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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOLOGIA CÁSSIA SANTOS CAMILLO SELEÇÃO DO LOCAL DE NIDIFICAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA NO SUCESSO DE ECLOSÃO DE CARETTA CARETTA E ERETMOCHELYS IMBRICATA (TESTUDINES: CHELONIIDAE) NO SUDESTE DA BAHIA. ILHÉUS – BAHIA 2008

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOLOGIA

CÁSSIA SANTOS CAMILLO

SELEÇÃO DO LOCAL DE NIDIFICAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA NO SUCESSO DE

ECLOSÃO DE CARETTA CARETTA E ERETMOCHELYS IMBRICATA (TESTUDINES:

CHELONIIDAE) NO SUDESTE DA BAHIA.

ILHÉUS – BAHIA

2008

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CÁSSIA SANTOS CAMILLO

SELEÇÃO DO LOCAL DE NIDIFICAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA NO SUCESSO DE

ECLOSÃO DE CARETTA CARETTA E ERETMOCHELYS IMBRICATA (TESTUDINES:

CHELONIIDAE) NO SUDESTE DA BAHIA.

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Zoologia, da Universidade Estadual de Santa Cruz, como requisito para a aquisição do título de Mestre em Zoologia. Área de Concentração Zoologia Aplicada Orientador: Prof. Dr. Sérgio Luiz Gama Nogueira Filho

ILHÉUS – BAHIA

2008

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C183 Camillo, Cássia Santos.

Seleção do local de nidificação e sua influência no sucesso de eclosão de Caretta caretta e Eretmochelys Imbricata (Testudines:Cheloniidae) no sudeste da Bahia / Cássia Santos Camillo. – Ilhéus, BA: UESC, 2008.

xv, 94f. : il.

Orientador: Sérgio Luiz Gama Nogueira Filho. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Santa Cruz. Programa de Pós-graduação em Zoologia.

Bibliografia: f. 84-94. 1. Tartaruga marinha – Reprodução. 2. Tartaruga ma- rinha – Conservação. 3. Proteção ambiental. 4. Área de Proteção Ambiental – Itacaré (BA). I. Título. CDD 597.92

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CÁSSIA SANTOS CAMILLO

SELEÇÃO DO LOCAL DE NIDIFICAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA NO SUCESSO DE

ECLOSÃO DE CARETTA CARETTA E ERETMOCHELYS IMBRICATA (TESTUDINES:

CHELONIIDAE) NO SUDESTE DA BAHIA

Ilhéus - BA, 13/03/2008.

___________________________________________

Sérgio Luiz Gama Nogueira-Filho – Dr.

UESC

(Orientador)

___________________________________________

Paulo Dias Ferreira-Júnior – Dr.

Centro Universitário de Vila Velha

___________________________________________

Alexandre Schiavetti – Dr.

UESC

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Gian e Raquel, e aos meus irmãos, Giulia e Mário: a melhor de todas

as famílias.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que meu deu força de vontade e oportunidades para que realizasse o

sonho de trabalhar com as tartarugas marinhas e tantos outros antes desse;

Aos meus pais, Gian e Raquel, que nunca mediram esforços para me apoiar

em minhas empreitadas e que são os grandes responsáveis pelo que sou e por tudo

que conquistei;

Aos meus irmãos, Giulia e Mário, avós, Giannino e Antônia, Lucinha e

Vicente, tios e primos que, embora distantes, se fizeram sempre presentes por meio

de suas orações, torcida e incentivo;

Ao Dr. Sérgio Luiz Gama Nogueira-Filho, por ter aceitado orientar uma

pantaneira em um trabalho sobre tartarugas marinhas e dinâmica praial e por seus

eficientes conselhos profissionais;

A Gabi e Carlinha, pela amizade sempre presente, sobretudo nas horas

difíceis (nas capotadas reais e figuradas), nas horas de aflição e preocupação, mas

também em muitos dos melhores momentos que vivi na Bahia,

As amigas “baianas” Pauli, Dani, Ura, Milla, Renata e Nay, pelas conversas –

tanto as sérias quanto as descontraídas –, pelo abrigo aconchegante sempre que

necessário e pelas trocas de experiência ao longo de mais essa caminhada;

Aos professores e amigos, Martin, Romari e Alexandre, pelas horas de lição e

aprendizado e pelas horas de relaxamento e diversão;

A Eric Macedo, pelos aprendizados e lições em conjunto, por ter renunciado a

muitos finais de semana e feriados, pela companhia, por toda a ajuda, em campo e

em laboratório e por ter me dado a oportunidade de orientá-lo;

A Alvimar Valadares (Capixaba), tartarugueiro, colega, amigo, cuja ajuda e

companhia nos 11 km de monitoramentos diários foi essencial para a realização

desse trabalho;

A Renato Romero, por ter estado presente e ter me apoiado em um momento

de instabilidade e dúvidas;

A Luciano Leone, por ter aberto as portas para os trabalhos com tartarugas

marinhas na UESC;

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A Thiago Serafini, pelos ensinamentos sobre as tartarugas, pelas

experiências proporcionadas e pela troca de figurinhas;

A Anders Schmidt, Max de Menezes e, em especial, Maurício Arantes, do

Instituto Ecotuba, por terem colaborado de todas as formas para tornar possível

minha coleta de dados em Comandatuba, que, embora não tenham sido utilizadas

neste estudo, proporcionaram uma das experiências mais fascinantes da minha vida;

Aos amigos da Base de Arembepe, do Projeto TAMAR-IBAMA, pelos

ensinamentos e pela troca de experiências, principalmente a Renata Moura, pela

amizade, companhia, conversas, conselhos e noites de forró;

A Jair, pelas horas de conversa, por saber escutar e pela ajuda sempre

disponível,

Aos amigos da Casa de Passeios do Txai Resort: Pelé, Renato, Néo, Filipe e

Neto, pelos passeios e momentos de descontração e risadas;

A professora Msc. Ana Amélia, pela disponibilidade e co-orientação e por ter

me ensinado sobre ecologia e morfodinâmica das praias;

Ao professor Dr. Maurício Cetra, pelo auxílio nas análises estatísticas, a

professora Dra. Deborah Faria, pelas sugestões no exame de qualificação e ao

professor Dr. Gil Marcelo Strenzel, pela ajuda na elaboração dos mapas;

Aos professores Drs. Paulo Dias Ferreira-Júnior e Alexandre Schiavetti, por

aceitarem participar da banca de avaliação deste trabalho;

Aos demais professores e colegas e aos funcionários, Lindomar e Sr.

Messias, do Programa de Pós-Graduação em Zoologia, por auxiliarem nessa etapa

do meu engrandecimento profissional;

A Giseli Aguiar, Cecília Naiane e Rafael Mendonça, pelo apoio, quando

possível, pela torcida e pela troca de experiências;

Aos pescadores e moradores de Serra Grande, em especial a Rui, Rubem e

Sr. João Batista, pelo auxílio nos monitoramentos;

Ao Instituto Ecotuba e Hotel Transamérica Ilha de Comandatuba pelo apoio

logístico e de pessoal para coletas de dados em Comandatuba;

Ao Txai Resort, que desde 2004 apóia os pesquisadores da UESC no

monitoramento das praias onde o estudo foi realizado;

À Fundação de Apoio a Pesquisa da Bahia – FAPESB, pela concessão da

bolsa.

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Esse mundo em que nós vivemos não nos foi dado pelos nossos pais e avós e sim

nos foi emprestado por nossos filhos e netos.

(Autor desconhecido)

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SELEÇÃO DO LOCAL DE NIDIFICAÇÃO E SUA INFLUÊNCIA NO SUCESSO DE ECLOSÃO DE CARETTA CARETTA E ERETMOCHELYS IMBRICATA (TESTUDINES:

CHELONIIDAE) NO SUDESTE DA BAHIA.

RESUMO

Este estudo objetivou avaliar a seleção do local de nidificação e sua influência no sucesso de eclosão de tartarugas marinhas no litoral sudeste da Bahia, durante a temporada reprodutiva 2006/2007. Ninhos encontrados nos 11 km de praias monitorados foram identificados e abertos após a emergência dos filhotes ou 80 dias de incubação. As variáveis dos ninhos coletadas foram: tamanho de ninhada, tempo de incubação, sucesso de eclosão, proporção de filhotes natimortos; de ovos não desenvolvidos, de embriões mortos em fase 1 (<10 mm), em fase 2 (10-30 mm) e em fase 3 (> 30 mm). As variáveis ambientais coletadas foram: levantamento topográfico de sete perfis emersos e sua classificação de acordo com estágios morfodinâmicos e processos de transporte sedimentar; posição e distância dos ninhos em relação à linha de vegetação; caracterização do sedimento dos perfis e das paredes dos ninhos quanto à fração orgânica e granulometria. Foram utilizados os testes t de Student ou Mann-Whitney e de Kruskal-Wallis, para comparar as variáveis dos ninhos; testes qui-quadrado, de Mann-Whitney e F, para as análises de seleção do local de nidificação; e testes de regressão e testes t de Student ou Mann-Whitney e de Kruskal-Wallis, para verificar a influência do local de nidificação nas variáveis dos ninhos. Dos 42 ninhos localizados, 32 foram identificados: 17 de Caretta caretta e 15 de Eretmochelys imbricata. Enquanto os tamanhos médios das ninhadas diferiram entre as espécies: 86,3 ± 24,3 ovos para C. caretta e 119,2 ± 31,1 para E. Imbricata, a duração média de incubação – 57,3 ± 3,9 dias e 59,7 ± 3,8 dias – e o sucesso de eclosão – 58,2 ± 36,6% e 74,9 ± 25,8% – não diferiram. Ambas as espécies não utilizaram informações da dinâmica praial para selecionar o local de desova e nidificaram mais frequentemente em locais próximos à linha de vegetação. Verificou-se uma relação inversa entre sucesso de eclosão e distância da linha de vegetação para ninhos de E. imbricata localizados na zona de areia, provavelmente devido às inundações mais freqüentes causadas pela proximidade da zona de maré alta. Para esta espécie também se verificou que quanto maior o diâmetro dos grãos, menor o sucesso de eclosão. Apesar da baixa densidade de ninhos, a área de estudo é de grande relevância para a conservação, por apresentar durações médias de incubação maiores do que nas principais áreas de reprodução dessas espécies no Brasil, o que sugere maior produção de machos. Portanto, esta área de reprodução pode auxiliar na manutenção da saúde demográfica das populações de C. caretta e E. imbricata que se reproduzem no Brasil. Constatou-se também que as características do sedimento influenciam o desenvolvimento embrionário e o sucesso de eclosão de E. imbricata; tais resultados podem ser utilizados para o estabelecimento de planos de manejo, sobretudo em casos de transferência de ninhos. Estudos com números amostrais maiores devem ser executados para corroborar essas conclusões.

Palavras-chave: reprodução, conservação, Área de Proteção Ambiental Costa de Itacaré-Serra Grande.

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NEST SITE SELECTION AND ITS INFLUENCE IN THE HATCHING SUCCESS OF CARETTA CARETTA AND ERETMOCHELYS IMBRICATA (TESTUDINES: CHELONIIDAE)

IN SOUTHEAST BAHIA.

ABSTRACT This study provides an analysis of nest site selection and its influence in the hatching success of sea turtles’ nests in southeast Bahia during 2006/2007 nesting season. Nests found in the 11 km of monitored beaches were identified and opened after hatchlings’ emergency or 80 days of incubation. Nests’ variables collected were: clutch size, incubation period, hatching success, and proportion of dead hatchlings; undeveloped eggs, dead embryos in phase 1 (< 10 mm), in phase 2 (10-30 mm) and in phase 3 (>30 mm). Environmental variables were: topographic variation of seven transversal profiles and its classification according to morphodinamic stages and processes of sediment transportation; nests’ position and distance in relation to the vegetation line; characterization of the organic fraction and grain parameters of sand samples from the profiles and from the nests’ walls. We performed Student’s t or Mann-Whitney and Kruskal-Wallis tests, to compare the variables of nests; chi-square, Mann-Whitney and F tests, for nest site selection analysis; and regression tests, Student’s t or Mann-Whitney and Kruskal-Wallis tests, to verify the influence of the nest site in the nests’ variables. Of the 42 located nests, we identified 32: 17 of Caretta caretta and 15 of Eretmochelys imbricata. While mean clutch sizes differed among species: 86.3 ± 24.3 eggs for C. caretta and 119.2 ± 31.1 for E. imbricata, mean incubation period - 57.3 ± 3.9 days and 59,7 ± 3,8 days - and the hatching success - 58.2% ± 36.6% and 74.9% ± 25.8% - did not differ. Both species did not use information on beach dynamics to select the nesting site and nested more often in places closest to the vegetation line. For E. imbricata’s nests located in the open sand beach zone, the distance was negatively related to the hatching success, probably due to more frequent floods caused by the proximity to the high tide line. For this species we also verified that as mean particle diameter increased, hatching success decreased. Despite the low density of nests, the study area is of great relevance for marine’s turtle conservation, because it presented higher incubation periods than main nesting areas for these species in Brazil, suggesting a higher proportion of male’s production. We also verified that sand characteristics influence embryonic development and hatching success of E. imbricata; such results can be used for the establishment of management plans, especially in cases of nests’ transference. Studies with higher samples must be performed to support these conclusions.

Key-words: reproduction, conservation, Área de Proteção Ambiental Costa de Itacaré-Serra Grande.

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LISTA DE FIGURAS

1 Anatomia da cabeça e do casco das cinco espécies de tartarugas marinhas que

ocorrem no Brasil ................................................................................................ 5

2 Estrutura do casco de tartarugas marinhas: a) ossos da carapaça de um

Cheloniidae; b) ossos do plastrão de um Cheloniidae; c) ossículos dérmicos da

carapaça de um Dermochelyidae. ....................................................................... 8

3 Estrutura do crânio de tartarugas marinhas: a) esplancnocrânio; b) parte do

neurocrânio, exposto por meio da retirada de ossos externos do

esplancnocrânio. ................................................................................................. 9

4 Estrutura das nadadeiras (esquerda e direita) de tartarugas marinhas. ............ 10

5 Distribuição geográfica de Lepidochelys kempii e Natator depressus ............... 12

6 Distribuição geográfica de Chelonia mydas.. .................................................... 13

7 Distribuição geográfica de Eretmochelys imbricata.. ......................................... 13

8 Distribuição geográfica de Lepidochelys olivacea.. ........................................... 14

9 Distribuição geográfica de Caretta caretta.. ...................................................... 14

10 Distribuição geográfica de Dermochelys coriacea. ............................................ 15

11 Rastro e, em destaque, cama de uma tartaruga marinha na praia do Patizeiro,

Itacaré, Bahia. ................................................................................................... 20

12 Principais ameaças às tartarugas marinhas. ..................................................... 32

13 Localização da área de estudo. ......................................................................... 39

14 Exemplo de um perfil emerso de praia, obtido através do levantamento

topográfico durante seis meses na praia do Pompilho, Bahia. (a) zona de

espraiamento, utilizada para o cálculo da declividade; (b) face de berma

utilizada para a classificação dos processos de transporte sedimentar. ........... 44

15 Método utilizado para traçar a linha de vegetação (LV) e medir a distância do

ninho em relação a ela (d): estão exemplificados dois ninhos, um localizado na

zona de areia e outro na zona com vegetação. ................................................. 45

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16 Ninho de E. imbricata predado por animal silvestre, possivelmente raposa

(Cerdocyon thous) na APA Costa de Itacaré-Serra Grande: a) garras nas

paredes do ninho; b) filhotes mortos encontrados na praia. .............................. 50

17 Histórico dos ninhos registrados na temporada 2006/2007: Su, sucesso de

incubação; Ro, provável roubo de ovos; PE, perda ou roubo de estaca; PA,

predados por animal; PM, levados pela maré. .................................................. 50

18 a) Tamanho médio de ninhada e b) duração média da incubação para os ninhos

de C. caretta e E. imbricata na APA Costa de Itacaré-Serra Grande, durante a

temporada reprodutiva 2006-2007 .................................................................... 51

19 Categorias de mortalidade embrionária para as duas espécies estudadas.. .... 53

20 a) Distribuição dos ninhos de C. caretta e E. imbricata, ao longo da área de

estudo e localização dos perfis emersos; b) perfis topográficos emersos

levantados ao longo dos seis meses estudados, incluiu-se a linha de vegetação

(LV) e a distância média, em relação a esta, dos ninhos das duas espécies

estudadas (setas largas) localizados mais próximos a cada perfil (de forma

ilustrativa pois a linha de vegetação não é uma linha reta ao longo da costa). . 55

21 Posicionamento dos ninhos de a) C. caretta e b) E. imbricata em relação à linha

de vegetação (LV) na área de estudo, durante a temporada reprodutiva

2006/2007, agrupados de acordo com o perfil de praia mais próximo. ............. 57

22 Influência da posição do ninho em relação à linha de vegetação nas variáveis

dos ninhos de C. caretta: a) no sucesso de eclosão; proporção de filhotes

natimortos e de ovos não eclodidos, b) no tamanho de ninhada e c) na duração

da incubação. .................................................................................................... 60

23 Influência da posição do ninho em relação à linha de vegetação nas variáveis

dos ninhos de E. imbricata: a) no sucesso de eclosão, proporção de filhotes

natimortos e proporção de ovos não eclodidos, b) no tamanho de ninhada e c)

na duração da incubação. ................................................................................. 61

24 Relação entre a distância da linha de vegetação e o sucesso de eclosão,

proporção de filhotes natimortos e de ovos não eclodidos para os ninhos de C.

caretta localizados a) na zona com vegetação e b) na zona de areia. .............. 62

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25 Relação entre a distância da linha de vegetação e o sucesso de eclosão,

proporção de filhotes natimortos e de ovos não eclodidos para os ninhos de E.

imbricata localizados a) na zona com vegetação e b) na zona de areia. .......... 63

26 Influência das classes de diâmetro médio dos grãos nas variáveis dos ninhos de

C. caretta: a) no sucesso de eclosão, proporção de filhotes natimortos e

proporção de ovos não eclodidos, b) no tamanho de ninhada e c) na duração da

incubação. ......................................................................................................... 64

27 Influência do grau de assimetria das amostras de sedimento dos ninhos a) no

sucesso de eclosão, proporção de filhotes natimortos e proporção de ovos não

eclodidos, e b) no tamanho de ninhada de C. caretta. ...................................... 65

28 Influência das classes de diâmetro médio dos grãos a) no sucesso de eclosão,

proporção de filhotes natimortos e proporção de ovos não eclodidos, b) no

tamanho de ninhada, e c) na duração da incubação de E. imbricata. ............... 66

29 Influência do grau de assimetria das amostras de sedimento dos ninhos de E.

imbricata a) no sucesso de eclosão, proporção de filhotes natimortos e

proporção de ovos não eclodidos, e b) no tamanho de ninhada. ...................... 67

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LISTA DE TABELAS

1 Variáveis dos ninhos para C. caretta e E. imbricata que desovaram na APA

Costa de Itacaré-Serra Grande, durante a temporada 2006/2007. ................... 52

2 Características dos sete perfis transversais levantados durante a temporada

reprodutiva de 2006/2007, nas praias de Pompilho, Patizeiro e Itacarezinho,

sudeste da Bahia. .............................................................................................. 54

3 Características dos sedimentos das paredes dos ninhos de C. caretta e E.

imbricata e das amostras do limite com a vegetação e da face de praia dos

perfis topográficos levantados de novembro/06 a abril/07. São fornecidos a

média, desvio padrão e, entre parênteses, os valores mínimos e máximos

obtidos. .............................................................................................................. 58

4 Comparação entre as variáveis dos ninhos de C. caretta e E. imbricata em

diversos estudos: TN: tamanho de ninhada; DI: duração da incubação; Su:

sucesso de eclosão. .......................................................................................... 71

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SUMÁRIO

RESUMO .................................................................................................................. VII

ABSTRACT ............................................................................................................. VIII

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

2 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 3

2.1 TAXONOMIA E SISTEMÁTICA .................................................................... 3

2.2 EVOLUÇÃO ................................................................................................. 6

2.3 MORFOLOGIA E ANATOMIA ...................................................................... 6

2.4 DISTRIBUIÇÃO .......................................................................................... 11

2.5 CICLO DE VIDA ......................................................................................... 15

2.6 LOCAL DE NIDIFICAÇÃO .......................................................................... 22

2.7 CONSERVAÇÃO ....................................................................................... 31

2.7.1 Ameaças antropogênicas ....................................................................... 32

2.7.2 Importância ecológica ............................................................................. 34

2.7.3 Status de conservação ........................................................................... 35

2.7.4 Conservação no Brasil ............................................................................ 37

3 OBJETIVOS ...................................................................................................... 38

3.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................... 38

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................... 38

4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................. 39

4.1 ÁREA DE ESTUDO .................................................................................... 39

4.2 COLETA DE DADOS .................................................................................. 40

4.2.1 Monitoramento das praias e localização dos ninhos .............................. 40

4.2.2 Coleta das variáveis do ninho ................................................................. 41

4.2.3 Morfodinâmica praial .............................................................................. 43

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4.2.4 Distância da vegetação .......................................................................... 44

4.2.5 Caracterização do sedimento ................................................................. 45

4.2.6 Análise estatística ................................................................................... 47

5 RESULTADOS .................................................................................................. 49

5.1 DADOS GERAIS ........................................................................................ 49

5.1.1 Temporada reprodutiva .......................................................................... 49

5.1.2 Histórico dos ninhos ............................................................................... 49

5.2 VARIÁVEIS DOS NINHOS ......................................................................... 51

5.3 SELEÇÃO DO LOCAL DE NIDIFICAÇÃO .................................................. 54

5.3.1 Morfodinâmica praial .............................................................................. 54

5.3.2 Linha de vegetação ................................................................................ 56

5.3.3 Características do sedimento ................................................................. 57

5.4 INFLUÊNCIA DO LOCAL DE NIDIFICAÇÃO .............................................. 59

5.4.1 Morfodinâmica praial .............................................................................. 59

5.4.2 Linha de vegetação ................................................................................ 60

5.4.3 Características do sedimento ................................................................. 63

6 DISCUSSÃO ..................................................................................................... 68

6.1 DADOS GERAIS ........................................................................................ 68

6.1.1 Temporada reprodutiva .......................................................................... 68

6.1.2 Histórico dos ninhos ............................................................................... 69

6.2 VARIÁVEIS DOS NINHOS ......................................................................... 70

6.3 SELEÇÃO DO LOCAL DE NIDIFICAÇÃO .................................................. 73

6.3.1 Morfodinâmica praial .............................................................................. 73

6.3.2 Linha de vegetação ................................................................................ 74

6.3.3 Características do sedimento ................................................................. 76

6.4 INFLUÊNCIA DO LOCAL DE NIDIFICAÇÃO .............................................. 77

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6.4.1 Linha de vegetação ................................................................................ 77

6.4.2 Características do sedimento ................................................................. 79

7 CONCLUSÕES ................................................................................................. 81

8 RECOMENDAÇÕES ......................................................................................... 82

9 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 84

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1 INTRODUÇÃO

As tartarugas marinhas são répteis da ordem Testudines, que surgiram há

cerca de 110 milhões de anos, tendo sobrevivido às várias mudanças que ocorreram

no planeta ao longo desse período (LUTZ; MUSICK, 1997). Grande diversidade

desses répteis foi documentada no passado, no entanto, atualmente existem apenas

duas famílias: Dermochelyidae, com uma única espécie vivente, a tartaruga de couro

(Dermochelys coriacea); e Cheloniidae, com seis espécies – tartaruga cabeçuda

(Caretta caretta), tartaruga de pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga verde

(Chelonia mydas), tartaruga oliva (Lepidochelys olivacea), Lepidochelys kempii e

Natator depressus (MEYLAN; MEYLAN, 2000), sendo as duas últimas as únicas

sem registros de ocorrência no Brasil (MARCOVALDI; MARCOVALDI, 1999).

Atualmente, as sete espécies viventes figuram nas listas de espécies

ameaçadas, entretanto este fato não se deve às várias pressões naturais às quais

estão sujeitas, pois possuem considerável capacidade de adaptação, mas sim à

excessiva pressão antrópica (LUTZ; MUSICK, 1997). A alteração e perda de hábitat,

a poluição marinha, a captura incidental na pesca, e a caça e coleta de indivíduos e

ovos são as principais ameaças antropogênicas a esses animais (LUTCAVAGE et

al., 1997).

Na costa brasileira o Projeto Tartarugas Marinhas (TAMAR-ICMBio) atua,

desde 1980, na conservação das cinco espécies que aqui se alimentam e se

reproduzem. Atualmente, o Projeto possui 22 bases, distribuídas em nove estados

brasileiros, e abrange mais de 1100 km de praias. Entretanto, o Brasil possui cerca

de 8000 km de costa e muitas áreas de nidificação não são monitoradas, como é o

caso da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa de Itacaré – Serra Grande, no

sudeste da Bahia. Nesta região desovam frequentemente C. caretta e E. imbricata,

cujos principais sítios de nidificação no Brasil estão localizados no litoral norte da

Bahia.

Como todas as espécies de Testudines, as tartarugas marinhas são ovíparas

e não apresentam cuidado parental (POUGH et al., 2003). Os ovos são incubados

na areia (ACKERMAN, 1997; FRAZIER, 1984) e por apresentarem cascas flexíveis o

microclima do ninho afeta o desenvolvimento embrionário e características dos

filhotes (ACKERMAN, 1997). A seleção do local de nidificação é, na realidade, uma

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troca adaptativa, na qual a fêmea deve equilibrar o custo pela sua procura, em

termos de gasto de energia e risco de predação, e os benefícios do local escolhido,

em termos de sucesso de incubação (WOOD; BJORNDAL, 2000).

A APA Costa de Itacaré – Serra Grande é uma unidade de conservação,

caracterizada por uma região costeira com 20 km de praias semi-desertas, atrativas

para o aumento do turismo, o qual, por sua vez, pode levar a um aumento da

degradação local. Novos projetos turísticos e empreendimentos hoteleiros já estão

em andamento e, por este motivo, a compreensão dos fatores que atuam na seleção

do local de nidificação pelas populações reprodutivas de tartarugas marinhas e a

influência desses locais no sucesso de eclosão – objetivo deste estudo – poderá

auxiliar no estabelecimento de planos de manejo para essas espécies. Tais variáveis

poderão ser utilizadas para verificar quais as condições mais favoráveis para a

desova e para a incubação dos ovos. A partir da obtenção destes dados, será

possível definir características das praias mais propícias para a reprodução das

tartarugas marinhas e tais informações poderiam, por sua vez, ser utilizados para o

estabelecimento de planos de manejo mais eficientes.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 TAXONOMIA E SISTEMÁTICA

A Classe Reptilia possui quatro ordens com representantes viventes:

Crocodilia, Rhyncocephalia, Squamata e Testudinata (POUGH et al., 2003) e sua

principal característica é o tegumento constituído por escamas córneas ou escudos.

Apesar de atualmente ser considerado um grupo parafilético, pois não inclui todos os

táxons descendentes de um mesmo ancestral, essa definição ainda é a mais

utilizada.

A Ordem Testudinata ou Testudines é um clado monofilético que inclui os

animais cujo corpo é recoberto por uma carapaça óssea. Atualmente, as 13 famílias

de Testudines pertencem a duas subordens de acordo com o plano de retração do

pescoço: os Cryptodira, que retraem o pescoço formando um S vertical; e os

Pleurodira, que curvam o pescoço horizontalmente (BOWEN; KARL, 1997;

MEYLAN; MEYLAN, 2000; POUGH et al., 2003; PRITCHARD, 1997). Cryptodira é o

grupo dominante no mundo, enquanto que no Brasil Pleurodira apresenta maior

número de espécies. A subordem Cryptodira apresenta dez famílias, incluindo as

duas famílias atuais de tartarugas marinhas: Dermochelyidae e Cheloniidae

(POUGH et al., 2003).

A família Dermochelyidae, caracterizada pelo casco constituído de pequenos

ossos embutidos em um tegumento coriáceo, apresenta uma única espécie vivente,

Dermochelys coriacea. As demais espécies de tartarugas marinhas atuais

pertencem à família Cheloniidae e possuem o casco ósseo coberto de escudos

epidérmicos (POUGH et al., 2003).

Na família Cheloniidae são descritas seis espécies: Chelonia mydas, Caretta

caretta, Eretmochelys imbricata, Lepidochelys olivacea, Lepidochelys kempii e

Natator depressus (BOWEN; KARL, 1997; MEYLAN; MEYLAN, 2000), estas duas

últimas sem registro de ocorrência no Brasil (MARCOVALDI; MARCOVALDI, 1999).

Alguns pesquisadores (por exemplo, PRITCHARD; MORTIMER, 2000) consideram a

existência de uma sétima espécie, a tartaruga verde do Pacífico Oriental (Chelonia

agassizii). Contudo, estudos demonstraram que não existem evidências genéticas

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para essa classificação, pois a diferenciação genética é maior entre as

subpopulações de C. mydas do Atlântico-Mediterrâneo e do Índico-Pacífico do que

entre C. mydas e C. agassizii (BOWEN et al., 1992; DUTTON et al., 1996).

Apesar da aceitação da existência de pelo menos seis espécies na família

Cheloniidae, já foi registrada a ocorrência de híbridos entre essas espécies, os quais

podem representar a linhagem mais antiga de vertebrados a hibridizar em ambiente

natural (BOWEN; KARL, 1997). No Brasil, foram realizados testes de DNA

mitocondrial da população de E. imbricata que nidifica no litoral norte do estado da

Bahia e foi verificado que 42% das fêmeas amostradas apresentaram haplótipos

característicos de C. caretta e 1,7% apresentaram haplótipos de L. olivacea (LARA-

RUIZ et al., 2006)

A família Cheloniidae é ainda dividida em duas tribos, Carettini e Chelonini

(BOWEN; KARL, 1997; DUTTON et al., 1996). Existe controvérsia, entretanto, sobre

o parentesco das espécies que as compõem, sobretudo no que diz respeito à

posição de E. imbricata e N. depressus. Dutton et al. (1996) analisaram amostras de

DNA e sugerem que as espécies C. caretta, E. imbricata, L. olivacea, L. kempii e N.

depressus sejam consideradas como pertencentes à tribo Carettini; enquanto que C.

mydas seria a única representante da tribo Chelonini.

As cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil são

diferenciadas, sobretudo pela anatomia do casco e da cabeça. A espécie D.

coriacea possui o casco coberto por um tegumento coriáceo, sem escudos

diferenciados e com quilhas longitudinais; na cabeça, não possui placas. A espécie

E. imbricata possui a carapaça com quatro escudos epidérmicos pleurais imbricados

e o plastrão com quatro escudos epidérmicos inframarginais sem poros visíveis; na

cabeça possui dois pares de placas pré-frontais. O casco de C. mydas é composto

por uma carapaça com quatro escudos epidérmicos pleurais justapostos e plastrão

com quatro escudos epidérmicos inframarginais, sem poros visíveis; na cabeça

possui um par de placas pré-frontais. A espécie C. caretta, por sua vez, possui uma

carapaça constituída por cinco escudos pleurais justapostos e um plastrão com três

escudos inframarginais sem poros visíveis; na cabeça, possui mais de um par de

placas pré-frontais. Finalmente, em L. olivacea seis ou mais escudos pleurais

formam a carapaça e quatro escudos inframarginais com poros visíveis, formam o

plastrão; na cabeça existe mais de um par de placas pré-frontais (WYNEKEN, 2001;

Figura 1).

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Figura 1 - Anatomia da cabeça e do casco das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil

Fonte: Wyneken (2001, p. 4)

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2.2 EVOLUÇÃO

Os quelônios surgiram no Triássico (POUGH et al., 2003) e a teoria mais

aceita para a evolução das tartarugas marinhas é que elas tenham descendido de

um ancestral terrestre (KINNEARY, 1996; PRITCHARD, 1997). A adaptação ao

ambiente marinho surgiu mais de uma vez na história evolutiva dos Testudines, de

modo que as tartarugas marinhas constituem um grupo diverso e amplamente

distribuído (FRAZIER, 2001; MEYLAN; MEYLAN, 2000; PRITCHARD, 1997). No

Jurássico, surgiram: uma família com representantes exclusivamente marinhos, a

Thalassenyidae, e uma família com um único representante marinho, a

Pleurosternidae (PRITCHARD, 1997). As duas famílias com representantes viventes,

Dermochelyidae e Cheloniidae, surgiram no Cretáceo, juntamente com outras duas

famílias de tartarugas marinhas atualmente extintas, Toxochelyidae e Protostegidae

(PRITCHARD, 1997).

2.3 MORFOLOGIA E ANATOMIA

Dentre os quelônios aquáticos, as tartarugas marinhas são os que

apresentam características mais especializadas para a vida na água, como as

carapaças achatadas, a estrutura dos seus membros e a glândula de sal, exemplos

de sua morfologia altamente derivada - em relação às características morfológicas

mais primitivas de seus ancestrais terrestres (MEYLAN; MEYLAN, 2000; POUGH et

al., 2003).

O casco, característica mais distintiva de um quelônio, é composto pela

carapaça, porção superior, e pelo plastrão, porção inferior. Nas tartarugas marinhas

a carapaça é achatada, o que lhes confere maior hidrodinâmica, mas limita sua

habilidade de retração da cabeça. Na família Cheloniidae, a carapaça é composta

por ossos dérmicos, que são recobertos por escudos córneos de origem epidérmica,

enquanto que o plastrão é formado principalmente por ossificações dérmicas. Como

em todas as tartarugas, os ossos da carapaça de Cheloniidae são formados pela

fusão das vértebras e costelas com ossos dérmicos, que dão origem a cinco tipos de

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ossos: vertebrais, marginais, pleurais, nucal, pigal e supra-pigal (POUGH et al.,

2003; WYNEKEN, 2001; Figura 2a). O plastrão, por sua vez, é formado por nove

ossos, sendo quatro pares (epiplastrão, hipoplastrão, hioplastrão, xifiplastrão) e um

único (endoplastrão) (POUGH et al., 2003; WYNEKEN, 2001; Figura 2b). Na família

Dermochelyidae, a carapaça é formada por pequenos ossos imersos em um tecido

cartilaginoso; no plastrão os ossos estão reduzidos a uma pequena faixa em torno

da sua borda (POUGH et al., 2003, Figura 2c).

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Figura 2 – Estrutura do casco de tartarugas marinhas: a) ossos da carapaça de um Cheloniidae; b) ossos do plastrão de um Cheloniidae; c) ossículos dérmicos da carapaça de um Dermochelyidae.

Fonte: Wyneken (2001, p. 48-50).

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O esqueleto axial é composto pela carapaça, vértebras, costelas e seus

derivados. Já o esqueleto apendicular é composto pelas nadadeiras e membros

posteriores e pelas cinturas pélvica e escapular. O plastrão é formado por derivados

do esqueleto axial e apendicular (WYNEKEN, 2001).

O crânio das tartarugas marinhas é dividido em duas partes: uma caixa

craniana mais interna, denominada neurocrânio e uma estrutura óssea externa,

denominada esplancnocrânio, a qual forma o bico, protege órgãos sensoriais e

fornece local de suporte para os músculos da mandíbula, garganta e pescoço

(WYNEKEN, 2001; Figura 3). Como as tartarugas marinhas têm uma habilidade

limitada de retrair a cabeça, essa estrutura do crânio oferece uma proteção adicional

na cabeça (MEYLAN; MEYLAN, 2000). Seus bicos de queratina, denominados

ranfotecas, diferem entre as espécies de acordo com a dieta e, como os demais

quelônios, as tartarugas marinhas não possuem dentes (WYNEKEN, 2001).

(a)

(b)

Figura 3 – Estrutura do crânio de tartarugas marinhas: a) esplancnocrânio; b) parte do neurocrânio, exposto por meio da retirada de ossos externos do esplancnocrânio.

Fonte: Wyneken (2001, p. 12)

A estrutura dos membros é uma das principais características da anatomia

das tartarugas marinhas, que as difere dos demais quelônios. Em todas as espécies,

os membros estão adaptados à vida aquática, possuindo falanges alongadas, sem

articulações móveis, imersas em um tecido conjuntivo, o que lhes confere a

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aparência de remos (MEYLAN; MEYLAN, 2000; POUGH et al., 2003; PRITCHARD,

1997; WYNEKEN, 2001; Figura 4).

Figura 4 – Estrutura das nadadeiras (esquerda e direita) de tartarugas marinhas.

Fonte: Wyneken (2001, p. 52).

Outra característica importante adquirida durante a conquista do ambiente

marinho pelas tartarugas foi a glândula de sal. Estas são glândulas lacrimais

adaptadas para expelir o excesso de sal do corpo. Além da glândula de sal, as

tartarugas marinhas possuem a glândula Henderiana, responsável pela lubrificação

dos olhos (WYNEKEN, 2001) e uma das maiores glândulas pineais entre os

vertebrados, responsável pela sazonalidade da reprodução, ritmos biológicos e

termorregulação (OWENS, 1980).

O coração dos Testudines possui quatro câmaras: o sinus venosus, dois

átrios e um ventrículo (WYNEKEN, 2001). O ventrículo é dividido em três

compartimentos, cavum venosum, cavum arteriosum e cavum pulmonae. Esses três

compartimentos ventriculares são divididos apenas parcialmente uns dos outros

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(POUGH et al., 2003; WYNEKEN, 2001). Apesar disso, os sangues venoso e

arterial, geralmente, não se misturam, pois pressões diferenciais direcionam o fluxo

sanguíneo (POUGH et al., 2003). Esse arranjo anatômico possibilita o ajustamento

do fluxo sanguíneo, em um processo denominado desvio intracardíaco direita-

esquerda, o qual, provavelmente, permite um uso mais eficaz do oxigênio

armazenado nos pulmões em períodos de apnéia (POUGH et al., 2003).

O sistema respiratório é composto pela glote, traquéia e um brônquio para

cada pulmão. A glote abre-se durante a passagem de ar e fecha-se durante a

apnéia. O processo respiratório nos Testudines, tanto a inalação quanto a exalação,

depende de contração muscular. Nos quelônios aquáticos, além da respiração

pulmonar, pode haver alguma troca gasosa por meio dos tecidos da faringe e cloaca

(POUGH et al., 2003).

Como nos demais quelônios, o trato digestório inicia-se na boca e finaliza na

cloaca, e ainda inclui esôfago, estômago, intestino delgado, e intestino grosso. O

esôfago é o responsável por expelir a água ingerida com o alimento (WYNEKEN,

2001).

2.4 DISTRIBUIÇÃO

Das sete espécies de tartarugas marinhas, cinco, C. caretta, E. imbricata, C.

mydas, L. olivacea e D. coriacea estão distribuídas heterogeneamente ao redor do

globo, em oceanos tropicais e subtropicais; enquanto que as duas restantes, L.

kempii e N. depressus, são endêmicas do Golfo do México e da Austrália,

respectivamente (PRITCHARD, 1997; Figura 5).

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Figura 5 – Distribuição geográfica de Lepidochelys kempii e Natator depressus. Os pontos de interrogação indicam áreas em que existem apenas registros esparsos de ocorrências.

Fonte: Márquez (1990, p.39-40; 49-50).

Ao longo da costa da Carolina do Norte, a distribuição das tartarugas

marinhas, de forma geral, está relacionada às temperaturas superficiais da água, de

forma que sua distribuição geográfica não ocorre de maneira aleatória e sim

permanece dentro de uma variação de temperatura ideal (COLES; MUSICK, 2000).

Segundo Davenport (1997) tais limites de distribuição impostos pela temperatura da

superfície da água são as isotermas de 20°C – uma isoterma é uma linha imaginária

que liga locais com a mesma temperatura – portanto, as tartarugas marinhas estão

restritas a regiões com temperaturas superficiais da água maiores ou iguais a 20°C.

As populações das espécies C. mydas, E. imbricata e L. olivacea possuem

uma distribuição essencialmente tropical e subtropical, enquanto que C. caretta

adentra águas temperadas quentes, apresentando migrações ligadas à temperatura

entre áreas de alimentação temperadas no verão e áreas de alimentação

subtropicais e tropicais no inverno (DAVENPORT, 1997; Figuras 6, 7, 8 e 9). Essa

habilidade de C. caretta de adentrar mares temperados é comprovada por análises

de mtDNA, pois os genótipos das duas linhagens principais dessa espécie foram

encontrados tanto nas amostras do Atlântico e Mediterrâneo, quanto nas do Pacífico

e Índico. Este fato indica que existe um fluxo gênico interoceânico, provavelmente

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realizado através do Cabo da Boa Esperança (BOWEN et al., 1994). Já nas

populações de C. mydas, as análises de mtDNA revelaram uma distinção

filogenética entre as populações do Atlântico-Mediterrâneo e do Pacífico-Índico

(BOWEN et al., 1992).

Figura 6 – Distribuição geográfica de Chelonia mydas. Os pontos de interrogação indicam áreas em que existem apenas registros esparsos de ocorrências.

Fonte: Márquez (1990, p. 26-27).

Figura 7 – Distribuição geográfica de Eretmochelys imbricata. Os pontos de interrogação indicam áreas em que existem apenas registros esparsos de ocorrências.

Fonte: Márquez (1990, p. 31-32).

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Figura 8 – Distribuição geográfica de Lepidochelys olivacea. Os pontos de interrogação indicam áreas em que existem apenas registros esparsos de ocorrências.

Fonte: Márquez (1990, p. 43-44).

Figura 9 – Distribuição geográfica de Caretta caretta. Os pontos de interrogação indicam áreas em que existem apenas registros esparsos de ocorrências.

Fonte: Márquez (1990, p. 15-16).

A espécie D. coriacea, por sua vez, possui a mais ampla distribuição dentre

as tartarugas marinhas. Apesar de nidificar apenas nos trópicos, ela possui

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habilidade de forragear em águas frias, muitas vezes adentrando o círculo ártico

(DAVENPORT, 1997; Figura 10).

Figura 10 – Distribuição geográfica de Dermochelys coriacea.

Fonte: Márquez (1990, p. 53-55).

No Brasil ocorrem as cinco espécies de tartarugas marinhas distribuídas

mundialmente (MARCOVALDI; MARCOVALDI, 1999). A espécie C. caretta

representa cerca de 80% das nidificações da costa brasileira (BAPTISTOTTE et al.,

2003); enquanto que C. mydas possui grandes colônias reprodutivas nas ilhas

oceânicas de Atol das Rocas (RN) e Trindade (ES) e, em menor densidade, em

Fernando de Noronha (PE) (MARCOVALDI; MARCOVALDI, 1999).

2.5 CICLO DE VIDA

Frazier (1984) simplificou o ciclo das tartarugas marinhas em dez etapas: (1)

desenvolvimento embrionário em um ninho terrestre; (2) emergência dos filhotes e

deslocamento para o mar; (3) deslocamento dos filhotes na costa; (4)

desenvolvimento de juvenis em hábitats pelágicos; (5) desenvolvimento de imaturos

em águas costeiras; (6) desenvolvimento de sub-adultos e adultos em hábitats

neríticos; (7) migração de adultos, reprodutivamente ativos, das áreas de

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alimentação para as áreas de reprodução; (8) cópula; (9) nidificação; (10) migração

de retorno para áreas de alimentação.

Os ovos das tartarugas marinhas são incubados na areia das praias

(ACKERMAN, 1997; FRAZIER, 1984) e a duração da incubação pode variar de 50 a

80 dias (ACKERMAN, 1997). Os ovos dos répteis podem ser divididos em três

grupos de acordo com a estrutura de suas cascas: ovos de casca flexível com pouca

ou nenhuma camada calcária (maioria dos Squamata), ovos de casca flexível com

uma camada calcária fina e bem desenvolvida (alguns Testudines), e ovos de casca

rígida com uma camada calcária bem desenvolvida (Crocodilia, alguns Testudines e

poucos Squamata) (PACKARD et al., 1982). As tartarugas marinhas pertencem ao

segundo grupo, de forma que as cascas flexíveis de seus ovos possibilitam que o

microclima dentro do ninho afete diretamente o sucesso de eclosão e sobrevivência

dos filhotes (ACKERMAN, 1997; ECKERT, 1987; PACKARD et al., 1982). Ackerman

(1997) cita que os principais fatores diretamente envolvidos no processo de

incubação dos ovos de tartarugas marinhas são a temperatura, a umidade e as

trocas gasosas; enquanto que as características físicas da praia e do sedimento, o

clima e o tamanho da ninhada podem influenciar em tais fatores.

Após a eclosão, os filhotes permanecem dentro do ninho, por um período que

pode variar de dois a nove dias, com médias que variam entre espécies e entre

populações de uma mesma espécie. Diamond (1976) e Hitchings et al. (2004)

estudaram ninhos de E. imbricata e encontraram médias de emergência de 4-6 dias

(apenas dois ninhos foram estudados) e 3,8 dias, respectivamente. Já Christens

(1990) e Godfrey e Mrosovsky (1997) estudaram filhotes de C. caretta e encontraram

médias de 5,4 e 4,1, respectivamente. Esse é um importante estágio para os filhotes,

pois é quando ocorrem a absorção do restante do saco vitelino e o fechamento do

plastrão (GODFREY; MROSOVSKY, 1997). Considera-se que os filhotes de

tartarugas marinhas emergem como um grupo coeso, uns facilitando a subida dos

outros, sendo esta uma importante estratégia para minimizar os impactos da

predação dos filhotes durante o deslocamento para o mar (MILLER, 1997; POUGH

et al., 2003). Apesar disso, Diamond (1976), ao observar o processo de eclosão e

emergência dos filhotes de E. imbricata, provenientes de dois ninhos, por meio de

uma parede de vidro, notou que, em ambos, os filhotes não emergiram todos de uma

vez, e sim em grupos menores, entre 10 e 30 indivíduos de cada vez.

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Uma vez na praia, os filhotes direcionam-se para o horizonte mais luminoso e

de menor elevação (LOHMANN; LOHMANN, 1996). Ao entrarem no mar, sua

orientação passa a ser determinada pela direção das ondas; nesse caso eles não

utilizam informações visuais, sendo capazes de detectar a direção das ondas por

meio de diferenças na sua aceleração (LOHMANN et al., 1995). Em águas mais

profundas, após ultrapassarem a zona de refração das ondas, os filhotes passam a

utilizar sua orientação baseada no campo magnético da Terra (LOHMANN;

LOHMANN, 1996). Durante este deslocamento os filhotes utilizam reservas de

energia e apresentam um frenesi de natação (CARR, 1980).

Ao entrar no oceano aberto, os filhotes começam a fase juvenil do ciclo de

vida, a qual pode ser dividida em uma fase oceânica ou pelágica e uma fase costeira

(FRAZIER, 2001). A fase pelágica é pouco conhecida, e acredita-se que durante

este período, os juvenis dispersem-se passivamente pelas correntes oceânicas

(CARR, 1980), freqüentemente associados a bancos de sargaço em zonas de

convergência, onde encontram alimento e abrigo (BOLTEN et al., 1995; CARR,

1980). Filhotes de C. caretta que nidificam nos Estados Unidos da América (EUA)

migram passivamente pela Corrente do Atlântico Norte, utilizando áreas de

alimentação no Atlântico Leste e no mar Mediterrâneo (BOLTEN et al., 1995;

BOWEN et al., 2005). Por sua vez, C. caretta que nascem no Japão deslocam-se

por mais de 10000 km até a Baja Califórnia (BOWEN et al., 1995). Eretmochelys

imbricata da Venezuela, também parecem utilizar a Corrente do Atlântico Norte para

se deslocar durante a fase pelágica (BUITRAGO; GUADA, 2002).

Após um período, ainda desconhecido, as tartarugas marinhas juvenis

adentram hábitats costeiros e iniciam a fase de vida nerítica (FRAZIER, 1984).

Durante essa fase as tartarugas adquirem preferências específicas, sobretudo em

relação ao hábitat e alimentação (FRAZIER, 1984). No caso da supracitada

população de C. caretta dos EUA, acredita-se que os juvenis utilizem hábitats

costeiros, próximos à sua área de nascimento, para alimentação e desenvolvimento

(BOLTEN et al., 1995). Já a população de C. caretta do Japão, utiliza áreas de

alimentação e desenvolvimento no Pacífico Leste, região de Baja Califórnia, no

México (BOWEN et al., 1995).

Uma vez tornando-se sub-adultas, as tartarugas marinhas trocam seus

hábitats de alimentação de juvenis para hábitats de alimentação de adultos (BOWEN

et al., 2005). Nessas áreas, os adultos armazenam energia e nutrientes para a

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temporada reprodutiva. O crescimento das tartarugas marinhas é um processo lento,

de modo que sua maturidade sexual é tardia (DAVENPORT, 1997). Como as taxas

de crescimento variam de uma população para outra dependendo da disponibilidade

e qualidade dos recursos nas áreas de alimentação, a maturidade sexual também

varia (MONCADA et al., 1999). De acordo com Davenport (1997) a maturidade

sexual em E. imbricata ocorre entre 6 e 10 anos, em C. caretta entre 15 e 20 anos e

entre 20 e 50 anos em C. mydas.

Após a maturação, os adultos migram de suas áreas de alimentação para as

áreas de reprodução, que são, geralmente, o local de seu nascimento ou próximos a

ele (FRAZIER, 2001). Esse processo de retorno à área de nascimento é conhecido

como “natal homing” e foi comprovado por análises de mtDNA em populações de C.

caretta (BOWEN et al., 1994), C. mydas (ALLARD et al., 1994; BOWEN et al., 1992),

D. coriacea (DUTTON et al., 1999) e E. imbricata (BASS, 1999).

A orientação de juvenis e adultos de tartarugas marinhas ainda não é

completamente compreendida e muitos estudos não são conclusivos. Acredita-se

que eles sejam capazes de orientação baseadas em mapas de navegação (AVENS;

LOHMANN, 2004; LOHMANN et al., 2001), os quais possuem coordenadas

baseadas na inclinação e magnitude do campo magnético da Terra (LOHMANN;

LOHMANN, 1996). Além das informações do campo magnético, as tartarugas

podem utilizar informações visuais, possivelmente baseadas no compasso do Sol ou

em padrões de polarização da luz solar (AVENS; LOHMANN, 2003). Luschi et al.

(2001) realizaram um estudo com C. mydas na Ilha de Ascensão e concluíram que

elas também podem se orientar por meio de informações sensoriais desprendidas da

ilha, possivelmente informações sonoras e olfativas.

Em geral, uma fêmea não desova em temporadas reprodutivas consecutivas

(CARR, 1980; DAVENPORT, 1997; DIAMOND, 1976). Como a alocação de energia

para a migração e reprodução depende da qualidade e disponibilidade de recursos

na área de alimentação (TIWARI; BJORNDAL, 2000) esses fatores influenciarão o

intervalo de uma fêmea entre suas temporadas reprodutivas consecutivas. Miller

(1997) encontrou que tais intervalos de re-migração podem variar entre um e nove

anos, dependendo da espécie.

As cópulas de tartarugas marinhas ocorrem geralmente em áreas próximas à

praia de nidificação (BOLTEN et al., 1995; DAVENPORT, 1997; OWENS, 1980),

mas parte delas pode ocorrer ainda na área de alimentação ou na rota migratória

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(BOWEN et al., 2005). As fêmeas, provavelmente, possuem a capacidade de

estocar esperma pelo menos para aquela temporada reprodutiva (OWENS, 1980).

Hendrickson (1982) afirma que existe uma grande similaridade no processo

de nidificação entre as espécies de tartarugas marinhas, desde as características do

local de desova até o comportamento de nidificação. Tais características

semelhantes refletiriam as limitações anatômicas e fisiológicas adquiridas pela sua

história evolutiva comum (HENDRICKSON, 1982). Além disso, como essas espécies

existem há milhões de anos, as alterações na dinâmica e ecologia das praias de

nidificação e as mudanças climáticas globais, que ocorreram ao longo deste período

evolutivo, podem ter sido responsáveis pela manutenção deste padrão bem-

sucedido de reprodução em todas as espécies, enquanto que as especializações –

necessárias para a diferenciação das espécies – foram restringidas às preferências

alimentares e de hábitat (HENDRICKSON, 1982). É este o caso, por exemplo, da

morfologia das ranfotecas (bicos de queratina das tartarugas), a qual varia de acordo

com a dieta, podendo, inclusive ser utilizada para a identificação das espécies

(WYNEKEN, 2001).

Todas as espécies de tartarugas marinhas desovam em praias marinhas

arenosas (HENDRICKSON, 1982), em áreas tropicais, subtropicais e temperadas

quentes (DAVENPORT, 1997). Miller (1997) sugere que a distribuição das áreas de

nidificação ao redor do mundo pode ser determinada pela fisionomia das praias e

outras pressões seletivas às quais as tartarugas marinhas respondem como

temperatura, umidade, condutividade do substrato da praia aos gases, erosão ou

inundação da praia, predação, acesso costeiro a correntes marinhas adequadas

para os filhotes, entre outras.

Miller (1997) divide o processo de nidificação em sete etapas principais: (1)

emersão do mar; (2) subida à praia; (3) escavação da cama; (4) construção do

ninho; (5) ovoposição e fechamento do ninho; (6) cobertura da cama; (7) retorno ao

mar.

Após emergir do mar e subir à praia, as fêmeas iniciam a escavação da cama

(Figura 11). Trata-se de um comportamento para a preparação do local de

nidificação antes da construção do ninho: com as nadadeiras, a tartaruga realiza a

retirada de areia superficial e entulhos. O motivo pelo qual a fêmea pára de escavar

a cama é desconhecido, mas Miller et al. (2003) afirmam que fêmeas de C. caretta

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escavam camas mais profundas em areias mais secas ou mais soltas,

provavelmente para atingir uma camada de sedimento mais firme e coeso.

Figura 11 – Rastro e, em destaque, cama de uma tartaruga marinha na praia do Patizeiro, Itacaré, Bahia.

A construção do ninho ocorre de forma estereotipada entre as espécies e é

realizada com os membros posteriores (CARR, 1980). Nem todas as emersões e

tentativas das fêmeas resultam na construção do ninho e deposição dos ovos. Wang

e Cheng (1999) verificaram que em média uma fêmea de C. mydas no arquipélago

de PengHu em Taiwan emerge três vezes antes de nidificar de forma bem-sucedida.

O fracasso na construção do ninho pode ser devido à dificuldade das fêmeas em

encontrar um local adequado ou perturbações. Nesses casos a tartaruga volta para

o mar e retorna mais tarde na mesma noite ou em noites seguintes para uma nova

tentativa (BUSTARD; GREENHAM, 1968). O sucesso na construção do ninho está

relacionado à umidade (BUSTARD; GREENHAM, 1968; FERREIRA-JÚNIOR et al.,

2003; MORTIMER, 1990), tamanho (FERREIRA-JÚNIOR et al., 2003; MORTIMER,

1990) e grau de compactação do sedimento (FERREIRA-JÚNIOR et al., 2003). A

presença de raízes grandes e grossas dificulta a construção, mas quando a

vegetação supralitorânea é composta de plantas com raízes finas e não tão

profundas, ela torna o substrato mais adequado para a construção do ninho,

Gislaine Delfino

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impedindo o colapso das paredes (BUSTARD; GREENHAM, 1968; WANG; CHENG,

1999).

Uma vez que a ovoposição tenha sido concluída, a tartaruga fecha o ninho e,

em seguida, cobre a cama lançando areia para trás com seus membros anteriores.

O comportamento de cobertura da cama objetiva o restabelecimento do ambiente da

praia para promover isolamento térmico e hídrico (MILLER, 1997).

O tamanho das ninhadas varia entre e dentro das espécies de tartarugas

marinhas. Em média, as ninhadas maiores são de E. imbricata e as menores de N.

depressus, com médias de 130 e 52,8 ovos, respectivamente (MILLER, 1997). A

variação intra-específica do tamanho da ninhada, por sua vez, relaciona-se com os

recursos disponíveis na área de alimentação, com o percurso realizado durante a

migração para a área de reprodução e com a duração da temporada reprodutiva

(TIWARI; BJORNDAL, 2000). A qualidade e a disponibilidade de recursos e o

percurso durante a migração influenciam a quantidade de energia alocada para a

produção de ovos (TIWARI; BJORNDAL, 2000). Enquanto que a duração da

temporada reprodutiva restringe o período para o gasto dessa energia: em regiões

onde a duração é menor, as fêmeas, geralmente, depositam ninhadas maiores de

ovos menores, a fim de canalizar energia em mais filhotes (TIWARI; BJORNDAL,

2000).

Todas as espécies de tartarugas marinhas desovam mais de uma vez por

temporada reprodutiva (FRAZIER, 1984). O número e o intervalo entre nidificações

sucessivas variam de espécie para espécie, sendo os extremos representados por L.

kempii e D. coriacea: L. kempii desova, em média, 1,8 ninhada por temporada,

enquanto que D. coriacea desova, em média, 6,2 ninhadas (MILLER, 1997). Em

relação aos intervalos entre uma nidificação e outra, Davenport (1997) afirma que os

mais curtos são realizados por D. coriacea – de 9 a 10 dias –, enquanto que L.

olivacea e L. kempii possuem os intervalos mais longos – de 17 a 20 dias e de 28 a

30 dias, respectivamente.

As temporadas de reprodução variam ao redor do mundo, devido ao intervalo

de temperatura ótimo para o desenvolvimento embrionário, sendo mais curtas em

latitudes maiores (TIWARI; BJORNDAL, 2000). No Brasil elas se estendem de

setembro a março nas praias costeiras e de dezembro a junho nas ilhas oceânicas

(MARCOVALDI; MARCOVALDI, 1999). Os machos são os primeiros a iniciar a

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migração de volta para as áreas de alimentação, sendo seguidos, após algumas

semanas, pelas primeiras fêmeas (OWENS, 1980).

2.6 LOCAL DE NIDIFICAÇÃO

A praia de nidificação é a única ligação remanescente das tartarugas

marinhas com o ambiente terrestre (ACKERMAN, 1980) e a localização favorável do

ninho é essencial para o desenvolvimento e sobrevivência dos filhotes e,

consequentemente, para a manutenção em longo prazo das populações de

tartarugas marinhas (ACKERMAN, 1980; ECKERT, 1987).

A seleção do local de nidificação pode ser dividida em três fases: seleção da

praia, do local de emergência da fêmea e do local para construção do ninho (WOOD;

BJORNDAL, 2000). As escolhas da praia e do local de emergência provavelmente

estão relacionadas às características da plataforma continental e da antepraia, por

exemplo, para C. caretta e E. imbricata as áreas de grande concentração de ninhos

são caracterizadas pela ausência de barreiras de rochas e recifes

(GONCHOROSKY, 1998; MARCOVALDI; LAURENT, 1996) e pela exposição menor

ao impacto das ondas (HORROCKS; SCOTT, 1991). A preferência das fêmeas

destas espécies por praias com essas características, provavelmente, está

relacionada às dificuldades mecânicas e custos energéticos de adentrar e sair de

praias com grande ação de ondas ou com presença de recifes de corais e rochas

(GONCHOROSKY, 1998; HORROCKS; SCOTT, 1991).

Além disso, a largura da praia (GARMESTANI et al., 2000; GONCHOROSKY

1998) e a concentração de fragmentos calcários (GARMESTANI et al., 2000)

também já foram sugeridos como fatores que afetam também a seleção da praia por

C. caretta. As características do sedimento apresentam grande variedade nas praias

de nidificação ao redor do mundo, mas algumas similaridades como valores altos de

esfericidade, diâmetro médio entre 0,2 e 1,0 mm, grau de selecionamento moderado

e baixas concentrações de carbono orgânico e de salinidade foram encontradas em

50 praias de nidificação de C. mydas ao redor do mundo (MORTIMER, 1990). Por

outro lado, Richard e Hughes (1972), sugerem que a densidade de ninhos de C.

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mydas e L. olivacea na Costa Rica se relaciona com a proximidade e acessibilidade

das praias a correntes marinhas costeiras e não com a sua qualidade.

As tartarugas marinhas usam uma variedade de praias para nidificação e

essa variedade se reflete em diferenças nos padrões de seleção do local de

nidificação tanto entre espécies, como entre populações de uma mesma espécie

(MROSOVSKY, 2006). Neste contexto, o ato de “fuçar” (nuzzling) ou “cheirar”

(smelling) a areia foi descrito como um padrão comportamental adjunto ao processo

geral de seleção do local de nidificação em quatro gêneros de tartarugas marinhas:

Caretta, Eretmochelys, Chelonia e Dermochelys, de acordo com Carr e Ogren (1979

apud STONEBURNER; RICHARDSON, 1981). Ao realizarem esse comportamento,

as fêmeas parecem remover uma camada de areia e, após uma pausa

momentânea, pressionar a cabeça contra a camada de sedimento exposta

(STONEBURNER; RICHARDSON, 1981).

Estudos que analisaram a preferência de tartarugas marinhas em desovar na

zona de areia – zona da praia onde não existe vegetação – ou na zona de

vegetação – zona recoberta pela vegetação – encontraram diferenças intra e

interespecíficas. As tartarugas da espécie C. caretta preferem desovar em locais

próximos à linha de vegetação (FERREIRA-JUNIOR et al., 2003; HAYS;

SPEAKMAN, 1993; LEONE, 2006), sendo que na praia de Cefalônia, na Grécia, elas

não nidificam além dessa linha (HAYS; SPEAKMAN, 1993); na APA Costa de

Itacaré-Serra Grande, sudeste da Bahia, elas desovam preferencialmente na zona

de areia, seguida pela zona de borda – a qual contém areia e vegetação (LEONE,

2006); em Arembepe, litoral norte da Bahia, as fêmeas também preferem a zona de

areia (SERAFINI, 2007); e no litoral do Espírito Santo, a desova ocorre de forma

indistinta entre essas duas zonas (FERREIRA-JUNIOR et al., 2003, 2005). Como

nos estudos citados anteriormente, Hays et al. (1995) também constataram que os

ninhos de C. caretta da Flórida se agruparam próximos à linha de vegetação. Ao

gerar um modelo estatístico de aleatoriedade da distância percorrida a partir da linha

de água, no entanto, estes autores também encontraram um agrupamento próximo à

linha de vegetação, causado pelas limitações em escavar o ninho na zona vegetada.

Esses autores sugerem, portanto, que o fato dos ninhos de C. caretta se localizarem

próximos à linha de vegetação pode estar relacionado a distâncias aleatórias

percorridas aliadas a limitações na escavação do ninho.

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Fêmeas da espécie C. mydas também parecem preferir locais próximos à

linha de vegetação (BUSTARD; GREENHAM, 1968; WANG; CHENG, 1999;

WHITMORE; DUTTON, 1985), desovando preferencialmente na zona de vegetação

no Japão (WANG; CHENG, 1999) e no Suriname (WHITMORE; DUTTON, 1985).

Whitmore e Dutton (1985) sugerem que esta preferência poderia estar relacionada à

competição com fêmeas de D. coriacea nas áreas de desova no Suriname, as quais

nidificam preferencialmente na zona de areia (KAMEL; MROSOVSKY, 2004;

WHITMORE; DUTTON, 1985).

Por outro lado, E. imbricata prefere nidificar na zona de vegetação, quando

possível (HORROCKS; SCOTT, 1991; KAMEL; MROSOVSKY, 2006a, 2006b;

MONCADA et al., 1999). Estudos realizados no Brasil, no entanto, com populações

do litoral da Bahia não encontraram preferências entre as zonas para fêmeas dessa

espécie (SERAFINI, 2007; LEONE, 2006). Leone (2006) sugere que, nas praias

estudadas no litoral sul da Bahia, esse fato pode ter ocorrido devido à acentuada

inclinação no início da vegetação, a qual dificulta o acesso das fêmeas a essa zona.

Quanto à posição do ninho em relação à linha de maré – área da praia que a

água atinge durante a maré alta, a população de C. mydas da Ilha de Ascensão

parecem utilizar a topografia da praia para identificar a linha de maré alta de sizígia –

maré de grande amplitude, quando as marés lunares e solares reforçam uma à outra

(HAYS et al., 1995). Isso é possível porque como um grande número de fêmeas

utiliza as praias dessa ilha para nidificação, os locais acima da linha de maré alta de

sizígia apresentam uma topografia irregular, devido à construção de muitas camas,

enquanto que a zona da praia lavada pela maré alta apresenta uma topografia

regular (HAYS et al., 1995).

A população de E. imbricata do litoral norte da Bahia percorre maiores

distâncias em relação à linha de água a medida que a largura da praia aumenta

(SERAFINI, 2007). As fêmeas de E. imbricata em Barbados, por outro lado, parecem

ser mais sensíveis à elevação acima do nível do mar do que à distância da maré

alta, ao selecionarem seus locais de nidificação (HORROCKS; SCOTT, 1991). As

fêmeas tendem a desovar em elevações específicas, sendo que para atingi-las

percorrem uma distância maior em praias menos íngremes e, menor em praias com

maior declividade (HORROCKS; SCOTT, 1991).

Fêmeas de D. coriacea no Caribe não apresentaram padrão de nidificação em

relação à linha de água (ECKERT, 1987). Enquanto que na Guiana Francesa as

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fêmeas dessa espécie tenderam a nidificar em distâncias particulares em relação à

maré alta de sizígia, embora a distância em relação à linha de água no momento da

desova tenha variado (KAMEL; MROSOVSKY, 2004).

Já foi sugerido que C. caretta utiliza informações térmicas para escolher o

local do ninho. Stoneburner e Richardson (1981) observaram que fêmeas desta

espécie iniciam a cavar seus ninhos quando detectam um aumento na temperatura

da areia. Entretanto, outros pesquisadores que estudaram a relação da temperatura

com a escolha do local de nidificação e não encontraram relação sugerem que os

resultados de Stoneburner e Richardson (1981) podem estar relacionados com um

erro metodológico na coleta de dados da temperatura da areia: estes autores teriam

medido a temperatura das camadas inferiores nos locais de nidificação (SPEAKMAN

et al., 1998; HAYS et al., 1995).

As diferenças de padrões comportamentais de nidificação entre espécies

podem estar relacionadas à dinâmica de suas praias de desova (MROSOVSKY,

2006). Existem dois tipos de mudanças na dinâmica da praia: as que ocorrem em

uma estação e as que ocorrem em períodos mais longos. Baseado nesses dois

tipos, podem se distinguir dois aspectos de padrões na seleção do local pelas

fêmeas. O primeiro está relacionado ao espalhamento ou agrupamento da

distribuição dos ninhos da população ao longo da praia. O segundo aspecto refere-

se à distribuição dos fenótipos na população, ou seja, se os indivíduos tendem a

escolher locais específicos e se eles diferem em relação a tais escolhas

(MROSOVSKY, 2006).

Os estudos citados anteriormente referem-se apenas, ao primeiro aspecto,

pois analisaram a preferências da população e não dos indivíduos. Estudos do

segundo aspecto analisam a fidelidade de um mesmo indivíduo em suas diferentes

escolhas do local para construção do ninho. Neste contexto, fêmeas de E. imbricata

apresentam preferências por microhabitats específicos da praia, com alguns

indivíduos nidificando na zona de vegetação rasteira, outros na borda da floresta e

outros ainda dentro da floresta (KAMEL; MROSOVSKY, 2005, 2006b). Essas

preferências mantiveram- se ao se considerar desovas sucessivas em uma mesma

temporada e aquelas em temporadas sucessivas (KAMEL; MROSOVSKY, 2006b).

Preferências individuais também foram encontradas em populações do cágado

Chrysemis picta (JANZEN; MORJAN, 2001). Essa ocorrência de escolhas repetitivas

de uma mesma zona de nidificação indica que existem polimorfismos desse padrão

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comportamental dentro de uma população e a manutenção dessa diversidade

fenotípica pode ocorrer por meio da variabilidade das condições ambientais e dos

riscos de fracasso dos ninhos de uma temporada reprodutiva para outra (KAMEL;

MROSOVSKY, 2005). Se esse polimorfismo fenotípico, por sua vez, advém de

variabilidade genética, a seleção do local de nidificação deve possibilitar a

adaptação a condições alternantes no futuro (MROSOVSKY, 2006).

No entanto, estudos com D. coriacea não encontraram tal consistência

individual nas escolhas dos locais de nidificação (ECKERT, 1987; MROSOVSKY,

1983; NORDMOE et al., 2004), exceto pelo trabalho de Kamel e Mrosovsky (2004)

que encontraram uma consistência na escolha em relação à linha de maré alta de

sizígia, embora essa consistência não tenha se mantido quando foi considerada a

linha de água no momento da desova.

Como pode ser observado pelas informações anteriores existe uma

diversidade de informações ambientais que podem ter sido utilizadas por diferentes

populações ou diferentes indivíduos de uma mesma população. Entretanto, Wood e

Bjorndal (2000) ressaltam a possibilidade de que as diversas informações sejam

utilizadas em conjunto. Neste caso podem ocorrer duas situações. Na primeira, os

fatores ambientais estariam dispostos em uma escala hierárquica com valores

máximos e/ou mínimos a serem ultrapassados antes que ela inicie a construção do

ninho (por exemplo, temperatura/ salinidade/ umidade/ declividade). Na segunda

situação as tartarugas utilizariam as informações ambientais de forma integrada,

selecionando os locais baseados em padrões específicos de associação (WOOD;

BJORNDAL, 2000).

De qualquer forma, o sucesso de eclosão seria aumentado se a informação

ambiental pudesse ser utilizada para uma seleção favorável do local de nidificação

(ECKERT, 1987). Faz-se necessário compreender o processo de incubação dos

ovos de tartarugas marinhas, e as características ambientais que o afetam, para

compreender os processos de seleção do local de nidificação e garantir a

conservação das espécies.

Dentre as condições adequadas da praia para a incubação dos ovos estão

temperatura, umidade ou potencial de água, salinidade e níveis dos gases

respiratórios (ACKERMAN, 1997). A interação entre a estrutura física da praia, as

características do seu sedimento, o clima local e os próprios ovos geram o

microclima adequado para o desenvolvimento embrionário (ACKERMAN, 1997).

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A temperatura afeta o processo de incubação e o desenvolvimento

embrionário. O primeiro é afetado de duas formas principais: pela imposição de

limites térmicos, geralmente entre 24°C e 34°C para tartarugas marinhas (YNTEMA;

MROSOVSKY, 1982); e pela influência em sua duração – ovos incubados em

temperaturas mais altas desenvolvem-se mais rápido. Quanto ao desenvolvimento

embrionário, a temperatura afeta o sexo (YNTEMA; MROSOVSKY, 1982), tamanho

e quantidade de reservas energéticas remanescentes após a eclosão (BOOTH et al.,

2004; HEWAVISENTHI; PARMENTER, 2001), mobilização de nutrientes,

anormalidades da carapaça (HEWAVISENTHI; PARMENTER, 2001) e desempenho

de natação dos filhotes (BOOTH et al., 2004; FOLEY, 2000). Matsuzawa et al.

(2002) registraram ainda efeitos negativos de temperaturas muito altas nos

processos de eclosão e emergência.

Destes efeitos, vale destacar a influência na determinação do sexo: como na

maioria dos quelônios e em muitos répteis, as tartarugas marinhas possuem a

determinação sexual dependente da temperatura de incubação (DAVENPORT,

1997). Temperaturas altas geram maior número de fêmeas e temperaturas baixas

geram maior número de machos (YNTEMA; MROSOVSKY, 1982). A temperatura

que gera 50% de machos e 50% de fêmeas é chamada temperatura pivotal e,

embora haja variações entre espécies e populações de uma mesma espécie, elas se

agrupam em torno de 29°C (DAVENPORT, 1997). Neste contexto, a população de

C. caretta que desova no litoral norte da Bahia apresentou temperatura pivotal de

29,2°C (MARCOVALDI et al., 1997), enquanto que a temperatura pivotal da

população de E. imbricata foi de 29,6°C (GODFREY et al., 1999).

De acordo com Davenport (1997), a temperatura do ninho é afetada por

quatro fatores principais: clima durante a temporada de desova, altura da maré,

cobertura vegetal e comportamento de desova da fêmea. De fato, no Brasil, ovos

depositados no início da temporada de reprodução são incubados em temperaturas

mais baixas e por isso apresentam maior duração de incubação do que ovos do final

da temporada (BAPTISTOTTE et al., 1999; FERREIRA-JÚNIOR et al., 2003; NARO-

MACIEL et al., 1999), comprovando a influência do clima na temperatura do ninho.

Da mesma forma, a inundação pela maré (BAPTISTOTTE et al., 1999; HAYS;

SPEAKMAN, 1993) e a vegetação (BOODRAM et al., 2003; KAMEL; MROSOVSKY,

2006a) atuam na diminuição das temperaturas de incubação.

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Estudos realizados em laboratório comprovaram que a absorção de água é

essencial para a sobrevivência dos filhotes de C. mydas (BUSTARD; GREENHAM,

1968) e de C. caretta (MCGEHEE, 1990). Além disso, a umidade do sedimento afeta

a duração da incubação de ovos de C. caretta (MCGEHEE, 1990) e o tamanho dos

filhotes, a mobilização de nutrientes e a quantidade de reservas energéticas

remanescentes após a eclosão de N. depressus (HEWAVISENTHI; PARMENTER,

2001). Entretanto, em estudos realizados in situ os resultados variaram: Foley et al.

(2006) registraram uma influência da umidade no sucesso de eclosão C. caretta,

enquanto que Horrocks e Scott (1991) e Wood e Bjorndal (2000) não encontraram

essa relação para populações de E. imbricata e C. caretta, respectivamente.

A salinidade modifica o impacto das condições hídricas no desenvolvimento

embrionário (MILLER, 1997). Entretanto, afeta o sucesso de eclosão dos ovos,

somente quando em grande concentração (BUSTARD; GREENHAM, 1968).

Portanto, a influência da salinidade no sucesso de eclosão só é verificada quando

são incluídos nas análises ninhos inundados pela maré (FOLEY et al., 2006). De

fato, ao coletar amostras de sedimento apenas no momento da postura, Wood e

Bjorndal (2000) não verificaram essa relação.

As características do sedimento da praia de nidificação, meio onde os ovos de

tartarugas marinhas são incubados, limitam as trocas respiratórias, visto que os

gases devem se difundir pelas frações do solo preenchidas por ar (ACKERMAN,

1997). As características da difusão de gases podem ainda ser modificadas por

fatores geológicos e físicos, como por exemplo o tamanho dos grãos e a umidade do

sedimento (ACKERMAN, 1977), sendo que existe um ambiente respiratório ótimo

para o desenvolvimento embrionário (ACKERMAN, 1981). O tamanho dos grãos do

sedimento e a quantidade de água presente afetam o movimento dos gases ao

influenciar a proporção de frações preenchidas por ar (ACKERMAN, 1980). O

impedimento das trocas gasosas entre o ninho e o ambiente externo gera alterações

no tamanho dos filhotes e do vitelo residual, prolongamento da incubação e aumento

da mortalidade embrionária (ACKERMAN, 1981).

As características físicas da praia de nidificação e a localização do ninho ao

longo da praia podem influenciar os fatores citados acima. Neste contexto, o

tamanho do sedimento pode afetar as condições hídricas, de salinidade e de difusão

de gases no interior do ninho (ACKERMAN, 1997; MILLER, 1997). De fato, estudos

realizados in situ verificaram uma relação negativa entre o tamanho médio da

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partícula do sedimento e o sucesso do ninho para populações de C. mydas da ilha

de Ascensão (MORTIMER, 1990) e de C. caretta no Espírito Santo, Brasil

(FERREIRA-JUNIOR et al., 2007). Por outro lado, para populações de C. caretta da

praia da Guanabara, no Espírito Santo (FERREIRA-JUNIOR et al., 2003), e das ilhas

do sudoeste da Flórida (FOLEY et al., 2006) e para a população de E. imbricata de

Barbados (HORROCKS; SCOTT, 1991) essa relação não foi constatada.

Estudos que analisaram a influência da localização do ninho, geralmente o

fizeram em relação à linha de maré ou à linha de vegetação. A maioria desses

trabalhos concluiu que ninhos na zona de areia ou na zona de vegetação possuem

probabilidades semelhantes de sobrevivência, embora o fracasso seja causado por

perturbações diferentes, como erosão pela maré na zona de areia ou predação na

zona de vegetação (BOODRAM et al., 2003; ECKERT, 1987; FOWLER, 1979;

KARAVAS et al., 2005; LEONE, 2006; WHITMORE; DUTTON, 1985). Outros,

porém, verificaram que o sucesso de eclosão foi significativamente maior para

ninhos depositados mais distantes do mar (HAYS; SPEAKMAN, 1993), sobretudo

quando se considera ninhos que se localizavam em uma zona sujeita à erosão e que

provavelmente teriam sido erodidos, caso não tivessem sido transferidos para áreas

mais seguras (FERREIRA-JUNIOR et al., 2003, 2005). Além disso, já foi constatada

a influência da elevação (HORROCKS; SCOTT, 1991), altura do ninho em relação

ao nível do mar (FERREIRA-JUNIOR et al., 2007) e declividade (WOOD;

BJORNDAL, 2000) no sucesso de ninhos de tartarugas marinhas.

As perturbações que podem levar ao fracasso ou diminuição do sucesso dos

ninhos variam de acordo com a localização do ninho ao longo da praia. Na zona de

areia são: erosão (FERREIRA-JUNIOR et al., 2003, 2005), inundação (WHITMORE;

DUTTON, 1985; FOLEY et al., 2006;) e infestação por larvas (MCGOWAN et al.,

2001). Enquanto que na zona de vegetação a predação dos ninhos (FOWLER,

1979) e a desorientação dos filhotes após emergência (GODFREY; BARRETO,

1995; KAMEL; MROSOVSKY, 2004) são as principais perturbações. Além disso,

ninhos depositados distantes da linha de água aumentam a probabilidade de

predação e dessecação de filhotes durante o percurso para o mar (HORROCKS;

SCOTT, 1991).

Alguns pesquisadores verificaram que a localização do ninho na praia

influencia a duração da incubação (FOWLER, 1979; KAMEL; MROSOVSKY, 2006a),

sendo maior na zona de vegetação, sobretudo devido à diminuição da temperatura

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pelo sombreamento (KAMEL; MROSOVSKY, 2006a). Já outros estudos não

verificaram essa relação (FERREIRA-JÚNIOR et al., 2003, 2005). O maior tempo de

incubação aumenta a probabilidade de ataque por predadores terrestres e

infestação por fungos (DAVENPORT, 1997).

Diante disso é inegável que se uma fêmea fosse capaz de utilizar essas

informações a fim de maximizar a sobrevivência dos filhotes ou influenciar suas

características, como o sexo, ela possuiria uma vantagem seletiva (HAYS;

SPEAKMAN, 1993; ROOSEMBURG, 1996). O que foi verificado para E. imbricata

em Barbados, que preferiram desovar em praias e em locais onde o sucesso de

eclosão é maior e onde os riscos de predação e custos energéticos são menores

tanto para as fêmeas quanto para os filhotes (HORROCKS; SCOTT, 1991).

Baseados nestes resultados, Horrocks e Scott (1991) formularam a hipótese de que

as tartarugas podem produzir ninhadas maiores ao desovarem em suas praias

preferenciais. Resultados obtidos em laboratório sobre a influência da umidade no

sucesso de ninhos de C. caretta e sua comparação com a umidade encontrada em

ninhos naturais sugeriram as condições de umidade de áreas freqüentadas pelas

fêmeas para nidificação coincidem com as condições ótimas requeridas para o

máximo sucesso de eclosão. Hays e Speakman (1993) sugerem que onde há um

padrão previsível para o sucesso de eclosão dos filhotes, as fêmeas tendem a

nidificar em áreas que maximizam a sobrevivência dos filhotes. Estudos realizados

no Brasil com C. caretta e E. imbricata, entretanto, não verificaram preferência por

áreas onde o sucesso é maior, visto que locais de grande concentração de ninhos

não apresentaram sucessos de eclosão maiores ou os ninhos se distribuíram

indistintamente pelas zonas da praia, enquanto que o sucesso de eclosão variou

entre elas (FERREIRA-JUNIOR et al., 2003; SERAFINI, 2007).

Quanto ao controle da razão sexual dos filhotes, um estudo realizado com C.

mydas sugeriu que esta espécie não utiliza as informações ambientais disponíveis

para controlar a temperatura de incubação dos ovos (HAYS et al., 1995). Por outro

lado, Chrysemis picta, um cágado que também possui determinação sexual

dependente da temperatura, parece selecionar o local de nidificação de modo a

haver um controle materno da razão sexual dos filhotes a longo prazo (JANZEN;

MORJAN, 2001). No entanto, em Emydura macquarii, um cágado que possui

determinação sexual genética e, portanto, exclui a possibilidade de seleção do local

de nidificação baseada na manipulação da determinação sexual dos filhotes, o risco

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de predação do ninho é um dos principais fatores a direcionar a seleção do local de

nidificação (SPENCER; THOMPSON, 2003).

Diante do exposto, é possível sugerir que a dispersão dos ninhos ao longo da

praia, sinal de inconsistência nas escolhas do local de nidificação, ocorra quando a

informação ambiental disponível não permite prever a sobrevivência da prole

(ECKERT, 1987; KAMEL; MROSOVSKY, 2005). Deste modo, pode não haver

padrão para o posicionamento do ninho simplesmente porque não há padrão para a

perda deles (ECKERT, 1987). Quando a praia passa por alterações freqüentes na

sua ecologia, o espalhamento dos ninhos e, consequentemente, dos riscos de

perda, reduz a perspectiva de que uma grande proporção do esforço reprodutivo da

fêmea seja perdida por meio da destruição de qualquer zona particular do hábitat

(ECKERT, 1987). Além disso, o posicionamento dos ninhos atuais pode refletir

escolhas que no passado produziram, em média, os melhores resultados, dada as

flutuações históricas no clima e morfologia das praias (MROSOVSKY, 2006).

2.7 CONSERVAÇÃO

As tartarugas marinhas, tipicamente, apresentam uma alta capacidade

reprodutiva, visto que cada fêmea pode depositar de 80 a 200 ovos em um único

ninho e até 12 ninhos em uma temporada reprodutiva e um indivíduo pode

reproduzir por mais de 20 anos (FRAZIER, 2001). Em contrapartida esses animais

apresentam também alta mortalidade durante as primeiras fases do ciclo de vida.

Muitos ovos não sobrevivem para eclodir, muitos filhotes não alcançam o mar e

muitos filhotes no mar morrem antes de atingir a fase reprodutiva. Assim, estima-se

que menos de um filhote em cada 1000 ovos, ou provavelmente, menos de um

filhote em cada 10000 ovos sobreviva até a maturidade (FRAZIER, 2001).

Apesar dessa grande pressão seletiva natural, as populações de tartarugas

marinhas têm sobrevivido e se adaptado a mudanças globais há milhões de anos

(PRITCHARD, 1997). O fato de todas as espécies figurarem nas listas de espécies

ameaçadas, portanto, deve-se à excessiva pressão antrópica a qual são submetidas

(PRITCHARD, 1997).

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2.7.1 Ameaças antropogênicas

Lutcavage et al. (1997) citam como as principais ameaças atuais às

tartarugas marinhas a alteração e perda de hábitat, poluição marinha, captura

incidental na pesca, e caça e coleta de indivíduos e ovos (Figura 12).

Figura 12 – Principais ameaças às tartarugas marinhas.

Fonte: Projeto TAMAR-ICMBio.

Tanto os hábitats marinhos quanto os terrestres das tartarugas marinhas

estão sendo deteriorados e degradados. Hábitats utilizados durante seus diferentes

estágios de desenvolvimento, como bancos de algas e recifes de corais, têm sido

severamente impactados pela poluição ambiental, e, conseqüente, redução da

qualidade da água (LAGUEAUX et al., 2003). Além disso, as áreas de nidificação

são constantemente alteradas e degradadas, sobretudo, pelo desenvolvimento

costeiro, que gera impactos negativos como utilização da areia para construções;

iluminação artificial, que desorienta os filhotes e afasta as fêmeas; retirada da

vegetação do pós-praia; e construção de estruturas permanentes como muros de

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contenção de encostas, que limitam o acesso das fêmeas à praia (MEYLAN;

DONNELLY, 1999). Tais alterações, causadas pelo desenvolvimento costeiro,

podem obrigar as fêmeas a nidificarem em locais que não são os mais adequados, o

que resulta na redução do sucesso de eclosão de seus ninhos e influencia a razão

sexual dos filhotes (HORROCKS; SCOTT, 1991). Além disso, o desenvolvimento

costeiro acarreta um aumento do uso recreativo das praias, que, por sua vez, pode

aumentar a compactação da areia, aumentando a mortalidade de filhotes dentro do

ninho (KUDO et al., 2003).

A poluição marinha, além de gerar impactos diretos pela degradação dos

hábitats das tartarugas marinhas, pode provocar a mortalidade de indivíduos por

meio da ingestão de lixo (BUITRAGO; GUADA, 2002). Neste contexto, cerca de 80%

dos indivíduos juvenis de C. caretta encalhados no Mediterrâneo apresentavam lixo

em seu trato digestivo (TOMÁS et al., 2002); enquanto que lixo antropogênico

provocou a mortalidade de 60,5% de juvenis de C. mydas encalhados no sul do

Brasil (BUGONI et al., 2001). Fragmentos plásticos representaram 76% do lixo

encontrado no trato dos juvenis de C. caretta no Mediterrâneo, tendo sido

encontrados também piche, papel, isopor, anzóis, linhas, cordas, entre outros

(TOMÁS et al., 2002).

Quanto à captura incidental na pesca, Marcovaldi et al. (2006) identificaram

18 tipos de pescarias que interagem com tartarugas marinhas no Brasil, das quais

16 são costeiras e duas são realizadas em oceano aberto. As pescas de oceano

aberto são a pesca com espinhel e redes de deriva, para captura de tubarões.

Estudos realizados ao redor do mundo concluíram que as principais espécies

impactadas pela pesca pelágica são C. caretta e D. coriacea (KOTAS et al., 2004;

LEWINSON et al., 2004; MARCOVALDI et al., 2006; PINEDO; POLACHECK, 2004).

No ano de 2000, mais de 200000 indivíduos de C. caretta e 50000 de D. coriacea

foram capturados como fauna acompanhante da pesca de espinhel em 40 nações

ao redor do mundo (LEWINSON et al., 2004). Dentre as artes de pesca costeiras no

Brasil, as capturas incidentais, em redes de arrasto de camarão e redes de espera

de lagosta, destacam-se como as mais impactantes para tartarugas marinhas

(MARCOVALDI et al., 2006). Além disso, outras interações, como colisão com

embarcações, emalhamento em redes de pesca, ingestão de anzol e linhas, podem

causar lesões e levar a mortalidade de tartarugas (OROS et al., 2005).

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Apesar das ameaças citadas causarem considerável impacto nas populações

de tartarugas marinhas ao redor do mundo, acredita-se que a captura direta de

indivíduos e a coleta de seus ovos são os grandes responsáveis pela sobre-

exploração, declínio e extinção local de muitas populações de tartarugas marinhas

ao redor do mundo (LUTCAVAGE et al., 1997). Praticamente todos os estágios de

vida, exceto os filhotes, são explorados, sendo os mais vulneráveis as fêmeas em

época de nidificação e seus ovos (LUTCAVAGE et al., 1997). As diferentes espécies

de tartarugas são capturadas para consumo da carne e ovos (principalmente C.

mydas); para a confecção de jóias e ornamentos, com seus cascos e ossos

(principalmente, E. imbricata), de bolsas e sapatos, com seu couro (sobretudo,

Lepidochelys sp.); e para a produção de cosméticos, com seu óleo (LUTCAVAGE et

al., 1997).

Uma ameaça relativamente recente para as tartarugas marinhas é a mudança

climática global, constantemente acelerada pelas atividades humanas. Davenport

(1997) afirma que o aquecimento está ocorrendo de uma forma tão rápida que

impossibilitará o surgimento de respostas adaptativas por parte das populações de

tartarugas marinhas. Neste sentido, já foi constatado que o início da temporada de

reprodução de tartarugas marinhas nos EUA adiantou-se em cerca de 10 dias, em

relação aos últimos 15 anos (WEISHEMPEL et al., 2004). Como a nidificação ocorre,

geralmente, nos meses mais quentes do ano, este adiantamento do início da

temporada reprodutiva parece indicar que o aumento da temperatura terrestre já é

sentido pelas tartarugas marinhas, O aquecimento global pode levar a produção de

um maior número de fêmeas, tornando inviável a manutenção a longo prazo das

populações (DAVENPORT, 1997; GLEN: MROSOVSKY, 2004).

2.7.2 Importância ecológica

Tartarugas marinhas, quando em grandes populações, têm efeito substancial

no ecossistema marinho que habitam na medida em que atuam como consumidores,

presas, competidores, hospedeiros para parasitas e patógenos, substrato para

epibiontes e transportadores de nutriente (BJORNDAL; JACKSON, 2003).

As tartarugas marinhas transportam epibiontes, como cracas incrustantes e

algas filamentosas em seus cascos (DIAMOND, 1976), podendo ser consideradas,

freqüentemente, como um ecossistema semelhante ao de uma ilha (FRAZIER,

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1984). Outras interações com outros animais incluem simbioses com o camarão

Stenopus hispidus e com as rêmoras. A primeira é uma simbiose de limpeza, na qual

os camarões eliminam epibiontes das tartarugas e, ao mesmo tempo, alimentam-se

(SAZIMA et al., 2004). Já a interação com as rêmoras parece não apresentar

vantagens para a tartaruga, mas a rêmora economiza energia ao ser transportada,

além de aumentar as oportunidades de acasalamento e forrageamento (SAZIMA;

GROSSMAN, 2006).

Quanto à capacidade das tartarugas em transportar nutrientes do

ecossistema marinho para o terrestre: as fêmeas, ao desovarem, introduzem

grandes quantidades de nutrientes e energia no ecossistema da praia, os quais são

utilizados pela vegetação do pós-praia e pelas populações de predadores terrestres

(BOUCHARD; BJORNDAL, 2000). Desta forma, as tartarugas podem realizar um

importante papel na manutenção da vegetação e, consequentemente na

estabilização das dunas.

Diante de todos esses exemplos da importância ecológica das tartarugas

marinhas, percebe-se que elas têm papel fundamental no fluxo energético e

manutenção da dinâmica dos ecossistemas marinhos e praial, o que justifica os

esforços que devem ser realizados em prol de sua conservação (BJORNDAL;

JACKSON, 2003).

2.7.3 Status de conservação

Das sete espécies de tartarugas marinhas atuais, seis são consideradas

ameaçadas de extinção. De acordo com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas

da IUCN (União Mundial para Conservação da Natureza), C. caretta, C. mydas e L.

olivacea estão “ameaçadas”, enquanto que D. coriacea, E. imbricata e L. kempii

estão “criticamente ameaçadas”; N. depressus possui “dados insuficientes” para

definição de seu status atual (IUCN, 2006). Além disso, todas as espécies

encontram-se listadas no Apêndice I da Cites (Convenção Internacional para o

Comércio de Espécies), ou seja, são consideradas ameaçadas e seu comércio

internacional é proibido, exceto para fins não comerciais.

Alguns estudos demonstraram que, após a implantação de programas de

conservação, algumas populações de tartarugas marinhas, sobretudo de C. mydas,

apresentam uma tendência de aumento populacional (BALAZS; CHALOUPKA, 2004;

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BRODERICK et al., 2006; TROENG; RANKING, 2005). Por outro lado, das

populações de E. imbricata no mundo existem apenas cinco populações regionais,

nas quais mais de 1.000 fêmeas são registradas anualmente, a saber: Seicheles,

México, Indonésia e duas na Austrália (MEYLAN; DONNELLY 1999). No Brasil,

dados sobre o número de ninhos por temporada reprodutiva sugerem uma tendência

de aumento nas populações reprodutivas de E. imbricata no Rio Grande do Norte,

Bahia e Sergipe (MARCOVALDI et al., 2007), de L. olivacea na Bahia e Sergipe (DA

SILVA et al., 2007) e de D. coriacea no Espírito Santo (THOMÉ et al., 2007), após a

implantação do Projeto TAMAR-ICMBio.

Mrosovsky (2003) discorda dos critérios estabelecidos pela IUCN para a

elaboração da Lista Vermelha e acredita que as categorias de ameaçada e

criticamente ameaçada não se aplicam às espécies de tartarugas marinhas, exceto

por L. kempii, pois são globalmente distribuídas e possuem populações em

ascensão em todo o mundo. Broderick et al. (2006) sugerem que as espécies não

deveriam ser consideradas como globalmente ameaçadas, mas deveriam ser

analisadas como subpopulações, de forma a possibilitar que estratégias

direcionadas a elas sejam estabelecidas.

Independente do critério utilizado e da categoria de ameaça na qual as

espécies de tartarugas marinhas se encaixam, sabe-se que esses animais possuem

um baixo recrutamento e que atividades humanas interferem em todos os estágios

de seu complexo ciclo de vida. Provavelmente, se programas de conservação não

tivessem sido criados, legislações nacionais e acordos internacionais (como CITES,

Convenção de Espécies Migratória, Convenção Interamericana para a Proteção e

Conservação das Tartarugas Marinhas, entre outros) não tivessem sido

estabelecidos, muitas populações, e talvez até mesmo espécies, de tartarugas

marinhas já teriam sido extintas.

Devido ao seu complexo ciclo de vida, a conservação das tartarugas

marinhas depende da conservação de seus hábitats marinhos e terrestres

(FRAZIER, 1984). Atenção especial deve ser dada às áreas de alimentação, pois

são nelas que os indivíduos adquirem e armazenam energia para a reprodução

(MILLER, 1997). Principalmente, porque a comprovação da hipótese de “natal

homing” indica que a mortalidade de indivíduos em áreas de alimentação pode

afetar diversas populações reprodutivas (BASS, 1999). No entanto, as praias de

desova são uma prioridade, pois o crescimento e manutenção da população

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dependem da sobrevivência das fêmeas e dos ovos (FRAZIER, 1984). Miller (1997)

afirma que a criação de áreas protegidas, como parques nacionais, é um dos

caminhos para a proteção dos hábitats de tartarugas marinhas.

2.7.4 Conservação no Brasil

Atualmente, as cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil

são mencionadas na Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas

de Extinção: C. mydas e C. caretta estão listadas na categoria “vulnerável”, L.

olivacea e E. imbricata como “em perigo” e D. coriacea como “criticamente em

perigo” (IBAMA, 2003).

A proteção de tartarugas marinhas, no Brasil, prevista na Lei de Proteção à

Fauna, iniciou-se em 1967, mas a proteção total somente foi regulamentada em

1986 (MARCOVALDI; MARCOVALDI, 1999). A pressão internacional crescente

levou o governo brasileiro a criar, no início da década de 80, o Programa Nacional

para a Conservação de Tartarugas Marinhas (TAMAR), ligado ao então Instituto

Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), atual Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade (ICMBio) (MARCOVALDI; MARCOVALDI, 1999).

Desde a sua criação o projeto TAMAR ampliou sua abrangência de três bases

iniciais, em Pirambu (SE), Praia do Forte (BA) e Comboios (ES), para 22 bases,

distribuídas em nove estados brasileiros, incluindo áreas de reprodução e de

alimentação.

O Projeto TAMAR-ICMBio abrange mais de 1100 km de praias da costa

brasileira, de forma que muitas áreas de nidificação no Brasil, que possui 8000 km

de costa, não são monitoradas. Nessas áreas não abrangidas e que, geralmente,

possuem menor densidade de ninhos, o TAMAR apóia iniciativas locais como as do

presente estudo.

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3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

o Avaliar a seleção do local de nidificação e sua influência no sucesso de

eclosão de C. caretta e E. imbricata nas praias de Pompilho, Patizeiro e Itacarezinho

(APA Costa de Itacaré – Serra Grande) durante a temporada reprodutiva de

2006/2007.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

o monitorar as espécies de tartarugas marinhas que utilizam as praias de

Pompilho, Patizeiro e Itacarezinho para nidificação;

o contabilizar os ninhos existentes na região;

o analisar o sucesso de eclosão dos ninhos;

o quantificar a mortalidade embrionária em suas diferentes fases e levantar

os motivos de sua ocorrência;

o investigar o padrão de seleção do local de nidificação pelas fêmeas das

diferentes espécies em relação dinâmica das praias, à vegetação e características

do sedimento e a sua influência no sucesso de eclosão.

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4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 ÁREA DE ESTUDO

O presente estudo foi realizado em um trecho costeiro da Área de Proteção

Ambiental Costa de Itacaré – Serra Grande, compreendendo as praias do Pompilho,

Patizeiro e Itacarezinho, localizado nos municípios de Uruçuca e Itacaré do litoral sul

do Estado da Bahia (Figura 13).

Figura 13 – Localização da área de estudo.

A APA Costa de Itacaré – Serra Grande foi criada pelo Decreto Estadual

nº. 2186 de 7 de junho de 1993 e teve sua área aumentada pelo Decreto Estadual

nº. 8649 de 22 de setembro de 2003. Portanto, atualmente a APA perfaz uma área

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estimada de 62960,2 ha., abrangendo áreas dos municípios de Ilhéus, Uruçuca e

Itacaré. A APA foi criada devido à relevância ecológica e beleza cênica das “falésias

rochosas associadas a remanescentes de Mata Atlântica e planícies costeiras com a

presença de vegetação de restinga, além de importantes ecossistemas marinhos”.

Tais características constituem “valioso patrimônio ambiental” e “apreciável valor

cênico”, favorecendo, assim o desenvolvimento do turismo ecológico e sustentável

(BAHIA, 1993).

O clima na região é quente e úmido, sem estação seca definida, com

temperaturas médias anuais variando de 21°C a 24°C, pluviosidade anual superior a

2000 mm e umidade relativa do ar, em média, superior a 60% (SEI, 1999). Essa área

do litoral está sujeita a um regime de mesomarés semidiurnas, sendo que as

maiores e menores marés de sizígias ocorrem, geralmente, nos meses de março e

setembro, quando apresentam amplitudes máximas e mínimas em torno de 2,4 m e -

0,1 m, respectivamente (DHN, 2007).

O trecho da APA onde foi realizado o estudo possui aproximadamente 11 km

de extensão, sendo limitado por afloramentos rochosos tanto ao norte quanto ao sul.

Cinco cursos de água possuem sua foz nessa área, sendo a do rio Tijuípe a mais

expressiva. De acordo com Lavenère-Wanderley et al. (2005) as características

morfodinâmicas dessas praias demonstram uma mudança gradativa no continuum

dissipativo-refletivo de norte para sul. Rodrigues (2004) concluiu que as três praias

estudadas podem ser caracterizadas como oceânicas, diretamente influenciadas

pelas condições do oceano, sendo dominadas por ondas e sem grande influência de

estuários e rios. Quanto à ocupação humana, existem poucas construções

permanentes, mas pescadores acampam frequentemente nas praias, principalmente

na foz do rio Tijuípe.

4.2 COLETA DE DADOS

4.2.1 Monitoramento das praias e localização dos ninhos

De setembro de 2006 a março de 2007 foram realizados monitoramentos

diários da área de estudo, iniciados na praia do Pompilho e finalizados no costão de

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Itacarezinho. Em abril de 2007 os monitoramentos foram realizados apenas três

vezes por semana.

O percurso foi realizado a pé a partir das 5:30 horas e objetivou a localização,

identificação e marcação de ninhos de tartarugas marinhas. Ao se visualizar rastros

de fêmeas, a cama foi escavada com as mãos a fim de confirmar a desova e

localizar a posição exata da câmara dos ovos. Uma vez que os mesmos tivessem

sido localizados, o ninho era sinalizado com uma estaca padrão identificada com seu

número de registro. Moradores e pescadores da região auxiliaram na localização de

ninhos, sinalizando-os quando os encontravam antes da realização do

monitoramento pela equipe deste estudo. Todos os ninhos foram georeferenciados

com auxílio de um GPS (eTrex Legend, Garmin).

Durante os monitoramentos diários a situação dos ninhos foi verificada para

registro de possíveis perturbações, como predação por animais silvestres ou

domésticos, erosão pela maré, perda de estaca ou roubo de ovos. Com base na

observação ou não de tais interferências os ninhos foram classificados quanto ao

seu histórico. Um histórico de sucesso (sensu TAMAR, 2006) significa que os ninhos

chegaram ao final do período de incubação sem que tenha ocorrido alguma destas

perturbações, sendo incluídos nessa categoria os ninhos que não geraram filhotes.

Ao completarem 50 dias de incubação, os ninhos foram verificados de forma mais

minuciosa a fim de identificar sinais da eclosão dos filhotes ou de sua emergência.

4.2.2 Coleta das variáveis do ninho

Ao serem visualizados os rastros dos filhotes na praia ou após 80 dias de

incubação, os ninhos foram abertos para identificação das espécies e coleta das

variáveis biológicas. Foram analisados as seguintes variáveis biológicas dos ninhos

para cada uma das espécies identificadas:

a) tamanho de ninhada: número total de ovos viáveis no ninho; excluiu-se

desse total os ovos anômalos – sem vitelo ou com formato e tamanho anormais.

b) duração da incubação: considerado desde o dia da desova até o dia da

emergência dos filhotes, quando seus rastros foram visualizados na praia.

c) sucesso de eclosão: número total de filhotes vivos, estimados a partir da

contagem das cascas – inclui filhotes vivos retidos no ninho e que foram liberados na

praia – dividido pelo tamanho da ninhada;

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d) filhotes natimortos: número de filhotes mortos dentro do ninho após a

eclosão – inclui também filhotes mortos que perfuraram a casca do ovo, mas não a

deixaram – dividido pelo tamanho da ninhada;

e) ovos não desenvolvidos: número de ovos não eclodidos que não

apresentavam sinais de desenvolvimento embrionário dividido pelo tamanho da

ninhada;

f) embriões mortos em fase embrionária inicial (fase 1): número de ovos não

eclodidos, que apresentavam embriões menores do que 10 mm ou sinais de

formação de sangue dividido pelo tamanho da ninhada;

g) embriões mortos em fase embrionária intermediária (fase 2): número de

ovos não eclodidos contendo embriões de tamanhos entre 10 e 30 mm dividido pelo

tamanho da ninhada;

h) embriões mortos em fase embrionária tardia (fase 3): número de ovos não

eclodidos que possuíam embriões com mais de 30 mm de comprimento dividido pelo

tamanho da ninhada;

Como pôde ser observado pelas variáveis analisadas, os ovos não eclodidos

foram divididos em ovos não desenvolvidos e mortalidade embrionária fase 1, fase 2

e fase 3, e esta classificação baseou-se naquela de Eckert e Eckert (1990). Os ovos

não desenvolvidos podem se tratar de ovos inférteis ou com mortalidade embrionária

precoce. De acordo com Wyneken et al. (1988), como os ninhos são abertos em

média apenas após 55 dias de incubação, a mortalidade embrionária precoce pode

ser mascarada pela decomposição e pode não ser distinguível da infertilidade

verdadeira.

Após a abertura do ninho e coleta das variáveis biológicas, amostras do

sedimento foram coletadas em toda a extensão vertical da parede do ninho. Optou-

se por coletar toda a extensão da parede devido à mistura de diferentes camadas do

sedimento feita pelas fêmeas durante a construção dos ninhos e em razão dos

processos de transporte sedimentar que ocorre continuamente ao longo do período

de incubação. O material coletado foi transferido para sacos plásticos, que foram

lacrados e em seguida transportados para a Universidade Estadual de Santa Cruz.

As amostras permaneceram congeladas até a realização das análises de

caracterização do sedimento, de modo a evitar alterações no conteúdo de matéria

orgânica.

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43

4.2.3 Morfodinâmica praial

Paralelamente às atividades de identificação e acompanhamento dos ninhos

foi realizado o estudo da dinâmica das praias por meio do levantamento dos perfis

topográficos emersos nas Praias de Pompilho, Patizeiro e Itacarezinho. Esta etapa

do trabalho foi coordenada pela Professora Msc. Ana Amélia Lavènere-Wanderley,

do Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Estadual de

Santa Cruz.

O primeiro levantamento foi realizado após a ocorrência do primeiro ninho e,

em seguida, uma vez por mês durante o período do estudo. As coletas foram

realizadas em marés baixas de sizígia, quando se observa uma maior área emersa

de praia, facilitando assim o trabalho topográfico. O perfil transversal emerso foi

obtido através do método das balizas de Emery (1961), em sete pontos ao longo da

área de estudo, sendo três na praia do Pompilho, três na praia do Patizeiro e um na

praia de Itacarezinho, que abrangeram todas as variações da dinâmica destas

praias. A relação entre o desnível topográfico e a largura da face da praia foi

utilizada para o cálculo da tangente β, a qual por sua vez, foi utilizada, juntamente

com a altura e período das ondas, para o cálculo da declividade. A declividade foi

calculada apenas para a largura da zona de espraiamento – porção da praia atual

diretamente influenciada pela variação da maré – em razão da variação nos perfis

emersos ao longo dos meses (Figura 14a). Com base na declividade, os perfis

topográficos foram classificados em dissipativos (mais planos), intermediárias

dissipativos, intermediários refletivos e refletivos (mais íngremes), segundo

metodologia proposta por Klein (1997) e adaptada por Rodrigues (2004), na qual as

características morfodinâmicas do ambiente são expressas por variações na

declividade do perfil praial.

Com base nos levantamentos topográficos e de acordo com os processos de

transporte sedimentar preponderantes durante os meses de estudo os perfis foram

classificados como: perfil com processo erosivo, perfil com processo de acresção,

perfil estável e perfil imprevisível. Para essa classificação foi observada a ocorrência

da deposição (acresção) ou retirada (erosão) de sedimento na face de berma –

terraço sedimentar formado pela deposição de sedimento – entre dois meses

consecutivos. Optou-se por analisar apenas a dinâmica da face de berma, pois a

maioria dos ninhos concentrou-se nessa região da praia. Um perfil apresentou

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erosão ou acresção quando a diferença entre os dois meses era maior do que

50 cm, altura média dos ninhos de tartarugas marinhas (Figura 14b).

Figura 14 – Exemplo de um perfil emerso de praia, obtido através do levantamento topográfico durante seis meses na praia do Pompilho, Bahia. (a) zona de espraiamento, utilizada para o cálculo da declividade; (b) face de berma utilizada para a classificação dos processos de transporte sedimentar.

Durante o levantamento de dados dos perfis, foram coletadas amostras do

sedimento por meio da raspagem dos 2,0 cm superficiais em três pontos de cada

perfil praial: no limite com a vegetação, no centro da face de praia e na zona de

máximo refluxo da onda. Tais amostras foram transferidas para sacos plásticos, que

foram em seguida lacrados, identificados e transportados para a UESC onde foram

mantidas a 20°C negativos para análises posteriores.

4.2.4 Distância da vegetação

Foi considerada como linha de vegetação uma linha imaginária paralela à

linha da praia, traçada a partir de qualquer indicador de presença de vegetação fixa

(presença de sistema radicular), que estivesse localizado em um trecho de 1,0 m de

largura a partir da localização da câmara de ovos. Com base nessa definição e

considerando-se um transecto mar-praia, transversal à linha de costa, os ninhos

poderiam estar posicionados na zona com vegetação (após a linha de vegetação) ou

na zona de areia (antes da linha; Figura 15). Os dados de distância do ninho até a

linha de vegetação foram coletados com o auxílio de uma trena de 30 metros.

(a)

(b)

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Figura 15 – Método utilizado para traçar a linha de vegetação (LV) e medir a distância do ninho em relação a ela (d): estão exemplificados dois ninhos, um localizado na zona de areia e outro na zona com vegetação.

4.2.5 Caracterização do sedimento

As amostras de sedimento coletadas no limite com a vegetação, na face de

praia e nas paredes dos ninhos foram caracterizadas quanto à fração orgânica e

parâmetros granulométricos – diâmetro médio, grau de selecionamento e assimetria.

As amostras da zona de refluxo da onda foram caracterizadas somente quanto aos

parâmetros granulométricos.

O descongelamento das amostras foi realizado à temperatura ambiente. Uma

vez descongeladas, as mesmas foram divididas em sub-amostras para a realização

das análises. A obtenção dessas sub-amostras foi realizada por meio do método de

quarteamento, a fim de que as mesmas fossem representativas da composição total

da amostra (PONZI, 1995).

Para a análise granulométrica foram retiradas sub-amostras de 50 g de areia,

que foram lavadas para a completa eliminação dos sais solúveis e, após secagem

em estufa a 105°C, foram processadas mecanicamente por meio da sua passagem

em uma seqüência de nove peneiras de malhas de aberturas padronizadas que

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resultou na classificação do sedimento nas seguintes classes de tamanho: >2,0mm;

>1,0mm; >0,500mm; <0,355mm; >0,250mm; >0,180mm; >0,125mm; >0,090mm;

>0,063mm; <0,063mm. Este processo foi realizado com auxílio de um agitador

elétrico tipo Rotap por um período de 15 minutos. O material retido em cada peneira

foi então pesado, utilizando-se uma balança de precisão (0,0001g). Os resultados da

análise granulométrica foram processados no programa Sistema de Análises

Granulométricas (SAG), desenvolvido pelo Laboratório de Geomorfologia Costeira

da Universidade Federal Fluminense, para a determinação dos percentis (Φ5, Φ16,

Φ50, Φ84, Φ95). Os dados são fornecidos pelo programa em escala Phi (Φ), a qual

é numericamente definida por:

Φ = log (d-1)/log 2, onde d é o diâmetro do grão em milímetros (mm).

A partir dos valores dos percentis calculados pelo SAG, foram calculados os

parâmetros estatísticos da análise granulométrica: média aritmética e grau de

assimetria gráfica, de acordo com as fórmulas propostas por Folk e Ward (1957

apud PONZI, 1995):

Média = Φ16 + Φ50 + Φ84

3

Grau de assimetria = Φ16 + Φ84 – 2*(Φ50) + Φ5 + Φ95 – 2*(Φ50)

2*(Φ84 – Φ16) 2* (Φ95 – Φ5)

Os valores obtidos por essas fórmulas, em escala Phi, foram convertidos para

milímetros por meio da relação:

d = 1/2Φ

A determinação da fração orgânica foi realizada de acordo com metodologia

descrita por Karavas et al. (2005), sendo obtida por meio da diferença entre o peso

antes e após a queima da amostra em mufla a 500ºC por cinco horas. Para essa

análise foram utilizados sub-amostras de 15 g. Foi realizada validação da

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metodologia utilizando-se amostras de 50 g e 15 g. Para as amostras da parede dos

ninhos as análises foram realizadas em duplicatas, sendo repetidas quando a

diferença da porcentagem de matéria orgânica entre as duplicatas foi superior a

30%.

4.2.6 Análise estatística

Inicialmente, foram comparadas as variáveis biológicas das duas espécies de

tartarugas que desovaram na temporada por meio do teste t de Student, quando as

distribuições eram normais (tamanho de ninhada, duração da incubação e sucesso

de eclosão), ou pelo teste de Mann-Whitney, quando não apresentavam distribuição

normal, no caso para todas as categorias de mortalidade embrionária. As categorias

de mortalidade embrionária – proporção de filhotes natimortos, de ovos não

desenvolvidos, de embriões fases 1, 2 e 3 – foram comparadas pelo teste de

Kruskal-Wallis, seguido pelo teste a posteriori do método de Student-Newman-Keuls,

para verificar em quais delas a mortalidade foi maior.

Foi utilizado o teste qui-quadrado para as análises de seleção do local de

nidificação quanto aos perfis topográficos e quanto à posição em relação à linha de

vegetação. A seleção em relação à linha de vegetação foi ainda analisada quanto à

distância do ninho até essa linha em cada posição – zona com vegetação ou zona

de areia – por meio do teste de Mann-Whitney. A seleção quanto às características

do sedimento foi analisada de acordo com o modelo de Speakman et al. (1998), no

qual foram comparadas as médias e variâncias de locais aleatórios – amostras

coletadas nos levantamentos topográficos – e dos ninhos – coletadas das suas

paredes. Este modelo pressupõe que: a) se a variância nos ninhos for menor do que

nos locais aleatórios e as médias forem diferentes, as tartarugas escolheriam

preferencialmente um subgrupo daquela característica, o qual difere da média

disponível; b) se a variância nos ninhos for menor do que nos locais aleatórios e as

médias forem iguais, as fêmeas selecionariam locais que são consistentemente

próximos da média da praia; c) se a variância nos ninhos for maior do que nos locais

aleatórios as tartarugas selecionariam locais excepcionais. Neste último caso,

Speakman et al. (1998) sugerem que as fêmeas selecionam os locais provavelmente

a fim de influenciar características específicas dos filhotes, como por exemplo, o

sexo. A comparação das variâncias foi realizada por meio do teste F, enquanto que

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a comparação das médias foi realizada por meio dos testes t de Student ou de

Mann-Whitney, dependendo se os dados apresentavam distribuição normal ou não.

Para analisar a influência do local de nidificação nas variáveis dos ninhos, as

categorias de mortalidade embrionária (proporção de ovos não desenvolvidos e de

embriões mortos em fases 1, 2 e 3) foram agrupadas na categoria “proporção de

ovos não eclodidos”, a fim de tornar as análises estatísticas mais robustas, por meio

da redução das variáveis dependentes. A influência da posição dos ninhos em

relação à linha de vegetação nas variáveis dos ninhos foi analisada por meio dos

testes t de Student ou de Mann-Whitney. Para verificar a influência da distância em

relação à linha de vegetação os dados dos ninhos localizados em cada posição

foram analisados separadamente e foram utilizados testes de regressão linear,

quando possível (nos casos em que não houve normalidade dos resíduos da

regressão, os testes não foram realizados). Não foi possível analisar a influência da

linha de vegetação – em relação à posição ou à distância – na duração da

incubação, devido ao baixo número amostral. Quanto às características do

sedimento, analisou-se apenas a influência dos parâmetros da análise

granulométrica – diâmetro médio e grau de assimetria. Para tanto, os ninhos foram

divididos nas seguintes classes:

a) quanto ao diâmetro médio: areia grossa (0,48 ≤ diâmetro (phi) ≤ 0,86) e

areia média a fina (1,47 ≤ diâmetro (phi) ≤ 2,29);

b) quanto ao grau de assimetria: assimetria negativa (-0,22 ≤ assimetria

(phi) ≤ -0,11), simétrica (-0,10 ≤ assimetria (phi) ≤ 0,00) e assimetria positiva (0,15 ≤

assimetria (phi) ≤ 0,26).

Em seguida foi realizada a comparação de médias por meio dos testes t de

Student ou Mann-Whitney, para o diâmetro médio e por meio do teste de Kruskal-

Wallis, para o grau de assimetria, seguido pelo teste a posteriori do método de

Student-Newman-Keuls. As análises foram realizadas com o uso do programa

BioEstat (versão 4.0). A normalidade foi testada para todas as variáveis por meio do

teste de Lilliefors e para todas as análises foi empregado o nível de significância

0,05.

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5 RESULTADOS

5.1 DADOS GERAIS

5.1.1 Temporada reprodutiva

Durante a temporada 2006/2007 foram registrados ninhos das espécies

Caretta caretta e Eretmochelys imbricata. O primeiro ninho de C. caretta foi

encontrado no dia 11 de outubro de 2006 e o último no dia 19 de janeiro de 2007. Já

para E. imbricata a primeira desova identificada ocorreu no dia 25 de novembro de

2006 e o último ninho ocorreu no dia 8 de março de 2007. Registraram-se 42 ninhos,

dos quais 32 foram identificados, destes 17 (53,1%) pertenciam eram de C. caretta e

15 de E. imbricata (46,9%).

5.1.2 Histórico dos ninhos

Do total de ninhos registrados, três (7,1%) foram perdidos devido à perda ou

roubo de estaca, dois (4,8%) foram levados pela maré e quatro (9,5%) foram

predados por animais silvestres, provavelmente raposa (Cerdocyon thous), sendo

um de C. caretta, dois E. imbricata e um não identificado (Figura 16). Acredita-se

que dois (4,8%) ninhos tenham sido predados por humanos (roubo de ovos), pois

após 80 dias de incubação, a câmara dos ovos não foi localizada, mas foram

encontradas cascas de quatro e cinco ovos.

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Figura 16 – Ninho de E. imbricata predado por animal silvestre, possivelmente raposa (Cerdocyon thous) na APA Costa de Itacaré-Serra Grande: a) garras nas paredes do ninho; b) filhotes mortos encontrados na praia.

Os 31 (73,8%) ninhos restantes apresentaram um histórico de sucesso, dos

quais dois não foram identificados, pois não apresentaram filhotes natimortos ou

ovos não eclodidos contendo embriões fases 2 e 3 (Figura 17).

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Su Ro PE PA PM

Histórico dos ninhos

Número de ninhos (%)

Espécie não identificada

Eretmochelys imbricata

Caretta caretta

Figura 17 – Histórico dos ninhos registrados na temporada 2006/2007: Su, sucesso de incubação; Ro, provável roubo de ovos; PE, perda ou roubo de estaca; PA, predados por animal; PM, levados pela maré.

(a)

(b)

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5.2 VARIÁVEIS DOS NINHOS

Os cálculos das variáveis dos ninhos e suas relações com o local de

nidificação foram realizados somente com aqueles que puderam ser identificados e

que apresentaram histórico de sucesso de incubação, sendo 16 de C. caretta e 13

de E. imbricata. Na área monitorada, os tamanhos médios das ninhadas diferiram

entre as espécies (t = - 3,20; p = 0,003) com médias de 86,3 ± 24,3 ovos para C.

caretta e 119,2 ± 31,1 ovos para E. imbricata (Figura 18a; Tabela 1). Para o cálculo

da duração média da incubação foram utilizados apenas os dados dos ninhos em

que foram visualizados os rastros dos filhotes – indicativo de sua emersão, mas que

podem ser apagados pela chuva ou pelo vento. A duração média da incubação foi

de 57,3 ± 3,9 dias para C. caretta (n = 10, 51-65 dias) e 59,7 ± 3,8 dias para E.

imbricata (n = 7, 52-63 dias) e não diferiu entre as espécies (t = - 1,26; p = 0,23;

Figura 18b; Tabela 1).

Figura 18 – a) Tamanho médio de ninhada e b) duração média da incubação para os ninhos de C. caretta e E. imbricata na APA Costa de Itacaré-Serra Grande, durante a temporada reprodutiva 2006-2007. As caixas representam as medianas e os quartis, enquanto que as suíças (whiskers) representam os limites máximos e mínimos

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Tabela 1 – Variáveis dos ninhos para C. caretta e E. imbricata que desovaram na APA Costa de Itacaré-Serra Grande, durante a temporada 2006/2007.

Variáveis C. caretta E. imbricata

Média DP n Média DP n

Tamanho de ninhada (nº.

ovos)a

86,3 24,3 16 119,2 31,1 13

Duração da incubação (dias) 57,3 3,9 10 59,7 3,8 7

Sucesso de eclosão (%) 58,2 36,6 16 74,9 25,8 13

Natimortos (%)b 3,3 6,1 16 7,4 8 13

Não-desenvolvidos (%) 20,6 25,4 16 7,8 10,3 13

Embriões Fase 1 (%) 4,4 8,4 16 6,7 10,4 13

Embriões Fase 2 (%) 1,1 2,3 16 0,3 0,7 13

Embriões Fase 3 (%) 12,3 27,3 16 2,8 3,2 13 a médias diferiram entre as duas espécies (teste t de Student, p < 0,05). b médias diferiram entre as duas espécies (teste de Mann-Whitney, p < 0,05).

Caretta caretta e E. imbricata também não diferiram quanto ao sucesso de

eclosão (t = -1,43; p = 0,16), proporção de ovos não desenvolvidos (z(U) = 1,38,

p = 0,17) e proporções de embriões mortos em fase embrionária inicial (z(U) = 1,36,

p = 0,17), intermediária (z(U) = 0,44, p = 0,66) e tardia (z(U) = 0,2850, p = 0,78). Por

outro lado, as duas espécies diferiram quanto ao número de natimortos (z(U) = 2,15,

p = 0,0317), que foi maior para E. imbricata (7,4 ± 8 %) do que para C. caretta

(3,3 ± 6,1 %, Tabela 1).

As categorias de mortalidade embrionária foram comparadas entre si para

verificar em quais delas a mortalidade foi maior. Nos ninhos de C. caretta o número

de ovos não desenvolvidos foi maior do que o número de natimortos (p = 0,001),

embriões em fase 1 (p = 0,003), em fase 2 (p < 0,0001) e em fase 3 (p = 0,007;

Figura 19)

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Figura 19 – Categorias de mortalidade embrionária para as duas espécies estudadas. As caixas representam as medianas e os quartis, as suíças (whiskers) os limites máximos e mínimos, os círculos, os outliers e os asteriscos, os extremos. As letras indicam médias diferentes na comparação intra-específica (teste de Kruskal-Wallis, seguido pelo método de Student-Newman-Keuls, p < 0,05).

Por outro lado para os ninhos de E. imbricata, apenas a proporção de

embriões mortos em fase 2 diferiu das demais categorias de mortalidade

embrionária: proporção de filhotes natimortos (p = 0,0003), de ovos não

desenvolvidos (p < 0,0001), de embriões mortos em fases embrionárias 1 (p = 0,003)

e 3 (p = 0,02; Figura 19).

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5.3 SELEÇÃO DO LOCAL DE NIDIFICAÇÃO

5.3.1 Morfodinâmica praial

O levantamento topográfico dos sete perfis emersos permitiu a identificação

de dois estágios morfodinâmicos, de acordo com a classificação de Rodrigues

(2004, adaptada de Klein, 1997): intermediário dissipativo – com declividades

médias entre 3,6° e 6,0° – (4 perfis) e intermediário refletivo – com declividades

médias entre 6,1° e 8,5° (3 perfis; Tabela 2). No entanto tanto C. caretta (Χ2 = 0,53,

GL = 1, p = 0,47) quanto E. imbricata (Χ2 = 0,60, GL = 1, p = 0,44) não apresentaram

preferência entre estes dois estágios (Figura 20).

Quanto aos processos de deposição de sedimentos, os perfis foram

classificados em três tipos: aqueles que apresentaram processos de acresção (2

perfis), aqueles que permaneceram estáveis (3 perfis) e aqueles que foram

imprevisíveis (2 perfis), apresentando processos de erosão e de acresção ao longo

dos seis meses de levantamentos topográficos (Tabela 2). Esta característica

também não influenciou no padrão de seleção da praia de nidificação, tanto para C.

caretta (Χ2 = 3,29, GL = 2, p = 0,19), quanto para E. imbricata (Χ2 = 0,40, GL = 2,

p = 0,82) (Figura 20).

Tabela 2 – Características dos sete perfis transversais levantados durante a temporada reprodutiva de 2006/2007, nas praias de Pompilho, Patizeiro e Itacarezinho, sudeste da Bahia.

Perfil Declividade média

(º)

Estágio

Morfodinâmico

Processo de transporte

sedimentar

1 6,34 Int. refletivo Acresção

2 6,24 Int. refletivo Estável

3 6,56 Int. refletivo Imprevisível

4 3,96 Int. dissipativo Estável

5 4,35 Int. dissipativo Acresção

6 4,09 Int. dissipativo Imprevisível

7 3,85 Int. dissipativo Estável

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55

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a).

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5.3.2 Linha de vegetação

Duas formas de influência da linha de vegetação na seleção do local de

nidificação foram analisadas: em relação à posição – zona com vegetação ou zona

de areia – e em relação à distância. As fêmeas da espécie C caretta não

apresentaram preferência entre as duas zonas (Χ2 = 1,00, GL = 1, p = 0,317). Os

ninhos, no entanto, quando depositados na zona de areia localizaram-se mais

distantes da linha de vegetação: a distância média na zona de areia foi de

2,0 ± 2,6 m; enquanto que na zona com vegetação foi de 0,5 ± 1,0 m (z(U) = 1,95,

p = 0,05). Da mesma forma, as fêmeas da espécie E. imbricata não apresentaram

preferência entre as duas posições (X2 = 0,07, GL = 1 p = 0,80). Para esta espécie,

no entanto, as distâncias dos ninhos em relação à linha de vegetação não diferiram:

a distância média na zona de areia foi de 5,5 m ± 9,0 m e na zona com vegetação de

3,5 m ± 4,3 m (z(U) = 0,06, p = 0,95).

As duas espécies não diferiram no posicionamento de seus ninhos nas duas

zonas da praia analisadas (Χ2 = 1,48, p = 0,69), tampouco nas distâncias dos ninhos

em relação à linha de vegetação para os ninhos localizados na zona de areia

(z(U) = 1,12, p = 0,26). As duas espécies diferiram, entretanto, na distância em

relação à linha de vegetação para os ninhos localizados na zona com vegetação

(z(U) = 1,92, p = 0,05), sendo que os ninhos de E. imbricata localizaram-se mais

distantes da linha do que os de C. caretta (2,2 ± 2,8 m e 0,5 ± 1,0 m,

respectivamente). Observou-se, no entanto, que os ninhos de ambas as espécies

tenderam a se concentrar próximos à linha de vegetação (Figura 21).

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Figura 21 – Posicionamento dos ninhos de a) C. caretta e b) E. imbricata em relação à linha de vegetação (LV) na área de estudo, durante a temporada reprodutiva 2006/2007, agrupados de acordo com o perfil de praia mais próximo.

5.3.3 Características do sedimento

Para verificar se houve seleção dos locais dos ninhos quanto às

características do sedimento foi realizada a comparação das variâncias e médias

das características dos sedimentos das amostras coletadas nas paredes dos ninhos

com as obtidas nos perfis (Tabela 3). Para esta análise foram excluídos os teores de

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matéria orgânica do sedimento porque a proporção de matéria orgânica, no presente

estudo, era muito pequena quando comparada à proporção de matéria mineral, de

modo que é improvável que esta pudesse influenciar a seleção do local de

nidificação ou as variáveis dos ninhos (Tabela 3).

Tabela 3 – Características dos sedimentos das paredes dos ninhos de C. caretta e E. imbricata e das amostras do limite com a vegetação e da face de praia dos perfis topográficos levantados de novembro/06 a abril/07. São fornecidos a média, desvio padrão e, entre parênteses, os valores mínimos e máximos obtidos.

Diâmetro (mm) Assimetria (mm) Mat. Org. (%)

C. caretta (n = 16) 0,4 ± 0,2

(0,2 - 0,7)

1,0 ± 0,1

(0,8 - 1,2)

0,2 ± 0,1

(0,1 - 0,5)

E. imbricata (n = 13) 0,5 ± 0,2

(0,3 - 0,8)

1,0 ± 0,1

(0,8 - 1,2)

0,2 ± 0,08

(0,1 - 0,4)

Perfil 1 (n = 12) 0,7 ± 0,1

(0,7 - 1,1)

1,0 ± 0,1

(0,9 - 1,2)

0,2 ± 0,1

(0,1 - 0,5)

Perfil 2 (n = 12) 0,6 ± 0,1

(0,4 - 0,6)

1,1 ± 0,1

(0,9 - 1,3)

0,2 ± 0,1

(0,1 - 0,5)

Perfil 3 (n = 12) 0,6 ± 0,2

(0,5 - 0,9)

1,1 ± 0,1

(1,0 - 1,3)

0,2 ± 0,1

(0,1 - 0,4)

Perfil 4 (n = 12) 0,4 ± 0,03

(0,3 - 0,4)

1,1 ± 0,1

(1,0 - 1,2)

0,2 ± 0,1

(0,1 - 0,4)

Perfil 5 (n = 12) 0,4 ± 0,03

(0,3 - 0,4)

1,1 ± 0,04

(1,0 - 1,2)

0,2 ± 0,1

(0,1 - 0,3)

Perfil 6 (n = 12) 0,3 ± 0,03

(0,2 - 0,4)

1,1 ± 0,1

(0,9 - 1,2)

0,2 ± 0,1

(0,1 - 0,3)

Perfil 7 (n = 12) 0,2 ± 0,02

(0,2 - 0,3)

0,9 ± 0,1

(0,8 - 1,0)

0,3 ± 0,1

(0,1 - 0,4)

Para C. caretta as características físicas do sedimento das amostras

coletadas nos ninhos e nos perfis não diferiram em suas variâncias: diâmetro médio

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(F83,15 = 1,25, p = 0,33) e grau de assimetria (F83,15 = 1,25, p = 0,33). As médias

dessas características também não diferiram entre as duas amostras: diâmetro

médio (z(U) = 1,04, p = 0,3) e grau de assimetria (t = 0,52, GL = 98, p = 0,6).

Resultados semelhantes foram encontrados para E. imbricata. Nesta espécie

as variâncias de diâmetro médio (F12,83 = 1,25, p = 0,26), grau de assimetria

(F12,83 = 1,25, p = 0,26) e conteúdo de matéria orgânica (F83,12 = 1,77, p = 0,13)

também não diferiram entre as amostras. Da mesma forma que nos ninhos de C.

caretta, as médias das amostras das paredes dos ninhos das E. imbricata e dos

levantamentos topográficos também não diferiram: diâmetro médio (z(U) = 0,86,

p = 0,39) e grau de assimetria (t = 1,96, GL = 95, p = 0,053).

Finalmente, quando comparados os sedimentos coletados das paredes dos

ninhos de C. caretta e de E. imbricata estes não diferiram quanto ao diâmetro médio

(t = -1,41, GL = 27, p = 0,17) e grau de assimetria (t = 1,21, GL = 27, p = 0,24).

5.4 INFLUÊNCIA DO LOCAL DE NIDIFICAÇÃO

Como mencionado anteriormente, o desenvolvimento embrionário das

tartarugas marinhas é diretamente influenciado pelas características do microclima

do ninho (ACKERMAN, 1997). Portanto, analisou-se a influência das características

do local de nidificação nas variáveis dos ninhos das duas espécies estudadas

(sucesso de eclosão, porcentagem de filhotes natimortos, porcentagem de ovos não

eclodidos, tamanho de ninhada e, quando possível, duração da incubação). Os

resultados dessas análises são descritos a seguir.

5.4.1 Morfodinâmica praial

A influência das características dos perfis foi analisada somente em relação à

seleção do local de nidificação, mas não quanto à sua influência nas variáveis de

sucesso do ninho, pois embora os pontos onde os perfis foram levantados

caracterizem de forma adequada e ampla a área de estudo, eles não caracterizam

os pontos exatos dos ninhos.

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5.4.2 Linha de vegetação

A linha de vegetação não influenciou o sucesso de eclosão para ambas as

espécies. Os ninhos de C. caretta, localizados na zona com vegetação,

apresentaram um sucesso médio de eclosão de 45,6± 38,1 %, o qual não diferiu

daquele dos ninhos localizados na zona de areia, cujo sucesso médio foi de

65,8 ± 35,5 % (t = -1,07, GL = 14 p = 0,30). A posição em relação à linha de

vegetação também não influenciou a proporção de filhotes natimortos (z(U) = 0,54,

p = 0,59) e de ovos não eclodidos (z(U) = 0,71, p = 0,48; Figura 22a). Da mesma

forma o tamanho médio de ninhada (t = -0,56, GL = 14 p = 0,59; Figura 22b) e a

duração média de incubação (z(U) = 0,31, p = 0,75; Figura 22c) não diferiram entre

ninhos localizados na zona com vegetação ou na zona de areia.

Figura 22 – Influência da posição do ninho em relação à linha de vegetação nas variáveis dos ninhos de C. caretta: a) no sucesso de eclosão; proporção de filhotes natimortos e de ovos não eclodidos, b) no tamanho de ninhada e c) na duração da incubação.

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Para os ninhos de E. imbricata também não foi verificada diferença entre o

sucesso médio de eclosão dos ninhos localizados na zona com vegetação e na zona

de areia, sendo de 82,4 ± 12,9% e 68,5 ± 33,1%, respectivamente (z(U) = 0,43;

p = 0,67; Figura 23a). A proporção de filhotes natimortos (z(U) = 0,93, p = 0,35) e de

ovos não eclodidos também não diferiu (z(U) = 1,14, p = 0,25; Figura 23a). Ao

contrário dos ninhos de C. caretta, o tamanho médio de ninhada dos ninhos de E.

imbricata foi maior para ninhos localizados na zona com vegetação – em média

137,3 ovos – do que para aqueles localizados na zona de areia – 103,7 ovos, em

média (t = 2,24; GL = 11; p = 0,05; Figura 23b). Por outro lado, a duração média de

incubação não foi influenciada pela posição em relação à linha de vegetação

(z(U) = 0,71, p = 0,48; Figura 23c)

Figura 23 – Influência da posição do ninho em relação à linha de vegetação nas variáveis dos ninhos de E. imbricata: a) no sucesso de eclosão, proporção de filhotes natimortos e proporção de ovos não eclodidos, b) no tamanho de ninhada e c) na duração da incubação.

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Quanto à influência da distância dos ninhos em relação à linha de vegetação,

para os ninhos de C. caretta localizados na zona com vegetação, quanto maior esta

distância, maior a proporção de filhotes natimortos (F(1,4) = 49,14, p = 0,003,

R2(ajustado) = 0,91; Figura 24a). Por outro lado, para os ninhos desta espécie

localizados nesta zona, a distância da linha de vegetação não se relacionou com o

sucesso de eclosão (F(1,4) = 0,82, p = 0,58) ou com a proporção de ovos não

eclodidos (F(1,4) = 1,29, p = 0,32; Figura 24a). Em relação à influência da distância no

tamanho de ninhada não foi possível realizar a análise, pois os resíduos da

regressão não apresentaram distribuição normal. Da mesma forma, para os ninhos

desta espécie localizados na zona de areia a distância não apresentou relação linear

com o sucesso de eclosão (F(1,8) = 3,19, p = 0,11), com a proporção de ovos não

eclodidos (F(1,3) = 2,42, p = 0,16; Figura 24b) ou com o tamanho de ninhada

(F(1,3) = 3,96, p = 0,08). Não foi possível realizar as análises de influência da

distância na proporção de filhotes natimortos, pois os dados não atenderam o

pressuposto de normalidade dos resíduos da regressão.

Figura 24 – Relação entre a distância da linha de vegetação e o sucesso de eclosão,

proporção de filhotes natimortos e de ovos não eclodidos para os ninhos

de C. caretta localizados a) na zona com vegetação e b) na zona de

areia.

Para os ninhos de E. imbricata localizados na zona com vegetação a distância

em relação à linha de vegetação se relacionou com a proporção de ovos não

eclodidos, sendo que quanto maior a distância, maior a proporção desta variável do

ninho (F(1,4) = 31,56, p = 0,006, R2(ajustado) = 0,86; Figura 25a). No entanto, tal

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distância não se relacionou com o sucesso eclosão (F(1,4) = 4,24, p = 0,11), com a

proporção de filhotes natimortos (F(1,3) = 1,26, p = 0,32; Figura 25a) ou com tamanho

da ninhada. Já para os ninhos localizados na zona de areia, a distância se

relacionou negativamente com o sucesso de eclosão (F(1,5) = 18,77, p = 0,008,

R2(ajustado) = 0,75; Figura 25b) e o tamanho de ninhada (F(1,5) = 9,79, p = 0,03,

R2(ajustado) = 0,55), sendo que quanto menor a distância maior o sucesso e maior o

número de ovos depositados pela fêmea. A relação entre a distância e a proporção

de ovos não eclodidos, por sua vez, foi positiva (F(1,5) = 56,31, p = 0,001,

R2(ajustado) = 0,90; Figura 25b). Não foi possível realizar a análise para a proporção de

filhotes natimortos, pois os resíduos da regressão não apresentaram uma

distribuição normal.

Figura 25 – Relação entre a distância da linha de vegetação e o sucesso de eclosão, proporção de filhotes natimortos e de ovos não eclodidos para os ninhos de E. imbricata localizados a) na zona com vegetação e b) na zona de areia.

5.4.3 Características do sedimento

Os ninhos de C. caretta escavados em sedimentos classificados como areia

grossa (0,48 ≤ diâmetro (phi) ≤ 0,86; n = 6) e aqueles escavados em areia média a

fina (1,47 ≤ diâmetro (phi) ≤ 2,29; n = 10) não diferiram quanto ao sucesso de

eclosão (t = 0,64, GL = 14, p = 0,53), proporção de filhotes natimortos (z(U) = 0,54,

p = 0,59), proporção de ovos não eclodidos (t = 0,78, GL = 14, p = 0,45), tamanho de

ninhada (t = 0,60, GL = 14, p = 0,58) e duração da incubação (z(U) = 0,10, p = 0,92;

n1 = 5, n2 = 5; Figura 26).

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Figura 26 – Influência das classes de diâmetro médio dos grãos nas variáveis dos

ninhos de C. caretta: a) no sucesso de eclosão, proporção de filhotes

natimortos e proporção de ovos não eclodidos, b) no tamanho de

ninhada e c) na duração da incubação.

Quanto ao grau de assimetria, as amostras de sedimento dos ninhos de C.

caretta foram classificadas como: assimetria negativa (-0,22 ≤ assimetria (phi) ≤ -

0,11; n = 7), simétrica (-0,10 ≤ assimetria (phi) ≤ 0,00; n = 6) e assimetria positiva

(0,15 ≤ assimetria (phi) ≤ 0,26; n = 3). Verificou-se que existe diferença no sucesso

de eclosão entre essas três classes (H = 6,06, GL = 2, p = 0,05), sendo que não há

diferença entre o sucesso de eclosão de ninhos escavados em sedimento com

assimetria negativa e simétrica (p = 0,16) e entre negativa e positiva (p = 0,18), mas

o sucesso é maior para ninhos escavados em sedimento simétrico (80,6% ± 19,5)

quando comparado àquele de ninhos escavados em sedimento com assimetria

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positiva (15,9% ± 17,2; p = 0,02; Figura 27a). Essa diferença foi verificada também

na proporção de ovos não eclodidos (H = 6,07, GL = 2, p = 0,05), a qual foi menor

para os ninhos em sedimento simétrico (17,0% ± 20,5) do que para ninhos em

sedimento com assimetria positiva (78,0% ± 19,0); também não houve diferença

entre a proporção de ovos não eclodidos de ninhos em sedimento com assimetria

negativa, quando comparados aqueles em sedimento simétrico (p = 0,16) ou com

assimetria positiva (p = 0,18; Figura 27a). Não houve diferença entre as três classes

de grau de assimetria para a proporção de filhotes natimortos (H = 0,01, GL = 2,

p = 0,99; Figura 27a) e o tamanho de ninhada (H = 0,38, GL = 2, p = 0,83; Figura

27b).

Figura 27 – Influência das classes de grau de assimetria das amostras de sedimento

dos ninhos a) no sucesso de eclosão, proporção de filhotes natimortos e

proporção de ovos não eclodidos, e b) no tamanho de ninhada de C.

caretta. Letras diferentes indicam médias diferentes (teste de Kruskal-

Wallis, seguido pelo teste a posteriori do método de Student-Newman-

Keuls; p < 0,05).

As amostras de sedimento dos ninhos de E. imbricata foram classificadas,

quanto ao diâmetro médio dos grãos, em areia grossa (0,39 ≤ diâmetro (phi) ≤ 0,73;

n = 7) e areia média a fina (1,01 ≤ diâmetro (phi) ≤ 2,02; n = 6). Ao contrário do que

foi verificado para C. caretta (Figura 26), para os ninhos de E. imbricata houve

diferença no sucesso de eclosão e na proporção de ovos não eclodidos, quando

comparadas essas duas classes de diâmetro médio do sedimento, sendo que o

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sucesso foi maior para ninhos escavados em sedimento médio a fino (91,1% ± 7,4)

do que para aqueles localizados em sedimento grosso (61,0% ± 28,3; z(U) = 2,57,

p = 0,01) e a proporção de ovos não eclodidos foi menor em areia média a fina

(5,0% ± 2,9) do que em areia grossa (28,5% ± 27,5; z(U) = 2,00, p = 0,05; Figura

28a). Por outro lado, não houve diferença na proporção de filhotes natimortos

(t = 1,58, p = 0,14; Figura 28a), no tamanho de ninhada (z(U) = 0,50, p = 0,62; Figura

28b) e na duração da incubação (t = -1,01, p = 0,34; Figura 28c) entre as duas

classes de diâmetro médio do sedimento.

Figura 28 – Influência das classes de diâmetro médio dos grãos a) no sucesso de

eclosão, proporção de filhotes natimortos e proporção de ovos não

eclodidos, b) no tamanho de ninhada, e c) na duração da incubação de

E. imbricata.

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Quanto ao grau de assimetria, o sedimento dos ninhos de E. imbricata foram

classificados como: assimetria negativa (-0,28 ≤ assimetria (phi) ≤ -0,18; n = 3),

simétrica (-0,09 ≤ assimetria (phi) ≤ 0,04; n = 6) e assimetria positiva (0,15 ≤

assimetria (phi) ≤ 0,30; n = 4). Como para C. caretta, para os ninhos de E. imbricata

o grau de assimetria influenciou o sucesso de eclosão (H = 6,19, GL = 2, p = 0,05;

Figura 29a). No entanto, tal influência diferiu entre as duas espécies, pois, enquanto

que para E. imbricata o sucesso foi menor para ninhos localizados em sedimento

simétrico (69,8% ± 22,4) do que para aqueles localizados em sedimento com

assimetria positiva (93,9% ± 4,5; p = 0,03; Figura 29a), para C. caretta foi o

contrário, como mencionado anteriormente (Figura 27a). Além disso, para E.

imbricata houve diferença entre o sucesso de ninhos escavados em sedimento com

assimetria negativa e positiva, sendo menor para o primeiro (59,8% ± 39,7;

p = 0,03). Não houve diferença entre as classes de assimetria negativa e simétrica

(p = 0,76). Para a proporção de filhotes natimortos (H = 3,03, GL = 2, p = 0,22), de

ovos não eclodidos (H = 4,26, GL = 2, p = 0,12) e de tamanho de ninhada (H = 0,95,

GL = 2, p = 0,62) não houve diferenças entre as três classes (Figura 29).

Figura 29 – Influência das classes de grau de assimetria das amostras de sedimento

dos ninhos de E. imbricata a) no sucesso de eclosão, proporção de

filhotes natimortos e proporção de ovos não eclodidos, e b) no tamanho

de ninhada. Letras diferentes indicam médias diferentes (teste de

Kruskal-Wallis, seguido pelo teste a posteriori do método de Student-

Newman-Keuls; p < 0,05).

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6 DISCUSSÃO

6.1 DADOS GERAIS

6.1.1 Temporada reprodutiva

A APA Costa de Itacaré-Serra Grande encontra-se inserida nas áreas de

nidificação das espécies de tartarugas marinhas Caretta caretta e Eretmochelys

imbricata no Brasil. A espécie C. caretta é a que apresenta maior número de ninhos

no litoral brasileiro (MARCOVALDI; MARCOVALDI, 1999) e as áreas mais

freqüentes de nidificação estendem-se do litoral do Rio de Janeiro ao litoral do

Sergipe, sendo o litoral norte da Bahia a área de maior concentração de seus ninhos

(MARCOVALDI; LAURENT, 1996; MARCOVALDI; MARCOVALDI, 1999). Já E.

imbricata, apesar de apresentar registros de nidificação do litoral do Espírito Santo a

Sergipe, desova, regularmente, sobretudo no litoral norte da Bahia (MARCOVALDI

et al., 1999).

Em relação ao período de desova foram observadas diferenças no início da

temporada de desova para as duas espécies na área da APA Itacaré-Serra Grande.

Enquanto no presente estudo C. caretta iniciou esta atividade em outubro, Leone

(2006) registrou a primeira desova desta espécie no mês de setembro. Eretmochelys

imbricata, por sua vez, nesta temporada antecipou para novembro o seu início

enquanto Leone (2006) havia registrado o início de desova desta espécie em

dezembro. O número pequeno de fêmeas que utilizam esta APA para reprodução

aliado à característica sazonal de reprodução das tartarugas marinhas – a qual

ocorre durante os meses mais quentes do ano (TIWARI; BJORNDAL, 2000) –

sugerem que variações climáticas interanuais são as responsáveis pelas diferenças

no início da temporada, encontradas para as duas espécies, nas duas temporadas

reprodutivas estudadas na região (o presente estudo e LEONE, 2006). Por outro

lado, as diferenças registradas entre as duas espécies no início de suas temporadas

de desova também ocorrem em outras áreas de reprodução, sendo que no litoral

norte da Bahia o pico de nidificação de C. caretta ocorre de meados de outubro até

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meados de dezembro (MARCOVALDI; LAURENT, 1996) e entre dezembro e

fevereiro para a E. imbricata (MARCOVALDI et al., 1999).

6.1.2 Histórico dos ninhos

Na temporada reprodutiva de 2006/2007, quatro ninhos de tartarugas

marinhas (9,5%) foram predados, provavelmente por raposa (Cerdocyon thous).

Essa espécie de canídeo é um dos principais predadores terrestres de ninhos de

tartarugas marinhas no Bahia, tendo sido responsável pela predação de 6,6% dos

ninhos registrados nesta mesma área de estudo durante a temporada reprodutiva de

2004/2005 (LEONE, 2006) e de 21,2% dos ninhos encontrados na ilha de

Comandatuba, localizada cerca de 100 km ao sul da área de estudo (OLIVEIRA;

SCHMIDT, 2006). Outros mamíferos terrestres também são predadores de ninhos

de tartarugas marinhas, por exemplo, raposas (Vulpes vulpes) na Turquia

(ERK’AKAN, 1993) e guaxinins (Procyon lotor) na Flórida (BOUCHARD;

BJORNDAL, 2000), sendo a predação uma das principais causas de mortalidade de

tartarugas marinhas nos primeiros estágios de vida (ACKERMAN, 1997).

A erosão pela maré também é uma ameaça freqüente aos ninhos de

tartarugas marinhas e de fato dois ninhos dos 42 registrados na área de estudo

nesta temporada foram erodidos e levados pela maré. Para evitar estas perdas

muitos programas de conservação transferem ninhos localizados em zonas de risco

de erosão para outras áreas da praia ou para cercados de incubação (por exemplo,

MARCOVALDI; MARCOVALDI, 1999; WHITMORE; DUTTON, 1985). Entretanto, a

transferência pode reduzir a variedade de microclimas do interior dos ninhos, que

podem influenciar características biológicas – como sexo e tamanho dos filhotes,

quantidade de reservas energéticas remanescentes após a eclosão, entre outras –

que podem afetar a sobrevivência dos filhotes até a idade reprodutiva (FOLEY et al.,

2006). Além disso, caso a seleção dos locais de nidificação seja uma característica

genética, a transferência pode selecionar genes que seriam eliminados da

população (MROSOVSKY, 2006). Para contornar estas questões, alguns

pesquisadores afirmam que a transferência deve ser realizada apenas quando há

risco de erosão do ninho e de perda total dos ovos e não quando há apenas o risco

de inundações esporádicas por marés mais altas (FOLEY et al., 2006) e que se deve

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levar em conta também o status de conservação da população de tartarugas

marinhas em questão (MROSOVSKY, 2006).

Na área estudada a predação de ninhos por humanos é rara: os dois ninhos

que foram considerados roubados tinham sido localizados pela equipe do Txai

Resort, que auxiliou neste estudo identificando possíveis ninhos de tartarugas

durante os meses em que a autora realizava um treinamento junto ao Projeto

TAMAR-ICMBio. Não foi possível, portanto, comprovar que tenham sido

efetivamente predados por humanos. Na verdade, muitos pescadores da região e

freqüentadores das praias estudadas auxiliam na localização dos ninhos e na sua

proteção. Entretanto, em outras regiões da APA, não abrangidas pelo presente

estudo, como por exemplo, a praia do Pé de Serra e a foz do rio Sargi, localizadas

ao sul da praia do Pompilho, são relatados roubos de ninhos por pescadores e

moradores.

6.2 VARIÁVEIS DOS NINHOS

Os tamanhos médios das ninhadas, durante a temporada 2006/2007, para os

ninhos de C. caretta e E. imbricata foram de 86,3 ovos e de 119,2 ovos,

respectivamente (Tabela 4). A diferença entre o número de ovos por ninho destas

duas espécies é relatada também na literatura, considerando-se diversas

populações (MILLER, 1997). Com relação ao monitoramento anterior nesta área

durante a temporada 2005/2006, Leone (2006) encontrou tamanhos de ninhadas

semelhantes (Tabela 4). Marcovaldi e Laurent (1996), por sua vez, encontraram

tamanhos médios de ninhada maiores para as populações de C. caretta e de E.

imbricata que nidificaram na Praia do Forte durante seis temporadas, 1987 a 1993

(Tabela 4). Como o tamanho da ninhada varia de acordo com características

genéticas da fêmea e com a quantidade de energia alocada para produção de ovos

durante aquela temporada (TIWARI; BJORNDAL, 2000), as diferenças entre os

tamanhos de ninhada registrados na área de estudo e aqueles registrados na Praia

do Forte, podem estar relacionadas à diferença no número amostral de ninhos e no

número de temporadas reprodutivas considerado.

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Tabela 4 – Comparação entre as variáveis dos ninhos de C. caretta e E. imbricata em diversos estudos: TN: tamanho de ninhada; DI: duração da incubação; Su: sucesso de eclosão.

Espécie TN (nº. de

ovos)

DI

(dias)

Su

(%)

Autor(es)

Caretta

caretta

86,3 57,3 58,2 Presente estudo

96,1 57,0 71,5 Leone (2006)

126,7 53,2 73,1 Marcovaldi e Laurent (1996)

50,1 a 51,3 70,7 a 78,1 TAMAR (2006)*

68,0 Kornaraki et al. (2006)

63,1 Bouchard e Bjorndal (2000)

Eretmochelys

imbricata

119,2 59,7 74,9 Presente estudo

115,4 57,5 81,4 Leone (2006)

140,0 55,1 61,0 Marcovaldi e Laurent (1996)

51,2 a 54,1 47,1 a 56,1 TAMAR (2006)*

60,1 Hitchings et al. (2004)

* são apresentadas a maior e a menor médias registradas para as bases do Projeto

TAMAR-ICMBio do litoral norte da Bahia

As durações médias da incubação registradas no presente estudo para as

duas espécies – 57,3 dias para C. caretta e 59,7 dias para E. imbricata – foram

semelhantes àquelas encontradas na mesma área durante a temporada 2004/2005

(LEONE, 2006) e maiores do que aquelas registradas para a os ninhos da Praia do

Forte (MARCOVALDI; LAURENT, 1996; Tabela 4). A duração da incubação está

diretamente relacionada à temperatura de incubação, a qual por sua vez influencia

características dos filhotes, sendo o sexo, a mais importante (DAVENPORT, 1997).

Quanto maior a temperatura, e, portanto, menor a duração da incubação, maior a

produção de fêmeas (YNTEMA; MOROSOVSKY, 1982). A duração pivotal da

incubação – que gera 50% de machos e 50% de fêmeas – foi estimada em 59,3 dias

para a C. caretta (MARCOVALDI et al., 1997) e de 62,8 dias para E. imbricata

(GODFREY et al., 1999), em estudos realizados com as populações dessas

espécies que nidificam na Praia do Forte. Embora a duração média de incubação na

área de estudo tenha sido inferior à duração pivotal da incubação, ela é maior do

que a duração na Praia do Forte e demais praias do litoral norte da Bahia (TAMAR,

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2006; Tabela 4) – principais áreas de nidificação dessas espécies no Brasil e que

produzem cerca de 90% de fêmeas (MARCOVALDI et al., 1997; GODFREY et al.,

1999). Destes dados podemos sugerir que ocorra uma maior produção de machos

na área de estudo em relação ao litoral norte da Bahia, o que a torna uma área

relevante para a conservação, visto que pode auxiliar na manutenção da saúde

demográfica das populações de C. caretta e E. imbricata que se reproduzem no

Brasil.

No presente estudo, os sucessos médios de eclosão foram de 58,2% e de

74,9% para os ninhos da espécie C. caretta e E. imbricata, respectivamente. Apesar

de Miller (1997) ter afirmado que as ninhadas de ovos de tartarugas marinhas

tipicamente têm sucesso de eclosão superior a 80%, estudos realizados in situ

dificilmente registram sucessos médios tão altos (Tabela 4).

O sucesso de eclosão e a mortalidade embrionária variam de acordo com

características ambientais durante o período de incubação, as quais são

influenciadas principalmente pela temperatura e pela umidade no interior do ninho

(ACKERMAN, 1997). Variações climáticas e fêmeas diferentes, entre um ano e

outro, poderiam explicar as diferenças entre as duas temporadas monitoradas na

mesma região. Além disso, inundações pela maré e infestações por fungos e

bactérias também podem influenciar a taxa de eclosão dos ninhos (WYNEKEN et al.,

1988; PHILLOT et al., 2001). No presente estudo, nos ninhos de C. caretta a

proporção de ovos classificados como não desenvolvidos foi maior do que as demais

categorias de mortalidade embrionária e como estudos em laboratório indicaram que

a fertilidade dos ovos de tartarugas marinhas é superior a 90%, provavelmente

grande parte dos ovos classificados como não desenvolvidos continham embriões

mortos em fases iniciais de desenvolvimento. Isto deve ter ocorrido porque existe

uma dificuldade de se identificar vestígios de desenvolvimento embrionário inicial

(sangue ou embriões menores do que 10 mm) após o período de incubação (50-70

dias), devido à decomposição e contaminação por fungos e bactérias. Análises da

mortalidade embrionária de ovos mantidos in situ e incubados em laboratório

comprovam essa dificuldade (BELL et al., 2003; WYNEKEN et al., 1988).

Os resultados do presente estudo a respeito da mortalidade embrionária

indicaram que para ambas as espécies estudadas os estágios iniciais (ovos não

desenvolvidos e embriões mortos em fase 1) e final (embriões mortos em fase 3) são

os períodos mais críticos do desenvolvimento embrionário. Dados semelhantes

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foram encontrados para a espécie D. coriacea (BELL et al., 2003; WHITMORE;

DUTTON, 1985) e para C. mydas (WHITMORE; DUTTON, 1985). No entanto, para a

tartaruga C. caretta na Flórida, os estágios finais foram os que apresentaram a

menor mortalidade (BOUCHARD; BJORNDAL, 2000).

6.3 SELEÇÃO DO LOCAL DE NIDIFICAÇÃO

6.3.1 Morfodinâmica praial

Apesar das praias estudadas apresentarem características diversas, quanto à

sua morfodinâmica, as fêmeas de C. caretta e E. imbricata que nidificaram nesta

área durante a temporada reprodutiva de 2006/2007 não apresentaram preferências

entre elas. Esta ausência de preferência pode ser explicada pelo fato de que todas

as praias são oceânicas (RODRIGUES, 2004) e são, portanto, diretamente

influenciadas pelas condições do oceano, o que resulta em dinâmicas instáveis e

imprevisíveis. Este fato pôde ser constatado pela análise da presença e ausência de

bermas bem desenvolvidos ao longo dos meses de estudo nos perfis analisados

(Anexo). De acordo com Eckert (1987), quando as praias são imprevisíveis e a

sobrevivência dos ninhos não pode ser relacionada com as informações ambientais

existentes, as fêmeas utilizam a estratégia de dispersar seus ninhos e, dessa forma,

dispersar o risco. Esta autora propõe que esta estratégia reduza a perspectiva de

que uma alta proporção do esforço reprodutivo seja perdida devido à destruição de

qualquer zona particular do hábitat de nidificação. Além disso, as fêmeas geralmente

depositam suas ninhadas subseqüentes em locais próximos aos ninhos anteriores

(MILLER, 1997). Desta forma, como o número amostral de ninhos no presente

estudo foi relativamente pequeno, o posicionamento dos mesmos pode estar

relacionado com a seleção de poucas fêmeas, o que pode representar variações

individuais na preferência, conforme relatado por Kamel e Mrosovsky (2006a, 2006b)

para o posicionamento dos ninhos em relação à linha de vegetação. Entretanto,

outros estudos sugerem que algumas populações de tartarugas marinhas utilizam a

declividade como informação ambiental para a seleção de suas praias de

nidificação, sendo que fêmeas de E. imbricata em Barbados (HORROCKS; SCOTT,

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1991) e C. mydas na Turquia preferem praias mais íngremes (BROWN;

MACDONALD, 1995), enquanto que fêmeas de C. caretta na Flórida preferem praias

com menor declividade (GARMESTANI et al., 2000). Para estas fêmeas de C.

caretta, contudo, tal preferência relacionou-se mais com a largura das praias do que

com a declividade: as fêmeas preferiram praias mais largas (> 8,5 m), as quais

apresentavam declividades menores (GARMESTANI et al., 2000). Neste contexto,

Gonchorosky (1998) analisou a largura do berma e sugere que praias com bermas

largos (> 15 m) são preferidos pelas tartarugas. Análises da seleção quanto à

largura do berma não foram realizadas no presente estudo porque a maioria dos

perfis analisados não apresentou bermas não-vegetados permanentes, o que, como

mencionado anteriormente, pode ser uma das explicações para a ausência de

preferências das fêmeas. As fêmeas não nidificaram próximo à barra do rio Tijuípe (e

ao perfil 4), o que provavelmente está relacionado à presença de barreiras de rochas

e arenitos de praia na antepraia, o que limita o acesso das fêmeas, corroborando

dados de outros estudos (MARCOVALDI; LAURENT, 1996; GONCHOROSKY,

1998).

A metodologia aqui apresentada de classificação dos perfis quanto ao

transporte sedimentar não havia sido empregada anteriormente, o que torna difícil a

comparação com outros estudos. Acredita-se que tais características da dinâmica

praial, embora não tenham influenciado a seleção do local de nidificação no

presente estudo, devam ser levadas em consideração em estudos posteriores, pois

afetam diretamente o sucesso dos ninhos, visto que a erosão pode ocasionar a

mortalidade de toda a ninhada, enquanto que a acresção pode alterar o microclima

do ninho, em relação às condições de temperatura, umidade e trocas gasosas –

características do interior do ninho responsáveis por uma incubação eficiente

(ACKERMAN, 1997) –, além de aumentar a compactação e dificultar a emergência

dos filhotes.

6.3.2 Linha de vegetação

No presente estudo C. caretta não apresentou preferência entre a zona de

areia e a zona com vegetação para construção de seus ninhos. Estes resultados

corroboram estudos anteriores que afirmam que esta espécie desova indistintamente

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nas zonas de areia e de restinga (GARMESTANI et al., 2000; FERREIRA-JUNIOR et

al., 2003). A preferência por desovar em locais próximos à linha de vegetação, aqui

relatada, também já foi constatada para outras populações desta espécie (HAYS;

SPEAKMAN, 1993; HAYS et al., 1995; KARAVAS et al., 2005). Outros autores, no

entanto, afirmam que essa espécie prefere desovar na zona de areia (SERAFINI,

2007; LEONE, 2006), sem ultrapassar a linha de vegetação (HAYS; SPEAKMAN,

1993; SPEAKMAN et al., 1998). Da mesma forma, E. imbricata também não

apresentou preferências em relação às duas zonas e seus ninhos também eram

localizados mais próximos à linha de vegetação. Resultados semelhantes foram

encontrados para as fêmeas desta espécie que desovaram nessa mesma área

durante a temporada 2004/2005 (LEONE, 2006) e para a população desta espécie

na praia de Arembepe, no litoral norte da Bahia (SERAFINI, 2007). A maioria dos

estudos com E. imbricata, entretanto, verificou que essa espécie prefere desovar em

áreas vegetadas (HORROCKS; SCOTT, 1991; MONCADA et al., 1999; KAMEL;

MROSOVSKY, 2006a, 2006b). A ausência de preferência entre as duas zonas para

esta espécie, pode estar relacionada, no presente estudo, a características da

vegetação do pós-praia e do perfil praial, por exemplo, em muitos locais a área

densamente vegetada situa-se após escarpas erosivas, o que impede o acesso das

as fêmeas a tais áreas.

Fowler (1979) verificou que a predação de ninhos de C. mydas está

relacionada com a posição dos mesmos na praia: ninhos mais próximos da

vegetação são destruídos mais frequentemente por predadores do que ninhos

localizados na zona de areia. Entretanto, na zona de areia os ninhos estão mais

sujeitos a lavagens pela maré alta e à erosão. Essas pressões opostas, portanto,

podem favorecer o posicionamento dos ninhos no meio da face da praia (FOWLER,

1979; KAMEL; MROSOVSKY, 2004). Como nas praias estudadas as marés altas

atingem grandes extensões da face de praia e de berma, as posições intermediárias

e mais seguras para balancear essas duas pressões seriam exatamente aquelas

próximas à linha de vegetação. Por outro lado, Hays e Speakman (1993) delinearam

um modelo de distância percorrida aleatória e verificaram que a distribuição dos

ninhos de C. caretta – mais freqüentes próximas à linha de vegetação – poderia ser

explicada sem considerar as características da praia como informações usadas

pelas fêmeas e sim considerando um percurso aleatório limitado pela dificuldade de

escavação em áreas muito vegetadas.

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Além disso, como as praias estudadas são instáveis – com formação e erosão

de bermas de forma intermitente – e a vegetação do pós-praia, em muitos casos por

se tratar de vegetação rasteira e esparsa, não favorece a presença de um contraste

luminoso entre o mar e o continente – característica importante para a orientação

dos filhotes após sua emergência do ninho (LOHMAN; LOHMAN, 1996), a estratégia

das fêmeas poderia ser a de espalhar seus ninhos em diferentes zonas da praia,

conforme Mrosovsky (1983) afirma ser o caso em praias com características como

estas, o que também explicaria a ausência de seleção em relação à zonas da praia

ora relatada.

Entretanto, é importante ressaltar que o presente estudo avaliou a seleção da

população como um todo e não a seleção individual. De acordo com Kamel e

Mrosovsky (2006a, 2006b) fêmeas de E. imbricata apresentam preferências

individuais em relação à distância da linha de vegetação, com algumas fêmeas

preferindo desovar na zona de areia, outras na zona de borda e outras ainda na

zona totalmente coberta pela vegetação. Essas preferências individuais são

mantidas tanto durante uma mesma temporada (KAMEL; MOROSOVSKY, 2006a),

quanto entre temporadas sucessivas (KAMEL; MOROSOVSKY, 2006b).

6.3.3 Características do sedimento

As características do sedimento das amostras dos ninhos de ambas as

espécies e dos locais aleatórios das praias – amostras coletadas durante os

levantamentos topográficos – não apresentaram variâncias diferentes. De acordo

com o modelo proposto por Speakman et al. (1998), este resultado indica que as

características do sedimento aqui analisadas não foram utilizadas durante o

processo de seleção do local de nidificação.

O levantamento dos perfis topográficos indicou que as praias estudadas

apresentam diâmetros médios que variam de 0,2 mm (areia fina) a 1,1 mm (areia

muito grossa), o que pode explicar a ausência de seleção em relação a essa

característica, pois Mortimer (1990) já havia constatado que, para C. mydas, a

maioria das praias de nidificação apresenta variação semelhante no diâmetro médio

dos grãos - entre 0,2 e 1,0 mm. Além disso, essa autora verificou que apesar de

algumas tentativas de construção dos ninhos em areias grossas falharem, as fêmeas

geralmente retornam para o mesmo trecho da praia para tentar novamente. Por este

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motivo, sugere que esta seja uma característica adaptativa por evitar uma

mortalidade excessiva dependente da densidade, caso todas as fêmeas

procurassem praias com as mesmas características para nidificar.

6.4 INFLUÊNCIA DO LOCAL DE NIDIFICAÇÃO

6.4.1 Linha de vegetação

Os resultados ora obtidos indicam que a posição em relação à linha de

vegetação – zona com vegetação ou zona de areia – não afetou o sucesso de

eclosão ou as diferentes categorias de mortalidade embrionária para as duas

espécies estudadas. Estudos que também verificaram a influência das diferentes

zonas da praia no sucesso de eclosão e mortalidade embrionária de ninhos de

tartarugas marinhas apresentaram resultados controversos. Os resultados aqui

apresentados corroboram aqueles obtidos para algumas populações de C. caretta

(KARAVAS et al. 2005; SERAFINI, 2007), E. imbricata (HORROCKS; SCOTT,

1991), C. mydas (FOWLER, 1979; WHITMORE; DUTTON, 1985) e N. depressus

(HEWAVISENTHI; PARMENTER, 2002); enquanto que para outras populações de

C. caretta (FERREIRA-JUNIOR et al., 2003) E. imbricata (SERAFINI, 2007) e C.

mydas (BOODRAM et al., 2003) verificaram-se influências da vegetação no sucesso

dos ninhos, sendo estas positivas ou negativas dependendo do estudo. Nesses

casos, o fracasso na incubação de ninhos localizados na zona de areia está

relacionado à erosão pela maré (FERREIRA-JUNIOR et al., 2003) e para aqueles

localizados na zona de vegetação as raízes – que dificultam a emergência dos

filhotes (BOODRAM et al., 2003) –, a predação por formigas e outros animais

presentes na área de vegetação (BOODRAM et al., 2003), a temperatura mais baixa

(BOODRAM et al., 2003) e mais variável (FERREIRA-JUNIOR et al., 2003) e a

menor umidade (FERREIRA-JUNIOR et al., 2003) foram sugeridas como os

principais fatores responsáveis pela diminuição do sucesso nessa zona. Serafini

(2007) analisou a influência da proporção de cobertura vegetal no sucesso de C.

caretta e E. imbricata e constatou que apenas para esta última houve uma

diminuição do sucesso com o aumento da cobertura vegetal. Apesar de, no presente

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estudo, não terem sido avaliadas as proporções de cobertura vegetal sobre os

ninhos, sabe-se que não foram registrados ninhos em áreas densamente vegetadas

– onde a areia estivesse totalmente coberta pela vegetação – o que pode explicar a

ausência de relação entre a posição do ninho e o sucesso de eclosão e mortalidade

embrionária.

Por outro lado, foi verificada uma influência da distância em relação à linha de

vegetação em variáveis dos ninhos de ambas as espécies. Para os ninhos

localizados na zona com vegetação, quanto maior a distância, maior a mortalidade

embrionária, seja de natimortos para C. caretta (Figura 24a) ou de ovos não

eclodidos para E. imbricata (Figura 25a). Com o aumento da distância, há também o

aumento da cobertura vegetal, de modo que o aumento da mortalidade pode estar

relacionado à presença de raízes e à temperatura mais baixa e mais variável, como

mencionado anteriormente. Para os ninhos localizados na zona de areia, a distância

se relacionou com o sucesso de eclosão, proporção de ovos não eclodidos e

tamanho de ninhada de E. imbricata. Neste caso, quanto maior a distância, menor o

sucesso de eclosão (Figura 25b). Para esses ninhos localizados na zona de areia,

quando a distância em relação à linha de vegetação aumenta, mais freqüentes são

as inundações pelas marés altas. De fato, ninhos inundados apresentam sucessos

de eclosão menores (FOLEY et al., 2006; WHITMORE; DUTTON, 1985). A

mortalidade causada pela inundação pode estar relacionada ao aumento dos níveis

de salinidade (BUSTARD; GREENHAM, 1968) e de umidade (MCGEHEE, 1990) do

sedimento. O fato de tal influência ter sido observada apenas para os ninhos de E.

imbricata, pode estar relacionado às marés de maior amplitude, observadas nos

meses de fevereiro, março e abril, quando a maior parte dos ninhos desta espécie

ainda estava em processo de incubação, enquanto que na maioria dos ninhos de C.

caretta os filhotes já haviam eclodido. Outra causa de mortalidade pode ser a

infestação por larvas de dípteros, maior em ninhos mais próximos da linha de maré

(MCGOWAN et al., 2001), e, provavelmente, a infestação por fungos e bactérias,

também é maior nos ninhos localizados nessa zona.

A diferença registrada no número médio de ovos de ninhos da espécie E.

imbricata localizados na zona com vegetação e na zona de areia (Figura 23b) deve

ser analisada com cautela, pois o posicionamento do ninho não influenciou as

variáveis de sucesso e as fêmeas também não apresentaram preferências entre as

duas posições. Essa diferença, portanto, não parece ser adaptativa e pode estar

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relacionada ao baixo número amostral de ninhos deste estudo. Por outro lado,

quando analisada a relação dos tamanhos de ninhadas com a distância da linha de

vegetação, verificou-se que, para os ninhos de E. imbricata localizados na zona de

areia, o número de ovos decresce com o aumento da distância. Como a relação

entre o sucesso de eclosão e a distância também foi negativa para tais ninhos

(Figura 25b) estes resultados corroboram aqueles de Horrocks e Scott (1991) e

sugerem que as tartarugas depositam maiores ninhadas onde o sucesso é maior e

que, portanto, o número de ovos depositados em cada ninho poderia ser controlado

pela fêmea de acordo com as características do local do ninho e sua influência no

sucesso e mortalidade embrionária.

6.4.2 Características do sedimento

Neste estudo constatou-se que as características do sedimento influenciam o

desenvolvimento embrionário e, consequentemente, o sucesso de eclosão dos

ninhos das populações de tartarugas marinhas estudadas, corroborando resultados

de estudos com outras populações (FERREIRA-JUNIOR et al., 2007; MORTIMER,

1990). O diâmetro médio dos grãos influenciou apenas variáveis dos ninhos de E.

imbricata, sendo que o sucesso de eclosão é maior em sedimentos médios a finos,

proporção de ovos não eclodidos é menor e a proporção de filhotes natimortos não é

afetada (Figura 28a). De fato, Mortimer (1990) constatou uma relação inversa entre o

diâmetro médio do sedimento e o sucesso de eclosão de C. mydas, ao considerar as

praias biogênicas da ilha de Ascensão. Além disso, quando Ferreira-Junior et al.

(2007) consideraram as três praias no litoral do Espírito Santo verificaram que o

sucesso de eclosão é maior nas praias de sedimentos mais finos. No entanto, outros

estudos realizados com C. caretta e E. imbricata não verificaram uma influência do

diâmetro dos grãos no sucesso de eclosão (FERREIRA-JUNIOR et al., 2003; FOLEY

et al., 2006; HORROCKS; SCOTT, 1991; WOOD; BJORNDAL, 2000).

O tamanho do sedimento pode influenciar o desenvolvimento embrionário

porque restringe a difusão de gases para dentro e para fora da câmara de ovos

(ACKERMAN, 1977, 1997) e afeta a evaporação e armazenamento de água do

substrato (ACKERMAN, 1997). De forma geral, praias de areias mais finas contêm

maiores quantidades de gases, quando secas do que praias de areias mais grossas

(HILLEL, 1971 apud ACKERMAN, 1980) e a evaporação de água é menor

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(ACKERMAN, 1997), o que aumenta o estresse fisiológico causado pela dessecação

e explicaria a diminuição do sucesso e o aumento da mortalidade embrionária.

O grau de assimetria, por sua vez, refere-se às medidas das tendências dos

dados que se dispersam para os lados da média, de forma que uma assimetria

negativa representa uma cauda de material mais grosso do que a média, enquanto

que uma assimetria positiva representa uma cauda de material mais fino. A

influência do grau de assimetria no sucesso de eclosão foi diferente para as duas

espécies estudadas. Para C. caretta o sucesso foi maior para sedimentos com

distribuição simétrica do que para aqueles com distribuição assimétrica positiva

(Figura 27a). Apenas três ninhos apresentaram assimetria positiva e estes foram os

únicos dessa espécie localizados na praia de Itacarezinho (Figura 20a), de forma

que, é possível que pertençam à mesma fêmea. O sucesso menor observado para

esses ninhos pode ser devido, portanto, a características fisiológicas da fêmea. Por

outro lado, para E. imbricata verificou-se que os ninhos que apresentaram assimetria

positiva apresentaram sucesso de eclosão maior do que aqueles que apresentaram

assimetria negativa ou distribuição simétrica (Figura 29a). Este resultado reforça a

influência do diâmetro dos grãos no sucesso de eclosão desta espécie, pois os

ninhos que apresentaram assimetria positiva foram classificados, em relação ao

diâmetro médio, em médios e finos, enquanto que a classe “areia grossa”

predominou entre aqueles ninhos que apresentaram assimetria negativa ou

distribuição simétrica.

Ao contrário do que foi observado para a distância do ninho em relação à

linha de vegetação, não foi constatada influência das características do sedimento

no tamanho das ninhadas, embora o sucesso tenha sido influenciado por algumas

dessas características.

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7 CONCLUSÕES

à A duração da incubação na área de estudo é menor do que aquela

constatada para as principais áreas de reprodução das espécies Caretta

caretta e Eretmochelys imbricata no Brasil;

à As características da dinâmica praial não influenciam na seleção do local de

nidificação por fêmeas de C. caretta e E. imbricata que nidificam nas praias

de Pompilho, Patizeiro e Itacarezinho, na Área de Proteção Ambiental Costa

de Itacaré-Serra Grande, no sudeste da Bahia;

à Caretta caretta e E. imbricata desovaram mais frequentemente em locais

próximos à linha de vegetação;

à Para os ninhos de E. imbricata localizados na zona de areia, quanto maior a

distância da vegetação menor o sucesso de eclosão e o tamanho médio de

ninhada, sugerindo que as fêmeas podem ter um controle sobre o número de

ovos depositados, depositando mais ovos em locais onde o sucesso de

eclosão é maior;

à O diâmetro dos grãos afeta o sucesso de eclosão de E. imbricata, sendo que

quanto maior o diâmetro, menor o sucesso de eclosão.

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8 RECOMENDAÇÕES

Diante dos resultados obtidos, constatou-se que a APA Costa de Itacaré-

Serra Grande é uma área relevante para a conservação de tartarugas marinhas por

ser um sítio potencial para a produção de machos. Enquanto que nas áreas de

maior concentração de ninhos no Brasil, localizadas no litoral norte da Bahia, os

filhotes produzidos, em sua maioria, são fêmeas. Os resultados obtidos mostram que

áreas com menor concentração de ninhos também devem ser alvo de esforços para

a conservação dessas espécies ameaçadas devido à sua importância na

manutenção da saúde demográfica de suas populações. Tais esforços podem ser

concretizados por meio de parcerias entre os órgãos do governo responsáveis pela

conservação de espécies, ONG’s e instituições privadas. Faz-se necessário,

também, envolver em tais parcerias, instituições de ensino, a fim de que as ações

desenvolvidas sejam concretas e promovam, de fato, a conservação das espécies e

o desenvolvimento de atividades relacionados a este tema, como a sensibilização

ambiental.

Os resultados sobre o local de nidificação parecem sugerir que nessa região

as fêmeas não utilizam características das praias, como morfodinâmica, distância da

vegetação ou diâmetro médio do sedimento para selecionar o local onde irão

construir seus ninhos e depositar seus ovos, mas algumas dessas características –

distância da linha de vegetação em direção a linha de água e diâmetro médio do

sedimento – podem interferir no sucesso de eclosão e nas taxas de mortalidade

embrionária. Esses resultados devem ser considerados para manejo e conservação

dessas espécies. Na área de estudo, as praias são semi-desertas e, portanto, existe

pouca interferência humana nos ninhos, de modo que as transferências, quando

necessária, podem ser realizadas para locais na mesma praia, mas mais distantes

da zona de maré alta e menos susceptíveis à erosão. Por outro lado, muitos projetos

de conservação, inclusive o Projeto TAMAR-ICMBio no Brasil, realizam transferência

de ninhos de locais de riscos para locais mais protegidos. Essa transferência pode

ser realizada para a própria praia, para outras praias ou para cercados de incubação

(TAMAR, 2006). Os resultados sobre a influência do sedimento no sucesso de

eclosão, sobretudo de E. imbricata ora apresentados poderão auxiliar na escolha de

trechos da praia mais adequados para a transferência ou para o estabelecimento de

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cercados de incubação. Tais resultados, no entanto, devem ser analisados com

cautela, pois foram obtidos durante uma única temporada reprodutiva, com um

pequeno número de ninhos e levando-se em consideração uma população

constituída, provavelmente, por um pequeno número de fêmeas. Desta forma, as

hipóteses aqui apresentadas devem ser corroboradas por meio de estudos com

números amostrais maiores, a fim de tornar as análises estatísticas mais robustas e

as conclusões mais contundentes.

Como a principal fonte de renda da comunidade costeira na região desta

APA é a pesca por linha a partir da praia e com jangada e a pesca com tarrafa na foz

do rio Tijuípe, o impacto causado por essa atividade na população de tartarugas

marinhas é mínimo. Entretanto, registra-se coleta de ovos e captura de animais

pelos pescadores para seu consumo, sobretudo nas praias localizadas mais ao sul.

É imprescindível, portanto, aliar aos estudos de biologia das espécies ações de

sensibilização da comunidade, a qual só será efetiva a partir do envolvimento

comunitário e do estabelecimento de uma relação de ajuda mútua entre programas

de conservação, ONG’s, pesquisadores e comunidade local. Como já mencionado,

estes tipos de parceria devem ser estimuladas e iniciativas locais de conservação

devem gerar contrapartidas concretas para a comunidade, como o fomento e

geração de alternativas de renda complementar.

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