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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA ÁREA DE GEOLOGIA AMBIENTAL, HIDROGEOLOGIA E RECURSOS HÍDRICOS TESE DE DOUTORADO ECOGERENCIAMENTO: ASPECTOS DAS CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS E DE GESTÃO NA CONSTRUÇÃO DE UM MODELO PARA INSTALAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS NO ESTADO DA BAHIA CRISTINA MARIA DACACH FERNANDEZ MARCHI Salvador- Bahia 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA

ÁREA DE GEOLOGIA AMBIENTAL, HIDROGEOLOGIA E RECURSOS

HÍDRICOS

TESE DE DOUTORADO

ECOGERENCIAMENTO: ASPECTOS DAS CARACTERÍSTICAS

GEOLÓGICAS E DE GESTÃO NA CONSTRUÇÃO DE UM MODELO

PARA INSTALAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS NO ESTADO DA

BAHIA

CRISTINA MARIA DACACH FERNANDEZ MARCHI

Salvador- Bahia

2011

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CRISTINA MARIA DACACH FERNANDEZ MARCHI

ECOGERENCIAMENTO: ASPECTOS DAS CARACTERÍSTICAS

GEOLÓGICAS E DE GESTÃO NA CONSTRUÇÃO DE UM MODELO

PARA INSTALAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS NO ESTADO DA

BAHIA

Tese de Doutorado apresentada ao Curso de Pós-

Graduação em Geologia do Instituto de Geociências da

Universidade Federal da Bahia como requisito parcial

à obtenção do grau de Doutora em Geologia.

Orientador: Prof. Dr. Johildo Salomão Figueirêdo Barbosa

Co-Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Montenegro Barbosa

Salvador- Bahia

2011

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ECOGERENCIAMENTO: ASPECTOS DAS CARACTERÍSTICAS GEOLÓGICAS E DE

GESTÃO NA CONSTRUÇÃO DE UM MODELO PARA INSTALAÇÃO DE ATERROS

SANITÁRIOS NO ESTADO DA BAHIA

Autora: Cristina Maria Dacach Fernandez Marchi

Orientador : Prof. Dr. Johildo Salomão Figueirêdo Barbosa

Co-Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Montenegro Barbosa

RESUMO: A crise ambiental vivenciada no mundo tem se constituído em um dos maiores

desafios da humanidade. Contudo, a problemática não se resume ao contexto ecológico, mas também

permeia o contexto social. As dificuldades de natureza social e ecológica são indissociáveis, apesar de

muitas vezes serem tratadas de forma isolada. A complexidade que envolve a prestação dos serviços

públicos de coleta, tratamento e destinação final de resíduos sólidos, as dimensões que a questão assume

face às diversas repercussões sociais, governamentais, territoriais e técnicas e o seu potencial de alteração

qualitativa do meio ambiente, conduzem a um estudo mais aprofundado da caracterização geológica e de

gestão dos aterros e suas inter-relações com as instituições ligadas aos resíduos sólidos e ao meio

ambiente. A questão que norteou esta Tese foi se o desenvolvimento de um modelo para instalação de

equipamentos de destinação final dos resíduos sólidos, que envolvesse aspectos geológico-ambientais e de

gestão, poderia atender às especificidades, particularidades, de diferentes municípios? Este Trabalho

procura buscar conceitos e técnicas que sirvam de base para a obtenção de resultados inovadores na área

de resíduos sólidos; compor um cenário mundial do estado da arte na gestão de resíduos sólidos no mundo

e no Brasil, por meio de pesquisa bibliográfica; avaliar as tecnologias utilizadas na implantação e

gerenciamento de dois aterros sanitários no estado da Bahia, com enfoques geológico e de gestão; e

utilizar os resultados encontrados, identificando a relação entre os fatores ambientais/litologia e a gestão

dos aterros sanitários selecionados, para o desenvolvimento de um modelo para instalação de

equipamentos de destinação final de resíduos sólidos. A metodologia adotada foi o estudo multicasos

descritivo e exploratório. O delineamento utilizado se deu por meio da pesquisa bibliográfica e da

pesquisa de campo. Quanto aos procedimentos sistemáticos para a descrição e explicação dos eventos

encontrados, o estudo se desenvolveu num ambiente que preconizou a abordagem quantiqualitativa.

Conclui-se que, quando o Estado resolve instalar um equipamento de destinação final vem aplicando, na

maioria das vezes, corretos fundamentos técnicos e geológicos. Mas, é durante o processo de

operacionalização e gestão desses equipamentos, que começam as dificuldades e carências de recursos

humanos, técnicos, operacionais e financeiros, transformando o equipamento apropriado em vazadouro a

céu aberto.

PALAVRAS CHAVE - Ecogerenciamento; Geologia Ambiental; Resíduos Sólidos.

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ii

ECO-MANAGEMENT: ASPECTS OF GEOLOGICAL AND MANAGEMENT

CHARACTERISTICS IN THE COSNTRUCTION OF A MODEL FOR THE INSTALATION

OF LANDFILLS IN THE STATE OF BAHIA.

Author: Cristina Maria Dacach Fernandez Marchi

Adviser : Prof. Johildo Salomão Figueirêdo Barbosa, PHD.

Co- Adviser: Prof. Ronaldo Montenegro Barbosa, PHD.

ABSTRACT: The environmental crisis experienced in the world has been constituted as one of

the greatest challenges facing humanity. However, the problem is not restricted to the ecological context,

but also permeates the social context. The difficulties of a social and ecological nature are interlinked,

though often they are treated in isolation. The complexity involved in providing waste collection,

treatment, and disposal of solid waste, the dimensions that the problem assumes makes for various social,

governmental, technical and territorial consequences and, their potential for qualitative change of the

environment lead to further study of the geological characterization and management of landfills and their

inter-relationships with institutions related to solid waste and the environment. The key question of this

thesis is: would the development of an equipment model for a final disposal of solid waste, able to involve

at the same time geological and environmental aspects, be able to suit the specific needs, peculiarities

from the different municipalities? This study aims to look for new concepts and techniques that could be

used to achieve innovative results in the of solid waste area; compose a global scenario of how the solid

waste management is being conducted in Brazil and around the world, by bibliographical research;

evaluate the technologies used in the deployment and management of two landfills in the state of Bahia,

with geological emphasis and a management approach; and use the results identifying the relationship

between environmental factors and management of the selected landfills in order to develop an equipment

model for the final disposal of solid waste. The methodology used was descriptive and an exploratory

multicase study. The experimental design was through the literature and field research and the study was

conducted in an environment that invoqued the quantitative and qualitative approach. The conclusion is

that when the State takes the decision to install an equipment for final disposal, it was applied with it, in

mostly cases, the right technical and geological grounds. But it's only during the operation and

management of those equipments that the difficulties show up as the lack of human, technical, financial

and operational resources come and transform the new and appropriate equipments into an open dump.

KEY WORDS: Eco-Management; Environmental Geology; Solid Waste.

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iii

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, à minha família, ao meu orientador e co-orientador, aos colegas do Grupo de

Pesquisa Observatório de Políticas Públicas (Observa Políticas), da Escola de Administração da

Universidade Federal da Bahia, aos participantes do Grupo de Pesquisa em Gestão Ambiental e

Desenvolvimento em Empreendimentos Sociais (GamDes), da Escola de Administração da

Universidade Católica do Salvador, aos parceiros da Associação de Moradores do Mutá

(AMMU), aos meus amigos e colegas que leram, ouviram e aprimoraram esta Tese, à Secretaria

de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (SEDUR) e à Empresa Baiana de Águas e

Saneamento S. A. (EMBASA).

Finalmente, agradeço a todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para este trabalho.

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iv

SUMÁRIO RESUMO i

ABSTRACT ii

AGRADECIMENTOS iii

SUMÁRIO iv

LISTA DE FIGURAS vii

LISTA DE QUADROS viii

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO 1

1.1. Considerações Iniciais 2

1.2. Justificativa da Pesquisa 2

1.3. Pergunta da Pesquisa 4

1.4. Objetivos Geral e Específicos da Pesquisa 4

CAPÍTULO II – REVISÃO DE ANTIGOS E NOVOS CONCEITOS 6

2.1. Geologia Ambiental 7

2.2. Ecogerenciamento 9

2.3. Saneamento: Conceito e Estrutura Organizacional na Bahia 13

2.4. Resíduos Sólidos Urbanos 16

CAPÍTULO III – ESTADO DA ARTE DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO

MUNDO E NO BRASIL

24

3.1. Estado da Arte dos Resíduos Sólidos no Mundo 25

3.1.1. Minimização – Redução, Reuso e Reciclagem dos Resíduos Sólidos 25 3.1.1.1. África 26 3.1.1.2. América do Norte 26 3.1.1.3. América Latina e Caribe 28 3.1.1.4. Ásia e Pacífico 28 3.1.1.5. Europa 31

3.1.2. Destinação Final - Aterros Sanitários 32 3.1.2.1. África 32 3.1.2.2. América do Norte 33 3.1.2.3. América Latina e Caribe 36

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v

3.1.2.4. Ásia e Pacífico 38 3.1.2.5. Europa 40

3.1.3. Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos 43 3.1.3.1. África 43 3.1.3.2. América do Norte 44 3.1.3.3. América Latina e Caribe 47 3.1.3.4. Ásia e Pacífico 50 3.1.3.5. Europa 55

3.2. Estado da Arte dos Resíduos Sólidos no Brasil 58

3.2.1. Minimização – Redução, Reuso e Reciclagem dos Resíduos Sólidos 60

3.2.2. Destinação Final - Aterros Sanitários 68

3.2.3. Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos 76

CAPÍTULO IV – ÁREAS DE ESTUDO E METODOLOGIA APLICADA 84

4.1. Localização Geográfica e Geológica dos Aterros Amostrados 85

4.2. O Processo Metodológico 89

4.2.1. Coleta de Dados 90

4.2.2. Análise dos Dados 91

CAPÍTULO V – RESULTADOS E DISCUSSÃO 93

5.1. Dados Básicos Relativos aos Aterros Sanitários da Região

Metropolitana de Salvador e da Ilha de Itaparica

94

5.2. Caracterização Geológica dos Aterros Sanitários Estudados 95

5.2.1. Localização Geológica do Aterro Metropolitano Centro (AMC) 95 5.2.1.1. Reconhecimento Geológico de Campo do Aterro Metropolitano Centro 97 5.2.1.2. Solos do Aterro Metropolitano Centro 97 5.2.1.3. Barreiras Naturais a Migração de Poluentes no Aterro Metropolitano Centro 98 5.2.1.4. Lençol Freático do Aterro Metropolitano Centro 99

5.2.2. Localização Geológica do Aterro Integrado Ilha (AII) 100 5.2.2.1. Reconhecimento Geológico de Campo do Aterro Integrado Ilha 103 5.2.2.2. Solos do Aterro Integrado Ilha 103 5.2.2.3. Barreiras Naturais a Migração de Poluentes no Aterro Integrado Ilha 104 5.2.2.4. Lençol Freático do Aterro Integrado Ilha 105

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vi

5.3. Caracterização Organizacional e da Gestão dos Aterros Sanitários

Estudados

106

5.3.1. Levantamento Organizacional do Aterro Metropolitano Centro 107 5.3.1.1. Frequência da Coleta dos Resíduos Sólidos para o Aterro Metropolitano Centro 107 5.3.1.2. Adequação da Destinação dos Resíduos Sólidos 109 5.3.1.3. Busca por Alternativas para o Processamento dos Resíduos Sólidos 116 5.3.1.4. Qualidade das Respostas das Exigências Ambientais e Econômicas 118 5.3.1.5. Incentivos às Iniciativas que Busquem Minimizar a Geração de Resíduos

Sólidos 121

5.3.2. Levantamento Organizacional do Aterro Integrado Ilha 5.3.2.1. Frequência da Coleta dos Resíduos Sólidos para o Aterro Integrado Ilha 121 5.3.2.2. Adequação da Destinação dos Resíduos Sólidos 122 5.3.2.3. Busca por Alternativas para o Processamento dos Resíduos Sólidos 123 5.3.2.4. Qualidade das Respostas das Exigências Ambientais e Econômicas 129 5.3.2.5. Incentivos às Iniciativas que Busquem Minimizar a Geração de Resíduos

Sólidos 129

5.4. Apresentação de um Modelo Alternativo para a Gestão de Aterros

Sanitários

131

CAPÍTULO VI – CONCLUSÃO 139

6.1. Conclusão 140

REFERENCIAS 144

ANEXO 151

LISTA DE FIGURAS

3.1. Evolução do Número de Aterros nos Estados Unidos - 1988 a 2006 33

3.2. Aterro Sanitário situado no Estado da Flórida – EUA 35

3.3. Maquete de Aterro Sanitário Gerido pelo SyCTOM nos arredores de Paris

42

3.4. Hábitos e Costumes que Agravam a Limpeza das Vias Públicas nas Metrópoles Indianas – Jaipur, Índia

54

3.5. Gráfico da Geração de Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil em 2008 e 2009

58

3.6. Participação das Regiões do País no Total de RSU Coletado 73

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vii

3.7. Jovens Catando Lixo no Aterro de Jequié- BA 76

3.8. Fluxograma da Gestão dos Resíduos Sólidos.

82

4.1. Localização Geográfica dos Aterros Sanitários Estudados 87

4.2. Mapa Geológico com a Localização dos Aterros Sanitários Estudados

88

4.3. e 4.4. Croquis com a Localização do Aterro Metropolitano Centro e Aterro Integrado Ilha

88

4.5. Metodologia Adotada na Tese 90

5.1. Mapa Geológico da RMS 96

5.2. e 5.3. Detalhes dos Solos do AMC 98

5.4. e 5.5. Barreiras Naturais no AMC 99

5.6. e 5.7. Vista Geral das Lagoas Artificiais Existentes no AMC 100

5.8. Mapa Geológico da Ilha de Itaparica 102

5.9. e 5.10. Detalhes dos Solos do Aterro Integrado Ilha 104

5.11. e 5.12. Barreiras Naturais no Aterro Integrado Ilha 105

5.13. e 5.14. Organização da Entrada e das Vias do AMC 110

5.15. e 5.16. Recepção dos Resíduos Sólidos do AMC 111

5.17. e 5.18. Estado de Conservação dos Equipamentos do AMC 111

5.19. e 5.20. Sinalização no AMC 112

5.21. e 5.22. Sede Administrativa da Battre 113

5.23. e 5.24. Uso de Equipamentos de Proteção Individual no AMC 113

5.25. e 5.26. Aspectos da Impermeabilização e Cobertura do AMC 115

5.27. e 5.28. Aspectos da Drenagem do AMC 116

5.29. e 5.30. Captação Gases no AMC 117

5.31. e 5.32. Sala Informatizada para Controle dos Gases Gerados e Vendidos pelo AMC

117

5.33. e 5.34. Aspectos da Captação Gás para Geração de Energia Limpa no AMC 118

5.35. e 5.36. Tratamento do Lixiviado do AMC 119

5.37. e 5.38. Campanha Interna para Reutilização de Material Orgânico Proveniente dos Resíduos Sólidos no AMC

120

5.39. e 5.40. Coleta Seletiva do Aterro Metropolitano Centro 121

5.41. Presença de Pontos de Resíduos Sólidos nas Margens das Rodovias da Ilha de Itaparica

122

5.42. e 5.43. Recepção dos Resíduos Sólidos do Aterro Integrado Ilha 123

5.44. e 5.45. Balança e Equipamentos para Pesagem do Aterro Integrado Ilha 124

5.46. e 5.47. Estado de Conservação dos Equipamentos do Aterro Integrado Ilha 124

5.48. e 5.49. Sinalização no Aterro Integrado Ilha 125

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viii

5.50. e 5.51. Sede Administrativa do Aterro Integrado Ilha 125

5.52. e 5.53. Vegetação do Aterro Integrado Ilha 126

5.54. e 5.55. Ausência de Uso de EPI no Aterro Integrado Ilha 127

5.56. e 5.57. Presença de Catadores e de Animais no Aterro Integrado Ilha 127

5.58. e 5.59. Aspectos da Impermeabilização e Cobertura do Aterro Integrado Ilha

128

5.60. e 5.61. Presença de Entulho e Sucatas na Área do Aterro Integrado Ilha 129

5.62. e 5.63. Queima a Céu Aberto dos Resíduos Sólidos de Saúde no Aterro Integrado Ilha

131

5.64. e 5.65. Aspectos da Catação de Reciclados no Aterro Integrado Ilha 132

5.66. Modelo para Instalação e Gestão de Equipamentos de Destinação Final de Resíduos Sólidos

134

LISTA DE QUADROS 3.1. Quantidade de Unidades de Processamento de Resíduos Sólidos

Urbanos, por Disposição no Solo 72

3.2. Natureza Jurídica dos Órgãos Gestores do Manejo dos RSU nos Municípios Brasileiros – 2008

81

5.1. Dados Comparativos entre o Aterro Metropolitano Centro e o Aterro Integrado Ilha

94

5.2. Frequência da Coleta de Resíduos Sólidos junto à População de Baixa Renda em 10 Municípios Baianos

108

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1

CCAAPPÍÍTTUULLOO II -- IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

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2

I - INTRODUÇÃO

1.1. Considerações Iniciais

A crise ambiental vivenciada no mundo tem se constituído em um dos maiores desafios da

humanidade. O aumento da poluição e a utilização predatória das riquezas naturais têm acelerado

o aquecimento global causado pelo efeito estufa e a destruição das florestas e dos rios. Contudo, a

problemática não se resume ao contexto ecológico, mas também permeia o contexto social. As

dificuldades de natureza social e ecológica são indissociáveis, apesar de muitas vezes serem

tratadas de forma isolada. As práticas inadequadas de saneamento básico fomentam a

deterioração ambiental e mobilizam o Estado a implantar novas tecnologias, além de enfatizar

ações educativas, visando reduzir o desequilíbrio existente no meio ambiente e criar facilidades à

incorporação de novas práticas, que proporcionem maior qualidade de vida.

Entende-se como qualidade de vida qualquer estímulo que nos afeta direta ou

indiretamente, como a forma que a sociedade enfrenta os desafios de mudança de hábitos para a

sua sustentabilidade. Muitas vezes, procedimentos e posturas simples, como evitar jogar papel no

chão, outras complexas, como controlar de forma organizada a maneira que os representantes do

Estado e das organizações lidam com as Políticas Públicas.

1.2. Justificativa da Pesquisa

Em junho de 2012, no Rio de Janeiro, acontecerá a Rio+20, a cúpula mundial de

desenvolvimento sustentável. Uma das razões do Brasil ter sido escolhido como sede, foi a

realização, em 1992, de uma conferência semelhante, a Rio 92. Além disso, o Brasil é visto como

país que registrou importante crescimento econômico, apesar das crises mundiais, com avanços

na erradicação da pobreza e na conservação ambiental.

Um dos objetivos desse futuro evento será a discussão de um modelo de desenvolvimento

econômico global destinado a melhorar a vida das pessoas e garantir a equidade social, reduzindo

os riscos ambientais e a escassez ecológica, ou seja, a transição de uma economia de alto

consumo para uma Economia Verde, de baixo carbono e eficiência de recursos.

Em fevereiro de 2011, em Nairóbi, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

(PNUMA) lançou um relatório que estimula o mundo a investir dois por cento do Produto Interno

Bruto (PIB) em dez áreas estratégicas. Uma dessas áreas é a de resíduos sólidos. Pretende-se

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3

desassociar o crescimento do PIB com a geração de resíduos sólidos. Em vez de aumentar os

resíduos sólidos, investir em ações de recuperação e reciclagem.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (Lei nº. 12.305/2010) segue a visão do

PNUMA e determina o prazo final de 2014 para que os estados e municípios possam elaborar

seus planos de gestão, para cumprimento das suas determinações. O Capítulo Primeiro desta

Política Nacional estabelece que deva ser observada a seguinte ordem de prioridade na gestão e

no gerenciamento de resíduos sólidos: (i) não geração; (ii) redução; (iii) reutilização; (iv)

reciclagem; (v) tratamento dos resíduos sólidos; e (vi) destinação final ambientalmente adequada

dos rejeitos. Essas ações de gestão e gerenciamento desafiam o Poder Público, as empresas e a

sociedade.

A complexidade que envolve a prestação dos serviços públicos de coleta, tratamento e

destinação final de resíduos sólidos, as dimensões que a questão assume face às diversas

repercussões sociais, governamentais, territoriais e técnicas e, o seu potencial de alteração

qualitativa do meio ambiente, conduzem a um estudo mais aprofundado da caracterização

geológica e de gestão dos aterros e suas inter-relações com as instituições ligadas aos resíduos

sólidos e ao meio ambiente.

Nas duas últimas décadas, o padrão de comportamento social e institucional vem sendo

modificado, principalmente por razões de ordem cultural, intervindo no cotidiano social e

ambiental, necessitando de novos investimentos em saneamento básico, notadamente em locais

destinados à disposição dos resíduos sólidos gerados, cada vez mais, nos centros urbanos.

Na maioria dos locais de depósito final dos resíduos sólidos urbanos, principalmente os

das pequenas cidades brasileiras, não existe estudo preliminar da área, que envolva a definição de

fatores condicionantes geológicos da região, como litologias, estratigrafia e estruturas, para o

auxílio do estudo de alternativas de traçado viáveis e que possam causar o menor impacto

ambiental possível.

A gestão da área de saneamento básico é, antes de tudo, uma questão de sobrevivência,

tanto para a sustentabilidade do meio ambiente, quanto das instituições e organizações que o

cercam. Isto faz com que a variável ambiental esteja presente no planejamento das organizações

por envolver a oportunidade de redução de custos, já que a poluição significa o desperdício de

matéria-prima e insumos, além de afastamento de novos investimentos.

Diante da falta de trabalhos específicos sobre esse tema, a presente Tese se reveste de uma

relevância especial. Objetivando suprir essa lacuna, o estudo em questão procura ser congruente

com a idéia de sustentabilidade ambiental e organizacional de equipamentos públicos de

destinação final. Busca investigar quais os instrumentos de gestão que podem provocar ampliação

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4

e melhoria no atendimento às comunidades e ao meio ambiente, analisando as relações entre

aspectos ambientais/litologia e a gestão em dois aterros sanitários, localizados no estado da

Bahia.

O presente texto foi estruturado em quatro partes (que são os quatro Capítulos), além

desta introdução e da conclusão. A primeira parte incumbe-se de revisar antigos e novos

conceitos que fundamentam o estudo e trazem as principais discussões sobre a Geologia

Ambiental, o Ecogerenciamento, o Saneamento Básico e os Resíduos Sólidos Urbanos. Na

segunda, investiga-se como está se dando o estado da arte dos resíduos sólidos no mundo e no

Brasil, relativo à minimização, reciclagem, reuso e redução dos resíduos sólidos, à destinação

final e ao gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos. A terceira apresenta a área de estudo e a

metodologia aplicada e finalmente, na quarta parte do texto são relatados os resultados obtidos na

pesquisa de campo, por meio da descrição das observações efetuadas e das informações obtidas

em entrevistas e relatórios e apresentado o Modelo para Instalação de Equipamentos de

Destinação Final dos Resíduos Sólidos, onde são observados aspectos ambientais e de gestão.

Os resultados desta pesquisa demonstraram que os aspectos gerenciais e de gestão, além

dos geológicos, devem se apresentar inter-relacionados para fornecer sustentabilidade a uma área

onde se pretende destinar os resíduos sólidos de pequenos, médios ou grandes municípios.

1.3. Pergunta da Pesquisa

No intuito de verificar se a situação geológica de uma área a ser utilizada como aterro

sanitário é suficiente para a preservação sócio-ambiental do seu entorno, o questionamento que

norteou o estudo foi: o desenvolvimento de um modelo para instalação de equipamentos de

destinação final dos resíduos sólidos, que envolva aspectos geológico-ambientais e de gestão

pode atender às especificidades, particularidades, de diferentes municípios?

1.4. Objetivos Geral e Específicos da Pesquisa

Geral: Desenvolver um Modelo para Instalação de Equipamento de Destinação Final dos

Resíduos Sólidos, que integre os aspectos geológicos e de gestão observados nos aterros

sanitários estudados, quais sejam: o da Região Metropolitana de Salvador (Aterro

Metropolitano Centro) e o da Ilha de Itaparica (Aterro Integrado Ilha).

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5

Específicos: (i) buscar conceitos e técnicas que sirvam de base para a obtenção de

resultados inovadores na área de resíduos sólidos; (ii) compor um cenário mundial do

estado da arte na gestão de resíduos sólidos no mundo e no Brasil, por meio de pesquisa

bibliográfica; (iii) avaliar as tecnologias utilizadas na implantação e gerenciamento de

dois aterros sanitários no estado da Bahia (Região Metropolitana de Salvador e Ilha de

Itaparica), com enfoque geológico; (iv) avaliar as tecnologias utilizadas na implantação e

gerenciamento de dois aterros sanitários no estado da Bahia (Região Metropolitana de

Salvador e Ilha de Itaparica), com enfoque de gestão; e (v) utilizar os resultados dos

objetivos (i) ao (iv), identificando a relação entre os fatores ambientais/litologia e a gestão

dos aterros sanitários selecionados, para o desenvolvimento do Modelo pretendido no

Objetivo Geral desta Tese.

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6

CCAAPPÍÍTTUULLOO IIII –– RREEVVIISSÃÃOO DDEE AANNTTIIGGOOSS EE NNOOVVOOSS CCOONNCCEEIITTOOSS

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7

II – REVISÃO DE ANTIGOS E NOVOS CONCEITOS

A compreensão das definições de Geologia Ambiental, Ecogerenciamento, Saneamento

Básico e Resíduos Sólidos, assim como as suas perspectivas, características e desdobramentos,

mostra-se como fator preponderante para se entender os princípios que norteiam o

desenvolvimento desta Tese.

2.1. Geologia Ambiental

A Geologia é a ciência que estuda a Terra. De forma ampla, ainda permanece nos estudos

das Geociências os aspectos ligados aos minerais e rochas, aos fenômenos naturais da crosta

terrestre e à água. Durante muitos anos, os geólogos pesquisadores foram preparados para

desenvolver ao máximo suas experiências em campos de atuação muito reduzidos. Essa tendência

está sendo revertida. Press et al. (2006) relatam que nas últimas décadas os homens têm

modificado o meio ambiente pelo desmatamento, pela agricultura e por outros tipos de uso do

solo, afetando a qualidade de todo o ecossistema global numa escala inteiramente nova. Assim,

os estudos das ciências da Terra vêm envolvendo a atuação de especialidades distintas,

observando as atividades humanas, visando o equacionamento correto de problemas globais.

O conceito de Geologia Ambiental pode suscitar questionamentos. Poderia estar aí uma

redundância. Porém, o que se percebe é um esforço para colocar nos estudos da Terra o conceito

de meio ambiente, ligado à idéia de conjunto de condições, leis, influências e infraestruturas de

ordem física, química e biológica, que permite, abriga e permeia a vida; como objeto de diversas

apropriações.

Para Hrasna (2002), o termo meio ambiente tem sido usado há quase quarenta anos e que

uma das primeiras definições aceitas internacionalmente prega que o meio ambiente é parte do

universo, que está em interação com o homem, que o explora, o afeta e se adapta. Dentro desta

linha de raciocínio, esse autor define Geologia Ambiental como parte da litosfera, que o homem

explora e altera e que influencia diretamente, pelas suas ações, nas condições de existência e de

progresso. O autor afirma que, existem geofatores que formam as condições da Geologia

Ambiental em um território, as quais trazem ao homem benefícios ou problemas para a sua

evolução. Coloca que, o conceito de Geologia Ambiental, para ser usado racionalmente, deve

abranger os seguintes aspectos: (i) utilidade; que não impacte nocivamente o meio ambiente; (ii)

a paisagem; (iii) simplicidade; e, (iv) adequabilidade ao cenário e à arquitetura.

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O autor destaca que as condições geoambientais de um território são tomadas dentro de

uma perspectiva ampla, permitindo várias possibilidades de uso da terra. Explica que as melhores

decisões para esse uso são adotadas com base na visão nacional ou por meio de requerimentos

econômicos regionais. De acordo com Hrasna (2002), The geoenvironmental conditions of a territory enable generally various possibilities of land use (mining of mineral raw materials, civil and industrial construction, transport construction, ground water exploitation, recreation, sanitary and sporting purposes, etc.). Decision making process in that case is aimed at the best way of land use from point of view of nation-wide or regional economic requirements. So the first demand covers possible collisions of interests in a territory (HRASNA, 2002, p.4).

No Brasil, em 1982, com a proposta inicial de direcionar as Geociências nos estudos do

Meio Ambiente, o Instituto Geológico de São Paulo desenvolveu a Política Básica para Manejo

do Meio Ambiente, a fim de impulsionar e movimentar uma série de políticas setoriais,

integrando-as e racionalizando-as. Azevedo et al. (1982) afirmam que o objetivo geral desta

Política foi: ... adequar e direcionar ações no sentido de respeitar os mecanismos da natureza e garantir sua continuidade. Estes postulados podem ser definidos em uma única frase: "uso racional da terra”, que pressupõe o uso propriamente dito, a preservação da terra e a recuperação de áreas degradadas. Compreende ainda todas as formas possíveis de uso, desde o urbano ao rural, do natural ao cultural (AZEVEDO et al., 1982, p.6).

Esse foi um dos primeiros movimentos, na prática, de integração das relações entre as

Geociências e o Meio Ambiente. Inicialmente, foi realizado um estudo preliminar no Vale do Rio

Ribeira de Iguape, São Paulo. A pretensão era que os subsistemas integrados gerassem o

“Geossistema”, que forneceria subsídios para o manejo do meio ambiente.

Durante os últimos anos, a parceria entre o estudo das Ciências da Terra e o estudo do seu

entorno promoveu sistematicamente a aproximação entre a Geologia e o Meio Ambiente. Esta

aproximação vincula as principais preocupações dessas duas áreas, ou seja, a da Geologia, em

sentido mais restrito, que evidencia facetas da evolução da Terra e a do Meio Ambiente, em

sentido mais amplo, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida.

O Instituto de Geociências e Ciências Exatas, da Universidade Estadual Paulista Julio de

Mesquita Filho (IGCE) considera que a Geologia Ambiental é um ramo da Geologia que

atualmente apresenta um grande desenvolvimento, graças às preocupações em relação ao Meio

Ambiente e às legislações cada vez mais exigentes e restritivas. Esse Instituto aborda a Geologia

Ambiental como uma disciplina que estuda e analisa as interações entre o ser humano e o meio

físico, dando grande ênfase para os estudos ambientais como os Estudos de Impactos Ambientais

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– Relatórios de Impactos Ambientais (EIA-RIMA), a série 14000 de normas desenvolvidas pela

International Organization for Standardization (ISO), que estabelecem diretrizes sobre a área de

gestão ambiental dentro de empresas, a cartografia geológico-geotécnica, que tratam do

planejamento urbano, dos riscos geológicos e da destinação final de resíduos sólidos, sendo todos

esses temas integrados, principalmente aos processos geológicos (IGCE 2010).

Segundo o ICGE (2010), nos livros textos mais antigos era dada muita ênfase aos

processos geológicos, centrando as discussões na sua caracterização. Atualmente, os referidos

processos ainda têm grande importância nos livros, porém vêm ganhando bastante espaço, as

discussões sobre as consequências econômicas e sociais da interação inadequada do ser humano

com o meio físico.

Medina et al (2007) afirmam que o campo das Geociências, que trata a Geologia

Ambiental, avançou bastante nos últimos vinte anos, diante da sua efetiva contribuição ao

desenvolvimento sustentável do Planeta e definem a Geologia Ambiental como o estudo da

Geologia aplicada ao meio ambiente, buscando investigar os problemas geológicos decorrentes

da relação entre o homem e a superfície terrestre. Consideram que a Geologia Ambiental interage

com outras áreas do conhecimento visando estabelecer e definir os relacionamentos entre os

diversos meios que integram os sistemas da paisagem. De acordo com Medina et al. (2007) a

importância da Geologia Ambiental está diretamente relacionada à capacidade de apoio à gestão

ambiental e ao planejamento territorial.

Seguindo as perspectivas relatadas, afirma-se que a disposição incorreta dos resíduos

sólidos é um problema geológico na medida em que, acumulados no ambiente, são capazes de

contribuir com mecanismos que provocam desastres como enchentes, alagamentos e poluição.

O próximo item abordará o Ecogerenciamento, no intuito de construir consensos ao reunir

perspectivas inovadoras e muito diversas.

2.2. Ecogerenciamento

O modelo de produção contemporâneo não coincide com os limites ambientais do planeta.

Assunto presente nos constantes debates entre o setor produtivo, o Estado e a sociedade civil

organizada é o ascendente descarte dos resíduos sólidos urbanos, que gera consequências

ambientais intensas, como emissões de gases de efeito estufa, odores e contaminação da água e

da terra, provocando impactos sobre a vida das pessoas. O gerenciamento dos resíduos sólidos no

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mundo é motivo de preocupação e os países buscam, cada vez mais, o compartilhamento das

ações entre o poder local, organizações e a sociedade civil organizada.

A gestão ambiental se tornou uma importante ferramenta estratégica, consoante com os

objetivos do modelo integrado, descentralizado e participativo, de gerir uma organização. Para

Moreno & Pol (1999) a gestão ambiental é aquela que incorpora os valores do desenvolvimento

sustentável1 na organização social e nas metas corporativas da empresa e da administração

pública. Integra políticas, programas e práticas relativas ao meio ambiente, em um processo

contínuo de melhoria da gestão. Portanto, a gestão ambiental é a forma de gerir uma organização

pública ou privada, sem prejuízos ao meio ambiente.

Para Shigunov et al. (2009), poucos pesquisadores vêm apresentando conceitos claros

relativos à gestão ambiental, voltadas para a perspectiva de atendimento às normas e às leis. Reis

define a gestão ambiental como rotinas e procedimentos que permitem a uma organização

administrar adequadamente as relações entre suas atividades e o meio ambiente, atendendo às

expectativas das partes interessadas; Reis ainda analisa a gestão ambiental, como dinâmica que

objetiva identificar as ações mais adequadas ao atendimento das imposições aplicáveis às várias

fases dos processos organizacionais, desde a geração, até o descarte final, observando

permanentemente os parâmetros legais (REIS, 1996, apud SHIGUNOV et al., 2009).

Outra definição publicada é a de Moreira, que afirma que para a empresa apresentar um

nível mínimo de gestão ambiental tem que possuir um departamento de meio ambiente

responsável pelas exigências legais e pelas indicações dos meios mais adequados para o controle

do processo (MOREIRA, 2001, apud SHIGUNOV et al., 2009). Conforme Barbieri (2004) na

origem da expressão “Gestão Ambiental” estão as ações governamentais para enfrentar a escassez

de recursos, afirma que com o tempo outras questões estão sendo incorporadas por outros agentes

e com alcances diferentes (BARBIERI, 2004, apud SHIGUNOV et al., 2009).

Shigunov et al. (2009) desenvolvem a Gestão Ambiental como ação eficaz entre a

organização e o meio ambiente e que trata das atividades da função gerencial que determinam a

Política ambiental, os objetivos e as responsabilidades e os colocam em prática por intermédio do

sistema ambiental, do planejamento ambiental e do controle ambiental.

Atualmente, muitos esforços são realizados na elaboração de normas relativas aos

sistemas de gestão ambiental, auditoria ambiental, rotulagem e outros processos ambientais.

Entretanto, esse esforço pode aumentar o custo operacional das organizações. Programas de

1 Nesta Tese o termo Desenvolvimento Sustentável será entendido como desenvolvimento desejável que propõe uma conciliação entre o desenvolvimento e o crescimento econômico, sendo, simultaneamente, sensível à dimensão social, ambientalmente prudente e economicamente viável (Morin 2001).

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gestão ambiental, nos quais as organizações estabelecem e mantêm ações visando atender a seus

objetivos e metas ambientais, são práticas que vêm ganhando espaço nas empresas públicas e

privadas. Esses programas estão em busca da melhoria contínua para as políticas voltadas para a

conservação e proteção das riquezas naturais, da prevenção e do controle da poluição, da

minimização dos resíduos sólidos, do reaproveitamento de materiais recicláveis e do

desenvolvimento de novas tecnologias, que minimizem possíveis impactos no meio ambiente.

Apesar dos esforços, cada vez são mais frequentes as notícias sobre desastres ambientais,

aquecimento global, redução do volume de água potável e aumento da miséria, comprometendo o

sucesso de sistemas e modelos econômicos convencionais. Os gestores dos serviços públicos, das

organizações privadas e a sociedade civil são chamados a esse debate, para que contribuam com

as transformações requeridas, construindo novos caminhos em direção a modelos que possam

contemplar as demandas da sociedade e do Estado. Gestores demonstram preocupações não só

com a resolução dos problemas ambientais em benefício das suas organizações, mas também com

a mudança de clima e com a mitigação da degradação das riquezas naturais.

A proposta é alargar a perspectiva atual, compreender o caminho trilhado, na busca da

incorporação da gestão ambiental de forma ampliada, que a associa não só às regras, normas, leis,

mas também, ao reconhecimento de que os problemas ecológicos no mundo não podem ser

entendidos isoladamente. Eles devem ser tratados de forma interligada e interdependente,

requerendo para a sua compreensão e solução um novo tipo de comportamento ecológico.

Nessa direção, emerge um regulamento europeu que traduz a co-participação entre

organizações, governos e comunidade: o Regulamento do Conselho das Comunidades Europeias

(CEE) de número 1836/93, tendo sido adotado em junho de 1993. Esta normativa possibilita a

participação voluntária das empresas do setor industrial num sistema comunitário de eco-gestão e

auditoria, objetiva melhorar o desempenho ambiental, buscar a conformidade das ações

empresariais com a legislação ambiental e, comunicar ao público os resultados ambientais

alcançados no cenário das organizações europeias. Está aberta à participação voluntária das

empresas desde abril de 1995, e se encontra em constante revisão, buscando a integração do seu

conteúdo com outros instrumentos, normas e políticas, como a International Organization for

Standardization (ISO 14001), o Responsible Care Program, o Modelo Winter, a Coalision for

Environmentally Responsible Economies (CERES), o Strategies for Today’s Environmental

Partnership (STEP), dentre outras. As organizações que participam desse Sistema recebem

atestados e os seus nomes são divulgados no Jornal Oficial da União Europeia. O público é

informado do comportamento ambiental, a fim de exercer controle social sobre as atividades da

organização. Esse regulamento é chamado de Ecogerenciamento.

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Orbach e Liedtke (1998) definem Ecogerenciamento como a gestão voltada para integrar

as questões ambientais no processo decisório. Para esses autores, é uma área emergente, de

grande importância para empresas comprometidas com seu ambiente ecológico e que inserem a

variável ambiental nas suas atividades. Classificam essa definição em quatro abordagens, que

diferem de acordo com as limitações impostas na sua aplicação: a econômica restrita, a

econômica ampla, a ecológica restrita, além da econômica e ecológica integradas. Seu ponto de

partida é uma mudança de valores na cultura organizacional.

O Ecogerenciamento sugere práticas de gestão que diminuam os impactos negativos

ocasionados pela organização, em contraste com a simples adesão às normas e às regulações

impostas pelo mercado ou pelo Estado. O Ecogerenciamento se baseia em uma visão ecológica,

em uma acepção mais ampla e profunda do que as descritas nos regulamentos dos Sistemas de

Gestão Ambiental (SGA2).

A coletânea de textos organizada por Callenbach (2000), propõe que as organizações

identifiquem o que pode ser feito a fim de reduzir os impactos das suas operações junto ao meio

ambiente. Os autores dos textos recomendam a sistematização de prioridades e a criação de uma

estratégia de ação, para que melhorias ambientais sejam implementadas. É uma nova forma de

agir, que não se subordina às ações defensivas ou reativas. Seria um comportamento ativo e

criativo junto ao seu entorno.

Está-se falando, portanto, de um valor e de práticas que pressupõem a potencialização da

definição do conceito de gestão ambiental. Essa definição não é só voltada para a preocupação do

atendimento legal, mas, sobretudo, para a incorporação de variáveis ecológicas e ambientais, que

ainda não estejam institucionalizadas no processo gerencial.

Para Bitar e Ortega (1998) começa a delinear-se um contexto no qual investimentos e

proposições de projetos de Engenharia e uso de riquezas naturais, deixam de ser analisados

somente sob o aspecto tradicional desenvolvimentista, passando a ser discutidos e entendidos sob

uma nova perspectiva: a da efetiva contribuição ao desenvolvimento sustentável local, regional e

global. As Geociências se adaptam a essa tendência geral e iniciam a direcionar parte de suas

pesquisas e aplicações para o desafio da sustentabilidade ambiental, social e econômica,

buscando responder às demandas correlatas, como às do Ecogerenciamento.

Neste estudo, o Ecogerenciamento passa a ser concebido, como importante condição, para

o estabelecimento da interação entre a Gestão e a Geologia. Tal constatação também é explicada

2 SGA - segundo a NBR ISO 14.001 o SGA é parte do sistema da gestão que compreende a estrutura organizacional, as responsabilidades, as práticas, os procedimentos, os processos e os recursos para aplicar, elaborar, revisar e manter uma política ambiental.

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pelas observações de Bitar e Ortega (1998), que abordam o papel da Geologia de Engenharia no

contexto da Gestão Ambiental. Os autores afirmam que: O papel da Geologia de Engenharia no contexto da gestão ambiental, é preponderante na caracterização dos processos do meio físico, atuantes no ambiente considerado, bem como na previsão das alterações a que estes processos estão sujeitos em face da instalação e funcionamento de uma mina, obra civil ou outra forma de uso do solo. Os processos que, com frequência, interessam à gestão, especialmente em razão da potencialidade que apresentam no sentido de influir, de forma significativa, na qualidade ambiental de um determinado contexto, são os que representam a dinâmica terrestre atual, como erosão, transporte e deposição de sedimentos e partículas, escorregamentos ... (BITAR E ORTEGA, 1998, p.449).

Os autores estabelecem dois grupos de instrumentos da gestão ambiental relacionados

com os riscos geológicos do meio físico e do uso do solo, nos quais a Geologia de Engenharia

tem atuado e contribuído por meio dos seus estudos, ou seja: (i) a escala territorial como

minerações, hidrelétricas, estradas, indústrias, dutovias, aterros sanitários, loteamentos, dentre

outros; e, (ii) a região geográfica que delimita bacias hidrográficas, unidades de conservação

ambiental e metrópoles, dentre outros.

A gestão de riscos geológicos pode ser conceituada como um processo que se traduz pelas

escolhas políticas e pelas decisões finais de organização em um determinado território. Os danos

causados à Terra “são largamente evitáveis através de uma melhor gestão” (ARAÚJO et al.,

2005, p.41).

Infere-se, portanto, que a escolha do presente estudo junto aos aterros sanitários e das

proposições de medidas mitigadoras dos impactos de projetos de saneamento básico em uma

escala territorial, constituem-se objeto de grande importância para as Geociências. A crescente

preocupação com os problemas ambientais e o posicionamento mais crítico por parte da

sociedade vêm pressionando os gestores públicos, ligados ao saneamento básico, a identificarem

modelos de gestão mais apropriados para apoiarem a gestão ambiental.

2.3. Saneamento: Conceitos e Estrutura Organizacional na Bahia

A história das organizações de saneamento do estado da Bahia mostra que estas surgiram

obedecendo a uma lógica de atuação política, baseada em estruturas organizacionais autônomas,

com significativa ausência de articulação interna e externa, apoiadas por interesses de poder

dominante, sem levar em consideração a preservação ambiental.

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A partir de meados dos anos 70, os investimentos para fazer face ao crescimento do

Estado da Bahia e, principalmente, a expansão da cidade do Salvador e de sua região

metropolitana, foram cada vez maiores. Nessa época, o Plano Nacional de Saneamento (Planasa)

supria as necessidades de expansão, pois o processo de urbanização não era tão célere como nas

últimas quatro décadas.

Além disso, a massa de população carente, principalmente a residente no interior do

estado, devido à sua incapacidade de discernimento, sempre serviu de garantia de votos para os

políticos, admitindo inaugurações de obras de fachada, perpetuando, assim, uma situação de

precariedade nos serviços públicos de saneamento básico, acarretando em desperdício de

recursos, tão necessários para a otimização de uma distribuição bem planejada e proteção do

meio ambiente.

Diante da carência de serviços públicos de saneamento básico, em 1992, o Governo do

Estado da Bahia apresentou protocolo ao BID, solicitando financiamento para o “Programa de

Recuperação Ambiental de Salvador e Baía de Todos os Santos”, com o objetivo de amenizar os

problemas de abastecimento de água, esgotamento sanitário e gerenciamento de resíduos sólidos,

dentre outros, da cidade do Salvador e de mais dez cidades localizadas no entorno da Baía de

Todos os Santos. A partir de 1995, o Programa foi denominado “Bahia Azul - Programa de

Saneamento Ambiental da Bahia”, com investimento total de U$ 600 milhões.

Outro marco importante para a área de saneamento básico na Bahia foi a promulgação da

Lei nº 11.445, sancionada em janeiro de 2007, que estabelece as Diretrizes Nacionais para o

Saneamento Básico e para a Política Federal de Saneamento Básico, contribuindo para esta

proposta, na medida em que enfatiza a necessidade de regulação do saneamento básico e o seu

controle, garantindo transparência e participação no processo de formulação das medidas

relacionadas à área, com o objetivo de preservar o interesse da sociedade e um meio ambiente

salubre. O Estado da Bahia vem discutindo, portanto, a sua política estadual para os resíduos

sólidos.

A expressão meio ambiente salubre pode ser representada pelo ato de perceber o

ambiente, em que se está inserido, de forma saudável, higiênica, benéfica. Dias et al. (2003)

consideram que a salubridade ambiental é o produto das relações entre as pessoas, comunidades e

organizações e o meio ambiente, criado pela mesma sociedade, dentro de uma tradição cultural,

ou seja, que o meio ambiente deriva da cultura, da educação e da ideologia daqueles que o

habitam.

A relação entre saneamento e salubridade é intrínseca. Segundo a Organização Mundial

de Saúde (OMS), saneamento é o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que

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exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre o bem-estar físico, mental e social. O

saneamento é o conjunto de ações sócio-econômicas que têm por objetivo alcançar a salubridade

ambiental, colaborando para a proteção ao meio ambiente. O saneamento é uma matriz capaz de

gerar avanços na preservação e salubridade ambiental.

Fundamentado na ampla noção de saneamento, a OMS engloba os seguintes serviços

públicos no saneamento: (i) água; (ii) esgotamento sanitário; (iii) drenagem urbana; (iv) resíduos

sólidos; (v) controle de vetores de doenças transmissíveis; (vi) saneamento dos alimentos; (vii)

saneamento dos meios transportes; (viii) saneamento e planejamento territorial; (ix) saneamento

da habitação, dos locais de trabalho, de educação e de recreação e dos hospitais, e (x) controle da

poluição ambiental (água, ar e solo, acústica e visual).

Essa amplitude conceitual possibilita, até, uma visão estendida de saneamento a fatos

históricos do País; segundo Rezende e Heller (2008) o saneamento decorre de processos

econômicos, sócio-políticos e culturais. Os autores instam uma visão menos fragmentada, mais

abrangente para o papel do saneamento identificando sua contextualização na sociedade, na vida

das cidades, nas bacias hidrográficas e no âmbito da saúde humana.

Borja e Moraes (2006) afirmam que a noção de saneamento assume conteúdos

diferenciados em cada cultura e que o seu conceito vem sendo socialmente construído ao longo

da história em função das condições materiais e sociais de cada época, do avanço do

conhecimento e da sua apropriação pela população. Assim, o conceito de saneamento não pode

ficar vinculado a uma ampla definição, nem tampouco a uma concepção estreita, atrelada

somente às ações voltadas ao abastecimento de água, ao esgotamento sanitário, a coleta e

disposição de resíduos sólidos ou a drenagem urbana.

Assim sendo, o saneamento pode ser conceituado de forma ampla, como conjunto de

medidas visando preservar ou modificar as condições do ambiente com a finalidade de melhorar a

qualidade do meio físico e de vida da população, prevenir doenças, promover a saúde, melhorar a

produtividade do indivíduo e facilitar a atividade econômica. Também pode ser tomado de forma

restrita, conforme a Lei 11.445/2007, como conjunto de serviços, infraestruturas e instalações

operacionais de: (i) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades, infraestruturas e

instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as

ligações prediais e respectivos instrumentos de medição; (ii) esgotamento sanitário: constituído

pelas atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e

destinação final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento

final no meio ambiente; (iii) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, referindo-se ao

conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte,

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transbordo, tratamento e destino final dos resíduos sólidos domésticos e dos resíduos sólidos

originários da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas; e (iv) drenagem e manejo das

águas pluviais urbanas que encerram um conjunto de atividades, infraestruturas e instalações

operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o

amortecimento de vazões de cheias, tratamento e destinação final das águas pluviais drenadas nas

áreas urbanas.

Quaisquer que sejam os diversos conceitos e componentes utilizados, esses revelarão

sempre múltiplas associações entre o saneamento e o meio ambiente. A conservação do meio

físico e biótipo é um pressuposto atual inserido nos projetos de saneamento, diferentemente de

alguns anos atrás quando a concepção sanitária clássica recaía somente na promoção da saúde

humana. A condição ambiental e social gerada pelos efeitos dos investimentos ligados aos

sistemas de saneamento nas cidades vem se incorporando como pressupostos relevantes nos

estudos avaliativos adotados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),

principalmente naqueles referentes a levantamentos suplementares como a Pesquisa Nacional por

Amostras de Domicílios (PNAD) construída ao longo dos anos.

A ausência do saneamento interfere na conservação do meio físico e biótipo. No que tange

aos serviços públicos de resíduos sólidos, a destinação final mal gerenciada pode causar sérios

danos ambientais, como será tratado adiante.

2.4. Resíduos Sólidos Urbanos

Segundo a Norma Brasileira ABNT NBR 10004, de 2004, os resíduos sólidos são

definidos como: Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível (NBR 10004, p.1).

Esta Norma adverte que esses tipos de resíduos sólidos podem causar risco à saúde

pública, provocando mortalidade, incidência de doenças ou acentuando seus índices; e riscos ao

meio ambiente, quando o resíduo for gerenciado de forma inadequada (NBR 10004). Portanto, o

gerenciamento adequado dos resíduos sólidos tem relação direta com a mitigação de impactos

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ambientais, ou seja, o gerenciamento pode minimizar os impactos ambientais nocivos, causados

pelos resíduos sólidos.

O Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos é a co-participação no sistema de

limpeza urbana (acondicionamento, coleta, triagem e reciclagem, transporte, tratamento e

destinação final dos rejeitos). Envolve diferentes órgãos da Administração Pública, das

organizações e da sociedade civil, objetivando elevar a qualidade de vida da população e

promover o desenvolvimento sustentável. Um instrumento que apóia o gerenciamento integrado

de resíduos sólidos é o Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos (PGIRS),

documento que diagnostica a situação atual e traça cenários para o sistema de limpeza urbana. O

plano de gerenciamento integrado estabelece diretrizes e ações ligadas aos aspectos ambientais,

econômicos, financeiros, administrativos, técnicos, sociais e legais, desde a geração até a

destinação final dos resíduos sólidos.

As ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamento, que compõem o plano

de gerenciamento integrado dos resíduos sólidos, devem se processar de modo articulado, porque

as atividades e procedimentos envolvidos nesse componente do saneamento básico encontram-se

interligados, comprometidos entre si.

A interligação entre estas diferentes esferas necessita de instrumentos legais que a

fundamente. Desde os anos oitenta, as legislações federais que vêm atuando como ferramenta de

apoio na inter-relação entre resíduos sólidos, sociedade e meio ambiente são:

i) A Lei Federal nº 6.766/1979, que define as competências do Estado e do Município sobre

a questão do parcelamento do solo. É um instrumento importante na interface de áreas

contaminadas com o desenvolvimento urbano. A Lei não permite o parcelamento do solo

em áreas poluídas, em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo à saúde

pública, sem que sejam previamente saneados.

ii) A Lei Federal nº 6.938/1981, regulamentada pelo Decreto nº 99.274/1990, define a

política nacional do meio ambiente e regula a estrutura administrativa de proteção e de

planejamento ambiental, o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA).

iii) A Constituição Federal do Brasil de 1988, que estabelece os princípios da política

nacional do meio ambiente. No capítulo VI (“Do Meio Ambiente”), Artigo 225, é

colocado, dentre outros, o princípio que todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado.

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iv) A Resolução CONAMA n.º 005, de 31 de março de 1993, dispõe sobre o tratamento de

resíduos sólidos gerados em estabelecimentos de saúde, portos e aeroportos e terminais

ferroviários e rodoviários;

v) A Lei ordinária n.º 787, de 1997, dispõe sobre o Programa de Prevenção de Contaminação

por Resíduos Tóxicos, a ser promovido por empresas fabricantes de lâmpadas

fluorescentes, de vapor de mercúrio, vapor de sódio e luz mista e dá outras providências.

vi) A Resolução CONAMA n.º 237, de 19 de dezembro de 1997, estabelece norma geral

sobre licenciamento ambiental, competências, listas de atividades sujeitas a

licenciamento.

vii) A Lei nº 9.605/98, sobre as sanções penais e administrativas derivadas de lei de crimes

ambientais, condutas e atividade lesivas ao meio ambiente. Prevê penas de reclusão de até

cinco anos.

viii) A Lei nº. 11.445/2007 estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico

e a política federal de saneamento básico. Estabelece a responsabilidade do titular dos

serviços públicos de saneamento básico.

ix) O Decreto n.º 7.217/2010, que regulamenta a Lei n.º 11.445/2007 e estabelece normas

para sua execução.

x) A Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos;

altera a Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Dentre outras

definições, esta Lei considera área contaminada o local onde há contaminação causada

pela disposição, regular ou irregular de quaisquer substâncias ou resíduos.

xi) O Decreto n.º 7.404/2010, que regulamenta a Lei n.º 12.305/2010.

Os marcos relativos aos itens viii ao xi merecem destaque. A Lei n. 11.445, de 5 de

janeiro de 2007, que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e a Política

Federal de Saneamento Básico, resultado de décadas de debates, exige legalmente a ação de

planejamento. Na Lei cabe ao titular dos serviços públicos de saneamento básico formular a

política pública de saneamento básico, ação indelegável a outro ente, devendo para tanto elaborar

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o plano de saneamento básico (art. 9º, do Capítulo II). A participação da sociedade na elaboração

do Plano é assegurada no parágrafo 5, inciso V, do art. 19, do Capítulo IV e no art. 51, do

Capítulo IX. Esse Marco Regulatório também prevê, com consultas e audiências públicas, o

acesso a todos, aos estudos e às informações. Assim, não só a ação de planejamento se constitui

em um desafio, mas também a promoção de um planejamento participativo (MORAES E

BORJA, 2009).

Em 2011, o Governo do Estado da Bahia vem discutindo e elaborando a Política Estadual

de Resíduos Sólidos (PERS), em consonância com o Conselho Nacional das Cidades

(ConCidades), ligado ao Ministério das Cidades, que coordena a formulação de estratégias para

dar apoio aos planos municipais de saneamento básico de forma participativa. Esse Conselho

aprovou a Resolução Recomendada nº. 32/2007, que estabelece uma campanha para elaboração

dos planos dessa área. Determinou também, por meio da Resolução Recomendada nº. 33/2007 o

prazo de até dezembro de 2010 para os municípios formularem seus planos de saneamento

básico, senão, a partir de 2011, não teriam acesso aos recursos financeiros da União para aplicar

em serviços de abastecimento de água, de esgotamento sanitário, de coleta e destinação final de

resíduos sólidos e de drenagem urbana. Entretanto, o ConCidades constatou a dificuldade de

muitos municípios brasileiros para prepararem eficientemente os seus planos e por meio da

Resolução Recomendada nº. 75/2009 estabeleceu os conteúdos mínimos para elaboração dos seus

planos, detalhando aqueles contidos no art. 19 da Lei n.º 11.445/2007.

Finalmente, em 21 de junho de 2010, o Decreto nº. 7.217, estendeu para 2014 a

apresentação dos planos de saneamento básico elaborados como condição para acesso a recursos

federais. A justificativa utilizada pelos municípios para a dificuldade na elaboração dos planos

municipais de saneamento básico é que eles não possuem técnicos capacitados para a elaboração

de trabalhos dessa natureza ou verbas para a contratação de profissionais para tal fim (AESBE,

2010).

Outra importante Norma para a área é a Lei nº. 12.305, de 2 de agosto de 2010, que

instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, tendo sido discutida desde 1991, pelo

Congresso Nacional. Em março de 2010, a Câmara dos Deputados aprovou esse marco

regulatório. Em julho de 2010, o Senado aprovou a matéria e, em agosto do mesmo ano, foi

sancionada pelo presidente da República. Esse regulamento impõe obrigações aos empresários,

ao Poder Público e aos cidadãos no gerenciamento dos resíduos sólidos. Esse marco regulatório

busca reforçar e incentivar o consumo consciente e o combate ao desperdício. Estimula a

pesquisa, as tecnologias sustentáveis e o controle social. Reconhece também a ação dos catadores

de materiais recicláveis, como a força motriz da coleta seletiva, seja ela de caráter formal ou não.

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Para os efeitos da Lei nº 12.305/2010, os resíduos sólidos foram classificados quanto a

origem e a periculosidade. Quanto à origem, incluem-se: (i) resíduos sólidos domiciliares,

aqueles originários de atividades domésticas em residências urbanas; (ii) resíduos sólidos de

limpeza urbana, aqueles originários da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas além de

outros serviços de limpeza urbana; (iii) resíduos sólidos urbanos, aqueles englobados nas alíneas

“a” e “b”; (iv) resíduos sólidos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços; (v)

resíduos sólidos dos serviços públicos de saneamento básico, aqueles gerados nessas atividades,

excetuados os referidos na alínea “c”; (vi) resíduos sólidos industriais, aqueles gerados nos

processos produtivos e instalações industriais; (vii) resíduos sólidos de serviços de saúde, aqueles

gerados nos serviços de saúde, conforme definido em regulamento ou em normas estabelecidas

pelos órgãos do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e do Sistema Nacional de

Vigilância Sanitária (SNVS); (viii) resíduos sólidos da construção civil, aqueles gerados nas

construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes

da preparação e escavação de terrenos para obras civis; (ix) resíduos sólidos agrossilvopastoris,

aqueles gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais, incluídos os relacionados a insumos

utilizados nessas atividades; (x) resíduos sólidos de serviços de transportes, aqueles originários de

portos, aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira; e,

(xi) resíduos sólidos de mineração, aqueles gerados na atividade de pesquisa, extração ou

beneficiamento de minérios. Quanto à periculosidade estão incluídos: (i) resíduos sólidos

perigosos, aqueles que, em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade,

reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade,

apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com lei,

regulamento ou norma técnica; e, (ii) resíduos sólidos não perigosos, aqueles não enquadrados na

alínea “a”.

As disposições da recente Lei reforçam e apóiam o desenvolvimento sustentável.

Alterações ambientais, físicas e biológicas ao longo do tempo modificam a paisagem e

comprometem a qualidade de vida do cidadão, principalmente, aqueles que habitam em áreas

empobrecidas.

É inevitável a geração de resíduos sólidos nas cidades devido à cultura do consumo. O

sistema de limpeza urbana deve estar preparado para ser administrado por meio de diversas

estruturas organizacionais, seja pela administração direta do município, por uma empresa pública

específica, por uma empresa de economia mista, criada para desempenhar especificamente essa

função, por concessões, terceirizações ou consórcio com outros municípios, especialmente para a

destinação final dos resíduos sólidos. O uso de instrumentos gerenciais como planejamento

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técnico, operacional e gerencial, administração dos recursos humanos, patrimoniais e financeiros,

organização das tarefas, direção das atividades e controle de todo o sistema de limpeza urbana,

permitem a criação de procedimentos e rotinas, que contribuem para um manejo apropriado dos

resíduos sólidos.

Esses procedimentos e rotinas enfocam desde o planejamento integrado dos sistemas de

limpeza urbana, com a elaboração dos Planos de Gestão de Limpeza Urbana (PGLU), até a sua

implementação, ou ainda construção de aterros sanitários, recuperação de áreas degradadas por

“lixões”, programas de educação ambiental, capacitação do pessoal operacional e projetos de

ressocialização dos catadores dos “lixões”.

A etapa do sistema de limpeza urbana que será tratada nesta Tese, com maior

profundidade, é a da destinação final dos resíduos sólidos. Assim, convêm definir, clara e

objetivamente, o que sejam os processos de destinação final, fazendo distinção entre aterro

sanitário, aterro controlado e o seu concorrente maior, amplamente utilizado no Brasil: “o lixão”.

O aterro sanitário é um equipamento projetado para receber e tratar os resíduos sólidos

gerados pelos habitantes de uma cidade, com base em estudos de Engenharia e Geologia, para

reduzir ao máximo os impactos causados ao meio ambiente. Segundo a UNEP (2005) e o

SyCTOM (2008), o aterro sanitário constitui-se em uma das técnicas mais seguras e de mais

baixo custo para destinação final de resíduos sólidos.

Os aterros são projetados para uma vida útil superior a 10 anos, prevendo-se ainda a sua

monitorização alguns anos após o seu fechamento. São projetados e construídos em

conformidade com a legislação vigente, após estudos de impacto ambiental (EIA) e processo de

licenciamento. Os aterros sanitários não são considerados, realmente, um processo de tratamento

dos resíduos sólidos. Trata-se, apenas, de uma tecnologia de disposição segundo métodos

adequados de colocação da escória industrial, resíduos sólidos vegetais, papéis e papelões, panos,

madeiras, latas, vidros, louça e sintéticos. O resíduo sólido é disposto no solo, proveniente da

alteração das rochas, em camadas sucessivas de espessura predeterminada, cada uma das quais é

recoberta por uma camada de solo argiloso, compactado. De acordo com a CETESB (1984),

formam-se assim células recheadas de resíduos sólidos, os quais passam a sofrer um processo de

decomposição em ambiente confinado, livre do acesso de insetos e outros animais.

Nesses processos de destinação final, ocorre a decomposição do material orgânico

originalmente disposto devido à ação da microbiota nativa, tanto em aerobiose, que ocorre nas

regiões mais superficiais das células de confinamento, quanto em anaerobiose, estabelecida nas

regiões mais profundas. No caso da matéria orgânica morta, a sua estabilização só se processa

com a presença de bactérias saprófitas, que existem em abundância nas camadas superficiais do

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solo (DACACH, 1990). Como produto da biodeterioração dos resíduos sólidos e somados à água

infiltrada nas células forma-se o líquido chamado lixiviado. As características físico-químicas e

microbiológicas do lixiviado são funções da composição, origem e idade dos resíduos sólidos

inicialmente dispostos, bem como da fase de decomposição do processo. De forma geral, esse

líquido contém, em concentrações variadas, compostos orgânicos polares, apolares, além de

metais pesados que podem contaminar o meio ambiente e ser tóxicos aos seres vivos

(PALMISANO E BARLAZ, 1996).

Diferentemente dos aterros sanitários, nos quais são empregados procedimentos e

cuidados para uma disposição adequada dos resíduos sólidos sobre o solo, os aterros controlados

dispõem os resíduos sólidos sem proteger a área utilizada para este fim. Contudo, o aterro

considerado como controlado utiliza alguns mecanismos para minimizar os impactos ao solo,

como: disposição ordenada, compactação dos resíduos sólidos e cobertura com uma camada de

terra. Pode ainda apresentar algum controle para evitar a poluição do lençol freático. Apesar dos

órgãos ambientais exigirem a instalação de aterros sanitários, muitas vezes aceitam que esse tipo

de equipamento funcione temporariamente, devido às dificuldades impostas pela instalação e

gerenciamento de aterros convencionais.

Os “lixões” consistem na disposição inadequada dos resíduos sólidos em áreas baldias,

afastadas da cidade e sem qualquer cuidado com o uso do solo. Não existem medidas de proteção

à saúde pública, tampouco ao meio ambiente. A disposição inadequada de resíduos sólidos no

solo que vai contaminando as águas superficiais é reconhecida como um dos graves problemas da

atualidade (UNEP, 2005; EPA, 2007). Os efeitos do lançamento de rejeitos na natureza são

incalculáveis e recaem principalmente na escassez, na contaminação da água e no aumento das

doenças associadas à poluição ambiental. Segundo Nascimento e Barbosa (2005), a água pode ser

importante veículo para a transmissão de numerosas doenças epidêmicas, principalmente por

meio das bactérias do grupo coliforme, que compreendem todos os bacilos gram-negativos, não

formadores de esporos, aeróbicos ou anaeróbicos facultativos. Fazem parte deles, gêneros e

espécies indicativas de poluição por fezes, embora possam ser também provenientes do solo e de

determinados vegetais. Assim, a poluição das águas pode aparecer de vários modos, ocorrendo

por infiltração do solo ou transportada pelas águas de chuva para os rios e mares.

Outras destinações dadas aos resíduos sólidos são: a redução, a reutilização e a

reciclagem, ferramentas gerenciais que ajudam a diminuir o volume de resíduos urbanos e

industriais, que seguiriam para os aterros sanitários. Estas ferramentas se encontram inseridas na

Política Nacional de Resíduos Sólidos e também serão tratadas com destaque nos próximos

capítulos.

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A participação da comunidade nas atividades de minimização de resíduos sólidos pode

funcionar como uma promessa de reequilíbrio ambiental, de desenvolvimento, tendo seus

desdobramentos na vida cotidiana. A criação de dispositivos para o fortalecimento da

participação popular e do controle social, de modo a ampliar o controle público da sociedade

sobre os serviços públicos de saneamento básico é fundamental para a transformação sócio-

ambiental. A figura do catador de resíduos sólidos, de uma maneira geral, é vista como reflexo de

um gerenciamento inadequado das áreas de destinação final. Para Zanta e Ferreira (2006), as

diretrizes das estratégias de gestão e gerenciamento de resíduos sólidos urbanos evitam ou

reduzem a geração de resíduos sólidos e de poluentes prejudiciais ao meio ambiente e à saúde

pública. Dessa forma, se faz necessário analisar, com ênfase, o gerenciamento dos resíduos

sólidos no Brasil e no mundo.

O crescimento populacional, a consequente expansão territorial urbana e a ampliação do

sistema de produção e consumo industrial têm contribuído para agravar as condições ambientais.

A forma precária que vêm sendo avaliados os aterros sanitários baianos, tanto no que refere à

gestão, quanto aos impactos ambientais, sinalizam a necessidade de investigação acurada. O

objetivo geral desta Tese inclui esta preocupação, visto que busca analisar quais instrumentos de

gestão que podem provocar ampliação e melhoria no atendimento da destinação final de resíduos

sólidos e, a consequente prevenção da poluição ambiental. Para atingir esta finalidade, uma

análise da localização geográfica e das formas como vêm se dando as práticas de gestão dos

resíduos sólidos nas diversas regiões do mundo foi realizada, assunto que será tratado no próximo

Capítulo.

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CCAAPPÍÍTTUULLOO IIIIII –– EESSTTAADDOO DDAA AARRTTEE DDOOSS RREESSÍÍDDUUOOSS SSÓÓLLIIDDOOSS NNOO MMUUNNDDOO EE NNOO BBRRAASSIILL

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III – ESTADO DA ARTE DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNDO E NO BRASIL

A intervenção antrópica na natureza é uma das principais causas do desequilíbrio do

ecossistema mundial. Na hierarquização das questões relativas à exploração predatória das

riquezas naturais, a geração, tratamento e destino dos resíduos sólidos podem ser considerados

como principais problemas.

A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do Programa das Nações Unidas

para o Meio Ambiente, tem concentrado esforços para manter o estado do meio ambiente global

sob contínua monitorização. Considerando a complexidade da área de resíduos sólidos, em 2005,

o International Environmental Technology Centre (IETC), divisão do PNUMA, publicou um

extenso trabalho sobre o cenário mundial de resíduos sólidos (Solid Waste Management - Volume

II: Regional Overviews and Information Sources). Esse trabalho permite aos países uma auto-

avaliação e comparação do seu desempenho, entre diversos serviços públicos ligados ao resíduo

sólido urbano e industrial, como: a coleta de resíduos sólidos, a reciclagem e as técnicas de

destinação final.

A presente Tese buscou ampliar os dados publicados pelo IETC e pela Agência de

Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), com outros fornecidos por estudos acadêmicos,

para relatar como vem acontecendo o gerenciamento dos serviços públicos de resíduos sólidos

nos diferentes continentes da Terra.

3.1. Estado da Arte dos Resíduos Sólidos no Mundo

Por meio da publicação Solid Waste Management: Regional Overviews and Information

Sources, o PNUMA buscou divulgar dados de resíduos sólidos dos continentes da Terra. Esse

propósito objetiva difundir as boas práticas na área e as convergências em relação a problemas

ambientais comuns, causados pelos resíduos sólidos.

3.1.1. Minimização – Redução, Reuso e Reciclagem dos Resíduos Sólidos

A publicação da IETC, imbuída na divulgação do estado da arte praticado pela área de

resíduos sólidos, promove as ações em direção à minimização dos resíduos sólidos, que inclui a

redução, o reuso, a reciclagem e a compostagem (na fonte), que desvia os resíduos sólidos dos

locais de destinação final. A redução na fonte leva à diminuição da quantidade e redução da

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toxicidade provocada pelos resíduos sólidos ao solo. O reuso do produto inclui a redução do

volume de material, a eliminação da toxicidade, o aumento da vida do produto e a diminuição do

consumo. Por fim, o reaproveitamento, que abrange a reciclagem e a compostagem, gera a

necessidade de desenvolvimento de novas tecnologias, que fazem parte das estratégias de alcance

do desenvolvimento sustentável.

3.1.1.1. África

Na maioria dos países africanos, o poder municipal é o responsável pela coleta dos

resíduos sólidos. Esta coleta é feita de diversas maneiras, desde homens e carroças, até caminhões

compactadores. A coleta de resíduos sólidos no Continente varia de 20% a 80%, perfazendo uma

média de 40% a 50% em toda África, sendo o descarregamento, frequentemente, em locais a céu

aberto, sobre o solo, sem preocupação com o preparo da área ou dos aspectos operacionais

(UNEP, 2005).

Em Lagos (Nigéria), a rápida urbanização das cidades incrementou a geração de resíduos

sólidos urbanos e industriais. Aproximadamente 90% das indústrias não tratam seus rejeitos, que

não são controlados nem fiscalizados, devido à fragilidade das instituições que gerenciam essa

área (UNEP, 2005). Em Lusaka (Zâmbia), aproximadamente 1.400 toneladas de resíduos sólidos

são diariamente geradas e não coletadas. As instituições locais ligadas à área de resíduos sólidos

têm poucos funcionários, equipamentos e recursos financeiros (AGYEMANG et al., 1997).

Exceto nas principais cidades, inexistem sistemas formais de coleta de materiais recicláveis.

Porém, no setor informal, esta atividade é amplamente realizada e ocorre em diferentes níveis, de

acordo com a valoração promovida pelo mercado. A indústria de bebidas, por exemplo, incentiva

o reuso das suas embalagens.

3.1.1.2. América do Norte

Na América do Norte, muitos problemas de poluição e de desperdício são causados pelo

contínuo crescimento econômico e pela dependência de níveis elevados de energia e de riquezas

naturais. Os norte-americanos são os maiores produtores de resíduos sólidos contínuos

municipais do mundo. Entre 1980 e 1995, o norte-americano gerou aproximadamente 620

quilogramas de resíduos sólidos por ano, nível elevado se confrontado com a média de 430

quilogramas gerados por ano pelo cidadão europeu. A prática de redução de resíduos sólidos,

reuso e reciclagem nos Estados Unidos vem promovendo uma gradual redução das quantidades

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enviadas para disposição e tratamento final (aterros ou incineração). Porém, ainda é baixa a

reciclagem de materiais como o vidro e o papel, se comparada com a da maioria dos países

europeus (UNEP, 2005).

No passado, a reciclagem na América do Norte ocorria fora da jurisdição oficial da gestão

dos resíduos sólidos. Grupos voluntários organizavam nos bairros movimentos de coleta de

materiais como jornais, frascos e latas. Uma rede bem organizada de negócios recuperava o papel

e os metais dos centros comerciais. Nos últimos anos, a reciclagem é prioridade máxima na

América do Norte, devido ao aumento dos custos relativos à destinação final dos resíduos sólidos,

à dificuldade de encontrar locais para construir aterros ou incineradores e à renovada

preocupação pública com o meio ambiente. O Canadá, por exemplo, no ano 2000, projetou para

os próximos anos uma meta de 50% na redução da destinação final dos materiais de

empacotamento.

Em 2005, aproximadamente 25% a 30% dos resíduos sólidos contínuos na América do

Norte eram dirigidos para reciclagem, incluindo cerca de 5% para compostagem.

Comparativamente, em 1975, menos de 10% dos resíduos sólidos eram destinados à reciclagem e

nenhum destinado para compostagem. Em 2005, mais de 9.700 programas de reciclagem estavam

em operação na região, na forma de incentivos advindos de programas de todos os níveis do

governo, especialmente do nível local nos Estados Unidos e do regional no Canadá. As

quantidades e os tipos de materiais recuperados per capita, entretanto, diferem de forma distinta,

especialmente se consideradas as zonas urbanas, suburbanas ou rurais. A disponibilidade de

determinada infraestrutura pública para reciclagem é igualmente causa determinante (UNEP,

2005).

Na América do Norte, os programas de redução na fonte foram executados por meio da

educação, da pesquisa, de incentivos e de estímulos financeiros (por exemplo, taxas baseadas em

volumes gerados), regulamentações e desenvolvimento tecnológico.

Os métodos mais utilizados para coleta desses materiais são: (i) coleta central, onde os

geradores transportam materiais a um receptor central; e, (ii) coleta selecionada, onde os

recicláveis são coletados nos domicílios. Os centros coletores permanecem no mesmo local há

muitos anos. Atualmente, governos locais se esforçam para alcançar um alto grau de coleta de

recicláveis, estimulando também a reciclagem doméstica. Pontos centrais de coleta recebem

utensílios domésticos e materiais de pequenos comerciantes e são conhecidos geralmente como

centros de recompra (buyback centres) ou centros de depósito (dropoff centres). Esses centros

determinam que os usuários levem os recicláveis a um ponto central de coleta. Somente os

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centros de recompra pagam pelo material. Os custos de operação desse tipo de coleta são menores

que a coleta tradicional nos bairros (UNEP, 2005).

A United States Environmental Protection Agency (EPA), agência de proteção ambiental

americana, publicou um guia para ajudar os planejadores de eventos culturais, esportivos,

acadêmicos, sociais e públicos a reduzir a quantidade de resíduos sólidos gerados nas suas

reuniões. Esse guia resume os passos chave para planejar e organizar um evento que seja marcado

pela consciência ambiental, por meio de uma lista com itens como: utilização de transporte

público para os participantes do evento; hospedagem em hotéis que tenham preocupações

ambientais; uso de material impresso frente e verso, em papel reciclado; uso de tintas não tóxicas

para as impressoras e canetas distribuídas; oferecimento de coffee-breaks em recipientes

reutilizáveis e, distribuição de contêineres para coleta de restos de alimentos, com fins de

compostagem (EPA, 1996). Esse guia revela a preocupação da agência ambiental americana com

a redução, reuso e reciclagem, no país de maior consumo per capta do mundo.

3.1.1.3. América Latina e Caribe

Na América Latina e no Caribe a recuperação dos materiais recicláveis é uma atividade

difundida amplamente. A reciclagem ocorre na maioria das grandes e médias cidades. Os

materiais reversos mais utilizados são o papel e papelão, o vidro, os metais (predominantemente o

alumínio) e plásticos. Todos esses materiais, exceto os plásticos, são reciclados pelas indústrias

em grande escala, para a fabricação de sacos plásticos e recipientes.

Nos grandes centros urbanos argentinos, brasileiros, colombianos e mexicanos, locais de

recepção de materiais recicláveis podem ser encontrados nas áreas externas de centros

comerciais.

Posteriormente, as ações de minimização desempenhadas no Brasil serão tratadas de

forma mais detalhada.

3.1.1.4. Ásia e Pacífico

Nas maiores cidades da Austrália, Hong Kong, Japão, Coréia do Sul e Nova Zelândia,

encontra-se um alto grau na redução de resíduos sólidos, separação na fonte e reciclagem,

estimulados pela educação pública, novas práticas e cobrança de taxas de coleta. A Coréia do Sul

vem implementando, desde 1995, um sistema de cobrança de taxa. Usuários devem colocar os

seus resíduos sólidos em sacolas, que são vendidas pela administração municipal, com os

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materiais reutilizáveis separados. Esta iniciativa vem resultando em 20% a 30% de decréscimo de

resíduos sólidos nos aterros coreanos (UNEP, 2005).

Yasuda (2006) apresenta os resultados de uma pesquisa realizada em mais de duas mil

residências japonesas, sobre a geração de resíduos sólidos perigosos. Assinala que entre 2,5 e

4,3kg por tonelada de resíduos sólidos domésticos são considerados perigosos. O percentual de

baterias corresponde a mais de 50%. Nos meses de novembro e dezembro, o descarte desses

resíduos sólidos é maior do que nos meses anteriores. Um dos objetivos desta pesquisa foi o de

estimar a geração desse tipo de resíduos sólidos, na busca de subsídios para a elaboração de

projetos na área da coleta e possíveis reusos dos resíduos sólidos especiais no País.

A UNEP (2005) expõe que o conceito americano de garage sale também vem sendo

adotado pelo Japão. O poder municipal de algumas cidades japonesas vem encorajando escambo

de roupas e de eletrodomésticos entre a vizinhança. A cidade de Osaka possui uma publicação

intitulada Osaka Recycling Monthly, que visa incentivar trocas, principalmente de móveis e

utensílios elétricos. O Hong Kong Productivity Council vem promovendo educação ambiental

com foco na geração e destinação de resíduos sólidos. Há um sofisticado mercado de produtos

ligados aos resíduos sólidos, inclusive com resultados que geram excedentes para exportação.

Estas cidades possuem companhias especializadas para coletar produtos recicláveis, com o intuito

de processamento e venda interna ou externa. Em Singapura, 38% do total dos resíduos sólidos

gerados, majoritariamente pela indústria e pelo comércio, é reciclado por companhias comerciais.

Na República Popular da China e no Vietnam, a reutilização e reciclagem são atividades

organizadas a nível municipal, com suporte federal. A China, especialmente as principais cidades,

tem grandes companhias que coletam materiais das organizações privadas e das governamentais

para reciclagem. Há também feiras nos bairros, onde as pessoas podem vender frascos, papel e

roupa. Normas estatais regulamentam os materiais e os preços de forma ineficaz. Porém, nos

últimos anos, desde o estabelecimento da nova política econômica no País, as pessoas têm mais

liberdade e, preferem negociar com os materiais de maior valor de mercado, tais como os metais

e não com recicláveis domésticos. Atualmente, materiais são coletados e negociados por

empreendedores privados, que podem vender às companhias do governo ou diretamente às

fábricas. Diversas cidades no Sudeste e no Leste da Ásia tentaram, de forma experimental, a

separação na fonte. Bancoc, Hanói, cidade de Ho Chi Minh, Shah Alam (Malásia) e Xangai,

buscaram pôr em prática esta atividade em bairros selecionados, mas nenhuma persistiu, por

causa dos muitos problemas encontrados. Um município de Kuala Lumpur está tentando

financiar esta atividade. Recentemente, o Programa GEO 2000 - Ásia-Pacífico da United Nations

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Environment Programme (UNEP), vem financiando organizações comunitárias para promoverem

a separação na fonte (UNEP, 2005).

Em diversos países do subcontinente asiático, existe dificuldade na gestão de pessoas dos

serviços públicos ligados aos resíduos sólidos. É visto com desconfiança o manejo executado por

sindicatos, considerados muito fortes e demasiadamente poderosos. Quase em toda parte, são

deficientes a execução dos planos de limpeza urbana e a monitorização sistemática do seu

desempenho. Não há norma ou plano de manejo moderno. Em alguns casos, não há padronização

de desempenho, como manuais de procedimentos para varrição e coleta nas ruas indianas. Em

geral, trabalhadores de manejo de resíduos sólidos são mal pagos, mal treinados e

supervisionados inadequadamente, além do departamento de gestão de resíduos sólidos ser

considerado de baixo-status. Técnicos graduados não permanecem por muito tempo nas funções,

trazendo permanente descontinuidade nos serviços.

É difícil para as autoridades da área de resíduos sólidos interagirem com as populações de

baixa renda. Tal cooperação está sendo conseguida, entretanto, com a mediação de ONGs em

diversos países (projeto de Orangi em Karachi, projeto piloto PROUD em Bombaim, Society for

Clean Environment and United Way em Baroda, Sneha Bhavan em Cochin e comitê Save Pune

em Pune) (UNEP, 2005).

A presença das organizações ambientais cívicas está aumentando na região e,

especialmente, desde os casos de epidemia na Índia, em 1994, estas organizações estão voltando

a atenção para o gerenciamento dos resíduos sólidos. Em geral, o papel das ONGs junto às

comunidades locais pode ser extremamente útil, verificando o desempenho dos serviços,

implementando a redução por meio da compostagem e promovendo a reciclagem.

No que se refere ao reuso, a Índia priorizou o do plástico. Bangladesh tem discutido

limites para o empacotamento plástico. Nas regiões sul e ocidental da Ásia, muitas atividades

ligadas à redução, à reutilização e à reciclagem, têm dificuldades no seu desenvolvimento, devido

às elevadas porcentagens de resíduos sólidos orgânicos e em alguns lugares, de cinzas. A

separação formal e informal na fonte e a reciclagem da maioria dos produtos manufaturados não-

orgânicos são significativas na região. A prática é essencialmente controlada pelo mercado; as

indústrias se interessam em usar materiais reciclados somente quando o seu custo é compensador,

em relação ao custo da matéria prima convencional (UNEP, 2005).

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3.1.1.5. Europa

Os governos europeus, muitos com tradição política social-democrata, não questionam a

sua responsabilidade direta na área da saúde pública, assim como também no gerenciamento dos

resíduos sólidos, que se enquadram nas competências dos governos locais. Nos países da União

Europeia (EU), o reuso e a reciclagem fazem parte das práticas incorporadas pelos cidadãos e são

necessárias e essenciais para o bom desempenho dos sistemas de gerenciamento integrado.

Porém, há consideráveis variações nas práticas europeias de redução na fonte, de recuperação dos

materiais e de reciclagem. Estas variações ocorrem desde os métodos empregados, grau de

compromisso político e fiscal e mercados disponíveis (UNEP, 2005).

A logística reversa vem sendo difundida e incorporada, de forma crescente, pela indústria

europeia. Esse princípio obriga ao poluidor a arcar com os custos da atividade poluidora, que, em

decorrência de sua atividade produtiva, possa estar causando danos ao meio ambiente. Dessa

forma, a responsabilidade financeira de coleta dos resíduos sólidos industriais cabe ao produtor.

Alguns países, tais como Áustria e Alemanha, tratam esse princípio como lei; outros, como a Grã

Bretanha e a França, voluntariamente executam a coleta, depois elaboram relatórios

documentados, objetivando obter incentivos fiscais com a recuperação, o reuso ou a reciclagem

dos resíduos sólidos coletados.

Na França, o Estado permite que a indústria utilize a infraestrutura de gerenciamento dos

resíduos sólidos públicos para fins privados de reciclagem e, em contrapartida, recebe taxas que

convergem para a melhoria dos equipamentos públicos. Relatórios objetivos sobre a eficácia

desses programas são difíceis de encontrar (UNEP, 2005). Um complicador, que pode ser citado,

é o fato que muitos programas tiveram objetivos ambiciosos de recuperação e não demonstraram

os seus efeitos até o ano 2000. Um exemplo do esforço de responsabilidade do gerador é o

sistema alemão de DSD (DUALIS), que obteve prejuízos em 1993, e terminou disseminando

grandes quantidades de recicláveis de baixa qualidade no mercado secundário europeu.

Sobreviveu somente depois de intervenção governamental, que patrocinou alguns empréstimos

em longo prazo para quitação dos débitos dos governos locais e regionais (UNEP, 2005).

A diretiva Waste Electrical and Electronic Equipment (WEEE/2002) e a diretiva

Restriction of Hazardous Substances Directive (RoHS/2003) estabelecidas pela Comunidade

Europeia para disciplinar os resíduos sólidos de equipamentos eletroeletrônicos, revisadas em

2008, sinalizam um caminho a ser seguido. Estas duas diretivas se complementam e, se por um

lado estimulam a reciclagem de produtos eletroeletrônicos, por outro proíbem que certas

substâncias como cádmio, mercúrio e chumbo sejam usadas em processos de fabricação de

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produtos. Apesar destas normas, somente um terço dos eletroeletrônicos europeus são separados,

coletados e tratados apropriadamente (EC, 2010). Diversos estados norte-americanos também

estabeleceram marcos regulatórios para disciplinar esta questão e o debate também ocorre no

âmbito federal. Porém, os custos e as implicações envolvidos na recuperação e tratamento dos

Resíduos Eletroeletrônicos (REEE) se revelaram complexas, retardando avanços mais

significativos.

3.1.2. Destinação Final - Aterros Sanitários

A publicação Solid Waste Management: Regional Overviews and Information Sources

conceitua aterro sanitário como a área reservada e operada por normas técnicas para a destinação

final de resíduos sólidos, gerados pela atividade humana. Nele são dispostos resíduos sólidos

domésticos, comerciais, de serviços de saúde e industriais. Para uma análise mais acurada, optou-

se por desenvolver o estudo por região, para permitir uma melhor visualização das características

registradas na publicação do IETC.

3.1.2.1. África

Nesse Continente a operação e o tratamento final dos resíduos sólidos são de

responsabilidade do setor público. Na maioria das principais cidades africanas, os resíduos

sólidos são depositados em áreas a céu aberto no perímetro urbano, apesar de muitas prefeituras

possuírem regulamentos para construção e manutenção de aterros.

Os locais para depósito de resíduos sólidos são escolhidos de acordo com a localização,

em detrimento dos aspectos hidrológicos, das consequências ao nível da degradação do solo e das

questões de salubridade, principalmente nas regiões ao norte da África, como Argélia, Líbia e

Sudão (UNEP, 2005).

Segundo a UNEP (2005), nos aterros existentes, o gerenciamento é mínimo, não inclui

compactação, nem cobertura. Nos últimos cinco anos, países como Egito e África do Sul têm

estimulado políticas para promover melhorias nos seus aterros. Programas nacionais para

construção e operação de aterros vêm sendo desenvolvidos na Tunísia. Em 1995, a África do Sul

instituiu um guia para construção e operação de aterros, assim como a Zâmbia, nesse mesmo ano,

buscou melhorar a sua performance nesses serviços, por meio de um plano nacional.

Na maioria dos países africanos, o despejo no oceano é proibido por lei, porém algumas

cidades costeiras do Sul e do Oeste africanos ainda utilizam esta prática.

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3.1.2.2. América do Norte

Aterros sanitários ainda são os meios preliminares de disposição dos resíduos sólidos

contínuos na América do Norte, manejando aproximadamente 65% a 70% dos resíduos sólidos

urbanos. Desde os finais dos anos 80, quando aterros sanitários eram usados para a disposição

final de aproximadamente 80% do total de resíduos sólidos, vem se dando uma diminuição

progressiva da utilização desse equipamento público. No ano de 1988, havia, aproximadamente,

7.924 aterros sanitários em operação nos Estados Unidos, enquanto que em 2006, tinha apenas

1.754 aterros. Este número representa um declínio significativo de equipamentos em operação,

visto que, em 1979, foi proibido por Lei o despejo de resíduos sólidos a céu aberto, conforme

pode ser verificado na Figura 3.1.(EPA, 2007).

Figura 3.1. – Evolução do Número de Aterros nos Estados Unidos - 1988 a 2006

Fonte: EPA (2007).

Recentes exigências reguladoras americanas ampliaram as proibições de 1979, de modo

que a destinação final deve possuir projeto adequado, destinado a minimizar os perigos à saúde

pública e ao meio ambiente. Autoridades locais têm dificuldades para encontrar terrenos para a

instalação de novos aterros. Algumas comunidades têm se deparado com uma verdadeira crise de

instalação (capacity crisis), particularmente no Nordeste e no meio Oeste americano.

Nos últimos anos, uma parte dos resíduos sólidos que era encaminhada para os aterros,

tem sido levemente reduzida. Entretanto, a quantidade total gerada tem aumentado

significativamente, resultando em aumento do volume destinado aos aterros. Pelas leis

americanas, somente a disposição dos resíduos sólidos contínuos não perigosos são permitidas

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nos aterros, tais como resíduos sólidos domiciliares e comerciais, além de pequenas quantidades

de resíduos sólidos considerados perigosos oriundos de residências e do comércio (EPA, 2007).

Em parte, em resposta à esta situação, aterros regionais estão sendo projetados e

construídos em número menor, porém com maior capacidade de processamento. Esses megafills

estão sendo projetados e construídos, visando assegurar as necessidades atuais e futuras de

destinação final de resíduos sólidos. Esses novos aterros, que fornecem uma considerável

economia de custos, são projetados com o objetivo de cumprir os regulamentos federais e

estaduais e contam inclusive, com parceria entre o Estado e o setor privado. Entretanto, instalar

em um determinado local um aterro desta natureza pode ser difícil. Por exemplo, em 1991, na

região de Toronto, o processo de localização de um novo aterro foi assunto de intenso debate. Por

esse motivo, a responsabilidade para estudar a questão deslocou-se das esferas locais e regionais,

para um comitê independente, ligado ao governo provincial (UNEP, 2005).

Nos Estados Unidos, a monitorização é realizada pela U.S. Environmental Protection

Agency (EPA), a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e possui critérios rígidos e

permanentes. Aplica duras penalidades para o não cumprimento das suas recomendações. Um

caso típico, que pode ser relatado, é o da cidade de Fort Lauderdale, Broward County, Flórida.

Em 1964, o projeto original do equipamento de disposição de resíduos sólidos existente abrangia

aterro de materiais e incineração. No local eram depositadas as cinzas da incineração e os

resíduos sólidos de construção e demolição. Em 1975, o incinerador foi desativado, devido às

novas leis ambientais de proteção da atmosfera. Nesse mesmo ano, o equipamento foi

modernizado e todos os resíduos sólidos municipais aí depositados, além de material lubrificante

e lama tratada dos esgotos municipais. No início do ano de 1980, a EPA confirmou uma

contaminação na área do aterro. Em 1987, as atividades foram encerradas. Em 1988, a Unidade

de Saúde Pública do Condado de Broward County encontrou contaminação em poços privados na

região do aterro. A EPA solicitou ao Condado a recuperação da área, onde foram encontrados

lama e água subterrânea contaminadas. Em 1995, o aterro foi completamente fechado.

Paralelamente, a EPA recomendou que a Prefeitura analisasse a água subterrânea próxima ao

aterro e tomasse providencias junto à operadora de água, alertando-a. Em 2003, a monitorização

feita pela EPA demonstrou que os primeiros resultados relativos à água subterrânea apresentavam

a sua despoluição. Em 2006, o local estava fora da lista de prioridades da EPA. Atualmente, a

área é utilizada como um parque público. Por causa do material perigoso depositado no solo, a

EPA avalia as condições da área a cada cinco anos. Foram avaliados os anos 1994, 2000, 2005.

As conclusões dos relatórios revelam que as áreas remediadas estão sob controle e não causam

perigo ao homem e ao meio ambiente (EPA, 2007).

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Na América do Norte, um aterro com tecnologia avançada inclui características

sofisticadas de engenharia, visando impedir a liberação de substâncias perigosas ao ambiente e

possui todas as instalações técnicas necessárias para a proteção do meio ambiente, como: manta,

captação e tratamento do lixiviado, cobertura de argila, dentre outras. Mesmo com esses

cuidados, é inevitável a aproximação de aves, conforme pode ser visualizado na Figura 3.2.

Figura 3.2. - Aterro Sanitário situado no Estado da Flórida – EUA

Fonte: Marchi (2007).

Aproximadamente cento e cinquenta aterros sanitários situados nos Estados Unidos vêm

recuperando o gás metano como fonte de energia. Os aterros americanos têm que estar dentro dos

padrões estabelecidos pelas leis ambientais do País. Caso contrário são fechados, para assegurar a

proteção ambiental, conforme anteriormente referido.

Dentre os 1.200 itens da lista Superfund dos Estados Unidos, onde constam os locais de

resíduos sólidos perigosos, cerca de 10% está situado em antigos aterros, que aceitavam além de

resíduos sólidos urbanos, quantidades de perigosos resíduos sólidos industriais. A estimativa de

investimentos para a limpeza desses locais se encontra em torno de vinte e cinco milhões de

dólares, por aterro. As atividades corretivas podem incluir a incineração no local, ou fora deste, e

a destinação para outro aterro, que contenha células apropriadas para resíduos sólidos perigosos

(UNEP, 2005).

Um novo conceito de destinação, que está sendo desenvolvido na área, é o Landfill mining

(escavação de materiais aterrados). Esse procedimento consiste em escavar o solo visando

recuperar materiais enterrados, tais como: alumínio, vidro, plástico e outros materiais, que podem

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ser usados como combustível. Porém, como outras técnicas de gerenciamento de resíduos sólidos

urbanos, a sua aplicabilidade dependerá das circunstâncias locais específicas e pode envolver

riscos ambientais, como encontrar resíduos sólidos perigosos.

As operações de destinação final na América do Norte são vistas como um componente

necessário de todo o sistema de gestão integrada de resíduos sólidos. Embora a reciclagem e a

compostagem possam desviar uma parte significativa dos resíduos sólidos dos aterros, nem todos

os resíduos sólidos podem ser aproveitados para estas atividades. Do mesmo modo, embora a

geração de energia limpa possa significativamente reduzir o volume de resíduos sólidos, uma

parte desses ainda permanece e deve ser disposta em aterros sanitários. Deve-se observar também

que a geração de energia limpa é frequentemente interrompida para reparos ou manutenção.

3.1.2.3. América Latina e Caribe

O uso de aterros sanitários na América Latina e no Caríbe aumentou significativamente na

última década. Toda capital e grande cidade no continente latino-americano, México, Costa Rica

e Trinidad Tobago, dentre outras, têm aterros sanitários. Entretanto, muitos desses equipamentos

de destinação final são aterros controlados, caracterizados pela não pesagem dos caminhões com

material a ser disposto nas células e a inexistência das máquinas e equipamentos no local da

operação. Em muitos casos, os resíduos sólidos têm cobertura diária. Entretanto, nem sempre há

recomposição da camada de argila e colocação de nova manta protetora do solo. Frequentemente

não existe captação ou tratamento do lixiviado e monitorização ambiental. Aproximadamente

60% dos resíduos sólidos gerados na região são dispostos em aterros controlados.

Algumas metrópoles da região (Belo Horizonte, Buenos Aires, Guayaquil, Medellín,

Cidade do México, Santiago e São Paulo) têm aterros sanitários modernos. Geralmente, as

mantas sintéticas não são utilizadas, à exceção de alguns novos aterros localizados na Argentina,

no Brasil e no Chile. Existem sistemas de coleta e tratamento do lixiviado e os aterros são

divididos em células, que possuem drenagem dos gases gerados. Os resíduos sólidos são cobertos

diariamente por argila. Quando cheias, as células são desativadas e cobertas por uma camada de

terra, a seguir recobertas por vegetação (UNEP, 2005).

Para traçar um real quadro da situação, toma-se uma análise feita pelo Banco Mundial da

destinação final no México: do total de 97 locais de destinação final no País, somente 11,

localizados na maior parte na região Norte, possuem as condições que permitem que sejam

considerados aterros sanitários. Muitos locais de destinação final mexicanos enfrentam

significativos problemas operacionais e ambientais, como acesso e disposição descontrolados,

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lixiviados não captados, tratados ou monitorizados. Esta análise concluiu que somente 15% dos

resíduos sólidos gerados no México estão dispostos adequadamente.

Na maioria dos aterros da região, o lixiviado não tratado pode se infiltrar nos lençóis

freáticos ou nos rios, contaminando-os. Algumas exceções são os aterros localizados em Santiago

(onde a precipitação é muito baixa), no Brasil, onde o lixiviado é captado, passa por filtros e

tratado em lagoas de estabilização e no aterro da cidade de Buenos Aires, que possui análise,

tratamento químico e biológico do lixiviado. A Cidade do México instalou igual sistema de

tratamento em um de seus aterros.

Devido ao alto índice de disposição de resíduos sólidos orgânicos nos aterros da região, há

tendência para uma alta geração do gás metano. Não obstante, esse gás é somente usado no Chile

(Santiago e Valparaiso), onde três aterros têm sistemas de coleta. O gás é usado por companhias

de gás e serve a aproximadamente 30% da população em cada uma destas cidades. No aterro do

Rio de Janeiro, o gás metano era usado como combustível para caminhões e máquinas.

Entretanto, atualmente, com os preços do gás em queda, é mais barato usar o gás comercial.

Na América Central (à exceção da Costa Rica), as Guianas e a maioria dos países

caribenhos não têm aterros sanitários. Este é também o caso de todas as cidades, que não sejam as

capitais, da Bolívia, do Equador e do Peru e de muitas cidades de tamanho médio, à exceção

daquelas localizadas no Chile, em Cuba, em Trinidad Tobago e na Colômbia. Na ausência de

aterros sanitários, os resíduos sólidos são dispostos em “lixões”. Esses locais são perigosos para a

saúde humana e o meio ambiente. Catadores de resíduos sólidos entram livremente nesses locais,

vivendo, as vezes, lá. Estas pessoas recolhem uma grande quantidade de materiais, incluindo

resíduos sólidos orgânicos, para alimentar porcos (UNEP, 2005).

Constantes tentativas são feitas para impedir o acesso de catadores ao aterro, porém,

geralmente, esses esforços são mal sucedidos. Na Colômbia, entretanto, os catadores de materiais

recicláveis e guerrilheiros foram treinados e financiados para o comércio de reciclados e para a

limpeza das ruas.

Muitos aterros são operados por empresas privadas, particularmente na Argentina, no

Brasil, no Chile, na Colômbia e no México. Normalmente, os serviços ficam a cargo dos

municípios, que os concedem às empresas.

Não há autorização para dispor resíduos sólidos no mar. Entretanto, algumas cidades

litorâneas mais pobres depositam seus resíduos sólidos nas margens dos rios e nas praias. Os

resíduos sólidos são levados ao oceano, quando não permanecem na própria margem, causando

odores e sérios problemas ambientais.

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Aterros Simplificados (Manual landfills)

Em cidades pequenas e médias do continente americano, com menos de 50.000

habitantes, estão sendo construídos aterros simplificados (manual landfills). O projeto desse tipo

de aterro é similar aos aterros sanitários, à exceção do tamanho e dos equipamentos exigidos.

Aterros simplificados têm capacidade para receber de 10 a 50 toneladas de resíduos sólidos por

dia. Demandam, às vezes, uso de tratores e máquinas escavadeiras, mas somente para preparo

periódico do terreno. A operação e manutenção cotidiana são realizadas manualmente, incluindo

o arranjo das células, a compactação, a cobertura com argila e o fechamento das células. Os

custos de construção, operação e manutenção são mais baixos do que o do aterro sanitário

convencional. Os casos mais bem sucedidos se encontram na Colômbia, embora o Chile, a Costa

Rica, Honduras e o Peru também possuam aterros simplificados. Frequentemente, o aterro

simplificado é a melhor opção para pequenas cidades e vilas. Especialistas na Colômbia

acreditam que a média de 20 toneladas/dia é o máximo que cada equipamento desse porte

consegue operar de forma razoável (UNEP, 2005).

3.1.2.4. Ásia e Pacífico

Nas cidades dos países em desenvolvimento da região, a principal prática de destinação

final dos resíduos sólidos é o despejo em “lixões” a céu aberto. Muito frequentemente, os locais

de descarga dos resíduos sólidos urbanos são áreas baixas ou várzeas, sendo que os moradores

próximos à esses locais reclamam constantemente a presença do mau cheiro e de doenças. Kuala

Lumpur vem usando antigas minas de estanho, próximas à cidade, para a disposição de resíduos

sólidos. Embora a argila seja usada ocasionalmente para recobrimento dos resíduos sólidos,

pouca importância é dada à migração do lixiviado ou dos resíduos sólidos, para os rios e lençóis

freáticos, assim como o gás gerado pela decomposição dos resíduos sólidos para a atmosfera. A

porcentagem elevada de produtos orgânicos, combinada com resíduos sólidos plásticos, quando

comprimidos, formam camadas que contribuem para o acúmulo de gás metano em muitos aterros

asiáticos. A combustão dos gases metano é frequente nos aterro de cidades como Bancoc e

Manila, causando doenças aos trabalhadores dos arredores (UNEP, 2005).

Os locais de descarga dos resíduos sólidos são descontrolados, criando problemas

consideráveis à saúde, à segurança e ao meio ambiente. É difícil para estas cidades adotarem os

regulamentos das nações industrializadas. São necessárias políticas apropriadas para a destinação

de resíduos sólidos, que sejam flexíveis, atendendo às diferentes regiões do Continente.

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Algumas cidades dos países em desenvolvimento da região, incluindo Bandung e Jacarta

(Indonésia) e Manila (Filipinas), têm destinação final desenvolvida e razoavelmente operada.

Durante a última década, por quase toda a região, tem se sentido progressos nessa área.

Em pequenas cidades da Indonésia, próximas ao mar, os resíduos sólidos são despejados a

céu aberto. Depois, uma parte é queimada e lançada de um penhasco ao mar. Nesta região, a

destinação final combina dois métodos, a queima e a destinação no mar.

Ásia Oriental e Sul

O despejo a céu aberto é o método mais comum da destinação de resíduos sólidos por

toda a região. Especialmente no subcontinente indiano e nas pequenas cidades e vilas, os resíduos

sólidos são lançados em áreas abertas, algumas vezes com cobertura esparsa ou parcialmente

queimados nas estações secas. Frequentemente os gestores municipais de resíduos sólidos

despejam os coletados em áreas erodidas, designadas como locais para descarga dos resíduos

sólidos. Latifundiários privados podem aceitar resíduos sólidos municipais para preencher as

áreas erodidas dos seus terrenos. O aterramento de pantanais pelos resíduos sólidos é utilizado em

algumas cidades, como: Calcutá, Bombaim, Madras e Colombo (UNEP, 2005).

As cidades metropolitanas e as principais cidades da região Norte e Central possuem

locais que podem ser denominados de aterros, embora raramente sigam todas as técnicas que

orientam a operação de descarga. Problemas como: falta de material para cobertura, ausência de

coleta e tratamento do lixiviado, inadequada compactação, projeto impróprio para o local e

presença de catadores são comuns.

Em cidades como Karachi (Paquistão) e Teerã (Irã) ocorrem frequentes incêndios

espontâneos nos aterros da região, provocados pelos gases da decomposição do material

orgânico, colaborando de forma significativa para a poluição do ar, tanto nos aterros legais,

quanto nos ilegais. Não existe, ou se existe, é de forma precária, o controle dos resíduos sólidos

perigosos, de saúde ou orgânicos, originários de restos de animais, embora determinadas áreas

dos aterros sejam designadas para esses tipos de resíduos sólidos (matadouros e saúde) (UNEP,

2005).

No subcontinente, muitos aterros são construídos e operados inadequadamente, devido à

ausência de equipamentos. Os acessos que conduzem aos aterros são precários, tornando-se

intransitáveis na estação úmida. Os resíduos sólidos são despejados ilegalmente em corpos

d’água de todos os tipos, especialmente pelos usuários que não são servidos pela coleta

municipal. Em alguns casos, a destinação final no mar é realizada pelas próprias autoridades

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municipais. É comum que muitos resíduos sólidos alcancem o mar, após seu despejo ilegal nos

rios e nos canais.

Os riscos para a saúde das pessoas, principalmente, as que trabalham junto aos resíduos

sólidos na região, são mais elevados do que os daqueles de países desenvolvidos. A maioria dos

grandes aterros desta região possui centenas de trabalhadores extras sob a forma de catadores de

resíduos sólidos e os trabalhadores formais não têm acesso aos equipamentos de proteção

individual (EPI). Esses trabalhadores são expostos aos riscos das fezes humanas, resíduos sólidos

de matadouros, gases da operação de descarga, à poeira tóxica, aos resíduos sólidos infecciosos

provenientes de hospitais e clínicas, às serpentes, aos escorpiões e vidros quebrados e às

explosões. Mortes têm ocorrido quando catadores de resíduos sólidos, incluindo crianças, são

soterrados enquanto catam materiais recicláveis nos aterros.

O planejamento para operações de destinação final seguras, a monitorização de futuros

impactos e a remediação do local são raramente empreendidos nos países mais pobres da Ásia do

Sul e Ocidental. Frequentemente, após a vida útil dos locais de despejo dos resíduos sólidos

municipais, estas áreas são reutilizadas para construção de prédios ou como fazendas. Melhorias

são necessárias para o planejamento, o uso de equipamentos e pessoal técnico.

Nos países centrais, embora os locais para destino dos resíduos sólidos sejam projetados e

operados pelas autoridades municipais, a consciência sobre a monitorização dos impactos

ambientais é ainda baixa. Uma exceção é uma cidade, recentemente industrializada, Jubail, na

Arábia Saudita, cuja destinação final dos resíduos sólidos é dividida em três áreas: resíduos

sólidos perigosos, orgânicos e inertes. O local é monitorizado sistematicamente, por meio de

levantamento e análise de dados. Recentemente, o Ministério do Ambiente em Israel vem

fechando e remediando áreas de despejo impróprio. Atualmente, o país planeja aterros voltados

para operações com menor impactos ambientais, com o uso de tecnologias avançadas (UNEP,

2005).

Experimentalmente, a captação de gás tem sido tentada apenas em alguns casos, como por

exemplo, em Nova Deli, onde o gás é fornecido a um hospital próximo. Na Índia, culturalmente,

há inibição de uso do gás dos aterros para utilização doméstica.

3.1.2.5. Europa

O aterro sanitário é um componente inevitável de todos os sistemas de gerenciamento de

resíduos sólidos europeus. Em determinados países do Norte, menos da metade dos resíduos

sólidos seguem para esses locais, enquanto nos países do Sul, como a Grécia e a Espanha ou nos

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países do Leste Europeu, Hungria e Polônia, todos os resíduos sólidos coletados são destinados

para aterros. A diretriz orientadora da operação de descarga da União Europeia identifica três

tipos de operações para destinação final: resíduos sólidos perigosos, resíduos sólidos municipais e

materiais inertes. Monofills (aterros para um resíduo especial) é também reconhecido por esta

diretriz orientadora.

Nos países europeus, há vinte anos, a prática era a da operação em pequenos e majoritariamente

descontrolados aterros sanitários; esta situação ainda pode ser encontrada, mas, está mudando

devido à legislação europeia. Ainda são encontrados pequenos aterros municipais,

frequentemente localizados em pântanos ou em áreas erodidas, geralmente sem controle e que

não exigem pesagem do volume dos resíduos sólidos, não cobram taxas, não promovem controle

ambiental e, frequentemente, utilizam a queima visando diminuir o volume dos resíduos sólidos.

Nenhuma cobertura é realizada e o fechamento destas áreas quando ocorre, é informal.

Dentro de determinados países, o interesse político sobre a água subterrânea, o solo e a

saúde, geralmente tem envidado maior esforço na preservação ambiental das operações de

destinação final. Iniciativas de políticas supranacionais na Comunidade Europeia têm reforçado

esta tendência e vêm contribuindo para um deslocamento gradual das operações de descarga

menores, que não monitorizam o meio ambiente e a qualidade da água, para sistemas maiores,

geralmente regionais, que dão ênfase ao controle da poluição. A localização desses aterros

modernos é cuidadosamente planejada e o acesso e o despejo são monitorizados. Balanças são

utilizadas para pesagem dos resíduos sólidos na entrada do local, visando a cobrança por tonelada

(UNEP, 2005).

A crescente atenção nos controles ambientais conduz para aumentos de custo de

construção dos aterros, da operação e do fechamento. Esse procedimento tende a forçar economia

de escala, com enfoque mais ambiental e mais moderno e melhorias contínuas. Na França, por

exemplo, a Lei de 1º julho de 2002, instituiu um procedimento chamado mise en décharge, para

encaminhar os resíduos sólidos não reversos ou rejeitos, para os aterros. Também é utilizada a

incineração com filtros para os gazes. Apesar de prometer “fumaça limpa”, esse tipo de

tratamento sofre séria oposição de especialistas e ONGs. Técnicas, cada vez mais modernas,

estão sendo implementadas na França. Os projetos atuais dos aterros franceses estão cada vez

mais “ambientalmente corretos”, visando minimizar as reações da comunidade para a instalação

desses equipamentos nos seus territórios. O Syndicat Mixte des Hauts de Seine pour l'Elimination

des Ordures Ménagères (SyCTOM), criado em 1984, presta serviços, de forma regionalizada de

tratamento final para os resíduos sólidos gerados na aglomeração parisiense, para mais de cinco

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milhões de usuários. Esse sindicato adverte que os resíduos sólidos que são encaminhados para os

aterros sanitários, geridos por eles, não podem mais ser reutilizados (ultimes) (Figura 3.3.).

Figura 3.3. – Maquete de Aterro Sanitário Gerido pelo SyCTOM nos arredores de Paris

Fonte: SyCTOM (2008).

A regionalização dos aterros sanitários é observada também na maioria dos outros países

europeus e gera efeitos secundários, que variam da necessidade de criar autoridades regionais

para a operacionalização desses serviços, à de construir diversas estações de transferência.

Controles ambientais aumentam custos. Isto influencia a construção de aterros maiores,

que servem a uma região em vez de uma única municipalidade e é dispendioso. O projeto e a

construção de aterros modernos são mais caros do que o simples despejo e locais destinados para

esses serviços também são difíceis de serem encontrados. A resistência popular à construção de

um aterro na Europa é menor do que a da América do Norte, mas, ainda assim, é considerável.

Aterros sanitários regionais tendem a ter projetos maiores e mais importantes e o retorno do

investimento geralmente exige taxas ou impostos. Os governos europeus nem sempre optam pela

amortização do investimento realizado nos aterros por meio de taxas. Essas escolhas dependem

dos objetivos da política adotada, que variam desde a cobrança de multas em locais que recebem

resíduos sólidos a céu aberto, até subsídios governamentais diretos. Em alguns casos,

arbitrariamente, as taxas de operação dos aterros são mais elevadas do que os custos, visando

desencorajar o descarte ou a geração de resíduos sólidos; em outros, as taxas são mais baixas,

para incentivar a destinação legal (UNEP, 2005).

A decomposição de materiais orgânicos nos aterros gera gás natural, uma combinação de

metano e de dióxido de carbono. Alguns aterros na Europa reutilizam o gás para energia, outros

não. Em 1993, houve um acidente trágico em um aterro próximo à Istambul: a explosão do

metano e de outros gases, provocados pela decomposição dos resíduos sólidos, atingiu parte de

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um estabelecimento, matando 39 pessoas. Recentemente, em Izmir, Turquia, um aterro foi

construído com capacidade instalada para captação de gás (UNEP, 2005).

A Europa tem uma considerável experiência em aterros biorreatores, que se processa pela

adição de líquido e ar para favorecer os processos microbianos, que transformam e degradam

rapidamente os resíduos sólidos orgânicos.

3.1.3. Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos

3.1.3.1. África

A administração do sistema de limpeza urbana do continente é frágil, comprometida pela

ausência de recursos, de técnica e de mão de obra especializada. O controle e a avaliação são

precários e os marcos regulatórios inconsistentes. Existem muitas formas de administração:

pública, privada e por meio de parcerias.

Os arranjos institucionais são fincados em três esferas de responsabilidade; a primeira, em

nível federal, geralmente sob os cuidados dos Ministérios de Meio Ambiente, também envolvidos

com turismo, conservação das selvas, do solo e dos recursos hídricos, áreas que geralmente

prevalecem sobre a de gestão de resíduos sólidos. Também ministérios como Saúde,

Planejamento e Desenvolvimento ou Serviços Públicos cuidam dos resíduos sólidos. Diante dos

desafios que o manejo dos resíduos sólidos apresenta na região, os recursos são escassos e a

técnica é limitada. Os ministérios controlam os recursos para resíduos sólidos e os transferem

para serem executados pelas autoridades responsáveis pelo manejo dos resíduos sólidos. Em

muitos casos, os ministérios são solicitados a implementar padrões ou normas para o sistema de

limpeza urbana, baseados nas leis promulgadas, mas não cumpridas. Geralmente, as cooperações

internacionais em resíduos sólidos acontecem dentro desta esfera governamental. Existem, ainda,

algumas agências nacionais, que tratam do manejo de resíduos sólidos, como a Agência Federal

de Proteção Ambiental da Nigéria e o Conselho Ambiental da Zâmbia (UNEP, 2005).

Abaixo da esfera federal, existem governos distritais nas principais cidades, que planejam

e moldam as ações em resíduos sólidos e recebem da esfera federal os recursos para aplicação na

área, por exemplo, o Governate of Cairo, a Communaut Urbaine in Dakar e o Gouvernorat de

District in Bamako, como também os governos municipais em Ibadan, Accra e Harare.

Normalmente, estas esferas possuem um orçamento anual, que provêm dos recursos federais e

não cobram taxas de limpeza pública dos usuários pelos serviços prestados. Exceções podem ser

citadas como em Accra, Ghana, onde os departamentos de resíduos sólidos estão autorizados a

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cobrar taxas da população servida. Em Conakry, na Guinea e Lagos, na Nigéria, as agências

municipais cobram taxas de limpeza urbana. Atualmente, a gestão se apresenta híbrida, entre

pública municipal e privada. No Cairo, a Zabbaleen opera como uma cooperativa e utiliza

caminhões para coleta de materiais recicláveis. Côte d'Ivoire, Ghana, África do Sul e Tanzânia,

vêm buscando parcerias com o setor privado para a coleta dos resíduos sólidos nas principais

cidades.

Parcerias entre cooperativas e grupos comunitários vêm sendo construídas para coleta,

reciclagem e compostagem. Em Cotonou, Benin, grupos comunitários participam do processo de

coleta, contratados pelo município.

Os sistemas de gerenciamento de resíduos sólidos da África do Sul são organizados em

agências municipais, sob suporte de instituições acadêmicas e organizações profissionais ativas

no campo da gestão dos resíduos sólidos. Embora escassos, existem alguns aterros sanitários

privados no País, muitos associados aos resíduos sólidos perigosos e outros ligados aos

proprietários de empresas de serviços de coleta.

3.1.3.2. América do Norte

Os governos locais na América do Norte são os responsáveis pelo controle dos serviços

públicos de resíduos sólidos, com algum envolvimento da esfera estadual ou de autoridades

regionais e públicas com pouquíssima participação do governo federal. No Canadá é mais

descentralizado. Por um lado, o governo federal canadense tem poucas leis relativas ao

gerenciamento dos resíduos sólidos, embora detenha o controle sobre os resíduos sólidos

considerados perigosos. Por outro lado, nos Estados Unidos existem planos básicos e

padronização para a operação de aterros, incineração e normas para recuperação de materiais.

Esses padrões ou normas federais devem ser adotados em nível estadual e implementados pelos

governos locais ou empresas privadas.

Nos Estados Unidos, na maioria das vezes, os departamentos públicos municipais

administram os resíduos sólidos urbanos, embora outros departamentos, como o da saúde ou o do

meio-ambiente, estejam frequentemente envolvidos. Um significativo número de organizações da

comunidade também participa das decisões locais do gerenciamento dos resíduos sólidos, tais

como os meios de comunicação, as empresas e as organizações sociais. Em alguns Estados e

Províncias, as pressões econômicas e ambientais de eliminação dos resíduos sólidos estão

deslocando a responsabilidade de gerenciamento do nível local para o estadual. Nos Estados

Unidos, as disputas mais sérias tendem a serem transferidas para o nível federal (UNEP, 2005).

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A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), associada a algumas

instituições estaduais, estabeleceram e adotaram uma hierarquia para o planejamento e para a

operação dos resíduos sólidos de forma integrada: redução e reuso, reciclagem e compostagem,

incineração para utilização em energia e eliminação no solo. A aplicação específica desse

esquema de planejamento depende das circunstâncias geográficas, ambientais, sociais e

econômicas locais. O Estado de Oregon estabeleceu, com sucesso, prioridades para o

planejamento local, resultando em diversas estratégias integradas no gerenciamento de resíduos

sólidos e no seu programa de reciclagem, um dos mais bem sucedidos dos Estados Unidos.

Alguns Estados e Províncias têm feito pouco em relação ao planejamento do manejo dos

resíduos sólidos urbanos, enquanto outros desenvolveram legislação extensiva, adotaram práticas

inovadoras e possuem equipe de funcionários habilitados para este manejo. A maioria tem planos

de manejo de resíduos sólidos, que definem os objetivos e a agenda para a ação regional da

gerência. Frequentemente, esses planos e regras de financiamento se baseiam nos recursos e

programas da comunidade local e sugerem desempenho apropriado para a sua execução.

A atuação para o desenvolvimento do planejamento do manejo dos resíduos sólidos

urbanos inclui duas importantes ações: a adoção e execução do plano pelo município e os

programas voluntários subsidiados por incentivos diversos (UNEP, 2005).

Algumas leis requerem que os governos locais ajustem suas ações, por meio de programas

específicos, atingir níveis específicos de reciclagem; outras leis responsabilizam as indústrias e o

comércio pela reciclagem.

Os Estados e as Províncias incentivam também a atuação local para gerenciamento de

resíduos sólidos, estabelecendo recursos de acordo com os indicadores apresentados nas

atividades do programa adotado, tais como: programas de reciclagem e yard waste. A legislação

também contém provisões de concessões de recursos, combinando financiamento para estudos de

novas práticas, auxílio técnico, desenvolvimento e execução de programas, programas de

treinamento, educação pública, materiais e cartilhas educacionais, programas domésticos para

resíduos sólidos perigosos e especiais, marketing e redes de informação, tanto junto aos gestores

públicos quanto aos privados.

Em algumas jurisdições, a taxação e outras políticas de incentivos básicos também

possuem um importante papel, como os créditos dados para a compra de equipamento para

reciclagem ou para as indústrias que empreguem atividades junto à reciclagem do papel ou do

óleo. Visando incentivar a reutilização de recipientes de bebida, de pneus e de baterias

automotrizes, são aplicados, em algumas jurisdições, sistemas de reembolso de impostos pagos.

A indústria da cerveja, em Ontário, há anos tem tido sucesso com a operação desse sistema de

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reembolso, com uma taxa de retorno em torno de 90%. O sucesso é, em grande parte, devido à

natureza centralizada da distribuição de cerveja, pelo comércio varejista provincial, único

distribuidor autorizado. A indústria de bebidas leves, por todo o Canadá, tem sido menos bem

sucedida nesta forma de subsidio, devido à sua natureza descentralizada de distribuição.

Guias ou cartilhas, voltadas para a reutilização, são outras ferramentas que os governos

centrais utilizam. O governo federal dos Estados Unidos, por exemplo, possui guias para

reutilização do papel, do óleo lubrificante, da recauchutagem de pneus, dos restos de construção e

de outros produtos que tenham condições para serem reciclados.

A responsabilidade e o gerenciamento das atividades de coleta e da destinação final dos

resíduos sólidos na América do Norte variam desde programas inteiramente públicos, aos

contratos de governo com empresas privadas, até a operação de um mercado aberto, operado pelo

setor privado. As vantagens dos sistemas privados incluem o aumento da eficiência de prestação

de serviços e da manutenção, devido à competição, menos susceptíveis às influências políticas.

Nesse tipo de gestão, é usual maior flexibilidade no gerenciamento e menor tensão para captação

de recursos governamentais. As vantagens de um sistema público incluem seu caráter não

lucrativo, vantagens de compras governamentais, operação centralizada e procedimentos

padronizados (UNEP, 2005).

Como consequência das limitações na despesa do governo local, as municipalidades

transferem, cada vez mais, a operação e a manutenção dos serviços públicos de resíduos sólidos

para a iniciativa privada. Estudos vêm mostrando que os municípios podem cortar seus custos

significativamente, se terceirizar os serviços públicos de coleta. Existe também a transferência

dos riscos técnicos, financeiros e potenciais, para o setor privado. Muitos municípios optam pela

privatização, porque não têm no seu quadro de pessoal técnicos especializados como operadores,

coordenadores e pessoal da manutenção.

Alguns municípios preferem gerenciar e operar por conta própria o sistema de limpeza

urbana, devido ao controle exercido pelas autoridades sobre o desenvolvimento e a operação do

sistema. Outras alternativas são a parceria público/privada e os consórcios. Esta opção tem a

vantagem de permitir que os riscos e os custos de construção e operação estejam voltados para a

realidade e circunstâncias locais. Muitos municípios escolhem a opção de “controle público,

operação privada” em parceria com as firmas que projetaram e construíram as instalações.

Para incentivar um gerenciamento eficiente dos resíduos sólidos urbanos, algumas

cidades, tais como Phoenix, transferiram o serviço em algumas áreas para operação privada e

mantém operação pública em outras. Algumas das cidades norte-americanas têm adotado licitar o

gerenciamento da prestação de serviços públicos de limpeza urbana de forma competitiva, ou

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seja, tanto podem ser prestados por empresas governamentais, quanto por privadas (UNEP,

2005).

3.1.3.3. América Latina e Caribe

Os gestores e pesquisadores ligados à área de saneamento básico na América Latina e no

Caribe concordam que o gerenciamento do sistema de limpeza urbana é o tópico de maior

preocupação nos serviços públicos urbanos. Medidas urgentes necessitam ser tomadas para

melhorar os serviços públicos de resíduos sólidos. Os especialistas afirmam que as tecnologias

estão bem desenvolvidas, embora pequenas melhorias sejam necessárias. A qualidade dos

serviços é, atualmente, o item prioritário para um melhor desenvolvimento dos sistemas de

gerência atuais.

Por toda a região, os governos locais são responsáveis pela gerência dos resíduos sólidos.

Os municípios com grandes áreas urbanas tendem a ter um departamento específico de manejo de

resíduos sólidos. As cidades menores ou menos organizadas têm frequentemente um

departamento municipal responsável pelo gerenciamento de resíduos sólidos. As entidades

responsáveis pela supervisão de todas as fases da operação, tanto nos serviços privatizados,

quanto nos públicos, são departamentos municipais. Entretanto, à exceção de algumas cidades

como Buenos Aires, São Paulo e Rio de Janeiro, o desempenho gerencial é muito baixo.

Culturalmente, os empregos ligados à área de resíduos sólidos representam atividades que

abrangem condições de trabalho e de remuneração inferiores. Tampouco a operação e a

supervisão são realizadas de forma apropriada. Segundo a UNEP (2005), por meio de uma maior

participação de empresas privadas pode-se esperar mudanças para melhor.

O déficit na prestação de serviços públicos de resíduos sólidos na Região se reflete pela

ausência de atendimento às demandas sociais, bem como, pela qualidade da mesma. O problema

não se encerra na simples transferência de serviços da esfera pública para a privada, na tentativa

de responder às demandas, mas, na promoção da melhoria e ampliação destes serviços públicos,

fundamentada em mudanças comportamentais e culturais da população, aliadas ao uso de

inovações tecnológicas e capacitação do pessoal envolvido nestes serviços.

Para a UNEP (2005), há uma visível demanda por planos para a gestão de resíduos sólidos

e um número significativo de cidades está trabalhando nesse sentido. Entretanto, poucos planos

estão sendo executados e os programas de gerenciamento de resíduos sólidos são improvisados

pela maior parte das cidades, influenciados fortemente pelo ambiente político do momento. A

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pressão para a melhoria dos serviços públicos ligados à coleta conduziu, em alguns casos, ao

fortalecimento institucional local, assim como à privatização dos serviços.

Muitas cidades vêm optando por realizar o manejo dos resíduos sólidos por meio de

administração direta. Grandes cidades, tais como a Cidade do México onde o departamento de

resíduos sólidos urbanos é forte e bem administrado, assim como a maioria das pequenas cidades

mexicanas trabalham sob esse esquema. O pessoal técnico é despreparado, em muitas cidades

centro-americanas e algumas cidades andinas. No Brasil, a prefeitura da cidade de São Paulo

contratou empresas privadas, reduziu custos e mantém o papel de supervisora dos serviços

(UNEP, 2005).

Outras metrópoles criaram empresas municipais para gerir os serviços de limpeza urbana.

Esse é o exemplo de Buenos Aires, Lima, Rio de Janeiro, Bogotá, Santiago, Caracas, Medellín,

Belo Horizonte, La Paz e Porto de Spain. Nesses casos, as empresas são subordinadas às

prefeituras, mas funcionam independentemente. As fontes de financiamento das empresas

variam. Em alguns casos, são auto-sustentáveis como no Cinturon Ecologico del Área

Metropolitana Sociedad del Estado (CEAMSE) em Buenos Aires e da empresa de limpeza

urbana de Porto de Spain. Em outros casos, os recursos financeiros vêm por meio da

municipalidade, como por exemplo, a Empresa de Serviços Municipais de Limpeza de Lima

(ESMLL). Na maioria dos casos, há uma combinação de recursos próprios e de subsídios diretos

do governo local.

A participação do setor privado sempre está presente em algum nível do gerenciamento

dos serviços públicos dos resíduos sólidos na região. Esta participação se dá por meio de

empresas de todas as dimensões, desde multinacionais, até de pequeno porte e em toda a cadeia

de gerenciamento da área (reciclagem, coleta, transporte, tratamento e destinação final). A

eficiência das empresas privadas varia significativamente.

Se os municípios, por meio de departamentos ou empresas públicas, são os responsáveis

pela gestão dos resíduos sólidos, geralmente, a sua coleta é terceirizada para o setor privado. Por

exemplo, em cidades como São Paulo, Buenos Aires, Bogotá, Santo Domingo e La Paz, a coleta

dos resíduos sólidos é feita, quase inteiramente, por empresas privadas. A municipalidade ou

empresa municipal se restringe à supervisão desses trabalhos (UNEP, 2005).

A qualidade desta supervisão depende da capacidade institucional. Por exemplo, alguns

municípios, localizados no México, optaram por empresas privadas, visando melhorar os serviços

públicos prestados. Porém, esses municípios não têm quase nenhuma experiência em contratos de

serviço, em concessões, nem em monitorizar a conformidade das condições do contrato.

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Consequentemente, os padrões de desempenho sob tais arranjos nem sempre são satisfatórios e os

níveis de eficiência pretendidos são raramente obtidos.

Em alguns casos, como a Cidade de Guatemala, a coleta é feita pelo setor privado.

Entretanto, a participação do setor privado é resultante da ausência de infraestrutura e não de um

plano elaborado para este fim. Nesse caso, as empresas de coleta têm indefinição quanto às áreas

onde vão atuar e cobram taxas de serviços diretamente a usuários. Em alguns casos, quando uma

residência não está satisfeita com o serviço fornecido por uma determinada prestadora de serviços

outra empresa é contratada. Em consequência, duas empresas distintas podem servir à uma

mesma área, dificultando o controle geral dos serviços (UNEP, 2005).

O setor privado da região vem desenvolvendo iniciativas, em pequena escala, em áreas de

baixa renda e de difícil acesso. Coleta de resíduos sólidos, ainda incipiente, está acontecendo na

Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Equador, Panamá e Peru. Esta atividade, desenvolvida por

empresas privadas, começaram a ser desempenhadas sob a responsabilidade de ONGs ou de

organizações de cooperação técnica. Têm geralmente um acordo com o governo local, seus

serviços são pagos pelo governo ou são autorizadas cobranças de taxas diretamente dos usuários.

O sucesso ou a falha destas empresas depende de um número de fatores. Inicialmente, há

necessidade de uma boa cooperação entre o município e a empresa envolvida, de modo que a

jurisdição e os sistemas de custos estejam bem definidos. É necessário treinamento apropriado de

recursos humanos nas prestadoras de serviços, não somente no que se refere à coleta, como ao

gerenciamento da empresa.

As empresas que se caracterizam por possuir trabalhadoras mulheres demonstraram maior

eficiência. Estas mulheres são em sua maioria mães solteiras, com grande necessidade de

trabalhar e a prestação de serviços ligados à limpeza urbana é uma fonte de renda dentro da

comunidade (UNEP, 2005).

Embora não encontrado com frequência, o setor privado também se envolve com o

gerenciamento dos aterros sanitários. Por exemplo, em Buenos Aires, assim como em algumas

das maiores cidades brasileiras, os aterros estão em mãos de operadores privados. Outras cidades

com operação privada estão localizadas na Colômbia, no Equador, no México, no Panamá, no

Paraguai e na Venezuela. A maioria dos aterros isolados é operada por empresas de pequeno

porte.

Há pouca monitorização do desempenho das operações relativas aos resíduos sólidos na

região. O desempenho é medido geralmente como parte dos estudos que avaliam a eficácia da

coleta em pontos isolados. Assim, esses estudos mostram raramente séries temporais. Os

resultados desses estudos são usados como ferramentas de planejamento.

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Os programas de ampliação e melhorias são praticamente inexistentes. A razão para esse

duplo colapso é a fragilidade da legislação, contando-se com poucos instrumentos legais, que

poderiam ser aplicados de forma eficaz para melhorias dos serviços e cultural, pois o manejo dos

resíduos sólidos foi tradicionalmente de responsabilidade dos municípios, que, alegando falta de

recursos, não se esforçam para oferecer serviços de qualidade (UNEP, 2005).

A UNEP (2005) cita alguns esforços envidados para atendimento aos mais pobres. Em

Curitiba, Brasil, diversas inovações foram introduzidas para promover o gerenciamento

apropriado dos resíduos sólidos nas áreas pobres da cidade. O Programa intitulado Lixo que não é

Lixo tenta promover a reciclagem baseada na separação na fonte. Esse Programa não vem sendo

muito bem sucedido no que se refere à quantidade coletada, sendo o custo da coleta de

recicláveis, aproximadamente dez vezes maior que o da coleta normal.

O Programa Compra do Lixo, também implantado em áreas onde havia problemas

ambientais na cidade de Curitiba, tem sido bem sucedido no seu principal objetivo, que é o de

promover a redução dos resíduos sólidos nas ruas. Esse Programa "compra" sacos de lixo, em

troca de cupons de alimentos ou de transporte. Um programa similar, Garbage Exchange, foi

iniciado na cidade de Cuauhtémoc, México. Nesse caso, seis sacos de lixo são trocados por um

saco de alimentos básicos. A própria comunidade sugere o tipo de alimento. O sucesso desses

programas de troca dos resíduos sólidos depende de dois fatores básicos: o programa necessita ser

subsidiado; e os custos necessitam ser absorvidos como parte de um programa social do

município. Não deve ser tratado como um item ligado às despesas com o sistema de manejo de

resíduos sólidos.

3.1.3.4. Ásia e Pacifico

Nas cidades dos países industrializados do continente asiático, como as riquezas naturais e

humanas não são escassas, o gerenciamento dos serviços públicos de limpeza urbana é

plenamente executado. Planos de curto, médio e longo prazo são comuns. No Japão e na

Austrália, por exemplo, algumas cidades têm desenvolvido leis e regulamentos ligados à

ordenação da destinação final. São numerosas as normas para tratamento de resíduos sólidos

como baterias, óleo usado, pneus, produtos que utilizam gases CFC, dentre outros, assim como

sobre a responsabilidade pela coleta e destinação final de baterias, óxido de mercúrio, alumínio,

recipientes plásticos, pneus e sacos plásticos não degradáveis.

No Japão, para assegurar que a separação dos resíduos sólidos seja realizada corretamente,

alguns procedimentos são exigidos. Nas residências são solicitados o uso de sacos plásticos

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transparentes, para a eliminação dos resíduos sólidos domésticos, de modo que os coletores

possam verificar o seu conteúdo. Em 1992, na Coréia do Sul, uma norma que estimulava a

reciclagem foi promulgada (UNEP, 2005).

Nos países desenvolvidos da região, a principal dificuldade para o planejamento do

gerenciamento de resíduos sólidos está na busca de locais para a destinação final dos resíduos

sólidos.

Nos países em desenvolvimento da região, os problemas mais comuns relacionados ao

gerenciamento de resíduos sólidos são as deficiências institucionais, inadequados marcos legais e

recursos escassos. Há uma sobreposição considerável das atividades administrativas em níveis

nacionais, regionais, locais e no controle ambiental. Não há planejamento, tanto no longo, quanto

no curto prazo, devido à escassez de recursos e pessoal técnico experiente.

Muitas leis e regulamentos que tratam do gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos

estão fora dos padrões e se apresentam fragmentados, inadequados para tratar eficazmente as

exigências requeridas pelos cidadãos. Leis federais para o uso da terra e controle ambiental estão

sendo formuladas (UNEP, 2005).

Em muitos casos, as leis e normas são copiadas das dos países desenvolvidos. Estas leis

são desenvolvidas sem estudos aprofundados, que contemplem as peculiaridades

socioeconômicas, tecnológicas, de recursos financeiros, administrativos e institucionais locais.

Consequentemente, permanecem inócuas. Um dos maiores problemas é a ausência de

autoridade, que reforce eficazmente os regulamentos ambientais existentes.

Na maioria das nações em desenvolvimento, as leis que regulamentam a reciclagem,

quando existem, não são estimuladas pelo Poder Público, nem absorvidas pela sociedade. Mas, há

exceções. Na China, na Coréia do Norte e no Vietnam, iniciativas comunitárias são adotadas para

a separação e para a coleta de resíduos sólidos reversos para venda e reuso. Estas atividades são

informais e não são subsidiadas pelas autoridades municipais.

Quanto às atividades de monitorização e controle das áreas de disposição dos resíduos

sólidos, dos países em desenvolvimento desta região, não há programas institucionalizados para

operação e manejo de resíduos sólidos, incluindo o tratamento do lixiviado e do gás nos aterros.

O processo de tomada de decisão é lento e complicado, devido à burocracia, implicando

na proliferação de depósitos de resíduos sólidos a céu aberto, que poluem o meio ambiente com

resíduos sólidos perigosos para o solo e para as águas. Atualmente, as facilidades para obter

informações sobre as práticas corretas, o apoio de instituições internacionais e o comércio entre

países de materiais reciclados vêm aprimorando alguns sistemas de limpeza urbana (UNEP,

2005).

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Em Manila, Bancoc e Jacarta, projetos piloto estão sendo testados fora das metrópoles, a

fim de promover a coleta e a disposição dos resíduos sólidos em áreas invadidas e levar a

melhoria para as comunidades. O principal desafio da maioria desses projetos piloto é ajustar à

visão dos planejadores urbanos e gestores de resíduos sólidos as necessidades das pessoas de

baixa renda.

Nos países em desenvolvimento, as ONGs poderiam desempenhar um papel mais eficaz

na melhoria do gerenciamento dos resíduos sólidos, caso fossem reconhecidas pelas autoridades

municipais. A participação da comunidade no gerenciamento dos resíduos sólidos é vital para a

melhoria dos serviços. Tradicionalmente, tomadores de decisão não buscam conhecer a realidade

em que vivem as comunidades locais. Muitas vezes, em locais onde as autoridades municipais

não fazem a coleta e o transporte dos resíduos sólidos, as comunidades se organizam e realizam

esses serviços.

Ásia do Sul e Oriental

Os municípios, na maioria dos países sul-asiáticos, operam sob o comando das

instituições ligadas à saúde, ao ambiente, aos governos central ou regional. Os ministérios da

saúde, na parte central desta região e em alguns países ao norte estão se organizando para operar

e gerir os resíduos sólidos municipais. Por outro lado, na região subcontinental, há um

movimento para a descentralização, responsabilizando os municípios para buscar fundos e para

criar as suas próprias competências. O sistema de gerenciamento de resíduos sólidos nesta região

é caracterizado pela fragmentação burocrática: procedimentos interligados estão, muitas vezes,

sob o comando de departamentos ou ministérios diferentes (UNEP, 2005).

Ainda é deficiente a legislação que trata do gerenciamento de resíduos sólidos, embora

muitos países possuam agências de proteção ambiental. Desde 1994, a Índia, em consequência da

grande preocupação que se seguiu à epidemia em Surat, vem formulando um novo plano nacional

de resíduos sólidos e examinando todas as leis que se relacionam ao assunto.

Decisões em legislar, priorizar despesas ou estabelecer mudanças administrativas,

necessitam da aprovação dos ministérios ou dos departamentos. Quanto à gerência e ao

planejamento rotineiros há uma variação considerável nos procedimentos por toda a região. Por

exemplo, em Oman, o ministério das municipalidades regionais é o órgão responsável por

fornecer serviços públicos municipais em todas as cidades, exceto no município de Muscat, onde

foram dados poderes ao conselho municipal para decidir o encaminhamento dos resíduos sólidos.

No subcontinente, os municípios têm a responsabilidade de executar as atividades rotineiras.

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Nas grandes cidades, que possuem regimes democráticos, as principais decisões são

tomadas nas organizações municipais por conselheiros eleitos, dirigidos por um prefeito ou por

uma autoridade equivalente. As matérias importantes que influenciam o gerenciamento de

resíduos sólidos, como as receitas obtidas pelos impostos urbanos, são conhecidas por estes

representantes, que têm assim a vantagem de poder opinar. Por outro lado, há constante

possibilidade de resistência política às medidas corretas, técnica e financeiramente, porém

impopulares. Os políticos endossam frequentemente "os projetos visíveis", mesmo que sejam

inapropriados para as dificuldades existentes. Motivações corruptas podem distorcer seriamente

decisões financeiras e técnicas.

Torna-se urgente priorizar o planejamento e a sua execução. As principais discussões

sobre gerenciamento de resíduos sólidos são iniciadas depois de crises de saúde pública. Planos

Diretores foram preparados para algumas das grandes cidades, com consideráveis recursos, mas

poucas de suas propostas foram executadas. As cidades menores não planejam em longo prazo.

Segundo a UNEP (2005), regionalmente, os planos de gerenciamento de resíduos sólidos

ainda não respondem às tendências mundiais de desenvolvimento de práticas técnicas e

comunitárias. Não se encontram, nos itens dos regulamentos de gerenciamento de resíduos

sólidos, temas como minimização dos resíduos sólidos gerados, reciclagem e políticas de ajuda.

Futuramente, esse procedimento deve se aprimorar, devido à influência de novas legislações e

pela formação de conselhos de proteção ambiental.

Há dificuldades de gestão de recursos humanos em diversos países do subcontinente. É

visto com desconfiança o manejo executado por sindicatos, considerados muito fortes e

demasiadamente poderosos, assim como protegidos por possíveis ineficiências. Posições

sindicalizadas que afetam a coleta de resíduos sólidos urbanos contínuos podem rapidamente

ameaçar a saúde pública em climas quentes e úmidos. Os gerentes dessa área optam por

equipamentos mecanizados, em vez da mão de obra humana, na esperança de impedir acréscimo

de funcionários, como também para evitar treinamento e supervisão extra. A privatização está

sendo contestada fortemente por sindicatos dos trabalhadores de resíduos sólidos no

subcontinente.

Quase em toda parte, são deficientes a execução dos planos e a monitorização de

desempenho de forma sistemática. Frequentemente, não há normas ou planos de manejo

modernos, chegando até à ausência de padronização de procedimentos para varrição e coleta das

ruas. Em geral, na Índia, trabalhadores de manejo de resíduos sólidos são mal pagos, mal

treinados e supervisionados inadequadamente.

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54

A estrutura hierárquica da burocracia local, que resulta na falta de comunicação entre os

responsáveis pelas decisões e a equipe de funcionários de campo, restringe o fluxo de práticas e

de idéias advindas das experiências dos trabalhadores para os departamentos de planejamento. Há

poucas oportunidades para que a equipe de funcionários operacionais troque informações entre

colegas, entre cidades do mesmo porte. Na Índia, o departamento de gestão de resíduos sólidos é

considerado de baixo-status e técnicos graduados não permanecem por muito tempo nas funções,

trazendo permanente descontinuidade no gerenciamento dos serviços (UNEP, 2005).

Em algumas metrópoles, tais como Bangalore, New Delhi, Jaipur e Calcutá, cujos hábitos

e costumes da população conduzem para o agravamento da limpeza das vias públicas (Figura

3.4.), o interesse em conhecer a situação e as circunstâncias da destinação final em depósitos de

resíduos sólidos em locais a céu aberto vem aumentando (UNEP, 2005).

Figura 3.4. – Hábitos e Costumes que Agravam a Limpeza das Vias Públicas nas

Metrópoles Indianas – Jaipur, Índia Fonte: Marchi (2010).

As principais mudanças relativas à descentralização estão ocorrendo em alguns países

como a Índia, que vem aplicando taxação municipal. A tendência à privatização traz implicações

para o planejamento e a gestão. A privatização abrupta, sem a construção cuidadosa de contratos

e critérios para uma boa monitorização, provoca uma série de problemas. Algumas funções como

a provisão, o reparo e a manutenção dos veículos foram bem sucedidas com a privatização.

A exceção de Israel, o maior desafio para os departamentos de gerenciamento de resíduos

sólidos nesta região é como as necessidades e as opiniões das comunidades desprivilegiadas

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residentes em invasões ou favelas podem ser expressas, compreendidas e incorporadas, no

momento das tomadas de decisões. Mesmo porque, as áreas de invasões são tratadas como

ilegais. É difícil para as autoridades da área de resíduos sólidos interagir com estas áreas, em

consequência os serviços públicos de saneamento básico inexistem. Atualmente, a cooperação

necessária entre população de baixa renda e departamentos de limpeza urbana está sendo

desenvolvida pela intermediação de ONGs em diversos países (projeto de Orangi em Karachi,

projeto piloto PROUD em Bombaim, Society for Clean Environment and United Way em

Baroda, Sneha Bhavan em Cochin e comitê Save Pune em Pune) (UNEP, 2005).

A presença das organizações ambientais cívicas está aumentando na região.

Especialmente desde os casos de epidemia na Índia, em 1994, estas organizações estão voltando

sua atenção para o gerenciamento dos resíduos sólidos. Em geral, o papel de ONGs junto às

comunidades locais pode ser extremamente útil, verificando o desempenho dos serviços,

implementando a redução por meio da compostagem e promovendo a reciclagem. Mesmo em

áreas onde moram as pessoas de classe média, estas organizações vêm trabalhando para melhorar

a limpeza das ruas e para facilitar uma coleta de resíduos sólidos mais eficiente.

O Instituto de Pesquisa Ambiental Nacional de Engenharia em Nagpur, Índia, vem

desenvolvendo uma recente técnica ligada a um software para administrar e planejar os serviços

públicos de resíduos sólidos. Esse programa tem sido desenvolvido em instituições nacionais. A

utilidade desse programa, entretanto, depende da confiabilidade dos dados básicos levantados nos

locais onde serão aplicados.

O papel de agências e de doadores internacionais vem sendo debatido. O controle e os

recursos realizados pelas agências e doadores, multilaterais e bilaterais, foram de grande

importância no processo de implementação dos serviços públicos de resíduos sólidos nos países

menos desenvolvidos. Por outro lado, há queixas de que as agências internacionais de

empréstimos e vendedores de equipamentos exercem pressão e conduzem esses sistemas à

privatização precipitada, ou mal concebida, ou ainda, os fazem adotar procedimentos e

equipamentos impróprios. Um exemplo é o incinerador, sem utilidade, construído com

financiamento estrangeiro em Nova Deli. Esta situação deve melhorar com o aumento do

entendimento mundial sobre a necessidade de minimização de resíduos sólidos. Talvez, o maior

impedimento para a melhoria do planejamento do manejo dos resíduos sólidos nesta região seja a

falta de conhecimento sobre as quantidades, características e fatores que afetam as variações dos

resíduos sólidos; atitudes, comportamentos e necessidades dos geradores; valor real das diferentes

operações; desempenho da equipe de funcionários e entendimento de boas práticas (UNEP,

2005).

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3.1.3.5. Europa

Mais do que em toda outra região do mundo, a Europa ocidental emprega largamente o

gerenciamento dos resíduos sólidos de forma integrada. Os governos europeus ocidentais

projetam seus sistemas de gerenciamento em torno da hierarquização de procedimentos, ou seja,

priorizam a prevenção, em seguida para o reuso, a reciclagem, a recuperação dos materiais e a

geração de energia e, como último recurso, a eliminação. Porém, ainda há alguma variação desses

procedimentos dentro da própria região. Por exemplo, enquanto a maioria das nações europeias

localizadas no Norte do Continente dá ao reuso ou à recuperação de materiais maior prioridade

do que à geração de energia, a França não distingue entre esses dois processos e atribui-lhes peso

igual, objetivando manter os resíduos sólidos longe dos aterros sanitários (UNEP, 2005).

Para a UNEP (2005), existe outra forma de sustentação que os governos da Europa

Ocidental praticam para a integração do gerenciamento dos resíduos sólidos. Com algumas

exceções, o financiamento empregado é geralmente subsidiado ou suplementado a nível nacional

e este recurso nacional assegura que as prioridades da política de Estado sejam incorporadas

pelos sistemas de manejo de resíduos sólidos locais. Isto garante que todos os aspectos do sistema

sejam financiados conjuntamente, por mecanismos tais como créditos diversificados, visando

incentivar a reciclagem. Em consequência desta política integrada de gerenciamento dos resíduos

sólidos, a Europa tem mais experiência na prevenção dos resíduos sólidos do que outras regiões e

a reciclagem e o reuso de materiais estão bem incorporados, principalmente na Europa do Norte.

Isto é menos verdadeiro nos países do Sul da União Europeia e nas economias de transição da

Europa Oriental.

A Europa, em geral, é uma região bem estruturada e densamente povoada, com muitas

cidades antigas. A experiência com a saúde pública e consequências comerciais advindas de

inadequado saneamento básico data mais de 1000 anos. Talvez por esse motivo, os governos

europeus aceitem desempenhar o papel de gestor do setor público de gerenciamento dos resíduos

sólidos nos níveis locais, regional e em alguns casos nacionais e serem responsabilizados pelas

consequências advindas destas ações. Esta instância tem sido confirmada nos tribunais que tratam

das diretrizes orientadoras para gerenciamento de resíduos sólidos da Comissão Europeia. Além

do mais, o modelo social democrata dos governos nacionais e regionais europeus tende a reforçar

as expectativas governamentais onde a esfera pública é o motor principal na gestão dos resíduos

sólidos, embora sejam estimulados a converter a gestão dos resíduos sólidos para o sistema

privado.

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Na Alemanha, o Plano de Gestão de Resíduos Sólidos serve como referência e base para o

planejamento detalhado das medidas da área, priorizando e hierarquizando medidas de gestão de

resíduos sólidos. Por exemplo, a instalação de equipamentos de grande porte (incineradores ou

aterros) leva pelo menos cinco anos, desde o primeiro planejamento até a fase de testes e o

funcionamento regular (SCHMIDT, 2005)

Na Europa do Leste, os governos estão se voltando, cada vez mais, para o planejamento,

gerenciamento e normatização interligados para a área de resíduos sólidos urbanos. Empresas

públicas vêm se submetendo a uma variedade de transformações, geralmente no sentido de

permitir uma maior participação do setor privado. As decisões de planejamento e de políticas de

gerenciamento dos resíduos sólidos são feitas em nível federal, respondendo às pressões políticas

para proteção ambiental. Os objetivos desses ministérios, frequentemente altruístas, entram em

conflito com as missões cotidianas das autoridades locais, que têm que controlar um difícil

cotidiano da área.

Os ministérios ambientais nacionais europeus, até aqueles que ainda não são membros da

Comunidade Europeia, planejam e elaboram políticas para responder às diretrizes orientadoras da

União Europeia e algumas vezes antecipando-se a elas. Entretanto, estas diretrizes podem ser

demasiadamente dispendiosas para que os países da Europa Oriental sigam integralmente.

Recentemente, a União Europeia emitiu algumas diretrizes para incineração, aterramento dos

resíduos sólidos e reciclagem contínua dos resíduos sólidos de empacotamento. Geralmente, a

estrutura destas diretrizes fornece aos governos nacionais uma condição geral para metas de

desempenho, procedimentos para certificação ou documentações necessárias.

Em geral, na Europa, o impacto dos lobbies e do ativismo ambiental é sentido mais em

nível nacional do que em nível de programas locais, embora os processos de tomada de decisão

em nível nacional, regional e local, variem extensamente dentro da região, fazendo da

padronização algo impossível. Países como a França centralizam os processos de tomada de

decisão, enquanto outros, como a Grã-Bretanha, deixam a maior parte das decisões para as

autoridades locais. As decisões dos programas locais podem variar. Nos Países Baixos existe

ampla consulta, na Grã-Bretanha respondem aos apelos dos cidadãos e na Espanha, os apelos

sociais nem sempre são observados. Na Europa do Norte, a execução e o controle tendem a

ocorrer dentro de uma cultura de consenso, onde o descumprimento é a exceção e não a regra

(UNEP, 2005).

As pesquisas e orientações científicas voltadas para projetos de monitorização são

executadas pelos institutos federais, tais como RIVM nos Países Baixos ou pelo

Umweltbundesamt, na Alemanha. Esses podem também ocorrer em universidades ou em outras

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instituições acadêmicas. Esses institutos definem os programas de pesquisa e respondem às

sugestões e às propostas de organizações de pesquisa independentes, que investigam problemas

específicos ou monitorizam o sucesso de novos programas.

3.2. Estado da Arte dos Resíduos Sólidos no Brasil

O problema da geração dos resíduos sólidos no Brasil é incessante. A Abrelpe (2009)

divulgou um dado preocupante de uma pesquisa sobre o crescimento do volume de resíduos

sólidos gerado no Brasil, demonstrando que, de 2008 para 2009, a geração desses aumentou em

7,7%, enquanto que o crescimento populacional foi de apenas 1% (Figura 3.5.).

52.933.296 t

57.011.136 t

2008 2009

20082009

Figura 3.5. - Gráfico da Geração de Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil em 2008 e 2009

Fonte: ABRELPE (2009). Adaptado pela autora.

Apesar de a quantidade de resíduos sólidos coletados ter crescido quase 8% nesse período,

a intensificação da geração de resíduos sólidos pela população brasileira representa um cenário de

quase sete milhões de toneladas de resíduos sólidos sem serem coletados, jogados em áreas

inapropriadas.

O tratamento dado aos resíduos sólidos no Brasil pode ser avaliado a partir da própria

dificuldade na obtenção de informações detalhadas sobre o tema, que são bastante escassas.

Os últimos dados publicados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizada pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são do ano 2008. Estes dados, divulgados

em 2010, reúnem os resultados da pesquisa sobre a oferta e a qualidade dos serviços públicos de

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saneamento básico no País, com base em levantamento realizado junto às entidades formais, com

registro no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, prestadoras desses serviços em todos os

municípios brasileiros. Essas entidades englobam prefeituras municipais e empresas contratadas

para a prestação de serviços públicos de saneamento básico, tais como autarquias, empresas

públicas, sociedades de economia mista, consórcios públicos, empresas privadas, fundações e

associações.

Outra fonte de dados de saneamento básico, administrado pelo Governo Federal, no

âmbito do Programa de Modernização do Setor Saneamento (PMSS), Ministério das Cidades, é o

Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Desde 2002, é publicado um

diagnóstico relativo aos resíduos sólidos. O SNIS contém informações coletadas e indicadores

calculados, referentes a uma amostra de municípios do País, que atenderam, voluntariamente, à

solicitação para participar desse Sistema. Entretanto, o próprio Ministério das Cidades concorda

que ainda falta muito para que se tenha um quadro mais consistente dos serviços públicos ligados

aos resíduos sólidos, inclusive porque a amostra não contempla a aleatoriedade e a estratificação

exigidas, para que se tenha uma representatividade garantida estatisticamente. Apesar do esforço

desenvolvido pelo Estado, que reconhece que existe espaço para evoluir e vem buscando o

aperfeiçoamento e ampliação do banco de dados, ainda são escassos os elementos que propiciem

uma análise completa da forma como estão atendendo aos usuários.

Segundo o Ministério das Cidades, o próximo desafio é transformar o SNIS em Sistema

Nacional de Informações em Saneamento Básico (SINISA). Para o SINISA, foi dedicado um

capítulo inteiro, o Capítulo V, do Decreto nº. 7.217, de 21 de junho de 2010, que regulamenta a

Lei nº. 11.445, de 5 de janeiro de 2007, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento

básico. Esse enfoque especial objetivou estimular os prestadores dos serviços públicos de

saneamento básico a se organizarem e manterem sistemas de informações atualizados. Novos

elementos devem ser agregados e organizados em uma matriz de dados, dando subsídios para a

melhoria da área e para o desenvolvimento sustentável.

Além da importância de se evidenciar os indicadores da área, conhecer as normas e

procedimentos são requisitos para a ampliação dos serviços públicos de saneamento básico.

Tendo em vista a definição de desenvolvimento sustentável e suas premissas, a Política Nacional

de Resíduos Sólidos, discutida desde 1991 no Congresso Nacional e aprovada em 2010,

estabeleceu a “responsabilidade compartilhada” entre governo, indústria, comércio e consumidor

final no gerenciamento e na gestão dos resíduos sólidos.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos preconiza que o desenvolvimento da gestão

integrada deve contemplar, além da coleta, valorização, tratamento e disposição final dos

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resíduos sólidos, as tecnologias disponíveis para cumprir as definições contidas na Lei. Um dos

maiores problemas atuais para se fazer cumprir esta Lei, é a ausência de canais de escoamento

dos materiais recicláveis para serem reaproveitados pela indústria. Esta infraestrutura terá que ser

instalada o mais rápido possível. Os próximos itens discorrerão sobre o estado da arte da

minimização, da destinação final e do gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil.

3.2.1. Minimização – Redução, Reuso e Reciclagem dos Resíduos Sólidos

Para minimizar os problemas ambientais inerentes ao descarte dos resíduos sólidos

urbanos, a Agenda 21 considera os 3Rs (reduzir, reutilizar, reciclar) como passos fundamentais

para minimizar os impactos dos aterros sanitários sobre o meio ambiente. A redução na fonte é

uma das atividades na gestão integrada dos resíduos sólidos, que se sobrepõe às decisões

cotidianas de gerenciamento, ação esta que pressupõe, além de esforço gerencial, com tomada de

decisões no âmbito legal e fiscal, participação comunitária, por meio de normas e educação sócio-

ambiental. A reutilização se refere às ações que possibilitam a utilização de resíduos sólidos

gerados para outras finalidades, otimizando ao máximo o uso desses materiais antes do descarte

final. A reciclagem é um conjunto de técnicas que tem por finalidade aproveitar os resíduos

sólidos e reutilizá-los no ciclo de logística de fluxos de retorno ou logística reversa, que recupera

produtos, reintegrando-os aos ciclos produtivos e de negócios. Este é um instrumento de

desenvolvimento econômico e social, caracterizado por ações destinadas a facilitar a coleta e a

restituição dos resíduos sólidos aos seus geradores, para que sejam tratados ou reaproveitados em

novos produtos, na forma de novos insumos, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos,

visando a não geração de rejeitos.

No Brasil, resíduos sólidos orgânicos e inorgânicos são usualmente misturados na fonte

geradora e na coleta. Esta prática dificulta o reuso de muitos materiais que poderiam ter destino

final diferente do usual, ou seja, depósitos de resíduos sólidos ou aterros sanitários. Em 2006,

aproximadamente 3% dos resíduos sólidos orgânicos urbanos gerados no Brasil foi reciclado. O

índice nacional de 11% de reciclagem e compostagem de resíduos sólidos urbanos está acima da

República Tcheca, Portugal, Argentina, Colômbia e Hungria e próximo do Reino Unido

(CEMPRE, 2010).

Os dados publicados pelo Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos

(BRASIL, 2010), relativos ao ano de 2008, levantados em 372 municípios de todos os Estados

brasileiros e o Distrito Federal, englobando mais de 91,8 milhões de habitantes, coloca que a

coleta seletiva é praticada em 54,4% dos municípios da amostra. Nesses locais, a triagem de

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materiais recicláveis recupera uma média de 4,6kg/habitante urbano/ano. Esse valor implica um

montante aproximado de 276,5 milhões de toneladas/ano de resíduos sólidos. Para o IBGE

(2010), os programas de coleta seletiva são realizados em 994 municípios brasileiros, sendo que

os principais materiais recolhidos nesses municípios são: o papel ou papelão em 98,6%, o plástico

em 98,3%, o vidro em 92,9% e o metal em 92,0%.

Trazendo ainda dados do SNIS de 2008 (BRASIL, 2010), a amostra representada por

54,4% dos municípios que afirmaram possuir coleta seletiva, esta é realizada, majoritariamente,

por meio de: coleta porta a porta em dias específicos e em postos de coleta voluntária. A coleta

porta a porta em dias específicos é obtida de três maneiras: (i) pelas Prefeituras ou por empresas

contratadas por estas (49,1%); (ii) por cooperativas ou associações de catadores com parceria da

Prefeitura (52,1%); e (iii) por cooperativas ou associações de catadores sem parceria da Prefeitura

(6,0%). A coleta realizada por meio de postos de coleta voluntária é alcançada da seguinte forma:

(i) pelas Prefeituras ou por empresas contratadas por estas (23,4%); (ii) por cooperativas ou

associações de catadores com parceria da Prefeitura (24,6%) e, (iii) por cooperativas ou

associações de catadores sem parceria da Prefeitura (5,4%) (BRASIL, 2010).

Percebe-se que o aumento de investimentos de prefeituras e empresas da área,

participação de cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis e do controle

mais rígido por parte de agentes ambientais e da sociedade, vem permitindo um melhor

desempenho dos 3 Rs no Brasil.

No Brasil, nos últimos anos, algumas medidas vêm sendo tomadas visando minimizar os

impactos que os resíduos sólidos trazem à sociedade e ao meio ambiente. Em fevereiro de 2011, o

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), reuniu delegados de mais de 120

países na cidade de Nairobi, Quénia, para discutir medidas de combate à crescente ameaça

representada pelos resíduos sólidos, principalmente junto aos mais pobres. O relatório final

gerado defendeu um maior investimento na economia verde. Intitulado "Em Direção de uma

Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e para Erradicação da Pobreza"

defende o investimento global de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) e sugere um modelo

econômico que evitaria riscos, choques, escassez e crises cada vez mais inerentes na atual

economia de alta emissão de carbono. Caso esse montante fosse aplicado em algumas áreas, entre

elas a da reciclagem dos resíduos sólidos, o mundo estaria financiando a transição para uma

economia de carbono e combate à pobreza. Este relatório cita o Brasil como exemplo: a

reciclagem já gera retornos de 2 bilhões de dólares por ano no País, evitando desta forma a

emissão de 10 milhões de toneladas de gases de efeito estufa.

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Mas, o que se percebe é que programas de reciclagem no País não são contínuos, a boa

vontade dos cidadãos em participar de campanhas, muitas vezes frágeis ou esporádicas, das

prefeituras e das organizações não governamentais não é suficiente para que o Brasil tenha maior

consistência e uniformidade nos projetos para a redução, o reuso e a reciclagem.

Segundo pesquisa Ciclosoft, realizada pelo Compromisso Empresarial para Reciclagem

(CEMPRE), que informa desde 1994 sobre os problemas de coleta seletiva desenvolvidos pelas

prefeituras brasileiras, a coleta seletiva cresceu 24% nos municípios brasileiros e mais de um

milhão de pessoas têm acesso aos programas municipais desse tipo de coleta, passando de 25

milhões, em 2006, para 26 milhões em 2008 (CEMPRE, 2010). Esse crescimento é importante na

medida em que cada dia aumenta o consumo de produtos industrializados devido à mudança nos

hábitos dos centros urbanos. Porém, esses programas têm que ter maior dinâmica e incentivo.

Em 1988, uma resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA),

estabeleceu a obrigatoriedade da realização do Inventário Nacional de Resíduos Industriais pelos

programas estaduais de gerenciamento de resíduos sólidos industriais. Em outubro de 2002, o

CONAMA fez uma revisão da Resolução de 1988, dando enfoque às responsabilidades civil,

penal e ambiental do gerador. A revisão objetivou sistematizar as informações sobre a geração,

características, armazenamento, transporte, tratamento, reutilização, reciclagem, recuperação e

destinação final dos resíduos sólidos gerados pelas indústrias do País. A retomada do Inventário

de Resíduos Industriais por esse Conselho, sinalizou a importância atribuída à esse tema na

agenda ambiental. Uma má gestão na área dos resíduos sólidos industriais provoca graves

impactos ambientais, causando a contaminação do solo, das águas e do ar, comprometendo as

riquezas naturais necessárias à vida humana.

Marchi et al. (2007) afirmam que atualmente a sustentabilidade é um tema recorrente no

mundo empresarial. É imperativo para as empresas estarem voltadas para a responsabilidade

corporativa e social e para a sustentabilidade no uso de recursos humanos, naturais e financeiros.

Produtos e serviços de qualidade são exigidos pelos clientes, provocando nas organizações

adaptação rápida e constante. Um estudo elaborado pelos Institutos Ethos e Acatu revela que 76%

dos consumidores brasileiros tem consciência de que pode interferir na gestão das empresas, por

meio do consumo responsável; 72% tem interesse em saber mais sobre as ações e iniciativas

ligadas à responsabilidade sócio-ambiental das organizações.

Os gestores brasileiros vêm buscando novos modelos e formas de gerir, diante da

necessidade de sobrevivência do seu negócio frente ao mercado internacional e aos seus clientes,

praticando um novo pensar e agir no âmbito empresarial. O preço e a qualidade não são mais

fatores decisivos para a competitividade das organizações. Atualmente, investir nas relações com

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todos os públicos, dos quais dependem e com os quais se relacionam, ou seja, os stakeholders, é

de fundamental importância para que uma organização seja competitiva.

Ainda assim, por falta de consciência sobre o problema dos resíduos sólidos e de políticas

públicas focadas, no Brasil, o componente Reciclagem registra “índices insatisfatórios e

apresenta(m) alto potencial de ampliação para os próximos anos” (ABRELPE, 2009).

Nos últimos anos, algumas empresas, localizadas principalmente no Estado de São Paulo,

vêm se especializando no desenvolvimento e implantação da logística reversa. A especialização

visa fornecer serviços de consultoria às indústrias de informática, eletro-eletrônicos, lâmpadas,

aço inoxidável e ligas, catalisadores automotivos e industriais e baterias, por meio de tecnologia

de coleta de materiais, desmontagem, descaracterização das marcas e destruição de produtos fora

de linha, assim como da destinação final dos resíduos sólidos tecnológicos inservíveis.

Indústrias de grande porte vêm adotando práticas sustentáveis, ainda que de forma tímida.

A indústria automobilística procura utilizar matéria-prima obtida de fontes renováveis como a

fibra de coco, a juta e o sisal, na fabricação de componentes, nos revestimentos e estofamentos

dos bancos. Outros exemplos pontuais podem ser citados, no intuito de difundir tecnologias que

podem ser inseridas em outras organizações, por meio de processo de benchmarking3.

Empresas multinacionais instaladas no Brasil trazem as suas experiências externas e têm

se preparado constantemente para enfrentar os desafios da preservação do meio ambiente. Neiva

(2009) expõe que a Hewlett-Packard (HP), companhia multinacional que opera em mais de 170

países, tem como objetivo para o ano de 2010, a redução de 25% no consumo combinado de

energia e nas emissões de gases que provocam o efeito estufa associados às operações e produtos

da empresa, em relação aos níveis de 2005. No que se refere à redução de resíduos e reciclagem,

a HP reservou uma sala de cerca de 40 metros quadrados, no piso térreo de sua fábrica, em

Sorocaba, no interior de São Paulo, especialmente para o projeto. Os cartuchos devolvidos pelos

consumidores em diversos pontos de coleta do País são reciclados. Mais de trezentos e setenta e

cinco mil cartuchos já foram reciclados. O processo, em três etapas, consiste na desmontagem, na

separação de materiais não recicláveis, como a tinta remanescente e na logística reversa do

plástico. Nesse processo, o plástico é moído e transformado em placas, que são enviadas ao

Canadá para servirem como insumo de peças instaladas na parte interna de impressoras. A

empresa afirma que hoje, em média, até 85% dos componentes das impressoras mais modernas

são recicláveis. Dez anos atrás esse porcentual não passava de 40%.

3 Benchmarking - O benchmarking é uma ferramenta que busca a adoção das melhores práticas na indústria. Sua essência está centrada em um processo comparativo, ao identificar modelos de excelência para produtos, serviços ou processos.

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Outra experiência bem sucedida é a das embalagens PET4. Estas embalagens foram

introduzidas no Brasil em 1988, e desde seu lançamento a produção nacional é crescente. No ano

de 2008, o País gerou quatrocentos e sessenta e duas mil toneladas, sendo que 54,8% foram

recicladas. O Brasil alcançou o segundo lugar no mundo na reciclagem do PET, perdendo apenas

para o Japão, que reciclou 69,2% (CEMPRE, 2010). Está à frente da Europa, Argentina e Estados

Unidos. Apesar destes números estimulantes, é necessário lembrar que 45,2% de embalagens

PET seguiu para a destinação final. Para um país onde menos de 57% dos resíduos sólidos

gerados tem uma destinação apropriada, esses resíduos sólidos, apesar dos avanços, representam

algo de nocivo à natureza.

Diante do inconveniente de adequada destinação final no Brasil, a Coca-Cola e AmBev

vêm buscando ampliar o reaproveitamento das suas embalagens. Cerca de 70% da cerveja

vendida pela AmBev é sob a forma de garrafas retornáveis de plástico e vidro. Os rótulos das

embalagens são reciclados e a celulose resultante é usada na produção de papelão. As cascas do

malte, o extrato de levedura e outros produtos decorrentes da fermentação, são usados na

alimentação de animais, na criação de peixes e na indústria de laticínios.

Em março de 2010, em São Paulo, a Coca-Cola lançou o PlantBottle, uma garrafa

sustentável que utiliza uma embalagem feita de PET, na qual o etanol da cana-de-açúcar substitui

parte do petróleo utilizado como insumo. Os resíduos sólidos das embalagens são triturados e

passam por um processo de limpeza. O material é derretido e misturado a uma nova resina,

produzindo os recipientes que retornarão ao mercado. Por ter origem parcialmente vegetal (30% à

base da planta), a nova embalagem reduzirá a dependência da empresa em relação aos recursos

não-renováveis, além de diminuir em até 25% as emissões de CO².

Esta tecnologia já estava disponível na Alemanha e nos países nórdicos há quase dez anos.

Mas, a Coca Cola resolveu aplicá-la no Brasil, e, antes do lançamento nacional, experimentou a

PET retornável em supermercados e bares de algumas cidades do interior de São Paulo,

agregando um atrativo monetário: o preço de uma Coca de 1,5 litro em PET retornável variava de

R$1,59 a R$2,10, se o consumidor levasse o casco; a mesma garrafa, sem a troca, custava R$1,50

a mais (COCA-COLA, 2010). Esta postura da empresa vem ao encontro das diretrizes da Política

Nacional de Resíduos Sólidos.

O comércio de latas de alumínio é o mais atrativo em preço, pois é o material reciclável

com maior valor de mercado. O valor residual de latas de alumínio é alto, visto que o mesmo não

se degrada durante o processo e pode ser usado para o mesmo fim, ao contrário das garrafas 4 PET - Politereftalato de etileno, polímero termoplástico, formado pela reação entre o ácido tereftálico e o etileno glicol. Utiliza-se principalmente na forma de fibras para tecelagem e de embalagens para bebidas.

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plásticas. Cada brasileiro consome em média 54 latas por ano, volume bem inferior ao norte-

americano, que é de 375 latas/ano. Em 2008, apesar do consumo inferior, aproximadamente

91,5% da produção de latas de alumínio brasileira foi reciclada, superando os Estados Unidos que

recuperou apenas 54,2%. Além de reduzir os resíduos sólidos que vão para os aterros, a

reciclagem desse material proporciona significativo ganho energético, visto que para reciclar uma

tonelada de latas se gasta 5% da energia necessária para produzir a mesma quantidade de

alumínio pelo processo primário (CEMPRE, 2010).

Desenvolver tecnologias que permitam economia energética e materiais mais fáceis de

reciclar, inofensivos e inertes, visando a proteção do meio ambiente, é uma prática corporativa

que vem tomando corpo. Neiva (2009) opina que desde 2005, a Whirlpool (Brastemp e Consul)

dispõe de um programa experimental de coleta e reciclagem de geladeiras antigas. As peças

usadas são removidas e seguem para uma linha de desmontagem na fábrica da empresa, em

Joinville, Santa Catarina. Uma parte das embalagens dos produtos da Whirlpool Latin América é

reciclada. Essas embalagens são coletadas por meio de parceria com uma empresa de varejo

paulista, onde os seus entregadores, quando levam os produtos novos à casa do cliente, retiram a

embalagem do eletrodoméstico. Esta prática já gerou o recolhimento de aproximadamente 127

toneladas de papelão, plástico e isopor.

A dificuldade da coleta, transporte, tratamento e destinação correta dos resíduos

industriais vem ajudando a desenvolver novas tecnologias para apoio estratégico em ações menos

poluentes. O consumidor vem cobrando uma postura ética e responsável das empresas. A cada

dia, o mercado está mais exigente no que diz respeito às questões ambientais. Em junho de 2010,

na Feira Internacional de Embalagens e Processos para as Indústrias de Alimentos e Bebidas

(FISPAL), a TetraPak, empresa que lida com soluções para processamento e acondicionamento

de alimentos, apresentou as suas mais recentes tecnologias e ações de sustentabilidade. Lançou as

tampas plásticas produzidas com polietileno de alta densidade (PEAD5), a partir do etanol de

cana de açúcar, matéria-prima 100% renovável. Este produto foi desenvolvido em parceria com a

Braskem. No evento, também foi divulgado, com a parceria da mesma empresa, uma tecnologia

que produz embalagens cartonadas, feitas com 75% de papel certificado pelo Forest Stewardship

Council (FSC), um material renovável e 100% reciclável.

Essas ações derivaram da pesquisa e desenvolvimento de novas máquinas para serem

usadas na sua linha de produção, considerando o conceito de ecodesign ou design for

environment, que busca sempre comprovar os benefícios comparados, como a redução na geração 5 PEAD – Polietileno de Alta Densidade. Polietileno de baixo custo e alta produção mundial. É quimicamente inerte e obtido por meio da polimerização do etileno.

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de resíduos sólidos e no consumo de energia e água. Segundo Neiva (2009), para garantir esse

desenvolvimento tecnológico, muitos funcionários da TetraPak fazem mestrado e doutorado em

universidades e centros de pesquisa, gerando diversas tecnologias para a reciclagem das

embalagens. A recuperação das fibras e do plástico/alumínio (componentes do Tetra Pak) é feita

nas fábricas de papel, utilizando um equipamento denominado de hidrapulper, semelhante a um

liquidificador gigante. As fibras são hidratadas, separadas do plástico/alumínio e podem ser

utilizadas para a produção de papelão, tubetes ou material gráfico, utilizados pela própria

empresa. O material composto de plástico/alumínio é encaminhado às fabricas de processamento

de plásticos, para servirem como matéria prima em produtos como cabos de pá, vassouras,

coletores, dentre outros; também pode ser prensado a quente, transformando-se em chapas, que

serão utilizadas na fabricação de divisórias, móveis, peças decorativas e telhas. Este material

poderá ainda ser processado em forno de plasma, transformando-se em lingotes de alumínio,

tornando-se matéria-prima que retornará como folhas, para serem usadas em novas embalagens

longa vida. Em apoio aos programas de coleta seletiva, a empresa presta assistência ao trabalho

de cooperativas (TETRA PACK, 2010; NEIVA, 2009).

Quando se trata de coleta seletiva dos resíduos sólidos, o Grupo Pão de Açúcar tornou-se

um exemplo a ser destacado. Este grupo foi a primeira rede de varejo a disponibilizar pontos de

entrega voluntária (PEV) de materiais recicláveis (papel, plástico, metal, vidro e óleo de cozinha

usado). Este material é doado a 33 cooperativas de catadores. A Unilever foi parceira desta

iniciativa. Nos últimos anos, foram instaladas as chamadas Estações de Reciclagem Pão de

Açúcar/Unilever, em cento e dez lojas, abrangendo 30 municípios, o que resultou na coleta de

trinta e duas mil toneladas de material. Somente no ano de 2009, sete mil toneladas de recicláveis

foram coletadas. Outra iniciativa do Grupo, desde 2007, em 48 lojas, foi o desenvolvimento do

Programa Caixa Verde de reciclagem pré-consumo. Este atua diretamente na hora da compra,

com o objetivo de diminuir o impacto ambiental dos produtos comercializados pelas lojas.

Oferece a possibilidade ao cliente de descartar suas embalagens de plástico e papel, livre de

resíduos sólidos de alimentos, em urnas especiais no momento em que passa pelo caixa. As

embalagens arrecadadas são encaminhadas para cooperativas de reciclagem. Este Programa foi

desenvolvido com a parceria de um Centro Universitário paranaense.

Diversas iniciativas empresariais de sustentabilidade ambiental, que exigem não só

recursos financeiros, mas também idéias inovadoras, estão surgindo nos últimos anos no Brasil,

proporcionando maior credibilidade às empresas que as desenvolveram. Na Federação da

Indústria do Estado de São Paulo (FIESP), os membros da Câmara Ambiental da Indústria

Paulista (CAIP), vêm discutindo acordos setoriais para o estabelecimento de logística reversa

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para produtos especiais, como previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos. Algumas

inovações estão em pauta. Uma das quais preconiza que ao invés de algumas empresas, devido às

restrições de seus produtos, investirem na coleta e no processamento dos seus resíduos sólidos

descartados pós-consumo, possam comprar créditos de outras, que já reciclem ou utilizem a

logística reversa. Esta prática teria semelhança com a compra internacional de Crédito de

Carbono, licenciando às empresas que queiram participar quotas de geração de resíduos

industriais e quotas de reciclagem e destinação correta dos resíduos sólidos gerados (CEMPRE,

2010).

O Brasil está longe de ser considerado como referencia no tratamento e destinação final

dos seus resíduos sólidos industriais. A logística reversa impõe a coleta seletiva. A coleta seletiva

é praticada em 56,9% dos municípios brasileiros, apesar desse dado não ser considerado

confiável pela própria instituição que o levanta. Muitas vezes as atividades de coleta seletiva,

praticadas pelos municípios, resumem-se a pontos de entrega voluntária ou na formalização de

convênios com cooperativas de catadores para a execução desses serviços. Um dos materiais

residuais mais difíceis de serem coletados é o da categoria dos resíduos eletroeletrônicos (REEE),

devido ao grande volume dos mesmos.

O Panorama Econômico e Desempenho Setorial, relatório 2002-2009 apresentado pela

Associação Brasileira da Indústria Nacional de Eletro Eletrônico (ABINEE), demonstra

crescimento contínuo do faturamento do setor, exceto em 2009. Pode-se afirmar que muitos

desses equipamentos estão com a sua vida útil chegando ao fim. E o que fazer com esses

equipamentos? Não basta que os consumidores tenham a disposição e os recursos para levá-los a

um local apropriado ou que o fabricante possua tecnologia para aplicar a logística reversa naquele

material. O Poder Público, no novo marco regulatório, terá que disponibilizar áreas

ambientalmente apropriadas para que o gerador possa dar seguimento à parte que lhe cabe. Áreas

apropriadas que garantam manejo seguro e ambientalmente adequado dos resíduos, inclusive dos

procedimentos de armazenamento e transporte, pressupõem unidades padronizadas em locais

estratégicos e de fácil acesso. Como promover espaços dessa natureza se a destinação final no

Brasil ainda é precária? Qual arranjo institucional facilitará o progresso da cooperação e da

gestão entre os diversos atores? Mas, agora é Lei.

Com o crescente interesse na preservação do meio ambiente, pesquisas e técnicas estão

sendo desenvolvidas de forma a minimizar o impacto da disposição dos resíduos sólidos no solo.

O estado da arte da destinação final no Brasil será apresentado no próximo item.

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3.2.2. Destinação Final – Aterros Sanitários

Em 2008, a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico revela que mais da metade dos

resíduos sólidos (50,6%) no Brasil está disposto em “lixões”. Por outro lado, o SNIS de 2008

(BRASIL, 2010) assinala que aproximadamente 68% dos locais de destinação final dos resíduos

sólidos no Brasil podem ser considerados inadequados (aterros controlados e “lixões”). Infere-se

que a preservação do meio ambiente nas áreas que servem para a destinação final dos resíduos

sólidos está diretamente ligada à ampliação, melhoria e desenvolvimento das tecnologias e

procedimentos existentes (BRASIL, 2010).

Oliveira e Brito (1998) destacam que a proteção do meio ambiente na área dos resíduos

sólidos envolve duas questões fundamentais relacionadas à geologia. A primeira é a análise da

migração de contaminantes, a partir dos locais de disposição e a segunda é a garantia de

estabilidade das áreas usadas para tal destinação. Para esses autores, no que concerne aos resíduos

sólidos, são necessárias muitas atividades técnicas e metodológicas para a proteção do meio

ambiente, a saber:

i) identificar e caracterizar os condicionantes geológicos, hidrogeológicos e

geomorfológicos;

ii) escolher o local de disposição e execução das investigações geológicas e

hidrogeológicas;

iii) definir e acompanhar a monitorização pré-operacional;

iv) definir os dispositivos de contenção e de coleta dos percolados e das plumas de

contaminação;

v) definir os tratamentos prévios dos resíduos sólidos, dos métodos e do projeto de

disposição; e

vi) implementar e acompanhar a monitorização operacional e pós-operacional.

Os manuais brasileiros para construção e operação de locais para destinação final dos

resíduos sólidos determinam que, preferencialmente, esses equipamentos devem possuir uma vida

útil superior a dez anos, prevendo-se a sua monitorização por mais alguns anos. Um projeto de

aterro deve constar basicamente de: impermeabilização do solo, implantação de sistemas de

drenagem eficazes, tratamento do lixiviado e drenagem dos gases e da água, aterramento com

espalhamento, compactação e cobertura dos resíduos sólidos e barreira natural feita com

vegetação de maior porte, de forma a evitar contaminação da água, do solo, do ar e da paisagem.

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A disposição adequada dos resíduos sólidos é importante para evitar que esses se

transformem em fonte de contaminação ambiental e humana. Além da aplicação das técnicas de

destinação final no solo, é necessária a classificação física dos resíduos sólidos gerados. Os

sistemas de classificação têm por objetivo qualificar os resíduos sólidos quanto aos riscos

potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, e norteiam-se pelos pressupostos e instrumentos

das políticas nacionais de meio ambiente.

Em 2004, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) criou a Comissão de

Estudo Especial Temporária de Resíduos Sólidos (CEET-00.01.34) para revisar a NBR 10004

(1987) relativa à classificação de resíduos sólidos. A Comissão tinha a finalidade de aperfeiçoar a

antiga Norma e, dessa forma, fornecer subsídios para o gerenciamento da área. Uma das

principais metas era ampliar os parâmetros do processo de classificação, pois a metodologia

utilizada para o laudo de classificação anterior era baseada unicamente na destinação final dos

resíduos sólidos. Segundo a nova edição da NBR 10.004, a classificação de resíduos sólidos

envolve a identificação do processo ou atividade que lhes deu origem, de seus constituintes e

características, e a comparação desses constituintes com listagens de resíduos sólidos e

substâncias cujo impacto à saúde e ao meio ambiente é conhecido. Nessa Norma, para que os

resíduos sólidos sejam dispostos adequadamente, é necessário classificá-lo de duas formas: classe

I – perigosos; classe II - não-perigosos. Os não perigosos podem ser classificados como II A - não

inertes e II B - inertes. Essa classificação baseia-se na indicação da origem do resíduo, descrição

do processo de segregação, descrição do critério adotado na escolha de parâmetros analisados e

em testes laboratoriais complementares, nos quais vários parâmetros químicos são analisados nos

extratos lixiviados e solubilizados dos resíduos sólidos.

Sígolo (2003), durante o VIII Simpósio de Geologia do Sudeste, debateu o relatório

intitulado Estabelecimento de Valores Orientadores para Solos e Águas Subterrâneas, elaborado

em 2001 pela Companhia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo. Ele discutiu novas

formas de enquadrar os resíduos sólidos, visando melhor adequação destes à disposição no solo,

de forma mais segura. Propôs a seguinte classificação: (i) resíduos sólidos de origem orgânica

sendo sub-classificados em: sólidos, constituídos dos diferentes produtos ejetados pelo ser

humano em suas necessidades diárias de alimentação, higiene pessoal e limpeza residencial e,

líquidos, constituídos de diferentes produtos aplicados na higiene pessoal e de limpeza, além dos

rejeitos gerados na rede de esgoto; (ii) resíduos sólidos de origem orgânica tratados: oriundos dos

órgãos Estaduais e Municipais e que contribuem para minimizar o impacto poluidor gerado pelo

despejo inadequado dos rejeitos de esgoto, face ao tratamento proporcionado pelas Estações de

Tratamento de Esgoto (ETE). A disposição desse produto, via de regra, representa problema

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ambiental complexo pela existência de compostos orgânicos bastante tóxicos como a dioxina,

além de diferentes organismos patogênicos quase sempre associado a uma gama de elementos

metálicos de elevada toxicidade como mercúrio, cobre, zinco, chumbo, cádmio, cromo, níquel,

arsênio, dentre outros; (iii) resíduos sólidos de origem industrial, principalmente aqueles de

origem química e metalúrgica, e (iv) resíduos sólidos de origem de atividade extrativa mineira,

seja associado a metais nobre e ferroso, seja na indústria da construção civil, como pedreiras e

areiais.

No Brasil, são poucos os locais de destinação final de resíduos sólidos que seguem as

orientações técnicas e metodológicas para que os serviços públicos de limpeza urbana fiquem

dentro dos padrões recomendados. Entretanto, segundo a PNSB (IBGE, 2010), houve uma

expansão no destino dos resíduos sólidos para os aterros sanitários, solução mais adequada, que

passou de 17,3% dos municípios, em 2000, para 27,7%, em 2008.

Esse avanço pode significar a adoção pelos municípios brasileiros de iniciativas

voluntárias, códigos de prática e aplicação das normas, em direção à melhoria do desempenho e

da gestão ambiental. Uma questão a ser observada é que, apesar dos avanços, principalmente das

normas ambientais do Brasil, a solução para a destinação final dos resíduos sólidos não está só no

aspecto técnico, mas também tem contornos políticos, administrativos e comportamentais. Zanta

e Ferreira (2006) observam que: A falta de diretrizes claras, de sincronismo entre as fases que compõem o sistema de gerenciamento e de integração dos diversos órgãos envolvidos com a elaboração e aplicação das leis possibilitam a existência de algumas lacunas e ambiguidades, dificultando o seu cumprimento (ZANTA e FERREIRA, 2006, p.3).

Assim, apesar do considerável progresso, a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico

realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), revela que, de 5.565

municípios brasileiros, em 2008, 50,8% ainda depositam seus resíduos sólidos em “lixões”,

27,7% somente utilizam aterros sanitários e 22,5% dispõem seus resíduos sólidos em aterros

controlados. A situação precária do gerenciamento dos resíduos sólidos no Brasil requer normas

mais próximas da realidade dos municípios onde os serviços são executados.

A Lei Federal de Crimes Ambientais nº. 9.605/98 considera ilegal a destinação final de

resíduos sólidos dispostos a céu aberto. A Abrelpe (2009) indica a região Nordeste como a que

apresenta maior concentração de “lixões” no território nacional (51,3%). A PNSB de 2008

corrobora esta afirmativa e registra as regiões Nordeste (89,3%) e Norte (85,5%) como as de

maiores proporções de municípios que destinam seus resíduos sólidos aos “lixões”.

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Zanta e Ferreira (2006) explicam que este tipo de destinação é o mais utilizado na maioria

dos municípios nordestinos com população inferior a 10.000 habitantes. Os autores afirmam que: A predominância dessas formas de destinação final pode ser explicada por vários fatores, tais como: falta de capacitação técnico-administrativa, baixa dotação orçamentária, pouca conscientização da população quanto aos problemas ambientais ou mesmo falta de estrutura organizacional das instituições públicas envolvidas com a questão nos municípios, o que acaba refletindo na inexistência ou inadequação de planos de GIRSU6 (ZANTA e FERREIRA, 2006, p.2).

Moraes e Borja (2009) reforçam a idéia de que um dos maiores desafios ambientais do

Brasil é a destinação final dos resíduos sólidos. Segundo os autores, o assunto vem sendo

estudado, objetivando identificar alternativas financeiras e ambientais mais viáveis. Indicam

algumas alternativas para municípios de pequeno porte, a exemplo do Aterro Sustentável, Aterros

Sanitários em Valas tipo os da Companhia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo,

Aterros Sanitários Simplificados, tipo os da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado

da Bahia (CONDER) e Aterros Sanitários Manuais, tipo os do Centro Panamericano de

Ingeniería Sanitaria y Ciencias del Ambiente (CEPIS), da Organização Mundial da Saúde

(OMS). Apresentam também o Aterro Sustentável, proposto pelo Programa de Pesquisas em

Saneamento Básico (PROSAB), para municípios com população até 10.000 habitantes.

Uma tendência atual, adotada pelos aterros sanitários de grande porte existentes no País, é

o aproveitamento energético dos resíduos sólidos. É necessário que um aterro sanitário esteja em

perfeitas condições de operação para ser certificado pela Comissão Interministerial de Mudança

Global do Clima (CIMGC), autoridade nacional designada para aprovação de projetos de

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no Brasil. Alguns aterros são classificados como

sanitários, mas na prática muitos se enquadram como controlados ou “lixões”, pois não abrigam

boas condições de destinação dos resíduos sólidos. A PNSB de 2008 destaca que a proporção de

cidades que recorrem a aterros controlados, alternativa mais higiênica do que o “lixão”, porém

também inadequada, estagnou nos últimos oito anos no País. Em 2000 eram 22,3%; em 2008

passou para 22,5%.

Os estudos realizados por Mello (2004) especificam o tipo de resíduos sólidos, a

quantidade diária de resíduos sólidos recebida e acumulada ao longo do tempo, a vida útil do

aterro, a forma de operacionalização, dentre outras, como características necessárias para se

verificar o potencial de geração de energia e a quantidade de emissão de Gases do Efeito Estufa

(GEE) associadas aos aterros. Borba (2002) considera que a quantidade de 200 mil toneladas de

resíduos sólidos ao ano em um aterro, seria o volume mínimo viável para a geração de energia 6 GIRSU - Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos.

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elétrica. A vida útil do equipamento é fator determinante para um projeto MDL, visto que

geralmente aterros com menos de cinco anos ainda não possuem carga suficiente de gases

acumulados para geração de eletricidade.

O SNIS de 2008 (BRASIL, 2010) apresenta o cenário da destinação final de resíduos

sólidos no Brasil. Os resultados estão no Quadro 3.1.

Quadro 3.1. - Quantidade de Unidades de Processamento de Resíduos Urbanos, por

Disposição no Solo

Tipo de Unidade de Processamento

Quantidade

Absoluta Relativa (%)

Unidade de triagem (galpão ou usina) 170 23,0

Aterro sanitário 133 18,0

Aterro controlado 95 12,9

“Lixão” 87 11,8

Unidade de transbordo 51 6,9

Vala especifica de RSS 43 5,8

Outra 39 5,3

Aterro de Resíduos de Construção Civil 29 3,9

Unidade de compostagem (pátio ou usina) 25 3,4

Unidade de tratamento por incineração 16 2,2

Unidades de tratamento por microondas ou autoclave 14 1,9

Unidade de manejo de galhadas e podas 11 1,5

Área de Transbordo de RCD e volumosos 10 1,4

Área de Reciclagem de RCD (entulho) 8 1,1

Aterro industrial 4 0,5

Total 739 100,0 Fonte: Adaptado de BRASIL, 2010.

De acordo com o SNIS de 2008 (BRASIL, 2010), existem 133 aterros sanitários, 95

aterros controlados e 87 “lixões”, que, juntos, totalizam 42,7% das unidades cadastradas em

2008.

A Figura 3.6. demonstra a participação no total de resíduos sólidos urbanos coletados,

segundo cada região brasileira. Percebe-se que a Região Sudeste representa 53,1% do total de

resíduos sólidos coletados no País.

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Figura 3.6. - Participação das Regiões do País no Total de RSU Coletado

Fonte: Adaptado de Pesquisa IBGE (2010).

No Estado da Bahia há maior número de “lixões” do que de aterros controlados e

convencionais. Esse descontrole na destinação final dos resíduos sólidos motivou a criação do

Programa O Desafio do Lixo, patrocinado pelas Promotorias de Justiça do Meio Ambiente

(CEAMA) dos diversos municípios baianos. Este Programa vem realizando uma avaliação de

alguns “lixões”, dada à necessidade de urgente implementação de políticas municipais, pois os

resíduos sólidos têm sido depositados em qualquer lugar, como, por exemplo, próximo a

rodovias, em áreas ricas em recursos hídricos ou em áreas de preservação permanente.

Mas essa dificuldade é também sentida em outros Estados brasileiros. O SNIS de 2008

(BRASIL, 2010) indica algumas áreas onde estão localizadas unidades de disposição de resíduos

sólidos – “lixões” e aterros – sem impermeabilização, drenagem, tratamento e até licenciamento

Região Norte 6,1%

Região Nordeste 22,0%

Região Centro-Oeste 8,0%

Região Sudeste 53,1%

Região Sul 10,8%

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para operar. Um exemplo é o sistema de drenagem de percolado que deve atender ao volume de

líquido gerado na trincheira e ao que atravessa a massa de resíduos sólidos. Sem esse

procedimento básico, para minimizar os impactos negativos ao solo existe o comprometimento da

integridade ambiental, além de outros percalços que podem afetar a saúde humana.

Torna-se necessário ressaltar os dados que trazem riscos à saúde e à integridade física

destas áreas: 42,5% informaram não ter impermeabilização da base; 23,4% não fazem

recobrimento; e 63,6% não possuem tratamento de lixiviado interno à área do aterro. Por outro

lado, 37,7% de unidades não fazem drenagem de lixiviado e 34,4% não realizam monitorização

ambiental.

A monitorização ambiental consiste na avaliação qualitativa e quantitativa, contínua ou

periódica, da presença de poluentes no meio ambiente. Um aterro sanitário para funcionar dentro

das normas brasileiras, precisa da aprovação do estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e do

relatório de impacto ambiental (RIMA), previstos no artigo 225, § 1º, IV da Constituição Federal

(CF/88). Esses instrumentos são necessários para o início de qualquer obra, atividade e operação,

que possa causar prejuízo ao meio ambiente. O EIA é composto por estudos técnicos, científicos,

sociais, econômicos, dentre outros, que possam aferir o impacto ambiental. O RIMA, que é

realizado posteriormente, detalha e completa o EIA e é o instrumento de comunicação do EIA

com a Administração Pública e o cidadão e, por esse motivo, deve ter uma linguagem acessível.

O SNIS de 2008 (BRASIL, 2010) revela que, entre as 695 unidades para as quais há informação

sobre licença ambiental, 39,1% não têm qualquer tipo de licença; 3,6% têm licença prévia; 4,9%

têm licença de instalação; e 46,2% possuem licença de operação. A não realização do EIA/RIMA

pode acarretar a responsabilidade do empreendedor ou do órgão licenciador por eventuais danos

ao meio ambiente.

A problemática da ausência de licenciamento ambiental pode ser medida pelos dados

apresentados pelo SNIS de 2008 (BRASIL, 2010) sobre a massa de resíduos sólidos processada

no Brasil: 38,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos dispostas em 406 unidades, sendo 43,6%

delas operadas por prefeituras, 33,5% por empresas, 16,3% por associações de catadores e mais

2,0% por consórcios intermunicipais e outros operadores. Entretanto, as empresas privadas

assumem uma maior concentração de processamento, já que, com 38,3% das unidades,

processam 67,2% da massa. Observe-se que esses dados não são precisos, já que em todos os

dados e indicadores a respeito de massa que são analisados pelo SNIS, estão considerados tanto

os municípios que afirmaram pesar os resíduos sólidos coletados (60,5%) como os que

informaram não utilizar balança (39,5%), apresentando massa coletada estimada.

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De acordo com a PNSB, em 2008, aproximadamente 26,8% dos municípios que possuíam

serviço público de manejo de resíduos sólidos sabiam da presença de catadores nas unidades de

destinação final desses resíduos sólidos.

Pelos dados do SNIS de 2008 (BRASIL, 2010), as associações de catadores operam maior

número de unidades de destinação final (12,5%), quase que exclusivamente unidades de triagem,

do que os consórcios intermunicipais (1,4%). No Brasil, o modelo de gestão de consórcios

intermunicipais é recente. É um modelo baseado no ganho de eficiência na gestão e na execução

das políticas e despesas públicas entre serviços comuns dos municípios associados, geralmente

operados por uma empresa privada da área de saneamento básico.

Em 2006, dados do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis

(MNCR), movimento ligado à auto-gestão e organização dos catadores nos Estados brasileiros,

apontam para uma série de dificuldades enfrentadas por associações de catadores, quanto à

operação da unidade de destinação. As principais dificuldades são: baixo preço dos materiais

recicláveis vendidos; ausência de leis de incentivo ao trabalho do catador; falta de espaço para

trabalho; preconceito da sociedade para com o trabalho do catador; dificuldade de organização

entre os catadores; desunião e disputa entre os catadores (MNCR, 2010). Estas dificuldades se

agravam quando se associa à forma precária onde vivem muitas famílias de catadores.

Segundo o SNIS de 2008 (BRASIL, 2010), há moradias de catadores em 3,6% das

unidades de destinação final nos municípios da amostra. Em 84,% dos municípios existe

catadores autônomos dispersos pela cidade. Os catadores, sejam os dos “lixões” e aterros, sejam

os dispersos pela cidade, estão organizados em associações ou cooperativas em 196 (52,7%) dos

municípios da amostra. Por sua vez, em 143 municípios (38,4% da amostra) as prefeituras

realizam algum tipo de trabalho de assistência social com os catadores.

A atitude das autoridades tem sido reativa quando se trata de problemas ambientais e

sociais ligados aos resíduos sólidos. A presença de pessoas catando resíduos sólidos nos aterros

sanitários, inclusive crianças, se configura como fonte de trabalho e sobrevivência (Figura 3.7.).

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Figura 3.7. - Jovens Catando Resíduos Sólidos no Aterro de Jequié- Ba

Fonte: Marchi (2005).

O cenário precário apresentado ressalta a necessidade de um esforço maior na direção de

um gerenciamento mais efetivo e eficaz nas instituições que administram os locais reservados

para destinação final dos resíduos sólidos urbanos. Novas técnicas, metodologias e, sobretudo,

capacitação de recursos humanos, tornam-se urgentes nessa área. Será apresentado no próximo

item, o estado da arte do gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos no Brasil.

3.2.3 Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos

O gerenciamento dos RSU é o conjunto articulado de ações normativas, operacionais,

financeiras e de planejamento, que uma administração municipal desenvolve, baseando-se em

critérios sanitários, ambientais e econômicos, para coletar, tratar e dispor os resíduos sólidos do

seu município.

Para tanto, gerir os resíduos sólidos de uma maneira integral significa limpar o município

e processar os resíduos sólidos, utilizando as tecnologias mais compatíveis à realidade local,

dando-se destinação final ambientalmente segura.

De acordo com o Manual publicado pelo Compromiso Empresarial para el Reciclaje

(CEMPRE, 1998), a integralidade das ações no sistema de limpeza urbana significa: … tener conciencia de que todas las acciones y operaciones implicadas en la gestión están coordinadas y se influyen las unas a las otras, porque: • la recolección mal planificada encarece el transporte;

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• el transporte mal dimensionado, además de generar perjuicios y reclamos, perjudica las formas de tratamiento y disposición final; • el tratamiento mal dimensionado no alcanza los objetivos deseados y se vuelve blanco fácil de las críticas (CEMPRE, 1998, p.25).

Para Nunesmaia (2002), a gestão integrada traduz a necessidade de harmonizar políticas

públicas, de definir normas comuns, de lutar contra medidas discriminatórias, de suprimir

disparidades existentes, de estabelecer hierarquia dos princípios da gestão de resíduos sólidos, de

conceber várias linhas tecnológicas de valoração e de eliminação dos resíduos sólidos, de

fortalecer cooperações intermunicipais, de financiar os serviços, de proporcionar forte

participação da população na definição de prioridades no modelo de gestão, no controle e no

acompanhamento e de integrar resíduos sólidos às preocupações relativas às atividades

econômicas, ao emprego, à autonomia e ao desenvolvimento sustentável. Esta autora conclui que,

embora o emprego da expressão “gestão integrada” tenha tornado-se mundial, o seu conteúdo

continua ambíguo e é adotado segundo as conveniências do seu utilizador.

Nunesmaia (2002) apresenta um novo conceito da gestão integrada de resíduos sólidos, a

Gestão de Resíduos Socialmente Integrada. Este conceito agrega ao anterior, aspectos sociais,

ambientais, sanitários, econômicos, participativos, sempre respeitando a realidade local. A autora

observa que o quadro que apresenta a gestão municipal de resíduos sólidos no Brasil é

contraditório, … de um lado com anseios similares aos dos países do Norte (a gestão dos resíduos sólidos pautada em princípios hierarquizados da mesma maneira), por outro lado, com limitações elementares em seus serviços de limpeza urbana (políticas públicas), similares aos paises do Sul (em particular América Latina e em algumas situações da África Portuguesa (NUNESMAIA, 2002, p.3).

Conforme visto acima, assim como foi apresentado no cenário mundial, o gerenciamento

de resíduos sólidos municipais é o maior problema para a melhoria da área de resíduos sólidos na

América Latina e no Brasil. Pessoal inadequado, equipamentos danificados e obsoletos, recursos

escassos e mal aplicados, são problemas constantes nos municípios brasileiros, com alguma

exceção nas capitais dos Estados mais desenvolvidos.

Moraes e Borja (2009) divulgam os seguintes determinantes para a inadequada gestão dos

resíduos sólidos na maioria dos municípios brasileiros: (i) limitações de ordem financeira, como

orçamentos inadequados, fluxo de caixas desequilibrados, taxas desatualizadas, quando existe,

arrecadação insuficiente e inexistência de linha de crédito específica; (ii) pouca capacidade

institucional; (iii) deficiência na capacitação técnica e profissional do gari ao engenheiro-chefe;

(iv) descontinuidade política e administrativa; (v) uso de tecnologias inadequadas às realidades

institucional, operacional, à disponibilidade de recursos humanos e financeiros e aos aspectos de

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ordem sócio-cultural; (vi) falta de programas de educação ambiental; (vii) pouco envolvimento da

sociedade com a problemática dos resíduos sólidos; e, (viii) ausência de controle ambiental.

A ausência de coleta seletiva em muitos municípios brasileiros, a presença de catadores de

materiais recicláveis, sejam crianças ou adultos, nos “lixões” ou aterros sanitários, dentre outras

situações existentes no cenário dos resíduos sólidos no Brasil, podem ser ajustadas e

redirecionadas por meio de compartilhamento dos problemas entre órgãos municipais autônomos

e a sociedade civil organizada.

Para Rezende e Heller (2008) é muito acanhada a evolução do saneamento básico na

direção de um ambiente mais consentâneo com a realidade democrática do Brasil, sobretudo

quando se compara com a evolução em outras áreas públicas.

A introdução de normas especificas contribui, gradativamente, para a resolução dos

muitos problemas enfrentados pelos diversos setores públicos. A existência de Normas na área do

saneamento colabora para estender a qualidade aos serviços públicos oferecidos e superar a

informalidade registrada, principalmente no tocante aos resíduos sólidos. Jogar resíduos sólidos

em qualquer lugar, principalmente nas áreas mais pobres dos municípios brasileiros ainda não é

visto, pela maioria da população, como um comportamento negativo.

A Constituição federal de 1988 previu instauração da função social da cidade, tratando da

política urbana e de uma série de instrumentos para a garantia, no âmbito de cada município, do

direito à cidade, da defesa da função social da cidade, da propriedade e da democratização da

gestão urbana. A Lei nº 10.257/2001 - Estatuto da Cidade, contempla um conjunto de princípios e

uma série de instrumentos que permitem a construção participativa de cidades sustentáveis e

democráticas. Dentro do texto do Estatuto das Cidades foi criado o Plano Diretor de

Desenvolvimento Urbano (PDDU), obrigatório para todas as cidades brasileiras, com mais de 20

mil habitantes, que visa favorecer a discussão e a apresentação de soluções e projetos para os

problemas das cidades.

Este processo participativo incentiva a elaboração de Planos de Ações para estruturação

de sistema de gestão de resíduos sólidos nos municípios brasileiros.

Com base na articulação de atores diversos, inclusive o Fundo das Nações Unidas para a

Infância (UNICEF), encontra-se o Fórum Nacional Lixo & Cidadania, criado em 1998. No

âmbito dos Estados existem os Fóruns Estaduais e Municipais Lixo & Cidadania, que

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desenvolvem tecnologias de transformação social7 para inclusão da comunidade e difundem seus

programas e projetos de forma articulada.

Em 2007, foi promulgada a Lei Nacional de Saneamento Básico, que estabelece o marco

legal e define as regras de funcionamento da área. A Lei nº 11.445/2007 determina as diretrizes

nacionais e cria a Política Federal de Saneamento Básico. As diretrizes nacionais são de

cumprimento obrigatório dos agentes públicos e privados com atuação na área. Há na legislação,

instrumentos jurídicos para auxiliar os municípios na gestão dos resíduos sólidos. A política

federal orienta a participação do Governo Federal junto aos órgãos pertinentes, para o

desenvolvimento das ações de abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem urbana e

resíduos sólidos.

Este marco legal vem trazendo nova perspectiva à população que sofre da falta de

saneamento básico. O Capítulo VIII trata da Participação de Órgãos Colegiados no Controle

Social e afirma que as diversas esferas de governo, o setor privado e organizações não-

governamentais, podem promover ações e programas de urbanização, de habitação, de

saneamento básico e ambiental, transporte urbano, trânsito e desenvolvimento, proporcionando

um caminho para o enfrentamento desse grande desafio, que é a justa distribuição dos serviços

públicos de saneamento básico a toda população das cidades brasileiras.

Daí se ter considerado e dado destaque também à limpeza urbana e ao manejo de resíduos

sólidos, que apresentam, de certa forma, um quadro diferenciado dos serviços públicos de água e

esgoto, no que tange à relação que mantém a sociedade civil com as operadoras desses serviços e

os órgãos municipais gestores da limpeza urbana.

O Governo do Estado da Bahia vem formulando o Anteprojeto de Lei da Política Estadual

de Resíduos Sólidos (PERS/BA), que é semelhante à Política Nacional. O objetivo desse projeto

de lei é estabelecer uma política estadual de gestão dos resíduos sólidos, cuja prioridade é, além

de reduzir a geração dos resíduos sólidos na fonte, implantar um programa consistente de

educação ambiental.

Com os instrumentos que a educação ambiental dispõe, a população poderá participar

mais efetivamente dos serviços públicos de limpeza urbana, embora o gerenciamento dos

resíduos sólidos urbanos de uma municipalidade seja de responsabilidade da Administração

Pública.

7 Tecnologias de transformação social são entendidas como um conjunto de metodologias específicas, capazes de despertar, em um grupo alvo, a importância do associativismo para a participação e o controle das Políticas Públicas na área de saneamento básico.

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A cobrança pelos serviços ainda está longe de ser uma prática geral, uma vez que, de

acordo com o SNIS de 2008 (BRASIL, 2010), 46,5% dos municípios afirmaram não realizar

cobrança pelos serviços regulares de limpeza urbana. Significa que os municípios que afirmaram

cobrar os serviços regulares, o valor médio do serviço é de aproximadamente

R$23,60/habitante/ano. No Estado da Bahia, somente Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari e

Vera Cruz cobram tarifa específica para coleta de resíduos sólidos. A autonomia financeira pode

facilitar a parceria entre o órgão municipal responsável pela limpeza urbana com entidades

associativas, desenvolvendo trabalhos sociais e evitando a presença de catadores de resíduos

sólidos no aterro sanitário.

Quanto ao gerenciamento dos resíduos sólidos, este é efetuado pela administração direta

municipal, ficando geralmente os serviços sob a responsabilidade de variados órgãos da

Prefeitura. Nesse modelo não existe autonomia financeira ou patrimonial, sendo que os serviços

participam do sistema de caixa único e, na maioria dos municípios, a cobrança pelos serviços é

realizada por meio de inserção de taxa especifica nos boletos do Imposto Predial e Territorial

Urbano (IPTU). Os orçamentos não vinculam as receitas tarifárias exclusivamente aos serviços,

os quais têm se mostrado insuficientes para manter as atividades de manejo dos resíduos sólidos

coletados. Não há meios adequados para se verificar se as receitas são utilizadas para o custeio

geral da Administração. Se há controle, é apenas para uso interno e não é sistematizado.

A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (IBGE, 2010) identificou 5.027 entidades

ligadas à administração direta do Poder Público como prestadoras de serviços públicos de manejo

de resíduos sólidos, no universo de 8.208 entidades brasileiras, o equivalente a 61,2%. Para a

PNSB, seriam: 44 autarquias; 72 empresas públicas; 23 sociedades de economia mista; 46

consórcios públicos; 2.830 empresas privadas; 10 fundações; 112 associações; e 44 outras formas

de organizações.

Segundo dados do ano de 2008 do SNIS (BRASIL, 2010) as entidades ligadas à

administração direta do Poder Público, como prestadoras de serviços públicos de manejo de

resíduos sólidos, seriam de maior incidência (89,8%). Dos municípios que responderam ao

questionário aplicado pelo Ministério das Cidades, o resultado está demonstrado no Quadro 3.2.

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Quadro 3.2. – Natureza Jurídica dos Órgãos Gestores do Manejo dos RSU nos Municípios

Brasileiros – 2008

Natureza Jurídica % Administração Pública Direta 89,8 Autarquia 5,4 Empresa Pública 2,4 Sociedade de Economia Mista com Administração Pública 2,4 Total 100,0

Fonte: BRASIL 2010. Elaboração da autora.

Esta incongruência pode ser justificada pela grande tendência à terceirização dos serviços

ligados aos resíduos sólidos. O Poder Público não consegue acompanhar com eficiência o

aumento da geração de resíduos sólidos nos centros urbanos, a agilidade em sanar problemas

técnicos e operacionais, já que as empresas terceirizadas não estão submetidas às normas de

licitações e contratos e não contam com pessoal tecnicamente capacitado nos quadros municipais.

Em muitos casos, resta terceirizar serviços que seriam da competência da administração direta.

Constitucionalmente, cabe ao município prestar e organizar os serviços públicos de limpeza

urbana de forma direta, ou não.

Apesar das contradições nos levantamentos, o importante é ressaltar que a terceirização

exige controle e fiscalização, pautados em instrumentos técnicos, operacionais e administrativos.

A falta de cultura da gestão dos resíduos sólidos urbanos, a incipiente estrutura da Administração

Pública municipal, a baixa arrecadação das receitas tributárias próprias e, por fim, a falta de

instrumentos que respaldem o exercício de atividades gerenciais na esfera municipal, agrava o

controle dos serviços realizados por terceiros, refletindo-se na discrepância dos dados levantados.

Ainda segundo dados do SNIS de 2008 (BRASIL, 2010), o atendimento da população por

serviços de coleta regular, apresenta razoável cobertura, com a média da amostra chegando a

100,0%. A frequência de coleta que predomina é de duas ou três vezes semanais (70,0%), com

uma considerável taxa de população atendida com coleta diária (27,8%) e uma taxa residual de

população atendida com coleta de frequência semanal (2,3%).

O número de vezes na semana que os resíduos sólidos são coletados não implica

necessariamente em maior limpeza das ruas. A redução da geração dos resíduos sólidos é fator

preponderante para o desenvolvimento sustentável. A educação pode se constituir em importante

ferramenta nesse sentido. É fundamental a formulação e proposição de programas de educação

ambiental como política pública. Programas de educação ambiental devem estar materializados

no mau uso da natureza e nas regras políticas de convívio social e de mercado. Por meio desses

programas, torna-se possível reconstruir uma idéia de resíduos sólidos compatível com a

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tendência mundial, ou seja, os rejeitos que são encaminhados para os aterros sanitários não

podem mais ser reutilizados (ultimes).

A Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, vem

apoiar o caminho a ser trilhado para a universalização dos serviços públicos de limpeza urbana no

Brasil. Esta Lei preconiza que a responsabilidade pela coleta, tratamento e destinação final seja

compartilhada entre Poder Público, empresas e consumidores na questão dos resíduos sólidos. No

Capitulo IV, relativo ao fluxo dos resíduos sólidos, a Lei dispõe que os resíduos sólidos deverão

ser reaproveitados em produtos na forma de novos insumos, em seu ciclo ou em outros ciclos

produtivos, cabendo ao consumidor, ao titular dos serviços públicos, ao fabricante e aos

comerciantes, o comprometimento no exercício das suas funções para obter sucesso na sua

aplicação. Por exemplo, os resíduos sólidos reversos, coletados pelo Poder Público, deverão ser

disponibilizados em instalações ambientalmente adequadas e seguras, para que as empresas

providenciem o retorno para o ciclo produtivo. Para a gestão dos resíduos sólidos, uma hierarquia

de etapas relativas ao fluxo dos resíduos sólidos deve ser observada, começando pela redução na

fonte, ou seja, redução dos resíduos domésticos, comerciais e industriais, até a deposição final em

aterro sanitário, como retrata a Figura 3.8.

2- Reutilização

3- Reciclagem

4- Tratamento

5- Eliminação

6- Deposição Final

1- Redução na Fonte

Figura 3.8. – Fluxograma da Gestão dos Resíduos Sólidos.

Fonte: Adaptado da Lei nº. 12.305/2010.

Não é suficiente unicamente se investir em serviços públicos com tecnologias

apropriadas, mas é necessário dotar os gestores de canais e ferramentas que tragam novas práticas

e posturas, criando, desta forma, uma nova cultura para o gerenciamento desses serviços.

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Conforme analisado, o Brasil possui planos municipais para varrição e coleta, ausentes em

alguns países em desenvolvimento, como a Índia. As técnicas utilizadas também são apropriadas,

tendendo, porém, de forma constante, para a ausência de gerenciamento efetivo, que acarreta

descuido e rápida deterioração de aterros sanitários projetados adequadamente, inclusive

financiados com recursos externos.

Ressaltam-se duas questões de gerenciamento dos resíduos sólidos nos locais de

destinação final do Brasil: 51,5% das unidades de disposição final não têm impermeabilização de

base e 78,4% não captam nem tratam o lixiviado gerado pela decomposição dos materiais

orgânicos depositados no seu solo. Algumas pesquisas vêm demonstrando que o lixiviado pode

ser muitas vezes mais poluente do que o esgoto doméstico. No Estado da Bahia o estudo do solo

para a instalação de aterros sanitários é pouco utilizado, ocorrendo infiltração de contaminantes

derivados do lixiviado nos córregos, nos rios e em lençóis freáticos. Pode-se afirmar que não há,

na maioria dos aterros do Estado da Bahia, gestão voltada para integrar as questões ambientais no

processo decisório. Tampouco existe gestão de riscos geológicos, aquela pautada por escolhas

políticas e por decisões finais de organização em um determinado território.

A Lei revela novas questões que requerem estudos e pesquisas específicos. É imperioso

fazer cumprir a Lei n.11.445/07, cujas discussões têm enfatizado a importância do envolvimento

dos municípios na área de saneamento básico, incluindo medidas que fortaleçam os governos

locais, por meio de consórcios intermunicipais, além do controle social, o que vai exigir

mecanismos de gestão que garantam o poder das autoridades locais e comunidades em um

esforço de diálogo e cooperação.

Assim, diante do estudo apresentado e dos resultados obtidos, pôde-se constatar que,

muito embora se observe a fragilidade das práticas e do manejo dos resíduos sólidos urbanos

brasileiros, as técnicas disponíveis não estão muito distantes das aplicadas em países

desenvolvidos. A principal conclusão é que esses resultados podem vir a ser utilizados como

referencial para subsidiar o estudo das relações entre tecnologias para uso do solo em aterros

sanitários e os instrumentos de gestão que colateralmente possam provocar ampliação e melhoria

no atendimento às comunidades e ao meio ambiente. Este estudo será apresentado no próximo

Capítulo.

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CCAAPPÍÍTTUULLOO IIVV –– ÁÁRREEAASS DDEE EESSTTUUDDOO EE MMEETTOODDOOLLOOGGIIAA AAPPLLIICCAADDAA

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IV – ÁREAS DE ESTUDO E METODOLOGIA APLICADA

4.1 Aterros Sanitários na Bahia: Localização Geográfica e Geológica dos Aterros

Amostrados

A necessidade de análises sistemáticas sobre a gestão de equipamentos públicos que

apóiam a preservação ambiental, no caso desta Tese, aterros sanitários, decorre pelo desafio em

se ter o equilíbrio entre atendimento dos serviços públicos e poluição do meio ambiente.

A partir da década de 90, algumas ações e programas relativos aos resíduos sólidos foram

implementados no Estado da Bahia, envolveram aspectos sanitários ambientais com reflexo

direto na melhoria da saúde pública. Deve ser feita especial referência ao Projeto Metropolitano,

pioneiro nas ações de Resíduos Sólidos do estado, ao Programa de Saneamento Ambiental da

Baía de Todos os Santos (Baía Azul), Programa de Desenvolvimento Turístico (PRODETUR) e

ao Programa de Administração Municipal e Desenvolvimento de Infraestrutura Urbana

(PRODUR). Todos estes programas foram realizados através da Secretaria de Desenvolvimento

Urbano do Estado da Bahia (SEDUR), da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da

Bahia (CONDER), da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional do Estado da Bahia

(CAR) e das Prefeituras Municipais.

As ações e programas referidos enfocaram desde o planejamento integrado dos sistemas

de limpeza urbana, com a elaboração dos Planos de Gestão de Limpeza Urbana (PDLU), até a sua

implementação com a doação de equipamentos de coleta, soluções para a questão da destinação

final de lixo, com a construção de vários aterros sanitários convencionais e simplificados,

recuperação de áreas degradadas por lixões, programas de educação ambiental, capacitação do

pessoal operacional do sistema de limpeza urbana e projetos de ressocialização dos catadores dos

“lixões”.

Em 2000, os primeiros aterros sanitários compartilhados começaram a dar mostras de falta

de sustentabilidade no modelo de gestão. Inicialmente, pensou-se que os problemas relativos à

gestão dos aterros implantados estavam ligados ao compartilhamento entre municípios próximos

e a falta de um modelo de integração adequado, mais tarde observou-se que também os aterros

sanitários isolados e os simplificados, implantados desde o final dos anos 90, inclusive com

financiamento internacional, apresentavam problemas semelhantes e necessitavam de avaliação e

melhorias.

Os problemas enfrentados pelos serviços públicos de resíduos sólidos no estado da Bahia

são de tal gravidade que o Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Defesa do

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Meio Ambiente de diversos municípios baianos, por meio do Programa “O Desafio do Lixo” vem

promovendo inquérito civil e ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social do

meio ambiente. O CEAMA vem constatando a necessidade de urgente implementação de

políticas municipais para a gestão da área de resíduos sólidos.

Um dos problemas mais significativos referentes à implantação de aterros sanitários reside

na escolha da sua área. Uma área adequada constitui economia no preparo, operação e

encerramento do aterro, mas, principalmente, menor risco ao meio ambiente e à saúde pública. A

escolha da área é, todavia, um aspecto de difícil solução devido aos problemas técnicos

envolvidos e à rejeição da comunidade local à idéia de disposição de resíduos sólidos nas

imediações das suas casas.

Três fatores são fundamentais para a escolha da área a ser implantado um aterro sanitário:

(i) aspectos sociais; (ii) alteração do meio físico; e (iii) custos de implantação, manutenção e

encerramento do equipamento público.

Os seguintes aspectos sociais, econômicos e legais devem ser considerados na escolha da

área para implantação de um aterro sanitário: dados populacionais; caracterização dos resíduos

sólidos; informações sobre manejo de resíduos sólidos no município; existência de aeroportos ou

outros equipamentos públicos que requeiram distância mínima (maus odores e insetos); distância

máxima (custos com transporte); menor distância da zona urbana geradora de resíduos sólidos;

aceitação da população; custos das terras (aquisição); benefícios da implantação do aterro;

informações sobre as leis ambientais federais, estaduais e municipais e outros condicionantes do

ponto de vista legal.

Outros dados têm que ser levantados para atender a preservação do meio físico, como:

identificação de áreas de preservação ambiental; identificação de zonas de preservação de

mananciais; distância dos corpos d’água; regime de cheias e áreas inundáveis; localização das

principais bacias hidrográficas e divisores de água; escoamento superficial e infiltração; nível das

águas subterrâneas; relevo do solo (declividades); material não consolidado (caracterização do

solo); substrato rochoso; alterabilidade dos materiais geológicos; compressibilidade do solo;

disponibilidade de material para a cobertura do aterro, precipitação e evapotranspiração; direção

preferencial dos ventos; avaliação das principais formações vegetais presentes e seu estágio atual

e os espécimes animais associados; dentre outros. Portanto, a escolha do local para acomodar

resíduos sólidos deve obedecer a várias normas de caráter social, ambiental, operacional e

econômico.

No Estado da Bahia, a análise de uma unidade receptora de resíduos sólidos passa

necessariamente pelo estudo de seleção da área realizado pela Companhia de Desenvolvimento

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Urbano do Estado da Bahia (CONDER) e pela autorização de operação do Instituto do Meio

Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA), que sinalizam a qualidade e a eficiência dos critérios

para seleção das áreas de implantação dos aterros baianos.

Foram escolhidos para este estudo dois aterros sanitários situados no estado da Bahia, um

na Região Metropolitana de Salvador (Aterro Metropolitano Centro – AMC) e o outro na Ilha de

Itaparica (Aterro Integrado Ilha – AII) (Figura 4.1.).

Figura 4.1. - Mapa Localização Geográfica dos Aterros Sanitários Estudados Fonte: Adaptação de Mapas Google (2010).

Figura 4.1. – Localização Geográfica dos Aterros Sanitários Estudados

Por meio de tal escolha foi possível analisar duas áreas com características geológicas

distintas, apesar de geograficamente próximas, o que facilitou as visitas de campo (Figura 4.2.).

Outro fator preponderante para a seleção das áreas de estudo foi a semelhança de tipo de aterro,

ou seja, aterro convencional compartilhado, o qual por servir a mais de um município possui

variada composição de resíduos sólidos. Finalmente, a opção pelos dois aterros também foi

motivada pela oportunidade de se estudar diferentes modelos de gestão, pois o AMC é gerido por

empresa privada e o AII pelo Poder municipal.

Aterro Itaparica

Aterro Salvador

N

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88

Figura 4.2. - Mapa Geológico com a Localização dos Aterros Sanitários Estudados

Fonte: Adaptação de Corrêa Gomes et al. (2005).

As Figuras 4.3. e 4.4. mostram os croquis de localização do Aterro Metropolitano Centro

e do Aterro Integrado Ilha, verificando-se ainda as áreas adjacentes:

Figuras 4.3. e 4.4. – Croquis com a Localização do Aterro Metropolitano Centro e Aterro

Integrado Ilha Fonte: ECOPLAN 1993, GEOHIDRO 1995.

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4.2. O processo metodológico

A estratégia adotada para o desenvolvimento desta Tese é o estudo multicasos descritivo.

Segundo Yin (1994), essa é a estratégia mais usual nas pesquisas de campo focalizadas em

eventos contemporâneos, que retratam situações nas quais o pesquisador tem pouco controle

sobre o comportamento dos eventos e indicada por perguntas do tipo como ou por que.

É possível demonstrar, nesta Tese, a presença das três condições acima citadas, visto que:

(i) os dois casos focalizam eventos contemporâneos; (ii) não houve nenhum controle sobre o

comportamento dos eventos; e (iii) observou-se como se dão as caracterizações geológica e de

gestão adotados em dois aterros sanitários no estado da Bahia.

Trata-se de um estudo exploratório (GIL, 1991), que teve como finalidade buscar ampliar

o conhecimento sobre os serviços de resíduos sólidos urbanos, de modo a garantir familiaridade

com o tema e contribuir para a difusão de informações que possam responder algumas questões

sobre a gestão e a preservação do meio ambiente.

O delineamento utilizado se deu por meio da pesquisa bibliográfica e da pesquisa de

campo. Quanto aos procedimentos sistemáticos para a descrição e explicação dos eventos

encontrados, o estudo se desenvolveu num ambiente que preconizou a abordagem

quantiqualitativa.

Os aspectos quantitativos representam melhor fisicamente os aterros sanitários, tratou-se

de confrontar as ocorrências de variáveis e situações entre os dois equipamentos públicos

amostrados. Por outro lado, a preocupação em relação aos aspectos qualitativos de aterros

sanitários no estado da Bahia tem aumentado, já que, cada vez mais, estes equipamentos públicos

vêm se transformando em vazadouros a céu aberto. Portanto, foram analisados os significados

dos eventos ocorridos, de forma crítica, uma vez que apontam tendências quando avaliadas em

conjunto.

Segundo Roesh (1999), a pesquisa qualitativa é apropriada para avaliação formativa,

quando se trata de melhorar a efetividade de uma política, de um programa ou plano ou mesmo

quando é o caso de proposição de planos.

A metodologia utilizada no estudo e na seleção das áreas de destinação final de resíduos

sólidos foi feita em diferentes etapas, conforme pode ser observado no fluxograma de trabalho,

apresentado na Figura 4.5.

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Figura 4.5. – Metodologia Adotada na Tese

Fonte: Elaboração da autora.

4.2.1. Coleta de dados

Para possibilitar a coleta de dados, foram identificados indicadores relacionados ao

referencial teórico, que permitiram aproximar os dados coletados àqueles relacionados ao tema da

pesquisa. A pesquisa procurou desenvolver uma cadeia de evidências para explicitar a situação

geológica e a situação de gestão e de gerenciamento dos aterros estudados. Os trabalhos se

dividiram em dois blocos principais.

O primeiro referente à caracterização geológica das áreas onde estão implantados os

aterros sanitários selecionados. Os solos dos aterros foram observados in loco para a verificação

das suas propriedades em relação aos percolados gerados; também foram verificadas as

topografias visando a garantia de barreiras naturais à migração de poluentes; finalmente

observou-se a presença de lençol freático.

O segundo bloco de investigação esteve ligado à gestão desses aterros sanitários. Buscou-

se a legislação da área; as políticas governamentais; o nível de conhecimento dos gestores sobre

os instrumentos de planejamento (humano, financeiro e tecnológico); os documentos pertinentes

à operação dos aterros; a participação do Estado; a terceirização dos serviços; existência de

projetos ligados à educação ambiental.

As informações espaciais e materiais de interesse para este trabalho, assim como os dados

gerenciais e de gestão, foram levantados durantes as visitas aos aterros sanitários em estudo.

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Para a pesquisa de campo, elaborou-se um roteiro de consulta, visando a retratar a

situação geológica e de gestão das áreas de destinação final dos resíduos sólidos. A pesquisa de

campo resultou também em um registro fotográfico acompanhado de anotações.

Para a pesquisa bibliográfica levantou-se o estado da arte dos resíduos sólidos no Brasil e

no mundo e no Brasil, além da consulta de relatórios, estudos e projetos relacionados aos dois

aterros nas bibliotecas da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia

(CONDER) e da Secretaria de Desenvolvimento Urbano do estado da Bahia (SEDUR), que

foram posteriormente digitalizados. Também foram utilizados os resultados da pesquisa intitulada

“Tecnologias de Gestão no Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais: desafios da Sociedade

e dos Serviços Públicos na Bahia”, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da

Bahia (FAPESB), em 2008, junto a dez municípios baianos. Esta pesquisa englobava três áreas

dos serviços públicos: saúde, educação profissional e saneamento básico. A área de saneamento

básico foi coordenada pela autora desta Tese.

4.2.2. Análise dos Dados

Os dados foram coletados de forma complementar, compreendendo a pesquisa

documental e pesquisa de campo; as evidências fornecidas foram comparadas àquelas que

compõem o referencial teórico, objetivando a corroboração das conclusões.

Inicialmente fez-se um inventário sobre os dados existentes da área de estudo, o qual

possibilitou a identificação do meio físico dos locais aonde foram instalados os dois aterros

sanitários. Foram analisados estudos, projetos e relatórios sobre o clima, a geologia, a

geomorfologia e relevo e recursos hídricos, também os documentos cartográficos existentes.

A análise dos dados geológicos foi embasada pelos procedimentos para a proteção do

meio ambiente indicadas por Tressoldi e Consoni (1998). Segundo esses autores a proteção do

meio ambiente na área dos resíduos sólidos envolve duas ações complementares. A primeira é a

análise da migração de contaminantes, a partir dos locais de disposição. A segunda é a garantia de

estabilidade das áreas usadas para a destinação dos resíduos sólidos. Assim, observando essas

recomendações, foram desenvolvidos e caracterizados os seguintes aspectos das áreas onde se

localizam os aterros Metropolitano Centro e Integrado Ilha: (i) Tipo de solo e rochas com

propriedades inadequadas para uso de disposição de resíduos sólidos; (ii) Local frágil,

incompatível com os percolados gerados; (iii) Garantia de barreiras naturais à migração de

poluentes; e (iv) Utilização de área de mananciais com a presença de lençol freático.

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As análises da gestão e do gerenciamento se basearam no levantamento organizacional

dos dois aterros estudados. O Instituto de Pesquisas Tecnológicas e o Compromisso Empresarial

para Reciclagem (IPT e CEMPRE, 1995) sugerem alguns indicadores básicos para a análise de

modelos de gestão e gerenciamento de aterros sanitários, tais como: (i) frequência da coleta dos

resíduos sólidos; (ii) adequação da destinação dos resíduos sólidos; (iii) busca por alternativas

para o processamento dos resíduos sólidos; (iv) qualidade das respostas das exigências ambientais

e econômicas; e (v) incentivos às iniciativas que busquem minimizar a geração de resíduos

sólidos.

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CCAAPPÍÍTTUULLOO VV –– RREESSUULLTTAADDOOSS EE DDIISSCCUUSSSSÃÃOO

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94

V – RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Dados básicos relativos aos aterros sanitários da Região Metropolitana de Salvador e

da Ilha de Itaparica

Apresenta-se abaixo um quadro comparativo (Quadro 5.1) contendo dados técnicos dos

dois aterros analisados nesta Tese.

Quadro 5.1. – Dados Comparativos entre o Aterro Metropolitano Centro e o Aterro

Integrado Ilha

DADOS ATERRO METROPOLITANO CENTRO

ATERRO INTEGRADO ILHA

Dia da visita técnica 17/07/2010 26/11/2010 Modelo de gestão Equipamento compartilhado entre

os municípios de Salvador, Simões Filho e Lauro de Freitas

Equipamento compartilhado entre os municípios de Vera Cruz e Itaparica

Operadora Concessão dada à Empresa Battre pela Prefeitura de Salvador

Prefeitura de Vera Cruz

Início da operação pelo gestor

09/10/1997 07/02/1997

Consórcio de Empresas que construíram o Aterro

ITM/MIRAL/CEEMA PAISART SART MENDONÇA HYDROSISTEM

Localização Região Metropolitana de Salvador

Ilha de Itaparica

População Censo 2010 (1.000 hab.)

Salvador- 2.675 Vera Cruz – 37 Simões Filho- 112 Itaparica – 21 Lauro de Freitas – 154

População atendida 2010 2.941 58

Instrumento de Planejamento

PGLU/PDLU/PGIRS elaborado pela empresa GEOHIDRO em 1993

PGLU/PDLU/PGIRS elaborado pela empresa HIGESA em 1992

Tecnologia Adotada Aterro sanitário composto de células específicas para cada tipo de resíduo

Aterro sanitário composto de células específicas para cada tipo de resíduo

Fonte de Recursos CONDER – Programa RMS Projeto Metropolitano

CONDER – Programa RMS Projeto Metropolitano

Custo Total R$ 2.317.934,00 R$ 892.002,08 Vida útil 20 anos 20 anos Contribuição estimada 2.250 dia 30 dia

Empresa executora dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA/RIMA)

Empresa CARLSON M. M. LEITE

Empresa GEOHIDRO

Fonte: Elaboração da autora

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5.2. Caracterização Geológica dos Aterros Sanitários Estudados

Devido ao alto grau poluente de percolados oriundos dos resíduos sólidos, os aterros

sanitários têm sido alvos de estudos geológicos detalhados, objetivando servir de suporte a um

adequado planejamento dos serviços públicos de disposição e tratamento dos resíduos sólidos

urbanos. Tendo em vista que a preservação das áreas onde se instalam esses equipamentos

públicos está relacionada essencialmente com características técnicas e de explorabilidade e que

os indicadores geológicos devem ser o mais representativos da proteção ambiental, foram

escolhidos quatro critérios, quais sejam: (i) reconhecimento geológico da área estudada; (ii)

solos; (iii) barreiras naturais à migração de poluentes e (iv) presença de lençol freático.

Posteriormente, esses critérios serão detalhados.

Um primeiro passo é considerar os ambientes geológicos, notadamente a localização

geológica das duas áreas estudadas.

5.2.1. Localização Geológica do Aterro Metropolitano Centro (AMC)

O AMC se encontra em zona de APA. Esta zona é incompatível com a instalação de um

aterro sanitário.

Além disso, o AMC localiza-se na região fito-geográfica de domínio da Floresta Pluvial

Litorânea, ou seja, a Mata Atlântica. Essa região caracteriza-se por um alto índice pluviométrico.

É inconciliável a instalação de um aterro sanitário em um ecossistema complexo e frágil, com

elevada biodiversidade, de relevante interesse público. As constantes ampliações das células do

AMC vêm suprimindo muitos hectares de Mata Atlântica.

O AMC também se insere na bacia hidrográfica do rio Itinga, próximo à sua nascente,

sendo esse mesmo rio contribuinte do rio Ipitanga, que por sua vez é afluente do rio Joanes, que

abastecem a cidade de Salvador (GEOHIDRO, 1993).

A Figura 5.1. que se segue, adaptada dos trabalhos desenvolvidos pela Companhia de

Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), Superintendência Regional de Salvador (GONÇALVES

et al., 2008), apresenta o mapa Geológico da Região Metropolitana de Salvador. Demonstra que o

AMC se encontra sobre domínio pertencente ao Embasamento Cristalino Pré-Cambriano,

(Cinturão Salvador-Esplanada) (A4PP2gl) formado, principalmente, de ortognaisses granulíticos

e de depósitos geológicos superficiais, representados pelo Grupo Barreiras (ENb), caracterizados

por arenitos imaturos, fino a grosso, com níveis conglomeráticos e com intercalações de siltitos e

argilitos (GONÇALVES et al., 2008).

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5.2.1.1. Reconhecimento Geológico de Campo do Aterro Metropolitano Centro (AMC)

Nas cinco áreas, dentre dezessete iniciais, pré-selecionadas para a implantação do Aterro

Metropolitano Centro (AMC) foram realizados estudos comparativos para a análise da

caracterização ambiental e dos custos básicos. Esses estudos comparativos visavam subsidiar a

escolha final da área, já que não é tarefa fácil a escolha da localização para a implantação de um

aterro sanitário.

Dessas cinco áreas, duas foram excluídas por questões sociais, de vida útil e de influência

metropolitana. Outra, por apresentar alto custo operacional, devido à distancia e ao prazo de vida

útil. Outra área pré-selecionada foi descartada por possuir localização superposta a conjuntos

habitacionais implantados pelo Estado. Restou a área Norte da Região Metropolitana de Salvador

(RMS), entre os traçados de duas importantes vias de tráfego, a Via Parafuso e a BA-526 (CIA

/Aeroporto).

A partir dos estudos empreendidos (GEOHIDRO, 1993), solicitados pela CONDER para

caracterizar a capacidade de suporte dos terrenos do AMC, concluiu-se que os terrenos

selecionados eram adequados para a utilização proposta. Foram identificados quatro domínios

com características geológico-geotécnicas próprias: (i) Depósitos Arenosos Inconsolidados, que

ocorre em pequena porção da área e possuem alta permeabilidade e porosidade; (ii) Depósitos

Alúvio-coluvionares, que se estende ao longo das drenagens que cortam a área do aterro e

possuem pouca espessura e alto teor de umidade, devido à sua proximidade com o lençol freático;

(iii) Coberturas Terciárias, que se apresentam nas porções mais elevadas da área e se constitui por

conjunto de camadas arenosas e argilosas (Grupo Barreiras – ENb, Figura 5.1); e, (iv) Substrato

Rochoso Alterado, onde as rochas do embasamento cristalino sofreram intenso processo de

fragmentação, transformando-se em um manto de material alterado, que atinge mais de vinte

metros de espessura (A4PP2gl) (Figura 5.1).

5.2.1.2. Solos do Aterro Metropolitano Centro

Em termos pedológicos, a área do aterro é constituída por latossolos podzólicos, solos

aluviais e hidromórficos. Os latossolos podzólicos são constituídos de sedimentos areno-

argilosos, correspondendo a 1,3% da área e ocorrendo em zona de relevo plano. São também

derivados da cobertura, sendo fortemente ácidos e correspondendo a 78,3% da área e ocorrendo

nos bordos dissecados, em locais com relevo suave ondulado. Os solos aluviais, que são

formados a partir das deposições de sedimentos fluviais recentes, formam camadas estratificadas

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de diferentes composições granulométricas e correspondem a 8% da área, encontrando-se nas

várzeas dos rios e córregos e contendo alto coeficiente de permeabilidade. Os solos hidromórficos

são formados a partir de depósitos carreados pela erosão superficial, resultantes de

encharcamentos periódicos, mal drenados. Ocorrem em aproximadamente 11% da área e

acumulam-se nos fundos de vale (GEOHIDRO, 1993) (Figuras 5.2. e 5.3.).

Figuras 5.2. e 5.3. – Detalhe dos Solos do AMC Fonte: Marchi (2010).

É importante ressaltar que, dentre alguns principais agentes da degradação das terras nos

aterros sanitários, dois interagem e são interdependentes: a contaminação do solo e o dano ao

lençol freático. O resultado é a deterioração crescente, quando não é seguida a tecnologia

apropriada, criando situações críticas de poluição ao meio ambiente e graves riscos para a saúde

pública.

No AMC a tecnologia é utilizada de forma correta. Entretanto, a região em que se

encontra possui características que necessitam de grande atenção, já que é considerada parte da

Área de Proteção Ambiental – APA de Joanes-Ipitanga.

5.2.1.3. Barreiras Naturais a Migração de Poluentes no Aterro Metropolitano Centro

A área do aterro apresenta um relevo fortemente ondulado, com dois grotões principais

que nascem na própria área, indicativos desfavoráveis à migração de poluentes, já que as

ondulações naturais podem servir como barreiras da poeira e dos odores provenientes da

operação e da decomposição da matéria orgânica (Figuras 5.4. e 5.5.).

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Figuras 5.4. e 5.5. - Barreiras Naturais no AMC

Fonte: Marchi (2010).

Ainda se encontra reminiscência da vegetação nativa no AMC, composta por capoeira de

porte médio a alto, por capoeira de baixo a médio porte e por vegetação herbácia pioneira, que

mesmo com o registro de desmatamento, proporciona isolamento visual do empreendimento.

5.2.1.4. Lençol Freático do Aterro Metropolitano Centro

Como referido anteriormente, o AMC se localiza na APA de Joanes-Ipitanga. Os terrenos

com lençol freático aflorante ou muito próximo da superfície são impróprios para a construção de

aterros, uma vez que possibilitam a contaminação dos aquíferos.

Em algumas partes do AMC, os solos rasos associados às rochas subjacentes, implicam na

ocorrência de lençol freático mais próximo da superfície e eventualmente afloram em alguns

pontos, em períodos muito chuvosos. Os sedimentos que correm para os rios e ribeirões tornam a

água túrbida. Turbidez elevada da água proporciona a diminuição da penetração da luz solar, que

contribui para uma diminuição da fotossíntese e a sobrevivência da vegetação local. No projeto

original do aterro, o sistema de drenagem de águas pluviais considerou a utilização de canaletas

de argila compactada, direcionadas para caixas de passagem e daí para poços de visita em

concreto.

Entretanto, é alto o risco de assoreamento gradual do represamento dos cursos d’água,

com a formação de lagoas artificiais. (Figuras 5.6. e 5.7.).

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Figuras 5.6. e 5.7. – Vista Geral das Lagoas Artificiais Existentes no AMC

Fonte: Marchi (2010).

Também é elevado o risco de possível comprometimento da qualidade das águas do rio

Ipitanga, que abastece a cidade de Salvador de água potável, com os impactos inerentes à

presença de disposição de resíduos sólidos, inclusive soterramento de nascentes. Quanto maior é

o valor ecológico da bacia, menor a aptidão da área para implantação de aterros sanitários.

5.2.2. Localização Geológica do Aterro Integrado Ilha (AII)

Na maior parte das vezes, a escolha de um local já parte de um número reduzido de

alternativas, como foi o caso do Aterro Integrado Ilha. O relevo da Ilha de Itaparica é

relativamente plano, com regiões mais onduladas na sua contra-costa. Um fator negativo para a

localização escolhida é de que o distrito de Baiacu se encontra na direção predominante dos

ventos da região. Dentre outros problemas existentes estão o crescimento urbano desordenado e a

ausência de rede coletora de esgoto sanitário, ambos críticos, além de a paisagem local ser

constituída por coqueirais, brejos, restingas, matas e manguezais, incompatíveis com a disposição

final de resíduos sólidos (ECOPLAM, 1995).

Os resíduos sólidos compõem um aglomerado relativamente macio e de alta porosidade, o

que permite sua rápida saturação com a água e seu excessivo aumento de peso, facilitando o

escorregamento, que se torna mais grave quando os resíduos sólidos são lançados, juntamente

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com as águas servidas, nas linhas de drenagem natural, como é hoje o caso do Aterro Integrado

Ilha.

Observou-se que o local, embora não tenha sido considerado o ideal, possui alguma

infraestrutura, como boas condições da rodovia de acesso ao aterro, rede elétrica e adutora de

água tratada instalada, que apóia o empreendimento.

O tipo de solo da ilha abrange rochas sedimentares, que foram depositadas desde o

Cretáceo até o período mais recente. A origem dos sedimentos cretáceos é atribuída à formação

da Bacia do Recôncavo, contemporânea à abertura do Oceano Atlântico Sul (ECOPLAM, 1995).

A Figura 5.8., adaptada dos trabalhos desenvolvidos por Gonçalves et al. (2008) e

apresenta o mapa geológico da Ilha de Itaparica. Na área de estudo a cobertura de idade

cenozóica, provavelmente do Neógeno, caracterizados por depósitos flúvio-lagunares (N4fl)

assenta-se no limite entre rochas da Formação Marfim (K1mf), compostas por arenito fino, siltito

e folhelhos; e da Formação Marizal (K1m), constituídas por conglomerado, com seixos de

arenito, folhelho, siltito, calcário e silexito.

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103

5.2.2.1. Reconhecimento Geológico de Campo do Aterro Integrado Ilha (AII)

Estudos preliminares realizados pela CONDER (ECOPLAM, 1995) concluíram que o

município insular de Itaparica apresentava limitações para a locação de aterros sanitários. Sendo

assim, não foi possível locar uma área ideal para implantação do aterro. Contudo, como é

imprescindível a escolha de uma área para destinação final dos resíduos sólidos, optou-se pelo

distrito de Baiacu, a Oeste da rodovia estadual BA-001, pelo fato de ser um local onde se adquire

terrenos com facilidade, com menor taxa de ocupação, mais altos e longe de depressões, além de

fácil acesso. Com relação às litologias existentes, o local se mostrou também o melhor possível.

Do lado leste desta rodovia estadual encontra-se a maior parte dos residentes e veranistas

da Ilha. Segundo o Relatório de Impacto Ambiental-RIMA (1995), áreas alagadiças são muito

comuns nessa parte da Ilha e as áreas protegidas de manguezais são impraticáveis para a

implantação de aterros. O RIMA (ECOPLAM, 1995) considera que a não realização do

empreendimento implicaria na manutenção do lamentável quadro de saneamento básico da

região, haja vista que, em 1989, o índice de óbitos em Itaparica devido a doenças infecciosas e

parasitárias foi de 22,73%, enquanto que este mesmo índice em todo o estado da Bahia se

encontrava em 10,17%, ou seja, a Ilha apresentava mais que o dobro do índice estadual.

5.2.2.2. Solos do Aterro Integrado Ilha

A pedologia local apresenta, nas proximidades da área do aterro, a ocorrência de solo do

tipo Podzólico, amarelo avermelhado, pouco profundo, fortemente ácido e de baixa fertilidade. A

textura é fina, tendendo à arenosa fina com matriz siltosa. Esse tipo de solo possui características

de impermeabilização e atenuação da contaminação dos lixiviados, se devidamente reforçado por

técnica adequada e gerenciamento eficaz.

Uma técnica importante em aterros sanitários é o cobrimento e compactação dos resíduos

sólidos depositados por uma camada de solo visando o seu adensamento. O que se percebe no AII

é a ausência de recobrimento dos resíduos sólidos, que deveria ser diária.

A camada de recobrimento é útil para que o local possa resistir a erosões e a ataques

químicos, suportar recalques acentuados e sobrecargas, impedindo desta forma a deterioração

estrutural, a erosão acelerada do solo e o desequilíbrio da atividade e diversidade da fauna

(Figuras 5.9. e 5.10.).

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Figuras 5.9. e 5.10. – Detalhes dos Solos do Aterro Integrado Ilha

Fonte: Marchi (2011).

5.2.2.3. Barreiras Naturais a Migração de Poluentes no Aterro Integrado Ilha

O processo de migração ou retenção de poluentes no solo é influenciado por alguns

fatores relacionados com o fluido percolante, com o tipo de solo e com as condições ambientais.

Conforme visto anteriormente, atualmente, o fluido percolante advindo dos resíduos

sólidos dispostos no AII não é tratado, sendo composto por uma grande quantidade de matéria

orgânica. São inexistentes as técnicas para conter a infiltração do lixiviado no solo. O tipo de solo

é adequado, mas se encontra desprotegido, pois as barreiras impermeabilizantes naturais não são,

por si só, suficientes para reter o lixiviado e não estão sendo reforçadas por barreiras

impermeabilizantes industriais, ou seja, material geossintético.

Quanto às condições ambientais, verificou-se, nas cotas topograficamente mais elevadas

do aterro, a presença de uma delgada crosta limonítica na superfície do terreno. Essa crosta

sustenta a forma do relevo, permitindo certa separação do aterro em relação às partes mais

densamente habitadas da Ilha. Entretanto, estas barreiras naturais não vêm impedindo o grande

impacto visual e olfativo dos resíduos sólidos dispostos em condições deficientes.

Pouco sobrou da cobertura vegetal remanescente da época da instalação do aterro, que

poderia reter o material particulado proveniente da operação, bem como barrar a migração dos

gases para fora da área do aterro (Figuras 5.11. e 5.12.).

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Figuras 5.11. e 5.12. - Barreiras Naturais no Aterro Integrado Ilha

Fonte: Marchi (2011).

5.2.2.4. Lençol Freático do Aterro Integrado Ilha

A área correspondente ao Aterro Integrado Ilha pertence às Sub-Bacias de drenagem do

riacho Ponta de Castellanos e do riacho Jacu-Açú. A poluição do rio Castelhanos como corpo

receptor do lixiviado descartado, após tratamento, foi prevista pelo RIMA do Aterro Sanitário

Ilha de Itaparica (ECOPLAM, 1995). Porém, pelo fato do rio Castelhanos possuir pouca vazão,

abrigar espécies pouco significativas e não ter um uso mais importante na região, o RIMA

(ECOPLAM, 1995) dá pouca importância à possibilidade de sua poluição.

Como referido antes, a profundidade do lençol freático é um dos elementos decisivos para

a escolha da área de implantação de um aterro. Terrenos com lençol freático aflorante ou muito

próximos da superfície são impróprios para a construção desta infraestrutura. O espaço mínimo

recomendado entre o lençol freático e o fundo da vala escavada é de três metros.

Conforme o RIMA (ECOPLAM, 1995), a profundidade do lençol freático do AII ocorre

em níveis superiores a 30 metros. A base mais profunda se localiza a uma distancia de dez metros

do nível do lençol freático.

Apesar da distância segura, as propriedades dos líquidos percolantes nas barreiras de solo

compactadas podem influenciar a condutividade hidráulica, contaminando as linhas de água pelas

águas lixiviantes, resultantes da degradação da matéria orgânica depositada sem qualquer

tratamento nesse aterro.

Tampouco existem barreiras hidráulicas, trincheiras profundas executadas a jusante da

área, com o objetivo de interceptar o lençol freático pela instalação de um conjunto de motores e

bombas recalcando as águas contaminadas para a superfície.

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106

5.3. Caracterização Organizacional da Gestão dos Aterros Sanitários Estudados

Para Chanlat (1995), modelo de gestão pode ser definido por um conjunto de práticas

administrativas empregadas em uma dada Instituição, com vistas a se alcançar os objetivos que

lhe foram fixados, estabelecendo as condições e a organização do trabalho, a natureza das

relações hierárquicas, os tipos de estruturas organizacionais, os sistemas de avaliação e controle

dos resultados, as políticas em matéria de gestão de pessoal e os objetivos, os valores e a filosofia

de gestão que o inspiram.

No mundo contemporâneo, modelos de gestão vêm passando por constantes mudanças,

que podem se constituir de perspectivas diversas, adotando maior ou menor integração com a

sociedade ou praticando posturas mais ou menos participativas junto aos seus empregados,

fornecedores e clientes. Para Kozlowski e Klein (2000), o contexto organizacional é o efeito

resultante da combinação das diferenças individuais e contextuais, ou seja, a articulação entre

atos humanos individuais e condutas coletivas.

Na ausência de gestão adequada, a geração e a destinação dos resíduos sólidos podem

conduzir a vários problemas, tais como: contaminação do solo com fungos e bactérias;

contaminação das águas de chuva e do lençol freático; aumento da população de ratos, baratas e

moscas, disseminadores de doenças diversas; aumento dos custos de produtos e serviços;

entupimento das redes de drenagem de águas pluviais; assoreamento dos córregos e dos cursos

d’água; incêndios de largas proporções e difícil combate; destruição da camada de ozônio, dentre

outros.

Nesse sentido, diante das dificuldades enfrentadas por essa área, é importante que, além

dos procedimentos técnicos, se faça uma avaliação da estrutura organizacional, das práticas, dos

comportamentos e das ações mais representativas das aspirações e interesses coletivos da amostra

selecionada, o que vai contribuir para o desenvolvimento de um modelo alternativo para a gestão

de aterros sanitários.

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5.3.1. Levantamento organizacional do Aterro Compartilhado Centro (AMC)

Breve Histórico do Aterro Metropolitano Centro (AMC)

O AMC iniciou as operações em 1997, tendo sido implantado e operado pela Companhia

de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia até 1998, quando foi transferido para a Empresa

de Limpeza Urbana de Salvador. Desde janeiro de 2000, a empresa Bahia Transferência e

Tratamento de Resíduos S.A. (BATTRE) vem sendo a responsável pelos serviços de operação e

manutenção da Estação de Transbordo, que atende a cidade de Salvador e pela implantação,

operação e manutenção do Aterro Metropolitano Centro, que atende aos municípios de Salvador,

Simões Filho e Lauro de Freitas.

Essa empresa gerencia os resíduos sólidos urbanos e comerciais da Região Metropolitana

de Salvador e possui 140 funcionários.

A Solví é a holding controladora da empresa Battre e de outras empresas localizadas em

diversos estados do Brasil. Possui também uma base no Peru. Estas empresas atuam nos

segmentos de Resíduos Sólidos, Saneamento e Valorização Energética.

5.3.1.1. Frequência da Coleta dos Resíduos Sólidos para o Aterro Metropolitano Centro

Os resíduos sólidos das cidades de Salvador, Lauro de Freitas e Simões Filho é coletado

com frequência, principalmente nos bairros comerciais e de residência das classes de renda mais

alta. O SNIS de 2007 (BRASIL, 2009) revela que mais de oitocentas mil toneladas de resíduos

sólidos são coletadas na cidade de Salvador, apresenta o percentual de 72% de habitantes

servidos diariamente pela coleta de resíduos sólidos e 28% em dias alternados. Esses dados

corroboram a pesquisa feita junto a dez municípios baianos, intitulada “Tecnologias de Gestão no

Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais: desafios da Sociedade e dos Serviços Públicos na

Bahia”, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), que teve

os seus resultados publicados em 2008. Segundo os resultados desta pesquisa, 38,8% da

população de baixa renda respondeu que não tem coleta diária de resíduos sólidos e quase 10%

afirmou que nunca foi beneficiado por esse serviço público (Quadro 5.2.).

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Quadro 5.2. - Frequência da Coleta dos Resíduos Sólidos junto à População de Baixa

Renda em 10 Municípios Baianos

A Coleta de Resíduos Sólidos é feita diariamente pela Prefeitura?

Quantidade Frequência

Não resposta 4 0,3% Sim 942 59,3% Não 616 38,3% Não sei 26 1,6% Total 1588 100%

Fonte: Tecnologias de Gestão no Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais: desafios da Sociedade e dos Serviços Públicos na Bahia, 2008.

Esta pesquisa revela ainda que a população de baixa renda acredita que o convívio com a

poluição causada pela ausência do saneamento básico é considerado componente grave para o seu

cotidiano.

Esses resultados se referem aos serviços públicos de varrição, coleta, transporte e

tratamento dos resíduos sólidos e revelam uma baixa participação popular e alta centralização

desses serviços, além da precária qualidade do meio físico, mais acentuadamente nas zonas onde

moram as populações mais carentes. As prefeituras dos três municípios terceirizam os serviços de

limpeza urbana para empresas privadas que atuam na área.

Uma estação de transbordo fica localizada no município de Salvador, no antigo “lixão” de

Cana Brava, otimizando o transporte dos resíduos sólidos desde esse município até o aterro

sanitário.

A terceirização e o compartilhamento de projetos e obras ou serviços públicos relativos

aos resíduos sólidos com outras áreas são atividades crescentes; a LIMPURB busca compartilhar

projetos e estimular a participação da sociedade civil organizada na sua gestão. Um caso que

pode ser citado, embora ainda incipiente, é a articulação promovida entre a Prefeitura Municipal

de Salvador com empreiteiras ligadas aos serviços públicos de coleta de resíduos sólidos, que

orientam e apóiam algumas associações comunitárias situadas em locais de difícil acesso aos

caminhões coletores/compactadores. Um acordo estabelecido entre os três segmentos objetivava

facilitar a limpeza e coleta nos locais em que o acesso dos equipamentos é difícil. A comunidade

coleta e acondiciona os resíduos sólidos em caixas estacionárias, localizadas em pontos

estratégicos, para posterior coleta das empreiteiras. Visa, ainda, a geração de renda: no momento

da coleta, realizada pela comunidade, ocorre uma triagem dos materiais recicláveis, que são

armazenados e posteriormente vendidos. O lucro obtido é partilhado entre as associações

participantes.

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109

Uma ampla mobilização da sociedade, do governo e do Terceiro Setor, pode propiciar às

prefeituras baianas incentivo à formação de cooperativas e associações que promovam a inclusão

da população, principalmente daquela de baixa renda, no âmbito local.

Representantes da LIMPURB afirmam possuir normas para minimizar possíveis

problemas na área. A Secretaria de Desenvolvimento Urbano, por meio da Companhia de

Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia, oferece apoio institucional para a elaboração dos

Planos de Gerenciamento de Limpeza Urbana (PGLU) e disponibiliza manuais de operação e

gestão dos resíduos sólidos aos municípios baianos.

O gestor de Simões Filho afirma possuir cadastro e acompanhamento das demandas

populares por meio de banco de dados, avaliando sistematicamente a satisfação do serviço ou

obras prestados. Apesar destas afirmativas, do recebimento de demandas populares e do estímulo

à participação da sociedade civil organizada nas suas atividades, o propósito parece ainda não ter

sido atingido, pois ruas sujas e com problemas de entupimento nos sistemas de drenagem urbana

são facilmente encontrados. O exercício da discussão entre poder local e comunidade evita a

segregação e leva à busca de soluções, desenvolvendo uma comunidade de prática em torno de

objetivos comuns.

Diante do exposto, pode-se afirmar que a frequência da coleta dos resíduos sólidos é

realizada de forma desigual nos bairros dos municípios servidos pelo Aterro Metropolitano

Centro.

O outro problema detectado nos serviços públicos de limpeza urbana na RMS é a questão

da coleta seletiva. Não existem programas persistentes por parte das prefeituras para viabilizar o

processo de redução, reuso e reciclagem nos três municípios. Isso é preocupante, tendo em vista

que a geração de resíduos sólidos na região é bastante significativa.

5.3.1.2. Adequação da Destinação dos Resíduos Sólidos

A necessidade de fornecer destino adequado aos resíduos sólidos urbanos não se restringe

apenas ao processamento e à destinação final em células específicas para cada tipo de resíduos

sólidos, atendendo as condições básicas de segurança.

Devem ser considerados outros fatores que contribuem para a disposição correta de

resíduos sólidos e determinam a eficiência organizacional de um aterro sanitário. Para que esta

eficiência seja maximizada, tornar-se cada vez mais necessário os cuidados com os aspectos

administrativos, como: recepção dos resíduos sólidos; pesagem e registro dos resíduos sólidos;

manutenção e limpeza das áreas administrativas e operacionais; sinalização; rotina operacional; a

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adequação de pessoal e equipamentos e com os aspectos operacionais, como impermeabilização,

disposição e drenagem, dentre outros.

Aspectos Administrativos do AMC

Como anteriormente relatado, a Battre é uma empresa pertencente ao Grupo Solvi. Esta

empresa administra a estação de Transbordo de Cana Brava e gerencia os resíduos sólidos

urbanos e comerciais da RMS.

Para serem desenvolvidos a contento, aspectos administrativos, jurídicos, econômicos,

sociais e políticos envolvidos no AMC, necessitam de pessoal técnico-administrativo treinado. As

práticas operacionais têm que estar conforme os regulamentos e as leis brasileiras e

desempenhadas com profissionalização.

Conforme pode ser constatado pelo registro fotográfico feito no momento da vista ao

aterro, verifica-se que, no trabalho cotidiano, práticas pertinentes à prevenção e ao controle dos

fatores de risco são observadas: a entrada do aterro é restrita a veículos cadastrados e as vias de

acesso para as áreas administrativas e para aquelas ligadas à destinação final, são desimpedidas,

sinalizadas e asfaltadas (Figuras 5.13. e 5.14.).

Figuras 5.13. e 5.14. – Organização da Entrada e das Vias do AMC

Fonte: Marchi (2010).

Em função do volume de resíduos sólidos gerados pela Região Metropolitana de Salvador,

verificou-se que alguns procedimentos padronizados são adotados pelo aterro, como: recepção

dos resíduos sólidos com registro e pesagem, sinalização apropriada, rotina operacional por meio

de fluxos bem definidos de transporte para as células específicas (Figuras 5.15. e 5.16.).

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111

Figuras 5.15. e 5.16. – Recepção dos Resíduos Sólidos do AMC

Fonte: Marchi (2010)

No que se refere ao estado de conservação e manutenção das máquinas e equipamentos, a

partir dos dados obtidos nesta pesquisa, verificou-se que tratores e máquinas de operação se

encontravam em bom estado. Também em funcionamento se encontrava a balança de pesagem

dos veículos coletores para o controle da quantidade dos volumes diários e mensais dispostos no

AMC (Figuras 5.17. e 5.18.).

Figuras 5.17. e 5.18. - Estado de Conservação dos Equipamentos do AMC

Fonte: Marchi (2010).

As vias do AMC são bem sinalizadas. Placas de advertência de áreas de risco podem ser

encontradas em locais de fácil visualização. Em função da boa sinalização existente, as diversas

unidades do aterro são facilmente encontradas.

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Placas informativas indicam a quantidade de dias sem acidentes, estimulando o cuidado e

a atenção no trabalho desenvolvido nas dependências do aterro. A sinalização do programa de

Coleta Seletiva se encontra exposta na sede administrativa (Figuras 5.19. e 5.20.).

Figuras 5.19. e 5.20. – Sinalização no AMC

Fonte: Marchi (2010).

A sede administrativa possui amplo espaço de escritórios, além de abrigar um auditório

para eventos educacionais e culturais. Nesse local também são apresentados aos visitantes os

procedimentos administrativos e operacionais da Bahia Transferência e Tratamento de Resíduos

(BATTRE).

Na região onde se encontra o AMC, a vegetação original encontra-se bastante alterada,

passando por um processo constante de desmatamento. Na área do aterro é marcante a presença

de gramíneas e de espécies invasoras. A área é ocupada por construções que impedem a

ocorrência de processos naturais de regeneração. Entretanto, existe a conservação de um cinturão

verde em torno do AMC, de grande importância em um aterro sanitário, já que serve como

barreira física à ocorrência e desenvolvimento da degradação ambiental (Figuras 5.21. e 5.22.).

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Figuras 5.21. e 5.22. – Sede Administrativa da Battre

Fonte: Marchi (2010).

Adequação de Pessoal e Equipamentos

No momento da visita realizada para esta pesquisa, cento e trinta e sete colaboradores

trabalhavam na Battre: cento e doze no AMC e vinte e cinco na estação de transbordo localizada

em Cana Brava.

O ser humano é um dos elementos mais importantes de uma organização. É dever da

organização que lida com os resíduos sólidos, além de promover treinamentos contínuos, fornecer

equipamento de proteção individual (EPI) a cada trabalhador, visando a preservação da saúde dos

servidores que mantêm contato direto com os resíduos sólidos, orientá-los como usar o uniforme,

as luvas, as botas, as máscaras individuais, os aventais, óculos e gorros. No momento da visita ao

AMC chovia, observou-se que além do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), os

funcionários usavam capa protetora de PVC (Figuras 5.23. e 5.24.).

Figuras 5.23. e 5.24. – Uso de Equipamentos de Proteção Individual no AMC Fonte: Marchi (2010).

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Aspectos Operacionais do AMC

O aterro sanitário é uma obra de engenharia projetada sob critérios técnicos,

recomendados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). As normas NBR

8419/1984 e NB 843/1983 preconizam, entre outros aspectos, a observação rigorosa de elementos

essenciais como impermeabilização da base e impermeabilização superior, sistema de drenagem

de lixiviados e de gases e cobertura diária dos resíduos sólidos.

Um dos inúmeros problemas encontrados nos aterros sanitários está relacionado à

impermeabilização da base destas instalações, ou seja, a possibilidade de ocorrência de

contaminação das águas subterrâneas, além do comprometimento de aquíferos e reservas

importantes de águas e do solo, devido à infiltração dos líquidos percolados. Nesse sentido, a

impermeabilização do local que receberá os resíduos sólidos é de grande interesse para a

preservação ambiental. Nesta área devem ser instaladas redes para coleta e tratamento do

lixiviado, material que reúne todas as impurezas líquidas e tóxicas dos resíduos sólidos.

No AMC a célula de disposição dos resíduos sólidos possui sistema duplo de

impermeabilização inferior, composto de manta sintética (dois milímetros) sobreposta a uma

camada de argila compactada. Esse sistema busca evitar rupturas causadas por pressões

hidrostáticas e hidrogeológicas, condições climáticas, tensões da instalação, da impermeabilidade

ou originárias da operação diária.

O sistema de cobertura tem a função de proteger a superfície das células de resíduos

sólidos, de eliminar a proliferação de vetores, de diminuir a taxa de formação de líquidos

percolados, de reduzir a exalação de odores, de permitir o tráfego de veículos coletores sobre o

aterro e de eliminar a queima de resíduos sólidos e a saída descontrolada do biogás.

Na cobertura do AMC a terra é compactada diariamente por tratores compactadores. A

cobertura final usa o geotextil não tecido de polipropileno, trinta centímetros de areia, quarenta

centímetros de pedra e cobertura vegetal (Figuras 5.25. e 5.26.).

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Figuras 5.25. e 5.26. – Aspectos da Impermeabilização e Cobertura do AMC

Fonte: Marchi (2010).

Na drenagem superficial do AMC são utilizados vários sistemas e dispositivos, tais como:

valetas de proteção de aterro, descidas d'água, caixas coletoras, dentre outras. Esses sistemas de

drenagem superficial visam promover um deságue seguro das águas que incidem diretamente

sobre as vias, garantindo a segurança e estabilidade do aterro.

Vale salientar ainda a importância da drenagem superficial do aterro sanitário, para evitar

que as águas das chuvas penetrem no maciço do aterro, contribuindo para o acréscimo de líquido

percolado gerado.

Para a drenagem do lixiviado é utilizado o método de camada drenante. Esse método

consiste em uma camada de brita, localizada diretamente abaixo do pavimento e acima da base ou

sub-base. O lixiviado é um dos responsáveis pela estabilidade do maciço de resíduos sólidos,

assim sendo, deve ser bem gerenciado para evitar qualquer possibilidade de desmoronamento. O

lixiviado drenado no AMC é canalizado para uma estação, onde carretas específicas transportam

esse material até a Empresa de Proteção Ambiental (CETREL S.A.) para adequado tratamento.

Para drenagem de gás são utilizados dutos e drenos no maciço do aterro, que captam e

transportam o biogás para dois flares, onde são queimados. Atualmente, uma parte desse gás está

sendo reaproveitado para geração de energia limpa, conforme será descrito posteriormente, no

item 5.3.1.3. (Figuras 5.27. e 5.28.).

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Figuras 5.27. e 5.28. – Aspectos da Drenagem do AMC Fonte: Marchi (2010).

5.3.1.3. Busca por Alternativas para o Processamento dos Resíduos Sólidos

Nos últimos anos, o AMC vem buscando uma maior eficiência no processamento dos seus

resíduos sólidos. Esse aterro adota um sistema automatizado de processamento de resíduos

sólidos urbanos, voltada tanto para a não liberação de gases tóxicos oriundos dos resíduos sólidos

na atmosfera, vendendo créditos de carbono, quanto para a geração de energia limpa.

No que se refere à captação de gases para venda no mercado de crédito de carbono, vale

ressaltar que o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE) é um sistema voltado para

as oportunidades de negócios com países desenvolvidos, pertencentes ao Anexo I do Tratado de

Kyoto, que buscam promover a redução do Gás do Efeito Estufa (GEE) fora de seu território, ou

seja, comprando no mercado as Reduções Certificadas de Emissões (CER).

Uma iniciativa conjunta da Bolsa Mercantil & Futuro (BM&F) e do Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), abriga um “Banco de Projetos BM&F”

composto por projetos validados por Entidades Operacionais Designadas pela ONU e também

por Intenções de Projetos, ou seja, projetos parcialmente estruturados para atingir condição futura

de validação no âmbito dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). Nesse sistema,

vários projetos de redução de gás metano de aterros sanitários brasileiros encontram um canal de

divulgação, interação e captação de recursos com investidores estrangeiros interessados em

adquirir créditos de carbono.

O AMC se encontra dentre os aterros brasileiros que vendem crédito de carbono. O

sistema de extração dos gases do AMC encaminha o biogás desde a captação até o sistema de

tratamento, que é composto basicamente por um conjunto de sopradores, filtros para a

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remoção de gotículas de condensado e material particulado e tubulação de encaminhamento

para a queima nos Flares (Figuras 5.29. e 5.30.).

Figuras 5.29. e 5.30. – Captação Gases no AMC Fonte: Marchi (2010).

Nesse contexto, é relevante para o AMC possuir um sistema de informação inovador. A

existência de uma sala informatizada melhora a produção e a gestão de dados e relatórios. Um

software adquirido pelo AMC registra e controla a quantidade de gás gerado nas células do

aterro, objetivando a concretização da comercialização realizada anteriormente com países

interessados (Figuras 5.31. e 5.32.).

Figuras 5.31. e 5.32. – Sala Informatizada para Controle dos Gases Gerados e Vendidos

pelo AMC Fonte: Marchi (2010).

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118

Frequentemente técnicos contratados pela Comissão de MDL da Organização das Nações

Unidas (ONU) monitorizam os dados coletados, comprovando a retirada dos gases da atmosfera.

Outra iniciativa de processamento de resíduos sólidos no AMC foi o desenvolvimento de

novas formas para maximizar a captação do biogás, recuperando emissões fugitivas para atender

a uma Termelétrica instalada em uma área de 13 mil metros quadrados, que obteve investimentos

de aproximadamente cinquenta milhões de Reais. A Solvi, empresa controladora da Battre está

sendo a responsável pela gestão desse empreendimento.

A Termelétrica teve capacidade inicial de geração de energia de 20 megawatts (MW),

suficiente para abastecer uma cidade com mais de 200 mil habitantes (Figuras 5.33. e 5.34.).

Figuras 5.33. e 5.34. – Aspectos da Captação Gás para Geração de Energia Limpa no AMC

Fonte: Marchi (2010).

É inegável os benefícios que a geração da energia trazidos pela energia advinda de aterro.

Entretanto, para a geração de energia é necessária uma grande quantidade de matéria orgânica.

Torna-se conflitante a necessidade de decomposição de matéria orgânica como matéria

prima para a geração de energia limpa. Dessa forma, é imperativo que os 3Rs (reduzir, reutilizar e

reciclar) sejam implementados pelo Poder Público, para que uma haja efetiva prevenção dos

impactos ambientais que um aterro de tal porte proporciona.

5.3.1.4. Qualidade das Respostas das Exigências Ambientais e Econômicas

As respostas às exigências ambientais e econômicas podem ser analisadas sobre dois

aspectos. O primeiro pela redução do uso de riquezas naturais (energia, água e matérias primas).

O exemplo do uso dos gases do aterro para a geração de energia limpa na operação e na

administração pode ser considerado como uma resposta às questões ambientais e econômicas.

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Vale ressaltar que o AMC possui inovações tecnológicas, principalmente em seu sistema de

cobertura final, onde a célula é encoberta por manta de PVC, que possibilita uma maior eficiência

na captação do biogás. Entretanto, como prevalece a mistura de resíduos sólidos orgânicos e

inorgânicos nas células do AMC, uma alta quantidade de material orgânico acaba sendo

depositada no solo, diminuindo o tempo de vida desse equipamento. É inegável, para uma gestão

privada, que quanto maior a massa de resíduos sólidos depositada nas células, maior é o retorno

financeiro da operação. Faz-se urgente que as três prefeituras envolvidas no compartilhamento do

aterro promovam campanhas viáveis para a reciclagem e reutilização.

O segundo aspecto se encontra no vislumbre de boas práticas operacionais, na existência

de equipamentos e de técnicas existentes para o controle de percolados e no tratamento e

monitorização das emissões de lixiviado.

Os equipamentos e as técnicas utilizadas para a operação no AMC se encontram dentro

das Normas brasileiras. No que se refere ao tratamento das emissões de lixiviado, líquido escuro

que contém altas concentrações de compostos orgânicos e inorgânicos, esse material é drenado e

levado para uma bacia de acumulação, com capacidade de vinte e quatro mil metros cúbicos. Esta

bacia também é recoberta, a fim de evitar escapamento dos gases. Posteriormente, o lixiviado

acumulado é drenado para um pátio de carga, onde carretas especiais transportam o material até a

CETREL S. A., para, então, ser encaminhado à Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), o que

evita emissões gasosas, líquidas e sólidas no meio ambiente (Figuras 5.35. e 5.36.).

Figuras 5.35. e 5.36. – Tratamento do Lixiviado do AMC Fonte: Marchi (2010).

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Outro destaque que pode ser dado, principalmente no que se refere às exigências

ambientais, é a monitorização dos sistemas de destinação final de resíduos sólidos urbanos

coletados por esse aterro. A monitorização permite o controle operacional e contribui para o

entendimento do comportamento geotécnico dos resíduos sólidos. O levantamento dos dados do

AMC para monitorização é efetuada por empresas terceirizadas. Estes dados são analisados por

um grupo composto por pessoal técnico, pertencente ao quadro da Universidade Federal da

Bahia. Finalmente, caso algum desvio seja detectado, esse grupo emite recomendações ou propõe

modelos de comportamento.

Um espaço foi criado nas instalações do aterro, com o objetivo de educar e sensibilizar os

funcionários para o reuso de material orgânico para compostagem. A compostagem é um

processo biológico em que os microrganismos transformam a matéria orgânica proveniente dos

resíduos sólidos em um material semelhante ao solo. Uma horta foi instalada e é mantida pelos

próprios funcionários. A produção obtida é compartilhada pelos funcionários que aderiram ao

programa (Figuras 5.37. e 5.38.).

Figuras 5.37. e 5.38. – Campanha Interna para Reutilização de Material Orgânico

Proveniente dos Resíduos Sólidos no AMC Fonte: Marchi (2010).

Outra referência é o projeto de educação ambiental que vem sendo desenvolvido pela

Battre junto às escolas da Região Metropolitana de Salvador. Em parceria com a ONG Estação

das Formas e a LIMPURB, alunos de escolas públicas e particulares, matriculados do Ensino

Fundamental, têm a oportunidade de conhecer as instalações do aterro, discutir a questão

ambiental, a problemática dos resíduos sólidos, assistir a um vídeo institucional e teatro de

fantoches, além de receber material didático-pedagógico.

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5.3.1.5. Incentivos às Iniciativas que Busquem Minimizar a Geração de Resíduos Sólidos

Reforçando práticas que incentivam a minimização de resíduos sólidos, a Solvi, grupo o

qual a empresa Battre pertence, possui diversas publicações nesse sentido, como revistas,

relatórios e cartilhas contendo legislação aplicável à área de saneamento básico, além de códigos

de conduta. Essas publicações possuem versão em português e espanhol.

Para a obtenção e manutenção do certificado ISO 14000, a Battre tem que se submeter a

auditorias periódicas, realizadas por uma empresa certificadora, credenciada e reconhecida pelos

organismos nacionais e internacionais.

Como parte do esforço para a obtenção desse certificado, a conscientização da

importância da redução, reuso e reciclagem dos resíduos sólidos é de grande importância. Um

programa de coleta seletiva foi instalado nas suas instalações (Figuras 5.39. e 5.40.).

Figuras 5.39. e 5.40. – Coleta Seletiva do Aterro Metropolitano Centro

Fonte: Marchi (2010).

5.3.2 Levantamento Organizacional do Aterro Integrado Ilha

Breve Histórico do Aterro Integrado Ilha

O Aterro Integrado Ilha atende a dois municípios: Vera Cruz e Itaparica. Esse aterro

integra a Administração Direta da Prefeitura de Vera Cruz, como órgão de execução de políticas

e serviços públicos de limpeza urbana.

O Aterro Integrado Ilha localiza-se no distrito de Baiacu. Iniciou as suas operações no ano

de 1997. Esse aterro recebeu Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo Relatório de Impacto

Ambiental (EIA-RIMA), conforme as normas do Conselho Nacional de Meio Ambiente

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(CONAMA). Nesse aterro foi projetado um conjunto de quatro células, onde os resíduos sólidos,

após o aterramento, deveriam ser submetidos à tratamento secundário. Também foi proposto um

modelo que incluía uma unidade de segregação e reciclagem, para só então os resíduos sólidos

seguirem para as células ou para a central de podas e entulhos.

Entretanto, segundo Nunesmaia et al. (2004), o Aterro Integrado Ilha transformou-se em

“lixão”. No ano de 2005, foi recuperado pela CONDER. Pouco tempo depois, entregue à

Prefeitura converteu-se, novamente, em “lixão”.

Em 2007, o Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça do Meio Ambiente

divulgou um laudo técnico, que descreve o seu estado como o de vazadouro a céu aberto. Em

janeiro de 2011, durante a visita in loco, o Aterro Integrado Ilha foi enquadrado como “lixão”.

5.3.2.1. Frequência da Coleta dos Resíduos Sólidos para o Aterro Integrado Ilha

O sistema de coleta de resíduos sólidos nos municípios de Vera Cruz e Itaparica

compreende a coleta indiferenciada dos RSU porta-a-porta. Segundo Nunesmaia et al. (2004), os

resíduos sólidos, tanto no município de Itaparica quanto no de Vera Cruz eram recolhidos

diariamente, sendo que nos locais impossibilitados de tráfego aos caminhões, os descartes eram

realizados em pontos estratégicos, principalmente no período de alta estação.

Como a coleta é irregular, muitas vezes os resíduos sólidos são jogados nas rodovias

(Figura 5.41.).

Figura 5.41. – Presença de Pontos de Resíduos Sólidos nas Margens das Rodovias da Ilha de Itaparica

Fonte: Marchi (2011).

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5.3.2.2. Adequação da Destinação dos Resíduos Sólidos

Nesse item serão considerados os cuidados com os aspectos administrativos e

operacionais realizados pelo Aterro Integrado Ilha.

Aspectos Administrativos do Aterro Integrado Ilha

As práticas pertinentes à prevenção e ao controle dos fatores de risco no Aterro Integrado

Ilha não são observadas. Não existe controle algum na entrada do aterro, conforme pode ser

constatado pelas Figuras 5.42. e 5.43..

Figuras 5.42. e 5.43.– Recepção dos Resíduos Sólidos do Aterro Integrado Ilha

Fonte: Marchi (2011).

Os mecanismos de controle de acesso são necessários para restringir a presença de

estranhos na área do aterro. A ausência de controle efetivo de acesso pode permitir a entrada

inadvertida de pessoas, que se expõem à insalubridade inerente a um aterro sanitário, além de

permitir depósitos clandestinos de resíduos sólidos de origem desconhecida nas áreas dos

mesmos. As caçambas com os resíduos sólidos chegam e saem livremente no Aterro Integrado

Ilha, sem que ninguém tome conhecimento do material transportado nas mesmas.

A vigilância do aterro estava sendo realizada pelo jardineiro. Como não existe controle, a

descarga de resíduos sólidos é feita em qualquer local, além do acesso estar disponível para

pessoas estranhas aos serviços. Verificou-se a presença de vários catadores de materiais

recicláveis nas dependências do aterro.

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A recepção dos resíduos sólidos é feita por meio da pesagem dos caminhões e caçambas

coletores. Entretanto, a impressora não funciona e os registros são feitos à mão. A organização

das rotinas de recepção, da pesagem e do registro é muito precária (Figuras 5.44. e 5.45.).

Figuras 5.44. e 5.45.– Balança e Equipamentos para Pesagem do Aterro Integrado Ilha

Fonte: Marchi (2011).

Devem ser mantidos permanentemente no aterro, em perfeitas condições de operação e

manutenção, tratores de terraplanagem e de esteira, com as adaptações recomendadas. Mas, o

estado de conservação e manutenção dos equipamentos do Aterro Integrado Ilha é lastimável.

Exceto a balança de pesagem, que ainda funciona, tratores se encontram abandonados em várias

partes do aterro (Figuras 5.46. e 5.47.).

Figuras 5.46. e 5.47. - Estado de Conservação dos Equipamentos do Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011).

Segundo as normas brasileiras, a estrada de acesso aos aterros sanitários deverá ter

sinalização e manutenção periódica para a promoção de um bom escoamento dos veículos. No

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momento da visita, havia apenas uma placa de sinalização, danificada, na rodovia de entrada do

Aterro Integrado Ilha (Figura 5.48.).

A colocação de sinalização em aterros sanitários é uma ação simples, mas de grande

importância. O deslocamento de caminhões coletores para os locais de descarga apropriados é um

dos objetivos das placas de sinalização. Porém, como também não existem locais adequados para

o despejo dos resíduos sólidos, as placas não fariam sentido. Não existe sinalização de entrada e

das vias do aterro, assim como nenhuma para áreas consideradas de maior perigo (Figura 5.49.).

Figuras 5.48. e 5.49. – Sinalização no Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011).

A sede administrativa é acanhada e não possui móveis e equipamentos que indiquem o

seu uso cotidiano. Uma sucata de pá escavadeira de trator se encontra largada no caminho de

entrada da sede (Figuras 5.50. e 5.51.).

Figuras 5.50. e 5.51.– Sede Administrativa do Aterro Integrado Ilha

Fonte: Marchi (2011).

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Os taludes e patamares do aterro devem ser cobertos por vegetação adequada,

imediatamente após a sua construção. O objetivo da vegetação é de minimizar a erosão com o

rápido estabelecimento das raízes. No Aterro Integrado Ilha, ainda se encontra parcialmente

conservada a vegetação original, da época de instalação do aterro (Figuras 5.52. e 5.53.).

Figuras 5.52. e 5.53.– Vegetação do Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011).

Adequação de Pessoal e Equipamentos

No momento da visita, a recepção foi feita pelo jardineiro. Como foi afirmado

anteriormente, o elemento humano é de grande importância em uma organização. O empregador

deve garantir a organização das atividades de prevenção dos riscos profissionais necessárias a

assegurar aos trabalhadores as condições de segurança, higiene e saúde em todos os aspectos

relacionados com o trabalho.

É uma grande preocupação a presença de pessoas nos “lixões”. A contaminação acontece

de forma direta, afetando gravemente a saúde desses indivíduos. Além disso, animais se

alimentando dos restos de comida, muitas vezes em estado de decomposição nas áreas de

disposição dos resíduos sólidos urbanos, podem ser contaminados e se tornarem transmissores de

doenças. O problema se agrava quando esses animais são utilizados na alimentação de pessoas.

Os trabalhadores do Aterro Integrado Ilha podem estar expostos a agentes biológicos, com

riscos para a sua saúde nas muitas das atividades desenvolvidas. Observou-se a ausência de EPI.

O funcionário presente no momento da visita afirmou que existem mais trabalhadores para a

operação do aterro. Porém, o estado de descuido que se viu no local, deixa dúvidas a respeito de

alocação de recursos humanos permanentes no Aterro Integrado Ilha pelo seu gestor (Figuras

5.54. e 5.55.).

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127

Figuras 5.54. e 5.55.– Ausência de Uso de EPI no Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011).

No momento da visita ao Aterro Integrado Ilha, registrou-se um grande número de

pessoas catando resíduos sólidos e animais soltos, como cavalos, galinhas e cachorros,

comprometendo gravemente a sua saúde e, eventualmente, a saúde de humanos que venham a

abatê-los e consumi-los (Figuras 5.56. e 5.57.).

Figuras 5.56. e 5.57.– Presença de Catadores e de Animais no Aterro Integrado Ilha

Fonte: Marchi (2011).

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128

Aspectos Operacionais do Aterro Integrado Ilha

O Aterro Integrado Ilha foi concebido para ser um aterro sanitário. Entretanto, na visita

feita registrou-se que não há qualquer mecanismo para impermeabilização do solo, captação e

tratamento de gases e lixiviado.

Os resíduos sólidos, conforme pode ser constatado nas Figuras 5.58. e 5.59., são colocado

sem critérios técnicos. As células originais estão desativadas. O aterro se transformou em um

vazadouro a céu aberto.

Figuras 5.58. e 5.59.– Aspectos da Impermeabilização e Cobertura do Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011).

A forma de distribuição das áreas para disposição não foi definida em função do emprego

de técnicas específicas e sim da maior comodidade dos caminhões de resíduos sólidos que

despejam o seu conteúdo em qualquer parte do aterro.

A cobertura com terra dos resíduos sólidos dispostos é feita de tempos em tempos. A

identificação da periodicidade de recobrimento dos resíduos sólidos foi avaliada em função da

massa de resíduos sólidos exposta e das informações prestadas pelo funcionário presente no

momento da visita. O funcionário afirmou que a última cobertura com terra havia sido feita há

três meses.

O gás gerado pela decomposição dos resíduos sólidos é diretamente lançado na atmosfera,

sem ser queimado, causando intoxicação nas pessoas que têm contato direto com esse gás

poluente.

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129

O lixiviado gerado nesse aterro, por apresentar substâncias altamente solúveis, pode estar

escorrendo e alcançando recursos hídricos superficiais ou até mesmo infiltrando-se no solo,

atingindo as águas subterrâneas, comprometendo a qualidade e seus potenciais usos.

5.3.2.3. Busca por Alternativas para o Processamento dos Resíduos Sólidos

Não há no Aterro Integrado Ilha qualquer processamento dos resíduos sólidos. De

maneira informal há a catação de materiais recicláveis.

5.3.2.4. Qualidade das Respostas das Exigências Ambientais e Econômicas

São inexistentes práticas para a redução no uso de riquezas naturais (energia, água e

matérias primas) no Aterro Integrado Ilha. A despeito dos benefícios da proximidade com os dois

municípios atendidos, qualquer possibilidade para geração de energia não é levada em

consideração. Atualmente, em aterros que recebem alta carga de resíduos sólidos orgânicos, a

instalação de biodigestores, para a geração de energia alternativa experimental, é relativamente de

fácil aplicação. Ao contrário, a ocupação do solo do aterro é desregrada. A Prefeitura deposita

veículos, caminhões e sucatas em um local próximo à sede administrativa. A presença desse

material compromete as condições estéticas, ambientais e sanitárias do Aterro Integrado Ilha

(Figuras 5.60. e 5.61.).

Figuras 5.60. e 5.61 – Presença de Entulho e Sucatas na Área do Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011).

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130

As boas práticas operacionais, ou seja, a existência de equipamentos e de técnicas para o

controle, a redução na fonte e a monitorização de emissões de lixiviados no meio ambiente não se

aplicam nesse aterro. Nenhum monitorização de líquidos percolados, gases, sólidos e qualidade

de águas superficiais e subterrâneas é realizado.

A principal dificuldade encontrada para a instalação dos instrumentos da monitorização

geotécnica refere-se à sua interferência com a rotina operacional do aterro. Essa rotina não é

aplicada no Aterro Integrado Ilha.

Se faz urgente uma monitorização referente à deposição dos resíduos sólidos de serviços

de saúde (RSS) pelos órgãos competentes das ações dos gestores desse aterro.

Os resíduos sólidos de serviços de saúde oferecem risco potencial ao ambiente e à vida de

forma geral, devido às características biológicas, químicas e físicas que lhes são inerentes, e é

objeto de preocupação do Estado, dos órgãos de saúde, dos órgãos ambientais e de pesquisadores

da área. Todo o gerenciamento dos resíduos sólidos de serviços de saúde, desde a geração até a

destinação final, é de responsabilidade das unidades de saúde.

A Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), nº 358, de 29 de

abril de 2005, dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e

estabelece critérios mínimos para disposição final desses resíduos. Um dos critérios é relativo à

seleção da área de disposição, que deve: i) ser afastada de Unidades de Conservação ou áreas

correlatas; e ii) respeitar as distâncias mínimas estabelecidas pelos órgãos ambientais

competentes de ecossistemas frágeis, recursos hídricos superficiais e subterrâneos.

No momento da visita ao AII foi flagrada a disposição e a queima desse tipo de resíduos

diretamente no solo. Foram identificados seringas, luvas, embalagens de soros, medicamentos e

materiais perfuro-cortantes (Figuras 5.62. e 5.63.).

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Figuras 5.62. e 5.63.– Queima a Céu Aberto dos Resíduos Sólidos de Saúde no Aterro

Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011).

Não há campanhas ou programas educacionais que criem consciência sobre a necessidade

da limpeza da cidade. As raras e tímidas campanhas de reciclagem promovidas nos municípios de

Vera Cruz e Itaparica se tornam ineficientes, tendo em vista a ausência da coleta seletiva, que

acaba desmotivando aqueles que poderiam se dispor a separar os resíduos sólidos em casa.

5.3.2.5. Incentivos às Iniciativas que Busquem Minimizar a Geração de Resíduos Sólidos

Existe viabilidade para a formação de associações e cooperativas de coletores de materiais

recicláveis, mesmo em municípios que não possuam recursos materiais disponíveis. Catadores

ajudam a diminuir os resíduos sólidos depositados em aterros ou “lixões”, mas precisam de

iniciativas oficiais que minimizem a sua exposição aos perigos que esta atividade expõe e

incentivem a gestão participativa de resíduos sólidos.

Nos municípios beneficiários pelo Aterro Integrado Ilha não existe articulação visando

propostas coletivas no sentido de apoiar cooperativas de catadores de materiais recicláveis,

evidenciando a presença social desse segmento.

No momento da visita, percebeu-se além da presença de várias pessoas catando resíduos

sólidos, a montagem de barracas dentro do aterro, sugerindo que alguns catadores possam estar

morando nesse local (Figuras 5.64. e 5.65.).

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Figuras 5.64. e 5.65.– Aspectos da Catação de Reciclados no Aterro Integrado Ilha Fonte: Marchi (2011).

A falta de cultura da gestão dos resíduos sólidos urbanos, a incipiente estrutura da

Administração Pública Municipal, a baixa arrecadação das receitas tributárias próprias e, por fim,

a falta de instrumentos que respaldem o exercício de atividades gerenciais na esfera municipal,

agrava a operação e o controle dos serviços realizados no Aterro Integrado Ilha.

5.4. Apresentação de um Modelo Alternativo para a Gestão de Aterros Sanitários

Em muitas ocasiões não é possível dar uma resposta definitiva a antigos e difíceis

problemas. Entretanto, existe a possibilidade de se fornecer um delineamento teórico, por meio de

uma modelo que adote a visão do conjunto, ou seja, observando-se diferentes variáveis e

construindo-se um esquema com um alcance analítico aplicável às particularidades de cada

município.

O modelo para implantação de aterros sanitários proposto nesse trabalho leva em

consideração as dificuldades de recursos enfrentadas pelos municípios baianos e está apoiada em

quatro pressupostos:

i) Projeto, Implantação e Gestão do aterro sanitário a cargo do Poder Público.

ii) Desconhecimento da população dos prejuízos ambientais causados pela disposição

inadequada dos resíduos sólidos, o que dificulta a participação e controle popular no

sistema público de limpeza urbana.

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133

iii) Qualificação insuficiente de recursos humanos nos municípios, impedindo a

prática dos conceitos ligados à gestão ambiental.

iv) Utilização de alguns dispositivos contidos na Lei nº. 11.445/2007, como o da

Gestão dos Serviços Públicos de Saneamento Básico, que contempla as funções de

Planejamento, Regulação, Prestação dos Serviços e Fiscalização, com o controle

social transversal a todas elas.

Com base nos pressupostos anteriormente apresentados, o modelo teórico para Instalação

e Gestão de Equipamentos de Destinação Final dos Resíduos Sólidos foi concebido como uma

proposta alternativa e mais abrangente, do que os atuais modelos técnico-operacionais, mais

conhecidos e disseminados pela bibliografia nacional. Os aspectos ambientais e de gestão devem

ser levados em consideração.

Em termos gerais, a perspectiva ambiental se constitui em educação ambiental,

licenciamento ambiental e controle dos impactos sócio-ambientais. Na vertente de gestão, de

forma mais ampla, considera-se modelo de gestão do equipamento, elaboração de planos das

ações, implantação do equipamento, capacitação técnica e de gestão e instalação de equipamentos

de apoio.

A Figura 5.66. apresenta o fluxograma da proposta de modelo, evidenciando que a sua

estrutura, que inclui os tipos de atividades e suas interações, pode ser válida para qualquer

município, seja de pequeno, médio ou grande porte.

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134

P E R S P E C T I V A

A M B I E N T A L

Levantamento da Situação da Destinação dos Resíduos Sólidos

Avaliação da Destinação dos Resíduos Sólidos

Escolha do Modelo

de Gestão

Obtenção do Licenciamento

Ambiental

Escolha da Área

Implantação do Equipamento e

Capacitação Técnica e de

Gestão

Elaboração e Aplicação de Oficinas de Educação Ambiental

Instalação dos

Equipamentos de Apoio

Utilização de Plano de Captação e Aplicação de

Recursos

Prevenção e Controle dos

Impactos Sócios Ambientais

P E R S P E C T I V A

D E

G E S T Â O

Aplicação da Análise SWOT

Promoção de Programas de

Educação Ambiental

Figura 5.66. – Modelo para Instalação e Gestão de Equipamentos de Destinação Final dos Resíduos Sólidos

Fonte: Elaboração da autora.

Definição das Atividades do Modelo

Na sequência serão apresentadas as atividades propostas para o modelo desenvolvido.

Todo o processo de implantação de um aterro sanitário deverá estar fundamentado no

levantamento da situação da destinação dos resíduos sólidos. Esse levantamento deverá ser

realizado pelo Poder Público. Com base nesse documento, considerando os dispositivos da

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135

legislação vigente, os órgãos competentes definirão a necessidade de instalação de um novo

equipamento ou de recuperação do existente. No caso de recuperação de aterros existentes, os

procedimentos e legislações próprias para atividades potencialmente poluidoras deverão ser

seguidos.

Para a outra situação, apresenta-se o modelo proposto nesta Tese. É importante salientar

que, antes de iniciar a instalação de um equipamento de destinação final, recomenda-se realizar

oficinas de educação ambiental, a fim de capacitar a população local, tornando-a agente

transformador da sua realidade sócio-ambiental. No final das oficinas, deverão ser apresentadas

as áreas selecionadas para a implantação do equipamento para a escolha da área, onde será

observada a caracterização dos processos do meio físico, atuantes no ambiente selecionado, bem

como na previsão das alterações a que esses processos estão sujeitos, em face da instalação e

funcionamento de um aterro sanitário. Alguns tipos de processos do meio físico podem ser

destacados, como a disposição de sedimentos ou partículas, a erosão eólica, o escoamento de

água na superfície, o escorregamento, a queda de blocos, as interações físico-químicas na água e

no solo, a queda de detritos, o rastejo de solo (creep), a corrida de massa, a radioatividade, a

subsidência, a inundação, a carstificação e os processos pedogenéticos.

Definida a área com a comunidade impactada pelo equipamento, o próximo passo é a

escolha do tipo de gestão mais adequada, que deverá ser feita pelo Poder Público. Se gestão

regionalizada, por meio de gestão privada, parcerias público-privada, gestão pública, gestão

interinstitucional, sob a forma de consórcios, redes ou parcerias. Para Suzuki e Gomes (2009), a

destinação final dos resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários regionais pode viabilizar o

rateio dos custos operacionais e administrativos com ganhos de escala: a contratação de serviços

profissionais de operação do aterro, a otimização do uso de máquinas e equipamentos, a redução

do número de áreas utilizadas, a redução de possíveis focos de contaminação ambiental e, a

concentração das ações de fiscalização do órgão ambiental competente. Para esses autores, no

caso dos municípios de pequeno porte essas vantagens adquirem ainda mais relevância.

Ao final da escolha do tipo de gestão a ser aplicada no aterro é recomendável a análise

SWOT8 do futuro equipamento, ou seja, o levantamento dos pontos fortes e fracos, oportunidades

e ameaças inseridos no modelo de gestão escolhido.

A próxima etapa é o processo de licenciamento ambiental, que pode se desenvolver por

meio da licença de localização, licença de implantação e licença de operação. A autoridade

8 Análise SWOT (Strengths, Weakness, Oppotunites e Threats) é uma técnica de planejamento e gestão que discute quais as posições internas a serem tomadas diante das forças e fraquezas que agem contra ou a favor dos interesses da organização, e quais são as posições externas que devem ser reforçadas ou evitadas.

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ambiental competente pode estabelecer procedimentos simplificados para as atividades de

licenciamento, em função do porte do equipamento e dos impactos ambientais esperados,

conforme prega o Capítulo V - Do Licenciamento Ambiental, do Decreto nº. 7.217/2010, que

regulamenta a Lei nº. 11.445/2010, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico

e dá outras providências.

Cada fase de licenciamento deve ser intercalada com capacitação técnica e de gestão para

o pessoal envolvido no sistema de limpeza urbana do município ou dos municípios participantes.

Os municípios reconhecem que não possuem técnicos capacitados para a elaboração de trabalhos

dessa natureza ou verba para a contratação de profissionais para tal fim. O Artigo 26, Parágrafo

2º, do Decreto nº. 7.217/2010, prorrogou o prazo final para até 2014 para que os planos

municipais de saneamento básico fossem elaborados.

Barbosa, Marchi e Mendes (2010), corroboram com a idéia que o pessoal lotados nos

órgãos ligados à área do saneamento básico dos municípios baianos necessitam de treinamento e

capacitação técnica. Apresentam os resultados obtidos pela Pesquisa Tecnologias de Gestão, que

demonstram a falta de sensibilidade de atendimento ao público por parte dos gestores dos

serviços públicos de saneamento básico. Intermitência no fornecimento de serviços públicos de

saneamento básico nos bairros periféricos, ausência de acesso da população de baixa renda à

educação são problemas encontrados nos municípios pesquisados. Questões como participação e

controle social, prestação de contas à sociedade, ferramentas de gestão e avaliação das ações

contidas no Capítulo IV- Do Controle Social – inserido no Decreto nº. 7.217/2010, muitas vezes,

são ignoradas ou deixadas em segundo plano. Por outro lado a amostra total levantada pela

pesquisa, aproximadamente 70% da população dos municípios pesquisados, acredita que o

saneamento básico é um dos três principais problemas existentes no seu município, sendo que

33% afirmou que a ausência de serviços públicos de abastecimento de água, esgotamento

sanitário e da coleta e da destinação adequada dos resíduos sólidos é o principal problema

enfrentado no seu dia-a-dia.

É necessária a construção de uma nova forma de pensar e agir, envolver as ações de

serviços públicos de saneamento básico com a prática da cidadania. Esta “nova” prática precisa

se tornar concreta e materializar-se como tecnologias de gestão9 destinadas à transformação

social. Para isso, o que se espera é que pessoal capacitado, envolvido com a comunidade, esteja

pronto para uma adequada gestão do aterro sanitário, envolvendo a comunidade, assegurando o

9 Tecnologias de Gestão é o modus operandi de uma organização ou atividade.

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aproveitamento da totalidade de sua vida útil, evitando que se torne um foco de contaminação

ambiental.

Nessa direção alguns equipamentos de apoio instalados nas zonas urbanas dos municípios

são necessários, como: maquinários relacionados à reciclagem e reuso dos resíduos sólidos,

veículos, contêineres, dentre outros. Esses equipamentos devem ser utilizados na coleta porta-a-

porta, em estação de transbordo, em unidades de triagem ou de compostagem, em pontos de

entrega voluntária (PEV), em postos de reaproveitamento (responsabilidade compartilhada com

escolas, casas comerciais, hospitais, clínicas de saúde e indústrias da região, visando a

reutilização e o reaproveitamento do material descartado) e ainda, por cooperativas habilitadas

para coletar os resíduos sólidos, dentre outros.

A partir daí é iniciada uma nova etapa no modelo, ou seja, uma etapa cíclica, orientada

para a utilização de novas técnicas, educação permanente, controle de impactos sócio-ambientais,

captação e aplicação de recursos. Esta dinâmica dialética busca transformar a realidade, a partir

de ações recorrentes e recursivas, que contêm práticas ambientais, pedagógicas, de regulação e de

gerenciamento, interagindo umas com as outras.

A redução, a reutilização e a reciclagem (3 Rs) pressupõem atenção preponderante ao ser

humano. A educação insere-se na dinâmica da aprendizagem, a partir da concepção de que é o

homem o principal protagonista do processo de separação dos resíduos sólidos na origem, quando

passa de uma posição passiva para um papel ativo.

Portanto, a educação é foco de atenção especial para o processo de gestão ambiental. A

segunda etapa de programas educacionais proposta por esta Tese terá como público alvo tanto a

comunidade, quanto as pessoas envolvidas na gestão e operação do aterro, visando atender aos 3

Rs. Os conhecimentos a serem fornecidos devem abranger diferenciados valores e tomadas de

decisões. Decisões que englobem o desenvolvimento de potencialidades e de possibilidades, para

informação e convencimento da comunidade sobre os benefícios das ações de redução dos

resíduos sólidos. O objetivo principal desta segunda etapa educacional é sensibilizar e estimular a

consciência sobre a necessidade da limpeza do município e incentivar iniciativas que busquem

diminuir a geração pessoal e coletiva de resíduos sólidos.

Sugere-se ainda esforços à disseminação da sensibilização ambiental, como o

desenvolvimento de cartilhas auto-explicativas, de programas de visitação para escolas, hospitais,

clínicas, comércio e indústria, pois difundem os conceitos de sustentabilidade e responsabilidade

compartilhada.

A prevenção e o controle dos impactos sociais e ambientais reúnem a observação e a

mensuração de todas as ações e medidas anteriores, reexaminando os avanços e limitações. Na

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última fase desta etapa cíclica se encontra o plano de captação de recursos, que identifica cada

componente de apoio ao processo e garante a adequada aplicação dos recursos para os fins para

os quais foram captados.

Encerrando o processo do modelo de instalação e gestão de um aterro sanitário, se deve

proceder a uma avaliação periódica dos trabalhos e dos resultados e, com base nela, se deve

determinar um conjunto de ações a serem desenvolvidas, com cronograma de execução. Esse

cronograma detalha, ao máximo, cada uma das ações previstas para o próximo período, bem

como os responsáveis por sua execução. Essa atividade, a depender dos resultados encontrados,

realimentará um novo levantamento sobre a situação da destinação dos resíduos sólidos nos

municípios, contribuindo para a tomada de decisões nos programas de ajuste das dificuldades

encontradas.

O modelo sugerido se constitui em um instrumento de análise, que busca evitar futuros

problemas e viabilizar soluções. Esse modelo pode contribuir para a construção de um caminho

possível em atendimento equânime e universal de serviços públicos de saneamento básico.

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CCAAPPÍÍTTUULLOO VVII –– CCOONNCCLLUUSSÃÃOO

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140

VI – CONCLUSÃO

6.1. Conclusão

As políticas públicas aplicadas até a década passada não foram suficientes para melhorar a

situação ambiental do Brasil. Com a promulgação da Lei nº 12.305/10, referente aos resíduos

sólidos, o País busca superar as dificuldades decorrentes do crescimento das cidades, com o

aumento da quantidade gerada de resíduos sólidos. Esta Lei vem trazer melhoria da qualidade de

vida, da saúde pública e da preservação das riquezas naturais e, deverá ser integrada a outras

Normas, como a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (nº. 6.938, de 17/01/1981), a Lei da

Área de Proteção Ambiental (nº. 6.902, de 27/04/1981), a Lei de Recursos Hídricos (nº. 9.433, de

08/01/1997), a Lei de Crimes Ambientais (nº. 9.605, de 12/02/1998), o Estatuto da Cidade (nº.

10.257, de 10/07/2001), a Lei do Saneamento (nº. 11.445, de 5/01/2007) e a Política Nacional

sobre Mudança do Clima (nº. 12187, de 29/12/2009), dentre outras. Sem a institucionalização das

normas ambientais, o País não conseguirá alcançar plenamente os seus objetivos de

desenvolvimento.

Não obstante o sucesso da promulgação da Lei federal em 2010, embora certos aterros

sanitários possam estar de fato sendo adequadamente gerenciados, os resíduos sólidos do estado

da Bahia ainda não tem destino final apropriado. Como as condições gerais de urbanização das

cidades não se modificam na mesma velocidade, a tendência será de que mais da metade dos

resíduos sólidos seja descartado em qualquer parte: nas estradas, nas matas, nos rios, nas

esquinas. Esta afirmativa é corroborada com os dados da Pesquisa Nacional de Saneamento

Básico (IBGE, 2010), que indica o “lixão” como destino final dos resíduos sólidos em 89,3% das

cidades nordestinas. Esse estudo também afirma que no estado da Bahia, 381 dos 417 municípios

dispõem os seus resíduos sólidos diretamente no solo.

O estudo sobre os aspectos geológicos em aterros sanitários comprovou que quando o

Estado resolve instalar um equipamento de destinação final, vem aplicando, na maioria das vezes,

corretos fundamentos técnicos e geológicos. Mas, é durante o processo de operacionalização e

gestão desses equipamentos, que começam as dificuldades e carências de recursos humanos,

técnicos, operacionais e financeiros, transformando o equipamento apropriado em vazadouro a

céu aberto.

No Capítulo II desta Tese apresentou-se a definição de Ecogerenciamento, como a gestão

voltada para integrar as questões ambientais no processo decisório. O Ecogerenciamento sugere

práticas de gestão que diminuam os impactos negativos ocasionados pela organização, em

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contraste à simples adesão às normas, à aplicação das técnicas geológicas e às regulações

impostas pelo mercado ou pelas leis vigentes. Outras ações, além das condições geológicas e

técnicas, devem ser implementadas, concretizando efetiva contraposição ao círculo vicioso

existente e ao contínuo processo de degradação ambiental. O desafio reside na visão estratégica

do equilíbrio entre o atendimento das necessidades básicas de serviços públicos de saneamento

básico e o fomento de uma consciência necessária para consolidar envolvimentos e motivações

com a perspectiva de enfatizar o interesse geral.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos reúne o conjunto de princípios, objetivos,

instrumentos, diretrizes, metas e ações adotado pelo Governo Federal, isoladamente ou em

regime de cooperação com Estados, Distrito Federal, Municípios ou particulares, com vistas à

gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos. Mas, esta

Norma, por si só, não será capaz de modificar a realidade desta área no Brasil.

Para se atingir os objetivos propostos pela Política Nacional de Resíduos Sólidos são

necessários certos cuidados:

i) tornar permanentes as linhas de Educação Ambiental Pública, Formal, de

Comunidades e de Empresas;

ii) observar na pré-seleção das áreas para instalação de aterros sanitários alguns

atributos do meio físico, como os geológicos e geomorfológicos, os hidrológicos e

hidrogeológicos, os socioeconômicos e os operacionais, que indicam de forma segura as

áreas viáveis ao empreendimento;

iii) escolher o tipo de equipamento mais adequado para a destinação final dos resíduos

sólidos;

iv) obter Licenciamento Ambiental;

v) capacitar técnica e gerencialmente a equipe envolvida com o equipamento público;

vi) diversificar os equipamentos, ferramentas e tecnologias que complementem a

sustentabilidade do equipamento público;

vii) respeitar uma hierarquia de gestão dos resíduos sólidos que priorize: evitar a

geração; minimizar a geração; reaproveitar os resíduos sólidos inevitavelmente gerados;

tratar; e dispor os rejeitos de forma ambientalmente adequada;

viii) controlar os inevitáveis impactos sócio-ambientais.

A elaboração de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, nos termos

previstos pela Lei que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, é condição para o Distrito

Federal e os Municípios terem acesso a recursos da União. Mas, como poderão ser esses Planos

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elaborados e executados, se muitas vezes, nos municípios, principalmente os de pequeno porte,

não existe pessoal capacitado para analisar e ter acesso às exigências legais? Uma grande parte do

pessoal técnico municipal não está preparada para indicar os meios para minimizar os impactos

negativos ocasionados pelas formas de uso, costumes e hábitos culturais relativos aos resíduos

sólidos dos municípios.

A educação ambiental não responde a todos os graves desafios vivenciados pela

população junto à área de saneamento básico. Mas, há caminhos, percursos, metas, objetivos

estratégicos que podem se alterar por meio desta.

Nessa direção, as articulações entre o Estado e as comunidades impactadas por esses

equipamentos podem possibilitar um crescente fortalecimento e melhorias institucionais. A

integração entre o município e suas ações na área de saneamento básico e as pessoas, se constitui

em uma importante via de acesso para uma nova forma de governança territorial, rumo ao

desenvolvimento sustentável.

A análise dos procedimentos de manejo dos resíduos sólidos desenvolvidos nas diversas

partes do mundo e do Brasil, permitiu elencar algumas ações básicas que devem ser consideradas

durante a instalação, gestão e operação de um novo equipamento de destinação final, financiado

ou apoiado pelo Estado. No modelo que se propõe, compete ao Poder Público fomentar,

organizar e educar em vez de prover, intervir e assistir, como vem acontecendo ao longo das

últimas décadas.

A pergunta norteadora desta Tese foi se o desenvolvimento de um modelo para instalação

de equipamentos de destinação final dos resíduos sólidos, que envolvesse aspectos geológico-

ambientais e de gestão, poderia atender às especificidades, particularidades, de diferentes

municípios. A realização deste trabalho proporcionou um maior entendimento do tema, o que

permitiu concatenar as práticas de operação, que vêm sendo utilizadas em diferentes partes do

estado da Bahia, com novas práticas ambientais e de gestão, favorecendo assim a elaboração do

modelo proposto, que atende a municípios diversos. A proposição feita por meio deste modelo

busca ainda proporcionar informações, que podem servir de auxílio ao aprimoramento dos

equipamentos já existentes.

Deve se considerar que resultados positivos e duradouros podem ser obtidos por meio da

integração entre serviços públicos e cidadania. As prioridades máximas para qualquer modelo

devem estar apoiadas na coleta de todos os resíduos sólidos municipais, na promoção de uma

destinação adequada e na busca de novas tecnologias e formas de manejo para os resíduos sólidos

dos municípios, sempre apoiadas pela participação cidadã.

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143

Tratou-se, enfim, de um processo de construção teórica e metodológica que partiu de

perguntas e gerou novas questões, especialmente quanto à forma de mensurar e analisar possíveis

mudanças comportamentais em saneamento básico, em função das posturas e procedimentos

inovadores difundidos em todo o País pela recente Política Nacional de Resíduos Sólidos.

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RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS

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RELAÇÃO DOS TRABALHOS PUBLICADOS DURANTE A

ELABORAÇÃO DESTA TESE

01 MARCHI, Cristina M. D. F. ; BARBOSA, Johildo S . Environmental impacts: how can the Brazilian's industry reduce solid Waste. In: Environmental Health “Resetting Our Priorities”, 2011. Anais… Salvador: Elseviers Environmental Science & Ecology, 2011. 1 CD ROM.

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0.5. MARCHI, Cristina M. D. F. . Cenário Mundial dos Resíduos Sólidos e o Comportamento Corporativo Brasileiro frente à Logistica Reversa. In ENGEMA - Encontro Internacional sobre Gestão Empresarial e Meio Ambiente, 2010. Anais Inovação sustentabilidade na nova economia de baixo carbono: Uma agenda para o século XXI. São Paulo: FEA USP, 2010. Também aceito para publicação na Revista Perspectiva em Gestão e Conhecimento.

0.6. MARCHI, Cristina M. D. F. ; BARBOSA, Johildo S ; BARBOSA, Ronaldo M . Centros de Coleta Seletiva de Lixo Urbano: Trajetória Possível ou Utópica? Estudo de Caso, Nancy - França. In: 3er. Congreso Interamericano de Resíduos Sólidos, 2009. Anais... Buenos Aires: AIDIS, 2009. 1 CD ROM

0.7. MARCHI, Cristina M. D. F. ; BARBOSA, Johildo S ; BARBOSA, Ronaldo M . Tecnologias Ambientalmente Sadias em Aterros Sanitários: Estado da Arte no Mundo e no Brasil. In: 3er. Congreso Interamericano de Resíduos Sólidos, 2009. Anais... Buenos Aires: AIDIS, 2009. 1 CD ROM

0.8. MARCHI, Cristina M. D. F. ; BARBOSA A M G ; MENDES, Vera Lúcia P S . Serviços Públicos de Água e Esgotos: A Inter-Relação entre

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