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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA DEPARTAMENTO DE SISTEMÁTICA E ECOLOGIA CLIMÉLIA DA NÓBREGA SILVA A CARCINICULTURA NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE: O CASO DO EMPREENDIMENTO DA DESTILARIA MIRIRI João Pessoa - PB 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

DEPARTAMENTO DE SISTEMÁTICA E ECOLOGIA

CLIMÉLIA DA NÓBREGA SILVA

A CARCINICULTURA NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE:

O CASO DO EMPREENDIMENTO DA DESTILARIA MIRIRI

João Pessoa - PB

2009

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CLIMÉLIA DA NÓBREGA SILVA

A CARCINICULTURA NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE:

O CASO DO EMPREENDIMENTO DA DESTILARIA MIRIRI

Monografia apresentada à Coordenação

do Curso de Ciências Biológicas do

Centro de Ciências Exatas e da

Natureza da Universidade Federal da

Paraíba, em cumprimento às exigências

para a obtenção do título de Bacharel

em Ciências Biológicas, sob a

orientação do Professor Dr. Gilson

Ferreira de Moura.

João Pessoa - PB

2009

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CLIMÉLIA DA NÓBREGA SILVA

A CARCINICULTURA NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE:

O CASO DO EMPREENDIMENTO DA DESTILARIA MIRIRI

Aprovada em: __________________

Banca Examinadora

_______________________________________ Prof. Dr. Gilson Ferreira de Moura

(Orientador) Depto. de Sistemática e Ecologia / CCEN / UFPB – Campus I

_______________________________________ Prof. Dr. Tarcisio Alves Cordeiro

(Examinador) Depto. de Sistemática e Ecologia / CCEN / UFPB – Campus I

_______________________________________ Prof. Msc. George Emmanuel C. de Miranda

(Examinador) Depto. De Sistemática e Ecologia / CCEN / UFPB – Campus I

_______________________________________ Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida

(Examinador) Depto. de Sistemática e Ecologia / CCEN / UFPB – Campus I

_______________________________________ Biólogo Gilson do Nascimento Melo

(Examinador) Biólogo do Centro de Ciências Exatas e da Natureza / UFPB – Campus I

João Pessoa – PB 2009

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Dedico...

Aos meus pais, Clodoval e Tereza, pelo apoio e amor

incondicionais.

E ao meu querido e amado Diogo, pela presença, amizade e amor

constantes.

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Agradecimentos...

Primeiramente a Deus, que me presenteou com a vida e me permitiu

concluir mais essa etapa da minha vida profissional.

A meus pais e irmãos, pela paciência nos momentos de estresse,

carinho e motivação para superar e vencer os desafios impostos pela vida.

Sem eles eu não teria conseguido chegar aqui!

Às minhas eternas “zamigas” Mônica Vasconcelos, Allinne Caldas,

Clenia Batista, Jaqueline Valões, Súlia Santos, Taíssa Barros, Liliane Araújo e

especialmente, a Isa Fernanda, amiga e companheira de tantas coletas e

análises laboratoriais, pela amizade sincera, pelos ensinamentos de vida, pela

alegria e paz que encontrei ao lado de vocês!

Ao ausente Pedro Neto, que tão pouco participou comigo sua vida

acadêmica, mas que fez desses poucos instantes verdadeiros momentos de

intensa amizade e atenção.

À técnica do Laboratório de Hidrologia e Microbiologia, bióloga Creuza

Soares, e á bióloga Jeandelynne Sampaio, por tudo que me ensinaram e pelos

momentos de alegria e companheirismo vividos no laboratório e nas coletas.

Ao meu querido amigo e orientador Gilson Moura, que se tornou meu

segundo pai, por tudo que me ensinou, pela motivação e orientação dada em

todos os momentos e pela confiança em mim depositada.

Ao meu Diogo, eterno companheiro, amigo e confidente, por toda a

paciência com minhas preocupações, por sempre ter me ouvido e

aconselhado, pelo apoio e auxilio, mesmo quando não era possível, por estar

sempre ao meu lado e ter contribuído de forma intensa para a realização desse

sonho.

À Universidade Federal da Paraíba, por proporcionar os caminhos para

a realização de nossa vida profissional. E aos professores da graduação do

curso de Ciências Biológicas, por toda ajuda e conhecimento transmitidos.

A todas as pessoas da comunidade de Tavares, pela imensa

receptividade e contribuição, através das informações valiosas fornecidas para

este trabalho.

Aos funcionários do Projeto de Carcinicultura da Destilaria Miriri, pelas

informações passadas.

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Aos senhores Emanuel Pinheiro e Gilvan Sobrinho, empresários do

Projeto de Carcinicultura da Destilaria Miriri, que abriram as portas da sua

empresa e me forneceram todas as informações necessárias para que eu

pudesse realizar e construir este trabalho.

Aos senhores Gilberto Souto e Antônio Mousinho, funcionários da

SUDEMA, pelas entrevistas e informações concedidas.

Ao senhor Ivan Coutinho, analista ambiental do IBAMA/PB, pelos dados

fornecidos e as longas conversas acerca do tema.

À senhora Carla Marcon, chefe da FLONA – Floresta Nacional da

Restinga de Cabedelo, pela entrevista concedida.

Ao SEBRAE, pelo apoio financeiro.

Aos meus alunos, que por tantas vezes compreenderam as minhas

faltas, preocupações e estresses e por terem participado para minha formação,

tanto como professora como ser humano.

Aos meus examinadores, Gilson Melo, George Miranda, Alberto (Gui)

Nishida e Tarcísio Cordeiro pelas correções e considerações feitas neste

trabalho.

E a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a

realização deste trabalho. Muito obrigada!

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“Algo só é impossível até que alguém

duvide disso e acabe provando o contrário.”

Albert Einstein

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO............................................................................................. 12

1.1 A Carcinicultura no Brasil............................................................................15

1.2 A Carcinicultura e o Meio Ambiente............................................................19

2. OBJETIVOS..................................................................................................22

2.1 Objetivo Geral.............................................................................................22

2.2 Objetivos Específicos..................................................................................22

3. ÁREA DE ESTUDO.......................................................................................23 4. METODOLOGIA............................................................................................25 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................................27 5.1 Instalações do Empreendimento de Carcinicultura da Destilaria Miriri.......27

5.2 Procedimento legal do Projeto de Carcinicultura da Destilaria

Miriri...................................................................................................................30

5.2.1 Informações Obtidas Junto a Técnicos da SUDEMA...............................34

5.2.2 Informações Obtidas Junto a Técnicos do IBAMA/PB e ICMbio..............36

5.3 Manejo utilizado na Miriri.............................................................................39

5.4 Implicações da implantação do empreendimento na comunidade de Tavares..............................................................................................................47

5.5 Dados hidrológicos......................................................................................52

6. CONCLUSÃO................................................................................................57 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................58 8. REFERÊNCIAS.............................................................................................59 ANEXOS

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RESUMO

A carcinicultura marinha é, atualmente, um dos mais controversos setores da

aqüicultura. Proporciona, por um lado, geração de divisas substanciais para

muitos países, mas provoca, por outro lado, em função de seu

desenvolvimento, crescentes preocupações sobre os impactos ambientais e

sociais. Tem sido bastante questionada quando sua instalação ocorre no

interior de uma Área de Proteção Ambiental (APA), unidade de conservação de

uso sustentável, devido aos inúmeros conflitos com relação ao seu uso. O

manejo inadequado em um empreendimento de carcinicultura pode gerar

inúmeros impactos, tais como: conversão de ecossistemas naturais,

particularmente manguezais, para a construção de viveiros de camarão;

salinização de lençóis freáticos e de terras agricultáveis; poluição das águas

costeiras devido aos efluentes dos viveiros; alteração da biodiversidade e

conflitos sociais, notadamente em áreas costeiras. Neste trabalho procurou-se

avaliar as questões legais, sociais e ambientais de um projeto de carcinicultura

implantado no interior da APA da Barra do Rio Mamanguape, no litoral norte do

Estado da Paraíba. Para tal, foi realizado, no período de outubro de 2008 a

fevereiro de 2009, levantamento da documentação referente aos processos de

implantação do referido empreendimento, bem como foram feitas entrevistas

com técnicos de órgãos ambientais, funcionários da empresa de carcinicultura

e também com a comunidade localizada no entorno da fazenda de camarão.

Como informação complementares, foram utilizados os resultados das análises

do Projeto de Monitoramento Físico, Químico e Biológico das Fazendas de

Camarão do Estado da Paraíba. Os dados que foram levantados com este

trabalho mostraram claramente que o manejo adotado no empreendimento de

carcinicultura é satisfatório e que, desta forma, não está trazendo prejuízos

ambientais para a citada unidade de conservação. Isso indica que é possível

implantar, em uma APA, uma atividade potencialmente impactante, quando a

mesma é conduzida de forma adequada.

Palavras-chave: Carcinicultura; APA; Manejo.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Figura 1 – Ponto 1: Gamboa Serraria; Ponto 2: Gamboa Barreiros;

Ponto 3: Gamboa Gravatá; Ponto 4: Rio Mamanguape....................................27

Figura 2: Área de reflorestamento do manguezal do entorno da

fazenda..............................................................................................................29

Figura 3: Disposição de rochas calcárias próximas à comporta de drenagem do

viveiro.................................................................................................................30

Figura 4: Procedimento de arraçoamento. A – arraçoador retirando o excesso

de ração da bandeja; B – arraçoador colocando a ração no tubo de PVC que

impede que a mesma seja desperdiçada para a coluna d’agua...................... 40

Figura 5: Redes de segurança..........................................................................41

Figura 6: Praça de despesca (1), caixa onde são colocados o gelo, água e

metabissulfito (2), valas por onde a água junto com o metabissulfito é escoada

(3) e o poço, onde é realizada a neutralização do metabissulfito

4).......................................................................................................................45

Figura 7: Local de descarte do metabissulfito após neutralização. Em detalhe o

aviso de área restrita.........................................................................................45

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Dados de parâmetros hidrológicos do empreendimento de

carcinicultura da Destilaria Miriri. VR = Valor de referência da Resolução

357/05 do CONAMA; ND = Teor abaixo do limite mínimo de detecção do

espectrofotômetro............................................................................................. 53

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A CARCINICULTURA NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE:

O CASO DO EMPREENDIMENTO DA DESTILARIA MIRIRI

1. INTRODUÇÃO

Desde o surgimento das primeiras civilizações que o uso dos recursos

naturais passou a ter outra dimensão. A humanidade começou a exercer e

ainda exerce profundas transformações no seu habitat, muito mais

intensamente do que qualquer outra espécie, e, na maioria das vezes,

desfavorável ao meio ambiente e, em longo prazo, até aos seus próprios

interesses (DORST, 1973). A conservação da natureza e o uso de seus

recursos de forma racional é, sem dúvida, um grande desafio que precisa ser

urgentemente enfrentado.

Vários são os problemas ambientais existentes na atualidade, e que

estão sendo continuamente debatidos para que se criem possibilidades de

reversão ou algum modo de amenizá-los. Dentre os mais diversos impactos

negativos, podemos destacar pelo menos quatro: 1) desmatamento

indiscriminado de florestas e manguezais, para os mais diversos fins; 2)

poluição do ar, do solo e da água; 3) ocupação desordenada e uso indevido do

solo, provocando em algumas áreas desertificação, erosão e assoreamento de

corpos aquáticos; 4) introdução de espécies exóticas.

Diante do atual quadro de degradação ambiental, são necessárias e

prementes que sejam tomadas sérias decisões no sentido de buscar a

conservação dos recursos naturais e recuperar aqueles que já foram bastante

explorados. Entretanto, não se pode perder de vista a possibilidade de um

desenvolvimento social justo e compatível com a conservação, ou seja, o

desenvolvimento com sustentabilidade sócio-ambiental.

De acordo com a Organização para Alimentação e Agricultura das

Nações Unidas, o termo desenvolvimento sustentável é definido como sendo:

“gerenciamento e a conservação da base de recursos naturais, e a orientação da mudança tecnológica e institucional na maneira como assegurar a presente e continua satisfação das necessidades humanas para a presente e futuras gerações. Este desenvolvimento sustentado (em agricultura, floresta e pesca) conserva o solo, água, recursos vegetais e animais, sendo não degradante ao meio ambiente, tecnicamente apropriado, economicamente viável e aceitável socialmente” (FAO, 1991).

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Para que haja o desenvolvimento sustentável é necessária à construção

de alternativas práticas que permitam que os recursos naturais sejam usados

de maneira consciente e que, dessa forma, o meio ambiente não sofra em

demasia. Nesse contexto foram criadas e validadas as leis ambientais e as

unidades de conservação. Estas integram o Sistema Nacional de Unidades de

Conservação (SNUC), criado no ano 2000, pela Lei nº 9.985 (BRASIL, 2000).

Dentre os diversos objetivos do SNUC, dispostos no artigo 4º da lei

supracitada, destacam-se:

“contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais; proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional; contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais; promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais”.

De acordo com o capítulo I do artigo 2º da Lei 9.985/2000, entende-se

como Unidades de Conservação “o espaço territorial e seus recursos

ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais

relevantes, legalmente instituídas pelo Poder Público, com objetivos de

conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual

se aplicam garantias adequadas de proteção”. Estas são descritas no capítulo

III e dividem-se em dois grupos, de acordo com seus objetivos básicos:

Unidades de Proteção Integral, cujo objetivo básico é preservar a natureza,

sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção

dos casos previstos nesta Lei, e as Unidades de Uso Sustentável, cujo objetivo

básico é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de

parcela dos seus recursos naturais.

De acordo com o artigo 8º da lei supracitada, o grupo das Unidades de

Proteção Integral é composto pelas seguintes categorias de unidade de

conservação: I - Estação Ecológica; II - Reserva Biológica; III - Parque

Nacional; IV - Monumento Natural e V - Refúgio de Vida Silvestre. Já o Grupo

das Unidades de Uso Sustentável, disposto no artigo 14º da mesma lei,

estabelece as seguintes categorias de unidade de conservação: I - Área de

Proteção Ambiental; II - Área de Relevante Interesse Ecológico; III - Floresta

Nacional; IV - Reserva Extrativista; V - Reserva de Fauna; VI - Reserva de

Desenvolvimento Sustentável e VII - Reserva Particular do Patrimônio Natural.

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Na Paraíba existem vários exemplos de Unidades de Conservação,

tanto do grupo de Proteção Integral quanto de Uso Sustentável. Entre as

administradas no âmbito federal, agora pelo recém-criado Instituto Chico

Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), constam, por exemplo:

Área de Relevante Interesse Ecológico dos Manguezais do Rio Mamanguape,

Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape, Área de

Preservação Permanente Mata do Buraquinho, Reserva Biológica Guaribas.

Em nível estadual, as unidades de conservação são administradas pela

Superintendência de Administração do Meio Ambiente – SUDEMA. Como

exemplos, podem ser citados: Reserva Ecológica Mata do Pau-Ferro, Parque

Estadual do Pico do Jabre, Estação Ecológica do Pau Brasil, Área de Proteção

Ambiental de Tambaba, Monumento Natural Vale dos Dinossauros. Existem

também algumas sob administração municipal, como o Parque Ecológico do

Distrito de Engenho Ávidos e o Parque Municipal Ecoturístico da Barra do Rio

Camaratuba, localizadas nos municípios de Cajazeiras e Mataraca,

respectivamente.

Uma das categorias de unidades de conservação que tem gerado

conflitos são as APAs (Áreas de Proteção Ambiental), pelo fato de, muitas

vezes, não se conseguir conciliar as atividades econômicas, o uso dos

recursos naturais pelas comunidades locais e a devida proteção que seus

ambientes precisam ter. Estas unidades são constituídas por áreas públicas ou

privadas que têm por objetivo disciplinar o processo de ocupação das terras e

promover a proteção dos recursos abióticos e bióticos dentro de seus limites,

de modo a assegurar o bem-estar das populações humanas que aí vivem,

resguardar ou incrementar as condições ecológicas locais e manter paisagens

e atributos culturais relevantes (IBAMA, 1997).

Na APA da Barra do Rio Mamanguape, local de realização deste

trabalho, existem diversos tipos de atividades econômicas, que podem, se não

executadas de forma adequada, provocar problemas ambientais e ir de

encontro aos objetivos da citada unidade de conservação. Dentre outras

podemos citar: atividade sucroalcooleira, aquicultura, agricultura familiar,

expansão imobiliária com fins de veraneio e o turismo sem planejamento.

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A atividade de carcinicultura, que é um dos ramos da aquicultura mais

rentáveis na economia mundial, tem sido muito questionada, no Brasil, quando

é realizada em área de APA. No sentido de normatizar esta atividade em

Unidades de Conservação, o Ministério do Meio Ambiente suspendeu as

concessões de anuências e de autorização para a instalação de novos

empreendimentos ou atividades de carcinicultura nas unidades de conservação

federais e suas zonas de amortecimento, através da Instrução Normativa N° 3,

de 16 de abril de 2008 (BRASIL, 2008). A carcinicultura ainda segundo a

referida Instrução Normativa, só seria permitida se esta estivesse prevista no

plano de manejo da unidade de conservação específica.

1.1 A Carcinicultura no Brasil

A carcinicultura destaca-se por sua ampla difusão em várias partes do

mundo (CAVALCANTI, 1998; OSTRENSKY et al., 2000). A criação de

camarões marinhos em cativeiro é, sem dúvida, uma das atividades comerciais

mais rentáveis da atualidade (LISBOA FILHO; CARLINI JÚNIOR, 2004). Tal

atividade cresceu no Nordeste brasileiro nos últimos anos, tornando-se

responsável por 90% da produção de camarões do Brasil, tendo o número de

fazendas aumentado de 20, em 1985, para 905 em 2003 (OLIVEIRA, 2006).

Dentro do panorama da carcinicultura, Rocha et al. (2004) informou que o

Brasil era o sexto colocado no “ranking” dos produtores mundiais de camarão

no ano de 2003.

O rápido crescimento da carcinicultura no Brasil destacou-se pela

velocidade de expansão da área ocupada pelas fazendas de engorda, do

número de fazendas, da produção e das exportações (ROCHA et al., op. cit.).

Tal crescimento proporcionou um aumento substancial de emprego e absorção

da população da região ocupada pela atividade (SAMPAIO; COSTA, 2003).

Mesmo sendo uma atividade econômica relativamente nova no Brasil, a

carcinicultura vem se tornando e se fortalecendo como uma das mais

promissoras atividades econômicas da região Nordeste. “A faixa costeira do

Brasil abriga grande parte da indústria de camarão nacional, além de centros

de processamento para o mercado e dos laboratórios de larvicultura. Mais de

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90% desta capacidade está na região Nordeste” (MERCADO DA PESCA,

2003).

“As condições naturais do litoral do Nordeste se apresentam de tal maneira favorável ao desenvolvimento do camarão cultivado, que é perfeitamente viável utilizar os 365 dias do ano para o cultivo permitindo realizar três ciclos anuais de produção. Esse indicador põe em evidência as vantagens comparativas da região em relação aos países produtores da Ásia, onde são aproveitados 240 dias de produção” (ABCC, 2002).

No Brasil, a atividade de Carcinicultura iniciou-se no Rio Grande do

Norte no ano de 1973, quando o Governo Estadual criou o “Projeto Camarão”,

tendo como alvo das pesquisas iniciais a espécie nativa Penaeus brasiliensis

(= Farfantepenaeus brasiliensis) (FRANCISCO, 2003). Este projeto visava

comprovar a viabilidade técnica e econômica do cultivo de camarões marinhos

no Estado do Rio Grande do Norte e promover a substituição da extração do

sal, atividade tradicional do Estado, que, na época, confrontava séria crise de

preço e mercado com conseqüente desemprego generalizado nas áreas

salineiras daquele estado (ABCC, 2001). As primeiras pesquisas científicas,

visando ao cultivo de camarão marinho nesse estado, foram desenvolvidas

pelo Núcleo Potengi, o qual se situava à margem esquerda do rio Potengi

(ROCHA et al., 1989).

Inicialmente, a implantação desse projeto contou com o apoio do Banco

de Desenvolvimento do Rio Grande do Norte – BDRN e da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, permanecendo nesse tempo

vinculado à Secretaria da Agricultura. No início da década de 1980, com a

criação da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte S/A –

EMPARN, os trabalhos de pesquisa desenvolvidos pelo Governo do Estado

foram transferidos para essa instituição, da mesma forma que a infra-estrutura

física e o pessoal do Projeto Camarão (ABCC, 2004).

No final da década de 70, a EMPARN importou a espécie Penaeus

japonicus (= Litopenaeus japonicus) e, durante o período de 1978 a 1984, o

“Projeto Camarão” passou, então, a sistematizar e desenvolver trabalhos de

adaptação desta espécie exótica às condições locais (ABCC, 2004).

Segundo Oliveira (2006), os resultados obtidos com a espécie P.

japonicus foram favoráveis em relação à reprodução, larvicultura, processos de

crescimento e engorda, nos três primeiros anos dos trabalhos da EMPARN.

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Esses dados foram a base para que novos incentivos federais e financiamentos

privados, como o FINOR (Fundo de Investimento do Nordeste), BNCC (Banco

Nacional de Crédito Cooperativo), FISET (Fundo de Investimentos Setoriais) e

SUDEPE (Superintendência para o Desenvolvimento da Pesca) fossem

trazidos para a atividade de carcinicultura.

Com o objetivo de melhorar a divulgação do cultivo e do desempenho da

espécie de camarão importada do Japão e a implantação das primeiras

fazendas desse cultivo no Nordeste, foi realizado, em setembro de 1981, em

Natal, o “I Simpósio Brasileiro Sobre Cultivo do Camarão”. Porém, os

resultados positivos nos primeiros anos de cultivo da espécie P. japonicus se

mostraram insuficientes, já que os mesmos coincidiram com um período de

estiagem bastante prolongado, o qual criou condições favoráveis ao seu bom

desempenho. Quando as condições ambientais normais foram restabelecidas,

o seu cultivo foi descartado, pois a espécie não suportou as variações de

salinidade do ambiente (ABCC, 2001; OLIVEIRA, 2006).

Devido aos problemas com a espécie P. japonicus, as pesquisas de

cultivo foram voltadas para as espécies nativas Penaeus subtilis (=

Farfantepenaeus subtilis), Penaeus schmitti (= Litopenaeus schmitti), Penaeus

brasiliensis (= Farfantepenaeus brasiliensis) e Penaeus paulensis (=

Farfantepenaeus paulensis) (ABCC, op. cit). Apesar do esforço de

aproximadamente 10 anos para viabilizar o cultivo destas espécies nativas, a

relação custo/benefício não se mostrou rentável, o que levou inúmeras

fazendas a serem desativadas e convertidas novamente em salinas

(OLIVEIRA, op. cit).

Para tentar reverter esse quadro, um grupo de pesquisadores e técnicos,

ainda na década de 1980, iniciou trabalhos de pesquisa com a espécie exótica

Litopenaeus vannamei, nativa do Pacifico Oriental. Essa motivação surgiu em

função do êxito do cultivo desta espécie em países como o Equador e Panamá,

devido à capacidade de adaptação a diferentes ambientes de cultivo, o que

contribuiu para elevá-la, em pouco tempo, à condição de principal espécie da

carcinicultura brasileira, sendo a única, atualmente, a ser cultivada em todo o

Brasil (OLIVEIRA, op. cit). A introdução de L. vannamei permitiu e vem

permitindo um maior avanço da indústria alimentícia de pescado no Brasil

(WAINBERG; CÂMARA, 1998). Pois devido segundo Moura (2005), o cultivo

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de camarão marinho em viveiros encontra no Brasil uma série de pontos

positivos a sua instalação e execução: fatores geográficos, hidrográficos e

climáticos.

Ainda segundo Moura (2005), a carcinicultura brasileira tornou-se uma

atividade economicamente viável, voltada, principalmente, para o mercado

internacional. Mas, entre os anos de 2004 e 2007, essa atividade passou por

crises nos mais diversos setores (ROCHA, 2007). Tal crise interrompeu um

crescimento exponencial médio de 71% ao ano, registrado entre 1997 (3.600 t)

e 2003 (90.180 t), sendo que, em 2004, a produção foi reduzida para 75.904 t.

e a partir de 2005, quando se registrou uma nova queda da produção (65.000

t), a mesma foi estabilizada em 2006 e 2007, no patamar de 65.000 t. Essas

oscilações devem-se a crise na economia, cheias, a acusação de “dumping” e

as doenças mionecrose infecciosa na região Nordeste e doença da mancha

branca em Santa Catarina. Diante dessa situação, os produtores de camarão

marinho voltaram-se para o mercado interno e passaram a adotar um cultivo

com menor densidade.

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1.2 A Carcinicultura e o Meio Ambiente

A carcinicultura, assim como qualquer atividade que utiliza os recursos

naturais, atua sobre o ambiente causando impactos, os quais, por sua vez,

podem ser positivos ou negativos, dependendo da qualidade da intervenção

(humana) desenvolvida (ANTUNES, 1998).

A carcinicultura é, sem dúvida, um dos setores da aqüicultura mais

controversos, tendo em vista que a sua rápida expansão na Ásia e na América

Latina, e mais recentemente na África, tem proporcionado geração de divisas

substanciais para muitos países por um lado e, por outro, provocado, em

função desse desenvolvimento, crescentes preocupações sobre impactos

ambientais e sociais (FAO/NACA/UNEP/WB/WWF, 2006).

De fato, a carcinicultura praticada de maneira inconseqüente e intensiva

pode gerar inúmeros problemas sócio-ambientais. Alguns países, como

Tailândia, Malásia, China, Taiwan, Equador, Filipinas, que possuíam uma

pratica intensiva e muitas vezes superintensiva, foram responsáveis por

consideráveis impactos negativos, tanto do ponto de vista ambiental quanto

social (CAVALCANTI, 2003).

Dentre várias implicações ambientais e sociais, inerentes à atividade de

carcinicultura, os autores Currie (1994), De Walt (1996), Primavera (1991) e

Nascimento (2000) citam:

1 – impactos sócio-culturais, ocasionando mudanças no padrão de vida e nas

atividades de subsistência das comunidades onde o empreendimento está

inserido;

2 – impactos sobre a vegetação, podendo resultar na supressão e degradação

dos ecossistemas manguezais e matas de restingas;

3 – impactos sobre a biodiversidade, ocasionando possivelmente a redução de

espécies associadas aos mangues, que tem nesses ecossistemas seus locais

de refúgio, reprodução e alimentação, como várias espécies de aves, peixes e

invertebrados;

4 – salinização de solos;

5 – impactos hidrológicos, que podem resultar em eutrofização, aumento da

demanda bioquímica de oxigênio e dos sólidos em suspensão;

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6 – impactos nos estuários, podendo provocar alteração no seu equilíbrio

hidrodinâmico, bem como o aumento no aporte de sedimentos;

Os Princípios Internacionais para a Carcinicultura Responsável,

estabelecidos pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e

Alimento), Network of Aquaculture Centres in Asia-Pacific (NACA), pelo

Programa Global de Ação para a Proteção do Ambiente Marinho das

Atividades Realizadas em Terra do Programa de Meio Ambiente das Nações

Unidas (UNEP/GPA), Banco Mundial (WB) e pela Worldwide Fund for Nature

(WWF) em 2006, incluem como principais conseqüências ecológicas da

carcinicultura, a “conversão de ecossistemas naturais, particularmente de

manguezais, para a construção de viveiros de camarão, os efeitos tais como a

salinização de lençóis freáticos e de terras agriculturáveis, a utilização da

farinha de peixe em rações de camarão, a poluição de águas costeiras devido

aos efluentes dos viveiros, aspectos de biodiversidade relacionados à coleta de

reprodutores e de pós-larvas no ambiente, e conflitos sociais em algumas

áreas costeiras. A sustentabilidade da carcinicultura é questionada por alguns

em vista de sua auto-poluição em áreas de cultivo de camarão, combinada com

a introdução de patógenos, resultando em grandes surtos de doenças, e por

perdas econômicas significativas nos países produtores”.

Um dos pontos que mais gera polêmica nessa prática econômica diz

respeito à derrubada de manguezais para a instalação das fazendas de cultivo.

Kapetsky (1985), Hirasawa (1988), Twilley (1989), McIntosh (1996) e Boyd

(1998) descrevem as experiências de inúmeros países, nos quais as áreas de

manguezal foram visivelmente devastadas, provocando várias mudanças na

vida das populações que dependem direta ou indiretamente desses

ecossistemas.

A atividade de carcinicultura tem proporcionado, em algumas

comunidades, o aumento da renda das populações do entorno das fazendas,

pela possibilidade de emprego fixo nos empreendimentos (SAMPAIO; COSTA,

2003). Todavia, a implantação destes empreendimentos, muitas vezes, implica

na privatização de acessos ao manguezal, quando os mesmos localizam-se

próximos a esse ecossistema, ao mar, rios e lagoas, locais muito utilizados

para a subsistência das populações pesqueiras (MATTOS et al, 2007).

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Boyd (1998) contrapõe-se a tantas opiniões pessimistas e comenta que

grande parte dos impactos ambientais, causados em regiões onde a

carcinicultura tem-se desenvolvido de forma acelerada, é conseqüência de mau

planejamento por parte de governos e produtores e nem sempre ela é

prejudicial ao ambiente. Esse autor ainda afirma que, infelizmente, alguns

ambientalistas têm sido parciais, ao condenarem, de forma radical, a atividade

como um todo.

De acordo com Maia et al. (2000),

“o avanço tecnológico da carcinicultura tem possibilitado o uso de algumas práticas de manejo que têm possibilitado minimizar ou mesmo evitar muitos dos impactos da atividade, podendo-se destacar as seguintes: uso de comedouros fixos, confeccionados com pneus usados; emprego massivo de berçários intensivos, proporcionando um maior aproveitamento em sobrevivência e sanidade dos animais; utilização de rações de alta qualidade e propícias ao crescimento de camarões, mesmo em altas densidades de estocagem; controle permanente dos parâmetros físicos da água de cultivo e manejo dos solos após as despescas para proporcionar a reciclagem da matéria orgânica”.

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2. OBJETIVOS

Ø Objetivo geral:

§ Avaliar as questões legais, sociais e ambientais de um empreendimento

de Carcinicultura implantado no interior da Área de Proteção Ambiental

(APA) da Barra do Rio Mamanguape.

Ø Objetivos específicos:

§ Identificar os impactos ao ambiente, positivos e/ou negativos,

decorrentes da implantação do empreendimento de carcinicultura da

Destilaria Miriri S/A na APA da Barra do Rio Mamanguape;

§ Avaliar se o monitoramento da água realizado no empreendimento está

atendendo as recomendações das resoluções Nos 312/02 e 357/05 do

CONAMA;

§ Avaliar os eventuais impactos decorrentes do tipo de manejo que vem

sendo adotado no empreendimento;

§ Verificar se há implicações sociais e econômicas na comunidade de

Tavares, localizada na área adjacente ao empreendimento, em função

da atividade de carcinicultura;

§ Avaliar, do ponto de vista legal, o processo de implantação da

carcinicultura da Destilaria Miriri S/A na APA da Barra do Rio

Mamanguape.

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3. ÁREA DE ESTUDO

A Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape é uma

Unidade de Conservação de Uso Sustentável, dentro da qual, encontra-se

instalado um empreendimento de criação de camarões marinhos,

Carcinicultura da Destilaria Miriri S/A, conhecido informalmente como Fazenda

de Carcinicultura FOCO.

A APA da Barra do Rio Mamanguape foi criada em 10 de setembro de

1993, pelo Decreto Federal de n° 924, ocupando uma área de 14.460 hectares

(BRASIL, 1993). Esta Unidade de Conservação se estende por áreas dos

municípios de Rio Tinto, Marcação, Lucena, abrangendo 32 vilas e povoados,

ainda de acordo com o referido decreto.

A APA da Barra do Rio Mamanguape era gerenciada pelo IBAMA em

parceria com outros órgãos, conforme disposto no artigo 3° do decreto

supracitado, e atualmente é gerenciada pelo Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade, conforme o inciso I do artigo 1° da Lei Federal

de N° 11.516, de 28 de agosto de 2007, que criou o referido Instituto (BRASIL

2007).

Ainda segundo o seu decreto de criação, a APA da Barra do Rio

Mamanguape tem como objetivos:

“garantir a conservação do habitat do peixe-boi marinho (Trichechus manatus), espécie ameaçada de extinção; garantir a conservação de expressivos remanescentes de manguezal, da Mata Atlântica e dos recursos hídricos ali existentes; proteger o peixe-boi marinho e outras espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional; melhorar a qualidade de vida das populações residentes, mediante orientação e disciplina das atividades econômicas locais; fomentar o turismo ecológico e a educação ambiental.”

Devido à ocorrência de peixe-boi marinho na Barra do Rio Mamanguape

foi instalada, nesta região, a primeira das cinco bases de pesquisa e manejo do

Projeto Peixe-Boi, do Centro de Mamíferos Aquáticos/IBAMA, espalhadas pelo

Nordeste do Brasil. O peixe-boi marinho, uma espécie criticamente ameaçada

de extinção, possui no estuário do Rio Mamanguape sua principal área de

reprodução no nordeste brasileiro (ANTUNES et al., 2006).

O estuário do rio Mamanguape, principal corpo aquático da APA, possui

uma enorme importância no âmbito biológico, pois a este ecossistema está

associado o mais extenso e preservado manguezal do Nordeste (CUNHA et al.,

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1994), representado pelas seguintes espécies arbóreas: Rhizophora mangle,

Avicennia germinans, Avicennia schaweriana, Laguncularia racemosa e

Conocarpus erectus (ALVES; NISHIDA, 2000).

De acordo com Maia et al. (2005), a área estimada de manguezal do

estuário do rio Mamanguape é de 4.565 hectares e devido a sua importância,

foi criado em 1985, pelo Governo Federal, através do decreto n° 91.890, a Área

de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) dos Manguezais do Rio Mamanguape

(BRASIL, 1985).

Além do extenso manguezal, outros ecossistemas, de igual importância,

são encontrados também nesta unidade de conservação, como os

remanescentes florestais de Mata Atlântica, restingas, estuários, lagunas,

lagoas, dunas, praias e recifes (ANTUNES et al, 2006).

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4. METODOLOGIA

O levantamento dos dados foi realizado no período de outubro de 2008 a

fevereiro de 2009 e consistiu dos seguintes pontos:

4.1 Instalações do Empreendimento de Carcinicultura da Destilaria Miriri.

A primeira etapa deste trabalho consistiu em realizar visitas ao

empreendimento, visando conhecer a área ocupada e as suas instalações.

Neste sentido, foi realizada uma caminhada pelo entorno da fazenda com o

objetivo de conhecer as suas instalações, desde o ponto de bombeamento,

passando pelos berçários e viveiros, verificando suas comportas de drenagem

e a praça de despesca. Também foram verificadas as condições da vegetação

de mangue que se encontrava sob influência do empreendimento. Em todas as

ocasiões eram feitas anotações em planilha específica e registros fotográficos.

4.2 Procedimento Legal do Projeto de Carcinicultura da Destilaria Miriri.

No intuito de conhecer o processo legal da implantação do

empreendimento de carcinicultura da destilaria Miriri, foi feito um levantamento

de todos os documentos disponíveis no citado processo, na biblioteca da

Superintendência de Administração do Meio Ambiente no Estado da Paraíba

(SUDEMA) e no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis na Paraíba (IBAMA/PB). Como forma de complementar as

informações do processo licenciatório deste empreendimento, foram

realizadas, também, entrevistas informais e formais, através de aplicação de

questionário específico (Anexo I), aos técnicos dos dois referidos órgãos

ambientais do estado da Paraíba e do Instituto Chico Mendes para

Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Nesta etapa, o gerente comercial e o supervisor da fazenda foram

também entrevistados, mediante questionário específico (Anexo II).

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4.3 Manejo Utilizado na Miriri.

O levantamento do tipo de manejo que vem sendo utilizado na fazenda

Miriri foi feito, inicialmente, através do acompanhamento no campo dos

técnicos da fazenda durante as suas diversas atividades. Além disso, foram

também aplicados questionários aos funcionários fixos e temporários da

fazenda (Anexo III).

4.4 Implicações da Implantação do Empreendimento na Comunidade de

Tavares.

A coleta de informações com a comunidade foi feita através de

conversas informais e da aplicação de questionários, semelhantes àqueles

empregados nas entrevistas feitas nos órgãos ambientais e no

empreendimento, tendo como objetivo perceber quais os impactos negativos

ou positivos que a carcinicultura está trazendo, no ponto de vista deles, para o

ambiente e para a sua comunidade (Anexo IV).

4.5 Qualidade da Água Utilizada no Empreendimento:

Visando avaliar se o empreendimento de carcinicultura da destilaria Miriri

vem atendendo as Resoluções CONAMA n° 312, de 10 de outubro de 2002, e

a de n° 357, de 17 de março de 2005, foram utilizados, mediante autorização

prévia, os dados do Projeto “Monitoramento Físico, Químico e Biológico de

Fazendas de Camarão do Estado da Paraíba”.

O referido projeto vem coletando amostras de água de diversas

fazendas de cultivo de camarão marinho no estado da Paraíba, dentre as quais

a do empreendimento de carcinicultura da destilaria Miriri. Tais amostras vêm

sendo coletadas trimestralmente, como recomenda a citada Resolução Nº 312

do CONAMA, normalmente em dias de maré de sizígia, nos seguintes pontos:

bombeamento, viveiros, drenagem, 100m a montante do ponto de descarga no

estuário do rio Mamanguape e 100m a jusante do mesmo ponto.

Os nutrientes analisados foram as concentrações de nitrito, nitrato,

amônia, fosfato, clorofila-a e material em suspensão, todos analisados com

base na metodologia do Standard Methods for the Examination of Water and

Wasterwater (2005).

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Instalações do Empreendimento de Carcinicultura da Destilaria Miriri.

O empreendimento de Carcinicultura Marinha da Destilaria Miriri S/A

(Fazenda FOCO) encontra-se localizado, aproximadamente, nas coordenadas

geográficas 6°48'13"S e 34°58'44"W. É constituído por 11 viveiros de engorda,

os quais são responsáveis por 37,3 hectares de área inundada, o que torna

esta fazenda um empreendimento de médio porte, de acordo com o que

estabelece a Resolução Nº 312 do CONAMA, de 10 de outubro 2002. (BRASIL,

2002)

A água utilizada para os viveiros é captada diretamente da gamboa

Serraria, através de quatro bombas fixas, e a drenagem de cada viveiro é feita

separadamente, ou seja, não há um canal específico de drenagem que sirva

para convergir toda a água de descarga. Dependendo da localização do

viveiro, a água de descarte poderá alcançar o estuário do Rio Mamanguape

pela gamboa Serraria, Barreiro ou Gravatá (Figura 1).

Figura 1 – Ponto 1: Gamboa Serraria; Ponto 2: Gamboa Gravatá; Ponto 3: Gamboa Barreiros;

Ponto 4: Rio Mamanguape; em detalhe a comunidade de Tavares. (Fonte: EIA/RIMA do

Empreendimento de Carcinicultura da Destilaria Miriri)

1

2 3

4

Ilha III

Foco

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Na FOCO não há bacia de sedimentação e, de acordo com o Gerente

Comercial deste empreendimento, o senhor Emanuel Pinheiro, tal estrutura não

foi prevista no projeto original, porque quando o mesmo foi elaborado, no ano

de 2000, ainda não havia exigência legal para tal procedimento. E atualmente,

o projeto para construir uma bacia de sedimentação para essa fazenda tornou-

se inviável, pois haveria necessidade de reconstruir o empreendimento e a

fazenda se utiliza de um manejo para tentar minimizar os nutrientes

descartados durante a troca de água e no momento de despesca.

De fato, na Resolução CONAMA n° 312/02 em seu artigo 14, consta

que:

“Art. 14 - Os projetos de carcinicultura, a critério do órgão licenciador, deverão observar, dentre outras medidas de tratamento e controle dos efluentes, a utilização das bacias de sedimentação como etapas intermediárias entre a circulação ou o deságüe das águas servidas ou, quando necessário, a utilização da água em regime de recirculação”.

De acordo com dados obtidos no EIA-RIMA deste projeto, o

empreendimento é formado por duas Ilhas, as ilhas I e III. A FOCO hoje ocupa

apenas a ilha I, mas pretende, em breve, utilizar também a Ilha III, quando

então passará a ter 63,8 hectares de área inundada (Figura 1).

As áreas denominadas de “ilhas”, ainda segundo o citado EIA-RIMA,

estão circundadas pela vegetação de mangue e apresentam uma cobertura

vegetal predominante de gramíneas, áreas estas que eram utilizadas na

criação de bufalinos, e anterior a essa utilização, a área (ilha I) era usada pela

comunidade para agricultura, sendo posteriormente abandonada. Essas

informações foram colhidas através de depoimentos e apresentação de fotos

fornecidas pelo gerente comercial da fazenda, o senhor Emanuel Pinheiro e

pelo supervisor, o senhor Givanildo Pereira, que afirmaram que para a

implantação desta fazenda não houve necessidade de supressão de vegetação

de mangue.

O corte dos manguezais é um dos principais pontos de discussão

quando se diz respeito aos impactos da carcinicultura, tendo em vista que

provoca grande desequilíbrio nesse ecossistema, já que o mesmo, segundo

Schaeffer-Novelli (1999), é muito frágil, complexo e abarca inúmeras funções,

pois é o berçário de várias espécies marinhas e o refúgio e fonte de alimento

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para inúmeras outras, além de ser fonte de matéria orgânica particulada e

dissolvida para as águas costeiras adjacentes, constituindo a base da cadeia

trófica, com espécies de importância econômica e/ou ecológica (SILVA et al.,

2004).

De fato, o manguezal é um ecossistema altamente produtivo e

economicamente importante, pois proporciona benefícios que, direta ou

indiretamente, garantem a sobrevivência das populações que vivem no seu

entorno (CARMO et al., 1995; DIEGUES, 1991; LACERDA; SCHAEFFER-

NOVELLI, 1992).

Observou-se que a vegetação do mangue, em determinados locais do

empreendimento, encontrava-se bem próxima dos viveiros. Segundo o senhor

Emanuel, isso ocorreu porque na ocasião da implantação desta fazenda, como

medida de compensação ambiental, foram abertos pequenos canais, entre a

borda do mangue e os viveiros, o que permitiu que houvesse uma colonização

natural dessa vegetação. Além disso, ainda segundo o Gerente Comercial, há

um constante trabalho de reflorestamento em torno da fazenda, aumentando,

ainda mais, a mata ciliar (Figura 2).

Figura 2: Área de reflorestamento do manguezal do entorno da fazenda.

Foto: Climélia Nóbrega (2008).

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Logo abaixo da saída das comportas de drenagem, verificou-se que há

diversos blocos de rocha calcária, com o objetivo de dissipar a energia da água

durante a despesca e evitar, com isso, que haja processo erosivo dessas áreas

aumentando assim, o transporte de sedimento para o manguezal e o estuário

(Figura 3). Tal aporte de sedimento, de acordo com Coelho Junior et al. (2004)

poderia afetar, direta e indiretamente, a fauna associada a esse ecossistema,

assorear os canais e contaminar biológica e quimicamente os corpos d´água.

Associado a esses dissipadores de energia, pôde-se evidenciar que a

água dos viveiros começa a ser liberada oito dias antes da despesca,

reduzindo-se bastante a vazão da mesma no processo de despesca. Tal

procedimento também evita o processo erosivo decorrente do grande volume

de água descartado durante a despesca e o transporte de sedimento para o

manguezal.

Figura 3: Disposição de rochas calcárias próximas à comporta de drenagem do viveiro. Foto: Gilson Moura (2009).

5.2 Procedimento Legal do Empreendimento de Carcinicultura da

Destilaria Miriri.

O procedimento legal para a implantação do projeto de carcinicultura da

Destilaria Miriri iniciou-se com o pedido de licença para limpeza de área,

fornecido pelo IBAMA/PB, no ano de 2001. Nessa época, entretanto, não foi

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requerido o pedido das Licenças Previa (LP), de instalação (LI) e de operação

(LO), conforme estabelece a Resolução do CONAMA n° 237 de 1997.

O senhor Emanuel, gerente comercial do referido empreendimento,

explica como ocorreu o processo: “na licença pra limpeza da área existem as

condicionantes, que dizem a respeito do afastamento que o talude teria que ter

do manguezal, como deveriam ser construídas as comportas de abastecimento

e despesca. E ai a gente começou a construir a fazenda, respeitando aqueles

condicionantes, mas na época eu não sabia que tinha que ter essa licença de

instalação e licença de operação”. “Então nós começamos a construir a

fazenda respeitando aquilo que foi acordado, e o IBAMA nos fiscalizou durante

a construção da fazenda”.

A construção da fazenda e o início do seu funcionamento ocorreram no

ano de 2001. E segundo o gerente comercial da fazenda, após a construção da

fazenda, os analistas do IBAMA/PB, que acompanharam esse procedimento,

emitiram um parecer favorável à emissão da LO, pois a fazenda havia

cumprido todos os condicionantes, e o encaminharam para o IBAMA em

Brasília, para que o mesmo concedesse a referida licença. Porém, a Diretoria

de Licenciamento Ambiental (DILIC), em Brasília, negou a licença de operação

do empreendimento, pois o mesmo não havia entrado com o pedido das

licenças iniciais para o licenciamento ambiental: a licença prévia e de

instalação e ainda recomendou que o local onde a fazenda fora implantada

voltasse às condições naturais. Diante dessa situação, o proprietário da

fazenda entrou com mandado de segurança para continuar em operação.

Funcionando sob mandado de segurança concedido pela Justiça

Federal, o proprietário entrou com o pedido de licenciamento ambiental junto a

SUDEMA. Essa atitude foi tomada quando os proprietários tomaram

conhecimento do parecer AGU/PGF/IBAMA PROGE Nº170/2003. Nele, a

Procuradora Federal Sônia Mª Pereira Wiedmann afirma que pela “inexistência

de uma Lei Complementar definindo os exatos limites da competência comum,

preconizada no artigo 23 da Constituição Federal e traduzido no federalismo

cooperativo, é que leva o IBAMA e os órgãos do SISNAMA - Sistema Nacional

do Meio Ambiente – e enfrentam dificuldades no exercício das suas

atribuições”. “De um lado, os estados federados entendem competir ao IBAMA

licenciar tão somente os empreendimentos que causem significativo impacto

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ambiental no âmbito regional ou nacional. De outro, as constantes

recomendações do Ministério Publico que entende ser competência originária

do órgão ambiental federal o licenciamento ambiental não apenas nos casos de

impacto nacional e regional, mas também que atinjam ou incidam sobre todas

as unidades de conservação, sobre os bens da União e ainda sobre o

Patrimônio Nacional”.

Ainda nesse mesmo parecer, a Procuradora Federal faz referência a

Resolução 237/97 do CONAMA, a qual tentou estabelecer os limites desta

competência em seu artigo 4º:

“Art. 4º - Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, órgão executor do SISNAMA, o licenciamento ambiental, a que se refere o artigo 10 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, de empreendimentos e atividades com significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, a saber: I - localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no mar territorial; na plataforma continental; na zona econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de conservação do domínio da União. II - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados; III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou mais Estados; IV - destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN; V- bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada a legislação específica”.

Com base nas informações do Artigo 4º, a Procuradora Federal discorre

no parecer que: “emerge daí que os licenciamentos ambientais nestas áreas,

quando não se enquadrarem nos cinco incisos acima listados, permanecem na

competência estadual que é regra geral encontrada no artigo 10 da Lei Nº

6.938/81, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente”.

“Art. 10 - A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais; considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA e do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis”.

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De acordo com os dados obtidos na biblioteca da SUDEMA, o processo

de licenciamento da carcinicultura marinha da Destilaria Miriri foi aberto no dia

28 de outubro de 2004 e tinha por objetivo a obtenção das Licenças Prévia, de

Instalação e de Operação.

Como estabelecido na Resolução 312/02 do CONAMA, que descrevem

acerca do licenciamento do empreendimento de carcinicultura, os seguintes

documentos foram apresentados a SUDEMA pela Destilaria Miriri S/A: Plano

de Controle Ambiental (PCA), Plano de Recuperação de Áreas Degradadas

(PRAD) e o EIA-RIMA.

Porém, por ainda não possuir o devido licenciamento ambiental, em

2006, o empreendimento foi fechado pelo IBAMA/PB, ficando por dois anos

embargada, tornando a funcionar em janeiro de 2008, por força de liminar

concedida pela Justiça Federal e apenas em setembro de 2008, o

empreendimento de carcinicultura da Destilaria Miriri consegui a licença de

operação, estando hoje devidamente licenciada pela SUDEMA.

O processo licenciatório, segundo a Resolução do CONAMA nº 237, art.

1º, inciso I, é um procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental

competente licencia a localização, instalação, ampliação e operação de

empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais,

consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob

qualquer forma, possam causar degradação ambiental.

O licenciamento ambiental é um procedimento rigoroso e dividido em

etapas que dependerão do estágio em que se encontra o empreendimento.

Vale ressaltar que o licenciamento ambiental deverá ser precedido do

EIA/RIMA, sempre que for constatada a relevância do impacto ambiental

(CONAMA nº. 237/97 e nº 312/02). As etapas de licenciamento são compostas

pela obtenção de licenças:

“Licença Prévia (LP) _ concedida na fase preliminar do

planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;

Licença de Instalação (LI) _ autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e os demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante;

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Licença de Operação (LO) _ autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e os condicionantes determinados para a operação. (CONAMA nº. 237/97, art. 8º, incisos I, II e III”).

5.2.1 Informações Obtidas Junto a Técnicos da SUDEMA

Foram entrevistados na SUDEMA os senhores Gilberto Souto Muniz de

Albuquerque, coordenador da Divisão de Floresta – DIFLOR, neste órgão há

12 anos, e Antônio Mousinho Fernandes Filho, engenheiro civil da assessoria

técnica da SUDEMA, na SUDEMA há 26 anos.

Ambos responderam as perguntas de maneira clara e objetiva. Quando

argüidos a respeito do que achavam da carcinicultura, o senhor Gilberto foi

taxativo: “Altamente viável, tanto ecologicamente, quanto economicamente,

desde que esteja dentro da legislação”. Já o senhor Mousinho foi mais

abrangente, relatou o inicio da atividade e os pontos de discussão que

permeiam a mesma: “A carcinicultura é uma atividade recente que teve uma

expansão muito rápida, e alguns fatos fugiram do controle, pois os órgãos de

fiscalização não tiveram tempo suficiente para estabelecer parâmetros para

minimizar os impactos”.

O senhor Mousinho afirmou que a falta de conhecimento a respeito da

carcinicultura prejudicou, no inicio, a atuação dos órgãos ambientais, mas que

depois de instituídas as resoluções que regem essa atividade, o controle

ambiental tornou-se muito mais eficaz. Hoje, a carcinicultura é regida pelas

Resoluções Nos 312/02 e 357/05. Porém, o principal ponto de discussão e de

discordância dos projetos de carcinicultura é a questão da bacia de

sedimentação, procedimento descrito no Artigo 14º da Resolução 312/02, pois

ainda não se têm dados que comprovem a poluição ou não dos corpos

receptores dos efluentes da carcinicultura.

Referente à situação da carcinicultura na Paraíba, o senhor Mousinho foi

categórico ao afirmar que no nosso estado não teve problemas semelhantes

aos vividos no Rio Grande do Norte e Ceará, pois os órgãos ambientais daqui

foram mais precavidos e os proprietários mais cuidadosos.

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Quando perguntado se há possibilidade de existir projetos de

carcinicultura com sustentabilidade ambiental e social, o senhor Gilberto, mas

uma vez foi objetivo e afirmou que a atividade traz mais impactos positivos que

negativos e que é a favor da atividade desde que ela respeite a legislação

vigente.

O senhor Mousinho também acredita que a carcinicultura possa ser uma

atividade sustentável, por que a mesma é uma atividade legal, produtiva, de

futuro e rentável tecnicamente, mas que é necessário ter atenção com o

ambiente. Quanto aos impactos negativos, a sua maior preocupação é com os

efluentes da atividade, mas outros podem ser citados, como o escape do

camarão para o estuário durante a despesca, pois ainda não se possui

embasamento cientifico para confirmar ou refutar esse possível impacto ao

ambiente. Em relação à influência dos efluentes nos manguezais, afirma: “Nós

notamos mesmo, que aquele mangue que não tem a contribuição do viveiro,

tem um comportamento diferente, comparado àquele que recebe essa

influência, o mangue é até mais bonito, mas não se sabe até que ponto isso é

prejudicial ou não àquela vegetação”.

Quando questionado a respeito do que poderia se feito para minimizar

os impactos da atividade, o senhor Mousinho recomenda a necessidade de

todo empreendimento possuir uma bacia de sedimentação para tratar os seus

efluentes.

Quando questionados sobre a possibilidade de existir um

empreendimento de carcinicultura no interior de uma Área de Proteção

Ambiental, ambos afirmaram que sim, que há essa possibilidade, e de acordo

com o senhor Gilberto: “se tiver tudo ok com os parâmetros exigidos pela

legislação, a atividade pode ocorrer sem problema, até por que APA é uma

área de uso sustentável, e pode suportar determinadas atividades, desde que

as mesmas estejam dentro dos padrões exigidos pela legislação”.

Segundo o senhor Mousinho, “a atividade da carcinicultura é uma

atividade como outra qualquer, com o licenciamento permitido, dentro da lei. A

APA tem suas limitações, as quais a empresa deve se enquadrar. Cada caso é

um caso especifico para ser estudado independentemente do outro. Não há

correlação entre a atividade de carcinicultura e a mesma ser incompatível com

a APA, o que há é a forma como ela será implantada. Eu acho que existe

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condição da APA conviver pacificamente com o empreendimento de

carcinicultura, como é o caso da destilaria Miriri”.

Foi perguntado também se em algum momento o projeto de

carcinicultura da Destilaria Miriri se negou a cumprir alguma recomendação

dada pela SUDEMA. Ambos responderam que esse empreendimento sempre

cumpriu o que foi pedido.

5.2.2 Informações Obtidas Junto a Técnicos do IBAMA/PB e ICMbio.

Nesta etapa do trabalho, foram argüidos o senhor Ivan Coutinho Ramos,

ex-superintendente do IBAMA/PB e, hoje, analista ambiental do referido órgão,

e a senhora Carla Marcon, antiga chefe da APA da Barra do Rio Mamanguape,

hoje chefe da FLONA – Floresta Nacional da Restinga de Cabedelo,

supervisionada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da

Biodiversidade).

De acordo com o senhor Ivan Coutinho “A carcinicultura é uma atividade

como qualquer outra, rentável, que abastece e gera um número de empregos

bem menor do que é pregado. Ela pode ocorrer dentro de todo o seu

regramento técnico e legal, respeitando o ambiente e o homem daquele local,

que geralmente é expulso da área para dar espaço a uma atividade que gera

pouco emprego, muito rentável e que só beneficia os proprietários. Mas se ela

estiver dentro dos critérios técnicos pode ser perfeitamente praticada, e eu

concordo com a mesma”.

Quando questionado a respeito dos impactos causados pela

carcinicultura no ambiente e na sociedade onde ela se insere, o senhor Ivan

afirmou que o maior problema para a comunidade é a privatização de uma área

pública, a total transformação da mesma e retirada do direito do cidadão sobre

aquela área. Apesar dessa preocupação, por parte do analista ambiental do

IBAMA, os dados levantados junto à comunidade demonstraram que parece

não ser o caso da comunidade de Tavares. Os moradores afirmam que a ilha,

onde foi implantado o projeto, não possuía uso, e que em nenhum momento se

sentiram privados do seu direito sobre aquela terra, ao contrário, gostaram da

presença da fazenda, pois trouxe mais possibilidades de renda para aquela

comunidade.

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Para o senhor Ivan Coutinho, os principais impactos causados ao

ambiente pela carcinicultura são: “instalação dos viveiros e a percolação da

água para o lençol freático, desmatamento, a drenagem de águas altamente

eutrofizantes para o ambiente estuarino, muitas vezes sem tratamento, e ai a

importância da bacia de sedimentação, e a paisagem que é totalmente

modificada”.

Questionado sobre a atividade da carcinicultura na Paraíba, ele nos

relatou que no início aconteceram brigas jurídicas, mas os problemas aqui na

Paraíba foram menores, pois o IBAMA procurou amenizá-los logo e hoje temos

a vigilância da sociedade. Ele também informou que aqui na Paraíba, alguns

projetos pequenos foram, de fato, instalados em áreas de mangue, com a

supressão total da floresta e alteração total da drenagem natural.

Com relação ao processo de fiscalização destes empreendimentos, ele

informou, até com certo constrangimento, que de fato não havia fiscalização

periódica. Ele nos relatou que “é um pecado nosso, tanto estadual, quanto

federal, não podermos acompanhar o funcionamento”.

Um outro questionamento feito ao senhor Ivan foi a respeito da

sustentabilidade ambiental e social da carcinicultura. Ele nos afirmou que não

possui meios técnicos para assegurar que a carcinicultura é uma atividade

sustentável, mas ele acredita que essa atividade seja ambientalmente

insustentável.

O senhor Ivan, ao ser questionado a respeito da possibilidade de

desenvolvimento da carcinicultura em áreas de proteção ambiental foi taxativo:

“Não, não acho que seja possível o desenvolvimento dessa atividade em

APA’s. Primeiro: proteção ambiental na essência é proteção de tudo e a

atividade de carcinicultura é totalmente modificadora. Mesmo sendo uma área

de uso sustentado a carcinicultura vai prejudicar aquele meio”. E quando

perguntamos a respeito do projeto de carcinicultura da Destilaria Miriri, ele foi

incisivo na sua afirmação: “o projeto foi implantado sem licenciamento prévio”.

O senhor Ivan afirmou que pelo fato do projeto se encontrar no interior

de uma APA, ou seja, em uma unidade de conservação supervisionada a nível

federal, o IBAMA seria responsável pelo licenciamento daquele

empreendimento e que todos os projetos que por ventura, estejam dentro da

APA é o IBAMA que deve licenciar.

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A senhora Carla Marcon confirmou que o projeto de carcinicultura da

Destilaria Miriri encontrava-se funcionando sem o devido licenciamento

ambiental, o que a levou a comunicar o fato ao Ministério Público e também

requereu uma auditoria pública, a qual culminou com o embargo do projeto.

A senhora Carla afirma não ser a favor da atividade de carcinicultura

(opinião pessoal), pois, segundo ela, a atividade é insustentável e os principais

problemas acarretados pela carcinicultura são: descarga de efluentes,

desmatamento e influência dos efluentes sobre os manguezais, percolação da

água dos viveiros e salinização do solo. Afirma que não acredita ser possível o

desenvolvimento da carcinicultura em APA’s, mas não despreza os méritos do

projeto de carcinicultura da Destilaria Miriri, pois se o empreendimento estiver

dentro dos padrões legais, a atividade pode funcionar sem problema.

De acordo com Valenti (2002), os principais impactos ambientais

causados durante a fase de operação dos cultivos são: 1. liberação de

efluentes ricos em nutrientes (principalmente Nitrogênio e Fósforo), causando

eutrofização em corpos d’água naturais; 2. liberação de efluentes ricos em

matéria orgânica e sólidos em suspensão, aumentando a turbidez em corpos

d’água naturais; 3. introdução de espécies exóticas e doenças no ambiente,

bem como a introdução nos ambientes de substâncias tóxicas e drogas bio-

acumulativas.

Entre os principais problemas apresentados pela carcinicultura descritos

por Valenti (op cit.), merece especial destaque os que são causados pelos

efluentes das fazendas de cultivo de camarão, principalmente se não forem

tratados antes de seu descarte no corpo receptor. Eles representam,

provavelmente, o maior dos impactos. Esses efluentes se originam na troca

diária da água dos viveiros e, em quantidades bem maiores, quando ocorre a

despesca (CUNHA et al., 2005).

De acordo com Boyd (1997), quando descarregados em ecossistemas

aquáticos naturais, esses efluentes lhes impõem uma carga poluente que pode

sobrepujar a capacidade de assimilação natural desses sistemas, podendo

acarretar a deterioração da qualidade da água dos corpos receptores dos

efluentes de fazendas de cultivo de camarão.

A maior parte dos empreendimentos implantados no Brasil não possui

qualquer tipo de tratamento de efluentes (GT-CARCINICULTURA DA CÂMARA

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FEDERAL, 2005). Até mesmo bacias de sedimentação são raras, e estas ainda

são efetivas somente na diminuição do descarte de material particulado, sendo

pouco ativas na redução da concentração de nutrientes. Isto indica a

necessidade de melhorar as rações e sua eficiência de utilização, reduzir o uso

de água através de reciclagem e trocas reduzidas, bem como melhorar o

tratamento dos efluentes para diminuição destes nutrientes (JACKSON et al.,

2003).

5.3 Manejo Utilizado na Miriri.

A aqüicultura depende fundamentalmente dos ecossistemas nos quais

está inserida. É impossível produzir sem provocar alterações ambientais, no

entanto, pode-se reduzir o impacto sobre o meio ambiente a um mínimo

indispensável, de modo que não haja redução da biodiversidade, esgotamento

ou comprometimento negativo de qualquer recurso natural e alterações

significativas na estrutura e funcionamento dos ecossistemas. Não se pode

desenvolver tecnologia visando aumentar a produtividade sem avaliar os

impactos ambientais produzidos (VALENTI, 2002).

Dos funcionários fixos, 7 dos 14 que trabalham no empreendimento

atualmente foram entrevistados e relataram como é o tipo de manejo adotado

pela Destilaria Miriri.

De acordo com as informações obtidas junto a estes funcionários e pelo

que foi observado, o arraçoamento (procedimento de alimentar os camarões

com ração) é feito duas vezes ao dia em bandejas, no início da manhã e final

da tarde. Para evitar desperdício de ração, o arraçoador verifica se está

havendo sobra de ração na bandeja e, diante disso, coloca a quantidade

necessária. Caso esteja sobrando ração na bandeja, o arraçoador coleta a

sobra e coloca no caiaque. Essa ração ficará exposta ao sol para secar e

posteriormente é levada para a Destilaria Miriri, onde as sobras serão usadas

no viveiro de peixes, mantido pela referida destilaria, evitando assim o

desperdício da ração.

O trabalho de arraçoar o viveiro é feito utilizando-se um tubo de PVC, a

fim de evitar que parte da ração seja perdida para a coluna d’água, o que

provocaria, além do desperdício, o aumento de matéria orgânica no viveiro e,

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como conseqüência, de nutrientes inorgânicos dissolvidos na água, através do

processo de decomposição (Figura 4).

Os arraçoadores explicaram que cada viveiro tem a quantidade certa de

ração, porque se acontecer de sobrar ração, eles diminuem a quantidade de

ração naquele viveiro. Eles conseguem reconhecer se o viveiro precisa de uma

quantidade maior ou menor de ração: “A gente quem ta dentro do viveiro é

quem sabe se o camarão vai comer ou não”, afirmou o senhor Severino Nunes

da Silva, de 38 anos, conhecido na comunidade como Tita. “Nós tem

autonomia de diminuir a ração, mas de aumentar só quando o técnico manda”,

concluiu ele.

O controle do uso da ração é um ponto positivo para o manejo dessa

fazenda, pois, segundo Nunes (2002), os efluentes de carcinicultura, além de

ricos em nutrientes, também o são em matéria orgânica e material em

suspensão nas formas particulada ou dissolvida. Os materiais particulados são

detritos orgânicos como fezes, restos de ração que não foi consumida e

fertilizantes. Os materiais solúveis são subprodutos inorgânicos da excreção

dos animais; os nutrientes são derivados das sobras de ração, de fertilizantes

empregados para estimular a multiplicação do fitoplâncton e de metabólitos

produzidos pelo camarão.

Lawrence et al. (2003) relatam que as rações têm sido identificadas

como o poluente mais importante na composição dos efluentes. Reforçando tal

A B

Figura 4: Procedimento de arraçoamento. A – arraçoador retirando o excesso de ração da bandeja; B – arraçoador colocando a ração no tubo de PVC que impede que a mesma seja desperdiçada para a coluna d’agua. Foto: Gilson Moura (2009).

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informação Boyd & Teichert-Coddington (1992) mencionam que o fornecimento

de alimento é o principal causador da deterioração da qualidade de água dos

viveiros e do acúmulo da matéria orgânica. O alimento não consumido e as

fezes dos camarões contribuem diretamente na poluição do viveiro sob a forma

de matéria orgânica.

A despesca consiste na total drenagem dos viveiros e captura dos

indivíduos para sua comercialização. A etapa inicia-se com a drenagem da água

dos viveiros oito dias antes da despesca, que é geralmente realizada no período

noturno. Os camarões são arrastados junto com a água drenada e capturados

por meio de uma rede colocada na saída do canal de drenagem do viveiro.

Nesse momento, podem ocorrer escapes dos camarões para o estuário.

Tal escape é o que mais preocupa os órgãos ambientais, tendo em vista que

não se conhece a fundo os eventuais efeitos que isto provocaria ao ambiente, já

que a espécie cultivada é exótica.

De acordo com dados levantados e pelo que foi observado, a referida

fazenda utiliza uma estratégia que visa evitar esses possíveis escapes. Durante

a despesca, que só ocorre quando os camarões estão no tamanho comercial, ou

seja, a partir de 12 gramas, os funcionários, além da rede colocada para a

captura do camarão, utilizam também duas redes de segurança, de tamanhos

de malha iguais ao da primeira, colocadas abaixo da primeira rede de

despesca, visando capturar eventuais indivíduos que passem pela primeira

rede (Figura 5).

Figura 5: Redes de segurança utilizadas para evitar o escape dos camarões durante a despesca. Foto: Gilson Moura (2009)

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Os impactos da introdução de espécies exóticas podem ser tanto

ambientais como sócio-econômicos. Os ecossistemas aquáticos são afetados

pela introdução de espécies exóticas através da predação, competição,

alterações genéticas, alteração de habitats e introdução de patógenos. A

comunidade humana também pode ser afetada através da alteração de

padrões de pesca ou através de alterações no uso da terra e acesso a recursos

quando espécies de alto valor comercial são introduzidas em determinada área

(PAZ et al. 2007).

Outros trabalhos, como IBAMA (2005), Meireles (2004), GT-

Carcinicultura (2005), também mencionam que o escape do camarão cultivado

para o mar e para os rios pode afetar a sobrevivência de camarões e de outras

espécies nativas, por ser alóctone ao ecossistema local. Entretanto, não há

ainda qualquer trabalho científico que relacione os citados impactos a

introdução do Litopenaeus vannamei em ambientes naturais. Barbieri & Melo

(2006), por exemplo, encontraram 42 exemplares de L. vannamei no complexo

estuarino-lagunar de Cananéia-Iguape-Ilha Comprida, mas não conseguiram

comprovar o fechamento do ciclo de vida desta espécie. Porém, mais

importante que o fechamento do ciclo da citada espécie exótica seria verificar

se essa espécie estabeleceria uma população viável, e se a mesma teria

vantagem na competição por alimento e espaço com espécies de camarão

marinho.

Todavia, é importante ressaltar que apesar das escassas informações,

cuidados devem ser tomados, haja vista o desconhecimento das possíveis

conseqüências ecológicas, socioeconômicas e sanitárias do escape dessa

espécie.

Um impacto adicional relacionado à despesca é o uso do metabissulfito

de sódio. Esta substância, segundo Silva (1988), é um conservante bastante

estável e libera uma grande quantidade de dióxido de enxofre (SO2), quando

diluído em água, por reação de hidrólise. Este composto é um sal inorgânico,

sendo utilizado pelos diversos tipos de indústrias, como a farmacêutica,

química, têxtil e alimentícia. Laurila et al. (1998) afirmam que os sulfitos são

agentes multifuncionais e possuem capacidade controladora do

desenvolvimento microbiológico nos alimentos.

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Na carcinicultura, o metabissulfito de sódio é usado para evitar a

ocorrência de melanose (manchas pretas) no camarão logo após a despesca

(ARAGÃO et al., 2008). Segundo o Conselho Nacional da Saúde (Resolução

CNS/N°4/88) o metabissulfito de sódio é aprovado para o beneficiamento de

camarões desde que as concentrações não ultrapassem 100 ppm no produto

final. De acordo com Nunes et al. (2005), não existe conhecimento da

quantidade desse produto que poderia ser lançada com segurança no meio

ambiente, o que aumenta a preocupação com o impacto causado pela

carcinicultura, já que grandes quantidades de metabissulfito de sódio são

liberadas nos corpos receptores de várias fazendas.

Por ser um conservante poderoso há exigências diferenciadas dos

países importadores quanto à concentração do metabissulfito em camarões

frescos e congelados. O senhor Emanuel Pinheiro, gerente comercial da FOCO

informou que, por exemplo, os Estados Unidos exigem que os camarões saiam

das fazendas com concentração entre 80 ppm e 120 ppm de metabissulfito, o

que faria que este produto chegasse ao seu mercado com uma concentração

dentro do limite de segurança, uma vez que há perda durante o transporte. Já

para a Europa, é exigido uma concentração inicial entre 100 ppm e 150 ppm

desse sal.

Silva et al. (2003) alertaram sobre a obrigatoriedade de se produzir

camarões congelados isentos de contaminação microbiológica, com vistas a

evitar prejuízos ao consumidor.

Silva (1988) alertou que se alguma das amostras de camarão apresentar

valores superiores a 100 ppm de metabissulfito poderá ocasionar crises de

asma, reações cutâneas (urticárias), diarréias, choque anafilático, dores de

cabeça, dores abdominais, náuseas e tonturas em indivíduos sensíveis.

O resíduo do metabissulfito de sódio é o dióxido de enxofre, que não é

prejudicial à saúde dos consumidores, quando se encontra numa faixa de 40

ppm a 100 ppm, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), citado por

Rocha; Maia (1998).

Já as suas implicações no ambiente são devido à sua ação antioxidante,

pois o metabissulfito de sódio seqüestra o oxigênio (O2) da água,

desestabilizando a dinâmica do ambiente, causando muitas vezes a

mortandade de organismos aquáticos (GÓES et al. 2006). Atkinson et al.,

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(1993) afirmam, ainda, que devido à toxicidade desse composto ele não deve

ser liberado in natura para o ambiente, pois a deposição deste resíduo, sem

tratamento, contribui para a salinização do solo.

Visando minimizar os impactos gerados pelo metabissulfito, que é

comumente utilizado por ocasião da despesca, foi construída uma praça de

despesca (Figura 6), onde este conservante é neutralizado antes de ser

descartado. Nela, o procedimento da despesca ocorre por fases:

1. Após serem retirados da rede, os camarões são colocados numa

caixa, que está nas valas da praça de despesca. Nessa caixa encontra-se gelo,

água e o metabissulfito onde os camarões morrem devido ao choque térmico;

2. Os camarões são retirados da caixa com o gelo, a água e o

metabissulfito e colocados em caixas de isopor, onde são e transferidos para o

caminhão e nele transportados para a comercialização;

3. A água junto com o metabissulfito cai nas valas, escorre para um

tanque onde é lançado o peróxido de hidrogênio para neutralizar o

metabissulfito;

4. O metabissulfito de sódio, já neutralizado, é bombeado para dentro de

um carro-pipa e levado a um local próximo à fazenda para ser descartado.

Nesse local há um tanque de alvenaria onde é lançada a solução neutralizada

de metabissulfito. Com o passar do tempo, devido ao processo de evaporação,

sobra no fundo do tanque apenas sal (Figura 7).

Segundo o senhor Ismael Alves, que já trabalhou temporariamente na

fazenda durante os períodos de despesca e hoje está como “arraçoador”

daquele empreendimento, a concentração de metabissulfito de sódio é menor

quando o camarão destina-se ao mercado interno e os funcionários que

trabalham durante a despesca usam máscaras.

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Figura 6: Praça de despesca (1), caixa onde são colocados o gelo, água e metabissulfito (2), valas por onde a água junto com o metabissulfito é escoada (3) e o poço, onde é realizada a neutralização do metabissulfito (4). Foto: Gilson Moura (2009).

Figura 7: Local de descarte do metabissulfito após neutralização. Em detalhe o aviso de área restrita. Foto: Gilson Moura (2009).

O supervisor da fazenda, o senhor Givanildo Pereira, ao ser argüido

sobre os principais aspectos a serem observados num empreendimento de

carcinicultura que contribuem para um bom manejo, respondeu o seguinte: “A

carcinicultura não traz nenhum problema para o ambiente quando ela é feita

com o manejo adequado. Aqui nós fazemos o controle de ração, mantemos

uma transparência alta, de 100% até se for preciso, a água tem que estar bem

oxigenada e no caso da despesca ter as redes de segurança para evitar o

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escape. Nossa captação de água é toda elétrica, por isso não temos problemas

com óleo, que poderia prejudicar o ambiente”.

Para o senhor Marcelo Pereira, 28 anos, técnico da fazenda, há alguns

aspectos preocupantes com a carcinicultura: “Desmatamento do mangue,

grande quantidade de ração na água, a espécie trabalhada que é exótica. É

necessário que as empresas tomem os devidos cuidados e evitar que o

camarão escape. Ter cuidado para que a ração não estrague o solo, por que

solo estragado estraga a água e dela vai para o mangue podendo prejudicá-lo”.

O senhor Givanildo afirmou que a fazenda não utiliza nenhum tipo de

substância química que possa vir prejudicar o ecossistema onde ela está

inserida: “Nós não usamos antibiótico, probiótico. As substâncias usadas aqui

são o calcário e a sílica. A sílica para enriquecer a água para produzir

diatomácea, alimento natural do viveiro. Calcário é usado para controlar e

neutralizar o pH do solo e da água e aumentar a alcalinidade da mesma”.

Tais informações coincidem com a do gerente comercial da fazenda, o

senhor Emanuel Pinheiro, que acrescentou a estas, o procedimento adotado

pela fazenda para desinfecção do solo do viveiro antes de iniciar o próximo

ciclo produtivo: “nós não usamos hipoclorito ou ácido clorídrico pra desinfecção

do solo. A desinfecção do viveiro pra mim é o sol, é expor o fundo do viveiro ao

sol por 15 a 20 dias e fazer aplicação do calcário, e se fica alguma poça

colocamos cal pra oxidar a matéria orgânica”.

Figueirêdo et al. (2006) afirmam para que a matéria orgânica encontrada

no fundo do viveiro após um ciclo de cultivo seja oxidada é necessário expor o

solo ao sol, em média, de 15 a 30 dias. Segundo Boyd (2003), o tempo

recomendado é 15 dias no máximo, pois uma exposição prolongada há um

comprometimento da comunidade microbiológica e dos processos naturais de

degradação da matéria orgânica.

A aplicação de calcário calcítico ou dolomítico tem por objetivo corrigir o

pH do solo. Essa prática é indicada para os viveiros no litoral, afirmam Barbieri

Júnior & Ostrensky Neto (2002), a partir da análise do pH. Já a aplicação de cal

virgem ou hidratada é realizada para eliminar ovos de peixe, macrófitas e

outros animais que poderão concorrer com o camarão pelo alimento e pelo

oxigênio quando for iniciado um novo ciclo. Essa aplicação aumenta

rapidamente o pH do local (cal virgem e hidratada) e a temperatura (cal

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virgem), provocando a morte de organismos aquáticos (FIGUEIRÊDO et al.,

2006).

Outro aspecto positivo observado foi o cuidado com a prevenção e o

controle de doenças infectocontagiosas dos camarões que vem sendo

realizado na fazenda. Além da biometria, que é realizada semanalmente,

amostras de camarões são analisadas para avaliar a qualidade sanitária destes

animais. A bióloga Jeandelynne Sampaio, consultora responsável pelas

análises da sanidade dos camarões, comenta que: “A melhor forma de

prevenção é cuidar dos animais e fortalecê-los para que eles possam suportar

o estresse de eventuais alterações climáticas, o que também previne o meio

em que estes animais se encontram de qualquer provável contaminação. Os

principais manejos realizados são os de aumento ou diminuição de ração,

aplicação de vitamina-C diretamente na ração consumida, trocas de água,

silicato e calcário”.

Este tipo de acompanhamento é importante, tendo em vista que a partir

desta avaliação periódica é possível detectar doenças em seu estágio inicial,

facilitando o seu controle e evitando a sua possível disseminação para o meio

ambiente. Aliás, tal disseminação para espécies nativas a partir de animais em

cativeiros pode trazer sérios danos ambientais. Segundo Bondad-Reantaso et

al. (2005), doenças infecciosas são uma das principais preocupações no

desenvolvimento da aqüicultura, pois acarretam perdas na produção,

aumentam os custos de operação, sofrem restrições para comercialização e

ainda podem gerar impactos na biodiversidade local.

5.4 Implicações da Implantação do Empreendimento na Comunidade de Tavares.

Junto ao empreendimento de carcinicultura da Destilaria Miriri encontra-

se a comunidade de Tavares com, aproximadamente, 146 famílias e cerca de

590 pessoas, as quais residem em casas predominantemente de alvenaria.

O primeiro contato com a comunidade foi feito com a presidente da

Associação Agrícola dos Moradores de Tavares, a senhora Eronide da Silva de

Almeida. Nesta visita também foi possível conhecer o senhor José Bento,

antigo presidente da Associação Agrícola dos Moradores de Tavares e hoje,

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atua como conselheiro fiscal desta associação. Ele falou acerca da realidade

local, o modo de vida das pessoas e como o manguezal vem sendo utilizado

pela comunidade. Segundo ele, algumas famílias ainda mantêm a atividade

agrícola, tanto para sua subsistência quanto para a comercialização. Tal

atividade abrange o plantio de macaxeira, batatas, inhame, milho e feijão.

Algumas famílias vivem, com muita dificuldade, da catação de caranguejo,

poucas pessoas possuem empregos fixos na prefeitura de Rio Tinto e várias

famílias sobrevivem graças ao auxilio do Bolsa Escola, benefício dado pelo

Governo Federal.

A maioria das pessoas da comunidade trabalha na Destilaria Miriri, onde

realizam diversas atividades vinculadas ao plantio, principalmente corte e

transporte da cana. Vale ressaltar que canaviais da Destilaria Miriri ocupam

uma grande área próxima a Tavares.

Atualmente a atividade da carcinicultura da Destilaria Miriri vem

contribuindo na oferta de empregos para essa comunidade, requisitando

pessoas para trabalhos permanentes e temporários, principalmente durante o

processo de despesca, melhorando, consequentemente, a qualidade de vida

das pessoas de Tavares. Segundo Eronide da Silva de Almeida, presidente da

Associação de Moradores, alguns dos serviços básicos, como saúde e

educação, melhoraram consideravelmente depois da implantação deste

projeto, tendo em vista que a empresa colaborou com a infraestrutura do posto

de saúde e da escola.

A empresa de carcinicultura da Destilaria Miriri possui 14 funcionários

fixos, dos quais 10 são da comunidade de Tavares. Durante a despesca, cerca

de 50 pessoas são requisitadas para o trabalho, desses 20 são mulheres, que

recebem, por dia, R$ 20,00 e os homens requisitados para o trabalho, recebem

R$ 30,00 também por dia de trabalho.

De acordo com Sampaio; Costa (2003), a expansão da carcinicultura

resultou em pontos bastante positivos para as populações locais, contribuindo

para o aumento de divisas do município onde as fazendas estão inseridas.

Além disso, a carcinicultura promove não só a inclusão social, quando

viabiliza oportunidades para micro e pequenos empreendedores, mas também

auxilia na geração de emprego renda e divisas para as populações

desfavorecidas do meio rural litorâneo, promovendo empregos estáveis e que

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privilegiam a população local, por não exigirem educação formal elevada dos

seus contratados (ROCHA, 2007).

Um quadro semelhante ao da comunidade de Tavares é relatado por

Silva (2007) em sua dissertação de mestrado. Nesta dissertação, a autora

descreve a relação dos moradores com o projeto de carcinicultura instalado no

município de Barra de Santo Antônio, em Alagoas. Ela relata que os

pescadores, residentes naquele município, afirmaram que não existe conflito

entre eles e a empresa de carcinicultura, pois não percebem impactos

negativos na produção pesqueira da região com a chegada da empresa de

cultivo do camarão marinho. Eles confirmaram também que com a instalação

da empresa no município tiveram novas oportunidades de emprego.

Contrariando esse quadro pacifico constatado em Tavares e Barra de

Santo Antônio, o relatório elaborado pela Comissão de Meio Ambiente e

Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados (BRASIL, 2005) lista

os principais impactos sociais causados pela carcinicultura, dos quais podemos

citar: 1. expulsão de marisqueiras, pescadores e catadores de caranguejo de

suas áreas de trabalho, ou a criação de obstáculos a seu acesso ao estuário e

ao manguezal com a privatização de terras da União, tradicionalmente

utilizadas para o extrativismo mineral e vegetal; 2. exclusão das comunidades

tradicionais no planejamento do manguezal, em descumprimento à legislação

ambiental; 3. pressão para compra de terras, com coação e ameaças aos

pequenos agricultores e lideranças comunitárias, gerando conflitos.

De acordo o EIA-RIMA do projeto de carcinicultura da destilaria Miriri, a

instalação da fazenda de carcinicultura originou ações junto à população

residente nas imediações do empreendimento, beneficiando, em especial, os

moradores da localidade de Tavares, seja gerando empregos, seja infundindo

noções de preservação ambiental, através da coleta seletiva de lixo, seja

oferecendo serviços de atendimento básico, como a reforma feita na escola da

comunidade, que ocorreu mediante a parceria firmada com a prefeitura.

Algumas dessas iniciativas podem ser ressaltadas: o financiamento para a

construção de casas de alvenaria; a disponibilidade de um veículo para

transporte dos moradores em casos de emergência; e a construção de um

ambulatório para atendimento médico, inaugurado em maio de 2004.

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Foram entrevistadas 16 pessoas da comunidade de Tavares que

confirmaram, através dos questionários aplicados, que há um bom

relacionamento entre a fazenda de camarão da Destilaria Miriri e a comunidade

de Tavares. Eles relataram algumas ações positivas que a instalação do

projeto trouxe para o local e todos concordaram, sem exceção, que a presença

da fazenda de camarão melhorou consideravelmente a comunidade deles.

Na entrevista concedida pelo senhor José Bento, ele nos afirmou que os

proprietários ajudam bastante às pessoas da comunidade, das mais diversas

maneiras, seja fornecendo transporte para doentes, possibilitando empréstimos

para a construção de casas de alvenaria, entre outros. Ele também nos relatou

como foi o processo de negociação dos empreendedores com a comunidade

para a instalação do projeto: “Foi no tempo do outro presidente da associação,

ele foi quem fez essa negociação pra fazer a fazenda lá. Lá era uma ilha

improdutiva. Então o rapaz achou que eles trabalhando ai e produzisse,

gerando emprego, ele achou que era bom pra comunidade, e consentiu que

eles trabalhassem lá”. Ainda em seu depoimento, seu Bento deixa claro, sob

seu ponto de vista, que a implantação do empreendimento não ocupou áreas

utilizadas pela comunidade, ele afirmou que: “Lá era um terreno que era até

difícil entrar por que não tinha movimento de nada. Antes só entrava lá quem

fosse pro mangue mesmo, pega caranguejo, fazer pescaria. Lá era um terreno

deserto, sem ninguém trabalhar”.

O senhor Antônio Gomes, 60 anos, antigo porteiro do empreendimento

de camarão, nos relatou o seu ponto de vista em relação ao estabelecimento

dessa fazenda: “Eu pensei que ia dá bom, por causa deles mesmos, pelo

respeito que usaram conosco, que somos daqui da comunidade, e para fazer

esse viveiro de camarão, primeiro veio Zumira, presidente do sindicato de Rio

Tinto, veio o pessoal da usina, veio diversas pessoas fazer reunião para vê se

a gente concordava com os viveiros para dar vida ao lugar”.

Porém, o filho do senhor José Bento, o senhor Daniel da Silva de

Almeida, 29 anos, motorista canavieiro da Japungú, afirmou que no período

relatado pelo seu pai ocorreram algumas decepções em relação ao projeto:

“Quando surgiu esses viveiros aí, nós esperamos mais chances do pessoal da

usina pro pessoal aqui do lugar, mas eles apoiaram muita gente de fora. Entrou

gente de Mamanguape pra trabalha, de Rio Tinto, de Cravaçú, Itaberaba, só

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chamaram um ou foi dois daqui do lugar. Mas hoje, eles tão dando apoio pra

turma do lugar. E se eu fosse o presidente da associação, naquela época, não

tinha permitido não, por que era pra eles ter dado chance pra o povo do lugar”.

Essa informação coincide com a do senhor Arlindo, 60 anos que nos

relatou que quando a fazenda estava para ser instalada, os proprietários o

procuraram querendo seu apoio e alegaram que na fazenda só trabalhariam

pessoas de Tavares, mas não foi bem o que aconteceu, pois, como afirmado

pelo senhor Daniel, pessoas de fora foram contratadas pela fazenda.

Refutando tal informação, o gerente comercial do referido projeto de

carcinicultura, o senhor Emanuel Pinheiro, alegou que “gente de fora” referida

pelos senhores Arlindo e Daniel eram pessoas das comunidades do entorno,

não só especificamente de Tavares, e as pessoas que vieram das cidades de

Rio Tinto e Mamanguape eram mais instruídas e capacitadas para trabalhar na

carcinicultura e tinham, também, o objetivo de capacitar outros funcionários,

notadamente da comunidade de Tavares.

Em relação aos conflitos gerados pela presença da fazenda naquela

comunidade, a senhora Eronilde da Silva de Almeida nos contou que o único

conflito existente é em relação ao corte de manguezal. Ela confirmou que a

relação entre a comunidade e o projeto de carcinicultura é boa, mas que as

pessoas que fazem parte do projeto não permitem que a comunidade retire

madeira do mangue.

O seu relato foi o seguinte: “o povo aqui queima lenha, por que nem todo

mundo pode comprar o bujão. O povo tava entrando lá pra fazenda e eles

tavam impedindo deles tirar lenha, aí vieram e se comunicaram comigo e eu

disse que ia conversar com Carla, a mulher do IBAMA. Aí, eu fui e chamei ela

aqui para uma reunião, e ela veio. Ela explicou que a madeira do mangue

ninguém pode mexer, nem lenha seca, nem verde. Mas, aí, o povo perguntou:

e a gente vai fazer o quê? Vamos cozinhar com o que? Se a gente não tem

condições de comprar o gás. Carla respondeu: Olhe, a gente não libera lenha

pra ninguém!”

“Eu entendo eles (a fazenda), num lado, e entendo os moradores

também, por que se não a gente vai viver de quê? Comer o quê? Aí só teve

esse problema e até hoje não foi liberado, porque o IBAMA não libera pra você

entrar lá dentro pra tirar lenha.”

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Quando questionada se o IBAMA deveria liberar a retirada do mangue

para o pessoal da comunidade, a senhora Eronilde não pensou duas vezes,

respondeu firmemente que achava que sim, por que nem todas as pessoas da

comunidade têm condições de comprar um bujão.

O Código Florestal Brasileiro diz no seu artigo 2º que: “consideram-se de

preservação permanente, pelo só efeito desta lei, as florestas e demais formas

de vegetação natural situadas (alínea "f"): nas restingas, como fixadoras de

dunas ou como estabilizadoras de mangues” (BRASIL, 1965).

5.5 Dados Hidrológicos

Para avaliar a situação da qualidade da água do empreendimento de

carcinicultura da Destilaria Miriri, foram utilizados os dados referentes a

nitrogênio (nitrato, nitrito e amônia), fosfato, clorofila-a e material em

suspensão, amostrados nos meses de maio, setembro e dezembro de 2008, os

quais se encontram na Tabela 1.

O Capítulo II da Resolução 357/05 dispõe da classificação dos corpos de

água:

“As águas doces, salobras e salinas do Território Nacional são classificadas, segundo a qualidade requerida para os seus usos preponderantes, em treze classes de qualidade. As águas doces são classificadas em classe especial e nos tipos I, II, III e IV. As salinas também são classificadas em classe especial e nos tipos I, II, III, cada uma com suas peculiaridades e especificações”.

A Resolução 357/05 do CONAMA estabelece valores máximos

permitidos para vários parâmetros em águas salobras, classe I, especificados

na tabela abaixo. Porém, não há referência para os valores de fosfato, material

em suspensão e de clorofila-a nesta resolução.

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FAZENDA FOCO 05/05/2008 01/09/2008 12/12/2008

Nitrato VR = 0,40 mg/l

Bombeamento 0,17 ND 0,03 Viveiro 1 0,10 ND ND Viveiro 2 0,11 ND 0,04 Drenagem 0,09 0,01 0,09 Jusante 0,18 ND 0,05 Montante 0,14 0,18 ND

Nitrito VR = 0,07 mg/l

Bombeamento 0,01 ND ND Viveiro 1 ND ND ND Viveiro 2 ND ND ND Drenagem ND ND 0,01 Jusante 0,01 ND 0,01 Montante 0,01 ND 0,01

Amônia VR = 0,40 mg/l

Bombeamento 0,22 0,21 ND Viveiro 1 0,15 0,22 ND Viveiro 2 0,28 0,16 ND Drenagem 0,36 0,17 ND Jusante 0,15 0,37 0,32 Montante 0,31 0,17 0,22

Fosfato

Bombeamento 0,01 ND ND Viveiro 1 0,02 ND ND Viveiro 2 0,01 ND ND Drenagem ND ND ND Jusante 0,02 ND ND Montante 0,03 ND ND

Clorofila (a) µg/L

Bombeamento 1,78 2,23 42,10 Viveiro 1 37,57 12,03 152,13 Viveiro 2 1,91 11,69 24,06 Drenagem 20,05 2,29 78,05 Jusante 9,36 1,23 6,01 Montante 2,14 2,29 6,35

Material em

Suspensão

Bombeamento 12,23 19,44 81,67 Viveiro 1 47,25 6,64 75,75 Viveiro 2 7,21 5,91 137,50 Drenagem 63,55 17,18 98,93 Jusante 12,25 13,08 29,92 Montante 12,78 20,70 40,88

Tabela 1: Dados de parâmetros hidrológicos do empreendimento de carcinicultura da Destilaria Miriri. VR = Valor de referência da Resolução 357/05 do CONAMA; ND = Teor abaixo do limite mínimo de detecção do espectrofotômetro. Fonte: Projeto de Monitoramento Físico, Químico e Biológico das Fazendas de Camarão do estado da Paraíba, realizado pelo Laboratório de Hidrologia e Microbiologia do Departamento de Sistemática e Ecologia da UFPB, objeto de um convênio firmado entre a UFPB, SEBRAE, SENAR e FAEPA.

De acordo com os dados do relatório da fazenda de carcinicultura da

Destilaria Miriri, elaborado por Moura; Sampaio (2009), os teores de nitrato, em

todas as coletas e pontos amostrados, se mantiveram abaixo do valor de

0,40mg/l, ou seja, não atingiram o valor máximo permitido pela Resolução

supracitada. As concentrações desse nutriente oscilaram entre abaixo do limite

de detecção espectrofotométrica (ND) a 0,18mg/L.

Esse nutriente é formado pela completa oxidação da amônia através do

processo de nitrificação. Segundo Russo & Turston (1991), quando o nitrato

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ocorre em altas concentrações e outros nutrientes estão presentes, pode haver

eutrofização associada a grandes florescimentos de algas, embora o mesmo,

sozinho, não seja capaz de provocá-las.

Assim como para o nitrato, os valores de nitrito estiveram abaixo do

limite estabelecido pela referida resolução. Observou-se que, na maioria das

amostras, os valores permaneceram abaixo do limite de detecção

espectrofotométrica (ND) e naquelas onde foi possível realizar leituras, as

concentrações não ultrapassaram 0,01mg/L. Tais dados são bastante

favoráveis ao ambiente, pois o processo de formação do nitrito pode ser

benéfico pela redução dos níveis de amônia no ambiente, que é tóxica em altas

concentrações. Todavia, se os níveis de nitrito se elevarem, a água pode

tornar-se tóxica (CAVALCANTI, 2003).

Para as análises de amônia, as maiores concentrações observadas

foram: 0,37mg/L no ponto 100m a jusante do lançamento dos efluentes, na

coleta ocorrida no mês de setembro, e 0,36mg/L, no ponto de drenagem, na

coleta do mês de maio. Em algumas situações, como na coleta realizada em

dezembro, as menores concentrações foram verificadas nos viveiros e na

drenagem, onde os teores de amônia ficaram abaixo do limite de detecção

espectrofotométrica (ND), diferentemente dos pontos localizados nos estuários,

onde foram verificadas concentrações de 0,22mg/L, no ponto 100m a montante

e 0,32mg/L, no ponto 100m a jusante do ponto de descarte dos efluentes.

Nos ambientes de cultivo a amônia é liberada pelo processo de

decomposição da matéria orgânica, podendo ser usada novamente pelas

plantas ou transformada em nitrato pelo processo de nitrificação (BOYD, 2000).

Os valores correspondentes às análises de fosfato na coleta do mês de

maio oscilaram entre “ND” e 0,03mg/L, sendo que os teores dos viveiros foram

iguais ou abaixo daqueles encontrados nos pontos de coleta no estuário do rio

Mamanguape, ou seja, 100m a montante e 100m a jusante da confluência da

camboa utilizada como drenagem e o referido estuário. Já nas coletas

realizadas nos meses de setembro e dezembro, os teores desse nutriente

foram tão baixos que não foi possível detectá-los espectrofotometricamente.

Quando o fósforo, na forma de fosfato, é adicionado em um ambiente de

cultivo, através de fertilizante, alimento (ração), água de abastecimento, entre

outros, grandes concentrações permanecem na água por horas ou dias, sendo

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que a maior parte é absorvida pelas plantas e bactérias. O solo do viveiro,

porém, é responsável pela absorção de sua maior parte, cerca de 65% do total,

sendo que aproximadamente 25% são removidos, incorporados aos animais

quando das despescas, e apenas 10% são descarregados através dos

efluentes (BOYD, 2000; MATSUDA; BOYD, 1994).

Já os teores de biomassa primária (clorofila-a) são, naturalmente, mais

elevados devido ao cultivo em ambiente fechado, no interior dos viveiros, do

que nos pontos de bombeamento e no estuário. Redding et al. (1997) afirmam

que os principais impactos dos efluentes sobre os ambientes naturais são o

aumento das concentrações de nutrientes na água e no sedimento e o

incremento das populações de fitoplâncton e de bactérias.

Comprovando que os teores de clorofila-a são maiores no interior dos

viveiros, devido ao cultivo em ambientes fechados, nas análises dos viveiros na

coleta do mês de maio e dezembro apresentaram, respectivamente, os teores

de 37,57µg/L e 152,13µg/L, entretanto, ao se avaliar os valores dos pontos

100m a montante e 100m a jusante no estuário do rio Mamanguape, percebe-

se uma pequena interferência na coleta do mês de maio. Nesta coleta notou-se

que o valor de 2,14µg/L, detectado 100m a jusante, ficou abaixo do encontrado

a 100m a montante, 9,36µg/L, o que poderia sugerir, a princípio, um efeito da

drenagem, que obteve um teor de 20,05µg/L, sobre o estuário.

As concentrações de material em suspensão, assim como as de

clorofila-a, tendem a ser maiores nas amostragens dos viveiros e drenagem.

Tal comportamento foi observado nas coletas de maio e dezembro, mas

observando-se os valores encontrados nos pontos 100m a montante e 100m a

jusante, pode-se indicar que o estuário do rio Mamanguape não está

apresentando um aumento de material em suspensão advindo do cultivo de

camarão marinho da Destilaria Miriri.

Nunes (2002) relata à importância do tratamento de efluentes da

carcinicultura e enfatiza que a descarga de nutrientes, matéria orgânica e

material em suspensão durante a despesca é grande e poderiam, de acordo

com Boyd (1997) sobrepor a capacidade de assimilação do estuário, podendo

resultar na deterioração da qualidade da água dos receptores dessas

descargas. Daí, caso a fazenda apresente em seus efluentes uma alta taxa de

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nutrientes, matéria orgânica e material em suspensão, faz necessária a

utilização da bacia de sedimentação.

De acordo com os dados do supra citado relatório, o empreendimento de

carcinicultura da Destilaria Miriri, vem atendendo as recomendações da

Resolução do CONAMA n° 357/05, mesmo sem ter uma bacia de

sedimentação, pois se utiliza de outros meios, como o controle do uso da

ração, o uso de bandejas que diminuem a liberação da ração para a coluna

d’água, para melhorar a qualidade da água que é descartada pela fazenda.

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6. CONCLUSÕES

1 – A empresa de carcinicultura da Destilaria Miriri foi instalada em uma ilha

coberta por gramíneas, sem provocar desmatamento de vegetação de mangue;

2 – Apesar da atividade carcinicultora ser potencialmente impactante e sua

instalação em APA’s ser questionada, a fazenda de cultivo da destilaria Miriri

desenvolve um manejo que atende as resoluções específicas do CONAMA;

3 – Há divergências entre a SUDEMA e o IBAMA sobre a responsabilidade

pela emissão de licenças ambientais na APA da Barra do Rio Mamanguape;

4 – Técnicos entrevistados da SUDEMA acreditam ser possível a implantação

de projetos de carcinicultura em APA’s, diferentemente dos técnicos do IBAMA

e do ICMBio;

5 – O manejo que vem sendo utilizado pela Destilaria Miriri, como o uso

racional de ração e o uso de bandejas para alimentar os camarões, são pontos

positivos para o meio ambiente;

6 - Os dados hidrológicos analisados mostraram que os efluentes do

empreendimento de carcinicultura da Destilaria Miriri não trazem prejuízos ao

ambiente e estão dentro dos parâmetros exigidos pela Resolução 357/05,

mesmo sem possuir uma bacia de sedimentação para tratá-los;

7 – A maioria das pessoas da comunidade de Tavares afirma que o

empreendimento trouxe vários benefícios para a comunidade.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar ter sido constatado, através dos dados coletados, que o

empreendimento de carcinicultura da Destilaria Miriri, em relação à questão

ambiental, vem funcionando de forma satisfatória, mas é necessário que

avaliações periódicas continuem sendo realizadas pelos órgãos competentes, a

fim de garantir que esta atividade não venha provocar qualquer tipo de

interferência negativa ao meio ambiente.

É importante chamar a atenção de que os dados aqui levantados são,

ainda, preliminares e retratam a realidade de apenas um empreendimento,

dentro de um período específico. Portanto, se faz necessário que outros dados

venham a ser analisados, a fim de complementar estas informações, bem

como que sejam avaliados outros empreendimentos, para que se possa ter

resultados mais precisos a respeito desta atividade.

O objetivo de retratar a realidade de um empreendimento não foi a de

mostrar que a carcinicultura é uma atividade sustentável ou incompatível

ambientalmente, mas a de demonstrar que se uma fazenda de cultivo de

camarão marinho possuir um manejo adequado, ela pode sim, se tornar uma

atividade sustentável.

É fundamental que qualquer tipo de empreendimento que venha a ser

implantado, além de se preocupar com a questão ambiental, tenha, também,

responsabilidade social, notadamente, quando estes empreendimentos se

instalam em áreas onde há presença de comunidades tradicionais.

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8. REFERÊNCIAS ABCC. Associação Brasileira de Criadores de Camarão. Noticias Estatísticas da FAO sobre o camarão cultivado brasileiro. Recife, ano 3, nº 3, dez. 2001. ________.Associação Brasileira de Criadores de Camarão. O agronegócio do camarão marinho cultivado. Recife, 20p. 2002. ________. Projeto Executivo para Apoio Político ao Desenvolvimento do Camarão Marinho Cultivado, Recife, 11p. Janeiro de 2004. ALVES, R. R. N., NISHIDA, A. K. Aspectos Socioeconômicos e Percepção Ambiental dos Catadores de Caranguejo-Uçá Ucides Cordatus Cordatus (L. 1763) (Decapoda, Brachyura) do Estuário do Rio Mamanguape, Nordeste do Brasil. INCI, v.28, n.1 – Interciencia. Caracas, p. 36-43. 2003. ANTUNES, L. R., RODRIGUES, G. S., BUSCHINELLI, C. C. A., RODRIGUES, I. A. Gestão Sustentável da Biodiversidade na APA da Barra do Rio Mamanguape (PB). In: 3º. Seminário Internacional Ciência e Tecnologia na América Latina, 2006, Campinas. Caderno de Resumos do 3º. Seminário Internacional Ciência e Tecnologia na América Latina - A Universidade como Promotora do Desenvolvimento Sustentável, 7 p. 2006. ANTUNES, P. de B. Direito Ambiental. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Júris, 505p.1998. ARAGÃO, J. S., CASTRO, C. B. de, COSTA-LOTUFO, L. V. Toxicidade do Metabissulfito de Sódio em Mysidopsis Juniae. Arq. Ciên. Mar, Fortaleza, 41(1): 24-29, 2008. ATKINSON, D.A.; SIM, T.C.; GRANT, J.A. Sodium metabisulfite and SO2 release: an under recognized hazard among shrimp fishermen. Annals of Allergy, 71. 1993. BARBIERI, E., MELO, G. A. S. Biodiversidade: ocorrência da espécie exótica Litopenaeus vannamei (Boone, 1931) no complexo estuarino-lagunar de Cananéia-Iguape-Ilha Comprida. O Mundo da Saúde. São Paulo: out/dez 30 (4), p. 654-659, 2006. BARBIERI JÚNIOR, R. C., OTRENSKY NETO, A. Camarões marinhos - engorda. Editora: Aprenda Fácil, 351 p. Viçosa, MG. 2002. BONDAD-REANTASO, M.G., SUBASINGHE, R.P., ARTHUR, J.R., OGAWA, K., CHINABUT, S., ADLARD, R., TAN, Z., SHARIFF, M. Disease and health management in Asian aquaculture. Veterinary Parasitology. v.132, n. 3-4, set. p. 249-272, 2005. BOYD, C. E. Manejo do solo e da qualidade da água em viveiro para aqüicultura. Alabama: Associação Americana de Soja, 1997.

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A N E X O S

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Anexo I Modelo do questionário aplicado nas entrevistas com os órgãos ambientais. Órgão Ambiental: Nome: Cargo: Quanto tempo trabalha no referido órgão? 1) O que você acha da carcinicultura?

2) Em sua opinião quais os impactos que a carcinicultura provoca, seja no

meio ambiente, seja nas comunidades onde estão inseridas?

3) Em algum momento a fazenda se negou a cumprir alguma recomendação

dada pelos órgãos ambientais?

4) O que provocou o fechamento do projeto de carcinicultura da Miriri?

5) Há fiscalização periódica dos empreendimentos de carcinicultura?

6) Você acha possível haver projeto de carcinicultura com sustentabilidade

ambiental e social? ( ) Sim ( ) Não. Por quê?

7) Quais os principais problemas causados pela carcinicultura no Estado da

Paraíba?

8) Você acha possível o desenvolvimento da carcinicultura em APAs? Por

quê?

9) Em sua opinião, o que poderia ser feito para minimizar os eventuais

impactos causados por essa atividade?

10) O que você gostaria de acrescentar?

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Anexo II Modelo do questionário aplicado nas entrevistas com o gerente comercial e o

supervisor do projeto de Carcinicultura da Destilaria Miriri.

Nome: Cargo:

1) O processo de implantação da APA trouxe alguma mudança para a Miriri?

( ) Sim ( ) Não.Quais?

2) Em sua opinião, em que pontos a implantação da APA dificultou o estabelecimento do projeto de carcinicultura?

3) Após a implantação do projeto de carcinicultura, houve mudanças na comunidade? ( ) Sim ( ) Não.Quais?

4) Você acha que essa espécie de camarão pode trazer algum risco para o ambiente no caso de estouro de viveiro? Por quê?

5) Quantos empregos diretos e indiretos (despesca) são gerados pelo empreendimento?

6) No ato da despesca é comum o escape do camarão para o estuário?

( ) Sim ( ) Não.

7) Há algum cuidado para evitar o escape do camarão? Qual?

8) A relação entre a fazenda e os órgãos ambientais é boa ou ruim? Por quê?

9) Como é o relacionamento do empreendimento com a comunidade do entorno?

10) Como a comunidade recebeu a noticia da instalação do empreendimento?

11) Em sua opinião, por que a carcinicultura é tão mal vista pelos órgãos ambientais?

12) Em sua opinião quais os impactos que a carcinicultura provoca?

13) O que vem sendo feito para minimizar os eventuais impactos causados por essa atividade?

14) O que os empresários poderiam fazer para que a atividade fosse mais bem aceita?

15) Como se deu o processo de implantação do projeto de carcinicultura?

16) Por que a fazenda encontra-se funcionando sob liminar?

17) Quais os aspectos positivos do projeto de monitoramento que vem sendo realizado pela UFPB?

18) O que você gostaria de acrescentar?

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Anexo III Modelo do questionário aplicado nas entrevistas com os funcionários do

empreendimento de Carcinicultura da Destilaria Miriri.

Nome: Apelido: Idade: Profissão: Há quanto tempo mora na comunidade? Já trabalhou ou trabalha no empreendimento de carcinicultura da Destilaria Miriri?

1) Você gosta de morar em Tavares?

2) Depois que a fazenda de camarão foi construída, aconteceram coisas boas ou ruins na comunidade? ( ) Sim ( ) Não. Quais?

3) Você sabe se esse camarão do viveiro traz algum problema para os camarões, peixes ou caranguejos que vivem no rio? ( ) Sim ( ) Não. Por quê?

4) Como é a relação da comunidade e o IBAMA? ( ) boa ( ) ruim? Por quê?

5) Como é o relacionamento da comunidade com a fazenda de camarão?

6) Você sabe se a fazenda pode trazer algum problema para o mangue ou para o rio? E para a comunidade?

7) Como você recebeu a noticia de que seria construída uma fazenda de camarão perto da sua casa?

8) O que aconteceu com a sua situação financeira no período que a fazenda ficou fechada?

9) No ato da despesca é comum o camarão escapar para o estuário? ( ) Sim ( ) Não.

10) Há algum cuidado para evitar que o camarão escape? ( ) Sim ( ) Não. Qual?

11) O que você gostaria de acrescentar?

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Anexo IV

Modelo do questionário aplicado nas entrevistas com a comunidade de

Tavares.

Nome: Apelido: Idade: Profissão: Há quanto tempo mora na comunidade? Já trabalhou ou trabalha no empreendimento de carcinicultura da Destilaria Miriri?

1) Você gosta de morar em Tavares?

2) Depois que a fazenda de camarão foi construída, aconteceram coisas boas ou rins na comunidade? ( ) Sim ( ) Não. Quais?

3) Você sabe se esse camarão do viveiro traz algum problema para os camarões, peixes ou caranguejos que vivem no rio? ( ) Sim ( ) Não. Por quê?

4) Como é a relação da comunidade e o IBAMA? ( ) boa ( ) ruim? Por quê?

5) Como é o relacionamento da comunidade com a fazenda de camarão?

6) Você sabe se a fazenda pode trazer algum problema para o mangue ou para o rio? E para a comunidade?

7) Como você recebeu a noticia de que seria construída uma fazenda de camarão perto da sua casa?

8) Se a fazenda fosse fechada seria bom ou ruim para você? Por quê?

9) O que você gostaria de acrescentar?