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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS: LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES ADRIANA CASTRO XAVIER O USO DE ADVÉRBIOS LOCATIVOS EM LEADS DOS JORNAIS FOLHA DE SÃO PAULO E A TARDE: uma abordagem morfossintática e semântica ILHÉUS-BAHIA 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS: LINGUAGENS E

REPRESENTAÇÕES

ADRIANA CASTRO XAVIER

O USO DE ADVÉRBIOS LOCATIVOS EM LEADS DOS JORNAIS FOLHA DE SÃO PAULO E A

TARDE: uma abordagem morfossintática e semântica

ILHÉUS-BAHIA 2017

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ADRIANA CASTRO XAVIER

O USO DE ADVÉRBIOS LOCATIVOS EM LEADS DOS JORNAIS FOLHA DE SÃO PAULO E A

TARDE: uma abordagem morfossintática e semântica

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras: Linguagens e Representações, da Universidade Estadual de Santa Cruz, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de concentração: Estudos da Linguagem. Linha de pesquisa do programa: Língua/Linguagem em perspectiva interdisciplinar. Orientadora: Profa. Dra. Gessilene Silveira Kanthack.

ILHEUS- BAHIA 2017

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ADRIANA CASTRO XAVIER

O USO DE ADVÉRBIOS LOCATIVOS EM LEADS DOS JORNAIS FOLHA DE SÃO PAULO E A

TARDE: uma abordagem morfossintática e semântica

Ilhéus, 21/02/2017.

__________________________________ Profa. Dra. Gessilene Silveira Kanthack

UESC/ILHÉUS-BA - (Orientadora)

_______________________________________

Profa. Dra. Valéria Viana Sousa

UESB/Vitória da Conquista-BA

__________________________________ Profa. Dra. Élida Paulina Ferreira

UESC/ILHÉUS-BA

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X3 Xavier, Adriana Castro. O uso de advérbios locativos em leads dos jornais Folha de São Paulo e A Tarde: uma abordagem mor- fossintática e semântica / Adriana Castro Xavier. – Ilhéus, BA: UESC, 2017.

93 f. : il. Orientadora: Gessilene Silveira Kanthack. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Santa Cruz. Programa de Pós-Graduação em Letras: Linguagens e Representações. Inclui referências e apêndices.

1. Língua portuguesa – Advérbio. 2. Língua portu- guesa – Morfologia. 3. Língua portuguesa – Sintaxe. 4. Semântica. I. Título.

CDD 469.5

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A meus pais, marido e filha, que me ajudaram na concretização de mais uma etapa

de minha vida.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, início, meio e fim.

À minha orientadora, Professora Doutora Gessilene Silveira Kanthack, pelo

zelo, disponibilidade, paciência e incentivo. Obrigada, professora, pelas valiosas

sugestões e observações, pelas críticas construtivas, que foram conduzidas pelo

caminho da sabedoria, competência e conhecimento, sem as quais seria difícil

chegar até aqui. Minha admiração e gratidão.

Aos meus pais, pelo carinho, amor e incentivo.

Ao meu amado marido, Alberto de Castro Baptista, que soube entender as

minhas aflições, o meu silêncio, a minha ausência. Obrigada por fazer parte da

minha vida, por me socorrer nos momentos mais difíceis, por ser esse companheiro

que me dá força, calor e amparo.

À minha querida filha, Catarina Castro Xavier Baptista, por ser simplesmente

o que é: meiga, carinhosa e amiga. Filha, obrigada pela compreensão de, muitas

vezes, não ter estado ao seu lado nas leituras, nos estudos e no lazer. Meu amor

incondicional.

Aos meus irmãos e cunhados, pela torcida, apoio e, principalmente, por

acreditarmos sempre que a união faz a força.

Às professoras Dras. Élida Paulina Ferreira e Valéria Viana Sousa, por

aceitarem participar da banca e pelas observações e orientações para este trabalho.

Aos professores do Programa de Pós-graduação em Letras: Linguagens e

Representações, pelos momentos de reconstrução/construção do conhecimento.

Aos colegas do Programa de Pós-graduação em Letras: Linguagens e

Representações, pelos momentos ímpares que passamos juntos. Foi bom demais.

Aos meus colegas de trabalho, pela confiança, incentivo e apoio.

A todos, muito obrigada!

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O USO DE ADVÉRBIOS LOCATIVOS EM LEADS DOS JORNAIS FOLHA DE SÃO PAULO E A

TARDE: uma abordagem morfossintática e semântica

RESUMO

Neste trabalho, apresentamos uma descrição e análise do uso de advérbios locativos em leads presentes na chamada da capa dos jornais Folha de São Paulo e A Tarde, referentes ao mês de agosto de 2015, com o objetivo de demonstrar que, em situações reais de uso, essa classe gramatical, diferentemente do que é proposto pelas gramáticas de orientação normativa, desempenha um comportamento multifuncional, requerendo, assim, um tratamento sistemático de propriedades que envolvem seu caráter morfossintático e semântico. Como embasamento teórico, utilizamos pressupostos da corrente funcionalista e das gramáticas descritivas de Neves (2011) e Castilho (2014), dentre eles, o de que a língua deve ser compreendida como fator social que se molda às necessidades comunicativas. Comparando os jornais Folha de São Paulo e A Tarde, confirmamos as hipóteses de que, além de adjunto adverbial, os locativos (i) desempenham outras funções não previstas pelas gramáticas de orientação normativa, como a de adjunto adnominal e de complemento verbal; (ii) podem ocorrer em diferentes lugares de uma sentença, sendo esses posicionamentos influenciados pela função sintática que exercem na oração; (iii) são utilizados em sua forma composta; (iv) apresentam nuances semânticas como a de espaço físico, não físico e ambíguo. Verificamos, também, diferenças de uso dos advérbios nos dois jornais, principalmente no que se refere ao fator traço semântico: o jornal Folha de São Paulo apresentou uma ocorrência maior de uso de locativos que denotam ideia de espaço não físico; já o jornal A Tarde, de locativos em sua função ambígua. Com essas constatações, concluímos que os circunstanciais, em particular, os locativos, não podem ser compreendidos como um termo acessório e desnecessário, mas como uma classe gramatical que apresenta uma funcionalidade relacionada a fatores diversos, sendo seus usos determinados pelos propósitos comunicativos dos interlocutores. Salientamos que este estudo visa a contribuir para as pesquisas de cunho linguístico que concebem a língua como um instrumento de interação social, bem como para a prática docente do professor de Língua Portuguesa, no que se refere, em particular, ao ensino do advérbio, uma classe que deve ser compreendida como sendo de natureza heterogênea.

Palavras-chave: Advérbios locativos. Morfossintaxe. Semântica. Funcionalismo.

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THE USE OF LOCATIVE ADVERBS IN LEADS OF THE NEWSPAPERS FOLHA

DE SÃO PAULO AND A TARDE: a morphosyntactic and semantic approach

ABSTRACT

In this work, we present a description and analysis of the use of locative adverbs in leads present in the banner headline of the newspapers Folha de São Paulo and A Tarde, referring to the month of August 2015, in order to demonstrate that, in real situations of use, this grammatical class, unlike what is proposed by normative guiding grammars, performs a multifunctional behavior, thus requiring a systematic treatment of properties involving its morphosyntactic and semantic character. As a theoretical basis, we use the assumptions of the functionalist perspective and the descriptive grammars of Neves (2011) and Castilho (2014), among them, the statement that language must be understood as a social factor that is shaped according to the communicative needs. Comparing the newspapers Folha de São Paulo and A Tarde, we confirm the hypotheses that, in addition to adverbial adjuncts, locative (i) perform other functions not provided by normative guiding grammars, such as noun adjunct and verbal complement; (ii) they can occur in different places of a sentence, being these positions influenced by the syntactic function that they perform in the clause; (iii) they are used in their composite form; (iv) they present semantic nuances such as physical, non-physical and ambiguous space. We also verified the differences in the use of adverbs in both newspapers, especially regarding the semantic trait factor: The newspaper Folha de São Paulo presented a greater occurrence of use of premises that denote idea of non-physical space; Already the newspaper A Tarde, of locative in its ambiguous function. With these findings, we conclude that the circumstantial, in particular, the locatives, cannot be understood as an accessory and unnecessary term, but as a grammatical class that presents a functionality related to diverse factors, being their uses determined by the communicative purposes of the interlocutors. We emphasize that this study aims to contribute to the linguistic research that conceives the language as an instrument of social interaction, as well as to the teaching practice of the Portuguese Language teacher, in what refers, in particular, to the teaching of the adverb, a class that must be understood as being of a heterogeneous nature.

Keywords: Locative Adverbs. Morphosyntax. Semantics. Functionalism.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Jornal Folha de São Paulo: locativo em função da mobilidade ........ 61

Tabela 2 – Jornal A Tarde: Locativo em função da mobilidade .......................... 61

Tabela 3 – Jornal Folha de São Paulo: locativo não móvel e sua função

sintática ................................................................................................. 64

Tabela 4 – Jornal A Tarde: locativo não móvel e sua função sintática .............. 64

Tabela 5– Jornal Folha de São Paulo: locativo não móvel em função de sua

forma composta ................................................................................... 66

Tabela 6 – Jornal A Tarde: locativo não móvel em função de sua forma

composta .............................................................................................. 66

Tabela 7 – Jornal Folha de São Paulo: locativo não móvel em função do traço

semântico.............................................................................................. 68

Tabela 8 – Jornal A Tarde: locativo não móvel em função do traço semântico 69

Tabela 9 – Jornal Folha de São Paulo: locativo móvel em função de sua

posição na sentença ............................................................................ 71

Tabela 10 – Jornal A Tarde: locativo móvel em função de sua posição na

sentença ................................................................................................ 71

Tabela 11 – Jornal Folha de São Paulo: locativo móvel em função de sua forma

composta .............................................................................................. 73

Tabela 12 – Jornal A Tarde: locativo móvel em função de sua forma composta

............................................................................................................... 73

Tabela 13 – Jornal Folha de São Paulo: locativo móvel em função do traço

semântico.............................................................................................. 75

Tabela 14 – Jornal A Tarde: locativo móvel em função do traço semântico ..... 75

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SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................ 6

ABSTRACT ........................................................................................................ 7

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 10

CAPÍTULO I: FUNCIONALISMO LINGUÍSTICO: ALGUNS PRESSUPOSTOS

BÁSICOS ......................................................................................................... 14

1.1 Introdução ................................................................................................. 14

1.2 Linguagem, língua e gramática nas práticas comunicativas ............... 14

1.3 Gramática Funcional: teoria em questão ............................................... 18

1.4 Encerrando o capítulo ............................................................................. 23

CAPÍTULO II: ADVÉRBIOS: SUAS PROPRIEDADES EM DISCUSSÃO ...... 24

2.1 Introdução ................................................................................................. 24

2.2 Advérbios em gramáticas normativas: uma visão limitada .................. 24

2.3 Advérbios em gramáticas descritivas: uma visão funcional ............... 29

2.4 Encerrando o capítulo ............................................................................. 33

CAPÍTULO III: ADVÉRBIOS DE LUGAR: CIRCUNSTANCIADORES?

MODIFICADORES? AFINAL, QUAL É A SUA NATUREZA? ........................ 34

3.1 Introdução ................................................................................................. 34

3.2 Advérbios de lugar: elementos de comportamento heterogêneo ...... 35

3.2.1 Da natureza dêitica/fórica ........................................................................ 35

3.2.2 Das propriedades sintáticas .................................................................... 38

3.2.3 De outras propriedades semânticas ........................................................ 40

3.3 Amostra sobre advérbios circunstanciais: o que revelam algumas

pesquisas ........................................................................................................ 42

3.3.1 Sobre advérbios temporais ............................................................................... 43

3.3.2 Sobre advérbios locativos ....................................................................... 46

3.3.3 Sobre advérbios temporais e locativos ........................................................... 49

3.4 Encerrando o capítulo ............................................................................. 52

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CAPÍTULO IV: A MULTIFUNCIONALIDADE DOS ADVÉRBIOS LOCATIVOS

EM LEADS DE NOTÍCIAS JORNALÍSTICAS: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE

PROPRIEDADES MORFOSSINTÁTICAS E SEMÂNTICAS ........................... 53

4.1 Introdução ................................................................................................. 53

4.2 O corpus investigado ............................................................................... 54

4.3 Procedimentos metodológicos adotados .............................................. 55

4.3.1 O tipo de pesquisa e as hipóteses .......................................................... 55

4.3.2 Seleção e coleta de dados ...................................................................... 56

4. 4 Sistematização da análise ...................................................................... 58

4.4.1 Fator mobilidade ...................................................................................... 59

4.4.2 Locativo não móvel ................................................................................. 62

4.4.2.1 Fator função sintática ........................................................................... 62

4.4.2.2 Fator extensão da forma composta ...................................................... 65

4.4.2.3 Fator traço semântico ........................................................................... 66

4.4.3 Locativo móvel ........................................................................................ 70

4.4.3.1 Fator função sintática ........................................................................... 70

4.4.3.2 Fator forma composta ......................................................................... 72

4.4.3.3 Fator traço semântico .......................................................................... 73

4.5 Encerrando o capítulo.............................................................................. 76

CONCLUSÕES ................................................................................................ 78

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 80

APÊNDICES .................................................................................................... 82

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INTRODUÇÃO

Por ser considerada como um mecanismo de interação social, a língua

constitui-se como a marca e como reflexo da cultura, da história de uma nação, de

uma comunidade, de um indivíduo. Está carregada de saberes, crenças, intenções,

costumes, perpetuação e quebra de estereótipos, podendo, além de fornecer

informações objetivas, “revelar diferentes atitudes e avaliações a respeito das

realidades de que se fala” (ILARI, 2002, p. 68). Acompanha os avanços

apresentados pelo homem no decorrer da sua história, ganhando forças e se

adequando à evolução dos meios de comunicação manifestados na sociedade

contemporânea. Dessa forma, o seu uso é estabelecido através de fatores sociais,

situacionais, históricos, intencionais e pragmáticos, contextualizados, assim, no

processo da comunicação. São fatores desse tipo que a tornam viva, atual e

essencial na interação entre os indivíduos.

Essa concepção de língua revela o quanto ela é flexível e heterogênea, não

comportando mais, assim, o estudo apenas de estruturas como algo completamente

estanque, cristalizado, baseado numa concepção de que língua corresponde a um

sistema de regras que precisam ser decoradas, prescritas, que não sofrem

interferências da situação discursiva em que a língua foi utilizada.

O estudo de uma determinada língua, em situações reais de uso, nos

possibilita compreender que ela é dinâmica e se adapta às necessidades

comunicativas dos falantes. Esse é um dos pressupostos defendidos pela

Linguística Funcional, uma corrente de estudos que destaca a importância de

compreender que a linguagem não se estabelece como um fenômeno isolado, mas

está atrelada a vários propósitos do homem, entre os quais está a interação verbal

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(NEVES, 1997, 2011; CASTILHO, 2012; CUNHA, 2015). Nessa perspectiva, ao se

estudar uma língua, deve-se levar em consideração a competência comunicativa

dos falantes, ou seja, “a capacidade que os indivíduos têm não apenas de codificar e

decodificar expressões, mas também de usar e interpretar essas expressões de uma

maneira interacionalmente satisfatória” (NEVES, 1997, p. 15).

O caráter heterogêneo da língua, a qual se molda às práticas sociais, pode

ser observado no uso efetivo dos advérbios de língua portuguesa, os quais se

adequam aos propósitos comunicativos dos interlocutores (CASTILHO, 2014),

passando a desempenhar propriedades diversas que não são contempladas nas

gramáticas de orientação normativa: no âmbito sintático, o advérbio toma como

escopo outros constituintes, além daqueles que normalmente são elencados (verbo,

adjetivo ou advérbio); no âmbito semântico, pode apresentar nuances diversas,

denotando, assim, outros sentidos do que apenas de lugar concreto, de lugar

propriamente dito; no âmbito discursivo, pode assumir funções variadas como, por

exemplo, atuar como conectivo textual, ou seja, como um item linguístico que

assume, também, a função de ligar unidades discursivas1 do texto.

Ancorados em estudos linguísticos de base funcionalista, e reconhecendo a

natureza multifuncional dos advérbios, apresentamos, neste trabalho, uma descrição

do comportamento morfossintático e semântico de advérbios locativos, tendo como

corpus leads presentes nos jornais Folha de São Paulo e A Tarde. Utilizando como

critério de pesquisa a análise quanti-qualitativa, fizemos o levantamento

considerando os seguintes fatores: mobilidade (quando móvel, podendo ocorrer no

início, no meio ou no final da oração; quando não móvel, se posposto ao elemento

que o seleciona), função sintática (quando argumental, podendo exercer a função de

sujeito e complemento verbal; quando não argumental, podendo exercer a função de

adjunto adnominal ou adjunto adverbial), extensão da forma composta (até três

palavras; mais de três palavras) e traço semântico (se denota ideia de espaço físico,

não físico ou ambíguo). Para isso, foram estabelecidos como objetivos específicos:

1. identificar se os advérbios locativos ocupam lugares fixos ou se são móveis

na sentença;

1 Utilizamos aqui “unidade discursiva” a partir de Castilho (2014, p. 695), que define o termo como “unidade do

texto falado, composto por um conjunto de sentenças que tratam do mesmo assunto, correspondendo ao

parágrafo da língua escrita. Segmento do texto no qual se concentra um dos assuntos versados”.

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2. verificar se as posições assumidas são influenciadas pela função sintática

que o mesmo exerce na oração;

3. averiguar se, em sua forma composta, os locativos tendem a ser utilizados em

sua extensão menor ou maior;

4. constatar nuances semânticas específicas desse tipo de advérbio;

5. comprovar diferenças de comportamento do advérbio nos dois jornais.

Para apresentar os resultados de nossa pesquisa, organizamos este trabalho

em quatro capítulos. Os três primeiros constituem a base teórica de nosso estudo.

No primeiro capítulo, Funcionalismo linguístico: alguns pressupostos básicos,

elencamos alguns fundamentos da Linguística Funcional, dentre eles, a concepção

que essa corrente defende sobre linguagem, língua e gramática; também

apresentamos a teoria denominada de Gramática Funcional, que defende a

integração entre os componentes sintático, semântico e pragmático. Reservamos o

segundo capítulo, Advérbios: suas propriedades em discussão, para a descrição do

advérbio em gramáticas normativas e gramáticas descritivas. No terceiro, Advérbios

de lugar: Circunstanciadores? Modificadores? Afinal, qual é a sua natureza?,

abordamos as propriedades dos advérbios circunstanciais, especificamente, os

locativos, levando em consideração as descrições de Neves (2011) e Castilho

(2014). Também, reportamos às pesquisas de Nogueira (2007), Lessa (2012),

Maciel (2013) e Santos (2015) que já investigaram, de forma descritiva, o

comportamento de advérbios da língua portuguesa. No quarto e último capítulo, A

multifuncionalidade dos advérbios locativos em leads de notícias jornalísticas:

descrição e análise de propriedades morfossintáticas e semânticas, apresentamos

os procedimentos metodológicos adotados (corpus, tipo de pesquisa, hipóteses,

seleção e coleta de dados) e, por fim, a descrição e análise dos dados. Para

encerrar, apresentamos as conclusões, as referências utilizadas e os apêndices.

No que concerne à relevância desta pesquisa, acreditamos que a análise

descritiva de especificidades dos advérbios locativos a partir de uma perspectiva

funcional pode contribuir para as pesquisas de cunho linguístico que procuram

confirmar a necessidade de se reconhecer a natureza heterogênea e funcional de

uma língua. Essa visão heterogênea da língua aliada a um estudo teórico-descritivo

visa contribuir, também, para a prática docente do professor de língua portuguesa,

no que se refere, em particular, ao ensino da classe advérbio, já que, muitas vezes,

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é guiado por uma postura pedagógica tradicional na qual são contemplados apenas

nomenclaturas, conceitos e regras prescritos pelas gramáticas de orientação

normativa.

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CAPÍTULO I: FUNCIONALISMO LINGUÍSTICO: ALGUNS PRESSUPOSTOS

BÁSICOS

1.1 Introdução

O reconhecimento de que a descrição de uma língua não se limita a uma

análise puramente sistemática de estruturas nos faz buscar embasamentos teóricos

que consideram a linguagem um fator social, necessária à interação humana. Dessa

forma, apresentamos, neste capítulo, concepções teóricas que fundamentam a

nossa pesquisa, as quais dão conta de explicar a funcionalidade e dinamicidade de

uma língua. Para tanto, primeiramente, discorremos sobre pressupostos básicos do

Funcionalismo, uma corrente linguística que busca compreender a língua em

situações reais de uso, e, em seguida, expomos fundamentos que caracterizam a

chamada Gramática Funcional (doravante GF), uma teoria que tem a interação

verbal como objeto de análise.

1.2 Linguagem, língua e gramática nas práticas comunicativas

O Funcionalismo Linguístico (doravante FL), corrente linguística associada à

Escola Linguística de Praga2, constitui-se uma corrente que, em oposição ao

Estruturalismo e ao Gerativismo, busca explicar a relação entre a estrutura

2 A Escola Linguística de Praga, também conhecida como Círculo Linguístico de Praga, fundada em 1926 por

iniciativa do linguista tcheco Vilém Mathesius, refere-se a um grupo de estudiosos, entre eles, os russos Nicolai Trubetzkoy, Serge Karcevsky e Roman Jakobson, para o qual o sistema linguístico não pode ser caracterizado como homogêneo, mas como um sistema que está sempre a serviço do falante e da comunicação, recebendo, dessa forma, influência de fatores extralinguísticos como, por exemplo, a situação de fala e escrita.

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gramatical das línguas e os diversos contextos comunicativos em que elas estão

inseridas (NEVES, 1997; CUNHA, 2015). Compreender a língua, nessa perspectiva,

significa recorrer a situações concretas de uso, onde se pode verificar as reais

funções das palavras e das estruturas linguísticas que estão a serviço do falante.

Falar dessa corrente implica reconhecer a existência de diferentes modelos,

no entanto, segundo Neves (1997), todos partem de pressupostos comuns, entre

eles: a linguagem é vista como um instrumento de comunicação social; a língua está

associada à competência comunicativa dos usuários de uma língua natural3; a

análise da estrutura gramatical de uma língua deve estar vinculada à situação

comunicativa, ou seja, ao “propósito do evento de fala, seus participantes e seu

contexto discursivo” (NEVES, 1997, p. 3).

Sobre essa questão, Castilho (2012) também acrescenta que as estruturas

linguísticas não são objetos autônomos e que a explicação linguística deve ser

procurada nos usos linguísticos e numa visão pancrônica4 da língua. Para o autor,

o funcionalismo não é uma abordagem monolítica; ao contrário, ele reúne um conjunto de subcategorias que coincidem na postulação de que a língua tem funções cognitivas e sociais que desempenham um papel central na determinação das estruturas e dos sistemas que organizam a gramática de uma língua. Essas estruturas não são fechadas, [...] A pesquisa funcionalista, portanto, concentra-se no esclarecimento das relações entre forma e função, especificando aquelas funções que parecem exercer influência na estrutura gramatical (CASTILHO, 2012, p. 21).

Função, nessa perspectiva teórica, é uma palavra-chave, pois está associada

não a relações de interdependência interna entre uma forma e outra, mas a relações

entre o sistema de formas e seu contexto. Nesse caso, o pressuposto é que a língua

desempenha funções que são externas ao sistema linguístico em si, e “os

enunciados e os textos são relacionados às funções que eles desempenham na

comunicação interpessoal” (CUNHA, 2015, p. 158).

Para dar conta desse tipo de noção, é necessário recorrer a dados reais de

fala ou escrita, retirados de contextos efetivos de comunicação. Trabalhar com

dados reais significa relacionar língua-sistema-funcionalidade, uma relação que

fomentou, segundo Lucchesi (2004), uma crise na definição de língua apresentada

3 Tomemos como Língua Natural aquela adquirida de forma espontânea, natural e inconsciente a partir da

interação social. 4 De acordo com Castilho (2014, p. 687), o termo pancronia está relacionado “à convivência de diversas

sincronias num mesmo documento”.

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por Saussure, contribuindo, dessa maneira, para a ruptura teórico-metodológica que

ocorreu na linguística, no começo da década de 60, e, consequentemente, para o

estabelecimento do panorama da linguística contemporânea.

Na concepção saussuriana, língua era entendida como um sistema abstrato,

homogêneo e social. Dessa forma, deveria ser eliminado do estudo linguístico “tudo

o que lhe seja estranho ao organismo, ao seu sistema, [...] tudo o que se designa

pelo termo ‘Linguística externa’” (CLG, 2006, p. 29). E, assim, foram postos de lado

os aspectos extralinguísticos que fazem parte do processo de interação, propondo,

dessa maneira, o estudo apenas da estrutura linguística. Diferentemente, na

perspectiva funcionalista, língua é compreendida como um sistema funcional, uma

concepção que

traz implicações tanto para a consideração da língua no seu plano externo de uso na sociedade, quanto para a análise do funcionamento do sistema linguístico em seu plano interno. O plano externo remete ao papel que a língua desempenha na sociedade. Nesse plano, a noção de funcionalidade é relacionada às funções de usos da língua (LUCCHESI, 2004, p. 86, grifo

do autor).

A propósito, os usos podem refletir adaptações do sistema da língua para

atender às reais necessidades comunicativas dos falantes. É essa adaptação que

revela a dinamicidade, flexibilidade e heterogeneidade da língua. Castilho (2014, p.

67) salienta que, “assim concebida, a língua é um somatório de usos concretos,

historicamente situados, que envolve sempre um locutor e um interlocutor

localizados num espaço particular, interagindo a propósito de um tópico previamente

negociado”.

Neves (1994, 1997), por sua vez, enfatiza que, na concepção funcionalista, a

descrição da estrutura da sentença é insuficiente para determinar o som e o

significado da expressão linguística. Para que haja uma descrição completa, faz-se

necessário levar em consideração os fatores externos, como a referência ao falante,

ao ouvinte e a seus papéis e estatuto dentro da situação de interação determinada

socioculturalmente.

Esse entrelaçamento entre os aspectos linguísticos e extralinguísticos

apresentado por teóricos de base funcionalista nos leva a uma compreensão de

gramática que questiona os postulados que sustentam a análise linguística de cunho

estruturalista, onde o enunciado, como bem enfatiza Castilho (2014, p. 44), “é visto

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como produto acabado, como um sistema que importa entrever por detrás dos

diversos usos linguísticos concretos”.

Na perspectiva funcionalista, a gramática é compreendida a partir de aspectos

que ultrapassam as questões estruturais da língua. Castilho (2014) salienta que,

pela visão formalista, a gramática é compreendida como uma entidade a priori, ou

seja, precede o discurso5, priorizando a análise do código. Já, para os funcionalistas,

a gramática é vista como uma entidade a posteriori, em outras palavras, dependente

da situação discursiva, dos interlocutores no processo de interação verbal.

Nessa concepção, o conjunto de regras que rege a gramática de uma

determinada língua é descrito a partir de situações reais de uso, logo, essa

gramática abrange

um componente pragmático (na ponta de entrada das motivações e na ponta de saída dos efeitos, na interação); um componente semântico (na produção das significações) e um componente sintático (na organização das relações construcionais do enunciado (CASTILHO, 2014, p. 73).

Esses três processos (componentes), que se apresentam como base para a

gramática na perspectiva funcional, requerem que o estudo da língua seja de caráter

empírico, partindo-se dos usos para as estruturas linguísticas, compreendendo que

as regras utilizadas pelos falantes, diferentemente do que é proposto pelos estudos

formais, apresentam-se como heterogêneas e em constante renovação, dadas as

reais necessidades comunicativas dos interlocutores. Para Givón (2012, p. 49),

se a língua é um instrumento de comunicação, então é bizarro tentar entender a sua estrutura sem referência ao contexto comunicativo e à função comunicativa. Portanto, restrições gramaticais, regras de sintaxe, transformações estilísticas e coisas assim não estão lá ‘porque elas são pré-instaladas no código genético do organismo’. Nem estão lá sem razão alguma. Ao contrário, elas estão lá para servir a funções comunicativas específicas. Agora, já que o propósito comunicativo de diferentes regras gramaticais não é o mesmo, as consequências da decisão de segui-las ou de quebrá-las também não são as mesmas.

5 Dentre os sentidos utilizados por Castilho (2014, p. 671) à palavra discurso, podemos encontrar o de “toda

atividade comunicativa, produtora de sentidos e dos efeitos de sentidos entre interlocutores, que são sujeitos

situados social e historicamente. Nessa atividade de construção de sentidos o que se diz (i) significa

explicitamente o que se pretende dizer; (ii) significa em relação ao lugar social de onde se diz, a quem se diz;

(iii) significa em relação a outros discursos que circulam (ou circularam) na sociedade. Nesta pesquisa,

utilizamos o termo discurso na mesma perspectiva proposta por Castilho.

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Enfim, para a concepção funcionalista, a análise da língua em uso possibilita

compreender (i) que a linguagem não se constitui como um fenômeno isolado, pois

está sujeita aos vários propósitos dos falantes; (ii) que a descrição da língua (e sua

gramática) deve estar atrelada aos fatores externos; (iii) e que as formas e os

processos da língua (a gramática) se estabelecem como meios para um fim e não

um fim em si mesmo, como afirma Neves (1994). Esses três preceitos são

fundamentais para a Gramática Funcional, uma teoria que apresentamos na próxima

seção.

1.3 Gramática Funcional: teoria em questão

A visão de que a língua é homogênea, autônoma, inflexível e que resiste às

mudanças históricas, sociais e políticas, cabendo ao homem a única missão de

codificar e decodificar as estruturas linguísticas que a compõem, é posta em questão

quando se fala em GF, que, segundo Neves (1994, p. 112), “é uma teoria geral da

organização gramatical de línguas naturais que procura integrar-se em uma teoria

global de interação social”.

Nessa perspectiva, a descrição de uma língua natural deve ser feita a partir

de usos reais, por meio dos quais se pode verificar, dentre os aspectos, a intenção

do falante e o perfil que ele constrói do seu interlocutor. Assim, a linguagem se firma

como funcional e dinâmica. É funcional porque estabelece uma relação intrínseca

entre o sistema linguístico e suas funções em situações reais de uso. É dinâmica

porque é na variabilidade entre a estrutura e a função que ela, a língua, se renova.

Entre as gramáticas funcionais, podemos citar a de Dik (1978), que explicita

como os paradigmas formal e funcional6 tratam de questões centrais sobre o

funcionamento da linguagem. Neves (1997, p. 46-47), a partir dos sete

questionamentos apontados por Dik, apresenta o seguinte quadro com as diferenças

entre o formalismo e o funcionalismo:

6 Podemos encontrar, nos estudos teóricos de vertente linguística, outros termos para essas correntes como,

respectivamente: Linguística independente do falante vs. Linguística centrada no falante, Linguística estrita vs.

Linguística não estrita, Microlinguística vs. Macrolinguística, Linguística autônoma vs. Linguística integrativa,

Gramática a priori vs. Gramática emergente (CASTILHO, 2014).

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PARADIGMA FORMAL PARADIGMA FUNCIONAL

Como definir a língua

Conjunto de orações. Instrumento de interação social.

Principal função da língua

Expressão do pensamento. Comunicação.

Correlato psicológico

Competência: capacidade de produzir, interpretar e julgar

orações.

Competência Comunicativa: habilidade de interagir socialmente

com a língua.

O sistema e seu uso

O estudo da competência tem prioridade sobre o da

atuação.

O estudo do sistema deve fazer-se dentro do quadro do uso.

Língua e contexto/situação

As orações da língua devem descrever-se

independentemente do contexto/situação.

A descrição das expressões deve fornecer dados para a descrição de

seu funcionamento num dado contexto.

Aquisição da linguagem

Faz-se com uso de propriedades inatas, com

base em um input restrito e não-estruturado de dados.

Faz-se com a ajuda de um input extenso e estruturado de dados apresentado no contexto natural.

Universais linguísticos

Propriedades inatas do organismo humano.

Explicados em função de restrições: comunicativas; biológicas ou

psicológicas; contextuais.

Relação entre

a sintaxe, a semântica e a pragmática

A sintaxe é autônoma em relação à semântica; as duas são autônomas em relação à

pragmática; as prioridades vão da sintaxe à pragmática,

via semântica.

A pragmática é o quadro dentro do qual a semântica e a sintaxe devem ser estudadas; as prioridades vão da pragmática à sintaxe, via semântica.

Convém destacar que, nas pesquisas subsidiadas pelo formalismo linguístico,

a competência comunicativa do falante não é relevante para a concepção de língua,

compreendida, aqui, como um conjunto de orações que manifestam o pensamento

de seu usuário, cabendo a este demonstrar competência para “produzir, interpretar e

julgar a gramaticalidade das orações” (CASTILHO, 2014, p.64). Nesse âmbito, a

sintaxe apresenta-se autônoma, desvinculada da semântica e da pragmática. O que

se leva em consideração é a descrição das orações independentemente do contexto

em que elas foram produzidas.

Em contrapartida, os estudos de vertente funcionalista, ao conceber a língua

como “um instrumento de interação social, cujo correlato psicológico é a

competência comunicativa” (CASTILHO, 2014, p. 64), consideram que a descrição

Fonte: Neves, A gramática funcional, 1997, p. 47.

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das expressões linguísticas deve ser subsidiada pelo contexto em que elas foram

produzidas, ou seja, o seu funcionamento em situações de uso. Aqui, o papel da

pragmática é relevante, é primordial para a compreensão da sintaxe e da semântica.

Ampliando essa discussão, Castilho (2014, p.68) esclarece:

A Gramática Funcional procura correlacionar as classes, as relações e as funções com as situações em que elas foram geradas. [...] Esse ramo de estudos ‘desencapsulou’ a língua de seus rígidos limites estruturalistas e gerativistas, estabelecendo correlações entre os fatos gramaticais e os dados da comunidade que os gerou. Pode-se dizer que a Gramática Funcional reage contra a ‘pasteurização’ da língua sustentada pela atitude formalista que postula a língua como uma atividade mental ou como um código.

Assim, fatores como a situação discursiva e os interlocutores são

fundamentais para a análise e descrição das estruturas de uma língua, e essa é a

proposta da GF, comprovar a funcionalidade da língua.

No que se refere à GF, Dik a define como uma teoria de componentes

integrados, em que a linguagem é compreendida como um elemento da

competência comunicativa do homem, dando aos falantes condições de estabelecer

relações comunicativas através das expressões linguísticas. Dessa forma, uma

teoria da gramática deve explicar, o quanto possível, as regras de uma língua,

considerando a sua funcionalidade, isto é, os modos como essas regras são usadas

e os propósitos desses usos.

Nas palavras de Neves (1997, p. 25), a gramática funcional definida por Dik é

uma teoria da sintaxe e da semântica, a qual, entretanto, “só pode ter um

desenvolvimento satisfatório dentro de uma teoria pragmática, isto é, dentro de uma

teoria da interação verbal”. Esse processo de interação pode ser compreendido a

partir da concepção do homem enquanto ser social, e do uso que este faz das

expressões linguísticas - que são regidas por regras, normas e convenções - para

estabelecer uma relação comunicativa com o outro, mesmo que este outro seja ele

mesmo.

Ainda segundo Neves (2012), na interação verbal, a linguagem se constitui

como negociação entre os interlocutores, pois falante e ouvinte apresentam

posicionamentos e escolhas que servem como base para a construção de um

enunciado, e que, inevitavelmente, serão influenciados pela situação discursiva.

Dentre os resultados dessa possível influência, estão: a escolha de uma

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determinada palavra, de uma determinada estrutura sintática; o posicionamento de

algumas palavras dentro da sentença; o tom dado ao pronunciá-la; a mudança na

própria estrutura linguística; as atribuições de novas funções às categorias utilizadas

por esses interlocutores.

Nesse tipo de perspectiva, a expressão linguística se estabelece apenas

como mediadora da relação entre a intenção do falante e a interpretação do

destinatário. Seu processo de produção envolve duas regras básicas: as que

governam as expressões linguísticas (semânticas, sintáticas, morfológicas e

fonológicas) e as que regem os padrões de interação verbal (pragmáticas). Nesse

contexto, as construções dos enunciados, por parte do falante, estão subordinadas a

fatores como intenções, informações pragmáticas e interpretação antecipada que

esse falante faz do ouvinte. Já a interpretação da expressão linguística, por parte do

ouvinte, está condicionada a informações pragmáticas e à pressuposição que ele

(ouvinte) faz sobre as intenções do falante (NEVES, 1997).

Assumindo isso, a descrição de uma expressão linguística só pode ser

analisada a partir da predicação subjacente, em que todos os predicados - ponto

central de qualquer predicação - são interpretados semanticamente e suas

categorias identificadas a partir de suas propriedades tanto formais quanto

funcionais. Na GF de Dik, a organização da estrutura da oração é analisada a partir

de camadas ou níveis, onde encontramos constituintes exercendo a função de

argumento (constituinte selecionado pelo verbo cuja função é completar a

predicação nuclear) e de satélite (constituinte que apresenta uma informação

adicional a uma das camadas da oração, não sendo selecionado pelo predicado)

(NEVES, 1997).

Para exemplificar como esse processo ocorre, apresentamos os exemplos a

seguir, tendo como base a mesma forma neste diário:

(1) a. Guardei todos os meus segredos neste diário.

b. Todos os meus segredos estão neste diário.

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Nos dois casos, a estrutura neste diário denota a mesma função semântica,

espaço/lugar. No entanto, no primeiro exemplo, ela apresenta a dimensão espacial

de onde os segredos foram guardados, exercendo a função de satélite; já, no

segundo, exerce a função de argumento, pois completa uma casa de valência do

verbo estar. A escolha efetiva dessas funções está condicionada a fatores

extralinguísticos como, por exemplo, as intenções do falante perante o que ele

deseja que o seu interlocutor saiba, o tipo de interlocutor que ele pressupõe ter, bem

como o momento em que o enunciado foi construído.

Assim, em (1a), o falante apresenta a necessidade de informar ao seu

interlocutor que ele (enquanto sujeito da oração) guardou todos os segredos, e que

esses segredos foram guardados em um lugar físico (o diário que está perto dele ou

com ele). Nesse caso, mesmo exercendo a função de satélite na oração, o uso do

locativo “neste diário” se constitui como um fator necessário para a construção da

informação que o falante pretende passar, delimitando, assim, o espaço em que

todos esses segredos estão guardados – o interlocutor precisa saber não apenas o

que ele guardou, mas também onde ele guardou.

Já em (1b), podemos encontrar, por parte do falante, o pressuposto de que o

seu interlocutor tenha o conhecimento prévio ou condições de fazer inferências de

que os segredos estão guardados em um espaço físico, enfatizando, dessa forma,

apenas a necessidade de informá-lo que lugar é esse (neste diário). Essa

necessidade de apresentar apenas o lugar onde todos os segredos foram guardados

conduz o falante a produzir uma sentença em que o locativo assume a função de

argumento do verbo “estar” que, nesse caso, pede um complemento (o que está,

está em algum lugar).

Enfim, na perspectiva da GF, a análise de uma sentença não pode ser feita

de forma mecânica e autônoma. Martelotta (2015, p. 63) ressalta que o estudo

funcional da língua é constituído por uma relação de simbiose (cooperação mútua)

entre discurso e gramática, ou seja, “o discurso precisa dos padrões da gramática

para se processar, mas a gramática se alimenta do discurso, renovando-se para se

adaptar às novas situações de interação”7.

7 A propósito, adaptação é uma regra básica da chamada gramática emergente, defendida por

Hopper (1987), sugerindo que a estrutura ou regularidade da língua provém do discurso. Na sua concepção, “emergente” implica considerar que a estrutura da língua é provisória, transitória, sempre negociável no processo de interação.

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1.4 Encerrando o capítulo

Do que foi exposto, concluímos que compreender a língua a partir de

pressupostos de base funcionalista é considerá-la heterogênea, dinâmica e flexível,

sujeita às pressões de usos, e que cabe ao falante e ao interlocutor, munidos da

competência comunicativa, irem além do processo de codificação e decodificação

das estruturas linguísticas.

A propósito dos advérbios, classe que escolhemos para investigar, há

pesquisas que contemplam suas propriedades considerando pressupostos dessa

perspectiva teórica que apresentamos neste capítulo. Assim, com o intuito de

destacar algumas dessas propriedades, apresentamos nosso próximo capítulo, no

qual será abordado também o enfoque dado ao advérbio por gramáticas de

orientação normativa.

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CAPÍTULO II: ADVÉRBIOS: SUAS PROPRIEDADES EM DISCUSSÃO

2.1 Introdução

Abordamos, neste capítulo, algumas propriedades dos advérbios a partir da

descrição de duas vertentes de análise da língua: as gramáticas de orientação

normativa (Cf. Cegalla (2008), Bechara (2009), Lima (2011) e Cunha e Cintra

(2013)) e as gramáticas de cunho descritivo (Neves (2011) e Castilho (2014)).

Propomos esse contraponto, primeiro, por entendermos a importância e o papel de

uma Gramática Normativa (doravante, GN) no ensino de uma língua; segundo, por

ter o conhecimento de que a Gramática Descritiva (de agora em diante GD), ao

apresentar sua análise dos fatos considerando situações concretas de uso,

possibilita ampliar a descrição das categorias, propriedades, regras e características

funcionais de uma língua. Na condição de professor, devemos reconhecer as

limitações, as ampliações, os acertos, os desacertos, enfim, que esses instrumentos,

com suas descrições, contribuem para entendermos o funcionamento de uma

língua.

2.2 Advérbios em gramáticas normativas: uma visão limitada

Basicamente, o advérbio é prescrito, nas gramáticas de orientação normativa

(CEGALLA, 2008; BECHARA, 2009; LIMA 2011; CUNHA; CINTRA, 2013) como um

elemento que tem a função principal de modificar o sentido do verbo (1a), do

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adjetivo (1b) e do próprio advérbio (1c), exercendo assim, na oração, a função

sintática de adjunto adverbial. Bechara (2009) e Cunha e Cintra (2013), por sua vez,

acrescentam que, além desses domínios restritos, o advérbio pode também atuar

sobre um domínio mais amplo, por exemplo, a declaração inteira (1d). Observemos

os exemplos:

(1) a. José escreve bem.

b. José é muito bom escritor.

c. José escreve muito bem.

d. Felizmente José chegou. (BECHARA, 2009, p. 287)

Notamos que em (1a) o advérbio bem faz referência ao verbo escrever, ou

seja, tem como ponto central apresentar a forma, a maneira como José escreve,

distinguindo-a das demais, por exemplo, como a de escrever mal. Em (1b), o

advérbio muito tem como escopo o adjetivo bom, intensificando, assim, a

característica de José enquanto ser um bom escritor: muito bom escritor é diferente

de ser apenas um bom escritor. Como em (1b), o advérbio muito em (1c) também

atua como intensificador, mas, agora, de um outro advérbio presente na sentença,

bem; em outras palavras, o advérbio muito fortalece a maneira como José escreve

bem. Diferentemente, em (1d), o advérbio não reporta ao valor lexical de uma

palavra apenas, mas sim a uma sentença inteira – José chegou. Nesse caso, o

advérbio é usado para exprimir um juízo pessoal a respeito da chegada de José.

No que diz respeito à forma do advérbio, ele pode ocorrer na forma simples,

como vimos em (1), ou na forma composta, a chamada locução adverbial,

geralmente formada de preposição + substantivo, adjetivo ou outro advérbio,

obedecendo às mesmas classificações dos advérbios em sua forma simples. Nesse

caso, a preposição tem como finalidade preparar o substantivo para efetuar uma

função que a princípio não lhe é própria. Vejamos alguns casos apontados por

Cunha e Cintra (2013, p. 558):

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(2) a. Fernanda sorriu em silêncio.

b. – Vou começar por aqui.

Verificamos que, tanto em (2a) quanto em (2b), as locuções foram utilizadas

para fazer referência ao verbo, indicando, respectivamente, com o uso da

preposição + substantivo, o modo (a maneira) como Fernanda sorriu, e, com o uso

da preposição + advérbio, o lugar que o sujeito (eu) deveria começar. No entanto, é

válido salientar que a locução adverbial utilizada em (2a) não modifica exatamente o

verbo, na verdade, ela tem escopo sobre toda a sentença, pois o que temos ali não

é apenas uma simples ação de sorrir, mas a intenção explícita do emissor em

expressar a maneira como Fernanda sorriu, que foi em silêncio; já, em (2b), a

locução adverbial indica apenas a circunstância de lugar por onde o sujeito vai

começar. Nesse caso, também não atua como modificador do verbo, pois não lhe

transfere nenhuma propriedade, seja a de qualificar ou a de quantificar.

Além dessas formas que exemplificamos em (1) e (2), temos também as

chamadas orações adverbiais, que, como o próprio nome diz, se trata de uma

oração que também desempenha a função de advérbio. Vejamos isso em (3):

(3) a. Assim que o professor entrou, os alunos se levantaram. (LIMA, 2011,

p. 354).

b. A inundação aumentava/ à medida que subiam as águas do rio.

(LIMA, 2011, p. 354).

c. Não veste com luxo porque o tio não é rico. (CUNHA; CINTRA, 2013,

p. 619- extraído de Obra Completa de Machado de Assis, II, 1959, p.

204).

d. Viera um vestido de Marta, para que a vestissem com ele. (CUNHA;

CINTRA, 2013, p. 620- extraído do livro Água-mãe de José Lins do Rego,

1956, p. 343).

Aqui, as orações com valor de advérbios atuam sobre o verbo das orações

principais. Em (3a), a oração Assim que o professor entrou foi utilizada para

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transmitir uma circunstância de tempo ao verbo levantar (levantaram); em (3b), à

medida que subiam as águas do rio atua sobre o verbo aumentar (aumentava),

atribuindo-lhe a ideia de proporção; já, em (3c), a oração porque o tio não é rico

designa o motivo, a causa dela não se vestir com luxo; e, por último, em (3d), para

que a vestissem com ele serve para indicar a finalidade do que foi exposto na

oração principal (Viera um vestido). Vale salientar que, na gramática normativa,

essas orações são classificadas como subordinadas adverbiais, por

complementarem o sentido da oração tida como principal.

Além de descrever o advérbio considerando a função e a forma que ele pode

assumir, as gramáticas normativas costumam classificá-lo pela circunstância que

expressa. Seguindo a Nomenclatura da Gramática Brasileira (de agora em diante,

NGB), Cegalla (2008) e Cunha e Cintra (2013) assumem que, ao apresentar a noção

de circunstância ou de ideia secundária, os advérbios podem ser classificados em:

afirmação, dúvida, intensidade, lugar, modo, negação e tempo; também, que

advérbios de causa, lugar, modo e tempo podem ser classificados como

interrogativos, quando empregados em frases interrogativas diretas e indiretas,

como nos seguintes exemplos apresentados por Cunha e Cintra (2013, p. 557-558):

(4) a. Por que não vieste à festa?

b. Onde está o livro?

c. Dize-me como vais de saúde?

d. quero saber quando voltas aqui.

Da classificação exposta para advérbios, Lima (2011) só considera aceitável

a de dúvida, intensidade, lugar, modo e tempo, pois, para ele, as palavras e

locuções que indicam afirmação (5a) e negação (5b), bem como as que expressam

ideia de exclusão (5c), inclusão (5d), avaliação (5e), explicação (5f), retificação (5g),

dentre outras, não podem ser consideradas advérbios, já que não expressam

nenhuma circunstância, e, por isso, devem ser chamadas de palavras denotativas.

Eis os exemplos:

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(5) a. Com efeito, eles trilharão novos caminhos.

b. Não digas que ele continua consumindo o seu juízo.

c. Apenas Paulo ficou sem a gratificação.

d. Saiu falando de todo mundo, inclusive de você.

e. Penso que Marieta foi mais ou menos na prova de Matemática.

f. Ele disse que comprou tudo que precisava, a saber: camisa, meias,

calças, sapatos e pijama.

g. Os pecados capitais são nove, aliás, sete.

Outra questão que merece pontuar diz respeito ao valor que a GN atribui à

classe dos advérbios. Descritos como termos acessórios, o pressuposto é que o

advérbio não apresenta uma função significativa. A propósito disso, Cunha e Cintra

(2013) enfatizam que, mesmo acrescentando uma informação nova à oração, eles

não são considerados indispensáveis para a compreensão do enunciado,

diferenciando-se, dessa forma, dos termos essenciais e integrantes que compõem

uma sentença linguística.

A questão é: se é acessório, a sua ausência nas sentenças ilustradas acima

(1-5) não prejudicaria o sentido das mesmas. No entanto, sabemos que, em cada

uma delas, o advérbio tem o seu valor potencial, pois se for retirado haverá uma

interferência diretamente na função sintática e/ou semântica que elas expressam e

no sentido dos enunciados. E é contemplando mais sistematicamente essas duas

dimensões (sintaxe e semântica) que autores de gramáticas descritivas,

especificamente Neves (2011) e Castilho (2014), como veremos na próxima parte,

procuram demonstrar a natureza heterogênea do advérbio, colocando em “xeque”

pressupostos apresentados pelas gramáticas normativas.

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2.3 Advérbios em gramáticas descritivas: uma visão funcional

Em suas Gramáticas Descritivas, Neves (2011) e Castilho (2014) procuraram

abordar o advérbio numa perspectiva mais ampliada, refletindo, inclusive, sobre as

limitações do tratamento que é dado a ele nas descrições tradicionais.

Uma delas diz respeito ao caráter invariável (não pode ser flexionado em

gênero, número e grau), o que é considerado pela GN como erro. Todavia, os

exemplos abaixo (NEVES, 2011, p. 233-234), frutos de situações efetivas de fala,

põem em “xeque” o postulado em questão:

(6) a. É que ela tá meia doente, já não tem vontade.

b. Os castigos vinham depressinha.

c. O povo esquece loguinho.

Como vemos, em (6a), a palavra meia concorda com o sujeito (ela) que está

no feminino; em (6b) e (6c), para dar ênfase, os advérbios depressinha e loguinho

estão no grau diminutivo: o primeiro, destacando a forma como os castigos

chegaram, isto é, para castigar era rápido; o segundo, enfatizando como o povo tem

a facilidade de esquecer as coisas, podendo denotar, de acordo com o contexto em

que esta sentença estiver inserida, uma certa impunidade, de que tudo volta ao

normal em tantas outras situações.

Outra questão tratada com mais sistematicidade envolve os domínios

sintáticos em que os advérbios podem atuar. Neves (2002; 2011) pontua que o

advérbio e a locução adverbial podem atuar nas diversas partes constituintes do

enunciado, não se referindo apenas a um verbo, um adjetivo ou um advérbio (como

está posto na tradição), mas também a um numeral (7a), um substantivo (7b), um

pronome (7c), uma conjunção (7d). Aponta para o fato de que o mesmo pode se

apresentar também como periférico em um enunciado, referindo-se a uma oração ou

proposição (7e), e até se manifestando como periférico em um discurso, incidindo

sobre todo o enunciado (7f) (Cf. NEVES, 2011, p. 234-235):

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(7) a. É um imperativo de segurança da causa, que todos esposamos,

valorizar também a América Latina, com os seus duzentos milhões de

habitantes aproximadamente, fazê-la adquirir maior relevo.

b. Não diz bobagem. Greve agora não vai nada bem.

c. E quem sabe se de tudo o que pudesse fazer, se entre todas as reações

possíveis, não era justamente isto – ceder, pagar.

d. Alguns inquéritos solicitados pelo Saps à polícia arrastam-se

morosamente sem chegar à apuração policial dos crimes, muito embora

as autoridades da mais alta hierarquia se empenhem nisso.

e. Realmente, sentia fome.

f. Assim igual colher de suas terras, ter uma vaca engordando com os seus

capins. AGORA, todavia, se permanecesse no Surrão, só o faria pagando

arrendamento.

Tendo em vista essas atuações, bem como as funções semânticas variadas

exercidas pelo advérbio, Neves (2011) propõe duas grandes subclasses: a de

advérbios modificadores, vistos como aqueles que “afetam o significado do elemento

sobre o qual incidem, fazendo uma predicação sobre as propriedades desses

elementos, isto é, modificando-os” (NEVES, 2011, p. 236), e a de advérbios não

modificadores, definidos como aqueles que “não afetam o significado do elemento

sobre o qual incidem” (NEVES, 2011,p. 238).

Dentro da primeira subclasse, encontram-se os advérbios que exercem a

função que comumente encontramos na GN, que é a de modificador/predicador. A

autora divide esses advérbios em três categorias semânticas: de modo (ou

qualificadores), de intensidade (ou intensificadores) e os modalizadores (epistêmicos

ou asseverativos, delimitadores ou circunscritores, deônticos, afetivos ou atitudinais).

Vejamos alguns de seus exemplos (p. 236-241):

(8) a. Sei muito bem que ninguém deve passar atestado da virtude alheia.

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b. (José) Julgava-se pouco inteligente, porque nunca dera para os

estudos.

c. Mas, certamente, não era o seu desejo.

d. Trem parador, desses que devem parar obrigatoriamente em todas as

estações.

No primeiro exemplo (8a), o advérbio bem se apresenta como qualificador,

pois qualifica/caracteriza sei (verbo SER); em (8b), encontramos pouco na função de

intensificador do adjetivo inteligente; já em (8c) e (8d), os advérbios destacados

exercem a função de modalizadores à medida que revelam o conteúdo do discurso

do próprio falante, acarretando um juízo de valor sobre toda a sentença: em (8c),

certamente, assevera a opinião expressa sobre o enunciado afirmativo “não era seu

desejo”; em (8d), o advérbio obrigatoriamente indica que o que está sendo afirmado

na sentença se estabelece com uma obrigação, como uma necessidade.

Na segunda subclasse, encontram-se os advérbios que não assumem a

função prescrita na GN: elemento de escopo restrito. Dentre esses advérbios, estão

os que podem atuar sobre o valor de verdade da sentença, como o advérbio de

afirmação e o de negação; os que não expressam valor de verdade, como os

circunstanciais (de lugar e tempo), de inclusão, de exclusão e de verificação

(NEVES, 2011). Dos exemplos apresentados por Neves (2011), destacamos os

abaixo descritos (Cf. p. 236-241):

(9) a. Aquele rapaz do retrato apareceu sim no posto dizendo que acabara a

gasolina do seu carro ali perto, se não podia vender um galão.

b. Nos últimos tempos eu passava raramente junto ao mar, e creio que

nem o olhava.

c. Havia uma densa penumbra lá dentro.

d. Ela levantou-se da mesa, pois estava demasiado tarde.

e. Emocionalmente o indivíduo também amadurece durante a

adolescência.

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f. O segredo do vosso estilo está justamente na sua sábia simplicidade.

Observamos que os advérbios destacados nessas orações não transferem

propriedades a um determinado elemento sintático, mas exercem várias outras

funções, como: a) expressar um valor de verdade da oração (9a) e (9b); b) indicar

uma circunstância de lugar (9c) e de tempo (9d); c) atuar como focalizador (9e) e

(9f).

Seguindo também a dimensão semântica, Castilho (2014) descreve os

advérbios classificando-os em três classes funcionais: os predicativos, os de

verificação e os dêiticos. Os predicativos correspondem aos que Neves (2011)

classifica como modificadores. Essa classificação é dividida por Castilho nas

seguintes categorias: qualificadores, que incluem os de modo e de intensidade

propostos por Neves; modalizadores, com as mesmas categorias da autora; e os

chamados quantificadores, que têm a função de modificar a extensão da classe a

que se aplicam, como no exemplo “Uma vez por semana eu me dou o luxo de comer

do::ces...sabe?” (Castilho, 2014, p. 566), em que a locução adverbial (uma vez por

semana) é utilizada para quantificar a expressão “dar-se o luxo de”, completando o

sentido da estrutura.

Já os verificadores, considerados como operadores que têm como função

apresentar uma comparação implícita entre seu escopo e o protótipo

correspondente, manifestando uma afirmação, negação, focalização, inclusão ou

exclusão do escopo, abarcam todas as categorias classificadas por Neves (2011)

como não modificadores e já expostas acima, com exceção dos de tempo e lugar, as

quais fazem parte da terceira classificação proposta por Castilho (2014), os dêiticos.

Os advérbios dêiticos correspondem a expressões linguísticas que

necessitam do contexto, do discurso, de elementos extralinguísticos para que a sua

compreensão seja completa. Ou seja, a sua referência vai além do texto, não se

prende aos constituintes de uma sentença, seleciona a significação pragmática e

pode funcionar como argumento em uma sentença. Para delinear esse caráter

dêitico dos advérbios locativos e temporais, Castilho (2014) apresenta alguns

exemplos, dos quais destacamos dois em (10) (Cf. p. 123, 298, 541):

(10) a. Seguinte, neguinho, agora sou eu aqui e você lá, tá bom?

b. Hoje é sexta-feira. Ontem foi quinta, se não erro na data.

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Observamos que, nesses exemplos, a referência dos advérbios destacados

não está nas palavras da própria sentença, mas no discurso, na situação social, no

contexto, envolvendo os interlocutores que fazem parte do processo de interação:

em (10a), a noção de aqui e lá vai além da ideia de lugar específico, mas de posição

que cada interlocutor ocupa num certo contexto, sendo o valor semântico das duas

palavras construído em comum acordo entre falante e interlocutor; em (10b),

notamos que os advérbios hoje e ontem também não se constituem como

modificador de nenhuma palavra, o seu sentido é construído a partir do contexto e

da compreensão dos interlocutores do que seria esse hoje e esse ontem em relação

ao agora, momento da enunciação.

Das duas descrições apresentadas, por Neves (2011) e Castilho (2014),

concluímos: na função de modificador, o advérbio não se restringe a determinadas

classes gramaticais, pode incidir, também, sobre toda a oração ou todo o enunciado;

a função do advérbio apenas como predicador é muito limitada, pois há advérbios

que exercem outras funções, como, por exemplo, os que denotam valor de verdade

sobre uma sentença linguística, os afirmativos e negativos, e os que buscam nos

fatores extralinguísticos o seu valor semântico, os chamados advérbios dêiticos, ou

seja, os circunstanciais.

2.4 Encerrando o capítulo

Do que foi exposto neste capítulo, fica claro que a acepção semântica

atribuída ao advérbio pela GN (elemento que tem como característica principal a

modificação de um elemento restrito - verbo, adjetivo ou outro advérbio) dificulta,

como bem evidenciam Neves (2011) e Castilho (2014), a identificação e a

explicação de outros advérbios que exercem outras funções semânticas,

necessitando, portanto, de uma ampliação/modificação da acepção apresentada

tradicionalmente. Essa problemática envolve, por exemplo, a classe de advérbios

locativos, nosso objeto de estudo, como veremos no próximo capítulo.

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34

CAPÍTULO III: ADVÉRBIOS DE LUGAR: CIRCUNSTANCIADORES? MODIFICADORES? AFINAL, QUAL É A SUA NATUREZA?

3.1 Introdução

Tradicionalmente, advérbios de tempo e de lugar são descritos como

circunstanciais que tomam por escopo um verbo, transferindo-lhe a ideia de

circunstância espacial ou temporal. Quanto às posições que ocupam numa

sentença, segundo Cunha e Cintra (2013), normalmente, ocorrem antes ou depois

do verbo, como nos exemplos apresentados pelos autores em (1) (Cf. p. 560):

(1) a. De manhã, acordei cedo.

b. Cá fora era noite.

Além de ser uma descrição simplista do ponto de vista funcional, essa

abordagem, também, limita a posição sintática em que o advérbio ocorre. Também,

dizer que é modificador de verbo não se aplica, pois, de fato, o que os advérbios

denotam em (1) é apenas a indicação temporal (1a) e espacial (1b) dos eventos

expressos. Na visão de Neves (2002, 2011), os advérbios temporais e locativos

apresentam um estatuto particular que não é levado em consideração pela

Gramática Normativa. Para a autora,

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se o advérbio se define como modificador do verbo (ou, ainda, do adjetivo e do advérbio), como ocorre tradicionalmente, os circunstanciais não pertencem à classe, já que nenhum advérbio de tempo ou de lugar realmente modifica o expresso no verbo. Por outro lado, se o advérbio se define como a palavra que indica circunstância, conforme também ocorre tradicionalmente, os circunstanciais são os advérbios por excelência. (NEVES, 2002, p. 250).

Para dar conta, então, dos advérbios de lugar, juntamente com os advérbios

de tempo, a autora os classifica como não-modificadores, descrevendo-os a partir de

aspectos como: natureza dêitica e fórica, esquema sintático e funções semânticas,

como será demonstrado na primeira parte deste capítulo. Na segunda,

apresentamos resultados de pesquisas que revelam o comportamento multifuncional

tanto de advérbios temporais quanto locativos.

3.2 Advérbios de lugar: elementos de comportamento heterogêneo

3.2.1 Da natureza dêitica/fórica

No que se refere à condição própria dos advérbios de lugar, da mesma forma

que os de tempo, como já mencionado anteriormente, Neves (2002; 2011) e Castilho

(2014) assumem que esses advérbios não estão subjugados à condição de

modificador/predicador de algum termo ou de uma sentença, nem tão pouco a de

verificador; eles se manifestam como categoria dêitica, apresentando, dessa

maneira, uma orientação espacial (lugar) e temporal (tempo) a partir do locutor do

enunciado, bem como do conhecimento por parte do ouvinte, isto é, o que seria esse

aqui-agora do falante. Os exemplos seguintes demonstram essa propriedade:

(2) a. Havia uma densa penumbra lá dentro. (NEVES, 2011, p. 239).

b. Eu vou daqui, você vem de lḠe vamos cercar esse frango. Caso

contrário, necas de comida, e será preciso passar zíper na boca hoje.

(CASTILHO, 2014, p. 578).

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c. A maioria do material todo que vinha de lá, era importado. (CASTILHO,

2014, p. 578).

O entendimento dos advérbios destacados é construído a partir de uma

concepção discursiva, levando em consideração os interlocutores que fazem parte

do processo de comunicação: a referência de lugar como lá e dentro (2a), daqui e de

lá (2b) e de lá (2c) é construída a partir da perspectiva do falante, de quem constrói

o discurso, o qual leva também em consideração o lugar que ocupa o ouvinte para

quem a mensagem é destinada, para quem o discurso é produzido. Também, cabe

ao ouvinte fazer parte do jogo, compreender em que posição está o falante e de que

lugar ele está falando para que a comunicação seja efetivada de maneira

satisfatória.

Além de sua natureza dêitica, os advérbios locativos também podem fazer

referência a algo que já foi ou será citado no texto, ou seja, apresentam como

propriedade a foricidade. Esses advérbios são compreendidos por Neves (2011, p.

257) como aqueles que são controlados “pelas relações que se dão dentro do

enunciado e pelas relações que se dão entre enunciado e enunciação”, logo, são

subdivididos como fóricos8 - os que reportam a algum outro elemento dentro ou fora

do enunciado – e os não fóricos - os que não retomam informações já veiculadas no

enunciado, mas podem participar na composição de sintagmas adverbiais fóricos.

No que diz respeito aos advérbios de lugar fóricos, Neves (2011) esclarece

que os mesmos não manifestam uma indicação circunstancial substancial e, por isso

mesmo, há a necessidade de recuperá-la na situação em que o enunciado está

inserido, ou seja, no seu contexto (exófora), ou a partir de elementos linguísticos

mencionados anteriormente (anáfora) ou expressos posteriormente (catáfora) no

texto.

Já os advérbios não-fóricos de lugar exercem apenas a função de

circunstância de lugar, como, por exemplo, dentro e fora; no entanto, se ocorrer uma

referenciação fórica no sintagma, ele é constituído a partir de expressões com

8 Bechara (2009) contrapõe a definição de dêixis e foricidade: na primeira, seu referente deverá ser

determinado em relação aos interlocutores que fazem parte do processo de comunicação; na segunda, a

operação é estimulada por itens lexicais que trazem de novo noções já identificadas dentro ou fora do texto. A

partir dessa perspectiva, salienta que como os elementos dêiticos indicam e os elementos fóricos retomam,

pode-se, em um mesmo enunciado, ocorrer os dois mecanismos.

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complemento iniciado por preposição. Para análise dessa questão, destacamos

alguns dos exemplos apresentados por Neves (2011, p. 257-258):

(3) a. Eu vou lá em cima.

b. Aqui nesta mesa eu não quero conversa sobre este cabra Aparício.

c. O menino chegou todo ensanguentado. Aí mesmo neste lugar onde tu

estás.

d. Permaneceu severa e ausente, mas de conversa comum, fora de toda

aquela exaltação que o derrota.

e. Nós aqui dentro só sabemos lidar com gente morrida e gente matada.

Percebemos que, no exemplo (3a), o sentido circunstancial do advérbio de

lugar lá é retomado a partir de propriedades inseridas no contexto, na situação em

que o enunciado faz parte. Nesse caso, levam-se em conta os interlocutores que

fazem parte do processo de comunicação. Sobre os exemplos de (3b e 3c), Neves

(2011) destaca a relação de proximidade espacial entre os interlocutores do

discurso, estabelecida entre os advérbios fóricos aqui e aí com as expressões nesta

mesa e neste lugar, respectivamente, em que o primeiro advérbio fórico indica lugar

próximo do locutor e o segundo, próximo ao ouvinte. Em (3d), temos um caso de

advérbio de lugar não-fórico (fora), constituído por complementos de referenciação

fórica (toda aquela exaltação que o derrota), apresentando apenas uma

circunstância de lugar, estabelecendo uma relação de interioridade, inclusão ou

exclusão, no caso da sentença em análise, de exclusão. Como em (3d), em (3e)

também há um caso de advérbio não fórico (dentro), participando da composição de

um advérbio fórico (aqui).

Esclarecida essa natureza do advérbio locativo, que, como vimos, sua

interpretação depende de sua inserção no contexto comunicativo, nas duas

próximas seções, destacaremos propriedades sintático-semânticas que revelam seu

comportamento multifuncional.

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38

3.2.2 Das propriedades sintáticas

Numa estrutura sentencial, os advérbios locativos podem desempenhar

funções sintáticas variadas, dentre as quais podem ser: argumental, adjuntiva

adverbial e adjuntiva adnominal, conforme Neves (2011) e Castilho (2014).

Na função argumental9, esse advérbio exerce um papel núcleo na oração,

preenchendo uma casa da valência do verbo, apresentando-se, assim, como

constituinte central e obrigatório da sentença. Para esses dois autores, são

argumentais os advérbios proformas ou pronominais. Essa categoria de advérbio é

estudada dentro da abordagem sobre a estrutura argumental da sentença,

considerando o princípio da transitividade. Para eles, o termo argumento designa os

constituintes de uma sentença que dependem de um predicador, no caso aqui, de

um verbo. São proporcionais a pronomes e exercem as seguintes funções: quando

gerado fora do sintagma verbal exerce a função de sujeito (4a), como ilustram aqui e

lá; quando gerado dentro do sintagma verbal, exerce a função de complemento do

verbo (4b), (objeto direto, objeto indireto e objeto oblíquo10). São, respectivamente,

classificados por Castilho (2014) como argumento externo e argumento interno:

(4) a. Aqui é São Paulo, lá é Belo Horizonte. (CASTILHO, 2014, p. 578).

b. Gostei imensamente de lá. (NEVES, 2011, p. 260).

Na função de complemento oblíquo, os advérbios apresentam as seguintes

características: são proporcionais a pronomes advérbios dêiticos ou a preposição +

pronome; ocorre como argumento interno único da sentença; coocorrem com o

objeto direto; são utilizados com mais frequência com verbos de movimento;

exploram com frequência papéis temáticos/locativos (ideia de lugar propriamente

9 Bechara (2009) classifica os advérbios locativos como adjuntos adverbiais, no entanto, em uma

nota à parte, chama a atenção para os determinantes circunstanciais que, em alguns momentos, apresentam um valor sintático e, consequentemente, semântico, de completar o sentido do verbo oracional, sendo o seu uso obrigatório. A partir dessa reflexão, o autor reconhece a necessidade de esses advérbios, que exercem a função argumental, receberem outra denominação.

10 Castilho (2014) lembra o fato de os complementos oblíquos serem amiúde confundidos, pelas Gramáticas

Tradicionais, como objeto indireto.

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39

dito, especificado como alvo, especificado como origem e alvo, e comitativo), como

ilustram alguns dos exemplos apresentados por Castilho (2014, p. 305):

(5) a. Saio de casa mal nasce o dia e volto ao recesso do lar (como diz o

outro) morto de cansaço.

b. Viajei de Campinas para São Paulo pela rodovia Bandeirantes.

c. Chego ao trabalho com um cansaço precoce, coisas da grande cidade.

d. João pôs o livro na estante.

e. Fui à festa com uma amiga e voltei com outra, não estou entendendo

nada.

Nesses exemplos, reconhecemos que os locativos destacados podem ser

substituídos por pronomes-advérbios dêiticos - Saio de lá... volto aqui ... (5a); Viajei

daqui para lá... (5b); Chego lá... (5c); ... pôs lá (5d); Fui lá... (5e) - ou por preposição

+ pronome, ...pôs o livro nela (em + ela), como em (5d). Em todos esses casos, o

advérbio exerce a função argumental, pois completa a valência semântica interna do

verbo. Este, por sua vez, expressa movimento (sair, voltar, chegar, ir, colocar). Vale

frisar que a omissão dos advérbios destacados nas sentenças em (4) e (5) deixa a

informação do enunciado incompleta, o que reforça o argumento de que essa

categoria não deve ser considerada como termo acessório, como está proposta na

tradição gramatical.

Na função adjuntiva adverbial, os advérbios exercem a função de

circunstanciação e, por estarem fora da valência do verbo, podem ocorrer numa

posição periférica ou de satélite, como ilustra (6):

(6) a. Por fora ele pode se lavar, mas por dentro é encardido emporcalhado

com as suas próprias tratantadas. (NEVES, 2011, p. 257).

b. Havia o lago perto e para matar o tempo, todas as manhãs ia pescar

lambaris naquelas águas barrentas. (NEVES, 2011, p. 260).

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40

Nesses exemplos, tanto em (6a) por fora/ por dentro quanto em (6b) perto, os

termos desempenham a função de adjunto adverbial, acrescentando uma

informação que se apresenta como opcional, em que a sua omissão não deixa a

sentença, do ponto de vista sintático, incompleta. ´

Percebemos, aqui, uma diferença funcional quando o advérbio atua como

argumento e como adjunto. De acordo com Castilho (2014), os argumentais

exercem, na sentença, funções centrais e obrigatórias, atuando assim como sujeito

ou complemento verbal. Já os adjuntos adverbiais não podem ser substituídos por

um pronome, movimentam-se livremente na sentença, podem ser omitidos, pois não

preenchem nenhuma casa da valência verbal.

Na função adjuntiva adnominal, o advérbio e a locução adverbial

desempenham a função de “circunstanciação de nome de algo que seja localizável,

situável no espaço ou no tempo” (NEVES, 2011, p. 260), apresentando-se como

periférico em relação ao sintagma nominal, e, diferentemente da função adjuntiva

adverbial, ele não pode se mover na sentença em que ele está adjunto. Vejamos (7):

(7) a. Portas à direita e à esquerda. (NEVES, 2011, p. 261).

b. Nós aqui dentro só sabemos lidar com gente morrida e gente matada.

(NEVES, 2011, p. 257).

Em (7a) e (7b), os advérbios compostos à direita e à esquerda e aqui dentro,

respectivamente, exercem a função de adjunto adnominal, especificando um

substantivo, no caso “Portas” em (7a) e o sujeito constituído por um pronome

pessoal do caso reto “Nós” em (7b), contribuindo para a construção do seu

significado.

3.2.3 De outras propriedades semânticas

No que diz respeito aos aspectos semânticos, o advérbio locativo assinala

geralmente a função de circunstância de lugar, que pode estar relacionado à

situação, ao percurso e à origem e direção.

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41

Quando relacionado à situação, ao dar ideia de um lugar propriamente dito, o

advérbio apresenta um valor estático, fixo, respondendo à pergunta feita ao verbo:

“onde?”. Dentro desse contexto, encontramos a posição absoluta, com os advérbios

fóricos pronominais, e a posição relativa, com os advérbios não-fóricos, podendo

exprimir várias nuances semânticas. Em (8), apresentamos alguns dos exemplos

utilizados por Neves (2011, p. 262):

(8) a. Aqui, por estes lados de Bom Conselho, não conheço coisa melhor.

b. Rasga a carta em pedacinhos e põe tudo dentro do cinzeiro.

c. Acabei seguindo Carlos e indo para junto do leito de Eliodora.

d. Saiu uma faísca azulada perto dos fusíveis e o Teatro mergulhou em

trevas.

Em (8a), o advérbio fórico aqui é classificado como sendo de situação,

assumindo a posição absoluta, pois, além de responder à pergunta “onde?”, tem seu

referente expresso cataforicamente, “por estes lados de Bom Conselho”. Nos

demais exemplos, os advérbios destacados são também classificados como de

situação, pois, assim como o primeiro, também respondem à pergunta “onde?”, no

entanto, ocorrem numa posição relativa, já que: em (8b), a palavra dentro de

estabelece uma relação de interioridade com a palavra cinzeiro; em (8c) a expressão

junto de denota uma relação de adjacência com o local em que o sujeito (eu) foi

parar (junto do leito de Eliodora); e, em (8d), a expressão perto de apresenta ideia

de proximidade em relação ao lugar de onde saiu a faísca azulada (dos fusíveis).

Quando relacionado ao percurso, a pergunta feita ao verbo é “por onde?”, a

qual será respondida com a utilização de um nome com valor de lugar precedido de

preposição, como ilustra Neves (2011, p. 263):

(9) Estava ocupado, sobrecarregado de serviço, agarrado também ao meu

diário que urgia tocar para frente. (AV)

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Ao fazer a pergunta “urgia tocar por onde?”, a resposta é dada pela

expressão construída pelo substantivo que tem valor de lugar “frente”, precedido

pela preposição “para”.

Quando relacionado à origem, a pergunta feita é “de onde”, a qual é

direcionada ao verbo, como em (10a); quando relacionado à direção, a pergunta é

“para onde?”, como em (10b) (NEVES, 2011, p. 263):

(10) a. Vou mostrar de longe, hein?

b. Eu corri para lá e para cá, procurava um esconderijo, passos na

escada, girava no escuro em torno do mesmo ponto.

Destacamos essas propriedades semânticas porque, em nossa pesquisa,

usamos as perguntas aqui relacionadas para localização das palavras e expressões

locativas, bem como para a delimitação de uma das propriedades que será

investigada por nós, a natureza espacial do locativo: se físico, se não físico, se

ambíguo.

Para completar este capítulo, apresentamos, na próxima seção, uma amostra

de pesquisas já feitas sobre advérbios circunstanciais, no intuito de evidenciar

propriedades que também serão consideradas em nossa investigação.

3.3 Amostra sobre advérbios circunstanciais: o que revelam algumas pesquisas

Para essa amostra, recorremos a quatro pesquisas que revelam a

característica multifuncional dos advérbios denominados circunstanciais. Quanto aos

advérbios temporais, partiremos dos estudos de Maciel (2013)11 e de Santos

11

Dissertação de mestrado, Advérbios temporais: Descrição e Análise do comportamento sintático e semântico

nos jornais A tarde, da Bahia, e O Globo, do Rio de Janeiro, defendida no âmbito do Mestrado Acadêmico da

Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC, sob a orientação da Professora Dra. Gessilene Silveira Kanthack.

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43

(2015)12; no que se refere aos advérbios locativos, basearemo-nos na pesquisa de

Nogueira (2007)13; e, para uma análise comparativa sobre o uso dos dois tipos de

circunstanciais, apresentaremos os resultados de Lessa (2012)14.

3.3.1 Sobre advérbios temporais

Tendo como base pesquisas de cunho funcional como as de Martelotta

(1994), Andrade (2004), Costa Nunes (2009) e Neves (2011), Maciel (2013)

apresenta uma descrição de propriedades morfossintáticas e semânticas de

advérbios temporais em notícias comuns veiculadas nos jornais A Tarde, da Bahia, e

O Globo, do Rio de Janeiro, com o propósito de demonstrar diferenças de usos entre

os dois jornais. Para tanto, Maciel (2013) considerou os advérbios de tempo não-

oracionais que ocorriam nas três posições das sentenças - inicial, medial e final -,

usando como critério para a identificação a pergunta “quando?”. Apresentamos, logo

a seguir, um exemplo de cada uma das posições analisadas pela autora (Cf. p. 52-

53):

(11) a. Pela manhã, [a Petrobrás informou] que o presidente do conselho de

administração da companhia e ministro da fazenda...” (JORNAL A

TARDE, 20.01.2012).

b. Os EUA vão, até o fim deste ano, reduzir o tempo de espera para a

obtenção do visto... (JORNAL O GLOBO, 20.01.2012).

c. [Shettino foi ouvido judicialmente durante três horas].” (JORNAL A

TARDE, 18.01.2012)

12

Dissertação de Mestrado, O uso de advérbios temporais em produções textuais do ensino fundamental II:

descrição e análise de propriedades morfossintáticas e semânticas, defendida no âmbito do Mestrado

profissional (PROFLETRAS), da Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC, sob a orientação da Professora Dra.

Gessilene Silveira Kanthack.

13 Dissertação de Mestrado, Valores e funções dos advérbios locativos no português popular brasileiro,

defendida na Universidade de São Paulo-USP, sob a orientação da Professora Doutora Ângela Cecília de Souza

Rodrigues.

14 Tese de Doutorado, Ordenação de circunstanciais temporais e locativos na escrita jornalística

contemporânea, defendida na Faculdade de Letras da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ, sob a

orientação da Professora Doutora Maria da Conceição de Paiva.

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44

Maciel (2013) constatou que, tanto no Jornal A Tarde quanto no jornal O

Globo, os circunstanciadores de tempo podem ocorrer em posições variadas. No

entanto, observou diferença acentuada em relação à preferência das posições

periféricas: no Jornal A tarde, a inicial foi a mais frequente, já no Jornal O Globo, foi

a final. Esse tipo de resultado sinaliza que as intenções dos autores são distintas:

preferem dar ênfase, primeiro, à localização temporal do fato ocorrido, ora, à

apresentação direta do fato.

Tendo como parâmetro a pesquisa de Maciel (2013), Santos (2015) também

constatou o posicionamento variável do advérbio temporal em produções textuais

escritas de alunos dos anos finais do Ensino Fundamental II, como se pode observar

nos exemplos abaixo (Cf. p. 46-47):

(12) a. [Durante uma festa de carnaval, dois amigos procuraram a barraca de

bebida]. (9º ano).

b. Jhack era um garoto quieto e tímido, não conversava muito. Na escola

[ele era sempre zoado pelos alunos da própria sala]. (9ºano).

c. ... Tá bom. [Passo lá às 7:00 horas]. (8ºano).

Assim como Maciel (2013), Santos (2015) também verificou que as posições

periféricas são as preferenciais para alocar o advérbio, sendo a inicial a mais

recorrente, indicando que os alunos se preocupam, primeiro, em explicitar a

localização temporal do fato. Constatada a mobilidade desse tipo de advérbio, tanto

Maciel (2013) quanto Santos (2015) analisaram também: a forma do advérbio

(simples e composta) e sua função semântica (se localizadora, durativa, reiterativa e

simultânea).

Em relação à forma do advérbio, ambas as autoras confirmaram: a forma

composta é usada preferencialmente na posição inicial ou final; por outro lado,

quando o falante escolhe apresentar informações mais simples sobre um fato, faz

uso do advérbio em sua forma simples na posição medial.

Quanto à função semântica, os resultados também apontam para um mesmo

comportamento: os circunstanciadores temporais, na posição inicial e final, são

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usados geralmente com a função semântica localizadora, como bem demonstram as

autoras a partir dos seguintes exemplos:

(13) a. Em março do ano seguinte, o governo anuncia o PIB oficial do ano

anterior. (JORNAL O GLOBO, 17.01.2012). (MACIEL, 2013, p. 54).

b. O programa econômico foi adotado por maioria dos votos pouco antes

das 23h... (JORNAL A TARDE, 13.02.2012). (MACIEL, 2013, p. 55).

c. Ontem pela tarde encontrei minha amiga na rua. (8º ano). (SILVA,

2015, p. 50).

d. Posso falar com você agora? (8º ano). (SILVA, 2015, p. 50).

Como o próprio nome diz, função localizadora tem o objetivo de localizar um

evento no tempo, diferentemente das outras funções analisadas: a durativa, que

indica o tempo de duração de um fato (14a), a reiterativa, que sinaliza a repetição de

um evento ou situação (14b), e a simultânea, que indica a simultaneidade de

ocorrência entre dois eventos (14c):

(14) a. Olha Larissa eu vou viajar para Serra Grande e [vou ficar fora por uns

15 dias] e não vai ter como ficar com eles não amiga me desculpe. (8º

ano). (SILVA, 2015, p. 51).

b. Ao passar do tempo ele sempre foi ficando um menino inteligente e

seus outros colegas com inveja dele. (9º ano). (SILVA, 2015, p. 51).

c. A Petrobrás [...] extrai e produz, ao mesmo tempo, seu maior e

importante mercado. (JORNAL O GLOBO, 14.02.2012). (MACIEL, 2013, p.

58).

Do levantamento feito pelas duas autoras, ficou comprovado que o advérbio

temporal, além de ser móvel, segue uma regularidade quanto ao posicionamento na

sentença e apresenta funções semânticas variadas. Esse caráter heterogêneo dos

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advérbios circunstanciais também foi observado na pesquisa de Nogueira (2007)

sobre o advérbio locativo, a qual será apresentada a seguir.

3.3.2 Sobre advérbios locativos

Sob a perspectiva teórica da Gramática Funcional de Simon Dik (1989) e da

Sociolinguística Variacionista, Nogueira (2007) analisou os valores e as funções que

os advérbios locativos aqui, aí, ali e lá desempenham nas orações e no texto. A

partir de narrativas orais com um alto grau de descontração encontradas no Banco

de Dados do Português Popular Falado na Cidade de São Paulo, organizado por

Rodrigues (1987), e nos inquéritos que são parte integrante do corpus do Projeto

Filologia Bandeirante, coordenado por Megale (1998), Nogueira (2007) verificou se

os advérbios locativos são sempre adjuntos ou satélites ou desempenham também a

função de argumento ou complemento de predicado. Buscou também identificar os

possíveis contextos que contribuem para a utilização desses locativos seja como

argumento ou como satélite de Estados de Coisas (EsCo)15.

Na investigação, Nogueira (2007) considerou como base a diferença entre

argumentos e satélites proposta por Dik (1989), em que o primeiro se refere aos

termos exigidos por um predicado para que se obtenha uma informação completa; e

o segundo diz respeito aos termos que não são exigidos pelo predicado, podendo

ser retirados sem afetar a gramaticalidade da oração, isto é, são opcionais. Assim,

como argumento, os advérbios locativos exercem a função de complemento verbal,

por exemplo; e, na função de satélite, eles podem exercer a função de adjunto. Em

relação ao Estado de Coisas, para essa pesquisa, Nogueira (2007) apresentou

quatro tipos:

15

A partir da perspectiva funcionalista de Dik, Nogueira (2007) define Estado de Coisas como algo que pode

ocorrer em algum mundo real ou imaginário, estando sujeito a determinadas operações como a de ser

localizado no tempo e no espaço, a de ser visto, ouvido ou percebido; e, para que isso aconteça, faz-se

necessário o uso de operadores e satélites. No exemplo apresentado por Nogueira (p. 16), ele tá no Projeto

Avizinhar ... ele vai fazê... ele deu aula pro outro lá né... dá... vai... ele vai dá... ele tá dando plantão...

ensinando lá (PP. Inq. XIX: 814), observa-se a seguinte descrição do Estado de Coisa: existência de um mundo

em que uma pessoa, nesse caso chamada Márcio, deu alguma coisa (aula), para uma outra pessoa (outro). Esse

Estado de Coisa é localizado em um determinado espaço (lá): Márcio, aula e outro são considerados

argumentos; lá, satélite.

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- EsCo de Estado: aquele que não ocorre nenhum tipo de mudança, e o

primeiro argumento não tem o poder de determinar a realização do EsCo;

- EsCo de Posição: aquele que não ocorre nenhum tipo de mudança, no

entanto, o primeiro argumento tem o poder de realização do EsCo;

- EsCo de Ação: caracterizado por uma ação, é aquele em que há uma

mudança no EsCo e o primeiro argumento define a sua realização;

- EsCo de Processo: aquele em que ocorre uma mudança no EsCo, no

entanto, o primeiro argumento não tem controle sobre essa mudança.

Os resultados obtidos pela pesquisadora demonstraram que os locativos

adverbiais aqui, aí, ali e lá são usados como argumento e como satélite em uma

oração, sendo a primeira função a mais recorrente. Constatou que os EsCo de

Estado e de Posição contribuem para o aparecimento do locativo com a função de

argumento ((15a) e (15b), respectivamente); já os EsCo de Ação e de Processo

favorecem o uso do locativo com a função de satélite ((15c) e (15d),

respectivamente):

(15) a. aqui no posto aqui: :: em ::...tem uma igreja aqui que que chama:

...até esqueci o nome da igreja... minha mãe pes/pega a cesta lá lá. (PP.

Inq. XVIII:18). (p. 72).

b. eli ficava aqui i u fiiu deli ficava lá (ele dizia/) eli ficava nu corti... i óia lá

qui eli quiria ( ) Era trabaiadu purque ficava um lá i u otru ficava aqui

otrus ficavam nu meiu... (FIL. Inq. I:529). (p. 74).

c. ...Vai chegá em São João Del Rei... deixa carro lá no estacionamento

lá guardado... pegá o trenzinho... vai pra Tiradentis e :: (FIL. Inq. V:210).

(p. 74).

d. Chegava a tremer esse boteco aí por exemplo... eles tinha que botá

arame assim nas prateleira... pra segurá as garrada pra não caí no chão...

(FIL. Inq. X:48). (p. 60).

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No que se refere à posição e função do locativo na oração, a autora constatou

que, quando ele está logo após o verbo, exerce a função, preferencialmente, de

argumento (16a); e, quando se encontra na posição mais periférica, inicial, depois do

objeto ou antes do verbo, é grande a possibilidade de assumir a função de satélite,

ou seja, de adjunto (16b), manifestando, dessa forma, um comportamento mais livre

na oração:

(16) a. ...mora tudu... mora em são Paulo... mora em vorta redonda barra/barra

mansa... só um que mora aqui...essa mesmo não mora aqui ela mora em

são Paulo. (FIL. Inq.III:38). (p. 79).

b. ...passou um tempo... ele construiu a casa lá... aí casaro... (FIL.

Inq.IV: 65). (p. 79).

Nogueira (2007) verificou também que, em uma narrativa, o plano narrativo,

por estar relacionado aos EsCo de Ação e Processo, possibilita o aparecimento de

locativos com função de satélites (8a); e o plano comentário, por estar relacionado

aos EsCo de Estado e Posição, favorece o uso do locativo com função de

argumento (8b):

(17) a. ...trupeçô lá e veio incima...aí eu incustei lá na porta eu digu ‘nahora

qui ela vim que eu sei qui ela vem eu façu di conta qui caí e metu os pé

nela ...qui eu tenhu essa perna aqui qui é defeituosa... sô acidentadu pur

isso... (PP. Inq.VIII:187). (p. 89).

b. “... esse Pacheco trabalhô muito aqui... e pó isso que eu gosto desse

moço esse neto dele que mora aí” (FIL. Inq.VIII:83). (p. 89).

Para finalizar, Nogueira (2007) constatou uma maior frequência de uso do

item aí em posição inicial, e que essa posição faz com que ele perca a sua função

locativa e assuma a função de marcador discursivo ou de conector textual. Observou

também o uso do aí no interior da unidade discursiva com pausa anterior a ele,

fazendo com que funcione como conectivo de porções de textos, ou seja, em um

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trecho narrativo, os eventos são amarrados em sequência pelo advérbio aí. Vejamos

os seguintes exemplos apresentados pela autora:

(18) a. ... aí ela foi tamém ... aí intendeu né? Lea foi pra lá cumeçô [inint]

assim... daí amanhã cedinhu na boa lá... ficamu naquela ali ... passamu

passamu toda a confusão possô... aí um dia mi chamô né? Ah si quisé I im

casa tal ... aí eu falei tudo bem mai deixá di saí eu num vô... (PP.

Inq.XIII:117). (p. 91).

b. ... aí ela fica chorando que ela nu...que ela nu tem o pai mas ela tem pai

...mas ela nu sabe que tem pai chora...aí a: :: m/ a mãe dela que ela

acha/que ela gosta/ que ela chama de mãe adora ela toda pessoa qui

fe/que faiz algum mau pra ela ela já defendi... (PP. Inq.XIII:427). (p. 92).

Essa mudança do aí, que parte logo da noção de espaço para uma categoria

mais abstrata do texto, não passando pela noção de tempo, é apontada por

Nogueira (2007) como um caso adiantado de gramaticalização16, denominado

desgramaticalização.

Nogueira (2007) concluiu que os advérbios locativos não podem ser

considerados simples e unicamente como acessórios em uma oração. Podem

exercer funções como a de satélite, a de argumentos de predicado e podem servir-

se como conector de texto.

3.3.3 Sobre advérbios temporais e locativos

Seguindo a mesma linha de Nogueira, Lessa (2012) analisou a ordenação de

sintagmas preposicionais circunstanciais temporais e locativos em amostras

constituídas por pesquisadores do grupo Peul17, compostas por textos dos gêneros

notícia/reportagem, artigo de opinião, editorial, crônica e carta, extraídos do “Jornal

16

Gramaticalização corresponde a um “processo pelo qual itens e construções gramaticais passam, em

determinados contextos linguísticos, a servir a funções gramaticais, e, uma vez gramaticalizados, continuam a

desenvolver novas funções gramaticais” (NEVES, 1997, p. 115).

17 PEUL (UFRJ)– Projeto de Estudos Sobre o Uso da Língua, entre os anos de 2002 e 2004.

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50

do Brasil”, “O Globo”, “Extra” e “O Povo”. Assim como Maciel (2013) e Santos (2015)

constataram a preferência por parte do falante pelo posicionamento dos adverbiais

temporais nas margens periféricas, Lessa (2012) verificou essa mesma preferência

tanto para os temporais quanto para os locativos.

Ao analisar a ocorrência dos circunstanciais, especificamente na margem

esquerda da oração, observou que essa posição está associada a fatores diversos.

Dentre eles, estão: estrutura argumental do verbo; forma de realização do sujeito,

principalmente o posposto; tipo semântico do circunstancial e função discursiva.

No que diz respeito ao fator de natureza sintática, Lessa (2012) verificou que

tanto os locativos quanto os temporais ocupam a margem esquerda da oração,

preferencialmente, em orações com verbo de ligação (20a), em orações com o

sujeito posposto (20b), indeterminado ou oração sem sujeito (20c) e, também, em

orações com o sujeito preenchido anteposto ao verbo (20d):

(20) a. No atual cenário político brasileiro, o palco está armado. (O Globo –

04/10/2002 – Opinião). (p. 68)

b. Caiu de 70% para 55%, em um ano, o número de pessoas que acham

que Lula trabalha muito. (JB – 07/03/2004 – Opinião). (p. 72).

c. Em 12 de março, houve mais um alerta vermelho. (O Globo –

25/09/2002 – Notícia). (p. 72).

d. No Estado do Rio de Janeiro, apenas o titular de Petrópolis, Rubens

Bomtempo, ficou entre os 25 finalistas do total de 456 municípios que

concorreram ao Prêmio Mário Covas em 2002. (JB – 02/06/2003 –

Opinião). (p. 72).

Para o fator tipo semântico do circunstancial, Lessa (2012) propôs três tipos

de locativos: locativo de posição fixa (que indica um ponto concreto e fixo no

espaço), locativo direcional (indica um ponto de origem, um destino) e locativo

metaforizado (não indica um espaço físico concreto, mas sim virtual). Para os

temporais, propôs cinco tipos: de posição fixa (indica um ponto específico na escala

temporal), delimitativo (determina um ponto inicial e um ponto final de uma escala

temporal), segmentativo de posterioridade (indica a posterioridade de um estado de

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coisas em relação a um outro), segmentativo de anterioridade (indica a anterioridade

de um estado de coisas em relação a um outro) e durativo (indica duração de um

estado de coisas na linha do tempo).

Em relação aos tipos de circunstanciais usados, observou uma maior

frequência de uso daqueles que denotam posição fixa, tanto para o locativo (21a)

quanto para o temporal (21b):

(21) a. Ele estava em Belo Horizonte, assistindo ao embarque, para os

Estados Unidos, do primeiro lote de filés de tilápia fresca produzidos em

Santa Maria de Itabira, cidade mineira de 10 mil habitantes cuja

economia pode mudar completamente com este novo negócio. (JB –

b02/06/2003 – Opinião). (p. 78).

b. E no dia 31 de maio sua maior alegria é preparar a missa da coroação

de Maria na capela de baixo. (JB – 08/03/2004 – Crônica). (p. 80).

Dentre os critérios analisados para identificar a função discursiva, observou

que, para os temporais, a noção que mais se destaca é a de contraste (22a); já para

os locativos, são as de contraste, segmentação tópica e de focalização (22b):

(22) a. A evolução se deu também na área econômica. Entre 1994 e 2000, a

taxa de inflação anual foi de 11,4%. Nos cinco anos anteriores, a média

era de 1.280%. (O Globo – 28/10/2002 – Opinião). (p. 86).

b. Até no Kuwait - anexado por Saddam e libertado na Guerra do Golfo

graças à intervenção comandada pelos EUA – a hostilidade aos

americanos deita raízes. (O Globo – 20/10/2002 – Editorial). (p. 88).

Fatores como os que foram analisados por Lessa (2012) servem para

evidenciar, portanto, que a ordem dos circunstanciais em uma oração não se

constitui de forma aleatória, mas está relacionada a fatores linguísticos e

extralinguísticos, dentre eles, os diferentes objetivos sócio-comunicativos de um

gênero discursivo.

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52

3.4 Encerrando o capítulo

Da amostra apresentada, temos o indicativo de que os advérbios

circunstanciais, de fato, apresentam um comportamento bastante variado, tanto em

termos sintático, quanto semântico. Assim, no intuito de ampliar o que esses

trabalhos revelam, especificamente sobre os advérbios locativos, realizamos a

nossa pesquisa, cujos resultados serão apresentados no próximo capítulo.

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CAPÍTULO IV: A MULTIFUNCIONALIDADE DOS ADVÉRBIOS LOCATIVOS EM LEADS DE NOTÍCIAS JORNALÍSTICAS: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE PROPRIEDADES MORFOSSINTÁTICAS E SEMÂNTICAS

4.1 Introdução

A partir de concepções defendidas pela Linguística Funcional, dentre elas a

de que a língua é heterogênea, dinâmica, flexível e que se adequa às necessidades

comunicativas dos falantes, apresentamos, neste capítulo, os resultados de nossa

pesquisa sobre o uso de advérbios locativos em leads de notícias veiculadas nos

Jornais Folha de São Paulo e A Tarde. Observamos se esses advérbios, na prática

social de comunicação, desempenham a função preconizada nas gramáticas de

orientação normativa, como a de modificadores/predicadores de um verbo, de um

adjetivo ou de outro advérbio, ou assumem outras funções sintático-semânticas no

enunciado, questionando, dessa forma, o papel que lhes é atribuído como termo

acessório, que pode ser retirado de uma sentença sem alterar o sentido da mesma.

Para a análise dos dados, apoiamo-nos em autores como Neves (2011) e Castilho

(2014), que já descreveram o comportamento dos locativos adverbiais a partir de

dimensões variadas, revelando que eles são elementos multifuncionais.

No intuito de confirmar isso, descrevemos e analisamos algumas das

propriedades morfossintáticas e semânticas dos advérbios locativos em enunciados

efetivos dos jornais Folha de São Paulo e A Tarde, procurando verificar se as

regularidades que caracterizam esse tipo de advérbio são ou não similares nos dois

jornais.

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54

4.2 O corpus investigado

Os Jornais Folha de São Paulo e A Tarde são de circulação impressa (o

primeiro nacional e o segundo da região baiana) e on-line. O jornal Folha de São

Paulo foi fundado em 1921, sendo o primeiro a oferecer conteúdo on-line a seus

leitores. Já o A tarde, fundado em 1912, é o mais antigo jornal do estado baiano.

Ambos estão organizados a partir de cadernos temáticos que abordam vários

assuntos, como esporte, política, cotidiano, educação, ciência, cultura e

entretenimento.

Assim como todo jornal, para chamar a atenção do leitor e persuadi-lo ao

prosseguimento da leitura, em sua capa, esses diários apresentam a manchete e a

chamada de capa. A manchete, conhecida como manchete de edição, equivale ao

fato jornalístico de maior importância para o jornal, sendo escrita em letras grandes,

localizada, preferencialmente, no alto ou no meio da primeira página; já a chamada

de capa, que tem como finalidade remeter o leitor à página interna da notícia ou à

reportagem completa, é constituída por um título e um resumo que, geralmente, é

estruturado a partir dos elementos que compõem o texto interno, como o título, o

lead, o desenvolvimento da história, narrativa ou texto (CALDEIRA, 2014).

No que se refere aos leads, nosso locus de observação, eles se constituem

como a abertura do texto, concentrados nos primeiros parágrafos. É onde o leitor

geralmente encontra as informações mais importantes em termos de

contextualização do fato, as que colocam em evidência os fatos essenciais. São

informações centradas no fato acontecido, com quem aconteceu, quando aconteceu,

onde aconteceu, como aconteceu e por que aconteceu, situando o leitor acerca dos

principais elementos da notícia.

Numa notícia jornalística, a determinação do lugar preciso em que o fato

ocorreu se constitui num recurso imprescindível para a construção da credibilidade

da informação transmitida, induzindo o leitor a uma determinada apreciação. Nesse

gênero textual, a linguagem deve ser precisa, direta e convincente, e as palavras

que denotam valor de lugar ganham força intencional, obtendo, assim, um lugar

privilegiado na relação entre autor-texto-discurso-leitor.

Com o objetivo de investigar o comportamento funcional de estruturas que

denotam localização espacial, selecionamos, para nossa análise, os leads referentes

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55

à notícia de maior destaque, ou seja, aquela acompanhada pela manchete na

primeira página, e que se encontra na chamada da capa. Justificamos a escolha

desse corpus por dois motivos: primeiro, por se tratar de uso efetivo/real da língua,

em específico, a modalidade escrita, que ainda é pouco estudada no âmbito da

Linguística Funcional; segundo, por entendermos que, dada a necessidade de o

texto jornalístico utilizar uma linguagem clara e precisa, de apresentar uma

informação nova de interesse público e do público, a linguagem é carregada de

posicionamentos ideológicos. Isso faz com que a língua esteja sujeita ao discurso, à

intenção do autor, interferindo, dessa forma, na composição do enunciado, bem

como na posição das palavras ou estruturas, podendo lhes dar maior ou menor

relevância conforme as intenções comunicativas.

4.3 Procedimentos metodológicos adotados

4.3.1 O tipo de pesquisa e as hipóteses

Todo trabalho de pesquisa consiste na definição de critérios bem

estabelecidos e métodos específicos. Matos e Vieira (2002) salientam que são

várias as alternativas e vários os recursos disponíveis ao pesquisador para a

condução de seu trabalho, sendo necessário que o mesmo faça uma escolha

criteriosa em relação ao tipo de pesquisa, levando em consideração o que se

pretende estudar. A escolha de um tipo de pesquisa exige do investigador

conhecimento teórico sobre o objeto que será analisado bem como a definição do

corpus de seu trabalho.

Dos tipos de pesquisa apresentados por Matos e Vieira (2002, p. 40),

encontra-se a documental, que tem como objetivo trabalhar “com dados que ainda

não receberam tratamento analítico e nem foram publicados. Encontram-se ainda

em seu estado original e por isso podem ser reelaborados de acordo com a

finalidade da pesquisa e criatividade do pesquisador”. Dessa forma, tabelas, jornais

e revistas, dentre outros, podem ser utilizados como fontes documentais para a

identificação de dados reais baseados nas hipóteses construídas pelo pesquisador

(LÜDKE; ANDRÉ,1986).

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56

Considerando essas referências metodológicas, assumimos que o nosso

trabalho se caracteriza como pesquisa documental, pois tem como objetivo

investigar propriedades morfossintáticas e semânticas que envolvem o uso prático

de advérbios locativos em leads dos Jornais Folha de São Paulo e A Tarde, tendo

como hipótese principal: esse tipo de advérbio apresenta um comportamento

multifuncional, com especificidades que não são contempladas pelas gramáticas de

cunho normativo. Assim, esperamos, nesta pesquisa, confirmar que:

1) Os advérbios locativos apresentam um comportamento variado quanto à

mobilidade na sentença: podem ser móveis ou não, a depender de sua função

sintática, se adjunto adnominal, se complemento verbal, se parte de um adjunto

oracional, se adjunto adverbial;

2) Os advérbios locativos são expressos comumente por formas compostas, tendo

em vista que elas carregam mais informações do que as formas simples;

3) Os advérbios locativos expressam um comportamento semântico variado,

denotando que o espaço a que se referem pode ser físico ou não físico, ou também

ambíguo;

4) Dada a natureza multifuncional, haverá diferença, entre os dois jornais, quanto aos

usos desses advérbios, pois cada jornal apresenta suas peculiaridades, tendo em

vista o âmbito de produção e circulação.

Estabelecidas essas hipóteses, descrevemos, na próxima seção, a

metodologia adotada para a seleção e coleta de dados.

4.3.2 Seleção e coleta de dados

Para atingirmos nosso objetivo, primeiro, delimitamos o período de veiculação

dos dois jornais: utilizamos todas as edições publicadas no mês de agosto de 2015,

perfazendo um total de 31 edições, um número que consideramos suficiente para a

análise pretendida.

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57

Com as edições em mãos, passamos à constituição do corpus. Nessa etapa,

identificamos todas as chamadas da capa, a notícia onde os leads estavam

situados. Como nem todas as chamadas continham leads que contemplavam seus

elementos principais (o que, com quem, quando, onde, como e por que), reunimos

apenas aquelas que atendiam a esse critério, resultando, portanto, num total de 60

leads: 31 referentes ao jornal Folha de São Paulo e 29, ao jornal A Tarde.

Com o recorte feito, passamos à identificação dos locativos adverbiais,

utilizando, para tanto, os seguintes critérios: foram considerados apenas os locativos

adverbiais não oracionais, em sua forma composta18, e que respondiam às

seguintes perguntas: onde?, por onde?, de onde? e para onde?, conforme estudo

realizado por Neves (2011). Dessas quatro possibilidades, registramos, em ambos

os jornais, respostas com onde (1a) e (2a), que dá ideia de lugar propriamente dito,

de onde (1b) e (2b), que expressa origem, e para onde (1c) e (2c), que dá ideia de

direção:

(1) a. O governo de Alkmin (PSDB) suspeita que PMs estejam ligados a

ataques que deixaram 18 mortos na noite de quinta (13) (...) As mortes,

15, em Osasco e três em Barueri, aconteceram em menos de três

horas, em nove locais. (FOLHA DE SÃO PAULO, 15.08.2015) - (Onde

as mortes aconteceram em menos de três horas?)

b. O acordo da leniência foi assinado em conjunto com o Ministério

Público Federal do Paraná, que atua na Operação Lava Jato. A

empreiteira vinha negociando com o Cade havia quatro meses.

(FOLHA DE SÃO PAULO, 01.08.2015) - (Com o Ministério Público

Federal de onde?)

c. Será a primeira vez que o orçamento federal é enviado ao

Congresso com déficit primário desde que o governo passou a

contabilizar seus números dessa maneira, na administração do ex-

presidente Fernando Henrique. (FOLHA DE SÃO PAULO, 31.08.2015) -

(O orçamento federal é enviado para onde?)

18

Não encontramos, no corpus em análise, advérbios locativos em sua forma simples, ou seja, aquele formado

por apenas uma palavra.

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58

(2) a. Levantamento da coluna Tempo Presente mostra que, das 20 melhores

escolas baianas no ranking geral, 19 são privadas e uma é federal. As

duas piores são estaduais e ficam em Ibipeba. (A TARDE,

06.08.2015) - (Onde ficam as piores escolas estaduais?)

b. O Tesouro Nacional pediu à Comissão de Financiamentos Externos

(Cofiex) que retire da pauta os pedidos de novos empréstimos feitos

por governos regionais. (A TARDE, 15.08.2015) – (Que retire de onde

os pedidos de novos empréstimos?)

c. Manifestantes de 24 estados e do Distrito Federal foram às ruas,

ontem, protestar contra o governo e a corrupção. (A TARDE,

17.08.2015) – (Os manifestantes foram para onde?)

Devido à ocorrência de mais de um locativo adverbial em um único lead, a

quantidade dos locativos encontrados não corresponde à quantidade de leads

selecionados. Portanto, nos 60 leads que constituíram nosso corpus, encontramos

257 locativos adverbiais (108 locativos no Jornal A tarde e 149 no Folha de São

Paulo). Identificados todos os locativos, passamos a analisá-los considerando as

variáveis: mobilidade (quando móvel, pode ocorrer no início, no meio ou no final da

sentença; quando não móvel, ocorre posposto ao elemento que o seleciona); função

sintática (quanto argumental, pode exercer a função de sujeito ou de complemento

verbal; quando não argumental, pode exercer a função de adjunto adnominal ou

adjunto adverbial); extensão da forma composta (até três palavras; mais de três

palavras); e traço semântico do locativo (se o espaço é físico, não físico ou

ambíguo).

4. 4 Sistematização da análise

Observados todos os fatores acima mencionados, realizamos dois tipos de

análises. A primeira foi a quantitativa, com o objetivo de verificar a frequência de

cada propriedade analisada. O resultado dessa etapa é demonstrado em tabelas

específicas, com o número de ocorrências (OC) e os percentuais equivalentes (%). A

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59

segunda foi a qualitativa, feita, juntamente, com a demonstração dos dados, a partir

da descrição dos números e dos aspectos mais relevantes, com o objetivo de

confirmar ou não as hipóteses levantadas. Para contrapor os dois jornais, no intuito

de confirmar se há diferença ou não entre eles, apresentamos os resultados

concomitantemente.

4.4.1 Fator mobilidade

O fator mobilidade foi utilizado como parâmetro para a análise da distribuição

dos locativos nas sentenças porque, de modo geral, vários advérbios apresentam

essa propriedade como característica básica. Como já sinalizamos, no caso dos

locativos, ser móvel ou não depende da função sintática exercida por ele. Ilustramos,

a seguir, cada um dos casos:

(3) a. A Camargo Corrêa firmou um acordo com a Cade (Conselho

Administrativo de Defesa Econômica) e colaborará com investigações

sobre um cartel na licitação das obras da usina nuclear de Angra 3,

da Eletrobras. (FOLHA DE SÃO PAULO, 01.08.2015).

b. A Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas da Bahia (FCDL-

BA) e o Tribunal de Justiça realizarão, em setembro, o Feirão do

Nome Limpo e o TJ Concilia. (A TARDE, 12.08.2015).

(4) a. A maioria dos deputados federais que lideram as bancadas de seus

partidos na Câmara declara ser contra o afastamento do presidente da

Casa, Eduardo Cunha (PMDB), mesmo que o STF abra processo contra

ele na operação Lava Jato. (FOLHA DE SÃO PAULO, 02.08.2015).

b. A crise passa longe dos setores ligados aos cuidados com a casa

e o corpo na Bahia. Os ramos de estética e de venda de artigos de uso

pessoal e doméstico cresceram em 2015. (A TARDE, 02.08.2015).

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60

Os locativos “da usina nuclear de Angra 3”, (3a), e “da Bahia”, (3b),

identificados ao responder à pergunta “de onde?” feita, respectivamente, aos

substantivos “obras” e “Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas”, estão numa

posição fixa, isto é, eles ocorrem adjunto ao substantivo “obras” e “Lojistas”.

Justifica-se a imobilidade em função da alteração do sentido, como se pode notar

em: (a) Da usina nuclear de Angra 3, a Camargo Corrêa [...] colaborará com

investigações sobre um cartel na licitação das obras/ A Camargo Corrêa, da usina

nuclear de Angra 3 [...] colaborará com investigações sobre um cartel na licitação

das obras; (b) Da Bahia, a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas e o

Tribunal de Justiça realizarão[...] o Feirão do Nome Limpo e o TJ Concilia/ A

Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas e o Tribunal de Justiça realizarão, da

Bahia, [...] o Feirão do Nome Limpo e o TJ Concilia. Ou seja, a mudança da posição

do adjunto adnominal na sentença interfere na coerência textual, como afirma

Castilho (2014).

Em contrapartida, os locativos “na Câmara”, (4a), e “na Bahia”, (4b), usados

para indicar, respectivamente, o local em que os deputados federais lideram as

bancadas de seus partidos, e a região onde a crise econômica não interferiu nos

setores ligados aos cuidados com a casa e o corpo, demonstram uma maior

mobilidade sem apresentar prejuízo na gramaticalidade da oração. Vejamos

algumas possibilidades: (a) [..] na Câmara lideram as bancadas de seus partidos/ [..]

lideram, na Câmara, as bancadas de seus partidos; (b) Na Bahia, a crise passa

longe dos setores ligados aos cuidados com a casa e o corpo/ A crise passa, na

Bahia, longe dos setores ligados aos cuidados com a casa e o corpo.

Com esses quatro exemplos, confirmamos o que Ilari et al (1991) pontuam: a

mobilidade dos locativos adverbiais está condicionada às propriedades sintáticas que

eles exercem na oração. Se adjunto adnominal (3a e 3b), não se move; se adjunto

adverbial (4a e 4b), pode se mover. Castilho (2014), por sua vez, acrescenta que o

português brasileiro vem transformando-se, progressivamente, em uma língua

configuracional, isto é, uma língua que apresenta uma ordem mais rígida. Pelos

nossos resultados, como se pode ver nas tabelas 1 e 2, ambas relacionadas,

respectivamente, aos jornais Folha de São Paulo e A Tarde, essa propriedade se

manifesta, pelo menos, quando se trata de locativos adverbiais:

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61

Tabela 1 – Jornal Folha de São Paulo: locativo em função da mobilidade

Móvel Não móvel

OC % OC %

66 44,3 83 55,7

Constatamos que, dos 149 locativos encontrados no Jornal Folha de São

Paulo, 55,7% ocorrem numa posição fixa e 44,3%, apresentando mobilidade, um

comportamento semelhante registrado no Jornal A Tarde, porém, com frequências

diferenciadas:

Tabela 2 – Jornal A Tarde: Locativo em função da mobilidade

Móvel Não móvel

OC % OC %

29 27,0 79 73,0

Como vemos, na tabela 2, dos 108 locativos encontrados, 73% se apresentam

numa posição fixa, aproximadamente três quartos dos locativos analisados. Esse uso

mais acentuado da posição fixa indica que, no Jornal A tarde, há limitação do

domínio do advérbio, no intuito de dar maior ênfase à unidade sintática que antecede

o locativo. Quando este é usado com a função adverbial, o seu escopo é ampliado e,

por isso, a ênfase não recai exatamente ao elemento antecedente.

Nessas duas primeiras tabelas, temos a confirmação de uma de nossas

hipóteses: os locativos apresentam um comportamento variável quanto ao fator

mobilidade na sentença. Claro que essa propriedade está intimamente relacionada à

função sintática que o advérbio exerce na oração, como veremos a partir da próxima

seção. Devido à maior frequência de uso, descrevemos e analisamos, primeiramente,

as propriedades dos locativos que foram considerados como não móveis, e, logo

após, apresentamos a análise dos que foram caracterizados como móveis.

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62

4.4.2 Locativo não móvel

4.4.2.1 Fator função sintática

Para a análise desse fator, observamos que, quando não móvel, o locativo

pode ocorrer nos seguintes lugares:

● Interno ao sujeito (5a) e (5b) ou a algum elemento interno ao verbo (6a) e

(6b), quando exerce a função de adjunto adnominal:

(5) a. A bolsa de Xangai despencou 8,46% nesta chamada "segunda-feira

negra". A forte queda chinesa levou pânico aos mercados pelo mundo,

motivou a venda de moedas e papéis e derrubou a cotação de

commodities. (FOLHA DE SÃO PAULO, 25.08.2015).

b. Quando surgiram as primeiras denúncias, os dirigentes da

comunidade creditaram as acusações a descontentes. Ontem, os

representantes da doutrina não foram localizados. (A TARDE, 18.08.2015).

(6) a. Aos olhos do Planalto, a iniciativa dos senadores, além da relativa

reaproximação com Renan, isola o presidente da Câmara, Eduardo

Cunha (PMDB-RJ), patrocinador de sucessivas derrotas do Executivo

em projetos que aprofundam o rombo nas contas públicas. (FOLHA DE

SÃO PAULO, 12.08.2015).

b. A lista de vagas abertas pelas empresas que procuram o Centro

Industrial de Subaé (CIS) desde 2013 atinge 4.426. (A TARDE,

09.08.2015).

● Imediatamente depois do verbo (7a) e (7b), quando exerce a função de

complemento verbal:

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63

(7) a. Muitos dos 27 itens do documento, porém, não serão fáceis de

passar pelo Congresso, já que desagradam à base aliada. (FOLHA DE

SÃO PAULO, 12.08.2015).

b. Os eventos ocorrerão em Salvador e serão realizados pela

primeira vez em Feira de Santana e Vitória da Conquista. [...]. (A

TARDE, 12.08.2015).

● À direita, (8a) e (8b), no meio, (9a) e (9b), ou à esquerda, (10a) e (10b), de

uma estrutura que desempenha a função de adjunto oracional:

(8) a. Em sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, o

procurador-geral da República, Rodrigo Janot, negou “acordão” com o

planalto para poupar aliados, como o presidente do Senado, Renan

Calheiros (PMDB-AL), em troca da governabilidade de Dilma Rousseff.

(FOLHA DE SÃO PAULO, 27.08.2015).

b. Segundo a nota do Ministério da Fazenda, financiamentos

externos para estados somaram R$ 44 bilhões, entre 2011 e 2014. (A

TARDE, 15.08.2015).

(9) a. Joaquim Levy, atual titular da Fazenda, encerrou os repasses em

esforço para ajustar as contas. (FOLHA DE SÃO PAULO, 09.08.2015).

b. Figueiredo, responsável pelo grupo Mahamudra de Salvador,

classifica a decisão como “abuso”. O Conselho Regional de Educação

Física da Bahia concorda com a medida. (A TARDE, 16.08.2015).

(10) a. O dinheiro vem vindo a “conta-gotas”, segundo o presidente da

Aprosoja Brasil (Associação dos Produtores de Soja), Almir

Dalpasquale. (FOLHA DE SÃO PAULO, 24.08.2015).

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64

b. Em contrapartida, os trabalhadores passam a ser beneficiados com

correções bem mais próximas da inflação, segundo o advogado

Augusto Silva Leite, do Instituto Latino-americano de Estudos

Jurídicos. (A TARDE, 24.08.2015).

Depois de observadas e quantificadas essas posições, chegamos aos

resultados das tabelas 3 e 4:

Tabela 3 – Jornal Folha de São Paulo: locativo não móvel e sua função sintática

Adjunto adnominal Complemento verbal Parte de um Adjunto Oracional

Interno ao sujeito

Interno a sintagma no interior do

verbo

Imediatamente antes do verbo

Imediatamente depois do verbo

À direita

da oração

No meio

À esquerda

OC % OC % OC % OC % OC % OC % OC %

29 50 29 50 00 0,0 18 100 5 71,4 1 14,3 1 14,3

Tabela 4 – Jornal A Tarde: locativo não móvel e sua função sintática

Adjunto adnominal Complemento verbal Parte de um Adjunto Oracional

Interno ao sujeito

Interno a sintagma no interior do

verbo

Imediatamente antes do verbo

Imediatamente depois do verbo

À direita da oração

No meio

À esquerda

OC % OC % OC % OC % OC % OC % OC %

19 43,2 25 56,8 0 0,0 24 100 3 27,3 3 27,

3 5 45,4

Dos 83 locativos circunstanciais não móveis registrados no Jornal Folha de

São Paulo, 58 exercem a função de adjunto adnominal, ora localizado internamente

ao sujeito, ora internamente ao verbo, numa mesma proporção (50%). Já no Jornal A

Tarde, embora também seja a função de adjunto adnominal a mais recorrente (44

ocorrências), há uma diferença acentuada entre a posição interna ao sujeito (43,2%)

e a posição interna ao verbo (56,8). Esta última posição parece ser a preferida para

alocar o advérbio, já que, na função de complemento verbal, categoricamente o

advérbio ocorre posposto ao verbo, tanto num jornal como no outro. Esse resultado

nos permite inferir que a indicação locativa após o verbo interfira menos na

apresentação da ação e do sujeito relacionado a ela.

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65

Quanto à posição do locativo integrada a um adjunto oracional, constatamos

diferenças entre os dois jornais: no jornal Folha de São Paulo, a recorrência maior

está na posição à direita (71,4%); já, no A Tarde, a recorrência maior está na posição

à esquerda da sentença (45,4%), indicando, assim, intenções diferenciadas por parte

de quem produziu a mensagem.

De fato, os resultados confirmam a hipótese de que a função sintática é

determinante para a posição fixa do locativo.

4.4.2.2 Fator extensão da forma composta

Constatada a tendência ao uso do locativo em sua forma composta (já que a

forma simples não foi usada), decidimos investigar a extensão desse tipo de

estrutura. Para tanto, utilizamos como critério: se formado por até três palavras (11a)

e (11b) ou por mais de três (12a) e (12b). Para a contagem da quantidade de

palavras que compõe uma locução adverbial de lugar, consideramos a preposição e

o artigo “no(a) (s), do(a) (s)” como uma única palavra:

(11) a. Sob influência do panorama interno, o dólar disparou e fechou a R$

3,60. Para analista, as razões são a piora dos cenários políticos, com

nova possível investigação sobre a campanha de Dilma e a saída de

Michel Temer da articulação... (FOLHA DE SÃO PAULO, 26.08.2015).

b. O Conselho Regional de Educação Física da Bahia concorda com

a medida. (A TARDE, 16.08.2015).

(12) a. Mendes, que é ministro do Supremo Tribunal Federal, argumentou

que há "vários indicativos" de que a campanha à reeleição da presidente,

no ano passado, e a legenda foram financiados por propina desviada da

Petrobras. (FOLHA DE SÃO PAULO, 22.08.2015).

b. A crise passa longe dos setores ligados aos cuidados com a casa

e o corpo na Bahia. (A TARDE, 02.08.2015).

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Para esse fator, obtivemos os resultados das tabelas 5 e 6:

Tabela 5– Jornal Folha de São Paulo: locativo não móvel em função de sua forma

composta

Até três palavras Mais de 3 palavras

OC % OC %

60 72,3 23 27,7

Tabela 6 – Jornal A Tarde: locativo não móvel em função de sua forma composta

Até três palavras Mais de 3 palavras

OC % OC %

57 72,0 22 28,0

No que se refere à extensão de sua forma composta, constamos que os dois

jornais apresentaram o mesmo padrão, ou seja, demonstraram a preferência dos

falantes por estruturas adverbiais menores: 72,3% no Jornal Folha de São Paulo,

72% no Jornal A Tarde. No entanto, verificamos, também nos dois jornais, um uso

significativo da forma composta por mais de três palavras (27,7% e 28%,

respectivamente). Podemos inferir que, dentre outros motivos, a preferência por

locuções adverbiais menores está relacionada ao uso de orações formadas por

constituintes com menor peso, apresentando, dessa forma, a informação de maneira

clara, sucinta e objetiva, sendo essas as características dos leads em notícias

jornalísticas.

4.4.2.3 Fator traço semântico

Quanto a esse fator, Lessa (2012, p.77) afirma sobre a dificuldade de

especificar e definir as diferentes categorias semânticas dos circunstanciais, devido

ao fato de que “as dimensões de lugar e tempo constituem um continuum que pode

ser perspectivizado de diferentes formas”, acarretando, muitas vezes, na falta de

consenso das categorias propostas pelos teóricos. Em nossa análise, consideramos

basicamente o que foi defendido por Neves (2011), de que os locativos podem

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denotar o lugar propriamente dito, a indicação de percurso, de origem e de direção.

Como em nossa investigação observamos que a circunstância de lugar é, de fato, a

mais usada pelos falantes, optamos por categorizar o traço semântico levando em

consideração três concepções de lugar: lugar físico, isto é, um espaço real, material;

lugar não físico, ou seja, aquele lugar que não é concreto, sem base material, como

um ambiente que não pode ser ocupado fisicamente; e, por fim, os locativos que são

ambíguos19, que podem denotar mais de um sentido (lugar físico, porém não preciso,

e lugar não físico).

Vejamos algumas ocorrências que ilustram a propriedade semântica em

questão:

(13) a. O programa de orientadores em cruzamentos da cidade foi

encerrado, e a lei que punia a má conservação de calçadas foi

afrouxada. (FOLHA DE SÃO PAULO, 03.08.2015).

b. Em Salvador, segundo a PM, cerca de 5 mil pessoas, inclusive

políticos, caminharam do Porto ao Farol da Barra. (A TARDE,

17.08.2015).

(14) a. Dentre as melhores instituições da rede estadual, 11 são da PM.

Em primeiro está o Colégio da Polícia Militar de Vitória da Conquista (65º

na Bahia). A unidade do Dendezeiros é a melhor escola pública da

capital (218ª no estado). (A TARDE, 06.08.2015).

b. A estratégia é reduzir a resistência no Legislativo. O governo

pretende resgatar o tributo para tentar equilibrar as contas no ano que

vem. (FOLHA DE SÃO PAULO, 28.08.2015).

(15) a. Dilma quer se reunir com executivos dos principais grupos

privados do país a fim de obter apoio para influenciar congressistas a

19

BRASIL (2005) utiliza o termo “ambíguo” para classificar os locativos que nem o contexto permite

que se construa a precisão e a extensão de espaço apresentado pelo advérbio de lugar.

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não aprovarem projetos que afetem as contas públicas. (FOLHA DE

SÃO PAULO, 07.08.2015).

b. Quando surgiram as primeiras denúncias, os dirigentes da

comunidade creditaram as acusações a descontentes. Ontem, os

representantes da doutrina não foram localizados. (A TARDE,

18.08.2015).

Em (13a) e (13b), os respectivos locativos “em cruzamentos da cidade” e “do

Porto ao Farol da Barra” denotam ideia de lugar real, material, localizável no espaço:

o primeiro refere-se ao espaço onde duas ruas ou avenidas se cruzam; o segundo,

ao local específico onde foi realizado o trajeto feito pelos manifestantes. Em (14a) e

(14b) o local referido não se apresenta de forma concreta, ou material: em (14a), a

locução “da rede estadual” não se constitui como um lugar físico, mas um conjunto de

escolas que são mantidas e administradas pelo estado; o mesmo ocorre em (14b),

cujo locativo “no legislativo” se refere a um órgão governamental responsável pela

elaboração das leis. Já em (15a) e (15b), dentro do contexto em que estão inseridos,

o primeiro locativo, “do país”, reporta-se a país enquanto território, lugar físico em que

vive uma sociedade organizada politicamente, e, também, a país como o povo que

forma, que constitui essa sociedade; o segundo locativo, “da comunidade”, pode

referir-se ao conjunto de pessoas que partilham de um mesmo espaço físico, cultura,

tradições, doutrinas e interesses, como também ao próprio espaço físico, geográfico,

que esse conjunto de pessoas se situa, se reúne. Portanto, esses dois últimos

exemplos ilustram a função ambígua.

Assim, para a natureza semântica dos advérbios locativos, obtivemos os

resultados das tabelas 7 e 8:

Tabela 7 – Jornal Folha de São Paulo: locativo não móvel em função do traço

semântico

Físico Não Físico Ambíguo

OC % OC % OC %

16 19,3 48 57,8 19 22,9

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Tabela 8 – Jornal A Tarde: locativo não móvel em função do traço semântico

Físico Não Físico Ambíguo

OC % OC % OC %

09 12,0 20 26,0 50 62,0

Como se pode notar nas duas tabelas, a natureza do traço semântico é

variável, confirmando as nossas expectativas; no entanto, há diferenças entre os dois

jornais: os locativos que indicam lugar não físico, não concreto são mais recorrentes

no Jornal Folha de São Paulo (57,8%); já, no Jornal A Tarde, observamos a

preferência acentuada pelos locativos em sua função ambígua (62%). Podemos

inferir que essa preferência está associada aos propósitos sócio-comunicativos do

falante/escritor que, com o objetivo de atribuir informatividade ao discurso, apresenta

locuções adverbiais cujo sentido não é construído unicamente pelo léxico, mas

também pelo contexto discursivo, apresentando, dessa maneira, uma noção de

espaço que não se restringe a um lugar concreto, mas aos possíveis sentidos de

espaço que podem ser atribuídos aos locativos no texto, e que, possivelmente, façam

parte do conhecimento de mundo do ouvinte/leitor. Mais uma vez, confirmamos que

os locativos, como bem salientam Ilari et al (1991), Neves (2002, 2011) e Castilho

(2014), constituem uma classe heterogênea que se molda às reais necessidades de

interação dos interlocutores.

Da análise comparativa realizada com os locativos não móveis nos jornais

Folha de São Paulo e A Tarde, constatamos: nos dois jornais, eles ocorrem

preferencialmente como adjuntos adnominais, o que comprova seu caráter não

móvel; sua composição mais recorrente, em ambos os jornais, é aquela composta de

até três palavras; e o traço semântico expresso por eles tende a ser de espaço não

físico, no Jornal Folha de São Paulo, e ambíguo, no A Tarde.

Na próxima seção, apresentamos os resultados dos locativos móveis.

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70

4.4.3 Locativo móvel

4.4.3.1 Fator função sintática

Para os locativos que apresentam mobilidade e atuam como adjuntos

adverbiais, analisamos suas posições considerando o mesmo critério utilizado por

Maciel (2012) e Santos (2015), quando investigaram sobre os circunstanciais

temporais. Foram as posições inicial ((16a) e (16b)), medial ((17a) e (17b)) e final

((18a) e (18b)) das sentenças:

(16) a. No discurso, a presidente voltou a fazer referências à seu passado

de perseguida política durante a ditadura militar, menção recorrente

nestes tempos de acirramento da disputa política e da crise econômica.

(FOLHA DE SÃO PAULO, 08.08.2015).

b. No TJ Concilia, o tribunal promove o encontro das partes

envolvidas em ações judiciais que tramitam nos juizados especiais em

busca de conciliação. (A TARDE, 12.08.2015).

(17) a. As mortes, 15, em Osasco e três em Barueri, aconteceram em

menos de três horas... (FOLHA DE SÃO PAULO, 15.08.2015).

b. Integrantes da força-tarefa da Lava Jato lançaram em Salvador um

pacote de 10 medidas contra a corrupção. (A TARDE, 08.08.2015).

(18) a. Isolada pela crise política e econômica, a presidente Dilma Rousseff

(PT) encampou o pacote de reformas apresentado pelo presidente do

Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e ganhou fôlego dentro de sua

própria base, apesar da falta de consenso em inúmeros pontos.

(FOLHA DE SÃO PAULO, 12.08.2015).

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b. A um custo médio de R$ 200 por pessoa, agências levam visitantes

para ver o espetáculo que as baleias fazem em Salvador, Praia do

Forte, Morro de São Paulo, Itacaré, Porto Seguro, Caravelas e Barra

Grande de Camamu. (A TARDE, 30.08.2015).

Os resultados desses posicionamentos são apresentados nas tabelas 9 e 10:

Tabela 9 – Jornal Folha de São Paulo: locativo móvel em função de sua posição na

sentença

Inicial Medial Final

OC % OC % OC %

14 21,2 12 18,2 40 60,6

Tabela 10 – Jornal A Tarde: locativo móvel em função de sua posição na sentença

Inicial Medial Final

OC % OC % OC %

10 35,0 5 17,0 14 48,0

Notamos que, em ambos os jornais, a posição medial foi a menos recorrente,

sendo as posições periféricas (inicial e final) as preferidas para alocar o advérbio

móvel. Essa preferência pode ser justificada pelas intenções comunicativas do

falante/escritor, pois, na posição periférica, o advérbio assume um valor funcional que

não interfere no valor de unidades menores da oração, já que o seu escopo é

ampliado. Comparando os dois jornais, percebemos, no entanto, uma diferença

acentuada quanto à escolha das duas posições. Por um lado, no Jornal Folha de São

Paulo, o uso da posição final foi mais recorrente do que no Jornal A Tarde: 60,6% e

48%, respectivamente. Por outro, no Jornal A Tarde, a posição inicial foi mais usada

(35%) do que no Jornal a Folha de São Paulo (21,2%). Essas diferenças nos

permitem inferir que os autores que escolheram mais a posição inicial deram ênfase

à indicação do local, já os que escolheram a posição final tiveram a preocupação

primeira com a apresentação do fato propriamente dito.

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72

4.4.3.2 Fator forma composta

Assim como nos locativos não móveis, utilizamos como critério de análise a

quantidade de palavras que compõe as locuções adverbiais locativas: até três

palavras (19a), (19b) e mais de três palavras (20a) e (20b):

(19) a. O governo de Alkmin (PSDB) suspeita que PMs estejam ligados a

ataques que deixaram 18 mortos na noite de quinta (13), a mais

violenta do ano na Grande SP [...] (FOLHA DE SÃO PAULO, 15.08.

2015).

b. Pesquisa feita por corretora de seguro aponta que o transporte

público é onde mais se roubam celulares no Brasil, respondendo por

31% das ocorrências. (A TARDE, 31.08.2015).

(20) a. Será a primeira vez que o orçamento federal é enviado ao Congresso

com déficit primário desde que o governo passou a contabilizar seus

números dessa maneira, na administração do ex-presidente

Fernando Henrique. (FOLHA DE SÃO PAULO, 31.08.2015).

b. O procurador-geral da república, Rodrigo Janot, apresentou ao

STF denúncias contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo

Cunha (PMDB-RJ), o senador Fernando Collor (PTB-AL), a prefeita

de Rio Bonito (RJ), Solange Almeida, e mais quatro pessoas por

suposto envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras. (A

TARDE, 21.08.2015).

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Vejamos os resultados nas tabelas 11 e 12:

Tabela 11 – Jornal Folha de São Paulo: locativo móvel em função de sua forma

composta

Até três palavras Mais de 3 palavras

OC % OC %

41 62,1 25 37,9

Tabela 12 – Jornal A Tarde: locativo móvel em função de sua forma composta

Até três palavras Mais de 3 palavras

OC % OC %

20 69,0 09 31,0

Como se pode notar, há uma mesma regularidade no que se refere à extensão

da forma do advérbio: tanto um jornal quanto o outro fazem uso preferencial da forma

composta menor. Isso também foi observado no uso do locativo não móvel, como

mostrado nas tabelas 5 e 6. Esses resultados confirmam a hipótese levantada: as

estruturas menores são preferíveis a maiores.

4.4.3.3 Fator traço semântico

Como no caso do advérbio não móvel, também encontramos o móvel

denotando o traço semântico físico (21a) e ( 21b), não físico (22a) e (22b) e ambíguo

(23a) e (23b):

(21) a. Esse encontro ocorreu na mesma noite em que a petista se reuniu

com seus aliados no Planalto da Alvorada. (FOLHA DE SÃO PAULO,

05.08.2015).

b. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)

identificou 301 obras irregulares em imóveis do Santo Antônio Além

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do Carmo, no Centro Histórico de Salvador. (A TARDE, 25.08.2015).

(22) a. A empreiteira Camargo Corrêa comprometeu-se, no âmbito da

Operação Lava Jato, a devolver R$ 700 milhões a três estatais, no

total. No maior acordo do gênero já assinado na história do país, a

empresa ressarcirá danos causados a Petrobrás, Eletrobrás e

Eletronuclear. (FOLHA DE SÃO PAULO, 21.08.2015).

b. A Secretaria Estadual da Administração (Saeb) constatou, ao cruzar os

dados com os tribunais de Contas e outros órgãos, que 1447 servidores

baianos acumulam, ilegalmente, mais de dois cargos públicos em

diferentes esferas. (A TARDE, 07.08.2015).

(23) a. Durante a inserção, houve panelaço em pelo menos 11 capitais e no

DF. Com a piora nos quadros político e econômico, parlamentares de

PSDB e DEM defendem que a população desista de pedir o

impeachment nas manifestações do dia 16 e clame por novas eleições.

(FOLHA DE SÃO PAULO, 07.08.2015).

b. Em capitais europeias, além de atrações turísticas, elas funcionam

como espaços de lazer e interação social. (A TARDE, 10.08.2015).

Em (21a) e (21b), as locuções “no Planalto da Alvorada” e “em imóveis do

Santo Antônio Além do Carmo” dão ideia de lugar físico, localizado a partir de sua

dimensão (o primeiro, a sede do governo federal, localizada em Brasília; o segundo,

casas e/ou prédios localizados no bairro Santo Antônio Além do Carmo que

apresentam irregularidades nas obras). Em (22a) e (22b), “no âmbito da Operação

Lava Jato” e “em diferentes esferas” temos uma compreensão de espaço não físico;

ou seja, em (22a), de um campo que é delimitado por ações direcionadas a

desmontar um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro no Brasil, deflagrada

pela Polícia Federal em 2014; em (22b), das diferentes áreas, profissões que

servidores públicos acumulam cargos na Bahia. Já em (23a) e (23b), “em pelo menos

11 capitais e no DF” e “em capitais europeias”, respectivamente, a noção ambígua de

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espaço é construída ao observarmos nos dois locativos a ideia de espaço enquanto

área territorial não específica, como também os demais critérios que constituem esse

determinado espaço como cidade e/ou capital.

Vejamos os cômputos desse fator nas tabelas 13 e 14:

Tabela 13 – Jornal Folha de São Paulo: locativo móvel em função do traço semântico

Físico Não Físico Ambíguo

OC % OC % OC %

11 16,7 28 42,4 27 40,9

Tabela 14 – Jornal A Tarde: locativo móvel em função do traço semântico

Físico Não Físico Ambíguo

OC % OC % OC %

09 31,0 05 17,0 15 52,0

Como vemos na tabela 13, referente ao Jornal Folha de São Paulo, a ideia de

lugar não físico, não concreto, é a mais utilizada, perfazendo um percentual de 42,4%

dos adverbiais locativos móveis usados. Já, no Jornal A Tarde, o uso mais acentuado

foi de advérbios ambíguos (52%). Comparando com os resultados dos locativos não

móveis (tabelas 07 e 08), percebemos que o padrão se repete com os locativos

móveis: um jornal tende a preferir um locativo de natureza não física e outro um

advérbio de natureza ambígua.

Da análise feita sobre os locativos móveis nos dois jornais, constatamos: eles

ocorrem como adjuntos adverbiais, o que demonstra o seu caráter móvel; quanto à

composição morfológica, os dois jornais usaram, preferencialmente, estruturas

menores; no que se refere ao traço semântico, observamos a mesma regularidade

verificada com os locativos móveis (o espaço não físico é mais usado pelo Jornal

Folha de São Paulo e o ambíguo, pelo Jornal A tarde).

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4.5 Encerrando o capítulo

Com a descrição e análise apresentadas, chegamos à seguinte conclusão: de

fato, o advérbio locativo apresenta propriedades que o caracterizam como um

elemento multifuncional. No entanto, várias dessas propriedades, comumente, não

são estudadas em sala de aula, já que muitos dos materiais didáticos utilizados pelo

professor estão fundamentados, unicamente, em prescrições que sustentam a ideia

de que o advérbio é um elemento linguístico invariável, com função restrita de

modificar o verbo, o adjetivo ou outro advérbio, numa visão limitada e inflexível.

Compreendemos que, na sala de aula, quando o objeto for classe gramatical,

por exemplo, advérbio, há necessidade de o professor de língua portuguesa

ir além do tratamento tradicional, fundamentado na concepção aristotélica, segundo a qual as classes gramaticais apresentam-se discretas, estáticas, absolutas e bem definidas, com contornos nítidos e sem hierarquização de seus constituintes, tal como quando lidamos, por exemplo, com substantivo, verbo, adjetivo, pronome, entre outros, como conjuntos fechados, sem interseções, sem difusões. De outro modo, é preciso considerar essas classes em seu continuum, no entendimento de que cada qual constitui um conjunto irregular, relativo e impreciso, dinamicamente organizado, cujos traços constitutivos não são partilhados igualmente por todos os seus

membros. (OLIVEIRA; CESÁRIO, 2007, p. 94-95)

Nessa mesma perspectiva, Neves (2010, p. 173) afirma que

as aulas de Língua Portuguesa têm de satisfazer aquelas necessidades do educando que, em geral, as aulas de outras disciplinas satisfazem, necessidades como: a de agir refletidamente; a de enfrentar desafios e discutir questões; a de aperceber-se da funcionalidade das escolhas; a de subtrair-se a atividades mecânicas; a de subtrair-se a bloqueios de usos; e, afinal, no caso específico de estudos da linguagem, a de manter contato consentindo com os grandes criadores das palavras.

Nesse sentido, defendemos que, trabalhar com o advérbio, em particular, os

locativos, a partir de uma visão funcional da língua, é criar oportunidades para que o

educando possa refletir sobre o uso efetivo dessa classe gramatical, contemplando,

sempre que possível, as várias propriedades que não são apresentadas nos

manuais normativos. Essas oportunidades podem ser estabelecidas de várias

formas, tais quais: propor atividades que promovam discussões sobre o seu conceito

e sua categorização, estabelecendo comparação entre o que as gramáticas de

orientação normativa apresentam e o uso funcional dessa classe gramatical;

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considerar as dúvidas e os exemplos propostos pelos alunos como uma

oportunidade para o levantamento e comprovação de hipóteses; apresentar várias

situações em que os interlocutores, o processo de contextualização, o gênero

textual, por exemplo, sejam determinantes para o uso do advérbio locativo em

diferentes tipos de sentenças; analisar estruturas sintáticas, a partir de diferentes

tipos de textos, observando propriedades morfossintáticas, semânticas e

pragmáticas que influenciam o comportamento particular dos locativos.

Corroboramos, mais uma vez, com Neves (2010, p. 180) ao afirmar que “é

importante falar de gramática tendo em mente que ela é a própria organização dos

enunciados, e falar dela é falar do uso linguístico”. Assim, para que essa concepção

de gramática se faça presente nas instituições de ensino, faz-se necessário que

pesquisas que contemplam a língua em uso, como, por exemplo, a que realizamos,

sejam utilizadas no contexto escolar, visando ampliar a visão do aluno quanto às

regras que podem ser usadas em diferentes situações comunicativas.

Se isso for feito, acreditamos que educando e educador poderão

compreender que a língua não está fadada a determinadas normas, e não se

restringe a usos específicos; mas que ela é dinâmica e que se adequa às reais

necessidades de uso dos interlocutores. Poderão entender que a colocação de um

determinado item linguístico (por exemplo, um advérbio locativo), numa determinada

posição sintática, não é aleatória; que as regras (sejam aquelas prescritas ou não)

são variáveis; que as estruturas linguísticas não são autônomas, mas flexíveis e

dinâmicas, capazes de satisfazer os interlocutores em suas práticas comunicativas.

Enfim, compreender que a língua está a serviço do falante.

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CONCLUSÕES

Nesta pesquisa, investigamos os usos dos advérbios locativos em leads dos

Jornais Folha de São Paulo e A Tarde com o objetivo de confirmar o caráter

multifuncional desse item linguístico, que só pode ser depreendido se levarmos em

consideração a conjunção de propriedades linguísticas com propriedades

discursivas, por exemplo, as intenções comunicativas e o papel dos interlocutores.

Fundamentados em estudos de base funcionalista (Ilari et al, 1991; Nogueira,

2007; Neves, 2011; Lessa, 2012; Maciel, 2013; Castilho, 2014; Santos, 2015),

consideramos, em nossa pesquisa, fatores que demonstram o comportamento

morfossintático-semântico bastante singular dessa classe gramatical, a saber: a sua

mobilidade ou não pela sentença, a sua função sintática, a extensão de sua forma

composta e o seu traço semântico.

Da análise realizada, comprovamos a hipótese de que esse tipo de advérbio

apresenta um comportamento multifuncional, com especificidades que não são

contempladas pelas gramáticas de orientação normativa. Assim, verificamos que,

além de assumir o papel de adjunto adverbial, função que comumente lhe é

atribuída, os locativos desempenham outras funções sintáticas como a de adjunto

adnominal e a de complemento verbal.

No que tange à mobilidade posicional, comprovamos que ela não é limitada e

nem aleatória; ao contrário, o advérbio pode ocorrer em diferentes lugares de uma

sentença, sendo essas posições influenciadas por fatores, tais como intenções do

falante e função sintática que o advérbio locativo exerce na oração. Assim, na

condição de adjunto adverbial, apresentou um comportamento mais livre, podendo

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ocorrer na posição medial, entre sujeito e predicado, entre verbo e complemento,

bem como na posição inicial e final da sentença. Na condição de adjunto adnominal

ou parte de um adjunto oracional, apresentou uma posição fixa, logo após o

elemento que o seleciona.

Quanto a sua composição morfológica, registramos apenas advérbios

formados por estruturas compostas, as chamadas locuções adverbiais;

esperávamos, inicialmente, também encontrar advérbios em sua forma simples, o

que não se confirmou. No que se refere ao aspecto semântico, identificamos três

propriedades: locativos que denotam espaço físico, não físico e aqueles que são

ambíguos, denotando mais de um sentido.

Pesquisar essas propriedades, bem como constatar diferenças entre os dois

jornais foi relevante para a compreensão da natureza do advérbio locativo, uma

categoria que, segundo Neves (2011), tem um estatuto particular que a tradição

gramatical não costuma avaliar. Eles não são modificadores (como se costuma

definir no conceito clássico – advérbio é a palavra que modifica) e manifestam um

comportamento morfossintático-semântico bastante variado: podem ser

representados por formas compostas menores ou maiores, ocorrer em diferentes

lugares de uma sentença e apresentar funções sintáticas e semânticas variadas.

Compreendemos que a análise aqui desenvolvida revela apenas alguns dos

aspectos que demonstram o caráter multifuncional dos advérbios locativos,

evidenciando, assim, a necessidade de mais pesquisas que levem em conta as

várias possibilidades de uso dessa classe gramatical. Esperamos que as

considerações provenientes deste trabalho possam contribuir para as pesquisas no

âmbito da Gramática Funcional, em específico às relacionadas ao advérbio, uma

classe que deve ser reconhecida pela sua natureza heterogênea e multifuncional;

bem como para o processo ensino-aprendizagem da língua portuguesa, ressaltando

a importância de se desenvolver em sala de aula, juntamente com o aluno, o espírito

investigativo, compreendendo que a descrição da língua não se deve limitar às

regras gramaticais comumente apresentadas pelos manuais normativos, mas que

seu estudo seja contemplado também a partir de situações reais de uso, como a que

realizamos nesta pesquisa.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICES

JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO

MÊS: AGOSTO/ 2015 - ANO 95

A Camargo Corrêa firmou um acordo com a Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e colaborará com investigações sobre um cartel na licitação das obras da usina nuclear de Angra 3, da Eletrobras. O acordo da leniência foi assinado em conjunto com o Ministério Público Federal do Paraná, que atua na Operação Lava Jato. A empreiteira vinha negociando com o Cade havia quatro meses. Os indícios fornecidos pela construtora apontam que, além dela, Andrade Gutierrez, Odebrecht e Queiroz Galvão, EBE, Technit e UTC fizeram um conluio para fixar preços e repartir mercado. Em Angra 3, os contratos totalizam R$ 3 bilhões. Pelo acordo firmado, a empresa fornece provas. Em troca, pode escapar da multa. As empreiteiras citadas negaram agir fora da lei ou não quiseram se manifestara sobre o caso. (FOLHA DE SÃO PAULO, 1.8.2015). Se por um lado implantou faixas de ônibus e ciclovias e reduziu a velocidade das marginais, a gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) em São Paulo esvaziou ações voltadas a pedestres. O programa de orientadores em cruzamentos da cidade foi encerrado, e a lei que punia a má conservação de calçadas foi afrouxada. [...] Os agentes que orientavam a travessia na faixa integravam programa implantado em 2011, na gestão Gilberto Kassab (PSD). Naquele ano, foram registradas 617 mortes de pedestres. Em 2012, o número caiu 12%. [...] (FOLHA DE SÃO PAULO, 03.08.2015). Para os investigadores, Dirceu é um dos responsáveis por criar o esquema de corrupção na Petrobrás e teve papel de comando nas operações. Condenado no processo do mensalão, ele cumpria prisão domiciliar. Chegamos a um dos líderes, que instituiu o esquema, permitiu que ele existisse e se beneficiou dele”, disse o procurador da República Carlos Fernando Lima. Dirceu deve ser transferido hoje de Brasília a Curitiba. [...] As acusações contra Dirceu são sustentadas por Milton Pascowitch, responsável por aproximar a Engevix do PT. Delator na Lava Jato, ele disse ter pago despesas de Dirceu com verba desviada de contratos da estatal. A defesa do ex-ministro afirmou que os pagamentos foram por serviços de consultoria. Assessores do Planalto e dirigentes petistas dizem que a prisão abala a legenda pelo peso histórico de Dirceu no PT. (FOLHA DE SÃO PAULO, 04.08.2015). Rompido com o governo Dilma, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), discutiu com a oposição e com parte da base governista uma forma de fazer avançar um pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT). Esse encontro ocorreu na mesma noite em que a petista se reuniu com seus aliados no Planalto da Alvorada. [...] No encontro, Cunha também acertou a exclusão do PT do comando de duas CPIs com grande potencial de desgaste para o governo: as que vão investigar irregularidades no BNDES (que será presidiada pelo DEM) e nos fundos de pensão (PMDB). Isso só foi possível com a adesão de PR e PSD, partidos aliados formalmente ao PT mas cujos deputados têm manifestado nos bastidores insatisfação com o governo. (. (FOLHA DE SÃO PAULO, 05.08.2015).

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Pesquisa Datafolha realizada em 4 e 5 de agosto revela que Dilma Rousseff (PT) é a presidente mais reprovada pelos brasileiros na série histórica do instituto, iniciada em 1987. [...] No levantamento, que ouviu 3.363 pessoas em 201 municípios, a reprovação a Dilma – avaliação do governo como ruim ou péssimo – subiu novamente e chegou a 71%, o maior índice desde a sua posse, em 2011. [...] Na última pesquisa, a reprovação era de 65% e a aprovação, de 10%. (FOLHA DE SÃO PAULO, 06.08.2015). No momento em que Dilma Rousseff tem seu pior índice de aprovação - 8%, segundo o Datafolha -, o PT admitiu no programa do partido que foi ao ar ontem que o governo errou na condução econômica e pediu ajuda à população para evitar que a crise política piore. [...] Durante a inserção, houve panelaço em pelo menos 11 capitais e no DF. Com a piora nos quadros político e econômico, parlamentares de PSDB e DEM defendem que a população desista de pedir o impeachment nas manifestações do dia 16 e clame por novas eleições. [...] Uma estratégia definida pelo Planalto é recorrer a líderes empresariais. Dilma quer se reunir com executivos dos principais grupos privados do país a fim de obter apoio para influenciar congressistas a não aprovarem projetos que afetem as contas públicas. (FOLHA DE SÃO PAULO, 07.08.2015). Em meio ao pior momento da crise política que atinge seu governo, a presidente Dilma Rousseff afirmou em Roraima que aguenta pressões e ameaças. Ela clamou por estabilidade e respeito ao processo eleitoral. [...] No discurso, a presidente voltou a fazer referências à seu passado de perseguida política durante a ditadura militar, menção recorrente nestes tempos de acirramento da disputa política e da crise econômica. Anteontem (6), o vice Michael Temer (PMDB) deixou à disposição de Dilma seu cargo de coordenador político do governo, mas ela rechaçou a oferta. Em rede social, o peemedebista confirmou que continua na função. (FOLHA DE SÃO PAULO, 08.08.2015). [...] Joaquim Levy, atual titular da Fazenda, encerrou os repasses em esforço para ajustar as contas. (FOLHA DE SÃO PAULO, 09.08.2015). [...] Na Região metropolitana de SP, a taxa de desemprego em junho foi de 7,2% - um ano antes, havia sido de 5,1%. No país, avançou de 4,8% para 6,9% no período. São exemplos os sindicatos dos metalúrgicos e da construção de São Paulo, dois dos maiores do país. O primeiro fez até julho 18.487 rescisões, 260% mais que no mesmo período de 2014. (FOLHA DE SÃO PAULO, 10.08.2015). Liderados pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), congressistas entregaram a ministros de Dilma uma agenda que vincula o aval deles às medidas do ajuste fiscal à aprovação de projetos para desburocratizar a economia do país. Na lista constam a regulamentação da terceirização e a reforma da lei de licitações. [...] Sem força na Câmara, torna-se crucial para o Executivo aproximar-se da Casa chefiada por Renan para manter a governabilidade. [...] Em São Luís (MA), Dilma criticou o que chamou de “vale tudo”, em recado a oposicionistas falam em impeachment, e disse ser preciso pensar “no Brasil”. [...] (FOLHA DE SÃO PAULO, 11.08.2015).

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Isolada pela crise política e econômica, a presidente Dilma Rousseff (PT) encampou o pacote de reformas apresentado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e ganhou fôlego dentro de sua própria base, apesar da falta de consenso em inúmeros pontos. Ao aceitar a chamada “Agenda Brasil”, o governo obteve do Senado a promessa de barrar as chamadas pautas-bomba aprovadas pelos deputados, além da sinalização de que um possível processo de impeachment está fora de discussão, ao menos por enquanto. Aos olhos do Planalto, a iniciativa dos senadores, além da relativa reaproximação com Renan, isola o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), patrocinador de sucessivas derrotas do Executivo em projetos que aprofundam o rombo nas contas públicas. Muitos dos 27 itens do documento, porém, não serão fáceis de passar pelo Congresso, já que desagradam à base aliada. O ministro da Saúde, Arthur Chioro, já afirmou que a proposta de cobrança no SUS por faixa de renda, como quer o PMDB, não é viável. (FOLHA DE SÃO PAULO, 12.08.2015). [...] Ao comentar as manifestações que pedem sua saída, Dilma disse em entrevista ao SBT ainda haver no país uma “cultura do golpe”, mas que não há “condições materiais” de isso ocorrer. “O passado não se coaduna com a democracia moderna”. [...] Mas o presidente da Câmara, rompido com o governo, resiste. Diz que a agenda é um “jogo de espuma sem conteúdo concreto”. (FOLHA DE SÃO PAULO, 13.08.2015). Após ganhar tempo para explicar irregularidades nas contas do governo ao TCU, a presidente Dilma conseguiu a suspensão de ação movida pelo PSDB que pede ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a cassação de seu mandato. Os tucanos pedem investigação de abuso de poder econômico e político na campanha petista e possível financiamento pelo esquema de corrupção da Petrobras. (FOLHA DE SÃO PAULO, 14.08.2015). O governo de Alkmin (PSDB) suspeita que PMs estejam ligados a ataques que deixaram 18 mortos na noite de quinta (13), a mais violenta do ano na Grande SP. As mortes, 15, em Osasco e três em Barueri, aconteceram em menos de três horas, em nove locais. [...] Somente em um bar de Osasco, oito pessoas foram mortas. Uma das linhas da investigação aponta para crimes de vingança. Na semana passada, um policial foi assassinado na cidade durante um assalto a um posto de combustíveis, e os criminosos estão foragidos. As ações em Osasco e Barueri foram semelhantes. Homens encapuzados desceram de um carro e dispararam contra as vítimas. Em alguns locais, testemunhas disseram que os assassinos perguntaram por antecedentes criminais antes de definir quem matariam. Nas cinco principais chacinas na capital paulista desde 2013, nas quais morreram 42 pessoas, há suspeita de participação policial. Segundo a polícia, 12 dos 18 mortos anteontem não tinham antecedente criminal. A corregedoria da PM investiga o caso. (FOLHA DE SÃO PAULO, 15.08.2015). A presidente Dilma Rousseff (PT), cujo governo tem reprovação recorde, enfrenta neste domingo (16) uma terceira onda de protestos no país. O clima político, no entanto, ficou mais favorável para a petista nos últimos dias. O Planalto avalia que o risco de impeachment está, por ora, mais longe. [...] Dilma ganhou fôlego em razão do novo prazo recebido para explicar ao TCU ( Tribunal de Contas da União) possíveis irregularidades nas contas de 2014 e da suspensão da ação contra seu mandato no TSE (Tribunal Superior eleitoral). Ela ainda se aproximou do senado ao abraçar um pacote anticrise. Os partidos de oposição, porém, prometem engrossar os protestos, marcados em mais de 250 cidades. Os manifestantes optaram por fortalecer os atos no Nordeste, reduto do PT. Para os organizadores, se a adesão aumentar na região, o desgaste do governo ficará mais evidente.

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Como estratégia de defesa, além de viagens para o Nordeste e de encontros com movimentos sociais realizados na última semana, o PT aposta suas fichas na manifestação pró-Dilma convocada para quinta (20). (FOLHA DE SÃO PAULO, 16.08.2015). Multidões contrárias à presidente Dilma Rousseff voltaram às ruas para protestar neste domingo. Em São Paulo, 135 mil pessoas se reuniram na Avenida Paulista, segundo o Datafolha. A concentração superou a de 12 de abril (100 mil), mas ficou aquém da de 15 de março (210 mil). Houve atos em todos os estados. De acordo com estimativas da Polícia Militar, eles atraíram 610 mil pessoas nas capitais, mais do que os 540 mil de abril. Convocadas por grupos que se articulam nas redes sociais e não têm vínculos diretos com partidos, as manifestações tiveram como alvos principais Dilma, o ex-presidente Lula e o PT. Já o juiz Sérgio Moro, que determinou prisões na esteira da Operação Lava Jato, foi tratado como ídolo. [...] Segundo o Datafolha, 85% dos manifestantes que foram à avenida Paulista querem que a presidente renuncie o cargo e 82% defendem o impeachment. Líderes da oposição participaram sem serem hostilizados como em atos anteriores. Em Belo Horizonte, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), discursou num carro de som. (FOLHA DE SÃO PAULO, 17.08.2015). A declaração na internet foi avaliada como uma tentativa de unificar o discurso do partido e aproximá-lo do sentimento antigoverno. [...] Ele pregou aos dois cotados à eleição de 2018 que defendam estratégias em comum contra Dilma. Em seguida, um aliado do mineiro sinalizou um recuo na defesa de novas eleições. O governo decidiu adotar tom cauteloso sobre os protestos ocorridos em ao menos 169 cidades. Para o ministro Edinho Silva (Comunicação Social), é preciso quebrar o “clima de pessimismo”. Manifestantes já planejam atos contra a petista no 7 de Setembro. (FOLHA DE SÃO PAULO, 18.08.2015). O pacote de socorro foi divulgado após o apoio público das maiores entidades industriais do país, Fiesp e Firjan, à governabilidade e o acordo entre Planalto e senadores do PMDB. [...] Críticos de medidas que tachou de “patrimonialistas”, o ministro Joaquim Levy (Fazenda) foi visto como derrotado no debate. [...] A presidente da Caixa, Miriam Belchior, disse que o objetivo é ajudar empresas a “respirar”. “[Foi] consenso no governo. (FOLHA DE SÃO PAULO, 19.08.2015). A Procuradoria-Geral da República denunciará ao Supremo Tribunal Federal o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sob a acusação de ele estar envolvido no esquema de corrupção na Petrobrás. [...] O senador e ex-presidente Fernando Collor e outros políticos também serão denunciados sob acusação de envolvimento nos atos investigados pela Lava Jato. Ele disse que o deputado recebeu propina do executivo Julio Camargo, da empreiteira Toyo Setal, pelo aluguel de sondas à Petrobras. Camargo também delator na Lava Jato, afirmou que o peemedebista pediu U$S 5 milhões em propina. Membro de um partido que dá sustentação política ao governo Dilma, Cunha está rompido com o Planalto. Ele e Collor sempre negaram as acusações. (FOLHA DE SÃO PAULO, 20.08.2015). A empreiteira Camargo Corrêa comprometeu-se, no âmbito da Operação Lava Jato, a devolver R$ 700 milhões a três estatais, no total. No maior acordo do gênero já

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assinado na história do país, a empresa ressarcirá danos causados a Petrobrás, Eletrobras e Eletronuclear. Segundo a Folha apurou, ex-executivos confessaram irregularidades na refinaria Abreu e Lima e nas usinas de Angra 3 e Belo Monte. [...] Condenados a 15 anos e dez meses pelo juiz Sergio Moro, ambos poderão cumprir pena em prisão domiciliar por terem colaborado. O pagamento da imunidade a outros executivos da Camargo sujeitos a serem acusados de corrupção e outros crimes na Lava jato. (FOLHA DE SÃO PAULO, 21.08.2015). O ministro Gilmar Mendes, vice-presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), determinou que a Procuradoria-Geral da República apure eventuais crimes que possam motivar ação penal contra a campanha da presidente Dilma e o PT. Mendes, que é ministro do Supremo Tribunal Federal, argumentou que há "vários indicativos" de que a campanha à reeleição da presidente, no ano passado, e a legenda foram financiados por propina desviada da Petrobras. [...] Mendes, que também é ministro do Supremo Tribunal Federal, argumentou que há vários indicativos de que a campanha à reeleição da presidente, no ano passado, e a legenda foram financiados por propina desviada da Petrobras. Entre os elementos da Operação Lava Jato usados pelo ministro em seu despacho está trecho da delação do empreiteiro Ricardo Pessoa, em que ele diz ter doado R$ 7,5 milhões do esquema de corrupção na estatal para a campanha de Dilma. Irregularidades no processo eleitoral podem resultar na cassação da chapa, ou seja, tanto Dilma como o vice-presidente, Michel Temer (PMDB), seriam afastados de seus cargos. Se isso acontecer, uma nova eleição presidencial será convocada. [...] (FOLHA DE SÃO PAULO, 22.08.2015). Uma das vozes mais influentes do empresariado brasileiro, o presidente do Itaú-Unibanco, Roberto Setubal, afirma, em entrevista, a David Friedlander, que a saída da presidente Dilma traria instabilidade ao país. [...] O presidente do maior banco privado do Brasil também defende mudanças profundas para a economia voltar a crescer, como a redução do número de partidos políticos e a reforma trabalhista. (FOLHA DE SÃO PAULO, 23.08.2015). A escassez de crédito chegou ao agronegócio do país. A menos de um mês do plantio da nova safra, produtores do país se queixam de barreiras para obter empréstimos para custear a produção. [...] Dificuldades como demora na liberação do crédito, aumento das exigências dos bancos e a alta nas taxas de juros atrasam a compra de insumos e aumentaram custos de produção e de logística. Se o problema persistir, poderá interromper os sucessivos ganhos de produtiva do setor nos últimos anos “o dinheiro vem vindo a conta-gotas”, segundo o presidente da Aprosoja Brasil ( Associação dos Produtores de Soja), Almir Dalpasquale. O Banco do Brasil, responsável por 65% do crédito agrícola, só emprestou R$ 3,5 bilhões para o pré-custeio com juros subsidiados neste ano. Em 2014, forma R$ 8 bilhões. [...] Na última semana, uma audiência pública na Câmara discutiu o acesso ao crédito agrícola. O problema também foi encaminhado por parlamentares à ministra da agricultura, Kátia Abreu. A preocupação é sanar os gargalos desta próxima safra e viabilizar fontes alternativas para o financiamento do agronegócio, um dos poucos setores do país que ainda cresce e traz divisas. (FOLHA DE SÃO PAULO, 24.08.2015).

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A bolsa de Xangai despencou 8,46% nesta chamada "segunda-feira negra". A forte queda chinesa levou pânico aos mercados pelo mundo, motivou a venda de moedas e papéis e derrubou a cotação de commodities. [...] No Brasil, a bolsa caiu 3,3% e o dólar subiu R$ 3.54. o governo diz estar preparado para enfrentar esse tipo de volatilidade, mas teme que a desaceleração chinesa acentue a recessão da economia do país. (FOLHA DE SÃO PAULO, 25.08.2015). Sob influência do panorama interno, o dólar disparou e fechou a R$ 3,60. Para analista, as razões são a piora dos cenários político, com nova possível investigação sobre a campanha de Dilma e a saída de Michel Temer da articulação, e econômico, com alta na taxa de desemprego e previsão pouco otimista da petista para 2016. (FOLHA DE SÃO PAULO, 26.8.2015). Em sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, negou "acordão" com o Planalto para poupar aliados, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em troca da governabilidade de Dilma Rousseff. [...] A indicação de Janot para um novo mandato à frente do órgão foi aprovada por 26 votos a 1. A votação foi secreta, mas todos os 27 titulares da comissão votaram, entre eles oito senadores alvos de inquéritos na Lava jato, conduzidos pelo procurador. Para ser reconduzido ao cargo, seu nome ainda ter que ser submetido a votação no plenário da Casa onde precisa ser aprovado por 41 dos 81 senadores. (FOLHA DE SÃO PAULO, 27.08.2015). A estratégia é reduzir a resistência no Legislativo. O governo pretende resgatar o tributo para tentar equilibrar as contas no ano que vem. [...] Os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha, criticaram a ideia. Renan a considera um “tiro no pé”. Para empresários, é “absurda”. [...] (FOLHA DE SÃO PAULO, 28.08.2015). A contratação no segundo trimestre de 1,9% do PIB (medida da produção de bens e serviços no país), liderada pela queda de investimentos e consumo, foi a mais forte desde 1996. Marca desta crise, o recuo de 8,1% nos gastos com máquinas, equipamentos e construção alongará a recessão. Houve empobrecimento geral: empresários investiram menos e famílias cortaram o consumo, efeito da queda do emprego, do poder de compra dos salários e da confiança na economia. A alta no saldo do comércio exterior e nos gastos do governo atenuou a queda, a pior entre países emergentes. (FOLHA DE SÃO PAULO, 29.08.2015). Em tom de saída do governo, o PMDB, principal partido da base aliada da presidente Dilma (PT), dirá em inserções na TV que "a nação quer e deve mudar" e que o Brasil sempre será maior do que o governo que o dirige. [...] Frases do fundador do PMDB, Ulysses Guimarães, como “a nação quer mudar, a nação deve mudar, a nação vai mudar”, são utilizadas nas peças publicitárias. Vice de Dilma, Temer diz em seu discurso que “o Brasil vive momentos difíceis”, mas já encarou crises maiores. “ O momento pede equilíbrio, grandeza. E de todos. Presidente do Senado, Renan diz: Governos passam, e o Brasil sempre será maior do que qualquer governo”. O primeiro dos oito filmes vai ao ar nesta terça (1º). Nenhum cita a Operação Lava Jato, na qual, Renan e Cunha são alvos – o presidente da Câmara já foi denunciado à Justiça pela Procuradoria geral da República. (FOLHA DE SÃO PAULO, 30.08.2015).

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Depois de desistir de recriar a CPMF três dias depois de lançar a ideia, o governo decidiu neste domingo encaminhar ao Congresso sua proposta de Orçamento da União para o próximo ano com uma previsão de déficit primário.[...] Será a primeira vez que o orçamento federal é enviado ao Congresso com déficit primário desde que o governo passou a contabilizar seus números dessa maneira, na administração do ex-presidente Fernando Henrique. [...] A própria presidente Dilma Rousseff comunicou a decisão a líderes aliados, entre eles o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) Será a primeira vez que o orçamento federal é enviado ao Congresso com ´déficit primário desde que o governo passou a contabilizar seus números dessa maneira, na administração do ex-presidente Fernando Henrique. [...] (FOLHA DE SÃO PAULO, 31.08.2015).

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JORNAL A TERDE

MÊS: AGOSTO/ 2015 - ANO 103

A crise passa longe dos setores ligados aos cuidados com a casa e o corpo na Bahia. Os ramos de estética e de venda de artigos de uso pessoal e doméstico cresceram em 2015. Na contramão do “chororô” geral, registram altas acima da inflação, entre 9,5% (venda de artigo de pessoal e doméstico) e 10,1% (estética). Na indústria, a produção de couros, malas e calçados aumentou, além do ramo de papel e celulose, porém em ritmo menor. O agronegócio na Bahia registra crescimento da venda de grãos, com geração de emprego e alta esperada de 17% neste ano. Análise feita pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), com base nas pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que setor automotivo (Ford e empresas ligadas à cadeia produtiva) está em recuperação. (A TARDE, 02.08.2015). O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) aderiu à campanha nacional do Supremo Tribunal Federal e, a partir de hoje, agilizará processos de casos de violência doméstica contra a mulher. Audiências, júris e julgamentos de ações comuns terão prioridade esta semana, quando a Lei Maria da Penha completa nove anos. Apesar dos esforços, a desembargadora Nágila Brito diz que a campanha não será suficiente para reduzir o número de processos existentes, pois nas cincos varas especializadas estão acumulados pelo menos 21,5 mil processos. “A intenção é dar visibilidade para a situação”, diz a magistrada. (A TARDE, 03.08.2015). A polícia Federal prendeu o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que já cumpria uma sentença em prisão domiciliar. Ele é apontado como um dos responsáveis pela instituição do esquema de corrupção na Petrobras. Segundo os investigadores, a ação era semelhante à do mensalão. A prisão de Dirceu, seu irmão e sócio Luiz Eduardo de Oliveira e Silva e mais seis pessoas ocorreu em nova etapa da Operação lava Jato. O ex-ministro foi citado por três envolvidos no petrolão. Um dos operadores do esquema, Milton Pascowitch, responsável por aproximar a Engevix do PT, disse que pagou despesas de Dirceu, incluindo compra, reformas de imóveis e despesas com jatinhos como repasse de propina. (A TARDE, 04.08.2015). A Caixa lançou linha de crédito imobiliário com recursos do FGTS para pessoas jurídicas. Objetivo é beneficiar construtoras e incorporadoras que produzem empreendimentos com unidades residenciais até R$ 300 mil, voltados a clientes de renda média. O montante dos financiamentos é de R$ 1 bilhão, segundo o vice-presidente do banco, Teotônio Rezende. No mês passado, a caixa lançou uma linha de crédito para trabalhadores interessados na comprar imóveis até R$ 400 mil. (A TARDE, 05.08.2015). O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou os resultados do Enem por escolas de todo o país. O ranking nacional tem 15.640 colégios estaduais, federais e privados. A Bahia é o único estado que relaciona escolas municipais (seis). Na listagem estadual, o colégio particular Helyos, de feira de Santana, foi a instituição com melhor desempenho. Levantamento da coluna Tempo Presente mostra que, das 20 melhores escolas baianas no ranking geral, 19 são privadas e uma é federal. As duas piores são estaduais e ficam em Ibipeba. A última está na 15.635ª posição nacional. Só supera quatro colégios da região Norte e um do Rio Grande do Norte. Dentre as melhores instituições da rede estadual, 11 são da PM. Em primeiro está o Colégio da Polícia Militar de Vitória da Conquista (65º na Bahia). A unidade do Dendezeiros é a melhor escola pública da capital (218ª no estado). (A TARDE, 06.08.2015). A Secretaria Estadual da Administração (Saeb) constatou, ao cruzar os dados com os tribunais de Contas e outros órgãos, que 1447 servidores baianos acumulam, ilegalmente, mais de dois cargos públicos em diferentes esferas. O caso que mais chamou a atenção foi de um médico que ocupava nove cargos – um no estado e oito em prefeituras diferentes. As secretarias com maior número de

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servidores ilegais são as da Educação (55% dos casos) e da Saúde (30%). O corregedor da Saeb, Luís Brandão, disse que quem não regularizar a situação responderá a processo e poderá ser demitido. (A TARDE, 07.08.2015). Integrantes da força-tarefa da Lava Jato lançaram em Salvador um pacote de 10 medidas contra a corrupção. Uma das principais propostas é o aumento da pena de dois para quatro anos de prisão para desvios de até R$ 80 mil. De acordo com o valor desviado, a punição pode chegar a 25 anos. O procurador Deltan Dallagnol chamou de “janela de oportunidade” o momento que o Brasil vive para se implantar medidas anticorrupção. O MPF está recolhendo 1,5 milhão de assinaturas para que as medidas sejam transformadas em projeto de lei a ser enviado ao Congresso. (A TARDE, 08.08.2015). Na contramão da crise, Feira de Santana vai gerar 3 mil empregos nos próximos três anos. A lista de vagas abertas pelas empresas que procuram o Centro Industrial de Subaé (CIS) desde 2013 atinge 4.426. Parte delas foi preenchida neste ano. Uma das indústrias é a Colormaq, que entra em operação até dezembro. No total, o valor investido deve chegar a R$ 500 milhões. (A TARDE, 09.08.2015). As fontes que séculos atrás abasteciam Salvador perderam valor no espaço urbano e estão, em sua maioria, abandonadas, depredadas ou são usadas indevidamente. Em capitais europeias, além de atrações turísticas, elas funcionam como espaços de lazer e interação social. Já em Salvador, são ignoradas pela população ou, quando frequentadas, estão repletas de usuários de crack. Recentemente, a Câmara Municipal aprovou indicação ao governo do Estado para que recupere as fontes. A autora do projeto, Vânia Galvão (PT), admite, no processo de revitalização, um diálogo com a prefeitura que, por sua vez, já estuda ações nesse sentido. (A TARDE, 10.08.2015). [...] O secretário da Casa Civil, Luiz Carrera, informou que não há previsão para a prefeitura responder ao pedido do grupo empresarial. (A TARDE,11.08.2015). A Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas da Bahia (FCDL-BA) e o Tribunal de Justiça realizarão, em setembro, o Feirão do Nome Limpo e o TJ Concilia. Os eventos ocorrerão em Salvador e serão realizados pela primeira vez em Feira de Santana e Vitória da Conquista. Os locais dos eventos ainda não estão confirmados, mas na capital está sendo negociada a Arena Fonte Nova. No TJ Concilia, o tribunal promove o encontro das partes envolvidas em ações judiciais que tramitam nos juizados especiais em busca de conciliação. A decisão de realizar o Feirão do Nome Limpo nas cidades do interior é para acompanhar a interiorização do TJ, um evento reconhecido nacionalmente por seus resultados: “A ideia é interiorizar mesmo. O primeiro desafio foi convencer as CDLs a aderirem ao projeto”, disse Antoine Tawil, presidente da FCDL-BA. [...]. (A TARDE, 12.08.2015). A prefeitura de Salvador lançou o Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Sustentável, que prevê a revitalização de áreas subutilizadas ou degradadas. São previstos incentivos fiscais equivalentes a até 50% dos investimentos. Empresários da indústria náutica mostraram interesse na implantação de uma marina na Península Itapagipana. Comércio, Cidade Baixa, Barra e Centro Histórico são as regiões escolhidas para o projeto. (A TARDE, 13.08.2015). O governo estadual apresentou ontem o Plano Safra da Agricultura, pecuária, Pesca e Aquicultura e o Plano Safra da Agricultura Familiar 2015-2016. Serão disponibilizados R$ 5,7 bilhões para a produção empresarial e R$ 2,7 bilhões para a agricultura familiar. Os recursos serão aplicados em cinco eixos: fomento à produção, reforma agrária, assistência técnica, agroindustrialização e acesso aos mercados e convivência com o semiárido. A Bahia tem 15% da população rural do país, somando 3,9 milhões de pessoas. (A TARDE, 14.08.2015).

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O Tesouro Nacional pediu à Comissão de Financiamentos Externos (Cofiex) que retire da pauta os pedidos de novos empréstimos feitos por governos regionais. Isto significa que prefeitos e governadores estão impedidos temporariamente de solicitar financiamentos junto a organismos internacionais, como o Banco Mundial. Segundo a nota do Ministério da Fazenda, financiamentos externos para estados somaram R$ 44 bilhões, entre 2011 e 2014. (A TARDE, 15.08.2015). Projeto de lei aprovado na Câmara e à espera da sanção do prefeito ACM Neto prevê a regulamentação das aulas fitness em espaços públicos por meio de licenciamento municipal. A vereadora Kátia Alves (DEM) explica que a proposta visa disciplinar a exploração dos espaços nas praias e parques e que as obrigatoriedades legais são apenas para as pessoas jurídicas. A previsão de pagamento de taxas surpreendeu profissionais da área. Frederico de Figueiredo, responsável pelo grupo Mahamudra de Salvador, classifica a decisão como “abuso”. O Conselho Regional de Educação Física da Bahia concorda com a medida. (A TARDE, 16.08.2015). Manifestantes de 24 estados e do Distrito Federal foram às ruas, ontem, protestar contra o governo e a corrupção. Com público geral calculado pela Polícia Militar em mais de 600 mil pessoas, a manifestação mirou ainda o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), o Partido dos Trabalhadores e o ex-presidente Lula, alvos dos atos que pediram o impeachment da presidente Dilma Rousseff como resposta às denúncias de corrupção envolvendo nomes ligados ao governo da Operação Lava Jato. Na Bahia, protestos ocorreram em pelo menos 10 cidades. Em Salvador, segundo a PM, cerca de 5 mil pessoas, inclusive políticos, caminharam do Porto ao Farol da Barra. (A TARDE, 17.08.2015). A Polícia Federal desarticulou ontem a seita religiosa “Comunidade Evangélica Jesus, a Verdade que Marca”, suspeita de convencer os fiéis a doar seus bens e a trabalhar em condições análogas à escravidão. O grupo atuava na Bahia, São Paulo e Minas Gerais e usava “laranjas” para movimentar valores que podem chegar a R$ 100 milhões. Quatro pessoas foram presas e houve a apreensão de duas caminhonetes, um Mercedes Benz 200, dinheiro e seis fazendas. Fundada em 1998, a seita é alvo de investigação desde 2006. Quando surgiram as primeiras denúncias, os dirigentes da comunidade creditaram as acusações a descontentes. Ontem, os representantes da doutrina não foram localizados. (A TARDE, 18.08.2015). O Tribunal da Justiça da Bahia pretende criar, até o final de outubro, um juizado para tratar de questões envolvendo pessoas superendividadas. A informação é da juíza Fabiana Pellegrino, da área de Defesa do Consumidor. A definição de superendividamento não tem a ver com valores da dívida, mas sim como o fato de um indivíduo ter débitos superiores a sua renda e ao patrimônio pessoal e precisar de auxílio para reconstruir a sua vida econômico-financeira. Fabiana, autora do livro Tutela Jurídica do Superendividamento, defende que, diante da democratização do crédito, haja uma postura ética por parte dos fornecedores. Segundo a magistrada, o maior percentual dos superendividados concentra-se na faixa de até 10 salários mínimos. (A TARDE, 19.08.2015). O vazamento da informação de que o Ministério Público Federal deverá apresentar hoje denúncia contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, agitou o Congresso Nacional. Cunha, segundo o empresário Júlio Camargo, um dos delatores da Operação Lava jato, teria recebido suborno para facilitar a assinatura de contratos de navios-sonda para a Petrobras. Provas contra ele teriam sido obtidas com o auxílio jurídico da Suíça. Deputados de vários partidos, liderados pelo PSOL, preparam-se para formalizar o pedido de afastamento do peemedebista. (A TARDE, 20.08.2015). O procurador-geral da república, Rodrigo Janot, apresentou ao STF denúncias contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o senador Fernando Collor (PTB-AL), a prefeita de Rio Bonito (RJ), Solange Almeida, e mais quatro pessoas por suposto envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras. Janot pede a condenação dos envolvidos por crimes de corrupção e

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lavagem de dinheiro e exige que Cunha devolva US$ 80 milhões (R$ 277 milhões). Os parlamentares dizem que são inocentes. (A TARDE, 21.08.2015). O Ministério da Fazenda propôs pagar antecipação da metade do 13º dos aposentados em duas parcelas: 25% em setembro e 25% em outubro. Pela proposta, a outra metade será paga em dezembro. O impasse em torno do cancelamento do pagamento da antecipação em agosto, que ocorre desde 2006, desgastou o governo e obrigou a elaboração de proposta alternativa. O sindicato nacional dos aposentados divulgou nota afirmando que o governo federal tem o objetivo de “transformar os benefícios dos aposentados e pensionistas em crediário. (A TARDE, 22.08.2015). A partir de 2016, as escolas particulares de todo o país serão obrigadas a matricular alunos com deficiência sem cobrança de valor adicional. Isto se o Supremo Tribunal Federal (STF) indeferir a Ação Direta de Inconstitucionalidade impetrada, no dia 3, pela Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen), contra a medida prevista em lei. Na Bahia, nenhum tipo de preparação parece estar sendo feito para adequar a rede às normas. Entidades representantes das escolas não quiseram se pronunciar sobre o assunto. (A TARDE, 23.08.2015). O coronel Francisco Luiz Telles de Macêdo, comandante-geral do Corpo de Bombeiros, tem como prioridade expandir a área de cobertura de 82 para 132 municípios da Bahia. Decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que mudou a forma de atualização das ações trabalhistas, preocupa os empresários. Com a definição de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) substituirá a Taxa Referencial Diária (TRD) nas ações impetradas a partir de 2009, o passivo trabalhista pode aumentar até 35%. Em contrapartida, os trabalhadores passam a ser beneficiados com correções bem mais próximas da inflação, segundo o advogado Augusto Silva Leite, do Instituto Latino-americano de Estudos Jurídicos. (A TARDE, 24.08.2015). O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) identificou 301 obras irregulares em imóveis do Santo Antônio Além do Carmo, no Centro Histórico de Salvador. A construção de novos pavimentos (“puxadinhos”) nos casarões é uma das principais irregularidades. Ontem, os técnicos do Iphan embargaram obra no andar superior do imóvel. (A TARDE, 25.08.2015) . A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua revelou que a Bahia registrou a maior taxa de desemprego do país no segundo trimestre de 2015. O índice de desocupação atingiu 12,7% da força de trabalho (952 mil pessoas). Por sexo, a pior situação é das mulheres baianas. Para os homens, o desemprego bate recordes em Alagoas e Rio Grande do Norte. Os setores que mais desempregaram foram agricultura, pecuária, pesca, construção civil e logística. Mais do que as demissões, as taxas foram influenciadas pelo aumento da procura de vagas. O secretário estadual de Trabalho, Álvaro Gomes, quer evitar clima de pânico no setor produtivo do estado. (A TARDE, 26.08.2015). O empresário Antônio Lecival Oliveira Miranda, sócio da empresa de água mineral Frésca, sediada no município de Dias D’Ávila, foi preso pela Polícia Civil baiana juntamente com três “sócios ocultos” do empreendimento, sob acusação de sonegação e outras fraudes fiscais. (A TARDE, 28.08.2015). O Produto Interno Bruto (PIB), a soma em valores monetários da produção de bens e serviços do país, teve queda de 1,9% no segundo trimestre de 2015, em comparação ao 1º semestre, segundo o IBGE. (A TARDE, 29.08.2015). A vista para o mar, na orla de Salvador, agora tem um espetáculo a mais: o balé das baleias Jubarte que voltaram ao mar da Capital. Elas sobreviveram ao risco de extinção pela pesca predatória e, graças à lei que proibiu a caça há 30 anos, somam 11.148 animais entre Sergipe e Rio de Janeiro. Censo feito pelo Instituto Baleia Jubarte neste ano estima encontrar 15 mil animais. E empresários

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apostam em um novo nicho de mercado: o turismo de observação. A um custo médio de R$ 200 por pessoa, agências levam visitantes para ver o espetáculo que as baleias fazem em Salvador, Praia do Forte, Morro de São Paulo, Itacaré, Porto Seguro, Caravelas e Barra Grande de Camamu. (A TARDE, 30.08.2015). Pesquisa feita por corretora de seguro aponta que o transporte público é onde mais se roubam celulares no Brasil, respondendo por 31% das ocorrências. A polícia orienta a ativar o GPS e instalar aplicativos rastreadores como medidas que podem ajudar a recuperar o aparelho em caso de roubo. Veja outras recomendações. (A TARDE, 31.08.2015).