

equipamentos para a indústria da carne, começou a se desenvolver através do capital nacional

paulista e gaúcho, fornecendo todo o equipamento que anteriormente era importado para as

instalações das salas de matança, graxaria, triparia, salsicharia e outros. Com as exigências,

abriu-se uma oportunidade para o desenvolvimento de um segmento da metalurgia brasileira,

sendo as iniciantes, a Indústria Mecânica Hermann; Indústria Mecânica Arnaldo Teixeira; e

Tecmafrig S.A, localizadas em São Paulo; a Arno Stratmann, no Rio Grande do Sul; e a

Eugênio Nasciuti, que depois tornou-se Lunasa, em Araguari, Minas Gerais.

Ainda, os Planos cumpriram seu objetivo de recomposição e preservação do

rebanho brasileiro, pois através da composição de um estoque de fêmeas e de outros aportes,

na metade da década de sessenta, ele já estava recomposto possibilitando ao Brasil Central, a

retomada da exportação de carne frigorificada tipo chilled beef e frozen beef interrompidas

dois anos antes do final da Segunda Guerra Mundial (SANTOS, 2005).

Mas também, alguns erros ocorreram, sendo que o que mais atrasou a volta ao

normal do abastecimento de carne e de sua produção, foi o tabelamento dos preços, que

ocorria em conjunto com o Plano Abastecimento. Essa lenta recuperação na produção da

carne resultou na paralisação das exportações por 13 anos seguidos, já que o Governo

declarava-se temeroso de exportar e faltar carne internamente, o que prejudicou o Brasil em

relação a sua imagem em nível mundial, a qual já havia adquirido, sendo que apenas o Rio

Grande do Sul fez vendas esporádicas (Tabela 3.3.2) (CALDAS, 1977).

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91

Tabela 3.3.2: Brasil - Exportação de carnes, 1950 a 1955 (toneladas)

Anos Carne frigorificadaI Conservas enlatadas e preparadas em geral

Total

Bovina Suína Ovina Subtotal 1950 10.885 - 705 11.580 8.109 19.689 1951 4.893 325 - 5.218 4.164 9.382 1952 1.964 - 87 2.051 1.548 3.599 1953 1.041 - - 1.041 792 1.833 1954 - - - - 74 74 1955 1.964 - - 1.964 4.202 6.166 Fonte: Anuário Estatístico do Brasil/SIPAMA apud CALDAS (1977, p. 213-214). Nota: I: Inclusive miúdos.

3.4 O Plano SALTE e a interiorização dos frigoríficos

Em maio de 1950, no final do Governo Dutra, foi elaborado o Plano SALTE, que

tinha por objetivo, ações em alimentação, saúde, transporte e energia, para o período de 1950

a 1954, o qual despenderia os seguintes valores para cada ano do período: Cr$ 1,9 trilhões;

Cr$ 2,2 trilhões; Cr$ 2,4 trilhões; Cr$ 2,55 trilhões; e Cr$ 2,6 trilhões. Dentre as áreas

abordadas no item alimentação, estavam a produção animal, carnes e derivados, sendo

destinados Cr$ 200 milhões para Defesa Sanitária Animal; Cr$ 300 milhões para Fomento da

Produção Animal; Cr$ 100 milhões para Indústria e Inspeção Sanitária; Cr$ 90 milhões para

Construção, Financiamento e Prêmios de Matadouros Industriais; e Cr$ 100 milhões para

Constituição do Capital de Subscrição de Debêntures da Sociedade de Economia Mista,

especificamente para Cia. Frigoríficos Nacionais Sociedade Anônima. Dos Cr$ 2,7 trilhões

destinados para Alimentos, Cr$ 680 milhões eram para a Produção Animal, ficando com 21%

das dotações, a maior de todas dentro de Alimentos (BRASIL, 1950a).

Assim, no mesmo ano foi publicado o que ficou conhecido como Plano de

Interiorização de Matadouros Frigoríficos em Regiões Geoeconômicas Adredemente

Estudadas, o qual concedia vantagens, aos que construíssem, instalassem e explorassem

indústrias destinadas às espécies de açougue e sua industrialização completa, próximas às

áreas de criação. Seriam concedidos os seguintes favores: financiamento de até 60% do

investimento; concessão de prêmio em dinheiro, de até 20% do investimento; isenção de

direitos e taxas aduaneiras, por 10 anos, para a importação de aparelhagem e qualquer

material para este fim, incluindo aviões, vagões e caminhões; isenção, por 10 anos, de

impostos federais que incidissem ou viessem a incidir sobre a produção; e facilidade para a

aquisição de terrenos de domínio da União (BRASIL, 1950b).

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92

Teriam preferência as cooperativas de criadores, recriadores, invernistas e

empresas de transporte, em geral, e em não havendo iniciativa empresarial, o Governo Federal

faria a construção e arrendaria. Foram também caracterizados estabelecimentos regionais e

nacionais, sendo que os Governos Estaduais decidiriam sobre a concessão de favores aos

primeiros. O Ministério da Fazenda realizou convênio com o Banco do Brasil para abrir o

crédito inicial de Cr$ 120 milhões de cruzeiros e o Ministério da Agricultura escolheria a

localidade onde seriam construídos, o tipo, número e espécie animal a ser abatida, e as

características dos produtos a serem transformados (BRASIL, 1950b).

A intenção era de utilizar a interiorização das plantas de abate como alavanca para

o desenvolvimento econômico. O sistema extensivo de criação seria incentivado, por ser

considerado o mais econômico para a pecuária brasileira; seria estimulado o aumento do

rebanho em áreas do interior de baixa produtividade; seria introjetada no local, a renda

decorrente da industrialização da rês nas áreas de pecuária, onde muitas vezes, essa atividade

constituía-se a principal ou exclusiva atividade econômica da região; reduziria o tráfego

ferroviário de animais em pé de zonas de recria e engorda, os quais geravam baixos

rendimentos nos fretes ferroviários e aumentaria o transporte de produtos industrializados sob

o sistema de frio (CALDAS, 1977).

Acreditava-se que, suprindo o interior pecuário, com plantas de abate modernas

que realizassem o aproveitamento racional e completo da rês, as charqueadas antieconômicas

deixariam de existir, superando-se a tão grande heterogeneidade no parque nacional da carne

(CALDAS, 1977). Buscava-se superar o problema de abastecimento potencializado pelas

longas distâncias entre as áreas de cria, recria, invernagem e abate, reduzindo-se a idade de

abate, favorecendo-se a taxa de desfrute, e promovendo uma conformação mais desejável

entre carne, gordura e osso já que o animal não emagreceria entre um deslocamento e outro, e

preocupava-se em suprir de armazéns frigoríficos os centros de consumo (PARDI, 1996).

Os locais escolhidos pelo Ministério da Agricultura, especificando o tamanho das

plantas, foram: no Rio Grande do Sul, a região de Campos do Centro, preferencialmente

Tupanciretã, e na região da Campanha, preferencialmente Bagé e Alegrete. Em Santa

Catarina, o litoral de Laguna, tendo como referência, Tubarão. No Mato Grosso, na região do

Pantanal, Aquidauana; na região de Campo Grande, em Campo Grande. Em Goiás, na região

de Goiânia ou de Anápolis. Em Minas Gerais, foi determinada a região do médio São

Francisco, o município de Montes Claros, e na região de Mucuri, o município de Medina. No

Paraná, a região dos Campos Gerais, o município de Ponta Grossa. E por último na Bahia, a

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93

região de Feira de Santana, no município de Santa Terezinha ou Feira de Santana (PARDI,

1996).34

Os locais apontados pelo Ministério da Agricultura para a instalação dos novos

abatedouros, geraram tanta polêmica que o órgão precisou escolher nova comissão, a qual

acabou por ratificar as indicações anteriores.35 Na sequência, novos pedidos para abertura de

abatedouros foram realizados e nova comissão foi formada para dar o parecer e ainda rever as

localizações já definidas, sendo contrária a conceder favores para a região de Araçatuba, a

qual mesmo assim acabou por recebê-los (PARDI, 1996). 36

Cabe ressaltar que, dentro das diretrizes do Plano SALTE, foi aberto crédito de até

750 milhões de dólares para reequipar portos, investimentos em infraestrutura de transporte,

expansão de armazéns, frigoríficos e matadouros, aumento da geração de energia elétrica e

expansão da indústria e da agricultura (BRASIL, 1951). Tais ações funcionariam como

garantias necessárias ao sucesso dos empreendimentos que seriam construídos nas áreas

favorecidas. Foi aberto ainda um novo crédito de Cr$ de 40 milhões para os objetivos do

Plano de Interiorização de Matadouros Frigorífico em Regiões Geoeconômicas Adredemente

Estudadas (BRASIL, 1955a). Ainda, em 1956, foi organizada a expansão de uma rede de

armazéns e de transporte com frigorificação, Frigoríficos Nacionais S.A. (FRINASA), a qual

viria a beneficiar a produção de carnes (BRASIL, 1956).

Assim, com base no modelo inglês e americano e no RIISPOA, os frigoríficos de

capital nacional expandiram-se na segunda metade da década de 1950 no Sudeste e Centro-

Oeste, sendo que neste momento o mercado interno ampliava-se e as exportações criavam

expectativas positivas (SANTOS s.d. apud PARDI, 1996, p. 66). Em São Paulo, na cidade de

Araçatuba, foi construído em 1951, sob a iniciativa de Sebastião Maia, o Frigorífico T. Maia;

em Presidente Prudente, sob a iniciativa de Geraldo Bordon, o Frigorífico Bordon; e em

Andradina, em 1953, sob a iniciativa de Antonio Moura Andrade, o Frigorífico Mouran, o

qual iniciou suas exportações de carne mais precocemente que os demais nacionais.37 Em

Barretos, duas charqueadas foram convertidas em frigoríficos: o Minerva e o Bandeirantes.

34 Portaria Ministerial n. 128 de 1951 apud Pardi (1996, p. 141). 35

Portaria Ministerial n. 378, de abril de 1955 apud Pardi (1996, p. 142). 36

Portaria Ministerial n. 546, de 3 de junho de 1955 apud Pardi (1996, p. 142). 37 Em 1995, o Mouran e o então chamado Swift Bordon estavam entre as diversas aquisições realizadas pelo Frigorífico Friboi, o qual adquiriu em 2005 a Swift Armour na Argentina e em 2007 a Swift Company nos Estados Unidos e passou a ser considerado a maior indústria da carne bovina no mundo (NEVES & SAAB, 2008).

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94

Em Ribeirão Preto, foi construído o Frigorífico Morandi. Em Ourinhos, instalou-se o

Comércio e Indústria Pecuária de Ourinhos, e em São Carlos, o Frigorífico São Carlos

(SANTOS, 2005).

No Mato Grosso, foi instalado em Campo Grande, o Matadouro Industrial de

Campo Grande S.A. (FRIMA). Em Goiás, foi instalado em Goiânia, o Matadouro Industrial

de Goiânia S.A. (MATINGO), sendo o maior do estado, em Pires do Rio, o Brasil Central e

em Anápolis, o Frigorífico Mago. Em Minas Gerais, foram instalados um frigorífico, em

Governador Valadares, em Teófilo Otoni, em Montes Claros e em Uberaba. Em Uberlândia,

foram instalados os Frigoríficos Caiapó e o Ômega (SANTOS, 2005).

Ainda em Minas Gerais, foi instalado um frigorífico de economia mista, em Santa

Luzia, município vizinho a Belo Horizonte, o Minas Gerais S. A. (FRIMISA) com capacidade

para abater 1.000 bovinos e uma grande quantidade de suínos por dia. Este surgiu

contrariamente às recomendações do SIF, já que seria construído ao lado de um grande

centro, por interesses políticos, durante os mandatos de governador e de presidente da

república de Juscelino Kubitschek. Apesar do início promissor sob administração exclusiva

do governo federal, a localização comprometeu seu andamento e apresentou não mais que

vinte anos de sucesso. O que houve aí, foi a desvirtuação total da tendência locacional de

situar-se junto à fonte de matéria-prima, e sua imensa capacidade contrapunha o senso de que

os repasses financeiros deveriam ser utilizados para desenvolver as mais variadas áreas

pecuárias, pulverizando os investimentos em pequenos frigoríficos, com processamento

completo. Desta forma, o transporte do gado em pé, rumo ao centro consumidor, continuaria

ocorrendo (PECEGO, 1969).

A política de interiorização alterou completamente a situação de concentração das

plantas de abate, nas principais regiões de consumo, e propiciou o surgimento de modernas

unidades especialmente em Goiás, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso, Espírito Santo e São

Paulo. Ocorreu o fortalecimento da economia da hinterlândia, diminuindo os custos, à medida

em que o número de intermediários da cria até o abate, foi diminuído, dando ao pecuarista a

possibilidade de desempenhar mais que uma fase; reduziu o ciclo de produção e aumentou a

taxa de desfrute do rebanho (CALDAS, 1977). Também possibilitou o emprego de mão de

obra disponível sem especialização no interior, aumentou a qualidade da carcaça, superando

os problemas decorrentes da fome nos deslocamentos, na fase de crescimento do animal, que

geravam autofagia e caquexia, estando expostos a doenças, e que resultavam em carcaças com

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95

mais gordura e ossos e menor quantidade de músculos, podendo a pecuária avançar para

animais mais pesados.

Mas houve também um ponto negativo, já que os financiamentos propiciados pelo

Governo tinham como condição básica, a apresentação de um projeto com grande capacidade

de abate, superior a 200 animais por dia, e o DIPOA passou a aprovar somente projetos de

grande monta, “planos grandiosos, instalações suntuosas”, com capacidade de abate superior

às possibilidades de produção das áreas onde foram instalados (PECEGO, 1969, p. 20-21).

Os projetos, em apreço, não eram estudados em função do desempenho econômico que o estabelecimento deveria efetivar, mas, simplesmente, pela grandiosidade supérflua. Desconhecia-se, ou fingia-se ignorar, o que ocorrera com os grandes frigoríficos dos E.U.A., que foram totalmente paralisados e substituídos por centenas de outros de reduzido porte e espalhados pelo grande território daquele grande país. Faziam-se as mais absurdas exigências para a aprovação dos projetos que deveriam ter um mínimo – estabelecimento a critério errôneo de quem julgava ditos projetos. Era a sua vontade e critério que deveriam predominar, sem cuja aceitabilidade não seria aprovado o projeto e, consequentemente, não estaria em condições de obter o financiamento pleiteado. E, assim, as inversões que deveriam ser múltiplas e disseminadas, passaram a se concentrar em poucos e, indiscutivelmente, deficitários, quando viessem a funcionar. (PECEGO, 1969, p. 20-21).

Os frigoríficos instalados, antes do Plano de Interiorização, já eram de elevada

capacidade de abate e a soma de todas as capacidades era duas a três vezes superior à

demanda pela carne. Assim, os frigoríficos anteriores a 1950 e os novos, passaram a trabalhar

com rotinas de abate, que ocupavam de 20 a 25% da sua capacidade de produção. O efeito

dessa ociosidade era sentido no elevado custo da mão de obra, comparado ao número de

animais abatidos, nos elevados custos de manutenção das plantas de abate e um aporte de

equipamentos muito grande, em relação aos escassos recursos para amortizá-los (PECEGO,

1969).

Segundo Pecego (1969), quem mais sofreu as consequências desta megalomania,

foram os pecuaristas que tiveram seus pagamentos adiados e nem sempre corrigidos, faltando-

lhes recursos para a aquisição de novos animais ou realização de benfeitorias. Ou seja, os

pequenos frigoríficos deveriam espalhar-se e desenvolver a pecuária e não torná-la refém de

investimentos de risco compartilhado. O DIPOA, respondia indiretamente por esta situação:

“e não titubearei em dizer que se tornava o algoz da indústria de carne no país, repercutindo

sensivelmente na produção pecuária.” (PECEGO, 1969, p. 22).

Ainda, influências políticas interferiram no pleno controle do DIPOA e impediram

que um efetivo parque de abate interiorizado, fosse edificado tanto no Brasil Central quanto

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96

no Rio Grande do Sul. Faltou ao Plano de Interiorização, algum tipo de dispositivo que

impedisse radicalmente, que abatedouros fossem construídos sem um estudo adequado em

termos de zoneamento regional. Sem meios de restrição em relação aos abatedouros que o

Plano chamava de regionais, ou seja, os que legalmente realizariam comércio dentro do

município ou dentro do estado, surgiram graves distorções em relação aos critérios

localização e saúde pública, dada a ausência ou precariedade da autoridade técnica-sanitária

estadual e municipal (CALDAS, 1977).

Tal desordenamento foi logo sentido pelos frigoríficos de capital inglês e

americano que, no contexto de escassez de gado, impedidos de exportar, pelos motivos

anteriormente apontados e de aumento desordenado de abatedouros, atuava com muita

capacidade ociosa e alegavam que entre os nacionais, havia os que não estavam obedecendo

às regulamentações estabelecidas pelo governo e que praticavam a sonegação fiscal para se

manterem em funcionamento. Tal momento repercutirá em sua fraca atuação, na década de

1960, nos mercados do boi e da carne (CALDAS, 1977).

Ainda houve outras dificuldades nas novas plantas, como mão de obra

despreparada para operar equipamentos industriais e falta de experiência na indústria dos

novos proprietários, habituados às atividades da pecuária, ou corretagem de gado, ou de

açougue, desprovidos do pensamento empresarial. Muitas apresentaram insolvência

econômica, evidenciada nas disputadas compras do gado parco, demonstrando um excesso de

unidades de abate em relação à oferta. Ademais, havia um contexto de inflação, e o

desconhecimento da importância da inspeção sanitária e das ações de higiene no produto que

seria comercializado (SANTOS, 1969).

3.5 Retorno do Brasil Central ao comércio mundial de carnes, emissão das Normas

Higiênicas, financiamento público para a expansão da capacidade de estocagem da carne,

despontar dos grandes grupos e nova crise no setor

Enquanto em 1956, nos Estados Unidos, “a carne bovina representava a maior

fonte de renda isolada da agricultura” (VILLARES et al., 1957, p. 209), no ano seguinte, o

Brasil Central Pecuário retorna às exportações justamente para esse mercado, produzindo um

novo produto, o cured beef (carne curada de bovino), alcançando 1.634 toneladas em 1957, e

6.869 toneladas no ano seguinte, modernizando seu parque de abate para a produção desse

novo produto. O cured beef entrava no mercado dos Estados Unidos a preços bem inferiores

ao lá produzido, o que levou os produtores norte-americanos a pressionar seu governo central

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97

e após testes laboratoriais que demonstraram que poderia carrear o vírus da febre aftosa

ausente nos Estados Unidos, o cured beef brasileiro passou a ser barrado naquele país. Assim,

o Brasil mais uma vez, teve seu comércio internacional de carne interrompido por questão

sanitária já que a Europa não importava volumes significativos e regulares, no entanto,

Alemanha e Itália estavam importando alguma quantidade razoável do produto brasileiro

(Tabela 3.5.1) (CALDAS, 1977).38

Tabela 3.5.1: Brasil - Exportações de carnes frigorificadas, enlatadas e preparadas, 1956 a 1967 (toneladas)

Anos Carne frigorificadaI Conservas enlatadas e preparadas em geral

Total

Bovina Suína Ovina Subtotal

1956 9.821 - 38 9.859 3.115 12.974 1957 27.651 - - 27.651 3.665 31.306 1958 34.587 363 - 34.960 12.657 47.607 1959 25.803 - - 25.803 37.525 63.328 1960 8.461 - - 8.461 9.333 17.794 1961 16.840 103 - 16.583 14.733 31.316 1962 14.011 179 - 14.190 11.342 25.532 1963 13.667 194 - 13.861 4.478 18.339 1964 19.003 515 50 19.568 8.101 27.669 1965 35.826 402 755 36.983 17.000 53.983 1966 20.792 1.042 2.528 24.362 10.538 34.900 1967 11.577 244 - 11.821 6.541 18.362 Fonte: para os anos de 1956 a 1964, Anuário Estatístico do Brasil/SIPAMA apud CALDAS (1977, p. 213-214); para os anos 1965 a 1967, CACEX apud CALDAS (1977, p. 213-214). Nota: I: Inclusive miúdos.

38 Jank (1996) apresenta a superioridade dos volumes importados por países que possuem restrições à importação de carne bovina in natura de países que apresentam febre aftosa em seu rebanho. Segundo Nehmi Filho (2002), argumentar que o vírus da febre aftosa pode infectar o rebanho de países importadores não encontra respaldo técnico, dado que o vírus morre em poucas horas após o abate do animal e que, na verdade, a presença da febre aftosa no rebanho brasileiro foi sempre utilizada como puro instrumento de restrição às exportações nacionais, uma maneira de proteger a pecuária do país importador da competitividade da carne brasileira. Santo (2001) descreve que ocorrem casos desta doença, há mais de dois mil anos, tendo ocorrido uma enorme epidemia na Europa, em 1546, espalhando-se para suas colônias, incluindo os Estados Unidos. A aftosa atingiu o Brasil, Chile, Uruguai e Argentina, por volta 1870 e depois se expandiu para o restante da América do Sul. Os Estados Unidos erradicaram a febre aftosa em 1929 e a Austrália, em 1871. De acordo com Carrer & Cardoso (1999), a tonelada da carne brasileira poderia receber uma remuneração até duas vezes maior, não fosse a presença da doença. De toda forma, Lanna & Almeida (2005) afirmam que os bovinos brasileiros apresentam um dos menores pesos de abate do mundo, inferiores ao europeu, americano, australiano e argentino, o que além de elevar o custo de produção na indústria frigorífica, são incapazes de atender às exigências dos países que possuem restrições à febre aftosa que são: Japão, Coréia, Estados Unidos, Canadá e México, pois são os mesmos que preferem animais com gordura de cobertura acima de 5 milímetros e carcaças mais pesadas, o que tem sido o objetivo perseguido pelos pecuaristas confinadores. No entanto, isso é reflexo também da política do frigorífico de não remunerar o pecuarista pela qualidade. Novilhos australianos e americanos bem acabados recebem remuneração doze vezes superior aos brasileiros, em mercados japoneses e coreanos.

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Apesar dos esforços das autoridades brasileiras em ir até os Estados Unidos para

negociações de outros processamentos da carne a ser exportada, foi somente após a visita de

autoridades norte-americanas à Argentina, a qual também teve suas exportações suspensas do

mesmo produto, que se pôde retomar, em 1961, as vendas para os Estados Unidos, de um

novo produto, o cooked frozen beef (carne de bovino cozida congelada) atendendo fábricas de

sopas (CALDAS, 1977).

Em função da nova oferta de carne advinda dos novos frigoríficos erguidos na

década de 1950, e ainda, da preocupação em formar estoques para entressafra, em 1962, o

Governo Federal abriu financiamento para construção e exploração de entrepostos-frigoríficos

com capacidade de até 5 mil toneladas e para transporte frigorífico. 39 Seriam financiados até

80% do investimento e isentava de impostos federais, com exceção para o Imposto de Renda,

todas as operações envolvendo produção, armazenamento e classificação dos produtos, assim

como de taxas de aduana, todos os equipamentos necessários e não produzidos no Brasil. O

financiamento seria concedido através dos bancos Nacional do Desenvolvimento Econômico

(BNDES), do Brasil, do Nordeste, Nacional de Crédito Cooperativo e da Amazônia

(BRASIL, 1962a).

Tinham preferência as cooperativas, empresas de transporte geral e os

estabelecimentos industriais já estabelecidos e o favorecido deveria comprovar a posse da

outra parte do dinheiro necessário. A localização seria indicada pelo Ministério da

Agricultura, considerando-se a produção pecuária, o abastecimento do mercado interno e o

bom andamento das exportações. O BNDES reservaria anualmente até 1% do seu ativo para

financiar estes novos entrepostos (BRASIL, 1962a). Esses incentivos geraram benefícios

concretos ao ciclo da carne, e contribuíram diretamente para a exportação de carne

frigorificada (SANTOS, 2005). Ainda sobre armazenamento, em 1962, foi constituída a

Companhia Brasileira de Armazenamento (CIBRAZEN), regulamentada em 1973 (BRASIL,

1962b e 1973).

Em 1965, o Serviço de Inspeção lançou As Normas Higiênico-Sanitárias e

Tecnológicas para Exportação de Carne, elaboradas por exigência de técnicos ingleses,

39 Em 1965, 80,8% dos abates do Rio Grande do Sul ocorriam no primeiro semestre do ano, especialmente nos meses de abril a junho, pouco antes do inverno, período que concentra 67% dos abates, e 19,2% no segundo semestre. Os criadores gaúchos não fazem uso de nenhuma pastagem de inverno, ou sem armazenamento de algum tipo de alimento para o gado, dependendo exclusivamente da pastagem natural, sendo tal situação decorrente da ausência do uso de tecnologia e de investimentos. Em São Paulo, ocorriam 53,8% dos abates, no primeiro semestre, e 46,2% no segundo (CALDAS, 1977).

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europeus e americanos, como forma de complementação ao RIISPOA e de descentralização

dos serviços. As adaptações decorrentes seriam financiadas através da Carteira Industrial do

Banco do Brasil (CALDAS, 1977; PECEGO, 1969). As Normas alcançaram reconhecimento

internacional, tanto na Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC),

composta, na época, por Brasil, Argentina, Chile, México, Paraguai, Peru e Uruguai, a qual

decidiu implantá-las como base, quanto na Inglaterra e nos Estados Unidos, os quais

apontavam um cenário de liderança do Brasil na América do Sul em relação à carne bovina.

Nos Estados Unidos, os americanos consideravam o Serviço de Inspeção brasileiro

equivalente ao seu, sendo as Normas responsáveis por toda uma mudança no parque industrial

exportador, em relação à tecnologia e higiene, alcançando especialmente os frigoríficos do

Rio Grande do Sul e de São Paulo, criando um aspecto regulamentar positivo para a imagem

brasileira no exterior (SANTOS, 1969).

Também na década de 1960, ocorreu a expansão das empresas que, rapidamente

se tornaram líderes do setor de abate e alcançariam projeção no comércio internacional, como

a formação do Grupo Bordon, com diversas plantas de abate, e veio a se tornar o maior

produtor mundial de corned beef; Ovídio de Brito abatedor e, com importantes exportações,

através da Cotia Tranding; o Grupo Sadia e o Grupo Perdigão (SANTOS, 2005).40 41

Ao mesmo tempo, a expansão do número de plantas de abate ocorrida na década

anterior, causava na década de 1960, em decorrência da insolvência que muitas delas

entraram, um clima de desconfiança e incerteza, resultando na elevação artificial do preço do

boi e da carne, falências e concordatas, sonegação de tributos e outras situações de

ilegalidade. A crise de abastecimento foi agravada e, novamente o Governo tabelou o preço

do boi em pé e realizou requisitos esporádicos de animais, mas nada disso pôde, de fato, por

fim à crise e dar um encaminhamento definitivo (CALDAS, 1977).

Em 1967, sob inspeção federal, havia 20 frigoríficos em São Paulo; 9 em Goiás; e

4 em Mato Grosso. O número de charqueadas, no período analisado por este trabalho, ficou

40

IEL, CNA E SEBRAE (2000) aponta que Bordon, Swift, Kaiowa e Anglo concentravam boa parte dos abates, exportação de carne in natura e derivados, mas após uma crise, a qual o trabalho não detalha, e que faz parte de período extemporâneo ao de abrangência de nosso trabalho, levou-os ao encerramento de suas atividades. Entram em cena então, em termos de atuação nos abates e nas exportações, os frigoríficos Bertin, Independência, Quatro Marcos, Extremo Sul e Friboi. 41 Em 2009, Sadia e Perdigão uniram-se formando a Brasil Foods – BRF compondo o maior faturamento mundial, em processamento de carne de frango. Foram, ao longo do seu desenvolvimento, provocadoras de grande revolução e modernização, tanto na avicultura quanto na suinocultura nacionais, através do sistema de integração e formação de parcerias com avicultores e suinocultores.

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cada vez menor, restando 2 em Goiás; 4 em Mato Grosso, quase que inativas; e nenhuma em

São Paulo. O que se verifica, é que, a produção do charque passou a ser realizada

principalmente pelos frigoríficos, e em função da pressão exercida pela legislação federal de

inspeção sanitária, as charqueadas que não se adaptaram, ou que acabaram mudando de

classificação, e se adequando à legislação de fábrica de conserva e produtos gordurosos, ou

ainda, passaram por adequações e transformaram-se em frigoríficos, acabaram sendo

excluídas da atividade econômica. Pelos dados disponibilizados por Santos (1969, p. 39), fica

evidente, que nos três estados citados acima, as charqueadas realmente perderam espaço e

novos frigoríficos foram estabelecidos (Tabela 3.5.2).42

Em relação às charqueadas do Rio Grande do Sul, que foram responsáveis por

57% da produção do charque nacional entre 1933 e 1937, passaram a produzir apenas 17,8%

em 1959, em decorrência do acirramento da concorrência das localizadas no Brasil Central e

da carne frigorificada. A partir da década de 1960, com a concentração da produção em

frigoríficos, matadouros e fábricas de conservas, os quais, em função da tecnologia utilizada,

conseguiram aumentar suas participações pelo aproveitamento da ponta de agulha, vacas,

marrucos e carreiros, a participação das charqueadas gaúchas na produção nacional de

charque passou a ser de apenas 10,6% até o final da década de 1960 (PARDI, 1996).

Pelo aspecto da produção pecuária, para tentar solucionar a baixa oferta de carne

bovina, frente à demanda crescente do mercado interno, e permitir que as exportações se

expandissem continuamente (CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA

PECUÁRIA apud LIMA FILHO, 1976, p. 211), em 1967, foi criado o Fundo para

Desenvolvimento da Pecuária (FUNDEPE), e o Conselho Nacional de Desenvolvimento da

Pecuária (CONDEPE). O FUNDEPE foi criado como uma subconta do Fundo Geral para a

Agricultura e Indústria (FUNAGRI), instituído no Banco Central, em 1965, através do

Decreto n. 56.835, de 3 de setembro, resultante de um acordo de empréstimo para o

desenvolvimento da criação de gado, incluindo aí, a pecuária de corte e a produção de lã,

entre o Governo Federal e o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento

(BIRD), sendo financeiramente suprido pelos dois acordantes. Sua gestão ficou a cargo do

42 Em 1976, foram produzidos 93.142 toneladas de charque no país, sendo 55.419 toneladas, ou seja, 60% produzidos em São Paulo (CALDAS, 1977). Em 1985, a produção nacional de charque foi de 122.666 toneladas. Na década de 1990, São Paulo produziu 86.230 toneladas, em média, por ano, equivalente a 70,2% do total nacional. O consumo de charque pelo brasileiro continuou elevado, mesmo com a expansão da carne fresca conservada pelo frio, demonstrando que o hábito de consumo permaneceu o mesmo (PARDI, 1996).

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Banco Central do Brasil e seria distribuído através do Sistema Nacional de Crédito Rural

(SNCR), visando investimento, acompanhado por assistência técnica, em regiões geográficas

específicas, a partir de critérios estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional,

estabelecidos na Lei nº 4.829, de 5 de novembro de 1965, em seu artigo 4º (BRASIL, 1967).

O CONDEPE era presidido pelo Ministro da Agricultura, além dos seguintes

membros: Ministro do Planejamento e Coordenação Geral; Presidente do Banco Central do

Brasil; Presidente do Banco do Brasil; e um representante de cada região geoeconômica

atendida pelo programa de investimentos. Sua atribuição era formular uma política de

desenvolvimento para a pecuária de corte e a produção de lã e supervisionar e contratar a

assistência técnica envolvida no programa (BRASIL, 1967).

O CONDEPE constatou que a principal causa da baixa produtividade do rebanho

brasileiro estava na falta de alimento disponível para o gado durante a estação do inverno.

Assim, definiu-se como prioridade, o estabelecimento de pastagens de maior produtividade, a

instalação de cercas e de aguadas. O Programa de Desenvolvimento Acelerado da Pecuária de

Corte gerido pelo CONDEPE tinha as seguintes metas: elevar a taxa de natalidade do rebanho

de 50 para 75% em média; diminuir a taxa de mortalidade de 5 para 2%; diminuir a idade de

abate de quatro anos e meio para três; diminuir a idade da primeira cria de 4 para 3 anos;

aumentar o desfrute do rebanho de 12 para 25%; e elevar a produção de carne por hectare de

15 para 80 quilos anuais, em média (CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO

DA PECUÁRIA apud LIMA FILHO, 1976, p. 212).

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Tabela 3.5.2: São Paulo, Goiás e Mato Grosso - Estabelecimentos de carne sob Inspeção Federal (1937, 1947, 1957 e 1967)

Estados São Paulo Goiás Mato Grosso

Ano Estabelecimentos

1937 1947 1957 1967 1937 1947 1957 1967 1937 1947 1957 1967

Frigorífico 7 6 7 20 - - 5 9 - - 2 4 Matadouro municipal 4 4 3 - - - - - - - - - Charqueadas 5 2 - - 8 9 4 2 12 9 7 4 Fábrica de conservas e produtos gordurosos 3 9 11 17 - - - - - - - - Entreposto de carnes e derivados - 20 5 11 - 2 - 1 - - - - Fábrica de produtos não comestíveis - 15 14 2 - 1 - - - - - -

TOTAL 40 69 50 59 8 12 13 13 12 9 10 8 Fonte: Santos (1969, p. 39).

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3.6 As medidas do Governo do Estado de São Paulo para o desenvolvimento da pecuária

bovina e da tecnologia da carne (1939-1967)

No início da década de quarenta, foram implantadas Escolas Agrícolas com o

objetivo de compor, com a experimentação e o fomento que já aconteciam, os suportes de

avanço e promoção da exploração agropecuária paulista. Voltadas para o trabalhador rural,

tinham, entre seus campos de ensino, a exploração animal, lançando mão de técnicas que

foram chamadas racionais para a nutrição, reprodução e defesa sanitária animal para todas as

espécies domésticas (MARTINS, 1991). Em 1942, o Governo do Estado determinou a criação

da Divisão de Industrialização de Produtos de Origem Animal, com uma Seção de Tecnologia

da Carne, internamente ao Departamento da Produção Animal, pois, para o governo, os

aspectos industrial e sanitário estavam intimamente ligados ao desenvolvimento da pecuária,

como pode ser visto no trecho do relatório da Secretaria de Agricultura:

O incremento da produção é, hoje, problema de urgente solução para atender às exigências do consumo interno e do comércio exportador [...]. Quanto à espécie animal de maior valor econômico, é conveniente lembrar que, em S. Paulo, prosperam as raças bovinas leiteiras e as raças de corte; podem criar-se reprodutores para venda e é extensíssima a capacidade de engorda dos prados artificiais das regiões norte e noroeste do Estado, estando aqui localizados os grandes frigoríficos e para aqui convergindo as boiadas do Brasil Central. Convém, ainda não esquecer que o maior rendimento em utilidades de origem animal, só será usufruído economicamente mediante a industrialização, para o aproveitamento direto e a exploração dos subprodutos e derivados, e mediante a conservação, necessária em face das contingências de um clima subtropical e das delongas da exportação. E essa industrialização deve, por sua vez, ser devidamente fiscalizada do ponto-de-vista sanitário, porque se trata, sobretudo, de produtos alimentícios de origem animal, a fim de evitar a fraude e salvaguardar a saúde do consumidor. Os problemas da produção, da industrialização e da conservação dos produtos de origem animal estão, como se vê, intimamente ligados, decorrendo dessa circunstância, a necessidade de uma organização mais completa da agricultura, que cuida dos problemas da produção animal (RELATÓRIO DA AGRICULTURA, 1943 apud MARTINS, 1991, p. 283).

Como pôde ser visto na citação acima, São Paulo que possuía o terceiro maior

rebanho do país, continuava recebendo gado proveniente dos estados que Brito (1944, p. 11)

chamou de “essencialmente criadores”, detentores do primeiro, quarto e sexto maiores

rebanhos do Brasil (Tabela 3.6.1), sendo o maior exportador, Minas Gerais, seguido por

Goiás e Mato Grosso (Tabela 3.6.2), sem ser considerado o contrabando de animais que,

segundo o autor citado, era estimado em cinquenta mil de Goiás, cinquenta mil de Mato

Grosso e em cem mil de Minas Gerais, por ano. Em 1945, a carne bovina passou a ser a

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terceira atividade mais importante da agricultura paulista, ficando atrás do café e do algodão,

sendo que o elemento que chama muito a atenção é o crescimento do rebanho baseado em

animais criados em São Paulo (VILLARES et al., 1957, p. 211) (Tabela 3.6.3).

Tabela 3.6.1: Brasil, regiões e estados - Efetivo do rebanho bovino, 1940, 1950 e 1960 (número de cabeças)

Estados, Regiões e Brasil 1940 1950 1960 Acre 23.337 25.020 32.516 Amapá - 31.010 45.476 Amazonas 270.180 87.440 141.424 Pará 705.524 735.529 844.740 Rondônia - 2.052 3.475 Roraima - 139.254 167.251 Norte 999.041 1.020.305 1.234.882 Alagoas 217.813 275.451 411.655 Bahia 2.740.278 3.900.335 4.594.998 Ceará 991.904 1.160.771 1.354.338 Maranhão 803.252 927.807 1.380.511 Paraíba 608.044 680.882 765.839 Pernambuco 606.296 830.346 930.065 Piauí 993.987 1.018.088 1.136.303 Rio Grande do Norte 431.688 462.867 487.403 Sergipe 261.944 375.891 494.645 Nordeste 7.655.206 9.632.438 11.555.757 Espírito Santo 287.557 464.463 653.890 Minas Gerais 7.768.245 9.790.100 11.963.902 Rio de Janeiro 721.515 777.789 1.073.339 São Paulo 3.174.453 5.721.977 7.131.024 Distrito Federal 5.496 10.850 - Região da Serra dos AimorésI 5.176 38.313 200.029 Guanabara - - 17.646 Sudeste 11.962.442 16.803.492 21.039.830 Paraná 469.053 795.821 1.665.698 Rio Grande do Sul 7.460.705 8.617.587 8.810.312 Santa Catarina 734.389 914.377 1.201.993 Sul 8.664.147 10.327.785 11.678.003 Distrito Federal - - 16.411 Goiás 2.975.305 3.373.540 4.862.782 Mato Grosso 2.136.278 3.442.599 5.653.642 Centro-Oeste 5.111.583 6.816.139 10.532.835 Brasil 34.392.419 44.600.159 56.041.307 Fonte: para 1940, IBGE (1950, p. 83) - Recenseamento Geral do Brasil; para 1950, IBGE (1956, p. 49) – Censo Agrícola; e para 1960, Fundação IBGE (s.d., p. 27) – Censo Agrícola. I: Região da Serra dos Aimorés era território que estava em litígio entre Minas Gerais e Espírito Santo.

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Tabela 3.6.2: Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais - bovinos exportados em pé, 1936 a 1940, 1950 a 1951, e 1954 (número de cabeças)

Estado Ano

Mato Grosso Goiás Minas Gerais Total

1936 274.254 189.432 598.117 1.061.803 1937 277.210 253.971 666.419 1.197.600 1938 223.628 243.969 569.400 1.036.997 1939 212.241 259.090 511.175 982.506 1940 231.896 329.767 n.d. 561.663 1950 313.285 282.566 245.918 841.769 1951 346.370 302.741 272.196 921.307 1954 318.059 275.315 249.048 842.422

Fonte: de 1936 a 1940 para Mato Grosso: Boletim do Sindicato dos Invernistas e Criadores de Gado, Barretos, n. 107 – A, de 25 de set. de 1942; para Goiás, Informações Estatísticas, ano III, n. 3, do Departamento Estadual de Estatística de Goiás, 1941. Para Minas Gerais, ano 1936: Pecuária Mineira – exportação de Bovinos (Dep. Geral de Estatística), In: Revista da produção – Minas Gerais – Belo Horizonte, Agosto-Dezembro de 1938, n. 14, p. 14; para 1937 e 1938, informações prestadas pelo Dep. Estadual de Estatística de Minas Gerais; para 1939, informações prestadas pelo Serviço de Estatística da Produção do Ministério da Agricultura. Todos citados em Brito (1944, p. 11-12). n.d.: não disponível. Para os anos 1950, 1951 e 1954 os dados são do Ministério da Agricultura (apud VILLARES et al. 1957, p. 216).

Tabela 3.6.3: São Paulo - bovinos criados, entrados, saídos, abatidos e índice de abates, 1945 a 1954 (número de cabeças)

Ano Número de bovinos em São Paulo Índice de Abates

Criados Entrados Saídos Abatidos 1945 _ 590.440 _ 1.144.488 100 1946 _ 626.943 _ 1.423.002 124 1947 809.439 798.152 42.884 1.564.707 137 1948 973.584 823.793 65.812 1.731.565 151 1949 982.920 837.911 89.266 1.876.561 164 1950 1.067.226 841.769 102.261 1.783.816 156 1951 1.075.404 921.307 88.471 1.806.734 158 1952 981.531 812.933 140.061 1.908.240 167 1953 1.09.2235 749.681 109.713 1.654.403 145 1954 1.129.717 842.422 154.619 1.732.183 151 Fonte: Ministério da Agricultura apud VILLARES et al. (1957, p. 211-212).

Em 1946, foram enviando técnicos de diversas unidades da Secretaria da

Agricultura para os Estados Unidos, para especializarem-se nas mais diversas áreas da

tecnologia de alimentos, estando entre eles, um técnico com o objetivo de especializar-se na

industrialização da carne e derivados (TEIXEIRA & TISSELI, 1991). Em 1948, a Secretaria

de Agricultura firmou convênio com o Governo Federal, com objetivo de classificar os

produtos pecuários, seus subprodutos e resíduos de valor econômico, e no ano seguinte,

começou a realizar Concursos de Bois Gordos, os quais tinham por finalidade, servir de

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aporte para a decisão dos pecuaristas na seleção do gado para a produção de carne, o mais

precoce possível, quanto o meio permitisse. O contato com os juízes permitia a atualização

dos produtores em relação às demandas da indústria da carne e às tendências de mercado

(MARTINS, 1991).

A bovinocultura estava entre as principais atividades agropecuárias, em termos de

valores gerados, sendo que em 1948, ela estava em quinto lugar em importância econômica,

ficando atrás somente do café, algodão em caroço, arroz em casca e do milho, e seguia

tendência de forte crescimento (Tabela 3.6.4).

Tabela 3.6.4: São Paulo - Renda bruta da bovinocultura, valor e colocação por ordem de renda gerada entre os produtos agropecuários produzidos no estado, 1948 a 1953

Ano Valor (Cr$ 1.000) Posição 1948 1.295.211 5ª 1949 1.506.878 4ª 1950 1.748.919 3ª 1951 1.931.139 3ª 1952 2.789.328 3ª 1953 3.086.750 4ª Fonte: Revista de Economia Agrícola (1954, p. 21).

O Fomento à Produção Animal, órgão do Departamento de Produção Animal,

recebeu em 1950, um serviço de compra e venda de reprodutores criados no Departamento,

vendendo seus produtos através de leilão ou concorrência pública e comprando reprodutores

por solicitação de produtores, repassando-os a estes por parcelamento de quatro anos.

Recebeu também um auxílio voltado para pecuaristas interessados em investir na construção

de estábulos, silos e banheiros carrapaticidas e sarnicidas, ou outro tipo de instalação para

pulverização. Em relação à alimentação animal, foi aprovado o Regulamento para a

Fiscalização dos Produtos Fabricados ou Importados para Alimentação Animal (MARTINS,

1991).

Em 1951, estavam em operação, em São Paulo, os frigoríficos Anglo, Swift,

Wilson, Armour e o Cruzeiro, sendo este último voltado apenas para o mercado nacional.

Juntos, eles detinham setenta por cento dos abates inspecionados (REVISTA DE

ECONOMIA AGRÍCOLA 1952, p. 19) (Tabela 3.6.5).

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Tabela 3.6.5: São Paulo - Bovinos abatidos pelos cinco principais frigoríficos e pelos demais estabelecimentos sob Inspeção Federal, 1950 a 1955 (número de cabeças)

Ano Cinco principais frigoríficos Demais estabelecimentos

Número Percentual

1950 749.576 70 1.068.557 1951 813.007 70 1.163.694 1952 680.982 80 851.516 1953 749.529 75 1.006.051 1954 731.114 75 971.658 1955 728.598 75 970.836 Fonte: Revista de Economia Agrícola (1956b, p. 1 e 5).

Nos anos 1952, 1953 e 1954, esteve em vigor o Plano Quadrienal, o qual aplicou

valores acima do orçamento, em torno de, 17, 16 e 12% em cada um desses anos

respectivamente, sobre o orçamento normal da Secretaria de Agricultura, destinando-se aos

produtos agropecuários de acordo com a importância econômica que eles possuíam na

economia paulista (MARTINS, 1991). Os investimentos na área de carne fundamentavam-se

no melhoramento genético do rebanho, através do aprimoramento das raças e na difusão da

técnica de inseminação artificial, a qual, no Brasil, teve as primeiras pesquisas realizadas em

1950, pelo Departamento de Produção Animal de São Paulo que coletava e distribuía doses de

sêmen, obtendo índices de concepção de 66 a 69%. As progênies eram expostas nas

exposições animais, em cidades como Sorocaba e Pindamonhangaba, com o objetivo de

demonstrar aos pecuaristas, os benefícios da utilização da inseminação artificial (GARCEZ,

1952 apud MARTINS, 1991, p. 369; CAIELLI, 1991 apud MARTINS, 1991, p. 369).

Dentro do Plano Quadrienal, os investimentos em agrostologia visavam aumentar

a produção de sementes e mudas de forrageiras, ampliar a investigação de novas fontes de

proteína, como a soja, e de formas de conservação do alimento para o gado. O Instituto

Biológico ampliou as pesquisas no combate às doenças animais e o Departamento de

Produção Animal aumentou a velocidade do processo de implantação do Instituto de

Zootecnia (IZ), na Fazenda de Nova Odessa. Também foi instituído o Fundo de Pesquisas do

Departamento de Defesa Sanitária da Agricultura, o qual recebeu amparo de produtores rurais

e empresários, possibilitando campanhas de combate á diversas doenças e pragas. A base do

Plano Quadrienal estava no contato direto com o produtor rural, assim, as ações estavam

focadas na distribuição de mudas forrageiras, aumento da produção de doses de vacinas e

assistência zootécnica (MARTINS, 1991).

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O Plano Quadrienal também tinha, por objetivo, contribuir para sanar o que era

considerado o segundo maior problema do estado: a deficiência no abastecimento e a

deterioração dos alimentos, assim, surgiram investimentos no armazenamento de produtos de

origem animal. Com o mesmo objetivo, o Governo do Estado entrou em acordo com o

Governo Federal para ser beneficiado com o Plano de Interiorização dos Frigoríficos, para a

construção de unidades na Alta Noroeste e na Alta Sorocabana, possibilitando a instalação de

frigoríficos regionais próximos às fontes de matéria-prima, elevando o rendimento animal,

reduzindo o custo com frete de animais em pé, o qual dava prejuízos às ferrovias. O Plano

Quadrienal também possibilitou o aumento da produtividade do rebanho, através da vacinação

em massa (MARTINS, 1991).

Em relação à vacina contra a febre aftosa, em 1952, as instalações para a produção

deste imunógeno, já estavam concluídas, permitindo aos produtores rurais o correto

recebimento deste produto (GARCEZ, 1952 apud MARTINS, 1991, p. 364). Foram ainda

instituídos importantes fundos, dentre eles o de Pesquisa e Fomento Zootécnico e o de

Pesquisas do Instituto Biológico, em 1953 (MARTINS, 1991). Vale ressaltar que o primeiro

estado do Brasil a entregar seu próprio milho híbrido ao produtor rural, foi São Paulo, sendo a

segunda região do mundo a ter essa variedade (WUTKE, 1991 apud MARTINS, 1991, p.

368).

De acordo com dados levantados em 1953 e 1954, em São Paulo, entre as

pastagens plantadas, a maior incidência era de Capim Gordura, seguido pelo Colonião e o

Jaraguá (Tabela 3.6.6). O Capim Gordura abrangia áreas de exploração mais antigas, pois é

menos exigente, adaptando-se bem em solos ácidos decorrentes da exploração prolongada. O

Colonião havia sido recentemente implantado no estado, mas pelas características de

desenvolver-se rapidamente, produzir grande quantidade de sementes e de massa verde, sendo

bem aceito pelo gado e excelente para engorda, estava em plena expansão, e vinha sendo

responsável pelas alterações nas áreas paulistas fronteiriças com o Mato Grosso, onde as

empreitas derrubavam a mata, utilizavam a área pelo período de dois a três anos, e depois

restituía ao proprietário já com a pastagem de Colonião plantada. O Colonião também vinha

se espalhando em áreas antes ocupadas pelo algodão como Pereira Barreto, Presidente

Wenceslau, General Salgado e outras. Nas áreas de campo e cerrado, os usos eram variados,

muitos eram destinados à atividade de cria e recria, mas não para a engorda. Dentre os 8,2

milhões de hectares de pastagem plantada, parte servia de reserva para as culturas vegetais,

pois alguns proprietários utilizavam o pasto como cobertura da área enquanto ela descansava,

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recuperando alguma fertilidade, e com o passar do tempo, essas áreas poderiam ser

novamente voltadas para o cultivo agrícola (REVISTA DE ECONOMIA AGRÍCOLA,

1955b).

Tabela 3.6.6: São Paulo - Utilização da área rural, exclusive litoral, 1953 a 1954

Tipo de ocupação Hectares Percentual da área do Estado

Pasto Formado 8.211.060 35,90

Gordura 3.097.600 13,54

Colonião 2.565.200 11,22

Jaraguá 2.250.600 9,84

Outros pastos 297.660 0,13 Campo 2.758.800 12,06

Cerrado 2.178.000 9,52

Matas Naturais 3.146.000 13,76

Áreas Reflorestadas 338.800 0,15

Culturas, sedes e terras não especificadas

6.236.340 27,27

Total Rural menos litoral 22.869.000

Fonte: Subdivisão de Economia Rural (apud Revista de Economia Agrícola, 1955b, p. 10).

Segundo a Revista de Economia Agrícola (1956a) comparando-se os dados dos

Censos Agropecuários de 1940 com os de 1950, ocorreu aumento de 36% da área destinada à

pastagem no Estado de São Paulo.

A concessão de crédito pela Carteira de Crédito Agrícola do Banco do Brasil

também fornecia importante apoio para a pecuária paulista, especialmente para a finalidade de

aquisição de animais para a fase de terminação (Tabela 3.6.7).

Tabela 3.6.7: São Paulo - Crédito concedido pela Carteira de Crédito Agrícola do Banco do Brasil para a pecuária, 1954

Finalidade Valor (Cr$ 1.000) Aquisição de bovinos para engorda 715.367 Aquisição de bovinos para cria 152.570 Aquisição de bovinos para recria 96.006 Total 963.943

Fonte: Serviço especial de estatística da carteira de crédito agrícola e industrial do Banco do Brasil (apud Revista de Economia Agrícola, 1955b, p. 6).

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Em 1955, a capacidade de abate anual disponível em São Paulo, era de 1.680.000

animais, porém, estes estabelecimentos nunca haviam trabalhado em suas capacidades

máximas, estando com uma capacidade ociosa de 354.897, dada a falta de matéria-prima

(VILLARES et al., 1957, p. 213-215) (Tabela 3.6.8). Três estabelecimentos estavam

fechados por motivos diversos, entre eles, pela falta de matéria-prima, e juntos tinham a

capacidade de abater 155.000 bovinos por ano, porém, nunca haviam trabalhado em suas

capacidades máximas, abatendo ao todo 76.339 bovinos por ano, com uma capacidade ociosa

de 78.661 bovinos. Havia em 1955, três novos estabelecimentos em construção, que

agregariam a capacidade anual de abate de 790.000 bovinos. No momento em que ficassem

concluídos, São Paulo contaria com um parque de abate de bovinos, com capacidade para

2.475.000 cabeças bovinas, enquanto que o Plano de Interiorização da Lei n. 1.168 de 2 de

agosto de 1950, estava prevendo para Mato Grosso, uma capacidade para abater 300.000; para

Goiás 150.000; e para Minas Gerais 450.000, totalizando 900.000. Assim, a pergunta que se

fazia era se São Paulo teria gado suficiente para atender toda a capacidade de abate instalada.

Em 1956, a produção de carne bovina ocupava o segundo lugar na agropecuária

de São Paulo, estando atrás somente do café o qual era, em termos mundiais, a principal

lavoura (VILLARES et al., 1957, p. 209).

Durante a administração de Jânio Quadros, entre os anos de 1955 a 1959, diversas

áreas foram destinadas à experimentação e fomento bovino, sendo determinantes para a

história da seleção do gado zebu. Chaves (1952 apud MARTINS, 1991, p. 371) cita o Posto

Experimental de Criação, localizado na Estrada São José do Rio Preto - Mirassol, o qual, além

de realizar provas do boi gordo e exposições, sediava, em colaboração com a Associação

Nacional de Criadores de Nelore do Brasil e Associação Rural de Rio Preto, um núcleo

voltado para a o aprimoramento genético da Raça Nelore.43

Em 1957, foram criadas Estações Zootécnicas em Itapetininga e Tatuí, em seguida

em Itaberá, Assis e Santo Anastácio. Em Ribeirão Preto, a raça Gir passou a ser o objetivo da

Fazenda Experimental, a qual ficaria sob tutela da Associação de Criadores Gir do Brasil. Em

1958, foi fundada a Estação Experimental da Água Funda, localizada na capital, que tinha,

entre os seus objetivos, a agrostologia (CHAVES, 1952 apud MARTINS, 1991, p. 371).

43 Em 1970, recebeu o nome de Estação Experimental de Zootecnia de São José do Rio Preto, e realizava estudos com as raças Santa Gertrudes e mestiços Devon-Guzerá, visando a produção de carne, seleção e melhoramento genético no desenvolvimento de reprodutores (MORETI & FONSECA, 2005).

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Tabela 3.6.8: São Paulo - Capacidade anual de abate instalada, matança máxima verificada em todo o período de operação do estabelecimento, número de bovinos abatidos e capacidade ociosa dos em

operação, fechados e novos, 1955

Estabelecimentos Capacidade máxima

(A)

Matança máxima

verificada (B)

Número de

bovinos abatidos em 1955

Capacidade ociosa (A – B)

Em operação Armour 350.000a 320.976b 194.957b 126.019 Anglo 300.000 a 249.223b 167.307b 81.916 Wilson 300.000 a 280.850b 204.944b 75.906 Swift 160.000 a 153.660b 132.470b 21.190 Matadouro Municipal Carapicuíba 175.000 a 174.582c 142.622c 32.060 Minerva 120.000d 20.015d 9.936d 10.079 Eder 75.000 d 38.185d 24.082d 14.103 José Bonifácio 45.000 d 10.003d 6.971d 3.032 Rio Claro 20.000 d 5.582d 944d 4.638 Pradimarti & Irmãos 60.000 d 2.027d 2.063d 564 Mouran 75.000e 70.000e 70.000e 5.000

Total dos em operação 1.680.000 1.325.103 956.296 354.897

Fechados Bandeirantes 70.000f 24.339 1.340 45.661 São Carlos 60.000g 32.000 - 28.000 Prudentina 25.000h 20.000 8.000 5.000

Total dos fechados 155.000 76.339 9.340 78.661

Novos T. Maia 250.000i Jundiaí 240.000j Morandi 150.000k

Total dos Novos 790.000

Total 2.475.000 1.401.442 965.636 433.558 Fonte: a cálculos verbais fornecidos pelos interessados; b dados do Sindicato do Frio no Estado de São Paulo; c dados do Ministério da Agricultura; d inquérito organizado pelo D.P.A. com informações dos próprios interessados; e dados verbais fornecidos pelo proprietário, sendo que a planta se encontrava em expansão e passaria a ter a capacidade de abater 150.000 cabeças previstas para 1957; f estimativa do Ministério da Agricultura; g dados fornecidos pelos interessados; h dados do D.P.A.; i relatório enviado pelo Frigorífico T. Maia à Comissão que formulou o trabalho VILLARES et al. (1957); j informações verbais prestadas pelo contador da firma Sr. Geraldo de Oliveira à Comissão que formulou o trabalho VILLARES et al. (1957); k relatório enviado pela Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto à Comissão que formulou o trabalho VILLARES et al. (1957). Todos os dados estão citados em VILLARES et al. (1957, p. 213-215).

Entre 1959 e 1963, no Governo Carvalho Pinto, foi implantado o Plano de Ação,

através de um acordo com a União, o qual direcionou a Secretaria de Agricultura para ações

de modernização, buscando substituir os velhos campos de café por novas culturas e de

completar a rede de experimentação e fomento técnico, suprindo-as de todas as carestias que

limitavam seu desempenho. Assim, foram equipadas adequadamente, oito fazendas

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experimentais; cinco postos de criação; nove recintos de exposição; dezoito estações

zootécnicas; quinze postos de sementes; e outros, a fim de desenvolver o fomento vegetal e

animal. Também foi equipado adequadamente o Instituto Agronômico e suas quatorze

fazendas experimentais. Foi completada a construção e equipagem de vinte e cinco Escolas de

Iniciação Agrícola. Foram construídas e equipadas trezentos e oito Casas de Lavoura; vinte e

nove sedes de Delegacias Agrícolas; e dezesseis sedes de extensão agrícola, afim de melhorar

a assistência técnica aos agricultores, instalando e equipando adequadamente a rede de

fomento. Foram criadas Estações Zootécnicas em Fartura, Lorena, Rancharia, Olímpia,

Fernandópolis, Santo Anastácio e São José do Rio Preto; e expandida a rede de armazéns e

silos para melhorar o abastecimento da capital (MARTINS, 1991).

Dentro do Plano de Ação, a tecnologia de alimentos foi eleita como prioridade em

1959. O assunto ainda era incipiente no Brasil, e ajuda internacional foi requerida para

auxiliar o Conselho Consultivo de Tecnologia de Alimentos, criado em 1960.44 Naquele

momento, a demanda por difusão de informações sobre tecnologia no processamento dos

alimentos era muito grande e fazia-se necessária a abertura de linhas de pesquisa no Instituo

Agronômico de Campinas, que abordassem tal área e que viessem a criar soluções para os

problemas enfrentados. Assim, o Conselho foi criado na Secretaria de Agricultura, com o

objetivo de iniciar o processo de desenvolvimento da pesquisa na tecnologia dos produtos

agrícolas (MARTINS, 1991).

Em 1961, foi criado o Fundo de Expansão Agropecuária com o objetivo de

promover a pecuária entre outras atividades e a industrialização dos seus produtos. O Fundo

obteria recursos, através do orçamento e do pagamento das amortizações. Para a pecuária de

corte, estava prevista a compra de reprodutores para o aprimoramento racial em rebanhos de

raça pura.45 No mesmo ano, o Departamento de Produção Animal realizou acordo com o

International Basic Economy Corporation Research Insitute (IBEC-IRI) a fim de aumentar as

pesquisas voltadas para a nutrição animal, e em última instância, aumentar a produção de

alimentos de origem animal. Uma das metas do acordo, era a implantação do Centro de

Nutrição Animal (CNA), inaugurado em 1962, com uma área de mil hectares. Mais tarde, o

centro passaria a chamar-se Centro de Nutrição Animal e Pastagens (CNAP), com grande

destaque no cenário nacional. O acordo foi durou até 1968 (MORETI & FONSECA, 2005).

44 Decreto n. 37.143, de 24 de agosto de 1960 apud Martins (1991, p. 406). 45 Decreto n. 38.536, de 29 de maio de 1961 apud Martins (1991, p. 392).

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Uma das importantes ações do Conselho Consultivo de Tecnologia de Alimentos

foi a criação do Centro Tropical de Pesquisa e Tecnologia de Alimentos - CTPTA em 1963,46

a partir de convênio entre o Fundo Especial das Nações Unidas e o Governo Federal, firmado

em 1960. Este último repassou para o Estado de São Paulo, a incumbência de criar o Centro

com o objetivo de desenvolver pesquisas e serviços, tanto na preservação quanto no

processamento de alimentos de origem vegetal. Em 1966, foi criada a Comissão de

Tecnologia Vegetal e Animal na Secretaria da Agricultura, a qual, em 1967, apontou a

necessidade de ser dada a pesquisa, na área de alimentos de origem animal, o mesmo

tratamento que já vinha sendo dado aos de origem vegetal. Assim, em 1969, o Centro

Tropical de Pesquisas e Tecnologia de Alimentos passou a ser o Instituto de Tecnologia de

Alimentos (ITAL), o qual tem por objetivo desempenhar atividades referentes à tecnologia de

alimentos, incluindo os de origem animal (TEIXEIRA & TISSELI, 1991).47

O ITAL recebeu a função de conduzir pesquisas e aplicação de técnicas de

preparo, armazenamento, processamento, embalagem, distribuição e utilização de alimentos,

treinamento de pessoal para indústria, formação de especialistas e assessoramento para crédito

oficial destinado ao financiamento de projetos relacionados à indústria de alimentos

(MARTINS, 1991). Dentre as seções de Processamento de Alimentos, estava a de Carnes e

Derivados, a qual possuía as seguintes atribuições:48

Estudar as diversas matérias-primas utilizadas pela indústria de carne e derivados; - desenvolver técnicas mais adequadas para o processamento de carne e derivados; - estudar novos produtos e o aproveitamento de subprodutos; - desenvolver estudos relativos à tecnologia de ovos e seu aproveitamento industrial; - estudar problemas específicos relacionados com projetos de pesquisa ou por solicitação de terceiros; - colaborar com o ensino e aperfeiçoamento de pessoal técnico. (TEIXEIRA & TISSELI, 1991, p. 97).

Em 1965, a rede de Casa de Lavouras foi ampliada para que todos os municípios

do estado tivessem assistência técnica.49 No ano seguinte, foi criada uma superintendência

autárquica, submetida à Secretaria de Agricultura, e financeiramente submetida à Secretaria

da Fazenda, chamada Superintendência do Abastecimento do Estado de São Paulo – SAESP,

através da Lei 9.356 de 16/05/1966, a qual tinha, entre suas atribuições, coordenar um

46

Decreto Estadual 42.424, de 30 de agosto de 1963 apud Martins (1991, p. 334). 47

Decreto n. 52.167 de 14 de julho de 1969 apud Teixeira & Tisseli (1991, p. 97). 48 Portaria CPA n. 81, de 18 de novembro de 1970 apud Teixeira & Tisseli (1991, p. 97). 49 Decreto n. 45.556 de 1965 apud Martins (1991, p. 410).

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programa de expansão de armazéns frigoríficos, melhoria na indústria de alimentos e criação

de condições facilitadas para a aquisição de bens de produção por parte dos produtores rurais

(MARTINS, 1991).

Em 1967, foram criados Conselhos Técnicos de Coordenação Regional junto a

cada uma das Seções de Extensão Agrícola e Conselhos Agropecuários Municipais, em todos

os municípios, onde havia Casa da Lavoura, com o objetivo de obter informações diretas dos

produtores rurais. Os Conselhos Municipais repassavam as necessidades eleitas como

prioritárias pela população local, para os Conselhos Regionais, que repassavam diretamente

ao Secretário. O Conselho Agropecuário Municipal, integrado por representantes da

Prefeitura Municipal, Sindicato Patronal, Associação Rural, Cooperativas Agropastoris,

Sindicato de Trabalhadores Rurais, Carteiras Agrícolas, Departamentos e Autarquias, sugeria

soluções, orientava programas de trabalho, apreciava a ação de entidades oficiais, autárquicas

paraestatais ligadas ao setor, encaminhando relatório ao Conselho Técnico (MARTINS,

1991).

Assim, a pesquisa, o fomento e a assistência técnica paulistas aparecem com

proeminência no cenário agrícola nacional, tendo-se antecipado e superado, em termos de

estruturação técnica organizacional, aos demais Estados da Federação, ampliando-se a

assistência técnica, fundamentada na fiscalização e prestação de serviços, na produção de

sementes e mecanização, sendo definida a ação como Assistência Técnica Integral cujo

objetivo era racionalizar as atividades voltadas para o agricultor (MARTINS, 1991).

Em 1967, houve nova reforma na Secretaria de Agricultura, a qual deveria agora

formular políticas agrícolas e dedicar-se à pesquisa, experimentação e assistência técnica

(MARTINS, 1991).50

No ano seguinte, foi criado o Sistema de Órgãos Consultivos da Secretaria da

Agricultura, o qual visava permitir que os produtores rurais participassem diretamente no

debate sobre questões de importância para eles. O Sistema era composto pelos Conselhos

Agrícolas Municipais, Fóruns Agrícolas, Alto Conselho Agrícola, Comitês, Conselhos e

Grupos de Trabalho. Os Grupos de Trabalho atuavam em diversas áreas, sendo algumas delas

o Grupo de Trabalho da Industrialização da Carne; o Grupo de Trabalho do Centro

Internacional de Pesquisa e Treinamento em Nutrição Animal; e o Grupo de Trabalho da

Brucelose. Havia também a Comissão Especial de Forrageiras e a Comissão Especial de

50 Decreto n. 48.133 de 20/06/1967 apud Martins (1991, p. 426).

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Estudo da Legislação Sobre Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal

(MARTINS, 1991).51

O Grupo de Trabalho da Industrialização da Carne tinha por objetivo, o estudo e a

proposição de propostas para os problemas de abastecimento e distribuição. O Grupo de

Trabalho do Centro Internacional de Pesquisa e Treinamento em Nutrição Animal deveria

ocupar-se de trâmites, inclusive de linhas de pesquisa, através de convênios internacionais,

para a efetiva instalação do Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa. O Grupo de Trabalho

Brucelose, criado em 1968, assim como os dois anteriores, dedicava-se aos trabalhos relativos

à erradicação e controle desta doença. Já a Comissão Especial de Forrageira, criada em 1968,

dedicava-se à procura de soluções para a falta sazonal de alimento e a ampliação das

informações sobre os benefícios da rotação de pastagem/leguminosa para a fertilidade do solo,

ensilagem, consórcio de pastagens e outras técnicas. A Comissão de Estudo da Legislação

Sobre Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal havia sido criada em

1969, a pedido do Sindicado da Indústria de Laticínios (MARTINS, 1991).

Foi criada também, a Comissão Estadual de Combate à Febre Aftosa – CECOFA,

composta por representantes da Secretaria de Agricultura, Universidade de São Paulo

(Faculdade de Medicina Veterinária), Ministério da Agricultura e Federação da Agricultura

do Estado de São Paulo - FAESP (MARTINS, 1991).

51 Decreto n. 48.228 de 12/07/1968 apud Martins (1991, p. 436).

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Capítulo IV - TRANSFORMAÇÕES NA CADEIA AGROALIMENTAR DE CARNE

BOVINA: A FEDERALIZAÇÃO NORMATIVA DOS FRIGORÍFICOS E A

OCUPAÇÃO DA FRONTEIRA AGRÍCOLA (1968/1971 A 1989)

Este capítulo, dividido em três seções, compreende o período entre os anos de

1968 e 1989. No final da década de 1960, a União percebe e decide enfrentar a disparidade

existente no parque de abate brasileiro e implanta, a partir do início da década seguinte, o

processo de federalização normativa no setor, modernizando a maior parte dos frigoríficos.

Tal processo, apesar de ter sido encerrado na década de 1980, resultou em uma série de

avanços para a cadeia agroalimentar da carne bovina.

Também no início da década de 1970, o Governo Federal implanta os projetos de

desenvolvimento nas fronteiras agrícolas, possibilitando que áreas anteriormente utilizadas

somente para cria e recria, também realizassem a terminação. Os efeitos de tais projetos

podem ser visualizados nos dados do Censo Agropecuário de 1985.

Na primeira seção, apresentamos o processo de federalização do setor de abates,

numa tentativa do governo brasileiro, de criar condições iguais entre a carne exportada e a

consumida no mercado interno, evitar a sonegação fiscal e aumentar a higiene e a

rentabilidade da rês abatida, através do aproveitamento completo dos subprodutos do abate.

Na segunda seção, é abordada a dificuldade da cadeia de carne bovina em

exportar e atender a demanda interna, e a expansão do rebanho para a área de fronteira

agrícola, criando as condições para o aumento da produção de carne e das exportações.

Na terceira seção, abordamos as políticas públicas implantadas em São Paulo,

principal exportador de carne bovina do país, voltadas para o melhoramento genético do

rebanho, a evolução na tecnologia da carne, os avanços em sanidade animal e os experimentos

em pastagem.

4.1 O processo de federalização normativa do parque nacional de abate52

A federalização normativa do parque nacional de abate começou em decorrência

de uma iniciativa do governo do estado de São Paulo. Em 1968, o Governador de São Paulo,

Roberto Costa de Abreu Sodré, determinou a formação de uma comissão de alto nível, para

verificar a qualidade do serviço de inspeção dos produtos de origem animal da Divisão de

52 Esta parte é baseada quase que exclusivamente na obra de Caldas (1977).

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Inspeção de Produtos Alimentícios de Origem Animal (DIPAOA), da Secretaria de

Agricultura. Seriam verificados a qualificação e o número de funcionários, as condições

técnico-sanitárias dos estabelecimentos de abate sob inspeção estadual e, propostas sugestões

de acordo com o que fosse encontrado53.

O minucioso relatório apresentou uma realidade de desordenamento completo e

influenciou, inclusive, as autoridades da União, levando o Serviço Nacional de Informações

(SNI), a emitir a seguinte afirmação: a “única solução para o chamado “Problema da Carne”,

seria a modificação da lei, de modo a que, todos os estabelecimentos de produtos de origem

animal passassem à órbita da responsabilidade do Ministério da Agricultura”, já que o

problema de abastecimento da carne continuava no período de entressafra (CALDAS, 1977,

p. 77-78).

Ademais, as charqueadas paulistas realizavam o envio de charque para o Rio de

Janeiro e para as regiões Norte e Nordeste. Havia muita clandestinidade, tanto nos

fornecedores para as charqueadas de ponta de agulha e dianteiros, quanto nas próprias

charqueadas. O Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA), do

Ministério da Agricultura, fazia fiscalização cerrada nas fronteiras do Estado de São Paulo e

acabava por pressionar os estabelecimentos clandestinos a se regularizarem. Segundo Caldas

(1977), é possível afirmar que o comércio ilegal da “ponta de agulha” foi também um dos

fatores desencadeantes da federalização.

Um trabalho realizado pelo Ministério da Agricultura, em 1970, em conjunto com

o CONDEPE, apontou uma capacidade ociosa de 68,4%, em 1967, e de 65,2%, em 1968, na

indústria de abate e preparo de carne e derivados sob Inspeção Federal, no Rio Grande do Sul,

São Paulo, Paraná e outros estados.54 Enquanto isso, o número de animais abatidos em

estabelecimentos com fiscalização virtual dos estados, se expandia (CALDAS, 1977). 55

A Lei n 1.283 de 1950, a qual foi regulamentada pelo RIISPOA, determinava no

artigo 4º, que em estabelecimentos que abatessem e/ou manipulassem produtos de origem

animal e atendessem ao comércio interestadual ou internacional, a inspeção seria do SIF, e

53

Resolução n. 2.031, de 03 de abril de 1968 apud Caldas (1977, p. 77). 54 CALDAS, R. B. e outros. Estudos de comercialização e industrialização de gado e carnes – parque industrial de carnes e derivados de São Paulo. Rio de Janeiro, CONDEPE/M. A., 1970, 48 p. apud CALDAS (1977, p. 79). 55 De acordo com IEL, CNA E SEBRAE (2000) a partir de dados do DIPOA (apud Gazeta Mercantil, 1998), os 228 frigoríficos sob SIF em 1994, apresentavam capacidade ociosa de 17%. Em 1996, dos 180 frigoríficos sob SIF, a capacidade ociosa era de 36% (DIPOA apud FAVARETE FILHO & DE PAULA, 1997). Perez (2003) aponta capacidade ociosa de 22% entre grandes e médios frigoríficos em 2003.

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118

nos que realizassem comércio somente dentro da área de um município ou de um estado, a

inspeção seria das Secretarias ou Departamentos de agricultura dos Estados e em outro artigo

dava a tais órgãos poderes para emitirem legislações suplementares sobre o tema (BRASIL,

1950d).

A fiscalização dos estados era extremamente precária ou inexistente. Assim, a

produção da carne deixava de gerar renda tributária e subprodutos, pois os estabelecimentos

clandestinos realizavam apenas o aproveitamento parcial da rês, deixando inclusive de

produzir alimentos imprescindíveis para a suinocultura e avicultura. Colocavam em risco a

saúde pública ao fornecerem um produto sem nenhuma inspeção, e prejudicavam, através de

concorrência desleal, a indústria que trabalhava legalmente, a qual tinha que arcar com todos

os custos de ordem tributária e ainda ter partes do animal, que por motivo de condenação

sanitária, eram destinadas à elaboração de produtos de menor valor comercial, como farinhas

em geral (CALDAS, 1977).

Todos esses elementos apontavam que, depois de vinte anos da publicação do

RIISPOA, os estados não tinham sido capazes de se organizarem e realizarem

competentemente a atividade de inspeção imprescindível à saúde pública e de implicações

econômicas (CALDAS, 1977). Tal ineficiência levou o Governo Médici a publicar a Lei n.

5.760, de 3 de dezembro de 1971, que determinava que todo abate de animais, processamento

e estocagem de produtos de origem animal e subprodutos, passariam a estar sob inspeção

exclusiva do serviço federal e por isso ficou conhecida como lei da federalização (BRASIL,

1971). 56

A lei da federalização teve sua implantação iniciada na região Centro-Sul, já que

ali estavam os maiores rebanhos bovino, suíno, ovino e avícola. Em termos de gado bovino de

corte, o chamado Brasil Central Pecuário, concentrava 59,3%, e abatia 63,6% do desfrute do

rebanho bovino brasileiro.57 Ademais, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo

Horizonte constituíam os principais centros de consumo, além de estarem instaladas nessa

região, as indústrias de abate mais organizadas, modernas, além da maior disponibilidade de

rodovias que atendiam aos centros de consumo (CALDAS, 1977).

56

Regulamentada através do Decreto n. 73.116, de 8 de novembro de 1973, publicado em 9 de novembro de 1973, no Diário Oficial da União. 57 PARDI, M. C.; CALDAS, R. B. Grandes deslocamentos de gado bovino de corte no Brasil. Anais do XI Congresso Brasileiro de Veterinária e do I Congresso Fluminense de Medicina Veterinária. Niterói, 1968, vol. 2, 164 p. apud CALDAS (1977, p. 83).

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119

Assim, o DIPOA realizou na região acima especificada, e em seguida, em

Sergipe, Amazonas, Pernambuco e Piauí, um diagnóstico detalhado sobre todos os

estabelecimentos de abate que estavam sob a alçada estadual, classificando-os como

recuperáveis ou irrecuperáveis. Os considerados recuperáveis teriam condições de receberem

a Inspeção Federal, caso passassem por grandes reformas, e até que isso ocorresse, seriam

temporariamente interditados. Já os considerados irrecuperáveis seriam terminantemente

interditados (CALDAS, 1977) (Tabela 4.1.1).

Tabela 4.1.1: Brasil - Matadouros bovinos constantes no levantamento do DIPOA com o objetivo de implantar a Federalização, 1971

Estado Número de estabelecimentos

Total Recuperáveis Irrecuperáveis Amazonas 3 0 3 Distrito Federal 6 2 4 Espírito Santo 73 1 72 Guanabara 1 0 1 Minas Gerais 96 12 84 Paraná 72 5 67 Rio de Janeiro 63 6 57 Rio Grande do Sul 576 6 570 Santa Catarina 118 1 117 São Paulo 145 23 122 Sergipe 26 0 26

Total 1.179 56 1.123 Fonte: CALDAS (1977, p. 85).

Dentro da análise realizada, o DIPOA levava, em consideração, o mercado

abrangido por estabelecimentos sob Inspeção Federal; a identificação de cidades com 50.000

habitantes ou mais; os diferentes problemas industriais e as potencialidades econômicas das

regiões; a amplitude do território brasileiro; a infraestrutura garantidora do abastecimento das

áreas que recebessem o programa, de acordo com a produção primária, a industrialização, a

comercialização; e as implicações políticas consequentes (CALDAS, 1977; PARDI, 1996).

O panorama encontrado foi de estabelecimentos ainda em estágio tecnológico-

sanitário primitivo. Possuíam uma instalação tão simples que praticamente apenas a atividade

de abate era realizada, ocorrendo o desperdício de todo o restante dos subprodutos e

desprovidos de qualquer equipamento. A sangria e a esfola eram realizadas diretamente no

piso, com apenas uma pequena elevação da carcaça para o restante do processo, com

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instrumentos arcaicos como machado e serrote. Era comum a ausência de energia elétrica e a

falta de qualquer possibilidade de higienização das instalações e das rústicas ferramentas. A

localização era aleatória, sem nenhum planejamento geoeconômico ou sanitário (CALDAS,

1977).

A inspeção sanitária das carnes não possuía regularidade, sendo que alguns

técnicos eram responsáveis por até trinta estabelecimentos. Sem equipamento nenhum, como,

por exemplo, mesas para inspeção das vísceras, alguns servidores simplesmente aguardavam

o momento de carimbar a carcaça e a grande maioria nem sabia quais deveriam ser as tarefas

a serem realizadas para a efetiva inspeção. Muitas vezes o carimbo era feito pelo próprio

proprietário ou mesmo pelo açougueiro. Não havia nenhum direcionamento diferenciado para

vísceras ou partes da carcaça impróprias para consumo, não só pela ausência de equipamentos

adequados para seu processamento, como também pela inépcia do funcionário em analisá-las

e determiná-las como tal. A pele, por exemplo, era um dos subprodutos mais valorizados

também naquela época, passava por um processo de desvalorização, desde a esfola com facas

retas até o indevido tratamento dado na sequência (CALDAS, 1977). As instalações tinham

muito mais um aspecto doméstico do que qualquer outro (CALDAS, 1975).

No Rio Grande do Sul, a indústria organizada abateu 469.945 cabeças de gado em

1970, porém foi responsável pela menor parcela no abastecimento de Porto Alegre,

fornecendo, em 1967, apenas 27,7% do total comercializado. Enquanto nos estabelecimentos

precários, o abate havia sido de 312.893 animais em 1970. Impressionava o fato de serem tão

desorganizadas e conseguirem poder sobre o mercado de Porto Alegre, excluindo a

organizada, mas isso era possível, graças aos preços impossíveis de serem alcançados pela

organizada, que cumpria todos os processos exigidos pela legislação (CALDAS, 1977).

Assim, os milhões de cruzeiros investidos para adequar as plantas às Normas

Higiênico-Sanitárias e Tecnológicas para Exportação de Carnes, viam-se, em parte, sem

retorno, dada a capacidade ociosa. Enquanto a ausência de inspeção nos demais

estabelecimentos gerava perda de arrecadação tributária e possibilitava a esses, lucros

diferenciados que, inclusive, apresentavam um número de animais abatidos aos fiscais

diferente do realmente efetivado. Era comum a constante mudança de razão social e de

localização após pedido de falência, aplicando calote nos pecuaristas (CALDAS, 1977).

No caso da Grande Porto Alegre, que era composta por 1.548.052 habitantes, foi

detectado que, 124 estabelecimentos de abate sob fiscalização estadual forneciam a carne

consumida, além dos não identificados e 7 sob Inspeção Federal. Para chegar ao difícil

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121

número sobre o total da carne consumida na Grande Porto Alegre, o DIPOA montou barreiras

que funcionavam 24 horas, nas quatro estradas de acesso à região, e foi levantado então, o

abastecimento de março a dezembro de 1972, e de janeiro a março de 1973. Foi detectado o

estabelecimento de procedência da carne e foram identificados todos os pontos comerciais

que faziam a venda de carne ao consumidor, como açougues (1.504), supermercados (129) e

churrascarias (80), os quais totalizavam em 1972, 1.713 estabelecimentos (CALDAS, 1977).

A partir de fevereiro de 1972, foram iniciadas as interdições dos matadouros no

Rio Grande do Sul, o primeiro estado onde foi implantado o processo de federalização. Ao

todo, 441 estabelecimentos tiveram suas atividades suspensas, sendo que a maior parte não

passava de um posto de abate, passando o Estado a ser abastecido por carne com inspeção

federal (CALDAS, 1977).

A seguir, o processo de federalização foi implantado no estado de São Paulo. De

posse do diagnóstico realizado em 1971, passou-se para o levantamento do abastecimento de

carne na Grande São Paulo, o qual foi feito a partir dos dados de envio desse produto sob

Inspeção Federal, a partir de Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Guanabara,

Goiás, Paraná, Minas Gerais e Santa Catarina, e do próprio estado. Também, foram enviados

técnicos do serviço federal para abatedouros e entrepostos estaduais, os quais totalizavam 54,

sendo 37 de bovinos e 8 entrepostos de carnes e derivados, os quais permaneciam em tempo

integral, apontando todas as remessas de carne para a Grande São Paulo. Para verificar se a

abrangência do trabalho estava sendo correta, o DIPOA realizava, com regularidade, barreiras

nas estradas de acesso á região (CALDAS, 1977).

Observou-se que, 80% da carne consumida na Grande São Paulo, era proveniente

da produção do próprio estado. Estipulou-se que, 6 milhões de toneladas deveriam ser

substituídas por carne de procedência de estabelecimentos sob inspeção federal, já que

aproximadamente era esse montante fornecido, mensalmente, por estabelecimentos sem

inspeção federal (Tabela 4.1.2). Em fevereiro de 1973, foi iniciado o processo de interdição e

em quatro meses 68 estabelecimentos tiveram suas atividades suspensas, na sequência foram

interditados estabelecimentos no interior do estado (CALDAS, 1977). Nesses locais, o

abastecimento passou a ser feito pelos frigoríficos regionais, sob inspeção federal,

concretizando a ideia de abastecimento regionalizado. Até o final de 1975, o Estado de São

Paulo com 175 municípios e 16.781.500 de habitantes, teve 127 matadouros de bovinos e/ou

suínos e 114 fábricas de conservas interditados (PARDI, 1996).

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122

Tabela 4.1.2: Carne bovina enviada para a Grande São Paulo a partir de estabelecimentos de abate com inspeção Federal (SIF) ou sob outro tipo de inspeção, ou sem nenhuma (quilos e percentual)

Meses Com SIF % Sem SIF % Total Novembro de 1972 15.363.572 75,04 5.109.736 24,93 20.473.308 Dezembro de 1972 15.441.723 72,55 5.842.143 27,45 21.283.866 Janeiro de 1973 16.369.414 70,69 6.787.932 29,31 23.157.346

Total 47.174.709 - 17.739.811 - 64.914.520 Fonte: GEIPOA do DIPOA em São Paulo apud CALDAS (1977, p. 114).

Durante o processo de federalização em São Paulo, os estabelecimentos sob

Inspeção Federal passaram por ampliação e modernização de suas estruturas e equipamentos,

ao mesmo tempo, em que os estabelecimentos que ainda não possuíam esta instância de

inspeção, mostraram-se entusiastas desse processo, como solução para o conhecido problema

da carne, e fizeram parte do grande número de novos projetos inscritos junto ao SIF, tanto de

reformas quanto de novas plantas. Tais mudanças implantaram no Estado todo, um grande

canteiro de obras, tanto novas quanto modernizantes, com uma distribuição geográfica

estratégica (CALDAS, 1977).

As novas instalações estimularam a criação do Projeto Brasileiro de Matadouro-

Frigorífico, que ficaria internacionalmente reconhecido (SANTOS, 2005). A orientação para

os projetos era baseada no RIISPOA e nas Normas Higiênico-Sanitárias, assim como no

Manual Inspeção de Carnes. Padronização de Técnicas, Instalações e Equipamentos, Currais e

seus Anexos. I – Bovinos – Sala de Matança, realizado pelo INPRO de São Paulo, órgão do

SIF, em 1971. Apresentava em detalhes toda a montagem das salas com croquis, da higiene

das instalações e dependências, e padronização dos equipamentos destinados à inspeção ante

e post-mortem, além de muitas sugestões referentes aos projetos de elaboração de currais e

anexos (PARDI, 1996). O manual foi apresentado no exterior, durante a discussão do Códex

Alimentarium, em Londres, 1971 (SANTOS, 2005).58

A federalização gerou crescimento do número de matadouros-frigoríficos,

consolidando a indústria tipicamente brasileira, criando-se independência em relação aos

primeiros modelos de origem inglesa ou americana aqui instalados. As empresas

internacionais já não tinham o domínio do mercado interno, também estavam superadas as

58

No final da década de 1960 o SIF criou no Frigorífico anglo de Barretos o Centro de Treinamento em Inspeção de Carnes, o qual formava os inspetores e auxiliares (FELÍCIO, 2015). Desde o seu início, a formação dos novos servidores, era uma preocupação central do SIF, isso incluiu o envio de técnicos para estudos no estrangeiro, o convênio com a Universidade Federal Fluminense para o curso de mestrado, entre outros. Atualmente, infelizmente, imbuir os novos técnicos da importância ideológica da responsabilidade das atividades por eles desempenhadas, deixou de ocorrer.

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123

gigantescas construções com enormes capacidades. O modelo adotado era agora de médio

porte, com capacidade de abate em torno de 300 animais por dia (Quadro 4.1.1) (PARDI,

1996). Nos anos de 1973 e 1974, foram investidos nos frigoríficos de bovinos, tanto em novas

plantas quanto em reformas no estado de São Paulo, Cr$ 330 bilhões; e Cr$ 108,189 bilhões

em entrepostos, sob inspeção federal (GEIPOA/SP apud CALDAS, 1975, p. 89). O que se

previa em decorrência da federalização, era que São Paulo passaria a ter 36 frigoríficos de

bovinos; 5 de suínos; e 10 com dupla atividade (Tabela 4.1.3).

Em 1972, a capacidade diária de abate de bovinos de São Paulo era de 10.350

cabeças. Para o segundo semestre de 1974, previa-se a capacidade diária de abate instalada de

19.950, um aumento de 73,5%. Já para a capacidade anual de abate, considerando 180 dias de

abate, o que se tinha era de 2.070.000 de cabeças de bovinos. O que se estava expandindo, era

de 1.521.000, o que resultaria em 3.591.000 de bovinos para o segundo semestre de 1974

(GEIPOA/SP apud CALDAS, 1975, p. 78 - 80).

Quanto à capacidade de frigorificação, constante em entrepostos e matadouros-

frigoríficos, em dezembro de 1973, era de 5.600 toneladas de carne, o que equivalia ao abate

de 22.312 bovinos por dia. O aumento que estava ocorrendo era de 4.000 toneladas,

equivalentes ao abate de 16.100 bovinos por dia. Sendo assim, no segundo semestre de 1974,

previa-se a capacidade de frigorificação para 9.600 toneladas correspondentes a 38.412

bovinos abatidos por dia. No total, ocorreria um aumento de 72,2% em São Paulo (CALDAS,

1975).

Com relação à capacidade de estocagem, em dezembro de 1973, era de 61.600

toneladas, equivalente ao abate de 266.957 bovinos, distribuídas entre entrepostos frigoríficos.

A expansão prevista era de 63.300 toneladas, correspondentes a 275.217 bovinos abatidos. No

total, previa-se então a capacidade de estocagem de 124.900 toneladas, correspondentes a

542.174 bovinos abatidos, um aumento de 102,7% da capacidade de estocagem em São Paulo

(CALDAS, 1975). Essa capacidade total permitiria armazenar 1.200.000 carcaças, montante

correspondente a 33% do total da capacidade de abate dos estabelecimentos instalados,

possibilitando duas rotações com a carne. Todas essas mudanças decorrentes do processo de

federalização, daria ao estado de São Paulo, um parque de abate de nível semelhante ao dos

países mais avançados (CALDAS, 1977).

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124

Quadro 4.1.1: Projetos aprovados pelo DIPOA para a construção de novos frigoríficos, após o início da federalização em São Paulo (suínos, bovinos, ou dupla função)

Município Frigorífico 1 Assis Cabral 2 Bauru Mondeli 3 Bragança Paulista São Paulo-Minas 4 Conchas Conchense 5 Cotia Santa Mônica 6 Fernandópolis Vale do Rio Grande 7 Guararapes Nordestino 8 Itapevi Itapevi 9 Jundiaí Guapeva 10 Limeira Hegert 11 Ourinhos Brasileiros 12 Pinhal M4 13 Presidente Epitácio União 14 Presidente Prudente Prudentino 15 Ribeirão Pires Pedro Dorval Silvestre 16 Salesópolis Targimar 17 Santo Anastácio Anastácio 18 São João da Boa Vista Wander do Brasil S/A 19 São José do Rio Preto Bandeirantes 20 São José do Rio Preto Santa Cruz 21 Serra Negra Primo 22 Sertãozinho Oranges 23 Socorro Socorro 24 Tupã Tupã 25 Valinhos Macuco 26 Vinhedo Piracicaba 27 Votuporanga 4 Rios Fonte: GEIPOA/SP apud CALDAS (1975, p. 67-68).

Tabela 4.1.3: Número de frigoríficos existentes, em construção e com projetos aprovados pelo DIPOA no Estado de São Paulo, dezembro de 1973

Matadouros-frigoríficos Bovinos Suínos Bovinos e Suínos Total Existentes 18 4 4 26 Em construção 11 1 1 13 Projetos aprovados 7 - 5 12

Total 36 5 10 51 Fonte: GEIPOA/SP apud CALDAS (1975, p. 72).

Em termos de mão de obra, os estabelecimentos existentes empregavam 14.550

funcionários e esperava-se que até 1974, passariam a empregar 19.250 funcionários (Tabela

4.1.4) (GEIPOA/SP apud CALDAS, 1975, p. 89).

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Tabela 4.1.4: São Paulo - Mão de obra ocupada e a ser ocupada em matadouros-frigoríficos sob Inspeção Federal, 1973/1974

Estabelecimentos Bovinos Bovinos e Suínos Total

Existentes 13.600 950 14.550 Em construção 2.950 100 3.050 Em projeto 850 800 1.650

Total 17.400 1.850 19.250 Fonte: GEIPOA/SP apud CALDAS (1975, p. 90).

Em relação aos subprodutos da rês, sempre desperdiçados nos estabelecimentos

precários, em apenas dez meses ao longo do ano de 1973, geraram o valor de Cr$ 12,221

bilhões nos estabelecimentos sob inspeção federal, influenciando no aumento da rentabilidade

e na redução dos custos decorrentes do abate (Tabela 4.1.5) (CALDAS, 1977).

Tabela 4.1.5: São Paulo - Subprodutos não comestíveis de 300.000 bovinos abatidos sob Inspeção Federal, volume e valor, dez meses de 1973

Matéria prima Volume (kg) Valor (Cr$)

Bile 105.600 21.120,00 Cabelo de Orelha 65 18.000,00 Cálculo Biliar 300 2.570.400,00 Casco 206.100 82.440,00 Chifre 390.000 312.240,00 Glândula Pancreática 41.100 230.790,00 Glândula Pituitária 300 1.339,00 Glândula Suprarrenal 3.900 119.418,00 Glândula Tireoide 7.800 7.020,00 Óleo de Mocotó 99.600 199.200,00 Orelha 60.000 1.800,00 Ossos 19.200.000 7.680.000,00 Paratireoide 600 294.000,00 Ponta de Rabo 9.900 300.000,00 Sabugo 234.000 187.200,00 Sangue 981.600 196.320,00

Total 12.221.347,00 Fonte: GEIPOA/DIPOA em São Paulo apud (CALDAS, 1977, p. 128).

Assim, no final da década de 1970, o Estado de São Paulo apresentou um parque de

abate moderno, racional, de aproveitamento completo da rês, com padrões completamente de

acordo com o constante no RIISPOA. Constitui-se uma cadeia de matadouros-frigoríficos

regionais, ocupando o espaço de algo em torno de 500 matadouros municipais, que atuavam

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126

no mais puro primitivismo tecnológico e higiênico, os quais não passavam de simples postos

de abate, ficando concentrados os dois milhões e meio de bovinos abatidos anualmente no

estado, em plantas modernas, sob inspeção federal (CALDAS, 1977).

A federalização no Rio Grande do Sul e em São Paulo gerou o aumento do número de

animais abatidos sob Inspeção Federal. No primeiro estado, 90% dos abates em 1977,

estavam sob responsabilidade da Inspeção Federal, já que a taxa de desfrute do rebanho

gaúcho era estimada em 1.300.000 cabeças ano (CALDAS, 1977) (Tabela 4.1.6).

Tabela 4.1.6: São Paulo e Rio Grande do Sul - Número de bovinos abatidos sob Inspeção Federal, 1965 a 1976

Anos São Paulo Rio Grande do Sul 1965 1.184.547 693.486 1966 951.797 620.362 1967 1.049.616 427.294 1968 1.154.732 533.253 1969 1.237.660 596.736 1970 1.013.806 476.001 1971 1.095.376 604.299 1972 1.409.302 985.203 1973 1.672.671 1.092.073 1974 1.368.622 988.297 1975 1.727.680 954.377 1976 2.242.017 1.177.094

Fonte: GEIPOA/DIPOA em São Paulo e Porto Alegre apud Caldas (1977, p. 131).

Durante a implantação da federalização no Rio Grande do Sul, em que centenas

de estabelecimentos foram fechados pela comissão de implantação, não houve entrada de

pedidos na justiça por parte dos proprietários para a reabertura. Já no estado de São Paulo, a

partir do momento em que as interdições foram iniciadas, dezenas de mandados de segurança

foram demandados e muitos estabelecimentos puderam permanecer em atividade, até a

resolução completa do assunto na justiça. Na alçada do Tribunal Federal de Recursos, a União

sempre obtinha ganho de causa, com a apresentação de defesa pelo Ministério da Agricultura,

o qual enfatizava a proteção à saúde pública, tendo sido composta jurisprudência sobre o tema

(CALDAS, 1977).

Tais disputas judiciais desmoralizavam o processo de federalização, prejudicando

a saúde pública, o mercado do boi gordo e da carne, e permitiam a atuação distorcida de

estabelecimentos com instalações ultrapassadas, que se utilizavam de processos

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127

antieconômicos e anti-higiênicos, adulterando produtos e sonegando impostos. Tudo isso era

possível, graças à incompetência da fiscalização estadual. Os proprietários, sentindo-se

prejudicados mediante as interdições, uniram-se à Associação Paulista de Carnes e Derivados,

a qual reunia fabricantes de conservas, e numa outra associação de abate de aves e de coelhos.

(CALDAS, 1977). Havia uma grande quantidade de avícolas que abatiam e comercializavam

o frango recém-abatido diretamente ao consumidor. Estas se mobilizaram junto a vereadores e

deputados estaduais (FELÍCIO, 2011). Com o pretexto de estarem protegendo os interesses

das pequenas e médias indústrias, realizaram forte campanha com recursos obtidos de seus

membros, para pôr fim à lei que previa a federalização (CALDAS, 1977).

Em uma reunião realizada em 1974, na Comissão de Agricultura e Política Rural

do Congresso Nacional, onde técnicos do DIPOA foram convidados a apresentarem o

andamento do processo de federalização, um dos deputados afirmou que as interdições que

estavam sendo realizadas, lesavam o consumidor e aconteciam de forma abrupta

(BRESOLIN, 1974). Segundo os técnicos, tal afirmação não condizia com a realidade, já que

alguns estabelecimentos estavam recebendo prazos superiores a um ano para se adequarem. O

deputado dizia que a federalização ia contra os interesses nacionais, ao afetar os que

trabalhavam ou produziam.

Na mesma reunião, outro deputado que se dizia apoiador da saúde pública e da

obtenção higiênica da carne, afirmava estar havendo arbitrariedade e exageros ao fecharem-se

matadouros que, segundo ele, poderiam passar por adequação e que as exigências feitas pelo

Ministério da Agricultura eram impossíveis de serem atendidas, pois requeriam investimentos

impossíveis. Para o deputado, os estabelecimentos poderiam adequar-se a normas básicas de

higiene, sem necessariamente passar pela construção de dois ou três pisos, ou seja, a estrutura

vertical exigida pelo Ministério da Agricultura, a qual se utilizava da gravidade, para dar

andamento ao processo de abate, esfola e retalhamento da carcaça. Ademais, não se fazia

necessário o aporte de equipamentos de custo elevado, muito além da realidade brasileira, e

que não passava de requinte, e que tal demanda geraria o fechamento de muitas unidades e o

consequente monopólio da carne (SAMPAIO, 1974).

Para o deputado Sampaio (1974), os equipamentos exigidos eram do nível dos

Estados Unidos e que o DIPOA estava agindo de uma maneira semelhante a um ditador, ao

fechar os estabelecimentos que tinham higiene, mas que não tinham todos esses

equipamentos. Alguns dos matadouros que o DIPOA estava permitindo funcionar, se não

houvesse neles uma placa com o nome, poder-se-ia imaginar que eram de Nova York ou de

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128

qualquer país “superdesenvolvido”. Tais exigências deveriam ser feitas aos estabelecimentos

que exportavam, os quais atendiam às exigências dos países importadores, mas os pequenos e

médios matadouros não tinham necessidade de atendê-las. O modelo exigido era de elevado

investimento e os pequenos e médios estabelecimentos não tinham condições de fazê-lo.

Segundo o deputado, o DIPOA pensava que o Brasil era uma coisa totalmente diferente do

que era na realidade, e que os técnicos do órgão deveriam “pôr o pé no chão. Estão vivendo

no Brasil, não nos Estados Unidos.”.

Em São Paulo, houve resistência do Delegado Federal da Agricultura e da

Secretaria da Agricultura Estadual. Políticos do Partido ARENA (partido apoiador do golpe

militar de 1964) afirmavam que a federalização prejudicava a imagem do partido, o qual

estava na situação, naquele momento (PARDI, 1996).

Os apelos feitos pelas entidades e junto com elas indivíduos que segundo Caldas

(1977, p. 139) possuíam motivações “pouco confessáveis”, levaram o Ministério da

Agricultura a determinar a composição de uma comissão para avaliar as mudanças no parque

industrial de abates, em decorrência da federalização.59 Tal comissão percorreu os nove

estados onde a federalização estava em andamento, visitou 61 estabelecimentos e entrevistou

56 representantes dos poderes estaduais. Sobre o panorama apontado pela Comissão de Alto

Nível, o Ministro declarou que os efeitos estavam sendo extremamente benéficos para o povo

brasileiro, que agora consumia a carne com a mesma qualidade e condições sanitárias antes

somente encontrada na exportada, e que tal processo de caráter principalmente sanitário,

resultava em importantes impactos econômicos.

Mas, deputados representando marchantes, sonegadores de impostos e marginais

atuantes no setor, continuaram a exercer pressões políticas para a derrubada da lei da

federalização e obtiveram a aprovação da Lei n. 6.275, de 01 de dezembro de 1975 (BRASIL,

1975), a qual acrescentava ao 3º artigo da lei da federalização, o qual dizia que o Poder

Executivo poderia realizar convênios com os estados para a prestação de serviços, um

parágrafo único que previa a formação de convênios onde houvessem órgãos próprios, os

quais seriam responsáveis por fiscalizar pequenas e médias empresas que realizassem

comércio que não fosse interestadual ou internacional, o que então anulava a essência da

federalização. Com isso, centenas de abatedouros foram reabertos com as mesmas condições

59

Portaria Ministerial n. 373, de 11 de junho de 1975, publicada no Diário Oficial da União, em 16 de junho de 1975 apud Caldas (1977, p. 139).

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129

precárias de higiene e economicidade (CALDAS, 1977). Sua regulamentação, através do

Decreto n. 78.713, de 11 de novembro de 1976, previa que os estados poderiam emitir

regulamento sanitário próprio (BRASIL, 1976).

Segundo Pardi (1996), aquelas mudanças não suspendiam a Lei da Federalização

completamente, mas a enfraquecia no aspecto político. Havia o interesse no uso do dinheiro

público e os órgãos locais estavam inativos, então, ao que parecia, a clandestinidade tomaria

conta. As pequenas e médias empresas eram as mais necessitadas de inspeção, sendo então o

alvo principal da federalização. A nova Lei possibilitava a reversão das interdições realizadas

pela inspeção federal, ao permitir que as empresas entrassem com um requerimento, contanto

que firmassem o compromisso de adequarem-se ao Regulamento 78.713/1976. Houve um

aumento brutal do abate e comércio de carne ilegais.60

Em 1977, em função do previsto na Lei n. 6.275/1975 e na sua regulamentação, o

DIPOA lançou a Portaria n. 2, de 9 de fevereiro de 1977, (BRASIL, 1977), fixando exigências

mínimas para a construção e reforma de estabelecimentos que manipulassem produtos de

origem animal, destinados ao comércio dentro dos estados ou dentro dos municípios. Os

equipamentos de frio seriam ou não obrigatórios de acordo com determinadas circunstâncias,

criando-se duas situações no parque nacional de abates: a indústria que estava em

conformidade com o RIISPOA e o estabelecimento que seguia a Portaria Ministerial n.

2/1977, sendo que ambos manipulavam a carne (BRASIL, 1977b).

Em 1981, o processo de federalização perdia força, mas seguia ocorrendo em

Minas Gerais (PARDI, 1996). Em 1987, foi lançado o Decreto n. 94.554, de 7 de julho de

1987, o qual afirmava que a fiscalização federal atuaria nos pequenos e médios

estabelecimentos, apenas onde não houvesse a municipal, e que seriam futuramente

publicadas as condições para obter em favorecimento financeiro na construção e reforma

desses matadouros (BRASIL, 1987). O que viria para encerrar de vez a federalização foi a

publicação da Lei n. 7.889, de 23 de novembro de 1989, a qual dava competência à inspeção

sanitária e industrial, agora não só aos estados como também aos municípios, os quais

60 Segundo Arruda & Sugai (1994, p. 128, 132) 34% dos abates realizados em 1980, eram considerados clandestinos, os quais, segundo os autores, podem variar ao longo do tempo pela influência do preço real do boi gordo e a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadoria – ICM, sendo que à medida que o preço do boi cai e a alíquota sobe, os abates clandestinos se elevam. Em 1980, sob inspeção de qualquer tipo, foram produzidas 2.083.768 toneladas de carcaças, enquanto que o consumo interno foi de 2.688.171 toneladas, o que para Arruda & Sugai (1994, p. 132) permite-se afirmar que 22,5% em peso de carne, foi clandestino. De acordo com Wilkinson (2008, p. 13) a informalidade do setor de carnes frescas no Brasil em 2008, era de 50%.

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130

passaram a realizar a inspeção em estabelecimentos que comercializassem apenas dentro do

município, e revogava definitivamente as Leis n. 5.760/1971 e a n. 6.275/1975 (BRASIL,

1989; SANTO, 2001).

Em linhas gerais, o processo de federalização analisado por Caldas (1975),

resultou em aumento da qualidade da carne produzida e no maior atendimento às quantidades

demandadas; possibilidade de o governo planejar com maior nível de informação, o programa

de abastecimento; interiorização do parque industrial e regionalização do abastecimento por

estado; redução do desperdício econômico pelo aproveitamento racional dos subprodutos;

melhoria dos aspectos técnicos e sanitários do parque industrial, com repercussão positiva

internacionalmente; progresso na geração de estatísticas de abate e nosológica; oferta de

melhores condições para a padronização de carcaças; moralizou o mercado de carne e

aumentou a arrecadação tributária; aumentou o número de postos de trabalho; reduziu a

capacidade ociosa; ampliou os estabelecimentos aptos à exportação, inclusive, de capital

nacional; influenciou na evolução técnica da suinocultura e da avicultura; melhorou a

distribuição da carne no varejo; e estimulou um maior empresariamento da atividade.

Os investimentos realizados na indústria frigorífica resultaram em uma estrutura

comparada à de nível internacional, em termos sanitários e de produtividade, com capacidade

de abater 2,8 bois por homem/hora (WILKINSON, 1993).61 Os abates foram ainda mais

regionalizados, com impactos muito positivos sobre os deslocamentos dos animais até as

unidades de matança, contribuindo também para isso a instalação da indústria automobilística

e a expansão das rodovias no Brasil, iniciada na década de 1950; o início do transporte por

caminhão, iniciado em 1959 e intensificado na década de 70, sendo o rodoviário o meio de

transporte principal (CARRER & CARDOSO, 1999; PARDI et al., 1996) (Tabela 4.1.7). As

instalações de estocagem de carne passaram a ter uma localização relativa a essas unidades,

sendo que, em 1977, havia em São Paulo, 32 frigoríficos, 7 matadouros, 9 entrepostos-

frigoríficos e 21 entrepostos de carnes e derivados (CALDAS, 1977).62

61

Em 2000, a produtividade variava de 1,88 até 10 animais/homem/dia, resultando em 0,235 até 1,25 animais/homem/hora, ao longo de 8 horas de trabalho (IEL, CNA E SEBRAE, 2000). 62 O processo de federalização incentivou os governos de Pernambuco e Minas Gerais a implantarem programas por eles elaborados, que agiam na mesma direção, sendo que no primeiro estado, o Governo local realizou o Estudo para a Localização e Dimensionamento de Matadouros Industriais em Pernambuco. Em Minas Gerais, com financiamento do Banco de Desenvolvimento do próprio estado, o Governo local implantou o Programa de Frigoríficos Regionais, viabilizando a implantação de estabelecimentos de abate e de estocagem, sob o sistema do frio (CALDAS, 1977).

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Tabela 4.1.7: Meios de acesso utilizados para o deslocamento de 1.183.162 bovinos abatidos no ano de 1965, e de 887.260 bovinos e 622 bubalinos abatidos no ano de 1975, nos estabelecimentos sob Inspeção

Federal no Estado de São Paulo (percentual)

Meio de acesso 1965 1975 Ferroviário 38,65% 5,75% Rodoviário 31,46% 91,61% A pé 28,67% 2,28% Misto 0% 0,36% Não informado 7,22% 0% Fonte: dados para 1965: SIPAMA – DIPOA – MA apud CALDAS (1977, p. 50); dados para 1975 obtidos em GEIPOA/SP – DIPOA – MA apud CALDAS (1977, p. 157-158).

Em relação aos efeitos da federalização na inspeção de carnes, antes de sua

implantação, o SIF inspecionava 32,5% de toda a carne bovina produzida no país, passando a

73,9% em 1978, o que representava números absolutos: 3,1 milhões de bovinos e 8,4 milhões

respectivamente.63 Em 1972, existiam 150 matadouros-frigoríficos, sob inspeção federal,

incluindo os de bovinos, suínos ou das duas espécies, mas após a federalização, esse montante

chegou a 252. As fábricas de conserva passaram de 46, para 150, e a capacidade de

armazenagem da carne frigorificada, saiu de 80 mil toneladas para mais de 500 mil (Tabela

4.1.8). O abate de aves partiu de 45 milhões de cabeças para mais de 555 milhões, em 1980. A

produção dos principais subprodutos como sebo, farinha de carne e farinha de penas e

vísceras, sob IF, era de 103.235 toneladas em 1970, e passou a ser de 270.048 em 1979, ou

178% a mais (PARDI, 1996).

63 Após a federalização ainda foram construídos entre 1976 e 1993, 38 frigoríficos de médio porte, em 31 municípios de São Paulo: Amparo, Andradina, Araçatuba, Birigui, Capela do Alto, Charqueada, Espírito Santo do Pinhal, Estrela D’Oeste, Fartura, Guapiaçu, Itapetininga, Jaguaritinga, Jales (2), Jaú, José Bonifácio, Lençóis Paulista, Martinópolis, Oswaldo Cruz, Pirajuí, Pirapozinho, Promissão, Rancharia, Santa Cruz do Rio Pardo, Santa Fé do Sul, Santo Anastácio, São João da Boa Vista (2), São José do Rio Preto (3), São Manuel, Socorro e Votuporanga. Em 1987, dos 10.590.894 bovinos abatidos, 7.482.061 estavam sob inspeção federal, o que corresponde a 70,6%. Quanto à produção de carne bovina, das 2.262.901 toneladas métricas produzidas,

1.750.329 estavam sob SIF, o que corresponde a 77,3% do total produzido (PARDI, 1996). Em 1991, havia sob Inspeção Federal, 233 frigoríficos, 54 matadouros, 225 fábricas de conservas, 16 fábricas de produtos gordurosos, 114 entrepostos de carnes e derivados, 79 entrepostos frigoríficos e 41 fábricas de produtos não comestíveis (PARDI, 1996). Em 1998, segundo ANUALPEC (1998), São Paulo possuía 15% dos frigoríficos, sob inspeção federal, com 13% da capacidade total de abate. Seguido por Paraná e Goiás, com 12% e 11% respectivamente, do total de estabelecimentos. O total de frigoríficos sob SIF era de 70. Entre as estrangeiras pioneiras, atuava ainda em Barretos, o Frigorífico Anglo, o qual foi vendido ao frigorífico JBS Friboi, no início dos anos noventa (FELÍCIO, 2013). De acordo com Neves & Saab (2008), 70% dos animais abatidos em 2008, estavam sob inspeção federal, em plantas habilitadas à exportação, o que representa dizer 30,6 milhões de bovinos por ano. A capacidade de abate diário dessas plantas era de 120.000 bovinos. Para informações sobre expansão e mudanças ocorridas no parque industrial frigorífico, na virada de 1990 para 2000 ver IEL, CNA E SEBRAE (2000).

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Tabela 4.1.8: Brasil - Estabelecimentos sob Inspeção Federal existentes até 30/09/1977

Regiões Norte Nordeste Sudeste Sul Centro

Oeste Total

Estados AM PA RO MA PI CE RN PB PE AL SE BA MG ES RJ SP PR SC RS MT GO

Estabelecimento

Matadouro - 3 - - - - - - 1 - 1 - 6 - 8 7 3 - 8 1 9 47

Matadouro

Frigorífico

1 1 - - 1 1 - - 2 1 - 3 20 4 4 32 19 11 30 4 5 139

Fábrica de

Conservas

- - - - - 1 - - 2 - - - 11 - 16 63 4 6 4 1 1 109

Entreposto de

Carne e

Derivados

- - - - 2 1 - - 3 - - - 1 - 5 29 - 2 6 - - 49

Fábrica de

Produtos não

comestíveis

- - - - - - - - - - - - 3 2 5 10 1 - - - - 21

Fábrica de

Produtos

Gordurosos

- - - - - 2 - - 2 - - - - - 1 5 - - 1 - - 11

Entreposto

Frigorífico

- - - - - 1 - - 4 - - 1 1 - 11 9 2 2 6 - 2 39

Charqueadas - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Subtotal 1 4 - - 3 6 - - 14 1 1 4 42 6 50 155 29 21 55 6 17 415

Fonte: Ministério da Agricultura – DIPOA – DICAR – SETES apud Caldas (1977, p. 34).

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O SIF desempenhou um papel muito mais amplo do que a sua atividade específica

de inspeção, sendo responsável pela modernização tecnológica, planejamento e a amplitude

do impacto econômico. Diversas plantas foram fechadas e muitos analistas da área

observaram que tal impacto somente foi viabilizado pelo regime militar, pelo qual o Brasil era

governado naquele momento e que a federalização começou a enfraquecer, quando no

Governo Geisel, o regime começou a ser flexibilizado. A legislação de inspeção brasileira é

muito avançada, já a capacidade de inspecionar de estados e municípios é muito restrita,

ocorrendo comumente o pagamento de um médico veterinário pelo próprio proprietário do

estabelecimento, comprometendo a liberdade técnica do profissional na atividade

fiscalizadora (IEL, CNA E SEBRAE, 2000).

4.2 Produção e exportações de carne e aumento de sua oferta

Em 1968, a exportação brasileira de carne bovina voltou a crescer, atingindo

53.965 toneladas, sendo 39.246 de carne frigorificada, volume este não alcançado desde a

Segunda Guerra Mundial. De acordo com a análise de Toyama et al. (1976, p. 10-13), entre os

anos de 1968 e 1970, a taxa de crescimento anual da exportação, foi superior às taxas de

crescimento anuais do rebanho e da produção de carne (Tabela 4.2.1).

Tabela 4.2.1: Brasil - Rebanho bovino, produção e exportação de carne bovina, taxas de crescimento anuais, 1961-1970, 1961-1968, e 1968-1970

Período Taxa de crescimento anual (%)

Rebanho Produção de carne Exportação de carne 1961-70 2,8 3,8 15 1961-68 2,9 3,5 10,9 1968-70 2,7 4,5 30,3 Fonte: Toyama et al. (1976, p. 13) a partir de dados primários do IBGE, ECEPLAN e CACEX.

Dois elementos devem ser aqui considerados: o primeiro é que, o dado estatístico

utilizado por Toyama et al. (1976), para rebanho, é proveniente de estimativas do Ministério

da Agricultura, as quais sempre estiveram superestimadas, quando comparadas aos dados

divulgados pelos Censos Agropecuários, devendo, portanto, ser cuidadosamente consideradas.

O segundo elemento é que, as exportações representam um pequeno volume da produção total

de carne, sendo que para aqueles três anos analisados, elas corresponderam a 5,6% desse

montante, de acordo com o autor citado.

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A taxa de crescimento da exportação superior ao da produção de carne, resultou

em um decrescente consumo aparente por habitante (carne restante após a subtração do

volume exportado do total de carne produzida, dividido pelo número de habitantes) a partir de

1969, atingindo em 1971, 15,8 quilos/pessoa/ano, o menor dos vinte e quatro anos analisados

por Toyama et al. (1976, p. 11-12) (Tabela 4.2.2).

Em 1972, o volume exportado foi o maior até então, tanto em carne frigorificada,

155.627 toneladas, quanto no total geral, 186.375, ultrapassando, pela primeira vez, o patamar

alcançado em 1930 (Tabela 4.2.3). O quadro de insuficiência da produção de carne bovina

para atender as demandas interna e externa, voltou a se repetir como aconteceu ao longo de

todo o processo de formação e expansão da cadeia agroalimentar de carne bovina no Brasil.

Consequentemente, o preço da carne aumentou, assim como o custo de vida da população, e

em 1973, o Governo Federal voltou a interferir nesta cadeia agroalimentar, tanto na

comercialização da carne para o mercado interno e externo, quanto na formação de estoques

(TOYAMA et al., 1976).

No âmbito das exportações, com o intuito de desestimulá-las, foi estabelecido o

confisco US$ 200,00 sobre o valor FOB da tonelada de carne fresca, congelada ou

industrializada exportada, reduzindo a diferença de preço entre o mercado interno e o externo.

A obrigatoriedade da formação de estoques para o fornecimento de carne, no período de

entressafra, foi atrelada ao volume exportado, estabelecendo que para cada 2,5 toneladas

exportadas pelos frigoríficos do Rio Grande do Sul, uma deveria ser estocada. Já para o Brasil

Central, a cada tonelada exportada, 3 deveriam ser estocadas (TOYAMA et al., 1976).

As políticas desestimulantes reduziram o volume exportado, no mesmo ano de sua

implantação, e de 1974 a 1976, não ultrapassou 80.000 toneladas, limite anual estabelecido

pelo Conselho Monetário Nacional, distribuídas entre o Rio Grande do Sul e o Brasil Central,

sendo permitida a exportação de até 50.000 para o primeiro e de até 30 mil para o segundo.

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Tabela 4.2.2: Brasil - produção, exportação e consumo de carne bovina, 1947-1971 Ano

Produção de carne em carcaça fria (1.000 t)I

Produção de carne em carcaça fria per capita Exportação de carne em

peso equivalente de carcaça fria (1.000 t)

Consumo aparente de carne em peso equivalente

de carcaça fria (1.000 t)

Consumo aparente per capita em peso equivalente de carcaça fria

Quantidade anual (kg)

Média móvel de 5 anos (kg) Quantidade anual (kg) Média móvel de 5 anos (kg)

1947 866 17,9 - 55,5 810,5 16,7 - 1948 986 19,9 - 75,1 910,9 18,4 - 1949 1.035 20,4 - 42,6 993,4 19,6 - 1950 1.036 19,9 - 30,0 1.006,8 19,4 - 1951 1.087 20,3 19,7II 12,2 1.074,8 20,1 18,8II

1952 1.056 19,2 19,9 6,1 1.049,8 19,0 19,3 1953 1.067 18,8 19,7 3,8 1.063,2 18,7 19,4 1954 1.087 18,6 19,4 1,6 1.085,4 18,6 19,2 1955 1.075 17,9 19,0 9,9 1.065,1 17,7 18,8 1956 1.213 19,6 18,8 15,8 1.197,2 19,3 18,7 1957 1.254 19,9 19,0 36,1 1.217,9 19,3 18,7 1958 1.393 21,2 19,4 58,6 1.334,4 20,3 19,0 1959 1.386 20,4 19,8 95,6 1.290,4 19,0 19,1 1960 1.291 18,5 19,9 26,9 1.264,1 18,1 19,2 1961 1.301 18,1 19,6 50,1 1.251,0 17,4 18,8 1962 1.288 17,4 19,1 37,2 1.250,8 16,9 18,3 1963 1.293 17,0 18,3 29,2 1.263,8 16,6 17,6 1964 1.365 17,5 17,7 41,1 1.323,9 16,9 17,2 1965 1.422 17,7 17,5 85,1 1.336,9 16,6 16,9 1966 1.379 16,7 17,3 51,7 1.327,3 16,0 16,6 1967 1.431 16,8 17,1 30,6 1.400,4 16,4 16,5 1968 1.609 18,4 17,4 93,9 1.515,1 17,3 16,6 1969 1.735 19,2 17,8 145,2 1.589,8 17,6 16,8 1970 1.753 18,9 18,0 171,7 1.581,3 17,0 16,9 1971 1.746 18,2 18,3 205,4 1.540,6 15,8 16,8

Fonte: TOYAMA et al. (1976, p. 11-12) com dados primários para produção de EAGRI/Ministério da Agricultura (dados trabalhados pela EAPA/SUPLAN/MA) e dados primários para exportação de CIEF/Ministério da Fazenda (dados trabalhados pela EAPA/SUPLAN/MA). I: Para obtenção da tonelagem de carcaças frias produzidas, os dados do EAGRI em tonelada de carcaça quente foram reduzidos em 5%. II: Média móvel de 5 anos. Nota: para o cálculo do peso equivalente em carcaça das carnes exportadas assumiu-se o seguinte em relação à percentagem de carnes sem ossos, congeladas e refrigeradas:

a) No período 1947-1960, assumiu-se que o percentual de carnes sem ossos foi idêntico ao da Argentina, 12%, pois esta tinha melhor tecnologia no setor; b) No período 1960-1971, assumiu-se que o percentual de carnes sem ossos cresceu uniformemente, de 12% até 61%. O percentual de 1971 tem por base dados da Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA)/Ministério da Agricultura. Outro instrumento utilizado para o cálculo do peso equivalente em carcaças das carnes exportadas foi a tabela de correções de: NOBRES, Gustavo. An Econometric Model of the Argentina Beef Cattle Economy, PhD Theses, Purdue University.

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Também foi estabelecido na mesma resolução para desestimular a venda externa

de meias carcaças, que a cada tonelada exportada de carne congelada, resfriada ou fresca,

seria paga a taxa de US$ 500,00 e a cada tonelada de industrializada, a taxa de US$ 200,00.

Com isso, ocorreu o aumento das exportações de carne industrializada e a redução da

frigorificada (TOYAMA et al., 1976).

Com a diminuição das exportações, o preço real da carne no mercado interno

seguiu em queda até 1977, e muitos pecuaristas desestimulados levaram seu plantel de fêmeas

ao abate, resultando no recorde de 12.274.000 bovinos abatidos, o maior de todo o período até

aqui analisado neste trabalho. No entanto, o impacto do aumento dos abates não foi

substancial no peso total das carcaças obtidas, apesar de também ter sido o maior até aquele

momento (Tabela 4.2.4), elevando as importações em 1978 e 1979 (Tabela 4.2.3), a volumes

nunca antes alcançados, sendo que neste último ano o preço real da carne atingiu o pico mais

elevado, já que a baixa oferta de carne permanecia (ARRUDA & SUGAI, 1994, p. 114).

De acordo com Vieira & Farina (1987), a baixa produtividade do rebanho

brasileiro é o elemento que compromete a produção de carne de atender o crescimento da

demanda interna, fruto do crescimento populacional, e a expansão continuada das

exportações, e tem sua causa principal na estacionalidade da pastagem. A pastagem, base

alimentar do sistema de produção extensivo, como qualquer outra planta, está sujeita a

estacionalidade da produção ao longo das estações do ano, influenciando o seu crescimento. O

ano apresenta dois períodos distintos em termos de oferta de chuva. O primeiro deles vai de

setembro/outubro a abril/maio, no qual os índices pluviométricos são muito superiores aos do

segundo período, o qual se estende ao longo dos meses de junho, julho e agosto, e é

considerado um período de seca ou de inverno seco, além das baixas temperaturas

responsáveis por geadas em algumas regiões, momento em que a oferta da pastagem fica

muito reduzida e o gado emagrece ou não ganha peso. Tal fato acarreta na baixa taxa de

desfrute do rebanho brasileiro retardando a idade de abate, já que o animal ficará mais tempo

no pasto até estar com peso adequado para ser abatido.

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Tabela 4.2.3: Brasil - Carne bovina, exportação e importação, 1968 a 1990 (toneladas)I

Ano

Exportação (A) Importação (B)

A - B Frigorificadasii Conservas enlatadas e

preparadas Total Frigorificadas Conservas enlatadas e

preparadas Total

1968 39.246 14.719 53.965 0 22 22 53.943 1969 77.564 15.397 92.961 2 2 4 92.957 1970 98.309 16.691 115.000 579 8 587 114.413 1971 88.741 34.313 123.054 6.224 156 6.380 116.674 1972 155.627 30.748 186.375 1.012 360 1.372 185.003 1973 98.530 36.141 134.671 1.401 84 1.485 133.186 1974 19.174 34.825 53.999 51.796 22 51.818 2.181 1975 5.333 41.173 46.506 23.973 234 24.207 22.299 1976 11.544 64.033 75.577 22.647 182 22.829 52.748 1977 31.246 68.515 99.761 25.696 23 25.719 74.042 1978 9.613 53.496 63.109 112.605 0 112.605 -49.496 1979 2.659 46.578 49.237 110.518 12 110.530 -61.293 1980 5.726 72.266 77.992 64.505 9 64.514 13.478 1981 46.399 98.108 144.507 60.084 18 60.102 84.405 1982 94.442 102.713 197.155 20.634 0 20.634 176.521 1983 120.296 128.863 249.159 23.268 858 24.126 225.033 1984 115.097 141.190 256.287 34.218 1 34.219 222.068 1985 140.038 129.398 269.436 48.429 0 48.429 221.007 1986 79.657 107.801 187.458 441.765 2 441.767 -254.309 1987 65.557 89.245 154.802 142.847 1 142.848 11.954 1988 167.927 130.871 298.798 18.896 1 18.897 279.901 1989 61.511 102.515 164.026 166.444 0 166.444 -2.418 1990 49.121 70.533 119.654 220.764 3 220.767 -101.113

Fonte: para exportação de frigorificadas e conservas anos 1968 a 1976, CACEX (apud CALDAS, 1977, p. 213-214); para exportação de frigorificadas anos 1977 a 1987, IBGE (1990); para exportação de frigorificadas de 1988 a 1990, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Secretaria de Comércio Exterior - SECEX, Departamento de Operações de Comércio Exterior (DECEX), Gerência de Estatísticas e Sistemas de Comércio Exterior (GEREST) apud IBGE (1990); para exportação de conservas a partir de 1977, e para importação, FAOSTAT (2016). Notas: i: frigorificadas FAOSTAT é composto de carne de ganado vacuno e carne desossada de vacuno; para em conserva a informação é proveniente de carne de vaca e terneira preparadas. Não é utilizado o dado carne de vaca para frigorificadas, disponível em FAOSTAT, já que o mesmo, de acordo com a metodologia aplicada por esta entidade, é eito de estimativas e outros apanhados, enquanto que os demais são dados oficiais. ii: inclusive miúdos.

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Tabela 4.2.4: Brasil - Rebanho bovino, número de bovinos abatidos, peso total das carcaças, produção de carne e valor da produção de carne bovina, 1968 a 1990

Ano Rebanho efetivo

Bovinos abatidos Produção de carne

Cabeças Peso das carcaças (t) Quantidade (t) ValorI

1968 92.739.000 8.732.000 1.694.447 1.506.905 2.575.935 1969 95.150.000 9.480.000 1.826.440 1.637.537 3.170.776 1970 97.864.000 9.560.000 1.845.182 1.663.587 4.331.156 1971 - 9.284.000 1.837.834 1.628.991 5.257.501 1972 - - - - - 1973 90.437.000 - - - - 1974 92.495.000 - - - - 1975 102.532.000 8.539.000 1.790.253 - - 1976 107.349.000 10.715.000 2.175.777 - - 1977 707.297.000 12.274.000 2.445.520 - - 1978 106.943.000 11.427.000 2.319.954 - - 1979 109.177.000 10.048.000 2.114.209 - - 1980 118.971.000 9.573.000 2.083.768 - - 1981 121.785.000 9.956.000 2.115.064 - - 1982 123.488.000 11.659.000 2.396.642 - - 1983 124.186.000 11.546.000 2.364.570 - - 1984 124.655.000 10.181.000 2.161.277 - - 1985 128.423.000 10.606.000 2.222.654 - - 1986 132.222.000 9.112.000 1.958.196 - - 1987 135.726.000 10.591.000 2.261.933 - - 1988 139.599.000 12.542.000 2.580.846 - - 1989 144.154.000 13.463.000 2.748.286 - - 1990 147.102.000 13.377.000 2.835.761 - -

Fonte: para dados de 1968 a 1987, IBGE (1990); para rebanho efetivo 1988 a 1990 (IBGE, 2016d); para dados de abate e peso de carcaças de 1988 a 1990 IBGE (2016e). I: de 1968 a 1969, em milhares de Cruzeiros "Novos", segundo o padrão monetário de 1967; de 1970 a 1971, em milhares de Cruzeiros, segundo o padrão monetário de 1970.

Para contornar o efeito da estacionalidade da pastagem, a qual já havia sido

apontada pelo CONDEPE como principal causa da baixa produtividade do rebanho brasileiro,

sobre a insuficiência da produção da carne bovina, algumas alternativas poderiam ser

empregadas, tais como: o confinamento à base de grãos, aumentando a oferta de animais no

período de entressafra e reduzindo a idade de abate; a formação de estoque de carne, no

período de safra, para atender a demanda na entressafra; e a expansão da área de pastagem,

com consequente aumento do rebanho brasileiro e da oferta de carne.

O Governo brasileiro optou, durante muitos anos, pela formação de estoques e

pelo aumento da capacidade de estocagem, especialmente na década de 1970, como foi

apontado ao longo deste trabalho. Além de ser uma política onerosa, já que as câmaras eram

Page 139: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

139

alugadas pelos frigoríficos ao Governo, não impediu a escassez no abastecimento interno, ao

longo da década de 1980, e não permitiu o crescimento continuado das exportações.

O que de fato veio a superar o efeito da estacionalidade da pastagem foi o

crescimento do rebanho, a partir da expansão da fronteira agrícola, iniciada na década de

1970, que aumentou a área ocupada por pastagem. Entre 1970 e 1985, o rebanho brasileiro

cresceu 62%, superando o crescimento populacional de 55%.64 Esse aumento do rebanho se

deu principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste, concomitantemente com a expansão da

área ocupada por pastagem nestas mesmas regiões. A região Norte que, em 1970, possuía um

rebanho bovino de 1,7 milhões de cabeças, passou a ter em 1985, 8,9 milhões, com destaque

para os aumentos ocorridos nos estados do Pará, Rondônia e Tocantins (Tabela 4.2.5: Brasil,

estados e regiões - Efetivo do rebanho bovino, 1960, 1970, 1980, 1985.

A região Centro-Oeste que, em 1970, contava com um efetivo bovino de 17,2

milhões, alcançou, em 1985, a marca de 36,1 milhões de cabeças, com uma expansão de 18,8

milhões em quinze anos, e mais que o dobro da ocorrida na região Norte. Mato Grosso do Sul

foi o estado que apresentou o maior crescimento. Goiás, assim como as regiões Sudeste,

Nordeste e Sul, também apresentou crescimento, porém mais intenso entre os anos 1970 e

1980.

Quanto à área ocupada por pastagem no Brasil, comparando-se os intervalos de

1960 a 1970, e 1970 a 1985, observa-se que a expansão da área total foi de 31,8 milhões de

hectares no primeiro período e de 25 milhões no segundo. Porém, no primeiro período, a

pastagem que mais cresceu foi a natural: 22,1 milhões de hectares, a qual deu suporte a um

crescimento do rebanho, de 22,5 milhões de cabeças (Tabela 4.2.5). No segundo período, ou

seja, de 1970 a 1985, a pastagem, que mais se expandiu foi a plantada, 44,3 milhões de

hectares, em paralelo com a redução da área da pastagem natural em 19,3 milhões de hectares,

possibilitando grande expansão do rebanho brasileiro de 48,6 milhões de cabeças (Tabela

4.2.6), atingindo o objetivo de formação de pastagens mais produtivas estabelecido no

CONDEPE e nos demais planos de desenvolvimento implantados, a partir da década de 1970,

que almejavam o aumento da participação do Produto Interno Bruto Regional no Produto

Interno Bruto Nacional, através da incorporação de áreas de cerrado à agropecuária explorada

com técnicas modernas, como o POLOCENTRO, POLOAMAZÔNIA, PRODEPLAN,

64 Aqui foi considerado dados populacionais de 1970 e 1991, já que não se dispõe de Censo Demográfico em 1985. Este intervalo maior para população reforça o crescimento bastante significativo do rebanho. Dados completos na Tabela A.2 do Anexo.

Page 140: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

140

PRODEGRAN, e os demais planos fomentados pela Superintendência de Desenvolvimento

da Amazônia (SUDAM), supervisionados pela Superintendência de Desenvolvimento do

Centro-Oeste (SUDECO) e outros, mesmo com amadurecimento de seus efeitos muito tempo

após terem sido encerrados, o que pode ser considerado natural, dada a característica de longo

prazo da atividade pecuária.65

A introdução da pastagem plantada é uma melhoria na pecuária extensiva porque,

apesar de também ter sua produção forrageira diminuída no período seco, porém menos

intensamente do que a natural, sua capacidade de suporte é de 3 a 4 vezes maior que a

pastagem natural (TOYAMA et al. 1976, p. 31) (Tabela 4.2.7). Assim, a pastagem plantada

possibilitou um aumento do número de animais por hectare, ou seja, da lotação, sem

comprometer o ganho de peso. A partir da análise dos dados obtidos em Ramos (2005, p. 69),

é possível verificar o aumento do número de animais por hectare de pastagem em todas as

regiões brasileiras especialmente no Centro-Oeste, 97% (Tabela 4.2.8).

Na região Norte, entre 1970 e 1985, a expansão da área de pastagem foi de 16,4

milhões de hectares, a maior dentre todas as regiões brasileiras, destes, 8,4 milhões foram de

plantadas, apresentando os maiores aumentos os estados que também tiveram os maiores

aumentos de rebanho. O Pará, que possuía em 1970, 468 mil hectares de pastagem plantada,

atingiu, em 1985, 4,2 milhões de hectares deste tipo de pastagem; Rondônia, que possuía

apenas 123 mil hectares de pastagem em 1970, em 1985, passou a ter 1,1 milhão, sendo 879

mil de plantada.66

Na região Centro-Oeste, o incremento na área total de pastagem foi de 3,7 milhões

de hectares, com redução de 17,4 milhões de pastagem natural, e aumento de 21,1 milhões da

plantada, o maior dentre as todas as regiões do país. Em Goiás, houve a redução da área total

de pastagem em 2,8 milhões, por outro lado ocorreu o aumento da plantada em 6,9 milhões de

hectares e a redução da natural em 9,8 milhões de hectares.

65

Para mais informações sobre os planos de desenvolvimento implantados a partir da década de 1970, ver: SILVA, E. R. A economia goiana no contexto nacional: 1970-2000. 2002. 187f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente)-Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002; ABREU, S. Planejamento governamental: a SUDECO no espaço mato-grossense. 2001. 328f. Tese (Doutorado em Geografia)-Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001; HOGAN, D. J. et all. (Orgs.). Migração e ambiente no Centro-Oeste. Campinas: Núcleo de Estudos de População/UNICAMP: PRONEX, 2002. 66Para dados detalhados para todos os estados e regiões do Brasil, ver Tabela A.1 do Anexo.

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141

Tabela 4.2.5: Brasil, estados e regiões - Efetivo do rebanho bovino, 1960, 1970, 1980, 1985 (número de cabeças)

Estado 1960 1970 1980 1985

Acre 32.516 72.166 292.190 334.336

Amapá 45.476 64.990 46.079 46.986

Amazonas 141.424 263.487 355.748 425.053

Pará 844.740 1.043.648 2.729.796 3.478.875

Rondônia 3.475 23.125 251.419 770.531

Roraima 167.251 238.761 313.881 306.015

Tocantins - - - 3.603.813

Norte 1.234.882 1.706.177 3.989.113 8.965.609

Alagoas 411.655 483.180 829.232 755.992

Bahia 4.594.998 5.657.275 8.942.727 9.315.074

Ceará 1.354.338 1.713.110 2.353.890 2.475.423

Fernando de Noronha - 300 264 -

Maranhão 1.380.511 1.473.788 2.804.070 3.247.206

Paraíba 765.839 865.948 1.296.081 1.362.573

Pernambuco 930.065 1.196.055 1.832.189 1.872.494

Piauí 1.136.303 1.195.447 1.555.796 1.588.208

Rio Grande do Norte 487.403 604.057 896.197 909.613

Sergipe 494.645 616.761 995.662 864.610

Nordeste 11.555.757 13.805.921 21.506.108 21.526.583

Espírito Santo 653.890 1.386.809 1.844.025 1.759.823

Minas Gerais 11.963.902 15.140.493 19.560.399 19.983.506

Rio de Janeiro 1.073.339 1.193.064 1.745.152 1.788.180

São Paulo 7.131.024 9.110.633 11.685.216 12.210.369

Região da Serra dos AimorésI 200.029 - - -

Guanabara 17.646 14.045 - -

Sudeste 21.039.830 26.845.044 34.834.792 35.741.878

Paraná 1.665.698 4.692.677 7.893.313 8.574.564

Rio Grande do Sul 8.810.312 12.305.119 13.985.911 13.509.324

Santa Catarina 1.201.993 1.955.228 2.615.629 2.742.896

Sul 11.678.003 18.953.024 24.494.853 24.826.784

Distrito Federal 16.411 30.405 65.545 75.866

Goiás 4.862.782 7.792.839 16.089.510 14.476.565

Mato Grosso 5.653.642 9.428.840 5.243.044 6.545.956

Mato Grosso do Sul - - 11.862.907 15.017.906

Centro-Oeste 10.532.835 17.252.084 33.261.006 36.116.293

Brasil 56.041.307 78.562.250 118.085.872 127.177.147

Fonte: para 1960, Fundação IBGE (s.d., p. 27) – Censo Agrícola; IBGE, Censos Agropecuários de 1970, 1980, 1985. I: Região da Serra dos Aimorés era território que estava em litígio entre Minas Gerais e Espírito Santo.

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142

Tabela 4.2.6: Brasil - Área ocupada com pastagens naturais e plantadas, 1920 a 1985

Ano

Tipos de pastagem

Total Naturais Plantadas

Área (1.000

hectares)

Participação no total da

área de pastagem

(%)

Variação (1.000

hectares)

Variação (%)

Área (1.000

hectares)

Participação no total da

área de pastagem

(%)

Variação (1.000

hectares)

Variação (%)

Área (1.000

hectares)

Variação (1.000

hectares)

Variação (%)

1920 - - - - - - - - 119.545 - - 1940 - - - - - - - - 88.141 -31.404 -26 1950 92.659 86 - - 14.973 14 - - 107.633 19.491 22 1960 102.272 84 9.612 10 20.063 16 5.090 34 122.335 14.702 14 1970 124.406 81 22.134 22 29.732 19 9.668 48 154.138 31.803 26 1975 125.950 76 1.544 1 39.701 24 9.969 34 165.652 11.513 7 1980 113.897 65 -12.053 -10 60.602 35 20.900 53 174.499 8.847 5 1985 105.094 59 -8.803. -8 74.094 41 13.492 22 179.188 4.688 3

Fonte: para 1920, Brasil (1924, p. VI e XII) – Recenseamento do Brazil; para 1940, IBGE (1950, p. 40) - Recenseamento Geral do Brasil; para 1950, IBGE (1956, p. 39) – Censo Agrícola; para 1960, Fundação IBGE (s.d., p. 20-21) – Censo Agrícola (1ª parte); para os demais anos Censos Agropecuários 1970, 1975, 1980, 1985. Nota: o dado de 1920 deve ser cuidadosamente analisado já que o Recenseamento Geral considerou esta área como “áreas sem destino conhecido” e pressupunha que nelas estejam incluídas pastagens naturais, artificiais e a forragicultura. É um número bastante discrepante e deve ser analisado com cuidado.

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Tabela 4.2.7: Brasil e regiões - Lotação média de pastos naturais e plantados, 1971 (cabeças por hectare)

Região Pastagem natural Pastagem plantada

Nas águas Na seca Nas águas Na seca Norte 1,3 0,9 4,6 2,3 Nordeste 0,8 0,4 3,4 2,1 Sudeste 1,0 0,6 2,2 1,6 Sul 0,7 0,5 3,0 2,4 Centro-Oeste 0,5 0,3 1,6 1,0 Brasil 0,8 0,5 2,9 1,8

Fonte: CEPEN apud Toyama et al. (1976, p. 31).

Tabela 4.2.8: Brasil e regiões - Índice de lotação da pastagem, 1970 e 1985 (número de bovinos por hectare)

Regiões e Brasil 1970 1985

Norte 0,39 0,43

Nordeste 0,50 0,64

Sudeste 0,42 0,58

Sul 0,88 1,16

Centro-Oeste 0,31 0,61

Brasil 0,51 0,71 Fonte: Ramos (2005, p. 69).

O estado do Mato Grosso, analisando os dados do Censo de 1975 que apresenta

informações separadas para Mato Grosso do Sul, expandiu a área total de pastagem em 5,6

milhões de hectares até 1985, sendo 4,1 milhões de plantada e 1 milhão de natural. Já para o

Mato Grosso do Sul, considerando o mesmo período, a área absoluta aumentou 1 milhão de

hectares, a pastagem natural foi reduzida em 5,9 milhões e a plantada cresceu 6,9 milhões de

hectares.

Na região Nordeste, a expansão da área absoluta de pastagem entre 1970 e 1985,

foi de 7,2 milhões de hectares, sendo 6,1 milhões de plantada e 1,1 milhões de natural, com

destaque para Bahia e Maranhão. Já na Sul, ocorreu a redução da área absoluta de pastagem e

da natural, e aumento da plantada em nível inferior ao das demais regiões. Na Sudeste, a

redução da área total de pastagem foi de 2,2 milhões de hectares e da natural, de 8,3 milhões,

enquanto que a plantada expandiu 6,1 milhões, semelhante á região Nordeste.

Porém, o que chama a atenção, é que nas regiões de ocupação recente foi instalada

uma pecuária ainda mais extensiva, pois em 1985, o número de animais por hectare era de

0,56, sendo este inferior inclusive, ao número de animais por hectare nas regiões de ocupação

antiga em 1960, que era de 0,57. De acordo com os dados oficiais de rebanho e pastagem, a

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144

pecuária que se expandiu para a fronteira agrícola não alcançou o nível de eficiência das

regiões antigas, mesmo esta não sendo muito eficiente. Tal desempenho, crescimento sem

intensificar, remete ao conceito utilizado por Furtado (1972), de agricultura itinerante, suscita

a dúvida de, até quando o recurso natural suportará (Tabela 4.2.9).

Para o país, de forma geral, houve grande aumento do rebanho, em curtos

intervalos de tempo, como por exemplo: entre 1970 e 1975, foi de 23,1 milhões; entre 1975 e

1985, foi de 26,3 milhões de novos animais. Ao mesmo tempo, houve redução da área total de

pastagem, o que demonstra que a pastagem plantada foi capaz de suportar estas expansões do

rebanho, sem chegar, porém a obter a relação de um bovino por hectare (Tabela 4.2.10).

As melhorias que permitiram a expansão da pastagem plantada nas áreas de

fronteira agrícola, foram: a utilização de técnicas para a correção do solo, adubação no

cerrado, e o aumento da utilização das forrageiras do gênero braquiária. Essas práticas

possibilitaram a mudança nos deslocamentos de animais magros para serem terminados nas

invernadas de São Paulo, pois as áreas tradicionalmente utilizadas, com a finalidade de cria e

recria, por terem o solo ácido e com menor capacidade de suporte para os animais em

terminação, puderam, através das tecnologias empregadas, tornarem-se áreas também

terminadoras de gado. À medida em que as braquiárias ocuparam o latossolo amarelo

amazônico e o cerrado do Centro-Oeste, foi possível a mudança nas áreas ocupadas pela

pecuária, diminuindo a importância das tradicionais áreas de terminação e abate brasileiras

(ARRUDA & SUGAI, 1994, p. 130).

Mielitz Netto (1994, p. 85) afirma que é unânime, entre diversos técnicos, a

opinião de que a introdução das braquiárias é um divisor de águas na pecuária do Brasil

Central, pois possibilitou a expansão da pecuária no Centro-Oeste, elevando os índices

zootécnicos através do seu pastejo, á níveis incomparáveis com os anteriores à sua

implantação. O autor aponta que esse fato foi o “grande acontecimento na bovinocultura de

corte nos últimos anos” (MIELITZ NETTO, 1994, p. 200).

Ao gênero brachiaria pertencem algo em torno de cem espécies de forrageiras

espalhadas por áreas subtropicais e tropicais nos continentes americanos, asiático, Oceania e

principalmente no africano. No Brasil, sua primeira introdução ocorreu em 1952, através da

espécie Brachiaria decubens, pelo Instituto de Pesquisa Agropecuária do Norte (IPEAN), mas

em decorrência da sua pequena capacidade de produção de semente, não obteve importância

comercial (SERRÃO & SIMÃO NETO, 1971 apud KARIA et all., 2006, p. 15).

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145

Tabela 4.2.9: Brasil: Regiões de ocupação antiga e regiões de ocupação recente, cabeças por hectare, 1960, 1970, 1985 e 2006

Região Regiões de ocupação antiga (NE, SE e SUL) Regiões de ocupação recente (NO e CO) Evolução taxa anual

1960 1970 1985 2006 1960 1970 1985 2006 60-85 85-06

Número de cabeças (mil) 44.273.590 59.603.989 82.095.245 83.966.261 11.767.717 18.958.261 45.081.902 92.181.240 - -

Pastagem (mil hectares) 78.349.902 94.336.629 99.210.261 73.791.275 44.070.383 59.911.464 80.120.548 85.042.392 2,42 0,28

Cabeças por hectare 0,57 0,63 0,83 1,14 0,27 0,32 0,56 1,08 - -

Fonte: para 1960, Fundação IBGE (s.d., p. 20-21) – Censo Agrícola (1ª parte); para os demais anos Censos Agropecuários 1970, 1985 e 2006. Cálculos próprios para cabeças por hectares e evolução.

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146

Tabela 4.2.10: Brasil - Rebanho bovino, hectares de pastagem por cabeça de bovino, número de bovinos por hectare, 1920 a 1985

Ano Rebanho (cabeças) Hectares de

pastagem por animal

Bovinos por hectare de pastagem Efetivo

Variação absoluta

Variação percentual

1920 34.271.324 - - - 0,29

1940 34.392.419 121.095 0,35 2,56 0,39

1950 46.891.208 12.498.789 36,34 2,30 0,44

1960 56.041.307 9.150.099 19,51 2,18 0,46

1970 78.562.250 22.520.943 40,19 1,96 0,51

1975 101.673.753 23.111.503 29,42 1,63 0,61

1980 118.085.872 16.412.119 16,14 1,48 0,68

1985 128.041.757 9.955.885 8,43 1,40 0,71 Fonte: IBGE (2016f) - Censos Agropecuários.

Porém, no início da década de 1960, o International Research Institute (IRI)

introduziu em São Paulo, outro genótipo de Brachiaria decubens, a Brasilisk de Brachiaria

decubens, a qual se adaptou muito bem às condições do país, tornando-se rapidamente a

forrageira mais utilizada no Brasil (PIZARRO et al., 1996 apud KARIA et al., 2006, p. 15).

As braquiárias, com suas características de adaptarem-se bem em solos de baixa e

média fertilidade, agressividade na expansão, rusticidade e baixa necessidade de manejo,

possibilitaram o aumento da lotação em três a quatro vezes, e da produtividade das áreas

destinadas aos pastos. “A melhoria das condições alimentares e a interiorização dos

frigoríficos, principalmente após a década de 70, viabilizaram que a região passasse a realizar

a engorda de animais, inclusive trazidos de outras regiões.” (MIELITZ NETTO, 1994, p. 85).

De acordo com KARIA (et al., 2006, p. 15), as grandes transformações ocorridas

na pecuária brasileira, ao longo da década de 1970, através dos projetos desenvolvimentistas

implantados e subsidiados pelo Governo Federal, só se tornaram factíveis em função da

expansão da forrageira vulgarmente chamada de capim-braquiária ou braquiarinha, e da sua

característica de adaptar-se muito bem em solos pouco férteis, condição das áreas destinadas à

pecuária no Brasil Central.

Hoje é amplamente reconhecido pelos técnicos e pelos produtores que dois fatores contribuíram, sobremaneira, para a expansão da pecuária brasileira, os quais tornaram possível sua disseminação por todo o território nacional, possibilitando tanto a ocupação das regiões de fronteira como um melhor aproveitamento dos espaços das regiões antigas. O primeiro deles foi a introdução e posterior cruzamento e aprimoramento das raças zebuínas, o que ocorreu já desde o final do século XIX, mas especialmente a partir da década de 1920. O corolário desse processo tem-se manifestado no amplo predomínio do gado nelore, que, por volta de

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147

1960, passou a mostrar-se mais bem adaptado às condições brasileiras, já que no início se destacavam o gir e o guzerá. Em segundo lugar, no início da década de 1970, ocorreram a introdução e adaptação das braquiárias, o que possibilitou a ocupação e a manutenção de áreas com base na pastagem plantada. (RAMOS, 2005, p. 69).

Como aventado anteriormente, o confinamento seria outra possibilidade de

superar os efeitos da estacionalidade da pastagem sobre a produção de carne, no entanto, tal

prática não se disseminou á um nível capaz de suprir o grande número de animais abatidos

anualmente no Brasil. A grande expansão numérica do rebanho não se deu no sistema

intensivo e sim no extensivo, como apontam os dados do Censo Agropecuário de 2006, que

indicam que 4.074.036 bovinos estavam confinados, número muito baixo quando comparado

aos 30 milhões de animais abatidos ou aos 176 milhões de cabeças que compunham o

rebanho, ambos naquele mesmo ano.

Ademais, de acordo com KARIA et al. (2006, p. 12-14) é evidente a superioridade

competitiva da pastagem, em termos de custos de produção da alimentação sobre o sistema

intensivo (Tabela 4.2.11), sendo que na Europa e nos Estados Unidos, este sistema só é

possível em função da presença dos elevados subsídios à produção pecuária. No ano 2000,

foram gastos 4,73 bilhões de euros, e em 2002/2003, 8,1 bilhões com subsídios à produção

cárnea, incluindo suporte às exportações, intervenções e premiações (COMISSION OF THE

EUROPEAN COMMUNITIES, 2004 apud KARIA et al. 2006, p. 12).

Tabela 4.2.11: Produtividade média de matéria seca (MS), porcentagem de proteína bruta (PB), estimativas de custos para diferentes alternativas de alimentação de rebanho bovino e índices percentuais dos custos de produção de matéria seca (IMS) e de proteína bruta (IPB), em relação à pastagem de capim-

elefante (Pennisetum purpureum)

Fonte alimentar MS (t/ha)

PB (%) R$/ha R$/kg IMS (%)

IPB (%)

Pennisetum purpureum 35 12 575 0,016 100 100 Colonião (Panicum maximum) 30 17 627 0,021 127 90 Brachiaria brizantha 20 14 480 0,024 146 125 Cana-de-açúcar 30 11 1.110 0,037 225 246 Silagem capim-elefante 40 8 1.600 0,040 243 365 Silagem de milho 13 9 835 0,064 391 521 Milheto - Corte 8 12 534 0,067 406 406 Feno coast cross 20 13 1.608 0,080 489 452 Silagem de sorgo 15 9 1.215 0,081 493 657 Silagem de alfafa 20 20 1.900 0,095 578 347 Feno de alfafa 20 19 2.190 0,110 666 421 Fonte: Barcelos et al. (2001 apud KARIA et al., 2006, p. 13).

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148

Além da expansão numérica do rebanho e do aumento da lotação por hectare, ao

verificarmos os demais índices zootécnicos, nota-se que, em 1970 a taxa de desfrute era de

13,7% e em 1985, 17,9%, indicando um aumento da produtividade do rebanho, dado o maior

número de animais vendidos, seja pela maior precocidade do mesmo com tempo de produção

menor ou, um momento em que a rentabilidade da atividade esteja menos atraente, levando os

pecuaristas a abaterem as fêmeas (IBGE, 2009, p. 157-158) (Tabela 4.2.12).

Os números absolutos de animais abatidos anualmente foram superiores, a partir

de 1988, comparativamente com todos os anos anteriores, assim como o peso total das

carcaças (Tabela 4.2.4). Por outro lado, a taxa de abate, só começa a elevar-se a partir de

1985. Ao observa-se o número de animais abatidos e a taxa de abate entre 1975 e 1985,

pequenos em relação ao tamanho do rebanho e desproporcional em relação aos anos

anteriores, pode-se inferir que estava ocorrendo retenção de animais no pasto como proteção

contra a inflação.

Tabela 4.2.12: Brasil – bovinos, rebanho, número de animais abatidos, desfrute, taxa de abate, produção de carne e rendimento do rebanho, 1920 a 1985.

Ano Rebanho Número de animais

abatidos

Desfrute Taxa de

abate

Produção de carne em

carcaça fria

Rendimento do rebanho

(kg de carne/reban

ho) 1920 34.271.324 - - - - - 1940 34.392.419 5.596.000 - 16,27 766.003.000 22,3 1950 46.891.208 5.965.000 - 12,72 955.956.000 20,4 1960 56.041.307 7.207.000 - 12,86 1.291.256.150 23,0 1970 78.562.250 9.560.000 13,7 12,17 1.752.922.900 22,3 1975 101.673.753 8.539.000 17,5 8,40 1.700.740.350 16,7 1980 118.085.872 9.573.000 16,5 8,11 1.979.579.600 16,8 1985 128.041.757 10.606.000 17,9 8,28 2.111.521.300 16,5

Fonte: para rebanho, Brasil (1923, p. 59) – Recenseamento do Brazil; IBGE (1950, p. 83) - Recenseamento Geral do Brasil; IBGE (1956, p. 49) – Censo Agrícola; Fundação IBGE (s.d., p. 27) – Censo Agrícola; IBGE, Censos Agropecuários de 1970, 1980, 1985. Para número de animais abatidos, IBGE (1990; 2016e; 2016c). Para taxa de desfrute IBGE (2009, p. 158); para taxa de abate, cálculos próprios; para carcaça fria, dados básicos de IBGE (1990; 2016e; 2016c) menos 5% de acordo com a metodologia utilizada por Toyama et al. (1976, p. 11-12); para rendimento do rebanho, cálculo próprio.

Em termos de nascimentos e mortes, outros elementos que podem ser analisados,

são os seus percentuais em relação ao rebanho. Não se tem como trabalhar com índices como

taxa de natalidade ou taxa de mortalidade, já que não se dispõe de informação sobre o número

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149

de vacas prenhes nem do número de animais mortos sobre os nascidos, em um período

específico nos Censos. Apenas os de 1975 e 1980, levantaram o número de vitimados de

menos de um ano, portanto trabalhar-se-á com percentuais. Em termos de nascimentos versus

o rebanho efetivo, o que se observa é que, foram crescentes entre 1960 e 1980. Já quanto à

mortalidade, ocorreu uma trajetória de queda, ao longo do século XX (Tabela 4.2.13).

Tabela 4.2.13: Brasil - bovinos, rebanho, nascimentos e vitimados, 1920 a 1985

Ano Rebanho efetivo

Nascimentos Percentual de nascimentos

Vitimados Percentual de vitimados

1920 34.271.324 6.742.003 20 - - 1940 34.392.419 7.119.949 21 2.244.468 6,53 1950 46.891.208 7.764.588 17 2.221.626 4,74 1960 56.041.307 8.200.897 15 2.660.186 4,75 1970 78.562.250 14.682.938 19 2.758.751 3,51 1975 101.673.753 20.478.874 20 3.205.308 3,15 1980 118.085.872 24.341.236 21 3.791.983 3,21 1985 128.041.757 25.134.342 20 3.990.446 3,12

Fonte: Brasil (1924, p. LII) – Recenseamento do Brazil; IBGE (1950, p. 81) - Recenseamento Geral do Brasil; IBGE (1956, p. 54) – Censo Agrícola; Fundação IBGE (s.d., p. 32) – Censo Agrícola; IBGE, Censos Agropecuários de 1970, 1980, 1985. Para percentuais o cálculo é próprio.

Assim, o que se conclui de todas as análises realizadas nesta seção, é que a

expansão da pastagem cultivada permitiu o aumento do rebanho a níveis superiores ao

crescimento populacional brasileiro e das exportações (Tabela 4.2.14).

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150

Tabela 4.2.14: Brasil - Produção de carne bovina, exportação e consumo, 1940-1991

Ano

Produção de carne em

carcaça fria (1.000 t)

Produção de carne em carcaça fria per capita

Exportação de carne (1.000 t)

Consumo aparente de carne

em peso de carcaça fria

(1.000 t)

Consumo aparente per capita em peso de carcaça fria

Quantidade anual (kg) Média móvel (kg)

Quantidade anual (kg)

Média móvel (kg)

1940 766 18,6 148,1 618 15,0 1950 956 18,4 18,5 19,7 936 18,0 16,5 1960 1.291 18,2 18,3 17,8 1.273 17,9 18,0 1970 1.753 18,5 18,4 115,0 1.638 17,3 17,6 1980 1.980 16,3 17,4 78,0 1.902 15,7 16,5 1991 2.775 18,9 17,6 149,0 2.626 17,9 16,8 Fonte: dados básicos para produção de carne até 1980, IBGE (1990), de 1991, IBGE (2016e). Para exportação 1940, 1950 e 1960, dados básicos de Anuário Estatístico do Brasil/SIPAMA (apud CALDAS, 1977); para 1970, CACEX apud CALDAS (1977, p. 213-214); para 1980, IBGE (1990). Nota: até 1950 o dado é produção de carne, a partir de 1960, é carcaça quente da qual foi reduzido 5% do peso com base em Toyama et al. (1976, p. 11-12).

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151

4.3 Ações do Governo do Estado de São Paulo voltadas para a cadeia agroalimentar de

carne bovina (1967-1989)

Em 1968, havia 573 Casas de Agricultura em São Paulo, as quais eram os órgãos

executivos da assistência técnica integral, o mesmo número de Conselhos Agrícolas

Municipais, os quais tinham o papel consultivo da Secretaria de Agricultura (SÃO PAULO,

1968 apud MARTINS, 1991, p. 443). Foi criado dentro da Coordenadoria de Assistência

Técnica Integral (CATI), o Departamento de Orientação Técnica (DOT), o qual possuía

dentre as suas Divisões, a Zootécnica e a Veterinária, sendo que a primeira se ocuparia com as

seções de Grandes, Médios e Pequenos Animais, Nutrição e Pastagens. A Seção de

Veterinária ocupar-se-ia das Zoonoses, Epizootias e da Defesa Sanitária Animal. Como

informa o nome de seu departamento, seu objetivo era congregar técnicos nas mais diversas

áreas da agricultura.67 A Secretaria de Agricultura organizou no mesmo ano, um calendário

oficial para Feiras e Exposições, os quais serviam como método de difusão de tecnologias e

resultados (MARTINS, 1991).

Em 1969, subordinada ao Conselho Estadual de Tecnologia da Secretaria de

Economia e Planejamento, é criada a Comissão de Tecnologia Agropecuária, a qual tinha, por

objetivo, definir a política tecnológica do Estado para diversos setores da economia, inclusive

o agropecuário, e coordenar os programas de pesquisa no âmbito tecnológico das instituições

do estado. No mesmo ano foi criada a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do

Estado de São Paulo (CEAGESP), a qual, tinha entre suas competências, alugar seus

armazéns frigoríficos para empresas interessadas em utilizá-los para o depósito de produtos

agropecuários. À medida que expandia sua rede, diversificava a sua localização (NOBREGA,

s.d. apud MARTINS, 1991, p. 432).

No ano seguinte, foi criado o Instituto de Zootecnia, a partir do Departamento de

Produção Animal, o qual tinha por função a pesquisa e experimentação para a seleção e

aprimoramento das espécies animais de interesse econômico, incluindo a área de pastagens e

demais forrageiras (MARTINS, 1991). 68 Dentre as transformações ocorridas na organização e

expansão do ITAL, em 1971, iniciam-se os estudos para a construção de uma Usina-Piloto de

Carnes e Derivados, a qual foi concluída em 1978. Em 1973, o convênio com a FAO foi

67 Decreto n. 49.475, de 1968 apud Martins (1991, p. 443). 68 Decreto - Lei n. 52.365 de 19/01/1970.

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152

prorrogado, de janeiro de 1973 a abril de 1974, o qual suscitou a realização de um

levantamento sobre a indústria da carne no Brasil Central Pecuário e no extremo Sul

brasileiro, com o objetivo de oferecer programas dentro da Secção de Carnes e Derivados,

voltados para as necessidades encontradas nas indústrias, fortalecendo o seu desenvolvimento

(TEIXEIRA & TISSELI, 1991).

Em 1974, o ITAL assina convênio com a Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária, com o objetivo de criar o Centro Nacional de Pesquisa e Treinamento de

Pessoal em Tecnologia de Carne, o que permitiu que a Usina Piloto de Carne e Derivados

pudesse ter seus equipamentos complementados, já que os recursos do Governo Estadual

mostravam-se insuficientes para esta necessidade (TEIXEIRA & TISSELI, 1991).

Em 1975, a seção de Carnes e Derivados foi transformada em Centro de

Tecnologia da Carne (CTC), o qual segundo Teixeira e Tisseli (1991) foi o primeiro do Brasil

e da América Latina a realizar pesquisa em tecnologia da carne, pois mesmo o Laboratório de

Carne de Castelar, situado na Argentina, o qual possuía laboratórios modernos, dedicava-se

mais à pesquisa básica de carne, sem qualquer envolvimento com o processamento industrial

e de produtos derivados. Já o CTC, além da pesquisa básica, destinava-se também à pesquisa

aplicada à indústria, desde as pequenas até ás grandes.

No CTC, todos os aspectos da obtenção da carne, desde o embarque do animal na

região de produção, envolvendo o manejo pré-abate, atordoamento, abate, processamento de

carne e comercialização, são alvos de pesquisa. As atribuições definidas para o CTC, quando

da sua implantação, foram: o fornecimento de resoluções técnicas, às dificuldades encontradas

no setor de carnes brasileiro, dentre elas a composição de estoques e comércio de carne

congelada; assistência técnica aos órgãos federais no processamento da carne e controle de

qualidade na elaboração de embutidos; desenvolver informações sobre qualidade de carcaça,

com o objetivo de elevar a racionalidade do comércio de carnes e o melhoramento animal;

treinamento de recursos humanos para suprir a necessidade de mão de obra especializada em

tecnologia da carne e outras (TEIXEIRA & TISSELI, 1991).

Desde a sua implantação, o CTC desenvolveu pesquisas direcionadas a beneficiar

o setor produtivo na área de avaliação de carcaças; análise dos impactos das linhagens e da

alimentação na composição corporal de bovinos e suas carcaças; efeitos da desossa quente e

estimulação elétrica de carcaças; utilização do sangue animal na produção de plasma

desidratado; processamento de carne suína pré-rigor; separação mecânica de carne de frango;

desenvolvimento de produtos estáveis à temperatura ambiente entre outros. Para Teixeira &

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153

Tisseli (1991), na década de 1990, o CTC era considerado a unidade de pesquisa mais versátil

e com melhores instalações disponíveis em instituições governamentais do País.

Segundo Silva, Fonseca e Martin (apud DULLEY, 1988 apud MARTINS, 1991,

p. 474-475), o fato de o sistema de pesquisa do estado de São Paulo não ter passado para uma

situação de empresariamento, ou, de não ter seus institutos transformados em empresas, gerou

o seguinte resultado em pesquisas agropecuárias relativamente ao restante do país: entre

1927-1977, 62% foram realizadas por São Paulo, e na década de 70, seriam 38%, em virtude

do crescimento da atividade nos demais estados. Especificamente em relação ao produto final

da pesquisa agropecuária, ou seja, o artigo científico, os autores constataram que a

contribuição de São Paulo, no âmbito nacional, por década e em termos percentuais, foi o

seguinte: década de 30, 97%; década de 40, 66%; década de 50, 71%; década de 60, 79%; e

década de 70, 38%.

Dentro do II Plano de Desenvolvimento Nacional, a Secretaria de Agricultura de

São Paulo agiu visando a modernização das explorações, atuando em programas de

reprodutores; vacinas, antígenos e soros; defesa sanitária e tecnologia na produção do gado de

corte. Dentro do PRONASA, a Secretaria atuou em 452.566 propriedades, combateu a raiva

em 151 municípios, com 309 focos em propriedades (MARTINS, 1991).

Durante o Governo de Franco Montoro, ocorreu o Programa de Defesa

Agropecuária e, especificamente em relação ao combate à febre aftosa, suscitou a visita a

1.010 propriedades, onde o vírus estava presente e o exame clínico de 27.100 animais. No

trabalho realizado em relação a peste suína, 1.000 animais foram analisados e 900 foram

vacinados. A brucelose bovina atingiu 1.470 propriedades, sendo realizados 24.200 exames

sorológicos, e isolados 1050 animais. Também, no combate à raiva herbívora, 103 municípios

foram atendidos, sendo que 1.300 animais foram examinados e 10.200 foram vacinados,

2.050 morcegos foram tratados (MARTINS, 1991).

Já o Programa de Produção de Bens e Serviços tinha entre seus principais projetos

a produção de sêmen, transferência de embrião e a produção de vacina anti-febre aftosa com

veículo oleoso (MARTINS, 1991).

O Programa de Controle Higiênico Sanitário de Rebanhos Bovinos colocava que,

o reduzido desfrute e produtividade dava-se por problema higiênico sanitário dos bovinos em

pequenas e médias propriedades e assim buscava-se enfrentá-lo. O Programa de Inseminação

Artificial visava possibilitar que pequenas e médias propriedades melhorassem a qualidade

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154

genética de seu rebanho, sem que precisassem adquirir reprodutores selecionados

(PROGRAMAÇÃO CATI, 1988/1989, 1990 apud MARTINS, 1991, p. 555-556).

Segundo informações de 1985, de 27 explorações, a carne bovina encontrava-se

em quarto lugar em termos de formação de renda e representava o quarto principal cultivo em

relação à área ocupada, com 10,4 milhões de hectares com pastagens (CAMARGO FILHO,

1990 apud MARTINS, 1991, p. 562). Entre os anos 1987 e 1990, setenta por cento da

população bovina, de um total de 11 milhões, foi atendida durante a Campanha de Combate à

Febre Aftosa (RELATÓRIO DE ATIVIDADES – 87/90, 1991 apud MARTINS, 1991, p.

559).

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155

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No primeiro capítulo desta dissertação, demonstrou-se que a pecuária bovina,

introduzida no Brasil em 1534, cumpriu importante função complementar à produção do

açúcar no Nordeste, fornecendo tração e carne, e que o gado ocupou o sertão, e que prestou o

mesmo suporte à atividade mineratória na região central do país. Também se viu que o

charque foi um importante produto econômico no Ceará, escoado a partir do centro

econômico da Capitania do Recife, e que abasteceu tanto o estado da Bahia, quanto do Rio de

Janeiro, as tropas de sertanejos e financiou e abasteceu as embarcações recifenses, que

atuaram no comércio ultramarino escravagista. Porém, seguidas secas no quarto final do

século dezoito, dizimaram o rebanho, e a atividade charqueadora transferiu-se para o Rio

Grande do Sul.

O Rio Grande do Sul, que tinha gado solto desde que os jesuítas espanhóis, seus

introdutores na região, foram expulsos, e que tinha na exportação do couro, lucrativa renda,

obtido por grupos de caçadores de diversas procedências, que abatiam o gado, retiravam o

couro e desprezavam a carne, teve a partir da introdução do conhecimento adquirido pelos

nordestinos, o crescimento da produção do charque no início do século XIX. Uma pequena

parcela do charque gaúcho era exportada para as Antilhas e Cuba, sendo a sua maior parte

destinada a abastecer a mão de obra escrava utilizada no cultivo do café no Brasil. O mesmo

mercado também, era atendido pelos charques uruguaio e argentino, que além de serem mais

competitivos em função do modo de produção empregado, o capitalista, entravam livres de

tarifas no mercado nacional, já que era do interesse do Império, que o custo de alimentação

dos escravos fosse reduzido.

No segundo capítulo, viu-se que no final da primeira década do século XX, foi

iniciada a construção do primeiro frigorífico no Brasil, na cidade de Barretos, em São Paulo.

Em seguida, e rapidamente, os capitais de origem inglesa e estadunidense instalaram

frigoríficos em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, movimento este acelerado

com o início da Primeira Guerra Mundial. Após o primeiro envio de carne frigorificada em

1914, o rebanho brasileiro quase foi dizimado, tal foi o elevado número de animais abatidos

para exportar carne. O governo precisou estabelecer políticas que garantissem a capacidade do

rebanho, de reproduzir-se e manter-se.

No terceiro capítulo, demonstrou-se que a mesma situação voltou a ocorrer em

função do grande volume exportado para os países envolvidos na Segunda Guerra Mundial,

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156

comprometendo desta vez, o abastecimento das grandes cidades brasileiras, já que a

urbanização era maior. Getúlio Vargas, utilizando-se da declaração de Estado de Guerra,

passou a regular o número de animais abatidos por estabelecimento, o período em que esses

abates deveriam ocorrer e qual o volume a ser entregue nos principais centros consumidores.

Utilizando-se desse controle, começou a obrigar que as primitivas charqueadas que

desperdiçavam boa parte da rês, já que não possuíam equipamentos capazes de preparar seus

subprodutos, começassem a instalar esses equipamentos ou seriam impedidas de funcionar.

Em 1950, na tentativa de superar a baixa oferta de carne bovina, foi implantado,

como parte do Plano SALTE, o Plano de Interiorização dos Frigoríficos. O objetivo era evitar

que o gado tivesse que caminhar, vários dias, desde o sul de Mato Grosso, ou de Minas Gerais

ou de Goiás, para ser abatido em São Paulo, emagrecendo, expondo-se à febre aftosa e

aumentando o tempo de produção até estar pronto para ser abatido, aproximando os

frigoríficos das zonas pecuárias, competindo com as charqueadas destas áreas e mantendo a

renda no próprio local de produção. O parque frigorífico expandiu-se para os estados

fornecedores de gado, mas a produção de carne permaneceu insuficiente, frente ao

crescimento populacional e a demanda exportadora.

O início de 1970, apresentado no quarto e último capítulo, foi marcado por nova

tentativa de superar o “problema da carne”. Agora, o Governo Federal buscava implantar o

RIISPOA em todos os estabelecimentos de abate e colocá-los sob Inspeção Federal; eliminar

os que não realizavam aproveitamento completo da rês; sonegavam impostos; e forneciam ao

consumidor um produto sem garantia de qualidade. Esse processo, que ficou conhecido como

federalização, estabeleceu um dos parques frigoríficos de abate dos mais modernos do mundo,

capaz de produzir carne de qualidade elevada e de ser habilitado à exportar para os mercados

consumidores mais exigentes.

Paralelamente, o governo iniciou a implantação de uma série de programas de

desenvolvimento nas fronteiras agrícolas, com o objetivo de aumentar a participação dessas

no Produto Interno Bruto, através, dentre outros meios, do aumento da área ocupada por

pastagem mais produtiva, formação de aguadas, aquisição de reprodutores e matrizes. Esses

projetos vigoraram até a década de 1980, e é possível verificar seus efeitos no Censo

Agropecuário de 1985, o qual demonstra terem sidos alcançados os objetivos iniciais. A

expansão da pastagem plantada, principalmente da braquiária, gênero que melhor se adaptou

aos solos do cerrado e amazônico, tornou possível o aumento da lotação por hectare e uma

menor perda de peso durante o período de estiagem anual.

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157

O estado de São Paulo, que desde a segunda década do século XX, estabeleceu

para si a missão de ser o maior produtor de carne e de melhorar o gado nacional, investiu na

seleção animal, tanto importando reprodutores, quanto criando estações de monta, e

promoveu a disseminação de um gado mais selecionado tanto na pecuária paulista, quanto nos

estados fornecedores para suas invernadas: Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás. Pelo menos,

durante cinco décadas, o gado criado e recriado nesses estados foi abatido, em sua maioria,

em São Paulo.

Consciente dos benefícios de sua localização geográfica, em relação aos principais

centros de consumo e fornecedores de gado, da estrutura portuária de Santos e da necessidade

de fazer a ligação ferroviária entre os frigoríficos e o porto, São Paulo foi capaz de exportar

carne bovina para o estrangeiro, sendo o principal estado brasileiro a fazê-lo durante todo o

século vinte, e abastecer Rio de Janeiro, Minas Gerais e estados do Nordeste. A primazia de

ter a instalação dos frigoríficos detentores do que havia de mais moderno em tecnologia de

abate e processamento, foi aproveitada pelo estado, que investiu em pesquisa e combate

sanitário animal, e que passou a partir da segunda metade do século passado, a investir

também, em pesquisas relativas à alternativas de alimentação do gado no período de estiagem,

tanto em formas de conservação do alimento, quanto em possibilidades diferentes de campos

agrostológicos. Todas essas ações fizeram da pecuária paulista, importante atividade

econômica para o estado e de vanguarda.

O que se conclui neste trabalho é que, apesar dos avanços na legislação e na

fiscalização para modernização da cadeia, buscando um produto que atendesse a condições

sanitárias adequadas, e da criação de frigoríficos extremamente modernos, de nível

internacional, ainda existe uma maioria de estabelecimentos que continua desperdiçando os

subprodutos da rês; contaminando o meio ambiente; fornecendo um produto com higiene e

sanidade desconhecidas; sonegando impostos; e gerando perdas econômicas.

Além disso, o modelo da pecuária verificado no país, praticado pela maior parte

dos pecuaristas, ainda é de baixo investimento e de baixa inserção de progresso técnico, uma

vez que permanece a lógica da produção extensiva.

Há ainda que investir-se na formação dos inspetores e auxiliares de inspeção após

a aprovação em concurso público, tanto para que lhes seja incutida uma consciência

ideológica da importância social de seus trabalhos, quanto para, o aperfeiçoamento de seus

conhecimentos sobre a inspeção obtidos na graduação.

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Recomenda-se também, que o consumidor brasileiro passe a receber informação

sobre a carne bovina, seus cortes, as diferenças de maciez entre animais de diferentes idades e

raças, e as vantagens da carne embalada á vácuo, a qual é produzida dentro da indústria, em

condições de higiene adequada, e que seu tipo de empacotamento propicia aumento da

maciez. A mudança na escolha do consumidor, pode ser a alavanca para algumas mudanças

acima preconizadas.

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ANEXO

Tabela A. 1: Brasil, Estados e Regiões: Área ocupada com pastagens naturais e plantadas, 1920 a 1985 (1.000 hectares)

Estado, Região, Brasil Tipo de pastagem e total (hectare) 1920 1940I 1950 1960 1970 1975 1980 1985

Acre

Natural - - 606 11 41 54 66 68

Plantada - - 6 10 22 70 198 258

Total 1.352 61 611 21 63 124 264 326

Amapá

Natural - - 125 356 308 341 181 456

Plantada - - 3 14 3 9 13 23

Total - - 128 371 312 350 194 479

Amazonas

Natural - - 56 83 161 121 231 210

Plantada - - 37 40 81 72 166 267

Total 1.222 505 94 123 242 192 396 476

Pará

Natural - - 1.556 890 2.073 1.807 1.712 2.346

Plantada - - 41 102 468 1.230 2.802 4.250

Total 3.866 1.717 1.597 993 2.541 3.037 4.513 6.596

Rondônia

Natural - - 3 3 82 60 243 222

Plantada - - - 2 41 165 510 879

Total - - 3 5 123 225 753 1.101

Roraima

Natural - - - 695 1.125 1.326 1.519 1.100

Plantada - - - 12 22 28 82 147

Total - - - 708 1.147 1.353 1.602 1.247

Tocantins

Natural - - - - - - - 7.353

Plantada - - - - - - - 3.298

Total - - - - - - - 10.651

Norte

Natural - - 2.345 2.039 3.790 3.708 3.952 11.755

Plantada - - 88 181 638 1.573 3.771 9.122

Total 6.439 2.283 2.432 2.220 4.428 5.281 7.722 20.876 (continua)

Page 184: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

184

(continuação)

Estado, Região, Brasil Tipo de pastagem e total (hectare) 1920 1940I 1950 1960 1970 1975 1980 1985

Alagoas

Natural - - 235 390 470 445 405 488

Plantada - - 63 150 226 325 407 317

Total 998 236 298 540 696 770 812 806

Bahia

Natural - - 2.261 3.313 5.163 7.249 8.193 8.224

Plantada - - 2.344 2.951 3.903 3.971 5.775 6.780

Total 6.265 3.343 4.605 6.264 9.066 11.219 13.968 15.004

Ceará

Natural - - 2.318 3.254 3.971 3.522 3.909 3.382

Plantada - - 74 117 73 81 127 112

Total 4.138 2.298 2.392 3.370 4.044 3.602 4.036 3.493

Maranhão

Natural - - 3.454 2.323 2.718 2.591 2.691 2.656

Plantada - - 41 151 635 1.218 2.158 2.790

Total 1.913 1.034 3.495 2.474 3.353 3.809 4.849 5.447

Paraíba

Natural - - 1.307 1.810 1.989 1.866 1.635 1.793

Plantada - - 35 65 68 104 184 188

Total 3.220 1.273 1.343 1.875 2.057 1.969 1.819 1.982

Pernambuco

Natural 4.184 1.135 935 1.781 2.175 2.385 1.734 1.501

Plantada - - 88 163 211 333 501 556

Total 4.184 1.135 1.023 1.944 2.386 2.718 2.235 2.057

Piauí

Natural - - 2.045 2.543 3.251 3.528 3.386 3.189

Plantada - - 56 72 101 172 297 361

Total 4.806 1.488 2.101 2.615 3.352 3.700 3.683 3.550

Rio Grande do Norte

Natural - - 1.292 1.803 1.878 1.638 1.464 1.461

Plantada - - 23 37 27 30 82 74

Total 1.947 1.773 1.315 1.840 1.905 1.668 1.546 1.535 (continua)

Page 185: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

185

(continuação)

Estado, Região, Brasil Tipo de pastagem e total (hectare) 1920 1940I 1950 1960 1970 1975 1980 1985

Sergipe

Natural - - 237 444 508 559 395 588

Plantada - - 168 291 509 609 815 687

Total 579 263 405 735 1.017 1.169 1.210 1.275

Nordeste

Natural - - 14.084 17.660 22.124 23.782 23.813 23.282

Plantada - - 2.892 3.998 5.751 6.842 10.346 11.866

Total 28.051 12.843 16.976 21.657 27.875 30.624 34.158 35.148

Espírito Santo

Natural - - 265 521 1.006 1.573 1.342 1.157

Plantada - - 318 322 824 558 637 723

Total 416 398 584 843 1.830 2.131 1.979 1.880

Minas Gerais

Natural - - 18.715 21.849 25.991 27.784 21.431 20.625

Plantada - - 4.213 4.095 3.725 4.147 8.178 8.299

Total 20.360 18.736 22.927 25.945 29.717 31.931 29.609 28.924

Rio de Janeiro

Natural - - 1.088 1.207 1.572 1.580 1.466 1.438

Plantada - - 255 240 152 279 278 319

Total 1.697 1.224 1.343 1.447 1.724 1.859 1.745 1.757

São Paulo

Natural - - 4.953 5.094 5.532 4.780 3.214 2.555

Plantada - - 3.695 4.777 5.932 6.576 7.093 7.372

Total 6.731 6.329 8.648 9.872 11.463 11.356 10.307 9.926

Distrito Federal

Natural - - 5 - - - - -

Plantada - - - - - - - -

Total 41 3 6 - - - - -

Região da Serra dos Aimorés

Natural - - 24 60 - - - -

Plantada - - 39 205 - - - -

Total - - 63 265 - - - -

(continua)

Page 186: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

186

(continuação)

Estado, Região, Brasil Tipo de pastagem e total (hectare) 1920 1940I 1950 1960 1970 1975 1980 1985

Guanabara

Natural - - - 9 5 - - -

Plantada - - - 1 - - - -

Total - - - 9 5 - - -

Sudeste

Natural - - 25.051 28.816 34.200 35.805 27.523 25.853

Plantada - - 8.520 9.649 10.649 11.581 16.245 16.777

Total 29.245 26.689 33.571 38.466 44.849 47.386 43.768 42.630

Paraná

Natural - - 1.968 1.912 1.809 1.684 1.534 1.423

Plantada - - 281 782 2.700 3.299 3.986 4.577

Total 2.632 2.043 2.249 2.694 4.510 4.983 5.520 6.000

Rio Grande do Sul

Natural - - 14.353 13.179 14.078 13.061 12.241 11.940

Plantada - - 264 361 557 712 1.061 1.023

Total 15.422 14.185 14.616 13.540 14.635 13.773 13.302 12.963

Santa Catarina

Natural - - 1.686 1.760 2.089 1.977 1.903 1.928

Plantada - - 141 233 379 427 588 542

Total 1.781 1.818 1.828 1.993 2.468 2.404 2.491 2.469

Sul

Natural - - 18.006 16.851 17.976 16.722 15.679 15.290

Plantada - - 686 1.376 3.637 4.438 5.635 6.142

Total 19.834 18.046 18.692 18.227 21.613 21.160 21.313 21.432

Distrito Federal

Natural - - - 76 94 87 69 79

Plantada - - - 9 16 22 59 64

Total - - - 85 110 109 129 142

Goiás

Natural - - 13.518 16.061 19.423 21.713 20.578 9.570

Plantada - - 2.065 3.108 4.362 7.452 10.844 11.325

Total 19.428 13.840 15.583 19.168 23.785 29.164 31.422 20.895 (continua)

Page 187: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

187

(continuação)

Estado, Região, Brasil Tipo de pastagem e total (hectare) 1920 1940I 1950 1960 1970 1975 1980 1985

Mato Grosso

Natural - - 19.656 20.846 26.893 8.641 10.086 9.685

Plantada - - 723 1.752 4.696 2.603 4.693 6.719

Total 16.548 14.433 20.379 22.598 31.588 11.243 14.780 16.404

Mato Grosso do Sul

Natural - - - - - 15.580 12.266 9.658

Plantada - - - - - 5.213 9.069 12.145

Total - - - - - 20.793 21.335 21.803

Centro-Oeste

Natural - - 33.174 36.982 46.410 46.021 43.000 28.992

Plantada - - 2.787 4.869 9.073 15.289 24.665 30.252

Total 35.976 28.273 35.962 41.851 55.483 61.310 67.666 59.244

Brasil

Natural - - 92.660 102.272 124.406 125.951 113.897 105.094

Plantada - - 14.973 20.063 29.732 39.701 60.602 74.094

Total 119.546 88.142 107.633 122.335 154.139 165.652 174.500 179.188 Fonte: Fonte: para 1920, Brasil (1924, p. IX e XII) – Recenseamento do Brazil; para 1940, IBGE (1950, p. 40) - Recenseamento Geral do Brasil; para 1950, IBGE (1956, p. 39) – Censo Agrícola; para 1960, Fundação IBGE (s.d., p. 20-21) – Censo Agrícola (1ª parte); para os demais anos Censos Agropecuários 1970, 1975, 1980, 1985. Nota: o dado de 1920 deve ser cuidadosamente analisado já que o Recenseamento Geral considerou esta área como “áreas sem destino conhecido” e pressupunha que nelas estejam incluídas pastagens naturais, artificiais e a forragicultura. É um número bastante discrepante e deve ser analisado com cuidado. I: engloba natural e artificial.

Page 188: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Economia

188

Tabela A. 2: Brasil – População, vários anos entre 1872 a 1991

Anos Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

1872 9.930.478 332.847 4.638.560 4.016.922 721.337 220.812

1890 14.333.915 476.370 6.002.047 6.104.384 1.430.715 320.399

1900 17.438.434 695.112 6.749.507 7.824.011 1.796.495 373.309

1920 30.635.605 1.439.052 11.245.921 13.654.934 3.537.167 758.531

1940 41.236.315 1.627.608 14.434.080 18.345.831 5.735.305 1.093.491

1950 51.944.397 2.048.696 17.973.413 22.548.494 7.840.870 1.532.924

1960 70.992.343 2.930.005 22.428.873 31.062.978 11.892.107 2.678.380

1970 94.508.583 4.188.313 28.675.110 40.331.969 16.683.551 4.629.640

1980 121.150.573 6.767.249 35.419.156 52.580.527 19.380.126 7.003.515

1991 146.917.459 10.257.266 42.470.225 62.660.700 22.117.026 9.412.242

Fonte: IBGE (Universo), Censo Demográfico.