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i UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ECONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL PAULO HENRIQUE MONTEIRO GUIMARÃES O SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO DE GÁS NATURAL EM MATO GROSSO: UMA ABORDAGEM INSTITUCIONALISTA CUIABÁ 2008

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i

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ECONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS E

DESENVOLVIMENTO REGIONAL

PAULO HENRIQUE MONTEIRO GUIMARÃES

O SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO DE GÁS NATURAL EM MATO GROSSO:

UMA ABORDAGEM INSTITUCIONALISTA

CUIABÁ

2008

ii

PAULO HENRIQUE MONTEIRO GUIMARÃES

O SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO DE GÁS NATURAL EM MATO GROSSO:

UMA ABORDAGEM INSTITUCIONALISTA

Dissertação apresentada a Universidade Federal de

Mato Grosso, como requisito para obtenção do título

de Mestre em economia no Programa de Pós-

Graduação em Agronegócios e Desenvolvimento

Regional.

Orientador: Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo

CUIABÁ

2008

iii

FICHA CATALOGRÁFICA

G963s Guimarães, Paulo Henrique Monteiro O sistema de distribuição de gás natural em Mato Grosso: uma abordagem institucionalista / Paulo Henrique Monteiro Guimarães. – 2008. xvi, 100p. : il. ; color.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Economia, Pós-graduação em Agronegócios e Desenvolvimento Regional, 2008. “Orientação: Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo”.

CDU – 338:665.612(817.2)(043)

Índice para Catálogo Sistemático

1. Gás natural2. Gás natural – Mato Grosso 3. Gás natural – Mato Grosso – Aspectos políticos4. Gás natural – Mato Grosso – Aspectos econômicos5. Gás natural – Regulação

6. Gás natural – Mercado – Mato Grosso

iv

PAULO HENRIQUE MONTEIRO GUIMARÃES

O SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO DE GÁS NATURAL EM MATO GROSSO: UMA

ABORDAGEM INSTITUCIONALISTA

Dissertação apresentada a Universidade Federal de

Mato Grosso, como requisito para obtenção do título

de Mestre em economia no Programa de Pós-

Graduação em Agronegócios e Desenvolvimento

Regional.

Aprovado em 16 maio de 2008,

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo - UFMT

_____________________________________________________________

Prof. Dr. José Manuel Carvalho Marta - UFMT

_____________________________________________________________

Prof. Dr. Edvaldo Alves de Santana - UFSC

v

A minha Mãe,

Por simplesmente tudo.

Ao Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo,

Pelas inestimáveis contribuições a minha formação.

vi

AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a minha mãe, Ivoni Gomes Monteiro, por infinitos motivos, mas em

síntese, pelo verdadeiro amor, sem o qual não subsistiria a nenhum dos desafios.

A gratidão sem sombra de dúvidas é imensa ao professor, orientador e ouso dizer, amigo, Dr.

Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo, pela compreensão, tempo e paciência dedicados a minha

pessoa na realização deste trabalho.

Devo agradecimentos e grande reconhecimento ao professor e amigo Dr. Benedito Dias Pereira pela

confiança em mim depositada, sendo o principal incentivador da continuidade de minha jornada

acadêmica.

Não poderia deixar de agradecer a todos os professores do mestrado em economia, Programa de

Pós-Graduação em Agronegócios e Desenvolvimento Regional, mas de forma especial, ao Prof. Dr.

José Manuel Carvalho Marta, Prof. Dr. Fernando Tadeu de Miranda Borges, Prof. Drª. Sandra

Cristina de Moura Bonjour, Prof. Dr. Arturo A.Z. Zavala, Prof. Drª. Neiva de Araújo Marques,

pelas importantes contribuições a esta pesquisa e a minha formação.

Agradeço também a todos os colegas da 1ª turma do Mestrado em Economia da Universidade

Federal de Mato Grosso pelo aprendizado e convívio, mas de maneira singular, ao Paulo C. Souza,

ao Vitoriano Ferrero Martin, a Luceni Grassi de Oliveira e ao Reinhard Ramminger, pelas diversas

horas na sala de estudo, pelo grande companheirismo durante esta jornada, mas, sobretudo pela

certeza da construção de uma grande amizade. A Mirian, pelas discussões na disciplina de

econometria.

A gratidão é imensa aos professores, Dr. Dirceu Grasel, Dr. Lázaro Camilo Recompensa e ao meu

orientador, Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo participantes da banca de qualificação por

suas inestimáveis contribuições para avanço deste trabalho.

Não poderia de deixar de agradecer aos membros da banca de defesa, os professores, Dr. Adriano

Marcos Rodrigues Figueiredo, Dr. José Manuel Carvalho Marta, Dr. Edvaldo Alves de Santana,

pelas valiosas sugestões e contribuições, fundamentais para melhoria desta dissertação.

Agradeço a minha família, Ana Paula, Ari Ramos Maciel, Arina Nobre Câmara, Maria Márcia

Câmara e Álvaro Salinas, pelo apoio, compreensão e por me agüentar durante estes anos todos, o

que não é tarefa fácil.

Devo agradecimentos aos Professores da USP, Dr. Décio Zylbersztajn e Dr. Francisco Anuatti Neto

pela indicação de leituras.

vii

Agradeço aos funcionários da Universidade Federal de Mato Grosso, em especial a querida Enildes

e ao Ricardo Realino, pelo incentivo nos momentos críticos.

Por fim, agradeço a Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Mato

Grosso pelo apoio. E a todos propositadamente inominados.

viii

“Poucas pessoas se dão ao trabalho de estudar a

origem de suas próprias convicções. Gostamos de

continuar a crer no que nos acostumamos a aceitar

como verdade. Por isso, a maior parte de nosso

raciocínio consiste em descobrir argumentos, para

continuarmos a crer no que cremos.”

J.H. Robinson.

ix

RESUMO

GUIMARÃES, Paulo Henrique Monteiro, M.S., Universidade Federal de Mato Grosso, Maio de 2008. O Sistema de Distribuição de Gás Natural em Mato Grosso: Uma Abordagem Institucionalista. Orientador: Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo

A reestruturação do setor de Petróleo e Gás Natural (GN) no Brasil introduziu mudanças fundamentais na estrutura e operação da indústria do gás natural. No segmento de distribuição várias empresas estaduais foram criadas. Em Mato Grosso, após uma tentativa frustrada de concessão à iniciativa privada a exploração do sistema de distribuição de gás natural, foi criada em 2003 a Companhia Mato-grossense de Gás – MTGÁS e estabelecidas as diretrizes para distribuição. A constituição da concessionária responsável, por meio de legislação estadual, pelo sistema de distribuição em 2003 foi um importante passo para a tentativa de expansão do GN no estado. No entanto, este mercado ainda encontra-se com grandes limitações, com ritmo de crescimento lento e com poucas perspectivas de expansão. O objetivo geral deste trabalho é caracterizar o mercado de gás natural, desde os aspectos políticos, teóricos, institucionais e históricos para entender as razões que levam à subutilização do sistema de distribuição, ou seja, detectar os principais limitadores ao crescimento do mercado em Mato Grosso. Os resultados do trabalho apontam que o pouco dinamismo do sistema de distribuição do GN em Mato Grosso envolve vários fatores, em especial: 1º) ausência de expectativas, sentida pelo pouco interesse da iniciativa privada em investir desde o início do processo de configuração do sistema, inclusive com a licitação de concessão deserta; 2º) o fato de Mato Grosso não possuir reservas provadas de GN, o que eleva ainda mais à dependência de fornecimento da Bolívia ou, em último caso, da Argentina. 3º) exigência de alto nível de investimento para construção de infra-estrutura de redes. 4º) papel predominante da Termocuiabá, o que limita o consumo para outros segmentos, devido, em especial, à capacidade de transporte do gasoduto Lateral Cuiabá. 5º) O grande número de substitutos, concorrentes energéticos, como: GLP, Álcool, diesel, lenha. 6º) os custos de transferência dos energéticos para o GN, no caso do GNV expresso pelo preço do kit Gás, no caso das indústrias, a substituição da matriz energética, de processos e outros equipamentos. As significativas oscilações dos volumes importados implicaram a variação dos gastos de importação, explicada em grande parte, pela destinação do gás natural para geração de energia elétrica no estado, sendo esta fonte utilizada em maior intensidade nos períodos de seca, alternativamente à produção de energia elétrica por meio de fonte hidráulica.

Palavras- chaves: Gás Natural, Mato Grosso, Regulação.Classificação JEL: L10, L43, L51

x

ABSTRACT

GUIMARÃES, Paulo Henrique Monteiro, M.S., Federal University of Mato Grosso, May, de 2008. The Natural Gas Distribution in Mato Grosso: An Institutional Approach. Adviser: Prof. Dr. Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo

The reorganization of the Petroleum and Natural Gas sector in Brazil introduced fundamental changes in the structure and operation of the natural gas industry. In the distribution, several State companies were created. In Mato Grosso, after a frustrated attempt of concession to the private initiative, the exploration of the natural gas distribution system began, in 2003, with the Mato Grosso’s Gas Company – MTGÁS. The guidelines for distribution were established through the State’s law. The concessionary responsible for the distribution system was constituted in the same year, and represented an important step to the expansion of GN in the State. However, this market still has limitations, with slow growth rates and with few expansion perspectives. The general objective of this work is to characterize the market of natural gas, from the political and theoretical view, the institutional and also the historical view to understand the main restrictions to this market growth in Mato Grosso. The results of the work point that the little dynamism of the distribution system of GN in Mato Grosso is a result of several factors, mainly: 1st) lack of favorable expectations by the private sector regarding future investments since the beginning of the regulation process; 2nd) The fact that Mato Grosso has not proven GN reserves that increases the dependence of Bolivia supply, or in last case, of Argentina; 3rd) demand of high investments for construction of infrastructure for nets; 4th) the main role of the thermoelectricity in the State, which limits the consumption for other segments and, especially, the capacity of GN transportation of the “Gasoduto Lateral Cuiabá"; 5th) The great number of substitutes such as: GLP, Alcohol, diesel, firewood; 6th) the costs of change of the energy substitutes for GN, including adaptation of auto engines and industry equipments. The significant oscillation of the imported GN volumes resulted in import variation, largely explained by the destination of natural gas for the electric power generation in the State, being this source used in larger intensity in drought periods as an alternative to the electric power produced through hydraulic source.

Key-words: Natural Gas, Mato Grosso, Regulation.JEL Codes: L10, L43, L51

xi

SUMÁRIO RESUMO ........................................................................................................................................... ix

ABSTRACT ........................................................................................................................................ x

LISTA DE QUADROS .................................................................................................................... xiii

LISTA DE TABELAS ..................................................................................................................... xiv

LISTA DE GRÁFICOS ..................................................................................................................... xv

LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................................... xvi

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 1

2. EMBASAMENTO TEÓRICO E MÉTODO DE ANÁLISE ........................................................... 7

2.1. Indústrias de Redes ....................................................................................... 7

2.2. Regulação e Monopólios Naturais ..................................................................... 10 Modelos de Regulação Tarifária ............................................................................................... 15

Tarifação a Custo de Serviço .................................................................................................... 16

Tarifação por incentivo ............................................................................................................. 17

2.3. Regulação e a Nova Economia Institucional ........................................................ 18 Marcos Regulatórios no Brasil .................................................................................................. 18

2.3.2 A Nova Economia Institucional ....................................................................................... 21

2.4 Considerações finais do capítulo ..................................................................... 31 3. O MERCADO DE GÁS NATURAL NO MUNDO E NO BRASIL ........................................... 31

3.1. O mercado mundial de Gás Natural ................................................................. 32

3.2 O mercado de Gás Natural no Brasil ................................................................. 36

3.3 Notas sobre a recente relação Brasil - Bolívia .................................................... 41

3.4 Considerações finais do capítulo ..................................................................... 50 4. O MERCADO DE GÁS NATURAL EM MATO GROSSO ........................................................ 51

4.1 Determinantes da oferta de Gás Natural em Mato Grosso ...................................... 52 4.1.1 O processo de construção do GASBOL e do Lateral Cuiabá ......................................... 53

4.1.2 Primeira importação de Mato Grosso ............................................................................. 56

4.1.3 A construção (configuração) do Sistema Distribuição de Gás Natural em Mato Grosso

................................................................................................................................................... 57

4.1.4 A Companhia Mato-grossense de Gás – MTGÁS – Uma Segunda Alternativa ............ 59

4.1.5 O City Gate da MTGÁS .................................................................................................. 61

xii

4.1.6 Centro Oeste Gás LTDA ................................................................................................ 62

4.1.7 O Transporte Virtual no Sistema Distribuição de Gás Natural em Mato Grosso .......... 63

4.2 Determinantes da demanda de Gás Natural em Mato Grosso .................................. 64 4.2.1 Segmento Termelétrico .................................................................................................. 64

4.2.2 Segmento Veículos – GNV ............................................................................................ 72

4.2.3 Outros Segmentos (industrial, co-geração, residencial, matéria-prima) ......................... 76

4.3 Regulação do Setor em Mato Grosso ................................................................ 77 4.3.1 Limitação (questionamento) da Regulação em Mato Grosso ......................................... 79

4.4 Análise de importação do Gás Natural para Mato Grosso ....................................... 80 4.4.1 Contextualização ............................................................................................................ 80

4.5 Limitações para o Desenvolvimento do Sistema de Distribuição de GN em Mato Grosso ..................................................................................................................... 85 4.5.1 Limitações ao desenvolvimento ...................................................................................... 85

4.5.2 Especulações ................................................................................................................... 87

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................ 88

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 91

7. ANEXOS ........................................................................................................................................ 99

xiii

LISTA DE QUADROS

Quadro 3.1 - Marcos relevantes na evolução da Indústria de Gás Natural no Brasil ....................

39

xiv

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 – Capacidade Potencial de Transporte, Volume importado e capacidade ociosa de

GN para Mato Grosso – ago/2001 – dez/2006 ..................................................... 5

Tabela 3.1 – Reservas mundiais provadas de gás natural segundo as regiões geográficas, até

31/12/2005 .............................................................................................................

34

Tabela 3.2 – Produção Mundial de gás natural segundo as regiões geográficas, no ano de 2005

35

Tabela 3.3 – Tempo de exaustão das reservas mundiais de gás natural segundo as regiões

geográficas, no ano de 2005 ...................................................................................

36

Tabela 3.4 – Reservas provadas de gás natural (milhões m3) no Brasil, segundo unidades da

federação, em 31/12/2005 .......................................................................................

40

Tabela 3.5 – Produção de gás natural (milhões m3) no Brasil, segundo unidades da federação,

em 31/12/2005 ........................................................................................................

41

Tabela 3.6 – Tempo de exaustão das reservas provadas de gás natural (milhões m3) no Brasil,

segundo unidades da federação, em 31/12/2005 ....................................................

42

Tabela 3.7 – Balanço do gás natural no Brasil – 1999-2005 .......................................................

43

Tabela 3.8 – Importação de gás natural segundo países de procedência (milhões de m3). 1999-

2005 ........................................................................................................................

44

Tabela 3.9 – Preço do GN, nacional e importado – US$/MMBTU (Commodity + transporte) –

3º Trim./1999 – 4º Trim./2006 ................................................................................

49

Tabela 3.10 – Comparação do preço do GN importado pela UTE Cuiabá I e o de mercado

(importado da Bolívia). Preço do GN – US$/MMBTU (Commodity + transporte)

xv

– 3º Trim./2001 – 4º Trim./2006 .............................................................................

50

Tabela 4.1 – Valor devido para repasse do Usuário Livre a MTGÁS, ago/03- nov/05 ..............

63

Tabela 4.2 – Termos de trocas entre GNV e substitutos, nov/2005 – ago/2007 ..........................

76

Tabela 4.3 – Participação de Mato Grosso nas importações brasileiras de GN (103m3) – ago-

2001 a 2006 .............................................................................................................

82

Tabela 4.4. Volume importado de gás natural do Estado de Mato Grosso - 2001-2006

(MBTU) ..................................................................................................................

83

Tabela 4.5 – Gastos de Mato Grosso com a importação de gás natural – 2001 – 2006 ( em

milhões de R$) .......................................................................................................

86

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 3.1 – Oferta interna de energia: Estruturação de participação das fontes (mundo -

2004) ......................................................................................................................

33

Gráfico 4.1 – Taxa de Câmbio Real, 2001- 2006 (R$/US$, base 12.2006=100) ........................

85

xvi

LISTA DE FIGURAS

Figura 4.1 – Figura do Sistema de Distribuição do GN em Mato Grosso ...................................

52

Figura 4.2 – Gasoduto Lateral Cuiabá .........................................................................................

57

1

1. INTRODUÇÃO

A análise dos marcos regulatórios no Brasil é indispensável para a compreensão da

organização da indústria de gás natural ao longo da década de 1990. As transformações na

economia brasileira, a abertura comercial, a privatização de empresas estatais, a desregulamentação

de setores da economia e a austeridade fiscal definiram as bases de funcionamento da economia

nacional e propiciaram, simultaneamente, novos e complexos desafios para os formuladores de

políticas públicas (Salgado e Motta, 2005).

De acordo com Salgado e Motta (2005), o movimento de redefinição do papel do Estado

refletiu, em termos práticos, o retrato da evolução do pensamento econômico, propiciando a

identificação das fontes de distorções que levavam os mercados a funcionar de maneira sub-ótima.

O direcionamento deslocou-se para o desenvolvimento de instituições e mecanismos que atuassem

na promoção de incentivos necessários à atuação eficiente da iniciativa privada e à maximização do

bem-estar.

As Emendas Constitucionais 5 a 9, as quais permitiram a participação privada na oferta de

serviços públicos e o surgimento das agências reguladoras, fruto deste processo de revisão do papel

do Estado na economia brasileira, resultaram em mudanças significativas na indústria de gás

natural nacional.

Para Kerkis (2004), a organização da indústria de gás natural (GN) no Brasil está marcada

por duas fases. Na primeira fase, antes das ondas de privatizações, a indústria estava organizada em

forma de um monopólio estatal da Petrobras, empresa integrada horizontal e verticalmente, com

participação em todas as etapas da cadeia produtiva deste energético, excetuando-se a distribuição,

constitucionalmente atribuída aos Estados. No entanto, apenas os estados do Rio de Janeiro e de

São Paulo contavam com empresas distribuidoras em 1988. A segunda fase é caracterizada por uma

grande reestruturação, com o objetivo de introduzir incentivos e ganhos de eficiência nos vários

segmentos do setor por meio da entrada de capitais privados em lugar do Estado, cabendo ao último

o papel de regulador e indutor de concorrência das atividades.

“A reestruturação do setor petróleo e gás natural no Brasil introduziu mudanças fundamentais na estrutura e operação da indústria do gás natural, que resultaram na redefinição do papel dos vários agentes deste segmento, no que se refere à

2

produção, transporte e distribuição. Especialmente importante foram à abertura do transporte para o acesso a terceiros e o encorajamento a mercados competitivos para o gás natural.” (FERNANDES, 2000:04).

De acordo com o art. 4 da Lei Federal 9.478 – D.O.U 7.8.1997, conhecida como lei do

Petróleo, as atividades de exploração, produção, importação, exportação e transporte permaneceram

como monopólios da União, podendo ser exercidas por empresas estatais e privadas, nacionais e

estrangeiras, mediante concessão ou autorização da Agência Nacional do Petróleo (ANP). O art. 25

da Constituição Federal atribui aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os

serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua

regulamentação. Este é o novo modelo de organização da indústria de gás natural no Brasil. (ANP,

1997).

Para Fernandes (2000), dois segmentos da cadeia do gás natural, o transporte e a

distribuição, são caracterizados como monopólio natural, mas sempre estiveram em esferas

institucionais diferentes: o primeiro como monopólio da União, exercido exclusivamente pela

Petrobras até a reestruturação do setor, e o segundo como monopólio estadual.

Neste cenário, várias empresas distribuidoras foram criadas. Porém pela necessidade de

investimentos vultosos para a criação de infra-estrutura adequada e, essencialmente, pelo fato das

companhias estaduais serem recentes, foi adotado, na maioria dos estados, o modelo tripartite para a

constituição dessas empresas, com controle nas mãos dos estados, mas com a participação da

Petrobras e de empresas privadas. (Ibid, 2000).

A maior participação do GN na Matriz Energética do Brasil é um fato evidente e ocorre

tanto pelo crescimento da produção nacional quanto pelo aumento das importações. Segundo dados

do MME (2006), no ano de 1999 a participação do GN na matriz correspondia a 4,1%, sendo que

em 2005, esta passou a 9,4 % de toda oferta interna de energia no Brasil. Ainda, existe a meta de

12% de participação do GN até 2010.

Porém, em Mato Grosso, após uma tentativa frustrada de concessão à iniciativa privada da

exploração do sistema de distribuição de gás natural, foi criada em 2003 a Companhia Mato-

3

grossense de Gás – MTGÁS1 e estabelecidas às diretrizes para distribuição através da Lei Estadual

nº 7.939.

A MTGÁS foi constituída sob a forma de Sociedade Anônima, com patrimônio próprio,

autonomia administrativa e financeira, sujeita aos preceitos da Lei Federal nº 6.404, de 15 de

dezembro de 1976. O parágrafo 6º do art. 1º da lei de criação da MTGÁS estabelece que o Estado

de Mato Grosso deve manter o controle acionário da Companhia2.

O Estado de Mato Grosso não possui reservas provadas de gás natural, dessa forma todo o

seu consumo está baseado na importação de outras localidades, especificamente da Bolívia (ANP,

2006a).

Embora não houvesse se constituído formalmente o sistema de distribuição de gás natural

no Estado, a primeira importação deu-se em agosto de 2001, com a finalidade de produção de

energia elétrica pela Usina Termelétrica de Cuiabá I, também conhecida como Governador Mário

Covas, sendo o GN escoado através do gasoduto denominado Lateral Cuiabá, ramal do Gasoduto

Brasil- Bolívia (GASBOL).

No ano de 2001, quando da inserção do GN na matriz energética do Estado, este

representava somente 2,48% da oferta de energia primária e apenas 1,08% da oferta total (energia

primária e secundária). Em 2002, a participação do GN chegou à marca de 16,23% da oferta de

energia primária e 8,45% da oferta total. Os dados de 2003 demonstram que participação do GN

representou 12,33% da oferta de energia primária e 7,06% da oferta total. No ano de 2004 a

participação do GN na matriz energética do Estado representava 11,95 % da oferta de energia

primária e apenas 7,22 % da oferta total. Os últimos dados apresentados no Balanço Energético do

Estado (BEEMT) demonstram que a participação do GN representou 10,37% da oferta de energia

primária e 5,62% da oferta total no ano de 2005. Os dados da matriz energética estadual apontam

uma tendência de menor participação do GN na oferta interna de energia (MATO GROSSO, 2006).

1“A empresa terá por objeto social a exploração, com exclusividade, do serviço público de distribuição de gás natural ou manufaturado canalizado, podendo também explorar outras formas de distribuição, inclusive comprimido ou liquefeito, de produção própria ou de terceiros, nacional ou importado, para uso comercial, industrial, residencial, automotivo, em geração termelétrica ou qualquer uso possibilitado pelo avanço tecnológico no território do Estado de Mato Grosso.” (MATO GROSSO, 2003a) 2 A alienação da MTGÁS poderá ocorrer somente com aprovação da Assembléia Legislativa do Estado.

4

A constituição da concessionária responsável pelo sistema de distribuição de Gás Natural

em Mato Grosso, em 2003, foi um importante passo para a tentativa de expansão do GN no Estado.

No entanto, este mercado ainda encontra-se com grandes limitações, com ritmo de crescimento

lento e com poucas perspectivas de expansão. O contrato da concessão fora assinado em 19 de

fevereiro de 2004, e uma das metas previstas para a concessionária seria a de construção de 58

quilômetros de redes de distribuição, sem a participação de capital de terceiros, em um período de 5

anos a partir da data de assinatura do contrato de concessão, visando atender os municípios de

Cuiabá e Várzea Grande. Tais metas não saíram do papel e não existe nenhuma sinalização que

venham ocorrer (AGER, 2004).

Por outro lado, o que já pode ser mensurado é a subutilização da capacidade de

importação, refletindo ausência de demanda no sistema de distribuição, provavelmente ligada a uma

barreira à entrada associada ao contrato firmado entre a Bolívia e Termelétrica Cuiabá I. A tabela

1.1 apresenta a capacidade potencial de transporte do gasoduto Lateral Cuiabá, bem como, o

volume efetivamente exportado pela Bolívia para Mato Grosso no período de agosto de 2001 a

dezembro de 2006. Também é apresentada a capacidade ociosa, em média para o período igual a

69,34% da capacidade potencial de transporte, indicando uma subutilização deste gasoduto.

Diante desta problemática a presente dissertação busca responder, essencialmente, às

seguintes questões: Se por um lado a ociosidade do gasoduto é elevada e existe grande potencial de

expansão do produto em Mato Grosso, por que o sistema de distribuição (mercado) de gás natural

está subutilizado? Com capacidade ociosa? Por que não se desenvolve em ritmo mais acentuado?

Quais são os limitadores do efetivo aumento de demanda por importações e da expansão do sistema

de distribuição?

As hipóteses do trabalho são: 1) A infra-estrutura é insuficiente – a capacidade do gasoduto

é limitada, existem elevados custos associados ao investimento com maturação de longo prazo,

associados às indústrias de rede; 2) existe instabilidade da oferta ligada a dependência do

fornecimento do GN pela Bolívia; e 3) O papel do sistema de distribuição é secundário, sendo o

principal, vinculado a termeletricidade.

5

Tabela 1.1 – Capacidade Potencial de Transporte, Volume importado e capacidade ociosa de GN

para Mato Grosso – ago/2001 – dez/2006.

Semestre Cap. Potencial 103 m3/sem*

(a)

Importado 103 m3/sem (b)

Cap. Ociosa 103 m3/sem(c) = (a-b)

Capacidade ociosa

(d) = (c/a)

2º sem/2001** 428.400 49.922,3 378.477,7 88,35%

1º sem/2002 506.800 228.259,2 278.540,8 54,96%

2º sem/2002 515.200 227.040 288.160 55,93%

1º sem/2003 506.800 110.826,2 395.973,8 78,13%

2º sem/2003

1º sem/2004

2º sem/2004

515.200

506.800

515.200

305.565,9

105.623,9

209.052,7

209.634,1

401.176,1

306.147,3

40,69%

79,16%

59,42%

1º sem/2005 506.800 119.100,9 387.699,1 76,50%

2º sem/2005 515.200 120.949,9 394.250,1 76,52%

1º sem/2006 506.800 100.346,6 406.453,4 80,20%

2º sem/2006 515.200 121.354,13 393.845,87 76,45%

Total 5.538.400 1.698.041,73 3.840.358,27 69,34%

Fonte: ANP (2006b). * dados resultantes da multiplicação da capacidade de transporte do gasoduto

Lateral Cuiabá, 2,8 milhões M3/dia de GN pela quantidade de dias de cada semestre.** exceto mês

de julho, devido à primeira importação ocorrer somente em agosto.

O objetivo geral deste trabalho é caracterizar o mercado de gás natural, desde os aspectos

políticos, teóricos (estrutura do mercado), institucionais (regulação) e históricos para entender as

razões que levam à subutilização do sistema de distribuição, ou seja, detectar os principais

limitadores ao crescimento deste mercado em Mato Grosso.

Os objetivos específicos são: a) analisar os aspectos teóricos ligados às indústrias de rede,

em especial, aos fatores relacionados à indústria de GN e regulação. b) Caracterizar o mercado de

6

gás natural em Mato Grosso – oferta e demanda, e c) proceder levantamento dos principais agentes

do mercado de GN no Estado, em especial, através da análise dos gastos de importação do

energético.

Considerando-se os objetivos gerais e específicos aqui expostos, o trabalho fundamentou-

se em pesquisa e revisão de literatura coletada na Agência Estadual de Regulação dos Serviços

Públicos Delegados – AGER e ANP; uso de dados secundários; e coleta e análise da legislação

Estadual pertinente e uma análise da importação dos gastos de importação do GN efetuada. Devido

à insuficiência de bibliografia, especificamente, relacionada ao tema do GN em Mato Grosso,

utilizou-se para construção de uma visão histórica a consulta de revistas, magazines e jornais de

circulação local. Sendo esta uma limitação ou custo necessário à formalização de um trabalho

pioneiro sobre o GN no Estado.

No próximo capítulo tem-se a caracterização teórica das indústrias de redes, regulação e

monopólios naturais, Regulação e Nova Economia Institucional. No capítulo terceiro é apresentada

uma síntese das principais características do mercado mundial e brasileiro de gás natural, bem

como, uma breve descrição da recente relação Brasil-Bolívia neste mercado. No capítulo quarto são

expostas as principais características, desde o processo de formação, a regulação deste setor e os

principais entraves ao desenvolvimento do mercado GN em Mato Grosso e a análise dos gastos de

importação de GN para Estado. Por fim, são apresentadas as conclusões.

7

2. EMBASAMENTO TEÓRICO E MÉTODO DE ANÁLISE

O objetivo principal deste capítulo é apresentar as principais características das indústrias

de redes, os aspectos teóricos que justificam a regulação e as principais formas de regulação

tarifária para os monopólios naturais.

2.1. Indústrias de Redes

A primeira impressão que se tem ao falar em indústrias de redes é a de ligação,

interconexão, malhas e a de interdependência dos segmentos. A literatura econômica é importante

para a definição precisa deste conceito. Alguns trabalhos3 apontam que os setores de infra-estrutura

são em sua maioria caracterizados por indústrias de redes.

A implantação de estruturas de transporte, água, esgoto, habitação, fornecimento de

energia e tudo o que permite uma melhoria na qualidade de vida das pessoas estão intimamente

ligados ao processo de desenvolvimento. Estes são setores ditos de infra-estrutura e,

tradicionalmente, se desenvolveram em várias partes do mundo e no Brasil principalmente pela

ação do Estado. Os setores de infra-estrutura são condições indispensáveis para uma economia

avançada.

No Brasil, o setor público funcionou como agente financiador, empreendedor e gestor das

indústrias de infra-estrutura, em especial através da criação de empresas estatais que forneciam os

bens e serviços públicos. Este modelo foi à base do desenvolvimento econômico do país, sobretudo

o industrial, durante o “Milagre Econômico”.

A partir da década de 1990, um grande processo de reestruturação dos setores de infra-

estrutura, ligado aos ideais liberais, tomou conta do debate em vários países, questionando o papel

dos governos no fornecimento dos bens e serviços. Um “novo modelo”, aliás, o ressurgimento do

modelo liberal fora implantado, definindo uma menor participação do Estado e maior participação

da iniciativa privada no provimento dos bens e serviços. O novo papel do Estado neste modelo

restringe-se apenas ao monitoramento e a regulação dessas atividades, por meio da indução de

3 ANP (2001a); Freitas (2004); Salgado e Motta (2005); Dias e Rodrigues (1997).

8

concorrência, controle de preços, ou seja, no estabelecimento de regras para o desenvolvimento e

funcionamento desses mercados.

Grande parte das indústrias de infra-estrutura, em especial as ligadas ao fornecimento de

bens e serviços públicos, são também indústrias de rede, onde diferentes ativos altamente

especializados são combinados de forma a extrair, processar, transportar e distribuir os produtos.

Os estudos de Freitas (2004), ANP (2001a), Costa (2003), Salgado e Motta (2005),

apresentam algumas das principais características das indústrias de rede, entres as principais

destacam-se: a indivisibilidade dos ativos/instalações; a necessidade de superdimensionamento da

infra-estrutura, dada à imprevisibilidade de demanda; economias de escala e escopo; necessidade de

elevado nível de investimento para construção da base de ativos; e presença de externalidades.

Em Dias e Rodrigues (1997), conceituam-se indústrias de rede como o conjunto das

indústrias dependentes da implantação de malhas, redes para o transporte e distribuição ao

consumidor de seus respectivos produtos. As principais características são: necessidade de

equilíbrio entre demanda e oferta, dadas as dificuldades de estocagem; a existência de

imprevisibilidade de demanda que força a manutenção de capacidade ociosa; estrutura de mercado

tipicamente de monopólio natural; economias de escopo estão presentes e são importantes na

coordenação dos produtores nos períodos de muita demanda (período de pico) e nos períodos de

demanda insuficiente (períodos fora de pico); grande parte dos investimentos iniciais apresenta-se

como projetos específicos, caracterizando-se como custos perdidos, irrecuperáveis ou ainda,

afundados (sunk costs); economias de escala presentes; e extensa rede de interconexões fixas,

refletindo pouca flexibilidade em termos de fornecedores para os consumidores.

Para Pinto Júnior (2007), os investimentos em produção e transporte de GN são de grande

volume, requerem elevado prazo para maturação e, uma vez incorridos, a capacidade projetada e

efetiva é, normalmente, fixa; desta forma, aumentos de capacidades não são efetuados de maneira

contínua no tempo, mas de forma discreta.

9

Desde o início do desenvolvimento das indústrias de rede, diversos modelos foram

adotados e modificados em função dos resultados obtidos nos testes empíricos a que estão sujeitas

todas as instituições que fazem parte da vida econômica, política e social.

A intensificação do processo de globalização econômica bem como a crise financeira

atravessada pelo Estado em grande parte dos contextos nacionais acabou configurando um quadro

com níveis crescentes de exigências por parte dos consumidores e, automaticamente, suscitando

uma discussão mais intensa a respeito do modo de organização das indústrias de infra-estrutura, em

especial as organizadas sob a forma de rede, a partir de 1970.

Chevalier (1995) apud Dias e Rodrigues (1997), apresenta cinco modelos básicos de

organização para as indústrias de rede: a) monopólio verticalmente integrado; b) integração vertical

com concorrência na produção; c) concorrência em ambas as pontas (produção e distribuição) com

flexibilidade de integração e livre acesso (open acess) no transporte; d) desverticalização completa

com concorrência nas pontas e empresa única no transporte; e) distribuição mista com

horizontalização das diversas cadeias energéticas e competição inter-energética.

Kerkis (2004) define a indústria de gás natural como um exemplo de indústria de rede,

sendo caracterizada pela presença de distintas atividades organizadas sob a forma de uma rede

física, em que a interconexão é fundamental à sua operação e prestação do serviço.

“As indústrias de rede são um tipo especial de monopólio natural. Nesse tipo de indústria, existe um padrão de interconexão e compatibilidade entre unidades produtivas e tal interconexão é requisito básico para a operação eficaz dessas unidades produtivas.” (BRITTO, 2002 apud FREITAS, 2004, 22).

Segundo Salgado e Motta (2005), a indústria de gás natural trata-se de uma indústria de

rede, e a operação da rede física por dutos de transporte constitui-se tecnicamente um segmento que

se mantém como monopólio natural, devendo ser regulado especificamente, para que exista

concorrência nos demais segmentos da cadeia que sejam potencialmente competitivos.

As atividades da cadeia produtiva da indústria de gás natural são exploração, produção,

transporte, comercialização e distribuição. Dentre estes segmentos da cadeia, as atividades

potencialmente concorrenciais são: as atividades de exploração e produção (E&P) e a

10

comercialização. Já outras são naturalmente monopólios, no caso o transporte e a distribuição

(KERKIS, 2004)

2.2. Regulação e Monopólios Naturais

A regulação4 das atividades econômicas é tão antiga quanto a existência de sociedades

organizadas em Estados. Desde as civilizações antigas, boa parte das normas, regulamentos e leis

vigentes nas diversas sociedades e em diferentes períodos objetivam ordenar a atividade econômica

com a finalidade de garantir a prosperidade geral, ou seja, o bem-estar social. Na realidade as leis,

normas ou no mínimo convenções sociais são condições sine qua non para o funcionamento dos

mercados, dando-lhe a forma e até mesmo o seu conteúdo (ARAÚJO, 1997).

A regulação pode ser vista, de acordo com Baldwin e Cave apud Pinheiro e Saddi (2005),

sob três formas: 1ª) Como um conjunto de comandos normativos com poder coercitivo elaborados

por órgãos criados para este fim; 2ª) Influência estatal deliberada com a finalidade de influenciar o

comportamento social, político e econômico; 3ª) Forma de controle social, onde as regras que

afetam o comportamento social podem ou não ser originárias do Estado.

De maneira simplória a regulação econômica pode ser vista com um conjunto de regras

que limitam ou ordenam as ações dos agentes econômicos inclusive por meio do poder coercitivo

do Estado. Na prática, contudo, é utilizada com bastante freqüência a regulação por incentivo.

Os objetivos da regulação, de acordo com Rigolon (1996), seria o bem-estar do

consumidor, a eficiência alocativa e produtiva, a universalização e a qualidade dos

serviços, a interconexão, a segurança e a proteção ambiental. Os instrumentos

regulatórios são as tarifas, as quantidades, as restrições à entrada e à saída e os padrões

de desempenho.4 Segundo Pinheiro e Saddi (2005:254), regulação não é a mesma coisa que regulamentação, muitos têm utilizado essas expressões como se fossem sinônimos em função do vocábulo regulation. Esses autores entendem ser a regulação realizada em um plano mais elevado e geral de intervenção estatal, enquanto que a regulamentação se refere apenas ao detalhamento normativo desta intervenção. Este conceito será adotado neste trabalho a despeito das diversas definições conceituais formuladas por outros autores.

11

Por que regular? Este é um questionamento de muita relevância e que traz uma profunda

discussão, não só de alcance teórico, mas, essencialmente, de cunho ideológico. Ao se falar de

regulação existe a premissa de que o mercado não é capaz, por si só, de encontrar um ponto de

alocação eficiente para estes bens e serviços, ou seja, as teorias convencionais não dão conta de

explicar o funcionamento no mercado. Esta parte do capítulo busca compreender as razões que

levam o Estado a intervir na economia, regulando as atividades e definindo formas de precificação

para os serviços prestados em regime de monopólio.

Uma das principais justificativas para a regulação econômica é a de superação das

chamadas falhas de mercado, tais como: assimetria de informação, comportamento colusivo,

indivisibilidade do produto, externalidades e outras violações para o equilíbrio geral competitivo de

mercado5. (ARAÚJO, 1997).

As falhas de mercado geram três tipos de ineficiência: a) a ineficiência alocativa, que

ocorre quando os preços distanciam-se dos custos marginais; b) a ineficiência técnica ou produtiva,

quando a produção não se dá ao menor custo possível e c) ineficiência dinâmica, que ocorre quando

uma quantidade insuficiente de recursos é gasta na melhoria tecnológica dos bens e serviços.

Outro tipo de falha de mercado ocorre quando um mercado não é competitivo, ou seja,

quando uma ou mais empresas gozam de poder de mercado6. O monopólio é uma estrutura de

mercado típica que ilustra bem esta situação.

O monopólio é um mercado no qual existe apenas um vendedor e muitos compradores. O

monopsônio é exatamente o oposto, um mercado com muitos vendedores, mas apenas um

comprador. Tanto o monopólio como o monopsônio levam a um quadro de violação do equilíbrio

geral competitivo, pois ambos têm a capacidade de influenciar a formação do preço, um acima e

outro abaixo do seu custo marginal, respectivamente, daí a necessidade de regulação.

5 Nesta estrutura de mercado, com produto homogêneo, informação perfeita, grande número de empresas competindo em condições semelhantes e vendendo para um número também elevado de consumidores, não haveria necessidade de regulação. 6 As empresas que podem estar capacitadas a influenciar o preço e que podem descobrir que é lucrativo praticar um preço acima do custo marginal, detém o que se chama de Poder de mercado.

12

A literatura econômica apresenta um tipo especial de monopólio, o monopólio natural. Este

é caracterizado quando o custo de produção por uma única firma é menor que aquele de várias

firmas. Em uma empresa de gás, por exemplo, a tecnologia envolve custos fixos muito altos –

criação e manutenção de canalização, e um custo marginal muito baixo para ofertar unidades ou

volumes extras deste produto. Quando há grandes custos fixos e custos marginais pequenos, pode-

se obter o chamado monopólio natural.

“O monopólio natural é caracterizado por subaditividade de função custos, situação onde uma única firma, com base na tecnologia disponível, minimiza custos ao produzir um determinado bem ou serviço - C(q)<C(q1)+C(q2)+C(q3)+...+C(qn). A subaditividade da função de custos é atendida unicamente pela presença de economias de escala em empresas monopolistas de produto único. No caso de empresa multiproduto também é necessária à existência de economias de escopo, inclusive podendo ser estas suficientes para determinar a subaditividade de custos da firma.” (PINDYCK e RUBINFELD apud SOUZA JUNIOR, 2005:75).

O monopólio natural é caracterizado por apresentar economias de escala7, ou seja, custos

médios e marginais decrescentes para toda sua produção. Pode-se, assim, arcar com toda a produção

com um custo inferior ao que existiria caso houvesse outras empresas. Nesta situação, esta estrutura

de mercado seria até mesmo preferível à competição, pois existem grandes economias de escala.

Quando economias de escala tornam o monopólio desejável, veremos que o governo pode

aumentar a eficiência, por meio da regulamentação do preço do monopolista.

FIANI (1999) assinala que o monopólio natural é aquele que, quando em presença de

retornos crescentes de escala8, toda a demanda pode ser atendida, a um preço que cubra o custo de

oportunidade, por um único ofertante. Em termos práticos a equação que iguala preço ao custo

marginal implica em preço menor que o custo médio de longo prazo (p=Cmg→p<CmedL), uma vez

que os retornos crescentes de escala determinam que custo médio de longo prazo seja menor que o

custo marginal (Cmg>CmedL). A tarefa do regulador seria então discriminar custos e arbitrar uma

7 Diz-se que uma a empresa apresenta economias de escala quando esta é capaz de dobrar a produção com menos do que o dobro dos custos.8 Segundo VARIAN (2003), os rendimentos de escala, referem-se à maneira como a produção varia à medida que variamos a escala de produção, porém se alterar a proporção dos insumos envolvidos no processo. Se multiplicarmos todos os insumos por uma quantidade “t’ e a produção subir na mesma proporção, tem-se rendimentos constantes de escala”. Já se a produção crescer em uma proporção maior que “t”, teremos rendimentos crescentes de escala. Por fim, se aumentar em uma proporção menor do que “t”, tem-se rendimentos decrescentes de escala.

13

taxa de retorno adequada à sobrevivência da firma monopolista, minimizando suas possibilidades

de extração de renda econômica.

Por outro lado, Baumol e Panzar e Willig (1982) apud Costa (1995), colocaram em xeque

um dos conceitos mais venerados pela teoria neoclássica, a concorrência perfeita, através do que

eles denominaram de mercados contestáveis.

Para Herscovici (2002), Costa (1995), um mercado é perfeitamente contestável quando não

existem barreiras à entrada9 nem à saída.

A contestabilidade do mercado define-se pela ausência de barreiras à saída, ou seja, a

empresa pode sair do mercado sem ter que pagar um custo para isto. A ausência de custos

irreversíveis (sunk cost) constitui uma das condições para que o mercado seja contestável; quanto

maior o volume desses custos irreversíveis, menor a contestabilidade do mercado (HERSCOVICI,

2002).

Em estruturas de mercados oligopolistas ou monopolistas10 a partir do momento que as

hipóteses de livre entrada e saída na indústria são verificadas podem apresentar as mesmas

características que os mercados de concorrência pura e perfeita, no que diz respeito ao bem estar

social, ou seja, o mesmo padrão de eficiência (HERSCOVICI, 2002).

No entanto, se a hipótese de livre entrada e saída não se verificarem, ou seja, os mercados

não forem contestáveis haverá necessidade de regulação. Se não houver uma regulamentação do

monopólio natural, o mesmo produzirá uma quantidade de monopólio (Qm) inferior a que ocorreria

no caso dos mercados concorrenciais. Posto isto, é necessária a regulamentação de preço, ao nível

(Preço sob regulação – Pr), que permita a intersecção da curva de custo médio e da curva de receita

média, ou seja, P = Pr = Cme, assim a empresa não estará obtendo lucro extraordinário ou de

monopólio e seu nível de produção será o mais alto possível, sem que tenha que encerrar suas

atividades.

9 Barreira à entrada entende-se aqueles obstáculos (acesso ao capital, economias de escala, patentes, e outros) que impedem ou dificultam o ingresso de novos concorrentes no mercado.10 Para Herscovici (2002), as leis antitrustes foram estabelecidas para manter essas condições concorrenciais; não obstante, os recentes movimentos de concentração nas telecomunicações e na economia da internet mostram que esta concepção tradicional foi abandonada, em favor da teoria dos mercados contestáveis.

14

Na sua maioria, os monopólios naturais são regulados ou operados pelo governo, ou ambas

as situações. Se a empresa regulada não receber subsídios terá de conseguir lucros não negativos, o

que significa que terá que operar sobre ou acima da curva de custo médio, mesmo que esta seja

ineficiente do ponto de vista de Pareto.

Idealmente, os reguladores governamentais estabelecem o preço que apenas permita a

empresa alcançar o ponto de equilíbrio, ou seja, produzir num nível em que o preço se iguale aos

custos médios (P=Cme). Outra solução é deixar o governo operar o monopólio natural, neste caso a

operação dá-se num nível onde o preço é igual ao custo marginal e fornece um subsídio de

montante fixo para manter a empresa em operação.

Nesta ótica, segundo FERNANDES (2000), a regulação do monopólio natural impõe,

assim, um limite para o retorno do projeto e a minimização do poder de mercado da firma, em que

são eliminados seus ganhos extraordinários, induzindo a produção a custo médio, o que resultará em

maior eficiência, e, portanto, ganhos para a sociedade.

“em cenários caracterizados por significativas economias de escala onde a concorrência dentro dos mercados torna-se inviável, a atividade regulatória visa suprir a falta de competitividade observada, induzindo a aproximação entre o preço e o custo marginal praticados pelo monopolista”. (SOUZA JÚNIOR, 2005: 73)

A regulação tarifária deve cumprir o papel de controle econômico do projeto, garantindo a

rentabilidade do investidor e a preservação do bem-estar do consumidor, especialmente, em

ambiente caracterizado por ausência de competição, como é o caso de um monopólio natural.

“The main principles of legislation on the gas industry are similar in almost all the countries studied (in Latin America). The idea is to give due protection to end-users, bearing in mind the fact that some phases of the gas industry (transport and distribution) represent natural monopolies. In these cases, the State has to intervene to ensure free competition, to prevent possible abuse of dominant market positions, and to promote the continuity and quality of the services provided.” (CAMPODÓNICO, 1999: 147).

A regulamentação de preços é freqüentemente utilizada em relação aos monopólios

naturais. Tem-se, como exemplo, o que acontece com os serviços públicos regionais delegados pelo

15

Estado. Infelizmente, com certa freqüência se torna difícil a determinação exata desses preços na

prática, pois além das curvas de demandas e dos custos da empresa deslocar no tempo e à medida

que o mercado evolui, existe assimetria de informações.

“embora o grau de supervisão regulatória varie nos diversos países do mundo, é do governo o papel de fixação, senão sinalização dos preços a serem cobrados. A tarefa é complexa, tendo em vista o elevado grau de assimetria de informação pró-investidores, que acentua os riscos de abusos do poder de monopólio. A tarifação ainda enfrenta o desafio de atender a eficiência do sistema como um todo, o que, muitas vezes, apresenta tensões quanto à determinação do modelo a ser escolhido.” (FERNANDES, 2000:96).

As empresas que podem estar capacitadas a influenciar o preço e que podem descobrir que

é lucrativo praticar um preço acima do custo marginal, detêm o que se chama de poder de

monopólio.

Não obstante, devido ao custo social do monopólio, a sociedade necessita da

implementação de mecanismos para limitar o poder de monopólio, entre os quais se destacam: leis

antitrustes11, a regulamentação de preços e a regulamentação da taxa de retorno por parte do Estado.

Modelos de Regulação Tarifária

Para Freitas (2004), ao se falar de precificação, existe a premissa de que o mercado não é

capaz, por si só, de encontrar um ponto de alocação eficiente para estes bens e serviços, ou seja, as

teorias convencionais não dão conta de explicar o funcionamento do mercado. Desta forma, surge a

necessidade da intervenção do Estado regulando preços, em especial, em setores estratégicos e de

monopólios naturais, onde há falhas de mercado.

Segundo Fernandes (2000), “a fixação de regras tarifárias podem ser classificadas em dois

grupos principais: 1º Tarifação a custo de serviço e 2º Tarifação por Incentivo”.

O regime tarifário do sistema de distribuição de gás deve tratar não apenas da própria

formação do preço, mas também da forma de seu controle de ajuste e do grau de liberdade de sua

11 As leis antitrustes são regras que proíbem ações que limitem, ou que tenham possibilidade de limitar a concorrência. O poder de monopólio pode ser obtido por meio de fusões ou por meio do controle acionário.

16

variação. Tal sistemática deve contemplar mecanismos que estimulem a eficiência das empresas e

beneficiem os consumidores, permitindo uma harmonização dos interesses de todos os agentes

econômicos envolvidos neste segmento.

Tarifação a Custo de Serviço

Tradicionalmente a regulação pelo custo de serviço através do método de remuneração

pela taxa de retorno é o mais utilizado para tarifação em setores caracterizados por monopólios

naturais. Este tem como fundamento principal, a busca de preços (tarifas) 12 que remunerem os

custos totais, e que contenham uma margem que proporcione uma taxa interna de retorno atrativa

para o empresário (investidor) e justa do ponto de vista do regulador.

Tarifa13 é um termo genérico aplicável a uma multiplicidade de situações. Ex: tarifa de

ônibus, tarifas telefônicas, tarifas de água, tarifas de eletricidade etc. Tarifas em uma visão mais

simples seriam os preços previstos no art. 175 da Constituição Federal, admissíveis nas hipóteses de

serviços públicos delegados (concessão e permissão). (VERLI, 2005).

Diferentes bases de custos podem ser utilizadas para a avaliação dos custos totais, tais

como: a) custos marginais de curto prazo – (short-run marginal costs-SRMC); b) custos marginais

de longo prazo – (long-run marginal costs – LRMC); e, c) custos contábeis médios – (Average

accounting costs – AAC). Este último é o mais usual, dadas as dificuldades metodológicas e

práticas de se considerar os conceitos econômicos SRMC e LRMC, contidos nas duas primeiras

bases.

Segundo Fernandes (2000) existem algumas vantagens e desvantagens no uso deste

modelo. As vantagens observadas na regulação pelo custo de serviço são visíveis nos requisitos

administrativos e comerciais, tais como: a facilidade de implantação, previsibilidade e a

transparência para os agentes. As desvantagens são: assimetria de informações entre regulador e 12 Neste trabalho preço e tarifa serão tratados como equivalentes. Preços é o valor em dinheiro de uma mercadoria. Tarifa seria o valor expresso em dinheiro por um bem ou serviço público.

13 “A palavra tarifa vem do árabe, com sentido etimológico ligado a idéia de pauta de preços de navegação, de direitos alfandegários, que a cidade de Tarife, fundada pelos mouros, exigia dos mercadores quando lá passavam com suas embarcações.” (VERLI, 2005:38).

17

regulado, sobre investimento, serviço a qualquer custo, a possibilidade de subsídios cruzados e de

ineficiência alocativa.

Tarifação por incentivo

A tarifação por incentivo surgiu com o reconhecimento dos problemas enfrentados pela

tarifação pelos custos dos serviços. Foi a forma que permitiu um maior grau de liberdade de gestão

pelas empresas, dentro do regime de monopólio natural.

O objetivo central deste mecanismo é um incremento na performance da firma regulada

através de prêmios ou penalidades, além dos já incorporados pela regulação pelo custo de serviço.

O modelo geral, fixa o preço e uma fórmula de reajustes periódicos, incorporando metas plurianuais

de ganhos de produtividade, fixadas também pelo regulador.

“a idéia central é que qualquer redução real de custos mais acentuada que as metas contratadas podem ser incorporadas pela firma. Dessa forma, quebra-se a relação custo/preço, fazendo com que a empresa tenha incentivo para a redução dos custos, sem que, necessariamente, haja repasse para os preços.” (FERNANDES, 2000:98).

Os principais modelos deste regime se dividem em dois grupos:

1º ) através dos níveis de preços, ou seja, por limite de preço: Price Cap (preço teto); Automatic

Rate Adjustment Mechanism (ARAM); Sliding Scale Plan (SSPs) e a Yardstick Competition (YC).

2º) Através dos níveis de retorno dos lucros, determinados pelo comportamento da firma regulada:

Profit Sharing (PS); Banded Rates of Return ( BROR), Benchmarking (BM) e Capital Costs

Incentives ( CCIs).

Todos estes modelos enquadram-se na Teoria do Agente-principal, onde o regulador tem o

papel de principal, que contrata um agente, a firma regulada, para atuar em seu benefício, já que

esta apresenta um maior conhecimento e capacitação para a resolução dos problemas, minimizando

os problemas com a assimetria de informação entre o regulador e regulado.

18

O processo regulatório é composto por uma rede de relações caracterizadas pela delegação

de tarefas por um principal (o Estado) para um agente (empresa regulada), o que se chama de uma

relação principal-agente. Por outro lado, os eleitores delegam aos políticos (legislativo e executivo)

a tarefa de legislar e tomar decisões. Já os políticos delegam a tarefa de prover alguns serviços de

utilidade pública a agências reguladoras. Estas por sua vez delegam às firmas privadas ou estatais a

tarefa de produzir e distribuir estes serviços (MUELLER, 2003).

Os agentes econômicos e políticos entram nestas relações porque existem ganhos mútuos

de a realizarem. Quando um principal delega uma tarefa para um agente há ganhos potenciais para

ambos os lados. A forma como os ganhos serão divididos depende do poder de barganha e

informação de cada player. No entanto, todas estas transações apresentam riscos para os agentes

econômicos, de modo que estes ganhos só se realizarão se houver salvaguardas que assegurem

ambos contra os perigos inerentes na relação (MUELLER, 2003). Estas salvaguardas são custos de

transação e o ambiente institucional é muito importante para redução destes custos. Dessa forma, a

constituição de marcos regulatórios são importantes para a definição dos investimentos nos diversos

setores da economia. A próxima seção abordará a regulação e alguns aspectos da Nova Economia

Institucional importantes na coordenação das transações econômicas.

2.3. Regulação e a Nova Economia Institucional

Marcos Regulatórios no Brasil

O trabalho de Pires e Godlstein (2001) apresenta uma avaliação das agências reguladoras a

partir da regulação dos setores de energia, telecomunicações e petróleo. Um dos objetivos de tal

trabalho é contribuir na reflexão para aqueles setores que ainda estão implantando os seus

respectivos marcos regulatórios. Para os autores, a transição institucional que o Brasil está

enfrentando nos setores que fornecem serviços públicos, que historicamente, eram caracterizados

por monopólios estatais é fruto essencialmente de: a) escassez de recursos fiscais para

investimentos; b) inovações tecnológicas contrárias a organização industrial tradicional; c)

mudanças políticas e ideológicas que diminuíram a restrição da iniciativa privada em setores

estratégicos.

19

Defendem a tese de que a independência das agências reguladoras permite a separação das

atividades de governo das de Estado, contribui para um ambiente institucional estável e

transparente, com redução dos riscos regulatórios e aumento das possibilidades de atração dos

investimentos.

A prática da regulação implica custos de transação, pois tanto as Agências como as

empresas reguladas, ao negociarem uma falha de mercado, incorrem em custos. A definição de

marcos regulatórios bem definidos, com regras claras de retornos dos investimentos, definição de

critérios técnicos para contratação do corpo funcional das agências, o monitoramento de acesso às

redes e controle da concorrência nos serviços liberalizados, propiciam um ambiente profícuo ao

investimento privado.

Após as ondas de privatizações, o estabelecimento de uma governança regulatória fora

instituída com a criação de Agências Reguladoras com características de independência técnica,

financeira e decisória. No entanto, a transparência na gestão destas deve ser constante, para mitigar

o risco de captura e legitimar suas ações perante a sociedade.

Pires e Godlstein (2001) concluem que as experiências da regulação no Brasil nos setores

estudados apresentam resultados similares a países bem-sucedidos, tais como, o Reino Unido e a

Itália. No entanto, identificam quatro problemas principais: a) Coordenação insuficiente entre as

diversas agências reguladoras; b) indefinição de suas respectivas competências; c) falta de eficácia

das decisões das agências; e, d) inadequação dos contratos e das regras.

A visão da Confederação Nacional da Indústria – (CNI) sobre as Agências Reguladoras e

patamar da regulação no Brasil foi expressa em documento produzido em 2004 e intitulado:

Agências Reguladoras: A experiência Internacional e a Avaliação da Proposta de Lei Geral

Brasileira (OLIVEIRA et al, 2004).

Tal documento alerta que uma arquitetura adequada para as agências reguladoras é

fundamental para o crescimento econômico, pois sem regras claras e confiança nas instituições, o

investimento privado não se realiza. Os principais pontos e reflexões apresentados são:

20

a) A criação de uma lei geral para as agências reguladoras é fundamental para o

crescimento econômico sustentado;

b) A experiência internacional é um marco referencial importante para o desenho do

sistema nacional, tendo em vista seu caráter embrionário;

c) As análises das melhores práticas (best – practices), em especial, dos Estados

Unidos da América (EUA) e da França, apontam que o controle da

discricionariedade das agências reguladoras é atingido por meio de padronização e

da transparência de seus procedimentos de formulação, implementação e alteração

das regulações, guiando-se pelos seguintes princípios: abertura e objetividade,

promoção de livre concorrência e garantia de um equilíbrio justo entre todos os

agentes econômicos, ou players, (consumidores, governo, empresas);

d) O sucesso destas agências está associado a diversos fatores, como: a definição

clara de sua jurisdição e independência; transparência nas ações; otimização na

alocação dos seus escassos recursos na atividade regulatória; um conjunto claro e

racional de políticas e procedimentos na formulação de decisões;

e) A fiscalização do congresso e a coordenação e orientação do Poder Executivo,

vinculativa para agências dependentes e indicativas para as agências

independentes, são importantes (experiência dos EUA);

f) Na França, as agências possuem o poder, ou melhor, a competência jurídica para

editar regras e fiscalizar tais normas, aplicando as sanções previstas em caso de

descumprimento. No entanto, o poder regulamentar está subordinado ao Primeiro-

Ministro;

g) A criação e o funcionamento das agências reguladoras brasileiras ocorre em meio

ao processo de privatização e de redefinição da ação do Estado brasileiro a partir

de meados de 1990. Estas surgiram com forma jurídica de autarquia em regime

especial, vinculadas administrativamente, mas não subordinadas hierarquicamente

aos respectivos ministérios, garantindo sua independência financeira, gerencial,

política e decisória, adquirindo o status de órgãos de Estado;

h) Os mandatos conferidos pela legislação aos dirigentes é um dos itens mais

importantes da regulação. As regras de acesso e recondução devem ser claras,

para que estes não sejam capturados pelo poder político e/ou econômico no

exercício da atividade regulatória;

21

i) Apesar dos avanços ocorridos no sistema de regulação de infra-estrutura no

Brasil, persistem as limitações que afetam os investimentos e dificultam o

crescimento do país. Entre as principais falhas apontadas, temos: falta de regra

definidora de competências, ausência de lócus de coordenação, a morosidade dos

processos decisórios e a inexperiência do Poder Judiciário;

j) Uma série de indicações é apresentada como os requisitos mínimos para

disciplinar o conteúdo da Lei Geral das Agências Reguladoras no Brasil, entre

estes: criação de um órgão fiscalizador das agências reguladoras no congresso, a

definição da duração dos mandatos dos dirigentes e da questão da quarentena,

obrigatoriedade da transparência nas ações, definição clara das competências,

capacitação do Poder Judiciário, participação das agências na formulação de

políticas públicas, entre outros; e,

k) Por fim, as principais sugestões para alterações ao projeto de lei geral para as

agências reguladoras são apresentadas: substituição do contrato de gestão por

mecanismo mais eficaz de fiscalização da atuação das agências; aperfeiçoamento

da figura do ouvidor; manutenção do poder de realizar os processos de outorga em

âmbito interno; defesa da autonomia financeira; criação de mecanismo claro e

previsível para aprovação pelas agências da transferência de concessões,

permissões e autorizações; exigência de análise custo-benefício (economicidade)

de suas ações; criação de varas e câmaras especializadas em matérias regulatórias.

2.3.2 A Nova Economia Institucional

2.3.2.1 Institucionalismo e a Nova Economia Institucional

Conceição (2001) procura evidenciar que existe um núcleo teórico definido, mas nem

sempre convergente entre as diversas abordagens institucionalistas, que pela própria

heterogeneidade de abordagens define “instituições”, ora como normas ou padrão de

comportamento, ora como formas institucionais, ora como padrão de organização da firma, ou,

ainda, como direito de propriedade. A este conjunto de abordagens denominamos de

institucionalismo.

22

A Nova Economia Institucional (NEI) é um dos diversos ramos do Institucionalismo que

floresceu no final do século XIX e que logo veio a ser esquecido devido à grande valorização dos

modelos matemáticos na análise econômica a partir dos anos 20 do século posterior. No entanto, a

abordagem institucionalista foi resgatada nos anos 60 com o status de nova, tendo COASE (1937;

1960) como elo entre o velho e o novo institucionalismo. A NEI tem em WILLIAMSON (1985) e

NORTH (1990) as principais expressões (GUEDES apud MENDES, 2005).

A abordagem institucionalista representou na história do pensamento econômico uma

ruptura com a escola neoclássica. No entanto, se utiliza de muitos conceitos desta escola. Enquanto

a escola neoclássica aborda a economia num cenário estático de equilíbrio, guiado pela

racionalidade e liberdade, o institucionalismo trabalha com o conceito evolucionário de processo e

instituições.

“A tradição institucionalista herdeira de Veblen e Commons trouxe novos conceitos, sem, entretanto, deixar de preservar os traços que lhe são distintivos do pensamento neoclássico. Contudo a compatibilidade com o pensamento de Marx, Keynes e Schumpeter permanece, em muitos aspectos, sustentável. A amplitude e a complexidade do pensamento institucionalista, não podendo ser patrimônio de uma única e exclusiva “visão”, conferem à teia de múltiplas concepções a possibilidade de se avançar em direção a uma “teoria da dinâmica das instituições”.” (CONCEIÇÃO, 2001:86)

A configuração de uma “teoria econômica das instituições” tem avançado ao longo das

últimas décadas com o surgimento de importantes abordagens com ênfase no papel das instituições

e na dinâmica de seu funcionamento, a exemplo: a Nova Economia Institucional, os neo-

institucionalistas, os neo-schumpeterianos ou evolucionários, os regulacionistas, a economia das

convenções e outras, que permitiram avanços teóricos, que ora se rivalizam, ora se complementam,

sem perder o caráter institucional. (CONCEIÇÃO, 2001).

Um dos conceitos fundamentais para se entender a abordagem institucionalista de análise

das organizações é o ambiente, este organizado por quatro teorias principais: da contingência, dos

sistemas, da dependência de recursos e a institucional.

A teoria institucional desdobra-se em três vertentes de análises: sendo a primeira, a

vertente econômica, esta que enfatiza as regras, leis e sanções também conhecidas como pilar

23

regulativo; a outra vertente a política, chamada de pilar normativo; e terceira vertente, a sociológica,

pilar cognitivo, onde se priorizam as análises organizações (SOUZA e GRASEL, 2005).

Na vertente econômica as instituições estabelecem regras, monitoram e sancionam

atividades e regularizam os comportamentos dos agentes econômicos. É justamente nesta vertente

que emergem as atuais Agências de Regulação, novidade no desenho institucional brasileiro,

denotando,

“à relação Estado-Economia, que enuncia o Estado não como um sujeito exterior à economia, nem como um conjunto de instrumentos à disposição de uma classe social, mas como “produto” dos conflitos inerentes às separações sociais, cuja regulação é aberta, parcial e inacabada .(AGLIETTA apud CONCEIÇÃO, 2001)”.

Duas grandes escolas destacam-se a partir dos anos 70, na abordagem institucional da

regulação econômica, é a Teoria Econômica da Regulação e a Teoria da Escolha Pública, esta

também conhecida como public choice.

A primeira teoria originou-se do trabalho de George J. Stigler apresentado em 1971, com

objetivo de explicar o comportamento político através da teoria econômica. A premissa

fundamental é que o comportamento dos políticos é maximizador do interesse próprio. Assim, os

“grupos de interesses” podem influenciar o processo regulatório, prevendo apoio financeiro e outras

formas de benesses para políticos e reguladores, através dos mecanismos de Rent Seeking14 ou

captura de renda.

Para Stigler (2004), em regra a regulação é adquirida pela indústria, além de ser concebida

e operada fundamentalmente em seu benefício.

“os usos potenciais de recursos e poderes estatais para melhorar a condição econômica dos grupos econômicos (tais como indústrias e profissões) são analisados para produzir um esquema da demanda por regulação. As características do processo político, que permitem que grupos relativamente

14 Definida como gastos com esforços socialmente improdutivos para obter, manter ou exercer o poder de monopólio. Envolve atividades de lobby político e até financiamento de campanhas para obter a criação de leis e outras vantagens para dificultar a entrada de potenciais concorrentes no mercado (PINDYCK E RUBINFELD, 2006).

24

pequenos obtenham determinada política regulatória, também são esboçadas para fornecer elementos de uma teoria de oferta de regulação”. (STIGLER, 2004: 23).

A interação entre os conceitos de grupos de interesses e rent-seeking resultou na

contestação da visão de que o Estado, como agente regulador da atividade econômica, estava

voltado fundamentalmente para o bem público. Estas abordagens do processo regulatório ficaram

conhecidas como Teorias da Captura, pois discutem as formas e as consequências da "captura" das

instituições reguladoras do Estado por interesses privados (FIANI, 1999).

Os modelos de Stigler (1971), Peltzman (1976) e Becker (1983) apud Fiani (1999),

“... independentemente de qualquer outra avaliação, deslocaram o eixo do debate sobre regulação econômica para um ponto muito distante da mera correção de "falhas de mercado". Mais especificamente, a questão regulatória tornou-se um objeto de estudo em si mesma, onde a caracterização de grupos dos interesse em uma dada indústria, que se formam visando rent-seeking passou a ser uma etapa fundamental do processo de compreensão das características da atividade de regulação econômica.” (FIANI, 1999: 25).

A outra escola que desenvolve argumentos acerca do fenômeno regulatório nos anos 1970

foi a Public Choice ou Teoria da Escola Pública (TEP). Embora aspectos teóricos dessa corrente

possam ser encontrados em Shumpeter (1976), o postulado comportamental básico da teoria foi

apresentado por Buchanam e Tulloch (1962), além de Downs (1957) e Olson (1965) apud Salgado

(2003). A TEP procura aplicar os postulados básicos da microeconomia neoclássica à compreensão

do funcionamento no campo político (SALGADO, 2003).

A síntese do pensamento da TEP é que seja no mercado ou na política, os indivíduos

comportam-se da mesma maneira, ou seja, movidos pelo egoísmo. Portanto, esta teoria considera

um erro supor que políticas governamentais são conduzidas por motivações alheias aos interesses

individuais. Não por coincidência, os lobbistas, políticos, burocratas, e tecnocratas do setor público,

agem em função de seus próprios interesses, buscando satisfazer grupos e partidos políticos de sua

ligação através do uso da máquina pública, ou seja, de recursos da coletividade.

25

Para Conceição (2001), é possível observar no meio acadêmico uma expansão15 dos

estudos na área conhecida como Nova Economia Institucional – NEI. Ronald Coase é considerado o

pai dessa escola, cujo marco de referência é seu trabalho seminal de 1937, The nature of the firm,

no qual demonstrou como a introdução de custos de transação na análise econômica determina as

formas organizacionais e as instituições do ambiente social. A NEI é uma ramificação do

institucionalismo e preocupa-se, fundamentalmente, com aspectos microeconômicos da firma em

uma abordagem não convencional, mesclada com história econômica, economia dos direitos de

propriedades, sistemas comparativos, organização industrial, entre outros. A NEI tem em

WILLIAMSON (1985) e NORTH (1990) as principais expressões.

Uma das preocupações centrais da NEI diz respeito ao papel das instituições no

desempenho econômico. A abordagem da NEI permite superar várias das limitações teóricas do

arcabouço neoclássico.

Os principais pontos de divergência com o pensamento neoclássico são: a) para a NEI a

premissa de racionalidade ilimitada é equivocada, pois a capacidade cognitiva do homem é

limitada; e, b) a segunda divergência está relacionada ao conceito de firma, estas são consideradas

um “nexo” de contratos, ao contrário, da firma neoclássica, vista somente de uma forma estática.

(ZYLBERSTAJN e SZTAJN, 2005:88).

Para Conceição (2001, p.32) foi Ronald Coase quem estabeleceu a crucial conexão entre

instituições, custos de transação e teoria neoclássica. Somente quando inexistem custos de transação

a eficiência neoclássica dos mercados é alcançada, sendo, neste cenário, indiferente os arranjos

institucionais.

Os estudos de Zylberstajn e Sztajn (2005), Azevedo (2000), apontam que NEI é

desenvolvida em dois planos de análise. O primeiro aborda o ambiente institucional - subdividindo-

se, em regras formais, regras informais e direitos de propriedades (as regras do jogo). O segundo

plano trata das instituições de governança (ou os jogadores).

15 “O interesse crescente da academia, no entanto, não se traduz em uma abordagem unificada, havendo diversos programas de pesquisa incluindo instituições como elementos-chave de seus argumentos” (AZEVEDO, 2000).

26

Segundo Douglas North apud (Conceição, 2001: 18 e 19),

“As instituições são restrições humanamente inventadas, que estruturam as interações humanas. Constituem-se de restrições formais (regras, leis, constituições), restrições informais (normas de comportamento, convenções, códigos de conduta auto-impostos) e suas características em fazê-las cumprir. Em conjunto, elas definem a estrutura de incentivo das sociedades e, especialmente, das economias; em conseqüência, são as determinantes da performance econômica”.

Os dois níveis analíticos da NEI, de acordo com Azevedo (2000), são: 1°) A Economia

dos Custos de Transação – ECT, preocupada com a análise de estruturas de governança, definidas

como o conjunto de regras, como contratos entre particulares e normas internas às organizações que

governam um determinada transação (Microinstituições). 2°) O outro nível analítico é dedicado ao

Ambiente Institucional (Macroinstituições), em que se destacam três aspectos ( regras formais,

regras informais e direitos de propriedade).

O principal papel das instituições, entendidas como as “regras do jogo”, formais e

informais que “estruturam a interação social, econômica e política” (North, 1991:97 apud Azevedo,

2000), é restringir a ação humana. O exercício desse papel pode reduzir o custo das interações entre

os seres humanos, constituindo um elemento relevante à eficiência econômica e ao

desenvolvimento.

Macroinstituições são aquelas que estabelecem as bases para as interações entre os seres

humanos. Nesta corrente destacam-se: Steven Cheung16 e Barry Eichengreen e Douglass North17,

nobel de economia, que contribuiu ligando Instituições ao Desenvolvimento Econômico.

Microinstituições são aquelas que regulam uma transação específica. Os destaques são:

Yoram Barzel18 e Oliver Willianson19.

16 CHEUNG, S. N. S. “On the New Institutional Economics”. In Contract Economics, Werin e Wijkander editors. Blackwel Ed., 1992.17 NORTH, D.C. Institutions, Institutional Change and Economic Performance. Cambridge University Press. 1990.18 BARZEL, Y. Economic Analysis of Property Rights. Cambridge University Press. 1989.19 WILLIAMSON, O. E. The Economic Institutions of Capitalism. The Free Press. 1985.

27

No entanto, ambos os níveis analíticos da NEI partiram de uma referência comum, o

trabalho seminal de Coase (1937)20, nobel de economia, que contribuiu através do estudo da

natureza da firma e do direitos de propriedade, destacando a importância desses aspectos para os

custos de transação. A partir de Williamson (1991), a ligação entre o ambiente institucional e

estruturas de governança permitiu a construção de uma agenda comum de pesquisa, com a criação

da International Society of New Institutional Economics, em 1997. (AZEVEDO, 2000)

A coordenação entre os agentes econômicos é uma característica importante para a redução

dos custos de transação. No entanto, esta não é uma característica intrínseca aos sistemas de

produção.

Na tentativa de reduzir os custos de transação os agentes usam mecanismos para regular

uma determinada transação, denominadas “estruturas de governança”. Como exemplo, tem-se: o

mercado spot, contratos de suprimento regular, contratos de longo prazo com cláusulas de

monitoramento, integração vertical etc. A ECT parte de duas premissas: a) que os indivíduos são

oportunistas; b) e que a racionalidade é limitada. Por oportunismo entende-se que os indivíduos são

considerados fortemente auto-interessados; podendo, se for de seu interesse, mentir, trapacear, ou

quebrar promessas.

Já a premissa da racionalidade limitada deriva da noção de incompletude dos contratos, ou

seja, devido aos limites cognitivos que caracterizam os agentes, não é possível o estabelecimento de

contratos que dêem conta de todas as contingências futuras.

Como é presente o comportamento oportunista, essa renegociação sujeita uma parte ao

risco de que o outro agente aja de maneira oportunista para obter ganhos para si, impondo prejuízo

outra parte. Nas transações econômicas as partes agem precavendo-se do comportamento dos outros

agentes. Coleta de informações, salvaguardas contratuais e a utilização do sistema judiciário são

20 Os dois trabalhos memoráveis de Coase são: The Nature of the Firm (1937) e The Problem of Social Cost (1960), representando pontos focais para o desenvolvimento da NEI.

28

custos incorridos para se proteger da ação oportunista dos demais agentes. Todos estes custos são

custos de transação (ZYLBERSTAJN e SZTAJN, 2005).

Na Economia Neoclássica, os direitos de propriedades são perfeitamente definidos e

seguros. Nenhum custo é incorrido na obtenção e defesa dos direitos de propriedades.

(ZYLBERSTAJN e SZTAJN, 2005: 91). Coase (1960) apud Scare (2003), relaciona a garantia dos

direitos de propriedade às questões de eficiência econômica.

“ A definição dominante de direitos de propriedade, tanto em Economia como em Direito, é de propriedade como sendo um conjunto de direitos ( bundle of rights) sobre um recurso, que o dono está livre para exercer e cujo exercício é protegido contra a interferência por outros agentes”. (ZYLBERSTAJN e SZTAJN, 2005: 92).

Os direitos de propriedade não são absolutos e exigem esforços para que os proprietários

destes obtenham apoio e a proteção tanto dos outros agentes quanto do governo. Como exemplo,

tem-se o caso em que o dono de uma terra tem o direito de vendê-la, deixa-lá como herança ou

subdividi lá. No entanto, não tem o direito de impedir que os outros atirem por cima da sua terra, de

deixar a terra improdutiva, de se apropriar de minerais sob a terra, plantar maconha etc.

(ZYLBERSTAJN e SZTAJN, 2005: 92).

Os direitos de propriedades não completamente seguros desestimulam os investimentos, o

que traz impactos importantes no desempenho econômico. Para Scare (2003), quando os direitos de

propriedade não são perfeitamente definidos nem completamente seguros, os custos de transação

são positivos.

As transações econômicas entre os agentes englobam a troca de diversos direitos de

propriedade. Barzel (1997) apud Scare (2003) define duas visões para os direitos de propriedade,

uma jurídica, outra econômica. Na dimensão jurídica os direitos de propriedade são aqueles

reconhecidos e garantidos pelo Estado. Na esfera econômica é visto como a capacidade ou

habilidade que um agente possui de consumir determinado recurso diretamente ou de forma residual

por meio de sua troca.

29

O trabalho de Zylberstajn e Sztajn (2005) aponta que a essência econômica do contrato é o

de promessa. Desta forma os agentes econômicos tendem a realizar investimentos com a redução

dos custos associados às futuras rupturas das promessas. Sendo a firma definida como um feixe de

contratos, estas representam arranjos institucionais que coordenam as transações que concretizam

promessas definidas pelo conjunto de agentes.

No olhar da ECT um contrato é uma maneira de coordenar as transações, propiciando

incentivos para que os agentes atuem de maneira harmoniosa na produção, o que permite que os

agentes independentes tenham incentivos para se engajarem na produção conjunta. Os contratos ou

arranjos institucionais, somados ao ambiente institucional, definem diversos mecanismos de

incentivos, assim como as principais sanções para o não cumprimento das promessas.

(ZYLBERSTAJN e SZTAJN, 2005:104)

“Um contrato é um acordo, entre duas ou mais partes, que transmite direitos entre elas, assim como estabelece, exclui ou modifica deveres. Esse tipo de relação manifesta-se concretamente de diversos modos, variando em complexidade, forma, tempo, salvaguardas e capacidade de se fazer cumprir os termos acordados (enforcement)”. (ZYLBERSTAJN e SZTAJN, 2005:113).

A teoria dos contratos revela a existência de custos relacionados ao desenho dos contratos,

custos de monitorar a execução, bem como custos para solução dos problemas que surgem a partir

do descumprimento. (ZYLBERSTAJN e SZTAJN, 2005:105). Esses são os custos de transação.

Existem diferentes ênfases para análise dos contratos, a apresentada pela teoria da agência,

a da Análise Econômica do Direito, a da Nova Economia Institucional.

A teoria de agência considera a imprevisibilidade de desenhar contratos ótimos pelo fato

da existência de assimetria de informação. No entanto, esta não considera aspectos pós-contratuais,

sendo o papel das cortes indiferentes. Já a Nova Economia Institucional destaca a existência de

custos pós-contratuais devidos aos problemas de oportunismo dos agentes e mensuração. Na

Análise Econômica do Direito, a ênfase dá-se na lei ou a sua aplicação como premissa para alcance

da eficiência e bem-estar dos agentes. O foco de atenção se dá sobre a operação dos tribunais,

diferentemente da NEI, que privilegia os mecanismos privados para o desenho do contrato.

(ZYLBERSTAJN e SZTAJN, 2005: 109).

30

Para Pinto Júnior (2007), os diferentes tipos de contratos na indústria do GN são regidos

pelos critérios de continuidade e duração. Considerando o critério de continuidade, são possíveis

dois tipos de contratos: contrato firme e interruptível. Já pelo critério de duração, existe a

possibilidade de dois contratos, de longo prazo, para contratações superiores há um ano, e contratos

de curto prazo, geralmente para contratações de até seis meses.

As formas de organização industrial e os contratos tradicionalmente firmados na indústria

do GN busca reduzir os riscos dos investimentos necessários para a construção da infra-estrutura de

transporte e distribuição, prevendo a instituição de monopólios territoriais, a utilização de contratos

de longo prazo e política de preços administrados. (PINTO JÚNIOR, 2007).

Os contratos da indústria do GN são importantes instrumentos para se entender o

funcionamento desses mercados. No caso específico de contratos de importação de GN, torna-se

imprescindível o entendimento dos mecanismos de câmbio e comércio exterior, pois são regras

formais e ambiente institucional, em que as transações econômicas de importação do energético são

pautadas.

Segundo Baumann et al (2004:264), as transações comerciais e financeiras entre os países,

com seus sistemas monetários distintos, são intermediadas pela conversão (câmbio) entre suas

moedas, sendo a taxa de câmbio, a taxa em que se dá esta conversão.

A taxa de câmbio é o preço pelo qual as moedas são trocadas um pelas outras. Geralmente

a taxa de câmbio é definida como o preço da moeda estrangeira em termos da moeda doméstica. A

depreciação (apreciação) representa uma redução (majoração) no valor da moeda doméstica,

automaticamente gerando um aumento (redução) no valor da taxa de câmbio (CAVES et al,

2001:295).

Para CAVES et al (2001), existe uma simplificação quando se fala apenas taxa de câmbio

de um país, pois nas realidade, cada país possui várias taxas de câmbio, uma para cada uma das

outras moedas do mundo. A taxa de câmbio efetiva é uma medida ponderada de taxa de câmbio da

moeda doméstica em relação às moedas estrangeiras. Geralmente os pesos utilizados na ponderação

são as participações relativas no comércio com o país doméstico.

31

Como em qualquer outro mercado é fundamental entender a oferta e demanda no mercado

de câmbio. Assim como a oferta e demanda relativa a qualquer produto são funções de seu preço,

pode-se inferir a oferta e demanda de divisas externas como funções do preço da moeda, ou seja, da

taxa de câmbio.

A taxa de câmbio definida como o preço no mercado de câmbio varia em função dos

regimes de cambiais. Basicamente existem dois regimes cambiais: o de taxas flutuantes e o de taxas

fixas CARBAUGH (2004). Sob flutuação pura, o valor da taxa de câmbio deve ser aquele que

equilibra a oferta e demanda de divisas no mercado de câmbio. Em um regime de câmbio flutuante,

o aumento da demanda por divisas externas provoca um aumento na taxa de câmbio, sendo o

inverso também verdadeiro (ceteris paribus). No entanto, em um regime fixo de câmbio, o banco

central precisa intervir sempre que houver muita variação na demanda e oferta (CAVES et al,

2001:297)

2.4 Considerações finais do capítulo

Uma regulação eficiente é desejável para o desenvolvimento dos setores de infra-estrutura

por vários motivos, em especial: a) para prover regras claras e estáveis, particularmente na fixação

das tarifas, ela atenua a incerteza dos investidores e incentiva a entrada do capital privado. b) para

estimulo a competitividade e a eficiência no interior da indústria, ao remover as restrições à entrada,

assegurar o acesso das novas firmas às redes de transmissão e de transporte e fixar tarifas que

incentivem inovações tecnológicas e economia de custos. c) para que a sociedade se beneficie da

eficiência produtiva - economias de escala e minimização de custos - sem incorrer nos custos do

poder de monopólio - fixação de tarifas em níveis superiores ao custo médio.

O próximo capítulo apresentará as principais características do mercado de GN no Brasil e

no Mundo.

3. O MERCADO DE GÁS NATURAL NO MUNDO E NO BRASIL

32

Este capítulo apresenta uma breve síntese das principais características do mercado

mundial e brasileiro de gás natural. Em especial, se apresentam tópicos relativos aos aspectos de

oferta e demanda.

3.1. O mercado mundial de Gás Natural

O gás natural (GN) é um combustível fóssil, basicamente uma mistura de hidrocarbonetos

leves, encontrados em rochas porosas no subsolo, podendo estar associado ou não ao petróleo.

Atualmente é crescente o uso do gás natural na economia mundial e brasileira. Marco Polo teria

presenciado a utilização do GN em um templo no Oriente e também existiriam registros de seu uso

em Roma (50 A. C.) e na China (150 D.C.) (FERNANDES, 2000).

Efetivamente o primeiro centro regular de utilização de gás natural no mundo foi os

Estados Unidos, no início do século XIX. Este tinha uso restrito a algum tipo de aplicação próxima

às reservas, pela falta de infra-estrutura de transporte21. Considera-se o marco do início da indústria

americana de gás natural a criação, em 1889, da Standard Gas Trust, por J. D. Rockfeller, que já

detinha o monopólio do refino nos EUA. Apenas um ano depois, a empresa, que acabou adquirindo

a companhia de J.N. Pew, já detinha uma rede de 300 quilômetros de extensão e distribuía 7

milhões de m3 por dia de gás natural (Ibid: 2000:15).

A indústria mundial do gás natural desenvolveu-se lentamente até a década de 50 do século

XX, com exceção dos Estados Unidos22. No início do século passado o consumo mundial do GN

representava apenas cerca de 1% do total da energia primária comercializada. (Ibid: 2000:16).

Para Fernandes (2000:16), a elevação do preço do petróleo na década de 70 do século

anterior e o aspecto ambiental apelativo foram propulsores do consumo de gás natural, resultando

21 Somente depois do início da chamada “era do petróleo”, com as jazidas do coronel Drake em Titusville, Pennsylvania, é que foi estabelecido o primeiro sistema bem sucedido de transporte de gás por dutos. Construído em 1872, foi um duto de ferro batido de apenas 2,5 polegadas de diâmetro e aproximadamente 8 quilômetros de extensão do poço até a pequena vila.(BARLOW, CONNIE – 1995 apud FERNANDES, 2000).22 Em 1951, os EUA eram responsáveis por 92% da produção mundial comercializada e 95% do Consumo (BNDES (S.D) apud FERNANDES, 2000).

33

na construção de sistemas internacionais de gasodutos interligando países da América do Norte e

Europa aumentando a participação deste energético na matriz de energia mundial.

Atualmente o GN vem ganhando importância na Economia Mundial. É a terceira fonte de

energia primária, precedida somente pelo petróleo e carvão conforme dados relativos ao ano de

2004. (MME, 2006).

Gráfico 3.1 - Oferta Interna de Energia: Estrutura de Participação das Fontes (Mundo -2004)

Fonte: MME, 2006.

As principais reservas mundiais provadas de GN podem ser observadas na Tabela 3.1. No

Oriente médio estão localizadas as maiores reservas provadas de gás natural, com destaque para o

Irã (37,1%), Catar (35,65%), Arábia Saudita (9,57%) e Emirados Árabes Unidos (8,37%), somando

90,69% das reservas desta região.

A segunda maior concentração de reservas mundiais situa-se na Europa e Ex-União

Soviética, com destaque Rússia (55,35%), Reino Unido (8,29%), Noruega (8,01%), Holanda

(5,93%), Uzbequistão (5,25%) e Cazaquistão (2,21%), totalizando 86,4% das reservas desta região.

34

Tabela 3.1: As reservas mundiais provadas de gás natural segundo as regiões geográficas, até 31/12/2005.

RegiõesQuantidade

em Trilhões de m3

Participação relativa

(%)Oriente Médio 72,1 40,08Europa e Ex-União

Soviética

64,0 35,58

África 14,9 8,28Ásia e Pacifico 14,0 8,00América do Norte 7,5 4,17América Central e do Sul 7,0 3,89Total 179,9 100,00Fontes: ANP (2006a).

A América do Norte, África, Ásia e Pacifico conjuntamente apresentam 20,45 % do total

das reservas, sendo que os países de destaque são: os Estados Unidos da América com 5,45 trilhões

de m3; a Nigéria com 5,23 trilhões de m3 e a Austrália com 2,52 trilhões de m3 segundo dados ANP

(2006a).

Com relação à produção mundial de gás natural segundo as regiões geográficas, no ano de

2005, estão distribuídas conforme Tabela 3.2.

Tabela 3.2: Produção mundial de gás natural segundo as regiões geográficas, no ano de 2005Regiões Quantidade em Bilhões de m3 Participação relativa (%)Oriente Médio 292,5 10,58Europa e Ex-União

Soviética1.061,2 38,40

África 163,0 5,90Ásia e Pacifico 360,1 13,03América do Norte 750,7 27,15América Central e do Sul 136,4 4,94Total 2.763,9 100,00

35

Fontes: ANP (2006a).

Embora as maiores reservas provadas de gás natural, estejam localizadas no Oriente

Médio, conforme dados apresentados na tabela 3.1, é na Europa e Ex-União Soviética que a

produção se dá com maior intensidade, com destaque para Rússia, a maior produtora individual do

mundo, com 598 bilhões de m3, cerca de 56,35% da produção desta região e 21,34% em relação à

produção mundial, seguida pela Noruega, 8% da produção desta região, em 2005. (ANP, 2006a).

Na Tabela 3.2 verifica-se 27,15% da produção mundial de GN do ano de 2005 na América

do Norte. É importante ressaltar a participação dos EUA, que foi o 2º maior produtor individual de

GN no mundo, produzindo em 2005 525,7 bilhões de m3, ou seja, 19,01% e 70% da produção da

América do Norte.

No Oriente médio onde estão localizadas as maiores reservas provadas de gás natural, o

destaque na produção de 2005 foram o Irã (29,74%), a Arábia Saudita (23,76%), os Emirados

Árabes Unidos (15,73%) e o Catar (14,77%), somando 84% da produção desta região, segundo

dados da ANP (2006a).

A produção africana de em 2005 representou 5,9% da mundial. Os maiores produtores

desta região foram: Argélia, Egito e Nigéria com 53,86%, 21,28 e 13,37%, respectivamente.

A menor produção mundial do GN ocorre na América Central e Sul, representando em

2005 apenas 4,4% desta. Os maiores produtores desta região em 2005 foram à Argentina, Trinidad

Tobago, Venezuela, Brasil e Bolívia, com participação de 33,42%, 21,25%, 21,18%, 8,97% e

7,62%, respectivamente.

A tabela 3.3 apresenta o tempo de duração das reservas de GN no mundo em anos

considerando o mesmo ritmo de produção e a não descoberta de novas reservas. De acordo com

esses dados verifica-se que mantido o ritmo de produção mundial do GN e não havendo nenhuma

descoberta de reservas, ainda existe o potencial de exploração das atuais reservas por 65,09 anos.

As reservas localizadas no Oriente Médio representam mais de 40% das reservas mundiais,

aliado ao pequeno ritmo de produção, cerca de apenas 10% da produção mundial, é a região com

36

maior tempo para exaustão da reservas atuais do GN, 246,50 anos. A previsão de exaustão das

reservas provadas de GN na América do Norte é de aproximadamente 10 anos.

Tabela 3.3: Tempo de exaustão das Reservas Mundiais de GN segundo as regiões geográficas, no ano de 2005

RegiõesReservas

em Trilhões de m3

Produção

em Bilhões de m3Anos*

Oriente Médio 72,1 292,5 246,50Europa e Ex-União

Soviética64,0 1.061,2 60,31

África 14,9 163,0 91,41Ásia e Pacifico 14,0 360,1 38,88América do Norte 7,5 750,7 9,99América Central e

do Sul7,0 136,4 51,32

Total 179,9 2.763,9 65,09Fontes: ANP (2006a). *dados calculados pelo autor, resultante da divisão das reservas pela produção.

Apesar de na Europa e Ex-União Soviética a produção se efetivar com maior intensidade,

com destaque para Rússia, a maior produtora individual do mundo, a previsão de exaustão de suas

reservas se dará em 60 anos, mantido o mesmo ritmo de produção e não havendo descobertas de

reservas.

As reservas da América Central e do Sul representam conjuntamente apenas 3,89% das

reservas mundiais, sendo a menor participação em nível mundial. O ritmo de produção também é o

menor, 4,94% da produção mundial, mantido esse nível produção suas reservas se esgotarão em

51,32 anos.

3.2 O mercado de Gás Natural no Brasil

Segundo Laureano (2005:90), a história do gás canalizado no Brasil teve início no Rio de

Janeiro em 1851, quando o Barão de Mauá assinou um contrato para iluminação a gás na cidade do

Rio de Janeiro. Neste cenário, em 1854 foi fundada a Companhia de Iluminação a Gás23, que após

três anos fornecia gás para iluminação de 3.027 lampiões públicos, 3.200 residências e três teatros.

23 Em 1865 esta foi vendida para uma companhia inglesa que assumiu os serviços de gás através da Rio de Janeiro Gás Company Limited.(LAUREANO, 2005:90). A distribuição de gás natural somente ocorre em 1982. (CATARINA, 2002:69).

37

Corroborando com este autor, Fernandes (2000:62), Montes (2000:05), Kerkis (2004:11),

confirmam que a indústria do gás no Brasil é centenária, tendo início na cidade do Rio de Janeiro,

em 1851, quando Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, assinou o contrato para iluminação

pública, que determinava a construção de uma fábrica de gás de carvão no centro da cidade e a

instalação de canalizações em perímetros determinados, a Companhia de Iluminação a Gás, atual

CEG – Companhia Distribuidora de Gás do Rio de Janeiro.

Em 1872 ocorreu expansão do uso do gás canalizado para a cidade de São Paulo. A

empresa inglesa San Paulo Gas Company24 recebeu autorização imperial para a exploração dos

serviços de iluminação da cidade (LAUREANO, 2005).

Com a descoberta do petróleo e o GN na Bahia, a partir de 1940, o GN passou a ser

produzido em 1954. Em 1959, o estado já alcançava 1 milhão de m3, e em 1969 ultrapassava os 3

milhões de m3. Nos demais estados do nordeste, a produção só veio a tomar impulso na década de

70, com o desenvolvimento dos campos de Sergipe e Alagoas. A produção total nacional, em 1975,

era de 4.451 mil m3/dia, sendo que o nordeste representava cerca de 99% da produção nacional

( FERNANDES, 2000).

A partir dos choques do petróleo, na década de 70, foi iniciado no Brasil o

desenvolvimento de programas que objetivavam buscar fontes alternativas ao petróleo e seus

derivados no País. Isto explica, em parte, a forte queda da dependência energética desses

energéticos ao longo da década de 80 ANP (2004a).

O mesmo estudo aponta que o petróleo e derivados foram, em grande medida, substituídos

por eletricidade, principalmente para fins industriais. A abundância de recursos hídricos e a

conclusão de grandes empreendimentos em hidrelétricas propiciaram grande reestruturação.

As descobertas na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, fez com a produção nacional

passasse de uma média anual de crescimento de 5% a.a., na década de 70, para 19,5% no período

24 Futuramente conhecida como Comgás – Companhia de Gás de São Paulo, que detém até hoje a maior parcela da distribuição do GN neste Estado. Tal autorização deu-se por meio do Decreto imperial Nº 5.071 - implantação do gás natural somente no final da década de 1980 (CATARINA, 2002:69).

38

80-85. Após este primeiro incremento no período, a Bacia de Campos, a partir de 1994, apresentou

um novo salto significativo na produção de gás, com aumento superior a 50%, enquanto que a

produção no estado da Bahia se mantém constante (FERNANDES, 2000).

Durante a década de 90 foram efetuadas importantes mudanças no setor energético

brasileiro, com a finalidade metas de política energética objetivando a melhoria do bem estar social.

O modelo de abertura ao capital privado do setor de gás natural teve início a partir da Emenda

Constitucional Nº 09, de 1995, que trouxe a quebra do monopólio da Petrobras no setor de petróleo

e gás natural. (ANP, 2004a).

Com o advento da Lei 9.478/97, conhecida como Lei do Petróleo, houve um reforço na

intenção de ampliar a participação privada na indústria de gás natural, criando inclusive a própria

Agência de Regulação do setor, a ANP e o Conselho Nacional de Política Energética – CNPE. O

quadro 3.1 apresenta os principais eventos que ocorrem na indústria nacional de GN.

O advento do Programa Prioritário de Termeletricidade, no ano de 2000, representou um

passo fundamental na história da indústria nacional do GN, ratificando a condição de consumo-

âncora da termoeletricidade para a criação de um mercado de gás natural no Brasil. Este programa

habilitou 49 projetos térmicos prioritariamente, sendo 43 direcionados ao consumo de gás natural

como combustível, com prazo de 2003 para entrada em operação e a potência total prevista de

17.105 MW, sendo 15.319 MW baseados no GN. (ANP, 2001a). Desse total, apenas 10.200 MW se

viabilizaram, mas atualmente, segundo termo de compromisso entre a ANEEL e a Petrobrás, só tem

gás para 3.900 MW.

Quadro 3.1 - Marcos relevantes na evolução da Indústria de GN no Brasil

ANO FATO1953 Lei 2004 – Monopólio de Petróleo: Petrobras1960 Criação do Ministério de Minas e Energia1991 Carta de Intenções sobre Integração Energética entre Brasil e Bolívia

(Petrobras, YPFB e Ministério de Hidrocarbonetos e Mineração da

Bolívia)1993 Contrato de Compra e Venda de Gás entre a Petrobras e a YPFB1995 Emenda Constitucional Nº 09/95 – Fim do monopólio legal da

Petrobras

39

1996 Protocolo de Intenções entre Brasil e Argentina sobre Integração em

Questões Energéticas1997 Lei Nº 9.478 - Criação da ANP e do CNPE. Aprovação do

financiamento, por parte de organismos multilaterais de crédito, do

projeto do gasoduto Bolívia – Brasil1999 Assinatura de contratos de transporte e início de operação comercial no

Gasbol Memorandum de Entendimento relativo aos Intercâmbios

Gasíferos entre os Estados do Mercosul1999 Petrobras foi à pioneira na importação, adquirindo gás boliviano, sendo

este, escoado através do GASBOL2000 Programa Prioritário de Termeletricidade – definição dos projetos

termelétricos integrantes do PPT.2001 O racionamento de energia elétrica foi decretado em 01/07/2001, com

fim em maio de 2002. Fonte: elaborado pelo autor a partir de ANP (2002a), ANP (2004a), ANP (2006b).

A maior participação do GN na Matriz Energética do Brasil é um fato evidente e vem

ocorrendo, tanto pelo crescimento da produção nacional como pelo aumento das importações.

Segundo dados do MME (2006), no ano de 1999 a participação do GN na matriz correspondia a

4,1%, sendo que em 2005 passou a 9,4 % de toda oferta interna de energia no Brasil.

A tabela 3.4 apresenta as reservas provadas de GN no Brasil, discriminadas por Estados.

As maiores reservas provadas de gás natural no Brasil estão situadas nos Estados do Rio de Janeiro,

Amazonas, Espírito Santo e São Paulo, representando cerca 84,2% do total. Merece destaque o

Estado do Rio de Janeiro com 47, 448 % das reservas provadas.

Tabela 3.4: Reservas provadas de gás natural (milhões m3), segundo Unidades da Federação, em 31/12/2005.

Unidades da Federação Quantidade Participação relativa (%)Amazonas 51.465,40 16, 797Ceará 994, 71 0, 325Rio Grande do Norte 17.617,76 5, 750Alagoas 4.608,05 1, 504Sergipe 3.518,62 1, 148Bahia 21.766,57 7, 104Espírito Santo 32.328,55 10, 551Rio de Janeiro 14.5377,60 47, 448São Paulo 28.695,69 9, 366Paraná 14,61 0, 005

40

Santa Catarina 7,31 0, 002Total 306.394,87 100,000Fontes: ANP (2006a).

Com relação à produção de gás natural no Brasil, a maior participação encontra-se na

região Sudeste, respondendo por 50,04% do total (Tabela 3.5). É importante ressaltar, que a região

Centro-Oeste por não apresentar reservas de gás natural automaticamente também não produz.

A região Sul é a que apresenta menor produção, sendo que o Estado do Paraná produziu

0,38% da produção nacional no ano de 2005. Apesar da existência de reservas provadas de gás

natural no Estado de Santa Catarina, não há registro de produção.

Tabela 3.5: Produção de gás natural (milhões m3), segundo Unidades da Federação, em 31/12/2005.Regiões/Unidades da Federação Quantidade Participação relativa (%)Norte 3.587 20,24Amazonas 3.587 20,24Nordeste 5.198 29,34Ceará 111 0,63Rio Grande do Norte 1.317 7,43Alagoas 1.169 6,60Sergipe 618 3,49Bahia 1.984 11,20Sudeste

8.866 50,04Espírito Santo 519 2,93Rio de Janeiro 7.967 44,96São Paulo 380 2,14Sul 68 0,38Paraná 68 0,38Total 17.719 100Fontes: ANP (2006a).

A tabela 3.6 apresenta o tempo de duração das reservas de GN no Brasil em anos

considerando o mesmo ritmo de produção e a não descoberta de novas reservas.

De acordo com os dados da tabela 3.6 verifica-se que mantido o ritmo de produção

nacional do GN e não havendo nenhuma descoberta de reservas, ainda existe o potencial de

exploração das atuais reservas por 17,29 anos.

41

Apesar de o Rio de Janeiro apresentar as maiores reservas provadas de GN, cerca de 50%

das reservas nacionais, também apresenta elevado nível de produção. Se mantido este ritmo suas

reservas se esgotaram em aproximadamente 18,25 anos. Já os Estados de São Paulo e Espírito Santo

são os que apresentam individualmente o maior tempo para exaurir suas reservas se mantido o nível

de produção atual, 75,51 e 62,29 anos, respectivamente.

Tabela 3.6: Tempo de exaustão das Reservas provadas de gás natural em anos, segundo Unidades da Federação, em 31/12/2005.

Unidades da FederaçãoReservas em

103 m3

Produção em

103 m3Anos

Amazonas 51.465,40 3.587 14,35Ceará 994, 71 111 8,96Rio Grande do Norte 17.617,76 1.317 13,38Alagoas 4.608,05 1.169 3,94Sergipe 3.518,62 618 5,69Bahia 21.766,57 1.984 10,97Espírito Santo 32.328,55 519 62,29Rio de Janeiro 145.377,60 7.967 18,25São Paulo 28.695,69 380 75,51Paraná 14,61 68 0,21Santa Catarina 7,31 - -Total 306.394,87 17.719 17,29Fontes: ANP (2006a). *dados calculados pelo autor, resultante da divisão das reservas pela produção.

As reservas do Estado do Amazonas representam 16,79% das reservas nacionais, mantido

seu atual nível produção do GN estas se esgotaram em 14,35 anos.

As situações mais preocupantes são as dos Estados do Sergipe, Alagoas e Paraná, sendo

que a previsão de exaustão de suas reservas são respectivamente, 5,69; 3,94 e 0,21 anos de acordo

com os dados da tabela 3.6.

3.3 Notas sobre a recente relação Brasil - Bolívia

42

A construção do gasoduto Brasil-Bolívia (GASBOL)25 trouxe ao mercado nacional um

impulso decisivo para este setor em especial, como infra-estrutura básica para o processo de

importação, propiciando o surgimento de novos negócios e a multiplicação de projetos de usinas

termelétricas ao seu trajeto (FERNANDES, 2000).

A importação de gás natural no Brasil teve seu início em julho de 1999, regulamentada

pela portaria Agência Nacional de Petróleo – ANP nº 43, de 15 de abril de 1998, onde se estabelece

que a importação de gás natural somente seja efetuada mediante prévia e expressa autorização da

ANP. (ANP, 1998a). A Petrobras foi à pioneira na importação, adquirindo gás boliviano, sendo este

escoado através do GASBOL. Já em Mato Grosso, a importação se inicia em agosto de 2001, sendo

o GN escoado por um ramal do mesmo gasoduto.

Os dados da tabela 3.7, demonstram a existência de crescimento contínuo da oferta de gás

natural desde o ano de 1999, sendo que a participação relativa das importações na oferta total vem

aumentando significativamente, saltando dos 3% no ano de 1999 para a expressiva participação de

34% da oferta total do GN no Brasil em 2005.

Verifica-se que o volume importado no ano de 2005 é quatro vezes superior ao volume

importado no ano de 2000, ano em que se registrou a importação em todos os meses, sendo,

portanto, o primeiro ano passível de comparação.

Tabela 3.7. Balanço do gás natural no Brasil

Especificação Anos1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Importação

(106m3) 400,25 2.210,57 4.603,01 5.269,27 5.946,86 8.086,09 8.997,55 Importação

(%) 0,03 0,14 0,25 0,25 0,27 0,32 0,34Produção

(106m3) 11.855,18 13.282,88 13.998,80 15.525,15 15.792,06 16.971,16 17.699,20Produção

(%) 0,97 0,86 0,75 0,75 0,73 0,68 0,66Total (106m3) 12.255,43 15.493,45 18.601,81 20.794,43 21.738,92 25.057,25 26.696,75

25 A respeito do processo de construção deste gasoduto uma boa referência encontra-se em: MARTA (2002).

43

Fonte: ANP, 2006a. Com adaptações efetuadas pelo autor.

Segundo estudo do BNDES (2006), a alteração do marco regulatório boliviano para

exploração do GN pode ser sentida pela grandeza de sua participação na oferta interna do produto

ao Brasil.

Atualmente, o Brasil importa o GN apenas de dois países, a Bolívia26 e a Argentina. A

Tabela 3.8 apresenta os dados de importação do GN, segundo os países de procedência.

Tabela 3.8. Importação de gás natural, segundo países de procedência (milhões m3). 1996 - 2005

PaísesAnos

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

%/Total 0,00 0,05 0,16 0,09 0,06 0,06 0,04

Argentina 0,00 106,00 753,00 492,00 350,00 451,00 349,00

%/Total 1,00 0,95 0,84 0,91 0,94 0,94 0,96

Bolívia 400,25 2.105,00 3.850,00 4.777,00 5.597,00 7.635,00 8.648,00 Total (a+b) 400,25 2.210,57 4.603,01 5.269,27 5.946,86 8.086,09 8.997,55

Fonte: ANP, 2006a. Com adaptações efetuadas pelo autor.

No ano de 1999, o Brasil importou o GN em sua totalidade da Bolívia. Já no ano de 2000 a

Argentina aparece no cenário com uma representatividade 5% das importações atingindo, no ano de

2001, a marca de 16%, sua maior participação no período apresentado. Este fato deve-se à maior

demanda para a produção de energia elétrica através da Usina Termelétrica de Uruguaiana – RS

neste período, sendo este importado pela empresa Sulgás e escoado pelo Trecho I do gasoduto

Uruguaiana-Porto Alegre. A Bolívia é o maior exportador, representando em média para o período

93,43% das importações brasileiras de GN. A crise da Argentina quase zerou a importação.

26 “Da Bolívia saem quatro gasodutos de exportação, dois para a Argentina (Gasoduto Ramos Bermejo e Gasoduto Campo Duran - Madrejones) e dois para o Brasil (Gasoduto Bolívia-Brasil e Gasoduto Lateral Cuiabá). No atual momento, entretanto, o abastecimento de gás natural advindo da Bolívia está regado de incertezas, dadas as alterações recentes na reestruturação institucional do setor petrolífero boliviano, em particular, e, em maior escala, em função das indefinições de cunho político que ora estão sendo promovidas pelo governo eleito no último ano” (MATHIAS et al, 2006).

44

Segundo estudo da ANP (2004b), a Bolívia27 é um exportador liquido de gás natural e seu

principal mercado é o Brasil, seguido da Argentina. A demanda externa de gás boliviano aumentou

cerca de 237% no período 1999-2002 com o início das exportações para o Brasil via o GASBOL.

A crise de energia elétrica em 2001 forçou o governo a adotar um programa emergencial

de consumo de termelétricas a GN com o intuito de diversificar a fonte de geração elétrica, até

então fortemente dependente da energia hidrelétrica (BNDES, 2006). O advento do Programa

Prioritário de Termeletricidade no ano de 2000 representou um passo fundamental na história da

indústria nacional do GN, ratificando a condição de consumo-âncora da termoeletricidade para a

criação de um mercado de gás natural no Brasil. Este programa habilitou 49 projetos térmicos

prioritariamente, sendo 43 direcionados ao consumo de gás natural como combustível, com prazo

de 2003 para entrada em operação e a potência total prevista de 17.105 MW, sendo 15.319 MW

baseados no GN. (ANP, 2001a). Esta crise energética foi decisiva para a maior participação do GN

na Matriz Energética do Brasil, seja pelo crescimento da produção nacional e/ou do aumento das

importações GN.

Recentemente as alterações do marco regulatório da Bolívia28 para a exploração do GN,

por conta da Lei 3.058, de 17 de maio de 2005, Ley de Hidrocarburos, onde fora instituído o

Imposto Direto aos Hidrocarbonetos, que passou a taxar o GN na “boca do poço” com uma alíquota

de 32%, aumentando consideravelmente a participação do governamental, dos anteriores 18% do

valor bruto da produção para 50% desta, refletiu significativamente na relação comercial Brasil –

Bolívia. (BNDES, 2006).

A Bolívia, que através do GN mantém sua economia, virou o centro das atenções após

decreto da 3ª nacionalização de seus poços petroleiros. O governo de Evo Morales tinha o

compromisso eleitoral e estava em jogo o cumprimento do plebiscito do gás, realizado em julho de

2004, ainda no governo de Carlos Mesa, e ratificado pela lei 3058, de 17 de maio de 2005. O Estado

Boliviano recupera e exercerá através da YPFB o direito de propriedade dos hidrocarbonetos. Todas

27 Cumpre ressaltar que o mercado interno de gás natural na Bolívia é muito pequeno e pouco desenvolvido. (ANP, 2004b).28 As maiores reservas do país se encontram no sul do território boliviano. Os principais campos são: Margarita (operado pela Maxus, empresa subsidiária da Repsol - YPF), San Alberto e San Antônio (operados pela Petrobras Bolívia) e Itaú (operado pela Total Bolívia). Esses quatro campos representam 83,3% das reservas do país. (REAL, 2002)

45

as empresas que exerciam as atividades de exploração e comercialização do GN deveriam

converter, obrigatoriamente, as modalidades de contratos estabelecidas pela nova lei em um prazo

da 180 dias (SANTOS, 2006).

Importantes modificações foram introduzidas pelo Decreto 28.701 (de nacionalização das

reservas) 29, anunciado no dia 1º de maio de 2006. Este teve reflexo imediato nas relações

comerciais entre o Brasil e a Bolívia neste mercado. As principais definições foram: a) a

participação governamental passa a ser ainda maior, representando 82% do valor bruto da produção

(18% de royalties e participações, 32% de imposto direto sobre os hidrocarbonetos e 32% através de

uma participação adicional para a YPFB) para campos que produzem mais de 2,8 milhões de

m3/dia; b) As empresas produtoras de óleo e gás têm que entregar toda a produção à YPFB, que se

encarregará da sua distribuição e comercialização, inclusive, na definição dos seus volumes e

preços; c) Os novos contratos de exploração de gás e petróleo a serem firmados na Bolívia ficam

sujeitos à aprovação e autorização do Poder Legislativo do País. (BNDES, 2006).

A decisão de nacionalização das reservas envolve a definição dos direitos de propriedades.

Assim como na teoria, a indefinição destes direitos desestimulam os investimentos, o que traz

impactos importantes na performance econômica do país. Como os direitos de propriedade não são

perfeitamente definidos nem completamente seguros, os custos de transação são positivos, gerando

reflexos nos investimentos, que decrescem, dado o oportunismo.

Para Moreira et al (2007a), o retorno de políticos nacionalistas nos países sul-americanos30,

gerando perda de atuação dos órgãos reguladores e instabilidade político-institucional, em especial

na Bolívia, principal fornecedor para o Brasil, gera grande dúvida com relação à segurança do

abastecimento para os próximos anos.

Segundo estudo do BNDES (2006), a alteração do marco regulatório boliviano bem como

o descumprimento dos contratos elevaria consideravelmente as incertezas com relação ao

29 Sendo esta a 3ª nacionalização da Bolívia, a primeiro fora realizada em 1937 e a segunda em 1969.

30 A tarefa de harmonização das normas regulatórias é complexa em uma região com grande instabilidade de ordem política, econômica e ideológica. Hoje mais do que nunca a energia é um tema tratado com grande viés diplomático na América do Sul. (MOREIRA e REGRA, 2007).

46

fornecimento e preço do GN boliviano. Neste ambiente, os prováveis impactos nos investimentos

brasileiros seriam: a) redução ou até mesmo cancelamento de investimentos na ampliação do

GASBOL, sendo esta vinculada ao aumento da produção boliviana; b) desaceleração de

investimentos da Malha de Transporte no Brasil, pelo mesmo fator; c) revisão do plano de expansão

dos investimentos das distribuidoras estaduais no Brasil em redes de distribuição; d) aumento

significativo de custos para os grandes consumidores do GN, especialmente, os setores industriais;

e) aceleração dos investimentos na exploração e produção de GN de origem nacional, em especial,

na Bacia do São Francisco, Bacia do Espírito Santo e na Bacia de Santos.

A economia dos custos de transação mostra que a construção de marcos regulatórios bem

definidos, com regras claras de retornos dos investimentos, monitoramento de acesso às redes e

controle da concorrência nos serviços liberalizados, propicia um ambiente profícuo ao investimento

privado. As mudanças no ambiente institucional, com alterações do marco regulatório boliviano,

altera significativamente as regras do jogo e afeta diretamente os contratos.

.

O GN da Bolívia se destina a seis estados brasileiros: São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato

Grosso, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Paraná. Os dois primeiros apresentam uma

dependência de (70%) do GN boliviano, sendo os últimos totalmente dependentes. (BNDES, 2006).

Outro relevante impacto está relacionado à proximidade da expiração dos contratos de GN

nacional, que provavelmente convergirão para patamares semelhantes aos importados. Os custos

crescentes do GN importado devem influenciar o preço do GN nacional, o que refletiriam para as

outras distribuidoras estaduais que não utilizam o GN boliviano.

A interdependência entre o Brasil e a Bolívia no mercado do GN, que parecia estar

equilibrada até o início de 2005, volta-se favoravelmente à Bolívia31, que está disposta a maximizar

31 Os projetos de nacionalização da reservas e de fortalecimento da YPFB já faziam parte de todos os programas de governo dos oito partidos que concorriam a presidência da Bolívia. O aumento da tributação e nacionalização da reservas já eram assuntos consolidados, e certamente, a sociedade boliviana iria pressionar para que houvesse a recuperação total, pelo Estado, sobre os recursos energéticos. (SANTOS, 2006).

47

seus ganhos na relação comercial, ciente da grande dependência que o Brasil32 apresenta diante do

energético boliviano.

Para Moreira et al (2007) existe uma insegurança na capacidade de abastecimento do GN,

tendo em vista o contexto de esgotamento da capacidade de ampliação da oferta no curto-prazo e de

incertezas advindas das fontes externas de suprimento. Está evidenciada a preocupação com os

meios de se garantir um abastecimento contínuo e em volumes adequados para o atendimento à

demanda de gás natural no país, o que, obviamente, traz reflexo imediato nas negociações de

volumes e preços, ou seja, nas definições dos contratos.

Com relação ao preço do GN, seja de origem nacional ou importada, este é formado

basicamente por duas parcelas, o preço da commodity e o preço do transporte. O GN geralmente é

comercializado em US$/MMBTU. A Tabela 3.9 apresenta os preços do GN produzido no Brasil e

importado da Bolívia, no período entre o terceiro trimestre de 1999 ao último trimestre de 2005.

Como se observa na tabela 3.9 fora confirmada a expectativa de conversão dos preços do

GN nacional a patamares semelhantes ao GN importado da Bolívia após alterações do marco

regulatório boliviano na exploração do GN com consolidação das medidas listada na Ley de

Hidrocarburos em 2005 e do decreto de nacionalização das reservas em 2006.

A tabela 3.10 apresenta o valor do GN adquirido pela UTE Cuiabá I e o preço de mercado

do GN importado da Bolívia para o período entre o terceiro trimestre de 2001 ao último trimestre de

2006. Observa-se que para todo o período os preços de mercados variaram muito acima do preço

pago pela UTE Cuiabá I a Bolívia. Os preços de mercado atingiram no quarto trimestre de 2005

uma variação superior a 260,00% em relação ao preço pago pela UTE Cuiabá I a Bolívia.

32 Com relação aos riscos envolvidos nas atividades do GN, o Brasil apresenta três tipos de dependências: a) dependência de importação, quase a metade da oferta de GN é proveniente de importação; b) dependência de trânsito, esta associada a malha de gasodutos ainda incipiente, com pouca capacidade ociosa, com pouca flexibilidade para atendimento de demanda eventuais e c) dependência da instalação, inflexibilidade das atuais redes de gasodutos, onde qualquer interrupção ou rompimento em qualquer elo da cadeia gera grandes impactos a todo o sistema.(MOREIRA et al, 2007).

48

Tabela 3.9 – Preço do GN, nacional e importado – US$/MMBTU (Commodity + transporte) – 3º

Trim./1999 – 4º Trim./2006.

Trimestre/ AnoProduzido no

Brasil(a)

Importado da Bolívia

(b)

Variação((b/a)-1)

III. 1999 1,66 2,55 53,61%IV. 1999 1,61 2,85 77,02%

I. 2000 1,95 2,94 50,77%II. 2000 2,00 3,13 56,50%

III. 2000 2,16 3,23 49,54%IV. 2000 2,20 3,35 52,27%

I. 2001 2,17 3,48 60,37%II. 2001 1,97 3,34 69,54%

III. 2001 1,79 3,24 81,01%IV. 2001 1,93 3,19 65,28%

I. 2002 2,06 3,04 47,57%II. 2002 1,85 3,01 62,70%

III. 2002 1,61 3,17 96,89%IV. 2002 1,55 3,32 114,19%

I. 2003 2,23 3,38 51,57%II. 2003 2,65 3,38 27,55%

III. 2003 2,70 3,38 25,19%IV. 2003 2,73 3,38 23,81%

I. 2004 2,74 3,40 24,09%II. 2004 2,80 3,40 21,43%

III. 2004 2,67 3,40 27,34%IV. 2004 2,86 3,40 18,88%

I. 2005 2,98 3,56 19,46%II. 2005 3,21 3,56 10,90%

III. 2005 3,49 3,72 6,59%IV. 2005 4,00 4,29 7,25%

I. 2006 n.d n.d n.dII. 2006 n.d n.d n.d

III. 2006 n.d n.d n.dIV. 2006 n.d n.d n.d

Fonte: BNDES (2006).

49

Tabela 3.10 – Comparação do preço do GN importado pela UTE Cuiabá I e o de mercado

(importado da Bolívia). Preço do GN – US$/MMBTU (Commodity + transporte) – 3º Trim./2001 –

4º Trim./2006.

Trimestre /AnoPreço do contrato da

UTE Cuiabá I (a)

Preços de Mercado do GN importado

da Bolívia(b)

Variação((b/a)-1)

III. 2001 1,19 3,24 172,27%IV. 2001 1,19 3,19 168,07%

I. 2002 1,19 3,04 155,46%II. 2002 1,19 3,01 152,94%

III. 2002 1,19 3,17 166,39%IV. 2002 1,19 3,32 178,99%

I. 2003 1,19 3,38 184,03%II. 2003 1,19 3,38 184,03%

III. 2003 1,19 3,38 184,03%IV. 2003 1,19 3,38 184,03%

I. 2004 1,19 3,40 185,71%II. 2004 1,19 3,40 185,71%

III. 2004 1,19 3,40 185,71%IV. 2004 1,19 3,40 185,71%

I. 2005 1,19 3,56 199,16%II. 2005 1,19 3,56 199,16%

III. 2005 1,19 3,72 212,61%IV. 2005 1,19 4,29 260,50%

I. 2006 1,19 n.d n.dII. 2006 1,19 n.d n.d

III. 2006 1,19 n.d n.dIV. 2006 1,19 n.d n.d

Fonte: BNDES (2006), com alterações efetuadas pelo autor.

O preço do GN importado em outros países do mundo, entre eles Estados unidos,

Alemanha, Espanha, ultrapassaram a marca dos US$ 5/MMBTU, um valor superior a 17 % ao

observado na importação do GN importado da Bolívia e 320% superior ao pago pela UTE Cuiabá I

a Bolívia no mesmo período. (IEA, 2006).

50

3.4 Considerações finais do capítulo

A maior participação do GN na Matriz Energética do Brasil é um fato evidente e vem

ocorrendo, tanto pelo crescimento da produção nacional quanto pelo aumento das importações. A

Bolívia é o principal exportador de GN para o Brasil, o que eleva o grau dependência e afeta as

relações comerciais significativamente. Importantes mudanças institucionais ocorreram na Bolívia,

alterando o marco regulatório da indústria do GN. Estas alterações, bem como o descumprimento

dos contratos, elevaram consideravelmente as incertezas com relação ao fornecimento e preço do

GN boliviano ao Brasil. Em especial, a decisão de nacionalização das reservas envolveu a

definição dos direitos de propriedades. Para a ECT as indefinições destes direitos desestimulam os

investimentos, o que traz impactos importantes no desempenho econômico do país.

No próximo capítulo tem-se a apresentação das principais características, desde o processo

de formação, a regulação e os principais entraves ao desenvolvimento do mercado GN em Mato

Grosso.

51

4. O MERCADO DE GÁS NATURAL EM MATO GROSSO

Este capítulo apresenta as principais características do mercado de gás natural de Mato

Grosso e a regulação deste setor, desde seu processo de formação. A figura 4.1 apresenta uma

síntese da atual configuração do Sistema de Distribuição do GN em Mato Grosso: as fases da cadeia

produtiva do GN (produção, transporte e distribuição); A competência da regulação está dividida

entre estas fases da cadeia, com produção e transporte no âmbito da ANP (e, portanto, da União) e a

distribuição no âmbito da AGER (do Estado); os principais agentes do mercado são identificados

pelas fases da cadeia.

Figura 4.1 - Sistema de Distribuição do GN em Mato Grosso

Concessionária -MTGÁS (City

Gate)

5.Termoelétrico -( Usina Termelétrica Cuiabá I - Usuário Livre)

2.Industrial -( Sadia Oeste)

3. Residencial – sem

consumidores no momento

Consumidores (segmentos da cadeia)

1,2,3,4 e 5

Fornecedora de GN para a

Concessionária - Centro Oeste Gás

Ltda

Transporte Virtual – GNV – MT

País Exportador de GN - Bolívia

Gasoduto Later al

Cuiabá

1.GNV –(5 Postos)

2.Transporte

1.Produção

3.Distribuição

Transportadora – Gasocidente do Mato Grosso Ltda

4.Co-geração e outros – sem consumidores

no momento

AGER

ANP

52

Fonte: dados da pesquisa

4.1 Determinantes da oferta de Gás Natural em Mato Grosso

A regulação das atividades do setor de gás no Brasil é de responsabilidade federal

(produção e transporte) e estadual (distribuição). No âmbito federal, a regulação é feita pela

Agência Nacional de Petróleo – ANP, e suas atividades compreendem: a concessão de áreas de

exploração e produção do petróleo e gás natural, autorização para importação, transporte, refino etc.

Em âmbito estadual a Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Estado

de Mato Grosso – AGER, criada pela Lei Estadual nº 7101, de janeiro de 1999, alterada pela Lei

complementar de nº 66, de 22 de dezembro de 1999, é órgão responsável pela regulação das

atividades de distribuição. Suas atividades compreendem, observada a competência própria dos

outros entes federados: controlar e fiscalizar, bem como, se for o caso, normatizar, padronizar,

conceder e fixar tarifas dos serviços delegados, em decorrência de norma legal ou regulamentar,

disposição convenial ou contratual, ou por ato administrativo do Estado de Mato Grosso. ( MATO

GROSSO, 1999a; MATO GROSSO, 1999b).

Em 28 de Julho de 2003, a Lei Estadual nº 7.939, autorizou o Poder Executivo a constituir

a Companhia Mato-grossense de Gás – MTGÁS e estabeleceu diretrizes para distribuição de gás

canalizado no Estado de Mato Grosso. Cabe ressaltar que esta lei foi regulamentada pelos decretos

1.760 de 31/10/03 e 4.439 de 24/11/2004, respectivamente (MATO GROSSO, 2003a; MATO

GROSSO, 2003b; MATO GROSSO 2004a).

A constituição da concessionária responsável pelo sistema de distribuição de gás natural

em Mato Grosso foi um importante passo para a tentativa de sua expansão no Estado. A próxima

seção apresenta os principais aspectos da oferta de GN e fases de configuração deste mercado.

O Estado de Mato Grosso não possui reservas provadas de Gás Natural, portanto não têm

como produzir este produto. Dessa forma, este energético é importado em sua totalidade da Bolívia.

No caso das atividades importação de gás natural, esta também é de competência federal, sendo

53

regulamentada pela ANP33. A indústria de gás natural no Brasil está dividida em um trinômio:

produção, transporte e distribuição. As atividades de produção e transporte são de competência

federal, sendo que a responsável pela regulação é a Agência Nacional de Petróleo – ANP. Já as

atividades de distribuição são de competência estadual, sendo a regulação exercida pelas Agências

Estaduais, no caso de Mato Grosso pela Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos

Delegados de Mato Grosso – AGER.

Para realizar a importação de GN em Mato Grosso seria necessária a construção de um

gasoduto, e este fora construído em um processo conjunto com o gasoduto Brasil-Bolívia –

GASBOL. A próxima secção detalha o processo de construção do gasoduto que atende o Estado.

4.1.1 O processo de construção do GASBOL e do Lateral Cuiabá

Segundo MARTA (2002:66), o GASBOL deu-se paradoxalmente através de um projeto

não realizado. Tal projeto iniciou-se em 1981 com a subscrição de um acordo entre a Shell e o

Governo Peruano. Para o mesmo autor, isto significava dizer que apesar de ser estudado e discutido

há vários anos, só veio a se realizar como alternativa ao projeto Camisea no Peru, no qual a Shell

era sócia da Móbil em 1993. Conclui que o objetivo hipotético da construção do GASBOL era

alcançar o Peru e de lá alcançar o mercado brasileiro – a economia mais forte da América do Sul e,

portanto, dependia de uma transposição do território e dos interesses da Bolívia.

“o transporte do gás boliviano é da Transredes, cujo controle acionário desde a capitalização – como se chamou na Bolívia a desnacionalização e desverticalização da YPFB. Essa transportadora tem como sócios a própria Shell, com 25%, a Enron com 25%, Fundos de Pensão Bolivianos com 34% e outros 16% pulverizados. Portanto, para viabilizar o negócio de viabilização do gás de Camisea era necessário estabelecer uma “empresa âncora ” – conhecedora de negócios de gás, termelétricas, como foi o caso da Enron.” (Ibid, 2002:66)

33 A Portaria Agência Nacional de Petróleo – ANP nº 43, de 15 de abril de 1998, estabelece que a importação de gás natural somente será efetuada mediante prévia e expressa autorização da ANP (ANP, 1998a ).

54

Atualmente a participação acionária do GASBOL34 é assim composta: Gaspetro (51%),

BBPP Holdings (29%), Transredes (12%),Enron (4%),Shell (4%). Sendo que o diâmetro do duto no

trecho Norte (de Corumbá-MS a Guararema – SP) varia de 24 a 32 polegadas, com extensão de

1.418 km. Já no Trecho Sul (Guararema – SP a Canoas – RS) o diâmetro varia de 16 a 24 polegadas

e com uma extensão de 1.165 km. A capacidade de transporte projetada deste gasoduto é de 30

milhões de m3/dia. Sua operação é realizada pela Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil

S.A – TBG, constituída em 1997, com a finalidade principal de atuar no transporte de gás natural

proveniente da Bolívia. (ANP, 2006b).

O gasoduto no qual é efetuado o transporte do gás natural para Mato Grosso é conhecido

“Lateral Cuiabá”, sendo este um ramal do GASBOL. O Despacho nº 219/98 da ANP, publicado no

D.O.U em 04.06.1998, contém informações precisas sobre o pedido da Empresa GASOCIDENTE

DO MATO GROSSO LTDA. - GASOCIDENTE à ANP, em 07 de maio de 1998, para a construção

do gasoduto Lateral Cuiabá. Neste documento, existe uma breve descrição do projeto, citada a

seguir:

“O gás deslocar-se-á da Argentina através de um gasoduto de propriedade da Transredes, passando pelo gasoduto Bolívia-Brasil (GASBOL) e, em seguida, através do ramal ora em questão (Lateral Cuiabá), a ser operado pela GASOCIDENTE DO MATO GROSSO LTDA.- GASOCIDENTE em sua parte brasileira atingirá a Cidade de Cuiabá. O Lateral Cuiabá se estenderá por aproximadamente 627 km, a partir de sua intersecção com o GASBOL, localizada na cidade boliviana de Rio Grande, sendo 360 km em território boliviano e 267 km, após cruzar a fronteira entre os dois países, em território brasileiro (Estado de Mato Grosso). Em todo este trecho o diâmetro do gasoduto será de 18 polegadas e este será enterrado de tal modo que fique a uma profundidade mínima de 1 m (a partir de sua geratriz superior), sendo sinalizado de forma a indicar claramente sua passagem em cada região. A capacidade de transporte máxima do gasoduto é de 2,8MMm3/dia, consistente com os 2,3MMm3/dia previstos para o atendimento da usina elétrica de Cuiabá. Deste modo, é previsto um excedente de 0,5MMm3/dia de gás natural a ser fornecido ao Estado de MT. O início das operações envolvendo o transporte de gás está previsto para julho/agosto de 1999” (ANP,1998b).

34 Quanto ao início das atividades deste empreendimento, este passou a operar, em agosto de1999, no Trecho Norte - de Corumbá (MS) a Guararema (SP). A entrega do gás natural foi feita, neste período, nos pontos de entrega de Paulínia e Guararema, ambos em São Paulo. No entanto, com a inauguração do Trecho Sul, em março de 2000, o gasoduto entrou em operação plena, desde o Centro-Oeste até o Sul do Brasil, iniciando o transporte de gás natural para os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. (ANP, 2006b)

55

No referido documento é possível detectar que a propriedade do gasoduto é da empresa

ENRON Corp35., sendo que esta possui, indiretamente, 100% do capital Social da Gasocidente.

De acordo com o projeto apresentado pela Gasocidente36 o valor do investimento para a

construção do gasoduto seria financiado por uma combinação de dívidas privilegiadas ("Senior

Debts") de participantes do mercado financeiro internacional e capital alocado pelo próprio

acionista, perfazendo um investimento total de US$ 92 milhões (Ibid: 1998b).

A construção do gasoduto iniciou com uma autorização excepcional e provisória concedida

com validade de 30 dias, ficando condicionada à outorga de autorização definitiva após

comprovação de que o seu objeto social contemplasse, exclusivamente, a atividade de construção e

operação de instalações de transporte37.

Autorização definitiva para a construção deste gasoduto foi concedida a empresa

Gasocidente de Mato Grosso através da Aut. ANP Nº 24, 17/03/99 (D.O.U - 18/03/99), sendo que

esta revogou a anterior (ANP,1999b). Efetivamente a construção do gasoduto foi iniciada no

segundo semestre de 1999 e concluída em junho de 2001.

O gás natural chega a Mato Grosso pelo Gasoduto Lateral Cuiabá, com 267 km de

extensão (referente ao trecho em território brasileiro), ligando o trecho boliviano do Gasoduto

Bolívia-Brasil (GASBOL) a Cuiabá, passando por San Matias (Bolívia), e, no Brasil, pelas cidades

de Cáceres, Poconé, Nossa Senhora do Livramento e Várzea Grande (Figura 4.2).

35 Pelo mesmo despacho é possível verificar a participação desta empresa em diversos segmentos e em várias empresas de distribuição nos Estados da Bahia, Rio de Janeiro, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Paraná e Santa Catarina. Ainda, é destaque no documento a experiência desta empresa no setor de Gás: “Enron tem operado e administrado, por meio de suas afiliadas ou subsidiárias instalações de transporte de gás desde 1930 e, atualmente, é a maior comerciante de gás natural e eletricidade da América do Norte. O sistema de gasodutos da Enron compreende aproximadamente 62.359 km lineares, com diâmetros entre 16 e 36 polegadas” (ANP, 1998b: 02).36 O projeto encaminhado a ANP, continha o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) associado à implantação e operação do gasoduto em questão, o qual foi realizado pela Jaakko Poyry Engenharia Ltda-JPE. 37 A autorização da ANP mencionada é nº 21, DE 1º. 3.1999 - DOU 2.3.1999.(ANP, 1999a). A exigência estabelecida para outorga de autorização definitiva pode ser consultada no art. 6º da PORTARIA ANP Nº 170, DE 26.11.1998 - DOU 27.11.1998.(ANP, 1998c).

56

Figura 4.2 - Gasoduto Lateral Cuiabá

Fonte: GASNET

4.1.2 Primeira importação de Mato Grosso

O gasoduto Lateral Cuiabá iniciou sua operação em agosto de 2001 e atualmente pertence

ao consórcio formado pela Enron (50%), Shell (37,5%) e Transredes (12,5%), sendo operado pela

Gasocidente38 do Mato Grosso (ANP, 2006b).

A primeira autorização39 de importação de gás natural para Mato Grosso foi concedida pela

ANP à Empresa Produtora de Energia (EPE), sendo previsto o início das operações no 1º trimestre

de 2000, com um volume máximo de 2,21 milhões de m3/dia e com opção de compra da Argentina,

destinados à Usina Termoelétrica de Cuiabá (ANP, 1999c). No entanto, a autorização ANP Nº 184,

DE 19.7.2006 – DOU 20.7.2006 revogou a autorização anterior, concedendo nova autorização com

38 A Aut. Nº 118, DE 17 DE JULHO DE 2001- ANP foi a que estabeleceu em seu Art. 1º que a empresa Gasocidente do Mato Grosso Ltda. - GASMAT, ficaria autorizada, nos termos do art. 56, da Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997, e considerando o atendimento a todas as exigências da Portaria ANP nº 170, de 26 de novembro de 1998, a operar o trecho brasileiro do duto de transporte de gás natural denominado Gasoduto Lateral Cuiabá, com início na fronteira Bolívia Brasil, no município de Cáceres (MT), até a Usina Termelétrica de Cuiabá, no município de Cuiabá (MT), com 267 km de extensão, 18 polegadas de diâmetro e capacidade de movimentação de 2,8 milhões de m³/dia de gás natural. (ANP, 2001b).39 Aut. Nº 124, 09/11/1999 (10/11/1999) e Despacho Nº 305/2004 (02/07/04) (ANP, 2004c).

57

volume idêntico ao autorizado anteriormente, uma nova data de início de importação, agosto de

2001, e o país de origem não mais a Argentina, mas agora a Bolívia (ANP, 2006c).

É importante frisar que estas duas autorizações são exclusivas para o processo de

importação, sendo que as atividades de distribuição são de competência estadual. É necessário

observar que a mudança de Argentina para a Bolívia como país de origem do gás natural

(fornecedor) deve-se a uma expectativa contratual não concretizada da empresa com o primeiro

país, sendo, portanto, necessária uma nova autorização para realização da importação.

O mês de efetivo início da importação de GN para Mato Grosso foi em agosto de 2001.

Têm-se a impressão que a segunda que a autorização ANP nº 184, de 19.07.2006 só autorizou

posteriormente o que ocorreu de fato a 5 anos atrás, pois na primeira autorização a data prevista de

inicio da importação seria pelo menos 16 meses anteriores.

4.1.3 A construção (configuração) do Sistema Distribuição de Gás Natural em Mato Grosso

O Estado de Mato Grosso aderiu ao Programa de Apoio à Reestruturação e Ajuste Fiscal

dos Estados proposto pelo Conselho Monetário Nacional através da Lei nº 6.695 de 19 de dezembro

de 199540, onde algumas das metas estabelecidas seria a implementação de programas41·: de

privatização de empresas estatais; concessão de serviços públicos; controle centralizado de

desempenho de empresas estatais, e reforma patrimonial.

Neste contexto e após a criação da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos

Delegados de Mato Grosso criada pela Lei nº 7101, de janeiro de 1999, alterada pela Lei

complementar nº 66, de 22 de dezembro de 1999, que é órgão responsável pela regulação das

atividades de distribuição de gás canalizado, o Estado Mato Grosso decide autorizar e regulamentar

a concessão da prestação de serviços de distribuição de gás canalizado em área especifica (32

municípios fariam parte dessa área de concessão) através da Lei Estadual nº 7.331 de 27 de

40 Regulamentada pelo decreto nº 752 de 22 de janeiro de 1996.41 O parágrafo único do art. 3ª da mesma lei, estabeleceu que os programas de privatização e de outorga de concessões poderão ser implementados, conforme o caso em convênio com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES ou com o Ministério a que, na esfera da União, sejam os serviços vinculados.

58

setembro de 2000. O prazo deste contrato de concessão teria uma vigência de 20 anos, sendo

prorrogável uma única vez por mais 10 anos se de interesse da futura concessionária.

Dessa forma, o Conselho Diretor de Reforma do Estado de Mato Grosso resolveu através

da Resolução 001 de 10 de janeiro de 2000, autorizar o Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social – BNDES, a contratar estudos para a avaliação econômico financeira, bem

como para consultoria jurídica dos serviços públicos de distribuição de gás canalizado no Estado.

Diante desta autorização o BNDES por meio da AGER, lança o edital de licitação na

modalidade de Concorrência, de âmbito internacional, do tipo maior oferta pelo valor da outorga,

com a finalidade de selecionar a proposta mais vantajosa para a delegação de concessão nos 32

municípios referidos no anexo da lei 7.331, de 27 de setembro de 2000.

Esta licitação foi considerada deserta, ou seja, não houve encaminhamento de nenhuma

proposta para obtenção dessa concessão. O que ficou evidenciado naquele momento era que

iniciativa privada não tinha interesse no desenvolvimento da distribuição de gás natural em Mato

Grosso, por motivos, como, o de estruturação das indústrias de redes que exige um capital muito

vultoso e os retornos são de longo prazo. Inexistia naquele momento, na ótica do capital, atrativos

concretos e as expectativas também não eram as mais otimistas para a construção de um novo

mercado.

A impressão que se têm a respeito da visão dos empresários não investir neste mercado

naquele momento é a seguinte: a capacidade de oferta de gás natural fica muito restrita, pelo fato do

gasoduto lateral Cuiabá possuir a capacidade de transporte máxima de 2,8 mil m3/dia e a Empresa

Produtora de Energia – EPE está autorizada a importar o volume de 2,21 milhões de m3/dia

destinados a atender a Usina Termoelétrica de Cuiabá, restando somente apenas o volume de 590

mil m3/dia para outros segmentos, o que é relativamente pequeno em relação ao investimento

exigido e a demanda de gás natural inexistente naquele momento no Estado.

Como uma alternativa de se obter o desenvolvimento deste mercado o Estado de Mato

Grosso cria uma segunda alternativa e estabelece as diretrizes para distribuição de gás canalizado no

Estado de Mato Grosso, no caso desses serviços serem prestados diretamente pelo Estado, de

59

acordo com a Lei nº 7.655 de 16 de abril de 2002. A referida lei também autoriza a Empresa

Produtora de Energia – EPE a utilizar gás canalizado para fins de produção de energia elétrica na

Usina Termelétrica de Cuiabá e estende a utilização para quaisquer outros interessados na utilização

deste energético para qualquer finalidade, desde que atenda os requisitos listados na lei42.

É importante refletir sobre o papel fundamental do dispositivo legal acima, pois a primeira

importação de gás natural registrada no Estado deu-se em agosto de 2001 para atendimento a

produção de energia elétrica da Usina Termelétrica Cuiabá, no mínimo 8 meses antes do autorizado

formalmente pelo Estado para utilização para fins de produção de energia elétrica, a impressão é

fora apenas um documento para legitimar o que já havia se concretizado.

4.1.4 A Companhia Mato-grossense de Gás – MTGÁS – Uma Segunda Alternativa

No desenvolvimento desta segunda alternativa do Estado de Mato Grosso, somente em 28

de Julho de 2003, a Lei Estadual nº 7.939 autorizou o Poder Executivo a constituir a Companhia

Mato-grossense de Gás – MTGÁS43 e estabeleceu diretrizes para distribuição de gás canalizado.

Cabe ressaltar que esta lei foi regulamentada pelos decretos 1.760, de 31/10/03, e 4.439, de

24/11/2004. Em 19 de fevereiro de 2004 foi assinado o contrato de concessão 001/2004 entre o

Estado (poder concedente) e a MTGÁS (concessionária), sendo estabelecido as principais metas da

concessão e os demais direitos e obrigações da partes.

A partir da constituição da concessionária responsável pelo sistema de distribuição Gás

Natural em Mato Grosso, a demanda de gás natural, que era restrita à utilização da UTE Cuiabá I,

passaria por um realinhamento, sendo previsto a distribuição para diversos segmentos, que variam

de acordo com os usos do gás, tais como: Setor Industrial, Setor Residencial, GNV (Gás Natural

Veicular), interruptível, co-geração e matéria prima.

42 Pela utilização do gás, tanto a EPE quanto qualquer outra empresa pagará ao Estado de Mato Grosso a tarifa no valor de R$ 0,0125/m3 (cento e vinte e cinco décimos milésimos de real por metro cúbico) de gás utilizado.( Lei nº 7.655 de 16 de abril de 2002 e decreto nº 5.355, de 25 de outubro de 2002)43 O parágrafo 4º do art. 1º da referida lei estabelece que a Companhia Matogrossense de Gás – MT-GÁS, será uma sociedade de economia mista, de direito privado, constituída sob a forma de Sociedade Anônima com patrimônio próprio, autonomia administrativa e financeira, sujeita aos preceitos da Lei Federal 6.404, de 15.12.76.

60

A princípio a MTGÁS estava autorizada pela ANP por meio da Aut. Nº 229, de

03/08/2004, a importar o gás natural da Bolívia, com um volume diário de 500 mil m3/dia, em

regime firme, destinados a atender os segmentos supracitados de distribuição do gás natural em

todo o Estado de Mato Grosso.

Como o único gasoduto de Mato Grosso é gasoduto Lateral Cuiabá, operado pela

Gasocidente do Mato Grosso, a MTGÁS necessitaria negociar um valor pelo acesso para efetuar a

importação de gás natural. Como o livre acesso aos gasodutos é uma premissa do sistema de

transporte concebido pela Lei do Petróleo, e, por outro lado, como a Concessão do Sistema de

Distribuição de Gás Natural é da MTGÁS, esta não teria muitas dificuldades para a negociação do

acesso.

O livre acesso aos dutos é disciplinada no art. 58 da lei do Petróleo, sendo facultado a

qualquer interessado o uso dos dutos de transporte e dos terminais marítimos existentes ou a serem

construídos, mediante remuneração adequada ao titular das instalações. Caso não exista acordo

entre as partes, a ANP fixará o valor e a forma de pagamento pelo acesso, sendo ainda prioritária a

movimentação dos produtos do titular das instalações.

Se, por um lado, a propriedade do gasoduto Lateral Cuiabá é do consórcio formado pela

Enron (50%), Shell (37,5%) e Transredes (12,5%), a concessão da distribuição é da MTGÁS, ou

seja, a MTGÁS paga um valor de acesso ao gasoduto e recebe dos usuários livres44 uma tarifa pelo

uso da rede de distribuição, no valor de R$ 0, 4288/milhão de BTU (British Thermal Unit) de gás

utilizado, que reajustada anualmente pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE

ou outro índice que venha substituir, indicado pelo Poder Executivo, nos termos do parágrafo 2º do

art.4 da lei 7.939, de 28 de Julho de 2003. Atualmente o único usuário livre é a Empresa Produtora

de Energia LTDA – EPE.

O parágrafo único do art. 18 do Decreto estadual 1.760, de 31 de outubro de 2003,

estabelece que no contrato a ser celebrado entre a MTGÁS e os usuários livres terá um valor

mínimo mensal, equivalente à utilização de um milhão de m3/dia, para os encargos pelo uso da área

de concessão, para fins de proteção de interesse público.

44 A Empresa Produtora de Energia LTDA – EPE que é responsável pela Termelétrica Cuiabá paga somente 80% de R$ 0, 4288/milhão de BTU de acordo o parágrafo 3º do art. 2 da Lei 7.939/2003.

61

4.1.5 O City Gate da MTGÁS

City Gate é uma estação de medição que pode dispor de regulagem de pressão, na qual

uma rede de distribuição recebe gás de uma companhia transportadora ou de um sistema de

transporte. Refere-se ao ponto de entrega ou transferência, no qual o gás passa de uma linha

principal de transporte para um sistema de distribuição local, com ou sem troca de propriedade.

Considerando que até 30/09/2005, data da inauguração do City Gate da MTGÁS, a

importação de GN para Estado de Mato Grosso somente era efetuada pela EPE com a finalidade de

produção de energia elétrica, e esta se enquadra na figura de usuário livre, tendo que repassar 80%

do valor de R$ 0, 4288/milhão de BTU de GN. Considerando, ainda, que o início efetivo de

importação do GN no Estado ocorreu em agosto de 2001 e a MTGÁS fora constituída em 28 de

Julho de 2003 é possível calcular o montante de recursos devidos a MTGÁS pela Termelétrica. A

ANP registra através de boletins mensais o volume de importação de cada duto. Com base nestas

informações é possível verificar que o valor devido de repasse a MTGÁS chega aos R$

9.698.611,75 (nove milhões seiscentos e noventa e oito mil seiscentos e onze reais e setenta e cinco

centavos) - (Tabela 4.1). Exatamente estes recursos que propiciaram a MTGÁS a construção de seu

City Gate ao lado da Usina Termelétrica de Cuiabá no Distrito Industrial.

Com a MTGÁS já constituída formalmente e seu City Gate construído, seria necessário

operacionalizar o início da distribuição de gás para outros segmentos que não o de termeletricidade.

Para isto, no entanto, era necessário o assinar de contrato com fornecimento do gás.

Tabela 4.1 – Valor devido para repasse do Usuário Livre a MTGÁS, Cuiabá-MT, ago/03- nov/05.Mês MMBTU Valor total R$* Valor de repasse R$**

62

ago/03 1.136.850,00 487.481,28 389.985,02set/03 1.135.950,00 487.095,36 389.676,29out/03 1.898.694,52 814.160,21 651.328,17nov/03 2.203.729,95 944.959,40 755.967,52dez/03 2.103.916,45 902.159,37 721.727,50jan/04 1.597.575,53 685.040,39 548.032,31fev/04 1.173.256,25 503.092,28 402.473,82mar/04 225.027,97 96.492,00 77.193,60abr/04 767.512,12 329.109,20 263.287,36maio/04 73.964,94 31.716,17 25.372,93jun/04 117.381,57 50.333,22 40.266,58jul/04 335.136,14 143.706,38 114.965,10ago/04 938.045,51 402.233,91 321.787,13set/04 2.002.760,16 858.783,56 687.026,85out/04 1.719.768,74 737.436,84 589.949,47nov/04 1.523.834,39 653.420,19 522.736,15dez/04 1.140.246,18 488.937,56 391.150,05jan/05 160.798,21 68.950,27 55.160,22fev/05 0 0 0mar/05 722.752,70 309.916,36 247.933,09abr/05 1.205.483,03 516.911,12 413.528,90mai/05 1.205.483,03 516.911,12 413.528,90jun/05 1.078.254,38 462.355,48 369.884,38jul/05 1.117.195,08 479.053,25 383.242,60ago/05 1.039.425,59 445.705,69 356.564,55Set/05 603.804,55 258.911,39 207.129,11out/05 435.732,94 186.842,28 149.473,83nov/05 609.958,97 261.550,41 209.240,33Total 25.999.738,90 11.148.688,04 9.698.611,75Fonte: ANP (2006b). * dados resultantes da multiplicação do volume por R$ 0,4288 com base na

legislação.** 80% do valor total.

4.1.6 Centro Oeste Gás LTDA

O fornecimento de GN para MTGÁS é efetuado pela empresa Centro Oeste Gás LTDA. A

Centro Oeste Gás LTDA está autorizada por meio da Aut. ANP nº 39645, de 25.10.2005, a importar

o volume de 250 mil m3/dia da Bolívia, a partir do 2º semestre de 2005, destinado a atender diversos

segmentos de consumo.

O contrato entre a MTGÁS e Centro Oeste Gás LTDA divide o fornecimento do GN em

duas fases: A primeira é a fase de comissionamento, que compreendeu o período entre 30/09/2005

45 “O prazo de validade desta autorização é de 24 (vinte e quatro) meses, contados de sua publicação, podendo ser prorrogado, mediante a apresentação, pela empresa autorizatária, de justificativa que comprove sua necessidade.” (ANP, 2005a).

63

até 31/12/2005, com um volume contratual de 15.000 m3/dia. A segunda foi denominada fase

operacional, no intervalo de 01/01/2006 à 01/01/2008,46 sendo previsto um fornecimento de 250.000

m3/dia. (AGER, 2005a).

O valor pactuado entre as partes é de U$ 4,00 MMBTU (incluso o custo total de

transporte), fora os tributos incidentes sobre a importação, transporte e comercialização do gás. É

previsto ainda, o reajuste deste valor pela taxa de câmbio a cada 12 meses. Dentre as possibilidades

previstas no contrato, existe a de interrupção prolongada no fornecimento, devido a restrições

operacionais e limitações de capacidade de transporte de gás do gasoduto de propriedade da Gás

Transboliviano S.A na Bolívia. No caso de interrupção, a MTGÁS pagará apenas o maior valor

dentre o volume de gás efetivamente consumido e o programado. Já a Centro Oeste Gás LTDA não

estará sujeita ao pagamento de penalidade pela indisponibilidade do gás (IBID, 2005a).

A despeito de estar autorizada já em outubro de 2005 e possuir um contrato de

fornecimento, somente em agosto de 2006 a Centro Oeste Gás e Serviços Ltda (CGS) iniciou a

importação de gás boliviano, destinado ao Estado de Mato Grosso, em complemento ao volume

importado pela EPE (ANP, 2006b).

Tudo indica que no inicio da operação e da distribuição do GN pela MTGÁS, em particular

do GNV em novembro de 2005, ocorreu com o GN destinado ao atendimento da Usina

Termelétrica de Cuiabá, tendo em vista, que sua fornecedora só efetivou a importação no mês de

agosto de 2006.

4.1.7 O Transporte Virtual no Sistema Distribuição de Gás Natural em Mato Grosso

Para entregar o gás natural que chega ao city gate de propriedade da MTGÁS seria

necessário a construção de ramais para transporte aos consumidores de outros segmentos que não se

enquadram no termelétrico. No entanto, devido à ausência de recursos e estímulo em razão fraco

desenvolvimento do mercado e melhores perspectivas no curto prazo, a construção destas redes

tornou-se inviável economicamente.

46 Existe a possibilidade de prorrogação deste contrato por 2 anos.

64

Como saída e para indução do consumo para outros segmentos, ou seja, para geração de

um processo de massificação e divulgação do GN era necessária uma alternativa de distribuição,

além do que já era consumido pela Termelétrica. Tal saída foi encontrada pelo transporte virtual. A

MTGÁS firmou um contrato de prestação de serviços de compressão47, transporte, descompressão e

entrega de gás natural comprimido com a GNV/MT - Transportes de Gás Natural Ltda, para efetuar

o transporte até os locais de consumo, sendo previsto para os primeiros 4 meses de operação o

transporte de 300.000 m3/Mês a partir da assinatura do contrato, em 21/07/2005. Sendo ainda

previsto, a partir do 5º mês de operação, o transporte de 600.00 m3/Mês. (AGER, 2005b).

A autorização ANP nº 395, de 25.10.2005, autorizou a empresa GNV/MT realizar a

atividade de distribuição de gás natural comprimido (GNC)48 a granel em todo o território nacional

a partir de 26.10.2005, data da publicação no DOU (ANP, 2005b).

O valor definido no contrato foi estabelecido em R$ 0,45 por m3, dentro de um raio de 60

km, para os seis primeiros meses de operação. Sendo incluso no preço todos os custos da GNV-MT,

tais como tributos, contribuições fiscais, salários e outros que decorram, direta ou indiretamente, da

contratação por conta exclusiva da GNV-MT. (AGER, 2005b).

4.2 Determinantes da demanda de Gás Natural em Mato Grosso

4.2.1 Segmento Termelétrico

Termelétrica é o nome dado a uma central que utiliza um ciclo termodinâmico para

geração de energia elétrica. Outras usinas de geração de energia elétrica são: hidrelétrica (turbina

hidráulica), eólica, solar, maremotriz etc. Para se produzir energia elétrica por meio da

termoeletricidade pode-se usar diferentes combustíveis: biomassa e lenha, turfa, carvão, óleo,

petróleo, gás e energia nuclear para produzir o calor do ciclo termodinâmico (POULALLION, s.d).

47 Vigência deste contrato é de 7 (sete) anos , prorrogáveis por mais 7 (sete) anos sucessivos.

48 A portaria ANP nº 243 de 18.10.2000 é que regulamenta as atividades de distribuição e comercialização de gás natural comprimido (GNC) a granel e a construção, ampliação e operação de Unidades de Compressão e Distribuição de GNC. (ANP, 2000a).

65

Em julho de 1994 os governos Boliviano e Brasileiro firmaram Memorando de

Entendimento com diretrizes para que instituições dos dois países desenvolverem estudos com a

finalidade de abastecimento de energia elétrica, a partir de uma planta instalada em território

boliviano, para atendimento aos departamentos de Beni e Santa Cruz, na Bolívia, e Mato Grosso, no

Brasil (CEMAT/ENRON, 1996).

O presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por meio de uma mensagem ao

então Governador de Mato Grosso, Dante Martins de Oliveira (fax – 06. fev.1995), mencionou o

projeto de abastecimento de energia elétrica, a partir de uma planta instalada em território boliviano

para atendimento aos departamentos de Beni e Santa Cruz, que se enquadraria nos objetivos mais

amplos de incentivo a formas de integração que o Brasil vinha perseguindo com seus vizinhos.

Neste sentido, era desejável que se procurasse dar seguimento ao projeto, com base numa ação

conjunta entre o Governo de Mato Grosso, o Ministério de Minas e Energia, a Eletrobrás e o

Itamaraty (Ibid, 1996).

O ofício GG 115/95, de 28 de março de 1995, do governador de Mato Grosso destinado ao

Presidente da República, ressalta que dando prosseguimento aos entendimentos entre os Governos

do Estado e da União acerca do interesse de Mato Grosso na utilização de energia elétrica a ser

gerada na Bolívia, a Centrais Elétricas Mato-grossenses S.A – CEMAT firmou protocolo de

Entendimentos com a Enron Eletric Power Brasil C.V, para estabelecimentos de princípios básicos

e estudo de viabilidade para implantação e operação de uma Usina Termoelétrica a Gás na Bolívia,

e sistema de transmissão necessário para suprimento de eletricidade a Mato Grosso. O governador

solicita apoio do presidente, no sentido de determinar ao Ministério de Minas e Energia a realização

de estudos complementares, por intermédio de ação conjunta ELETROBRÁS/CEMAT a fim de

compatibilizar o planejamento elétrico regional com a alternativa proposta (CEMAT/ENRON,

1996).

A portaria interministerial nº 13 de 15 de agosto de 1995, institui grupo de trabalho

composto por representantes do Ministério das Relações Exteriores, do Ministério de Minas e

Energia, do Governo de Mato Grosso, da ELETROBRÁS e da Petróleo Brasileiro S.A

(PETROBRAS) que deveria estudar os aspectos pertinentes à integração entre a República

66

Federativa do Brasil e a República da Bolívia, considerando especialmente, o suprimento energético

do Estado de Mato Grosso. (IBID, 1996).

Na Carta nº 997/PR/95 de 4 de dezembro de 1995, os representantes da CEMAT e da

ENRON, apontam ao diretor geral do Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica

( DNAEE), que a conclusão dos trabalhos da comissão interministerial foi que a opção mais

interessante para o Estado de Mato Grosso consistiria na instalação de usina térmica de ciclo

combinado, com a capacidade de até 450 MW, nas proximidades do município de Cuiabá, resultado

este que coincidiria com os estudos internos de viabilidade da CEMAT e ENRON. Tais estudos

mostraram a atratividade da integração do projeto ao gasoduto Bolívia- Brasil, através de uma

derivação do gasoduto principal até Cuiabá. Ainda, solicitara autorização para elaborar Estudos de

Viabilidade para implantação da Usina Termelétrica, a gás natural, com capacidade instalada de 450

MW. A autorização fora formalizada através da Portaria nº 009, de 15 de janeiro 1996, do DNAEE

(CEMAT/ENRON, 1996).

Em âmbito regional, o governador de Mato Grosso em exercício, José Márcio Panoff de

Lacerda encaminhou a mensagem nº 05/96 para apreciação da Assembléia Legislativa, com a

finalidade de autorizar à CEMAT a participar de sociedade para atuar com Produtora independente

de Energia, objetivando a geração de energia elétrica a partir de Usinas Térmicas, com uso do gás

natural procedente da Bolívia, como alternativa mais eficaz, rápida, confiável e econômica, de

atendimento as necessidades energéticas atuais e futuras do Estado (IBID, 1996).

O segmento Termelétrico é, ainda, o pioneiro e o de maior representatividade no consumo

do gás natural no Estado. Como já mencionado, com a construção do Lateral Cuiabá a primeira

importação de GN deu-se em agosto de 2001 pela Empresa Produtora de Energia - EPE, autorizada

a importar um volume máximo de 2,21 milhões de m3/dia destinados a atender a Usina

Termoelétrica de Cuiabá. Utilizada em maior intensidade nos períodos de seca, alternativamente à

produção de energia elétrica através de fonte hídrica, todo o volume importado para o Estado de

Mato Grosso, desde o início até a efetiva distribuição em novembro de 2005, para outros segmentos

restringiu-se à Usina Termoelétrica de Cuiabá I.

67

Recentemente veio a público a insatisfação do Governo Boliviano com relação ao preço

pago pela Usina Termelétrica Cuiabá US$ 1,19 por milhão de BTU. Evo Morales, presidente

boliviano, “frisa que respeita a liderança e a industrialização do Brasil na América Latina, mas

afirma que o governo boliviano não irá subsidiar esse desenvolvimento com gás barato,

especialmente na região de Cuiabá". Complementa ainda, “que a definição do custo desse reajuste

sobre a energia consumida no Brasil agora está nas mãos do presidente Lula”. (GAZETA, 2007a).

Após a demonstração de grande insatisfação do governo boliviano e até mesmo a ameaça

de corte de fornecimento do GN para o Estado49, foi anunciado em 14.02.2007. “o aumento de US$

1,19 por milhão de BTU (sigla em inglês para Unidade Térmica Britânica) para US$ 4,2. Lula

disse que prometeu a Evo tomar as medidas necessárias para que o valor seja efetivamente

aumentado até abril”. (AGÊNCIA BRASIL, 2007a)

Apesar do anúncio de aumento do preço em fevereiro de 2007, até abril do mesmo ano não

fora efetivado. O presidente da EPE, Carlos Baldi, acreditava que a ameaça boliviana em cortar o

envio para a térmica não passaria de especulação, pois as negociações entre a EPE e YPFB estariam

ocorrendo normalmente e os novos preços não estariam sendo praticado porque não fora assinado

um aditamento do contrato que determinaria o aumento de 253% no preço do GN. “O presidente da

EPE não descarta a possibilidade de o aumento ser retroativo a 15 de abril, quando o contrato for

assinado.” (GAZETA, 2007b)

O aumento preço do GN, que passaria de US$ 1,19 para US$ 4,20, foi acertado pelos

presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Evo Morales em fevereiro 2007 e teve duas datas previstas

para entrar em vigor. A primeira era 15 de abril e a segunda 15 de maio, mas a EPE afirmou nesse

período de negociação que não abriria mão dos 2,2 milhões de m3 e a operação não fora

concretizada.

Mas um impasse, a divulgação por um jornal boliviano no qual o presidente da YPFB,

Guillermo Arequipa , teria anunciado que a YPFB e a EPE assinaram em junho de 2007 um novo e

49 “O aumento foi acertado na quarta-feira (14) durante reunião entre os presidentes Lula e Evo Morales, Rondeu, o ministro de Hidrocarbonetos e Energia da Bolívia, Carlos Villegas, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e o chanceler boliviano David Choquehuanca. Segundo Rondeau, a intervenção direta do governo na negociação foi adotada ante as ameaças lançadas por Evo Morales de boicote no fornecimento de gás ao Brasil.” (DIÁRIO DE CUIABÁ, 2007a)

68

provisório contrato50, que teria a validade de três meses, onde fora acertado a retomada do envio

firme dos 2,21 milhões de m3 /dia. No entanto, a respeito desse novo contrato o diretor da EPE,

Fábio Garcia, não confirma a informação divulgada pelo presidente da YPFB, Guillermo Arequipa,

de que o novo contrato de três meses já foi assinado entre EPE e a estatal boliviana. “Trata-se de um

tema complexo que envolve duas empresas e dois governos, por isso ainda estamos na mesa de discussão,

pondera Garcia.” (GAZETA, 2007d).

Devido a esse impasse na definição do preço e a após meses de negociações na tentativa de

equalizar esta situação critica, houve o corte de fornecimento do GN para Termelétrica no mês

junho.

“Problemas operacionais no gasoduto Brasil-Bolívia provocam a redução no fornecimento de gás natural para Mato Grosso. Há três dias, a termelétrica responsável pela maior parte da produção de energia elétrica no Estado parou as atividades. A usina termelétrica Mário Covas pode atender até 70% da demanda energética de Mato Grosso, mas está parada desde o último sábado (16). A paralisação foi provocada por uma diminuição do fornecimento de gás vindo da Bolívia. Parte da energia fabricada na capital mato-grossense é vendida para outros Estados.” (RMTONLINE, 2007)

É interessante ressaltar que apesar da não confirmação de um contrato provisório pelo

diretor da EPE, Fábio Garcia, em 07.08.2007, segundo veiculação do jornal de circulação regional,

a Gazeta,

“O diretor Comercial e de Assuntos Regulatórios da Empresa Pantanal Energia (EPE), Fábio Garcia, afirma que o fornecimento do produto à usina está normal, mesmo com o contrato provisório - que garantia o fornecimento do produto - vencido no dia 31 de julho, data em que as negociações foram retomadas em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. O contrato definitivo entre a Yascimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) e a Transborder Gas Services (TBS) para o envio do gás natural à Usina Governador Mário Covas (Termelétrica de Cuiabá) deve ser assinado até o final deste mês. Conforme Garcia, enquanto o contrato final não for assinado, o pré-contrato será estendido, garantido o abastecimento 1,1 milhão de metros cúbicos (m3) diários, volume suficiente para gerar 240 megawatts (MW).” (GAZETA, 2007e).

50 “A Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) e a Empresa Pantanal Energia (EPE) assinaram ontem o novo contrato para o fornecimento de gás natural à Usina Governador Mário Covas (Termelétrica de Cuiabá). No documento, que terá validade de três meses, ficou acertado a retomada do envio firme dos 2,2 milhões de metros cúbicos (m3) por dia. Esse é o volume determinado no contrato anterior, antes da nacionalização do gás. As informações foram divulgadas pelo La Razón e atribuídas ao presidente da estatal boliviana Guilhermo Aruquipa.” (GAZETA, 2007c).

69

O Clima de instabilidade perdura até o mês de setembro, “A Bolívia determinou a suspensão

da exportação de gás natural destinado à Usina Termoelétrica de Cuiabá (MT).” (AGÊNCIA BRASIL,

2007b).

Em meio à infinidade de indefinições e especulações, o que de fato hoje se evidencia é que

as regras de fornecimento do GN para Mato Grosso não são claras e tão poucas justas, atendendo a

lógica do capital.

As regras do jogo e o ambiente institucional não são propícios ao desenvolvimento do

consumo em outros segmentos, devida à grande instabilidade gerada no setor de consumo

termelétrico e observadas com grande freqüência no ano de 2007. Os acordos e contratos firmados

não são cumpridos.

A Termelétrica está desde o dia 26 de agosto sem gerar energia, pois passa por manutenção

programada. Já no dia 30, após a renovação do contrato provisório de compra e venda de gás

natural entre a operadora da térmica e o governo boliviano, o país vizinho anunciou novo corte no

fornecimento para até o dia 14, mas antecipou que até dezembro terá dificuldades em cumprir o

contrato que prevê o envio diário de 1,1 milhão metros cúbicos. (DIÁRIO DE CUIABÁ, 2007b).

“Representantes do Ministério de Minas e Energia e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) se reúnem para definir os critérios e condições para que a usina térmica de Cuiabá volte a gerar energia para restabelecer a confiabilidade do sistema local, já que a térmica com capacidade instalada de 480 megawatts é capaz de suprir 70% da demanda mato-grossense. A planta completa hoje 26 dias de paralisação. Após uma parada de dez dias para manutenção, a usina não registrou mais o fornecimento de gás natural – seu principal insumo – por parte do governo boliviano.” (DIÁRIO DE CUIABÁ, 2007c).

A termelétrica é bicombustível, ou seja, pode ser operada por gás natural ou diesel, no

entanto, a EPE possui um contrato de fornecimento de energia com FURNAS, sendo previsto que a

geração deverá ser a GN. Ademais, a geração a diesel geraria a elevação imediata dos custos de

produção de energia pela térmica.

70

A imprensa local vem divulgando por dias que a interrupção de fornecimento de GN para a

Termelétrica de Cuiabá é o principal fator de desestabilização51 do fornecimento de energia para o

Estado.

Não existe consenso quanto à importância da produção de energia elétrica pela

Termelétrica de Cuiabá para o estado. Para o professor do departamento de Engenharia Elétrica da

Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Dorival Gonçalves Júnior, a interrupção do

fornecimento de energia elétrica pela térmica não representa um problema para Mato Grosso, pelos

seguintes fatores: O sistema energético do Estado também faz parte do Sistema Interligado

Nacional (SIN), que é formado por empresas de todas as regiões do país, permitindo o intercâmbio

de energia entre as regiões. Já para o professor do departamento de Economia, Dr. José Manuel

Marta, independentemente do potencial hídrico de Mato Grosso, a Termelétrica de Cuiabá tem uma

importância estratégica na produção de eletricidade, a exemplo do ocorrido em 2001, no período do

apagão. (FOLHA DO ESTADO, 2007).

O impasse quanto à definição de um contrato definitivo de fornecimento de GN para

Termelétrica Cuiabá persiste desde o início do ano, quando o recente presidente Evo Morales

decidiu transferir o controle sobre as operações das empresas estrangeiras de petróleo e gás no país

ao governo e se insurgiu contra os preços de venda do GN ao Brasil, em especial ao preço de venda

à Termelétrica Cuiabá I, US$ 1,19 por MMBTU.

As indefinições quanto ao fornecimento de GN para Mato Grosso é um dos principais

fatores de inibição ao desenvolvimento do sistema de distribuição no Estado, em especial para

formação das expectativas dos empresários e majoração dos riscos, automaticamente, no volume de

investimentos realizados no setor. Até mesmo o setor de consumo termelétrico, que se enquadra na

figura de usuário livre e é o responsável pela maior parcela de receita aferida pela MTGÁS, está

fadado às intempéries do Governo Boliviano, com grande possibilidade de retrocesso e até mesmo

extinção deste segmento, o que afetaria decisivamente a continuidade do próprio sistema de

distribuição do GN no Estado.

51 “A planta está desativada há 25 dias e desde então o sistema elétrico local está vulnerável e suscetível a interrupções no fornecimento, já que a carga e a geração estão em patamares idênticos”. (DIÁRIO DE CUIABÁ, 2007d).

71

No segmento mais representativo do Sistema de Distribuição do GN em Mato Grosso, o da

termoeletricidade, a situação de indefinição e instabilidade persiste, desde que veio a tona a

insatisfação da Bolívia por meio da nacionalização das reservas de Gás Natural (setor de

hidrocarbonetos) em maio de 2006 e no início deste ano com a questão dos preços de venda de gás

natural para o Brasil, especialmente, com o preço de um contrato de fornecimento de GN para Mato

Grosso, Usina Termelétrica de Cuiabá I, que fora firmado a US$ 1,19 / MBTU em agosto de 2001.

Este preço, na realidade, está bem abaixo do que comercializado com a Petrobrás, cerca de US$

4,2/MBTU em todo GASBOL.

Esta usina de propriedade do Grupo (ENRON) está paralisada desde agosto de 2007, pela

indefinição de um novo contrato com a Bolívia. Os principais entraves do firmamento de um novo

contrato são: em 1° lugar o preço, e depois o volume. No caso do volume o contrato anterior previa

o volume firme de 2,21 milhões de metros cúbicos dia, mas na verdade, esta usina nunca importou

esta quantidade, só que não abre mão deste volume. Em contrapartida, a Bolívia só oferta a metade

e não quer fornecer em regime firme.

Os acionistas majoritários da UTE Cuiabá I, Ashmore Energy International – AEI e da

Shell Power em reunião com o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, solicitaram apoio

institucional para que a planta volte à operação com o GN. (DIÁRIO DE CUIABÁ, 2007i).

Apesar da disponibilidade do governo estadual em intervir juntamente ao Ministério de

Minas e Energia para solução do impasse entre a EPE e o governo Boliviano, o fato é que a situação

de indefinição perdura, em especial, por duas questões: 1º ) a indefinição de preço justo e 2°)

conflito pela definição do tipo de contrato, em regime firme ou não.

O GN importado da Bolívia tem uma grande importância para a UTE Cuiabá I já que a

geração de energia elétrica a óleo diesel é muito mais cara, sendo esta, apenas como uma transação

comercial importante para o grupo proprietário da térmica. A questão chave encontra-se na

definição ou indefinição de um novo preço e volume de importação. Existe de fato a interrupção no

fornecimento do GN para Térmica e pressão política para que o Governo Brasileiro interfira para

definição de um novo contrato. A complexidade agrava-se pela existência de grupos de pressão

consolidados nos dois países e pela interdependência das partes.

72

As alterações do marco regulatório boliviano na exploração do GN repercutiram nas

condições de oferta do produto ao Brasil, aumentando significativamente os custos de transação,

gerando automaticamente, reflexos nos contratos firmados. A mudança no ambiente institucional

altera diretamente as regras do jogo e a definição dos contratos de suprimento do energético. A

preocupação com os meios de se garantir um abastecimento contínuo e em volumes adequados para

o atendimento à demanda de GN do país é cada vez maior.

Em Mato Grosso, é possível verificar que desde 1994, quando os governos boliviano e

brasileiro firmaram Memorando de Entendimento para possibilitar a integração energética entre os

dois países, houve intensa mobilização de agentes públicos e privados para viabilizar o projeto de

culminou na construção da Termelétrica Cuiabá I e efetiva importação de GN boliviano em agosto

de 2001.

Cientes da incompletude dos contratos, os agentes constroem estruturas de governança

para fechar lacunas e viabilizar os empreendimentos. Já que os direitos de propriedade não são

absolutos, exigem esforços para que os proprietários destes obtenham apoio e a proteção tanto dos

outros agentes quanto do governo.

4.2.2 Segmento Veículos – GNV

O primeiro posto a firmar o contrato de suprimento do GN com a MTGÁS foi o Posto VIP,

situado na Av. Miguel Sutil, próximo ao Terminal Rodoviário de Cuiabá. Segundo tal contrato, que

tem a validade de 5 anos, prorrogáveis por mais 2, a compra pode ser efetuada em qualquer volume

e com um poder calorífico de 9400 Kcal, sendo que o preço e seu reajuste é aquele definido pela

AGER, composto pela variação da commoditie (AGER, 2005c).

Em outubro de 2005, houve distribuição gratuita do GNV pela MTGÁS em seu City Gate,

devido ao retardamento da chegada de equipamentos no 1º posto de abastecimento (DIÁRIO DE

CUIABÁ, 2005a)

73

A efetiva distribuição do GNV em Mato Grosso iniciou-se no município de Cuiabá em

05/12/2005, após homologação da tarifa teto52 no dia 30/11/2005, no valor de R$ 0,89 o metro

cúbico, acrescidos dos custos de comercialização e tributos incidentes, resultando no valor ao

consumidor final de R$ 1,35/m3.

O início da distribuição do GNV em Mato Grosso foi marcado por sentimentos distintos.

De um lado a satisfação pela chegada do combustível e de outro a insatisfação dos consumidores na

fila do único posto de abastecimento, especialmente dos taxistas de Cuiabá e Várzea Grande. A

espera dos consumidores na fila para completar o cilindro chegou a mais de uma hora. (DIÁRIO

DE CUIABÁ, 2005b).

O clima de insatisfação permaneceu por alguns dias, sobretudo, em função da paralisação

do abastecimento no único posto. “O comunicado da suspensão do abastecimento de GNV no posto

Vip, da Avenida Miguel Sutil, desagradou os proprietários de carros a gás. Ontem pela manhã, a

revolta daqueles que procuravam o posto para abastecer os veículos era geral.” (DIÁRIO DE

CUIABÁ, 2005c).

O segundo posto53 que firmou o contrato com a MTGÁS e passou efetuar a

comercialização do GNV, também está localizado na capital mato-grossense. Este foi inaugurado

pelo governador Blairo Maggi54 e o presidente da Companhia Mato-Grossense de Gás (MT Gás) em

maio de 2006. Em meio a rumores de aumento de preços combustível, “o governador tranqüilizou

os usuários afirmando que há possibilidade de aumento no preço do gás, exigência do governo

boliviano, porém, que isso não vai afetar o abastecimento do produto em Cuiabá e Várzea

Grande.” (SECOM, 2006).

52 A Agência de Regulação dos Serviços Públicos – AGER, sendo a responsável pela fixação da tarifa teto, definiu esta no valor de 0,89 R$/M3, que foi praticada pela Concessionária – MTGÁS naquele momento.53 Este é Posto Metropolitano, situado na AV. Fernando Correa da Costa nº 2350, próxima à Universidade Federal de Mato Grosso.54 Além do governador e da primeira-dama e secretária do Trabalho, Emprego, Cidadania e Assistência Social, Terezinha Maggi, participam da inauguração do novo posto de GNV o presidente da MTGÁS, vereador licenciado Helny de Paula; os secretários da Indústria, Comércio, Minas e Energia, Alexandre Furlan; da Casa Civil, Antônio Kato; e da Casa Militar, Orestes Oliveira, e a presidente da Ager, Márcia Vandoni.

74

A paralisação do fornecimento do GN no mês de agosto de 2007 para termelétrica Cuiabá I

tem suscitado inúmeras desconfianças quanto ao abastecimento para o segmento veicular – GNV,

embora tal o consumo seja ínfimo. Segundo informações do presidente da MTGÁS, o volume

médio comercializado pela companhia atualmente é 600 mil metros cúbicos de gás natural por mês,

sendo 420 mil m³ para os postos e mais 180 mil m³ para o segmento industrial, consumido pela

Sadia em Várzea Grande. (DIÁRIO DE CUIABÁ, 2007e).

É importante salientar que não existem redes de distribuição até os postos, o transporte do

GNV é efetuado pelo transporte virtual que atualmente é efetuado pela GNV/MT - Transportes de

Gás Natural Ltda. Este tipo de transporte consiste na compressão do GN em contêiner, os quais são

transportados por carretas do City Gate da MTGÁS até os postos.

A frota de carros a gás em Mato Grosso, em abril de 2007, chegou a 2,1 mil veículos, dos

quais 1,8 mil são convertidos no próprio Estado. A expectativa do proprietário da Cuiabacar GNV,

Hérnan Diehl, que é também diretor da GNV/MT Transportes de Gás, é de que até 2010 pelo menos

15 mil carros estejam rodando movidos a gás natural.

A teoria microeconômica revela que alguns dos fatores essenciais para a determinação da

demanda por um bem são o preço do próprio bem, a quantidade de substitutos, o preço dos bens

substitutos e grau de preferência.

“Em cada segmento, o gás tem um concorrente direto diferente; no caso do setor industrial, os principais concorrentes são o óleo combustível e a eletricidade; já no caso do setor de transporte, os concorrentes são a gasolina, álcool e o diesel; e, no caso do setor elétrico, é a geração hidroelétrica. O valor do gás em cada um desses segmentos de mercado varia de acordo com a dinâmica dos mercados dos energéticos concorrentes.” (PINTO JÚNIOR, 2007).

O trabalho de Brandão Filho (2005) apresenta um modelo de previsão de demanda por

GNV com uma modelagem baseada em dados de preferência revelada e declarada no município de

Caucaia, região metropolitana de Fortaleza/CE, em um ambiente de concorrência entre gasolina,

álcool e GNV. Como a distribuição do GNV em Mato Grosso é relativamente incipiente e instável,

não se têm como aplicar um trabalho de tal magnitude. De maneira simplista pode-se verificar os

termos de trocas entre GNV e Gasolina, GNV e álcool e GNV e diesel, como uma forma de

comparação ou avaliação da demanda do GNV para MT.

75

Os preços médios praticados em Cuiabá no período entre novembro de 2005 a agosto de

2007, para GNV (R$/M3), Diesel (R$/l), Gasolina (R$/l) e Álcool (R$/l), foram coletados junto à

Agência Nacional de Petróleo – ANP. Os termos de troca foram obtidos pela divisão dos preços

correntes do GNV pelos demais combustíveis e são apresentados na Tabela 4.2.

Os dados da tabela 4.2 revelam que no início da distribuição do GNV no Estado, o valor de

um metro cúbico do GNV correspondia a 65% do valor de um litro de diesel, a 47% do valor de

litro de gasolina e a 81% do valor de um litro de álcool. É importante notar que a partir de fevereiro

de 2007, com a queda brusca no valor do álcool e o aumento do valor do GNV para R$ 1,49 o

metro cúbico em outubro de 2006, o valor relativo do m3 do GNV passou ser equivalente ao do

álcool, reduzindo grandemente as vantagens do seu uso.

Tabela 4.2 – Termos de Trocas entre o GNV e substitutos, Nov/2005 – Ago/2007

Mês GNV/diesel GNV/Gasolina GNV/Álcoolnov/05 0,65 0,47 0,81dez/05 0,65 0,47 0,71jan/06 0,65 0,47 0,68fev/06 0,65 0,46 0,67mar/06 0,65 0,45 0,58abr/06 0,65 0,46 0,57mai/06 0,65 0,47 0,66jun/06 0,65 0,46 0,69jul/06 0,65 0,46 0,71ago/06 0,66 0,46 0,73set/06 0,66 0,46 0,73out/06 0,72 0,51 0,82nov/06 0,72 0,51 0,82dez/06 0,73 0,51 0,84jan/07 0,73 0,51 0,82fev/07 0,73 0,51 0,92mar/07 0,73 0,51 0,91abr/07 0,72 0,51 0,83mai/07 0,73 0,51 0,97jun/07 0,73 0,51 1,15jul/07 0,73 0,51 1,24ago/07 0,73 0,54 1,29média 0,69 0,49 0,83Fonte: dados da pesquisa

Nos meses de junho, julho e agosto de 2007 o valor do m3 do GNV passa a ser superior ao

valor do álcool, registrando altas sucessivas, de 15%, 24% e 29%, respectivamente. O principal

76

concorrente do GNV, em termos de valores, é o álcool, sendo que a gasolina e diesel não têm

apresentado forte obstáculos à expansão do consumo do GNV no Estado.

Um fator relevante na determinação da demanda do GNV é valor da conversão dos

veículos, que oscila entre R$ 2,4 mil e R$ 4,7 mil, segundo Hérnan Diehl, proprietário de uma

oficina de conversão de veículos (DIÁRIO DE CUIABÁ, 2007f).

4.2.3 Outros Segmentos (industrial, co-geração, residencial, matéria-prima)

Atualmente o consumo do GN em Mato Grosso no segmento industrial se restringe à

utilização pela empresa Sadia Oeste, localizada no município de Várzea Grande. É a primeira

indústria do Estado a adotar o gás em parte de suas máquinas utilizadas no processamento e

beneficiamento de carnes e aves.

Segundo o jornal Diário de Cuiabá (2007, ed. 24/06/2007),55 para consolidar o projeto de

mudar gradualmente sua matriz energética, a Sadia ignorou os boatos sobre um possível

desabastecimento e investiu na aquisição de equipamentos para substituir a energia elétrica que é

bem mais cara e sofre alta incidência de imposto pelo GN. Inicialmente consumirá 3 mil metros

cúbicos por dia, sendo previsto um consumo de 25 mil metros cúbicos por dia para os meses

subseqüentes (DIÁRIO DE CUIABÁ, 2007g).

A pequena demanda neste segmento e nos outros, que até o presente não apresentam

nenhum consumo, acredita-se que pode ser explicada por diversas questões, tais como: a

instabilidade de fornecimento (oferta), ocasionada pela nacionalização do setor de hidrocarbonetos

na Bolívia, principal exportador do energético para Brasil e Mato Grosso; altos custos para

substituição da matriz de energia das empresas (da outras fontes para o GN); pouca capacidade de

ampliação da oferta/transporte no gasoduto lateral Cuiabá (infraestrutura) no curto prazo, em termos

de volume, sendo que o volume de 590 mil m3/dia para outros segmentos é relativamente pequeno

para a uma expansão rápida no consumo; altos custos para a construção de redes para a distribuição

nas residências; o aspecto cultural (a pouca tradição no uso deste energético); o surgimento de

55 O mesmo jornal ressalta que a troca da energia elétrica pelo gás em parte dos equipamentos da planta frigorífica de Várzea Grande ocorreu no último mês de abril e está em fase experimental, porém com bons resultados para a empresa.

77

alternativas energéticas e a expansão das que concorrem diretamente (biodiesel, lenha, GLP, álcool,

gasolina, etc.).

Segundo o presidente da Federação das Indústrias do Estado (FIEMT), Mauro Mendes, a

falta de uma definição quanto ao suprimento é muito ruim porque “afugenta os empreendimentos”

que poderiam adotar o gás como matriz energética. “Hoje nenhum empresário vai migrar para o gás

natural porque teme prejuízos se faltar o combustível”. Mendes acredita que se houvesse garantia de

abastecimento, muitas empresas já estariam investindo em Mato Grosso por conta do atrativo do

gás. “Ninguém vai apostar num investimento se o cenário para o futuro é de incertezas”. (DIÁRIO

DE CUIABÁ, 2007h)

A ausência de uma política que defina os preços e que garanta o suprimento do gás natural

para Mato Grosso nos próximos anos gera grande parte da insegurança às indústrias interessadas em

investir no Estado utilizando o gás como combustível.

4.3 Regulação do Setor em Mato Grosso

Para Kerkis (2004), de maneira genérica, a literatura sobre regulação destaca os seguintes

objetivos: a) proteger o interesse dos usuários por meio da modicidade tarifária e da qualidade do

serviço; b) garantir que os operadores (agentes regulados) tenham a capacidade financeira de

executar suas atividades programadas; c) promover a eficiência dos serviços regulados; d) garantir

um sistema de regulação sustentável e eficaz.

O trabalho de Kerkis (2004) indica que pelo fato do quadro institucional regulatório no

Brasil não estar consolidado, as agências estaduais de regulação têm adotado desenhos

institucionais variados. Os objetivos formais das agências estaduais visam garantir aos usuários a

qualidade e a segurança dos serviços prestados pelas concessionárias; estimular o desenvolvimento,

a universalização e a modernização dos serviços; fiscalizar os prazos, as metas e as demais

obrigações contratuais estabelecidas nas concessões; zelar pelo equilíbrio econômico e financeiro

dos contratos e pela modicidade das tarifas dos serviços; mediar os conflitos entre os agentes do

setor regulado.

78

Em Mato Grosso, compete à AGER a regulação e/ou a fiscalização dos setores de

saneamento, rodovias, portos e hidrovias, transporte intermunicipais de passageiros, energia

elétrica, gás canalizado, entre outros, observada a competência própria dos outros entes federados,

tendo como objetivos formais, de acordo com a Lei Estadual Nº 7.101/ 1999: a) - assegurar a

prestação de serviços adequados, assim, entendidos aqueles que satisfazem às condições de

universalidade, regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia

na sua prestação e modicidade nas suas tarifas; b) garantir a harmonia entre os interesses dos

usuários, concessionários, permissionários e autorizatários de serviços públicos; c) zelar pelo

equilíbrio econômico-financeiro dos serviços públicos delegados.

Sendo de sua competência ainda,

“ I - garantir a aplicação do princípio da isonomia no uso e acesso aos serviços

concedidos;

II - buscar a modicidade das tarifas e o justo retorno dos investimentos aos

concessionários;

III - cumprir e fazer cumprir a legislação específica relacionada aos serviços públicos;

IV - homologar ou encaminhar ao responsável pelo exercício do Poder Concedente

específico os contratos celebrados pelos concessionários e permissionários, e zelar pelo fiel

cumprimento das normase contratos de concessão ou de permissão e termos de autorização

dos serviços públicos;

V - fixar, homologar ou encaminhar ao titular do Poder Concedente as tarifas, seus valores

e suas estruturas;

VI - submeter ao responsável pelo exercício do Poder Concedente os editais de licitação,

objetivando outorga de concessão e permissão dos serviços públicos, podendo promover ao

respectivo procedimento;

VII - encaminhar propostas de concessão, permissão ou de autorização dos serviços

públicos, bem como propor alteração das condições e das áreas, a extinção ou atendimento

dos respectivos contratos ou termos;

VIII - requisitar informações relativas aos serviços públicos delegados de órgãos ou

entidades da administração estadual, ou de concessionários, permissionários ou

autorizatários;

IX - moderar, dirimir ou arbitrar conflitos de interesse, no limite das atribuições previstas

nesta lei, relativos aos objetivos das concessões, permissões e autorizações;

79

X - permitir o amplo acesso às informações sobre a prestação dos serviços públicos

delegados e sobre suas próprias atividades;

“XI - fiscalizar a qualidade dos serviços por meio de indicadores e procedimentos

amostrais.” (MATO GROSSO, 1999a; MATO GROSSO, 1999b).

No Setor de GN suas ações têm se limitado ao monitoramento dos acontecimentos, não

havendo nenhuma outra normatização por parte da Agência, além da fixação do preço do GN para a

distribuição para os postos, por meio da homologação da tarifa teto desse segmento, em 30/11/2005.

Devido à grande vulnerabilidade deste mercado, ocasionadas, especialmente, por pressões relativas

ao fornecimento do gás oriundo da Bolívia e à indefinição de acordos referentes aos contratos

firmados, sobretudo o da termelétrica Cuiabá I, as atividades regulatórias se restringiram ao

monitoramento dessas atividades e ao acompanhamento do aumento lento e gradual da demanda no

segmento do GNV.

Com este mercado incipiente e com ritmo de crescimento lento a regulação tem-se dado de

maneira bem branda e a MTGÁS, empresa com controle do Estado, tem tido ampla liberdade para o

desenvolvimento de suas atividades.

4.3.1 Limitação (questionamento) da Regulação em Mato Grosso

1ª Pouco dinamismo do mercado, ausência de expectativas, dependência de fornecimento

da Bolívia, exigência de alto nível de investimento (questões de infraestrutura (redes), ausência de

reservas. Estas razões são fatores que atenuam os possíveis abusos, ou o uso do poder de mercado

pela Distribuidora.

2ª Como existem vários substitutos para o GN, tais como: GLP, Álcool, diesel, lenha,

biocombustíveis, energia elétrica produzida com fonte hídrica, este fator também atenua os

possíveis abusos da distribuidora na prática de preços, pois existe a necessidade do energético

apresentar-se como competitivo e, ainda, a de expansão do consumo (aculturamento), que é

pequeno.

3ª Existe a necessidade de regulação de uma empresa com controle acionário do próprio

Estado? Risco de captura pelo Governo (o Estado regulando o próprio Estado é pro forma).

80

4.4 Análise de importação do Gás Natural para Mato Grosso

Esta parte do capítulo apresenta uma análise dos gastos com a importação de gás natural

para o Estado de Mato Grosso no período entre agosto de 2001 a dezembro de 2006.

4.4.1 Contextualização

Segundo Fernandes (2000:11), o gás natural (GN) em nível mundial é a terceira fonte de

energia primária, precedido apenas pelo petróleo e o carvão. Com taxas geométricas mundiais

médias de crescimento superiores a 2% a.a na década de 90, a indústria nacional deste energético

era ainda incipiente, o que tornou sua inserção na matriz energética uma prioridade do Governo

Federal.

A construção do gasoduto Brasil-Bolívia (GASBOL) trouxe ao mercado nacional um

impulso decisivo para o setor, como infra-estrutura básica para o processo de importação,

propiciando o surgimento de novos negócios e a multiplicação de projetos de usinas termelétricas

ao seu trajeto. (IBID, 2000:26).

Os dados da tabela 3.7 (vide capítulo 3), mostram a existência de crescimento contínuo da

oferta de gás natural desde o ano de 1999, sendo que a participação relativa das importações na

oferta total aumenta significativamente, saltando dos 3% no ano de 1999 para a expressiva

participação de 34% da oferta total do GN no Brasil. Verifica-se que o volume importado no ano de

2005 é superior quatro vezes ao volume importado no ano de 2000, ano em que se registrou a

importação em todos os meses, sendo, portanto, o primeiro ano passível de comparação.

No ano de 1999, o Brasil importou o GN em sua totalidade da Bolívia. Já no ano de 2000 a

Argentina aparece no cenário com uma representatividade 5% das importações, atingindo, no ano

de 2001, a marca de 16%, sua maior participação no período apresentado. Este fato deve-se à maior

demanda para a produção de energia elétrica na Usina Termelétrica de Uruguaiana – RS neste

período, importado pela empresa Sulgás e escoado pelo Trecho I do gasoduto Uruguaiana-Porto

Alegre. A Bolívia é o maior exportador, representando em média para o período 93,43% das

importações brasileiras de GN;

81

Os dados da tabela 4.3 apresentam a participação de Mato Grosso nas importações totais

de GN para o período em estudo. Verifica-se que em 2001, estas representaram 4,13% das

importações brasileiras. No ano de 2002 e 2003, atingiram os maiores índices de participação,

registrando 8,64% e 7%, respectivamente. Para os anos subseqüentes houve decréscimo

significativo de participação, com taxas de 3,89%, 2,67% e 2,26%, respectivamente.

Tabela 4.3. Participação de Mato Grosso nas Importações brasileiras de GN (103 m3) - ago-2001 a 2006* Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006Importação Brasil (a) 4.603.015 5.269.274 5.946.859 8.086.095 8.997.552 9.788.751

Importação Mato Grosso (b)

49.922 455.299 416.392 314.677 240.051 221.701

Participação % (b/a) 4,13% 8,64% 7,00% 3,89% 2,67% 2,26%Fonte: MME, 2006 - com alterações efetuadas pelo autor.* Os dados relativos ao ano de 2001, foram calculadas proporcionais ao volume importado pelo Brasil a partir de agosto, para captar melhor a participação relativa.

A Tabela 4.4 apresenta os dados relativos ao volume importado no período estudado.

Verifica-se a existência de uma grande variabilidade, explicada, em grande parte, pela destinação do

gás natural a geração de energia elétrica no Estado, sendo esta fonte utilizada em maior intensidade

nos períodos de seca, alternativamente à produção de energia elétrica por meio de fonte hídrica. Até

novembro de 2005 todo o volume de gás natural importado era destinado à Usina Termoelétrica

Cuiabá I (UTE).

Apesar da instituição legal da Companhia Mato-grossense de Gás (MTGÁS) e do

estabelecimento das diretrizes para distribuição de gás canalizado no Estado de Mato Grosso, em 28

de Julho de 2003, pela Lei Estadual nº 7.939, a demanda de gás natural, que era restrita à utilização

da UTE Cuiabá I, passaria por um realinhamento, sendo previsto a distribuição para diversos

segmentos, que variariam de acordo com os usos do gás, tais como: Setor Industrial, Setor

Residencial, GNV (Gás Natural Veicular), interruptível56, co-geração e matéria-prima. Tal

expectativa não se concretizou, aos menos de imediato.

56 Serviço interruptível é serviço de gás sujeito à interrupção a critério do transportador. Também conhecido como “serviço de melhor esforço”. As tarifas para serviços interruptíveis são inferiores àquelas praticadas para serviço firme.

82

A princípio a MTGÁS estava autorizada pela ANP, Aut. Nº 229 de 03/08/2004, a importar

o gás natural da Bolívia, com um volume diário de 500 mil m3/dia, em regime firme, destinados a

atender os segmentos supracitados.

Tabela 4.4. Volume importado de gás natural do Estado de Mato Grosso - 2001-2006 (MBTU*)**

Meses

Anos

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Janeiro - 1.121.133,91 1.206.120,85 1.650.828,05 166.158,15 348.388,66

Fevereiro - 1.057.650,13 782.558,75 1.095.039,16 - 584.125,33

Março - 1.084.710,93 70.649,01 232.528,91 746.844,46 510.152,93

Abril - 1.527.862,74 94.666,17 767.512,12 1.205.483,03 386.497,58

Maio - 1.920.473,70 605.430,81 76.430,44 1.245.665,80 826.396,87

Junho - 1.802.126,07 1.374.337,93 117.381,57 1.078.254,38 1.087.318,16

Julho - 1.923.364,42 2.071.137,64 346.307,35 1.154.434,91 784.423,72

Agosto 55.964,19 1.857.224,92 1.949.149,57 969.313,69 1.074.073,11 1.223.812,01

Setembro - 1.020.962,33 1.037.411,41 2.002.760,16 603.804,55 142.111,15

Outubro 19.309,96 1.347.650,13 1.961.984,33 1.777.094,37 450.257,37 240.160,39

Novembro 919.358,45 1.151.547,93 2.203.729,95 1.523.834,39 609.958,97 1.012.346,14

Dezembro 867.444,98 1.167.732,19 2.174.047,00 1.178.254,38 618.843,72 1.123.596,79

Total 1.862.077,58 16.982.439,39 15.531.223,42 11.737.284,60 8.953.778,44 8.269.329,73

Fonte: (ANP, 2006b)Notas: * BTU - British thermal unit é um unidade de temperatura britânica. Um milhão de BTU equivale a 26,81 m3(metros cúbicos), considerando o GN com poder calorífico de 9400 KCAL. ** dados convertidos de m3 em MBTU pelo autor.

No entanto, somente em agosto de 2006, a Centro Oeste Gás e Serviços Ltda (CGS)57.

iniciou a importação de gás boliviano, destinado o Estado de Mato Grosso em complemento ao

volume importado pela EPE (ANP, 2006b).

A despeito do início da distribuição do gás natural para outros segmentos, o maior

consumidor e importador é a Usina Termoelétrica Cuiabá I, representando quase que a totalidade

das importações deste energético no período em estudo.57 Esta é a empresa possui o contrato de fornecimento de GN à MTGÁS (concessionária), com um preço inicial de 4 US$/MMBTU.

83

Verifica-se, ainda, que no ano de 2002, com 16.982.439,39 MBTU e o ano de 2003, com

15.531.223,42 MBTU, registrou-se o maior volume das importações do período, refletindo as

políticas de atendimento ao Programa Prioritário das Termoelétricas (PPT), implantado para

combater a crise de abarcou o sistema nacional de energia elétrica.

Após este período e sanada parcialmente a questão da crise de energia elétrica, os anos de

2004, 2005 e 2006, registraram queda significativa no volume total importado. A queda no volume

das importações de GN no ano de 2004 em relação ao ano de 2003 representou 24,23%. No

próximo ano houve queda de 23,72% em relação ao volume importado em 2004. No ano de 2006,

registrou-se uma taxa de variação negativa, menos acentuada, de 7,64% em relação ao período

anterior.

O Gráfico 4.1 apresenta a taxa de câmbio real, calculada por intermédio das taxas médias

mensais para o período estudado, deflacionadas pela inflação doméstica. No período estudado, a

maior desvalorização da taxa de câmbio real foi registrada em dezembro de 2002, R$2,86 /US$ a

preços de dezembro de 2006 (deflacionados) pelo IGP-DI. Em média as taxas de câmbio mais

valorizadas foram registradas no ano de 2001, apresentando o valor de R$1,58 /US$ a preços de

dezembro de 2006.

Houve uma desvalorização da taxa média de câmbio real do ano de 2002 em relação à de

2001 da ordem de 26,58%. A trajetória de queda persistiu em 2003, registrando-se uma

desvalorização de 27,5% em relação à taxa média de 2002. Apesar de mantida a tendência de queda

no ano de 2004, esta só representou 4,31% em relação à taxa média de 2003. Já em 2005, houve

aumento do poder de compra da moeda nacional de 12,03% em relação ao dólar, considerado a taxa

média observado em 2004. Houve uma valorização de 8,97% da taxa média de câmbio em 2006 em

relação a de 2005.

84

Fonte dos dados: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (IPEADATA).

Gráfico 4.1 - Taxa de Câmbio Real - 2001-2006 (R$/US$, base dez/2006=100)

Os gastos de Mato Grosso com a importação de GN são apresentados na tabela 4.5, em

milhões de reais por mês. No ano de 2001, como a importação de GN só ocorreu em quatro meses,

os gastos totalizaram 3,39 milhões de reais, apresentando uma média mensal de aproximadamente

0, 85 milhões de reais/mês.

Já no ano de 2002 os gastos anuais foram da ordem de 19,65 milhões de reais, com média

mensal de 1,64 milhões de reais. Em 2003, ano em que se gastou mais com a importação deste

energético, os valores ultrapassaram os 27 milhões anuais, com média mensal de 2,27 milhões.

Os gastos anuais de 2004, apesar de inferiores aos registrados no ano de 2003, totalizaram

23,73 milhões de reais, com média mensal de aproximadamente 1,98 milhões de reais.

Importante observar que os dados de 2005 e 2006 apresentaram um decréscimo

significativo, atingindo somente as marcas de R$ 8,78 milhões e R$ 9,52 milhões, respectivamente.

Esta redução pode ser explicada, essencialmente, pela queda brusca no volume importado devido à

superação da forte crise energética (apagão). O racionamento de energia elétrica foi decretado em

85

01/07/2001, com fim em maio de 2002, no entanto, em 2003 e 2004 ainda, reflexos significativos

foram sentidos devido a seca no Nordeste do país, que exigiu maior geração térmica.

Tabela 4.5. Gastos de Mato Grosso com a importação de Gás Natural - 2001-2006 (em milhões de R$)*

Meses

Anos

2001 2002 2003 2004 2005 2006

Janeiro - 1,98 3,97 4,79 0,51 0,91

Fevereiro - 1,91 2,74 3,30 - 1,46

Março - 1,90 0,24 0,70 2,33 1,26

Abril - 2,66 0,29 2,34 3,60 0,95

Maio - 3,62 1,77 0,25 3,53 2,08

Junho - 3,78 3,88 0,40 2,99 2,84

Julho - 4,45 5,84 1,15 3,14 2,00

Agosto 0,10 4,66 5,76 3,22 2,88 3,08

Setembro - 2,83 3,02 6,44 1,57 0,36

Outubro 0,04 4,43 5,61 5,67 1,16 0,61

Novembro 1,73 3,76 6,45 4,78 1,55 2,59

Dezembro 1,52 3,97 6,42 3,63 1,62 2,87

Gasto Total 3,39 19,65 27,26 23,73 8,78 9,52

Fonte: dados da pesquisa

4.5 Limitações para o Desenvolvimento do Sistema de Distribuição de GN em Mato Grosso

4.5.1 Limitações ao desenvolvimento

O pouco dinamismo do sistema de distribuição do GN em Mato Grosso acredita-se ser

reflexo de vários fatores, em especial: 1º) ausência de expectativas sentida pela pouco interesse da

iniciativa privada em investir desde o início do processo de configuração do sistema, inclusive com

a licitação de concessão deserta; 2º) o fato de Mato Grosso não possuir reservas provadas de GN o

que eleva ainda mais a dependência de fornecimento da Bolívia, ou, em último caso, da Argentina;

3º) a exigência de alto nível de investimento para construção de infraestrutura de redes; 4º) papel

principal da termoeletricidade no Estado, o que limita o consumo para outros segmentos, devido em

especial à capacidade de transporte do gasoduto Lateral Cuiabá; 5º) o grande número de substitutos,

concorrentes do energéticos, como: GLP, Álcool, diesel, lenha; 6º) os custos de transferência dos

energéticos para o GN, no caso do GNV expresso pelo preço do KIT Gás, no caso das indústrias, a

substituição da matriz energética, de processos e outros equipamentos.

86

O trabalho de Dorileo e Bajay (2007), aponta que uma das quatros possibilidades de

avanços na matriz energética mato-grossense seria a expansão da utilização do gás natural

importado da Bolívia. Sendo que a disponibilidade do GN permitiria, além da geração de

eletricidade, a sua comercialização para os setores industrial, residencial, comércio e serviços de

transporte.

O mesmo estudo aponta que o projeto de massificação do uso do GN exige um

planejamento financeiro robusto, para rápida inserção no mercado, pois além de ter que ser

oferecido a um preço mais baixo que outros derivados de petróleo, para que exista substituição, a

remuneração dos investimentos na infra-estrutura de transporte onera muito seu custo total. As

participações do governo estadual e da Petrobrás, bem como da MTGás são defendidas para o

sucesso de implementação de redes de distribuição em Cuiabá. Esta interação entre a Petrobrás e o

governo estadual, além de incentivos fiscais, são indicados como propulsores da expansão do

sistema de distribuição do GN em Mato Grosso. (DORILEO e BAJAY, 2007).

A adoção de tais práticas para expansão do mercado de GN em Mato Grosso são questões

no mínimo razoáveis e necessárias. No entanto, não são condições suficientes para que tal objetivo

seja alcançado. A definição de um novo contrato de fornecimento do GN para a UTE Cuiabá I por

meio do estabelecimento de regras justas, preços ajustados aos de mercado e o reconhecimento da

interdependência existente entre países é premissa fundamental para pelo menos a manutenção, a

curto prazo, do sistema de distribuição do GN em Mato Grosso, tendo em vista que o consumo do

segmento termoelétrico representou, até novembro de 2005, a totalidade do GN importado para o

Estado e, posteriormente, de 96 a 98% das importações até a interrupção do fornecimento de

agosto de 2007.

A restauração das relações comerciais entre UTE Cuiabá I e a Bolívia é essencial para o

estabelecimento de ambiente favorável para que a MTGás que depende grandemente do repasse do

efetuado pela Térmica ( usuário livre), elabore uma estratégia de expansão pari-passo dos outros

segmentos consumidores.

87

4.5.2 Especulações

A primeira grande especulação sobre o sistema de distribuição está ligada à possível

privatização da MTGÁS.

Em fevereiro de 2006 o Governo do Estado realizou alguns levantamentos para abertura de

capital da Companhia. A intenção do Governo era de abrir a distribuição do produto em Mato

Grosso, para ampliar os recursos investidos no setor. Foram efetuados alguns encontros técnicos de

avaliação entre a empresa mato-grossense e empresas do setor que atuam no transporte,

comercialização e armazenamento de gás no Brasil, como a GasPetro, subsidiária da Petrobras

(DIÁRIO DE CUIABÁ, 2006a).

A segunda grande especulação seria o de instalação de uma Fábrica de Fertilizantes da

Petrobras em Cuiabá. Houve intensa mobilização para que esta fábrica se instalasse em Cuiabá, no

entanto não houve uma definição.

A Petrobrás em 2005 começou a negociar a construção de uma fábrica de fertilizantes na

região Centro-oeste, no valor de US$ 700 milhões, para entrar em operação em 2010. No dia

14/07/2005, os diretores da estatal reuniram-se com o governador de Mato Grosso do Sul. Na

semana anterior à reunião o governo de Mato Grosso, que também disputa o investimento, esteve

reunido no Rio de Janeiro com o intuito de trazer tal investimento. No entanto, os critérios para a

escolha do Estado vencedor são: questões ambientais, de logística e de oferta do gás

(GUIA@OFFSHORE, 2005).

Acredita-se que a capacidade de transporte do duto, limitada ao volume de 590 mil m3/dia

para outros segmentos que não o de termoeletricidade, a instabilidade de oferta do GN, em razão do

decreto de nacionalização das reservas bolivianos em 2005, foram os principais fatores que

ocasionaram a indefinição e não concretização do investimento seja em Mato Grosso ou Mato

Grosso do Sul.

88

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ampliação da participação do GN na matriz energética do Brasil é um fato evidente e

vem ocorrendo tanto pelo crescimento da produção nacional e do aumento das importações. A crise

de energia elétrica em 2001 e o advento do Programa Prioritário de Termeletricidade no ano de

2000 representaram um passo fundamental na história da indústria nacional do GN, ratificando a

condição de consumo-âncora da termoeletricidade para a criação de um mercado de gás natural no

Brasil.

Importantes mudanças institucionais ocorreram na Bolívia alterando o marco regulatório

da indústria do GN. A Bolívia é o principal exportador de GN para o Brasil, o que eleva o grau

dependência e afeta as relações comerciais significativamente. Estas alterações, bem como o

descumprimento dos contratos elevaram consideravelmente as incertezas com relação ao

fornecimento e preço do GN boliviano ao Brasil. Em especial, a decisão de nacionalização das

reservas, envolveu a questão da definição dos direitos de propriedades. Para ECT a indefinição

destes direitos desestimulam os investimentos, o que traz impactos importantes na performance

econômica do país. A essência econômica do contrato é o de promessa. Desta forma, os agentes

econômicos tendem a realizar investimentos com a redução dos custos associados às futuras

rupturas das promessas

O objetivo geral do trabalho era o de caracterizar o mercado de gás natural, desde os

aspectos políticos, teóricos (estrutura do mercado), institucionais (regulação) e históricos para

entender as razões que levam à subutilização do sistema de distribuição, ou seja, detectar os

principais limitadores ao crescimento deste mercado em Mato Grosso. Dessa forma, o objetivo foi

cumprido. Como Mato Grosso não possui reservas provadas de gás natural, todo o seu consumo

está baseado na importação da Bolívia. Embora não houvesse se constituído formalmente o sistema

de distribuição de gás natural no Estado, a primeira importação deu-se em agosto de 2001, com a

finalidade de produção de energia elétrica pela Usina Termelétrica de Cuiabá I através do gasoduto

Lateral Cuiabá. Após 6 anos de consumo do energético, por questões contratuais, em especial, pelo

fato da insatisfação da Bolívia em relação ao preço contratual de 1,19 US$/MBTU está sem

consumir o energético desde agosto de 2007, o que representa praticamente a totalidade da

demanda por importações do GN para Mato Grosso.

89

O segmento veicular - GNV é o que vem apresentando maior expansão de consumo do

GN. Atualmente cinco postos efetuam o abastecimento dos veículos no Estado. No entanto, este

segmento, apenas tem o papel de divulgação do GN, não representando participação significativa

em termos de volumes.

Em meio à infinidade de indefinições e especulações, o que de fato hoje se evidencia, são

que as regras de fornecimento do GN para Mato Grosso não são claras e tão poucas justas,

atendendo a lógica do capital. As regras do jogo e o ambiente institucional não são propícios ao

desenvolvimento do consumo em outros segmentos, devida a grande instabilidade gerada no setor

de consumo de termelétrico.

O pouco dinamismo do sistema de distribuição do GN em Mato Grosso acredita-se ser

reflexo de vários fatores, em especial: 1º) ausência de expectativas sentida pela pouco interesse da

iniciativa privada em investir desde o início do processo de configuração do sistema, inclusive com

a licitação de concessão deserta; 2º) o fato de Mato Grosso não possuir reservas provadas de GN o

que eleva ainda mais a dependência de fornecimento da Bolívia, ou, em último caso, da Argentina;

3º) a exigência de alto nível de investimento para construção de infra-estrutura de redes; 4º) papel

principal da termoeletricidade no Estado, o que limita o consumo para outros segmentos, devido em

especial à capacidade de transporte do gasoduto Lateral Cuiabá; 5º) o grande número de substitutos,

concorrentes do energético, como: GLP, Álcool, diesel, lenha; 6º) os custos de transferência dos

energéticos para o GN, no caso do GNV expresso pelo preço do KIT Gás, no caso das indústrias, a

substituição da matriz energética, de processos e outros equipamentos.

Como apresentado ao longo deste trabalho foi possível verificar que as características

teóricas das indústrias de rede, em especial, custos associados ao investimento e maturação de longo

prazo são fatores inibidores do crescimento deste mercado. Verifica-se que o sistema de distribuição

de GN é secundário, sendo o segmento termelétrico (usuário livre) o principal fator que explica a

existência de importação do GN para Mato Grosso.

A grande instabilidade da oferta ligada a dependência total do fornecimento do GN pela

Bolívia devido a mudanças institucionais ocorridas naquele país também que tem afetado

90

diretamente o desenvolvimento do sistema de distribuição, em especial, na definição de um novo

contrato com a termelétrica.

91

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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7. ANEXOS

Quadro 4.1 - Marcos relevantes na evolução do mercado de GN em Mato Grosso

Janeiro de

1999

Criação da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos

Delegados de Mato Grosso através da Lei nº 7101. 2º semestre

de 1999

Início da construção do gasoduto Lateral Cuiabá.

Setembro de

2000

O BNDES por meio da AGER lança o edital de licitação na modalidade

de Concorrência, de âmbito internacional, do tipo maios oferta pelo

valor da outorga, com a finalidade de selecionar a proposta mais

vantajosa para a delegação de concessão nos 32 municípios. Licitação

foi considerada deserta.Junho de

2001

Conclusão da construção do gasoduto Lateral Cuiabá.

Agosto de

2001

A primeira importação é efetuada pela Empresa Produtora de Energia

EPE.Julho de

2003

Constituição a Companhia Mato-grossense de Gás – MTGÁS e

estabelecimento das diretrizes para distribuição de gás canalizado no

Estado.Fevereiro de

2004

Assinatura do contrato de concessão 001/2004.

Setembro de

2005

Inauguração do City Gate da MTGÁS.

Dezembro de

2005

A efetiva distribuição do gás natural em Mato Grosso no segmento de Gás Natural Veicular – GNV iniciou-se no município de Cuiabá em 05/12/2005 – Posto VIP.

Junho de

2007

Início do consumo do GN em Mato Grosso no segmento industrial pela

empresa Sadia Oeste.Agosto de

2007

Interrupção do fornecimento de GN para Termelétrica Cuiabá I.

Fonte: dados da pesquisa