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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DO SERTÃO CENTRAL MESTRADO ACADÊMICO INTERDISCIPLINAR EM HISTÓRIA E LETRAS MAYARA CRUZ ALBUQUERQUE PALAVRA DE MULHER, NOVOS LEITORES A PRESENÇA DE ESCRITORAS NAS AULAS DE LITERATURA EM ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE QUIXERAMOBIM QUIXADÁ-CEARÁ 2019

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE …uece.br/mihl/dmdocuments/dissertacaomayaracruzalbuquerque.pdf · pesquisadoras, agricultoras, amigas, é nelas que eu deposito a minha

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ

FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DO SERTÃO CENTRAL

MESTRADO ACADÊMICO INTERDISCIPLINAR EM HISTÓRIA E LETRAS

MAYARA CRUZ ALBUQUERQUE

PALAVRA DE MULHER, NOVOS LEITORES

A PRESENÇA DE ESCRITORAS NAS AULAS DE LITERATURA EM ESCOLAS

PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE QUIXERAMOBIM

QUIXADÁ-CEARÁ

2019

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MAYARA CRUZ ALBUQUERQUE

PALAVRA DE MULHER, NOVOS LEITORES

A PRESENÇA DE ESCRITORAS NAS AULAS DE LITERATURA EM ESCOLAS

PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE QUIXERAMOBIM

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico Interdisciplinar em História e Letras da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção de título de Mestre em História e Letras. Área de concentração: Gênero, Raça e Identidades

Orientadora: Profª. Drª. Vânia Maria Ferreira Vasconcelos

QUIXADÁ-CEARÁ

2019

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MAYARA CRUZ ALBUQUERQUE

PALAVRA DE MULHER, NOVOS LEITORES

A PRESENÇA DE ESCRITORAS NAS AULAS DE LITERATURA EM ESCOLAS

PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE QUIXERAMOBIM

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico Interdisciplinar em História e Letras da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para a obtenção de título de Mestre em História e Letras. Área de concentração: Gênero, Raça e Identidades

Quixadá, 28 de fevereiro de 2018

BANCA EXAMINADORA

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À Virginia Woolf e todas as mulheres que

ousaram matar o anjo do lar e as que um

dia farão isso.

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AGRADECIMENTOS

A todas as Severinas que entrelaçaram o meu caminho. Sendo elas escritoras,

pesquisadoras, agricultoras, amigas, é nelas que eu deposito a minha fé.

A Vânia Vasconcelos que me deu toda liberdade de escrita e força necessária para a

produção desta pesquisa.

A Larissa Queiroz que contribuiu de forma imensurável na construção dos gráficos e

contagem de dados. Sem ela essa pesquisa não teria 3° capítulo.

A família, em especial, à minha mãe, que sempre me mostrou a importância dos

livros, mesmo se aborrecendo de vez em quando com a quantidade dos meus.

A UECE que me acolheu desde a graduação, em especial, ao Mestrado

Interdisciplinar em História e Letras MIHL - UECE, que me oportunizou continuar

vivendo no interior e conquistar uma pós-graduação de qualidade.

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“Na verdade, penso eu, ainda vai levar

muito tempo até que uma mulher possa

se sentar e escrever um livro sem

encontrar com um fantasma que precise

matar, uma rocha que precise enfrentar. E

se é assim na literatura, a profissão mais

livre de todas para as mulheres, quem

dirá nas novas profissões que agora

vocês estão exercendo pela primeira

vez?”

(Virginia Woolf)

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RESUMO

A produção literária foi uma conquista das mulheres e a legitimação da escrita

feminina como uma escrita que também é capaz de fazer parte do campo literário

não é uma luta superada, autoras ainda são menos reconhecidas e vistas em livros

didáticos e bibliotecas escolares. A partir disso, esta pesquisa investigou a presença

ou não presença da autoria feminina nas aulas de literatura em escolas públicas

estaduais do município de Quixeramobim, localizado no Sertão Central do Ceará. A

metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e de campo, culminando na

aplicação de 264 questionários. O levantamento de dados constatou que escritoras

estão sendo mais lidas, mas ainda há uma disparidade significativa no número de

autoras e autores lidos, como também professores e professoras que nunca tinham

parado para pensar na invisibilidade de escritoras nos livros didáticos, o que se

reflete na escolha dos textos trabalhados ao longo do ano. Para empoderar a

escrita, dialogamos com as “vozes-mulheres” de Regina Dalcastagnè (2005),

Virginia Woolf (2014), Zahidé Lupinacci Muzart (2003), entre outras pesquisadoras e

escritoras.

Palavras-chave: Autoria feminina. Crítica feminista. Campo literário. Educação

feminista. Escola pública.

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ABSTRACT

Literary production was an achievement of women and the legitimation of female

writing as a writing that is also capable of being part of the literary field is not a

struggle overcome, authors are still less recognized and seen in textbooks and

school libraries. Based on this, this research investigated the presence or absence of

female authorship in literature lessons in state public schools in the Quixeramobim

town, located in the Central backwoods of Ceará. The methodology used was the

bibliographical and field survey, culminating in the application of 264 questionnaires.

The data collection noticed that women writers are being read more, but there is still

a significant disparity in the number of female and male authors read, as well as

teachers who have never stopped to think about the invisibility of women writers in

textbooks, which reflects the choice of texts used throughout the year. To empower

writing, we dialogue with the voices-women of Regina Dalcastagnè (2005), Virginia

Woolf (2014), Zahidé Lupinacci Muzart (2003), among other female researchers and

writers.

Keywords: Female authorship. Feminist criticism. Literary field. Feminist education.

Public school

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 -

Gráfico 2 -

Gráfico 3 -

Gráfico 4 -

Gráfico 5 -

Gráfico 6 -

Gráfico 7 -

Gráfico 8 -

Gráfico 9 -

Gráfico 10 -

Gráfico 11 -

Gráfico 12 -

Minha escola é o lugar onde..................................................

Qual a importância da escola para você?............................

Com que frequência você lê..................................................

Que gênero você gosta de ler?..............................................

Ambiente de leitura em casa..................................................

Quantos livros há em sua casa? (feminino).........................

Quantos livros há em sua casa? (masculino)......................

Quantos livros lê por ano na escola?...................................

Gosta dos livros indicados pelos professores....................

Quem indica suas leituras?...................................................

Hábitos de leitura (feminino).................................................

Hábitos de leitura (masculino) .............................................

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73

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SUMÁRIO

1

2

2.1

2.2

3

3.1

3.2

3.3

4

4.1

4.2

5

INTRODUÇÃO.......................................................................................

LUGAR DE MULHER É NA LITERATURA...........................................

A FORMAÇÃO DA LEITURA NO BRASIL E A INVISIBILIDADE DA

ESCRITA FEMININA.............................................................................

REPRESENTATIVIDADE, EMPODERAMENTO E A BUSCA POR

VISIBILIDADE: A PLURALIDADE DA ESCRITA FEMININA.................

QUANDO A MULHER COMEÇOU A FALAR.......................................

O MOVIMENTO FEMINISTA E A FICÇÃO DE AUTORIA FEMININA...

LITERATURA CANÔNICA E SEUS PERSONAGENS FEMININOS:

QUEM SÃO ESSAS MULHERES?........................................................

CRÍTICA LITERÁRIA FEMINISTA E OS SEUS DESDOBRAMENTOS

PARA O ENSINO...................................................................................

A ESCOLA PODE SER FEMINISTA?..................................................

A LITERATURA NA ESCOLA E O QUE ELA COMUNICA....................

MENOS SEXISMO, MAIS LITERATURA: UMA CONVERSA COM

PROFESSORES E ALUNOS DA REDE PÚBLICA DE

QUIXERAMOBIM.................................................................................

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................

REFERÊNCIAS ....................................................................................

ANEXO..................................................................................................

ANEXO A - QUESTIONÁRIOS..............................................................

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14

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35

35

45

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93

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99

100

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1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa busca investigar a presença de escritoras nas escolas

públicas, se elas fazem parte ou não das leituras dos alunos e das aulas de

literatura. Nos cursos de Letras, Pedagogia, entre outros da área das Humanas,

autores são mais lidos e trabalhados durante o semestre, em detrimento das

escritoras que continuam invisíveis para muitos professores. Por que na escola seria

diferente?

Podemos afirmar que mulheres escreviam menos que os homens e,

portanto, tinham menos expressão literária, mas não podemos esquecer que as

condições de vida das mulheres sempre foram de limitação à liberdade, à educação,

ao político. A redução da mulher como sujeito histórico traz marcas difíceis de

apagar até hoje, mas já não há mais porque ignorar a produção literária de

escritoras como Conceição Evaristo, Hilda Hilst, Cassandra Rios, Maria Firmina dos

Reis, Gilka Machado, Carolina Maria de Jesus, para citar apenas algumas. Nesse

sentido, preenchendo as lacunas deixadas pela história literária tradicional, a crítica

feminista assumiu o papel fundamental de quebrar hierarquias, questionar o cânone

e contribuir para uma nova história da literatura. Na caminhada de insubmissão, o

movimento feminista tem participação fundamental, pois através da luta de mulheres

a educação tornou-se possível para todas.

Nesse sentido, a nossa pesquisa analisa a presença da literatura feminina

nas escolas de ensino médio públicas do município de Quixeramobim, interior do

Ceará, e como ela pode contribuir para uma escola menos sexista e mais plural a

partir da discussão de textos de escritoras como Carolina de Jesus, Marina

Colasanti, Clarice Lispector, entre outras, formando assim leitores conscientes de

que a literatura não pode mais ser um espaço privilegiado, de que é preciso

democratizar o acesso à produção artística dessas mulheres e as vozes que elas

representam.

Utilizamos duas metodologias de pesquisa para compor esse trabalho,

primeiramente, a bibliográfica. Dessa forma, nos apropriamos da crítica literária

feminista e a crítica literária em geral para perceber como estas reconhecem ou não

a produção literária feminina, buscando abranger também referencial teórico sobre

formação de leitores.

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A segunda etapa de nosso trabalho foi dedicada à pesquisa de campo.

Nesta etapa, aplicamos questionários/entrevistas em quatro escolas públicas do

município de Quixeramobim, no Sertão Central do Ceará com estudantes e profes-

sores (as) de literatura do Ensino Médio. Como passo inicial, fizemos o levantamen-

to e análise do material didático utilizado nas escolas, suas bibliotecas, quantos li-

vros produzidos por mulheres e quais títulos e gêneros estão presentes em seus

acervos, e os planos anuais.

O primeiro capítulo ‘Lugar de mulher é na literatura’ discute a pluralidade

da escrita feminina e a sua invisibilidade que percorre desde o meio de produção até

a falta de divulgação, desembocando assim no acesso dos leitores a obras de

autoria feminina e como todo esse processo atinge a escola e educação literária dos

estudantes. A multiplicidade de olhares que a literatura de autoria feminina traz e a

produção literária como território de disputa e (des) legitimação de vozes com “Um

território contestado: literatura brasileira contemporânea e as novas vozes sociais”,

de Regina Dalcastagnè, como também faremos um breve histórico de como a

formação do leitor se deu no Brasil e como a mulher se situa nisso a partir de A

Formação da Leitura no Brasil, de Marisa Lajolo e Regina Zilberman.

O segundo capítulo ‘Quando a mulher começou a falar’ aborda a inserção

da mulher na literatura e o papel da crítica literária feminista para o reconhecimento

da produção literária de autoria feminina, bem como a importância dessa produção

literária alcançar o ensino médio e contribuir com as aulas de literatura. Para tanto,

contamos com artigos de Constância Lima Duarte, Linda Nochlin, Jane Soares de

Almeida, Zahidé Lupinacci Muzart, entre outras pesquisadoras.

O terceiro e último capítulo ‘A escola pode ser feminista?’ apresenta a

pesquisa de campo em quatro escolas públicas do município de Quixeramobim,

localizado no Sertão Central do Ceará, com estudantes de ensino médio e

professores da educação básica, como também a análise dos livros didáticos

utilizados nas escolas, suas bibliotecas e a presença de livros de autoria feminina,

os projetos político-pedagógicos e planos anuais. Em resumo, os ambientes

escolares em que a literatura cria possibilidades de existência e resistência.

Por fim, é importante destacar que o nosso trabalho, por coerência

ideológica, deu total prioridade a pesquisadoras, logo a bibliografia é composta por

estudos e pesquisas produzidas por mulheres, sobretudo porque são essas

pesquisadoras quem melhor lançaram a reflexão dessas questões teóricas.

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Com o contato com professores e alunos esperamos germinar uma

semente para o ano letivo vindouro, desejando que as aulas de literatura dessas

escolas possam gerar mais e mais debates sobre a importância das mulheres

conquistarem espaços e terem suas produções apreciadas, divulgadas e

recomendadas. Quanto mais leitores acessam textos produzidos por mulheres, mais

vozes são ouvidas, mais tabus são derrubados e preconceitos desmistificados.

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2 LUGAR DE MULHER É NA LITERATURA

Neste capítulo discutiremos a escrita feminina e a sua invisibilidade que

decorre de causas situadas que vão desde o meio de produção até a falta de

divulgação, desembocando assim no escasso acesso dos leitores a obras de autoria

feminina. Investigamos como todo esse processo atinge a escola e a educação

literária dos estudantes fazendo com que escritoras estejam ou não presentes nos

livros didáticos e nas aulas de literatura. Veremos a multiplicidade de olhares que a

literatura de autoria feminina traz e a produção literária como território de disputa e

(des) legitimação de vozes a partir da leitura de Um território contestado:

literatura brasileira contemporânea e as novas vozes sociais, de Regina

Dalcastagnè. Também trataremos da formação do leitor no Brasil a partir de A

Formação da Leitura no Brasil, de Marisa Lajolo e Regina Zilberman e a imagem

da mulher na literatura canônica e como isso se reflete na produção literária com A

mulher escrita, de Ruth Silviano e Lúcia Castello, entre outras pesquisadoras.

2.1 A FORMAÇÃO DA LEITURA NO BRASIL E A INVISIBILIDADE DA ESCRITA

FEMININA

A conquista de voz das mulheres na literatura passou primeiro pela

conquista da educação, bandeira feminista que é carregada até hoje. O ato de ler foi

o primeiro passo para mulheres tornarem-se escritoras, e claro, estamos falando das

mulheres burguesas, as mulheres pobres trabalhavam em fábricas e não eram

alfabetizadas, muito menos tinham tempo para ler:

Sempre convém lembrar que, antes de serem escritoras, as mulheres foram leitoras. No século XIX, com a expansão da alfabetização, as mulheres burguesas tornam-se o grande público leitor da época. Em seguida, passaram a manifestar-se, inicialmente na correspondência doméstica, depois nos rodapés dos jornais e, finalmente, nos livros impressos. Nesses veículos, as mulheres expressaram seus pensamentos, sentimentos, sua visão do mundo (ZINANI; SANTOS, 2015, p.122).

A imprensa feminina é reconhecida pelas receitas culinárias, por dicas de

beleza e comportamentais e outras questões que se tornaram intrinsecamente

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questões femininas, mas se as mulheres não ocupavam os espaços e cargos

públicos e estavam confinadas a seus lares, como falar do que acontecia lá fora? O

que é estranho é a insistência de revistas contemporâneas que continuam a ver a

mulher como um anjo do lar, que vendem uma imagem de mulheres

hipersexualidadas e obcecadas pela beleza estética. Os estereótipos de gênero

perpetuam imagens cristalizadas e enrijecidas pelo tempo, como afirma Cecil

Jeanine Zinani e Salete dos Santos (2015):

À primeira vista, receitas de culinária, ditames de beleza, conselhos de comportamento, poemas de amor podem aparentar neutralidade, porém, ao sair da superfície do texto, percebe-se que tais assuntos, tão veiculados pela imprensa feminina, apresentam conteúdos fortes. A relação de gênero, na sociedade brasileira, foi marcada pela diferença no tratamento entre os sexos, reduzindo a mulher à condição de inferioridade, sendo que essa representação social acabou por acompanhar as práticas do cotidiano das populações. A literatura constitui parte integrante do campo cultural e a sua evolução foi controlada, até há pouco tempo, pela ideologia patriarcal e por seus pressupostos, sobre as diferenciações assimétricas e hierárquicas de gênero; dessa forma, as mulheres que, no passado, procuraram atuar no campo das letras, acabaram por ficar à margem da literatura, e, portanto, silenciadas e esquecidas nas histórias literárias (ZINANI; SANTOS, 2015, p.13).

As mulheres viam na imprensa a possibilidade de escrever e atuar no

campo das letras e também como sustento. Clarice Lispector foi uma das escritoras

que trabalhou com muito vigor no meio jornalístico e alguns de seus livros foram

publicados aproveitando a sua produção como cronista e colaboradora de jornais.

No final dos anos 60, Lispector trabalhou como cronista do Jornal do Brasil e

entrevistadora na revista Manchete. Na Manchete, a sua coluna ‘Diálogos possíveis

com Clarice Lispector’ consistia em entrevistas com “figuras importantes da cultura

do país”. Talvez o que seja desconhecido de seus leitores é que a escritora também

trabalhou em colunas femininas usando os pseudônimos de Tereza Quadros para o

jornal Comício em 1952 e, depois, como Helen Palmer no Correio da Manha, em

1958 e 1959. Por que será que em colunas femininas Clarice não assinava com seu

nome? Sim, Clarice Lispector já escreveu textos sobre perfumes, educação dos

filhos, tratamentos de beleza, moda e culinária. Estes textos foram publicados em o

Correio Feminino, pela editora Rocco. A resposta para essa questão é,

provavelmente, que Clarice sabia que esses textos corroboravam e afirmavam a

mulher pacífica, abnegada aos desejos do marido e da família, diferente das

personagens femininas da sua ficção que vão até o limite para conhecer a si

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mesmas. Não podemos esquecer que Lispector tinha dois filhos que dependiam do

seu trabalho e por isso ela não poderia se dar ao luxo de não trabalhar escrevendo

sobre questões que os editores julgavam ideais para se dirigirem ao público

feminino, daí o uso dos pseudônimos. Aqueles textos não eram de Clarice Lispector,

mas de uma mulher que dependia da sua escrita para sobreviver e criar os filhos.

As primeiras mulheres brasileiras que aprenderam a ler e escrever, no

século XIX, foram verdadeiras “quebradoras de correntes” porque para a sociedade

brasileira daquela época mulher não precisava saber ler, muito menos escrever,

como afirma a professora e pesquisadora Constância Lima Duarte (2003) em

‘Feminismo e literatura no Brasil’:

Quando começa o século XIX, as mulheres brasileiras, em sua grande maioria, viviam enclausuradas em antigos preconceitos e imersas numa rígida indigência cultural. Urgia levantar a primeira bandeira, que não podia ser outra senão o direito básico de aprender a ler e a escrever (então reservado ao sexo masculino). A primeira legislação autorizando a abertura de escolas públicas femininas data de 1827, e até então as opções eram uns poucos conventos, que guardavam as meninas para o casamento, raras escolas particulares nas casas das professoras, ou o ensino individualizado, todos se ocupando apenas com as prendas domésticas. E foram aquelas primeiras (e poucas) mulheres que tiveram uma educação diferenciada, que tomaram para si a tarefa de estender as benesses do conhecimento às demais companheiras, e abriram escolas, publicaram livros, enfrentaram a opinião corrente que dizia que mulher não necessitava saber ler nem escrever (DUARTE, 2003, p.152, 153).

As mulheres eram tão castradas que até mesmo as de família rica eram

iletradas e a educação formal que recebiam era muita limitada porque os pais não

tinham interesse de ver suas filhas estudando. Com as campanhas em prol da

educação feminina é que as coisas começaram a mudar, ainda a passos muitos

vagarosos, e as mulheres leitoras passam a fazer parte dos personagens de

romances urbanos, mas sempre sob a ótica de romancistas homens e de um olhar

opressor e machista.

Aos poucos as mulheres vão ganhando espaço e curiosamente passam

de iletradas e “incompetentes para a vida”, lembrando Macabéa, para o título de

educadoras. Como afirmam Lajolo e Zilberman (1998) em A formação da leitura no

Brasil, livro essencial para conhecer a luta das mulheres brasileiras para conquistar

o direito à educação:

Destinar a mulher ao ensino resolvia diferentes problemas: justificava

17

pragmaticamente a necessidade de educá-la; solucionava a falta de mão de obra para o magistério, profissão pouco procurada porque mal remunerada; desobrigava o Estado de melhorar os proventos dos professores, porque o salário da mulher não precisava (e nem deveria) ser superior ao do homem, e sim complementar dele. Essas considerações recobriam-se por outras, de caráter ideológico: idealizava-se a professora, chamando-a de mãe, sugerindo assim que, lecionando, ela continuava fiel à sua natureza maternal. Negava-se o elemento profissional da docência, porque a sala de aula convertia-se num segundo lar (LAJOLO; ZILBERMAN, 1998, p.471, 472).

A mulher foi sempre vista como solução, quando a mão de obra era

escassa e não se tinha outra solução. Durante as guerras, por exemplo, quando os

homens precisavam partir e elas tomavam o posto de suas atividades, mas só até

enquanto eles não voltavam para casa. Como a educação tornou-se sinônimo de

cuidado e maternidade, quem mais poderia desempenhar o papel de educar além da

mulher que supostamente nasceu para isso?

Marina Colasanti, escritora declaradamente feminista, em seus livros,

além de construir personagens femininas fortes e emancipadas, também faz questão

de falar em educação e a literatura produzida por mulheres como em Fragatas para

Terras Distantes, em que se pergunta como teria começado a escrever sem antes

conquistar a sua formação de leitora:

O que, sim, poderia me perguntar, embora sabendo de antemão que não encontrarei resposta, é, que escritora teria sido eu se não tivesse sido leitora? Ou melhor: extraída de mim a leitura, que ser humano eu seria, e que ponto de partida teria para uma escrita? (COLASANTI, 2004, p.246).

Os passos iniciais para a emancipação da mulher através do acesso à

literatura resultam até hoje na discussão se existe ou não uma literatura feminina.

Os primeiros textos dedicados ao público feminino faziam parte dos folhetins, que

eram novelas publicadas em jornais, como também romances, que não podemos

considerar de qualidade elevada. No final das contas, o acesso era controlado e a

formação dessas leitoras não passava dos considerados romances açucarados e de

personagens apaixonadas e entregues ao amor:

À revelia ou consentidamente, fruto das mobilizações visando à instrução feminina e da necessidade de formação de professoras, as mulheres acabaram, no entanto, por constituir-se num grupo de consumidoras dignas de atenção. Leitoras com exigências próprias e escritoras ativas, não podiam ser ignoradas ou marginalizadas. A sociedade, todavia, tratou de controlá-las, usando de alguns mecanismos: converteu o magistério numa extensão da tarefa doméstica e maternal e desqualificou o trabalho delas

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aos olhos masculinos; desvalorizou suas leituras, embora não deixasse de fornecê-las em quantidades substanciais e crescentes; condicionou a recepção de obras às necessidades de doutrinação desse público, que reabsorveu valores familistas e patriarcais, traduzidos agora na linguagem da idealização da mulher e de sua tarefa doméstico-pedagógica (LAJOLO; ZILBERMAN, 1998, p.477, 478).

A desvalorização de suas leituras, a desqualificação de suas obras são

fatores que invisibilizaram o trabalho de escritoras como Maria Firmina dos Reis,

escritora negra abolicionista, considerada a primeira romancista brasileira. Dessa

forma, eu como professora e ex-estudante de escola pública, assim como tantas,

nunca tive a oportunidade de ver sua obra nos livros didáticos e muito menos nas

aulas de literatura.

Quando falamos da necessidade de reconhecimento da escrita feminina é

importante pensar que personagens femininas também são minoria no romance

brasileiro, como constata Regina Dalcastagnè em sua pesquisa ‘Personagens do

romance brasileiro contemporâneo’:

Além de serem minoritárias nos romances, as mulheres têm menos acesso

à “voz” – isto é, à posição de narradoras – e ocupam menos as posições de maior importância. Ao mesmo tempo, os dados demonstram que a possibilidade de criação de uma personagem feminina está estreitamente ligada ao sexo do autor do livro. Quando são isoladas as obras escritas por mulheres, 52% das personagens são do sexo feminino, bem como 64,1% dos protagonistas e 76,6% dos narradores. Para os autores homens, os números não passam de 32,1% de personagens femininas, com 13,8% dos protagonistas e 16,2% dos narradores. Fica claro que a menor presença das mulheres entre os produtores se reflete na menor visibilidade do sexo feminino nas obras produzidas (DALCASTAGNÈ, 2005, p.36).

Através da leitura dos dados levantados pela pesquisa da professora

Dalcastagnè, é possível perceber que grupos historicamente excluídos não podem

ter suas histórias reveladas em obras ficcionais porque eles não existem fora da

ficção.

Quando pensamos na educação como ferramenta de mudança na vida

das mulheres, sejam elas do século XIX ou do XXI, pensamos numa educação que

liberta sujeitos. Se mulheres existem e reexistem hoje através de textos literários é

porque outras mulheres lutaram para que essa conquista fosse efetivada e para isso

tiveram que transgredir regras. Transgredir que é o que ensina bell hooks em seu

livro Ensinando a transgredir – a educação como prática da liberdade em que a

autora analisa a sua experiência pessoal na escola como aluna negra cercada de

professores brancos que a ensinavam a partir de uma visão eurocêntrica,

19

colonialista, racista, até chegar os dias atuais como professora do ensino superior

estadunidense e os desafios para lançar aos seus alunos uma “pedagogia

engajada”.

Acreditamos que a partir da literatura é possível uma escola que liberte e

dê importância para a história dos sujeitos de forma mais amplificada. A literatura

pode ser esse caminho para uma escola que forma o pensamento crítico e livre de

seus estudantes e que consegue coexistir e respeitar o outro em sua diversidade e

individualidade. Nesse sentido, acreditamos que a leitura de textos de autoria

feminina oferece uma grande contribuição para debater sobre as histórias que não

são contadas. Em tempos que é preciso resistir e não se calar, destacamos bell

hooks quando cita Chandra Mohanty, em seu ensaio ‘On Race and Voice:

Challenges for Liberation Education’:

A resistência reside na interação consciente com os discursos e representações dominantes e normativos e na criação ativa de espaços de oposições analíticos e culturais. Evidentemente, uma resistência aleatória e isolada não é tão eficaz quanto aquela mobilizada por meio da prática politizada e sistêmica de ensinar e aprender. Descobrir conhecimentos subjugados e tomar posse deles é um dos meios pelos quais as histórias alternativas podem ser resgatadas. Mas, para transformar radicalmente as instituições educacionais, esses conhecimentos têm de ser compreendidos e definidos pedagogicamente não só como questão acadêmica, mas como questão de estratégia e prática (Mohanty apud hooks, 2013, p.36)

As lacunas que ficaram na minha formação como leitora e como teria

perdido a chance de ler e aprender com algumas escritoras se não fosse a internet e

os grupos que me engajei ao longo do caminho me trouxeram questões que

mudaram a minha postura em sala de aula. Hoje como professora da educação

básica e pesquisadora quero pensar nessa questão não só de forma acadêmica,

mas também como uma “questão estratégica e prática”. Quais são as autoras que

são levadas para a sala de aula? Como são os debates nas aulas de literatura?

Ainda existe aula de literatura no ensino médio da escola pública?

Quando fizemos o ensino médio, entre os anos de 2006 e 2008, o livro

adotado nas escolas públicas do munícipio de Quixeramobim era Português:

literatura, gramática, produção de texto, de Leila Lauar Sarmento e Douglas

Tufano. Através da experiência de professora de Língua Portuguesa e Literatura, em

2016, já utilizamos na preparação de nossas aulas o livro Português: Linguagens

em conexão, de Márcia Travalha, Graça Sette e Rozário Starling e atualmente

20

Novas Palavras de Emília Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite e Severino

Antônio. Nesse ínterim, é possível observar que houve mudanças no livro didático

de Língua Portuguesa, mas não significativas o suficiente que revelem a produção

de autoria feminina, ou seja, ainda mantendo pouco conhecidas e lidas as autoras,

conforme esta pesquisa pretende demonstrar.

Fazendo um comparativo a partir do que analisaremos nos livros

utilizados pelas quatro escolas públicas estaduais de Quixeramobim – a presença ou

não presença de escritoras – é possível perceber que a publicação que me auxiliou

durante o ensino médio em 2004 (volume único que utilizei durante três anos de vida

escolar), há uma presença ínfima de escritoras para não dizer quase inexistente. As

primeiras escritoras que vamos encontrar em Português: literatura, gramática,

produção de texto, depois de mais de 140 páginas sobre literatura e historiografia

literária, representando a segunda fase modernista, na prosa e poesia

respectivamente são Rachel de Queiroz e Cecília Meireles e logo depois Clarice

Lispector na prosa a partir da década de 40. E a presença de escritoras neste livro

se resume a estas três escritoras em mais de 170 páginas. É importante ressaltar

que já existem pesquisas que registram a presença de escritoras brasileiras com

publicações em todos os gêneros desde o século XIX, como a coleção de

Escritoras Brasileiras do Século XIX da editora Mulheres que reúne cerca de 3000

páginas sobre autoras ainda desconhecidas ou apagadas da história da literatura

brasileira.

Já no livro que dei aula na minha primeira experiência como professora,

uma publicação de 2013, nas suas primeiras páginas, no chamado Pré-Modernismo,

encontramos a escritora e poeta Gilka Machado. Um dos textos disponibilizados pelo

capítulo é ‘Gilka Machado: uma poeta feminista entre o Simbolismo e o Pré-

Modernismo’ e uma das atividades propostas é um sarau com poemas de Gilka

Machado e Augusto dos Anjos. No Modernismo em Portugal encontramos a poeta

portuguesa Florbela Espanca. Para abrir a conversa sobre a obra de Espanca o livro

lança algumas perguntas, eis uma delas: “Em sua opinião, por que há poucas

escritoras – na literatura brasileira e portuguesa – de destaque, até esse período?”.

Na primeira fase do Modernismo no Brasil temos a presença de Patrícia Galvão, a

Pagu. Na segunda fase Rachel de Queiroz, na terceira Clarice Lispector com foco

em A Hora da Estrela. No capítulo intitulado ‘Prosa Contemporânea: o cenário

urbano e o realismo fantástico’ nos deparamos com a poeta e romancista Conceição

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Evaristo e dois títulos interessantes para gerar debates: ‘A violência da desigualdade

denunciada por artistas contemporâneos’ e ‘Uma voz feminina no romance afro-

brasileiro’. No capítulo ‘Prosa contemporânea – novos gêneros e diálogos’ temos a

presença de Laura Guimarães, roteirista e diretora de curtas-metragens paulista e o

seu trabalho com microcontos. No capítulo ‘Poéticas brasileiras da segunda metade

do século XX ao século XXI’ temos a poeta e artista visual Lenora de Barros e Ana

Cristina César, e por fim, um capítulo intitulado ‘Vozes poéticas femininas

afrodescendentes e africanas contemporâneas’ que encerra a literatura no livro.

Neste capítulo temos a poética de Adélia Prado, Hilda Hilst, Alice Ruiz e mais um

pouco de Conceição Evaristo com o seu poema Vozes-Mulheres. O capítulo ainda

destaca o ativismo da norte-americana Betty Friedan.

É possível perceber que essas publicações se diferenciam no que

concerne a viabilização do trabalho de escritoras: na primeira, há apenas a presença

de três, na segunda, um leque maior e diverso de vozes femininas e uma abertura

para discussões de gênero. A partir dessa breve análise dos livros didáticos

podemos nos questionar como esses materiais afetam as aulas de literatura.

Embora expresse mudança, ainda revela que há uma predominância marcante de

autores masculinos, o que vem reforçar a denúncia de várias pesquisas que

apontam para uma imposição canônica de autores homens e brancos na literatura

brasileira divulgada nas escolas.

A perpetuação do cânone citado desencadeia que escritoras continuem

sendo menos lidas, publicadas e vistas em premiações ou feiras literárias e assim

destinadas ao que podemos chamar de “gueto literário”. Este gueto literário

caracteriza-se por uma literatura que é apresentada como frágil, delicada, fútil, sem

grandes questões. Dessa maneira, nas aulas de literatura, seja na escola ou na

faculdade, a leitura de textos literários produzidos por mulheres ainda é muito

insipiente, considerando-se a produção literária de autoria feminina e, sobretudo,

comparando-se à divulgação e leitura dos textos de autoria masculina.

A escola se configura para muitos como o primeiro espaço de encontro

com textos literários de forma orientada. A partir disso, questionamos: Como

professoras e professores podem fugir de um campo literário que continua sendo tão

excludente e viabilizar a leitura de textos de autoria feminina? Esse é um desafio

que a escola deve abraçar e que discutiremos mais nos próximos capítulos.

22

2.2 REPRESENTATIVIDADE, EMPODERAMENTO E A BUSCA POR VISIBILIDADE:

A PLURALIDADE DA ESCRITA FEMININA

Podemos analisar a literatura como um território de disputa a partir da

árdua trajetória de consolidação e legitimação da produção feminina como uma

escrita que também é capaz de fazer parte do campo literário e contribuir para novos

olhares sobre o mundo.

Quando novas vozes saem de um lugar de silenciamento e falam o que

pensam, novas histórias surgem e um mundo de possibilidades se abre. Para que

isso acontecesse, escritoras tiveram que disputar espaços e ainda continuam nesta

disputa com o objetivo de que a crítica literária, não só ela, reconheça o trabalho de

mulheres que escrevem como trabalhos que devem ser lidos e debatidos.

A literatura produzida por mulheres ainda permanece à margem e os

desdobramentos decorrentes do jogo de relações de poder continuam fazendo com

que essa literatura permaneça desprestigiada, agravando desigualdades históricas.

É preciso deslocar esse lugar para conhecer e divulgar a produção de mulheres.

Como aponta Regina Dalcastagnè (2005) essa invisibilidade vem também da

dificuldade de enxergar o que caracteriza os setores da sociedade que definem e

reforçam o cânone tradicional.

Assim como atrizes são questionadas por seus figurinos, dietas e pares

românticos quando deveriam ser questionadas por seus papéis, performances e

formação, ser uma mulher que escreve também é enfrentar estereótipos. A escritora

Marina Colasanti em seu livro Fragatas para Terras Distantes diz muito sobre isso:

Se eu disser: “Eu sou uma mulher”, tenho certeza de que a afirmação não causará nenhuma surpresa. Permito-me prosseguir com as afirmações, e dizer: “Eu sou uma escritora.” Isso também não deveria causar maiores estremecimentos. As duas questões são pacíficas. Entretanto, combinadas, parecem produzir uma poderosa reação química, cuja fórmula conduz inevitavelmente à pergunta: existe uma escrita feminina? (COLASANTI, 2004, p.65).

Essa escrita feminina vem sendo questionada ao longo do tempo, a partir

do momento que mulheres conquistaram o direito à educação e começaram a

ocupar as salas de aula como alunas e professoras, não apenas sendo leitoras

vorazes. A falta de divulgação e conhecimento da produção literária de mulheres não

é a única razão para Colasanti lançar a pergunta “Por que nos perguntam se

23

existimos?”, é também a falta de interesse no que essas mulheres escrevem e no

padrão que elas quebram a partir do momento que escrevem: mulheres que falam e

não mulheres que se calam.

Virginia Woolf, no ano de 1928, em seus ensaios e conferências, já

questionava a subversão que é a mulher ser escritora e abandonar todas as tarefas

que lhes foram destinadas, matar “o anjo do lar” para buscar uma profissão seja

escrever ou o que quisesse ser. A obra Um teto todo seu de Woolf tornou-se um

dos trabalhos precursores para os estudos literários de vertente feminina e feminista.

Nessa obra, temos a criação de Judith, a irmã fictícia de Shakespeare. O enredo

narra como seria difícil para ela tornar-se dramaturga. Apesar de Judith ter a mesma

capacidade criativa que seu irmão, nunca alcançaria com a sua literatura o que o

seu irmão alcançou: imortalidade e aclamação da crítica e público. Woolf deixa muito

claro em seu ensaio as diferentes barreiras que mulheres e homens enfrentam na

hora de escrever e publicar suas histórias:

A indiferença do mundo, que Keats, Flaubert e outros homens geniais achavam tão difícil de suportar, não era, no caso dela, indiferença, mas hostilidade. O mundo não dizia a ela, como dizia a eles: “Escreva se quiser, não faz diferença para mim”. O mundo dizia, gargalhando: “Escrever? O que há de bom na sua escrita?” (WOOLF, 2014, p.78).

Como Woolf acerta em dizer que mais do que indiferença as mulheres sofrem

hostilidade. As cidades, a política, a saúde, tudo é hostil para as mulheres. O

feminicídio é uma realidade dura, os números só aumentam. A violência não está em

pertencer ou não pertencer a um espaço por ser mulher, mas temer a própria vida

por ser de um gênero que historicamente é violado e posto em perigo.

Hoje pesquisadoras como Dalcastagnè demonstram que a mulher não

precisa apenas se emancipar, “ter um teto todo seu” com boas condições de

trabalho e dinheiro, elas precisaram sempre de mais do que isso para não serem

apagadas da história e serem levadas a sério. É importante lembrar que até o século

XIX a educação feminina era voltada apenas para as prendas domésticas para que

tivessem condições de cuidar do lar e do marido, e no máximo, além disso, tocar

piano e outras formas de entreter o marido e quem visitasse a família, tornando-se

assim uma esposa exemplar e companheira ideal. O que para os homens era bem

diferente, como afirma Cecil Jeanine Albert Zinani e Salete Rosa Pezzi do Santos

em Trajetórias de literatura e gênero: territórios reinventados:

24

Aos homens, tudo que fosse necessário para habilitá-lo ao mundo do trabalho; às jovens (da elite) bastava um pouco de francês, música, pintura, as quatro operações, além de etiqueta e princípios morais. Assim se formavam as jovens que o discurso senhorial prescrevia: educadas, meigas, acomodadas. É, pois, o feminismo que vai inaugurar a mulher pensante, que deixa de ser objeto dos part pris masculino e se torna sujeito de reflexão da própria história (ZINANI; SANTOS, 2016, p.223).

Não podemos esquecer que as mulheres operárias e trabalhadoras de

forma geral não tinham nenhum acesso a qualquer tipo de educação formal e

precisavam trabalhar fora para contribuir com o sustento de suas famílias. Até hoje a

educação feminina no Brasil é marcada pela exclusão. Mulheres pobres, indígenas,

negras ainda sofrem com o analfabetismo e a dificuldade para acessar o ensino

superior.

Falar em literatura produzida por mulheres e não falar de feminismo e

conquista de direitos é impossível porque para que mulheres pudessem escrever

tiveram primeiro que conquistar o direito à educação, como lembra em seu texto

‘Feminismo e literatura ou Quando a mulher começa a falar’, uma das primeiras

pesquisadoras sobre mulher e literatura no Brasil, Zahidé Lupinacci Muzart:

A ligação principal do feminismo com a literatura, entre nós, partiu no século XIX com a questão dos direitos das mulheres. Em primeiro lugar, o direito à educação e, em segundo, o direito à profissão. Na pesquisa sobre as escri-toras brasileiras do século XIX, deparei-me com vários textos nitidamente feministas, com feministas ativas como as periodistas, as fundadoras de jornais e periódicos. Essas tiveram uma quota considerável de responsabili-dade no despertar da consciência das mulheres brasileiras (MUZART, 2003, p.6,7).

Para Virginia Woolf (2016) em Profissões para mulheres e outros

artigos feministas, “matar o anjo do lar” era fundamental para uma mulher que

deseja tornar-se escritora. Talvez seja por isso que o feminismo ainda incomode

tanto, mulheres pensantes vão contra o discurso dominante. Ousadas e rebeldes, as

primeiras mulheres que decidiram ocupar um terreno, que a princípio não lhes

pertencia e que nunca fora pensado para elas, abriram as portas para que todas nós

pudéssemos um dia ter acesso à educação e ao poder da escrita.

Dando um salto para o século XXI, ainda enfrentamos dificuldades que se

equiparam às do começo e que estão marcadas na pele e na vida de quem ainda

ousa lutar como é o caso da ativista feminista paquistanesa Malala Yousafzai que

lutou pelo direito à educação feminina no Paquistão e foi baleada na cabeça por

25

talibãs ao voltar da escola. Yousafzai continua lutando1, com sua fundação que

colabora para que milhares de mulheres tenham acesso à educação em seus países

e em discurso na Assembleia de Jovens da ONU deixou muito claro para os

terroristas que não deixaria de lutar:

Os terroristas pensaram que eles mudariam meus objetivos e interromperiam minhas ambições, mas nada mudou na vida, com exceção disto: fraqueza, medo e falta de esperança morreram. Força, coragem e fervor nasceram (YOUSAFZAI

2, 2013).

Para combater o pensamento sexista é preciso compreender como esse

pensamento se formou e tem sido reforçado, inclusive nos meios científicos. Desde

a época de Platão e Aristóteles, passando por Rousseau e outros pensadores,

discursos que diminuem as mulheres são elaborados, apresentados em praças

públicas e publicados em obras:

Os discursos retratavam as mulheres como seres imperfeitos por natureza, seres inferiores aos homens e que, naturalmente, estariam destinadas a ser submissas a eles. As ideologias positivistas e higienistas procuravam manter a mulher no espaço doméstico e impor-lhe regras de conduta que regulavam seu comportamento, constituindo-a, assim, na esposa perfeita, submissa ao marido e, depois, aos filhos homens. A mulher, até 1840, era considerada como ‘boneca’, com a passagem do arquétipo de ‘boneca’, para ‘anjo’, ‘rainha do lar’, a mulher começa a ser tratada com mais respeito e com direito à educação, estudo que objetiva cumprir adequadamente as obrigações de sua nova posição, visando à formação da esposa agradável e da mãe competente (ZINANI; SANTOS, 2015, p.15,16).

Pesquisas relevantes como a da professora e pesquisadora Regina

Dalcastagnè são fontes para subvertermos a desproporção entre escritores e

escritoras. Como afirma Dalcastagnè (2015):

Cerca de 70 anos após Virginia Woolf publicar sua célebre análise das dificuldades que uma mulher enfrenta para escrever, a condição feminina evoluiu de muitas maneiras, mas a literatura – ou, ao menos, o romance – continua a ser uma atividade predominantemente masculina. Não é possível dizer se as mulheres escrevem menos ou se têm menos facilidade para publicar nas editoras mais prestigiosas (ou ambos). Há um indício que sugere que a proporção entre escritores homens e mulheres não é

1 Em julho de 2018 Malala Yousafzai esteve no Brasil para conhecer ativistas que lutam pela educação de

meninas e participar de palestras. Mesmo com um motivo muito importante para visitar o país, foi alvo de fake

news e discursos de ódio. Sobre os ataques sofridos por Malala, a blogueira Lola Aronovich escreveu em seu

blog Escreva Lola Escreva: https://escrevalolaescreva.blogspot.com/2018/07/assim-como-o-taliban-reacas-do-

brasil.html. 2 No livro Eu sou Malala: A história da garota que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã escrito

em parceria com a jornalista britânica Christina Lamb, Malala Yousafzai conta a sua luta pelo direito à educação

das mulheres em seu país e o que enfrentou por não se calar.

26

exclusividade das maiores editoras. Uma relação de 130 romances brasileiros lançados em 2004, organizada para um prêmio literário, indica apenas 31 títulos escritos por mulheres, isto é, 23,8% (DALCASTAGNÈ, 2005, p.31).

Alguns dirão que a baixíssima e discrepante porcentagem da pesquisa de

Dalcastagnè se dá pelo fato de que mulheres escrevem menos que os homens, o

que não há como se comprovar, já que não existem mecanismos para averiguar

escritas não publicadas. O que a pesquisa comprova, sem margem para dúvidas, é

que as escritoras mulheres são menos publicadas.

A conquista da vida pública, sobretudo uma vida voltada para a ascensão

intelectual e política foi um longo caminho, um grito de liberdade de mulheres que

não queriam ser vistas apenas como boas esposas e mães, mulheres que

romperam barreiras e criaram jornais e se firmaram como intelectuais, jornalistas,

escritoras, poetas, “mulheres das letras”, como afirma Constância Lima Duarte e

Kelen Benfenatti Paiva no artigo ‘A mulher de letras: nos rastros de uma história’:

Vencido o principal obstáculo à sua inserção no cenário das letras, o acesso à instrução, à educação, driblando os preconceitos herdados por um legado masculino na imprensa, a mulher de letras continuou encontrando dificuldades para que se reconhecessem a sua capacidade e o seu direito de ser escritora. Entre as dificuldades, a conflituosa tarefa de conciliar as atribuições ao longo dos anos destinadas à mulher e seus novos interesses relativos à participação na vida intelectual (DUARTE; PAIVA, 2009, p.16).

E é nesse momento que as mulheres lutaram pela emancipação e o

direito de ser escritora que o feminismo ou feminismos se fez tão necessário. As

vozes silenciadas, a falta de reconhecimento, os nomes esquecidos ou os nomes

apagados pelas sombras dos pseudônimos masculinos insurgiram a partir da luta

feminista. Em sua tese de doutorado defendida no Programa de Pós Graduação

Poslit, da UNB, As escritoras contemporâneas e o campo literário brasileiro:

uma relação de gênero, Virgínia Maria Vasconcelos Leal ressalta a importância da

luta feminista para a emancipação da escrita feminina:

Papel público vetado, por longo tempo, às mulheres e, como espaço de negociações, a instituição literária, na tradição ocidental, abriu-se pouco para a inserção feminina que, em termos históricos, é bastante recente. Pontuada por nomes, aqui e ali, a história da literatura de autoria feminina tem sido contada, principalmente, graças ao empenho da crítica literária feminista fruto direto do feminismo enquanto movimento social e político (LEAL, 2008, p.2).

27

Infelizmente muitas escritoras, não só no Brasil, rejeitam ou até mesmo

desconversam quando o assunto é ser feminista, principalmente quando se tenta

atrelar suas obras ao feminismo. Para Constância Duarte (2003) a recusa ao “título”

de feminista tem muito a ver com o medo de serem rejeitadas e consideradas

radicais, o que mostra que ainda há muito preconceito e projeção de estereótipos

acerca da figura da feminista que nada mais é do que uma mulher que luta pela

igualdade de gênero. Muitas definições sobre o que é uma mulher feminista são

construídas por homens que são inimigos do feminismo. As sufragistas há 160 anos

atrás sofreram ataques que não são diferentes dos sofridos pelas novas gerações

de mulheres feministas. A misoginia ainda é mesma e o seu poder consiste em

perpetuar discursos de ódio contra as mulheres.

Mesmo com a rejeição e a incompreensão ou podemos chamar o casulo

em que algumas escritoras se colocam, lembramos as palavras de Zahidé Lupinacci

Muzart (2003):

Pode-se dizer, mas é discutível, que, no século XIX, as mulheres que escreveram, que desejaram viver da pena, que desejaram ter uma profissão de escritoras, eram feministas, pois só o desejo de sair do fechamento doméstico, já indicava uma cabeça pensante e um desejo de subversão. E eram ligadas à literatura. Então, na origem, a literatura feminina no Brasil esteve ligada sempre a um feminismo incipiente (MUZART, 2003, p.10).

Esse feminismo incipiente ainda continua presente, pois como bem

sabemos o campo literário, em todas as suas etapas, desde a publicação até as

premiações, revela a falta de representatividade de mulheres. Essa ausência nesse

circuito reverbera no ensino de literatura nas escolas até a falta de escritoras nas

livrarias, rodas de leitura, entre outros espaços.

Nesse sentido, é fundamental que a crítica literária, bem como a

universidade, acolha e reconheça o trabalho de escritoras que foram esquecidas

pelo cânone, a fim de que suas obras não fiquem mais de fora e sejam consideradas

e analisadas pela historiografia literária para que cheguem por fim aos leitores que

merecem. Como afirma Regina Dalcastagnè (2012):

Ler Carolina Maria de Jesus como literatura, colocá-la ao lado de nomes consagrados, como Guimarães Rosa e Clarice Lispector, em vez de relegá-la ao limbo do “testemunho” e do “documento”, significa aceitar como legítima sua dicção, que é capaz de criar envolvimento e beleza, por mais que se afaste do padrão estabelecido pelos escritores da elite (DALCASTAGNÈ , 2012, p.21).

28

Quando fazíamos a graduação em Letras e líamos sempre os mesmos

críticos e autores, não percebíamos o quão perigoso e silenciador era ter

professores e programas que não incluíam textos produzidos por mulheres e por isto

a importância de reconhecer o trabalho de autoria feminina como um campo legítimo

de pesquisa e crítica literária. Só conseguimos enxergar a importância dessa

discussão na crítica literária quando começamos a fazer leituras que questionam o

julgamento e visão limitada que muitos estudiosos trazem em seus livros reeditados

e considerados leituras obrigatórias na academia, como destaca Lucia Castello

Branco e Ruth Silviano Brandão, em A mulher escrita:

É como ouvirmos falar acerca do temperamento ou das realizações de mulheres como produto de uma percepção romântica do universo. Quando se trata de literatura, esses julgamentos terminam por incorrer em afirmativas visivelmente sectárias, como esta de Massaud Moisés (1981, p.425): “Vê-se que pode ser aproximada [Florbela Espanca] dos grandes sonetistas da língua [...], embora deles difira numa série de pontos (resultantes, no geral, de ser uma mulher e por isso cantar apenas o Amor)” (RUTH; BRANDÃO, 2004, p.105).

Tal posicionamento é perigoso, pois pode induzir (vindo de um

especialista) estudantes e professores a formarem uma visão preconceituosa de

textos a partir do gênero da autoria. A autoridade intelectual não é isenta de

preconceitos, mas pode levar leitores menos preparados a pensar “se um grande

nome da crítica falou não se fala mais nisso”. ‘A crítica literária de saia justa’, artigo

publicado em A mulher escrita: a escrita mulher?, Eliane Campello (2009), fala

sobre a importância de redescobrir a produção literária de mulheres:

A (re) descoberta e a (re) avaliação da produção literária de autoria feminina vem fortemente calcada em novos paradigmas de análise, bem como em conceitos alargados de sujeito, literatura e de história, fato que oportuniza a leitoras e leitores o conhecimento tanto de textos atuais como daqueles que foram sufocados por grossas camadas de poeira acumuladas pelo tempo (CAMPELLO, p.6, 2009).

Quando se trata de autoria feminina, pensamos que a experiência de

leitores mais maduros, se assim podemos chamar, confunde-se com leitores que

ainda estão iniciando a sua vida literária e conhecendo alguns clássicos e se

encantando por eles. Ambos sabendo ou não foram influenciados para escolherem

determinados livros em detrimento de outros. Como afirma Cecil Jeanine Zinani e

29

Salete Rosa dos Santos (2015):

A leitora feminina sempre fez a leitura do cânone, mesmo quando o cânone não abria a possibilidade de apresentar as suas experiências de mulher, deixando-a à margem no que diz respeito a sua apresentação na literatura. Já, no leitor masculino, percebe-se a inabilidade deste em validar esteticamente as obras literárias de autoria feminina, cujos elementos estruturais partem do mundo privado para a apresentação do mundo exterior, comprometendo a interpretação dos elementos ficcionais nele centrados (ZINANI, SANTOS, 2015, p.36).

Assim aconteceu comigo e com as minhas colegas do clube de leitura de

autoria feminina ‘Mulher e Literatura’, que se reúne na cidade de Quixeramobim para

discutir obras produzidas por mulheres. Líamos muito mais escritores, nossas

bibliotecas pessoais quase não tinham escritoras e nossos empréstimos na

biblioteca pública da cidade eram em sua maioria de obras masculinas. Lemos

Machado de Assis e outros autores consagrados na infância e adolescência, mas

nunca tínhamos ouvido falar de Maria Firmina dos Reis e Carolina Maria de Jesus. O

que nos fez mudar a ponto de criamos um clube de leitura que já completou dois

anos de existência? Um tweet com seus poucos caracteres, para não dizer a internet

e o seu poder de mobilização social.

Em 2014, a escritora, jornalista e ilustradora britânica Joanna Walsh

lançou a partir de uma hashtag em seu twitter a campanha Read Woman 2014. A

escritora percebeu em suas leituras uma presença muito mais significativa de

autores e resolveu mudar isso, ao compartilhar sua inquietação mobilizou milhares

de pessoas pelo mundo. No Brasil, o projeto de ler apenas escritoras em 2014 de

Walsh inspirou a criação de vários clubes de leitura pelo país para debater

produções femininas e o papel da mulher na literatura. É verdade que as editoras

continuam publicando um número muito mais expressivo de homens e os prêmios

continuam premiando muito mais autores do que autoras, mas quando nos damos

conta de que há algo errado nisso podemos subverter e mudar o que se transformou

em algo natural.

Nesse sentido, a luta e o papel da crítica feminista em questionar em

rever o cânone e o lugar das escritoras é fundamental, pois o desconhecimento

ainda existe:

A literatura produzida por mulheres foi vista, por muito tempo, como

30

possuidora de um valor estético menor do que aquela produzida pelo homem, visto que ela está próxima da experiência pessoal, mostrando certa tendência à autobiografia e ao caráter confessional, atrelando literatura à experiência particular. Esse pré-conceito, ainda percebido, advém do fato de acreditar-se que esse texto está preocupado unicamente em revelar os problemas domésticos ou íntimos, sem qualquer ligação com as questões consideradas importantes, lê-se nesse caso política, história, economia, entre outros (ZINANI, SANTOS, 2015, p.39).

Para a crítica feminista, a negligência com a apreciação das obras de

autoria feminina empobrece a literatura porque se perde em diversidade,

experiência, discurso, o que pode levar o campo literário a se aproximar do “perigo

da história única” como elabora a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie em

uma palestra para TED talks3 disponibilizada no Youtube, trazendo à tona uma série

de questões que envolvem representação, identidade, preconceito, senso comum e

relações de poder. Quando se tem uma única perspectiva representada na visão de

um único ou principal grupo de escritores, ou seja, um grupo hegemônico

(representado por autores homens e brancos que dominam o mercado editorial),

outras milhares de perspectivas ficam de fora: se limita, se enquadra, estereótipos

são criados e de tão compartilhados tornam-se verdade. O que lemos diz muito do

que pensamos e o que estamos lendo? Que “histórias únicas” estamos contando,

ouvindo, assistindo e reproduzindo por aí em nossas salas de aula, em casa, no

trabalho e saídas com os amigos? Questões étnico-raciais, de gênero, classe e

tantas outras pertinentes para se pensar, foram e continuam sendo consideradas

desimportantes por uma determinada produção que privilegia uma visão dicotômica,

eurocêntrica, branca, heterossexual e masculina em detrimento e extermínio de

outras identidades, povos, culturas e saberes. Quando Adichie diz, em sua palestra,

que “poder é a habilidade não somente de contar a história de outra pessoa, mas de

fazer daquela a história definitiva dessa pessoa” podemos entender o quão é

problemático termos acesso a apenas um olhar, uma mídia, uma história, porque

isso acaba despotencializando a multiplicidade de interpretações e questões que

poderiam ser tensionadas e pensadas a partir de discursos e produções que são

excluídas antes mesmo de existirem.

É preciso derrubar hegemonias e reinventar uma nova história da

3 A palestra "O perigo das histórias únicas" de 2009 na página oficial do TED (que no português significa

Tecnologia, Entretenimento e Planejamento e tem como objetivo promover e disseminar ideias) tem mais de 14

milhões de visualizações. Em 2013 a escritora proferiu mais uma palestra dessa vez com o título "Todos nós

deveríamos ser feministas".

31

literatura que pague a dívida com as narrativas femininas e as vozes silenciadas,

como diz muito bem Rita Terezinha Schmidt em Centro e margens: notas sobre a

historiografia literária:

Penso que os estudos literários podem articular o seu papel educacional com uma função social de relevância na medida em que abrirem o campo de reflexão e crítica às formas de silenciamento, de exploração e destituição do humano. Mas isso só se tornará possível mediante decisões de caráter ético, estético e político com vistas à construção de um pensamento diferencial que possa deslocar o universalismo abstrato construído pelas subjetividades engendradas pelas hegemonias da história única, seja a do passado nacional, seja a da aldeia globalizada. Nessa linha, o papel de uma nova história da literatura viria ao encontro da necessária reeducação das capacidades do discernimento, da sensibilidade e do respeito incondicional à alteridade, capacidades necessárias à formação de competências de viver e com as quais poderíamos reinventar o passado e, conseqüentemente, a nós mesmos. Não pode ser outro, senão esse, o compromisso diante do que significa existir no presente (SCHMIDT, 2008 p.139).

Esse compromisso é nosso como escritoras, pesquisadoras, professoras,

não só nosso, mas de toda a sociedade. O patriarcado não pode e não deve mais

nos calar, pois somos muitas e nossas produções são mais vastas ainda e

relevantes para serem trancafiadas em gavetas. Representatividade importa e por

isso é importante divulgar e consumir o trabalho de mulheres para que mais e mais

mulheres sejam incentivadas a produzir e sejam valorizadas por suas contribuições

não importa qual seja o campo de atuação. E quando falamos que

representatividade importa não é só mais uma frase de efeito que se tornou

conhecida, mas sim, porque o acesso à voz não pode ser negado:

Quando entendemos a literatura como uma forma de representação, espaço onde interesses e perspectivas sociais interagem e se entrechocam, não podemos deixar de indagar quem é, afinal, esse outro, que posição lhe é reservada na sociedade, e o que seu silêncio esconde. Por isso, cada vez mais, os estudos literários (e o próprio fazer literário) se preocupam com os problemas ligados ao acesso à voz e à representação dos múltiplos grupos sociais. Ou seja, eles se tornam mais conscientes das dificuldades associadas ao lugar da fala: quem fala e em nome de quem. (DALCASTAGNÈ, 2012, p.17).

Discurso é poder e representar é se responsabilizar por experiências que

materializam sujeitos. Mas, quem decide quem pode produzir e o que se pode

representar? Mesmo em situações de vulnerabilidade social, por exemplo, é possível

tornar-se escritor (a). É o que aconteceu com Carolina Maria de Jesus. Como

escritora conseguiu não só colocar no papel o que acontecia consigo, mas também

analisar a sociedade brasileira. Portanto, excluir Carolina Maria de Jesus da história

32

é homogeneizar e corroborar com as ausências, com a falta de representatividade,

como lembra Dalcastagnè (2012):

Desde os tempos em que era entendida como instrumento de afirmação da identidade nacional até agora, quando diferentes grupos sociais procuram se apropriar de seus recursos, a literatura brasileira é um território contestado. Muito além de estilos ou escolhas repertoriais, o que está em jogo é a possibilidade de dizer sobre si e sobre o mundo, de se fazer visível dentro dele. Hoje, cada vez mais, autores e críticos se movimentam na cena literária em busca de espaço – e de poder, o poder de falar com legitimidade ou de legitimar aquele que fala. Daí os ruídos e o desconforto causados pela presença de novas vozes, vozes “não autorizadas”; pela abertura de novas abordagens e enquadramentos para se pensar a literatura; ou, ainda, pelo debate da especificidade do literário, em relação a outros modos de discurso, e das questões éticas suscitadas por esta especificidade (DALCASTAGNÈ, 2012, p.7).

Quando Dalcastagnè fala sobre a literatura como instrumento de

afirmação da identidade nacional lembramos que em uma das disciplinas do

mestrado em que discutimos sobre identidade nacional e cultura brasileira, os

professores separaram três livros para seminários com o objetivo de discutir como

os autores constroem em suas obras a ideia de brasilidade, nacionalidade, entre

outras questões que atravessassem a cultura brasileira. Como esperávamos os três

livros escolhidos foram de homens e obras consideradas essenciais para discutir o

“ser brasileiro” que são Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto,

Macunaíma, de Mário de Andrade e Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo

Ribeiro. Como a equipe que fazíamos parte era composta, em sua maioria, por

feministas e membros de um coletivo feminista, conversamos com os professores e

depois de um pouco de insistência, para não dizer resistência, conseguimos trocar o

livro da equipe para A hora da Estrela, de Clarice Lispector. O seminário foi muito

produtivo e, por fim, conseguimos provar que o livro de Lispector traz questões

pertinentes para pensar o Brasil.

Não podemos de forma ingênua acreditar que apagar determinada

escritora e obra não faz parte de um projeto político muito maior do que pensamos.

Democratizar o acesso a um espaço privilegiado como a literatura é possibilitar

novos olhares. É preciso apostar na diversidade de autores que atingirão e

possivelmente formarão novos leitores com suas obras porque legitimam

socialmente seus leitores através da criação de suas personagens e assim mostram

que também é possível escrever sobre o que ainda é silencioso e invisível. Como

afirma Dalcastagnè (2012):

33

A literatura é um artefato humano, e como todos os outros, participa de jogos de força dentro da sociedade. Essa invisibilização e esse silenciamento são politicamente relevantes, além de serem uma indicação do caráter excludente de nossa sociedade (e, dentro dela, de nosso campo literário) (DALCASTAGNÈ, 2012, p.149).

Não só os clássicos e o cânone, a literatura brasileira contemporânea

ainda carrega as marcas da ausência de representações que precisam ir além da

que já temos: homens brancos, heterossexuais, de classe média, que vivem na

cidade grande e que escrevem como Rodrigo S.M., com uma taça de vinho branco

na mão enquanto pensam sobre as mazelas que vivem suas personagens.

Quem produz acaba reverberando em suas personagens e as

perspectivas podem se limitar a um enquadramento que não enxerga a existência do

outro. Quantas personagens femininas têm uma profissão, são mulheres

empoderadas e donas de si dentro das narrativas ou será que temos uma literatura

que repete os discursos das telenovelas e da mídia e o que chega até os leitores

são histórias de mulheres que trabalham apenas em casa e cuidam dos filhos, são

hipersexualizadas e sofrem violência doméstica pelo patrão e o marido?

Ainda persiste a ideia estereotipada de que quando são mulheres que

escrevem o modo de ver o mundo é acionado no que se intitulou como “universo

feminino”, então livros escritos por mulheres tratarão apenas desse universo que só

pertence a elas. Quando a escritura literária de autoria feminina é vista a partir de

um nicho específico, inferior e limitado de criação literária, como se fosse uma

literatura à parte, corrobora com o pensamento de que mulheres só sabem ver o

mundo de forma limitada, pois pouco oferecem de reflexão acerca da sociedade, dos

papéis sociais, da política, economia ou qualquer outro assunto considerado

importante e complexo.

Na verdade, a escrita-mulher empodera e liberta. Escrever literatura deu a

possibilidade de mulheres se afirmarem no mundo como sujeitos pensantes que

também querem ser ouvidos e lidos e que tem total capacidade para isso:

Por meio da escrita, a mulher dá-se conta de sua individualidade e da fragmentação advinda da discrepância existente entre o que ela é e o que a sociedade exige que ela seja. Ao escrever literatura, o sujeito feminino percebe que é por meio desta que tem a possibilidade de experimentar, ousar, aventurar-se, conhecer o mundo e conhecer-se, a fim de consolidar sua identidade e legitimar sua existência (ZINANI; SANTOS, 2015, p.19).

34

A falta de representatividade feminina em obras consideradas fundamen-

tais e a aceitação de obras escritas por mulheres não é apenas um “privilégio” da

literatura. Cinema, teatro e outras formas artísticas de expressão também sofrem do

mesmo mal: invisibilizar mulheres. O Teste Bechdel criado pela cartunista Alison

Bechdel há mais de 30 anos para satirizar como Hollywood sub-representa as mu-

lheres é a prova de que naturalizamos a ausência de mulheres produzindo cinema,

protagonizando filmes, escrevendo roteiros. O teste consiste em três questões muito

simples e voltadas para o cinema que podem muito bem ser aplicadas ao texto lite-

rário. Para passar no teste, o filme deve atender as seguintes condições: Ter pelo

menos duas mulheres, que devem conversar uma com a outra e o mais importante,

sobre alguma coisa que não seja um homem. Parece bobo, mas muitos filmes não

passam no teste. O que nos questionamos é quantos livros passariam no teste já

sabendo da supremacia masculina que predomina na literatura brasileira seja ela

contemporânea ou canônica.

É impossível não lembrar de Virgínia Woolf e do seu incômodo com a fal-

ta de representatividade das mulheres na ficção, questão que marca o seu clássico

Um teto todo seu e que fazemos questão de destacar:

Todos os relacionamentos entre mulheres, pensei, repassando rapidamente a esplêndida galeria de mulheres ficcionais, são muito simples. Muita coisa foi deixada de fora, sem ser abordada. E tentei me lembrar de algum caso, no decorrer das minhas leituras, em que duas mulheres tivessem sido representadas como amigas. Há uma tentativa em Diana of the Crossways. Elas são confidentes, claro, em Racine e nas tragédias gregas. Aqui e ali são mães e filhas. Mas quase sem exceção elas são mostradas dentro de sua relação com os homens. É estranho pensar que todas as grandes mulheres da ficção tenham sido, até o advento de Jane Austen, não só retratadas pelo outro sexo, mas apenas de acordo com sua relação com o outro sexo. E como é pequena essa parcela da vida de uma mulher; e como um homem pouco sabe até sobre isso, quando as observa através dos óculos pretos ou avermelhados que o sexo coloca sobre o nariz dele (WOOLF, 2014, p.119, 120).

Como a literatura pode desvelar a estrutura patriarcal em seu viés

hierárquico? Por isso a importância de conhecer e descobrir novas autoras, para que

novas questões sejam abordadas e trazidas à tona, fazendo assim com que a

história da literatura reveja nomes e reestruture-se a partir, também, da contribuição

da crítica feminista.

O propósito da crítica feminista é a contestação do patriarcado, mostrar

que mulheres desde sempre desejaram ser ouvidas e se rebelaram contra o que a

35

sociedade impunha-lhes como “destino de mulher” e se hoje escritoras são

reconhecidas e discutidas na academia em artigos, dissertações, teses e

congressos é também pelo esforço e coragem de pesquisadoras que despertaram

para a necessidade urgente de uma nova historiografia literária e a desconstrução e

análise de leituras consagradas e consideradas sagradas por uma crítica engessada

que só enxerga o que quer.

3 QUANDO A MULHER COMEÇOU A FALAR

Neste capítulo discutiremos a inserção da mulher na literatura e o papel

da crítica literária feminista para o reconhecimento da produção literária de autoria

feminina, bem como a importância dessa produção literária alcançar o ensino médio

e contribuir com as aulas de literatura. Para esse diálogo, contamos com as “vozes-

mulheres” de Constância Lima Duarte, Linda Nochlin, Jane Soares de Almeida,

Zahidé Lupinacci Muzart, entre outras pesquisadoras.

3.1 O MOVIMENTO FEMINISTA E A FICÇÃO DE AUTORIA FEMININA

Não podemos deixar de começar o capítulo dando os créditos de seu

título que foi inspirado no texto ‘Feminismo e literatura ou Quando a mulher começou

a falar’ à pesquisadora, editora e crítica feminista Zahidé Lupinacci Muzart. O título

se justifica não só porque a literatura foi e continua sendo uma das formas que as

mulheres encontraram para terem voz e serem ouvidas, mas também a maneira que

encontramos de homenagear uma pesquisadora tão importante para a crítica

feminista e a discussão da autoria feminina no Brasil. É com a insistência obstinada

de Muzart e tantas outras pesquisadoras, que hoje é possível encontrar uma série

de artigos, dissertações, teses, ensaios e ementas de disciplinas, que priorizam o

estudo sobre a literatura de autoria feminina no nosso país.

Devemos voltar a falar da professora Muzart e seu legado com a Editora

Mulheres, mas antes destacamos o prólogo de uma obra do século XIX, publicada

em 1859, escrita por uma mulher negra, abolicionista, articuladora da primeira

escola para meninas e meninos no Maranhão, considerada a primeira romancista

feminina no Brasil, Maria Firmina dos Reis:

36

Não é a vaidade de adquirir nome que me cega, nem o amor próprio de autor. Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem, com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais, e pouco lida, o seu cabedal intelectual é quase nulo (REIS, 2017, p.11).

É dessa forma que o romance Úrsula se inicia. Ainda no prólogo, Maria

Firmina chama o seu livro de mesquinho e humilde e diz que para alguns ele será

motivo de riso ou de indiferença. Seu nome não aparece na capa, é identificado

apenas como “por uma maranhanse”, assim se apresenta uma das nossas primeiras

narrativas de autoria feminina no Brasil. É possível analisar esse início não como um

pedido de desculpa e sim como um protesto. O leitor atento deve perceber que ali há

um tom de crítica, não de lamentação. O silêncio que Maria Firmina rompe ao

escrever o seu primeiro romance grita alto demais, o seu “cabedal intelectual” é forte

o suficiente para lutar pela educação de outras mulheres no seu estado. Um dos

trabalhos que viabilizou a obra e que trouxe reconhecimento para a autora foi a

publicação da Editora Mulheres que também publicou o seu conto “A escrava”. Na

escola, se perguntarmos hoje alguma personagem feminina escrava na literatura a

maioria dos alunos lembrarão do romance de Bernardo Guimarães A escrava

Isaura, pouco provável que alguém cite a personagem Suzana, do romance Úrsula,

talvez porque os professores nunca tenham ouvido falar e porque o livro didático não

reconhece o trabalho de Firmina como escritora abolicionista. Uma mulher negra

que escreve sobre escravidão de forma crítica e que estava muito à frente do seu

tempo provavelmente também não será encontrada entre as prateleiras da biblioteca

da escola.

O prefácio de Maria Firmina diz muito sobre uma escrita-mulher que em

pleno século XIX tinha sede de ser lida. Se as antologias consideradas mais

importantes apagaram essas mulheres é importante dizer que elas existiram e, como

revelam na introdução de seus livros, tinham plena consciência de que a crítica não

ampararia suas obras, pelo contrário, apagaria os seus trabalhos até que uma

mulher ou duas fossem o suficiente para representar um século inteiro. Em seu

artigo ‘Artimanhas nas entrelinhas: leitura do paratexto de escritoras do século XIX’,

Zahidé Muzart (1990) analisa as diferenças entre prefácios de escritoras e escritores

37

e, quando se trata de escritoras, como esses prefácios são verdadeiras “artimanhas”

para atrair os “homens das letras” para seus escritos:

Nesse primeiro livro de mulher, no Brasil, já são estabele- cidos alguns princípios que nortearão a crítica, no século XX. O reconhecimento e resgate das pioneiras não se dará pelas qualidades dos livros. Não serão comparadas às "grandes obras", dos homens da mesma época mas como livros de mulheres que não puderam ter a mesma educação. Mulheres às quais estavam fechadas as portas da instituição e do convívio com pensadores ilustres. Tais livros são estudados e resgatados como válidos porque primeiras manifestações de mulheres brasileiras. E é sobre isso que trata Maria Firmina dos Reis. Ela estabelece, com clareza, os limites aos quais estavam confinadas as mulheres do tempo e tem nítida noção da importância da educação, das vivências e das oportunidades culturais. Aliás, a discussão da educação para a mulher foi um dos grandes temas da segunda metade do século XIX e disso se encontram vestígios em todos os jornais da época sobressaindo- se, naturalmente, os jornais e revistas dirigidos por mulheres (MUZART, 1990, p. 68).

Os limites de confinamento eram tão estabelecidos e limitavam a vida das

mulheres de uma tal forma que uma das obras mais reconhecidas do século XIX e a

posteriori, escrita por um homem, “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert, tem em

seu enredo uma mulher que se casa, mas não se encontra dentro da monotonia e

opressão do casamento e que, para além dos livros que lia, quer viver novas

experiências e não aceita se resignar até o fim de sua vida ao papel de esposa,

dona do lar e cuidadora do bem-estar do marido. É importante destacar que o final

trágico e arrependido da personagem, tão presente nos romances de autoria

masculina da época, realiza uma espécie de ‘mensagem de alerta’ a um público

leitor feminino que pudesse se inspirar na insatisfação da personagem.

Não queremos discutir os rumos e tropeços da narrativa, mas destacar

que as mulheres sempre estiveram presentes na literatura e se elas desejaram

abandonar o papel de leitoras para escrever livros isso não é menos que um direito.

Reivindicar a saída desse espaço doméstico opressor para um espaço

em que as mulheres poderiam desenvolver o seu intelecto e se expressar como

seres humanos, serem, por fim, protagonistas e autoras de suas próprias histórias

foi o começo da luta contra a invisibilidade histórica que sofremos. E quanto aos

questionamentos se existiram mulheres escritoras em outros séculos, hoje podemos

dizer que sim:

A grande pergunta que se coloca é por que algumas escritoras, como Narcisa Amália, Nísia Floresta, Beatriz Francisca de Assis Brandão, Presciliana Duarte de Almeida, Ana Aurora Lisboa, Maria Amélia de Queiroz,

38

Úrsula Garcia, Carmen Freire, Mariana Luz, Francisca Júlia, Júlia da Costa, Auta de Souza, Francisca Clotilde, para citar só algumas, já que a lista é enorme, não estão hoje em nossas histórias literárias, nem sua obra compilada nas antologias e manuais de literatura. Quem as conhece sabe que a poesia que realizaram em nada fica a dever aos nossos poetas árcades e românticos, tais como Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo, Fagundes Varela e, até ouso acrescentar, Gonçalves de Magalhães (DUARTE, 1995, p. 26).

Podemos afirmar que mulheres escreviam menos que os homens e,

portanto tinham menos expressão literária, mas não podemos esquecer que as

condições de vida das mulheres sempre foram de restrição à liberdade, à educação,

ao político, mas e as mulheres que burlaram a sua constituição biológica

considerada frágil e construíram um caminho diferente? A redução da mulher como

sujeito histórico traz marcas difíceis de apagar até hoje, mas já não há mais porque

ignorar as escritoras citadas por Constância Lima Duarte, para citar apenas

algumas. Nesse sentido, preenchendo as lacunas deixadas pela história literária

tradicional a crítica feminista existe e assumiu o papel fundamental de quebrar

hierarquias, pôr em questão o cânone e contribuir para uma nova história da

literatura. Como afirma Joan Scott em ‘História das mulheres’ não há jeito de evitar

as relações de poder:

Os historiadores das mulheres constantemente se deparam protestando contra as tentativas de relegá-los a posições que são meramente estranhas; também resistem aos argumentos que põem de lado o que eles fazem como sendo tão diferente que não pode ser qualificado de história. Suas vidas profissionais e seu trabalho são, por isso, necessariamente políticos. No final, não há jeito de se evitar a política – as relações de poder, os sistemas de convicção e prática – do conhecimento e dos processos que o produzem; por essa razão, a história das mulheres é inevitavelmente político (SCOTT, 1992, p.95).

É preciso ressignificar, reconstruir, não só uma nova história da literatura,

mas a história de maneira geral, pois a ausência de informações sobre a mulher é

uma forma de manipular para que a desinformação continue sendo uma arma para

sujeitos que querem apagar sujeitos e diminuir suas existências, lutas, papéis, como

afirma a militante feminista e presa política Maria Amélia de Almeida Teles em Breve

história do feminismo no Brasil:

Ao abordar o desenvolvimento da condição da mulher na sociedade brasileira através dos tempos, sua vida, seus anseios, sua maneira de pensar e participar dos acontecimentos culturais e políticos, chegamos ao

39

ponto de uma verificação da necessidade de reconstruir a história do Brasil. Começaríamos por uma apreciação crítica da visão estabelecida pelos nossos historiadores e observadores políticos, que se omitem quanto ao tema. E o pouco que se fala da mulher brasileira não foge ao princípio universal denunciado por Simone de Beauvoir em 1949: “Toda a história das mulheres foi escrita pelos homens”. E, portanto, podemos acrescentar: está sob suspeição (TELES, 1999, p.11).

Como se esquivar de uma história que já chegou a questionar a

humanidade das mulheres? Em que se questionava a possibilidade de serem seres

irracionais, como afirma Perrot (2007). O que nos salvou, se assim podemos falar, foi

o século XIX e a conquista do direito à educação, que estabeleceu o mínimo de

igualdade e dignidade para as mulheres, sendo assim:

A história das mulheres mudou. Em seus objetos, em seus pontos de vista. Partiu de uma história do corpo e dos papéis desempenhados na vida, privada para chegar a uma história das mulheres no espaço público da cidade, do trabalho, da política, da guerra, da criação. Partiu de uma história das mulheres vítimas para chegar a uma história das mulheres ativas, nas múltiplas interações que provocam a mudança. Partiu de uma história das mulheres para tornar-se mais especificamente uma história do gênero, que insiste nas relações entre os sexos e integra a masculinidade. Alargou suas perspectivas espaciais, religiosas, culturais (PERROT, 2007, p.15, 16).

A prolixidade de discursos sobre a mulher ainda é insuficiente para dar

conta das fontes que precisamos para contar essa história. Se os seus corpos estão

expostos nos museus, suas vidas representadas nos livros, nada disso partiu de sua

vontade, não são pensamentos próprios, e sim, representações: é o olhar do outro

que a define, o olhar masculino. Como afirma Betty Friedan em Mística Feminina,

vai além da coragem de mulheres que querem ser ouvidas:

Feminismo não foi um mau gracejo. A revolução feminista precisava ser empreendida porque a mulher ficou simplesmente detida num estágio de evolução muito aquém de sua capacidade humana (FRIEDAN, 1971, p.75).

Tratando-se de literatura, a crítica feminista seguiu um caminho muito

semelhante ao que Teles (1999) sugere e tomou para si o papel de investigar as

visões estabelecidas pelo cânone literário e expor a omissão de escritoras de seus

livros, pareceres, trabalhos, chegando a ser constrangedor saber o quão é

retrógrado e misógino o posicionamento de alguns críticos diante da autoria

feminina, como aponta Duarte (1995) quando revela que José Veríssimo, um

daqueles críticos “donos da verdade literária”, lamenta-se porque a língua

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portuguesa não é como a francesa que não possui feminino para as palavras autor e

escritor. Assim, para o pesquisador, a crítica francesa não teria que se preocupar

com convenções sociais no tratamento a uma mulher escritora.

Infelizmente José Veríssimo não está vivo para ver a proficuidade de

obras de autoria feminina que vem surgindo e insurgindo no século XXI. Hoje

escritoras jovens têm voz e autonomia para escrever o que quiserem. A escritora

indiana radicada no Canadá Rupi Kaur, por exemplo, começou a mostrar seu

trabalho na internet e por isso alguns a consideram uma instapoet, suas postagens

no Instagram foram atingindo cada vez mais pessoas até que os seus

compartilhamentos tornaram-se um dos livros de poesia mais vendidos nos últimos

anos. Outros jeitos de usar a boca em um pouco mais de um ano vendeu um

milhão de cópias só nos EUA e ficou mais de 40 semanas na lista de mais vendidos

do jornal The New York Times. O sucesso explosivo do livro nos EUA fez com que

se tornasse um best-seller e chegasse por aqui, além de outros países como China,

Itália, Portugal, Coréia do Sul. No perfil do Instagram a autora postou uma foto com

as capas dos livros traduzidos nos respectivos países supracitados e na legenda da

foto ressalta que “cada tradução tem vida própria” e que o livro deve ser em breve

traduzido para mais 20 línguas.

Os poemas que estão acompanhados, em sua maioria, por ilustrações da

própria autora, uma jovem de 25 anos, devemos ressaltar - falam, gritam,

expressam, derramam tantos sentimentos, vivências, dores, alegrias, que fica

impossível não atravessar o leitor seja mulher ou homem. É um livro que merece ser

discutido e pautado em escolas, universidades, em conversa com amigos e até onde

a poesia puder alcançar. O corpo político e literário que Kaur representa, empodera

e traz força para que outras mulheres continuem a se expressar e se afirmar no

mundo.

A conquista da voz que Rupi Kaur alcançou foi um caminho bastante

árduo, os espaços fora do lar eram inacessíveis para mulheres, até que aos poucos

com o acesso à educação, algumas começaram a escrever em jornais e publicar

livros. Nesse sentido, para buscar a memória literária feminina é imprescindível não

esquecer as precursoras dessas letras que em pleno século XIX escreviam

periódicos exigindo demandas que até hoje são pautas do movimento feminista.

Como investiga Muzart (2003):

41

Além da produção em jornais, elas publicaram muitos livros, uma produção, ainda que desaparecida, nada desprezível. Estranhamente, tudo isso foi sendo colocado de escanteio a partir do século XX, e somente com algumas pioneiras – como Josefina Álvares de Azevedo, Corina Coaracy, Carmem Dolores e, principalmente, já no século XX, com a precursora obra de Gilka Machado, ou a de feministas como Maria Lacerda de Moura – é que a mulher foi conseguindo firmar pé na literatura e na cultura brasileiras. Na pesquisa sobre as escritoras brasileiras do século XIX, deparei-me com vários textos nitidamente feministas de feministas ativas como as periodistas, as fundadoras de jornais e periódicos. Essas tiveram uma quota considerável de responsabilidade no despertar da consciência das mulheres brasileiras, um papel fundamental. Entre elas, salienta-se Josefina Álvares de Azevedo (Recife, 1851), jornalista e dramaturga, cuja luta em prol do sufragismo foi marcante (MUZART, 2003, p.226).

Uma imprensa feminista que lutava pelo direito à educação, a uma

profissão e ao voto, para citar apenas estes três4, um jornalismo que buscava a

emancipação e defesa dos direitos das mulheres e, o mais importante, produzido por

elas. Periódicos que não falavam de culinária, beleza, corte e costura, mas sim, se

preocupavam em educar mulheres para a sua autonomia e empoderamento. A

imprensa feminista eclodiu no mundo inteiro. Por aqui tínhamos Nísia Floresta na

linha de frente militando pela educação feminina, uma das primeiras mulheres a

publicar e escrever em periódicos. Em 1832, Nísia publicou Direitos das mulheres

e injustica dos homens, considerado uma tradução livre de A Vindication of the

rights of woman de Mary Wollstonecraft, que por sua vez, é reconhecido como um

dos primeiros tratatos feministas da história.

A contribuição da imprensa feminista foi muito importante para o

fortalecimento e conquista de direitos. Periódicos como O Jornal das Senhoras

possibilitaram o desabrochar das primeiras vozes feministas do nosso país. O

reconhecimento dessas vozes é importante para pensarmos em uma história que

não estigmatiza e nem subalterniza sujeitos. Trazer à tona obras que foram

esquecidas e tratadas como “menores” é uma forma de dizer não ao apagamento

histórico das mulheres. Por isso a importância das mulheres que escreviam no

século XIX, elas contribuíram de forma definitiva para uma epistemologia do

feminismo, e por conseguinte, para que a autoria feminina fosse visibilizada. Por sua

4 No artigo ‘Mulher e escritura: producao letrada e emancipacao feminina no Brasil’ Constancia Lima Duarte

apresenta a influência do feminismo na vida das mulheres brasileiras e divide em quatro décadas, segundo a

pesquisadora, marcadas por mudanças sociais efetivadas pela luta feminista: 1830, 1870, 1920 e 1970.

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impertinência, ao ostracismo foram levados muitos escritos e escritoras. As raízes

desse silenciamento são profundas demais, pois mulheres que não se permitiram

calar não poderiam ter espaço de jeito nenhum, como afirma a pesquisadora e

professora titular do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do

Sul Rita Terezinha Schmidt (2006):

A razão de os romances terem sido esquecidos pelas histórias literárias e de serem, hoje, considerados como objeto de interesse apenas para uma minoria de feministas comprometidas com a recuperação das vozes das mulheres no campo da produção literária do passado deve-se ao fato de a cultura letrada se recusar a atribuir-lhes qualquer valor, reservando- lhes o status de “literatura menor”, para não dizer irrelevante, sob a alegação de que são textos que não interferiram no sistema, uma atitude altamente reveladora da cumplicidade da cultura letrada com o modo de pensar – e de fazer – da classe dominante. Como esses textos nem sequer foram reconhecidos em seu tempo e, precisamente por isso, deixaram de circular, a alegação de que não tiveram força de intervenção no sistema não passa de uma manobra retórica para justificar o ponto de vista sobre sua irrelevância e o seu descarte (SCHMIDT, 2006, p.777).

O que Schmidt (2006) define como “manobra retórica” não passa de uma

estratégia para manter os discursos sejam eles no campo literário, cinematográfico,

nas artes de modo geral, representando as mesmas estruturas de poder e opressão.

O que nos faz chegar ao necessário texto da professora e historiadora da arte

feminista Linda Nochlin publicado em 1971 na revista ARTNews intitulado Por que

nao houve grandes mulheres artistas? e traduzido para o português em 2016

pela Edições Aurora. Responder a essa pergunta como a própria Linda coloca é

“morder a isca”, é compreender que se faz necessário dar o reconhecimento aos

textos e autoras que completam o panorama histórico da nossa literatura e que

ainda são conhecidas por uma minoria:

Porém, na realidade, como todos sabemos, as coisas como estão e como estiveram, nas artes, bem como em centenas de outras áreas, são entediantes, opressivas e desestimulantes para todos aqueles que, como as mulheres, não tiveram a sorte de nascer brancos, preferencialmente classe média e acima de tudo homens. A culpa não está nos astros, em nossos hormônios, nos nossos ciclos menstruais ou em nosso vazio interior, mas sim em nossas instituições e em nossa educação, entendida como tudo o que acontece no momento que entramos nesse mundo cheio de significados, símbolos, signos e sinais. Na verdade, o milagre é, dadas as esmagadoras chances contra as mulheres ou negros, que muitos destes ainda tenham conseguido alcançar absoluta excelência em territórios de prerrogativa masculina e branca como a ciência, a política e as artes (NOCHLIN, 2016, p.8,9).

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A busca pelo reconhecimento das escritoras brasileiras do passado

começou lá na década de 80 com a criação de grupos como o GT Mulher e

Literatura, da ANPOLL e década de 90 com a Editora Mulheres. Quando essas

iniciativas começaram, as discussões sobre autoria feminina no Brasil eram

escassas, para não dizer inexistentes. Esse pioneirismo desencadeou uma reflexão

para que a academia e a crítica literária urgentemente revissem os seus padrões

internos e ampliassem seus horizontes de expectativa, perspectiva e realidade. Um

esforço conjunto de mulheres que ansiavam abrir espaço para a autoria feminina:

Importante assinalar que o desejo sempre foi a mola propulsora vital de um trabalho coletivo de intervenção em lugares institucionais. Por exemplo, o desejo de abrir espaços para a presença da mulher na literatura como objeto de estudo e tópico de pesquisas representava desencadear transformações internas nos próprios mecanismos de funcionamento da instituição, não raro, resistente à inclusão de disciplinas novas fora dos padrões curriculares e à validação de pesquisas que, ainda na década de 80 e 90, eram vistas como contaminadas com um teor altamente ideológico, como se ideologia fosse uma prerrogativa do discurso de mulheres “feministas”. O próprio termo “feminista” não era um consenso ente nós [...]. (SCHMIDT, 2006, p.32, 33).

O que era visto “como contaminação ideológica” nada mais era do que

uma tentativa de deslegitimar e enfraquecer o trabalho de resgate das escritoras.

Trabalhos que buscam investigar novas representações na literatura, sejam de quem

escreve ou a partir de quem narra, mexem com as estruturas mais fixas e

consideradas intransponíveis da sociedade, e isso, sem dúvida, incomoda demais.

Por todos os motivos aqui apontados, não podemos deixar de demarcar o nosso

discurso e texto como sendo a partir do que somos – mulher, feminista, professora

de escola pública e leitora de mulheres.

Falando em abrir espaços para a presença da mulher na literatura não

poderíamos deixar de registrar a atuação vital para uma política de leitura de

mulheres no Brasil da Editora Mulheres e de sua criadora Zahidé Lupinacci Muzart.

Um dos trabalhos mais preciosos e necessários da editora que foi criada em 1996 é

a antologia Escritoras Brasileiras do Século XIX. Dividida em três densos

volumes, a antologia reúne cerca de três mil páginas e pesquisadoras

contemporâneas em busca da (re) descoberta de escritoras que nunca antes tinham

sido incluídas na nossa literatura. Com certeza esse é um dos legados mais bonitos

de uma editora que nasceu para subverter o mercado editorial brasileiro. No livro

Mulher e Literatura – 25 anos: Raízes e Rumos Zahidé conta a história da editora

44

“fundo de quintal” e como ela ficou (re) conhecida pelo seu trabalho de editar e

reeditar obras de escritoras relegadas pela crítica literária brasileira:

(...) Em primeiro lugar, pelo ineditismo de suas edições do século XIX. Vou dar apenas um exemplo, pois não há possibilidade de comentar a origem das várias edições: o resgate de uma escritora como Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) que começou a partir de 1996, ou seja, há 14 anos. Raríssimos críticos literários falavam dela e até os anos 60, somente foi contemplada por Lúcia Miguel-Pereira em Prosa de ficção: de 1870 a 1920, publicado em 1957. Não aparecia nas Histórias da Literatura a não ser em rodapé ou nas listas de autores menores. Pois, a partir das publicações de alguns romances, ela foi se tornando mais e mais conhecida, participando em congressos, de palestras e de muitas comunicações não só no Brasil como nos Estados Unidos. (MUZART, 2010, p.176).

O reconhecimento que a Editora Mulheres, o Grupo de Trabalho A Mulher

na Literatura, da Associação Nacional de Pós-Graduação em Letras e Linguística

(ANPOLL), como também núcleos de estudos de gênero, revistas e cadernos

feministas, enfim, todas as redes feministas que se espalharam e tem se espalhado

pelo Brasil, é também motivo de estarmos pesquisando autoria feminina na escola.

Sabemos que publicar é um ato de resistência, sobretudo, vivendo em um país em

que o incentivo a produção científica não é um investimento sério do governo,

quando a conjuntura política teima em retroceder com direitos conquistados com

tanta luta. Continuar com nossas pesquisas é uma forma de dizer não ao silêncio

que nos foi imposto.

No seu livro A mãe de todas as perguntas: reflexões sobre os novos

feminismos, Rebecca Solnit, considerada uma das grandes feministas

contemporâneas, que com o seu ensaio ‘Os homens explicam tudo para mim’

inspirou a criação do termo mansplaining, aborda, entre outros temas, a privação de

voz às mulheres e a mudança que causamos quando resolvemos interromper o que

nos cala:

“Somos vulcões”, certa vez Ursula K. Le Guin comentou. “Quando nós, mulheres, apresentamos a nossa experiência como a nossa verdade, como verdade humana, todos os mapas se alteram. Surgem novas montanhas.” As novas vozes, como vulcões submarinos, irrompem à superfície da água e nascem novas ilhas; é uma atividade furiosa e surpreendente. O mundo muda. O silêncio é o que permite que as pessoas sofram sem remédio, o que permite que as mentiras e hipocrisias cresçam e floresçam, que os crimes passem impunes. Se nossas vozes são aspectos essenciais da nossa humanidade, ser privado de voz é ser desumanizado ou excluído da sua humanidade. E a história do silêncio é central na história das mulheres (SOLNIT, 2017, p.28).

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Se relembrarmos e nos questionarmos sobre as personagens femininas

que lemos ao longo de nossa vida a partir da perspectiva de um homem, como elas

são? Como consequência de um cânone masculino predominante temos uma vasta

construção de personagens femininas que não nos representam. Nesse sentido, o

que naturalizamos como leitores, o que deixamos de considerar quando lemos obras

de escritores que gostamos ou até mesmo os desconhecidos? Provavelmente

muitos discursos problemáticos passaram despercebidos em nossas leituras, só

basta lembrar a pirâmide hierárquica da literatura brasileira e o perfil de quem

escreve.

Ainda sobre o livro de ensaios de Solnit, um deles chama atenção para

uma revista que lançou uma lista com oitenta livros que todos deveriam ler, na lista

só há uma escritora digna de leitura: Flannery O'Connor. Rebecca faz uma crítica

ferrenha e sugere que outra lista seja feita, mas dessa vez com o título ‘Oitenta livros

que nenhuma mulher deveria ler’. A autora comenta que na verdade todo mundo

deveria ler o que quiser, mas que alguns livros são verdadeiros manuais de

desumanização da mulher ou de como manter a virilidade masculina fortalecida:

Há livros bons e ótimos na lista da Esquire, muito embora Moby Dick, que eu adoro, me faça lembrar que um livro sem mulheres costuma ser considerado um livro sobre a humanidade, mas um livro com mulheres em primeiro plano é tido como livro de mulher. E com essa lista você iria aprender sobre as mulheres com James M. Cain e Philip Roth, que não são os especialistas mais adequados a que recorrer, não quando existem as grandes obras de Doris Lessing, Louise Erdrich e Elena Ferrante (SOLNIT, 2017, p.162).

3.2 LITERATURA CANÔNICA E SEUS PERSONAGENS FEMININOS: QUEM SÃO

ESSAS MULHERES?

A literatura canônica é reconhecida como essencial para todo e qualquer

leitor. Se você não leu Machado de Assis, José de Alencar, Guimarães Rosa,

Shakespeare, Miguel de Cervantes, Gabriel Garcia Márquez, Victor Hugo, Eduardo

Galeano, para citar apenas alguns escritores do chamado cânone literário, pode

acabar sendo considerado um leitor mediano, ingênuo e até mesmo inexperiente,

provavelmente sua carteirinha de leitor será confiscada pela falta de leitura de

autores canônicos. O curioso é que as escritoras não se encontram nas listas de

leituras clássicas, para “se fazer antes de morrer”, ou nos livros que analisam os

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clássicos, pelo menos não no número que deveriam estar. Uma ou duas estão para,

digamos, não passarem completamente despercebidas. No livro O Cânone

Ocidental, de Harold Bloom, um dos mais influentes críticos literários da história da

literatura, o autor dá a definição de cânone e características que estão presentes em

uma obra considerada canônica, como também faz uma seleção de autores, que

para ele, representam a tradição literária ocidental. Em seu livro, Bloom é incisivo

quando se trata de obras que abordam em seus textos “as injustiças históricas e

sociais”. Para o crítico, a literatura deve se preocupar com a estética e não reduzi-la

a ideologias, o que vai levá-lo a receber duras reações de críticas feministas e

multiculturalistas. Não estamos a julgar os critérios de Bloom para a escolha do seu

cânone, o que chama atenção é a presença de três mulheres em uma lista que

contempla vinte e seis escritores, dramaturgos, poetas, filósofos. As três mulheres

presentes na lista são Jane Austen, Emily Dickinson e Virginia Woolf, daí nos

perguntamos se não existiram mais mulheres que poderiam representar a força

poética e originalidade que o crítico exigia quando escreveu seu livro.

Para Bloom o leitor deve ser seletivo, pois não há tempo suficiente para

ler toda a imensidão de obras que existem, a mortalidade é a prova viva de que não

leremos tudo que queremos nem se quiséssemos. Li muitos escritores, minha vida

de leitora começou com os clássicos escritos por homens. A influência da escola foi

decisiva para as minhas escolhas literárias, enquanto devorei quase tudo que

encontrei de Machado de Assis e José de Alencar ainda no ensino fundamental, em

contrapartida só vim a conhecer Clarice Lispector aos 15 anos e sua literatura me

marcou profundamente, por ser uma escritora que aborda a condição humana a

partir de um lugar de fala feminino. Essa perspectiva faz parte da composição do

texto.

As escolhas, do que se convencionou chamar de cânone, também

passam pelo critério do ponto de vista de quem o define, como Bloom, e esse critério

não é apenas estético. Portanto, cabe a reflexão sobre a revisão de leitura dos

clássicos, considerando a leitura de autoras clássicas. Essas mulheres que

podemos considerar como pioneiras na arte da escrita e na proposição de ideias

dentro e para além de seu tempo foram esquecidas. Ler e ter acesso às suas

produções literárias é uma maneira de entender como chegamos até aqui. A falta de

edição e tradução para percorremos esse caminho de retorno às escritoras clássicas

é um desafio, mas e as escritoras que tem trabalhos disponíveis os quais nunca

47

tivemos acesso como Júlia Lopes de Almeida que começou a escrever aos 19 anos,

publicar em jornais em pleno século XIX e como romancista, cronista, dramaturga,

contista defendia a emancipação feminina, o divórcio, a abolição da escravatura,

entre outras questões consideradas vanguardas para a sua época? Por onde anda

essa mulher nas nossas listas de leituras? A própria Júlia questionou inúmeras

vezes a falta de espaço para as mulheres em seus trabalhos, como cita a

historiadora, escritora e tradutora Norma Telles, em Escritoras, escritas,

escrituras5:

Não há meios de os homens admitirem semelhantes verdades. Eles teceram a sociedade com malhas de dois tamanhos – grandes para eles, para que os seus pecados e faltas saiam e entrem sem deixar sinais; e extremamente miudinhas para nós. […] e o pitoresco é que nós mesmas nos convencemos disto (TELLES, 2009, p.341).

A escritora não se convenceu muito, não é à toa que dedicou a maior

parte da sua vida a definir com o seu trabalho até onde uma mulher pode ir e foi

muito longe, apesar de inicialmente escrever às escondidas até ser descoberta pela

irmã. A sua produção literária a fez conquistar o posto de escritora mais publicada da

Primeira República e a tornou uma escritora profissional e bem-sucedida, porém não

foi suficiente para que fosse um membro da Academia Brasileira de Letras, mesmo

com a sua produção, atuação e colaboração na criação da própria ABL6. O marido,

Filinto de Almeida, que escrevia, mas não proficuamente como a esposa, ingressou

na academia como uma forma de “homenagear” Júlia, assim tornou-se um

“acadêmico consorte”. Depois de 80 anos de existência da Academia, passamos a

ter Rachel de Queiroz como a primeira escritora a ocupar uma cadeira na instituição

que tem como propósito imortalizar pessoas. Essa ausência de oito décadas diz

muito do caminho árduo para a legitimação da autoria feminina no Brasil. Apesar de

toda a resistência que sofreu, Júlia Lopes de Almeida é uma escritora de renome,

pesquisada, reconhecida pela academia. Mas, e as mulheres que escrevem e não

se encaixam nos moldes que determinam que tipos de sujeitos podem ou não ter

acesso ao mundo das artes como Stela do Patrocínio?

Stela viveu a maior parte da sua vida como interna na Colônia Psiquiátrica

5 TELLES, Norma. Escritoras, escritas, escrituras. In: DEL PRIORE, Mary (Org.). História das mulheres no

Brasil. São Paulo: Contexto, 2009. 678p. 6 FANINI, Michele Asmar. Júlia Lopes de Almeida: entre o salão literário e a antessala da Academia

Brasileira de Letras. Estudos de Sociologia, Araraquara, v.14, n. 27, p. 317-338, 2009b.

48

Juliano Moreira e, considerada louca, aparentemente não tinha nada a oferecer para

a sociedade. Contudo a poesia que saía de sua boca quando falava chamou a

atenção da artista plástica Neli Gutmacher e suas estagiárias quando foram

convidadas para montar um ateliê no hospital, na década de 80. As falas de Stela

foram gravadas em fitas cassetes e guardadas por muito tempo, até que a filósofa e

também poeta Viviane Mosé transcreveu a poesia oralizada de Stela, já que o que

foi escrito pela poeta em pedaços de papelão não foram encontrados, e a

transformou no livro Reino dos bichos e dos animais é o meu nome. O texto de

apresentação da obra escrito por Mosé nos lembra a luta das mulheres contra o

apagamento de suas histórias e a (re) afirmação de que suas vidas, subjetividades e

singularidades importam. Stela, assim como Julia, não se convenceu de que sua

vida deveria se restringir a um destino invisível, domesticado e silencioso:

A fala de Stela do Patrocínio é valiosa antes de tudo pelo que diz: ela registra um lugar, uma condição, a da internação em regime fechado, que já desaparece de nossa cultura. Mas é muito mais valiosa pelo caráter vitorioso de sua conquista da exterioridade: ler e ouvir Stela é integrá-la no discurso que um dia a excluiu (MOSÉ, 2001, p.43).

Ler Stela do Patrocínio é mais do que dar voz a uma mulher que a

sociedade desumanizou, é entender que a ressignificação da sua própria existência

através da escrita potencializa a todas as mulheres. Um de seus poemas, que não

tem título, pode muito bem refletir a condição feminina ao longo dos séculos:

Eu sobrevivi do nada, do nada Eu não existia Não tinha uma existência Não tinha uma matéria Comecei existir com quinhentos milhões e quinhentos mil anos Logo de uma vez, já velha Eu não nasci criança, nasci já velha Depois é que eu virei criança E agora continuei velha Me transformei novamente numa velha Voltei ao que eu era, uma velha (PATROCÍNIO, 2001, p.80)

Nesse sentido, assim como Nely Novaes Coelho (1991), acreditamos que

só o tempo dirá a importância da produção literária das mulheres e sua contribuição

para pensar o mundo, pois como bem sabemos a arte não deveria ser definida por

sexo, mas pelas experiências dos sujeitos:

49

Não se trata de saber se a literatura "feminina" é melhor ou pior do que a "masculina", Obviamente já não têm mais sentido as discussões que se centravam na questão do "valor" maior ou menor de um ou outra; pois já é ponto pacífico o fato de que o valor literário não tem sexo. Tanto há os grandes escritores ou escritoras, como os meramente bons, medíocres ou péssimos... O confronto entre ambas as produções levam facilmente à conclusão de que homens e mulheres se igualam em força ou energia criativa (desde que tenham idênticas oportunidades de desenvolvimento cultural), e que a maior ou menor "espessura" literária de cada obra depende exclusivamente da maior ou menor "qualidade" do espírito que a produz, seja de homens ou de mulheres (COELHO, 1991, p.92).

Tratando-se ou não de qualidade se naturalizou a entrada e permanência

dos homens na produção literária, que sempre escreveram, publicaram e

comunicaram o que quiseram, em detrimento da autoria feminina, que sempre foi

deixada à margem ou considerada de forma restrita às mulheres, pois existe um

sistema social de definição patriarcal que enxerga as mulheres que atravessaram

esse limite como excepcionais. Como afirma Ria Lemaire em Repensando a

história literária7:

A história literária, da maneira como vem sendo escrita e ensinada até hoje na sociedade ocidental moderna, constitui um fenômeno estranho e anacrônico. Um fenômeno que pode ser comparado com aquele da genealogia nas sociedades patriarcais do passado: o primeiro, a sucessão cronológica de guerreiros heróicos; o outro, a sucessão de escritores brilhantes. Em ambos os casos, as mulheres, mesmo que tenham lutado com heroísmo ou escrito brilhantemente, foram eliminadas ou apresentadas como casos excepcionais, mostrando que, em assuntos de homem, não há espaço para mulheres “normais” (LEMAIRE, 1994, p.58).

Será mesmo que literatura é assunto de homem? A predominância da

escrita masculina na literatura fez com que as mulheres não só tivessem mais

dificuldade de mostrar o seus trabalhos, como também uma sub-representação das

personagens femininas nos romances brasileiros. A perspectiva masculina é

diferente, claro, da feminina, e graças às discussões promovidas pelo movimento

feminista, as escritoras estão conseguindo dar voz e protaganismo a pluralidade de

questões voltadas para o feminino que vão além dos estereótipos de gênero tão

presentes nas obras de autores homens.

A pesquisadora da UNB Regina Dalcastagnè analisou, a partir das

7 LEMAIRE, Ria. Repensando a história literária. In: BUARQUE DE HOLLANDA, Heloísa (Org.). Tendências

e impasses – O feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

50

publicações de três grandes editoras do país, a representação das personagens

femininas em obras de escritoras mulheres como de escritores homens e avaliou:

Isso não é diferente na literatura. Segundo pesquisas realizadas na Universidade de Brasília (UnB) – que se debruçaram sobre todos os romances publicados pelas principais editoras brasileiras da área (Companhia das Letras, Record e Rocco) nos últimos 15 anos – as autoras não chegam a 30% do total de escritores editados.

O que se reflete também

na subrepresentação das mulheres como personagens em nossa ficção. As mesmas pesquisas mostram que menos de 40% das personagens são do sexo feminino. Além de serem minoritárias nos romances, as mulheres também têm menos acesso à “voz”, isto é, à posição de narradoras, e estão menos presentes como protagonistas das histórias (DALCASTAGNÈ, 2007, p.128).

Todos esses motivos demonstram que precisamos revisitar obras que não

tiveram a chance de contribuir com o campo literário como deveriam. Nesse sentido,

o trabalho de pesquisadoras empenhadas em tirar o véu do esquecimento dos

textos riscados da historiografia literária são mais que essenciais, são vitais para

esse processo acontecer. Assim, destacamos um trecho longo, porém muito

pertinente da pesquisadora Rita Terezinha Schmidt:

Com efeito, torna-se hoje impossível render-se incondicionalmente ao romantismo de Gonçalves Dias, em seu “Canto do Índio”, ou mesmo ao de José de Alencar em seu romance Iracema, depois de uma visada atenta ao poema “A lágrima de um caeté” (1848) de Nísia Floresta, ou ao romance D. Narcisa de Villar (1859) de Ana Luiza de Azevedo Castro. Assim também não se poderia deixar de observar a diferença das representações de raça, cotejando o clássico romance A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, com Úrsula (1859) de Maria Firmina dos Reis, um romance precursor da temática abolicionista. Da mesma forma, como não interrogar o script da mulher histérica, tão decantado nos romances naturalistas, como em O Mulato, de Aluísio de Azevedo ou A Normalista, de Adolfo Caminha, após uma leitura de Celeste (1893) de Maria Benedita Bormann? Ou então, como não revisar os limites da temática romântica, tal como trabalhada por autores canônicos, após tomarmos conhecimento de obras como Sorrisos e Prantos (1868) de Rita Barém de Melo, do drama Fausta (1886) de Amélia Rodrigues, ou mesmo de Memórias de Marta (1889) de Julia Lopes de Almeida? (SCHMIDT, p.111).

A pergunta que vem em nossa cabeça quando pensamos em escritoras

que estavam atuando em seu tempo é: por que essas mulheres não foram

reconhecidas em vida? O que as fez passarem “despercebidas” e só muito depois

ganharem algum reconhecimento, premiações e até mesmo eventos literários sobre

51

seus trabalhos? Hilda Hilst, por exemplo, uma escritora com uma obra vasta que

passeia pela prosa, poesia e teatro, não entendia por que os seus livros não eram

lidos. Considerada difícil, hermética, suas obras eram recusadas pelas editoras e a

própria Hilda sofria por ser vista como uma mulher inacessível, excêntrica, que

morava longe da cidade e fazia experimentos estranhos. Seu trabalho finalmente

despontou quando escreveu a sua trilogia pornográfica, que fazem parte os livros O

Caderno Rosa de Lori Lamby (1990), Cartas de um Sedutor (1991) e Contos

d’escárnio/Textos Grotescos (1992). Em entrevista para a TV Cultura, em 1990, a

escritora comenta que está dando uma “banana” para os editores com a sua trilogia

e que as pessoas precisavam acordar. Ela abandona o que chama de “literatura

séria” para escrever o que as pessoas gostariam de ler ou o que elas acham que

gostariam de ler.

Podemos dizer que agora as coisas são um pouco diferentes, a

dificuldade que Hilda teve ao longo de toda a sua carreira para ser lida não é a

grande barreira de escritoras contemporâneas. Angélica Freitas, poeta e tradutora,

lançou em 2012 o seu livro de poemas Um útero é do tamanho de um punho, em

que mulheres diversas são visibilizadas e que os estereótipos de gênero são

discutidos para escancarar a hipocrisia da sociedade. O livro foi lançado pela Cosac

Naify, como a editora não está mais no mercado felizmente foi relançado pela

Companhia das Letras em 2015. Em tempos em que não discutíamos de forma

efetiva sobre feminismo a poeta transformou um útero em um punho para falar sobre

o que é ser mulher e como veem as mulheres:

uma mulher sóbria é uma mulher limpa uma mulher ébria é uma mulher suja dos animais deste mundo com unhas ou sem unhas é da mulher ébria e suja que tudo se aproveita as orelhas o focinho a barriga os joelhos até o rabo em parafuso os mindinhos os artelhos (FREITAS, 2012, p.13).

Em resumo, ler homens não é problema, o que problematizamos é a

ausência de escritoras nos cursos de Letras do país, nas salas de aula, livrarias,

52

premiações, entre outros espaços, quando elas já escreveram e publicaram tanto.

Precisamos conhecer, compartilhar e fazer circular essas obras.

3.3 CRÍTICA LITERÁRIA FEMINISTA E OS SEUS DESDOBRAMENTOS PARA O

ENSINO

É necessário buscar alternativas de resistência para retrocessos e

apagamentos de identidades, sejam na sala de aula e/ou fora dela. Para além da

literatura como direito humano como Antonio Candido defendeu em seu ensaio,

precisamos discutir como a legitimação da luta pelas liberdades individuais e

conquistas de direitos se relaciona com a formação de leitores, como os

preconceitos podem ser reforçados por escolhas que são feitas na abordagem de

textos nas salas de aula e, como podemos colaborar para que seja feito o inverso,

ou seja, como os textos literários podem ser uma ponte para a construção de

identidades sociais livres dos preconceitos e hierarquias que limitam e constrangem

os alunos e alunas. Será que na escola encontram um espaço de formação que seja

também um espaço de acolhimento e respeito a suas identidades? Precisamos lidar

com inúmeras questões que dificultam o nosso trabalho como professoras (es) da

educação básica e a luta por uma educação inclusiva, empoderada, sobretudo,

questionadora não é fácil. Os estereótipos de gênero, o racismo, a homofobia, o

sexismo estão presentes na escola brasileira e também nos livros didáticos, não só

na cabeça dos alunos e professores, como aponta Jane Soares de Almeida (1998)

em Mulher e Educação: uma paixão pelo possível:

As pesquisas e análises feitas em livros didáticos, manuais escolares, literatura infanto-juvenil e trabalhos empíricos em sala de aula vêm demonstrando a existência de estereótipos sexuais na escola como resultado de uma educação sexista, na qual meninas e mulheres desempenham papéis sexuais domésticos e subalternos (Rosemberg, 1992, p.178). Esses estudos, apesar de sérios e bem fundamentados, não têm efetivamente contribuído para que haja repercussões no cotidiano das escolas e as professoras continuam a exercer uma prática pedagógica e psicológica que reforça as representações acerca dos papéis sexuais desempenhados por meninos e meninas na escola, na vida social e nas relações pessoais. Por sua vez, elas podem também estar introjetando os mecanismos de subordinação que transmitem, retroalimentando as relações de poder na Educação (ALMEIDA, 1998, p.81).

A retroalimentação de comportamentos machistas na escola é uma

realidade, seja por parte do professor que silencia suas alunas ou gosta de contar

53

piadas machistas, seja por parte dos colegas estudantes quando tocam o corpo de

suas colegas de forma desrespeitosa e sem permissão. Daí nos perguntamos como

a literatura de autoria feminina com o apoio da crítica literária feminista podem tornar

a educação menos sexista. O reconhecimento da contribuição da literatura como um

discurso importante para a formação humana tem sido reforçado pelos Estudos

Culturais quando oferece a oportunidade de vozes periféricas se expressarem, em

todo o mundo, através de suas culturas, crenças e valores divulgados em textos

literários.

A árdua tarefa de redefinir e pôr em queda um sistema que se diz

patriarcal por natureza e que se utiliza de um arcabouço científico e intelectual que

(pre) domina e traduz todas as sociedades para uma produção de conhecimento que

supervaloriza o homem e sua autonomia intelectual e coloca a mulher em lugar de

subalternidade ainda é o maior desafio que temos pela frente e talvez ainda por mais

um século, como afirma Alison Jaggar e Susan Bordo:

A tradição filosófica e científica ocidental, simbolizada por Apolo, percebe o mundo através de um PADRÃO dualista, com um lado valorizado (associado ao masculino) e um rebaixado (associado ao feminino). Em minha opinião, o esforço feminista para revisar, reimaginar esse sistema de PADRONIZAÇÃO inclui uma dupla tarefa: (1) mostrar que a coluna valorizada é inadequada por si só para a obtenção de conhecimento; (2) redimir a outra coluna, que tem sido evitada ou considerada há tanto tempo como sendo “a segunda em valor”. Porém, como adverte Carol Christ, “Sistemas de símbolos não podem simplesmente ser rejeitados, precisam ser substituídos. Quando não há substituição, em tempos de crise, frustração ou derrota, a mente reverterá a estruturas familiares” (1979:275) e se agarrará aos velhos deuses, imagens, PADRÕES (JAGGAR, BORDO,1997, p.117).

A potência da autoria feminina está em revelar um eu feminino que

nenhum escritor poderia dar conta. O mergulho em questões profundas que uma

parcela significativa de autoras faz questão de abordar em seus textos são

fundamentais para serem discutidas em sala de aula, como nesse trecho destacado

por Lilian de Almeida em Álbum de Leitura: memórias de vida, história de

leitoras:

Marieta, Tereza e Ripalda Andretta, moças bonitas e inteligentes, gostavam, como todos os vizinhos do quarteirão, de assistir à passagem dos enterros, um dos poucos divertimentos a que tinham direito. Criadas em regime de quase escravidão, jamais haviam ido à escola, não saíam de casa a não ser

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acompanhadas pela mãe. Lugar de mulher é em casa! Filha nostra tem que aprender a tomar conta do marido e da casa, isso sim! Nada de escola. Escola não serve pra mulher. Mulher precisa saber ler? Pra quê? Pra mandar carta prós namorados? - perguntava e afirmava dona Antonieta, a mãe da família, ela também uma escrava. A teoria de conservar as filhas no analfabetismo para evitar que tivessem correspondência com namorados não era exclusividade dos Andretta. Muitos outros moradores do bairro, principalmente famílias do Sul da Itália - os meridionais, como eram chamados pelos do Norte - também a utilizavam a fim de justificar a ausência das filhas à escola (GATTAI, 1194, p.45).

O trecho acima que Lilian destaca em sua pesquisa é do livro

Anarquistas, Graças a Deus, da escritora memorialista Zélia Gattai, o segundo livro

que lemos esse ano no clube de leitura de autoria feminina que faço parte. Como a

maioria das leitoras que fazem parte do grupo, eu nunca havia lido nada da Zélia e

nem ouvido falar dela. Diferente de seu esposo, Jorge Amado, que li muito e conheci

pedindo seus livros emprestados na biblioteca da escola no ensino médio. Não

consigo deixar de me perguntar por onde andava Zélia nas prateleiras quando

escolhi Gabriela, Cravo e Canela e Dona Flor e Seus Dois Maridos.

O pai de Zélia acreditava que as filhas não precisavam aprender a ler e

nem ir para a escola. Zélia não só foi contra o que o pai queria para ela, como

documentou isso em suas obras. Por que a sua obra não está nos livros didáticos

então? O importante papel da crítica literária feminista é transformar a literatura em

uma possibilidade de intervenção pessoal, leitoras que dialogam com o que leem e,

sobretudo, se fortalecem como mulheres. Como afirma Cecil Jeanine Zinani:

Devido às circunstâncias históricas das mulheres, uma crítica literária feminista não pode se desvincular dos condicionantes afetivos, econômicos e sociais, ou seja, está sempre relacionada a um projeto político. Não se trata, porém, de avalizar toda e qualquer produção, com a justificativa de superar uma situação de opressão, mas, sim, de utilizar instrumentos adequados para julgar essa escrita. O que se pretende é que obras qualificadas sejam reconhecidas, não permitindo a reedição do que ocorreu no passado, quando a literatura realizada por mulheres foi, primeiramente, relegada a um plano inferior, depois, totalmente esquecida (ZINANI, 2011, 10).

Assim como Zélia Gattai, outras escritoras compartilham em seus textos

vivências do universo feminino e isso não deveria relegar suas obras a um plano

inferior. Como professora de ensino médio de uma escola pública no interior do

Ceará enfrento muitas questões, uma delas, que me deixou de mãos atadas, foi uma

aluna que deixou de estudar porque se casou. Ela visitou a escola meses depois e

quando perguntei o motivo de sua desistência, ela respondeu que precisava fazer o

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almoço do marido e estudando não iria dar conta. Com essa e outras situações que

surgem, como educadora feminista, me questiono como posso nas minhas aulas

discutir gênero e fomentar reflexões que possam contribuir de forma efetiva com a

formação e futuro das minhas alunas.

Em Breve História do Feminismo, Carla Cristina Garcia finaliza o seu

livro com um poema de Adélia Prado, mas antes escreve nas considerações finais:

Se as mulheres tivessem podido falar, hoje seríamos mais sábios. Haveríamos aprendido o conhecimento de 9 milhões de mulheres queimadas nas fogueiras na Inquisição católica. Nos lembraríamos de Murasaki Shikibu, a mulher que escreveu a primeira obra considerada um romance no mundo, no Japão, em 1010. Também nos sentiríamos orgulhosas de Hildergard von Bingen, a abadessa alemã (1098-1179), que além de religiosa foi escritora, filósofa, compositora, pintora e médica. Entre muitas outras coisas, é autora do Livro de medicina composta, considerado base da medicina ocidental. Assim, quando os fanatismos religiosos atacassem de novo, recordaríamos sua frase: “Quando Adão olhou para Eva, se encheu de sabedoria”. Saberíamos que a introdução da física no campo do conhecimento científico se deu com o livro Institutions, escrito por Emilie de Breteuil, marquesa de Chateler (1706-1749), grande matemática e filósofa. E que foi uma mulher, a única pessoa a ganhar o Prêmio Nobel em duas disciplinas. Marie Slodowska Curie (1867-1934) recebeu em 1903 o Nobel de Física e em 1911 o de química. A ela se deve o que hoje se denomina “A idade do átomo”. Se tivéssemos podido escutar as mulheres, se pudéssemos escutá-las hoje, homens e mulheres seríamos mais sábios e suspeitaríamos ante os relatos nos quais nenhum destes nomes aparece (GARCIA, 2011, p.112).

Seríamos todas e todos mais sábios se ouvíssemos mais e atentamente o

que as mulheres têm a dizer. Nesse sentido, é fundamental que a literatura de

autoria feminina faça parte das aulas de literatura e, com a crítica feminista, traga

discussões profundas e pertinentes para a sala de aula. A escola mais do que nunca

precisa de uma educação reflexiva, viva, ativa: transformadora.

56

4 A ESCOLA PODE SER FEMINISTA?

Neste capítulo apresentaremos a pesquisa de campo em quatro escolas

públicas do município de Quixeramobim, localizado no Sertão Central do Ceará, com

estudantes de ensino médio e professores da educação básica, como também a

análise dos livros didáticos utilizados nas escolas, suas bibliotecas e a presença de

livros de autoria feminina, os projetos político-pedagógicos e planos anuais. Em

resumo, os ambientes escolares em que a literatura cria possibilidades de existência

e resistência.

4.1 A LITERATURA NA ESCOLA E O QUE ELA COMUNICA

A literatura na escola é um manual, tem medo de ser subversiva e por

isso segue um cronograma. Um cronograma mais sério que a própria literatura que

tem que ser muito carrancuda e não pode ler a si mesma, pois o tempo é curto. Para

isso temos o livro didático, que de forma prática resume o que deve ser visto ao

longo do ano.

Em sua dissertação de mestrado A escolarização do leitor: a didática

da destruição da leitura Lílian Lopes Martin da Silva desenvolve uma pesquisa de

campo com alunos que lembrou a minha experiência em campo. Em 1984 ela

colheu depoimentos muito parecidos com os meus: “Só leio quando o professor

manda!” “Não é possível perder uma aula de português, apenas para ler um livro.” “A

gente lia apenas o livro da matéria”.

Encontrei a referência de sua pesquisa no livro de Irandé Antunes Aula

de português: encontro e interação. Irandé Antunes se tornou referência para

professores de língua portuguesa e pesquisadores da prática em sala de aula. Com

muitos livros publicados, Antunes é uma luz no fim do túnel para a escuridão que é

ensinar e não ver resultados positivos quanto mais consideráveis que é o que a

escola mais exige dos seus docentes. Em seu livro publicado em 2003, a linguista

apresenta propostas para o ensino de Português que refletem o seu inconformismo

57

com o tipo de ensino que nos acostumamos a conduzir: descontextualizado,

maçante e mecanicista.

O ensino de literatura na escola não é muito diferente do ensino da

gramática, os dois costumam ser descontextualizados e fragmentados. Quando

Irandé destaca falas retiradas da pesquisa realizada por Silva (1984) em que os

alunos comentam sobre a falta de tempo para ler em sala de aula é chocante

perceber que a escola não oferece tempo para leitura, mais assustador é saber que

ainda é atual considerar a leitura um atraso de conteúdo e inapropriada. Mas, como

aprendemos sem leitura? Como a literatura pode estar presente na escola sem

leitura?

Não é fácil mudar uma prática que se arrasta por décadas, a

complexidade dessa árdua tarefa consiste em analisar o que temos e o que

queremos para o futuro. E com certeza o que queremos para o futuro são alunos e

alunas que continuem seus estudos e possam prestar vestibulares e concursos sem

dificuldades elementares de leitura e interpretação textual, como também que

gostem de ler, que desenvolvam o gosto pela leitura e passem pelo menos uma vez

por mês na biblioteca da escola para pegar um livro emprestado.

Os livros didáticos não são os vilões, na verdade não existe um vilão na

história. São muitos os fatores que contribuem para uma escola pública distante do

texto literário. Para Silva (1984) “a leitura e a escola pública no Brasil fazem parte do

conjunto maior das migalhas à população que não pode contar com mais nada além

dos “serviços públicos” (SILVA, 1984, p. 11). Todas as escolas que passei em

Quixeramobim possuem biblioteca, umas menores, outras maiores. Tem até

biblioteca em reforma. A cidade também possui a sua biblioteca pública que resiste

ao longo dos anos as mudanças de prédios e falta de condições adequadas. Ter,

temos, mas quais são os projetos de formação de leitores e as condições que temos

para formar leitores?

Resolvi levar as minhas turmas no segundo semestre de 2018 para

conhecer a biblioteca pública da cidade, não esperava que a partir disso constataria

que a maioria dos alunos não sabia da sua existência ou localização. O acervo é

antigo, pouco ou nada mudou desde o tempo que eu a frequentava no meu ensino

médio, mas lembro como hoje a grande lista de Clarice Lispector disponível para os

leitores e que devorei. O que temos é uma biblioteca que faz parte da lista dos

espaços públicos da cidade subutilizados e até mesmo esquecidos.

58

A literatura na escola resiste à falta de livros, a falta de interesse e de vez

em quando ganha mais um leitor. No peito desse leitor e leitora, a palavra pode ser

como uma gota de chuva no Sertão, um pouquinho e já deixa tudo verde, um

pouquinho e quem sabe inunda e pode levar a muitos outros livros e textos que não

seriam lidos se as (o)s professoras (os) não tivessem indicado, se as (os)

bibliotecárias (os) não tivessem indicado, se as (os) amigas (os) não tivessem

indicado. Algumas respostas dos questionários aplicados indicaram amigas e

amigos como pontes para a leitura, então antes de espalharmos como docentes

toda a nossa desesperança em viver em um país de ‘não leitores’ é preciso ouvir

esses ‘não leitores’ primeiro.

Em seu artigo Motivações para a leitura literária no ensino médio a

professora e pesquisadora Maria Valdênia da Silva provoca a reflexão sobre que

leituras devemos oferecer aos jovens. Não podemos esquecer que eles sabem

muito bem o que querem e o que não querem também:

Como complemento à tarefa de repensar a pedagogia da leitura literária, no Ensino Médio, torna-se premente a reflexão sobre quais textos deve-se oferecer aos alunos. É certo que a diversidade de gêneros e modalidades literárias, bem como os diferentes suportes em que os textos se materializam devem ser a tônica nos planejamentos das aulas, todavia não se pode esquecer a quem esses textos se destinam. Por isso, é fundamental que o professor atente para as idiossincrasias do jovem leitor (SILVA, 2008, p.50)

Muitas vezes subestimamos e agimos de maneira impositiva, levando a

leitura a ser um castigo, uma forma de dominar os alunos e consideramos até

mesmo que eles desconhecem determinados autores e autoras. Uma vez uma aluna

me perguntou se eu tinha o livro da Patti Smith e poderia emprestá-lo. Fiquei tão

surpresa com o pedido que quase não acreditei. Mesmo que a escola crie um leitor

obediente é preciso mostrar que para além das fichas de leitura e seminários existe

a potência da escolha, da busca que vem do desejo de ler e de se interessar por um

livro apenas por sua capa ou título, por exemplo. Que as metodologias não matem

os leitores, como compreendemos da leitura do artigo da pesquisadora e professora

Ivete Lara Camargos Walty ‘Literatura e escola: antilições’:

Importa perguntar qual o papel da escola na formação do leitor. Não o leitor obediente que preenche devidamente fichas de livros ou reproduz com

59

propriedade enunciados textuais. Mas o leitor que, instigado pelo texto, produz sentidos, dialoga com o texto que lê, seus intertextos e seu contexto, ativando sua biblioteca interna, jamais em repouso. Um leitor que, paradoxalmente, é capaz de se safar até mesmo das camisas de força impostas pela escola e pela sociedade, na medida em que produz sentidos que fogem ao controle inerente à leitura e à sua metodologia (WALT, 2011, p.52)

É importante sempre lembrar que jovens usam a internet, que vivenciam

experiências e, portanto, também possuem conhecimento de mundo. Como veremos

na análise dos questionários aplicados.

4.2 MENOS SEXISMO, MAIS LITERATURA: UMA CONVERSA COM

PROFESSORES E ALUNOS DA REDE PÚBLICA DE QUIXERAMOBIM

Escolhemos quatro escolas públicas estaduais de ensino médio do

município de Quixeramobim para aplicarmos questionários sobre leitura e a

presença de autoria feminina nas aulas de literatura. Apesar de termos aplicado 264

questionários, ao final, obtemos a participação concreta de 248 alunos. Foram

aplicados dois tipos de questionário. O primeiro, estruturado em oito blocos, que

compreendem questões de avaliação da escola até frequência de leitura e gênero

preferido. O segundo, mais subjetivo, exigiu a escrita e memória dos estudantes que

responderam a questões sobre as aulas de literatura, experiências positivas e

negativas com o texto literário e a leitura de autoria feminina.

Com os professores aplicamos apenas um questionário, para saber sobre

suas práticas em sala de aula, a literatura de autoria feminina em suas vidas e

docência. No total, 16 profissionais responderam e deram sua contribuição à

pesquisa.

As escolas escolhidas recebem alunos da sede e dos distritos de

Quixeramobim e se diferem em muitos aspectos, como por exemplo, ensino regular

e ensino integral. As escolas elegidas foram: E.E.M. Assis Bezerra, E.E.M. Coronel

Humberto Bezerra, Liceu de Quixeramobim Alfredo Almeida Machado e Escola

Estadual de Educação Profissional Dr. José Alves da Silveira.

O levantamento de dados nos levou a analisar experiências

completamente diferentes de escola para escola, mas também a lugares e

problemáticas comuns. Partindo desse pressuposto, faremos o compartilhamento

com seus devidos comentários. É importante destacar que as respostas foram

60

digitadas respeitando a integridade de cada uma, portanto não fizemos nenhum tipo

de alteração. As turmas entrevistadas foram de 1º ano por estarem chegando do

ensino fundamental e 3º por estarem partindo e indo para novas etapas e processos

de aprendizagem, como o ensino superior. Em cada escola aplicamos em duas

turmas somando o total de oito salas.

ESCOLA DE ENSINO MÉDIO ASSIS BEZERRA

A primeira escola da nossa ‘itinerância’ é Assis Bezerra. A escola é a mais

antiga da cidade e fica localizada literalmente na praça principal. Por ser no Centro

recebe alunos de todos os bairros, sobretudo os periféricos.

Com a leitura do Projeto Político Pedagógico é possível perceber que o

núcleo gestor e os docentes se preocupam com a construção de uma escola

emancipadora, crítica, contextualizada e construtivista, como também a repetência e

o abandono. Por isso, formas de manter a “clientela” como o próprio PPP chama os

alunos, é trabalhar no desenvolvimento de projetos e ações que fortaleçam e

resultem em bons resultados.

Entre competências e habilidades, conteúdo e metodologia, o plano anual

sintetiza as atividades do ano e inclui a literatura como peça importante, mas nada

detalhado. Para as turmas de 1º ano foi previsto ver ao longo do ano “O texto

literário”, “Os gêneros literários”, “A poesia lírica”, “A crônica”, “O conto”, “O teatro”.

Para as de 3º ano o “Simbolismo e o Pré-Modernismo", "Vanguardas Europeias e a

Semana de Arte Moderna", "A primeira geração modernista brasileira", "A segunda

geração modernista brasileira: poesia", "A segunda geração modernista brasileira:

prosa", "A terceira geração modernista brasileira", "A poesia de Fernando Pessoa”,

"Tendências contemporâneas das literaturas africanas de expressão portuguesa",

"Tendências contemporâneas da literatura brasileira". O plano anual construído pelos

professores é estruturado a partir dos capítulos do livro didático.

O livro adotado pela escola é Novas Palavras da editora FTD, o mesmo

do Liceu. Com quase 130 páginas, o conteúdo do livro do 1º ano só destaca a

autoria feminina com a escritora Clarice Lispector e traz o texto Felicidade

Clandestina na íntegra. As escritoras Renata Pallottini, Cecília Meireles, Lya Luft

e Lygia Fagundes Telles aparecem ao longo do livro através de atividades como,

por exemplo, questões do ENEM. O livro do 3º ano traz em um pouco mais de 160

páginas destinadas a literatura apenas quatro escritoras: Cecília Meireles, Clarice

61

Lispector, Paulina Chiziane e Hilda Hilst. A presença da escritora Paulina Chiziane

foi um alento, ela foi a única escritora africana que encontramos nos três livros que

analisamos.

A biblioteca da escola não será diferente das outras que descreveremos.

Em uma prateleira com uma média de 50 livros, apenas um livro é de autoria

feminina. Algumas das escritoras que fazem parte da biblioteca da escola Assis

Bezerra são Rachel de Queiroz, Maria Adelaide Amaral, Zlata Filipović, Flávia

Carneiro, Lygia Bojunga, Cecília Meireles, Lygia Fagundes Telles, Marjane Satrapi,

Cristiane Dantas e Adélia Prado8.

ESCOLA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DR. JOSÉ ALVES DA

SILVEIRA

A escola Profissional, como é conhecida, é de ensino integral e

profissionalizante. Os alunos passam o dia na escola, fazem estágio no último ano e

saem com a possibilidade de se formarem como técnicos em: Agronegócios,

Edificações, Informática, Logística, Nutrição e Dietética e Administração. Também

oferece uma disciplina chamada Projeto de Vida e Mundo do Trabalho e o grande

objetivo é “propiciar um espaço onde aconteçam aprendizagens significativas”. É

bem verdade que a escola disponibiliza uma estrutura excelente no que diz respeito

a espaços de convivência e criação, mas o que chama atenção é o acervo da

biblioteca. A literatura cabe em uma estante, as escritoras que encontramos foram

apenas Rachel de Queiroz e Adélia Prado e na literatura infanto-juvenil Maria Clara

Machado, entre outras poucas. Como uma escola tão grande, com laboratórios,

quadra esportiva, refeitório, oferece uma biblioteca tão limitada?

O livro adotado pela escola é Ser Protagonista da Edições SM. Na

literatura do 1º ano as escritoras presentes são Agatha Christie, Alice Ruiz,

Clarice Lispector, Ana Cristina César, Lygia Fagundes Telles, Ana Martins

Marques, Angélica Freitas, Grace Passô, Paula Tavares. Já o do 3º o número de

escritoras em mais de 133 páginas diminui bastante, são elas: Rachel de Queiroz,

Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Hilda Hilst e Ana Cristina César. É

interessante perceber que o livro do 1º ano é mais “ousado” quando se trata de trazer

8 Provavelmente em cada biblioteca que passamos tenha uma ou duas escritoras a mais do que descrevemos

neste trabalho. Não fizemos levantamento livro por livro, e sim, passando os olhos e as mãos de forma atenta e

também conversando com os profissionais responsáveis pelos livros. Nenhuma das escolas possui o acervo

digitalizado.

62

autoras que não costumam estar presentes no livro didático.

O plano anual do 1º ano é dividido em competências/habilidades, conteúdos,

detalhamento do conteúdo e avaliação. O plano não cita escritores e conteúdos,

apresenta a literatura por “Estilos literários”. Já no 3º é ano é dividido entre

gramática, literatura e produção textual. No primeiro período temos: “Euclides da

Cunha: em busca da verdade histórica”, “Lima Barreto: a história dos vencidos”,

“Monteiro Lobato: um dínamo em movimento”, “Augusto dos Anjos: o átomo e o

cosmos”, “O texto e o contexto em perspectiva multidisciplinar”, “As Vanguardas

Europeias/ Brasileira”, “A Semana de Arte Moderna”, “As revistas o espírito da

renovação”, “A geração da revista Orpheu” e “Fernando Pessoa: o caleidoscópio

poético”. No segundo bimestre: “Manuel Bandeira e Alcântara Machado”, “O

romance de 30: Rachel de Queiroz”, “O Nordeste no romance de 30: Graciliano

Ramos, José Lins do Rego e Jorge Amado”, “O Sul no romance de 30: Érico

Veríssimo e Dionélio Machado”. No terceiro bimestre: “O Modernismo em Portugal:

a segunda geração”, “A poesia de 30: Carlos Drummond de Andrade”, “Cecília

Meireles e Vinícius de Morais”, “O teatro brasileiro nos séculos XX-XXI” e “Do

Neorrealismo ao Existencialismo em Portugal”. No último bimestre: “Os anos 1940-

50/ Clarice Lispector”, “Guimaraes Rosa: a linguagem reinventada”, “João Cabral de

Melo Neto: a linguagem objeto”, “A literatura portuguesa contemporânea”,

“Tendências da literatura brasileira contemporânea” e “Panorama das literaturas

africanas da língua portuguesa”.

LICEU DE QUIXERAMOBIM ALFREDO ALMEIDA MACHADO

O Liceu de Quixeramobim é uma das escolas que recebe a maior

demanda de alunos do município, além de ter três extensões rurais localizadas nos

distritos de Belém, Nenelândia e Berilândia. A versão do PPP que tivemos acesso é

de 2011 e o foco é o ensino-aprendizagem e a relação professor-aluno, além de ser

dividido em subtópicos como “Sociedade e Cultura”, “Conhecimento” e “Educação”.

Tivemos acesso apenas ao plano curricular do 1º ano que é dividido por

Competências/Habilidades, Conteúdos e Detalhamento do Conteúdo. O conteúdo

não é diferente das demais escolas: "O texto literário", "Gêneros literários: épico e o

dramático", "Gêneros literários: o lírico (estudo do poema)", "Os primórdios da

literatura na nossa língua", "Quinhentismo: escritos sobre o outro mundo", "Barroco:

movimento dos contrastes", "O Barroco no Brasil: Gregório de Matos e Padre Vieira",

63

"Arcadismo: o retorno dos clássicos", "Arcadismo no Brasil: a poesia épica e lírica".

Possui a maior biblioteca das escolas de toda a cidade. O acervo não é

só grande, como também muito diverso. Foi muito emocionante saber que a escola

que fiz o ensino médio continua investindo em livros e preservando o seu patrimônio.

Não só isso, o número de escritoras é muito expressivo, o que faz a diferença na

hora dos empréstimos, pois os alunos terão mais oportunidades de escolher autoras.

As autoras que a biblioteca disponibilizam são: Lygia Fagundes Telles, Eliane Brum,

Ali Smith, Clarice Lispector, Natércia Campos, Anne Frank, Katherine Mansfield,

Adriana Lunardi, Rita Lee, Ana Maria Machado, Zélia Gattai, Lygia Bojunga, J.K.

Rowling, Emily Brontë, Angela Gutiérrez, Marina Colasanti, Rachel de Queiroz,

Cecília Meireles, Helena Gomes, Rosana Rios, Laura Gallego García, Mary Ann

Shaffer, Jojo Moyes, Agatha Christie, Maria Carolina Maia, Adélia Prado e Emily

Dickinson. Como a bibliotecária fez questão de ressaltar, os livros são organizados

de acordo com a ficha catalográfica e provavelmente a presença de autoria feminina

é maior do que citamos.

ESCOLA DE ENSINO MÉDIO EM TEMPO INTEGRAL CORONEL HUMBERTO

BEZERRA

Em 2016 a escola Humberto Bezerra começou a implantação do tempo

integral. Como toda mudança é processual, a escola ainda está se habituando e

passando por reformas físicas e também de propostas metodológicas. O PPP está

em construção e a biblioteca atualmente passa por reforma, portanto não

conseguiremos apresentar as possíveis escritoras presentes em seu acervo e nem

comentar um pouco sobre a missão da escola e os seus objetivos.

O plano curricular do 1º ano é dividido em Objetivos Específicos (por área

de estudo/disciplina), ementas das disciplinas e procedimentos didáticos básicos ou

estratégias. Os conteúdos da Literatura são divididos de acordo com o livro didático.

No primeiro bimestre é estudado o texto literário e para que serve a literatura, os

gêneros literários: épico, dramático e lírico. O segundo bimestre é voltado para a

poesia lírica e "a herança lusitana". Trovadorismo, Humanismo e Classicismo

português com Camões, Gil Vicente, D. Dinis. Quinhentismo com Sérgio Cohn. No

terceiro bimestre o conteúdo é Barroco, os escritores são Padre Antônio Vieira e

Gregório de Matos. No quarto bimestre Arcadismo, com Santa Rita Durão, Tomás

Antônio Gonzaga, Bocage, Basílio da Gama e Cláudio Manuel da Costa. Nenhuma

64

escritora é citada.

O plano curricular do 3º é dividido por competência/ habilidade, conteúdo,

detalhamento do conteúdo e procedimentos didáticos. No primeiro bimestre a

Literatura é “Pré-modernismo”, “Vanguardas Culturais Europeias”, “Modernismo em

Portugal”. Os autores citados são Lima Barreto, Monteiro Lobato, Augusto dos Anjos,

Maria de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa. No segundo bimestre o foco é

“Modernismo no Brasil - Primeira e Segunda Geração e o romance de 30”. A

representação literária é Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira,

Alcântara Machado, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Vinicius de

Moraes, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Jorge Amado,

Erico Veríssimo e Dyonelio Machado. A “Geração de 1945 e o Concretismo” é

conteúdo do terceiro bimestre. Os autores são João Cabral de Melo Neto e Ferreira

Gullar. No quarto bimestre temos a “Prosa Pós-Moderna e Tendências

Contemporâneas, os autores citados são Guimarães Rosa e Clarice Lispector.

Assim como nas demais escolas, o plano curricular do Humberto Bezerra

é totalmente baseado no livro didático. O livro de Português da escola é o Se liga na

língua da editora Moderna e a presença de escritoras é pontual, para não dizer

ínfima. No livro do 1º ano as únicas escritoras citadas em um pouco mais de 120

páginas são Heloisa Seixas e Karina Buhr. Em 143 páginas, o livro do 3º ano

apresenta a sua primeira escritora depois da página 100 que é Ana Cristina César.

O livro destina seis páginas para Clarice Lispector, o que consideramos uma boa

surpresa, e por último, a terceira autora citada é Adélia Prado.

Com a leitura dos planos anuais e a análise dos livros utilizados pelas

escolas foi possível perceber que a presença da autoria feminina nas aulas de

literatura são restritas as mesmas escritoras: Clarice Lispector, Rachel de Queiroz e

Cecília Meireles. Se o livro apresenta apenas duas escritoras e uma delas está

situada no bloco de exercícios em que o aluno lerá o poema e fará uma atividade,

qual será a relação construída a partir disso? Um texto literário que será lido apenas

para a resolução de um exercício pode formar leitores?

Se fôssemos discutir a leitura de autoras na escola nas aulas de literatura

a partir do livro didático e do plano anual teríamos um resultado lastimável. Agora

mais do que nunca temos a compreensão de algumas respostas advindas dos

questionários. Por exemplo, quando o aluno respondeu que não lembra o que já leu

de autoria feminina não é à toa, provavelmente isso se dá porque o número de

65

escritoras que ele acessa na escola é muito pequeno. Nesse sentido, o papel do (a)

professor (a) é fundamental na desconstrução de uma historiografia literária que só

percebe o homem como produtor de literatura, bem como a biblioteca da escola.

Uma biblioteca com um acervo que oferece escritoras além do “cânone”

estabelecido pelo livro didático contribui para um aumento significativo da leitura de

escritoras.

Questionários

Mesmo com todas as pedras no caminho a Literatura permanece viva na

escola. Ler 248 questionários respondidos por alunos e alunas de escola pública me

fez ter esperança. Ao longo dessa experiência tive que desconstruir vários

estereótipos que de tão arraigados parece que eu mesma criei: “estudantes não

leem”, “a escola não consegue fazer um trabalho efetivo e afetivo com o texto

literário”, “escritoras que não estão nos livros didáticos não são lidas por alunos de

ensino médio”, “a biblioteca da escola não forma leitores como deveria.” Tantas

suposições, questionamentos, que ao longo da nossa vida profissional vamos

enraizando em nós, sejam eles bons ou ruins, e que marcam a nossa práxis de

maneira definitiva. Será isso positivo?

Na primeira aplicação dos questionários recebemos alguns em branco e o

primeiro sentimento foi de frustração. Será que vai ser assim nas outras escolas

também? Até o momento que percebemos que poderíamos falar disso também, a

folha em branco diz muito. “Professora, eu não tenho experiência de leitura, não

tenho o que responder”. Os questionários que não foram respondidos, as perguntas

que voltaram em branco ou com respostas curtas como “Não sei”, “Não lembro”,

“Nenhum”, “Não leio”, que não foram poucas, dizem muito. Dizem da vivência de

cada um e não podemos inventar o que não existe. Pedi que fossem sinceros

quando tivessem respondendo e eles foram.

A frustração também deu lugar a alegria. Projetos que desenvolvem o

gosto pela literatura, amigos que compartilham livros, até sugestões de autoras

como Harper Lee encontramos em meio às respostas dos questionários.

Infelizmente não é possível tecer comentário sobre tudo que lemos, mas tentaremos

compartilhar o que consideramos importante para que a literatura na escola seja

vista como uma peça importante da engrenagem que faz girar o pensamento crítico,

66

o respeito à diversidade, entre outras questões profundamente importantes para se

pensar a sociedade e o mundo que vivemos.

As aulas de literatura costumam acontecer no ínterim entre a produção

textual e a gramática. Quando perguntamos sobre as aulas, o estudo de obras

completas e/ou trechos as respostas foram muito similares. “Trecho, porque na

maioria dos casos não dá para explicar completamente.” “Costumamos estudar

apenas trechos de obras, por causa do calendário letivo escolar.” “Trechos de obras,

alguns textos. Nas aulas de literatura trabalhamos apenas o conteúdo do livro”.

O conteúdo do livro e trechos de obras são as respostas mais frequentes.

O conteúdo que o plano anual exige deve ser seguido de forma tão rígida que

encontramos respostas como “Nas minhas aulas de literatura só estudei o Barroco e

sua origem” ou que o aluno não consegue citar um autor e um livro e usa a escola

literária estudada ao longo do ano como resposta: “Estudamos varias obras como o

Barroco, romantismo etc... e é bem divertida aprendemos varias coisas”. Será que

aprendeu mesmo? “Não, nas aulas de literatura geralmente o professor só passa

exercícios, e às vezes “muito difícil”, ler algum poema”.

Muitos alunos se afastam do texto literário porque não compreendem o

que leem ou não entendem os poemas do Barroco, os textos naturalistas, o

romantismo dos livros indianistas, entre outros conteúdos tão presentes na escola.

Dessa maneira, as vivências que os alunos carregam, a época em que vivem e a

linguagem dos escritores e suas performances literárias, a historiografia presente

nos livros didáticos, tudo isso corrobora para um distanciamento imensurável entre

um possível potente leitor e o que está programado para a aula. “Costumo estudar

as obras por conta da escola, porém não são do meu interesse”.

O que poderia ser interessante, um momento de debate em sala em que

todos compartilham opiniões ou até mesmo uma válvula de escape para dias ruins

acaba se tornando mais uma aula como todas as outras. “Não, são aulas normais”.

“As aulas de literatura costumam ser normais igualmente as outras aulas.

Estudamos filmes literatura de livros e etc...”. Sabemos que o tempo não permite,

alguns professores trabalham os três expedientes, como verificamos nos

questionários que aplicamos, mas o que devemos analisar é como nossas práticas

podem acabar fatalmente caindo em leitura de trechos e exercícios. Como afirma os

alunos entrevistados: “Estudamos as características das escolas literárias, autores e

suas obras, depois fazemos exercícios sobre”. “Costuma ser cansativa e chata, pois

67

é algo repetitivo”.

O questionário 1, o primeiro que analisaremos, é dividido em oito blocos9.

O primeiro bloco "Trajetória Escolar" pergunta em que ano escolar ingressou na

escola e em que data foi o ingresso. O segundo bloco "Avaliação da Escola" gira em

torno de questões sobre o relacionamento do (a) educando (a) com a escola, como

ele (a) se sente, qual é a importância da escola, desde o ensino até a relação com

os colegas e professores (as). O terceiro bloco "Professores" diz respeito a uma

análise geral do comportamento profissional dos docentes. O quarto bloco "Leitura"

analisa a frequência de leitura, o gênero literário preferido, quantos livros possui,

qual é o ambiente de leitura em casa e o relacionamento com a leitura de maneira

geral com opções como "A escola me estimula a ler". O sexto bloco "Leitura na

escola" pergunta sobre a quantidade de livros que lê por ano na escola, se gosta ou

não dos livros indicados pelos professores, quem indica suas leituras, a biblioteca da

escola. O oitavo e último bloco "Sobre Você" pergunta o sexo, a cor, o nome

completo e questões pessoais da vida dos (as) estudantes.

Com tantos dados em mãos fizemos um recorte do que não poderíamos

deixar de comentar e transformamos em gráficos.

No gráfico “Minha escola é o lugar onde” quase 90% dos estudantes

discordam que se sentem incomodados na escola, ou seja, é um espaço que

consideram de acolhimento e se sentem bem. De maneira geral, as respostas levam

para uma análise positiva do ambiente escolar: 79,1% concordam que desenvolvem

o pensamento crítico, 87,5% acreditam que aprendem a escrever textos e 62% não

se sentem entediados.

9 Os questionários 1 e 2 estarão na íntegra nos anexos.

68

Gráfico 1 - Minha escola é o lugar onde

Fonte: elaborado pela autora

Quando perguntamos a importância da escola 72,1% respondeu que

considera importante, 23,3% decisiva e apenas 2% pouca importância. Um dado

relevante para tempos em que ouvimos a todo instante que os alunos não querem

mais estudar e detestam ir para a escola. O ideal seria que a escola fosse decisiva

para a maior parte dos (as) entrevistados (as), mas sabemos que questões sociais

permeiam a vida dos estudantes desde muito jovens, sobretudo os de escola

pública. Muitos precisam trabalhar para ajudar os pais e enxergam o ensino superior

como algo bem distante de suas realidades.

12

79,5 84

16,6

77,1

13,4 13,4 38

82,3 87,1 87,5 79,1

88

20,5 16

83,4

22,9

86,6 86,6 62

17,7 12,9 12,5 20,9

Concordo Discordo

69

Gráfico 2 - Qual a importância da escola para você?

Fonte: elaborado pela autora

Questionados sobre a frequência de leitura mais de 50% costumam ler

esporadicamente e 65,7% nunca leem 1 livro por semana. Quando se trata de um

livro por mês 37,5% garante a sua leitura mensal e o número de quem não deixa o

ano passar sem ler de 5 a 10 livros é quase 9%. Mais de 70% marcaram “Nunca”

para “Nenhum livro por ano”, o que quer dizer que pelo menos um livro por ano é

lido. A vivência em sala de aula me fez perceber que é preciso instigar a leitura

mesmo que seja em forma de avaliação parcial, pois muitos não leriam um livro

durante o bimestre ou até mesmo semestre sem o estímulo da nota. Precisamos

aumentar a frequência de leitura? Em tempos de internet esse é o maior desafio que

temos pela frente.

1% 2%

72%

23%

2%

Não possui importância

Pouca importância

Importante

Decisiva

Não sei

70

Gráfico 3 - Com que frequência você lê

Fonte: elaborado pela autora

Sobre os gêneros literários preferidos tivemos algumas surpresas. O

gráfico foi construído a partir da opção “Sempre”. Romance, crônica e ficção em

geral são os gêneros lidos por 38,5% das meninas. As sagas e livros adaptados

para o cinema são lidos por 22,1% dos meninos. Nenhuma menina marcou a leitura

de jornal como uma leitura regular. Os livros de poesia são mais lidos pelos

meninos, quase 13% em contraponto aos 10,4% de meninas que responderam.

Parece que poesia não é só “coisa de menina”. Histórias em quadrinhos, um gênero

que predomina a autoria masculina e que a indústria de comic books insiste em

considerar leitura de meninos, não surpreende por mostrar resultados muito

parecidos entre leitores e leitoras. Meninas também leem e escrevem quadrinhos.

26,2

65,7

40,7

6,4

48

56,8

49,5

58 62

77,4

50,4

23,7

37,5

22,5

29 27,8

21 24,1 22,5

10,8 14,1

6

14,5

8,4

14,4 9,2

13,7

8 6,4 4

9,2 4,4

7,2 4,4

8,4 6

15,7

0

8,8 7,6

Nunca Algumas vezes Quase sempre Sempre

71

Gráfico 4 - Que gênero você gosta de ler?

Fonte: elaborado pela autora

Tivemos um resultado bastante positivo sobre o ambiente de leitura em

casa. Mais de 56% tem tempo e silêncio para ler em casa. Apenas 14,9% prefere

outro ambiente para ler e estudar e 15,3% não pode ler porque precisa ajudar nas

atividades domésticas ou trabalha fora. Não perguntamos sobre a classe social ou

escolarização dos familiares dos entrevistados, mas acreditamos que o resultado

positivo se dá pela valorização do conhecimento e estudo por parte dos pais, que

em sua maioria, valorizam a leitura e a aprendizagem dos filhos.

38,5

20,2

10,4

0 0,6

15,6

24,8

7,1

15,7

22,1

12,6 10,5

7,3

21 17,8

7,3

FEMININO MASCULINO

72

Gráfico 5 - Ambiente de leitura em casa

Fonte: elaborado pela autora

Sobre ter uma biblioteca pessoal, consideramos uma boa porcentagem o

número de estudantes com livros em casa. As meninas são 61% e os meninos 53%

com uma média de 1 a 20 livros. Já os que não possuem biblioteca em casa, as

meninas somam 22% e os meninos 30%. Muitos dependem ainda dos acervos da

escola e biblioteca pública para ler livros, é por isso que é fundamental que esses

equipamentos funcionem com qualidade. É importante ressaltar que apenas uma

das bibliotecas das escolas visitadas apresenta um leque diverso de autoria

feminina, até mesmo autoria masculina é escassa. Sendo assim, é urgente que as

escolas públicas recebam incentivo e verba para continuar atualizando seus

acervos.

56%

15%

14%

15%

Tenho tempo e silêncio para ler

Não posso ler porque tenho que ajudar nas atividades domésticas/trabalho fora de

Não consigo me concentrar na leitura porque não respeitam meu espaço

Prefiro outro ambiente e costumo sair para ler e estudar

73

61%

16%

1%

22%

(1 a 20) (20 a 100) Mais de 100 Nenhum

53%

11%

6% 30%

(1 a 20) (20 a 100) Mais de 100 Nenhum

Gráfico 6 - Feminino Quantos livros há em sua casa?

Fonte: elaborado pela autora

Gráfico 7 - Masculino Quantos livros há em sua casa?

Fonte: elaborado pela autora

A quantidade de livros que lê por ano na escola já não foi tão positiva.

74

Apenas 35% lê 1 a 2 por bimestre e 23% não lê nenhum por ano, ou seja, uma

parcela significativa de alunos termina o ano sem ter lido um livro indicado pela

escola. Um livro por semestre levou 25% do resultado, o que é bastante

preocupante, pois sabemos que um livro por semestre é uma média baixíssima de

leitura. Nos projetos políticos pedagógicos não encontramos nenhuma menção a

leitura, projetos literários desenvolvidos ou que a escola gostaria de desenvolver. A

ausência de iniciativas que promovam a leitura reflete os números levantados.

Gráfico 8 - Quantos livros lê por ano na escola?

Fonte: elaborado pela autora

Apenas 26% dos entrevistados leram e se interessaram por uma

indicação literária feita por um (a) professor (a), em contrapartida 46% nunca leram

uma indicação de um (a) professor (a) e 18% considera difíceis, o que pode ser a

resposta para a rejeição das indicações e leitura na escola do gráfico anterior.

35%

25%

17%

23%

1 a 2 por bimestre 1 por semestre 3 a 4 por bimestre Nenhum

75

Gráfico 9 - Gosta dos livros indicados pelos professores

Fonte: elaborado pela autora

Quando se trata de quem indica as leituras os amigos lideram o ranking.

Nada como um amigo que indica um livro! Focando na opção "Algumas vezes" é

interessante notar que 31,8% dos pais indicam livros de vez em quando, os amigos

42,2% e a internet 52%. Os youturbers, que mais do que nunca fazem parte dessa

geração, também entraram na lista de quem indica e indicam mais que os irmãos e a

pessoa que os (as) entrevistados (as) se relacionam amorosamente. Que papel

importante não? Os “booktubers”, como são chamadas as pessoas que trabalham

com literatura no Youtube, fazem um trabalho muito importante de disseminação do

texto literário e divulgação de autoras e autores.

26% 18%

46%

10%

Sim, são do meu interesse

Não, considero difíceis

Nunca li uma indicação de um(a) professor(a)

Meus professores não costumam sugerir ou cobrar leituras

76

Gráfico 10 - Quem indica suas leituras?

Fonte: elaborado pela autora

Mais de 60% discordam que só leem o que é necessário, mas apenas

41,9% consideram o hábito da leitura uma diversão. Felizmente 91,5% não acham

que ler é uma perda de tempo. Quase 74% afirma que a escola estimula a ler.

Parece que a escola está no caminho certo, mas mesmo assim não podemos

esquecer a frequência de leitura ainda pequena. Este é um dado bastante

interessante quando voltamos um pouco atrás no gráfico “Quantos livros lê por ano

na escola” e observamos que o número de leitura é baixíssimo. Como a escola

estimula a leitura se o número de livros lidos no ambiente escolar chega a 1 por

semestre em apenas 25% dos entrevistados? A existência da biblioteca escolar é um

estímulo e tanto para que as leituras possam ser feitas em casa, mas a leitura em

sala de aula é fundamental para a formação de leitores.

51

72,9

24,2

67,3

22,5

51,6 45,6

31,8

19,7

42,2

22,1

52

33,4 31

7,2 5

24,5

6,9

18,2

8,6 12 10

2,4

8,8 3,7

7,3 6,4 11,4

Pais Irmãos Amigos A pessoa com quem me relaciono

amorosamente

Internet Blogs Youtubers

Nunca Algumas Vezes Quase Sempre Sempre

77

Gráfico 11- Hábitos de leitura (feminino)

Fonte: elaborado pela autora

Resolvemos fazer dois gráficos sobre os hábitos de leitura. Quase 50%

dos meninos só leem o que acreditam ser necessário enquanto as meninas o

número é bem menor, 35,2%. Um pouco mais de 50% discorda que ler é uma de

suas diversões e também considera difícil ler um livro até o final, mas 85,2%

discordam que ler é uma perda de tempo. Por que não conseguem ler um livro até o

último capítulo? É interessante perceber as contradições nas respostas. Ler não é

uma perda de tempo para a maioria, mesmo assim mais da metade não considera a

leitura uma diversão e tem dificuldades de terminar um livro. A escola continua

3,3 5,9 3,3 9,8

3,9 8,5 2 2,6 1,3 6,5

61,5 52,2 55,5 50,3

91,5 70

77,1

31,4

79,7

19,6

35,2 41,9 41,2 39,9

4,6

21,5 20,9

66

19

73,9

NÃO SABEM DISCORDAM CONCORDAM

78

sendo um espaço de formação de leitores, mais de 70% acreditam que o ambiente

escolar estimula a ler.

Gráfico 12 - Hábitos de leitura (masculino)

Fonte: elaborado pela autora

Mesmo com percalços a literatura resiste. É o que veremos com o

questionário 2. Um exemplo é John Green, o autor é lido entre 8 de cada 10 jovens

quixeramobinenses. Se assim podemos analisar a sua presença incansável quando

se trata de autores lidos fora e dentro da escola. A Culpa é das Estrelas é um dos

livros mais lembrados e que marcam a vida de leitores e leitoras mais jovens, como

comenta uma delas:

“Começou quando eu estava na primeira fase do fundamental, sempre gostei bastante de ler. Indico “A revolução dos bichos” e “Dom Casmurro”, são obras fascinantes. Minha única experiência negativa foi o fato de ter me tornado uma pessoa triste por culpa do livro “A culpa é das estrelas”, e me sinto representada pela Alaska, do livro: “Quem é você, Alasca?”, menos a parte em que ela fala é fumante, porque eu sou asmática kkkk.”

4,2 7,5 1,2 3,2 2,2 5,4 3,1 4,3 2,2 6,4 0

47,3 51,5

45,2 62,1

85,2 56,8

82,1

54,7 81

20

0

48,5 41 53,6

34,7 12,6

37,8 14,7

41

16,8

73,6

0

HÁBITOS DE LEITURA MASCULINO

NÃO SABEM DISCORDO CONCORDO

79

A irreverência da resposta da aluna é uma boa demonstração de que a

literatura não precisa ser apenas contemporânea para atrair jovens, de que a

linguagem e o enredo não precisam ser necessariamente fáceis. A Culpa é das

Estrelas traz personagens jovens que enfrentam problemas de saúde muito graves

e por isso questões sobre a vida e a morte são elementos da narrativa. Não dá para

deixar de comentar que eles se apaixonam e por serem pacientes terminais o amor

se torna uma questão. Além de abordar temáticas que interessam o público infanto-

juvenil, o livro foi adaptado para o cinema, atraindo ainda mais leitores.

Para germinar leitores não é preciso de imposição, mas de incentivo. Até

mesmo uma dica que vem no meio da aula pode servir de motivação. Para isso, o

professor tem que ser leitor, se ele não tem o gosto pela literatura dificilmente falará

sobre livros, autores. Como indicar livros se não há leitura? A possibilidade de deixar

que a curiosidade aguçada do aluno procure por si só também não pode ser

descartada. “Quando a obra chama muito minha atenção costumo procurar ler o

livro.”

Quando perguntamos sobre os autores e autoras lidos fora da escola 46

responderam “Nenhum”, 22 não responderam e 35 responderam “Não lembro.”

Respostas como “Nada, não leio nem na escola imagina fora dela”, “Não costumo ler

literatura", “Eu nao leio livros literários, outros tipos eu leio!”, “Não gosto de ler”

também surgiram. Dos que citaram livros e autores (as) temos:

Tabela 1 – Autoras

Autoras Número de vezes citad a

Autores Número de vezes citado

Ana Cristina César

1 Antoine de Saint-Exupéry

14

Anne Frank 1 Alexander C. Irvine 1

Ana Fortier

1 Aluísio Azevedo 1

Andressa Urach 4 Augusto Cury 11

Alyson Noël 1 Augusto dos Anjos 2

Audrey Carlan 1 Ariano Suassuna 1

Ava Dellaira 1 Arthur Conan Doyle

1

Carina Rissi 1 Bartolomeu 3

(continua)

80

Campos de Queirós

Cassandra Clare 4 Bram Stoker 1

Clarice Lispector 20 Bráulio Bessa 3

Cecelia Ahern 1 Bruno Paulino 7

Cecília Meireles 7 Caio Riter 1

Christiane F. 1 Carlos Drummond de Andrade

12

Christina Lauren 1 Chico Buarque 1

Daína Chaviano 1 C. S. Lewis 1

Ellen G. White 1 Dan Brown 5

Erika Leonard James 3 David Levithan 1

Elizabeth Gilbert 1 Dyonélio Machado 1

Esther Earl 2 Dostoiévski 3

Fabiane Ribeiro 3 Euclides da Cunha 1

Helena Gomes 1 Graciliano Ramos 4

Isabela Freitas 10 Gregório de Matos 1

Jenny Han 1 George Martin 1

Jojo Moyes 13 Guimarães Rosa 1

J. K. Rowling 6 Goethe 1

Lauren Kate 1 Ique Carvalho 1

Lisa Jane Smith 2 Igor Pires da Silva 1

Márcia Leite 1 Jeff Kinney 9

Maria Mariana 1 João Cabral de Melo Neto

1

Marina Colasanti 5 Joaquim Manuel de Macedo

2

Maitê Proença 1 John Harding 1

Madeleine Roux 1 John Green 36

Paula Pimenta 4 José de Alencar 3

Rachel de Queiroz 6 José Lins do Rego 1

Raquel Koury 2 Jorge Amado 8

Rupi Kaur 2 John Boyne 1

Stephenie Meyer 5 Júlio Verne 3

Socorro Acioli 1 J. R. R. Tolkien 1

Suzanne Collins 3 Lewis Carroll 1

Thalita Rebouças 1 Leandro Neko 1

Katherine Paterson 1 Leonard Mlodinow 1

Kiera Cass 6 Lucas George 1

Valéria Piassa Polizzi 1 Luís de Camões 2

Veronica Roth 2 Luís Henrique Pellanda

1

Zibia Gasparetto 4 Maquiavel 1

Mário de Andrade 1

Markus Zusak 8

Manuel Bandeira 3

Mauricio de Sousa 1

Marcelo Rubens Paiva

1

Machado de Assis

22

Milton Hatoum 1

Miguel de Cervantes

1

Moacyr Scliar 1

Monteiro Lobato 9

Nicholas Sparks 2

Nick Vujicic 1

(continuação)

81

Paulo Lins 2

Paulo Coelho 2

R. J. Palacio 4

Rick Riordan 10

Richard Bach 2

Rubem Fonseca 1

Saramago 1

Shakespeare 1

Stephen Chbosky 1

Stephen King 2

Sidney Sheldon 1

Thomas Keneally 1

Kafka 1

Khaled Hosseini 5

Vinícius de Moraes 2

William P. Young 4

Wilson Frungilo Junior

1

Zuenir Ventura 2

Fonte: elaborado pela autora

Mais de 100 escritores (as) foram citados. Os autores foram mais

presentes na lista sendo levantados 76 nomes, entre eles os mais lidos foram: John

Green (36 vezes citado), Machado de Assis (22 vezes) e Antoine de Saint-Exupéry

(14 vezes). Das 45 escritoras presentes na lista, as mais lidas são Clarice Lispector

(20 vezes citada) Jojo Moyes (13 vezes citada) e Isabela Freitas (10 vezes citada). O

autor americano John Green foi o autor mais lido e uma das respostas diz muito da

presença dele na leitura dos jovens:

“Eu não li tantos e lembro só o que eu realmente gostei e que eu acho que

quase todos já leram que é “A culpa é das estrelas.”

Quando perguntados sobre o autor que mais gostou de ler e o que

marcou na leitura 5 não responderam, 33 responderam “Nenhum”, 4 responderam

“Não sei”, 27 responderam “Não me lembro” e 7 responderam “Não costumo ler”.

Além de respostas de leitores apaixonados pelas leituras que fizeram e os que

compartilharam a dificuldade de ler um livro por inteiro, destacamos algumas:

“Não costumo ler todo o livro so metade.” “Nunca li nenhum livro.” “Capitães de areia, o jeito que as crianças superam suas dificuldades.”

(conclusão)

82

“Não sou muito de ler livros, aliás só leio os livros nas aulas quando pedem.” “Machado de Assis, os seus mistérios me encantaram e despertaram a vontade de ler mais.” “Não costumo ler obras literárias clássicas.” “Gostei pelo fato de já ter um filme sobre ele, e também por ser ficção e eu sou apaixonada.” “Clarice Lispector; o fato dela mostrar o pensamento e as emoções de cada personagem.” “John Green, os pequenos detalhes citados.” “Outros jeitos de usar a boca”, é poesia e me deixa fascinada com tanta realidade e sentimento envolvido.” “Marina Colasanti. Ela costuma trazer muita reflexão em suas obras.” “Rachel de Queiroz. Não sei o que exatamente me marcou, mas acho que é pelo o fato de eu ser muito apaixonado pelas obras dela, a forma que ela escreve é incrível.” “J.K Rolling, os detalhes e de como era tratado.”

Nessa questão direcionamos a pergunta para autoria masculina, mas 25

escritoras foram citadas: Andresa Urach (2 vezes), Ana Fortier, Annabel Pitcher,

Anne Frank, Andressa Urach, Cassandra Clare (2 vezes), Carina Rissi, Cecelia

Ahern, Cecília Meireles, Clarice Lispector (12 vezes), Ester Bezerra, Ellen G White,

Fabiane Ribeiro, Isabela Freitas (5 vezes), J.K. Rowling (2 vezes), Jojo Moyes (2

vezes), Madeleine Roux (2 vezes), Marina Colasanti, Paula Pimenta (3 vezes),

Rachel de Queiroz (2 vezes), Rupi Kaur, Kiera Cass, Stephenie Meyer, Veronica

Roth e Zíbia Gasparetto.

O número de autores citado foi 44, são eles: Ariano Suassuna, Augusto

Cury (5 vezes), Augusto dos Anjos, Antoine de Saint-Exupéry (3 vezes), Alberto S.

Galeno, Aluísio Azevedo, Arthur Conan Doyle, Bráulio Bessa (3 vezes), Bruno

Paulino (4 vezes), Caco Galhardo, Carlos Drummond de Andrade, Camões, Dan

Brown, Dyonélio Machado, Fernando Pessoa, Gregório de Matos (2 vezes),

Guimarães Rosa, Ique Carvalho, Paulo Coelho, R. J. Palacio, Rick Riordan (4

vezes), Jeff Kinney (2 vezes), José Lins do Rego, José Saramago, Jorge Amado (3

vezes), John Green (16 vezes), John Harding, John Boyne (3 vezes), Júlio Verne,

Lima Barreto, Khaled Hosseini, Machado de Assis (10 vezes), Matthew Quick,

Markus Zusak (2 vezes), Monteiro Lobato, Nicolas Sparks, Paulo Freire, Paulo

Leminski, Patativa do Assaré, Roberto Drummond, Vinícius de Moraes (2 vezes),

William P. Young e Zuenir Ventura.

83

Até mesmo quando perguntados sobre autoria feminina John Green é

citado e livros como “A menina que roubava livros”, que é de um escritor, também. O

número de leitores (as) que não lembram se já leram autoria feminina foi quase o

triplo de leitores (as) que não lembraram de livros lidos de autoria masculina e isso

respingou no número de autoras citadas que foi muito menor que na pergunta 3.

Dessa forma temos: 27 não responderam, 34 responderam “Não”, 10 responderam

que “Não gostam e não costumam ler livros”, 80 responderam “Não lembro”.

As escritoras citadas foram: Ana Cristina César, Clarice Lispector ( 20

vezes), Cecília Meireles ( 2 vezes), J. K. Rowling ( 4 vezes), Jojo Moyes ( 2 vezes),

Lygia Fagundes Telles, Kiera Cass, Isabela Freitas, Lisa Jane Smith, Madeleine

Roux, Márcia Leite, Marina Colasanti ( 13 vezes), Paula Pimenta, Raquel de Queiroz

( 10 vezes), Stephenie Meyer ( 2 vezes), Thalita Rebouças ( 2 vezes) e Zíbia

Gasparetto.

Escritoras de sagas foram muito presentes nas respostas: “Já li algumas

escritoras como as escritoras da saga Crepúsculo e da saga diários de um vampiro,

e a escritora de Harry Potter.” “De novo J.K. Rowlling, a mulherzinha que escreveu o

Harry Potter”. Escritoras brasileiras também: “Ana Cristina César sempre me marca”.

“Li bastantes textos da Marina Colasante, aqui mesmo na escola, entre as folhas do

verde”. “Já li alguns textos, só por cima da Rachel de Queiroz, se não me engano foi

“O quinze”, gostei porque ele retrata bem nossa vida aqui do sertão.” “Cecilia

Meireles, os textos para crianças são maravilhoso, amo de paixão as obras dela,

considero ela como uma ótima profissional.”

Quando se trata de diversidade de autoras, as escritoras estrangeiras

estão na frente, elas foram citadas mais vezes. Em contrapartida, escritoras como

Clarice Lispector e Marina Colasanti foram mais lidas que escritoras como Jojo

Moyes e J.K. Rowling. Acreditamos que a maior presença de escritoras

estadunidenses, inglesas, entre outras, se dá pelo alcance de suas literaturas. As

autoras lidas e citadas nos questionários ganharam o mundo e seus livros são

considerados best-sellers.

A falta de memória dos nomes já lidos esteve bastante presente nas

respostas e até mesmo a confusão de autoria: “Não lembro de ter lido nada.” “Ainda

não cheguei a ler livros de escritora.” “Eu nunca li textos ou livros escritos por

mulheres.” “Não me lembrei, nem o nome do texto e nem nome da escritora, mas eu

já li sim”. A resposta que chamou mais atenção destaca o que estamos defendendo

84

com esta pesquisa - a importância da literatura de mulheres para uma sociedade

que insiste em acreditar em “ideologia do gênero” quando o que mais necessitamos

é igualdade e respeito: “Marina Colasanti (A galinha ruiva) por causa da reflexão que

ele traz sobre as mulheres e o seu pedido de ajuda.”

A quinta e última questão pedia para que contassem um pouco sobre

suas experiências com a literatura, como começou a vida de leitor, que obra indicaria

que marcou profundamente, experiências positivas e negativas com a leitura, e por

fim, se já se sentiram representado (a)s por uma personagem, por um autor(a). As

respostas deram tom ao que analisamos ser o questionário 2: um relato sincero e

reflexivo da presença da literatura na vida de estudantes de ensino médio. Vamos

ver algumas respostas, pois uma seleção mais concentrada se encontra nos anexos.

A família, amigos, professores e escola como fontes para a formação de

leitores:

“Meu interesse com a leitura começou pelo projeto feito pelo professor João Paulo, depois percebi que a leitura era fundamental e comecei a gostar dela, hoje leio por prazer, gosto de ler e adicionar novos mundos para mim.” “Começou com um trabalho de redação no meu fundamental, onde foi distribuido alguns livros de alguns autores e fiquei com Machado de Asssis, livro “Cinco Minutos”.” “Nunca fui de ler, depois de incentivos de amigos foi que eu me permitir a ler e gostei muito.” “Eu comecei a gosta por conta da minha mãe, que ficava indicado livros, não lembro qual foi o primeiro livro que eu li completo. Mas um livro que eu indicaria era Para sempre.” “Quando entrei na escola não gostava de ler até eu participar do circulo de leitura um projeto da escola e comecei a gosta de ler muitos livros interesante e que me fez pensar em um mundo melhor, livros. Olho de vidro do meu avô. O pequeno principe. Dom Casmurro, Caminho de Homero e livros de poesia. Hoje sou multiplicadora e vejo o mundo diferente do que eu via antes.” “Minha experiencia com a leitura é muito boa, comecei a ter mais acesso com livros a partir do primeiro ano por conta da biblioteca da escola.” “Comecei a ler muito cedo, minha família sempre me motivou a ler.” “Bom eu comecei a ler, pra te assunto com uma amiga que a muito tempo eu nao via, dai eu me apaixonei pela literatura, A garota feita de espinho, que ela sobre por causa de sua doença...” “Eu comecei a gostar do habito de ler esse ano, porquê descobri que ia facilitar mais na minha vida estudantil assim me reuni com amigos e fizemos

85

um grupo de leitura, sempre interagindo sobre os assuntos relatados no livro. A obra que indicaria é “Capitães de areia.”

Momentos difíceis em que a ficção é uma janela para outro mundo e a

importância da representatividade:

“A leitura entrou na minha vida em um momento dificil, onde passava por dificuldades e preconceito e depois dai me perco nos livros, o livro que eu indico é capitães da areia e me sinto representado pelas crianças do livro que lutam bastante.” “Eu costumo ler com muita frequência desde os quatro anos de idade, já até fiz meus proprios livros e até poesias. Eu indicaria ‘A lógica inexplicável da minha vida’ eu me senti representado pelo protagonista. Minhas experiencias foram pouco negativas, pelo fato da minha condição financeira impedir-me de ler mais livros.”

Ler por prazer e não por obrigação:

“Não sou muito de ler livros, só quando quero me distrair com alguma coisa, eu leio.” “É algo prazeroso e inspirador de se ler e nos traz mais prática e aprendizado. Sempre me interessei: por livros e sempre me acompanharam. Tive ótimas experiências porque enriqueceu muito meu vocabulário. O modo como Machado de Assis descreve seus personagens, por vezes me representa.” “Comecei a ler quando tinha uns 12 anos, a leitura na época para mim era uma forma de passar o tempo. Porém, depois de ler um determinado número de livros eu me apaixonei perdidamente ao ponto de depender de um livro para estar completa. Hoje me vejo limitada dessa paixão por estar no terceiro ano e ter que abrir mão de ler o que gosto para estudar e passar no vestibular. No inicio foi dificl desapegar, mas sou movida pela esperança de depois ler poder ler todos que eu desejo agora e não posso.” “Tinha vontade de aprender a ler para poder ler livros. Assim que aprendi, li Sonho de uma noite de verão, devia ter uns 6 anos. A partir daí fiquei encantada e hoje conto com quase 30 livros em casa, já li quase todos e sempre busco ler mais. O que me atrapalha é a falta de tempo, ou eu não estou dando devida prioridade.”

Leituras que marcam e quando o gênero literário é uma escolha pessoal

adquirida com a experiência de leitor:

“Bom, eu gosto muito de ler, adoro livro de adolescentes, amorosos, gosto também de ficção e indico demais a Paula Pimenta, desde o começo eu venho falando dela porque ela me marcou muito.”

86

Quando a consciência de que é preciso ler mais parte do leitor e não de

um professor:

“Minha experiência com a literatura é bem pouca, porém me marcou muito, gostei muito e gostaria de aprofundar mais e mais.” “No começo eu não gostava de literatura, por ser das “exatas” não me interessava muito, mas, depois de ler Augusto dos Anjós e Augusto Cury (mesmo não sendo literatura) algo dentro de mim despertou, pois nunca escrevi, e para mim para escrever o futuro, precisamos ler e entender o passado.” “Eu tenho muita dificuldade em redação (eu admito KKK) e um jeito de eu melhorar isso, foi lendo, assim eu descubro novas palavras e melhora minha leitura e escrita.” “A minha experiência com a literatura não é de longa data, no entanto me arrependo por não ter despertado essa bibliofilia antes. A obra que eu indicaria para os leitores seria, (Zuvenir Ventura) – Minhas histórias dos outros. Sim, a maioria da obras de quem já li me indentifiquei e também me emocionei com os textos.” “Bom, eu não tenho muito o hábito de ler, mas minha professora de língua portuguesa trás textos literários para a sala, ela gosta muito da Marina Colassant, e nós lemos. Eu não costumo ler em casa eu leio mais na escola.” “Bom, não gosto muito de ler, mas confesso que estou gostando bastante de entrar nesse mundo. E muito bom se envolver no texto e fazer parte da história, é como se algumas contassem sobre nós sabe, estou gostando bastante.” “Muitos livros me definem pelo drama que a personagem vive, a leitura é bom mas preciso melhorar nesse aspecto.”

E se eu não gosto de ler? Conhecer a si mesmo é fundamental para criar

novos hábitos, pois tudo tem seu tempo:

“Não tenho experiência com a literatura, so tive experiência como: mais raiva a ela.” “Eu particularmente não sou muito chegada a ler, leio quando o título me chama a atenção.” “Eu não tenho experiência com a literatura em si, pois só leio trechos de obras para a apresentação de trabalho, e é algo que não me desperta.” “Eu gosto bastante, porém nada muito extremo. Não lembro de muitas obras, mas acho a Clarisse Lispector interessante.”

87

Apaixonar-se por um personagem ou romance não é muito difícil, ainda

mais quando se é jovem:

“No começo fui puxada pelo romance e as aventuras dos livros do Nicholas Sparks, após isso, o meu desejo pela leitura aumentou, fazendo com que eu procurasse uma literatura mais vasta, com mais complexidade, então li Machado de Assis, continuei nos seus mistérios e cada dia a mais me apaixono pela literatura/leitura.”

E, por último, uma dica para quem que ler, mesmo que a dica venha de

um leitor não muito ativo:

“Não sou uma pessoa ativa na leitura, leio raramente. Acho que o ideal não é que eu indique uma obra, mas que o leitor pesquise e encontre um tipo de leitura que se encaixe no seu estilo.”

Um questionário voltado para as práticas de ensino também foi aplicado

com professores e professoras das escolas pelas quais passamos. O questionário é

dividido em dois blocos, sendo o primeiro com questões de formação e contratação

e o segundo bloco é o que teceremos comentários. Assim como o dos educandos,

destacaremos apenas algumas respostas e as demais estarão disponíveis nos

anexos, como também não fizemos nenhuma modificação. Ao todo 16 profissionais

responderam, sendo cinco da Escola Assis Bezerra, três da Escola Humberto

Bezerra, cinco do Liceu de Quixeramobim e três da Escola Profissional.

A primeira pergunta refere-se ao planejamento das aulas de literatura, se

a professora ou professor tem liberdade de escolher os livros e textos que trabalha,

se pode ir além do plano anual de Língua Portuguesa e do livro didático ou segue a

risca o conteúdo para o bimestre. Nas respostas observamos que há sim a liberdade

de trabalhar com materiais de sua escolha, mas que o livro didático e o plano anual

continuam sendo roteiros pré-estabelecidos. Entender que o livro não traz tudo e

que é necessário ir além do estabelecido é uma reflexão que encontramos nas

respostas:

“Tenho liberdade para trabalhar com textos e livros diversos, até porque o livro didático é bastante resumido, sucinto, e limitar o conhecimento dos alunos apenas ao que é exposto no livro didático é até criminoso. Apesar de trabalhar numa extensão de matrícula e ter pouco acesso a livros,

88

Datashow, por exemplo, temos a tecnologia ao nosso favor, quase todo aluno possui um celular. Infelizmente o nosso aluno tem dificuldade de despertar para a leitura, mas a literatura, se bem direcionada, é uma viagem pela própria História. Os meus alunos gostam dessa viagem.”

“Sim, tenho liberdade para escolher os livros e textos, os quais utilizo como material suporte no desenvolvimento das minhas aulas. Não considero suficiente os textos e fragmentos que compõem nossos livros didáticos. Percebo as muitas lacunas deixadas pelos mesmos.”

“Costumo ler os textos do livro didático, pois acho importante que o aluno tenha contato com a literatura clássica. No intuito de torná-los mais acessíveis estabeleço pararelos com a realidade. Os autores mais novos contam com estratégias que os aproximam dos jovens leitores.”

“As aulas de literatura partem do currículo (grande curricular), porém temas que perpassam outras disciplinas (História, Sociologia, Filosofia, Matemática, Biologia etc.) são o mote para o desenvolvimento da aprendizagem. Desse modo, a exposição da historiografia literária depende do aprofundamento que ocorre nas atividades (seminário, ficha de leitura etc).”

“As aulas de literatura são planejadas levando em conta o plano anual e o livro didático porém sempre com apoio de materiais extras. Praticamos bimestralmente a metodologia “Tertúlia literária”; onde um clássico da literatura é debatido com os alunos.”

“Em parte sim, no entanto temos que seguir o que é proposto pelo currículo/livro didático, oficinas do SPAECE, ENEM, o que acaba por algumas vezes nos “obrigando” a seguir o que está no livro, mas procuro ampliar minhas com visitas à biblioteca, com o incentivo à leitura, com a leitura de textos literários em sala (além do livro). Fazemos também o círculo de leitura.”

“As aulas de Literatura são planejadas conforme o currículo, porém tenho a liberdade de escolher materiais e metodologia que correspondam à necessidade de cada turma. Como trabalho com as 3º séries, o aprofundamento literário por meio da leitura integral das obras acaba sendo limitado, pelo fato da metodologia se voltar principalmente para o ENEM e outras avaliações externas.”

“As aulas são momentos únicos e criativos, pois a literatura é livre assim como as possibilidades práticas. Trabalho do regional ao universal, unindo popular e cânone, música, dança e reflexão. Busco promover aulas dinâmicas, interativas e construtivas mas abordo a teoria necessária ao processo crítico e reflexivo dos alunos.”

A segunda pergunta quer saber sobre a vida de leitor do (a) entrevistado

(a) dentro e fora da escola. Na verdade mais de uma pergunta: Você se considera

um (a) professor (a) leitor (a)? Quantos livros costuma ler por mês? Você costuma

comprar livros ou pegar emprestado em bibliotecas? As suas leituras são motivadas

apenas pela escola ou pela internet, blogs, amigos?

É possível perceber através das respostas que não é admissível

89

trabalhar em sala de aula sem leitura. A leitura é a respiração do (a) professor (a),

sobretudo de quem dá aula de literatura. Mas, o tempo em sala de aula sufoca

esses profissionais que precisam tanto da leitura e de forma contraditória acabam

lendo muito pouco e menos do que gostariam. Com as respostas encontramos

pessoas apaixonadas pelo texto literário:

“Não sou uma professora leitora. Tenho necessidade disso. Principalmente ser uma leitora por lazer. Ler por prazer, ler para expandir minha história de leitura. Infelizmente a desvalorização do professor faz com que eu (e tantos outros), que precisam sustentar suas famílias, necessitam abraçar 3 turnos de expediente, praticamente sem tempo para viver. Eis-me aqui.”

No momento não me considero um leitor, mas sei que a leitura é muito importante. Esse ano talvez só tenha lido 3 livros no primeiro semestre. As minhas leituras são motivadas principalmente por amigos.”

“Sou um professor leitor. Costumo ler/reler entre 10 e 15 livros por mês. Além de comprar bastante livros, tenho o hábito de alugar exemplares na biblioteca da escola onde leciono. As motivações são as mais variadas! Leio por curiosidade sobre determinado assunto, meio para aprimorar algum aspecto de lecionar ou para reavaliar minha prática pedagógica, meio por prazer, meio para pesquisar etc. Tornei-me leitor no Ensino Médio quando uma professora elogiou um poema que eu havia feito por conta de um trabalho de classe. Ainda no Ensino Médio, tornei-me leitor quando me apaixonei por um estilo musical, heavy metal, que instigou a pesquisa e a leitura das canções que, em muitas delas, apareciam assuntos interessantes para mim naquele momento (mitologia, história mundial, etc). Hoje, sou um leitor voraz! Surgida a fagulha da curiosidade, começa minhas pesquisas (leituras) que acabam sempre em livros e mais livros!”

“Hoje em dia considero-me uma professora que já foi mais leitora; pois devido as demandas de sala tenho lido em média 2 livros ao mês. A escolha dos mesmos é sempre feita e motivada pela necessidade do momento. Faço leitura através da internet, e-books e livros próprios.”

“Leitura é minha amiga, busco minha libertação, prazer como também conhecimento.”

“Leio em média 2 livros por mês, infelizmente o tempo não ajuda. Leio por prazer e procuro sempre mostrar isso a meus alunos para tentar motiva-los.”

“Costumava ler livros em bibliotecas públicas, sempre tive uma grande identificação com temas regionalistas, sociais, que trabalha com o inconsciente dos personagens. No entanto, o sistema educativo, com sua extensa burocracia e quantidade de horas de trabalho, nos privam de costumes imprescindíveis ao ato de educar. A leitura se torna presente, mas não na mesma intensidade de antes.”

“Sempre amei ler e continuo com essa prática, não se pode ensinar, motivar e inspirar o seu educando, quando não se tem o gosto/prazer pela leitura. Costumo ler dois livros por mês (atrelado a outras leituras), procuro estar atualizada e informada sobre as novas tendências/escritores/críticas literárias (o que pensam/criam/sugerem) os mestres/doutores/escritores dessa área.”

“Sou apaixonada pela Literatura e costumo comprar obras que me

90

interessam a partir de temas ou autores que me interessam a partir de temas ou autores que já gosto ou que gostaria de descobrir. Quanto à prática da leitura, confesso que tenho me voltado de forma muito exclusiva a leituras técnicas, não me debruçando tanto na literatura como gostaria.”

Durante a faculdade você tem memória de ter lido autoras, que autoras e

como elas marcaram a sua vida ou não de leitor (a)? Você costuma ler mais

escritores ou escritoras? Interessante perceber que as autoras não são muito

diferentes das lidas pelos estudantes e que na universidade as mesmas escritoras

persistem e a diversidade é quase inexistente. Por que essa resistência, se existem

tantas escritoras antes de Clarice e depois de Rachel? Apenas uma resposta traz

uma autora contemporânea, as demais trazem o cânone reconhecido pelo livro

didático e academia:

“Li Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Cora Coralina. Em meio a um universo tão masculino, ler autoras influencia sempre. Como já falei, não sou leitora como gostaria de ser. Mas o que eu percebo é que o que se tem em abundância para consumo de leitura são autores – é o que é mais acessível. Em outras circunstâncias, li autoras femininas, mas em outra graduação. Fiz Pedagogia e existem muitas autoras nesse ambiente de estudo. Será por ser um ambiente mais feminino? Percebo mais preconceito nessa situação.”

“Na faculdade lembro-me de ter lido Raquel de Queiroz, a obra clássica do modernismo “O quinze”. Mas incontestavelmente lemos mais autores que autoras.” “Lembro de ter realizado a maioria das minhas leituras, na faculdade a partir de autores contudo algumas autoras foram base de leituras, tais como: Clarice Lispector; Cecília Meireles; Rachel de Queiroz e Lygia Fagundes Telles. Sinceramente, ainda costumo ler mais autores.”

“Não tenho preferências. Gosto de ler sobre ficção científica. A única autora que chegou a prender minha atenção foi Agatha Christie com seus romances cheios de mistérios que não conseguia desvendar. Durante a graduação a maioria do livros indicados eram de fundamentação teórica.”

“Sim li algumas autoras, como Raquel de Queiros, alguns poemas de Clarisse mais na maioria das vezes tenho lido autores, como José Saramago (Portugues) e os tradicionais, José Lins do Rêgo Machado e Graciliano entre outros...”

“Durante a minha vida acadêmica, tive muito contato com inúmeros autores que marcaram e enriqueceram minha formação. Leio mais autoras femininas.”

“Clarice Lispector me marcou muito pela forma profunda de “ficar” na gente. A forma como me fazia enxergar coisas que, por mais importantes que fossem, passavam despercebidas, mas que, na verdade, nos ajudam a adentrar mais em nós mesmos.”

“A faculdade formou minha postura leitora, dentre as escritoras que marcaram meus sentimentos encontra-se Marina Colasanti, minha preferida,

91

mas lembro de Clarice, Mia, José Saramago, Conceição Evaristo, Carmélia Aragão etc. Costumo unir gêneros, o que me prende é a essência textual unicamente.”

“As disciplinas de Literatura são lembradas até os dias atuais. Autores como: José de Alencar, Machado de Assis, Aluisio Azevedo, Clarice Lispector, Cecília Meireles, dentro outros foram estudados e trago-os para as aulas que leciono. Estudamos de acordo com o período e de forma diversificada. Leio de forma diversificada , não me detenho a sexo: feminino/masculino.”

Como dito, a maioria das autoras citadas pelos professores são as

mesmas citadas pelos estudantes e, por sua vez, são as mesmas que encontramos

nos livros didáticos e nas emendas dos cursos de Letras e nos trabalhos

acadêmicos. Há milhares de artigos e teses sobre Clarice Lispector, mas quando

buscamos pesquisas sobre Conceição Evaristo não temos a mesma sorte. É mais

fácil ler o que já é lido, pesquisar bibliografia sobre o que já foi estudado em

demasia. É inegável a influência da academia na vida futura dos professores e

também do livro didático, por isso a importância de lutar por um ensino que

democratize mais autoras, que saia da acomodação de um cânone que tem se

mostrado cada vez mais insuficiente, não pelas autoras que o representam, mas

pelas autoras que tem deixado de fora.

A última pergunta e a mais importante é sobre a distribuição de autores e

autoras nos livros didáticos. Enquanto respondiam muitos professores e professoras

que participaram da pesquisa comentaram espontaneamente comigo sobre isso e a

maioria disse surpresa que nunca havia pensado na presença ou não de autoras

nos livros e aulas. O que nos levou a pensar que deixamos uma sementinha

plantada para reverter o processo de invisibilidade que escritoras vêm passando ao

longo dos séculos. Algumas respostas:

“Os livros didáticos nos trazem apenas duas autoras: Raquel de Queiroz e Clarice Lispector. No nivel superior, mas precisamente no curso de letras-português, essa realidade não é muito diferente. Talvez eu só acrescentasse mais uma ou duas autoras sendo abordadas durante o curso.” “Há bastante tempo observo a disparidade entre autores e autoras distribuídos nos nossos livros didáticos. Considero de muita relevância uma presença maior das nossas autoras, não somente nos livros didáticos, como também na maioria das leituras realizadas, tanto por professores quanto por alunos, nos mais diversos contextos leitores.” “Acredito que por uma questão histórica, grande parte da literatura clássica era escrita por homens, pois a profissão não era “indicada” para as

92

mulheres. Porém, nas séries iniciais, literatura infanto-juvenil, essa situação encontra-se mais dramática. Talvez daqui a alguns anos essa diversidade chegue ao Ensino Médio. Com certeza que sempre percebi essa disparidade e pontuo isso com meus alunos. É paradoxal perceber que a maioria dos autores de livros didáticos da minha área são mulheres que não tem o direito/o dever de divulgar as grandes escritoras da literatura devido a motivar “meu ser”!” “É fácil perceber que a maioria que nas indicações literárias a maioria dos escritores são homens , e é justo essa reflexão, se faz necessário uma presença maior de escritoras nas indicações didáticas.” “Nunca havia parado para pensar nesse assunto, mas realmente existe uma disparidade enorme entre autores e masculinos e autoras, principalmente se atentarmos à questão da raça.” “Os livros didáticos mantém um padrão. Sempre vemos os mesmos autores e obras, e em sua maioria são escritores homens. Há de fato, certas disparidades, a seletividade é evidente e aceita com normalidade.” “Acredito que há uma certa desigualdade, onde só há mais espaço para escritores clássicos. Nos livros há um pouco da reprodução das desigualdades sociais, muitas vezes não condiz com a realidade dos alunos, deveria abrir mais espaço para escritoras contemporâneas, negras que muito têm a contribuir na vida dos estudantes.” “Não tinha parado para pensar nisso até agora.” “Acredito que a distribuição de autores ainda é bastante limitada e não contempla autores na literatura africana, principalmente mulheres, ficando muito restrito a autores mais clássicos.” “É historicamente comprovado que homens convem maior espaço que mulheres, mas acredito que ao longo do tempo muitas coisas mudaram mesmo que minimamente, contudo torna-se necessário a disseminação de mais textos femininos em livros didáticos, não para superiorizar, mas para equilibrar , pois homens e mulheres são dignos de ocuparem o mesmo espaço.” “Gosto da forma como é trabalhada a literatura nos livros didáticos, com exceção das escritoras/negras/ literatura africana, dentre outras. Lemos muitos escritores dessa área que não são conhecidos e tão pouco valorizados. Existe uma lacuna muito grande nessa questão em especial, a essa parte da literatura.”

Acreditamos que os questionários deram não só os dados que

precisávamos para a pesquisa, mas deixaram uma reflexão, sobretudo para os

professores, de que é fundamental inserir mais autoria feminina nas aulas de

literatura. Enquanto os livros didáticos continuarem sendo materiais que limitam

suas presenças, é preciso que os professores e professoras tomem partindo e levem

textos escritos por mulheres para a sala de aula. Por que foi mais difícil para os

alunos e alunas lembrarem nomes de autoras enquanto respondiam ao

questionário? Como mudar isso?

93

A mudança vem através do acesso, uma biblioteca mais diversa, um

plano anual que vai além do livro didático, professores leitores que se preocupam

em levar novas leituras para suas aulas e não apenas o que ficou estabelecido no

cronograma. Tudo isso demanda tempo e disposição, eu também como professora

me faço esses questionamentos todos os dias, pois não estou isenta deles.

Enquanto falo de Machado, quantas escritoras discuti com meus alunos?

Refletir a prática é preciso, sobretudo dar movimento, para que as coisas

não estagnem e continuem do jeito como sempre foram. Uma escola que prioriza o

debate, a arte, a diversidade, os direitos humanos será sempre a escola que

queremos. Independente de governo e qualquer político, é preciso resistir e lutar

para que as mulheres continuem ocupando espaços e ganhando visibilidade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final do terceiro capítulo demos uma espécie de spoiler do que seria a

conclusão deste trabalho. Um trabalho que tem muito de mim porque a minha visão

(ou visões) de aluna do ensino médio, como aluna do curso de Letras, e depois

como professora estão presentes.

Passar por quatro escolas do município de Quixeramobim, apresentar a

pesquisa para os gestores das escolas, pedir o apoio dos estudantes para a

resolução dos questionários e um tempinho dos docentes para respondê-los foi de

muita aprendizagem. Depois, milhares de papéis para folhear, digitar e fazer

anotações. O desafio de transformar todo aquele material em discussão e até

mesmo porcentagens foi grande e aprendemos muito.

A mudança vem através do acesso, refletir a prática é preciso. A teoria e

a prática devem estar mais do que nunca imbricadas, entrelaçadas uma a outra para

apontar novas formas de ensino e conhecimento. O discurso precisa se materializar,

por isso a importância das teorias feministas para pensar a presença das escritoras

na escola porque sabemos que o acesso à educação foi uma luta das mulheres. Ler

e escrever não eram vistos como atividades que as mulheres pudessem ou

devessem fazer, a cozinha e as atividades domésticas sim.

94

Acessamos a leitura, os espaços de conhecimento, escrevemos livros.

Mas, ainda existe uma dívida histórica, um saldo negativo. Mulheres são menos

lidas, publicam menos, ganham menos prêmios literários e por aí vai. Uma prova

disso é que de 100 escritores (as) citados em uma das questões, o que foi uma

surpresa e tanto um número tão alto e com autores (as) que desconhecíamos,

apenas 45 são mulheres quando 76 são homens.

Alguns professores responderam que escolhem suas leituras

independente de gênero, priorizam a qualidade do texto. Mas, os mesmos que

acreditam que o fazer literário independe de gênero nunca tinham parado para

pensar na falta de representatividade de escritoras nos livros didáticos.

Chegou a hora de pensar e aproximar os números, transformar 45

escritoras em 60, por que não? Como leitora, passei por esse processo. Percebi a

discrepância entre autoras e autores lidos, os livros que comprava e repensei. Decidi

ler mais mulheres e desde então as minhas leituras são feitas a partir dessa

reflexão. Na escola, ler deveria ser tão importante quanto resolver questões do

ENEM e simulados, pois enquanto a leitura continuar sendo uma coadjuvante das

aulas continuaremos a reclamar dos mesmos problemas e eles se tornarão cada vez

mais insolúveis.

A arte é livre, muitos vão pensar, e o que vale é o talento de quem faz,

mas a sub-representação das mulheres nos espaços de poder (e a literatura é um

deles) é uma problemática e não pode mais passar despercebida.

Queremos acreditar que a nossa pesquisa deixou uma inquietação com

as professoras e professores entrevistados para repensar a forma como escolhem

os textos trabalhados em sala e a presença de autoras em suas aulas. Sabemos

que o problema não é a falta de escritoras, lá no século XVIII existia uma Maria

Firmina dos Reis. Por que os programas das universidades e os livros didáticos não

a reconhecem? Porque o cânone é rígido, excludente e se materializa com a

repetição dos mesmos nomes. Sabendo que é precisar mudar isso, esta pesquisa é

uma pequena contribuição para somar a luta das pesquisadoras e das próprias

escritoras por visibilidade e condições iguais para trabalharem seja na literatura ou

em qualquer outra área que uma mulher quiser.

95

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97

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99

ANEXO

100

ANEXO A - Questionário

Como anexo desta pesquisa contamos com os questionários aplicados com

professores e alunos de quatro escolas públicas estaduais de Quixeramobim. Com

as respostas e os modelos dos questionários somamos o total de 113 páginas e por

isso resolvemos compartilhar os anexos10 na íntegra no Google drive. Em seguida

será apenas uma amostra do que foi levantado.

APLICADO AOS ALUNOS 1

BLOCO 1: TRAJETÓRIA ESCOLAR

1. EM QUE ANO VOCÊ INGRESSOU NESTA ESCOLA?

(A) 1º ano

(B) 2º ano

(C) 3º ano

2. EM QUE DATA (ANO) VOCÊ INGRESSOU NESTA ESCOLA? __________

BLOCO 2: AVALIAÇÃO DA ESCOLA

COMO VOCÊ CLASSIFICA SEU

RELACIONAMENTO NESTA ESCOLA

COM:

(Marque apenas UMA OPÇÃO em

cada linha)

Muito

ruim Ruim

Razoáv

el Bom

Muito

bom

1. Seus colegas (A) (B) (C) (D) (E)

2. Seus professores (A) (B) (C) (D) (E)

3. A direção (A) (B) (C) (D) (E)

10

Link para os anexos: https://drive.google.com/open?id=1xqUdQar7rXCthBu7780peic-gUn0BJJE

101

4. A coordenação pedagógica (A) (B) (C) (D) (E)

5. Os funcionários (A) (B) (C) (D) (E)

MINHA ESCOLA É O LUGAR ONDE:

(Marque apenas UMA OPÇÃO em cada linha)

Discord

o

totalme

nte

Discord

o

Concor

do

Concor

do

totalme

nte

6. Eu me sinto como um estranho (A) (B) (C) (D)

7. Eu faço amigos facilmente (A) (B) (C) (D)

8. Eu me sinto à vontade (A) (B) (C) (D)

9. Eu me sinto incomodado (A) (B) (C) (D)

10. Os outros alunos parecem gostar de mim (A) (B) (C) (D)

11. Eu me sinto solitário (A) (B) (C) (D)

12. Vou porque sou obrigado (A) (B) (C) (D)

13. Eu me sinto entediado (A) (B) (C) (D)

14. Aprendo a me organizar nos estudos (A) (B) (C) (D)

15. Aprendo a raciocinar (A) (B) (C) (D)

16. Aprendo a escrever textos (A) (B) (C) (D)

17. Desenvolvo o pensamento crítico (A) (B) (C) (D)

COMO VOCÊ CLASSIFICA OS

SEGUINTES ASPECTOS DA SUA

ESCOLA:

(Marque apenas UMA OPÇÃO em

cada linha)

Muito

ruim Ruim

Razoáv

el Bom

Muito

bom

18. Organização (A) (B) (C) (D) (E)

19. Segurança (A) (B) (C) (D) (E)

20. Regras de convivência (A) (B) (C) (D) (E)

21. Professores (A) (B) (C) (D) (E)

102

COMO VOCÊ CLASSIFICA OS

SEGUINTES ASPECTOS DA SUA

ESCOLA:

(Marque apenas UMA OPÇÃO em

cada linha)

Muito

ruim Ruim

Razoáv

el Bom

Muito

bom

22. Direção (A) (B) (C) (D) (E)

23. Coordenação (A) (B) (C) (D) (E)

24. Funcionários em geral (A) (B) (C) (D) (E)

25. Qualidade do ensino (A) (B) (C) (D) (E)

26. Limpeza (A) (B) (C) (D) (E)

27. Aparência do prédio (A) (B) (C) (D) (E)

28. Espaço escolar (salas de aula/

pátio/ quadras de esportes) (A) (B) (C) (D) (E)

29. Cantina/ refeitório (A) (B) (C) (D) (E)

30. Acesso à tecnologia (sala de

informática, data-show, caixa de som) (A) (B) (C) (D) (E)

31. EM RELAÇÃO AO ENSINO, SUA ESCOLA COMPARADA COM A DE SEUS

AMIGOS É:

(A) Muito melhor que as outras

(B) Melhor que as outras

(C) Igual às outras

(D) Pior que as outras

(E) Muito pior que as outras

32. QUAL A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA PARA VOCÊ?

(A) Não possui importância

(B) Pouca importância

(C) Importante

(D) Decisiva

(E) Não sei

103

BLOCO 3: PROFESSORES

CONSIDERANDO A MAIORIA DE SEUS

PROFESSORES, VOCÊ PERCEBE QUE

ELES:

(Marque apenas UMA OPÇÃO em cada linha)

Nunca Algumas

vezes Frequentemente

1. Incentivam os alunos a melhorar (A) (B) (C)

2. Estão disponíveis para esclarecer as dúvidas

dos alunos (A) (B) (C)

3. Dão oportunidade aos alunos para exporem

opiniões nas aulas. (A) (B) (C)

4. Relacionam-se bem com os alunos (A) (B) (C)

5. Continuam a explicar até que todos

entendam a matéria (A) (B) (C)

6. Mostram interesse pelo aprendizado de

todos os alunos (A) (B) (C)

7. Organizam bem a apresentação das

matérias (A) (B) (C)

8. Realizam uma avaliação justa (A) (B) (C)

9. Variam a maneira de apresentar/ expor as

matérias (A) (B) (C)

10. Organizam passeios, projetos, jogos ou

outras atividades (A) (B) (C)

11. Corrigem os exercícios que recomendam (A) (B) (C)

12. Utilizam diferentes estratégias para auxiliar

alunos com dificuldades (A) (B) (C)

13. Procuram saber sobre os interesses dos

alunos (A) (B) (C)

14. Demonstram domínio da matéria que

ensinam (A) (B) (C)

15. Cobram as tarefas passadas para casa (A) (B) (C)

104

BLOCO 4: LEITURA

COM QUE FREQUÊNCIA VOCÊ

LÊ:

(Marque apenas UMA OPÇÃO em

cada linha)

Nunca Algumas vezes

Quase

sempr

e

Sempr

e

1. Diariamente (A) (B) (C) (D)

2. 1 livro por semana (A) (B) (C) (D)

3. 1 livro por mês (A) (B) (C) (D)

4. 2 a 4 livros por mês (A) (B) (C) (D)

5. 1 livro por semestre (A) (B) (C) (D)

6. 2 a 4 livros por semestre (A) (B) (C) (D)

7. 1 livro por ano (A) (B) (C) (D)

8. 2 a 4 livros por ano (A) (B) (C) (D)

9. 5 a 10 livros por ano (A) (B) (C) (D)

10. Nenhum livro por ano (A) (B) (C) (D)

QUE GÊNERO VOCÊ GOSTAR

DE LER:

(Marque apenas UMA OPÇÃO

em cada linha)

Nunca Algumas

vezes

Quase

sempre

Sempr

e

16. Romance, crônica e ficção

em geral (A) (B) (C)

(D)

17. Sagas e livros adaptados

para o cinema (A) (B) (C)

(D)

18. Livros de poesia (A) (B) (C) (D)

19. Jornais (A) (B) (C) (D)

20. Revistas de informação geral (A) (B) (C) (D)

21. História em quadrinhos (A) (B) (C) (D)

22. Sites de Internet (A) (B) (C) (D)

23. Blogs literários ou não (A) (B) (C) (D)

105

8. QUANTOS LIVROS HÁ EM SUA CASA?

(A) O bastante para encher uma prateleira (1 a 20)

(B) O bastante para encher uma estante (20 a 100)

(C) O bastante para encher várias estantes (mais de 100)

(D) Nenhum

9. AMBIENTE DE LEITURA EM CASA

(A) Tenho tempo e silêncio para ler

(B) Não posso ler porque tenho que ajudar nas atividades domésticas/trabalho fora

de casa

(C) Não consigo me concentrar na leitura porque não respeitam meu espaço

(D) Prefiro outro ambiente e costumo sair para ler e estudar

CONSIDERE AS SEGUINTES

AFIRMAÇÕES EM RELAÇÃO À

LEITURA:

(Marque apenas UMA OPÇÃO em

cada linha)

Discord

o

totalme

nte

Discor

do

Concord

o

Concor-

do to-

talmente

Não

sei

01. Só leio o que é necessário (A) (B) (C) (D) (E)

02. Ler é uma das minhas diversões

preferidas (A) (B) (C) (D) (E)

03. Acho difícil ler livros até o fim (A) (B) (C) (D) (E)

04. Adoro ir a uma livraria (A) (B) (C) (D) (E)

05. Ler é uma perda de tempo (A) (B) (C) (D) (E)

06. Leio todos os livros indicados

pelos professores (A) (B) (C) (D) (E)

07. Compro livros em lançamentos (A) (B) (C) (D) (E)

08. Empresto/pego emprestado

livros com os colegas (A) (B) (C) (D) (E)

09. Leio mais de um livro ao mesmo

tempo (A) (B) (C) (D) (E)

106

10. A escola me estimula a ler (A) (B) (C) (D) (E)

BLOCO 6: LEITURA NA ESCOLA

Quantos livros lê por ano na escola?

(A) 1 a 2 por bimestre

(B) 1 por semestre

(C) 3 a 4 por bimestre

(D) Nenhum

Gosta dos livros indicados pelos professores

(A) Sim, são do meu interesse

(B) Não, considero difíceis

(C) Nunca li uma indicação de um (a) professor (a)

(D) Meus professores não costumam sugerir ou cobrar leituras

QUEM INDICA SUAS LEITURAS:

(Marque apenas UMA OPÇÃO em

cada linha)

Nunca Algumas

vezes

Quase

sempre

Semp

re

1. Pais (A) (B) (C) (D)

2. Irmãos (A) (B) (C) (D)

3. Amigos (A) (B) (C) (D)

4. A pessoa com que me relaciono

amorosamente (A) (B) (C)

(D)

5. Internet (A) (B) (C) (D)

6. Blogs (A) (B) (C) (D)

7. Youtubers (A) (B) (C) (D)

107

BIBLIOTECA DA ESCOLA:

(Marque apenas UMA OPÇÃO em

cada linha)

Nunca Algumas

vezes

Quase

sempre

Sempre

1. Costumo visitar a biblioteca (A) (B) (C) (D)

2. Os professores costumam levar a

turma para a biblioteca (A) (B) (C)

(D)

3. Pego livros emprestados da

biblioteca (A) (B) (C)

(D)

4. Na biblioteca da escola encontro

livros que quero muito ler (A) (B) (C)

(D)

5. Prefiro visitar a biblioteca pública

ou comprar livros (A) (B) (C)

(D)

NOS ÚLTIMOS DOIS ANOS, CITE TRÊS LIVROS QUE VOCÊ LEU E MAIS

GOSTOU E APONTE QUEM INDICOU (ESCOLA, AMIGOS OU FAMÍLIA):

TÍTULO DO LIVRO QUEM INDICOU

BLOCO 8: SOBRE VOCÊ

1. QUAL É O SEU SEXO?

(A) masculino

(B) feminino

(C) outro

2. COMO VOCÊ CLASSIFICARIA SUA COR, SEGUNDO AS CATEGORIAS

USADAS PELO IBGE?

108

(A) Branca

(B) Parda

(C) Indígena

(D) Preta

(E) Oriental

2. QUAL É O SEU NOME COMPLETO?

______________________________________________________________

3. QUAL É SUA DATA DE NASCIMENTO? (Indique o dia, o mês e o ano)

____________________________________________________________

4. É FILHO ÚNICO OU TEM IRMÃOS?

____________________________________________________________

5. EM QUE BAIRRO VOCÊ MORA?

______________________________________________________________

Agradecemos a sua participação!

QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS 2

1. Nas aulas de literatura, você costuma estudar obras completas ou trechos de obras?

Textos ou livros? Fale um pouco sobre as suas aulas de literatura na escola.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

109

2. Que autores (as) e obras você já leu fora da escola?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

3. Qual autor você leu que mais gostou? O que te marcou nessa leitura?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

4. . Você lembra de já ter lido alguma escritora? Que texto você leu que gostou?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5. Conte um pouco sobre a sua experiência com a literatura, como começou a sua

vida de leitor, que obra você indicaria que te marcou profundamente. Experiências

positivas e negativas com a leitura, se você já se sentiu representado(a) por uma

personagem, por um autor(a).

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Agradecemos a sua participação!

110

QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROFESSORES

BLOCO 1: INFORMAÇÕES BÁSICAS

1. Qual é o seu nome completo?

____________________________________________________

2. Qual é o seu sexo?

(D) Feminino

(E) Masculino

(F) Outro

3. Qual é a sua idade?

____________________________________________________

4. Qual sua forma de contratação como professor desta escola?

Contrato por tempo indeterminado (funcionário público concursado)

Contrato por tempo determinado para um período maior do que 1 ano letivo

Contrato por tempo determinado temporário para o período de um 1 ano letivo ou

menos

5. Você trabalha como professor (a) em outra escola além desta escola?

111

Sim, em escolar pública

Sim, em escolar particular

Não trabalho em outra escola

6. Qual o nível mais elevado de educação formal que você concluiu?

Inferior à Educação Superior

1 Educação Superior – Curso Superior de Tecnologia

2 Educação Superior – Pedagogia

3 Educação Superior – Licenciatura

4 Educação Superior – Outros Cursos

5 Especialização (Lato Sensu)

6 Mestrado (Stricto Sensu)

7 Doutorado (Stricto Sensu)

8

7. Há quanto tempo você trabalha como professor (a)?

1-2 anos

3-5 anos

6- 10 anos

11-15 anos

16-20 anos

Há mais de 20 anos

BLOCO 2: PRÁTICAS DE ENSINO

8. Você tem liberdade de escolher os livros e textos que trabalha? Você pode ir além do

plano anual de Língua Portuguesa e do livro didático ou segue a risca o conteúdo pa-

ra o bimestre e prefere não levar nada além do que foi estabelecido? Fale um pouco

sobre o seu planejamento para as aulas de literatura.

112

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

9. Você se considera um (a) professor (a) leitor (a)? Quantos livros costuma ler por mês?

Você costuma comprar livros ou pegar emprestado em bibliotecas? As suas leituras

são motivadas apenas pela escola ou pela internet, blogs, amigos? Fale um pouco

sobre a sua vida como leitor (a) dentro e fora da escola.

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

10. Durante a faculdade você tem memória de ter lido autoras, que autoras e como elas

marcaram a sua vida ou não de leitor (a)? Você costuma ler mais escritores ou escri-

toras?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

11. O que pensa sobre a distribuição de autores e autoras nos livros didáticos ou nunca

pensou nessa questão? Já analisou as disparidades entre a presença ou não de es-

critoras, escritoras negras, mulheres que escrevem, nos livros didáticos de Língua

Portuguesa?

113

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

Agradecemos a sua participação!

QUESTIONÁRIO APLICADOS AOS ALUNOS 2

(RESPOSTAS)

ESCOLA ASSIS BEZERRA: 1 º ANO B

27 ALUNOS RESPONDERAM

1. Nas aulas de literatura, você costuma estudar obras completas ou trechos de obras?

Textos ou livros? Fale um pouco sobre as suas aulas de literatura na escola.

2 não responderam.

“Trechos de obras, textos e escrevemos textos.”

“Trechos de obras, textos. Nas aulas de literatura nos

costumamos ler e escrever textos.”

“A gente lê bastante textos de vários tipos.”

“Na aula de literatura nois ler e fais texto.”

“As aulas de literatura são muito boas.”

“Costumo ler apenas trechos de obras, o que a professora

passa tipo uma folha com o texto que vamos trabalho.”

114

“A gente lê bastante textos de vários tipos.”

“São um pouco boa por que o professor as vezes manda a

gente ler.”

“Sim. Livros, muito bom.”

“Trecho, porque na maioria dos casos não dá para explicar

completamente.”

“Sim, a gente estuda e lê textos, trechos de obra e etc, acho as

aulas de literatura razoavel não é muito ruim, a leitura nois

permite viajar sem sair do lugar, por que nossa imaginação vai

alem”.

“Trechos de obras, textos as aulas não são totalmente

concluido porque tempo é pouco.”

“Trechos de obras, textos, lemos e escrevemos texto.”

“Trabalhos textos até que não são muitas mais são boas as

aulas de literaturas.”

“Sim, texto, é muito boa, pois aprendemos a ler mais direito e

conhecemos outros tipos de texto.”

“A gente ler bastante mas é textos do livro de português.”

“Trechos de obras, textos.”

“Sim, texto e muito bom que a pessoa aprender ler mais e

conhece vários tipos de textos.” “Sim, textos e também trechos

de obras.”

“Trechos de obras, textos e escrevemos textos”.

115

“Mais ou menos, as aulas de literatura na escola de ensino

médio Assis Bezerra é muito importante para os alunos que

precisam mesmo de aula de literatura para aprender mais e

mais.”

“Trechos e obras e lemos algumas vezes livros, são muito

legais a gente não tem muito aula de literatura mais as poucas

vezes que temos é bem legal.”

“Lemos texto algumas vezes livros são muito legais mais a

gente não tem muito de aula de literatura mais a poucas que

temos são legais.”

2. Que autores (as) e obras você já leu fora da escola?

9 responderam “Nenhum”.

1 não respondeu.

3 responderam “Não lembro.”

3 responderam “Andresa Urach”.

“Ana Fortier, Julieta.”

“Não costumo ver os autores.”

2 responderam “Machado de Assis.”

“Sthephanne – Eclipse.” “Crepusculo”. “Monteiro Lobato.”

“Carta de amor aos mortos. Alice no país das maravilhas.”

“Manoela Garibaldi”.

3. Qual autor você leu que mais gostou? O que te marcou nessa leitura?

116

1 não respondeu.

12 responderam “Nenhum”.

3 responderam “Não sei”.

“A culpa é das estrelas”.

“Andresa Urach”, porque foi sobre a vida dela.”

“Ana Fortier, A historia de Julieta foi muito

emocionante.”

“Muitas coisa são muito rígida.”

“Não costumo ler todo o livro so metade.”

“Alberto S Galeno.”

“Sthephanne – Eclipse.”

“Fernando pessoa, a historia.”

“Andresa Urach”, a historia dela”.

“Não lembro o nome do autor mais o titulo é: carta de

amor aos mortos, me marcou nesse livro é que ela

escreve cartas as pessoas que já morreram.”

“Manoela Garibaldi, que era um historia de amor

proibido mais no final eles nunca se deixaram.”

4. Você lembra de já ter lido alguma escritora? Que texto você leu que gostou?

117

2 não responderam.

12 responderam “Não.”

11 responderam “Não lembro”.

“A culpa é das estrelas.”

“Raquel de Queiroz – o livro O Quinze.”

5. Conte um pouco sobre a sua experiência com a literatura, como começou a sua vida

de leitor, que obra você indicaria que te marcou profundamente. Experiências positi-

vas e negativas com a leitura, se você já se sentiu representado (a) por uma perso-

nagem, por um autor (a).

13 não responderam.

3 responderam “Nunca”.

2 responderam “não lembro”.

É muito bom indico a culpa é das estrelas”.

“Não tenho experiencia com leitura.”

“Não quero.”

“Não costumo ler livros.”

“Se tem uma obra que eu indicaria por que

marcou minha vida é a Bíblia, e também alguns

livros tipo: O que realmente a bíblia ensina?

Esse livro é diferente eu amo demais esse livro.”

118

“Razoavel eu não gosto muito de ler pois tenho

dificuldade e também sou muito tímido.”

“A literatura na minha vida me ensina muito a ler,

escrever redações, texto e etc... A literatura é

uma parte da lingua portuguesa o que mais

interessa é isso ai por ter português em

participação com literatura."

“Eu não tinha muito ábito de leitura, começou

um tempo desse não faz muito tempo, carta de

amor aos mortos é muito bom ler pois essercita

a leitura.”

119

ESCOLA ASSIS BEZERRA: 3º ANO B

20 ALUNOS RESPONDERAM

1. Nas aulas de literatura, você costuma estudar obras completas ou trechos de obras?

Textos ou livros? Fale um pouco sobre as suas aulas de literatura na escola.

“Costumamos estudar apenas trechos de obras, por causa

do calendário letivo escolar.”

“Estudamos poesia – segunda fase do modernismo.

Grandes poetas cearenses, textos literários.”

“Tive aulas de literatura a partir do segundo ano. Desde o

início sempre gostei. Estudamos obras completas

individuais para fazermos fichamento e em conjunto

estudamos os trechos. A aula de literatura em si é bastante

enriquecedora pois o livro (texto em si nos traz diversos

pontos de vista, realidades e vivências).”

“Nas minhas aulas de literatura costumamos ver trechos de

livros, poemas, e algo sempre relacionado a isso.”

“Em nossas aulas de literatura costumamos ler trechos de

alguns poetas ou autores indicados e falamos sobre eles e

sobre a obra, etc.”

“A aula de literatura são muito interessante.”

“Trechos, livros e textos. Costumamos estudar sobre

algum autor brasileiro, fazer comentarios entre si.”

120

“Meu professor de literatura é bastante incentivador, nos

ajuda a ler e buscar informações.”

“Nois costumamos fazer muito isso o professor cobra

muito.”

“A gente estuda muito sobre os poemas dos autores, como

os da cecilia meireles, maurelho mendes, entre outros. É

os poemas tem otemas significados, romances e mais,

chamam muita atenção.”

“Estudamos de tudo um pouco como filme, textos, etc.”

“Costumamos estudar sobre alguns autores famosos, é

alguns trechos de suas obras, é muito bom saber é

aprender sobre suas obras.”

“As aulas são muito legais, pois estudamos muitos autores

literarios, show.”

“Nas aulas tem trecho e livros, gosto das aulas e das

historia dos livros que o professor passa.”

“Bom o professor sempre traz obras completas e trechos

de obras acho interessante.”

“Costumamos conhecer muitos autores e suas obras,

inclusive as mais conhecidas. Sempre temos indicações de

livros pelo professor de literatura.”

“Trechos e textos, gostou muito de ler livros, muito boa.”

“Sim sempre gosto de mim aprofunda mais sobre as obras

e os livros pois e sempre bom sabe mais sobre tudo.”

“Costumo estudar trechos de obra, textos são bem

interessante.”

121

2. Que autores (as) e obras você já leu fora da escola?

1 respondeu “Nenhum”.

4 responderam “Não me lembro.”

“Rick Riordan. Saga Percy Jackson. Diários de um

vampiro. Saga Crepúsculo e a máoria dos livros são

fanfic’s da wattpad.”

“José Lins do Rego, Monteiro Lobato, Raquel de

Queiroz.”

“Kalka e o corvo, A metamorfose, Os sofrimentos do

jovem Wherter, Orfãos do el dourado, Eclesiastes, O

pequeno príncipe, Entre poemas, Cenas de abril e

outras obras da Ana C.C., Confissões, Memórias de um

Baobá, UMBANDA: Ceará em transe, Caçador de

pipas, Luar Peregrino, O evangelho segundo espirismo,

Corolarium.” “Cidade de Deus, Aas vantagens de ser

invisivel, Alasca, De gênio e louco todo mundo tem um

pouco, O vendedor de sonhos.”

“A fiha das sombras. Os instrumentos mortais. Cidade

dos ossos. Fallen.”

“O matuto – Zíbia Gaspareto. Vida a dois. Bíblia – 40

escritores. O evangelho de Marcos. Historias em

quadrinhos turma da mônica. Dona Flor e seus dois

maridos – Jorge Amado.”

“Leio revistas esportivas, não literaturas.”

“Crime e Castigo, Outros jeitos de usar a boca,

Memorial de Maria Moura, Capitães de areia e Cidade

de Deus.”

122

“Não lembro o nome do autor, mas ja li o livro “Iracema”

lembro também que ja fiz ate como se fosse uma peça

do livro “ana flor e seus dois maridos” também que

apresentei.”

“A ilha misteriosa.” Jorge amado. Clarice lispector.”

“O menino e a pedra. A menina e a chuva.”

“A culpa é das estrelas. O menino do pijama listrado.

Diario de um banana (todos).”

“A bailarina fantasma.”

“A seleção, assassinato na biblioteca, a escolha, os

ratos, escrito nas estrelas, comer, rezar e amar.”

3. Qual autor você leu que mais gostou? O que te marcou nessa leitura?

4 responderam “Não me lembro.”

“Rick Riordan a saga Percy Jackson me identifiquei

com os personagens Clarissse La Rue e Luke

Castellan, me marcou tanto que após assistir o filme

procurei pela saga literária, sendo o primeiro livro que

li.”

“José Lins do Rego – Os Cangaceiros.”

“O caçador de pipas: a reflexão que ele me trouxe é

que tudo que você planta você colhe, e não adianta

fugir do que o tempo quer pra você.”

“Augusto Cury, O fato da superação e mostra que onde

você menos acredita, em que você menos confia pode

mudar tudo.”

123

“Fallen, tormento e paixão. Instrumentos mortais

(Cassandra Clare)”.

“O matuto – me marcou a historia narrada.”

“Machado de Assis. Sobre os romances que ele

escreveu, como “Cinco Minutos”.”

“Capitães de areia, o jeito que as crianças superam

suas dificuldades.”

“A ilha misteriosa/ O companheirismo deles, as

amizades, o jeito que eles se preocupam uns com os

outros.”

“Caco Galhardo.”

“O livro o Cortiço.”

“A culpa é das estrelas. O menino do pijama listrado.

Diario de um banana (todos).”

“Nunca li nenhum livro.”

“Clara dos anjos é um livro que me prendeu do inicio ao

fim, o que mais me marcou foi a ingenuidade da Clara.”

“A culpa é das estrelas.”

“Os ratos, me marcou pq é uma critica.”

4. Você lembra de já ter lido alguma escritora? Que texto você leu que gostou?

6 não responderam.

6 responderam “Não lembro”.

124

“Já li algumas escritoras como as escritoras da saga

Crepúsculo e da saga diários de um vampiro, e a

escritora de Harry Potter.”

“Ana Cristina César sempre me marca.”

“Zibis Gaspareto – a historia envolve muito espiritismo,

forças do alem, muito incrivel.”

“Rachel de Queiroz”.

“Rachel de Queiroz, Memorial de Maria Moura.”

“Leio frequentemente poesias, Rachel de Queiroz,

Clarisse Lispector.”

“Kiera, A seleção.”

5. Conte um pouco sobre a sua experiência com a literatura, como começou a sua vida

de leitor, que obra você indicaria que te marcou profundamente. Experiências positi-

vas e negativas com a leitura, se você já se sentiu representado (a) por uma perso-

nagem, por um autor (a).

“Indicaria as sagas diários de um vampiro e percy

jackson, as duas primeiras obras que li.”

“Leio história em quadrinhos, revistas, jornais.”

“Não sou um leitor ascíduo, porém a leitura sempre

foi presente na minha vida em pequenos

fragmentos. Um livro que eu recomendo é

Confissões, pois o Santo Agostinho vai narrando

sua vida sentimental desde a infância e nele eu

125

vejo. Um livro que me representa é Memórias de um

Baobá, é uma expressão da existencia negra.”

“Meu interece com a leitura começou pelo projeto

feito pelo professor João Paulo, depois percebe que

a leitura era fundamental e comecei a gostar dela,

hoje leio por prazer, gosto de le e adicionar novos

mundos para si.”

“Sempre tive vontade de ler mais as aulas de

literatura dadas aqui na escola me ajudaram muito

pois é um passa tempo na hora do intervalo ou

pausa nas tarefas. No momento não tenho

indicações mais incentivo a lerem pois é muito

bom.”

“Ler é uma coisa muito magnifica, me despertou

vontade de ler pra abrir meus conhecimentos, eu

recomendaria o livro “O matuto”.”

“Começou com um trabalho de redação no meu

fundamental, onde foi distribuido alguns livros de

alguns autores e fiquei com Machado de Asssis,

livro “Cinco Minutos”.”

“A leitura entrou na minha vida em um momento

dificil, onde passava por dificuldades e preconceito e

depois dai me perco nos livros , o livro que eu indico

é capitães da areia e me sinto representado pelas

crianças do livro que lutam bastante.”

“Sim ja apresentei o autor jorge amado.” “Já

comecei no encino meio mas quando comecei a ler

126

eu entrava no mundo do livro, e muito bom, as

vezes me identifico com as personagens pois passa

alguma historia que ja aconteceu comigo nem

sempre mais acontece, gosto de ler livros baseados

em fatos reais.”

“Faz muito tempo que não leio um livro, por isso não

posso indicar nem uma.”

“Bom, eu não tenho tanta experiência pelos ao

menos ainda não mas com bastante raciossinio é

fácil de aprender, mas por enquanto só estou

aprendendo é e muito bom.”

“A culpa é das estrelas, lê é muito massa, agente

entra em outro estado de espirito.”

“Gosto muito da literatura, tenho um pouco de

dificuldade para me concentra para ler.”

“Foi bom, achei divertido, aprendi varias coisas e

exemplos que podemos seguir.”

“Não tenho nenhuma experiência nunca nem li

livros.”

“Minha experiencia com a leitura é muito boa,

comecei a ter mais acesso com livros a partir do

primeiro ano por conta da biblioteca da escola.”

“Não sou muito de ler livros, só quando quero me

distrair com alguma coisa, eu leio.”

“Comecou a muito tempo, mas eu tinha parado mas

127

ai minhas irmã começou a mim da alguns livros e ai

foi gostando de ler e ela mim deu o livro a culpa das

estrela e gosto deste livro e gostaria que outras

pessoa pra lê por que ele e muito bom.”

“Nunca fui de ler, depois de incentivos de amigos foi

que eu me permitir a ler e gostei muito.”

ESCOLA HUMBERTO BEZERRA: 1º ANO A

37 ALUNOS RESPONDERAM

1. Nas aulas de literatura, você costuma estudar obras completas ou trechos de

obras? Textos ou livros? Fale um pouco sobre as suas aulas de literatura na escola.

“Trechos de obras, textos”.

“Sim, texto. É legal, pois os professores coloca nós

pra ler e é bom”.

“São ótimas só não presto atenção”.

“Costumo estudar as obras por conta da escola,

porém não são do meu interesse”.

“Não gosto muito de ler, mais as aulas de literatura

na escola é bem legal. Curti muito quando nós

estudamos o barroco”.

“Sim eu costumo ler obras completas como o

barroco falam sobre a ficsão a vida violência”.

“Então, nossa literatura está mais relacionada na

128

lingua Portuguesa, ou seja, o Barroco foi um trecho

de obras que estudemos durante esse Bimestre”.

“Algumas vezes sim como por exemplo agora o

professor está passando a carta do Pearovaz de

Caminha como estava estudando o conteudo de

barroco tava estudando literatura barroca”.

“Não, e so apenas aulas normais”.

“Estudamos varias obras como o Barroco,

romantismo etc... e é bem divertida aprendemos

varias coisas”.

“Não, são aulas normais”. “As aulas de literatura

costumam ser normais igualmente as outras aulas.

Estudamos filmes literatura de livros e etc...”.

“Sim trecho de obras, textos. As vezes quando a

aula esta fluindo lemos pouco e focamos na

explicação”.

“Trechos de obras, são textos, é bem interessante

falar sobre literatura porque aguça a vontade de

conhecimento”.

“Estudamos os trechos de obras que são

maravilhosas e as melhores da literatura utilizamos

livros e textos”.

“Elas são legais e tranquilo tem leitura as vezes da

sono mais não muito”.

“Trechos de obras e textos, são o que a gente ver

129

bastante nas aulas, juntamente com a leitura dos

alunos, o professor explica o assunto.”

“Sim, o professor manda cada aluno ler um trecho

e depois toda a sala debate, fala o que achou, e é

bem interessante”.

“Trechos de obras, livros, é muito interessante,

nois debatemos muito, sobre o assunto”.

“Sim. As aulas de literatura são bem carregadas

de contéudo. O contéudo pode parecer raramente

entediante. Nós debatemos muito sobre o

contéudo”.

“Sim, falamos sobre romantismo, Barroco... Achei

meio difícil o assunto, mas ate que é facil, depois

que você compreende você acha o conteúdo facil.”

“Não tenho muita experiência sobre a literatura”.

“Eu leio na leitura de textos e pequenos textos

sobre o conteúdo do livro; leio alguns livros fora da

escola também, pegado na biblioteca da escola”.

“Nas minhas aulas de literatura só estudei o

Barroco e sua origem”.

“Obras completas, textos. As aulas são

interessantes”. “Eu não nem costumo estudar, em

livros”.

“Leio sobre as matérias que o professor manda,

Barroco, romantismo, figuras de linguagens e

etc...”

130

“É muito interessante, o professor faz com que os

alunos interagam, e faz com que os alunos perda a

vergonha de ler e que desenvolva melhor a leitura,

daqueles que tem muita dificuldade de leitura em

algumas alcasiões”.

“Sim, nas aulas de portugues estudamos vario

tipos de literaturas, barroco romantismo,

classicismo e etc, nestas aulas aprendemos o

conceito definição e a importância da literatura

brasileira”.

“Estudamos trechos de obras. Textos. Apesar de

dar um pouco de sono, mas fora isso é boa, super

top”. “Não tenho muito conhecimento na literatura.”

“Barroco, Romântismo...”

“Obras completas com textos e livros. Os

professores passam texto sobre literatura para

podermos nos interessar mais”.

“Nas aulas de literatura, a gente estudou sobre

barroco, romantismo e etc”.

“A gente costuma estudar trechos de obras e é

mais texto, nós nunca estudamos livros”.

“Trechos de obras, livros bem proveitosa a gente

costuma discutir sobre o tema de cada aula e

sempre tiramos a dúvida”.

2. Que autores (as) e obras você já leu fora da escola?

131

12 alunos responderam que não lembram.

1 deixou em branco.

2 responderam que nunca leram um livro fora da

escola.

“Não lembro... o livro e mais enlerrasante do que o

autor”.

“Nenhum não gosto muito dos autores brasileiro”.

“Não lembro, mais já li muitos”.

4 responderam a escola literária “Barroco”.

1 respondeu “Barroco e Romantismo”.

“Carlos Drumond de Andrade, Nicolas... e entre

outros nomes”.

“Nunca gostei de ler. Fora isso á anos atrás já li

poucos livros como It a coisa e etc... e não lembro

dos autores”.

“Stepen Meyer, não lembro o nome dos outros”.

“Luís de Camões”.

“Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade,

Madeleine Roux, Jojo Moyes, tem tantos, mas não

me recordo no momento”. “Paula Pimenta, Jojo

Moyes”.

132

“Jhon Grin e Isabele Freitas”.

“Isabela Freitas; Jhon Grin”.

“A culpa é das estrelas – Jonh Green, Minha vida

fora do sério – Paula Pimenta”.

“Já li Raquel de Queroz e outros também que não

sei quais é agora”.

“Jonh Green, L. J. Smith, J.K. Rowlling, M. Assis”.

“Ainda nenhum porque eu quase não procuro uma

biblioteca. Mais na escola o professor de

português mandou uma obra sobre Pedro Vaz de

Caminha para discutir em sala”.

“Paula Pimenta Fazendo meu filme, Kiera Cass

Seleção, Elite, Escolha”.

“Viuvinha e Cinco Minutos do Paulo Coelho não

se iluda não e não se apague não de Izabele

Freitas”.

“Chico Buarque, Manoel Bandeiras... sou ruim de

relembrar nomes de autores”.

3. Qual autor você leu que mais gostou? O que te marcou nessa leitura?

17 alunos responderam que “não lembram”.

7 responderam “nenhum”.

133

“Não mim lembro mais prefiro textos de rimas e

versos”.

“Não sou muito de ler livros, aliás só leio os livros

nas aulas quando pedem”.

1 resposta em forma de reticências.

1 respondeu “não sei”.

“Paula Pimenta, amei o livro dessa mulher, porque

fala de uma adolescente e eu me vejo na

personagem dela, muito interessante, super

indico.”

“Foi Izabele Freitas e Paulo Coelho poís me

ensinaram um pouco sobre a realidade da vida.”

“Não sou muito de ler livros, aliás só leios livros

nas aulas quando pedem.”

“Minha vida fora de sério – Paula Pimenta.”

“Romantismo.”

“Camões: O Amor.”

“Gregorio de Matos, por causa de suas sátiras e a

forma que ele fala do povo.”

“Foi a autora de raquel queroz que é muito

interessante lêr os livro, que motiva as pessoas lêr

mais ainda.”

“Eu li sobre o Barroco não mim lembro quem e o

134

autor ou se o nome Barroco já e o autor. Mim

interessei a ler por conta de sua historia que achei

bem interessante.”

“Madeleine Roux, pela sua genialidade, pela

forma detalhada como ela escreve seus livros. O

que me marcou foi a forma que ela costumava

usar pra expressar suas histórias.”

“Madeleine Roux, o misterio e no mesmo tempo

uma curiosidade dos personagens.”

“O ultimo livro que li foi de poesia, amei muito,

pois era um livro incrivel, era a minha cara meio

confuso, mas amei muito.”

“Jhon Grin. A parte que me marcou foi que acima

de todas as dificuldades, com o amor deles

conseguiram enfrentar essas barreiras”.

“Um livro da Paula Pimenta, chamado a Bela

Adormecida ele conta um romance muito bonito.”

“Não mim lembro mais prefiro textos de rimas e

versos.” “Não sei o autor, mais o livro e diário de

um banana.”

“Nasci pra dar certo, ele fala umas da esperencia

que ele já viveu quando conheceu o senhor

Jesus.”

“Kiera Cass, tudo gostei bastante da história, livro

preferido.”

135

“J.K. Rowlling, parte de ficsão e fantasia que me

prendeu a uma história encantadora.”

“Isabela Freitas. Esse livro é tipo um diário (blog

virtual) que ela conta sobre seus amores, seus

pôdres, ela criou um blog na internet e depois

lançou o livro. Jhon Grin; Pois é uma história de

amor que quebra as barreiras da dificuldade.”

4. Você lembra de já ter lido alguma escritora? Que texto você leu que gostou?

16 não lembraram de nenhuma escritora.

5 deixaram em branco.

4 responderam que não gostam e não costumam

ler livros.

“Paula Pimenta (Fazendo meu filme 1, 2, 3 e 4,

Bela Adormecida”.

“Já falei nas perguntas anteriores”.

“Nunca gostei de ler, fora isso nunca li livros como

Biográfias de autores e etc...”.

“De novo J.K. Rowlling, a mulherzinha que

escreveu o Harry Potter”.

“Não me lembro de uma escritora em si, mais

gostei do livro “Como eu era antes de você”.

“Gosto de Clarice Lispector de seus pensamentos

e frases maravilhosas”.

136

“Sim Casa das fúria que fala de uma menina que

vai para uma casa atentada por pessoas

estranha”.

“Sthepen Meyer, o livro A Química, é um livro

ficção cientifíca, e eu gostei das partes de ação

misturados com o suspense”.

“Sim, o título é muito extenso, mais a autora é a

Thalita Rebouças”,

“Madeleine Roux, O Diretor”, Sim, A saga dos

livros Divergente, insurgente, convergente e

quatro”.

5. Conte um pouco sobre a sua experiência com a literatura, como começou a sua

vida de leitor, que obra você indicaria que te marcou profundamente. Experiências

positivas e negativas com a leitura, se você já se sentiu representado (a) por uma

personagem, por um autor(a).

5 não responderam.

3 responderam “Não lembro”.

“Nenhuma”.

“Recomendaria Dom Quixote.”

“Li alguns livros mais a maioria era quadrinhos,

tipo da marvel.”

“Me senti representado pelo ultimo livro que li de

poesia, é o melhor livro que li, ele é meio confuso,

137

isso me representa na bad kkk”.

“A garota em pedaços, foi o livro que mais mim

identifiquei, porque tem um pouco ave comigo, e

achei muito interesante e motivador.”

“A minha experiência como leitor é muito curta, eu

não costumo ler”.

“Na verdade, não leio muito livro porque

geralmente não tenho tempo, sou muito ocupada,

eu indico os 50 tons mais escuros”.

“Tenho experiências positivas, já viajei no mundo

da leitura.”

“Bom, eu gosto muito de ler, adoro livro de

adolescentes, amorosos, gosto também de ficção

e indico demais a Paula Pimenta, desde o começo

eu venho falando dela porque ela me marcou

muito.”

“Foi incrivel você se afunda em mundo belo que é

a leitura e a obra seria de Izabele Freitas e todos

os pensamentos de Clarice Lispector, experiências

positivas”.

“Nunca li um livro de literatura, mais dizem que

Machado de Assis é um grande escritor”.

“Comecei com o incentivo dos meus amigos eu

não tenho nenhum livro para indicar por que não

me lembro”.

138

“Sim. Várias vezes”.

“Ah, comecei a ler histórias na escola, em

quadrinhos, histórias infantis etc... E a pessoa

aprende muito com isso”.

“Quando aprendim a lê mim sentim muito mais

conectado com o mundo, com muito mas

conhecimento e informações e com muito mais

vontade de lê textos em geral”.

“Eu não gosto muito de ler mas as vezes eu leio”.

“Minha experiência com a literatura é bem pouca,

porém me marcou muito, gostei muito e gostaria

de aprofundar mais e mais.”

“Os livros que eu pego e de quadrinhos, ação, etc”.

“Eu comecei a gosta por conta da minha mãe, que

ficava indicado livros, não lembro qual foi o

primeiro livro que eu li completo. Mas um livro que

eu indicaria era Para sempre.”

“Bom gostei de ler Kierra Cass, fez vários livros

legais que são massa, gostei de mais.”

“Aos 6 anos quando começei a ler, e comecei a

levar poucos livros mais os que eu tinha interesse.”

“A partir do 6 ano, comecei a me interessar por

livros de fantasia. Algumas vezes já me sentir

parecido e me identifiquei.”

139

“Indicaria Gregório de Matos por causa de suas

satíras que chamaram a atenção de qualquer um.

Positivas porque ele fala das pessoas sem medo

algum.”

“Nenhum o que eu gostei mais foi livro de poesia

que são experiéncias positiva na vida”.

“Bom! Eu gosto de ler mais não consigo mem

consentrar. Quando estou lendo fico pensando em

outras coisa e perdo o raciosinio”.

“Eu apesar de não ter dificuldades em leitura, não

leio muitos livros, mais pretendo ler muitos,

principalmente as que influênciam minha vida de

uma forma positiva”.

“Eu costumo ler com muita frequência desde os

quatro anos de idade, já até fiz meus proprios

livros e até poesias. Eu indicaria ‘A lógica

inexplicável da minha vida’ eu me senti

representado pelo protagonista. Minhas

experiencias foram pouco negativas, pelo fato da

minha condição financeira impedir-me de ler mais

livros.”

“Começou quando pequena e comecei a ler

depois dai todo dia.”

“Eu gosto de ler, principalmente quando estou

sensível, alguns livros me fazem chorar, tipo: A

culpa é das estrelas. Já me senti representada por

Isabela Freitas e recomendo a Culpa é das

estrelas, uma linda história de amor que quebra

140

barreiras.”

QUESTIONÁRIO APLICADOS AOS PROFESSORES

(RESPOSTAS)

ESCOLA ASSIS BEZERRA

5 professores responderam

8.

“Tenho liberdade para trabalhar com textos e livros diversos, até porque o livro

didático é bastante resumido, sucinto, e limitar o conhecimento dos alunos apenas

ao que é exposto no livro didático é até criminoso. Apesar de trabalhar numa

extensão de matrícula e ter pouco acesso a livros, Datashow, por exemplo, temos a

tecnologia ao nosso favor, quase todo aluno possui um celular. Infelizmente o nosso

aluno tem dificuldade de despertar para a leitura, mas a literatura, se bem

direcionada, é uma viagem pela própria História. Os meus alunos gostam dessa

viagem.”

“Sim, e não sigo apenas o contéudo sugerido pelo plano didático. Procuro inserir na

leitura obras que são importantes que os alunos conheçam.”

“Sim, tenho liberdade para escolher os livros e textos, os quais utilizo como material

141

suporte no desenvolvimento das minhas aulas. Não considero suficiente os textos e

fragmentos que compõem nossos livros didáticos. Percebo as muitas lacunas

deixadas pelos mesmos.”

“Costumo ler os textos do livro didático, pois acho importante que o aluno tenha

contato com a literatura clássica. No intuito de torná-los mais acessíveis estabeleço

pararelos com a realidade. Os autores mais novos contam com estratégias que os

aproximam dos jovens leitores.”

“As aulas de literatura partem do currículo (grande curricular), porém temas que

perpassam outras disciplinas (História, Sociologia, Filosofia, Matemática, Biologia

etc.) são o mote para o desenvolvimento da aprendizagem. Desse modo, a

exposição da historiografia literária depende do aprofundamento que ocorre nas

atividades (seminário, ficha de leitura etc).”

9.

“Não sou uma professora leitora. Tenho necessidade disso. Principalmente ser uma

leitora por lazer. Ler por prazer, ler para expandir minha história de leitura.

Infelizmente a desvalorização do professor faz com que eu (e tantos outros), que

precisam sustentar suas famílias, necessitam abraçar 3 turnos de expediente,

praticamente sem tempo para viver. Eis-me aqui.”

“No momento não me considero um leitor, mas sei que a leitura é muito importante.

Esse ano talvez só tenha lido 3 livros no primeiro semestre. As minhas leituras são

motivadas principalmente por amigos.”

“Considero-me mediana, como professora leitora, reconheço que necessito de mais

leituras. A maioria das leituras realizadas utilizo emprestados em bibliotecas, porém

muitas delas são realizadas em livros comprados. Minhas leituras são motivadas

pela escola, como também por outros ambientes.”

“Prefiro ler textos científicos. Na minha infância costumava ler vários livros. Mas com

o passar do tempo tenho dado preferência a textos – não livros – que abordem

142

temas científicos. Não sou apreciador de textos literários, mas leio devido ao meu

trabalho com crianças e jovens.”

“Sou um professor leitor. Costumo ler/reler entre 10 e 15 livros por mês. Além de

comprar bastante livros, tenho o hábito de alugar exemplares na biblioteca da escola

onde leciono. As motivações são as mais variadas! Leio por curiosidade sobre

determinado assunto, meio para aprimorar algum aspecto de lecionar ou para

reavaliar minha prática pedagógica, meio por prazer, meio para pesquisar etc.

Tornei-me leitor no Ensino Médio quando uma professora elogiou um poema que eu

havia feito por conta de um trabalho de classe. Ainda no Ensino Médio, tornei-me

leitor quando me apaixonei por um estilo musical, heavy metal, que instigou a

pesquisa e a leitura das canções que, em muitas delas, apareciam assuntos

interessantes para mim naquele momento (mitologia, história mundial, etc). Hoje,

sou um leitor voraz! Surgida a fagulha da curiosidade, começa minhas pesquisas

(leituras) que acabam sempre em livros e mais livros!”

10.

“Li Lygia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Cora Coralina. Em

meio a um universo tão masculino, ler autoras influencia sempre. Como já falei, não

sou leitora como gostaria de ser. Mas o que eu percebo é que o que se tem em

abundância para consumo de leitura são autores – é o que é mais acessível. Em

outras circunstâncias, li autoras femininas, mas em outra graduação. Fiz Pedagogia

e existem muitas autoras nesse ambiente de estudo. Será por ser um ambiente mais

feminino? Percebo mais preconceito nessa situação.”

“Na faculdade lembro-me de ter lido Raquel de Queiroz, a obra clássica do

modernismo “O quinze”. Mas incontestavelmente lemos mais autores que autoras.”

“Lembro de ter realizado a maioria das minhas leituras, na faculdade a partir de

autores contudo algumas autoras foram base de leituras, tais como: Clarice

Lispector; Cecília Meireles; Rachel de Queiroz e Lygia Fagundes Telles.

Sinceramente, ainda costumo ler mais autores.”

143

“Não tenho preferências. Gosto de ler sobre ficção científica. A única autora que

chegou a prender minha atenção foi Agatha Christie com seus romances cheios de

mistérios que não conseguia desvendar. Durante a graduação a maioria do livros

indicados eram de fundamentação teórica.”

“Na faculdade, lembro-me de ter lido algumas autoras de textos científicos da minha

área de formação. Porém, foi através de pesquisas particulares, sem a cobrança dos

professores, que conheci a literatura de Florbela Espanca, Hilda Hilst, Francisca

Julia, Noemia Sousa, Hannah Arendt, Agustina Bessa-Luís, E. Bishop etc. P.S.: Não

posso esquecer a Cora Coralina!”

11.

“Os livros didáticos nos trazem apenas duas autoras: Raquel de Queiroz e Clarice

Lispector. No nivel superior, mas precisamente no curso de letras-português, essa

realidade não é muito diferente. Talvez eu só acrescentasse mais uma ou duas

autoras sendo abordadas durante o curso.”

“Há bastante tempo observo a disparidade entre autores e autoras distribuídos nos

nossos livros didáticos. Considero de muita relevância uma presença maior das

nossas autoras, não somente nos livros didáticos, como também na maioria das

leituras realizadas, tanto por professores quanto por alunos, nos mais diversos

contextos leitores.”

“Acredito que por uma questão histórica, grande parte da literatura clássica era

escrita por homens, pois a profissão não era “indicada” para as mulheres. Porém,

nas séries iniciais, literatura infanto-juvenil, essa situação encontra-se mais

dramática. Talvez daqui a alguns anos essa diversidade chegue ao Ensino Médio.”

“Com certeza que sempre percebi essa disparidade e pontuo isso com meus alunos.

É paradoxal perceber que a maioria dos autores de livros didáticos da minha área

são mulheres que não tem o direito/o dever de divulgar as grandes escritoras da

literatura devido a motivar “meu ser”!”

144

HUMBERTO BEZERRA

3 professores responderam

8.

“O planejamento é flexível e dinâmico, entendo assim, o contexto e principalmente

as vivências e experiências do cotidiano.”

“Além do currículo pré-determinado tenho a liberdade de adicionar outras linhas de

trabalhos que contribuem para o melhor aperfeiçoamento do conteúdo.”

“As aulas de literatura são planejadas levando em conta o plano anual e o livro

didático porém sempre com apoio de materiais extras. Praticamos bimestralmente a

metodologia “Tertúlia literária”; onde um clássico da literatura é debatido com os

alunos.”

9.

“Leitura é minha amiga, busco minha libertação, prazer como também

conhecimento.”

“Sim, procuro sempre ler títulos que abordem vários temas do cotidiano como,

política, esporte, literatura moderna e alguns clássicos. Uso internet pegos livros

emprestados e baixo alguns do domínio público.”

“Hoje em dia considero-me uma professora que já foi mais leitora; pois devido as

demandas de sala tenho lido em média 2 livros ao mês. A escolha dos mesmos é

sempre feita e motivada pela necessidade do momento. Faço leitura através da

internet, e-books e livros próprios.”

10.

“Sempre as autoras.”

145

“Sim li algumas autoras, como Raquel de Queiros, alguns poema de Clarisse mais

na maioria das vezes tenho lido autores, como José Saramago (Portugues) e os

tradicionais, José Lins do Rêgo Machado e Graciliano entre outros...”

“Durante a minha vida acadêmica, tive muito contato com inúmeros autores que

marcaram e enriqueceram minha formação. Leio mais autoras femininas.”

11.

“Nunca pensei sobre isso mas, é boa a reflexão sobre o assunto.”

“É fácil perceber que a maioria que nas indicações literárias a maioria dos escritores

são homens , e é justo essa reflexão, se faz necessário uma presença maior de

escritoras nas indicações didáticas.”

“Nunca havia parado para pensar nesse assunto, mas realmente existe uma

disparidade enorme entre autores e masculinos e autoras, principalmente se

atentarmos à questão da raça.”

LICEU DE QUIXERAMOBIM

5 professores responderam

8.

“O livro didático é escolhido pelo coletivo, cada professor pode opinar sobre essa

escolha. Ao escolhermos o livro passamos a utilizá-lo como principal ferramenta

didática, mas isso não nos impede de trabalharmos com outras fontes. Nas aulas de

literatura sempre levamos textos extras, trabalhamos a leitura de clássicos, dentre

outras metodologias.”

“Sim, a escola onde trabalho tanto permite como reproduz os materiais necessários.”

146

“Em parte sim, no entanto temos que seguir o que é proposto pelo currículo/livro

didático, oficinas do SPAECE, ENEM, o que acaba por algumas vezes nos

“obrigando” a seguir o que está no livro, mas procuro ampliar minhas com visitas à

biblioteca, com o incentivo à leitura, com a leitura de textos literários em sala (além

do livro). Fazemos também o círculo de leitura.”

“Apesar da correria, levo sempre novos temas para trabalhar em sala, queria poder

levar mais, noentanto não dá tempo. Procuro sempre textos que tratem de temas

atuais para abrir roda de conversa.”

“Sim, posso utilizar de todos os meios disponíveis.”

9.

“Nossa profissão sempre nos leva a estar lendo constantemente. Embora o tempo

nos sufoque, procuramos ler pelo menos o suficiente para contextualizarmos nossas

aulas.”

“Há algum tempo atrás conseguíamos ler uma quantidade considerável de livros,

hoje essa quantidade diminuiu devido as diversas tarefas que precisamos cumprir.”

“Costumava ler livros em bibliotecas públicas, sempre tive uma grande identificação

com temas regionalistas, sociais, que trabalha com o inconsciente dos personagens.

No entanto, o sistema educativo, com sua extensa burocracia e quantidade de horas

de trabalho, nos privam de costumes imprescindíveis ao ato de educar. A leitura se

torna presente, mas não na mesma intensidade de antes.”

“Sim. Em média dois, depende muito do tempo, na maioria são livros propostos pela

escola (particular que trabalho). São livros paradidáticos. Mas sempre que tenho

tempo livre, leio os livros que tenho interesse pessoal, os quais compro ou pego na

biblioteca do Liceu, SESC, biblioteca pública. A motivação é algo que vem de dentro

para fora, mas a internet, blogs e amigos também contribuem.”

“Leio em média 2 livros por mês, infelizmente o tempo não ajuda. Leio por prazer e

147

procuro sempre mostrar isso a meus alunos para tentar motiva-los.”

“Sim, um a cada dois meses, online. A leitura é minha ferramenta indispensável para

o dia a dia em sala de aula.”

10.

“Durante a faculdade muitos foram os livros que lemos. Recordo de escritoras como

Rachel de Queiroz, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Adélia Prado, entre outras.

Procuro ler tanto escritores, quanto escritoras. Mas, acredito que a quantidade de

escritores que li, seja maior do que a de escritoras.”

“Clarice Lispector, Raquel de Queiroz, Cecília Meireles, não recordo outras. Costumo

ler mais escritores homens, não pelo gênero em si, mas por sua escrita, temática.”

“Raquel de Queiroz, Clarice Lispector contribuiram na construção e reconstrução

(moldando) a minha identidade, na ampliação dos conhecimentos, e sobretudo, no

prazer e no deleite de uma maravilhosa leitura.”

“Autoras que me marcaram foram Clarice Lispector, Cecilia Meireles entre outras.”

“Euclides da Cunha “Vidas Secas””

11.

“Exatamente por causa dessa disparidade, acredito que os autores costumam ser

mais lembrados na hora da escolha dos livros para leitura.”

“Os livros didáticos mantém um padrão. Sempre vemos os mesmos autores e obras,

e em sua maioria são escritores homens. Há de fato, certas disparidades, a

seletividade é evidente e aceita com normalidade.”

“Acredito que há uma certa desigualdade, onde só há mais espaço para escritores

clássicos. Nos livros há um pouco da reprodução das desigualdades sociais, muitas

148

vezes não condiz com a realidade dos alunos, deveria abrir mais espaço para

escritoras contemporâneas, negras que muito têm a contribuir na vida dos

estudantes.”

“Não tinha parado para pensar nisso até agora.”

“Não, autores e autoras vai de sua habilidade e capacidade em produzir seus livros.”

ESCOLA PROFISSIONAL

3 professoras responderam

8.

“As aulas de Literatura são planejadas conforme o currículo, porém tenho a

liberdade de escolher materiais e metodologia que correspondam à necessidade de

cada turma. Como trabalho com as 3º séries, o aprofundamento literário por meio da

leitura integral das obras acaba sendo limitado, pelo fato da metodologia se voltar

principalmente para o ENEM e outras avaliações externas.”

“As aulas são momentos únicos e criativos, pois a literatura é livre assim como as

possibilidades práticas. Trabalho do regional ao universal, unindo popular e cânone,

música, dança e reflexão. Busco promover aulas dinâmicas, interativas e

construtivas mas abordo a teoria necessária ao processo crítico e reflexivo dos

alunos.”

“Tenho liberdade de escolher o material a ser trabalhado, inclusive fazemos análise/

discutimos/estudamos o material antes da escolha. O Plano Anual é flexível e

sempre associo a outros conteúdos, principalmente de acordo com as necessidades

e realidade da turma. As aulas são planejadas de modo a despertar o gosto e

entendimento da disciplina. Estudo das obras/análise e vivências em sala (estudo e

dramatização da obra).”

149

9.

“Sou apaixonada pela Literatura e costumo comprar obras que me interessam a

partir de temas ou autores que me interessam a partir de temas ou autores que já

gosto ou que gostaria de descobrir. Quanto à prática da leitura, confesso que tenho

me voltado de forma muito exclusiva a leituras técnicas, não me debruçando tanto

na literatura como gostaria.”

“A leitura literária é o que motiva meus momentos, viver sem literatura é não viver.

Leio em diferentes meios, formatos e suportes, pois a literatura é livre e nossas

escolhas mais ainda. Em suma leio e compartilho, pois segundo Rildo Cosson, a

‘literatura é um ato solitário e solidário’.”

“Sempre amei ler e continuo com essa prática, não se pode ensinar, motivar e

inspirar o seu educando, quando não se tem o gosto/prazer pela leitura. Costumo ler

dois livros por mês (atrelado a outras leituras), procuro estar atualizada e informada

sobre as novas tendências/escritores/críticas literárias (o que

pensam/criam/sugerem) os mestres/doutores/escritores dessa área.”

10.

“Clarice Lispector me marcou muito pela forma profunda de “ficar” na gente. A forma

como me fazia enxergar coisas que, por mais importantes que fossem, passavam

despercebidas, mas que, na verdade, nos ajudam a adentrar mais em nós mesmos.”

“A faculdade formou minha postura leitora, dentre as escritoras que marcaram meus

sentimentos encontra-se Marina Colasante, minha preferida, mas lembro de Clarice,

Mia, José Saramago, Conceição Evaristo, Carmélia Aragão etc. Costumo unir

gêneros, o que me prende é a essência textual unicamente.”

“As disciplinas de Literatura são lembradas até os dias atuais. Autores como: José

de Alencar, Machado de Assis, Aluisio Azevedo, Clarice Lispector, Cecília Meireles,

dentro outros foram estudados e trago-os para as aulas que leciono. Estudamos de

acordo com o período e de forma diversificada. Leio de forma diversificada , não me

150

detenho a sexo: feminino/masculino.”

11.

“Acredito que a distribuição de autores ainda é bastante limitada e não contempla

autores na literatura africana, principalmente mulheres, ficando muito restrito a

autores mais clássicos.”

“É historicamente comprovado que homens convem maior espaço que mulheres,

mas acredito que ao longo do tempo muitas coisas mudaram mesmo que

minimamente, contudo torna-se necessário a disseminação de mais textos femininos

em livros didáticos, não para superiorizar, mas para equilibrar , pois homens e

mulheres são dignos de ocuparem o mesmo espaço.”

“Gosto da forma como é trabalhada a literatura nos livros didáticos, com exceção

das escritoras/negras/ literatura africana, dentre outras. Lemos muitos escritores

dessa área que não são conhecidos e tão pouco valorizados. Existe uma lacuna

muito grande nessa questão em especial, a essa parte da literatura.”