41
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA CURSO DE ZOOTECNIA CINTHIA SIQUEIRA SILVA Análise dos fatores não genéticos que interferem no desempenho de bovinos do nascimento à desmama. Cuiabá 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE … · “Muitas vezes as pessoas são egocêntricas, ilógicas e insensatas. Perdoe-as assim mesmo! Se você é gentil, podem acusá-lo

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

CURSO DE ZOOTECNIA

CINTHIA SIQUEIRA SILVA

Análise dos fatores não genéticos que interferem no desempenho de bovinos

do nascimento à desmama.

Cuiabá

2015

CINTHIA SIQUEIRA SILVA

Análise dos fatores não genéticos que interferem no desempenho de bovinos

do nascimento à desmama.

Trabalho de Conclusão do Curso de

Graduação em Zootecnia da

Universidade Federal de Mato Grosso,

apresentado como requisito parcial à

obtenção do título de Bacharel em

Zootecnia.

Orientador: Prof.º Dr.º Felipe Gomes da

Silva

Orientador do Estágio Supervisionado:

Walber Mendonça Onorato

Cuiabá

2015

ANÁLISE DOS FATORES NÃO GENÉTICOS QUE INTERFEREM NO DESEMPENHO

DE BOVINOS DO NASCIMENTO À DESMAMA

Dedico com todo carinho este presente

trabalho aos meus pais, Sueli e José, a

quem devo minha vida e minha formação

moral, pelo incentivo, compreensão, amor e

apoio que me deram durante toda minha

vida, em especial durante esses anos de

faculdade, por acreditarem em mim, nos

meus sonhos e não medirem esforços para

que eu pudesse realizá-los.

Agradecimentos

À Universidade Federal do Mato Grosso, Faculdade de Agronomia Medicina

Veterinária e Zootecnia, por proporcionar uma graduação sólida.

À J. L. Agropecuária pela oportunidade de estágio, em especial ao Diretor

Amauri, agradeço também aos membros do conselho Dona Neide e Dona

Sônia, ao Senhor Nelson e ao Senhor Antônio, não só pela acolhida mas pelo

enorme carinho.

À toda a equipe da Fazenda Bama, aos funcionários pela atenção,

companheirismo e respeito, aos Médicos Veterinários Diogo Rosetto e Nelson

Rodrigo e ao Agrônomo João Paulo por contribuírem para a minha formação

acadêmica, dividindo seus conhecimentos, permitindo a utilização dos dados

da fazenda para a elaboração deste trabalho, por todos os conselhos e

amizade.

A Professor Doutor Felipe Gomes da Silva por me orientar com enorme

paciência e por dividir comigo toda sua sabedoria. Por acreditar no meu

trabalho, pela ajuda e pela contribuição.

Ao Professor Doutor Heder José D’Avilla Lima pela compreensão diante da

minha mudança e por todo conhecimento passado.

À banca examinadora deste trabalho.

À minha companheira de estágio Morgana, por dividir comigo a oportunidade.

Aos meus amigos, que não me abandonaram, apesar da minha ausência.

À Deus, pela vida.

“Muitas vezes as pessoas são egocêntricas, ilógicas e insensatas.

Perdoe-as assim mesmo!

Se você é gentil, podem acusá-lo de egoísta, interesseiro.

Seja gentil assim mesmo!

Se você é um vencedor terá alguns falsos amigos e alguns inimigos

verdadeiros.

Vença assim mesmo!

Se você é bondoso e franco poderão enganá-lo.

Seja bondoso e franco assim mesmo!

O que você levou anos para construir, alguém pode destruir de uma hora

para a outra.

Construa assim mesmo!

Se você tem paz e é feliz, poderão sentir inveja.

Seja feliz assim mesmo!

O bem que você faz hoje, poderão esquecê-lo amanhã.

Faça o bem assim mesmo!

Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante.

Dê o melhor de você assim mesmo!

Veja você que, no final das contas é entre você e Deus.

Nunca foi entre você e os outros.”

Madre Teresa de Calcutá

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Mapa da Área Útil da Fazenda Bama.....................................................8

Figura 2. Inseminação Artificial em Vaca Nelore P.O., Retiro Esquisito..............12

Figura 3. Fêmeas Comerciais Cruzadas no Curral Esperando para Serem

Inseminadas.......................................................................................................13

Figura 4. Implantes de progesterona auriculares, sobre nome comercial de

Crestar...............................................................................................................14

Figura 5. Ficha de Controle de Nascimentos......................................................15

Figura 6. Animal sendo tatuado na Fazenda Bama............................................16

Figura 7. Animal sendo desverminado, através de um produto a base de

doramectina.......................................................................................................17

Figura 8. Umbigo com parasitas recebendo tratamento.....................................18

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Média Geral do regime pluviométrico da Fazenda Bama......................9

Tabela 2. Índices Zootécnicos da Fazenda Bama nos últimos anos...................10

Tabela 3. Índices zootécnicos médios do rebanho brasileiro e em sistemas

tecnológicos mais evoluídos...............................................................................10

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................1

2. OBJETIVO................................................................................................3

3. REVISÃO..................................................................................................4

4. RELATÓRIO DE ESTÁGIO......................................................................7

4.1Descrição da Propriedade...................................................................7

4.2Índices Zootécnicos.............................................................................9

4.3Reprodução........................................................................................11

4.3.1Maternidade..........................................................................15

4.3.2Identificação..........................................................................16

4.3.3Manejo Sanitário............................................................ ......17

4.3.4Desmama.............................................................................18

4.4Geneplus............................................................................................19

5. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS...........................................................21

6. DISCUSSÃO...........................................................................................23

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................27

ANEXO.........................................................................................................29

RESUMO

O estágio curricular supervisionado realizado na J. L. Agropecuária – Fazenda

Bama permitiu um aprimoramento sobre a criação de bovinos de corte,

fortalecendo os conhecimentos obtidos dentro da sala de aula. Por ser uma

fazenda de grande porte e apresentar o ciclo completo de produção, possibilitará

um melhor preparo para a vida profissional. A propriedade conta com rebanhos

de duas raças puras, Nelore e Senepol, ambas utilizadas para a produção de

matrizes e reprodutores superiores. As fêmeas puras da raça Nelore também

são utilizadas em cruzamentos industriais com machos Aberdeen Angus.

Fêmeas “meio sangue” produzidas neste cruzamento são cruzadas com machos

das raças Senepol, Simental, Simbrasil, Charolês ou Canchim, o produto deste

cruzamento tricross apresenta grande aptidão para produção de carne. Foi

possível acompanhar todas as fases de criação e atividades, principalmente as

relacionadas a reprodução e coletas de dados para o programa de

melhoramento, coordenado pela Geneplus – Embrapa. Em face disso, segue um

estudo sobre o desenvolvimento de bezerros, com foco para a raça Senepol, do

nascimento até a desmama e os fatores não genéticos que podem influenciar no

ganho de peso durante esse período.

Palavras chave: bovino de corte, coleta de dados, fator ambiental, peso ao

desmama

1

1. INTRODUÇÃO

A bovinocultura brasileira tende a crescer em 2015 de acordo com o relatório

divulgado pelo CEPEA (2014), apesar do relatório semestral do USDA (Departamento

de Agricultura dos Estados Unidos) apontar que a produção mundial de carne bovina

de 2015 irá recuar 1,4%.

A pecuária nacional inicia o ano com bons prospectos, boa parte devido ao

aumento de exportação de carne bovina para a Rússia que pode chegar a 10%,

enquanto o consumo interno segue mais modesto com 1,2%, segundo dados da

Secretaria Nacional da Agricultura.

Isso exigirá que o país aumente a produção nacional de carne para atender ao

mercado, esse aumento deve ocorrer não só no referente ao tamanho efetivo do

rebanho, mas também nos esforços para intensificar a cadeia e torna-la mais

competitiva frente a outros mercados.

O aumento de produtividade só será possível se os produtores investirem em

suas propriedades, aumentando a tecnificação, com a utilização de mão de obra

qualificada, investimento em infraestrutura aliado a técnicas eficientes de manejo

animal, estratégias nutricionais e sobretudo melhoramento genético dos rebanhos.

A produção de bezerros tem sido um dos maiores entraves no setor, é uma

atividade que requer muitos cuidados e é pouco rentável perante as demais fases de

criação, devido ao preço do bezerro oscilar muito de ano a ano. Esses cuidados

exigidos nessa fase possivelmente serão a chave do sucesso da atividade no futuro.

Vários são os fatores que podem influenciar no peso a desmama, eles podem

ser genéticos ou ambientais. Na fazenda Bama onde foi realizado o estágio há

diversos investimentos para o melhoramento genético do rebanho, um deles está no

plantel de Senepol.

Essa raça é totalmente taurina o que lhe confere boa conformação de carcaça,

precocidade e docilidade e é adaptada aos trópicos, apresentando tolerância a

parasitas, bom desenvolvimento a pasto e resistente ao calor. Além disso a fazenda

participa de um programa de melhoramento criado pela Embrapa, o Geneplus que

vem aprimorando a seleção do rebanho.

O peso a desmama é o primeiro dado significativo do desempenho do animal,

como ele é dependente da mãe, essa variável serve para analisar não só o bezerro

2

mas também as características maternas, como a produção de leite e a habilidade

materna. Um animal da raça Senepol quando é desmamado apresenta cerca de 50 a

60% do peso da mãe, isso ocorre em média aos oitos meses de idade, numa faixa de

220 à 300 Kg, de acordo com dados da Associação Brasileira dos Criadores de

Bovinos Senepol.

Para participar de forma eficiente e contributiva com o programa de

melhoramento coordenado pela Geneplus, é fundamental que além das estratégias

rotineiras de manejo sejam coletados dados de produção, reprodução e fatores

ambientais que possam influenciar o desempenho dos animais.

Com uma base genética tão consolidada, os fatores ambientais seriam

preponderantes ao bom desenvolvimento do animal até a desmama, para que os

bezerros Senepol cresçam usufruindo de todo potencial genético que possui e possa

ser abatido cada vez mais cedo, com uma carne de qualidade. A coleta e avaliação

dos fatores ambientais permite não só controlar o manejo em busca da melhoria

destes fatores como também a correção adequada das variáveis respostas

submetidas às avaliações genéticas permitindo a predição de valores genéticos de

forma mais acurada.

3

2. OBJETIVO

O objetivo com presente trabalho é analisar os fatores não genéticos que

influenciam o desenvolvimento de bezerros, do nascimento até a desmana, tendo

enfoque para a raça Senepol, levando em consideração o que foi observado no

estágio curricular obrigatório realizado na Fazenda Bama.

4

3. REVISÃO

O peso de bovinos ao desmame é influenciado por duas ordens de fatores, os

fatores genéticos do indivíduo que é determinado pela mãe, pelo pai e pelos

descendentes, formando a base genética que ele carregará a vida toda, e aos fatores

ambientais, que envolvem uma série de efeitos que vão interferir na expressão das

características genéticas.

Enquanto os efeitos genéticos permitem prevê respostas, índices e formular um

planejamento para seleção, os efeitos não genéticos permitem avaliar a estrutura do

ambiente de criação, além de mostrar os animais verdadeiramente superiores no

rebanho. Pouco adiantará investimentos em ganho genético, se não for oferecido um

meio para que as características possam se desenvolver.

Dentre os fatores ambientais, o sexo do animal é responsável pela primeira

fonte de variação do peso, sabe-se que fêmeas são mais leves do que os machos em

torno de 10%, tanto pela estrutura corporal que elas possuem, como na capacidade

de ganhar peso. De acordo com Souza e Ramos (1995) com animais da raça nelore,

os valores médios de peso ao nascimento e aos 210 dias foram de 32,99 e 157,70

para machos e para fêmeas de 29,99 e 144,00, respectivamente.

Em um estudo realizado por Bocchi et al (2004) também com animais da raça

Nelore o peso das fêmeas aos 205 dias foi inferior ao dos machos. Os dados foram

divididos em regiões e na região centro-oeste a média do peso das fêmeas foi de

156,04kg enquanto dos machos foi 169,43kg.

O mês de nascimento do bezerro também tem grande influência sobre o seu

peso ao nascer e sobre seu desenvolvimento, devido as variações anuais e mensais

na pluviosidade e temperatura, que tem influência direta nos animais que são criados

à pasto, sujeitos a intemperes.

Na época das águas que as plantas tendem a apresentarem seu pico de

produção, o aumento na massa vegetal além de garantir quantidade adequada de

forragem aos animais, ainda apresentam maior densidade nutricional, o que garantem

nutrição adequada das mães, para o fornecimento de leite, e parte da nutrição dos

bezerros.

Na épocas das secas apresentam baixa produtividade de alimento, não só

quanto a volume da massa forrageira, mais quanto ao valor nutricional. Isso acarreta

5

transtornos na criação de bezerros, muitas vezes levando a adoção de suplementação

das mães e/ou uso de creep feeding para os bezerros. A vantagem dessa época seria

apenas quanto ao conforto do animal, um ambiente seco, com menor risco de

patógenos.

Ao ser submetido as condições de campo, bezerros nascidos em épocas

chuvosas tem maior risco de contaminação de endo e ectoparasitas além de

infecções, já a temperatura elevada afeta o controle homeostático. Segundo Rhoad

(1936) citado por Almeida et al (1990) constatou que bovinos de raças europeias

aumentam sensivelmente a sua taxa metabólica quando submetidos à temperatura

superior a 23°C.

Os animais da raça Senepol apesar de serem taurinos do tronco europeu são

bastante adaptadas as condições tropicais do Brasil devido ao local de origem da raça

ser o caribe. Os animais são tolerantes ao calor, que é facilitado por seus pelos serem

curtos e assentados, resistente a parasitas, seus cascos negros resistem bem aos

solos pantanosos, o que torna os efeitos climáticos brasileiros menos danosos ao bom

desenvolvimento dos animais.

A suplementação alimentar para os bezerros também contribuirá para

diferenças no peso a desmama. A suplementação pode ser de volumoso ou

concentrado, se a forrageira da propriedade for de baixa palatabilidade o fornecimento

de volumoso apetecível estimulará o consumo e consequentemente o ganho de peso.

O fornecimento de concentrado, em creep feeding, não só prove o consumo de

alimentos sólidos, como o desenvolvimento das papilas ruminais e melhora a

motilidade estomacal, contribui para a independência alimentar do bezerro diminuindo

os transtornos na desmama e melhorando o escore da vaca.

O estado corporal da matriz também influência no desenvolvimento do bezerro,

fêmeas que tem baixa condição corporal ao parto, dificilmente terão condições para

alimentar o bezerro. O metabolismo do animal passa a exigir maior quantidade de

energia para o funcionamento, porque além de se manter, tem que produzir alimento

para o filho. De acordo com o proposto por Dias (1991), se o escore corporal estiver

abaixo de 4, ao parto, a cria que já nascerá leve, ficara ainda mais prejudicada e a

mãe terá muita dificuldade para se recuperar devido ao pico de lactação.

Outro fator é a idade da fêmea, segundo Souza et al (2000) fêmeas com idade

abaixo de 36 meses, ainda em estágio de crescimento, ou acima de 174 meses, final

da vida produtiva, tendem a produzir crias mais leves. O que também afeta a

6

quantidade de leite que a fêmea irá produzir no período, desmamando crias mais leves

também.

De acordo com Daly (1977) citado por Souza et al (2000) bezerros de vacas

maduras ostentam ser melhor do que realmente são, por motivo do ambiente materno

mais favorável, sendo as comparações de performance entre bezerros filhos de vacas

jovens e os bezerros filhos de vacas maduras, injustas.

As comparações devem ocorrer com a correção para o ambiente materno,

visando suprimir a influência não genética da idade da vaca quando se comparam

fêmeas de diferentes idades.

As variações do meio não têm poder para mudar o potencial genético do animal,

porém um ambiente adequado terá total contribuição no desenvolvimento do animal,

do útero da mãe até o abate. Para Euclides Filho (1996), deve-se ter maior

entendimento das relações existentes entre genótipo e ambiente para que se possa

otimizar a produção, não só alcançando maiores produtividade, competitividade e

eficiência, mas também, estabelecendo-se sistemas de produção que sejam

sustentados a médio e longo prazo. Por isso para que a pecuária nacional responda

as expectativas de crescimento é necessário que ações sejam tomadas no campo

para aumentar a produtividade animal.

7

4. RELATÓRIO DE ESTÁGIO

4.1. Descrição da Propriedade

O estágio supervisionado foi realizado na Fazenda Bama, pertencente a J. L.

Agropecuária, situada no município de Juara – MT, na estrada Juara – Tabaporã no

Km 63. A história da fazenda inicia-se no ano de 1954 quando o Senhor José

Lonardoni Meneguetti (in memorian) adquiriu terras do governo do Estado e

denominou de Fazenda São Paulo, porém o desenvolvimento da propriedade com a

formação da área só foi possível no ano de 1980, devido à falta de infraestrutura na

época. No ano de 1984 surgiu a oportunidade de comprar uma fazenda próxima que

se chamava Bama, além de outros pedaços de terra, anexados formam hoje a área

total da propriedade.

Atualmente a Fazenda Bama tem uma área total de 21.341,7 hectares sendo

que destas, aproximadamente, 12 mil hectares são de áreas desmatadas, de pastos

ou de infraestrutura. São 10 retiros, São Francisco, Bama, Esquisito, Vai quem qué,

Piau, São Paulo, Figueira, Fim da Picada, Conquista e Monte Belo, destes, quatro são

retiros principais, Bama, Esquisito, São Paulo e Monte Belo, com infraestrutura de

currais e funcionários próprios. Na figura 1 pode ser observado o mapa da área útil da

propriedade. São 66 funcionários diretos na fazenda, divididos no manejo do gado,

parte administrativa, maquinário e técnicos, sendo dois médicos veterinários, um

zootecnista e um engenheiro agrônomo.

8

Figura 1 – Mapa da Área Útil da Fazenda Bama.

Fonte: Acervo Pessoal

A área aberta da fazenda é formada por pastos dos gêneros Brachiaria

brizantha cultivares Xaraes/MG5 e Marandu, Panicum maximum cultivar Massai e do

híbrido Convert HD 364. Anualmente é feito a seleção de áreas para a recuperação

ou renovação. Nas áreas de recuperação através da análise de solo eles identificam

as necessidades e adubam o solo. Em algumas áreas de renovação, eles reformam

fazendo o plantio integrado de milho + capim, utilizando o milho para a produção de

silagem para o confinamento. Áreas em que a logística não viabilizar a integração é

feito apenas os tratos culturais e a semeadura do capim.

O rebanho atualmente é de aproximadamente 24500 cabeças, sendo 4349

animais Nelores P.O., destes 1837 são matrizes (novilhas e vacas) e 225 são machos

reprodutores, os demais são bezerros e animais fora de idade reprodutiva. Outros

1048 são animais P.O. da raça Senepol, sendo 321 matrizes (novilhas e vacas), 71

machos reprodutores e 656 bezerros e animais fora de idade reprodutiva. O restante

19103 compreende matrizes cruzadas, reprodutores charolês, bezerros cruzados,

novilhas e garrotes cruzados e anelorados que não estão em idade reprodutiva,

animais de descarte que serão abatidos e animais de compra. A fazenda realiza a cria

e recria somente à pasto, a terminação de fêmeas tricross é feita a pasto e o restante

dos animais são terminados no confinamento.

9

Por estar localizada na região norte do Mato Grosso, a fazenda conta com um

regime de precipitações intenso. Na tabela 1, estão relacionadas as médias dos anos

de 2011, 2012 e 2013. Nota-se claramente a divisão em época seca e época das

águas, sendo a primeira entre Maio e Setembro e a segunda de Outubro a Abril.

Tabela 1 – Média Geral do regime pluviométrico da Fazenda Bama.

Meses 2011 2012 2013

Janeiro 446,5 512 497,5

Fevereiro 276,5 318,2 406

Março 212,2 213,5 563,5

Abril 116,7 169,7 299,7

Maio 10 45,5 15,2

Junho 0 22,7 12,5

Julho 0 10,7 6,7

Agosto 12 0 0

Setembro 32 87,2 29,7

Outubro 231 178,5 189

Novembro 285 311 465

Dezembro 318 161,7 440

Fonte: Relatório Anual da Fazenda ( 2014)

4.2. Índices Zootécnicos

Os índices Zootécnicos constituem uma importante ferramenta para a

propriedade, através deles são tomadas atitudes para melhorar a eficiência da

fazenda. Os dados referentes ao ano de 2014 só serão disponibilizados em Março de

2015, por isso por meio dos índices dos últimos anos podemos conhecer a

propriedade. Cada ano são estipuladas metas para esses índices, de forma que a

fazenda esteja em constante melhoria.

A fazenda utiliza os índices de prenhez, natalidade, desmame, eficiência de

desmama, relação de desmama, fertilidade real, mortalidade intrauterina, mortalidade

do rebanho, desfrute, lotação e produção de carne, sendo esses dados apresentados

no relatório anual da fazenda.

10

Tabela 2 – Índices Zootécnicos da Fazenda Bama nos últimos anos.

Índices 2011 2012 2013

Prenhez (%) 72 78 78

Natalidade (%) 71 76 79

Desmame (%) 94 98 98

Eficiência de Desmama (%) 71 70 72

Relação de Desmama (%) 46 44 49

Fertilidade Real (Kg) 140 154 172

Mortalidade Intrauterina (%) 1,6 2,2 1,2

Mortalidade do Rebanho (%) 1,12 1,2 1,2

Desfrute (%) 24 32 42

Lotação Anual (UA/ha) 1 1 1,37

Produção de Carne (Kg/ha) 97 90 134

Fonte: Relatório anual da fazenda (2014)

Comparando-se os dados da propriedade, tabela 2, com dados da literatura

apresentados na tabela 3, pode-se verificar que os índices da Fazenda Bama

encontram-se acima da média nacional brasileira, aproximando-se do que foi

qualificado por Zimmer e Euclides Filho (1997) como um sistema de tecnologia

avançada. Nota-se como as ações realizadas na fazenda estão sendo benéficas e

tornando-a referência no cenário nacional.

Tabela 3 – Índices zootécnicos médios do rebanho brasileiro e em sistemas

tecnológicos mais evoluídos.

Índices Média Brasileira Sistema Melhorado¹ Sistema com Tecnologia

Avançada¹

Natalidade (%)¹ 60 70-80 >80

Desmame (%)¹ 54 65 75

Lotação (UA/ha)¹ 0,9 1,2 1,6

Produção de Carne

(kg/ha)¹

34 53 80

Desfrute(%)² 19,2 - -

¹ adaptado de Zimmer e Euclides Filho (1997), ²adaptado de Scot Consultoria (2012).

Fonte: Zimmer e Euclides Filho (1997) e Scot Consultoria (2012).

11

4.3. Reprodução

A fazenda realiza estação de monta, ela inicia-se em setembro e termina em

Janeiro, para aproveitar a melhor qualidade da forragem nos que interferirá na

recuperação das fêmeas que ainda estiverem debilitadas devido ao parto e

amamentação, garantindo assim que a maior parte dos animais em reprodução

terminem a estação gestantes. São acasaladas novilhas a partir de 16 meses e com

mais de 260 kg, vacas são acasaladas 35 dias pós parto em média, todos as fêmeas

são avaliadas pelos veterinários para verificar se encontra-se aptas a reprodução.

Na propriedade foram observados quatro métodos de reprodução, a primeira é

a monta natural, que é utilizada em algumas novilhas aneloradas ou nelores

comerciais. A segunda é inseminação artificial, alguns lotes de fêmeas P.O. foram

acompanhados diariamente para a identificação do cio com a utilização de rufiões. O

terceiro seria a inseminação artificial em tempo fixo, como demonstrado na figura 2,

que é feita na maior parte dos lotes da fazenda, cerca de 85%; e o quarto foi a

transferência de embriões, que foi realizada por uma empresa contratada, a

BIOembrio, a partir de ovócitos coletados de fêmeas Senepol da fazenda.

Os acasalamentos dos rebanhos P.O. Nelore e Senepol são orientados por

técnico do Geneplus – Embrapa, programa de melhoramento genético que

acompanha a fazenda, de acordo com as combinações genéticas, de forma a produzir

animais superiores em cada raça, para isso utilizam de inseminação artificial, na

maioria das vezes em inseminação com tempo fixo. Os animais P.O. ficam em um

único retiro da fazenda.

12

Figura 2 – Inseminação Artificial em Vaca Nelore P.O., Retiro Esquisito.

Fonte: Acervo Pessoal

Após a inseminação as coberturas são lançadas no site da associação

correspondente, depois de 30 dias da inseminação é realizado o diagnóstico de

gestação através do uso de um aparelho de ultrassonografia por um dos Médicos

Veterinários da Fazenda.

Se não identificada a gestação, o animal será ressincronizado, novamente

inseminado e passará por um novo diagnóstico de gestação e se vazio novamente vai

para repasse com touro. As fêmeas que terminarem a estação de monta vazias, seja

13

por inseminação, ou por monta natural, serão descartados e entram para o rebanho

comercial.

As fêmeas cruzadas ficam no retiro Bama e no retiro São Paulo. As fêmeas que

são aneloradas ou provêm dos descartes do Nelore P.O., são chamadas de nelore

comercial, são inseminadas com sêmen de Aberdeen Angus Black, apenas uma vez.

Após realizado o diagnóstico de gestação são colocadas com touro de repasse que

pode ser Senepol ou Nelore. Alguns lotes não são inseminados e se destinam a monta

natural com touros Senepol.

Os filhos formam o rebanho meio-sangue, seja Nelore/Angus ou

Nelore/Senepol, e Nelore comercial. As fêmeas ficam para reposição e os machos vão

para a engorda. As fêmeas meio-sangue, representadas pela figura 3, são

inseminadas com sêmen de Senepol, Simental, Simbrasil, Canchim ou Charolês, no

repasse utilizados touros Senepol, Charolês e Nelore. Todos os filhos tricross são

destinados a engorda.

Figura 3 – Fêmeas Cruzadas no Curral Esperando para Serem Inseminadas.

Fonte: Acervo Pessoal

Para a sincronização dos animais para a realização da inseminação eles

utilizam dois protocolos, um protocolo no dia 0 é colocado o implante de progesterona

e aplicado benzoato de estradiol, no dia 8 retira-se o implante e aplica-se

14

prostaglandina, gonadotrofina coriônica equina (ECG) e ciprionato de estradiol e no

dia 10 realiza-se a inseminação. O outro protocolo no dia 0 aplica-se valerato de

estradiol e é colocado o implante de progesterona, no dia 9 é feita a retirada do

implante e aplica-se o ECG e no dia 11 é realizado a inseminação.

Os implantes de progesterona utilizados são auriculares, figura 4, porém em

alguns lotes estava sendo testada a utilização do implante intravaginal monodose, o

implante auricular tem causado certo estresse nos animais o que é ruim para a

ovulação, e riscos de acidentes devido aos chifres de algumas fêmeas. A escolha

entre um ou outro protocolo era feita pelos veterinários de acordo com a

disponibilidade dos currais e de pessoal.

Figura 4 – Implantes de progesterona auriculares, sobre nome comercial de Crestar.

Fonte: Acervo Pessoal

A fase de cria é o ponto chave da fazenda, além de ser o mais crítico. Como há

um período fixo de estação de monta, há uma época onde se concentra os

nascimentos, que vai de Junho a Outubro. Esse calendário tenta evitar nascimentos

na época de chuva intensa na região que se inicia em novembro, como observado na

tabela 1. Os nascimentos ocorrem na transição seca-águas, reduzindo a incidência

de doenças, como pneumonia e o risco de parasitoses.

Todos os nascimentos ocorrem no retiro Bama, concentrando assim as

atividades de cuidado com os bezerros, além de destinarem áreas próximas a sede,

chamados maternidade, no caso de terem que auxiliar em partos distócicos. Os

piquetes maternidades também apresentam forragens de boa qualidade, bem

manejadas, para alimentar mãe e bezerro.

15

4.3.1. Maternidade

Durante a estação de nascimentos as equipes passam acompanhar as fêmeas

na maternidade todos os dias sendo uma equipe para o rebanho P.O. e outra para as

Meio-Sangue. O rodeio como é chamado a ronda, é feito de forma que todo o piquete

maternidade seja abrangido, inclusive entrar na mata, movimentando o gado.

Quando for constatado fêmea com algum sinal de parto ou recém-nascido, é

feita a anotação do número da fêmea parida notificando sobre o observado. No caso

de sinal de parto eles esperam alguns instantes, observando a distância, para tomar

conhecimento se a fêmea necessitará de auxilio ou se está tudo normal. Caso seja

um parto distócico, é chamado um dos Médicos Veterinários da Fazenda para auxiliar

no que for necessário.

No caso de observarem um recém-nascido no piquete, eles não se aproximam

para evitar que a mãe abandone o filhote ao fugir da aproximação, eles apenas

anotam o número da fêmea, a data de nascimento do bezerro, o sexo caso seja

possível verificar e se há a necessidade de atendimento médico por causa de algum

problema. Caso haja problemas com o fornecimento do colostro ou seja um animal

demasiadamente fraco, são imediatamente recolhidos para o curral para poder

reverter a situação. Na figura 5 pode ser observada uma ficha que é utilizada para

fazer o controle dos nascimentos na fazenda.

Figura 5 – Ficha de Controle de Nascimentos

Fonte: Acervo Pessoal

16

4.3.2. Identificação

Na Fazenda Bama todos os animais são tatuados ao nascimento (figura 6).

Essa identificação é feita colocando o número da mãe na orelha direita e o número do

bezerro na esquerda, juntamente com o nome da fazenda. Na desmama é feita a

marcação a ferro dos animais com a marca da fazenda e colocado um brinco que

consta a mesma numeração da tatuagem. É feito também uma marcação a ferro

desse mesmo número na perna direita, nos animais de reposição e em todos os P.O.

ao sobreano.

Essas marcações facilitam no reconhecimento dos animais e no

acompanhamento deles na fazenda, devido à dificuldade de visualização a campo e

no tronco a tatuagem, foram escolhidas essas duas outras formas de identificação,

marca a fogo e brinco.

Figura 6 – Animal sendo tatuado na Fazenda Bama.

Fonte: Acervo Pessoal

17

4.3.3. Manejo Sanitário

Os cuidados com o bezerro iniciam no dia do nascimento sendo realizado

tatuagem na orelha, desverminados, cura do umbigo e aplicação de medicamentos

se observado animais com diarreia, figuras 6 e 8.

Em torno dos 240 dias, os animais são vacinados para raiva, clostridiose,

botulismo e as fêmeas para Brucelose. Recebem a vacina contra febre aftosa de

acordo com o calendário do governo para o estado do Mato Grosso, no mês de

novembro.

Figura 7 – Animal sendo desverminado, através de um produto a base de doramectina.

Fonte: Acervo Pessoal

18

Figura 8 – Umbigo com parasitas recebendo tratamento.

Fonte: Acervo Pessoal

4.3.4. Desmama

A desmama ocorre aos 240 dias, de acordo com a média das datas de

nascimento dos animais do lote, ela é feita de forma abrupta, levando-se mães e filhos

para o curral onde são separados e levados para piquetes distantes, que apresentam

forragem de bom valor nutricional, com sal mineral e água a vontade. Na desmama é

feito a coleta de dados dos bezerros, eles são pesados, mede-se a altura e recebem

uma nota de conformação frigorifica.

A conformação frigorifica é feita atribuindo-se uma nota de acordo com a

conformação de carcaça do animal, busca-se animais que independentemente do

tamanho, peso, raça ou idade tenho características de interesse comercial, no caso

ganho de massa muscular e acabamento. A nota varia de 1 a 6, sendo que 1 são os

animais fracos e 6 os com melhor desenvolvimento.

No caso dos animais P.O. Senepol e Nelore, eles serão tratados com ração

especifica com consumo de 700g cabeça/dia durante 45 dias, após isso são avaliados

19

por um técnico do Geneplus para seleção dos animais com potencial reprodutivo e os

que devem ser descartados.

4.4. Geneplus

A parceria da Bama com o programa Geneplus da Embrapa iniciou no ano de

2000, por intermédio do Prof. Elias Nunes Martins a fazenda tomou conhecimento do

programa Geneplus-Embrapa e a partir daí passou a ser assessorada no

melhoramento genético do se rebanho.

O Geneplus-Embrapa é um programa de melhoramento de gado de corte, que

foi fundado pela Embrapa no ano de 1996, com a missão de auxiliar os criadores não

só no planejamento do melhoramento genético, como também nos acasalamentos,

avaliação genética do rebanho e comercialização.

O corpo técnico que acompanha a propriedade é formado pelo pesquisador da

Embrapa, Dr. Luiz Otávio Campos Silva, pelo Professor da Universidade Estadual de

Maringá, Dr. Elias Nunes Martins e pelo Zootecnista, Dr. Luis Amadeu Vendrame

Cardoso, todos vinculados ao Programa Geneplus.

Assim a parceria entre a Fazenda e o Programa, tem norteado as metas e

decisões da mesma, sendo todo rebanho acompanhado pelos técnicos, para

promover aumento na qualidade genética dos animais e como consequência, maior

produtividade.

Por meio de um software, atualizado pela fazenda, a equipe Geneplus

acompanha tudo que ocorre na propriedade. Nas visitas anuais ocorrem as avaliações

visuais do rebanho e por meio desta são tomadas as ações. Esse software exige que

sejam coletados uma série de dados e um constante monitoramento. As rotinas de

coletas são determinadas de acordo com as metas da fazenda, no caso da Bama, a

meta é ser o mais eficiente e simples.

São realizadas coletas de dados para acasalamentos, nascimentos, cria e

recria, como exemplo dos dados necessários, tem-se como base o escore corporal da

matriz ao parto e ao inseminar, idade, número de crias, pai e mãe da matriz; peso e

20

tamanho do bezerro ao nascer; peso, tamanho e conformação frigorifica dos bezerros

aos 120 dias, 240 dias e 490 dias.

Esses dados permitem que a equipe possa realizar avaliações genéticas, para

cada animal, com valores sendo expressos em DEP – Diferença Esperada na

Progênie e respectivas acurácias e percentis. Com base no perfil genético de cada

animal são formados lotes na propriedade e são feitas estratégias para tornar o

ambiente adequado para a expressão dessas características.

21

5. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

As atividades eram baseadas nas atividades dos técnicos da propriedade. Não

houve um planejamento anterior para separar uma função especifica para o estagiário.

O estágio iniciou-se no mês de setembro mesmo período que inicia-se a estação de

monta na fazenda, então pode-se acompanhar atividades desde a observação natural

de cio, sincronização dos lotes, inseminação e diagnóstico de gestação participando

ativamente de todos.

Ao setor de cria realizou-se visitas periódicas, observando desde a condição

dos piquetes maternidade, acompanhamento de parto, bem como os manejos com os

bezerros, como a cura do umbigo, tatuação, aplicação de antiparasitários e

medicamentos, auxilio para o fornecimento do colostro e resgate de animais

debilitados.

Essas atividades foram desenvolvidas pelos meses subsequentes. No mês de

Novembro iniciou-se o período de vacinação contra a febre aftosa, carbúnculo

sintomático e brucelose, concomitantemente foi realizado a desverminação. As rotinas

de reprodução diminuíram, porém o trabalho no curral continuou intenso.

Nesse período foi possível acompanhar algumas coletas de dados, realizadas

ao nascimento, aos 120 dias, aos 240 dias e aos 490 dias. Os dados são referentes

ao peso, altura e nota de conformação frigorifica, eles são utilizados pelos técnicos da

fazenda para verificar o desempenho do rebanho.

Durante o período de estagio, setembro a novembro, houveram 3 coletas de

ovócitos para que pudessem realizar a transferência de embriões, sempre do rebanho

Senepol.

O confinamento da fazenda estava em pleno funcionamento e semanalmente

ocorriam os embarques. Para isso os animais eram previamente pesados e

analisados a sua conformação de carcaça.

Puderam ser acompanhas também as ações de manejo do solo para o plantio

de forragem, como aração, gradagem, calagem, adubação do solo e semeadura.

Assim como as medidas de recuperação como adubação de cobertura e controle de

pragas.

Enfim as atividades eram a mostra da atuação profissional de um Zootecnista

em uma fazenda, criando-se então um elo entre a teoria e a prática, promovendo a

22

capacitação íntegra no desenvolvimento de responsabilidades, senso crítico e

comprometimento.

23

6. DISCUSSÃO

A fazenda Bama destaca-se no setor agropecuário pelos investimentos

estratégicos, sua gestão visionaria e o grande suporte técnico. A principal chave para

sucesso da empresa tem sido o seu largo controle de dados, que influem no trabalho

da equipe e nos resultados financeiros.

O estágio permitiu observar a forma com que uma propriedade de grande porte

lida para evitar que os fatores ambientais influenciam negativamente no

desenvolvimento dos bezerros, sendo assim a propriedade adota uma série de

medidas para produzir bezerros de qualidade.

Iniciando na seleção das fêmeas reprodutoras, as fêmeas Senepol são

separadas dos machos na desmama, são apartadas por um técnico do programa

Geneplus da Embrapa, para que no plantel não haja a presença de animais que

desqualifiquem a raça, bem como não tenham doenças hereditárias, problemas

reprodutivos, defeitos de aprumos e que apresentem características de interesse

comercial.

Ao atingir a maturidade sexual, em torno de 14 meses e com 300 kg,

aproximadamente, a fêmea Senepol encontra-se apta a acasalar. Nesse momento é

feita uma avaliação do rebanho pela a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos

Senepol, que avalia se os animais encontram-se no padrão, recebem registro com a

marca da Associação e entram para os lotes de reprodução.

Os acasalamentos são programados a fim de aproveitar ao máximo as

características da mãe, escolhendo um pai que complemente, gerando um produto de

alto vigor pelos benefícios da heterose, para isso eles contam com a ajuda de um

técnico da Geneplus que analisa os machos disponíveis no mercado que melhor se

adequem as fêmeas do plantel.

Na propriedade não é utilizado sêmen sexado, tendo em vista que é de

interesse da fazenda a obtenção de machos e fêmeas, porém sabe-se que machos

são mais pesados e mais rentáveis, quando se pensa na produção de carne.

Devido a características raciais, as fêmeas Senepol tendem a produzir

quantidade suficiente de leite para nutrir os bezerros, além de serem longevas

podendo produzir até os 15-20 anos de idade, porém na fazenda eles analisam as

reprodutoras pela qualidade da sua prole.

24

Na ocasião da inseminação, apenas aquelas que se encontrarem com bom

escore corporal e suas crias dos últimos dois anos não tiverem sido fracas serão

inseminadas. Isso serve não só para evitar o descarte de uma boa matriz, como

também para não manter no plantel fêmeas que já estão declinando na produção.

Na maternidade há um extremo cuidado com as matrizes, para evitar abortos,

transtornos no parto, quebra da relação mãe-cria e mortalidade por predadores,

doenças e parasitas. Diariamente eles são observados cuidadosamente e na ocasião

da marcação já recebem os primeiros cuidados sanitários a fim de proporcionar um

bom ambiente para o desenvolvimento do bezerro.

Não realizam suplementação dos bezerros via creep-feeding, porém sabem

dos seus benefícios e tem estudado a implantação. Nota-se que esse é o único fator

dos que podem ser facilmente controlados que ainda não é realizado. Dentre os

fatores ambientais, os de ordem climática e mais complexos de se controlar tem sido

contornado por meio da adoção de algumas medidas.

Por ocasião da localização da propriedade, região noroeste do estado de Mato

Grosso, eles concentraram os nascimentos num período onde o regime pluviométrico

é menor, para diminuir a incidência de parasitas e facilitar o trabalho dos funcionários.

Esse fato seria um problema, devido a essa época seca ter menor disponibilidade de

alimentos para as fêmeas, porém é contornado com a vedação de pasto, deixando

áreas de melhor capim para as fêmeas lactantes, o que consequentemente garante

boa nutrição das proles.

Contudo muito pode ser melhorado na fazenda. A maior parte das atividades

realizadas de manejo com os animais ocorreram no curral, a fazenda conta com quatro

currais, sendo todos de madeira, formato padrão quadrado, com cobertura na parte

do tronco, seringa e balança, porém devido ao tempo de construção, será necessário

realizar modificações.

O manejo na instalação era muito difícil e estressante, tanto para os animais

quanto para os funcionários. Tendo em vista o bem estar geral e levando em

consideração o manejo racional dos animais, a reforma ou até mesmo a construção

de currais anti-stress e a realização de cursos de manejo para os funcionários, se faz

necessária para minimizar os efeitos maléficos do estresse.

Com o conhecimento adquirido na universidade e colocado em prática na

propriedade, pode-se afirmar que o estresse animal tem influenciado muito nos

índices zootécnicos da fazenda, nas tabelas 3 e 4, é notado que a fazenda

25

encontrasse acima da média nacional brasileira, relativo aos dados apresentados, o

que poderia ser ainda melhor se medidas simples fossem adotadas.

As vacas com cria ainda ao pé são levadas ao centro de manejo para a

sincronização, para evitar o estresse no manejo nos piquetes e transporte dos animais

até o curral, não correndo, nem gritando excessivamente com os animais e batendo.

Na sincronização utilizar técnicas menos agressivas do que a que vem sendo

utilizada, como os dispositivos intravaginais em substituição aos auriculares.

Quando for necessário colocar os animais no tronco, utilizar bandeiras e

manejar os animais em grupos pequenos, respeitando o habito social gregário dos

bovinos, evitando ao máximo bater, gritar e o uso de choque. Assim como no contato

com os bezerros para a aplicação de medicamentos, há uma elevada quantidade de

animais que sofrem choques e até mesmo fraturas pelo excesso de força dos

funcionários ao lidar com os animais o que afeta no seu desenvolvimento.

De modo geral a propriedade tentar fornecer o melhor ambiente para o

desenvolvimento dos seus animais, eles compreendem que os esforços realizados na

fase de cria iram influenciar nas fases futuras e por isso tem buscado soluções e

alternativas para suprir os seus déficits e promover uma constate melhora no seu

rebanho, sendo exemplo para demais propriedade no setor.

26

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção de bezerros tem sido um problema por muito tempo no Brasil, seja

pela dificuldade na criação dos animais, seja por baixos índices reprodutivos do

rebanho, seja por falta de investimento e mão de obra ou por falta de planejamento,

porém, com todo conhecimento que se tem a respeito se conduzido de maneira

adequada, traz muitos benefícios para o produtor, a fazenda Bama é a prova disso.

Ao se adotar programas de melhoramento genético na propriedade é

necessário que utilizem animais que possam promover um ganho genético no

rebanho. A raça Senepol tem mostrado uma series de fatores que provam sua

complementariedade ao rebanho nacional. Assegurando a qualidade genética.

O produtor deve-se manter atento ao ambiente que está proporcionando aos

seus animais para que ele não prive o animal de nada que seja inerente ao seu

desenvolvimento.

Fatores ambientais como os relacionados a sanidade e nutrição do rebanho

são primordiais e facilmente controlados, Técnicos como um Zootecnista podem

avaliar a situação e criar um programa estratégico para cada caso. Outros fatores

como os relacionados com a vaca podem ser avaliados por meio de controle dos

dados do rebanho, evitando manter animais improdutivos, que tem apresentado crias

fracas e com baixa habilidade materna.

Condições climáticas como a pluviometria e a temperatura são dificilmente

controlados e variáveis de ano para ano, contudo pode-se fazer um planejamento para

aproveitar os fatores de cada região a favor da criação.

27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, A. J. L.; GUARAGNA, G. P.; GONÇALVES, G. C.; PIRES, F. L. Efeito dos

fatores ambientais e genéticos no peso de bezerros da raça holandesa preta e branca,

aos 90 dias de idade. Boletim da Indústria Animal, v.47, n.1, p.01-87, 1990.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE BOVINOS SENEPOL.

Características. Disponível em: http://senepol.org.br/sobre-a-raca/caracteristicas/.

Acessado em 05 de Dezembro de 2014.

BOCCHI, A. L.; TEIXEIRA, R. A.; ALBUQUERQUE, L. G. Idade da vaca e mês de

nascimento sobre o peso ao desmame de bezerros nelore nas diferentes regiões

brasileiras. Acta Scientiarum. Animal Sciences, Maringá, v. 26, no. 4, p. 475-482,

2004.

CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA. Perspectivas

para o agronegócio em 2015. Piracicaba, 2014. Disponível em:

http://cepea.esalq.usp.br/pib/. Acessado em: 16 de Janeiro de 2015.

DIAS, F. M. G. N. Efeito da condição corporal, razão peso/altura e peso vivo sobre o

desempenho reprodutivo pós-parto de vacas de corte zebuínas. Belo Horizonte:

UFMG – Escola de Veterinária, 1991. (Dissertação, mestrado em zootecnia).

EUCLIDES FILHO, K. O melhoramento genético e os cruzamentos em bovinos de

corte. Campo Grande: EMBRAPA:CNPGC, 1996. 35 p.(Documento, n. 63).

FAZENDA BAMA. Relatório Anual da Propriedade. Juara. 2014

SCOT CONSULTORIA. Taxa de Desfrute. Abril de 2012. Disponível em:

https://www.scotconsultoria.com.br/noticias/artigos/23681/taxa-de-desfrute.htm.

Acessado em 11 de Dezembro de 2014.

28

SOCIEDADE NACIONAL DA AGRICULTURA. Brasil deve ampliar produção e

exportação de carnes em 2015. Disponível em: http://sna.agr.br/brasil-deve-ampliar-

producao-e-exportacao-de-carnes-em-2015/. Acessado em 03 de Dezembro de 2014.

SOUZA, J. C.; RAMOS, A. A.; SILVA, L. O.C.et al. Fatores do ambiente sobre o peso

ao desmame de bezerros da raça Nelore em regiões tropicais brasileiras. Ciência

Rural, Santa Maria, v. 30, n. 5, p. 881 885,2000b.

SOUZA, J.C. e RAMOS, A. A. Efeitos de fatores genéticos e de meio sobre o peso de

bovinos da raça Nelore. Rev. Soc. Bras. Zootec. v. 24, p. 164-172. 1995.

ZIMMER, A.H.; EUCLIDES FILHO, K. As pastagens e a pecuária de corte brasileira.

In: Gomide, J.A. (ed.). SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE PRODUÇÃO ANIMAL

EM PASTEJO, 1, 1997, Viçosa. Anais... Viçosa: UFV-DZO, 1997. p.349-79.

29

ANEXO

Cálculos dos índices zootécnicos da Fazenda Bama, extraído do relatório anual da

Fazenda.

Índice de natalidade

Nº de bezerros nascidos (2013) = 4988 = 79%

Nº de vacas em cobertura (2012) 6339

Índice de mortalidade intra-uterina

Nº de vacas prenhas (geral) – Nº de bezerros nascidos = 5042 – 4984 * 100 = 1,2%

Nº de vacas Prenhas (geral) 5042

Intervalo entre partos (IEP)

Nº de vacas em reprodução ativa (geral) * 12 (meses) = 6309 * 12 = 15 meses

Nº de bezerros produzidos nos 12 meses (2012) 4984

Índice de desmame

Nº de bezerros desmamados (2013) = 4753 * 100 = 98%

Nº de bezerros nascidos (2012) 4868

Porcentagem de desmame

Nº de bezerros desmamados = 4753 * 100 = 72%

Nº de vacas em cobertura (2011) 6636

30

Relação de desmama

Percentual do peso da mãe, que ela desmamou seu bezerro no dia da desmama.

Peso do bezerro * 100 = 216 * 100 = 49%

Peso da sua mãe 440

Fertilidade Real

Mostra quantos Kg de bezerro a vaca desmamou no ano.

Peso do bezerro * 12(meses) = 216 * 12 = 172kg

Intervalo entre partos de sua mãe 15

Porcentagem de mortalidade do rebanho

Nº de animais mortos = 257 * 100 = 1,2%

Nº de animais do rebanho 20472

Taxa de abate

Nº de animais abatidos * 100 = 5980 * 100 = 29%

Nº de animais do rebanho 20472

Taxa de venda

Nº de animais vendidos = 234 * 100 = 1%

Nº de animais do rebanho 20472

31

Taxa de desfrute

Crescimento vegetativo + taxa de abates + taxa de venda = 12+29+1 = 42%

Lotação Média Anual

Rebanho Médio(UA) = 15309 UA = 1,37 UA/Ha

Área de pastagem 11099 Ha

Produção de Carne

No total de Kg de carne estão incluídos os touros e os animais que foram vendidos

para outras propriedades e vacas abatidas para consumo.

Total de Kg produzidos = 1492256,80 Kg = 134kg carne/Ha/ano

Área de pastagem 11099 Ha