93
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - LICENCIATURA Emerson Lopes dos Santos GLOBALIZAÇÃO, FEIRA LIVRE E ENSINO DE GEOGRAFIA EM DELMIRO GOUVEIA-AL Delmiro Gouveia - AL 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CAMPUS DO SERTÃO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - LICENCIATURA

Emerson Lopes dos Santos

GLOBALIZAÇÃO, FEIRA LIVRE E ENSINO DE GEOGRAFIA EM DELMIRO

GOUVEIA-AL

Delmiro Gouveia - AL

2017

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

EMERSON LOPES DOS SANTOS

GLOBALIZAÇÃO, FEIRA LIVRE E ENSINO DE GEOGRAFIA EM DELMIRO

GOUVEIA-AL

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em

Geografia – Licenciatura – como requisito para

obtenção de título de licenciado em Geografia pela

Universidade Federal de Alagoas, Campus do

Sertão.

Orientador: Prof. Me. Kleber Costa da Silva

Delmiro Gouveia - AL

2017

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

FOLHA DE AVALIAÇÃO

AUTOR: EMERSON LOPES DOS SANTOS

GLOBALIZAÇÃO, FEIRA LIVRE E ENSINO DE GEOGRAFIA EM DELMIRO

GOUVEIA-AL

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em

Geografia – Licenciatura – submetida ao corpo

docente da Universidade Federal de Alagoas,

Campus do Sertão e aprovada em __/__/__.

Banca examinadora:

________________________________________________________________________________

(Prof. Me. Kleber Costa da Silva, Campus do Sertão, UFAL) (Orientador)

___________________________________________________________________________

(Me. Noaldo José Aires Tavares, Mestre em Geografia) (Examinador Externo)

___________________________________________________________________________

(Prof. Dr. José Alegnoberto Leite Fechine, Campus do Sertão, UFAL) (Examinador Interno)

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

Dedico este trabalho aos meus pais, Edvaldo Florentino dos Santos e

Lucineide Lopes dos Santos, meus avós, familiares, amigos queridos e

ao PIBID/CAPES – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à

Docência - que me assistiu com uma bolsa durante a graduação...

...companheiros de todas as horas, essenciais em minha jornada.

Obrigado!

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares, pais, avós, tios, irmã, primos, que acreditaram em minha

capacidade num momento conturbado de nossa história, em meio a uma crise econômico-

financeira, não somente a nível nacional, mas que atingiu também a nossa família, este não

sendo motivo suficiente, no entanto, para abalar nossos laços de amor. Em especial aos meus

sobrinhos, Júlia, Luiza e Mateus, sempre nos trazendo momentos de alegria.

A Lucineide Lopes dos Santos, minha mãe, que sempre batalhou pelos seus filhos,

costureira a vida toda, dona de casa nesses últimos anos. Obrigado por existir em minha vida.

A Edvaldo Florentino dos Santos, meu pai, sempre trabalhou para sustentar a sua

família, não mediu esforços, pedreiro, “treicheiro”, homem honesto. Tenho orgulho de ter

herdado o seu caráter. Obrigado por existir em minha vida.

A Lidiane Lopes dos Santos, minha irmã, sempre persistiu nas dificuldades da vida e

sempre nos ajudando, mesmo que isso lhe custe caro. Obrigado por existir em minha vida.

Aos meus amigos Sgt. Artur e Diogo, companheiros de todas as horas, sempre com

piadinhas, porém, sempre me dando apoio e força moral nos meus planos.

Aos inesquecíveis colegas de turma Renata, Clecio, Samila, Maria Irlene, Aline,

Paulyane, Bruno, Keyla, Agenor, Aloilde, e tantos outros pela amizade e momentos alegres

durante a graduação.

Aos meus colegas da UFAL, funcionários e estudantes, Júnior, Bruno, Gabriel,

Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e

trabalhos que fizemos.

À minha namorada Samyres, pelos momentos de alento e companheirismo. Pelos

momentos de alegria e de tristeza. Pelos momentos que me confortou e me apoio nessa

jornada acadêmica e na jornada da vida.

Aos professores da UFAL: Paul, que me ajudou a nortear meu TCC, Robérison,

Diogo, Fernando, Sara, Francisca, Adriana, Évio, Andreza e tantos outros que ajudaram a

formar o meu lado profissional, enquanto professor de Geografia, e humano.

Aos professores Alegnoberto e Leônidas pela competência nesses anos de PIBID ao

qual fiz parte por quase três anos.

Aos amigos do programa GeoNoAr da Rádio Alternativa FM, ao qual faço parte de

tal equipe maravilhosa.

Aos grupos de pesquisa GCEG, GEPAR e GESN, que contribuíram para meus

conhecimentos geográficos.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

À CAPES/PIBID, pelos anos de bolsa de iniciação à docência terem me

proporcionado experiências e condição suficiente para me tornam um profissional da

educação mais preparado. Sem tal bolsa dificilmente este momento de conclusão de curso se

tornaria um fato.

Aos meus caros amigos, professores e pibidianos, Meire, Paulo, Gelisson, Érica,

Fábio, prof. (a) Elania, prof. (a) Marilene, prof. (a) Renilda, prof. Jean.

Por fim, agradeço ao amigo, conselheiro, Professor e Orientador, Kleber Costa da

Silva. Obrigado pela paciência, pelos momentos de ensino e pela motivação desde os

primeiros períodos e início no PIBID. Um professor que jamais esquecerei e que levarei

comigo para o resto da vida. Obrigado por acreditar no meu potencial.

A todos, meu muito obrigado!

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo propor algumas reflexões acerca da feira popular de Delmiro

Gouveia-AL e a sua expressão espacial como conteúdo relevante para o ensino de Geografia,

no âmbito de confecção de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Licenciatura em

Geografia junto ao Campus do Sertão, Universidade Federal de Alagoas. Nesse sentido,

pretendemos problematizar a feira como centro de redes de relações sócio-espaciais no

contexto da região e da globalização, mormente à luz da noção de meio técnico-científico-

informacional. Em específico, buscamos constatar como se apresenta a feira de Delmiro

Gouveia a partir da constatação da rede de comercialização de mercadorias como subsídios a

um exercício de reflexão sobre o tema da globalização, redes geográficas no ensino de

Geografia? A partir de tal pressuposto, fizemos leituras de conceitos fundamentais (espaço

geográfico, redes geográficas, globalização e meio técnico-científico-informacional, além da

noção de feira), pesquisa sobre a composição histórica e geográfica da feira de Delmiro

Gouveia, bem como uma breve apreciação de sua organização espacial atual, complementada

então com exercícios pedagógicos através de atividades em conjunto com os alunos do ensino

médio de uma escola pública local – trabalho de observação de campo, aplicação de

questionários e debates em sala de aula. Assim, foi possível refletirmos sobre a dimensão

geográfica da feira e a relevância da mesma como uma realidade empírica a subsidiar a

reflexão sobre redes e a relação local-regional-global. Pensamos que os conteúdos e os

processos de pesquisa e de exercício de ensino de geografia nos ajudaram a amadurecer

nossas visões acerca do ensino da disciplina, agora amparados na valorização do trabalho de

campo e do desenvolvimento do debate de um tema central ao cotidiano da vida dos alunos da

escola pública e da sociedade delmirense.

Palavras-chave: Redes geográficas; Iniciação à Docência; Feira; Delmiro Gouveia.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

ABSTRACT

This paper aims to propose some reflections about the popular fair of Delmiro Gouveia - AL

and its spatial expression as relevant content for the teaching of Geography, in the scope of

preparation of a Term Paper of Degree in Geography with the Campus do Sertão,

Universidade Federal de Alagoas. In this way, we intend to problematize the fair as a center

of networks of socio-spatial relations in the context of the region and globalization, especially

in the light of the notion of technical-scientific-informational environment. In particular, we

tried to verify how is the Delmiro Gouveia’s fair presented starting from the discovery of the

merchandise commercialization network as subsidies to an exercise of reflection on the theme

of globalization, geographic networks in the teaching of Geography? Based on this

assumption, we made readings of fundamental concepts (geographical space, geographic

networks, globalization and technical-scientific-informational environment, besides the notion

of fair), research on the historical and geographical composition of Delmiro Gouveia's fair, as

well as a brief appreciation of their current spatial organization, complemented by

pedagogical exercises by activities in conjunction with high school students at a local public

school - fieldwork, questionnaires and classroom discussions. Thus, it was possible to reflect

on the geographical dimension of the fair and its relevance as an empirical reality to subsidize

the reflection on networks and the local-regional-global relationship. We thought that the

contents and processes of research and the exercise of teaching geography have helped us to

mature our views about the teaching of the subject, now supported by the valorization of the

field work and the development of a central theme debate to the daily life of the Students of

that public school and the society of Delmiro Gouveia.

Keywords: Geographic networks; Initiation to teaching; Fair; Delmiro Gouveia.

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Localização do Município de Delmiro Gouveia/AL. 35

Figura 2 - Estradas de Ferro. 39

Figura 3 - Desembarque e embarque de pessoas no trem e ida à feira de

Delmiro Gouveia – AL em 1960.

40

Figura 4- “Mapa” representação do núcleo por volta da década de 1910

desenhado por Telma de Barros Correia.

44

Figura 5 - Foto panorâmica do núcleo fabril no povoado em meados de 1920. 44

Figura 6 - Mosaico de imagens da feira da Pedra, meados de 1940. 45

Figura 7 - Decreto da emancipação política de Delmiro Gouveia. 47

Figura 8 - Mercado Público Municipal de Delmiro Gouveia, década de 1970. 48

Figura 9 - A feira de Delmiro Gouveia em 1992. 49

Figura 10 - Localização e arredores da feira de Delmiro Gouveia. 51

Figura 11 - Vista parcial do lado interno do Polo Comercial de Delmiro

Gouveia.

51

Figura 12 - “Outra feira”, localizada na Rua B no Bairro Eldorado. 52

Figura 13 - Vista parcial da Av. Jucelino Kubitschek e bancas na calçada da

feira.

53

Figura 14 - Feira do Troca-Troca de Delmiro Gouveia. 54

Figura 15 - Fachada do Mercado Público Municipal de Delmiro Gouveia. 55

Figura 16 - Barracas/ bancas na calçada da feira e vista parcial da Rua Srg.

Antônio Pedro.

56

Figura 17 - Supermercado em frente a feira livre de Delmiro Gouveia. 56

Figura 18 - O comércio próximo à feira livre. 58

Figura 19 - Organização Espacial por setores da feira de Delmiro Gouveia. 60

Figura 20 - Setor A da feira. 61

Figura 21 - Bancas do setor B. 62

Figura 22 - Bancas do setor C. 62

Figura 23 - Bancas do setor D. 63

Figura 24 - Aula teórica realizada no dia 15/05/2017. 69

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

Figura 25 - Aula e instruções no trabalho de campo em frente à feira no dia

20/05/2017.

71

Figura 26 - Aluna aplicando questionário à uma feirante na feira de Delmiro

Gouveia – AL.

72

Figura 27 - Aluna aplicando questionário à uma feirante na feira de Delmiro

Gouveia – AL.

73

Figura 28 - Alunos confeccionando os Murais Geográficos, em 29/05/2017. 75

Figura 29 - Aluno construindo o relatório de Campo, em 29/05/2017. 76

Figura 30 - Equipe apresentando e discutindo sobre globalização e redes

geográficas na feira de Delmiro Gouveia em 29/05/2017.

77

Figura 31 - Gráfico dos tipos de veículos usados pelos feirantes para o

transporte de mercadorias.

78

Figura 32 - Mapa das origens das mercadorias comercializadas na feira de

Delmiro Gouveia – AL.

78

Figura 33 - Gráfico dos aparelhos usados pelos feirantes na feira de Delmiro

Gouveia – AL.

80

Figura 34 - Gráfico dos aparelhos usados pelos feirantes na feira de Delmiro

Gouveia – AL.

81

Figura 35 - Gráfico dos feirantes de Delmiro Gouveia – AL que também

trabalham em outras feiras.

82

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11

1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: ESPAÇO, REDES, GLOBALIZAÇÃO,

CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA E A FEIRA

14

1.1. O Espaço geográfico 14

1.2. As Redes geográficas 18

1.3. A globalização e o meio-técnico-científico-informacional 22

1.4. Os Circuitos da economia urbana: Circuito Inferior e a

globalização

25

1.5. As feiras

29

2 A FEIRA DE DELMIRO GOUVEIA: HISTÓRIA, DINÂMICA E

RELAÇÕES SOCIOESPACIAIS

35

2.1. Os primeiros passos da feira do povoado Pedra 36

2.2. A feira no contexto da modernização de Delmiro Gouveia – AL 42

2.3. A feira de Delmiro Gouveia e sua organização socioespacial 50

2.3.1. Organização espacial da feira Delmiro Gouveia e do seu

entorno

50

2.3.2. Organização espacial da feira de Delmiro Gouveia

59

3 REFLETINDO SOBRE REDES GEOGRÁFICAS E GLOBALIZAÇÃO

A PARTIR DA FEIRA DE DELMIRO GOUVEIA/AL: UM

EXERCÍCIO NO ENSINO DE GEOGRAFIA

65

3.1. Em direção ao ensino de geografia e ao tratamento da

temática

65

3.2. Ensinando e aprendendo sobre a feira de Delmiro Gouveia 67

CONSIDERAÇÕES FINAIS 84

REFERÊNCIAS 87

ANEXO 91

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

11

INTRODUÇÃO

O presente texto resulta de um esforço de confecção de um Trabalho de Conclusão

de Curso de Licenciatura em Geografia junto ao Campus do Sertão, Universidade Federal de

Alagoas (UFAL), então intitulado “Globalização, feira livre e ensino de geografia em

Delmiro Gouveia-AL”. Apresentamos, assim, como exercício de iniciação à pesquisa e ao

ensino de Geografia, como um direcionamento de reflexões focadas na relevância e dinâmica

da feira de Delmiro em relação ao imperativo dos movimentos da globalização das escalas

local e regional.

Com base nas experiências empíricas através de alguns trabalhos e pesquisas com a

prática docente, no Campus do Sertão e no PIBID/CAPES, junto à UFAL, o presente trabalho

teve como motivação procurarmos questionar sobre como se apresenta a feira livre de

Delmiro Gouveia a partir da constatação da rede de comercialização de mercadorias e como

isso poderia subsidiar reflexões sobre o tema da globalização e das redes geográficas no

ensino de Geografia.

Para a realização deste trabalho, de maneira especifica, procuramos esboçar um

percurso de leituras e de ações centradas nas seguintes questões: a) Identificar referenciais

teóricos relevantes ao tema central (espaço, redes, globalização, meio técnico-científico-

informacional, feira livre, circuito inferior); b) Investigar sobre a composição histórica da

feira livre e da cidade de Delmiro Gouveia-AL; c) Mapear os espaços relativos à atual feira de

Delmiro Gouveia, através da setorialização oficial da Prefeitura Municipal e dos usos sócio-

espaciais atuais; d) Mapear, entender as origens das mercadorias e refletir sobre a

globalização associados à prática pedagógica; e)Construir um plano de exercício de ensino de

Geografia junto a uma escola pública local.

A feira livre é um importante componente urbano não só para a economia da cidade

como também para a sua identidade cultural no contexto sertanejo. Refletir a dinâmica da

feira de Delmiro Gouveia é compreender uma parcela da realidade urbana. É buscar o

conhecimento, a partir da feira, da própria rede urbana da cidade e do contexto no qual está

inserida.

Nesse contexto de inserção regional-global, pretendemos ampliar o exercício de

pesquisa à realização de atividades pedagógicas (no caso, a um conjunto de atividade de

ensino de geografia – exposição, trabalho de campo, descrição e aplicação de questionários)

em conjunto com alunos do ensino médio da Escola Watson Clementino de Gusmão Silva,

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

12

situada em Delmiro Gouveia-AL. Pressupomos que a feira pode ser vista como relevante e

singular espaço de reflexão pra a observação de aspectos caros à interpretação das interações

entre a cidade e o entorno e a cidade e os movimentos globais da economia e da cultura

contemporâneas. Além disso, ao fazer parte do cotidiano dos alunos, buscamos desvendar

alguns caminhos e aspectos invisíveis da feira e relativos às dinâmicas sociais e espaciais

locais que imprimem um sentido de dependência da cidade em relação a outras escalas de

movimentação da sociedade capitalista atual.

Noutras palavras, compreender a feira de Delmiro Gouveia a partir dos fenômenos da

globalização e das noções de redes geográficas se torna uma proposta alternativa para o

ensino de geografia no qual o aluno entenderá a conjectura atual do mundo à sua volta, para

além da localidade, uma vez que as redes geográficas e a globalização estão presentes no

cotidiano das sociedades locais. Para que isso se realizasse, levamos em consideração o

levantamento de questões em sala de aula, a apreciação de conceitos, a observação empírica, o

registro fotográfico e a descrição em sala de aula dos aspectos constatados em campo e

apreciados à luz dos conceitos, para efeito de apreciação avaliativa do processo geral de

ensino-aprendizagem – então, nosso esboço de plano de atuação pedagógica.

Do ponto de vista da construção metodológica do trabalho, realizamos um

levantamento bibliográfico de cunho teórico-conceitual, observações e captação de acervo

fotográfico da feira e da cidade de Delmiro Gouveia/AL, através da visita a instituições como

museu, prefeitura, feira, sítios eletrônicos, trabalho de campo e escola. A análise da

organização espacial da feira e da observação empírica serviram de apoio à prática docente

que versou em aulas teóricas (em sala de aula) e práticas (atividade de campo e entrega de

questionário na feira) realizadas com alunos do Ensino Médio.

Nesse sentido de reflexão e de prática pedagógica, preferimos dividir a escrita e

apresentação do presente trabalho em três capítulos:

No primeiro capítulo, estruturamos o pensamento geográfico inerente ao tema deste

trabalho a partir de investigação bibliográfica. Num primeiro momento, nossa análise se

debruçou sobre uma categoria base da Geografia, o espaço geográfico, com apoio nos autores:

Rodrigues (2008), Corrêa (2011b), Oliva (2001), Costa (2014), Santos (2009).

Posteriormente, tratamos das noções de redes geográficas, com base nos escritos de Dias

(2011), Corrêa (2011;2011a), Raffestin (1993) e Santos (2009). Em seguida, nos embasamos

teoricamente, para discutirmos a globalização e o meio técnico-cientifico-informacional, nos

escritos de Silva Junior e Eidt (2012), Santos (2005; 2011; 2008; 2009), Fuini (2013),

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

13

Bauman (1999) e Vasconcelos (2012). E, ainda, refletimos sobre a teoria dos dois Circuitos da

Economia Urbana, com base em Montenegro (2012), Santos (2008) e Firmino (2016). No

último momento do capitulo discutimos sobre a noção de feira enquanto objeto a ser estudado

com base nos escritos de Dantas (2007), Firmino (2016), Pazera Jr. (2003) e Corrêa (2011).

No segundo capítulo foi realizado um recorte histórico das origens da feira de

Delmiro Gouveia, desde seu surgimento advindo da feira de Água Branca-AL, se

consolidando na Vila da Pedra, suas mudanças a partir da chegada do empresário Delmiro

Augusto da Cruz Gouveia, suas modificações em se tratando da localização, até os dias atuais.

Esse capitulo teve como objetivo entender a organização e dinâmica espacial da feira de

Delmiro Gouveia. Para isso, separamos em três subcapítulos: o primeiro sobre a feira do

povoado Pedra com base nos escritos de Andrade (2005), Melo (2012), Oliveira (2003) e

Correia(1998); no segundo, distutimos historicamente a feira no processo de modernização da

cidade de Delmiro Gouveia com base em Correia (1998), Maynard (2008), Nascimento

(2012) e Melo (2012); e, por fim, no terceiro subcapítulo, a partir de interpretações da

paisagem atual da feira de Delmiro Gouveia, produzimos dois mapas a respeito da

organização espacial da feira e do seu entorno, além de algumas dinâmicas inerentes.

No terceiro e último capítulo, trazemos o registro de nossa proposta de ensino de

geografia. Com a participação dos alunos da escola de ensino médio, centramos em

apreciações de alguns aspectos específicos através dos seguintes questionamentos: de onde

vêm os produtos da feira? Como a feira se encaixa no cotidiano das pessoas? Qual a

importância da feira para dinâmica da cidade e da região? Como a feira é afetada pelo

processo de globalização? É possível estudar geografia na feira de Delmiro Gouveia?

Posteriormente, em um trabalho de campo com os alunos da turma do 2º B da escola Watson

Clementino de Gusmão Silva, sob supervisão da professora Renilda Leonardo, fomos à feira

de Delmiro Gouveia. E, em um último momento, avaliamos todo o aprendizado por meio de

discussão, relatório de campo e apresentação de um “mural geográfico”.

Assim, podemos afirmar que este trabalho é um esforço inicial para o entendimento

da dinâmica espacial da feira de Delmiro Gouveia e ao mesmo tempo se apresenta como uma

proposta alternativa para o ensino de geografia. Trata-se também de um exercício de pesquisa

e de ensino de Geografia que busca enriquecer o conhecimento, o diálogo acadêmico em

forma de um trabalho inicial e inacabado de investigação e de reflexão sobre questões

geográficas do Alto Sertão Alagoano.

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

14

1 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: ESPAÇO, REDES, GLOBALIZAÇÃO,

CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA E A FEIRA

1.1 O Espaço Geográfico

Para este exercício de investigação, consideramos fundamental a dimensão espacial

como central à reflexão e à análise em Geografia. Nesse sentido, refletir sobre o espaço é

olhar para uma dimensão que, se ligada à compreensão da sociedade, revela formas e

conteúdos relevantes para o entendimento de nossa situação face à realidade, principalmente

aquela ligada ao modo como os homens se organizam espacialmente.

Diante disso, consideramos relevante frisar algumas noções de espaço que serão

bases para a reflexão que empreenderemos a seguir: a de exercitar um olhar sobre uma

situação espacial e o enfrentamento de questões ligadas ao ensino de geografia.

É sabido, pois, que o espaço sempre existiu nas sociedades humanas. Desde sempre o

homem interage com o espaço, conformando com mais ou menos intensidade com os objetos

materiais e os significados atribuídos às suas localizações (plantações, habitações, cultura,

entre outros). É nesse sentido que o espaço produzido pelo homem é um espaço de natureza

social, conforme afirma Rodrigues (2008):

Esse espaço se apresenta como uma segunda natureza, uma natureza social,

humanizada. Assim, há a primeira natureza, aquela que foi e é criada sem a ação

humana (rios, florestas, montanhas etc.), e a segunda natureza, aquela produzida

pela ação do homem (cidade, agricultura, estradas, instrumentos de trabalho etc.) (p.

37).

Verifica-se, portanto, que o espaço (ora entendido como geográfico) é primeiramente

natural, ou seja, anterior ao homem. E, sendo uma “segunda natureza”, com a ação do

homem, o espaço passa a ser social, tratando-se da “primeira natureza” moldada pelos

processos de transformação social. Neste último caso, é na “segunda natureza” (social) que o

espaço passa a ser entendido como um espaço produzido pelo homem, conforme Rodrigues

(2008).

Nessa perspectiva, mais próxima a uma noção de espaço aliada às ações sociais no

cotidiano, consideradas como ações historicamente definidas, a Geografia é vista como uma

ciência social que entende as ações do homem na superfície terrestre por meio da análise da

dimensão espacial expressa nos seus cinco e principais conceitos-chave: paisagem, região,

lugar, território e espaço (geográfico).

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

15

A título de situação historiográfica interna à Geografia, de acordo com Corrêa

(2011b, p 17), o espaço geográfico foi um termo inicialmente abordado pelo paradigma da

geografia clássica, mesmo ainda não sendo considerado como um conceito-chave central à

disciplina (especialmente no período que se estendeu de 1870 a 1950). O termo foi ao longo

do século XX sendo combinado com outras nomenclaturas que indicavam à dimensão

espacial da realidade, a exemplo de paisagem, território e região, cada uma destas com suas

abordagens e focos de análise específicos. No entanto, logo após a década de 1970 surge a

geografia crítica, baseada no materialismo histórico e dialético. Nessa corrente, o espaço

passou a ser entendido como um espaço social vivido, sendo relacionado à prática social.

Naquela altura o espaço reapareceu como um conceito-chave, como explica Corrêa (2011b):

No âmbito dos debates o espaço reaparece como o conceito chave. Debate-se, de um

lado, se na obra de Marx o espaço está presente ou ausente e, de outro, qual a

natureza e o significado do espaço. A identificação das categorias de análise do

espaço é outra preocupação dos geógrafos críticos (p. 24).

A originalidade desta abordagem reside no fato de trazer para a Geografia a aliança

entre espaço, ação social, dinâmicas históricas e políticas, sobretudo compondo a intenção de

mudança social e o enfrentamento do capitalismo.

O espaço, então, pode ser entendido por uma porção específica da Terra, seja pelos

seus aspectos naturais ou do modo que o homem imprimiu as suas marcas, também

considerando a relação do homem com o espaço. O espaço, para a sociedade, é o reprodutor

da produção e da relação social. Não podemos dizer que o espaço é uma obra comum, ou que

é composto por coisas, o espaço é mais que isso. Desse modo Lefébvre destaca que:

Do espaço não se pode dizer que seja um produto como qualquer outro, um objeto

ou uma soma de objetos, uma coisa ou uma coleção de coisas, uma mercadoria ou

um conjunto de mercadorias (..). Estaria essencialmente vinculado com a reprodução

das relações (sociais) de produção (LEFÉBVRE, 1976, p.34 apud CORRÊA, 2011b,

p.26)

Nessa concepção, conforme os escritos acima, o espaço está além de uma soma de

objetos, ou coisas inseridas nele. É no espaço que estão as relações sociais e as reproduções

sociais que são assim consideradas, o locus do espaço.

Em outro aspecto, o espaço geográfico pode ser tratado como um componente social.

Assim, procurando superar a conotação do termo espaço social, a expressão componente

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

16

social amplia o entendimento sobre o espaço em sua relação com a sociedade. Portanto, para

Oliva (2001):

O fato de dizer que o espaço é um componente da sociedade não garante que ele seja

social. Ele pode ser um componente não-social da sociedade. Quer dizer: um espaço

preexistente, autônomo e anterior à sociedade que incide sobre ela, que a compõe,

moldando-a(...) um espaço como uma força (uma espécie de sujeito) não-social que

atua sobre a sociedade (p. 28).

Para compreender a sociedade, tendo em vista seu modo de vida capitalista, hoje em

dia é necessário perceber o espaço ao qual ela tem uma relação. Costa (2014, p. 72) explica

que para Harvey, “(...) para entender a sociedade atual e a sobrevivência do modo de

produção capitalista é preciso atentar para as relações entre espaço e tempo”. Ou seja, o

entendimento da relação sociedade e espaço só será possível no momento em que se

considerar o espaço e o tempo para a sua análise, uma vez que o modo de produção capitalista

está envolvido em sua dinâmica.

É através da relação espaço-tempo, de maneira indissociável, que podemos visualizar

o espaço de diversas formas. O espaço pode ser visto de forma tripartite: espaço absoluto,

espaço relativo e espaço relacional, conforme os escritos de Harvey (2012 apud COSTA

2014, p.73: o “espaço absoluto” é fixo, onde são planejados os eventos, tendo papel

importante para a confecção de mapas através de pontos fixos; o “espaço relativo” é o espaço

de fluxos, do movimento, da mobilidade da aceleração e compreensão do espaço-tempo; o

“espaço relacional”, implica na relação interna do espaço, também é o espaço das relações,

dos desejos, sentimentos e também do ciberespaço. Nesse caso, o espaço é indissociável do

tempo, apresentando posições diversas. O espaço é dinâmico, tendo sua forma absoluta,

relativa e relacional em uma conjuntura da sociedade atual de modo de vida capitalista.

Considerando ainda a relação do espaço com o tempo de maneira indissociável, o

espaço pode ser entendido por fixos e fluxos, no qual explica a dinâmica que modifica e

mantém o espaço fluido. Neste sentido, Milton Santos em “A Natureza do Espaço”, aponta

que:

Os elementos fixos, fixados em cada lugar, permitem ações que modificam o próprio

lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as condições ambientais e as

condições sociais, e redefinem cada lugar. Os fluxos são um resultado direto ou

indireto das ações e atravessam ou se instalam nos fixos, modificando a sua

significação e o seu valor, ao mesmo tempo em que, também, se modificam

(SANTOS, 2009, p. 63).

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

17

Como base nisso, os fixos e os fluxos não podem ser entendidos separadamente, pois

eles interagem, e juntos formam a realidade do espaço geográfico, aparecendo como objeto

possível à análise geográfica. Os fluxos são resultados das ações que podem representar a

mobilidade e a dinâmica no espaço. Os pontos fixos são aqueles que se conectam por fluxos.

Dependendo do valor dos fluxos que passam, os fixos variam o seu significado e importância.

Nessa interdependência entre os fixos e os fluxos, as condições sociais e suas relações são

renovadas, recriadas ou redefinidas.

Trata-se, noutros termos, de ação geográfica e objeto geográfico (Santos, 2009). Os

objetos geográficos são os objetos móveis e imóveis (cidades, barragem, usina, morro,

montanha, rio, lago, floresta, estrada, porto), tudo que existe na superfície da terra, advinda de

toda herança da história natural e resultado da ação humana. Os objetos e as ações acontecem

no espaço de forma unitária num dado momento na história. A ação do homem no espaço e o

surgimento de objetos acontece de forma gradual ao longo da história. Assim, considera-se

que o espaço geográfico possui algumas fases ao longo de sua existência, possuindo três

etapas chamadas de: meio natural, meio técnico e o meio técnico-científico-informacional

(SANTOS, 2009, p. 234).

De acordo com Santos (2009, p. 234), o “meio natural”, é a unicidade harmônica do

homem com a natureza, pautada em um determinismo, cuja relação socioespacial dizia

respeito à natureza; no “meio técnico”, é notável no espaço a dissociação de objetos naturais e

artificiais, a substituição do objeto cultural pelo técnico e uma relação socioespacial

transformadora da natureza, criando conflitos pontuais do homem com meio, de forma

internacional ao rumo de um mundo mecanicista; no “meio técnico-científico-informacional”,

os objetos técnicos também são informacionais, em uma união entre técnica e ciência o

espaço passa a atender, sobretudo, os atores hegemônicos da economia principalmente a partir

da década de 1970.

Nesse sentido de reflexão, consideramos importante que a dimensão espacial é uma

parcela da realidade indicativa de nossa presença histórica e social. Com base na reflexão de

espaço feito neste subcapítulo, a materialidade e os significados que são construídos ao longo

de nossas vivências são retratos de localidades e de tempos. E é nesse caminho que

escolhemos prosseguir com este nosso exercício de estudos e de pesquisa em Geografia.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

18

1.2 As redes geográficas

Para esta nossa proposta de investigação, consideramos a noção de rede como

direcionamento teórico fundamental. Tal noção compreende, sobretudo, um sentido de

conexão socioespacial. Isso significa que rede pressupõe ligações, conexões, entre pessoas e

lugares e que acompanha grande parte das transformações notadas no espaço geográfico

urbano dos últimos anos. Ou seja, as redes em geral são desenhos de interações que

influenciam o cotidiano das grandes e das pequenas cidades, moldando a dinâmica da sua

economia e o modo de vida social. Redes interligam o local ao global e, nesse sentido,

conectam os lugares geográficos.

A noção de rede e o tratamento conceitual na relação com a organização do espaço

não é recente. Dada a importância que as redes têm para o desenvolvimento da economia e

modo de vida das pessoas, foi necessário um estudo mais aprofundado desse objeto

conceitual. Assim, de acordo com Dias (2011 p.145), vários economistas, engenheiros e

estudiosos, no final do século XX, utilizaram o termo redes para identificar as linhas de

comunicações e de créditos. Dias (2011) relata também que as malhas de ferro, ligadas aos

sistemas de comunicação, foram sendo hierarquizadas, criando uma série de redes primárias e

de redes secundárias. Nesse sentido, a rede aparece, inicialmente, como sinônimo de

circulação e comunicação, através das quais as pessoas veem como necessária para a

dinâmica no espaço e, posteriormente, foi se tornando mais complexa, sendo necessária uma

hierarquização de todo o sistema de redes.

Vale ressaltar, em geral, e transcendendo o conceito, que as redes estão presentes nas

idas e vindas das pessoas, no intercâmbio de mercadorias, nos processos comunicacionais, nas

estradas físicas de rodagem (que ligam as localidades), na internet etc. De todo modo, os

fluxos de mercadorias, de informações e de pessoas dizem respeito à existência de circulação

e de movimento de produtos e de pessoas no espaço geográfico. Diante disso, os fixos e os

fluxos, outrora apresentados por Santos (2009) como uma forma de compreender o espaço,

são também redes geográficas, pois se trata do movimento de interdependências que dá

dinâmica ao espaço.

Concordando com Dias (2011):

Os fluxos, de todo tipo - das mercadorias às informações pressupõem a existência

das redes. A primeira propriedade das redes é a conexidade – qualidade de conexo –,

que tem ou em que há conexão, ligação. Os nós das redes são assim lugares de

conexões (...) (p.148).

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

19

As redes geográficas, portanto, se moldam por meio de fluxos que ocorrem no

espaço geográfico, sendo conectados por nós que, por sua vez, são pontos que conectam os

fluxos de todos os tipos. As redes também possuem uma qualidade de conexão, quando nos

referimos ao transporte das coisas e das pessoas.

Ademais, as redes geográficas são várias localizações conectadas no espaço, seja

urbano, rural, empresarial etc., ligadas materialmente ou imaterialmente. As redes geográficas

são complexas ligações entre si e, nesse caso, chegando a uma escolha conceitual para este

trabalho, partimos do pressuposto de que as redes geográficas são:

‘um conjunto de localizações geográficas interconectadas’ entre si ‘por um certo

número de ligações’. Este conjunto pode ser constituído tanto por uma sede de

cooperativa de produtores rurais e as fazendas a ela associadas, como pelas ligações

materiais e imateriais que conectam a sede de uma grande empresa, seu centro de

pesquisa e desenvolvimento, suas fábricas, depósitos e filiais de venda. (CORRÊA,

2011, p.107).

Os elementos organizados no espaço ligam os locais e formam as redes geográficas

enquanto as redes também produzem e dinamizam esse espaço. As redes possuem pontos

centrais, como sedes ou centro de empresas, produtoras ou associações que comandam as

linhas que ligam outros pontos, movimentando as ligações materiais e imateriais.

As redes geográficas são construídas pelo próprio homem socialmente espacializado.

É através fluxo de pessoas, por motivos sociais de qualquer ordem, que o homem se envolve

no surgimento das redes. Trata-se, neste caso, de um dos vários tipos de rede abordados pela

ciência geográfica: a rede social.

Com base em Corrêa (2011a):

As redes geográficas são redes sociais espacializadas. São sociais em virtude de

serem construções humanas, elaboradas no âmbito de relações sociais de toda

ordem, envolvendo poder e cooperação, além daquelas de outras esferas da vida

(p.201).

Nessa perspectiva, as redes sociais são conexões de grupos de pessoas que podem vir

a se organizarem de vários modos no espaço, como por exemplo o fluxo de pessoas para a

feira em outra cidade, o fluxo de pessoas para visitar parentes em outra localidade, entre

outros. A rede social é composta espacialmente, e essa espacialidade passa a ser considerada

para as construções humanas por meio das relações sociais.

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

20

Outra expressão espacial da rede geográfica, que também é essencialmente um

produto social, é a rede urbana. Essa rede é caracterizada pelas interações entre as zonas

urbanas ou entre as cidades. Em um sentido mais direto, podemos dizer que a rede urbana é

um “conjunto de centros urbanos funcionalmente articulados entre si” (CORRÊA, 2011 p.93),

onde temos uma sociedade vivendo dos fluxos da economia de mercado e pontos fixos em

que encontram-se as transações e a existência hierárquica dessas redes (CORRÊA, 2011

p.93). Logo, podemos entender que a rede urbana é a articulação e interação das cidades de

modo que dependem uma das outras, formando uma hierarquia dos fixos e dos fluxos,

fomentando a economia de mercado existente nessa rede.

As redes geográficas, além de estarem movimentando o espaço geográfico, possuem

uma dinâmica própria e são adaptáveis a ele, e por isso sofrem várias mudanças. Isso se dá

conforme as alterações ocorridas no espaço e em momentos específicos de sua história, ou

seja, um acontecimento, por motivos econômicos, políticos ou sociais podem alterar a

estrutura da rede. Nessa perspectiva, concordando com Raffestin (1993):

A rede aparece, desde então, como fios seguros de uma rede flexível que pode se

moldar conforme as situações concretas e, por isso mesmo, se deformar para melhor

reter. A rede é proteiforme, móvel e inacabada, e é dessa falta de acabamento que

ela tira sua força no espaço e no tempo: se adapta às variações do espaço e às

mudanças que advêm no tempo (p. 204).

Diante do exposto, é possível afirmar que a rede se molda de acordo com a

necessidades do espaço e mudanças no tempo. São também inacabadas, sempre estão se

recriando de acordo com as mudanças que acontecem no espaço geográfico ao longo do

tempo. De fato, a rede sofre influência da organização do espaço e das mudanças históricas.

Mesmo que relacionada ao espaço, ao tempo e ao território, as redes possuem cada

vez mais velocidade em seu movimento. Comparando os séculos anteriores com a atualidade

podemos observar que a velocidade dos meios de transporte e comunicação só vem

aumentando. Isso ocorre devido a evolução dos meios técnicos que estão cada vez mais

informacionais e que possuem uma tecnologia que avança rapidamente (SANTOS, 2009).

Atualmente essa circulação dos objetos e das pessoas ocorre com uma velocidade inferior à

informação, porém se misturando em alguns casos específicos, dependendo dos agentes que

às controlam e de sua tecnologia (RAFFESTIN, 1993). A informação supera a velocidade da

mobilidade dos seres e dos objetos, ampliando à capacidade de comunicação do homem e

dando força a esse tipo de rede.

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

21

Do mesmo modo, convém discutir o fator temporal (mudança histórica) das redes

geográficas, no qual são considerados três momentos da produção e existência das redes

geográficas: um período pré-mecânico, um mecânico intermediário e a fase atual. De acordo

com Santos (2009, p.264), no período “pré-mecânico” as redes eram formadas por pequenas

relações, com trocas de itens pouco frequente onde tinham suas necessidades satisfeitas. Já no

“período mecânico intermediário”, às necessidades de consumo das pessoas se ampliam com

o Estado controlando, de certa forma, o comércio e as redes, buscando mundializar as formas

de consumo. Por fim, Santos (2009) explica que na “fase atual”, as redes estão parcialmente

no espaço, no território e nos objetos técnicos construídos pelo homem, suportados por pontos

tornando o fenômeno da rede absoluto. Explica também que os agentes operam o mercado

econômico 24 horas por dia em qualquer local do mundo através da rede de computadores e

comunicação, capazes de realizar fluxos de dados e informação numa velocidade quase

instantânea para outro lado do mundo.

As redes, atualmente, diferente dos períodos anteriores (período pré-mecânico e

mecânico intermediário), possuem fluxos que conectam os locais de forma global. E é por

causa dos objetos e das ações técnicas que os fluxos de informações passam a ser o principal

produto de circulação global. Nesse viés, Santos (2009, p.333) descreve que:

A rede técnica mundializada atual é instrumento da produção, da circulação e da

informação mundializadas. Nesse sentido, as redes são globais e, desse modo,

transportam, o universal ao local. É assim que, mediante a telecomunicação, criam-

se processos globais, unindo pontos distantes numa mesma lógica produtiva (p.333).

Portanto, a rede técnica mundializada é um meio de produzir e circular objetos, ações

e informações mundializadas. As redes técnicas são globais, levando, através dos fluxos

globais, coisas mundializadas para as localidades distantes, intensificando os processos

globais, levando a lógica produtiva e consumista para diversos lugares.

Ainda assim, não há uma separação da rede global com a rede local na prática. A

rede local sofre influência da rede global através da atuação da economia em conjunto com o

poder político, ambos servindo à racionalidade hegemônica da globalização. A rede é global e

local, são estáveis e dinâmicas, misturam várias racionalidades no espaço, mesclando a

economia do mercado com a atuação do poder público na estrutura socioespacial (SANTOS,

2009, p. 279). Dessa forma, vemos que os vários tipos de rede atuam ao mesmo tempo no

espaço, não havendo uma dicotomia e sim um aumento das intensidades dos fluxos e a

complexidade das redes geográficas.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

22

Os aspectos que as redes geográficas possuem na contemporaneidade são vários,

devido às suas variações de escala, sendo intensificadas pela expansão capitalista. Isso

também interfere quando nos referimos à organização espacial e à divisão territorial do

trabalho, trazendo novas complexidades aos mesmos através das redes técnicas.

De acordo com Corrêa (2011):

Na organização e expansão do capitalismo as redes geográficas assumem diversas

formas de manifestação, tornando-se ainda progressivamente mais importantes. A

divisão territorial do trabalho em escala crescentemente mundializada só é possível a

partir de numerosas redes técnicas engendradas no bojo da expansão capitalista

(p.108).

Desse modo, graças à expansão capitalista, as redes geográficas ganham mais

importância, uma vez que ela é um dos principais veículos de distribuição de objetos técnicos

capitalistas. A partir da quantidade de redes técnicas causadas pelo crescimento mundial do

capitalismo, é possível ter uma divisão do trabalho cada vez mais mundializado.

Nesse sentido, as redes geográficas ganham grandes proporções em meio à

globalização, tomando dimensões mundiais e variadas velocidades de tempo. A rede técnica

mundializada, através dos fluxos globais, leva para as localidades mais distantes a lógica

produtiva e consumista dos grandes agentes da globalização. Portanto, as redes geográficas se

tornam objetos de estudo importantes para a reflexão e continuidade desse trabalho.

1.3 A globalização e o meio-técnico-científico-informacional:

A globalização é um fenômeno socioeconômico que atinge o mundo inteiro e

evidencia intercâmbios entre os lugares no âmbito do capitalismo. Assim, refletir sobre a

globalização é levar em conta a relevância de tal processo na transformação das localidades,

sobretudo no que diz respeito a forças oriundas do sistema de mercado capitalista. E, nesse

sentido, o meio técnico-científico-informacional (MTCI) se revela como uma forma de

espacialização do processo de globalização.

A título de contextualização, no entanto, podemos dizer que a globalização teve

início com o advento das grandes navegações do século XV e XVI, não obstante ser símbolo

relevante à sua compreensão a constatação da ampliação de mercados pelo mundo a partir da

queda do muro de Berlim em 1989. Grandes empresas internacionais, de todo modo,

encontraram liberdade para a expansão de seus territórios de atuação, especialmente

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

23

impulsionadas na segunda metade do século XX por meio de ações e de instituições como o

Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, a Organização Mundial do

Comércio (OMC), a Organização das Nações Unidas (ONU), a União Européia (EU), o

Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), entre outros (SILVA JUNIOR e EIDT 2012, p.

166).

Segundo Milton Santos, a “... globalização constitui o estádio supremo da

internacionalização, a ampliação em ‘sistema-mundo’ de todos os lugares e de todos os

indivíduos, embora em graus diversos” (SANTOS, 2005, p. 145). Isso dá margem a

observarmos o mundo a partir da ótica das interações sociais e das trocas comerciais. A

economia e a cultura mundial passam a conduzir os interesses sociais dos diversos lugares do

globo e a imprimir movimentos amplos de transformação da paisagem conforme

determinações do mercado. Nesse sentido, Fuini explicou que a globalização é a reprodução

capitalista no território-mundo de maneira contraditória e desigual, se desdobrando nas

dimensões produtivas, comerciais, tecnológicas e financeiras (FUINI, 2013 p.51). Influencia,

portanto, as escalas imediatas da vida social.

É nessa medida que nos deparamos constantemente com símbolos, marcas e

contrastes da globalização, já que estamos sendo cada vez mais influenciados e dependentes

das coisas, conteúdos e movimentos “globalizados”. Noutras palavras, conforme explicou

Zygmunt Bauman:

A ‘globalização’ está na ordem do dia; uma palavra da moda que se transforma

rapidamente num lema, uma encantação mágica, uma senha capaz de abrir as portas

de todos os mistérios presentes e futuros. Para alguns, ‘globalização’ é o que

devemos fazer se quisermos ser felizes; para outros, é a causa da nossa infelicidade.

Para todos, porém, ‘globalização’ é o destino irremediável do mundo, um processo

irreversível; é também um processo que nos afeta a todos na mesma medida e da

mesma maneira. Estamos todos sendo ‘globalizados’– e isso significa basicamente o

mesmo para todos (BAUMAN, 1999, p.7).

Ou seja, o que Bauman (1999) nos ensinou com a afirmativa de que “estamos todos

sendo globalizados” é que, podemos grosso modo dizer, cada vez mais inseridos na

globalização e intensificando a relação das pessoas com ela, existe uma dependência social

quase irreversível a essa fase da mundialização do capital. Milton Santos enfatizará até

mesmo a existência de uma globalização perversa (Santos, 2011), que ao invés de

homogeneizar, separa cada vez mais os homens e os deixam mais consumistas. O autor, em

sua crítica, também enfatizou a possibilidade de uma outra globalização, mais humanitária e

menos perversa. E, acrescentando:

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

24

A atual competitividade entre as empresas é uma forma de exercício dessa mais-

valia universal, que se torna fugidia exatamente porque deixamos o mundo da

competição e entramos no mundo da competitividade. O exercício da

competitividade torna exponencial a briga entre as empresas e as conduz a alimentar

uma demanda diuturna de mais ciência, de mais tecnologia, de melhor organização,

para manter-se à frente da corrida (SANTOS, 2011, p.30).

O autor nos leva a compreender que no período atual da globalização existe uma

competitividade mundializada. As empresas brigam entre si e fazem alimentar cada vez mais

a mais-valia globalizada, conduzindo ao aumento da ciência, técnica e organização para

estarem à frente na competitividade.

Por isso, de acordo com Santos (2008), a fase atual é inédita no mundo, a ciência e a

técnica, com o poder da informação que as empresas possuem, fazem surgir novos “Signos”

que dizem respeito principalmente ao avanço da técnica, que atinge os vários setores da

sociedade, revisa o papel do Estado, atualiza as grandes empresas e reacende a lógica da mais-

valia global. Nesse aspecto, o crédito, a internacionalização da produção, o novo papel do

Estado perante a economia mundializada, a nova acumulação do capital e a recente utilização

dos meios de informática, possuem grandes significados atualmente. Por certo, esses “signos”

afirmam a fase atual, onde só são possíveis existirem por causa do meio geográfico em que

vivemos atualmente, ou seja, o meio “técnico-científico-informacional” (MTCI), tratado

outrora em Santos (2009, p. 234) como o período atual.

Santos (2009), entretanto, afirmou que a presença do MTCI é de forma pontual, onde

existem apenas espaços da globalização e não uma globalização unitária. Com efeito, o que

diferencia os graus e/ou a existência da globalização nos locais é o objeto técnico. Para Santos

(2009):

Quanto mais ‘tecnicamente’ contemporâneos são os objetos, mais eles se

subordinam às lógicas globais. Agora torna-se mais nítida a associação entre objetos

modernos e atores hegemônicos. Na realidade, ambos são os responsáveis principais

no atual processo de globalização (p.240).

Isso pode significar que o objeto técnico-científico-informacional, quanto mais novo,

ou seja, mais contemporâneo, mais relacionado à globalização estará. Os atores hegemônicos

e os objetos técnicos são os principais disseminadores da globalização nos lugares. Em outras

palavras, “o meio técnico-científico-informacional é a cara geográfica da globalização”

(SANTOS 2009, p.239). Isso se dá porque o MTCI é a junção de um período à realidade

contemporânea da organização espacial em territórios e lugares, marcada pela união da

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

25

ciência e da técnica, sendo que este último tende a ser cada vez mais informacional dada a sua

intencionalidade (FUINI, 2013 pg.56). O MTCI é o período atual, onde a organização espacial

dos territórios e dos lugares estão gradualmente seguindo à lógica dessa nova técnica

(associada à ciência), sendo intencional à sua produção informacional e a globalização, nesse

sentido, é um fenômeno contemporâneo que influencia cada território do mundo através

internacionalização do capital.

De acordo com Vasconcelos (2012), os processos da globalização e do MTCI

também ocorrem ao mesmo tempo de maneira inseparável. De fato, o processo de

internacionalização do capitalismo se confunde com o meio técnico-científico-informacional,

uma vez que são processos que ocorrem em um mesmo sentido no espaço geográfico. Ainda

de acordo com Vasconcelos (2012, pg.53), a globalização e o MTCI trazem muitas mudanças

para os lugares, que agora também são mundiais. Segundo o autor, os lugares que se inserem

em participações econômicas e têm presença da técnica são levados pela globalização que se

apresenta nos territórios como forma de modernizações. Para Santos (2008), a modernização

dos territórios provocados pela globalização e MTCI que ocorrem atualmente é desigual,

dividem as formas de trabalho e aumentam às formas de competitividade nos lugares, ao qual

o autor diz respeito à existência de um Circuito inferior (não moderno) e um Circuito superior

(moderno). Tal discussão, nos leva a pensarmos diferenciações inerentes ao modo como a

escala local é atingida por mudanças ditadas pelos fluxos e interesses mundializados.

Entender o MTCI e a globalização se faz necessário para compreendermos as

contradições existentes na sociedade. Em suma, as transformações que ocorrem atualmente no

espaço geográfico são devidas ao processo de internacionalização do capital (globalização)

e/ou meio técnico-científico-informacional. A globalização está presente em todos os locais

do mundo, disseminando a sua lógica capitalista e tornando, de certa forma, os lugares mais

desiguais e competitivos. As empresas brigam pelos lugares, pelos consumidores e com

grandes e pequenos comerciantes, dividindo os territórios e utilizando como ferramentas de

atuação a modernização e a técnica.

1.4 Os Dois Circuitos da Economia Urbana: o circuito inferior e a globalização.

A noção dos dois circuitos da economia urbana, especialmente interpretada a partir

da constatação da globalização como processo de interdependência socioeconômica em escala

mundial, se mostra como fundamento relevante à compreensão das diferenciações sócio-

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

26

espaciais relativas às dinâmicas sociais condizentes com o mercado capitalista e, nessa

perspectiva de reflexão, torna-se importante para investigarmos o papel da feira no contexto

das trocas comerciais regionais e globais.

A noção dos dois circuitos da economia urbana surgiu inicialmente por consequência

da intensa urbanização que começara no século XX, advinda do desenvolvimento e da

expansão do capitalismo. Para Montenegro (2012, p. 140), diante da nova realidade dos países

desenvolvidos e subdesenvolvidos, foi necessária a formulação de teorias específicas para os

países subdesenvolvidos. Estes países necessitavam de estudos e reflexões acerca dos

processos diferenciados que forjavam as inserções de parcelas da sociedade no jogo do

mercado. Ainda segundo Montenegro (2012), às abordagens que apareceram de cunho

totalmente dualista não contribuíam positivamente para o avanço da teoria. Dentre tais teorias

dualistas se destacam a de Kuhn (1962) que relatava a existência de um setor moderno e um

setor tradicional; a de Edwards (1979) que elabora e caracteriza a existência de um mercado

primário e um mercado secundário sem uma relação, ambos em condições opostas; e a teoria

de Armstrong e McGee (1968) que dividem a economia urbana dos países subdesenvolvidos

em um setor “capitalista” e outro “não capitalista” (MONTENEGRO, 2012, pg. 152).

A cidade pensada entre moderno x tradicional, primário x secundário, capitalista x

não capitalista e até mesmo formal x informal se trata de algo vazio para a ciência geográfica,

uma vez que não levam em consideração o dinamismo, a confluência e a materialidade do

território (MONTENEGRO, 2012, p. 151).

Essas teorias que explicitam certa dualidade de maneira não relacional entre as duas

partes, sendo diferentes da teoria elaborada por Milton Santos (2008), que mostra uma relação

no espaço, mesmo ele estando dividido, ignorando a existência de dualidades. Para Santos

(2008), não há dualismo, pois “... os dois circuitos têm a mesma origem, o mesmo conjunto de

causas e são interligados” (p.56). Assim, a autor pretendeu evidenciar a relação entre o

Circuito Inferior (CI) e Circuito Superior (CS), ambos referentes à organização da economia

urbana. Os dois circuitos possuem características diferenciadas, porém complementares.

A partir dessa nova perspectiva miltoniana, o Circuito Superior e o Circuito Inferior

possuem graus diferentes de modernização. O Circuito Superior é o resultado direto das

modernizações no território (banco, comércio, indústria moderna). Já o Circuito Inferior se

caracteriza pela fabricação do não-capital intensivo, serviços não modernos e varejistas,

através de comércios, feiras, locais não modernos e de pequeno porte, voltados ao comércio

da população local mais pobre (SANTOS, 2008). No entanto, vale ressaltar, os dois circuitos

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

27

da economia urbana dos países subdesenvolvidos se diferenciam e se caracterizam pela

tecnologia e sua organização, mantêm uma ligação e, segundo Santos (2008), não são

sistemas fechados, possuem uma interdependência, sendo complementares e competitivos.

Além do Circuito Superior e do Circuito Inferior, Santos (2008) descreveu sobre a

existência de um Circuito Superior Marginal. Trata-se de uma subdivisão do Circuito

Superior. O Circuito Superior Marginal apresenta menos modernização tecnológica e

organizacional, podendo ter características do circuito inferior e também do circuito superior.

Segundo Santos (2008):

O circuito superior marginal pode ser o resultado da sobrevivência de formas menos

modernas de organização ou resposta a uma demanda incapaz de suscitar atividades

totalmente modernas. Essa demanda pode vir tanto de atividades modernas, como do

circuito inferior. Esse circuito superior marginal tem, portanto, ao mesmo tempo um

caráter residual e um caráter emergente (p.103).

Conforme ainda abordou Santos (2008, pg.103), o circuito superior marginal pode

surgir de formações não modernas de organização e atividades que não são inteiramente

modernas, podendo vir tanto do Circuito Inferior como do Circuito Superior, possuindo assim

uma característica residual, ou seja, de alguma forma teve a sua origem derivada de outro

circuito. O Circuito Superior Marginal tem as mesmas características do Circuito Superior,

mas com um menor grau de modernização, porém os circuitos da economia urbana são

resultados dessa mesma modernização.

Já o Circuito Inferior é o resultado indireto da modernização. Nesse aspecto, este “...

é um resultado indireto, que se dirige aos indivíduos que só se beneficiam parcialmente ou

não se beneficiam dos processos recentes e das atividades a eles ligadas” (SANTOS, 2008, p.

40). Os circuitos providos de uma mesma modernização, sendo um resultado direto e outro

indireto, um moderno e o outro não moderno, sempre um se comparando ao outro.

Para compreendermos melhor os dois circuitos, tomamos de empréstimo o Quadro 1,

elaborado por Firmino (2016), que apresenta algumas características acerca da diferença dos

dois circuitos:

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

28

Quadro 1: Características do circuito superior e circuito inferior

Circuito Surgimento Técnicas Sistema de

Objetos Crédito Preços

Mão de

Obra

Superior

Diretamente

da

modernidade

Capital

intensivo Modernos

Bancário

(Formal) Fixo (em geral)

Contrato

formal ou

terceirizado

Inferior

Indiretamente

da

modernidade

Trabalho

intensivo Tradicionais

Fiado em

geral Pechincha/Regatear

Familiar

(em geral)

Circuito Elementos de

Articulação Lucro Progressão

Acumulação

de capital Potencial Org.

Superior

Procura fora

da cidade e

sua região

Longo

prazo

Org.

burocrática

e/ou

governamental

Indispensável

as suas

atividades

Imitativo Sofisticada

Inferior

Encontra na

cidade e sua

região

Curto

prazo

Sem org.

burocrática

e/ou

governamental

Não é de

interesse

primordial

Criativo Baixo grau

Fonte: Firmino (2016, p. 32)

O Circuito Superior, enquanto possui como técnica o capital intensivo, o Circuito

Inferior é baseado no trabalho intensivo. Os elementos de articulação do Circuito Superior são

relacionados fora da cidade ou região, enquanto o Circuito Inferior encontra seus elementos

na própria cidade ou região. O Circuito Inferior possui um sistema de objetos tradicionais

enquanto o Circuito Superior possui um sistema moderno. De todo modo, os dois circuitos se

apresentam diferentes, porém relacionados pela modernização em suas origens.

Para Montenegro (2012), a teoria dos dois circuitos da economia urbana iniciada por

Milton Santos na década de 1970, e suas releituras contemporâneas estão cada vez mais sendo

debatidas atualmente, diante desse período de aceleração da globalização nas cidades dos

países subdesenvolvidos. As disparidades notadas na leitura da paisagem apontam para dois

sentidos amplos de produção do espaço e, nesse sentido, para duas grandes apropriações

diferenciadas em relação aos usos do espaço e ao envolvimento social com a produção dos

mercados locais na sua interação com o mundo capitalista.

De modo geral, os aspectos apresentados até então permitem que tenhamos acesso a

um complexo processo de produção de diferenciações sócio-espaciais. No que toca à escala

das localidades, por um lado, produzem-se objetos geográficos que permitem o

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

29

desenvolvimento ainda mais acelerado das conexões local-mundo via mercado, expressos

então por fixos e fluxos ditos “avançados” ou tecnicamente conectados com a globalização

(com consequente desenvolvimento de meios comunicacionais e de instituições, sobretudos

de casas financeiras e de créditos, que facilitam as interações econômicas num plano que

provavelmente transcende as localidades). Por outro lado, o retrato restante é a da parcela da

sociedade que não se conecta diretamente com tais dinâmicas e que se expressa como

“popular”, grosso modo “atrasado” diante dos processos inovadores do mercado.

A relação entre os circuitos, portanto, atinge o comércio formal e também as feiras

populares, estando estas mais ligadas às “...atividades de pequena dimensão e interessando

principalmente às populações pobres [...] e mantém relações privilegiadas com sua região”

(SANTOS, 2008, p.22). A feira, nesse caso, procura adaptar-se à contemporaneidade,

aderindo às técnicas e organizações mais modernas para sobreviver à globalização

(FIRMINO, 2016). A relação entre a feira e o Circuito Superior está justamente na imitação

de produtos do Circuito Superior e também nos aparelhos modernos, porém sempre

dependente do Circuito Superior.

Assim, diante da globalização, a relação entre os circuitos se intensifica, conferindo à

feira um papel central de lugar de trocas comerciais e de ligação das esferas superior e inferior

desses circuitos da economia. A partir da liberdade de mercado, que possibilita a complexa

rede de intercâmbios comerciais, as cidades locais passam a ter relevância na medida em que

centralizam o contato entre a escala local de produção da economia e as escalas regional,

nacional e global. Assim se impõem adaptações daqueles em relação a estes, na medida em

que inovar é grosso modo espelhar-se no que vem de fora com o slogan de inovação.

Oferecidos tais fundamentos de percepção da realidade socioespacial, logo importa-

nos conferir qual o papel das feiras nesse sentido amplo de interdependências e de dinamismo

relativos à geografia urbana de uma cidade pequena como Delmiro Gouveia.

1.5 As Feiras

Com base na proposta de leitura da feira como centro da rede de comércio ligado ao

circuito inferior em Delmiro Gouveia, pretendemos por ora realizar uma breve aproximação

sobre a noção desta como um “mercado tradicional” marcante ao entendimento da realidade

local. Para isso, pensamos inicialmente tratar da noção de feira e da sua relevância enquanto

objeto a ser estudado do ponto de vista da geografia e da região.

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

30

A noção de feira está ligada em geral ao entendimento de um espaço tradicional de

troca de mercadorias e de culturas. Nesse sentido, constitui-se historicamente como lugar de

encontro para a realização da dinâmica econômica de uma região ou país. A feira, ou mercado

periódico, é um lugar público onde as pessoas mostram e comercializam os seus produtos em

um local aberto, sendo palco de movimentos que provocam grandes transformações na

paisagem e no espaço geográfico, envolvida em fluxos de mercadorias, pessoas e informações

advindos de várias regiões ou até mesmo de outros países.

No entanto, a feira pode incorporar ao mesmo tempo aspectos de trocas modernas e

de trocas tradicionais. É nesse sentido que a regionalidade se apresenta do ponto de vista das

identidades culturais – embora este não seja o nosso foco, vale alertarmos que antes de ser um

espaço de trocas meramente econômicas, é também a feira um espaço de intercâmbios

culturais.

Assim, segundo Dantas (2007), a feira pode ser caracterizada por:

(...) possuírem diferentes alcances espaciais, podendo ser estritamente locais ou de

alcance regional, integrando um grande sistema de mercado. Além disto, elas são

uma forma de organização espaço-temporal das atividades humanas, onde há uma

articulação no que se refere ao funcionamento de cada feira, o que permite um

deslocamento ordenado dos participantes (pg.17).

A feira, então, é a integração de vários mercados, sendo organizados em um espaço

em certo período do tempo reunindo as atividades humanas (culturais e econômicas), variando

os seus fluxos as singularidades regionais.

Diante disto, a feira, além de tais características, pode ser entendida também através

de sua própria etimologia ou também ser confundida pelo termo mercado. Nesse aspecto, ao

investigar o sentido etimológico de tais palavras, Dantas (2007) menciona que:

Na língua portuguesa, o termo mercado é originado da palavra latina ‘mercatu’ e é

utilizada para designar um lugar fechado onde se comercializam gêneros

alimentícios e outras mercadorias; já o termo feira provém da palavra latina ‘feria’ –

‘dia de festa’ – e é comumente utilizado para designar um lugar público, muitas

vezes descoberto, onde se expõem e vendem-se mercadorias. (p.24).

De acordo com a etimologia das palavras mercado e feira podemos notar as

diferenças desses lugares: o mercado é um ambiente fechado e coberto; a feira é um ambiente

descoberto. Assim, também é possível identificar que a palavra mercado está voltada para

uma prática unicamente comercial, enquanto a feira possui também uma característica cultural

marcante, possuindo em sua terminologia o significado de um “dia de festa”.

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

31

Com o advento do capitalismo comercial e com os interesses do poder público

voltado para a feira, muito se mudou em termos de organização, desde sua origem até os dias

atuais (período da intensificação da globalização). Ao abordar e investigar as origens

históricas das feiras, Boechat e Santos (2011) descrevem que:

Esta atividade comercial começou itinerante, mas com o passar do tempo começou a

surgir uma necessidade natural de um local que promovesse a opção de todos os

produtos, e que estivessem disponíveis para trocas e comércio. Com o tempo,

provavelmente o número de pessoas foi aumentando e o poder público interveio com

o objetivo de disciplinar, fiscalizar e, é claro, cobrar impostos (p.3).

Portanto, com base nos escritos acima, havia ali na feira um grande potencial

econômico que, com o passar do tempo, foi se ampliando através das trocas e vendas, com

intervenção do poder público, através da organização e cobrança de impostos. O poder

público viu ali uma forma de arrecadar mais impostos, pois a feira é um ambiente de intensa

circulação de pessoas, objetos e informação. Hoje em dia, mesmo em tempos de globalização,

a feira mantém a mesma essência, porém, estão mais envolvidas e dependentes de questões

políticas, econômicas (global e local) e sociais, também estando presente em vários países do

mundo.

No Brasil, as feiras livres começaram a surgir com a colonização portuguesa mesmo

já existindo uma noção de troca de mercadorias praticadas pelos indígenas (DANTAS, 2007).

Sendo mais preciso, é na região Nordeste que se têm os primeiros indícios de atividades cujas

características se assemelham às da feira no Brasil. Neste sentido, podemos dizer que, sem a

intenção de uma generalização definitiva, a economia das cidades nordestinas tem o seu início

nas denominadas, atualmente, feiras livres; a primeira feira de que se tem notícia se localizava

ao norte do Recôncavo Baiano por volta o século XVI (MOTT, 1975 apud DANTAS, 2007,

pg.71).

Ao investigar as feiras no Nordeste, Pazera Jr. (2003) explica que nessa região

existem alguns diferentes tipos de feira. Tal divisão está relacionada à subregião de onde está

localizada a feira, a sua intensidade referente aos fluxos de pessoas e mercadorias e ao seu

grau de influência regional. Pazera Jr.(2003), com base na pesquisa realizada por Isller (1965)

, ressalta que existiam dois tipos de feira, a feira de zona de transição:

As feiras de zona de transição ocorrem nas faixas de transição entre duas zonas

geograficamente diferentes: Zona da Mata-Sertão; Brejo-Agreste. Esta localização

vai possibilitar que produtos característicos de cada área sejam trocados. Desta

forma estas feiras apresentam uma variedade de produtos significativa, que vão

desde frutas e legumes até produtos industrializados. Outro ponto a ser considerado

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

32

é que, em geral, nestas zonas de transição há o domínio da pequena e média

propriedade, o que propicia condições para que um número maior de agricultores

participem da feira (p.27).

E a feira de zona típica:

As feiras de zonas típicas são as existentes no interior de zonas geográficas bem

definidas. Quando comparadas às zonas de transição são menores e mais pobres,

resumindo-se a umas poucas barracas com produtos de consumo indispensável e

algumas de artesanato e confecção. Por ser uma zona onde a pobreza é

generalizada, principalmente no Sertão, a presença do produtor como comerciante

quase não se faz notar. Quase todo mundo possui uma roça, mesmo que bem

pequena, ou não possuem condições de comprar o que é oferecido na feira (p.28).

Conforme aborda o autor acima, embasado nos escritos de Isller (1965), a feira de

zona de transição se beneficiava pela sua localização geográfica, contendo uma maior

quantidade e diversidade de produtos. Estas são maiores e de maior influência regional. A

feira de zona típica é do tipo menor e mais pobre, estando localizada principalmente no Sertão

e onde o próprio agricultor é geralmente o feirante, além de não ter tanta influência regional

como o primeiro tipo de feira. Tais tipificações de feira já não caracterizam as feiras atuais,

como veremos a seguir.

De outra forma, mais recente, podemos abordar a feira nordestina, ou mercado

periódico nordestino (DANTAS, 2007), sob a ótica das redes geográficas. As redes

geográficas também fazem parte da dinâmica da feira, caracterizando-a através dos fluxos de

mercadorias, fluxos de pessoas e de informações. Concordando com Corrêa (2011), a feira:

Tem como agentes comerciantes, produtores rurais, artesãos, e consumidores, sendo

eminentemente espontânea. Envolve fluxos de mercadorias, pessoas e informações,

e, através dela, realiza-se a integração entre áreas rurais, pequenas, médias e grandes

cidades. Ligadas ao mercado associa-se à acumulação, mas também na feira a

sociabilidade se manifesta. É real, material e eminentemente informal, tendendo a

ser hierarquizada, na qual há centros com comércio atacadista para feirantes e

centros onde há apenas varejista-ambulante. A feira nordestina existe há muito

tempo e a velocidade de seus fluxos é lenta. Sua preferência é periódica e esta é uma

característica fundamental que a distingue do comércio fixo (p.103).

As feiras nordestinas descritas por Corrêa (2011) estão envolvidas com o meio rural

e com as cidades, ligados através dos fluxos de mercadorias, pessoas e informações,

conectando também as cidades entre si. A feira atrai uma grande quantidade de pessoas da

região para a localidade em que se encontra, exercendo assim uma centralidade (Corrêa,

2011), ocorrendo de maneira periódica, pois os próprios comerciantes reabastecem seus

estoques e migram para outras feiras, exigindo certo tempo para que ocorra novamente.

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

33

Ainda para Corrêa (2011), as feiras possuem três dimensões distintas e as redes

geográficas são o que caracterizam tais dimensões de feiras: uma é a dimensão

organizacional, que possui uma organização interna “abrangendo os agentes sociais, a origem

da rede, a natureza dos fluxos, a função e finalidade da rede, sua existência e construção”

(CORRÊA, 2011, p.109); também existindo uma dimensão temporal ao qual está relacionada

à “duração da rede, a velocidade com que os fluxos nela se realizam, bem como a frequência

com que a rede se estabelece” (p.109); e, por fim, uma dimensão espacial caracterizada pela

“escala, a forma espacial e a conexão da rede geográfica”(p.110). Tais dimensões classificam

o tamanho da feira, sua forma, sua velocidade de fluxos, com os quais outros tipos de

comércio se envolvem em rede, sua organização interna, periodicidade e dinâmica.

É válido destacar essa dinâmica que a feira provoca na cidade e em seu entorno,

através de seus fluxos locais e globais, principalmente no Nordeste onde a feira não é tratada

como algo isolado. Pazera Jr. (2003), ao abordar a abrangência espacial das feiras, destaca

que:

As feiras que se realizam semanalmente nas cidades brasileiras são significativas na

vida urbana. No Nordeste, no entanto, ela deixa de ser um fato rotineiro para

assumir um papel de destaque sendo, às vezes, difícil distinguir até que ponto a feira

depende da cidade ou a cidade depende da feira. Desta forma a feira além de sua

importância urbana e regional, desenvolve o processo de comercialização e trocas

inter-regionais. (pg. 27)

De acordo com os escritos do autor acima, as feiras desempenham, além de uma

importância local para a cidade, um papel de intercambio e integração. Esse fato é o resultado

direto das dimensões das redes geográficas que as feiras estão inseridas (de modo temporal,

espacial e organizacional) e também do tamanho e importância do núcleo urbano da cidade.

O núcleo urbano da cidade possui relação com as feiras nela inseridas, pois se trata

de uma relação de troca. Essa relação depende da importância que a feira exerce no comércio,

na dinâmica e nos fluxos da cidade. Nesse caso:

Quanto menor for o núcleo urbano tanto maior sua importância e sua influência. Nas

pequenas comunidades, onde o comércio regular é inexpressivo, assume o papel de

mercado geral, onde se realizam todos os negócios locais. Nos pequenos centros

urbanos (e às vezes até em cidades maiores), a feira encarna e torna concreta a

função comercial. Para tanto promove a circulação regional ou inter-regional dos

produtos locais de subsistência e de consumo (PAZERA, 2003, p.30).

Nesse sentido, e pode-se dizer grosso modo, quanto menor a cidade maior será a

importância da feira, assumindo o papel de mercado principal de determinadas cidades e

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

34

regiões. Ela promove a maior parte dos fluxos de produtos locais e regionais, de subsistência e

consumo.

Para a compreensão do estágio atual, as feiras foram ganhando grandes proporções

na medida em que a melhoria dos meios de transporte e a abertura de novas estradas e

rodovias foram ocorrendo em larga escala (FIRMINO, 2016 pg. 78). Tais acontecimentos,

principalmente com o advento do meio técnico-científico-informacional, fizeram com que as

feiras obtivessem algumas características (técnica e informacional) da modernidade. Essas

mudanças que ocorrem nas feiras se revelam como resultados da modernização das técnicas e

informações das atividades comerciais que surgiu nas últimas décadas (supermercados,

hipermercados, atacados, shoppings). A modernização faz com que os tipos de comércio mais

tradicionais se adaptem à nova realidade imposta pela competitividade, surgindo novas regras

e normas de compra, venda e circulação de mercadorias, possibilitando verdadeiras mudanças

sociais e urbanas (FIRMINO, 2016, p.82).

Portanto, a feira é um tipo de mercado periódico dito informal, de manifestações de

atividades comerciais e culturais que fora trazida pelos portugueses, no caso do Brasil, tendo a

sua gênese no Nordeste, pelos colonizadores e outras influências já existentes no território.

Atualmente, período do meio técnico-científico-informacional (SANTOS, 2008), a feira é

marcada fortemente pelo avanço da técnica, da ciência, da informação e da competitividade

no território, desempenhando o papel de espaço comercial tradicional de trocas e vendas de

mercadorias advindas de várias localidades através dos fluxos (locais e globais).

E é nesse contexto de reflexões que pretendemos ler o caso da feira na cidade de

Delmiro Gouveia, explorando aspectos centrais de como tais dinâmicas podem subsidiar o

conhecimento crítico dos lugares e da região.

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

35

2. A FEIRA DE DELMIRO GOUVEIA: HISTÓRIA, DINÂMICA E RELAÇÕES

SOCIOESPACIAIS

O município nordestino de Delmiro Gouveia localizada em Alagoas, nosso recorte

espacial, é tipicamente sertaneja. De acordo com o IBGE (2010), encontra-se à distância de

300 km da capital Maceió, fazendo divisa com os estados de Sergipe, Pernambuco e Bahia.

Em seu limite municipal: Pariconha -AL, Água Branca- AL, Olho D’água do Casado- AL,

Paulo Afonso – BA, Canindé do São Francisco –SE e Jatobá - PE. De acordo com senso de

2010 do IBGE, sua população é de aproximadamente 51.997 habitantes, sendo um dos 10

maiores municípios do estado de Alagoas.

Figura 1: Localização do município de Delmiro Gouveia - AL

Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar. 2017.

Neste capítulo, analisamos as relações sócio-espaciais da feira de Delmiro Gouveia,

seu sistema de redes, globalização e organização espacial atualmente. Para isto, não devemos

entender o espaço sem a sua relação com o tempo. Portanto, sua história espacial, que se

embaraça com a história da cidade, será refletida com o objetivo de entendermos o seu espaço

hoje em dia.

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

36

2.1– Os primeiros passos da feira do povoado Pedra

Investigar a feira do município de Delmiro Gouveia requer um resgate histórico de

sua fundação e dinâmica espacial. A feira passa a ser entendida como espaço dinamizador da

economia urbana de Delmiro Gouveia na medida em que possibilita o fluxo de mercadorias,

de pessoas e de capital. Pretendemos, então, traçar um breve panorama da questão da feira no

Nordeste e em seguida no Sertão e na cidade de Delmiro Gouveia.

O Nordeste é uma região brasileira dividida em quatro grandes regiões, definidas por

suas condições naturais e geográficas: Zona da Mata, Agreste, Sertão e Meio Norte, conforme

Andrade (2005). O Sertão é a maior sub-região do Nordeste, se estendendo até o litoral em

algumas áreas (como é o caso dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte), possuindo um

clima semiárido com média de 25ºC, caracterizado por um baixo índice pluviométrico

(ANDRADE, 2005, p.57).

Além disso, o desenvolvimento econômico e populacional do Sertão está totalmente

relacionado ao gado e à cana de açúcar. Foi com a expansão da criação de gado, inicialmente

para suprir as necessidades da zona da mata, litoral e dos engenhos de cana de açúcar, que era

a principal atividade nordestina da época, que desenvolveu-se o povoamento do Sertão

nordestino. Com a expansão da pecuária, vários aglomerados populacionais foram surgindo

na região, consequentemente também as primeiras formas de comércio, formado por

pequenos agricultores e criadores de gado. Conforme afirma Melo (2012):

São dessas praças comerciais formadas a partir do comércio do gado que surgem as

feiras livres, importantes elementos para o desenvolvimento das cidades. Caso

também observado na região do alto sertão alagoano, na feira de gado de Várzea do

Pico, em Água Branca, que além do negócio com o gado, funcionava também uma

espécie de mercadão com feirantes comercializando outros produtos (p. 83).

O surgimento desses espaços de troca e venda, contribuiu para o desenvolvimento

dos aglomerados populacionais que surgiram no Sertão, os povoados. De acordo com Melo

(2012), foram através delas (espaços de trocas e vendas de gado) que surgiram as primeiras

povoações, feiras e comércio no Alto Sertão, como o caso do povoado Várzea do Pico, em

Água Branca -AL.

Delmiro Gouveia-AL, antes de sua emancipação política em 1952 era um pequeno

distrito chamado Pedra, esta pertencente ao município de Água Branca -AL, que surgiu às

margens da estrada de ferro Paulo Afonso. Nesse caso, a antiga vila de Água Branca foi

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

37

desmembrada do município de Mata Grande -AL, posteriormente transformada em cidade e

em seguida ocorrendo o mesmo com o povoado Pedra. Segundo Melo (2012):

A vila de Água Branca foi criada pela resolução nº 681 de 24 de abril de 1875,

desmembrada da Mata Grande. Através da Lei nº 805, de 02 de junho de 1919, a vila

foi elevada à categoria de cidade. Já o povoado Pedra, que pertencia a vila de Água

Branca, foi elevado à categoria de município, com a denominação de Delmiro

Gouveia, pela lei 1628, de 16 de junho de 1952 (pg.85).

Conforme os escritos do autor, o povoado Pedra pertencia à cidade de Água Branca

até meados de 1952. Antes de ser emancipado, o povoado Pedra tinha suas relações

econômicas fortemente ligadas à cidade ao qual fazia parte. Toda forma de comércio estava

ligada à cidade de Água Branca, consequentemente à feira da Várzea do Pico.

Em se tratando da feira no alto Sertão alagoano, o povoado Várzea do Pico, próximo

à vila de Água Branca no século XIX, possuía uma feira ao qual pessoas de várias localidades

da região se encontravam para a troca e venda de suas mercadorias. A feira da Várzea do Pico

foi de grande importância para a região, uma vez que era um local de encontros e de fluxos de

pessoas e mercadorias, estabelecendo uma renda para os comerciantes e dinamizando

economicamente a localidade. Segundo Melo (2012):

Ao longo do tempo, a praça de comércio e o mercadão passaram a se chamar feira e

ficavam localizados no povoado Várzea do Pico; as pessoas que moravam em outros

povoados e sítios caminhavam horas e horas para chegar a esse local. Lá

comercializavam e compravam gados e outros produtos, além de fortalecer os laços

e conflitos sociais. Essa feira se ampliou com os encontros entre viajantes,

mercadores, agricultores, missionários, comboieiros, aventureiros, e todos que

habitaram e que, de alguma forma, contribuíram para a construção e transformação

do lugar (pg.92).

Diante dos escritos do autor, podemos identificar o que estava acontecendo nesse

período e espaço: o mercadão e a praça de comércio passaram a ser chamada popularmente de

feira e há o crescimento territorialmente considerado da feira a ser causado pela intensificação

das trocas.

O gado também foi um importante fator para o desenvolvimento da feira da Várzea

do Pico. Para o gado chegar à feira percorria um caminho longo até encontrar os locais de

comercialização. Haviam pessoas especializadas na condução do gado e no caminho para os

locais; eram chamados de vaqueiros que “caminhando à frente da boiada, cantando o ‘aboio

sertanejo’, enquanto os demais acompanhavam as reses, tangendo-as e vigiando-as para que

não se dispersassem” (ANDRADE, 2005, pg.188).

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

38

Com a intensificação dos fluxos, aumento da economia e o crescente espacial da

feira da Várzea do Pico, logo, foram surgindo novas feiras na região. Ocorre então a

transferência da feira de Várzea do Pico para a freguesia de Água Branca, possibilitando

também o surgimento de uma pequena feira no povoado Pedra, que era um local privilegiado

devido à sua estação de trem. Desse modo, Melo (2012), de acordo com sua investigação

histórica, relata que:

O fluxo maior de pessoas transitando e se estabelecendo no Alto Sertão Alagoano

possibilitou a transferência da feira da Várzea do Pico para a freguesia de Água

Branca e também para a criação de uma feira no povoado Pedra, localizada próxima

à estação da estrada de ferro da então Great-Western, no centro do povoado. Um

pequeno grupo de feirantes começou a se instalar nesse espaço, iniciando a vida

corrida de muitos que se faziam em duas ou mais feiras daquela região (pg.92).

Como Melo (2012) aborda, podemos identificar o início das atividades econômicas e

aumento populacional causado pelas feiras na região no final do século XIX. Assim, as feiras

de Água Branca e do povoado Pedra surgiram. A partir daí alguns feirantes se locomoviam

entres as duas feiras para comercializarem seus produtos em dias diferentes.

A pequena feira da Pedra, nesse caso, passa a ter um papel importante para o

povoado, assim também como a estrada de ferro Paulo Afonso, principalmente para a feira. A

estrada de ferro Paulo Afonso teve o seu trecho final inaugurado em 2 de março de 1883 e

funcionou até 1964, controlada pela empresa Great Western of Brazil Railway Company a

partir de 1901(OLIVEIRA, 2003), sendo de grande importância para o alto Sertão alagoano.

O trem da Estrada de Ferro Paulo Afonso levava passageiros e cargas entre várias cidades e

povoados de Pernambuco e Alagoas. Partindo de Piranhas, passava pelo povoado Pedra, onde

se voltava basicamente para a economia do pequeno distrito. Oliveira (2003) descreve que:

O trem saía de Piranhas, parava em Olho D’Água do Casado (AL), Talhado (AL),

Sinimbu (AL), Delmiro Gouveia (AL), Volta (PE), Quixaba (PE) e Jatobá (PE).

Caso funcionasse nos dias atuais, poderia estar atendendo a uma população estimada

em mais de cem mil pessoas. Partia de Piranhas e ali chegava às terças, quartas e

sábados, num comboio até Delmiro e outro até Jatobá, composto de até 8 vagões: 1

de primeira classe, 1 ou 2 de segunda, 1 ou 2 de grade para animais e de 1 a 3 para

transporte de outras mercadorias (pg.270).

A estrada de ferro Paulo Afonso proporcionou o abastecimento, venda e circulação

entre essas cidades descritas por Oliveira (2003), como podemos verificar na Figura 2, além

de promover também o fluxo de pessoas com uma maior velocidade. A estrada de ferro Paulo

Afonso, em seus anos de existência, exportou açúcar, álcool/aguardente, caroço de algodão,

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

39

milho, farinha de mandioca, couros, peles, madeiras, lenha e café e importou charque,

bacalhau, farinha de trigo, tecidos, especiarias, ferragens, sal e arame (OLIVEIRA, 2003,

pg.268).

Figura 2: Estradas de Ferro

Fonte: Azevedo (2011, pg.107)

Na Figura 2, podemos observar que a estrada de ferro Paulo Afonso passava por

Pedra onde sua estação estava praticamente na metade da rota entre Piranhas-AL e Jatobá-PE.

Em Pedra podemos identificar também uma rodovia que passava pelo antigo povoado, um

pequeno trecho até a cachoeira de Paulo Afonso e outro trecho ligando Pedra às cidades de

Água Branca, Mata Grande, Santana do Ipanema e outras, até encontrar outras estradas de

ferro que levavam até as capitais Maceió e Recife. Como Pedra fazia parte dessa rota, várias

pessoas utilizavam o trem para frequentar a feira do povoado, conforme retrata a figura 3.

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

40

Figura 3: Desembarque e embarque de pessoas no trem e ida à feira de Delmiro Gouveia – AL

em 1960.

Autor desconhecido. Fonte: acervo do Museu da Pedra.

Na Figura 3, observamos o aglomerado de pessoas para o embarque e desembarque,

alguma delas indo em direção à feira, em terra seca, típica do semiárido. Mães, crianças e

alguns homens compõem a paisagem. Além disso, podemos notar as roupas de tecidos feitos

na Fábrica da Pedra e que a feira acontecia nos dias em que passava o trem, onde se tinha o

maior fluxo de pessoas e mercadorias (MELO, 2012, pg. 97).

Além da estrada de ferro Paulo Afonso, dos caminhos de gado e dos transportes

terrestres (carroças e automóveis) existia também o transporte fluvial no rio São Francisco. O

fluxo de mercadorias e pessoas era formado pelos meios supracitados, sendo que as feiras

também faziam parte de tal fluxo, sendo um local de encontro desses fluxos para as trocas e

vendas de produtos. Nesse sentido,“houve tanto a possibilidade de maior fluxo comercial,

como inserção de novos agentes que começaram a modificar seus hábitos, absorvendo as

inovações, tanto tecnológicas quanto culturais” (MELO, 2012, pg.98).

A feira do povoado Pedra passa a ganhar intensidade significativa de pessoas e

mercadorias em meados de 1903, graças à vinda do empreendedor Delmiro Gouveia ao

distrito (MELO, 2012 pg.92). Delmiro Gouveia foi um grande empresário que viu nas terras

secas do povoado Pedra, Alto Sertão Alagoano, um grande potencial para as instalações

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

41

industriais modernas, mudando o espaço geográfico e a vida na pequeno povoado Pedra para

sempre.

Vindo de Pernambuco por motivos políticos e econômicos, Delmiro Gouveia compra

uma fazenda no município de Água Branca, no povoado Pedra, passando a beneficiar o

Distrito com várias construções. Logo a fazenda de Delmiro Gouveia ganhou nomes entre os

populares e, graças à construção da fábrica de linhas, a malha urbana do povoado Pedra

cresceu significativamente.Como afirmou Correia (1998):

Em Alagoas, em 1903, Delmiro Gouveia comprou uma fazenda que denominou Rio

Branco, no município de Água Branca, perto de Pedra, um pequeno povoado às

margens da Ferrovia Paulo Afonso. Na extremidade da fazenda próximo ao povoado

e à ferrovia, construiu currais, açude, uma residência e prédios para abrigar um

curtume. Em 1912, com a decisão de implantar uma fábrica de linhas no local, foi

iniciada a construção do núcleo fabril, que incorporou essas primeiras edificações.

Entre os moradores e contemporâneos, o núcleo era referido como Fazenda Rio

Branco, Fazenda da Pedra, Vila Operária da Fazenda Rio Branco ou simplesmente

como ‘a Pedra’, ao passo que a povoação preexistente era chamada Pedra Velha ou

‘cidade livre’ (pg.203-204).

Conforme narra Correia (1998), Delmiro Gouveia se instalou no povoado e

posteriormente começou a construção do núcleo fabril, possibilitando vários pontos positivos

para o povoado Pedra como: Açude, residências, construções e currais de criação de animais.

Os populares passavam chamar a parte original do povoado de “Pedra Velha” e as mediações

do núcleo fabril, contornada por um arame, era chamado de “A Pedra”(CORREIA, 1998).

O Alto Sertão Alagoano e, nesse caso, a feira da Pedra do final do século XIX até o

início do século XX passaram por diversos eventos significativos para o seu desenvolvimento

econômico e urbano. Dentre esses eventos, os caminhos de gado, os fluxos de mercadorias e

de pessoas através das estradas, do rio São Francisco e da estrada de ferro Paulo Afonso que

ocorriam ali, criou a possibilidade do nascimento de povoações e pequenos comércios de

troca e venda, as feiras. O aumento dos fluxos permitiu o aparecimento de novas feiras, como

a pequena feira do povoado Pedra. Podemos dizer, grosso modo, que a pequena feira da Pedra

é a gênese da economia urbana de Delmiro Gouveia/AL e da, juntamente com outras feiras,

região do Alto Sertão Alagoano.

Ainda assim, a feira da Pedra passou por outros momentos que ampliaram suas

atividades e dinâmicas, como a vinda do empresário Delmiro Gouveia e o inicio industrial do

povoado. Com o povoado ficando cada vez mais “moderno”, a feira também acompanhou

esse crescimento. No processo de modernização do distrito Pedra a feira se modificou

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

42

também, sua dinâmica, seu uso socioespacial, mudanças de locais etc., e a transformou no que

ela é atualmente.

2.2 – A feira no contexto da modernização de Delmiro Gouveia – AL

Ao longo do desenvolvimento histórico e do seu processo de modernização, a cidade

de Delmiro Gouveia e a sua feira passaram por profundas transformações. Nesse sentido, cabe

evidenciarmos as influências do então empresário Delmiro Gouveia e, especialmente, o papel

do núcleo fabril, do comércio e da estrada de ferro, para além do papel tradicional da pecuária

e da agricultura.

Para Melo (2012), os processos de desenvolvimento econômico pelos quais passou o

Alto Sertão alagoano, apresentaram alguns outros condicionantes essenciais, tais como:

(...) fertilidade de seu solo, que permitiu o desenvolvimento da pecuária e várias

culturas agrícolas, como: a cana-de-açúcar, o algodão e a mandioca, dentre outras; b)

sua posição estratégica como ponto de descanso entre províncias foi fator

determinante para que florescesse o comércio. Além destas duas grandes

explorações, existiram também; c) pequenos estabelecimentos que se desenvolveram

diante dos empreendimentos comerciais maiores orientados para a exportação, como

é caso específico da feira que vai servir como espécie de escoamento da produção

local e dos produtos trazidos pelos viajantes (p. 85).

E também:

Os núcleos urbanos de Água Branca e Delmiro Gouveia, que ascenderam no último

século, foram beneficiados pela construção das estradas e das ferrovias que

começaram então a desenvolver formas variadas de comércio, tanto pelas feiras

locais quanto pela exportação de produtos. Esses fatores atraíram grandes

fazendeiros e comerciantes que precisavam dispor da infraestrutura de transportes

para vender e comprar. (MELO, 2012, p.98)

Os pequenos “povoados”, nesse sentido, se apresentavam como pontos estratégicos

ao descanso para os viajantes da região. Com isso o comércio floresceu, surgindo também

outros empreendimentos como os engenhos de cana-de-açúcar e a feira para o escoamento da

produção local. Também vale acrescentar a importância da estrada de ferro Paulo Afonso e

posteriormente a chegada de fazendeiros e de comerciantes.

E, dentre os que apostaram nesse potencial, estava o então “empreendor” Delmiro

Augusto da Cruz Gouveia, que se instalou no povoado Pedra por motivos econômicos e de

perseguição política, implantou o seu negócio de couros, o qual fazia no Recife, e

posteriormente realizou o início do projeto para uma fábrica de linhas no distrito

(MAYNARD, 2008).

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

43

Depois do curtume, negócios de peles e couros, Delmiro possibilitou a geração de

energia elétrica através da construção da Usina Anjiquinho, localizada na cachoeira Paulo

Afonso, para a pretensa indústria que construiu no povoado Pedra por volta da década de

1910. Trata-se da primeira fábrica de linhas de costura do Brasil e da primeira usina

hidroelétrica a produzir energia elétrica no Nordeste (MAYNARD, 2008). Com a implantação

da Fábrica da Pedra no distrito, o povoado Pedra entrou num processo de modernização e

crescimento acelerado.

Depois da implantação da fábrica, a partir de 1917, a pequena vila da Pedra passou a

ter, segundo Correia (1998) e Maynard (2008), cerca de 250 casas, máquina de gelo,

telégrafo, cinema, carrossel, tipografia, banda de música, algumas lojas, padaria, cinema,

farmácia, posto do correio, médico, dentista e pista de patinação, mudando a paisagem do

lugar. Nesse aspecto, no que concerne à feira, Delmiro Gouveia, por volta de 1910, ainda

arrematou os impostos sobre a feira e sobre as lojas, que eram administradas pela prefeitura

de Água Branca, visando poder controlar tais atividades (CORREIA, 1998, pg.297).

De acordo com Correia (1998, pg.204), as lojas, os serviços, o cassino e outros tipos

de estabelecimentos se misturavam às casas e estavam concentrados nos dois quarteirões

contíguos à fábrica da Pedra, sendo também onde, em frente, era realizada a feira do povoado.

Tais estabelecimentos eram controlados por Delmiro Gouveia e formavam a “área central do

comércio” do povoado Pedra, como podemos ver na figura 4 e na figura 5.

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

44

Figura 4: “Mapa” representação do núcleo por volta da década de 1910 desenhado por Telma

de Barros Correia.

Fonte: Correia (1998, pg. 204). Circunferência acrescida pelo autor.

O espaço que se entendia como um centro comercial (circunferência vermelha na

figura 4) era totalmente controlado por Delmiro Gouveia. Podemos observar a proximidade da

Fábrica da Pedra da área comercial e da feira, que ficava em frente às lojas. (CORREIA,

1998). Nessa representação do núcleo fabril, também podemos observar o desenho do cercado

de arame envolto, o planejamento da vila operária e as várias construções executadas por

Delmiro Gouveia.

Figura 5: Foto panorâmica do núcleo fabril no povoado em meados de 1920.

Fonte: disponível em: <http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br> Acesso em: 05/04/2017.

Circunferência acrescida pelo autor.

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

45

Na Figura 5, segundo as informações do Museu Delmiro Gouveia, podemos observar

o núcleo fabril, a igreja ao fundo, os tanques d’água, residências e, destacado em vermelho, a

feira livre e o centro comercial do povoado.

O empresário Delmiro Gouveia também foi à frente do seu tempo quando se tratam

de alguns aspectos trabalhistas como os dias de folga, a jornada de trabalho e o pagamento

dos funcionários. A folga era aos domingos, a jornada de trabalho era de oito horas diárias, os

pagamentos eram feitos aos domingos (dia em que ocorria também a feira da Pedra ás 10

horas), sendo o pagamento o suficiente para os funcionários manterem as suas “boas

aparências” (NASCIMENTO, 2012, pg.158). Nesse caso, possibilitava que, ao receberem os

pagamentos, os funcionários da fábrica da Pedra se direcionassem à feira e às lojas para

fazerem suas compras. Isso trazia mais pessoas para a feira, tornando-a um comércio grande

em comparação com o tamanho do povoado, mobilizando todo o distrito, como mostra o

aglomerado de pessoas na feira na figura 6.

Figura 6: Mosaico de imagens da feira da Pedra, meados de 1940.

. Fonte: Vídeo da Agência Nacional - Cine Jornal - Acervo do Museu Delmiro Gouveia.

B

D

A

C

B

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

46

No mosaico da Figura 6 podemos observar a feira da Pedra em meados de 1940. Na

imagem A, o comércio e as casas próximas à feira é visível e também podemos ter a dimensão

do tamanho que a feira tinha e sua organização. Na imagem B, jegues e jumentos, o meio de

transportar mercadorias utilizadas por parte dos feirantes e compradores, próximo à feira. Na

imagem C, uma feirante vendendo vasos de cerâmica, esta aparenta negociar o valor do

produto com a freguesa. Na imagem D, vendedores de rapadura comercializam seus produtos

em cima de caixotes próximos à calçada das lojas. A feira da Pedra era uma típica feira

sertaneja, como se vê no mosaico anterior, pequena e onde geralmente os feirantes são os

próprios agricultores, sem barracas e produtos expostos no chão.

Pazera (2003, pg. 30) aborda que na feira típica nordestina os feirantes acordam antes

do raiar do sol, preparam suas mercadorias e, os que não moram próximos, pegam as estradas

para se arriscarem nas feiras distantes onde possuem um lugar “marcado” de acordo com as

normas de cada feira, um território de atuação comercial.

O povoado Pedra e sua feira sofreram grandes mudanças em seus hábitos, economia

e urbanização com a implantação do núcleo fabril e também com a morte do empresário

Delmiro Gouveia. Pertencente ao município de Água Branca, o povoado passou a ganhar

destaque e atenção na região, onde pouco tempo depois, em 1917, Delmiro Gouveia foi

assassinado (CORREIA, 1998). Cerca de 50 anos depois da morte do empresário, a até então

Vila da Pedra deixa de ser parte integrante de Água Branca, onde em 1952 o Governador do

Estado de Alagoas, Arnon de Mello, sancionou a lei Nº1628 que criou o município de

Delmiro Gouveia, levando o nome do industrial, como podemos observar no Diário Oficial do

Estado de Alagoas (figura 3).

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

47

Figura 7: Decreto da emancipação política de Delmiro Gouveia.

Fonte: disponível em :<http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br>Acesso em 05/04/2017

Antes da emancipação política do município de Delmiro Gouveia, as feiras do

povoado Pedra e de Água Branca mantinham relações importantes que continuaram até os

dias atuais. Ao abordar as relações entre as duas feiras, Melo (2012) ressalta que:

Salientamos ainda que as instalações das feiras de Água Branca e Delmiro Gouveia

foram sendo estabelecidas tanto pelo fluxo do comércio quanto pelas relações entre

as formas de poder sócio-político-cultural. A expansão do fluxo das trocas

comerciais foi um dos elementos que possibilitou, junto ao processo industrial, a

instalação da infra-estrutura de mercados públicos nesses municípios. Esses

mercados funcionaram de forma entrelaçada às feiras, provocando, assim, a

expansão do número de empreendimentos e iniciando um processo de

descentralização e a formação de novas centralidades comerciais nas cidades

(p.109).

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

48

De acordo com os escritos de Melo, as feiras de ambas as localidades mantinham

tanto um fluxo comercial quanto um social, político e cultural que culminou, juntamente com

o processo de modernização do povoado Pedra e a construção de mercados públicos (ver

figura 8), no aumento da feira e na formação de novas centralidades comerciais. Nesse

sentido, de acordo com Corrêa (2011, pg.103), o fluxo de mercadoria e pessoas (feirantes e

compradores) entre as feiras de cidades próximas é típico da feira nordestina, envolve o meio

rural e urbano, sendo um evento regional em cada cidade.

Figura 8: Mercado Público Municipal de Delmiro Gouveia, década de 1970.

Fonte: disponível em :<http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br>Acesso em 05/04/2017.

Na Figura 8 podemos observar o primeiro mercado público de Delmiro Gouveia em

uma foto restaurada. De acordo com informações do site “Amigos de Delmiro Gouveia”, em

frente ao mercado está o bloco de carnaval “Bacalhau do Zé do Carmo”. O primeiro Mercado

Público Municipal de Delmiro Gouveia se localizava no centro da cidade.

Por volta de 1980 outro Mercado Público foi criado em Delmiro Gouveia, mais

afastado do centro, no bairro Eldorado e junto com ele a feira. Por volta da década de 1980 a

feira foi deslocada novamente por causa do aumento de seu fluxo, também devido ao novo

planejamento urbano da cidade e motivos políticos. A feira, que se encontrava no centro da

cidade (ver figura 6), próxima as lojas e ao mercado público municipal que surgiu

posteriormente (Figura 8) foi realocada para o bairro Eldorado, um bairro mais distante,

porém, agora a feira iria ser fixa em um espaço próprio (MELO, 2012, pg.112).

Posteriormente um novo mercado público surgiu em frente à feira, maior e mais moderno,

como podemos observar na figura 9.

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

49

Figura 9: A feira de Delmiro Gouveia em 1992.

Fonte: disponível em :<http://www.amigosdedelmirogouveia.blogspot.com.br>Acesso em 05/04/2017.

Na Figura 9, fotografada em 1992, notamos a feira de Delmiro Gouveia, apesar de ter

ficado mais longe do centro, ficou relativamente melhor organizada e o mercado público se

apresentava ampliado. Além disso, bancas de roupas, carros estacionados, transeuntes, as

“D20’s” para o transporte de pessoas e mercadorias, fazem parte de tal paisagem.

Em síntese, transformou-se ao longo dos anos os usos relativos aos espaços da feira,

não só pelas imposições iniciais do empresário Delmiro Gouveia ao controlá-la, mas também

pelas mudanças de seu espaço físico: mudou-se da estrada de ferro para o centro da cidade,

sendo realocada posteriormente para o bairro Eldorado por causa do desenvolvimento da

cidade e de questões políticas. A feira continuou crescendo, alterando a sua dinâmica no

espaço urbano, configurando, portanto, uma adaptação às novas modernizações e aos novos e

atuais usos socioespaciais.

Tal como acontece com grande parte das pequenas cidades sertanejas do Brasil, as

feiras passam a acumular certo significado de centralidade da vida social e econômica

regional. Dito de outro modo, são as feiras lugares de encontro e de conexão às trocas entre os

residentes e comerciantes na cidade de Delmiro Gouveia em relação a outros centros e

espaços rurais. Olhar para a feira atual é observar o modo como a cidade se relaciona com

outros ambientes e sociedades e promove acréscimos às transformações do cotidiano local.

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

50

2.3. A feira de Delmiro Gouveia e sua organização socioespacial

Pensar a feira de Delmiro é olhar para a sua organização espacial como expressão de

sua constituição histórica singular na região e como conjunto de relações que a cidade

estabelece com o entorno rural e os mercados nacional e global. Nesse sentido, a feira contém

tipos diversos de redes que caracterizam o presente, conforme abordamos a partir da

contribuição de Corrêa (2011), Corrêa (2011a), Santos (2008) e Santos (2009).

Para a reflexão pretendida neste trabalho, realizamos algumas coletas de dados

(especialmente junto à empresa então responsável pela manutenção do espaço da feira, e à

Prefeitura Municipal) e observações de paisagem nos lugares relativos à presença da feira de

Delmiro Gouveia. Tentamos focar na apreciação de informações relacionadas à distribuição

do comércio local e à organização espacial dos mesmos. Um panorama geral nos revelou que

a feira e o seu entorno contêm uma ampla área comercial junto ao Bairro Eldorado formada

pelo “Polo Comercial”, pelo “Mercado Público Municipal”, além de lojas e mercados

diversos, e a própria Feira popular. A área comercial, possivelmente, teve surgimento por

consequência da instalação da feira no local.

Faremos, a seguir, algumas interpretações do observado.

2.3.1. Organização Espacial da feira Delmiro Gouveia e do seu entorno

O Polo Comercial, o Mercado Público Municipal e a feira (vide figura 10) são

lugares públicos e administrados pela empresa terceirizada, através da qual realizamos um

levantamento de dados e informações acerca dos locais pesquisados. Existem outras bancas e

feiras que estão localizadas nas calçadas do pátio da feira e também em outras localidades que

formam pequenos outros setores do comércio tradicional local. Já o comércio dito “formal” é

composto por lojas, serviços, mercados privados, que se aproveitam do intenso fluxo de

pessoas no espaço provocado pela feira e outros locais públicos. Também podemos observar a

circulação de vendedores ambulantes nas calçadas e passagens da feira.

O Polo Comercial de Delmiro Gouveia (Figura 11) é composto por farmácias, casas

de artesanatos, loja de peixes ornamentais, bares, lanchonetes, mercearias, loja de roupas, loja

de eletrônicos, cabelereiro, frigorifico, loja de suplementos alimentares, distribuidora de

bebidas etc. De acordo com as informações da empresa trata-se ao todo de 212 boxes de

tamanhos padronizados.

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

51

Figura 10: Localização e arredores da feira de Delmiro Gouveia.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar.2017

Figura 11 : Vista parcial do lado interno do Polo Comercial de Delmiro Gouveia.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar 2017.

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

52

Entre o Polo Comercial e o Mercado Público, na Rua B, existe um pequeno setor

como uma espécie de apêndice da feira “regular” que ocorre no pátio. Essa feira acontece nos

sábados, fechando a rua onde está localizada, como podemos ver na Figura 12. De acordo

com a empresa responsável pela organização, essa feira é “irregular”, os feirantes não

possuem cadastro, mas estão autorizados a usar o local para tais atividades. Nessa feira,

encontramos vários tipos de produtos de artesanatos, cerâmicas (vasos, jarros), hortifrútis,

condimentos, lanches etc.

Figura 12: “Outra feira”, localizada na Rua B no Bairro Eldorado.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar 2017.

A feira de Delmiro Gouveia é fixa em um local e está, em sua maior concentração,

atualmente no bairro Eldorado, entre a Av. Jucelino Kubitschek (ao norte), Rua Srg. Antônio

Pedro (ao sul), travessa São Francisco (ao leste), e o Mercado Público Municipal (ao oeste).

Posterior ao Mercado Público Municipal podemos encontrar, depois da Rua B, o Polo

Comercial. Em volta dessas três áreas de comércio encontramos um grande número de

estabelecimentos comerciais como lojas, cabelereiros, mercados, supermercados, bares,

lotérica, clube etc., e também prédios públicos como o hospital, a escola e a subestação de

energia elétrica (ver figura 10).

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

53

Em sua estrutura física, a feira livre de Delmiro Gouveia possui cerca de 600 bancas/

chão/ lona/ box, ou regulares ou irregulares. As bancas regulares, ou seja, que possuem algum

registro e paga pela taxa risória à empresa, são divididas atualmente em bancas de metal e

bancas de madeira: as bancas de madeira estão sendo substituídas gradualmente pelas de

metal.

As bancas/ chão/ lona/ box ditas “irregulares” ocupam a calçada da feira ao lado da

Av. Jucelino Kubitschek (vide figura 13), também, mais acima, ocupando um espaço

“irregularmente” está popularmente conhecida “feira do troca-troca” (vide figura 14), onde os

comerciantes vendem produtos usados diversos. Ocupam também de forma “irregular”,

alguns barracões de madeira e de construção, as calçadas da feira do lado da Rua Srg. Antônio

Pedro, como podemos ver na figura 16.

Figura 13: Vista parcial da Av. Jucelino Kubitschek e bancas na calçada da feira.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, jan. 2017.

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

54

Figura 14: Feira do Troca-Troca de Delmiro Gouveia.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar. 2017.

Essas outras feiras ditas “irregulares” se apresentam como uma nova expansão

espacial da feira livre. Nesse caso, o pátio original da feira já não comporta a demanda

socioespacial e econômica que se tem atualmente. Ao observarmos a feira livre em 1992, na

figura 9, vemos que as bancas não transbordam o pátio, mantendo visivelmente uma

organização. Ao compararmos a feira em 1992 com ela atualmente, observamos que o pátio

da feira transborda as suas barracas e feirantes, chegando a fechar ruas (figura 12), ocupar as

calçadas (figura 13 e 16) e ocupar outros espaços como no caso da feira do troca-troca (figura

14).

O Mercado Público Municipal está entre a feira popular e o Polo Comercial (vide

figura 15), possui tarimbas de carnes bovinas, suínas, vísceras, aves, peixe, mercearias,

lanchonetes, dentre outros. O mercado de peixe possui cerca de 30 bancas. E o mercado de

carnes possui 87 tarimbas.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

55

Figura 15: Fachada do Mercado Público Municipal de Delmiro Gouveia.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar. 2017.

No Mercado Público Municipal, local fechado destinado ao comércio organizado de

alimentos e mercadorias, podemos notar certa organização no que se refere à divisão de boxes

e tarimbas. As carnes, vísceras e peixes estão separados em locais específicos enquanto os

cerais, produtos de limpeza, embalagens, produtos industriais, artesanato, produtos

importados e lanches se misturam em outra parte do Mercado.

Nos barracos/construções que estão na calçada da feira, encontramos vários tipos de

comércios: refeitórios, lanchonetes, barbearia, salão de beleza, bares e oficinas de concerto de

máquinas de lavar, costura, ventiladores etc. (vide figura 16). Podemos constatar vários carros

estacionados na calçada da feira e também vigas e colunas de sustentação, material que faz

parte do planejamento para a cobertura do pátio da feira.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

56

Figura 16: Barracas/ bancas na calçada da feira e vista parcial da Rua Srg. Antônio Pedro.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar 2017.

Como já dito, tais espaços ocupados por essas “outras feiras” são frutos de um novo

aumento que está ocorrendo na feira de Delmiro Gouveia, tais como àqueles que a

modificaram até ser o que é atualmente. Em outros termos, o espaço geográfico nos revela

inacabado. O surgimento de objetos acontece gradualmente ao longo da história. Através dos

fixos e dos fluxos o espaço é redefinido, modificam ou esgotam o lugar e assim, juntos,

formam a realidade espacial atual (SANTOS, 2009, p.63).

Figura 17: Supermercado em frente a feira livre de Delmiro Gouveia.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar 2017.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

57

Podemos observar na Figura 17, que mostra parte da Travessa São Francisco e da

Av. Jucelino Kubitschek, um exemplo de competitividade no espaço entre o Circuito Superior

(resultado direto da modernização do território: banco, comércio moderno, indústria moderna)

e o Circuito Inferior (fabricação do não-capital intensivo, serviços não modernos e varejistas,

através de comércios e feiras não modernos ou de pequeno porte, voltados à população local

mais pobre). Uma rede nacional de supermercados pertencente ao Circuito Superior

(moderno, de capital intensivo) em competitividade com a feira livre, pertencente ao Circuito

Inferior (tradicional, de trabalho intensivo). A modernização do espaço provocado pela

globalização divide as formas de trabalho e aumenta a concorrência entre o setor não moderno

e o setor moderno nos territórios (SANTOS, 2008).

Ainda na Figura 17, podemos observar as caminhonetes responsáveis pelo fluxo de

pessoas, grande parte atraídos pela feira delmirense. Em campo, observamos o constante vai e

vem das vans, caminhonetes, ônibus entre outros transportes e “lotações” para as zonas rurais

e zonas urbanas dos municípios de Água Branca/AL, Mata Grande/AL, Inhapi/AL, Olho

d’Água do Casado/AL, Piranhas/AL, Canindé do São Francisco/SE, São José da Tapera/AL

etc.

No que se refere às lojas, serviços e mercados que estão localizados em volta das

áreas públicas administradas pela prefeitura, os diversos estabelecimentos variam entre

farmácias, supermercados, bares, lanchonete, entre outros (ver figura 17 e 18). Na figura 18

encontra-se : na imagem A, o comércio da Travessa São Francisco, com lojas de artigo para

festa, roupas, carnes, depósito fica em frente à rede de supermercados; na imagem B,

podemos observar um supermercado e uma casa lotérica, em dias de feira esses locais ficam

lotados de pessoas para compras, saques, pagamento de contas, jogar na loteria etc; na

imagem C, contém a vista parcial da Av. Jucelino Kubitschek e alguns comércios como

farmácia, bares, estúdio de tatuagem. Notamos, em dia de feira, o grande número de

caminhonetes estacionadas, utilizadas para o transporte de pessoas; na imagem D podemos

ver parcialmente a Rua Srg. Antônio Pedro, bares, depósito, cabelereiro, podem ser

observados. Nessa rua, em um dia de feira, ficam estacionados vários caminhões e

caminhonetes para carga e descarga de mercadorias. Alguns prédios comerciais estão

fechados, pois os registros fotográficos foram feitos em um domingo.

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

58

Figura 18: O comércio próximo à feira livre.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, mar 2017.

Portanto, a feira de Delmiro Gouveia ocorre semanalmente e é significativa na vida

urbana da cidade pois ela deixa de ser um fato rotineiro e assume o papel de destaque no

sábado sendo difícil de dizer se é a feira que depende da cidade ou a se é cidade depende da

feira, conforme abordou Pazera Jr. (2003) ao pesquisar feira semelhante no interior da Paraíba

– PB.

Uma vez que a feira em si atrai um grande número de pessoas, outros tipos de

comércio se organizam espacialmente para aproveitar o fluxo de mercadorias e pessoas

provocados por ela, tanto as pertencentes ao Circuito Superior, esse enquanto

competitividade, como pertencentes ao Circuito Inferior.

O espaço da feira está em crescimento, sendo construído socialmente através dos

fixos e dos fluxos. E assim, concordando com Raffestin (1993), mostra a flexibilidade das

redes no espaço, onde elas conseguem se adaptar aos desafios do espaço e também as

mudanças que o tempo traz.

A B

D C

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

59

2.3.2. Organização Espacial da Feira de Delmiro Gouveia

A feira nordestina, enquanto um espaço geográfico, envolve fluxos de pessoas,

mercadorias e de informação sendo o nó que liga áreas rurais, pequenas, médias e grandes

cidades, conforme colocou Corrêa (2011, p.103). Pessoas vindas de várias lugares são atraídas

pela feira de Delmiro Gouveia, tanto feirantes, trazendo mercadoria de várias localidades,

como compradores (como anteriormente foi informado) formando uma rede, conectando os

locais. Nesse sentido, em se tratando dos feirantes, Melo (2013, p.127) ao investigar as

origens familiares e espaciais dos feirantes de Delmiro Gouveia chegou à conclusão de que,

dos 350 feirantes entrevistados, 83,9% não nasceram no município e 41,4% não residem no

município. Quanto ao fluxo de mercadorias, Melo (2013, p.119) ao investigar os locais de

origem dos produtos constatou que 61,4% dos produtos das barracas analisadas vinham de

fora do Alto Sertão Alagoano. Podemos dizer, nesse caso, que grande parte da feira de

Delmiro Gouveia é composta por feirantes e produtos de lugares distintos.

Conforme Pazera Jr. (2003, p. 30), quanto menor o núcleo urbano da cidade maior é

a importância e a influência das feiras, influenciando as pequenas comunidades ao redor,

assumindo o papel de mercado geral, realizando todos os negócios locais, promovendo a

circulação regional dos produtos. A feira de Delmiro Gouveia se caracteriza por uma

verdadeira “festa” por suas particularidades em seus cheiros, sons e cores contidos em sua

paisagem regional. Ambulantes, feirantes, transportes, mercadorias, fregueses ao mesmo

tempo dinamizando o espaço em fixos e fluxos local-regional-global, construindo através

dessa relação socioespacial o espaço geográfico.

Em se tratando de sua organização interna, a feira de Delmiro Gouveia não possui

uma organização especifica das bancas por parte dos feirantes, mercadorias ou por tempo de

atuação dos feirantes. Por meio de negociações e conversas, os feirantes e a administração

propõem certas regras para manterem a ordem da feira e o mínimo de organização das bancas.

Nesse sentido, de acordo com nossa pesquisa, a feira de Delmiro Gouveia atualmente

se organiza espacialmente em quatro setores, de acordo com a predominância dos tipos de

mercadorias, se são pertencentes aos setores primários ou secundários e a sua localização

geográfica. Diante disso, os quatro setores da feira são: Setor A, Setor B, Setor C e Setor D

(Vide figura 19).

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

60

Figura 19: Organização Espacial por setores da feira de Delmiro Gouveia.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, abr 2017.

No mapa em que retrata a organização espacial da feira livre, também levamos em

consideração a localização dos transportes estacionados ou em áreas de embarque e

desembarque de pessoas, fregueses, e mercadorias dos feirantes. Assim como pontos de táxis

e mototáxis. Ainda na figura 19, existe um quinto setor, a feira do troca-troca. Este setor (T),

não se encontra no pátio da feira, porém faz parte de seu espaço geográfico assim como as

bancas e barracas que transbordam o pátio.

No setor A da feira, encontramos, em sua maioria, mercadorias ligadas ao setor

primário: frutas, verduras, hortaliças, condimentos, grãos, bolos e massas (vide figura 19). No

setor A, predominam as bancas de metal e possui uma área especifica para o estacionamento

de táxis. Os taxistas possuem um papel importante nos fluxos de pessoas e mercadorias: no ir

e vir das pessoas, levando mercadorias até as suas casas.

Com relação as mercadorias do setor A observamos que as bancas de frutas e

verduras, cerais e grãos são as mais numerosas e que também tais tipos de banca se espalham

por toda extensão do pátio e do entorno da feira.

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

61

Figura 20: Setor A da feira.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, abr 2017.

No setor B encontramos uma maior diversidade de produtos e de bancas. Os

produtos comercializados são DvD’s, obras de arte, artesanato, acessórios, artigos agrícolas,

acessórios em couro, bolsas de palha, gaiolas, frutas e verduras, plantas ornamentais, lanches,

bolos, massas, roupas e quinquilharias (vide figura 21). No setor B a predominância é de

bancas de madeira. Em sua extremidade podemos encontrar um ponto de mototáxistas, muito

utilizado pelos fregueses, por serem mais baratos que o serviço dos táxis, para irem da feira

para suas casas com os produtos comprados.

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

62

Figura 21: Bancas do setor B.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, abr 2017.

No setor C observamos mercadorias e serviços variados como produtos eletrônicos,

calçados e consertos. Podemos encontrar roupas, calçados, produtos em couro, frutas,

verduras, lanchonete, bolos, DvD’s, importados, bebidas alcoólicas, salão de beleza etc (vide

figura 22).

Figura 22: Bancas do setor C.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, abr 2017.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

63

No setor D a predominância é de produtos de confecções como redes, mosquiteiros,

roupas. Mas também possui calçados, acessórios, quinquilharias, concertos, panelas, bolsas,

plantas ornamentais, frutas e verduras, DVD’s, eletrônicos importados, bebidas alcoólicas

(Figura 23). Nesse setor tem outro ponto de mototáxi.

Figura 23: Bancas do setor D.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, abr 2017.

A globalização está nos nossos dias, palavras da moda, máquinas, roupas da moda,

sendo um processo que afeta a todos na mesma medida. Podemos observar no setor D, várias

roupas, bonés, bolsas, calçados que imitam grandes marcas internacionais e modelos que

estão “na moda”. A globalização se insere, nesse caso, através da imitação dos produtos onde,

de acordo com Silveira (2004, p.6), os comerciantes do Circuito Inferior munidos de

informações globalizadas, quase que instantâneas, tem uma maior possibilidade de exercer um

consumo mais “sofisticado” através da imitação de produtos “da moda”.

As características da feira que observamos que são mais marcantes são àquelas

relacionadas à grande variedade de produtos, a relação feirante e freguês, técnica de vendas,

objetos de venda, o capital reduzido e o trabalho intensivo, sendo essas últimas características

típicas do Circuito Inferior (vide quadro 1). Em variedade de produtos observamos

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

64

mercadorias que pertencem ao chamado setores primários (frutas, verduras, grãos e carnes) e

secundário (produtos industrializados como confecções, calçados, eletrônicos, relógios etc.).

A globalização está inserida nos espaços, no território e nos objetos técnicos

construídos pelos homens (SANTOS, 2009). Em relação aos objetos dos feirantes notamos

energia elétrica em algumas barracas, o uso de celulares, balança digital, sacolas, caixotes,

calculadoras, como objetos e ferramentas de trabalho. Nesse sentido, os instrumentos de

trabalho contam sobre a evolução histórica das técnicas no espaço, entre “tempos lentos e

hegemônicos” que são resultados de modernizações seletivas que ocorrem no território

(SANTOS, 2008a, p.95).

Os produtos importados e eletrônicos mostram uma ligação global-regional-local que

as redes atualmente propiciam. Em geral, esses produtos são de outros países, maioria “Made

in China”, que notamos serem mais abundantes no setor C e na “feira do troca-troca”.

O sistema de medidas utilizados pelos feirantes também são variados através de seus

instrumentos de trabalho. Alguns feirantes usam balanças e calculadoras, já outros feirantes,

sem um objeto mais técnico ou moderno usam medidas informais como: litro, ruma, copo,

saco etc. Assim, observamos que a feira de Delmiro Gouveia tem um misto de tradicional e de

objetos técnicos em seu espaço.

Portanto, atualmente não há uma separação da rede global com a rede local no

espaço, pois essa última sofre influência da rede global advinda da economia e da política que

seguem a racionalidade da globalização, conforme afirma Santos (2009, p.279). Em meio a

técnicas mais modernas, o setor tradicional sofre desvantagens quanto a isso. Porém, a feira se

reinventa para se adaptar as novas realidades do meio técnico-cientifico-informacional,

aparecendo novas normas de compras, objetos, mercadorias e tipos de fluxos que possibilitam

mudanças sócio-espaciais.

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

65

3 – REFLETINDO SOBRE REDES GEOGRÁFICAS E GLOBALIZAÇÃO A PARTIR

DA FEIRA DE DELMIRO GOUVEIA/AL: UM EXERCICIO NO ENSINO DE

GEOGRAFIA

3.1. Em direção ao ensino de geografia e ao tratamento da temática

No andar da graduação na UFAL Campus do Sertão sempre fomos orientados sobre

o importante papel do professor de Geografia. Entre as disciplinas, professores, grupos de

estudos e de pesquisas, a reflexão sobre a ação docente sempre esteve em nosso cotidiano.

Essa presença fez com que as raízes da pesquisa nascessem na licenciatura, na preocupação

relativa ao papel do professor e no desafio de passar os conteúdos geográficos da melhor

forma para os alunos.

Num primeiro momento, as disciplinas ligadas à prática pedagógica na universidade

foram Profissão Docente, Projeto Pedagógico, Organização e Gestão do Trabalho Escolar,

Planejamento, Currículo e Avaliação da Aprendizagem, Pesquisa Educacional, Metodologia

do Ensino de Geografia. Num segundo momento, a oportunidade de aprendizado ao longo das

disciplinas de Estágio Supervisionado (I,II,III,VI), que foram fundamentais para uma primeira

aproximação com as escolas de Delmiro Gouveia –AL e de Paulo Afonso –BA e, também,

com o exercício da docência em Geografia, ajudaram a definir o tema relacionando Geografia

Humana e o Ensino de Geografia nas escolas.

Por outro lado, através do PIBID, conseguimos ter a acesso a relevantes experiências

formativas enquanto professores-pesquisadores. Os projetos e ações do PIBID, orientados

pelos professores Kleber Costa da Silva e José Alegnoberto Leite Fechine, ambos da UFAL,

Campus do Sertão, aprofundaram as nossas leituras sobre aspectos teóricos centrais ao

entendimento do processo de ensino e de aprendizagem e no encontro com a realidade local

em Delmiro Gouveia, sobretudo no que diz respeito ao cotidiano das escolas.

Enfrentar os desafios da docência e da formação em licenciatura, portanto, com base

nessas aproximações teóricas e nos exercícios práticos no ambiente escolar e no campo

empírico de observação geográfica, no caso a feira, permitiu o encontro com o tema deste

trabalho de modo natural. Isso obviamente se somou à curiosidade intelectual acumulada ao

longo do curso de graduação e ao enfrentamento de uma temática entendida como

fundamental para a compreensão da cidade, da região e do modo como ensaiamos geografia

nos dias de hoje.

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

66

De todo modo, como vimos nos capítulos anteriores, o espaço geográfico, entendido

como um conjunto indissociável de fixos e fluxos, organizados socialmente, é uma dimensão

cara à Geografia Humana atual. Nesse sentido, passa o ensino de Geografia a ser

oportunidade de pensar o modo como a sociedade se define e se consolida enquanto espaço

geográfico em estrutura e em movimento. A feira de Delmiro Gouveia, nesse campo de

reflexões, se apresenta como um espaço importante para a cidade, exercendo uma

centralidade local-regional diante dos movimentos que moldam a vida social local e articulam

a cidade com mundo capitalista.

Mas também passa a ser a feira um lugar que oportuniza a reflexão sobre o ensino de

Geografia. Conforme aborda Callai, “(...) ensinar Geografia é dar aos alunos as informações

necessárias sobre o mundo em que ele vive, para que possa conhecê-lo e exercitar sua

cidadania” (CALLAI, 1995, p.66). É compartilhando o conhecimento sobre os aspectos da

vida social e do modo como a sociedade em si mesma se relaciona com o espaço que o

professor permite o conhecimento dos aspectos geográficos dos lugares e possibilita que os

alunos atuem de maneira crítica em relação ao meio de interação social cotidiana.

Uma forma, portanto, de promover e exercitar tais ações orientadas ao

desvendamento das relações entre pessoas e lugares, e entre lugares e outras escalas da vida

social, de amplitude regional e global, é contar com o apoio das noções de globalização e de

redes geográficas. Tais noções permitem que os alunos possam pensar o lugar de morada e

vivência imediatas com conteúdos e sentidos provindos de outros lugares, abrangidos então

pelo movimento global da cultura e da economia capitalista.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (2000):

É necessário ter clareza que a globalização é um fenômeno decorrente da

implementação de novas tecnologias de comunicação e informação, isto é, de novas

redes técnicas, que permitem a circulação de idéias, mensagens, pessoas e

mercadorias num ritmo acelerado, e que acabaram por criar a interconexão entre os

lugares em tempo simultâneo (p.33)

O valor disso está, justamente, para esta nossa proposta de trabalho acadêmico, em

dar clareza ao fenômeno da globalização e das redes geográficas através da observação e da

análise da feira livre de Delmiro Gouveia, através de um olhar crítico com a ajuda de alunos

de uma escola pública local. O foco no trabalho de campo, é importante enfatizar, se alia aos

escritos teóricos, imagens, gráficos, mapas e tabelas do livro didático, a fim de ampliar a

experiência de sala de aula para o da constatação empírica de aspectos abordados na forma de

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

67

conceitos, mesmo entendendo as nossas limitações teóricas-metodológicas a uma proposta de

iniciante de pesquisa acadêmica.

No que diz respeito ao recorte temático, a feira de Delmiro Gouveia, portanto, está

inserida no cotidiano da cidade de maneira histórica, possuidora de fixos e fluxos atualizados,

com dinâmicas espaciais e relações socioeconômicas diversas. Como um importante espaço

da cidade, a feira de Delmiro Gouveia se revela como um laboratório, unindo teoria e prática,

para que os alunos compreendam o mundo pelo olhar geográfico das dinâmicas locais.

3.2. Ensinando e aprendendo sobre a feira de Delmiro Gouveia

Com base nas reflexões teórico-conceituais sobre globalização, redes e o espaço

geográfico junto à feira de Delmiro Gouveia, este trabalho foi organizado como um exercício

de apreciação teórica e de ação prática no âmbito do ensino de Geografia. Assim, o trabalho

foi dividido em duas partes com quatro momentos, a saber: A primeira parte consiste em

exposição teórica: o primeiro momento é a exposição teórica através de slides e o segundo

momento é um resumo e informações pré-trabalho de campo. A segunda parte é a parte

prática: o terceiro momento consiste no trabalho de campo de observação e aplicação de

questionários e o quarto momento é a avaliação do aprendizado.

Quadro 2: Momentos da intervenção na escola.

Primeira parte (Teórica) Segunda parte (Prática)

Momento 1: Aula teórica expositiva sobre os

conceitos: espaço geográfico, redes geográficas,

globalização e feira livre. Uso de Data-show, quadro

e imagens.

Momento 3: Trabalho de campo, sob orientação e

acompanhamento imprescindíveis do (a) docente

regente, além de autorização oficial dos pais por

escrito, para registro fotográfico e reflexão a respeito

do tema central proposto com a ajuda da modalidade

de “entrevistas/questionários” a serem aplicados

pelos alunos.

Momento 2: Aula expositiva e diálogos a respeito

dos conceitos apreendidos anteriormente (resumo).

Utilizar ferramenta pedagógica alternativa ao livro

didático (Exemplo: fotografias da internet e produção

textual breve na forma de único parágrafo).

Informações acerca do trabalho de campo (horário,

local, vestimenta, questionário, relatório, mural

geográfico).

Momento 4: Retorno à sala de aula para coleção de

fotografias na modalidade “mural geográfico” (papel

cartolina ou afim, cola e fotos impressas) a ser feito

coletivamente e a ser construído pelos alunos com a

orientação do autor do trabalho. Além disso, uma

atividade de avaliação na forma de resposta a

questões específicas na apresentação oral e de

produção de um breve relato textual (relatório) por

parte dos alunos a respeito dos conceitos e temas

trabalhados em sala de aula e constatados em campo.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, maio 2017.

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

68

Separamos em quatro momentos pois cremos que assim o objetivo será alcançado

com maior eficiência. Os alunos munidos com a teoria vista em sala poderiam compreender

os fenômenos no trabalho de campo, por meio da observação da paisagem e interação com os

agentes/atores no e do espaço geográfico. Posteriormente, analisando os dados do

questionário, poderia ser entendido de forma mais aprofundada as noções de globalização e de

redes geográficas junto à feira. Por último, na apresentação oral, o relato sobre as suas

experiências no projeto como um todo e uma reflexão com um olhar geográfico sobre a feira

serão tratados como avaliação da aprendizagem.

Para a realização da primeira parte foi necessário um levantamento bibliográfico

específico para os alunos do ensino médio. A escola onde foram realizadas as ações, no qual é

contemplada com o projeto PIBID de Geografia da UFAL, Campus do Sertão, é o Colégio

Estadual Watson Clementino de Gusmão Silva, e a turma foi o 2º ano, turma B, sob a

supervisão da professora de Geografia Renilda Leonardo.

As bibliografias utilizadas para a aula teórica-expositiva contaram com autores que

dissertam sobre os conceitos de espaço geográfico, globalização, redes geográficas e feira. Os

autores foram: a) espaço geográfico: Santos (2009), Rodrigues (2008) e Corrêa (2011b); b)

redes geográficas: Corrêa (2011;2011a), Dias (2011b) e Santos (2009); c) globalização:

Santos (2009), Bauman (1999), Santos (2011) entre outros; e d) feira: Dantas (2007), Firmino

(2016), Pazera JR (2013), entre outros autores.

O primeiro momento, aula expositiva com slides, ocorreu no dia 15 de maio de 2017,

durante o turno da tarde, na turma do 2 ano “B” integral. Nessa aula, através do projetor

multimídia foram apresentados os conceitos fundamentais. Em seguida foram debatidos e

exemplificados com imagens antigas e novas da feira de Delmiro Gouveia. Ao longo dos

conceitos e das imagens apresentados, os alunos eram instigados a debater a respeito do tema

e das imagens, sobre a importância da feira, como ela era anteriormente e como ela

transformou-se historicamente. Durante a aula teórica, que durou duas horas/aulas (1 hora e

40 minutos), focamos nos seguintes objetivos específicos:

a) Elucidar os conceitos basilares da geografia como espaço, redes e globalização;

b) Esclarecer como a geografia está ligada à compreensão da feira livre.

Para essas atividades foram feitos vários questionamentos no intuito de provocar um

debate: Qual a importância de se estudar geografia? Qual o objeto e objetivo da geografia?

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

69

Como a geografia ajuda na compreensão do mundo? Você conhece a feira livre da sua

cidade? Você reconhece os impactos da feira livre para a cidade de Delmiro Gouveia e

região? Como é possível estudar geografia a partir da feira livre? Os registos fotográficos do

passado, usados então como complementos ao debate de sala de aula, permitiram revelar

algumas das transformações da feira ao longo do tempo, sua composição espacial, o comércio

ao redor, os produtos e também, através de mapas, a organização espacial da feira nos dias

atuais.

Figura 24: Aula teórica realizada no dia 15/05/2017

Autor(a): Renilda Leonardo Firmino, maio 2017

A aula, portanto, começou com a exposição teórica sobre o espaço geográfico

enquanto categoria base para nosso objeto de estudo. O espaço geográfico é formado pela

relação da sociedade com espaço, produzindo vários fenômenos como as redes geográficas e

o meio técnico-cientifico-informacional. O espaço geográfico, desse modo, está em constante

dinâmica, se transformando ao longo do tempo.

Explicamos que as redes geográficas fazem parte de nosso cotidiano: contido nos

fluxos de mercadorias, nos fluxos de pessoas e informações conectando os lugares. De forma

didática, refletimos sobre o fato de que as coisas de nosso cotidiano vêm de várias

localidades: roupas, alimentos, eletrônicos e até o dinheiro. Através dos escritos de Bauman

(1999) foi explicado que a globalização está em nossas vidas, nas marcas das grandes

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

70

empresas, nos objetos técnicos que utilizamos e que a globalização está cada vez mais

inserida nos espaços tracionais, como exemplo a feira.

Antes de finalizar a aula teórica, propomos um resumo da aula (o que consiste no

segundo momento), para um “reforço” em forma de diálogo com os alunos e para que os

alunos fizessem suas anotações para o relatório.

Os alunos foram divididos em equipes para a entrega dos questionários. Foram

quatro equipes, cada uma ficaria responsável por um setor da feira, conforme a figura 19.

Posteriormente foi marcado, juntamente com os estudantes, o ponto de encontro para o

trabalho de campo, sob supervisão da professora da disciplina. Os alunos levaram para casa

um documento, informando o dia, horário e motivo do trabalho de campo, para os

responsáveis assinarem e permitirem a ida do aluno.

Essa divisão de equipes por setores da feira foi feita para que cada equipe

entrevistasse feirantes que vendessem produtos diversificados, para termos impressões mais

aproximadas da origem dos produtos. E, desse modo, também serviu como como estratégia de

organização para o trabalho de campo.

Para a realização do terceiro momento, o trabalho de campo, organizamos o inicio

dos trabalhos na área onde se situava a antiga feira de Delmiro Gouveia durante as décadas de

1920 até a década de 1970, ou seja, próximo ao calçadão, no coreto, centro da cidade, às 7:00

horas da manhã. Os objetivos específicos desta etapa foram:

a) Incentivar os alunos à observação crítica das paisagens e à identificação de alguns

elementos geográficos (e históricos) debatidos em sala de aula;

b) Estimular a reflexão dos alunos sobre os espaços da cidade e de seu cotidiano,

além da ligação da feira com a região e o mundo por meio da constatação da oferta de

comércio e de serviços.

Prosseguimos com o trabalho de campo, explicamos e ressaltamos a importância da

história da feira e do mercado público, além de tratarmos de como eram os meios de

transporte, como as pessoas transportavam as suas mercadorias, através da estrada de ferro

Paulo Afonso, carroças de tração animal, entre outros. Nesse momento, os alunos fizeram

algumas perguntas que foram respondidas e, posteriormente, seguimos para a feira onde seria

realizado mais uma exposição.

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

71

Ao longo do trajeto realizado na feira, foram feitos breves intervalos para o diálogo a

respeito de algumas noções tratadas em sala de aula, relacionando os conteúdos às paisagens

observadas, especialmente no que diz respeito à compreensão da feira e à sua dinâmica

através dos fluxos locais-regionais-globais. Os alunos também foram instruídos a como

aplicar o questionário junto aos feirantes e como entender os conceitos no âmbito da

apreciação empírica. Nesse sentido, o exercício ocorreu como momento fundamental para

aliar teoria e prática pedagógica, tanto do ponto de vista de nossa formação em graduação

quando da reflexão a respeito do aprimoramento do aprendizado dos próprios alunos.

Figura 25: Aula e instruções no trabalho de campo em frente à feira no dia 20/05/2017.

Autor (a): Renilda,Leonardo Firmino, maio 2017

Os alunos ainda foram instruídos para a observação da paisagem: puderam observar

a dinâmica da feira, o ir e vir dos carros, caminhonetes, caminhões, mototáxis, táxis,

compradores, a predominância de produtos por setor, a organização espacial da feira, as

mercadorias, objetos técnicos e não técnicos utilizados para negociação, entre outros. Em

relato, a professora Renilda Leornardo comentou o seguinte: “eu nunca tinha viso a feira por

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

72

essa perspectiva. Estar aqui, depois de ter visto a aula, é muito diferente. Amplia a nossa visão

sobre a cidade, como comprador e consumidor”.

A observação crítica da paisagem, neste caso, é um exercício para compreender a

feira. Pode ser interpretada à luz da geografia e, consequentemente, qual o significado e

relevância da própria feira ao cotidiano da cidade e aos alunos. Enquanto alguns alunos

aplicavam os questionários, outros faziam registros fotográficos e anotações.

Com os questionários semiestruturados em mãos, as equipes seguiram para os seus

respectivos setores da feira (B, C, D). Os alunos durante a aplicação dos questionários

estavam sob constante supervisão, para sanar as dúvidas ou auxilia-los no que fosse

necessário. A aplicação dos questionários teve início às 8:15h da manhã, sendo finalizada às

9:20h.

Figura 26 : Aluna aplicando questionário à uma feirante na feira de Delmiro Gouveia – AL.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, maio 2017.

Os questionários foram elaborados com perguntas a respeito dos fluxos de

mercadorias e de pessoas (feirantes) sobre as ferramentas de trabalho dos feirantes, tempo de

trabalho, tipos de transporte utilizado, localização espacial na feira, formas de pagamento que

aceitava, se trabalha em outras feiras (vide anexo).

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

73

Figura 27: Aluna aplicando questionário à uma feirante na feira de Delmiro Gouveia – AL.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, maio 2017

Ao terminarmos de aplicar os questionários, fazer os registros fotográficos e a

observação da paisagem da feira, foram feitas explicações finais e os alunos relataram as suas

experiências. Nesse momento, reforçamos o valor das anotações (para o relatório) das

imagens (para o mural) e dos questionários (para a compreensão geográfica da feira).

O quarto momento ocorreu no dia 29 de maio 2017. Esse momento é tido como

fundamental para discutirmos as experiências vivenciadas pelos alunos, assim, também, como

uma avaliação de sua aprendizagem. Fizemos, primeiramente, junto com os alunos em sala de

aula, uma análise dos questionários. As equipes começaram a confeccionar os “murais

geográficos” e os relatórios, com as fotos que tiraram no campo, gráficos, informações

retiradas da análise do questionário e da observação da paisagem. Realizamos, em seguida,

uma exposição oral por parte dos alunos, relatando suas experiências vivenciadas no trabalho

de campo, além da descrição dos conceitos relacionados ao observado.

Ao todo foram aplicados pelos alunos 54 questionários direcionados aos feirantes.

Tais questionários serviram para os alunos terem uma visão prévia e mais didática sobre as

redes geográficas e a globalização. Através da análise dos dados dos questionários pudemos

entender melhor como a feira de Delmiro Gouveia interage com as outras regiões e como está

inserida no processo de globalização.

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

74

A avaliação da aprendizagem dos alunos foi planejada juntamente com a professora

de Geografia da turma, Renilda Leonardo. Os temas – globalizações e as redes geográficas –

já estavam sendo abordados em sala de aula, mas somente através do livro didático, o que

permitiu que realizássemos o exercício de leitura alternativa para além do ditado nas

propostas do livro com ingredientes da localidade. A professora Renilda Leonardo sugeriu

que, como uma das formas de avaliação, os alunos fizessem um relatório de campo para a

atribuição de notas. Nos relatórios escritos continham:

a) Relato sobre fala dos professores, tanto sobre a história da feira como também

sobre o espaço físico da feira;

b) Relato de experiência e descrição do observado embasado na aula teórica.

Sobre a avaliação da apresentação oral, planejamos com os alunos a construção de

um “mural geográfico” por meio de ação em grupo e exposição oral. O mural geográfico

representou um quadro coletivo que reuniu os resultados de observação, de registro

fotográfico e de narrativas encontradas ao longo de todo o tratamento do tema na feira,

seguido de uma breve discussão com a participação de todos os envolvidos. Na apresentação

com o “mural geográfico”, avaliamos os seguintes pontos:

a) Como os alunos trataram o histórico da feira (início na vila da Pedra, mudanças

de áreas);

b) A apresentação dos gráficos e das imagens do “mural geográfico” pelos alunos;

c) A análise crítica sobre globalização e das redes geográficas na feira de Delmiro

Gouveia.

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

75

Figura 28: Alunos Confeccionando os “Murais Geográficos”, em 29/05/2017.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, maio 2017.

No relato textual os alunos demostraram terem compreendido o que foi passado em

sala de aula. Fizeram toda uma abordagem histórica, compararam a feira da Pedra com a feira

de Delmiro Gouveia (atualmente), conforme foi abordado em sala de aula. Relataram ainda

suas experiências, como a equipe N.1 que contaram: “como vimos em sala de aula, a feira é

muito importante pra cidade. As pessoas tiram o seu sustento de lá para a sua família”. Em

outro trecho, os alunos expuseram os desafios do trabalho de campo: “ Alguns feirantes não

quiseram responder as perguntas. Eles pensavam que estávamos fiscalizando a sua barraca e

seus produtos”.

Ainda no relato textual foi possível identificar a descrição da feira com base no que

foi explicado em sala de aula. Os alunos da equipe N.2 relataram, a respeito das redes

geográficas da feira, que “ A feira é um lugar muito amplo onde podemos encontrar de tudo e

de vários lugares. Pessoas vêm para comprar e os feirantes trazem mercadorias de várias

cidades para vender aqui” e também “as mercadorias vêm de várias cidades, Caruaru,

Arapiraca, São Paulo, por meio de redes geográficas”. A respeito da globalização descrevem

que “os objetos tecnológicos são usados pelos feirantes para vender com mais facilidade. Eles

também vendem roupas que imitam marcas para venderem mais ”.

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

76

Figura 29: Aluno construindo o relatório de Campo, em 29/05/2017.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, maio 2017

Na apresentação oral, os alunos começaram explanando sobre a história da feira:

onde ela se encontrava e como ela acabou sendo transferida para o Bairro Eldorado.

Posteriormente, eles descreveram as fotos e os gráficos no “mural geográfico”, demonstrando

surpresa com os resultados, pois não sabiam que a feira de Delmiro Gouveia tinha produtos de

muitos lugares diferentes. Também demostraram conhecimento sobre a organização espacial

ao afirmarem que o espaço da feira estava se transformando atualmente e que está se

ampliando.

Ao descreverem as imagens do “mural geográfico”, os alunos apontavam para as

imagens, que mostravam a feira, relatando sobre o que as bancas vendiam, em que local se

encontravam e que os produtos vinham de outra cidade. Ao apontarem para as fotos, eles se

recordavam do momento do registro fotográfico e relatavam suas experiências. Os estudantes

ainda disseram que, ao aplicar os questionários, haviam algumas interrupções por causa dos

fregueses que conversavam com os feirantes negociando o valor da mercadoria.

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

77

Figura 30: Alunos apresentando e discutindo sobre globalização e redes geográficas na feira

de Delmiro Gouveia em 29/05/2017.

Autor: Emerson Lopes dos Santos, maio 2017.

Sobre a interpretação dos gráficos, os alunos relataram, a respeito dos feirantes que

moravam em outras cidades e que também atuavam em outras feiras. Desse modo, de acordo

com a explicação dos alunos, a feira de Delmiro Gouveia, em grande parte, é composta por

feirantes de outras localidades. Outro ponto, sobre os fluxos de mercadorias, os alunos

relataram que os produtos vendidos na feira vinham de diversos lugares e que formavam uma

“rede regional” onde o “nó” é a feira de Delmiro Gouveia.

No gráfico e no mapa a seguir, produzidos com e a partir dos questionários aplicados

pelos alunos, sintetizamos algumas informações que retratam o meio de transporte dos

feirantes e a origem das mercadorias de diversas localidades da região.

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

78

Figura 31: Gráfico dos tipos de veículos usados pelos feirantes para o transporte de

mercadorias.

Autor: Emerson Lopes dos Santos e dados dos alunos do 2 “B” da Escola Watson Clementino de Gusmão Silva,

maio 2017.

Figura 32: Mapa das origens das mercadorias comercializadas na feira de Delmiro Gouveia –

AL.

Autor: Emerson Lopes dos Santos e dados alunos do 2 “B” da Escola Watson Clementino de Gusmão Silva,

maio 2017.

30

10

2

5

2 23

0

5

10

15

20

25

30

35

Carro Caminhonete Carroça deBurro

Carrinho deMão

Ônibus Moto Outros

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

79

De acordo com os dados da pergunta “Qual o meio de transporte de mercadorias

utilizado pelo senhor (Sra.)? ” do questionário, o Gráfico 1 mostra os tipos de transporte

utilizados pelos feirantes. O mais utilizado é o carro próprio, para o transporte pessoal e

também para o transporte de mercadorias. O segundo mais utilizado é o de caminhonetes ou

“D-20”. Os classificados como outros são bicicletas, “carregar nas mãos” e van.

Na figura 31, produzido por meio das perguntas “Quais os produtos você

comercializa? ” e “Qual a origem da mercadoria?”, podemos observar as origens de algumas

mercadorias da feira de Delmiro Gouveia. Os fluxos de mercadoria de maior intensidade vêm

da cidade de Caruaru – PE, principalmente de calçados, produtos têxteis (roupas, confecções),

mas também possui uma grande quantidade de importados (geralmente brinquedos) e

eletrônicos (rádios, celulares, lanternas, brinquedos etc) advindos dessa cidade pernambucana.

Outros produtos, como os alimentos industrializados, CD’s DvD’s, em sua maioria, vêm de

Arapiraca-AL e Itabaiana –SE. Os fluxos de mercadorias de menor intensidade são os de

produtos importados advindos de São Paulo –SP.

Se tratando de outras mercadorias (frutas, verduras, bolos, massas, queijos, doces

etc.) são advindas de localidades próximas como a zona rural de Delmiro Gouveia – AL,

Água Branca – AL, Canindé do São Francisco – SE, Pariconha – AL etc.

A compra ou obtenção das mercadorias, em sua maioria é comprada de

intermediários (49%). Posteriormente, 31% dos entrevistados responderam que compra direto

do fabricante/ produtor e 20% responderam que eles mesmo produzem ou fabricam/

produzem as mercadorias (frutas, verduras, condimentos, bolos, massas, lanches etc.).

Podemos verificar a espacialização da rede de mercadorias da feira de Delmiro

Gouveia que liga, principalmente, várias cidades nordestinas através de meios de transporte

como carros, caminhonetes, caminhões etc.

Ainda sobre a descrição dos gráficos, as equipes dos alunos apontaram para o tema

da globalização, identificaram produtos que são “imitações” dos originais (roupas, CD’s e

DvD’s) sendo comercializados e objetos técnicos-informacionais (máquina de cartão de

crédito, celulares) utilizados pelos feirantes como ferramenta de venda. Com base nas

imagens dos alunos, várias barracas com produtos importados “Made in China”, eletrônicos

foram descritos.

Sabemos, pois, que as redes geográficas estão no espaço e também nos objetos

técnicos construídos pelos homens, e por isso não há uma separação na prática entre as redes

locais e as redes globais atualmente.

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

80

Figura 33: Gráfico dos aparelhos usados pelos feirantes de Delmiro Gouveia – AL

Autor: Emerson Lopes dos Santos e dados dos alunos do 2 “B” da Escola Watson Clementino de Gusmão Silva,

maio 2017.

No gráfico 2 são retratados os objetos utilizados pelos feirantes. 9% dos que

responderam ao questionário utilizam máquina de cartão de crédito. Tal gráfico nos faz

refletir sobre a adaptação da feira ao mundo globalizado, ao meio técnico-científico-

informacional. Também foi constatado o uso do celular como ferramenta de trabalho,

utilizando como calculadora, contato com os fornecedores, fabricantes dos produtos e outros

feirantes por meio da internet.

A principal forma de pagamento pelos feirantes é “somente à vista”. Os que possuem

máquina de cartão de crédito não aceitam o parcelamento no cartão, apenas “à vista”. 12%

dos entrevistados falaram que aceitam o pagamento “fiado”, com clientes fixos e “de

confiança”.

Os alunos ainda explicaram que, apesar de existirem elementos da globalização na

feira de Delmiro Gouveia, as ferramentas e os produtos ditos “modernos” ainda são poucos.

Os objetos tradicionais ainda são mais utilizados pelos feirantes. Aos poucos, os objetos

modernos ganham mais presença nos locais não modernos.

Na apresentação oral, as equipes também descreveram sobre a satisfação dos

feirantes com as bancas da feira e sua localização. Alguns dos alunos falaram sobre as bancas

de metal; ou seja, os feirantes não gostavam por essas serem “pequenas demais”. Relataram

Nenhum78%

Máquina de Cartão9%

Celular11%

Balança Digital2%

Nenhum Máquina de Cartão Celular Balança Digital

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

81

ainda que os lugares que os feirantes achavam “ruim” eram aqueles onde as bancas estavam

situadas próximas ao supermercado e nas calçadas do pátio da feira.

Figura 34: Gráfico da satisfação dos feirantes com o local da banca na feira de Delmiro

Gouveia - AL

Autor: Emerson Lopes dos Santos e dados dos alunos do 2 “B” da Escola Watson Clementino de Gusmão Silva,

maio 2017.

O gráfico 3 demonstra a insatisfação dos feirantes com a localização de suas bancas.

Os que consideram as localizações das bancas “regular” ou “ruim” são as que ficam próximo

ao supermercado, pois este acaba desviando o fluxo de pessoas. Outras bancas de localização

“ruim” e “regular” são as que estão próximas às calçadas da feira, pois não possuem uma boa

organização para fins de acessibilidade.

Podemos observar também que a feira de Delmiro Gouveia começa antes mesmo do

sol nascer. Os feirantes entrevistaram responderam, que levam em média 1:30 horas para

chegarem na feira. Em sua maioria, começam a montar as suas bancas às 4:00 horas e

terminam a feira às 13:00 horas.

Grande parte dos feirantes também frequentam outras feiras como forma de

complementar a renda. A maior parte dos feirantes que atuam em outras feiras comercializam

nas feiras de Paulo Afonso – BA, Água Branca- AL, Olho d’Água das Flores – AL etc. Isso

pode indicar um mercado que flutua segundo uma agenda regional de feiras, portanto,

Ruim17%

Regular39%

Boa35%

Ótima9%

Ruim Regular Boa Ótima

Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

82

mercado periódicos que buscam atender a uma demanda de localidades com produtos que

transcendem as próprias cidades.

Figura 35: Gráfico dos feirantes de Delmiro Gouveia – AL que também trabalham em outras

feiras.

Autor: Emerson Lopes dos Santos e dados dos alunos do 2 “B” da Escola Watson Clementino de Gusmão Silva,

maio 2017.

Após as apresentações, foram feitas algumas perguntas para estimular um debate

entre e com os alunos. Algumas das perguntas foram: o que são redes geográficas e

globalização? O que você pensa sobre a feira de Delmiro Gouveia? Como a globalização está

inserida na feira de Delmiro Gouveia? Como as redes geográficas influenciam na promoção

da feira de Delmiro Gouveia? Quais problemas que você viu na feira?

Os alunos, respondendo as indagações feitas, disseram que “A feira é importante

porque traz vida para a nossa cidade”, “A feira é um centro comercial que traz benefícios pra

economia de Delmiro Gouveia”, “As redes geográficas influenciam a feira através dos

feirantes que vêm de outros lugares, que trazem mercadorias e atrai compradores”, “A

globalização está no nosso dia-a-dia, até quando compramos na feira. Os feirantes usam

objetos da globalização para comprar e vender os produtos pra gente”, “Os lugares de

algumas bancas são ruim para os negócios”, “Os feirantes reclamam da administração e que o

espaço é apertado”, “A globalização está presente em tudo” etc.

Sim41%

Não59%

Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

83

Assim, é possível concluir que os objetivos das aulas foram alcançados, ao menos

como exercícios, repetimos, de apreciação de conceitos e de constatação empírica, propósito

inicial e fundamental a este nosso trabalho. Os alunos conseguiram tratar, de forma crítica, os

conteúdos, além de pesquisar, analisar, interpretar os dados e expor oralmente o resultado da

experiência.

Os alunos refletiram sobre a globalização e seus impactos na feira de Delmiro

Gouveia, a inserção dos objetos técnicos nesse espaço tradicional, mostrando que a

globalização é um processo que atinge todos os lugares. Sobre as redes geográficas, puderam

relatar que a feira de Delmiro Gouveia é um nó em meio a uma rede de fluxos de mercadorias

e de pessoas e que é um centro regional de comércio.

Nesse processo de iniciação à docência, de exercício de investigação, reflexão e

produção do conhecimento juntamente com os alunos do 2 “B” da Escola Watson Clementino

de Gusmão Silva, conseguimos compreender um pouco da geografia da feira de Delmiro

Gouveia, principalmente no momento em que se torna um espaço articulado a um sistema

global de intercâmbios. O olhar crítico dos alunos aliou-se ao nosso, tanto como futuros

docentes quando como pesquisadores que se dedicam a compreender os sentidos

aparentemente “invisíveis” que determinam os movimentos da realidade social no espaço das

pequenas cidades atualmente.

Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

84

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base no exposto, queremos ressaltar que a realização deste trabalho significa

um exercício acadêmico de leitura teórica, de observação de paisagens, de mapeamento e de

tratamento de um tema complexo – a globalização, as redes geográficas e a feira popular de

Delmiro Gouveia-AL – com a vivência da prática do ensino de geografia numa escola local.

No primeiro capítulo, tal como apresentamos, nos aproximamos de algumas

referências teórico-conceituais em torno das noções de espaço geográfico, de redes

geográficas, de globalização e de meio técnico-cientifico- informacional, além dos circuitos

da economia urbana e das concepções de feira. Vimos que o espaço geográfico é formado por

fixos (objetos) e fluxos (ações) bem como apresenta um papel dinâmico conforme o

movimento mesmo da história e da sociedade. As redes se mostram como teias que contém

fluxos que conectam os lugares, uma vez que dão dinâmica e modificam o espaço geográfico.

A globalização está presente em todos os lugares e sua forma espacial é o meio técnico-

cientifico-informacional; ela também modifica o espaço por meio da técnica e da informação.

Os circuitos da economia urbana dividem os territórios entre o setor tradicional e o setor

moderno e, no entanto, se articulam estes mesmos setores em direção à modernização

capitalista. As feiras são pilares econômicos principalmente para as pequenas cidades, pois,

são centros econômicos regionais, mas também usufruindo de objetos técnicos para se

adaptarem a essa era de intensificação da globalização.

No capítulo seguinte, partimos para uma abordagem histórica, para entendermos a

feira de Delmiro Gouveia até refletimos sobre a sua conjectura atual. A feira de Delmiro

Gouveia -AL, tipicamente nordestina e sertaneja, surgiu no povoado Pedra nas margens da

estrada de ferro Paulo Afonso que ligava Piranhas –AL a Jatobá –PE. Sua ligação ao

município de Água Branca -AL era de dependência, até a chegada do empresário Delmiro

Gouveia, que veio ao povoado implantar um núcleo fabril de produtos têxteis, a Fábrica da

Pedra. A feira passou a fazer parte do comercio do povoado, onde ocorria na principal rua.

Depois da emancipação política do povoado em 1952, que passou a se chamar Delmiro

Gouveia –AL, a feira passou por outras mudanças de localização: ganhando um mercado

público e posteriormente, devido ao seu crescimento, realocada para um pátio especifico no

bairro Eldorado com outro Mercado Público (maior).

Ainda se tratando do segundo capítulo, fizemos uma análise/ reflexão acerca da feira

de Delmiro Gouveia e sua organização sócio-espacial atualmente. Através de pesquisa de

campo, obtenção de dados etc., observamos a feira e sua organização em quatro setores.

Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

85

Notamos também a expansão que a mesma vem sofrendo, ocupando outros lugares e

fechando ruas. Pudemos relacionar a teoria dos dois circuitos da economia urbana, na qual a

feira se caracteriza como um circuito inferior. A feira de Delmiro Gouveia se mostrou

dinâmica em relação aos fluxos de mercadorias e pessoas, ligação local-regional, sendo

importante promotora da dinâmica comercial da cidade.

E, enquanto exercício de ensino de Geografia, para o terceiro capítulo, foi possível

desenvolvermos atividades de ensino e pesquisa com os alunos de uma escola da rede pública

de ensino da cidade de Delmiro Gouveia, trazendo como tema a globalização, as redes

geográficas na feira de Delmiro Gouveia. Através dessa prática pedagógica, os alunos

passaram a compreender melhor o espaço de sua cidade e sua relação com o mundo.

O aporte teórico desenvolvido no primeiro capítulo serviu como a base desse

trabalho. Pudemos nos nortear, através da escolha bibliográfica, em autores relevantes para

entendermos o objeto de estudo segundo a ótica da Geografia. Assim, pôde-se entender na

prática de campo, tanto individualmente como com os alunos do ensino médio, através de

observação e reflexões, a feira de Delmiro Gouveia (referente à globalização e as redes

geográficas). Por sua vez, o processo metodológico desenvolvido permitiu que, através de

observações de paisagens, pudéssemos construir mapas de setorizações, localização, e de

fluxos de mercadorias. Também nos levou, através de uma participação in loco, a uma

vivência na escola para o exercício da prática docente. Os alunos, munidos de conhecimentos

teóricos e questionários, puderam contribuir para a análise da feira de Delmiro Gouveia,

relatada neste trabalho.

No entanto, a título de considerações finais, é necessário afirmar que, ainda quanto à

prática do ensino de Geografia, este trabalho se soma à nossa formação de licenciatura em

Geografia, pelos seguintes motivos:

a) A aproximação teórica nos possibilitou o amadurecimento da pesquisa sobre

conceitos e noções fundamentais à pesquisa científica e à iniciação à docência.

Constatamos que qualquer e toda ação de ensino pode e deve ser gerida por

aportes teóricos sem os quais será incompleta diante da complexidade da

realidade empírica;

b) O contato com questões de história da cidade e especialmente da feira nos

ensinou que a cidade resulta de um percurso histórico dentro de contexto

Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

86

capitalista. A visão de tal percurso é motivadora à constatação de traços do

passado na composição dos espaços do presente;

c) A prática da pesquisa teórico-bibliográfica, nesse sentido, e o encontro com

dados, informações e fontes historiográficas nos permitiu pensar a iniciação à

pesquisa como uma atividade que exige empenho, sobretudo do ponto de vista de

amadurecimento metodológico;

d) A vivência junto à escola promoveu a reflexão sobre nossa sensibilidade e o

sentido mesmo de nossa prática docente, escarando a escola como oportunidade

de crescimento intelectual, cultural e acadêmico – vemos hoje a escola como

espaço relevante para a licenciatura em Geografia;

e) A prática pedagógica efetiva, ou seja, a atuação junto aos alunos, nos ensinou

também que as interpretações e diálogos com os agentes e atores que promovem

diretamente a ação no e sobre o espaço geográfico – no caso, os feirantes – é um

forte indicativo das dinâmicas dos lugares no contexto do capitalismo.

Tais motivos, portanto, são humildes reflexões sobre a nossa atuação em direção à

concretização deste Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em Geografia.

Reconhecemos, de todo modo, que não temos respostas definitivas e absolutas às questões

sugeridas inicialmente, mas trazemos as rápidas e iniciantes reflexões como possibilidades de

amadurecimento pessoal e acadêmico para o futuro. Pensar e praticar o ensino foi uma

experiência sobretudo de crescimento enquanto pesquisador, professor e enquanto observador

das diversas faces espaciais do Sertão de Alagoas.

Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

87

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Manuel Correia de. A terra e o homem no Nordeste: contribuição ao estudo da

questão agrária no Nordeste. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2005. 334p.

AZEVEDO, Sérgio Luiz Malta de. Geografia histórica no contexto tradicional das primeiras

iniciativas industriais da região de Paulo Afonso-BA. Rios Eletrônica – FASETE, Paulo

Afonso-BA, ano 5 Nº5, pg.99- 114, dezembro de 2011.

BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Rio de janeiro/RJ: Zahar,

1999. 148p.

BOECHAT, Patrícia T. V; SANTOS, J. L. Feira Livre: Dinâmicas espaciais e relações

identitárias. X Semana de Geografia da UESB. Vitória da Conquista/BA, 1-11, agosto de

2011.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros

Curriculares Nacionais Ensino Médio: parte VI: Ciências Humanas e suas Tecnologias.

Brasília, DF: MEC/SEMT, 2000. p.75

CALLAI, H. C. Geografia: Um certo espaço, uma certa aprendizagem. 1995. 280f. Tese

(Doutorado em Geografia). Universidade de São Paulo – USP. São Paulo. 1995.

CORRÊA, Roberto Lobato. Trajetórias geográficas. 6.ed. Rio de Janeiro/RJ: Bertrand

Brasil, 2011. 302p.

_________, Roberto Lobato. Redes geográficas: reflexões sobre um tema persistente.

Cidades, São Paulo/SP, vol.9, nº6, p. 200-218, jun. de 2011a.

CORREIA, Telma de Barros. PEDRA: plano e cotidiano operário no Sertão. Campinas/SP:

Papirus, 1998.320p.

COSTA, Fabio Rodrigues da. O conceito de espaço em Milton Santos e David Harvey: Uma

primeira aproximação. Revista Percurso. Maringá, v.6, n.1, p.63-79, 2014.

DANTAS, Geovany Pachelly G. Feira livre de Macaíba/RN: um estudo das modificações

na dinâmica socioespacial (1960/206). 2007. 202f. Dissertação (Mestrado em Geografia) –

UFRN, 2007.

Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

88

DIAS, Leila Chistina. Redes: Emergência e Organização. In: CASTRO, Iná Elias de;

GOMES, Paulo Cesar da Costa; CORRÊA, Roberto Lobato. Geografia: Conceitos e temas.

14.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011b.p.141-162.

FIRMINO, Paul Clívilan Santos. Arapiraca/AL e Itabaiana/SE: a feira livre como gênese e

desenvolvimento de dois centros regionais do interior do Nordeste brasileiro. 2016. 318f.

Dissertação (Mestrado em Geografia) – USP, São Paulo/SP, dezembro de 2015.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São

Paulo/SP: Paz e Terra, 1996. p.165.

FUINI, Lucas Labigalini. Globalização e seus aspectos geográficos: uma revisão

bibliográfica. Casa da Geografia de Sobral (RCGS). Sobral – CE, v.15, n.1, p.49-67, 2013.

MAYNARD, Dilton Cândido Santos. O senhor da pedra: os usos da memória de Delmiro

Gouveia (1940-1980). 2008. 190f. Tese (Doutorado em História) - UFPE, Recife/PE, 2008.

MELO, Samuel Pires. Trajetórias de proximidades, redes e feiras: as práticas de

agricultores familiares feirantes em Água Branca e Delmiro Gouveia, Alagoas. 2012. 253f.

Tese (Doutorado em Sociologia) - UFPE, Recife/PE, 2012.

NASCIMENTO, Edvaldo Francisco do. Delmiro Gouveia e o Processo Educacional

Desenvolvido no Núcleo Fabril da Pedra, no Sertão de Alagoas (1902 – 1926). 2012. 199f.

Dissertação (Mestrado em Educação) - UFAL, Maceió, mar. de 2012.

MONTENEGRO, Marina Regitz. O circuito inferior da economia urbana na cidade de

São Paulo no período da globalização. 2006. 205f. Dissertação (Mestrado em Geografia).

USP, São Paulo/SP, junho de 2006.

________. A teoria dos circuitos da economia urbana de Milton Santos: de seu surgimento à

sua atualização. Revista Geográfica Venezolana, Venezuela, vol. 53, p.147-164, outubro de

2012.

OLIVA, Jaime Tadeu. O espaço geográfico como componente social. Terra Livre, São

Paulo/SP, n 17 p. 25-48. 2º semestre/2001.

OLIVEIRA, Evelina Antunes F. de. Nos Trilhos da História do Baixo São Francisco: um

ensaio sobre a Estrada de Ferro Paulo Afonso. Revista de humanidades. CESS- Campus

Caicó, Vol.4, N.8, pg.262-281, abr./set. de 2003.

Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

89

PAZERA JR, Eduardo. A Feira de Itabaiana – PB: permanência e mudança. 2003.201f.

Tese (Doutorado em Geografia) - USP, São Paulo/SP, 2003.

PEREIRA, Luiz Andrei Gonçalves. Redes e fluxos em Geografia: uma abordagem teórica.

RTG. Araguaína/TO, nº1, ano 4, p.1-18, jan.-jul. de 2015.

RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993. 269 p.

RODRIGUES, Auro de Jesus. Geografia: Introdução à ciência geográfica. 1.ed. São

Paulo/SP: Avercamp. 2009. 150p.

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e tempo. Razão e Emoção. 4. ed. São

Paulo/SP: Editora da Universidade de São Paulo/SP: EDUSP, 2009. 384p.

______________. Pobreza urbana. 3. ed. São Paulo/SP: Edusp, 2009a.136p.

______________. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países

desenvolvidos. 3.ed São Paulo/SP: EDUSP. 2008. 440p.

______________. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência

universal. 20. ed. Rio de Janeiro/RJ: Record, 2011. 174p.

______________. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico-

informacional. 5. ed. São Paulo: EDUSP, 2008a. 174p.

______________. Da totalidade ao lugar. São Paulo/SP: EDUSP, 2005. 170p.

SILVA JUNIOR, Ednaldo Enoque; EIDT, Paulino. Globalização: as marcas da

homogeneização do mundo no universo regional. Geografares. Vitória/ES, nª13, p.160-191,

dez.2012.

SILVEIRA, MARÍA LAURA. Globalización y circuitos de la economia urbana en ciudades

brasileñas. Cuadernos del Cendes. Chile, ano 21, nº 57, p.1-22, out 2004.

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

90

VASCONCELOS, Santiago Andrade. Região, globalização e meio técnico-científico-

informacional: modernizações, horizontalidades e verticalidades na Região do Seridó

paraibano e potiguar na transição do século XX ao XXI. 2012. 258p. Tese (Doutorado em

Geografia) – UFPE, Recife/PE, março de 2012.

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

91

ANEXO

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS CAMPUS DO SERTÃO … · Lázaro. Em especial Régis, pelos esforços em tempos de pré-projeto, e Felipe, pelo apoio e trabalhos que fizemos

92

Trabalho de Campo – Questionário Feirante: Refletindo sobre Redes geográficas e Globalização a partir da

feira de Delmiro Gouveia/AL: um exercício de ensino de Geografia.

1) Quais os produtos você comercializa? ( ) Confecção ( ) Calçados ( )Produtos Industrializados ( )

CD,s, DvD’s ( ) Eletrônicos e Eletroeletrônicos ( ) Importados ( ) Ferramentas Agrícolas ( )

Frutas e Verduras

( ) Outros: Especificar ______________________________________________________________

2) Qual a origem da mercadoria?

Delmiro Gouveia/ AL ( ) Arapiraca/AL ( ) Itabaiana/ SE ( ) Água Branca/AL ( ) Caruaru/PE ( )

Maceió/AL ( ) Recife/PE ( ) Outros ( )

- Se OUTROS, quais? _______________________________________________________________

3) Em se tratando da compra ou obtenção dos produtos, como é feita?

( ) Direta do fabricante/produtor ( ) Por Intermediários ( ) Através de Trocas

( )Outros, quais? ___________________________________________________________________

4) Qual o meio de transporte de mercadorias utilizado pelo senhor (sra) ?

( ) Carro ( ) Carroça de Burro ( ) Caminhonete ( ) Carro de Mão

( ) Caminhão Outro ( ) Qual? ________________________________________________

5) Quanto tempo gasta para chegar à feira? ________________________________________________

6) Hora do início e de termino da feira? Início: _____________ Término: ______________

7) Qual a forma de pagamento que o senhor (sra) aceita?

( ) à vista (dinheiro) Fiado ( de Confiança) ( )À prazo ( no Cartão) ( )à vista( Cartão de débito)

( ) Cheque ( )Outras formas - OUTRAS FORMAS, quais? __________________________

8) Usa algum desses aparelhos nas compras ou vendas?

( ) Celular ( ) Computador ( ) Tablet ( ) Máquina de Cartão ( )Nenhum

Outros ( ) Quais? ___________________________________________________________________

9) O Senhor (a) trabalha em outras feiras? Sim ( ) Não ( )

Se SIM Quais? _____________________________________________________________________

10) Com relação à localização da sua banca, a facilitar a comercialização, o senhor considera:

Ruim ( ) Regular ( ) Boa( ) Ótima ( )

Identificação do(a) entrevistado(a):

Nome: ____________________________________________________________________________

Idade: ______ Sexo: M ( ) F ( ) Estado Civil_____________________________________________

Mora na cidade ou no povoado?

Qual Cidade_________________________________________________ Estado?________________

Qual povoado?_______________________________________________