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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE LIDUINA ELIZABETE ANGELIM GOMES DA SILVA TRABALHO E JUVENTUDE: O PROJETO PRIMEIRO PASSO-CE SOB A ÓTICA DOS EGRESSOS FORTALEZA – CEARÁ 2009

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE

LIDUINA ELIZABETE ANGELIM GOMES DA SILVA

TRABALHO E JUVENTUDE:

O PROJETO PRIMEIRO PASSO-CE SOB A ÓTICA DOS EGRESSOS

FORTALEZA – CEARÁ

2009

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LIDUINA ELIZABETE ANGELIM GOMES DA SILVA

TRABALHO E JUVENTUDE: O PROJETO PRIMEIRO PASSO-CE SOB A ÓTICA DOS

EGRESSOS

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Políticas Públicas. Linha de Pesquisa: Juventude e Trabalho Orientadora: Profa. Dra. Francisca Rejane Bezerra Andrade.

FORTALEZA – CEARÁ 2009

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S725p SILVA, Liduina Elisabeth Angelim Gomes da

Trabalho e juventude: uma análise do projeto primeiro passo/CE. Liduína Elisabeth Angelim Gomes da Silva __ Fortaleza,2009. 120 p. Orientadora: Profa. Dra. Francisca Rejane Bezerra Dissertação [Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Estudos Sociais Aplicados.

1. Trabalho. 2. Juventude. 3. Projeto Primeiro Passo - CE. I. Universidade Estadual do Ceará, Centro de Estudos Sociais Aplicados.

CDD: 614

S586t SILVA, Liduina Elisabete Angelim Gomes da

Trabalho e juventude: o projeto primeiro passo - CE sob a ótica dos egressos/Liduina Elisabete Angelim Gomes da Silva. __ Fortaleza, 2009. 128 p. Orientadora: Profa. Dra. Francisca Rejane Bezerra Andrade Dissertação ([Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Estudos Sociais Aplicados.

1. Trabalho. 2. Juventude. 3. Projeto Primeiro Passo - CE. I. Universidade Estadual do Ceará, Centro de Estudos Sociais Aplicados.

CDD: 341.6

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LIDUINA ELIZABETE ANGELIM GOMES DA SILVA

TRABALHO E JUVENTUDE:

O PROJETO PRIMEIRO PASSO-CE SOB A ÓTICA DOS EGRESSOS

Dissertação submetida ao Curso de Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas do Centro de Estudos Sociais Aplicados da Universidade Estadual do Ceará, do Centro de Estudos Sociais Aplicados, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre.

BANCA EXAMINADORA

Aprovada em: 24/08/2009 ___________________________________ Profa. Dra. Francisca Rejane Bezerra Andrade (UECE) Orientadora

___________________________________________ Profa. Dra. Elenilce Gomes de Oliveira

___________________________________________ Prof. Dra. Josefa Jackline Rabelo

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Este trabalho é dedicado a minha

família, esteio indispensável para o que

hoje sou.

Às jovens que tornaram possível a

realização desta pesquisa.

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AGRADECIMENTOS

Meu primeiro agradecimento é a Deus, Supremo Artífice da criação e representante do amor, sempre presente em minha existência.

Ao olhar para trás me deparo com as lembranças e todo o apoio recebido das pessoas do meu convívio, muitos amigos, familiares, colegas de trabalho que impulsionaram e incentivaram o caminhar em busca deste sonho e principalmente, me deram forças para não desistir no meio do caminho apesar de todos os obstáculos, e olhe que não foram poucos os momentos de dúvidas, inseguranças e angústia, que sem este acreditar deles teriam me feito parar. Uma Dissertação de Mestrado envolve então muitas pessoas. Numa situação como esta, agradecer, citando nomes pode levar-nos a omitir outros que tenham participado expressivamente desta conquista e aos quais sou extremamente grata. Após esta observação, exteriorizamos alguns agradecimentos especiais:

À minha orientadora, Profª. Dra. Francisca Rejane Bezerra, que, com confiança e competência, soube conduzir-me no desafio da busca por novos conhecimentos. Seu apoio e compromisso foram fundamentais. Sou muito grata a Deus por tê-la colocado em meu caminho, pois aprendi muito com ela.

Agradeço, de modo muito especial, a ‘Gra’, minha filha amada, pelo incentivo, ajuda, paciência e compreensão durante estes dois anos e sempre.

A meu pai, Libório, que sempre imprimiu gosto pelo saber e pelo seu exemplo de vida, ele é uma luz que me guia neste caminho.

À minha mãe, Graziela por suas orações e pelas palavras de apoio nos momentos de cansaço.

A Mário (HQA), por acreditar no meu potencial e por todas as palavras de incentivo e força nos momentos de fragilidade.

À Profª Dra. Elenilce, por sua colaboração durante este caminho, quando por ocasião do exame de qualificação avaliou nosso trabalho com toda seriedade e competência.

À Prof. Dra. Jackline , por acatar, incondicionalmente, o meu convite para participar da minha Banca Examinadora.

Ao Prof. Dr. Bosco, por ter aceitado o convite para fazer parte do exame de qualificação e ter contribuído para o engrandecimento desta pesquisa.

Aos docentes do Mestrado em Planejamento e Políticas Públicas, em especial à Profº Drº. Horácio Frota, coordenador do mestrado, pelo aprendizado pautado em sua experiência.

A Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social –STDS, pelo apoio financeiro concedido.

Aos colegas que conheci durante o Curso de Mestrado, pelas trocas de conhecimento, momentos divertidos e pela convicção de que a amizade nascida terá duração eterna.

Aos informantes jovens um particular agradecimento pela disponibilidade e ricos subsídios dos dados fornecidos.

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De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estamos sempre começando...

a certeza de que é preciso continuar... a certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...

PORTANTO DEVEMOS

fazer da interrupção um caminho novo...

da queda um passo de dança... do medo, uma escada... do sonho, uma ponte...

da procura... um encontro

DE TUDO, FICARAM TRÊS COISAS

Fernando Sabino

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LISTA DE ABREVIATURAS

CLT – Consolidação das Leis Trabalhista CMDCA – Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente CNE – Conselho Nacional de Educação DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos DPJ – Departamento de Políticas de Trabalho e Emprego para a Juventude DQE /SPPE/MTE – Departamento de Qualificação da Secretaria de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho e Emprego DRT – Delegacia Regional do Trabalho ECA- Estatuto da Criança e do Adolescente FECOP – Fundo de Combate a Pobreza FHC – Fernando Henrique Cardoso IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDT – Instituto de Desenvolvimento do Trabalho IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social MTB/SEFOR – Secretaria de Formação e Desenvolvimento Profissional MTE – Ministério do Trabalho e Emprego NIPE – Núcleo de Iniciação Profissional NITE – Núcleo de Iniciação ao Trabalho Educativo NITEC – Núcleo de Capacitação e Iniciação ao Trabalho Educativo OIT – Organização Internacional do Trabalho ONGS – Organizações Não Governamentais ONU – Organização das Nações Unidas PEA – População Economicamente Ativa PLANFOR – Plano Nacional de Formação Profissional PMF – Prefeitura Municipal de Fortaleza PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNAS – Política Nacional de Assistência Social PNPE – Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego PNQ – Programa Nacional de Qualificação PPP- Projeto Primeiro Passo PQSP – Programa de Qualidade no Serviço Público RMF – Região Metropolitana de Fortaleza SDE – Secretaria de Desenvolvimento Econômico SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SPE – Sistema Público de Emprego SPPE – Secretaria de Políticas Públicas de Emprego SPSB – Sistema de Proteção Social Brasileiro STDS- Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social SUAS – Sistema Único de Assistência Social SUS – Sistema Único de Saúde

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LISTA DE GRÁFICOS E FIGURAS

Gráfico 1 - Crescimento da população jovem e da ocupação por região -1993-2003 Gráfico 2 - Taxa de desemprego jovem por região 1993-2003 Gráfico 3 - Demonstrativo da aprendizagem em 2008

Gráfico 4 - Ocupação da mãe

Gráfico 5 - Ocupação do pai

Gráfico 6 - Estado Civil dos pais

Gráfico 7 - Idade dos jovens

Gráfico 8 - Regionais onde os jovens residem

Gráfico 9 - Situação profissional das pesquisadas

Figura 1 -. Mapa da cidade de Fortaleza por regiões

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Taxa de desemprego segundo nível de escolaridade (1) Regiões Metropolitanas e Distrito Federal 2006 (em%). TABELA 02 - Principais Segmentos do mercado de Trabalho da População Jovem e Adulta, Segundo o Gênero Nordeste – 2001-2003 TABELA 3 - Taxa de Desemprego Segundo Nível de Escolaridade/Regiões Metropolitanas e Distrito Federal 2006 TABELA 4 - Condições de Atividade e Estudo por Sexo e Faixa Etária dos Jovens no Brasil em 2007 TABELA 5 - Participação da População Jovem no Desemprego Brasil 2006 /2007 TABELA 6 - Posição na Ocupação Brasil 2006/2007 TABELA 7 – Demonstrativo dos projetos executados pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS) TABELA 8 -Sexo e Faixa Etária da População Residente nas Regionais Agosto-Setembro/2006 TABELA 9 – Motivos apontados para querer trabalhar TABELA 10 - Tempo de Espera após a Inscrição

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RESUMO

Esta dissertação aborda o tema trabalho e juventude e tem como objetivo uma análise das políticas publicas acerca do assunto, realizando-se um estudo avaliativo do Projeto Primeiro Passo-CE desenvolvido pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS). O referido estudo encontra-se fundamentado nas teorias sobre os conceitos e significados de juventude, e suas relações com o mercado de trabalho e o desemprego juvenil, dando enfoque ao conceito de aprendizagem e relacionando-o ao Projeto Primeiro Passo. Elaborou-se uma discussão critica sobre as Políticas Públicas brasileiras contextualizando-as e realizando um estudo analítico e reflexivo das mesmas para a juventude. Abordamos ainda, os projetos dirigidos para a juventude, desenvolvidos pela STDS. Esses estudos e reflexões foram básicos para fundamentar as discussões apresentadas, mais especificamente, no terceiro capítulo, que encerra uma análise do Projeto Primeiro Passo, sob a ótica dos seus beneficiários, destacando o perfil dos usuários, a percepção dos jovens sobre o projeto e a qualificação ofertada. A pesquisa comprovou que as ações do Projeto Primeiro Passo têm proporcionado ganhos sociais, o que tem alimentado, nos jovens, expectativas a respeito da qualificação e da experiência comprovada, como possibilidade de inserção no mundo do trabalho.

Palavras-Chave: Juventude e trabalho. Desemprego Juvenil. Políticas Públicas. Projeto Primeiro Passo.

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ABSTRACT This dissertation study approaches the correlation between labor and the young whose goal is to analyze applied public policies through the assessment of Projeto Primeiro Passo-CE (First Step Project) developed by Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS) (Labor and Social Development Office). The above-mentioned study is based on theories on the concepts and meanings of youth and their relationship with the job market and juvenile unemployment, focusing on the concept of apprenticeship and relating it with the Projeto Primeiro Passo (First Step Project). There has been a critical discussion on the Brazilian Public Policies contextualizing them and studying them both analytically and reflexively towards the young. We also approach the projects directed towards the youth which are developed by the STDS. These studies and reflections were fundamental to base the presented discussions, more specifically, on the third chapter which brings an analysis of the First Step Project from the point of view of its beneficiaries, pointing out the profile of the users, their perceptions on the project and the offered qualification. This study found that the actions taken by the First Step Project have brought about many social accomplishments which have fed the young with great expectations towards the job market due to their qualifications and testified experiences. Key words: Youth and labor. Juvenile unemployment. Public policies. First Step

Project.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................

2. DESENVOLVENDO AS CATEGORIAS: Juventude, Trabalho e Aprendiz....... 2.1 Juventude: Conceitos e significados................................................................. 2.2. Trabalho: Mercado de trabalho e desemprego juvenil..................................... 2.3. Aprendiz: conceito de aprendizagem e o Projeto Primeiro Passo................. 3. POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A JUVENTUDE.................................................. 3.1. Políticas Públicas: Uma sucinta contextualização........................................... 3.2. Uma análise das políticas públicas de trabalho para jovens realizadas no Brasil................................................................................................................ 3.3. Desenvolvimento e gestão de políticas da juventude realizadas pela secretaria do trabalho e desenvolvimento social -STDS - Ceará......... 4.O PROJETO PRIMEIRO PASSO NA ÓTICA DOS SEUS BENEFICIÁRIOS...... 4.1. Perfil dos jovens assistidos pelo Projeto Primeiro Passo ............................... 4.2. A visão dos jovens sobre o Projeto Primeiro Passo........................................ 4.3. As jovens e o Projeto Primeiro Passo.............................................................. 4.4. Qualificação e Profissionalização dos jovens.................................................. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... BIBLIOGRAFIA...................................................................................................... APÊNDICE............................................................................................................. ANEXOS.................................................................................................................

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1 INTRODUÇÃO

Há tempos são os jovens que adoecem Há tempos o encanto está ausente

E há ferrugem nos sorrisos E só o acaso estende os braços

A quem procura abrigo e proteção.

(Há tempos – música da Legião Urbana)

O mundo, nas últimas décadas, aprofundou a interdependência entre as

nações, a globalização da economia, da tecnologia e, até, da cultura em geral.

Atualmente, as indústrias de vanguarda, como é o caso da informática, das

telecomunicações, da química fina, da biotecnologia e da robótica, revolucionam

todos os setores da sociedade.

No contexto dessas transformações, no mundo organizacional, também o

Estado, em diferentes países (França, Inglaterra, Alemanha, EUA, Japão, Itália,

dentre outros), vivenciou processos de reestruturação. Isso porque, as grandes

mudanças econômicas e sócio-políticas derivadas da reestruturação produtiva, dos

avanços da tecnologia da informação, da mundialização sócio-cultural e das lutas

sociais pela democracia, transformaram radicalmente as relações entre Estado,

sociedade e organizações empresariais.

O Brasil apresenta um quadro social deficitário, em relação a indicadores de

bem-estar social, especialmente, saúde, educação e trabalho, que se degradam por

conta da submissão do trato das questões sociais às prioridades econômicas.

As mudanças ocorridas no mercado de trabalho são uma constatação óbvia.

Algumas habilidades que o mundo moderno do trabalho exige dos candidatos a uma

vaga podem ser aprendidas na escola formal, outras não, porque as empresas

exigem além do currículo escolar, que o trabalhador tenha competências e

habilidades para atuar em vários campos, ao mesmo tempo. Assim, a classe média

brasileira procura educar seus filhos de forma a atender ao modelo exigido pelos

países industrializados, antecipando a qualificação das crianças, adolescentes e

jovens com aulas de inglês, computação e buscando alternativas para resguardar

oportunidade de emprego no futuro. Entretanto, a maioria das famílias brasileiras

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não se enquadra nesse padrão de vida e de possibilidade de educação extra-

curricular para seus filhos.

Na realidade, as famílias pobres buscam alternativas de sobrevivência e a

grande maioria educa seus filhos nas escolas públicas, enquanto outra grande parte

deixa seus filhos menores perambulando nas ruas, em busca de qualquer ocupação.

Assim, essas crianças e adolescentes são prejudicadas já que não usufruem o

aprendizado formal das escolas.

A insuficiência e ou redução das políticas públicas voltadas para inclusão dos

jovens no mundo do trabalho, influenciadas pelas determinações do capital, tende a

restringir o número de empregos e faz crescer as desigualdades sociais. A

desqualificação profissional é, também, outro problema que desencadeia o

desemprego e o subemprego, porque a indústria e o comércio, aliados às leis

ditadas pelo mercado capitalista na lógica da produtividade, da eficiência e do lucro,

na permanente busca do aprimoramento tecnológico, diminuem as oportunidades

para os desqualificados.

A qualificação para o trabalho, nos dias atuais, se depara com a realidade das

transformações e dos avanços tecnológicos, de tal modo acelerado, que se constitui

um dos maiores desafios à classe trabalhadora frente ao excedente de mão-de-obra.

A flexibilidade dos contratos de trabalho, decorrentes da legislação trabalhista e do

bloqueio da ação sindical, também são fatores que geram a grande massa de

desempregados no país.

Nos últimos anos, a qualificação social e profissional vem ocupando espaço

cada vez maior entre as iniciativas educacionais. A relevância desse fato é

incontestável, considerando-se a problemática das mais recentes transformações

pelas quais passa o mundo do trabalho na sociedade brasileira. O destaque fica

para o contingente de desempregados, desqualificados, enfim, despreparados para

a inserção no processo de reestruturação produtiva para um mercado cada vez mais

globalizado.

As transformações constantes e radicais que ocorreram no mercado de

trabalho, nas últimas décadas, também passaram a exigir novas qualificações dos

trabalhadores. O ritmo de evolução acelerado, mediado pela tecnologia e pela

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microeletrônica, cada vez mais sofisticadas, está fazendo desaparecer várias

profissões (tipógrafo, telegrafista, operador de telex e outros) e criando outras tantas

(analista de sistemas, programadores e ouros). Está, assim, exigindo novas

qualificações e habilidades em, praticamente, todas as demais profissões, em um

processo contínuo de reorientação de cargos e ocupações. Ao longo dessas

mudanças, ganhos e perdas de vários níveis são observados, tendo como pano de

fundo um cenário tecnológico sofisticado. Por um lado, constatam-se rapidez,

eficiência, racionalização, produtividade e, por outro, impessoalidade das relações,

confirmação do caráter alienante do trabalho, dependência tecnológica, entre outras.

A sociedade contemporânea enfrenta inúmeros problemas, entre eles o

desemprego que tem se constituído como um dos mais graves. Contudo, é

necessário observar que a forma como atinge os diversos grupos sociais é desigual,

estando as mulheres e os jovens como os mais afetados. Assim, elege-se um

desses elementos para análise: os jovens, daí porque, este estudo objetiva analisar

a complexa relação, jovens e o desemprego, assim como, abordar algumas ações

desenvolvidas através das políticas públicas estatais desenvolvidas pela Secretaria

do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS) que se aventuram a combater o

desemprego dos jovens.

O acesso aos bens e serviços está atrelado ao trabalho, isso porque somente

através dele é possível uma parcela de pessoas garantirem sua sobrevivência. Para

a juventude o que se apresenta na atualidade é a existência de dificuldades quase

intransponíveis no que se refere à sua inserção no mundo do trabalho. Quando

conseguem um emprego, na maioria das vezes, vêm acompanhados de condições

comuns ao início do século XX, salários baixos e altas jornadas de trabalho.

A taxa atual de desemprego juvenil no Brasil é 3,5 vezes maior que entre os

adultos com mais de 24 anos. O índice vem aumentando, uma vez que em 1995 era

de 2,9 vezes e, em 1990, alcançava 2,8. É o que mostra a pesquisa ‘Juventude e

políticas sociais no Brasil’, organizada por Jorge Abrahão de Castro e Luseni Aquino

do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

O problema do elevado nível de desemprego entre os jovens insere-se em um

círculo vicioso, que impede a conquista do primeiro emprego por falta de experiência

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e impede a experiência por falta de emprego. E gera, ainda, o mais perverso dos

efeitos: o da exclusão. Quanto mais pobre a família do adolescente, menor a sua

escolaridade, mais cedo começa a trabalhar e menos qualificado está para o posto

que ocupa no mercado de trabalho.

Posta, assim, a questão, pode-se dizer que a redução do desemprego juvenil

se dá através de ações compensatórias, com foco nos jovens de menor renda e

escolaridade. As ações, habitualmente, vêm tendo como fundamental objetivo à

ampliação da qualificação em prejuízo da geração de novos postos de trabalho

específicos para os jovens.

Diante da realidade aqui descrita, optou-se pela abordagem deste tema, cujo

principal objetivo foi analisar uma política estatal de emprego desenvolvida pela

Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS). Nesse sentido, os

objetivos específicos foram: procurar compreender os resultados, notadamente, a

partir do depoimento dos jovens egressos da linha de ação jovem aprendiz

assistidos pelo Projeto Primeiro Passo, e descobrir os rumos que foram tomados

pelos egressos e em qual situação ocupacional se encontram.

Para melhor entender o objeto deste estudo, foi necessária uma apropriação

de conhecimentos científicos que possibilitassem o aprofundamento do tema

pesquisado. Portanto, foi necessário compreender o que é conhecimento cientifico.

No entendimento de Bourdieu (2004), a constituição do objeto de pesquisa

não é algo que se produza de uma hora para outra. A atenção aos pormenores do

procedimento da pesquisa é fundamental para encontrar os bons informantes,

descrever com clareza os objetivos da pesquisa e penetrar o meio a ser investigado.

Desse modo, ele esclarece que:

[...] a pesquisa é um trabalho de grande fôlego, que se realiza pouco a pouco, por retoques sucessivos, por toda uma série de correções, de emendas, sugeridas por o que se chama o ofício, quer dizer, esse conjunto de princípios práticos que orientam as opções ao mesmo tempo minúsculas e decisivas (BOURDIEU, 2004, p. 27).

O conhecimento científico pode ser definido como aquele que é produzido

pela investigação científica, através de seus métodos. Surge da necessidade de

encontrar soluções para problemas de ordem prática cotidiana, mas também, do

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desejo de fornecer explicações sistemáticas que possam ser testadas e criticadas

através de provas empíricas.

Por meio desses métodos se obtêm enunciados, teorias, leis, que explicam as

condições que determinam a ocorrência dos fatos e dos fenômenos associados a

um problema, sendo possível fazer prognósticos sobre esses fenômenos e construir

uma associação de novos enunciados, e teorias, fundamentados na verificação

desses prognósticos, e na correspondência desses enunciados com a realidade.

Por conseguinte, Chauí (1994, p.354) concebe método científico como:

Uma investigação que segue um modo ou uma maneira planejada e determinada para conhecer alguma coisa; procedimento racional para o conhecimento seguindo um percurso fixado.

O conhecimento científico permite a construção conceitual de imagens da

realidade que sejam verdadeiras e impessoais, passíveis de serem submetidas a

testes de falseabilidade.

Compreende-se, por metodologia, a abordagem da realidade com os

caminhos e estratégias escolhidas, incluindo, nesse trajeto, as concepções teóricas

e técnicas que possibilitaram a compreensão da realidade estudada.

Para respaldar nosso pensamento cita-se Oliveira (2007, p. 45) que

define metodologia de pesquisa como:

Um processo que se inicia desde a disposição inicial de se escolher um determinado tema para pesquisar até análise dos dados com as recomendações para minimização ou solução do problema pesquisado. Portanto metodologia é um processo que engloba um conjunto de métodos e técnicas para ensinar, analisar, conhecer a realidade e produzir novos conhecimentos.

A proposta deste estudo baseou-se numa opção teórico-metodológica

que considera a integração e a complementaridade do corpo teórico com os

procedimentos metodológicos. Esta posição fundamenta-se no pensamento

daqueles filósofos e cientistas que recriminam as separações dicotômicas entre

métodos e técnicas, qualitativos ou quantitativos, de um lado, e as explanações

teóricas, de outro. Bourdieu é um destes sociólogos que ordena os pressupostos

que fundamentam esta posição. Este autor, alegando que a divisão

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teoria/metodologia é resultado de uma divisão operacional de trabalho “entre

professores e investigadores de gabinetes de estudo” (BOURDIEU, 2004, p. 24),

defende que as opções técnicas mais empíricas sejam inseparáveis das opções

teóricas, na construção do objeto de estudo. Recusa todo “sectarismo” metodológico

e recomenda que, de acordo com o caso e da definição do objeto de estudo, todas

as técnicas sejam mobilizadas desde que pertinentes e passíveis de utilização.

Em suma, a pesquisa é uma coisa demasiado séria e demasiado difícil para se poder confundir rigidez, que é o contrário da inteligência e da invenção com o rigor, e se ficar privado deste ou daquele recurso entre os vários que podem ser oferecidos pelo conjunto das tradições intelectuais da disciplina (Sociologia) e das disciplinas vizinhas: Etnologia, Economia, História (BOURDIEU, 2004, p. 26).

Santos (1989, p. 74) analisa a questão do método. De acordo com o

pensamento deste autor, a discussão sobre o método e a cientificidade das Ciências

Sociais foi acirrada com a perda do consenso “positivista”, pela crítica a este

paradigma científico-metodológico, levando a um aprofundamento da reflexão

metodológica sobre a provisoriedade da verdade e a complexidade na busca do

conhecimento.

Esta discussão epistemológica resulta, na prática das pesquisas, no Pluralismo Metodológico, com a combinação de métodos qualitativos e quantitativos e com o uso de várias técnicas de investigação - quanto mais precária se tornou a verdade mais difícil e arriscado o caminho real para obtê-la. Essa consciência da complexidade traduziu-se na ideia de que não há um caminho real para aceder à verdade, todos devem ser tentados na medida do “possível’ (SANTOS, 1989, p. 74).

Essas questões teórico-metodológicas, que abarcam as escolhas feitas

pelo pesquisador quanto à abordagem do objeto de pesquisa e sua construção, têm

relação com a discussão epistemológica intrínseca à constituição da ciência como

conhecimento que é antagônica ao conhecimento do senso comum, espontâneo,

sem, no entanto, deixar de considerá-los. A constituição da ciência ordena a

promoção da ruptura com as representações e interpretações do senso comum, elas

mesmas alçadas à categoria de objeto de estudo. Harmonizar a racionalidade

objetivista, conferida ao conhecimento da ciência, com a especificidade do objeto de

estudo das Ciências Sociais, que abarca relações próximas entre o pesquisador e o

pesquisado, é o grande desafio. A profundidade do estudo do campo social obriga o

pesquisador a uma atenção epistemológica muito cautelosa, pelos obstáculos

provenientes da identidade de natureza entre o sujeito e o objeto de estudo.

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Trabalha-se, nesta pesquisa, com a consciência das dificuldades de

construção do objeto de estudo, o Projeto Primeiro Passo e sua atuação junto aos

jovens aprendizes, praticando a reflexão sobre as categorias de percepção

constituídas, pela pesquisadora, em sua vivência e experiência cotidianas.

De acordo com Minayo (1998), a pesquisa é definida como a atividade

básica das ciências na sua investigação e descoberta da realidade. Versa em uma

atividade de aproximação contínua da realidade, ajustando a teoria e os dados.

No intento de optar por uma metodologia adequada para atender aos

objetivos propostos, optou-se por realizar um estudo descritivo com abordagem

qualitativa.

O destaque dado aos aspectos qualitativos, ou seja, à abertura dada para

a interpretação e a valorização da experiência, de modo singular pelos sujeitos

envolvidos, dá à linguagem verbal e não verbal um lugar muito significativo na

pesquisa.

Na concepção de Minayo (1998), a palavra é um símbolo de comunicação

por excelência e a fala é reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores,

normas e símbolos, sendo ela mesma um deles. A palavra, o discurso, a fala são

fenômenos ideológicos, consistem num campo de expressão das relações.

A pesquisa científica foi executada tendo como parâmetro uma

abordagem qualitativa e, baseada no método de estudo de caso, pelo qual foi

possível a utilização da técnica de entrevista que facilitou a compreensão dos fatos

e fenômenos a serem estudados e que se constituiu um bom instrumento de análise

sobre o caminhar dos jovens pesquisados.

Os fenômenos qualitativos, para Demo (2005), só existem num contexto

material, temporal e espacial. Para se ter uma compreensão destes fenômenos, faz-

se necessária uma pesquisa de campo. De acordo com Ludke & André (1986), a

pesquisa qualitativa possibilita um contato pessoal e estreito entre pesquisador e o

sujeito da pesquisa.

Para Yin (2005), por conseguinte, o estudo de caso contribui para a

compreensão dos fenômenos sociais complexos e, habitualmente, é aplicado nas

áreas das ciências humanas e sociais. Para esse autor,

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O método de estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real, tais como: ciclos de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação dos setores econômicos (YIN, 2005, p.20).

Tomando por base as ideias do autor aqui citado, pode-se verificar que o

estudo de caso é um método que pode ser aplicado em diversas áreas do

conhecimento, daí porque a escolha desse método corresponde ao objetivo maior

proposto, que é analisar o Projeto Primeiro Passo através da percepção dos jovens

componentes da linha de ação jovem aprendiz.

Para a efetivação deste estudo, empregaram-se instrumentos que

possibilitaram maior interação do pesquisador e os sujeitos da pesquisa, o que

propiciou o acesso às informações recebidas com relação ao que pretendíamos

investigar e, consequentemente, apreensão dos dados relevantes do estudo

mediante a sua análise qualitativa e quantitativa.

Foram utilizados os seguintes instrumentos nesta pesquisa: entrevistas,

análise de documentos e alguns gráficos que foram gerados a partir do cadastro dos

jovens extraído do sistema de monitoramento e avaliação do Núcleo de Iniciação

Profissional- Primeiro Passo.

Embora essa investigação sociológica se firme, predominantemente,

numa abordagem qualitativa, a análise do cadastro dos jovens possibilitou, no

âmbito restrito desta pesquisa, apresenta uma aproximação quantitativa,

consentindo analisar numericamente, algumas questões pertinentes a esta temática.

As categorias de análise em destaque, neste estudo vinculam-se,

diretamente ao tema que interessa investigar: juventude e trabalho, desemprego

juvenil e políticas públicas. Para tal, procurou-se, na pesquisa de campo, abordar

questões relacionadas à juventude e ao trabalho, qualificação e profissionalização

dos jovens e percepção das jovens sobre o Projeto Primeiro Passo.

A proposta apresentada foi alargar os conhecimentos sobre juventude,

procurando incluir nas discussões conceitos de juventude, compreensão do mercado

de trabalho, desemprego juvenil e as políticas públicas voltadas para inserção dos

jovens no mundo do trabalho.

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Para tanto, fez-se uso da base teórica de autores que direcionaram seus

estudos sobre juventude, desemprego e suas ramificações. Através de suas

contribuições, foi possível embasar as discussões acerca do objeto de investigação

escolhido. Entre os inúmeros estudiosos pesquisados é possível fazer referência a

Levi e Schmitt (1996), Abramo (1994, 2005), Spósito (1996, 1999), Foracci (1972),

Pochmann (2000, 2007), Antunes (2000, 2004), que tratam das questões das

transformações do mundo do trabalho, ao longo da história, no capitalismo

contemporâneo, o desemprego juvenil e as saídas possíveis para mudar essa

realidade que tanto atinge a juventude brasileira.

A pesquisa científica possibilita a garantia de um conhecimento

aproximado sobre o que se deseja estudar. Mas é importante compreender que a

prática científica não se restringe a uma sequência de operações e procedimentos

úteis e imutáveis. A complexidade dos problemas em ciências sociais exige

interpretações e observações constantes entre os pólos epistemológicos e teóricos

que o pesquisador seleciona para trabalhar numa pesquisa.

Importante se faz destacar que a pesquisa foi realizada no período de

março a junho de 2009, na sede do Projeto Primeiro Passo, junto aos jovens

egressos da qualificação profissional atrelada ao programa de aprendizagem, linha

de ação jovem aprendiz realizada, durante o ano de 2008. Segundo definição do

ECA (artigo 62), aprendizagem é:

A formação técnico-profissional ministrada ao adolescente ou jovem segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor, implementada por meio de um contrato de aprendizagem.

Já o programa de aprendizagem possui a seguinte definição:

Aprendizagem é o programa técnico-profissional que prevê a execução de atividades teóricas e práticas, sob a orientação de entidade qualificada em formação técnico-profissional metódica, com especificação do público–alvo, dos conteúdos programáticos a serem ministrados, período de duração, carga horária teórica e prática, mecanismos de acompanhamento, avaliação e certificação do aprendizado, observando os parâmetros estabelecidos na Portaria MTE nº 615, de 13 de dezembro de 2007.

São consideradas atividades teóricas aquelas realizadas na entidade

formadora, sob orientação desta. As atividades práticas são aquelas desenvolvidas

na empresa ou na entidade formadora.

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Compreende-se o trabalho de campo como concreta chance de

compreensão do objeto de investigação, com aquilo que se ambiciona desvendar,

bem como, com o fluir de novos conhecimentos. Para Minayo (1998, p. 105), o

campo compreende “o recorte espacial que corresponde à abrangência, em termos

empíricos, do recorte teórico correspondente ao objeto de investigação.”

E acrescenta essa autora:

A pesquisa social trabalha com gente, com atores sociais em relação, com grupos específicos. Esses sujeitos de investigação, primeiramente, são construídos teoricamente enquanto componentes do objeto de estudo. No campo, fazem parte de uma relação de inter-subjetividade, de interação social com o pesquisador, daí resultando um produto novo e confrontante tanto com a realidade concreta como com as hipóteses e pressupostos teóricos, num processo mais amplo de construção de conhecimentos (MINAYO,1998 p. 105).

A coleta de dados foi realizada através da técnica de entrevista. Para

facilitar a investigação sobre o fenômeno a ser desvendado o roteiro de entrevista foi

elaborado contendo questões norteadoras de modo a produzir um conhecimento

sobre o sentido atribuído ao trabalho e à condição de jovem perante as

transformações sociais da atualidade, e ainda, uma avaliação do Projeto Primeiro

Passo.

Foram mobilizados 52 jovens, por meio de convocação feita pelo correio e

confirmada por telefone, quando estes relataram a preferência em comparecer ao

Projeto, ao invés de receber a pesquisadora em suas residências. Ressalta-se que

20 cartas foram devolvidas, em decorrência da mudança de endereço e, das 32

pessoas com quem foi possível manter contato, apenas 15 atenderam ao convite.

A entrevista semi-estruturada propiciou a possibilidade de se

compreender o que realmente pensam os jovens, por permitir um contato direto

entre o pesquisador e o pesquisado. Essa é a grande vantagem da entrevista:

propiciar ao entrevistado a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto, sem

respostas ou condições prefixadas pelo pesquisador (MINAYO, 1998, p.108).

O entrevistado, ao ponderar sobre o tema, expõe suas experiências,

permitindo ao pesquisador apreender as informações desejadas, tanto na linguagem

verbal, como na expressão corporal e na entonação de voz do entrevistado.

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Elegeu-se a entrevista semi-estruturada por acreditar que ela permite que o

assunto seja abordado sem direcioná-lo, possibilitando ao entrevistado liberdade para

falar sobre o assunto, tendo maior flexibilidade em suas respostas, trazendo à tona os

mais variados aspectos que possam perpassar a sua percepção sobre o projeto primeiro

passo.

A aplicação da entrevista deu-se em uma situação relativamente formal.

Os participantes tinham claro que aquelas informações seriam sigilosas e que

apenas a pesquisadora, uma desconhecida para eles, teria acesso a elas, e que

jamais seriam identificados. Acredita-se ter transmitido confiabilidade a eles, tanto

que não se sentiu rejeição ou má vontade. Procurou-se motivá-los deixando claro

que suas contribuições chegarão ao conhecimento dos gestores que executam as

políticas voltadas para a juventude, dentro da Secretaria do Trabalho e

Desenvolvimento Social – STDS, e que poderão, também, influenciar na recondução

das ações até então desenvolvidas.

Todas as entrevistas foram gravadas e depois da fase de coleta de dados

foram transcritas para análise posterior das falas. As Informantes Jovens foram

identificadas com nome de flores: Hortência, Magnólia, Violeta, Papoula, Azálea,

Dália, Margarida, Orquídea, Acácia, Gérbera, Rosa, Tulipa, Begônia, Gardênia, Flor

de lis.

A ordem dos capítulos permitirá averiguar a existência de articulação e

correlação entre os diversos aspectos e enfoques apresentados sobre a temática

juventude e trabalho, compondo ponto alto da reflexão a interação entre a condição

juvenil e o desemprego. Foram pinçadas algumas das questões envolvidas nos

temas, com a concordância de que, por sua complexidade, as análises não foram

esgotadas, com probabilidade de deixar em aberto outros pontos geradores de

novas pesquisas.

Finalmente, os capítulos foram estruturados da seguinte forma: no

primeiro capítulo, realiza-se uma discussão teórica sobre juventude, seus conceitos

e significados, com base em estudos de vários teóricos que se dedicam ao estudo

dessa categoria de análise. Abordaram-se questões relacionadas ao mercado de

trabalho brasileiro e as especificidades do desemprego juvenil e afunilou-se a

discussão passando por dados que caracterizam a situação do Nordeste e do

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Ceará.

No segundo capítulo, procurou-se contextualizar sucintamente as políticas

públicas no Brasil, dando-se destaque às políticas de emprego para jovens

existentes na atualidade. Contudo, o enfoque do capítulo ocorre através da

exposição do Desenvolvimento e Gestão de Políticas da Juventude realizadas pela

Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social -STDS -Ceará, que visa a

minimizar a inatividade e o desemprego dos jovens.

O terceiro capítulo foi dedicado à realização da pesquisa de campo que

foi feita com jovens egressos da qualificação profissional atrelada ao programa de

aprendizagem, linha de ação jovem aprendiz do Projeto Primeiro Passo, que

concluíram a parte teórica em 2008.

Este trabalho teve a preocupação de encontrar resposta para alguns

questionamentos que serviram de pontos norteadores para nossa pesquisa de campo.

Tentou-se saber se a execução dessa política pública contribuiu, ou não, para a

inserção das jovens no mercado de trabalho; se após concluírem a qualificação foram

efetivadas nas empresas, em que receberam aprendizagem prática, com vínculo

empregatício; quais os rumos profissionais seguidos pelos egressos e se estão

empregados ou desempregados e, finalmente, que avaliação fazem do PPP.

É preciso afirmar que os resultados foram suficientes para responder a todos

os questionamentos norteadores do estudo e espera-se contribuir, de forma

responsável, com o aperfeiçoamento das ações desenvolvidas pelo PPP.

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2 DESENVOLVENDO AS CATEGORIAS: JUVENTUDE, TRABALHO E APRENDIZ

Quero justiça Quero trabalhar em paz.

Não é muito que lhe peço – Eu quero trabalho honesto

Em vez de escravidão. Deve haver algum lugar

Onde o mais forte Não consegue escravizar

Quem não tem chance

Fábrica – Música da Legião Urbana

2.1 Juventude: Conceitos e Significados

Neste tópico, discute-se o conceito de juventude. O tema da juventude

tem tomado corpo no Brasil de forma muito intensa nos últimos anos, expandindo e

diversificando os focos anteriormente existentes e depositando novas questões e

desafios para a construção de diagnósticos e ferramentas de trabalho para quem

atua em ações e iniciativas dirigidas aos jovens.

Há, atualmente, no Brasil, uma infinidade de atores com diferentes visões a

respeito da juventude, diferentes modos pelos quais definem o público foco de sua

ação e diferentes posições a respeito de como estes devem ou não se constituir

como prioridade para atuação das políticas públicas.

Tal pluralidade de abordagens contém diferentes concepções e conceitos

sobre o entendimento do que seja o termo juventude, como se define, como se

recorta, como se caracteriza sua singularidade e especificidade frente a outras

categorias sociais.

É oportuno deixar claro que existe hoje, no Brasil, uma tendência ao uso

concomitante dos termos adolescência e juventude, ora de forma complementar, ora

de forma distinta.

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Daí, para discutir o tema juventude, é importante não perder de vista a

influência do contexto histórico e social na construção da identidade. É inegável que

muitos estudiosos já realizaram pesquisas com o intuito de compreender e

conceituar as características dessa fase da vida tão especial, mas ainda há muito o

que debater e discorrer sobre o assunto. Por isso mesmo, se constitui um desafio

tratar o tema com um olhar desprovido de convencionalismo e com abertura

condizente para entender a referida fase de vida.

Na tentativa de mergulhar no labirinto da compreensão sobre o assunto,

buscou-se o pensamento de diversos teóricos que se dedicaram a pesquisar o

assunto investigado.

Na idade média, era comum não se pensar na infância, a qual era encarada,

apenas, como uma fase caracterizada pela dependência dos adultos, tanto é que, no

momento em que as crianças demonstravam certa autonomia, imediatamente, eram

introduzidas ao mundo adulto.

Por todo o século XIII era bastante confusa a compreensão que se tinha

sobre a infância e a adolescência, havendo ambiguidade entre essas fases e, muitas

vezes. a infância era posta em contraposição à categoria juventude.

O francês Philippe Áries (1981), em sua obra “História social da criança e

da família”, procurou historicizar a evolução da juventude, afirmou que, até o século

XVIII, não havia definição clara acerca da infância e da adolescência, existindo uma

infinidade de conflitos sobre o verdadeiro sentido dessas duas fases e que o

aparecimento das categorias infância e adolescência surgiram da necessidade

classificatória do homem e das distintas fases do seu crescimento.

Nos últimos anos do século XX, os jovens passaram a fazer parte das

preocupação dos governos, legisladores e pesquisadores, pois são percebidos como

seres em formação e, como tal, podem seguir inúmeros caminhos e, dependendo de

suas escolhas, poderão contribuir com o progresso do país ou se constituírem um

problema social.

Para Groppo (2000, p. 15),

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Cada juventude pode reinterpretar à sua maneira o que é ser jovem, contrastando-se não apenas em relação às crianças e adultos, mas também em relação a outras juventudes. Assim é necessário que haja conquista de espaço e reconhecimento social

Contextualizar a juventude é essencial, visto que o processo de formação,

atualmente, se depara com aspectos diversos com relação à instantaneidade

temporal, em decorrência da evolução tecnológica que gera certa superficialidade na

absorção dos conhecimentos, o consumismo, que ocasiona necessidades

descartáveis, o quadro recessivo, que aumenta a exclusão. Tudo isso, associado à

pulverização das relações coletivas, provoca a individualização e o desinteresse da

esfera pública.

Através de pesquisa bibliográfica sobre juventude, é possível afirmar e

concordar com teóricos como Levi e Schmitt (1996), Melucci (1997), Spósito (1998),

ao afirmarem que não é fácil encontrar um conceito único que possa abranger os

inúmeros fatores que precisam ser considerados quando se analisa a categoria

juventude, entre os quais se citam: heterogeneidade cultural, conjuntura social, visão

inter-geracional, maturidade e outros.

Com este estudo, detecta-se que a juventude está situada, como

assinalam Levi e Schmitt (1996, p. 8):

[...] no interior de margens móveis entre a dependência infantil e a autonomia da idade adulta, naquele período de pura mudança e de inquietude em que se realizam as promessas da adolescência, entre a imaturidade sexual e a maturidade, entre a formação e o pleno florescimento das faculdades mentais, entre a falta e a aquisição de autoridade e de pode.

Analisando por esse prisma, fica evidente a insuficiência do limite

fisiológico como fator identificador de determinada fase da vida, isto porque a melhor

alternativa para compreendê-la é pela determinação cultural das sociedades.

Mellucci (1997) aconselha que se entenda a juventude como "um

assumir-se culturalmente a característica juvenil independentemente da faixa etária,

diante de contextos diferenciados e de um tempo de improvisação e provisoriedade”.

O autor referido enfatiza:

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Revela-se pelo modelo da condição juvenil um apelo mais geral: o direito de fazer retroceder o relógio da vida, tornando provisórias decisões profissionais e existenciais, para dispor de um tempo que não se pode medir somente em termos de objetivos instrumentais (MELLUCCI, l997, p.13).

Spósito (1998) lembra que o conceito de juventude, ao considerar apenas

a transição para a vida adulta, não corresponde ao que de fato ocorre, visto que a

transição ocorre de forma diversa, podendo ser antecipada, ou oferecer práticas

desconectadas entre os mundos jovem e adulto. A autora referida afirma que:

[...]ocorrem formas diversas de ingresso no mundo adulto, desde aquelas marcadas pela antecipação de algumas práticas (sexualidade e trabalho para alguns grupos de jovens) como a desconexão entre elas (orientações e modos de vida considerados próprios de populações adultas, convivendo com situações de dependências típicas de momentos anteriores) (SPÓSITO, 1998a, p. 2).

Com o olhar voltado para a história das culturas ocidentais, é possível

constatar que esses momentos de passagem não ocorrem de forma automática e

homogênea, mas podem ser assinalados pela transposição, ou ainda, pela

conjugação de diversas situações sociais tais como: casamento, inserção no mundo

do trabalho e por independência da família de origem e outras mais.

Na construção conceitual de Carjaval (1998) é possível identificar que sua

compreensão de adolescência refere-se a uma fase que antecede a juventude, isso

sinaliza a relação entre as duas fases. Ocorre, na verdade, uma provisoriedade

inquietante na vivência dessa fase que mais se define como uma transitoriedade

para o futuro.

A transitoriedade da fase da juventude possui importância e complexidade

fundamentais. É possível refletir e argumentar que todas as etapas da vida se

caracterizam pela transição; por exemplo, o adulto encontra-se em transição entre a

juventude e a terceira idade, mas no caso dos jovens, essa transitoriedade é muito

específica, uma vez que ela pode definir os principais caminhos de qualquer pessoa,

que poderão ser mudados sem, no entanto, manter a radicalidade que tiveram na

fase da juventude.

Dick (2003) também chama a atenção para o fato de que inúmeros

fatores são levados em consideração para que se defina e conceitue a juventude.

Consequentemente, ele assim se posiciona:

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O pressuposto fundamental da discussão é que a idade é um fenômeno social, e não apenas biológico. O que existe em cada período histórico é um conjunto multifacetado de jovens, condicionados e interagindo com o meio social em que vivem (DICK, 2003, p. 26).

A ideia que se tem, atualmente, sobre a adolescência, como uma

categoria social que considera o adolescente um ser em desenvolvimento, nem de

perto se assemelha ao que se concebia a idade média, quando ocorria uma

verdadeira desvalorização desse ser em formação.

A adolescência, em uma perspectiva conceitual, também abrange outras

dimensões de caráter cultural, com possibilidades de evoluir, em consonância com

as transformações que afetam as sociedades. Portanto, o que é definido como

juventude, na cultura atual, certamente, poderá sofrer alterações profundas em

outros momentos históricos.

A compreensão de juventude tem oscilado entre duas tendências: aquela

que concebe a juventude como um conjunto social, cuja característica principal é ser

composta por pessoas pertencentes a uma determinada fase da vida, e aquela que

percebe a juventude como um conjunto social necessariamente diversificado, que

envolve diferentes culturas juvenis, decorrentes de diferentes pertencimentos de

classe, com diferentes parcelas de poder, com diferentes interesses ou diferentes

situações econômicas.

Quando se pensa na juventude dos dias, não se pode deixar de olhar

para a história da sociedade brasileira e constatar que sempre houve uma tendência

a relações baseadas na desigualdade, isso porque só parecia presumível encontrar

lógica no mundo dos adultos, ocasionando distanciamento entre as gerações,

ocorrendo, de fato, uma batalha rumo à conquista da identidade, por parte dos

jovens que se afastam dos adultos e se aproximam de outros jovens, por

acreditarem que somente junto dos iguais será possível construir sua identidade.

Os marcos etários que são usados no Brasil coincidem com os mesmos

utilizados pelas instituições oficiais como o IBGE e, até mesmo, pela Organização

das Nações Unidas, para definir a juventude. Observa-se, então, que essas

instituições concebem o jovem como aqueles cidadãos e cidadãs com idade de

abrangência entre os 15 e os 24 anos. Sendo objeto de interesse público, a

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condição juvenil deve ser abordada sem estereótipos e a conquista dos direitos

precisa partir da própria diversidade que caracteriza ‘as juventudes’.1

Em termos políticos e sociais, os jovens são sujeitos de direitos coletivos.

Sua autonomia deve ser reverenciada, suas identidades, formas de agir, viver e se

expressar, valorizadas.

Os desafios no reconhecimento dos direitos dos jovens são inúmeros. O

mais complexo e de difícil superação é a própria dubiedade decorrente das

contraditórias representações sociais sobre a condição juvenil. Não é exagero

afirmar que a sociedade contemporânea tem compreensão paradoxal quanto à

juventude, visto que, ao mesmo tempo em que é crítica, enaltece essa fase da vida

ressaltando aspectos da vivência pessoal e da consciência coletiva do jovem como

sendo uma dádiva, um momento passageiro da vida que se caracteriza como

vibrante e muito interessante, devendo ser preservado pelo maior tempo possível.

Não obstante, no âmbito profissional, no aspecto do compromisso

cidadão ou no tocante à participação nos processos de tomada de decisão, compete

ao jovem conviver com o incômodo estado de devir, justificado socialmente como

estágio de imaturidade, impulsividade. Baseado nessa compreensão do jovem como

um ser ainda em construção é tolhida dele a possibilidade de participação social

plena.

Ser jovem, na concepção atual, é estar mergulhado em uma pluralidade

de identidades, posições e vivências. Somente com o reconhecimento da existência

de inúmeras juventudes e com a superação de pré-conceitos será possível promover

direitos, mais isso não é nada fácil.

De acordo com o que se pode observar no cotidiano, é fácil perceber que

a imagem e o conceito que se tem a respeito dos jovens, são comumente

preconceituosas e deterministas, ou seja, os jovens são rebeldes, não estão

preocupados com o futuro, não apresentam comportamento ambicioso quanto ao

futuro profissional, são inconsequentes, entre tantos outros chavões. Seria oportuno,

para compreender essa fase, investigar aspectos sociais determinantes para as

1 Termo utilizado por vários autores que estudam temas relativos à juventude, principalmente por

Gaudêncio Frigotto (2004), Helena Wendel Abramo (2005).

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características.

Em todos os entendimentos, existe a consideração de que a categoria

juventude conglomera uma série de diferentes. A juventude não pode ser encarada

como um bloco homogêneo, por isso, não é possível falar em juventude,

simplesmente. São tantas as juventudes quanto são as classes sociais, a etnia, a

religião, o gênero, o mundo urbano ou rural e outras características. Posição

defendida por Castro e Abramovay (2002, p. 25), ao afirmarem que

[...] definir juventude implica muito mais do que cortes cronológicos, implicam vivências e oportunidades em uma série de relações sociais, como trabalho, educação, comunicação, participação, consumo, gênero, raça, etc..

Por essa razão, pode-se afirmar, em grande parte, que juventude é uma

categoria socialmente edificada e, portanto, presente na ordem social com a

mutabilidade ocorrendo ao longo da história.

O importante é compreender que, ao categorizar juventude, não se deve

perder de vista que ela, por ser social, é também, plural e desigual e que apresenta

inúmeras diferenças que surgem em decorrência das classes sociais, religiões,

costumes, pois, em consonância com Castro e Abramovay (2002), a juventude

assume faces diferentes de acordo com as condições materiais e culturais que a

cercam, de acordo com o território em que se encontra.

Frigotto (2004) também contribui, de forma expressiva,com essa

conceituação, pois parte de uma análise que leva em conta a heterogeneidade

sociocultural juvenil. Afirma ser difícil a obtenção de um conceito unívoco, sendo

mais indicado se falar em ‘juventudes’, pois os inúmeros contextos sociais, etnias,

religiões, que estão presentes na população, certamente, devem ser levados em

consideração.

Entende-se, portanto, não ser possível encontrar um conceito único que

corresponda e contemple todas as características que possuem os jovens e,

respaldada pela revisão literária pertinente ao tema juventude, pode-se afirmar que

existem inúmeras juventudes, diferentes e desiguais, dependendo de sua inserção

contextual.

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Passa-se a discorrer, no próximo tópico, sobre as questões relacionadas

ao trabalho, o comportamento do mercado e os desafios que os jovens necessitam

enfrentar para conquistar seu espaço, apesar de toda a competitividade que

caracteriza a atualidade.

2.2 Trabalho: Mercado de trabalho e Desemprego Juvenil

Existe uma tendência de as pessoas definirem as palavras trabalho e

emprego como se fossem a mesma coisa, o que não é verdade. Apesar de

apresentarem alguma relação entre si, essas palavras possuem significados

diferentes.

O trabalho é mais antigo que o emprego, pois ele existe desde o

momento em que o homem começou a transformar a natureza e o ambiente ao seu

redor, adequando-o às suas necessidades, desde o momento que o homem

começou a fazer utensílios e ferramentas.

O emprego é algo mais recente na história da humanidade. O emprego é

um conceito que surgiu por volta da Revolução Industrial, como uma relação entre

homens que vendem sua força de trabalho por algum valor, denominada

remuneração, e outros, donos dos bens e meios de produção que compram essa

força de trabalho, pagando algo em troca, em forma de salário.

De acordo com a definição do Dicionário do Pensamento Social do Século

XX, trabalho é o esforço humano dotado de um propósito e envolve a transformação

da natureza através do dispêndio de capacidades físicas e mentais.

Emprego é a relação, estável e mais ou menos duradoura, que existe

entre quem organiza o trabalho e quem realiza o trabalho. É uma espécie de

contrato no qual o possuidor dos meios de produção paga pelo trabalho de outros,

que não são possuidores do meio de produção.

Passa-se, nesse item, a analisar o trabalho considerando-se a

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problemática do desemprego juvenil e as exigências apresentadas aos jovens para

sua inserção no mercado de trabalho. O discurso que chega ao jovem, atualmente, é

que o emprego não existe mais, que a saída é o trabalho autônomo; que no

mercado só sobrevivem aqueles que são empreendedores. O termo que se usa é

“autonomia”. Portanto, paira essa ameaça profissional, o autônomo vai disputar com

outro autônomo e sobreviverá ‘o melhor’, o mais ‘competente’, o mais ‘qualificado’.

Outra tônica, nesse momento, é que, para conseguir uma boa colocação, o

jovem também tem que ser polivalente ou generalista. Não basta, apenas, uma

qualificação profissional específica; é preciso dominar tudo para poder concorrer

nesse mercado altamente competitivo.

Contudo, para melhor enfatizar-se a questão trabalho, necessária se faz

uma breve retrospectiva sobre o trabalho humano e suas relações sociais e

econômicas. Assim, no início da existência dos homens, o trabalho era encarado

como uma ação de valor ínfimo, muitas vezes, visto mesmo como castigo. Com o

passar dos tempos, e em decorrência das necessidades surgidas para

sobrevivência, foram aparecendo os primeiros trabalhadores denominados de

artífices, artesãos, entre outros. O trabalho escravo foi lentamente sendo substituído

pelo o que exigia pagamento em troca, ou seja, o trabalho assalariado.

É, portanto, nesse momento, que o Estado aparece como agente

intermediador da relação capital-trabalho e, lentamente, passa a interferir nessa

relação, contribuindo com a prevenção dos conflitos sociais, sem, contudo, deixar de

defender os interesses do capital.

Para analisar o desemprego juvenil e as políticas de emprego para

jovens, é fundamental estudar a categoria sociológica do trabalho. Entre os muitos

autores que se dedicam a estudar essa questão, encontra-se Marx (1985), que

conceitua o trabalho assalariado:

como estranho ao trabalhador, já que ele não é o possuidor do trabalho, nem dos produtos por ele criados, visto que estes são apropriados pelo capitalista, proprietário dos meios de produção e, provisoriamente, dono da força de trabalho do indivíduo que trabalha (MARX,1985,p. 50).

O trabalho assalariado é uma forma de explorar os trabalhadores que não

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possuem qualquer influência no que, e de que forma se dará a produção.

A história do trabalho é tão antiga quanto à do próprio homem, em muitos

momentos elas se confundem, estudar sobre o processo histórico do trabalho e suas

relações com a sociedade, as transformações dos modelos de produção e de

trabalho de diversas maneiras, com os mais variados enfoques será um desafio. No

entanto, procurar-se-á delimitar um pouco esse processo histórico, enfatizando

apenas alguns pontos históricos a partir das mudanças que ocorreram no período

final da Idade Média até os dias atuais, de uma forma ou de outra, facilitando as

transformações que, a partir de então, decorreram no processo de transformações

dos meios de produção, e da sociedade do trabalho.

Contextualizando a Idade Média, deve-se reportar ao Renascimento

Comercial que, em meados do século XII já começava a assumir relativa importância

no contexto histórico que se pretende abordar. Esse florescimento comercial foi

impulsionado pelas inovações técnicas na agricultura e pelo consequente

crescimento populacional e, ligado a esses fatores, esteve o renascimento urbano:

quando as cidades passaram a ser um centro dinâmico de atividades artesanais e

comerciais. Os últimos séculos medievais caracterizaram a dissolução do sistema

feudal e a formação do sistema capitalista.

Assim, o processo de trabalho na sociedade medieval era considerado de

estrutura familiar, tendo como espaço temporal o dia, condicionado pela luz solar: ao

nascer do sol iniciava-se a jornada de trabalho, que só iria encerrar-se com o

anoitecer. As sociedades dessa época respeitavam e amavam as forças da

natureza, elas acreditavam num misticismo mágico que orientava e regulamentava

suas vidas. Já o espaço físico do trabalho: é o espaço do lar, da residência e dos

arredores da casa familiar. É nesse espaço que o trabalho vai sendo realizado e

constituindo suas relações com a sociedade.

Observa-se que, nessa época, vários tipos de trabalhadores como:

agricultores, sapateiros e alfaiates, utilizavam o espaço temporal do dia e o espaço

físico do lar para o trabalho. O agricultor, com sua família, trabalhavam nos

arredores de sua casa, em terreno concedido pelo seu senhor, cultivando a

agricultura familiar, tratando a terra, semeando, cuidando do crescimento de sua

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lavoura e colhendo seu produto. Seus familiares, sua mulher e seus filhos, ajudam-

no sempre. O dia regulava a atividade produtiva, a família era parte integrante da

força de trabalho. O sapateiro, também, com sua família, trabalha na sua casa, a

oficina onde ele fabricava sapatos era o seu ambiente familiar; ou seja, seu espaço

de trabalho era o lar; assim espaço de trabalho e familiar, muitas vezes, se

confundiam. Da mesma forma, o alfaiate, trabalhava juntamente com seus familiares

confeccionando roupas no espaço doméstico do seu lar, em sua casa ele morava,

alimentava-se, dormia e trabalhava. Assim, verifica-se que, o espaço do trabalho era

o próprio espaço do lar e vice-versa.

A migração do campo para as cidades ocorreu no início desse período e

as crianças eram demandadas para o trabalho nas indústrias. É importante ressalvar

que, tanto o trabalho feminino como o trabalho infantil estavam presentes na

sociedade medieval. As necessidades de sobrevivência e as obrigações servis

corroboravam para tal. As crianças, quando tinham condições de realizar alguma

atividade laborativa, ingressavam no mundo do trabalho contribuindo, dessa forma,

com a economia familiar. As mulheres e crianças eram preferidas, vez que, no

entendimento industrial burguês, esses dois grupos de trabalhadores eram mais

facilmente adestrados, ou seja, mais fáceis de serem disciplinados e intimidados.

Com o crescimento do comércio urbano nos anos finais da Idade Média, o

mercado tornou-se o espaço por excelência das trocas, do comércio, ainda que

incipiente. Desse modo, o mercado assumiu relativa importância no contexto das

mudanças do trabalho. A utilidade do mercado, onde se efetuavam as trocas, se

deram quando a cidade assumiu, na sociedade medieval, o papel de centro

aglutinador de indivíduos e de produtos, fruto do trabalho de agricultores e artesãos,

passando a ser, por si só, o espaço, cada vez mais, do trabalho. Rompendo,

portanto, com as velhas fronteiras do espaço temporal do dia e do espaço físico dos

lares, o trabalho foi sendo executado no espaço da cidade, não importando se

durante o dia ou a noite, se em casa ou nas fábricas. Entretanto, não somente o

espaço do trabalho é rompido, mas também a estrutura feudal que vigorou durante

quase toda a Idade Média foi gradativamente sendo substituída.

Nesse sentido, pouco a pouco a produção manual e rural foi sendo

substituída pela industrial e urbana. Com o aniquilamento do sistema feudal, surgiu o

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sistema capitalista. A decadência do sistema feudal também fez com que

declinasse o poder descentralizado dos senhores feudais, dando lugar a um período

em que os reis assumiram enorme poder, rumo aos grandes Estados Nacionais, o

Estado Moderno, detentor central do poder.

Evidentemente, esse processo histórico das relações de trabalho se

modifica e a bipolarização social tipicamente feudal, a do senhor versus servo,

passa para outro tipo de antagonismo de classe, burguesia versus proletariado, que

é a marca maior do capitalismo. Essa nova estrutura social, do sistema capitalista,

não se deu de forma imediata, mas num processo lento e no médio prazo.

A produção em larga escala caracterizou, definitivamente, a revolução

capitalista, pois foi na transformação dos produtos em mercadorias que o sistema

capitalista veio se firmar. O valor de uso deu a vez ao valor de troca, e o industrial

burguês passou a ser o proprietário dos meios de produção. Portanto, foi a partir da

Revolução Industrial que os trabalhadores deixaram de dominar o processo

produtivo e vendem sua força de trabalho por salários. Assim, segundo Marx (1985),

a força de trabalho, foi transformada em mais uma mercadoria, todavia não é

qualquer, pois ela tem a capacidade de adicionar valor às outras mercadorias. Essa

característica da força de trabalho é o que origina a ‘mais valia’. Como qualquer

outra mercadoria, a força de trabalho tem seu valor socialmente definido pelo tempo

de trabalho destinado à sua produção e reprodução.

Igualmente, o processo de industrialização foi se construindo e teve maior

expressividade, na Inglaterra, com ênfase na Revolução Industrial, o cenário urbano

favoreceu o surgimento de novos hábitos de convívio social, como se produziam,

cada vez mais, mercadorias, os proprietários burgueses buscam formas de

aumentar os lucros reduzindo despesas, através da incrementação tecnológica das

unidades produtivas e da máxima exploração dos operários (jornadas intermináveis

de trabalho em locais insalubres, com baixíssima remuneração).

Ao contrário do que se processou durante a revolução industrial, quando

o trabalho assalariado era uma forma de explorar os trabalhadores que não

possuíam qualquer influência no que e de que forma se daria a produção, Marx

(1985) defendia que, através do trabalho humano era possível transformar o mundo,

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alterando a natureza interna e externa do indivíduo que trabalhava, surgindo daí a

concepção do homem como um ser social. Contudo, no capitalismo, o trabalho deixa

de ser uma atividade vital, vindo a se tornar uma atividade alienante dependente do

salário.

Gorz (2003), outro autor que se dedica à análise da categoria trabalho,

assegura que o trabalho assalariado é uma descoberta da modernidade e que é

realizado na esfera pública, possibilitando ao indivíduo a consecução de uma

identidade social. Ainda de acordo com o seu pensamento, a racionalização

econômica do trabalho alterou completamente os costumes, convertendo o trabalho

em atividade básica na vida das pessoas, não somente pela razão econômica, mas

também, pela valorização cultural que o trabalho propicia. Portanto, o trabalho

assalariado permitiu ao capitalismo encontrar as condições ideais de reprodução do

capital.

Observa-se que a primeira fase da Revolução Industrial foi identificada

com o uso da energia a vapor e com o uso do ferro. A introdução dessas inovações

tecnológicas no corpo das fábricas foi muito cara para os trabalhadores, de modo

geral. Cada nova tecnologia representava, quase sempre, a redução dos postos de

trabalho em nome do aumento da produtividade. O ponto culminante dessa trajetória

foi, sem dúvida, a introdução da máquina a vapor. Percebe-se, que a história não

difere muito do que ocorre na atualidade, quando do avanço das novas tecnologias

da informática, da microeletrônica e da nanotecnologia quando milhares de

trabalhadores perderam seus postos de trabalho.

O modo capitalista de agir está sempre na busca pela redução do

desperdício, da ociosidade do trabalhador e a procura da diminuição de custos de

produção. Por conseguinte, no começo do século XX, Taylor iniciou seus estudos e

pesquisas sobre a Ciência da Administração, desenvolvendo, técnicas de

racionalização do trabalho. Taylor dividiu o trabalho e limitou cada operário à

execução de uma única tarefa, de maneira contínua e repetitiva. O sistema

taylorista-fordista norteou, durante décadas, a estrutura de trabalho no interior das

fábricas. Esse modelo de trabalho reinou absoluto no mundo inteiro até o final da

Segunda Guerra Mundial, quando, no Japão, surgiu um novo sistema de trabalho,

que buscou otimizar os lucros, ao mesmo tempo em que, restringiu as despesas.

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Foi, portanto, a partir desse novo modelo japonês elaborado, também, no interior de

uma fábrica de automóveis, que surgiu o novo sistema, conhecido como toyotismo.

Ressalte-se que nesse ínterim, o Estado, em defesa da burguesia e do

próprio capitalismo, constituía garantias trabalhistas, dando-se como exemplo, a

limitação da jornada de trabalho, proibição do trabalho insalubre às mulheres e aos

trabalhadores de tenra idade, entre outros, como alternativa de evitar a morte

precoce dos mesmos para que pudessem criar os filhos que no futuro também

seriam trabalhadores a serviço do capital. Alguns direitos foram instituídos no século

XX, entre eles, o salário mínimo, direitos previdenciários as gestantes e a própria

greve como instrumento de luta.

Na verdade, o sistema capitalista vem passando, no final do século XX e

início do século XXI, por grandes transformações. Os analistas asseveram que as

novas formas de acumulação apresentam um arquétipo que demanda mudanças

nas ações do Estado: por um lado, provocando, em determinados momentos, um

afastamento de sua função provedora de serviços e equipamentos sociais, e em

outros, maior centralização do poder executivo para implementar as reformas que se

fizerem necessárias. Evidentemente, as transformações decorrentes do modelo

capitalista vigente acarretam a perda ou o amortecimento dos clássicos canais de

negociação, e a abertura de espaços em setores de prestação de serviços públicos

para agências privadas. Observa-se que a retirada ou retraimento do Estado não se

constitui na perda de seu papel fundamental na sociedade e nos destinos do país

porque ele, como Estado de direito, não pode se eximir de governar em prol da

sociedade, portanto, não abre mão do controle de setores essenciais para manter o

status quo. Contudo, abre espaços para a interação com outros atores sociais na

implementação das políticas, sem alterar as condições de acesso aos bens e

serviços a que a população necessita.

Nesse sentido, toma-se como exemplo, a crise financeira internacional

que vem afetando as economias mundiais, visto que, estando-se inseridos no

mundo globalizado, o papel do Estado, tanto no nível nacional como no

internacional, tem se revelado de fundamental importância. Viu-se, claramente, os

Governos Europeus, Asiáticos, dos EUA e, também, o governo brasileiro interferirem

em suas economias, estatizando bancos, emprestando dinheiro para gerar liquidez

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aos mercados, e, também, para salvar grandes empresas. Tudo isso para que o

mundo não venha a sofrer um colapso global, gerando uma recessão mundial, um

desemprego generalizado, ocasionando, com certeza, uma crescente exclusão

social, maior do que a já existente em grande parte dos países latino-americanos,

africanos e que, consequentemente, poderia se instalar nos países ditos

desenvolvidos membros do G7.

O cenário mundial vem apontando para o declínio do velho sistema

capitalista, para um novo modelo que, por certo, o Estado terá uma grande influência

na regulação do capital e sobre o novo sistema que surgirá dessa crise financeira

internacional.

Em virtude do exposto, espera-se, do governo brasileiro, a incrementação

de políticas públicas na área de educação e geração de ocupação e renda,

possibilitando aos jovens a entrada no mercado de trabalho, embora, saiba-se que,

apesar do país apresentar um índice de crescimento acima do que vinha ocorrendo

na década de 1980 e 1990 e início desse século, é oportuno observar que, apesar

desse crescimento ter criado um grande número de postos de trabalho, infelizmente

os jovens não foram os grandes beneficiados das vagas ofertadas pelo mercado.

De acordo com o relatório da OIT, o desemprego jovem cresceu quase

15% no mundo nos últimos anos, o emprego jovem enfrenta crise mundial, mais de

125 milhões de jovens trabalhadores vivem atualmente em situação precária. Entre

1995 e 2005 o desemprego juvenil aumentou em dez milhões daí se constituir num

problema de grande gravidade que amplia o círculo de pobreza e exige do poder

público estratégias capazes de resolver ou reduzir os efeitos de tão grave

dificuldade.

É necessário ressaltar que as consequências do desemprego juvenil são

inquietantes, isso porque, se constitui uma ameaça a integração social e ao

desenvolvimento sócio econômico dos jovens, ocasionando uma dependência da

intervenção das políticas públicas de emprego e renda.

O desemprego dos jovens e as inúmeras barreiras no acesso ao mercado

de trabalhos vêm produzindo uma grave crise social com a ampliação da

vulnerabilidade social, porque a frustração e a ociosidade podem influenciar os

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jovens à adoção de comportamentos individualistas e utilização de suas energias em

ações maléficas a sociedade e a si mesmos.

Essas barreiras se revelam em virtude do baixo crescimento econômico

na década de 1990 e início do século XXI, da reduzida geração de postos de

trabalho e dos empecilhos determinados pelas empresas: exigência de experiência

profissional, escolaridade e qualificação profissional.

Cumpre observar que, o desemprego juvenil pode comprometer

fortemente o potencial produtivo dos jovens que com baixa auto-estima se

desmotivam na busca de sua inclusão no mercado de trabalho e aquisição de renda,

acarretando, consequentemente, aumento da pobreza e exclusão social. Outra

consequência proveniente da dificuldade do jovem em conseguir e se manter

inserido no mercado de trabalho é um comportamento caracterizado pela

dependência familiar bem como, das políticas públicas.

É imprescindível salientar que, uma parcela significativa dos jovens

desempregados atribui culpa a si mesma, achando que não conseguem ocupar os

postos de trabalho ofertados pelo mercado pela sua falta de qualificação.

As mudanças advindas do processo de globalização e adoção de novos

padrões de produção industrial, caracterizados essencialmente pela flexibilização,

determinam que haja uma transformação na educação profissional, como alternativa

de adequação ao que hoje é cobrado dos trabalhadores. A nova ordem econômica

obriga a reflexão sobre conceitos relacionados à competência, empregabilidade e

flexibilização como opção viável de adequação da educação às exigências impostas.

Muito se fala e se associa que uma melhor qualificação profissional é fator

preponderante para inserção no mercado de trabalho quando, de fato, a economia

brasileira é a real responsável pela abertura de novos postos de trabalho. Esse fato

é reconhecido pelo próprio governo que defende a desregulamentação das relações

de trabalho, tentando, dessa forma, descobrir um atrativo capaz de manter os

empregos já conquistados. Isso, no entanto não é tarefa fácil, pois o governo,

seguindo o que apregoa o neoliberalismo, abre as portas do mercado nacional aos

produtos estrangeiros, eleva taxas de juros e, dessa forma, impossibilita o consumo

de produtos de qualidade, visto que os empresários só pensam em racionalizar os

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gastos. Então com falar em empregabilidade?

Ao entender ‘empregabilidade’ não apenas como a capacidade de obter

emprego, mas, sobretudo, de se manter no mercado de trabalho em constante

mutação (BRASIL, MTB/SEFOR, 1995, p.9), o governo brasileiro cria uma política de

educação profissional que tem como objetivo central contribuir com a redução dos

entraves enfrentados pelos setores menos privilegiados, possibilitando-os disputar

emprego em melhores condições. Olhando por esse ângulo, existe coerência na

relação entre qualificação e empregabilidade. Contudo, é contraditório desarticular a

política de emprego e renda das políticas sociais no Brasil.

O conceito de empregabilidade está ligado à estrutura econômica com

características relacionadas à eliminação de postos de trabalho e estímulo da

competitividade dos que buscam o emprego. Oliveira (2003, p.36) tenta explicar

esse conceito afirmando que:

O conceito de empregabilidade surge como um mecanismo que retira do capital e do Estado à responsabilidade pela implementação de medidas capazes de garantir um mínimo de condições de sobrevivência para a população. Responsabilizando os indivíduos pelo estabelecimento de estratégias capazes de inseri-los no mercado de trabalho, justifica-se o desemprego pela falta de preparação dos mesmos para acompanhar as mudanças existentes no mundo do trabalho. Sob a ótica da empregabilidade, a necessidade de os indivíduos disporem de habilidade e conhecimentos adequados aos interesses da produção passa a ser o primeiro elemento considerado nas discussões a respeito das possibilidades de superação do desemprego existente.

O aspecto questionável desse novo conceito é o fato de retirar do Estado

a sua responsabilidade quanto às garantias que deve propiciar à população,

colocando nas mãos dos indivíduos a inteira responsabilidade pela sua entrada no

mundo do trabalho. Esse reducionismo proposto pelo capital precisa ser modificado

através de uma reação dos trabalhadores com o estabelecimento de uma luta para a

descoberta de um modelo alternativo em que as responsabilidades sejam divididas

entre indivíduos e Estado e seja possível aos trabalhadores o reconhecimento dos

limites que a globalização econômica produz em suas vidas, mas, ao mesmo tempo,

a consciência de que não só podem, mas devem cobrar do Estado ações políticas

que favoreçam a conquista de um lugar no mercado de trabalho.

De acordo com Kober (2003), divulga-se intensamente pela mídia, pelas

ONGs, pelos governos e pelas empresas a ligação linear entre qualificação e

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emprego. Nesse sentido, quanto mais escolarizado e mais qualificado o trabalhador,

maior seria a oportunidade de estar empregado. Como enfatiza a autora aqui citada,

desse modo, estar-se-iam ocultando as relações econômicas, sociais e políticas que

produzem a inserção ou exclusão dos indivíduos em um emprego no mercado de

trabalho. Ademais, transforma o desemprego em um problema de ordem individual,

que pode ser resolvido pela ampliação da qualificação. Portanto, parece que a

autora traz à tona questões importantes, relacionadas ao desemprego de modo

geral, pois, a revisão literária sobre o assunto permite observar que o desemprego

não é gerado, apenas, pela desqualificação, mas por um conjunto de fatores

determinados pela conjuntura econômica e social na qual o trabalhador encontra-se

inserido.

Desse modo, o que se verifica na atualidade é que, mesmo aqueles

jovens e alguns grupos sociais que possuem excelente qualificação se deparam com

a dificuldade de inserção, vez que, o problema não se limita apenas à falta de

qualificação e sim, à ausência de empregos, à situação econômica e à dinâmica que

caracteriza o mercado de trabalho. Entretanto, observa-se, que a qualificação e a

educação são condições essências, embora não suficientes para resolver tal

problemática.

De acordo com Weller (2003), o desemprego juvenil tem um ponto

positivo, uma vez que é uma espécie de estímulo para que o jovem permaneça

estudando e não se aventure a entrar precocemente no mercado de trabalho. Mas,

nos casos de famílias de baixa renda, em países periféricos como o Brasil, pouco

importa se o desemprego juvenil aumentou, elas precisam colocar seus filhos na

estrutura produtiva para que possam adquirir renda e, assim, ajudar no orçamento

familiar. Os jovens trabalhadores estão mais agrupados nas famílias cujos salários

são mais baixos que a média nacional, ou em famílias que, de certa forma,

encontram-se excluídas do setor produtivo e em estado de vulnerabilidade social.

Por esse motivo, não é suficiente, apenas, melhorar as leis e as políticas de

emprego existentes ou criar novas leis e políticas, mas é necessário proporcionar

melhores condições de vida para a população pobre, através da distribuição da

renda de forma mais igualitária, com o intuito de não incentivar os pais com baixa

renda a inserir seus filhos precocemente no mercado de trabalho.

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No Brasil, algumas políticas públicas de emprego objetivam solucionar o

problema do desemprego juvenil, entretanto, são em pequeno número e atendem a

poucos jovens, sobretudo aqueles de menor renda. Em muitas dessas políticas,

opta-se apenas pelo uso da qualificação, de forma que a concepção de mecanismos

para o ingresso e permanência dos jovens no mercado de trabalho fica em segundo

plano. Impróprio seria esquecer que o trabalho deveria ser um direito da juventude.

Tomando por base as leis brasileiras, o trabalho é um direito social

básico, A esse respeito, o texto constitucional de 1988, denominado por muitos de

constituição cidadã, assim se refere:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 1988, artigo 6º.).

Ressalte-se aqui que, sendo o trabalho um direito básico, deve garantir

não só os bens de subsistência, como também, os recursos tecnológicos, culturais e

simbólicos de uma sociedade.

É inegável que o mundo do trabalho sofre acentuadas transformações e

de forma extremamente rápida, bastando que se reflita sobre os efeitos que a

mundialização da economia e do mercado financeiro vem provocando na estrutura

de produção e isso vem ocorrendo no mundo inteiro. Os efeitos do desenvolvimento

e acesso às novas tecnologias de informação vêm provocando uma série de

alterações nos processos culturais, econômicos e sociais e demandando

trabalhadores com perfil condizente com as novas exigências. Logo, o que se

assiste, nos tempos atuais, é o surgimento de novas práticas com a utilização de

tecnologias, redução da mão de obra em alguns setores, exigências de habilidades

específicas por parte dos trabalhadores como única alternativa de se manter no

mercado de trabalho. Entretanto, espera-se das sociedades e governantes o

desenvolvimento de ambiências em que seja possível a busca do equilíbrio e

superação dos impactos negativos desse processo.

Reportando-se à história, os jovens, principalmente aqueles que

vivenciam situação de vulnerabilidade, são considerados como o grupo que se

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depara com um mercado de trabalho cheio de restrições provocadas pelas grandes

transformações de cunho tecnológico e organizacional. Entretanto, paradoxalmente,

por apresentarem comportamentos mais flexíveis e adaptáveis se vislumbra uma

inserção positiva no mundo do trabalho e uma interação sustentável nos processos

de desenvolvimento.

O desemprego juvenil, atualmente, é um problema de vasta dimensão,

isto porque é sentido em todos os países, até mesmo naqueles mais desenvolvidos

e industrializados. Porém, na esfera do emprego de jovens, a rápida mundialização

da economia e os avanços tecnológicos proporcionam novas oportunidades de

trabalho produtivo. Contudo, para muitos jovens, essas convergências apenas

acrescem sua vulnerabilidade inerente.

No ano de 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU) promoveu o

Fórum do Milênio, evento de caráter histórico que teve como intuito construir uma

agenda mundial de consenso contendo objetivos e metas estabelecidas para o bem

estar da humanidade. Dentre as inúmeras discussões comandadas pelos chefes de

Estado e de Governo do mundo todo, ressalta-se o compromisso assumido quanto a

elaborar e aplicar estratégias que proporcionem aos jovens a possibilidade real de

encontrar um trabalho digno e produtivo. Para contribuir com o alcance desse

objetivo e metas do milênio foi formada uma rede de empregabilidade constituída

com a participação da ONU, o Banco Mundial e a Organização Internacional do

Trabalho (OIT) que vêm tomando iniciativas para facilitar o ingresso dos jovens no

mercado de trabalho. Uma dessas iniciativas tem sido a produção e divulgação de

dados relacionadas à temática do desemprego que muito tem auxiliado aos

governantes e pesquisadores curiosos e preocupados em contribuir também para a

solução do problema vivenciado pelos jovens.

Vale salientar que se utilizaram como referência básica para os

comentários e informações constantes neste tópico, dados constantes no relatório

“Tendências mundiais do emprego juvenil” produzido pela OIT em 2004, e o trabalho

“Mercado de Trabalho Jovem no Ceará: dimensão e características do Nordeste”

produzido pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho em 2005.

O relatório estima que os jovens representam ¼ da população mundial e

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aponta que o desemprego no período de 1993 -2003 cresceu 26,8% no mundo,

sendo que sua taxa média anual atingiu elevado índice de 14,4%. Assim a força de

trabalho jovem, incluso na faixa etária de 15 a 24 anos correspondia a 47% dos 186

milhões de desempregados no mundo, ou seja, aproximadamente 88 milhões de

jovens pressionando o mercado de trabalho, em 2003. No entanto, é bom saber que

esse segmento se constituía, apenas, 25% da população em idade ativa mundial no

mesmo período.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que,

mundialmente, uma em cada cinco pessoas com idade entre 15 e 24 anos está

desempregada, ou seja, 88 milhões de jovens, que representam mais de 40% do

total de desempregados. Desses, 85% encontram-se em países em

desenvolvimento e as perspectivas de melhoria não são animadoras, porque é

esperada, nos próximos dez anos, a entrada de 660 milhões de jovens no mercado

de trabalho.

Ainda, segundo dados da OIT, no Brasil, o desemprego atinge 3,5

milhões de jovens com idade entre 15 e 24 anos, aproximadamente, 45% da força

de trabalho nacional. Percebe-se, portanto, que são inúmeras as consequências da

crise de emprego que assola a juventude brasileira interferindo em diversos campos,

entre os quais se podem citar danos à instrução, isso porque, muitas vezes,

abandonam a escola em detrimento da luta pela sua inserção no mercado de

trabalho. Uma estratégia que, certamente, deve ser adotada é a melhoria do ensino,

uma vez que estudos atestam que quanto melhor e maior a escolaridade, menor

será o desemprego. Entretanto, é oportuno frisar que o elevado percentual de

desemprego não está relacionado, apenas, aos jovens com baixa escolaridade. Ao

contrário do divulgado, o número de desempregados cresce também entre aqueles

com maior escolaridade.

A esse respeito, Pochman (2004, p.04) afirma:

[...] percebe-se que as taxas de desemprego se elevaram a um ritmo mais rápido justamente para os níveis de maior escolaridade entre 1992 e 2002. Para os segmentos com 14 anos de estudo, a desocupação cresceu 76,9%, 3 vezes a mais que o ritmo de crescimento do desemprego para os segmentos educacionais com até 3 anos de estudo

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Em 2006, esse fenômeno afetou jovens com 14 anos de estudos, o que

corresponde à conclusão do ensino médio, conforme tabela 1 apresentada por

Dieese (2007, p. 32):

TABELA 1 - Taxa de desemprego segundo nível de escolaridade (1)

Regiões Metropolitanas e Distrito Federal 2006 (em%).

Nível de escolaridade

São Paulo

Porto Alegre

Belo Horizonte

Salvador Recife Distrito Federal

Analfabeto 12,5 (3) (3) (3) 11,6 (3)

Ensino fundamental incompleto (2)

15,6 16,6 13,8 25,6 20,3 21,5

Ensino fundamental completo

19,4 17,4 16,8 24,8 23,0 22,7

Ensino médio incompleto

30,4 23,2 25,7 36,5 34,2 33,1

Ensino médio completo

16,4 13,1 13,1 24,1 23,4 18,6

Ensino superior incompleto

12,7 10,4 14,2 21,0 17,7 16,8

Ensino superior completo

5,8 5,1 5,9 7,5 6,9 5,8

Fonte: DIEESE, 2007

Os jovens pobres são punidos duas vezes, pois estão em categorias

afetadas pelo fenômeno do desemprego no contexto de inexpressivo crescimento

econômico, apesar do número de anos de estudo. O aumento do número de estudos

evidencia que, sequer, a obtenção de emprego está relacionada a critérios como a

escolaridade, desafiando o corolário burguês de acesso aos patamares sociais

elevados por meio do conhecimento. Os dados evidenciam que o desemprego cai

entre os jovens ricos em diversas situações relacionadas ao tempo de estudos, ao

passo que o mesmo não ocorre com os jovens pobres:

O mais surpreendente, entretanto, é perceber que, se analisadas as informações para o ano de 2002, as taxas de desemprego nos grupos de maior renda sofrem uma inflexão para baixo entre a faixa de 9 anos de estudo e a de 15 ou mais anos de estudo, ao passo que na classe baixa, à medida que se eleva a escolaridade, cresce o desemprego. Ora, num contexto de mercado de trabalho apertado e pouco dinâmico, os empregos mais nobres e de melhor qualidade acabam sendo preservados para os mais ricos. Além do preconceito racial, agrava-se o preconceito de classe (DIEESE, 2007, p. 03).

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De acordo com as reflexões extraídas do pensamento de Chesnais (1996)

expresso em seu livro a mundialização do capital, não podemos deixar de apontar e

concordar com o autor quando relaciona o desemprego à predominância do capital

financeiro sobre o capital produtivo.

As mudanças científicas e tecnológicas provocam efeitos sobre a

produtividade, a organização do trabalho, a localização da produção sobre a

demanda da força de trabalho.

No que se refere às mudanças científicas e tecnológicas ocorre uma forte

preocupação com a redução dos custos e aumento da produtividade provocada pela

automação. No tocante à localização da produção, são definidas em zonas de

baixos salários, incentivos fiscais, etc. E a mobilidade do capital empurra os países a

alterarem suas legislações trabalhistas de proteção social.

O desemprego também está relacionado ao ideário dos estados

capitalistas avançado na formação de blocos regionais de comercialização,

descartando regiões inteiras. Entende-se que o desemprego é resultado, pelo

menos em parte, da mobilidade de ação que o capital industrial alcançou com o

abatimento dos estados nacionais.

Diante da complexidade em estudar a abordagem apresentada por

Chesnais no que se refere a mundialização do capital, finalizamos afirmando ser

necessário estender e ampliar o debate sobre o modo de responder ao desafio que

ela coloca.

O desemprego em sua totalidade e em especial o desemprego juvenil,

não corresponde apenas um problema de ordem social, mas também, de ordem

econômica. Isso implica que ao alocar recursos em Programas com objetivos

específicos para esta problemática, os governantes não estarão apenas colaborando

para a redução da desocupação e da marginalidade, mas também e de forma

significativa, caminhando rumo ao crescimento do país.

Há alguns anos a sociedade civil e o governo brasileiro tem empreendido

esforços no sentido de reduzir os efeitos de tal problema, com a adoção de

estratégias e programas que garantam aos jovens não apenas o ingresso no

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mercado de trabalho mais principalmente, a regularidade do emprego e a garantia

de salários.

Ao observar-se a região Nordeste e os demais estados mais pobres da

federação são encontradas características semelhantes quanto ao desemprego

juvenil no Brasil. Portanto, de acordo com dados constantes em pesquisa realizada

no ano de 2005 pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho - IDT: Mercado de

trabalho Jovem no Ceará: Dimensão e características no Nordeste pode-se

conhecer os dados a seguir.

Em 2003, existiam quase 17 milhões de pessoas na PEA adulta

nordestina para um pouco mais de 6 milhões na PEA jovem, ou seja, havia quase

três adultos para cada jovem na PEA do Nordeste. Neste ano foram registrados

1000.670 jovens desempregados na região, 16,36% da PEA jovem para 1.027.140

adultos, 6,14% da PEA deste segmento, na mesma situação. Fica evidente, então,

que o impacto do desemprego é bem mais expressivo no universo jovem. Para

facilitar a compreensão, para cada 5 jovens que trabalham, há 1 desempregado;

entre os adultos, para cada 15 trabalhadores, existe 1 procurando trabalho. Já com

relação ao desemprego jovem/ desemprego adulto é de 2, 67, evidenciando que a

possibilidade de um jovem estar desempregado é quase três vezes maior, alem

destes se constituírem em quase 50% dos desempregados da região (tabela 2).

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TABELA 02

Principais Segmentos do mercado de Trabalho da População Jovem e Adulta, Segundo o Gênero Nordeste – 2001-2003

Gênero/segmentos Segmentos/ano População jovem População adulta Total

2001 2002 2003 2001 2002 2003 2001 2002 2003 Masculino

População Total 5.006.916 5.214.965 5.221.964 10.717.595 10.983.506 11.325.559 23.619.486 24.000.724 24.245.698

População Não em Idade Ativa - - - - - - 5.172.093 5.159.123 5.055.179

População em Idade Ativa 5.006.916 5.214.965 5.221.964 10.717.595 10.983.506 11.325.559 18.447.393 18.841.601 19.190.519

População Não-Economicamente Ativa 1.452.918 1.419.346 1.452.964 1.688.436 1.717.097 1.740.083 5.146.936 5.128.332 5.230.599

População Economicamente Ativa 3.553.998 3.794.765 3.766.508 9.048.948 9.266.205 9.582.818 13.300.246 13.712.007 13.952.877

População Ocupada 3.082.854 3.336.909 3.290.314 8.622.660 8.841.657 9.117.808 12.380.829 12.798.370 12.994.916

População Desocupada 471.144 457.856 476.194 426.288 424.548 465.010 919.417 913.637 957.961

Feminino

População Total 5.049.857 5.085.051 5.093.037 11.992.872 12.296.210 12.625.297 24.838.341 24.968.172 25.233.331

População Não em Idade Ativa - - - - - - 5.090.473 4.930.192 4.928.776

População em Idade Ativa 5.049.857 5.085.051 5.093.037 11.992.872 12.296.210 12.625.297 19.747.868 20.037.980 20.304.555

População Não-Economicamente Ativa 2.799.651 2.712.275 2.742.38

8 5.369.587 5.436.681 5.478.196 10.531.551 10.482.460 10.523.122

População Economicamente Ativa 2.249.688 2.372.572 2.349.172 6.623.285 6.859.089 7.146.392 9.215.281 9.553.837 9.777.215

População Ocupada 1.748.556 1.876.610 1.824.696 6.098.622 6.373.244 6.584.262 8.169.994 8.543.182 8.671.994

População Desocupada 501.132 495.962 524.476 524.663 485.845 562.130 1.045.287 1.010.655 1.105.221

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Total

População Total 10.056.773 10.300.016 10.315.00

1 22.710.467 23.279.716 23.950.856 48.457.827 48.968.896 49.479.029

População Não em Idade Ativa - - - - - - 10.262.566 10.089.315 9.983.955

População em Idade Ativa 10.056.773 10.300.016 10.315.00

1 22.710.467 23.279.716 23.950.856 38.195.261 38.879.581 39.495.074

População Não-Economicamente Ativa 4.252.569 4.131.621 4.195.352 7.038.023 7.153.778 7.218.279 15.678.487 15.610.792 15.753.721

População Economicamente Ativa 5.803.686 6.167.337 6.115.680 15.672.233 16.125.294 16.729.210 22.515.527 23.265.844 23.730.092

População Ocupada 4.831.410 5.213.519 5.115.010 14.721.282 15.214.901 15.702.070 20.550.823 21.341.552 21.666.910

População Desocupada 972.276 953.818 1.000.670 950.951 910.393 1.027.140 1.964.704 1.924.292 2.063.182

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2003

4

9

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Diante dos dados obtidos através das PNADs DE 1993 e 2003,

dimensionou-se o tamanho da população total jovem e da população jovem ocupada

no Estado do Ceará, em Fortaleza e na Região Metropolitana . Observando o gráfico

1, é possível constatar que no Estado ela cresceu 24,76%, na RMF 33,23% e, em

Fortaleza 28,15%. Portanto, a população jovem tem crescido de forma mais veloz

na RMF e em seguida em Fortaleza.

Fonte: PNDA, IDT, 2003

Em 2003, o Estado do Ceará contava com 153.348 desempregados na

faixa etária de 15 a 24 anos. Na região metropolitana eram 97.516 (105,15%) e em

Fortaleza 74.807 (86,70%). Portanto, de 1993 a 2003, enquanto a população jovem

do estado amplia-se em 24,76%, o total de desempregados jovens cresce 126,06%,

ou seja, o desemprego jovem amplia-se 5 (cinco) vezes mais rápido relativamente à

sua população, como pode ser visto na tabela 3.

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Tabela 3 – Desemprego Jovem e coeficiente de desemprego jovem/desemprego adulto – Estado, Fortaleza e RMF - 1993- 2003

Região Número de desempregados

jovens (15-24 anos)

Taxa de desemprego jovem (15-24 anos)

Coeficiente de desemprego

jovem/ desemprego

adulto 1993 2003 Variação 1993 2003 Variação 1993 2003

Estado 67.836 153.348 126,06 8,44 15,90 88,39 2,87 2,91 RMF 47.535 97.516 105,15 16,28 26 59,71 2,77 2,80

Fortaleza 40.057 74,807 88,70 21,83 32,20 47,50 2,35 2,82 Fontes: PNAD/1993/2003 e Pesquisas Direta=IDT

Com relação às taxas de desemprego entre os jovens durante o mesmo

período é possível observar que ocorreu elevação nas três regiões. No Estado do

Ceará, ela move-se de 8,44% para 15,50%, correspondendo a um aumento de

88,39%; em Fortaleza subiu de 21,83% para 32,20% (47,50%); na RMF a variação

alcançou patamares de 16,28% para 26,00%(59,71%). Constata-se que os índices

mais elevados de desemprego são encontrados em Fortaleza, entretanto é no

Estado do Ceará que se verifica maior velocidade do desemprego jovem (Gráfico 2).

Fonte: PNDA, IDT, 2003

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Em pesquisas realizadas pelo IDT, ficou comprovada a elevação do

desemprego juvenil tanto no estado, na região metropolitana como em Fortaleza.

Enfim, fica evidente que o problema do desemprego dos jovens no Estado do Ceará

é uma realidade que precisa ser combatida.

Nos anos 1990, o Ceará apresentou índices de crescimento superiores ao

Brasil e ao Nordeste, sem, no entanto, conseguir gerar postos de trabalho

compatíveis com a força de trabalho, significando dizer que há ainda um excedente

de mão de obra, impossibilitando a diminuição mais consistente dos patamares de

desemprego.

Ressalta-se que, no universo dos jovens, verifica-se, de forma mais

acentuada, a precariedade das relações trabalhistas, exemplificando-se, os baixos

salários e uma maior quantidade de horas trabalhadas em relação aos adultos.

Na tentativa de minimizar esses problemas, foi promulgada em 19 de

dezembro de 2000 a Lei nº.10.097, denominada de lei de aprendizagem a qual

passa a ser analisada no próximo tópico.

2.3 Aprendiz: Conceito de aprendizagem e o Projeto Primeiro Passo

No século XIX, surge no Brasil o conceito de aprendiz, relacionado à

mesma concepção que se tinha de menor abandonado. As primeiras iniciativas de

intervenção tinham caráter puramente assistencialista. Na segunda metade do

século XIX, foram criados os Liceus de Artes e Ofícios que tinham como objetivo

maior à formação de aprendizes.

No ano de 1937, com base em seu artigo 129, a Constituição Federal

passa a considerar a formação profissional um dever do Estado para com a

população mais carente. Atribui responsabilidade de implementação dessa formação

as empresas e os sindicatos através das escolas destinadas aos filhos de operários

e de seus associados.

A primeira entidade especializada em aprendizagem, o Serviço Nacional

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de Aprendizagem Industrial (SENAI) foi criada através do Decreto-Lei nº. 40.048, de

22 de janeiro de 1942. No mesmo ano, o Decreto-Lei nº. 5.091 de 15/12/1942, em

seu artigo 1º, assim conceituou aprendiz:

Art. 1°-Para os efeitos da legislação do ensino, considera-se aprendiz o trabalhador menor de dezoito anos e maior de quatorze anos, sujeito a formação profissional metódica do ofício em que se exerça o seu trabalho.

Esse conceito é também assumido pelo Decreto-Lei n.º452, de

01/05/1943, que aprova a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e apresenta

capítulo especial sobre a proteção do trabalho do menor, e de forma especial, a

Aprendizagem. Posteriormente, em 06/10/1952, o Decreto n.º. 31.546 prepara o

conceito de empregado aprendiz.

A partir do ano de 2000, a criação do Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA) provocou uma revisão na legislação culminando com a

promulgação da Lei nº. 10.097 conhecida como a Lei da aprendizagem, que tem a

finalidade de contribuir com o acesso do jovem no mundo do trabalho. Ela define

Aprendiz o jovem com idade maior de quatorze anos e menor de vinte e quatro anos

e que celebra contrato de aprendizagem.

Dentre as principais inovações trazidas por essa Lei, pode-se ressaltar a

abertura dada a outras instituições para execução dos cursos quando da

impossibilidade dos Serviços Nacionais de Aprendizagem em suprir as demandas. É

importante compreender que essas entidades assumem responsabilidade

subsidiária, ficando a obrigação principal com os sistemas “S”.

Para isso, essas entidades devem atender a algumas condições quanto:

a) ser uma entidade sem fins lucrativos; b) ter por objetivo a assistência ao

adolescente e a educação profissional; c) estar registrada no Conselho Municipal

dos Direitos da Criança e do Adolescente; d) cumprir os preceitos de competência

para ministrar cursos em conformidade com as determinações baixadas pelo

Ministério do Trabalho e Emprego (art. 430, inciso II e § 3º).

Só fica caracterizada a aprendizagem dos jovens, quando firmado um

contrato de trabalho especial de trabalho que pode durar ate dois anos, envolvendo

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o aprendiz, a empresa contratante e a entidade responsável pela capacitação.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) recomenda que o contrato

de aprendizagem deva determinar a formação sistemática e de longa duração, com

o intuito de prepararem jovens dentro de uma profissão reconhecida. Para identificar

que profissões exigem aprendizagem específica, devem-se levar em conta:

a) O nível de exigência de conhecimentos técnicos teóricos para o

exercício da profissão;

b) O tempo necessário empreendido para capacitação;

c) a importância da aprendizagem e por fim, as possibilidades de

emprego na profissão em que foi treinado.

É de extrema importância que as entidades que promovem a

aprendizagem busquem estar sempre afinadas com o que consta no art.69, inciso

II, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que assegura ao adolescente o

direito a capacitação profissional voltada para o mercado de trabalho.

A promulgação da Lei de Aprendizagem tem se constituído importante

instrumento de apoio aos jovens de famílias pobres vez que ao receberem uma

qualificação de qualidade suas chances de inserção no mercado de trabalho são

acrescidas, e por consequência sua ascensão social. No entanto, observa-se que,

apesar do empreendimento desses esforços, o problema do desemprego juvenil é

cercado por um circulo vicioso, no qual aqueles mais pobres têm acesso limitado à

qualificação e trabalho. Isso significa que, quanto mais carente o adolescente, menor

é sua escolaridade, mais cedo começa a trabalhar e, assim, ocupa postos de

trabalho que exigem pouca qualificação e oferecem baixos salários.

Em um cenário marcado pelas deficiências de uma educação pública de

qualidade, pela formação profissional descaracterizada, e pelas baixas condições

econômicas das famílias de baixa renda, é comum a existência de uma pressão

quanto à entrada precoce dos jovens no mundo do trabalho, que inúmeras vezes se

submetem ao trabalho sem garantia dos seus direitos.

O Governo do Estado do Ceará, na busca de desenvolver estratégias

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inovadoras que gerem impacto na superação da pobreza e desigualdade entre os

jovens, implantou o ‘PROJETO PRIMEIRO PASSO’ conciliando modernidade com

inclusão social. Esse Projeto foi criado em 1995, sendo, inicialmente, chamado de

Núcleo de Iniciação ao Trabalho Educativo (NITE) desempenhando a função de

gente de integração social, objetivando canalizar esforços para inserção de

adolescentes e jovens em situação de “risco pessoal e social 2 no mercado de

trabalho. Em 1999 foi denominado de Núcleo de Capacitação e Iniciação ao

Trabalho Educativo (NITEC), configurando-se como proposta de escola alternativa,

ofertando no horário contrário ao da escola formal capacitação profissional de quatro

(4) horas diárias para os adolescentes e jovens engajados. No início de 2003,

novamente foi batizado de ‘Projeto SOMAR’, realizando as mesmas atribuições

anteriormente descritas e acrescidas de outras.

O público alvo do projeto Primeiro Passo são adolescentes e jovens

incluídos na faixa etária de 16 a 24 anos, com renda familiar per capita igual ou

inferior a ½ salário mínimo, em situação de risco pessoal e social2 estudantes da

escola pública, atentando para os critérios de prioridade especificados a seguir:

� Jovens que vivem na rua de forma circunstancial ou permanente;

� Jovens egressos de medidas sócio-educativas;

� Jovens inseridos em atividades penosas, insalubres e degradantes que

colocam em risco sua saúde e segurança;

� Jovens vítimas da exploração sexual na família e na sociedade.

O Projeto Primeiro Passo foi idealizado objetivando desenvolver ações

de cidadania, atividades culturais e esportivas, educação social e profissional, para

adolescentes e jovens de baixa renda, na faixa etária de 16 a 24 anos, estimulando

o protagonismo juvenil, a corresponsabilidade, a vivência no mundo trabalho,

proporcionando, assim, a melhoria na qualidade de vida do público focalizado.

O projeto, ainda define como objetivos prioritários:

1. Proporcionar aos jovens “preparação para a vida", através de

2 Entende-se “situação de risco pessoal e social”, adolescentes abandonados, impossibilitados do convívio

familiar, vítimas de maus tratos e exploração; aqueles que se encontram nas ruas (perambulando, esmolando ou vendendo alguma mercadoria), sujeitos as mais diversas formas de violência e/ou envolvidos com; drogas, prostituição, gangues, ou mesmo no convívio familiar, mas em risco quanto ao seu desenvolvimento bio-psico-social. São crianças e adolescentes excluídos dos seus direitos fundamentais (título I e II ECA).

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programação de atividades que visam desenvolver a capacidade de

relacionamento dos jovens com eles mesmos, com a família, com a

sociedade, com o mundo e o planeta;

2. Possibilitar à criação de competências duráveis, em 90% dos jovens

participantes do projeto, focalizando aspectos relevantes para a

melhoria da qualidade e preservação da vida, auto-desenvolvimento e

potencialização de vocações e missões pessoais para a construção de

uma sociedade mais digna;

3. Promover qualificação profissional e social para jovens de acordo com

as potencialidades dos municípios e as possibilidades de inserção no

mundo trabalho nos municípios do Estado onde o projeto for

implantado;

4. Contribuir para elevação da escolaridade realizando oficinas

pedagógicas que desenvolvam o raciocínio lógico, a leitura e

interpretação de textos.

Atualmente, o projeto se desenvolve por meio de três linhas de ação,

quais sejam:

� Jovem Aprendiz: para adolescentes na faixa etária de 16 a 24 anos,

cursando o ensino médio e fundamental, de acordo com a

Consolidação das Leis do Trabalho - CLT aprovada pelo decreto lei nº.

5.452, de 1ª de Maio de 1943 e alterada pela lei 10.097/2000, em

parceria com a Delegacia Regional do Trabalho DRT e as empresas

privadas, oferecendo formação técnico profissionalizante aos

adolescentes e jovens e introduzindo-os nas empresas por meio de

contrato de aprendizagem, atendendo ao artigo 430 (quatrocentos e

trinta) da referida lei. Assim sendo, o ‘Projeto Primeiro Passo’ pode

suprir a demanda ora existente no mercado, como entidade qualificada

em formação técnica - profissional metódica devidamente registrada

no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.

� Jovem Estagiário: destinado a jovens de 16 a 21 anos cursando o

ensino médio da escola pública em parceria com empresas públicas e

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privadas, de acordo com o decreto estadual de Nº. 26.725/2002, lei

federal 6.494/1977, decreto 87.497/1982 e Resolução do Conselho

Nacional de Educação CNE/CNB Nº. 1 de 21/01/2004, oferecendo

capacitação social e profissional de 200 horas e estágio remunerado

para os jovens engajados no projeto.

� Jovem Bolsista: para adolescentes de 16 a 21 anos do ensino médio e

fundamental, dando prioridade para adolescentes e jovens egressos

de medidas sócio-educativas e em cumprimento de medidas em meio

aberto, oferecendo qualificação social e profissional.

Procurou-se abordar as principais linhas de ações desenvolvidas pelo

Projeto Primeiro Passo para, dessa forma, demonstrar o esforço que o governo do

Estado do Ceará vem empreendendo para reduzir o desemprego dos nossos jovens.

No próximo tópico serão analisadas, de forma mais aprofundada, as

políticas públicas de qualificação e trabalho e os instrumentos utilizados para

combater o desemprego juvenil e de que forma o Estado do Ceará vem gerenciando

essas políticas em beneficio da juventude.

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3 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A JUVENTUDE

3.1 Políticas Públicas: uma sucinta contextualização

Ao iniciar este capítulo faremos uma abordagem sobre o entendimento

referente ao termo Política Pública, vez que é comum nos depararmos com o seu

uso em textos acadêmicos, na mídia e em espaços reservados para a discussão

política. A ausência de definição imediata após o uso do termo nos passa a ideia de

que o seu conceito é bastante claro para aqueles que lêem, entretanto, não é bem

assim, já que a expressão é bastante ampla.

Para refletir sobre políticas públicas escolhemos fazer uma breve

contextualização sobre o tema, utilizando para isso o pensamento de vários teóricos.

Para iniciar referendamos o conceito apresentado por Isaura Belloni (2001, p.44)

que a concebe como

[...] é a ação intencional do estado junto à sociedade. Assim por estar voltada para a sociedade e envolver recursos sociais, toda política pública deve ser sistematicamente avaliada do ponto de vista de sua relevância e adequação as necessidades sociais, além de abordar os aspectos de eficiência, eficácia e efetividade das ações empreendidas.

A palavra política pública envolve o conceito da composição das ações,

estratégias e planos desenvolvidos com o intuito de suprir as legítimas demandas

sociais. Pereira (2001, p.223) define política pública como:

[...] ação coletiva que tem por função concretização de direitos sociais demandados pela sociedade e previstos nas leis. Ou, em outros termos, os direitos declarados e garantidos nas leis só têm aplicabilidade por meio de políticas públicas correspondentes, as quais, por sua vez, operacionalizam-se mediante programas, projetos e serviços. Por conseguinte, não tem sentido falar de desarticulação entre direito e política se nos guiarmos por essa perspectiva.

Salienta-se que, por intermédio das políticas públicas, são colocados em

prática os programas de distribuição de bens e serviços, regulados e oferecidos pelo

Estado com o envolvimento da sociedade civil. Entretanto, essa relação entre

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Estado e sociedade nem sempre é de reciprocidade, havendo inclusive um processo

que envolve competição e conflitos.

Parafraseando Ferge (1996), quando trata de política social, pode-se

dizer que não há uma definição universalmente aceita de Políticas Públicas. As

descrições baseadas na prática e no âmbito histórico abordam variáveis referentes

às políticas públicas que podem completar-se e complementar-se mutuamente.

Abad (2003) aborda que a política pode ser considerada em diversos

sentidos desde a luta pelo poder e acordos de governabilidade até a execução de

programas governamentais. A concepção mais conhecida na América Latina para

política pública é tudo aquilo que o governo decide fazer ou não frente às situações

que lhe são apresentadas. Pode significar ações concretas com investimento de

recursos por parte do Estado. Admitindo-se delegar ao Estado unir e articular a

sociedade, assim às políticas públicas podem ser consideradas como instrumento

de dominação.

Na tentativa de compreendermos a sua dinâmica e tomando como base o

conceito relacionado à intenção da ação do governo, vamos perceber que ela, a

Política Pública, existe em um determinado momento como ideia motivadora e em

outros momentos transforma-se em realidade pelos canais naturais de execução das

mesmas. Deveriam abordar o poder social onde a sociedade deveria ser a origem e

o destino, mas, infelizmente, nem sempre é assim. Precisamos saber a quem

servem seus autores: ao interesse público, ao interesse de uma coletividade ou ao

interesse individual.

Entendendo-se que o grau de complexidade e as inúmeras variáveis que

se combinam, no espaço nucleador das Políticas Públicas, tornam extremamente

intricadas suas definições. Nesse sentido, faz-se a apropriação do pensamento de o

Chripino (2004, p. 64) que tenta compreender por partes, ou seja:

Como Política, vamos entender a arte de governar ou de decidir os conflitos que caracterizam os agrupamentos sociais. Como Pública, vamos entender aquilo que pertence a um povo, algo relativo às coletividades. Logo, poderemos reduzir que Política Pública- em um meta –conceito – seria a ação do governo que vise atender a necessidade da coletividade.

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Seguindo essa linha de pensamento, encontram-se outros estudiosos

concordantes:

1. Vianna (2001), valorizando o Estado e ação, escreve que o modo de

operar do Estado, se traduz no ato de “fazer” políticas públicas;

2. Garcia (apud FRISCHEISEN, 2000) conceitua Políticas Públicas

como diretrizes, princípios, metas coletivas conscientes que

direcionam a atividade do estado, objetivando o interesse público;

3. Cunha (2002) entendem Política Pública como linha de ação coletiva

que concretiza direitos sociais declarados e garantidos em lei. É.

mediante as políticas públicas. que são distribuídos e redistribuídos bens

e serviços sociais, em resposta às demandas da sociedade. Por isso o

direito que as fundamenta é um direito coletivo e não individual.

Ao considerar as contribuições dos autores mencionados, podem-se

conceituar Políticas Públicas como a ação de governo que visa a atender à

necessidade da coletividade e a concretização dos direitos estabelecidos.

Supõe-se que, cada modelo de Estado, produzirá seu modelo próprio de

Políticas Públicas, ponderando que a dinâmica do governo está relacionada com a

sociedade e a aptidão desta em organizar-se para fiscalizar e cobrar o cumprimento

dos seus direitos. Por esta razão, e também por conta do quadro político brasileiro

enraizado em nossa história é que é difícil produzir Políticas Públicas eficientes e

efetivas.

No Brasil, o tema das políticas é bem recente e está ligado ao

desenvolvimento econômico nacional. Até a década de 30, nossa economia era

predominantemente agrícola. A partir de 1980, o Brasil possuía o oitavo Produto

Interno Bruto industrial do mundo, só perdendo para o grupo das sete economias

mais ricas do mundo. Isto nos revela uma mudança no perfil da sociedade e da

economia brasileira na metade do século XX. O que alguns países levaram séculos

para fazer, o Brasil fez em 1950, sessenta anos, transformando-se em uma potência

industrial média, e com grande parte de sua população residindo nas cidades.

A característica maior do Estado brasileiro no início dos anos 1930 até a

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década de 1980 era seu foco desenvolvimentista, conservador, centralizador e

autoritário. Portanto, não poderíamos pensar em um Estado de Bem-Estar Social

como o que acontecia nos países do primeiro mundo. O Estado aqui era o promotor

do desenvolvimento e não o transformador das relações da sociedade. Assim, o

grande objetivo era de ordem econômica.

Percebe-se que o Estado brasileiro é, tradicionalmente, centralizador. Não

dando importância ou ênfase ao bem-estar, ou seja, a ideia de adotar um modelo de

desenvolvimento centrado no objetivo do crescimento econômico e mínimo na

questão da proteção social ao conjunto da sociedade, fez com que o Estado

adquirisse uma postura de fazedor e não de regulador. Assim, ao longo da nossa

história observa-se um Estado centralizador, em momentos como a longa ditadura

no período Vargas e, depois a ditadura nos governos militares pós-64. Portanto, o

viés autoritário é muito forte nas políticas públicas do país.

Desse modo, a vertente autoritária, apresenta-se como um traço

marcante na política pública do país, herança da tradição autoritária do Estado

brasileiro. Desse modo, as políticas públicas eram mais econômicas que sociais. Ao

observar-se a história recente, verifica-se que as políticas sociais e as políticas

regionais são meros prolongamentos das políticas econômicas, não se

configurando, portanto, como centro das preocupações das políticas públicas. Nelas,

o corte apresenta-se predominantemente compensatório, vez que, a preocupação

central é a política econômica.

Entende-se, portanto que o perfil autoritário, conservador e centralizador

do Estado, reflete na forma tradicional como são pensadas as políticas sociais, vez

que, o tratamento dessas políticas normalmente não leva em consideração a grande

heterogeneidade do território nacional. Assim, quando a política é centralizada, o

tratamento é homogeneizado. Essa centralização faz com que as propostas venham

de cima para baixo, por conseguinte, observa-se que, é essa a tradição de se

pensar e fazer as políticas sociais no país. Aliado a isso está ainda, a consequente

dificuldade de promover a participação da sociedade. Mas, segundo Marx (1995, p.

39):

a forma de existência do Estado será sempre o governo de uma classe sobre outra, o que denominou de “ditadura de classe”, seja a da burguesia, seja a do proletariado.

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Pode-se, portanto, conjeturar que tenha empregado o termo ditadura com

o sentido de indicar maior ênfase ao domínio de uma classe sobre a outra e não

como forma de governo. Da mesma forma, crer que o emprego do termo continha a

intenção de considerar o caráter temporário da dominação, ou seja, de seu

esgotamento histórico, até a extinção definitiva das classes e do Estado.

Reconhecer o que está acontecendo no Brasil é muito desafiador. Vive-se

sobre a ação ininterrupta da mudança. A sociedade incitada pelo processo da

globalização capitalista, por inovações tecnológicas e influenciada sobre a era da

informação ficam reféns de um mercado financeiro extremamente volátil. Nessa

velocidade se aceleram as modificações sócio-econômicas profundas nas relações

de trabalho.

A globalização da economia nesse final de século se firma e se consolida

cada vez mais. Marca, na verdade, uma grande transformação no mundo,

principalmente no Brasil quando são implantadas as políticas neoliberais que se

inicia no governo Collor e se firma no governo FHC. Entende-se ainda que, essa

política é determinada pelos agentes econômicos que impõem as regras do jogo, o

padrão de competitividade e o tipo de organização econômica que são, na verdade,

imposições dos grandes conglomerados econômicos e dos países centrais, o que

termina afetando o conjunto do espaço econômico mundial, principalmente em

países médios como o Brasil.

Observa-se, em Antunes (2004, p.17), que:

Não é demasiado lembrar que a modernização neoliberal para o Terceiro Mundo penaliza de maneira muito mais brutal e nefasta o mundo do trabalho. Despossuído, dilapidado, desqualificado, o ser social não consegue nem mesmo viver do seu trabalho. Converte-se, em largas faixas, numa classe sem trabalho, que vive da miséria da economia informal

Percebe-se, portanto, que no mundo atual se privilegia uma política de

Estado que valoriza o mercado, assim a individualidade sobrepõe o coletivo, desse

modo configura-se a perspectiva dos dirigentes mundiais. E é ela que impregnou

todas as sociedades neste final de século e início do século XXI. Por conseguinte,

há menos políticas públicas e mais mercadorias e serviços. Assim mais uma vez

trazemos Antunes (2004, p.73):

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[...] o sistema produtor de mercadorias, vigente em quase todas as partes do mundo, mostra seu enorme caráter destrutivo: sua lógica elimina, entre tantas coisas, a própria força de trabalho. O brutal desemprego estrutural, que atinge o mundo em escala global e de forma arrasadora, é uma evidência desse caráter destrutivo.

Com a democratização do país, os desafios e oportunidades para o Brasil

implicam em considerar a heterogeneidade deste, portanto, para pensar em políticas

públicas é imprescindível deixar de lado a visão centralizadora e hegemônica, já que

temos uma grande diversidade no território brasileiro. Outro desafio é romper com a

ideia de que público é sinônimo de governamental, apesar da tradição brasileira.

Nesse contexto, o debate acerca das políticas sociais no Brasil vem

ganhando espaços, gerados pelos indicadores econômicos e sociais que revelam

uma sociedade balizada por profundas desigualdades sociais, levando à pobreza

grande parcela da população, determinada pela questão da reforma do Estado,

identificado como historicamente ineficiente e trazendo à tona a relação

Estado/sociedade e Estado/mercado, em um contexto em que predominam, de um

lado, políticas econômicas voltadas para a estabilização da moeda e o ajuste

estrutural da economia e, de outro, a complexa relação entre democracia política e

democracia social. Nessa conjuntura recente, discutir as políticas sociais brasileira, a

questão do seu financiamento e da prestação de benefícios e serviços, ocupa lugar

central no debate atual. Bem como da sua eficiência quanto a atingir os objetivos e o

público-alvo previamente definido. Portanto, é urgente que as políticas e programas

sociais no Brasil, permitam imprimir-lhes uma racionalidade efetiva para a

construção de uma sociedade mais democrática e igualitária.

Apesar das colocações anteriores não podemos deixar de reconhecer que

a Política Nacional de Assistência Social – PNAS se constituiu um avanço em

termos de política pública, vez que consolida a assistência social como garantidora

de direitos embasada na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) Lei 8742, de

07.12.1993, que preceitua:

Art. 1º a assistência social, direito do cidadão e dever do Estado é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas (LOAS/1993, artigo 1º).

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A política de assistência social é muito clara com referência a proteção

social enquanto garantidora de direitos, nesse sentido, deve assegurar: segurança

de sobrevivência (de rendimento e de autonomia); de acolhida; e, convívio ou

vivência familiar. Observa-se, ainda, o que se expressa na PNAS (2005. p.25):

[...] segurança de rendimentos não é uma compensação do valor do salário-mínimo inadequado, mas a garantia de que todos tenham uma forma monetária de garantir sua sobrevivência, independentemente de suas limitações para o trabalho ou do desemprego. É o caso de pessoas com deficiência, idosos, desempregados, famílias numerosas, famílias desprovidas das condições básicas para sua reprodução social em padrão digno e cidadã.

Percebe-se que resultante da descentralização das políticas públicas nas

últimas décadas, houve uma melhoria nos indicadores sociais especialmente nas

áreas de saúde, educação e de redução da pobreza que segundo pesquisas

recentes atingiram patamares inéditos, que não haviam sido alcançados em nenhum

momento da história do país. 3 O Brasil vive hoje uma etapa de franco progresso

nas condições de vida de sua população. Apesar das carências e déficits sociais

enormes que ainda temos que enfrentar. Contudo, não se pode deixar de evidenciar

os fatos recentes de mudanças na sociedade, quando as pesquisas apontam para a

redução dos índices sociais como: diminuição da pobreza, menores índices de

mortalidade infantil, menor número de analfabetos, tudo isso apesar da herança de

um longo passado de exclusões e de injustiça, portanto, o avanço dos últimos anos

é inequívoco.

Para Faleiros (2006, p.45). as políticas sociais

[...] apesar de aparecerem como compensações isoladas para cada caso, constituem um sistema político de mediações que visam à articulação de diferentes formas de reprodução das relações de exploração e dominação da força de trabalho entre si, com o processo de acumulação e com as forças políticas em presença.

Destaca-se, por conseguinte, que a redução da pobreza ocorreu 3 A pobreza pode ser entendida em vários sentidos, principalmente, como carência material; tipicamente

envolvendo as necessidades da vida cotidiana como alimentação, vestuário, alojamento e cuidados de saúde.

Pobreza neste sentido pode ser entendida como a carência de bens e serviços essenciais. Segundo o Banco

Mundial (2000/2001, p. 1): os pobres vivem sem liberdade de ação e escolha que os que estão em melhor

situação dão por certo. Muitas vezes mão dispõem de condições adequadas de alimentação, abrigo, educação e

saúde. Essas privações os impedem de levar o tipo de vida que todos valorizam.

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fortemente em todas as regiões do país, principalmente no Nordeste, tanto nas

áreas urbanas quanto nas áreas rurais especialmente nestas últimas décadas. A

educação apresentou aceleração notável em todos os níveis, com índices recordes

de atendimento e inclusão, demonstrando ser um mecanismo essencial para

promover a diminuição da miséria e da desigualdade.

De acordo com declarações fornecidas em maio de 2009 pelo presidente

do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Márcio Pochman, apesar da

fase mais aguda da crise internacional, 316 mil brasileiros superaram a linha de

pobreza nas seis principais metrópoles do país (Rio de Janeiro, São Paulo,

Salvador, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre).

Pochmann (2002) esclareceu que esta foi à primeira vez, desde a década

de 80, que um período de crise no Brasil foi acompanhado pela redução da pobreza.

Ele divulgou que em 1981, por exemplo, o movimento foi fortemente contrário, com

seis milhões de pessoas entrando na linha de pobreza. "De 1980 para cá foi à

primeira vez que enfrentamos uma crise com políticas keynesianas", disse

Pochmann. Ele lembrou que, em turbulências anteriores, ao invés de política anti-

cíclicas, o governo brasileiro atuava de forma pró-cíclica, com aumento de juros,

corte de gastos e investimentos e aumentos menores de salário mínimo.

Entre as prováveis causas para a recente trajetória da pobreza

metropolitana, diversa de outros períodos analisados, encontram-se as políticas

públicas. O aumento do valor real do salário mínimo e a existência de uma rede de

garantia de renda aos pobres colaboraram categoricamente para que a base da

pirâmide social não seja a mais atingida, conforme observado em períodos de forte

desaceleração econômica no Brasil.

Pochmann (2002) ressaltou que hoje 35% da população brasileira tem

uma garantia de renda que não depende do mercado de trabalho, como rendimentos

de previdência, do Programa Bolsa Família ou de outros instrumentos.

Com referência à saúde observa-se, também, grandes avanços obtidos

mediante a ampliação da rede de programas de prevenção e de assistência, bem

como por meio da reformulação da maneira de atuação, que é fortemente marcada

pela descentralização. Evidentemente, muito tem ainda a construir-se em termos de

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política pública social, mas há de se convir que nos últimos anos foi construída uma

verdadeira rede de proteção social, com vários programas focalizados – de

assistência e de transferência direta de renda – voltados a idosos, portadores de

deficiências, crianças que trabalham, e a outros grupos da população em situação

de risco ou com carências especiais.

Ressalta-se ainda, que o estabelecimento de fundamentos

macroeconômicos saudáveis e a lei de responsabilidade fiscal foram importantes

instrumentos para a efetividade das políticas sociais, vez que, índices de inflação

alta prejudicam e corroem a renda real dos pobres.

O programa de aceleração do crescimento do atual governo traz em seu

bojo políticas sociais que visam à redução da pobreza, assim, a promoção social

continua sendo uma alta prioridade para o governo federal. Pois em seu orçamento

reserva grande parte de recursos para os programas de desenvolvimento social.

Apesar dos esforços e resultados já alcançados na área social, a natureza estrutural

dos problemas exige atenção continuada, buscando consolidar e aperfeiçoar a

política e os programas e, ao mesmo tempo, intensificar a melhoria da gestão das

políticas públicas.

Finalizando esta reflexão sobre as políticas sociais, considera-se oportuno

citar o pensamento de Faleiros (2006, p.70).

As lutas pelas políticas sociais são complexas, pois a própria organização das instituições sociais em vários setores fragmentam e separam os pobres dos trabalhadores e dos cidadãos, dividindo-os em categoriais especiais

Não constitui nossa intenção investigar profundamente a questão do

Estado brasileiro e as repercussões provocadas pelas políticas sociais públicas,

embora consideremos fundamental pelo menos tocar na necessidade de uma

contextualização em níveis macros para um melhor entendimento do ponto em que

se pretende chegar. A partir de agora nos deteremos a refletir de forma focalizada

sobre as políticas públicas de atendimento aos jovens.

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3.2 Uma análise das políticas públicas de trabalho para jovens realizadas no Brasil

Realizar uma análise das políticas públicas de juventude no Brasil exige a

compreensão do enorme desafio frente à amplitude das práticas espalhadas nesse

nosso país. Antes de abordar os aspectos pertinentes a este capítulo, julgamos

conveniente citar o conceito de políticas públicas para a juventude constante no

artigo de Chillán (2005, p.68) e saber a quem essas políticas são dirigidas. Em

conformidade com o autor, Políticas Públicas para juventude pode ser entendida

como “o sistema público que aborda as preocupações sociais relativas aos jovens

de um país ou uma região”.

É inegável que o tema da Juventude no Brasil já passou a compor

preocupação inserida em agenda pública, com a percepção da necessidade de

formulação de políticas específicas para essa fase da vida. Escolhemos como marco

os anos 90, onde se deu a mobilização da sociedade civil em torno dos direitos da

infância e da adolescência, resultando na aprovação de um novo Estatuto da criança

e do Adolescente (ECA).

A atenção voltada para a política juvenil ocorreu inicialmente nos países

capitalistas centrais e posteriormente nos periféricos. A inquietação quanto a esta

problemática na verdade extrapola os governos nacionais como pode ser

comprovado através de iniciativas da OIT que incluiu a redução do desemprego

como um de seus objetivos.

O governo brasileiro despertou para a existência de problemas que

afetavam os jovens: saúde, violência e desemprego e as ações nessas áreas

constituíram o seu foco principal. No final da década, o desemprego juvenil e o

realce dado aos processos de exclusão, provocaram o surgimento de novas ações

que procuraram focalizar nos jovens pobres as ações do Estado.

Só para realçar, é bom que saibamos que em 2002, último ano do

governo de Fernando Henrique Cardoso, existiam 33 programas Federais voltados

para a juventude. Uma parcela bastante significativa das ações foi realizada através

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da transferência de recursos para as Organizações Não Governamentais (ONGS)

que se responsabilizavam pela execução. O traço proeminente dessas ações

revelou que o próprio governo federal não havia concebido uma proposta clara e

satisfatória para solucionar os problemas vivenciados pelos nossos jovens. Nos

últimos 15 anos, o Brasil desperta para a importância de uma nova experiência

democrática, com a construção da interação entre sociedade civil e o Estado.

Uma ação bastante inovadora foi a abertura institucional para o

envolvimento dos jovens nas diversas etapas do orçamento participativo em alguns

municípios e a presença deles na função de gestores dos órgãos que executam

ações específicas para a juventude. Entretanto, persiste a luta pelo reconhecimento

da necessidade das políticas de juventude. O poder federal mesmo não sendo o

executor das políticas ainda se constitui como o indutor importante, vez que, é o

responsável pelas diretrizes gerais e a garantia dos recursos. Daí a relevância de se

romper com os aspectos que têm caracterizado as ações federais nos últimos anos,

ou seja, em determinados momentos a ausência total dos jovens na formulação das

políticas e em outros, a dificuldade do Estado em conceber os jovens como sujeitos

de direitos.

Para que a Política Nacional de Juventudes funcione com eficácia e

eficiência, realizando ações e iniciativas que contem com a devida importância e a

pertinência, é necessário realizar uma distribuição integrada e consensual dos

papéis e funções a serem desempenhados em cada caso concreto.

O projeto de criação de uma política nacional de trabalho e emprego, com

foco na juventude foi divulgado por ocasião da campanha do presidente Luís Inácio

Lula da Silva. Anteriormente, o problema do desemprego dos jovens ainda não tinha

sido encarado como prioridade do governo federal, isso sem invalidar algumas

ações desenvolvidas no nível de plano nacional.

O início da estruturação do Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro

Emprego para os Jovens (PNPE) ocorreu no primeiro semestre de 2003, e foi criado

ainda no fim de 2003, por meio da Lei n° 10.748, de outubro de 2003. Também foi

criada uma estrutura responsável pelo programa dentro do Ministério do Trabalho e

Emprego (MTE): o Departamento de Políticas de Trabalho e Emprego para a

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Juventude (DPJ), vinculado à Secretaria de Políticas Públicas de Emprego (SPPE),

já responsável, no âmbito do MTE, pelos principais instrumentos de ação do Sistema

Público de Emprego.

A linha central da formulação da política foi à constituição de mecanismos

para facilitar o encaminhamento do jovem ao mercado de trabalho, sendo previstas

ações de qualificação, intermediação e aumento de vagas no mercado e estimulo ao

desenvolvimento de ações geradoras de ocupação e renda.

O objetivo primordial das políticas de emprego é extirpar ou controlar o

desemprego, principalmente porque a economia capitalista possui ciclos de

crescimento e períodos de inclinação do nível de atividades, que exerce influência

sobre o mercado de trabalho. As políticas de emprego vêm ocupando maior espaço

na agenda pública dos governos brasileiros devido à insuficiência de postos de

trabalho que atendam a demanda cada vez mais crescente, principalmente pelos

jovens brasileiros.

Devido ao fato desemprego juvenil ser maior que entre os adultos, a

criação das políticas estatais de empregos surgiu como alternativa de buscar um

caminho para propiciar aos jovens uma integração com a sociedade através de sua

inserção no mercado de trabalho.

Gimenez (2001) cita que as políticas de emprego para jovens são ainda

mais necessárias em contextos de baixo crescimento econômico, porque ocorre

uma relação inversa entre o crescimento dos empregos por meio da expansão da

economia e a seletividade do mercado de trabalho. Assim sendo, “quanto maior a

expansão dos empregos, menor a seletividade que dificulta de forma particular a

inserção de determinados segmentos da força de trabalho” (GIMENEZ, 2001, p. 2).

Na visão desse autor, o crescimento econômico sustentado é fundamental para

dinamizar os mecanismos de inclusão social.

Somente a partir de 2003, surgiu uma política nacional de emprego para

jovens, anteriormente elas só ocorriam nas esferas municipais e estaduais. O que se

percebe, no entanto, é que a grande preocupação é com a geração de emprego sem

a observância da qualidade dos mesmos.

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Conforme destaca Villela (2005), no Brasil, a juventude só se torna objeto

de uma política quando ligada a estereótipos negativos, como a delinquência, o uso

de drogas ou a violência. Na perspectiva de que os jovens não tragam problemas à

sociedade, os governos geram políticas de emprego.

O fato de a sociedade ter acordado e se envolvido em discussões sobre o

alto desemprego juvenil impulsionou a implementação de ações públicas que

começaram a perceber o trabalho como um direito de todos os jovens.

Com o intuito de ampliar as oportunidades dos postos de trabalho os

governos recorrem a inúmeras ações. Entre elas está o subsídio à contratação, o

banimento de encargos sociais, a definição de salários mínimos menores para os

jovens. Bem como, a criação de empregos temporários, seja no setor público ou

privado. O jovem fica no emprego criado por um tempo limitado, entre seis meses e

um ano. Com essas medidas, julgam que os jovens terão menos dificuldades para

se inserirem no mercado, já que tiveram oportunidade de ter o primeiro contato com

o mercado de trabalho.

Podem-se citar como fatores que influenciam a eficiência ou não das

políticas de emprego, o baixo crescimento econômico e os reduzidos investimentos

por parte do Estado. Outro sério fator pode ser apontado como dificultador é que as

políticas são concebidas sem que sejam levados em conta os aspectos nacionais,

regionais e locais.

É importante frisar que algumas políticas substituem os esforços de

criação de novos empregos pela oferta de qualificação profissional, na crença de

que assim os jovens de classes mais pobres poderão ter chances compatíveis de

ocupar vagas ofertadas aos jovens de classe média. A qualificação propiciada é

básica e os níveis de qualidade são considerados baixos.

O aspecto positivo que deve ser salientado nas políticas de emprego é a

exigência que normalmente apresentam quanto ao jovem estar estudando ou

retornar aos bancos escolares, ou seja, apóia a elevação da escolaridade. O ideal

seria que o Estado brasileiro se preocupasse primordialmente com a criação de

políticas públicas educacionais satisfatórias e com qualidade suficiente para tornar o

jovem mais preparado para a competitividade tão presente nos tempos modernos.

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É incontestável o reconhecimento por parte do governo quanto à criação

de políticas públicas, leis e recursos voltados para o atendimento aos jovens. O

trabalho passou a ser encarado com um direito, entretanto, resta aos mesmos

continuarem lutando pela continuidade das ações e buscando cada vez mais o

aperfeiçoamento quantitativo e qualitativo.

As políticas de emprego onde os jovens estão inseridos são

desenvolvidas no Brasil a partir da década de 1990 são classificadas em três tipos:

políticas de qualificação profissional, políticas de inserção ao mercado de trabalho e

políticas de retardamento do ingresso ao mercado de trabalho.

A preparação dos jovens no que concerne a disputa por uma vaga no

mercado de trabalho tem se constituído como objetivo central das políticas de

qualificação profissional. Na concepção dos formuladores dessas políticas, o fator

determinante enfrentado pelos jovens para sua inclusão no mundo do trabalho está

relacionado diretamente com a falta de qualificação. Com o intuito de possibilitar aos

jovens independentes de sua condição econômica possam concorrer a uma vaga no

mercado de trabalho foi que surgiram algumas políticas que tentam oportunizar a

qualificação e consequentemente o preenchimento das vagas oferecidas pelo

mercado de trabalho. Exemplos desse tipo de política são: Plano Nacional de

Formação Profissional (PLANFOR), o Programa Nacional de Qualificação (PNQ).

Percebe-se, assim, preocupação por parte do governo quanto à criação

de políticas públicas, leis e recursos voltados para o atendimento de jovens e

adultos.

Na visão de outros formuladores das políticas, que defendem a realização

de ações que combateriam o desemprego juvenil são citadas as políticas de

inserção no mercado que procuram instituir mecanismos que contribuam para a

passagem dos jovens da condição de inatividade para o mundo do trabalho. Para o

alcance desse objetivo, procuram realizar inúmeras ações, podendo destacar

aquelas que oferecem subsídios financeiros para as empresas contratarem jovens

tanto em empregos formais como em estágios.

Com referência à política de retardamento dos jovens no mercado de

trabalho, podem-se citar aquelas que adotam medidas que chamam a atenção e

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procuram ampliar o tempo de estudo dos jovens, bem como sua qualificação

profissional e incentivo à cidadania através do exercício de trabalhos sociais com

transferência de renda através da liberação de bolsas de estudos com a

determinação de proibição de engajamento em empregos pelo tempo em que estão

vinculados a essa política.

É importante compreender que a entrada precoce do jovem ao mercado

de trabalho e o afastamento dos bancos das escolas certamente se constitui num

fator dificultador de uma adequada preparação para uma inserção de mais qualidade

e melhores salários. Essa política de retardamento se depara com a desistência de

um número de jovens que por receio de delongar a conquista do emprego futuro

preferem abdicar desse direito, apesar do trabalho juvenil ter passado a ser

encarado com um direito. Entretanto, resta aos jovens continuarem lutando pela

continuidade de ações que busquem cada vez mais o aperfeiçoamento quantitativo

e qualitativo das políticas de geração de emprego e renda.

No Brasil, como as políticas desse tipo são insuficientes e a desigualdade

verificada no país é espantosa, somente os jovens de famílias de alta renda acabam

ampliando o tempo de inatividade e de escolaridade. Entretanto, essas políticas de

alguma forma procuram fazer com que a inatividade dos jovens e a possibilidade de

manter a trajetória escolar elevada não seja privilégio apenas das classes sociais

mais abastadas. Portanto, “para o jovem oriundo das famílias pobres o acesso à

renda por meio do trabalho é condição para a manutenção de vínculos com a rede

escolar” (POCHMANN, 2002).

Impróprio seria não admitir que esses três tipos de políticas apresentam

limitações quanto a recursos governamentais para o atendimento do grande número

de jovens, quanto a geração de empregos com foco nesse público e principalmente,

que não seja necessário os jovens ficarem na dependência de outras políticas de

emprego.

Um fato a ser destacado é que os governos compreenderam a

importância da criação das políticas de emprego focalizadas na juventude através da

implantação de programas, leis e recursos visando a sua manutenção, vez que o

mercado de trabalho brasileiro apresenta uma dinâmica que pode ocasionar riscos à

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sociedade, isto porque as grandes transformações tecnológicas geram desemprego,

precarização das ocupações e das relações trabalhistas. A preocupação com a

redução dessa problemática faz os governos instituírem políticas públicas voltadas

para o mercado de trabalho, também designada de políticas de emprego.

O trabalho passou a ser considerado um direito dos jovens, restando-lhes

a coragem de lutar pela permanência dessas políticas, sempre na perspectiva de

uma maior abrangência com o oferecimento de melhor qualificação e um número

maior dos postos de trabalho. Essas políticas possuem variados intuitos desde atuar

sobre a oferta de mão-de-obra quanto impulsionar a demanda por trabalhadores.

Mas, é preciso enfatizar que a geração de postos de trabalho e a melhoria das

condições ocupacionais dos indivíduos vão além das políticas de emprego, pois

estão sujeitas também ao crescimento econômico, aos investimentos estatais e

privados e até mesmo das políticas sociais.

O desemprego se constitui em um dos maiores problemas enfrentados

pelo mundo, provocando o aumento de pessoas que sem ocupação são obrigadas a

buscar alternativas de sobrevivência que propiciem o atendimento de suas

necessidades básicas. Para os jovens que vivenciam algo semelhante, à situação

torna-se mais complexa, entendendo que sem postos de trabalho e com dificuldades

no acesso a rede de proteção social, o que lhes resta é a incerteza quanto ao futuro.

Na atualidade, todo trabalhador é um presumível desempregado, quase sempre o

desemprego é involuntário. Registra-se que nas últimas décadas tanto no Brasil,

como em outros países periféricos e nas nações centrais, aconteceu um

alargamento do desemprego, porém esse aumento foi mais marcante para os

jovens.

Dados da Projeção Populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE – revisão 2004) apontam que, em 2006, os jovens brasileiros com

idade entre 15 e 29 anos somavam 51,1 milhões de pessoas, o que então

correspondia a 27,4% da população total. Este contingente é 48,5% maior do que

aquele de 1980, quando havia no país 34,4 milhões de jovens; no entanto, ainda é

menor do que os 51,3 milhões projetados para 2010. As projeções indicam, no

entanto, que a partir daí a tendência de crescimento da população jovem deverá se

reverter, havendo uma redução progressiva no número absoluto de jovens no Brasil,

que chegará a 2050 em torno de 49,5 milhões.

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De acordo com informações colhidas na OIT o problema do desemprego

jovem tende a ser mais relevante entre os jovens que entram no mercado de

trabalho do que entre o restante da população. No Brasil, a situação não é diferente.

Os jovens – especialmente os grupos entre 15 e 24 anos – apresentam taxas de

desemprego consideravelmente maiores que as dos trabalhadores adultos; em

2006, enquanto a taxa de desemprego era de 5% entre os adultos de 30 a 59 anos,

observavam-se índices de 22,6% entre os jovens de 15 a 17 anos, 16,7% entre 18 e

24 anos, e 9,5% entre 25 e 29 anos. Não se nota, além disso, nenhuma tendência

de aproximação entre as taxas de desemprego de jovens e não-jovens; ao contrário,

a taxa de desemprego dos jovens cresce proporcionalmente mais.

Através de dados colhidos na PNAD (2007) e usando como parâmetro a

renda dos jovens é possível verificar que 30,4% na faixa etária de 15 a 29 anos

poderiam ser incluídos entre os considerados pobres, isto porque as suas famílias

sobreviviam com renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo; 53,8%

foram incluídos ao extrato intermediário, com renda domiciliar per capita entre meio

e 2 salários mínimos; apenas 15,8% viviam em famílias com renda superior a 2

salários mínimos. No plano regional, os jovens do Nordeste permaneceram com a

menor renda, havendo um total de 53,4% de jovens nordestinos pobres. Também

nesta região, dos 27,2% jovens que viviam em áreas rurais, 74,4% eram pobres

(IPEA 2008).

Em 2007, o nível de ocupação dos jovens praticamente foi o mesmo o de

2006: 62,2% no grupo de 18 a 24 anos e 74,9% no grupo de 25 a 29 anos. Embora

entre 2006 e 2007 a taxa de atividade também tenha se conservado quase sem

mudanças no grupo de 16 a 17 anos, obtendo a porcentagem de 45,3%, verifica-se

uma redução de 9,3% em um período de dez anos. Ou seja: houve um aumento do

número de jovens adolescentes que estão postergando sua entrada no mercado de

trabalho (IPEA 2008).

A prorrogação da entrada no mundo do trabalho é defendida por muitos

pesquisadores e gestores podendo ser encarada como uma condição favorável, isto

se levarmos em consideração que o jovem ao completar 17 anos deveria ter

concluído ou estar próximo de concluir o ensino médio. Ter a possibilidade de

concluir o ensino médio e só posteriormente se preparar para a inserção no mundo

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laboral é o desejável. Entretanto, se este retardo estiver relacionado com o

desemprego, com o envolvimento em tarefas domésticas, ou ainda, se encaixar com

o abandono dos estudos é de fato uma situação preocupante (IPEA 2008).

Pela tabela 4, é possível constatar um aspecto relevante, ou seja, a

maioria dos jovens brasileiros na faixa etária de 18 a 24 anos de ambos os sexos

apenas trabalha, se contrapondo ao que os estudiosos defendem quando

expressam que esta fase da vida deveria ser aproveitada para que se dedicassem

ao estudo como estratégia de um futuro profissional mais promissor, com colocação

no mercado de trabalho em funções mais bem remuneradas.

TABELA 4 - Condição de atividade e estudo por sexo e faixa etária dos jovens no Brasil em 2007 (%)

Faixa Etária Só Trabalha Trabalha e

Estuda Só Estuda Não Trabalha

nem Estuda Homens 15 a 17 anos 11,4 26,4 54,7 7,4 18 a 24 anos 56,3 17,5 12,1 13,9 25 a 29 anos 78,6 8,7 2,2 10,3 Mulheres 15 a 17 anos 5,0 17,0 65,9 12,0 18 a 24 anos 36,3 14,9 16,5 32,1 25 a 29 anos 53,7 8,9 4,4 32,8

Fonte: IPEA Nº 12. PNAD 2007 – Primeiras Análises. Educação, Juventude, Raça/Cor. 4 Volume de 14 de outubro de 2008.

No que se refere à questão do desemprego juvenil, a PNAD (2007)

mostra o quanto ainda são limitadas as oportunidades para os jovens no mercado de

trabalho: 4,6 milhões estavam desempregados, representando 63% do total de

desempregados no país. Nota-se que o desemprego juvenil era 2,9 vezes maior que

o dos adultos (a taxa de desemprego juvenil era de 14%, enquanto a taxa de

desemprego adulto era de 4,8%).

Observando a tabela 5, é possível verificar que separando os dados por

faixas etárias, comprova-se que no período de 2006 para 2007, aconteceu uma

redução no percentual de desempregados nas faixas etárias de 16 a 17 anos e de

18 a 25 anos. O mesmo não incidiu no grupo de 25 a 29 anos, para o qual foi

verificada uma leve alta no desemprego.

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TABELA 5 - Participação da população jovem no desemprego Brasil – 2006 e 2007 (%)

Faixa etária 2006 2007

15 a 29 anos 63,8 61,4

15 a 17 anos 9,6 9,4

18 a 24 anos 38,4 35,6

25 a 29 anos 15,8 16,3

Fonte: IPEA Nº 12. PNAD 2007 – Primeiras Análises. Educação, Juventude, Raça/Cor. Volume 4 de 14 de outubro 2008.

Mesmo considerando a vulnerabilidade do jovem quanto ao mercado de

trabalho, é possível observar, por meio da tabela 4, um quadro mais favorável

quanto às condições de trabalho, com alta na formalização. É possível também,

constatar uma diminuição no número de trabalhadores não remunerados na faixa

etária de 18 a 24 anos. (Tabela 6).

TABELA 6 - Posição na Ocupação. Brasil 2006-2007 (%)

POSIÇÃO NA OCUPAÇÃO Faixa Etária 2006 2007

Empregado com carteira de trabalho assinada

18 a 24 anos 40,7 43,9 24 a 29 anos 45,3 46,7

Empregado sem carteira de trabalho assinada

18 a 24 anos 29,5 27,9 24 a 29 anos 19,5 18,6

Trabalhador doméstico com/sem carteira assinada

18 a 24 anos 6,5 5,9

24 a 29 anos 6,8 6,6 Conta própria 18 a 24 anos 9,8 9,6

24 a 29 anos 15,3 14,7 Empregador 18 a 24 anos 1,0 0,8

24 a 29 anos 2,7 2,5 Trabalhador na produção para o próprio consumo e uso

18 a 24 anos 2,3 2,4 24 a 29 anos 2,3 2,3

Não remunerado 18 a 24 anos 7,6 7,0 24 a 29 anos 3,7 3,7

Fonte: IPEA Nº 12. PNAD 2007 – Primeiras Análises. Educação, Juventude, Raça/Cor. Volume 4 de 14 de outubro 2008.

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Cumpre salientar que o aumento de pessoas sem ocupação provocou

maior competição entre jovens e adultos que lutam pelos postos de trabalho e o que

vem se percebendo é que existe um pouco de preconceito por parte de alguns

empregadores quanto à capacidade produtiva dos nossos jovens, havendo muitas

vezes a prevalência da preferência dos adultos para preenchimento das vagas

ofertadas. Fora isso, não se pode perder de vistas outras barreiras criadas pelo

mercado de trabalho e que afetam diretamente a população juvenil: a

obrigatoriedade da experiência profissional anterior e as condições de escolaridade

e qualificação. Assim sendo, a juventude é sempre mais atingida que os adultos pelo

desemprego.

Convém notar que o desemprego juvenil é decorrência da

desestruturação do mercado de trabalho brasileiro, do baixo crescimento econômico,

apesar de reconhecermos melhora do crescimento econômico dos últimos anos no

país, que vem gerando uma oferta expressiva de postos de trabalho, mas mesmo

assim não são suficientes para atender a demanda por emprego dos jovens. Além

desses fatos, pode-se ainda identificar como dificuldade as inúmeras políticas

realizadas pelas empresas no sentido de amortecer o uso da força de trabalho, ou

mesmo de precarizar este uso, isto pode ser considerado também, como uma

consequência do processo de reestruturação produtiva que extingui empregos que

sempre foram ocupados por jovens

Posta, assim, essa questão, é preciso dizer que a juventude brasileira foi

formada com a ideologia de que através do trabalho desempenharia uma profissão e

teria os recursos para sua manutenção. Mas com a ampliação do desemprego e as

precárias condições de inserção e de trabalho da população jovem, esse ideal se

transformou em um sonho, em que, apenas uma minoria conseguirá realizá-lo,

ficando assim comprometida a inclusão social dos jovens por intermédio do trabalho.

Como se pode notar, o desemprego impede que os jovens possam

vivenciar a juventude e chegar à fase adulta com muitos anos de estudo e

experiência profissional no mercado de trabalho.

De acordo com estudos efetuados preliminarmente pelo DIEESE, no ano

de 2007, foi possível tomar-se conhecimento de que o desemprego entre os jovens

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aumentou (19,1%, em 2005). Isso impõe a necessidade urgente do governo formular

e desenvolver ações que pudessem atingir diretamente esta questão, sendo criado

pelo Ministério do Trabalho e Emprego, o Departamento de Políticas de Trabalho e

Emprego para a Juventude - DJP.

As políticas nacionais para a juventude expressas através do Ministerio

do Trabalho e Emprego regem-se pelos mesmos principios norteadores das politicas

de qualificação profissional e intermediação de mão-de-obra que procura contribuir

para que todos os cidadaos tenham reconhecidos e valorizados os seus direitos

como:

Pessoa, mediante a aquisição de níveis crescentes de autonomia, de definição dos próprios rumos, de exercício de seus direitos e de sua liberdade; Cidadão, consciente da importância do papel protagônico da juventude e da necessidade da sua efetiva participação no aprimoramento da democracia, na defesa dos direitos civis, políticos e sociais e no exercício da solidariedade para a mudança social; Trabalhador, qualificado social e profissionalmente para a inserção ativa, cidadã, no mundo social e do trabalho (MTE, 2008, on line).

O trabalho é uma ferramenta de obtenção de valores como dignidade,

amor próprio, auto-estima e geração de renda. O homem sem trabalho é um ser

humano que desperdiça a cada dia a sua capacidade de aprender e de ensinar.

Renova, dia-a-dia, o sentimento de utilidade da própria vida e influencia ao homem a

seguir sempre em busca de um amanhã melhor para si mesmo e para sua família. A

atividade laboral é uma busca contínua da evolução pessoal. O aprendizado diário

cultiva dentro do homem um conhecimento que não existe nos livros.

Homens e mulheres são portadores de direitos sociais, entre os quais se

inclui o trabalho. Encontrando aí muitos obstáculos, tendo em vista a grande

concorrência, inúmeras exigências e requisitos que nem sempre têm condições de

atender, ainda mais quando se trata de jovens que buscam o primeiro emprego.

O Governo Federal, na tentativa de minimizar as dificuldades de inserção

dos jovens no mundo do trabalho, resolveu criar um programa chamado ProJovem

Trabalhador, que tem como “objetivo inserir jovens entre 18 e 29 anos de idade, com

baixa renda familiar per capita e baixa escolaridade no mercado formal de trabalho”.

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O referido projeto apresenta objetivos voltados, especificamente, para a

preparação dos jovens quanto ao ingresso no mercado de trabalho ou engajamento

em ocupações que venham gerar renda.

Ocorreu a unificação de seis programas com foco nos jovens – Agente

Jovem, Pró-jovem, Saberes da Terra, Programa Nacional de Estímulo ao Primeiro

Emprego (Consórcio Social da Juventude e Juventude Cidadã) e Escola de Fábrica

– em um único Programa, nos termos da Medida Provisória nº. 411, de 28 de

dezembro de 2007, convertida na Lei nº. 11.692, de 10 de junho de 2008, cuja

regulamentação consta do Decreto nº. 6.629, de 4 de novembro de 2008.

Vale salientar que algumas adaptações foram feitas com a finalidade de

unificar as ações dos ministérios e melhorar os resultados,entre elas, a qualificação

profissional,que tem como objetivo contribuir com a redução da distância cultural

existente entre pessoas de classes sociais diferentes. As alterações estão

relacionadas ainda a ampliação da faixa etária que antes era de 16 a 24 anos e

agora é de 18 a 29 anos. Os jovens engajados no referido programa recebem

qualificação profissional com carga horária de 350 horas e auxílio mensal de R$

100,00 (cem reais) durante seis meses.

O objetivo geral do Projeto foi assim concebido: “O ProJovem Trabalhador

é uma política de qualificação social e profissional, de caráter compensatório , que

será desenvolvida em parceria com os estados, municípios e a sociedade civil,

visando preparar e intermediar essa mão-de-obra para o mercado de trabalho formal

e fomentar novas oportunidades de geração de renda e a visão empreendedora

desses jovens “ (MTE, 2008, on line).

Devido ao desafio ser imenso as metas do programas também são

consideradas amplas, ou seja, até 2010 o número de jovens que deverão ser

atendidos totaliza 1.003.848 (Hum Milhão, Três mil e Oitocentos e Quarenta e Oito

Pessoas). Foi realizada também uma reconfiguração de modalidades que tenham

caráter mais permanente, como a aprendizagem profissional e o estágio

profissionalizante, que não se aplicam somente ao segmento de jovens mais

vulneráveis do ponto de vista da renda, como o ProJovem Trabalhador.

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Não se pode deixar de reconhecer como avanço das políticas públicas de

trabalho destinadas aos jovens, uma questão super importante no que diz respeito à

delimitação da faixa etária, ou seja, no novo programa concebido pelo MTE, ela foi

elastecida. Diversos estudiosos já vinham apontando a necessidade de analisar a

condição juvenil levando em consideração as transformações quanto a expectativa

de vida e a estrutura econômica da sociedade. Entre tantos, pode-se citar

Pochmann (2004, p. 221):

Talvez adequada 100anos atrás, quando da expectativa de vida ao nascer encontrava-se um pouco acima de 30 anos, a faixa etária de 15 a 24 anos poderia indicar precisamente um período de tempo compatível com a ideia de transitoriedade que marca a condição juvenil. Atualmente, quando a expectativa média de vida encontra-se ao redor dos 70 anos no Brasil, aproximando-se rapidamente dos 100 anos para as décadas vindouras, torna-se fundamental identificar que houve alargamento da faixa etária circunscrita à juventude pra algo ente 16 e 34 anos de idade.

Isso posto, passa-se a discorrer sobre os programas executados no

Estado do Ceará, mais especificamente dentro da Secretaria do Trabalho e

Desenvolvimento Social (STDS).

3.3 Desenvolvimento e Gestão de Políticas da Juventude realizadas pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social -STDS – Ceará

A Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS) tem como

missão “desenvolver e coordenar as Políticas do Trabalho, Assistência Social e

Segurança Alimentar, voltadas para a melhoria da qualidade de vida da população,

sobretudo dos grupos socialmente vulnerabilizados”.

A STDS executa programas na área social e trabalho e nos cabe aqui

detalhar aqueles que estão diretamente relacionados ao nosso objeto de estudo, à

juventude e o combate ao desemprego juvenil focando nas políticas desenvolvidas

no Ceará que objetivam contribuir para redução e eliminação do desemprego da

juventude no Estado. É pertinente também, dar-se um enfoque a respeito dos

impactos produzidos por essas políticas na vida dos jovens cearenses. Para tanto,

precisam-se conhecer os principais projetos desenvolvidos de acordo com a tabela

7.

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TABELA 7 - Demonstrativo dos projetos executados pela Secretaria Do Trabalho e Desenvolvimento Social-STDS

PROJETO OBJETIVO GERAL OBJETIVOS ESPECÍFICOS METAS

Primeiro Passo

O Projeto Primeiro Passo, tem como objetivo desenvolver ações de cidadania, inclusão social e produtiva através do desenvolvimento de ações de educação social e profissional, para adolescentes e jovens de baixa renda, na faixa etária de 16 a 24 anos, estimulando o protagonismo juvenil, a co-responsabilidade, a vivência no mundo do trabalho, proporcionando assim a melhoria na qualidade de vida do público focalizado e sua inserção no mercado de trabalho.

1. Proporcionar a adolescentes e jovens “preparação para a vida” através de programação de atividades que visam desenvolver a capacidade de relacionamento dos jovens com eles mesmos, com a família, a sociedade, com o mundo e o planeta. 2. Possibilitar à criação de competências duráveis, em 90% dos participantes do projeto, focalizando aspectos relevantes para a melhoria da qualidade e preservação da vida, auto-desenvolvimento e potencialização de vocações e missões pessoais para a construção de uma sociedade mais digna. 3. Promover qualificação profissional e social para adolescentes e jovens de acordo com as potencialidades de inserção no mundo trabalho. 4. Contribuir para elevação da escolaridade realizando oficinas pedagógicas que desenvolvam o raciocínio lógico, a leitura e interpretação de textos para adolescentes e jovens. 5. Transferir renda através de bolsa capacitação para adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social. 6. Capacitar jovens para inserção no mercado de trabalho na linha de ação aprendiz. 7. Capacitar jovens para inserção no mercado de trabalho na linha de ação bolsista. 8. Apoiar com fardamento e acompanhamento profissional jovens e adolescentes na linha de ação estagiário.

1 – Beneficiar 100 municípios com a execução das três linhas de ação do Projeto Primeiro Passo. 3. Encaminhar para o mercado de trabalho 80% dos jovens beneficiados e Inserir 50% dos jovens no mercado de trabalho. 4. Elevar a escolaridade de 80% dos jovens. 5. Conceder 4.500 bolsas de capacitação. 6 - Capacitar 1.000 adolescentes e jovens na linha de ação Aprendiz. 7 – Capacitar 3.000 jovens e adolescentes na linha de ação bolsista no interior do estado e 1.500 em Fortaleza. 8 – Inserir 500 adolescentes e jovens na linha de ação

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estagiário. Juventude cidadã.

O objetivo central do referido projeto é atuar junto ao segmento jovem da população com renda per capita de até ½ salário mínimo, realizando ações qualificação social e profissional, contribuindo para a formação inovadora, criativa visando o desenvolvimento do capital humano dos jovens

1. Formação em Cidadania e Direitos Humanos 2. Estimulo e Apoio Efetivo à Elevação da Escolaridade. 3. Qualificação Sócio Profissional. 4. Prestação de Serviços Voluntários a Comunidade. 5. Inserção no Mercado de Trabalho.

1. Garantir a participação de 12.000 jovens em 78 municípios cearenses. 2. Assegurar a execução de 480 turmas de qualificação social e profissional com 25 jovens em cada turma até o final de 2009. 3. Realizar 480 ações de sócio-educativas e prestação de serviço voluntário. 4. Executar 100 horas/aula de desenvolvimento sócio-cognitivo (elevação da escolaridade). 5. Assegurar a inclusão produtiva de, no mínimo, 3.600 jovens até o final de 2009. 6. Concessão de 6 parcelas de auxílio financeiro no valor de R$ 100,00 para todos os beneficiados até o final de 2009.

Criando Oportunidades

Desenvolver um processo contínuo de formação profissional dos públicos priorizados pelo FECOP, através de ações de qualificação social e profissional e de estratégias que possibilitem a inserção no mercado de trabalho, buscando a sua inclusão social e produtiva.

1. Atender trabalhadores promovendo ações de qualificação social e profissional para o desenvolvimento do capital humano e social da população em situação de vulnerabilidade econômica e social, visando engajá-la em atividades produtivas e geradoras de renda. 2. Desenvolver competências humanas, sociais e profissionais de adolescentes e jovens em situação de risco pessoal e social em cumprimento de medidas sócio-educativas na rede sócio assistencial da STDS. 3. Apoiar o público alvo deste Projeto em iniciativas geradoras de renda. 4. Promover a articulação das ações de educação profissional com as demais políticas de geração de trabalho e renda. 5. Desenvolver ações de qualificação profissional nos setores estratégicos da economia do estado,

1. Realizar 220 cursos de qualificação profissional atendendo 5.500 trabalhadores. 2. Realizar 60 oficinas para 600 adolescentes e jovens em situação de risco pessoal e social assistidos pela rede sócio assistencial da STDS.

4. Repassar 1.504 kits de instrumentais de trabalho para

educandos qualificados.

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visando o fortalecimento dos setores: pequena indústria, artesanato e serviços, de acordo com as potencialidades locais, arranjos produtivos identificados, economia solidária e demandas apresentadas pela sociedade. 6. Contribuir para a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Juventude Empreendedora

Possibilitar a inserção do jovem no mercado de trabalho e capacitá-lo para atuar como agente de mudança em sua comunidade.

1. Contribuir para a compreensão do empreendedorismo social e para aquisição de competências humanas e sociais. 2. Estimular a participação social do jovem junto à sua comunidade. 3. Orientar os jovens no planejamento do exercício de uma profissão no município em que mora. 4. Capacitar jovens para o ingresso no mundo do trabalho. 5. Sensibilizar quanto à importância da formação escolar e possibilitar uma complementação educacional. 6. Apoiar a implantação de novos empreendimentos e a intermediação de jovens para o mercado de trabalho.

1. 450 jovens capacitados em Empreendedorismo Social. 2. 450 jovens engajados em atividades locais de mobilização social. 3. 450 projetos de vida profissional elaborados de acordo com as áreas de potencial econômico do município. 4. 450 jovens capacitados a partir dos projetos de vida profissional elaborados. 5. 450 jovens frequentando regularmente a escola. 6. 135 jovens inseridos no mercado de trabalho formal, em até um ano após conclusão do projeto, ou em atividades empreendedoras individuais ou coletivas.

Fonte: Projetos de continuidade FECOP 2009/STDS.

Conforme anunciado no início deste capítulo, faz-se uma exposição sobre

os programas direcionados para o segmento específico de trabalho dirigido aos

jovens, procurando-se caracterizar alguns dos recentes esforços de geração de

emprego e renda para jovens através de programas específicos instituídos pelo

governo federal e do Ceará e elencando os projetos estaduais desenvolvidos dentro

da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS).

Esses são os projetos inovadores do atual governo estadual na área das

políticas de juventude, que foram concebidos com o objetivo de encarar com decisão

e consistência a evidente dificuldade com que se deparam nossos jovens em suas

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buscas de fixar-se dinamicamente no mercado de trabalho. Os projetos envolvem

uma série de medidas relacionadas à capacitação para o trabalho, à informação e à

geração de capacidades para reforçar a empregabilidade dos jovens.

Os programas aparecem como atraentes, entretanto, questiona-se,

quanto ao fato de que a maior parcela dos beneficiários está incluída nas metas

relacionadas às atividades de formação profissional (aprendizado e outras). Por

outro lado, considera-se necessária uma avaliação para constatar até que ponto a

aposta na responsabilidade social das empresas que recebem os jovens na

condição de aprendiz propicia bons resultados, ou seja, se a capacitação oferecida e

a prática profissional são, de fato, capazes de reduzir o desemprego juvenil, ou se a

força de trabalho dos jovens é utilizada, apenas, como mão-de-obra barata para a

substituição de profissionais adultos.

Atuar no âmbito do trabalho, pressupõe o desenvolvimento de ações

públicas que tenham condições de promover uma qualificação moderna e

condizente com o que o mundo atual exige.

Para avaliar até que ponto um desses projetos conseguiu atingir seus

objetivos é que se optou pela realização desta pesquisa de caráter quantitativo e

qualitativo a respeito do projeto primeiro passo – linha de ação jovem aprendiz,

buscando informações da vida profissional dos jovens após o desligamento do

projeto.

No capítulo a seguir são analisadas questões relacionadas à qualificação

profissional recebida e a experiência profissional vivenciada pelos egressos, como

fator indutor de sua inserção no mercado de trabalho formal.

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4. O PROJETO PRIMEIRO PASSO NA ÓTICA DOS SEUS BENEFICIÁRIOS

O Projeto Primeiro Passo vem desenvolvendo suas ações com o

propósito de facilitar o acesso aos jovens do Ceará que intencionam se inserir no

mercado de trabalho, oferecendo aos mesmos encaminhamentos para as empresas

públicas e privadas, e ao mesmo tempo, oferecendo-lhes capacitação condizente

com as funções que desenvolverão nos locais de trabalho.

Oportuno frisar que para aqueles jovens que estão cumprindo medida

sócio-educativa de privação de liberdade o PPP buscou parcerias com empresas

privadas que, apostando na recuperação dos jovens através do trabalho, instalaram

unidades produtivas dentro de dois Centros Educacionais possibilitando aos jovens

uma chance de recomeçar de novo mesmo antes de recuperar a liberdade.

Em Novembro de 2008, foi criado o Primeiro Passo Digital, ou seja, um

ônibus itinerante que se desloca para os municípios cearenses propiciando o acesso

dos jovens estudantes de escolas públicas, na faixa etária de 16 a 24 anos aos

cursos de informática básica contribuindo desta forma para uma melhor preparação

para inserção no mercado de trabalho.

4.1 Perfil dos Jovens assistidos pelo Projeto Primeiro Passo

Considera-se importante iniciar este tópico com algumas características

dos jovens aprendizes que concluíram a qualificação profissional em 2008 na sede

do Projeto Primeiro Passo. Utilizaram-se, como recurso de análise, alguns dados

constantes no banco de dados do PPP, no qual estão as fichas de cadastro de

inscrição dos usuários jovens (em anexo).

Através do gráfico 3, pode-se visualizar que foram capacitados 290 jovens

nos arcos ocupacionais: Administração; Administração, Turismo e Hospitalidade,

sendo que a grande maioria, ou seja, 222 jovens foram engajados no arco de

administração, isto porque as oportunidades de inserção são maiores, uma vez que

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os números de empresas com demandas de aprendizes nesta área superam as

relacionadas ao turismo. Pode-se, ainda, conhecer dados relacionados à

aprendizagem, ou seja, 261 foram aprovados, 07 não conseguiram aprovação final e

apenas 17 se evadiram durante o curso.

Fonte: Pesquisa direta 2009.

Com relação ao sexo dos jovens foi possível constatar predominância de

usuários do sexo feminino, ou seja, 161 correspondendo a 55% e 129 do sexo

masculino, correspondendo a 44%.

Outros dados que se considera importante destacar são aqueles

relacionados à situação ocupacional dos pais, vez que é possível comprovar que as

atividades laborativas executadas por eles e conhecidas através dos gráficos 4 e 5

possibilitam observar uma maior concentração de mães realizando atividades de

vendedora e serviços domésticos. Fica evidente ainda, que um número considerável

também enfrenta o fenômeno do desemprego, ou seja, 63 mães no ato de cadastro

dos jovens no projeto estavam sem nenhuma ocupação.

Fazendo referência à ocupação das mães, 34% são donas de casa,

seguidas de 21% das desempregadas e 20% das ocupadas com serviços

domésticos (Gráfico 4).

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OCUPAÇÃO DA MÃE

58 63

114 7

154 3 2 3 2 7 11

100

0

20

40

60

80

100

120

SERVIÇOS D

OMÉSTIC

OS

DESEMPREGADA

DONA D

E CASA

VENDEDORA

APOSENTADA/P

ENSIONIS

TA

SERVIÇOS D

E BELEZA

COSTUREIR

A

AUTÔNOMA

CASTANHEIRA

PROFESSORA

AUX. DE E

NFERMAGEM

AUX. ADM

INIS

TRATIVO

OUTRAS

NÃO INFO

RMADO

Fonte: Pesquisa direta 2009.

Com relação à ocupação dos pais, o que se conseguiu vislumbrar foi

que, assim como as mulheres, um número expressivo deles também está

desempregado ou exercendo atividades que exigem baixa qualificação e, por isso

mesmo, percebendo baixa remuneração (Gráfico5).

OCUPAÇÃO DO PAI

1 16

1

12

2 1 1 2 1 1 1 1 4 3 1 1 2 2 1 1 1 1 2 1 1 4 62

81

10

2 3

35

1

15

6 71

81 2 2 1

5 2 1 2 2 2 1

95

1

40

52 Desempregado

10

10

20

30

40

50

60

AÇOGUEIRO

APOSENTADO

AUTÔNOMO

AUX. DE C

OZINHA

BOMBEIRO H

IDRÁULIC

O

CAMBISTA

CASE IRO

COMERCIANTE

DESCARREGADOR

ELETRICISTA

ESTIVADOR

FEIRANTE

FOTÓGRAFO

GARÇOM

MARCENEIRO

MESTRE DE O

BRA

MONTADOR

OPERADOR DE M

AQUINAS

OUTROS

PEDREIRO

PINTOR

PORTEIRO

SEGURANÇA

SERV. DE E

SCRITÓRIO

SERVENTE

SUPERVISOR

TECNICO ELETRÔNIC

O

VENDEDOR/AMBULANTE

ZELADOR

Fonte: Pesquisa direta 2009.

Uma constatação revelada entre os jovens pesquisados foi saber que

50% de suas famílias percebem uma renda familiar de um salário mínimo, enquanto

Gráfico 5 – Ocupação do pai

Gráfico 4 – Ocupação da Mãe

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o restante informou que seus familiares recebem entre um a três salários mínimos.

De posse desses dados, pode-se afirmar que o Projeto Primeiro Passo tem atuado

junto à população que em virtude de sua situação socioeconômica baixa tem maior

dificuldade de inserção de seus filhos em atividades produtivas.

Fonte: Pesquisa direta 2009.

Quanto ao estado civil dos pais, o gráfico 6 permite constatar prevalência

dos casados, ou seja, 52%%, fato esse que conduz à refletir sobre a influência de

uma família composta pelos pais e que pode retratar a preocupação com a

educação dos jovens, procurando incentivá-los na busca da qualificação e trabalho.

Estabeleceu-se que os sujeitos primordiais desta pesquisa deveriam ser

os jovens que frequentaram a qualificação profissional do arco ocupacional

administração e na faixa etária que fica entre 18 e 20 anos, posto que foi onde se

concentrou o maior número deles e ainda, pela possibilidade de efetivação dos

mesmos nas empresas onde realizaram aprendizagem, visto que não são menores

de idade e podem ser contratados na condição de um trabalhador comum (Gráfico

7).

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Fonte: Pesquisa direta 2009.

Dentre os 222 jovens que cursaram o arco administração, constatou-se

que 161 são mulheres, o que contribuiu para a opção em realizar a pesquisa com o

sexo feminino. Outro ponto fundamental para esse recorte é que, através de

pesquisa realizada em 2006 pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE)

do município de Fortaleza, que teve como objetivo conhecer os indicadores do

mercado de trabalho, tomou-se conhecimento da predominância do sexo feminino

em todas as regionais de Fortaleza (tabela 8)..

TABELA 8 - Sexo e faixa etária da população residente nas Regionais – Agosto- Setembro/2006

Variáveis

Regionais

I II III IV V VI

Sexo

Masculino 48,34 46,77 47,05 46,30 47,82 47,31

Feminino 51,66 53,23 52,95 53,70 52,18 52,69

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Faixa Etária

<10 18,00 18,80 16,70 16,90 19,40 21,10

10H14 10,00 8,70 10,60 8,70 10,20 11,50

15H19 10,40 10,20 9,60 10,20 10,60 12,40

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20H24 11,50 9,90 10,50 11,40 11,10 10,60

25H29 7,90 9,40 8,50 8,60 8,90 8,30

30H39 14,10 13,60 15,40 13,20 14,00 13,40

40H49 11,10 11,10 10,70 11,60 10,80 11,50

50H59 7,40 7,70 7,80 8,50 7,30 5,60

60H69 5,00 5,60 5,50 6,00 4,70 3,30

>69 4,60 5,10 4,70 4,90 3,10 2,30

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: Pesquisa direta – Prefeitura Municipal de Fortaleza / Secretaria de Desenvolvimento Econômico – SDE, 2006.

A cidade de Fortaleza é composta por seis Regionais, como pode ser

percebido no mapa a seguir (figura 1), e cada uma delas com uma série de

peculiaridades. Desta forma consideramos que este seria um caminho a ser

percorrido por nós para nossa investigação.

FIGURA 1 -. Mapa da cidade de Fortaleza por regiões

De acordo com dados obtidos no site da Prefeitura Municipal de

Fortaleza, verificou-se que a Regional V possui 570 mil habitantes de dezesseis

bairros: Conjunto Ceará, Siqueira, Mondubim, Conjunto José Walter, Granja Lisboa,

Granja Portugal, Bom Jardim, Genibaú, Canindezinho, Vila Manoel Sátiro, Parque

São José, Parque Santa Rosa, Maraponga, Jardim Cearense, Conjunto Esperança e

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Presidente Vargas.

A Regional VI possui população estimada em 600 mil habitantes e atende

diretamente aos moradores de vinte e sete bairros, correspondentes a 42% do

território de Fortaleza: Sabiaguaba, Edson Queiroz, Sapiranga, Alagadiço Novo,

Curió, Guajerú, Coaçu, Paupina, Parque Manibura, Cambeba, Messejana, Ancuri,

Pedras, Jardim das Oliveiras, Cidade dos Funcionários, Parque Iracema, Auto da

Balança, Aerolândia, Dias Macedo, Castelão, Mata Galinha, Cajazeiras, Barroso,

Jangurussu, Passaré, Parque Dois Irmãos e Lagoa Redonda. Tem como objetivos

garantir a melhoria de vida aos habitantes e a preservação das potencialidades

naturais da região.

Foram escolhidas as regionais V e VI por vários motivos: o primeiro deles

é que nos bairros que compõem estas regionais encontramos o maior número de

usuários do Projeto, como pode ser observado no gráfico 8. Outro ponto a

considerar é que na tabela 8, anteriormente destacada, a maior representação foi

encontrada na Regional VI, que é de 21,75% e composta por mulheres.

Fonte: Pesquisa direta 2009.

A escolaridade das jovens pesquisadas concentrou maior relevância no

ensino médio completo, com 12 pessoas e apenas 03 no ensino médio incompleto.

Passa-se, a seguir, a relatar a visão expressada pelas as jovens

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pesquisadas com relação às categorias de estudo eleitas por nós para esta

dissertação.

4.2 A visão dos Jovens sobre o Projeto Primeiro Passo

Ao realizar esta pesquisa de campo elaboraram-se perguntas que

possibilitassem as jovens expressarem suas opiniões sobre assuntos relacionados

aos temas de interesse do estudo, entre eles: Juventude e trabalho, qualificação e

profissionalização e uma avaliação do Projeto Primeiro Passo.

Entre as respostas colhidas encontram-se, não somente, os benefícios,

mas também os problemas e os elementos que valem a pena serem estudados para

que o trabalho desenvolvido pela STDS/PPP possa ter resultados mais consistentes

no combate ao desemprego juvenil.

Inicia-se esta análise focando os resultados apresentados quanto ao tema

juventude e trabalho. Para uma reflexão sobre a relação das jovens entrevistadas

com o mundo do trabalho elaboraram-se dois questionamentos que se constituíram

em fontes de análise. Elas se relacionam aos motivos que as impulsionam a querer

trabalhar e, ainda, às opiniões das pesquisadas quanto à inserção dos jovens no

mercado de trabalho.

Ao perguntar qual o principal motivo que as levaram a querer trabalhar,

obtiveram-se inúmeras respostas, mas prefere-se destacar algumas apresentadas

na tabela 9:

TABELA 9 - Motivos apontados para querer trabalhar

PRINCIPAIS RESPOSTAS QUANTIDADE Para ter renda e ajudar a família 07

Para adquirir experiência profissional

03

Para ter qualificação e aprendizagem

02

Para ter independência 03

Fonte: pesquisa direta, 2009

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Para uma parcela considerável dos jovens brasileiros e, de forma mais

expressiva, os jovens de baixa renda, o trabalho se constitui um fator imprescindível

para sustento próprio e de sua família. É possível comprovar através das respostas

das jovens que o fator primordial para seu desejo de trabalhar é a possibilidade de

ter renda e colaborar com as despesas domésticas. Expressaram, também, que ao

trabalhar seria possível investir em qualificação profissional e desta forma melhorar

de vida. Assim sendo, é possível afirmar que essas jovens acreditam e reproduzem

a ideia de que, por meio da qualificação, poderão ser mais bem aproveitadas no

mercado de trabalho. Contudo, a qualificação profissional não garante, por si só, o

emprego e, muito menos, influencia na geração de postos de trabalho. Por isso,

Pochman (2000) afirma que não existe uma saída única para o problema do

desemprego porque não há empregos para todos.

As entrevistadas citaram que um meio de tornar mais fácil a continuação

no mercado de trabalho e a captação de melhores empregos é através da

experiência profissional adquirida por meio dos primeiros empregos. Algumas

dessas jovens narraram que passaram por algumas experiências informais como

alternativas de sobrevivência, sempre como meio para adquirir alguma renda, até

que pudessem chegar ao primeiro emprego formal. Na luta pelo primeiro posto de

trabalho, comumente, os jovens atravessam diversos obstáculos. Entre o maior

deles está um círculo vicioso, pois, sem experiência profissional, os jovens não

adentram no mercado de trabalho, mas se não adentrarem, não conseguirão a

experiência.

É importante, também, refletir sobre a importância que algumas jovens

relataram sobre tudo o que aprenderam através da qualificação recebida no Projeto

Primeiro Passo e a experiência profissional adquirida enquanto cumpriram contrato

de aprendizagem nas empresas.

A independência financeira também foi um fator bastante citado. O

emprego pode contribuir para que o jovem consiga se libertar da dependência

econômica dos pais. “Trabalhar, receber algum, salário, para quem tem apenas uma

autonomia relativa, mas está procurando aumentar-lhe o grau, significa liberdade”

(MADEIRA et al.1993, p.19).

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Quanto à opinião dos entrevistados sobre a inserção dos jovens no

mercado de trabalho é possível perceber que a grande maioria considera que os

jovens enfrentam inúmeras dificuldades, como pode ser percebido em suas falas.

Difícil, pois a maioria dos jovens não tem nenhum tipo de experiência comprovada na carteira de trabalho (Margarida). Difícil porque a maioria deles (jovens) não tem uma qualificação (Acácia). Os requisitos que o mercado hoje vem exigindo dificulta mais, pois a maioria dos jovens tem renda baixa e não tem oportunidades melhores como educação e estudos ( Magnólia). Acham que os jovens não têm responsabilidade, não passam confiança e acabam contratando pessoas com experiência larga (Dália).

Pode-se perceber que as jovens são capazes de identificar as barreiras

que enfrentam para ingressar no mercado de trabalho, sobretudo com relação à

exigência da experiência profissional. De acordo com o pensamento expressado por

Quadros em 2001, é possível verificar que perdura até os dias atuais uma demanda

muito grande de jovens tentando entrar no mundo do trabalho, contribuindo desta

forma para ampliar o nível de exigência dos empresários brasileiros e possibilitando

a contratação de jovens com excelente qualificação para o exercício de atividades

que exigem pouca qualificação.

Convém assinalar que apenas uma jovem entrevistada expressou a sua

opinião atribuindo aos jovens a responsabilidade de buscar a realização de seus

objetivos.

Apesar de ser difícil, mas existem muitas oportunidades para jovens que devem correr atrás dos seus objetivos (Gérbera).

O desemprego é um dos problemas que preocupam a maioria dos jovens

brasileiros e consideramos que as políticas públicas devem atuar no sentido de cada

vez mais diminuir esse cenário que tanto atormenta os nossos jovens.

Durante esta pesquisa, procurou-se saber qual a concepção que as

jovens entrevistadas possuem sobre ser jovem, pois essa questão é bastante ampla

e, até certo ponto, complexa porque através das pesquisas bibliográficas foi

identificada uma enorme variedade de opiniões, entre os estudiosos desta questão.

Contudo, foi muito interessante analisar suas opiniões e perceber certa semelhança

com o pensamento de algumas das jovens pesquisadas.

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Existem várias maneiras de ser jovem, jovem não é aquele que sai por aí fazendo tudo que vem a cabeça não. Ser jovem é aproveitar a vida de maneira construtiva, aproveitar cada oportunidade de crescimento, é ter sentido de mudança (Hortência). Ser jovem é um grande momento, onde passa rapidamente, onde você tem que pensar o que vai querer para o seu futuro mais lá na frente (Violeta). Ser jovem é poder estudar, trabalhar, se divertir na hora certa, ter responsabilidade no que faz, aprender com todas as experiências para que no futuro você possa ser maduro e ter uma estabilidade (Margarida). É o começo, uma fase de aprendizagem em que devemos investir em boas oportunidades para no futuro ser um grande profissional (Rosa).

A discussão sobre a condição da juventude tem suscitado diferentes

conceitos e diversas interpretações sobre o tema. Para Abramo (2005), a noção de

juventude é socialmente variável, ou seja, o tempo e o lugar interferem na

concepção do que é ser jovem.

Para estabelecer certa conexão com a fala das jovens, cita-se a

concepção de Camarano (2005), ao referir que as oportunidades podem influenciar

essa fase da vida.

As potencialidades adquiridas pelos jovens ao longo de suas vidas, bem como as oportunidades e obstáculos que experimentam nessa fase, podem influenciar a sua passagem para a vida adulta, com consequências também sobre o lugar que ocuparão na escala social e econômica no futuro. Alguns desses obstáculos são inerentes ao mundo dos jovens e outros são reflexos das transformações por que passa a sociedade brasileira como um todo, que atingem a população jovem de maneira diferenciada (CAMARANO, 2006, p, 14).

Não somente os estudiosos, mas também o IPEA (2005, p. 288), quando

da análise das incertezas e transição da juventude, mostra que:

[...] é o período em que decisões fundamentais, e que terão repercussões ao longo de toda a vida, precisam ser tomadas sem que muitas vezes as preferências, os valores e as atitudes já estejam formados. Em outras palavras, o jovem experimenta a tensão de ter de decidir sobre profissão, casamento, filhos etc., justamente quando ainda está confuso a respeito de seus próprios valores e interesses.

Procurou-se respaldo, ainda, no pensamento de Souto e Almeida (2000),

para ilustrar o estudo, pois eles compreendem a juventude como uma fase de

transição. Dessa forma:

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[...] deve-se encará-la como uma fase praticamente sem sentido em si mesma, uma fase cuja razão de ser encontra-se fora dela, na etapa seguinte, na vida adulta. Entendida como fase de transição, a juventude aparece como um período de inserção incompleta na vida social: ainda que trabalhem, consumam, participem, os jovens são considerados, de certa forma, “externos” à sociedade, portanto, também externos à vida pública e política (SOUTO e ALMEIDA, 2000 p. 45).

Como se pode observar através das contribuições desses teóricos,

existem inúmeros e diferenciados conceitos para classificar a juventude, o que

conduz à reflexão sobre os labirintos e os contrastes em que estão inseridos os

jovens, sendo essa uma realidade que exige deles grande esforço para enfrentar

essa transição de vida e aproveitar as oportunidades que lhes surgem nesta fase.

Dentro desta temática Juventude e trabalho, procurou-se identificar em

qual situação profissional as jovens pesquisadas se encontravam e o resultado foi o

seguinte: 10 estão desempregadas, 03 estão empregadas com vínculo empregatício

e 02 sem vínculo (Gráfico 9).

Fonte: pesquisa direta, 2009

4.3 As Jovens e o Projeto Primeiro Passo

Ao indagar-se sobre a forma como ficaram sabendo da existência do PPP

encontramos somente duas respostas e foi muito interessante constatar que a

maioria das jovens, ou seja, 12 tomaram conhecimento através de amigos e vizinhos

e apenas 03 por intermédio de outros jovens que já haviam cumprido contrato de

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aprendizagem.

Como mais uma alternativa de avaliar a atuação do Projeto Primeiro

Passo procuramos desvendar os motivos pelos quais decidiram procurar este

serviço e qual o tempo que tiveram que aguardar para serem convocadas após sua

inscrição.

Considera-se fundamental ressaltar que 06 jovens atribuíram como maior

motivação à possibilidade de conseguir o seu primeiro emprego. O registro do

conteúdo expressado através de seus depoimentos por ocasião das entrevistas nos

possibilita perceber de que forma se relacionam e o que esperam do Projeto

Primeiro Passo.

A oportunidade de me preparar profissionalmente e ingressar no mercado de trabalho (Hortência). Primeiro aprender, segundo trabalho porque eu não tinha nenhuma experiência profissional. E a remuneração (Violeta). Minha qualificação e a oportunidade do primeiro emprego com carteira assinada (Dália). Vi que era uma grande oportunidade, pois é uma entidade que acredita no jovem (Margarida).

Quanto aos pontos positivos do PPP, todas as entrevistadas apontaram

pelo menos um e consideramos essencial citar alguns que expressam maior

significado.

Portas abertas para o mercado, cursos profissionalizantes e conhecimento (Magnólia). Auxilia o jovem com os cursos e principalmente a chance de trabalhar com carteira assinada (Orquídea). Os cursos oferecidos, o acompanhamento ao jovem, punições quando o jovem falta, exemplo: desconto do salário (Acácia). A oportunidade de aprender o que é essencial para o mercado de trabalho (Begônia).

Analisando o conteúdo do que foi dito pelas jovens é possível comprovar

que os objetivos do Projeto Primeiro Passo foram claramente percebidos como pode

ser observado nessa citação abaixo.

Promover a inclusão social de adolescentes e jovens que se encontram em situação de vulnerabilidade, risco pessoal e social e em medidas sócio-educativas, pertencentes a famílias registradas no cadastro único, viabilizando o desenvolvimento de suas competências sociais e profissionais, contribuindo para a elevação do capital humano e social do Estado e para a ampliação de suas oportunidades de inserção no mundo do trabalho. (Palestra informativa, 2009).

Pelo que aqui foi exposto pelas jovens fica evidente que aqueles que

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buscam o PPP acreditam que através de suas ações as portas deste mercado de

trabalho tão competitivo serão abertas, principalmente pela qualificação oferecida e

a chance de ter uma experiência comprovada na carteira. Este segundo item

apontado, de fato é analisado e indicado por alguns estudiosos como um dos fatores

que impedem o jovem de conseguir colocação no mercado de trabalho.

Demonstraram valorizar positivamente os conhecimentos adquiridos

através da qualificação profissional oferecida pelo PPP, considerando-a como uma

oportunidade de aprendizagem. Posteriormente, nos deteremos mais profundamente

na análise sobre a qualificação e a profissionalização executadas.

Quanto aos pontos negativos, nem todas as entrevistadas os citaram,

havendo destaque para o fato de 05 expressarem inexistência deles. Os pontos

mais importantes de análise são os que vão transcritos a seguir.

São poucas vagas (Dália).

Algumas pessoas não conseguem passar na prova ou não são chamadas e são esquecidas, poderia melhorar nesse aspecto, todos merecem uma oportunidade (Orquídea).

Deveriam acompanhar mais os menores aprendizes durante o período do estágio (Begônia).

Às vezes demora um pouco para chamar (Margarida).

Para reforçar a colocação do item demora como fator negativo é

importante informar que, as entrevistadas alegaram períodos de espera, pelo

chamado, bastante diversificados, os quais devem ser analisados considerando a

tabela 10.

TABELA 10 - Tempo de espera após inscrição

TEMPO DE ESPERA APÓS INSCRIÇÃO

QUANTIDADE DE PESSOAS

1 mês 01 03 meses 01 05 meses 03 09 meses 01

01 ano 07 02 anos 01 03 anos 01

Total 15

Fonte: pesquisa direta, 2009

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Quanto à colocação sobre o número de vagas ser reduzido, isso pode ser

de fato confirmado ao se verificar que a demanda é sempre muito superior a

capacidade operacional do PPP, entretanto, a coordenação tem procurado corrigir

esta disparidade com a sensibilização junto aos gestores, solicitando o

elastecimento de recursos provenientes do Fundo de Combate a Pobreza - FECOP,

e tem tido alguns resultados satisfatórios com a ampliação das metas para o ano de

2009. Contudo, sob nosso ponto de vista, o desenvolvimento e a gestão das

políticas com foco na juventude que são desenvolvidas pela STDS ainda tem um

longo caminho a percorrer no sentido de responder satisfatoriamente as demandas

dos nossos jovens cearenses. Talvez no futuro o PPP possa de fato atentar para o

que foi colocado por Orquídea ao falar de algumas pessoas que são esquecidas

sem terem tido uma oportunidade sequer.

Com relação à variedade do tempo para ser chamado, após a inscrição,

fica claramente demonstrada a falta de parâmetro que garanta o tempo médio de

espera. Esta fragilidade também foi sentida e algumas sistemáticas de atendimento

foram alteradas na STDS, com a suspensão de inscrições por períodos

determinados e a convocação feita em consonância com as vagas disponíveis para

cada linha de ação desenvolvida pelo Projeto.

A jovem Begônia toca em outro ponto crítico que é o acompanhamento

dado ao jovem por ocasião do estágio ter sido considerado insatisfatório e é

importante frisar que consideramos o número de profissionais supervisores

insuficientes para prestar assistência com qualidade a todos os jovens engajados

nas empresas conveniadas, e ainda, realizar um trabalho de divulgação e

sensibilização junto a novos empresários no sentido de ampliar o leque de

possibilidades de engajamento de mais jovens na condição de aprendiz.

Através do roteiro de entrevista, mais especificamente, através das

questões 11 e 12, deu-se continuidade à investigação sobre a visão das jovens

sobre o PPP e à percepção do seu alcance quanto a contribuir com a inserção

profissional dos jovens usuários, diminuindo, dessa forma, o desemprego juvenil.

Quanto à situação profissional das jovens pesquisadas, que concluíram o contrato

de aprendizagem, com duração de 01 ano, encontrou-se o seguinte resultado: 13

foram dispensadas e apenas 02 foram efetivadas e, atualmente, trabalham com

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todas as garantias de um trabalhador comum.

O PPP tem ações e objetivos semelhantes ao Programa Nacional de

Estímulo ao Primeiro Emprego - PNPE que foi lançado oficialmente em 2003, por

intermédio da Lei nº 10.748, de 22 de outubro de 2003, com o objetivo de prestar

uma política pública de emprego à juventude brasileira, em virtude, principalmente,

da crise do desemprego que tanto penaliza este segmento. E para ilustrar e reforçar

a fragilidade demonstrada pela baixa efetivação dos jovens, cita-se o pensamento

de Ribeiro e Juliano (2005, p.64), ao avaliarem o PNPE:

O programa, claramente, não garante a criação de novos postos de trabalho e possibilita a substituição de um trabalhador adulto por um trabalhador jovem de menor remuneração. Esse risco existe, principalmente quando os postos de trabalhos não requerem mão-de-obra muito qualificada. E uma vez que, na década de 1990, grande parte das novas vagas no mercado de trabalho assalariado foram criadas no serviço doméstico remunerado e nos pequenos empreendimentos urbanos, que exigem baixa qualificação, o risco é concreto.

De acordo com suas avaliações o Programa falhou nas promessas e no

conjunto das ações previstas, que era executar uma política pública de emprego

capaz de arrefecer o desemprego juvenil. A exemplo do que ocorreu, é

imprescindível permanecer atentos às estratégias novas que possam, de fato, mudar

a situação constatada em nossa pesquisa.

Posteriormente, perguntou-se às jovens se elas achavam que o PPP tinha

contribuído para sua inserção no mercado de trabalho, encontrando-se muitas

colocações positivas e, até certo ponto, contraditórias, se comparadas, apenas, ao

resultado encontrado no que se refere à efetivação nas empresas em que ocorreu a

profissionalização.

Foi à chave principal, o ponta pé inicial, seria bem mais difícil se não fosse o projeto (Hortência). Porque tenho experiência de um ano numa empresa, certificado dos cursos e ajuda bastante no mercado de trabalho (Orquídea). Sim, pois com a experiência daqui foi que consegui um novo estágio (Rosa). Sim, hoje ter experiência vale muito para conseguir emprego (Dália).

A fala de Hortência chamou a atenção, pois mesmo tendo sido

dispensada após o cumprimento do contrato de aprendizagem, considera que o PPP

foi o ponta-pé inicial para a situação em que,atualmente, se encontra, ou seja,

cumpre novo contrato de aprendizagem em uma instituição formadora legalmente

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qualificada na função de agente de integração, alertando-se quanto ao fato de que,

juridicamente, ela não poderia ter dois registros na carteira profissional como jovem

aprendiz. Isso só reforça o cuidado que se deve ter quanto à viabilidade e à

contribuição dessa experiência profissional, como fator colaborador de inserção.

Entretanto, a afirmação de Dália também é, até certo ponto, questionável,

principalmente se relacionada ao fato de ter sido dispensada logo após a

experiência como aprendiz e de estar desempregada.

A colocação do sociólogo Mesquita (2006, p.2), referindo-se ao PNPE

serve de suporte para nossas inquietações, quando os jovens também trabalham

por um ano e o PPP também não possui elementos de avaliação dos egressos.

Os contemplados pelo PNPE trabalham por um ano e ainda assim encontram dificuldades de inserção no mercado, pois não há uma política de continuidade. Além disso, não se estabeleceram elementos de avaliação para saber onde e como estão esses jovens depois que passaram pelo programa.

Diante de um quadro que alia realidade e possibilidade, os depoimentos

apregoam a expectativa que as jovens depositam no PPP, tendo nele uma base, um

apoio para entrever melhores possibilidades de inserção no mercado de trabalho,

qualificação profissional e social e o alcance da cidadania.

Para Leon (2005, p.145),

A demora no reconhecimento de que esse público necessita de políticas públicas efetivas e diferenciadas potencializou de forma contundente a crise que se avizinhava pela pressão demográfica da maior população de jovens, em números absolutos, da história de nosso país. Isso fez com que o Estado brasileiro, por diversos motivos, levasse uma década para absorver as demandas existentes procurando, agora, transformá-las em políticas públicas de primeira grandeza.

Através da reflexão feita por Leon (op. cit.) e os dados colhidos, podem-se

analisar as fortalezas e fraquezas dessa política estatal, que opera há alguns anos

junto ao segmento pesquisado, daí porque, como profissional atuante no Projeto,

desde 2003, consideram-se bastante procedentes todas as colocações, fazendo um

grande esforço para, através desta produção acadêmica, poder contribuir com a

superação dos aspectos negativos e o fortalecimento dos aspectos positivos.

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4.4 Qualificação e Profissionalização dos Jovens

Em relação ao assunto da qualificação profissional, sem dúvida, não é de

hoje que inúmeros analistas têm assegurado que a qualificação não é o começo, o

meio e o fim para a obtenção de uma vaga no mercado de trabalho, e que, mesmo a

escolaridade formal não é a segurança da inserção ocupacional. Contudo, sendo o

mercado de trabalho bastante complexo, com carência de vagas e de empregos, é

preciso que se estimule o crescimento da economia para que sejam gerados novos

empregos. Assim, expandir os conhecimentos torna-se uma tarefa imprescindível a

qualquer trabalhador, para encarar todos esses entraves.

Para Barros (2006, p.304),

Como a qualidade dos trabalhadores e dos postos de trabalho não e algo totalmente observável, todos acabam sendo incentivados a experimentar. Esse processo de aprendizado leva a separações e, portanto, a rotatividade, sempre que as empresas e os empregados derem-se conta de que não encontraram o que buscavam. Quanto mais desconhecidas forem as características dos trabalhadores para as empresas e destas para os primeiros, maior será a taxa de rotatividade no mercado de trabalho e mais elevada será entre os jovens, que, com menor experiência, experimentam e são experimentados com maior frequência. Esse fenômeno repercute sobre a taxa de desemprego do grupo.

O Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil (MTE) atua, de forma direta

e indireta, desde a sua criação em 1937, e o Departamento de Qualificação da

Secretaria de Políticas Públicas de Emprego do Ministério do Trabalho e Emprego

(DQE/SPPE/TEM) adota o seguinte conceito de qualificação :

a) parte indissolúvel das Políticas de Trabalho, Emprego e Renda, sejam elas

urbanas ou rurais; públicas ou privadas; resultem em relações assalariadas,

empreendedoras individuais ou solidárias;

b) uma forma de educação profissional (formação inicial e continuada), devendo

estar articulada com a educação de jovens e adultos, a educação do campo e a

educação profissional de nível técnico e tecnológico;

c) um processo de construção de políticas afirmativas de gênero, etnia e geração, ao

reconhecer a diversidade do trabalho e demonstrar as múltiplas capacidades

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individuais e coletivas;

d) uma forma de reconhecimento social do conhecimento do trabalhador, ou seja, de

certificação profissional e ocupacional, que deve estar articulada com classificações

de ocupações, profissões, carreiras e competências; uma necessidade para o jovem

e o adulto, em termos de orientação profissional para sua inserção no mundo do

trabalho; um objeto de disputa de hegemonia, com a negociação coletiva da

qualificação e certificação profissionais devendo integrar um sistema democrático de

relações de trabalho (MTE,, 2008).

Quanto às possibilidades efetivas das políticas públicas de qualificação, o

MTE (2008) afirma que:

• essas políticas, quando articuladas com outras políticas públicas, em particular a

de emprego e geração de renda, aumentam a chance da inserção das populações

mais vulneráveis no mundo do trabalho;

• articuladas com a política de educação, contribuem para o resgate do direito à

educação de jovens e adultos e para o atendimento de importante requisito social e

do mundo do trabalho: a escolaridade;

• vinculadas às políticas de desenvolvimento, sobretudo local, pela sua capilaridade,

possibilitam que as populações mais vulneráveis participem e usufruam os

resultados dos arranjos produtivos locais e do desenvolvimento local sustentável e

solidário;

• em fase de crescimento econômico, se previamente associadas aos setores

geradores de empregos, possibilitam maior homogeneização do mercado de

trabalho em termos de acesso e de renda e diminuem o tempo e o custo do

processo de contratação, com reflexos mais rápidos sobre o desemprego;

• possibilitam maior sobrevivência de empreendimentos individuais ou coletivos

baseados nos princípios da economia solidária;

• para integrar trabalho, educação e desenvolvimento, o PQSP deve ter efetividade

social (atender a quem mais necessita – os desempregados e os grupos mais

vulneráveis, no momento adequado) e qualidade pedagógica (carga horária e

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conteúdos das ações compatíveis com as demandas do mundo do trabalho).

O objetivo geral do PQSP é planejar, articular e financiar a execução de

ações de qualificação, certificação e orientação profissionais, articuladas com as

políticas de emprego, educação e desenvolvimento. Seus objetivos específicos

estão vinculados a sua contribuição à:

– formação integral dos trabalhadores brasileiros;

– aumento da probabilidade de obtenção de emprego e trabalho decente;

– elevação da escolaridade dos trabalhadores;

– inclusão social, redução da pobreza, combate à discriminação e diminuição da

vulnerabilidade das populações;

– aumento de probabilidade de permanência no mercado de trabalho;

– elevação de produtividade;

– contribuição para articulação e consolidação do Sistema Nacional de Formação

Profissional articulado ao Sistema Público de Emprego e Sistema Nacional de

Educação (MTE, 2008).

A qualificação profissional e social desenvolvida pelo Projeto Primeiro

Passo foi inovada com o incremento da metodologia, que utiliza os arcos

ocupacionais no repasse dos conteúdos dos módulos básicos e específicos. Para

facilitar a compreensão desse projeto, é viável citar o conceito de arco ocupacional

por ele adotado, que foi trabalhado no decorrer do ano.

O arco ocupacional é entendido como um conjunto de ocupações relacionadas, dotadas de base técnica comum, que podem abranger as esferas de produção, da circulação de bens e prestação de serviços, garantindo uma formação mais ampla e aumentando as possibilidades de inserção ocupacional do trabalhador (assalariamento, auto-emprego e economia solidária) (M,TE, 2008).

Visando a obter dados quanto à importância da qualificação profissional

recebida no exercício da prática profissional exercida nas empresas, solicitou-se às

jovens que falassem sobre este assunto e obtiveram-se opiniões que reforçam a

validade do esforço empreendido pelo PPP na preparação das mesmas quanto ao

bom desempenho enquanto jovens aprendizes.

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Aprendi várias coisas, ajudou bastante, conheci documentos, postura, educação, esforço, atenção, entrevista, como lidar com o chefe, com as pessoas do trabalho, foi muito útil (Orquídea).

O projeto através dos educadores me ensinou responsabilidade e compromisso que foram coisas muito pedidas nas empresas (Acácia).

Sim, pois exerci o cargo de auxiliar administrativo, ao qual correspondeu ao meu curso, aprendi bastante dentro do projeto e dentro da empresa (Tulipa).

Tudo que eu aprendi nos cursos eu pude por em prática na empresa e isso me ajudou porque eu já tinha uma noção do que fazer, já não era tudo tão novo (Margarida).

Levanta-se um questionamento para conhecer os benefícios que apontam

pelo fato de terem sido engajadas no PPP, através da linha de ação jovem aprendiz

com possibilidade de cumprir contrato de aprendizagem por um ano dentro das

empresas conveniadas, considerando-se oportuno registrar as seguintes falas.

Fui totalmente beneficiada, pois o projeto abriu a porta do primeiro emprego e devido a isso fui efetivada e trabalho até hoje na mesma empresa (Hortência).

Vários, o principal foi a carteira assinada por um ano, certificado dos cursos, a aprendizagem, tudo valeu a pena (Orquídea).

Foi ótimo, pois hoje eu trabalho como que gosto e sou muito bem aproveitada, pois eu me esforcei para conquistar o que eu tenho hoje (Gérbera).

Primeiro de tudo ter feito um bom curso, ter tido experiência de um ano em uma empresa de grande porte e acima de tudo ter aprendido a ter responsabilidade (Rosa).

Bastante ricas as colocações das entrevistadas, entretanto, é preciso que

se façam algumas considerações e correlações com o que dizem os estudiosos

sobre o desemprego juvenil. No estudo sobre o desemprego de jovens no Brasil,

Flori (2003, p.2) argumenta que:

É nessa faixa etária que se concentra a maior parte das pessoas que se incorporam ao mercado de trabalho pela primeira vez. Um argumento é que a causa do alto desemprego juvenil está na dificuldade do jovem em conseguir o primeiro emprego. Outro argumento associa a um sistema de educação inadequado frente às exigências do mercado de trabalho e à incapacidade dos jovens permanecerem na escola.

Na fala de Rosa, observa-se que ela demonstra satisfação com o fato de

ter sido engajada no mercado de trabalho novamente na condição de aprendiz, e

isso induz a se buscarem as opiniões de estudiosos ao afirmarem que, diante da

extrema dificuldade de colocação no mercado, muitos jovens se submetem às

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condições impostas pelos empresários que, em diversas ocasiões, exageram nos

requisitos exigidos, supondo-se que ainda há falta de fiscalização do setor público

competente, no sentido de combater tal comportamento e que, quando necessário,

devem-se estabelecer as punições compatíveis com o caso.

Gérbera é outra jovem que também se enquadra entre as tantas outras

que, só por estarem conseguindo trabalhar, se submetem a condições, nem sempre

condizentes com os direitos garantidos ao trabalhador, vez que se considera ‘“bem

aproveitada’, apesar de ter declarado, em questionamento posterior, que,

atualmente, está empregada sem vínculo empregatício.

Tomando por base o que assevera Pochmann (1998, p.67), a parcela de

jovens que hoje tem assegurados os seus direitos trabalhistas é diminuta, diante de

uma realidade inversa ocorrida nas últimas décadas, principalmente nos anos 1990,

em que o número de empregos não assalariados gerados foi bem maior que os

assalariados.

Os jovens tendem a encontrar, em geral, grandes dificuldades de ingresso no mercado de trabalho. Tradicionalmente, o grau de dificuldade da inserção é maior quando se trata da busca de ocupações assalariadas e, em contrapartida, as barreiras apresentam-se menores entre as ocupações não assalariadas.

O Projeto Primeiro Passo procura aliar à qualificação a profissionalização

quando, através de sua linha de ação Jovem Aprendiz, disponibiliza aos jovens o

programa de aprendizagem profissional composto de teoria e prática que ocorre de

forma concomitante e em consonância com o que estabelece a Lei nº.10.097/2000.

Como uma espécie de antídoto aos múltiplos e distintos problemas e

embates sociais, que tanto afligem a juventude, em particular os mais pobres, a

conquista do emprego revela sentimentos de vitória e legitimidade tão bem

expressados por Hortência e Orquídea, ambas atualmente, com ocupações

assalariadas.

Apesar da existência de algumas projeções otimistas quanto à redução da

pressão sobre o mercado de trabalho, para os próximos dez anos ou vinte anos, o

fato é que as dificuldades enfrentadas pela juventude, no tocante a sua inserção

laboral, ainda é inquietante e de implicações cada vez mais preocupantes.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão do trabalho é uma das grandes preocupações da juventude e

também o é no campo das políticas públicas para a juventude. Existe uma convicção

generalizada de que é necessário desenvolver programas e ações que melhorem a

situação atual, levando-se em conta o aumento da vulnerabilidade deste grupo

social, a limitada oferta de oportunidades, e as especificidades da condição juvenil

contemporânea.

O desemprego entre os jovens brasileiros é significativamente superior ao

do restante da população. Ainda que, ao longo dos anos, tenha havido aumento das

médias de escolarização dos jovens e uma melhora nas condições de trabalho –

com alta da formalização –, não se observou aumento correspondente na oferta de

empregos.

Diante de um cenário de altas taxas desemprego, e de desestruturação e

precarização do trabalho, como a juventude tem reagido? atualmente, jovens de

todas as classes e situações sociais expressam inseguranças e angústias ao falar

das expectativas em relação ao trabalho, no presente e no futuro. Eles vivenciam, de

modo sofrido e dramático, o que alguns estudiosos têm chamado de “medo de

sobrar” (NOVAES, 2007).

No Brasil, percebe-se que as políticas públicas centradas no discurso

ardiloso de que a preparação para o mercado de trabalho exige maior qualificação,

novos atributos, habilidades e competências, na maioria das vezes, partem da

crença equivocada que associa juventude, desemprego e pobreza e operam de

forma unidimensional, na verdade podem contribuir com a segregação dos jovens,

que ignoram outros aspectos significativos de suas vidas, tais como, práticas sociais,

lazer e cultura.

O que se verifica, nas práticas governamentais, são preocupações

economicistas, deixando de lado aspectos relevantes, como dignidade e cidadania.

Só será possível imaginar que os jovens terão uma vida com mais qualidade quando

forem percebidos em sua totalidade e, não apenas, focalizados dentro de uma faixa

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etária com prioridade na aplicação de alguns recursos públicos.

Falar do desemprego juvenil significou, para esta pesquisadora, um

verdadeiro desafio, por se este um tema que desperta muito interesse nos dias

atuais. Os obstáculos que surgem no caminho dos jovens que buscam o primeiro

emprego ainda fazem parte das preocupações do poder público e de toda a

sociedade civil, porquanto pode ser encarado como um problema social que ressoa

no comportamento de uma geração.

Os resultados deste estudo evidenciaram que uma parcela da população

jovem enfrenta sérias dificuldades na inserção profissional e não vê o trabalho, como

algo que norteia positivamente a vida. Esses jovens sentem-se à deriva profissional.

Aproveitam quaisquer possibilidades de inclusão. Na conjuntura de ruptura da

linearidade profissional e de mobilidade social, agarram-se à negatividade do não

ter. Preocupam-se com a dificuldade de engajamento no mercado de trabalho e

deparam-se com dificuldades de estabelecerem outros modos de conceber a própria

vida.

Baseados nessa realidade, os programas que se propõem a favorecer a

inserção profissional são imperativos. É importante que, em suas ações, sejam

incluídas atividades que os façam pensar diversas alternativas de trabalho e não só

o engajamento no mercado de trabalho formal.

No Brasil contemporâneo, três verbos fazem parte da linguagem e da

atitude dos empregadores: lucrar, flexibilizar e reestruturar. Nessa conjuntura, um

dos grupos sociais que mais sofre com as características peculiares do capital é a

juventude. Por isso, a juventude acaba por regular sua vida através da preocupação

de três fatores: incerteza, desemprego e precarização.

Na década de 1990, foram instituídas políticas de emprego – nos três

níveis de governo: federal, estadual e municipal – que tentaram amortecer o

desemprego juvenil e facilitar a inserção laborativa da juventude. Apesar disso,

essas políticas são poucas e não são capazes de atender, de forma contundente, as

demandas apresentadas pelos jovens sendo, portanto, ineficazes.

É oportuno salientar que o aumento de pessoas sem ocupação ocasionou

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uma maior competição dentro do mercado de trabalho, tanto entre jovens como

adultos. Diante dessa realidade, mister se faz enfatizar que, mesmo em

circunstância de crescimento do número de postos de trabalho, os jovens são os

últimos a serem favorecidos, sobretudo, porque a maior parte dos empregos

instituídos é designada à população adulta.

Não se pode deixar de perceber que as barreiras fundamentais criadas

pelo mercado de trabalho formal à população jovem são: obrigação de experiência

profissional anterior e altos requisitos de escolaridade e qualificação. Dessa forma,

os jovens acabam sendo mais prejudicados que os adultos pelo desemprego.

Convém ressaltar que o desemprego juvenil é consequência da

desestruturação do mercado de trabalho brasileiro, do baixo crescimento econômico,

dos poucos postos de trabalho que são criados e das inúmeras políticas realizadas

pelas empresas, no sentido de amortecer o uso da força de trabalho, ou mesmo, de

precarizar esse uso. Além disso, é resultado do processo de reestruturação

produtiva que extinguiu empregos que sempre foram ocupados por jovens.

Posta assim, esta questão, é oportuno dizer que a juventude brasileira foi

educada com a ideologia de que, por meio do trabalho, exerceria uma profissão e

disporia de recursos para sua manutenção. Contudo, com o acréscimo do

desemprego e as péssimas condições de inserção e de trabalho dos jovens, esse

ideal passou a se constituir em um sonho difícil de alcançar, em que apenas uma

pequena parcela conseguirá realizá-lo, estando assim, bloqueada a integração

social através da influência do trabalho.

O desemprego impossibilita os jovens de vivenciarem a juventude e de

chegar à fase adulta com muitos anos de estudo e experiência profissional no

mercado de trabalho.A tônica apresentada pelos políticos e pelos empresários, por

meio da mídia, é que a juventude deve se preparar para o mercado de trabalho

através da busca incessante pela qualificação profissional, e uma parcela bastante

significativa segue à risca esse discurso. Contudo, os estudiosos já conseguiram

provar que a qualificação profissional não garante a empregabilidade.

Afirmar que a falta de qualificação é fator preponderante para o desemprego

dos jovens, mascara a real causa da insuficiência de oportunidades de trabalho. Quando

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se faz referência a essa insuficiência de qualificação profissional como o principal

elemento dificultador da inserção dos jovens, não se pode esquecer que, durante longos

anos até os dias atuais, a política responsável pela qualificação profissional vem

atuando sem a devida preocupação com as exigências do mercado, com o oferecimento

de cursos totalmente adversos ao que a realidade nacional exige, e, até mesmo, sem se

atentar para as potencialidades regionais.

O avanço da escolaridade e da qualificação dos jovens aconteceu nas

últimas décadas, no Brasil, mas sem grande mando no arrefecimento do

desemprego desse grupo social, especialmente, porque a qualificação não tem

nenhuma interferência na criação de postos de trabalho, somente possibilitando ao

indivíduo ser dono de conhecimentos necessários para desempenhar uma profissão.

Nesse sentido, deve-se dizer que os jovens transitam, atualmente, entre a escola e o

desemprego.

O desemprego coloca a juventude à prova e, por isso, os jovens do Brasil

alimentam a esperança de que lhes sejam ofertadas oportunidades ocupacionais e

educacionais, não devendo confiar e colocar suas expectativas de inserção no

mercado de trabalho e, consequentemente, na sociedade, apenas, na vontade dos

governos, dos empregadores, das dinâmicas do mercado de trabalho e da

economia.

É imprescindível, portanto, que o Estado seja cauteloso e atue de forma

que a juventude não vislumbre, apenas, incerteza, exclusão social e o tão receado

desemprego. Assim, os esforços dos governantes devem convergir, sobretudo, para

que haja lugar para todos, no mercado, para que possam viver dignamente, como

cidadãos. Para isso, entretanto, é necessário que os jovens se mobilizem em busca

de seus direitos e, ao mesmo tempo, os governos, empresários e políticos os

reconheçam esses jovens como seres detentores de direitos.

A conclusão mais acertada para este estudo se revela nas palavras de

Gorz (2004, p. 71):

É preciso que as mentalidades mudem para que a economia e a sociedade possam mudar. Mas, inversamente, a mudança das mentalidades, a mudança cultural precisa ser relacionadas (e traduzidas) a práticas e a um projeto político para adquirir um alcance geral e encontrar uma expressão coletiva capaz de inscrever-se no espaço público. Enquanto não encontrar sua expressão pública e coletiva, a mudança das mentalidades pode

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continuar sendo ignorada pelos detentores do poder, dada por marginal, um desvio de pouco significado (Misérias do Presente, Riqueza do Possível.

Diante das exíguas oportunidades de trabalho, o Governo do Estado do

Ceará vem procurando fazer a sua parte, sendo imprescindível continuar

aperfeiçoando suas políticas públicas no sentido de contribuir para reduzir tamanhas

dificuldades.

Considera-se que os objetivos definidos para este trabalho foram

plenamente alcançados, pois se analisou a política estatal de emprego desenvolvida

pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), detectando-se os

rumos seguidos pelos egressos e a situação profissional em que se encontram,

tentando abarcar os resultados, de maneira especial, a partir do que as jovens

provenientes da linha de ação ‘jovem aprendiz’, assistidas pelo Projeto Primeiro

Passo.

Conseguiu-se comprovar que o Projeto Primeiro Passo tem

proporcionado ganhos sociais, isso porque, através de suas ações, foi possível

despertar muita esperança nos jovens de que através da qualificação e experiência

consigam sair da ociosidade. As falas das jovens pesquisadas revelaram que

tiveram a oportunidade de se qualificarem e de terem a sua primeira experiência

profissional e esperança de que o futuro que lhes aguarda é promissor.

Os caminhos para chegar até essas considerações que finalizam este

estudo não foram simples. Apareceram angústias, inseguranças e dúvidas. A

recompensa corresponde à sensação de ter conseguido sobrepujar os obstáculos,

de ter mais um aprendizado consolidado, ficando em uma obra que esperamos não

se esgotar apenas em um trabalho acadêmico. Ambiciona-se contribuir para o

aperfeiçoamento das ações desenvolvidas pelo Projeto Primeiro Passo, como

política pública voltada para a redução do desemprego juvenil.

Esta pesquisa não é conclusiva, mas abre passagem para a reflexão e

para que novos estudos sobre o desemprego juvenil possam ser acrescidos pela

visão dos beneficiários do Projeto Primeiro Passo. Espera-se, ao término dessa

investigação, que o Projeto, cada dia mais, possa rever os erros, ampliar os acertos

e desenvolver ações que gerem transformações significativas na vida dos jovens.

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BIBLIOGRAFIA

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APÊNDICE

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APÊNDICE 1 ROTEIRO DE ENTREVISTA

MAIO DE 2009 Prezado jovem,

Sendo aluna do Mestrado em Planejamento e Políticas Públicas da UECE, espero contar com seu apoio quanto à participação nesta entrevista que tem como objetivo principal à realização de um trabalho acadêmico. Antecipadamente agradeço sua valiosa colaboração. 1. Escolaridade: ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( ) Superior incompleto 2. renda familiar? ( somando a renda de todas as pessoas da casa que trabalham ) ( ) Até 1 salário mínimo ( R$ 465,00 ) ( ) De 1 a 3 salários mínimos ( de R$ 465,00 a R$ 1.395,00 ) ( ) De 3 a 5 salários mínimos ( de R$ 1.395,00 a R$ 2.325,00 ) ( ) Maior que 5 salários mínimos ( > R$ 2.325,00 ) ( ) Não sabe/ não lembra 3. Qual o principal motivo que o leva a querer trabalhar? ____________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________ 4. Qual a sua opinião quanto à inserção dos jovens brasileiros no mercado de trabalho? ____________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________ 5.Como você soube da existência do Projeto Primeiro Passo ? ( ) Através de amigos/vizinhos ( )Através de jornal, outdoor, folheto, internet ( ) Através da escola ( ) Através de jovens que foram beneficiados com contato de aprendizagem por meio do Projeto Primeiro Passo ( ) Outra fonte. Qual? ___________________________________________________________________

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6.O que lhe motivou a procurar o Projeto Primeiro Passo? ____________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________ 7. Quanto tempo após a sua inscrição você foi chamado pelo Projeto Primeiro Passo? ____________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________ 8. Para você quais são os pontos positivos e negativos do Projeto Primeiro Passo? Positivos: ____________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________ Negativo ____________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________ 9 .A qualificação recebida lhe ajudou na prática exercida nas empresas? ____________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________ 10. Para você, quais foram os benefícios de ter sido engajado no projeto com um contrato de aprendizagem? ____________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________

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11. Após o contrato de aprendizagem na empresa o que aconteceu com sua situação profissional? _________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________ 12. Você acha que o Projeto Primeiro Passo contribuiu para sua inserção no mercado de trabalho? _________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________ 13. Atualmente você se enquadra em qual situação profissional ? _________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________ 14. O que é ser jovem para você? _________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________

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ANEXOS

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NÚCLEO DE INICIAÇÃO PROFISSIONAL - PRIMEIRO PASSO

FICHA DE CADASTRO DE INSCRIÇÃO DE JOVENS Data do Cadastro ________/_______/_______ Municípios: _________________________________________ Nome do Curso: _____________________________________ Data do Início: _______________________ DADOS PESSOAIS Nome: _________________________________________________ CPF:___________________ Data do. Nascimento: ______/______/_______ Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino Nº da Identidade: ________________ Org. Expedidor:___________ UF: _______ Endereço:_________________________________________________________ Município:_________________________ Bairro: __________________________ Ponto de Referência:__________________________________ CEP:____________________ Telefones para contato:_____________________________ Naturalidade:___________________________ Nº da Cart. De Trabalho_____________ Nº de Série: _______Código do SINE:____ Deficiente? ( ) Sim ( ) Não Tipo de Deficiência: __________________________

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SITUAÇÃO FAMILIAR Filiação Pai:____________________________________________________ Mãe:____________________________________________________ Estado Civil dos Pais: Casados ( )Outros ( )Separados ( )Solteiro ( )Viúvo(a) Com quem mora? ( ) Órfão? ( ) Pai ( ) Mãe ( ) Ambos ( ) com Familiares? Ocupação do Pai/ Renda : ___________________________________________ Ocupação da mãe/ Renda:____________________________________________ Responsável Nome: Grau de Parentesco: Situação Profissional: ( ) Autônomo ( ) Empregado ( ) Desempregado ( ) Aposentado Ocupação/ Renda do responsável:_______________________________________ EGRESSO/ESCOLA Egresso / Identificação do Município:_____________________________________ Instituição de Ensino Relação com a escola: Frequenta: ( ) Sim ( ) Não ( ) Nunca Série: _______________ Turno: ____________________________ Endereço da Instituição de Ensino:____________________________________ Nome do Diretor(a): _______________________________________________ CNPJ da Instituição de Ensino :_______________________________

Tipo de Escola: ( ) Bolsista ( ) Conveniada ( ) Privada ( ) Pública Telefone da Escola: ________________________________ Data do Atendimento: ______/______/______

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