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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CAMPUS DO SERTÃO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - LICENCIATURA
Emerson Lopes dos Santos
GLOBALIZAÇÃO, FEIRA LIVRE E ENSINO DE GEOGRAFIA EM DELMIRO
GOUVEIA-AL
Delmiro Gouveia - AL
2017
EMERSON LOPES DOS SANTOS
GLOBALIZAÇÃO, FEIRA LIVRE E ENSINO DE GEOGRAFIA EM DELMIRO
GOUVEIA-AL
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em
Geografia – Licenciatura – como requisito para
obtenção de título de licenciado em Geografia pela
Universidade Federal de Alagoas, Campus do
Sertão.
Orientador: Prof. Me. Kleber Costa da Silva
Delmiro Gouveia - AL
2017
FOLHA DE AVALIAÇÃO
AUTOR: EMERSON LOPES DOS SANTOS
GLOBALIZAÇÃO, FEIRA LIVRE E ENSINO DE GEOGRAFIA EM DELMIRO
GOUVEIA-AL
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em
Geografia – Licenciatura – submetida ao corpo
docente da Universidade Federal de Alagoas,
Campus do Sertão e aprovada em __/__/__.
Banca examinadora:
________________________________________________________________________________
(Prof. Me. Kleber Costa da Silva, Campus do Sertão, UFAL) (Orientador)
___________________________________________________________________________
(Me. Noaldo José Aires Tavares, Mestre em Geografia) (Examinador Externo)
___________________________________________________________________________
(Prof. Dr. José Alegnoberto Leite Fechine, Campus do Sertão, UFAL) (Examinador Interno)
Dedico este trabalho aos meus pais, Edvaldo Florentino dos Santos e
Lucineide Lopes dos Santos, meus avós, familiares, amigos queridos e
ao PIBID/CAPES – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência - que me assistiu com uma bolsa durante a graduação...
...companheiros de todas as horas, essenciais em minha jornada.
Obrigado!
AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares, pais, avós, tios, irmã, primos, que acreditaram em minha
capacidade num momento conturbado de nossa história, em meio a uma crise econômico-
financeira, não somente a nível nacional, mas que atingiu também a nossa família, este não
sendo motivo suficiente, no entanto, para abalar nossos laços de amor. Em especial aos meus
sobrinhos, Júlia, Luiza e Mateus, sempre nos trazendo momentos de alegria.
A Lucineide Lopes dos Santos, minha mãe, que sempre batalhou pelos seus filhos,
costureira a vida toda, dona de casa nesses últimos anos. Obrigado por existir em minha vida.
A Edvaldo Florentino dos Santos, meu pai, sempre trabalhou para sustentar a sua
família, não mediu esforços, pedreiro, “treicheiro”, homem honesto. Tenho orgulho de ter
herdado o seu caráter. Obrigado por existir em minha vida.
A Lidiane Lopes dos Santos, minha irmã, sempre persistiu nas dificuldades da vida e
sempre nos ajudando, mesmo que isso lhe custe caro. Obrigado por existir em minha vida.
Aos meus amigos Sgt. Artur e Diogo, companheiros de todas as horas, sempre com
piadinhas, porém, sempre me dando apoio e força moral nos meus planos.
Aos inesquecíveis colegas de turma Renata, Clecio, Samila, Maria Irlene, Aline,
Paulyane, Bruno, Keyla, Agenor, Aloilde, e tantos outros pela amizade e momentos alegres
durante a graduação.
Aos meus colegas da UFAL, funcionários e estudantes, Júnior, Bruno, Gabriel,
Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e
trabalhos que fizemos.
À minha namorada Samyres, pelos momentos de alento e companheirismo. Pelos
momentos de alegria e de tristeza. Pelos momentos que me confortou e me apoio nessa
jornada acadêmica e na jornada da vida.
Aos professores da UFAL: Paul, que me ajudou a nortear meu TCC, Robérison,
Diogo, Fernando, Sara, Francisca, Adriana, Évio, Andreza e tantos outros que ajudaram a
formar o meu lado profissional, enquanto professor de Geografia, e humano.
Aos professores Alegnoberto e Leônidas pela competência nesses anos de PIBID ao
qual fiz parte por quase três anos.
Aos amigos do programa GeoNoAr da Rádio Alternativa FM, ao qual faço parte de
tal equipe maravilhosa.
Aos grupos de pesquisa GCEG, GEPAR e GESN, que contribuíram para meus
conhecimentos geográficos.
À CAPES/PIBID, pelos anos de bolsa de iniciação à docência terem me
proporcionado experiências e condição suficiente para me tornam um profissional da
educação mais preparado. Sem tal bolsa dificilmente este momento de conclusão de curso se
tornaria um fato.
Aos meus caros amigos, professores e pibidianos, Meire, Paulo, Gelisson, Érica,
Fábio, prof. (a) Elania, prof. (a) Marilene, prof. (a) Renilda, prof. Jean.
Por fim, agradeço ao amigo, conselheiro, Professor e Orientador, Kleber Costa da
Silva. Obrigado pela paciência, pelos momentos de ensino e pela motivação desde os
primeiros períodos e início no PIBID. Um professor que jamais esquecerei e que levarei
comigo para o resto da vida. Obrigado por acreditar no meu potencial.
A todos, meu muito obrigado!
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo propor algumas reflexões acerca da feira popular de Delmiro
Gouveia-AL e a sua expressão espacial como conteúdo relevante para o ensino de Geografia,
no âmbito de confecção de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Licenciatura em
Geografia junto ao Campus do Sertão, Universidade Federal de Alagoas. Nesse sentido,
pretendemos problematizar a feira como centro de redes de relações sócio-espaciais no
contexto da região e da globalização, mormente à luz da noção de meio técnico-científico-
informacional. Em específico, buscamos constatar como se apresenta a feira de Delmiro
Gouveia a partir da constatação da rede de comercialização de mercadorias como subsídios a
um exercício de reflexão sobre o tema da globalização, redes geográficas no ensino de
Geografia? A partir de tal pressuposto, fizemos leituras de conceitos fundamentais (espaço
geográfico, redes geográficas, globalização e meio técnico-científico-informacional, além da
noção de feira), pesquisa sobre a composição histórica e geográfica da feira de Delmiro
Gouveia, bem como uma breve apreciação de sua organização espacial atual, complementada
então com exercícios pedagógicos através de atividades em conjunto com os alunos do ensino
médio de uma escola pública local – trabalho de observação de campo, aplicação de
questionários e debates em sala de aula. Assim, foi possível refletirmos sobre a dimensão
geográfica da feira e a relevância da mesma como uma realidade empírica a subsidiar a
reflexão sobre redes e a relação local-regional-global. Pensamos que os conteúdos e os
processos de pesquisa e de exercício de ensino de geografia nos ajudaram a amadurecer
nossas visões acerca do ensino da disciplina, agora amparados na valorização do trabalho de
campo e do desenvolvimento do debate de um tema central ao cotidiano da vida dos alunos da
escola pública e da sociedade delmirense.
Palavras-chave: Redes geográficas; Iniciação à Docência; Feira; Delmiro Gouveia.
ABSTRACT
This paper aims to propose some reflections about the popular fair of Delmiro Gouveia - AL
and its spatial expression as relevant content for the teaching of Geography, in the scope of
preparation of a Term Paper of Degree in Geography with the Campus do Sertão,
Universidade Federal de Alagoas. In this way, we intend to problematize the fair as a center
of networks of socio-spatial relations in the context of the region and globalization, especially
in the light of the notion of technical-scientific-informational environment. In particular, we
tried to verify how is the Delmiro Gouveia’s fair presented starting from the discovery of the
merchandise commercialization network as subsidies to an exercise of reflection on the theme
of globalization, geographic networks in the teaching of Geography? Based on this
assumption, we made readings of fundamental concepts (geographical space, geographic
networks, globalization and technical-scientific-informational environment, besides the notion
of fair), research on the historical and geographical composition of Delmiro Gouveia's fair, as
well as a brief appreciation of their current spatial organization, complemented by
pedagogical exercises by activities in conjunction with high school students at a local public
school - fieldwork, questionnaires and classroom discussions. Thus, it was possible to reflect
on the geographical dimension of the fair and its relevance as an empirical reality to subsidize
the reflection on networks and the local-regional-global relationship. We thought that the
contents and processes of research and the exercise of teaching geography have helped us to
mature our views about the teaching of the subject, now supported by the valorization of the
field work and the development of a central theme debate to the daily life of the Students of
that public school and the society of Delmiro Gouveia.
Keywords: Geographic networks; Initiation to teaching; Fair; Delmiro Gouveia.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Localização do Município de Delmiro Gouveia/AL. 35
Figura 2 - Estradas de Ferro. 39
Figura 3 - Desembarque e embarque de pessoas no trem e ida à feira de
Delmiro Gouveia – AL em 1960.
40
Figura 4- “Mapa” representação do núcleo por volta da década de 1910
desenhado por Telma de Barros Correia.
44
Figura 5 - Foto panorâmica do núcleo fabril no povoado em meados de 1920. 44
Figura 6 - Mosaico de imagens da feira da Pedra, meados de 1940. 45
Figura 7 - Decreto da emancipação política de Delmiro Gouveia. 47
Figura 8 - Mercado Público Municipal de Delmiro Gouveia, década de 1970. 48
Figura 9 - A feira de Delmiro Gouveia em 1992. 49
Figura 10 - Localização e arredores da feira de Delmiro Gouveia. 51
Figura 11 - Vista parcial do lado interno do Polo Comercial de Delmiro
Gouveia.
51
Figura 12 - “Outra feira”, localizada na Rua B no Bairro Eldorado. 52
Figura 13 - Vista parcial da Av. Jucelino Kubitschek e bancas na calçada da
feira.
53
Figura 14 - Feira do Troca-Troca de Delmiro Gouveia. 54
Figura 15 - Fachada do Mercado Público Municipal de Delmiro Gouveia. 55
Figura 16 - Barracas/ bancas na calçada da feira e vista parcial da Rua Srg.
Antônio Pedro.
56
Figura 17 - Supermercado em frente a feira livre de Delmiro Gouveia. 56
Figura 18 - O comércio próximo à feira livre. 58
Figura 19 - Organização Espacial por setores da feira de Delmiro Gouveia. 60
Figura 20 - Setor A da feira. 61
Figura 21 - Bancas do setor B. 62
Figura 22 - Bancas do setor C. 62
Figura 23 - Bancas do setor D. 63
Figura 24 - Aula teórica realizada no dia 15/05/2017. 69
Figura 25 - Aula e instruções no trabalho de campo em frente à feira no dia
20/05/2017.
71
Figura 26 - Aluna aplicando questionário à uma feirante na feira de Delmiro
Gouveia – AL.
72
Figura 27 - Aluna aplicando questionário à uma feirante na feira de Delmiro
Gouveia – AL.
73
Figura 28 - Alunos confeccionando os Murais Geográficos, em 29/05/2017. 75
Figura 29 - Aluno construindo o relatório de Campo, em 29/05/2017. 76
Figura 30 - Equipe apresentando e discutindo sobre globalização e redes
geográficas na feira de Delmiro Gouveia em 29/05/2017.
77
Figura 31 - Gráfico dos tipos de veículos usados pelos feirantes para o
transporte de mercadorias.
78
Figura 32 - Mapa das origens das mercadorias comercializadas na feira de
Delmiro Gouveia – AL.
78
Figura 33 - Gráfico dos aparelhos usados pelos feirantes na feira de Delmiro
Gouveia – AL.
80
Figura 34 - Gráfico dos aparelhos usados pelos feirantes na feira de Delmiro
Gouveia – AL.
81
Figura 35 - Gráfico dos feirantes de Delmiro Gouveia – AL que também
trabalham em outras feiras.
82
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 11
1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: ESPAÇO, REDES, GLOBALIZAÇÃO,
CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA E A FEIRA
14
1.1. O Espaço geográfico 14
1.2. As Redes geográficas 18
1.3. A globalização e o meio-técnico-científico-informacional 22
1.4. Os Circuitos da economia urbana: Circuito Inferior e a
globalização
25
1.5. As feiras
29
2 A FEIRA DE DELMIRO GOUVEIA: HISTÓRIA, DINÂMICA E
RELAÇÕES SOCIOESPACIAIS
35
2.1. Os primeiros passos da feira do povoado Pedra 36
2.2. A feira no contexto da modernização de Delmiro Gouveia – AL 42
2.3. A feira de Delmiro Gouveia e sua organização socioespacial 50
2.3.1. Organização espacial da feira Delmiro Gouveia e do seu
entorno
50
2.3.2. Organização espacial da feira de Delmiro Gouveia
59
3 REFLETINDO SOBRE REDES GEOGRÁFICAS E GLOBALIZAÇÃO
A PARTIR DA FEIRA DE DELMIRO GOUVEIA/AL: UM
EXERCÍCIO NO ENSINO DE GEOGRAFIA
65
3.1. Em direção ao ensino de geografia e ao tratamento da
temática
65
3.2. Ensinando e aprendendo sobre a feira de Delmiro Gouveia 67
CONSIDERAÇÕES FINAIS 84
REFERÊNCIAS 87
ANEXO 91
11
INTRODUÇÃO
O presente texto resulta de um esforço de confecção de um Trabalho de Conclusão
de Curso de Licenciatura em Geografia junto ao Campus do Sertão, Universidade Federal de
Alagoas (UFAL), então intitulado “Globalização, feira livre e ensino de geografia em
Delmiro Gouveia-AL”. Apresentamos, assim, como exercício de iniciação à pesquisa e ao
ensino de Geografia, como um direcionamento de reflexões focadas na relevância e dinâmica
da feira de Delmiro em relação ao imperativo dos movimentos da globalização das escalas
local e regional.
Com base nas experiências empíricas através de alguns trabalhos e pesquisas com a
prática docente, no Campus do Sertão e no PIBID/CAPES, junto à UFAL, o presente trabalho
teve como motivação procurarmos questionar sobre como se apresenta a feira livre de
Delmiro Gouveia a partir da constatação da rede de comercialização de mercadorias e como
isso poderia subsidiar reflexões sobre o tema da globalização e das redes geográficas no
ensino de Geografia.
Para a realização deste trabalho, de maneira especifica, procuramos esboçar um
percurso de leituras e de ações centradas nas seguintes questões: a) Identificar referenciais
teóricos relevantes ao tema central (espaço, redes, globalização, meio técnico-científico-
informacional, feira livre, circuito inferior); b) Investigar sobre a composição histórica da
feira livre e da cidade de Delmiro Gouveia-AL; c) Mapear os espaços relativos à atual feira de
Delmiro Gouveia, através da setorialização oficial da Prefeitura Municipal e dos usos sócio-
espaciais atuais; d) Mapear, entender as origens das mercadorias e refletir sobre a
globalização associados à prática pedagógica; e)Construir um plano de exercício de ensino de
Geografia junto a uma escola pública local.
A feira livre é um importante componente urbano não só para a economia da cidade
como também para a sua identidade cultural no contexto sertanejo. Refletir a dinâmica da
feira de Delmiro Gouveia é compreender uma parcela da realidade urbana. É buscar o
conhecimento, a partir da feira, da própria rede urbana da cidade e do contexto no qual está
inserida.
Nesse contexto de inserção regional-global, pretendemos ampliar o exercício de
pesquisa à realização de atividades pedagógicas (no caso, a um conjunto de atividade de
ensino de geografia – exposição, trabalho de campo, descrição e aplicação de questionários)
em conjunto com alunos do ensino médio da Escola Watson Clementino de Gusmão Silva,
12
situada em Delmiro Gouveia-AL. Pressupomos que a feira pode ser vista como relevante e
singular espaço de reflexão pra a observação de aspectos caros à interpretação das interações
entre a cidade e o entorno e a cidade e os movimentos globais da economia e da cultura
contemporâneas. Além disso, ao fazer parte do cotidiano dos alunos, buscamos desvendar
alguns caminhos e aspectos invisíveis da feira e relativos às dinâmicas sociais e espaciais
locais que imprimem um sentido de dependência da cidade em relação a outras escalas de
movimentação da sociedade capitalista atual.
Noutras palavras, compreender a feira de Delmiro Gouveia a partir dos fenômenos da
globalização e das noções de redes geográficas se torna uma proposta alternativa para o
ensino de geografia no qual o aluno entenderá a conjectura atual do mundo à sua volta, para
além da localidade, uma vez que as redes geográficas e a globalização estão presentes no
cotidiano das sociedades locais. Para que isso se realizasse, levamos em consideração o
levantamento de questões em sala de aula, a apreciação de conceitos, a observação empírica, o
registro fotográfico e a descrição em sala de aula dos aspectos constatados em campo e
apreciados à luz dos conceitos, para efeito de apreciação avaliativa do processo geral de
ensino-aprendizagem – então, nosso esboço de plano de atuação pedagógica.
Do ponto de vista da construção metodológica do trabalho, realizamos um
levantamento bibliográfico de cunho teórico-conceitual, observações e captação de acervo
fotográfico da feira e da cidade de Delmiro Gouveia/AL, através da visita a instituições como
museu, prefeitura, feira, sítios eletrônicos, trabalho de campo e escola. A análise da
organização espacial da feira e da observação empírica serviram de apoio à prática docente
que versou em aulas teóricas (em sala de aula) e práticas (atividade de campo e entrega de
questionário na feira) realizadas com alunos do Ensino Médio.
Nesse sentido de reflexão e de prática pedagógica, preferimos dividir a escrita e
apresentação do presente trabalho em três capítulos:
No primeiro capítulo, estruturamos o pensamento geográfico inerente ao tema deste
trabalho a partir de investigação bibliográfica. Num primeiro momento, nossa análise se
debruçou sobre uma categoria base da Geografia, o espaço geográfico, com apoio nos autores:
Rodrigues (2008), Corrêa (2011b), Oliva (2001), Costa (2014), Santos (2009).
Posteriormente, tratamos das noções de redes geográficas, com base nos escritos de Dias
(2011), Corrêa (2011;2011a), Raffestin (1993) e Santos (2009). Em seguida, nos embasamos
teoricamente, para discutirmos a globalização e o meio técnico-cientifico-informacional, nos
escritos de Silva Junior e Eidt (2012), Santos (2005; 2011; 2008; 2009), Fuini (2013),
13
Bauman (1999) e Vasconcelos (2012). E, ainda, refletimos sobre a teoria dos dois Circuitos da
Economia Urbana, com base em Montenegro (2012), Santos (2008) e Firmino (2016). No
último momento do capitulo discutimos sobre a noção de feira enquanto objeto a ser estudado
com base nos escritos de Dantas (2007), Firmino (2016), Pazera Jr. (2003) e Corrêa (2011).
No segundo capítulo foi realizado um recorte histórico das origens da feira de
Delmiro Gouveia, desde seu surgimento advindo da feira de Água Branca-AL, se
consolidando na Vila da Pedra, suas mudanças a partir da chegada do empresário Delmiro
Augusto da Cruz Gouveia, suas modificações em se tratando da localização, até os dias atuais.
Esse capitulo teve como objetivo entender a organização e dinâmica espacial da feira de
Delmiro Gouveia. Para isso, separamos em três subcapítulos: o primeiro sobre a feira do
povoado Pedra com base nos escritos de Andrade (2005), Melo (2012), Oliveira (2003) e
Correia(1998); no segundo, distutimos historicamente a feira no processo de modernização da
cidade de Delmiro Gouveia com base em Correia (1998), Maynard (2008), Nascimento
(2012) e Melo (2012); e, por fim, no terceiro subcapítulo, a partir de interpretações da
paisagem atual da feira de Delmiro Gouveia, produzimos dois mapas a respeito da
organização espacial da feira e do seu entorno, além de algumas dinâmicas inerentes.
No terceiro e último capítulo, trazemos o registro de nossa proposta de ensino de
geografia. Com a participação dos alunos da escola de ensino médio, centramos em
apreciações de alguns aspectos específicos através dos seguintes questionamentos: de onde
vêm os produtos da feira? Como a feira se encaixa no cotidiano das pessoas? Qual a
importância da feira para dinâmica da cidade e da região? Como a feira é afetada pelo
processo de globalização? É possível estudar geografia na feira de Delmiro Gouveia?
Posteriormente, em um trabalho de campo com os alunos da turma do 2º B da escola Watson
Clementino de Gusmão Silva, sob supervisão da professora Renilda Leonardo, fomos à feira
de Delmiro Gouveia. E, em um último momento, avaliamos todo o aprendizado por meio de
discussão, relatório de campo e apresentação de um “mural geográfico”.
Assim, podemos afirmar que este trabalho é um esforço inicial para o entendimento
da dinâmica espacial da feira de Delmiro Gouveia e ao mesmo tempo se apresenta como uma
proposta alternativa para o ensino de geografia. Trata-se também de um exercício de pesquisa
e de ensino de Geografia que busca enriquecer o conhecimento, o diálogo acadêmico em
forma de um trabalho inicial e inacabado de investigação e de reflexão sobre questões
geográficas do Alto Sertão Alagoano.
14
1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: ESPAÇO, REDES, GLOBALIZAÇÃO,
CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA E A FEIRA
1.1 O Espaço Geográfico
Para este exercício de investigação, consideramos fundamental a dimensão espacial
como central à reflexão e à análise em Geografia. Nesse sentido, refletir sobre o espaço é
olhar para uma dimensão que, se ligada à compreensão da sociedade, revela formas e
conteúdos relevantes para o entendimento de nossa situação face à realidade, principalmente
aquela ligada ao modo como os homens se organizam espacialmente.
Diante disso, consideramos relevante frisar algumas noções de espaço que serão
bases para a reflexão que empreenderemos a seguir: a de exercitar um olhar sobre uma
situação espacial e o enfrentamento de questões ligadas ao ensino de geografia.
É sabido, pois, que o espaço sempre existiu nas sociedades humanas. Desde sempre o
homem interage com o espaço, conformando com mais ou menos intensidade com os objetos
materiais e os significados atribuídos às suas localizações (plantações, habitações, cultura,
entre outros). É nesse sentido que o espaço produzido pelo homem é um espaço de natureza
social, conforme afirma Rodrigues (2008):
Esse espaço se apresenta como uma segunda natureza, uma natureza social,
humanizada. Assim, há a primeira natureza, aquela que foi e é criada sem a ação
humana (rios, florestas, montanhas etc.), e a segunda natureza, aquela produzida
pela ação do homem (cidade, agricultura, estradas, instrumentos de trabalho etc.) (p.
37).
Verifica-se, portanto, que o espaço (ora entendido como geográfico) é primeiramente
natural, ou seja, anterior ao homem. E, sendo uma “segunda natureza”, com a ação do
homem, o espaço passa a ser social, tratando-se da “primeira natureza” moldada pelos
processos de transformação social. Neste último caso, é na “segunda natureza” (social) que o
espaço passa a ser entendido como um espaço produzido pelo homem, conforme Rodrigues
(2008).
Nessa perspectiva, mais próxima a uma noção de espaço aliada às ações sociais no
cotidiano, consideradas como ações historicamente definidas, a Geografia é vista como uma
ciência social que entende as ações do homem na superfície terrestre por meio da análise da
dimensão espacial expressa nos seus cinco e principais conceitos-chave: paisagem, região,
lugar, território e espaço (geográfico).
15
A título de situação historiográfica interna à Geografia, de acordo com Corrêa
(2011b, p 17), o espaço geográfico foi um termo inicialmente abordado pelo paradigma da
geografia clássica, mesmo ainda não sendo considerado como um conceito-chave central à
disciplina (especialmente no período que se estendeu de 1870 a 1950). O termo foi ao longo
do século XX sendo combinado com outras nomenclaturas que indicavam à dimensão
espacial da realidade, a exemplo de paisagem, território e região, cada uma destas com suas
abordagens e focos de análise específicos. No entanto, logo após a década de 1970 surge a
geografia crítica, baseada no materialismo histórico e dialético. Nessa corrente, o espaço
passou a ser entendido como um espaço social vivido, sendo relacionado à prática social.
Naquela altura o espaço reapareceu como um conceito-chave, como explica Corrêa (2011b):
No âmbito dos debates o espaço reaparece como o conceito chave. Debate-se, de um
lado, se na obra de Marx o espaço está presente ou ausente e, de outro, qual a
natureza e o significado do espaço. A identificação das categorias de análise do
espaço é outra preocupação dos geógrafos críticos (p. 24).
A originalidade desta abordagem reside no fato de trazer para a Geografia a aliança
entre espaço, ação social, dinâmicas históricas e políticas, sobretudo compondo a intenção de
mudança social e o enfrentamento do capitalismo.
O espaço, então, pode ser entendido por uma porção específica da Terra, seja pelos
seus aspectos naturais ou do modo que o homem imprimiu as suas marcas, também
considerando a relação do homem com o espaço. O espaço, para a sociedade, é o reprodutor
da produção e da relação social. Não podemos dizer que o espaço é uma obra comum, ou que
é composto por coisas, o espaço é mais que isso. Desse modo Lefébvre destaca que:
Do espaço não se pode dizer que seja um produto como qualquer outro, um objeto
ou uma soma de objetos, uma coisa ou uma coleção de coisas, uma mercadoria ou
um conjunto de mercadorias (..). Estaria essencialmente vinculado com a reprodução
das relações (sociais) de produção (LEFÉBVRE, 1976, p.34 apud CORRÊA, 2011b,
p.26)
Nessa concepção, conforme os escritos acima, o espaço está além de uma soma de
objetos, ou coisas inseridas nele. É no espaço que estão as relações sociais e as reproduções
sociais que são assim consideradas, o locus do espaço.
Em outro aspecto, o espaço geográfico pode ser tratado como um componente social.
Assim, procurando superar a conotação do termo espaço social, a expressão componente
16
social amplia o entendimento sobre o espaço em sua relação com a sociedade. Portanto, para
Oliva (2001):
O fato de dizer que o espaço é um componente da sociedade não garante que ele seja
social. Ele pode ser um componente não-social da sociedade. Quer dizer: um espaço
preexistente, autônomo e anterior à sociedade que incide sobre ela, que a compõe,
moldando-a(...) um espaço como uma força (uma espécie de sujeito) não-social que
atua sobre a sociedade (p. 28).
Para compreender a sociedade, tendo em vista seu modo de vida capitalista, hoje em
dia é necessário perceber o espaço ao qual ela tem uma relação. Costa (2014, p. 72) explica
que para Harvey, “(...) para entender a sociedade atual e a sobrevivência do modo de
produção capitalista é preciso atentar para as relações entre espaço e tempo”. Ou seja, o
entendimento da relação sociedade e espaço só será possível no momento em que se
considerar o espaço e o tempo para a sua análise, uma vez que o modo de produção capitalista
está envolvido em sua dinâmica.
É através da relação espaço-tempo, de maneira indissociável, que podemos visualizar
o espaço de diversas formas. O espaço pode ser visto de forma tripartite: espaço absoluto,
espaço relativo e espaço relacional, conforme os escritos de Harvey (2012 apud COSTA
2014, p.73: o “espaço absoluto” é fixo, onde são planejados os eventos, tendo papel
importante para a confecção de mapas através de pontos fixos; o “espaço relativo” é o espaço
de fluxos, do movimento, da mobilidade da aceleração e compreensão do espaço-tempo; o
“espaço relacional”, implica na relação interna do espaço, também é o espaço das relações,
dos desejos, sentimentos e também do ciberespaço. Nesse caso, o espaço é indissociável do
tempo, apresentando posições diversas. O espaço é dinâmico, tendo sua forma absoluta,
relativa e relacional em uma conjuntura da sociedade atual de modo de vida capitalista.
Considerando ainda a relação do espaço com o tempo de maneira indissociável, o
espaço pode ser entendido por fixos e fluxos, no qual explica a dinâmica que modifica e
mantém o espaço fluido. Neste sentido, Milton Santos em “A Natureza do Espaço”, aponta
que:
Os elementos fixos, fixados em cada lugar, permitem ações que modificam o próprio
lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as condições ambientais e as
condições sociais, e redefinem cada lugar. Os fluxos são um resultado direto ou
indireto das ações e atravessam ou se instalam nos fixos, modificando a sua
significação e o seu valor, ao mesmo tempo em que, também, se modificam
(SANTOS, 2009, p. 63).
17
Como base nisso, os fixos e os fluxos não podem ser entendidos separadamente, pois
eles interagem, e juntos formam a realidade do espaço geográfico, aparecendo como objeto
possível à análise geográfica. Os fluxos são resultados das ações que podem representar a
mobilidade e a dinâmica no espaço. Os pontos fixos são aqueles que se conectam por fluxos.
Dependendo do valor dos fluxos que passam, os fixos variam o seu significado e importância.
Nessa interdependência entre os fixos e os fluxos, as condições sociais e suas relações são
renovadas, recriadas ou redefinidas.
Trata-se, noutros termos, de ação geográfica e objeto geográfico (Santos, 2009). Os
objetos geográficos são os objetos móveis e imóveis (cidades, barragem, usina, morro,
montanha, rio, lago, floresta, estrada, porto), tudo que existe na superfície da terra, advinda de
toda herança da história natural e resultado da ação humana. Os objetos e as ações acontecem
no espaço de forma unitária num dado momento na história. A ação do homem no espaço e o
surgimento de objetos acontece de forma gradual ao longo da história. Assim, considera-se
que o espaço geográfico possui algumas fases ao longo de sua existência, possuindo três
etapas chamadas de: meio natural, meio técnico e o meio técnico-científico-informacional
(SANTOS, 2009, p. 234).
De acordo com Santos (2009, p. 234), o “meio natural”, é a unicidade harmônica do
homem com a natureza, pautada em um determinismo, cuja relação socioespacial dizia
respeito à natureza; no “meio técnico”, é notável no espaço a dissociação de objetos naturais e
artificiais, a substituição do objeto cultural pelo técnico e uma relação socioespacial
transformadora da natureza, criando conflitos pontuais do homem com meio, de forma
internacional ao rumo de um mundo mecanicista; no “meio técnico-científico-informacional”,
os objetos técnicos também são informacionais, em uma união entre técnica e ciência o
espaço passa a atender, sobretudo, os atores hegemônicos da economia principalmente a partir
da década de 1970.
Nesse sentido de reflexão, consideramos importante que a dimensão espacial é uma
parcela da realidade indicativa de nossa presença histórica e social. Com base na reflexão de
espaço feito neste subcapítulo, a materialidade e os significados que são construídos ao longo
de nossas vivências são retratos de localidades e de tempos. E é nesse caminho que
escolhemos prosseguir com este nosso exercício de estudos e de pesquisa em Geografia.
18
1.2 As redes geográficas
Para esta nossa proposta de investigação, consideramos a noção de rede como
direcionamento teórico fundamental. Tal noção compreende, sobretudo, um sentido de
conexão socioespacial. Isso significa que rede pressupõe ligações, conexões, entre pessoas e
lugares e que acompanha grande parte das transformações notadas no espaço geográfico
urbano dos últimos anos. Ou seja, as redes em geral são desenhos de interações que
influenciam o cotidiano das grandes e das pequenas cidades, moldando a dinâmica da sua
economia e o modo de vida social. Redes interligam o local ao global e, nesse sentido,
conectam os lugares geográficos.
A noção de rede e o tratamento conceitual na relação com a organização do espaço
não é recente. Dada a importância que as redes têm para o desenvolvimento da economia e
modo de vida das pessoas, foi necessário um estudo mais aprofundado desse objeto
conceitual. Assim, de acordo com Dias (2011 p.145), vários economistas, engenheiros e
estudiosos, no final do século XX, utilizaram o termo redes para identificar as linhas de
comunicações e de créditos. Dias (2011) relata também que as malhas de ferro, ligadas aos
sistemas de comunicação, foram sendo hierarquizadas, criando uma série de redes primárias e
de redes secundárias. Nesse sentido, a rede aparece, inicialmente, como sinônimo de
circulação e comunicação, através das quais as pessoas veem como necessária para a
dinâmica no espaço e, posteriormente, foi se tornando mais complexa, sendo necessária uma
hierarquização de todo o sistema de redes.
Vale ressaltar, em geral, e transcendendo o conceito, que as redes estão presentes nas
idas e vindas das pessoas, no intercâmbio de mercadorias, nos processos comunicacionais, nas
estradas físicas de rodagem (que ligam as localidades), na internet etc. De todo modo, os
fluxos de mercadorias, de informações e de pessoas dizem respeito à existência de circulação
e de movimento de produtos e de pessoas no espaço geográfico. Diante disso, os fixos e os
fluxos, outrora apresentados por Santos (2009) como uma forma de compreender o espaço,
são também redes geográficas, pois se trata do movimento de interdependências que dá
dinâmica ao espaço.
Concordando com Dias (2011):
Os fluxos, de todo tipo - das mercadorias às informações pressupõem a existência
das redes. A primeira propriedade das redes é a conexidade – qualidade de conexo –,
que tem ou em que há conexão, ligação. Os nós das redes são assim lugares de
conexões (...) (p.148).
19
As redes geográficas, portanto, se moldam por meio de fluxos que ocorrem no
espaço geográfico, sendo conectados por nós que, por sua vez, são pontos que conectam os
fluxos de todos os tipos. As redes também possuem uma qualidade de conexão, quando nos
referimos ao transporte das coisas e das pessoas.
Ademais, as redes geográficas são várias localizações conectadas no espaço, seja
urbano, rural, empresarial etc., ligadas materialmente ou imaterialmente. As redes geográficas
são complexas ligações entre si e, nesse caso, chegando a uma escolha conceitual para este
trabalho, partimos do pressuposto de que as redes geográficas são:
‘um conjunto de localizações geográficas interconectadas’ entre si ‘por um certo
número de ligações’. Este conjunto pode ser constituído tanto por uma sede de
cooperativa de produtores rurais e as fazendas a ela associadas, como pelas ligações
materiais e imateriais que conectam a sede de uma grande empresa, seu centro de
pesquisa e desenvolvimento, suas fábricas, depósitos e filiais de venda. (CORRÊA,
2011, p.107).
Os elementos organizados no espaço ligam os locais e formam as redes geográficas
enquanto as redes também produzem e dinamizam esse espaço. As redes possuem pontos
centrais, como sedes ou centro de empresas, produtoras ou associações que comandam as
linhas que ligam outros pontos, movimentando as ligações materiais e imateriais.
As redes geográficas são construídas pelo próprio homem socialmente espacializado.
É através fluxo de pessoas, por motivos sociais de qualquer ordem, que o homem se envolve
no surgimento das redes. Trata-se, neste caso, de um dos vários tipos de rede abordados pela
ciência geográfica: a rede social.
Com base em Corrêa (2011a):
As redes geográficas são redes sociais espacializadas. São sociais em virtude de
serem construções humanas, elaboradas no âmbito de relações sociais de toda
ordem, envolvendo poder e cooperação, além daquelas de outras esferas da vida
(p.201).
Nessa perspectiva, as redes sociais são conexões de grupos de pessoas que podem vir
a se organizarem de vários modos no espaço, como por exemplo o fluxo de pessoas para a
feira em outra cidade, o fluxo de pessoas para visitar parentes em outra localidade, entre
outros. A rede social é composta espacialmente, e essa espacialidade passa a ser considerada
para as construções humanas por meio das relações sociais.
20
Outra expressão espacial da rede geográfica, que também é essencialmente um
produto social, é a rede urbana. Essa rede é caracterizada pelas interações entre as zonas
urbanas ou entre as cidades. Em um sentido mais direto, podemos dizer que a rede urbana é
um “conjunto de centros urbanos funcionalmente articulados entre si” (CORRÊA, 2011 p.93),
onde temos uma sociedade vivendo dos fluxos da economia de mercado e pontos fixos em
que encontram-se as transações e a existência hierárquica dessas redes (CORRÊA, 2011
p.93). Logo, podemos entender que a rede urbana é a articulação e interação das cidades de
modo que dependem uma das outras, formando uma hierarquia dos fixos e dos fluxos,
fomentando a economia de mercado existente nessa rede.
As redes geográficas, além de estarem movimentando o espaço geográfico, possuem
uma dinâmica própria e são adaptáveis a ele, e por isso sofrem várias mudanças. Isso se dá
conforme as alterações ocorridas no espaço e em momentos específicos de sua história, ou
seja, um acontecimento, por motivos econômicos, políticos ou sociais podem alterar a
estrutura da rede. Nessa perspectiva, concordando com Raffestin (1993):
A rede aparece, desde então, como fios seguros de uma rede flexível que pode se
moldar conforme as situações concretas e, por isso mesmo, se deformar para melhor
reter. A rede é proteiforme, móvel e inacabada, e é dessa falta de acabamento que
ela tira sua força no espaço e no tempo: se adapta às variações do espaço e às
mudanças que advêm no tempo (p. 204).
Diante do exposto, é possível afirmar que a rede se molda de acordo com a
necessidades do espaço e mudanças no tempo. São também inacabadas, sempre estão se
recriando de acordo com as mudanças que acontecem no espaço geográfico ao longo do
tempo. De fato, a rede sofre influência da organização do espaço e das mudanças históricas.
Mesmo que relacionada ao espaço, ao tempo e ao território, as redes possuem cada
vez mais velocidade em seu movimento. Comparando os séculos anteriores com a atualidade
podemos observar que a velocidade dos meios de transporte e comunicação só vem
aumentando. Isso ocorre devido a evolução dos meios técnicos que estão cada vez mais
informacionais e que possuem uma tecnologia que avança rapidamente (SANTOS, 2009).
Atualmente essa circulação dos objetos e das pessoas ocorre com uma velocidade inferior à
informação, porém se misturando em alguns casos específicos, dependendo dos agentes que
às controlam e de sua tecnologia (RAFFESTIN, 1993). A informação supera a velocidade da
mobilidade dos seres e dos objetos, ampliando à capacidade de comunicação do homem e
dando força a esse tipo de rede.
21
Do mesmo modo, convém discutir o fator temporal (mudança histórica) das redes
geográficas, no qual são considerados três momentos da produção e existência das redes
geográficas: um período pré-mecânico, um mecânico intermediário e a fase atual. De acordo
com Santos (2009, p.264), no período “pré-mecânico” as redes eram formadas por pequenas
relações, com trocas de itens pouco frequente onde tinham suas necessidades satisfeitas. Já no
“período mecânico intermediário”, às necessidades de consumo das pessoas se ampliam com
o Estado controlando, de certa forma, o comércio e as redes, buscando mundializar as formas
de consumo. Por fim, Santos (2009) explica que na “fase atual”, as redes estão parcialmente
no espaço, no território e nos objetos técnicos construídos pelo homem, suportados por pontos
tornando o fenômeno da rede absoluto. Explica também que os agentes operam o mercado
econômico 24 horas por dia em qualquer local do mundo através da rede de computadores e
comunicação, capazes de realizar fluxos de dados e informação numa velocidade quase
instantânea para outro lado do mundo.
As redes, atualmente, diferente dos períodos anteriores (período pré-mecânico e
mecânico intermediário), possuem fluxos que conectam os locais de forma global. E é por
causa dos objetos e das ações técnicas que os fluxos de informações passam a ser o principal
produto de circulação global. Nesse viés, Santos (2009, p.333) descreve que:
A rede técnica mundializada atual é instrumento da produção, da circulação e da
informação mundializadas. Nesse sentido, as redes são globais e, desse modo,
transportam, o universal ao local. É assim que, mediante a telecomunicação, criam-
se processos globais, unindo pontos distantes numa mesma lógica produtiva (p.333).
Portanto, a rede técnica mundializada é um meio de produzir e circular objetos, ações
e informações mundializadas. As redes técnicas são globais, levando, através dos fluxos
globais, coisas mundializadas para as localidades distantes, intensificando os processos
globais, levando a lógica produtiva e consumista para diversos lugares.
Ainda assim, não há uma separação da rede global com a rede local na prática. A
rede local sofre influência da rede global através da atuação da economia em conjunto com o
poder político, ambos servindo à racionalidade hegemônica da globalização. A rede é global e
local, são estáveis e dinâmicas, misturam várias racionalidades no espaço, mesclando a
economia do mercado com a atuação do poder público na estrutura socioespacial (SANTOS,
2009, p. 279). Dessa forma, vemos que os vários tipos de rede atuam ao mesmo tempo no
espaço, não havendo uma dicotomia e sim um aumento das intensidades dos fluxos e a
complexidade das redes geográficas.
22
Os aspectos que as redes geográficas possuem na contemporaneidade são vários,
devido às suas variações de escala, sendo intensificadas pela expansão capitalista. Isso
também interfere quando nos referimos à organização espacial e à divisão territorial do
trabalho, trazendo novas complexidades aos mesmos através das redes técnicas.
De acordo com Corrêa (2011):
Na organização e expansão do capitalismo as redes geográficas assumem diversas
formas de manifestação, tornando-se ainda progressivamente mais importantes. A
divisão territorial do trabalho em escala crescentemente mundializada só é possível a
partir de numerosas redes técnicas engendradas no bojo da expansão capitalista
(p.108).
Desse modo, graças à expansão capitalista, as redes geográficas ganham mais
importância, uma vez que ela é um dos principais veículos de distribuição de objetos técnicos
capitalistas. A partir da quantidade de redes técnicas causadas pelo crescimento mundial do
capitalismo, é possível ter uma divisão do trabalho cada vez mais mundializado.
Nesse sentido, as redes geográficas ganham grandes proporções em meio à
globalização, tomando dimensões mundiais e variadas velocidades de tempo. A rede técnica
mundializada, através dos fluxos globais, leva para as localidades mais distantes a lógica
produtiva e consumista dos grandes agentes da globalização. Portanto, as redes geográficas se
tornam objetos de estudo importantes para a reflexão e continuidade desse trabalho.
1.3 A globalização e o meio-técnico-científico-informacional:
A globalização é um fenômeno socioeconômico que atinge o mundo inteiro e
evidencia intercâmbios entre os lugares no âmbito do capitalismo. Assim, refletir sobre a
globalização é levar em conta a relevância de tal processo na transformação das localidades,
sobretudo no que diz respeito a forças oriundas do sistema de mercado capitalista. E, nesse
sentido, o meio técnico-científico-informacional (MTCI) se revela como uma forma de
espacialização do processo de globalização.
A título de contextualização, no entanto, podemos dizer que a globalização teve
início com o advento das grandes navegações do século XV e XVI, não obstante ser símbolo
relevante à sua compreensão a constatação da ampliação de mercados pelo mundo a partir da
queda do muro de Berlim em 1989. Grandes empresas internacionais, de todo modo,
encontraram liberdade para a expansão de seus territórios de atuação, especialmente
23
impulsionadas na segunda metade do século XX por meio de ações e de instituições como o
Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, a Organização Mundial do
Comércio (OMC), a Organização das Nações Unidas (ONU), a União Européia (EU), o
Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), entre outros (SILVA JUNIOR e EIDT 2012, p.
166).
Segundo Milton Santos, a “... globalização constitui o estádio supremo da
internacionalização, a ampliação em ‘sistema-mundo’ de todos os lugares e de todos os
indivíduos, embora em graus diversos” (SANTOS, 2005, p. 145). Isso dá margem a
observarmos o mundo a partir da ótica das interações sociais e das trocas comerciais. A
economia e a cultura mundial passam a conduzir os interesses sociais dos diversos lugares do
globo e a imprimir movimentos amplos de transformação da paisagem conforme
determinações do mercado. Nesse sentido, Fuini explicou que a globalização é a reprodução
capitalista no território-mundo de maneira contraditória e desigual, se desdobrando nas
dimensões produtivas, comerciais, tecnológicas e financeiras (FUINI, 2013 p.51). Influencia,
portanto, as escalas imediatas da vida social.
É nessa medida que nos deparamos constantemente com símbolos, marcas e
contrastes da globalização, já que estamos sendo cada vez mais influenciados e dependentes
das coisas, conteúdos e movimentos “globalizados”. Noutras palavras, conforme explicou
Zygmunt Bauman:
A ‘globalização’ está na ordem do dia; uma palavra da moda que se transforma
rapidamente num lema, uma encantação mágica, uma senha capaz de abrir as portas
de todos os mistérios presentes e futuros. Para alguns, ‘globalização’ é o que
devemos fazer se quisermos ser felizes; para outros, é a causa da nossa infelicidade.
Para todos, porém, ‘globalização’ é o destino irremediável do mundo, um processo
irreversível; é também um processo que nos afeta a todos na mesma medida e da
mesma maneira. Estamos todos sendo ‘globalizados’– e isso significa basicamente o
mesmo para todos (BAUMAN, 1999, p.7).
Ou seja, o que Bauman (1999) nos ensinou com a afirmativa de que “estamos todos
sendo globalizados” é que, podemos grosso modo dizer, cada vez mais inseridos na
globalização e intensificando a relação das pessoas com ela, existe uma dependência social
quase irreversível a essa fase da mundialização do capital. Milton Santos enfatizará até
mesmo a existência de uma globalização perversa (Santos, 2011), que ao invés de
homogeneizar, separa cada vez mais os homens e os deixam mais consumistas. O autor, em
sua crítica, também enfatizou a possibilidade de uma outra globalização, mais humanitária e
menos perversa. E, acrescentando:
24
A atual competitividade entre as empresas é uma forma de exercício dessa mais-
valia universal, que se torna fugidia exatamente porque deixamos o mundo da
competição e entramos no mundo da competitividade. O exercício da
competitividade torna exponencial a briga entre as empresas e as conduz a alimentar
uma demanda diuturna de mais ciência, de mais tecnologia, de melhor organização,
para manter-se à frente da corrida (SANTOS, 2011, p.30).
O autor nos leva a compreender que no período atual da globalização existe uma
competitividade mundializada. As empresas brigam entre si e fazem alimentar cada vez mais
a mais-valia globalizada, conduzindo ao aumento da ciência, técnica e organização para
estarem à frente na competitividade.
Por isso, de acordo com Santos (2008), a fase atual é inédita no mundo, a ciência e a
técnica, com o poder da informação que as empresas possuem, fazem surgir novos “Signos”
que dizem respeito principalmente ao avanço da técnica, que atinge os vários setores da
sociedade, revisa o papel do Estado, atualiza as grandes empresas e reacende a lógica da mais-
valia global. Nesse aspecto, o crédito, a internacionalização da produção, o novo papel do
Estado perante a economia mundializada, a nova acumulação do capital e a recente utilização
dos meios de informática, possuem grandes significados atualmente. Por certo, esses “signos”
afirmam a fase atual, onde só são possíveis existirem por causa do meio geográfico em que
vivemos atualmente, ou seja, o meio “técnico-científico-informacional” (MTCI), tratado
outrora em Santos (2009, p. 234) como o período atual.
Santos (2009), entretanto, afirmou que a presença do MTCI é de forma pontual, onde
existem apenas espaços da globalização e não uma globalização unitária. Com efeito, o que
diferencia os graus e/ou a existência da globalização nos locais é o objeto técnico. Para Santos
(2009):
Quanto mais ‘tecnicamente’ contemporâneos são os objetos, mais eles se
subordinam às lógicas globais. Agora torna-se mais nítida a associação entre objetos
modernos e atores hegemônicos. Na realidade, ambos são os responsáveis principais
no atual processo de globalização (p.240).
Isso pode significar que o objeto técnico-científico-informacional, quanto mais novo,
ou seja, mais contemporâneo, mais relacionado à globalização estará. Os atores hegemônicos
e os objetos técnicos são os principais disseminadores da globalização nos lugares. Em outras
palavras, “o meio técnico-científico-informacional é a cara geográfica da globalização”
(SANTOS 2009, p.239). Isso se dá porque o MTCI é a junção de um período à realidade
contemporânea da organização espacial em territórios e lugares, marcada pela união da
25
ciência e da técnica, sendo que este último tende a ser cada vez mais informacional dada a sua
intencionalidade (FUINI, 2013 pg.56). O MTCI é o período atual, onde a organização espacial
dos territórios e dos lugares estão gradualmente seguindo à lógica dessa nova técnica
(associada à ciência), sendo intencional à sua produção informacional e a globalização, nesse
sentido, é um fenômeno contemporâneo que influencia cada território do mundo através
internacionalização do capital.
De acordo com Vasconcelos (2012), os processos da globalização e do MTCI
também ocorrem ao mesmo tempo de maneira inseparável. De fato, o processo de
internacionalização do capitalismo se confunde com o meio técnico-científico-informacional,
uma vez que são processos que ocorrem em um mesmo sentido no espaço geográfico. Ainda
de acordo com Vasconcelos (2012, pg.53), a globalização e o MTCI trazem muitas mudanças
para os lugares, que agora também são mundiais. Segundo o autor, os lugares que se inserem
em participações econômicas e têm presença da técnica são levados pela globalização que se
apresenta nos territórios como forma de modernizações. Para Santos (2008), a modernização
dos territórios provocados pela globalização e MTCI que ocorrem atualmente é desigual,
dividem as formas de trabalho e aumentam às formas de competitividade nos lugares, ao qual
o autor diz respeito à existência de um Circuito inferior (não moderno) e um Circuito superior
(moderno). Tal discussão, nos leva a pensarmos diferenciações inerentes ao modo como a
escala local é atingida por mudanças ditadas pelos fluxos e interesses mundializados.
Entender o MTCI e a globalização se faz necessário para compreendermos as
contradições existentes na sociedade. Em suma, as transformações que ocorrem atualmente no
espaço geográfico são devidas ao processo de internacionalização do capital (globalização)
e/ou meio técnico-científico-informacional. A globalização está presente em todos os locais
do mundo, disseminando a sua lógica capitalista e tornando, de certa forma, os lugares mais
desiguais e competitivos. As empresas brigam pelos lugares, pelos consumidores e com
grandes e pequenos comerciantes, dividindo os territórios e utilizando como ferramentas de
atuação a modernização e a técnica.
1.4 Os Dois Circuitos da Economia Urbana: o circuito inferior e a globalização.
A noção dos dois circuitos da economia urbana, especialmente interpretada a partir
da constatação da globalização como processo de interdependência socioeconômica em escala
mundial, se mostra como fundamento relevante à compreensão das diferenciações sócio-
26
espaciais relativas às dinâmicas sociais condizentes com o mercado capitalista e, nessa
perspectiva de reflexão, torna-se importante para investigarmos o papel da feira no contexto
das trocas comerciais regionais e globais.
A noção dos dois circuitos da economia urbana surgiu inicialmente por consequência
da intensa urbanização que começara no século XX, advinda do desenvolvimento e da
expansão do capitalismo. Para Montenegro (2012, p. 140), diante da nova realidade dos países
desenvolvidos e subdesenvolvidos, foi necessária a formulação de teorias específicas para os
países subdesenvolvidos. Estes países necessitavam de estudos e reflexões acerca dos
processos diferenciados que forjavam as inserções de parcelas da sociedade no jogo do
mercado. Ainda segundo Montenegro (2012), às abordagens que apareceram de cunho
totalmente dualista não contribuíam positivamente para o avanço da teoria. Dentre tais teorias
dualistas se destacam a de Kuhn (1962) que relatava a existência de um setor moderno e um
setor tradicional; a de Edwards (1979) que elabora e caracteriza a existência de um mercado
primário e um mercado secundário sem uma relação, ambos em condições opostas; e a teoria
de Armstrong e McGee (1968) que dividem a economia urbana dos países subdesenvolvidos
em um setor “capitalista” e outro “não capitalista” (MONTENEGRO, 2012, pg. 152).
A cidade pensada entre moderno x tradicional, primário x secundário, capitalista x
não capitalista e até mesmo formal x informal se trata de algo vazio para a ciência geográfica,
uma vez que não levam em consideração o dinamismo, a confluência e a materialidade do
território (MONTENEGRO, 2012, p. 151).
Essas teorias que explicitam certa dualidade de maneira não relacional entre as duas
partes, sendo diferentes da teoria elaborada por Milton Santos (2008), que mostra uma relação
no espaço, mesmo ele estando dividido, ignorando a existência de dualidades. Para Santos
(2008), não há dualismo, pois “... os dois circuitos têm a mesma origem, o mesmo conjunto de
causas e são interligados” (p.56). Assim, a autor pretendeu evidenciar a relação entre o
Circuito Inferior (CI) e Circuito Superior (CS), ambos referentes à organização da economia
urbana. Os dois circuitos possuem características diferenciadas, porém complementares.
A partir dessa nova perspectiva miltoniana, o Circuito Superior e o Circuito Inferior
possuem graus diferentes de modernização. O Circuito Superior é o resultado direto das
modernizações no território (banco, comércio, indústria moderna). Já o Circuito Inferior se
caracteriza pela fabricação do não-capital intensivo, serviços não modernos e varejistas,
através de comércios, feiras, locais não modernos e de pequeno porte, voltados ao comércio
da população local mais pobre (SANTOS, 2008). No entanto, vale ressaltar, os dois circuitos
27
da economia urbana dos países subdesenvolvidos se diferenciam e se caracterizam pela
tecnologia e sua organização, mantêm uma ligação e, segundo Santos (2008), não são
sistemas fechados, possuem uma interdependência, sendo complementares e competitivos.
Além do Circuito Superior e do Circuito Inferior, Santos (2008) descreveu sobre a
existência de um Circuito Superior Marginal. Trata-se de uma subdivisão do Circuito
Superior. O Circuito Superior Marginal apresenta menos modernização tecnológica e
organizacional, podendo ter características do circuito inferior e também do circuito superior.
Segundo Santos (2008):
O circuito superior marginal pode ser o resultado da sobrevivência de formas menos
modernas de organização ou resposta a uma demanda incapaz de suscitar atividades
totalmente modernas. Essa demanda pode vir tanto de atividades modernas, como do
circuito inferior. Esse circuito superior marginal tem, portanto, ao mesmo tempo um
caráter residual e um caráter emergente (p.103).
Conforme ainda abordou Santos (2008, pg.103), o circuito superior marginal pode
surgir de formações não modernas de organização e atividades que não são inteiramente
modernas, podendo vir tanto do Circuito Inferior como do Circuito Superior, possuindo assim
uma característica residual, ou seja, de alguma forma teve a sua origem derivada de outro
circuito. O Circuito Superior Marginal tem as mesmas características do Circuito Superior,
mas com um menor grau de modernização, porém os circuitos da economia urbana são
resultados dessa mesma modernização.
Já o Circuito Inferior é o resultado indireto da modernização. Nesse aspecto, este “...
é um resultado indireto, que se dirige aos indivíduos que só se beneficiam parcialmente ou
não se beneficiam dos processos recentes e das atividades a eles ligadas” (SANTOS, 2008, p.
40). Os circuitos providos de uma mesma modernização, sendo um resultado direto e outro
indireto, um moderno e o outro não moderno, sempre um se comparando ao outro.
Para compreendermos melhor os dois circuitos, tomamos de empréstimo o Quadro 1,
elaborado por Firmino (2016), que apresenta algumas características acerca da diferença dos
dois circuitos:
28
Quadro 1: Características do circuito superior e circuito inferior
Circuito Surgimento Técnicas Sistema de
Objetos Crédito Preços
Mão de
Obra
Superior
Diretamente
da
modernidade
Capital
intensivo Modernos
Bancário
(Formal) Fixo (em geral)
Contrato
formal ou
terceirizado
Inferior
Indiretamente
da
modernidade
Trabalho
intensivo Tradicionais
Fiado em
geral Pechincha/Regatear
Familiar
(em geral)
Circuito Elementos de
Articulação Lucro Progressão
Acumulação
de capital Potencial Org.
Superior
Procura fora
da cidade e
sua região
Longo
prazo
Org.
burocrática
e/ou
governamental
Indispensável
as suas
atividades
Imitativo Sofisticada
Inferior
Encontra na
cidade e sua
região
Curto
prazo
Sem org.
burocrática
e/ou
governamental
Não é de
interesse
primordial
Criativo Baixo grau
Fonte: Firmino (2016, p. 32)
O Circuito Superior, enquanto possui como técnica o capital intensivo, o Circuito
Inferior é baseado no trabalho intensivo. Os elementos de articulação do Circuito Superior são
relacionados fora da cidade ou região, enquanto o Circuito Inferior encontra seus elementos
na própria cidade ou região. O Circuito Inferior possui um sistema de objetos tradicionais
enquanto o Circuito Superior possui um sistema moderno. De todo modo, os dois circuitos se
apresentam diferentes, porém relacionados pela modernização em suas origens.
Para Montenegro (2012), a teoria dos dois circuitos da economia urbana iniciada por
Milton Santos na década de 1970, e suas releituras contemporâneas estão cada vez mais sendo
debatidas atualmente, diante desse período de aceleração da globalização nas cidades dos
países subdesenvolvidos. As disparidades notadas na leitura da paisagem apontam para dois
sentidos amplos de produção do espaço e, nesse sentido, para duas grandes apropriações
diferenciadas em relação aos usos do espaço e ao envolvimento social com a produção dos
mercados locais na sua interação com o mundo capitalista.
De modo geral, os aspectos apresentados até então permitem que tenhamos acesso a
um complexo processo de produção de diferenciações sócio-espaciais. No que toca à escala
das localidades, por um lado, produzem-se objetos geográficos que permitem o
29
desenvolvimento ainda mais acelerado das conexões local-mundo via mercado, expressos
então por fixos e fluxos ditos “avançados” ou tecnicamente conectados com a globalização
(com consequente desenvolvimento de meios comunicacionais e de instituições, sobretudos
de casas financeiras e de créditos, que facilitam as interações econômicas num plano que
provavelmente transcende as localidades). Por outro lado, o retrato restante é a da parcela da
sociedade que não se conecta diretamente com tais dinâmicas e que se expressa como
“popular”, grosso modo “atrasado” diante dos processos inovadores do mercado.
A relação entre os circuitos, portanto, atinge o comércio formal e também as feiras
populares, estando estas mais ligadas às “...atividades de pequena dimensão e interessando
principalmente às populações pobres [...] e mantém relações privilegiadas com sua região”
(SANTOS, 2008, p.22). A feira, nesse caso, procura adaptar-se à contemporaneidade,
aderindo às técnicas e organizações mais modernas para sobreviver à globalização
(FIRMINO, 2016). A relação entre a feira e o Circuito Superior está justamente na imitação
de produtos do Circuito Superior e também nos aparelhos modernos, porém sempre
dependente do Circuito Superior.
Assim, diante da globalização, a relação entre os circuitos se intensifica, conferindo à
feira um papel central de lugar de trocas comerciais e de ligação das esferas superior e inferior
desses circuitos da economia. A partir da liberdade de mercado, que possibilita a complexa
rede de intercâmbios comerciais, as cidades locais passam a ter relevância na medida em que
centralizam o contato entre a escala local de produção da economia e as escalas regional,
nacional e global. Assim se impõem adaptações daqueles em relação a estes, na medida em
que inovar é grosso modo espelhar-se no que vem de fora com o slogan de inovação.
Oferecidos tais fundamentos de percepção da realidade socioespacial, logo importa-
nos conferir qual o papel das feiras nesse sentido amplo de interdependências e de dinamismo
relativos à geografia urbana de uma cidade pequena como Delmiro Gouveia.
1.5 As Feiras
Com base na proposta de leitura da feira como centro da rede de comércio ligado ao
circuito inferior em Delmiro Gouveia, pretendemos por ora realizar uma breve aproximação
sobre a noção desta como um “mercado tradicional” marcante ao entendimento da realidade
local. Para isso, pensamos inicialmente tratar da noção de feira e da sua relevância enquanto
objeto a ser estudado do ponto de vista da geografia e da região.
30
A noção de feira está ligada em geral ao entendimento de um espaço tradicional de
troca de mercadorias e de culturas. Nesse sentido, constitui-se historicamente como lugar de
encontro para a realização da dinâmica econômica de uma região ou país. A feira, ou mercado
periódico, é um lugar público onde as pessoas mostram e comercializam os seus produtos em
um local aberto, sendo palco de movimentos que provocam grandes transformações na
paisagem e no espaço geográfico, envolvida em fluxos de mercadorias, pessoas e informações
advindos de várias regiões ou até mesmo de outros países.
No entanto, a feira pode incorporar ao mesmo tempo aspectos de trocas modernas e
de trocas tradicionais. É nesse sentido que a regionalidade se apresenta do ponto de vista das
identidades culturais – embora este não seja o nosso foco, vale alertarmos que antes de ser um
espaço de trocas meramente econômicas, é também a feira um espaço de intercâmbios
culturais.
Assim, segundo Dantas (2007), a feira pode ser caracterizada por:
(...) possuírem diferentes alcances espaciais, podendo ser estritamente locais ou de
alcance regional, integrando um grande sistema de mercado. Além disto, elas são
uma forma de organização espaço-temporal das atividades humanas, onde há uma
articulação no que se refere ao funcionamento de cada feira, o que permite um
deslocamento ordenado dos participantes (pg.17).
A feira, então, é a integração de vários mercados, sendo organizados em um espaço
em certo período do tempo reunindo as atividades humanas (culturais e econômicas), variando
os seus fluxos as singularidades regionais.
Diante disto, a feira, além de tais características, pode ser entendida também através
de sua própria etimologia ou também ser confundida pelo termo mercado. Nesse aspecto, ao
investigar o sentido etimológico de tais palavras, Dantas (2007) menciona que:
Na língua portuguesa, o termo mercado é originado da palavra latina ‘mercatu’ e é
utilizada para designar um lugar fechado onde se comercializam gêneros
alimentícios e outras mercadorias; já o termo feira provém da palavra latina ‘feria’ –
‘dia de festa’ – e é comumente utilizado para designar um lugar público, muitas
vezes descoberto, onde se expõem e vendem-se mercadorias. (p.24).
De acordo com a etimologia das palavras mercado e feira podemos notar as
diferenças desses lugares: o mercado é um ambiente fechado e coberto; a feira é um ambiente
descoberto. Assim, também é possível identificar que a palavra mercado está voltada para
uma prática unicamente comercial, enquanto a feira possui também uma característica cultural
marcante, possuindo em sua terminologia o significado de um “dia de festa”.
31
Com o advento do capitalismo comercial e com os interesses do poder público
voltado para a feira, muito se mudou em termos de organização, desde sua origem até os dias
atuais (período da intensificação da globalização). Ao abordar e investigar as origens
históricas das feiras, Boechat e Santos (2011) descrevem que:
Esta atividade comercial começou itinerante, mas com o passar do tempo começou a
surgir uma necessidade natural de um local que promovesse a opção de todos os
produtos, e que estivessem disponíveis para trocas e comércio. Com o tempo,
provavelmente o número de pessoas foi aumentando e o poder público interveio com
o objetivo de disciplinar, fiscalizar e, é claro, cobrar impostos (p.3).
Portanto, com base nos escritos acima, havia ali na feira um grande potencial
econômico que, com o passar do tempo, foi se ampliando através das trocas e vendas, com
intervenção do poder público, através da organização e cobrança de impostos. O poder
público viu ali uma forma de arrecadar mais impostos, pois a feira é um ambiente de intensa
circulação de pessoas, objetos e informação. Hoje em dia, mesmo em tempos de globalização,
a feira mantém a mesma essência, porém, estão mais envolvidas e dependentes de questões
políticas, econômicas (global e local) e sociais, também estando presente em vários países do
mundo.
No Brasil, as feiras livres começaram a surgir com a colonização portuguesa mesmo
já existindo uma noção de troca de mercadorias praticadas pelos indígenas (DANTAS, 2007).
Sendo mais preciso, é na região Nordeste que se têm os primeiros indícios de atividades cujas
características se assemelham às da feira no Brasil. Neste sentido, podemos dizer que, sem a
intenção de uma generalização definitiva, a economia das cidades nordestinas tem o seu início
nas denominadas, atualmente, feiras livres; a primeira feira de que se tem notícia se localizava
ao norte do Recôncavo Baiano por volta o século XVI (MOTT, 1975 apud DANTAS, 2007,
pg.71).
Ao investigar as feiras no Nordeste, Pazera Jr. (2003) explica que nessa região
existem alguns diferentes tipos de feira. Tal divisão está relacionada à subregião de onde está
localizada a feira, a sua intensidade referente aos fluxos de pessoas e mercadorias e ao seu
grau de influência regional. Pazera Jr.(2003), com base na pesquisa realizada por Isller (1965)
, ressalta que existiam dois tipos de feira, a feira de zona de transição:
As feiras de zona de transição ocorrem nas faixas de transição entre duas zonas
geograficamente diferentes: Zona da Mata-Sertão; Brejo-Agreste. Esta localização
vai possibilitar que produtos característicos de cada área sejam trocados. Desta
forma estas feiras apresentam uma variedade de produtos significativa, que vão
desde frutas e legumes até produtos industrializados. Outro ponto a ser considerado
32
é que, em geral, nestas zonas de transição há o domínio da pequena e média
propriedade, o que propicia condições para que um número maior de agricultores
participem da feira (p.27).
E a feira de zona típica:
As feiras de zonas típicas são as existentes no interior de zonas geográficas bem
definidas. Quando comparadas às zonas de transição são menores e mais pobres,
resumindo-se a umas poucas barracas com produtos de consumo indispensável e
algumas de artesanato e confecção. Por ser uma zona onde a pobreza é
generalizada, principalmente no Sertão, a presença do produtor como comerciante
quase não se faz notar. Quase todo mundo possui uma roça, mesmo que bem
pequena, ou não possuem condições de comprar o que é oferecido na feira (p.28).
Conforme aborda o autor acima, embasado nos escritos de Isller (1965), a feira de
zona de transição se beneficiava pela sua localização geográfica, contendo uma maior
quantidade e diversidade de produtos. Estas são maiores e de maior influência regional. A
feira de zona típica é do tipo menor e mais pobre, estando localizada principalmente no Sertão
e onde o próprio agricultor é geralmente o feirante, além de não ter tanta influência regional
como o primeiro tipo de feira. Tais tipificações de feira já não caracterizam as feiras atuais,
como veremos a seguir.
De outra forma, mais recente, podemos abordar a feira nordestina, ou mercado
periódico nordestino (DANTAS, 2007), sob a ótica das redes geográficas. As redes
geográficas também fazem parte da dinâmica da feira, caracterizando-a através dos fluxos de
mercadorias, fluxos de pessoas e de informações. Concordando com Corrêa (2011), a feira:
Tem como agentes comerciantes, produtores rurais, artesãos, e consumidores, sendo
eminentemente espontânea. Envolve fluxos de mercadorias, pessoas e informações,
e, através dela, realiza-se a integração entre áreas rurais, pequenas, médias e grandes
cidades. Ligadas ao mercado associa-se à acumulação, mas também na feira a
sociabilidade se manifesta. É real, material e eminentemente informal, tendendo a
ser hierarquizada, na qual há centros com comércio atacadista para feirantes e
centros onde há apenas varejista-ambulante. A feira nordestina existe há muito
tempo e a velocidade de seus fluxos é lenta. Sua preferência é periódica e esta é uma
característica fundamental que a distingue do comércio fixo (p.103).
As feiras nordestinas descritas por Corrêa (2011) estão envolvidas com o meio rural
e com as cidades, ligados através dos fluxos de mercadorias, pessoas e informações,
conectando também as cidades entre si. A feira atrai uma grande quantidade de pessoas da
região para a localidade em que se encontra, exercendo assim uma centralidade (Corrêa,
2011), ocorrendo de maneira periódica, pois os próprios comerciantes reabastecem seus
estoques e migram para outras feiras, exigindo certo tempo para que ocorra novamente.
33
Ainda para Corrêa (2011), as feiras possuem três dimensões distintas e as redes
geográficas são o que caracterizam tais dimensões de feiras: uma é a dimensão
organizacional, que possui uma organização interna “abrangendo os agentes sociais, a origem
da rede, a natureza dos fluxos, a função e finalidade da rede, sua existência e construção”
(CORRÊA, 2011, p.109); também existindo uma dimensão temporal ao qual está relacionada
à “duração da rede, a velocidade com que os fluxos nela se realizam, bem como a frequência
com que a rede se estabelece” (p.109); e, por fim, uma dimensão espacial caracterizada pela
“escala, a forma espacial e a conexão da rede geográfica”(p.110). Tais dimensões classificam
o tamanho da feira, sua forma, sua velocidade de fluxos, com os quais outros tipos de
comércio se envolvem em rede, sua organização interna, periodicidade e dinâmica.
É válido destacar essa dinâmica que a feira provoca na cidade e em seu entorno,
através de seus fluxos locais e globais, principalmente no Nordeste onde a feira não é tratada
como algo isolado. Pazera Jr. (2003), ao abordar a abrangência espacial das feiras, destaca
que:
As feiras que se realizam semanalmente nas cidades brasileiras são significativas na
vida urbana. No Nordeste, no entanto, ela deixa de ser um fato rotineiro para
assumir um papel de destaque sendo, às vezes, difícil distinguir até que ponto a feira
depende da cidade ou a cidade depende da feira. Desta forma a feira além de sua
importância urbana e regional, desenvolve o processo de comercialização e trocas
inter-regionais. (pg. 27)
De acordo com os escritos do autor acima, as feiras desempenham, além de uma
importância local para a cidade, um papel de intercambio e integração. Esse fato é o resultado
direto das dimensões das redes geográficas que as feiras estão inseridas (de modo temporal,
espacial e organizacional) e também do tamanho e importância do núcleo urbano da cidade.
O núcleo urbano da cidade possui relação com as feiras nela inseridas, pois se trata
de uma relação de troca. Essa relação depende da importância que a feira exerce no comércio,
na dinâmica e nos fluxos da cidade. Nesse caso:
Quanto menor for o núcleo urbano tanto maior sua importância e sua influência. Nas
pequenas comunidades, onde o comércio regular é inexpressivo, assume o papel de
mercado geral, onde se realizam todos os negócios locais. Nos pequenos centros
urbanos (e às vezes até em cidades maiores), a feira encarna e torna concreta a
função comercial. Para tanto promove a circulação regional ou inter-regional dos
produtos locais de subsistência e de consumo (PAZERA, 2003, p.30).
Nesse sentido, e pode-se dizer grosso modo, quanto menor a cidade maior será a
importância da feira, assumindo o papel de mercado principal de determinadas cidades e
34
regiões. Ela promove a maior parte dos fluxos de produtos locais e regionais, de subsistência e
consumo.
Para a compreensão do estágio atual, as feiras foram ganhando grandes proporções
na medida em que a melhoria dos meios de transporte e a abertura de novas estradas e
rodovias foram ocorrendo em larga escala (FIRMINO, 2016 pg. 78). Tais acontecimentos,
principalmente com o advento do meio técnico-científico-informacional, fizeram com que as
feiras obtivessem algumas características (técnica e informacional) da modernidade. Essas
mudanças que ocorrem nas feiras se revelam como resultados da modernização das técnicas e
informações das atividades comerciais que surgiu nas últimas décadas (supermercados,
hipermercados, atacados, shoppings). A modernização faz com que os tipos de comércio mais
tradicionais se adaptem à nova realidade imposta pela competitividade, surgindo novas regras
e normas de compra, venda e circulação de mercadorias, possibilitando verdadeiras mudanças
sociais e urbanas (FIRMINO, 2016, p.82).
Portanto, a feira é um tipo de mercado periódico dito informal, de manifestações de
atividades comerciais e culturais que fora trazida pelos portugueses, no caso do Brasil, tendo a
sua gênese no Nordeste, pelos colonizadores e outras influências já existentes no território.
Atualmente, período do meio técnico-científico-informacional (SANTOS, 2008), a feira é
marcada fortemente pelo avanço da técnica, da ciência, da informação e da competitividade
no território, desempenhando o papel de espaço comercial tradicional de trocas e vendas de
mercadorias advindas de várias localidades através dos fluxos (locais e globais).
E é nesse contexto de reflexões que pretendemos ler o caso da feira na cidade de
Delmiro Gouveia, explorando aspectos centrais de como tais dinâmicas podem subsidiar o
conhecimento crítico dos lugares e da região.
35
2. A FEIRA DE DELMIRO GOUVEIA: HISTÓRIA, DINÂMICA E RELAÇÕES
SOCIOESPACIAIS
O município nordestino de Delmiro Gouveia localizada em Alagoas, nosso recorte
espacial, é tipicamente sertaneja. De acordo com o IBGE (2010), encontra-se à distância de
300 km da capital Maceió, fazendo divisa com os estados de Sergipe, Pernambuco e Bahia.
Em seu limite municipal: Pariconha -AL, Água Branca- AL, Olho D’água do Casado- AL,
Paulo Afonso – BA, Canindé do São Francisco –SE e Jatobá - PE. De acordo com senso de
2010 do IBGE, sua população é de aproximadamente 51.997 habitantes, sendo um dos 10
maiores municípios do estado de Alagoas.
Figura 1: Localização do município de Delmiro Gouveia - AL
Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar. 2017.
Neste capítulo, analisamos as relações sócio-espaciais da feira de Delmiro Gouveia,
seu sistema de redes, globalização e organização espacial atualmente. Para isto, não devemos
entender o espaço sem a sua relação com o tempo. Portanto, sua história espacial, que se
embaraça com a história da cidade, será refletida com o objetivo de entendermos o seu espaço
hoje em dia.
36
2.1– Os primeiros passos da feira do povoado Pedra
Investigar a feira do município de Delmiro Gouveia requer um resgate histórico de
sua fundação e dinâmica espacial. A feira passa a ser entendida como espaço dinamizador da
economia urbana de Delmiro Gouveia na medida em que possibilita o fluxo de mercadorias,
de pessoas e de capital. Pretendemos, então, traçar um breve panorama da questão da feira no
Nordeste e em seguida no Sertão e na cidade de Delmiro Gouveia.
O Nordeste é uma região brasileira dividida em quatro grandes regiões, definidas por
suas condições naturais e geográficas: Zona da Mata, Agreste, Sertão e Meio Norte, conforme
Andrade (2005). O Sertão é a maior sub-região do Nordeste, se estendendo até o litoral em
algumas áreas (como é o caso dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte), possuindo um
clima semiárido com média de 25ºC, caracterizado por um baixo índice pluviométrico
(ANDRADE, 2005, p.57).
Além disso, o desenvolvimento econômico e populacional do Sertão está totalmente
relacionado ao gado e à cana de açúcar. Foi com a expansão da criação de gado, inicialmente
para suprir as necessidades da zona da mata, litoral e dos engenhos de cana de açúcar, que era
a principal atividade nordestina da época, que desenvolveu-se o povoamento do Sertão
nordestino. Com a expansão da pecuária, vários aglomerados populacionais foram surgindo
na região, consequentemente também as primeiras formas de comércio, formado por
pequenos agricultores e criadores de gado. Conforme afirma Melo (2012):
São dessas praças comerciais formadas a partir do comércio do gado que surgem as
feiras livres, importantes elementos para o desenvolvimento das cidades. Caso
também observado na região do alto sertão alagoano, na feira de gado de Várzea do
Pico, em Água Branca, que além do negócio com o gado, funcionava também uma
espécie de mercadão com feirantes comercializando outros produtos (p. 83).
O surgimento desses espaços de troca e venda, contribuiu para o desenvolvimento
dos aglomerados populacionais que surgiram no Sertão, os povoados. De acordo com Melo
(2012), foram através delas (espaços de trocas e vendas de gado) que surgiram as primeiras
povoações, feiras e comércio no Alto Sertão, como o caso do povoado Várzea do Pico, em
Água Branca -AL.
Delmiro Gouveia-AL, antes de sua emancipação política em 1952 era um pequeno
distrito chamado Pedra, esta pertencente ao município de Água Branca -AL, que surgiu às
margens da estrada de ferro Paulo Afonso. Nesse caso, a antiga vila de Água Branca foi
37
desmembrada do município de Mata Grande -AL, posteriormente transformada em cidade e
em seguida ocorrendo o mesmo com o povoado Pedra. Segundo Melo (2012):
A vila de Água Branca foi criada pela resolução nº 681 de 24 de abril de 1875,
desmembrada da Mata Grande. Através da Lei nº 805, de 02 de junho de 1919, a vila
foi elevada à categoria de cidade. Já o povoado Pedra, que pertencia a vila de Água
Branca, foi elevado à categoria de município, com a denominação de Delmiro
Gouveia, pela lei 1628, de 16 de junho de 1952 (pg.85).
Conforme os escritos do autor, o povoado Pedra pertencia à cidade de Água Branca
até meados de 1952. Antes de ser emancipado, o povoado Pedra tinha suas relações
econômicas fortemente ligadas à cidade ao qual fazia parte. Toda forma de comércio estava
ligada à cidade de Água Branca, consequentemente à feira da Várzea do Pico.
Em se tratando da feira no alto Sertão alagoano, o povoado Várzea do Pico, próximo
à vila de Água Branca no século XIX, possuía uma feira ao qual pessoas de várias localidades
da região se encontravam para a troca e venda de suas mercadorias. A feira da Várzea do Pico
foi de grande importância para a região, uma vez que era um local de encontros e de fluxos de
pessoas e mercadorias, estabelecendo uma renda para os comerciantes e dinamizando
economicamente a localidade. Segundo Melo (2012):
Ao longo do tempo, a praça de comércio e o mercadão passaram a se chamar feira e
ficavam localizados no povoado Várzea do Pico; as pessoas que moravam em outros
povoados e sítios caminhavam horas e horas para chegar a esse local. Lá
comercializavam e compravam gados e outros produtos, além de fortalecer os laços
e conflitos sociais. Essa feira se ampliou com os encontros entre viajantes,
mercadores, agricultores, missionários, comboieiros, aventureiros, e todos que
habitaram e que, de alguma forma, contribuíram para a construção e transformação
do lugar (pg.92).
Diante dos escritos do autor, podemos identificar o que estava acontecendo nesse
período e espaço: o mercadão e a praça de comércio passaram a ser chamada popularmente de
feira e há o crescimento territorialmente considerado da feira a ser causado pela intensificação
das trocas.
O gado também foi um importante fator para o desenvolvimento da feira da Várzea
do Pico. Para o gado chegar à feira percorria um caminho longo até encontrar os locais de
comercialização. Haviam pessoas especializadas na condução do gado e no caminho para os
locais; eram chamados de vaqueiros que “caminhando à frente da boiada, cantando o ‘aboio
sertanejo’, enquanto os demais acompanhavam as reses, tangendo-as e vigiando-as para que
não se dispersassem” (ANDRADE, 2005, pg.188).
38
Com a intensificação dos fluxos, aumento da economia e o crescente espacial da
feira da Várzea do Pico, logo, foram surgindo novas feiras na região. Ocorre então a
transferência da feira de Várzea do Pico para a freguesia de Água Branca, possibilitando
também o surgimento de uma pequena feira no povoado Pedra, que era um local privilegiado
devido à sua estação de trem. Desse modo, Melo (2012), de acordo com sua investigação
histórica, relata que:
O fluxo maior de pessoas transitando e se estabelecendo no Alto Sertão Alagoano
possibilitou a transferência da feira da Várzea do Pico para a freguesia de Água
Branca e também para a criação de uma feira no povoado Pedra, localizada próxima
à estação da estrada de ferro da então Great-Western, no centro do povoado. Um
pequeno grupo de feirantes começou a se instalar nesse espaço, iniciando a vida
corrida de muitos que se faziam em duas ou mais feiras daquela região (pg.92).
Como Melo (2012) aborda, podemos identificar o início das atividades econômicas e
aumento populacional causado pelas feiras na região no final do século XIX. Assim, as feiras
de Água Branca e do povoado Pedra surgiram. A partir daí alguns feirantes se locomoviam
entres as duas feiras para comercializarem seus produtos em dias diferentes.
A pequena feira da Pedra, nesse caso, passa a ter um papel importante para o
povoado, assim também como a estrada de ferro Paulo Afonso, principalmente para a feira. A
estrada de ferro Paulo Afonso teve o seu trecho final inaugurado em 2 de março de 1883 e
funcionou até 1964, controlada pela empresa Great Western of Brazil Railway Company a
partir de 1901(OLIVEIRA, 2003), sendo de grande importância para o alto Sertão alagoano.
O trem da Estrada de Ferro Paulo Afonso levava passageiros e cargas entre várias cidades e
povoados de Pernambuco e Alagoas. Partindo de Piranhas, passava pelo povoado Pedra, onde
se voltava basicamente para a economia do pequeno distrito. Oliveira (2003) descreve que:
O trem saía de Piranhas, parava em Olho D’Água do Casado (AL), Talhado (AL),
Sinimbu (AL), Delmiro Gouveia (AL), Volta (PE), Quixaba (PE) e Jatobá (PE).
Caso funcionasse nos dias atuais, poderia estar atendendo a uma população estimada
em mais de cem mil pessoas. Partia de Piranhas e ali chegava às terças, quartas e
sábados, num comboio até Delmiro e outro até Jatobá, composto de até 8 vagões: 1
de primeira classe, 1 ou 2 de segunda, 1 ou 2 de grade para animais e de 1 a 3 para
transporte de outras mercadorias (pg.270).
A estrada de ferro Paulo Afonso proporcionou o abastecimento, venda e circulação
entre essas cidades descritas por Oliveira (2003), como podemos verificar na Figura 2, além
de promover também o fluxo de pessoas com uma maior velocidade. A estrada de ferro Paulo
Afonso, em seus anos de existência, exportou açúcar, álcool/aguardente, caroço de algodão,
39
milho, farinha de mandioca, couros, peles, madeiras, lenha e café e importou charque,
bacalhau, farinha de trigo, tecidos, especiarias, ferragens, sal e arame (OLIVEIRA, 2003,
pg.268).
Figura 2: Estradas de Ferro
Fonte: Azevedo (2011, pg.107)
Na Figura 2, podemos observar que a estrada de ferro Paulo Afonso passava por
Pedra onde sua estação estava praticamente na metade da rota entre Piranhas-AL e Jatobá-PE.
Em Pedra podemos identificar também uma rodovia que passava pelo antigo povoado, um
pequeno trecho até a cachoeira de Paulo Afonso e outro trecho ligando Pedra às cidades de
Água Branca, Mata Grande, Santana do Ipanema e outras, até encontrar outras estradas de
ferro que levavam até as capitais Maceió e Recife. Como Pedra fazia parte dessa rota, várias
pessoas utilizavam o trem para frequentar a feira do povoado, conforme retrata a figura 3.
40
Figura 3: Desembarque e embarque de pessoas no trem e ida à feira de Delmiro Gouveia – AL
em 1960.
Autor desconhecido. Fonte: acervo do Museu da Pedra.
Na Figura 3, observamos o aglomerado de pessoas para o embarque e desembarque,
alguma delas indo em direção à feira, em terra seca, típica do semiárido. Mães, crianças e
alguns homens compõem a paisagem. Além disso, podemos notar as roupas de tecidos feitos
na Fábrica da Pedra e que a feira acontecia nos dias em que passava o trem, onde se tinha o
maior fluxo de pessoas e mercadorias (MELO, 2012, pg. 97).
Além da estrada de ferro Paulo Afonso, dos caminhos de gado e dos transportes
terrestres (carroças e automóveis) existia também o transporte fluvial no rio São Francisco. O
fluxo de mercadorias e pessoas era formado pelos meios supracitados, sendo que as feiras
também faziam parte de tal fluxo, sendo um local de encontro desses fluxos para as trocas e
vendas de produtos. Nesse sentido,“houve tanto a possibilidade de maior fluxo comercial,
como inserção de novos agentes que começaram a modificar seus hábitos, absorvendo as
inovações, tanto tecnológicas quanto culturais” (MELO, 2012, pg.98).
A feira do povoado Pedra passa a ganhar intensidade significativa de pessoas e
mercadorias em meados de 1903, graças à vinda do empreendedor Delmiro Gouveia ao
distrito (MELO, 2012 pg.92). Delmiro Gouveia foi um grande empresário que viu nas terras
secas do povoado Pedra, Alto Sertão Alagoano, um grande potencial para as instalações
41
industriais modernas, mudando o espaço geográfico e a vida na pequeno povoado Pedra para
sempre.
Vindo de Pernambuco por motivos políticos e econômicos, Delmiro Gouveia compra
uma fazenda no município de Água Branca, no povoado Pedra, passando a beneficiar o
Distrito com várias construções. Logo a fazenda de Delmiro Gouveia ganhou nomes entre os
populares e, graças à construção da fábrica de linhas, a malha urbana do povoado Pedra
cresceu significativamente.Como afirmou Correia (1998):
Em Alagoas, em 1903, Delmiro Gouveia comprou uma fazenda que denominou Rio
Branco, no município de Água Branca, perto de Pedra, um pequeno povoado às
margens da Ferrovia Paulo Afonso. Na extremidade da fazenda próximo ao povoado
e à ferrovia, construiu currais, açude, uma residência e prédios para abrigar um
curtume. Em 1912, com a decisão de implantar uma fábrica de linhas no local, foi
iniciada a construção do núcleo fabril, que incorporou essas primeiras edificações.
Entre os moradores e contemporâneos, o núcleo era referido como Fazenda Rio
Branco, Fazenda da Pedra, Vila Operária da Fazenda Rio Branco ou simplesmente
como ‘a Pedra’, ao passo que a povoação preexistente era chamada Pedra Velha ou
‘cidade livre’ (pg.203-204).
Conforme narra Correia (1998), Delmiro Gouveia se instalou no povoado e
posteriormente começou a construção do núcleo fabril, possibilitando vários pontos positivos
para o povoado Pedra como: Açude, residências, construções e currais de criação de animais.
Os populares passavam chamar a parte original do povoado de “Pedra Velha” e as mediações
do núcleo fabril, contornada por um arame, era chamado de “A Pedra”(CORREIA, 1998).
O Alto Sertão Alagoano e, nesse caso, a feira da Pedra do final do século XIX até o
início do século XX passaram por diversos eventos significativos para o seu desenvolvimento
econômico e urbano. Dentre esses eventos, os caminhos de gado, os fluxos de mercadorias e
de pessoas através das estradas, do rio São Francisco e da estrada de ferro Paulo Afonso que
ocorriam ali, criou a possibilidade do nascimento de povoações e pequenos comércios de
troca e venda, as feiras. O aumento dos fluxos permitiu o aparecimento de novas feiras, como
a pequena feira do povoado Pedra. Podemos dizer, grosso modo, que a pequena feira da Pedra
é a gênese da economia urbana de Delmiro Gouveia/AL e da, juntamente com outras feiras,
região do Alto Sertão Alagoano.
Ainda assim, a feira da Pedra passou por outros momentos que ampliaram suas
atividades e dinâmicas, como a vinda do empresário Delmiro Gouveia e o inicio industrial do
povoado. Com o povoado ficando cada vez mais “moderno”, a feira também acompanhou
esse crescimento. No processo de modernização do distrito Pedra a feira se modificou
42
também, sua dinâmica, seu uso socioespacial, mudanças de locais etc., e a transformou no que
ela é atualmente.
2.2 – A feira no contexto da modernização de Delmiro Gouveia – AL
Ao longo do desenvolvimento histórico e do seu processo de modernização, a cidade
de Delmiro Gouveia e a sua feira passaram por profundas transformações. Nesse sentido, cabe
evidenciarmos as influências do então empresário Delmiro Gouveia e, especialmente, o papel
do núcleo fabril, do comércio e da estrada de ferro, para além do papel tradicional da pecuária
e da agricultura.
Para Melo (2012), os processos de desenvolvimento econômico pelos quais passou o
Alto Sertão alagoano, apresentaram alguns outros condicionantes essenciais, tais como:
(...) fertilidade de seu solo, que permitiu o desenvolvimento da pecuária e várias
culturas agrícolas, como: a cana-de-açúcar, o algodão e a mandioca, dentre outras; b)
sua posição estratégica como ponto de descanso entre províncias foi fator
determinante para que florescesse o comércio. Além destas duas grandes
explorações, existiram também; c) pequenos estabelecimentos que se desenvolveram
diante dos empreendimentos comerciais maiores orientados para a exportação, como
é caso específico da feira que vai servir como espécie de escoamento da produção
local e dos produtos trazidos pelos viajantes (p. 85).
E também:
Os núcleos urbanos de Água Branca e Delmiro Gouveia, que ascenderam no último
século, foram beneficiados pela construção das estradas e das ferrovias que
começaram então a desenvolver formas variadas de comércio, tanto pelas feiras
locais quanto pela exportação de produtos. Esses fatores atraíram grandes
fazendeiros e comerciantes que precisavam dispor da infraestrutura de transportes
para vender e comprar. (MELO, 2012, p.98)
Os pequenos “povoados”, nesse sentido, se apresentavam como pontos estratégicos
ao descanso para os viajantes da região. Com isso o comércio floresceu, surgindo também
outros empreendimentos como os engenhos de cana-de-açúcar e a feira para o escoamento da
produção local. Também vale acrescentar a importância da estrada de ferro Paulo Afonso e
posteriormente a chegada de fazendeiros e de comerciantes.
E, dentre os que apostaram nesse potencial, estava o então “empreendor” Delmiro
Augusto da Cruz Gouveia, que se instalou no povoado Pedra por motivos econômicos e de
perseguição política, implantou o seu negócio de couros, o qual fazia no Recife, e
posteriormente realizou o início do projeto para uma fábrica de linhas no distrito
(MAYNARD, 2008).
43
Depois do curtume, negócios de peles e couros, Delmiro possibilitou a geração de
energia elétrica através da construção da Usina Anjiquinho, localizada na cachoeira Paulo
Afonso, para a pretensa indústria que construiu no povoado Pedra por volta da década de
1910. Trata-se da primeira fábrica de linhas de costura do Brasil e da primeira usina
hidroelétrica a produzir energia elétrica no Nordeste (MAYNARD, 2008). Com a implantação
da Fábrica da Pedra no distrito, o povoado Pedra entrou num processo de modernização e
crescimento acelerado.
Depois da implantação da fábrica, a partir de 1917, a pequena vila da Pedra passou a
ter, segundo Correia (1998) e Maynard (2008), cerca de 250 casas, máquina de gelo,
telégrafo, cinema, carrossel, tipografia, banda de música, algumas lojas, padaria, cinema,
farmácia, posto do correio, médico, dentista e pista de patinação, mudando a paisagem do
lugar. Nesse aspecto, no que concerne à feira, Delmiro Gouveia, por volta de 1910, ainda
arrematou os impostos sobre a feira e sobre as lojas, que eram administradas pela prefeitura
de Água Branca, visando poder controlar tais atividades (CORREIA, 1998, pg.297).
De acordo com Correia (1998, pg.204), as lojas, os serviços, o cassino e outros tipos
de estabelecimentos se misturavam às casas e estavam concentrados nos dois quarteirões
contíguos à fábrica da Pedra, sendo também onde, em frente, era realizada a feira do povoado.
Tais estabelecimentos eram controlados por Delmiro Gouveia e formavam a “área central do
comércio” do povoado Pedra, como podemos ver na figura 4 e na figura 5.
44
Figura 4: “Mapa” representação do núcleo por volta da década de 1910 desenhado por Telma
de Barros Correia.
Fonte: Correia (1998, pg. 204). Circunferência acrescida pelo autor.
O espaço que se entendia como um centro comercial (circunferência vermelha na
figura 4) era totalmente controlado por Delmiro Gouveia. Podemos observar a proximidade da
Fábrica da Pedra da área comercial e da feira, que ficava em frente às lojas. (CORREIA,
1998). Nessa representação do núcleo fabril, também podemos observar o desenho do cercado
de arame envolto, o planejamento da vila operária e as várias construções executadas por
Delmiro Gouveia.
Figura 5: Foto panorâmica do núcleo fabril no povoado em meados de 1920.
Fonte: disponível em: <http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br> Acesso em: 05/04/2017.
Circunferência acrescida pelo autor.
45
Na Figura 5, segundo as informações do Museu Delmiro Gouveia, podemos observar
o núcleo fabril, a igreja ao fundo, os tanques d’água, residências e, destacado em vermelho, a
feira livre e o centro comercial do povoado.
O empresário Delmiro Gouveia também foi à frente do seu tempo quando se tratam
de alguns aspectos trabalhistas como os dias de folga, a jornada de trabalho e o pagamento
dos funcionários. A folga era aos domingos, a jornada de trabalho era de oito horas diárias, os
pagamentos eram feitos aos domingos (dia em que ocorria também a feira da Pedra ás 10
horas), sendo o pagamento o suficiente para os funcionários manterem as suas “boas
aparências” (NASCIMENTO, 2012, pg.158). Nesse caso, possibilitava que, ao receberem os
pagamentos, os funcionários da fábrica da Pedra se direcionassem à feira e às lojas para
fazerem suas compras. Isso trazia mais pessoas para a feira, tornando-a um comércio grande
em comparação com o tamanho do povoado, mobilizando todo o distrito, como mostra o
aglomerado de pessoas na feira na figura 6.
Figura 6: Mosaico de imagens da feira da Pedra, meados de 1940.
. Fonte: Vídeo da Agência Nacional - Cine Jornal - Acervo do Museu Delmiro Gouveia.
B
D
A
C
B
46
No mosaico da Figura 6 podemos observar a feira da Pedra em meados de 1940. Na
imagem A, o comércio e as casas próximas à feira é visível e também podemos ter a dimensão
do tamanho que a feira tinha e sua organização. Na imagem B, jegues e jumentos, o meio de
transportar mercadorias utilizadas por parte dos feirantes e compradores, próximo à feira. Na
imagem C, uma feirante vendendo vasos de cerâmica, esta aparenta negociar o valor do
produto com a freguesa. Na imagem D, vendedores de rapadura comercializam seus produtos
em cima de caixotes próximos à calçada das lojas. A feira da Pedra era uma típica feira
sertaneja, como se vê no mosaico anterior, pequena e onde geralmente os feirantes são os
próprios agricultores, sem barracas e produtos expostos no chão.
Pazera (2003, pg. 30) aborda que na feira típica nordestina os feirantes acordam antes
do raiar do sol, preparam suas mercadorias e, os que não moram próximos, pegam as estradas
para se arriscarem nas feiras distantes onde possuem um lugar “marcado” de acordo com as
normas de cada feira, um território de atuação comercial.
O povoado Pedra e sua feira sofreram grandes mudanças em seus hábitos, economia
e urbanização com a implantação do núcleo fabril e também com a morte do empresário
Delmiro Gouveia. Pertencente ao município de Água Branca, o povoado passou a ganhar
destaque e atenção na região, onde pouco tempo depois, em 1917, Delmiro Gouveia foi
assassinado (CORREIA, 1998). Cerca de 50 anos depois da morte do empresário, a até então
Vila da Pedra deixa de ser parte integrante de Água Branca, onde em 1952 o Governador do
Estado de Alagoas, Arnon de Mello, sancionou a lei Nº1628 que criou o município de
Delmiro Gouveia, levando o nome do industrial, como podemos observar no Diário Oficial do
Estado de Alagoas (figura 3).
47
Figura 7: Decreto da emancipação política de Delmiro Gouveia.
Fonte: disponível em :<http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br>Acesso em 05/04/2017
Antes da emancipação política do município de Delmiro Gouveia, as feiras do
povoado Pedra e de Água Branca mantinham relações importantes que continuaram até os
dias atuais. Ao abordar as relações entre as duas feiras, Melo (2012) ressalta que:
Salientamos ainda que as instalações das feiras de Água Branca e Delmiro Gouveia
foram sendo estabelecidas tanto pelo fluxo do comércio quanto pelas relações entre
as formas de poder sócio-político-cultural. A expansão do fluxo das trocas
comerciais foi um dos elementos que possibilitou, junto ao processo industrial, a
instalação da infra-estrutura de mercados públicos nesses municípios. Esses
mercados funcionaram de forma entrelaçada às feiras, provocando, assim, a
expansão do número de empreendimentos e iniciando um processo de
descentralização e a formação de novas centralidades comerciais nas cidades
(p.109).
48
De acordo com os escritos de Melo, as feiras de ambas as localidades mantinham
tanto um fluxo comercial quanto um social, político e cultural que culminou, juntamente com
o processo de modernização do povoado Pedra e a construção de mercados públicos (ver
figura 8), no aumento da feira e na formação de novas centralidades comerciais. Nesse
sentido, de acordo com Corrêa (2011, pg.103), o fluxo de mercadoria e pessoas (feirantes e
compradores) entre as feiras de cidades próximas é típico da feira nordestina, envolve o meio
rural e urbano, sendo um evento regional em cada cidade.
Figura 8: Mercado Público Municipal de Delmiro Gouveia, década de 1970.
Fonte: disponível em :<http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br>Acesso em 05/04/2017.
Na Figura 8 podemos observar o primeiro mercado público de Delmiro Gouveia em
uma foto restaurada. De acordo com informações do site “Amigos de Delmiro Gouveia”, em
frente ao mercado está o bloco de carnaval “Bacalhau do Zé do Carmo”. O primeiro Mercado
Público Municipal de Delmiro Gouveia se localizava no centro da cidade.
Por volta de 1980 outro Mercado Público foi criado em Delmiro Gouveia, mais
afastado do centro, no bairro Eldorado e junto com ele a feira. Por volta da década de 1980 a
feira foi deslocada novamente por causa do aumento de seu fluxo, também devido ao novo
planejamento urbano da cidade e motivos políticos. A feira, que se encontrava no centro da
cidade (ver figura 6), próxima as lojas e ao mercado público municipal que surgiu
posteriormente (Figura 8) foi realocada para o bairro Eldorado, um bairro mais distante,
porém, agora a feira iria ser fixa em um espaço próprio (MELO, 2012, pg.112).
Posteriormente um novo mercado público surgiu em frente à feira, maior e mais moderno,
como podemos observar na figura 9.
49
Figura 9: A feira de Delmiro Gouveia em 1992.
Fonte: disponível em :<http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br>Acesso em 05/04/2017.
Na Figura 9, fotografada em 1992, notamos a feira de Delmiro Gouveia, apesar de ter
ficado mais longe do centro, ficou relativamente melhor organizada e o mercado público se
apresentava ampliado. Além disso, bancas de roupas, carros estacionados, transeuntes, as
“D20’s” para o transporte de pessoas e mercadorias, fazem parte de tal paisagem.
Em síntese, transformou-se ao longo dos anos os usos relativos aos espaços da feira,
não só pelas imposições iniciais do empresário Delmiro Gouveia ao controlá-la, mas também
pelas mudanças de seu espaço físico: mudou-se da estrada de ferro para o centro da cidade,
sendo realocada posteriormente para o bairro Eldorado por causa do desenvolvimento da
cidade e de questões políticas. A feira continuou crescendo, alterando a sua dinâmica no
espaço urbano, configurando, portanto, uma adaptação às novas modernizações e aos novos e
atuais usos socioespaciais.
Tal como acontece com grande parte das pequenas cidades sertanejas do Brasil, as
feiras passam a acumular certo significado de centralidade da vida social e econômica
regional. Dito de outro modo, são as feiras lugares de encontro e de conexão às trocas entre os
residentes e comerciantes na cidade de Delmiro Gouveia em relação a outros centros e
espaços rurais. Olhar para a feira atual é observar o modo como a cidade se relaciona com
outros ambientes e sociedades e promove acréscimos às transformações do cotidiano local.
50
2.3. A feira de Delmiro Gouveia e sua organização socioespacial
Pensar a feira de Delmiro é olhar para a sua organização espacial como expressão de
sua constituição histórica singular na região e como conjunto de relações que a cidade
estabelece com o entorno rural e os mercados nacional e global. Nesse sentido, a feira contém
tipos diversos de redes que caracterizam o presente, conforme abordamos a partir da
contribuição de Corrêa (2011), Corrêa (2011a), Santos (2008) e Santos (2009).
Para a reflexão pretendida neste trabalho, realizamos algumas coletas de dados
(especialmente junto à empresa então responsável pela manutenção do espaço da feira, e à
Prefeitura Municipal) e observações de paisagem nos lugares relativos à presença da feira de
Delmiro Gouveia. Tentamos focar na apreciação de informações relacionadas à distribuição
do comércio local e à organização espacial dos mesmos. Um panorama geral nos revelou que
a feira e o seu entorno contêm uma ampla área comercial junto ao Bairro Eldorado formada
pelo “Polo Comercial”, pelo “Mercado Público Municipal”, além de lojas e mercados
diversos, e a própria Feira popular. A área comercial, possivelmente, teve surgimento por
consequência da instalação da feira no local.
Faremos, a seguir, algumas interpretações do observado.
2.3.1. Organização Espacial da feira Delmiro Gouveia e do seu entorno
O Polo Comercial, o Mercado Público Municipal e a feira (vide figura 10) são
lugares públicos e administrados pela empresa terceirizada, através da qual realizamos um
levantamento de dados e informações acerca dos locais pesquisados. Existem outras bancas e
feiras que estão localizadas nas calçadas do pátio da feira e também em outras localidades que
formam pequenos outros setores do comércio tradicional local. Já o comércio dito “formal” é
composto por lojas, serviços, mercados privados, que se aproveitam do intenso fluxo de
pessoas no espaço provocado pela feira e outros locais públicos. Também podemos observar a
circulação de vendedores ambulantes nas calçadas e passagens da feira.
O Polo Comercial de Delmiro Gouveia (Figura 11) é composto por farmácias, casas
de artesanatos, loja de peixes ornamentais, bares, lanchonetes, mercearias, loja de roupas, loja
de eletrônicos, cabelereiro, frigorifico, loja de suplementos alimentares, distribuidora de
bebidas etc. De acordo com as informações da empresa trata-se ao todo de 212 boxes de
tamanhos padronizados.
51
Figura 10: Localização e arredores da feira de Delmiro Gouveia.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar.2017
Figura 11 : Vista parcial do lado interno do Polo Comercial de Delmiro Gouveia.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar 2017.
52
Entre o Polo Comercial e o Mercado Público, na Rua B, existe um pequeno setor
como uma espécie de apêndice da feira “regular” que ocorre no pátio. Essa feira acontece nos
sábados, fechando a rua onde está localizada, como podemos ver na Figura 12. De acordo
com a empresa responsável pela organização, essa feira é “irregular”, os feirantes não
possuem cadastro, mas estão autorizados a usar o local para tais atividades. Nessa feira,
encontramos vários tipos de produtos de artesanatos, cerâmicas (vasos, jarros), hortifrútis,
condimentos, lanches etc.
Figura 12: “Outra feira”, localizada na Rua B no Bairro Eldorado.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar 2017.
A feira de Delmiro Gouveia é fixa em um local e está, em sua maior concentração,
atualmente no bairro Eldorado, entre a Av. Jucelino Kubitschek (ao norte), Rua Srg. Antônio
Pedro (ao sul), travessa São Francisco (ao leste), e o Mercado Público Municipal (ao oeste).
Posterior ao Mercado Público Municipal podemos encontrar, depois da Rua B, o Polo
Comercial. Em volta dessas três áreas de comércio encontramos um grande número de
estabelecimentos comerciais como lojas, cabelereiros, mercados, supermercados, bares,
lotérica, clube etc., e também prédios públicos como o hospital, a escola e a subestação de
energia elétrica (ver figura 10).
53
Em sua estrutura física, a feira livre de Delmiro Gouveia possui cerca de 600 bancas/
chão/ lona/ box, ou regulares ou irregulares. As bancas regulares, ou seja, que possuem algum
registro e paga pela taxa risória à empresa, são divididas atualmente em bancas de metal e
bancas de madeira: as bancas de madeira estão sendo substituídas gradualmente pelas de
metal.
As bancas/ chão/ lona/ box ditas “irregulares” ocupam a calçada da feira ao lado da
Av. Jucelino Kubitschek (vide figura 13), também, mais acima, ocupando um espaço
“irregularmente” está popularmente conhecida “feira do troca-troca” (vide figura 14), onde os
comerciantes vendem produtos usados diversos. Ocupam também de forma “irregular”,
alguns barracões de madeira e de construção, as calçadas da feira do lado da Rua Srg. Antônio
Pedro, como podemos ver na figura 16.
Figura 13: Vista parcial da Av. Jucelino Kubitschek e bancas na calçada da feira.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, jan. 2017.
54
Figura 14: Feira do Troca-Troca de Delmiro Gouveia.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar. 2017.
Essas outras feiras ditas “irregulares” se apresentam como uma nova expansão
espacial da feira livre. Nesse caso, o pátio original da feira já não comporta a demanda
socioespacial e econômica que se tem atualmente. Ao observarmos a feira livre em 1992, na
figura 9, vemos que as bancas não transbordam o pátio, mantendo visivelmente uma
organização. Ao compararmos a feira em 1992 com ela atualmente, observamos que o pátio
da feira transborda as suas barracas e feirantes, chegando a fechar ruas (figura 12), ocupar as
calçadas (figura 13 e 16) e ocupar outros espaços como no caso da feira do troca-troca (figura
14).
O Mercado Público Municipal está entre a feira popular e o Polo Comercial (vide
figura 15), possui tarimbas de carnes bovinas, suínas, vísceras, aves, peixe, mercearias,
lanchonetes, dentre outros. O mercado de peixe possui cerca de 30 bancas. E o mercado de
carnes possui 87 tarimbas.
55
Figura 15: Fachada do Mercado Público Municipal de Delmiro Gouveia.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar. 2017.
No Mercado Público Municipal, local fechado destinado ao comércio organizado de
alimentos e mercadorias, podemos notar certa organização no que se refere à divisão de boxes
e tarimbas. As carnes, vísceras e peixes estão separados em locais específicos enquanto os
cerais, produtos de limpeza, embalagens, produtos industriais, artesanato, produtos
importados e lanches se misturam em outra parte do Mercado.
Nos barracos/construções que estão na calçada da feira, encontramos vários tipos de
comércios: refeitórios, lanchonetes, barbearia, salão de beleza, bares e oficinas de concerto de
máquinas de lavar, costura, ventiladores etc. (vide figura 16). Podemos constatar vários carros
estacionados na calçada da feira e também vigas e colunas de sustentação, material que faz
parte do planejamento para a cobertura do pátio da feira.
56
Figura 16: Barracas/ bancas na calçada da feira e vista parcial da Rua Srg. Antônio Pedro.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar 2017.
Como já dito, tais espaços ocupados por essas “outras feiras” são frutos de um novo
aumento que está ocorrendo na feira de Delmiro Gouveia, tais como àqueles que a
modificaram até ser o que é atualmente. Em outros termos, o espaço geográfico nos revela
inacabado. O surgimento de objetos acontece gradualmente ao longo da história. Através dos
fixos e dos fluxos o espaço é redefinido, modificam ou esgotam o lugar e assim, juntos,
formam a realidade espacial atual (SANTOS, 2009, p.63).
Figura 17: Supermercado em frente a feira livre de Delmiro Gouveia.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar 2017.
57
Podemos observar na Figura 17, que mostra parte da Travessa São Francisco e da
Av. Jucelino Kubitschek, um exemplo de competitividade no espaço entre o Circuito Superior
(resultado direto da modernização do território: banco, comércio moderno, indústria moderna)
e o Circuito Inferior (fabricação do não-capital intensivo, serviços não modernos e varejistas,
através de comércios e feiras não modernos ou de pequeno porte, voltados à população local
mais pobre). Uma rede nacional de supermercados pertencente ao Circuito Superior
(moderno, de capital intensivo) em competitividade com a feira livre, pertencente ao Circuito
Inferior (tradicional, de trabalho intensivo). A modernização do espaço provocado pela
globalização divide as formas de trabalho e aumenta a concorrência entre o setor não moderno
e o setor moderno nos territórios (SANTOS, 2008).
Ainda na Figura 17, podemos observar as caminhonetes responsáveis pelo fluxo de
pessoas, grande parte atraídos pela feira delmirense. Em campo, observamos o constante vai e
vem das vans, caminhonetes, ônibus entre outros transportes e “lotações” para as zonas rurais
e zonas urbanas dos municípios de Água Branca/AL, Mata Grande/AL, Inhapi/AL, Olho
d’Água do Casado/AL, Piranhas/AL, Canindé do São Francisco/SE, São José da Tapera/AL
etc.
No que se refere às lojas, serviços e mercados que estão localizados em volta das
áreas públicas administradas pela prefeitura, os diversos estabelecimentos variam entre
farmácias, supermercados, bares, lanchonete, entre outros (ver figura 17 e 18). Na figura 18
encontra-se : na imagem A, o comércio da Travessa São Francisco, com lojas de artigo para
festa, roupas, carnes, depósito fica em frente à rede de supermercados; na imagem B,
podemos observar um supermercado e uma casa lotérica, em dias de feira esses locais ficam
lotados de pessoas para compras, saques, pagamento de contas, jogar na loteria etc; na
imagem C, contém a vista parcial da Av. Jucelino Kubitschek e alguns comércios como
farmácia, bares, estúdio de tatuagem. Notamos, em dia de feira, o grande número de
caminhonetes estacionadas, utilizadas para o transporte de pessoas; na imagem D podemos
ver parcialmente a Rua Srg. Antônio Pedro, bares, depósito, cabelereiro, podem ser
observados. Nessa rua, em um dia de feira, ficam estacionados vários caminhões e
caminhonetes para carga e descarga de mercadorias. Alguns prédios comerciais estão
fechados, pois os registros fotográficos foram feitos em um domingo.
58
Figura 18: O comércio próximo à feira livre.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar 2017.
Portanto, a feira de Delmiro Gouveia ocorre semanalmente e é significativa na vida
urbana da cidade pois ela deixa de ser um fato rotineiro e assume o papel de destaque no
sábado sendo difícil de dizer se é a feira que depende da cidade ou a se é cidade depende da
feira, conforme abordou Pazera Jr. (2003) ao pesquisar feira semelhante no interior da Paraíba
– PB.
Uma vez que a feira em si atrai um grande número de pessoas, outros tipos de
comércio se organizam espacialmente para aproveitar o fluxo de mercadorias e pessoas
provocados por ela, tanto as pertencentes ao Circuito Superior, esse enquanto
competitividade, como pertencentes ao Circuito Inferior.
O espaço da feira está em crescimento, sendo construído socialmente através dos
fixos e dos fluxos. E assim, concordando com Raffestin (1993), mostra a flexibilidade das
redes no espaço, onde elas conseguem se adaptar aos desafios do espaço e também as
mudanças que o tempo traz.
A B
D C
59
2.3.2. Organização Espacial da Feira de Delmiro Gouveia
A feira nordestina, enquanto um espaço geográfico, envolve fluxos de pessoas,
mercadorias e de informação sendo o nó que liga áreas rurais, pequenas, médias e grandes
cidades, conforme colocou Corrêa (2011, p.103). Pessoas vindas de várias lugares são atraídas
pela feira de Delmiro Gouveia, tanto feirantes, trazendo mercadoria de várias localidades,
como compradores (como anteriormente foi informado) formando uma rede, conectando os
locais. Nesse sentido, em se tratando dos feirantes, Melo (2013, p.127) ao investigar as
origens familiares e espaciais dos feirantes de Delmiro Gouveia chegou à conclusão de que,
dos 350 feirantes entrevistados, 83,9% não nasceram no município e 41,4% não residem no
município. Quanto ao fluxo de mercadorias, Melo (2013, p.119) ao investigar os locais de
origem dos produtos constatou que 61,4% dos produtos das barracas analisadas vinham de
fora do Alto Sertão Alagoano. Podemos dizer, nesse caso, que grande parte da feira de
Delmiro Gouveia é composta por feirantes e produtos de lugares distintos.
Conforme Pazera Jr. (2003, p. 30), quanto menor o núcleo urbano da cidade maior é
a importância e a influência das feiras, influenciando as pequenas comunidades ao redor,
assumindo o papel de mercado geral, realizando todos os negócios locais, promovendo a
circulação regional dos produtos. A feira de Delmiro Gouveia se caracteriza por uma
verdadeira “festa” por suas particularidades em seus cheiros, sons e cores contidos em sua
paisagem regional. Ambulantes, feirantes, transportes, mercadorias, fregueses ao mesmo
tempo dinamizando o espaço em fixos e fluxos local-regional-global, construindo através
dessa relação socioespacial o espaço geográfico.
Em se tratando de sua organização interna, a feira de Delmiro Gouveia não possui
uma organização especifica das bancas por parte dos feirantes, mercadorias ou por tempo de
atuação dos feirantes. Por meio de negociações e conversas, os feirantes e a administração
propõem certas regras para manterem a ordem da feira e o mínimo de organização das bancas.
Nesse sentido, de acordo com nossa pesquisa, a feira de Delmiro Gouveia atualmente
se organiza espacialmente em quatro setores, de acordo com a predominância dos tipos de
mercadorias, se são pertencentes aos setores primários ou secundários e a sua localização
geográfica. Diante disso, os quatro setores da feira são: Setor A, Setor B, Setor C e Setor D
(Vide figura 19).
60
Figura 19: Organização Espacial por setores da feira de Delmiro Gouveia.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, abr 2017.
No mapa em que retrata a organização espacial da feira livre, também levamos em
consideração a localização dos transportes estacionados ou em áreas de embarque e
desembarque de pessoas, fregueses, e mercadorias dos feirantes. Assim como pontos de táxis
e mototáxis. Ainda na figura 19, existe um quinto setor, a feira do troca-troca. Este setor (T),
não se encontra no pátio da feira, porém faz parte de seu espaço geográfico assim como as
bancas e barracas que transbordam o pátio.
No setor A da feira, encontramos, em sua maioria, mercadorias ligadas ao setor
primário: frutas, verduras, hortaliças, condimentos, grãos, bolos e massas (vide figura 19). No
setor A, predominam as bancas de metal e possui uma área especifica para o estacionamento
de táxis. Os taxistas possuem um papel importante nos fluxos de pessoas e mercadorias: no ir
e vir das pessoas, levando mercadorias até as suas casas.
Com relação as mercadorias do setor A observamos que as bancas de frutas e
verduras, cerais e grãos são as mais numerosas e que também tais tipos de banca se espalham
por toda extensão do pátio e do entorno da feira.
61
Figura 20: Setor A da feira.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, abr 2017.
No setor B encontramos uma maior diversidade de produtos e de bancas. Os
produtos comercializados são DvD’s, obras de arte, artesanato, acessórios, artigos agrícolas,
acessórios em couro, bolsas de palha, gaiolas, frutas e verduras, plantas ornamentais, lanches,
bolos, massas, roupas e quinquilharias (vide figura 21). No setor B a predominância é de
bancas de madeira. Em sua extremidade podemos encontrar um ponto de mototáxistas, muito
utilizado pelos fregueses, por serem mais baratos que o serviço dos táxis, para irem da feira
para suas casas com os produtos comprados.
62
Figura 21: Bancas do setor B.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, abr 2017.
No setor C observamos mercadorias e serviços variados como produtos eletrônicos,
calçados e consertos. Podemos encontrar roupas, calçados, produtos em couro, frutas,
verduras, lanchonete, bolos, DvD’s, importados, bebidas alcoólicas, salão de beleza etc (vide
figura 22).
Figura 22: Bancas do setor C.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, abr 2017.
63
No setor D a predominância é de produtos de confecções como redes, mosquiteiros,
roupas. Mas também possui calçados, acessórios, quinquilharias, concertos, panelas, bolsas,
plantas ornamentais, frutas e verduras, DVD’s, eletrônicos importados, bebidas alcoólicas
(Figura 23). Nesse setor tem outro ponto de mototáxi.
Figura 23: Bancas do setor D.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, abr 2017.
A globalização está nos nossos dias, palavras da moda, máquinas, roupas da moda,
sendo um processo que afeta a todos na mesma medida. Podemos observar no setor D, várias
roupas, bonés, bolsas, calçados que imitam grandes marcas internacionais e modelos que
estão “na moda”. A globalização se insere, nesse caso, através da imitação dos produtos onde,
de acordo com Silveira (2004, p.6), os comerciantes do Circuito Inferior munidos de
informações globalizadas, quase que instantâneas, tem uma maior possibilidade de exercer um
consumo mais “sofisticado” através da imitação de produtos “da moda”.
As características da feira que observamos que são mais marcantes são àquelas
relacionadas à grande variedade de produtos, a relação feirante e freguês, técnica de vendas,
objetos de venda, o capital reduzido e o trabalho intensivo, sendo essas últimas características
típicas do Circuito Inferior (vide quadro 1). Em variedade de produtos observamos
64
mercadorias que pertencem ao chamado setores primários (frutas, verduras, grãos e carnes) e
secundário (produtos industrializados como confecções, calçados, eletrônicos, relógios etc.).
A globalização está inserida nos espaços, no território e nos objetos técnicos
construídos pelos homens (SANTOS, 2009). Em relação aos objetos dos feirantes notamos
energia elétrica em algumas barracas, o uso de celulares, balança digital, sacolas, caixotes,
calculadoras, como objetos e ferramentas de trabalho. Nesse sentido, os instrumentos de
trabalho contam sobre a evolução histórica das técnicas no espaço, entre “tempos lentos e
hegemônicos” que são resultados de modernizações seletivas que ocorrem no território
(SANTOS, 2008a, p.95).
Os produtos importados e eletrônicos mostram uma ligação global-regional-local que
as redes atualmente propiciam. Em geral, esses produtos são de outros países, maioria “Made
in China”, que notamos serem mais abundantes no setor C e na “feira do troca-troca”.
O sistema de medidas utilizados pelos feirantes também são variados através de seus
instrumentos de trabalho. Alguns feirantes usam balanças e calculadoras, já outros feirantes,
sem um objeto mais técnico ou moderno usam medidas informais como: litro, ruma, copo,
saco etc. Assim, observamos que a feira de Delmiro Gouveia tem um misto de tradicional e de
objetos técnicos em seu espaço.
Portanto, atualmente não há uma separação da rede global com a rede local no
espaço, pois essa última sofre influência da rede global advinda da economia e da política que
seguem a racionalidade da globalização, conforme afirma Santos (2009, p.279). Em meio a
técnicas mais modernas, o setor tradicional sofre desvantagens quanto a isso. Porém, a feira se
reinventa para se adaptar as novas realidades do meio técnico-cientifico-informacional,
aparecendo novas normas de compras, objetos, mercadorias e tipos de fluxos que possibilitam
mudanças sócio-espaciais.
65
3 – REFLETINDO SOBRE REDES GEOGRÁFICAS E GLOBALIZAÇÃO A PARTIR
DA FEIRA DE DELMIRO GOUVEIA/AL: UM EXERCICIO NO ENSINO DE
GEOGRAFIA
3.1. Em direção ao ensino de geografia e ao tratamento da temática
No andar da graduação na UFAL Campus do Sertão sempre fomos orientados sobre
o importante papel do professor de Geografia. Entre as disciplinas, professores, grupos de
estudos e de pesquisas, a reflexão sobre a ação docente sempre esteve em nosso cotidiano.
Essa presença fez com que as raízes da pesquisa nascessem na licenciatura, na preocupação
relativa ao papel do professor e no desafio de passar os conteúdos geográficos da melhor
forma para os alunos.
Num primeiro momento, as disciplinas ligadas à prática pedagógica na universidade
foram Profissão Docente, Projeto Pedagógico, Organização e Gestão do Trabalho Escolar,
Planejamento, Currículo e Avaliação da Aprendizagem, Pesquisa Educacional, Metodologia
do Ensino de Geografia. Num segundo momento, a oportunidade de aprendizado ao longo das
disciplinas de Estágio Supervisionado (I,II,III,VI), que foram fundamentais para uma primeira
aproximação com as escolas de Delmiro Gouveia –AL e de Paulo Afonso –BA e, também,
com o exercício da docência em Geografia, ajudaram a definir o tema relacionando Geografia
Humana e o Ensino de Geografia nas escolas.
Por outro lado, através do PIBID, conseguimos ter a acesso a relevantes experiências
formativas enquanto professores-pesquisadores. Os projetos e ações do PIBID, orientados
pelos professores Kleber Costa da Silva e José Alegnoberto Leite Fechine, ambos da UFAL,
Campus do Sertão, aprofundaram as nossas leituras sobre aspectos teóricos centrais ao
entendimento do processo de ensino e de aprendizagem e no encontro com a realidade local
em Delmiro Gouveia, sobretudo no que diz respeito ao cotidiano das escolas.
Enfrentar os desafios da docência e da formação em licenciatura, portanto, com base
nessas aproximações teóricas e nos exercícios práticos no ambiente escolar e no campo
empírico de observação geográfica, no caso a feira, permitiu o encontro com o tema deste
trabalho de modo natural. Isso obviamente se somou à curiosidade intelectual acumulada ao
longo do curso de graduação e ao enfrentamento de uma temática entendida como
fundamental para a compreensão da cidade, da região e do modo como ensaiamos geografia
nos dias de hoje.
66
De todo modo, como vimos nos capítulos anteriores, o espaço geográfico, entendido
como um conjunto indissociável de fixos e fluxos, organizados socialmente, é uma dimensão
cara à Geografia Humana atual. Nesse sentido, passa o ensino de Geografia a ser
oportunidade de pensar o modo como a sociedade se define e se consolida enquanto espaço
geográfico em estrutura e em movimento. A feira de Delmiro Gouveia, nesse campo de
reflexões, se apresenta como um espaço importante para a cidade, exercendo uma
centralidade local-regional diante dos movimentos que moldam a vida social local e articulam
a cidade com mundo capitalista.
Mas também passa a ser a feira um lugar que oportuniza a reflexão sobre o ensino de
Geografia. Conforme aborda Callai, “(...) ensinar Geografia é dar aos alunos as informações
necessárias sobre o mundo em que ele vive, para que possa conhecê-lo e exercitar sua
cidadania” (CALLAI, 1995, p.66). É compartilhando o conhecimento sobre os aspectos da
vida social e do modo como a sociedade em si mesma se relaciona com o espaço que o
professor permite o conhecimento dos aspectos geográficos dos lugares e possibilita que os
alunos atuem de maneira crítica em relação ao meio de interação social cotidiana.
Uma forma, portanto, de promover e exercitar tais ações orientadas ao
desvendamento das relações entre pessoas e lugares, e entre lugares e outras escalas da vida
social, de amplitude regional e global, é contar com o apoio das noções de globalização e de
redes geográficas. Tais noções permitem que os alunos possam pensar o lugar de morada e
vivência imediatas com conteúdos e sentidos provindos de outros lugares, abrangidos então
pelo movimento global da cultura e da economia capitalista.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (2000):
É necessário ter clareza que a globalização é um fenômeno decorrente da
implementação de novas tecnologias de comunicação e informação, isto é, de novas
redes técnicas, que permitem a circulação de idéias, mensagens, pessoas e
mercadorias num ritmo acelerado, e que acabaram por criar a interconexão entre os
lugares em tempo simultâneo (p.33)
O valor disso está, justamente, para esta nossa proposta de trabalho acadêmico, em
dar clareza ao fenômeno da globalização e das redes geográficas através da observação e da
análise da feira livre de Delmiro Gouveia, através de um olhar crítico com a ajuda de alunos
de uma escola pública local. O foco no trabalho de campo, é importante enfatizar, se alia aos
escritos teóricos, imagens, gráficos, mapas e tabelas do livro didático, a fim de ampliar a
experiência de sala de aula para o da constatação empírica de aspectos abordados na forma de
67
conceitos, mesmo entendendo as nossas limitações teóricas-metodológicas a uma proposta de
iniciante de pesquisa acadêmica.
No que diz respeito ao recorte temático, a feira de Delmiro Gouveia, portanto, está
inserida no cotidiano da cidade de maneira histórica, possuidora de fixos e fluxos atualizados,
com dinâmicas espaciais e relações socioeconômicas diversas. Como um importante espaço
da cidade, a feira de Delmiro Gouveia se revela como um laboratório, unindo teoria e prática,
para que os alunos compreendam o mundo pelo olhar geográfico das dinâmicas locais.
3.2. Ensinando e aprendendo sobre a feira de Delmiro Gouveia
Com base nas reflexões teórico-conceituais sobre globalização, redes e o espaço
geográfico junto à feira de Delmiro Gouveia, este trabalho foi organizado como um exercício
de apreciação teórica e de ação prática no âmbito do ensino de Geografia. Assim, o trabalho
foi dividido em duas partes com quatro momentos, a saber: A primeira parte consiste em
exposição teórica: o primeiro momento é a exposição teórica através de slides e o segundo
momento é um resumo e informações pré-trabalho de campo. A segunda parte é a parte
prática: o terceiro momento consiste no trabalho de campo de observação e aplicação de
questionários e o quarto momento é a avaliação do aprendizado.
Quadro 2: Momentos da intervenção na escola.
Primeira parte (Teórica) Segunda parte (Prática)
Momento 1: Aula teórica expositiva sobre os
conceitos: espaço geográfico, redes geográficas,
globalização e feira livre. Uso de Data-show, quadro
e imagens.
Momento 3: Trabalho de campo, sob orientação e
acompanhamento imprescindíveis do (a) docente
regente, além de autorização oficial dos pais por
escrito, para registro fotográfico e reflexão a respeito
do tema central proposto com a ajuda da modalidade
de “entrevistas/questionários” a serem aplicados
pelos alunos.
Momento 2: Aula expositiva e diálogos a respeito
dos conceitos apreendidos anteriormente (resumo).
Utilizar ferramenta pedagógica alternativa ao livro
didático (Exemplo: fotografias da internet e produção
textual breve na forma de único parágrafo).
Informações acerca do trabalho de campo (horário,
local, vestimenta, questionário, relatório, mural
geográfico).
Momento 4: Retorno à sala de aula para coleção de
fotografias na modalidade “mural geográfico” (papel
cartolina ou afim, cola e fotos impressas) a ser feito
coletivamente e a ser construído pelos alunos com a
orientação do autor do trabalho. Além disso, uma
atividade de avaliação na forma de resposta a
questões específicas na apresentação oral e de
produção de um breve relato textual (relatório) por
parte dos alunos a respeito dos conceitos e temas
trabalhados em sala de aula e constatados em campo.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, maio 2017.
68
Separamos em quatro momentos pois cremos que assim o objetivo será alcançado
com maior eficiência. Os alunos munidos com a teoria vista em sala poderiam compreender
os fenômenos no trabalho de campo, por meio da observação da paisagem e interação com os
agentes/atores no e do espaço geográfico. Posteriormente, analisando os dados do
questionário, poderia ser entendido de forma mais aprofundada as noções de globalização e de
redes geográficas junto à feira. Por último, na apresentação oral, o relato sobre as suas
experiências no projeto como um todo e uma reflexão com um olhar geográfico sobre a feira
serão tratados como avaliação da aprendizagem.
Para a realização da primeira parte foi necessário um levantamento bibliográfico
específico para os alunos do ensino médio. A escola onde foram realizadas as ações, no qual é
contemplada com o projeto PIBID de Geografia da UFAL, Campus do Sertão, é o Colégio
Estadual Watson Clementino de Gusmão Silva, e a turma foi o 2º ano, turma B, sob a
supervisão da professora de Geografia Renilda Leonardo.
As bibliografias utilizadas para a aula teórica-expositiva contaram com autores que
dissertam sobre os conceitos de espaço geográfico, globalização, redes geográficas e feira. Os
autores foram: a) espaço geográfico: Santos (2009), Rodrigues (2008) e Corrêa (2011b); b)
redes geográficas: Corrêa (2011;2011a), Dias (2011b) e Santos (2009); c) globalização:
Santos (2009), Bauman (1999), Santos (2011) entre outros; e d) feira: Dantas (2007), Firmino
(2016), Pazera JR (2013), entre outros autores.
O primeiro momento, aula expositiva com slides, ocorreu no dia 15 de maio de 2017,
durante o turno da tarde, na turma do 2 ano “B” integral. Nessa aula, através do projetor
multimídia foram apresentados os conceitos fundamentais. Em seguida foram debatidos e
exemplificados com imagens antigas e novas da feira de Delmiro Gouveia. Ao longo dos
conceitos e das imagens apresentados, os alunos eram instigados a debater a respeito do tema
e das imagens, sobre a importância da feira, como ela era anteriormente e como ela
transformou-se historicamente. Durante a aula teórica, que durou duas horas/aulas (1 hora e
40 minutos), focamos nos seguintes objetivos específicos:
a) Elucidar os conceitos basilares da geografia como espaço, redes e globalização;
b) Esclarecer como a geografia está ligada à compreensão da feira livre.
Para essas atividades foram feitos vários questionamentos no intuito de provocar um
debate: Qual a importância de se estudar geografia? Qual o objeto e objetivo da geografia?
69
Como a geografia ajuda na compreensão do mundo? Você conhece a feira livre da sua
cidade? Você reconhece os impactos da feira livre para a cidade de Delmiro Gouveia e
região? Como é possível estudar geografia a partir da feira livre? Os registos fotográficos do
passado, usados então como complementos ao debate de sala de aula, permitiram revelar
algumas das transformações da feira ao longo do tempo, sua composição espacial, o comércio
ao redor, os produtos e também, através de mapas, a organização espacial da feira nos dias
atuais.
Figura 24: Aula teórica realizada no dia 15/05/2017
Autor(a): Renilda Leonardo Firmino, maio 2017
A aula, portanto, começou com a exposição teórica sobre o espaço geográfico
enquanto categoria base para nosso objeto de estudo. O espaço geográfico é formado pela
relação da sociedade com espaço, produzindo vários fenômenos como as redes geográficas e
o meio técnico-cientifico-informacional. O espaço geográfico, desse modo, está em constante
dinâmica, se transformando ao longo do tempo.
Explicamos que as redes geográficas fazem parte de nosso cotidiano: contido nos
fluxos de mercadorias, nos fluxos de pessoas e informações conectando os lugares. De forma
didática, refletimos sobre o fato de que as coisas de nosso cotidiano vêm de várias
localidades: roupas, alimentos, eletrônicos e até o dinheiro. Através dos escritos de Bauman
(1999) foi explicado que a globalização está em nossas vidas, nas marcas das grandes
70
empresas, nos objetos técnicos que utilizamos e que a globalização está cada vez mais
inserida nos espaços tracionais, como exemplo a feira.
Antes de finalizar a aula teórica, propomos um resumo da aula (o que consiste no
segundo momento), para um “reforço” em forma de diálogo com os alunos e para que os
alunos fizessem suas anotações para o relatório.
Os alunos foram divididos em equipes para a entrega dos questionários. Foram
quatro equipes, cada uma ficaria responsável por um setor da feira, conforme a figura 19.
Posteriormente foi marcado, juntamente com os estudantes, o ponto de encontro para o
trabalho de campo, sob supervisão da professora da disciplina. Os alunos levaram para casa
um documento, informando o dia, horário e motivo do trabalho de campo, para os
responsáveis assinarem e permitirem a ida do aluno.
Essa divisão de equipes por setores da feira foi feita para que cada equipe
entrevistasse feirantes que vendessem produtos diversificados, para termos impressões mais
aproximadas da origem dos produtos. E, desse modo, também serviu como como estratégia de
organização para o trabalho de campo.
Para a realização do terceiro momento, o trabalho de campo, organizamos o inicio
dos trabalhos na área onde se situava a antiga feira de Delmiro Gouveia durante as décadas de
1920 até a década de 1970, ou seja, próximo ao calçadão, no coreto, centro da cidade, às 7:00
horas da manhã. Os objetivos específicos desta etapa foram:
a) Incentivar os alunos à observação crítica das paisagens e à identificação de alguns
elementos geográficos (e históricos) debatidos em sala de aula;
b) Estimular a reflexão dos alunos sobre os espaços da cidade e de seu cotidiano,
além da ligação da feira com a região e o mundo por meio da constatação da oferta de
comércio e de serviços.
Prosseguimos com o trabalho de campo, explicamos e ressaltamos a importância da
história da feira e do mercado público, além de tratarmos de como eram os meios de
transporte, como as pessoas transportavam as suas mercadorias, através da estrada de ferro
Paulo Afonso, carroças de tração animal, entre outros. Nesse momento, os alunos fizeram
algumas perguntas que foram respondidas e, posteriormente, seguimos para a feira onde seria
realizado mais uma exposição.
71
Ao longo do trajeto realizado na feira, foram feitos breves intervalos para o diálogo a
respeito de algumas noções tratadas em sala de aula, relacionando os conteúdos às paisagens
observadas, especialmente no que diz respeito à compreensão da feira e à sua dinâmica
através dos fluxos locais-regionais-globais. Os alunos também foram instruídos a como
aplicar o questionário junto aos feirantes e como entender os conceitos no âmbito da
apreciação empírica. Nesse sentido, o exercício ocorreu como momento fundamental para
aliar teoria e prática pedagógica, tanto do ponto de vista de nossa formação em graduação
quando da reflexão a respeito do aprimoramento do aprendizado dos próprios alunos.
Figura 25: Aula e instruções no trabalho de campo em frente à feira no dia 20/05/2017.
Autor (a): Renilda,Leonardo Firmino, maio 2017
Os alunos ainda foram instruídos para a observação da paisagem: puderam observar
a dinâmica da feira, o ir e vir dos carros, caminhonetes, caminhões, mototáxis, táxis,
compradores, a predominância de produtos por setor, a organização espacial da feira, as
mercadorias, objetos técnicos e não técnicos utilizados para negociação, entre outros. Em
relato, a professora Renilda Leornardo comentou o seguinte: “eu nunca tinha viso a feira por
72
essa perspectiva. Estar aqui, depois de ter visto a aula, é muito diferente. Amplia a nossa visão
sobre a cidade, como comprador e consumidor”.
A observação crítica da paisagem, neste caso, é um exercício para compreender a
feira. Pode ser interpretada à luz da geografia e, consequentemente, qual o significado e
relevância da própria feira ao cotidiano da cidade e aos alunos. Enquanto alguns alunos
aplicavam os questionários, outros faziam registros fotográficos e anotações.
Com os questionários semiestruturados em mãos, as equipes seguiram para os seus
respectivos setores da feira (B, C, D). Os alunos durante a aplicação dos questionários
estavam sob constante supervisão, para sanar as dúvidas ou auxilia-los no que fosse
necessário. A aplicação dos questionários teve início às 8:15h da manhã, sendo finalizada às
9:20h.
Figura 26 : Aluna aplicando questionário à uma feirante na feira de Delmiro Gouveia – AL.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, maio 2017.
Os questionários foram elaborados com perguntas a respeito dos fluxos de
mercadorias e de pessoas (feirantes) sobre as ferramentas de trabalho dos feirantes, tempo de
trabalho, tipos de transporte utilizado, localização espacial na feira, formas de pagamento que
aceitava, se trabalha em outras feiras (vide anexo).
73
Figura 27: Aluna aplicando questionário à uma feirante na feira de Delmiro Gouveia – AL.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, maio 2017
Ao terminarmos de aplicar os questionários, fazer os registros fotográficos e a
observação da paisagem da feira, foram feitas explicações finais e os alunos relataram as suas
experiências. Nesse momento, reforçamos o valor das anotações (para o relatório) das
imagens (para o mural) e dos questionários (para a compreensão geográfica da feira).
O quarto momento ocorreu no dia 29 de maio 2017. Esse momento é tido como
fundamental para discutirmos as experiências vivenciadas pelos alunos, assim, também, como
uma avaliação de sua aprendizagem. Fizemos, primeiramente, junto com os alunos em sala de
aula, uma análise dos questionários. As equipes começaram a confeccionar os “murais
geográficos” e os relatórios, com as fotos que tiraram no campo, gráficos, informações
retiradas da análise do questionário e da observação da paisagem. Realizamos, em seguida,
uma exposição oral por parte dos alunos, relatando suas experiências vivenciadas no trabalho
de campo, além da descrição dos conceitos relacionados ao observado.
Ao todo foram aplicados pelos alunos 54 questionários direcionados aos feirantes.
Tais questionários serviram para os alunos terem uma visão prévia e mais didática sobre as
redes geográficas e a globalização. Através da análise dos dados dos questionários pudemos
entender melhor como a feira de Delmiro Gouveia interage com as outras regiões e como está
inserida no processo de globalização.
74
A avaliação da aprendizagem dos alunos foi planejada juntamente com a professora
de Geografia da turma, Renilda Leonardo. Os temas – globalizações e as redes geográficas –
já estavam sendo abordados em sala de aula, mas somente através do livro didático, o que
permitiu que realizássemos o exercício de leitura alternativa para além do ditado nas
propostas do livro com ingredientes da localidade. A professora Renilda Leonardo sugeriu
que, como uma das formas de avaliação, os alunos fizessem um relatório de campo para a
atribuição de notas. Nos relatórios escritos continham:
a) Relato sobre fala dos professores, tanto sobre a história da feira como também
sobre o espaço físico da feira;
b) Relato de experiência e descrição do observado embasado na aula teórica.
Sobre a avaliação da apresentação oral, planejamos com os alunos a construção de
um “mural geográfico” por meio de ação em grupo e exposição oral. O mural geográfico
representou um quadro coletivo que reuniu os resultados de observação, de registro
fotográfico e de narrativas encontradas ao longo de todo o tratamento do tema na feira,
seguido de uma breve discussão com a participação de todos os envolvidos. Na apresentação
com o “mural geográfico”, avaliamos os seguintes pontos:
a) Como os alunos trataram o histórico da feira (início na vila da Pedra, mudanças
de áreas);
b) A apresentação dos gráficos e das imagens do “mural geográfico” pelos alunos;
c) A análise crítica sobre globalização e das redes geográficas na feira de Delmiro
Gouveia.
75
Figura 28: Alunos Confeccionando os “Murais Geográficos”, em 29/05/2017.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, maio 2017.
No relato textual os alunos demostraram terem compreendido o que foi passado em
sala de aula. Fizeram toda uma abordagem histórica, compararam a feira da Pedra com a feira
de Delmiro Gouveia (atualmente), conforme foi abordado em sala de aula. Relataram ainda
suas experiências, como a equipe N.1 que contaram: “como vimos em sala de aula, a feira é
muito importante pra cidade. As pessoas tiram o seu sustento de lá para a sua família”. Em
outro trecho, os alunos expuseram os desafios do trabalho de campo: “ Alguns feirantes não
quiseram responder as perguntas. Eles pensavam que estávamos fiscalizando a sua barraca e
seus produtos”.
Ainda no relato textual foi possível identificar a descrição da feira com base no que
foi explicado em sala de aula. Os alunos da equipe N.2 relataram, a respeito das redes
geográficas da feira, que “ A feira é um lugar muito amplo onde podemos encontrar de tudo e
de vários lugares. Pessoas vêm para comprar e os feirantes trazem mercadorias de várias
cidades para vender aqui” e também “as mercadorias vêm de várias cidades, Caruaru,
Arapiraca, São Paulo, por meio de redes geográficas”. A respeito da globalização descrevem
que “os objetos tecnológicos são usados pelos feirantes para vender com mais facilidade. Eles
também vendem roupas que imitam marcas para venderem mais ”.
76
Figura 29: Aluno construindo o relatório de Campo, em 29/05/2017.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, maio 2017
Na apresentação oral, os alunos começaram explanando sobre a história da feira:
onde ela se encontrava e como ela acabou sendo transferida para o Bairro Eldorado.
Posteriormente, eles descreveram as fotos e os gráficos no “mural geográfico”, demonstrando
surpresa com os resultados, pois não sabiam que a feira de Delmiro Gouveia tinha produtos de
muitos lugares diferentes. Também demostraram conhecimento sobre a organização espacial
ao afirmarem que o espaço da feira estava se transformando atualmente e que está se
ampliando.
Ao descreverem as imagens do “mural geográfico”, os alunos apontavam para as
imagens, que mostravam a feira, relatando sobre o que as bancas vendiam, em que local se
encontravam e que os produtos vinham de outra cidade. Ao apontarem para as fotos, eles se
recordavam do momento do registro fotográfico e relatavam suas experiências. Os estudantes
ainda disseram que, ao aplicar os questionários, haviam algumas interrupções por causa dos
fregueses que conversavam com os feirantes negociando o valor da mercadoria.
77
Figura 30: Alunos apresentando e discutindo sobre globalização e redes geográficas na feira
de Delmiro Gouveia em 29/05/2017.
Autor: Emerson Lopes dos Santos, maio 2017.
Sobre a interpretação dos gráficos, os alunos relataram, a respeito dos feirantes que
moravam em outras cidades e que também atuavam em outras feiras. Desse modo, de acordo
com a explicação dos alunos, a feira de Delmiro Gouveia, em grande parte, é composta por
feirantes de outras localidades. Outro ponto, sobre os fluxos de mercadorias, os alunos
relataram que os produtos vendidos na feira vinham de diversos lugares e que formavam uma
“rede regional” onde o “nó” é a feira de Delmiro Gouveia.
No gráfico e no mapa a seguir, produzidos com e a partir dos questionários aplicados
pelos alunos, sintetizamos algumas informações que retratam o meio de transporte dos
feirantes e a origem das mercadorias de diversas localidades da região.
78
Figura 31: Gráfico dos tipos de veículos usados pelos feirantes para o transporte de
mercadorias.
Autor: Emerson Lopes dos Santos e dados dos alunos do 2 “B” da Escola Watson Clementino de Gusmão Silva,
maio 2017.
Figura 32: Mapa das origens das mercadorias comercializadas na feira de Delmiro Gouveia –
AL.
Autor: Emerson Lopes dos Santos e dados alunos do 2 “B” da Escola Watson Clementino de Gusmão Silva,
maio 2017.
30
10
2
5
2 23
0
5
10
15
20
25
30
35
Carro Caminhonete Carroça deBurro
Carrinho deMão
Ônibus Moto Outros
79
De acordo com os dados da pergunta “Qual o meio de transporte de mercadorias
utilizado pelo senhor (Sra.)? ” do questionário, o Gráfico 1 mostra os tipos de transporte
utilizados pelos feirantes. O mais utilizado é o carro próprio, para o transporte pessoal e
também para o transporte de mercadorias. O segundo mais utilizado é o de caminhonetes ou
“D-20”. Os classificados como outros são bicicletas, “carregar nas mãos” e van.
Na figura 31, produzido por meio das perguntas “Quais os produtos você
comercializa? ” e “Qual a origem da mercadoria?”, podemos observar as origens de algumas
mercadorias da feira de Delmiro Gouveia. Os fluxos de mercadoria de maior intensidade vêm
da cidade de Caruaru – PE, principalmente de calçados, produtos têxteis (roupas, confecções),
mas também possui uma grande quantidade de importados (geralmente brinquedos) e
eletrônicos (rádios, celulares, lanternas, brinquedos etc) advindos dessa cidade pernambucana.
Outros produtos, como os alimentos industrializados, CD’s DvD’s, em sua maioria, vêm de
Arapiraca-AL e Itabaiana –SE. Os fluxos de mercadorias de menor intensidade são os de
produtos importados advindos de São Paulo –SP.
Se tratando de outras mercadorias (frutas, verduras, bolos, massas, queijos, doces
etc.) são advindas de localidades próximas como a zona rural de Delmiro Gouveia – AL,
Água Branca – AL, Canindé do São Francisco – SE, Pariconha – AL etc.
A compra ou obtenção das mercadorias, em sua maioria é comprada de
intermediários (49%). Posteriormente, 31% dos entrevistados responderam que compra direto
do fabricante/ produtor e 20% responderam que eles mesmo produzem ou fabricam/
produzem as mercadorias (frutas, verduras, condimentos, bolos, massas, lanches etc.).
Podemos verificar a espacialização da rede de mercadorias da feira de Delmiro
Gouveia que liga, principalmente, várias cidades nordestinas através de meios de transporte
como carros, caminhonetes, caminhões etc.
Ainda sobre a descrição dos gráficos, as equipes dos alunos apontaram para o tema
da globalização, identificaram produtos que são “imitações” dos originais (roupas, CD’s e
DvD’s) sendo comercializados e objetos técnicos-informacionais (máquina de cartão de
crédito, celulares) utilizados pelos feirantes como ferramenta de venda. Com base nas
imagens dos alunos, várias barracas com produtos importados “Made in China”, eletrônicos
foram descritos.
Sabemos, pois, que as redes geográficas estão no espaço e também nos objetos
técnicos construídos pelos homens, e por isso não há uma separação na prática entre as redes
locais e as redes globais atualmente.
80
Figura 33: Gráfico dos aparelhos usados pelos feirantes de Delmiro Gouveia – AL
Autor: Emerson Lopes dos Santos e dados dos alunos do 2 “B” da Escola Watson Clementino de Gusmão Silva,
maio 2017.
No gráfico 2 são retratados os objetos utilizados pelos feirantes. 9% dos que
responderam ao questionário utilizam máquina de cartão de crédito. Tal gráfico nos faz
refletir sobre a adaptação da feira ao mundo globalizado, ao meio técnico-científico-
informacional. Também foi constatado o uso do celular como ferramenta de trabalho,
utilizando como calculadora, contato com os fornecedores, fabricantes dos produtos e outros
feirantes por meio da internet.
A principal forma de pagamento pelos feirantes é “somente à vista”. Os que possuem
máquina de cartão de crédito não aceitam o parcelamento no cartão, apenas “à vista”. 12%
dos entrevistados falaram que aceitam o pagamento “fiado”, com clientes fixos e “de
confiança”.
Os alunos ainda explicaram que, apesar de existirem elementos da globalização na
feira de Delmiro Gouveia, as ferramentas e os produtos ditos “modernos” ainda são poucos.
Os objetos tradicionais ainda são mais utilizados pelos feirantes. Aos poucos, os objetos
modernos ganham mais presença nos locais não modernos.
Na apresentação oral, as equipes também descreveram sobre a satisfação dos
feirantes com as bancas da feira e sua localização. Alguns dos alunos falaram sobre as bancas
de metal; ou seja, os feirantes não gostavam por essas serem “pequenas demais”. Relataram
Nenhum78%
Máquina de Cartão9%
Celular11%
Balança Digital2%
Nenhum Máquina de Cartão Celular Balança Digital
81
ainda que os lugares que os feirantes achavam “ruim” eram aqueles onde as bancas estavam
situadas próximas ao supermercado e nas calçadas do pátio da feira.
Figura 34: Gráfico da satisfação dos feirantes com o local da banca na feira de Delmiro
Gouveia - AL
Autor: Emerson Lopes dos Santos e dados dos alunos do 2 “B” da Escola Watson Clementino de Gusmão Silva,
maio 2017.
O gráfico 3 demonstra a insatisfação dos feirantes com a localização de suas bancas.
Os que consideram as localizações das bancas “regular” ou “ruim” são as que ficam próximo
ao supermercado, pois este acaba desviando o fluxo de pessoas. Outras bancas de localização
“ruim” e “regular” são as que estão próximas às calçadas da feira, pois não possuem uma boa
organização para fins de acessibilidade.
Podemos observar também que a feira de Delmiro Gouveia começa antes mesmo do
sol nascer. Os feirantes entrevistaram responderam, que levam em média 1:30 horas para
chegarem na feira. Em sua maioria, começam a montar as suas bancas às 4:00 horas e
terminam a feira às 13:00 horas.
Grande parte dos feirantes também frequentam outras feiras como forma de
complementar a renda. A maior parte dos feirantes que atuam em outras feiras comercializam
nas feiras de Paulo Afonso – BA, Água Branca- AL, Olho d’Água das Flores – AL etc. Isso
pode indicar um mercado que flutua segundo uma agenda regional de feiras, portanto,
Ruim17%
Regular39%
Boa35%
Ótima9%
Ruim Regular Boa Ótima
82
mercado periódicos que buscam atender a uma demanda de localidades com produtos que
transcendem as próprias cidades.
Figura 35: Gráfico dos feirantes de Delmiro Gouveia – AL que também trabalham em outras
feiras.
Autor: Emerson Lopes dos Santos e dados dos alunos do 2 “B” da Escola Watson Clementino de Gusmão Silva,
maio 2017.
Após as apresentações, foram feitas algumas perguntas para estimular um debate
entre e com os alunos. Algumas das perguntas foram: o que são redes geográficas e
globalização? O que você pensa sobre a feira de Delmiro Gouveia? Como a globalização está
inserida na feira de Delmiro Gouveia? Como as redes geográficas influenciam na promoção
da feira de Delmiro Gouveia? Quais problemas que você viu na feira?
Os alunos, respondendo as indagações feitas, disseram que “A feira é importante
porque traz vida para a nossa cidade”, “A feira é um centro comercial que traz benefícios pra
economia de Delmiro Gouveia”, “As redes geográficas influenciam a feira através dos
feirantes que vêm de outros lugares, que trazem mercadorias e atrai compradores”, “A
globalização está no nosso dia-a-dia, até quando compramos na feira. Os feirantes usam
objetos da globalização para comprar e vender os produtos pra gente”, “Os lugares de
algumas bancas são ruim para os negócios”, “Os feirantes reclamam da administração e que o
espaço é apertado”, “A globalização está presente em tudo” etc.
Sim41%
Não59%
83
Assim, é possível concluir que os objetivos das aulas foram alcançados, ao menos
como exercícios, repetimos, de apreciação de conceitos e de constatação empírica, propósito
inicial e fundamental a este nosso trabalho. Os alunos conseguiram tratar, de forma crítica, os
conteúdos, além de pesquisar, analisar, interpretar os dados e expor oralmente o resultado da
experiência.
Os alunos refletiram sobre a globalização e seus impactos na feira de Delmiro
Gouveia, a inserção dos objetos técnicos nesse espaço tradicional, mostrando que a
globalização é um processo que atinge todos os lugares. Sobre as redes geográficas, puderam
relatar que a feira de Delmiro Gouveia é um nó em meio a uma rede de fluxos de mercadorias
e de pessoas e que é um centro regional de comércio.
Nesse processo de iniciação à docência, de exercício de investigação, reflexão e
produção do conhecimento juntamente com os alunos do 2 “B” da Escola Watson Clementino
de Gusmão Silva, conseguimos compreender um pouco da geografia da feira de Delmiro
Gouveia, principalmente no momento em que se torna um espaço articulado a um sistema
global de intercâmbios. O olhar crítico dos alunos aliou-se ao nosso, tanto como futuros
docentes quando como pesquisadores que se dedicam a compreender os sentidos
aparentemente “invisíveis” que determinam os movimentos da realidade social no espaço das
pequenas cidades atualmente.
84
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no exposto, queremos ressaltar que a realização deste trabalho significa
um exercício acadêmico de leitura teórica, de observação de paisagens, de mapeamento e de
tratamento de um tema complexo – a globalização, as redes geográficas e a feira popular de
Delmiro Gouveia-AL – com a vivência da prática do ensino de geografia numa escola local.
No primeiro capítulo, tal como apresentamos, nos aproximamos de algumas
referências teórico-conceituais em torno das noções de espaço geográfico, de redes
geográficas, de globalização e de meio técnico-cientifico- informacional, além dos circuitos
da economia urbana e das concepções de feira. Vimos que o espaço geográfico é formado por
fixos (objetos) e fluxos (ações) bem como apresenta um papel dinâmico conforme o
movimento mesmo da história e da sociedade. As redes se mostram como teias que contém
fluxos que conectam os lugares, uma vez que dão dinâmica e modificam o espaço geográfico.
A globalização está presente em todos os lugares e sua forma espacial é o meio técnico-
cientifico-informacional; ela também modifica o espaço por meio da técnica e da informação.
Os circuitos da economia urbana dividem os territórios entre o setor tradicional e o setor
moderno e, no entanto, se articulam estes mesmos setores em direção à modernização
capitalista. As feiras são pilares econômicos principalmente para as pequenas cidades, pois,
são centros econômicos regionais, mas também usufruindo de objetos técnicos para se
adaptarem a essa era de intensificação da globalização.
No capítulo seguinte, partimos para uma abordagem histórica, para entendermos a
feira de Delmiro Gouveia até refletimos sobre a sua conjectura atual. A feira de Delmiro
Gouveia -AL, tipicamente nordestina e sertaneja, surgiu no povoado Pedra nas margens da
estrada de ferro Paulo Afonso que ligava Piranhas –AL a Jatobá –PE. Sua ligação ao
município de Água Branca -AL era de dependência, até a chegada do empresário Delmiro
Gouveia, que veio ao povoado implantar um núcleo fabril de produtos têxteis, a Fábrica da
Pedra. A feira passou a fazer parte do comercio do povoado, onde ocorria na principal rua.
Depois da emancipação política do povoado em 1952, que passou a se chamar Delmiro
Gouveia –AL, a feira passou por outras mudanças de localização: ganhando um mercado
público e posteriormente, devido ao seu crescimento, realocada para um pátio especifico no
bairro Eldorado com outro Mercado Público (maior).
Ainda se tratando do segundo capítulo, fizemos uma análise/ reflexão acerca da feira
de Delmiro Gouveia e sua organização sócio-espacial atualmente. Através de pesquisa de
campo, obtenção de dados etc., observamos a feira e sua organização em quatro setores.
85
Notamos também a expansão que a mesma vem sofrendo, ocupando outros lugares e
fechando ruas. Pudemos relacionar a teoria dos dois circuitos da economia urbana, na qual a
feira se caracteriza como um circuito inferior. A feira de Delmiro Gouveia se mostrou
dinâmica em relação aos fluxos de mercadorias e pessoas, ligação local-regional, sendo
importante promotora da dinâmica comercial da cidade.
E, enquanto exercício de ensino de Geografia, para o terceiro capítulo, foi possível
desenvolvermos atividades de ensino e pesquisa com os alunos de uma escola da rede pública
de ensino da cidade de Delmiro Gouveia, trazendo como tema a globalização, as redes
geográficas na feira de Delmiro Gouveia. Através dessa prática pedagógica, os alunos
passaram a compreender melhor o espaço de sua cidade e sua relação com o mundo.
O aporte teórico desenvolvido no primeiro capítulo serviu como a base desse
trabalho. Pudemos nos nortear, através da escolha bibliográfica, em autores relevantes para
entendermos o objeto de estudo segundo a ótica da Geografia. Assim, pôde-se entender na
prática de campo, tanto individualmente como com os alunos do ensino médio, através de
observação e reflexões, a feira de Delmiro Gouveia (referente à globalização e as redes
geográficas). Por sua vez, o processo metodológico desenvolvido permitiu que, através de
observações de paisagens, pudéssemos construir mapas de setorizações, localização, e de
fluxos de mercadorias. Também nos levou, através de uma participação in loco, a uma
vivência na escola para o exercício da prática docente. Os alunos, munidos de conhecimentos
teóricos e questionários, puderam contribuir para a análise da feira de Delmiro Gouveia,
relatada neste trabalho.
No entanto, a título de considerações finais, é necessário afirmar que, ainda quanto à
prática do ensino de Geografia, este trabalho se soma à nossa formação de licenciatura em
Geografia, pelos seguintes motivos:
a) A aproximação teórica nos possibilitou o amadurecimento da pesquisa sobre
conceitos e noções fundamentais à pesquisa científica e à iniciação à docência.
Constatamos que qualquer e toda ação de ensino pode e deve ser gerida por
aportes teóricos sem os quais será incompleta diante da complexidade da
realidade empírica;
b) O contato com questões de história da cidade e especialmente da feira nos
ensinou que a cidade resulta de um percurso histórico dentro de contexto
86
capitalista. A visão de tal percurso é motivadora à constatação de traços do
passado na composição dos espaços do presente;
c) A prática da pesquisa teórico-bibliográfica, nesse sentido, e o encontro com
dados, informações e fontes historiográficas nos permitiu pensar a iniciação à
pesquisa como uma atividade que exige empenho, sobretudo do ponto de vista de
amadurecimento metodológico;
d) A vivência junto à escola promoveu a reflexão sobre nossa sensibilidade e o
sentido mesmo de nossa prática docente, escarando a escola como oportunidade
de crescimento intelectual, cultural e acadêmico – vemos hoje a escola como
espaço relevante para a licenciatura em Geografia;
e) A prática pedagógica efetiva, ou seja, a atuação junto aos alunos, nos ensinou
também que as interpretações e diálogos com os agentes e atores que promovem
diretamente a ação no e sobre o espaço geográfico – no caso, os feirantes – é um
forte indicativo das dinâmicas dos lugares no contexto do capitalismo.
Tais motivos, portanto, são humildes reflexões sobre a nossa atuação em direção à
concretização deste Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em Geografia.
Reconhecemos, de todo modo, que não temos respostas definitivas e absolutas às questões
sugeridas inicialmente, mas trazemos as rápidas e iniciantes reflexões como possibilidades de
amadurecimento pessoal e acadêmico para o futuro. Pensar e praticar o ensino foi uma
experiência sobretudo de crescimento enquanto pesquisador, professor e enquanto observador
das diversas faces espaciais do Sertão de Alagoas.
87
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91
ANEXO
92
Trabalho de Campo – Questionário Feirante: Refletindo sobre Redes geográficas e Globalização a partir da
feira de Delmiro Gouveia/AL: um exercício de ensino de Geografia.
1) Quais os produtos você comercializa? ( ) Confecção ( ) Calçados ( )Produtos Industrializados ( )
CD,s, DvD’s ( ) Eletrônicos e Eletroeletrônicos ( ) Importados ( ) Ferramentas Agrícolas ( )
Frutas e Verduras
( ) Outros: Especificar ______________________________________________________________
2) Qual a origem da mercadoria?
Delmiro Gouveia/ AL ( ) Arapiraca/AL ( ) Itabaiana/ SE ( ) Água Branca/AL ( ) Caruaru/PE ( )
Maceió/AL ( ) Recife/PE ( ) Outros ( )
- Se OUTROS, quais? _______________________________________________________________
3) Em se tratando da compra ou obtenção dos produtos, como é feita?
( ) Direta do fabricante/produtor ( ) Por Intermediários ( ) Através de Trocas
( )Outros, quais? ___________________________________________________________________
4) Qual o meio de transporte de mercadorias utilizado pelo senhor (sra) ?
( ) Carro ( ) Carroça de Burro ( ) Caminhonete ( ) Carro de Mão
( ) Caminhão Outro ( ) Qual? ________________________________________________
5) Quanto tempo gasta para chegar à feira? ________________________________________________
6) Hora do início e de termino da feira? Início: _____________ Término: ______________
7) Qual a forma de pagamento que o senhor (sra) aceita?
( ) à vista (dinheiro) Fiado ( de Confiança) ( )À prazo ( no Cartão) ( )à vista( Cartão de débito)
( ) Cheque ( )Outras formas - OUTRAS FORMAS, quais? __________________________
8) Usa algum desses aparelhos nas compras ou vendas?
( ) Celular ( ) Computador ( ) Tablet ( ) Máquina de Cartão ( )Nenhum
Outros ( ) Quais? ___________________________________________________________________
9) O Senhor (a) trabalha em outras feiras? Sim ( ) Não ( )
Se SIM Quais? _____________________________________________________________________
10) Com relação à localização da sua banca, a facilitar a comercialização, o senhor considera:
Ruim ( ) Regular ( ) Boa( ) Ótima ( )
Identificação do(a) entrevistado(a):
Nome: ____________________________________________________________________________
Idade: ______ Sexo: M ( ) F ( ) Estado Civil_____________________________________________
Mora na cidade ou no povoado?
Qual Cidade_________________________________________________ Estado?________________
Qual povoado?_______________________________________________