117
R e v i s t a V i s ã o A c a d ê m i c a ISSN 2177 7276 Universidade Estadual de Goiás UnU cidade de Goiás Volume 3, novembro de 2011. Educação e Ciências

Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Eletrôni ca Via Littera e

R e v i s t a V i s ã o A c a d ê m i c a ISSN 2177 7276

Universidade Estadual de Goiás

UnU cidade de Goiás

Volume 3, novembro de 2011.

Educação e Ciências

Page 2: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

2

Dados da Publicação

Revista Visão Acadêmica

Ano 2 - nº 3 - Novembro de 2011

Revista Eletrônica - Periodicidade Semestral

ISSN 2177 7276

http//: www.coracoralina.ueg.br

Contato e Acesso

Principal: [email protected]

Alternativo: [email protected]

Acesso via sítio

http//:www.coracoralina.ueg.br

Expediente

Universidade Estadual de Goiás ( UEG)

Reitor: Luiz Antônio Arantes

Unidade Universitária de Goiás

Diretor da Unidade: Flávio Antônio dos Santos

Av. Deusdete Ferreira de Moura S/N Centro

Cidade de Goiás- GO - CEP 76.600 000

Conselho Editorial

Auristela Afonso da Costa - UEG Goiás

Gabriela Azeredo Santos - UEG Goiás/PUC-GO

Ieda Maria do Carmo - UEG Goiás

Itelvides José de Morais - UEG Goiás

Luciano Feliciano de Lima - UEG Goiás

Raquel Miranda Barbosa - UEG Goiás

Conselho Consultivo

Ademar Azevedo Soares Júnior (UEG - Goiânia/ESEFFEGO)

Carla Rosane Mendanha da Cunha (FMB - GO)

Page 3: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

3

Célia Sebastiana Silva (UFG - Goiânia)

Cristina Helou Gomide (UFG - Goiânia)

Deis Elucy Siqueira (Universidade de Brasília - UnB)

Ebe Maria de Lima Siqueira (UFG - Goiânia /UEG)

Eduardo Gonçalves Rocha (UFG - Goiás)

Eduardo José Reinato (PUC - GO)

Francisco Alberto Severo de Almeida (UEG - Ensino a Distância)

Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET)

Ricardo Trevisan (UnB - FAU)

Rogéria Luzia Wolpp Gonçalves (UEG - Itaberaí).

Valdeniza Maria Lopes da Barra (UFG - Goiânia)

Membros do Conselho Consultivo Convidados Para a Edição

Carmo Heinemann (UNISINOS - RS)

Dominga Correia Pedroso Moraes (UEG - Goiás)

Eliane Marquez da Fonseca Fernandes (UFG - GO)

Jackeline Silva Alves (UEG - Morrinhos)

Keley Cristina Carneiro (UEG - GO)

Liliane Ferreira Neves Inglez de Souza (FAAL - Limeira)

Maria Célia de Oliveira Papa (FAAL - Limeira)

Rodrigo Bastos Daúde (UEG - GO)

Administração

Alair Di Silva Peres (UEG - cidade de Goiás)

Correção Gramatical e Ortográfica Pelos Graduandos

Lívia Rodrigues Barbosa (UEG - Letras - cidade de Goiás)

Ivani Peixoto dos Santos (UEG - Letras - cidade de Goiás)

Juliana de Fátima Ananias de Jesus (UEG - Letras - cidade de Goiás)

Page 4: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

4

Formatação e Diagramação

Heloísio Mendes (UEG - cidade de Goiás).

Itelvides José de Morais (UEG - cidade de Goiás)

Informações Gerais

A revista é especializada na publicação de artigos científicos escritos por graduandos. Sendo restrito a

esse tipo de pesquisadores o direito de publicação nesse periódico.

O conteúdo dos artigos não necessariamente representa os pontos de vista dos organizadores do

periódico

Editorial

Ser meio de divulgação da produção científica de graduandos dos diferentes ramos é o principal

motivo da organização da Revista Visão Acadêmica. De fato não faltam revistas científicas dispostas a

abrir algum espaço para publicações de graduandos. Porém, frente ao volume das produções este

espaço é aquém do necessário e nem sempre trabalhos de boa qualidade escritos por graduandos

conseguem ser divulgados com rapidez. Por isso é intenção da Visão Acadêmica se voltar apenas para

este segmento de pesquisadores. Contribuindo para que as universidades continuem a ser local de

formação e divulgação de ideias de pensadores com senso crítico. Crítico em relação às suas próprias

crenças e as dos demais membros das sociedades.

Cidade de Goiás, novembro de 2011, Conselho Editorial

Page 5: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

5

Artigos Uma análise dos efeitos da ferramenta computacional Modellus sobre os alunos de Ensino Médio na compreensão de gráficos em cinemática ...6 Matheus Monteiro Nascimento

Modelagem matemática na aldeia Indígena ...18 Alexandre Alvares Farias Alves Diogo Oliveira Borba

O sentimento nacionalista e o sujeito estrangeiro na propaganda brasileira ...31 Annyelle de Santana Araújo Desvendando os discursos presentes nos slogans de construtoras numa perspectiva sociológica ...41 Denise Freire Ventura

‘Num sei, só sei que foi Assim’! História e cinema; uma análise do Auto da Compadecida (1955 -2001)...50 Thiago Henrique de Andrade Araújo

Alienação silenciosa promovedora do “conformismo”?: a produção leiteira em Marechal Floriano-GO...65 Adenisia Alves de Freitas Realidade Docente e a utilização de aulas práticas como recursos didáticos...79 Bruna Flores Wille Bueno Marciele Fischer Parode Desenvolvimento e Capacitação de Pessoas...88 Erilene Luzia da Silva Almeida Ilzelena Garcia de Oliveira Marco Antonio dos Santos Itapirapuã-GO: A Memória do cotidiano de uma geração que fotografava...102 Celiana Leite de Sousa Pacheco Saad

Page 6: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

6

Uma análise dos efeitos da ferramenta computacional Modellus sobre os alunos de Ensino Médio na compreensão de gráficos em cinemática Matheus Monteiro Nascimento1

Resumo: A interpretação gráfica é uma das maiores dificuldades apresentadas por estudantes

do ensino básico e superior. No ensino de Física os problemas surgem nos conteúdos inicias de

Mecânica, mais precisamente no estudo da cinemática. A carência de pesquisas, voltadas para o

ensino médio, sobre o entendimento de gráficos em cinemática e sobre novas ferramentas de

ensino dificulta a ação dos professores. Assim, o objetivo deste trabalho , que é vinculado ao

Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência-PIBID/Capes, foi verificar se a

utilização de softwares de modelagem computacional proporciona uma aprendizagem

significativa dos estudantes de ensino médio no entendimento de gráficos em cinemática. Para

tanto, o software Modellus, que simula modelos físicos em tempo real, interpreta equações e

constrói gráficos, foi utilizado como ferramenta de ensino. Para a validação da pesquisa foi

aplicado o teste TUG-K (Test of Understanding Graphs in Kinematics), que é um instrumento

que possibilita a avaliação quantitativa das dificuldades apresentadas. O teste foi aplicado em

alunos do segundo ano do ensino médio da Escola Estadual de Ensino Médio CAIC Madezatti,

no município de São Leopoldo-RS. Os resultados mostram que a utilização de modelagens com

o Modellus é uma ferramenta no auxílio da compreensão de gráficos em cinemática

proporcionando assim uma aprendizagem significativa nos alunos de ensino médio.

Palavras-chave: Gráficos. Ensino Básico. Cinemática. Aprendizagem significativa. Modellus.

Introdução

Diversos trabalhos de pesquisa, voltados para o ensino de Física, se preocupam em

proporcionar novas ferramentas que visam facilitar o processo de aprendizagem e minimizar as

dificuldades dos estudantes. A interpretação gráfica se destaca como uma das maiores

dificuldades apresentadas por alunos de ensino médio e superior. O estudo da cinemática, que

¹Matheus Monteiro Nascimento é graduando do 4º semestre do Curso de Licenciatura em Física da Universidade

do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS da cidade de São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Bolsista de Iniciação à Docência – PIBID/Capes. Professor indicador: Carmo Heinemman da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS; Curso de Licenciatura em Física

Page 7: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

7

requer uma habilidade na construção e análise dos gráficos, é um dos primeiros conteúdos

trabalhados em um curso de Física e onde as dificuldades dos estudantes são primeiramente

observadas. Os gráficos, quando compreendidos, resumem uma grande quantidade de

informações de forma simples e clara (AGRELLO e GARG, 1999).

Em tempos de integração tecnológica, propostas didáticas se apropriam de linguagens

computacionais para incentivar a produção de conhecimento por parte dos alunos, com uma

diversidade de softwares sendo desenvolvidos para incentivar essa produção (ARAÚJO, 2002).

Portanto, cabe aos professores proporcionarem estudos sistemáticos para tornar os alunos

produtores de seu próprio conhecimento (BEHRENS, 2005).

Diversos autores (TEODORO, 2002; TEODORO e VEIT, 2002; ARAÚJO, 2002)

destacam o software Modellus como principal ferramenta de modelagem para o ensino de

Física e de Matemática. Os trabalhos encontrados na literatura, que procuram avaliar se

modelagens desenvolvidas com o Modellus auxiliam na compreensão de conceitos físicos, são,

na sua maioria, pesquisas voltadas para estudantes de ensino superior (ARAÚJO, 2002;

DORNELES, 2005). Apesar da conexão do Modellus com os novos parâmetros curriculares

nacionais (TEODORO e VEIT, 2002), poucos são os trabalhos que investigam as

aplicabilidades da ferramenta no ensino médio (SANTOS et al., 2006). Embora o software já

tenha apresentado resultados positivos no auxílio da compreensão dos conceitos de cinemática

(BARSOTTI et al., 2010; BARSOTTI e GARCIA, 2010; BATISTA et al., 2011), o propósito

deste trabalho foi de verificar se a utilização de modelagens computacionais realizadas com o

Modellus proporciona uma aprendizagem significativa nos alunos de ensino médio,

especificamente na interpretação de gráficos em cinemática.

Para tanto foram desenvolvidos exercícios de modelagem capazes de incentivar a

produção do conhecimento por parte dos estudantes com a finalidade de proporcionar uma

aprendizagem significativa na compreensão dos gráficos. Os alunos foram divididos em dois

grupos: experimental e de controle. No grupo de controle as aulas foram ministradas somente

no método tradicional, enquanto que o grupo experimental teve aulas tradicionais com o

professor e aulas adicionais com o Modellus. Para a validação da pesquisa foi aplicado o teste

TUG-K (Test of understanding graphs in kinematics) (BEICHNER, 1994) em dois momentos

diferentes. Um primeiro teste que foi aplicado nos dois grupos após o encerramento do

conteúdo ministrado pelo professor e, após as aulas adicionais do grupo experimental, um

Page 8: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

8

segundo teste aplicado novamente nos dois grupos. Posteriormente, os resultados foram

analisados e expressos em tabelas e gráficos comparativos.

Os resultados da pesquisa mostram que o percentual de acertos aumentou 58,8% no

grupo que esteve exposto às aulas de modelagens com o Modellus.

Nos próximos capítulos serão apresentados, sucessivamente, a fundamentação teórica, a

metodologia utilizada, a análise dos resultados, as discussões e as conclusões do trabalho.

Fundamentação teórica

O referencial teórico utilizado na pesquisa teve como enfoque a teoria de aprendizagem

significativa de David Ausubel.

A teoria de David Ausubel tem como cerne a aprendizagem significativa, definida como

um processo onde um novo conhecimento interage com uma estrutura cognitiva definida

anteriormente. Uma aprendizagem significativa acontece quando uma nova informação é

assimilada a partir da interação com conceitos preexistentes na estrutura cognitiva do ser

humano (AUSUBEL, 2002). Esses conceitos, já existentes na estrutura cognitiva, foram

denominados por Ausubel como subsunçores.

O termo aprendizagem mecânica é abordado nos estudos de Ausubel como sendo uma

aprendizagem onde o ser humano, teoricamente, aprende sem fazer ligações diretas com seus

subsunçores. Reproduz o conhecimento sem preocupação efetiva com a aprendizagem. O

paradigma conservador tratado por Behrens (2005) como sendo um espaço de reprodução do

conhecimento, dentro de uma abordagem tradicional, escolanovista ou tecnicista, segue a linha

da aprendizagem mecânica ou automática de Ausubel.

São muitos os fatores que dificultam a ação dos professores de proporcionar uma

aprendizagem significativa para seus alunos através de novas propostas metodológicas. A

ausência de recursos materiais, a desmotivação, a falta de apoio, são alguns dos obstáculos

enfrentados por esses profissionais principalmente na rede pública de ensino. Essas

dificuldades fazem com que as aulas permaneçam tradicionais e reprodutivas, sem despertar o

aluno para a construção do conhecimento.

Page 9: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

9

Metodologia

Modelagens podem ser vistas como ferramentas para representar um problema de uma

maneira análoga à situação real. Estas representações procuram conectar as abstrações teóricas

com as observações concretas experimentais. Nos dias de hoje, as ferramentas computacionais,

chamadas de Ambientes de Modelagem Computacional, permitem desenvolver diferentes

simulações sem um conhecimento prévio de linguagens de programação.

Neste trabalho os exercícios modelados foram desenvolvidos com o objetivo de,

juntamente com os subsunçores dos estudantes, efetivarem uma aprendizagem na compreensão

dos gráficos em cinemática. Os alunos foram expostos a exemplos de gráficos de posição vs

tempo, velocidade vs tempo e aceleração vs tempo, tanto de Movimento Retilíneo Uniforme

(MRU) como de Movimento Retilíneo Uniformemente Variado (MRUV). Os exemplos foram

desenvolvidos visando apresentar as grandezas envolvidas nos gráficos e como elas podem ser

determinadas a partir de áreas ou de declividades, sem a aplicação direta de equações. A Figura

1 mostra um exemplo construído e utilizado com os alunos.

Figura 1. Exercício de MRUV, gráficos de velocidade vs tempo

Page 10: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

10

No exemplo de MRUV o aluno é guiado a construir o conceito de que a área sob o

gráfico da velocidade vs tempo fornece o deslocamento do móvel. Como o próprio exercício

solicita o cálculo do deslocamento através da função horária da posição, x=xo+vo.t+1/2.a.t², o

estudante é capaz de associar a equação, que já havia sido apresentada pelo professor, com o

gráfico, construindo assim uma aprendizagem significativa. O caráter lúdico e dinâmico do

modelo faz com que o aluno se sinta atraído e motivado para responder as questões propostas.

A utilização do computador como mediador da aprendizagem tende a melhorar a compreensão

do conteúdo e contribui para o desenvolvimento cognitivo do sujeito (TEODORO e VEIT,

2002).

O exemplo da Figura 2 é um exercício de MRU onde o estudante deve determinar a

velocidade através da declividade do gráfico da posição vs tempo. Como o exercício solicita

também o cálculo da velocidade através da função horária da posição, x=xo+v.t, o aluno

conclui que a velocidade pode ser determinada através da declividade do gráfico da posição vs

tempo ou através da equação já conhecida.

Figura 2. Exercício de MRU, gráficos de posição vs tempo

Page 11: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

11

Como o trabalho procurou realizar uma pesquisa, foi necessária a aplicação de um teste.

Por já ter sido aplicado anteriormente (BEICNHER, 1994; AGRELLO e GARG, 1999;

ARAÚJO, 2002) e por atender aos objetivos da pesquisa, foi utilizado o teste TUG-K (Test of

understanding graphs in kinematics) para a avaliação dos estudantes. Este instrumento é capaz

de avaliar de forma quantitativa as dificuldades encontradas na interpretação de gráficos em

cinemática. O teste é composto por vinte questões de múltipla escolha e que exigem do aluno o

mínimo entendimento do comportamento de gráficos sobre funções de posição vs tempo,

velocidade vs tempo e aceleração vs tempo.

O teste para o entendimento de gráficos de cinemática TUG-K foi criado em 1994 pelo

professor da Universidade do Estado da Carolina do Norte, nos EUA, Robert Beichner.

A pesquisa se desenvolveu na Escola Estadual de Ensino Médio CAIC Madezatti,

estabelecida no bairro Feitoria, na cidade de São Leopoldo-RS. A composição da amostragem

se deu com aproximadamente 100 alunos, distribuídos em quatro turmas, do segundo ano do

ensino médio. As turmas que compuseram a amostra foram selecionadas aleatoriamente e

divididas em dois grupos: duas para o grupo experimental e duas para o grupo de controle. As

turmas do grupo de controle não tiveram aulas adicionais com o Modellus, apenas o conteúdo

de cinemática abordado pelo professor. O grupo experimental foi exposto a duas aulas de

modelagens, totalizando quatro períodos de simulações com o Modellus, além das aulas com o

professor. Como o grupo de controle não teve aulas diferenciadas de modelagens, os testes,

inicial e final, foram aplicados em duas aulas consecutivas, logo após a conclusão dos

conteúdos sobre MRU e MRUV. O teste inicial aplicado no grupo experimental aconteceu após

a conclusão do conteúdo, enquanto o teste final foi aplicado após o término das aulas com o

Modellus.

Resultados e discussão

A análise dos resultados foi construída a partir dos dados retirados da grade de respostas

dos testes aplicados.

Os resultados dos grupos experimentais e de controle, obtidos nos testes, são

apresentados nas tabelas 1, 2, 3 e 4. O escore do item correto foi explicitado em negrito. Para

facilitar a comparação entre os grupos, os gráficos 1 e 2 apresentam o percentual de acertos de

cada item dos testes.

Page 12: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

12

TESTE

INICIAL

RESPOSTAS GRUPO DE CONTROLE 52 alunos

Questão A B C D E Branco Percentual de acertos

1 11 4 3 15 18 1 8%

2 0 15 32 0 5 0 10%

3 11 1 12 19 9 0 37%

4 3 4 33 4 8 0 8%

5 1 3 10 34 4 0 19%

6 5 4 3 4 36 0 8%

7 1 5 8 22 16 0 2%

8 14 7 13 1 16 1 2%

9 4 23 4 5 16 0 31%

10 22 3 17 6 4 0 42%

11 37 6 5 3 1 0 6%

12 31 7 2 1 10 1 13%

13 17 10 6 16 3 0 31%

14 39 3 3 5 2 0 6%

15 4 37 5 2 4 0 8%

16 2 6 38 3 3 0 6%

17 1 8 6 26 10 1 2%

18 9 15 5 5 18 0 29%

19 25 5 2 2 18 0 4%

20 4 22 13 7 6 0 12%

Tabela 1. Resultados do teste inicial do grupo de controle

TESTE

INICIAL

RESPOSTAS GRUPO EXPERIMENTAL 57 alunos

Questão A B C D E Branco Percentual de acertos

1 7 9 7 12 22 0 16%

2 0 16 32 2 7 0 12%

3 9 1 10 21 15 1 37%

4 3 5 31 8 8 2 14%

5 1 2 16 33 5 0 28%

6 6 7 3 4 33 4 12%

7 3 4 10 22 14 4 5%

8 17 6 10 1 22 1 2%

9 7 24 4 1 20 1 35%

10 22 6 20 4 3 2 39%

11 41 6 4 3 1 2 5%

12 34 6 3 2 11 1 11%

13 19 16 4 9 4 5 16%

14 37 3 6 5 2 4 5%

15 1 39 5 2 6 4 2%

16 0 15 31 4 2 5 7%

17 9 8 3 15 17 5 16%

18 18 11 7 5 11 5 19%

19 20 3 8 4 17 5 14%

20 5 17 17 5 8 5 14%

Tabela 2. Resultados do teste inicial do grupo experimental

Page 13: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

13

TESTE

FINAL

RESPOSTAS GRUPO DE CONTROLE 52 alunos

Questão A B C D E Branco Percentual de acertos

1 9 6 8 13 15 1 12%

2 6 13 23 4 6 0 12%

3 9 5 11 17 10 0 33%

4 2 4 28 5 11 2 10%

5 0 4 9 32 6 1 17%

6 2 7 4 8 29 2 13%

7 3 4 12 19 14 0 6%

8 10 9 17 4 12 0 8%

9 8 12 8 6 18 0 35%

10 24 6 8 10 4 0 46%

11 13 12 15 2 8 2 4%

12 23 8 9 7 5 0 15%

13 9 12 8 19 4 0 37%

14 25 3 9 8 7 0 6%

15 6 15 6 11 13 1 12%

16 8 10 25 6 3 0 12%

17 2 10 5 22 13 0 4%

18 7 14 12 8 11 0 27%

19 17 7 5 8 15 0 10%

20 8 17 12 6 8 1 15%

Tabela 3. Resultados do teste final do grupo de controle

TESTE

FINAL

RESPOSTAS GRUPO EXPERIMENTAL 52 alunos

Questão A B C D E Branco Percentual de acertos

1 2 18 1 23 8 0 35%

2 1 11 33 1 6 0 12%

3 1 0 7 33 10 1 63%

4 4 13 14 8 13 0 15%

5 1 0 46 3 2 0 88%

6 15 7 3 5 19 3 13%

7 3 14 3 20 11 1 6%

8 10 3 14 6 19 0 12%

9 1 27 3 6 15 0 29%

10 22 10 11 5 2 2 42%

11 27 4 7 6 8 0 12%

12 20 12 10 2 8 0 23%

13 11 13 1 23 4 0 44%

14 23 8 5 13 3 0 15%

15 6 20 12 5 9 0 12%

16 3 15 16 10 3 5 19%

17 12 10 8 11 10 1 23%

18 1 15 18 7 9 2 29%

19 10 3 16 2 21 0 31%

20 3 13 18 5 13 0 25%

Tabela 4. Resultados do teste final do grupo experimental

Page 14: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

14

Gráfico 1. Porcentagens de acertos do teste inicial do grupo experimental e de controle

Gráfico 2. Porcentagens de acertos do teste final do grupo experimental e grupo de controle

O baixo aproveitamento observado nos resultados mostra uma triste realidade das

instituições de ensino básico do Brasil. Os testes aplicados exigem o mínimo entendimento do

comportamento dos gráficos de cinemática. Os alunos assimilam o conteúdo de maneira

superficial, sem a compreensão real dos conceitos estudados.

Page 15: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

15

Apesar dos resultados apresentarem um baixo percentual de acertos, é fácil perceber que

o grupo de controle, por não ter sido exposto às aulas de modelagem, manteve a mesma

distribuição nos dois testes. O grupo experimental teve um aumento considerável no teste final,

aumentando o percentual de acertos em todos os itens.

Para uma melhor avaliação dos resultados, o Gráfico 3 apresenta as médias gerais de

acertos das turmas dos dois grupos, tanto as médias do teste inicial como as do teste final.

Gráfico 3. Médias de acertos dos dois grupos

A média de acertos do teste final do grupo experimental apresentou uma superioridade

expressiva comparado às outras médias. Em relação ao teste inicial, o grupo experimental teve

um aumento, na média, de 58,8%. Os testes respondidos por estudantes que não foram expostos

às modelagens mantiveram aproximadamente a mesma média de acertos.

Estes resultados sugerem que a utilização de modelagens com o Modellus é uma

ferramenta no auxílio da compreensão de gráficos em cinemática que proporciona, assim, assim

uma aprendizagem significativa nos alunos de ensino médio.

Conclusões

Como destacado na Introdução, propostas pedagógicas cada vez mais se apropriam de

ferramentas computacionais para proporcionar uma aprendizagem significativa aos estudantes.

Dentre as várias ferramentas utilizadas no ensino de Física, este trabalho optou pelo

software de modelagem computacional Modellus pelas várias bem sucedidas aplicações

anteriores e por permitir ao aluno realizar simulações físicas de maneira simples e clara, apenas

sabendo as equações aprendidas em sala de aula.

14%

17%

17%

27%

Teste inicial do grupo controle

Teste inicial do grupo experimental

Teste final do grupo controle

Teste final do grupo experimental

Page 16: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

16

A meta do trabalho foi verificar se os estudantes de ensino médio teriam ganhos

significativos na aprendizagem em cinemática após terem sido expostos às aulas suplementares

com o Modellus, além das aulas tradicionais com o professor.

Para a avaliação dos estudantes foi utilizado o teste TUG-K por apresentar alto grau de

confiabilidade.

Os resultados do estudo mostram que o grupo exposto às atividades suplementares teve

uma melhora na compreensão dos gráficos em relação ao grupo que teve somente as aulas

tradicionais.

Cabe ressaltar que este trabalho não esgota as possibilidades da ferramenta. Este estudo

verificou a aplicabilidade do software no ensino da cinemática. Outros conteúdos de Física

podem ser auxiliados pelo Modellus. Afinal, os alunos se sentem motivados a produzir seu

próprio conhecimento quando expostos a aulas diferenciadas (BEHRENS, 2005).

Referências

AGRELLO, D ; GARG, R. Compreensão de gráficos de cinemática em física introdutória. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 21, n.1, p. 103-115, mar. 1999.

ARAÚJO, I. Um estudo sobre o desempenho de alunos de Física usuários da ferramenta computacional Modellus na interpretação de gráficos em Cinemática. Dissertação de Mestrado. Instituto de Física, UFRGS, Porto Alegre; 2002.

AUSUBEL, D. Adquisición y retención del conocimiento: una perspectiva cognitiva. Barcelona: Paidós. 2002. 328 p.

BARSOTTI, D; PEREIRA, R.; GARCIA, D. Relato do Uso de Simulação Computacional com Modelagem Matemática em Aulas de Cinemática no Ensino Médio. Encontro da rede de professores, pesquisadores licenciados em Física e matemática, 2010. São Carlos <Disponível em: http://www.enrede.ufscar.br/participantes_arquivos/E2_Barsotti_Pereira_RE.pdf > Acesso em: 10 jul. 2011.

BARSOTTI, D; GARCIA, D. Introduzindo simulação computacional com modelagem matemática em aulas de cinemática no Ensino Médio: a receptividade dos alunos. Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia. Paraná, art. n.57, 2010. < Disponível em: http://www.pg.utfpr.edu.br/sinect/anais2010/artigos/Ens_Fis/art57.pdf > Acesso em: 13 jul. 2011

BATISTA, J; SILVA, A; ASSUNÇÃO, M; SILVA, J; CAVALHEIRO, A. Utilização de softwares educativos de cinemática na escola estadual Messias Pedreiro de Uberlândia. Simpósio Nacional de Ensino de Física, Manaus, 2011. Disponível em: http://www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/snef/xix/sys/resumos/T0289-1.pdf; Acesso em: 13 jul. 2011

BEHRENS, M. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis 1ª Edição, Ed. Vozes; 2005.

Page 17: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

17

BEICHNER, R. Testing student interpretation of kinematics graphs. American Journal of Physics, Woodbury, v. 62, n. 8, p. 750-768, Aug. 1994. < Disponível em: http://62.90.118.237/_Uploads/127TUGKArticle.pdf > Acesso em: 10 jul. 2011.

MENDES, J. O uso do software Modellus na integração entre conhecimentos teóricos e atividades experimentais de tópicos de Mecânica sob a perspectiva da aprendizagem significativa. Dissertação de Mestrado. Brasília, UNB; 2008.

MODELLUS. < Disponível em: http://modellus.fct.unl.pt/ > Acesso em 10 jul. 2011.

DORNELES, P. Investigação de ganhos na aprendizagem de conceitos físicos envolvidos em circuitos elétricos por usuários da ferramenta computacional Modellus. Dissertação de Mestrado. Instituto de Física, Porto Alegre, UFRGS, 2005

SANTOS, G; ALAVES, L; MORET, M. Modellus: Animações Interativas mediando a Aprendizagem Significativa dos Conceitos de Física no Ensino Médio. Revista Sitientibus – Série Ciências Físicas, v. 02, p. 56-67, Dezembro, 2006.

TEODORO,V. Modellus: Learning Physics with Mathematical Modelling. Tese de Doutorado. Universidade Nova de Lisboa. Lisboa. 2003. < Disponível em: http://dspace.fct.unl.pt/handle/10362/407 > Acesso em: 15 jul. 2011.

VEIT, E; TEODORO, V. Modelagem no ensino/aprendizagem de física e os novos parâmetros curriculares nacionais para o ensino médio. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 24, n. 2, p. 87-96, jun. 2002.

Page 18: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

18

Modelagem matemática na aldeia Indígena Alexandre Alvares Farias Alves2

Diogo Oliveira Borba3

Resumo: Este artigo consiste em trabalhar com modelagem matemática na turma da

Educação de Jovens e Adultos (EJA) do 1° Ano do Ensino Médio da Escola Estadual Indígena

Maurehi, na cidade de Aruanã – GO, por se tratar de uma metodologia que utiliza a

matemática aplicada no mundo real dos alunos, queremos então fazer com que os alunos se

tornem: ativos, críticos, autônomos, participativos, reflexivos e capazes de solucionarem

problemas que envolvem a matemática aplicada em seus cotidianos. E para isto propusemos

tratar a questão da diminuição do peixe Pirarucu (maior peixe de escama do Brasil) na região

dos alunos, peixe este que é bastante perseguido e que corre risco de extinção, utilizando

assim a matemática na questão da conscientização.

Palavras-chave: Modelagem. Educação. Conscientização.

Introdução

Ao afirmar que atualmente se vive em uma sociedade moldada com a evolução das

tecnologias, parece redundante, porém quando esta mesma sociedade passa por muitas

mudanças em pequenos intervalos de tempo, os meios de ensino precisam adaptar-se, pois, o

que serve como ferramenta hoje, poderá servir apenas como referência para aprendizagem

futura. Ao repensar metodologias para o surgimento de novos métodos de ensino destaca-se

a Modelagem Matemática. Pode-se dizer que modelagem é tão antiga quanto à própria

matemática, se pararmos para refletir, desde o início da organização do conhecimento

humano já se baseava em criar modelos para obter informações de algum fenômeno que se

repetia ou para verificar como que de fato se dava tal acontecimento e como se

comportavam.

A utilização da Modelagem no ensino veio ganhando importância e adeptos no Brasil

nas últimas três décadas, isto se deve à grande contribuição que esta metodologia tem

proporcionado para o ensino tanto em níveis básicos como em níveis superiores. Para reforçar

este fato têm-se diversos autores que a defendem em seus estudos e relatam a importância

2 Alexandre Alvares Farias Alves é graduando do quarto ano em Licenciatura em Matemática pela UnU de Goiás/UEG. 3 Diogo Oliveira Borba é graduando do quarto ano em Licenciatura em Matemática pela UnU de Goiás/UEG. Professor indicador: Rodrigo Bastos Daúde do Curso de Licenciatura em Matemática da UnU de Goiás/UEG.

Page 19: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

19

da Modelagem para o ensino de Matemática, autores como: Biembengut & Hein (2009)

Barbosa (2001) e Barasuol (2006).

A experiência em questão trata-se de abordagens crítica e de intervenções na

realidade do público alvo. Para tanto foi investigada a turma da Educação de Jovens e Adultos

(EJA) do 1° Ano do Ensino Médio da Escola Estadual Indígena Maurehi, na cidade de Aruanã –

GO; visto que a referida sala possui um público alvo exclusivamente indígena Carajás da aldeia

Buridina deste mesmo município. O nome desta Escola é em homenagem a um dos primeiros

Kaciques da Aldeia, “Maurehi”.

As análises dos dados desta pesquisa foram realizadas de forma qualitativa quanto

quantitativa conforme Minayo (2003). O enfoque quantitativo ficou evidente no

levantamento dos dados para obtenção dos modelos e consequentemente gráficos além de

expressões algébricas; porém as interpretações dos dados e inferências na realidade

caracterizam a abordagem qualitativa.

Esta pesquisa aborda a Modelagem Matemática como metodologia de ensino,

proporcionando aos alunos ferramentas na exploração do mundo real; a comunidade

indígena tornou-se um ambiente enriquecedor na busca por informações que seriam

importante para a execução da pesquisa, atividade como: pesca, produção de artesanato,

produção de alimentos na aldeia entre outros. Porém dedicamos maior atenção a pesca e

conscientização relacionada ao peixe Pirarucu, um dos maiores peixes brasileiros de água

doce, preponderante na vida dos indígenas e infelizmente com risco de extinção.

O que queremos com a pesquisa

Esta pesquisa aborda a Modelagem Matemática como metodologia de ensino,

proporcionando aos alunos ferramentas na exploração do mundo real. Tratando a

Matemática estudada na sala de aula com o presente no cotidiano como um procedimento

multiplicador e dinamizador do conhecimento. Sendo assim, foi realizada uma prática de

ensino numa comunidade indígena para despertar nos alunos maior motivação para o ensino

e aprendizagem da Matemática e visualização de sua aplicabilidade no dia-a-dia.

Para isto foi necessário à execução de algumas etapas especificas, tais como:

Page 20: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

20

Sondagem das atividades realizadas na comunidade indígena;

Refletir sobre as atividades diárias e as diversas áreas do conhecimento que a

influencia;

Apresentar a Modelagem Matemática;

Mostrar e enfatizar as etapas inerentes as modelos matemáticos;

Utilizar os modelos matemáticos para interferir na visualização das atividades

diárias da comunidade indígena.

Adotar metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos

estudantes.

A Essência da Modelagem Matemática

Todas as mudanças por que passa a sociedade exige um sistema educacional

renovado, na qual faz-se necessário um currículo cada vez mais adequado com a

nossa realidade. Ele deve abrir espaço para as atividades de investigação,

contribuindo decisivamente para a formação na concepção de busca e auxílio na

percepção da realidade e colaboração para a formação crítica do conhecimento.

(BARASUOL, 2006, p. 02)

No sistema educacional; escola, professores, governos e políticas públicas necessitam

cada vez mais de um currículo que atenda o ensejo e desejos da sociedade frente a sua

realidade é urgente e se torna a cada dia emergente. Assim todos os esforços devem abrir

espaço e caminhar para a criatividade do aluno, contribuindo para a formação critica fazendo

com que este se torne um cidadão ativo em seu sistema assim como afirma D’Ambrósio

(1996).

Barasuol (2006) ressalta ainda que “No ensino tradicional da Matemática não tem

havido, em geral, um respeito pela criatividade do aluno.”, muitos professores que ainda não

se atentara para essas mudanças estão alheios à importância de se trabalhar com os alunos

uma atividade Matemática criativa e significativa para suas vidas enquanto futuros e atuais

cidadãos. Ainda é muito comum ver situações onde os professores ministram aulas

desvinculadas da realidade dos alunos ignorando as mudanças que estão acontecendo fora do

ambiente escolar.

Page 21: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

21

As formas metódicas que estes professores ministram suas aulas podem impedir os

alunos de terem oportunidades de conhecer mais de um caminho para a solução de

problemas, e nisso a criatividade dos mesmos não são estimuladas, é como Gardner (1995)

deixa bem claro que toda aprendizagem é estimulada, é preciso que os professores mudem

suas concepções sobre o ensino e apresentem várias alternativas de aprendizagem aos

alunos.

Diversos autores têm defendido a necessidade de professores desenvolverem

intervenções inovadoras em suas salas de aulas através de apoio mútuo ou acompanhado de

investigadores (Barbosa, 2001). E nesta perspectiva de intervenções inovadoras que se

destaca para o ensino de Matemática a Modelagem Matemática, a qual fornecerá

ferramentas para o professor muito importante em seu trabalho.

Para que se entenda melhor o processo de Modelagem Biembengut (2009) define:

Modelagem Matemática é o processo que envolve a obtenção de um modelo. Este

sob certa ótica pode ser considerado um processo artístico, visto que, para se

elaborar um modelo, além de conhecimento apurado de matemática, o modelador

deve ter uma dose significativa de intuição e criatividade para interpretar o contexto,

saber discernir que conteúdo matemático melhor se adapta e também ter senso

lúdico para jogar com as variáveis envolvidas. (BIEMBENGUT & HEIN, 2009, p. 12).

Então quanto maior for o conhecimento Matemático melhor será o modelo, logo é

visível que, para se trabalhar com Modelagem o professor precisa acima de tudo dominar os

conhecimentos Matemáticos, Segundo Biembengut (2009, p.20) “Se o conhecimento

Matemático restringe-se a uma Matemática elementar, como aritmética e/ou medidas, o

molde pode ficar delimitado a esses conceitos.”

Daí pode-se considerar a Modelagem por meio de etapas conforme (Biembengut, apud

Barasuol, 2006), convém frisar não uniforme, segue-se então:

A etapa inicial é a interação, é neste momento que o professor reflete sobre a

Modelagem como uma metodologia pela a qual busca a interação da realidade e Matemática,

em outras palavras pode se dizer também que é a ligação da teoria e prática. A interação pode

ser subdividida em duas outras etapas, reconhecimento da situação problema e

familiarização, não existindo entre as duas situações qual deve ser trabalhada primeiro, pois,

na medida em que uma ocorre à outra também acontece.

Page 22: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

22

Esta etapa é muito importante para o professor, pois nela ele tem condições de

realizar uma pesquisa de campo na busca de situações-problemas, que tenha sentido para o

trabalho em sala de aula. E com isso feito é proposto para os alunos que busque todas as

informações existentes sobre a questão a ser trabalhada. Mediante as possíveis informações o

professor tem a função de filtrar as que se adaptam a situação problema proposta

anteriormente, para então surgir à próxima etapa, a Matematização.

Na Matematização ocorre o momento mais desafiante para o professor, a qual exige

postura crítica pesquisa e domínio de conteúdo. Concordando com Biembengut & Hein

(2009), para se trabalhar com modelagem é preciso que se tenha um apurado conhecimento

em Matemática, o modelador “professor” tem a responsabilidade transformar as informações

obtidas na fase anterior em conceitos matemáticos para serem trabalhados em sala de aula.

Sendo neste momento que se pode criar um modelo que melhor representa e explique uma à

situação problema.

Para que isso ocorra de forma significativa na construção do conhecimento

matemático, o professor deve classificar as informações que são relevantes para o problema,

e descartar as que não contribuirão para a situação problema que esta sendo trabalhado, e

principalmente este deve levantar hipótese para serem exercitados durante o processos. E

principalmente o professor deve descrever essas relações em termos matemáticos para ter

sentido aos alunos.

Então com isso o principal interesse que se tem nesta etapa, é criar um modelo com

potencial de deduzir o que esta acontecendo, ou seja, este modelo por meio de termos

matemáticos tem o objetivo de descrever como um fenômeno acontece e porque acontece,

este modelo é representado por meio de funções, expressões, gráficos, entre outros.

Feito isto, é preciso que o modelo seja validado, que de fato, trata da terceira etapa do

processo, neste momento é posto em prática o modelo, ou seja, por meio de avaliação e

verificado a viabilidade ou não do modelo obtido; se acontecer que o modelo não atenda a

necessidade a qual representa a solução do problema proposto, este é invalidado,

necessitando então que volte a etapa anterior e adéque-o para uma melhor utilização, mas se

foi analisado a situação problema proposta inicialmente e o modelo obtido foi satisfatório,

tem-se então a validação do modelo e finalização do processo.

Page 23: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

23

Caminhos seguidos...

Na busca da melhor forma de trabalhar a Matemática na sala de aula, de forma que

tenha significado para aos alunos, decidimos utilizar a Modelagem Matemática como forma

de interação da realidade destes alunos como conhecimento matemático. A partir de então

fez se necessário que a pesquisa fosse realizada por meio do método indutivo de estudo, com

reflexões qualitativas e quantitativas.

Procurando estabelecer uma linha de raciocínio do particular ao geral que evidencie e

mostre a realidade específica de cada aluno é o que justifica apoiar no método indutivo de

estudo; a qual parte de dados e observações particulares para chegar a dados gerais, na

realidade, essa e a essência da Modelagem Matemática.

Nesta pesquisa com meio de verificar a realidade do recorte feito foi necessário

adotarmos uma abordagem qualitativa e quantitativa conforme Minayo (2003), ao entender a

pesquisa como uma atividade primordial na construção do conhecimento cientifico, da

mesma forma afirma Demo (2005) em seus estudos.

O enfoque qualitativo foi importante porque houve a necessidade de realizar um

tratamento criterioso das informações obtidas perante o público alvo. Sem se preocupar com

dados estatísticos e enumerações, o que caracteriza a pesquisa quantitativa. Assim na

perspectiva quantitativa levantamos os dados necessários, estáticos, elementos numéricos

que subsidiaram a análise da realidade de nosso público alvo de forma que pudéssemos nela

intervir.

Por tratar-se de uma pesquisa de caráter qualitativo, buscou-se durante todo o

processo interagir o individuo com o mundo real, criar um elo entre individuo e

aprendizagem; também preparar o mesmo para as séries seguintes de desenvolvimento

escolar, para o mercado de trabalho e para o exercício da cidadania.

A proposta metodológica aqui apresentada concentra-se em observações,

questionamentos, aplicações de conteúdos, abordagem crítica e intervenções na realidade do

público alvo. Para tanto foi investigado a turma da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do 1º

Ano do Ensino Médio da Escola Estadual Indígena Maurehi, na cidade de Aruanã – GO; visto

que a referida sala possui um público alvo exclusivamente indígena Karajás da aldeia Buridina

Page 24: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

24

deste mesmo município. O nome desta Escola é em homenagem a um dos primeiros Kaciques

da Aldeia “Maurehi”.

Conhecido o público alvo direcionamos a pesquisa e investigação de acordo com as

atividades diárias dos mesmos, procuramos problematizar questões sobre o rendimento

mensal e anual da aldeia, quantidade de peixes pescados, e consequentemente direcionaram

para finalizarmos em um ponto de extrema importância que é a questão da conscientização

na pesca do peixe, “Pirarucu”. Peixe raro “O pirarucu (Arapaima gigas) é um dos maiores

peixes de água doce do planeta. Nativo da Amazônia, ele promove benefícios para o

ecossistema e comunidades que vivem da pesca. Seu nome vem de dois termos

indígenas pira, "peixe", e urucum, “vermelho”, devido à cor de sua cauda. ”4·. Desta forma, é

viável destacar que, a captura descontrolada está fazendo com que o maior peixe da

Amazônia entre em extinção.

Para melhor entender a realidade e anseios de nosso público alvo, foi realizado a

aplicação de dois questionários, sobre o interesse quanto aos conteúdos matemáticos e outro

sobre a relação da matemática com objeto de estudo (extinção do pirarucu).

Todos os caminhos delineados nestes procedimentos metodológicos pretendem

despertar nos alunos maiores motivações (estimulo) para a aprendizagem da Matemática e

visualização de sua aplicabilidade em diversas áreas do conhecimento e principalmente no

cotidiano destes, reforçando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei. n°

9.394/96) (art.36) expõe a seguinte diretriz, “adotará metodologias de ensino e de avaliação

que estimulem a iniciativa dos estudantes”5 que é exatamente o foco da pesquisa.

Prática de ensino

Então diante da metodologia de ensino já apresentada, espera-se que o processo de

educação seja abordado de maneira mais produtiva, deixando para traz o mito que o

professor é detentor do conhecimento, e que os alunos deixem de serem visto apenas como

4Disponível em: www.wwf.org.br/informacoes/especiais/biodiversidade/especie_do_mes/agosto_pirarucu.cfm, acessado em 16/08/2011 às 18h 5Disponível em: http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/2762/ldb_5ed.pdf?sequence=1, acessado em 13/08/2011 às 01h.

Page 25: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

25

receptores de informações (conteúdos), e tornem o conhecimento como uma aprendizagem

significativa para sua vida futura.

Para alcançar os objetivos definidos nesta pesquisa, na prática em sala de aula foram

necessários 06 horas/aulas, divididas da seguinte forma, as duas primeiras foram para

observações, reconhecimento da turma e aplicação de um questionário, de posse dos

resultados expus os objetivos da pesquisa, por meio de uma abordagem histórica,

referenciando alguns pontos que são relevante dentro Da Modelagem, feito isso foi pedido

para os alunos que providenciem algumas informações para ser trabalhado em sala de aula,

dado este os quais se relacionam no cotidiano. Em especial por se tratar de alunos de uma

aldeia indígena foi proposto que estas informações sejam referentes aos pescados de

Pirarucu. Informações sobre quais épocas do ano eram intensificadas a pesca? Quando

diminuíam? E por quê? Todos estes questionamentos procuravam executar a primeira etapa

da modelagem matemática.

No segundo momento utilizamos duas aulas para trabalhar com os alunos em sala de

aula, evidenciando a segunda etapa da Modelagem Matemática. Com dados que foram

coletados dos próprios alunos utilizamos ferramentas matemática para explicar o que está

acontecendo com o pescado de cada um, com isso feito, foi possível contextualizar a questão

da pesca predatória. E elaborando gráficos mostramos quando uma determinada espécie

correrá o risco de acabar, na região dos mesmos, qual espécie que tem o menor custo

benefício, qual melhor época para pesca, entre outros pontos.

As duas últimas aulas foram caracterizadas pela terceira etapa da modelagem,

abordagem critica e leitura das informações por meio dos gráficos e equações obtidas na

segunda etapa e em aulas anteriores.

Note um gráfico que demonstra o perfil da diminuição da população do Pirarucu nos

últimos dez anos, este gráfico mostra a situação do decrescimento na região próximo à aldeia

dos alunos.

Page 26: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

26

Fig. 01: Representação gráfica do comportamento da população entre os anos de 2000 a 2011

Org.: ALVES, Alexandre Alvares Alves; Diogo Oliveira Borba (2011)

Diante deste gráfico podemos afirmar que houve uma queda gradativamente desta

espécie durante este período de tempo, sendo este muito importante também para a

visualização deste acontecimento.

Ao encerrar o processo, foi mediada uma abordagem da importância que a

Matemática tem em nosso dia-a-dia, conscientizando todos os alunos que esta ferramenta é,

e será cada vez mais importante na vida de todos, pois, a nação que dominar cada vez mais o

conhecimento se tornará mais independente de qualquer outra. As informações obtidas nas

aulas devem ser usadas com intuito de melhorar sua pesca, aperfeiçoar seus trabalhos e

mesmo assim preservar as espécies de peixe que devido à pesca predatória pode levar a

mesma a extinção.

Interferência na realidade e resultados alcançados

Após a realização da prática, podemos perceber pelo questionário que foi aplicado e

diálogo que tivemos com os alunos, a experiência surtiu algumas interferências

Page 27: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

27

principalmente na questão da conscientização da pesca predatória. No relato do aluno Ijararu

ele disse que, não concorda questão de ganhar dinheiro com a pesca predatória, segundo ele,

não é uma atitude correta, pois, por falta de controle algumas pessoas pescam tanto e por

falta de comprador uma grande parte é desperdiçada. Este aluno não vive somente da pesca

ele complementa seu orçamento com um emprego na prefeitura. Por meio dos questionários

percebemos outras colocações significativas para esta experiência. A aluna Gleicy Kwinan, fez

duas colocações muito significativas para a concretização desse trabalho.

O fato de o aluno perceber estas implicações da matemática em suas vidas por mais

simples que seja tem um sentido especial, talvez a simplicidade que esta aluna teve ao fazer

este relato não mostra a magnitude que este momento pode ter e irá interferir no processo

de busca pelo o conhecimento. Quando elaboramos e decidimos trabalhar a questão de

utilizar a Matemática na questão da conscientização, tínhamos como principal interesse

desperta nos alunos que nos podemos contribuir muito para inverte o quadro da situação do

Pirarucu, na analise das respostas dos alunos percebemos que houve a principio algo

interessante, que podemos observar nos relatos destes.

Outro ponto interessante foi a que o aluno Ijararu apontou:

Page 28: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

28

Estes trechos são um pouco das várias situações de reflexões que surgiram, uma

aplicação de um trabalho desta natureza, contribui significativamente para que os alunos

tenham uma visão diferente das coisas que acontece no seu dia-a-dia, então é preciso que os

professores em suas aulas busquem esta ligação entre o conhecimento matemático e

abordagem com o mundo real. Sendo assim o professor além de cumprir o seu papel como

profissional da educação ao mesmo tempo estará exercendo um papel importantíssimo para a

cidadania.

Considerações finais

O sucesso desta pesquisa se deu devido ao fato que ao mesmo tempo em que nos

deparamos com situações desafiadoras e interessantes tivemos a possibilidade de

contextualizar com a realidade dos alunos, permitindo aos mesmos presenciar em suas vidas

estes acontecimentos, que são resolvidos, ou melhor, explicado por meio de conceitos

Matemáticos. Fatos que certamente acrescentaram experiências importantíssimas que

contribuirão para futuras atividades educativas.

Conclui-se que com a aplicação deste trabalho, percebemos que quando utilizamos a

Modelagem, onde a mesma trata do mundo real dos alunos, este se torna mais participativo

no processo de ensino-aprendizagem “Ensinagem” como aponta Pimenta e Anastasiou (2003,

p. 208) enfatizando que “ação de ensinar é definida com a ação de aprender”.

Ressaltando que em todas as etapas inerente ao processo de Modelagem os alunos

têm participação direta em suas construções, e sendo assim concordando com Demo (2005)

podemos dizer que a Modelagem é um estudo voltado para pesquisa onde professores e

alunos se tornam parceiros para a busca do conhecimento. E com isso o ambiente de

“ensinagem” em face de esta metodologia tem um aproveitamento mais significativo.

Todavia o professor deve entender que a pesquisa é algo fundamental para a

perpetuação de um trabalho de qualidade; sendo a Modelagem uma ferramenta para o

ensino da matemática, podemos afirmar com propriedade que para trabalhar e fazer

Modelagem é preciso muita pesquisa, estudo e visão global da realidade dos alunos. O

professor que se propor a fazer Modelagem Matemática e ignorar a pesquisa está fadado a

recair no ensino tradicionalista.

Page 29: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

29

Referências:

BARBOSA, J. Modelagem na Educação Matemática: contribuições para o debate teórico. In: REUNIÃO

ANUAL DA ANPED, 24., 2001, Caxambu. Anais... Rio Janeiro: ANPED, 2001. 1 CD-ROM.

BARASUOL, F. Modelagem matemática:uma metodologia alternativa para o ensino da matemática.

In: UNI revista - Vol. 1, n° 2: (abril 2006)

BIEMBENGUT, M & HEIN, N. Modelagem matemática no ensino. 5 ed. – São Paulo: Contexto 2009.

D´AMBROSIO, U. Educação matemática: Da teoria á prática. (Coleção Perspectivas em Educação

Matemática) ed. 10 Campinas: Papirus, 1996.

DEMO, P. Educar pela a pesquisa. 7. Ed. - Campinas, SP: Autores Associados, 2005. – (Coleção

educação contemporânea)

GARDNER, H. Inteligências Múltiplas: a Teoria na Prática / Howard Gardner; trad. Maria Adriana

Veríssimo Veronese. - Porto Alegre: Artmed, 1995.

LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: lei nª 9.394, de 20 de Dezembro de 1996, que

estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. – 5. ed. – Brasília: Câmara dos Deputados,

Coordenação Edições Câmara, 2010.

MINAYO, M. (Org.) Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 22 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.

PIMENTA, S; ANASTASIOU, L. Docência no Ensino Superior. São Paulo: Cortez, 2003.

Page 30: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

30

O sentimento nacionalista e o sujeito estrangeiro na propaganda brasileira Annyelle de Santana Araújo

6

Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar linguísticamente uma propaganda da marca

de sandálias Havaianas cujo foco de análise é o surgimento de um sentimento de exaltação

dos elementos nacionais a partir da construção de um sujeito estrangeiro dentro de uma

propaganda de circulação nacional. Para proceder tal análise fizemos uso de vários teóricos

dentro da Análise do Discurso, como Pêcheux, Bakhtin, Fiorin, Fernandes, Orlandi, dentre

outros.

Palavras-chave: memória discursiva. Ethos. Polifonia. nacionalismo

Introdução

Este presente trabalho tem como objetivo fazer uma análise de uma propaganda

brasileira a fim de compreender o sentimento nacional que esta provoca e constrói no

telespectador a partir da construção de um sujeito específico.

Como sabemos, os meios de comunicações mais recentes têm sido usados não só para

entreter, mas também para desenvolver um papel social, ajudando na construção de

indivíduos. Como é o caso da televisão, um meio de comunicação em massa, de fácil acesso e

com uma enorme variedade de programas, propagandas e derivados, mas é claro que o

sujeito tem um papel importante na seleção daquilo que assiste e toma para si.

Por se tratar de uma análise estreitamente linguística, utilizaremos como base alguns

teóricos da Análise do Discurso, como Bakhtin, Fiorin, Pêcheux, Orlandi, Fernandes, bem como

um estudioso de persuasão Citelli.

Vale lembrar que não propomos neste artigo científico a construção ou manutenção

de um sentimento xenofóbico, isso é de aversão aos estrangeiros, nosso foco aqui é analisar

como um elemento de nacionalidade diferente da nossa pode contribuir para a construção de

6 Graduanda do quarto ano do curso de Letras da Universidade Federal de Goiás na cidade de Goiânia.

Indicação: Drª Eliane Marquez da Fonseca Fernandes do curso de Letras da Universidade Federal de Goiás na

cidade de Goiânia

Page 31: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

31

um sentimento de nacionalismo, ou seja, como um elemento exterior pode nos proporcionar

uma maior valorização daquilo que é nosso.

Fundamentação teórica

Este trabalho propõe a análise de uma propaganda da marca de sandálias Havaianas

que foi veiculada no ano de 2008 e produzida pela AlmapBBDO com a participação do ator

Lázaro Ramos, mas antes de proceder tal análise é necessário relembrarmos, alguns

conceitos, a fim de facilitar a compreensão.

No início do século XX, o suíço Ferdinand de Saussure (1916) a partir da publicação de

seu Curso de Linguística Geral, passou a considerar a linguística como uma ciência e cujo

objeto de estudo era a língua. Iniciou-se a partir daí, uma nova corrente dentro dos estudos

linguísticos: o estruturalismo, que propôs várias dicotomias como língua e fala, sincronia e

diacronia, sintagma e paradigma, entretanto essa análise não passava do nível estrutural,

preocupando-se exclusivamente com o funcionamento da língua, como se essa fosse exterior

ao homem. Para Saussure, a língua é um sistema de valores e também é um produto social e

homogêneo.

Já no final do século XX, na França, Michael Pêcheux (1976) propõe uma concepção de

língua que vai além de sua forma e leva em consideração o social e a ideologia, e o foco agora

passa a ser o discurso, surgindo assim a Análise do Discurso.

“A especificidade da análise de discurso está em que o objeto, a propósito do qual ela

produz seu ‘resultado’, não é um objeto linguístico, mas um objeto sócio-histórico onde o

lingüístico intervém como pressuposto”. ORLANDI (2004:52)

Como já foi mencionado, Saussure propôs várias dicotomias, entre elas língua e fala,

porém a análise do discurso propõe um novo paralelo: língua e discurso. Sob essa última ótica

temos a língua como a materialidade, composta por unidades linguísticas (sons, letras) de

caráter neutro e sem significado, trata-se de elementos sem sentido.

Mas se a língua é formada por essas unidades, por que um texto unicamente formado

por elas pode nos fazer sentido? É nesse ponto que entra a textualidade. De acordo com

M.A.K. Halliday, (1976 apud ORLANDI e LAGAZZI-RODRIGUES, 2006:22), para algo ser

considerado como texto é necessário ter textualidade, isso é, estabelecer relação consigo

Page 32: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

32

mesmo e com a exterioridade. Isso nos permite concluir que o texto não está pronto ou

completo, já que a sua compreensão vai além de sua materialidade (daquilo que está escrito),

pois estabelece relação com tudo que está alheio a ele. É só a partir das relações

estabelecidas com o que está fora do texto, com o que não é linguístico, que esse passa a ter

sentido.

“Pensar o texto em seu funcionamento é pensá-lo em relação às suas condições de

produção, é ligá-lo à sua exterioridade. Esta ligação, no entanto, não coloca o texto

como um documento no qual veríamos ilustrados os sentidos já constituídos em

outro lugar, mas como monumento, como diria Foucault, em que a própria

textualidade traz nela mesma sua historicidade, isto é, o modo como os sentidos se

constituem, considerando a exterioridade inscrita nela e não fora dela”. ORLANDI

(2006:16)

Voltando ao paralelo proposto pela Análise do Discurso, falta-nos explicar o outro pilar

de sustentação: o discurso. De acordo com Pêcheux, o discurso é abstrato e está relacionado

com ideologia e questões de valores. Vale lembrar que essa separação entre texto e discurso é

para fins de estudo, já que se trata de dois elementos entranhados, que não se separam, um

existe em função do outro. O discurso caminha dentro da língua. De maneira geral, o texto é a

representação da linguagem e é através dele que se chega ao discurso.

Na produção de um discurso leva-se em conta o sujeito e envolve as circunstâncias

(social-histórico) e a situação (o aqui e agora), considera-se assim o momento geral e o

específico.

“A dicotomia saussureana entre língua e fala fazia com que pudesse analisar a língua

- enquanto um sistema com sua organização e funcionamento – mas tornava

impossível a análise da fala, que se apresentava assim como a-sistemática e

desorganizada. Ao deslocar, não dicotomizando, para a relação entre língua e

discurso, o discurso dessa vez é sujeito à análise de seu funcionamento, contanto

que atentemos para a relação do que é linguístico com a exterioridade que o

determina. No discurso temos o social e o histórico indissociados.” ORLANDI

(2006:14)

Para que se chegue e compreenda como se dá o discurso, é necessário considerarmos

alguns aspectos como a formação discursiva e a memória discursiva. A primeira nos determina

aquilo que pode e deve ser dito, considerando o contexto sócio-histórico determinado, por

isso um mesmo texto pode aparecer em situações diferentes e produzir sentidos diversos.

Page 33: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

33

É através da formação discursiva que observamos a ideologia do sujeito. Todo sujeito é

fruto das relações sociais e é através delas que constrói sua bagagem ideológica, isso nos leva

a concluir que um discurso é formado por vários outros discursos, de situações distintas.

“As formações discursivas são a projeção, na linguagem, das formações ideológicas. As

palavras, expressões, proposições adquirem seu sentido em referência às posições dos que as

empregam, isto é, em referência às formações ideológicas nas quais essas posições se

inscrevem.” ORLANDI (2006:17)

Outro fator de destaque dentro da enunciação do discurso é a memória discursiva, que

diz respeito a tudo que antecede o discurso, como o momento sócio-histórico, o contexto, a

situação, a interdiscursividade (diálogo entre os discursos), é o conjunto de valores que cada

indivíduo carrega consigo e que é resultado da interação social.

“A memória discursiva é trabalhada pela noção de interdiscurso ’algo fala antes, em

outro lugar, independentemente’. Trata-se do que chamamos saber discursivo. É o já dito que

constitui todo dizer”. ORLANDI (2006:21)

Todo discurso é construído levando-se em conta o discurso do outro. O mais

importante é a interação, a inter-relação, e a isso Bakhtin dá o nome de dialogismo.

“A orientação dialógica é naturalmente um fenômeno próprio a todo discurso.

Trata-se da orientação natural de qualquer discurso vivo. Em todos os seus

caminhos até o objeto, em todas as direções, o discurso se encontra com o discurso

de outrem e não pode deixar de participar, com ele, de uma interação viva e tensa.

Apenas o Adão mítico e chegou com a primeira palavra num mundo virgem, ainda

não desacreditado, somente esse Adão podia realmente evitar por completo essa

mútua orientação dialógica do discurso alheio para o objeto. Para o discurso

humano, concreto e histórico, isso não é possível, só em certa medida e

convencionalmente é que pode dela se afastar. BAKHTIN (1988:88)

Resumidamente, dialogismo são as relações e os efeitos de sentido que se estabelece

entre enunciados. Um texto só existe em relação ao outro, ele não existe sozinho e é isso que

gera o sentido.

Bakhtin nos afirma que todo dizer tem ideologia, mas afinal o que é ideologia? Trata-se

dos valores que são adquiridos socialmente, mas não se tratam de valores fixos. Através das

mudanças sócio-históricas e das diferentes inter-relações e interações, a ideologia pode

mudar.

Page 34: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

34

Já que a nossa formação discursiva se dá nas relações sociais que estabelecemos,

temos dentro do nosso discurso diferentes vozes (que foram adquiridas no processo de

interação) é por isso que afirmamos que todo discurso é polifônico, isso é, apresenta

diferentes vozes.

Como já foi dito anteriormente, todo discurso é carregado de ideologia, valores, visões

de mundo e com o texto publicitário não é diferente, entretanto o objetivo deste é de

persuadir, isso é, convencer o interlocutor. Segundo Adilson Citelli (2007), o discurso

persuasivo pode formar, reformar ou conformar pontos de vista. Formar hábitos,

comportamento, atitudes ou reformá-los, mudando suas direções, ou ainda conformar tais

pontos, ou seja, reiterar algo já conhecido.

Por isso, na produção de uma propaganda já se tem um objetivo a ser alcançado, um

intuito, e esse jogo de convencimento se dá através do uso de elementos linguísticos e

elementos não-linguísticos como imagens, sentimentos, sensações etc.

“O texto publicitário resulta da conjunção de múltiplos fatores. Alguns estão

ancorados nas ordenações sociais, culturais, econômicas e psicológicas dos grupos

humanos para os quais as peças estão voltadas. Outros dizem respeito a

componentes estéticos e de uso de enorme conjunto de efeitos retóricos necessários

para alcançar o convencimento e aos quais não faltam as figuras de linguagem, as

técnicas argumentativas, os raciocínios. CITELLI (2007:56)

O foco da análise que se segue é o surgimento do sentimento de nacionalismo a partir

da construção do sujeito estrangeiro, bem como o seu papel na enunciação do discurso.

Quando falamos em sujeito não nos referimos à materialidade do ser humano (carne e osso),

mas sim ao papel social desenvolvido por tal. Todo sujeito está inserido dentro de uma

sociedade e produz o seu discurso a partir de sua memória discursiva.

“Com isso, afirmamos que o sujeito, mais especificamente o sujeito discursivo, deve

ser considerado sempre como um ser social, apreendido em um espaço coletivo;

portanto, trata-se de um sujeito não fundamentado em uma individualidade, em um

“eu” individualizado, e sim um sujeito que tem existência em um espaço social e

ideológico, em um dado momento da história e não em outro.” FERNANDES

(2007:33)

Page 35: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

35

A construção do sujeito se dá a partir das inter-relações e da interação que se

estabelece na convivência em sociedade, por isso se trata de um sujeito heterogêneo, já que

em um mesmo sujeito observamos a manifestação de outras vozes, o que nos faz retornar ao

conceito de polifonia.

“Contudo, o sujeito não é homogêneo, seu discurso constitui-se do entrecruzamento

de diferentes discursos, de discursos em oposição, que se negam e se contradizem. Ao

considerarmos um sujeito discursivo, acerca de um mesmo tema, encontramos em sua voz

diferentes vozes, oriundas de diferentes discursos.” FERNANDES (2007:36)

O discurso tem existência na exterioridade (situação social, momento histórico,

ideologia, contexto, situação etc.), e nessa exterioridade observamos posições divergentes,

principalmente pelo espaço ocupado pelo sujeito e por sua ideologia. Essas diferenças

permitem que se tenham posições divergentes acerca de um mesmo assunto.

De acordo com Althusser (1973), todo indivíduo humano, isto é, social, só pode ser

agente de uma prática se se revestir da forma-sujeito. A forma-sujeito, de fato, é a forma de

existência histórica de qualquer individuo, agente das práticas sociais.

Outro fator a se destacar é o ethos que se constrói do indivíduo. O ethos é a imagem

que se tem de si, é a imagem que se constrói. Por se tratar de uma propaganda cujo objetivo é

chamar a atenção daquele que a assiste, essa construção se dá de forma intencional, baseada

na memória discursiva do interlocutor, mas para que se ocorra essa associação entre a

imagem que se constrói e a memória de quem assiste, é necessário que o locutor construa um

ambiente favorável para convencer o telespectador.

De maneira geral, o discurso publicitário contemporâneo mantém, por natureza,

uma ligação privilegiada com o ethos; ele busca efetivamente persuadir ao associar

os produtos que promove a um corpo em movimento, a uma maneira de habitar o

mundo. Em sua própria enunciação, a publicidade pode, apoiando-se em

estereótipos validados “encarnar” o que prescreve. MAINGUENEAU 2008:19)

Dentro do discurso temos uma formação imaginária, quando alguém fala faz uma

imagem do outro e/ou de si mesmo e quem ouve também faz uma imagem de si e de quem

fala, da mesma maneira quem está alheio constrói imagens dos sujeitos envolvidos no

diálogo.

Page 36: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

36

A imagem que se constrói do sujeito, sua ideologia e o contexto influenciam

diretamente na enunciação do discurso, uma mesma ideia pode ser interpretada

diferentemente por sujeitos distintos em uma mesma situação comunicacional e

consequentemente influencia o processo de conversação. E é a isso que iremos nos atentar

durante a análise da propaganda.

O nacionalismo presente na propaganda brasileira e a construção do sujeito estrangeiro

A análise que se segue é embasada em uma propaganda da marca de sandálias

Havaianas, conhecida por ser legitimamente brasileira, veiculada no ano de 2008 e que

contou com a participação do ator Lázaro Ramos, e que tem como cenário uma praia, onde se

estabelece uma conversa entre três sujeitos, aos quais iremos nos referir como S1, S2 e S3.

A propaganda retrata uma situação inicial que aciona a memória discursiva do

telespectador que utiliza todo o seu conhecimento prévio para identificar aquela como uma

situação do cotidiano já que se trata de uma conversa entre amigos que culmina em uma

discussão social.

A partir do início do diálogo e a partir do ethos, isso é, da imagem que se faz dos

sujeitos envolvidos (S1 e S2), o telespectador é capaz de identificar e concluir que o S1 está

em seu local de trabalho, o S2 parece estar de férias ou de folga e que ambos já se conheciam

anteriormente. Vejamos:

S1: E aí, Lázaro?

S2: Ou, meu irmão! E aí, beleza?

Em seguida inicia-se uma discussão sobre o uso das sandálias Havaianas. Percebemos

aí que o uso da sandália se trata de um uso informal e, portanto só é permitido em trabalhos

informais e em ambientes que permitam tal uso, como é o caso da praia. Temos nesse

momento, a apresentação do produto, que está ligado ao conforto e à informalidade.

Observamos também uma ideologia bem explícita: só pode usar havaianas para trabalhar,

aquele que trabalha na praia.

S1: Sua havaianas é igual a minha.

S2: É, né? Mas você quem é feliz, pode trabalhar todo dia com a sua.

S1: Isso aqui que é escritório, né?

Page 37: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

37

Em seguida, inicia-se uma discussão acerca dos problemas do país, onde se passa a

criticar a situação atual do Brasil. Como o cenário é uma belíssima praia, a discussão se inicia a

partir da beleza que se observa e o fato de os sujeitos envolvidos (S1 e S2) não se

conformarem com a realidade brasileira: um país de grandes belezas naturais que apresenta

inúmeros problemas.

S1: Só não entendo um país como esse passar tanta dificuldade.

S2: Como é que pode, né? Um país rico desse com tanto problema.

Essa discussão está presente no dia a dia dos brasileiros, onde a maioria das conversas

sempre resulta em uma discussão política e social, onde sempre se relaciona as belezas do

país com os seus problemas, por isso, ao assistir a propaganda, os telespectadores também

passam a refletir sobre as dificuldades do dia a dia e concordam com a ideia de que um país

bonito não pode apresentar problemas. Novamente, o telespectador retorna ao seu

conhecimento prévio e à sua memória discursiva e reconhece essa discussão como algo que

realmente faz parte da realidade do nosso país. Observamos também uma forte carga

ideológica onde acredita-se que um país rico em belezas naturais não pode apresentar

problemas e consequentemente somente os países “feios” podem apresentar dificuldades.

Neste momento o discurso da propaganda deixa de ser o de apresentação ou

confirmação do uso de um produto e passa a adotar uma abordagem crítica e reflexiva,

passando a ter uma dose de preocupação social.

Outra polêmica se inicia quando o terceiro sujeito (S3) entra na conversa e concorda

com tudo o que os outros sujeitos estavam falando. Isso poderia até render uma maior

discussão em torno dos problemas abordados, já que teríamos aí uma terceira opinião com

argumentos diferentes, entretanto não é isso que acontece.

S3: Yo concuerdo con ustedes. Yo no compreendo como Brazil tiene tanto problema.

S1: Que problema?

S2: O que rapaz?

S1: Esse país tem problema aonde, rapaz?

S2: Esse país é maravilhoso, é perfeito, rapaz. Tá maluco?

S1: Aparece cada uma...

Page 38: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

38

A discussão toma novos rumos devido ao ethos, isso é, a imagem que se constrói do

S3. Trata-se de um sujeito, provavelmente um turista, com características bem marcadas:

cabelo comprido e liso, falante de língua espanhola e camisa azul clara (que retoma a cor da

bandeira da nacionalidade em questão). Tais características acionam a memória discursiva e a

memória imaginária do telespectador que logo reconhece que o S3 se trata de um argentino.

Após o reconhecimento da nacionalidade do S3, novamente aciona-se a memória

discursiva dos sujeitos que assistem a propaganda, que relembram a rivalidade entre Brasil e

Argentina, que é marcante nos duelos futebolísticos.

Podemos destacar ainda a presença de outra ideologia de caráter muito forte, que se

constitui no fato de não aceitarmos que outras pessoas falem daquilo que nos diz respeito,

que diz respeito à nossa identidade. Culturalmente, os comentários a respeito da realidade

brasileira só podem ser feitos por nós brasileiros e não por estrangeiros, ainda mais se for um

argentino, que está no nosso país para desfrutar daquilo que temos de mais belo.

Neste caso, o sujeito estrangeiro se apropria do discurso do outro, fazendo daquele

também o seu discurso, então podemos observar aí uma polifonia, onde um discurso pode

apresentar diversas vozes. Vozes essas, de origens distintas, de espaços sociais diferentes e de

discursos também diferentes. Ainda podemos destacar aqui a presença do dialogismo, um

diálogo entre discursos de sujeitos distintos.

O discurso enunciado por um sujeito que não compartilha dos mesmos valores sociais,

isso é, um sujeito ideológica e culturalmente diferente pode ter o seu sentido distorcido e

neste caso o discurso é visto como uma afronta, uma provocação. Apesar de não sabermos

qual a intenção real do S3, provocar ou criticar, o sentido compreendido pelos outros sujeitos

envolvidos é algo negativo, justamente pelo fato de o S3 ser de uma nacionalidade que

representa uma forte rivalidade dentro do nosso território.

A interferência do sujeito S3 na conversa causa no telespectador e nos sujeitos S1 e S2

um sentimento de angústia, e de indignação, embora saibamos que se trata, de fato, de uma

realidade nossa, mas o fato de não concordarmos com a fala do argentino nos faz querer

bater no peito e dizer que apesar de todas as dificuldades nós nos orgulhamos da nossa nação

e não aceitamos que nenhum estrangeiro fale do nosso país. Por isso, ao assumir uma postura

Page 39: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

39

crítica, no primeiro momento, os sujeitos S1 e S2, mudam os seus discursos e passam a

‘ignorar’ os problemas antes mencionados.

S1: Esse país tem problema aonde, rapaz?

S2: Esse país é maravilhoso, é perfeito, rapaz. Tá maluco?

Neste trecho do diálogo vemos uma ideologia bem marcante que é uma grande preocupação

com a aparência, com a imagem que tanto o S1 e S2 querem passar para o S3. E claro, eles não

querem passar uma imagem negativa, por isso passam a negar todos os problemas citados

anteriormente.

Os discursos dos dois sujeitos brasileiros reforçam a idéia de que os discursos retratam uma

memória coletiva e como os dois estão inseridos na mesma sociedade, eles possuem opiniões e

reações parecidas.

Então, o principal fator responsável por essa grande discussão é a formação ideológica, já que

é a ideologia a grande responsável pelas diferentes posições e reações assumidas por cada sujeito

envolvido na enunciação.

Para fechar todo esse sentimento de nacionalismo, isso é, de exaltação daquilo que é nosso e

de negação dos nossos possíveis problemas, em uma jogada inteligente, a empresa responsável pela

criação da propaganda fecha com uma frase que resume bem toda essa ideia de nacionalismo

associada à divulgação da marca de sandálias: “Havaianas, orgulho de ser Brasil.”

Conclusões

Como podemos observar, os meios de comunicação em massa podem influenciar diretamente

no modo de pensar do telespectador, bem como desenvolver no mesmo algum tipo de sentimento.

As propagandas, na atualidade, passaram a abordar outros temas do cotidiano da sociedade,

além da simples divulgação ou reafirmação do seu produto ou marca, fazendo com que os

telespectadores passassem a refletir e a criticar sobre temas que os cercam, como foi o caso da

reflexão proposta pela marca de sandálias brasileira, onde se construiu um estereótipo estrangeiro

para promover uma maior valorização daquilo que é legitimamente brasileiro.

Tais mudanças mostram que muitas vezes de maneira implícita, os meios de comunicação

geram em quem assiste algum sentimento positivo ou negativo e por isso é importante que se atente a

todo o tipo de informação que chegue até nós e que saibamos aproveitar da melhor maneira possível.

Page 40: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

40

Referências

BAKHTIN, M. (VOLOCHINOV). Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2006.

CITELLI, A. Linguagem e Persuasão. São Paulo: Ática, 2007.

FERNANDES, C. Análise do discurso: reflexões introdutórias. São Carlos: Claraluz, 2007.

FIORIN, J. (Org.) Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Editora Ática, 2008.

MAINGUENEAU, D. A propósito do ethos. In: MOTTA E SALGADO. Ethos dicursivo. São Paulo: Contexto, 2008.

ORLANDI, E; LAGAZZI, R. (Orgs.). Introdução às Ciências da Linguagem: Discurso e Textualidade. Campinas: Pontes, 2006.

Vídeo disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=nLPv8R2L6ZE > Acessado em 24 de nov. de 2010.

ANEXOS

Transcrição da propaganda

S1: E aí, Lázaro?

S2: Ou, meu irmão! E aí, beleza?

S1: Sua havaianas é igual a minha.

S2: É, né? Mas você quem é feliz, pode trabalhar todo dia com a sua.

S1: Isso aqui que é escritório, né? Só não entendo um país como esse passar tanta dificuldade.

S2: Como é que pode, né? Um país rico desse com tanto problema.

S3: Yo concuerdo con ustedes. Yo no compreendo como Brazil tiene tanto problema.

S1: Que problema?

S2: O que rapaz?

S1: Esse país tem problema aonde, rapaz?

S2: Esse país é maravilhoso, é perfeito, rapaz. Tá maluco?

S1: Aparece cada uma...

Page 41: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

41

Desvendando os discursos presentes nos slogans de construtoras numa perspectiva sociológica Denise Freire Ventura7

Resumo: Este artigo promove uma análise dos discursos de construtoras a partir de seus

slogans, assim verificamos os discursos de três construtoras no sentido de que público tais

construtoras querem chamar a atenção para comprar os imóveis construídos. Constatamos

assim que as características que cada construtora dá prioridade para colocar nos slogans já diz

muito sobre que tipo de público consumidor terá e que deseja ter.

Palavras-chave: slogans. Persuasão. Consumidor. Classe social

Introdução

O estudo deste artigo refere-se a três slogans de construtoras que atuam no estado de

Goiás. Objetivamos ver as construções ideológicas que há nestes slogans uma vez que dois

dizem respeito a construtoras que desenvolvem projetos sofisticados e de alto valor

comercial, e a outra configura-se como uma construtora mais popular que desenvolve

projetos mais simplificados e digamos mais “acessíveis”. O interesse por esses slogans de

construtoras se deu inicialmente em sala de aula com um comentário feito pela professora de

um trabalho semelhante, em que um aluno analisa o 8discurso de propagandas de

construtoras em dois diferentes jornais de grande circulação em Goiânia, assim decorre o

interesse pelos slogans.

Logo o que desejamos verificar é o que os slogans dessas construtoras já indicam

sobre um determinado discurso, levando-se em conta todo o contexto sócio-histórico em que

se produzem tais slogans e para que contexto social destina-se.

Com essa análise pretendemos verificar também a visão de mundo que estas

construtoras imprimem já no slogan da empresa, assim como depreender de que memória

discursiva a empresa participa, desejando ainda ver se essa visão de mundo e se essa

memória discursiva vai incorrer em algum tipo de preconceito.

7 Aluna de graduação da Faculdade de Letras da UFG, do 8º. Período da Licenciatura Plena em Português.

8 Artigo orientado e indicado pela Dr.ª Eliane Marquez da Fonseca Fernandes, da Universidade Federal de Goiás;

Faculdade de Letras; na cidade de Goiânia.

Page 42: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

42

Para tal análise teremos com referencial teórico Bakhtin e Orlandi, bem como outros

referenciais teóricos da Análise do Discurso que sejam pertinentes no decorrer do artigo.

Antes de adentrarmos na análise propriamente dita elaboramos um pequeno percurso

sobre alguns conceitos que se fazem necessários compreender, como o de língua, texto,

ideologia, discurso, memória discursiva, papéis discursivos que o sujeito assume e também a

noção de persuasão já que nosso corpus de análise concerne a slogans.

Primeiramente vamos definir língua, que segundo Bakhtin “*...+ constitui um processo

de evolução ininterrupto, que se realiza através da verbal social dos locutores.” (BAKHTIN,

2006, p.132) Esse conceito de Bakhtin é aceito pela Análise do Discurso, uma vez que ao

analisar-se um discurso temos de levar em conta que a língua promove interação com o

social, sofrendo mudanças de acordo com a interação que é promovida. Assim a concepção

tradicional de Saussure para língua é insuficiente para se entender todas as relações que a

língua estabelece com o social, já que para Saussure a língua é entendida como um sistema e

ainda como abstrata.

Ao falarmos de língua nos remetemos a definição de texto que como tudo na Análise

do Discurso, também nos remete ao social, como diz Brandão: “Texto: unidade complexa de

significação cuja análise implica condições de sua produção (contexto histórico-social,

situação, interlocutores)” (BRANDÃO, 1991, p. 92), entendemos assim que não podemos

deixar de levar em consideração as condições de produção de um determinado texto, para

proceder a uma análise, pois a condição de produção bem como o contexto histórico-social

em que é produzido um texto, a situação, os interlocutores vão influenciar na produção de

sentido final dos discursos.

E a noção de ideologia está por trás dos textos produzidos com a língua, assim é

fundamental para se empreender e se entender a análise de um discurso falar de ideologia,

pois é a ideologia que vai fazer com que se desvende o que está por trás de um determinado

discurso e por que tal discurso existe. Ou como Bakhtin postula: “A ideologia do cotidiano

constitui o domínio da palavra interior e exterior desordenada e não fixada num sistema, que

acompanha cada um dos nossos atos ou gestos e cada um dos nossos atos de consciência.”

(BAKHTIN, 2006, p. 123). Observamos que a ideologia assim como a língua varia e não é um

sistema fechado imutável, uma vez que as mudanças que ocorrem com o sujeito no meio

Page 43: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

43

social em que vive implicam em transformações da ideologia de tal sujeito, pois, este não está

inerente as mudanças, e a ideologia não é algo fixo, muito pelo contrário está em grande

mutação.

Outro conceito importante é o de discurso este também bastante mutável, assim

discorrer um pouco sobre o discurso se torna necessário uma vez que é disso que a análise do

discurso se ocupa. Precisamos entender o conceito de discurso para que se possa saber o que

se enquadra nesta categoria: discurso. Fernandes define discurso assim: “*...+ discurso implica

uma exterioridade à língua, encontra-se no social e envolve questões de natureza não

estritamente lingüística. Referimo-nos a aspectos sociais e ideológicos impregnados nas

palavras quando elas são pronunciadas.” (FERNANDES, 2007, p. 18)

A partir desta definição de Fernandes começamos a adentrar no âmbito da Análise do

Discurso entendendo que uma análise deste tipo não envolve somente o linguístico, mas algo

além, uma exterioridade, que envolve elementos não somente lingüísticos, mas ideologias por

exemplo.

Outro conceito que se interliga com a AD é o de memória discursiva, e esta se define

segundo Orlandi como: “A memória discursiva é trabalhada pela noção de interdiscurso: “algo

fala antes, em outro lugar e independentemente”. Trata-se do que chamamos saber

discursivo. É o já dito que constitui todo dizer.” (ORLANDI, 2006, p.21)

A memória discursiva é a responsável por vincular o que dizemos a uma ideologia

compartilhada e já expressa anteriormente de acordo com o meio social em que vive o

sujeito, assim tudo que dizemos advêm de um processo contínuo de formação ideológica que

vai se instaurando na memória e por sua vez constituem a memória discursiva. Assim ao

lançar mão de um discurso o sujeito vai dizer de acordo com o que tem na memória discursiva

que é formada continuamente.

Aproximando-nos mais um pouco da análise falemos agora dos chamados papéis, e

levando em consideração que “um discurso é sempre pronunciado a partir de condições de

produção” (PÊCHEUX, 1997, p. 76) podemos entender que de acordo com a posição que o

locutor (sujeito) ocupa em determinada situação social ele produz um determinado discurso,

ou seja, exerce papéis diferentes em cada situação. O sujeito então assume em determinadas

situações sociais papéis e estes dizem respeito ao discurso que será promovido diante de tal

Page 44: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

44

papel. E isso é interessante para nossa análise, pois as construtoras através de seus slogans

estão assumindo o papel de querer persuadir as pessoas a comprarem seus imóveis por

determinadas qualidades que se expressam logo pelo slogan.

Outro conceito a ser explorado aqui é o de persuasão, pois os slogans têm como

função persuadir quem vê e lê a acreditar no que é dito e ainda convencer um determinado

público alvo a comprar, a adquirir um determinado produto ou serviço e neste caso em

específico comprar um imóvel. Neste sentido podemos aproximar o conceito de persuasão ao

que Koch diz a respeito da argumentação, vejamos:

“*...+ o uso da linguagem é essencialmente argumentativo: pretendemos orientar os

enunciados que produzimos no sentido de determinadas conclusões (com exclusão

de outras). Em outras palavras, procuramos dotar nossos enunciados de

determinada força argumentativa.” (KOCH, 1992, p. 29)

Essa definição de Koch a respeito da essência da linguagem aplica-se bem aos slogans,

pois estes tem exatamente o caráter de direcionar o sentido para uma determinada

conclusão, que é comprar o imóvel.

Já que iniciamos a falar dos slogans é também conveniente tratarmos de como surgiu

essa forma discursiva que é o slogan, esse define-se como uma curta mensagem utilizada na

publicidade como uma identificação de fácil memorização agregado a um produto ou serviço.

A palavra é de origem inglesa e provêm da palavra slogorn, uma corruptela da expressão

slaugh-ghairn da língua gaélica escocesa e língua irlandesa, tal expressão era usada como

grito dos antigos clãs para inspirar os seus membros a lutarem pela preservação do grupo,

adequa-se também à guerra existente no mercado e na disputa pelo consumidor.

Aqui podemos ainda tratar do conceito de dialogismo, uma vez que houve dialogismo

do termo slogan, já que este termo era empregado em outro contexto e país e ao ser

transportado para nossa cultura assumiu emprego semelhante mas não o mesmo, tendo

assim configurada uma nova formação discursiva, diríamos que aproveitou a noção de disputa

por consumidores e ficou com essa utilidade. Pois é como Fiorin (2008) vai dizer que todos os

discurso sofrem influências de outros, neste caso em específico o termo foi transplantado de

outro contexto e cultura, sofrendo nossas influências e adaptações para o fim que

desejávamos para o termo.

Page 45: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

45

Atualmente, a publicidade e a propaganda utilizam o slogan como forma de destacar

os atributos, vantagens entre outras características para a complementação de uma

mensagem comercial. Na propaganda o slogan é uma frase mnemônica, tem finalidade de

manter-se na mente do consumidor ratificando certas características. São elas: a

personalidade que conceitua o produto frente ao seu usuário, a identidade, os atributos do

produto é uma das características mais importantes.

O slogan na nossa memória discursiva, ou seja, no conhecimento que temos sobre tal

instrumento publicitário, está associado à imagem, à linguagem escrita e estética

transcendendo a materialidade, o produto ou serviço, transformando-se no afirmativo

indicador dos atributos enunciados no texto publicitário. O bom slogan é curto e direto

expressando a história, a psicologia, o conceito da marca, empresa ou produto.

Assim após entendermos como surgiram os slogans passemos a análise proposta. O

primeiro slogan a ser analisado é o da construtora Borges Landeiro – “Por que ter um imóvel

comum se você pode ESCOLHER um Borges Landeiro;” Primeiramente podemos observar as

escolhas lexicais - imóvel e escolher - são dois vocábulos que já nos indicam um público

específico (interlocutor) isso porque as pessoas de baixa renda não utilizam a palavra imóvel

para designar casa ou moradia própria, e muitas vezes não tem a possibilidade de escolher

onde morar, e muito menos escolher a construtora responsável pelo empreendimento. Então

verificamos que tal slogan pretende chamar a atenção de um público seleto e com alta renda

(interlocutores específicos), e que pode escolher um empreendimento diferenciado, um

Borges Landeiro, e não um comum, um imóvel qualquer, como acaba sendo o destino de

compradores de baixa renda, por não terem condições de escolherem os melhores, são

condicionados a comprarem o que tem condição de comprar. Vejamos ainda que a palavra,

escolher, vem em caixa alta, e no slogan do site está em vermelho, ou seja, quer dizer, atente-

se você que tem condição financeira boa, você pode escolher um Borges Landeiro, um imóvel

diferente dos demais. Atentemo-nos também para a extensão do slogan, que não é curto

como de costume a slogans.

Assim aqui podemos falar de ideologia, pois o que está por trás do slogan da Borges

Landeiro, é a ideologia de uma empresa que constrói imóveis para pessoas da classe alta da

sociedade, que escolhem onde e como morar, e não moram em imóveis comuns, há a

Page 46: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

46

ideologia que pessoas com alta renda querem e podem comprar imóveis diferenciados, e a

Borges Landeiro está no mercado para atender a este público.

Outro slogan é o da Serca Construtora – “Serca construtora, sinônimo de fino

acabamento, requinte, qualidade, seriedade e pontualidade na entrega;” Este slogan se

configura ainda mais seletivo quanto ao público a que se destina (interlocutores), pois define

a construtora como preocupada com o fino acabamento, requinte, qualidade e pontualidade

na entrega, vemos que as escolhas lexicais aqui nos fornecem ainda mais informações sobre a

ideologia da construtora, sobre que tipo de pessoa eles desejam chamar a atenção para

comprar os imóveis que constroem. E este slogan é ainda maior que o anterior, e como

veremos mais adiante este é um fator a se levar em consideração, pois o slogan da

construtora mais popular é bem mais curto e resumido (como é dito anteriormente na

história dos slogans), assim já podemos inferir que para uma classe social mais baixa a

mensagem tem de ser rápida e curta, e que para o público de alta renda quanto mais

especificações se tem para os empreendimentos da construtora, melhor, pois este público é

exigente, então logo no slogan a construtora já coloca como suas principais características o

que os consumidores de tais empreendimentos mais exigem, e como vemos não é pouca

coisa que exigem.

Observamos que a construtora Borges Landeiro, bem como a Serca Construtora,

atendem ao discurso existente que as pessoas da classe alta são exigentes e que tudo que

compram é da melhor qualidade, e as construtoras já querem chamar atenção desse público

pelo slogan bem informativo.

Podemos até dizer que há certo preconceito incorrendo nestes slogans, pois os que

são destinados aos diríamos classe alta, são mais completos e complexos, e o destinado para

os classe baixa é pequeno e simples. Então as pessoas de classe baixa não tem capacidade

para entender textos maiores? Cogitando uma hipótese desse fato ocorrer, podemos dizer

que em nossa memória discursiva há a ideia de que pessoas de classe baixa não possuem

muito estudo, logo não interpretam bem, e não tem também o hábito de ler, então um slogan

pequeno chama mais atenção e é facilmente memorizado. Já as pessoas de classe mais alta

têm mais estudo e por isso leem textos maiores e mais informativos, e as construtoras

participando dessa memória discursiva elaboram seus slogans.

Page 47: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

47

O outro slogan que entrará em contraste com os anteriores é da Tenda Construtora –

“Construindo felicidade”, observamos neste slogan, logo de imediato grandes diferenças a

começar pela extensão do slogan, que é constituído por apenas duas palavras, e a escolha

lexical é bem simples (construindo felicidade), diferindo dos slogans anteriores que eram

longos e mais complexos. Verificamos também que para as classes mais baixas a compra de

uma casa é uma felicidade e não apenas um investimento, e a própria construtora passa essa

informação pelo slogan, uma vez que constrói felicidade, realiza sonhos e não apenas constrói

imóveis para atender as exigências da classe mais favorecida financeiramente, que se

preocupa com requinte, pontualidade na entrega, imóveis diferenciados dos comuns.

A Tenda construtora se “preocupa” então em viabilizar o sonho das pessoas de terem

uma moradia própria, e essa é a informação que é passada pelo slogan ao invés de se

preocupar com os detalhes de acabamento, por exemplo, “preocupa-se” com a felicidade das

pessoas em terem uma casa, uma vez também que para a classe mais alta felicidade são

outras coisas, pois casa, possuem várias, felicidade para a classe mais alta é ter carros

importados de luxo, por exemplo, e quando vão comprar um imóvel novo se preocupam com

detalhes que não são levados em consideração pela classe mais baixa diante da felicidade em

adquirir uma casa, muito provavelmente a única.

Relacionando mais de perto as considerações anteriores a análise do discurso

podemos dizer que o que se pretende com os slogans é persuadir as pessoas a comprarem e

um meio utilizado para isso é o slogan da empresa, pois é um meio onde se argumenta a

favor da empresa, evidenciando as qualidades, e mais especificamente no caso em análise, a

qualidade dos imóveis construídos, ou ainda no caso do slogan da Tenda o que tal construtora

promove, proporciona a quem compra, felicidade, a realização de um sonho de vida,

enquanto as outras construtoras constroem imóveis com requinte e fino acabamento. Vemos

que a ideologia da Tenda difere das demais, e tem como público consumidor (interlocutor),

outra camada social, uma camada menos favorecida, que deseja ter a felicidade de ter uma

casa, que não importante com requinte, fino acabamento, por exemplo, querem apenas ser

felizes em uma casa própria.

A partir da análise apresentada podemos concluir que como Koch (1992) já dizia, a

linguagem em sua essência é argumentativa, até mesmo o slogan, que não possui apenas um

Page 48: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

48

caráter informativo sobre a empresa, é claro que nos informa, mas também quer persuadir

quem lê a comprar, pois há um direcionamento do discurso como pudemos ver, há um

público em específico a ser contemplado com as palavras presentes no slogan, e este diz

muita coisa sobre o contexto social em que se insere na sociedade e para que parte da

sociedade destina-se. Dessa forma ao final de tal estudo podemos concluir que há discursos,

ideologias, preconceitos, discriminações e etc, presente em todas as formas de textos que nos

rodeiam, slogans, músicas, propagandas, tiras, piadas e etc, enfim todo enunciado possui um

discurso, e cabe a nós interlocutores destes textos, a partir de nossa memória discursiva,

interpretá-los de forma crítica.

Slogans das construtoras utilizados no trabalho

Borges Landeiro – “Por que ter um imóvel comum se você pode ESCOLHER um Borges

Landeiro”

Serca Construtora – “Serca construtora, sinônimo de fino acabamento, requinte, qualidade,

seriedade e pontualidade na entrega”

Tenda Construtora – “Construindo felicidade”

Page 49: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

49

Referências

BAKHTIN, M. (VOLOCHINOV). Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução Michel Lahud; Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 1995, 7ª ed.

BRANDÃO, M. Introdução a análise do discurso. 2. ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1991.

FERNANDES, C. Análise do discurso: reflexões introdutórias. 2. ed. São Carlos: Claraluz. 2007.

KOCH. I. A inter - ação pela linguagem. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2003.

ORLANDI. E. Interpretação: autoria, leitura e efeitos do tratamento simbólico. Campinas, SP: Pontes. 2004.

_________Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. 3 ed. Campinas: Unicamp 1997.

Fontes eletrônicas:

Borges Landeiro: disponível em: http://www.borgeslandeiro.com.br Acesso em: 27 set. 2010.

Tenda Construtora: disponível em: http://www.tenda.com Acesso em: 27 set. 2010.

Serca Construtora: Disponível em: http://www.sercaconstrutora.com.br Acesso em: 27 set. 2010.

Disponível em: http://www.memoriadapropaganda.org.br/Artigos/20060410_Slogans.html. Acesso

em: 27 set. 2010.

Page 50: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

50

“Num sei, só sei que foi Assim!” História e cinema; uma análise do Auto da Compadecida (1955 -2001) Thiago Henrique de Andrade Araújo9

Resumo: Este artigo possui seu objeto de investigação a obra de Ariano Suassuna, Auto da

Compadecida na sua relação como os processos de transcodificarão do livro para a minissérie

televisiva e o cinema no período compreendido entre 1955 e 2001 Explorar mais o que

contem em níveis de discussão o artigo e não suas fontes de produção do mesmo ou

metodologia. Com o desejo de mostrar algumas relações que ligam temas diferentes.

Discutindo as vertentes que aproximam as relações entre história, cinema, e as artes em geral.

Palavras-chave: História. Cinema. Auto da Compadecida.

Introdução:

Nos últimos anos muitas obras históricas e literárias foram adaptadas para a televisão

e o cinema, e, conseqüentemente, conseguiram visibilidade. Dentre elas temos: "A casa das

sete mulheres" (2003); "As noivas de Copacabana"(1992); "Dom Casmurro" (1899) e, é claro,

“O Auto da Compadecida”(1999) que se juntaram à cultura brasileira, e fizeram o povo

reconhecer-se, a identificar-se.

Bezerra (2004) informa que os estudos sobre as adaptações têm passado por um

processo evolutivo, com novos aportes teóricos sendo incorporados à análise cinematográfica

destacando a metalinguagem como elemento central para o entendimento da obra fílmica.

É nesse contexto em que a metalinguagem tem sido apontada como um elemento

central para o entendimento da obra fílmica, e as análises das adaptações passaram

a dar uma atenção especial aos deslocamentos entre as culturas. Através da

metalinguagem, a adaptação de um texto literário para o audiovisual passou a ser

vista como um fenômeno cultural complexo, capaz de gerar uma cadeia quase

infinita de referências a outros textos, e que envolve processos dinâmicos de

transferência, tradução e interpretação de significados e valores histórico-culturais

(BEZERRA, 2004, p. 02).

Para desenvolver a análise destas adaptações optou-se em um primeiro momento pela

aproximação do livro Auto da Compadecida (1955) de Ariano Suassuna, e a minissérie O Auto

da Compadecida (1999) de Guel Arraes. E posteriormente nos deteremos especificamente nas

obras fílmicas. Quando compararemos as três adaptações cinematográficas da peça – A

9 Graduando do quarto ano do curso de História da Universidade Estadual de Goiás, Unidade de Goiás.

Page 51: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

51

Compadecida (1967), de George Jonas, Os trapalhões no Auto da Compadecida (1987), de

Roberto Farias e O Auto da Compadecida (2001), de Guel Arraes.

Desenvolvimento:

De acordo com Maia (2010), Auto da Compadecida (1955) é uma peça teatral baseada

em três histórias do romanceiro popular nordestino. As fábulas apresentadas são: O enterro

do cachorro e a História do cavalo que defecava dinheiro de Leandro Gomes de Barros e O

castigo da soberba de Anselmo Vieira de Souza. A obra é narrada por um palhaço de nome

Gregório, uma recriação de Ariano Suassuna, cuja função é metateatral e anti-ilusionista.

Conforme a referida autora, quando o livro é transcodificado para outros gêneros midiáticos,

perde o seu narrador circense, o palhaço, que certamente possui uma função importante

dentro da obra teatral.

Este palhaço que permeia a história é uma recriação de Ariano Suassuna, pois na

infância em Taperoá, o palhaço Gregório, do circo Stringhini, encantou o escritor a tal

ponto que ele quando criança queria ser palhaço e fugir com a trupe do circo. O

palhaço Gregório de maneira circense faz breves comentários, dirige-se ao público

anunciando o que irá acontecer, pois não se mistura à ação, exceto na morte de João

Grilo, quando aparece como figurante segurando a rede, que contém o corpo do

morto, ao lado de Chicó (MAIA, 2010, p. 05).

Moraes (2006) ao analisar a passagem do Auto para a Minissérie observou que o

trabalho de Suassuna remete-nos a uma discussão sobre a comunicabilidade. Comunicar

torna-se uma tarefa muito árdua, pois à medida que se procura estabelecer um processo de

interação, percebe-se entre a instância da enunciação e a instância da recepção, a existência

de lacunas ou espaços de indeterminação, produzidos pelo não-dito que está por trás do

discurso narrativo. Em outras palavras, das recepções feitas em épocas diferentes por diversas

comunidades sociais poderão decorrer avaliações positivas ou negativas da obra lida, com

mudanças na visão da sua importância nos cânones literário-culturais de épocas diversas.

O período entre as produções do livro e da minissérie compreende 46 anos. O livro foi

publicado pela primeira vez em 1955 e a minissérie foi lançada na TV em 1999. Portanto,

tempos contextos históricos completamente diferentes. À época do livro, o Brasil estava

passando por momentos difíceis. Um ano antes ‘o pai dos pobres’ o presidente Getulio

Vargas ‘suicida’ no meio de um turbilhão de manifestações, demissões e problemas no

Page 52: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

52

governo do Brasil e no sistema financeiro. Skidmore (1982) diz: “(...) alteração na política

creditícia levou em maio de 1955 a que o último membro da equipe comprometida com o

programa antiinflacionário de Gudin – Bulhões – abandonasse seu posto” (SKIDMORE, 1982,

p. 200). Já a minissérie surge em outro contexto. Neste momento, Fernando Henrique

Cardoso exerce o segundo mandato de presidente do Brasil trata-se, de forma geral, de um

país “estabilizado”. Assim, é possível perceber situações bem diferentes entre o contexto da

obra e o contexto que a minissérie foi produzida.

De acordo com Moraes (2006), Ariano Suassuna propõe-se a criar uma obra em caráter

trans-ideológico, onde a ironia reforça o esforço de entendimento do dito e do não dito,

através de rastros semiotizados que ecoam com a paródia, o humor das cenas reforçando a

discussão ideológica e sócio-política entre comunidades discursivas, com horizontes de

expectativas díspares. O trabalho volta-se para o resgate da memória, das raízes regionais, e o

teatro foi, na década de 50, a opção de revelação da arte popular, o meio de comunicação

mais viável, para atingir a massa, dada a realidade nordestina.

É nesse contexto que Suassuna concebe o Movimento Armorial10, que busca a

interação e a mescla de culturas diversas. Esta diversificação representa o caos social, e

Suassuna busca o resgate da produção popular, que resulta na arte popular que como a arte

erudita está sujeita a troca simbólica de bens culturais. Para Moraes (2006), o Auto da

Compadecida (1955) comunicou e gerou significação:

10

O Movimento Armorial tem seu marco inicial alicerçado na obra de Ariano Suassuna. Tendo como meta

fundamental elaborar uma arte de natureza erudita entretecida por ingredientes típicos da cultura popular. Esta

corrente artística foi lançada no dia 18 de outubro de 1970, em um ritual consagrado na Igreja de S. Pedro dos

Clérigos, acompanhado por uma mostra de artes plásticas e pela apresentação da Orquestra Armorial de

Câmara, que tinha então como regente o maestro Cussy de Almeida. Esta corrente é marcada principalmente

pela tendência de Suassuna em sintetizar elementos e figuras da cultura do povo nordestino e obras clássicas da

literatura universal. Esta mistura de gostos e expressões é o móvel que inspira o tempo todo o autor e seus

companheiros do Movimento Armorial, que foi criado para fazer face ao massivo domínio dos imperativos

culturais estadunidenses no Brasil. A expressão ‘armorial’, um substantivo em nossa língua, sempre teve o

sentido de ‘livro de registro de brasões’; Suassuna, porém, conferiu-lhe um caráter adjetivo, para que assim ela

definisse qualitativamente o canto do romanceiro – coleção de romances pertencentes a diversas escolas

literárias -, os acordes da viola e os demais elementos que tecem este movimento.

Page 53: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

53

Quando o Auto da Compadecida, é levado a público por um grupo amador, a

representação não tinha ainda o trabalho necessário de pré-expressividade, pois não

se estruturou a proposta de impacto na mensagem visual, falada e corporal, mas

comunicou e gerou significação. Quando passa a uma atuação mais madura, a uma

leitura mais profissional, o trabalho de pré-expressividade, resultará num trabalho de

significação, que irá, no decorrer dos anos, atender à realidade da sociedade. Ele

comunicará e significará num outro espaço, num outro momento, a arquitetura

tenderá à mutação (MORAES, 2006, p. 50).

Para a referida autora, o brasileiro não tem o hábito da leitura. São diversos os fatores

que fazem com que o brasileiro não tenha acesso à leitura. O livro é caro, a renda é baixa, há

pouco interesse. Se esta é a realidade contemporânea, a realidade de Suassuna no momento

em que escreve o Auto não é diferente, possivelmente encontrava-se mais acentuada. O

teatro popular dispensa grandes gastos com produção, usa espaços públicos e era nestes

espaços que pretendia expor a arte erudita com linguagem e símbolos populares.

A TV, por sua vez, permitiu comunicar através da imagem, e não apenas para um

público reduzido, como em principio o fez o teatro, mas para a massa, estamos já na instância

da indústria cultural:

Há inúmeras discussões sobre se a TV é um bem ou um mal. De um lado, coloca-se o

seu caráter de democratização da cultura, uma vez que é acessível a todos,

indistintamente. De outro, discute-se a unção alienadora e de formação de opinião

pública, e manipuladora, por se aproveitar da natureza emocional, intuitiva e

irreflexiva da comunicação por imagens (ARANHA e MATINS, 1992, p. 215)

A linguagem utilizada na minissérie leva a uma leitura mais horizontal, minimizando

uma relação interativa. O público recebe a mensagem e não precisa de grandes esforços

interpretativos para entendê-la. A televisão investe na visualidade convidando à

instantaneidade dos acontecimentos. Sua apresentação é realista trabalhando o

acontecimento dos fatos, que se sucedem numa cronologia temporal, quase auto-explicativa.

O cinema hoje, tem também um público relativamente reduzido (dado as

deficiências financeiras ou ao desinteresse), não tanto quanto o teatro. O teatro de

Suassuna, no entanto, pretende-se popular e o convite à encenação prevê o uso do

espaço público gratuitamente, inclusive a rua, o que remeteria a uma discussão

sobre o uso do espaço público para a propagação das artes, sejam elas eruditas ou

populares (MORAES, 2006, p. 52).

Page 54: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

54

Conforme Moraes (2006), os formatos minissérie e filmes usam a dinâmica dos cortes

no quadro a ser exibido. Assim, será exposto o que se deseja mostrar, podendo então levar a

um direcionamento da opinião do público acerca do que lhe foi permitido observar e

visualizar.

Em A Compadecida (1969), de George Jonas, e Os trapalhões no Auto da Compadecida

(1987), de Roberto Farias, a história é contada com fidelidade aos atos da peça. Ambas

também apresentam a figura do Palhaço como narrador explícito, mas com tratamento

diferenciado. Para Bezerra (2004), o filme de George Jonas, embora amplie a participação

desse narrador em várias ocasiões, põe sob suspeita o seu conhecimento a respeito da

história.

Na cena em que os cangaceiros chegam atirando na cidade, ao ser convidado pelo

anão (meia-garrafa) a fugir do fogo cruzado, o Palhaço, chamado Dom Pancrácio

(Paulo Ribeiro), muito cioso do seu papel, diz para o parceiro não se preocupar

porque “ele” é o autor e anuncia a morte de um grupo de policiais ao dobrar a

esquina. Logo em seguida, uma bala atinge e derruba o seu chapéu. Assustado, Dom

Pancrácio declara não ter escrito aquela parte e foge junto com o anão Um novo

questionamento sobre o papel do narrador se dá no momento em que João Grilo

ressuscita e meia-garrafa é o primeiro a correr, apesar do apelo do Palhaço para que

volte. No final da cena, Dom Pancrácio vira-se para a câmera e diz: “não tem jeito,

ele não acredita que eu sou o autor de jeito nenhum”. Ao operar um efeito de

carnavalização na figura onisciente do narrador, o filme de George Jonas reforça o

caráter antiilusionista do texto de Suassuna. Aliás, o antiilusionismo é uma

característica marcante de A Compadecida, cuja linearidade narrativa é

constantemente interrompida pela inserção de cenas de espetáculos populares –

circo, bumba-meu-boi, teatro de mamulengo, etc. (BEZERRA, 2004, p. 7).

Já O Auto da Compadecida (2001), de Guel Arraes, embora mantenha a dupla

fabulação da peça, deixa de fora o episódio do “gato que descome dinheiro”. Esta adaptação

também suprime algumas personagens do texto original, entre elas, a figura de ligação e

comando do espetáculo, o Palhaço. Ao dispensar a presença do narrador explícito, o filme de

Guel assume o olhar sem corpo do cinema clássico que esconde a representação para mostrar

um mundo autônomo, que existe por si próprio. Nesse universo imaginário todas as atenções

se voltam para as aventuras da dupla de protagonistas, João Grilo (Matheus Narchtegeale) e

Chicó (Selton Mello).

De acordo com Moraes (2006), Guel Arraes ao pensar em como escolher o elenco para

a sua montagem do Auto, toma o cuidado de buscar uma equipe que atendesse à ilustração

Page 55: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

55

visual do que o subconsciente do brasileiro criou a respeito do nordestino, principalmente do

pobre. Para compor o personagem de João Grilo, o ator, Matheus Nachtergaele foi escolhido

justamente por possuir os atributos confeccionados no imaginário do brasileiro,

principalmente no imaginário da região sul e sudeste do Brasil, de que o nordestino possui um

biótipo franzino dado condição de pobreza imposta pela seca.

O ator, em depoimento presente no material editado em DVD (filme e minissérie),

chama a atenção para sua preocupação quanto ao que seu corpo e sua expressividade

deveriam repercutir junto ao público telespectador: “(...) o que eu quis e não sei se consegui,

foi fazer com que João Grilo pareça desprovido de qualquer qualidade, tanto intelectual

quanto física, mas que na verdade fosse mais esperto e com mais condições de sobreviver de

que todos os outros personagens”. (NACHTERGAELE In: ARRAES, 1999)

Mas há outras peculiaridades nessa terceira versão cinematográfica do Auto da

compadecida. Se por um lado Guel Arraes cortou personagens e situações do texto original,

por outro acrescentou personagens de outras obras do próprio Ariano Suassuna, como o Cabo

70 (Aramis Trindade) e Vicentão (Bruno Garcia), ambos oriundos da peça Torturas de um

coração. A romântica Rosinha (Virgínia Cavendish), filha do major Antonio Morais (Paulo

Goulart), também aparece na mesma peça, mas com outro nome, Marieta. Com a inclusão de

novos personagens Guel Arraes também adicionou outras situações, como o romance entre

Rosinha e Chicó, a paixão dos dois valentões por ela que os faz duelar por ela. Também

acentuou as características de algumas personagens, tais como a de esposa infiel associada à

mulher do padeiro Ernesto (Diogo Vilela), Dora (Denise Fraga), e o major Antonio Morais, que

teve sua truculência de coronel do sertão nordestino encorpada por gestos como tomar pinga

num só gole e negociar uma lasca de couro das costas de Chicó; situação originária da peça

Mercador de Veneza, de William Shakespeare (BEZERRA, 2004).

Outra personagem que também ganhou densidade dramática na adaptação de Guel

Arraes foi Nossa Senhora Compadecida (Fernanda Montenegro). Nela a mãe de Deus é uma

mulher madura e experiente que conhece bem os seres humanos. A interpretação de

Fernanda Montenegro destaca a relevância da personagem para o desfecho da história e

apresenta de maneira clara o ponto de vista moral do autor do filme, como será visto mais

adiante.

Page 56: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

56

A personagem de Nossa Senhora assume a condução da trama, advogando contra o

Demônio/Diabo. Contextualiza o ritmo dos dias, o cenário de vida e as maneiras de

viver, de habitar, de ser e parecer dos seres humanos, da sorte e da divina

providência e se compadece do destino dos homens, dos sofrimentos e do medo que

sublinha todos os atos da vida: medo de sofrer, medo de morrer, medo de perder o

amor, o dinheiro, os amigos, a própria vida (MORAES, 2006, p. 97).

Em O Auto da Compadecida, de Guel Arraes, a dupla, trajando também roupas de

algodão leve e chinelos de couro, incorpora certas características dos brincantes nordestinos e

consegue um equilíbrio entre picardia e crítica social, mantendo o tom satírico e religioso do

texto de Suassuna. Os movimentos intensos, a oralidade excessiva, a inflexão da voz e os

gestos expansivos dos atores Matheus Nachtergaele (João Grilo) e Selton Melo (Chicó)

lembram duas personagens irrequietas e maliciosas do auto do bumba-meu-boi

pernambucano: Matheus e Bastião, que durante a encenação armam estripulias para cima de

todas as demais personagens, inclusive o Capitão, comandante do espetáculo.

Aproveitando o sucesso conquistado na televisão e com propaganda generosa na

própria Rede Globo, a peça de Suassuna ganhou também a tela grande. Para reforçar a

campanha, foram postas 80 cópias do filme no circuito exibidor. Embora fosse uma média

altíssima, similar à dos maiores lançamentos estrangeiros, provocou a insatisfação de

distribuidores do interior porque não tinham cópias para mostrar. Foram providenciadas mais

cópias, chegando a um total de 180 para atender a todos os pedidos. A adaptação teve tanto

sucesso que foi o filme brasileiro recordista de público em 2000 com mais de dois milhões e

cem mil espectadores. Uma bilheteria superior até mesmo à de Central do Brasil, que foi

candidato a Oscar de melhor filme estrangeiro e passou pelo processo contrário, isto é, foi

exibido normalmente nas salas de cinema e, meses depois, chegou à TV (ZARUR, 1992).

Nesse sentido, pretende-se nesse momento fazer algumas considerações sobre o

caminho da arte inserida no contexto da comunicação de massas nos últimos anos, sobretudo

na TV, que se utiliza cada vez mais de obras oriundas da cultura popular para aproximar-se do

grande público.

Segundo Arendt (2002) a expressão “cultura de massa” origina-se de outra, não muito

mais antiga, “sociedade de massa”, e evidencia o relacionamento altamente problemático

entre sociedade e cultura. A “sociedade de massa” sobrevém quando a massa da população

se incorpora à sociedade, com a eliminação de instâncias mediadoras. Sociedade de massa e

Page 57: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

57

cultura de massa parecem ser fenômenos inter-relacionados, porém seu denominador

comum não é a massa, mas a sociedade onde as massas foram incorporadas. A autora aponta

ainda um antagonismo entre sociedade e cultura que é anterior à ascensão da sociedade de

massa: o monopólio da cultura pela sociedade, em função de seus objetivos próprios, tais

como posição social e status, evidenciando o caráter objetivo do mundo cultural, na medida

em que este contém coisas tangíveis, compreende e testemunha todo o passado registrado

da humanidade.

A questão central, norteadora da análise aqui proposta, parece já ter sido formulada

por Harvey (2005), quando o autor reconhece que na contemporaneidade a cultura e as

manifestações culturais parecem ter se transformado em algum gênero de mercadoria:

“Como a condição de mercadoria de tantos desses fenômenos se harmoniza com seu caráter

específico?” (HARVEY, 2005, p. 221).

Para Adorno e Horkheimer (1985), a cultura contemporânea confere a tudo um “ar de

semelhança”. Para estes autores:

O que é novo na cultura de massas (...) é a exclusão do novo. A máquina gira sem sair

do lugar. Ao mesmo tempo que já determina o consumo, ela descarta o que ainda

não foi experimentado porque é um risco (...) A seu serviço estão o ritmo e a

dinâmica. Nada deve ficar como era, tudo deve estar em constante movimento. Pois

só a vitória universal do ritmo da produção e reprodução mecânica é a garantia de

que nada mudará, de que nada surgirá que não se adapte (ADORNO & HORKHEIMER,

1985, p. 126).

Assim, algumas das manifestações culturais das classes populares vão sendo lapidadas

e aperfeiçoadas como mercadorias, tornando-se lazer, diversão e espetáculo para o consumo

imediato. O participante transmuta-se em espectador, que não tem necessidade de nenhum

pensamento próprio, já que “o produto prescreve toda a reação” (Op. cit., p. 128).

Para compreender essa mudança social, como a cultura popular transmuta-se em

cultura de massas, deve-se, porém, entender como ela acontece. De acordo com Zarur (2002),

nos últimos anos, as emissoras particulares vêm implementando, mesmo que amiúde,

linguagem que privilegia textos concebidos por autores com ligação direta com a cultura

popular como Ariano Suassuna. Para ele, tal tendência verifica-se, principalmente, no mais

conhecido canal de televisão do país, a TV Globo, e pode ser exemplificado pelo sucesso total

Page 58: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

58

(público e crítica) que obteve a minissérie O auto da compadecida, em 1999, prolongando-se,

no ano subseqüente, em seu formato cinematográfico.

Para Zarur (2002), o Auto da Compadecida não é um caso isolado. Pelo contrário,

existem outros elementos que corroboram esta idéia:

Poder-se-ia corroborar esta idéia mencionando como efeito a criação, também

exitosa, da série semanal Brava Gente, produzida pela mesma emissora, que exibe,

quase exclusivamente, obras escritas com base em tradições e lendas populares,

sejam originais ou adaptações. Em seus 43 episódios, já foram filmados diversos

tipos de obras, desde textos já clássicos e/ou religiosos, principalmente bíblicos, até

polêmicas peças teatrais de Nelson Rodrigues, como as da tríade levada ao ar, entre

os meses de julho e agosto de 2002, em homenagem aos 90 anos que o dramaturgo

pernambucano criado no Rio de Janeiro completaria se vivo fosse (morreu em 1980)

(ZARUR, 2002, p. 195-196)

Assim, é possível afirmar que ao longo de seus mais de 50 anos, a televisão brasileira

não se limitou a copiar e/ou adaptar programas estrangeiros (sobretudo estadunidenses e

italianos); desenvolveu também, concomitantemente, as suas próprias linguagens – muitas

vezes determinantes na formação da auto-imagem nacional – levando à criação de um padrão

nacional algo distinto dos adotados no exterior.

No entanto, se por este aspecto a TV brasileira é elogiável, há outras características

que preocupam pela significação que têm para a maior parte da massa de telespectadores,

majoritariamente habituados a informar-se e a divertir-se quase que unicamente pela tela

pequena. Um dos principais exemplos disto é o desequilíbrio na representatividade das

diversas manifestações culturais brasileiras, conseqüência da concentração quase total da

produção em rede em apenas dois estados: Rio de Janeiro e São Paulo. Tal fato resultou na

imposição de padrões estéticos e comportamentais dos principais centros urbanos, reduzindo

o espaço para a exibição de obras artístico-culturais oriundas de outras áreas cujo poder

político-econômico é inferior.

Sobre isso, Canclini ratifica a necessidade de ações que procurem equilibrar

minimamente a distribuição dos espaços de divulgação das manifestações artístico-culturais

nestes tempos globalizados: “(...) nesta época de globalização que torna mais evidente a

constituição híbrida das identidades étnicas e nacionais, a interdependência assimétrica,

Page 59: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

59

desigual, mas inevitável, no meio da qual devem defender-se os direitos de cada grupo”

(CANCLINI, 2001, p. 25).

Importante destacar, conforme Moraes (2006), que o formato minissérie permite a

organização da trama em um espaço/pré-determinado, sendo gravada do começo ao fim, o

que lhe possibilita maior unidade e coerência interna. O fluir da trama não irá depender da

menor ou maior audiência para diminuir ou aumentar a sua duração e a importância ou

permanência das personagens. Diferentes formatos de programas como, por exemplo,

jornais, programas humorísticos, minisséries, dividem o mesmo espaço na mesma emissora e

o IBOPE determinará os que irão permanecer e os que se tornaram inviáveis. Obras literárias

clássicas e modernas (com ou sem qualidade artística) transitam no formato das novelas às

minisséries, cujo público alvo ainda é o da sociedade de consumo, que encontra à sua

disposição o trabalho exibido em outros formatos próprios para o consumo, como fitas de

VHS ou CD/DVD (Compact Disc/ Digital).

No caso do Auto o sucesso da versão para TV já era de alguma forma esperado pelo

próprio Arraes. Conforme este autor:

A idéia de adaptar o Auto da Compadecida para o cinema e a televisão é antiga [...].

Ariano sempre me dizia, e eu achava que era meio na brincadeira, mas ele falava

bastante sério, que só cederia o auto para mim. Ele cumpriu a palavra e me deu total

liberdade. Então quando o Daniel Filho me perguntou qual o texto que eu queria

adaptar, respondi baixinho, o Auto... Porque tudo que a gente quer muito, tem

também muito medo de fazer (ARRAES, 1999)

Para Moraes (2006), a fala de Arraes deixa clara a preocupação com o planejamento

do investimento que seria utilizado para a adaptação e produção do Auto. Pesquisas de

mercado, envolvendo o público e a equipe de produção cercaram a pré-elaboração do projeto

para mídia visual e se Suassuna não permite a inserção de “merchandising” na obra, durante o

intervalo os comerciais foram inevitáveis para permitir a existência e veiculação do programa.

Finalmente, cabe discutir o significado e alcance geral do processo de transcodificação

do Auto para minissérie e filme. De acordo com Zarur (2002), foi “uma pequena revolução”:

A hipótese central com que trabalhamos é a de que o sucesso conquistado na

televisão – e em seguida também no cinema – pela adaptação da peça pode ser

compreendido como uma pequena revolução na linguagem e nos históricos e já

arraigados padrões estéticos (e até conceituais) da comunicação de massas brasileira

Page 60: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

60

em seu meio eletrônico mais importante, que se tornou de certo modo um

instrumento de opressão simbólica (Bourdieu, 1992) e se reflete nas escolhas

tipológicas e nos usos e costumes públicos ou privados (Durand, 1999) (ZARUR, 2002,

p. 200)

Ainda segundo este autor:

1. A adaptação de obras da cultura popular brasileira feita pelas emissoras de tv

revigora um imaginário hoje distante das populações urbanas, mas que mantém seu

apelo por promover um retorno à simplicidade e à autenticidade características da

maior parte do povo brasileiro.

2. O fenômeno de público e crítica da microssérie – Auto da Compadecida – se

afigura como um novo caminho à teledramaturgia que privilegie a divulgação de

manifestações artístico-culturais claramente brasileiras, sem a introdução de grandes

modificações em suas características básicas e estrutura, promovendo-se tão-

somente as imprescindíveis adaptações técnicas ao meio eletrônico.

3. O êxito mercadológico e de crítica reforça a idéia de que uma obra popular pode

ser simultaneamente simples e sofisticada, sem que seja necessária sua mutilação

para a apresentação a milhões de telespectadores cujas diferenças étnicas, sociais,

econômicas e culturais não impedem a projeção, a identificação e a empatia (Sodré,

1972), com uma história de peculiaridades tão marcadamente regionais, ainda que

bastante distinta das que costumam vivenciar no cotidiano (Op. cit. p. 200)

Para o âmbito deste trabalho, acreditamos que o conceito de “pequena revolução”

utilizado por Zarur (2002) carece de algumas considerações. Catenacci (2001) afirma que são

várias as formas pelas quais o popular é apresentado: para os folcloristas se refere à tradição;

para a indústria cultural, à popularidade e para o populismo, ao povo. Contudo, apesar de

cada uma dessas tendências reivindicar uma concepção de popular, todas contribuem para o

processo de fazer o povo falar ao coletar narrações, incluir entrevistas de rua em programas

de rádio e televisão, compartilhar com o povo os palcos do poder. Essa reivindicação de

popular gerou também outros movimentos construídos pelas próprias camadas populares –

sindicatos, partidos políticos, etc. – e movimentos identificados por Canclini como populismo

de esquerda ou populismo alternativo, caso do Centro Popular de Cultura – CPC.

Nesse sentido, o CPC rompe a identidade “forjada” entre folclore e cultura popular.

Enquanto o folclore é interpretado como manifestações culturais tradicionais, a

noção de cultura popular é definida pelo Centro Popular de Cultura em termos

exclusivos de transformação (ORTIZ apud CATENACCI, 2001, p. 32).

A fim de possibilitar maior compreensão sobre a arte ou cultura revolucionária,

Hollanda (1981) apresenta as diferenças existentes entre a arte cepecista, a arte do povo e a

Page 61: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

61

arte popular. A primeira é, segundo ele, própria das comunidades rurais, arcaicas, atrasadas,

em que o artista não se distingue do povo e se limita, devido à simplicidade da sua arte a

ordenar os fatos do cotidiano, da realidade arcaica do qual faz parte. A arte do povo é “*...+

tão desprovida de qualidade artística e de pretensões culturais que nunca vai além de uma

tentativa tosca e desajeitada de exprimir fatos triviais dados à sensibilidade mais embotada. É

ingênua e retardatária e na realidade não tem outra função que a de satisfazer necessidades

lúdicas e de ornamento” (HOLLANDA, 1981, p. 130).

A arte popular, porém, é própria dos centros urbanos, industrializados, e elaborada

por artistas pertencentes a classes sociais distintas do seu público. Assim, essa arte “consegue

ser lírica lidando com a miséria, consegue ser saudosista quando se trata do futuro, é capaz de

ironia ou abnegação diante da dor mais pungente (...)” (Op. cit. p. 130).

Já a arte popular revolucionária parte da essência do povo, que só pode ser vivenciada

pelo artista quando ele se defronta com a realidade social desse povo, a de classe destituída

do poder de dirigir a sociedade sustentada por sua força de trabalho. Assim, a arte cepecista

pretende ser popular.

Por essas definições, porém, os integrantes do CPC acabam negando a validade das

manifestações populares e mantêm o preconceito em relação à cultura popular ao

aproximá-la da “falsa cultura”, entrando, por conseguinte, num processo de

alienação que eles tanto combateram. No que se refere à produção artística, os

artistas do CPC, ao buscarem um outro público (o povo), criaram uma nova

concepção de texto, de cena, de produção, de interpretação, produzindo várias

peças teatrais como Eles não usam black-tie, O auto dos 99% e A vez da recusa, por

exemplo, apresentadas em portas de fábricas, favelas e sindicatos; o filme Cinco

vezes favela; a coleção de livros Cadernos do povo e a série Violão de rua, entre

outros (CATENACCI, 2001, p. 34).

Para a autora, “o CPC foi, sem dúvida, um exemplo de movimento de politização da

arte, identificada como cultura popular, e serviu de fundamento para um projeto político

revolucionário” (CATENACCI, 2001, p. 34).

Ao estabelecer a relação entre o CPC e o Auto da Compadecida, Galvão (2004) afirma:

“o Auto seria o campeão dos palcos nos anos de 1960, como favorito do Centro Popular de

Cultura da UNE e dos grupos amadores dos grêmios estudantis do Brasil inteiro. Tem tudo do

ideário nacional-popular do período: nordestinos, um Cristo negro, anseios de igualdade e

pregação de anti-racismo” (GALVÃO, 2004, p. 381).

Page 62: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

62

Por tudo isso, encerra-se este capítulo com a seguinte afirmação: Entre a tradição e a

transformação, entre a cultura popular e a cultura de massa, o Auto da Compadecida

caminhou de uma ponta a outra e serviu de fundamento para um projeto político

revolucionário.

Considerações finais

É pertinente evocar uma reflexão de como a idéia de discussão do social no trabalho

de Suassuna assume variações nas diversas formas de ironizar a sociedade. Constatamos que

esta pesquisa não esgota as possibilidades múltiplas de análise da temática em questão

história e cinema; ainda podendo render muitas outras temáticas relacionadas ou não com a

temática deste trabalho.

Suassuna, em seus trabalhos e principalmente no Auto da compadecida lembra que a

preservação da cultura nacional é necessária para que tenhamos uma identidade própria e

intransferível. É por esse motivo que se nega a vincular seu nome e suas obras a

merchandising. Para ele a solução está em fazer com que a população tenha consciência de

que um povo sem memória não constrói história, e é inadmissível que multinacionais

administrem a estética artística, submetendo a arte aos anseios capitalistas.

Vale ressaltar que toda a informação é transmitida a partir de um determinado ponto

de vista, que pode ser influenciado (ideologicamente) ou não gerando aprendizados positivos

ou negativos, dependendo da negociação realizada no momento da recepção. Quanto mais

informação o receptor possuiu, maior será a sua capacidade de questionar e negociar a

mensagem recebida.

A TV, através da teledramaturgia e de seus demais produtos, promove educação e

formação de identidade social. Essa educação e formação não são impostas e aceitas

passivamente. São recebidas, negociadas e reelaboradas de acordo com as informações

prévias dos telespectadores. A questão é que, na sociedade brasileira, a maior parte da

população – consumidora dos produtos televisivos e cinematográficos – não tem pleno acesso

à educação e informação. Por isso é mais vulnerável a uma recepção sem a devida

negociação, levando-a a absorver muito do que lhes é transmitido midiaticamente como

verdade absoluta.

Page 63: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

63

Referências:

ADORNO, E. Linguagem Audiovisual na Escola. Monografia. (Curso de Especialização em Leitura: Teoria e Práticas) – Unidade Universitária Cidade de Goiás, Universidade Estadual de Goiás. Cidade de Goiás, 2004.

ADORNO, T; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento – fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.

ARANHA, M; MARTINS, M. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna, 1992.

ARENDT, H. Entre o Passado e o Futuro, 5ª Edição, Coleção Debates/Política. São Paulo: Editora Perspectiva, 2002.

ARRAES, G. O Auto da Compadecida: da obra de Ariano Suassuna. Filme. Rio de Janeiro: Globo Filmes, 2001.

________. O Auto da Compadecida: da obra de Ariano Suassuna. Minissérie. Rio de Janeiro: Globo Filmes, 1999.

BEZERRA, C. Do Teatro ao Cinema – três olhares sobre o Auto da Compadecida. Trabalho apresentado no NP 07 - Comunicação Audiovisual no XXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Porto Alegre/RS: 2004. Disponível em: http://galaxy.intercom.org.br:8180/dspace/bitstream/1904/17726/1/R1721-1.pdf. Acesso em 18 de setembro de 2010.

CANCLINI, N. Consumidores e cidadãos. 2a ed. Trad. Maurício Santana Dias. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2001.

CATENACCI, V. Cultura Popular: entre a tradição e a transformação. São Paulo em Perspectiva, 15(2) 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/spp/v15n2/8574.pdf. Acesso em 22 de outubro de 2010.

GALVÃO, M; BERNARDET, J. Cinema: o nacional e o popular na cultura brasileira. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983.

GALVÃO, R. Representação da masculinidade nordestina no cinema brasileiro: uma análise dos signos identitários. Disponível em: http://www.bocc.uff.br/pag/galvao-rilmara-representacao-da-masculinidade-nordestina.pdf. Acesso em 15 de setembro de 2010.

GALVÃO, W. Metamorfoses do Sertão. Estudos Avançados 18 (52), 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v18n52/a24v1852.pdf. Acesso em 22 de outubro de 2010.

HARVEY, D. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005.

HOLLANDA, H. Impressões de viagem CPC, vanguarda e desbunde: 1960/1970. 2a ed. São Paulo, Brasiliense, 1981.

MAIA, L. A Transcodificação do Auto da Compadecida Teatro para a TV e o Cinema. Disponível em: http://www.alb.com.br/anais17/txtcompletos/sem16/COLE_2876.pdf. Acesso em 17 de setembro de 2010.

MORAES, P. O Auto da Compadecida: do teatro à minissérie. Dissertação (Mestrado em Mídia e Cultura) – Faculdade de Comunicação, Educação e Turismo, Universidade de Marília (UNIMAR), Marília, 2006. 141f

SUASSUNA, A. Auto da Compadecida. 34ª edição, Rio de Janeiro: Agir, 2004.

Page 64: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

64

TAVARES, B. Tradição popular e recriação no .Auto da Compadecida. In: Auto da Compadecida 50 anos (folheto promocional). Rio de Janeiro: Agir, 2006.

ZARUR, L. Auto da Compadecida: uma revolução silenciosa nos meios de comunicação de massa audiovisuais brasileiros. Comum - Rio de Janeiro - v.7 - nº 19 - p. 194 a 208 - ago./dez. 2002.

Page 65: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

65

Alienação silenciosa promovedora do “conformismo”?: a produção leiteira em Marechal Floriano - GO Adenisia Alves de Freitas

1

O quem significa a frase “a revolução industrial explodiu”? Significa

que a certa altura da década de 1780, e pela primeira vez na história

da humanidade, foram retirados os grilhões do poder produtivo das

sociedade humanas, que daí em diante se tornaram capazes da

multiplicação rápida, constante, e até o presente ilimitada, de homens,

mercadorias e serviços.

Eric Hobsbawm

Resumo: Este artigo tem por objetivo problematizar alguns elementos do espaço rural, frisando os principais desafios encontrados pelos criadores de bovinos destinados a lactação, além de outros aspectos que impulsionam fatores que estão intercalados com a produção leiteira. Sendo estes o custo da alimentação para os animais contraposto com o valor que é vendido o produto, e a introdução dos meios tecnológicos que vem se fazendo presente no campo, não nos esquecendo da importância da terra que permite a criação de bovinos, que estão presentes, de forma diferenciada, em todo o Brasil. Desse modo é que em Marechal Floriano – conhecida por Estação Floriano – juntamente com as demais localidades adjacentes, situada como distritos de Jussara-GO, possibilita-nos identificar também a exploração dos produtores pelas empresas maiores, que transmitem ao pecuarista uma falsa sensação de autonomia.

Palavras-chave: Marechal Floriano. Produção leiteira. Alienação.

Considerações Prévias

Quando se propõe pensar em aspectos relacionados com a terra, seja extração de

minérios, madeira, ou mesmo a agricultura, a agropecuária entre outros fatores que estão a

ela introduzidos, deve-se considerar os longos anos, como no caso do Brasil, que adquirir um

lote de terra “ocasionava” confrontos, mas isso não indica que na contemporaneidade tenha-

se encontrado a solução para tal problemática.

Nos séculos anteriores ao nosso, a terra era um bem pertencente, especialmente a

elite possuidora de uma porcentagem maior da esfera territorial, desfrutando destes

privilégios. Um exemplo disso foram as capitanias hereditárias que indicam um acumulo de

¹ Graduanda do 3° ano do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária de Jussara.

Page 66: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

66

riquezas por meio das largas extensões territoriais. O que pode ser mais bem evidenciado na

existência do latifúndio, e por isso faz-se necessário ser pensado como um objeto da discussão

da ciência História, devido a dialética existente entre o pequeno agricultor e os detentores da

posse da terra que muitas vezes não coincide com aqueles que possuem a identidade original

de necessidade e permanência na mesma.

Em outra perspectiva, se encontra o caso dos nativos, ou seja, os indígenas que ao

decorrer dos anos enfrentaram fortes repressões no qual se deu o processo de “conquista

colonial” ou os diversos embates que originaram com o intuito de colocar na prática um velho

ideal a reforma agrária. Uma analogia entre estes encontros históricos e que merecem ser

apontados faz jus a Revolução Mexicana2, que embora se envolva outros aspectos – além dos

transmitidos – um tanto quanto distante temporalmente e socialmente deste presente,

travou-se uma luta ferrenha pela distribuição de terras, que ocorreu parcialmente. Em todo

caso, o que convém salientar é que em várias situações, tais aspectos geraram fatalidades, ao

ponto de que em ambos os casos, muitos perderem seu espaço ou suas vidas, não se fazendo

diferente no âmbito destas questões agrárias no Brasil.

A questão que nos propomos discutir com o estímulo de torná-la repensada, não está

situada no âmbito da reforma agrária ou de demonstrar a partir dos acontecimentos

históricos os vários conflitos que existiram durante os tempos, relacionando-os a obtenção da

terra, ressaltando que desde os primórdios, os confrontos entre colonizadores e grupos

indígenas – nem em prescindir os elementos que estão presentes na vida do trabalhador

rural, em especial o criador de animais destinados a lactação, que tem na terra o principal

mecanismo que possibilita a realização de tal atividade.

O estado de Goiás sobressai-se nacionalmente entre os estados agropecuaristas e por

isso encontramos elementos para pensá-lo cientificamente. Assim, o distrito de Marechal

Floriano representa-nos um micro-cosmo que viabiliza um pensar científico sobre os aspectos

da exploração leiteira no tanque ao espaço e aos sujeitos destes processos que origina no

“ouro branco” a mercadoria que vem gerando lucratividade para apenas alguns.

2 Conforme aborda VILLA, Marco Antônio. A Revolução Mexicana. Ática.

Page 67: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

67

Da Agricultura à Pecuária Leiteira

A importância que tem a terra para o lavrador ou mesmo para o pecuarista, de modo

que também para as outras atividades relacionadas, pode ser quase a mesma. Nesta

perspectiva, grande parte do que consumimos ou compramos nos supermercados e feiras, é

um mecanismo de sobrevivência, que permeia a mentalidade de vários que almejam obter a

terra para o cultivo. Essa discussão remete no transcorrer dos anos que compreendem a

ocupação do estado de Goiás na conhecida Marcha para o Oeste nos anos de 1930, que

geralmente, iniciou-se na perspectiva do latifúndio. Além da concentração de terra nas mãos

de alguns, impossibilitando que não detentores de terra pudessem adquiri-la, fazendo com

que esta riqueza não fosse mais bem partilhada, como ocorreu nos primeiros anos da

colonização.

Ampliando a discussão, Silva (2002, p. 21) afirma que

a insatisfação da população excluída do direito á terra em Goiás gerou vários movimentos e organizações que são marcos históricos importantes. As mobilizações não foram só pelo direito á terra, mas envolveram outras questões como a luta pelos direitos á saúde pública e gratuita e o direito á educação. A organização foi planejada pelos pobres e excluídos da sociedade ou contando com o apoio de grupos de mediação. O alto índice da concentração de terra em Goiás levou os trabalhadores a se sujeitarem aos mandos dos grandes proprietários de terra. No entanto, com a intensa migração dos anos de 1930 em diante, a população de nosso estado sofreu um impacto muito grande. Neste momento, vários trabalhadores de outros estados encaminharam para Goiás como o claro objetivo de conseguir um pedaço de terra. Todo este sonho era incentivo á ocupação dos vazios populacionais em região como Goiás e Mato Grosso.

Para compreender o que se passa na atualidade é necessário fazer um retrocesso que

relaciona o transparecido por Silva (2002), direcionando-se ao povoamento de Goiás, no qual

frisou a década de trinta, quando se intensificou á vinda de migrantes para o Estado e a

subordinação de pessoas ao trabalho nas grandes fazendas. Desse modo, o ponto inicial foi a

agricultura, o que consta no relato de alguns indivíduos que descrevem os anos em que

trabalhavam com seus pais na limpeza das lavouras, que eram cultivadas com o intuito de

guardar os alimentos não perecíveis para a subsistência da própria família, ou seja, não se

pretendia vender os alimentos, embora isso não indique que não ocorre em alguns casos,

mas não era o que objetivavam a princípio. Logo, quem nos fala com maior exatidão a

Page 68: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

68

respeito deste e do desenvolvimento capitalista que se aglomerou nesta perspectiva é

Horácio M. de Carvalho assinala:

Uma crítica globalizante ao projeto dominante em execução, nele incluída, evidentemente as apreciações sobre a forma se deu o desenvolvimento capitalista na agricultura e seus efeitos sobre o meio ambiente e as condições de vida da maioria da população brasileira, foi inteiramente desprovido de unidade política e de potencial transformador, ao terem os intelectuais orgânicos das classes subalternas aderido, pela cooptação, ao projeto burguês de transição política, o qual pressupôs a restituição das liberdades políticas liberal-burguesas (CARVALHO, 1992, p. 80).

A discussão acima permeia o âmbito do desenvolvimento capitalista na agricultura e

perpassa também por questões ambientais, já que o “progresso” muitas vezes estava

associado a devastação, com o intuito de abrir novas áreas cultiváveis. Além disso, a

predominância dos aspectos políticos e a prevalência de projetos essencialmente burgueses

estariam interligadas aos fenômenos de contraposição, que pouco aparecem como uma

identidade histórica nacional porque é sufocada pelos interesses do grupo dominante. Ainda

com base nos apontamentos de Carvalho (1992), percebe-se que

opressuposto desta abordagem, de maneira geral as questões relacionadas com os impactos provocados pelo desenvolvimento capitalista na agricultura brasileira sobre o meio ambiente e as condições de vida da população rural só serão suficiente e adequadamente analisadas se a luz da luta entre os interesses das classes sociais em presença no lapso histórico ( p. 6).

Há quase vinte anos, esboçava Carvalho (1992) sobre o desenvolvimento capitalista na

agricultura, que atingiu pontos elevados não apenas na tecnologia, mas no âmbito das

ciências, favorecendo a criação e aperfeiçoamento de uma variedade de plantas, dando

origem aos transgênicos. Todavia, as mudanças ocorreram e a agricultura foi perdendo seu

espaço para outras fontes de renda, ao menos foi o que ocorreu com o passar do tempo no

distrito de Marechal Floriano, localizado a pouco mais de quarenta quilômetros de Jussara –

cortada pela BR 070 - sendo um pequeno povoado com pouca densidade demográfica, cuja

existência resume-se a um pequeno supermercado – secos e molhados – anexo a um bar, que

se imbrica a duas instituições religiosas, uma de cunho evangélico e a outra católica.

Nas proximidades de Marechal Floriano ou Estação Floriano, assim popularmente

denominada. Encontramos várias pessoas que tem como fonte de renda a pecuária leiteira.

Isso porque, ainda na infânciamuitos desses moradores auxiliaram seus pais no cultivo e na

colheita de grãos. Dessa forma, os precursores deste lugar fizeram a exploração da terra

Page 69: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

69

baseada no conjunto de agentes devastadores do recurso natural demo que a pastagem, para

a criação do gado leiteiro, fosse uma dupla saída para o desgaste natural e o enfraquecimento

da atividade agrícola substituída pela pecuária absorvida na agroindústria de laticínios, tema

no qual aprofundaremos adiante.

Por conseguinte, foi de grande relevância o contato que tivemos com dois criadores de

bovinos destinados a lactação. Eles nos forneceram relatos valiosos referentes à criação e a

obtenção inicial destes animais e o aperfeiçoamento das raças – que multiplicaram – para

melhor obtenção de produtividade e, por consequência, lucratividade. Foram eles: Valdomiro

Oliveira e José Alves, o primeiro com mais de cinquenta e o segundo com 45 anos de idade.

José Alves relata que durante todos estes anos habitou no âmbito rural, portanto, é

um dos exemplos de indivíduo que vivenciou com o pai a lida diária, o cultivo das sementes a

secagem dos grãos na derrubada do cerrado ao manuseio do trator. Apesar dessa trajetória se

denomina na contemporaneidade, enquanto micro produtor que aprendeu como o pai o

manuseio com os animais leiteiro, já que se usavam também os bovinos para o transporte de

cargas, como foi o caso do carro de boi. Porém tal indivíduo foi um dos que deixaram de

cultivar uma vasta dimensão territorial e passou a ter outra atividade, referente á criação de

animais para lactação, como renda familiar. Quando o indagamos porque se deixou a

agricultura de subsistência para a criação de animais leiteiros, José Alves afirma:

Tradição de pai para filho, porque quando comecei foi meu pai quem me ensinou. Levantou um financiamento no Banco, tirou o dinheiro para custeio agrícola, para trabalhar na terra que era virgem de voluto, não tinha documento, assim o Estado vendia para as outras pessoas. Através do procurador do Estado foi que conseguimos á documentação, recebida no cartório de tabelionato. Depois deixou de trabalhar com o Banco e com a lavoura, já que tinha formado a terra, comprando os primeiros animais leiteiros de fazendeiros, conforme um comprava do outro; conseguindo o gado

11

Por este depoimento captamos a presença do Estado como facilitador no que tange

aos empréstimos utilizados para o preparo da terra, após, ter sido desmatada era

posteriormente semeado o capim, cuja espécie mais cultivada e que se adaptou melhor ao

solo foi o branqueará, comum nas propriedades ainda hoje – ressaltando que o valor

monetário era retirado no Banco do Brasil, que lucrava com as cobranças de juros. Por isso:

11

Entrevista realizada com José Alves Preto no dia 01 de junho de 2011

Page 70: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

70

na História do Brasil veio, com a Lei n° 601 de 18 de setembro de 1850, conhecida como a Lei de Terras. A partir deste momento, conseguir terra era somente pela compra através do Estado. Deixando de fora os pobres que não tinham recursos financeiros para pagar a terra. A função desta lei foi uma tática, impedir que os colonos, recém chegados da Europa e os pobres excluídos tivessem aceso á terra (SILVA, 2002, p. 16).

Como é plausível de identificação, o poder estatal vem agindo sobre o homem há

algum tempo delimitando quem era digno de obter terra, de quem não a possuiria, mas que

seria útil para trabalhar nela. Quem questiona essas e outras perspectivas é Silva (2002)

remetendo aos aspectos anteriores às causas da desigualdade, que prevaleceram e se

perpetuam ao longo do tempo, assim ele defende que

Goiás não foi diferente do restante do Brasil, o grande fazendeiro teve apoio e incentivo por parte dos órgãos do Estado. O Estado mediava a manutenção da grande fazenda e ocultava os crimes cometidos contra os trabalhadores de terra em todo o Estado, mandando e desmandando através de conchavos. [...] as terras próximas á estradas passaram a ser valorizadas devido a intensificação de casas comerciais e o constante vaivém de alimentos e de gado. Intensificando o aumento das disparidades econômicas dos que tinham terra e aqueles que não tinham. Estavam formada e relação capitalista nas atividades econômicas advindas do campo (p. 17).

Conforme o avanço dos movimentos próximos as estradas se intensificavam o

capitalismo crescia com o anseio por lucros, passando a terra por uma valorização que

aumentava também o desejo por possuí-la. Esta certamente, não foi a solução de todos os

problemas ou que era uma necessidade de todos, pois remetia a status, hegemonia perante

os demais ao querer não se enquadrar, perante alguns, como necessária. Visto que tal

discussão perpassa por outros trajetos, pois, é um fator que se encontrou em vários

momentos, no passado e no presente, marcando a história de Goiás.

Para tanto, retomamos a discussão remetente ao caso do primeiro indivíduo;

Valdomiro Oliveira, que não contou com estímulo de parentesco para iniciar seu rebanho,

mas foi adquirindo o mesmo a partir da compra de bovinos por iniciativa própria, sendo seus

pais meeiros, isto é, quem planta em terreno alheio. Visto que também foi o primeiro a obter

tanques, possuindo na atualidade dois para o resfriamento do leite, sendo tangues de uso

comunitário, ou seja, á o recolhimento do leite na(s) propriedade(s) do(s) pecuarista(s), por um

carreteiro, que o recolhe e o leva até o tangue de resfriamento. Dessa forma, a lucratividade

advém a partir que e comprado o leite “quente” do produtor, por um valor que não é fixo,

mas variante, posteriormente é levado para um tangue, onde é resfriado e vendido por outro

Page 71: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

71

preço, agora superior ao primeiro, que compra do produtor e em seguida revende ao laticínio,

por outro valor, recebendo a denominação de “atravessador”, por ser o intermediário entre

produtor e a empresa, onde o leite da origem á uma serie de produtos manufaturados.

Visualizando estas duas premissas identificam-se elementos básicos que

aparentemente se distinguem, mas que se aproximaram de um ponto semelhante, sendo a

criação de animais leiteiros – os fatores que levaram a tal atividade foram variantes, assim

como o meio de obter lucratividade, enquanto um vende o leite “quente” o outro refrigerado.

O Sr. Valdomiro é um dos moradores de Marechal Floriano, além de produtor e dono de

tanques para resfriamento é um dos responsáveis por realizar negociações externas que se

encadeiam na recepção. Ele relata que compra, vende e transporta o leite , assim como outros

cento e vinte associados. Salientamos também que, o Sr. Valdomiro é um dos poucos da

região que participa dos encontros realizados no município, engrossando o grupo dos

associados ligados a Proleite - uma das empresas compradoras - da matéria prima.

Desse modo, compreendemos que o entrevistado é um dos responsáveis por

transmitir aos demais as decisões tomadas nas reuniões que são realizadas com o intuito de

discutir a qualidade do leite, normalmente exigida por parte do comprador engrossando a

forma de produção e a liberdade do trabalho. São a partir desses aspectos que é possível de

se enxergar a alienação do trabalho e das relações como trabalhador, neste caso os

produtores, dada por Karl Marx em suas teorias.

Tecnologia no Campo e a Alienação do Produtor

Ao pensar na introdução de maquinários no cotidiano da vida humana a compreensão

da gênese destes primeiros instrumentos estão interligados ao seu aprimoramento e nas

necessidades humanas destes.

As revoluções industriais pioneiras ocorreram em situação histórica especial, em que o crescimento econômico surge de um acúmulo de decisões de incontáveis empresários e investidores particulares, cada um deles governando pelo primeiro mandamento da época, comprar no mercado mais barato e vender no mais caro. Como poderiam eles descobrir que o lucro máximo devia ser detido com a organização de revolução industrial e não com atividade comerciais mais conhecidas (e mais lucrativa no passado)? Como poderiam saber, o que ninguém sabia até então, que a revolução industrial produziria uma aceleração impar na expansão dos seus mercados? Dado que as principais bases sociais de uma sociedade industrial tinham sido lançadas, como quase certamente já acontecera na Inglaterra de fins do século XVIII, duas coisas eram necessárias: primeiro, uma indústria que já oferecesse recompensas excepcionais para o fabricante que pudesse expandir sua produção rapidamente, se necessário através de

Page 72: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

72

inovações simples e razoavelmente baratas, e, segundo um mercado mundial amplamente monopolizado por uma única nação produtora (HOBSBAWM, 1977, p. 48 – 49).

O autor visualiza revoluções industriais, o que rompe parcialmente com a perspectiva

de núcleo voltada apenas à Inglaterra, uma vez que o pontapé inicial eclode na mesma,

desencadeando em outros âmbitos, inserindo na América do Norte, especificamente nos

Estados Unidos. O plausível de análise neste, faz jus a criação das primeiras máquinas, como o

intuito principal de obter maior rapidez na realização das atividades, porém ultrapassou

fronteiras, sendo aperfeiçoada:

A revolução industrial não foi um episódio com um principio e um fim. Não tem sentido perguntar quando se “completou”, pois sua essência foi a de que mudanças revolucionárias se tornou norma desde então. Ela ainda prossegue; quando muito podemos perguntar quando as transformações econômicas chegaram longe o bastante para estabelecer uma economia substancialmente industrializada, capaz de produzir, em termos amplos, tudo que desejasse dentro dos limites das técnicas disponíveis, uma “economia industrial amadurecida” para usarmos o termo técnico (HOBSBAWM, 1977, p. 45).

Assim, as perspectivas da revolução ficaram registradas através do tempo, como

marco importante de transformações, desencadeando mudanças que não permitiria

continuar as coisas como eram. No caso em estudo, a tecnologia chega ao campo com

perspectivas que acelera a produção e a exploração da produtividade. Exemplificamos, no

caso da produção leiteira, a introdução das ordenhas mecânicas e os tanques resfriadores.

Apesar de não ser possível para todos a obtenção de tais utensílios, devido o custo e

manutenção dos maquinários, embora existam exceções. Porém, analisando as

particularidades, em Marechal Floriano a maioria das propriedades é administrada pelo

próprio pecuarista, que conta com o auxilio da família, porém estes estão interligados a uma

rede macro de recepção da produção leiteira. A falsa sensação de “liberdade”, devido a

ausência de patrão é algo a ser questionado em diferentes perspectivas, de modo, que esta

preso ao trabalho as tecnologias que fazem necessárias a lida com a produção leiteira são

alguns dos eixos que problematizam a vida do pequeno produtor.

A lida diária na extração do leite sobrecarrega o pequeno produtor às atividades

cotidianas como: separar os bezerros das vacas em lactação, depositar o sal nos cochos, em

alguns casos, verificar a distribuição de água nos piquetes, chegando até a realizar partos dos

animais. Nos períodos de seca que se estendem do mês maio à setembro, o pecuarista

Page 73: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

73

leiteiro, particularmente de Marechal Floriano, tem dificuldades de manter os animais, pois

as pastagens estão secas e a produção diminui em decorrência deste fenômeno muitas vezes

obrigando este ao endividamento na compra de insumos que complementariam a

alimentação dos animais. Em decorrência desta experiência, “O principal argumento para utilização do pastejo,

para se produzir leite está centrado na redução de custos de produção. Isso se dá pela

diminuição das despesas com alimentos concentrados, combustível [no caso a irrigação da

pastagem] e mão-de-obra” (NEIVA, 2009). Na maioria das vezes, na temporada de seca o valor

do leite é superior ao dos meses chuvosos e, quase geralmente, este lucro não é tão visível ao

produtor, mas sim aos laticínios.

Assim, quando se produz mais, por estar na safra, o produtor recebe um valor inferior

ao quando se gera menos, isto é, a lei da oferta e da demanda. O que não indica ser adequado

e não propicia vantagem para um dos lados, pois, o valor mensal é variável, sendo uma

verdadeira balança sem equilíbrio, o que desencadeou conforme conversações que tivemos

com outros produtores da área, em valores de pouca relevância pelo litro de leite. Outro fator

plausível de apontamentos é o abandono da profissão. Vimos no trabalho de campo que

vários indivíduos deixaram de serem criadores de animais leiteiros e investirem em gado do

corte, mesmo neste caso continua movimentando o mercado de compra e venda de bovinos.

Em outro aspecto, de acordo com Marcelo P. de Carvalho que transcorre “considerando a

situação da economia, um êxodo na pecuária de leite é algo que pode ter consequências

nefastas ao país, ou seja, certamente não interessa aos dirigentes políticos” (2009).

Unindo estas perspectivas, percebe-se uma discussão não realizada sobre a melhoria

das condições produtivas para o pequeno produtor, ao mesmo tempo em que a opção parece

ser fruto de uma não-opção, pois, este não enxerga outro meio que possa realizar que esteja

desvinculando de qualquer mecanismo que o interligue ao manuseio com os animais. Dessa

forma, os pecuaristas leiteiros de Marechal Floriano podem acreditar em uma não-alienação,

mas estão sob uma ordem hierárquica que os coloca na base, suportando também todo o

peso, já que sem os produtores não seria possível o desenvolver desta atividade. Portanto, “o

leite é considerado um alimento quase completo para a raça humana, sendo amplamente

Page 74: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

74

comercializado e consumido pela população, especialmente crianças e idosos [...], [sendo

uma+ atividade econômica que cumpre importante função social” ( MAGALHÃES, 2009).

Visando conhecer o outro lado da moeda foi com que a FAEG (Federação da

Agricultura e Pecuária de Goiás) desempenhou um diagnóstico da cadeia produtora de leite

em Goiás, enfatizando várias questões a partir de entrevista com cerca de quinhentos

produtores, em diferentes localidades como Iporá, Aragarças, Rio Vermelho, Meia Ponte,

dentre outros municípios. Entre os assuntos abordados a instituição se voltou para a

qualidade do leite; recursos disponíveis para produção; instituições que representam o

produtor; adoção de tecnologia; contrato e fornecimento do leite; e perfil do produtor, cuja

ressalva que se destaca é a avaliação do produtor sobre sua atividade leiteira, tomando

indispensável análise que transparece uma parte do resultado deste trabalho.

Tabela 99 > Razão Pela Qual o Entrevistado Produz Leite,

Segundo Estratos de Produção, em 2009

Estratos de Produção de Leite (litros por dia)

Especificação Unid. Até 50 De 50 a

200 De 200 a

500 De 500 a

1000 Acima de

1000 Total

E um negócio

lucrativo % 4, 10 4,50 3,60 3,70 10,50 4,40

Tem renda

mensal % 53,50 55,00 42,00 59,30 26,30 51,00

Combina com

outras

explorações

% 5, 20 7,40 9,10 11,10 5,30 7,50

Tem mercado

garantido % 2,10 3,70 2,70 _ 5,30 3,00

Não sabe fazer

outra coisa % 5,20 6,60 2,70 _ 5,30 5,10

Emprega a

família % 4,10 1,70 3,60 _ _ 2,40

Região não

permite outra

atividade

% 13,40 12,00 14,50 7,40 _ 12,10

Tradição

familiar % 12,40 9,10 21,80 18,50 47,30 14,50

Total % 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: (FAEG), Diagnostico da cadeia leiteira produtora em Goiás: relatório da pesquisa. Goiânia, 2009, p. 52.

Por meio da tabela é plausível de identificação a disparidade de motivos que remete os

produtores a continuarem nesta atividade, apesar de que se encontram variantes, pois, as

pesquisa de campo realizada não se restringiram em um determinado produtor, como o

Page 75: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

75

pequeno produtor o foco de nossa analise, mas abrangeram diferentes classes de indivíduos,

sendo perceptível através das cifras acima, que possibilitam identificar que umpercentual de

mais de cinquenta por cento dos produtores “optaram” por tal atividade por esta ser um

mecanismo que possibilita renda mensal, isto é, um valor, que não é estável, seguido pelo

caráter de não se encontrar outra atividade que seja rentável.

Entretanto, os desafios deste trabalho não são resumidos nesta premissa, uma vez

que existam outras obrigatoriedades que situam no estabelecimento ou não de concorrência,

o que pode também incidir em um outra variante, o valor mensal da mercadoria, ou seja, se

não á competitividade entre compradores de leite, o produtor não usufrui de opções,

possibilitando ao único comprador do produto, impondo um valor X que não é variante, o que

obriga o produtor a vender por um preço determinado, tendo o mesmo a alternativa se

desvincular de tal profissão.

Por outro lado, esbarra nos muros da dependência que requer uma luta diária pelo

tempo que já investiu na atividade, incluindo a compra de animais. O que resulta como

escapes das dificuldades “a organização dos trabalhadores rurais passa a ser feita por uma

instituição com os sindicatos, ligas associações. Porém, o momento marcante da

sindicalização dos camponeses surge a partir dos anos 70, quanto o governo incentiva a

criação dos sindicatos dos trabalhadores rurais” (SILVA, 2002, p. 39).

Assim os sindicatos exercem uma preponderância sobre o produtor de leite, que estão

interligados em sua maioria ao sindicato dos trabalhadores, inserindo a interferência estatal,

que acaba por controlar os produtores, no entanto existem outros mecanismos que abarca

o mesmo, sendo AGRODEFESA (Agência Goiana de Defesa Agropecuária), PRONAF (Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), entre outros programas e impostos.

Page 76: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

76

Para melhor compreensão sobre o transcorrido, apresentamos um dos documentos

que embasam nossa reflexão, com o intuído de demonstrar as requisições que se voltam ao

produtor nas práticas do cotidiano. Consciente ou não da dominação externa que atua no

interior das propriedades, os produtores de Marechal Floriano, ligados ao sindicato

receberam tal carta, remetendo a contribuição, isto é, pagamento da contribuição sindical,

que envolve o MTE ( Ministério do Trabalho e Emprego), além da FETAEGO (Federação Dos

Page 77: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

77

Trabalhadores na Agricultura no Estado de Goiás) e a CONTAG (Confederação Nacional dos

Trabalhadores na Agricultura), todos estes presentes em uma única fonte documental, cujo

intuito foi emitir uma cobrança que deveria ser realizado o pagamento, devendo contribuir

obrigatoriamente os proprietários que mantém empregados em sua propriedade á

produtores familiares, caso tal solicitação não seja realizada, devera ser punido o produtor

com multas e juros.

Portanto o custo da pastagem, ração concentrada, impostos, as vacinas contra febre

aftosa, brucelose, botulismo e entre outros, que fica direcionado a responsabilidade do

produtor, que não mantendo a vacinação dos animais conforme os meses de campanha

deverão pagar novamente as multas, conta-se também na esfera rural com a compra de

sêmen, vendido por uma empresa que é responsável por realizar á inseminação, trabalho que

estimula as fêmeas a se reproduzirem antes dos mecanismos naturais de sua raça. Por

conseguinte, usufruindo da interdisciplinaridade, ao ponto de perpassar por outro âmbito que

não apenas o da História, é que dialogamos com outras áreas, já visto que esboçamos as

últimas no que ponderou Rubens Neiva (2009):

No caso específico da pecuária de leite brasileira, o pequeno produtor parece ter seu espaço dadas as características do país e da própria atividade. Mas terá que se mexer, adequando se á nova realidade. Deve procurar programas de extensão rural a sua disposição, deve-se aliar a outros produtores no intuito de obter maior poder de barganha e deve procurar utilizar as suas (não muitas, é verdade) vantagens a seu favor. De certa forma, dependendo do estágio alcançado trata-se de uma forma de profissionalização deste produtor em contrapartida, esta condição não implicam, necessariamente, em desvantagens ao produtor profissional ao produtor empresário. Afinal, este tem a seu favor várias vantagens importantes, entre elas talvez a mais importante seja a capacidade de responder mais rapidamente as exigências do mercado do que e pequeno produtor (adaptação a novas exigências e tecnologia) (2009).

A partir deste imagina-se dois conceitos, ou seja, duas espécies de produtores: o

pequeno e o produtor empresário, sendo este último aquele que pode realizar maiores

investimentos. Por meio destas reflexões e constatações enxergamos a carência da atividade

pecuária leiteira familiar diante dos agentes capitalistas instituídos ou não que contribuem

para a inexistência do primeiro.

Page 78: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

78

Considerações Finais

O estudo introdutório que procuramos aqui fazer levou-nos a compreender que a

interferência do tempo, que propiciou mudanças ao longo dos anos, que no caso fez-se

notáveis em Marechal Floriano, distrito de Jussara-GO, percebe-se a transposição da

agricultura para a agropecuária, que sobrepujou o produtor de enfrentar tais mudanças para

manter o sustento, até mesmo o lucro almejado com o seu trabalho.

Portanto, enxergando as pequenas vantagens, seguida pelas desvantagens, não

deixando por debaixo do tapete as transformações que vêm acontecendo, e o adaptar que se

faz necessário, ao tempo que novas tendências se pode visualizar para este campo, que não a

de parar nesta época, por isso, e relevante compreendermos o passado, para discernirmos o

que se implementa no presente nas proximidades com os indivíduos e no espaço em que se

vivência.

O transparecido não remete ao todo, visto que outros aspectos assim como

problemáticas são perceptíveis na esfera rural que deve ser observada com maior atenção,

uma vez que é um elemento empiricamente externo do núcleo urbano, mas que se faz

presente através dos produtos alimentícios, nas prateleiras dos supermercados e em outros

locais, que teve como ponto inicial á instância rural, cuja exemplificação que norteou este

breve artigo, faz jus ao pequeno produtor de animais destinados a lactação, que e o

responsável por extrair o leite, enquanto matéria prima para elaboração de seus derivados,

consumido muitas vezes em localidades distantes de onde foi extraído.

No entanto, compreender o desenvolver da atividade leiteira vai além da relação

pequeno produtor e a empresa compradora do produto, mas evidenciar uma cadeia de

relações existente, visto que se encontra um mercado especializado para atingir esta área,

mercado esse que se aprimora como o intuito de fortalecer as relações comerciais, baseada

na compra e venda. Incluindo um mercado especializado no qual a mercadoria vai até a casa

do produtor.

Assim, como são evidentes diversas lojas especializadas e diferentes indivíduos que se

profissionalizam na área, demonstrando a amplitude deste setor que permeia por um campo

que é plural.

Page 79: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

79

Referências:

ARANHA, M; MARTINS, M. Filosofando: introdução de filosofia. 2. ed, São Paulo: Moderna, 2003, p. 9 - 19.

BEGUIN, F. Revista Espaço em Aberto: As Maquinarias Inglesas do Conforto. n° 34, São Paulo, 1991, p. 39 - 53.

CARVALHO, Horácio Martins de. Os intelectuais, a agricultura e o meio ambiente. In: Revista de

Ciências Humanas e Políticas: Teoria e Práxis. Goiânia, n°, 4, maio de 1992, p. 5 – 14.

GOMES, S. Federação da Agricultura e Pecuária em Goiás (FAEG). Diagnóstico de Cadeia Produtiva de Leite de Goiás: relatório de pesquisa. Goiânia: FAEG, 2009.

HOBSBAWM, E. A Era das Revoluções: Europa 1789 - 1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977, p. 43 – 53.

NEIVA, R. Revista Balde Branco, Leite a Pasto: razões e critérios que valorizam o sistema. n° 422, dezembro de 1999.

MAGALHÃES, J (Org).REDVET: Revista de Veterinária. Volume III, n° 9, 2007.

SILVA, V. História Agrária em Goiás. Goiânia: AGEPEL / UEG, 2002.

VILLA, M. A Revolução Mexicana. São Paulo, Ática, 1993.

Fontes Orais

José Alves Preto. Entrevista concedida em 01 de julho de 2011, RG – 2399893 – SSPDI.

Valdomiro oliveira da Mata. Entrevista concedida em 03 de julho de 2011, RG – 04694224823 – DNTCNH.

Page 80: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

80

Realidade Docente e a utilização de aulas práticas como recursos didáticos Bruna Flores Wille Bueno

12

Marciele Fischer Parode13

Resumo: O presente artigo irá abordar e relacionar alguns fatos ocorridos no decorrer dos anos da criação da educação, citando alguns deles para demonstrar que não foram grandes as modificações até os dias de hoje, e frisando também que as situações que enfrentamos atualmente, em nossas salas de aula, são fruto de uma desvalorização governamental de anos de história. Porém, nosso objetivo principal é demonstrar a importância da utilização de aulas práticas para a melhoria da educação e uma aprendizagem de qualidade do aluno, contrapondo-se ao despreparo, por parte do professor, que não recebe uma formação adequada para a utilização desse tipo de recurso no dia-a-dia da realidade escolar. Para a elaboração desse artigo foram utilizados diversos autores que abordam tais assuntos em suas obras. Palavras-chave: Educação. Construtivismo. Aulas praticas. Ensino livresco. Introdução:

Diante de uma constante revolução digital, em que todas as ciências são renovadas e

atualizadas a cada minuto que passa, um importante setor é esquecido e permanece quase estático,

sem qualquer evolução considerável em sua metodologia.

A educação é desatualizada, mesmo com inúmeros recursos didáticos que são oferecidos pelo

avanço da informática o ensino não recebe a importância necessária. A defasagem da área se entende

desde a formação do professor, que é precária, até a atuação perante aos alunos em sala de aula, pois

as escolas também não estão preparadas para receber novas crianças e adolescentes que vivem nesse

mundo digitalizado.

Ligada também ao despreparo do professor, está à utilização de aulas práticas para a melhoria

da qualidade de aprendizagem. Os professores não recebem na faculdade motivação ou metodologias

que os ensinem como fazer uso das mesmas, o que os tornam completamente ligados ao uso errado

do livro didático e às metodologias centenárias.

Aos poucos, em uma velocidade muito lenta, estão sendo implantadas nas escolas salas de

informática, laboratórios de biologia e química, porém, esse é mais um problema que está relacionado

com o despreparo do professor, pois os professores não sabem como lidar com os materiais

12 Graduanda do 5º semestre do curso de Ciências Biológicas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS da cidade de São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Bolsista de Iniciação à Docência – PIBID/CAPES. 13 Graduanda do 3º semestre do curso de Ciências Biológicas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS da cidade de São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Bolsista de Iniciação à Docência – PIBID/CAPES.

Page 81: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

81

disponíveis ou então como utilizá-los. Assim, esses locais acabam por não serem utilizados e tornam-se

inúteis, como também um espaço morto dentro da instituição escolar.

A Deficiente Formação da Profissão Docente

Quando falamos sobre educação não podemos nos deter a debater apenas as condições e

problemas atuais, precisamos entender; o que acontece hoje, nada mais é do que a resposta a uma

história educacional, falha, que passou por vários altos e baixos sem nunca receber a importância

merecida.

A atual “crise” em que se encontra a nossa educação e a formação profissional de professores

esta altamente relacionada a fatos históricos que precedem o nosso tempo, é o resultado de reformas

mal organizadas e do descaso com a educação por parte dos governos. Todas as dificuldades pelas

quais passam os professores e a precariedade em que se encontra a educação vem acontecendo a

muito tempo, como declarado a seguir:

A má qualidade da formação e a ausência de condições adequadas de exercício do trabalho dos educadores se desenvolvem há décadas, em nosso país, e em toda a América Latina, de forma combinada, impactando na qualidade da educação pública, em decorrência da queda do investimento público e da deterioração das condições de trabalho dos educadores e trabalhadores da educação (Internac. da Educação, apud FREITAS 2007. p.1).

Podemos notar em variadas literaturas que tratam da história das ciências que dentre todas

elas a única que não sofreu altas modificações no decorrer do tempo é a educação. Mesmo com a alta

tecnologia que a cada dia se renova, através da qual são criados novos sistemas, mas o modo de

ensinar e as metodologias continuam estáticos, ignorando toda e qualquer nova condição de trabalho

(DOTTRENS 1973 p.18). Mesmo com o rápido desenvolvimento da informática, que seria uma forte

aliada à melhoria da aprendizagem e fonte de pesquisa, os professores continuam alienados ao quadro

e giz, como também ao uso errado do livro didático.

Para comprovar que o descaso, com a educação não se modificou no decorrer dos anos,

podemos relacionar as criações dos cursos de formação rápida e de modalidade à distância (EAD), com

a criação das escolas técnicas no século XX. Essas que se deram pela falta de mão de obra

especializada e de baixo custo numa época de rápido desenvolvimento das cidades, como é

mencionado por RIBEIRO 2005 p.212 “a expansão da cidade exige trabalhadores qualificados em

diferentes ofícios que compõem a atividade de construção civil”. Da mesma forma ocorreu na

formação dos cursos de licenciatura, era grande a necessidade de novos professores que suprissem à

demanda, que na opinião de FREITAS (2007) é um problema do Estado:

Page 82: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

82

A "escassez" de professores para a educação básica, apontada pelo relatório do CNE, apresentado em sua reunião de julho de 2007, não pode, portanto, ser caracterizada como um problema conjuntural e nem mesmo exclusivamente emergencial. Ao contrário, é estrutural, um problema crônico, produzido historicamente pela retirada da responsabilidade do Estado pela manutenção da educação pública de qualidade e da formação de seus educadores. (FREITAS 2007 p. 2 e 3)

Por esse motivo, então, foram criados os cursos de formação rápida e EAD, que visavam

também à profissionalização, em rápida escala, dos jovens. Porém, o que se percebe nos profissionais

formados por esse tipo de curso é o despreparo e a desvalorização da profissão docente por parte dos

governos.

Os cursos disponíveis para a formação de professores são, de modo geral, de baixa qualidade,

e por esse motivo Cunha & Krasilchik destacam a importância da formação continuada, da busca, por

parte dos professores pela renovação teórica e de novas modalidades de ensino, que se adaptaria à

sociedade atual e suas mudanças:

A atrofia dos fundamentos teóricos dos cursos de formação de professores e a conseqüente atomização e fragmentação dos currículos é uma realidade também nas boas Universidades. Portanto, cursos de formação continuada têm o papel, entre nós, não só de garantir a atualização dos professores, como também de suprir deficiências dos cursos de formação. (CUNHA & KRASILCHIK p.2)

Porém, dentro dos cursos para formação continuada, os professores tornam-se outra

vez alunos, assim caracterizados novamente como simples ouvintes, sendo completamente

ignorada, a necessidade de participação e contribuição desses profissionais, como expressa

Oliveira que também sugere que “É necessário que a formação do professor em serviço se

construa no cotidiano escolar de forma constante e contínua.”. (CUNHA & KRASILCHIK p.3 e 4)

Outro problema que merece atenção refere-se à formação de professores de

pedagogia, em que até poucos anos não se exigia de um professor nem o currículo, nem a

graduação. Criado em 1939, o curso de pedagogia sofreu modificação, em 1971 pela lei 5,

609, quase foi extinto em 1973 pelo Conselho Federal de Educação por intermédio do

Conselheiro Valmir Chagas, que foi impedido pelo MEC, o qual sofria repressão por parte dos

professores que se diziam despreparados para a função sem uma base teórica. De modo que

em 1980 houve a reforma do curso. Novamente no ano de 1990 o curso é reformulado,

“Buscar-se-á a superação da dicotomia entre teoria/pratica na construção da identidade do

educador através de um trabalho coletivo interdisciplinar, articulado com o principio da

gestão democrática.”. (MARQUES 2000, p.126).

Page 83: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

83

É necessária uma nova “reconstrução” do curso de pedagogia, que reformule não

somente as questões de melhora na competência dos professores, como também uma

recapitulação de toda a grade curricular disposta no curso para uma formação mais

aprofundada nos temas que serão abordados durante a vida profissional do sujeito. Mas uma

reforma de tal importância não deveria se focar apenas no curso de pedagogia em si, mas em

todas as áreas que se destinem a docência e a educação do próximo, pois se percebe

desfalques em todas as áreas educacionais.

O professorado, diante das novas realidades e da complexidade de saberes envolvidos presentemente na sua formação profissional, precisaria de formação teórica mais aprofundada, capacidade operativa nas exigências da profissão, propósitos éticos para lidar com a diversidade cultural e a diferença, além obviamente, da indispensável correção dos salários, nas condições de trabalho e de exercício profissional. (LIBÂNEO, 2003, p. 77)

Sabe-se da importância de uma drástica mudança nos parâmetros da educação e da formação

de professores, pois é desse modo que a educação, como um todo, se modificará. Pode-se verificar em

sala de aula que um professor melhor preparado pode conduzir a aula e obter melhores resultados

relacionados tanto com a aprendizagem do aluno quanto com a conquista do mesmo. Um aluno se

interessa mais em uma aula, como demonstra Cunha (1998), cujo professor se relaciona bem com a

turma, possui maior conhecimento sobre a sua área, que incite o aluno à participação em sala de aula,

o pensamento crítico e a pesquisa, como também que esse saiba como utilizar e conduzir aulas

práticas e expositivas para tornar o ensino mais agradável e interessante.

Portanto, seria necessário também que dentro dos cursos de formação de professores fossem

implantadas disciplinas que ensinassem e motivassem os profissionais a utilizarem aulas práticas, pois

essas são de suma importância para a qualidade do ensino. Vendo a realidade do que se aprende na

teoria a assimilação dos conteúdos é muito mais garantida. E sabemos que nas escolas, hoje, são raras

as realizações desse tipo de atividade.

Para a não utilização dessas aulas são dadas pelos professores as mais variadas desculpas: falta

de materiais, espaço físico e de verba, porém quando a escola possui alguns ou todos esses recursos o

discurso passa a ser a “falta de preparo”, pois esses não aprenderam como realizar atividades práticas

durante a vida acadêmica no curso de formação.

Em uma pesquisa realizada por Carrijo (1999), que questionava qual seria o professor ideal de

Ciências e qual seria o real, foi perguntado a professoras da disciplina, como elas aprendiam a serem

professoras, algumas responderam que seria na prática do dia-a-dia enquanto outras diziam que foi

pelos professores que tiveram enquanto suas vidas como alunas. Ou seja, os professores contribuem

Page 84: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

84

ativamente não apenas no aprendizado, mas também em futuras atitudes e podem influenciar nas

escolhas de seus alunos, e por esse motivo o professor deve ser preparado para alcançar as

expectativas e melhor contribuir na educação desses. “Entretanto, é certo que formação geral de

qualidade dos alunos depende de formação de qualidade dos professores” (LIBÂNEO, 2003, p.83).

As Aulas Práticas

Aula prática ao ver do professor é uma oportunidade de fazer algo diferenciado com as

turmas, em que pode ser mostrado algo além do que está escrito nos livros. Muitos

professores não sabem administrar uma aula prática por não ter segurança na matéria que

esta passando, porque não aprendeu a conduzir esse tipo de atividade na Universidade, ou

pela falta de incentivo por parte da escola que impõe algumas barreiras, e até mesmo, o

excesso de matérias para passar em um curto período de tempo, mesmo que os alunos não

tenham compreendido o que lhes foi passado, conforme Cunha (1995, p 66),

Os professores vivem num ambiente complexo onde participam de múltiplas interações sociais no seu dia-dia. São eles também frutos da realidade cotidiana das escolas, muitas vezes incapazes de fornecer uma visão crítica aos alunos, porque eles mesmos não têm, porque se debatem no espaço de ajustar seu papel á realidade imediata da escola, perdendo a dimensão social mais ampla da sociedade.

Precisamos nos perguntar por que nos tempos de hoje, em que o aluno esta cada vez

mais exigente, os professores não conseguem aplicar suas aulas de maneira menos livrescas.

Os alunos de hoje não se conformam em aprender somente aquilo que está disponível

nos livros didáticos, em olhar as figuras em um papel, eles querem ir mais além, saber o que

foi feito para chegar à conclusão que esta expressada no livro, segundo Carrijo (1999, p 65,66)

“O Aluno requer um professor de Ciências que tenha domínio do seu campo de conhecimento. Este conhecimento não é somente o conteúdo que está no livro didático; é também o que antecedeu aquele conteúdo e o atual. Para atingir esse objetivo, este professor precisa extrapolar o livro didático, procurando outras fontes que auxiliam o aluno a relacionar os conhecimentos produzidos pelas Ciências que constituem a disciplina Ciências”.

Neste casso ela fala sobre ciências, mas a aplicação de aulas diferenciadas se encaixa

em todas as disciplinas. Os alunos estão em uma era digital onde fica cada vez mais difícil

chamar atenção para os livros.

Page 85: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

85

Sabemos que além dos professores não terem uma formação desejável, quando

falamos em aulas práticas, muitos reclamam da faltada de espaço físico para aplicar essas

atividades, sem olhar para o quintal da escola e imaginar o que pode ser feito naquele local.

Como em uma horta, muitos professores veem aquele local somente para os alunos de

ciências e biologia. Mas precisamos de um matemático para medir a área, em português

poderia sair uma ótima redação sabre o que foi vivenciado naquele local assim como em artes,

geografia, química, física, toda a escola pode trabalhar naquele local, mas para isso é preciso

usar a imaginação;

A criança se expressa pelo trabalho manual. Este lhe dá a sensação de segurança e de afirmação. A criança através do trabalho manual se põe em contato com elementos da natureza (a matéria a ser trabalhada: a madeira, a terra, a água, as sementes) e encontra a experiência do engenheiro e também a do poeta, pois construiu e criou uma imagem (ALBORNOZ, 1969, p. 30).

Uma aula diferenciada marca as crianças de uma forma que os livros não conseguem,

essas aulas práticas ficam na memória como algo para se lembrar para sempre, seja pelas

descobertas, brincadeiras ou pelo fato de sair da sala de aula. A vivência dos alunos em

contato com a natureza contribui para prender a atenção ao o que está ocorrendo ao nosso

redor, eles conseguem ligar o que aprenderam em campo com aquilo que esta nos livros

didáticos, como Afirma Albornoz (1969, p. 26),

Mais vale fazer um passeio no bosque do que ler um livro inteiro de botânica, fechado no quarto rotineiro. No bosque, a natureza ensina sobre as plantas, e enquanto o físico se beneficia, a alma se alegra, e a imaginação e a memória se alimentam de instantes felizes. Mais valem as viagens do que as enciclopédias. A criança aprende mais e melhor vivenciando o ambiente. Vejam que persiste a crença de que aprender é importante, apenas se pensa que a forma de aprender deva ser mais viva e mais motivada, do que através da leitura.

Muitos professores não estão dispostos a alterar a forma que ensinam por

comodidade, eles passam a matéria da mesma forma como passavam há anos. Esses

professores veem essa forma de ensinar como uma regra, seja por gostar desse método, por

achar que como foi assim que se aprendeu a ser professor, é assim que deve ser ou por

simples comodidade, pois é mais fácil passar somente o conteúdo do livro didático, para não

ter que criar novos recursos. Porém outros professores estão sempre procurando atualizações

que nem sempre encontram disponíveis pelos órgãos responsáveis, e quando as encontram

Page 86: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

86

eles aprendem tudo menos como dar uma aula prática. Esses professores precisam buscar o

professor que está dentro dele para não desanimar, como Carrijo se expressa ao falar do

professor de ciências;

O professor de Ciências precisa ter coerência entre a sua experiência de vida, a sua concepção de educação e o seu ensino. Por isso, ele precisa estar sempre fazendo uma reflexão sobre as suas necessidades, para desenvolver um melhor ensino, as suas dificuldades, que o impedem de praticar este ensino, os seus sucessos, que se refletiriam na satisfação e na aprendizagem sua e na de seus alunos, e, por fim, as suas expectativas de um aprimoramento cada vez maior da sua prática educativa. Estas expectativas levá-lo-iam a uma realização profissional e pessoal que, consequentemente, iria repercutir nos interesses imediatos dos alunos. Assim, estas reflexões fá-lo-iam procurar alternativas que viessem efetivar o ato de seu ensino, fazendo com que a aprendizagem de seus alunos ocorresse como uma forma de prazer e não como uma imposição (CARRIJO, 1999, p. 78).

Os professores não têm segurança em aplicar uma aula prática sem o conhecimento

necessário. E muitos professores ainda encontram em sala de aula alunos com necessidades

especiais. Sem saber como agir com esses alunos, e tentando fazer o máximo possível para

passar o conteúdo de uma forma que todos consigam compreender, o que nem sempre é

alcançado, o professor torna-se vítima do despreparo. Essas e outras situações acabam por

gerar ainda mais insegurança a esses profissionais.

Os alunos estão cada vez mais exigentes e os professores buscam por sua conta se

especializar e ensinar da melhor forma possível, na sua maioria, mas as barreiras são muitas. O

excesso de informações dos alunos deixa certo receio nos professores. Mas o professor em

sala de aula é visto como um ser superior.

Outro aspecto que se entrelaça é a metodologia do professor. Um professor que acredita nas potencialidades do aluno, que está preocupado com sua aprendizagem e com o seu nível de satisfação com a mesma, exerce práticas de sala de aula de acordo com esta posição... O aluno valoriza o professor que é exigente, que cobra participação e tarefas. Ele percebe que esta é também uma forma de interesse se articulando com a prática cotidiana da sala de aula (CUNHA, 1995, p.71).

O aluno valoriza um professor que sabe se impor em sala de aula, que consegue

comandar a sua aula. Esse professor passa a ser um modelo para os alunos; no futuro, quando

chegar a hora de escolher uma profissão, a maioria dos estudantes de licenciatura visarão um

professor do colégio como exemplo a ser seguido, como confirma Carrijo (1999, p.74,75),

quanto à decisão desses estudantes em serem professores, há aqueles que veem o ensino

como transmissão de conhecimento; outros encontram no magistério uma oportunidade para

Page 87: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

87

adotarem uma postura diferente da de seus professores; outros, ainda afirmam que sua

decisão deve-se à própria valorização do magistério... Esses alunos manifestam o interesse

pela profissão escolhida ligando o fato ao gosto pela disciplina... ou ao professor de quem

mais gostam.

O uso de aulas práticas e o menor uso do livro didático não significam a exclusão total

do livro, mas sim a utilização do livro como base para as aulas dadas e não o uso do livro como

única forma e fonte de aplicação da matéria em sala de aula. O interesse é que as coisas

aconteçam da forma com que é expressa na citação seguinte;

Por exemplo: quando o professor for desenvolver um determinado conteúdo com os alunos, ele deve propor uma atividade fora da sala de aula, procurando fazê-lo observar tudo o que existe naquele local que esteja relacionado com a atividade proposta. Ele deve deixar claro também para o aluno que este é o seu mundo, que ele não ignore a razão e o porquê de determinados elementos, indivíduos, fatores se encontrarem em determinado local. Caso não seja possível levar o aluno para fora de sala de aula, que o professor procure fazer seus alunos relembrarem de situações por eles vivenciadas, partindo daí para fazer relações com o conteúdo da disciplina e buscando “transferir” o que está fora de sala de aula para dentro desta (CARRIJO, 1999, p.79.80).

Conclusão:

O objetivo do trabalho foi mostrar que a educação no Brasil necessita de uma reforma

drástica, que há anos não acontece, os problemas vem se acumulando com o passar dos anos.

Os problemas estão em todos os setores da educação, começando na formação dos

professores e se agravando em todos os processos seguintes. Muitos professores ganham o

espaço da sala de aula sem saber ao certo como lidar com seus alunos. De forma que alguns

projetos do CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - vem

tentando mudar essa realidade do professor formado que não sabe como funciona uma

escola ou de que forma deve agir com os alunos. Um desses projetos do CAPES é o PIBID -

Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, que fornece a oportunidade do

acadêmico aprender como é o funcionamento das escolas e qual a importância de um bom

professor, tentando minimizar as deficiências na formação do profissional docente.

Outros assuntos englobados pelo artigo são os problemas enfrentados pelos

professores em sala de aula que acabam trazendo o desgosto e desânimo por parte dos

professores, que por sua vez, contagiam a todos, incluindo os alunos. Muitos professores se

Page 88: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

88

sentem inseguros em suas aulas, pois não estão preparados ou mesmo motivados a enfrentar

as barreiras impostas no dia-a-dia, muitas delas já instaladas em sua formação.

O despreparo dos professores influencia na forma como eles aplicam suas aulas,

muitos professores atuam há anos, mas não encontram a sua disposição cursos que os

ajudem a aplicar suas aulas de forma que consiga chamar a atenção dos alunos que vivem em

um mundo digital no qual o livro didático e o quadro não trazem muito interesse.

Referências:

ALBORNOZ, S. Educação: reflexões e prática. São Paulo: Herder, 1969. 175 p.

FREITAS, H. A (nova) política de formação de professores: a prioridade postergada. Educ. Soc.

[online]. 2007, vol.28, n.100, pp. 1203-1230. ISSN 0101-7330. doi: 10.1590/S0101-

73302007000300026.

LIBÂNEO, J. Adeus professor, adeus professora?: novas exigências educacionais e profissão docente.

7. ed. São Paulo: Cortez, 2003. 104 p. (Questões da nossa época; 67) ISBN 85-249-0678-2

DOTTRENS, R. A crise da educação e seus remédios. Rio de Janeiro: Zahar, 1973. 232 p. (Biblioteca de

ciências da educação )

MARQUES, M. A formação do profissional da educação. 3. ed. Ijuí: UNIJUÍ, 2000. 236 p.

(Educação.13Deficiências) ISBN 85-7429-045-9

CARRIJO, I. Do professor “Ideal” ao professor possível/ Araraquara JM Editora, 1999. p. 122. CDD –

371.144

CUNHA, A. & KRASILCHIK, M. (2000) A formação continuada de professores de Ciências: percepções a partir de uma experiência. Ata da 23ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. Caxambu: ANPEd.

CUNHA, M. O bom professor e sua prática. 5. ed. Campinas: Papirus, 1995. 182 p.

Page 89: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

89

Desenvolvimento e Capacitação de Pessoas Erilene Luzia da Silva Almeida

14

Ilzelena Garcia de Oliveira 15

Marco Antonio dos Santos

16

Resumo: Este trabalho tem por finalidade analisar a importância do treinamento e a

capacitação de pessoas em uma empresa. O treinamento é um processo educacional que

possibilita o aprendizado contínuo, ajuda os colaboradores no desenvolvimento de suas

habilidades, melhora as atitudes dos mesmos perante determinadas situações, e desperta a

motivação, ou seja, o colaborador terá conhecimento, habilidade, atitude e motivação

suficiente para cumprir as atividades a que lhe foram atribuídas. Desse modo, a organização

estará auxiliando no desenvolvimento pessoal do colaborador e ainda obterá os resultados

almejados, tendo em vista que as atividades necessárias serão realizadas com êxito. Neste

estudo realizado na Empresa Grupo Odilon Santos, evidenciou-se que, para que o

treinamento traga os efeitos esperados é necessário que haja periodicidade, determinando

um intervalo mínimo entre dois destes processos de qualificação. Os treinamentos

ministrados atualmente são semestrais, uma periodicidade que pode causar perdas materiais

e de recursos humanos para a organização. O Grupo Odilon Santos ao contratar um novo

colaborador desenvolve um treinamento de integração para que o mesmo conheça a

organização, e no intuito de qualificar os colaboradores veteranos oferece qualificações

semestrais, portanto, fez-se necessário elaborar um Plano de Treinamento, definindo os

cursos que serão ministrados, conteúdos, métodos, recursos necessários, público-alvo, data,

hora e custos. Tal plano foi elaborado, por meio dos resultados obtidos na pesquisa de

necessidade de capacitação, realizada junto aos colaboradores da área administrativa da

organização. Os assuntos abordados foram estabelecidos de acordo com as sugestões e o

período de realização foi definido como bimestral, pois conforme análise do intervalo, este

tempo é o suficiente para que o colaborador esteja em constante transformação. A avaliação

será realizada ao término de cada treinamento, possibilitando mensurar se os objetivos estão

em conformidade com o planejamento.

Palavras-chave: Treinamento. Capacitação. Motivação. Planejamento.

14

Graduanda do oitavo período do Curso de Administração do UNICEB Interativo COC de Ribeirão Preto. 15

Graduanda do oitavo período do Curso de Administração do UNICEB Interativo COC de Ribeirão Preto. 16

Graduando do oitavo período do Curso de Administração do UNICEB Interativo COC de Ribeirão Preto.

Page 90: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

90

Introdução

Ações que permitam às pessoas desenvolver com qualidade e satisfação suas

atividades nas empresas em que trabalham, tornou-se uma necessidade na

contemporaneidade. As empresas vivem mudando seus modos de gerir pessoas, redefinindo

seus mercados e mudando suas estratégias, repensando suas estruturas. Para dar conta desse

mundo em constante mudança, precisam de pessoas motivadas, que possam alcançar o nível

de competência desejada.

No cenário em que estamos vivendo, altamente competitivo, o treinamento faz-se

necessário, pois além da necessidade de adaptarem-se as mudanças contínuas do mercado, as

organizações precisam requalificar os colaboradores que permanecem no seu quadro. O

conceito e a importância do treinamento nas organizações vêm sofrendo alterações com o

passar dos anos. As empresas consideravam o treinamento apenas como instrumento para

desenvolver a força de trabalho e adequar cada indivíduo ao cargo ocupado. Mas treinamento

não é apenas mostrar ao indivíduo o que deverá executar na posição em que se encontra e

sim gerar mudanças em seu comportamento, torná-lo mais qualificado, competente,

inovador, criativo e consequentemente mais produtivo no desempenho de suas atividades

diárias. De tal forma que esta mudança agregue valor ao indivíduo em suas atitudes, e à

organização, que passará a obter uma maior lucratividade e destaque no mercado, por

possuir profissionais altamente qualificados. Segundo Chiavenato (2000):

Treinamento é a experiência aprendida que produz uma mudança relativamente permanente em um indivíduo e que melhora sua capacidade de um cargo. O treinamento pode desenvolver uma mudança de habilidades, conhecimento, atitudes ou comportamento. Isto significa mudar aquilo que os empregados conhecem como eles trabalham suas atitudes frente ao seu trabalho ou suas interações com os colegas ou supervisor (CHIAVENATO, 2000, p. 295).

Nestes termos, o treinamento se faz inevitável no planejamento estratégico da

organização, pois ele responsabiliza-se pelo capital intelectual e enriquece o patrimônio

humano. O treinamento torna-se algo maior que apenas cursos, seminários e outras

atividades desenvolvidas externas ao negócio. É um projeto de renovação permanente da

empresa, pois nenhuma organização consegue manter um excelente nível de produção e

interação com o cliente, sem que haja em seu quadro, profissionais preparados e qualificados.

Page 91: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

91

O funcionamento da organização é como uma engrenagem, se todos estão no mesmo nível de

satisfação e interesse pelos assuntos relacionados à organização, com certeza a engrenagem

irá movimentar satisfatoriamente, no entanto, se um pino não estiver funcionando bem, todo

o processo irá parar, gerando custos, e erros no andamento do processo. O enfoque deste

trabalho será o Grupo Odilon Santos, uma empresa de sociedade limitada, que proporciona

vários treinamentos aos seus colaboradores. No entanto, o problema identificado neste

cenário é o longo intervalo de tempo de um treinamento para o outro na área administrativa,

ou seja, os treinamentos ocorrem semestralmente, podendo o colaborador neste intervalo de

tempo e acabar ficando desmotivado ou desatualizado com as informações que possam

ocorrer sem que lhe seja comunicado. O que será realizado está descrito posteriormente nos

objetivos específicos, o que acarretará em soluções estratégicas na área de treinamento

organizacional, corroborando para decisões gerenciais satisfatórias para com o corpo

empregatício.

Justifica-se a escolha deste tema, tendo em vista que, com a globalização, isto é, maior

integração entre os mercados produtores e consumidores de diversos países e o acirramento

da concorrência internacional, vivemos um processo acelerado de mudanças que é

diagnosticado a cada passo e que atinge todas as áreas da atividade humana. Como o

desenvolvimento humano constitui força vital para a realização dos objetivos da organização,

deve-se buscar não somente o aumento da produtividade, mas também proporcionar

satisfação ao profissional e uma qualidade de vida no trabalho. Faremos o nosso trabalho

baseado em dados coletados no Grupo Odilon Santos.

Identificação da Organização

Nome: Odilon Santos Administração e Participações Ltda.

CGC: 06.992.809/0001-23

Endereço: Avenida 24 de Outubro nº 3367, Setor Aeroviário, Goiânia – Goiás.

Ramo de Atividade: Holdings de Instituições não financeiras,

Número de Funcionários: 600

Missão: Criar e desenvolver negócios, produzir e comercializar bens e serviços, em

âmbito global, de modo a satisfazer à organização e aos clientes.

Page 92: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

92

Visão: Atender necessidades, satisfazer desejos, realizar sonhos.

Administração Geral

Administração consiste no processo de elaborar um planejamento e colocá-lo em

prática, mensurando o desenvolvimento deste processo, com ênfase também, no elemento

humano, fazendo com que os objetivos individuais dos colaboradores estejam

correlacionados com os objetivos da organização.

Para Chiavenato (2000, p. 07), administração é o processo de planejar, organizar,

dirigir e controlar o uso de recursos a fim de alcançar os objetivos.

Segundo Fayol (1994, p. 19), administração constitui fator de grande importância na

direção das empresas, sejam elas grandes ou pequenas, sejam industriais, comerciais,

políticas, religiosas ou de qualquer tipo.

De acordo com Barreto (1995, p. 09), a administração é de grande importância, pelo

fato de uma organização não sobreviver no mercado sem colocar em prática as funções

básicas do administrador, é necessário planejar, organizar, dirigir e controlar. O planejamento

é à base de qualquer organização, depois de colocado em prática o que foi estabelecido, é

necessário acompanhar constantemente o desenvolvimento, analisando se os objetivos estão

sendo alcançados de forma satisfatória.

Cultura e Clima Organizacional

Toda organização possui sua própria cultura coorporativa. Segundo Chiavenato (2000),

Cultura Organizacional é o conjunto de hábitos, crenças, valores e tradições, interações e

relacionamentos típicos de cada organização.

A cultura organizacional é um fator que diferencia as organizações, pelo fato de cada

uma mantê-la de acordo com seus valores. No entanto, em tempos de mudança é necessário

revê-la, pois algumas empresas mais flexíveis têm maior eficiência e eficácia no alcance de

seus objetivos e no desempenho de seus colaboradores. O clima organizacional está mais

ligado aos aspectos internos da organização, envolve a satisfação dos funcionários com

relação ao ambiente em que convivem diariamente.

Para Chiavenato (2000, p. 446) o clima organizacional constitui o meio interno ou a

atmosfera psicológica característica de casa organização. O clima organizacional está ligado à moral e a

Page 93: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

93

satisfação das necessidades dos participantes e pode ser saudável ou doente, pode ser quente ou frio,

negativo ou positivo, satisfatório ou insatisfatório.

O clima organizacional deve ser acompanhado constantemente, para que a qualquer

momento esteja propício à implantação de programas de melhorias, tendo em vista que, ele

está ligado diretamente à motivação. Nesse sentido, o treinamento se mostra como uma

forma saudável de manter a harmonia entre os colaboradores, gerando um clima agradável e

consequentemente o alcance dos objetivos pré-estabelecidos.

Administração de Recursos Humanos

A administração de Recursos Humanos é uma área que estuda o capital humano, no

intuito de valorizar as pessoas, pois elas desempenham um papel fundamental dentro da

organização e devem ser reconhecidas como seres humanos e parceiros da organização. E, é

por meio delas, que as empresas conseguem desenvolver e atingir os objetivos pré-

estabelecidos. Segundo Chiavenato (2000).

Administração de recursos humanos é o conjunto de políticas e práticas necessárias para conduzir os aspectos da posição gerencial relacionados com “as pessoas “ou recursos humanos, incluindo recrutamento , seleção, recompensas e avaliação de desempenho. (CHIAVENATO, 1999, p. 8).

Através da administração dos recursos humanos, é possível melhorar o

desenvolvimento dos colaboradores, pois nesta área existem várias ferramentas eficazes para

o aperfeiçoamento dos processos, tornando o colaborador mais integrado com o ambiente da

organização. Uma das ferramentas para tal é o treinamento.

Treinamento

A cada dia, nos deparamos com novas tecnologias, inovações em máquinas e

equipamentos, que acabam muitas vezes substituindo o ser humano. Muitas organizações da

atualidade procuram enfatizar o capital financeiro, em detrimento do capital humano. Nesse

sentido, se mostra necessário analisar o ser humano, não somente como um instrumento de

trabalho, mas também como um indivíduo racional, que possui inteligência, sentimentos e

capacidade de criação.

Page 94: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

94

Faz-se necessário assim, dar ênfase às pessoas , ensinando, capacitando e motivando,

por meio de treinamentos, para que além de realizarem o trabalho, também melhorem seus

comportamentos e relacionamentos. Nesse sentido, treinamento desenvolve as pessoas, mas

não somente para atingir economicamente os objetivos, também para o crescimento pessoal

e profissional, pois o indivíduo não deve apenas atingir o objetivo, deve ir além, fazer o

diferencial na organização, tornando-a o diferencial no mercado.

Para Chiavenato (2000 p. 497), treinamento é o processo educacional de curto prazo

aplicado de maneira sistemática e organizado, através do qual as pessoas aprendem

conhecimentos, atitudes e habilidades em função objetiva definidos.

Hoyler (1970, p. 148) considera treinamento como Investimento empresarial destinado a

capacitar uma equipe de trabalho e reduzir ou eliminar a diferença entre o atual desempenho e os

objetivos e realizações propostos. Neste sentido, o treinamento é um esforço dirigido no sentido de

equipe, com a finalidade de fazer a mesma atingir o mais economicamente possível os objetivos da

empresa.

Este deve desenvolver pessoas, não somente para atingir economicamente os

objetivos, mas também para crescimento pessoal e profissional. Barreto (1995) diz ainda que

treinamento é uma proposta de desenvolvimento profissional e pessoal, tendo em vista, o

desenvolvimento das pessoas e das empresas.

Analisando todos os conceitos entende-se que este é um processo de aprendizagem

contínua. Através dele desenvolvem-se profissionais qualificados tanto para desempenhar as

atribuições do cargo a que foi designado, como também no processo de inovação, ousadia,

habilidades e renovação constante da motivação.

O conteúdo do treinamento pode envolver várias mudanças de comportamento.

Chiavenato (2000) as classifica como transmissão de informações, desenvolvimento de

habilidades, modificação de atitudes e desenvolvimentos de conceitos.

O processo de treinamento tem vários objetivos, os principais são: transmitir

informações e desenvolver habilidades, preparando os colaboradores para execução das

atividades; gerar desenvolvimento pessoal contínuo, possibilitando oportunidades no cargo

atual ou para funções futuras que possam surgir; incentivar a mudança de atitudes dos

colaboradores, de forma a cultivar o clima organizacional saudável e aumentar a motivação.

(CARVALHO, 1993).

Page 95: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

95

Nesse processo é necessário levar em consideração os diferentes tipos, adaptar as

pessoas à organização, capacitar o colaborador para desempenhar de forma eficiente e eficaz

as atividades atribuídas ao cargo, trabalhar a emoção, motivando os colaboradores e

solucionando problemas de relacionamento.

Plano de Treinamento

Para elaborar o plano de treinamento foi realizada análise minuciosa do levantamento

das necessidades de treinamento, interpretando as necessidades existentes na empresa, no

intuito de definir com exatidão o que será abordado, é necessário a identificação dos pontos

a seguir:

Público-alvo

O público alvo foi definido de acordo com o assunto que será ministrado no

treinamento, tendo em vista, que cada treinamento se adéque às situações diferentes.

Objetivos

Definir o que almeja alcançar com o treinamento, quais as mudanças deseja gerar no

colaborador. Os objetivos refletem as mudanças econômicas, tecnológicas e sociais no

mercado onde a empresa atua, o plano deve ser flexível e atualizado.

Definição dos temas

Os temas foram definidos após uma pesquisa interna, onde foram detectadas

situações em que os colaboradores não dominavam totalmente. QUAIS ASPECTOS

FORAM PESQUISADOS? A PARTIR DE QUAIS TEORIAS?

As técnicas utilizadas no treinamento serão

Reunião e debates; demonstração; dramatização; brainstorming; estudo de caso;

painel; simpósios.

Métodos:

Treinamento individual; treinamento no próprio serviço; rodízio de funções; instrução

programada e método expositivo.

Vantagens

Page 96: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

96

O processo de treinamento ao ser implantado com êxito traz várias vantagens para a

organização, porque proporciona a análise das necessidades de treinamento em toda

organização, envolvendo todos os setores e busca definir as prioridades de formação, de

acordo com os objetivos de cada setor.

Oferece ainda, vários tipos de aplicação para o desenvolvimento pessoal, analisando a

viabilidade, vantagens, custos e outros fatores, formula planos de capacitação profissional a

curto, médio e longos prazos, tendo em vista as metas globais da organização.

Processo de Treinamento

As etapas principais nesse processo serão apresentadas a seguir, correspondem ao

levantamento das necessidades de treinamento, além de seu planejamento, execução e

avaliação dos resultados (CHIAVENATO, 2000)

Levantamento de Necessidades

O levantamento de necessidades é a primeira etapa do processo, pois é através dele

que será identificada a situação atual da organização, se há carência, onde ela está inserida e

o que poderá ser abordado para solucionar os processos falhos e melhorar os que já estão em

conformidade. Para tal, são necessários três níveis de análise: (GIL 1994)

a) Análise organizacional que é feita na organização como um todo, missão, objetivos,

produtos, serviços, tecnologias, clima organizacional, recursos, distribuição de recursos, enfim

todos os processos que compõem a organização. Por meio dessa análise é possível identificar

como ocorre o crescimento da empresa, a que se deve este crescimento e quais fatores estão

dificultando-o. Desse modo o treinamento é feito de acordo com as necessidades da

organização e à medida que a mesma muda suas necessidades, o treinamento muda também

o foco para atender a nova necessidade.

b) Análise dos recursos humanos, por meio dessa análise é possível verificar se as pessoas

existentes são suficientes qualitativamente e quantitativamente para as atividades atuais e

futuras da organização. São verificadas se as habilidades, os conhecimentos e as atitudes que

os indivíduos possuem estão compatíveis com as exigências para a execução do trabalho e o

Page 97: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

97

alcance dos objetivos da organização e, se através do treinamento é capaz de mudar e se

adequar, ou se há a necessidade de ser substituído.

c) Análise das tarefas consiste em analisar quais comportamentos, habilidades e

conhecimentos são necessários para a execução das tarefas dentro dos padrões estabelecidos

pela organização, e identificar se os indivíduos possuem tais exigências. Verifica-se se há

necessidade de treinamento, e se os colaboradores atendem aos requisitos e habilidades que

são exigidos pelo cargo ocupado.

De acordo com Chiavenato (2000), existem meios de levantamento de necessidades

de treinamento, são eles: avaliação do desempenho, solicitação de supervisores e gerentes,

reuniões interdepartamentais, exame de empregados, modificação do trabalho, entrevista de

saída, relatórios periódicos.

Planejamento

Após o levantamento das necessidades de treinamento, inicia-se o planejamento do

mesmo.

Para Chiavenato (2000, p. 508), é necessário buscar respostas para as seguintes

questões:

O que deve ser ensinado? Quem deve aprender? Quando deve ser ensinado? Onde deve ser ensinado? Como se deve ensinar? Quem deve ensinar?

O plano de treinamento deve ser elaborado depois de uma análise minuciosa das

necessidades da empresa, para definir com exatidão o que será abordado, identificando os

pontos a seguir: público alvo, objetivos, definição dos temas, métodos e técnicas, método de

treinamento em grupo e individual.

São várias técnicas utilizadas no treinamento. Entre elas: Reunião de debates,

demonstração, dramatização, brainstorming, estudo do caso, painel, simpósio. E para o

treinamento individual: no próprio serviço, rodízio de funções, instrução programada, além

das modalidades à distância.

Page 98: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

98

Execução

Esta etapa do processo implica em se voltar para a função do instrutor nesse processo,

tanto os instrutores como os treinandos podem ser pessoas de qualquer nível hierárquico da

organização, desde que o instrutor tenha o conhecimento necessário para abordagem do

assunto.

Para executar o treinamento, devem-se analisar alguns fatores (CHIAVENATO, 2000),

entre eles adequação do plano às necessidades da organização, a qualidade do material

utilizado, a cooperação dos gerentes da empresa, a qualidade e preparo dos instrutores, a

qualidade dos treinandos. Também é necessário fazer a avaliação dos resultados, para

verificar se os objetivos definidos foram alcançados, fazendo uma comparação entre as

características de antes, durante e depois de sua execução. Essas avaliações devem ser feitas

em três níveis: avaliação de reações, avaliação de aprendizagem e comportamento no cargo.

Por meio de amostragens das atividades e entrevistas e questionários. Após a aplicação do

treinamento, é necessário avaliar também o “custo x benefício” da atividade de capacitação

profissional. É necessário mensurar quais foram os custos por pessoa que foi treinado e o que

o aprendizado trouxe ao colaborador em termos de melhorias para a organização.

Plano de Treinamento

O plano foi formulado com base na pesquisa das necessidades dos colaboradores da

organização ao realizar atividades que agreguem valor ao capital humano, com reflexo no

desempenho da execução das tarefas, observando os seguintes conteúdos: relacionamento

interpessoal, onde as pessoas sentem a necessidade de aperfeiçoar o relacionamento entre as

pessoas envolvidas na organização, pois se não há integração, o trabalho poderá não ter

resultados satisfatórios (BARRETO, 1995, p.35)

Serão ministrados na empresa, treinamentos técnicos, onde os gerentes de área

ficarão responsáveis em definir quando ocorrerá e qual será o assunto, pois os mesmos

informaram que não há possibilidade de prevê-los, pelo fato de serem de atualização,

devendo assim, só ocorrer quando houver alguma mudança que precisa ser adaptada à

organização.

Page 99: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

99

Conclusão:

Espera-se que esse artigo venha contribuir para que no futuro alguém tenha

necessidade de pesquisar sobre o assunto, pois treinamento é algo que deve gerar

aprendizado contínuo, portanto, ele deve estar em constante renovação, ocorrendo num

intervalo mínimo de tempo. O Grupo Odilon Santos possui uma cultura organizacional

inovadora e prima pela excelência nos resultados, portanto ele investe em treinamentos,

podendo ser considerada como uma Leanerning Organization. No entanto, o problema

identificado no Grupo Odilon Santos, é o longo intervalo de tempo de um treinamento para o

outro, fato esse que pode afetar o desempenho do colaborador, pois é através do

treinamento que ocorrem as mudanças de comportamento, habilidades e atitudes. Quando o

indivíduo só recebe treinamento semestralmente, a aprendizagem dos conteúdos se torna

defasada, podendo gerar inclusive desmotivação, fator determinante para o andamento das

atividades, pois se um colaborador está desmotivado, normalmente não se preocupa em

realizar o trabalho com zelo e agilidade.

Para adotar medidas cabíveis na solução deste problema, foi realizada pesquisa para

identificar o grau de satisfação dos colaboradores, com relação aos fatores: treinamentos

realizados atualmente, como a pessoa se sente quando é comunicada que irá participar de um

treinamento, técnicas utilizadas, instrutores que ministram o treinamento, o setor de

treinamento, recursos utilizados, assunto ministrado, número de treinamentos oferecidos

anualmente e treinamentos técnicos dentro do setor.

Foi solicitada sugestão para treinamentos futuros e ainda realizada uma entrevista

com os gerentes de cada área, solicitando sugestões para treinamentos técnicos,

treinamentos estes que em algumas áreas não ocorrem atualmente pesquisa foi aplicada

utilizando uma amostragem de 38 (trinta e oito) pessoas. A população correspondente a 250

pessoas, sendo 50 pessoas da área administrativa e os demais das áreas operacionais da

Organização. No entanto, o foco foi somente na área administrativa, pelo fato da carência

localizada ser nesse segmento. Foi elaborado um questionário (Apêndice A) composto de 9

perguntas fechadas, sendo as alternativas: muito satisfeito, satisfeito, insatisfeito e muito

insatisfeito e 01 (uma) pergunta aberta solicitando sugestões para treinamentos futuros. Foi

realizada também uma entrevista informal com os gerentes de cada área, sendo

Page 100: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

100

questionamento sugestões para treinamentos técnicos, tendo em vista, que estes têm

conhecimento de quais são as necessidades de sua equipe e quais são os assuntos abordados

no departamento em que atua. Fizemos ainda, uma pesquisa de satisfação interna na área

administrativa do Grupo Odilon Santos. Antes da aplicação foi explicado aos colaboradores

qual o propósito da pesquisa, que o preenchimento seria opcional e que teriam a garantia do

anonimato e do sigilo de suas respostas. O resultado das entrevistas foi: satisfação em

relação ao treinamento realizado atualmente: 23,68% muito satisfeitos, 63,43% satisfeitos,

5,26% insatisfeitos, 2,63% muitos insatisfeitos. Sentimento quando irá participar de um

treinamento: 50% ficam muito satisfeitos, 42,11% ficam satisfeitos, 7,89% ficam insatisfeitos,

e nenhum colaborador fica insatisfeitos. Satisfação com relação às técnicas utilizadas: 26,32%

muito satisfeitos, 60,52% satisfeitos, 10,53% insatisfeitos, 2,63% muitos insatisfeitos.

Satisfação com os instrutores: 36,84% muito satisfeitos, 55,27% satisfeitos, 5,26%

insatisfeitos, 2,63% muito insatisfeitos. Satisfação com relação ao setor de treinamento:

31,58% muito satisfeitos, 60,53% satisfeitos, 5,26% insatisfeitos, 2,63% muito insatisfeitos.

Satisfação quanto aos recursos utilizados nos treinamentos: 21,05% estão muito satisfeitos,

71, 06% satisfeitos, 5,26% insatisfeitos, 2,63% muito insatisfeitos. Satisfação quanto aos

assuntos ministrados nos treinamentos: 26,32% muito satisfeitos, 68,42% satisfeitos, 2,63%

insatisfeitos, 2,63% muito insatisfeitos. Satisfação com relação à quantidade de treinamentos

realizados anualmente: 5,26% muito satisfeitos, 39,47% satisfeitos, 50,01% insatisfeitos,

5,26% muito insatisfeitos. Satisfação com relação aos treinamentos de capacitação: 18,42%

muito satisfeitos, 34,21% satisfeitos, 44,74% insatisfeitos, 2,63% muito insatisfeitos.

Através da análise dos dados, elaborou-se um plano de treinamento para o segundo

semestre de 2010 e primeiro semestre de 2011, focando os temas sugeridos pelos

colaboradores, onde os treinamentos comportamentais ocorrerão bimestralmente e os

técnicos, de acordo as atualizações ocorridas no contexto de cada departamento, designando-

se os gerentes e encarregados de solicitar junto ao setor de treinamento a busca de locais

adequados e mensurar os custos. Os temas sugeridos para treinamentos foram:

Relacionamento Interpessoal, Comunicação Eficaz, Excelência no trabalho em Equipe,

Cooperação Interpessoal, Administração do tempo, Administração de Conflitos

Page 101: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

101

Por meio da avaliação realizada ao fim de cada treinamento, será possível analisar se

estes estão gerando resultados desejáveis, tanto relacionados aos indivíduos, quanto à

organização.

Enfim, a utilização do plano de treinamento bem elaborado é capaz de determinar de

forma organizada os rumos do pensamento sistêmico da organização, de forma a capacitar os

talentos existentes na organização, maximizando o potencial intelectual da mesma, onde

existirão pessoas habilidosas capazes de levar adiante as metas organizacionais estabelecidas.

Referências

BARRETO, Y. Como treinar sua equipe. Rio de Janeiro. Qualitymark, 1995.

CARVALHO, A. Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Pioneira, 1993.

CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

FAYOL, Henry. Administração Industrial e Geral: Previsão, Organização, Comando, Coordenação e

Controle. São Paulo: Atlas, 1994.

GIL, Antonio Carlos. Administração de Recursos Humanos: Um enfoque profissional. São Paulo: Atlas,

1994.

HOYLER, S. Manual de Relações Industriais. São Paulo: Pioneira, 1970.

Page 102: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

102

Itapirapuã-GO: A Memória do cotidiano de uma geração que fotografava Celiana Leite de Sousa Pacheco Saad17

Resumo: Este estudo tem a intenção de valorizar a narrativa dos que já foram considerados

“dispensáveis” para a narrativa histórica. No caso, o cotidiano de pessoas anônimas. E aqui se faz

referências aos pioneiros da cidade de Itapirapuã-GO, e por meio deles se intentou compreender

questões morais e culturais do Brasil na década de 1950. Para essa ação, se fez uso das memórias, da

oralidade e de documentos iconográficos. A análise do cotidiano percorreu vários aspectos sociais,

como: trabalho, política, religiosidade, dentre outros. O resultado foi à confirmação da importância do

estudo das minorias, a fim de tomar conhecimento de mais uma parcela de fatos ligados às várias

culturas existentes no Brasil contemporâneo.

Palavras-chave: Memória. Cotidiano. Fotografias.

Introdução:

O ato de relembrar é um dos mais frequentes entre os seres humanos e, assim como

estes, é sensível e instável; porém, é a partir daí que se cria o paradoxo, pois provém dela a

possibilidade de imortalidade humana. Dar voz a esse passado, através da história oral, é de

certa forma revivê-lo, não como ele exatamente foi, mas como ele existe ainda dentro do

imaginário de cada indivíduo. Eis aqui, toda a “magia” da memória, poder buscar dentro das

recordações das pessoas as suas versões da história e a partir daí, tomar conhecimento de

como é vasto o campo da narrativa historiográfica. Pois dessa forma, há a possibilidade de

encontrarmos gênero, misticismo, heroísmo, todos intrinsecamente ligados a um mesmo fato

histórico.

A partir de então, pode-se assim exercer o ofício do historiador que é tomar conhecimento das

várias vertentes históricas, porém, não cabe a esse, eleger uma como verdade ou equívoco, mas sim

dar-lhes a importância que merecem. Como argumenta Benjamin (1994, p. 219), “todas as maneiras

com que uma história pode ser narrada se estratificam como se fossem variações de uma mesma cor”.

E a história oral, dentro do campo da historiografia, traz consigo a tentativa de apoderar-se de

detalhes omitidos, visto que “a razão dela surgir, foi primeiro essa, cobrir aspectos da história que as

fontes escritas, por uma série de razões de seletividade, inclusive políticas, não cobriram”.18

17

Graduando do quarto ano do curso de história da Universidade Estadual de Goiás – UnU Goiás. Professora indicadora Keley Cristina Carneiro do curso de História da UEG Unidade de Goiás 18 Trecho de uma palestra ministrada pelo professor Ciro Flamarion Cardoso na cidade de Anápolis-Go - em 21/08/2010.

Page 103: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

103

Porém, a problemática sobre a utilização da memória como fonte histórica, a partir da

narrativa oral, se dá no momento em que não serão pesquisadas em arquivos, documentos, ou

artefatos, mas a partir de discussões diretamente efetuadas com outros seres humanos, que em

muitos momentos parecem demonstrar sentimentos e interesses. E no momento em que surge o

interesse em conhecer essas particularidades da vida de uma pessoa, quem as conta se torna,

[...] figura entre os mestres e os sábios. Ele sabe dar conselhos: não para alguns casos, como o prevérbio, mas para muitos casos, como o sábio. Pois pode recorrer ao acervo de toda uma vida (uma vida que não inclui somente a própria experiência, mas em grande parte a experiência alheia. O narrador assimila a sua substancia mais intima aquilo que sabe por ouvir dizer). Seu dom é poder contar sua vida; sua dignidade é contá-la inteira. O narrador é o homem que poderia deixar a luz tênue da narração consumir completamente a luz da sua vida. [...]. O narrador é a figura na qual o justo se encontra consigo mesmo. (BENJAMIN, 1994, p.221).

Sendo assim, “a memória social tem aspectos inventados ao lado de aspectos existentes de

alguma maneira selecionados. Isso é sempre assim e não pode deixar de ser assim”19. Essas “memórias

inventadas” são uma constante, lembrando que isso não desvaloriza seu papel como fonte histórica,

sendo que as críticas levantadas para sua análise não são diferentes em relação às fontes tradicionais

(escritas), pois não se deve deixar de considerar que ambas são representações do passado e,

portanto, devem ser igualmente analisadas a partir de regras metodológicas pré-estabelecidas.

Pollak (1989) argumenta, em relação a essa manipulação da memória, que, às vezes, as

pessoas optam por omitir suas recordações por não quererem que seus filhos sofram com as “feridas

dos pais” ou para seus sucessores não tomarem conhecimento de algo que possa vir a envergonhá-los

perante o meio em que vivem. E a partir disso, com a intenção de “encobrir” algum fato passado

desagradável para uma pessoa ou um grupo, podem surgir discursos meramente convenientes ao que

se deseja ouvir. Entretanto,

A função da lembrança é conservar o passado do indivíduo na forma que é mais

apropriada a ele, o material é descartado, o desagradável alterado, o pouco claro, o

confuso simplifica-se por uma delimitação nítida, o trivial é elevado à hierarquia do

insólito; e no fim formou-se um quadro total, novo, sem o menor desejo consciente

de falsificá-lo. (BOSI, 1994, p. 68).

Ainda conforme Meneses (1992, p.16), a memória é também dependente de mecanismos de

seleção e descarte. Ela pode assim, ser vista como um sistema de “esquecimento programado”. Sobre

isso, alguns idosos ao serem instigados sobre doenças graves preferem mudar de assunto, e se

19 Trecho de uma palestra ministrada pelo professor Ciro Flamarion Cardoso na cidade de Anápolis-Go - em

21/08/2010.

Page 104: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

104

decidem falar sobre, não citam o nome da doença, se referindo apenas como “aquela doença ruim”. O

mesmo pode acontecer em relação a vários assuntos como: sexualidade, política e religião.

A ênfase é dada também ao que Halbwachs denomina de “memória quase que herdada”, ou

seja, as lembranças dos filhos dos fundadores de Itapirapuã, das histórias contadas pelos pais sobre os

primeiros anos do povoado, onde podem ser unidos o real e o imaginário, pois os filhos podem

confundir as histórias desses com as suas e como defende o autor mencionado:

Um homem, para evocar seu próprio passado, tem frequentemente necessidade de fazer apelo às lembranças dos outros. Ele se reporta a pontos de referência que existem fora dele, e que são fixados pela sociedade. Mas ainda, o funcionamento da memória individual não é possível sem esses instrumentos que são as palavras e as idéias, que o indivíduo não inventou e que emprestou de seu meio. (HALBWACHS, 2004, p.58).

Daí se destaca as relações familiares, o que vai além da proposta desta pesquisa, mas que a

completa, dando-lhe um sentido mais amplo em relação ao seu papel social, no âmbito em que reforça

a “humanidade” das pessoas entrevistadas, tornando suas histórias mais do que objeto de estudo, em

lições de vida para as futuras gerações. Nesse contexto, explica-se a primordial importância da

memória coletiva que influencia de forma determinante a memória individual. Inclusive, Halbwachs vai

além ao afirmar que,

Cada memória individual é um ponto de vista sobre memória coletiva... e este ponto de vista muda conforme o lugar que ali ocupo ...e que este mesmo lugar muda segundo as relações que mantenho com outros meio. (HALBWACHS, 1990, p. 51)

E ainda nesse sentido, conclui-se que só se pode entender uma nação, uma cidade e até

mesmo um indivíduo, ao conhecer suas raízes e poder encontrar as respostas dos inúmeros “porquês”

que envolvem todos os seres humanos. Todavia, apesar de várias pessoas aderirem uma mesma

cultura, um mesmo ideal, as causas para essa adesão são particulares, variando entre opção e

imposição e através das entrevistas há a possibilidade de esmiuçar essas respostas por seus próprios

adeptos, contando com seus discursos. Notando que por se tratar de uma cidade pequena, se torna

mais nítido a forma com que constantemente essas lembranças se chocam e, de alguma forma, estão

sempre interligadas, pois,

Embora seja fácil ser esquecido e passar despercebido dentro de uma grande cidade, aos habitantes de um pequeno vilarejo não param de se observar mutuamente, e a memória de seu grupo registra fielmente tudo aquilo que pode dizer respeito aos acontecimentos e gestos de cada um deles, porque repercutem sobre essa pequena sociedade e contribuem para modificá-la. Dentro de tais meios, todos os indivíduos pensam e se recordam em comum. Cada um sem dúvida, tem uma perspectiva, mas em relação e correspondência tão estreitas com aqueles outros que suas lembranças

Page 105: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

105

se deformam, basta que ele coloque do ponto de vista dos outros para retificá-las. (HALBWACHS, 2004, p. 84)

Sendo que a comunicação não se restringe à linguagem falada, mas também, à linguagem

corporal, aos gestos, às expressões faciais, e a uma infinidade de símbolos e signos que a compõem.

Partindo dessa perspectiva, deve-se voltar à atenção para a necessidade de especificar quem

são esses narradores que fazem das histórias de suas vidas objetos do presente estudo, se tratando de

pessoas idosas, que de fato estavam presentes nos anos iniciais da fundação do então vilarejo de

Itapirapuã, que de alguma forma contribuíram para o progresso do município e que hoje podem então

narrar essas experiências. E com isso, possa ser reconhecido o real valor dessas pessoas que, na

maioria das vezes, por falta de conhecimento, acabam tendo seus feitos passados por despercebidos

diante dos habitantes de Itapirapuã e até mesmo de sua própria família.

As várias “versões” da história: Goiás e Itapirapuã

Itapirapuã começa a se organizar como futura cidade no ano 1930, em meio à marcha para o

Oeste e a construção de Goiânia. Nesse período, o Centro Oeste, que vivia o que muitos chamam de

marasmo econômico (CHAUL, 1997), se torna atrativo e entre essas cidades surge Itapirapuã. Com seu

surgimento, vinculado à construção da estação telegráfica que ligava Minas Gerais a Mato Grosso, por

volta de 1891, e que Saad (1978, p.57) descreve que “existia como um aglomerado de ranchos,

distantes, ligados por trilhas através da mataria e seus habitantes viviam em estado primitivo”.

Com o passar dos anos, em 1929, constrói-se a primeira igreja local, em 1943 a primeira escola

e em 1952 é feito o loteamento urbano do povoado de Itapirapuã, e Saad (1978, p.81) acrescenta que,

“o povoado cresce, as terras valorizam-se, a agricultura desenvolve-se e a criação de gado floresce nas

ricas pastagens das terras de cultura que circundam a região”. O vilarejo de Itapirapuã agora inicia sua

trajetória para tornar-se uma cidade, e aos poucos tem seus ranchos de pau a pique substituídos por

casas mais modernas.

E na cidade, encontram-se pessoas de diferentes lugares, vindos de Minas Gerais, São Paulo e

da Cidade de Goiás; as histórias se cruzam entre os anos de 1950 e 1953, anos em que os pioneiros

itapirapuenses entrevistados chegaram ao vilarejo de Itapirapuã. O motivo que os trouxe é comum a

todos, a procura por trabalho. O apreço pela cidade, mesmo sem ser natural dela, é evidente nas

palavras do senhor Francisco ao dizer que “não nasci aqui, mas amo essa cidade e sinto como se

tivesse nascido aqui” 20 e também, nas palavras de Dona Margarida:

20 Senhor Francisco Batista da Silva. 08/10/2010.

Page 106: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

106

Eu vou falar que quando eu mudei pra qui eu não achei ruim, eu achei bom ter mudado pra cá [...] Gostava e gosto até hoje. Eu sofri muito com mudança, sabe? Mudei demais. E a última mudança foi pra qui. Aí, chegou aqui eu falei: Oh! Daqui eu não vou mudar mais. Aí, nós comprou uma chácara e tô ai até hoje. Agora eu vivo sozinha. Ta bom assim mesmo. Eu gosto é daqui!

21

Foto 07: A imagem da cidade de Itapirapuã na década de 1950

Fonte: Arquivo pessoal da família “Souza Caldas”22

A foto retrata o vilarejo de Itapirapuã em 1952, assim como descrevem os pioneiros,

poucas casas, e dessas poucas a maioria de pau a pique. As pessoas vivendo de forma simples,

sem luxo, travando uma luta diária pela sobrevivência.

Era difícil demais. A gente chegou não achou casa pra alugar, tudo tão difícil a gente tava com duas crianças pequenas. Aí a gente despejou a mudança, sabe ali na Palmeira [..] no meio daquela estrada colocou a nossa mudança lá, né. Não arrumou nem rancho e nada [..] colocaram a mudança, nossa mudança e a do meu irmão e fizemos a casa com a mudança [...] aí cercou e acabou de cercar com folha de bacuri. Aí eles pegaram a roça ali do outro lado da Palmeira, eles foram dirrubá. Era um matão mesmo, aí eles foram dirrubá esse mato, queimá, pra depois tira a madeira pra fazer os rancho ne? Aí nós ficou lá nesse lugar

23.

O trabalho era basicamente a agricultura de subsistência e o que, porventura

excedesse ao consumo da família, era comercializado no próprio vilarejo. Pois, devido às 21 Dona Margarida Porto. 07/10/2010

22 A família Souza Caldas é uma das pioneiras de Itapirapuã.

23 Dona Maria Regina Cançado. (07/10/2010)

Page 107: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

107

péssimas condições das estradas que davam acesso às cidades vizinhas, Itapirapuã era

praticamente isolada das demais cidades.

No vilarejo não havia atendimento médico e nem ao menos hospital, o que fazia com

que as pessoas se apegassem a superstições e simpatias. Entretanto, muitas vezes essas não

eram suficientes e as pessoas vinham a óbito por doenças que, mesmo naquela época, se

recebido o devido tratamento eram curáveis, como gripe, maleita e febre. A foto abaixo,

segundo dona Maria da Silva, é do velório de uma criança, filha de uma família vizinha, vítima

de sarampo.

Foto 08: Velório de uma criança vítima de sarampo

Fonte: Arquivo pessoal da dona Maria Alves da Silva

As fotografias de velório eram constantes, pois o ato de fotografar se restringia ao

registro dos ditos “ritos de passagem” da vida do indivíduo. Por isso, é comum que ao se

procurar fotos antigas, as mais encontradas são as fotos de batizado, casamento e morte. Na

fotografia acima, pode-se observar a intenção dos pais em guardar uma recordação dos filhos

juntos, mesmo que um esteja morto. Essas fotografias eram tiradas e, às vezes, enviadas a

parentes distantes com dedicatórias dizendo: “recordação do falecimento de...” Esse ato de

relembrar a morte através de fotografias ainda existe, porém, utiliza-se para isso, uma

fotografia da pessoa ainda em vida, com alguma frase, geralmente bíblica e com a data de

nascimento e morte da pessoa falecida.

Page 108: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

108

Ao morrer alguém em Itapirapuã, por ser um vilarejo com poucos habitantes onde

todos se conheciam, a comoção se generalizava. Dona Maria Cançado descreve como era o

ritual de velório naqueles tempos:

Aqui não tinha esse negócio de caixão, quando morria, que ia fazer o caixão e as roupas. Eu mesmo costurava muito quando morria gente, quase toda pessoa que morria aqui, eu costurava a roupa deles. [...] de criança eu costurava as roupinhas, fazia coroa pra por na cabecinha deles

24.

Foto 09: Costureira/mãe

Fonte: Arquivo pessoal da Dona Margarida Porto

Ao ouvir as narrativas das pioneiras a respeito da vida das mulheres no passado, o

desabafo veio à tona. E essas relataram a submissão imposta às mulheres durante toda a vida,

desde antes do casamento, tendo em vista que “*...+ nessa época as moças mais casavam,

fazendo os gostos dos pais”25. Afirmação que vem corroborar com o testemunho de Dona

Maria Alves da Silva ao dizer que:

Eu casei com esse meu marido, mas eu também não queria não. Eu não casei. Aí, eu fui pra igreja, aí o padre procurou eu: é de gosto casar com Joaquim Marciano? Eu baixei a cabeça... Eu tô procurando você fia se é de gosto casar com Joaquim Marciano da Silva... eu baixei a cabeça. Ele falou assim: cadê sua testemunha, ta ali... Aí chamou ele e falou: ocê pega a menina e leva e entrega pra mãe que ela não quer casar! [...] Aí ele chamou o homem que eu casei com ele, eu nem não chamo ele de esposo porque eu não gostava dele de jeito nenhum sofri demais 25 anos com ele.

24 Dona Maria Regina Cançado. 07/10/2010

25 Dona Margarida Porto. 07/10/20010

Page 109: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

109

[...] É porque eu fui criada na roça, era muito vergonhosa, muito oprimida, então eu tava com vergonha. Aí o padre fez o casamento, mas eu não dei o sim.

26

Era comum que os pais escolhessem os namorados e maridos para as filhas. Os

namoros duravam o tempo necessário para organizar os preparativos do casamento.

Foto 10: Noivos no ano de 1951

Fonte: Arquivo pessoal da Dona Maria Alves Cançado

Após o casamento, a mulher tinha o papel de servir seu esposo e cuidar da casa e dos

filhos. Dona Maria Cançado afirma que “era mesma coisa de escrava, minha fia *...+ Não saia

de casa, a gente não saia não, marido é que saia. E o meu era assim, se fosse em festa ele ia,

mas nós não. Então não tinha esse negócio, hoje, a vida dôceis é o céu”27. Dona Maria da Silva

descreve a seguir seu drama cotidiano no casamento e qual era o papel de uma mulher na

década de 1950 em sua concepção:

Era muito sofrido, né. Elas não tinha direito de reclamar nada. Tivesse bom, tivesse ruim, tinha que ficar calada. Os homens batia muito nas muié [...] Era ser mãe, zelar do marido no tempo e a hora, não podia fartá. O meu era assim [...] quando ele chegava, se o cumê tivesse quente lá na panela, se tivesse quente ele dava certo, mas se não achasse ele quentim ele pegava as panelas e jogava fora, pegava as vasia

26 Dona Maria Alves da Silva 07/10/2010

27 Dona Maria Regina Cansado 07/10/2010

Page 110: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

110

da partilera e jogava tudo fora. Aí eu tinha uma irmã que eu criei, acabei de criar e ela ia catar os trem lá no terreiro e trazer pra dentro. Eu não trazia não, ficava desgostosa demais, largava pra lá [...] Tinha que fazer outra comida. Se ele chegasse e eu tivesse fazendo o cume, porque eu ficava levando no ponto, pra ele chegar e achar o cume quentim, né, pra não brigá, ele jogava água dentro da fornaia, a brasa saia tudo pra trás, ele pegava as panela e jogava no terreiro.

28

Entretanto, as celebrações de casamentos e noivados eram motivo de muito orgulho

para os pais, e de grandes festas. Eram celebrados em Itapirapuã de uma forma bastante

peculiar, como descreve Dona Margarida: “fazia um noivado de a cavalo e fazia janta [...]

vinha da roça montado de a cavalo, se casava aí voltava pra casa [...] tinha janta, aí acabava a

janta o povo ia dançar até o dia amanhecer”29. A foto 11 registra um desses noivados, estando

a noiva ao centro e as irmãs ao lado, e a foto 12 é o registro de um casamento religioso no

ano de 1955, podendo observar a igreja da Praça da Matriz em reforma.

Além das festas de casamentos, as festas religiosas também causavam grande

alvoroço na cidade, pois os moradores das fazendas vizinhas vinham, em peso, participar das

celebrações. Considerando que o principal símbolo de fundação de uma cidade é a construção

de uma igreja, simbolismo esse herdado dos colonizadores Europeus, a construção da igreja

católica se dá ainda com a instalação das primeiras famílias no local. De início bem pequena, e

somente no ano de 1952 a igreja católica foi ampliada e como em todas as cidades, era

localizada e localiza-se ainda no centro da cidade, fato esse que tem toda uma simbologia,

que remete, dentre outras coisas, a igreja como sendo o centro das relações sociais.

Em contrapartida, após o ano de 1958, funda-se a primeira igreja protestante na cidade, a

Igreja Assembleia de Deus, e ao que se refere Saad (1978) “há uma evasão de adeptos da igreja

católica, que abraça a nova religião” e dona Margarida acrescenta que “a gente separava eles pela

roupa.

Quando você via uma da manga comprida assim, você falava: aquele ali é crente”. A

construção de uma igreja protestante acabou gerando uma disputa intrigante entre os adeptos de

ambas as religiões, possibilitando a análise da intolerância religiosa que norteava o pequeno vilarejo,

descrita no trecho a seguir.

28 Dona Maria Alves da Silva. 07/10/2010 29 Dona Margarida Porto

Page 111: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

111

Um dos padres católicos aqui residente considera isso uma afronta ao seu rebanho. Como possui um alto-falante na torre da igreja, põe-se também a fazer pregações e, nos intervalos, músicas sacras explodem no ar da praça. Os crentes, por sua vez, instalam outro alto-falante sobre o telhado do bar central e o espetáculo é digno de registro Ambas as partes pregam, gritam cantam e transformam o lugar em praça de guerra. O líder político local, então, temendo um desfecho triste para a contenda, procura ambos os dirigentes e entram em acordo: os alto-falantes são desviados para direções contrárias e os horários para as pregações são estabelecidos. (SAAD,1978, p.96)

Ainda falando das festas religiosas, essas eram ocasiões também de diversão para os

jovens. Os quais aproveitavam para dançar, conversar e cantar. Lembrando que a eletricidade

ainda era uma regalia exclusiva para as cidades desenvolvidas, o que não era o caso de

Itapirapuã.

As pessoas nos momentos de lazer não contavam com televisão ou rádio. Reuniam-se

para contar causos ou cantar modas de viola. Observa-se na foto a seguir o orgulho das jovens

itapirapuenses portando violões, instrumento musical típico da música sertaneja, uma das

principais marcas da cultura goiana.

Foto 13: Moças tocando violão

Fonte: Arquivo pessoal da dona Maria Cançado

Faz-se necessário incluir nesse contexto, a religião sendo uma das marcas da época,

nitidamente percebida entre todos os pioneiros entrevistados. Inicialmente pelas próprias

palavras em que fazem questão de evidenciar a fé e, posteriormente, pela quantidade de

Page 112: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

112

fotografias de práticas religiosas nos acervos pessoais dos mesmos, como batizados, primeira

comunhão, casamentos religiosos, entre outras. As fotografias a seguir, são designadas a fazer

ver algumas dessas práticas mencionadas, sendo a foto 14 de primeira comunhão e a 15 de

uma reunião dos marianos.

Os personagens: “Pergunte-me o que quiser, mas deixe-me falar o que sinto”

Após obter as respostas pretendidas na proposta desta pesquisa, deu-se a

oportunidade aos idosos entrevistados de falar o que desejassem, podendo ser algo referente

à vida particular ou um conselho às futuras gerações; enfim, tiveram arbítrio para expressar

naquele determinado instante o que sentissem necessidade de enunciar. Nesse momento, os

discursos causaram curiosidade e reflexão. Algumas senhoras expressaram a saudade do

cônjuge já falecido e a maioria falou da solidão que sentia. Intrigante porque,

dicotomicamente, já haviam relatado que nunca ficavam sós em casa, sendo que sempre há

um neto ou um filho para lhes fazerem companhia. Então, cria-se a incógnita: De que solidão

falam esses idosos? Qual o significado real de companhia?

Dona Maria Regina, ao narrar sobre sua vida, deixa transparecer a tristeza ao relatar o

fato de o marido nunca sequer tê-la convidado para saírem juntos e sempre a manteve muito

presa em casa. Todavia, automaticamente, a mesma faz um paralelo da sofrida infância

dizendo “quando eu tinha cinco anos meus pais se separou, então eu fui criada na casa dos

outros, humilhada, eu era assim uma menina muito judiada”30, com a vida de casada

presume-se que, na verdade, foi muito feliz no casamento. Não consegue conter as lágrimas,

e em meio a um rompante de memória, deixa transluzir a falta do companheiro falecido há

quatro anos.

Eu queria falar assim, que igual a vocês que são casados, tem as suas vidas, vida boa demais da conta. Porque todo mundo tem problema, né eu falo assim que a vida é boa, mas eu sei que todo mundo tem problema. Vocês aproveita mesmo. Porque é triste... eu tive quase 55 anos de casada. E agora to sozinha e é triste demais, viu, a vida da gente. Aproveita mesmo a vida dôceis, quem puder aproveitar aproveita mesmo. Quem tem seus marido que levara pros lugar [...] busca Deus pra dentro da casa de vocês, porque sem Ele a gente não é nada.

31

30 Dona Maria Regina Cançado. 07/10/2010

31 Idem.

Page 113: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

113

Foto 16: Dona Maria Regina Cançado

Fonte: Arquivo de Celiana Leite de Sousa Pacheco Saad

Dona Maria relata a saudade causada pela perda de entes queridos, os esposos,

companheiros de longa data, os filhos que morreram antes das mães, contrariando, assim, a

suposta “ordem da vida”. Porém, junto com a experiência vem a resignação, ou ao menos é

essa a impressão que é passada quando dona Margarida diz: “agora os trabalhos da vida a

gente aceita tudo, já foi... passou”.32 Onde, quando diz “trabalhos” se refere aos impasses

estabelecidos ao ser humano ao longo da vida e que o tempo se encarrega de abrandar as

suas aflições.

Foto 17: Dona Margarida Porto

Fonte: Arquivo de Celiana Leite de Sousa Pacheco Saad.

32 Dona Margarida Porto 07/10/2010

Page 114: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

114

Já dona Maria Alves mistura em sua essência muitas mulheres em uma só, a esposa, a

mãe, a parteira, a avó e a produtora de farinha. Inclusive faz questão de dizer que “eu toda

vida foi fazendo farinha, polvilho e farinha, toda vida meu serviço é esse”33. E ao fazer tal

afirmação retira orgulhosamente do seu álbum antigo de fotografias, uma que representa a

sua imagem no momento em que executa seu oficio diário e afirma orgulhosamente que até

hoje esse é seu trabalho. A fotografia é da sua fábrica de farinha instalada no quintal de sua

casa, podendo perceber a simplicidade dos instrumentos de trabalho, porém, a satisfação em

saber-fazer também está claramente perceptível em seu semblante.

Foto 18: Dona Maria Alves da Silva

Fonte: Arquivo pessoal da dona Maria Alves da Silva

Como já foi dito, é a necessidade de se sentir útil que faz com que as pessoas

sobreponham-se ao tempo e tentem sempre vencer os empecilhos causados pela idade. O

senhor Francisco Batista, cônscio da preciosidade guardada em sua memória sobre a história

de Itapirapuã e temendo o esquecimento, inevitavelmente, causado pela idade avançada,

quando instruído sobre a proposta desta pesquisa, sem hesitar apresentou duas folhas de

papel contendo resumidamente a história de Itapirapuã. Dizendo orgulhosamente que

participou de todas as “vitórias” de Itapirapuã, se referindo à conquista de emancipação da

cidade.

33 Dona Maria Alves da Silva 07/10/2010

Page 115: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

115

É necessário destacar que nas histórias contadas, observou-se sempre através das

entrelinhas, a intenção de passar um ensinamento moral. E é essa a principal característica do

verdadeiro narrador, sendo aquele que diz sem precisar dizer, nas pausas, nas expressões

faciais, despertando encantamento em quem o ouve, o que somente pessoas munidas de

tamanha experiência e sabedoria são capazes de fazer. Pois, essas não sabem por ouvir dizer,

mas por serem, por viverem e terem vivido. Entretanto, os narradores são muitos, os que

estão quase em vias de extinção são os ouvintes. Por falta de tempo? Talvez. Ou como indaga

Benjamim (1994),

Que foi feito de tudo isso? Quem encontra ainda pessoas que saibam contar histórias como elas devem ser contadas? Que moribundos dizem hoje palavras tão duráveis que possam ser transmitidas como um anel, de geração em geração? Quem é ajudado, hoje, por um provérbio oportuno? Quem tentará sequer, lidar com a juventude invocando sua experiência? (BENJAMIM, 1994, p.114)

Embora, com todas essas dificuldades o que deve prevalecer é a intenção dos muitos

que sentem necessidade de sublinhar o valor humano no seu simplório e proeminente ato de

“ser”, no sentido literal, não importando quem se é, mas que se é alguém. É certo dizer que os

valores muitas vezes ficam velados por sentimentos, diga-se de passagem, não tão nobres,

“mas ainda é tempo de viver e contar. Certas histórias não se perderam”34.

Considerações Finais

Faz-se necessário descrever os caminhos percorridos, as emoções sentidas e partilhadas no

decorrer da elaboração deste trabalho, tendo em vista que não foram pesquisados documentos com

conceitos já elaborados ou objetos inanimados. Pelo contrário, trabalhamos com seres humanos, que

durante suas falas, rememorando suas vidas, ora se alegraram, ora se entristeceram e choraram por

ambos.

Esta pesquisa é válida pelo fato de que pudemos ouvir experiências de vida de pessoas que

já deram sua parcela de contribuição para a sociedade e que hoje falam de solidão. Buscamos

entender nos lapsos de memória o que causa o esquecimento voluntário, o não querer dizer. Tivemos

o propósito de compreender a intenção em dizer, mesmo quando não se é perguntado.

34 Trecho da poesia “Nosso tempo” de Carlos Drummond de Andrade.

Page 116: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

116

Pudemos então, entender empiricamente a diferença entre a memória humana e a memória

de um computador. Que apesar dessa máquina conseguir gravar em sua memória dados com riquezas

de detalhes e que se bem manuseados jamais se perderão, o que é impossível para a mente humana.

O fascínio da memória humana é uma infinidade de vezes maior, mesmo com seus lapsos, suas

manipulações e esquecimentos. Pois, só o ser humano consegue sentir e transmitir emoções. E por

isso, por saber que são os sentimentos que nos diferenciam e nos tornam superiores às máquinas, que

nos propusemos a expressar as emoções vivenciadas.

Nas narrações, sempre permeadas de conselhos, encontramos bem mais que nosso objeto de

estudo, o sentido social de nossa pesquisa: fazer esses idosos, mesmo que por algumas horas, se

sentirem portadores de preciosidades. E nos surpreendemos diante da intenção sublime do senhor

Francisco Batista, em se dar ao trabalho de pedir alguém para digitar, enquanto contava a história da

cidade para evitar que esta viesse a se perder, caso faltasse alguém para contá-la.

E pelas fontes serem pessoas, foi inevitável não me deparar com algumas eventualidades, na

verdade a maior delas, em que não pude entrevistar uma pioneira, Dona Conquinha, já falecida, que,

de acordo com os testemunhos de muitos, era uma filha da cidade de Itapirapuã e apaixonada por ela,

e descrita como profunda conhecedora da história da cidade e região.

A pesquisa confirma a importância em registrar as histórias no plural, pois, uma

história que generaliza e divide a humanidade dicotomicamente, entre os que são dignos de

registro e os que não são, não pode ser uma história que fala de tudo o que se deve falar de

seres humanos. E com isso, compreendemos o papel dos historiadores contemporâneos em

cuidar de trazer à tona essas micro histórias e encontrei o sentido na fala de Benjamim (1994,

p.223) ao dizer: “Alguém na terra está a nossa espera”.

Referências

BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.

BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

CARVALHO, M. Vivendo a verdadeira vida: vivandeiras, mulheres em outras frentes de combates. Tese; História; Universidade de Brasília, 2008.

CHAUL, N.. Caminhos de Goiás: Da Construção da decadência aos limites da modernidade Goiânia: CEGRAF, 1997.

HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo:Centauro 2004.

MENESES, U. A História cativa da Memória? Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, 1992.

Page 117: Universidade Estadual de Goiás - docs.academicoo.com Visao Academica... · Hamilton Barbosa Napolitano (UEG - Anápolis/UnUCET) Ricardo Trevisan (UnB - FAU) Rogéria Luzia Wolpp

Revista Visão Acadêmica; Universidade Estadual de Goiás;

Novembro de 2011; ISSN 21777276; Cidade de Goiás; www.coracoralina.ueg.br

117

POLLAK, M. Memória, esquecimento e silêncio. In: Revista Estudos Históricos. N. 3, V. 2. Rio de Janeiro: Vértice, 1989, p. 03-15.

SAAD, É. Itapirapuã: a sesmaria e a cidade. Goiânia: Instituto Goiano do Livro, 1978.

Entrevistas

Maria Alves da Silva, 86 anos, viúva. Aposentada, 07/10/10 Itapirapuã

Maria Regina Cançado, 76 anos, viúva. Aposentada, 07/10/10, Itapirapuã

Margarida Porto, 89 anos, viúva. Aposentada, 07/10/10, Itapirapuã

Francisco Batista da Silva, 78 anos, casado. Aposentado, 08/10/10,Itapirapuã