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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL CAMPUS LARANJEIRAS DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL CURSO DE MESTRADO EM AGROECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL JULIANO ANTUNES DE LIMA ANÁLISE COMPARATIVA DA SUSTENTABILIDADE DAS TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO LEITEIRA NA AGRICULTURA FAMILIAR MANEJO DO PASTOREIO RACIONAL VOISIN E BALDE CHEIO: UM ESTUDO NO TERRITÓRIO DA CANTUQUIRIGUAÇÚ PR. LARANJEIRAS DO SUL 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL CAMPUS …A tecnologia Balde Cheio apresentou maiores resultados financeiros como a Produção Bruto e maior NRS em relação ao PRV, no entanto,

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL

CAMPUS LARANJEIRAS DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOLOGIA E

DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL

CURSO DE MESTRADO EM AGROECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO RURAL

SUSTENTÁVEL

JULIANO ANTUNES DE LIMA

ANÁLISE COMPARATIVA DA SUSTENTABILIDADE DAS TECNOLOGIAS DE

PRODUÇÃO LEITEIRA NA AGRICULTURA FAMILIAR – MANEJO DO

PASTOREIO RACIONAL VOISIN E BALDE CHEIO: UM ESTUDO NO

TERRITÓRIO DA CANTUQUIRIGUAÇÚ – PR.

LARANJEIRAS DO SUL

2017

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JULIANO ANTUNES DE LIMA

ANÁLISE COMPARATIVA DA SUSTENTABILIDADE DAS TECNOLOGIAS DE

PRODUÇÃO LEITEIRA NA AGRICULTURA FAMILIAR – MANEJO DO

PASTOREIO RACIONAL VOISIN E BALDE CHEIO: UM ESTUDO NO

TERRITÓRIO DA CANTUQUIRIGUAÇÚ – PR.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós -Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável da Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS como requisito para obtenção do título de Mestre em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável sob a orientação do Prof. Dr. Paulo Henrique Mayer. Coorientador: Prof. Dr. Antonio Carpes.

LARANJEIRAS DO SUL

2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL Rua General Ozório, 413 D CEP 89.802-210 Caixa Postal, 181 Bairro Jardim Itália Chapecó – SC Brasil

PROGRAD/DBIB - Divisão de Bibliotecas

Lima, Juliano Antunes de

ANÁLISE COMPARATIVA DA SUSTENTABILIDADE DAS TECNOLOGIAS

DE PRODUÇÃO LEITEIRA NA AGRICULTURA FAMILIAR

? MANEJO DO PASTOREIO RACIONAL VOISIN E BALDE CHEIO: UM

ESTUDO NO TERRITÓRIO DA CANTUQUIRIGUAÇÚ ? PR./ Juliano

Antunes de Lima. -- 2017.

129 f.

Orientador: Paulo Henrique Mayer.

Co-orientador: Antonio Maria da Silva Carpes .

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal da

Fronteira Sul, Programa de Pós-Graduação em Mestrado em

Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável - PPGADR,

Laranjeiras do Sul, PR, 2017.

1. Agricultura Familiar. 2. Pastoreio Racional Voisin.

3. Balde Cheio. 4. Práticas Agroecologicas. 5.

Desenvolvimento Rural Sustentável. I. Mayer, Paulo

Henrique, orient. II. , Antonio Maria da Silva Carpes, co-

orient. III. Universidade Federal da Fronteira Sul.

IV. Título.

Elaborada pelo sistema de Geração Automática de Ficha de Identificação da Obra pela UFFS com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

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Dedico a todos os agricultores familiares que

lutam por melhores condições de vida no

campo.

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AGRADECIMENTOS

A todos que direta ou indiretamente colaboraram na realização dessa pesquisa.

Aos agricultores que se propuseram a contribuir com a pesquisa compartilhando

suas experiências pessoais.

Aos educadores e colegas do Programa de Pós-Graduação em Agroecologia e

Desenvolvimento Rural Sustentável da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus

Laranjeiras do Sul - PR.

À UFFS pela possibilidade de estudar e de construir conhecimento.

Aos professores Dr. Paulo Henrique Mayer e Dr. Antonio Carpespela paciência,

motivação, ideias, sugestões e críticas.

Aos meus Pais e irmãos pelo amparo, carinho, cuidado e apoio.

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“...para mim, é impossível existir sem sonho. A vida na sua totalidade me ensinou como

grande lição que é impossível assumi- la sem risco”.

Paulo Freire

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RESUMO

A atividade leiteira no Brasil tem fortes traços da Agricultura familiar sendo de extrema relevância tal atividade para a economia destas famílias, bem como para sua reprodução social como Agricultores Familiares. O Território da Cantuquiriguaçu no estado do Paraná caracteriza-se pela presença de agricultores familiares que produzem leite a partir de diversas tecnologias, entre elas o Pastoreio Racional Voisin (PRV) e Balde Cheio. A integração da indústria com a agricultura muitas vezes torna os agricultores dependentes de insumos externos, que muitas vezes acabam inviabilizando economicamente a produção e contaminando o ambiente, por outro lado, existem as técnicas de produção Agroecológicas baseadas em sistemas agrícolas sustentáveis, que permitem uma produção livre de agrotóxicos e asseguram a qualidade nutricional dos alimentos e mostram-se mais rentáveis por unidade de produto que os convencionais. Neste sentido, o presente estudo tem por objetivo caracterizar a sustentabilidade Econômica, Social e Ambiental das tecnologias de produção leiteira sob manejo do PRV e Balde Cheio. A pesquisa de natureza descritiva, foi realizada por meio de um estudo multicaso, realizado em oito propriedades, sendo quatro que utilizam PRV e quatro o Balde Cheio. Foram realizadas entrevistas junto aos proprietários, no intuito de coletar os dados a respeito do uso das tecnologias PRV e Balde Cheio. O roteiro da entrevista foi construído em três dimensões: econômica, social e ambiental. Para análise econômica e social foi utilizado o método de Análise Diagnóstico dos Sistemas Agrários (ADSA) que demonstrou o Nível de Reprodução Social (NRS) alcançado por cada unidade de produção. A dimensão ambiental foi medida pela adoção das Práticas Agroecológicas desenvolvidas em cada unidade de produção demonstrando o percentual de aderência de cada produtor com a Agroecologia. Os resultados demonstram que as unidades de produção que trabalham com a tecnologia do PRV apresentam maior aderência a Agroecologia, menor dependência de insumos externos industriais e menor custo. No NRS oitenta por cento das unidades de produção alcançaram e superaram o nível estabelecido. A tecnologia Balde Cheio apresentou maiores resultados financeiros como a Produção Bruto e maior NRS em relação ao PRV, no entanto, maiores custos e maiores riscos em relação a preço de mercado e consumo de insumos externos. Palavras-chave: Agricultura Familiar. Pastoreio Racional Voisin. Balde Cheio. Práticas Agroecológicas. Desenvolvimento Rural Sustentável.

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ABSTRACT

Milk activity in Brazil has strong traits of family agriculture, and such activity is extremely relevant for the economy of these families, as well as for their social identity as Family Farmers. The Cantuquiriçuçu Territory in the state of Paraná is characterized by the presence of family farmers who produce milk from various technologies, including the Voisin Rational Grazing (VRG) and “Balde Cheio”. The integration of industry with agriculture often makes

farmers dependent on external inputs, which often end up economically crippling production and polluting the environment; on the other hand, there are agroecological production techniques based on sustainable agricultural systems that allow free production from agrochemicals and ensure the nutritional quality of food and are more profitable per unit produced than conventional ones. In this sense, the present study aims to characterize the economic, social and environmental sustainability of milk production technologies under VRG and “Balde Cheio” management. The descriptive research was carried out through a multi case study, implemented in eight properties, four of which used VRG and four used “Balde Cheio”. Interviews were conducted with the owners in order to collect data regarding the use of VRG and “Balde Cheio” technologies. The interview script was built considering three asprcts: economic, social and environmental. For economic and social analysis, the Agrarian Systems Diagnostic Analysis (ASDA) method was used to demonstrate the Social Reproduction Level (SRL) reached by each production unit. The environmental dimension was measured by the adoption of Agroecological Practices developed in each production unit demonstrating the percentage of adherence of each producer to Agroecology. The results pointed out that the production units that work with the VRG technology showed greater adherence to Agroecology, less dependence on external industrial inputs and lower costs. In the NRS eighty percent of the production units reached and surpassed the established level. The “Balde Cheio” technology presented higher financial results such as Gross Production and higher NRS in relation to VRG, however, higher costs and greater risks in relation to market price and consumption of external inputs. Keywords: Family Agriculture. Rational Grazing Voisin. Bucket Full. Agroecological Practices. Sustainable Rural Development.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa do Território da Cidadania da Cantuquiriguaçu ............................................ 17

Figura 2 -Controle Reprodutivo................................................................................................ 44

Figura 3 - Controle de Crescimento dos Bezerros .................................................................... 44

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Percentual de Práticas Agroecológicas UPA 1 ...................................................... 68

Gráfico 2 - Percentual de Práticas Agroecológicas UPA 2 ...................................................... 73

Gráfico 3 - Percentual de Práticas Agroecológicas UPA 3 ...................................................... 78

Gráfico 4 - Percentual de Práticas Agroecológicas UPA 4 ...................................................... 82

Gráfico 5 - Percentual de Práticas Agroecológicas UPA 5 ...................................................... 88

Gráfico 6 - Percentual de Práticas Agroecológicas UPA 6 ...................................................... 91

Gráfico 7 - Percentual de Práticas Agroecológicas UPA 7 ...................................................... 95

Gráfico 8 - Percentual de Práticas Agroecológicas UPA 8 ...................................................... 98

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Categorias de Análise Econômica de uma Unidade de Produção .......................... 55

Quadro 2 - Localidade .............................................................................................................. 60

Quadro 3 - Análise Econômica da Produção Leite UPA 1....................................................... 65

Quadro 4 - Nível de Reprodução Social UPA1 ........................................................................ 66

Quadro 5 - Práticas Agroecológicas UPA 1 ............................................................................. 67

Quadro 6 - Análise Econômica Produção de Leite UPA 2....................................................... 69

Quadro 7 - Nível de Reprodução Social UPA 2 ....................................................................... 70

Quadro 8 - Práticas Agroecológicas UPA 2 ............................................................................. 71

Quadro 9 - Análise Econômica da Produção Leite UPA 3....................................................... 74

Quadro 10 - Nível de Reprodução Social UPA 3 ..................................................................... 76

Quadro 11 - Práticas Agroecológicas UPA 3 ........................................................................... 77

Quadro 12 - Análise Econômica da Produção de Leite UPA 4 ................................................ 80

Quadro 13 - Nível de Reprodução Social UPA 4 ..................................................................... 81

Quadro 14 - Práticas Agroecológicas UPA 4 ........................................................................... 81

Quadro 15 - Análise Econômica da Produção Leite UPA 5..................................................... 85

Quadro 16 - Nível de Reprodução Social UPA 5 ..................................................................... 86

Quadro 17 - Práticas Agroecológicas UPA 5 ........................................................................... 87

Quadro 18 - Análise Econômica da Produção Leite UPA 6..................................................... 89

Quadro 19 - Nível de Reprodução Social UPA 6 ..................................................................... 89

Quadro 20 - Práticas Agroecológicas UPA 6 ........................................................................... 90

Quadro 21 - Análise Econômica da Produção de Leite UPA 7 ................................................ 92

Quadro 22 - Nível de Reprodução Social UPA 7 ..................................................................... 93

Quadro 23 - Práticas Agroecológicas UPA 7 ........................................................................... 94

Quadro 24 - Análise Econômica da Produção de Leite UPA 8 ................................................ 96

Quadro 25 - Nível de Reprodução Social UPA 8 ..................................................................... 97

Quadro 26 - Práticas Agroecológicas UPA 8 ........................................................................... 97

Quadro 27 - Resultados Econômicos e Nível de Reprodução Social (NRS) ......................... 100

Quadro 28 - Dados da Produção ............................................................................................. 103

Quadro 29 - Valor Agregado e Renda Agropecuária ............................................................. 105

Quadro 30 - Percentual de Aderência às Práticas Agroecológicas ......................................... 109

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LISTA DE ABREVIATURAS

ADSA - Análise Diagnóstico dos Sistemas Agrários

BC - Balde Cheio

CATI - Coordenadoria de Assistência Técnica Integral

CEAGRO - Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia

CI - Consumo Intermediário

CO2 - Dióxido de Carbono

COOPERIDEAL - Cooperativa para o Desenvolvimento e Inovação da Atividade Leiteira

DASA - Diagnóstico Análise dos Sistemas Agrários

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura

FUNRURAL - Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INCRA - Instituto de Colonização da Reforma Agrária

MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens

MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário

MMC - Movimento da Mulheres Camponesas

MO - Matéria Orgânica

MPA - Movimento Pequenos Agricultores

MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

N - Nitrogênio

N2O - Óxido Nitroso

NRS - Nível de Reprodução Social

O - Oxigênio

PB - Produção Bruta

PIB - Produto Interno Bruto

PRONAF - Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PRV - Pastoreio Racional Voisin

RA - Renda Agropecuária

SAU - Superfície Agrícola Utilizável

SAU/UT - Superfície Agrícola Utilizável por Unidade de Trabalho

SAU/UTF - Superfície Agrícola Utilizável por Unidade de Trabalho Familiar

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UD - Unidade Demonstrativa

UFFS - Universidade Federal da Fronteira Sul

UGM - Unidade de Gado Maior

UPA - Unidade de Produção Agrícola

UTF - Unidade de Trabalhador Familiar

VA - Valor Agregado

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 16

2.1 DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL ......................................................... 23

2.2 AGROECOLOGIA............................................................................................................. 26

2.3 AGRICULTURA FAMILIAR, CAMPONESA E CAPITALISTA .................................. 31

2.4 UNIDADE DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR (UPA) ....................................... 35

2.5 IMPORTÂNCIA DO CUSTO NA ATIVIDADE LEITEIRA ........................................... 36

2.6 A SAZONALIDADE NA PECUÁRIA LEITEIRA DO BRASIL..................................... 39

2.7 O PROJETO BALDE CHEIO ............................................................................................ 41

2.8 PASTOREIO RACIONAL VOISIN (PRV)....................................................................... 45

3 METODOLOGIA .................................................................................................................. 51

3.1COLETA DE DADOS ........................................................................................................ 52

3.2 ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO .......................... 53

3.3VALOR AGREGADO ........................................................................................................ 54

3.4 RENDA AGROPECUÁRIA ............................................................................................. 55

3.5ANÁLISE AMBIENTAL.................................................................................................... 58

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS .......................................................................................... 60

4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO ............................................ 60

4.2 ANÁLISE INDIVIDUAL DAS PROPRIEDADES........................................................... 63

4.2.1 Unidade de Produção 1 .................................................................................................... 63

4.2.1.1 Análise Ambiental UPA 1 ............................................................................................ 66

4.2.2 Unidade de Produção 2 .................................................................................................... 68

4.2.2.1 Análise Ambiental UPA 2 ............................................................................................ 71

4.2.3 Unidade de Produção 3 .................................................................................................... 73

4.2.3.1 Análise Ambiental UPA 3 ............................................................................................ 76

4.2.4 Unidade de Produção 4 .................................................................................................... 78

4.2.4.1 Análise Ambiental UPA 4 ............................................................................................ 81

4.2.5 Unidade de Produção 5 .................................................................................................... 83

4.2.5.1 Análise Ambiental UPA 5 ............................................................................................ 86

4.2.6 Unidade de Produção 6 .................................................................................................... 88

4.2.6.1 Análise Ambiental UPA 6 ............................................................................................ 90

4.2.7 Unidade de Produção 7 .................................................................................................... 91

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4.2.7.1 Análise Ambiental UPA 7 ............................................................................................ 94

4.2.8 Unidade de Produção 8 .................................................................................................... 95

4.2.8.1 Análise Ambiental UPA 8 ............................................................................................ 97

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................................... 99

5 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 114

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 117

APÊNDICES .......................................................................................................................... 124

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1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa foi desenvolvida em municípios do Território da Cidadania

Cantuquiriguaçú, região Centro Oeste do Estado do Paraná, com agricultores familiares que

se dedicam a produção de leite utilizando técnicas produtivas preconizadas pelo projeto Balde

Cheio (CAMARGO, 2011) e pelo projeto Pastoreio Racional Voisin (PRV) (MACHADO,

2013).

A constituição do Território da Cantuquiriguaçu, foi a partir de uma demanda da

Associação dos Municípios que a compõe para reverter o quadro de carências sócios

econômicas da mesma (CONDETEC, 2009).

Para o Conselho de Desenvolvimento do Território Cantuquiriguaçu (CONDETEC,

2009), houve significativos avanços e conquistas a partir dessa projeção e organização

territorial, como captação de recursos e projeto de desenvolvimento a ser implantado na

região, bem como a instalação de um campus da Universidade Federal da Fronteira Sul

(UFFS), que além da formação de recursos humanos, promove a pesquisa, extensão e também

traz significativos investimentos financeiros e profissionais capacitados em áreas estratégicas

para o desenvolvimento.

Segundo o Sistema de Informações Territoriais1, a população total do território é de

232.546 habitantes, dos quais 107.473 vivem na área rural, o que corresponde a 46,22% do

total, destes, 21.184 são agricultores familiares. Vinte municípios, detentores de baixos

índices de desenvolvimento humano e empresarial formam o Território da Cidadania

Cantuquiriguaçú. Neste âmbito, revelam, Carpes, Canquerino e Nunes (2015), que o Produto

Interno Bruto (PIB) em 2010 representava 1,40% em relação ao PIB do Estado. O PIB per

capita do território em média, possui valores muito abaixo da média estadual.

De economia essencialmente agrícola, os agricultores familiares têm a pecuária leiteira

como principal fonte de renda e sustento na região. A receita bruta dos produtores chega a até

70% oriunda da produção de leite. E eles formam a grande maioria dos agricultores familiares

do Território. Perto de 80% têm no leite a principal fonte de renda. É um dado significativo

1TERRITÓRIOS DA CIDADANIA. Territórios. Disponível em: http://www.territoriosdacidadania.gov.br/dotlrn/clubs/territriosrurais/cantuquiriguaupr/one -community?page_num=0>. Acesso em: 27 out. 2016.

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que tem levado entidades a unir esforços e melhorar a condição da produção (EMATER,

2012).

O território localiza-se no Terceiro Planalto Paranaense e abrange uma área de

13.947,73 km2, correspondendo a cerca de 7% do território estadual. Essa região faz divisa, ao

norte e noroeste, com o território Paraná Centro; a oeste, com o território Cascavel; ao sul,

com o Grande Sudoeste; a sudeste, com o território União da Vitória; e a leste, faz divisa com

o território Centro-Sul (IPARDES, 2007). O relevo acidentado leva à predominância da

pecuária, principalmente a leiteira, pois, muitas famílias iniciaram na atividade para ser de

subsistência. A Figura 1 demonstra o mapa o território e os municípios que o compõe.

Figura 1 - Mapa do Território da Cidadania da Cantuquiriguaçu

Fonte: SEBRAE, 2017.

A pecuária leiteira é o setor que mais contribui para a permanência dos agricultores

familiares no Território. Somente nos municípios de Guaraniaçu e Nova Laranjeiras,

integrantes do Território, tem-se o maior rebanho de vacas leiteiras do Estado e permanece

crescendo nos últimos anos (EMATER, 2012).

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O crescimento da produção de leite é demonstrado tanto no território como a nível

estadual e nacional evidenciado no aumento da quantidade de litros de leite produzidos e no

número de animais ordenhados.

A produção de leite de vaca no Brasil cresceu a uma taxa relativamente constante

desde 1991. O país saiu do patamar de 15,1 bilhões de litros de leite produzidos naquele ano,

alcançando o de 35,17 bilhões de litros em 2014 (IBGE, 2014). Isto devido às mudanças

econômicas ocorridas desde a década de 1990. Essas mudanças estão associadas,

principalmente, aos impactos da estabilização da economia em decorrência do Plano Real,

desregulamentação do mercado e abertura econômica que exigem ajustamentos estratégicos e

estruturais do setor (JANK; FARINA; GALAN, 1999).

De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (United States

Department of Agriculture - USDA), o Brasil ocupou a quinta posição no ranking mundial de

produção de leite em 2014, atrás da União Européia, Índia, Estados Unidos e China2.

A produção primária do leite está presente em todo o território brasileiro, contudo

destaca-se em algumas regiões. A Região Sul, pela primeira vez na série de dados, foi à região

com maior produção do país. Em 2014, foi responsável por 34,7% da produção nacional,

enquanto a região Sudeste produziu 34,6% do total. O Estado de Minas Gerais permaneceu

como o principal produtor de leite em 2014, com 9,37 bilhões de litros, o que corresponde a

77,0% de toda a produção da Região Sudeste e a 26,6% do total da produção nacional. Na

segunda colocação, figurou o Estado do Rio Grande do Sul, seguido pelo Estado do Paraná.

O preço médio nacional do litro do leite foi de R$ 0,96, gerando um valor de produção

de R$ 33,78 bilhões em 2014. A produtividade média da produção de leite no Brasil foi de

1.525 litros/vaca/ ano, em 2014, correspondendo a um crescimento de 2,2% em relação à

observada em 2013 (1.492 litros/vaca/ano). A Região Sul apresentou a maior produtividade

nacional, 2.789 litros/vaca/ano, um aumento de 4,3% em 2014, comparado ao ano anterior. As

maiores produtividades ocorreram no Sul do País, destacando-se o Estado do Rio Grande do

2 USDA - UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE. Foreign Agricultural Service. Disponível em: http://www.agricultura.pr.gov.br/arquivos/File/deral/Prognosticos/bovinocultura_leite_14_15.pdf Acesso em: 14 jul. 2017.

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Sul com a maior produtividade nacional (3.034 litros/vaca/ano), seguido pelos Estados de

Santa Catarina (2.694 litros/vaca/ano) e Paraná (2.629 litros/vaca/ ano)3.

No território a produção em 2014 foi mais de 380 milhões de litros representando um

aumento percentual dos últimos dez anos de mais de 358%. A receita neste ano foi de mais de

R$ 323 milhões. O rebanho de vacas ordenhadas neste ano foi de 155.757 cabeças de vacas. A

produção média de leite foi de 6,79 litros/dia/vaca. Esse crescimento produtivo vem

acompanhado com o desenvolvimento na cadeia produtiva do leite na região Sul.

Além disso, o maior complexo de assentamentos da Reforma Agrária está localizado

na Cantuquiriguaçu, o que contribui significativamente com a produção de leite. O

assentamento Ireno Alves dos Santos, Marcos Freire e Dez de Maio apresentam 1.600

famílias assentadas com uma produção de 150 mil litros de leite por dia. Somente o

assentamento Ireno Alves dos Santos que conta com 794 famílias apresenta uma produção de

96,6 mil litros de leite por dia (INCRA, 2015).

Tal atividade vem sendo desenvolvida principalmente por agricultores familiares

tornando-se uma estratégia econômica para os mesmos, em função do baixo risco da

exploração, a elevada liquidez do capital imobilizado em animais e a freqüência diária,

quinzenal ou mensal do fluxo de receitas da atividade, a qual depende das relações com o

mercado. Produção esta que caminha como uma alternativa para a agricultura familiar, e para

o desenvolvimento de muitas regiões brasileiras, sendo uma estratégia na composição da

renda dos agricultores (VILELA, et al. 2002).

Ainda segundo Gomes e Carneiro (2001), devido à remuneração mensal, a

possibilidade de ser exercida em pequenas áreas de terra, a pecuária leiteira caracteriza-se

como uma atividade relevante para a viabilização econômica das propriedades rurais em

regime de agricultura familiar.

Tal atividade na agricultura familiar é tradicional e de grande importância, no entanto,

as mudanças no sistema agroindustrial impactaram diretamente os produtores principalmente

os pequenos, por serem menos capitalizados tiveram maiores dificuldades em se adaptar

(STOFFEL, TRENTIN, 2015). Problemas como a falta de crédito rural para o pequeno

produtor, políticas públicas que facilitassem o acesso a novas tecnologias, orientação e

3 MilkPoint. Disponível em: https://www.milkpoint.com.br/cadeia-do-leite/giro-lacteo/ibge-producao-de-leite-cresceu-27-em-2014-sul-tornouse-a-maior-regiao-produtora-97326n.aspx Acesso em: 16 de jul 2017.

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assistência técnica de extensão rural, são alguns exemplos de dificuldades encontradas pelos

agricultores. No âmbito da produção leiteira os limites foram identificados na falta de técnicas

adequadas, restrições para a produção, tais como pastagens depauperadas, solos degradados,

baixo padrão genético dos bovinos de leite, alternativas tecnológicas validadas para diferentes

regiões do País, ausência de pesquisa em zootecnia de precisão e baixa qualidade do leite

produzido (RIBEIRO, 2008).

Neste âmbito desde a década de 90, tanto os movimentos sociais, como as instituições

de assistência técnica e extensão rural que atuam na região, tem se esforçado para modernizar

a produção leiteira através de técnicas e tecnologias que agregam novos conhecimentos,

novos materiais genéticos e novos métodos de produção ao sistema. Assim, foram

desenvolvidos cursos de inseminação artificial que objetivam melhorar a genética dos plantéis

através da introdução de sêmen de boa procedência e qualidade, programas de correção e

fertilização de solos como base para sustentação de boas forrageiras, programas de produção

de leite a pasto, forrageiras de alto potencial produtivo e técnicas para evitar os períodos de

entre safras, principalmente, nas saídas de verão/outono e inverno/primavera.

Outro fator de fundamental importância foi o manejo das áreas cultivadas através da

técnica de integração lavoura e pecuária, com a introdução de pastagens anuais tanto de verão

como de inverno, manejadas com a presença do gado em sucessão as culturas.

Neste ínterim, pacotes tecnológicos como a produção de silagem da planta inteira do

milho e a aquisição de ração comercial pronta, o confinamento, são amplamente divulgados e

utilizados pelos produtores de leite numa clara postura de viabilização da indústria. O custo de

produção da atividade leiteira tem aumentado, pois, se por um lado, essas técnicas e

tecnologias aumentaram a produção, por outro, houve um aumento do custo, obrigando os

agricultores a se especializar na atividade ganhando na escala de produção e não na margem

líquida da produção. Para enfrentar estes problemas, os movimentos socais, universidades,

juntamente com alguns escritórios regionais e locais de assistência técnica e extensão rural

tem promovido a formação e capacitação dos agricultores na atividade leiteira.

Com o objetivo de inovar, aumentar a produção e a rentabilidade econômica foram

desenvolvidas diversas tecnologias. O caso do projeto Balde Cheio e do Pastoreio Racional

Voisin (PRV) são tecnologias amplamente divulgadas no território que buscam e tendem a

minimizar esses problemas segundo seus autores.

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Elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) Sudeste,

em 1977, o Balde Cheio foi desenvolvido para melhorar a produção de leite na agricultura

familiar e promover o desenvolvimento socioeconômico no meio rural a partir de ações

concretas para a produção láctea.

O objetivo do projeto Balde Cheio é promover o desenvolvimento sustentável da pecuária leiteira via transferência de tecnologia, atendendo a demanda de extensionistas de entidades públicas e privadas e de produtores de leite de todo o Brasil. Sua metodologia inovadora utiliza uma propriedade leiteira de cunho familiar como “sala de aula prática” com a finalidade de reciclar o conhecimento de todos os envolvidos: pesquisadores, extensionistas e produtores e, ao mesmo tempo, apresentar essa propriedade como exemplo de desenvolvimento sustentável da atividade leiteira em todos os aspectos: técnico, econômico, social e ambiental (CAMARGO, 2015, p. 1).

O Pastoreio Racional Voisin (PRV) é uma tecnologia Agroecológica que preconiza a

produção animal a base de pasto, fundamentada sob as leis, princípios e teorias das ciências

básicas e aplicadas, e das leis universais do pastoreio racional enunciadas por André Voisin.

Essa tecnologia busca maximizar a captação de energia solar transformando-a em

biomassa através do pasto e do organismo do animal, além disso, preconiza o bem estar

animal buscando sempre a maior eficiência produtiva com padrões de qualidade para uma

produção orgânica e sustentável. A criação de bovinos em sistemas a base de pasto permite a

desintoxicação dos solos através do manejo, sendo uma alternativa para uma agricultura

sustentável (MACHADO, 2013).

Ambas as tecnologias tem como base o desenvolvimento sustentável da pecuária

leiteira nos aspectos econômicos, ambientais e socais. Neste sentido, a abordagem desta

pesquisa será no âmbito da Agroecologia e da agricultura familiar evidenciando a efetividade

de cada tecnologia em gerar sustentabilidade nos aspectos relacionados.

Diante desse contexto acerca da produção leiteira a pesquisa buscou tratar o seguinte

tema: “Análise Comparativa da Sustentabilidade das Tecnologias de Produção Leiteira na

Agricultura Familiar – Manejo do Pastoreio Racional Voisin e Balde Cheio: um estudo no

Território da Cantuquiriguaçú - PR”. Através de um estudo de caso com 8 famílias de

agricultores familiares, de revisão bibliográfica que teve como objetivo relatar a importância

das tecnologias para os agricultores e sua relação com a agroecologia e com o

desenvolvimento rural sustentável a partir de sua dimensão econômico, social e ambiental.

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Para realizar esta pesquisa apresentou-se a seguinte problemática: como se caracteriza

a sustentabilidade das tecnologias de produção leiteira sob o manejo do Pastoreio Racional

Voisin (PRV) e Balde Cheio? Tendo em vista a necessidade de tecnologias que proporcionem

o desenvolvimento sustentável dos agricultores familiares no campo considerou-se que as

tecnologias têm sua importância fundamentada na capacidade de gerar renda, aumentar a

produção em litros de leite, maximizar o uso da terra e assim proporcionar melhores

condições de vida no campo contribuindo com o desenvolvimento rural sustentável.

Com o intuito de delimitar e complementar o problema da pesquisa o objetivo geral é:

analisar comparativamente a sustentabilidade das tecnologias de produção leiteira na

agricultura familiar sob o manejo do Pastoreio Racional Voisin e Balde Cheio. Para atingir tal

objetivo foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: caracterizar as propriedades

rurais pesquisadas nos aspectos sociais, ambientais e econômicos; descrever as tecnologias de

produção de ambos os sistemas; identificar as características de sustentabilidade presentes nas

propriedades rurais que utilizam as tecnologias PRV e Balde Cheio.

As tecnologias de produção leiteira citadas têm como objetivo o desenvolvimento

sustentável da pecuária leiteira no Brasil e o resgate da dignidade do produtor rural. A

produção de leite tem importância tanto na segurança alimentar e nutricional quanto na

geração de renda para os agricultores.

Neste contexto, esta pesquisa justificativa pela escassez de estudos com escopo ao

projeto Balde Cheio e PRV no território, e como tal qual podem contribuir tanto no campo

teórico, como no campo prático, pois, em evidenciar que as tecnologias originam benefícios

aos agricultores, uma vez, que se objetivasse avaliar os resultados alcançados na sua

implantação.

As tecnologias desfrutam da reestruturação da cadeia produtiva do leite em nível

regional, pois, incide num elo para a concepção da rede de cooperação, para o

acrescentamento da produção, da produtividade e da rentabilidade das propriedades,

conseqüentemente aumento da renda do agricultor bem como à difusão de novas tecnologias.

Além disso, o desenvolvimento da organização social para à promoção do conhecimento da

comunidade nas políticas governamentais.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL

O conceito clássico de desenvolvimento é aquele entendido como correlativo a noção

de crescimento econômico/financeiro principalmente atrelado à industrialização (CENCI E

FRANTZ, 2010). Neste aspecto a comparação é realizada entre condições econômicas,

concentração de renda e o produto interno bruto – PIB, e não é levado em conta a

multidimensionalidade que envolve o desenvolvimento (SANTOS et al. 2012).

O termo desenvolvimento diz respeito a dimensões além do crescimento econômico.

Sen (2000) defende que o desenvolvimento abrange a qualidade de vida e a liberdade

substantiva das pessoas. Essas liberdades seriam o acesso a educação, a saúde a moradia. Ter

condições de evitar privações como fome, subnutrição, morbidez evitável, morte prematura;

ter direito de participação política; ter liberdade de expressão, entre outros. O produto

nacional bruto e a industrialização não são suficientes para definir o desenvolvimento.

A noção de desenvolvimento, tem sua origem depois da Segunda Guerra Mundial

(1939 e 1945), no início dos anos 60 onde as sociedades desenvolvidas eram aquelas onde

predominava a industrialização e a urbanização. As sociedades que tinham sua economia

baseada na agricultura eram consideradas atrasadas. A riqueza e a prosperidade estavam

relacionadas às sociedades onde avançava a industrialização e a urbanização. No entanto,

quanto mais avançava o modelo industrial maior era a destruição do meio ambiente devido à

grande quantidade de recursos naturais que consumia. Esse modelo de desenvolvimento

trouxe êxito no aspecto econômico, porém, com grande pressão sobre os recursos naturais,

promovendo problemas sociais, aprofundando da pobreza e da desigualdade social entre as

regiões (ANDRADE, 2012).

Neste âmbito, o meio rural permaneceu as margens da modernização, com êxodo do

espaço rural, proporcionando crescimento populacional nas cidades aumentando a demanda

por alimento o que causou um estado de insegurança alimentar. Com o objetivo de minimizar

esse problema buscou-se a modernização da agricultura para aumentar a produção de

alimentos.

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No sentido de resolver o problema da falta de alimentos no mundo foi implementado

em diversos países o pacote tecnológico da Revolução Verde. O processo de modernização do

campo foi através do uso de fertilizantes de síntese química, agrotóxicos, sementes

melhoradas e mecanização e no uso intensivo dos solos. No caso do Brasil a Revolução Verde

foi fomentada como uma política de governo, que possibilitava o acesso a recursos

financeiros (crédito), principalmente para os grandes produtores.

Esse processo contribuiu para o aumento da produção de alimentos, mas não para o

acesso aos alimentos, uma vez que estes continuaram com valores inacessíveis as populações

mais pobres. Antes da Revolução Verde a produção agrícola era sustentada com baixo uso de

energia, tração animal, emprego de fertilizantes orgânicos, rotação de cultura e sistemas de

pousio.

Com a Revolução Verde teve início um processo intensivo de produção agrícola e uma

forte pressão sobre os ecossistemas, com a utilização de máquinas, sementes melhoradas,

agrotóxicos, fertilizantes provenientes de recursos não renováveis causando um desequilíbrio

ambiental que torna a agricultura convencional insustentável a longo prazo.

O conceito de desenvolvimento sustentável, surgiu na Comissão Mundial sobre o

Meio Ambiente e Desenvolvimento criada pelas Nações Unidas em 1987, e está presente no

Relatório Nosso Futuro Comum, também chamado Relatório Brundtland (ANDRADE, 2012).

Para Sachs (1990), sustentabilidade se constitui levando em consideração as

necessidades crescentes da população, em cinco dimensões a sustentabilidade social vinculada

a melhor distribuição dos bens, a ecológica uso efetivo dos recursos naturais existentes,

econômica destinação e administração correta dos recursos naturais, a geográfica ligada a uma

espacialização rural/urbana mais equilibrada e a cultural atrelada a realização de mudanças

em harmonia com a continuidade cultural vigente.

Ainda foram acrescentadas mais quatro dimensões da sustentabilidade sendo:

ambiental, visando permitir que ecossistemas naturais realizassem autodepuração, a territorial

procurando à eliminação de disparidades inter-regionais, de política nacional vinculada a

implantação de um projeto nacional, de política internacional buscando a garantia da paz, o

controle do sistema financeiro internacional, a cooperação científica e a diminuição das

disparidades sociais (SACHS, 2002).

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O termo sustentabilidade evoluiu e tem como significado “atender as necessidades do

presente, sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem as suas

próprias necessidades” essa reflexão passou a ser fundamental para análise dos modelos de

desenvolvimento (ANDRADE, 2012, p. 14). A sustentabilidade implica em garantir o futuro

da humanidade no planeta e das outras espécies, em consumir sem esgotar os recursos

disponíveis, além de promover a inclusão social e econômica das populações mais pobres.

Para Alier (1998), o desenvolvimento sustentável, que possibilite o desenvolvimento

humano em suas diversas dimensões, só acontecerá com a redistribuição de bens. Para que

isso seja possível é necessário uma quebra de paradigmas na sociedade capitalista, ou melhor

dizendo uma ruptura com o sistema capitalista.

A sustentabilidade na agricultura deve ocorrer por processos que segundo Caporal,

Costabeber e Paulus (2009) devem ser mudanças que resgatem posturas mais éticas e

humanísticas nas práticas agrícolas e nas estratégias de desenvolvimento.

A construção de agriculturas mais sustentáveis necessita de dimensões mais amplas e

complexas da sustentabilidade, que aquelas das ciências agrárias puras, como a: ecológica que

trabalha o solo, biodiversidade, reservas e mananciais hídricos, recursos naturais entre outros,

econômica que trata dos balanços agroenergéticos positivos, capacidade de reprodução social,

abastecimento, social da equidade, melhores níveis de qualidade de vida, política dos

processos participativos e democráticos, exercício da cidadania, cultural do conhecimento e

valores locais das populações e ética que cuida da solidariedade intra e intergeracional,

responsabilidade com o ambiente, segurança alimentar e nutricional (CAPORAL,

COSTABEBER E PAULUS, 2009).

Catalisa (2003), analisou a sustentabilidade em sete dimensões: econômica

(compatibilidade entre padrões de produção e consumo e balanço agroenergético positivo),

social (melhoria da qualidade de vida da população, equidade na distribuição de renda e

diminuição das diferenças sociais), ambiental (equilíbrio de ecossistemas), cultural (respeito

aos diferentes valores, às especificidades e à cultura local dos povos), espacial (equilíbrio

entre o rural e o urbano), política (evolução da democracia representativa para sistemas

descentralizados e participativos, construção de espaços públicos comunitários), ecológica

(vinculada ao uso dos recursos naturais, com objetivo de minimizar danos aos sistemas de

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sustentação da vida). A sustentabilidade possui um aspecto sistêmico, relacionado com a

continuidade dos elementos intrínsecos ao desenvolvimento humano.

Agroecologia é uma estratégia importante para promover a agricultura sustentável. Os

estudos de desenvolvimento rural sustentável são combinados com estratégias de produção

locais integradas a fatores sócio econômicos e a uma nova organização da estrutura social da

agricultura com base nas tecnologias da Agroecologia. A agricultura sustentável geralmente

refere-se a utilização de processos que obtenham rendimentos duráveis, a longo prazo, através

de tecnologias de manejo ecologicamente adequadas (ALTIERI, 2002).

A solução que se apresenta para os problemas socioambientais que a agricultura vem

enfrentando está no manejo ecológico dos recursos naturais, levando em consideração a

dimensão social e política que traz a Agroecologia com alicerces da agricultura sustentável,

que surge do modelo camponês de produção buscando a soberania alimentar e nutricional das

populações (GUZMÁN; MOLINA, 2013).

2.2 AGROECOLOGIA

O objetivo da Agroecologia busca proporcionar ambientes equilibrados, rendimentos

sustentáveis, fertilidade do solo proveniente de processos biológicos e regulação natural das

pragas por meio do desenho de agroecossistemas diversificados e do uso de tecnologias de

baixos insumos externos (GLIESSMAN, 1998). Busca desenvolver uma agricultura de baixo

impacto ao meio ambiente, sem o uso de agrotóxicos, promovendo a inclusão social e

proporcionando melhores condições econômicas aos agricultores, ao mesmo tempo

possibilitando a melhoria da qualidade de vida das famílias e dos consumidores desses

alimentos. A Agroecologia propõe uma oferta de produtos limpos produzidos a partir de

técnicas sustentáveis, com diversificação da produção em oposição aquelas características da

Revolução Verde4.

4 “A Revolução Verde ocorreu no final do ano de 1940. A expressão surgiu em 1966, em Washington. O

processo de modernização agrícola veio com o propósito de aumentar a produção através do desenvolvimento em sementes, fertilização do solo e utilização de máquinas no campo que pudessem aumentar a produção. Esse processo contudo, teve consequências negativas que até hoje são visualizadas na degradação dos recursos naturais e do meio ambiente, promovendo concentração de terras e de riquezas e o êxodo rural e a p rodução de

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A Agroecologia aplica conceitos e princípios ecológicos para desenvolver

agroecossistemas sustentáveis, permitindo uma base prática mais ampla para avaliar a

complexidade dos sistemas de produção, vai além da redução do uso de insumos e de práticas

alternativas de produção agrícola. Enfatiza agroecossistemas complexos nos quais as

interações ecológicas e os sinergismos entre os componentes biológicos promovam os

mecanismos para que os próprios sistemas subsidiem a fertilidade do solo, sua produtividade

e a sanidade dos cultivos (ALTIERI, 2012). A mesma tem suas técnicas agrícolas produtivas

baseadas na conservação de recursos naturais, na não contaminação e destruição dos recursos

naturais, buscando uma agricultura mais próxima dos sistemas ecológicos. Portanto, a

sustentabilidade ambiental está estreitamente ligada com as técnicas e Práticas

Agroecológicas. A sustentabilidade tem como premissa garantir a existência e o uso racional

dos recursos naturais de modo que as gerações futuras possam também usufruir de tais

recursos.

A Agroecologia traz uma expectativa de uma nova agricultura, promovendo a saúde

humana e preservando o meio ambiente, afastando-se do modelo de agricultura do

agronegócio intensiva em capital, recursos naturais não renováveis, no uso de energia e

excludente do ponto de vista socioeconômico. Neste sentido, a Agroecologia forma um novo

paradigma não só na agricultura, mas na sociedade como um todo ao propor um novo modelo

produtivo que é racional e ecológico (CAPORAL; COSTABEBER, 2001).

A Agroecologia utiliza o enfoque sistêmico para tratar das relações do todo dentro da

unidade de produção considerando metodologias que possam avaliar, desenhar, dirigir e

estudar os agroecossistemas5. Os mesmos são unidades fundamentais a serem respeitadas para

o desenvolvimento rural sustentável. Um agroecossistema é regulado pela intervenção

humana geralmente determinado por sistemas agrícolas na busca de algum propósito

produtivo ou econômico.

A integração homem/natureza formam-se relações socioculturais com características

típicas de cada região, onde é possível utilizar o enfoque sistêmico nas relações produtivas e

sociais. Além disso, a Agroecologia prima pelo equilíbrio do agroecossistema o que implica

alimentos contaminados com agrotóxicos).DUARTE, A. Entenda a Revolução Verde. 2014. Disponível em: <http://www.estudopratico.com.br/revolucao-verde/>. Acesso em: 27 mai. 2017. 5 Agroecossistema é onde se desempenham as atividades agrícolas realizadas por um grupo de pessoas. É uma unidade ecológica principal, que contém componentes abióticos e bióticos interdependente e interativos, por intermédio dos quais se processam os ciclos de nutrientes e o fluxo de energia.

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um maior conhecimento dos cultivos, das plantas, do clima, da fertilidade do solo de cada

ecossistema que pode mudar dependendo de cada região.

Neste aspecto a Agroecologia vem se constituindo na ciência basilar de um novo

paradigma de desenvolvimento rural, apresentando-se como uma matriz disciplinar

integradora, sistêmica, holística, capaz de apreender e aplicar conhecimentos gerados em

diferentes disciplinas científicas (CAPORAL; COSTABEBER; PAULUS, 2005).

A Agroecologia pretende integrar diferentes fatores do agroecossistema de forma a

aumentar sua eficiência biológica, gerar capacidade produtiva e autossuficiência buscando

reproduzir um ecossistema natural, a ciclagem de nutrientes e de matéria orgânica, otimizar os

fluxos de energia, conservar a água e o solo e equilibrar as populações de pragas e inimigos

naturais (ALTIERI, 2012).

Os processos vitais do solo são garantidos basicamentes de energia, água, carbono,

nitrogênio e oxigênio que possibilitam a sobrevivência dos organismos vivos que coabitam no

solo sendo a primeira condição para o desencadeamento de processos biológicos e químicos.

Tais processos dão condição para o desenvolvimento da atividade biocenótica e a melhoria da

fertilidade do solo, pois, práticas de aração, gradeação, e outras rupturas, fogo, pisoteio no

pastejo contínuo destroem a estrutura e a vida do solo (MACHADO, 2001).

Práticas da agricultura convencional como, adubação de síntese química que

objetivam em curto prazo fornecer as plantas nutrientes necessários para seu

desenvolvimento, proporcionando colheitas rentáveis, podem produzir efeitos de

sensibilização das plantas ao ataque de insetos, pragas e doenças. Neste sentido, Chaboussou

(2006), afirma que os fertilizantes de síntese química, especialmente os nitrogenados

promovem esse efeito.

A não utilização de agrotóxicos seja no controle de ervas daninhas, seja na produção

de milho, a não utilização de sementes transgênicas e de fertilizantes de síntese química vem

ao encontro com os princípios agroecológicos no manejo sustentável dos recursos naturais,

além disso, a utilização de agrotóxicos, sementes transgênicas, herbicidas causam um

problema social, pois, os agricultores tornam-se mais dependentes dessas tecnologias

produzidas por um setor do agronegócio que cada vez mais concentra poder sobre o sistema

alimentar (ALTIERI,2012).

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O emprego de fertilizantes inorgânicos na agricultura brasileira é comum entre os

agricultores, pois, entre os anos de 1992 e 2012 houve um aumento significativo de sua

utilização, de “70 quilos para 150 quilos por hectare”6. Dentre os fertilizantes de síntese

química, os nitrogenados estão entre os mais utilizados e são os que causam maior impacto

ambiental. O problema é que esses fertilizantes nitrogenados ao entrar em contato com o solo,

produzem “uma reação química em que bactérias, principalmente as do gênero Pseudomonas

liberam Óxido Nitroso (N2O), um poderoso gás de efeito estufa com potencial 300 vezes

superiora ao do Dióxido de Carbono (CO2)”7. Tal processo contribui para as mudanças

climáticas do planeta (BALSALOBRE; SANTOS, 2016).

A aplicação excessiva de Nitrogênio (N) nos cultivos alimentares pode contaminar o

solo e a água, acarretando vários prejuízos à saúde humana e ao meio ambiente, o uso

indiscriminado do nitrato, um composto inorgânico formado pela combinação química entre

os átomos de nitrogênio e oxigênio, na proporção de um átomo de Nitrogênio (N) para três de

Oxigênio (O), “é formado a partir da ação de microrganismos sobre fertilizantes nitrogenados,

restos de plantas, esterco e outros resíduos orgânicos”8.

O nitrato é absorvido pelas plantas, mas, também pode ser lixiviado para lagos, rios,

córregos e lençóis freáticos contaminando a água. O N em forma nitrato pode prejudicar a

saúde de humanos adultos quando consumido na proporção de 100 a 200 mg/l de água podem

favorecer o surgimento de alguns tipos de câncer (BALSALOBRE; SANTOS, 2016). Relata

Chaboussou (2006), que o uso excessivo de nitrogênio provoca uma elevação brutal na

invasão de parasitas nos cultivos de trigo e em outros cereais.

Na pecuária os ruminantes podem apresentar intoxicação pelo consumo excessivo de

nitratos. Segundo Pontalti (2011, p. 3):

Animais ruminantes que consomem plantas com altos teores de nitratos ou que beberem água com 1500 ppm (parte por milhão) de nitratos podem apresentar um

6 AIRES, L. O uso de fertilizantes é um problema sem solução na agricultura? Disponível em: <http://www.ecycle.com.br/component/content/article/35/1329-como-o-que-uso-fertilizantes-agricultura-emissoes-desequilibrio-efeito-estufa-problema-aquecimento-global-contaminacao-meio-ambiente.html>. Acesso em: 14 mar. 2016, p. 2. 7 Ibid., p. 3. 8BEEFPOINT. Fertilizante nitrogenado. 2. Possíveis efeitos sobre a saúde humana e o meio ambiente. Disponível em: <http://www.beefpoint.com.br/radares -tecnicos/pastagens/fertilizante-nitrogenado-2-possiveis-efeitos-sobre-a-saude-humana-e-o-meio-ambiente-4901/>. Acesso em: 14 mar. 2016, p. 1.

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quadro de intoxicação, pois no rumem às bactérias conseguem reduzir o nitrato a nitrito que é tóxico.

Outro aspecto importante em relação à sustentabilidade da produção leiteira refere-se a

erosão de solo que é uma conseqüência inevitável quando ocorre qualquer ação que implique

na movimentação do solo, sendo a maior ameaça ambiental para a sustentabilidade e a

capacidade produtiva da agricultura (PIMENTEL et al., 1995). As principais causas de erosão

estão vinculadas aos métodos tradicionais de agricultura e o conseqüente desnudamento do

solo, tanto que a carga de sedimentos como teor de fósforo e nitrogênio a exemplo na represa

de Itaipu9, no Paraná, revelam suas maiores concentrações no período de preparo do solo e da

semeadura (DERPSCH et al., 1991). Importante salientar que os custos ecológicos para a

sociedade a longo prazo, acarretado pela erosão, são prejuízos no abastecimento de água

potável e perda da fertilidade do solo.

Segundo Machado (2004, p. 92) em todo o mundo nos últimos cinquenta anos perdeu-

se 1/3 dos solos pela erosão e este mesmo processo prossegue com a perda de 10

milhões/ha/ano de solos, ainda cita que “o Paraná perde, anualmente, uma camada de solo da

superfície do Estado com 1 cm de espessura, cuja recuperação natural demanda mais de 300

anos”. Além disso, a erosão de solos exerce influência sobre o rendimento econômico das

culturas sendo de extrema importância viabilizar meios para avaliar os danos causados pela

erosão bem como para seu controle (DERPSCH et al., 1991). “O futuro da organização da

produção agrícola parece depender de uma nova tecnologia centrada no manejo inteligente do

solo e da matéria viva por meio do trabalho humano, utilizando pouco capital, pouca terra e

pouca energia inanimada” (PALERM, 1980, p.196-197apud GUZMÁN;MOLINA, 2013, p.

71).

A Agroecologia em seu histórico cultural acompanha também a história do

campesinato10, grupo social que organizavam e organizam até hoje, as atividades de produção

agrícola fundamentadas no que pode ser denominado de sociedades de base energética solar

ou sociedades orgânicas. A produção é destinada, primeiramente, a satisfação das

necessidades materiais da família, mediante o emprego e consumo de uma quantidade certa de

9 ITAIPU Binacional. Usina Hidrelétrica de Itaipu é uma usina hidrelétrica binacional localizada no Rio Paraná, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai. 10 Campesinato é um grupo social de base familiar, com uma produção agrícola diversificada e com certa autonomia. No modelo camponês o objetivo não é o lucro, mas sim satisfazer as necessidades familiares (ABRAMOVAY, 1992).

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energia e materiais, de um saber tradicional e uma racionalidade na utilização de recursos

ambientais(LEFF, 2006). Neste sentido, o campesinato aparece como uma forma de se

relacionar com a natureza, pois contribuiu para configurar um modo de uso dos recursos

ambientais ou mesmo na sua maneira de manejo (GUZMÁN; MOLINA, 2013). Deste modo,

a Agroecologia tem uma proximidade com o campesinato uma vez que no processo de

evolução histórica se identifica em sua forma de trabalhar.

2.3 AGRICULTURA FAMILIAR, CAMPONESA E CAPITALISTA

A agricultura familiar não é um novo termo, mas vem sendo amplamente debatido nos

meios acadêmicos, nas políticas públicas e nos movimentos sociais. Com a implementação da

política pública do governo federal, o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar

(PRONAF), constante na Lei 11.326/2006, foi um conceito utilizado para delimitar um

público alvo da política pública centrado na caracterização social de um grupo heterogêneo

(ALTAFIN, 2007).

Devido a ascensão de sindicatos, movimentos sociais do campo Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento Pequenos Agricultores (MPA),

Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento da Mulheres Camponesas

(MMC), que começaram a surgir a partir de 1980. Tais movimentos reivindicavam melhores

condições na agricultura. Na pauta de suas lutas estavam, o crédito, a Reforma Agrária e a

defesa do direito das minorias rurais fazendo contraponto ao processo de modernização

conservadora da agricultura.

A representatividade dos agricultores familiares no Brasil é reconhecida na pesquisa

do CENSO Agropecuário realizado em 2006 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) e revela que o meio rural brasileiro é em sua maioria constituído de

agricultores familiares.

Do total de 4.859.864 estabelecimentos rurais existentes no Brasil, (85,17%) são estabelecimentos familiares, que ocupam apenas 30,49% da área total e, utilizando 25,3 % dos financiamentos destinados à agricultura, respondem por 37,87% do

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Valor Bruto da Produção Agropecuária e concentram 7 de cada dez pessoas ocupadas no setor (INCRA/FAO, 2000apud ALTAFIN, 2007, p. 13).

A importância da agricultura familiar pode ser medida também pela produção

diversificada de alimentos para a comercialização no mercado interno brasileiro como

apontada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que 70% da produção de

alimentos provem da agricultura familiar.

O conceito de agricultura familiar leva consigo diversas definições que tem impacto

político, social e econômico sendo objeto de vários estudos. O convênio realizado entre o

Instituto de Colonização da Reforma Agrária (INCRA) e a Organização das Nações Unidas

para a Alimentação e Agricultura (FAO) definem agricultura familiar a partir de três

características centrais:

a) a gestão da unidade produtiva e os investimentos nela realizados são feitos por indivíduos que mantém entre si laços de sangue ou casamento; b) a maior parte do trabalho é igualmente fornecida pelos membros da família; c) a propriedade dos meios de produção (embora nem sempre da terra) pertence à família e é em seu interior que se realiza sua transmissão em caso de falecimento ou aposentadoria dos responsáveis pela unidade produtiva (INCRA/FAO, 1996, p. 4).

Devido às características de trabalho, produção diversificada, para o consumo da

família, pequenas parcelas de terra, produção não subsidiada pelo capital financeiro,

distanciamento do mercado, não contratação de mão de obra assalariada, temos um modelo de

agricultura fora do padrão capitalista que reúne e produz sua própria forma de existir e se

reproduzir socialmente como uma agricultura de produção familiar, sendo uma organização

produtiva dotada de lógica própria e por isso é capaz de resistir à lógica capitalista. Logo, a

unidade de produção familiar é regida por certos princípios de funcionamento interno que a

tornam diferente da lógica de produção capitalista, como a exemplo, a unidade de produção

familiar não se apropria do trabalho alheio, da mais-valia (CARVALHO, 2014). Sendo uma

das características do trabalho familiar.

O conceito norte americano de agricultor familiar pode ser encontrado aqui no Brasil

com o desenvolvimento de uma agricultura de integração do pequeno produtor ao capital

financeiro, a indústria e ao mercado. Podemos analisar, tal situação nas integrações agrícolas

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de suínos, aves, produção de fumo, onde existe uma empresa capitalista que financia o

produtor e lhe entrega os meios de produção, dita o preço do produto comercializado, vende

os insumos e compra sua produção. O produtor por outro lado, entra com a terra e a força de

trabalho familiar, mas fica condicionado a cumprir, produzir e a vender sua produção segundo

as regras da empresa.

Segundo esse conceito de agricultor familiar ou farmer é um pequeno capitalista

arrojado, aquele que busca empreender, inovar e integrar-se ao mercado, um pequeno

industrial que representa um pequeno burguês concebido em um pensamento liberal na

ascensão do capitalismo norte americano (GERMER, 2002). Tal conceito implica que o

produtor familiar não faz contra ponto ao capitalismo, muito menos resistência, mas se integra

a ele de modo a realizar uma agricultura mais eficiente do que o agricultor familiar tradicional

de Chayanov. Ainda segundo Germer (2002, p. 3) é interessante enfatizar que “a corrente

norte-americana define a produção familiar explicitamente como uma produção capitalista,

tanto que frequentementeé denominada empresa familiar”.

No Brasil foram identificados dois tipos de agricultores familiares a partir de 1970, um

do tipo Chayanoviano que resistia ao capitalismo e outro do tipo farmer norte americano. O

do tipo farmer é um produtor que busca igualar-se ao grande produtor e uma maior taxa de

lucros na produção, significava dizer que todos os agricultores familiares poderiam ser

prósperos farmers sem que uma grande parcela tivesse que ser sido expulsa da agricultura. O

modelo norte Americano é voltado para a geração de lucros e para o capitalismo, para

tecnologias de produção intensiva, enquanto que no tipo Chayanoviano a produção não é

voltada para a geração de lucros mas, para atender as necessidades da família atendendo a

lógica “produtor/consumidor” (GERMER, 2002).

À idéia de uma agricultura familiar integrada com o mercado capitalista assumiria uma

característica de produtora simples de mercadorias agrárias atendendo a um modelo de

agricultura predominante encontrado nas sociedades capitalistas avançadas (GUZMÁN;

MOLINA, 2013). Esse tipo de agricultura se choca com o processo de formação social da

identidade camponesa, pois, afeta diretamente a cultura e o modo de vida. A produção simples

de mercadorias agrárias está baseada no vínculo familiar independente que sua produção

esteja mercantilizada ou não. Logo, o agricultor familiar produzindo para o consumo e

comercializando o excedente vai estar inserido no processo de produção simples de

mercadorias. Esta produção pode coexistir tanto na forma de produção camponesa quanto

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com a capitalista sempre que atendidas as condições de reprodução, isto é, o consumo pessoal

e produtivo e o excedente de trabalho (GUZMÁN; MOLINA, 2013).

Na interpretação de Chayanov (1974, 1966), o capitalismo adentra no campo

assumindo as suas estruturas de produção, integrando-as no mercado, sem previamente

destruí-las. Para Chayanov (1974, 1966), os camponeses eram sujeitos que reagiam ao

processo capitalista, que buscavam emancipação. Não eram vítimas do capitalismo, possuíam

opinião própria, estabeleciam estratégias, não se encaixavam na lógica capitalista. Os

camponeses permaneceriam a existir e com a associação e a cooperação camponesa haveria a

disposição de seu fortalecimento

A agricultura empresarial integrada ao mercado capitalista é necessariamente

fundamentada em capital financeiro e industrial sendo conduzida para e pelo mercado. A

agricultura empresarial é uma “modernização capitalista da agricultura”. Esses produtores são

totalmente dependentes do mercado e são afetados diretamente em momentos de crise.

Segundo Ploeg (2008, p. 137), “devido ao grau elevado de integração e dependência dos

mercados, a unidade de produção empresarial tem de seguir a „lógica do mercado”.

Com mão de obra especializada, a produção e fundamentalmente lucrativa quando é

realizada em escala, por esse aspecto a necessidade de expansão das áreas agrícolas são

constantes e por esse motivo muitos camponeses são expulsos de suas terras e moradias. Para

Ploeg (2008, p. 141), “o desenvolvimento ao longo do tempo das unidades agrícolas

empresariais é muito semelhante à estruturação típica da agricultura capitalista”.

A agricultura capitalista e voltada para a exportação, com interesse explorativo e

acumulativo, tem sua produção voltada para o aumento do lucro. Essa agricultura trabalha

essencialmente com mão de obra assalariada (PLOEG, 2008).

Ploeg (2009b, p. 21, grifo do autor) percebeu que “a Produção Capitalista de

Mercadorias (PCP) representa uma mercantilização completa: a força de trabalho e os demais

recursos entram no processo como mercadorias e todos os produtos obtidos circulam como

mercadoria”. A PCP é representada pela mais-valia, pela exploração dos meios de produção e

do trabalho assalariado.

Na agricultura camponesa a comercialização é realizada em circuitos curtos, locais e

regionais distanciando-se da relação com o capital (PLOEG, 2009). A presença entre

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consumidor e produtor é local, diferente da forma capitalista onde os alimentos são

industrializados e comercializados por grandes empresas. Esse modo é conhecido como

Império alimentar (PLOEG, 2008).

Esse modo de agricultura é diferenciado por diversos graus relações sociais e

econômicas, campesinidade e empreendedorismo. Em situações reais existem zonas cinzentas

extensas que configuram essas expressões de agricultura (PLOEG, 2009).

A relação da agricultura camponesa é uma relação de produção com respeito aos

ecossistemas, na produção de subsistência usando de forma sustentável o capital ecológico, na

coprodução e na coevolução. O desempenho das atividades produtivas geralmente é realizado

por um numero maior de pessoas respeitando-se a qualidade do trabalho de forma continuado

e com baixo custo, diferente se comparado as unidades empresariais ou capitalista. A mão de

obra é familiar ou então ocorre a troca de trabalho com vizinhos como forma de ajuda mutua.

As unidades são produtivas e sustentáveis sendo que o trabalho não pode ser desgastante aos

camponeses. As atividades foram da unidade de produção complementam a renda da família e

contribui no fortalecimento da mesma (PLOEG, 2008).

Na unidade camponesa a produção é orientada para a reprodução da família, o

excedente comercializado conforme sua lógica. A terra e os meios de produção são da família.

a agricultura camponesa trabalha de modo cooperativo e nas inter-relaçoes para fortalecer os

camponeses. A produção e com maior valor agregado possível, sendo, esse, ao menos duas

vezes maior que nas unidades de produção empresarial ou capitalista. A agricultura

camponesa vive em grande medida, liberdade e consciência (PLOEG, 2008).

Conforme Ploeg 2008, os camponeses do mundo constituem a maior forma de

resistência aos impérios alimentares. Todos os dias os camponeses realizam um luta ocultada,

de resistência dentro dos seus espaços de produção. Essa oposição fortalece a agroecologia e o

desenvolvimento rural sustentável.

2.4 UNIDADE DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR (UPA)

O conceito de uma Unidade de Produção Agrícola Familiar (UPA) e de uma pequena

propriedade agrícola familiar, que tem como preocupação principal segundo Silveira e

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Neumann (2010, p. 40) “a reprodução socioeconômica e a sustentabilidade da UPA ao longo

do tempo, e não a obtenção de rentabilidade máxima instantânea de uma atividade”. A UPA é

caracterizada pela produção de subsistência para compor a alimentação familiar, podendo ser

comercializado o excedente. O agricultor familiar faz a gestão da sua própria produção e da

sua unidade de produção. A comercialização do excedente da produção é uma estratégia

econômica do agricultor para compensar despesas e gastos familiares.

A UPA tem características próprias que as diferenciam de uma empresa capitalista

tradicional. Deste modo, os métodos de mensuração de resultados econômicos convencionais

não se aplicam na UPA. Na agricultura familiar devemos considerar também a produção para

o consumo como receita. O acompanhamento econômico de uma UPA pelas características

observadas não se compara com o acompanhamento de uma empresa, como evidencia

Silveira e Neumann (2010, p. 7:

Não podemos utilizar com eficácia para analisar as unidades de produção agrícolas familiares metodologias criadas para analisar empresas, por que estas metodologias tomam a maximização da rentabilidade dos fatores de produção utilizados como único critério de eficácia.

O modo de gestão dos agricultores familiares é resultado das suas decisões diárias a

partir das observações do comportamento das plantas que cultiva, dos animais que criam, das

necessidades alimentares da família, das influências e incertezas climáticas que podem

comprometer a sua produção e renda. Calcular a Renda Agropecuária da produção de uma

UPA é o método de medir a eficácia produtiva e como está a gestão da produção realizada

pelo agricultor familiar. É o resultado da Renda Agropecuária que permite avaliar a

capacidade de reprodução socioeconômica da unidade de produção e suas potencialidades de

desenvolvimento.

2.5 IMPORTÂNCIA DO CUSTO NA ATIVIDADE LEITEIRA

Uma atividade produtiva que gere renda mensal é importante para o agricultor fazer

frente suas despesas e permanecer no campo. A produção de leite é uma atividade que

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proporciona essa renda mensal. A análise do custo de produção de leite é uma importante

ferramenta para ajudar o agricultor a tornar a atividade mais rentável diminuindo possíveis

custos e “sobrando mais” no final do mês.

Para Berg e Katsman (1998), a preocupação com os custos de produção e a avaliação

financeira da atividade leiteira deve ser constante. Uma análise econômica da produção de

leite pode fazer o agricultor potencializar o uso dos meios de produção (terra, trabalho e

capital). Assim, Lopes et al. (2011), fala que localizando os pontos de estrangulamento fica

mais fácil concentrar os esforços gerenciais ou tecnológicos a fim de obter sucesso na

atividade.

Toda a atividade com finalidade de lucro deve ser controlada para periodicamente

fazer uma análise econômica/financeira evidenciando o resultado, lucro ou prejuízo e,

finalmente, calcular o ponto de equilíbrio da atividade. Sendo o ponto de equilíbrio “o menor

valor de vendas/faturamento necessário para cobrir todas as despesas fixas e os custos

variáveis, sendo o lucro igual a zero” (SOUZA, 2007, p. 59). Os custos de produção, “a

receita obtida e a rentabilidade do capital investido são fatores importantes para o sucesso de

qualquer sistema de produção” (PERES et al., 1998, p. 102).

Dentro da classificação dos custos, a alimentação animal com a mistura de

concentrado tem sido segundo Silva et al. (2008, p. 446) o principal custo de produção.

Assim:

A maneira de aumentar a rentabilidade do produtor estaria relacionada à utilização adequada dos recursos de baixo custo disponível, como a pastagem. O pastejo das vacas diminuiria os custos com máquinas, combustíveis e equipamentos utilizados na colheita das forragens.

A eficiência na atividade leiteira ocorre no controle dos custos de produção. Uma boa

metodologia para medir a eficiência da produtividade é comparar modelos de produção

semelhantes (GOMES; ALVES; 1999). A definição de um método de padrão de análise de

custo contribui na uniformidade das informações e indicadores gerados, bem como a

comparação entre diferentes sistemas de produção.

A rentabilidade do capital investido, a receita obtida e os custos de produção são

fatores importantes para o êxito de qualquer produção (PERES et al. 2004). Os produtores não

controlam o preço dos produtos que vendem para o mercado em caso de redução de preço de

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venda, resta para os mesmos trabalham na gestão das variáveis que estão sob seu controle

(LOPES; REIS; YAMAGUCHI; 2007).

Deste modo, a determinação dos custos tem por objetivo avaliar como esta o

desempenho da atividade, comparada as alternativas do tempo e do capital, e se os recursos

empregados no processo de produção estão sendo remunerados (OIAGEN et al. 2006).

Os retornos financeiros dos recursos empregados bem como os custos estão

relacionados com o nível tecnológico do sistema de produção leiteira (LOPES et al. 2005).

Segundo Schiffler (1999), a produção leiteira no mundo tem se elevado via inovação

tecnológica. As unidades de produção menos tecnificadas, com menor uso de insumos,

embora tenham apresentado uma menor produção, apresentaram custos mais baixos e foram

mais rentáveis (HOLANDA JR.; MADALENA; 1998).

Na região dos Campos Gerais do Paraná os agricultores em sistemas de produção de

leite em confinamento total e semi confinamento altamente tecnificados, vem enfrentando

dificuldades de adaptação da produção aos preços pagos pelo mercado. Os custos de produção

sofrem aumentos constantes em rações, medicamentos, combustível, transporte, fertilizantes,

defensivos e sementes, entre outros (SILVA et al. 2008).

Uma das alternativas de reduzir tais custos é trabalhar com insumos de baixo custo,

como substituir a alimentação com mistura de concentrados por pastagens, aumentando assim

a rentabilidade da produção. A opção seria o pastejo em substituição aos custos com

combustível, máquinas e equipamentos, utilizados no processo de colheita da forragem. O

benefício imediato é de caráter econômico, com redução nos custos de produção de leite

(SILVA et al. 2008).

Na comparação entre diferentes sistemas de produção, aquele voltado para a produção

a base de pasto vem sendo o mais econômico entre os sistemas. Além da razão econômica, os

sistemas a base de base contribuem na minimização dos custos ambientais, preservando os

recursos naturais e permitindo uma produção de leite mais natural.

Com uma produção voltada para o mercado, o produtor busca elevar sua margem

liquida administrando e reduzindo os custos, utilizando quantidades menores de insumos

externos e ficando menos dependente de produtos que elevam o custo. Portanto, na gestão de

custos das propriedades rurais sistemas altamente tecnificados e dependentes de insumos,

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principalmente concentrados alimentares, apresentaram maiores custos e menores índices de

lucratividade.

No mesmo sentido, de redução de custos na produção leiteira a EMBRAPA, avaliou o

desempenho de vacas holandesas com potencial produtivo de 6.000kg lactação, mostrou que a

produção de leite a pasto de “coast-cross” (Cynodon), apresentou uma margem de

lucratividade 50% maior, mesmo tendo produzido 20% menos leite quando comparada com

sistema em confinamento, sendo a mais viável economicamente (VILELA et al 1996).

Avaliar a tecnologia empregada para a produção de leite é fundamental para

determinar os custos de produção e a rentabilidade, viabilizando, deste modo, a unidade de

produção poderá manter-se competitiva mesmo com as oscilações de preços ocorridas no

mercado.

2.6 A SAZONALIDADE NA PECUÁRIA LEITEIRA DO BRASIL

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014), a

produção de leite mais que dobrou no período entre 1990 e 2009, passando de cerca de 14

bilhões de litros de leite para mais de 29 bilhões de litros. Uma atividade que se encontra na

trajetória cultural de quase todo o território brasileiro, seja para a geração de renda, ou como

competente integrante da dieta alimentar. Logo, compreender como ocorre a produção e

sazonalidade é relevância para esse estudo. A sazonalidade da produção de leite é de grande

relevância para o setor por suas implicações nos vários agentes presentes no sistema

agroindustrial do leite, como os produtores rurais e as empresas processadoras de leite e

derivados (GOMES; CARNEIRO, 2001).

O clima predominante no Brasil é tropical, com suas estações e temperaturas bem

definidas durante o ano, com inverno seco e verão chuvoso. Segundo Lopes, Oliveira e

Fonseca (2010), os sistemas de baixa produção caracterizados com uma produção de até 300

litros diários apresentam alta variação sazonal na sua produção durante os períodos dos meses

de seca. A falta de chuva afeta a produtividade e a qualidade das pastagens, sendo o principal

causador da queda do volume da produção de leite nas entressafras, isso exige um aporte

nutricional ao rebanho seja com volumoso, concentrados, ou na disponibilidade de mão de

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obra para manter a produção elevando o custo de produção (JUNQUEIRA; ZOCCAL;

MIRANDA, 2008).

Segundo Alves, Ervilha e Toyoshima (2013, p. 229):

As regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste são as principais regiões produtoras de leite no país, principalmente pelo clima tropical ser bastante característico, com verão quente e chuvoso, e inverno seco. Esses períodos são caracterizados por abundância (safra) e escassez de forragem nas pastagens (entressafra), que influenciam diretamente no volume de leite produzido.

Assim, as indústrias enfrentam problemas relacionados à oscilação do volume de leite

captado, apresentando ociosidade na mão de obra empregada, irregularidades no

abastecimento do mercado, aumento dos custos fixos. O período de verão permite o melhor

desenvolvimento das forrageiras o que possibilita menores custos de produção e uma maior

oferta de leite, o que justifica menores preços pagos aos produtores. Segundo Gomes e

Carneiro (2001), em média, o preço recebido pelo produtor de leite, no período de verão, é

menor 20% a 30% que o do inverno.

A região Sul do Brasil permite uma produção de pastagens o ano inteiro com a

utilização tanto de espécies forrageiras tropicais como de espécies subtropicais, bem como as

espécies temperadas, o que facilita a adoção de sistemas de produção animal em pastagens

durante o ano inteiro. Em sistemas de integração lavoura/pecuária, no período de inverno os

animais são mantidos de julho a outubro nas pastagens de azevém (Lolium multiflorum

Lam.). Posteriormente, os animais são transferidos para as pastagens de verão.

No Estado do Paraná, onde encontra-se o Território da Cantuquiriguaçú, esta

localizado em uma região de clima Subtropical, com temperaturas amenas, e tem pequena

parte do seu território com clima Tropical. As máximas podem chegar a 40°C e as miniamas

registram temperaturas a baixo de zero. As menores quantidades de chuvas se dão no extremo

noroeste, norte e nordeste e as maiores ocorrem no litoral junto as serras nos planaltos centro

sul e do leste paranaense.

Os preços do leite no Paraná em 2016 foram os superiores dos últimos anos, sendo que

de janeiro a maio deste ano o preço médio foi de R$ 1,05. Dentre as diversas causas, os

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fatores climáticos como o clima adverso em 2015, com excesso de chuvas o que prejudicou

pastagens e dificultou a captação do leite. Outro fator de redução na produção do leite e

restrito há este ano, tem sido o mau desenvolvimento das pastagens de inverno (aveia e

azevém), provavelmente devido ao excesso de chuvas logo após o plantio. As geadas do

início de junho atingiram algumas áreas de lavouras de milho destinadas à produção de

silagem. Com esta restrição de alimentos os produtores terão que gastar mais para manter a

produtividade dos rebanhos. Situação que na ponta final, ocasiona em aumento no valor do

leite (SEAB/ DERAL, 2016).

Os reflexos dos períodos sazonais refletem diretamente sob a produção, custos,

receitas e preços do leite no mercado. Os fatores climáticos podem contribuir no crescimento

da oferta do leite, bem como na escassez.

2.7 O PROJETO BALDE CHEIO

O projeto Balde Cheio foi desenvolvido pela EMBRAPA Sudeste, sob a orientação do

pesquisador Artur Chinelato de Camargo em Setembro de 1997, quando na cidade de Quatis -

RJ, o pesquisador ministrava uma palestra sobre técnicas de produção de leite. A EMBRAPA

apenas desenvolvia as tecnologias, mas, a partir da palestra percebeu-se a necessidade da

transferência de tecnologia não bastando apenas desenvolvê-las. Em Setembro 1998, em na

cidade de Jales - SP, foi realizada a primeira visita técnica a campo em uma Unidade

Demonstrativa (UD) em parceria com os extensionistas da Coordenadoria de Assistência

Técnica Integral (CATI) para treinamento. A metodologia do projeto para a formação de

técnicos autônomos, extensionistas de entidades públicas e privadas ocorre nas UD’s, onde se

tem uma “sala de aula prática”, em pequenas propriedades rurais que também são realizados

dias de campo para agricultores e visitantes com sentido de demonstrar as tecnologias

aplicadas pelo projeto (MORAES, 2013).

Devido à heterogeneidade dos produtores de leite e as características regionais tais

como clima, pastagens, manejo dos animais, o projeto Balde Cheio foi estruturado para

adequar-se a diferentes realidades. Assim complementa Camargo (2011, p. 15) que o objetivo

do projeto é:

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Promover o desenvolvimento da pecuária leiteira na região de atuação via transferência de tecnologia para os técnicos extensionistas locais, quer sejam de entidades públicas ou privadas. Aplicando uma metodologia inovadora, onde uma propriedade leiteira de cunho familiar e utilizada como “sala de aula prática”, com as finalidades de reciclar o conhecimento de todos os envolvidos (pesquisadores, técnicos e produtores) e, ao mesmo tempo, servir como exemplo, ao demonstrar a viabilidade técnica, econômica, social e ambiental da produção de leite neste tipo de estabelecimento.

Para implantar o projeto são obedecidos critérios de seleção das propriedades. Assim,

a metodologia para escolha e implantação das ações do projeto requer pequenas propriedades

rurais (a partir de 0,5 hectares) de cunho familiar e que tenham como principal atividade a

produção de leite (CAMARGO, 2011). Além disso, ocorre um respeito mútuo por parte do

agricultor em seguir as orientações técnicas de manejo e produção, e do técnico extencionista

em respeitar a capacidade de disponibilidade de capital para a elaboração das atividades e

investimentos necessários para melhorar a produção além, da transferência e construção de

conhecimento.

Após selecionada a propriedade pelo perfil e características, o produtor responde a um

questionário que corresponde a uma análise inicial das principais condições da família, como:

sistema de produção, condição socioeconômica e características ambientais. Transcorrida a

seleção e aplicado o questionário a propriedade passa a ser uma Unidade Demonstrativa

(UD), passando a ser considerada uma “sala de aula prática” (MACHADO, 2014).

O acompanhamento técnico nas propriedades acontece por dois agentes do projeto,

sendo um o técnico responsável que visita a UD com frequência de pelo menos uma vez a

cada trinta dias, e o instrutor credenciado pelo projeto a cada quatro meses durante a vigência

do projeto que é de 02 a 04 anos (MACHADO, 2014).

A tecnologia do projeto Balde Cheio emprega um conjunto de técnicas para alcançar

os objetivos estabelecidos destacadopor Manzano et al. (2006), sendo:

a) Alimentação: plantio e fornecimento de cana de açúcar + ureia nos períodos de

seca, alimentação suplementar de acordo com a produção da vaca e pastejo

rotacionado nas épocas com água e uso de cerca elétrica;

b) Manejo: identificação e melhorias no conforto dos animais (sombra), na

distribuição de água e na qualidade do leite (higiene na ordenha, instalações e

resfriamento do leite);

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c) Reprodução: uso de inseminação artificial e/ou monta natural controle de

reprodução do rebanho;

d) Sanidade: controle de ectoparasitas e endoparasitas e exames de brucelose e

tuberculose;

e) Melhoramento genético: uso de touro selecionado;

f) Gerencial: controle leiteiro e descarte de animais improdutivos, controle zootécnico

do rebanho, análise econômica por meio de planilha de custos constituídas de:

receitas, gastos de custeio e investimentos, resultados zootécnicos e econômicos

com depreciação de máquinas, instalações e remuneração do capital, animais e

terra. Na determinação do custo operacional, são consideradas as despesas relativas

ao custeio na produção de leite, e na determinação do custo total, os custos fixos,

como depreciação de máquinas, equipamentos e instalações, e a remuneração do

capital investido nos animais e instalações.

Para auxílio e controle do rebanho leiteiro são adotadas duas ferramentas, basicamente

dois quadros, voltados para o controle de crescimento dos bezerros e outro para o ciclo

reprodutivo dos animais. Trata-se de uma ferramenta de gestão para o agricultor onde tem

representado todos os animais em um quadro metálico, funcionando como uma espécie de

calendário circular com todos os dias do ano, as fases vivenciadas pelos animais e as

indicações de procedimentos que devem ser realizados ao longo dos ciclos de crescimento e

de reprodução. Com isso, fica difícil esquecer ou atrasar um determinado manejo e, além

disso, é possível ver se algum animal está com características não condizentes com a sua fase

e, assim, tomar as devidas providências. As Figuras 2 e 3 ilustram os Quadros.

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Figura 2 -Controle Reprodutivo

Fonte: SOUZA, 2016. Figura 3 - Controle de Crescimento dos Bezerros

Fonte: SOUZA, 2016.

Segundo a EMBRAPA (2017), as parcerias com instituições de assistência técnica e

extensão rural (ATER), entidades públicas e privadas e produtores andam lado a lado

promovendo ações de capacitação e transferência de tecnologia no campo. São 253 técnicos

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em treinamento, 417 municípios, 1472 produtores sendo atendidos em 11 estados com apoio

de 182 parcerias.

No Brasil a produção de leite média é de menos de 100 litros por dia. No projeto, mais

de 75% dos produtores produzem acima de 200 litros por dia. Um ganho significativo na

produtividade e na lucratividade das propriedades participantes (EMBRAPA, 2017).

A transferência da tecnologia ocorre quando os técnicos da EMBRAPA, repassam a

pequenos, médios e grandes produtores os conhecimentos sobre o Projeto na forma de

serviços, produtos e processos. A produção de leite passa a ser intensiva e especializada para

atender para a atender as propriedades para a implementação das soluções propostas. O ganho

de produtividade nas propriedades e a significativa melhoria na qualidade de vida dos

produtores são resultados perceptíveis entre aqueles que participam do projeto (EMBRAPA,

2017).

2.8 PASTOREIO RACIONAL VOISIN (PRV)

O PRV trabalha com a divisão da área em piquetes que possibilita ao humano

comandar o pastoreio, e ao gado ingerir o pasto em seu ponto ótimo de repouso, respeitando o

meio ambiente, trabalha com o bem estar animal e visa um retorno financeiro para o

agricultor baseado seu processo produtivo em baixos custos de produção.

A divisão da área em parcelas ou piquete traz benefícios na estruturação física do solo,

com a divisão da área ocorre um menor pisoteio e com isso uma menor compactação do solo,

melhorando a infiltração de água, proporcionando maior penetração de ar, raízes mais

profundas, melhor trilhagem, pasto de melhor qualidade, assim tendo mais carne e mais leite,

menor ou nula erosão do solo, incremento do teor de Matéria Orgânica (MO) e mantendo

mais umidade do solo (MACHADO, 2013).

Para obter melhores resultados produtivos e econômicos, a eficiência de um sistema de

produção deve obedecer a regras ou normas que determinam os procedimentos produtivos. No

caso do PRV, existem leis que, obedecidas nas suas diretrizes gerais, permitem ao produtor

obter máximos rendimentos técnicos e econômicos. As leis do PRV são quatro segundo

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Machado (2004), 1- Lei do Repouso; 2- Lei da Ocupação; 3- Lei do Rendimento Máximo; 4-

Lei do Rendimento Regular.

A Lei do Repouso fala que entre dois cortes sucessivos pelo dente do animal aja um tempo de repouso que permita ao pasto: armazenar nas suas raízes as reservas necessárias para um início de rebrote vigoroso; e realizar sua labareda de crescimento, ou grande produção de pasto por dia e por hectare (MACHADO, 2013, p. 120).

A Lei da Ocupação refere-se ao tempo que o gado fica na parcela. Quanto menor o

tempo de pastoreio melhor, desde que todo o pasto disponível seja consumido maior é o

aproveitamento. Para Machado (2013, p. 121)“o pasto não pode ser cortado duas vezes pelo

dente do animal durante o mesmo tempo de ocupação”.

A Lei do Rendimento Máximo trata da qualidade e da quantidade das pastagens. As

condições climáticas determinam o crescimento e a qualidade das mesmas. Assim, “em

climas normais, uma pastagem que tenha 15 a 25 cm de altura, é a que proporciona a

quantidade máxima de pasto da melhor qualidade” (MACHADO, 2013, p. 122). Quanto

menor a dificuldade do animal ao pastorear uma pastagem maior quantidade de pasto ele vai

consumir. A qualidade dos pastos pode variar entre as variedades e os distintos estágios

fenológicos.

A Lei do Rendimento Regular é necessário levar em conta que“para uma vaca possa

dar rendimentos regulares é preciso que não permaneça por mais de três dias em uma mesma

parcela. Os rendimentos serão máximos, se a vaca não permanecer por mais de um dia numa

mesma parcela” (MACHADO, 2013, p. 123).

O rendimento do primeiro dia vai ser sempre superior, pois, o gado pastoreia o pasto

de melhor qualidade e em maior quantidade devido à disponibilidade das pastagens por

estarem em seu ponto ótimo de repouso. No primeiro dia o pasto está limpo, sem cheiro

esterco e de urina, e o gado não pasta onde defeca e urina, ou seja, no primeiro dia o pasto é

de melhor qualidade.

As pastagens ao serem pastoreadas pelo gado necessitam de um tempo para serem

pastoreadas novamente. O rebrote é o período que as pastagens têm para crescer e estarem

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prontas para um novo pastoreio onde a uma mobilização de nutrientes das reservas existentes

na base da planta, e no sistema radicular. O rebrote evolui e a planta adquire capacidade

fotossintética, com a consequente formação de carboidratos não estruturais (MACHADO,

2013).

Os carboidratos não estruturais é energia que vai acumulando na base da planta que

conforme o autor explica, “quando as reservas estão reabastecidas em sua plenitude, é o ponto

ótimo de repouso da pastagem, é o momento de ser pastoreada” (MACHADO, 2013, p. 118).

A planta em seu ponto ótimo está com as reservas de energia completas, após o pastoreio vão

rebrotar novamente. Pode-se dizer que as pastagens pastoreadas fora do seu ponto ótimo de

repouso tendem a enfraquecer e com o passar dos pastoreios desaparecerem.

A divisão da área melhora as condições gerais da pastagem, proporcionando ao

sistema ter menor pisoteio, permitindo descanso aos pastos, menor compactação, maior

desenvolvimento do sistema radicular e diminuição da erosão (MACHADO, 2004).

A divisão da área e seu respectivo sistema hidráulico correspondem a maior rubrica

financeira na implementação do PRV. Na instalação do PRV 10 princípios contemplam sua

correta instalação: bem-estar animal, economicidade, perenidade, funcionalidade, higiene,

orientação, modulação, localização, estética e bem estar humano (MACHADO, 2004).

Os bovinos são animais gregários que exercem dominância uns sobre os outros. A

dominância é um estado que faz com que alguns animais tenham posição mais elevada do que

outros, num determinado rebanho. Assim, por exemplo, é possível que num lote de 10 vacas,

tenhamos 2 vacas dominantes, que são aquelas que bebem a melhor água, a mais limpa e

quente. Somente depois disso, é que animas de posição social intermediária, bebem água. Por

último, aqueles animais que não exercem nenhuma dominância vão beber água.

O gado bovino tem pouco esmalte nos dentes e sente muita dor, ao beber água

gelada. Por isso, devemos colocar bebedouros em lugar ensolarado e de preferência com uma

tubulação que fique com parte exposta para que seja aquecida pelo sol, principalmente em

épocas frias. O fornecimento de água gelada ao gado inibe o consumo da mesma e isso tem

uma implicação direta sobre a produtividade de leite. Vacas que não tem acesso à água morna

podem ter sua produção reduzida em até 70 %. Numa propriedade é muito fácil observar se

uma vaca está passando sede, pois sua bosta fica no solo com o formato dos anéis do

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intestino. Já uma vaca que não passa sede, a bosta “cala” no pasto, formando um círculo

perfeito, é o que Machado (2004) chama de “bosta de personalidade”.

Uma “unidade de gado maior” (UGM) é o equivalente a 500 KG de peso vivo. Pois

bem, uma UGM pode consumir até 80 l de água por dia. Uma indicação prática é considerar a

necessidade de 5 l de água por litro de leite produzido (Machado, 2004).

A água deve ser fornecida no piquete em que o gado está pastoreando, por isso todos

os piquetes devem ter a água à vontade para consumo voluntário. A água deve ser de boa

qualidade e morna. Jamais fornecer água de riachos rochosos com água fria, pois isso impede

os animais de consumir água conforme sua necessidade de produção (vão consumir só para a

sua manutenção).

Uma dica prática é fazer as linhas mestras de transmissão de água sob o fio central

dos piquetes, deixando um “T” com registro para cada quatro piquetes. Uma dica importante é

medir a vazão que dá na “linha mestra” de fornecimento de água. Para um rebanho de até 40

vacas de 500 kg, uma linha mestra de mangueira de ¾ de polegada é suficiente para um bom

fornecimento de água.

A bosta dos animais é muito importante para melhorar a fertilidade do sistema,

aumentando o teor de matéria orgânica do solo e servindo de alimento a biota do solo. Em

solos compactados e pouco arejados, o besouro Vira-Bosta (Onthofhagus gazella) faz um

trabalho importante, trazendo terra de profundidades onde a maioria das raízes não tem acesso

e levando matéria orgânica para o fundo do solo. Esses besouros constroem canais profundos,

onde, depositam bolinhas de bosta que servirão de alimento às suas larvas. É possível que

para cada um Kg de bosta, o besouro possa revolver até 4 kg de terra.

Um bom PRV deve ter sombreamento abundante e de qualidade em todos os

piquetes. O pasto sombreado produz maior quantidade de forragem, pois na ausência de

sombra e no excesso de calor as plantas fecham os estômatos (estômato é um orifício

semelhante ao nosso nariz, por onde a planta respira) e param de respirar para não perderem

água. Se isso acontece, a pastagem para de fazer fotossíntese deixando de crescer. A lógica de

pastagens sem sombra é uma idéia importada da Europa (países frios) trazida para o Brasil

pelos italianos e alemães que não funciona em clima quente. Além disso, as árvores

aumentam a rugosidade do sistema, servem como quebra ventos e diminuem a evaporação da

água do solo e a evapotranspiração das plantas.

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Uma dica importante é usar árvores que podem ser utilizadas como alimento para o

gado (depois de adultas e estabelecidas) e árvores nativas da região, de preferência

leguminosas que ajudam a introduzir nitrogênio no solo, através da simbiose com bactérias do

gênero Rhizobium.

O processo de fotossíntese é uma reação bioquímica que converte energia solar em

energia química armazenada em tecidos vegetais sob a forma de compostos orgânicos –

carboidratos, gorduras e proteínas (MACHADO, 2004). Assim, o manejo racional dos pastos

começa com a máxima captação de energia solar, através da otimização da fotossíntese. As

plantas captam maior energia solar quando estão em crescimento, na floração e pós floração a

captação é menor. Em PRV as plantas não chegam aos estágios finais de crescimento devido

ao pastoreio, neste sentido, a captação de energia solar é a máxima.

O processo de produção de pasto é através da energia solar e da biocenose, ou

desenvolvimento dinâmico da vida do solo. Solos que foram arados, intoxicados por

agrotóxicos ou fertilizantes industriais de alta solubilidade, tem uma atividade

biológica/biocenose limitada. Quanto maior a atividade da vida do solo, maiores os resultados

em qualidade das plantas, qualidade dos animais que se nutrem destas e maior a saúde

humana que os consomem (MACHADO, 2004).

Segundo o mesmo autor a saúde das plantas é o produto do equilíbrio ou

desequilíbrio de sua nutrição através da relação entre a proteossíntese (síntese de proteína) e a

proteólise (desdobramento das proteínas) nos tecidos vegetais. Tal relação influencia

diretamente a resistência ou a sensibilidade das plantas ao ataque de agentes parasitários. O

aumento do teor de matéria orgânica no solo protege a saúde das plantas, porque o húmus é

rico em microelementos solúveis prontamente disponíveis para as plantas. Por outro lado, a

utilização de agrotóxicos e fertilizantes solúveis fazem uma ruptura no equilíbrio da planta,

estimulando a proteólise e inibindo a proteossintese. No estado de proteólise a um excesso de

aminoácidos livres e açucares solúveis no tecido vegetal da planta atraindo pragas e doenças

(MACHADO, 2004).

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3 METODOLOGIA

Este capítulo trata dos métodos utilizados para responder ao problema de pesquisa

estabelecido. Deste modo, foram apresentados os elementos que constituem o processo de

pesquisa no âmbito da produção de leite com as tecnologias Balde Cheio e Pastoreio Racional

Voisin,foi destacada a metodologia e as técnicas utilizadas para a coleta de dados a campo.

A técnica utilizada para a obtenção das informações e coleta de dados para atender ao

objeto da pesquisa foram entrevistas semiestruturadas com os agricultores familiares, no

sentido de um diálogo assimétrico em que uma das partes buscou coletar dados e a outra se

apresentou como fonte da informação, sendo a entrevista umas das técnicas de coleta de dados

mais utilizadasno âmbito das ciências sociais. A pesquisa teve uma abordagem qualitativa

com objetivo exploratório no sentido de proporcionar uma visão geral, do tipo aproximativo,

acerca de determinado fato (GIL, 2006). Na proposta para o estudo, foram selecionados os

sujeitos da pesquisa, neste caso, agricultores familiares do município de Nova Laranjeiras,

Rio Bonito do Iguaçu e Laranjeiras do Sul, Território da Cantuquiriguaçu, que estão

trabalhando com as tecnologias de produção de leite do Projeto Balde Cheio e do Pastoreio

Racional Voisin (PRV).

As características da pesquisa qualitativa são:

Objetivação do fenômeno; hierarquização das ações descrever, compreender, explicar; precisão das relações entre o global e o local em determinado fenômeno; observância das diferenças entre o mundo social e o mundo natural; respeito ao caráter interativo entre os objetivos buscados pelos investigadores, suas orientações teóricas e seus dados empíricos; busca de resultados os mais fidedignos possíveis; oposição ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências (GERHARDT, SILVEIRA, 2008, p. 29).

A natureza da pesquisa é exploratória apresentando como finalidade proporcionar

maior clareza do problema, tendo em vista a formulação de hipóteses para estudos posteriores.

Outrossim, a pesquisa envolve levantamento documental e bibliográfico, entrevistas não

padronizadas e estudos de caso. As entrevistas foram realizadas com agricultores familiares

que tiveram experiência prática com o problema pesquisado. Esta pesquisa tem caráter

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bibliográfico quando buscou em livros e artigos científicos estudos já realizados, referências

sobre a produção de leite, agricultura familiar, Agroecologia e sustentabilidade. Uma das

vantagens da pesquisa bibliográfica é a possibilidade de estabelecer e investigar uma maior

quantidade de fenômenos muito mais amplos do que a pesquisa poderia estabelecer

diretamente (GIL, 2006).

A metodologia buscou conhecer o que motivou os agricultores familiares a adotarem

cada tipo de tecnologia de produção de leite, tendo em vista os recursos disponíveis, sejam

recursos financeiros ou produtivos, parceiros (técnicos, cooperativas, prefeituras) e

disponibilidades de mão de obra. Além disso, a pesquisa evidenciou como cada sistema

contribuiu com a renda familiar e a remuneração da mão de obra. Assim, utilizando uma

perspectiva qualitativa um fenômeno pode ser entendido melhor no contexto que ele ocorre,

devendo, portanto, ser analisado sob uma perspectiva integrada (GODOY, 1995). O

pesquisador vai a campo buscar com as pessoas envolvidas as possíveis respostas para

esclarecer o fenômeno. Neste âmbito, a pesquisa fornece condições favoráveis para que o

estudo seja realizado de modo que os resultados buscados para responder o problema da

pesquisa sejam os mais precisos possíveis.

3.1COLETA DE DADOS

A coleta de dados foi realizada em duas etapas, a primeira etapa de pesquisa

bibliográfica acerca do tema da produção de leite, sustentabilidade e Agroecologia. A

pesquisa bibliográfica possibilita o acesso a estudos já realizados sobre o tema buscando

enfatizar a relação da produção de leite com a agricultura familiar, com o desenvolvimento

rural sustentável e a Agroecologia, bem como a exploração da atividade da bovinocultura de

leite pode contribuir para mudar a realidade social e econômica dos agricultores.

A coleta de dados buscou identificar o porquê os agricultores familiares optaram pela

adoção de determinada tecnologia, considerando o seu acesso à terra, as políticas públicas, os

incentivos, seja de organizações públicas como, Prefeituras ou então entidades privadas como

Associações, Cooperativas, entre outros. Além disso, como cada tecnologia de produção de

leite contribuiu com o desenvolvimento socioeconômico, no contexto interpessoal, permitindo

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analisar as mudanças sociais, econômicas e ambientais nos produtores que exploram a

bovinocultura de leite, a geração de renda mensal, o baixo custo, os benefícios ambientais e a

melhoria da qualidade de vida da família.

3.2 ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO

As unidades de produção serão analisadas do ponto de vista da sustentabilidade social

e econômica comparativamente a tecnologia do Pastoreio Racional Voisin e Balde Cheio.

Para isso, a metodologia de análise escolhida para a pesquisa foi a do Diagnóstico Análise dos

Sistemas Agrários (DASA). Uma tecnologia de produção pode dar certo para alguns

agricultores, ao passo que para outros não, deste modo, analisar criteriosamente as tecnologias

para implementação.

A metodologia do DASA busca identificar no universo dinâmico da produção agrícola

em que contexto os agricultores estão trabalhando, quais os limites e potencialidades dos

ecossistemas e da infraestrutura local. Além disso, verifica a tendência da evolução da

agricultura na região, apontando se ela apresenta uma tendência de agricultura familiar,

patronal ou de grandes empresas, e ainda se os agricultores estão diversificando sua produção,

em suma realizando um diagnóstico da realidade em que se pretende agir.

Nesta pesquisa foram buscadas informações apenas sobre a produção leiteira, sendo

que em cada unidade de produção pesquisada a produção de leite é a principal atividade

econômica. Mesmo analisando uma única atividade foram encontrados diversos fatores ou

recursos disponíveis tais como terra, disponibilidade de água, insumos, equipamentos e

instalações, recursos financeiros e mãodeobra, com uma combinação de atividades distintas

como preparo do solo, fertilização, controle de pragas e doenças, colheita e comercialização

(INCRA/FAO, 1999). Portanto, os resultados de cada tecnologia de produção de leite ora

analisadas sofrem a interferência desses fatores.

O método parte de uma análise geral para o particular. Analisa a partir de fenômenos

mais gerais (mundo, país, região), terminando em níveis mais específicos como municípios,

assentamentos, unidades de produção ou nos fenômenos particulares como cultivo e criação

(INCRA/FAO, 1999). A seleção de cada nível de análise de diagnóstico varia com o problema

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estudado. No estudo de caso desta pesquisa o Nível de Análise foi em Parcelas (onde não é

analisada a unidade de produção como um todo, mas sim uma parcela) que tem como Objeto

de Síntese um sistema de cultura ou de criação, que neste caso foram às tecnologias de

produção de leite Pastoreio Racional Voisin e Balde Cheio.

3.3 VALOR AGREGADO

O Valor Agregado (VA) ocorre quando o agricultor adiciona trabalho aos insumos e

ao capital fixo utilizado, produzindo novas riquezas onde seu valor é representado pelas

mercadorias produzidas e consumidas. O VA do sistema de produção é igual ao valor do que

se produziu menos o valor que se consumiu:

VA = PB-CI-D

Os insumos de produção tais como sementes, adubos, fertilizantes, agrotóxicos,

combustíveis, peças de reposição, pneus, dentre outros insumos são constantemente

transformados no processo produtivo agrícola. Esse custo compõe o que chamamos de

Consumo Intermediário (CI).

No cálculo deve ser considerado também a depreciação das máquinas, implementos

agrícolas, barracões e outras estruturas que embora não consumidos completamente no

processo produtivo compõe a análise de custos no CI. Esse capital fixo sofre desgaste com o

tempo e por isso deve ser considerado como depreciação (INCRA/FAO, 1999).

A Produção Bruta (PB) corresponde ao total da produção produzida seja para

comercialização ou para o consumo da família. Podendo ser de várias atividades como horta,

pomares, aves, produção de leite, milho, feijão dentre outros produtos, artesanatos produzidos

na unidade de produção que podem ser consumidos pela família ou comercializados. Caso

ocorra prestação de serviços por parte dos integrantes da família ou envolve a prestação de

serviços com máquinas e equipamentos essa receita deve ser contabilizada (INCRA/FAO,

1999).

O Valor Agregado pode ser calculado pela Superfície Agrícola Utilizável (SAU), pode

ser um sistema de cultivo, criação ou todos os sistemas produtivos da unidade de produção.

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Assim pode-se calcular o Valor Agregado por área disponível:

Valor Agregado por unidade de área = VA / SAU

É possível também calcular o Valor Agregado por produtividade do trabalho. O T é o

número de trabalhadores empregados no sistema, sejam eles familiares ou não.

Produtividade do Trabalho = VA/T

O Quadro 1 apresenta de forma resumida as categorias relacionadas ao Valor

Agregado utilizadas para análise econômica na unidade de produção.

Quadro 1 - Categorias de Análise Econômica de uma Unidade de Produção

Produção Bruta

Valor Agregado

Agricultor (Renda)

Bancos (Juros)

Trabalhadores Contratados (Salários)

Proprietário da Terra (Arrendamento)

Estado (Impostos)

Consumo de Meios de Produção

Consumo Intermediário (insumos consumidos em um processo de produção) Depreciações (Máquinas, Equipamentos, instalações consumidos em vários ciclos de produção)

Fonte: Adaptado INCRA-FAO, 1999.

Como pode ser visto no Quadro 1, o lucro não consta na distribuição do Valor

Agregado, o cálculo do lucro e a utilização da categoria custo, sobre o qual está baseado, se

constituem, pois, em categorias distintas das que estão relacionadas com o Valor Agregado

(SILVA NETO, 2016). O Valor Agregado compõe o cálculo da Renda Agropecuária,

permitindo evidenciar a remuneração recebida pelo agricultor conforme descrito no item 6.4.

3.4 RENDA AGROPECUÁRIA

Nem todo o Valor Agregado produzido pelo agricultor é destinado a sua remuneração

ou a sua família. O pagamento do arrendamento da terra, por exemplo, é um custo que deve

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ser contabilizado na renda final do agricultor. O mesmo ocorre com os juros pagos aos bancos

ou então os impostos pagos ao Estado. O agricultor também pode necessitar utilizar mão de

obra temporária ou permanente tendo, neste caso, despesas com salários e encargos sociais.

A Renda Agropecuária do agricultor diminui ao passo que o Estado majore impostos,

que o dono das terras aumente a taxa paga pelo arrendamento da terra, os bancos aumentem a

taxa de juros ou então ocorra uma elevação do salário dos contratados.

Deste modo:

RA = VA – S – I – J – RT

Onde:

S: Salários

I: Impostos

J: Juros

RT: Renda da Terra (Arrendamentos)

A Renda Agropecuária permite demonstrar qual proporção de riqueza está sendo

destinada para cada parte da sociedade, e por fim, a renda recebida pelo agricultor.

Calculados os valores para a Renda Agropecuária (RA) e do Valor Agregado (VA) é

possível através de modelos lineares descrever os resultados econômicos (Valor Agregado e

da Renda) para os sistemas de produção de leite. Estes são calculados em relação à Superfície

Agrícola Utilizávelpor Unidade de Trabalho (SAU/UT) para o Valor Agregado e por

Superfície Agrícola Utilizável por Unidade de Trabalho Familiar (SAU/UTF) para a renda.

No caso desta pesquisa, é considerado a Superfície Agrícola Utilizável (SAU) apenas as áreas

destinadas à produção de leite, ou seja, as áreas de pastagens, cultivo de milho para silagem e

grão úmido, cultivo de cana de açúcar.

O agricultor tem outras oportunidades de trabalho que devem ser mensuradas e

comparadas com o valor da renda que ele recebe. Por exemplo, o agricultor pode-se tornar

assalariado, ou então, produzir outra cultura que proporcione maior renda por unidade de

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trabalho familiar. É relevante calcular a Renda Agropecuáriapor unidade de trabalho familiar

sendo realizado o seguinte cálculo RA/UTF.

No que diz respeito à mão de obra é importante considerar as informações para

estipular o número de Unidades de Trabalho. No caso da pesquisa será considerado um adulto

em tempo integral, ou seja, em torno de 200 horas mensais.

Cada unidade de produção possui uma Superfície Agrícola Utilizável (SAU), terras

cultiváveis onde se produz e se gera renda. Geralmente em pequenas áreas de terras os

agricultores procuram sistemas que maximizem a produção e otimizem o uso da terra e a da

mão de obra. Deste modo, deve-se também calcular a Renda Agropecuária pela Superfície

Agrícola Utilizável (RA/SAU).

Na pesquisa, foram apresentadas duas tecnologias de produção de leite que foram

comparadas a partir desta metodologia para evidenciar a eficiência econômica e produtiva de

cada sistema, objetivando encontrar qual tecnologia contribui do ponto de vista social com o

desenvolvimento socioeconômico dos agricultores ora pesquisados.

Os agricultores na medida em que produzem, necessitam gerar renda e obter sobras

positivas da sua comercialização de modo que permite remunerar a mão de obra e

proporcionar comparativamente com outros trabalhos (empregos) uma renda satisfatória e

com o mínimo necessário para a reprodução social da família. O custo de oportunidade da

força de trabalho no campo deve ser melhor que o oferecido nas cidades, pois caso contrário,

pode ocorrer à saída do agricultor do campo. Com uma renda maior ao custo oportunidade da

força de trabalho o agricultor tem a propensão a capitalizar-se.

Neste aspecto, a partir da renda calculada pode-se facilmente deduzir a superfície de

área útil mínima, para que a unidade de produção possa se manter na atividade produtiva

possibilitando uma renda igual ou superior ao Nível de Reprodução Social (NRS) do

agricultor pesquisado.

Assim temos:

RA/UTF = NRS

Onde:

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RA/UTF: Renda Agropecuária por Unidade de Trabalho familiar (R$/pessoa).

NRS: Nível de Reprodução Social, ou seja, o nível mínimo de renda necessário a

reprodução social dos agricultores (R$/pessoa). Neste caso o NRS foi estabelecido em 13

salários mínimos vigente em 2016, ou seja, R$ 11.440,00 (onze mil quatrocentos e quarenta

reais).

Neste âmbito, a produção de leite deve proporcionar o desenvolvimento sustentável do

ponto de vista social e econômico da família, proporcionando uma renda mínima para

assegurar o pagamento das despesas da manutenção da mesma, dos pequenos investimentos

como compra de um veículo, reforma da casa, compra de eletrodomésticos, possibilitando

uma melhoria na qualidade de vida fazendo com que a mesma permaneça no campo.

3.5 ANÁLISE AMBIENTAL

A análise ambiental está baseada em questões elaboradas pelo pesquisador a partir das

práticas agrícolas consideradas Agroecológicas e que são ou não desenvolvidas na unidade de

produção. Como práticas não Agroecológicas foram consideradas questões como o uso de

agrotóxicos nos plantios de milho para a silagem e nas pastagens, utilização de sementes

transgênicas, adubação das pastagens com fertilizantes de síntese química e a existência de

erosão nas pastagens. Como Práticas Agroecológicas foram consideradas questões como a

existência de água em bebedouros disponíveis para os animais nos piquetes, sombras nos

piquetes, preservação das áreas de reserva legal e preservação permanente, proteção de

nascentes.

Conforme as questões, as respostas foram classificadas em Práticas Agroecológicas e

Práticas não Agroecológicas configurando um nível de sustentabilidade ambiental para a

unidade de produção, determinado em percentuais calculados de acordo com as respostas.

Respostas com Práticas Agroecológicas que alcançaram um percentual de 30% foram

consideradas uma unidade de produção com uma situação ambiental Ruim. Com respostas

positivas de Práticas Agroecológicas com um percentual acima de 30% até 70% foram

consideradas uma unidade de produção em situação de sustentabilidade ambiental Razoável e

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acima de 70% das respostas com Práticas Agroecológicas a unidade de produção é

considerada em uma condição de Sustentabilidade ambiental Boa.

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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os dados analisados nesta pesquisa foram de oito unidades de produção de leite sendo

quatro unidades que trabalham com a tecnologia de produção do Projeto Balde Cheio (BC) e

quatro unidades que trabalham com a tecnologia de produção do Pastoreio Racional Voisin

(PRV). Para melhor análise este capítulo será dividido em duas seções sendo: Caracterização

das unidades de produção; Análise Individual das Propriedades.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO

As unidades de produção estão localizadas nos municípios do território da

Cantuquiriguaçu, mais precisamente nos municípios de Laranjeiras do Sul, Nova Laranjeiras,

Rio Bonito do Iguaçu. O Quadro 2 mostra a relação de unidades de produção por município,

bem como a tecnologia, ano de implementação, a área total da unidade de produção e

atividade econômica principal.

Quadro 2 – Descrição das Unidades de Produção

PRODUTOR LOCALIDADE TECNOLOGIA ANO DE

IMPLEMENTAÇÃO

ÁREA TOTAL DA UP

HECTÁRES

ATIVIDADE ECONÔMICA

PRINCIPAL

1 Rio Bonito do Iguaçu-

Assentamento Marcos Freire PRV 2010 14 PROD. LEITE

2 Rio Bonito do Iguaçu- Assentamento Marcos Freire

PRV 2013 16 PROD. LEITE

3 Rio Bonito do Iguaçu-

Assentamento Marcos Freire PRV 2007 15.7 PROD. LEITE

4 Nova Laranjeiras Balde Cheio 2009 12 PROD. LEITE

5 Nova Laranjeiras Balde Cheio 2012 24,2 PROD. LEITE

6 Nova Laranjeiras Balde Cheio 2006 34 PROD. LEITE

7 Rio Bonito do Iguaçu-

Assentamento Ireno Alves dos Santos

PRV 2006 12 PROD. LEITE

8 Nova Laranjeiras - Assentamento Xagu

Balde Cheio 2013 26,62 PROD. LEITE

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

As propriedades estão localizadas em assentamentos da Reforma Agrária e em

Comunidades Rurais no interior dos municípios em que ocorreu a pesquisa. As propriedades

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localizadas nos assentamentos foram adquiridas através do processo de Reforma Agrária

realizado pelo INCRA, enquanto que as unidades de produção localizadas nas Comunidades

Rurais foram compradas ou recebidas por herança. As propriedades, tem como características

serem de agricultura familiar, com produção de subsistência,tais como: hortaliças, suínos,

aves, dentre outros vegetais que servem para o consumo familiar. A unidade de produção

pesquisada tem na atividade leiteira sua principal fonte de renda.

Nos Assentamentos de Reforma Agrária uma das tecnologias de produção defendidas

e difundidas pelo Movimento dos Trabalhadores dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

é a Agroecologia, uma produção livre de agrotóxicos e de dependência de insumos externos.

Essa linha política do MST influência, em alguns casos, os agricultores assentados a trabalhar

com técnicas de produção Agroecológicas, que como podemos evidenciar na pesquisa todos

os produtores de leite assentados pela Reforma Agrária trabalham com a tecnologia do PRV,

considerada uma produção de leite agroecológico.

O acesso à tecnologia do PRV para estes quatro agricultores ocorreu através de cursos

de capacitação promovidos pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em

Agroecologia (CEAGRO), é uma entidade sem fins lucrativos que promove o

desenvolvimento da Agroecologia no Território da Cantuquiriguaçu- PR. Além de cursos de

capacitação em leite Agroecológico o mesmo também promove em parcerias com autarquias

federais Assistência Técnica e Extensão Rural nos assentamento da Reforma Agrária. Neste

sentido, os agricultores sofrem influências externas sobre a orientação técnica de produção

agrícola e agropecuária que mesmo sendo agricultores familiares, estando em uma mesma

comunidade, assentamento ou município adotam diferentes tecnologias de produção

agropecuária.

Os agricultores que trabalham com a tecnologia do projeto Balde Cheio, por sua vez,

tiveram o acesso à tecnologia através de uma associação de agricultores do município que

buscou parceria com a prefeitura local. A prefeitura firmou convênio com a Cooperativa para

o Desenvolvimento e Inovação da Atividade Leiteira (COOPERIDEAL) para prestar

assistência técnica aos produtores de leite do município que tinham interesse em conhecer e

trabalhar com o projeto Balde Cheio. A COOPERIDEAL é uma cooperativa de técnicos que

desenvolve a produção leiteira com agricultores familiares em todo o Brasil.

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Cada unidade de produção segue as orientações técnicas de cada tecnologia, sendo que

as unidades de produção que trabalham com o Balde Cheio são acompanhadas por um técnico

que visita a unidade de produção mensalmente. Atualmente as unidades de produção do

Projeto Balde Cheio não contam com o apoio da Prefeitura, desembolsando mensalmente o

pagamento do técnico que acompanha a produção leiteira. Ainda algumas propriedades

contam com o auxílio de um médico veterinário pago mensalmente que visita regularmente a

propriedade no sentido de avaliar o desempenho reprodutivo do rebanho e prevenir doenças.

Os agricultores em geral trabalham em condições socioeconômicas e ambientais

distintas, diferenças relevantes, tanto no que se refere ao acesso à terra, aos recursos naturais,

a maneira de como as mudanças tecnológicas e produtivas chegam até o agricultor, o acesso

ao crédito bancário e a recursos financeiros, ao nível de capitalização, a mão de obra

disponível e políticas públicas. Tal diferenciação leva cada agricultor a níveis distintos e

desiguais de capitalização e também em critérios distintos de decisão e de otimização dos

recursos disponíveis (INCRA/FAO, 1999). Deste modo, cada agricultor toma suas decisões

conforme sua realidade socioeconômica seja, na escolha das culturas, na criação de animais

ou na escolha de tecnologia produtiva. Tais decisões em primeiro lugar são para assegurar a

segurança alimentar da família ou então para tentar diminuir os riscos na comercialização e

nas variações de preço.

Pertinente a essa análise, os agricultores produtores de leite estudados nesta pesquisa

optaram por tecnologias que proporcionassem maior eficiência na produção de leite, que

potencializasse o uso da terra e diminuísse o emprego da força de trabalho familiar. Ambas as

tecnologias trabalham com pequenas extensões de terra que através do piqueteamento, manejo

das pastagens e dos animais proporcionam uma melhor eficiência no uso da terra e dos pastos,

podendo trabalhar com um número maior de animais em pequenas áreas de terra.

As unidades de produção não contratam mão de obra, o trabalho é realizado pelos

integrantes da família. Além do tempo demandado na atividade leiteira os agricultores

também demandam de tempo para realizar outras atividades produtivas. O trabalho com a

produção de leite é realizado geralmente por 1 ou 2 pessoas que ocupam cerca de 2 a 5 horas

diárias/ pessoa. Assim, além de maximizar o uso da terra também é otimizado o tempo de

trabalho dos agricultores com o uso das tecnologias Balde Cheio e PRV.

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Trabalhando com a tecnologia do PRV encontramos produtores com seis, sete, dez e

doze anos de projeto. O tempo de trabalho com as tecnologias ajudam a identificar

características importantes como, o manejo das pastagens e do solo, a evolução do

aprendizado dos agricultores em relação a tecnologia bem como, o entendimento e a

importância de seguir as orientações técnicas para obtenção dos resultados econômicos, socais

e ambientais.

No caso do projeto BC os agricultores com maior tempo de projeto tem 12, 9 e 7 anos

de trabalho com a tecnologia. Deste modo, as 8 unidades de produção estudadas nesta

pesquisa tem características semelhantes, como podemos citar o trabalho familiar, atividade

leiteira como principal atividade econômica, pequenas propriedades, busca por maior

eficiência produtiva, melhorar a renda e nenhuma unidade de produção do PRV ou do BC tem

tempo de projeto inferior a cinco anos.

4.2 ANÁLISE INDIVIDUAL DAS PROPRIEDADES

Apesar de semelhantes, cada unidade de produção apresenta uma dinâmica própria

atendendo ao seu processo histórico cultural e produtivo, variando a cada comunidade ou

assentamento. Logo, nesta seção serão analisados individualmente os dados obtidos nas

entrevistas sob os aspectos econômicos, ambientais e sociais.

4.2.1 Unidade de Produção 1

A Unidade de Produção 1 está localizada no Assentamento Marcos Freire, na

comunidade Centro Novo, município de Rio Bonito do Iguaçu, Estado do Paraná. A família

foi acampada e depois assentada tendo fortes vínculos com o Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra (MST). Atualmente o responsável pela unidade de produção é o filho mais

velho que estudou no CEAGRO e vem buscando aplicar as técnicas de Agroecologia na

produção agrícola.

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A propriedade tem uma área total de 14 hectares, sendo que dessa área total 7,2

hectares são destinados as pastagens no sistema Pastoreio Racional Voisin (PRV). Está área

de 7,2 hectares é dividida em 57 piquetes que contam com a disponibilidade de água em todos

os piquetes e sombras em alguns. A atividade de leite é a principal atividade econômica da

unidade de produção. A capacidade de geração de renda e valores monetários para o

agricultor é imprescindível para sua permanência no meio rural. Assim, analisaremos o Nível

de Reprodução Social conforme as informações coletadas na pesquisa.

A depreciação foi calculada de maneira proporcional, ou seja, as estruturas e

máquinas/implementos que são usados diretamente na produção de leite. A referida

propriedade possui um valor de estruturas de R$ 28.000,00, sendo um barracão no valor de

R$ 25.000,00 e máquinas e equipamentos no valor de R$ 3.000,00. O valor correspondente a

depreciação equivale a R$ 1.3000,00.

No cálculo do Valor Agregado foi considerado e descontado o valor do Fundo de

Assistência e Previdência do Trabalhador Rural (FUNRURAL) no percentual de 2,3%

calculado sobre a receita bruta. A produção média de leite mensal ficou em 5.000 (cinco mil

litros) mês, com um plantel de 22 animais sendo que o rebanho em lactação é de 16 animais

em média. Deste modo, a produção média de leite/mês por animal é de 10,42 litros dia. Na

produção de leite apenas uma pessoa é envolvida no trabalho dedicando de 3 a 4 horas de

trabalho destinadas ao manejo, manutenção das cercas, hidráulica, pastagens e ordenha dos

animais. O trabalho é unicamente familiar, não ocorrendo contratação de mão de obra

permanente.

Os dados econômicos analisados são referentes ao ano 2016. O Quadro 3 permite

analisar o Valor Agregado e a Renda Agropecuária. O Valor Agregado permite identificar a

geração de valor para a sociedade.

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Quadro 3- Análise Econômica da Produção Leite UPA 1

Análise Econômica Prod. De Leite 7,2 SAU=7,2 2

ITENS – ANUAL VALORES VALOR/HA % PB

PRODUÇÃO BRUTA 72.000,00 10.000,00 100

CONSUMO INTERMEDIÁRIO 24.000,00 3.333,33 33,33

VALOR AGREGADO BRUTO 48.000,00 6.666,67 66,67

DEPRECIAÇÃO PROPORCIONAL 1.300,00 180,56 1,81

VALOR AGREGADO 46.700,00 6.486,11 64,86

(-) FUNRURAL 1.656,00 230,00 2,30

RENDA AGROPECUÁRIA 45.044,00 6.256,11 62,56

VA/UTF 23.350,00 3.243,06 32,43

RA/ UTF 22.522,00 3.128,06 31,28

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

A PB foi de R$ 72.000,00, para isso foram consumidos R$ 24.000,00, ou seja, 33,33%

da produção em insumos intermediários. Apresentando assim, um baixo custo em insumos,

possibilitando uma maior sobra. O VA de R$ 46.700,00 representa a capacidade de geração

de valor para a sociedade, representando um percentual de 65,9% do PB.

A unidade de produção possui um valor de depreciação calculado em R$ 1.300,00 o

que reflete sua influencia no resultado do VA, isto significa também que a unidade de

produção tem um baixo valor de imobilizado, sendo, que a depreciação calculada apenas sob

o barracão e as máquinas. A Renda Agropecuária representa a sobra da produção para o

agricultor. A RA representa 63,6% do Produção Bruta. Anualmente por UTF a unidade de

produção gerou uma RA de R$ 22.522,00, valor que corresponde efetivamente para o NRS do

agricultor. Na coluna VALOR/HA a produção por hectare ficou em R$ 10.000,00. O

Consumo Intermediário por hectare foi de R$ 3.333,33. O Valor Agregado bruto por hectare

foi de R$ 6.666,67. O Valor Agregado por UTF, por hectare foi de R$ 3.243,06 e a Renda

Agropecuária por UTF por hectare foi de R$ 3.128,06.

O Nível de Reprodução Social considerado é resultado da multiplicação de 13 salários

mínimo nacional vigente em 2016, R$ 880,00 (oitocentos e oitenta reais) resultando em R$

11.440,00 (onze mil quatrocentos e quarenta). O NRS é mantido pela Renda Agropecuária.

O Quadro 4 mostra os valores da Renda Agropecuária por pessoa.

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Quadro 4- Nível de Reprodução Social UPA1

NRS RA RA/UTF

11.440,00 45.044,00 22.522,00

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

A unidade de produção em 2016 apresentou uma RA/UTF de R$ 22.522,00, sendo

superior ao valor estabelecido para análise da reprodução social do agricultor que foi de R$

11.440,00 sendo assim, RA/UTF>NRS. Em 7,2 hectares é possível com a atual tecnologia de

produção de leite proporcionar uma renda e uma remuneração para o agricultor acima dos

salários estabelecidos no mercado, com o custo oportunidade do trabalho mais atrativo que os

oferecidos nas cidades. A atividade gera uma Renda Agropecuária que permite ao agricultor

alcançar o Nível de Reprodução Social estabelecido na pesquisa. Assim, ao estudar a

tecnologia de produção aplicada na unidade de produção pode-se assegurar que a reprodução

social na agricultura é possível com tecnologias adequadas e que promovam a

sustentabilidade social e econômica dos agricultores.

4.2.1.1 Análise Ambiental UPA 1

A sustentabilidade ambiental nas unidades de produção agrícolas é um dos desafios da

Agroecologia, sendo importante diagnosticar a utilização de produtos químicos como,

agrotóxicos e uso de práticas ambientais que não pertencem as práticas utilizadas na produção

Agroecológica. Deste modo, na Agroecologia o principal foco é a redução do uso e

posteriormente a eliminação dos agrotóxicos na produção de alimentos, optando por

implementar mudanças de manejo que garantam adequada nutrição e de proteção da plantas,

por meio de fontes orgânicas de nutrientes e um manejo integrado de pragas (ALTIERI,

2012).

Os agricultores adotam práticas de manejo das culturas e animais conforme seu

conhecimento e relação com as culturas, por influência de técnicos, cooperativas, empresas

agrícolas e assim passam a empregar tais técnicas na busca por obter os melhores resultados

produtivos. Diante disso, a pesquisa buscou, através de questões semiestruturadas conhecer as

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práticas e as técnicas em relação a disponibilidade de água e sombra nos piquetes, à produção

de milho para silagem, o uso de sementes transgênicas, o manejo e controle das ervas

daminhas nas pastagens, o controle de parasitas, a fertilização das pastagens, a perca de solo

por erosão, as áreas de proteção permanente e reserva legal. O Quadro 5 demonstra o uso

dessas técnicas.

Quadro 5 - Práticas Agroecológicas UPA 1

QUESTÃO PRÁTICA

AGROECOLÓGICA RESPOSTA

Existe água disponível em bebedouros nos piquetes? Sim Sim

Existe sombra nos piquetes para os animais? Sim Sim

Utiliza agrotóxicos nas pastagens para controle de ervas daninhas? Não Não

Utiliza agrotóxicos para a produção de milho para a silagem? Não Sim

Utiliza sementes transgênicas na produção de milho para a silagem? Não Sim

O controle de verminoses e outros parasitas é realizado com medicamentos industriais? Não Não

Ocorre adubação com ureia e outros fertilizantes nas pastagens? Não Não

Existem área de preservação permanente e reserva legal na propriedade?

Sim Sim

Existe proteção de nascentes na propriedade? Sim Sim

Ocorre erosão de solo nas áreas de pastagens? Não Não

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

Para analisar as respostas foram estabelecidos pelo pesquisador parâmetros que

verificam o quanto a propriedade está utilizando de tecnologias sustentáveis e mais próxima

da Agroecologia a propriedade se encontra. As questões estão baseadas em Práticas

Agroecológicas, dependendo da resposta obtida pode-se encontrar uma prática de acordo com

a Agroecologia ou uma prática que não diz respeito a mesma. Assim, foram estabelecidos

percentuais em função da quantidade de respostas obtidas em relação às Práticas

Agroecológicas ou não Agroecológicas. Para um nível de resposta onde até 30% das respostas

estejam de acordo com as Práticas Agroecológicas temos uma situação para os parâmetros

estabelecidos que a unidade de produção encontra-se em uma condição Agroecológicaruim.

Com respostas de acordo com as Práticas Agroecológicas acima de 30% até 70% a unidade de

produção encontra-se em uma condição regular. E, por fim, com respostas de acordo com as

Práticas Agroecológicas de 70% a 100% a propriedade está em uma boa situação

Agroecológica.

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Na propriedade referenciada, observamos que a maioria das respostas estão de acordo

com as Práticas Agroecológicas, exceto, o uso de agrotóxicos no controle de ervas daninhas

na produção de milho para silagem. As sementes utilizadas na produção de milho para

silagem, são sementes transgênicas, não sendo considerada Prática Agroecológica.

Gráfico 1 -Percentual de Práticas Agroecológicas UPA 1

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

O Gráfico 1 demonstra que do total das questões respondidas pelo agricultor sobre as

Práticas Agroecológicas, 80% das respostas estão de acordo com as mesmas e 20% das

respostas estão em desacordo com as Práticas Agroecológicas.

Assim, segundo os critérios metodológicos a propriedade tem uma boa situação de

sustentabilidade ambiental.

4.2.2 Unidade de Produção 2

A Unidade de Produção 2, localiza-se no assentamento Ireno Alves dos Santos, na

Comunidade Nossa Senhora Aparecida, no município de Rio Bonito do Iguaçu, o acesso à

terra foi através da Reforma Agrária. A família foi acampada e posteriormente assentada pelo

80%

20%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Práticas Agroecológicas Práticas Não Agroecológicas

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INCRA. A implementação do sistema de produção Pastoreio Racional Voisin (PRV) foi entre

2013 e 2014 com assistência técnica do CEAGRO e da Cooperativa de Prestação de Serviços

(COOPERIGUAÇU). Segundo o agricultor a opção pela produção de leite em PRV foi devido

a problemas de saúde ocasionados pela intoxicação por agrotóxicos. Para ele o PRV

proporcionou o aumento do número de animais por hectare, implementação da tecnologia

com baixo custo, melhora na sanidade animal, além de contribuir na melhoria do bem estar da

família e na saúde da família. Ainda segundo o agricultor não pretende abandonar a

tecnologia e sim buscar maior conhecimento sobre as práticas e técnicas devido a obtenção de

resultados econômicos positivos.

O desempenho do trabalho na produção de leite é realizado por duas pessoas,

utilizando entre ordenha, manejo dos animais, 2 horas diárias por pessoa não ocorrendo a

contratação de terceiros para o desempenho do trabalho. A área total da unidade de produção

é de 16 hectares, sendo destinados 4 hectares divididos em 60 destinados para o PRV. A

média de vacas em lactação no ano de 2016 foi de 8 vacas, contando com um rebanho entre

25 e 26 animais. Mesmo ocorrendo à venda de bezerros e novilhas a produção de leite é a

principal atividade econômica na unidade de produção.

Dentro da análise econômica da produção de leite é possível evidenciar o Valor

Agregado Bruto, o VA depois da depreciação e a Renda Agropecuária, possibilitando

encontrar o Valor Agregado por Unidade de Trabalho Familiar e a Renda Agropecuária por

Unidade de Trabalho Familiar.

O Quadro 6 revela os valores obtidos na pesquisa de campo podendo, desta maneira,

analisar se o agricultor atinge ou não o Nível de Reprodução Social.

Quadro 6 - Análise Econômica Produção de Leite UPA 2

Análise Econômica Prod. De Leite 4 SAU=4 2

ITENS – ANUAL VALORES VALOR/ HA % PB

PRODUÇÃO BRUTA 30.000,00 7.500,00 100

(-) CONSUMO INTERMEDIÁRIO 6.600,00 1.650,00 22,00

(=)VALOR AGREGADO BRUTO 23.400,00 5.850,00 78,00

(-) DEPRECIAÇÃO PROPORCIONAL 570,00 142,50 1,90

(=) VALOR AGREGADO 22.830,00 5.707,50 76,10

(-) FUNRURAL 690,00 172,50 2,30

(=) RENDA AGROPECUÁRIA 22.140,00 5.535,00 73,80

VA/UTF 11.415,00 2.853,75 38,05

RA/ UTF 11.070,00 2.767,50 36,90 Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

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A Produção Bruta foi de R$ 30.000,00 anual, produzindo por hectare de pastagens um

valor de R$ 7.5000,00. No Consumo Intermediário foram considerados itens como a semente

para as pastagens, os produtos homeopáticos para tratamento dos animais, o sal mineral

fornecido aos animais. Tais itens de consumo somaram R$ 6.600,00 o que representou 22%

da Produção Bruta consumida no processo de produção.

O Valor Agregado Bruto foi de 78% da produção, o que representa que a unidade de

produção depende de poucos ou baixo uso de insumos externos para produzir leite. Deste

modo, o Valor Agregado Bruto foi de R$ 23.400,00. A depreciação foi considerada

proporcionalmente, isto é, calculada apenas sobre as estruturas e máquinas utilizadas

diretamente na produção de leite. Os bens dividem-se em um barracão, um resfriador e uma

máquina de ordenha. O barracão foi avaliado em R$ 8.000,00 e a máquinas e equipamentos

em R$ 2.500,00. Sobre o barracão foi aplicado uma taxa de depreciação de 4% ao ano e para

as máquinas e equipamentos uma taxa de depreciação de 10% ao ano. A depreciação total

somou R$ 570,00.

O Valor Agregado representa a geração de riqueza pelo consumo dos meios de

produção, pela força de trabalho utilizada, sendo o conjunto dos fatores, trabalho e meios de

produção, surge um novo produto. No caso da unidade de produção referenciada foi de R$

22.830,00. De todos os itens de consumo utilizados na produção o Valor Agregado em termos

percentuais representou 76,1% da Produção Bruta.

O Valor Agregado por Unidade de Trabalho Familiar foi de R$ 11.415,00, antes do

desconto do FUNRURAL, apresentando um percentual em relação a Produção Bruta de

38,05%, isto é, cada trabalhador familiar teve uma geração de riqueza de 38,05% em relação a

PB. O cálculo da Renda Agropecuária demonstra o Nível de Reprodução Social, já

descontados os impostos e juros, neste caso, apenas considerado como imposto o

FUNRURAL no valor de R$ 690,00, atingindo uma RA de R$ 22.140,00. O Quadro 7

apresenta os valores da Renda Agropecuária, do NRS, da RA/UTF.

Quadro 7 - Nível de Reprodução Social UPA 2

NRS RA RA/UTF

11.440,00 22.140,00 11.070,00

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

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O valor da Renda Agropecuária para atingir o NRS estabelecido nesta pesquisa foi de

R$ 11.440,00. No cálculo da RA/UTF o valor obtido foi de R$ 11.070,00, assim, a relação

RA/UTF<NRS, ou seja, não alcançando o NRS necessário para a família. É importante

ressaltar que a apesar de não atingir o limite estabelecido para o NRS, a diferença entre o

valor alcançado entre o RA e o NRS foi pequeno, apenas de R$ 370,00 no ano.

4.2.2.1 Análise Ambiental UPA 2

A análise ambiental da unidade de produção 2 realizou um levantamento através de

uma entrevista semiestruturada sobre as Práticas Agroecológicas desenvolvidas.

O Quadro 8 sistematiza as questões e as respostas do agricultor pesquisado.

Quadro 8- Práticas Agroecológicas UPA 2

QUESTÃO PRÁTICA

AGROECOLÓGICA RESPOSTA

Existe água disponível em bebedouros nos piquetes? Sim Sim

Existe sombra nos piquetes para os animais? Sim Sim

Utiliza agrotóxicos nas pastagens para controle de ervas daninhas? Não Não

Utiliza agrotóxicos para a produção de milho para a silagem? Não Não

Utiliza sementes transgênicas na produção de milho para a silagem? Não Não

O controle de verminoses e outros parasitas é realizado com medicamentos industriais?

Não Não

Ocorre adubação com ureia e outros fertilizantes nas pastagens? Não Não

Existem área de preservação permanente e reserva legal na propriedade?

Sim Sim

Existe proteção de nascentes na propriedade? Sim Sim

Ocorre erosão de solo nas áreas de pastagens? Não Não

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

As respostas que estão de acordo com as Práticas Agroecológicas e as práticas não

Agroecológicas permitem dimensionar o quanto a unidade de produção está próxima da

produção Agroecológica de leite, ou seja, produção de leite livre da contaminação de

agrotóxicos, produtos químicos ou medicamentos. É necessário avaliar a perda de solos por

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erosão, proveniente na maioria dos casos na agricultura devido ao manejo dos solos e a

exposição a chuva. Essa perda de solo acarreta na perda de fertilidade e também na

contaminação de rios e lagos. Outro fator importante na sustentabilidade é a proteção das

nascentes de água e das áreas de reserva permanente, no sentido de preservar os cursos de

água, evitar a erosão de solo.

Deste modo, o Quadro 8 da Unidade de Produção 2 não identificou nenhuma resposta

que não esteja de acordo com as Práticas Agroecológicas. Na propriedade não são utilizados

agrotóxicos, sementes transgênicas ou adubação química, o não emprego desses produtos

pode ser motivado pelo fato que o agricultor a alguns anos sofreu contaminação por

agrotóxicos tendo problemas com saúde, por isso, fez a opção de não fazer uso de tais

produtos químicos que possam vim a prejudicar a saúde e contaminar o meio ambiente.

Quanto ao bem estar e a sanidade animal, todas as 60 parcelas tem água disponível em

bebedouros móveis. A disponibilidade de água é importante para o bem estar animal e para a

produção de leite, pois a água de qualidade e disponível evita o desgaste energético no

deslocamento dos animais. A restrição de consumo de água em vacas leiteiras tem

consequências negativas direto na lactação. Existem sombras com árvores nos piquetes, mas

devido à necessidade dos animais estão sendo plantadas mais árvores. O controle de

verminoses, carrapatos e outros parasitas são realizados através de medicamentos

homeopáticos que não afeta ou interrompe a produção de leite.

O controle das ervas daninhas e invasoras nas pastagens são realizadas com roçadas

quando necessário não sendo utilizado agrotóxico para o controle de plantas invasoras. A

adubação das pastagens não é realizada com ureia ou fertilizantes de síntese química

industrial. O único processo de adubação que ocorreu em 2016 foi o espalhamento de adubo

de aviário nos piquetes para incrementar matéria orgânica e melhorar a fertilidade.

O Gráfico 2, demonstra que o total das respostas representam 100% de Práticas

Agroecológicas desenvolvidas na unidade de produção, ou seja, desempenha a produção de

leite com base em tecnologias sustentáveis, dependendo do baixo uso de insumos externos.

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Gráfico 2 -Percentual de Práticas Agroecológicas UPA 2

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

Desta forma, seguindo os critérios metodológicos de análise da pesquisa a unidade de

produção respondeu todas as questões, ou 100% das questões, de acordo com as Práticas

Agroecológicas, encontrando-se em uma boa condição Agroecológica, ambiental e de

sustentabilidade.

4.2.3 Unidade de Produção 3

A Unidade de Produção 3 localiza-se na Comunidade Nova Conquista, Assentamento

Ireno Alves dos Santos, município de Rio Bonito do Iguaçu- PR. O Agricultor iniciou sua

experiência com o Pastoreio Racional Voisin (PRV) entre 2006 e 2007 com trabalhos dos

técnicos do CEAGRO. Para o mesmo o PRV facilitou o manejo e o aumento do número de

animais por área. Segundo o agricultor depois de alguns anos de implantação do PRV, com o

aumento da produtividade por hectare e da renda obtida com a produção de leite foi possível

pagar dívidas bancárias e ainda fazer uma pequena poupança. Atualmente a produção de leite

é a principal atividade econômica da família.

O acesso à terra foi através da Reforma Agrária, a família foi acampada e

posteriormente assentada. A área total da propriedade é de 15.7 hectares, destinada para

100%

0% 0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Práticas Agroecológicas Práticas Não Agroecológicas

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74

piquetes e pastagens de 4,8 hectares divididos em 46 piquetes. Segundo o agricultor duas

pessoas são responsáveis para trabalhar na produção de leite destinando 2 horas pessoa/dia

com a atividade. As unidades de produção familiar têm uma característica que trata-se da não

contratação de mão de obra assalariada o que não foi diferente na unidade de produção

entrevistada. O número de vacas em lactação em 2016 foi em média de 12 animais. O PRV

tem suas orientações técnicas para serem seguidas com o objetivo de alcançar a melhor

efetividade produtiva, ambiental e econômica, deste modo, quando o agricultor foi

questionado se segue as orientações técnicas, ele respondeu que sim e reconhece a

importância de implementar a tecnologia de acordo com as orientações dos técnicos. O último

acompanhamento técnico foi realizado pelos técnicos de campo do CEAGRO em 2016.

Através da pesquisa e do levantamento de dados de campo é possível diagnosticar o

Nível de Reprodução Social da família medido pelo resultado da Renda Agropecuária. Antes

de chegar a RA, foi necessário conhecer a Produção Bruta, o Consumo Intermediário para

chegar ao resultado do Valor Agregado Bruto, subtraindo o Valor da Depreciação foi

evidenciado o Valor Agregado. Deduzindo os impostos e juros, neste caso, apenas o

FUNRURAL, foi possível alcançar o valor da Renda Agropecuária. O Quadro 9 traz os

valores calculados.

Quadro 9- Análise Econômica da Produção Leite UPA 3

Análise Econômica Prod. De Leite 4,8 SAU=4.8 2

ITENS – ANUAL VALORES VALOR/HA % PB

PRODUÇÃO BRUTA 42.000,00 8.750,00 100

(-) CONSUMO INTERMEDIÁRIO 7.200,00 1.500,00 17%

(=)VALOR AGREGADO BRUTO 34.800,00 7.250,00 83%

(-) DEPRECIAÇÃO PROPORCIONAL 930,00 193,75 2%

(=) VALOR AGREGADO 33.870,00 7.056,25 81%

(-) FUNRURAL 966,00 201,25 2%

(=) RENDA AGROPECUÁRIA 32.904,00 6.855,00 78%

VA/UTF 16.935,00 3.528,13 40%

RA/ UTF 16.452,00 3.427,50 39%

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

A Produção Bruta em 2016 ficou em R$ 42.000,00 com uma área de pastagens de 4,8

hectares. O Consumo Intermediário, foi de R$ 7.200,00, esse baixo valor justifica-se que o

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75

agricultor produz leite apenas a base de pasto, não utilizando silagem ou qualquer outro tipo

de suplementação alimentar para os animais. O tratamento de doenças e parasitas nos animais

é realizado com medicamentos homeopáticos que tem baixo custo de aquisição. Assim, os

insumos transformados no processo produtivo do leite, que por sua vez acabam compondo o

custo por litro de leite, são poucos utilizados ou então não utilizados nesta unidade de

produção. Deste modo, o Consumo Intermediário representou apenas 17% da Produção Bruta.

Sendo o resultado obtido com o Valor Agregado Bruto foi de R$ 34.800,00, representando

83% da PB.

A depreciação foi calculada com base nos bens envolvidos diretamente no processo

produtivo sendo: um conjunto de ordenhadeira, um resfriador agranel e a sala de ordenha. A

ordenhadeira e o resfriador foram avaliados em R$ 4.000,00, aplicando uma alíquota anual de

depreciação de 10%, gerando uma depreciação mensal de R$ 450,00. A sala de ordenha foi

avaliada em R$ 12.000,00 com uma alíquota de depreciação anual de 4%, gerando uma

despesa de R$ 480,00. Somando as depreciações chegamos ao valor total de R$ 930,00.

Como é observado o baixo valor com a depreciação a unidade de produção não é altamente

tecnificada o que acaba contribuindo com um resultado maior no cálculo do Valor Agregado.

O resultado do Valor Agregado que é a capacidade de geração de valores através dos meios

de produção foi de R$ 33.870,00. O Valor Agregado por Unidade de Trabalho Familiar foi de

16.935,00, o que representou 40% da PB.A coluna Valor/Hectare mostra a Produção Bruta

por hectare que neste caso atingiu um valor de R$ 8.750,00. O CI por hectare foi de R$

1.500,00, relativamente um consumo baixo em relação a produção obtida. O Valor Agregado

Bruto por hectare foi de R$ 7.250,00.

Para calcular a Renda Agropecuária foi necessário calcular o valor do FUNRURAL

incidente sobre a PB. A alíquota do mesmo é de 2,3% o que anualmente resultou em um valor

de R$ 966,00. Deduzido o FUNRURAL a Renda Agropecuária foi de R$ 32.904,00. O

percentual da RA sobre Produção Bruta representou 78% contribuindo significativamente

para a capacidade de reprodução social da unidade de produção. O resultado da Renda

Agropecuária permite avaliar se a produção de leite contribui de modo efetivo para a

reprodução social da família, sendo que cada trabalhador recebeu efetivamente R$ 16.452,00,

ilustrado no Quadro 10.

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76

Quadro 10 - Nível de Reprodução Social UPA 3

NRS RA RA/UTF

R$ 11.440,00 R$ 32.904,00 R$ 16.452,00

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

Para atingir o Nível de Reprodução Social a unidade precisa obter uma renda superior

a R$ 11.440,00/ano. A RA total foi de R$ 32.904,00, que quando dividida entre os dois

trabalhadores da unidade de produção ficou em R$ 16.452,00, ou 39% da Produção Bruta.

Assim, significa dizer que a atividade de produção de leite é capaz degerar uma renda

superior ao NRS, ou então podemos dizer que a unidade de produção alcança um NRS

positivo (RA/UTF>NRS).

A produção de leite a base de pasto devido ao baixo uso de insumos pode ser

considerado o leite com menor custo unitário em relação aos demais sistemas produtivos, o

que resulta em uma maior sobra para o agricultor. Em linhas gerais o método PRV, preconiza

uma produção com o mínimo de fertilizantesde síntese química industrial e defensivos

sintéticos favorecendo assim baixos custos com as questões ambientais e econômicas.

4.2.3.1 Análise Ambiental UPA 3

A análise ambiental da unidade de produção 3 ocorre atravésde questões relacionadas

com Práticas Agroecológicas. A referida unidade de produção que trabalha com a tecnologia

de produção de Leite Pastoreio Racional Voisin, respeita as dimensões da Agroecologia em

seu manejo dos recursos naturais. As questões sobre as Práticas Agroecológicas elucidam a

situação ambiental.

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77

Quadro 11- Práticas Agroecológicas UPA 3

QUESTÃO PRÁTICA

AGROECOLÓGICA RESPOSTA

Existe água disponível em bebedouros nos piquetes? Sim Sim

Existe sombra nos piquetes para os animais? Sim Sim

Utiliza agrotóxicos nas pastagens para controle de ervas daninhas? Não Não

Utiliza agrotóxicos para a produção de milho para a silagem? Não Não

Utiliza sementes transgênicas na produção de milho para a silagem? Não Não

O controle de verminoses e outros parasitas é realizado com medicamentos industriais? Não Não

Ocorre adubação com ureia e outros fertilizantes nas pastagens? Não Não

Existem área de preservação permanente e reserva legal na propriedade?

Sim Sim

Existe proteção de nascentes na propriedade? Sim Sim

Ocorre erosão de solo nas áreas de pastagens? Não Não

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

O agricultor trabalha com práticas de manejo agrícola, que estão de acordo com as

Práticas Agroecológicas. A análise da situação ambiental da unidade de produção ocorre pela

quantidade de respostasAgroecológicas e respostas não Agroecológicas, ou seja, conforme os

percentuais citados na metodologia.

Quanto à importância da disponibilidade de água nos piquetes esta é uma condição de

bem estar animal e também uma condução que traz melhores resultados econômicos para o

agricultor, pois a disponibilidade de água em bebedouros fornece água de maior qualidade

para os animais e evita o deslocamento dos mesmos para outras áreas. A presença de sombra

nos piquetes possibilita uma menor perda de água pelo efeito do sol nas pastagens além do

bem estar animal.

Como já mencionado anteriormente, os problemas de erosão de solo são

característicos da agricultura convencional e trazem problemas ambientais e financeiros para

o agricultor. Na propriedade não ocorre erosão de solos, pois existe cobertura vegetal em

todas as áreas, e além disso os solos não são revolvidos ou arados.

As áreas de preservação permanente e reserva legal permitem proteger nascentes de

água, córregos e rios da erosão, do desmatamento sendo uma condição para a sustentabilidade

ambiental das unidades de produção. A importância de tais reservas inclusive é assegurada em

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78

lei específica que prevê sanções caso essas áreas não sejam respeitadas. Na unidade de

produção todas as reservas são respeitadas e melhoradas ao passo que o agricultor introduz

novas espécies arbóreas para compor a mata.

Gráfico 3 - Percentual de Práticas Agroecológicas UPA 3

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

O Gráfico 3 demonstra o percentual de respostas Agroecológicas e não

Agroecológicas. Conforme o gráfico a unidade de produção atingiu 100% das respostas

Agroecológicas, estando assim, em boa condição de sustentabilidade ambiental

4.2.4 Unidade de Produção 4

Na Comunidade Arapongas, assentamento Ireno Alves dos Santos no município de

Rio Bonito do Iguaçu- PR localiza-se a Unidade de Produção 4, que trabalha com a tecnologia

PRV e preconiza a produção de alimentos limpos e livres de agrotóxicos, por esse motivo

vem buscando a produção de leite agroecológico através de técnicas que preservem o meio

ambiente e garantem a sustentabilidade econômica. Um dos integrantes da família é tecnólogo

em produção de leite agroecológico pela Universidade Federal da Fronteira Sul(UFFS), o que

100%

- -

10.00

20.00

30.00

40.00

50.00

60.00

70.00

80.00

90.00

100.00

Práticas Agroecologicas Práticas não Agroecologicas

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79

contribuiu para a escolha da tecnologia do PRV. Além disso, segundo o agricultor é uma

orientação das linhas políticas do MST em trabalhar a produção Agroecológica, com

características pedagógicas no sentido de ajudar no desenvolvimento de novas tecnologias e

disseminação da Agroecologia entre os agricultores assentados. O projeto de PRV não foi

implementado em um único momento, foi entre os anos de 2005 e 2006 com apoio dos

técnicos do CEAGRO.

Atualmente o manejo dos animais é realizado com dois lotes, sendo um de desnate que

é aquele lote onde primeiro entram nos piquetes as vacas em lactação para pastorear o melhor

pasto, e o lote de repasse é aquele com as novilhas e vacas que não estão em lactação. Os

animais passam o dia todo no piquete sendo retirados apenas para a ordenha. Os piquetes

dispõe de água em bebedouros, mas não dispõe de sombra para proporcionar o bem estar

animal. Sempre é observado o ponto ótimo de repouso dos pastos e correto manejo dos

animais, procurando seguir os preceitos técnicos do PRV.

Segundo o agricultor com a implementação da tecnologia foi possível diminuir o

tempo com manejo dos animais, aumentar o número de animais por área e produção de leite

por hectare, sobrando mais tempo para realizar outras atividades dentro da unidade de

produção. Além disso, foi possível alcançar uma maior lucratividade com a implementação da

tecnologia proporcionando maior bem estar da família. A unidade de produção não possui

acompanhamento técnico. A área total é de 12 hectares, sendo destinado para a produção de

leite 7 hectares com um total de 80 piquetes que dispõe de água e sombra para os animais. O

trabalho é realizado por duas pessoas que destinam cerca de quatro horas diárias por pessoa.

Na unidade de produção não ocorre a contratação de mão de obra assalariada para realização

dos trabalhos e a atividade de leite é a principal atividade econômica.

A implementação do PRV proporciona benefícios ambientas e sociais, e no âmbito

econômico possibilita uma renda que sustente a família no campo. Nesta pesquisa, avaliamos

a capacidade da tecnologia proporcionar essa permanência do agricultor no campo pelo Nível

de Reprodução Social que é o resultado da Renda Agropecuária dividido pelo número de

adultos na família envolvidos na produção de leite.

No Quadro 12 é possível observar o resumo da análise econômica da produção de leite

utilizando a metodologia do Valor Agregado e a Renda Agropecuária. O objetivo do NRS é

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avaliar a capacidade de geração de riqueza para a sociedade e a viabilidade econômica da

produção de leite.

Quadro 12- Análise Econômica da Produção de Leite UPA 4

Análise Econômica Prod. De Leite 7 SAU=7 2

ITENS – ANUAL VALORES VALOR/ HA % PB

PRODUÇÃO BRUTA 60.000,00 8.571,43 100

(-) CONSUMO INTERMEDIÁRIO 18.000,00 2.571,43 30%

(=)VALOR AGREGADO BRUTO 42.000,00 6.000,00 70%

(-) DEPRECIAÇÃO PROPORCIONAL 1.280,00 182,86 2%

(=) VALOR AGREGADO 40.720,00 5.817,14 68%

(-) FUNRURAL 1.380,00 197,14 2%

(=) RENDA AGROPECUÁRIA 39.340,00 5.620,00 66%

VA/UTF 20.360,00 2.908,57 34%

RA/ UTF 19.670,00 2.810,00 33%

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

Para a Produção Bruta de R$ 60.000,00 foram utilizados recursos intermediários na

proporção de 30% da PB, ou em valor monetário de R$ 18.000,00. A depreciação foi

calculada sobre o valor de máquinas e implementos no valor de R$ 8.000,00 que gerou uma

depreciação anual de R$ 800,00 e a sala de ordenha no valor de R$ 12.000,00 com uma

depreciação de R$ 480,00, o total da depreciação representa 2% da Produção Bruta. Neste

período de pesquisa a unidade de produção produziu uma riqueza de R$ 40.720,00.

Subtraindo o FUNRURAL de 2,3% do PB, chega-se a Renda Agropecuária de R$ 39.340,00.

Dos 7 hectares de pastagens obteve-se uma Produção Bruta por hectare de R$

8.571,43, tendo uma despesa (CI) de R$ 2.571,43 por hectare. A RA por hectare foi de R$

5.620,00, representando a riqueza gerada pela unidade de produção.

A partir da análise dos dados alcançados na Renda Agropecuária podemos verificar a

capacidade de reprodução social da unidade de produção conforme o Quadro 13, observando

o parâmetro estabelecido de R$ 11.440,00/ano.

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Quadro 13- Nível de Reprodução Social UPA 4

NRS RA RA/UTF

11.440,00 39.340,00 19.670,00

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

A unidade de produção em 7 hectares consegue gerar uma Renda Agropecuária

positiva em R$ 39.340,00 nas condições atuais de produção. Para cada UTF foi gerada uma

renda de R$ 19.670,00, superando o NRS estabelecido nesta pesquisa. Salientamos que cada

trabalhador é capaz de gerar um Valor Agregado por hectare de R$ 2.908,57.

4.2.4.1 Análise Ambiental UPA 4

Existe uma grande quantidade de práticas e tecnologias disponíveis que tratam da

produção Agroecológica como a tecnologia de produção de leite do Pastoreio Racional

Voisin. As Práticas Agroecológicas estão definidas nesta pesquisa como questão chave para

analisar a situação ambiental da unidade de produção em relação à produção de leite. O

Quadro 14 retrata as questões referentes àsPráticas Agroecológicas.

Quadro 14- Práticas Agroecológicas UPA 4

QUESTÃO PRÁTICA AGROECOLÓGICA

RESPOSTA

Existe água disponível em bebedouros nos piquetes? Sim Sim

Existe sombra nos piquetes para os animais? Sim Não

Utiliza agrotóxicos nas pastagens para controle de ervas daninhas? Não Não

Utiliza agrotóxicos para a produção de milho para a silagem? Não Não

Utiliza sementes transgênicas na produção de milho para a silagem? Não Não

O controle de verminoses e outros parasitas é realizado com medicamentos industriais?

Não Não

Ocorre adubação com ureia e outros fertilizantes nas pastagens? Não Não

Existem área de preservação permanente e reserva legal na propriedade? Sim Sim

Existe proteção de nascentes na propriedade? Sim Sim

Ocorre erosão de solo nas áreas de pastagens? Não Sim

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

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82

O agricultor vem buscando trabalhar com as práticas de Agroecologia na unidade de

produção, devido a essa opção não são utilizados agrotóxicos no controle de ervas daninhas

nas pastagens, neste caso é realizado roçada mecanizada nos piquetes. Na produção de milho

para silagem é realizado capina entre as leiras de milho para controle das invasoras. A

semente para a produção do cereal é de origem crioula não utilizando sementes transgênicas

no plantio. A adubação das pastagens é feita com cama de viário uma vez ao ano, no sentido

de contribuir na melhoria da fertilidade do solo.

No processo de pesquisa foi identificado que existe água disponível em todos os

piquetes, no entanto, ainda carece de sombra para os animais, que no caso da tecnologia do

PRV a sombra é fator de importância pois traz benefícios de controle térmico para os animais,

para os pastos e para o solo, limitando o desconforto produzido pela grande amplitude térmica

gerada no verão, e no inverno pela ocorrência dos ventos frios (MACHADO, 2013).

A reserva legal no assentamento fica em uma área comum para todos os assentados. A

área de preservação permanente é respeitada, tendo em vista que dentro da unidade de

produção passa um pequeno córrego devidamente protegido por vegetação.

O controle de verminoses e parasitas externos dos animais é realizado com tratamentos

homeopáticos e com técnicas de prevenção sanitária principalmente na prevenção da mastite.

Os medicamentos homeopáticos na Agroecologia são aceitos como naturais, pois são

derivados de plantas, animais ou minerais, neste caso, não passa por transformação industrial

ou adição de outras substâncias industriais, mas sim por uma técnica de dinamização

(ANVISA, 2017).

A existência de erosão ainda é um problema nos terrenos de pastagens, sendo um

ponto negativo nos aspectos agroecológicos, pois a mesma causa a perda de solo e seu

consequente destino no assoreamento de rios e lagos. Analisando as Práticas Agroecológicas

desempenhadas pelo agricultor e as suas respectivas respostas são possíveis estabelecer

conforme descrito no Gráfico 4 a situação ambiental da unidade de produção.

Gráfico 4 -Percentual de Práticas Agroecológicas UPA 4

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Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

Segundo o Gráfico 4, 20% das repostas não estão vinculas a Práticas Agroecológicas,

tal percentual diz respeito a duas respostas negativas, sendo a existência da erosão e a falta de

sobra nos piquetes. As demais respostas confirmam Práticas Agroecológicas diagnosticando

um percentual de 80%. Conclui-se então, que as Práticas Agroecológicas estabelecem um

nível ambiental considerado, nesta pesquisabom. É importante salientar que o agricultor vem

buscando implementar árvores nativas nos piquetes para proporcionar sombra aos animais

cumprindo um requisito proposto pela tecnologia do PRV.

4.2.5 Unidade de Produção 5

A Unidade de Produção 5 possui características de agricultura familiar, onde

trabalham na produção de leite duas pessoas, sem contratação de mão de obra assalariada,

pois a família trabalha na atividade de produção de leite, tendo nesta, a sua principal fonte de

renda. A opção pela tecnologia de produção de leite Balde Cheio iniciou-se com a associação

de agricultores e a Cooperativa COOPERIDEAL, que prestou assistência para a

implementação, desenvolvimento e acompanhamento da produção. Posteriormente, foi

firmada uma parceria entre Cooperativa, prefeitura municipal e agricultores. A prefeitura

subsidiava 70% do valor pago para a cooperativa e o agricultor pagava 30%. O início do

projeto foi em 2006. Antes do projeto não eram realizados anotações dos gastos, realização de

80%

20%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Práticas Agroecológicas Práticas Não Agroecológicas

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84

cálculo de custo de produção, com o início do projeto e as devidas anotações econômicas foi

constatado que a produção de leite não era economicamente viável do modo que vinha sendo

praticada.

A implementação da tecnologia não ocorreu em um único momento, o projeto foi

evoluindo com o passar dos anos, sendo incluídos novos investimentos, melhoria das

pastagens, melhoria do rebanho, das estruturas como sala de ordenha, escritório para

anotações e controles zootécnicos.

A propriedade localiza-se no município de Nova Laranjeiras - PR, com 10 anos de

projeto Balde Cheio o agricultor relata que com a implementação da tecnologia obteve

resultados financeiros positivos o que possibilitou melhorar a estrutura produtiva, como

construir uma moderna sala de ordenha, comprar um trator equipado para a produção de

silagem, aquisição de um veículo, além de sobrar recursos para gerar uma poupança para a

família. Para o agricultor a tecnologia só é bem sucedida quando bem implementada e

seguindo orientações dos técnicos que acompanham o desenvolvimento do projeto.

Atualmente, o agricultor paga um técnico extencionista da COOPERIDEAL para seguir

orientando sob os aspectos técnicos e de melhorias na produção de leite. O técnico visita a

unidade de produção geralmente duas vezes no mês e recolhe as planilhas de controle

financeiro e reprodutivo. Além, do técnico da COOPERIDEAL o agricultor paga

mensalmente o acompanhamento de um médico veterinário para inseminações, controle de

parição e outros tratamentos que vierem a ocorrer.

A unidade de produção possui uma área total de 34 hectares, sendo destinados 12,2

hectares para as áreas de pastagens com 122 piquetes. Em 2016 foi produzido 204.265

(duzentos e quatro mil e duzentos e sessenta e cinco) litros de leite com um rebanho de 34

vacas. A produção de leite gera uma renda mensal para o agricultor que possibilita fazer

investimentos, pagar impostos, juros sobre financiamentos e gerar renda para família.

Analisaremos do ponto de vista da Renda Agropecuária a capacidade de reprodução

social desta unidade de produção tendo como principal gerador de renda a produção de leite.

O Quadro 15 evidencia os dados econômicos da produção de leite durante o ano de 2016. A

Produção Bruta foi de R$153.722,52, uma média mensal de R$ 12.810,21. O Consumo

Intermediário representa os insumos consumidos no processo produtivo tais como, ração,

medicamentos, silagem, combustíveis, sementes, fertilizantes, agrotóxicos. Para alcançar essa

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85

produção o CI consumiu 56% da produção bruta, sendo monetariamente um valor de R$

86.084,61 como evidencia o Quadro 15.

Quadro 15- Análise Econômica da Produção Leite UPA 5

Análise Econômica Prod. De Leite 12,2 SAU=12,2 2

ITENS – ANUAL VALORES VALOR/HA % PB

PRODUÇÃO BRUTA 153.722,52 12.600,21 100

(-) CONSUMO INTERMEDIÁRIO 86.084,61 7.056,12 56%

(=)VALOR AGREGADO BRUTO 67.637,91 5.544,09 44%

(-) DEPRECIAÇÃO PROPORCIONAL 18.400,00 1.508,20 12%

(=) VALOR AGREGADO 49.237,91 4.035,89 32%

(-) FUNRURAL 3.535,62 289,80 2%

(=) RENDA AGROPECUÁRIA 45.702,29 3.746,09 30%

VA/UTF 24.618,95 2.017,95 16%

RA/ UTF 22.851,15 1.873,04 15%

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

Após Consumo Intermediário, obteve-se o Valor Agregado bruto de R$ 67.637,91, ou

44% da Produção Bruta. A depreciação foi calculada sobre o valor de um trator avaliado em

R$ 40.000,00, máquinas e equipamentos foram considerados ordenhadeira, resfriador, e a

espinha de peixe da sala de ordenha avaliados também em R$ 40.000,00. O barracão onde os

animais são alimentados também serve para depósito de feno e armazenamento de outros

insumos avaliado em R$ 110.000,00. Deste a depreciação total foi de R$ 18.400,00. As

alíquotas anuais de depreciação foram de: trator 25%, máquinas e equipamentos 10% e

barracão 4%. O Valor Agregado, após a depreciação, que representa a geração de riquezas

para a sociedade representa 32% da produção, ou R$ 49.237,91. Para cada UTF o Valor

Agregado representa R$ 24.618,95.

O FUNRURAL representa a contribuição previdenciária do agricultor, na alíquota de

2,3% incidente sobre o valor da receita bruta da venda do leite, descontada mensalmente em

nota fiscal do produtor. Após o FUNRURAL restou para a família uma renda de R$

45.702,29 e a RA/UTF de R$ 22.851,15. Em percentuais a RA representou 30% da Produção

Bruta. Assim, podemos avaliar a condição de reprodução social da família com base na

rentabilidade da produção de leite em 12,2 hectares.

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86

O Quadro 16 evidencia que nesta pesquisa o NRS é de R$ 11.440,0 que representa 13

salários mínimos de R$ 880,00. A RA foi de 45.702,29 e a RA/UTF foi de R$ 22.851,15

demonstrando que a atividade de produção de leite consegue efetivamente contribuir com um

Nível de Reprodução Social superior ao estabelecido nesta pesquisa, ou seja, RA/UTF> NRS.

Quadro 16- Nível de Reprodução Social UPA 5

NRS RA RA/UTF

R$ 11.440,00 R$ 45.702,29 R$ 22.851,15

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

Com uma RA/UTF de R$ 22.851,15, a família consegue remunerar a sua força de

trabalho de modo significativo, sendo possível melhorar sua a qualidade de vida.

4.2.5.1 Análise Ambiental UPA 5

Na análise de uma agricultura sustentável a questão das práticas agrícolas podem ser

sustentáveis do ponto de vista da Agroecologia ou não. Diante disso, foram identificados pelo

pesquisador alguns indicadores de sustentabilidade em nível local, de unidade de produção,

que perfazem um questionário aplicado na entrevista de campo. Um indicador importante, por

exemplo, é a erosão de solo que tem um grande impacto sobre a sustentabilidade, que no caso

das pastagens afeta a fertilidade do solo, prejudicando assim, o crescimento dos pastos e

afetando diretamente as quantidades de produção de leite.

O Quadro 17 evidencia as Práticas Agroecológicas e não Agroecológicas da UPA 5.

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87

Quadro 17- Práticas Agroecológicas UPA 5

QUESTÃO PRÁTICA AGROECOLÓGICA

RESPOSTA

Existe água disponível em bebedouros nos piquetes? Sim Sim

Existe sombra nos piquetes para os animais? Sim Não

Utiliza agrotóxicos nas pastagens para controle de ervas daninhas? Não Sim

Utiliza agrotóxicos para a produção de milho para a silagem? Não Sim

Utiliza sementes transgênicas na produção de milho para a silagem? Não Sim

O controle de verminoses e outros parasitas é realizado com medicamentos industriais?

Não Sim

Ocorre adubação com ureia e outros fertilizantes nas pastagens? Não Sim

Existem área de preservação permanente e reserva legal na propriedade? Sim Sim

Existe proteção de nascentes na propriedade? Sim Não

Ocorre erosão de solo nas áreas de pastagens? Não Não

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

O uso de agrotóxicos pelo agricultor está presente no controle das ervas daninhas na

produção de milho para a silagem e nas pastagens,o cultivo de milho para a silagem é a partir

de sementes transgênicas. A fertilização das pastagens é realizada com ureia e super

simplestoda vez que é retirado o lote de animais do piquete, essa prática de fertilização das

pastagens é uma das técnicas preconizadas pelo projeto Balde Cheio no sentido de

incrementar a produção das pastagens, proporcionando assim, maior disponibilidade de pastos

para os animais e um crescimento acelerado dos pastos.

O controle das verminoses é realizado com medicamentos industriais sempre que

necessário. As áreas de Reserva Legal e Preservação Permanente são respeitadas e vem sendo

melhoradas pelo agricultor. A proteção de nascentes ainda não existe na unidade de produção,

mas o agricultor entende que é importante para a preservação da água. No que diz respeito a

erosão não foram encontrados sinais nas áreas de pastagens.

O Gráfico 5 mostra a situação de sustentabilidade ambiental da unidade de produção.

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88

Gráfico 5 -Percentual de Práticas Agroecológicas UPA 5

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

Como apresentado no gráfico, apenas 30% das respostas foram de natureza

Agroecológicas, e as demais representando 70% foram de práticas não Agroecológicas,

indicando que a unidade de produção encontra-se em uma condição de sustentabilidade

ambiental ruim, devido as suas práticas agrícolas que comprometem a sustentabilidade futura

do sistema.

4.2.6 Unidade de Produção 6

A Unidade de Produção 6 está localizada no município de Nova Laranjeiras, Estado do

Paraná, próximo a BR 277. A família é composta de quatro pessoas que trabalham na

produção de leite e em outras atividades da propriedade. Atualmente a unidade de produção

exerce três atividades econômicas, a produção de leite, de soja e milho. A tecnologia de

produção de leite utiliza a metodologia do projeto Balde Cheio, a sua implementação ocorreu

através de um contrato firmado entre a prefeitura municipal e a COOPERIDEAL iniciando o

projeto em 2009. A área total da propriedade é de 12 hectares. A área de destinação para as

pastagens é de 4 hectares dividido em 62 piquetes. A contratação de mão obra assalariada não

ocorre para a realização das atividades de produção. A análise econômica considera a

Produção Bruta de leite no ano de 2016 que foi de R$ 78.013,56, com uma produção por

30%

70%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Práticas Agroecológicas Práticas Não Agroecológicas

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89

hectare de R$ 19.503,39. Para ser possível alcançar essa produção o consumo intermediário

foi de R$ 26.655,84, esse valor representou 34% da Produção Bruta. A depreciação equivale a

9% da PB, e demonstra que a unidade de produção não possui grande quantidade de

imobilizados. Os bens avaliados foram um trator no valor de R$ 19.000,00, as máquinas e

equipamentos avaliados em R$ 12.000,00, e a sala de ordenha em R$ 30.000,00. Sendo

calculada anualmente em R$ 7.150,00, conforme evidenciado no Quadro 18.

Quadro 18- Análise Econômica da Produção Leite UPA 6

Análise Econômica Prod. De Leite 4 SAU=4 4

ITENS – ANUAL VALORES VALOR/ HA % PB

PRODUÇÃO BRUTA 78.013,56 19.503,39 100

(-) CONSUMO INTERMEDIÁRIO 26.655,84 6.663,96 34%

(=)VALOR AGREGADO BRUTO 51.357,72 12.839,43 66%

(-) DEPRECIAÇÃO PROPORCIONAL 7.150,00 1.787,50 9%

(=) VALOR AGREGADO 44.207,72 11.051,93 57%

(-) FUNRURAL 1.794,31 448,58 2,3%

(=) RENDA AGROPECUÁRIA 42.413,41 10.603,35 54%

VA/UTF 11.051,93 2.762,98 14%

RA/ UTF 10.603,35 2.650,84 14%

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

O Valor Agregado foi calculado após a depreciação resultando em R$ 44.207,72, ou

57% da Produção Bruta. O FUNRURAL é de R$ 1.794,31. A Renda Agropecuária foi 54%

da Produção Bruta, ou R$ 42.413,41. A VA/UTF foi de R$ 11.051,93 e a RA/UTF foi de R$

10.603,35. Essa situação de produção e de distribuição do Valor Agregado revela uma

capacidade negativa da RA em contribuir com o NRS da unidade de produção. A RA por

pessoa representa 14% da Produção Bruta.

Quadro 19- Nível de Reprodução Social UPA 6

NRS RA RA/UTF

R$ 11.440,00 R$ 42.413,41 R$ 10.603,35

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

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90

O NRS esperado é de R$ 11.440,00, no entanto, observa-se que a RA/UTF foi de R$

10.603,35, ou seja, RA/UTF<NRS. Assim, na condição atual a unidade de produção não

alcança o NRS. Apesar de não alcançar o NRS o valor RA/UTF não foi muito abaixo do NRS

estabelecido.

4.2.6.1 Análise Ambiental UPA 6

Através da entrevista foi possível obter informações sobre as práticas agrícolas

adotadas pelo agricultor, identificando as Práticas Agroecológicas ligadas a sustentabilidade

ambiental e as práticas não Agroecológicas como segue no Quadro 20.

Quadro 20- Práticas Agroecológicas UPA 6

QUESTÃO PRÁTICA

AGROECOLÓGICA RESPOSTA

Existe água disponível em bebedouros nos piquetes? Sim Sim

Existe sombra nos piquetes para os animais? Sim Não

Utiliza agrotóxicos nas pastagens para controle de ervas daninhas? Não Sim

Utiliza agrotóxicos para a produção de milho para a silagem? Não Sim

Utiliza sementes transgênicas na produção de milho para a silagem? Não Sim

O controle de verminoses e outros parasitas é realizado com medicamentos industriais? Não Sim

Ocorre adubação com ureia e outros fertilizantes nas pastagens? Não Sim

Existem área de preservação permanente e reserva legal na propriedade?

Sim Sim

Existe proteção de nascentes na propriedade? Sim Sim

Ocorre erosão de solo nas áreas de pastagens? Não Sim

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

Em todos os piquetes tem distribuição de água, no entanto, faltam as sombras para

proporcionar benefício térmico aos animais nos dias de calor intenso, ou então abrigar nos

dias de inverno dos ventos frios. A utilização de agrotóxicos ocorre na limpa das pastagens e

na produção de milho para silagem,a semente para a mesma é de origem transgênica. O

controle das doenças e parasitas é realizado com medicamentos industriais o que indica

dependência do mercado externo. A fertilização das pastagens é feita com ureia sempre

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91

quando ocorre a retirada dos animais. Quanto a área de preservação permanente é reserva

legal são respeitadas. A erosão ocorre principalmente nas áreas de produção de milho para a

silagem.

O Gráfico 6 aponta o percentual de respostas Agroecológicas e não Agroecológicas.

Gráfico 6 -Percentual de Práticas Agroecológicas UPA 6

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

Conforme demonstra o Gráfico 6 as Práticas Agroecológicas alcançaram o percentual

de 20%, isso devido a existência de água nos piquetes, a preservação das áreas de reserva

legal e permanente e a proteção de fontes. Deste modo, com apenas 20% de respostas

Agroecológicas a unidade de produção encontra-se em uma condição ambiental ruim.

4.2.7 Unidade de Produção 7

A unidade de produção 7 pesquisada é de agricultores familiares que trabalham com

mão de obra familiar em uma propriedade de terra com uma área agrícola total de 26,62

hectares adquiridos por compra. A localização da propriedade é no município de Nova

Laranjeiras, no assentamento Xagu. A família é constituída por quatro pessoas que residem na

unidade de produção. Dentre as atividades produtivas está à produção de leite como a

principal atividade econômica da família. O agricultor trabalha com a tecnologia de produção

20%

80%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Práticas Agroecológicas Práticas Não Agroecológicas

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92

Balde Cheio implementada em 2013, que iniciou através de uma parceria com a empresa que

comprava o leite e COOPERIDEAL. O serviço era pago pela empresa que comprava o

leite,mesmo a empresa rescindindo a compra de leite com o agricultor a parceria com a

COOPERIDEAL continuou, pois, os resultados produtivos e econômicos que vinham sendo

alcançados e eram satisfatórios. Antes de produzir leite o agricultor trabalhava com o cultivo

de fumo, onde segundo agricultor era muito trabalhoso, pois usava grandes quantidades de

agrotóxicos e a lucratividade era baixa. Para a família a implementação do Balde Cheio foi

um sucesso proporcionando maior lucratividade, menor penosidade do trabalho, facilidade no

manejo dos animais, diminuição no uso de agrotóxicos.

Atualmente o agricultor paga um técnico da COOPERIDEAL mensalmente para

acompanhar a produção de leite e buscar sempre alcançar melhor eficiência técnica e

produtiva, seguindo as orientações técnicas, pois o agricultor entende que é necessário. A área

destinada para as pastagens é de 9 hectares com uma quantia de 70 piquetes com uma média

de 45 vacas em lactação.

A sustentabilidade do projeto está baseada na sua viabilidade econômica em gerar

renda suficiente para remunerar a família, de modo que seja possível a mesma ter uma

qualidade de vida justa e aceitável no campo.

Essa condição é avaliada pela Renda Agropecuária que deve ser maior que o NRS de

13 salários mínimos. Assim, foram levantados os dados da produção conforme o Quadro 21.

Quadro 21- Análise Econômica da Produção de Leite UPA 7

Análise Econômica Prod. De Leite 9 SAU=9 4

ITENS – ANUAL VALORES VALOR/ HA % PB

PRODUÇÃO BRUTA 314.415,72 34.935,08 100

(-) CONSUMO INTERMEDIÁRIO 201.226,06 22.358,45 64%

(=)VALOR AGREGADO BRUTO 113.189,66 12.576,63 36%

(-) DEPRECIAÇÃO PROPORCIONAL 18.700,00 2.077,78 6%

(=) VALOR AGREGADO 94.489,66 10.498,85 30%

(-) FUNRURAL 7.231,56 803,51 2,3%

(=) RENDA AGROPECUÁRIA 87.258,10 9.695,34 28%

VA/UTF 23.622,41 2.624,71 8%

RA/ UTF 21.814,52 2.423,84 7%

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

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93

A Produção Bruta anual foi calculada em R$ 314.415,72. Para isso foram consumidos

insumos externos no percentual de 64% da PB, indicando uma grande dependência de

insumos, é importante ressaltar que grande parte desse custo é suplementação alimentar

baseada em ração com teor de proteína, produção de grão úmido e silagem. Esses custos

somados as demais despesas resultaram em um valor de R$ 201.226,06.

A depreciação foi calculada apenas sobre os bens diretamente utilizados na produção

de leite, sendo um trator no valor de R$ 60.000,00, máquinas e implementos no valor de R$

25.000,00 e a sala de ordena no valor de 30.000,00, o percentual de depreciação foi de 25%,

10% e 4% respectivamente ao ano. Descontado a depreciação temos o resultado o Valor

Agregado que foi de R$ 94.489,66, ou 30% da Produção Bruta. O valor descontado do

FUNRURAL, incidente sobre a Produção Bruta foi de R$ 7.231,56.

A Renda Agropecuária é efetivamente o que sobrou para o agricultor depois do CI, da

depreciação e do FUNRURAL. É a RA que permite avaliar se a atividade possibilita que o

agricultor alcance o NRS por UTF. Neste caso, a RA/UTF foi de R$ 21.814,52,

correspondente a 7% da PB. Diante dos R$ 314.415,72 produzidos apenas 7% desse valor

ficou com cada trabalhador que compõe a família.

O Quadro 22 demonstra que a unidade de produção superou o valor estabelecido do

NRS em 2016.

Quadro 22- Nível de Reprodução Social UPA 7

NRS RA RA/UTF

11.440,00 87.258,10 21.814,52

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

A RA total foi de R$ 87.258,10, sendo dividido esse valor por 4 UTF. O resultado foi

uma RA/UTF de R$ 21.814,52. Significa que RA/UTF>NRS, positivo.

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94

4.2.7.1 Análise Ambiental UPA 7

O Quadro 23 trata das Práticas Agroecológicas da unidade de produção, classificando

a propriedade conforme as respostas obtidas das práticas realizadas pelo agricultor, na

produção de leite, produção de milho, tratamento de doenças nos animais, dentre outras

questões de relevância elencadas na pesquisa.

Quadro 23- Práticas Agroecológicas UPA 7

QUESTÃO PRÁTICA

AGROECOLÓGICA RESPOSTA

Existe água disponível em bebedouros nos piquetes? Sim Sim

Existe sombra nos piquetes para os animais? Sim Não

Utiliza agrotóxicos nas pastagens para controle de ervas daninhas? Não Sim

Utiliza agrotóxicos para a produção de milho para a silagem? Não Sim

Utiliza sementes transgênicas na produção de milho para a silagem? Não Não

O controle de verminoses e outros parasitas é realizado com medicamentos industriais?

Não Sim

Ocorre adubação com ureia e outros fertilizantes nas pastagens? Não Sim

Existem área de preservação permanente e reserva legal na propriedade?

Sim Sim

Existe proteção de nascentes na propriedade? Sim Sim

Ocorre erosão de solo nas áreas de pastagens? Não Sim

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

O sistema de hidráulica está presente em todos os piquetes da unidade de produção

distribuindo água em bebedouros, as sombras nos piquetes ainda não existem. Quanto a

utilização de agrotóxicos nas pastagens e no cultivo de milho para a produção de grão úmido

é utilizado agrotóxicos para o controle das ervas daninhas. As sementes para a produção de

milho não são transgênicas. O emprego demedicamentos industriais é realizado para tratar

casos de doenças e parasitas nos animais. Os piquetes são adubados com ureia sempre que

ocorre a retira do lote de animais do piquete. A área de reserva legal,preservação permanente

e a proteção de nascentes são preservadas. Ainda existe erosão nos corredores e em algumas

áreas de pastagens.

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95

O Gráfico 7 demonstra o percentual das Práticas Agroecológicas e não

Agroecológicas.

Gráfico 7 -Percentual de Práticas Agroecológicas UPA 7

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

Como evidenciado no gráfico as Práticas Agroecológicas são 40% do total de todas

elas. As práticas não Agroecológicas representam 60% do gráfico indicando assim que a

unidade de produção encontra-se um uma situação Agroecológica regular.

4.2.8 Unidade de Produção 8

A unidade de produção 8 localiza-se no município de Nova Laranjeiras próximo a BR

277. A família é composta por cinco pessoas e trabalha em regime familiar. A tecnologia de

produção de leite é o Balde Cheio, iniciaram os trabalhos em 2012, onde a prefeitura efetuou

uma parceria com a COOPERIDEAL, que desenvolve e implementa o projeto Balde Cheio

em propriedades rurais. Segundo o agricultor houve um avanço significativo na produção de

leite. Primeiro houve a escolha da área, posteriormente a divisão da mesma e a

implementação dos controles zootécnicos e financeiros. A produção de leite passou a ser

organizada e controlada com o devido acompanhamento técnico, obtendo melhores resultados

40%

60%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Práticas Agroecológicas Práticas Não Agroecológicas

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96

produtivos. A atividade leiteirafoi a principal fonte de renda da família em 2016. Durante o

ano de 2016 a família pagava um técnico para orientar a produção e ajudar nos controles

financeiros. A unidade de produção tem 24,2 hectares sendo destinados para produção de leite

13,4 hectares divididos em 63 piquetes.

Durante a entrevista foram levantados os dados econômicos financeiros da unidade de

produção para ser possível identificar a Renda Agropecuária por cada trabalhador. O Quadro

24 trata dos dados econômicos da unidade de produção considerando a Produção Bruta, os

insumos consumidos na produção, a depreciação e por final a Renda Agropecuária por

trabalhador.

Quadro 24- Análise Econômica da Produção de Leite UPA 8

Análise Econômica Prod. De Leite 13,4 SAU=13,4 5

ITENS – ANUAL VALORES VALOR/ HA % PB

PRODUÇÃO BRUTA 231.433,37 17.271,15 100

(-) CONSUMO INTERMEDIÁRIO 109.338,60 8.159,60 47%

(=)VALOR AGREGADO BRUTO 122.094,77 9.111,55 53%

(-) DEPRECIAÇÃO PROPORCIONAL 13.800,00 1.029,85 6%

(=) VALOR AGREGADO 108.294,77 8.081,70 47%

(-) FUNRURAL 5.322,97 397,24 2,3%

(=) RENDA AGROPECUÁRIA 102.971,80 7.684,46 44%

VA/UTF 21.658,95 1.616,34 9%

RA/ UTF 20.594,36 1.536,89 9%

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

A Produção Bruta foi de R$ 231.433,37 com um consumo de insumos externos no

valor de R$ 109.339,6, o que em percentual representou 47% da Produção Bruta,

aproximadamente metade do valor gerado pela produção foi para custear os insumos

consumidos. O Valor Agregado Bruto resultou em R$ 122.094,77. A depreciação foi

calculada sobre o valor de um trator avaliado em R$ 40.000,00, máquinas e equipamentos R$

22.000,00 e a sala de ordenha em R$ 40.000,00, as alíquotas são calculadas anualmente. Após

a depreciação temos o Valor Agregado de R$ 108.294,77, que representou 47% da Produção

Bruta. Deduzindo o FUNRURAL a Renda Agropecuária foi de R$ 102.971,80, ou seja, 44%

da Produção Bruta. Para cada integrando da família a RA/UTF foi de 9% da Produção Bruta e

em termos monetários em R$ 20.594,36.

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97

O Quadro 25 demonstra a capacidade de reprodução social alcançada pela unidade de

produção.

Quadro 25- Nível de Reprodução Social UPA 8

NRS RA RA/UTF

11.440,00 102.971,80 20.594,36

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

A RA total foi de R$ 102.971,80, alcançando assim o NRS por UTF em R$ 20.594,36,

assim, RA/UTF>NRS. Apenas com a produção de leite é possível remunerar de maneira

satisfatória cada uma das pessoas que estão na atividade rural.

4.2.8.1 Análise Ambiental UPA 8

Na análise ambiental foram elencadas questões referentes ao uso de agrotóxicos, uso

de sementes transgênicas, medicamentos veterinários industriais, proteção de reservas

ambientais, erosão, água nos piquetes e sombra. Assim, segue o Quadro 26 relacionado às

questões de Práticas Agroecológicas.

Quadro 26- Práticas Agroecológicas UPA 8

QUESTÃO PRÁTICA AGROECOLÓGICA

RESPOSTA

Existe água disponível em bebedouros nos piquetes? Sim Não

Existe sombra nos piquetes para os animais? Sim Não

Utiliza agrotóxicos nas pastagens para controle de ervas daninhas? Não Sim

Utiliza agrotóxicos para a produção de milho para a silagem? Não Sim

Utiliza sementes transgênicas na produção de milho para a silagem? Não Sim

O controle de verminoses e outros parasitas é realizado com medicamentos industriais?

Não Sim

Ocorre adubação com ureia e outros fertilizantes nas pastagens? Não Sim

Existem área de preservação permanente e reserva legal na propriedade? Sim Sim

Existe proteção de nascentes na propriedade? Sim Sim

Ocorre erosão de solo nas áreas de pastagens? Não Sim

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

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98

Ao aplicar o questionário foi identificado que não tem água nos piquetes para os

animais e também não tem sombras para abrigar os mesmos. Como observado as respostas

são em sua grande maioria de Práticas não Agroecológicas, voltadas para a agricultura

convencional com utilização de agrotóxicos, sementes transgênicas, adubação das pastagens

através de fertilizantes industriais como ureia, controle de verminoses e outros parasitas com

medicamentos químicos. E que ocorre erosão de solos nas áreas de plantio de milho. O

Gráfico 8 demonstra o percentual de Práticas Agroecológicas.

Gráfico 8 -Percentual de Práticas Agroecológicas UPA 8

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

Conforme o gráfico o percentual de Práticas Agroecológicas é de 30% das questões

respondidas e 70% são Práticas não Agroecológicas. As respostas Agroecológicas foram à

conservação das áreas de reserva legal e preservação permanente. As demais respostas

apontam práticas não Agroecológicas. Portanto, a unidade de produção encontra-se em uma

situação de sustentabilidade ambiental ruim.

30%

70%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Práticas Agroecológicas Práticas Não Agroecológicas

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99

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os dados de resultados e discussões a seguir fazem parte de um processo de análise

dos resultados da pesquisa de campo desta dissertação. A escolha de cada tecnologia de

produção realizada pelos agricultores foi motivada pelo anseio de um aumento da produção de

leite, renda, lucratividade, por facilidade no manejo dos animais ou então por situações

ambientais e de melhorias na qualidade de vida.

Observou-se ainda, a influência de agentes externos na escolha de cada tecnologia,

como no caso do PRV a influência de movimentos sociais do campo, por se tratar de uma

tecnologia Agroecológica, e também de Associações vinculadas a esses movimentos. Para a

tecnologia Balde Cheio, verificou-se que o projeto aconteceu via Cooperativas e parcerias

com entidades públicas que subsidiavam partes dos custos de implementação do mesmo.

A partir da implementação das tecnologias do Pastoreio Racional Voisin e do Balde

Cheio, todos os agricultores entrevistados afirmaram obter condições de melhoria econômica

e social, com um aumento gradativo da produção e da renda. Os agricultores relataram

melhorias e ampliação das estruturas tais como, sala de ordenha, compra de equipamentos,

pagamento de dívidas, maior disponibilidade de tempo para outras atividades, reforma da casa

e compra de bens, entre outros. Cada agricultor apresentou uma capacidade de produção

diferente em função da tecnologia aplicada, tamanho da área disponível para pastagens,

insumos, alimentação dos animais e disponibilidade financeira (crédito bancários, recursos

próprios).

Em função dos insumos consumidos que na tecnologia Balde Cheio ocorre um maior

consumo, seja de sementes, fertilizantes, silagem, ração, grão úmido, agrotóxicos elevando o

custo de produção em relação à tecnologia PRV. Contatou-se, ainda, a ocorrência de uma

menor rentabilidade (RA/UTF%) em função do custo por litro de leite produzido se tornar

maior conforme demonstra o Quadro 27, que apresenta uma síntese de dados comparando

ambas as tecnologias.

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL CAMPUS …A tecnologia Balde Cheio apresentou maiores resultados financeiros como a Produção Bruto e maior NRS em relação ao PRV, no entanto,

100

Quadro 27- Resultados Econômicos e Nível de Reprodução Social (NRS)

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

O Consumo Intermediário % encontrado na produção de leite em PRV em relação aos

resultados do CI% do Balde Cheio, justifica-se menor devido ao baixo uso de insumos

externos, pois a produção de leite em PRV é a base de pasto. Na tecnologia PRV o maior CI

% foi de 33,33% da UPA 1, seguido da UPA 4 com CI% de 30%, da UPA 2 com 22% e da

UPA 3 com 17%. Na UPA 1 e 4 o CI é superior devido a suplementação com silagem nos

períodos de inverno, onde acontece a menor oferta de pastos para os bovinos de leite, para não

diminuir de maneira brusca a produção é realizada a complementação alimentar com silagem.

No caso da UPA 2 e 3 a alimentação dos bovinos é apenas a base de pasto o que não implica

no aporte de maiores despesas. Os medicamentos utilizados para tratamento de doenças e

parasitas nos animais são homeopáticos, com um custo de aquisição menor em relação aos

medicamentos industriais.

O Consumo Intermediário % das UPA’s que trabalham com o projeto Balde Cheio se

mostraram superiores as CI% do PRV devido à utilização, principalmente, de fertilizantes

(ureia e super fosfato simples) e agrotóxicos nas pastagens, a suplementação animal com

ração, maior uso de silagem e grão úmido. A depreciação superior é maior devido a

quantidade de bens disponíveis para a produção. No caso das UPA 5 e 7 o CI% representa

56% e 64% respectivamente da Produção Bruta, um custo superior a 50% da produção, que

por sua vez reduz o lucro.

As unidades de produção que trabalham com a tecnologia do PRV no quesito

máquinas, equipamentos e infraestrutura (barracão, sala de ordenha) utilizados diretamente na

produção de leite não dispõem de altos valores imobilizados, contam com ordenhadeiras,

resfriadores, sala de ordenha (geralmente salas de ordenha menores e mais rústicas). No

UPA Tecnologia PB CI% Depreciação % RA/UTF % RA/UTF>NRS RA/UTF<NRS UTF

1 PRV 72.000,00 33,33% 1,81% 31,28% 22.522,00 - 2

2 PRV 30.000,00 22,00% 1,90% 36,90% 11.070,00 2

3 PRV 42.000,00 17,14% 2,21% 39,17% 16.452,00 2

4 PRV 60.000,00 30,00% 2,00% 33,00% 19.670,00 2

5 Balde Cheio 153.722,52 56,00% 11,97% 14,87% 22.851,15 2

6 Balde Cheio 78.013,56 34,17% 9,17% 13,59% 10.603,35 4

7 Balde Cheio 314.415,72 64,00% 5,95% 6,94% 21.814,52 4

8 Balde Cheio 231.433,37 47,24% 5,96% 8,90% 20.594,36 5

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entanto, as unidades que trabalham com o Balde Cheio demonstraram uma quantidade maior

de bens disponíveis para a produção de leite, tais como tratores, sala de ordenha amplas em

alvenaria com estruturas metálicas.

A remuneração por Unidade de Trabalhador Familiar (UTF) é a sobra líquida da

produção que pode ser alterada conforme os custos de produção, depreciação e impostos

pagos. Deste modo, quanto menores os custos, maiores serão as sobras, conforme

demonstrado na coluna RA/UTF%, onde as unidades de produção do PRV apresentaram um

resultado superior em relação aos do Balde Cheio devido ao CI ser menor.

A unidade de produção 8, obteve uma PB de R$ 231.433,37, a RA/UTF% foi de

apenas 8,9%, ao passo, que a UPA 1 com uma PB de R$ 72.000,00 apresentou uma

RA/UTF% de 31,28%, ou seja, o valor monetário obtido (Produção Bruta) não representa o

quanto está sobrando para o agricultor, pois, como foi evidenciado o custo de produção

consome grande parte da receita realizada, o que pode caracterizar uma transferência de renda

da agricultura para as industriais. Quanto maior a dependência em insumos externos para

produzir leite, maior será a transferência de renda e de trabalho. Além disso, quanto maiores

os custos mais suscetível fica o agricultor a ter prejuízos, porque quando há uma maior oferta

de leite no mercado ocorre uma redução do preço do litro de leite pago ao produtor, mas não

ocorre redução no preço dos insumos ofertados pelas indústrias. Quando isso ocorre o

agricultor passa a ter uma RA/UTF menor e precisando arcar ainda com os mesmos custos de

produção para manter a mesma quantidade de produção em litros de leite por hectare. No caso

da UPA 7, a PB é de R$ 314.415,72, com um CI% de 64% e uma depreciação de 5,95%, a

remuneração em percentuais é a menor entre as duas tecnologias representando 6,94%

(RA/UTF%).

Da Produção Bruta da unidade de produção 7, 64% são transferidos para as indústrias

como pagamentos pela compra de sementes, fertilizantes de síntese química, agrotóxicos,

rações, medicamentos, insumos consumidos diretamente na produção de leite. Assim, uma

alta Produção Bruta nem sempre pode representar um custo benefício viável para os

agricultores.

Na tecnologia do PRV a unidade de produção 3, obteve o menor CI% (17,14%) e a

maior remuneração (RA/UTF%) entre as tecnologias sendo (39,17%). Com uma Produção

Bruta de R$ 42.000,00 anual, o custo foi de R$ 7.200,00. O referido custo é explicado pela

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baixa ou nenhuma dependência de insumos externos para a produção de leite, pois, o mesmo é

produzido à base de pasto. Neste sentido, o agricultor estabelece uma relação de menor

dependência com as indústrias, com as flutuações dos preços dos insumos e do leite podendo

assim ter uma maior margem de lucratividade mesmo com tais variações de preço ocorrendo

no setor.

Comparando as UPA’s com maior e menor Produção Bruta, foi verificado que a

unidade de produção 7 obteve uma Produção Bruta 648,61% superior a UPA 2. Desta

maneira, é importante comparar à diferença de RA/UTF entre essas unidades de produção.

Muitas vezes, os agricultores acreditam que obter uma Produção Bruta com valores

significativos, promove lucros significativos. Para isso, verificou-se que a RA/UTF da UPA 7

foi superior apenas em 32,59% em relação a UPA 2, demonstrando que em percentuais de

Renda Agropecuária líquida as diferenças diminuem significativamente.

Mesmo com uma Produção Bruta superior, o agricultor acaba ficando com uma

pequena parcela da receita, isto é, o agricultor compra insumos, realiza investimentos,

contratam financiamentos bancários, ficam mais suscetíveis as variações de preços de

mercado para ter um retorno um pouco superior em relação aquele agricultor com uma

Produção Bruta menor e com menores riscos financeiros. Neste sentido, a eficiência

financeira da UPA 2 é superior a UPA 7.

A coluna (RA/UTF>NRS), representam a Renda Agropecuária (RA) por unidade de

trabalho familiar (UTF) que foram superiores ao Nível de Reprodução Social (NRS). As

unidades de produção 1, 3 e 4, que trabalham com a tecnologia do Pastoreio Racional Voisin,

alcançaram NRS superiores ao estabelecido na pesquisa. Deste modo, para estas três unidades

de produção a tecnologia do PRV proporcionou um NRS satisfatório para cada pessoa adulta

que trabalha na UPA. Essa RA possibilita um ganho superior a um salário mínimo mensal no

ano de 2016, tornando a atividade leiteira viável para o agricultor, gerando renda que

contribui para a obtenção na melhoria da qualidade de vida dos agricultores.

Comparativamente as propriedades 5, 7 e 8 que trabalham com a tecnologia do Balde

Cheio atingiram um RA/UTF>NRS, superior ao estabelecido na pesquisa. As referidas

propriedades evidenciaram dados que alcançaram uma renda média em 2016 por UTF de R$

21.753,34, ao passo que a média dos produtores em PRV foi de R$ 19.548,00. A variação

percentual para essas médias foi superior para o Balde Cheio em 11,28%, valor que

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demonstra que apesar das diferenças serem maiores na PB de cada tecnologia, tratando-se de

valores líquidos as diferenças não ficam distantes. Outro fator de relevância a ser considerado

é o risco financeiro que os produtores do Balde Cheio correm em relação as flutuações de

mercado.

Conforme evidenciado no Quadro 27, na coluna RA/UTF<NRS, as unidades de

produção 2 (PRV) e 6 (Balde Cheio) não alcançaram o valor do Nível de Reprodução Social,

mesmo com um custo baixo em relação as demais unidades de produção, a renda obtida com a

Produção Bruta não foi suficiente. A unidade de produção 2 alcançou uma remuneração por

unidade de trabalho familiar de R$ 11.070,00 e a unidade de produção 4 o valor de R$

10.603,35. Neste caso, deve ser avaliado as condições de produção destes agricultores, como

fertilidade do solo, área disponível para pastagens, número de animais em lactação, qualidade

genética dos animais, disponibilidade de água de qualidade nos piquetes e sombras,

disponibilidade financeira para investimentos, outras atividades produtivas que possam

complementar a renda da família. Neste sentido, o Quadro 28, demonstra algumas das

características produtivas de cada Unidade de Produção.

Quadro 28 - Dados da Produção por Produtor

PRODUTOR TECNOLOGIA N° ANIMAIS LACTAÇÃO

PROD. ANUAL LITROS

DE LEITE

PREÇO ÁREA

PIQUETES N°. De

Piquetes ÁREA

TOTAL OUTRAS

ATIVIDADES

1 PRV 16 56.500 1,2743 7,2 57 14

Plantio de Milho para venda. Esposa é professora Municipal.

2 PRV 8 23.600 1,2712 4 60 16

Casal de aposentados. Cria gado de corte e vende bezerros.

3 PRV 12 33.000 1,2727 4,8 46 15,7

4 BC 12 61.000 1,2789 4 62 12 Planta milho e soja.

5 BC 35 132.500 1,2679 14,5 63 24,2 Plantio de Milho para a Venda.

6 BC 30 122.000 1,2600 12,2 122 34

7 PRV 15 47.000 1,2766 7 80 12

Plantio de feijão. O agricultor é presidente da cooperativa e recebe remuneração.

8 BC 45 248.000 1,2678 9 70 26,62

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

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Além da produção de leite os agricultores desenvolvem outras atividades econômicas

voltadas para a comercialização dos produtos agrícolas que complementam a renda da família

no decorrer do ano. Foram identificadas atividades como a produção de milho, feijão, soja e

bovinos de corte. Constatou-se que dois produtores do PRV contam com uma remuneração

externa no caso do agricultor 1 (PRV) a mulher é professora, e no agricultor 7 (PRV) é

presidente da cooperativa do assentamento percebendo renumeração mensal e

complementando a renda da família.

As UPA 2 e 4 (PRV e BC) respectivamente, tem as menores áreas de terra disponível

para pastagens e piquetes, possuem entre as tecnologias o menor rebanho de animais em

lactação e perceberam os menores valores de Produção Bruta anual. Além disso, na UPA 2 o

casal que trabalha na propriedade estão aposentados e vendem bezerros e novilhas (gado de

corte) o que contribui com a renda mensal da família. Na UPA 4, temos a produção de soja e

milho para a comercialização implementando a renda.

Esses fatores podem explicar porque as UPAS não atingiram o NRS com a produção

de leite, pois, as áreas para produção do gado de corte, soja e milho podem ser superiores as

áreas destinadas à produção de leite ou então necessitem aumentar o número de animais em

lactação para aumentar a produção e otimizar as áreas de pastagens.

Cada uma das UPAS possui no mínimo 4 hectares destinados para a produção de leite.

Com um número mínimo de 40 piquetes é possível obter resultados satisfatórios, sendo o

número de parcelas coerente com a área, quanto menor a parcela melhor, pois, é menor o

tempo de pisoteio dos animais e ocupação do piquete o que diminui a compactação do solo, e

é possível obter um melhor aproveitamento das pastagens. Em PRV a partir do quinto ano de

projeto é possível trabalhar com uma carga animal entre 2,5 a 4 Unidade de Gado Maior/ha

(UGM11), dependendo da administração do projeto e manejo do solo, pastagens e animais

(MACHADO, 2004). Isso significa que por hectare é possível trabalhar com uma carga

animal entre 2,5 a 4 vacas, deste modo, seria possível chegar a um número máximo de 16

animais em 4 hectares de pastagens, o dobro atual de animais em lactação encontrados na

UPA 2, podendo assim, em boa situação produtiva atingir no NRS com a produção de leite. O

mesmo cálculo de carga animal pode ser aplicado para o Agricultor 4 (Balde Cheio), que

contou com 12 vacas em lactação em 4 hectares. É relevante citar que esses produtores

atendem ao tempo mínimo de projeto, cinco anos, para atingir essa carga animal por hectare.

11 Equivale a um bovino de 500 kg.

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As demais unidades de produção, tem em média 9,11 hectares destinados para a

produção de leite com uma média de 25 vacas em lactação, com aproximadamente três

animais por hectare. O valor percentual correspondente da área de pastagens para a UPA 2 é

de 25% e para a UPA 4 33,33%, enquanto os demais produtores possuem em média 43% da

área total destinadas para pastagens. Mesmo com um custo inferior aos demais os produtores

2 e 4 não atingiram o NRS, as hipóteses que justificam esse fato podem ser as outras

atividades econômicas que compõe a renda, o baixo número de animais por hectare que não

otimizam o uso das pastagens ou então as áreas destinadas as pastagens e a quantidade de

pasto disponível serem insuficientes para alimentar o rebanho e produzir leite.

A efetividade econômica e social de cada tecnologia está na capacidade de

renumeração a cada integrante da família de modo que garanta a sustentabilidade econômica

da mesma. Deste modo, a avaliação econômica de cada tecnologia de produção foi realizada

pelo Valor Agregado e pela Renda Agropecuária. Comparando cada tecnologia observamos o

percentual total do Custo Intermediário, do Valor Agregado e da Renda Agropecuária.

Quadro 29 - Valor Agregado e Renda Agropecuária

Tecnologia PB Total CI Total CI Total

s/ PB Total

VA Total VA Total s/ a PB Total

RA Total RA Total

s/ PB Total

PRV 204.000,00 55.800,00 27% 144.120,00 71% 139.428,00 68%

Balde Cheio 777.585,17 423.305,11 54% 296.230,06 38% 278.345,60 36%

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

Comparativamente os custos intermediários entre as tecnologias apresentam uma

diferença significativa, isso é devido ao fato que as tecnologias utilizam diferentes técnicas

produtivas e insumos para a produção de leite. No sistema PRV a fertilidade do solo é

mantida através das técnicas de manejo dos animais que passam maior parte do tempo nos

piquetes onde defecam e urinam mantendo as pastagens adubadas é respeitado o tempo de

repouso dos pastos para o próximo pastoreio o que possibilita o crescimento vigoroso das

plantas não comprometendo seu rebrote. Além disso, a base da produção de leite em PRV são

as pastagens, em alguns casos foi fornecido silagem (UPA’s 1 e 4) para os animais no período

de inverno.

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O tratamento de doenças e parasitas é realizado com medicamentos homeopáticos ou

com medidas preventivas. Os agricultores buscam sempre uma menor dependência na compra

de insumos externos tais como ração, fertilizantes, evitam ou não utilizam agrotóxicos, não

contratam mão de obra assalariada. Esses agricultores buscam uma produção sustentável

baseada em técnicas ecológicas com baixo custo energético e financeiro. Além disso, devido

ao manejo as pastagens não precisam ser renovadas ano após ano o que diminui o custo.

As práticas agrícolas sustentáveis tendem a reduzir a erosão do solo, como também

melhorar sua estrutura física, sua capacidade de retenção de água que nos períodos de seca

contribuem para evitar as perdas de produtividade, vários são os benefícios das práticas

agrícolas sustentáveis principalmente as relacionadas à fertilidade do solo. Em solos com

cultivos orgânicos foram encontrados níveis de matéria orgânica e nitrogênio mais elevados

do que nas lavouras convencionais, constatou-se que a atividade biológica é maior, nestes

solos a uma quantidade maior de microorganismos, fungos, micorrizas, artrópodes, todos

benéficos para a reciclagem de nutrientes e para a supressão de doenças, deste modo, uma

agricultura orgânica bem administrada conduz a maiores condições favoráveis em todos os

aspectos ambientais (MAE-WAN HO, 2004). Além dos aspectos ambientais, os custos na

Agroecologia são frequentemente menores que na agricultura convencional, resultando em

lucros líquidos equivalentes ou maiores.

Na pesquisa, a tecnologia do PRV apresentou um menor custo e uma maior renda,

devido ao fato do baixo uso de insumos externos, seu benefício financeiro para os agricultores

foi maior. O PRV preconiza métodos de utilização do solo que resulta em maior lucratividade

real, pois, além da remuneração ao investimento ser competitiva com outras atividades

agrícolas os custos unitários é menor, havendo uma proteção e melhoramento do capital

básico que são o solo e demais recursos naturais. Enquanto outras tecnologias preconizam o

uso intensivo de fertilizantes de síntese química industrial, o PRV trabalha com métodos que

proporcionam uma crescente fertilidade do solo, o que justifica maior lucratividade real

(MACHADO, 2004). O motivo do menor custo e maior ganho é explicado também, pela não

utilização de fertilizantes de síntese química, nem de agrotóxicos o único insumo energético

em PRV é a energia solar sintetizada pelas plantas via fotossíntese (MACHADO;

MACHADO, 2014). Isso explica o fato que na pesquisa a Renda Agropecuária (RA) e o

Valor Agregado (VA) em percentuais foram superiores em PRV e inferiores na tecnologia do

Balde Cheio.

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As tecnologias de produção agrícola que preconizam o uso de insumos externos que

são subsidiados por energia fóssil, nutrientes de síntese industriais e agroquímicos implicam

diretamente na sustentabilidade ecológica e econômica (GLIESSMAN, 1998). Além disso, a

qualidade do ambiente vem sendo afetada de maneira negativa em consequência do alto uso

de insumos de síntese química (MACHADO, 2001).

A tecnologia do projeto Balde Cheio preconiza a utilização de fertilizantes de síntese

química, após cada pastoreio para maximizar a produção de matéria verde por hectare em um

menor período de tempo. Para o controle das ervas daninhas e limpeza do pasto foi utilizada

por esses agricultores herbicidas químicos. A Silagem e o grão úmido foram produzidos

diretamente pelos agricultores com o uso de tratores, plantadeiras de milho, pulverizadores,

máquina de corte da silagem, silos para estocar a silagem, compra de sementes, fertilizantes e

agrotóxicos para o controle das ervas daninhas no milho.

A ração é comprada diretamente de cooperativas e indústrias sendo utilizada

diariamente na alimentação dos bovinos de leite. Além disso, todo o tratamento de doenças e

parasitas e realizado de modo convencional com acompanhamento mensal de um médico

veterinário. Esses insumos elevam o custo intermediário para R$ 423.305,11, deste modo, o

uso de insumos representa 54% da PB anual das UPA’s pesquisadas da tecnologia Balde

Cheio. Em função desses custos o VA foi de 38% e a RA de 36%, percentuais inferiores em

relação a tecnologia do PRV. No entanto, mesmo apresentando um custo alto, os agricultores

se demonstram satisfeitos com a tecnologia, uma vez que esta proporcionou uma Renda

Agropecuária na maioria das unidades de produção positiva. Entretanto, quanto maior o

aporte de insumos, maior será o custo da produção, dependência dos insumos externos para

produzir, mesmo ocorrendo um aumento da produtividade, quantidade de litros de leite, a

RA% e o VA% acabam sendo menores.

É importante destacar que “nas últimas décadas a um aumento progressivo doscustos

dos insumos e equipamentos, com tendência à estabilização e até à redução dos preços dos

produtos primários pagos ao produtor” (FAO, 1994apud CANAVER; RECK, ENRIQUEZ,

2006, p. 2). Esse aumento causa efeito diretamente na renda líquida dos agricultores que

utilizam esses insumos. Existe um aumento produtivo, obtido com os progressos tecnológicos,

no entanto, não tem resultado em aumento de lucro para o produtor, e sim um estreitamento

na margem de lucro por unidade produzida.

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Das unidades de produção pesquisadas, 80% apresentaram resultados satisfatórios

atingindo e ultrapassando o NRS promovendo o desenvolvimento social dos agricultores.

Mesmo as UPA’s que não atingiram o NRS os agricultores afirmaram estar satisfeitos com os

resultados econômicos e sociais promovidos pela implementação da tecnologia. Os resultados

ambientais de cada tecnologia conforme descrito no questionário Práticas Agroecológicas,

fazem parte da análise de cada tecnologia. Isso porque a destruição do ambiente pela

agricultura industrial das monoculturas é um fato irrefutável, portanto, as práticas agrícolas

devem eliminar ou pelo menos minimizar a contaminação ambiental (MACHADO;

MACHADO, 2014).

As Práticas Agroecológicas são consideradas promotoras do desenvolvimento

sustentável na agricultura (ALTIERE, 2004). A Agroecologia pode ser entendida como um

sistema produtivo de base ecológica e sustentável com fundamentos científicos e

interdisciplinares. Para as concepções de Caporal, Costabeber e Paulus(2005), os princípios,

conceitos da Agroecologia permitem alcançar estilos de agricultura de base ecológica. A

agricultura deve atender a questões sociais, econômicas, culturais e preservar os recursos

ambientais finitos, trabalhando com resultados econômicos positivos a toda a sociedade em

longo prazo que inclua as gerações do presente e do futuro.

Na avaliação das condições ambientais das UPA’s, foram consideradas questões à

respeito da produção de milho para a silagem, bem estar animal, uso de agrotóxicos, áreas de

reserva e preservação permanente, uso de sementes transgênicas, erosão de solo, controle de

doenças e parasitas e o uso de fertilizantes de síntese química industrial.

Essas questões são de relevância para a saúde da população e para o meio ambiente,

pois, no caso do uso de agrotóxicos à Fundação Oswaldo Cruz, o Instituto Nacional de Câncer

José Alencar Gomes da Silva e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva divulgaram em 06

de Setembro de 2013 uma extensa nota sob o título “Uma verdade cientificamente

comprovada: os agrotóxicos fazem mal a saúde das pessoas e ao meio ambiente” (FIOCRUZ,

2013, p. 1)

Essas instituições defendem os interesses da saúde pública e dos ecossistemas e tais

pesquisas vem revelando a gravidade, para a saúde de trabalhadores e da população em geral

do uso de agrotóxicos (MACHADO, 2014). Ocorre também a contaminação, esgotamento e

destruição dos recursos naturais básicos para a alimentação humana com um crescente

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desequilíbrio dos agroecossistemas que se cruzam com mecanismos de exclusão social

acompanhados de uma crescente dependência de mercado (GUZMÁN; SOLER, 2010).

O Quadro 30, trata da aderência as Práticas Agroecológicas nas tecnologias de

produção PRV e Balde Cheio, e demonstra a utilização das práticas agrícolas por unidade de

produção. A aderência está evidenciada em percentual conforme as respostas obtidas nas

entrevistas.

Quadro 30 - Percentual de Aderência às Práticas Agroecológicas

QUESTÃO PRV PRV PRV PRV BC BC BC BC

PERCENTUAL ADERÊNCIA PRÁTICAS

AGROECOLÓGICAS

UPA

1 UPA

2 UPA

3 UPA

4 UPA

5 UPA

6 UPA

7 UPA

8 PRV Balde Cheio

Existe água disponível em bebedouros nos piquetes?

Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não 100% 75%

Existe sombra nos piquetes para os animais?

Não Sim Sim Não Não Não Não Não 50% 0%

Utiliza agrotóxicos nas pastagens para controle de ervas daninhas?

Não Não Não Não Sim Sim Sim Sim 100% 0%

Utiliza agrotóxicos para a produção de milho para a Silagem?

Sim Não Não Não Sim Sim Sim Sim 75% 0%

Utiliza sementes transgênicas na produção de milho para a silagem?

Não Não Não Não Não Sim Não Sim 100% 50%

O Controle de verminoses e outros parasitas é realizado com medicamentos industriais?

Não Não Não Não Sim Sim Sim Sim 100% 0%

Ocorre adubação com fertilizantes de síntese química industrial nas pastagens?

Não Não Não Não Sim Sim Sim Sim 100% 0%

Existem área de preservação permanente e reserva legal na propriedade?

Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim 100% 100%

Existe proteção de nascentes na propriedade?

Sim Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim 100% 75%

Ocorre erosão de solo nas áreas de pastagens? Não Não Não Sim Não Sim Sim Sim 75% 25%

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

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Quanto às práticas de bem estar animal no manejo dos bovinos a tecnologia do PRV

apresentou maior aderência com a presença de água em todos os piqueteamentos e sombras

em apenas 50% dos mesmos. A restrição ao consumo de água pra bovinos leiteiros tem

impacto negativo direto na lactação e a restrição para os bovinos em crescimento limita o

consumo de alimentos e o ganho de peso (MACHADO, 2004).

No uso de agrotóxicos nas pastagens e na produção de milho para a silagem as

unidades de produção do PRV apresentaram maior aderência a Agroecologia. Isso deve-se ao

fato que a tecnologia do PRV preconiza o manejo orgânico das pastagens, sem o uso de

agrotóxicos. No quesito adubação das pastagens com fertilizantes de síntese química

industrial as UPAS da tecnologia Balde Cheio não apresentaram percentual de aderência as

Práticas Agroecológicas, neste caso, o crescimento das pastagens é fertilizado com ureia e

super fosfato simples, o que proporciona um rebrote acelerado dos pastos, uma pastagem com

crescimento uniforme e maior disponibilidade de matéria verde para os animais em menor

tempo. Embora, esta tecnologia possa acelerar o crescimento das pastagens ocorre uma maior

queima de matéria orgânica do solo disponibilizando rapidamente os nutrientes do mesmo, o

que proporciona o empobrecimento da matéria orgânica do solo a longo prazo (MAYER,

2009).

O Balde Cheio é um sistema intensivo de produção de leite, que prevê um conjunto de

técnicas agrícolas, zootécnicas, ambientais que compreendem conservação e recuperação da

fertilidade do solo, manejo intensivo das pastagens tropicais adubadas e irrigadas, manejo

rotacionado das pastagens, utilização de cana de açúcar mais ureia nos períodos de seca,

realização de exames de tuberculose e brucelose nos animais e uso de técnicas para irrigação

de pastagens (BORGES,2014).

O uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos, a curto prazo, apresentam resultados

quantitativos significativos, isto é, no aumento da produção, mas são insustentáveis a longo

prazo, pois, uso dos agroquímicos principalmente os inseticidas causam problemas ambientais

devido a sua toxidade. A toxidade dos agroquímicos é um dos problemas, uma vez que o

custo energético é cada vez mais alto, isso devido ao fato que a produtividade na agricultura

moderna é alcançada às expensas de enorme utilização de insumos, incluindo não renováveis,

como os combustíveis fósseis e o fósforo (ALTIERI, 2002). Os custos energéticos de

determinados sistemas exigiram reavaliações, como aconteceu nos anos 70 quando o preço

dos combustíveis disparou. Um estudo realizado em 1973 mostrou que na agricultura

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americana, cada quilo caloria de milho foi produzida com um enorme custo energético, a

partir de fontes externas, principalmente energia não renovável.

Comparando esse sistema com outros sistemas agrícolas, os quais apresentavam

menor produtividade, porém, muito maior eficiência em termos de retorno por unidade de

energia aplicada (ALTIERI, 2002). Os métodos de produção alternativos são viáveis do ponto

de vista econômico, garantem bons níveis de produtividade e minimizam os impactos

ambientais tornando esses modelos agrícolas sustentáveis e com menor uso de energia não

renovável (BORGES; GUEDES; ASSIS, 2011).

Propriedades que utilizam métodos alternativos de produção são eficientes,

competitivas e podem até mesmo superar as propriedades convencionais (MENEGETTI,

2005). Deste modo, além da toxidade e o do custo energético as externalidades causadas pelo

uso de agrotóxicos se reproduzem além da indústria e da agricultura para toda a sociedade,

comprometendo o uso da água, dos solos e de todos os ecossistemas.

No quesito uso de sementes transgênicas o PRV mostrou 100% de aderência a

Agroecologia, não utilizando sementes transgênicas, enquanto que 50% das unidades de

produção do Balde Cheio utilizaram sementes transgênicas na produção de milho para

silagem.

O uso de sementes transgênicas é questionado na Agroecologia. Os defensores dos

transgênicos argumentam que a tecnologia tem aumentado a produção, trazendo benefícios

para a segurança alimentar, para a redução da pobreza e da fome, diminuindo a pegada

ecológica da agricultura industrial, aliviando as mudanças climáticas pela redução dos gases

do efeito estufa (JAMES,2009). A indústria da biotecnologia trata dos problemas da

agricultura como simples deficiência genética dos organismos e trata a natureza como

mercadoria, não abordando as verdadeiras causas dos problemas. A consequência dessas

tecnologias traz a resistência das ervas daninhas a agrotóxicos como parte de um círculo

vicioso (ALTIERI, 2012).

Na América Latina poucas são as pesquisas em relação ao impacto ecológico da

liberação do uso de transgênicos no meio ambiente, sendo que algumas evidências

demonstram um sério impacto sobre a saúde humana e ao meio ambiente. Dentre os principais

riscos ambientais está a transferência involuntária de “transgenes” para espécies silvestres

relacionadas, com efeitos ecológicos imprevisíveis. O cultivo de transgênicos por agricultores

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familiares representa uma maior dependência de herbicidas e sementes produzidas por um

setor do agronegócio que cada vez concentra mais poder e riquezas (ALTIERI, 2012). No

caso desta pesquisa a produção de milho para silagem foi a partir de sementes transgênicas

para 50% dos produtores do Balde Cheio.

O tratamento de doenças, verminoses e parasitas nas UPA’S do PRV foram realizados

com medicamentos homeopáticos, permitidos na Agroecologia tendo estas propriedades total

aderência Agroecológica neste quesito, ao passo que nas propriedades do Balde Cheio todos

os tratamentos foram realizados com medicamentos industriais.

Quanto às áreas de preservação permanente e reserva legal todas as UPA’S

apresentaram respostas positivas. Essas áreas são obrigadas por lei específica a serem

mantidas preservadas, e, além disso, os agricultores têm consciência da importância dessas

áreas para a manutenção dos córregos e rios e evitar a erosão em áreas de montanhas. No

quesito proteção de nascente as UPA’S que mais protegem suas são as UPA’S 1 a 4, enquanto

que nas UPA’S 5 a 8 apenas a UPA 5 não trabalha com proteção de nascentes.

A erosão de solo é um problema enfrentado na agricultura quando se revolve, ara e é

deixado exposto sem cobertura vegetal à ação da chuva e do vento. A perda de solo pela

erosão representa perda de fertilidade, maiores investimentos em adubação e fertilizantes. Em

PRV quase não é encontrada erosão de solo devido à cobertura com pastagens. Nas UPA’S

que trabalham com o PRV os agricultores procuram adotar práticas agrícolas que dispensam o

revolvimento do solo, tanto no manejo do mesmo quanto no cultivo de outras culturas como,

o milho, feijão e sojaé procurado manter as áreas de terra sempre cobertas com material

orgânico.

No caso das UPA’S do Balde Cheio três produtores apresentaram problemas com

erosão de solo, principalmente nos corredores onde os animais são manejados,sendo as

pastagens em áreas inclinadas o que favorece a mesma. Os agricultores do Balde Cheio

relataram erosão nas plantações de milho para a silagem, pois nas áreas de cultivo foram

utilizados subsolador para revolver o solo deixando-o exposto à ação das chuvas. Apenas um

agricultor não apresentou problemas com erosão devido ao fato que este tem suas pastagens

em áreas planas bem como o cultivo do milho é realizado com plantio direto.

As unidades de produção que trabalham com o PRV apresentaram maior aderência às

Práticas Agroecológicas, isso é devido ao fato que o manejo do PRV e suas práticas são de

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natureza ecológica sustentando, deste modo, uma produção de leite Agroecológico. Sobre

tudo, os agricultores das UPA’S 2 e 3 são produtores orgânicos. Os agricultores entrevistados

são assentados da Reforma Agrária sendo uma das linhas de produção fomentadas pelo MST

a produção de alimentos Agroecológicos, livres da contaminação de agrotóxicos, incluindo a

produção de leite orgânico, essa linha de produção sustentável busca maximizar os benefícios

sociais e econômicos dos assentados, bem como a auto sustentabilidade do processo

produtivo. Todas as discussões são para disseminar um modelo produtivo agrícola que não

prejudique o ambiente, que seja equitativo e justo, que não explore os agricultores e que

diminua a dependência em relação a insumos externos. Além disso, trata-se também de uma

estratégia para agregar valor aos produtos e alimentos orgânicos gerando mais renda para as

famílias.

A tecnologia do Balde Cheio trabalha com produção de leite intensiva, em pequenas

áreas de terra, maximizando o uso das pastagens com fertilizantes de síntese química

industrial como uma das práticas preconizadas pelo projeto. Os controles econômicos e

zootécnicos quando executados pelos agricultores trazem benefícios nos resultados, pois com

os mesmos é possível evidenciar de modo efetivo a evolução do projeto nos aspectos

ambientais, econômicos e sociais agregando muito no quesito de informações para o

desenvolvimento da tecnologia. No entanto, os usos de insumos externos acabam elevando o

custo de produção por litro de leite e tornando menor a Renda Agropecuária destinada a

remuneração dos produtores.

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5 CONCLUSÃO

A presente pesquisa teve por objetivo comparar as tecnologias de produção de leite do

Pastoreio Racional Voisin (PRV) e Balde Cheio nos aspectos econômicos, sociais e

ambientais em unidades de produção familiares na região da Cantuquiriguaçu- PR. Para tanto

foram realizadas visitas de campo em 8 unidades de produção.

Todas as propriedades pesquisadas apresentaram determinados níveis de

sustentabilidade ambiental, social e econômica, porém, verifica-se que a partir dos dados de

campo aquelas manejadas a partir das tecnologias preconizadas pelo Pastoreio Racional

Voisin, alcançaram um maior nível de sustentabilidade.

A descrição das tecnologias de produção de ambos os sistemas, permitem que os

agricultores possam optar por uma ou outra tecnologia ou por sistemas mistos que melhor se

adaptem à determinada realidade, conforme as necessidades de cada agricultor.

Considerando as dimensões de sustentabilidade analisadas nesta pesquisa, concluiu-se,

que no aspecto da sustentabilidade ambiental as propriedades que usaram o PRV

apresentaram maior aderência a produção de leite Agroecológico contribuindo para a

produção de alimentos limpos e a preservação ambiental dos agroecossistemas, com menor

impacto no consumo energético e uso de insumos externos.

Em relação à sustentabilidade econômica as propriedades manejadas com a tecnologia

do Balde Cheio apresentaram maior Produção Bruta e maior consumo de insumos externos

reduzindo a Renda Agropecuária por Unidade de Trabalhador Familiar. Essa relação

Produção Bruta e consumo demonstra uma forte integração desses produtores com as

indústrias. O aumento quantitativo da produção em litros de leite no sistema intensivo é

dependente de insumos externos deixando os agricultores mais vulneráveis aos riscos

financeiros e flutuações de preço de mercado. Apesar das rendas serem semelhantes o Balde

Cheio apresenta maiores riscos devido a dependência de insumos.

O Nível de Reprodução Social submetido na pesquisa evidenciou que ambas as

tecnologias proporcionaram significativos avanços na qualidade de vida dos agricultores

contribuindo no processo de reprodução social da agricultura familiar, permitindo uma

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remuneração satisfatória para cada trabalhador familiar e garantindo que a família permaneça

no campo de maneira digna.

Devido a dependência de insumos externos para produzir leite os produtores do Balde

Cheio apresentam um maior risco em questõesde endividamento, uma menor margem de

sobras, caso o preço do litro de leite diminuísse dez por cento alguns produtores ficariam

inviáveis do ponto de vista do Nível de Reprodução Social. Ocorre no projeto Balde Cheio

uma produção de leite em escala em um sistema de produção intensivo que é bom para a

indústria, uma vez que estes consumem muito mais energia e insumos que o sistema PRV,

fazendo com que ocorra uma maior circulação de mercadorias e de dinheiro no setor

agropecuário. Além disso, para as empresas que compram leite torna-se muito mais barato

coletar uma grande quantidade de leite em um único produtor. Podemos considerar que neste

sistema os custos variáveis, principalmente a suplementação animal, consomem grande parte

da receita, neste sentido, mesmo que ocorra um aumento na produção, ocorre também um

aumento do custo variável, pois se existem mais animais produzindo existe um maior

consumo de alimento.

A produção de leite tem o objetivo de gerar renda, retorno financeiro que contribua

com a viabilidade econômica do agricultor. Neste sentido, quanto mais rápido for o retorno

sobre o investimento melhor. A produção de leite no sistema PRV e Balde Cheio têm seu

retorno financeiro baseado em vários fatores, dentre eles, a qualidade e volume das pastagens,

que por sua vez dependem da fertilidade do solo. Quando o manejo das pastagens é realizado

em solo com baixo teor de matéria orgânica a fertilidade tende a ser baixa também, o que

prejudica o crescimento das pastagens ou até mesmo inviabilizando o crescimento destas. O

manejo em PRV não preconiza o uso de insumos de síntese química para fertilidade do solo.

Deste modo, para se obter um retorno financeiro mais rápido pode-se iniciar a produção de

leite com base nas técnicas do Balde Cheio buscando a fertilidade do solo inicialmente com

fertilizantes de síntese química e posteriormente ir trabalhando para uma conversão de

sistemas de produção, mais eficiente energeticamente e com menor dependência de insumos,

sendo viável e sustentável a longo prazo. Assim, o produtor pode obter um resultado

produtivo e econômico em menor tempo e posteriormente trabalhar uma conversão de

sistemas.

Conclui-se, portanto, que para a sustentabilidade dos agricultores no campo, torna-se

mais eficiente utilizar tecnologias de produção que atendam aos requisitos da Agroecologia,

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isso devido ao fato que as técnicas Agroecológicas apresentaram menores impactos

ambientais, menor dependência de insumos externos, menor risco financeiro para os

agricultores e maior viabilidade à longo prazo.

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SILVA NETO, B. Sistemas de Produção e Agroecologia. A Notícia. Cerro Largo. UFFS. 2016. SILVA, H. S. et al. Análise da Viabilidade econômica da produção de leite a pasto e com suplementos na região dos Campos Gerais – Paraná. Ciência Rural, Santa Maria, v. 38, n. 2, 445-450, mar-abr/2008. SILVEIRA, D. T.; CÓRDOVA, F. P. Unidade 2 - A pesquisa científica.Métodos de pesquisa, p. 31-42, 2009. SILVEIRA, P. R.; NEUMANN, P. S. Gestão da Unidade de Produção Familiar I. Santa Maria, 2010. SOUZA, A. Gerencia financeira para micros e pequenas empresas: um manual simplificado. Rio de Janeiro. Editora: Elsevier, 2007. SOUZA, N. O rebanho todo em planilhas: Indicadores financeiro e zootécnico são ferramentas indispensáveis para orientar gestão e garantir lucro. 2016. Disponível em: <http://www.portaldbo.com.br/Mundo-do-Leite/Noticias/O-rebanho-todo-em-planilhas/19095>. Acesso em:27 out. 2016. STOFFEL, J. A.; TRENTIN, H. R. Importância da renda da produção de leite para propriedades de agricultura familiar. Anais do Encontro Científico de Administração, Economia e Contabilidade, v. 1, n. 1, 2015. TERRITÓRIOS DA CIDADANIA. Territórios. Disponível em: <http://www.territoriosdacidadania.gov.br/ dotlrn/clubs/territriosrurais/cantuquiriguaupr/one-community?page_num=0>. Acesso em: 27 out. 2016. UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE - USDA. Foreign Agricultural Service. Disponível em: http://www.agricultura.pr.gov.br/arquivos/File/deral/Prognosticos/bovinocultura_leite_14_15.pdf Acesso em: 14 jul. 2016. VILELA, D.; BRESSAN, M.; GOMES, S. T.; O agronegócio do leite e políticas públicas para o seu desenvolvimento sustentável. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2002. VOISIN, A. A produtividade do pasto. Trad. Norma B. P. Machado- 2° Ed. São Paulo:

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - FOTOS PRODUTOR 1 (PRV)

Disponibilidade de água nos piquetes Sistema PRV

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

Piquetes Sistema PRV 1

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017. Piquetes Sistema PRV

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

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APÊNDICE B - FOTOS PRODUTOR 5 (PRV)

Área de Piqueteamento Projeto Balde Cheio

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017. Fosso Sala de Ordenha

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017. Sala de Ordenha

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

Sistema de Piquetes Projeto Balde Cheio

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017. Quadro Controle de Crescimento de Bezerros

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017. Quadro Controle de Reprodução Projeto Balde

Cheio

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

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APÊNDICE C - FOTOS PRODUTOR 7 (PRV)

Corredor e Piquetes Projeto Balde Cheio

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017. Sistema de Piquetes Balde Cheio

Fonte: Elaboração Própria do Autor, 2017.

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APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO

Questionário aplicado – Práticas Agroecologicas

a) Existe água disponível em bebedouros nos piquetes?

b) Existe sombra nos piquetes para os animais?

c) Utiliza agrotóxicos nas pastagens para controle de ervas daninhas?

d) Utiliza agrotóxicos para a produção de milho para a Silagem?

e) Utiliza sementes transgênicas na produção de milho para a silagem?

f) O Controle de verminoses e outros parasitas é realizado com medicamentos

industriais?

g) Ocorre adubação com fertilizantes de síntese química industrial nas pastagens?

h) Existem área de preservação permanente e reserva legal na propriedade?

i) Existe proteção de nascentes na propriedade?

j) Ocorre erosão de solo nas áreas de pastagens?