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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOQUÍMICA E MEIO AMBIENTE
FABIANA ABREU DE REZENDE
ACELERAÇÃO DO PROCESSO DE COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS:
AVALIAÇÃO DE FERTILIZANTE OBTIDO EM UMA USINA DE COMPOSTAGEM NO LITORAL NORTE DA BAHIA
SALVADOR 2005
FABIANA ABREU DE REZENDE
ACELERAÇÃO DO PROCESSO DE COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS:
AVALIAÇÃO DE FERTILIZANTE OBTIDO EM UMA USINA DE COMPOSTAGEM NO LITORAL NORTE DA BAHIA
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós Graduação em Geoquímica e Meio Ambiente, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Magister Scientiae em Geoquímica e Meio Ambiente.
Orientadora: Profa. Dra. Josanidia
Santana Lima
Salvador 2005
ii
A Enio Antunes Rezende, amado companheiro, que sempre
acreditou em mim e tanto me apoiou, DEDICO.
iii
“O homem mais sábio é aquele que procura Deus. O mais bem sucedido é aquele que encontrou Deus”.
Paramahansa Yogananda
iv
AGRADECIMENTOS
À Deus por me conceder o dom da vida. Aos meus pais José Higino de Andrade Rezende e Regina Ângela de
Abreu Rezende e irmãos Ana Paula Abreu de Rezende, Juliana Abreu de Rezende e Adriano Abreu de Rezende por todo amor e carinho que sempre me agraciaram.
Aos queridos Antônio Rezende (Noni) e Anamaria Merege Antunes
Rezende (Nana) por toda a confiança e consideração que dedicaram a mim. À minha orientadora Josanídia Santana Lima pela grande contribuição
em meu crescimento como profissional, confiança, paciência, críticas e sugestões durante a realização deste trabalho.
À querida amiga Maria Teresa Franco Ribeiro por todas as
colaborações ao trabalho e por tornar mais aprazível a mudança para Salvador.
Aos amigos João Damásio e Grácil Márcia por tornarem a vida em
Salvador muito mais alegre.
Aos professores do Instituto de Geociências: João Lamarck, Ronaldo Barbosa, Maria José Lins, André Rodrigues Netto, Antônio Fernando de Souza Queiroz por todas as colaborações em todos os momentos, principalmente nas horas difíceis.
À todos os funcionários do Instituto de Geociências e do Instituto de
Biologia por tornar mais fácil e aprazível a realização deste trabalho, em especial: Naná, Isabel e o Sr. Xandi.
Aos antigos e atuais estagiários e técnicos do Laboratório de
Alternativas Viáveis à Impactos em Ecossitemas Terrestres do Instituto de Biologia da UFBA: Maria Betânia Figueiredo, Sildia Santos Gomes, Alessandra Argolo, Carla Costa, Bianca Grisi, Charlotte Bartels, Dália Melissa, Alice Torres, Hêmyle Cantuário, Roza Amélia, Reinildo Silva, Carlos Bahia, Kátia Vasconcelos, Bernadete Marcello, Sônia Feitosa, Luana Ribeiro, Taís Veras, Diogo Barbosa e especialmente Ariomar de Castro Aguiar por toda paciência e dedicação que sempre mostraram. Conviver com vocês foi maravilhoso!
Aos amigos da Coopevales e Verdecoop, pela confiança e empenho
em se envolver neste trabalho mesmo com todas as dificuldades. Aos meus queridos amigos e familiares de Lavras – MG (como sinto a
falta de vocês!) a presença de cada um é intensa em meu coração e me ajuda imensamente nesta caminhada.
v
Á Universidade Federal da Bahia – UFBA, através do Instituto de Geociências, Programa de Pós-Graduação em Geoquímica e Meio Ambiente, pela oportunidade de realizar este curso de Pós Graduação.
À Universidade Federal de Lavras – UFLA, através do Prof. Dr. Carlos
Alberto Silva e o Me. Bruno Dias, do Departamento de Solos, por abrirem as portas da instituição e compartilharem seus conhecimentos.
À Fundação Banco do Brasil, à Fapesb e à Capes por tornarem
possível a implementação e realização deste trabalho através da concessão de financiamento do projeto e bolsa de estudo.
vi
RESUMO
A presente dissertacao teve como objetivo avaliar a qualidade de um fertilizante orgânico produzido de forma acelerada (denominado Bioexton). A avaliação da qualidade foi feita de forma comparativa com fertilizante orgânico obtido de forma tradicional (denominado LAVIET). Os parâmetros analisados para testar a qualidade foram: caracterização química e física dos fertilizantes e dos solos adubados com os mesmos; quantificação de substâncias húmicas dos fertilizantes e dos solos adubados; determinação da respiração da biota dos fertilizantes e efeito da aplicação dos fertilizantes na biomassa aérea vegetal fresca e seca. Para determinar os parâmetros químicos e físicos utilizou-se de métodos descritos em EMBRAPA (1997, 1999), Perraud (1976), Grisi (1995); para a determinação do teor de substâncias húmicas foi utilizado o método descrito por Dias (2005), para a análise da respiração da biota utilizou-se do método descrito por Steubing (2002) e para a obtenção da biomassa aérea instalou-se experimento em vasos, com dose dos dois fertilizantes de 50 ton.ha-1 e testemunha, onde se cultivou sorgo (Sorghum bicolor) por 30 dias, coentro (Coriandrum sativum L.) por 40 dias e o alface (Lactuca sativa) por 60 dias, com 5 repetições cada, as quais após este período, foram pesadas (biomassa fresca) e levadas para estufa até peso constante (biomassa seca). A avaliação estatística foi realizada através da ANOVA Classificação Dupla (TWO WAY), com nível de significância de 5% para as variáveis: adubação e biomassa vegetal; para o parâmetro solo, foi utilizada uma ANOVA Classificação Única (ONE WAY), com nível de significância de 5% e para o parâmetro respiração da biota, foi utilizado o teste T paramétrico com correção de Welch. O fertilizante LAVIET obteve as melhores respostas relacionadas ao grau de maturação (efeito nas plantas, teor de substâncias húmicas e respiração); o fertilizante Bioexton trouxe sintomas de fitoxicidez, o que não se observou no fertilizante LAVIET; o fertilizante Bioexton trouxe os maiores incrementos no grau de fertilidade dos solos adubados; os teores de substâncias húmicas foram baixos nos dois tipos de fertilizantes, no entanto o Bioexton se destaca por apresentar maiores teores de ácido fúlvico, indicativo de seu baixo grau de maturação; o parâmetro respiração também foi outro indicativo do baixo grau de maturação do Bioexton. Ao lado da avaliação da qualidade deste fertilizante, este trabalho também teve como objetivo sensibilizar e informar agricultores, quanto à importância de se considerar aspectos ambientais na produção agrícola sustentável. As atividades educativas junto aos agricultores foram realizadas em reuniões quinzenais através de palestras e da participação da comunidade, no período de maio de 2004 a fevereiro de 2005. Estas atividades, resultaram na maior integração do grupo, que participava e expunha suas experiências e anseios. Com as recomendações para o uso do fertilizante Bioexton, apresentadas na conclusão deste trabalho, vislumbra-se o melhoramento do ciclo de aproveitamento de resíduos, produção de fertilizante, enriquecimento de solos, produção e comercialização de alimentos; fatores fundamentais para o desenvolvimento da comunidade em questão. Palavras-chave: fertilizante orgânico, solos agrícolas, compostagem acelerada, compostagem tradicional, resíduos sólidos orgânicos, agricultores.
vii
ABSTRACT
This dissertation objective was to evaluate the quality of an organic fertilizer produced by the accelerated method (hereafter Bioexton) in an Organic Waste Processing Unity localized in Bahia North Coast - Brazil. The quality was evaluated comparatively with organic fertilizers produced by a traditional method (hereafter LAVIET). The analyzed parameters to test the quality were: chemical and physical characterization of the organic fertilizers as well as the soils fertilized with them; quantitative analysis of the humic substances of the organic fertilizers and the fertilized soils; biota respiration determination of the organic fertilizers, and the effects of fertilizer application on fresh and dry shoots. To determine the physical and chemical parameters methods described by EMBRAPA (1997, 1999), Perraud (1976), and Grisi (1995) were used; to determine the humic substances level the method described by Dias (2005) was used; to carry out biota respiration analysis the method described by Steubing (2002) was used, and to obtain the shoots biomass data a pot experiment was devised, applying 50 ton.ha-1 for each organic fertilizer used and the control. Where sorghum (Sorghum bicolor) was grown it was left for 30 days, coriander (Coriandrum sativum L.) for 40 days, and lettuce (Lactuca sativa) for 60 days, and with 5 replicates of each. After the stipulated period the weight of each was measured (fresh biomass), and each placed in an oven until the weight was constant (dry biomass). The statistical evaluation was made using the TWO WAY ANOVA, with a level of significance of 5% for the variables: fertilization and vegetal biomass. For the soil parameter, an ONE WAY ANOVA was used, with level of significance of 5%. For the biota respiration parameter the T test was used. It was found that the fertilizer LAVIET had the best answers related to the maturation degree (effects on plants, amount of humic substances and respiration); the fertilizer Bioexton caused fitotoxic effects, which were not observed in the LAVIET fertilizer. The fertilizer Bioexton had the greater increases for the degree of soil fertility. However the humic substances were found to be at low levels in both fertilizers, but the Bioexton presented greater amounts of fulvic acids, indicating its low maturation degree. The respiration parameter was also another low maturation degree indicative for the Bioexton. This work had, as a second objective, training and informing farmers about the importance of the environmental aspects of sustainable agriculture practices. The educational activities with the farmers were realized in assemblies, two times a month, from May 2004 to February 2005, with presentations and community participation. These activities brought about better group integration and this resulted in the exposition of their experiences and desires. Due to the recommendations for the use of the Bioexton fertilizer, presented in this work’s conclusion, it is supposed to improve the cycle of residues reprocessing, fertilizer production, soil enrichment, food production and commercialization; which are fundamental factors for the community development.
Keywords: organic fertilizers, agricultural soils, accelerated waste composting, traditional waste composting, organic solid residues, farmers.
viii
LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Interdependência entre os membros do processo 11 Figura 2 - Esquema do experimento 13
Figura 3 - Características físico-químicas do solo utilizado no
experimento em vasos 22 Figura 4 - Características físico-químicas do Fertilizante Bioexton e
do Fertilizante LAVIET 23 Figura 5 - Efeito dos fertilizantes nas características químicas
dos tratamentos. Parâmetro: Soma de Bases cmolc.kg-1 26
Figura 6 - Efeito dos fertilizantes nas características
químicas dos tratamentos. Parâmetro: cálcio cmolc.kg-1 27
Figura 7 - Efeito dos fertilizantes nas características químicas
dos tratamentos. Parâmetro: capacidade de troca de cátions
- CTC cmolc.kg-1 28
Figura 8 - Efeito dos fertilizantes nas características químicas
dos tratamentos. Parâmetro: níquel mg.kg-1 29
Figura 9 - Efeito dos fertilizantes nas características
químicas dos tratamentos. Parâmetro: chumbo mg.kg-1 30
Figura 10 - Efeito dos fertilizantes nas características
químicas dos tratamentos. Parâmetro: manganês mg.kg-1 31
Figura 11 - Efeito dos fertilizantes nas características
químicas dos tratamentos. Parâmetro: fósforo mg.kg-1 32
Figura 12 - Efeito dos fertilizantes nas características
químicas dos tratamentos. Parâmetro: relação C/N 33
Figura 13 - Efeito dos fertilizantes nas características
químicas dos tratamentos. Parâmetro: carbono g.kg-1 34
ix
Figura 14 - Efeito dos fertilizantes nas características
químicas dos tratamentos. Parâmetro: pH 35
Figura 15 - Efeito dos fertilizantes nas características
químicas dos tratamentos. Parâmetro: condutividade µS.cm-1 36
Figura 16 - Teor de substâncias húmicas - ácido fúlvico g.kg-1
dos tratamentos, da testemunha e dos fertilizantes 38 Figura 17 - Teor de substâncias húmicas - ácido húmico g.kg-1
dos tratamentos, da testemunha e dos fertilizantes 39 Figura 18 - Teor de substâncias húmicas - humina g.kg-1
dos tratamentos, da testemunha e dos fertilizantes 40 Figura 19 - Teor de matéria orgânica g.kg-1 dos tratamentos,
da testemunha e dos fertilizantes 41 Figura 20 - Respiração da biota dos fertilizantes orgânicos
(CO2 emanada em 24 horas / 100g do fertilizante) 43 Figura 21 - Efeito dos fertilizantes na biomassa fresca (g) do alface
(Lactuca sativa), coentro (Coriandrum sativum L.)
e sorgo (Sorghum bicolor) 44
Figura 22 - Efeito dos fertilizantes na biomassa seca (g) do alface
(Lactuca sativa), coentro (Coriandrum sativum L.)
e sorgo (Sorghum bicolor) 45
Figura 23 - Resposta do alface (Lactuca sativa) aos tratamentos
– da esquerda para a direita: Bioexton, LAVIET e
testemunha aos 60 dias 46
Figura 24 - Resposta do coentro (Coriandrum sativum L.) aos
tratamentos – Bioexton (esquerda abaixo), LAVIET
(direita) e testemunha (esquerda acima) aos 40 dias 47
x
Figura 25 - Resposta do sorgo (Sorghum bicolor) aos tratamentos
– da esquerda para a direita: Bioexton, LAVIET e
testemunha aos 30 dias 48
Figura 26 - Mapa da Região do Litoral Norte da Bahia - destacando
área de Influência do Complexo Costa do Sauípe 60
Figura 27 - Reunião com os agricultores e a equipe técnica do LAVIET 61
Figura 28 - Coleta de solo em área de agricultor 62
xi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
UPR Unidade de Processamento de Resíduos
Orgânicos
LAVIET Laboratório de Alternativas Viáveis a Impactos em
Ecossistemas Terrestres
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
CTC Capacidade de Troca de Cátions
SB Soma de Bases
V% Saturação por Bases
T1 Tratamento 1 Fertilizante Bioexton – 50 ton.ha-1
T2 Tratamento 2 Fertilizante LAVIET - 50 ton.ha-1
T3 Testemunha – 100% solo
Fertilizante Bioexton Fertilizante obtido de forma acelerada (72 horas
para maturação)
Fertilizante LAVIET Fertilizante obtido de forma tradicional (cerca de 90
dias para maturação)
xii
SUMÁRIO
1. Introdução 1 1.1. O Programa Berimbau e a Implantação de uma Unidade de
Processamento de Resíduos Orgânicos – UPR 1 1.2. Compostagem de resíduos orgânicos: o método LAVIET e o
método Bioexton 4 1.3. Importância da adubação orgânica e da qualidade do adubo 6
1.3.1. Maturação do fertilizante orgânico 7 1.3.2. Presença de agentes antropicamente indesejáveis (patógenos,
sementes invasoras, doenças e metais pesados) 8 1.4. A sensibilização ambiental dos agricultores 9
2. Objetivos 12
2.1. Objetivo geral 12 2.2. Objetivos específicos 12
3. Metodologia 12
3.1. Análises do solo e dos fertilizantes orgânicos 13 3.1.1. Análises do solo 13 3.1.2. Análises dos fertilizantes orgânicos e dos tratamentos 16
3.2. Quantificação das substâncias húmicas 17 3.3. Respiração da biota 18 3.4. Produção de biomassas aérea fresca e seca 19 3.5. Análises estatísticas 20
xiii
4. Resultados e discussão 22 4.1. Análises do solo e dos fertilizantes orgânicos 22
4.1.1 Análises do solo antes da implantação do experimento 22 4.1.2 Análises dos fertilizantes orgânicos e dos tratamentos 23
4.2. Quantificação das substâncias húmicas 37 4.3. Respiração da Biota 42 4.4. Produção de biomassas aérea fresca e seca 44
5. Conclusões 49
6. Referências 51 7. Anexos 58
Anexo 1. A sensibilização ambiental de pequenos agricultores da
região do Litoral Norte da Bahia para a importância do uso de
composto orgânico nos solos 58 Anexo 2. Resultados das análises de solo nas áreas de
agricultores da Coopevales 63 Anexo 3. Teores aceitos de metais pesados em mg.kg-1(cádmio,
cromo, níquel, chumbo, cobre e zinco) em fertilizantes
orgânicos de alta qualidade 65 Anexo 4. Teor de substâncias húmicas (Fração Ácidos Fúlvicos +
Fração Ácidos Húmicos + Fração Humina – AF + AH + HU)
comparativamente com o teor total de carbono orgânico 66 Anexo 5. Porcentagem de cada fração (Fração Ácidos Fúlvicos - AF,
Fração Ácidos Húmicos - AH e Fração Humina - HU) com
relação ao teor total de substâncias húmicas 67 Anexo 6. Classificação de composto de lixo urbano quanto as suas
características químicas 68
xiv
1. Introdução
Este trabalho visou avaliar a adição de fertilizante orgânico, produzido de
forma acelerada, a solos agrícolas como forma de trazer benefícios econômicos e
sociais sem prejuízos ao meio ambiente. O mesmo foi desenvolvido no contexto
do Programa Berimbau, programa criado para beneficiar as comunidades que
vivem no entorno do Complexo Hoteleiro Costa do Sauípe.
1.1. O Programa Berimbau e a Implantação de uma Unidade de
Processamento de Resíduos Orgânicos – UPR
O Programa Berimbau – Programa Social Sustentável de Costa do Sauípe,
lançado em 2003, foi criado através da união entre o empreendimento Hoteleiro
Costa do Sauípe, a Fundação Banco do Brasil e a Caixa de Previdência dos
Funcionários do Banco do Brasil, com o propósito de contribuir para a
transformação social das comunidades de Canoas, Areal, Curralinho, Diogo,
Estiva, Porto Sauípe, Vila Santo Antônio e Vila Sauípe, todas pertencentes aos
municípios de Mata de São João e Entre Rios (Litoral Norte da Bahia). Este
programa pretende colocar em prática inúmeras ações com o objetivo de
maximizar os recursos locais (humanos e naturais), ampliar a rede de produção e
negócios existentes de forma integrada e sustentável, encorajar e apoiar novos
empreendimentos e criar opções reais de geração de trabalho e renda
(PROGRAMA BERIMBAU, 2005). Para tanto, estas instituições contaram com
parcerias entre a própria comunidade e outras instituições como: Sebrae, Instituto
de Hospitalidade e Universidade Federal da Bahia.
Estas comunidades litorâneas sofreram, diretamente, as conseqüências da
implantação do Complexo Hoteleiro Costa do Sauípe. Naquela região até algumas
décadas atrás, predominava basicamente a agricultura de subsistência e
atividades extrativistas de produtos animais e vegetais. Já na década de 70 a
região foi incorporada à economia de larga escala no país, durante o chamado
“milagre brasileiro”. Foi nessa época que programas de reflorestamento de
1
grandes áreas foram implantados para a produção de celulose e carvão vegetal
(PROGRAMA BERIMBAU, 2005). Nos 20 anos seguintes se manteve na região
um turismo de pequena escala, devido a dificuldades de acesso e aos precários
serviços oferecidos. Entretanto, no início dos anos 90, esse quadro se alterou
grandemente. Uma atividade turística de grande porte emergiu como uma
alternativa econômica mais dinâmica. A região do Litoral Norte da Bahia sofreu
três intervenções governamentais: a formulação e implementação do Programa de
Ação Governamental para o Desenvolvimento Turístico do Nordeste
(PRODETUR), a criação da APA-LN (Área de Proteção Ambiental do Litoral Norte)
e a construção da Linha Verde (BA-099) ligando a Praia do Forte (em Mata de São
João) ao povoado de Mangue Seco (Município de Jandaíra, divisa com Sergipe)
(ANDRADE et al., 2003). Frente a estas iniciativas, muitos projetos turístico-
hoteleiros começaram a ser implantados.
O empreendimento hoteleiro Costa do Sauípe, concebido em 1993, e
previsto pela SUDETUR (agência executiva responsável pelo desembolso de
fundos do PRODETUR - BA), segue uma estratégia de promover o turismo de elite
em grande escala na região da Costa dos Coqueiros. O empreendimento
obedeceu a um modelo global de urbanização turística que implicou no uso
intensivo do solo e reprodução de padrões urbanísticos estranhos ao local. Os
benefícios trazidos por este empreendimento para a população local só foram
observados durante a época de sua construção, atraindo mão de obra de toda a
região e gerando grande expectativa na população quanto à geração de
oportunidades de trabalho e renda. Após este período, o que se observou foi a
pouca aptidão da mão de obra local para o trabalho nos hotéis, grande parte
analfabeta (29% entre os adultos). A atração de pessoas durante a construção
resultou em um aumento de 37% no número de famílias na região, agravando
situações de risco já existentes e aumentando seus impactos, como: escasso
serviço de saneamento básico, coleta de lixo pouco eficiente, sistemas de
atendimento telefônico e elétrico precários (PROGRAMA BERIMBAU, 2005).
Além destes aspectos, a população da região, que vivia basicamente do trabalho
autônomo, relacionado ao uso, beneficiamento e/ou comercialização direta dos
2
recursos naturais: produção de coco, coleta de frutas, pesca, mariscagem e
artesanato, agora se via frente a um novo quadro, onde suas principais fontes de
sobrevivência sofriam grandes restrições ao acesso. Pôde-se observar um maior
controle de terras e fechamento de áreas, que anteriormente, embora fossem
áreas particulares, não chegavam a causar nenhum tipo de conflito maior, já que a
população local tinha acesso ao uso comum daquela região (ANDRADE et al,
2003).
Dentro deste contexto surge o Programa Berimbau, que se baseia em uma
perspectiva, a curto prazo, de se mobilizar meios necessários que repercutissem
em atividades e projetos propulsores de geração de trabalho, renda e melhoria da
qualidade de vida dos trabalhadores e famílias das comunidades da área de
influência do complexo hoteleiro. Exemplos de ações do Programa Berimbau são:
a) Implantação de uma usina de beneficiamento de resíduos orgânicos
denominada Unidade de Processamento de Resíduos Orgânicos – UPR
através da cooperativa Verdecoop;
b) Organização de agricultores da região em uma cooperativa (Coopevales);
c) Utilização do adubo produzido pela usina em áreas agrícolas e
comercialização de seus produtos junto ao complexo hoteleiro.
Tem sido com o método Bioexton de produzir fertilizante, que a
UPR/Verdecoop vem funcionando desde 11 de março de 2005. A Verdecoop é
uma cooperativa formada por moradores de localidades próximas ao
Empreendimento Hoteleiro de Costa do Sauipe. Está localizada no município de
Entre Rios, nas proximidades do aterro municipal, cujas coordenadas são: Latitude
S 12° 21’39,8” e Longitude W 37° 55’39,2”.
O apoio aos agricultores (Coopevales) visa incentivar o incremento da
agricultura familiar, reduzindo a dependência das populações em relação ao
mercado de trabalho turístico. É nesse contexto que aflora a necessidade e a
importância da produção do fertilizante orgânico. A Unidade de Processamento de
Resíduos Sólidos (UPR) com a demanda de coleta seletiva do lixo dos hotéis; da
participação da comunidade local na sua administração em regime de cooperativa
(a VERDECOOP); do pleno funcionamento da cooperativa de agricultores (a
3
COOPEVALES) e da produção de fertilizante orgânico de qualidade, se
caracteriza como um sistema integrado de rede, onde os diversos atores possuem
um papel fundamental para o funcionamento pleno do todo. A comunidade local, o
Complexo Hoteleiro e a UFBA - Universidade Federal da Bahia, através do
LAVIET – Laboratório de Alternativas Viáveis a Impactos em Ecossistemas
Terrestres do Instituto de Biologia, se constituem em um organismo que objetiva a
produção do fertilizante orgânico de qualidade, o beneficiamento de solos
agrícolas com a esperada produção de hortaliças e frutas, a comercialização da
produção e a conseqüente melhoria da qualidade de vida dos agricultores.
Este trabalho documenta os resultados da atuação da UFBA, através do
LAVIET e por extensão, do POSGEMA (Programa de Pós Graduação em
Geoquímica e Meio Ambiente) na avaliação da qualidade do adubo produzido pela
UPR.
1.2. Compostagem de resíduos orgânicos: o método LAVIET e o método
Bioexton
Resíduos sólidos urbanos, quando depositados de forma desordenada,
podem trazer sérios riscos ao homem e ao meio ambiente, tais como: formação de
ácidos orgânicos, chorume e gases tóxicos, poluição do solo, do ar e das águas,
proliferação de vetores e veiculação de microorganismos patogênicos (PEREIRA
NETO, 1998). A melhor forma de tratar os resíduos orgânicos, que compõem até
cerca de 65% do total dos resíduos sólidos urbanos produzidos (PEREIRA NETO,
1998), é transformá-los em fertilizante orgânico.
Conforme a legislação brasileira, a transformação de resíduos orgânicos em
composto recebe a denominação final de fertilizantes orgânicos. Berton (1996,
apud TEDESCO et al., 1990), define compostagem como sendo um método
controlado de decomposição biológica de materiais orgânicos, devido à ação de
uma população mista de microorganismos, que transforma os resíduos orgânicos
em um produto estável e com características diferentes do material que lhe deu
origem. Kiehl (1998) afirma que, durante o processo, este material passa pelas
4
seguintes fases: uma inicial e rápida de fitotoxicidade ou de composto cru ou
imaturo, seguida da fase de semicura ou bioestabilização, para atingir finalmente a
terceira fase, a humificação, acompanhada da mineralização de determinados
componentes da matéria orgânica. Após cerca de 90 dias, tem-se como resultado
um fertilizante orgânico passível de ser utilizado em solos agrícolas, de parques e
jardins, na recuperação de áreas degradadas e na produção de mudas. O
fertilizante fornece sais minerais essenciais para o suprimento de nutrientes às
plantas e funciona como um condicionador e melhorador de propriedades físicas e
biológicas do solo (KIEHL, 1998).
Outra técnica de produção de composto (denominada neste trabalho como
método Bioexton), que vem sendo disseminada em todo o país, é a de aceleração
do processo de compostagem com a utilização de biocatalizadores. Este método
não só diminui o espaço necessário à maturação do fertilizante como reduz
sensivelmente seu tempo de maturação para 72 horas. A maior limitação para o
processo consiste no alto custo de implantação da usina, um investimento que
propõe ter retorno ao se iniciar a comercialização do fertilizante, que é produzido
em grande escala.
A tecnologia Bioexton transforma resíduos coletados das cozinhas dos
restaurantes do complexo hoteleiro em Biofertilizante Organofértil e Organomineral
em 72 horas, com uso de biocatalizador específico, obtido por processo único e
exclusivo com patente requerida (BIOEXTON, 2005). O biocatalizador é obtido
através da cultura de algumas linhagens de bactérias e fungos micorrízicos. Em
síntese o processo consiste na trituração do resíduo, que recebe minerais de
baixa solubilidade (fosfato natural, calcário) para potencializar a ação dos
biocatalizadores. Em seguida, o líquido contendo o biocatalizador é aspergido
sobre o resíduo, que segue para uma baia para maturação. Depois de 72 horas
tem-se o primeiro fertilizante do processo de biodegradação acelerada, chamado
organofértil1. Após a obtenção do organofértil, o material entra na segunda fase do
processo, passando por uma nova trituração, adição de fontes de alta solubilidade
1 Material que foi pesquisado neste estudo, por se tratar de um fertilizante passível de ser utilizado na agricultura orgânica, por não conter a adição de fontes de alta solubilidade de minerais.
5
de nitrogênio, fósforo e potássio, seguindo para nova aspersão de
biocatalizadores peletizantes que vão formar agregados de matéria orgânica,
chegando a um produto denominado organomineral2. Este organomineral, de alto
valor agregado, tem seu uso direcionado à agricultura convencional como fonte de
matéria orgânica ao solo, combinada com a fonte mineral.
1.3. Importância da adubação orgânica e da qualidade do adubo Nos moldes da produção agrícola convencional, o manejo do solo consiste
na retirada de restos de culturas, que não retornam à área de plantio, além dos
freqüentes revolvimentos que o solo sofre, acelerando ainda mais o processo de
degradação do material orgânico existente no mesmo. Este manejo tem como
conseqüência o rápido empobrecimento do solo, não apenas com relação aos
minerais do solo, que são absorvidos pelas plantas, mas também com relação à
matéria orgânica deste solo que se oxida e não retorna mais ao sistema.
A matéria orgânica dos solos é de fundamental importância. Ela
desempenha o papel de: fornecedora de nutrientes às plantas; retentora de
cátions; agente complexante de elementos tóxicos e de micronutrientes;
estabilizadora da estrutura do solo; agindo na infiltração e retenção de água;
contribuindo para uma melhor aeração, atividade e biomassa microbianas. Assim,
a matéria orgânica é um importante fator para aumentar a capacidade produtiva
de solos agrícolas (SANTOS, 1999). Estes fatores, de acordo com Souza (2005),
se tornam ainda mais expressivos em solos com baixa fertilidade e de textura
grosseira (textura média ou arenosa), como se observa nos solos da região do
Litoral Norte da Bahia3.
É importante observar que para se obter efeitos benéficos, quando se
adiciona matéria orgânica ao solo, sem nenhum prejuízo, é necessário que a
mesma esteja devidamente estabilizada (maturada) e esteja livre de agentes
indesejáveis (elementos químicos tóxicos, sementes daninhas, patógenos, etc). 2 Produto que não foi utilizado no estudo em questão. 3 Resultados de análises feitas nos solos das propriedades dos agricultores da Coopevales se encontram no Anexo 3.
6
1.3.1. Maturação do fertilizante orgânico
Kiehl (1998) apresenta métodos que informam sobre o grau de maturação
dos fertilizantes. A utilização de plantas sensíveis em testes biológicos informa
sobre o potencial fitotóxico do fertilizante. A fitotoxidade é uma indicação de que o
fertilizante não se encontra suficientemente curado ou que contém substâncias
tóxicas. As plantas respondem alterando seu padrão de desenvolvimento. Ainda
segundo Kiehl (1998), a condutividade elétrica também é um indicador do grau de
maturação do fertilizante (não devendo ultrapassar 4000 µs.m-1). Durante o
processo de maturação do fertilizante, a fração mineral total aumenta, enquanto a
condutividade elétrica (presença de sais) diminui. Assim, da fase inicial até a
metade do processo de maturação, a condutividade pode cair em 50%.
Além destes indicadores, a maturação do adubo está diretamente
relacionada com a proporção de substâncias húmicas (frações: ácidos fúlvicos,
ácidos húmicos e humina). Demétrio (1988) afirma que a matéria orgânica se
divide em dois tipos de substâncias, as húmicas e as não húmicas. As substâncias
não húmicas incluem aquelas com características físicas e químicas ainda
reconhecíveis, tais como: carboidratos, proteínas, peptídeos, aminoácidos, óleos,
ceras, as quais são prontamente atacadas pelos microorganismos. Sendo que a
principal fração da matéria orgânica consiste das substâncias húmicas. Durante o
processo de maturação a matéria orgânica se complexa e estas substâncias
húmicas vão sendo sintetizadas. Desta forma, as substâncias húmicas são o
estádio final da evolução dos compostos de carbono (STEVENSON, 1994). A
maturação incompleta do material orgânico pode resultar em quantidades
desproporcionais das frações de baixo peso molecular, a fração de ácidos fúlvicos.
No início do processo de maturação, a fração de ácidos fúlvicos é elevada, por ser
a primeira a ser sintetizada (TOMATI et al., 2002). A quantificação das frações é
um indicador do grau de maturação do composto e por isso da sua qualidade. As
substâncias húmicas informam sobre os processos que regulam ou determinam os
benefícios que o fertilizante promoverá no solo e nas plantas (DIAS, 2005).
Fertilizantes orgânicos mal curados (não amadurecidos suficientemente)
7
interferem no crescimento das plantas, devido a grande atividade microbiana que
o mesmo promoverá no solo, podendo induzir a inúmeras deficiências minerais, já
que estes estarão sendo processados pelos microorganismos, fenômeno
conhecido por imobilização.
Um outro indicador do grau de maturação importante é a respiração da
biota. Ela mostra o grau de atividade microbiana do fertilizante orgânico, sendo
maior na fase mais ativa e se reduz consideravelmente na fase final de
humificação (KIEHL, 1998). Esta variável é uma das mais antigas utilizadas para
se quantificar a atividade microbiana, sendo estes organismos os responsáveis
pela degradação de compostos orgânicos (ESPÍRITO SANTO, 2004). A
respiração da biota da amostra representa a oxidação de compostos orgânicos
presentes na mesma, ou seja, a conversão de moléculas orgânicas para formas
inorgânicas ou minerais, através da decomposição microbiana. No caso do
carbono, a mineralização se traduz pela liberação de carbono da matéria orgânica
morta na forma de CO2 (STEUBING, 2002).
1.3.2. Presença de agentes antropicamente indesejáveis (patógenos,
sementes invasoras, doenças e metais pesados)
Agentes antropicamente indesejáveis são, principalmente: sementes de
plantas invasoras, pragas, patógenos e metais pesados que interferem na
produção agrícola. Estes agentes podem ser eliminados no início do processo de
compostagem através de cuidados específicos a cada um deles.
Com relação aos patógenos, sementes e doenças, estes podem ser
eliminados através do processo completo da compostagem (KIEHL,1998).
Segundo Guedes (2002), ao se ter uma matéria prima de qualidade (selecionada)
e uma decomposição controlada e uniforme, pode-se obter um produto final de
qualidade, ou seja, livre destes agentes indesejáveis. Se o processo de
compostagem não consegue eliminar os patógenos mais resistentes à
temperatura, Kiehl (1998) afirma que “ao se incorporar o fertilizante orgânico ao
8
solo, estes patógenos serão digeridos pela competição com os microrganismos
selvagens, nativos, existentes no solo[...]”.
Já para os metais pesados, a restrição se dá principalmente quando estes
elementos se encontram acima dos limites considerados aceitáveis. Monteiro
(2001), afirma que a concentração de metais pesados na maioria dos fertilizantes
orgânicos produzidos no Brasil, estão abaixo dos valores limites estabelecidos
pelas normas da EPA (Agência de Proteção Ambiental Americana) e da União
Européia, ressaltando que o Brasil ainda não conta com norma técnica própria que
estabeleça limites para os metais pesados nestes fertilizantes. A seleção prévia
dos resíduos orgânicos evita a contaminação por metais pesados. O
monitoramento periódico da qualidade destes fertilizantes é imprescindível,
especialmente quando sua utilização final se der em solos destinados ao cultivo
de alimentos (QUEIROZ et al., 2000). Como dificilmente se consegue uma seleção
totalmente eficiente do resíduo na fonte produtora, Lima et al. (1995) recomenda
que além de se monitorar o fertilizante, deve-se fazer a periódica coleta e análise
dos solos que receberão o mesmo.
Se todos estes fatores de qualidade estiverem sendo devidamente
observados, o uso do fertilizante estará sendo feito adequadamente, ou seja,
beneficiando os solos com material orgânico e mineral, evitando qualquer risco de
prejuízo ao agricultor, que não terá problemas de contaminação ambiental.
1.4. A sensibilização ambiental dos agricultores
A sensibilização ambiental leva ao despertar do papel e da importância de
cada pessoa no processo de construção de um novo olhar para a natureza. Este
novo olhar deve compreender a valorização da cooperação, da preservação e da
parceria ressaltando a interdependência de todos os componentes do processo
(Figura 1). Segundo Lima, (2004) “...para que um sistema de desenvolvimento
seja sustentável, é notória a importância da participação comunitária no
diagnóstico, planejamento e execução do mesmo. Os métodos participativos são
instrumentos bastante eficazes em benefício deste processo”. Especificamente
9
para o pequeno agricultor, o desenvolvimento sustentável deve passar pela
consciência ambiental da conservação da água e do solo, da busca de alternativas
aos sistemas convencionais de agricultura.
A configuração cíclica observada entre produção, consumo, geração de
resíduos e o seu reaproveitamento, onde o resíduo pode ser transformado em
adubo e este gerar benefícios, é a mesma observada nas comunidades de
organismos que usam e reciclam continuamente as mesmas moléculas de
minerais, de água e de ar. A ciclagem da matéria na natureza é a essência da
alfabetização ecológica:
A natureza cíclica dos processos ecológicos é um importante princípio
da ecologia. Os laços de realimentação dos ecossistemas são as vias ao
longo das quais os nutrientes são continuamente reciclados. Sendo
sistemas abertos, todos os organismos de um ecossistema produzem
resíduos, mas o que é resíduo para uma espécie é alimento para outra,
de modo que o ecossistema como um todo permanece livre de resíduos.
(CAPRA, 2004, p. 232).
Os princípios ecológicos, que norteiam nossa interpretação sobre a
estrutura e funcionamento dos sistemas naturais devem ser os mesmos, que
devidamente transferidos para a esfera humana assegurariam um
desenvolvimento harmonioso e sustentável, ou seja, deixando de herança às
gerações vindouras tantas oportunidades quanto aquelas que herdamos (CAPRA,
2003).
Devido ao fato desta dissertação enfocar a avaliação da qualidade de um
fertilizante orgânico produzido de forma acelerada, estivemos envolvidos em
atividades de sensibilização e formação dos recursos humanos vinculados à
VERDECOOP e especialmente à COOPEVALES. Estas atividades encontram-se
descritas no Anexo 1 deste trabalho.
10
COOPEVALES VERDECOOP
PRODUTOS AGRÍCOLAS
UFBA
LAVIET
FERTILIZANTE ORGÂNICO
COMPLEXO HOTELEIRO
RESÍDUO SÓLIDO
ORGÂNICO
Figura 1: Interdependência entre os membros do processo.
11
2. Objetivos
2.1. Objetivo geral O trabalho teve como objetivo geral, avaliar a qualidade e o grau de
maturação de dois fertilizantes orgânicos obtidos por métodos de compostagem
diferenciados.
2.2. Objetivos específicos
- Determinar a concentração dos elementos químicos C, Na, K, P,
Mn, Fe, Cu, Zn, Ca, Mg, Al, H, N, Pb, Cd, Ni, Cr e ainda pH,
condutividade, granulometria e capacidade de retenção de água
dos fertilizantes e dos solos adubados com os mesmos;
- Determinar o teor de substâncias húmicas dos fertilizantes e dos
solos adubados;
- Determinar a respiração basal dos fertilizantes;
- Determinar o efeito da aplicação dos fertilizantes orgânicos na
produção de biomassa vegetal fresca e seca e do sorgo (Sorghum
bicolor), do coentro (Coriandrum sativum L.) e do alface (Lactuca
sativa).
3. Metodologia
Para se testar a qualidade e maturidade dos fertilizantes orgânicos obtidos,
foram realizadas as seguintes etapas:
i) caracterização física e química dos fertilizantes e dos solos adubados
com os mesmos;
ii) determinação do teor de substâncias húmicas dos fertilizantes e dos
solos adubados com os mesmos;
iii) mensuração da respiração da biota apresentada pelos fertilizantes;
iv) implantação de experimento em vasos, onde foram testados os efeitos
dos fertilizantes na produção de biomassa vegetal fresca e seca de três espécies.
12
Segue-se abaixo o esquema do experimento:
Caracterização
Solo Antes e depois do experimento
Fertilizantes
Parâmetros: - Caracterização físico-química dos
fertilizantes e dos solos adubados;
- Teor de substâncias húmicas dos
fertilizantes e dos solos adubados;
- Respiração da biota dos fertilizantes.
Implantação do experimento
- Tratamento 1 Fertilizante Bioexton – T1 (50ton.ha-1); - Tratamento 2 Fertilizante LAVIET – T2 (50ton.ha-1); - Testemunha – T3 (100% solo).
Etapa 2
Plantas testes: Sorgo (Sorghum bicolor); Coentro (Coriandrum sativum L.); Alface (Lactuca sativa).
Etapa 1
Parâmetros: Biomassa fresca; Biomassa seca.
Figura 2: Esquema do experimento.
3.1. Análises do solo e dos fertilizantes orgânicos
3.1.1 Análises do solo
O solo usado no experimento foi coletado até a profundidade de 20 cm, nas
proximidades da UPR, local já especificado no item 1.1 . Foi classificado como um
Argissolo Vermelho-Amarelo (EMBRAPA, 1999). As amostras foram
acondicionadas em sacos plásticos, identificadas e encaminhadas ao LAVIET,
onde foram secas ao ar em casa de vegetação, peneiradas em malha de 2mm
13
para obtenção de terra fina seca ao ar (TFSA) para análises físicas e químicas. A
determinação de micronutrientes foi feita em laboratórios da EBDA – Empresa
Baiana de Desenvolvimento Agrícola. Este procedimento foi realizado antes e
após a adição dos fertilizantes.
As análises químicas e física compreenderam:
pH do solo: o pH foi analisado através do método descrito pela Embrapa (1997),
onde se mediu a concentração efetiva em água de íons H+ na solução do solo, foi
determinado em suspensão 1:2,5 de solo:água. Foram colocados 10g de solo em
um béquer e em seguida adicionados 25ml de água deionizada. A amostra foi
agitada por 5 minutos e mantida em repouso por 1 hora. A leitura foi realizada com
potenciômetro WTW, modelo 525 pH METER, com eletrodo combinado de vidro
(Analysee 2A13-HI);
Nitrogênio total: foi obtido pelo método Kjeldahl, descrito por Dabin (1965)
adaptado por Perraud (1976). Cujo princípio consiste em transformar o nitrogênio
dos compostos orgânicos em sulfato de amônio, por um ataque oxidante com
ácido sulfúrico e em presença de catalisador (mistura de sulfatos de potássio,
cobre e selênio). O sulfato de amônio assim obtido foi em seguida deslocado por
destilação em presença de hidróxido de sódio (10 M), recolhido em solução de
ácido bórico (4%) e dosado por acimetria com HCl 0,01 M em presença de
indicador mixto (verde de bromocresol e vermelho de metila);
Carbono e matéria orgânica: o carbono e a matéria orgânica foram
determinados por via úmida com solução sulfocrômica e a dosagem por volumetria
de oxiredução com sulfato ferroso amoniacal como titrante e difenilamina sulfonato
de bário como indicador, utilizando-se o fator 1,724 para converter carbono em
matéria orgânica (PERRAUD, 1976);
14
Sódio e potássio trocáveis, fósforo e os micronutrientes disponíveis (manganês, ferro, cobre e zinco): foram extraídos em mistura 5:50 de solo:HCl
0,05 M e H2SO4 0,0125 M (extrator de Mehlich I). O emprego desta solução
extratora baseia-se na solubilização desses elementos pelo efeito de pH, entre 2 e
3, sendo o papel do Cl− o de restringir o processo de readsorção dos fosfatos
recém-extraídos. O sódio e o potássio foram diretamente determinados por
fotometria de chama (Micronal B 462). O fósforo extraído foi determinado por
espectrofotometria de absorção molecular (Metertek SP – 462), através da leitura
da intensidade da cor do complexo fosfomolibídico, produzido pela redução do
molibdato com o ácido ascórbico a 660nm (comprimento de onda). Os
micronutrientes foram dosados por espectofotometria de absorção atômica (Varian
A – 2000) (EMBRAPA, 1997);
Cálcio, magnésio e alumínio trocáveis: foram extraídos com 50 mL de KCl N 1
M, em conjunto com o alumínio trocável (Al), na proporção 1:10 (solo/solução). O
alumínio foi dosado titulando-se com NaOH 0,01 M, na presença de azul de
bromotimol como indicador e dosado por volumetria. Em outra fração do extrato,
foram titulados o cálcio e o magnésio por complexometria com EDTA 0,01 N,
usando-se como indicador o negro de eriocromo-T e dosados por volumetria de
complexação. Numa terceira alíquota, foi feita a determinação de cálcio (Ca) por
complexometria com EDTA e ácido calconcarbônico como indicador e dosados
por volumetria. O magnésio foi obtido por diferença entre as titulações de Ca+Mg
e Ca (EMBRAPA, 1997);
Hidrogênio e alumínio - acidez potencial: foi obtida utilizando-se uma solução
extratora de acetato de cálcio, dosando-se as amostras através da titulação com
hidróxido de sódio 0,025 M, em presença de fenolftaleína 0,5% em álcool etílico
(EMBRAPA, 1997);
Capacidade de troca de cátions - CTC, soma das bases - SB e saturação por bases – V%: a CTC foi obtida através do somatório dos cátions de cálcio,
15
magnésio, sódio, potássio, hidrogênio e alumínio; a SB foi obtida através da soma
dos cátions cálcio, magnésio, sódio e potássio, e o V% foi determinado através da
multiplicação da SB por 100 e dividido pela CTC (EMBRAPA, 1997);
Granulometria: a dosagem das frações areia, silte e argila do solo foi realizada
após dispersão com NaOH (40g.L-1) e hexametafosfato de sódio (36 g.L-1). A
fração areia foi separada por tamisação, após secagem em estufa e pesagem
para obtenção do seu percentual na amostra. A fração argila foi obtida pelo
método da pipeta de Robinson, onde uma alíquota da solução foi pipetada após
tempo determinado (segundo lei de Stockes), levada para a estufa e pesada. O
silte foi obtido por diferença entre as outras frações (areia e argila) em relação à
amostra original (EMBRAPA,1997).
3.1.2. Análises dos fertilizantes orgânicos e dos tratamentos
Os fertilizantes empregados neste trabalho compreenderam: i) fertilizante
organomineral Bioexton, produzido em 72 horas na UPR/VERDECOOP, obtido a
partir de resíduos orgânicos coletados no Complexo Hoteleiro Costa do Sauípe e
com adição de biocatalizadores ii) fertilizante LAVIET, produzido em 90 dias a
partir de resíduos orgânicos coletados na CEASA de Simões Filho, na Usina
Experimental de Compostagem, no Campus de Ondina da UFBA. Estes
fertilizantes foram coletados após os respectivos períodos de maturação e
encaminhados para análise e adubação.
As amostras dos fertilizantes sofreram o mesmo procedimento de abertura
que as amostras de solo e tiveram os mesmos parâmetros determinados. Além
deste parâmetros, analisou-se nos fertilizantes os teores de metais pesados
(chumbo, cádmio, níquel e cromo), condutividade, capacidade de retenção de
água e quantificação de substâncias húmicas, antes da implantação do
experimento. O solo após corte das plantas (seção 3.4) foi coletado e sofreu as
mesmas análises que os fertilizantes.
16
As análises químicas e física compreenderam:
Metais pesados: foram extraídos em mistura 5:50 de solo:HCl 0,05 M e H2SO4
0,0125 M (extrator de Mehlich I). O emprego desta solução extratora baseia-se na
solubilização desses elementos pelo efeito de pH, entre 2 e 3, sendo o papel do
Cl− o de restringir o processo de readsorção dos fosfatos recém-extraídos. Após
serem extraídos com Melich I, estes metais foram dosados por espectofotometria
de absorção atômica (Varian A – 2000), segundo metodologia descrita em
Embrapa (1997);
Condutividade elétrica: obtida a partir da diluição de 20 g de solo em 50 mL de
água deionizada recentemente fervida e esfriada. Após uma hora de repouso, a
mistura foi filtrada à vácuo e a leitura realizada sobre o extrato aquoso com auxílio
de um condutivímetro – GLM 020 – (EMBRAPA, 1997);
Capacidade de retenção de água - CRA: utilizou-se um cadinho de Gooch
(diâmetro aproximado de poros 1mm), previamente seco em estufa a 105°C e
pesado em balança analítica (P1). O mesmo foi mergulhado em água para saturar
a porcelana por 2 horas, retirado da água, pesado (P2) e mais uma vez seco em
estufa a 105°C. Após estufa, em cada cadinho foi pesado 25 g do composto. O
cadinho com composto foi colocado por duas horas imerso em água e depois
retirado e pesado (P3). Posteriormente ele foi novamente levado à estufa por no
mínimo 6 horas, retirado e pesado (P4). O valor da CRA em g.Kg-1 foi calculado
pela fórmula (P3 – P2) – (P4 – P1) x 40 (GRISI, 1995).
3.2. Quantificação das substâncias húmicas
Foi utilizado o método de extração e fracionamento quantitativo de
substâncias húmicas descrito por Benites et al. (2003) e adaptado por Dias (2005).
A extração das substâncias húmicas foi feita utilizando-se solução de NaOH 0,1
mol. L−1 na relação solo:extrator de 1:10 p/v, utilizando-se, para isso, 1,0 g de solo
17
ou 0,25g dos adubos e 10,0 mL da solução extratora. A extração foi realizada
durante 24 h. A separação da fração solúvel em álcali (fração ácido húmico +
fração ácido fúlvico), denominada extrato alcalino (EA) do resíduo (humina-HU),
foi feita por centrifugação a 10.000 rpm por 15 minutos, seguida de duas lavagens
do resíduo com a mesma solução, adicionando-se os extratos aos materiais
anteriormente reservados. O resíduo foi reservado para a determinação do
carbono na forma de humina (C-HU). Em sequência, o extrator alcalino teve o pH
ajustado para 1,5 ± 0,5 com H2SO4 a 20%, permanecendo em repouso por 18 h
até a decantação do precipitado formado. O precipitado denominado de fração
ácido húmico (FAH) foi separado da fração solúvel, chamada de fração ácido
fúlvico (FAF) por filtração, utilizando-se sistema asséptico de Policarbonato,
Sartorius, com sistema de filtragem de 47 mm de diâmetro e filtro de 0,45µm. A
FAH foi rediluída em solução de NaOH 0,1 mol L-1 e teve o volume completado
para 50 mL; o volume da FAF foi ajustado para 50 mL, utilizando água destilada.
Na determinação do C orgânico nas frações HU, FAH e FAF, seguiu-se o princípio
analítico de oxidação a quente com dicromato de potássio e titulação do dicromato
remanescente com sulfato ferroso amoniacal, utilizando como indicador
difenilamina sulfonato de bário. Foram calculadas as relações entre as frações
ácido húmico e ácido fúlvico (FAH:FAF) e as relações entre as frações solúveis
em extrato alcalino (fração ácido húmico + fração ácido fúlvico) e o resíduo
(humina).
3.3. Respiração da biota
Esta análise foi realizada segundo o método descrito por Steubing (2002).
De cada amostra dos fertilizantes, foram retiradas três sub-amostras de 1g
(Bioexton - UPR) e 5g (LAVIET) dos fertilizantes secos para se determinar a
respiração basal. Em função do alto consumo de CO2 que a amostra do fertilizante
Bioexton apresentou foi necessário pesar uma sub-amostra menor, entretanto a
fórmula padroniza a resposta em mg de C-CO2.g-1 da amostra seca.24 horas-1. A
estas amostras adicionou-se água destilada na proporção adequada para se obter
18
amostras com 80 % da capacidade de campo. Estas amostras foram colocadas
em copos de polietileno de capacidade de 60 mL e mantidas suspensas no interior
de recipientes de vidro (500 mL), contendo 25 mL de água de barita – (7,17 g
Ba(OH)2 . 8H2O + 1 g BaCl2). L-1, solução capaz de absorver o CO2 emanado da
amostra. Os recipientes foram hermeticamente fechados e mantidos por 24 horas
à temperatura ambiente. Após período de incubação, as amostras foram retiradas
e adicionou-se à solução de água de barita, contendo o hidróxido de bário que não
reagiu com o CO2, três gotas de fenolftaleína que sofreu titulação com HCL. O
cálculo usado para determinar a respiração basal de 100 g da amostra seca foi:
CO2 (mg.24h) = (a-b). 2,2 . 10/p.t
Onde:
a = volume de HCL gasto no controle (recipiente com água de barita sem amostra)
b = volume do HCL gasto nas amostras
p = peso das amostras
t = tempo de incubação
Os resultados foram expressos em mg de C-CO2.g-1 da amostra seca.24 horas-1
3.4. Produção de biomassas aérea fresca e seca
Este experimento foi conduzido na Usina Experimental de Compostagem –
UEC do Instituto de Biologia da UFBA. Foram utilizados os dois tipos de fertilizante
que foram adicionados ao solo em estudo.
Foram adicionadas às amostras de solo o equivalente a 50 ton.ha-1 dos
fertilizantes, conforme quantidade recomendada por Ribeiro et al. (1999) para
solos pobres em matéria orgânica destinado ao cultivo de hortaliças (ver
caracterização completa do solo de agricultores da Coopevales no anexo 2). E a
testemunha, contendo 100% de solo, foi adicionado para fins de comparação.
As unidades experimentais foram constituídas de vasos rígidos de
polietileno contendo 5 dm3 de solo, incluindo os 2 fertilizantes orgânicos. Foram
19
feitas 5 réplicas para cada tratamento. Após o estabelecimento dos tratamentos o
material foi incubado por 5 dias com umidade em torno de 80% da capacidade de
campo. A rega dos vasos foi realizada com água deionizada a cada 3 dias devido
a alta umidade relativa do ar apresentada na época de implantação do
experimento (período chuvoso).
As plantas teste foram: sorgo (Sorghum bicolor), coentro (Coriandrum
sativum L.) e alface (Lactuca sativa) que após germinação sofreram desbaste
deixando-se 5 plantas por vaso para o sorgo e para o coentro e 1 planta por vaso
para o alface. O sorgo foi utilizado como planta teste, devido ao seu rápido
crescimento e boa produção de biomassa (SOUZA, 2001), as demais plantas,
alface e coentro, foram utilizadas por se tratarem de hortaliças que serão
cultivadas pelos agricultores da Coopevales. O sorgo foi cultivado por 30 dias
(10/05/05 a 10/06/05), o coentro foi cultivado por 40 dias (10/05/05 a 20/05/05) e o
alface foi cultivado por 60 dias (10/05/05 a 10/07/05). Após o período de cultivo, os
vegetais foram cortados na base do caule e pesados, em balança analítica A & D
HR 200 – EC, para a obtenção da biomassa aérea fresca, segundo metodologia
descrita por Steubing (2002). Para a obtenção da biomassa aérea seca as plantas
foram acondicionadas em papel pardo, devidamente identificadas e levadas à
estufa a 65° C até peso constante. Transcorridos 6 dias de secagem foi
determinado o peso seco.
3.5. Análises estatísticas
Para as análises de solo e fertilizante, foi utilizada uma ANOVA
Classificação Única (ONE WAY), com nível de significância de 5%. Para o
parâmetro respiração basal, foi utilizado o teste T paramétrico com correção de
Welch. As análises com o tecido vegetal foram feitas utilizando-se uma ANOVA
Classificação Dupla (TWO WAY), com nível de significância de 5%, sendo que as
variáveis foram: adubação e espécie vegetal. As análises foram descritas por Zar
(1999).
20
Os gráficos obtidos plotam os valores dos tratamentos, separadamente,
tendo levado em consideração: tipo de adubação, espécie vegetal, fatores de
fertilidade e respiração da biota.
21
4. Resultados e discussão
4.1. Análises do solo e dos fertilizantes orgânicos
4.1.1 Análises do solo antes da implantação do experimento
A Figura 3, apresenta as características físico-químicas do solo utilizado no
experimento em vasos.
Figura 3 – Características físico-químicas do solo utilizado no experimento em vasos
PARÂMETROS SOLO
pH (em H2O) 5,1
Carbono (g/Kg) 11,2
Matéria Orgânica (g/Kg) 19,3
Fósforo (mg/Kg) <1
Cálcio (cmolc/Kg) 1,0
Magnésio (cmolc/Kg) 0,15
Potássio (cmolc/Kg) 0,04
Sódio (cmolc/Kg) 0,05
Alumínio (cmolc/Kg) 0,15
Al + H (cmolc/Kg) 4,1
Soma de bases (cmolc/Kg) 1,24
CTC (cmol/Kg) 5,34
V% 23
GRANULOMETRIA
AMOSTRA Argila
(%)
Silte
(%)
Areia
(%)
Total (%)
Solo 11 3 86 100
22
Os resultados encontrados refletem bem as condições gerais dos solos da
região do Litoral Norte da Bahia (ver anexo 2), ou seja, solos bastante arenosos
com o teor de silte somado ao de argila inferior a 15%; saturação por bases
inferior a 50%, típica de solos pouco férteis; baixo teor de matéria orgânica, típica
de solos arenosos; teor de fósforo muito baixo, menor que 10 mg.kg-1(TOMÉ JR.,
1997). Qualquer incremento a ser oferecido aos solos, como o uso do fertilizante
orgânico produzido na Verdecoop por exemplo, será facilmente observado, em
virtude da sua baixíssima fertilidade.
4.1.2 Análises dos fertilizantes orgânicos e dos tratamentos
A Figura 4 apresenta resultados das análises físico-químicas dos
fertilizantes orgânicos obtidos através dos diferentes métodos de compostagem.
Figura 4 – Características físico-químicas do Fertilizante Bioexton e do
Fertilizante LAVIET
PARÂMETROS/AMOSTRA Bioexton LAVIET
pH (em H2O) 7,1 6,6
Condutividade (µS/cm) 7.640 2.460
Carbono (g/Kg) 204 64
Nitrogênio (g/Kg) 8,36 6,91
Relação C/N 24,4 9,26
Matéria Orgânica (g/Kg) 351 110
Fósforo (mg/Kg) 118 1.644
Cálcio (cmolc/Kg) 19,13 10,66
Magnésio (cmolc /Kg) 4,14 5,86
Potássio (cmolc /Kg) 8,44 4,68
Sódio (cmolc /Kg) 8,69 0,78
Alumínio (cmolc /Kg) 0 0
23
Al + H (cmolc /Kg) 0 2,65
*Soma de bases (cmolc /Kg) 40,40 21,98
*CTC (cmolc /Kg) 40,40 24,63
*V% 100 89,2
CRA (g/kg) 1235,7 1099,7
MICRONUTRIENTES/ METAIS PESADOS
PARÂMETRO/AMOSTRA Bioexton LAVIET
Ferro (mg/Kg) 110 138
Cobre (mg/Kg) 66 1,57
Zinco (mg/Kg) 2,96 55,2
Manganês (mg/Kg) 219 80
Chumbo (mg/Kg) 8,84 8,06
Cádmio (mg/Kg) 0,52 0,34
Níquel (mg/Kg) 2,82 1,28
Cromo (mg/Kg) 8,76 8,59
GRANULOMETRIA
Amostra Argila
(%)
Silte
(%)
Areia
(%)
Umidade
(%)
M.O.
(%)
Total (%)
Bioexton 9,6 1,5 48,8 5,0 35,1 100
LAVIET 2,5 0,5 80,2 5,8 11,0 100
Os teores observados na figura acima são teores disponíveis. O anexo 3,
mostra teores de metais pesados aceitos em fertilizantes produzidos a partir de
resíduos orgânicos urbanos. São valores que inicialmente não representam riscos
ambientais.
Os principais itens a serem destacados nesta figura são: condutividade, teor
de Na, CTC, Soma de Bases, V%, N e metais pesados. O fertilizante Bioexton,
após 72 horas e portanto considerado pronto para uso, apresentou uma
24
condutividade de 7.640 µS/cm. Segundo Kiehl (1998, apud AVENIMELECH et
al., 1990), fertilizantes orgânicos, antes de completarem seu processo de
maturação, apresentam altos teores de sais, devido à decomposição dos ácidos
orgânicos e conseqüentemente uma alta condutividade. Esta condutividade tende
a decair e a se estabilizar na medida em que o composto amadurece. Kiehl
(1998), afirma que a salinidade do composto ou fertilizante orgânico não deve
exceder 4000 µS/cm e que este valor se estabiliza em torno de 50% da leitura
inicial após processo de maturação. O excesso de sais tem efeitos adversos sobre
a germinação e sobre a produtividade das culturas, seja diretamente, dificultando
a absorção de água e cátions nutrientes pelas plantas, ou indiretamente, pelo seu
efeito dispersante sobre as argilas, causando desestruturação do solo e
prejudicando a infiltração de água, oxigênio e crescimento de raízes (TOMÉ JR.,
1997). Diretamente relacionado à condutividade, o sódio, se mostrou em altas
proporções no fertilizante Bioexton. Ele foi o elemento responsável por mascarar
os resultados da *CTC, da *Soma de Bases e do *V%, parâmetros estes
responsáveis pelas trocas nutricionais entre solo e planta (TOMÉ JR., 1997).
Estes resultados, que deveriam estar na forma de nutrientes (Ca, Mg e K)
mostraram-se em grande parte na forma do elemento sódio, que não é um
elemento nutriente. Segundo Boyer (1985) este elemento é particularmente móvel
no solo, sendo altamente solúvel, mas seus excessos criam problemas muito
sérios (já comentados ao início do parágrafo juntamente à salinidade).
O teor de N apresentado pelos dois fertilizantes é indesejável (ver anexo 6),
no entanto a relação C/N do fertilizante Bioexton é ótima e do fertilizante Bioexton
é indesejável (SILVA, 2002 apud KIEHL, 1979). Para um produto humificado, a
relação C/N fica em torno de 8/1 e 12/1 (KIEHL, 1998) o que não foi observado no
fertilizante Bioexton.
Com relação aos metais pesados, os dois tipos de fertilizantes
apresentaram-se bastante abaixo dos limites aceitos. As concentrações de metais
pesados encontradas estão bem abaixo de valores considerados perigosos.
Metais pesados, por isso, não se apresentam como qualquer motivo de restrição
de uso aos dois tipos de fertilizantes.
25
As figuras a seguir mostram os resultados obtidos com as análises das
características químicas do solo dos tratamentos. A figura 5 mostra o valor da
soma de bases, o figura 6 mostra o teor de cálcio, a figura 7 mostra a CTC, a
figura 8 o teor de níquel, a figura 9 o teor de chumbo, a figura 10 o teor de
manganês, a figura 11 o teor de fósforo, a figura 12 a relação C/N, a figura 13 o
teor de carbono, a figura 14 o pH e a figura 15 a condutividade. Em todos os
parâmetros apresentados o fertilizante Bioexton mostrou os valores mais
elevados. Os demais parâmetros analisados não apresentaram diferenças entre
os dois tipos de fertilizantes. Por isso não foram apresentados nem discutidos.
T1
Bioexton + solo 50 ton/ha
T2 Laviet + solo
50 ton/ha
T3 Testemunha - solo puro
Figura 5: Efeito dos fertilizantes nas características químicas dos
tratamentos. Parâmetro: soma de bases cmolc.kg-1.
26
T1
Bioexton + solo 50 ton/ha
T2 Laviet + solo
50 ton/ha
T3 Testemunha - solo puro
Figura 6: Efeito dos fertilizantes nas características químicas dos
tratamentos. Parâmetro: cálcio cmolc.kg-1.
27
T1
Bioexton + solo 50 ton/ha
T2 Laviet + solo
50 ton/ha
T3 Testemunha - solo puro
Figura 7: Efeito dos fertilizantes nas características químicas dos
tratamentos. Parâmetro: capacidade de troca de cátions - CTC
cmolc.kg-1.
28
T1
Bioexton + solo 50 ton/ha
T2 Laviet + solo
50 ton/ha
T3 Testemunha - solo puro
Figura 8: Efeito dos fertilizantes nas características químicas dos
tratamentos. Parâmetro: níquel mg.kg-1.
29
T1
Bioexton + solo 50 ton/ha
T2 Laviet + solo
50 ton/ha
T3 Testemunha - solo puro
Figura 9: Efeito dos fertilizantes nas características químicas dos
tratamentos. Parâmetro: chumbo mg.kg-1.
30
T1
Bioexton + solo 50 ton/ha
T2 Laviet + solo
50 ton/ha
T3 Testemunha - solo puro
Figura 10: Efeito dos fertilizantes nas características químicas dos
tratamentos. Parâmetro: manganês mg.kg-1.
31
T1
Bioexton + solo 50 ton/ha
T2 Laviet + solo
50 ton/ha
T3 Testemunha - solo puro
Figura 11: Efeito dos fertilizantes nas características químicas dos
tratamentos. Parâmetro: fósforo mg.kg-1.
32
T3
Testemunha - solo puro T2
Laviet + solo 50 ton/ha
T1 Bioexton + solo
50 ton/ha
Figura 12: Efeito dos fertilizantes nas características químicas dos
tratamentos. Parâmetro: relação C/N.
33
T1
Bioexton + solo 50 ton/ha
T2 Laviet + solo
50 ton/ha
T3 Testemunha - solo puro
Figura 13: Efeito dos fertilizantes nas características químicas dos
tratamentos. Parâmetro: carbono g.kg-1.
34
T3
Testemunha - solo puro T2
Laviet + solo 50 ton/ha
T1 Bioexton + solo
50 ton/ha
Figura 14: Efeito dos fertilizantes nas características químicas dos
tratamentos. Parâmetro: pH.
35
T3
Testemunha - solo puro T2
Laviet + solo 50 ton/ha
T1 Bioexton + solo
50 ton/ha
Figura 15: Efeito dos fertilizantes nas características químicas dos
tratamentos. Parâmetro: condutividade µS.cm-1.
Com o uso dos dois fertilizantes pode-se observar, um incremento no nível
de fertilidade do solo adubado. Abreu (2002), comparando o potencial fertilizador
de fertilizante orgânico proveniente de resíduos domésticos selecionado e não
selecionado, concluiu que os dois tratamentos aumentaram significativamente o
teor de nutrientes do solo adubado. Embora a maioria dos parâmetros analisados
tenham mostrado melhor desempenho para o fertilizante Bioexton (T1), alguns
fatores chaves como o pH e a condutividade podem, devido aos seus altos
valores, interferir no crescimento de plantas cultivadas em solos adubados com
este fertilizante.
O pH ideal para um solo produtivo se situa entre 6,0 e 7,0, quando os
macro e micronutrientes estarão mais disponíveis (TOMÉ JR, 1997). O pH do solo
36
adubado com o Bioexton apresentou valores acima de 8,0. Com este pH a
dinâmica bioquímica do solo certamente provocará interferências no
desenvolvimento vegetal. O pH alcalino provoca deficiência de fósforo, que se
complexa com o cálcio; deficiência de micronutrientes, todos, exceto Mo e Cl (a
faixa ideal de pH para a absorção de micronutrientes fica em torno do pH básico) e
perdas de N por volatilização, devido à transformação do NH4+ em NH3. O
aumento do pH observado neste trabalho é explicado pela adição de minerais de
baixa solubilidade no processamento do material orgânico pelo método Bioexton.
Durante o processo foi adicionado ao resíduo, fontes de cálcio (calcário calcítico) e
fontes de fósforo (fosfato natural) sendo que este último também apresenta em
sua composição o calcário. Esta característica do fertilizante Bioexton certamente
influenciará na elevação do pH dos solos que receberão esta adubação.
Com relação a condutividade, o tratamento T1 (adubado com o Bioexton)
mostrou uma maior condutividade, isto se explica pela alta condutividade do
fertilizante. Reconhece-se que altos teores de sais que venham a ser introduzidos
em solos, através de adubação com o fertilizante Bioexton, tenderão a cair com a
ação de chuvas e microrganismos. No entanto Oliveira et al. (2002) recomenda
que, ao adicionar fertilizantes orgânicos ao solo, é necessário fazer o
monitoramento periódico da salinidade para se evitar possíveis efeitos salinos
sazonais, condição que certamente prejudicará a produtividade de muitas culturas.
Lima et al. (2000), ao estudar a condutividade elétrica em fertilizantes orgânicos e
seus efeitos sobre a taxa de germinação de espécies vegetais, obteve maiores
rendimentos com adição de fertilizantes com teores de salinidade mais baixos.
4.2. Quantificação das substâncias húmicas
As figuras abaixo representam o teor de matéria orgânica e de substâncias
húmicas nos tratamentos, testemunha e fertilizantes.
37
T1 T2 T3 Bioexton LAVIET
Figura 16: Teor de substâncias húmicas - ácido fúlvico g.kg-1 dos
tratamentos, da testemunha e dos fertilizantes.
38
T1 T2 T3 Bioexton LAVIET
Figura 17: Teor de substâncias húmicas - ácido húmico g.kg-1 dos
tratamentos, da testemunha e dos fertilizantes.
39
T1 T2 T3 Bioexton LAVIET
Figura 18: Teor de substâncias húmicas - humina g.kg-1 dos tratamentos, da
testemunha e dos fertilizantes.
40
T1 T2 T3 Bioexton LAVIET
Figura 19: Teor de matéria orgânica g.kg-1 dos tratamentos, da testemunha
e dos fertilizantes.
Os solos após 30 dias de adubados não apresentaram aumento
significativo no teor da matéria orgânica nem das substâncias húmicas, embora o
fertilizante LAVIET e o tratamento 2 (solo + LAVIET) mostre maior porcentagem de
substâncias húmicas. Por ter sofrido apenas uma aplicação equivalente a 50
ton.ha-1, a matéria orgânica e as substâncias húmicas foram diluídas no solo, não
havendo tempo suficiente para incremento na sua produção. Dias (2005) obteve
teores significativos de substâncias húmicas após ter adicionado ao solo material
compostado, rico em carbono humificado, durante seis aplicações sucessivas. Já
Lima (2004), obteve aumentos no teor de matéria orgânica em solos adubados
com composto orgânico obtido a partir de resíduos de feiras livres após três
41
aplicações. Aplicações continuadas dos fertilizantes certamente incrementariam o
teor desses componentes no solo.
Benites et al. (2003) afirma que, em solos, o somatório das frações de
substâncias húmicas varia entre 90 a 105% em relação ao teor de carbono
orgânico total. Neste estudo os teores totais das substâncias húmicas encontrados
nos dois fertilizantes e nos tratamentos equivale a uma fração pequena do teor
de carbono orgânico (ver anexo 4), indicando que o carbono orgânico se encontra
pouco humificado. O fertilizante LAVIET também não apresenta teores muito
elevados de substâncias húmicas, mas mostra uma relação mais equilibrada nas
proporções dos ácidos fúlvicos e húmicos (ver anexo 5). Isto deve-se
provavelmente a um maior período de compostagem.
4.3. Respiração da Biota
O resultado da respiração da biota dos dois fertilizantes se encontra na
figura 20. O fertilizante Bioexton mostra uma produção evidentemente maior de
CO2 .
42
Bioexton LAVIET
Figura 20: Respiração da biota dos fertilizantes orgânicos (CO2 emanada
em 24 horas / 100g do fertilizante).
O resultado deste parâmetro, mostra o alto grau de atividade do fertilizante
Bioexton em comparação com o fertilizante LAVIET, apresentando grande
atividade microbiana e portanto não estando suficientemente maduro. Feldman
(1995, apud KIEHL, 1998) afirma que fertilizantes orgânicos que apresentam
teores acima de 200 mg de CO2/100 g de fertilizante (ou solo) por dia são
materiais instáveis, ou seja, em atividade microbiológica intensa, podendo possuir
forte odor e alta fitotoxicidade.
Por outro lado, o incremento em baixas proporções da taxa de respiração
pode ser um indicador da ação benéfica de fertilizantes orgânicos. Figueiredo
(2001), ao adicionar fertilizante orgânico a um solo de talude de um aterro
sanitário, obteve taxa de respiração 400% maior, em relação à testemunha (sem
adição de fertilizante) aplicando 80 ton.ha-1 de fertilizante LAVIET ao solo. A
43
autora discute a importância da atividade destes microorganismos no solo,
imobilizando nutrientes, liberando-os posteriormente para as plantas após sua
morte (fase de mineralização).
4.4. Produção de biomassas aérea fresca e seca Os resultados da produção de biomassa fresca e seca são apresentados
nas figuras 21 e 22. As três espécies vegetais estudadas adubadas com o
fertilizante LAVIET mostraram maior produção de biomassa fresca e seca. Entre
os três vegetais, o sorgo produziu mais biomassa relativa, em ambos tratamentos.
Bioexton LAVIET Testemunha
Figura 21: Efeito dos fertilizantes na biomassa fresca (g) do alface (Lactuca sativa), coentro (Coriandrum sativum L.) e sorgo (Sorghum bicolor).
44
Bioexton LAVIET Testemunha
Figura 22: Efeito dos fertilizantes na biomassa seca (g) do alface (Lactuca sativa), coentro (Coriandrum sativum L.) e sorgo (Sorghum bicolor).
A produção de biomassa no T1 (Bioexton) foi visivelmente inferior, ficando
próxima à testemunha, para as plantas coentro e alface. As biomassas fresca e
seca de todos os 3 vegetais (alface, coentro e sorgo) aumentaram sensivelmente
com o tratamento T2 (LAVIET). Souza (2001), obteve aumentos significativos na
produção de biomassa fresca ao adicionar fertilizante LAVIET em plantas de
sorgo. Já Lima (2004), comparando adubação com fertilizantes orgânico e
inorgânico, não obteve diferenças significativas com a produção de biomassa do
alface. Passos (2004), estudando diferentes fertilizantes orgânicos (LAVIET e lodo
de tratamento de efluentes industriais) na adubação do coentro, obteve respostas
45
significativamente positivas quanto ao tratamento solo + LAVIET + lodo quando
comparado à testemunha (100% solo).
Neste trabalho observou-se que o alface e o coentro responderam
comparativamente de modo mais sensível ao fertilizante Bioexton do que o sorgo
(veja figuras 23, 24 e 25). O crescimento do sorgo tanto no fertilizante Bioexton
quanto no LAVIET foi bastante semelhante, o que não ocorreu com os outros dois
vegetais.
Figura 23: Resposta do alface (Lactuca sativa)
aos tratamentos - da esquerda para a direita:
Bioexton, LAVIET e testemunha aos 60 dias.
46
Testemunha
LAVIET
Bioexton
Figura 24: Resposta do coentro
(Coriandrum sativum L.) aos tratamentos –
Bioexton (esquerda abaixo), LAVIET
(direita) e testemunha (esquerda acima) aos
40 dias.
47
Figura 25: Resposta do sorgo
(Sorghum bicolor) aos tratamentos –
da esquerda para a direita: Bioexton,
LAVIET e testemunha aos 30 dias.
O padrão de crescimento vegetal observado, ou seja, produção de
biomassa inferior no tratamento Bioexton, reflete uma melhor qualidade do
fertilizante LAVIET, apesar de seu menor potencial fertilizador (ver figura 4). Uma
maturação mais prolongada do fertilizante Bioexton minimizaria seu potencial
fitotóxico. Tomé Jr. (1997) afirma que o excesso de sais na zona radicular,
independente da espécie iônica presente, prejudica a germinação,
desenvolvimento e produtividade das plantas. O que poderia explicar o
comportamento das plantas do tratamento Bioexton, que apresentaram taxa de
biomassa inferior, sendo esta um indicador de crescimento.
48
5. Conclusões
O fertilizante Bioexton apresentou maiores incrementos no grau de
fertilidade dos solos adubados.
Os parâmetros indicadores de maturação dos fertilizantes (teor e percentual
de substâncias húmicas, respiração da biota e produção de biomassa vegetal)
confirmam um maior grau de maturação do fertilizante LAVIET, obtido de forma
tradicional.
Os teores totais de substâncias húmicas são baixos nos dois tipos de
fertilizantes, no entanto o Bioexton se destaca por apresentar percentuais maiores
de ácido fúlvico, indicativo de baixo grau de maturação.
O parâmetro respiração da biota também foi outro indicativo do baixo grau
de maturação do Bioexton.
Uma vez que a composição mineral do fertilizante Bioexton se apresentou
superior ao fertilizante LAVIET, a produção de biomassa vegetal inferior, mostrada
no tratamento Bioexton, pode ser motivada por uma fitotoxicidade provocada por
fatores como pH elevado, alta salinidade e intensa atividade microbiana
mensurados neste fertilizante.
Em virtude dos solos dos agricultores da Coopevales apresentarem um
grau de fertilidade extremamente baixo, a aplicação do fertilizante Bioexton (ou de
qualquer outro) a estes solos, certamente incrementará a produtividade das
culturas. Efeitos nas propriedades físicas, químicas e biológicas serão observados
após o uso continuado deste fertilizante. Ao mesmo tempo, as características
apresentadas pelo fertilizante Bioexton, a exemplo do pH alcalino, da elevada
salinidade e da intensa atividade microbiana, são fatores importantes a serem
otimizados e monitorados.
49
O processamento de resíduos na UPR, para a obtenção do fertilizante
Bioexton, deve sofrer alguns ajustes. A adição de minerais de baixa solubilidade
ao resíduo deve ser feita de forma mais criteriosa e sem sobreposição de
minerais, como acontece com a adição de cálcio proveniente da aplicação de
calcário calcítico e fosfato natural.
Ao se aplicar o fertilizante Bioexton aos solos, deve-se obedecer a algumas
recomendações como: i) não se aplicar o fertilizante muito próximo das culturas; ii)
ao se fazer a adubação da área total deve-se aguardar um período de incubação
do material no solo antes de se efetuar o plantio; iii) durante a aplicação do
fertilizante deve-se fazer a incorparação no máximo até a profundidade de 10 cm,
para que o material seja processado mais facilmente pelos microorganismos.
50
6. Referências
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57
7. Anexos Anexo 1.
A sensibilização ambiental de pequenos agricultores da região do Litoral
Norte da Bahia para a importância do uso de composto orgânico nos solos
A compostagem de resíduos orgânicos é uma atividade cíclica que abrange
aspectos ligados a produção, consumo e reaproveitamento do lixo. Ela surge
como uma alternativa inteligente para solucionar problemas da destinação do lixo
e ao mesmo tempo beneficiamento de solos. Tradicionalmente trata-se de uma
técnica de baixo custo.
Os inúmeros benefícios trazidos pela adição de matéria orgânica não ficam
restritos apenas aos solos. Agregadamente haverá um reflexo de melhoria
econômica principalmente dos pequenos agricultores, por estes fertilizantes terem
um custo baixo, quando produzidos tradicionalmente. Esta melhoria econômica,
terá como conseqüência um enorme benefício social.
Portanto, este trabalho também teve como objetivo sensibilizar e informar
os cooperados da Coopevales quanto à importância de se considerar aspectos
ambientais na produção agrícola sustentável.
Para dar início ao processo de capacitação e sensibilização dos
agricultores, foi utilizado o método de pesquisa-ação que consiste essencialmente
em acoplar pesquisa e ação em um processo no qual os atores implicados
participam, junto com os pesquisadores, para chegarem interativamente a elucidar
a realidade em que estão inseridos, identificando problemas coletivos, buscando e
experimentando soluções em situação real (THIOLLENT, 1997).
Neste contexto, integrantes da equipe da UFBA passaram a participar de
reuniões quinzenais realizadas na Coopevales. Ao lado de temas previamente
58
planejados pela equipe da UFBA, solicitou-se a sugestão de temas de interesse
dos cooperativados para discussão em palestras. Os temas abordados foram:
conservação do solo, pH do solo, equilíbrio solo-planta, fertilidade do solo, manejo
de pragas e doenças, importância e contaminação das águas e a problemática do
lixo e suas possíveis soluções, incluindo a compostagem. Sendo que estes temas
sempre foram tratados de maneira a se compreender a interdependência entre
eles. As aulas foram ministradas de forma bastante ilustrativa e participativa para
um aproveitamento abrangente de todos os participantes e em alguns momentos
utilizou-se de técnicas de dinâmica de grupo.
Além do trabalho de capacitação, foi feito um acompanhamento técnico dos
solos que receberão o fertilizante Bioexton. Foram coletadas 130 amostras de solo
em áreas agrícolas pertencentes aos agricultores associados à Coopevales,
sendo estas áreas localizadas nos municípios de Entre Rios e Mata de São João /
BA (Figura 26). As coletas foram encaminhadas para o LAVIET - UFBA para
análises, utilizando dos mesmos métodos descritos na seção 3.1 deste trabalho. A
caracterização desses solos tem grande importância para que, posteriormente,
após a aplicação do fertilizante Bioexton possa se fazer um acompanhamento do
impacto deste material no solo.
59
Figura 26: Mapa da Região do Litoral Norte da Bahia - destacando área
de Influência do Complexo Costa do Sauípe. Fonte: (CONDER,
2001)
As aulas foram muito proveitosas e contaram com a participação expressiva
dos agricultores (Figura 27), que se mostraram cada vez mais interessados nas
discussões. Frente a outros trabalhos desenvolvidos em outras localidades pela
equipe LAVIET (REZENDE, 2003), a participação ativa dos agricultores da
Coopevales foi uma resposta positiva surpreendente. Este comportamento foi
inesperado pois, de maneira geral, no meio rural, existe uma aversão a mudanças
na forma de produção. Relatos confirmam que, em especial pequenos
agricultores, estão desesperançosos com a possibilidade de acesso a tecnologias,
principalmente pelos seus altos custos. É evidente a descrença nos atores
(privados e públicos) que muito prometem e pouco ou nada fazem. A UFBA,
através da equipe do LAVIET, funcionou como ponte tradutora entre o Programa
Berimbau e as Comunidades. Entende-se por tradução procedimentos que
permitem criar inteligibilidade recíproca com interfaces técnico científicas e
experiências de mundo (SANTOS, 2004, p. 802). Agimos como mobilizadores,
tradutores e articuladores de saberes populares locais, técnicos e científicos. Foi
um momento de: Cada vez mais se ter consciência de nossa incompletude, de
reconhecimento do “outro” como igual e como parte recíproca de um
60
projeto de alargamento deste imenso mosaico de diversidade, que no
todo é único, mas nas partes não se encontra. (MENESES, 2004, p.
750).
Assim criou-se uma dinâmica durante os encontros dos cooperativados,
onde todos participavam e expunham suas experiências e anseios. Lima (2004),
trabalhando em comunidades rurais de Camaçari – BA, observou que estas
reuniões e dinâmicas estimulam o processo da educação ambiental, o diálogo
aberto entre os membros da comunidade, o crescimento da interação entre a
universidade e agricultores e neste trabalho em particular os membros do
Programa Berimbau, que sem dúvida, proporcionam um enriquecimento pessoal a
todos aqueles, discentes e docentes de instituições, participantes e colaboradores
do trabalho.
Os cooperativados aguardam a produção do adubo em larga escala para
seu uso no beneficiamento dos solos e conseqüente produção agrícola.
As práticas de dinâmica de grupo contribuíram para uma maior integração
do grupo e devem ser adotadas regularmente nas reuniões da cooperativa.
Figura 27: Reunião com os agricultores e a
equipe técnica do LAVIET.
61
Os resultados das análises de solo foram entregues aos agricultores que,
em sua maioria, ainda não haviam feito anteriormente estes tipos de análises e
puderam conhecer melhor as características dos solos de suas áreas. Na figura 28
observa-se coleta de solo. A baixa fertilidade dos mesmos pode ser confirmada no
Anexo 2. Tratam-se de solos com altas proporções de areia e baixos teores de
matéria orgânica o que pode indicar o grande benefício que a adição do fertilizante
orgânico irá trazer aos mesmos.
Figura 28: Coleta de solo em área de
agricultor.
O interesse geral pela prática de uma agricultura sustentável reconhecido
nos membros da Coopevales unifica e direciona as ações desta cooperativa. A
diversidade no nível e no interesse das pessoas participantes pode ser um fator
enriquecedor nas discussões, nas trocas e nas tomadas de decisões. A
priorização no atendimento aos pequenos agricultores será um fator essencial à
manutenção da coesão do grupo e conseqüentemente da sua consolidação.
Que a produção e a disponibilização do fertilizante Bioexton sejam feitas de
modo a atender ao propósito maior do Programa Berimbau, que é melhorar a
qualidade de vida das populações fortemente atingidas pela implantação do
Empreendimento Hoteleiro Costa do Sauípe.
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Anexo 2. Resultados das análises de solo nas áreas de agricultores da Coopevales
PARÂMETROS / AGRICULTOR
1 2 3 4
pH (em H2O) 5,1 5,5 5,3 5,1
Carbono (dag/kg) 0,73 1,23 0,28 0,21
M. Orgânica (dag/kg) 1,26 2,12 0,48 0,36
Fósforo ( mg/dm3) 2,4 2,4 < 1 < 1
Ca + Mg (cmolc/dm3) 0,41 0,78 0,44 0,67
Cálcio (cmolc/dm3) 0,28 0,3 0,19 0,20
Magnésio (cmolc/dm3) 0,13 0,48 0,25 0,47
Relação Ca/Mg 2,15 0,63 0,76 0,43
Potássio (cmolc/dm3) 0,04 0,04 0,04 0,04
Potássio (mg/dm3) 12 13,2 12 12
Sódio (cmolc/dm3) 0,07 0,08 0,02 0,07
Alumínio (cmolc/dm3) 0,42 1,16 0,11 0,26
Al + H (cmolc/dm3) 2,76 5,32 0,98 1,57
S. Bases (cmolc/dm3) 0,52 0,9 0,50 0,78
CTC (cmolc/dm3) 3,28 6,22 1,49 2,35
Relação V (%) 15,85 14,47 33,56 33,19
Relação (Al/Al+S).100 44,68 56,31 10,48 25
MICRONUTRIENTES
Ferro (mg/dm3) 71,04 34,32 72,24 27,48
Cobre (mg/dm3) 0,70 0,78 0,94 1,27
Zinco (mg/dm3) 0,01 0,01 0,01 0,01
Manganes (mg/dm3) 2,62 0,84 1,13 0,01
GRANULOMETRIA
Argila (%) 5,5 2,7 4,8 31,4
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Silte (%) 20 4,6 2,1 12,1
Areia Fina (%) 11,6 33,4 26,8 25,2
Areia Grossa (%) 61,0 56,4 65,5 30,2
Umidade (%) 0,6 0,8 0,3 0,7
Matéria Orgânica (%) 1,3 2,1 0,5 0,4
64
Anexo 3. Teores aceitos de metais pesados em mg.Kg-1(cádmio, cromo, níquel, chumbo, cobre e zinco) em fertilizantes orgânicos de alta qualidade.
TEORES/ELEMENTO Cádmio Cromo Níquel Chumbo Cobre Zinco
Mg.Kg-1 Abaixo de
1
Abaixo de
70
Abaixo de
30
Abaixo de
100
Abaixo de
100
Abaixo de
200
Fonte: Kiehl (1998, apud GENEVINI, 1997)
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Anexo 4. Teor de substâncias húmicas (Fração Ácidos Fúlvicos + Fração Ácidos Húmicos + Fração Humina – AF + AH + HU) comparativamente com o teor total de carbono orgânico. Valores obtidos das médias de três réplicas.
TRATAMENTO/PARÂMETRO CARBONO ORGÂNICO
%
AF + AH + HU
%
Solo+50 ton/ha
Fertilizante Bioexton
100 28,6
Solo+50 ton/ha
Fertilizante LAVIET
100 30,7
Solo puro – Testemunha 100 42,5
Fertlizante Bioexton puro 100 28,5
Fertilizante LAVIET puro 100 37,7
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Anexo 5. Porcentagem de cada fração (Fração Ácidos Fúlvicos - AF, Fração Ácidos Húmicos - AH e Fração Humina - HU) com relação ao teor total de substâncias húmicas. Valores obtidos das médias de três réplicas.
TRATAMENTO/PARÂMETRO AF AH HU TOTAL
Solo+50 ton/ha
Fertilizante Bioexton
33,8 26,6 39,6 100
Solo+50 ton/ha
Fertilizante LAVIET
30,2 37,3 32,4 100
Solo puro – Testemunha 28,6 57,4 14,0 100
Fertilizante Bioexton puro 35,8 20,5 43,7 100
Fertilizante LAVIET puro 26,5 20,8 52,7 100
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Anexo 6. Classificação de composto de lixo urbano quanto as suas características químicas
Características Ótimo Bom Baixo Indesejável Excessivo
pH > 7,5 6,0 – 7,5 --- < 6,0 ---
Matéria Orgânica total
%
> 60 50 - 60 < 50 --- ---
N total % > 3,5 1,8 – 3,5 --- < 1,8 ---
Relação C/N 8 – 12/1 12 – 18/1 --- > 18/1 ---
Alto Médio Baixo
P% > 0,6 0,2 – 0,6 < 0,2
K% > 1,2 0,4 – 1,2 < 0,4
Ca% > 2,8 1,4 – 2,8 < 1,4
Mg% > 1,2 0,6 – 1,2 < 0,6
Fonte: Silva (2002, apud KIEHL & PORTA, 1979).
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