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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE DOUTORADO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS
RUBIA DE PINA LUCHETTI CAMARGO
PRODUÇÃO E AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E
ECOTOXICOLÓGICA DE BIODIESEL ETÍLICO DE
ÓLEOS RESIDUAIS DE FRITURA
Orientador: Prof. Dr. Nelson Roberto Antoniosi Filho
GOIÂNIA - GOIÁS
2016
RUBIA DE PINA LUCHETTI CAMARGO
PRODUÇÃO E AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E
ECOTOXICOLÓGICA DE BIODIESEL ETÍLICO DE
ÓLEOS RESIDUAIS DE FRITURA
Tese apresentada a Universidade Federal de Goiás, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, para a obtenção do Título de Doutor.
Orientador: Prof. Dr. Nelson Roberto Antoniosi Filho
GOIÂNIA - GOIÁS
2016
FICHA CATALOGRÁFICA
Observação: A ficha catalográfica deverá ser feita conforme Código Anglo Americano (AACRZ) e
será solicitada à biblioteca após a defesa pública de tese.
DEDICATÓRIA
À minha razão de viver, minha filha, Maria Fernanda, e que
as ausências em vários momentos da sua vida nesses
últimos anos sejam reconhecidas como esforço necessário
para se atingir uma meta e que nunca se deve desistir de um
sonho...
Aos meus Pais, Adimir e Cinthya pelo exemplo, confiança e
apoio nos momentos mais difíceis, por acreditarem que essa
etapa era fundamental na minha vida e que, por isso, nunca
permitiram que eu desistisse.
À meu esposo, Iran Junior, que consiga entender a
importância desta conquista na vida da nossa família, apesar
de todas as dificuldades desses últimos anos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus que sempre me mostrou os caminhos a seguir e colocou anjos
maravilhosos na minha vida, sem os quais não teria conseguido.
À Nossa Senhora, que passou a frente de cada etapa, intercedendo sempre que
necessário.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Nelson Roberto Antoniosi Filho, pela confiança,
amizade, principalmente por nunca desistir de mim e nem me deixar desistir, tendo
sempre as palavras certas nos momentos mais difíceis. Obrigada por tudo!
Ao meu irmão Raphael, pelo apoio, incentivo e auxilio durante o Doutorado.
À minha comadre Soraya Bittar Haddad Cunha por sempre estar pronta para me
escutar e apoiar, nunca duvidando de que conseguiria.
A minha tia e sócia Lana Maria Pina de Faria, que soube compreender as ausências,
a falta de tempo, além do incentivo esses anos todos.
A Geralda da Silva, que me acompanhou e sempre esteve ao meu lado com muito
amor.
Às minhas colegas de laboratório, as “Lamianes”, Dayane, Adrielle, Tatiana, Kelly,
Aline e Ana Julia. Vocês foram os meus “anjos”, por estarem sempre perto em cada
momento, para me aconselhar, escutar ou simplesmente para sentar ao meu lado e
me deixar chorar sem trocarmos nenhuma palavra; só a presença de vocês era
suficiente.
Aos colegas Maíra, Lucas, Weine, Cárita, Ingrid, Elieser, Raca, Pedro, Gustavo,
Magali, Engy, Jair, Emmanuel, Viniciu, Lilian, Layon, Roger, Leonardo, Willian,
Patrícia e Marithiza, pela amizade, colaboração direta ou indireta na realização das
pesquisas deste trabalho e pelo apoio.
Às Professoras Dra Maria Isabel Ribeiro Alves, Dra Maria Inês Gonçalves Leles e
minha companheira de doutorado Aysha Jussara Ivonilde Carrim pela amizade e
apoio durante o doutorado.
À Marlene que sempre esteve presente com sua alegria e amizade.
A meus sogros, Ivone Camargo e Iran Camargo, pelo auxilio com a minha filha
durante esse período.
À Universidade Federal de Goiás (UFG) em nome de todos os professores do
Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade Federal de
Goiás (CIAMB/UFG) pelos ensinamentos e apoio;
Às bancas examinadoras de qualificação e de defesa pelas contribuições de
melhoria desta tese.
Aos colaboradores do Laboratório de Métodos de Extração e Separação do Instituto
de Química da Universidade Federal de Goiás (LAMES/IQ/UFG), que de alguma
forma me ajudaram na condução deste trabalho.
A todos os amigos e amigas que de alguma forma, com orações, carinho, incentivo,
apoiaram e me fortaleceram em todos os momentos.
Aos órgãos de apoio: CNPq, CAPES, FINEP, MCTI, FUNAPE, UFG, pela bolsa de
estudos, infraestrutura e suporte financeiro.
v
RESUMO
O processo mais comum para a produção de biodiesel é transesterificação metílica
alcalina, o que não é possível utilizando uma matéria-prima com alto índice de
acidez, como os óleos residuais de fritura (ORF), que possuem baixo custo e podem
substituir os óleos vegetais refinados na produção de biodiesel. Além disso, a troca
do álcool metílico pelo etílico, também auxilia em um biodiesel ambientalmente mais
correto. Este estudo visou a obtenção de vias de produção de biodiesel etílico de
ORF, a partir de um tratamento da matéria-prima, seguido de processos conjugados
e um controle de qualidade e ecotoxicológico. O primeiro processo conjugado
otimizado foi iniciado com uma esterificação ácida (razão molar etanol:ORF 11:1,
2,5% de concentração de H2SO4 por 4h) e posteriormente uma transesterificação
alcalina (1,5% de concentração do KOH e razão molar etanol:matéria graxa de 13:1
por 4 horas), o que permitiu a produção de um biodiesel etílico de ORF com
qualidade similar a obtida para o biodiesel de óleo de soja refinado, exceto em
relação a estabilidade oxidativa. O outro estudo, foi desenvolver as melhores
condições de obtenção de ácido graxo livre (FFA) a partir da acidificação de sabão
de ORF com o ácido fosfórico, utilizando um planejamento experimental fatorial,
obtendo melhores resultados com a percentagem em excesso do KOH de 30%, por
2h e temperatura de 90°C. Após a purificação do FFA, foi realizada uma dupla
esterificação etílica ácida, para a produção do biodiesel etílico de ORF, sendo que,
não foram encontrados estudos com essas variáveis e características. As amostras
de biodiesel etílico de ORF produzidos tiveram seus parâmetros de qualidade de
acordo com os limites mínimos exigidos, com exceção da estabilidade oxidativa, a
qual é afetada pela presença de componentes oxidados de primeira ordem
(hidroxidienos e hidroperoxidienos) e de segunda ordem (cetoperoxidienos). Para se
conhecer a toxicidade dessas amostras de biodiesel e suas misturas BX em
ambiente aquático salino ou salobro foi realizado testes ecotoxicológicos nas suas
frações solúveis utilizando como organismo-teste náuplios de Artemia salina. Pode-
se observar que quanto menor a quantidade de biodiesel e maior a quantidade de
diesel na mistura, menor é a concentração de eluato necessária para a mortandade
dos náuplios de Artemia salina.
Palavras-chave: biodiesel etílico. Processo conjugado. Ecotoxicologia
vi
ABSTRACT
The most common process for production of biodiesel is alkaline methyl
transesterification, which is not possible using a raw material with high acid content,
such as residual oils frying (ORF) that have low cost and can replace vegetable oils
refined in biodiesel production. Furthermore, the exchange of methyl alcohol in ethyl
also assists in a more environmentally correct biodiesel. This study aimed to obtain
ethyl ORF biodiesel production routes from a treatment of the raw material, followed
by conjugated processes and quality control and ecotoxicological. The first conjugate
optimized process was started with an acidic esterification (molar ratio ethanol:ORF
11:1, 2.5% concentration H2SO4 for 4 hours) and afterwards an alkaline
transesterification (1.5% strength KOH and the molar ratio ethanol:fatty matter of
13:1 for 4 hours), allowing the production of a biodiesel ethyl ORF quality similar to
that obtained for the refined soybean oil biodiesel, except for oxidative stability. The
other study was to develop the best conditions for obtaining free fatty acid (FFA) from
the ORF soap acidification with phosphoric acid, using a factorial design, obtaining
better results with the excess percentage of KOH 30% for 2h and 90°C. After
purification of FFA, a double acid ethyl esterification was carried out for the
production of biodiesel ethyl ORF, and that there are no studies with these variables
and characteristics. Samples of ethyl biodiesel ORF produced had their quality
parameters according to the required thresholds, except for oxidative stability, which
is affected by the presence of oxidized first order components (hidroxidienos and
hidroperoxidienos) and second order (cetoperoxidienos). To know the toxicity of
samples of biodiesel and mixtures BX in salt or brackish water environment was
conducted ecotoxicological tests in their soluble fractions using as nauplii test
organism Artemia salina. It can be seen that the lower the amount of biodiesel and
the greater the amount of diesel fuel in the mixture, the lower the concentration of
eluate needed for the mortality of Artemia salina nauplii.
Keywords: Ethyl biodiesel. Conjugated process. Ecotoxicology
vii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
CAPÍTULO 1
FIGURA 1 Produção e estimativa da produção mundial anual de energia.
23
FIGURA 2 Evolução da inserção do Biodiesel na matriz energética no Brasil no período de 2005 a 2019.
27
FIGURA 3 Produção de biodiesel no Brasil de 2006 a 2015. 30
FIGURA 4 Participação das regiões brasileiras na produção de biodiesel.
31
FIGURA 5 Proporção de utilização das matérias-primas graxas para a produção de biodiesel no Brasil de 2008 a 2015.
33
FIGURA 6 Cadeia da produção de ORF 36
FIGURA 7 Percentual de ORF utilizado para produção de biodiesel por região brasileira no ano de 2015
38
FIGURA 8 Logotipos de iniciativas de coleta pelo Brasil 41
FIGURA 9 Reação de craqueamento 44
FIGURA 10 Reação de esterificação 45
FIGURA 11 Reação de transesterificação etílica 46
FIGURA 12 Reação de hidrólise 51
FIGURA 13 Reação de esterificação. 51
viii
CAPITULO 2
FIGURA 1 Cromatograma do OSR (A), ORF sem tratamento (B) e ORF após o tratamento (C) obtido por HPLC-UV/DAD a 210 nm.
70
FIGURA 2 Cromatograma do OSR (A), ORF sem tratamento (B) e ORF após o tratamento (C), obtido por HPLC-UV/DAD a 235 nm.
71
FIGURA 3 Cromatograma do OSR (A), ORF sem tratamento (B) e ORF após o tratamento (C) obtido por HPLC-UV/DAD a 270 nm.
72
CAPITULO 3
FIGURA 1 Superfície de resposta para o modelo obtido pelo Planejamento Fatorial da reação de esterificação ácida de ORF.
98
FIGURA 2 Superfície de resposta para o modelo obtido a partir do planejamento fatorial da otimização da transesterificação alcalina.
102
FIGURA 3 Cromatogramas do biodiesel etílico de OSR e de ORF obtidos por HPLC-UV/DAD a 235 nm
109
FIGURA 4 Cromatogramas do biodiesel etílico de OSR (A) e de ORF (B) obtidos por HPLC-UV/DAD a 270 nm.
110
CAPITULO 4
FIGURA 1 Superfície de resposta para o modelo obtido a partir do planejamento fatorial da saponificação.
129
FIGURA 2 Cromatograma do biodiesel etílico de ORF obtido por HPLC-UV/DAD a 235 nm.
135
FIGURA 3 Cromatograma do biodiesel etílico de ORF obtido por HPLC-UV/DAD a 270 nm.
136
ix
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO 1
TABELA 1 Efeitos dos parâmetros e especificações do Biodiesel 29
TABELA 2 Comparativo entre ésteres metílicos e etílicos 42
CAPÍTULO 2
TABELA 1 Caracterização físico-química do OSR e do ORF 73
TABELA 2 Teores de elementos químicos no OSR e no ORF.
75
TABELA 3 Perfil de ácidos graxos do ORF.
76
CAPÍTULO 3
TABELA 1 Variáveis e níveis utilizados na otimização da esterificação ácida do ORF. 89
TABELA 2 Planejamento fatorial 2³ com três variáveis e dois níveis da esterificação ácida do ORF
89
TABELA 3 Variáveis e níveis utilizados na otimização da transesterificação etílica alcalina.
91
TABELA 4 Planejamento fatorial 2³ com três variáveis e dois níveis para a transesterificação etílica alcalina.
91
TABELA 5 Resultado do índice de acidez da matéria graxa após a esterificação ácida do ORF.
96
TABELA 6 Efeitos estimados do planejamento fatorial 23 e intervalo de confiança para os efeitos
97
TABELA 7 Teores de ésteres totais (TE) em função dos experimentos para produção de biodiesel via transesterificação alcalina.
100
TABELA 8 Efeitos estimados do planejamento fatorial 23 e intervalo de confiança para os efeitos
101
x
TABELA 9 Composição de ésteres etílicos de ácidos graxos do óleo de soja refinado (OSR) e do óleo e gordura de fritura residual (ORF).
104
TABELA 10 Caracterização físico-química do biodiesel etílico de ORF. 105
TABELA 11 Elementos químicos encontrados no biodiesel etílico de ORF. 108
CAPÍTULO 4
TABELA 1 Variáveis e níveis utilizados na produção do sabão de ORF 122
TABELA 2 Planejamento fatorial 2³ com três variáveis, dois níveis e três pontos centrais da produção de sabão do ORF
122
TABELA 3 Rendimento de obtenção da fase de FFA. 127
TABELA 4 Efeitos estimados do planejamento fatorial 23 e intervalo de confiança para os efeitos
128
TABELA 5 Caracterização do biodiesel etílico produzido a partir da saponificação e dupla esterificação de ORF
132
TABELA 6 Metais nos biodieseis etílicos de FFA de ORF 133
CAPÍTULO 5
TABELA 1 Especificação das amostras do eluato. 146
TABELA 2 Características de qualidade das amostras de biodiesel B1 e B2 utilizadas para a preparação dos eluatos.
149
TABELA 3 Percentual médio de mortandade ou imobilização de organismos-testes de Artemia salina nos ensaios ecotoxicológicos em diferentes concentrações dos eluatos.
149
TABELA 4 Concentração do eluato para a DL50 150
xi
LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
ABIOVE Associação Brasileira Indústrias Óleos Vegetais
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ANP Agência Nacional de Petróleo e energia
B100 Biodiesel 100%
B20 Biodiesel 20%
B7 Biodiesel 7%
BX Mistura volumétrica de X por cento de biodiesel em óleo diesel
CATI Coordenadoria de Assistência Técnica Integral
Cerbio Centro de Referência em Combustíveis
CNPE Conselho Nacional de Política Energética
CO Monóxido de carbono
CO2 Dióxido de carbono
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
DAD Detector com Arranjo de Diodos
DAG Diacilglicerídeos
DL50 Dose Letal 50
DOU Diário oficial da união
FAEE Ésteres etílicos de ácidos graxos
FAME Éster metílico de ácidos graxos
FFA Ácidos graxos livres
FSA Fração Solúvel em Água
H2SO4 Ácido sulfúrico
H3PO4 Ácido fosfórico
HCl Ácido clorídrico
IA Índice de acidez
INPI Instituto Nacional de Propriedade Industrial
INT Instituto Nacional de Tecnologia
xii
ISO International Organization for Standardization
KOH Hidróxido de potássio
LLE Extração líquido-líquido
LQ Limite de quantificação
MAG Monoacilglicerídeos
MCT Ministério de Ciência e Tecnologia
Na2SO4 Sulfato de sódio
NBR Norma brasileira
NOx Óxido de nitrogênio
ORF Óleo e gordura de fritura residual
PAH Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos
PET Politireftalato de etileno
PIB Produto interno bruto
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
PROL Programa de reciclagem de óleo de fritura
ProNEA Programa Nacional de Educação Ambiental
Sabesp Companhia de saneamento básico do estado de São Paulo
Saneago Saneamento de Goiás SA
SO2 Dióxido de enxofre
TAG Triacilglicerídeos
TE Teor de ésteres totais
UFC Universidade Federal do Ceará
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UPLC Cromatografia Líquida de Ultra Performance
USP Universidade de São Paulo
UV-Vis Ultravioleta e visível
xiii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO GERAL ............................................................................................................ 1
2.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................................................... 4
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................................ 4
3. ESTRUTURA DA TESE ............................................................................................................ 5
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ............................................................................................. 6
CAPÍTULO 1 ................................................................................................................................. 8
BIODIESEL ETÍLICO DE ÓLEOS E GORDURAS RESIDUAIS DE FRITURAS: UMA REVISÃO ................. 8
RESUMO ...................................................................................................................................... 8
ABSTRACT .................................................................................................................................... 9
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 10
2. BIODIESEL ........................................................................................................................... 11
2.1. HISTÓRICO ................................................................................................................... 11
2.2. VANTAGENS E DESVANTAGENS NA UTILIZAÇÃO DO BIODIESEL .................................................... 14
2.3. PROPRIEDADES E QUALIDADE DO BIODIESEL.......................................................................... 15
2.4. PRODUÇÃO DE BIODIESEL NO BRASIL .................................................................................. 17
3. MATÉRIAS-PRIMAS GRAXAS PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL NO BRASIL ........................ 19
3.1. ÓLEOS E GORDURAS DE FRITURA RESIDUAIS (ORF) ................................................................. 21
3.2. DEMANDA DE ORF NO MERCADO E SUA UTILIZAÇÃO NA PRODUÇÃO DE BIODIESEL....... .................. 23
3.3. LOGÍSTICA E COLETA DOS ÓLEOS E GORDURAS RESIDUAIS DE FRITURA (ORF)............ .................. 25
3.4. INICIATIVAS DE COLETA DE ORF NO BRASIL .......................................................................... 26
4. ÁLCOOIS PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL .......................................................................... 28
5. MÉTODOS PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL ........................................................................ 30
5.1. CRAQUEAMENTO ........................................................................................................... 31
5.2. ESTERIFICAÇÃO .............................................................................................................. 31
5.3. TRANSESTERIFICAÇÃO ..................................................................................................... 32
xiv
5.4. ROTA SUPERCRÍTICA ........................................................................................................ 34
5.5. CATÁLISE ENZIMÁTICA ..................................................................................................... 35
5.6. PROCESSOS CONJUGADOS ................................................................................................ 36
5.7. HIDROESTERIFICAÇÃO ..................................................................................................... 37
6. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 40
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 40
CAPÍTULO 2 ............................................................................................................................... 49
AVALIAÇÃO DA ADEQUABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE ÓLEOS E GORDURAS DE FRITURA
RESIDUAISS PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL .......................................................................... 49
RESUMO .................................................................................................................................... 49
ABSTRACT .................................................................................................................................. 50
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 51
2. PARTE EXPERIMENTAL ........................................................................................................ 52
2.1. COLETA DO ORF ............................................................................................................ 52
2.2. TRATAMENTO DO ORF .................................................................................................... 53
2.3. CARACTERIZAÇÃO DO ORF ............................................................................................... 53
2.3.1. Análise do perfil de ácidos graxos por HRGC-FID ............................................. 54
2.3.2. Análise da presença de ácidos graxos livres, mono-, di- e triacilglicerídeos e
produtos oxidados do ORF via UPLC-DAD .......................................................................... 54
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................................. 55
3.1.1. Análise por UPLC dos ácidos graxos livres, mono-, di- e triacilglicerídeos e
produtos oxidados do ORF................................................................................................. 55
3.2. CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE OSR E ORF ................................................................ 59
3.2.1. Determinação de elementos químicos no ORF ................................................ 61
3.2.2. Análise cromatográfica de ácidos graxos ......................................................... 62
4. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 65
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 65
CAPITULO 3 ............................................................................................................................... 69
xv
PRODUÇÃO DE BIODIESEL ETÍLICO DE ÓLEOS E GORDURAS DE FRITURA RESIDUAIS VIA
ESTERIFICAÇÃO ÁCIDA SEGUIDA DE TRANSESTERIFICAÇÃO ALCALINA ...................................... 69
RESUMO .................................................................................................................................... 69
ABSTRACT .................................................................................................................................. 70
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 71
2. PARTE EXPERIMENTAL ........................................................................................................ 74
2.1. OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE BIODIESEL ETÍLICO DE ORF.............. ...................... 75
2.1.1. Otimização do processo de esterificação ácida................................................ 75
2.1.2. Otimização do processo de transesterificação alcalina .................................... 77
2.2. ANÁLISE CROMATOGRÁFICA DOS ÉSTERES ETÍLICOS DE ÁCIDOS GRAXOS (FAEE).......... ................... 79
2.3. DETERMINAÇÃO DOS TEORES DE MONO-, DI- E TRIACILGLICERÍDEOS, GLICERINA LIVRE E TOTAL DO
BIODIESEL ................................................................................................................................. 80
2.4. CARACTERIZAÇÃO DO BIODIESEL ........................................................................................ 81
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................................. 82
3.1. OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE BIODIESEL ETÍLICO DE ORF.............. ...................... 82
3.1.1. Otimização do processo de esterificação ácida................................................ 82
3.1.2. Otimização do processo de transesterificação alcalina .................................... 85
3.1.3. Análise cromatográfica dos FAEE ..................................................................... 90
3.2. CARACTERIZAÇÃO DO BIODIESEL ETÍLICO DE ORF ................................................................... 92
3.2.1. Análise de produtos de oxidação de primeira e segunda ordem........... ........... 95
4. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 98
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 99
CAPÍTULO 4 ............................................................................................................................. 104
PRODUÇÃO DE BIODIESEL ETÍLICO A PARTIR DE ÁCIDOS GRAXOS LIVRES OBTIDOS DE ÓLEOS E
GORDURAS DE FRITURA RESIDUAIS. ........................................................................................ 104
RESUMO .................................................................................................................................. 104
ABSTRACT ................................................................................................................................ 105
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 106
xvi
2. PARTE EXPERIMENTAL ...................................................................................................... 108
2.1. AMOSTRAGEM ............................................................................................................ 108
2.2. OBTENÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS LIVRES DE SABÃO DE ORF ...................................................... 108
2.2.1 Otimização da obtenção de FFA via produção de sabão de ORF........................108
2.2.2 Produção de sabão de ORF .............................................................................. 110
2.2.3 Acidificação do sabão de ORF .......................................................................... 110
2.2.4. Análise do índice de acidez .............................................................................. 111
2.3. PRODUÇÃO DE BIODIESEL ETÍLICO DE ORF ......................................................................... 112
2.3.1. Esterificação ácida ......................................................................................... 112
2.3.2. Caracterização do biodiesel etílico................................................................. 112
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................................... 113
3.1. OBTENÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS LIVRES DE SABÃO DE ORF ...................................................... 113
3.2. PRODUÇÃO DE BIODIESEL ETÍLICO ..................................................................................... 117
3.2.1. ANÁLISE DE PRODUTOS DE OXIDAÇÃO DE PRIMEIRA E SEGUNDA ORDEM ..................................... 122
4. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 123
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 124
CAPÍTULO 5 ............................................................................................................................. 127
ESTUDO DA ECOTOXICIDADE AGUDA DE BIODIESEIS DE ÓLEOS E GORDURAS DE FRITURA
RESIDUAIS EM AMBIENTE AQUÁTICO SALINO E SALOBRO ....................................................... 127
RESUMO .................................................................................................................................. 127
ABSTRACT ................................................................................................................................ 128
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 129
2. PARTE EXPERIMENTAL ...................................................................................................... 132
2.1. AMOSTRAGEM ................................................................................................................. 132
2.2. ENSAIOS ECOTOXICOLÓGICOS .......................................................................................... 132
2.2.1. PREPARO DO ELUATO .................................................................................................... 133
2.2.2. CULTIVO DOS NÁUPLIOS DE ARTEMIA SALINA ............................................................... 133
2.2.3 Teste ecotoxicológico do eluato com Artemia salina .............................................. 134
xvii
2.2.4 Cálculo da taxa de mortalidade de Artemia salina .................................................. 134
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................................... 135
4. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 138
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 139
CONCLUSÃO GERAL ................................................................................................................. 143
ANEXO I ................................................................................................................................... 145
RESOLUÇÃO ANP Nº 45, DE 25/8/2014 - DOU 26/8/2014 ....................................................... 145
1
1. INTRODUÇÃO GERAL
A utilização exagerada de combustíveis fósseis como fonte de energia gera
problemas ambientais e econômicos, o que tem levado pesquisadores a
desenvolverem novas fontes de energia alternativas, que sejam ambientalmente e
economicamente sustentáveis. Nesse contexto os biocombustíveis despontam como
uma alternativa viável, pois são combustíveis provenientes de matéria-prima
renovável, sendo considerados ecologicamente corretos. Dentre os principais
biocombustíveis utilizados atualmente destacam-se o etanol e o biodiesel.
Do ponto de vista químico, o biodiesel corresponde a uma mistura de ésteres
alquílicos de ácidos graxos, na maioria das vezes obtidos pelo uso de óleos e/ou
gorduras vegetais e/ou animais, em processos de transesterificação alcalina de
acilglicerídeos ou esterificação ácida de ácidos graxos, pelo uso de um álcool, o qual
é normalmente o metanol e, em algumas poucas situações, o etanol. Durante o
processo o glicerol também é produzido e pode ser utilizado na produção de sabão,
cosméticos e outros produtos da gliceroquímica (MANDARINO, 2001; SILVA;
FREITAS, 2008). Do ponto de vista ambiental, o biodiesel é considerado importante
por ser biodegradável, emitir menores teores de gases de combustão e, em muitos
casos, causar menor impacto em seres que habitam o solo ou o ambiente aquático.
Comercialmente o biodiesel é um biocombustível que vem buscando se
consolidar como alternativa ao combustível de origem fóssil, sendo atualmente
usado principalmente em substituição ao diesel fóssilna forma de mistura compulsiva
obrigatória. Um dos principais gargalos tecnológicos é o alto custo da matéria-prima,
cerca de 75 a 80% (SHAHID; JAMAL, 2011).
Dezenas de espécies de plantas oleaginosas do Brasil podem ser usadas
para produzir biodiesel, incluindo as que fornecem óleos de baixa acidez como soja,
girassol, baru, babaçu, amendoim, pinhão manso, nabo forrageiro e crambe
(BARBOSA et al., 2009; KNOTHE, 2010; KNOTHE et al., 2006; ROCHA et al.,
2008), os quais são normalmente convertidos a biodiesel via transesterificação
alcalina. Há também as plantas que produzem óleo com maior acidez, como palma e
2
macaúba, os quais podem ser convertidos à biodiesel via esterificação ácida,
seguida de transesterificação alcalina.
Em algumas poucas situações, os processos de síntese de biodiesel têm
envolvido o uso de matérias-primas com alto índice de acidez, como óleos residuais
de fritura (ORF) (KWONG; YUNG, 2016).
Os óleos e gorduras são utilizados de diversas maneiras na alimentação,
especialmente como veículo a temperos e na cocção de alimentos, com destaque
para as frituras. O grande obstáculo é o que fazer com os óleos e gorduras de fritura
residuais (ORF), já que seu descarte no meio ambiente causa danos irreparáveis ao
mesmo, gerando a mortandade de espécies aquáticas e custos altíssimos para as
empresas de tratamento de água (HOCEVAR, 2005).
Uma das soluções para se evitar esses problemas é realizar a coleta correta
dos óleos e gorduras residuais de fritura e utilizá-los para outros fins, como
fabricação de tintas de impressão (MONTENEGRO et al., 2013), sabão, óleo
lubrificante ou fluido hidráulico (ANDRÉ et al., 2015), ração e principalmente para a
produção de biodiesel (HOCEVAR, 2005; SILVA FILHO, 2010).
Produzir biodiesel com ORF pode reduzir o custo de sua produção além de
amenizar os impactos negativos de seu descarte incorreto (CAMARGO;
CARVALHO, 2014; UZUN et al., 2012). O ORF contém grandes quantidades de
ácidos graxos livres, que não são convertidos em biodiesel utilizando um catalisador
alcalino, sendo necessário utilizar um processo conjugado, por exemplo, a
esterificação ácida anterior a transesterificação alcalina (VIEIRA, 2012). No entanto,
o baixo custo dos ORF - que em agosto de 2016 variou de R$ 0,25/L (ORF não
tratado) a R$ 1,40/L (ORF tratado), enquanto o óleo de soja foi comercializado a
R$ 2,40/L - pode compensar financeiramente a necessidade de se efetuar ao menos
duas etapas de síntese na busca pela obtenção de biodiesel a menores custos
(MFRURAL, 2011; ABRASEL, 2016).
O metanol é o álcool mais utilizado para a produção de biodiesel devido ao
seu baixo custo (R$ 0,60/L em setembro/2016) (MITSUBISH CHEMICAL, 2016) na
maioria dos países produtores, bem como sua alta disponibilidade, já que
normalmente é obtido a partir do petróleo. Além disso, sob o ponto de vista físico-
3
químico, a síntese de biodiesel metílico é mais favorável e exige menores cuidados
e gastos energéticos que a síntese de biodiesel etílico. Além do etanol anidro (R$
1,43/L em setembro de 2016) (SCALCOOL, 2016), ser mais caro que o metanol a
transesterificação etílica é significativamente mais complexa que a metílica, pois,
como o etanol possui uma cadeia maior, há um impedimento espacial entre o álcool
e os triacilglicerídeos. Apesar dessas dificuldades os ésteres etílicos de ácidos
graxos obtidos ao final do processo possuem propriedades combustíveis similares
aos ésteres metílicos de ácidos graxos (KOHLHEPP, 2010).
Como mundialmente se busca um biodiesel ecologicamente correto, a
utilização do etanol, o qual é produzido a partir de matéria-prima vegetal, pode gerar
menos efeitos negativos ao meio ambiente do que o uso de metanol (SILVA, 2011).
Ademais, em países produtores de etanol como o Brasil e muitos países africanos, o
baixo custo e a alta disponibilidade do etanol, aliado aos fatores ambientais, pode
ser uma interessante alternativa para a produção de biodiesel, especialmente
usando matérias-primas de baixo custo, como o ORF.
Desta forma, o objetivo geral deste trabalho é efetuar estudos técnico-
científicos que possam contribuir para avaliar a viabilidade do uso de ORF como
matéria-prima graxa para a produção de biodiesel etílico, otimizando os processos
de produção e avaliando seu impacto ambiental em aquíferos salinos ou salobros via
ensaios de ecotoxicidade dos biodieseis etílicos de ORF produzidos.
4
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Efetuar estudos técnico-científicos que possam contribuir para avaliar a
viabilidade do uso de ORF como matéria-prima graxa para a produção de biodiesel
etílico, otimizando os processos de produção e avaliando seu impacto ambiental em
aquíferos salinos ou salobros via ensaios de ecotoxicidade dos biodieseis etílicos de
ORF produzidos..
2.2 Objetivos Específicos
1) Realizar levantamento bibliográfico sobre a cadeia de produção e uso de
biodiesel, com enfoque no uso de óleos e gorduras residuais de frituras como
matéria-prima graxa;
2) Caracterizar o ORF utilizado como matéria-prima graxa para a produção de
biodiesel;
3) Propor tratamento de purificação do ORF;
4) Otimizar os processos conjugados de produção do biodiesel etílico de
ORF;
5) Otimizar o processo de saponificação seguido da acidificação para
obtenção de ácidos graxos livres (FFA);
6) Avaliar a adequabilidade da utilização dos FFA obtidos da acidificação do
sabão de ORF na produção do biodiesel etílico e sua qualidade;
7) Avaliar a qualidade do biodiesel etílico produzido;
8) Avaliar a segurança ambiental das amostras de biodiesel produzidas e de
suas misturas com óleo diesel, via ensaios ecotoxicológicos em ambientes salino e
salobro, utilizando como organismo-teste a Artemia salina;
9) Avaliar as consequências do aumento do teor de biodiesel em óleo diesel
para organismos aquáticos que possam vir a ser impactados pelo derramamento
desses combustíveis em água.
5
3. ESTRUTURA DA TESE
A tese encontra-se subdividida em 5 (cinco) capítulos, sendo o primeiro
referente a uma revisão bibliográfica sobre a temática, e os demais referentes as
atividades de pesquisa desenvolvidas neste trabalho, conforme a seguir:
Capítulo 1 – Biodiesel etílico de óleos e gorduras residuais de frituras: uma revisão
Capítulo 2 – Avaliação da adequabilidade físico-química de óleos e gorduras de
fritura residuais para a produção de biodiesel
Capítulo 3 – Produção de biodiesel etílico de óleos e gorduras de fritura residuais
via esterificação ácida seguida de transesterificação alcalina
Capítulo 4 – Produção de biodiesel etílico a partir de ácidos graxos livres obtidos de
óleos e gorduras de fritura residuais
Capítulo 5 – Estudo da ecotoxicidade aguda de biodieseis de óleos e gorduras de
fritura residuais em ambiente aquático salino e salobro
O primeiro capítulo corresponde a uma revisão bibliográfica sobre biodiesel,
suas matérias-primas graxas - especialmente os óleos e gorduras residuais de
frituras - os processos de produção, e suas características físico-químicas, as que se
referem a qualidade como biocombustível.
O segundo capítulo caracteriza e avalia a qualidade do ORF para ser utilizado
como matéria-prima graxa para a cadeia de produção do biodiesel
O terceiro capítulo aborda a otimização do processo de produção de biodiesel
etílico de ORF via esterificação ácida seguida de transesterificação alcalina e
avaliação dos parâmetros de qualidade do biodiesel produzido.
O quarto trata da otimização do processo de obtenção de ácidos graxos livres
(FFA), após saponificação do ORF, acidificação e dupla esterificação ácida, seguido
da avaliação dos parâmetros de qualidade do biodiesel produzido.
O quinto capítulo aborda a avaliação ecotoxicológica da fração solúvel em
água (eluato) de biodiesel etílico de ORF, utilizando a Artemia salina como uma
ferramenta rápida, de baixo custo e fácil manipulação para detectar o impacto deste
biocombustível sobre os corpos hídricos salinos ou salobros.
6
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ABRASEL, “Reciclar óleo é garantia de lucro na Grande BH.”, 2011. Disponível em: <http://www.abrasel.com.br/noticias/684-290811-reciclar-oleo-e-garantia-de-lucro-na-grande-bh-.html>. Acesso em: 2 set. 2016.
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BARBOSA, B. S. et al. Aproveitamento do óleo das amêndoas de tucumã do Amazonas na produção de biodiesel. Acta Amazonica, v. 39, n. 2, p. 371–376, 2009.
CAMARGO, R. P. L.; CARVALHO, C. R. R. Estudos de Viabilidade Econômica da Utilização dos Óleos e Gorduras Residuais para Produção de Biodiesel no Brasil . Revista Processos Químicos, p. 39–48, 2014.
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MFRURAL, “Anúncios de oleo usado” 2016. Disponível em: <http://www.mfrural.com.br/busca.aspx?palavras=oleo+usado>. Acesso em: 2 set. 2016.
MITSUBISH CHEMICAL. Disponível em: <http://www.mgc.co.jp/eng/products>. Acesso em: 2 set. 2016.
MONTENEGRO, M. A. et al. Aproveitamento de óleos e gorduras residuais para obtenção de produtos de alto valor agregado: formulação de tinta de impressão a
7
partir de óleo residual de fritura. Revista Virtual de Quimica, v. 5, n. 1, p. 26–37, 2013.
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SILVA FILHO, J. B. Produção de biodíesel etílico de óleos e gorduras residuais (OGR) em reator químico de baixo custo. Manaus: Dissertação (Mestrado em Engenharia), Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2010.
SILVA, F. D. Aproveitamento de rejeitos da indústria de atomatados para a produção e caracterização de extratos ricos em licopeno , β -caroteno e vitamina E. Goiânia: Dissertação (Mestrado em Química), Departamento de Química, Universidade Federal de Goias, 2006.
SILVA, T. A. R. “ Biodiesel De Óleo Residual : Produção através da transesterificação por metanolise e etanolise básica, caracterização físico-química e otimização das condições reacionais”. Uberlândia: Tese (Doutorado em Química), Programa multi-institucional de Doutorado em Química, Universidade Federal de Uberlandia, 2011.
UZUN, B. B. et al. Biodiesel production from waste frying oils: Optimization of reaction parameters and determination of fuel properties. Energy, v. 44, n. 1, p. 347–351, 2012.
VIEIRA, M. J. Projecto de uma Unidade Laboratorial de Produção de Biodiesel. Tomar: Dissertação (Mestrado em Tecnologia Química), Instituto Politécnico de Tomar, Escola Superior Tecnologias de Tomar, 2012.
8
CAPÍTULO 1
BIODIESEL ETÍLICO DE ÓLEOS E GORDURAS RESIDUAIS DE FRITURAS: UMA
REVISÃO
Camargo, R. P. L., Antoniosi Filho, N. R
Laboratório de Métodos de Extração e Separação (LAMES), Instituto de Química,
Universidade Federal de Goiás, Campus Samambaia, CEP: 74690-900, Goiânia-
GO, Brasil. E-mail: [email protected]
RESUMO
Em virtude da dependência dos combustíveis fósseis, como o petróleo, e a
importância que a energia tem para o desenvolvimento econômico, ocorre a busca
por outras fontes de energia, sobretudo as renováveis, para garantir a segurança
energética e, consequentemente, o desenvolvimento econômico sustentável do país.
A produção e difusão de biocombustíveis é uma realidade no Brasil. Nesse sentido,
os biocombustíveis configuram-se como uma alternativa, contudo, a sua produção e
difusão de novas tecnologias, a inserção no mercado internacional, a produção de
um biocombustível economicamente viável, a busca da produção dos
biocombustíveis aliada ao desenvolvimento social e à preservação do meio
ambiente, a oportunidade de novos negócios com agregação de valor e a
compatibilidade entre a produção de biocombustíveis e a segurança alimentar são
desafios que permanecem postos. O Brasil apresenta grande potencial e nível
tecnológico adequado para desenvolver o biodiesel, mas é possível que isto seja
economicamente viável com outras fontes, como dendê ou ORF. Acredita-se que a
viabilidade da produção de biodiesel a partir de ORF já é consenso entre técnicos,
acadêmicos e políticos como uma alternativa de redução de custo para a produção
de biodiesel, reaproveitando o resíduo que é normalmente destinado às redes de
esgoto. Este artigo faz uma revisão sobre o biodiesel, suas matérias-primas e
processos de produção.
Palavras-chave: custo de produção. Matérias-primas. Vantagens e desvantagens.
9
ABSTRACT
Because of the dependence on fossil fuels such as oil, and the importance that
energy plays in economic development, is the search for other sources of energy,
particularly renewables, to ensure energy security and hence sustainable economic
development from the country. The production and distribution of biofuels is a reality
in Brazil. In this sense, biofuels are configured as an alternative, however, the
production and dissemination of new technologies, the integration into the
international market, the production of an economically viable biofuel, the pursuit of
biofuels production linked to social development and preservation the environment,
the opportunity for new business with added value and consistency between the
production of biofuels and food security are challenges that stay put. Brazil has great
potential and technological level appropriate to develop biodiesel, but it is possible
that this is economically viable with other sources such as palm oil or ORF. It is
believed that the viability of biodiesel production from ORF is a consensus between
experts, academics and politicians as a cost saving alternative for biodiesel
production, reusing the waste that is normally intended to sewage networks. This
article is a review of biodiesel, its raw materials and production processes.
Keywords: cost of production. Raw materials. Advantages and disadvantages.
10
1. INTRODUÇÃO
A preocupação com o meio ambiente influenciaram em pesquisas na tentativa
de amenizar os danos que o crescimento das cidades, o desenvolvimento da
tecnologia, o consumo desenfreado e também os melhores padrões de vida geram,
levando consequentemente a um alto consumo de energia (PHAN; PHAN, 2008).
Grande parte desta energia é obtida por combustíveis fósseis que são fontes não
renováveis, isto é, se encontram na natureza em quantidades limitadas com sua
formação levando milhares de anos, como por exemplo, o petróleo, o carvão e o gás
natural (KNOTHE et al., 2006).
De acordo com Campbell (2006), 90% das fontes de petróleo já foram
descobertas, e o petróleo está sendo consumido quatro vezes mais rápido do que
está sendo descoberto, o que torna a situação muito crítica. O conceito do “peak oil”
demonstra que toda produção do petróleo segue uma curva que se inicia com uma
parte crescente e posteriormente uma decrescente. Na parte ascendente da curva
os custos do petróleo são relativamente mais baixos que na parte decrescente, em
que é necessário a busca e o maior esforço para obtenção do petróleo. O “peak oil”
é exatamente o ponto mais alto da curva, quando a quantidade de reservas naturais
já foram consumidas em 50% (Figura 1). A partir deste ponto, o custo tende a subir e
sua produção a cair, o que deve ocorrer entre os anos de 2020 a 2035 (KNOTHE,
2010; PARENTE, 2003).
FIGURA 1: Produção e estimativa da produção mundial anual de energia.
Fonte: Adaptado de An et.al. (2013)
11
O consumo dos combustíveis fósseis, derivados do petróleo, causa impacto
negativo no meio ambiente, como a poluição atmosférica, gerando mudanças
climáticas, além da possibilidade de derramamento de óleos em mares e rios, bem
como a geração de resíduos tóxicos. Para tentar reduzir estes impactos, uma das
alternativas foi a de utilizar combustíveis de origem renovável, que tem suas fontes
inesgotáveis, capazes de regeneração e, por isso, são consideradas fontes de
energias alternativas ao modelo tradicional, causando então, um menor impacto
ambiental (COSTA NETO et al., 2000; KNOTHE et al., 2006;RAMOS et al., 2011).
Energia solar, eólica, hídrica e de biomassa tem sido utilizadas como
energias renováveis, sendo hoje de uso complementar as energias de origem fóssil.
Os combustíveis renováveis tem origem na biomassa, que pode ser
considerada “como todo recurso renovável que provêm de matéria orgânica - de
origem vegetal ou animal - tendo por objetivo principal a produção de energia”
(BORGES et al., 2014; KULKARNI; DALAI, 2006). Alguns biocombustíveis
produzidos são o carvão da madeira, o etanol de cana-de-açúcar e o biodiesel de
oleaginosas (KNOTHE; GERPEN; KRAHL, 2005; PARENTE, 2003).
2. BIODIESEL
2.1. Histórico
Os primeiros estudos relacionados ao uso de materiais graxos como
combustível ocorreram no ano de 1900, em uma exposição em Paris, onde Rudolf
Diesel apresentou o funcionamento de um motor utilizando como combustível o óleo
vegetal de amendoim (KNOTHE et al., 2006; SCHNEIDER et al., 2011). Rudolf
Diesel, no último capítulo de seu livro, afirmou que: "O uso de óleos vegetais como
combustível de motor pode parecer insignificante hoje, mas tais óleos podem tornar-
se, no curso do tempo, tão importantes como o petróleo e os produtos de alcatrão e
de carvão do presente”. Na época, o intuito era estimular a autossuficiência
energética das colônias africanas, com isso, Rudolf também realizou testes em
locomotivas com óleo de mamona e óleos de animais, os quais apresentaram bons
rendimentos (ZANIN, 2012).
12
Durante a Segunda Guerra Mundial, houve relatos de que em várias
ocasiões, principalmente em momentos considerados de emergência, foram
utilizados óleos vegetais como combustível. A partir disso, países como os EUA,
Índia e Alemanha, retomaram os estudos e pesquisas de combustíveis derivados de
óleos vegetais, obtendo grande destaque na área (FONTANA, 2008;RAMOS et al.,
2011;KNOTHE et al., 2006).
Walton (1938), citado em Charpe e Rathod, (2011) afirmou que para
realmente se conseguir um combustível com alto valor agregado, seria necessário
quebrar as ligações éster-glicerídicas e, com isso, utilizar os ácidos graxos livres
para a produção deste combustível, denominado biodiesel.
Um ano antes, portanto em 1937, Charles Chavanne, pesquisador da
Universidade de Bruxelas, patenteou o que viria a ser o biodiesel. Foram utilizados
ésteres etílicos obtidos do óleo de palma por transesterificação em meio ácido, mas
somente em 1988 o termo biodiesel foi publicado em um artigo científico (FONTANA,
2008; KNOTHE; GERPEN; KRAHL, 2005).
Na atualidade o biodiesel é geralmente obtido por transesterificação de
matérias-primas graxas com álcoois de cadeia curta, normalmente metanol ou
etanol, resultando na conversão de triacilgliceróis em monoésteres (conhecidos
como biodiesel) e glicerina. Outro processo utilizado é a esterificação, que consiste
em uma reação de ácidos graxos com os mono-álcoois na presença de
catalisadores, o que leva a formação do biodiesel e água (SUAREZ, 2015). As
propriedades do biodiesel produzido são dependentes das características da
matéria-prima e também do álcool utilizado na reação (CARARETO et al., 2012).
O Brasil iniciou os estudos na década de 20, mas ganhou destaque em 1970
com a criação do Plano de Produção de óleos vegetais para fins energéticos, o “Pro-
óleo”, em complementação ao Proálcool, com intuito de substituir o petróleo e
reduzir o impacto causado pelos combustíveis fósseis (KNOTHE; GERPEN; KRAHL,
2005; KNOTHE et al., 2006; FONTANA, 2008). Na década de 70, a Universidade
Federal do Ceará (UFC) e o Instituto Nacional de Tecnologia (INT) desenvolveram
pesquisas com o uso de óleo vegetal como combustível e também a utilização dos
13
mesmos para a produção de biodiesel (HOLANDA, 2004), principalmente a partir de
trabalhos realizados pelo Prof. Dr. Expedito José de Sá Parente.
Também a Universidade Federal do Paraná, em parceria com o Ministério de
Ciência e Tecnologia (MCT), e O Centro de Referência em Combustíveis (Cerbio) do
Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR) são responsáveis por muitas pesquisas
em biodiesel e etanol. Em um dos testes, foi utilizado um veículo da marca
Volkswagen, Golf 1.9, motor diesel, o qual não passou por quaisquer alterações
mecânicas, utilizando como combustível B20 etílico de soja, com o mesmo
percorrendo vinte mil quilômetros sem nenhum problema (GRANDO, 2003).
Em 1980, o Pro-óleo passou a ser o Programa Nacional de Óleos Vegetais
para fins energéticos, pela Resolução n° 7 do Conselho Nacional de Energia, que
sugeria a substituição de até 30% de óleo diesel por biodiesel baseado em soja,
amendoim, canola e girassol. Neste mesmo ano, teve também o pedido de registro
da primeira patente brasileira pelo engenheiro químico Dr. Expedito José de Sá
Parente, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), sendo essa aprovada
em 1983, o que se tornou uma referência para o Brasil (KNOTHE et al., 2006).
A Universidade Federal do Rio de Janeiro também possui uma planta piloto
para produção de biodiesel em que utiliza óleos e gorduras residuais coletados pela
empresa Hidroveg Indústrias Químicas Ltda. em um fast food (KHALIL, 2003).
Na cidade de São Paulo o biodiesel utilizado em frotas de tratores, como a da
Coordenadoria de Assistência Técnica Integral – CATI está sendo utilizado como
uma mistura de 30% de óleo vegetal, 65% de óleo diesel e 5% de gasolina como
solvente, obtendo como resultados preliminares a redução no consumo de
combustível.
A cidade de Ribeirão Preto, também no Estado de São Paulo, utiliza o
biodiesel como combustível em suas frotas de ônibus (DABDOUB; BRONZEL;
RAMPIN, 2009).
O Governo Federal, devido às altas do preço do petróleo, em parceria com
indústrias automobilísticas e de óleos vegetais, institutos de pesquisa, fabricantes de
peças e lubrificantes, testaram um biodiesel puro e com mistura B7 em veículos que
percorreram mais de 1 milhão de quilômetros, em que foi constatado que realmente
14
há viabilidade técnica na utilização de biodiesel como combustível, mas o elevado
custo de sua produção em relação ao óleo diesel, à época, o deixava sem
viabilidade econômica para que fosse produzido em escala comercial (ACCARINI,
2010).
O Programa Nacional de Produção e Uso de biodiesel foi implementado em
2004, pelo Governo Federal, com o intuito de disseminar e incentivar a produção de
biodiesel, utilizando como base a inclusão social, desenvolvimento regional com
geração de empregos e consequentemente o aumento da renda da população.
Apenas em 2005 que o biodiesel foi inserido na forma autorizativa na matriz
energética do Brasil com a Lei nº 11.097 de 13/1/2005 (DOU de 14/1/2005)
(SUAREZ; MENEGHETTI, 2007).
Em 2008 foi obrigatória a adição de 2% de biodiesel ao diesel, pela
Resolução nº2 de 13 de março de 2008. Já em 2010 o percentual aumentou para
5% (Resolução CNPE Nº 6 de 16/9/2009 (DOU de 26/10/2009). Em 2014 ocorreu o
aumento para B6 e depois para B7 (Lei nº 13.033, de 24.9.2014 - DOU 25.9.2014). A
lei 13.263 de 23 de março de 2016, dispõe da obrigatoriedade de utilizar os 7% de
diesel no biodiesel e que a partir de março de 2017 a adição será de 8%, em 2018
de 9%, em 2019 de 10%, podendo chegar a B15 nesse mesmo ano (Figura 2).
FIGURA 2: Evolução da inserção do Biodiesel na matriz energética no Brasil no
período de 2005 a 2019.
FONTE: Biodieselbr.com
2.2. Vantagens e desvantagens na utilização do Biodiesel
O biodiesel é um combustível renovável de queima limpa e que pode ser
utilizado em motores do ciclo diesel, em qualquer concentração de mistura com o
óleo diesel (BORGES et al., 2014; KULKARNI; DALAI, 2006). Outra vantagem é que
15
o biodiesel é livre de compostos aromáticos e compostos a base de enxofre, além de
ser ótimo lubrificante, podendo aumentar a vida útil do motor e apresenta risco de
explosão apenas acima de 150°C, o que dá segurança a seu transporte por usinas
produtoras e a seu armazenamento por distribuidoras (KNOTHE,2010).
Vale observar que não é necessária qualquer alteração nos motores que
terão a sua utilização, necessitando também de menores quantidades de oxigênio
para a etapa de combustão, ocorrendo menores emissões de particulados e gases
tais como os hidrocarbonetos, SO2, CO e CO2 (FONTANA, 2008; TORRES et al.,
2013). Assim, o biodiesel pode reduzir em 78% as emissões de gás carbônico,
comparado com o óleo diesel, considerando-se a reabsorção desse gás pelas
plantas (HOCEVAR, 2005).
O biodiesel, em comparação com diesel, além de emitir quantidades menores
de poluentes, é biodegradável contribuindo para a sustentabilidade, o que o torna
uma excelente alternativa como combustível (CHHETRI; WATTS; ISLAM, 2008a).
Algumas desvantagens em relação a sua eficiência no motor é que em baixas
temperaturas ocorre cristalização. Logo, em regiões muito frias pode ocorrer o
aumento da viscosidade cinemática, podendo haver a formação de pequenos
cristais, impedindo o bom funcionamento do motor. Além disso, pode ocasionar o
acúmulo de resíduos nos bicos injetores, sendo necessária a limpeza dos mesmos
(QUINTELLA et al., 2009).
Em relação ao meio ambiente, as emissões de NOx, podem apresentar um
ligeiro aumento. O óxido de nitrogênio pode aumentar até 15% no uso de B100. O
uso de aditivos ou alteração nos motores podem gerar emissões em quantidades
inferiores (TORRES et al., 2013).
Assim, com mais vantagens do que desvantagens, o biodiesel vem
consolidando seu espaço no mercado, conseguindo reverter algumas destas
desvantagens e, principalmente, conquistando a confiança do consumidor.
2.3. Propriedades e qualidade do Biodiesel
No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e algumas
normas internacionais como o International Organization for Standarization (ISO),
definiram as normas de especificação e qualidade do biodiesel, que foi
16
regulamentada pela ANP (Resolução nº 7, de 19/03/2008 e, atualmente, a nº 45 de
22/11/2014). Para atender também aos padrões internacionais, o biodiesel
produzido no Brasil precisa atender as normas e especificações mínimas de
qualidade, o que evita problemas nos motores veiculares (BRASIL, 2008).
As características importantes e que justificam a utilização do biodiesel como
sucedâneos do diesel são determinados por parâmetros físicos e químicos.
O biodiesel é caracterizado pelas suas propriedades físicas e termoquímicas,
como, densidade, viscosidade cinemática, índice de iodo, índice de acidez, ponto de
névoa (Cloud point), ponto de fluidez (Pour point), número de cetano, poder
calorífico e a volatilidade (PHAN; PHAN, 2008). Independente da matéria-prima de
origem, o biodiesel produzido deverá atender as especificações, sendo então
necessário garantir que a matéria-prima realmente consiga produzir este biodiesel
esperado. Atender a estas especificações significa que estará sendo garantido o
desempenho do motor e do sistema de injeção em longo prazo (FONTARAS et al.,
2010).
De acordo com Krause (2008), alguns parâmetros podem levar a alguns
efeitos positivos ou negativos no desempenho do motor, conforme Tabela 1.
TABELA 1: Efeitos dos parâmetros e especificações do Biodiesel.
Parâmetro Expressa Efeito no motor
Viscosidade cinemática
Resistência ao fluxo sob gravidade
Funcionamento dos sistemas de injeção
Ponto de fulgor Temperatura de inflamação da
amostra Segurança no manuseio,
indicação de excesso de álcool
Acidez Medida de presença de ácidos
graxos livres, sintoma da presença de água
Corrosão
Glicerina livre Separação incompleta da
glicerina após transesterificação Depósitos de carbono no motor
Na, K, Ca, Mg, P
Resíduos de catalisador Danos ao motor, entupimento
de injetores
Mono-, di- e triacilglicerídeos
Transesterificação incompleta Depósitos de carbono no motor
Estabilidade oxidativa
Degradação ao longo do tempo Afeta a acidez, a corrosão e a
formação de resíduos insolúveis
17
2.4. Produção de Biodiesel no Brasil
Mundialmente adotou-se uma nomenclatura para padronizar a concentração
do biodiesel nas mistura com óleo diesel, sendo denominado de mistura BX, onde X
é a percentagem em volume do biodiesel. Por exemplo, misturas B2, B5, B20 e
B100 são combustíveis com uma concentração de 2%, 5%, 20% e 100% de
biodiesel em óleo diesel, respectivamente (AN et al., 2013).
A produção acumulada de biodiesel no Brasil de 2006 a 2015 é crescente a
cada ano (Figura 3), com a produção acompanhando a demanda obrigatória e com a
capacidade produtiva autorizada pela ANP a cada ano sendo ao redor do dobro da
produção a cada ano (ANP,2016). Em 2015 a capacidade nominal para produção de
biodiesel (B100) no Brasil era de cerca de 7,7 milhões de m³ (21,2 mil m³/dia).
Entretanto, a produção nacional foi de 3,9 milhões de m³, o que correspondeu a
44,3% da capacidade total das então 64 usinas de produção autorizadas pela ANP
(ANP, 2016). Isso indica que o Brasil possui grande potencial de produção, o que
justifica o aumento do percentual de biodiesel nas misturas BX nos próximos anos.
FIGURA 3: Produção de biodiesel no Brasil de 2006 a 2015.
Fonte: ANP (2016)
18
Em 2015, no Brasil, a região Centro-Oeste foi a maior produtora de biodiesel
no país, com um volume de cerca de 1,5 milhão de m3, equivalente a 43,8% da
produção nacional. Em seguida vem a região Sul, com uma produção de 1,4 milhões
de m3, equivalente a 39,0% do total nacional (Figura 4) (ANP, 2016).
Em 2015 a demanda de biodiesel foi de cerca de 4 bilhões de litros, quando
calculados com base no consumo de diesel. O setor deve consumir menos diesel
que em 2014, em razão da continuidade da crise do país desde 2015. Como o
crescimento do mercado de diesel é ligado ao desempenho do PIB, a expectativa é
que 2016 tenha um consumo de diesel menor que em 2015 (ANP, 2016).
FIGURA 4: Participação das regiões brasileiras na produção de biodiesel.
Fonte: ABIOVE, (2016a)
19
3. MATÉRIAS-PRIMAS GRAXAS PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL NO
BRASIL
Os óleos e gorduras são substâncias insolúveis em água e podem ser de
origem animal ou vegetal. São formados basicamente por triacilglicerídeos, e existe
uma grande variedade de oleaginosas que são potenciais fontes de óleos vegetais
para produção de biodiesel (REDA; CARNEIRO, 2007). Alguns exemplos são os
óleos de canola usados na Alemanha, de milho nos Estados Unidos, de palma na
Malásia e países tropicais e, no Brasil, os óleos de soja, sebo animal, algodão e
palma (FERRARI; OLIVEIRA; SCABIO, 2005).
As gorduras animais utilizadas para produção de biodiesel são o sebo bovino,
os óleos de peixes, os óleos de mocotó e de frango e a banha de porco. Essas
matérias graxas possuem alto teor de ácidos graxos saturados o que confere ao
biodiesel algumas características indesejadas, como um aumento do ponto de névoa
e do ponto de entupimento de filtro a frio (MARCHETTI; MIGUEL; ERRAZU, 2007;
RODRIGUES, 2011; SALVI; PANWAR, 2012), e outras desejadas como alta
estabilidade oxidativa.
Os demais óleos que podem ser utilizados como matérias-primas para a
produção de biodiesel, além dos já citados, são os óleos de mamona, palmiste,
girassol, pinhão-manso, amendoim, babaçu, além de óleo de microalgas
(PARENTE, 2003; RODRIGUES, 2011). Contudo, o mais utilizado é o óleo de soja,
conforme a Figura 5 (ANP, 2016; ABIOVE, 2016a), que mostram, respectivamente, o
crescente volume de óleo de soja usado como matéria-prima para a produção de
biodiesel, e também o percentual preponderante dos ésteres desse óleo na
composição do biodiesel brasileiro, de 2008 até o ano de 2015.
20
FIGURA 5: Proporção de utilização das matérias-primas graxas para a produção de biodiesel no Brasil de 2008 a 2015.
FONTE: ABIOVE (2016b)
A composição do biodiesel varia de acordo com a matéria graxa utilizada
sendo que uma das dificuldades para alcançar sua consolidação comercial é o alto
custo dessas matérias-primas, as quais compreendem a cerca de 80% do preço final
do biodiesel (CVENGROŠ; CVENGROŠOVÁ, 2004; MARCHETTI; MIGUEL;
ERRAZU, 2007; RODRIGUES, 2011).
O rendimento e a qualidade do biodiesel podem ser influenciados pela relação
entre o percentual de óleo da semente e o rendimento por hectare, a disponibilidade
da oleaginosa na região, bem como por sua logística de colheita e transporte, sendo
esses fatores fundamentais na escolha da matéria prima. Neste sentido, são vários
os esforços de efetuar a diversificação e a redução de custo desse biocombustível
(AHN et al., 1995), o que obrigatoriamente remete a estudos de aproveitamento de
resíduos graxos.
21
3.1. Óleos e gorduras de fritura residuais (ORF)
A reciclagem de resíduos agrícolas e agroindustriais vem ganhando espaço
cada vez maior, pois os resíduos representam "matérias-primas" de baixo custo,
mas, principalmente, porque os efeitos da degradação ambiental decorrente de
atividades industriais e urbanas estão atingindo níveis cada vez mais alarmantes
(ALBERICI et al., 2012).
No entanto, existem grandes quantidades de óleos e gorduras de baixo custo,
tais como os utilizados e descartados por restaurantes, hotéis, comércios e
residências, os quais, sendo convertidos em biodiesel, podem minimizar essa
desestabilização mercadológica e ambiental ( D´AGOSTO et al., 2015; ZANIN et al.,
2013).
Os ORF são formados após sua utilização para fritura de alimentos, como
batata, petiscos, bolinhos, carnes, peixes e outros, em bares, restaurantes, hotéis e
residências. A temperatura de fritura pode variar de 160 a 200°C, por longos
períodos, ocorrendo reações que alteram as propriedades iniciais e naturais dos
óleos utilizados (KULKARNI; DALAI, 2006; SHEINBAUM et al., 2015).
A fritura por imersão é um processo que utiliza óleos e gorduras como meio
de transferência de calor e é amplamente utilizado na produção de alimentos. Este
processo gera um volume significativo de óleos (QUINTELLA et al., 2009; REDA;
CARNEIRO, 2007) com alteração em suas características físico-químicas e
organolépticas, tornando-os viscosos, escuros e com alto índice de acidez, formando
subprodutos com odores e sabores fortes e desagradáveis. Ele pode também passar
por reações como hidrólise, polimerização e oxidação, o que prejudica a matéria-
prima utilizada para a produção de biodiesel, sendo necessário um tratamento da
mesma (FERRARI; OLIVEIRA; SCABIO, 2005; ULLAH; BUSTAM; MAN, 2015).
Se despejados na rede de esgoto os ORF podem gerar, ao longo do tempo,
uma série de implicações negativas de ordem ambiental e econômica, podendo
causar o entupimento da mesma; além de mau cheiro exalado pelo seu acúmulo,
sendo que, para sua retirada é necessário à utilização de produtos químicos nocivos
a qualidade da água. Além disso, causa a mortandade da biota aquática e
aumentam os custos de tratamento. Quando lançados diretamente em aterros
22
sanitários podem impermeabilizar o solo, o que impede que as águas pluviais
penetrem e cheguem ao lençol freático (BASTOS et al., 2009; BERKENBROCK et
al., 2009).
Em contato com os mananciais, e por serem menos densos que a água, os
ORF formam uma nata sobrenadante que impede a passagem de luz solar, o que é
essencial a oxigenação do manancial, além de sofrerem decomposição por
microrganismos, o que gera a produção de metano, principal composto que promove
o aumento do efeito estufa (JUNIOR; NETO, 2009; MITTELBACH; GANGL, 2001).
Para evitar que o ORF usado seja lançado na rede de esgoto, várias cidades
em todo o Brasil têm criado métodos de coleta e aproveitamento. (DIAS et al., 2012).
Uma das maneiras de se coletar este óleo é criar incentivos para a população, com
o intuito de favorecer tanto a ela, como a coletora do ORF.
Conforme citado por Dias et al., (2012) há alguns exemplos de boas práticas,
como a iniciativa da Universidade de São Paulo (USP), que foi um dos quatro
programas vencedores da edição de 2007 do projeto Jovens Embaixadores
Ambientais, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em
parceria com a Bayer, sobre produção de biocombustível a partir do óleo de cozinha.
Com o projeto Biodiesel em casa e nas escolas, que envolve universitários, escolas
e empresas, cerca de 100 toneladas de óleo de cozinha encontram um destino
produtivo de transformar-se em biocombustível 100% renovável.
Os ORF são resíduos de grande variedade e baixa qualidade, mas estudos
comprovam a possibilidade de se produzir um biocombustível de boa qualidade e de
custo baixo (CVENGROŠ; CVENGROŠOVÁ, 2004). A produção de biodiesel por
ORF tem aproveitamento em média de 88%, sendo que 2% após a filtração consiste
em matéria sólida e 10% após o processo reacional se converte em glicerina, o que
mostra que sua reciclagem é viável (BAUTISTA et al., 2009; BOTELHO, 2012).
Os óleos vegetais in natura se diferem dos ORF por possuírem maior
concentração de ácidos graxos livres - fator primordial no caso da catálise alcalina -
além de possuírem viscosidade cinemática, calor específico, e tensão superficial
maiores (ADOLFO et al., 2000; PENG; LAN; DAI, 2006; QUINTELLA et al., 2009). A
23
quantidade de ORF utilizado para a produção de biodiesel ainda é muito pequena,
sendo cerca de 1% das matérias-primas atualmente usadas (ABIOVE, 2015).
De acordo com Hocevar, (2005) e Quintella et al., (2009) a cadeia de
produção dos óleos e gorduras residuais de fritura, designada de ORF pelos
autores, pode ser representada como na Figura 6.
FIGURA 6: Cadeia da produção de ORF
Fonte: Hocevar, (2005) e Quintella et al., (2009)
O ORF pode ser reciclado para a produção de resina para tintas, sabão,
detergente, glicerina, ração para animais e biodiesel. Atualmente a maioria do ORF
reciclado é utilizado para produção caseira de sabão (CHHETRI; WATTS; ISLAM,
2008a). Os fornecedores e coletores do ORF são importantes para que esse fluxo
tenha continuidade e que grandes quantidades de ORF sejam coletados para
produzir biodiesel, ao invés de ir para o descarte. Se essas etapas não ocorrerem de
maneira correta e constante, o investimento e a sustentabilidade ambiental em se
produzir biodiesel se tornam inviáveis.
3.2. Demanda de ORF no mercado e sua utilização na produção de biodiesel
Não há nenhuma legislação específica sobre a coleta ou a utilização do ORF,
com isso a coleta ou o modelo de troca é realizado de acordo com o costume ou
24
necessidade de cada local, seguindo um critério particular. Por esses motivos é
difícil calcular o volume real de ORF descartado (ZUCATTO; WELLE; SILVA, 2013).
As estimativas de coleta de ORF variam de 2,45 a 8,6 litros per capita por
ano. A média é de 4,85 litros per capita por ano e, considerando que são em média
205 milhões de brasileiros (IBGE, 2015) e que todo o ORF gerado possa ser
coletado, serão em torno de 995 milhões de litros/ano, prontos para serem
convertidos à biodiesel. Se cerca de 80% do ORF puder ser convertido em biodiesel,
tem-se 875 milhões de litros/ano (875.000 m³/ano) de biodiesel de ORF, um volume
equivalente correspondente a cerca de 22% da produção acumulada de 3.937.232
m³ de biodiesel no Brasil em 2015 (ANP, 2015).
A busca por matérias-primas que consigam baratear o custo do biodiesel e
com isso, produzir um biodiesel que possa realmente ser economicamente viável
para ser utilizado na mistura óleo diesel/biodiesel, levou a pesquisas com os óleos e
gorduras residuais, que são considerados uma excelente alternativa (PHAN; PHAN,
2008). O custo dessa matéria-prima pode ser cerca de 1,5 a 3 vezes mais baixo
comparado aos óleos vegetais refinados. Para isso, é necessário avaliar o volume
estimado de geração de ORF e sua utilização para produção de biodiesel.
Conforme mostrado na Figura 5, a quantidade de ORF utilizado para
produção de biodiesel ainda é muito pequena. De acordo com a ANP a região
Sudeste é a que mais produz biodiesel a partir de ORF (Figura 7), o que é justificado
pelas suas iniciativas de coleta desses óleos residuais.
A reciclagem de ORFs no Brasil vem ganhando espaço, mas ainda é muito
pouco para que se consiga produzir o suficiente de biodiesel oriundo desse tipo de
matéria-prima.
25
FIGURA 7: Percentual de ORF utilizado para produção de biodiesel por região brasileira no ano de 2015
Fonte: ANP (2016)
3.3. Logística e Coleta dos Óleos e Gorduras Residuais de Fritura (ORF)
A crescente sensibilização ecológica que vêm ocorrendo nos últimos anos,
tem exigido maior responsabilidade das empresas e da população em relação aos
resíduos por eles gerados. A logística reversa é a área da logística empresarial que
serve para atender a essa nova exigência da sociedade, planejando, operando e
controlando o fluxo e as informações do retorno dos bens de pós-venda e pós-
consumo, bem como o ciclo dos negócios por meio de canais de distribuição
reversos, agregando-lhes valor econômico, ecológico, legal, de imagem corporativa,
entre outros (ZUCATTO; WELLE; SILVA, 2013).
Nesse sentido, Basso et al. (2013) observaram dificuldades para se produzir
biodiesel a partir de ORF, que englobam desde problemas técnico-científicos até
26
aspectos culturais, como a ausência de educação ambiental da população na
logística de coleta tanto em pequenas quanto em grandes cidades.
Apesar disso, alguns pesquisadores apontam que a coleta e reciclagem de
ORF são relativamente simples, pois não é necessário nenhum padrão tecnológico
mais avançado, necessitando-se apenas de um sistema de coleta e transporte
capaz de retirar o óleo residual de indústrias, de pontos comerciais ligados ao
mercado varejo de alimentos (lanchonetes, restaurantes) e de cozinhas industriais
(HOCEVAR, 2005).
A falta de iniciativas pessoais de armazenamento e destinação correta do
ORF mostra a necessidade de projetos e iniciativas públicas e privadas de educação
ambiental para a população em geral, para que então a coleta e destinação final de
ORF sejam realizadas, para produção não somente de biodiesel, mas também de
outros produtos como, por exemplo, o sabão (CAMARGO; CARVALHO, 2014).
3.4. Iniciativas de coleta de ORF no Brasil
No Brasil há várias iniciativas bem estruturadas que podem servir de exemplo
e base para ampliar o aproveitamento sustentável de ORF. Ideias e criatividade não
faltam, o que é, sem dúvida, um bom começo e, certamente, uma obra coletiva.
Entretanto, as iniciativas comerciais concretas ainda são poucas (ACCARINI, 2010).
Alguns exemplos ocorrem no Centro-Oeste onde existe, junto ao Programa
Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), um compromisso da cidade de Goiânia,
desde o dia 15 de abril de 2004, e que está dentro da 3ª edição do ProNEA de
Brasília, em que a cidade se compromete a atuar junto ao trabalho de educação
ambiental, formando profissionais e educadores na abrangência institucional e
política, na comunicação (divulgação, bibliotecas, propagandas, iniciativas, bancos
de dados de informações, etc.), financiamentos e eventos (CAMARGO; CARVALHO,
2014).
A Saneago - Saneamento de Goiás SA - desenvolveu um programa de
incentivo financeiro denominado “Olho no óleo”, em que a pessoa, ao entregar o
óleo de cozinha usado em um ponto de coleta, recebe um bônus na forma de crédito
na fatura de água e esgoto, referente à quantidade de óleo entregue (SANEAGO,
27
2016). Essa iniciativa é semelhante ao que já vem sendo desenvolvido no Estado de
São Paulo pela Sabesp - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São
Paulo. A Sabesp possui um programa muito estruturado de coleta e reciclagem de
ORF, que é o PROL (Programa de Reciclagem de Óleo de Fritura), voltado para
fomentar a reciclagem de óleo de fritura, em especial nos municípios operados por
ela, e consolidar as várias parcerias da Sabesp em projetos neste sentido. Por isso,
o estado de São Paulo é hoje o que mais utiliza o ORF, em comparação aos outros
estados, para produção de biodiesel (OLIVEIRA; MORGADO, 2000).
Vários outros programas estão sendo implementados no Brasil, muitos sendo
apenas um primeiro esforço, mesmo que ainda modestos. Entretanto, vale salientar
que o que ainda falta para que essa atividade de reciclagem possa se transformar
em benefícios econômicos, sociais e ambientais são atitudes e conscientização de
toda a população. A Figura 8 apresenta as principais logotipos usados por iniciativas
desenvolvidas no Brasil para o incentivo à coleta de óleos residuais (ACCARINI,
2010). Esse processo de construção de um novo degrau de sustentabilidade para o
biodiesel no Brasil não será completo sem o engajamento harmônico e sinérgico de
atores públicos e privados (ACCARINI, 2010; HOCEVAR, 2005; SILVA FILHO, 2010;
ZUCATTO; WELLE; SILVA, 2013).
28
FIGURA 8: Logotipos de iniciativas de coleta pelo Brasil
Fonte:(ACCARINI, 2010)
4. ÁLCOOIS PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL
Os álcoois que garantem melhores resultados na produção de biodiesel são
os de cadeia curta. Dentre eles, destaca-se o metanol (usado em esterificação ou
transesterificação metílica), etanol (usado em esterificação ou transesterificação
etílica), isopropanol e isobutanol (KNOTHE, 2006).
O mais utilizado é o metanol, pois o processo de produção de biodiesel com
sua utilização é mais simples e eficaz (CHRISTOFF, 2006; PARENTE, 2003). Sabe-
se que a tecnologia de produção de biodiesel pela rota metílica é totalmente
dominada, o que não se pode dizer a respeito da rota etílica que ainda necessita de
aperfeiçoamento.
29
O isopropanol e isobutanol também podem ser utilizados e mesmo que seus
ésteres possuam algumas propriedades melhores que os ésteres do metanol e
etanol, como as melhores propriedades de fluxo a frio, eles são de custo elevado e
dificultam o processo (CHRISTOFF, 2006).
O metanol, apesar de suas vantagens, é altamente tóxico, apresenta maiores
riscos de incêndio e de produzir uma chama invisível, tornando-se impróprio para
utilização em pequenas escalas de produção (RAMOS et al., 2011).
Isso sugere a substituição do metanol pelo etanol, o qual é um álcool
produzido em abundância no Brasil e que acrescenta vantagens ambientais ao
processo por ser obtido de biomassa, sendo assim renovável (ENCINAR;
GONZÁLEZ; RODRÍGUEZ-REINARES, 2007; KNOTHE; DUNN; BAGBY, 1997).
A desvantagem de se utilizar o etanol é que a produção do biodiesel pela rota
etílica requer um acréscimo na quantidade de álcool utilizada, da temperatura e do
tempo de reação, pois o etóxido é menos reativo que o metóxido (ENCINAR;
GONZÁLEZ; RODRÍGUEZ-REINARES, 2007).
De acordo com Montenegro et al. (2013), no Brasil havia somente uma
empresa localizada em Catanduva (SP), chamada Fertibom, que utiliza a rota etílica
para produção de biodiesel em escala comercial e que em suas pesquisas utilizou
mais de vinte tipos de óleos para produção de biodiesel, sendo que todas as
amostras de biocombustível etílico produzidas estavam dentro do padrão de
qualidade exigido pela ANP, mas atualmente nenhuma indústria em operação no
país, utilizando somente a rota etílica para a produção de biodiesel etílico.
Segundo Nogueira et al. (2006), os ésteres metílicos, quando comparados
aos etílicos, tem um desempenho maior conforme Tabela 2.
TABELA 2: Comparativo entre ésteres metílicos e etílicos
Propriedade Éster Metílico Éster Etílico
Conversão (óleo em biodiesel) 97,5 % 94,3 %
Glicerina total 0,9 % 1,4 %
Potência do motor comparada com uso de diesel 2,5 % menor 4 % menor
Consumo comparado com o uso do diesel 10 % maior 12 % maior
30
Pesquisadores da USP (Universidade Estadual de São Paulo) de Ribeirão
Preto anunciaram em 2005 terem conseguido produzir o primeiro biodiesel etílico
totalmente renovável, produzido com etanol obtido da cana de açúcar, mas que
ainda estava 10 % mais caro do que o biodiesel metílico, tornando ainda inviável sua
produção. O que foi declarado, sem dar maiores detalhes, é que foi utilizado um
catalisador e um co-catalisador a base de argila o que favoreceu a separação do
biodiesel e de seu subproduto, o glicerol (AMARAL, 2009).
A patente (PI 0403140-7) foi criada por químicos brasileiros e envolve uma
tecnologia de produção de biodiesel etílico ou metílico, pelo processo de
transesterificação alcalina utilizando como catalisador um hidróxido metálico (sódio
ou potássio), o que sugere uma produção mais rápida e com qualidade (AGUIAR;
FIGUEIRA; COVAS, 2006). Essa patente pertence a Petrobio Biodiesel e foi
adquirida da MB do Brasil Biodiesel, sendo essas empresas localizadas,
respectivamente, em Piracicaba e Ribeirão Preto (SP) (LEÃO, 2009).
5. MÉTODOS PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL
O biodiesel pode ser obtido por diferentes processos, como craqueamento,
esterificação, transesterificação e hidroesterificação. A transesterificação é de longe
o método mais utilizado para óleos refinados ou de baixa acidez (BOTELHO, 2012;
KNOTHE et al., 2006). A conversão de matéria-prima graxa à biodiesel, além reduzir
a viscosidade cinemática, aumenta a volatilidade e reduz a massa molecular para
um terço em relação aos triacilglicerídeos (ZANIN, 2012).
Alguns fatores como a matéria-prima, a presença de ácidos graxos livres,
umidade, tipo de álcool, a proporção molar álcool/óleo, tipo e concentração de
catalisador e a relação tempo/temperatura interferem na reação de
transesterificação dos óleos e gorduras, o que gera a necessidade de se realizar
pesquisas que inter-relacionem estes fatores (BORGES et al., 2014).
Devido à grande variedade de matérias-primas que podem ser utilizadas para
produzir biodiesel, vários estudos desenvolveram a possibilidade de processos
conjugados, o que facilitaria a produção de biodiesel de acordo com uma variedade
31
de matérias-primas. Serão assim descritos alguns dos principais processos
individuais e conjugados.
5.1. Craqueamento
O craqueamento térmico ou pirólise por aquecimento a altas temperaturas
(superiores a 450°C), provoca a quebra de acilglicerídeos gerando hidrocarbonetos
semelhantes aos do óleo diesel, bem como de ácidos graxos livres, sendo então
chamado bio-óleo (FIGURA 9). Podem-se utilizar catalisadores ácidos para
converter os ácidos graxos livres em biodiesel (PENG; LAN; DAI, 2006; QUINTELLA
et al., 2009). Entretanto, vale ressaltar que o produto obtido ao final do processo não
corresponde a biodiesel puro, identificando-se mais como uma mistura BX.
FIGURA 9: Reação de craqueamento
Fonte: (SILVA; FREITAS, 2008)
5.2. Esterificação
É um processo de obtenção de ésteres, a partir da substituição de uma
hidroxila (-OH) de um ácido por um radical alcooxíla. Como é uma reação entre um
ácido carboxílico com um álcool, ocorre a eliminação de água. Este processo pode
ser utilizado antes da transesterificação para redução do índice de acidez, como um
exemplo de processo conjugado (RAMOS et al., 2011).
A reação de esterificação ácida ocorre com um ácido graxo livre e um álcool,
que reagindo na presença de ácido produz éster e água, conforme Figura 10.
32
FIGURA 10: Reação de esterificação
Fonte: (BERRIOS et al., 2010)
Atualmente este processo vem sendo muito estudado, com várias publicações
voltadas para a esterificação de óleos vegetais com alta acidez. De acordo com
SUAREZ (2015), as principais vantagens de se utilizar esse processo é que se exige
menor pureza das matérias-primas e a purificação do biodiesel é mais simples do
que quando se realiza o processo de transesterificação.
A desvantagem é que podem ocorrer reações de hidrólise paralelas, que
levam à formação de ácidos graxos e glicerol caso a mistura tenha quantidades
consideráveis de triacilglicerídeos, os quais, em presença de água, sofrerão tal
hidrólise (BERRIOS et al., 2010; CAI et al., 2015; SUAREZ, 2015).
A técnica da esterificação para produção de biodiesel foi aperfeiçoada por
Aranda e Antunes, (2005). A matéria-prima utilizada neste processo foi o resíduo
proveniente do refino do óleo de palma, ao contrário da transesterificação, que não
emprega resíduos.
Na indústria são poucos os exemplos de utilização de esterificação para
produção de biodiesel. O que mais se destacou foi desenvolvido pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) juntamente com a AGROPALMA, em Belém (PA),
por ter sido a primeira fábrica no mundo a utilizar um catalisador heterogêneo para
produção de biodiesel através do licenciamento da patente PI03011038 (ARANDA;
ANTUNES, 2005b; LEÃO, 2009).
5.3. Transesterificação
A transesterificação é uma reação de conversão de um éster em outro éster.
A transesterificação de acilglicerídeos, como a que ocorre para a produção de
biodiesel, corresponde a remoção do glicerol presente nos acilgliceróis ou
33
acilglicerídeos dos óleos e gorduras, e sua substituição por um monoálcool simples
com a ajuda de um catalisador, básico ou ácido (KUCEK, 2004; RAMOS et al.,
2011).
A presença do catalisador (tipicamente um ácido ou uma base forte) acelera
consideravelmente esta reação. Com objetivo de conseguir um rendimento elevado
do éster, o álcool tem que ser usado em excesso, pois como essa reação é
reversível, necessitando de álcool em grande quantidade forçar o equilíbrio para a
formação dos produtos desejados (FIGURA 11) (KNOTHE, 2010; ENCARNAÇÃO,
2008).
FIGURA 11: Reação de transesterificação etílica
Fonte: (ANDRADE et al., 2011)
Este processo também gera um produto com menor viscosidade cinemática, o
que resulta em propriedades físico-químicas melhores, e desempenho mais eficiente
na sua utilização como combustível, pois a viscosidade cinemática é uma das
razões para que acilglicerídeos devam ser convertidos a biodiesel para uso como
combustível. A viscosidade do biodiesel é assim mais próxima a do diesel, o que não
prejudica os motores, já que as viscosidades cinemáticas elevadas das matérias
graxas sem passarem pelo processo de transesterificação, causariam sérios
problemas nos motores (CASTRO, 2009; SANTOS et al., 2007).
A produção de biodiesel mais utilizada por transesterificação é na presença
do álcool metílico ou metanol, sendo que os alcoóxidos metílicos podem ser
adicionados diretamente ou serem produzidos mediante dissolução de um hidróxido
34
(geralmente de sódio ou potássio) no álcool para sua formação (MEHER; VIDYA
SAGAR; NAIK, 2006; MENEGHETTI; BRITO, 2013).
Após a transesterificação são formados o biodiesel (ésteres etílicos ou
metílicos de ácidos graxos) e glicerol, sendo necessário que se purifique ambos nas
etapas subsequentes, bem como se efetue a recuperação do álcool e separação do
glicerol produzido, o qual pode ser utilizado nas indústrias alimentícias,
farmacêuticas (medicamentos e cosméticos) e químicas (BHUIYA et al., 2016a;
BOTELHO, 2012; COSTA et al., 2013).
A maioria dos trabalhos utiliza esta metodologia, mas alguns estudos recentes
estão utilizando processos conjugados, para melhorar a qualidade e reduzir o custo
do biodiesel. Como exemplos cita-se os trabalhos de Kucek (2004), Castro (2009),
Enweremadu e Mbarawa (2009), Silva (2011), Meneghetti e Brito (2013) e Borges et
al. (2014). Nesses estudos todos utilizaram a esterificação seguida da
transesterificação, variando o álcool (metanol ou etanol), a matéria-prima (ORF ou
óleo de soja), e tendo como rendimento teores de ésteres totais de 88 a 98%.
5.4. Rota supercrítica
A reação de transesterificação exige o uso de catalisadores que necessitam
de um tempo de reação relativamente elevada, sendo que se houver presença de
água ou de ácidos graxos, no caso de catálise básica, pode ocorrer uma reação de
saponificação, consumindo assim o catalisador, reduzindo a eficiência do processo
(KUSS et al., 2015).
Para obter um biodiesel de qualidade livre de contaminantes, além da reação
de transesterificação é necessário se garantir que a matéria-graxa utilizada esteja
isenta de água livre e de ácidos graxos livres.
Uma alternativa é a reação de transesterificação de óleos vegetais com álcool
supercrítico, isto é, o álcool é submetido a condições extremas de temperatura e de
pressão (SHAHID; JAMAL, 2011). Nesse método, não há necessidade de se
remover o catalisador ou os produtos resultantes da reação, nem mesmo é
35
necessário um pré-tratamento do óleo a fim de eliminar a água e/ou os ácidos
graxos livres, porque este processo não é sensível a estes contaminantes.
Os estudos desenvolvidos para a produção de biodiesel por via supercrítica -
pressão elevada e temperatura em condições que superam as propriedades para a
realização da transesterificação com o uso de catalisadores. Nessas condições de
pressão e temperatura, a eficiência e a velocidade da reação são altos e as fases de
separação envolvem apenas a separação do biodiesel e do glicerol, através de
decantação e a remoção do álcool utilizado (KUSS et al., 2015; PATIL et al., 2010).
No entanto, devido a altas pressões e temperaturas o custo alto dos
equipamentos essa metodologia de produção de biodiesel ainda não é muito
utilizada. Os desafios são a construção de reatores de custos moderados, redução
do processo de demanda energética e redução da razão molar óleo / álcool, além de
estabelecer situações em que seria mais vantajoso do que o via convencional
através de um balanço energético completo (CONIGLIO et al., 2014; KUSS et al.,
2015; RODRÍGUEZ-GUERRERO; RUBENS; ROSA, 2013).
5.5. Catálise enzimática
Estudos recentes apontam para a aplicação de lipases na geração de
energia, tais como a produção de biocombustíveis. Considerando o crescimento da
demanda dos biocombustíveis em todo o mundo, o uso de lipases para a produção
de biodiesel é relevante não só pela sua dimensão ambiental, mas, principalmente,
porque é uma fonte renovável de energia (TONGBORIBOON; CHEIRSILP; H-
KITTIKUN, 2010).
A utilização de lipases para a produção de biodiesel tem um diferencial em
relação a outros processos, no qual, o glicerol produzido como um subproduto
produto é facilmente recuperado (CHARPE; RATHOD, 2011; MARCHETTI; MIGUEL;
ERRAZU, 2007).
Os ácidos graxos livres presentes nos óleos vegetais e/ou de gorduras
animais, são convertidos em ésteres de ácidos graxos. No entanto, as dificuldades
para a utilização dessa metodologia são os custos de produção que exigem grandes
36
investimentos em genética molecular, para a obtenção de alta produtividade, sendo
ainda um empecilho para a sua utilização em grande escala (KUSS et al., 2015).
5.6. Processos conjugados
Os processos conjugados servem para minimizar o impacto que a grande
variedade de matérias-primas gera. Algumas possuem, por exemplo, índices de
acidez muito altos, sendo necessário reduzi-los antes de realizar uma
transesterificação alcalina.
Assim, um dos processos conjugados mais estudados é a produção de
biodiesel por esterificação ácida, seguida de transesterificação alcalina. Assim, em
1945, ocorreu o primeiro estudo desse processo, realizado na Colgate-Palmolive
(SUAREZ et al., 2009a). Esse processo é indicado para sistemas onde a matéria-
prima é rica em ácidos graxos livres, os quais são transformados em ésteres, sendo
que parte dos acilglicerídeos também são convertidos à ésteres alquílicos de ácidos
graxos. Em seguida realiza-se a transesterificação dos acilglicerídeos
remanescentes, convertendo-os também a ésteres alquílicos de ácidos graxos,
propiciando com que toda a amostra se converta a biodiesel.
No trabalho de Berrios et al.(2010) foi investigada a diminuição da acidez
através do processo de esterificação ácida, seguida de uma transesterificação
alcalina com temperaturas e razões molares diferentes, em um reator descontínuo, a
fim de melhorar a produção de biodiesel a partir de óleos de fritura usados. O
resultado encontrado foi a produção de ésteres metílicos de ácidos graxos foi de
88,5%.
O objetivo do trabalho de Charoenchaitrakool e Thienmethangkoon, (2011) foi
investigar as condições ideais da produção de biodiesel a partir de óleo e gordura de
fritura residual usando o processo catalisado em duas etapas conjugadas. Na
primeira etapa, o ácido sulfúrico foi utilizado como um catalisador para a
esterificação, a fim de reduzir o teor de acidez para próximo de 0,5%. Na segunda
etapa, o produto gerado na primeira etapa foi transesterificado com metanol usando
hidróxido de potássio como catalisador, sendo utilizado o metanol como álcool. O
biodiesel metílico produzido apresentou um teor de ésteres totais de 90,56%.
37
Acevedo et al. (2015), produziram biodiesel utilizando processos conjugados
de esterificação ácida seguida da transesterificação alcalina, utilizando como
matéria-prima o óleo de palma e o metanol como álcool. Os resultados obtidos foram
rendimento de 99%, com lucro de US$1,08/galão.
Cai et al. (2015) também realizaram uma esterificação ácida antes do
processo de transesterificação do ORF. O rendimento do produto final foi de 93,1%
em peso com 98,6% de teor de ésteres metílico de ácidos graxos (FAME) totais.
Outro estudo utilizou o líquido iónico 1-butil-3-metilimidazólio
hidrogenossulfato (BMIMHSO4) como catalisador na esterificação e seguida por uma
transesterificação alcalina (KOH como catalisador), utilizando o metanol como álcool.
O processo se mostrou ser eficaz devido à a cadeia lateral mais longa do
BMIMHSO4, tendo como resultado um rendimento final de 95,65% em teor de
ésteres totais (ULLAH; BUSTAM; MAN, 2015).
Uma das vantagens desses processos conjugados é que grande parte do
glicerol pode ser separado após a esterificação ácida, logo, o biodiesel é obtido de
maneira mais pura (RAMOS et al., 2011).
5.7. Hidroesterificação
A hidroesterificação vem sendo muito estudada e cada vez mais aplicada,
pois sua utilização está se tornando uma técnica promissora para a produção de
biodiesel. As vantagens em termos de insumos, estequiometrias e resíduos gerados
podem vir a torná-la até mesmo mais viável que a transesterificação. O processo de
hidroesterificação consiste em duas etapas consecutivas: hidrólise e esterificação.
(SUAREZ; LIRA; RODRIGUEZ, 2015; VAUCHINSKI et al., 2011)
A quantidade de ácidos graxos na matéria-prima não é importante, pois a
primeira etapa do processo consiste na hidrólise dos acilgliceróis, sendo formado
água, glicerol e ácidos graxos. A água e o glicerol são separados e os ácidos graxos
passam pelo processo de esterificação ácida produzindo biodiesel (Figuras 12 e 13)
(ENCARNAÇÃO, 2008; TEIXEIRA, 2011).
38
FIGURA 12: Reação de hidrólise
Fonte: (SUAREZ; LIRA; RODRIGUEZ, 2015)
FIGURA 13: Reação de esterificação
Fonte: (SUAREZ; LIRA; RODRIGUEZ, 2015)
Alguns estudos realizando a hidroesterificação, tal como o realizado por
Suarez, Lira e Rodriguez (2015), obtiveram os parâmetros físico-químicos durante a
obtenção de ácidos graxos de óleo de soja e de ésteres metílicos e etílicos
produzidos por hidroesterificação, e os maiores rendimentos obtidos foram de cerca
de 80% de FAME e 76% de FAEE.
Outro estudo realizou uma análise financeira entre 3 processos, uma
transesterificação e uma hidroesterificação utilizando 50% de óleo vegetal e 50% de
sebo bovino como matéria-prima e uma outra hidroesterificação utilizando 45% de
óleo vegetal, 30% de sebo bovino, 20% de ácidos graxos e 5% de óleo de fritura. A
planta de hidroesterificação utilizando óleo vegetal, sebo bovino, ácido graxo e óleo
de fritura usado, apresentou resultados mais favoráveis em todas as análises
financeiras. Verificando que a hidroesterificação possui a vantagem de utilizar
catálise heterogênea frente à homogênea, o que significa menores despesas em
39
etapas de lavagem e neutralização com ácidos e bases. Essa vantagem é ainda
maior se matérias-primas de alto teor de acidez são empregadas (ENCARNAÇÃO,
2008).
No estudo de Pupo et al. (2007), foram analisados catalisadores ácidos para
aplicação na reação de hidroesterificação de óleo de soja na produção de biodiesel
metílico, obtendo um rendimento em FAME de 83%.
Zenevicz et al. (2008) estudaram novas alternativas para produção de ésteres
via hidroesterificação enzimática de óleo de fritura em banho de ultrassom, por meio
de duas etapas, hidrólise enzimática em modo batelada seguida de esterificação dos
ácidos graxos em reator de modo continuo, tendo com maior rendimento 91% de
FAEE.
VAUCHINSKI et al., (2011) analisaram a produção de ésteres metílicos de
ácidos graxos (FAMEs) por hidroesterificação metílica da microalga Chlorella sp.
Eles verificaram que o processo de hidroesterificação apresentou rendimento maior
quando comparado aos resultados de outros estudos que utilizaram a
transesterificação, além do que a hidroesterificação descarta a etapa de secagem da
biomassa, que é um dos principais “gargalos” na produção de biodiesel de
microalgas.
Entretanto, apesar das diversas vantagens apontadas, a hidroesterificação
também apresenta como principal desvantagem o elevado investimento inicial
(SANTOS et al., 2015). Em sistemas não catalíticos, o processo necessita de
elevadas temperaturas e pressões, porque as reações de hidrólise nesse tipo de
sistema só acontecem em temperaturas acima de 200 °C (MINAMI; SAKA, 2006). A
catálise enzimática aplicada na reação de hidrólise proporciona elevadas
conversões de triacilglicerídeos em ácidos graxos; entretanto, esse tipo de reação
requer controle de pH e tempo de reações prolongadas. Outra desvantagem é o fato
de este processo ser uma das mais novas alternativas para produção de biodiesel
no Brasil, e, por isso, ainda há poucas pesquisas sobre o assunto (ENCARNAÇÃO,
2008)
40
Além disso, a maioria dos estudos sobre hidroesterificação têm sido
realizados com a síntese de biodiesel metílico, com poucos trabalhos enfocando a
produção de biodiesel etílico.
6. CONCLUSÃO
Para a busca de um biodiesel economicamente viável várias matérias-primas
têm sido utilizadas para tentar reduzir seu custo, já que essas são responsáveis por
cerca de 80% do custo de produção desse biocombustível.
Os óleos e gorduras residuais de frituras vêm sendo utilizados como matéria-
prima alternativa de menor custo para a produção de biodiesel, especialmente
aqueles que sejam obtidos com o uso de metanol como reagente.
Entretanto, o uso de ORF e etanol para a produção do biodiesel pode ser uma
boa opção para reduzir o custo de produção e, consequentemente, o impacto
ambiental dessa cadeia produtiva, pela geração de um biodiesel totalmente
renovável.
Neste sentido, falta ainda estabelecer processos logísticos que permitam a
coleta de ORF e seu uso em grande escala, bem como de pesquisas que permitam
determinar qual o melhor processo reacional para gerar um biodiesel etílico de
qualidade adequada.
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49
CAPÍTULO 2
AVALIAÇÃO DA ADEQUABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE ÓLEOS E GORDURAS
DE FRITURA RESIDUAISS PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL
Camargo, R. P. L., Carrim, A. J. I., Franco, P. I. B. M., Antoniosi Filho, N. R.
Laboratório de Métodos de Extração e Separação (LAMES), Instituto de Química,
Universidade Federal de Goiás, Campus Samambaia, CEP: 74690-900, Goiânia-
GO, Brasil. E-mail: [email protected]
RESUMO
O processo de fritura dos alimentos é uma alternativa rápida e saborosa para a
população, mas geram grande quantidade de resíduos, os óleos e gorduras
residuais de fritura (ORF). Estes resíduos podem ser utilizados para a fabricação de
sabão, ração ou até mesmo biodiesel. A necessidade de preservação ambiental, tem
desenvolvido nas empresas a busca por processos de gerenciamento desses
resíduos, que controlem desde a geração, coleta e reciclagem até o descarte dos
mesmos. Com o avanço da produção de biodiesel o ORF passou a fazer parte da
cadeia produtiva do biocombustível e concorrer diretamente com a produção de
sabão. Mas para que se utilize esse ORF para produção de biodiesel é necessário
que o mesmo passe por um tratamento para retirada de resíduos e também precisa
se conhecer as características físico-químicas, devido a heterogeneidade do
resíduo. O presente estudo realizou exatamente esse tratamento e sua
caracterização físico-química para conhecer o resíduo e prepara-lo para a produção
do biodiesel, comprovando que a extração líquido-líquido (LLE) e a filtração
utilizando adsorvente reduzem os compostos oxidadados de primeira ordem, como o
hidroxidienos, e redução do teor de água, importante parâmetro de qualidade para
que a matéria-prima possa ser utilizada para a produção de biodiesel.
Palavras-chave: Reciclagem. Cromatografia gasosa. Caracterização
50
ABSTRACT
The process of frying food is a quick and tasty alternative for the population, but it
generates large amounts of waste, residual oil and fat frying (ORF). These residues
can be used for soap making, animal feed, or even biodiesel. The need for
environmental preservation has developed in companies the necessity to search for
process management of this waste, controlling since its production, collection, and
recycling to its disposal thereof. With the biodiesel production advances, the ORF
became part of the production of the biofuel chain and compete directly with the
production of soap. But in order to use this ORF for the biodiesel production it is
necessary that it goes through a treatment to remove its waste and it’s also
necessary to know its physical and chemical characteristics, due to heterogeneity of
the waste. This study was conducted this exact treatment and their physicochemical
characterization to meet the residue and prepares it for the production of biodiesel,
proving that the liquid-liquid extraction (LLE) and filtration using adsorbent reduce the
compounds oxidadados first order, as hidroxidienos, and reduced water content, an
important quality parameter for the raw material to be used for the production of
biodiesel
Keywords: Recycling. Gas Chromatography. Characterization
51
1. INTRODUÇÃO
Os óleos e gorduras de fritura residuais (ORF) são exemplos de resíduos que
ainda não possuem uma política específica de gerenciamento, o que dificulta sua
correta destinação final. Quando despejados no meio ambiente podem causar danos
a flora, fauna e pessoas, sendo então considerados um resíduo perigoso, pois
podem causar desordem no ambiente, causando morte de microrganismos, de
vegetação e, até mesmo, infertilidade dos solos aonde forem despejados. Seu
despejo em esgotos pode causar entupimento de tubulações, e em rios ou lagos
impedem a passagem de oxigênio, alterando também a biota dos aquíferos
(GOMES et al., 2013; GOUVEIA, 2012).
Infelizmente, apesar deste impacto negativo com o descarte incorreto dos
ORF, muito pouco é armazenado, coletado e reciclado de forma correta. De acordo
com Camargo & Carvalho (2014), para conseguir realizar esse processo
corretamente é necessário o empenho dos governantes, população e empresários,
beneficiando a todos durante a logística reversa do ORF, o que é um trabalho muito
difícil pois necessita de conscientização de todos e conhecimento dos prejuízos e
impactos negativos caso esse processo não ocorra corretamente.
Hoje, no Brasil, muitas ações estão sendo realizadas para se reverter esse
quadro. Em Goiânia, a Saneamento de Goiás S.A.- SANEAGO, possui o programa
“De olho no óleo” no qual o consumidor leva o ORF em uma garrafa de politireftalato
de etileno - PET para a SANEAGO e recebe uma bonificação na sua conta de água.
A empresa Ecológica, situada no Rio Grande do Sul, é especializada na coleta e
reciclagem de óleo vegetal usado, entregando em estabelecimentos comerciais os
recipientes para serem armazenados os ORF e, posteriormente, realizando a coleta
e o transporte das mesmas para as indústrias que processam sua reciclagem.
A Resolução nº 275 de 25 de abril de 2001 do Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA, determina que a reciclagem dos resíduos sólidos deve ser
incentivada, facilitada e expandida no país. Assim levará a redução do consumo de
recurso natural e matérias-primas, através de campanhas de educação ambiental.
52
Esses ORF podem ser utilizados para produção de biodiesel, glicerina, tintas,
massa de vidraceiro e geração de energia elétrica através de queima em caldeira,
sendo que a destinação mais empregada é a produção de sabão e de farinha básica
para ração animal (KAGAWA et al., 2013; YAAKOB et al., 2013).
A necessidade de se produzir combustíveis renováveis e com um custo de
produção baixo fez com que pesquisadores e usinas utilizassem o ORF como
matéria-prima para a produção de biodiesel. Vários estudos científicos comprovaram
que o biodiesel de ORF pode apresentar a qualidade exigida pelos órgãos que
estabelecem os parâmetros físico-químicos dos combustíveis (KAGAWA et al., 2013;
UDDIN et al., 2013; UZUN et al., 2012).
A extrema necessidade de se produzir um biodiesel que seja realmente
competitivo em relação ao custo e a sua qualidade levou a estudos para identificar
matérias-primas que reduzissem o custo de produção e com isso também
aumentasse a qualidade do mesmo para que o biodiesel possa ser inserido na rota
energética de maneira altamente eficiente.
Para que o biodiesel produzido a partir de ORF alcance os padrões de
qualidade exigidos pela legislação, é necessário caracterizar a qualidade do ORF,
bem como desenvolver estratégias que melhorem sua qualidade para emprego no
processo de produção.
Assim, esse trabalho teve como objetivo avaliar e apresentar proposta de
tratamento do ORF, visando adequar seu uso para a produção de biodiesel.
2. PARTE EXPERIMENTAL
O procedimento experimental consistiu na coleta, tratamento e caracterização
do ORF, tal como descrito a seguir:
2.1. Coleta do ORF
O ORF foi coletado de um restaurante da cidade de Anápolis (Goiás – Brasil).
Semanalmente o restaurante utilizava 32 L de óleo de soja refinado para fritura de
diversos alimentos sendo que, ao final desse período, o ORF gerado era
53
armazenado em tambores metálicos de 100 L de capacidade. Deste montante,
coletou-se 20 L para tratamento e análise, os quais foram armazenados em
embalagens plásticas novas de polietileno de alta densidade.
2.2. Tratamento do ORF
O tratamento inicial do ORF consistiu em processo de filtração simples com
funil de vidro e papel de filtro quantitativo (Whatman® 42 de 24cm / Cat no 1442-240),
visando a remoção de resíduos de alimentos e outros particulados.
Após ser filtrado, o ORF passou por uma extração líquido-líquido (LLE) para
retirada de compostos altamente oxidados e ácidos graxos livres de cadeia curta, a
qual consistiu na mistura de ORF e água destilada (1:1 v/v) em erlenmeyer e
colocados em incubadora Nova Ética Modelo 430RD, por período de 1 hora, a
temperatura ambiente e sob agitação a 180 rpm.
A LLE utilizando água é uma excelente opção para a melhoria da qualidade
do ORF, visto que esta promove a redução no índice de acidez e principalmente no
índice de peróxidos (AZEREDO, 2012). Outro fator relevante para a escolha dessa
metodologia de tratamento do ORF foi o baixo custo desse procedimento, visto que
não são necessários grandes gastos com energia ou reagentes.
Após este período colocou-se a mistura em funil de separação para a retirada
da água de lavagem. O ORF foi então colocado em balão de fundo redondo para ser
submetido a destilação visando a remoção de água. O processo de destilação foi
efetuado a 90°C, sob pressão reduzida, por cerca de duas horas, ou até o
desaparecimento de gotículas de água no fundo do balão de destilação.
2.3. Caracterização do ORF
As propriedades físicas e químicas do biodiesel foram determinadas pela
composição química das matérias-primas e estas propriedades podem variar
substancialmente de uma matéria-prima para outra. Desta forma, a caracterização e
a composição de ácidos graxos do ORF permite estimar algumas propriedades
importantes da qualidade do biodiesel, tais como a estabilidade oxidativa, o ponto de
entupimento de filtro a frio, entre outras (BORGES et al., 2014; SILVA, 2011).
54
A caracterização físico-química do ORF foi realizada pelos seguintes ensaios:
Índice de Iodo (EN 14111:2003), Índice de Peróxido (AOCS Cd 8-53:1993),
Viscosidade cinemática (NBR 10441:2007), Índice de Acidez (ASTM D664:1989),
Índice de Saponificação (AOCS Cd 3-25:1993), Teor de Água (ASTM D6304:2007),
Densidade (ASTM D 4052:2015), Estabilidade oxidativa (EN 14112:2003), teores de
elementos químicos (NBR 15553:2015 com a expansão para a análise de outros
metais), perfil de ácidos graxos, presença de mono-, di- e triacilglicerídeos e de
produtos de oxidação.
2.3.1. Análise do perfil de ácidos graxos por HRGC-FID
A análise do perfil de ácidos graxos é importante para se estimar a qualidade
do biodiesel advindo de qualquer matéria-prima graxa, além de determinar o
processo de eficiência de produção do biodiesel. A percentagem e tipo de
composição em ácidos graxos está diretamente relacionada com o tipo de espécies
de plantas e as suas condições de crescimento.
Para isso utilizou-se a técnica de HRGC-FID com cromatógrafo a gás
Shimadzu-2010 Plus acoplado a detector por ionização em chama a 350°C e coluna
capilar DBWAX 30 m x 0,25 mm x 0,25 μm. O hélio foi o gás de arraste à velocidade
linear de 34,9 cm.s-1.
A temperatura inicial do forno foi de 70ºC, sendo aquecido a razão de
10ºC.min-1 até 240ºC e mantido nesta temperatura por 13 min, sendo novamente
aquecido até 250ºC a razão de 5ºC.min-1, deixando isotérmico a 250ºC por 20 min.
O injetor Split foi mantido a 350ºC, sob razão de 10:1 para o volume de
injeção de 2 μL.
2.3.2. Análise da presença de ácidos graxos livres, mono-, di- e
triacilglicerídeos e produtos oxidados do ORF via UPLC-DAD
Esta análise utiliza gradiente de fase móvel polar (fase móvel A) até uma fase
móvel de média polaridade (fase móvel B). A fase móvel A é constituída de 20% de
água e 80% de acetonitrila; a fase móvel B 50,0% de acetonitrila, 37,5% de
isopropanol 12,5% de hexano. Os comprimentos de onda monitorados foram 210,
55
235 e 270 nm, respectivamente para a análise de acilglicerídeos intactos, e produtos
de degradação oxidativa como hidroxiperoxidienos e cetoperoxidienos.
Todas as análises foram realizadas em triplicata em cromatógrafo HPLC DAD
Agilent 1220 Infinity LC. A coluna utilizada foi a Zorbax Elipse Plus C18 (4,5 cm x 50
mm x 1,8 µm) A temperatura de forno foi de 40°C e o gradiente foi de 0 a 8 minutos
com 100% de fase móvel A, de 8 a 10 minutos ocorreu variação linear até que a fase
móvel B chegasse a 100%, a qual se manteve isocrática até 20 minutos.
Após as análises foi efetuado um recondicionamento da coluna com a fase
móvel A por 5 minutos. A vazão da fase móvel foi de 0,8 mL.min-1 e o volume
injetado foi de 20 L de amostra contendo 5 mg de ORF diluído em 25 mL de
acetonitrila.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O ORF coletado e armazenado em bombonas foi submetido a extração
líquido-líquido e a destilação simples como etapas de tratamento anterior ao uso do
ORF para a emprego na produção de biodiesel. Tal tratamento teve como objetivo
remover parte dos compostos oxidados polares (solúveis em água) os quais
poderiam prejudicar a produção do biodiesel pela formação de sabão, ou
comprometer a qualidade do produto final, o qual poderia ser mais propenso a
formação de borras e sedimentos, principalmente após a mistura do biodiesel com o
óleo diesel.
O ORF assim tratado foi analisado por cromatografia líquida de ultra
performance (UPLC) visando avaliar a eficiência da remoção de tais compostos
oxidados a partir do ORF.
3.1.1. Análise por UPLC dos ácidos graxos livres, mono-, di- e
triacilglicerídeos e produtos oxidados do ORF
O ORF utilizado pode conter ácidos graxos insaturados que são propensos a
oxidação acelerada por exposição ao ar durante o armazenamento e sob a alta
temperatura da fritura, podendo assim originar compostos polimerizados. Os
56
principais produtos de oxidação do ORF são hidroxiperoxidienos, cetodienos e
hidroxidienos (ALBERICI et al., 2012; BEZERGIANNI; CHRYSIKOU, 2012; JAIN;
SHARMA, 2013; LEME et al., 2012; MORALES et al., 2012a; NATARAJAN, 2012).
A análise cromatográfica realizada a 210 nm tem por objetivo avaliar a
presença de ácidos graxos livre, mono-, di-, triacilglicerídeos e, até mesmo, ésteres
alquílicos de ácidos graxos, caso esses estejam presentes. Sua ordem de eluição se
dá pela polaridade sendo as substâncias mais polares eluindo primeiro (ácidos
graxos livres e monoacilglicerídeos), durante os 10 primeiros minutos de análise,
seguida pela eluição dos compostos de média polaridade, entre 10 e 12 minutos,
que são ésteres etílicos de ácidos graxos e diacilglicerideos, e ao final da análise,
após 12 minutos, eluem os compostos de menor polaridade, que são os
triacilglicerídeos.
Observa-se que nos cromatogramas obtidos por UPLC-DAD a 210 nm
(FIGURA 1) que é possível observar a presença majoritária de triacilglicerídeos no
óleo de soja refinado (OSR) (cromatograma A) bem como no ORF sem tratamento
(cromatograma B) assim como no ORF após o tratamento (cromatograma C),
havendo uma menor quantidade de diacilglicerídeos em todas as amostras. Isso
indica que tal tipo de amostras apresenta majoritariamente os componentes que são
alvo de conversão à biodiesel (BEZERGIANNI; CHRYSIKOU, 2012).
Observou-se também uma pequena quantidade de ácidos graxos no ORF
antes do tratamento, a qual foi diminuída após o tratamento, o que atesta a eficácia
desse procedimento. No OSR tais ácidos graxos livres não foram detectados.
57
FIGURA 1: Cromatograma do OSR (A), ORF sem tratamento (B) e ORF após o
tratamento (C) obtido por HPLC-UV/DAD a 210 nm.
Os resultados obtidos com a análise a 235 nm (FIGURA 2) mostra os
produtos de oxidação primários, que são os hidroperoxidienos e os hidroxidienos,
estão ausentes no OSR (A), presentes em maiores quantidades no ORF não
submetido a tratamento (B) e presentes em menores concentrações após o
tratamento do ORF (C), novamente mostrando a eficácia deste na remoção de
componentes oxidados.
58
FIGURA 2: Cromatograma do OSR (A), ORF sem tratamento (B) e ORF após o
tratamento (C), obtido por HPLC-UV/DAD a 235 nm.
Tal efeito de redução das concentrações das espécies oxidadas via extração
líquido-líquido seguida de destilação também é demonstrado na Figura 3, a qual
demonstra que o processo de tratamento do ORF é eficaz em reduzir também os
compostos oxidados de segunda ordem, os denominados cetoperoxidienos
(MORALES et al., 2012b, 2012c).
59
FIGURA 3: Cromatograma do OSR (A), ORF sem tratamento (B) e ORF após o
tratamento (C) obtido por HPLC-UV/DAD a 270 nm.
3.2. Caracterização físico-química de OSR e ORF
Foi realizada a caracterização físico-química do óleo de soja refinado (OSR) e
do óleo e gordura de fritura residual (ORF) após o tratamento para determinar
algumas propriedades que estão diretamente relacionadas com a produção do
biodiesel, sua qualidade, seu rendimento e custo. Os resultados constam da Tabela
1.
Durante o processo de fritura, grande quantidade de água é liberada a partir
do alimento o que, associado a temperatura elevada, promove a a formação de
ácidos graxos livres (Botelho, 2012), mono- e diacilglicerídeos, o que reflete no
aumento dos índices de acidez e de saponificação (ALBERICI et al., 2012;
CHARPE; RATHOD, 2011). Além disso, como parte das insaturações são oxidadas
ou têm sua ligação quebrada durante a fritura, o ORF apresenta maior índice de
peróxido e menor índice de iodo (SILVA et al., 2011) que o OSR. Os produtos de
oxidação também promovem o aumento da viscosidade cinemática do ORF
(CHAKRABORTY; GUPTA; CHOWDHURY, 2014; IGLESIAS et al., 2012; PHAN;
PHAN, 2008).
60
TABELA 1: Caracterização físico-química do OSR e do ORF
Propriedades OSR ORF OGRF
Filtração em Na2SO4
Teor de água (mg.kg-1) 157,55 1.190,16 357,00
Índice de acidez (mg KOH.g-1) 0,23 1,18 1,18
Índice de saponificação (mg KOH g-1 de óleo) 121,19 134,26 134,26
Índice de peróxido (meq.kg-1) 6,64 14,47 14,47
Índice de iodo (g.I2-1) 123,74 73,01 73,01
Viscosidade cinemática (mm² s-1) 32,42 42,68 42,68
Estabilidade oxidativa (h) 6,55 2,93 2,93
A presença de peróxidos no ORF pode levar também a formação de borras e
sedimentos que, por possuem maior polaridade que o biodiesel, se separam dos
ésteres alquílicos de ácidos graxos e principalmente dos hidrocarbonetos do óleo
diesel, podendo inclusive a promover o entupimento de bicos injetores (ALBERICI et
al., 2012; DA SILVA et al., 2011).
O aumento da viscosidade cinemática se dá pela formação de polímeros, os
quais em macroescala são visualmente observados como grumos.
A quebra das cadeias hidrocarbônicas e a liberação de ácidos graxos livres,
promovidas pela fritura, aumentam a quantidade de espécies voláteis que diminuem
a estabilidade oxidativa do ORF em relação ao OSR, além de provocar alteração de
cor e formação de espuma.
O valor de índice de acidez acima de 1 mg.KOH.g-1 sugere que para o ORF
ser convertido, por exemplo, a biodiesel, é necessário a utilização de um processo
conjugado, como por exemplo uma esterificação seguida de transesterificação (CAI
et al., 2015; ENCARNAÇÃO, 2008; SUAREZ; MENEGHETTI, SIMONI, 2015).
O alto teor de água presente no ORF também é um problema que pode
prejudicar a produção, rendimento e qualidade do biodiesel, já que a água é um
produto da reação de produção desse biocombustível. Sua manutenção no ORF
ocasionaria na necessidade de realizar o processo de produção do biodiesel
61
utilizando uma proporção maior de álcool com relação ao óleo, visando favorecer a
direção da reação para a formação de ésteres (CASTRO, 2009; SILVA, 2011).
Como tal situação é econômica e energeticamente desfavorável, tornou-se
necessário então acrescentar a filtração sob sulfato de sódio para reduzir o teor de
água, a qual após tal tratamento, reduziu seu conteúdo em 70%, sendo de 1.190,16
para 357,00 mg.kg-1.
3.2.1. Determinação de elementos químicos no ORF
Durante o processo de fritura alguns elementos químicos, especialmente os
metálicos, são adicionados ao óleo, oriundos dos alimentos ou dos utensílios
utilizados(CHARPE; RATHOD, 2011; GUPTA, 2005). Entretanto, observou-se que
elementos químicos que poderiam ser transferidos da fritadeira, como ferro e
alumínio, bem como outros elementos, não foram sequer detectados (TABELA 2),
indicando que o recipiente metálico usado na fritura tem baixa influência na
contaminação por metais.
Assim, não foram encontrados os elementos químicos monitorados no OSR, e
no ORF foram encontrados somente magnésio e fósforo, os quais são procedentes
de alimentos, já que batatas e peixes são ricos em magnésio e carnes são ricas em
fósforo, presentes como fosfolipídeos.
Fosforo e o magnésio são elementos químicos monitorados em biodiesel e,
se estiverem presentes no produto final, podem comprometer a qualidade do
biodiesel. O magnésio pode formar depósitos no bico injetor e o fósforo gera
emissões que irão conter grande quantidade de materiais particulados que poderão
influenciar na operação de conversores catalíticos automotivos pode promover a
formação de gomas (JAIN; SHARMA, 2013; KNOTHE, 2007; LÔBO; FERREIRA;
CRUZ, 2009).
62
TABELA 2: Teores de elementos químicos no OSR e no ORF.
Elementos Químicos
Limite de Quantificação (LQ)
Teor (mg.kg-1)
OSR ORF
Ag Prata 0,24 <LQ <LQ
Al Alumínio 0,02 <LQ <LQ
B Boro 0,37 <LQ <LQ
Ba Bário 0,10 <LQ <LQ
Ca Cálcio 0,24 <LQ <LQ
Cd Cádmio 0,02 <LQ <LQ
Cr Cromo 0,04 <LQ <LQ
Cu Cobre 0,26 <LQ <LQ
Fe Ferro 0,02 <LQ <LQ
K Potássio 0,03 <LQ <LQ
Mg Magnésio 0,01 <LQ 0,60±0,03
Mn Manganês 0,05 <LQ <LQ
Mo Molibdênio 0,04 <LQ <LQ
Na Sódio 0,29 <LQ <LQ
Ni Níquel 0,07 <LQ <LQ
P Fósforo 0,25 <LQ 7,20±0,09
Cu Chumbo 0,39 <LQ <LQ
Si Silício 0,10 <LQ <LQ
S Estanho 0,02 <LQ <LQ
V Vanádio 0,01 <LQ <LQ
Zn Zinco 0,02 <LQ <LQ
3.2.2. Análise cromatográfica de ácidos graxos
Cadeias de ácidos graxos, principalmente os insaturados, desempenham um
papel importante na determinação das propriedades do biodiesel (LEÃO.; ARANDA
2009), isto é, quanto maior a quantidade de ácidos graxos insaturados, melhor será
63
o seu desempenho, pois as insaturações conferem maior polaridade a estas
moléculas, permitindo uma instabilidade de carga que facilita a quebra das ligações.
O ORF adquirido possui cerca de 80% dos ácidos graxos insaturados (TABELA 3), o
que é favorável a produção de biodiesel, sendo que a maior parte encontra-se na
forma de ácido oleico, o qual por ser monoinsaturado melhora as propriedades de
fluidez sem prejudicar a estabilidade oxidativa.
TABELA 3: Perfil de ácidos graxos do ORF.
Ácido Graxo Percentual Normalizado (%)
OSR ORF
C14:0 Mirístico 0,1 0,2
C16:0 Palmítico 13,8 8,0
C16:1 cis9 Palmitoléico 1,1 4,4
C18:0 Esteárico 3,3 4,6
C18:1 cis9 Oleico 22,2 48,4
C18:1 cis11 Vacênico 1,4 0,1
C18:2 cis9, cis12 Linoleico 55,6 32,0
C18:3 cis9, cis12, cis15 Linolênico 1,4 0,9
C20:0 Araquídico 0,4 0,6
C20:1 cis9 Gadolêico 0,1 0,1
C22:0 Behênico 0,4 0,0
C22:1 cis13 Erúcico 0,1 0,5
C24:0 Lignocérico 0,1 0,2
Comparando os percentuais de ácidos graxos do OSR com o ORF observa-
se que o processo de fritura promoveu a diminuição dos teores dos ácidos graxos
mais insaturados, tais como linoleico e linolênico.
Assim, o ácido linoleico, que é di-insaturado, aparece em 55,6% da
composição química dos ácidos graxos do OSR e em 32,0% do ORF, o que indica
que o processo de fritura ocasionou uma diminuição de 58% de seu percentual. O
ácido linolênico, tri-insaturado e, portanto, mais susceptível a degradação térmica e
64
uoxidativa, teve uma diminuição mais pronunciada ainda, diminuindo em 64% seu
percentual, indo de 1,4% no OSR para 0,9% no ORF.
Diversos trabalhos demonstram que após o processo de fritura, a
porcentagem de ácido linoleico geralmente diminui ao longo dos tempos de fritura e
altas temperaturas, o que é percebido pois conforme os estudos o óleo de soja
vegetal possui em média 50% do ácido linoleico e após o processo de fritura a
porcentagem normalizada foi reduzida para 13% (FREIRE; MANCINI FILHO;
FERREIRA, 2013; SANIBAL; MANCINI FILHO, 2004).
A diminuição dos teores dos ácidos di- e tri-insaturados ocasionou o aumento
da proporção da maioria dos ácidos saturados e monoinsaturados. Assim, o teor de
ácido oleico foi de 22,2% para 48,4%, o que implica em um aumento de 218% na
composição desse ácido.
De acordo com ChhetrI, Watts e Islam (2008) e Knothe, Gerpen e Krahl
(2005) quanto menor for a quantidade de ácidos graxos saturados no ORF, melhor o
desempenho na produção do biodiesel. Além disso, é importante que haja um
elevado teor de ácidos monoinsaturados – tais como oleico e palmitoleico – os quais
proporcionam uma boa relação entre estabilidade oxidativa e fluidez. Essa situação
é exatamente a encontrada no ORF, indicando que sua composição de ácidos
graxos é adequada para a produção de biodiesel.(BEZERGIANNI; CHRYSIKOU,
2012; KNOTHE, 2007; MITTELBACH; GANGL, 2001)
Logicamente que a alteração na composição de ácidos graxos não ocorre
somente devido a ação oxidativa e termocatalítica, mas também devido a absorção,
por parte das frituras, de parte dos ácidos graxos do óleo de soja submetido à fritura,
bem como da liberação de ácidos graxos contidos em alimentos. Vale observar que
essa segunda via é menos predominante que a primeira pois no ORF não foram
identificados ácidos graxos diferentes dos encontrados em OSR.
Ademais, a temperatura e o tempo de fritura, o aquecimento contínuo ou
descontínuo e a reposição de óleo novo podem alterar os níveis dos ácidos graxos.
Esses fatores podem ser variáveis em restaurantes, lanchonetes, pois geralmente
ocorrem diversos ciclos de aquecimento e resfriamento, como antes e após da
adição do alimento e durante e ao final da fritura. Esses fatores explicam em parte,
65
porque o processo de fritura pode gerar óleos que apresentam o mesmo
comportamento físico-químico do aqui obtido em comparação do OSR com o ORF,
mas em níveis de intensidade diferentes (GUPTA, 2005). Com isso, é possível obter
óleos de fritura com diferentes teores de água e ácidos graxos, índices de acidez,
peróxidos e iodo, mas sempre apresentando as tendências de modificação físico-
químicas e estruturais aqui apresentadas.
4. CONCLUSÃO
Assim sendo, esse trabalho demonstra que o tratamento do ORF com
extração líquido-líquido, destilação e filtração em adsorvente é importante para
diminuir o teor de água e de ácidos graxos livres - que podem comprometer o
rendimento da conversão à biodiesel – e dos teores de componentes oxidados – que
podem promover a formação de borras e sedimentos, especialmente quando o
biodiesel é misturado ao óleo diesel.
Ademais, a elevada acidez residual, comum para ORF, indica que a produção
de biodiesel diretamente a partir dessa matéria-prima deve ser feita via
hidroesterificação ou via esterificação ácida seguida de transesterificação alcalina.
Uma segunda opção seria efetuar a mistura de pequenas proporções de ORF com
óleos de melhor qualidade, de forma a utilizar somente a transesterificação alcalina,
a qual é a rota preferencialmente usada pelas usinas de biodiesel.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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69
CAPITULO 3
PRODUÇÃO DE BIODIESEL ETÍLICO DE ÓLEOS E GORDURAS DE FRITURA
RESIDUAIS VIA ESTERIFICAÇÃO ÁCIDA SEGUIDA DE TRANSESTERIFICAÇÃO
ALCALINA
Camargo, R. P. L.; Costa, D. C.; Siqueira, A.J.; Alves, M.I.R.; Antoniosi Filho, N. R
Laboratório de Métodos de Extração e Separação (LAMES), Instituto de Química, Universidade Federal de Goiás, Campus Samambaia, CEP: 74690-900, Goiânia-GO, Brasil. E-mail: [email protected]
RESUMO O uso de etanol em substituição ao metanol é de fundamental importância para
aumentar a sustentabilidade ambiental do biodiesel, bem como, os óleos residuais
de fritura (ORF) podem ser uma opção para baratear o custo desse biocombustível.
Para isso é necessário otimizar o processo de conversão à biodiesel, de forma que
este não aumente os custos do processo global. Assim, o presente trabalho teve
como objetivo adequar a produção do biodiesel etílico a partir de ORF oriundo de
óleo de soja, utilizando um processo conjugado quimiometricamente otimizado de
esterificação ácida seguida de uma transesterificação alcalina, via planejamento
experimental 23. As variáveis analisadas foram a razão molar ORF:etanol, a
quantidade de catalisadores e o tempo das reações. Para a esterificação o
rendimento foi obtido pela redução do índice de acidez e para a transesterificação
pela porcentagem do teor de ésteres totais, confirmado com a análise de mono-, di-
e triacilglicerídeos. O controle da qualidade do biodiesel etílico de ORF produzido
indica que o uso da esterificação com 2,5% de H2SO4 e razão molar de etanol:ORF
de 11:1 por 4 horas, e a transesterificação com 1,5% da concentração de KOH e
razão molar etanol:matéria graxa de 13:1 por 4 horas, permitem a produção de um
biodiesel etílico de ORF com qualidade similar a obtida para o biodiesel de óleo de
soja refinado. A estabilidade oxidativa foi o único parâmetro que ficou abaixo do
limite, isso pode ocorrer devido a presença de compostos oxidados (hidroxidienos,
hidroperoxidienos e cetoperoxidienos), que vieram do ORF utilizado, e para se
reverter este ponto, o ideal é a utilização de antioxidantes ou mistura com biodiesel
de óleo de palmáceas.
Palavras-chave: Biodiesel etílico. Quimiometria. Planejamento fatorial.
70
ABSTRACT
It is envisioned that the use of ethanol instead of methanol is essencial to increase
the environmental sustainability of biodiesel, and the residual oil and fat frying (ORF)
are options to lower the cost of biofuel. For this it is necessary to optimize the
process of conversion to biodiesel, so that it does not increase the costs of the
overall process. Thus, this study aimed to adapt the production of ethyl biodiesel
from ORF derived from soybean oil using an optimized conjugated quimiometry
process of acid esterification followed by an alkaline transesterification, via
experimental design 23. The variables analyzed were the molar ratio ORF: ethanol,
the amount of catalyst and the time of reactions. The esterification yield was obtained
by the reduction of the acid number and the percentage by the transesterification of
the content of total esters, and it was confirmed by analysis of mono-, di- and
triacylglycerides. The quality control of the ORF ethyl biodiesel that was produced
indicates that the use of esterification with 2.5% H2SO4 and molar ratio of ethanol:
ORF 11: 1 for 4 hours, and the transesterification with 1.5% KOH concentration and
the molar ratio ethanol: ORF 13: 1 for 4 hours, allows the production of an ORF ethyl
biodiesel that is similar to the one obtained for the refined soybean oil biodiesel.
Oxidative stability was the only parameter that was below the threshold, it may be
due to the presence of oxidized compounds (hidroxidienos, hidroperoxidienos and
cetoperoxydienos), that came from the ORF used, and to reverse this point, the ideal
is to use antioxidants or a mixing with palms biodiesel oil.
Keywords: Ethyl biodiesel. Quimiometry. Factorial design.
71
1. INTRODUÇÃO
O biodiesel é um biocombustível que é produzido a partir de um óleo vegetal
com excesso de um monoálcool de cadeia curta como o metanol e o etanol, na
presença de um catalisador que pode ser homogêneo, heterogêneo ou enzimático
(RAMOS et al., 2011; SALVI; PANWAR, 2012; YAAKOB et al., 2013).
Para a produção do biodiesel alguns fatores importantes devem ser
considerados, tais como a matéria-prima, o álcool, os catalisadores e as vias de
produção que resultarão em um processo simples, econômico e que produza um
biodiesel que atenda as exigências mínimas de qualidade exigidas (NAIMA; LIAZID;
MNAOUER, 2013; SALVI; PANWAR, 2012).
O processo mais utilizado é a transesterificação alcalina metílica do óleo de
soja ou de canola com catalisadores como o KOH ou o NaOH (KLEINOVÁ;
CVENGROŠOVÁ; CVENGROŠ, 2013; MOSER, 2009). No entanto a necessidade de
se reduzir custo, levou as usinas a utilizarem outras matérias-primas como óleo de
palma, algodão, sebo animal e outros, de acordo com a disponibilidade e local de
produção favorável. Além disso, a utilização de áreas agricultáveis para a produção
de óleos vegetais para produzir biocombustíveis, ao invés de serem utilizadas na
alimentação humana, começou a gerar problemas, levando a procura de outras
matérias-primas que suprimissem essa problemática (BORGES et al., 2014;
KNOTHE, 2006).
Como os óleos utilizados na área alimentícia geralmente são descartados, e
na maioria das vezes acabam nos esgotos, esses óleos se tornam um passivo
ambiental, pois causam sérios problemas tanto ecológicos quanto econômicos.
Esses óleos após utilização principalmente na fritura são conhecidos por óleos e
gorduras residuais de fritura (ORF) (ALBERICI et al., 2012; NAIMA; LIAZID;
MNAOUER, 2013), os quais são normalmente utilizado para produção de sabão, de
massa para vidraceiro, ração animal e outros fins, como produção de biodiesel (CAO
et al., 2014; EGUCHI; KAGAWA; OKAMOTO, 2015; MONTENEGRO et al., 2013).
Como o ORF pode ser utilizado para a produção de biodiesel e este necessita
de uma produção com um custo menor, o ORF pode ser uma boa opção para esse
72
fim. Quimicamente os ORF são compostos basicamente por triacilglicerídeos e
alguns compostos oxidados, o que prejudica seu uso na produção de biodiesel,
tornando essencial a realização de um tratamento e avaliação de suas
características para determinar a maneira como será dada sua conversão à
biodiesel. (BAUTISTA et al., 2009; EGUCHI; KAGAWA; OKAMOTO, 2015;
MOHAMMADSHIRAZI et al., 2014; SHARMA et al., 2012).
Uma das características a ser avaliada é o índice de acidez, que normalmente
é elevado e varia muito de acordo com o tempo de fritura e os alimentos que foram
utilizados (NAIMA; LIAZID; MNAOUER, 2013; YAAKOB et al., 2013). O índice de
acidez de um ORF encontra-se normalmente acima de 1,5 mg KOH.g-1, sendo que
nos óleos refinados tal valor é em média de 0,55 mg KOH.g-1. Essa alta acidez
atrapalha a produção de biodiesel, sendo necessária a utilização de processos
conjugados para obter um biodiesel de qualidade (KNOTHE; GERPEN; KRAHL,
2005; SILVA FILHO, 2010; SUAREZ; LIRA; RODRIGUEZ, 2015).
O processo conjugado é indicado para matéria-prima com grande quantidade
de ácidos graxos livres, consequentemente, com alto índice de acidez (BANERJEE;
CHAKRABORTY, 2009; UDDIN et al., 2013). Gerald L Keim foi o primeiro
pesquisador a utilizar um processo conjugado envolvendo a esterificação seguida da
transesterificação (SUAREZ et al., 2009).
A esterificação é normalmente a primeira etapa pois não necessita de uma
matéria-prima com pureza elevada, e possui maior simplicidade nos processos de
purificação, tendo como principal função a redução do índice de acidez da matéria-
prima graxa (BERRIOS et al., 2010; SUAREZ, 2015). A reação de esterificação
geralmente é uma catálise ácida, que utiliza ácidos de BrØnsted, como por exemplo
o ácido sulfúrico (CAI et al., 2015; SUAREZ et al., 2009).
Na indústria ainda existem poucos exemplos de utilização da esterificação na
produção de biodiesel. A empresa Agropalma S.A., em desenvolvimento realizado
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), utilizou o pentóxido de nióbio
e, posteriormente, o ácido metano-sulfônico como catalisador para a produção de
biodiesel a partir de ácidos graxos livres de palma, a qual é uma matéria-prima de
73
baixo valor (ARANDA; SCHMAL; SOUZA, 2002; SUAREZ, 2015; SUAREZ et al.,
2009).
Alguns estudos recentes conseguiram realizar a esterificação e a
transesterificação simultâneas, utilizando catalisadores heterogêneos (BERRIOS et
al., 2010; BRITO et al., 2012; CAI et al., 2015). Outro processo conjugado que está
sendo estudado e utilizado é a hidroesterificação, que é uma reação de hidrólise
seguida de uma esterificação em meio ácido. A vantagem desse processo é que
pode ser utilizada uma matéria-prima com qualquer índice de acidez e teor de água,
eliminando processos que tenham que reduzir esses índices (ENCARNAÇÃO, 2008;
TRENTINI; RASPE; SILVA, 2014).
A principal desvantagem consiste no elevado investimento inicial. Além disso,
em sistemas não catalíticos, o processo necessita de elevadas temperaturas e
pressões, porque as reações de hidrólise nesse tipo de sistema só acontecem a
100-373 °C e pressão de até 50 atm (SANTOS et al., 2015; HOLLIDAY; KING; LIST,
1997; MINAMI; SAKA, 2006). Assim, apesar da vantagem de efetuar toda a
conversão da matéria graxa ácida em biodiesel gerando também uma glicerina de
alta qualidade, a hidroesterificação ainda é uma rota pouco utilizada em usinas de
biodiesel, as quais preferem ainda o uso da catálise homogênea ácida, dadas as
facilidades de sua implementação em grande escala.
Seria relevante considerar outro problema ambiental na produção do biodiesel
que é a utilização do metanol durante o processo, embora o etanol seja um álcool de
menor toxicidade e, em alguns países como o Brasil, seja obtido em larga escala e
a preços competitivos. Apesar disso o metanol, que muitas vezes é obtido como
derivado fóssil e, portanto, não renovável, é ainda a primeira escolha, tendo em vista
sua maior reatividade e as menores dificuldades tecnológicas encontradas no
processo a partir do seu emprego.
A produção de biodiesel etílico de ORF também foi otimizada utilizando como
variáveis o tipo de catalisador para o processo de transesterificação alcalina (KOH e
NaOH), razão molar etanol:ORF (6:1 e 12:1), concentração do catalisador (1,0 e
1,5%) e temperatura (35 a 78°C). O melhor resultado, com rendimento de 72,5%, foi
obtido para a razão molar etanol:ORF de 12:1, concentração de KOH a 1% e
74
temperatura de 78°C, sendo que os autores indicaram o uso da transesterificação
em dois estágios, ao invés de um, pois isso amplia em 30% o rendimento em
ésteres etílicos (ENCINAR; GONZÁLEZ; RODRÍGUEZ-REINARES, 2007).
Não foi encontrado nenhum estudo em que se realizou a otimização de
processos conjugados de esterificação ácida e, posteriormente, a partir da
otimização desta etapa, de otimização da transesterificação alcalina, otimizando
assim todo o processo de produção do biodiesel etílico de ORF.
Assim, este estudo teve como objetivo principal a otimização do processo de
produção de biodiesel utilizando como álcool o etanol e como matéria-prima o ORF,
em um processo conjugado com uma esterificação ácida seguida de
transesterificação alcalina, bem como efetuar a avaliação da qualidade do
biocombustível obtido, com a sua caracterização físico-química baseada em
parâmetros de qualidade de biodiesel.
2. PARTE EXPERIMENTAL
Utilizou-se para este estudo o ORF de um estabelecimento comercial situado
em Anápolis (Goiás – Brasil), com a caracterização do mesmo apresentada em
Camargo et al. (2016).
Um dos parâmetros que foi mais monitorado no ORF utilizado foi o do teor de
água, pois a reação de esterificação ácida é um processo reversível e o ácido
catalisa tanto a reação direta (esterificação) como a reação inversa (hidrólise do
éster). Para se garantir que ela ocorra de forma direta, é necessário que se tenha o
mínimo de água durante o processo para evitar que ocorra o processo de hidrólise.
A utilização em excesso de um dos reagentes, como por exemplo, o álcool, também
auxilia a esterificação do ORF (CUNHA et al., 2013; DIAS et al., 2014).
Assim, um excesso de etanol deve ser adicionado para garantir a formação
dos compostos esperados, visando deslocar a reação no sentido da formação dos
ésteres. Para isso, é necessário que a razão molar entre etanol e ORF seja maior
que a estequiométrica de 1:1 (DIAS et al., 2014)
Foi realizada a otimização do processo de esterificação ácida do ORF
realizando um planejamento fatorial 2³ com as variáveis [1] razão molar etanol:ORF,
75
[2] concentração de catalisador (H2SO4) e [3] temperatura, tendo como resposta a
redução do índice de acidez.
O melhor resultado encontrado na otimização da esterificação ácida foi
utilizado para ser submetido ao planejamento fatorial 2³ para o processo de
transesterificação alcalina, com as variáveis [1] razão molar etanol:matéria graxa, [2]
concentração de catalisador (KOH) e [3] temperatura, tendo como resposta o teor de
ésteres totais. Além disso foi verificada a qualidade do biodiesel produzido através
da análise de mono-, di- e triacilglicerídeos. O melhor biodiesel produzido foi
caracterizado e avaliado de acordo com a Resolução ANP nº45/2014 (Anexo I).
Os reagentes utilizados foram: hidróxido de potássio (Synth-85%), ácido
sulfúrico (Tédia-95%), sulfato de sódio anidro (ACS-99,54%), álcool etílico absoluto
PA (Dinamica-99,8%) e ácido clorídrico (Neon-37%).
2.1. Otimização do processo de produção de biodiesel etílico de ORF
Para a otimização dos processos conjugados e avaliação do efeito das
variáveis [1] proporção etanol:matéria graxa, [2] concentração do catalisador e [3]
tempo de agitação sobre o rendimento da produção de biodiesel etílico de ORF, o
estudo foi realizado seguindo um planejamento fatorial em dois níveis denominados
superior (+) e inferior (-), com triplicata no ponto central, representado por 23. Isso foi
efetuado tanto para o processo inicial de esterificação ácida quanto para o segundo
processo, de transesterificação alcalina. As triplicatas no ponto central foram
realizadas com o objetivo de estimar o erro experimental (BARROS NETO et al.,
1995; CAMPELO, 2012)
2.1.1. Otimização do processo de esterificação ácida
Para a esterificação ácida foram utilizadas três razões molares entre etanol e
ORF, sendo 11:1 para o menor nível, 13:1 para o ponto central e 15:1 para o maior
nível. Os três tempos avaliados foram de 2h para o menor nível, 3h para o ponto
central e 4h para o maior nível. A concentração do catalisador ácido sulfúrico foi de
1,5% para o menor nível, 2,0% para o ponto central e em 2,5% para o maior nível.
76
Os parâmetros para o planejamento fatorial da esterificação etílica ácida do ORF
são apresentados nas Tabelas 1 e 2.
TABELA 1: Variáveis e níveis utilizados na otimização da esterificação ácida do ORF.
Variáveis
Níveis
(-) PC (+)
Concentração de ácido sulfúrico (% v/v) 1,5 2,0 2,5
Tempo de processo (h) 2 3 4
Razão molar (etanol:ORF) (v/v) 11:1 13:1 15:1
TABELA 2: Planejamento fatorial 2³ com três variáveis e dois níveis da esterificação ácida do ORF.
Experimentos Concentração de ácido
sulfúrico (%v/v)
Tempo de processo (h)
Razão molar (v/v)
E1 (-) 1,5 (-) 2 (-) 11:1
E2 (+) 2,5 (-) 2 (-) 11:1
E3 (-) 1,5 (+) 4 (-) 11:1
E4 (+) 2,5 (+) 4 (-) 11:1
E5 (-) 1,5 (-) 2 (+) 15:1
E6 (+) 2,5 (-) 2 (+) 15:1
E7 (-) 1,5 (+) 4 (+) 15:1
E8 (+) 2,5 (+) 4 (+) 15:1
PC1 2,0 3 13:1
PC2 2,0 3 13:1
PC3 2,0 3 13:1
A ordem dos experimentos foi aleatória, sendo realizados obtendo como
resultado satisfatório o que reduziu em maior percentagem o índice de acidez,
conforme a EQUAÇÃO 1, no qual, IAi é o índice de acidez inicial e IAf é o índice de
acidez final.
77
EQUAÇÃO 1: Equação do cálculo do rendimento da esterificação em relação ao índice de acidez
%𝐸 = 100 ∗(𝐼𝐴𝑖 − 𝐼𝐴𝑓)
𝐼𝐴𝑖
A esterificação etílica ácida foi realizada em reator Marconi MA 159/150, com
agitador IKA® RW 20 digital. Primeiramente foi misturado o etanol com o ácido
sulfúrico para a formação do reagente esterificante e em sequência misturado ao
ORF e colocado a 70°C sob agitação a 800 rpm.
Após o término do tempo dos experimentos, os mesmos foram lavados com
água destilada a 80°C, até que a água de lavagem estivesse límpida e o pH da água
de lavagem atingisse um valor constante.
Após lavagem, a matéria graxa esterificada ficou decantando por 24 horas
para a separação máxima da água por decantação, sendo depois realizada uma
filtração da matéria graxa esterificada em sulfato de sódio para garantir a retirada da
água.
Em seguida a matéria graxa esterificada foi avaliada quanto ao índice de
acidez (em triplicata) para verificar qual obteve o melhor resultado em termos de
redução da acidez. Tais análises foram realizadas no equipamento Potentiometric
Automatic Titrator AT-500N – KEN, conforme a norma.
2.1.2. Otimização do processo de transesterificação alcalina
O melhor resultado encontrado no planejamento da esterificação etílica ácida
foi utilizado para ser submetido aos experimentos do planejamento fatorial 2³ da
transesterificação alcalina, tendo como variáveis a razão molar, concentração de
KOH e temperatura conforme as Tabelas 3 e 4.
78
TABELA 3: Variáveis e níveis utilizados na otimização da transesterificação etílica alcalina.
Variáveis
Níveis
(-) PC (+)
Concentração de KOH (%m/m) 0,9 1,2 1,5
Tempo de processo (h) 2 3 4
Razão molar (etanol:matéria graxa) (v/v) 9:1 11:1 13:1
TABELA 4: Planejamento fatorial 2³ com três variáveis e dois níveis para a transesterificação etílica alcalina.
Experimentos Concentração de
KOH (%m/m) Tempo de processo
(h) Razão molar
(v/v)
T1 (-) 0,9 (-) 2 (-) 9:1
T2 (+) 1,5 (-) 2 (-) 9:1
T3 (-) 0,9 (+) 4 (-) 9:1
T4 (+) 1,5 (+) 4 (-) 9:1
T5 (-) 0,9 (-) 2 (+) 13:1
T6 (+) 1,5 (-) 2 (+) 13:1
T7 (-) 0,9 (+) 4 (+) 13:1
T8 (+) 1,5 (+) 4 (+) 13:1
PC1 1,2 3 11:1
PC2 1,2 3 11:1
PC3 1,2 3 11:1
A ordem dos experimentos foi aleatória e o rendimento foi obtido pelo teor de
ésteres totais, conforme descrito no item 2.2.
A transesterificação alcalina foi realizada em um reator Marconi, MA 159/150,
com agitador IKA® RW 20 digital. Primeiramente ocorreu a pesagem do KOH e sua
dissolução em etanol para a formação do catalisador etóxido de potássio. A matéria
graxa foi colocada no reator, juntamente com o catalisador a temperatura de 70°C. O
agitador foi ligado a uma rotação de 800 rpm.
Após o processo, e com o objetivo de facilitar a separação do biodiesel e do
glicerol, o biodiesel foi colocado em balão de fundo redondo para a recuperação do
79
etanol via rotoevaporação, por 1 hora, em Evaporador Rotativo Quimis® sob pressão
reduzida garantida por bomba Quimis® (ENCINAR; GONZÁLEZ; RODRÍGUEZ-
REINARES, 2007; PULLEN; SAEED, 2014; RODRÍGUEZ-GUERRERO; RUBENS;
ROSA, 2013).
A mistura biodiesel e glicerol foi colocada em funil de separação e deixada em
repouso por 24 horas para a total separação do glicerol (fase inferior), o qual foi em
seguida separado do biodiesel (fase superior).
Para neutralizar o catalisador básico lavou-se o biodiesel com solução de HCl
1,0 mol.L-1 e posteriormente com água destilada. Em seguida procedeu-se a
destilação e a subsequente filtração do biodiesel em Na2SO4 para diminuir ainda
mais o teor de água do biocombustível.
2.2. Análise cromatográfica dos ésteres etílicos de ácidos graxos (FAEE)
A cromatografia gasosa é um dos principais métodos para se analisar
componentes de misturas graxas, sendo que os mesmos podem ser identificados
por comparação do tempo de retenção com os relatados na literatura (ASTEN,
2002).
Para análises dos teores de ésteres para as amostras de biodiesel etílico de
ORF utilizou-se a técnica de cromatografia gasosa de alta resolução. Para isso foi
utilizado um cromatógrafo a gás Agilent modelo 7890 A equipado com detector FID,
injetor split/splitles e coluna DB-WAX (30 m x 250 mm x 0,25 µm / Part Number 122-
7032). O forno operou sob temperatura inicial de 70°C por 2 minutos, sendo
aquecido a 10°C.min-1 até 200°C, e a 5°C.min-1 até 240°C, sendo mantido nessa
temperatura por 13 minutos. O injetor foi mantido a temperatura de 250°C, com
volume de injeção de 1 µL, no modo split a razão de 20:1. A temperatura do detector
foi 250°C com nitrogênio como gás auxiliar a 40 mL.min-1. O hidrogênio 5.0 foi o gás
de arraste com velocidade linear de 45 cm s-1.
As amostras de biodiesel foram preparadas com a adição do éster etílico do
ácido nonadecanóico (C19 etílico), como padrão interno, sendo diluídas em n-
heptano (Neon®).
80
Os FAEE foram identificados pela análise de padrões de referência de FAEE
da NuChek® e através do tempo de retenção relativo ao padrão interno, e a
quantificação do teor de ésteres totais foi feita de acordo com a norma EN 14103.
Foram analisadas todas as 11 amostras de biodiesel produzidos, sendo
contabilizada as áreas dos picos e do pico do padrão utilizando a Equação 2,no qual
C é a concentração dos ésteres (%), ƩA é a somatória de todas as áreas, AEI é a
área do padrão interno (C19 etílico), WEI é o peso do padrão interno (C19 etílico) e
W é o peso da amostra.
EQUAÇÃO 2. Equação do teor de ésteres totais a partir das somatórias das áreas
dos picos cromatográficos:
𝐶 = 𝛴𝐴 −𝐴𝐸𝐼
𝐴𝐸𝐼 x
𝑊𝐸𝐼
𝑊 x 100
2.3. Determinação dos teores de mono-, di- e triacilglicerídeos, glicerina
livre e total do biodiesel
Juntamente com o biodiesel, após a transesterificação da matéria-prima
obtém-se um coproduto que é o glicerol, que é separado no processo de purificação
do biocombustível. A presença do glicerol e de mono-, di- e triacilglicerídeos podem
acarretar na presença de depósitos que causam entupimentos em partes do motor,
afetando a eficiência da combustão, além disso, possibilitam a avaliação da
eficiência da conversão da matéria-prima em biodiesel (PRADOS et al., 2012).
Dessa forma, para garantir que a otimização do processo de produção do
biodiesel etílico do ORF está dentro dos padrões exigidos, foi realizada a análise dos
mono-, di- e triacilglicerídeos nas amostras de biodiesel produzidas, seguindo a
norma ASTM D6584:2013. As análises foram realizadas em cromatógrafo a gás de
modelo 7890 A Agilent Technologies equipado com injetor on column, detector por
ionização em chama (FID) e injetor split/splitless. A temperatura do forno foi de 50°C
por 1 minuto e, em sequência, 15°C.min-1 até 180°C, 7°C.min-1 até 230°C e
30°C.min-1 até 380°C por mais 10 minutos.
Os biodieseis submetidos a análise cromatográfica foram anteriormente
submetidos a uma reação de sililação com trifluoroacetamida de N-metil-N-trimetilsilil
(BSTFA, Sigma-Aldrich) e diluídos em n-heptano (99% HPLC Spectro Tedia).
81
As soluções de reserva de padrões internos e substâncias de referência
foram preparadas diretamente em frascos volumétricos de 10 mL, com o volume
tendo sido completado com piridina.
Para cada uma das substâncias de referência foram determinadas a resposta
normalizada (a relação entre as áreas da substância de referência e o padrão
interno) e a quantidade normalizada (a relação entre a massa da substância de
referência e interna padrão). Desta forma, obteve-se a as curvas analíticas para
cada item de monitoramento da qualidade relacionando a resposta do sinal
normalizado em função da quantidade normalizada.
2.4. Caracterização do biodiesel
Para o biodiesel ser comercializado em larga escala, atendendo a demanda
exigida pelo mercado, é necessário que sua qualidade seja garantida, sendo para
isso necessário realizar sua caracterização físico-química.
As especificações para a comercialização de biodiesel no Brasil são uma das
mais exigentes no mundo e foram utilizadas como parâmetro de controle de
qualidade neste trabalho. Tal regulação brasileira é estabelecida pela Resolução
ANP n°45 de 25/08/2014.
A caracterização físico-química do biodiesel que obteve o melhor resultado
em teor de ésteres totais, foi realizada pelos seguintes ensaios: índice de iodo (EN
14111:2003), viscosidade cinemática (NBR 10441:2007), índice de acidez (ASTM
664:2011), teor de água (ASTM D 6304:2007), densidade (ASTM D 4052:2015),
estabilidade oxidativa (EN 14112:2003), análise de metais (NBR 15553:2015 com a
expansão para a análise de outros metais), teor de ésteres totais (EN 14103:2011),
determinação de mono-, di- e triglicerídeos e glicerina livre e total (ASTM
D6584:2013).
Foi realizada a análise de compostos oxidados, e de mono-, di- e
triacilglicerídeos via cromatografia líquida de ultra performance em cromatógrafo
Agilent 1220 Infinity LC equpado com UV-DAD. A coluna foi a Zorbax Elipse plus
C18 (4,5m x 50 mm x 1,8 µm), temperatura de 40°C e o gradiente foi de 0-8 minutos
com 100% de fase móvel A (80% acetonitrila e 20% água), de 8 a 10 minutos
82
ocorreu variação linear até que a fase móvel B (50% acetonitrila, 37,5% isopropanol
e 12,5% de hexano) chegasse a 100%, a qual se manteve isocrática até 20 minutos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Otimização do processo de produção de biodiesel etílico de ORF
3.1.1. Otimização do processo de esterificação ácida
Os índices de acidez (IA) para as matérias graxas após a esterificação ácida
estão descritos na Tabela 5, a qual também apresenta o valor da redução percentual
do índice de acidez a partir do índice de acidez do ORF usado para a produção de
biodiesel, o qual era de 1,1764 mg.KOH-1 (CAMARGO et al., 2016).
Os resultados mostram que a maior redução de IA (96,4%) ocorreu no
experimento E4 (IA = 0,042 mg KOH.g-1), no qual as variáveis com concentração de
ácido sulfúrico e tempo foram utilizadas nos seus maiores níveis (1,5% e 4h),
enquanto a razão molar foi utilizada no seu menor nível (9:1). Isso indica que altas
quantidades de etanol, diluem o ácido sulfúrico e os ácidos graxos livres, diminuindo
a ocorrência do ataque do próton do ácido sulfúrico à carbonila do ácido graxo livre,
a qual corresponde a primeira etapa da reação. Consequentemente, a menor
redução do IA, de 7,79%, foi obtida no experimento E5, no qual as variáveis
concentração de ácido sulfúrico e tempo foram utilizados nos seus menores níveis,
enquanto a razão molar foi utilizada no seu maior nível.
No experimento E8 (IA=0,088 mg KOH.g-1) foi obtido também grande redução
do IA (92,51%), no qual todas as variáveis foram utilizadas nos seus maiores níveis,
indicando assim ser menos vantajoso que E4 devido ao maior consumo de etanol.
83
TABELA 5: Resultado do índice de acidez da matéria graxa após a esterificação ácida do ORF.
Experimentos
Concentração
de ácido
sulfúrico (%v/v)
Tempo
(h)
Razão
molar
IA1
(mg KOH.g-1)
IA2
(mg KOH.g-1)
IA3
(mg KOH.g-1)
IA média
(mg.KOH.g-1)
Redução
do IA (%)
E1 (-) 1,5 (-) 2 (-) 11:1 0,896 0,990 0,983 0,956 18,66
E2 (+) 2,5 (-) 2 (-) 11:1 0,189 0,179 0,186 0,185 84,26
E3 (-) 1,5 (+) 4 (-) 11:1 0,991 0,912 0,912 0,938 20,19
E4 (+) 2,5 (+) 4 (-) 11:1 0,041 0,046 0,038 0,042 96,40
E5 (-) 1,5 (-) 2 (+) 15:1 1,100 1,073 1,080 1,084 7,79
E6 (+) 2,5 (-) 2 (+) 15:1 0,127 0,129 0,125 0,127 89,18
E7 (-) 1,5 (+) 4 (+) 15:1 0,850 0,866 0,842 0,852 27,50
E8 (+) 2,5 (+) 4 (+) 15:1 0,084 0,089 0,091 0,088 92,51
PC1 2,0 3 13:1 0,130 0,133 0,132 0,132 88,75
PC2 2,0 3 13:1 0,129 0,121 0,126 0,125 89,31
PC3 2,0 3 13:1 0,128 0,119 0,117 0,122 89,63
84
De acordo com os resultados obtidos isoladamente para os experimentos E1
a E8, e em conjunto com os pontos centrais, foi estimado o erro experimental para
os efeitos. Os valores encontrados foram: a mediados erros (0,1267), desvio padrão
(σ2 – 0,00527), variância (s2efeito – 0,00001) e erro (sefeito – 0,00264) dos efeitos.
Com os resultados dos erros dos efeitos foram obtidos os intervalos de
confiança para os efeitos, a fim de classificá-los como significativos ou não. Caso o
intervalo de confiança não contenha o zero, o efeito é significativo. Na TABELA 6
estão apresentados os efeitos principais e os efeitos de interação das variáveis
analisadas, assim como os intervalos de confiança para cada efeito.
TABELA 6: Efeitos estimados do planejamento fatorial 23 e intervalo de confiança para os efeitos.
Variáveis Efeitos das variáveis sobre o IA Intervalo de confiança dos
efeitos
Média 1,9901 1,9888 1,9914
A -3,0215 -3,0241 -3,0189
B 0,8253 0,8227 0,8279
C -1,1792 -1,1818 -1,1766
AB -1,1320 -1,1346 -1,1294
AC 1,2975 1,2949 1,3001
BC 1,0789 1,0763 1,0815
ABC -0,9682 -0,9708 -0,9656
Legenda: A = Concentração de ácido sulfúrico; B = tempo; C = razão molar.
O efeito mais significativo na redução do IA é a concentração de ácido
sulfúrico (A), por apresentar maiores valores negativos. No que diz respeito as
interações sinérgicas significativas, o aumento conjunto da concentração de ácido
sulfúrico e do tempo de reação (AB) também exerce influência na redução do IA, tal
como ocorre quando as três variáveis (ABC) são aumentadas em conjunto.
Os dados obtidos foram utilizados para construir a superfície de resposta para
o modelo construído a partir desse planejamento fatorial, conforme expresso na
Figura 1, a qual ilustra que o IA é controlado principalmente pela concentração de
85
ácido sulfúrico e, em seguida, pelo tempo de reação, sendo que a maximização dos
níveis das três variáveis têm efeito na redução do IA.
Vale observar que a superfície de resposta não apresenta um ponto de
inflexão, com máximo rendimento, o que talvez fosse alcançado com a ampliação
dos valores das variáveis selecionadas para a otimização. Entretanto, tal situação
implicaria em gastos com reagentes e elevados períodos de síntese, o que poderia
inviabilizar o processo do ponto de vista energético e econômico.
FIGURA 1: Superfície de resposta para o modelo obtido pelo Planejamento Fatorial da reação de esterificação ácida de ORF.
3.1.2. Otimização do processo de transesterificação alcalina
Tendo sido verificado que o experimento E4 foi o que reduziu em maior
porcentagem o IA (96,4%), utilizou-se a matéria graxa obtida via esse experimento
para realizar a otimização da transesterificação alcalina. Vale observar também que
optou-se pela utilização do experimento E4 pois os catalisadores básicos usados na
86
etapa seguinte de transesterificação podem ter sua concentração diminuída pela
formação de sabões oriundos da reação entre metal alcalino e ácidos graxos livres.
Além disso, os sabões impedem a separação entre a fase de ésteres e glicerol e
contribuem para a formação da emulsão durante a lavagem com água. Assim,
quanto menor o índice de acidez maior será a conversão em FAEE na etapa de
transesterificação alcalina (CUNHA et al., 2013; PULLEN; SAEED, 2014).
Dessa forma, a Tabela 8 apresenta os teores de ésteres obtidos para cada
biodiesel etílico sintetizado. O melhor resultado foi obtido no experimento T8, com
teor de ésteres totais de 96,83%, no qual todas as variáveis estavam em seus níveis
máximos, ou seja: razão molar de etanol:matéria graxa de 13:1 e concentração de
KOH de 1,5%, durante 4 horas.
Ainda com relação aos experimentos apresentados na Tabela 7, pode-se
observar que o rendimento em teores de ésteres totais teve pequena variação entre
os experimentos efetuados. Além disso, vale observar que o teor de ésteres totais
obtido no experimento T8 é o único que se apresentou superior ao valor mínimo de
96,5% estabelecido pela ANP.
Os resultados descritos na Tabela 8 foram utilizados para estimar o efeito das
variáveis, assim como seus efeitos de interação. Os dados obtidos no ponto central
estimaram o erro experimental dos efeitos. Os valores encontrados foram: a média
dos erros (77,64), desvio padrão (σ2 – 1,51), variância (s2efeito – 0,17) e erro (sefeito –
0,23) dos efeitos.
87
TABELA 7: Teores de ésteres totais (TE) em função dos experimentos para produção de biodiesel via transesterificação alcalina.
Experimentos Concentração de KOH
(% m/m)
Tempo
(h) Razão molar
TE 1
(%)
TE 2
(%)
TE 3
(%)
Valor Médio para TE
(%)
T1 (-) 0,9 (-) 2 (-) 9:1 89,12 91,74 89,47 90,11
T2 (+) 1,5 (-) 2 (-) 9:1 76,9 80,11 81,37 79,46
T3 (-) 0,9 (+) 4 (-) 9:1 83,09 85,54 85,50 84,71
T4 (+) 1,5 (+) 4 (-) 9:1 92,21 90,77 93,62 92,20
T5 (-) 0,9 (-) 2 (+) 13:1 89,43 89,71 90,08 89,74
T6 (+) 1,5 (-) 2 (+) 13:1 85,67 86,52 88,57 86,92
T7 (-) 0,9 (+) 4 (+) 13:1 95,45 94,21 94,74 94,80
T8 (+) 1,5 (+) 4 (+) 13:1 97,84 97,13 95,52 96,83
PC1 1,2 3 11:1 82,95 83,16 83,25 83,12
PC2 1,2 3 11:1 85,89 85,33 85,88 85,70
PC3 1,2 3 11:1 86,49 84,73 86,78 86,00
88
A partir dos erros dos efeitos, foram construídos os intervalos de confiança
para os efeitos. Na TABELA 8 estão apresentados os efeitos principais e os efeitos
sinérgicos entre as variáveis analisadas.
TABELA 8: Efeitos estimados do planejamento fatorial 23 e intervalo de confiança para os efeitos.
Variáveis Efeitos das variáveis sobre o teor
de ésteres totais Intervalo de confiança dos
efeitos
Média 72,93 77,63 68,23
A 0,37 -0,44 1,69
B -0,12 -1,94 1,76
C -0,1 -0,44 0,24
AB 1,12 0,19 2,05
AC -1,37 -1,69 -1,05
BC 2,12 1,19 3,05
ABC 1,62 1,44 1,8
Legenda: A = Concentração de hidróxido de potássio, B = tempo, C = razão molar
A partir dos intervalos de confiança pode-se inferir que apenas os efeitos de
interação AB (concentração do catalisador hidróxido de potássio e tempo), BC
(tempo e razão molar) e ABC (efeito sinérgico entre as três variáveis) são
determinantes para a obtenção dos maiores valores de teores de ésteres totais,
sendo que a obtenção de um biodiesel de qualidade adequada somente é obtida
com o uso das variáveis em seus maiores valores.
Com os dados apresentados na Tabela 8 foi construída a superfície de
resposta, apresentada na Figura 2, na qual pode-se visualizar a maximização da
conversão à biodiesel quando as três variáveis são maximizadas.
89
FIGURA 2: Superfície de resposta para o modelo obtido a partir do planejamento fatorial da otimização da transesterificação alcalina.
Desta forma, diferente do observado para a esterificação ácida, o uso de
elevadas quantidades de etanol amplia o rendimento da conversão a FAEE, pois o
mecanismo de tal reação de transesterificação envolve o ataque ao carbono da
carbonila do ácido graxo ligado ao acilglicerídeos por parte do álcool e, assim,
quanto mais álcool, maior é a conversão à biodiesel.
Da mesma maneira do que foi observado para o processo de esterificação
ácida, para a transesterificação alcalina não foi observado um ponto de inflexão,
com máximo rendimento, até porque o aumento de todos as variáveis, neste caso,
ampliaria a conversão em biodiesel. Entretanto, o uso de tais variáveis em maiores
níveis implicaria em gastos com reagentes e elevados períodos de síntese, o que
poderia inviabilizar o processo do ponto de vista energético e econômico.
Ademais, vale observar que a produção de biodiesel etílico de ORF utilizando
os processos conjugados de esterificação ácida e transesterificação alcalina permite
a obtenção de um biodiesel com teores de ésteres totais em concordância com a
legislação.
Muitos pesquisadores utilizam o planejamento experimental para a realização
de experimentos para a produção de biodiesel. O objetivo é reduzir o tempo
90
necessário para o desenvolvimento de processos, reduzir custos e aumentar a
produtividade.
Para se verificar qual variável exerce maior influencia em um processo, é
importante realizar um planejamento estatístico de experimentos (BARROS NETO.;
SCARMINIO; BRUNS, 1996; GALDÁMEZ, 2002), o qual visa resultar em melhorias
como no rendimento, redução de tempo, redução de gasto com matérias-primas
e/ou reagentes, gerando redução no custo do processo, o que é fundamental para a
produção de biodiesel (CAMPELO, 2012).
Neste sentido, Silva Filho, (2010) realizou um processo de produção de
biodiesel etílico, através de transesterificação alcalina, utilizando-se de um
planejamento fatorial visando a otimização das seguintes condições reacionais: a
porcentagem de catalisador, a temperatura e o tempo. A melhor performance
reacional da catálise alcalina foi verificada para as seguintes condições: catalisador
a 0,8%, temperatura de 50°C e tempo de 60 min, que resultou em 89% de
rendimento.
No estudo de Castro, (2009) foram utilizados dois níveis de variação para os
parâmetros de tempo de reação (1 e 2 horas), a quantidade de catalisador (0,1 e 0,3
g) e a temperatura (25 e 50°C), para a produção de biodiesel etílico de ORF e de
rejeito de óleo de peixe por transesterificação alcalina e o maior rendimento para a
obtenção de biodiesel etílico foi de 89%, nas seguintes condições otimizadas: 0,1 g,
2 h e 25°C.
Outro trabalho que realizou um estudo quimiométrico para o processo de
transesterificação alcalina, utilizou como variáveis a razão molar, rotação, tempo,
temperatura, tipo e concentração do catalisador para a produção de biodiesel
metílico e etílico do ORF. Para o biodiesel etílico o melhor foi a razão molar de álcool
e ORF de 10:1, 1,5% de KOH, 160 rpm, 35ºC por 30 min, com rendimento médio de
86% (SILVA, 2011).
3.1.3. Análise cromatográfica dos FAEE
A percentagem e a composição em ácidos graxos de um biodiesel dependem
das matérias-primas utilizadas em sua produção, o que influencia diversos
parâmetros do biocombustível, tais como a estabilidade oxidativa, a viscosidade
91
cinemática, o ponto de entupimento de filtro a frio e a lubricidade (PULLEN; SAEED,
2014; VERDUZCO, 2013; GHAZALI et al., 2015).
Assim, a Tabela 9 apresenta a composição dos ésteres etílicos de ácidos
graxos do óleo de soja refinado (OSR) e do biodiesel etílico de ORF gerado no
experimento T8, obtidos via análise por cromatografia gasosa.
Para o biodiesel etílico de ORF os ácidos graxos monoinsaturados -
compreendendo palmitoleico, oleico, vacênico, gadoleico e erúcico - são
preponderantes, alcançando o percentual total de 62,7%. Em seguida aparecem os
saturados com 23,4%, os di-insaturados com 13,3% e os tri-insaturados com 0,6%.
Assim, o biodiesel etílico de ORF apresenta menos componentes insaturados do
que os presentes no óleo de soja refinado utilizado para fritura e posteriormente
convertido à biodiesel, indicando que há possibilidade que o processo de fritura
tenha levado a degradação dos ácidos graxos mais insaturados.
Vale observar que a composição de ácidos graxos do biodiesel de ORF, rico
em ésteres de ácidos monoinsaturados e saturados, é favorável para a obtenção de
um biodiesel com estabilidade oxidativa adequada, ou seja, superior a 8h.
TABELA 9: Composição de ésteres etílicos de ácidos graxos do óleo de soja refinado (OSR) e do óleo e gordura de fritura residual (ORF).
Ácido Graxo Percentual Normalizado (%)
Biodiesel de OSR Biodiesel de ORF
C14:0 Mirístico 0,9 0,8
C16:0 Palmítico 10,2 18,3
C16:1 cis9 Palmitoléico 1,4 4,2
C18:0 Esteárico 4,5 4,1
C18:1 cis9 Oleico 18,2 55,2
C18:1 cis11 Vacênico 2,7 2,3
C18:2 cis9, cis12 Linoleico 53,0 13,4
C18:3 cis9, cis12, cis15 Linolênico 8,6 0,6
C20:0 Araquídico 0,2 0,1
C20:1 cis9 Gadolêico 0,1 0,7
C22:0 Behênico 0,1 0,1
C22:1 cis13 Erúcico 0,0 0,1
C24:0 Lignocérico 0,1 0,1
92
3.2. Caracterização do biodiesel etílico de ORF
Após a produção do biodiesel etílico de ORF utilizando as condições
anteriormente otimizadas para a esterificação ácida (experimento E4) e para a
transesterificação alcalina (experimento T8), realizou-se a caracterização e o
controle da qualidade do biodiesel etílico de ORF, tal como mostrado na Tabela 10,
para verificar se sua qualidade encontra-se de acordo com as especificações da
Resolução ANP nº 45/2014. Todas as análises foram realizadas em triplicata.
O índice de acidez do biodiesel produzido demonstrou ser adequado ao
preconizado na legislação, o que indica que tal biodiesel não trará problemas de
corrosão à partes metálicas dos tanques de armazenamento e do motor.
A viscosidade cinemática de um combustível é uma das mais importantes
propriedades, uma vez que desempenha um papel dominante na pulverização de
combustível, tendo efeito direto sobre as características de desempenho do motor e
sobre o sistema de injeção do mesmo. Um combustível com viscosidade cinemática
baixa, tal como foi obtido no biodiesel produzido (4,85 mm2.s-1), é importante para a
eficiência do processo de injeção (ENWEREMADU; RUTTO, 2010; VERDUZCO,
2013; GHAZALI et al., 2015)
TABELA 10: Caracterização físico-química do biodiesel etílico de ORF.
Parâmetro Limites Unidade Resultados
Índice de Acidez 0,5 mg KOH.g-1 0,39
Índice de Iodo Anotar g.100g-1 122,47
Viscosidade cinemática (40 °C) 3,0 a 6,0 mm2.s-1 4,85
Teor de Água 200 mg.kg-1 171,00
Teor de Éster 96,5 % massa 96,8
Na + K 5 máx mg.kg-1 2,20
Ca + Mg 5 máx mg.kg-1 0,16
P 10 máx mg.kg-1 0,00
Teor de Enxofre 10 máx mg.kg-1 4,80
Glicerol livre 0,02 máx % massa 0,02
Glicerol total 0,25 máx % massa 0,20
Monoacilglicerol 0,7 máx % massa 0,62
Diacilglicerol 0,20 máx % massa 0,10
Triacilglicerol 0,20 máx % massa 0,05
Estabilidade Oxidativa 8 H 5,82
93
Outros parâmetros importantes como os teores de água (171,00 mg.kg-1)
sódio e potássio (2,20 mg.kg-1), cálcio e magnésio (0,16 mg.kg-1), fósforo (0,00
mg.kg-1) e enxofre (4,80 mg.kg-1) também apresentaram-se em acordo com a
especificação.
O biodiesel etílico de ORF também apresentou teores de ésteres totais
(96,8%), glicerina livre (0,02%) e total (0,20%) e de seus monoacilglicerídeos
(0,62%), diacilglicerídeos (0,10%) e triacilglicerídeos (0,05%), dentro dos limites
exigidos pela ANP.
Em 2011, Charoenchaitrakool e Thienmethangkoon, realizaram o estudo da
otimização das duas etapas do processo conjugado de esterificação ácida seguida
de transesterificação alcalina. Foi utilizada como matéria-prima o ORF, mas como
álcool foi utilizado o metanol. Pelo fato de terem usado o metanol ao invés do etanol,
as condições de esterificação ácida (razão molar metanol: ORF de 6:1, 0,68% de
H2SO4, a 51°C por 60 minutos) e de transesterificação alcalina (razão molar metanol:
ORF de 9:1, 1% de KOH, a 55°C por 60 minutos) foram mais brandas que aquelas
aqui utilizadas para produção de biodiesel etílico. Entretanto os autores obtiveram
teores máximos de ésteres totais de 90,56%, o qual se encontra abaixo do mínimo
estabelecido de 96,5% pela legislação.
Dias et al. (2014) realizaram a produção de biodiesel etílico também utilizando
um processo de dois estágios, mas com duas transesterificações sendo a primeira
com as condições razão molar etanol:ORF de 12:1 e 0,6% de NaOH e a segunda
transesterificação com a razão molar etanol:matéria graxa de 6:1, 0,3% de NaOH,
sendo que as duas ocorreram a 30°C e por 2h, obtendo um teor de ésteres totais de
95,3%, o qual também é inferior ao preconizado pela legislação e ao aqui obtido.
Assim, a otimização dos processos de esterificação ácida e de
transesterificação alcalina aqui realizada demonstrou ser mais eficiente que os
estudos já realizados.
Outros estudos realizaram apenas uma transesterificação alcalina, para a
produção do biodiesel etílico de ORF, como os de Encinar, González e Rodríguez-
Reinares, (2007); Silva, (2008); Bastos et al., (2009); Castro, (2009); Silva Filho,
(2010), os quais obtiveram, respectivamente, como rendimento em teores de ésteres
totais os valores de 74,2%, 70,0%, 91,52%, 85,7% e 89%, demonstrando que
94
realmente é necessária a utilização de duas etapas, em um processo conjugado de
esterificação ácida seguida de transesterificação alcalina.
A estabilidade oxidativa ficou abaixo do permitido para a legislação brasileira
(8 h), mas aceitável para outras especificações usadas por outros países produtores
de biodiesel como, por exemplo, de 3 h para a americana ASTM D6751, e de 4 h
para a europeia EN 14213 (KNOTHE, 2007; LANJEKAR; DESHMUKH, 2016).
A estabilidade oxidativa é um dos fatores de maior importância na produção
de biodiesel, uma vez que a formação de derivados oxidados pode drasticamente
afetar a qualidade do biocombustível e seu desempenho no sistema de ignição e
compressão de motores tipo diesel (BEZERGIANNI; CHRYSIKOU, 2012; KNOTHE,
2007; QUADROS et al., 2011). Assim, tornou-se necessário compreender os motivos
de tal baixa estabilidade oxidativa, uma vez que a composição de ácidos graxos do
biodiesel de ORF, rico em ésteres de ácidos monoinsaturados e saturados, é
favorável para a obtenção de um biodiesel com estabilidade oxidativa adequada
(KNOTHE, 2007; NATARAJAN, 2012).
Sabe-se que durante todo o processo de produção alguns componentes
inorgânicos estão presentes, principalmente, como traços de catalisadores e
oriundos dos utensílios metálicos utilizados para a fritura do óleo, mas somente
sódio e potássio, cálcio e magnésio, fósforo e enxofre têm limites máximos
estabelecidos pelas agências reguladoras que controlam a qualidade do biodiesel
(JAIN; SHARMA, 2013; KNOTHE, 2007; LANJEKAR; DESHMUKH, 2016).
Entretanto, a presença de diversos outros elementos químicos catiônicos e
aniônicos, metálicos ou orgânicos, pode diminuir a estabilidade oxidativa do
biodiesel (ALVES; MEDEIROS; SUAREZ, 2010; SUAREZ et al., 2009). Desta forma,
fez-se a análise química de outros elementos químicos, via ICP-OES, sendo que os
resultados obtidos são dados na (TABELA 11).
A análise indica que, além dos elementos monitorados pela legislação (sódio
e potássio), somente bário e silício foram encontrados, estando ambos em baixas
concentrações, o que talvez não justifique a estabilidade oxidativa obtida para o
biodiesel etílico de ORF. Assim optou-se por avaliar se outros componentes podem
estar presentes no biodiesel, como por exemplo, componentes oxidados de ácidos
graxos e acilglicerídeos, os quais, por terem menor estabilidade físico-química,
podem estar afetando a estabilidade oxidativa, por estarem sendo degradados nas
95
condições do ensaio de Rancimat. Dessa forma, tais componentes oxidados podem
estar sendo convertidos em substâncias de menor massa molecular, e de maior
volatilidade, as quais aumentam a condutividade da água do frasco de medida da
condutividade, diminuindo assim o período de indução.
TABELA 11: Elementos químicos encontrados no biodiesel etílico de ORF.
Elemento Químico Concentração (mg.kg-1)
Prata <LQ
Alumínio <LQ
Boro <LQ
Bário 3,35 x 10-4
Cálcio <LQ
Cádmio <LQ
Cromo <LQ
Cobre <LQ
Ferro <LQ
Potássio 1,65
Magnésio <LQ
Manganês <LQ
Molibdênio <LQ
Sódio 0,55
Níquel <LQ
Fósforo <LQ
Chumbo <LQ
Silício 1,22
Estanho <LQ
Tálio <LQ
Zinco <LQ
3.2.1. Análise de produtos de oxidação de primeira e segunda ordem
Os produtos de degradação, especialmente os oxidados, são considerados
indesejáveis que podem induzir a formação de polímeros, de contaminantes
96
insolúveis, bem como aumentar a viscosidade cinemática e o índice de acidez, bem
como reduzir o índice de cetano e a estabilidade oxidativa do biodiesel
(BEZERGIANNI; CHRYSIKOU, 2012; JAIN; SHARMA, 2011).
Na Figura 3 (biodiesel etílico de OSR e de ORF), que correspondem
respectivamente aos cromatogramas obtidos via UPLC a 235 nm de um biodiesel
etílico óleo de soja refinado (OSR) e do biodiesel etílico do óleo e gordura de fritura
residual (ORF) pode-se observar a presença de compostos oxidados de primeira
ordem como os hidroperóxidienos e os hidroxidienos no biodiesel etílico de ORF, os
quais estão ausentes no biodiesel etílico de OSR.
FIGURA 3: Cromatogramas do biodiesel etílico de OSR e de ORF obtidos por HPLC-UV/DAD a 235 nm
O processo de oxidação secundária, que é detectado a 270 nm, leva a
formação de compostos de segunda ordem chamados cetoperoxidienos, os quais
não são evidenciados no biodiesel etílico OSR, mas estão presentes no biodiesel
etílico de ORF (FIGURA 4).
97
FIGURA 4: Cromatogramas do biodiesel etílico de OSR (A) e de ORF (B) obtidos por
HPLC-UV/DAD a 270 nm.
Assim, diferentemente do que é observado para um biodiesel produzido a
partir de um óleo refinado, o biodiesel de óleo e gordura de fritura residual apresenta
componentes oxidados, os quais não estão em grande quantidade pois não chegam
a afetar os teores de éteres totais, mas ainda assim podem afetar a estabilidade
oxidativa desse tipo de biodiesel.
Dessa forma, o ideal para que o biodiesel etílico de ORF tenha sua
estabilidade oxidativa dentro dos limites dos padrões de qualidade, é o uso de
antioxidantes, ou a mistura com biodiesel de óleos de que contenham elevados
teores de ácidos graxos saturados, tais como os obtidos a partir de óleos de
palmáceas e de sebo animal, o que auxilia no aumento da estabilidade oxidativa da
mistura.
98
4. CONCLUSÃO
Neste trabalho conclui-se que o processo conjugado de esterificação ácida
seguida da transesterificação alcalina é uma alternativa adequada para produzir
biodiesel etílico de óleos e gorduras de fritura residuais.
De acordo com os planejamentos fatoriais, tal biodiesel deve ser produzido
em duas etapas, sendo a primeira uma esterificação ácida com razão molar
etanol:ORF de 11:1, com 2,5% de ácido sulfúrico, com a reação ocorrendo por 4
horas a 70oC. A segunda etapa consiste em uma transesterificação alcalina com
razão molar etanol:matéria graxa de 13:1, com 1,5% de hidróxido de potássio, por 4
horas a 70oC.
O controle da qualidade do biodiesel produzido indica que este encontra-se
em concordância com a maioria dos parâmetros exigidos por vários dos padrões de
qualidade existentes, com exceção da estabilidade oxidativa, a qual é afetada pela
presença de componentes oxidados de primeira ordem (hidroxidienos e
hidroperoxidienos) e de segunda ordem (cetoperoxidienos).
A otimização realizada dos dois estágios nesse trabalho demonstrou ser
ainda mais eficiente que os estudos já realizados.
Assim sendo, para ser utilizado comercialmente o biodiesel etílico de ORF
deverá, de forma a seguir os padrões de qualidade vigentes na maioria dos países
produtores, sofrer a adição de antioxidantes para aumentar esta estabilidade
oxidativa, ou ser comercializado em mistura com outras amostras de biodiesel que
apresentem maior estabilidade oxidativa, tal como as oriundas de palmáceas ou de
sebo animal.
99
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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104
CAPÍTULO 4
PRODUÇÃO DE BIODIESEL ETÍLICO A PARTIR DE ÁCIDOS GRAXOS LIVRES
OBTIDOS DE ÓLEOS E GORDURAS DE FRITURA RESIDUAIS.
Camargo, R. P. L.; Oliveira, I. C.; Siqueira, A. J.; Pereira, J.; Franco, P. I. B. M.;
Antoniosi Filho, N. R *
Laboratório de Métodos de Extração e Separação (LAMES), Instituto de Química, Universidade
Federal de Goiás, Campus Samambaia, CEP: 74690-900, Goiânia-GO, Brasil. E-mail:
RESUMO
O biodiesel é um biocombustível produzido com óleos vegetais refinados e utilizando
o metanol como álcool. Mas o metanol é um álcool tóxico, o que sugere sua
substituição pelo etanol, que é encontrado em abundância no Brasil, e é obtido de
biomassa gerando vantagens ambientais. Para produzir um biodiesel
ecologicamente correto, a utilização e o aproveitamento de resíduos como o ORF
também é favorável. O ORF geralmente é descartado de maneira errônea, o que
gera impactos ambientais e econômicos, logo o seu aproveitamento na produção de
biodiesel, reduziria o impacto ambiental e até mesmo o custo de produção do
mesmo, o que hoje ainda é um empecilho para que se consiga realmente colocá-lo
na rota energética. O trabalho teve como objetivo estabelecer as melhores
condições de obtenção de ácido graxo livre (FFA) a partir da acidificação com o
ácido fosfórico de sabão de óleos e gorduras residuais de fritura (ORF), utilizando
um planejamento experimental fatorial 23, com as variáveis de percentagem em
excesso do catalisador (20, 25 e 30%), tempo (1, 1,5 e 2 h) e temperatura (70, 80 e
90°C). A resposta foi o rendimento mássico do sabão de ORF que foi com um
excesso de KOH de 30%, por duas horas e a 90°C. Após a purificação do FFA
ocorreu uma dupla esterificação ácida. O biodiesel etílico de ORF produzido possui
parâmetros de qualidade mínimos exigidos pela Resolução da ANP n° 45/2014.
Palavras-chave: saponificação. Acidificação. Planejamento fatorial.
105
ABSTRACT
The biodiesel is a biofuel, produced from refined vegetable oils and methanol such
as alcohol. But methanol is a toxic alcohol, so suggests its replacement by ethanol,
which in addition to being found in abundance in Brazil, it be obtained from a
biomass, generating environmental benefits. In order to produce an eco-friendly type
of fuel, the use of waste oil and fat frying (ORF) may also be favorable. The ORF is
usually discarded in the wrong way, which generates environmental and economic
impacts, then its use in turning them into biodiesel would reduce the environmental
impact and even the production cost of biodiesel, which is still an obstacle to put it in
the energetic route. The study aimed to establish the best conditions for obtaining
free fatty acid (FFA) from acidification with phosphoric acid of soap oils and waste
frying fats (ORF) using a factorial design 23, having as variables the excess
percentage of the catalyst (20, 25 and 30%), the time (1, 1.5 and 2 h) and
temperature (70, 80 and 90°C), so that after the acidification, it was obtained the
highest amount of free fatty acid in the mass yield, to be used in the production of
ethyl biodiesel fatty acid by acid esterification process. The best result is excess KOH
was 30% for one hour and at 90°C. The results showed that biodiesels were within
the standards required by ANP Resolution n°. 45/2014.
Keywords: saponification. Acidification. Factorial design.
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1. INTRODUÇÃO
O uso de óleos e gorduras de fritura residuais (ORF) para a produção de
biodiesel etílico tende a se expandir devido as vantagens ambientais de utilizar uma
matéria-prima graxa (CUNHA et al., 2013; ENCINAR; GONZÁLEZ; RODRÍGUEZ-
REINARES, 2007; YAAKOB et al., 2013) que causa impactos negativos para o
tratamento de efluentes e para aquíferos que recebem tal resíduo, os quais acabam
por apresentar aumento na demanda bioquímica de oxigênio, diminuindo o oxigênio
dissolvido para organismos superiores(ROCHA; CASTRO, 2009; ROSA; ZLUHAN;
DEMETRIO, 2010).
Outro ponto a ser considerado é o álcool utilizado durante o processamento.
O álcool mais utilizado para a produção de biodiesel é o metanol mesmo tendo
propriedades tóxicas e não ser renovável, pois seu custo é menor, apresentando
também vantagens físico-químicas na conversão à biodiesel, quando comparado ao
etanol. Assim, o uso de etanol vem aumentando, devido sua grande oferta em vários
países, além do fato de ser de menor toxicidade que o metanol, e ser produzido por
vias biológicas a partir de recursos renováveis (ENCINAR; GONZÁLEZ;
RODRÍGUEZ-REINARES, 2007; ROSSET et al., 2011; SAAD et al., 2008).
Entretanto, os ORF apresentam várias desvantagens do ponto de vista
técnico, que incluem a elevada quantidade de água, a presença de impurezas
sólidas e, principalmente, a elevada acidez (CASTRO, 2009; SANTOS et al. 2008,
KNOTHE; GERPEN; KRAHL, 2005; PHAN; PHAN, 2008).. A remoção de impurezas
e a diminuição do teor de água pode ser feita por filtração seguida de destilação,
mas a presença de ácidos graxos livres ainda é um problema que implica no uso de
rotas alternativas de produção, evitando-se assim a aplicação direta da
transesterificação alcalina, a qual muitas vezes levaria a formação de sabões ao
invés do biodiesel.
Dessa forma, uma possibilidade é o uso da esterificação ácida do ORF,
seguido da transesterificação alcalina, a qual pode fornecer um biodiesel de
qualidade adequada deste que sejam utilizadas elevadas razões molares de álcool
com relação à matéria-prima graxa, elevadas quantidades de catalisadores,
dispendendo também maiores tempos de reação (CAMARGO et al., 2016a).
107
Para resolver tal questão, alguns pesquisadores como Minami e Saka, (2006),
Lima, (2007) e Díaz et al., (2013) aplicaram a técnica de hidroesterificação para
converter matérias-primas graxas de baixa qualidade em biodiesel.
O processo de hidroesterificação é a mais moderna alternativa na produção
de biodiesel, pois permite o uso de qualquer matéria-prima graxa com teores
elevados de acidez (ácidos graxos) e umidade (água); esse processo envolve uma
etapa de hidrólise seguida de esterificação. A hidrólise consiste em uma reação
química entre a matéria-prima graxa e a água, gerando glicerina e ácidos graxos.
Após a hidrólise, os ácidos graxos gerados são esterificados com metanol e/ou
etanol, obtendo-se biodiesel com elevada pureza (SANTOS et al., 2015).
Entretanto, por normalmente necessitar do uso de altas temperaturas (acima
das usadas em processos de esterificação e transesterificação) bem como de
elevadas pressões, a técnica de hidroesterificação necessita de equipamentos
específicos para sua realização, diferentes e mais caros que aqueles já disponíveis
na maioria das usinas de produção de biodiesel, as quais normalmente possuem
equipamentos voltados para a transesterificação e/ou para a esterificação de
matérias-primas graxas à biodiesel (SANTOS et al., 2015; KAREN et al., 2015;
KUSS et al., 2015).
Visando efetuar a conversão de ORF a biodiesel usando a infraestrutura
normalmente disponível em usinas de biodiesel, UDDIN et al. (2013). efetuaram a
conversão do ORF a sabão (sal de ácidos graxos), seguido da acidificação do sabão
de ORF para produção de ácidos graxos livres, os quais foram submetidos a uma
etapa de esterificação, a qual resultou em um biodiesel com teor de éster de 79%,
sendo portanto de qualidade inferior a preconizada pelas legislações de qualidade
de biodiesel.
Dessa forma, esse trabalho tem como objetivo produzir biodiesel etílico a
partir de matérias-primas graxas de baixa qualidade – no caso um ORF – com
qualidade adequada ao preconizado nas legislações que regulam o setor, podendo
tal processo ser realizado nos sistemas convencionais de produção de biodiesel já
existentes nas usinas produtoras.
O processo envolve uma etapa de saponificação do ORF, seguido da
conversão do sabão à ácidos graxos e da dupla esterificação etílica ácida desses
ácidos graxos a biodiesel.
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Para isso fez-se a otimização do processo de saponificação utilizando um
planejamento fatorial 2³ com as variáveis temperatura (70 e 90°C), teor de KOH
(20% e 30%) e tempo de reação de saponificação (1 e 2 horas), com 3 pontos
centrais (80°C, 25% de KOH e 3h). Após a produção dos sabões fez-se a conversão
dos sais de ácidos graxos a ácidos graxos livres (FFA) via acidificação com o ácidos
fosfórico. O produto obtido com melhor rendimento mássico de FFA obtido da
acidificação do sabão de ORF foi utilizado para posterior produção de biodiesel
etílico de ORF através do processo de dupla esterificação ácida, não sendo
encontrado nenhum estudo que realizasse tal processo em duplicidade. O biodiesel
etílico de ORF produzido foi então caracterizado com o objetivo de avaliar se a
qualidade do mesmo estava adequada para uso comercial.
2. PARTE EXPERIMENTAL
2.1. Amostragem
Utilizou-se para este estudo o ORF de um estabelecimento comercial situado
em Anápolis (Goiás – Brasil), que utiliza óleo de soja refinado para a fritura de
diversos tipos de alimentos, sendo que a caracterização do ORF é apresentada em
CAMARGO et al. (2016).
2.2. Obtenção de ácidos graxos livres de sabão de ORF
Foram realizadas análises do índice de saponificação do ORF, visando
conhecer a quantidade necessária do KOH para saponificar o ORF, conforme
CAMARGO et al. (2016). Para obtenção de melhores resultados foi necessário
utilizar um excesso de KOH, o que foi determinado em planejamento fatorial.
2.2.1 Otimização da obtenção de FFA via produção de sabão de ORF
A otimização do processo foi realizada para determinar os valores que devem
ser utilizados para se produzir um sabão que tenha maior rendimento mássico de
FFA após a acidificação do sabão e a purificação do FFA. O planejamento fatorial foi
de 23 com 3 pontos centrais, com as seguintes variáveis: temperatura (70 e 90°C),
percentual de excesso de KOH (20% e 30%) e tempo de reação de saponificação (1
109
e 2 horas), com pontos centrais (PC) a 80°C por 1,5h e 25% de KOH (TABELA 1).
Os experimentos executados de forma aleatória são dados na Tabela 2.
TABELA 1: Variáveis e níveis utilizados na produção do sabão de ORF
Variáveis Níveis
(-) PC (+)
Tempo de processo (h) 1 1,5 2
Excesso do KOH (%) 20 25 30
Temperatura (°C) 70 80 90
TABELA 2: Planejamento fatorial 2³ com três variáveis, dois níveis e três pontos centrais da produção de sabão do ORF
Amostras Tempo (h) KOH (%) Temperatura (°C)
S1 (-) 1 (-) 20 (-) 70
S2 (+) 2 (-) 20 (-) 70
S3 (-) 1 (+) 30 (-) 70
S4 (+) 2 (+) 30 (-) 70
S5 (-) 1 (-) 20 (+) 90
S6 (+) 2 (-) 20 (+) 90
S7 (-) 1 (+) 30 (+) 90
S8 (+) 2 (+) 30 (+) 90
PC1 1,5 25 80
PC2 1,5 25 80
PC3 1,5 25 80
A eficácia do processo foi determinada pelo rendimento calculado de acordo
com a quantificação mássica da transformação do ORF em FFA.
110
2.2.2 Produção de sabão de ORF
A reação de saponificação é definida pela transformação de acilglicerídeos
em sal de ácido graxo ao reagi-lo com uma base forte (MOREIRA et al., 2014), a
qual, nesse estudo, foi o KOH.
Pesou-se o KOH, adicionando água apenas para dissolvê-lo em ultrassom e,
a solução aquosa de KOH foi acrescentada ao ORF, sob aquecimento, na
temperatura e tempo definidos no planejamento fatorial, sob agitação a 200 rpm. A
saponificação foi realizada em reator Marconi modelo MA S02/1/UFG.
Após o término da saponificação, o sabão ficou em repouso por 12 horas para
separação do glicerol.
2.2.3 Acidificação do sabão de ORF
A acidificação do sabão produzido foi realizada de acordo com Suarez; Lira;
Rodriguez (2015) e via adaptação Phillips e Leavens, (1975). Cerca de 10 g de cada
um dos sabões (S1, S2, S3, S4, S5, S6, S7, S8 e os pontos centrais PC1, PC2 e
PC3) foram acidificados com o ácido fosfórico (H3PO4), com base em cálculos
estequiométricos, adicionando-se um volume de 50% a mais de ácido fosfórico,
visando garantir a conversão do sal de ácido graxo em ácido graxo livre.
A acidificação ocorreu no próprio reator, sob constante agitação, até que o pH
estivesse ácido, ao redor de 1,5 a 2,0, o que implicou na adição de 3,2 a 3,9 mL de
ácido fosfórico em cerca de 10 g de sabão. A mistura ficou em repouso por 8 horas
e, assim, ocorreu a formação de três fases (fosfato de potássio e/ou seus derivados,
água ácida e ácido graxo).
O ácido graxo e a água foram separados do sal por filtração a vácuo. Em
seguida removeu-se a água por decantação e, posteriormente, a fase contendo os
ácidos graxos foi filtrada em sulfato de sódio, para retirada da água residual.
De forma a proceder uma purificação adicional, à fase de FFA foi adicionado
hexano, na proporção de 1:1 (v/v), com o sistema sendo agitado manualmente. Em
seguida a mistura foi rotaevaporada por 2 horas. Essa etapa de adição de hexano
com subsequente rotaevaporação permite a remoção de substâncias de baixa
massa molecular por arraste à vapor - junto com o hexano – as quais levam a
formação de emulsões quando da adição de água quente (aproximadamente a
80oC) na etapa posterior.
111
Após a rotaevaporação os FFA foram lavados com água quente até que a
mesma estivesse com pH 6,0 para a remoção dos reagentes que estavam em
excesso (SUAREZ; LIRA; RODRIGUEZ, 2015). A água separada da fase de FFA foi
analisada com respeito a presença de fosfato pela verificação de fosfomolibdato de
amônio na adição de molibdato de amônio, bem como pela verificação da presença
de potássio pela precipitação de perclorato de potássio quando da adição de ácido
perclórico à frio (SKOOG et al., 2006). A lavagem com água foi interrompida quando
não mais se evidenciou a presença dos precipitados de fosfato e de potássio, e com
a água de lavagem alcançando o mesmo pH da água destilada usada para lavagem
da fase de FFA.
Em seguida os FFA foram filtrados em sulfato de sódio para retirada da água
residual. Por fim, fez-se a pesagem da fase contendo os FFA, visando calcular o
rendimento em massa com relação a massa de ORF utilizada no processo..
Após este processo foi realizado a análise para determinação do índice de
acidez da fase de FFA.
2.2.4. Análise do índice de acidez
A determinação do índice de acidez (IA) dos FFA de ORF foi realizada de
acordo com o método AOCS Cd3d-63 (SUAREZ; LIRA; RODRIGUEZ, 2015), que
corresponde ao método titulométrico alcalino da amostra. Vale observar, que o
índice de acidez é o número em miligramas de hidróxido de potássio (KOH) que são
necessários para neutralizar um grama de amostra os ácidos graxos livres.
Para isso foi preparada uma solução de KOH em etanol e ele foi padronizado
com solução de biftalato de potássio e acrescentado duas gotas de fenolftaleína 1%
até a obtenção da coloração rósea.
Assim, 1 g de FFA foi colocado sob agitação constante em 10 g de solução de
iso-propanol:tolueno (1:1 v/v) e duas gotas de fenolftaleína, sendo utilizada a
solução padronizada de KOH como titulante. Foi utilizada a Equação 1 para o
cálculo do IA.
EQUAÇÃO 1: Cálculo do índice de acidez
𝐼𝐴 = (𝑉𝐾𝑂𝐻 𝑥 𝐶𝐾𝑂𝐻 𝑥 56,1) ÷ 𝑚𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎
112
2.3. Produção de biodiesel etílico de ORF
Para a produção do biodiesel foram realizadas duas esterificações ácidas. O
álcool utilizado foi o etanol anidro e como catalisador o ácido sulfúrico.
2.3.1. Esterificação ácida
A fase de FFA foi levada à esterificação ácida. Para isso procedeu-se a
mistura de etanol com 2,5% de ácido sulfúrico para formação do reagente
esterifcante. O reagente foi misturado à fase de FFA na proporção de 11:1 (razão
molar reagente:FFA). A mistura foi colocada no reator Marconi e submetida a 70°C
por 4 horas, sob agitação a 450 rpm (CAMARGO et al., 2016a). Em seguida a
matéria graxa produzida foi colocada em balão de fundo redondo para a
recuperação do etanol via rotaevaporação em evaporador rotativo Quimis® modelo
Q344B2, sob pressão reduzida com bomba Prismatec modelo I22-BCP. A matéria
graxa foi lavada posteriormente com água morna até que a água de lavagem
atingisse o pH 6,0. A matéria graxa ficou em repouso para se obter uma maior
separação da água e posteriormente, após a separação, fez-se a destilação a
pressão reduzida e a filtração da matéria graxa com sulfato de sódio. Tal matéria
prima graxa obtida teve seu teor de ésteres totais avaliados de forma a determinar
se o processo de conversão à biodiesel poderia ser feito em uma única etapa ou se
haveria a necessidade de uma esterificação adicional já que UDDIN et al. (2013).
observaram que a esterificação etílica ácida feita em uma única etapa leva a
inadequado teores de ésteres totais.
Assim, em seguida essa matéria graxa foi novamente colocada no reator e
misturada com etanol e ácido sulfúrico nas mesmas condições em que foi realizada
a primeira esterificação. Após as 4 horas todo o procedimento de purificação do
biodiesel após a primeira esterificação foi realizado novamente, e o biodiesel etílico
produzido foi caracterizado físico-quimicamente.
O biodiesel produzido teve sua qualidade avaliada com base nos parâmetros
estabelecidos na Portaria ANP n° 45 de 25 de agosto de 2014.
2.3.2. Caracterização do biodiesel etílico
A caracterização físico-química do biodiesel etílico de ácido graxo do ORF, foi
realizada pelos seguintes ensaios: índice de iodo (EN 14111:2003), viscosidade
113
cinemática (NBR 10441:2007), índice de acidez (ASTM 664:2011), teor de água
(ASTM D6304:2007), densidade (ASTM D4052:2015), estabilidade oxidativa (EN
14112:2003) determinação de metais (NBR 15553:2015 com a expansão para a
análise de outros metais), teor de ésteres totais (EN 14103:2011) e determinação de
mono-, di- e triacilglicerídeos (ASTM D6584:2013).
Foi realizada também a análise de produtos oxidados via UPLC em
cromatógrafo Agilent 1220 Infinity LC equipado com DAD. A coluna utilizada foi a
Zorbax Elipse plus C18 (4,5m x 50 mm x 1,8 µm) A temperatura do forno utilizada foi
de 40°C e o gradiente foi de 0-8 minutos 100% de fase móvel A (80% acetonitrila e
20% água), de 8 a 10 minutos ocorreu variação linear até que a fase móvel B (50%
acetonitrila, 37,5% isopropanol e 12,5% de hexano) chegasse a 100%, a qual se
manteve isocrática até 20 minutos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Obtenção de ácidos graxos livres de sabão de ORF
Na Tabela 3 estão descritos os dados obtidos da pesagem dos sabões e seu
rendimento em relação a massa inicial do sabão de ORF.
TABELA 3: Rendimento de obtenção da fase de FFA.
Amostras Massa de ORF (g)
Condições experimentais de saponificação
Condições experimentais de
acidificação Massa de FFA (g)
Rendimento de FFA em relação a massa de ORF (%)
Tempo (h)
KOH (%)
Temperatura (°C)
Volume de H3PO4
(mL)
S1 10,08 (-) 1 (-) 20 (-) 70 3,7 4,83 47,91
S2 10,04 (+) 2 (-) 20 (-) 70 3,8 5,10 50,80
S3 10,03 (-) 1 (+) 30 (-) 70 3,2 5,19 51,74
S4 10,01 (+) 2 (+) 30 (-) 70 3,9 5,58 55,74
S5 10,07 (-) 1 (-) 20 (+) 90 3,7 4,95 49,15
S6 10,09 (+) 2 (-) 20 (+) 90 3,4 5,18 51,34
S7 10,08 (-) 1 (+) 30 (+) 90 3,5 5,77 57,24
S8 10,07 (+) 2 (+) 30 (+) 90 3,2 6,26 62,16
PC1 10,10 1,5 25 80 3,3 5,22 51,68
PC2 10,02 1,5 25 80 3,2 5,20 51,90
PC3 10,02 1,5 25 80 3,3 5,19 51,80
Os resultados demonstram que, a maior massa de FFA foi obtida a partir do
experimento S8, no qual a concentração de KOH, a temperatura e tempo foram
utilizadas em seus maiores níveis. De acordo com o rendimento em FFA, a partir dos
experimentos nos pontos centrais, foi estimado o erro experimental para os efeitos.
Os valores encontrados foram: a média (0,091), desvio padrão (σ2 – 0,034),
variância (s2efeito – 0,000296) e erro (sefeito – 0,017) dos efeitos.
Com os resultados dos erros desses efeitos, foram construídos intervalos de
confiança para os efeitos, a fim de classificá-los como significativos ou não. Na
Tabela 4 estão apresentados os efeitos principais e os efeitos de interação das
variáveis analisadas, assim como os intervalos de confiança para cada efeito.
TABELA 4: Efeitos estimados do planejamento fatorial 23 e intervalo de confiança
para os efeitos
Variáveis Efeitos das variáveis sobre a
massa de FFA Intervalo de confiança dos
efeitos
Média 0,108 0,099 0,116
A 0,033 0,015 0,050
B 0,029 0,011 0,046
C 0,145 0,127 0,162
AB -0,092 -0,109 -0,074
AC 0,024 0,006 0,041
BC 0,048 0,030 0,065
ABC 0,085 0,102 0,067
Legenda: A =Temperatura, B = concentração de KOH, C = Tempo.
Como pode ser observado na tabela anterior, todos os efeitos são
significativos e interferem no rendimento de FFA. As três variáveis analisadas
isoladamente apresentam efeito positivo no rendimento de FFA, ou seja, aumentam
o rendimento da obtenção de FFA quando utilizadas nos seus maiores níveis,
entretanto o efeito mais significativo é o tempo de reação.
Com relação aos efeitos de interação, quando combinados, a temperatura e a
concentração de KOH apresentam efeitos negativos no rendimento da reação.
Entretanto, os demais efeitos de interação secundários aumentam o rendimento da
116
reação. O efeito sinérgico entre as três variáveis, por sua vez, aumentam o
rendimento da reação.
Os dados obtidos foram utilizados para construir a superfície de resposta para
o modelo construído a partir desse planejamento fatorial, conforme expresso na
Figura 1. Na construção dessa superfície de resposta, a concentração de KOH foi
mantido em zero, pois apresenta o menor efeito. A análise do gráfico permite
concluir que os maiores rendimentos de FFA são obtidos quando se utiliza a
temperatura, a concentração de KOH e o tempo em seus maiores níveis.
FIGURA 1: Superfície de resposta para o modelo obtido a partir do planejamento fatorial da saponificação.
Assim, a matéria graxa resultante da produção de FFA pela condição S8 teve
seu índice de acidez avaliado, para o qual obteve-se o valor de 117,9 mg KOH.g-1.
Como o valor encontrado é maior do que o ideal para se realizar uma
transesterificação para a produção de biodiesel (FREEDMAN; PRYDE; MOUNTS,
1984), a melhor opção foi mesmo realizar a esterificação ácida para conversão à
biodiesel.
117
3.2. Produção de biodiesel etílico
O biodiesel obtido em uma única etapa de esterificação, utilizando as
condições do experimento S8, apresentou teor de ésteres totais de 62,3%, o que é
ligeiramente inferior a 79% obtido por UDDIN et al. (2013), justificando assim a
realização de uma segunda esterificação etílica ácida.
O biodiesel produzido após a segunda esterificação foi caracterizado (Tabela
5) para verificar se sua qualidade encontrava-se de acordo com as especificações
da Resolução ANP nº 45/2014. Todas as análises foram realizadas em triplicata.
O índice de acidez (IA) que é uma medida de ácidos graxos livres (FFA)
contido em uma amostra de combustível, foi de 0,44 mg KOH.g-1. Como o máximo
permitido é de 0,5 mg KOH.g-1, o valor obtido demonstrou ser adequado ao limite
exigido pela legislação (KNOTHE et al., 2006; PHAN; PHAN, 2008).
A estabilidade oxidativa é influenciada pelo índice de iodo, pois a alta desse
índice indica uma maior quantidade de ácidos graxos insaturados, os quais podem
ser oxidados ou formarem polímeros, provocando a formação de depósitos em
tanques e injetores do motor diesel. Por outro lado, a maior quantidade de ácidos
graxos insaturados melhora as propriedades de fluxo a frio, diminuindo também a
viscosidade do biodiesel. O valor aqui obtido de 119,32 mg KOH.g-1 para o índice de
iodo do biodiesel etílico de ORF é similar aos reportados para biodiesel etílico
sintetizado por outros pesquisadores
A viscosidade cinemática do biodiesel está dentro do limite permitido,
lembrando que é um dos parâmetros mais importante da caracterização de um
biocombustível, uma vez que indica a capacidade de um material fluir, afetando
assim o funcionamento do injetor de combustível em motores do ciclo diesel
(BHUIYA et al., 2016; BORGES et al., 2014; VERDUZCO, 2013).
O teor de água (142,80 mg.kg-1) também apresentou-se dentro do
estabelecido pela legislação, o que é importante para diminuir a atividade
microbiológica (SOUZA et al., 2016).
Alguns estudos foram realizados, como o de Uddin et al., (2013), que
realizaram a partir do ORF também uma saponificação com NaOH, seguida de uma
acidificação com HCl e posterior esterificação com metanol com razão molar de 6:1
(metanol FFA), 5% de HCl utilizado também como catalisador a 60°C por 2h, tendo
como resposta 79% de rendimento com base em teor de ésteres totais.
118
Outro estudo realizou a saponificação do óleo de soja refinado utilizando
como base forte o NaOH e sendo acidificado com HCl para obtenção de FFA.
Posteriormente foram realizadas esterificações utilizando como álcool o metanol e o
etanol, tendo sido obtido teores de ésteres totais de 89% e 87%, respectivamente.
(LIRA; SUAREZ, 2014)
A hidroesterificação com o uso de etanol foi realizada no estudo de Aguieiras
et al., (2014), que utilizou o processo de hidroesterificação enzimática na obtenção
de biodiesel etílico de óleo de macaúba, que tal como o ORF possui um alto índice
de acidez, tendo sido obtido um teor de ésteres etílicos totais de 96,7%, ligeiramente
inferior ao de 97,1% aqui obtido. Além disso, o processo de hidroesterificação
dispendeu maior tempo de reação.
Zenevicz et al., (2008), também realizou uma hidroesterificação etílica, mas
os processos ocorreram em banho de ultrassom. A hidrólise teve a razão molar de
1:9 de óleo:água, 132 W de potência, 40°C, 300rpm e utilizando a enzima Lipozyme
TL IM e a esterificação foi com a razão molar 1:6 de FFA:etanol, com 132 W, 65°C e
enzima Novozym 435, obtendo em teor de ésteres totais 91%.
Outros estudos foram realizados acerca da produção de biodiesel a partir de
ácidos graxos livre, mas a maioria foi feita utilizando o processo de
hidroesterificação com o metanol, tendo sido obtido resultados satisfatórios, com
teores de ésteres metílicos totais entre 91 e 98% (LIMA, 2007; PUPO et al., 2007;
TEIXEIRA, 2011; VAUCHINSKI et al., 2011).
TABELA 5: Caracterização do biodiesel etílico produzido a partir da saponificação e dupla esterificação de ORF
Parâmetro Norma Limites Unidade Resultado
Índice de Acidez ASTM D 664:11 0,5 mg KOH.g-1 0,44
Índice de Iodo EN 14111:03 Anotar g.100g-1 119,32
Estabilidade Oxidativa EN 14112:03 8 h 5,02
Viscosidade cinemática (40 °C) NBR 10441:07 3,0 a 6,0 mm2.s-1 5,11
Teor de Água ASTM D 6304:07 200 mg.kg-1 142,80
Teor de Éster EN 14103:11 96,5 % massa 97,1
Na + K NBR 15553:15 5 máx mg.kg-1 0,39
Ca + Mg NBR 15553:15 5 máx mg.kg-1 0,89
P NBR 15553:15 10 máx mg.kg-1 0,28
Teor de Enxofre ASTM D 5453:12 10 máx mg.kg-1 6,50
Glicerol livre ASTM D6584:13 0,02 máx % massa 0,01
Glicerol total ASTM D6584:13 0,25 máx % massa 0,09
Monoacilglicerol ASTM D6584:13 0,7 máx % massa 0,29
Diacilglicerol ASTM D6584:13 0,20 máx % massa 0,08
Triacilglicerol ASTM D6584:13 0,20 máx % massa 0,09
A presença de elementos químicos é altamente influenciada por vários
fatores, como as características do solo, do processo de extração, purificação e
armazenamento da matéria-prima, do processo de produção do biodiesel, pureza
dos reagentes e as condições do seu armazenamento. O ORF ainda sofre a
influencia doa alimentos que tiveram contato com ele durante o processo de fritura, o
que também pode influenciar na presença dos elementos químicos encontrados no
biodiesel etílico de ORF (JAIN; SHARMA, 2013; KNOTHE, 2007).
A Tabela 6 mostra os elementos químicos presentes no biodiesel etílico de
ORF, o qual apresentou teores de sódio e potássio (0,39 mg.kg-1), cálcio e magnésio
(0,89 mg.kg-1), fósforo (0,28 mg.kg-1) e enxofre (6,50 mg.kg-1) em acordo com o
estabelecido pela legislação.
TABELA 6: Metais nos biodieseis etílicos de FFA de ORF
Elemento Químico Concentração (mg.kg-1)
Prata <LQ
Alumínio <LQ
Boro 1,51
Bário <LQ
Cálcio 0,88
Cádmio <LQ
Cromo <LQ
Cobre <LQ
Ferro <LQ
Potássio 0,39
Magnésio <LQ
Manganês <LQ
Molibdênio <LQ
Sódio <LQ
Níquel <LQ
Fósforo 0,28
Chumbo <LQ
Silício <LQ
Estanho <LQ
Zinco <LQ
121
A presença de elementos como o Na ou K, que frequentemente resultam do
processo de catálise alcalina, pode propiciar a formação de sabões insolúveis, e
consequentemente a formação de depósitos nos filtros dos veículos, sendo
necessária a rigorosa fiscalização durante o processo de purificação do biodiesel. O
biodiesel etílico de ORF apresentou apenas presença de potássio (0,39 mg.kg-1),
com teor dentro do limite estabelecido pela ANP que é e Na + K (5 mg.kg-1)
(BHAVARAJU et al., 2014; GANGWAR; GUPTA; AGARWAL, 2012).
O fósforo (P) pode estar presentes no biodiesel porque são extraídos,
juntamente com os óleos vegetais, na forma de fosfolipídios, e a sua presença no
biodiesel atrapalhar os catalisadores veiculares, reduzindo sua eficiência, pois atuam
como envenenadores dos catalisadores e podem formar gomas. O biodiesel etílico
de ORF também não apresentou níveis de fósforo acima do permitido, que é de 10
mg.kg-1 (BECERRA; CENTENO; GIRALDO, 2010; JAIN; SHARMA, 2013; KNOTHE,
2007).
O boro, com 1,51 mg.kg-1, foi o único elemento químico encontrado além dos
exigidos para avaliação obrigatória segundo a legislação.
O biodiesel etílico de ORF também apresentou teores de glicerina livre
(0,01%) e total (0,09%) e de seus monoacilglicerídeos (0,29%), diacilglicerídeos
(0,08%) e triacilglicerídeos (0,09%) dentro dos limites exigidos pela ANP.
Com respeito ao teor de ésteres totais, o qual foi de 97,10%, esse
apresentou-se em acordo com a legislação de qualidade, indicando que a realização
de um segundo processo de esterificação ácida é fundamental para produzir
biodiesel etílico de ORF via saponificação seguida de esterificação dessa matéria-
prima graxa residual.
O único parâmetro que apresentou-se fora do estabelecido pela legislação
brasileira, e também de outros países, foi a estabilidade oxidativa (5,11 h), a qual
pode ter sido afetada pela presença de ésteres de ácidos graxos insaturados ou de
substâncias oxidadas no biodiesel, já que outros parâmetros de influência direta,
como teores de metais e água, encontraram-se dentro da especificação.
Com respeito aos teores de ésteres etílicos de ácidos graxos em função do
grau de insaturação, a análise de ésteres totais indica que o biodiesel etílico de ORF
sintetizado apresentou 21,5% de ésteres saturados, 57,5% de ésteres
monoinsaturados, 19,4% de ésteres di-insaturados, 1,6% de ésteres tri-insaturados
122
e 0% de poli-insaturados. Apesar dos teores de ácidos graxos tri-insaturados no
biodiesel etílico de ORF ser de 1,6% - ou seja, inferior a 12%, tal como preconiza a
norma EN14214 para a obtenção de um biodiesel de qualidade adequada - tal
situação não impediu que o biodiesel etílico de ORF fosse reprovado na estabilidade
oxidativa (EN 14214:2003).
Assim, a inadequada estabilidade oxidativa obtida deve ser consequência da
presença de substâncias oxidadas, oriundas do processo de fritura, as quais por
terem baixa estabilidade podem se converter a produtos voláteis de alta
condutividade nas condições do ensaio de Rancimat, diminuindo o período de
indução.
3.2.1. Análise de produtos de oxidação de primeira e segunda ordem
A oxidação do biodiesel ocasiona a formação de hidroperóxidos, os quais
podem formar gomas insolúveis por meio de polimerização.
Conforme observado na análise por UPLC-DAD, os produtos de oxidação de
primeira ordem, denominados hidroperoxidienos e hidroxidienos, são encontrados
no biodiesel etílico de ORF, como visto na Figura 2.
FIGURA 2: Cromatograma do biodiesel etílico de ORF obtido por HPLC-UV/DAD a
235 nm.
Os compostos oxidados de segunda ordem, denominados cetoperoxidienos,
também estão presentes no biodiesel etílico de ORF (FIGURA 3), o que corrobora
para explicar a estabilidade oxidativa inadequada obtida para tal biodiesel.
123
FIGURA 3: Cromatograma do biodiesel etílico de ORF obtido por HPLC-UV/DAD a
270 nm.
4. CONCLUSÃO
A saponificação seguida de dupla esterificação ácida é uma técnica adequada
para a produção de biodiesel etílico de óleos e gorduras de fritura residuais (ORF)
com qualidade aprovada na maioria dos parâmetros monitorados.
O teor de ésteres totais, que em um processo em uma única etapa foi de
62,3%, passou para 97,1% com a utilização de uma segunda etapa, obtendo-se
também viscosidade cinemática e teores de acidez, água, elementos químicos,
monoacilglicerídeos, diacilglicerídeos, triacilglicerídeos, glicerol livre e total
adequados aos limites estabelecidos na legislação, exceto a estabilidade oxidativa,
que foi de 5,02h.
Assim, o uso de óleos e gorduras de fritura residuais para a produção de
biodiesel etílico, para sua comercialização direta sem a necessidade do uso de
antioxidantes ou da realização de misturas com outros tipos de biodiesel que
apresentem maior estabilidade oxidativa, depende ainda do desenvolvimento de
técnicas de purificação que removam os compostos oxidados de primeira e de
segunda ordem presentes no biodiesel etílico de ORF.
124
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CAPÍTULO 5
ESTUDO DA ECOTOXICIDADE AGUDA DE BIODIESEIS DE ÓLEOS E
GORDURAS DE FRITURA RESIDUAIS EM AMBIENTE AQUÁTICO SALINO E
SALOBRO
Camargo, R. P. L.; Carrim, A. J. I.; Antoniosi Filho, N. R
Laboratório de Métodos de Extração e Separação (LAMES), Instituto de Química,
Universidade Federal de Goiás, Campus Samambaia, CEP: 74690-900, Goiânia-
GO, Brasil. E-mail: [email protected]
RESUMO
O aumento do uso de biodiesel levou a investigação sobre os reais efeitos
toxicológicos que a exposição deste biocombustível e pode causar ao meio
ambiente. Poucos estudos foram realizados neste contexto utilizando como
organismo-teste a Artemia salina, principalmente utilizando biodiesel etílico de óleos
e gorduras de fritura residuais (ORF). Este estudo analisou os biodieseis produzidos
em condições laboratoriais e suas respectivas misturas (B100, B20 E B7). Foram
obtidos por mistura do biodiesel com água salina, eluatos que representaram a
fração solúvel dos biodieseis e em diversas concentrações foram testados com a
Artemia salina. Pode-se observar quanto menor a quantidade de biodiesel e maior a
quantidade de diesel na mistura, menor é a concentração de eluato necessária para
a mortandade dos náuplios de Artemia salina, isso é, o eluato salino preparado com
93% de óleo diesel e 7% de biodiesel (E4 e E10), apresentaram a mortandade das
Artemia salina quando em 50% de eluato e para o E7 foi de 90%. Reforçando com a
presença do óleo diesel a mistura realmente aumenta a toxicidade, o B100, apenas
no E8 que ocorreu mortandade (DL50 = 100%), indicando que os eluatos EB1/100 e
EB2/100 dos biodieseis biodiesel etílico de ORF e B2, respectivamente produzidos,
não apresentam toxicidade, em relação a este organismo-teste.
Palavras-chave: Artemia salina. Ecotoxicologia. Organismo-teste
128
ABSTRACT
The increasing use of biodiesel has led to a research on the actual toxicological
effects caused by the exposure of those biofuels. A few studies have been conducted
in this context using Artemia salina as a test-organism, mainly using ethyl biodiesel
waste oils and frying fat (ORF). This study analyzed the biodiesels produced under
laboratory conditions and their mixtures (B100, B20 and B7). They were obtained by
mixing biodiesel with saline water, eluates representing the soluble fraction of
biodiesels and various concentrations were tested with Artemia salina. It can be
observed that the lower the amount of biodiesel and the greater the quantity of diesel
fuel in the mixture are, the lower will be the concentration of eluate needed to kill the
brine shrimp nauplio, which means that the saline eluate prepared in 93% diesel and
7 % biodiesel (E4 and E10) showed the mortality of Artemia saline when in 50%
eluate and E7 it was 90%. The mixture does increase toxicity with the presence of
diesel, B100, only in E8 mortality occurred (LD50 = 100%), indicating that the eluates
EB1/100 and EB2/100 of ORF ethyl biodiesel and B2 biodiesel, respectively produced,
have no toxicity, against this test-organism.
Keywords: Artemia salina. Ecotoxicology. Test organism
129
1. INTRODUÇÃO
O biodiesel é um biocombustível constituído da mistura de ésteres metílicos
ou etílicos de ácidos graxos, obtido de fontes renováveis que apresentem ácidos
graxos, tais como óleos e gorduras. Ele possui algumas características positivas
como sua biodegradabilidade, além de ser livre de enxofre e compostos aromáticos,
bem como por apresentar excelente lubricidade (D´AGOSTO et al., 2015; SALVI;
PANWAR, 2012).
Diversas matérias-primas vêm sendo usadas para a produção de biodiesel,
inclusive óleos e gorduras residuais de fritura (ORF), o qual apresenta problemas de
qualidade, notadamente devido a baixa estabilidade oxidativa derivada da presença
de produtos de oxidação dos ácidos graxos durante o processo de fritura
(CAMARGO et al., 2016b).
Como a produção de biodiesel tende a ser crescente em volume, existe a
possibilidade de chegar as águas, por algum tipo de acidente ou até mesmo por
descarte indevido, contaminando o ambiente e intoxicando ou, até mesmo,
causando a morte de organismos aquáticos (LAPINSKIENĖ; MARTINKUS;
RĖBŽDAITĖ, 2006). Assim, há necessidade de conhecer a toxicidade do biodiesel à
diferentes organismos, de forma a compreender e mitigar os impactos ambientais
causados pela presença desse biocombustível no solo ou na água.
Para tal avaliação recorre-se a ecotoxicologia, na qual os testes de avaliação
da toxicidade são executados como ensaios laboratoriais executados sob condições
experimentais específicas e controladas, em que organismos-testes são expostos a
diferentes concentrações de uma amostra, sendo observados e quantificados os
efeitos tóxicos produzidos por esta amostra (COSTA et al., 2008).
A DL50 que significa a dose letal capaz de produzir 50% de morte dos
organismos-teste expostos em determinada quantidade de uma substância química
administrada em uma única dose por via oral e em estudos ambientais pode ser
aplicada para substâncias químicas em ambientes aquáticos (KRULL; BARROS;
BARROS, 2012; WILLIAMS; JAMES; ROBERTS, 2000).
Como são ensaios laboratoriais, fica difícil obter um resposta absoluta sobre o
real impacto para a população humana, visto a dificuldade de se extrapolar os
resultados obtidos e até mesmo correlacionar os resultados de toxicidade entre
130
organismos de diferentes espécies (CAVALCANTE et al., 2014; LAPINSKIENĖ;
MARTINKUS; RĖBŽDAITĖ, 2006).
Mesmo assim os testes de toxicidade e as análises químicas se completam
pois as análises químicas identificam e quantificam as concentrações das
substâncias tóxicas, e os testes de toxicidade avaliam o efeito dessas substâncias
sobre sistemas biológicos (KRULL; BARROS; BARROS, 2012).
Apenas com a identificação e a quantificação dessas substâncias não se
pode definir o impacto dela sobre a biota, sendo que, a toxicidade de algumas
substâncias depende de sua interação com outros componentes que podem estar
presentes no efluente, sendo impossível determinar se apenas uma substância é a
responsável pelo efeito tóxico (JALAVA et al., 2012; WILLIAMS; JAMES; ROBERTS,
2000).
Dentre os diversos organismos-teste utilizados de forma padronizada, a
Artemia salina destaca-se por ser de amplo e fácil aplicação para verificação da
ecotoxicidade em meios líquidos salinos e salobros, os quais são geralmente
negligenciados como objeto de estudo, apesar de corresponderem a maioria dos
ambientes aquáticos do planeta (SORGELOOS; WIELEN; PERSOONE, 1978).
A Artemia salina é caracterizada pela adaptabilidade a ampla gama de
salinidade (5 a 250 g.L-1) e temperatura (6 a 35°C), por apresentar ciclo de vida
curto, alta capacidade de adaptação a condições ambientais adversas, estratégia de
reprodução partenogenética (com náuplios ou cistos de pequeno tamanho), com
adaptabilidade para fontes de nutrientes variados, uma vez que é um alimentador de
filtro não-seletivo. Com isso, a Artemia salina é um organismo adequado para uso
em ecotoxicologia, garantindo confiabilidade e ótimo custo-eficácia nas pesquisa
práticas (MATTHEWS, 1995; NUNES et al., 2006; SORGELOOS; WIELEN;
ERSOONE, 1978).
Os estudos ecotoxicológicos no componente atmosférico foram os mais
frequentemente realizados em relação ao biodiesel (CARRIM, 2016), destacando-se
aquele produzido a partir de canola via rota metílica, já que esse é mais utilizado na
Europa e Estados Unidos (AJANOVIC, 2011; FIRRISA; VAN DUREN; VOINOV,
2014).
O único estudo que avaliou a toxicidade de biodiesel etílico no componente
atmosférico foi o de Swanson et al., (2009), os quais utilizaram células humanas
131
epiteliais respiratórias para testar extratos orgânicos de material particulado emitido
pela combustão de biodiesel etílico e metílico de soja, comparativamente ao diesel.
A respeito do componente hídrico poucos estudos foram realizados O
primeiro foi o de Chae et al, (2005), publicou o primeiro trabalho de ecotoxicologia
enfocando o estudo de biodiesel, no caso obtido via rota metílica, usando como
organismo-teste a microalga dulcícola Chlorella vulgaris, determinando que o
biodiesel metílico é levemente tóxico.
Vários outros estudos foram realizados para verificar a toxicidade do biodiesel
metílico como os de Da Cruz et al., (2012); Khan, Warith e Luk, (2007); Leite et al.,
(2011); Nogueira et al., (2011); Yassine et al., (2012); Nogueira et al., (2013) e
Tjarinto; Rachmatiah e Salami, (2014). De acordo com tais estudos, as misturas de
diesel/biodiesel metílico podem causar grandes contaminações em água doce,
levando a impactos ambientais maiores, em função da presença de substâncias
tóxicas e recalcitrantes, incluindo compostos orgânicos voláteis, componentes
aromáticos e seus derivados (MITRE; LEÃO; ALVARENGA, 2012).
No único estudo existente enfocando a toxicidade de biodiesel etílico em meio
hídrico, Bedin (2013) fez-se a comparação da toxicidade de biodiesel etílico
comercial de diferentes oleaginosas e suas misturas com óleo diesel (B5, B20 e
B100) em água doce, usando o organismo-teste o peixe tilápia, atestando que B5 e
B20 são mais tóxicos que B100, e que óleo diesel puro apresentou maior toxicidade
que todas as outras amostras, provavelmente pela composição de PAH presentes.
Dessa forma, não existe relato de trabalhos avaliando a ecotoxicidade de
biodiesel etílico em águas salinas ou salobras, sendo que também são poucos os
trabalhos que estudaram o biodiesel derivado de óleos e gorduras de fritura
residuais, mesmo quando esses foram obtidos via rota metílica (CARRIM, 2016).
Além disso, alguns estudos ecotoxicologicos feitos com o uso de biodiesel
metílico, apontam a necessidade do metanol estar ausente ou presente na menor
quantidade possível no biodiesel, visando assim diminuir a toxicidade desse
biocombustível (DA CRUZ et al., 2012; GATEAU et al., 2005; LEITE et al., 2011;
ROSEN et al., 2014), sem que haja qualquer publicação avaliando se tal situação é
análoga para o etanol residual da produção de biodiesel etílico.
Com isso, considerando a importância do uso de matérias-primas de menor
custo para a produção de biodiesel, bem como a importância e o impacto da
132
presença desse biocombustível em ambientes aquáticos salobros ou salinos, o
objetivo deste estudo foi determinar a toxicidade da fração solúvel - chamada eluato
- do biodiesel etílico de ORF, utilizando náuplios do micro crustáceo Artemia salina
como organismos-teste. Para isso avaliou-se a toxicidade de duas amostras de
biodiesel etílico de ORF, sendo a primeira obtida via esterificação seguida de
transesterificação do ORF (CAMARGO et al., 2016c) e a segunda via saponificação,
acidificação e dupla esterificação do ORF (CAMARGO et al., 2016b).
2. PARTE EXPERIMENTAL
2.1. Amostragem
As amostras de biodiesel etílico de ORF utilizadas para as análises
ecotoxicológicas foram o biodiesel etílico de ORF produzido a partir de um processo
conjugado de esterificação ácida seguida de uma transesterificação alcalina
(denominado B1) e o biodiesel etílico de ORF produzido pelo processo de
saponificação seguido de acidificação e duas esterificações ácidas (denominado B2)
(CAMARGO et al., 2016a, 2016b).
O sal marinho utilizado e os cistos de Artemia salina utilizados nos ensaios
ecotoxicológicos foram adquiridos em estabelecimento comercial de aquarismo da
cidade de Anápolis (Goiás – Brasil). O óleo diesel A S500 utilizado para preparar as
misturas B7 e B20 foi doado pela Petrobrás Distribuidora (Brasília – DF). Todas as
amostras de óleos e biodiesel foram acondicionadas em frascos de PEAD
(polietileno de alta densidade).
2.2. Ensaios ecotoxicológicos
Para os ensaios de ecotoxicidade das amostras de biodiesel B1 e B2 e das
misturas BX, utilizou-se a metodologia proposta por Meyer et al., (1982). Os ensaios
ecotoxicológicos foram efetuados segundo as normas L5.019 (CETESB, 1990) e
L5.021 (CETESB, 1991), que tratam do cultivo dos náuplios de Artemia salina e dos
ensaios ecotoxicológicos usando Artemia salina, respectivamente.
133
2.2.1. Preparo do eluato
O eluato corresponde a fração solúvel em água do biodiesel e das misturas
BX, (Fração Solúvel em Água - FSA), sendo definido pela norma ABNT 15469:2007
como “a solução aquosa de uma amostra de baixa miscibilidade em água, obtida
após procedimento de extração com água” (ABNT, 2007).
Cada eluato foi preparado com adaptação da norma ABNT NBR 15469:2007,
em que cada biodiesel e suas respectivas misturas BX foram misturados com
solução aquosa salina a 3,5% (m/v), em uma razão de 750 mL de amostra com 250
mL de solução salina aquosa. Tais misturas ficaram sob a agitação a 150 rpm por 24
horas, em reator Marconi modelo MA S02/1/UFG.
Após 24 h a mistura foi disposta em um funil de separação por mais 24 horas,
promovendo assim a completa separação da fase aquosa (eluato) da fase oleosa. O
eluato, após a separação, foi armazenado em frascos plásticos de PEAD e mantido
sob refrigeração.
Os eluatos produzidos a partir do ORF, do biodiesel e das misturas foram
identificados conforme descrito na Tabela 1.
TABELA 1: Especificação das amostras do eluato.
Amostra que gerou o eluato Especificação do eluato
ORF E1 Biodiesel B1 E2
Mistura B20 do Biodiesel B1 E3 Mistura B7 do Biodiesel B1 E4
Biodiesel B2 E5 Mistura B20 do Biodiesel B2 E6 Mistura B7 do Biodiesel B2 E7
2.2.2. Cultivo dos náuplios de Artemia salina
Os náuplios de Artemia salina foram cultivados de acordo com Meyer et al.
(1982), em solução aquosa salina de cloreto de sódio a 3,5% (m/v) contida em funil
de separação de 1000 mL. Para a aeração foi utilizada uma bomba de aquário com
razão de 4,5 L.min-1, em incubadora Marconi Modelo MA403 a 25°C.
Em seguida adicionou-se 30 mg de ovos de Artemia salina, os quais foram
incubados por 48 horas, com fotoperíodo de 23 horas e 50 minutos de exposição a
luz e intervalo de 10 minutos durante o cultivo, mantido sob aeração durante todo
processo de incubação.
134
Após as 48 horas, ocorreu a eclosão dos náuplios, e a aeração foi cessada,
sendo mantido o sistema em repouso por 15 minutos para que ocorresse a
separação dos ovos eclodidos dos que não eclodiram. Os ovos que não eclodiram
ficam na parte superior da solução salina e no fundo os que eclodiram. Já os
náuplios ficam na parte intermediária da solução salina.
Abre-se o funil de separação para o escoamento dos ovos eclodidos e logo
em seguida são colhidos os náuplios em cerca de 500 a 700 mL de solução salina,
sendo esses recolhidos através de filtração simples utilizando papel de filtro comum.
Transfere-se os náuplios para um cálice contendo cerca de 100 mL da
solução salina que atravessou o filtro. Para isso os náuplios retidos em filtro são
lavados com uma pequena porção de água destilada e transferidos para o cálice já
com a água salina filtrada, dispondo uma luz no topo do mesmo de forma a mantê-
los suspensos na solução, facilitando sua coleta para utilização nos ensaios
ecotoxicológicos.
2.2.3 Teste ecotoxicológico do eluato com Artemia salina
Para os testes de toxicidade frente a Artemia salina, a fase aquosa, os eluatos
foram diluídos em diferentes concentrações (100%, 90%, 80%, 70%, 60% e 50%,
40%, 30% e 0%), para determinar a toxicidade pela determinação da DL50 (dose letal
para 50% da população). Tais ensaios foram feitos em 10 replicatas para cada
concentração de cada uma das 7 amostras.
Assim, em cada tubo de ensaio foram dispostos cerca de dez náuplios de
Artemia salina e esses foram incubados por 24h, a 30°C, sob iluminação a 141,3
µmol.m2.s (AZEVEDO; CHASIN, 2003).
Após o período de incubação fez-se a contagem dos náuplios vivos e mortos
para determinar os percentuais de mortandade e, com isso, determinar os valores de
DL50 para todos os eluatos de testados.
2.2.4 Cálculo da taxa de mortalidade de Artemia salina
Após as 24 h de incubação das replicatas, foi realizada a contagem dos
náuplios vivos e mortos, sendo utilizada uma lupa e uma fonte de luz para facilitar a
contagem. Para que o organismo-teste fosse considerado vivo era necessário que o
mesmo mantivesse algum tipo de movimento por pelo menos 10 segundos.
135
Para os resultados obtidos foi aplicada a EQUAÇÃO 1 para calcular a taxa
percentual de mortalidade para cada amostra.
EQUAÇÃO 1: Cálculo da mortalidade dos náuplios:
% 𝑚𝑜𝑟𝑡𝑎𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 =𝑛º 𝑑𝑒 𝑛á𝑢𝑝𝑙𝑖𝑜𝑠 𝑚𝑜𝑟𝑡𝑜𝑠 𝑜𝑢 𝑖𝑚ó𝑣𝑒𝑖𝑠
𝑛º 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑛á𝑢𝑝𝑙𝑖𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑎𝑟𝑡𝑒𝑚𝑖𝑎 𝑠𝑎𝑙𝑖𝑛𝑎∗ 100
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 2 apresenta o controle de qualidade das amostras de biodiesel B1 e
B2 utilizadas nos ensaios ecotoxicológicos. Os resultados obtidos demonstram que
as amostras B1 e B2 se encontram de acordo com os padrões de qualidade exigidos
pela Resolução ANP nº 45/2014, exceção feita a estabilidade oxidativa, a qual é
normalmente baixa para biodiesel derivado de óleos insaturados como o de soja,
especialmente os que possuem a presença de componentes oxidados, como os de
óleos de fritura (CAMARGO, 2016b,c).
Os eluatos preparados com solução salina foram testados em ensaios
ecotoxicológicos em proporções de 0 a 100% de eluato em solução aquosa salina.
Os resultados encontrados para a mortandade ou imobilização das Artemia salina
em cada concentração e em cada eluato estão expressos na Tabela 3.
136
TABELA 2: Características de qualidade das amostras de biodiesel B1 e B2
utilizadas para a preparação dos eluatos.
TABELA 3: Percentual médio de mortandade ou imobilização de organismos-testes de Artemia salina nos ensaios ecotoxicológicos em diferentes concentrações dos eluatos.
Concentração
do eluato em
água salina
Percentual médio de mortandade de Artemia salina em função do
eluato e de sua concentração em água salina
E1 E2 E5 E3 E6 E4 E7
100% 63% 8% 35% 13% 77% 96% 96%
90% 5% 3% 5% 2% 34% 82% 72%
80% 0 0 0 0 3% 78% 21%
70% 0 0 0 0 0 75% 5%
60% 0 0 0 0 0 68% 0
50% 0 0 0 0 0 55% 0
40% 0 0 0 0 0 10% 0
30% 0 0 0 0 0 0 0
0% 0 0 0 0 0 0 0
Parâmetro Limites Unidade Resultados
B1 B2
Índice de Acidez 0,5 mg KOH.g-1 0,39 0,44
Índice de Iodo Anotar g.100g-1 122,47 119,32
Estabilidade Oxidativa 8 h 5,82 5,02
Viscosidade Cinemática (40 °C) 3,0 a 6,0 mm2.s-1 4,85 5,11
Teor de Água 200 mg.kg-1 171,00 142,80
Teor de Éster 96,5 % massa 96,83 97,10
Na + K 5 máx mg.kg-1 2,20 0,39
Ca + Mg 5 máx mg.kg-1 0,16 0,89
P 10 máx mg.kg-1 0,00 0,28
Teor de Enxofre 10 máx mg.kg-1 4,80 6,50
Glicerol livre 0,02 máx % massa 0,02 0,01
Glicerol total 0,25 máx % massa 0,20 0,09
Monoacilglicerol 0,70 máx % massa 0,62 0,29
Diacilglicerol 0,20 máx % massa 0,10 0,08
Triacilglicerol 0,20 máx % massa 0,05 0,09
137
A partir dos dados da Tabela 3 foram calculados os valores de DL50 para cada
eluato (Tabela 4).
TABELA 4: Concentração do eluato para a DL50.
Eluatos Amostra DL50
E1 ORF 98,0%
E2 B100 etílico (B1) -
E5 B100 etílico (B2) -
E3 B20 etílico (B1) -
E6 B20 etílico (B2) 94,0%
E4 B7 etílico (B1) 48,5%
E7 B7 etílico (B2) 86,0%
Os eluatos E2, E5, e E3 foram os que apresentaram menor toxicidade frente
aos microcrustáceos, não apresentando níveis de mortandade ou imobilização que
permitissem calcular valores de DL50. As amostras de biodiesel B100 demonstraram
até mesmo ser ambientalmente menos impactante que o ORF usado para sua
produção, para qual o eluato apresentou DL50 de 98%.
Assim sendo, no caso de derramamento de biodiesel B100 e suas misturas
com diesel em água salina ou salobra, na ausência de agentes solubilizantes como
surfactantes, serão observados efeitos de mortandade ou imobilidade sobre tal biota,
mas parte da população desse microcrustáceo permanecerá viva no meio aquático.
Tanto para B1 quanto para B2, quanto maior a presença de óleo diesel na
mistura BX, maior é a toxicidade. A toxicidade do óleo diesel normalmente é
conferida a presença de PAHs (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos) que são
altamente tóxicos, compostos orgânicos voláteis e alto teor de enxofre
(KARAVALAKIS et al., 2010, 2011; ROSEN et al., 2014)
Analisando os resultados dos ensaios ecotoxicológicos não é possível indicar
qual rota de produção de biodiesel utilizada é ecotoxicologicamente favorável pois,
apesar da mistura B100 e B20 do biodiesel B1 terem apresentado menor toxicidade
que as misturas B100 e B20 do biodiesel B2, a mistura B7 do biodiesel B1 mostrou-
se mais tóxica que a mistura B7 do biodiesel B2.
138
Amostras B7, ou seja, amostras com concentração de biodiesel em óleo
diesel idênticas as praticadas atualmente no Brasil, no pior cenário observado,
geram mortandade ou imobilização dos organismos-teste já a partir das
concentrações de 40% de eluato em água salgada. Para amostras com 20% de
biodiesel em óleo diesel, a mortandade ou imobilização apenas é evidenciada em
situações na qual a concentração do eluato em água salgada é igual ou superior a
90%.
Dessa forma conclui-se que o aumento da concentração de biodiesel em óleo
diesel será benéfico à biota aquática no nível trófico avaliado, em caso de
derramamento de tais amostras em água salina ou salobra.
4. CONCLUSÃO
A produção de biodiesel etílico muitas vezes corresponde a uma via mais
renovável do que a produção de biodiesel metílico, já que o etanol é normalmente
obtido a partir de biomassa enquanto o metanol normalmente advém do petróleo.
Pelo fato de ser normalmente utilizado em ambiente continental, os efeitos do
derramamento de biodiesel etílico em meio aquático salino ou salobro ainda é pouco
conhecido. Dessa forma o ensaio ecotoxicológico usando Artemia salina pode vir a
ser uma fonte útil de informações sobre possíveis impactos ambientais caso tal
situação venha a ocorrer.
Assim sendo, observou-se que o biodiesel etílico de óleos e gorduras de
fritura residuais são menos impactantes a esse meio aquático do que o próprio óleo
e gordura de fritura residual utilizado para sua produção.
As misturas BX de biodiesel de ORF com óleo diesel A S500 demostraram
apresentar menor toxicidade quanto maior o teor de biodiesel, o que indica que
políticas de aumento do teor de biodiesel em óleo diesel trarão benefícios do ponto
de vista ambiental, no que diz respeito ao menos ao meio aquático.
Neste trabalho conclui-se que o processo conjugado de esterificação ácida
seguida da transesterificação alcalina é uma alternativa adequada para produzir
biodiesel etílico de óleos e gorduras de fritura residuais.
139
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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143
CONCLUSÃO GERAL
Esse trabalho demonstrou que, para se alcançar esse objetivo, inicialmente é
necessário a realização de um tratamento prévio do ORF, envolvendo extração
líquido-líquido, destilação e filtração em adsorvente, visando diminuir o teor de água,
de ácidos graxos livres de cadeia curta e de componentes oxidados, os quais podem
comprometer o rendimento da conversão a biodiesel e promover a formação de
borras e sedimentos, especialmente quando o biodiesel é misturado ao óleo diesel.
Ademais, a elevada acidez residual, comum para ORF, indica que a produção
de biodiesel diretamente a partir dessa matéria-prima não deve ser realizada apenas
via um único processo de transesterificação alcalina, tal como feito para óleo de
baixa acidez, como os refinados.
Assim avaliou-se, no Capítulo 3, a otimização de um processo conjugado de
esterificação ácida seguida de transesterificação alcalina do ORF com etanol. Os
resultados mostraram que é possível obter um biodiesel etílico de ORF com
adequada rendimento em ésteres totais (96,8%) quando a esterificação ácida é
realizada com razão molar etanol:ORF de 11:1, 2,5% de ácido sulfúrico, a 70oC por
4 horas, seguido da transesterificação alcalina com razão molar etanol:matéria graxa
de 13:1, com 1,5% de hidróxido de potássio, a 70oC por 4 horas.
O controle da qualidade do biodiesel produzido indica que este se encontra
em concordância com a maioria dos parâmetros exigidos por vários dos padrões de
qualidade existentes, com exceção da estabilidade oxidativa, a qual é afetada pela
presença de componentes oxidados de primeira ordem (hidroxidienos e
hidroperoxidienos) e de segunda ordem (cetoperoxidienos).
Outro processo avaliado e otimizado quimiometricamente, apresentado no
Capítulo 4, foi à realização de uma saponificação seguida de dupla esterificação
ácida, o qual também se mostrou uma técnica adequada para a produção de
biodiesel etílico de ORF, com qualidade aprovada na maioria dos parâmetros
monitorados, com exceção a estabilidade oxidativa.
Assim sendo, para ser utilizado comercialmente, na maioria dos países, o
biodiesel etílico de ORF produzido por ambos os processos deverá, de forma a
seguir alguns padrões de qualidade, sofrer a adição de antioxidantes para aumentar
a estabilidade oxidativa, ou ser comercializado em mistura com outras amostras de
144
biodiesel que apresentem maior estabilidade oxidativa, tal como as oriundas de
palmáceas ou de sebo animal.
Assim, o uso de óleos e gorduras de fritura residuais para a produção de
biodiesel etílico, para sua comercialização direta sem a necessidade do uso de
antioxidantes ou da realização de misturas com outros tipos de biodiesel que
apresentem maior estabilidade oxidativa, depende ainda do desenvolvimento de
técnicas de purificação que removam os compostos oxidados de primeira e de
segunda ordem presentes no biodiesel etílico de ORF.
Com respeito a avaliação da toxicidade, as misturas BX de biodiesel de ORF
com óleo diesel A S500 demostraram apresentar menor toxicidade quanto maior o
teor de biodiesel, o que indica que políticas de aumento do teor de biodiesel em óleo
diesel trarão benefícios do ponto de vista ambiental, no que diz respeito ao menos
no meio aquático.
Assim, este trabalho demonstrou que a produção de biodiesel etílico de óleos
e gorduras de fritura residuais pode ser feita usando dois procedimentos que
permitem obter amostras de biodiesel que apresentam qualidade adequada,
exceção feita à estabilidade oxidativa, bem como apontar que o biodiesel etílico de
ORF é menos tóxico do que o próprio ORF e que seu incremento de teor nas
misturas BX proporcionará menores impactos ambientais em caso de derramamento
em meios salinos ou salobros.
ANEXO I
Resolução ANP Nº 45, de 25/8/2014 - DOU 26/8/2014
Estabelece a especificação do biodiesel contida no
Regulamento Técnico ANP nº 3/2014 e as obrigações quanto
ao controle da qualidade a serem atendidas pelos diversos
agentes econômicos que comercializam o produto em todo o
território nacional.
146
RESOLUÇÃO ANP Nº 45, DE 25.8.2014 - DOU 26.8.2014
A DIRETORA-GERAL da AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS
NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS - ANP, no uso das atribuições legais, tendo em
vista as disposições da Lei nº 9.478, de 06 de agosto de 1997, e suas alterações, e
com base na Resolução de Diretoria nº 854, de 13 de agosto de 2014;
Considerando o interesse para o País em apresentar sucedâneos para o óleo
diesel;
Considerando a Lei nº 11.097, de 13 de janeiro de 2005, que define o
biodiesel como um combustível derivado de biomassa renovável para uso em
motores a combustão interna com ignição por compressão, que possa substituir
parcial ou totalmente o óleo diesel de origem fóssil;
Considerando as diretrizes emanadas do Conselho Nacional de Política
Energética - CNPE, quanto à produção e ao percentual de biodiesel no óleo diesel a
ser comercializado;
Considerando o disposto no inciso XVIII, art. 8º da Lei nº 9.478, de 6 de
agosto de 1997, alterada pela Lei nº 11.097, de 13 de janeiro de 2005, que
estabelece a atribuição da ANP em especificar a qualidade do biodiesel, e
Considerando a Lei 12.490, de 16 de setembro de 2011 que, acrescenta e dá
nova redação a dispositivos previstos na Lei nº 9.478/1997, além de ampliar a
competência da ANP para toda a Indústria de Biocombustíveis, definida como o
conjunto de atividades econômicas relacionadas com produção, importação,
exportação, transferência, transporte, armazenagem, comercialização, distribuição,
avaliação de conformidade e certificação da qualidade de biocombustíveis,
Resolve:
Seção I
Das Disposições Preliminares
Art. 1º Ficam estabelecidas, por meio da presente Resolução, a especificação
do biodiesel contida no Regulamento Técnico ANP nº 3/2014 e as obrigações quanto
ao controle da qualidade a serem atendidas pelos diversos agentes econômicos que
comercializam o produto em todo o território nacional.
147
Parágrafo único. Fica vedada a comercialização de biodiesel que não se
enquadre na especificação contida no Regulamento Técnico ANP, parte integrante
desta Resolução.
Seção II
Das Definições
Art. 2º Para efeitos desta Resolução, definem-se:
I - Biodiesel: combustível composto de alquil ésteres de ácidos carboxílicos de
cadeia longa, produzido a partir da transesterificação e/ou esterificação de matérias
graxas, de gorduras de origem vegetal ou animal, e que atenda a especificação
contida no Regulamento Técnico, parte integrante desta Resolução.
II - Óleo diesel A: combustível de uso rodoviário e não rodoviário, destinado a
veículos e equipamentos dotados de motores do ciclo Diesel e produzido por
processos de refino de petróleo e processamento de gás natural, sem adição de
biodiesel.
III - Óleo diesel B: óleo diesel A que contém biodiesel no teor estabelecido
pela legislação vigente.
IV - Óleo diesel BX: óleo diesel A que contém biodiesel no teor superior ao
estabelecido pela legislação vigente em proporção definida (X%) quando autorizado
o uso específico ou experimental conforme regulamentação da ANP.
V - Produtor: pessoa jurídica ou consórcios autorizados pela ANP a
exercerem a atividade de produção e comercialização de biodiesel.
VI - Distribuidor: pessoa jurídica autorizada pela ANP ao exercício da
atividade de distribuição de combustíveis líquidos derivados de petróleo,
biocombustíveis e outros combustíveis automotivos especificados ou autorizados
pela ANP.
VII - Revendedor: pessoa jurídica autorizada pela ANP para o exercício da
atividade de revenda varejista que consiste na comercialização de combustível
automotivo em estabelecimento denominado posto revendedor.
VIII - Transportador-Revendedor-Retalhista (TRR): pessoa jurídica autorizada
pela ANP para o exercício das atividades de transporte e revenda retalhista de
combustíveis, de óleos lubrificantes e graxas envasados, óleo diesel B e óleo diesel
BX.
148
IX - Importador: empresa autorizada pela ANP para o exercício da atividade
de importação.
X - Exportador: empresa autorizada pela ANP para o exercício da atividade de
exportação.
XI - Refinaria: pessoa jurídica autorizada pela ANP para o exercício da
atividade de refino de petróleo.
XII - Adquirente: pessoa jurídica autorizada pela ANP, responsável pela
aquisição e armazenamento de biodiesel, para garantir o estoque regulatório
necessário a fim de assegurar o abastecimento nacional de biodiesel.
XIII - Boletim de Análise: documento da qualidade emitido por laboratório
cadastrado na ANP de acordo com a Resolução ANP nº 06, de 05 de fevereiro de
2014, ou outra que venha substituí-la, com informação (ões) e resultado(s) do(s)
ensaio(s) realizado(s), conforme Regulamento Técnico, parte integrante desta
Resolução.
XIV - Certificado da Qualidade: documento da qualidade emitido por Produtor,
Adquirente e Importador que comprove o atendimento do produto comercializado à
especificação da ANP, com todos os requisitos constantes do Artigo 5º, § 6º, da
presente Resolução.
XV - Volume Certificado: quantidade segregada de produto em um único
tanque, caracterizada por Certificado da Qualidade.
XVI - Firma inspetora: pessoa jurídica credenciada pela ANP, para realização
de atividades de controle da qualidade na importação e exportação de derivados de
petróleo, e biocombustíveis, de adição de marcador aos Produtos de Marcação
Compulsória (PMC) indicados pela ANP, e de adição de corante ao etanol anidro
combustível, conforme legislação vigente.
XVII - Aditivo: produto que contém componentes ativos, com ou sem fluido
carreador ou diluente, que confere aos combustíveis propriedades benéficas ou que
oferece ao veículo algum tipo de benefício, destinado a ser adicionado ao
combustível em concentração que não exceda a 5.000 µL/L (0,5 % v/v);.
XVIII - Componente ativo: composto químico ou combinação de compostos
químicos responsável pelas propriedades benéficas do aditivo.
149
XIX - Diluente: veículo no qual o componente ativo do aditivo é diluído, com a
finalidade de facilitar sua mistura com o combustível ou seu bombeamento e
movimentação.
XX - Terminal de carregamento: local de carregamento do produto, no país de
origem.
Seção III
Da Comercialização
Art. 3º O biodiesel só poderá ser comercializado pelos Produtores,
Distribuidores, Refinarias, Adquirentes, Importadores e Exportadores de biodiesel
autorizados pela ANP.
§ 1º Somente os Distribuidores e as Refinarias autorizados pela ANP poderão
realizar a mistura óleo diesel A/biodiesel para efetivar sua comercialização.
§ 2º É vedada a comercialização de biodiesel pelo Produtor ou Refinaria ou
Adquirente ou Distribuidor ou Importador para Revendedor ou Transportador-
Revendedor-Retalhista.
Art. 4º O Distribuidor e o Adquirente deverão recusar o recebimento do
produto caso constatem qualquer não conformidade presente no Certificado da
Qualidade ou após realização de análise de amostra representativa. Tal não
conformidade deverá ser comunicada à ANP por meio de endereço eletrônico
disponibilizado no sítio http://www.anp.gov.br, no prazo máximo de 48 (quarenta e
oito) horas, considerando-se somente os dias úteis, e informando:
I - Data da ocorrência;
II - Número e data de emissão da Nota Fiscal e;
III - CNPJ do emitente da Nota Fiscal.
Seção IV
Da Certificação do Biodiesel
Art. 5º O Produtor, o Adquirente e o Importador ficam obrigados a garantir a
qualidade do biodiesel a ser comercializado em todo o território nacional e a emitir o
Certificado da Qualidade de amostra representativa, cujos resultados deverão
atender aos limites estabelecidos da especificação constante no Regulamento
Técnico ANP, parte integrante desta Resolução.
150
§ 1º O produto somente poderá ser liberado para a comercialização após a
sua certificação, com a emissão do respectivo Certificado da Qualidade, que deverá
acompanhar o produto.
§ 2º As análises constantes do Certificado da Qualidade só poderão ser
realizadas em laboratório próprio do Produtor, do Adquirente ou outro(s)
contratado(s) por estes, o(s) qual (is) deverá(ão) ser cadastrado(s) pela ANP
conforme Resolução ANP nº 06, de 05 de fevereiro de 2014, ou outra que venha a
substituí-la.
§ 3º No caso de certificação do biodiesel utilizando laboratório próprio e
contratado, o Produtor e o Adquirente deverão emitir Certificado da Qualidade único,
agrupando todos os resultados constantes do(s) Boletim(ns) de Análise que tenham
recebido do(s) laboratório(s) cadastrado(s) pela ANP. Esse Certificado deverá
indicar o(s) laboratório(s) responsável(is) por cada ensaio.
§ 4º Caso o produto não seja comercializado no prazo máximo de 1 (um) mês,
a partir da data de certificação constante do Certificado da Qualidade, a
característica massa específica a 20ºC deverá ser novamente analisada:
I - Se a diferença encontrada com relação à massa específica a 20 ºC do
Certificado da Qualidade for inferior a 3,0 kg/m³, deverão ser novamente avaliados o
teor de água, o índice de acidez e a estabilidade à oxidação a 110 ºC.
II - Se a diferença for superior a 3,0 kg/m³, deverá ser realizada a
recertificação completa segundo esta Resolução.
§ 5º No caso da importação de biodiesel, a análise de amostra representativa
e a emissão do Certificado da Qualidade deverão ser realizadas por Firma Inspetora,
contratada pelo Importador, atestando que o produto atende ao Regulamento
Técnico ANP, parte integrante desta Resolução.
I - A Firma Inspetora deverá ser cadastrada na ANP ou poderá contratar
laboratório cadastrado junto à ANP para emissão do Boletim de Análise.
II - A Firma Inspetora ficará obrigada a apresentar os Boletins de Análise
emitidos pelo(s) laboratório(s) contratado(s), caso seja solicitado pela ANP.
§ 6º O Certificado da Qualidade referente ao produto comercializado deverá
conter:
151
I - os resultados das análises dos parâmetros especificados, com indicação
dos métodos empregados e os respectivos limites constantes da especificação,
conforme Regulamento Técnico ANP, parte integrante desta Resolução;
II - o tanque de origem e a identificação do lacre da amostra-testemunha,
previsto no art. 6º deste regulamento;
III - a data de produção do biodiesel;
IV - o material graxo e o álcool utilizado para obtenção do biodiesel;
a) Caso seja usado mais de um tipo de material graxo, devem ser informadas
suas respectivas proporções;
V - a identificação do aditivo utilizado na fase de produção, quando for o caso,
cabendo classificar o tipo;
a) Após a aditivação, o biodiesel deverá permanecer de acordo com a sua
especificação técnica.
VI - identificação própria por meio de numeração sequencial anual, inclusive
no caso de cópia emitida eletronicamente;
VII - assinatura do químico responsável pela qualidade do produto na
empresa, com indicação legível de seu nome e número de inscrição no Conselho
Regional de Química;
VIII - indicação do laboratório cadastrado na ANP responsável por cada
ensaio efetuado e da identificação de cada Boletim de Análise utilizado para compor
o respectivo Certificado da Qualidade.
§ 7º Em qualquer situação, o Boletim de Análise deverá ser emitido por
laboratório cadastrado conforme as regras estabelecidas na Resolução ANP nº
06 de 05 de fevereiro de 2014, ou regulamentação superveniente que venha a
substituí-la.
§ 8º O Boletim de Análise deverá ser firmado pelo químico responsável pelos
ensaios laboratoriais efetuados, com indicação legível de seu nome e número da
inscrição no órgão de classe.
§ 9º Para documentos emitidos eletronicamente, é obrigatória a assinatura
digital, efetivada mediante utilização de certificado digital válido, de propriedade do
responsável pela assinatura do Certificado da Qualidade ou do Boletim de Análise.
§ 10º O Produtor, o Adquirente e a Firma Inspetora somente poderão utilizar o
Boletim da Análise como Certificado da Qualidade quando o mesmo for emitido por
152
laboratório próprio, cadastrado na ANP, e contemplar todas as características
necessárias à certificação do produto.
Art. 6º Deverão ser mantidas pelo Produtor, Adquirente e Importador, em
local protegido de luminosidade e de aquecimento, duas amostras-testemunha de 1
(um) litro cada, representativas do Volume Certificado, devidamente identificadas
com o número do Certificado da Qualidade e de seu respectivo lacre.
§ 1º Cada amostra-testemunha deverá ser armazenada em recipiente de cor
âmbar de 1 (um) litro de capacidade, com batoque e tampa plástica.
§ 2º O recipiente indicado no § 1º deste artigo deverá ser lacrado, com lacre
de numeração controlada, que deixe evidências no caso de violação.
§ 3º Deverão ficar à disposição da ANP para qualquer verificação julgada
necessária:
I - as amostras-testemunha, pelo prazo mínimo de 1 mês, a contar da data de
saída do produto das instalações do Produtor, Adquirente e Importador;
II - o Certificado da Qualidade, acompanhado dos originais dos Boletins de
Análise utilizados na sua composição, quando for o caso, pelo prazo mínimo de 12
meses, a contar da data de saída do produto das instalações do Produtor,
Importador e Adquirente.
§ 4º O Certificado da Qualidade deverá ser obrigatoriamente rastreável às
suas respectivas amostras-testemunha e Boletins de Análise.
Art. 7º O Produtor, o Importador e o Adquirente deverão enviar mensalmente
à ANP, até o 15º (décimo quinto) dia do mês subsequente à comercialização do
produto, todas as informações constantes dos Certificados da Qualidade emitidos no
mês de referência e respectivos Volumes Certificados, por meio de endereço
eletrônico disponibilizado no sítio http://www.anp.gov.br.
§ 1º O Adquirente só deverá enviar as informações citadas no caput deste
artigo no caso em que este armazenar o produto em instalação própria ou por ele
contratado. No caso em que o produto adquirido pelo Adquirente ficar armazenado
em instalação do produtor de biodiesel, a certificação deverá ser feita pelo Produtor.
§ 2º Os agentes citados no caput deste artigo deverão enviar os dados, em
formato eletrônico, segundo orientações de preenchimento disponibilizadas no sítio
da ANP http://www.anp.gov.br.
153
§ 3º Quando não houver comercialização de biodiesel em um determinado
mês, o Produtor e o Adquirente deverão obrigatoriamente comunicar à ANP por
meio de endereço eletrônico disponibilizado no sítio http://www.anp.gov.br.
§ 4º No caso da importação do biodiesel, quando houver comercialização do
produto, o Importador ficará obrigado a enviar o formulário eletrônico citado no § 1º
deste artigo.
Seção V
Dos Documentos Fiscais
Art. 8º A documentação fiscal e o Documento Auxiliar da Nota Fiscal
Eletrônica (DANFE) emitidos por Produtor, Adquirente e Importador, para fins de
entrega e referentes às operações de comercialização do produto, deverão indicar o
número do Certificado da Qualidade e do lacre da amostra-testemunha
correspondentes ao produto.
Parágrafo único. O produto, ao ser transportado, deverá ser acompanhado de
cópia legível do respectivo Certificado da Qualidade, atestando que o produto
comercializado atende a especificação estabelecida no Regulamento Técnico, parte
constante desta Resolução.
Seção VI
Das Disposições Finais
Art. 9º O não atendimento às regras estabelecidas na presente Resolução
sujeita os infratores às sanções administrativas previstas na Lei nº 9.847, de 26 de
outubro de 1999, e no Decreto nº 2.953, de 28 de janeiro de 1999, sem prejuízo das
penalidades de natureza civil e penal.
Art. 10. Os casos não contemplados nesta Resolução serão analisados pela
Diretoria da ANP.
Art. 11. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação no Diário
Oficial da União.
Art. 12. Fica revogada a Resolução ANP nº 14 de 11 de maio de 2012.
MAGDA MARIA DE REGINA CHAMBRIARD
ANEXO
REGULAMENTO TÉCNICO ANP Nº 3/2014
154
1. Objetivo
Este Regulamento Técnico aplica-se ao biodiesel nacional ou importado e
estabelece a sua especificação.
2. Normas Aplicáveis
A determinação das características do biodiesel deverá ser feita mediante o
emprego das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), das
normas internacionais da "American Society for Testing and Materials" (ASTM), da
"International Organization for Standardization" (ISO) e do "Comité Européen de
Normalisation" (CEN).
Os dados de repetibilidade e de reprodutibilidade fornecidos nos métodos
relacionados neste Regulamento devem ser usados somente como guia para
aceitação das determinações em duplicata do ensaio e não devem ser considerados
como tolerância aplicada aos limites especificados neste Regulamento.
A análise do produto deverá ser realizada em amostra representativa obtida
segundo os métodos ABNT NBR 14883 - Petróleo e produtos de petróleo -
Amostragem manual, ASTM D 4057 - Practice for Manual Sampling of Petroleum
and Petroleum Products ou ISO 5555 - Animal and vegetable fats and oils -
Sampling.
As características constantes da Tabela I de Especificação do Biodiesel
deverão ser determinadas de acordo com a publicação mais recente dos seguintes
métodos de ensaio, com exceção ao método proposto pela norma EN 12662, para o
qual deve ser utilizada a versão de 1998 ou 2008:
(Nota)
2.1. Métodos ABNT
MÉTODO TÍTULO
NBR 6294 Óleos lubrificantes e aditivos - Determinação de cinza sulfatada
NBR 7148 Petróleo e produtos de petróleo - Determinação da massa específica, densidade relativa e ºAPI - Método do densímetro
NBR 10441 Produtos de petróleo - Líquidos transparentes e opacos - Determinação da viscosidade cinemática e cálculo da viscosidade dinâmica
NBR 14065 Destilados de petróleo e óleos viscosos - Determinação da massa específica e da densidade relativa pelo densímetro digital.
NBR 14359 Produtos de petróleo - Determinação da corrosividade - Método da lâmina de cobre
155
NBR 14448 Produtos de petróleo - Determinação do índice de acidez pelo método de titulação potenciométrica
NBR 14598 Produtos de petróleo - Determinação do ponto de fulgor pelo aparelho de vaso fechado Pensky-Martens
NBR 14747 Óleo Diesel - Determinação do ponto de entupimento de filtro a frio
NBR 15342 Biodiesel - Determinação de monoglicerídeos e diglicerídeos em biodiesel de mamona por cromatografia gasosa
NBR 15343 Biodiesel - Determinação da concentração de metanol e/ou etanol por cromatografia gasosa
NBR 15344 Biodiesel - Determinação de glicerina total e do teor de triglicerídeos em biodiesel
NBR 15553 Produtos derivados de óleos e gorduras - Ésteres metílicos/etílicos de ácidos graxos - Determinação dos teores de cálcio, magnésio, sódio, fósforo e potássio por espectrometria de emissão ótica com plasma indutivamente acoplado (ICP-OES)
NBR 15554 Produtos derivados de óleos e gorduras -Ésteres metílicos/etílicos de ácidos graxos -Determinação do teor de sódio por espectrometria de absorção atômica
NBR 15555 Produtos derivados de óleos e gorduras -Ésteres metílicos/etílicos de ácidos graxos -Determinação do teor de potássio por espectrometria de absorção atômica
NBR 15556 Produtos derivados de óleos e gorduras -Ésteres metílicos/etílicos de ácidos graxos -Determinação do teor de sódio, potássio, magnésio e cálcio por espectrometria de absorção atômica
NBR 15764 Biodiesel - Determinação do teor total de ésteres por cromatografia gasosa
NBR 15771 Biodiesel - Determinação de glicerina livre - Método Volumétrico
NBR 15867 Biodiesel - Determinação do teor de enxofre por espectrometria de emissão ótica com plasma indutivamente acoplado (ICP-OES)
NBR 15908 Biodiesel - Determinação da glicerina livre, monoglicerídeos, diglicerídeos, triglicerídeos e glicerina total por cromatografia gasosa
NBR 15995 Biodiesel - Determinação da contaminação total
2.2. Métodos ASTM
MÉTODO TÍTULO
ASTM D93 Flash point by Pensky-Martens closed cup tester
ASTM D130 Corrosiveness to copper from petroleum products by copper strip test
ASTM D445 Kinematic viscosity of transparent and opaque liquids (and calculation of dynamic viscosity
ASTM D613 Cetane number of Diesel fuel oil
156
ASTM D664 Acid number of petroleum products by potentiometric titration
ASTM D874 Sulfated ash from lubricating oils and additives
ASTM D1298 Density, relative density (specific gravity) or API gravity of crude petroleum and liquid petroleum products by hydrometer
ASTM D4052 Density and relative density of liquids by digital density meter
ASTM D4951 Determination of additive elements in lubricating oils by inductively coupled plasma atomic emission spectrometry
ASTM D5453 Determination of total sulfur in light hydrocarbons, spark ignition engine fuel, diesel engine fuel, and engine oil by ultraviolet fluorescence
ASTM D6304 Determination of water in petroleum products, lubricating oils, and additives by coulometric Karl Fisher titration
ASTM D6371 Cold filter plugging point of Diesel and heating fuels
ASTM D6584 Determination of total monoglyceride, total diglyceride, total triglyceride, and free and total glycerin in b-100 biodiesel methyl esters by gas chromatography
ASTM D6890 Determination of ignition delay and derived cetane number (DCN) of Diesel fuel oils by combustion in a constant volume chamber
D2.3. Métodos EN/ISO
MÉTODO TÍTULO
EN 116 Determination of cold filter plugging point
EN ISO 2160 Petroleum products - Corrosiveness to copper - Copper strip test
EN ISO 3104 Petroleum products - Transparent and opaque liquids - Determination of kinematic viscosity and calculation of dynamic viscosity
EN ISO 3675 Crude petroleum and liquid petroleum products - Laboratory determination of density - Hydrometer method
EN ISO 3679 Determination of flash point - Rapid equilibrium closed cup method
EN ISO 3987 Petroleum products - Lubricating oils and additives - Determination of sulfated ash
EN ISO 5165 Diesel fuels - Determination of the ignition quality of diesel fuels - Cetane engine method
EN ISO 12185 Crude petroleum and liquid petroleum products. Oscillating U-tube method
EN 12662 Liquid Petroleum Products - Determination of contamination in middle distillates
EN ISO 12937 Petroleum Products - Determination of water - Coulometric Karl Fischer titration method
157
EN 14103 Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of ester and linolenic acid methyl ester contents
EN 14104 Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of acid value
EN 14105 Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of free and total glycerol and mono-, di- and triglyceride content - (Reference Method)
EN 14106 Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of free glycerol content
EN 14107 Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of phosphorous content by inductively coupled plasma (ICP) emission spectrometry
EN 14108 Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of sodium content by atomic absorption spectrometry
EN 14109 Fat and oil derivatives -Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of potassium content by atomic absorption spectrometry
EN 14110 Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of methanol content
EN 14111 Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of iodine value
EN 14112 Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of oxidation stability (accelerated oxidation test)
EN 14538 Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) - Determination of Ca, K, Mg and Na content by optical emission spectral analysis with inductively coupled plasma (ICP-OES)
EN 15751 Fat and oil derivatives - Fatty acid methyl esters (FAME) and blends with diesel fuel. Determination of oxidation stability by accelerated oxidation method
EN 16294 Petroleum Products And Fat And Oil Derivatives - Determination of Phosphorus Content In Fatty Acid Methyl Esters (Fame) - Optical Emission Spectral Analysis With Inductively Coupled Plasma (ICP OES)
EN ISO 20846 Petroleum Products - Determination of sulfur content of automotive fuels - Ultraviolet fluorescence method
EN ISO 20884 Petroleum Products -Determination of sulfur content of automotive fuels - Wavelength-dispersive X -ray fluorescence spectrometry
Tabela I - Especificação do Biodiesel
CARACTERÍSTICA UNIDADE LIMITE
MÉTODO
ABNT NBR
ASTM D EN/ISO
158
Aspecto - LII (1) (2) - - -
Massa específica a 20º C
kg/m³ 850 a 900 7148 14065
1298 4052
EN ISO 3675 EN ISO 12185
Viscosidade Cinemática a 40ºC
mm²/s 3,0 a 6,0 10441 445 EN ISO 3104
Teor de água, máx. mg/kg 200,0 (3) - 6304 EN ISO 12937
Contaminação Total, máx. (13)
mg/kg 24 15995 - EN12662 (5)
(Nota)
Ponto de fulgor, mín. (4)
ºC 100,0 14598 93 EN ISO 3679
Teor de éster, mín % massa 96,5 15764 - EN 14103 (5)
Cinzas sulfatadas, máx. (6)
% massa 0,020 6294 874 EN ISO 3987
Enxofre total, máx. mg/kg 10 15867 5453
EN ISO 20846 EN ISO 20884
Sódio + Potássio, máx.
mg/kg 5
15554 15555 15553 15556
-
EN 14108 (5) EN 14109 (5) EN 14538 (5)
Cálcio + Magnésio, máx.
mg/kg 5 15553 15556
- EN 14538 (5)
Fósforo, máx. (7) mg/kg 10 15553 4951
EN 14107 (5) EN 16294 (5)
Corrosividade ao cobre, 3h a 50 ºC, máx. (6)
- 1 14359 130 EN ISO 2160
Número Cetano (6) - Anotar - 613 6890 (8)
EN ISO 5165
Ponto de entupimento de filtro a frio, máx.
ºC (9) 14747 6371 EN 116
Índice de acidez, máx.
mg KOH/g 0,50 14448 -
664 -
EN 14104 (5)
Glicerol livre, máx. % massa 0,02 15771 15908 (5) -
6584 (5) -
EN 14105 (5) EN 14106 (5)
Glicerol total, máx. (10)
% massa 0,25 15344 15908 (5)
6584 (5) -
EN 14105 (5)
Monoacilglicerol, % massa 0,7 15342 (5) 6584 (5) EN 14105
159
máx. 15344 15908 (5)
(5)
Diacilglicerol, máx. % massa 0,20 15342 (5) 15344 15908 (5)
6584 (5) EN 14105 (5)
Triacilglicerol, máx. % massa 0,20 15342 (5) 15344 15908 (5)
6584 (5) EN 14105 (5)
Metanol e/ou Etanol, máx.
% massa 0,20 15343 - EN 14110 (5)
Índice de Iodo g/100g Anotar - - EN 14111 (5)
Estabilidade à oxidação a 110ºC, mín. (11)
H 6 (12) - -
EN 14112 (5) EN 15751 (5)
Nota:
(1) Límpido e isento de impurezas, com anotação da temperatura de ensaio.
Em caso de disputa, o produto só poderá ser considerado como não especificado no
Aspecto, caso os parâmetros teor de água e/ou contaminação total estejam não
conformes.
(2) Para efeito de fiscalização, nas autuações por não conformidade no
Aspecto, deverão ser realizadas as análises de teor de água e contaminação total. O
produto será reprovado caso pelo menos um desses dois últimos parâmetros esteja
fora de especificação.
(3) Para efeito de fiscalização, nas autuações por não conformidade, será
admitida variação de +50 mg/kg no limite do teor de água no biodiesel para o
produtor e de +150 mg/kg para o distribuidor.
(4) Quando a análise de ponto de fulgor resultar em valor superior a 130ºC,
fica dispensada a análise de teor de metanol ou etanol.
(5) Os métodos referenciados demandam validação para os materiais graxos
não previstos no método e rota de produção etílica.
(6) Estas características devem ser analisadas em conjunto com as demais
constantes da Tabela de Especificação a cada trimestre civil. Os resultados devem
ser enviados à ANP pelo Produtor de biodiesel, tomando uma amostra do biodiesel
comercializado no trimestre e, em caso de neste período haver mudança de tipo de
material graxo, o Produtor deverá analisar número de amostras correspondente ao
número de tipos de materiais graxos utilizados.
160
(7) Em caso de disputa, deve ser utilizado o método EN 14107 como
referência.
(8) O método ASTM D6890 poderá ser utilizado como método alternativo para
determinação do número de cetano.
(9) Limites conforme Tabela II. Para os estados não contemplados na tabela o
ponto de entupimento a frio permanecerá 19ºC.
(10) Poderá ser determinado pelos métodos ABNT NBR 15908, ABNT NBR
15344, ASTM D6584 ou EN14105, sendo aplicável o limite de 0,25% em massa.
Para biodiesel oriundo de material graxo predominantemente láurico, deve ser
utilizado método ABNT NBR 15908 ou ABNT NBR 15344, sendo aplicável o limite de
0,30% em massa.
(11) O limite estabelecido deverá ser atendido em toda a cadeia de
abastecimento do combustível.
(12) A estabilidade à oxidação a 110 ºC terá seu limite mínimo de 8 horas, a
partir de 1º de novembro de 2014.
(13) Deverá ser utilizada somente a versão da norma de 1998 ou 2008 (EN
12662:1998 ou EN 12662:2008)
(Nota)
Tabela II - Ponto de Entupimento de Filtro a Frio
UNIDADES
DA
FEDERAÇÃO
LIMITE MÁXIMO, ºC
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
SP - MG - MS 14 14 14 12 8 8 8 8 8 12 14 14
GO/DF - MT -
ES - RJ
14 14 14 14 10 10 10 10 10 14 14 14
PR - SC - RS 14 14 14 10 5 5 5 5 5 10 14 14